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Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas
11 de Fevereiro de 2022
Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 02
Sumário
1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 4
1.7.1 - Breves considerações sobre o crime de financiamento ou custeio de práticas ligadas ao tráfico de drogas (art.
36, da Lei 11.343/2006) e sobre seu possível enquadramento como crime equiparado a hediondo. .......................... 26
1.7.2 - Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito: considerações gerais. ................................................... 30
1097228
Equipe Materiais Carreiras Jurídicas
Aula 02
RODADA 02 – PROMOTORIA
1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS
O bloco de constitucionalidade tem origem francesa (não americana) e se aplica especialidade ao controle
de constitucionalidade. O conceito pertence a Louis Favoreu, sendo posteriormente consagrado, na França,
pelo Conselho Constitucional francês na Decisão nº 71-44 DC (16.07.1971). No Brasil, o STF consagrou a ideia
do bloco de constitucionalidade no julgamento da ADI 595 (18.02.2002) e da ADI 514 (24.03.2008), ambas
da relatoria do Ministro Celso de Mello.
Bloco de constitucionalidade pode ser definido como “a Constituição material aplicada ao controle de
constitucionalidade”. Controle de constitucionalidade é uma relação normativa mantida entre parâmetro
(Constituição, norma em relação a qual se faz o controle) e objeto (legislação, norma sobre a qual o controle
é feito). De acordo com a ideia do bloco de constitucionalidade, no controle de constitucionalidade o
parâmetro ultrapassaria a Constituição formal, podendo alcançar outras normas (legais e internacionais),
desde que a matéria fosse própria de Constituição.
É certo que ainda existe a clássica distinção entre common law e civil law, embora autores como Mark
Tushnet sustentem a ideia de uma globalização jurídica, ou seja, uma aproximação progressiva e irreversível
entre common law e civil law. Contudo, ainda assim são famílias distintas – a common law com ênfase em
jurisprudência e a civil law com ênfase em legislação.
Apesar da diferença, há tendências contemporâneas comuns entre as duas famílias, podendo ser verificadas
tanto na common law quando na civil law, e uma delas é a tendência de alargamento da parametricidade
constitucional, sendo o bloco de constitucionalidade a grande manifestação desse fenômeno.
de constitucionalidade traduz justamente essa ideia: o bloco não é uma Constituição, mas para efeito de
controle de constitucionalidade tem equivalência a ela.
Contudo, esse fundamento também encontra deficiências, pois a norma constitucional versa sobre tratados
internacionais de direitos humanos, e o bloco não se resume aos tratados, compreendendo também a
legislação. Além disso, o bloco não compreende somente normas que discutam direitos humanos, mas
quaisquer matérias próprias de Constituição, inclusive aquelas que versem sobre Estado, poder político etc.
Há ainda quem sustente que a fundamentação do bloco de constitucionalidade seria o art. 5º, § 2º, da
CRFB/88, ao reconhecer que a Constituição não exaure os direitos fundamentais, apenas os exemplifica,
admitindo como cláusula de abertura que sejam encontrados outros direitos em outros pontos da
Constituição, ou até mesmo na legislação ordinária e em tratados dos quais o Brasil seja parte.
O conceito de bloco de constitucionalidade é próprio de Constituições sintéticas, como a francesa, não sendo
adequado para Constituições analíticas. Em razão disso, dificilmente o conceito poderia ser aplicado no
Brasil. Nas ADIs 595 e 514 o bloco foi citado pelo STF, mas nunca houve aplicação concreta.
Portanto, na França há uma Constituição sintética que não aborda liberdades públicas, de modo que, se não
houvesse ampliação do conceito de Constituição, seria impossível o controle de constitucionalidade com
base nessa matéria, pois não haveria parâmetro para que pudesse ser feito o controle de
constitucionalidade. Diante disso, a França então ampliou a parametricidade e buscou a ideia do bloco de
constitucionalidade, para que isso pudesse compreender tratados e convenções e assim fosse possível o
controle de constitucionalidade com base na matéria (liberdades públicas).
A Constituição brasileira, por outro lado, é analítica e regula muitas matérias que não são próprias de
Constituição. Com isso, dificilmente haverá uma matéria que não tenha regra explícita na Constituição.
Ademais, à luz neoconstitucionalismo, o Direito não se exaure em regras, mas também compreende
princípios. Desse modo, ainda que não exista regra explícita na Constituição sobre determinada matéria,
seguramente haverá um princípio que possibilite o controle de constitucionalidade, e o STF sempre aceitou
controle de constitucionalidade com base em princípios, mesmo sem assento formal no texto constitucional.
Diante dessas considerações, seria mais conveniente abordar a Constituição e a ideia dos princípios, à luz do
neoconstitucionalismo, para fundamentar o controle de constitucionalidade, e não recorrer a um conceito
que não se adequa à realidade brasileira (bloco de constitucionalidade).
1.1.2 - Constituição
a) Sentido sociológico: fatores reais de poder (Ferdinand Lassalle, O que é uma Constituição).
b) Sentido político: decisão política fundamental (Carl Schmitt, Teoria da Constituição).
c) Sentido jurídico: lei fundamental do Estado (Hans Kelsen, Teoria Pura do Direito).
Em relação ao sentido sociológico, Lassalle faz uma distinção entre a Constituição enquanto uma folha em
branco e a Constituição enquanto fator real de poder. De acordo com o autor, a Constituição não deve ser
uma folha em branco, mas um fator que afeta o modo pelo qual se exerce poder político (algo próximo do
que hoje se trabalha como “efetividade”, qualidade da norma jurídica que é cumprida de modo efetivo pelo
campo social). Esse sentido pertence à sociologia jurídica.
Em relação ao sentido político, a Constituição é tida como decisão política fundamental. Carl Schmitt fez uma
distinção entre Estado e sociedade, e fixou a ideia de que a Constituição é uma decisão, de natureza política,
pela qual se fundamenta o fato de o Estado existir, que faz nascer o Estado, separando-o do campo social.
Esse conceito pertence à ciência política.
O sentido jurídico é o que importa ao Direito Constitucional, mas os demais sentidos não devem ser
olvidados. Hans Kelsen faz uma distinção entre norma fundamental pressuposta ou hipotética e lei
fundamental do Estado: norma fundamental pressuposta ou hipotética seria o fundamento racional de uma
Constituição, da sua elaboração (conceito pertencente à filosofia jurídica); a lei fundamental do Estado seria
a Constituição (daí a ideia da pirâmide de Kelsen, em que a Constituição ocupa o ápice, e serve como
fundamento comum de validade de qualquer norma que o Estado vier a produzir).
São elementos ou requisitos do Ato Administrativo a competência (sujeito), objeto, motivo, finalidade e
forma. Para facilitar a memorização, pode-se dizer que os elementos ou requisitos do ato administrativo
formam o COMFiFo.
Competência
Objeto
Motivo
Finalidade
Forma
1. Competência (sujeito)
1.1. Conceito
É a atribuição conferida pela lei ao agente público. A competência, em direito administrativo, não se restringe
a capacidade civil. Esta é englobada pelo conceito de competência.
1.2. Vícios
O agente público exorbita sua competência legal. O agente público tem a competência, mas ultrapassa os
limites desta.
OBS: Perceba que a autoridade competente ora pode, ora deve ratificar o ato com o vício de excesso de
poder. Perceba que, se o ato for vinculado e estando em conformidade com a lei, a autoridade competente
para a prática do ato DEVE ratificá-lo, afinal, é direito subjetivo do administrado a prática do ato vinculado,
caso cumpra os requisitos legais.
De outro lado, se o ato for discricionário, ainda que esteja em conformidade com a lei, a autoridade
competente PODE ratifica-lo, afinal, dependerá de uma análise de oportunidade e conveniência dessa
autoridade.
Por fim, observe que se a competência for exclusiva, haverá um ato com vício INSANÁVEL.
O ato é praticado por um agente público de fato, aquele que, por algum motivo, não pode exercer a função
pública ou houve um ingresso irregular no serviço público.
Ex.: Servidor de férias, Aposentadoria, Servidor que está em um cargo que exigia concurso público, mas foi
provido por indicação.
O ato praticado pelo agente de fato reputa-se válido perante 3º de boa-fé. Isto se justifica pela Teoria da
Aparência. O agente público aparenta-se competente para a prática do ato.
O ato é praticado por quem não é Agente Público, isto é, não está investido na função pública.
É um ato inexistente.
A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, nos
termos do art. 11 da Lei nº 9784/99.
Em determinadas situações, a lei pode autorizar que um agente transfira a outro agente funções que lhe são
atribuídas. Em outras palavras, um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social,
econômica, jurídica ou territorial. A isto se dá o nome de delegação de competência. Tudo isso previsto no art.
12 da Lei nº 9784/99.
Observe que a delegação não enseja, obrigatoriamente, a diferença hierárquica entre os agentes públicos.
O ato de delegação deve indicar a autoridade delegante, a autoridade delegada e as atribuições objeto da
delegação. Isso se extrai do art. 12, § único do Decreto-lei nº 200/67.
O ato de delegação não retira a atribuição da autoridade delegante, que continua competente
cumulativamente com a autoridade delegada para o exercício da função. Contudo, importante observar a
Súmula 510 do STF que assim afirma: “PRATICADO O ATO POR AUTORIDADE, NO EXERCÍCIO DE
COMPETÊNCIA DELEGADA, CONTRA ELA CABE O MANDADO DE SEGURANÇA OU A MEDIDA JUDICIAL.” A
Súmula do STF está de acordo com o art. 14, § 3º da Lei 9.784/99, ao dizer que o ato praticado considera-se
editado pelo delegado.
O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial. O ato de delegação é revogável
a qualquer tempo pela autoridade delegante.
Por sua vez, a própria lei pode impedir que certas atribuições sejam delegadas a outros agentes. Essas são
chamadas de funções indelegáveis. A Lei nº 9784/99, que trata do processo administrativo federal, em seu
art. 13, veda a delegação quando se trata de:
De outro lado, pode acontecer fenômeno inverso, ou seja, uma autoridade de hierarquia superior chamar
para si a competência. A isto se dá o nome de avocação de competência, previsto no art. 15 da Lei nº
9784/99.
Nos termos do art. 17 da Lei 9.784/99, inexistindo competência legal específica, o processo administrativo
deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico para decidir.
As doutrinas que se ocupam do tema da responsabilidade civil extracontratual do Estado foram construídas
para lidar com as situações de sujeição geral dos administrados em relação ao Poder Público. Nesse prisma,
tais regras de responsabilidade servem como garantia aos administrados submetidos ao império estatal, ou
seja, é o contrapeso da supremacia geral que tem o Estado, no exercício do seu poder de polícia.
Casos há, todavia, em que o Estado mantém vínculos especiais com certas pessoas, tais como servidores
públicos, alunos de escolas públicas, presos mantidos em cadeias e penitenciárias etc. São relações de
supremacia especial, também chamadas de relações de custódia, submetidas a regime disciplinar mais
rigoroso e que, por consequência, devem seguir parâmetros distintos de responsabilidade por parte do
Estado.
Nessas vinculações diferenciadas, a responsabilidade do Estado é mais acentuada do que nas relações de
sujeição geral, à medida que o ente público tem o dever de garantir a integridade das pessoas e bens
custodiados. Por isso, a responsabilidade estatal é objetiva inclusive quanto a atos de terceiros. Os exemplos
mais comuns são: o preso morto na cadeia por outro detento; a criança vítima de briga dentro de escola
pública; bens privados danificados em galpão da Receita Federal. Em todas essas hipóteses, o Estado tem o
dever de indenizar a vítima do dano, mesmo que a conduta lesiva não tenha sido praticada por agente público.
Cabe, porém, advertir que a responsabilidade estatal é objetiva na modalidade do risco administrativo. De
acordo com a jurisprudência do STF e do STJ, o preso que tenha se suicidado também ensejará a
responsabilidade do Estado, em razão do risco ser inerente ao meio no qual o detento foi inserido pelo próprio
Estado.1
Assim, por exemplo, o preso assassinado na cadeia por outros detentos durante rebelião gera dever de o
Estado indenizar a família. Entretanto, se a morte teve causas naturais (força maior), não há dever de indenizar.
Quando ao fato de terceiro, não constitui excludente da responsabilidade nos casos de custódia, em razão do
mais acentuado dever de vigilância e de proteção atribuído ao Estado nessas relações de sujeição especial.
Em caso de inobservância do seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, XLIX, da CF, o
Estado é responsável pela morte de detento. Essa a conclusão do Plenário, que desproveu
recurso extraordinário em que discutida a responsabilidade civil objetiva do Estado por morte de
preso em estabelecimento penitenciário. No caso, o falecimento ocorrera por asfixia mecânica,
e o Estado-Membro alegava que, havendo indícios de suicídio, não seria possível impor-lhe o
dever absoluto de guarda da integridade física de pessoa sob sua custódia. O Colegiado asseverou
que a responsabilidade civil estatal, segundo a CF/1988, em seu art. 37, § 6º, subsume-se à teoria
do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas,
uma vez rejeitada a teoria do risco integral. Assim, a omissão do Estado reclama nexo de
causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nas hipóteses em que o Poder Público ostenta
o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o resultado danoso. Além disso, é
dever do Estado e direito subjetivo do preso a execução da pena de forma humanizada,
garantindo-se-lhe os direitos fundamentais, e o de ter preservada a sua incolumidade física e
moral. Esse dever constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando
possível a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto
inafastável para a configuração da responsabilidade civil objetiva estatal. Por essa razão, nas
situações em que não seja possível ao Estado agir para evitar a morte do detento (que ocorreria
mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade. Afasta-se, assim,
a responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se a teoria do risco integral, ao arrepio
do texto constitucional. A morte do detento pode ocorrer por várias causas, como homicídio,
suicídio, acidente ou morte natural, não sendo sempre possível ao Estado evitá-la, por mais que
adote as precauções exigíveis. Portanto, a responsabilidade civil estatal fica excluída nas
hipóteses em que o Poder Público comprova causa impeditiva da sua atuação protetiva do
detento, rompendo o nexo de causalidade da sua omissão com o resultado danoso. Na espécie,
entretanto, o tribunal “a quo” não assentara haver causa capaz de romper o nexo de causalidade
Posse é o instituto que regula a situação daquele que usufrui de um ou mais dos atributos da propriedade
(uso, gozo, fruição e disposição), sem deter a titularidade da coisa.
Posse e propriedade não se confundem. O possuidor pode ser o titular do bem; nada impede, porém, que
não o seja, e o ordenamento jurídico tutela o possuidor até mesmo em face do proprietário, em situações
de colidência de direitos em torno da coisa sob a qual tanto a posse como a propriedade recaem.
Posse e propriedade são conceitos jurídicos distintos, com os quais o profissional do direito logo
se habitua a lidar: o locatário tem a posse do bem locado, mas não a propriedade; o proprietário
pode estar ou não na posse da coisa; quem possui não é necessariamente o dono – são assertivas
familiares aos estudantes e profissionais da área. As diferenças entre posse e propriedade,
contudo, não se encontram a partir do exame da conduta do sujeito em relação à coisa. Tanto o
possuidor proprietário como o não proprietário agem do mesmo modo – quer dizer, usam, fruem
e dispõem da coisa em igual medida. É na qualificação jurídica da conduta deles, feita pela lei,
que residem as diferenças entre um e outro instituto. Esquematicamente, pode-se dizer que a
posse se encontra a meio caminho entre, de um lado, a propriedade (direito fundamental
amplamente protegido, inclusive no plano constitucional) e, de outro, a detenção (que comporta
apenas a autotutela, ou seja, o legítimo afastamento da ameaça por desforço imediato do
próprio detentor)2.
Questão igualmente tortuosa é a distinção entre posse e mera detenção. De regra, converge-se que a
detenção é o poder fático exercido sobre a coisa em relação de dependência ao titular da posse. Isto é, na
detenção, toda a atuação é tida em nome do posseiro, de modo que o detentor se coloca na posição de mero
dependente funcional ou executor de ordens de preservação e cuidado. É o exemplo do caseiro, que
administra imóvel (detenção) em nome do possuidor.
Pois bem.
Trata-se, a posse, de tema controverso e com pluralidade de repercussões práticas. Em concursos para o
Ministério Púbico, a posse é instituto de grande relevância, haja vista que se expressa como fundamento de
2
ULHOA, Fábio. Curso de Direito Civil – vol. IV. Pág. 15. Saraiva – 2020.
lides cuja atuação da Instituição é prioritária, tais como os conflitos urbanos e agrários por grandes
latifúndios.
A primeira é a subjetiva, defendida por Savigny, pela qual a posse é o poder direto exercido por alguém sobre
a coisa, com a intenção de tê-la para si e de tutelar a sua titularidade. Dois elementos, portanto, configuram
a posse: corpus, isto é, a disponibilidade física da coisa - elemento material; e animus, que significa a intenção
de ter a coisa para si – elemento anímico. Observe que, pelo elemento subjetivo (animus), o locatário, por
exemplo, não teria a posse sobre a coisa locada.
A segunda teoria é a objetiva, de Ihering. Aduz que a posse se qualificará na hipótese de o sujeito exteriorizar
a titularidade da coisa, ainda que não seja seu proprietário, e desde que a legislação não lhe retire a proteção
possessória – como no caso da mera detenção. Dispensa-se o elemento anímico: pretensão de titularizar a
coisa.
Com amparo doutrinário, pode-se afirmar que o Código Civil adota a teoria objetiva para caracterizar a posse.
Dispõe o seu art. 1.196 que: considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não,
de algum dos poderes inerentes à propriedade. Nota-se, pois, a dispensa do elemento subjetivo.
De mais a mais, é certo que, contemporaneamente, avulta de importância a chamada teoria sociológica da
posse, pela qual o fator determinante à caracterização do instituto será a dimensão social que o sujeito dá à
sua relação com a coisa. É concepção idealizada, dentre outros, por Silvio Perozzi, Raymond Saleilles e
Hernandez Gil.
A teoria sociológica é vista como contemporânea e encontra crescente apoio doutrinário, conforme se
verifica do enunciado 492 da V Jornada de Direito Civil: a posse constitui direito autônomo em relação à
propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais,
econômicos e sociais merecedores de tutela.
A coisa julgada é garantia fundamental, insculpida em nossa Constituição Federal no art. 5º, inciso XXXVI.
Reflete o primado da segurança jurídica e funciona como instrumento de estabilidade social, já que por meio
dela é que os conflitos intersubjetivos judicializados serão resolvidos definitivamente.
Conceitualmente, coisa julgada é a autoridade que recai sobre o provimento jurisdicional que torna imutável
o julgamento. Não é efeito da sentença/decisão interlocutória de mérito, mas qualidade dos seus efeitos, já
que tão somente visa a estabilizar e a consolidar as repercussões prática e jurídica do decisium. O Código de
Processo Civil regula o regime jurídico da coisa julgada em seus arts. 502 e ss.
Para a compreensão da temática, deve-se frisar que a coisa julgada pode ser formal e material. A formal visa
a certificar o esgotamento recursal do provimento; assim, limita-se a projetar-se intraprocessualmente
(dentro do processo), fulminando os meios de impugnação da decisão judicial, que passarão, então, a ser
considerados intempestivos.
A seu turno, a coisa julgada material é a projeção externa da imutabilidade dos efeitos da coisa julgada. Por
isso, na repetição de demandas, isto é, na propositura de nova ação em que se repetem as partes, a causa
de pedir e o pedido, a coisa julgada material figurará como pressuposto processual negativo e, assim, a
demanda repetida será extinta sem resolução do mérito.
É precisamente essa impossibilidade de nova discussão da matéria que já fora, antes, decidida que viabiliza
a segurança jurídica da atividade judiciária e que caracteriza, portanto, a essencialidade da coisa julgada
material.
A Lei, entretanto, possui mecanismos de relativizar a coisa julgada material. Por vezes, circunstâncias
processuais ou fáticas viciam o conteúdo dos provimentos judiciais e, para estes casos, a ação rescisória
viabiliza a desconstituição do julgado. A ação rescisória está prevista no art. 966 e ss. do Código de Processo
Penal.
Vale mencionar que a ação rescisória pode ser ajuizada em dois anos, com termo inicial variável, a teor dos
arts. 495 e 975 do Código de Processo Civil.
Porém, não será a rescisória o objeto do nosso estudo. Trataremos, nesta oportunidade, de causa supralegal
(não prevista em lei, portanto) de relativização da coisa julgada, que visa à desconstituição da decisão
independentemente do prazo que transcorrera desde o respectivo trânsito em julgado.
É a injustiça da coisa julgada violadora de direito fundamental, portanto, que legitima a demanda
desconstitutiva. A decisão judicial se torna inconstitucional e deve, assim, ser extirpada do ordenamento
jurídico, por meio da chamada querela nullitatis insanabilis.
A corrente doutrinária que se posiciona favoravelmente ao instituto diverge em relação à natureza do vício
que contamina o provimento jurisdicional. De regra, há a vertente que defende que a coisa julgada injusta é
geradora de inexistência do provimento, ao passo que, para outro segmento, o vício é de validade da decisão.
Assim, o provimento que haja se amparado na impossibilidade científica para denegar o reconhecimento da
paternidade (isto é, a improcedência por deficiência instrutória) poderá ser relativizado por nova demanda
em que, enfim, se prove, por exames periciais, a filiação postulada.
Confira-se:
3. Não devem ser impostos óbices de natureza processual ao exercício do direito fundamental à
busca da identidade genética, como natural emanação do direito de personalidade de um ser, de
forma a tornar-se igualmente efetivo o direito à igualdade entre os filhos, inclusive de
qualificações, bem assim o princípio da paternidade responsável.
4. Hipótese em que não há disputa de paternidade de cunho biológico, em confronto com outra,
de cunho afetivo. Busca-se o reconhecimento de paternidade com relação a pessoa identificada.
(STF - RE: 363889 DF, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 02/06/2011, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-238 DIVULG 15-12-2011 PUBLIC 16-12-
2011)
Destaque-se que a demanda em que o julgado acima mencionado foi lançado possui o Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios como parte interveniente e é constantemente cobrado em provas para a
carreira de Promotor de Justiça.
De mais a mais, saliente-se que a relativização da coisa julgada encontra resistência de parte da doutrina. A
vertente contrária, em suma, aduz que a tutela à segurança jurídica, expressada pela coisa julgada, é valor
estruturante do ordenamento jurídico, de modo que a estabilização social poderia se comprometer com o
enfraquecimento da imutabilidade. Afirma-se que, à míngua de um rol permissivo da querela, a
determinação do vício suficiente à relativização seria abstrata e casuística – potencializando a insegurança
jurídica.
Sobre o tema, e em arremate, Fredie Didier doutrina que as concepções de relativização atípica da coisa
julgada são perigosas. Defendem a prevalência do "justo", mas não definem o que seja o "justo". Partem de
uma noção de justiça, como senso comum captado por qualquer cidadão médio3.
O princípio do contraditório trata-se de uma garantia constitucional prevista no artigo 5º, LV, da Carta
Magna, e no artigo 7º do Código de Processo Civil, que se reveste, em sua premissa básica, da noção de
contraditar, contestar, isto é, da ideia aplicada ao processo da necessidade de se possibilitar às partes de
uma relação jurídica processual a apresentação de uma reposta ou de sua particular versão sobre os fatos e
os fundamentos que lhe são contrapostos.
Fredie Didier Jr. (2018, p. 105)4 destaca o princípio do contraditório como “reflexo do princípio democrático
na estruturação do processo”. Para ele, “democracia é participação, e a participação no processo opera-se
pela efetivação da garantia do contraditório”.
3
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, volume 2, 6ª edição, páginas 452/453,
JusPodivm, 2011.
4
(DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral e
Processo do Conhecimento. 20. ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2018, 895 p. v. 1.)
A possibilidade de influência na decisão, por sua vez, é a dimensão substancial do princípio do contraditório,
considerado numa perspectiva mais aprofundada. Para além da garantia de conhecimento e participação,
deve também ser conferido às partes poder de influência sobre os pronunciamentos judiciais.
Não se limita, pois, o princípio do contraditório a oportunizar às partes sua participação, mas se presta, talvez
de uma forma ainda mais relevante, a assegurar que elas possam efetivamente interferir nas decisões,
impondo ao magistrado o correlato dever de apreciar as teses explanadas como meio de formação de seu
convencimento.
É do viés substancial do contraditório que decorre o dever do juízo de enfrentar todos os argumentos
deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador, cujo
descumprimento implica a existência de uma decisão carecedora de fundamentação, nos termos do artigo
489, §1º, do Código de Processo Civil.
Pelas mesmas razões, não há mais espaço para decisões vagas, imprecisas, pautadas em argumentos
genéricos ou em conceitos jurídicos indeterminados, sem que haja relação com as especificidades do caso
concreto.
É também corolário do contraditório substancial a vedação imposta ao juiz de decidir, seja qual for o grau de
jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício, conforme intelecção do artigo
10 do Código de Processo Civil.
A legítima defesa é causa de exclusão da ilicitude que, conforme o disposto no art. 25 do Código Penal,
consiste em repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente
dos meios necessários.
CP, Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também
em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a
vítima mantida refém durante a prática de crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Para Juarez Cirino dos Santos, muito embora presentes os requisitos legais, a literatura contemporânea
reconhece hipóteses de defesas necessárias não permitidas por limitações ético-sociais relacionadas ao
autor da agressão, às relações de garantia entre agressor e agredido, ao comportamento do agredido e à
natureza da agressão.
Estaria, de acordo com o autor, sujeitada a limites éticos-sociais para seu reconhecimento a legítima defesa
nas seguintes hipóteses:
Antes de se reconhecer a permissão (permissividade) para se atuar em legítima defesa nas hipóteses acima
elencadas, o agente deve buscar reações alternativas como desviar, defender-se sem atingir o agressor
(defesa sem dano), pedir por socorro, assumir o risco de pequenos danos.
Ressalte-se no entanto, que diante de potencialidade lesiva ou lesão expressiva, tal teoria não tem emprego;
como, v.g., na hipótese de agressão armada no contexto de violência doméstica.
O tema foi cobrado no concurso para Promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná:
(...)
B A utilização da legítima defesa por B contra agressão injusta e atual realizada por A, bêbado evidente,
com capacidade psicomotora comprometida pelo consumo do álcool, está condicionada a limitações
ético-sociais, que definem a permissibilidade de defesa.
É crime contra o Sistema Financeiro nacional a conduta de quem obtém, mediante fraude, financiamento
em instituição financeira. Cuida-se do preceito primário da norma penal incriminadora insculpida no art. 19
da Lei nº 7.492/86. A conduta núcleo do tipo consiste justamente na obtenção fraudulenta de financiamento
junto à instituição financeira.
“(…) operação bancária pela qual o banco antecipa numerário sobre créditos que o cliente
(pessoas física ou jurídica) possa ter, com o escopo de emprestar-lhe certa soma e proporcionar-
lhe recursos necessários para a realização de certo negócio ou empreendimento, reservando-se
o direito de receber de devedores do financiado os créditos em seu nome ou na condição de seu
representante, sem prejuízos das ações que contra ele conserva até a liquidação final.”[1]
No tocante à matéria, o Banco Central editou circular em que define a expressão "financiamento" da seguinte
forma:
O Superior Tribunal de Justiça reconhece no crime de financiamento fraudulento a prática de delito formal,
que prescinde, portanto, do efetivo abalo do sistema financeiro nacional. Neste sentido:
1. A tese do Ministério Público Federal no sentido de que compete à Justiça Estadual apurar
condutas delitivas que afetam apenas o patrimônio de instituições financeira e não o Sistema
Financeiro como um todo não prosperou nesta Corte, a qual entende que para a configuração
do delito descrito no art. 19 da Lei n. 7.492/86, basta a obtenção, mediante fraude, de
financiamento em instituição financeira com destinação específica dos valores obtidos. 2. No
caso dos autos, tendo em vista que o investigado teria obtido financiamento bancário com
destinação específica para adquirir automóvel usando documento falso em nome de terceiro,
resta caracterizada a competência da Justiça Federal, na esteira da pacífica jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça - STJ.Precedentes.
3. O tema foi amplamente debatido em precedente no qual esta Corte Superior manteve sua
jurisprudência no sentido de que o crime tipificado no art. 19 da Lei n. 7.492/86 não exige, para
a sua configuração, efetivo ou potencial abalo ao Sistema Financeiro (EDcl no AgRg no CC
156.185/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 7/5/2018.) O
mencionado paradigma tem sido mantido pela Terceira Seção nos julgamentos que o sucederam.
(CC 167.315/PR, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2019,
DJe 06/09/2019)
O Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19) promoveu importantes alterações na legislação penal e processual
penal. Especificamente em relação ao crime de roubo, previsto no art. 157 do Código Penal, criou-se a
majorante constante do art. 157, §2º-B:
(...)
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Ademais, também alterou o rol de crimes hediondos previstos no art. 1º da Lei nº 8.072/90, para fazer incluir
o roubo circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (CP, art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (CP, art. 157, § 2º-B).
A jurisprudência dos tribunais superiores é farta na interpretação dos diversos aspectos do roubo cometido
com emprego de arma de fogo.
Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou quanto a ser prescindível a apreensão e perícia
da arma de fogo para a caracterização do roubo majorado, quando evidenciado o seu emprego por outros
meios de prova.
Por sua vez, a utilização de arma sem potencialidade lesiva, atestada por perícia, como forma de intimidar a
vítima no delito de roubo, caracteriza a elementar grave ameaça, porém, não permite o reconhecimento da
majorante de pena.
Igualmente, manifestou-se o STJ quanto à aplicação do princípio da consunção ao crime de porte ilegal de
arma de fogo em face do roubo a mão armada:
“O crime de porte de arma é absorvido pelo de roubo quando restar evidenciado o nexo de
dependência ou de subordinação entre as duas condutas e que os delitos foram praticados em
um mesmo contexto fático, o que caracteriza o princípio da consunção”.
Em resumo apertado, o inquérito policial cuida de expediente de natureza administrativa, presidido pelo
Delegado de Polícia, destinado a apurar a autoria e a materialidade de infração de médio e maior potencial
ofensivo.
Essa investigação preliminar busca reunir elementos destinados a subsidiar a persecução penal em juízo.
Aliás, o processo penal trabalha quase que em toda a sua integralidade com dois importantes elementos:
materialidade e autoria.
Eles são necessários ao oferecimento de denúncia, o que se extrai da leitura do artigo 395, do CPP, que
reclama a rejeição da peça incoativa para o caso de faltar justa causa.
No transcorrer da ação penal também as partes e o(a) magistrado(a), trabalham com autoria e materialidade,
conforme se vê dos artigos 386 e 387, do CPP, que tratam respectivamente da absolvição e da condenação.
Basicamente, a orientação que se tem, gira em torno desse eixo, acrescido ainda dos demais elementos
estruturais componentes do conceito analítico de crime
Essa lógica orienta, de igual modo, as cautelares, que somente podem ser decretadas quando presentes
indicativos de autoria e materialidade, além dos requisitos inerentes ao periculum libertatis.
Pois bem. Ocorrido um fato criminoso, surge para o Estado o poder-dever de investigar, processar e
eventualmente punir o seu responsável. A essa atividade, que equivale a perseguir, ir ao encalço, seguir, dá-
se o nome de persecução penal.
A polícia, embora não seja a única instituição legitimada a perscrutar, é a responsável pela condução da
maioria esmagadora das investigações em solo brasileiro, sendo a responsável por subsidiar a atuação do
Ministério Público, na formação da opinio delicti.
Como se sabe, os autos do inquérito policial não podem ser arquivados pela Autoridade Policial, conforme
anela o artigo 17, do CPP, pois cabe ao Ministério Público a titularidade privativa da ação penal, na forma do
artigo 129, I, da CF, e o artigo 257, do CPP.
Assim, a avaliação, em última instância, dos elementos de convicção, colhidos pela Autoridade Policial e
documentados no inquérito, incumbe ao Parquet, até por conta da adoção do sistema acusatório pela
Constituição Federal.
Aliás, a sistemática proposta na Constituição, tem importantes implicações práticas, a saber: segrega
organicamente as funções de acusar e julgar; a gestão das provas é de incumbência da partes, que buscam
apresentar ao(à) magistrado(a) a verdade possível; a presunção de inocência; a exigência de um processo
que oral e público; a adoção do sistema da livre convicção motivada, dentre outros.
No âmbito do STF há importantes julgados que tratam dessas implicações, conforme se vê abaixo:
a) a rigor, requisição dessa natureza é incompatível com o sistema acusatório, que impõe a
separação orgânica das funções concernentes à persecução penal, de modo a impedir que o juiz
adote qualquer postura inerente à função investigatória. Doutrina. Lei 12.830/2013. (HC 115015,
Relator(a): TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 27/08/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-179 DIVULG 11-09-2013 PUBLIC 12-09-2013)
No julgamento da ADI 4693, de relatoria do Min. Alexandre de Moraes, ficou assentado no âmbito do STF a
“flagrante inconstitucionalidade do artigo 379, parágrafo único do Regimento Interno do Tribunal de Justiça
da Bahia, que exclui a participação do Ministério Público na investigação e decisão sobre o arquivamento
de investigação contra magistrados, dando ciência posterior da decisão”.
O que se tinha até edição da lei 13.964, o Pacote Anticrime, é que ao Ministério Público incumbia a gestão
do expediente investigatório, sendo submetido a um controle anômalo promovido pelo Poder Judiciário.
Assim, o arquivamento da investigação era requerido pelo Parquet ao Judiciário, que, em caso de
discordância, remetia o expediente a uma reapreciação pela chefia da instituição, no caso dos Ministérios
Públicos Estaduais, o Procurador-Geral de Justiça.
Trata-se do princípio da devolução, que entrega (ou devolve) a solução da controvérsia à chefia do Ministério
Público.
Este, o PGJ, caso concordasse com as razões do promovente (membro do Ministério Público), ratificava a
manifestação, encerrando assim a discussão, ou, em discordando, oferecia denúncia ou designaria outro
membro para fazê-lo, respeitando, assim, a independência funcional.
A última palavra era dada pelo Ministério Público, porém havia uma fiscalização exercida pelo Judiciário.
Com a novel redação dada ao artigo 28, do CPP, esse arquivamento passou a ser feito diretamente pelo
Ministério Público (que não mais requer e sim promove ou ordena o arquivamento), sujeitando-se a uma
espécie de reexame necessário, feito pela instância de revisão ministerial (aparentemente o PGJ, conforme
artigo 10, IX, d, da LOMP) para fins de homologação.
A propósito, foi editado pelo Grupo Nacional dos Coordenadores dos Centros de Apoio Criminal, o enunciado
7, que sela a discussão em torno na natureza do ato de arquivamento, bem assim a instância revisora,
conforme se vê:
Não obstante, o membro do Parquet deve comunicar o arquivamento à vítima, ao investigado e à Autoridade
Policial, permitindo-se a insurgência do ofendido.
Reafirmou-se, outrossim, a função de dominus litis do Ministério Público, excluindo-se o controle feito pelo
Poder Judiciário, providência salutar até para mantê-lo equidistante às partes.
Sobre o tema, dispõe o enunciado 8, do Grupo Nacional dos Coordenadores dos Centros de Apoio Criminal:
Uma advertência necessária é que o dispositivo encontra-se com a eficácia suspensa sine die por força de
uma liminar concedida pelo Min. Fux, no bojo da ADI 6305, aplicando-se, enquanto não resolvida a querela,
as disposições do artigo 28, em sua redação originária.
Quadro comparativo:
Em recente decisão proferida no INQ 4831, o Min. Celso de Mello indeferiu monocraticamente o pedido
formulado pelo Sr. Presidente da República, Jair Bolsonaro, no sentido de optar, caso assim deseje, pelo
depoimento por escrito, no contexto de seu interrogatório policial.
A despeito de expressa previsão legal, a pretensão deduzida pelo Chefe de Executivo foi denegada e um dos
argumentos expendidos pelo zeloso relator, foi o direito de confrontar a pessoa sob inquirição.
A prerrogativa contida no dispositivo reproduzido não é nova, porém foi submetida a essa interpretação em
recente decisão monocrática do STF, e, portanto, passa a ser forte candidata a ser cobrada em concursos.
Para responder a essa indagação, necessário que se faça uma análise, ainda que breve, a respeito do devido
processo legal, sob o aspecto formal ou procedimental.
Segundo já decidido pelo Min. Celso de Mello, no HC 94601, a aludida garantia compreende “requisito
legitimador da própria ‘persecutio criminis’” e nessa qualidade tem uma série desdobramentos, que ele
assim elenca:
As “regras do jogo”, lidas sob a lente da Constituição Federal e dos tratados internacionais, apresentam uma
abrangência muito maior do que o que se captura da leitura rasa das normas insertas no Digesto Processual
Penal.
Faremos um pequeno recorte para tratar da ampla defesa, que nos dizeres do Excelentíssimo Ministro
abrange a ampla defesa e a defesa técnica, mas que, com certeza, tem outros importantes desdobramentos.
Aos acusados em geral é garantido o direito de defesa, tanto a patrocinada por profissional habilitado,
quanto aquela que é exercida pelo próprio indigitado, que tem a oportunidade de, em seu interrogatório,
apresentar a sua versão sobre os fatos.
O próprio Celso de Mello, em outro emblemático julgado, HC 93.503, reconhece o direito de presença do
réu, é dizer, direito de comparecer, assistir e presenciar os atos processuais, que se realizam sob o manto do
contraditório, sob pena de nulidade absoluta, esclarecendo que:
Essa prerrogativa processual reveste-se de caráter fundamental, pois compõe o próprio estatuto
constitucional do direito de defesa, enquanto complexo de princípios e de normas que amparam
qualquer acusado em sede de persecução criminal, mesmo que se trate de réu processado por
suposta prática de crimes hediondos ou de delitos a estes equiparados.
Renato Brasileiro, em seu Código de Proceso Penal Comentado (Salvador: Juspodivm, 2020, p. 563) apresenta
outros desdobramentos do direito de defesa, como por exemplo a capacidade postulatória autônoma (para
interpor recursos, impetrar HC e postular a revisão criminal, respectivamente artigos 577, 654 e 623, do CPP)
e o próprio direito ao confronto (right of confrontation).
Sobre o confronto, ele compreende o direito de participar da audiência para a colheita da prova e presenciar
a sua produção, o direito de produzir a prova na presença do julgador do mérito, a necessidade de imposição
do compromisso de dizer a verdade, de conhecer a identidade das fontes de prova testemunhal, de inquirir
as testemunhas e de se comunicar de forma livre, reservada e ininterrupta com o seu defensor técnico.
Assim, quando em uma audiência de instrução e julgamento, Ministério Público e defesa suscitam contradita
ou arguem um as testemunhas indicadas pelo outro (cross-examination), o fazem com base nesse direito.
A Lei n.º 11.690, de 9 de junho de 2008, alterou a redação do art. 212 do Código de Processo
Penal, passando-se a adotar o procedimento do Direito Norte-Americano, chamado cross-
examination, no qual as testemunhas são questionadas diretamente pela parte que as arrolou,
facultada à parte contrária, a seguir, sua inquirição (exame direto e cruzado), e ao juiz os
esclarecimentos remanescentes e o poder de fiscalização.
(HC 230.277/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2012, DJe
26/11/2012)
Retomando o caso concreto, um dos fundamentos à negativa do pedido, portanto, foi o de que o depoimento
por escrito impediria o direito de confrontar, e dessarte representaria transgressão da cláusula do devido
processo legal.
Vale registro apontar outro importante argumento utilizado pelo Ministro: o fato de o Presidente, nesse
caso, estar sendo ouvido na qualidade de investigado. Observa-se que a prerrogativa em questão restringe-
se às hipóteses em que a autoridade figura como testemunha, caso em que, ainda assim, a impossibilidade
do confronto colocaria em cheque a sua constitucionalidade.
- o devido processo legal se desdobra em outras variadas garantias, dentre elas a ampla defesa.
- a ampla defesa, no processo penal, compreende, além da defesa técnica e da autodefesa, o
direito de presença do acusado nos atos de produção da prova, para poder, inclusive, contraditar
(no sentido de exercer o contraditório) o que apresentado pela parte ex adversa.
- também como decorrência da ampla defesa, a estrutura de produção da prova, sobretudo a
oral, compreende a cross examination, é dizer, a possibilidade de uma parte pergunte
diretamente às testemunhas apresentadas pela outra, exercendo o contraditório de forma
imediata.
- é natural que as diretrizes da investigação variem em conformidade com a versão que
apresentada pelo depoente, de modo que a presença física do inquirido e a contemporaneidade
da produção da prova apresentem-se como fundamentais à reconstrução da verdade possível
(ex: se a testemunha nega a ocorrência do crime, os questionamento subsequentes serão
diversos da situação em que ela confirma os fatos).
- por fim, a oralidade é traço característico do sistema acusatório, não podendo ser desprezada.
O tipo penal que estudaremos está previsto no art. 36, da Lei n.º 11.343/2006:
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º
, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000
(quatro mil) dias-multa.
Trata-se de crime autônomo, aplicável ao agente que não possui participação direta na execução do tráfico
de drogas, e que se limita a fornecer os recursos necessários para a prática das infrações penais descritas
nos artigos 33, caput e §1º, e 34, da Lei 11.343/2006.
Durante a vigência da revogada Lei n.º 6.368/76, quem financiasse ou custeasse o tráfico de drogas ou de
maquinários, respondia pelo mesmo crime imputado ao traficante, com a pena agravada pelo art. 62, inciso
I, do Código Penal5. Com a nova Lei de Drogas, criou-se o tipo específico para o agente que pratica esta
mesma conduta.
Diante disso, tem-se uma exceção à teoria monista prevista no art. 29, do Código Penal6, visto que os
indivíduos que concorrem para o mesmo fato (o tráfico de drogas, seja como coautores ou partícipes),
respondem por tipos penais diferentes: as dezenas de condutas tipificadas nos artigos 33, 33,§1º e 34), e
aquele que efetivamente sustenta o crime (financiando-o), incorre no tipo penal previsto no art. 36.
Pacificado está o entendimento de que o art. 36 da Lei de Drogas se refere ao crime cometido por aquele
que não se envolve diretamente no tráfico de drogas (não o executa), mas sim àquele sujeito que, apensar
de não executar nenhum dos verbos dos artigos 33 ou 34, financia ou custeia referidas. Em outras palavras,
o art. 36 da Lei de Drogas não trata do “autofinanciamento”.
Ainda, o crime em estudo não cuida de financiamento ou custeio que tiver como objetivo a prática de outros
delitos previstos da Lei de Drogas, que não sejam os do art. 33, caput e §1º, e do art. 34, da referida Lei.
O art. 36 da Lei de Drogas faz uso de dois verbos distintos: “financiar”, que significa sustentar os fatos, prover
o capital necessário para o desenvolvimento do tráfico; e “custear”, que consiste em prover despesas, gastos.
Parte da doutrina entende que este verbo não abrange apenas o fornecimento de dinheiro, mas também de
outros bens móveis, como armas, munições e veículos (LIMA, 2020, p. 1084).
Neste ponto, importante retomar aquele assunto acima tratado: e o agente que pratica o tráfico de drogas
e, cumulativamente, financia ou custeia a prática destes crimes, responderá por dois delitos diversos? Não!
O legislador previu expressamente que o agente que atua diretamente no tráfico e que também financia ou
custeia a prática do crime, responderá pelo crime de traficância (art. 33), com a incidência da causa especial
de aumento de pena prevista no art. 40, inciso VII, da Lei n.º 11.343/2006. Ou seja: o art. 36 da Lei não trata
do autofinanciamento, que será somente uma causa de aumento de pena do art. 33.
1. O art. 36 da Lei n. 11.343/2006 diz respeito a crime praticado por agente que não se envolve
nas condutas de traficância, ou seja, que financia ou custeia os crimes a que se referem os arts.
5
Art. 62 – A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I – promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a
atividade dos demais agentes;[…]
6
Art. 29 – Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. §
1º – Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º – Se algum dos
concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
33, caput e § 1º, e 34 da Lei n. 11.343/2006, sem, contudo, ser autor ou partícipe (art. 29 do
Código Penal) das condutas ali descritas.
(HC 306.136/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/11/2015,
DJe 19/11/2015) - negritou-se.
Importante ressaltar que o art. 35 desta Lei, em seu parágrafo único, trata da associação de duas ou mais
pessoas para o fim específico de reiteradamente cometerem o crime previsto no art. 36.
Em resumo:
SITUAÇÃO DELITO
Um dos pontos controvertidos a respeito deste tipo penal é sobre o seu momento consumativo: trata-se de
crime habitual ou não. Veja-se: se o crime for entendido como habitual, uma vez não configurada a reiteração
de condutas, o sujeito que financiou ou custeou o tráfico de drogas ou de maquinários responderá como
partícipe do crime do artigo 33, com a incidência da causa de aumento prevista no art. 40, inc. VII, da Lei de
Drogas. Já se, por outro lado, for entendido como crime instantâneo, aplicar-se-á o art. 36 e não a causa de
aumento mencionada anteriormente, a fim de não ocorrer bis in idem (SILVA, 2016, p. 125).
Há quem justifique que o delito é habitual sob o argumento de que este entendimento é compatível com a
figura da associação para o financiamento ou custeio para o tráfico de drogas, previsto no art. 35, parágrafo
único, da Lei de Drogas, que pressupõe, para a sua caracterização, o propósito de reiteração do crime (SILVA,
2016, p. 125). Além disso, os verbos do tipo indicariam um certo tom de “habitualidade”: financiar e custear.
Tais razões não convencem outra parte da doutrina, que entende ser o delito crime instantâneo, sendo
prescindível a prova de habitualidade.
Contudo, ainda assim, remanesce mais uma discussão: sendo o crime instantâneo, seria ele material, ou seja,
o crime se consumaria com a efetiva utilização dos bens/dinheiro “cedidos” pelo financiador ao tráfico de
drogas, ou este resultado naturalístico é dispensável, bastando a entrega dos bens/dinheiro ‘para o fim de’,
configurando-se a sua efetiva utilização na traficância mero exaurimento (ou seja, um crime formal, de
consumação antecipada)? A questão é controversa e não há posição que prevalece, principalmente porque
se trata de um crime pouco recorrente na prática forense (infelizmente) e também, talvez por isso, pouco
estudado.
Outra discussão: é sabido que o tráfico de drogas é delito equiparado a hediondo (artigo 5º, inciso XLIII da
CF/88), sendo pacífico o entendimento de que os artigos 33, 33§1º e 34 da Lei de Drogas se subsumem a
esta classificação (são crimes equiparados a hediondo). Mas e a conduta tipificada no art. 36 da Lei de
Drogas? Apesar de o mencionado delito possuir a pena mais gravosa de toda a Lei n.º 11.343/2006 (de 8
(oito) a 20 (vinte) anos), de se tratar de exceção dualista à teoria monista, pouco se discute sobre a hediondez
deste crime.
Cesar Dario Mariano da Silva, na obra “Lei de Drogas Comentada”, afirma que, tal qual o tráfico de
entorpecentes, aquele que financia ou custeia o tráfico, responde também por crime equiparado a hediondo
(p. 126):
No mesmo sentido, o seguinte artigo publicado no site da CONAMP (Associação Nacional dos Membros do
Ministério Público):
De acordo com a Lei nº 6.368/1976, de forma majoritária, entendia-se que somente os crimes
descritos nos artigos 12 e 13 eram considerados modalidades de tráfico de drogas, ficando de
fora a associação para o tráfico (art. 14). Os artigos 33, “caput” e § 1º, e o 34, guardam similitude
com os artigos 12 e 13 da lei revogada.
Certamente esses dispositivos devem ser considerados como tráfico de drogas para efeito de
enquadramento na Lei nº 8.072/1990. No entanto, a nova legislação criou crime de maior
gravidade, cominando-lhe, obviamente, pena mais severa. O artigo 36 define o crime de
financiamento e custeio para o tráfico de drogas e impõe pena de oito a vinte anos de reclusão
e pagamento de mil e quinhentos a quatro mil dias multa. Esse delito nada mais é do que forma
de colaboração para o tráfico especialmente tipificada e punida, que poderia ser enquadrada
como participação no crime de tráfico com fulcro no art. 29 do CP. Visando uma diferenciação
na previsão das penas, o legislador o definiu como crime autônomo (exceção pluralista à teoria
unitária no concurso de pessoas). Cuida-se, à evidência, de espécie de tráfico de drogas e deve
ser tratada como tal. Não haveria sentido dificultar a progressão de regime de cumprimento
de pena para o traficante e não fazê-lo para o seu financiador, que pratica crime mais grave e
tem culpabilidade mais acentuada. Por isso, entendemos devam ser considerados tráfico de
drogas para o fim de enquadramento na Lei nº 8.072/1990 os delitos previstos nos artigos 33,
"caput", § 1º, 34 e 36 da nova Lei de Drogas. - negritou-se.
(https://www.conamp.org.br/pt/biblioteca/artigos/item/403-a-lei-dos-crimes-hediondos-apos-
a-alteracao-de-seu-artigo-2.html, acesso em 30/09/2020)
Neste mesmo sentido se manifestam Claudia Barros Portocarrero (2020, p. 147) e Nestor Távora (2020, p.
667).
Como dito alhures, trata-se de uma infração penal pouco combatida, razão por que não se encontram muitos
julgados e doutrinas verticalizadores do assunto. A grande maioria apenas cita que, na forma do rol taxativo
da Lei dos Crimes Hediondos, somente os artigos 33, 33 §1º e 34 tratam de crimes equiparados a hediondo.
Com relação ao artigo 35 da Lei de Drogas também já se pacificou o entendimento de que não é hediondo.
Mas com relação ao artigo 36, ora em pauta, muito pouco se debate sobre o assunto. Pense a respeito!
1.7.2 - Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito: considerações gerais.
Antes de analisarmos pormenorizadamente o delito previsto no art. 16, do Estatuto do Desarmamento (Lei
n.º 10.826/03), importante esclarecer os conceitos de artefatos de uso restrito e de uso permitido. O Decreto
do Executivo Federal n.º 10.030/2019 apresenta o rol dos produtos que são classificados como de uso restrito
e de uso permitido. São chamados de produtos de uso restrito aqueles que são controlados pelo Exército e
somente podem ser utilizados pelas Forças Armadas ou por instituições de segurança autorizadas. Já os
produtos de uso permitido são aqueles controlados pelo Exército, que a utilização é permitida a pessoas
físicas e jurídicas em geral, se atendidos os requisitos normativos.
Ainda, os conceitos de arma de fogo de uso permitido, de uso restrito e de uso proibido são encontrados no
Decreto n.º 9.847/2019. Dê uma conferida nestes atos normativos!
Fixadas tais balizas, passemos a analisar especificamente o delito do art. 16 da Lei n.º 10.826/2003 (Estatuto
do Desarmamento).
A redação original do art. 16, do Estatuto do Desarmamento, tratava de forma igual os crimes de posse ou
porte de arma de fogo, acessório ou munição, de uso restrito e de uso permitido. Com o Pacote Anticrime
(Lei n. 13.964/19) a redação ficou a seguinte:
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma
de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou
qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou
explosivo a criança ou adolescente; e
A conduta típica é expressa por diferentes quatorze verbos, ou seja, é um tipo misto alternativo, no qual a
realização de mais de um verbo pelo mesmo agente implicará em um único delito. Conforme explica Ricardo
Antônio Andreucci (2018, p. 257), é indiferente para a configuração do crime se a arma de fogo estiver
desmuniciada no momento da apreensão, visto que é um crime de mera conduta e de perigo abstrato,
consumando-se independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo/dano para a sociedade.
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. POSSE ILEGAL DE ARMA DE USO RESTRITO. ARMA
DESMUNICIADA. TIPICIDADE. DELITO DE MERA CONDUTA E PERIGO ABSTRATO. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Esta Corte Superior firmou o entendimento de que é irrelevante
estar a arma desmuniciada para a configuração do delito de posse ilegal de arma de fogo de uso
restrito, por se tratar de crime de mera conduta e de perigo abstrato. 2. Agravo regimental
improvido. (STJ – AgRg no HC: 450234 MS 2018/0114551-2, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO,
Data de Julgamento: 06/11/2018, T6 – SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/11/2018) –
negritou-se.
APELAÇÃO CRIME. POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO SUPRIMIDA (ART. 16, §
ÚNICO, INCISO IV, DA LEI 10.826/2003). ARMA DESMUNICIADA OU GUARDADA EM LOCAL
DISTINTO DA RESIDÊNCIA. IRRELEVÂNCIA. CRIME DE MERA CONDUTA. RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO, COM REFORMA DE OFÍCIO DA SENTENÇA PARA REDUZIR O VALOR DA
PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA, A FIM DE QUE GUARDE PROPORCIONALIDADE COM A PENA CORPORAL
IMPOSTA. (TJPR – 2ª C.Criminal – 0000746-71.2014.8.16.0092 – Imbituva – Rel.: Desembargador
José Carlos Dalacqua – J. 03.07.2020) - negritou-se.
Renato Brasileiro de Lima (2020, p. 450) também sustenta ser “crime de perigo abstrato, que presume a
ocorrência de dano à segurança pública e prescinde, para sua caracterização, de resultado naturalístico à
incolumidade física de outrem”.
Ademais, para a configuração de qualquer uma das condutas típicas descritas no caput do art. 16 do Estatuto
do Desarmamento, faz-se necessário que a conduta tenha sido praticada sem autorização e em desacordo
com determinação regulamentar. Ou seja, havendo autorização, ou a conduta estando amparada em
determinação legal ou regulamentar, não se configura crime. Este é o caso, por exemplo, de juízes e
promotores de justiça, que têm direito ao porte de arma de fogo, nos termos de suas leis orgânicas 7 (LIMA,
2020, p. 450).
Outrossim, a doutrina classifica o delito em estudo como crime comum, de execução livre, comissivo,
instantâneo nas condutas de adquirir, fornecer, receber, ceder, emprestar, remeter e empregar, e
permanente nas condutas possuir, portar, deter, ter em depósito, transportar, manter sob sua guarda e
ocultar. Ainda, trata-se de crime doloso, de mera conduta, unissubjetivo e plurissubsistente (LIMA, 2020, p.
452).
7
"Como esses diplomas normativos não especificam a natureza da arma que pode ser utilizada por tais autoridades - se de uso
permitido ou se de uso restrito -, prevalece o entendimento de que magistrados e promotores também podem portar arma de fogo
de uso restrito. Logo, na eventualidade de um Promotor de Justiça ser flagrado portando uma arma de fogo de uso restrito
devidamente registrada, sua conduta será atípica, haja vista que a conduta não fora praticada sem autorização, nem tampouco em
desacordo com determinação legal ou regulamentar" (LIMA, 2020, p. 450).
Fundamental analisar brevemente o texto legal dos §§1º e 2º do art. 16 da Lei n.º 10.826/03. Primeiramente,
é de se notar que, enquanto o caput do referido artigo trata somente de arma de fogo, acessório ou munição
de uso restrito, o §1º trata de diversos outros produtos, sejam eles permitidos ou restritos. Cuidado!
Pois bem. O §1º, inciso I (“suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma
de fogo ou artefato”) se refere à “arma de fogo ou artefato”, sem especificar de qual natureza. Diante da
não restrição quanto ao tipo de arma ou artefato, o entendimento dominante é de que a disposição legal
abrange qualquer tipo de arma de fogo ou artefato, seja de uso permitido, restrito ou proibido. No caso de
ser proibido, a pena aplicada será de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, conforme o art. 16, §2°, do
Estatuto do Desarmamento (LIMA, 2020, p. 452).
Ainda, o texto legal também não contempla os elementos normativos do caput do artigo 16 (“sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”). Assim, pouco importa se a arma ou
o artefato foi obtido de forma lícita ou ilícita, ou se há ou não registro e porte. Em qualquer caso, havendo a
supressão ou a alteração de marca, numeração ou qualquer sinal de identificação do objeto, haverá crime
(LIMA, 2020, p. 452).
Frisa-se que, tendo em vista que esta conduta já era crime previsto no art. 10, §3º, inc. I, da Lei n.º 9.437/97
(revogada), com pena mais branda (reclusão, de dois a quatro anos), por funcionar a nova norma do art. 16,
do Estatuto do Desarmamento, como novatio legis in pejus, a pena cominada à figura delituosa só será válida
para os crimes cometidos a partir da vigência da Lei n.º 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) (LIMA,
2020, p. 452).
Já o inciso II do, §1º, do mesmo artigo prevê a seguinte conduta: “modificar as características de arma de
fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz”. São duas as condutas incriminadas
por este inciso, ambas tratam da modificação das características de arma de fogo: a primeira tem o objetivo
de tornar a arma de fogo equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito (exemplo: transformar um
revólver .38 em um revólver calibre .357); e a segunda objetiva dificultar ou induzir a erro autoridade policial,
perito ou o juiz (trata-se de norma especial de fraude processual – exemplo: o autor de um latrocínio altera
o raiamento de sua arma de fogo a fim de dificultar eventual confronto balístico) (LIMA, 2020, p. 454).
A primeira parte do inciso incrimina a conduta de “modificar”, que significa mudar a forma, imprimir novo
modo de ser, devendo a conduta efetivamente tornar a arma equivalente a alguma de uso proibido ou
restrito. Neste sentido, Renato Brasileiro afirma “se trata de um efetivo resultado integrante do tipo penal,
cuja produção condiciona a própria consumação do tipo penal. Cuida-se, pois, nesse caso, de efetivo crime
material”. Na segunda parte do inciso, é necessário somente comprovar que a modificação tinha por objetivo
dificultar ou induzir a erro a autoridade policial, perito ou juiz, assim, trata-se de crime formal (LIMA, 2020.
p. 455).
O inciso III, do §1º, do art. 16, do Estatuto do Desarmamento, contempla o objeto material chamado de
artefato, seja ele explosivo ou incendiário (“possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”). Devido a sua
antiga previsão no art. 10, §3º, inc. III, da revogada Lei n.º 9.437/97, por funcionar como novatio legis in
pejus, o inciso III, do §1º, do art. 16 do Estatuto do desarmamento somente será aplicado aos crimes
cometidos após a vigência da Lei n.º 10.826/03 (LIMA, 2020, p. 457).
São quatro os verbos núcleos do tipo: possuir, deter, empregar e fabricar. E dois os objetos materiais do
crime: artefato explosivo (conforme prevê o anexo III, Decreto n.º 10.030/19, explosivo “tipo de matéria que,
quando iniciada, sofre decomposição muito rápida, com grande liberação de calor e desenvolvimento súbito
de pressão”. Para o STJ, “explosivo é, em sentido amplo, um material extremamente instável, que pode se
recompor rapidamente, formando produtos estáveis. Esse processo é denominado de explosão e é
acompanhado por uma intensa liberação de energia […]” - Exemplo: granada); e artefato incendiário
(consiste em qualquer mecanismo que, por meio de combustão, tenha a aptidão de provocar incêndio –
Exemplo: ‘coquetel molotov’) (LIMA, 2020, p. 458).
O inciso IV, do artigo em estudo tem a seguinte redação: “portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado”. Diferentemente da previsão do inciso I, do mesmo artigo, este inciso incrimina a conduta
daquele que circula com os sinais da arma de fogo já adulterados. Por isso, tem-se que esta conduta é mais
comum que aquela, visto que nem sempre é possível comprovar quem foi o autor da adulteração (LIMA,
2020, p. 459).
São cinco núcleos do tipo: portar, possuir, adquirir, transportar e fornecer. Como o texto legal não faz
menção a qual tipo de arma de fogo, tem-se que tanto faz se ela for de uso permitido ou restrito. No caso
de a arma ser de uso proibido, responderá o agente pelo tipo penal descrito no §2, do art. 16, do Estatuto
do Desarmamento.
O inciso V, do artigo em estudo prevê: “vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de
fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente”. Os bens jurídicos tutelados são a
segurança e a paz públicas, de maneira direta e de maneira indireta, o tipo penal busca tutelar a vida e a
integridade física das crianças e adolescentes (LIMA, 2020, p. 461)
Os sujeitos passivos do crime são crianças e adolescentes, assim entendidos conforme o art. 2º do Estatuto
da Criança e do Adolescente: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de
idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. Ainda, são três os verbos
núcleos do tipo: vender (alienar algo por preço determinado), entregar (transferência de domínio sem que
haja, necessariamente, contraprestação financeira). E fornecer (prover, abastecer, de maneira onerosa ou
não). Frisa-se que o texto legal não especifica a espécie de arma de fogo ou munição, assim, não há relevância
para a tipificação da conduta (LIMA, 2020, p. 461).
O último inciso do §1º do art. 16, do Estatuto do Desarmamento dispõe: “produzir, recarregar ou reciclar,
sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo”. Este inciso demonstra a
flagrante preocupação do legislador com o uso da rede mundial de computadores, visto que tornou-se
relativamente fácil fabricar munições ou explosivos (LIMA, 2020, p. 462).
São quatro verbos núcleos do tipo: produzir (criar, gerar), recarregar (pôr carga novamente), reciclar
(atualizar algo para ter maior rendimento) e adulterar (modificar). A doutrina classifica este crime da seguinte
forma: comum, de perigo abstrato, execução livre, comissivo, instantâneo, doloso, de mera conduta,
unissubjetivo e plurissubsistente (LIMA, 2020, p. 463).
Por fim, o §2º do art. 16, do Estatuto do Desarmamento, se refere especificamente ao cometimento das
condutas descritas no caput e no §1º deste artigo, mas quando envolverem armas de fogo de uso proibido.
Cuidado: armas de fogo (e não acessórios ou munição) de uso proibido, tão somente! Veja-se:
Com o Pacote Anticrime (Lei n.º 13.964/19), o legislador suprimiu do caput do art. 16 qualquer menção a
arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido, deslocando a questão para o seu §2º. Ocorre que, o
mencionado parágrafo faz referência somente às armas de fogo de uso proibido, não havendo possibilidade
de punir o agente que praticar qualquer das condutas descritas no caput do art. 16, com acessórios ou
munições de uso proibido. Neste caso, Renato Brasileiro esclarece que tais condutas devem ser tipificadas
na figura do caput, do art. 16, fazendo uma verdadeira analogia in bonam partem (LIMA, 2020, p. 464).
Há quem sustente, porém, que tais artefatos (munições proibidas, principalmente, pois nem há indicação
normativa do que sejam acessórios proibidos) estão acobertados sim pelo §2º do artigo 16 e também pelo
artigo 1ª, parágrafo único, inciso II, da Lei n.º 8072/90, pois o nomen iuris do disposto nestes dois Estatutos
não pode ser utilizado para excluir o real significado do que se pretendeu, o que seja, abranger, tanto na
qualificadora do §2º do artigo 16 (sim, é uma circunstância qualificadora, pois há novo limite mínimo e
máximo da pena abstratamente prevista - de 4 (quatro) a 12 (doze) anos (!)), como na Lei dos Crimes
Hediondos (artigo 1º, parágrafo único, inciso II), arma de fogo, munição e acessórios de uso proibido (CUNHA,
2020 p.1528).
Como já adiantado, somente neste caso (qualificadora do §2º do artigo 16, que trata de armas de fogo de
uso proibido), é que se tratará de crime hediondo, diante da expressa previsão do artigo 1º, parágrafo único,
inciso II, da Lei n.º 8072/90.
REFERÊNCIAS:
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 13. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva Educação,
2018.
SILVA, César Dario Mariano da. Lei de drogas comentada. 2. ed. São Paulo: APMP – Associação Paulista do
Ministério Público, 2016.
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios; JUNIOR, José Paulo Baltazar. Legislação Penal Especial. 5. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019.
CUNHA, Rogério Sanches. Teses do STJ sobre a lei de Drogas – III (1ª parte). Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/06/26/teses-stj-sobre-lei-de-drogas-iii-1a-parte/.
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada – volume único. 8ª edi. JusPodivm. 2020.
CORREIA, Martina. Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) Penal e Processo Penal – Lei de Drogas (Leis Especiais –
Juspodivm) + Legislação Criminal Especial Comentada (Renato Brasileiro) + Nestor Távora + Dizer o Direito.
Disponível em: https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-metodista-de-piracicaba/direito-
penal/resumos/resumo-lei-de-drogas/8118181/view.
CUNHA, Rogério Sanchez e outros. Leis Penais Especiais comentadas, Salvador, Editora Juspodium, 3ª edição,
2020.
PORTOCARRERO, Cláudia Barros e outro. Leis Penais Extravagantes – Teoria, jurisprudência e questões, 5ª
edição, Salvador, editora Juspodium, 2020.
TÁVORA, Nestor e outros. Legislação Criminal para concursos, 5ª edição, Salvador, editora Juspodium, 2020).
O alistamento é a primeira fase do processo eleitoral, fase que inaugura esse processo. De acordo com um
conceito mais específico, alistamento eleitoral é um procedimento administrativo de qualificação e
inscrição do eleitor, com a consequente atribuição de um título.
Esse procedimento administrativo tem dois objetivos: qualificar o eleitor (obtenção de seus dados
qualificativos) e inscrever o eleitor (atribuição de um número de inscrição), e ao final esse procedimento é
formalizado por um título eleitoral, no qual constará o nome do eleitor, zona e seção eleitoral.
Neste ponto, o Supremo Tribunal decidiu que o título de eleitor não é documento de porte obrigatório para
o exercício do direito de voto, bastando, para tanto, documento de identificação com foto:
A criação dos conselhos de direitos está prevista entre as diretrizes da política de atendimento voltada à
infância e à juventude. A propósito, existirá um conselho de âmbito nacional, outros em nível estadual e,
ainda, outros em nível municipal. Portanto, cada Estado terá o seu respectivo conselho, assim como todo
município também deverá tê-lo.
Cada conselho de direitos se constitui em um órgão, de modo que não têm personalidade jurídica própria.
Este órgão adotará decisões pelo voto de um colegiado, com a presidência de um de seus membros.
As decisões adotadas pelos conselhos de direitos apresentam-se como atos administrativos e, por isso,
obrigatoriamente, devem observar os princípios que regem a Administração Pública (art. 37, da Constituição
Federal). Além desses, também devem observar os princípios da paridade e da deliberação.
Os conselhos de direitos são compostos por representantes governamentais e da sociedade civil, que são
nomeados para o exercício dessa função, considerada de interesse público. Observando-se o princípio da
paridade, a composição contará com igual número entre os representantes de cada um dos setores
mencionados.
Os conselheiros governamentais serão escolhidos pelo Poder Executivo. De outro lado, os representantes da
sociedade civil serão escolhidos nos termos do que o regimento interno de cada conselho prever. Não
poderão ser remunerados e exercem função de interesse público relevante (não são ocupantes de cargo
público, exercendo função honorífica).
Além disso, os conselhos podem aprovar atos meramente opinativos, como também atos deliberativos, estes
de observância obrigatória, vinculando-se até mesmo a própria administração pública.8
A Lei nº 8.242/1991 criou o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – Conanda,
competindo-lhe, entre outras atribuições, elaborar as normas gerais da política nacional de atendimento dos
direitos da criança e do adolescente, fiscalizando as ações de execução, bem como zelar pela aplicação da
política nacional de atendimento dos direitos dessas pessoas.
8
A propósito, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça no REsp 493811/SP, rel. Ministra Eliana Calmon, 3ª. T, j. 11.11.2003, DJ
15.03.2004, p. 236.
O Conanda já aprovou muitos atos, notadamente resoluções. Entre elas, destaque-se a Resolução nº 113,
que trata do fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente.
A cada um dos conselhos de direitos estará vinculado um fundo, composto pelos recursos necessários para
suprir demandas prioritárias e emergenciais.
Várias são as receitas dos fundos. No âmbito do Conanda, estão presentes: a) contribuições ao Fundo
Nacional, com doações integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os limites legais; b)
recursos consignados no orçamento da União; c) contribuições dos governos e organismos estrangeiros e
internacionais; d) resultado de aplicações do governo e organismo estrangeiros e internacionais; e) resultado
de aplicações no mercado financeiro, observada a legislação pertinente; f) outros recursos.
O Estatuto também trata da destinação ao fundo gerido pelos conselhos municipais de direitos da criança e
do adolescente dos valores das multas aplicadas nos procedimentos judiciais que tramitarem perante o Juízo
da Vara da Infância e da Juventude, bem como nas ações civis públicas para a tutela de direitos
(independentemente de onde tramitem), nos termos dos artigos 154 e 214.
Política de Atendimento
Consoante já foi assinalado, a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente será feita por
meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais. Trata-se de atendimento
em rede, interligado entre as várias entidades.
Em seu art. 1º, indica que o Sistema mencionado “constitui-se na articulação e integração das instâncias
públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento
dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e do
adolescente, nos níveis Federal, Estadual, Distrital e Municipal”.
Este Sistema baseia-se na aplicabilidade de diversas fontes normativas, como convenções internacionais, a
Constituição Federal, diferentes leis, atos administrativos de diversas ordens etc. Todas as fontes normativas
orientadas pelo princípio do superior interesse e pelos ditames da Doutrina da Proteção Integral.
O Sistema conta com o funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação
dos direitos humanos da criança e do adolescente, que correspondem aos eixos estratégicos de ação.
Os órgãos públicos e as organizações da sociedade civil que integram o Sistema de Garantia deverão exercer
suas funções, em rede, a partir de três eixos estratégicos de ação:
De se frisar que os órgãos públicos e as organizações da sociedade civil que integram o Sistema podem
exercer funções em mais de um eixo.
O eixo da defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, prevê o art. 6º, da Resolução,
“caracteriza-se pela garantia do acesso à justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias públicas e mecanismos
jurídicos de proteção legal dos direitos humanos, gerais e especiais, da infância e da adolescência, para
assegurar a impositividade deles e sua exigibilidade, em concreto”.
Diversos são os órgãos públicos inseridos no eixo de defesa, os quais podem ser designados como Atores do
Sistema de Garantia. São eles os órgãos públicos:
Mas o rol dos Atores do Sistema de Garantia não está restrito aos órgãos públicos, abrangendo também
entidades sociais de defesa de direitos humanos, incumbidas de prestar proteção jurídico-social.
I - serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas sociais, afetos aos
fins da política de atendimento dos direitos humanos de crianças e adolescentes;
II - serviços e programas de execução de medidas de proteção de direitos humanos; e
III - serviços e programas de execução de medidas socioeducativas e assemelhadas.
O controle das ações públicas de promoção e defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente se
fará por meio das instâncias públicas colegiadas próprias, onde se assegure a paridade de participação de
órgãos governamentais e de entidades sociais, tais como:
Proteção dos Direitos de Crianças e Adolescentes no Atendimento realizado por Órgãos e Entidades do
Sistema de Garantia de Direitos
A Resolução nº 169, de 13.11.2014, do CONANDA, dispõe sobre a proteção dos direitos das crianças e
adolescentes no atendimento realizado por órgãos e entidades do Sistema de Garantia de Direitos, em
conformidade com a política nacional de atendimento prevista no Estatuto.
Para tanto, considera que a expressão “atendimento” engloba o “conjunto de procedimentos adotados nos
momentos em que a criança e o adolescente são ouvidos nos órgãos e entidades do Sistema de Garantia de
Direitos, envolvendo, entre outros, o Sistema de Justiça, os órgãos de Segurança Pública e do Poder Executivo
e os Conselhos Tutelares” (art. 1º, parágrafo único).
Esse atendimento deverá ser regido por práticas éticas e profissionais, de modo a não agravar o sofrimento
psíquico de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de crimes, respeitando-se o tempo e o silêncio
de quem é ouvido, prevalecendo-se as medidas emergenciais de proteção.
Enfatize-se que a entrevista, o estudo social, o estudo psicológico e a perícia da criança e do adolescente,
preferencialmente, devem ser conduzidos por profissionais tecnicamente habilitados, possibilidade o
reconhecimento da situação vivenciada e permitindo a busca de medidas de proteção adequadas às
especificidades dos sujeitos envolvidos.
Determinou-se, ainda, que, nas situações de conflito em que a criança e o adolescente sejam ouvidos,
devendo ser priorizados os meios alternativos de resolução, visando à preservação de seus interesses.
Já foi dito sobre o Sistema de Garantia, cujo fortalecimento foi enfatizado pela Resolução nº 113, do
Conanda. O SGDCA é voltado a diversas situações, com a implementação de políticas gerais e outras
específicas.
Neste contexto, atendendo-se a uma dessas demandas específicas, foi normatizado o sistema de garantia de
direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, nos termos da Lei nº 13.431/2017,
regulamentada pelo Decreto nº 9.603/2018.
De início, a Lei nº 13.431/2017 enfatize que a criança e o adolescente devem viver sem violência, com
preservação de sua saúde física e mental e desenvolvimento moral, intelectual e social, gozando de direitos
específicos à sua condição de vítima ou testemunha.
Os casos omissos na lei serão interpretados à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como na Lei
Maria da Penha, que serão aplicados de forma subsidiária.
Público-alvo.
O público-alvo do sistema em estudo é a criança e o adolescente. Contudo, a própria lei admite a aplicação
facultativa da lei para as vítimas e testemunhas de violência entre dezoito e vinte e um anos, de forma
excepcional.
Classificação da Violência
MODALIDADE CARACTERÍSTICAS
Ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou
Violência Física
saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico.
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em
relação à criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento,
Violência Psicológica
ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática
(bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou
emocional;
Constatada a situação de violência a que sujeitas a criança e o adolescente, devem as ações voltarem-se à
minimização do dano, evitando-se a revitimização.
Para tanto, detalhou-se que a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de violência por meio
de escuta especializada e depoimento especial. Paralelamente a tais institutos, deve-se também analisar a
revelação espontânea da violência.
Os órgãos de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça adotarão os procedimentos
necessários por ocasião da revelação espontânea da violência. Nesta oportunidade, a criança e o adolescente
noticiam que foram vítimas ou testemunhas de violência, quando então os profissionais das áreas
mencionadas deverão adotar as providências necessárias para o correto encaminhamento do caso, sob pena
de responderem pela omissão.
Escuta especializada
A escuta especializada tem como finalidade unicamente a entrevista sobre a situação de violência perante
órgão da rede de proteção. Não tem a finalidade de produção de prova.
Depoimento especial
O depoimento pessoal será regido por protocolos e, sempre que possível, será realizado uma única vez, em
sede de produção antecipada de prova judicial.
Determina-se que seguirá o rito cautelar de antecipação de provas em duas situações: quando a criança ou
o adolescente tiver menos de sete anos; e, em caso de violência sexual.
De toda forma, assegura-se à vítima ou testemunha de violência que seja ouvida diretamente pelo juiz, se
assim entender.
A Constituição Federal também traçou diretrizes que devem ser observadas pela legislação
infraconstitucional na instituição do IPI:
II - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante
cobrado nas anteriores;
IV - terá reduzido seu impacto sobre a aquisição de bens de capital pelo contribuinte do imposto,
na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
O inciso II determina que o IPI deve ser não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação
com o montante cobrado nas anteriores.
A não cumulatividade tem como objetivo evitar que as incidências sucessivas nas diversas operações da
cadeia econômica de um produto impliquem em um ônus tributário excessivo, resultante da múltipla
tributação da mesma base econômica. Por meio dela, evita-se a oneração em cascata da produção, que
ocorreria se o IPI pudesse ser cobrado, sem qualquer compensação, nas diversas saídas de produtos
industrializados.9
Assim, por meio da não cumulatividade, o imposto incide em cada etapa da cadeia produtiva, mas o
montante que foi suportado anteriormente pode ser compensado do montante a pagar. O gráfico abaixo
ajuda na compreensão dessa regra:
9
PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário Comentados à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 18. ed. São
Paulo: Saraiva, 2017.
O fato de a Constituição Federal ter utilizado o verbo cobrar não significa afirmar que o direito ao crédito
pressuponha o adimplemento da obrigação atinente a operação anterior. O adquirente pode se creditar do
IPI destacado na nota fiscal de aquisição independentemente de o vendedor ter ou não realizado o
pagamento do valor do tributo.
Quanto à extensão da regra da não cumulatividade, é importante consignar que não é toda a entrada que
gera direito ao creditamento, mas tão somente aquelas que tenham como objeto embalagens ou matérias
primas e produtos intermediários que integrem o novo produto ou sejam consumidos no processo de
industrialização.
Assim, por exemplo, não gera direito ao creditamento a aquisição de bens integrantes do ativo permanente
da empresa, conforme entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça:
Súmula 495 do STJ: A aquisição de bens integrantes do ativo permanente da empresa não gera
direito a creditamento de IPI.
O mesmo ocorre com relação à energia elétrica, aos combustíveis, aos uniformes de funcionários e aos
produtos sanitários10.
Também merece menção o fato de que a sistemática da não cumulatividade é diferente da tributação do
valor agregado. A tributação do valor agregado ocorre quando há a incidência do tributo sobre a diferença
entre o valor de entrada e o valor da saída. No caso da não cumulatividade, a incidência se dá sobre o valor
total da operação de saída, autorizando a legislação que o montante devido possa ser compensado com o
valor cobrado na operação anterior.
Por esse motivo, como regra geral, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal afasta a possibilidade de
creditamento quando a entrada dos insumos não for onerada pelo IPI.
10
REsp 1116552/AL, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/08/2015, DJe 12/08/2015 e
REsp 1263722/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 02/05/2012.
Essa regra só cede se os insumos, matérias primas ou materiais de embalagens forem provenientes da Zona
Franca de Manaus. Nessa hipótese, a Corte entendeu que é devido o aproveitamento de créditos de IPI, sob
o argumento de que essa interpretação seria mais consentânea com o tratamento dado pela Constituição a
essa região11.
Da mesma forma, embora não haja regra expressa na Constituição nesse sentido – diferentemente do que
ocorre com o ICMS12 – o Supremo Tribunal Federal firmou posição no sentido de que, não havendo cobrança
do IPI na saída, inexiste direito constitucional à manutenção do crédito, dependendo essa circunstância da
existência de autorização legal13.
Como o crédito tem natureza escritural, não há, como regra, a incidência da correção monetária sobre esses
valores. No entanto, se o aproveitamento do crédito for obstado por um ato do fisco, o contribuinte faz jus
à correção do valor apurado, conforme entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça:
Havia entendimento no sentido de que a regra da não cumulatividade impediria a incidência do IPI nos casos
de importação de bem para uso próprio, sob o fundamento de que a inexistência de uma alienação posterior
impediria o aproveitamento do crédito.
Essa tese, no entanto, foi superada pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 723651:
11
Tema 322: Há direito ao creditamento de IPI na entrada de insumos, matéria-prima e material de embalagem adquiridos junto
à Zona Franca de Manaus sob o regime de isenção, considerada a previsão de incentivos regionais constante do art. 43, § 2º, III,
da Constituição Federal, combinada com o comando do art. 40 do ADCT.
12
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da legislação:
b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores;
13
PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário Comentados à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-164 DIVULG 04-08-2016 PUBLIC 05-
08-2016)
O Código de Processo Civil de 2015 também trouxe previsão acerca do termo de ajustamento de conduta na
seara administrativa:
Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras de mediação e
conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito
administrativo, tais como: III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento
de conduta.
Assim, verifica-se que a legitimidade para celebração do TAC é plural conferida aos órgãos públicos
legitimados para a propositura de ação civil pública. De qualquer forma, o instituto tem serventia na defesa
dos interesses e direitos difusos e coletivos, sendo um instrumento de atuação finalística do Ministério
Público, reflexo no art. 129, III, da Constituição Federal. Não está textualmente previsto no referido
dispositivo, mas é uma das decorrências do encerramento do inquérito civil. No âmbito do Ministério
Público, é regulamentado pela resolução 179/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público:
No termo de ajustamento de conduta, o Ministério Público age como negociador e encontra seus limites de
atuação no §1º do art. 1º da resolução 179/2017 do CNMP. O membro do Ministério Público não pode, por
ocasião do TAC, abrir mão dos direitos defendidos, pois estes não lhe pertencem, mas sim à sociedade.
Assim:
Por fim, em caso de descumprimento do termo de ajustamento de conduta, como já mencionado, este pode
ser executado em juízo ou ser protestado em cartório, devendo prever obrigações líquidas, certas e exigíveis.
Primeiramente, é de se observar que o processo coletivo está inserido na ordem jurídica brasileira, devendo
respeitar a Constituição e todos os seus princípios que regem os demais processos judiciais. Assim, os
princípios constitucionais do devido processo legal, contraditório, juiz natural, celeridade, dentre outros,
devem ser, por óbvio, respeitados. Não obstante os princípios constitucionais, pode-se citar alguns
específicos e voltados ao processo coletivo:
Princípio do amplo acesso à justiça, por meio do qual se busca potencializar a distribuição da justiça por
meio da tutela transindividual, facilitando a solução de milhares de causas e trazendo segurança jurídica.
Princípio da economia processual, de modo que uma ação coletiva que busca a solução para várias causas
semelhantes é mais célere e econômica do que várias individuais que buscam o mesmo objeto.
Princípio da indisponibilidade, diz que o autor da ação coletiva não pode abdicar de seu objeto. Este
princípio é flexibilizado pela possibilidade de desistência fundada, prevista na Lei da Ação Civil Pública.
Princípio do máximo efeito da tutela coletiva, por meio do qual a decisão em processo coletivo não pode
prejudicar, mas somente beneficiar as pessoas. Isto se dá em razão do fato que a legitimação para o ingresso
das ações é extraordinária e independe de qualquer autorização.
Princípio da integratividade, por meio do qual, em razão do microssistema de tutela coletiva, aplica-se a
integração de vários diplomas em prol daquele, como os arts. 19 e 21 da LACP.
Princípio da máxima efetividade do processo coletivo. Decorre dos poderes judiciais para dar azo às
demandas, alinhando-se ao ativismo judicial. Atenção para o art. 84, §5º do CDC.
Princípio da máxima prioridade jurisdicional da tutela coletiva. Por meio deste princípio, evita-se a
proliferação dos processos individuais.
Princípio da prioridade na tramitação. Deve o processo coletivo ter tratamento preferencial sobre as ações
individuais, devido à quantidade de pessoas afetadas por este tipo de relação
processual. Não possui previsão legal. (Rodrigo Picon de Carvalho. Direitos Difusos e Coletivos. 2019)
Princípio da não taxatividade do processo coletivo. A legislação processual coletiva permite a possibilidade
de impetrar toda e qualquer ação capaz de propiciar a adequada e efetiva tutela da defesa dos direitos
transindividuais. Apesar da impossibilidade de transformação da ação individual em coletiva, dado o veto ao
artigo 333 do CPC, pode-se impetrar ação normalmente individual na modalidade coletiva, visando a devida
proteção dos direitos transindividuais. (Rodrigo Picon de Carvalho. Idem) – Vide. Arts. 83 do CDC e art. 212
do ECA.
A publicidade pode ser conceituada como sendo qualquer forma de transmissão difusa de dados
e informações com o intuito de motivar a aquisição de produtos ou serviços no mercado de
consumo. (Tartuce & Amorim, Manual de Direito do Consumidor, 2017)
Dentro desse conceito e vinculado à comunicação, a publicidade deve ser facilmente percebida como tal pelo
consumidor (art. 36 do CDC), bem como o ônus de sua veracidade cabe a quem a patrocina (art. 38 do CDC).
Deve a publicidade respeitar os direitos e regras estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor, que
veda toda publicidade enganosa ou abusiva:
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de
informar sobre dado essencial do produto ou serviço.
A publicidade enganosa possui um aspecto mais objetivo, voltado ao direito de informação, ao passo que a
publicidade abusiva é mais subjetiva, explorando sentimentos voláteis do consumidor. Há uma terceira
figura, chamada de publicidade enganosa por omissão, que deixa de informar o consumidor sobre dado
essencial do produto o do serviço. O dado essencial é a informação essencial, que pode fazer o consumidor
mudar sua escolha. Vale dizer, se o consumidor soubesse de “tal coisa” isso poderia fazê-lo adquirir ou
rejeitar um produto ou serviço. Sobreo tema, o STJ assim se pronunciou:
Essas são as formas de publicidade e seu enquadramento legal dado pelo Código de Defesa do Consumidor.
Previsão constitucional: art. 24, VI (florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e
dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição), VII (proteção ao patrimônio
histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico) e VIII (responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico)
Estados e DF =
1. Competência legislativa supletiva ou plena – quando inexistente a lei federal estabelecendo normas
gerais, os Estados e o DF assumem a competência plena. Vide art. 24, §§3º e 4º:
§3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa
plena, para atender a suas peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no
que lhe for contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
Cuidado para a pegadinha! A superveniência de lei federal não revoga a lei estadual, mas apenas suspende
a sua eficácia.
2. Competência legislativa suplementar - art. 24, §2º, da CR (a competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados) e art. 6º, §1º, da Lei nº 6.938/81 (os
Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e
complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo
CONAMA).
Municípios:
• 1ª corrente: não é hipótese de competência concorrente porque não consta expressamente no art.
24;
• 2ª corrente: trata-se de competência concorrente implícita
• 3ª corrente: configura competência exclusiva no art. 30, I, e competência suplementar no art. 30, II
(Romeu Thomé)
Atenção! Apesar da competência suplementar dos Municípios, eles não exercem a competência legislativa
plena na ausência de norma geral da União, uma vez que o art. 24, §3º, se aplica apenas aos Estados.
Assim, na esteira do que preconizou José Afonso da Silva, a competência deverá ser verificada conforme a
amplitude do interesse abordado:
Ex: regulamentação sobre pesquisa envolvendo OGM – para o STJ, deve ser feita por lei federal, por
interessar a todo o país:
e, nessa parte, parcialmente provido para fins de conceder a segurança e anular o ato de
interdição. (STJ - REsp: 592682 RS 2003/0167167-4, Relator: Ministra DENISE ARRUDA, Data de
Julgamento: 06/12/2005, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 06/02/2006 p. 200)
Lembrar! Não há hierarquia entre leis dos diferentes entes da federação (lei federal/estadual/municipal).
Quando surgem dúvidas sobre a distribuição de competências para legislar sobre determinado assunto,
caberá ao intérprete do Direito priorizar o fortalecimento das autonomias locais e o respeito às suas
diversidades como características que assegurem o Estado Federal, garantindo o imprescindível equilíbrio
federativo (STF. ADIN 4.615 CE, acórdão de 20/09/2019).
Ingo SARLET e Tiago FENSTERSEIFER destacam que a existência de conflito legislativo entre normas
provenientes de diferentes entes federativos é inerente ao modelo adotado pela Constituição, de
competências legislativas concorrentes e, sobretudo, de um sistema federativo cooperativo com entes
políticos dotados de autonomia. Nesse contexto, os tribunais brasileiros e, em especial, o STF, exercem papel
fundamental na análise e resolução de tais conflitos legislativos, não se olvidando de que também Juízes e
Tribunais estão vinculados normativamente pelos deveres de proteção estabelecidos, expressa ou
explicitamente pela Constituição, aqui no concernente à proteção do ambiente, nos termos do artigo 225 da
Carta Política brasileira14.
Sobre os limites da competência legislativa da União, no domínio da criação de normas gerais, o Supremo
Tribunal Federal já decidiu:
14
SARLET, Ingo e FENSTERSEIFER, Tiago. STF e a solução de conflitos de competências legislativas em matéria ambiental. Disponível
em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-17/direitos-fundamentais-stf-conflitoscompetencia-legislar-materia-ambiental
A própria expressão “normas gerais” é indicativa da formação de hipóteses de conflito sobre a competência
legislativa, pois carrega, em si, um conceito jurídico indeterminado, sobre o qual há zonas de absoluta
certeza, de absoluta incerteza e de penumbra (voto do Ministro Relator Marco Aurélio no julgamento da ADI
3.937-7/ SP).
Além do caráter vago e indeterminado dos conceitos de interesse local, regional e nacional, em se tratando
de matéria ambiental, acresce-se a dificuldade de delimitação da abrangência do interesse, em razão da
característica de transnacionalidade dos bens ambientais (princípio da ubiquidade).
Ainda, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o Estado não pode abdicar de sua
competência legislativa suplementar, de forma que é inconstitucional lei estadual que faça simples
referência à aplicação da legislação federal. Para o STF, em tal situação, a norma estadual fragiliza a
estrutura federativa descentralizada e consagra o monopólio da União, sem atentar para nuances regionais
(STF. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/9/2018 (Info. 914)).
No que se refere à competência municipal, o Município tem competência para legislar sobre meio ambiente,
juntamente com os demais entes federativos, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento
seja harmônico com a disciplina estabelecida na lei estadual e federal (art. 24, VI c.c. art. 30, incisos I e II,
ambos da CR).
Em uma perspectiva tradicional e estática, compreende-se que deve prevalecer o critério da preponderância
do interesse, com base na definição da competência da União em relação às normas gerais. Neste sentido
foi o entendimento adotado pelo STF em relação ao amianto, extraído dos votos proferidos pelos relatores
nas ADIs 2.396-9/MS e 2.656-9/SP, que partiram do pressuposto de que a lei estadual contestada deveria
ser analisada sob a perspectiva da inconstitucionalidade formal, seja por invadir seara reservada
privativamente à competência legislativa da União, seja por extrapolar a competência suplementar dos
Estados em matéria reservada à competência legislativa concorrente.
Em análise crítica do julgado proferido na ADIs 2.396-9/MS, Paulo Affonso Leme Machado argumenta:
A Lei n. 9.055 só não proibiu totalmente o uso do amianto crisotila, como o fez com os outros
tipos. Essa lei deixou o devido espaço que os Estados poderiam completar ou aprimorar. Atente-
se que a função dos Estados, usando de sua competência suplementar, só poderia ser no sentido
de exigir mais proteção da saúde ou melhor defesa do meio ambiente e não menos proteção. A
lei de Mato Grosso do Sul, ao proibir a fabricação e a utilização de produtos tanto à base de
amianto do grupo das serpentinas (crisotila) como do grupo dos anfi bólios, nada mais fez do que
seguir a orientação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Convenção 162 já
mencionada. A lei estadual seguiu a mesma linha da lei federal, mas querendo mais proteção à
saúde proibiu um tipo de amianto que a lei federal interditou só parcialmente. A norma estadual
de Mato Grosso do Sul não incidiu no erro de ser mais ‘permissiva’, como criticou, em outro caso,
o Ministro Sepúlveda Pertence. Ao proibir a variedade do amianto crisotila, o Estado não faz
‘diametral objeção’ à lei da União, como chegou a afi rmar a eminente Ministra [Ellen Gracie, em
seu voto na ADI 2.396-9]. Em nenhum momento pretende-se ofender a lei federal, mas se quer
avançar no mesmo caminho que a lei federal começou e não terminou. O cerne da questão
discutida reside nesse ponto: não tendo a União proibido totalmente o amianto/ crisotila, os
Estados poderiam fazê-lo? [...] Entendo que a resposta deva ser positiva. Os Estados estão agindo
totalmente dentro do seu poder de suplementar. Os Estados poderão adicionar regras que irão
suprir as lacunas da lei federal ou preencher os vazios existentes na lei federal, na parte em que
ela é incompleta. [...] É necessário sublinhar o papel do poder público em reduzir o ‘risco de
doença’, que o referido artigo menciona [art. 196 da CF/1988]. Em havendo meios científi cos,
há uma obrigação constitucional de que não ocorra a doença. A União, na Lei n. 9.055/1995, não
esgotou a possível atuação do poder público na prevenção das doenças que podem ser causadas
O referido entendimento encontra respaldo em julgados mais recentes do STF, que passou a considerar uma
perspectiva dinâmica do condomínio legislativo constitucional, que leva em consideração o tema objeto de
regulamentação, em prol da prevalência da norma mais protetiva ao interesse ambiental.
Tal entendimento fundamenta-se no princípio hermenêutico in dubio pro natura, corolário do princípio da
precaução, que orienta no sentido da prevalência da legislação mais protetiva ao meio ambiente. O referido
critério ampara-se, a nível infraconstitucional, no art. 2°, caput, da Lei nº 6.938/81 – PNMA, ao prever o
objetivo de melhoria progressiva da qualidade ambiental.
Neste sentido, a interpretação em conjunto da regra de competência legislativa concorrente com o art. 225
da Constituição da República, considerando a indefinição do que seja norma especial, sustenta a adoção da
diretriz exegética de prevalência da norma ambiental mais estrita para a solução de eventuais conflitos,
quando a noção de norma geral e especial não for suficiente, em atenção ao princípio in dubio pro natura.
De mais a mais, compreende-se que as normas suplementares editadas nos âmbitos estadual e municipal
não podem ser menos protetivas do que as normas gerais editadas pela União, de forma que estas
configuram-se como piso mínimo de tutela ao ambiente.
Além disso, como face inversa do dever de progressividade, o princípio da vedação de retrocesso ambiental
também conforma a atuação do legislador, ao vedar a redução do patamar normativo de proteção
ambiental, podendo ensejar a inconstitucionalidade de eventual norma restritiva ou, no lado oposto,
direcionar a legitimidade de instrumento legislativo – independentemente do ente federativo legislador –
que aumente os padrões normativos de proteção ecológica.
Tomando por base os argumentos lançados até aqui, o estado e o município devem respeitar o
padrão normativo estabelecido na norma geral e tomar tal standard de proteção ambiental como
piso legal protetivo mínimo, de tal modo que — a prevalecer esse argumento — apenas estaria
autorizado a atuar para além de tal referencial normativo, e não para aquém. Ao legislar de forma
15
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Federalismo, amianto e meio ambiente. Boletim Científico, Brasília, Escola Superior do
Ministério Público da União ESMPU, a. II, n. 9, p. 169-177, out./dez. 2003, p. 175-177.
16
SARLET, Ingo e FENSTERSEIFER, Tiago. STF e a solução de conflitos de competências legislativas em matéria ambiental. Disponível
em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-17/direitos-fundamentais-stf-conflitoscompetencia-legislar-materia-ambiental
“menos protetiva” em relação ao padrão estabelecido pela norma geral editada pela União, o
legislador estadual ou municipal subverte a sua competência legislativa suplementar e incorre
em prática inconstitucional. A aplicação do princípio (e postulado hermenêutico) da prevalência
da norma mais benéfica à tutela ecológica (e também do princípio “in dubio pro natura”) na
hipótese de conflito normativo existente entre a norma geral federal e a legislação estadual ou
municipal reforça a tese de que no âmbito do dever de proteção ambiental do Estado, no
exercício da sua competência legislativa ambiental, impõem-se tanto o dever de progressiva
melhoria da qualidade ambiental e de sua respectiva proteção, quanto as correlatas noções de
proibição de retrocesso e insuficiência de proteção.
Exceções à competência legislativa concorrente: competência privativa da União para legislar sobre a
exploração econômica de recursos naturais com potencial energético (ex: mineração e hidrelétricas – art.
22, IV, X e XII) – fundamento: são bens e atividades da União – art. 20, IX e art. 177, V.
Lembrar! A competência legislativa privativa pode ser delegada aos Estados mediante lei complementar (art.
22, parágrafo único).
Competência legislativa privativa x competência legislativa exclusiva: a competência exclusiva está prevista
nos §§2º e 3º do art. 25 – hipóteses de competência dos Estados que não admitem delegação:
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação.
Trata-se da competência para a prática de atos concretos no cumprimento do dever, a exemplo dos atos
referentes ao poder de polícia, como o licenciamento ambiental e a aplicação de sanções administrativas.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
As ações de cooperação estão previstas nos arts. 7º, 8º e 9º da LC 140/11, com o reforço da necessidade
articulação entre as políticas ambientais setoriais.
Instrumentos para a cooperação: consórcios públicos, convênios, acordos de cooperação técnica, Comissão
Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão Bipartite do DF, fundos públicos e privados,
delegação de atribuições de um ente federativo a outro (art. 4º da LC nº 140/11).
Assim como a competência legislativa concorrente, a competência material comum enseja diversos conflitos
na definição do âmbito de atuação de cada ente federativo.
Art. 23 (...)
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
bem-estar em âmbito nacional.
Atente-se que, diferentemente da competência legislativa concorrente, que possui caráter de verticalização,
a competência material comum é marcada pela horizontalidade, de forma que os entes federativos atuam
paralelamente em condições de igualdade. Neste sentido:
(...) competência comum, é bom que se lembre, difere da competência concorrente. Na primeira
hipótese, a competência de um dos entes federativos não afasta a competência dos demais. Já
na competência concorrente ocorre fenômeno contrário: a competência de um dos entes
federativos exclui a dos demais. Na competência comum, há harmonia e complementação de
atuações; na competência concorrente, há exclusão dos demais entes em favor do único
competente.17
Fundamento da competência comum = conferir maior proteção ao interesse, permitindo a atuação de todos
os entes.
Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso,
de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.
§ 3o O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da
atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva
ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental
em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a
atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.
Exceções à competência material comum: competência material exclusiva da União referente às matérias
de interesse nacional, nos termos do art. 21 da CR:
(...)
17
Marcelo Dwalibi, Revista de Direito Ambiental, n. 14, p. 99.
(...)
(...)
(...)
A estrutura do SISNAMA, implementada de acordo com o art. 23, VI e VII da CR, é formada por:
Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção
e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA, assim estruturado:
III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade
de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as
diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;
Atenção! Natureza e competência dos órgãos integrantes do SISNAMA = questão muito cobrada em fase
objetiva dos concursos do Ministério Público Estadual (MPSP/2016, MPMG/2011, MPRR/2012, MPTO/2012,
MPSC/2012, dentre outros).
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis
conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais,
estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para
apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou
atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional.
Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o Presidente
do Conama.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 63 questões
distribuídas do seguinte modo:
MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 9
Direito Material Coletivo 6
Direito Processual Coletivo 6
Direito Constitucional 6
Direito Administrativo 6
Legislação Penal Especial 6
Direito Processual Civil 6
Direito Processual Penal 6
Direito Civil 3
Direito da Criança e do Adolescente 3
Direito eleitoral 3
Direito Tributário 3
Vamos lá!
Comentários
A Constituição em sentido político, em conformidade com Carl Schmitt, é definida como produto de uma
decisão política fundamental, ou seja, a vontade manifestada pelo titular do poder constituinte.
Não deve ser olvidado que os conceitos de “norma fundamental hipotética” e de “lei fundamental do
Estado”, que deve servir como fundamento último de validade do ordenamento jurídico, foram
desenvolvidos por Hans Kelsen, na obra “Teoria Pura do Direito”, enquanto que a definição de “fator real de
poder” foi formulado por Ferdinand Lassalle, na obra “O que é uma Constituição?”.
Comentários
Quanto à sistematização da Constituição, o texto constitucional, antecedido pelo Preâmbulo, sucedido pelo
Ato das Disposições Transitórias, é composto por uma parte orgânica – imanente à “Teoria do Estado” – e
outra parte dogmática – inerente à “Teoria dos Direitos Fundamentais”.
Comentários
Os elementos de estabilização constitucional são exteriorizados nas normas constitucionais que prescrevem
os meios de proteção das próprias regras e princípios constitucionais, como, por exemplo, as normas
veiculadas pelo art. 102, inc. I, “a”, initio (ação direta de inconstitucionalidade), art. 102, inc. I, “a”, in fine
(ação declaratória de constitucionalidade), art. 103, § 2o (ação direta de inconstitucionalidade por omissão),
art. 36, inc. III, initio (ação direta de inconstitucionalidade interventiva), art. 102, § 1 o (arguição de
descumprimento de preceito fundamental) e, bem assim, art. 136 (estado de defesa) e arts. 137 a 139
(estado de sítio), todos da Constituição da República.
“Intervenção federal no Estado da Bahia. Alegado desrespeito à forma republicana e aos direitos
da pessoa humana. Ilegitimidade ativa dos requerentes. Intervenção federal à qual se nega
seguimento (...). A intervenção federal, na realidade, configura expressivo elemento de
estabilização da ordem normativa plasmada na Constituição da República. É-lhe inerente a
condição de instrumento de defesa dos postulados sobre os quais se estrutura, em nosso País, a
ordem republicano-federativa. Cabe destacar , neste ponto, o magistério doutrinário, que,
fundado na necessidade de respeito ao princípio federativo, adverte sobre a excepcionalidade
da intervenção federal, em face do caráter extremamente perturbador que assume qualquer
interferência do Governo Federal nos assuntos regionais e na esfera de autonomia dos Estados-
membros” (STF, IF nº 5.196, Rel. Min. Cármen Lúcia, J. 08.08.2017, DJU 14.08.2017).
Questão 4. A Constituição que, em parte, pode ser modificada por processo legislativo ordinário é:
a) Escrita.
b) Semirrígida.
c) Dogmática.
d) Liberal.
e) Analítica.
Comentários
A terceira possui uma parte rígida, modificável por processo de reforma constitucional, e outra parte flexível,
mudável por processo legislativo ordinário, tal como a Constituição brasileira de 1824.
Comentários
O “novo constitucionalismo latino-americano” sobre o qual versa Rubén Martínez Dalmau foi desenvolvido
sobre a Constituição do Equador que, a exemplo da Constituição do Estado Pluranacional da Bolívia e
Constituição da República Bolivariana da Venezuela, consideradas como Constituições bonapartistas ou
cesaristas, submeteu o texto constitucional que havia sido promulgado à consulta popular.
Tendo em vista que a Constituição cesarista ou bonapartista é formada, então, por meio de plebiscito
popular sobre um projeto já elaborado, deve o candidato assinalar a alternativa B.
Comentários
A alternativa A está incorreta, tendo em vista que a ADI apenas poderá ter como objeto leis ou atos
normativos federais ou estaduais. Por sua vez, a ADPF possui caráter subsidiário, de modo que diante da
inexistência de outro instrumento de controle abstrato eficaz para sanar a lesividade, será possível seu
ajuizamento. Desse modo, é cabível a ADPF para impugnar lei municipal. Nesse sentido, o art. 1º, p.ú., I, da
Lei n. 9.882/99: “Art. 1º A argüição prevista no §1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante
o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de
ato do Poder Público. Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento de preceito
fundamental: I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato
normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição;”.
A alternativa B está correta, nos termos da tese firmada no informativo 939 do STF: “A ação de
descumprimento de dever fundamental não carece de interesse de agir em razão da revogação da norma
objeto de controle, ante a necessidade de fixar o regime aplicável às relações jurídicas estabelecidas
durante a vigência da lei, bem como no que diz respeito às leis de idêntico teor aprovadas em outros
Municípios. Trata-se da solução mais consentânea com o princípio da eficiência processual e o imperativo
aproveitamento dos atos já praticados de maneira socialmente proveitosa.”
A alternativa C é a assertiva incorreta. Conforme a jurisprudência do STF, o PGR faz parte do grupo dos
legitimados ativos universais, isto é, não precisa demonstrar pertinência temática. Fazem parte desse grupo:
o Presidente da República, as mesas da Câmara do Deputados e do Senado Federal, o PGR, o Conselho
Federal da OAB e os partidos políticos com representação no Congresso Nacional.
A alternativa D está incorreta, uma vez que a legitimidade para o ajuizamento da ADPF é igual às demais
ações de controle concentrado de constitucionalidade. Portanto, o PGR possui legitimidade ativa para o seu
ajuizamento (art. 2º, I, da Lei 9.882/99).
A alternativa E também está incorreta, visto que a decisão de mérito na ADPF, assim como nas demais ações
de controle concentrado, produz efeitos temporais retrospectivos (ex tunc), ressalvado o caso de modulação
dos efeitos da decisão por dois terços do Tribunal.
Gabarito: letra B.
Comentários
• Órgãos Independentes
São aqueles originários da Constituição e representativos dos três Poderes do Estado, sem qualquer
subordinação hierárquica ou funcional, e sujeitos apenas aos controles constitucionais de um sobre o outro.
Estão nessa classificação as Casas Legislativas, a Chefia do Executivo e os Tribunais. Hoje, a doutrina mais
moderna classifica o Ministério Público e o Tribunal de Contas como órgãos independentes. 19
• Órgãos Autônomos
São os órgãos de cúpula da Administração, subordinados diretamente À chefia dos órgãos independentes;
possuem autonomia administrativa, financeira e técnica. Observe, contudo, que não exercem suas
atribuições de forma independente, de maneira que estão subordinados aos órgãos independentes.
• Órgãos Superiores
São órgãos de direção, controle e comando, mas sujeitos à subordinação e ao controle hierárquico de uma
chefia; não possuem autonomia financeira e administrativa, possuindo apenas autonomia técnica.
• Órgãos Subalternos
São aqueles órgãos de mera execução, como, por exemplo, as seções de material, de portaria, zeladoria.
Gabarito: A
Questão 2. Em relação ao Estatuto Jurídico das Empresas Públicas, das Sociedades de Economia Mista e
suas subsidiárias,
18
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25ª ed São Paulo: Atlas, 2012., p. 578.
19
ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 24. Ed. rev. atual. São
Paulo: Método, 2016. P. 119.
a) a sociedade de economia mista poderá solucionar, mediante arbitragem, as divergências entre acionistas
e a sociedade, ou entre acionistas controladores e acionistas minoritários, nos termos previstos em seu
estatuto social.
b) a exploração de atividade econômica pelo Estado será exercida por meio de empresa pública, de sociedade
de economia mista e por meio de cooperativas.
c) a constituição de empresa pública ou de sociedade de economia mista não depende de autorização legal
prévia, pois o fato caracterizaria afronta aos princípios da livre iniciativa e do interesse social.
d) sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito público, com
criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em
sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a entidade da administração indireta.
e) a sociedade de economia mista e as empresas públicas constituir-se-ão sob a forma de sociedades por
responsabilidade limitada, a elas se aplicando subsidiariamente as normas do Código Civil.
Comentários
Letra A – Correto – De acordo com o art. 12, parágrafo único, da Lei 13.303/16, A sociedade de economia
mista poderá solucionar, mediante arbitragem, as divergências entre acionistas e a sociedade, ou entre
acionistas controladores e acionistas minoritários, nos termos previstos em seu estatuto social.
Letra B – Errada – Nos termos do Art. 2º A exploração de atividade econômica pelo Estado será exercida por
meio de empresa pública, de sociedade de economia mista e de suas subsidiárias.
Letra C – Errada – De acordo com o art. 2º, § 1º A constituição de empresa pública ou de sociedade de
economia mista dependerá de prévia autorização legal que indique, de forma clara, relevante interesse
coletivo ou imperativo de segurança nacional, nos termos do caput do art. 173 da Constituição Federal.
Letra D – Errada – Nos termos do Art. 4º Sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade
jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações
com direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a
entidade da administração indireta.
Letra E – Errada – A Sociedade de Economia Mista necessariamente será uma sociedade anônima.
Gabarito: A
Comentários
Letra A – Correta - Pelo princípio da legalidade, a Administração só poderá realizar os atos que possuem
previsão legal. Ato “nominado” é aquele ato que possui previsão em lei, estando apto a alcançar
determinado fim. É vedado à Administração praticar atos inominados, isto é, atos sem previsão em lei. Por
outro lado, ao particular, é possibilitado fazer tudo o que a lei não proíbe.
Letra B – Errada – O princípio da reserva legal não se confunde com o princípio da legalidade. Por este, a
atuação administrativa deve pautar-se na lei em sentido amplo, abrangendo qualquer tipo de norma, desde
a Constituição Federal até os atos administrativos normativos. De outro modo, a reserva legal significa que
determinadas matérias devem ser regulamentadas necessariamente por lei formal.
Letra C – Errada - SÚMULA N. 591: É permitida a prova emprestada no processo administrativo disciplinar,
desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.
Primeira Seção, aprovada em 13/9/2017, DJe 18/9/2017. STJ, Inf.610.
Letra D – Errada - A atuação da Administração Pública é cingida ao princípio da legalidade estrita, devendo
obediência aos preceitos legais, sendo lhe defeso proceder interpretação extensiva ou restritiva, onde a lei
assim não o determinar.
Letra E - Errada - A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor
público destinada a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita, ainda
que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não confirmada por ocasião
do julgamento de mérito.
Gabarito: A
c) Viola a legalidade o regulamento interno de licitações e contratos editado por empresa estatal de qualquer
ente da federação que estabelece prazo inferior ao previsto no artigo 83, § 2º, da Lei Federal nº 13.303/2016,
referente à apresentação de defesa prévia no âmbito de processo administrativo sancionador.
d) A Lei n. 10.520/2002 define o bem ou serviço comum baseada em critérios eminentemente
mercadológicos, de modo que a complexidade técnica ou a natureza intelectual do bem ou serviço não
impede a aplicação do pregão se o mercado possui definições usualmente praticadas em relação ao objeto
da licitação.
e) A avaliação do bem expropriado deve levar em conta as condições mercadológicas existentes à época do
efetivo pagamento da indenização.
Comentários
Letra A – Correta – Trata-se do Enunciado 20 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF.
Letra B – Correta – Trata-se do Enunciado 21 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF.
Letra C – Correta – Trata-se do Enunciado 24 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF.
Letra D – Correta – Trata-se do Enunciado 26 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF.
Letra E – Incorreta – Trata-se do Enunciado 31 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF. Por
ele, A avaliação do bem expropriado deve levar em conta as condições mercadológicas existentes à época
da efetiva perda da posse do bem.
Gabarito: E
e) Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão
sujeitos ao prazo de 5 anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.
Comentários
Letra A – Correta – Trata-se do entendimento firmado pelo STF no RECURSO EXTRAORDINÁRIO 662.405
ALAGOAS.
Letra B – Incorreta – O STF decidiu que servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e
férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo expressa previsão legal e/ou contratual em
sentido contrário, ou comprovado desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública,
em razão de sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações.
Letra C – Correta – Trata-se de tese de Repercussão Geral fixada pelo STF no RE 560900.
Letra D – Correta - Trata-se de tese de Repercussão Geral fixada pelo STF no RE 136861.
Letra E – Correta - Trata-se de tese de Repercussão Geral fixada pelo STF no RE 636553.
Gabarito: B
d) poderá efetuar, previamente à concessão das rodovias à iniciativa privada, todos os investimentos
necessários, assegurando ao concessionário remuneração fixa durante o prazo da concessão, sob a
modalidade comum.
e) poderá celebrar parceria público-privada, na modalidade concessão administrativa, cobrando dos usuários
apenas a tarifa necessária à manutenção da rodovia e efetuando pagamento ao parceiro privado do valor
correspondente aos investimentos.
Comentários
§ 1º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei nº
8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários
contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.
Gabarito: A
Comentários
A alternativa A é verdadeira, pois a finalidade de uma fundação é indicada pelo instituidor no ato da
constituição, por escritura pública ou testamento, e dela não se pode desviar, o que implica a impossibilidade
de sua alteração, mesmo que pela totalidade dos administradores. É por essa razão que, caso a finalidade
venha a perecer, a fundação deve ser extinta. Nesse sentido, dispõe o artigo 69 do Código Civil: “Tornando-
se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão
do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu
patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada
pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante”.
A alternativa B é verdadeira, porque a regra concebida pelo artigo 65 do Código Civil é que “aqueles a quem
o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo
com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da
autoridade competente, com recurso ao juiz”. No entanto, “se o estatuto não for elaborado no prazo
assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao
Ministério Público”, na forma do parágrafo único do mesmo dispositivo legal.
A alternativa D é falsa, porque o fato de as associações serem constituídas pela união de pessoas que se
organizam para fins não econômicos não significa dizer que tais corporações não possuem lucro, mas sim
que ele não será dividido entre seus associados, uma vez que esse não representa o fim por elas almejado –
haverá a reaplicação do excedente (lucro) na própria atividade da pessoa jurídica.
A alternativa E é verdadeira, porque preceitua o artigo 68 do Código Civil que, quando a alteração do estatuto
não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto
ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser,
em dez dias. Sendo assim, na hipótese de a reforma ser aprovada apenas pelo quórum de dois terceiros, será
necessário requerimento de concessão de ciência à terça parte vencida para eventual impugnação.
Questão 2. Sobre a teoria da norma insculpida na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,
assinale a alternativa correta:
a) A regra de que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga
nem modifica a lei anterior, consagra o sistema da obrigatoriedade simultânea, porquanto autoriza a
existência concomitante de leis sobre mesma matéria, sem prejuízo da força obrigatória oriunda de cada
uma delas.
b) A publicação nova de texto de lei, para fins de correção, nos casos em que essa ainda não houver entrado
em vigor, implica o recomeço do período da vacatio legis tão somente em relação ao conteúdo retificado.
c) Reputa-se direito adquirido o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou e, portanto,
não mais passível de restrição ou atenuação pela vigência de lei nova.
d) Em virtude da vedação ao fenômeno da repristinação, não pode a lei revogada, ainda que por expressa
previsão legal, ser restaurada após a lei revogadora perder a sua vigência, cabendo necessariamente ao
legislador a edição de novo diploma legal.
e) O erro de direito, mesmo que substancial à realização do negócio jurídico, não possui o condão de anulá-
lo, pois o princípio da obrigatoriedade das leis exprime que ninguém pode se escusar de cumpri-las, alegando
que não as conhece.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque o sistema da obrigatoriedade simultânea representa que, salvo disposição
contrária, a lei começa a vigorar, isto é, a se revestir de força obrigatória, em todo o país, 45 dias depois de
oficialmente publicada. É dizer, estabelece-se um período comum de vacatio legis a todo o país, não
diferenciando a vigência da lei por regiões, conforme intelecção do artigo 1º, “caput”, da LINDB. Esse sistema
não se confunde com a regra de que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior, contida no artigo 2º, §2º, da mesma lei.
A alternativa B é falsa, porque se consideram adquiridos os direitos que o seu titular, ou alguém por ele,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida
inalterável, a arbítrio de outrem, nos moldes do artigo 6º, §2º, da LINDB. Em outras palavras, direito
adquirido é aquele que se incorporou ao patrimônio do titular. A concepção apresentada na alternativa
refere-se, na verdade, ao ato jurídico perfeito, entendido como aquele já aperfeiçoado, a exemplo de um
negócio jurídico de compra e venda celebrado na vigência de lei anterior.
A alternativa C é verdadeira, pois dispõe o artigo 1º, § 3º, da LINDB, que se, antes de entrar a lei em vigor,
ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo da vacatio legis começará a correr da
nova publicação. Isto significa que, tratando-se de mera correção de erros materiais ou de falhas ortográficas
de lei ainda não vigente, bastará sua republicação, sem necessidade de elaboração de um novo diploma
legal. Neste caso, somente a parte retificada submeter-se-á a um novo período de vacatio. Se, porém, a lei
já estiver vigorando, as eventuais correções do texto serão consideradas lei nova (art. 1º, §4º, da LINDB).
A alternativa D é falsa, porque o que é vedado pelo ordenamento jurídico é a repristinação tácita, ou seja,
que uma lei seja automaticamente restaurada por ter a lei que a revogou perdido a vigência, o que não obsta
a possibilidade de sua restauração por vontade legislativa, expressamente declarada, no momento da
revogação da lei revogadora.
Questão 3. A respeito das diversas formas de extinção das obrigações, marque a alternativa correta:
a) A novação subjetiva passiva pode ocorrer por indicação feita pelo devedor – com o seu consentimento,
portanto – de terceiro a substitui-lo, isto é, por delegação, ou por expromissão, independentemente do seu
consentimento, malgrado somente esta modalidade possua previsão legal.
b) Ao fiador não é permitido compensar a sua própria dívida com a de seu credor ao afiançado, haja vista
que, quanto ao débito objeto desta última relação jurídica, existe apenas a sua responsabilidade, não sendo
ele propriamente o titular, o que desnatura o instituto da compensação.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porquanto retrata as duas espécies de novação subjetiva passiva: a novação
subjetiva passiva por expromissão, prevista no artigo 362 do Código Civil e segundo a qual a novação por
substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste, e a novação
subjetiva passiva por delegação, hipótese em que se altera o devedor da obrigação com a concordância do
originário, ao qual incumbe indicar o terceiro que o substituirá. A novação subjetiva passiva por delegação
não possui previsão legal.
A alternativa B é falsa, porque preceitua o artigo 371 do Código Civil que “o devedor somente pode
compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor
ao afiançado”, muito embora possua ele tão somente a responsabilidade (haftung) por este débito.
A alternativa C é falsa, porque, de modo contrário ao disposto, a dação em pagamento não gera a extinção
dos acessórios, ao passo que a novação objetiva ou real, forma de pagamento indireto por substituição da
dívida, ocasiona a extinção de todos os acessórios, conforme o artigo 364 do Código Civil.
A alternativa D é falsa, porque o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem
direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor, isto é, a ele não são
transferidos todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor primitivo, em relação à dívida, com
fulcro no artigo 305 do Código Civil.
A alternativa E é falsa, porque a remissão concedida a um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele
correspondente, de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode
cobrar o débito sem dedução da parte remitida (perdoada). É o que prevê o artigo 388 do Código Civil.
a) Não se submete ao duplo grau de jurisdição obrigatório a sentença fundada em entendimento coincidente
com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em
manifestação, parecer ou súmula administrativa.
b) É dispensada a remessa necessária quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de
valor certo e líquido inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e
fundações de direito público; 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal e as
respectivas autarquias e fundações de direito público e 100 (cem) salários-mínimos para os Municípios e as
respectivas autarquias e fundações de direito público.
c) Nas hipóteses de remessa necessária, não se aplica a técnica especial de ampliação de colegiado alusiva
aos julgamentos não unânimes.
d) A sentença concessiva em mandado de segurança estará, de modo obrigatório, sujeita ao duplo grau de
jurisdição, independentemente da existência de sucumbência da Fazenda Pública.
e) Embora não se trate de modalidade recursal, porquanto independente de voluntariedade ou provocação
das partes, aplica-se à remessa necessária a proibição da reformatio in pejus, a qual representa, na essência,
a vedação de agravamento da situação da parte em razão de seu próprio recurso.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque retrata hipótese legal em que se descarta a exigência de remessa
necessária, com o intuito de valorizar o sistema dos precedentes, inclusive em se tratando de entendimento
coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público,
consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa, na forma do artigo 496, §4º, IV, do Código
de Processo Civil.
A alternativa B é falsa, porque o critério valorativo que excepciona o cumprimento da remessa necessária
estabelece parâmetros distintos aos municípios que constituam capitais de estados e aos demais municípios,
aplicando-se aos primeiros o mesmo valor disposto aos estados, ao Distrito Federal e suas respectivas
autarquias e fundações de direito público, isto é, 500 (quinhentos) salários mínimos, com fulcro no artigo
496, §3º, do Código de Processo Civil. A alternativa em tela dispôs tratamento idêntico a todos os municípios,
olvidando-se desta diferenciação.
A alternativa D é verdadeira, porque a hipótese de concessão de mandado de segurança reclama, por si só,
o cumprimento da remessa necessária e não guarda relação com a existência de sucumbência da Fazenda
Pública, porquanto registra o artigo 14, §1º, da Lei 12.016/09: “Concedida a segurança, a sentença estará
sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição”.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque a competência para o processamento e julgamento das ações ajuizadas contra
o Instituto Nacional de Seguridade Social que visam ao recebimento de benefício por acidente de trabalho,
isto é, das ações acidentárias típicas, é própria da Justiça Estadual e não por delegação. Nesse sentido, o
artigo 109, I, da Constituição Federal: “Aos juízes federais compete processar e julgar as causas em que a
União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral
e à Justiça do Trabalho”. Tal hipótese não se confunde com as demais nas quais se possibilita o
processamento e julgamento do feito pelo juízo estadual, em comarcas onde não existe vara federal,
verdadeira competência delegada (art. 109, §3º, da CF/88).
A alternativa B é verdadeira, porque se afirma corresponder ao único caso permitido de declaração oficiosa
de incompetência relativa, a qual se restringe ao tempo máximo da citação. Isso porque, citado, incumbe ao
réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão, conforme
intelecção do artigo 63, §§ 3º e 4º, do Código de Processo Civil.
A alternativa C é verdadeira, porque compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico
que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas, na forma da súmula
150 do Superior Tribunal de Justiça. Sendo assim, o mero ingresso ou a intervenção de tais sujeitos no
processo é bastante, em regra, a provocar a remessa dos autos à Justiça Federal, porquanto incompetente é
o juízo estadual para definição de sua pertinência. Outrossim, o artigo 45 do Código de Processo Civil registra
que, tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se
nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de
fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, ressalvadas as
hipóteses mencionadas no mesmo dispositivo.
A alternativa E é verdadeira, porque, para fins de definição do juízo prevento, competente para o
processamento e julgamento das ações conexas, é irrelevante a consideração do estágio processual em que
os feitos se encontrem, salvo se um deles já houver sido sentenciado, caso em que não ocorrerá a reunião,
conforme o artigo 55, §1º, do Código de Processo Civil. A prevenção é determinada estritamente pelo
registro ou distribuição da petição inicial, conforme o artigo 59 do mesmo diploma legal.
Questão 3. Acerca das prerrogativas, faculdades e deveres do Ministério Público, assinale a alternativa
incorreta:
a) Em regra, o Ministério Público goza de prazo em dobro para todas as suas manifestações, cuja contagem
se inicia a partir de sua intimação pessoal, seja por carga, remessa ou meio eletrônico.
b) O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou de
adolescente, independentemente de questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria
Pública na comarca.
c) Aplica-se multa de até vinte por cento do valor da causa ao membro do Ministério Público que pratique
inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso ou que crie embaraços à efetivação das decisões
jurisdicionais, de acordo com a gravidade da conduta.
d) O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica
nos processos que envolvam interesse de incapaz, mesmo que este não figure necessariamente como parte
da relação jurídica processual, desde que haja interesse direto daquele no objeto da lide.
e) É vedado ao membro do Ministério Público exercer suas funções no processo em que for parte ele próprio,
seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive, por constituir causa de impedimento legal.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque, com exceção dos casos aos quais o legislador estabeleceu prazo
próprio, goza o Ministério Público de prazo em dobro para manifestar-se nos autos, com início a partir de
sua intimação pessoal, a qual pode ser feita mediante carga, remessa ou meio eletrônico, na forma do artigo
180 do Código de Processo Civil.
A alternativa C é falsa, porque aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria Pública e
do Ministério Público não se aplica a imposição de multa pelo descumprimento das regras contidas no artigo
77, IV e VI, do Código de Processo Civil, entre elas, a proibição de criação de embaraços à efetivação das
decisões jurisdicionais e a vedação da prática de inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso,
devendo eventual responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria,
ao qual o juiz oficiará, nos moldes do §6º do mesmo dispositivo legal.
A alternativa D é verdadeira, porque o interesse de incapaz a ensejar a intervenção ministerial como fiscal
da ordem jurídica não se apresenta tão somente pela sua integração em um dos polos passivos da relação
jurídica processual, mas poderá existir, também, na ação em que o espólio seja réu, com possível destinação
de parte da herança a um incapaz, pois haverá, neste caso, interesse direto seu no provimento jurisdicional.
Comentários
A. Errada
Art. 343, §2ºA desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de seu
mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção.
B. Errada
Art. 343, 4ºA reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro.
C. Correta
O STJ decidiu ser admissível a reconvenção sucessiva, também denominada de reconvenção à reconvenção,
desde que a questão que justifique a propositura tenha surgido na contestação ou na primeira reconvenção
(REsp 1.690.216-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
por maioria, julgado em 22/09/2020, DJe 28/09/2020).
Ainda na vigência do CPC/1973, a doutrina se posicionou, majoritariamente, pela admissibilidade
da reconvenção à reconvenção, por se tratar de medida não vedada pelo sistema processual,
mas desde que a questão que justifica a propositura da reconvenção sucessiva tenha como
origem a contestação ou a primeira reconvenção. Esse entendimento não se modifica na vigência
do CPC/2015, pois a nova legislação processual solucionou alguns dos impedimentos apontados
ao cabimento da reconvenção sucessiva, como, por exemplo, a previsão de que o autor-
reconvindo será intimado para apresentar resposta e não mais contestação (art. 343, §1º) e a
vedação expressa de reconvenção à reconvenção apenas na hipótese da ação monitória (art. 702,
§6º).Assim, também na vigência do CPC/2015, é igualmente correto concluir que a reconvenção
à reconvenção não é vedada pelo sistema processual, condicionando-se o seu exercício, todavia,
ao fato de que a questão que justifica a propositura da reconvenção sucessiva tenha surgido na
contestação ou na primeira reconvenção, o que viabiliza que as partes solucionem integralmente
o litígio que as envolve no mesmo processo e melhor atende aos princípios da eficiência e da
economia processual, sem comprometimento da razoável duração do processo. (Informativo n.
680)
D. Errada
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SUPOSTA OFENSA AO ARTIGO 535 DO CPC.
DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. RECONVENÇÃO EM EMBARGOS À
EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. NATUREZA CONSTITUTIVA. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO, E NESSA PARTE NÃO PROVIDO.
1. É deficiente a fundamentação do recurso especial em que a alegação de ofensa aos art. 535
do CPC se faz de forma genérica, sem a demonstração exata dos pontos pelos quais o acórdão se
fez omisso, contraditório ou obscuro. Aplica-se, na hipótese, o óbice da Súmula 284 do STF.
2. Cinge-se a controvérsia dos autos acerca do cabimento de reconvenção em embargos à
execução.
3. O processo de execução tem como finalidade a satisfação do crédito constituído, razão pela
qual revela-se inviável a reconvenção, na medida que se admitida, ocasionaria o surgimento de
uma relação instrumental cognitiva simultânea, o que inviabilizaria o prosseguimento da ação
executiva.
4. Assim sendo, a reconvenção somente tem finalidade de ser utilizada em processos de
conhecimento, haja vista que a mesma demanda dilação probatória exigindo sentença de mérito,
o que vai de encontro com a fase de execução, na qual o título executivo já se encontra definido.
5. Em sede de embargos à execução fiscal há previsão legal (art. 16, § 3º, da Lei 6.830/80)
vedando a utilização da reconvenção. O fundamento dessa proibição é, unicamente, de natureza
processual, a fim de não impor dificuldades para o curso da execução fiscal, haja vista que ela
tem como base certidão de dívida líquida e certa.
6. Vale destacar que os embargos à execução não ostentam natureza condenatória, por isso, caso
o embargante entenda ser credor do exequente, deverá cobrar o débito em outra demanda.
7. Entendimento em sentido contrário violaria o princípio da celeridade e criaria obstáculo para
a satisfação do crédito, pois a ideia que norteia a reconvenção é o seu desenvolvimento de forma
conjunta com a demanda inicial, o que não ocorreria ao se admitir a reconvenção em sede de
embargos à execução, na medida que as demandas não teriam pontos de contato a justificar a
sua reunião.
8. Recurso especial parcialmente conhecido, e nessa parte não provido.
(REsp 1528049/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
18/08/2015, DJe 28/08/2015)
Questão 5. Sobre tutela, assinale a alternativa incorreta:
a) Tutela é a proteção prestada pelo Estado quando provocado por meio de um processo, gerado em razão
da lesão ou ameaça de lesão a um direito material.
b) A tutela satisfativa serve para prestar tutela contra o ilícito e contra o dano.
c) A tutela cautelar serve para prestar tutela contra o ilícito e contra o dano.
d) A tutela contra o dano pode ser uma tutela específica ou pelo equivalente em dinheiro.
Comentários
A. Correto.
Nos termos da alternativa, a tutela pode ser conceituada como uma proteção prestada pelo Estado quando
provocado por meio de um processo, gerado em razão da lesão ou ameaça de lesão a um direito material.
B. Correto.
Há tutela satisfativa quando a tutela jurisdicional se destina a realizar concretamente o direito da parte. Essa
tutela satisfativa serve para prestar:
a) tutela contra o ilícito:
a.2 - visando a remoção da sua causa ou de seus efeitos (tutela de remoção do ilícito).
b.1 – visando à sua reparação (tutela reparatória ou, segundo alguns, ressarcitória específica)
b.2 – objetivando o ressarcimento pela sua ocorrência (tutela ressarcitória ou, segundo alguns, ressarcitória
em dinheiro).
C. Errado.
Há tutela cautelar quando a tutela jurisdicional se destina simplesmente a assegurar o provimento útil da
demanda, a satisfação eventual e futura do direito da parte. Enquanto a tutela satisfativa pode proporcionar
tanto uma tutela contra o ilícito (preventiva ou repressiva) como uma tutela contra o dano (repressiva), a
tutela cautelar é sempre uma tutela contra o dano. Isso porque a tutela cautelar apenas assegura para o caso
de, ocorrendo o fato danoso, ser possível eventual e futuramente a realização do direito – a tutela cautelar,
embora possa ser concedida anteriormente ao dano, tem a sua atuabilidade condicionada à ocorrência ou
eventual ocorrência do dano.
D. Correto.
A tutela contra o dano pode ser uma tutela específica - reparatória (correspondendo à obrigação in natura)
ou pode ser pelo equivalente em dinheiro - ressarcitória (quando não há como cumprir a obrigação de fazer,
não fazer, dar coisa diversa de dinheiro).
Essas classificações relacionadas à tutela satisfativa e cautelar podem ser esquematizadas da seguinte
maneira:
Comentários
A. Errada.
B. Errada.
C. Errada.
D. Correta. Com a CRFB/88, a reclamação passou a ser prevista no art. 102, I, “l” e art. 105, I, “f”, cabível
para:
Depois, teve sua abrangência alargada pela EC3/1993 e EC45/2004, sendo agora cabível também para:
Além de o art. 1.027, IV, CPC ter revogado parcela da Lei n. 8.038/90 (arts. 13 a 18), o NCPC previu todas
aquelas 4 hipóteses de cabimento da reclamação (art. 988, incisos I a III) e ainda acrescentou mais duas.
II No que concerne ao crime de homicídio, é possível a coexistência das circunstâncias privilegiadoras com
as qualificadoras de natureza objetiva.
III O homicídio qualificado-privilegiado, nos termos da jurisprudência predominante do STJ, é considerado
crime hediondo, porque a qualificadora prepondera sobre o privilégio, pois este é mera causa de diminuição
da pena.
IV A qualificadora do chamado homicídio funcional, de acordo com o texto legal, só abrange o vínculo
consanguíneo, de forma que ela não incide se a vítima for o filho adotivo do agente de segurança.
V É incompatível o crime de homicídio simples tentado com o caráter hediondo.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I, II e IV;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.
Comentários
Gabarito: Letra B
I Existem três critérios que são utilizados pelas legislações para a conceituação legal do crime de infanticídio.
O primeiro, critério psicológico, descreve o infanticídio tendo em vista a honra, ou seja, a prática do crime se
dá para o fim específico de “ocultar desonra própria”. Era o modelo do Código Penal de 1890. Já o segundo,
critério fisiopsicológico, neste caso não é levada em consideração a honoris causa, mas sim a influência do
estado puerperal. Este é o critério adotado pelo Código Penal em vigor. Por fim o terceiro, critério misto,
levam-se em conta o motivo de honra e o estado puerperal. Há necessidade do concurso desses dois
requisitos para que ocorra infanticídio e não homicídio; a falta de qualquer um deles desnatura o infanticídio.
Este critério foi o adotado pelo Anteprojeto de Código Penal de Nelson Hungria em 1963.
II Homicídio híbrido é aquele onde se apresentam as causas especiais de diminuição de pena, que
caracterizam o homicídio privilegiado, acompanhadas de uma ou mais circunstâncias qualificadoras de
natureza objetiva, previstas no §2º do art. 121 do CP.
III O homicídio qualificado-privilegiado não é crime hediondo, não se lhe aplicando norma que estabelece o
regime fechado para o integral cumprimento da pena privativa de liberdade (Lei nº 8.072/90, artigos 1º e 2º,
parágrafo 1º). (HC 43.043/MG, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em
18/08/2005, DJ 06/02/2006, p. 352)
IV Com fundamento em Rogério Greco, não há consanguinidade, ou seja, relação de sangue, que permita o
reconhecimento de um tronco comum com relação ao filho adotivo. Dessa forma, infelizmente, se o
homicídio for praticado contra o filho adotivo de um policial, em razão dessa condição, não poderemos
aplicar a qualificadora do inc. VII do § 2.º do art. 121 do CP, tendo em vista que, caso assim fizéssemos,
estaríamos utilizando a chamada analogia in malam partem.
V A partir da redação do Pacote Anticrime (L. n. 13.964/19), é considerado hediondo o crime homicídio (art.
121), consumado ou tentado, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente. (L. 8072/90, Art. 1º, I).
Questão 2. Acerca do crime de roubo, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção
correta:
I Com a entrada em vigor do Pacote Anticrime, o crime de roubo com arma branca passou a ser roubo
qualificado.
II O crime de roubo, praticado com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, terá a pena
duplicada em relação ao roubo simples.
III A Lei nº 13.964/19 transformou em crime hediondo o crime de roubo praticado com arma de fogo de uso
restrito, mas não aquele praticado com arma de fogo de uso permitido.
IV O roubo circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (CP, art. 157, § 2º, inciso V) é considerado
crime hediondo.
V Há latrocínio tentado quando o homicídio se consuma, mas o agente não realiza a subtração de bens da
vítima.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão corretas 4 assertivas
Comentários
Gabarito: Letra C
I O art. 157, § 2º, do Código Penal prevê que a pena do roubo será aumentada de 1/3 (um terço) até metade
se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca. Cuida-se, na realidade, de causa
especial de aumento de penal; e não de qualificadora, já que os limites mínimo e máximo sobre os quais
incidem as majorantes são aqueles constantes do caput do tipo penal.
II Conforme o disposto no art. 157, § 2º-B, do Código Penal, se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
artigo.
III Conforme o disposto no art. 1º, II, b, da Lei nº 8.072/90, é considerado crime hediondo o roubo
circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo
de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B).
IV Conforme o disposto no art. 1º, II, a, o roubo circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art.
157, § 2º, inciso V) é considerado crime hediondo.
V SÚMULA 610 STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente
a subtração de bens da vítima.
Questão 3. No que toca aos crimes contra a dignidade sexual, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I A conduta do agente que, aproveitando-se da lotação do coletivo, masturbou-se e ejaculou no corpo de
passageira, constitui o crime de estupro de vulnerável, caso esta seja menor de idade.
II A prática de passar as mãos nas coxas e seios da vítima menor de 14 anos, por dentro de sua roupa, não
pode ser tipificado como crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal), haja vista que não
houve a conjunção carnal.
III O estupro (art. 213 do Código Penal) é tipo penal misto alternativo. Logo, se o agente, no mesmo contexto
fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima, pratica um só crime do art. 213
do Código Penal.
IV somente no crime de estupro, praticado mediante violência real, é que a ação penal é pública
incondicionada. Nas demais modalidades de violência, trata-se de crime de ação penal condicionada a
representação.
V O estupro coletivo é aquele praticado mediante concurso de três ou mais pessoas.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.
Comentários
Gabarito: Letra E
I Cuida-se do crime de importunação sexual. Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato
libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5
(cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
II Agente que passa as mãos nas coxas e seios da vítima menor de 14 anos, por dentro de sua roupa, pratica,
em tese, o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP). Não importa que não tenha havido penetração
vaginal (conjunção carnal). STF. 1ª Turma. RHC 133121/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/o acórdão
Min. Edson Fachin julgado em 30/8/2016 (Info 837).
III O estupro (art. 213 do CP), com redação dada pela Lei 12.015/2009, é tipo penal misto alternativo. Logo,
se o agente, no mesmo contexto fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima,
pratica um só crime do art. 213 do CP. A Lei 12.015/2009, ao revogar o art. 214 do CP, não promoveu a
descriminalização do atentado violento ao pudor (não houve abolitio criminis). Ocorreu, no caso, a
continuidade normativo-típica, considerando que a nova Lei inseriu a mesma conduta no art. 213. Houve,
então, apenas uma mudança no local onde o delito era previsto, mantendo-se, contudo, a previsão de que
essa conduta se trata de crime. É possível aplicar retroativamente a Lei 12.015/2009 para o agente que
praticou estupro e atentado violento ao pudor, no mesmo contexto fático e contra a mesma vítima, e que
havia sido condenado pelos dois crimes (arts. 213 e 214) em concurso. Segundo entende o STJ, como a Lei
12.015/2009 unificou os crimes de estupro e atentado violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser
reconhecida a existência de crime único na conduta do agente, caso as condutas tenham sido praticadas
contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático, devendo-se aplicar essa orientação aos delitos
cometidos antes da vigência da Lei nº 12.015/2009, em face do princípio da retroatividade da lei penal mais
benéfica. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1262650/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 05/08/2014.
STJ. 6ª Turma. HC 212305/DF, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), julgado em 24/04/2014 (Info
543).
IV Todos os crimes contra a dignidade sexual, definidos nos Capítulos I e II, são crimes de ação penal pública
incondicionada (CP, Art. 225).
V CP, Art. 226. A pena é aumentada: (...) IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:
Questão 4. A propósito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I É possível o reconhecimento da figura privilegiada nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a
primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem subjetiva.
II O agente que invade um museu público disposto a furtar um quadro e, quando já estava tirando o quadro
da parede, depara-se com um vigilante, disparando contra ele, matando-o e fugindo sem a obra de arte,
comete o crime de furto qualificado tentado em concurso com homicídio qualificado consumado.
III A intimidação feita com arma de brinquedo não autoriza, no crime de roubo, o reconhecimento da causa
de aumento relativa ao emprego de arma de fogo, consumando-se o crime com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição
imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, imprescindível, porém, a posse mansa e pacífica ou
desvigiada.
IV O sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior
do estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.
V Configura o delito de extorsão (art. 158 do Código Penal) a conduta do agente que submete vítima à grave
ameaça espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o pagamento de vantagem
econômica indevida.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas
Comentários
Gabarito: Letra C
I SÚMULA 511/STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos
de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
qualificadora for de ordem objetiva.
II SÚMULA 610/STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente
a subtração de bens da vítima.
III A Súmula 174/STJ, que autorizava a consideração de arma de brinquedo para efeitos de aumento de pena
foi revogada; subsiste, no entanto, a seguinte: Súmula 582 STJ - Consuma-se o crime de roubo com a inversão
da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida
à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e
pacífica ou desvigiada.
IV Súmula 567 STJ - Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime
de furto.
V Info 598 STJ: Configura o delito de extorsão (art. 158 do CP) a conduta do agente que submete vítima à
grave ameaça espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o pagamento de
vantagem econômica indevida.
Questão 5. A respeito das causas excludentes de ilicitude, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I Considera-se em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a
vítima mantida refém durante a prática de crimes.
II Se o agente, repelindo uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, vem a atingir
pessoa inocente, por erro no emprego dos meios de execução (aberratio ictus), não estará ele amparado
pela legitima defesa . Exemplo: " A se defende de tiros " B ", revidando disparos de arma de fogo em sua
direção. Acerta, todavia, " C ", que nada tinha a ver com o incidente, matando-o. "A" deve responder pela
morte de " C ".
III Considere o seguinte exemplo: " A " caminha pela rua, em direção ao ponto de ônibus, momento em que
é atacado por um cachorro de grande porte. Caso " A " efetue um disparo de arma de fogo, sacrificando o
animal, sua conduta estará amparada pela legítima defesa. Da mesma forma, caso o cachorro seja utilizado
por uma pessoa como um instrumento para atacar outra pessoa, funcionando como verdadeira arma para a
agressão, o ofendido poder· matar o animal em legítima defesa.
IV A doutrina é pacífica no sentido de que os ofendículos - meios defensivos para a proteção da propriedade
e de outros bens jurídicos, como, por exemplo, arame farpado, cerca elétrica e cacos de vidro sobre muros -
têm natureza jurídica de legítima defesa preordenada.
V A legítima defesa exclui a antijuridicidade da conduta quando repele agressão injusta que esteja ocorrendo
ou em vias de ocorrer, desde que a ação defensiva seja moderada e utilize os meios necessários.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I e V;
Comentários
Gabarito: Letra B
I Cuida-se do texto do Art. 25, Parágrafo único, com a redação que lhe fora dada pelo Pacote Anticrime (Lei
nº 13.964/19): Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima
defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém
durante a prática de crimes.
II O art. 73 do Código Penal é peremptório ao estabelecer que o crime considera-se praticado contra a pessoa
visada, permitindo a conclusão de que essa regra aplica-se inclusive para efeito de exclusão da ilicitude.
III Não há que se falar em legítima defesa no primeiro caso, pois o cachorro atacou "A" sem nenhum comando
de um humano, para que haja legítima defesa, um dos requisitos é que seja proveniente de uma ação
humana ou por meio de um comando humano, como no caso do segundo exemplo, que o cachorro recebe
ordens para atacar o A.
IV Há duas posições em doutrina acerca da espécie de excludente configurada pelas ofendículas. Sebastián
Soler, Vicenzo Manzini, Giuseppe Bettiol e Aníbal Bruno se filiam à tese que sustenta tratar-se de exercício
regular de direito. Nesse sentido, é importante destacar o art. 1.210, § 1.º, do Código Civil: O possuidor
turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os
atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
Já José Frederico Marques, Magalhães Noronha e Costa e Silva situam o assunto como legítima defesa
preordenada, alegando o último que, se o aparelho está disposto de modo que só funcione no momento
necessário e com a proporcionalidade a que o proprietário era pessoalmente obrigado, nada impede a
aplicação da legítima defesa.
V CP, Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando MODERADAMENTE dos MEIOS NECESSÁRIOS,
repele injusta agressão, atual OU IMINENTE, a direito seu ou de outrem.
Questão 6. De acordo com o Art. 91-A do Código Penal, inserido pela Lei 13.964/2019, na hipótese de
condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá
ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o
valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. Sobre o
tema, é correto afirmar, exceto, que:
a) O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do
patrimônio.
b) A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do
oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
c) A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pela Defensoria Pública, em ações
privadas, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
d) Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja
perda for decretada.
e) Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser
declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal,
ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério
risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.
Comentários
Resposta: alternativa C
A questão aborda recente inovação trazida pelo Pacote Anticrime, Lei 13.964/2019, ao Código Penal. Foram
inseridas hipóteses adicionais de penas para crimes de enriquecimento sem causa, a fim de buscar maior
eficiência no ressarcimento ao erário. O que se pretende é conseguir reparação quando o condenado possui
patrimônio muito superior aos seus ganhos lícitos. As alternativas da questão trazem variações da
literalidade presente nos parágrafos 2 ao 5, vejamos:
“Art. 91-A
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público,
por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
O erro da alternativa C está em trocar o ente responsável pelo requerimento, que deve ser feito pelo MP e
não pela Defensoria Pública, bem como estabelecer que deve se tratar de ação privada.
Comentários
Resposta: alternativa A
As causas impeditivas de prescrição estão listadas no Artigo 116 do Código Penal. Com o advento da Lei
13.964/2019, houve ampliação de tais hipóteses. Vejamos:
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:
Na alternativa A a questão traz uma das hipóteses Interruptivas, definidas no Artigo 117 da mesma Lei, o
que não se confunde com as hipóteses Impeditivas da prescrição.
Comentários
Resposta: alternativa E
As causas interruptivas de prescrição estão listadas no Artigo 117 do Código Penal. A questão trouxe quatro
das 7 hipóteses, que devem ser de conhecimento do candidato. Vejamos:
II - pela pronúncia;
VI - pela reincidência.”
Ademais, a alternativa E traz uma hipótese Impeditiva, definida no Artigo 116 da mesma Lei, o que não se
confunde com as hipóteses Interruptivas da prescrição.
Comentários
Resposta: alternativa D
a) A tentativa reconhecida gera diminuição de pena, que varia de acordo com a proximidade de alcance do
resultado. Se a conduta se aproximou do resultado, a diminuição, por conseguinte, ficará próxima do
mínimo. Por outro lado, caso a conduta se distancie da consumação, a diminuição se aproximará do máximo
possível. Portanto, a alternativa está correta.
b) Os crimes omissivos impróprios ou crimes “comissivos por omissão”, são aqueles em que o agente tem a
obrigação legal de agir para evitar o resultado. Portanto, caso deva fazer e não faz, o agente responde pelo
resultado ocorrido. Trata-se, de uma relação de causalidade normativa entre a conduta, não agir, e resultado.
O agente não deu “causa” ao resultado, mas como devia e podia evitá-lo, responde por ele.
c) O agente, neste caso, responderá pelo resultado a título de culpa quando, por inobservância do seu dever
de cuidado, deixar de agir para evitar o resultado, quando devia e podia.
d) Esta é a nossa resposta, a alternativa está incorreta pois, o desconhecimento da lei não pode ser alegado.
No entanto, o erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, afasta a CULPABILIDADE, não a punibilidade, nos
termos do Art. 21 do CP.
Comentários
Como sabido, os crimes se processam por ação penal pública ou por ação penal privada. Na primeira, a
titularidade da ação é do Ministério Público, enquanto que na segunda, do particular, vítima, seu
representante legal ou cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão.
Esse critério, porém, não se restringe ao oferecimento de denúncia. É também aplicável ao início das
investigações, que somente pode ser disparada, no caso da ação penal privada e no caso da ação penal
pública condicionada, após manifestação de vontade de quem seja legitimado, na forma do artigo 38, do
CPP.
No caso de infrações que se processam mediante ação penal pública incondicionada, qualquer do povo pode
provocar a Autoridade Policial, conforme se vê do dispositivo abaixo:
Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba
ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta,
verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
Gabarito: E
Comentários
Todas as alternativas constam de expresso texto de lei, especificamente de dispositivos previstos na parte
inaugural do CPP, que tratam do inquérito policial.
A alternativa C está incorreta, pois a Autoridade Policial não indica o dispositivo no qual incurso o investigado.
Essa tarefa, aliás, incumbe ao Ministério Público, que é o dominus litis e apresenta com a denúncia a
adequada tipificação, na forma do artigo 41, do CPP.
Urge registrar que essa tipificação pode ainda ser alterada no curso da instrução, de ofício pelo Ministério
Público, na forma do artigo 569, do CPP, ou nas hipóteses de emendatio e mutatio libelli, respectivamente
artigos 383 e 384, do CPP.
Art. 10. A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.
Gabarito: C
Comentários
Todas as alternativas constam de expresso texto de lei, especificamente de dispositivos previstos na parte
inaugural do CPP, que tratam do inquérito policial.
A alternativa C está incorreta, pois a autoridade policial deve cumprir as requisições emanadas do magistrado
e do Ministério Público.
A finalidade do inquérito e de sorte das investigações é municiar o Ministério Público, dominus litis, de
informações quanto à ocorrência do crime e sua autoria, para que ele possa deliberar quanto aos rumos da
persecução penal.
Outrossim, por questões lógicas, as requisições dele exaradas hão de ser cumpridas, aliás, o termo requisição
designa ordem.
Vale registro que as instituições Ministério Público e Polícia são autônomas, inexistindo hierarquia entre elas.
Gabarito: C
Comentários
a) VERDADEIRA. A vedação a autoincriminação coercitiva garante que ninguém está obrigado a fornecer os
seus padrões de grafia (escrita) para a realização de perícia grafotécnica.
b) Falsa. A condução coercitiva de pessoas para fins de investigação, segundo o STF, em razão da vedação da
autoincriminação, não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988.
c) Falsa. O delegado de polícia não pode determinar a realização de exame de DNA da forma como é tratada
na alternativa
e) Falsa. O acesso a informações do Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais será concedido
mediante autorização judicial:
Art. 7 – C, § 11. A autoridade policial e o Ministério Público poderão requerer ao juiz competente,
no caso de inquérito ou ação penal instaurados, o acesso ao Banco Nacional Multibiométrico e
de Impressões Digitais. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Comentários
b) Verdadeira. A lei processual penal admite a suplementação dos princípios gerais de direito. O CPP prevê,
em ser art. 3, a possibilidade de suplementação pelos princípios gerais de direito:
Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como
o suplemento dos princípios gerais de direito.
c) Falsa. Em outras palavras, o “tempo rege o ato”, é aplicado ao processo penal brasileiro. Ou seja, aplica-
se a lei processual penal do momento em que o ato está sendo realizado.
d) Falsa. De acordo com o CPP, vigora no processo penal o princípio da aplicação imediata (tempus regit
actum).
e) Falsa. No processo penal a lei processual não retroage para beneficiar o réu, salvo se se tratar de norma
processual mista, híbrida ou heterotópica.
Comentários
a) Falsa. O princípio do juiz natural não impede o desaforamento no processo penal. O desaforamento no
processo penal brasileiro pode ser realizado, de forma excepcional, visando garantir que o julgamento ocorra
sem influências externas. A competência para o julgamento continua sendo do Tribunal do Júri, não há que
se falar em tribunal de exceção, haverá apenas a mudança do local do julgamento.
b) Falsa. Nas circunstâncias descritas no enunciado (fundadas razões) possibilita o ingresso forçado em
residência alheia.
c) VERDADEIRA. O princípio da identidade física do juiz possui como subprincípio a oralidade. Em que pese
não constar na afirmativa, a imediatidade também é subprincípio da identidade física do juiz.
d) Falsa. O princípio do duplo grau de jurisdição não é expresso na Constituição Federal de 1988. Trata-se de
princípio implícito.
e) Falsa. O princípio da legalidade não veda a aplicação de analogia no direito processual penal.
Comentários
a) CORRETA: conforme art. 1º, inciso II, alínea "b", da Lei n.º 8.072:
[...]
[...]
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) INCORRETA: tanto a lesão corporal dolosa de natureza gravíssima quanto a lesão corporal seguida de
morte, são crimes hediondos, coforme prevê o art. 1º, inciso I-A, da Lei n.º 8.072:
[...]
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de
morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142,
de 2015)
d) CORRETA: conforme prevê o art. 1º, inciso VIII, da Lei n.º 8.072:
[...]
e) CORRETA: conforme o art. 1º, inciso I, da Lei n.º 8.072, e o art. 121, inciso VI, do Código Penal:
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e
VIII); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
[...]
§ 2° Se o homicídio é cometido:
[...]
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de
2015)
Gabarito: C
Comentários
§ 1º (Vetado).
§ 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica
necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do
estabelecimento.
c) INCORRETA: A última parte da alternativa está correta, conforme o art. 27 da Lei de Execuções Penai.
Contudo, a alternativa está incorreta pois considera-se egresso o liberado condicional, durante o período de
prova. E considera-se egresso o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do
estabelecimento. Conforme prevê o art. 26 da Lei de Execuções Penais:
Art. 27.O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho.
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior
a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.
e) INCORRETA: a prática de fato previsto como crime DOLOSO é que constitui falta grave, conforme prevê o
art. 52, caput, da Lei de Execuções Penais:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional
ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Gabarito: D
III. Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é
suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta
deste, por pessoa idônea.
IV. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, em razão da dependência, ou sob o efeito,
proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, o agente era, ao tempo da ação ou da omissão,
qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
É incorreto o que se afirma em:
(A) I, II e III.
(B) I, apenas.
(C) II e III, apenas.
(D) I, II e IV.
(E) I e II, apenas.
Comentários
I – INCORRETA: Basta que fique evidenciado a transnacionalidade do delito, conforme o art. 40, inciso I, da
Le n.º 11.343/06 e a Súmula 607 do STJ:
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços,
se:
[...]
Súmula 607 - A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006)
configura-se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a
transposição de fronteiras. (Súmula 607, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/04/2018, DJe
17/04/2018)
II – INCORRETA: o prazo é de 15 (quinze) dias e, além do Ministério Público, deve estar presente a autoridade
sanitária, e não a autoridade judiciária, conforme prevê o art. 50, §4º, da Lei 11.343/09:
§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo de
15 (quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei nº
12.961, de 2014)
[...]
[...]
IV – INCORRETA: O agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveninente de caso fortuito ou
força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, é isento de pena. Conforme prevê o art. 45,
caput, da Lei n.º 11.343/06:
Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente
de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que
tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Gabarito: D
Questão 4. Com base nas disposições da Lei n.º 12.850/2013, assinale a opção CORRETA:
a) Associação criminosa é caracterizada pela reunião de quatro ou mais pessoas, estruturadamente
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo de obter vantagem de qualquer natureza.
b) A pena do crime de financiar organização criminosa será aumentada de um terço a metade se houver
participação de criança ou adolescente.
c) Aquele que embaraçar a investigação de infração penal cometida por organização criminosa, incorrerá na
mesma pena imposta àquele que integra a organização.
d) A Lei das Organizações Criminosas não se aplica às organizações terroristas.
e) Na hipótese de um crime previsto em convenção internacional ter a sua execução sido iniciada no país e
o resultado tenha ocorrido no estrangeiro, aplica-se a Lei das Organizações Criminosas, devendo ser objeto
de processamento e julgamento perante a Justiça Estadual.
Comentários
Gabarito C
a) Incorreta. O conceito apresentado é de organização criminosa, previsto no art. 1º, caput, da Lei n.º
12.850/2013: “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo
de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”.
Já o crime de associação criminosa é previsto no art. 288 do CP: “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
para o fim específico de cometer crimes: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena
aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.”
b) Incorreta. Art. 2º, §4º, inciso I, da Lei n.º 12.850/2013: “A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois
terços): I – se há participação de criança ou adolescente;”
c) Correta. Conforme o art. 2º, §1º, da Lei n.º 12.850/2013: “Nas mesmas penas incorre quem impede ou,
de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”.
d) Incorreta. Art. 1º, §2º, inciso II, da Lei: “Esta Lei se aplica também: II – às organizações terroristas,
entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos”.
e) Incorreta. De fato, na hipótese será aplicada a Lei das Organizações Criminosas, com base no art. 1º, §2º,
inciso I, da Lei (Esta Lei se aplica também: I – às infrações penais previstas em tratado ou convenção
internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro,
ou reciprocamente;). Contudo, a competência será da Justiça Federal, tendo em vista o caráter de
transnacionalidade, com fulcro no art. 109, inciso V, da Constituição Federal (“aos juízes federais compete
processar e julgar: […] V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;”).
Questão 5. Em atenção às disposições da Lei n.º12.850/2013 e da Lei n.º 7.210/84, assinale a opção
INCORRETA:
a) O percentual para a progressão de regime a ser cumprido pelo preso condenado por exercer o comando
individual de organização criminosa estruturada para a prática de crime equiparado a hediondo é de 50% da
pena.
b) O condenado que exerce liderança de organização criminosa que tenha armas à disposição deverá iniciar
o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de segurança máxima.
c) O condenado expressamente por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá obter
livramento condicional se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo
d) O condenado expressamente por integrar organização criminosa poderá obter livramento condicional,
mesmo que haja elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo.
e) As lideranças de organizações criminosas armadas deverão iniciar o cumprimento da pena em
estabelecimentos penais de segurança máxima.
Comentários
Gabarito D
a) Correta. Conforme o art. 112, inciso VI, alínea “b”, da LEP: “A pena privativa de liberdade será executada
em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando
o preso tiver cumprido ao menos: […] VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: […] b)
condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a
prática de crime hediondo ou equiparado; ou”.
b) Correta. Art. 2º, §8º da Lei das Organizações Criminosas: “As lideranças de organizações criminosas
armadas ou que tenham armas à disposição deverão iniciar o cumprimento da pena em estabelecimentos
penais de segurança máxima”.
c) Correta. Art. 2º, §9º da Lei das Organizações Criminosas: “O condenado expressamente em sentença por
integrar organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá
progredir de regime de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios
prisionais se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo”.
d) Incorreta. Tanto o condenado por integrar organização criminosa, quanto o condenado por crime
praticado por meio de organização criminosa, comprovado a manutenção do vínculo associativo não
poderão progredir de regime de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios
prisionais, com base no §9º, do art. 2º, da Lei das Organizações Criminosas.
Questão 6. Sobre os meios de obtenção de prova previstos na Lei n.º 12.850/2013, assinale a alternativa
CORRETA:
a) Na ação controlada, o retardamento da intervenção policial ou administrativa não exige autorização do
juiz competente, que será apenas comunicado previamente e, se for o caso, estabelecerá seus limites e
comunicará ao Ministério Público,
b) A proposta para formalização de acordo de colaboração apenas demarca o início das negociações.
c) A infiltração de agentes será autorizada pelo prazo de até 12 (doze) meses, sem prejuízo de eventuais
renovações.
d) Para o Ministério Público ter acesso aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a
qualificação pessoal, filiação e endereço, mantidos, entre outras, pelas empresas telefônicas, é
imprescindível a autorização judicial.
e) Somente durante a ação penal o Ministério Público, considerando a relevância prestada da colaboração
premiada, poderá requerer ao juiz a concessão de perdão judicial ao colaborador.
Comentários
Gabarito A
a) Correta. Art. 8º, §1º, da Lei n.º 12.850/2013: “O retardamento da intervenção policial ou administrativa
será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e
comunicará ao Ministério Público”.
b) Incorreta. O recebimento da proposta para formalização que demarca o início das negociações e constitui
marco de confidencialidade. Conforme prevê o art. 3º-B, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “O recebimento da
proposta para formalização de acordo de colaboração demarca o início das negociações e constitui também
marco de confidencialidade, configurando violação de sigilo e quebra da confiança e da boa-fé a divulgação
de tais tratativas iniciais ou de documento que as formalize, até o levantamento de sigilo por decisão
judicial”.
c) Incorreta. Art. 10, §3º, da Lei n.º 12.850/2013: “A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis)
meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade”.
d) Incorreta. Não depende de autorização judicial, é prescindível. Art. 15, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “O
delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de autorização judicial, apenas
aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o
endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de
internet e administradoras de cartão de crédito”.
e) Incorreta. O Ministério Público pode requerer a qualquer tempo. Art. 4º, §2º, da Lei n.º 12.850/2013:
“Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado
de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou
representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha
sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de
outubro de 1941 (Código de Processo Penal)”.
Comentários
No Direito Positivo brasileiro, o analfabeto é considerado como alistável e inelegível, de acordo com a
alternativa B.
De outro lado, o analfabeto é inelegível, em consonância com o art. 14, § 4º, in fine, ambos da Constituição
da República.
Comentários
O alistamento eleitoral é facultativo para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (alternativa C),
os analfabetos (alternativa D) e os maiores de setenta anos (alternativa E).
Pelo fio do exposto, revela-se correta a alternativa B, porque, de fato, o alistamento eleitoral é proibido para
os conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório, por força do art. 14, § 2º, in fine, da
Constituição da República.
Questão 3. Assinale a opção que indica uma causa legalmente amparada para o cancelamento do
alistamento eleitoral:
a) Incapacidade comprovada de o eleitor se expressar no idioma nacional.
b) Não comparecimento do eleitor em três eleições consecutivas.
c) Residência principal do eleitor localizar-se fora da área do domicílio eleitoral.
d) Aquisição de outra nacionalidade pelo eleitor.
e) Condenação criminal transitada em julgado.
Comentários
A inscrição eleitoral pode ser cancelada, por exemplo, em decorrência de ausência a três eleições
consecutivas, duplicidade de inscrições ou revisão de eleitorado, passível de regularização, após o
recolhimento ou a dispensa das multas eventualmente devidas.
d) O exercício do direito da criança à liberdade de expressão não pode sofrer restrição e inclui a liberdade de
procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma
oral, escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança.
Comentários
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi ratificada e internalizada pelo Brasil e considera como criança
todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável
à criança, a maioridade seja alcançada antes.
Alternativa “b”. Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular seus próprios
juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos relacionados com a criança,
levando-se devidamente em consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança. Com
tal propósito, se proporcionará à criança, em particular, a oportunidade de ser ouvida em todo processo
judicial ou administrativo que afete a mesma, quer diretamente quer por intermédio de um representante
ou órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais da legislação nacional (art.12, 1 e 2, da
Convenção sobre os Direitos da Criança ratificada e internalizada pelo Brasil). Correta.
Alternativa “c”: Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de
bem-estar social, TRIBUNAIS, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar,
primordialmente, o interesse maior da criança (art.3, 1, da Convenção sobre os Direitos da Criança ratificada
e internalizada pelo Brasil). Incorreta.
Alternativa “d”: A criança terá direito à liberdade de expressão. Esse direito incluirá a liberdade de procurar,
receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma oral,
escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança. O EXERCÍCIO DE
TAL DIREITO PODERÁ ESTAR SUJEITO A DETERMINADAS RESTRIÇÕES, QUE SERÃO UNICAMENTE AS
PREVISTAS PELA LEI E CONSIDERADAS NECESSÁRIAS: a) para o respeito dos direitos ou da reputação dos
demais, ou b) para a proteção da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger a saúde e a
moral públicas. Incorreta.
b) Embora a Convenção dos Direitos da Criança contemple direitos relativos à proteção da saúde da criança,
tais como assistência médica e cuidados sanitários, ela é silente quanto aos direitos inerentes à previdência
social, que são objeto de convenção internacional específica.
c) As normas da Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
Internacional incorporadas pelo ECA permitem a adoção de criança brasileira por estrangeiros residentes no
exterior, ainda que não se tenham esgotado as possibilidades de colocação dessa criança em família
substituta brasileira.
d) Segundo o STJ, a Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças não objetiva
discutir o direito de guarda de criança, mas sim as questões vinculadas à retirada ilegal de criança de seu país
e (ou) a retenção indevida de criança em local que não o de sua residência habitual.
e) Segundo as Regras de Beijing, a sanção aplicável ao jovem que cometer ato infracional deverá ser
específica e única, princípio que torna inadmissível a aplicação simultânea de uma medida de liberdade
assistida e uma de prestação de serviços à comunidade.
Comentários
A Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, concluída na cidade de Haia,
em 25 de outubro de 1980, aprovada pelo Congresso Nacional brasileiro por meio do Decreto Legislativo nº
79, de 15 de setembro de 1999, promulgada pelo Decreto Executivo Federal nº 3.413, de 14 de abril de 2000,
tem por objetivos: a) assegurar o retorno imediato de crianças ilicitamente transferidas para qualquer Estado
Contratante ou nele retidas indevidamente; e b) fazer respeitar de maneira efetiva nos outros Estados
Contratantes os direitos de guarda e de visita existentes num Estado Contratante.
Alternativa “a”. A Convenção aplica-se a qualquer criança que tenha residência habitual num Estado
Contratante, imediatamente antes da violação do direito de guarda ou de visita. A aplicação da Convenção
cessa quando a criança atingir a idade de dezesseis anos (Decreto Executivo Federal nº 3.413, de 14 de abril
de 2000, art.4). Errada.
Alternativa “b”. A Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada pelo Congresso Nacional por meio do
Decreto Legislativo n° 28, de 14 de setembro de 1990, e promulgada pelo Presidente da República por meio
do Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990, considera como criança a pessoa de zero a dezoito anos
ou até sua maioridade civil, e prevê, dentre outras coisas, que os Estados Partes reconhecerão a todas as
crianças o direito de usufruir dos serviços médicos e sanitários, previdência social, inclusive do seguro social,
e adotarão as medidas necessárias para lograr a plena consecução desses direitos, em conformidade com
sua legislação nacional (Artigos 1, 24 e 26). Errada.
Alternativa “c”. A Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
Internacional, aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 1, de 14 de janeiro de
1999, e promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 3.087, de 21 de novembro de
1990, estabelece deveres dos Estados de origem e de acolhida para a realização de adoção internacional. As
autoridades competentes do Estado de origem devem: a) determinar que a criança seja adotável; b) verificar,
depois de haver examinado adequadamente as possibilidades de colocação da criança em seu Estado de
origem, que uma adoção internacional atende ao interesse superior da criança; c) assegurar de: 1) que as
pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a adoção hajam sido
convenientemente orientadas e devidamente informadas das consequências de seu consentimento, em
particular em relação à manutenção ou à ruptura, em virtude da adoção, dos vínculos jurídicos entre a
criança e sua família de origem; 2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham manifestado seu
consentimento livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento se tenha manifestado ou
constatado por escrito; 3) que os consentimentos não tenham sido obtidos mediante pagamento ou
compensação de qualquer espécie nem tenham sido revogados, e 4) que o consentimento da mãe, quando
exigido, tenha sido manifestado após o nascimento da criança; e d) assegurar, observada a idade e o grau de
maturidade da criança, de: 1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e devidamente
informada sobre as consequências de seu consentimento à adoção, quando este for exigido; 2) que tenham
sido levadas em consideração a vontade e as opiniões da criança; 3) que o consentimento da criança à
adoção, quando exigido, tenha sido dado livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento
tenha sido manifestado ou constatado por escrito; 4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante
pagamento ou compensação de qualquer espécie (Artigo 4). Errada.
Alternativa “d”. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1196954/ES, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 13/03/2014, interpretou o artigo 3
da Convenção da Haia sobre Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, no sentido de que o
sequestro internacional consiste no deslocamento ilegal da criança de seu país e/ou sua retenção indevida
em outro local que não o de sua residência habitual. Na ocasião, fora fixada a tese de que o escopo da
Convenção não se volta a debater o direito de guarda da criança, mas, sim, a assegurar o retorno da criança
ao país de residência habitual, o qual é o juízo natural competente para julgar a guarda. Correta.
Alternativa “e”. Uma das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e
da Juventude (REGRAS DE BEIJING) é a da pluralidade das medidas aplicáveis (artigo 18). Uma ampla
variedade de medidas deve estar à disposição da autoridade competente, permitindo a flexibilidade e
evitando ao máximo a institucionalização. Tais medidas, que podem algumas vezes ser aplicadas
simultaneamente, incluem: a) determinações de assistência, orientação e supervisão; b) liberdade assistida;
c) prestação de serviços à comunidade; d) multas, indenizações e restituições; e) determinação de
tratamento institucional ou outras formas de tratamento; f) determinação de participar em sessões de grupo
e atividades similares; g) determinação de colocação em lar substituto, centro de convivência ou outros
estabelecimentos educativos; h) outras determinações pertinentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente
prevê diversas medidas aplicáveis em caso de prática de ato infracional por criança (artigo 101) e adolescente
(artigo 112). Errada.
d) A autoridade judiciária, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar,
decidirá, de forma fundamentada, pela possibilidade de reintegração familiar do adolescente que se
encontre em acolhimento institucional.
e) Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou
da unidade do casal, formada por parentes consanguíneos próximos, ainda que a criança ou o adolescente
não mantenha com eles relações de afinidade e afetividade.
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A questão foi elaborada considerando a estrutura em regra adotada pela FCC nas provas da magistratura
estadual: cobrança dos dispositivos do ECA. Selecionei para vocês os dispositivos de maior incidência para
trabalharmos as questões ao longo das nossas rodadas.
Lembrem sempre de grifar os dispositivos cobrados nas nossas questões! Serão uma excelente forma de
filtrar os dispositivos a serem lidos na véspera da prova!
Após estudo das provas anteriores, verificando os dispositivos de maior incidOs conceitos de família natural,
família ampliada, são recorrentemente cobrados! E
b), c) e d) CORRETAS. Essa é a redação do art. 19, § 2º do ECA. Destaque para o prazo máximo de 18 meses
(cai muito) e para o fato de que, excepcionalmente, a autoridade judiciária, de forma fundamentada, poderá
prorrogar. Costuma-se fazer as seguintes modificações, tornando as assertivas erradas:
- “Poderá haver prorrogação pelo conselho tutelar” ou “pela autoridade administrativa” – Errado.
e) ERRADA. O parágrafo único do art. 25 do ECA traz o conceito de família extensa, devendo ser destacado
o vínculo de afinidade e de afetividade, bem como o fato de que o texto legal não limite as espécies de
parente, apenas faz referência “parentes próximos”. Isso também é objeto de pegadinhas! Então, fiquem
atentas e atentos!
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b) Alternativa incorreta. A autoridade administrativa não é livre para conceder a remissão (forma de extinção
do CT), só podendo fazê-lo se existir lei que assim lhe autorize.
c) Alternativa incorreta. Ambas as modalidades consistem em formas de extinção do crédito tributário. Art.
156 VII e VIII do CTN.
d) Alternativa correta. A assertiva refere-se ao instituto da moratória, previsto no art. 151, inciso I, do CTN.
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e) A ação popular, em relação ao seu objeto, faz parte do processo coletivo especial, por tratar de direitos
difusos.
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c- Qualquer cidadão e não pessoa pode promover o seguimento da ação, conforme Art. 9º LAP;
e- Incorreta, pois a ação popular faz parte do processo coletivo comum, que não trata de controle abstrato
de constitucionalidade.
Questão 2. Assinale a alternativa correta em relação ao mandado de injunção, previsto na lei 13.300/2016.
a) A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por
decisão transitada em julgado, salvo se a aplicação da norma editada lhes for mais favorável.
b) O Ministério Público possui legitimidade para impetrar mandado de injunção coletivo em qualquer caso.
c) O mandado de injunção coletivo induz litispendência em relação aos individuais.
d) Aplicam-se ao mandado de injunção, as normas do mandado de segurança.
e) No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada erga omnes.
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Art. 11. A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos
beneficiados por decisão transitada em julgado, salvo se a aplicação da norma editada lhes for
mais favorável. (Correta)
Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido: I - pelo Ministério Público, quando
a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis;
Art. 13 Parágrafo único. O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação
aos individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer
a desistência da demanda individual no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada
da impetração coletiva.
Art. 13. No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente às pessoas
integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo
do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 9º.
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A resposta da questão se dá pela leitura dos artigos 1°, caput, e 6° da Lei n° 4.717/65, para averiguar os
sujeitos passivos da ação popular, e, portanto, determinar quem poderia ter praticado o ato lesivo.
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade
de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de
sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio
o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio
ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos
Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos
cofres públicos.
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no
art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado,
aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado
oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.
Questão 4. São considerados nulos, nos termos da LAP, os atos que apresentem, EXCETO:
a) Vício de forma.
b) Ilegalidade do objeto.
c) Abuso de autoridade.
d) Desvio de finalidade.
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Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior,
nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
e) desvio de finalidade.
A partir desta leitura, compreende-se como incorreta a alternativa c, tendo em vista que abuso de
autoridade não está inserido no rol apresentado.
Comentários
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
iii) Leis de efeito concreto, isto é, aquelas que independem de fator externo para surtir efeitos, excepcionam
o não cabimento de ação popular em face de ato legislativo.
Comentários
Para responder à questão, deve-se levam em consideração a regra da prova de cidadania constante no §3°
do artigo 1° da LAP:
§ 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com
documento que a ele corresponda.
Nesse sentido, a resposta correta é aquela que diz ser cidadão quem possua Título de Eleitor, sou seja, a
alternativa b.
Comentários
Alternativa A: CORRETA
O princípio da ubiquidade define o bem ambiental como despido de fronteiras espaciais, temporais e de
sujeitos. Traduz a ideia de que o meio ambiente é ubíquo, uma vez que está presente em toda e qualquer
parte, e, desta forma, a poluição provoca efeitos cumulativos e sinergéticos, o que também representa a
tônica do princípio da equidade intergeracional.
“Este princípio vem evidenciar que o objeto de proteção do meio ambiente, localizado no
epicentro dos direitos humanos, deve ser levado em consideração toda vez que uma política,
atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade, obra etc. tiver que ser criada e desenvolvida.
Isso porque, na medida em que possui como ponto cardeal de tutela constitucional a vida e a
qualidade de vida, tudo que se pretende fazer, criar ou desenvolver deve antes passar por uma
consulta ambiental, enfim, para saber se há ou não a possibilidade de que o meio ambiente seja
degradado”. (PACHECO FIORILLO, Celso Antônio. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 13ª ed.
rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, p. 131)
Alternativa B: INCORRETA
O princípio do usuário-pagador tem na sua essência uma vertente econômica (não punitiva), com o objetivo
de conscientização e educação ambiental para a utilização racional e eficiente dos recursos naturais. Parte
do pressuposto de que bens sem valor econômico não são valorizados numa sociedade de consumo e que,
por isso, é necessário quantificar economicamente os recursos naturais para evitar o denominado “custo
zero”.
Alternativa C: INCORRETA
Trata-se de assertiva cobrada na primeira fase do concurso para Promotor de Justiça do Estado do Piauí
(MPPI – 2019 – CESPE).
Alternativa D: INCORRETA
I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados
nos planos de recursos hídricos
Alternativa E: INCORRETA
Encontra-se previsto no Princípio 15 da Declaração do Rio (Eco/1992): Princípio 15: Com o fim de proteger o
meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério de precaução conforme a suas
capacidades.
Gabarito: A
Comentários
Todas as alternativas, à exceção da ‘e’ estão contempladas no art. 6º do Código de Defesa do Consumidor, o
que torna a ‘e’ incorreta.
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
c) A moralidade é um requisito de validade do ato administrativo, de modo que um ato contrário a tal
princípio é nulo.
d) A moralidade administrativa é um conceito determinado, não existindo zona de incerteza na qual as
condutas podem ou não ser enquadradas como contrárias a ela.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois, a moralidade administrativa está relacionada à honestidade, à boa-fé, à
lealdade da conduta do agente público, já a probidade também se correlaciona com as mesmas
características que se atribui à moralidade, fazendo com que parte da doutrina trata as expressões como
sinônimas.
Porém, os atos de improbidade descritos na LIA abarcam condutas que vão além da violação à moralidade,
de forma que a doutrina majoritária considera que todo ato imoral configurará ato de improbidade, mas
nem todo ato ímprobo pode ser tachado como imoral.
A alternativa B está incorreta. O princípio da moralidade administrativa manifesta que a conduta dos agentes
públicos deve se pautar na honestidade e na boa-fé, buscando sempre o melhor interesse público.
Por sua vez, a moral comum evidencia os valores que emanam de um grupo social, os quais ditam o que é
considerado como uma conduta correta e o que é reprovável. Apesar da moral comum, servir como ponto
de partida para se definir o conteúdo do princípio da moralidade administrativa, eles não coincidem
inteiramente.
A alternativa C está correta, sendo o gabarito. A aferição da validade de um ato administrativo é realizada
por meio do juízo do atendimento ou não das exigências legais. Como a moralidade, está positivada e tem
conteúdo próprio, é considerada uma moralidade jurídica. Assim, se ato foi editado em desrespeito à
moralidade, ele não atende às exigências legais e, desse modo, também não é válido.
A alternativa D está incorreta, pois uma vez que o conteúdo de moralidade administrativa relaciona-se com
a honestidade, com a boa-fé do agente que pratica o ato administrativo e seja possível delinear o conceito
de moralidade a partir desses elementos, não se consegue definir de antemão o que é honesto do que é
desonesto. Nesse sentido, diz-se que se trata de um conceito jurídico indeterminado, ou seja, não se pode
definir um conceito preciso.
Ainda, justamente por essa razão, a doutrina aponta que há uma zona de incerteza (“zona cinzenta”) no
enquadramento de certas condutas, ou seja, existem certos atos em que se fica na dúvida, se encontrando
em uma zona de incerteza entre aquilo que se consideraria moral e o que se tacharia como imoral.
No entanto, importante ressaltar que a moralidade não está sujeita à discricionariedade do agente, de forma
que a doutrina defende que a moralidade administrativa independe da concepção subjetiva e pessoal de
moral que o agente público tenha, sendo extraída do conjunto de normas existentes no ordenamento
jurídico.
a) A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade
de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21
anos.
b) A decisão judicial relativa à execução de medida socioeducativa será proferida após manifestação da
Defensoria Pública.
c) É legal a internação de adolescente gestante ou com o filho em amamentação, desde que assegurada
atenção integral à sua saúde, bem como as condições necessárias para que permaneça com seu filho durante
o período de amamentação.
d) A regra prevista no art. 49, II, do SINASE deve ser aplicada de acordo com o caso concreto, observando-se
as situações específicas do adolescente, do ato infracional praticado, bem como do relatório técnico e/ou
plano individual de atendimento.
Comentários
A alternativa A está correta. A jurisprudência entende que deve ser permitido o cumprimento da liberdade
assistida até os 21 anos, assim como ocorre com a internação e a semiliberdade.
Ressalta-se que em 2020 o STJ exarou entendimento de que é válida a extinção de medida socioeducativa
de internação quando o juízo da execução, ante a superveniência de processo-crime após a maioridade
penal, entende que não restam objetivos pedagógicos em sua execução20.
A alternativa B está incorreta, sendo o gabarito. A alternativa não está de acordo com o art. 51 do SINASE,
uma vez que não contemplou a manifestação do Ministério Público, que é necessária para a que a decisão
judicial seja proferida e é considerada direito individual do adolescente.
A alternativa C está correta, o STJ emitiu tal entendimento em decisão recente, confira:
20
STJ. 6ª Turma. HC 551319-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
STJ. 5ª Turma. HC 543279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/03/2020 (Info
668)
O simples fato de não haver vaga para o cumprimento de medida de privação da liberdade em
unidade próxima da residência do adolescente infrator não impõe a sua inclusão em programa
de meio aberto, devendo-se considerar o que foi verificado durante o processo de apuração da
prática do ato infracional, bem como os relatórios técnicos profissionais.
A regra prevista no art. 49, II, do SINASE deve ser aplicada de acordo com o caso concreto,
observando-se as situações específicas do adolescente, do ato infracional praticado, bem como
do relatório técnico e/ou plano individual de atendimento.
STJ. 6ª Turma. HC 338517-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 17/12/2015 (Info 576).
Comentários
A alternativa A está incorreta. O Fundeb não é de âmbito municipal e sim de âmbito estadual, com um total
de vinte e sete Fundos e composto por recursos provenientes de impostos e das transferências dos Estados,
Distrito Federal e Municípios vinculados à educação, conforme disposto nos arts. 212 e 212-A da Constituição
Federal.
A alternativa B está incorreta. Mais uma vez, o erro está em afirmar que os recursos são destinados aos
Municípios apenas. Dessa forma, os recursos oriundos do Fundeb são destinados/distribuídos aos Estados,
Distrito Federal e Municípios, para o financiamento de ações de manutenção e desenvolvimento da
educação básica pública, levando-se em consideração os respectivos âmbitos de atuação prioritária,
conforme estabelecido no art. 211, §§2º e 3º da Constituição Federal.
A alternativa C está incorreta. O texto da alternativa trocou o destino dos recursos entre os Municípios e os
Estados. Na verdade, os Municípios utilizarão os recursos provenientes do Fundeb na educação infantil e no
ensino fundamental e os Estados no ensino fundamental e médio.
Art. 8º da Lei nº 14.113/2020 Para os fins da distribuição dos recursos de que trata esta Lei, serão
consideradas exclusivamente as matrículas presenciais efetivas, conforme os dados apurados no
censo escolar mais atualizado, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), observadas as diferenças e as ponderações
mencionadas nos arts. 7º e 10 desta Lei.
Comentários
A alternativa A está correta, pois, nos termos do entendimento do STF, União não pode requisitar seringas
e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para o plano estadual de imunização e que ainda
estão na indústria, apesar de já terem sido empenhados. Nesse sentido, a requisição administrativa não pode
se voltar contra bem ou serviço de outro ente federativo, sob pena de indevida interferência na autonomia
de um sobre outro. STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
8/3/2021 (Info 1008).
A alternativa B está correta e se trata de recente precedente do STF. Para a Corte, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, no caso de descumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação
contra a Covid-19 ou na hipótese de cobertura imunológica intempestiva e insuficiente, poderão dispensar
às respectivas populações: a) vacinas das quais disponham, previamente aprovadas pela Anvisa; e b) no caso
não expedição da autorização competente, no prazo de 24 horas, vacinas registradas por pelo menos uma
das autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição comercial nos respectivos países, bem
como quaisquer outras que vierem a ser aprovadas, em caráter emergencial. STF. Plenário. ADPF 770 MC-
Ref/DF e ACO 3451 MC-Ref/MA, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).
A alternativa C está incorreta e é o gabarito da questão. O STF determinou que a União elaborasse plano de
combate à Covid-19 para população quilombola, com a participação de representantes da Coordenação
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Ademais, o STF deferiu o
pedido de suspensão de ações possessórias, reivindicatórias de propriedade, imissões na posse, anulatórias
de processos administrativos de titulação, bem como os recursos vinculados a essas ações, sem prejuízo dos
direitos territoriais das comunidades quilombolas até o término da pandemia. STF. Plenário. ADPF 742/DF,
Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).
A alternativa D está correta. No início da pandemia do COVID-19, chegou a ser proposta uma ADIN por
omissão instando ao Presidente da República e aos Presidentes da Câmara e do Senado a edição de lei
instituindo o pagamento de um valor mínimo às pessoas carentes de recursos, a fim de assegurar a
alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana. Todavia, dias depois, foi publicada a Lei
nº 13.982/2020, que criou o auxílio emergencial. Diante disso, o STF conheceu a ação, ou seja, entendeu ser
cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por omissão para discutir o tema. Mas, julgou seu
mérito prejudicado, em decorrência da aprovação do auxílio emergencial. STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/4/2020 (Info 975)
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 3
Direito Material Coletivo 2
Direito Processual Coletivo 2
Direito Constitucional 2
Direito Administrativo 2
Legislação Penal Especial 2
Direito Processual Civil 2
Direito Processual Penal 2
Direito Civil 1
Direito da Criança e do Adolescente 1
Direito eleitoral 1
Vamos lá!
Comentários
Em decorrência do bloco de constitucionalidade, a validade de lei ou ato normativo deve ser aferida à luz da
ordem constitucional global, isto é, “a apreciação da conformidade de uma lei se dá não só a teor do texto
da Constituição, como também ao seu preâmbulo, à declaração de direitos do homem e aos princípios
fundamentais reconhecidos pelas leis da República, conjunto chamado de bloco de constitucionalidade”
(ARAÚJO, Nadia. O Direito Internacional Privado e a Proteção da Pessoa Humana: evolução do método
conflitual e a observância dos direitos fundamentais. XXVIII Curso de Derecho Internacional organizado por
el Comité Jurídico Interamericano y la Secretaría General de la Organización de los Estados Americanos.
Washington D.C.: OEA, 2002, p. 469).
Comentários
De um lado, Luiz Pinto Ferreira consigna que o Preâmbulo é destituído de normatividade e cogência
(FERREIRA, Luiz Pinto. Comentários à Constituição Brasileira. v. I. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 3).
De outro lado, Tupinambá Castro Nascimento confirma que o Preâmbulo dispõe de valor normativo e força
cogente (NASCIMENTO, Tupinambá Castro. Comentários à Constituição Federal. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1997, p. 134).
O Supremo Tribunal Federal tem entendido que o Preâmbulo não se situa no âmbito do Direito, mas no
domínio da Política.
Comentários
Nessa rodada, gostaria de discutir com vocês um tema atual na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Trata-se das discussões acerca do ato administrativo de concessão de aposentadoria.
É tema relevante, pois recentemente, o Supremo Tribunal Federal alterou seu entendimento acerca do tema,
o que nos leva a ter certeza que será cobrado nas nossas próximas provas.
Vamos lá.
O STF, no julgamento do RE-636553/2020, fixou a seguinte tese de repercussão geral: em atenção aos
princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de
cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão,
a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.
Assim, de acordo com a Corte Suprema, diante da inexistência de norma que incida diretamente sobre a
hipótese, aplica-se ao caso o disposto no art. 4º do Decreto-lei 4.657/1942, a Lei de Introdução às normas
do Direito Brasileiro (LINDB).
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
Desse modo, tendo em vista o princípio da isonomia, seria correta a aplicação, por analogia, do art. 1º, do
Decreto 20.910/1932.
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer
direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza,
prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.
Portanto, se o administrado tem o prazo de cinco anos para buscar qualquer direito contra a Fazenda Pública,
também deve-se considerar que o Poder Público, no exercício do controle externo, tem o mesmo prazo para
rever eventual ato administrativo favorável ao administrado.
Desse modo, a fixação do prazo de cinco anos se afigura razoável para que o TCU proceda ao registro dos
atos de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, após o qual se considerarão definitivamente
registrados.
Por conseguinte, a discussão acerca da observância do contraditório e da ampla defesa após o transcurso do
prazo de cinco anos da chegada do processo ao TCU encontra-se prejudicada. Isso porque, findo o referido
prazo, o ato de aposentação considera-se registrado tacitamente, não havendo mais a possibilidade de
alteração pela Corte de Contas.
Questão 2.
a) Caso o Estado proceda com uma obra pública, poderia ser responsabilizado por danos gerados ao
particular?
b) Contra quem a vítima do evento danoso deveria ajuizar a ação de indenização?
c) Há prescrição na Ação de indenização? E na ação de regresso?
Comentários
a) O Estado responde civilmente por atos ilícitos ou lícitos. Dessa forma, a antijuridicidade do ato é
prescindível para a responsabilidade do Estado. Um ato válido pode ensejar a responsabilização do poder
público.
Para que o Estado seja responsabilizado por um ato lícito, o dano gerado ao particular deve ser 1) anormal;
2) extraordinário e 3) específico.
A responsabilidade civil do Estado por atos lícitos encontra resguardo na Teoria da Repartição dos encargos
sociais, que está associada ao Princípio da Isonomia.
Nesse sentido, os atos lícitos da Administração que gerem danos a determinados indivíduos devem ser
suportados por toda coletividade, haja vista que esses mesmos atos lícitos geram benefícios à toda
sociedade. Assim, a coletividade que se beneficia do ato lícito danoso tem o dever/ônus de ressarcir aqueles
que sofreram com a conduta estatal. Isso ocorre no momento em que o Estado arca com essa indenização.
Portanto, a responsabilização do Estado por atos lícitos tem o objetivo de evitar a socialização dos bônus e
a privatização dos ônus decorrentes do ato estatal.
b) De acordo com o STF, o art. 37, § 6º da CR/88 protege a vítima, em razão desta ter de ajuizar a ação contra
o Estado, de maneira que este responderia de forma objetiva, prescindindo de comprovação de dolo ou
culpa do agente.
Por outro lado, o dispositivo constitucional também protege o próprio agente causador do dano, uma vez
que só responderia por meio de uma ação de regresso do poder público contra ele, caso haja com dolo ou
culpa. Observe, portanto, que a vítima não pode ajuizar a ação diretamente contra o agente. Deve ajuizar
contra o poder público.
STJ entende que o termo inicial para ajuizar ação regressiva é o trânsito em julgado da condenação do ente
público.
Comentários
Assentado que os direitos da personalidade constituem o plexo de posições jurídicas que tutelam a pessoa
em suas expressões individuais e sociais, salta aos olhos a possibilidade de limitações voluntárias a estes
direitos.
Pode-se afirmar que, em regra, os direitos da personalidade não são disponíveis. Significa que nem o
respectivo titular pode deles abdicar. É o teor do art. 11 do Código Civil:
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis
e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Alinhadas à tutela da autonomia da pessoa, entretanto, doutrina e jurisprudência admitem que haja a
limitação relativa de expressões da personalidade por parte de seu titular. Trata-se, pois, de restrição parcial,
temporária e cujo efeito prática não fulmine o núcleo duro do direito relativizado.
Em arremate, destaque-se:
2. Mesmo nas situações em que há alguma forma de mitigação, não é tolerável o abuso, estando
a liberdade de expressar-se limitada à condicionante ética do respeito ao próximo e aos direitos
da personalidade.
(STJ – AgInt no Resp: 1586380 DF 2014/0055591-9, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data
de Julgamento: 11/06/2019, T4 – QUARTA TURMA, Data de Publicação: Dje 18/06/2019)
Comentários
A competência absoluta, entendida como aquela que não pode ser modificada pela vontade das partes, por
atender a um interesse de ordem pública, define-se, em regra, pelos critérios hierárquico, funcional e
material.
O critério hierárquico ou funcional impõe o processamento e julgamento da ação por determinado juízo em
razão da pessoa que figura em um dos seus polos (ratione personae) ou da origem/autoria do ato ou fato em
análise, a exemplo das hipóteses de foro por prerrogativa de função e das ações originárias dos Tribunais, na
forma dos artigos 102, I, 105, I, 108, I, e 114, V, todos da Constituição Federal, ou pela verificação de uma
relação de acessoriedade ou dependência com ação anterior, designada como principal, conforme dispõem
os artigos 61 e 286 do Código de Processo Civil, ou mesmo por uma questão de eficiência jurisdicional, de
maneira a otimizar o desempenho da atividade estatal.
O critério material, por sua vez, define a competência de determinado juízo com base na causa de pedir da
ação, em especial por seus fundamentos fáticos, de modo a revelar a natureza da relação jurídica e, assim,
fixar a competência de Justiças Especializadas, a exemplo da Justiça Eleitoral e da Justiça do Trabalho.
Excepcionalmente, pode a competência absoluta ser definida por critério valorativo, isto é, com amparo no
valor da causa, tal como ocorre no âmbito dos Juizados Especiais Federais (art. 3º, §3º, da Lei 10.259/01) e
dos Juizados Especiais da Fazenda Pública (art. 2º, §4º, da Lei 12.153/09), ou pelo critério territorial, em se
tratando de ação fundada em direito real sobre imóvel que recaia sobre direito de propriedade, vizinhança,
servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova (art. 47, §1º, CPC), bem como de ação
possessória imobiliária (art. 47, §2º, CPC) e de ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao
meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico
(art. 2º da Lei 7.347/85).
Em verdade, a atribuição, por via de exceção, de natureza absoluta a tais critérios funda-se em norma que
visa à proteção de interesse público, notadamente a eficiência jurisdicional, razão pela qual se convenciona
nominar de critério valorativo/funcional e territorial/funcional.
Comentários
A intervenção iussu iudicis, que tem previsão expressa no direito italiano, consiste no ingresso de terceiro
em processo pendente por ordem do Estado-juiz. É dizer, o terceiro é coativamente integrado à lide por
decisão do magistrado. No regime do CPC de 1939, o art. 91 daquele diploma legal consagrava a referida
intervenção, permitindo ao juiz trazer ao processo terceiros que tivessem algum interesse jurídico na causa.
O CPC de 1973, todavia, não repetiu a experiência do Estatuto pretérito. Na verdade, privilegiou o princípio
da inércia determinando que o juiz, caso verifique a ausência de litisconsorte necessário para o regular
trâmite processual, ordene ao autor que adote providências a fim de que sejam todos os litisconsortes
citados para integrar a relação jurídica processual (art. 47, parágrafo único, CPC vigente). Na mesma linha, o
novel diploma processual civil estabeleceu no parágrafo único do art. 115 que “nos casos de litisconsórcio
passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes,
dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo”.
Comentários
A Teoria das Velocidades do Direito Penal, em número de quatro, proposta por Silva Sánchez, parte da ideia
de que o Direito Penal possui, em seu interior, dois conjuntos diferentes de crimes: o primeiro, com infrações
penais que culminam em penas privativas de liberdade (núcleo); e o segundo, com ilícitos ligados a gêneros
mais próximos do administrativo e de suas sanções (alo periférico), em que se culminaria multas, penas
privativas de direitos, entre outras.
A primeira velocidade é a mais ligada aos direitos e garantias constitucionais, como a ampla defesa, o
contraditório, a efetivação do devido processo legal, entre outros. Tem-se que o Estado é mais lento em
disciplinar a condenação dos crimes nesta parte, com uma maior extensão do julgamento e aplicação rígida
de pena, culminando na restrição da liberdade do réu.
O Direito Penal de Primeira Velocidade é marcado por aplicação da pena privativa de liberdade, ao mesmo
tempo em que garante ao indivíduo seus direitos e garantias fundamentais.
Na segunda velocidade, experimenta-se uma forma diferente de penalização do ilícito. Aqui não há
necessidade e aplicabilidade da privação de liberdade do agente, mas apenas a aplicação de medidas
alternativas que cumprirão a função sancionadora. Nesse ponto é possível falar numa flexibilização do
sistema penal, marcado pelo afastamento de penas que restrinjam o bem jurídico da liberdade humana, mas
também pela maior celeridade do processo e relativização das regras processuais.
A terceira velocidade, representada pelo Direito Penal do Inimigo, como é chamado por Günther Jakobs, é
tida como um direito de exceção, de emergência. O “inimigo” seria aquele que, cognitivamente, não aceita
se submeter às regras elementares do convívio social. Daí surge a dicotomia “Cidadão — Inimigo”, proposta
por ele como divisão do direito penal. Ao primeiro aplicar-se-ia as normas penais respeitando direitos e
garantias constitucionais; ao segundo, haveria a flexibilização das garantias presentes na Carta Magna.
Segundo Silva Sánchez, a transição da figura de “cidadão” à de “inimigo” seria produzida mediante a
reincidência, a habitualidade, a delinquência profissional e, finalmente, a integração em organizações
delitivas estruturadas.
A quarta velocidade está intimamente ligada ao Direito Penal Internacional e à resolução mundial de
conflitos. Aqui tem-se a figura do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Nesta velocidade, tem-se um aumento do poderio repressor do Estado, inclusive de forma mais arbitrária e
abusiva que o Direito Penal do Inimigo. Por ser de âmbito Penal Internacional, encontra-se muito ligado a
política e a movimentos de seletividade, desrespeitando certas regras, deixando de lado, inclusive, garantias
materiais e processuais dos acusados.
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
A Teoria das Velocidades do Direito Penal, em número
de quatro, proposta por Silva Sánchez, parte da ideia de
que o Direito Penal possui, em seu interior, dois
Identificação das conjuntos diferentes de crimes: o primeiro, com
velocidades do Direito infrações penais que culminam em penas privativas de 10%
Penal. liberdade (núcleo); e o segundo, com ilícitos ligados a
gêneros mais próximos do administrativo e de suas
sanções (alo periférico), em que se culminaria multas,
penas privativas de direitos, entre outras.
O Direito Penal de Primeira Velocidade é marcado por
Análise da primeira
aplicação da pena privativa de liberdade, ao mesmo
velocidade do Direito 20%
tempo em que garante ao indivíduo seus direitos e
Penal –
garantias fundamentais.
Na segunda velocidade, experimenta-se uma forma
Análise da Segunda diferente de penalização do ilícito. Aqui não há
velocidade do Direito necessidade e aplicabilidade da privação de liberdade do 20%
Penal agente, mas apenas a aplicação de medidas alternativas
que cumprirão a função sancionadora.
Análise da terceira A terceira velocidade, representada pelo Direito Penal
velocidade do Direito do Inimigo, como é chamado por Günther Jakobs, é tida 20%
Penal como um direito de exceção, de emergência.
A quarta velocidade está intimamente ligada ao Direito
Análise da quarta
Penal Internacional e à resolução mundial de conflitos.
velocidade do Direito 20%
Aqui tem-se a figura do Tribunal Penal Internacional
Penal
(TPI).
Questão 2. No dia 1º de outubro de 2020, ANTÔNIO MANSO foi autuado em flagrante pelo crime de
estelionato (CP, Art. 171, caput) por ter efetuado ligação clandestina de energia elétrica que possibilitou
o funcionamento de sua empresa, uma pequena gráfica.
Na audiência de custódia, o autuado foi posto em liberdade provisória, mediante fiança; tendo na
oportunidade apresentado comprovante de quitação do valor devido a título de tarifa pública pela utilização
da energia elétrica obtida ilicitamente.
Encaminhado o auto de prisão em flagrante à Justiça, o Promotor com atribuição para o caso promoveu o
arquivamento do feito sob o fundamento de que a quitação do débito junto à concessionária de energia
operava a extinção da punibilidade do suspeito.
No tocante à atuação do Delegado de Polícia e do membro do Ministério Público, responda:
a) A classificação jurídica do fato feita pela autoridade policial está correta?
b) O fundamento adotado pelo Promotor de Justiça para o arquivamento encontra amparo na jurisprudência
dos tribunais superiores?
Comentários
Ordinariamente, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça classifica o furto de energia elétrica (Gato)
como furto com fraude (CP, Art. 155, §4º, II). Todavia, há precedente reconhecendo a figura do estelionato;
porém, em situação diversa da ligação clandestina. Neste sentido:
1. Extrai-se do autos que fraude empregada pelos agravantes - uso de material transparente nas
fases "a" e "b" do medidor - reduzia a quantidade de energia registrada no relógio e, por
consequência, a de consumo, gerando a obtenção de vantagem ilícita. 2. "No furto qualificado
com fraude, o agente subtrai a coisa com discordância expressa ou presumida da vítima, sendo
a fraude meio para retirar a res da esfera de vigilância da vítima, enquanto no estelionato o autor
obtém o bem através de transferência empreendida pelo próprio ofendido por ter sido induzido
em erro". (AgRg no REsp 1279802/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
8/5/2012, DJe 15/5/2012) 3. O caso dos autos revela não se tratar da figura do "gato" de energia
elétrica, em que há subtração e inversão da posse do bem. Trata-se de prestação de serviço lícito,
regular, com contraprestação pecuniária, em que a medição da energia elétrica é alterada, como
forma de burla ao sistema de controle de consumo, - fraude -, por induzimento ao erro da
companhia de eletricidade, que mais se adequa à figura descrita no art. 171, do Código Penal -
CP (estelionato).
(AREsp 1418119/DF, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
07/05/2019, DJe 13/05/2019)
(AgRg no REsp 1799613/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
28/04/2020, DJe 30/04/2020)
COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
Classificação jurídica pelo A ligação clandestina de energia elétrica caracteriza furto
40%
Delegado com fraude, nos termos da jurisprudência do STJ.
A Terceira Seção do STJ, no julgamento do RHC n.
Arquivamento pelo 101.299/RS, firmou a orientação de que é inviável o
membro do Ministério reconhecimento da extinção da punibilidade pela 40%
Público quitação de débito no caso de crime de furto de energia
elétrica.
Questão 3 - O Código Penal, no art. 138, § 3º, estabelece que “Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se,
constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime
imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível”.
Dito isso, disserte sobre a “exceção da verdade”, abordando inclusive a competência para julgamento na
hipótese da vítima da suposta ofensa à honra gozar de prerrogativa de foro.
Trace, ainda, um paralelo entre “exceção da verdade” e “exceção de notoriedade”, deixando claro se trata-
se de duas expressões para referir-se ao mesmo instituto.
Comentários
A exceção da verdade caracteriza-se por ser uma defesa apresentada pelo acusado de calúnia, que prova ser
verdade o fato atribuído ao agente. Sua natureza jurídica é de causa de exclusão da tipicidade, porquanto
exclui o elemento “falsamente”.
Há hipóteses em que a exceção da verdade não é admitida. Duas de cunho processual, preservando
titularidade de ações penais privadas e o trânsito em julgado absolutório, e outra vinculada ao prestígio da
vítima da “calúnia” por seu cargo de Presidente da República ou Chefe de Governo estrangeiro.
Nestas hipóteses em que a exceção da verdade não é admitida, será possível a condenação por calúnia em
razão de imputação de fato verdadeiro, eis que nestes casos não será possível demonstrar a “verdade”.
A doutrina argumenta que as hipóteses em que é vedado o oferecimento da exceção da verdade não teriam
sido recepcionadas pela ordem constitucional, pois afrontam os princípios da ampla defesa e da
inafastabilidade da jurisdição.
“Exceção da verdade” e “exceção de notoriedade” são institutos que não se confundem. Em situações em
que todos têm conhecimento da prática do fato definido como crime, será admitido o oferecimento da
Exceção de Notoriedade (CPP art. 523). Esta tem como finalidade demonstrar a ciência do fato “por todos”
e em razão disto, a afronta à honra objetiva não ocorre, eis que há crime impossível.
CPP Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado,
o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as
testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às
primeiras, ou para completar o máximo legal.
Por fim, caso o “caluniado” goze de foro por prerrogativa de função, a exceção da verdade deverá ser julgada
pelo tribunal em que o sujeito passivo responda criminalmente (CPP art. 85) (STJ, CC 106.625).
CPP Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que
a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação,
àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.
Comentários
O rito do júri é escalonado ou bifásico, compreendendo duas fases. A primeira, sumário da culpa, e a segunda
o juízo da causa. Aquela serve como um filtro, para evitar que sejam submetidas a julgamento causas
desprovidas de um mínimo de fundamento. A segunda, compreende a etapa de preparação para o
julgamento e o plenário do júri.
No plenário, após a composição do conselho de sentença e a instrução do feito, as partes seguem para os
debates. O tempo de fala conferido aos litigantes é o seguinte:
Perceba-se que a defesa só tem o direito de ir a tréplica, caso o Ministério Público faça o uso da réplica. É da
defesa, portanto, a prerrogativa de falar por último nos autos.
Isso não significa que ela tenha o direito de inovar na tréplica, surpreendendo o representante do Parquet.
Conquanto o júri oriente-se pelo princípio da plenitude de defesa, espera-se que durante o processo as
partes mantenham um comportamento ético, decorrência essa do princípio da boa-fé, ex vi legis do artigo
6º, do CPC, plenamente aplicável ao processo penal.
Ainda a esse propósito é possível aplicar o princípio da não surpresa, esculpido no artigo 10, do CPC, assim
redigido:
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito
do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria
sobre a qual deva decidir de ofício.
Poderíamos encerrar apenas nesses argumentos, mas há outro, que também tem sede constitucional e que
é norma matriz de todas essas proposições aqui construídas: o princípio do contraditório.
Como decorrência natural do direito de ação (de provocar o Judiciário para obter um provimento), às partes
deve-se assegurar a possibilidade de participar ativamente da formação do convencimento do magistrado,
de sorte que a apresentação de um argumento àquela altura, na tréplica, impediria a parte autora de sobre
ele se manifestar.
Óbvio que a restrição imposta refere-se a argumentos meritórios, já que teses extrajurídicas, tais como
argumentos de política criminal ou de clemência são normais e esperados no procedimento do júri, não
constituindo nenhum fator surpresa.
2. Na hipótese, embora haja sido pugnada a absolvição genérica sem conteúdo na tréplica, não
identifico a ocorrência de nenhum prejuízo à acusação, nem mesmo violação do contraditório.
Isso porque não se pode aceitar haver sido o Ministério Público surpreendido pela defesa - razão
de ser da norma processual inserta no art. 482, parágrafo único, do CPP -, especialmente
porquanto, pela ata de julgamento, a defesa apenas sustentou a tese absolutória sem conteúdo,
ou seja, aquela prevista obrigatoriamente em lei.
(REsp 1451538/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
08/11/2018, DJe 23/11/2018)
Comentários
O Tribunal do Juri guia-se pelo princípio da soberania dos veredictos, sendo certo que a deliberação tomada
pelos jurados é insuscetível de revisão, seja pelo magistrado presidente, seja pelo Tribunal. Tanto é assim
que eventual recurso baseado na tese de que o julgamento foi manifestamente contrário à prova dos autos
somente pode resultar de anulação, jamais reforma.
Pois bem.
Ao cabo dos debates em plenário, os jurados são convidados à sala secreta para que possam proferir o seu
julgamento, e os veredictos possíveis são: condenação, absolvição e desclassificação.
dolosos contra a vida apenas), de sorte que o juiz presidente passa a ser o responsável pelo julgamento tanto
do crime “desclassificado”, quanto pelo conexo. É a dicção dos §§ 1º e 2º, do artigo 492, do CPP.
Comentários
Conforme a previsão do art. 48, §3º, da Lei n.º 11.343/06, somente na ausência da autoridade judicial é que
a autoridade policial atuará para tomar as providências legais. Veja-se:
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo
disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo
Penal e da Lei de Execução Penal.
§ 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso
com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts.
60 e seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais
Criminais.
§ 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante,
devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste,
assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e
providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.
[...]
A questão foi recentemente discutida no Supremo Tribunal Federal em sede de controle concentrado de
constitucionalidade (ADI n.º 3807), e ementada da seguinte forma:
[...] de acordo com o parágrafo 3º do artigo 48 da Lei de Drogas, a autoridade policial, em relação
a quem adquirir, guardar ou transportar droga para consumo pessoa, pode lavrar o flagrante e
tomar as providências previstas na lei “se ausente a autoridade judicial”. Segundo a relatora,
presume-se que, presente a autoridade judicial, cabe a ela a adoção dos procedimentos, até
mesmo quanto à lavratura do termo circunstanciado. Em qualquer dos casos, é vedada a
detenção do autor. Essa interpretação, a seu ver, é a que mais se amolda à finalidade dos
dispositivos, que é a despenalização do usuário de drogas.
De acordo com o procedimento previsto na norma, o autor do crime deve, de preferência, ser
encaminhado diretamente ao juízo competente, se disponível, para que ali seja lavrado o termo
circunstanciado de ocorrência e requisitados os exames e perícias necessários. Esse
procedimento, segundo a ministra, afasta a possibilidade de que o usuário de drogas seja preso
em flagrante ou detido indevidamente pela autoridade policial. “As normas foram editadas em
benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do ambiente policial quando possível e evitar
que seja indevidamente detido pela autoridade policial”, destacou.
[...] o dispositivo não atribuiu ao órgão judicial competências de polícia judiciária, pois a lavratura
de TCO não configura ato de investigação, mas peça informativa, com descrição detalhada do
fato e as declarações do condutor do flagrante e do autor do fato21.
Decidiu a Suprema Corte, portanto, que as disposições do artigo 48, §§ 2º e 3º, da Lei de Drogas são
constitucionais e não violam o papel do juiz no sistema acusatório, ou seja, não ofende a Constituição e nem
interfere na imparcialidade. E assim entendeu por considerar que "o termo circunstanciado não é
procedimento investigativo, mas peça informativa com descrição detalhada do fato e as declarações do
condutor do flagrante e do autor do fato".
As consequências desta decisão são seríssimas, pois, como não poderia deixar de ser, diversas outras
autoridades (como os Delegados de Polícia) já se mobilizam para o fim de retirar da atribuição da Polícia Civil
a confecção de Termos Circunstanciados referentes a este crime (Disponível em:
https://adepoldobrasil.org.br/recomendacoes-de-medidas-a-serem-adotadas-nos-casos-de-posse-de-
drogas-com-base-no-julgado-da-adi-3807/. Acesso: 30/09/2020).
Diante dessas informações, tempos difíceis virão. Será que realmente o Termo Circunstanciado não é um
Procedimento Investigatório simplificado? Será que o Poder Judiciário terá que se estruturar para, além do
juízo de garantas, criar Juizados próprios para cuidar das dezenas de ocorrêncas diárias refernetes ao artigo
28 da Lei de Drogas? Será que é função do Juiz plantonista cuidar disso (vide artigo 1º da Resolução CNJ nº
71/2009)? Pense sobre isso!
Questão 2. É possível responsabilizar uma pessoa jurídica na esfera penal? Em que consiste a teoria da
dupla imputação? Esta teoria é aplicada no Direito pátrio?
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=447219.
Comentários
CRFB Art. 225, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
2ª Corrente – Pessoa jurídica não pode cometer crimes - Societas delinquere non potest (minoritária):
embasando-se na teoria da ficção de Savigny, as pessoas jurídicas teriam existência meramente fictícia e, em
razão disto, seriam desprovidas de vontade e consciência próprias e não praticariam conduta. Assim, como
não agiriam com dolo ou culpa, em razão da inexistência de responsabilidade penal objetiva não cometeriam
crimes. Além do mais, não haveria culpabilidade, vez que a reprovabilidade pessoal da conduta não seria
dirigida à pessoa jurídica, mas à pessoa física representante daquela. Também não haveria sentido a
aplicação de pena à pessoa jurídica, vez que as finalidades da pena não incidiriam sobre a pessoa jurídica e
haveria violação ao princípio da intranscendência da pena.
3ª Corrente – Pessoa jurídica pode cometer crime - teoria da realidade, de Otto Gierke (STJ, REsp 610.114):
a pessoa jurídica seria um ente real com capacidade e vontade próprias, distintas das pessoas físicas que a
compõem, assim, não há de se falar em responsabilidade penal objetiva. As mesmas, ainda, possuem
capacidade de culpabilidade (relacionada à vontade do administrador) e de sanção penal. Além disso, ela é
dotada de capacidade de pena, não havendo violação ao princípio da pessoalidade da pena. Ressalta-se,
também, que há previsão na legislação infraconstitucional de penas aplicáveis às pessoas jurídicas e a
Constituição (art. 225, § 3º; CRFB art. 173, §5º) prevê expressamente a responsabilidade da pessoa jurídica.
Os tribunais pátrios, então, estabeleceram que é possível a responsabilizar uma pessoa jurídica na esfera
penal, pela prática de crime ambiental.
Isso ocorre quando preenchidos os seguintes requisitos cumulativos: (a) infração cometida em benefício ou
interesse da PJ; e (b) por decisão do representante legal ou contratual da PJ, ou de seu órgão colegiado;
Lei 9.605/98 Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por
decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
beneficio da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou participes do mesmo fato.
Por fim, a teoria da dupla imputação consistia na necessidade da denúncia do Ministério Público relacionar,
a um só tempo, a pessoa jurídica e a pessoa física que atuou em benefício daquela, figurando ambos em
litisconsórcio passivo necessário.
(RE 548181, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)
1. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não
condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma
constitucional não impõe a necessária dupla imputação." (RE 548181, Relatora Min. ROSA
WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico DJe-213, divulg. 29/10/2014,
public. 30/10/2014).
2. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos
ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em
seu nome. Precedentes desta Corte.
3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática
de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução.
(RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
06/08/2015, DJe 13/08/2015)
Comentários
Sim, é admissível que estrangeiro obtenha alistamento eleitoral no Brasil, na hipótese de português com
residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiro, como preceitua o art. 12, §
1º.
Neste caso, ao nacional da República de Portugal são atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro,
ressalvado, no âmbito do Direito Eleitoral, o acesso aos cargos privativos de brasileiro nato sobre os quais
versa o art. 12, § 3º, todos da Constituição da República.
Comentários
ECA Art. 106 - Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
b) Formalização do flagrante de ato infracional (ECA art. 173): se for ato infracional com violência ou grave
ameaça à pessoa, o delegado deve lavrar auto de apreensão de adolescente (ECA art. 173, caput). Por outro
lado, em se tratando de ato infracional sem violência ou grave ameaça à pessoa, o delegado pode lavrar: (i)
auto de apreensão de adolescente, ou (ii) boletim de ocorrência circunstanciada (ECA art. 173, parágrafo).
c) Destinação do adolescente (ECA art. 174): formalizado o flagrante, o delegado tem duas opções:
c.1) Liberação do adolescente para os pais ou responsável, sob compromisso de apresentação do infrator
ao MP (ECA art. 174, 1ª Parte): Nesta hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente,
cópia do auto de apreensão ou do BOC ao Ministério Público (ECA art. 176).
c.2) Não liberação do adolescente quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva
o mesmo permanecer sob internação para garantia da sua segurança ou da ordem pública (ECA art. 174, 2ª
Parte): Nessa hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente, o adolescente ao MP,
juntamente com cópia do auto de apreensão ou do BOC, ou, sendo impossível a apresentação imediata,
encaminhará o mesmo à entidade de atendimento (ECA art. 175, caput e §1º).
Caso não haja entidade de atendimento, o delegado poderá deixar o adolescente apreendido por até 24
horas, devendo este permanecer em repartição especializada para menores. Caso esta seja inexistente,
ficará em dependência comum separada da destinada aos maiores (ECA art. 175, §2º).
Noutro giro, caso o cerceamento da liberdade dê-se por ordem judicial, o infante deverá ser encaminhado
diretamente à autoridade judiciária (ECA art. 171).
Comentários
De acordo com o art. 5º da Lei 4.717/65, a competência para processar e julgar a ação popular será
determinada conforme a origem do ato lesivo impugnado, de modo que será competente a Justiça Federal
se houver interesse da União e caberá à Justiça Estadual o seu exame quando a questão for de interesse dos
Estados ou Municípios.
Não há, entretanto, regramento específico sobre a competência territorial, limitando-se o art. 22 da
mencionada legislação a estabelecer que se aplicam, subsidiariamente, as disposições do CPC naquilo em
que não contrarie sua normatização. O STJ, em mais de uma oportunidade, já enfrentou a questão e
consagrou o entendimento de que a competência é do foro do domicílio do autor da ação popular, sendo
desarrazoada qualquer outra interpretação para determinar o processamento da demanda perante o foro
do local em que se consumou o ato.
constitucional que garante a todo cidadão a defesa de interesses coletivos (art. 5º, LXXIII), devem
ser empregadas as regras de competência constantes do Código de Processo Civil - cuja aplicação
está prevista na Lei 4.717/65 -, haja vista serem as que melhor atendem a esse propósito. 7. Nos
termos do inciso I do art. 99 do CPC, para as causas em que a União for ré, é competente o foro
da Capital do Estado. Esse dispositivo, todavia, deve ser interpretado em conformidade com o §
2º do art. 109 da Constituição Federal, de modo que, em tal caso, "poderá o autor propor a ação
no foro de seu domicílio, no foro do local do ato ou fato, no foro da situação do bem ou no foro
do Distrito Federal" (PIZZOL, Patrícia Miranda. "Código de Processo Civil Interpretado",
Coordenador Antônio Carlos Marcato, São Paulo: Editora Atlas, 2004, p. 269). Trata-se, assim, de
competência concorrente, ou seja, a ação pode ser ajuizada em quaisquer desses foros. 8. Na
hipótese dos autos, portanto, em que a ação popular foi proposta contra a União, não há falar
em incompetência, seja relativa, seja absoluta, do Juízo Federal do domicílio do demandante. 9.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da 10ª Vara Federal da Seção Judiciária
do Estado do Rio de Janeiro, o suscitado22.
No entanto, o caso apresentado possui contornos fáticos que ensejam uma análise diferenciada, exigindo-
se a realização do devido distinguishing. É que o dano derivado de rompimento de barragem tem potencial
para desencadear uma cadeia sucessiva de ações populares e civis públicas, além de inúmeras ações
individuais, não se amoldando aos precedentes que versaram sobre ação popular de forma isolada. Assim, a
fixação da competência no foro do local do fato revela-se útil e necessário à efetividade da tutela jurisdicional
e a defesa do meio ambiente, tal como decidiu o STJ em elucidativo precedente:
HISTÓRICO DA DEMANDA
1. Trata-se, na origem, de Ação Popular proposta por Felipe Torello Teixeira, advogado
qualificado nos autos, contra a União, o Distrito Federal, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A.,
objetivando liminarmente o bloqueio de ativos financeiros dos réus, no valor de R$
4.000.000.000,00 (quatro bilhões de reais) e, ao final, a confirmação da tutela liminar, cumulada
com a declaração de nulidade dos atos comissivos da Vale S.A. e omissivos da União, do Distrito
Federal e do Estado de Minas Gerais, bem como a condenação dos réus a: a) recuperar o meio
ambiente degradado pelo rompimento da barragem da Vale S.A. no Município de Brumadinho –
MG; b) pagar indenização pelos danos materiais e morais decorrentes do desastre, no valor de
R$ 4.000.000.000,00 (quatro bilhões de reais); c) a pagar multa civil por dano ambiental, em
montante a ser arbitrado por este Juízo. Neste momento, o STJ aprecia apenas o Conflito de
Competência. 2. O juiz suscitado entendeu que o foro competente, na situação específica dos
22
STJ, CC 47.950/DF, 1ª Seção, rel. Min. Denise Arruda, DJ 07/05/2007, p. 252.
autos, não se enquadraria na regra geral do domicílio do autor, haja vista que, em virtude da
defesa do interesse coletivo, o processamento da ação seria mais bem realizado no local da
ocorrência do ato que o cidadão pretende ver anulado. O juiz suscitante, por sua vez, defende
que o julgamento poderá ser atribuído à Vara Federal do domicílio do peticionante.
DISTINGUISHING: AÇÃO POPULAR ISOLADA E AÇÃO POPULAR EM COMPETIÇÃO COM AÇÃO CIVIL
PÚBLICA COM OBJETO ASSEMELHADO
8. Deveras a Lei de Ação Popular (Lei 4.717/1965) não contém regras de definição do foro
competente. À época de sua edição, ainda não vigorava a Lei da Ação Civil Pública (Lei
7.347/1985); portanto se utilizava, até então, o CPC, subsidiariamente. Todavia, com a
promulgação da retromencionada Lei 7.347/1985, a aplicação subsidiária do CPC passou a ser
reservada àqueles casos para os quais as regras próprias do processo coletivo também não se
12. Na presente hipótese, é mais razoável determinar que o foro competente para julgamento
desta Ação Popular seja o do local do fato. Logo, como medida para assegurar a efetividade da
prestação jurisdicional e a defesa do meio ambiente, entende-se que a competência para
processamento e julgamento do presente feito é da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do
Estado de Minas Gerais.
Questão 2. Discorra sobre o objeto do processo coletivo, devendo seu texto obrigatoriamente observar os
seguintes aspectos:
i) Diferença entre direitos e interesses;
ii) Posições acerca da natureza dos direitos metaindividuais.
Comentários
23
STJ, CC 164.362/MG, 1ª Seção, rel. Min. Herman Benjamin, j. 12.06.2019, DJe 19.12.2019.
i) O objeto de tutela do direito processual coletivo são os direitos e interesses coletivos, e estes são
individualizados por meio do artigo 81 do CDC:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais,
de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;
A partir da indicação do objeto, é possível prosseguir para o a diferenciação, de fato, entre direitos e
interesses.
• Direito pode ser compreendido como a pretensão tutelada pelo ordenamento jurídico;
• Interesse, por sua vez, é a pretensão que ainda não se encontra tutelada pela norma jurídica.
O segundo ponto a ser abordado, diz respeito aos posicionamentos acerca da composição dos interesses
metaindividuais, isto é, aqueles que transbordam a individualidade e se mostram de tutela coletiva.
2°
1°
Posicionamento
Posicionamento
(Dominante)
Difusos Difusos
Coletivos Coletivos
Individuais
Homogêneos
Comentários
1. Para responder à questão, o candidato deverá iniciar a resposta fazendo uma ponderação entre o art. 2o
da CRFB, que estabelece a independência entre os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), e o art. 5o,
XXXV, que garante a todos o direito de petição no caso de lesão ou ameaça a direito. Neste campo, deve- se
abordar os objetivos da República (art. 3o da CRFB), que, por se constituir em um Estado de Bem-Estar Social
(welfare state), exige-se mais do que políticas públicas de mera abstenção.
2. Ainda no campo constitucional, deve haver menção ao art. 127, que atribui ao Ministério Público a defesa
dos interesses sociais e individuais indisponíveis, inclusive quando a violação partir de ação ou omissão
estatal – pois a defesa da ordem jurídica engloba, também, a exigência que se faça respeitar os direitos
fundamentais de segunda e terceira geração. Assim, haverá campo de atuação ao Ministério Público nas
hipóteses em que a inércia ou a morosidade do Poder Executivo puder resultar em violação aos direitos
fundamentais.
3. No campo legal, deve-se mencionar especialmente a Lei n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), que confere
ao Ministério Público (art. 5o, I) legitimidade para propor a ação quando houver dano causado, dentre
outros, a qualquer interesse difuso ou coletivo (art. 1o, IV).
A ação civil pública ainda se presta para que o Ministério Público possa questionar políticas públicas, quando
do exercício de suas funções no zelo para que os Poderes Públicos e os serviços de relevância pública
observem os direitos assegurados na constituição (A defesa dos interesses difusos em juízo. 26. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 141).
5. Por fim, em complementação, vale destacar o seguinte precedente do Supremo Tribunal Federal:
356/STF. PRELIMINAR
Comentários
O ordenamento jurídico brasileiro confere especial proteção ao meio ambiente enquanto bem de natureza
difusa e essencial à sadia qualidade de vida, conforme dispõe art. 225, caput, da CRFB. O direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental e impõe-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para às presentes e futuras gerações.
Nesse sentido, em face da sua importância para as presentes e futuras gerações, o §3º do mesmo dispositivo
prevê a tríplice responsabilização ambiental. Assim, o causador de danos ambientais está sujeito à
responsabilização administrativa, cível e penal, de modo independente e simultâneo.
Art. 225, §3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados.
Nos termos do entendimento doutrinário e jurisprudencial, tais espécies de sanções não excludentes, mas
sim independentes e simultâneas. Dessa forma, é possível que o infrator seja penalizado três vezes, incidindo
uma penalização para cada espécie de responsabilidade, com fundamento na independência entre as
instâncias.
Quanto à responsabilidade por danos ambientais na esfera cível, esta é do tipo objetiva e pautada pela
teoria do risco integral, dispensando dolo ou culpa e inadmitindo excludentes de responsabilização.
Encontra-se prevista no art. 14, §1º, da Lei nº 6.938/81, que preconiza ser o poluidor obrigado, sem que haja
a exclusão das penalidades, a indenizar ou reparar os danos, independentemente da existência de culpa.
Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o
não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e
danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: (...)
(...)
§1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente.
Por outro lado, para a aplicação de penalidades administrativas, a responsabilidade por danos ambientais é
subjetiva, exigindo dolo ou culpa para sua configuração. Assim, adota-se a sistemática da teoria da
culpabilidade, pois deve ser comprovado o elemento subjetivo do agressor, além da demonstração do nexo
causal entre a conduta e o dano.
A diferença entre os dois âmbitos de punição e suas consequências decorre da redação do art. 14, caput e §
1º, da Lei nº 6.938/81. Como visto acima, apenas o § 1º do art. 14, que trata da responsabilidade civil
ambiental, dispensa a demonstração do elemento subjetivo do agente. Por outro lado, o caput do art. 14,
que trata sobre a responsabilidade administrativa, não dispensa a existência de culpa (em sentido amplo). É
esse o entendimento do STJ, conforme decidido no EREsp 1.318.051.24
Por isso, a aplicação e a execução das penas (responsabilidade administrativa) limitam-se aos transgressores
(somente podem ser aplicadas a quem efetivamente praticou a infração). A reparação ambiental na esfera
cível, de outra banda, pode abranger todos os poluidores, pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.
Ademais, a responsabilidade civil por dano ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as
responsabilidades administrativa e penal, porque as duas últimas não admitem que terceiros respondam a
título objetivo por ofensa ambientais praticadas por outrem.
Por fim, quanto à responsabilização penal por crimes ambientais, esta visa a repressão ao dano provocado,
e requer a demonstração do elemento subjetivo da conduta para que seja aplicada a sanção, dada a maior
gravidade da penalização, bem como do princípio da intervenção penal mínima do Estado. Assim, a
responsabilidade penal ambiental exige a demonstração do dolo do agente em praticar a conduta proibida,
ou a culpa - e, neste último caso, o tipo penal deve prever expressamente a punição a título culposo.
24
STJ. 1ª Seção. EREsp 1318051/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/05/2019 - Info 650.
PONTUAÇÃO
ABORDAGEM ESPERADA (ESTRATÉGIA)
MÁXIMA
Introdução e citação dos dispositivos constitucionais correlatos. 0,5
Responsabilidade civil ambiental é objetiva, pautada pela teoria do risco integral.
0,5
Fundamentos.
Responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva. Fundamentos.
0,5
==10be0c==
4 – PEÇA PRÁTICA
Enzo Ferreira, de apenas 16 anos de idade, feliz com o avanço da vacinação em sua cidade, ficou sabendo
pelo jornal local que os cinemas iriam reabrir naquele final de semana. A empolgação de Enzo não se
resumia à possibilidade de assistir aos filmes recém-lançados, mas sim pela possibilidade de convidar
Maria Fernanda, sua colega de sala, que não encontrava desde a suspensão das aulas.
Ao ligar para sua amiga, ganhou um não de imediato. Estranhando a atitude de Maria Fernanda, cinéfila
ávida, perguntou o porquê não o acompanharia no cinema, se estava chateada com ele por algum motivo.
Foi então que Enzo descobriu que o problema não era ele e sim a administração do cinema. Maria contou
que o cinema não teria mais a opção de meia entrada, haja vista que a pandemia teria prejudicado seu
faturamento.
Abismado com a situação, Enzo, como consumidor prejudicado, foi imediatamente até o Procon realizar
uma reclamação, bem como pedir providências.
Cientificados da situação, o Promotor de Justiça responsável procurou pela administração do cinema,
explicou a ilegalidade de tal conduta e abriu um procedimento administrativo para fins de solucionar a
questão.
Na condição de Promotor de Justiça Substituto, considerando o cenário fático retratado, elabore a peça
cabível, apresentando todos os aspectos de direito material e processual pertinentes ao caso.
Dispense o resumo dos fatos, não crie fatos novos e fundamente sua resposta, sempre que necessário, na
legislação e na jurisprudência do STJ e do STF.
Modelo de Peça
O PROCON DO ESTADO DE MINAS GERAIS, órgão integrante do Ministério Público, criado nos termos do art.
5º, inciso XXXII, da Constituição Federal, Lei 8.078/90, artigo 14 dos ADCT (Constituição Estadual) e Leis
Complementares Estaduais nos 34 (art. 273) e 61 (arts. 22/24), com sede na xxx, por meio do Promotor de
Justiça, lotado na xx Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, xxx, e o fornecedor xxx, inscrito no
CNPJ sob o nº XX.XXX.XXX/XXXX-XX, com sede na xxx, neste ato representado pelo Sr. XXX, CI XXX,
acompanhado do procurador Dr. XXX, OAB/MG XXX, nos termos que autorizam o artigo 129, III, da
Constituição Federal, os artigos 81 e 82 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, artigo 6º do Decreto
Federal nº 2.181/97 e o artigo 16, III, da Resolução PGJ nº 11/2011,
CONSIDERANDO os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos à
participação em atividades culturais e de lazer, na forma do artigo 23 da Lei Federal n° 10.741/03 (Estatuto
do Idoso), em especial o pagamento de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos
artísticos, culturais, esportivos e de lazer;
CONSIDERANDO a necessidade de haver equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores (art. 4°,
inciso III, CDC);
CONSIDERANDO ser direito básico do consumidor a efetiva prevenção e reparação de eventuais danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (art. 6°, inciso VI, CDC);
CONSIDERANDO as constatações feitas pelo Procon-MG acerca da inobservância, por parte da empresa
fornecedora, do direito ao pagamento de meia-entrada conferido pela legislação aos estudantes e idosos;
25
https://www.mpmg.mp.br/areas-de-atuacao/defesa-do-cidadao/consumidorr/material-de-apoio/modelos-de-pecas/modelos-
de-pecas.htm
Art. 1º A empresa somente comercializará ingressos para seus eventos artísticos e culturais
observando o direito ao pagamento de meia-entrada conferido aos estudantes, na forma da Lei
Estadual n° 11.052/93, e aos idosos, nos termos da Lei Federal n° 10.741/03.
Art. 2º A empresa, em seu material publicitário e através de outros meios, deverá esclarecer ao
consumidor os requisitos necessários para o direito à meia-entrada, advertindo que haverá
necessidade de comprovação da situação pessoal no momento da compra do ingresso e na
entrada do evento.
Art. 4º Fica estabelecida a multa no valor de R$ XXX (XXX), a ser recolhida ao Fundo Estadual de
Proteção e Defesa do Consumidor – FEPDC, no prazo de 10 (dez) dias a contar da assinatura deste
Termo, através de depósito identificado pelo CNPJ da empresa junto ao Banco do Brasil, agência
1.615-2, conta 6.141-7, em razão de eventual dano difuso decorrente do descumprimento do
direito ao pagamento de meia-entrada. O valor da multa foi estabelecido no mínimo legal tendo
em vista o ajuste de conduta ora formalizado, que se mostra como objetivo maior do processo.
Local e data.
Promotor de Justiça:
Fornecedor:
Procurador: