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Aula 02

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Autor:
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Jurídicas

11 de Fevereiro de 2022
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Sumário
1 - Temas Específicos e Aprofundados .............................................................................................................. 4

1.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................ 4

1.1.1 - Bloco de Constitucionalidade ................................................................................................................................ 4

1.1.2 - Constituição ........................................................................................................................................................... 5

1.2 - Direito Administrativo ....................................................................................................................... 6

1.2.1 - Atos Administrativos ............................................................................................................................................. 6

1.2.2 - Responsabilidade Estatal nas Relações de Custódia ............................................................................................. 8

1.3 - Direito Civil ...................................................................................................................................... 10

1.3.1 - Da Posse e Suas Teorias....................................................................................................................................... 10

1.4 - Direito Processual Civil .................................................................................................................... 11

1.4.1 - A coisa julgada injusta inconstitucional............................................................................................................... 11

1.4.2 - O contraditório substancial no Novo CPC ........................................................................................................... 14

1.5 - Direito Penal .................................................................................................................................... 16

1.5.1 - Permissividade da Legítima Defesa ..................................................................................................................... 16

1.5.2 - Financiamento Fraudulento ................................................................................................................................ 17

1.5.3 - Roubo a Mão Armada.......................................................................................................................................... 18

1.6 - Direito Processual Penal .................................................................................................................. 19

1.6.1 - A nova rotina do arquivamento do inquérito policial e o sistema acusatório .................................................... 19

1.6.2 - Direito de confrontar ........................................................................................................................................... 23

1.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................ 26

1.7.1 - Breves considerações sobre o crime de financiamento ou custeio de práticas ligadas ao tráfico de drogas (art.
36, da Lei 11.343/2006) e sobre seu possível enquadramento como crime equiparado a hediondo. .......................... 26

1.7.2 - Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito: considerações gerais. ................................................... 30

1.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................... 36

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1.8.1 - Alistamento Eleitoral - Definição ......................................................................................................................... 36

1.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................... 36

1.9.1 - Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente ............................................................................................. 36

1.10 - Direito Tributário ................................................................................................................................ 44

1.10.1 - Não Cumulatividade do IPI ................................................................................................................................ 44

1.11 - Direitos Processual Coletivo ............................................................................................................... 47

1.11.1 - Termo de ajustamento de conduta (TAC). ........................................................................................................ 47

1.11.2 - Princípios do processo coletivo ......................................................................................................................... 48

1.12 - Direito Material Coletivo .................................................................................................................... 49

1.12.1 - Publicidade no Código de Defesa do Consumidor............................................................................................. 49

1.12.2 - Federalismo Cooperativo em Matéria Ambiental ............................................................................................. 50

2 - Questões Objetivas ..................................................................................................................................... 62

2.1 - Direito Constitucional ........................................................................................................................... 62

2.2 - Direito Administrativo .......................................................................................................................... 67

2.3 - Direito Civil ........................................................................................................................................... 73

2.4 - Direito Processual Civil ......................................................................................................................... 76

2.5 - Direito Penal ......................................................................................................................................... 84

2.6 - Direito Processual Penal ....................................................................................................................... 94

2.7 - Legislação Penal Especial ..................................................................................................................... 98

2.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 106

2.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................. 107

2.10 - Direito Tributário .............................................................................................................................. 111

2.11 - Direito Processual Coletivo............................................................................................................... 113

2.12 - Direito Material Coletivo .................................................................................................................. 117

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3 - Questões Discursivas................................................................................................................................. 125

3.1 - Direito Constitucional ......................................................................................................................... 126

3.2 - Direito Administrativo ........................................................................................................................ 127

3.3 - Direito Civil ......................................................................................................................................... 129

3.4 - Direito Processual Civil ....................................................................................................................... 130

3.5 - Direito Penal ....................................................................................................................................... 132

3.6 - Direito Processual Penal ..................................................................................................................... 136

3.7 - Legislação Penal Especial ................................................................................................................... 139

3.8 - Direito Eleitoral .................................................................................................................................. 143

3.9 - Direito da Criança e do Adolescente .................................................................................................. 143

3.10 - Direito Processual Coletivo............................................................................................................... 144

3.11 – Direito Material Coletivo ................................................................................................................. 150

4 – Peça Prática .............................................................................................................................................. 153

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RODADA 02 – PROMOTORIA
1 - TEMAS ESPECÍFICOS E APROFUNDADOS

1.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL

1.1.1 - Bloco de Constitucionalidade

O bloco de constitucionalidade tem origem francesa (não americana) e se aplica especialidade ao controle
de constitucionalidade. O conceito pertence a Louis Favoreu, sendo posteriormente consagrado, na França,
pelo Conselho Constitucional francês na Decisão nº 71-44 DC (16.07.1971). No Brasil, o STF consagrou a ideia
do bloco de constitucionalidade no julgamento da ADI 595 (18.02.2002) e da ADI 514 (24.03.2008), ambas
da relatoria do Ministro Celso de Mello.

Bloco de constitucionalidade pode ser definido como “a Constituição material aplicada ao controle de
constitucionalidade”. Controle de constitucionalidade é uma relação normativa mantida entre parâmetro
(Constituição, norma em relação a qual se faz o controle) e objeto (legislação, norma sobre a qual o controle
é feito). De acordo com a ideia do bloco de constitucionalidade, no controle de constitucionalidade o
parâmetro ultrapassaria a Constituição formal, podendo alcançar outras normas (legais e internacionais),
desde que a matéria fosse própria de Constituição.

Se a aplicação do bloco de constitucionalidade fosse admitida no Brasil, o controle de constitucionalidade de


uma lei ou ato normativo poderia ser instrumentalizado, por exemplo, em face do Código Civil (parâmetro),
quando alude ao direito ao nome. Ou seja, coloca-se como parâmetro, e não como objeto, normas que não
tenham forma de Constituição, mas tenham matéria de Constituição.

O bloco de constitucionalidade está em total harmonia com uma tendência do controle de


constitucionalidade contemporâneo, qual seja: o alargamento da parametricidade constitucional, isto é,
ampliação do parâmetro do controle de constitucionalidade para além da Constituição formal.

É certo que ainda existe a clássica distinção entre common law e civil law, embora autores como Mark
Tushnet sustentem a ideia de uma globalização jurídica, ou seja, uma aproximação progressiva e irreversível
entre common law e civil law. Contudo, ainda assim são famílias distintas – a common law com ênfase em
jurisprudência e a civil law com ênfase em legislação.

Apesar da diferença, há tendências contemporâneas comuns entre as duas famílias, podendo ser verificadas
tanto na common law quando na civil law, e uma delas é a tendência de alargamento da parametricidade
constitucional, sendo o bloco de constitucionalidade a grande manifestação desse fenômeno.

Caso se aceite no Brasil o conceito do bloco de constitucionalidade, o melhor fundamento constitucional


dessa ideia seria o art. 5º, § 3º n/f EC nº 45/04, que regula a aprovação de tratados e convenções de direitos
humanos. Se a aprovação se der com rito assemelhado ao de emenda à Constituição, o tratado será
equivalente à emenda. Portanto, a EC nº 45/04 trouxe, nesse dispositivo, a ideia de “equivalência”, e o bloco

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de constitucionalidade traduz justamente essa ideia: o bloco não é uma Constituição, mas para efeito de
controle de constitucionalidade tem equivalência a ela.

Contudo, esse fundamento também encontra deficiências, pois a norma constitucional versa sobre tratados
internacionais de direitos humanos, e o bloco não se resume aos tratados, compreendendo também a
legislação. Além disso, o bloco não compreende somente normas que discutam direitos humanos, mas
quaisquer matérias próprias de Constituição, inclusive aquelas que versem sobre Estado, poder político etc.

Há ainda quem sustente que a fundamentação do bloco de constitucionalidade seria o art. 5º, § 2º, da
CRFB/88, ao reconhecer que a Constituição não exaure os direitos fundamentais, apenas os exemplifica,
admitindo como cláusula de abertura que sejam encontrados outros direitos em outros pontos da
Constituição, ou até mesmo na legislação ordinária e em tratados dos quais o Brasil seja parte.

O conceito de bloco de constitucionalidade é próprio de Constituições sintéticas, como a francesa, não sendo
adequado para Constituições analíticas. Em razão disso, dificilmente o conceito poderia ser aplicado no
Brasil. Nas ADIs 595 e 514 o bloco foi citado pelo STF, mas nunca houve aplicação concreta.

Na França, a Constituição é composta por 51 artigos, e os direitos fundamentais (chamados de liberdades


públicas) não estão em seu texto, mas pertencem a uma remissão feita pelo preâmbulo. E assim como no
Brasil, na França o preâmbulo também não pertence à Constituição.

Portanto, na França há uma Constituição sintética que não aborda liberdades públicas, de modo que, se não
houvesse ampliação do conceito de Constituição, seria impossível o controle de constitucionalidade com
base nessa matéria, pois não haveria parâmetro para que pudesse ser feito o controle de
constitucionalidade. Diante disso, a França então ampliou a parametricidade e buscou a ideia do bloco de
constitucionalidade, para que isso pudesse compreender tratados e convenções e assim fosse possível o
controle de constitucionalidade com base na matéria (liberdades públicas).

A Constituição brasileira, por outro lado, é analítica e regula muitas matérias que não são próprias de
Constituição. Com isso, dificilmente haverá uma matéria que não tenha regra explícita na Constituição.
Ademais, à luz neoconstitucionalismo, o Direito não se exaure em regras, mas também compreende
princípios. Desse modo, ainda que não exista regra explícita na Constituição sobre determinada matéria,
seguramente haverá um princípio que possibilite o controle de constitucionalidade, e o STF sempre aceitou
controle de constitucionalidade com base em princípios, mesmo sem assento formal no texto constitucional.

Diante dessas considerações, seria mais conveniente abordar a Constituição e a ideia dos princípios, à luz do
neoconstitucionalismo, para fundamentar o controle de constitucionalidade, e não recorrer a um conceito
que não se adequa à realidade brasileira (bloco de constitucionalidade).

1.1.2 - Constituição

Constituição não é um conceito unívoco, e possui pelo menos 3 sentidos:

a) Sentido sociológico: fatores reais de poder (Ferdinand Lassalle, O que é uma Constituição).
b) Sentido político: decisão política fundamental (Carl Schmitt, Teoria da Constituição).
c) Sentido jurídico: lei fundamental do Estado (Hans Kelsen, Teoria Pura do Direito).

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Em relação ao sentido sociológico, Lassalle faz uma distinção entre a Constituição enquanto uma folha em
branco e a Constituição enquanto fator real de poder. De acordo com o autor, a Constituição não deve ser
uma folha em branco, mas um fator que afeta o modo pelo qual se exerce poder político (algo próximo do
que hoje se trabalha como “efetividade”, qualidade da norma jurídica que é cumprida de modo efetivo pelo
campo social). Esse sentido pertence à sociologia jurídica.

Em relação ao sentido político, a Constituição é tida como decisão política fundamental. Carl Schmitt fez uma
distinção entre Estado e sociedade, e fixou a ideia de que a Constituição é uma decisão, de natureza política,
pela qual se fundamenta o fato de o Estado existir, que faz nascer o Estado, separando-o do campo social.
Esse conceito pertence à ciência política.

O sentido jurídico é o que importa ao Direito Constitucional, mas os demais sentidos não devem ser
olvidados. Hans Kelsen faz uma distinção entre norma fundamental pressuposta ou hipotética e lei
fundamental do Estado: norma fundamental pressuposta ou hipotética seria o fundamento racional de uma
Constituição, da sua elaboração (conceito pertencente à filosofia jurídica); a lei fundamental do Estado seria
a Constituição (daí a ideia da pirâmide de Kelsen, em que a Constituição ocupa o ápice, e serve como
fundamento comum de validade de qualquer norma que o Estado vier a produzir).

1.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO

1.2.1 - Atos Administrativos

Elementos ou Requisitos do Ato Administrativo

São elementos ou requisitos do Ato Administrativo a competência (sujeito), objeto, motivo, finalidade e
forma. Para facilitar a memorização, pode-se dizer que os elementos ou requisitos do ato administrativo
formam o COMFiFo.

Competência
Objeto
Motivo
Finalidade
Forma

1. Competência (sujeito)

1.1. Conceito

É a atribuição conferida pela lei ao agente público. A competência, em direito administrativo, não se restringe
a capacidade civil. Esta é englobada pelo conceito de competência.

1.2. Vícios

1.2.1. Excesso de Poder

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O agente público exorbita sua competência legal. O agente público tem a competência, mas ultrapassa os
limites desta.

É um vício sanável, no qual a autoridade superior pode/deve ratificar o ato.

OBS: Perceba que a autoridade competente ora pode, ora deve ratificar o ato com o vício de excesso de
poder. Perceba que, se o ato for vinculado e estando em conformidade com a lei, a autoridade competente
para a prática do ato DEVE ratificá-lo, afinal, é direito subjetivo do administrado a prática do ato vinculado,
caso cumpra os requisitos legais.

De outro lado, se o ato for discricionário, ainda que esteja em conformidade com a lei, a autoridade
competente PODE ratifica-lo, afinal, dependerá de uma análise de oportunidade e conveniência dessa
autoridade.

Por fim, observe que se a competência for exclusiva, haverá um ato com vício INSANÁVEL.

1.2.2. Função de Fato

O ato é praticado por um agente público de fato, aquele que, por algum motivo, não pode exercer a função
pública ou houve um ingresso irregular no serviço público.

Ex.: Servidor de férias, Aposentadoria, Servidor que está em um cargo que exigia concurso público, mas foi
provido por indicação.

O ato praticado pelo agente de fato reputa-se válido perante 3º de boa-fé. Isto se justifica pela Teoria da
Aparência. O agente público aparenta-se competente para a prática do ato.

1.2.3. Usurpação de Função Pública

O ato é praticado por quem não é Agente Público, isto é, não está investido na função pública.

É um ato inexistente.

1.3. Delegação e Avocação das Competências

A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, nos
termos do art. 11 da Lei nº 9784/99.

Em determinadas situações, a lei pode autorizar que um agente transfira a outro agente funções que lhe são
atribuídas. Em outras palavras, um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento
legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social,
econômica, jurídica ou territorial. A isto se dá o nome de delegação de competência. Tudo isso previsto no art.
12 da Lei nº 9784/99.

Observe que a delegação não enseja, obrigatoriamente, a diferença hierárquica entre os agentes públicos.

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O ato de delegação deve indicar a autoridade delegante, a autoridade delegada e as atribuições objeto da
delegação. Isso se extrai do art. 12, § único do Decreto-lei nº 200/67.

O ato de delegação não retira a atribuição da autoridade delegante, que continua competente
cumulativamente com a autoridade delegada para o exercício da função. Contudo, importante observar a
Súmula 510 do STF que assim afirma: “PRATICADO O ATO POR AUTORIDADE, NO EXERCÍCIO DE
COMPETÊNCIA DELEGADA, CONTRA ELA CABE O MANDADO DE SEGURANÇA OU A MEDIDA JUDICIAL.” A
Súmula do STF está de acordo com o art. 14, § 3º da Lei 9.784/99, ao dizer que o ato praticado considera-se
editado pelo delegado.

O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial. O ato de delegação é revogável
a qualquer tempo pela autoridade delegante.

Por sua vez, a própria lei pode impedir que certas atribuições sejam delegadas a outros agentes. Essas são
chamadas de funções indelegáveis. A Lei nº 9784/99, que trata do processo administrativo federal, em seu
art. 13, veda a delegação quando se trata de:

a) atos de caráter normativo,


b) decisão de recurso administrativo;
c) matérias de competência exclusiva do órgão ou da autoridade.

De outro lado, pode acontecer fenômeno inverso, ou seja, uma autoridade de hierarquia superior chamar
para si a competência. A isto se dá o nome de avocação de competência, previsto no art. 15 da Lei nº
9784/99.

Nos termos do art. 17 da Lei 9.784/99, inexistindo competência legal específica, o processo administrativo
deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico para decidir.

1.2.2 - Responsabilidade Estatal nas Relações de Custódia

As doutrinas que se ocupam do tema da responsabilidade civil extracontratual do Estado foram construídas
para lidar com as situações de sujeição geral dos administrados em relação ao Poder Público. Nesse prisma,
tais regras de responsabilidade servem como garantia aos administrados submetidos ao império estatal, ou
seja, é o contrapeso da supremacia geral que tem o Estado, no exercício do seu poder de polícia.

Casos há, todavia, em que o Estado mantém vínculos especiais com certas pessoas, tais como servidores
públicos, alunos de escolas públicas, presos mantidos em cadeias e penitenciárias etc. São relações de
supremacia especial, também chamadas de relações de custódia, submetidas a regime disciplinar mais
rigoroso e que, por consequência, devem seguir parâmetros distintos de responsabilidade por parte do
Estado.

Nessas vinculações diferenciadas, a responsabilidade do Estado é mais acentuada do que nas relações de
sujeição geral, à medida que o ente público tem o dever de garantir a integridade das pessoas e bens
custodiados. Por isso, a responsabilidade estatal é objetiva inclusive quanto a atos de terceiros. Os exemplos
mais comuns são: o preso morto na cadeia por outro detento; a criança vítima de briga dentro de escola
pública; bens privados danificados em galpão da Receita Federal. Em todas essas hipóteses, o Estado tem o

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dever de indenizar a vítima do dano, mesmo que a conduta lesiva não tenha sido praticada por agente público.
Cabe, porém, advertir que a responsabilidade estatal é objetiva na modalidade do risco administrativo. De
acordo com a jurisprudência do STF e do STJ, o preso que tenha se suicidado também ensejará a
responsabilidade do Estado, em razão do risco ser inerente ao meio no qual o detento foi inserido pelo próprio
Estado.1

Assim, por exemplo, o preso assassinado na cadeia por outros detentos durante rebelião gera dever de o
Estado indenizar a família. Entretanto, se a morte teve causas naturais (força maior), não há dever de indenizar.
Quando ao fato de terceiro, não constitui excludente da responsabilidade nos casos de custódia, em razão do
mais acentuado dever de vigilância e de proteção atribuído ao Estado nessas relações de sujeição especial.

Diante disso, importante é a leitura de recente julgado do STF sobre o tema:

Em caso de inobservância do seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, XLIX, da CF, o
Estado é responsável pela morte de detento. Essa a conclusão do Plenário, que desproveu
recurso extraordinário em que discutida a responsabilidade civil objetiva do Estado por morte de
preso em estabelecimento penitenciário. No caso, o falecimento ocorrera por asfixia mecânica,
e o Estado-Membro alegava que, havendo indícios de suicídio, não seria possível impor-lhe o
dever absoluto de guarda da integridade física de pessoa sob sua custódia. O Colegiado asseverou
que a responsabilidade civil estatal, segundo a CF/1988, em seu art. 37, § 6º, subsume-se à teoria
do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas,
uma vez rejeitada a teoria do risco integral. Assim, a omissão do Estado reclama nexo de
causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nas hipóteses em que o Poder Público ostenta
o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o resultado danoso. Além disso, é
dever do Estado e direito subjetivo do preso a execução da pena de forma humanizada,
garantindo-se-lhe os direitos fundamentais, e o de ter preservada a sua incolumidade física e
moral. Esse dever constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando
possível a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto
inafastável para a configuração da responsabilidade civil objetiva estatal. Por essa razão, nas
situações em que não seja possível ao Estado agir para evitar a morte do detento (que ocorreria
mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade. Afasta-se, assim,
a responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se a teoria do risco integral, ao arrepio
do texto constitucional. A morte do detento pode ocorrer por várias causas, como homicídio,
suicídio, acidente ou morte natural, não sendo sempre possível ao Estado evitá-la, por mais que
adote as precauções exigíveis. Portanto, a responsabilidade civil estatal fica excluída nas
hipóteses em que o Poder Público comprova causa impeditiva da sua atuação protetiva do
detento, rompendo o nexo de causalidade da sua omissão com o resultado danoso. Na espécie,
entretanto, o tribunal “a quo” não assentara haver causa capaz de romper o nexo de causalidade

1 STJ.AgRg no REsp 1.305.259-SC

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da omissão do Estado-Membro com o óbito. Correta, portanto, a decisão impositiva de


responsabilidade civil estatal. RE 841526/RS, rel. Min. Luiz Fux, 30.3.2016. (RE-841526)

1.3 - DIREITO CIVIL

1.3.1 - Da Posse e Suas Teorias

Posse é o instituto que regula a situação daquele que usufrui de um ou mais dos atributos da propriedade
(uso, gozo, fruição e disposição), sem deter a titularidade da coisa.

Posse e propriedade não se confundem. O possuidor pode ser o titular do bem; nada impede, porém, que
não o seja, e o ordenamento jurídico tutela o possuidor até mesmo em face do proprietário, em situações
de colidência de direitos em torno da coisa sob a qual tanto a posse como a propriedade recaem.

Fábio Ulhoa delineia os contornos distintivos da posse e da propriedade:

Posse e propriedade são conceitos jurídicos distintos, com os quais o profissional do direito logo
se habitua a lidar: o locatário tem a posse do bem locado, mas não a propriedade; o proprietário
pode estar ou não na posse da coisa; quem possui não é necessariamente o dono – são assertivas
familiares aos estudantes e profissionais da área. As diferenças entre posse e propriedade,
contudo, não se encontram a partir do exame da conduta do sujeito em relação à coisa. Tanto o
possuidor proprietário como o não proprietário agem do mesmo modo – quer dizer, usam, fruem
e dispõem da coisa em igual medida. É na qualificação jurídica da conduta deles, feita pela lei,
que residem as diferenças entre um e outro instituto. Esquematicamente, pode-se dizer que a
posse se encontra a meio caminho entre, de um lado, a propriedade (direito fundamental
amplamente protegido, inclusive no plano constitucional) e, de outro, a detenção (que comporta
apenas a autotutela, ou seja, o legítimo afastamento da ameaça por desforço imediato do
próprio detentor)2.

Questão igualmente tortuosa é a distinção entre posse e mera detenção. De regra, converge-se que a
detenção é o poder fático exercido sobre a coisa em relação de dependência ao titular da posse. Isto é, na
detenção, toda a atuação é tida em nome do posseiro, de modo que o detentor se coloca na posição de mero
dependente funcional ou executor de ordens de preservação e cuidado. É o exemplo do caseiro, que
administra imóvel (detenção) em nome do possuidor.

Pois bem.

Trata-se, a posse, de tema controverso e com pluralidade de repercussões práticas. Em concursos para o
Ministério Púbico, a posse é instituto de grande relevância, haja vista que se expressa como fundamento de

2
ULHOA, Fábio. Curso de Direito Civil – vol. IV. Pág. 15. Saraiva – 2020.

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lides cuja atuação da Instituição é prioritária, tais como os conflitos urbanos e agrários por grandes
latifúndios.

A abordagem do tema, neste momento, se restringirá à conceituação e às teorias respectivas. Em outro


momento, a fim de se evitar a extensão para além da proposta do curso, serão abordados os demais
elementos relacionados à posse.

Tradicionalmente, duas teorias se prestam a legitimar a posse.

A primeira é a subjetiva, defendida por Savigny, pela qual a posse é o poder direto exercido por alguém sobre
a coisa, com a intenção de tê-la para si e de tutelar a sua titularidade. Dois elementos, portanto, configuram
a posse: corpus, isto é, a disponibilidade física da coisa - elemento material; e animus, que significa a intenção
de ter a coisa para si – elemento anímico. Observe que, pelo elemento subjetivo (animus), o locatário, por
exemplo, não teria a posse sobre a coisa locada.

A segunda teoria é a objetiva, de Ihering. Aduz que a posse se qualificará na hipótese de o sujeito exteriorizar
a titularidade da coisa, ainda que não seja seu proprietário, e desde que a legislação não lhe retire a proteção
possessória – como no caso da mera detenção. Dispensa-se o elemento anímico: pretensão de titularizar a
coisa.

Com amparo doutrinário, pode-se afirmar que o Código Civil adota a teoria objetiva para caracterizar a posse.
Dispõe o seu art. 1.196 que: considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não,
de algum dos poderes inerentes à propriedade. Nota-se, pois, a dispensa do elemento subjetivo.

De mais a mais, é certo que, contemporaneamente, avulta de importância a chamada teoria sociológica da
posse, pela qual o fator determinante à caracterização do instituto será a dimensão social que o sujeito dá à
sua relação com a coisa. É concepção idealizada, dentre outros, por Silvio Perozzi, Raymond Saleilles e
Hernandez Gil.

A teoria sociológica é vista como contemporânea e encontra crescente apoio doutrinário, conforme se
verifica do enunciado 492 da V Jornada de Direito Civil: a posse constitui direito autônomo em relação à
propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais,
econômicos e sociais merecedores de tutela.

1.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1.4.1 - A coisa julgada injusta inconstitucional

A coisa julgada é garantia fundamental, insculpida em nossa Constituição Federal no art. 5º, inciso XXXVI.
Reflete o primado da segurança jurídica e funciona como instrumento de estabilidade social, já que por meio
dela é que os conflitos intersubjetivos judicializados serão resolvidos definitivamente.

Conceitualmente, coisa julgada é a autoridade que recai sobre o provimento jurisdicional que torna imutável
o julgamento. Não é efeito da sentença/decisão interlocutória de mérito, mas qualidade dos seus efeitos, já

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que tão somente visa a estabilizar e a consolidar as repercussões prática e jurídica do decisium. O Código de
Processo Civil regula o regime jurídico da coisa julgada em seus arts. 502 e ss.

Para a compreensão da temática, deve-se frisar que a coisa julgada pode ser formal e material. A formal visa
a certificar o esgotamento recursal do provimento; assim, limita-se a projetar-se intraprocessualmente
(dentro do processo), fulminando os meios de impugnação da decisão judicial, que passarão, então, a ser
considerados intempestivos.

A seu turno, a coisa julgada material é a projeção externa da imutabilidade dos efeitos da coisa julgada. Por
isso, na repetição de demandas, isto é, na propositura de nova ação em que se repetem as partes, a causa
de pedir e o pedido, a coisa julgada material figurará como pressuposto processual negativo e, assim, a
demanda repetida será extinta sem resolução do mérito.

É precisamente essa impossibilidade de nova discussão da matéria que já fora, antes, decidida que viabiliza
a segurança jurídica da atividade judiciária e que caracteriza, portanto, a essencialidade da coisa julgada
material.

A Lei, entretanto, possui mecanismos de relativizar a coisa julgada material. Por vezes, circunstâncias
processuais ou fáticas viciam o conteúdo dos provimentos judiciais e, para estes casos, a ação rescisória
viabiliza a desconstituição do julgado. A ação rescisória está prevista no art. 966 e ss. do Código de Processo
Penal.

Vale mencionar que a ação rescisória pode ser ajuizada em dois anos, com termo inicial variável, a teor dos
arts. 495 e 975 do Código de Processo Civil.

Porém, não será a rescisória o objeto do nosso estudo. Trataremos, nesta oportunidade, de causa supralegal
(não prevista em lei, portanto) de relativização da coisa julgada, que visa à desconstituição da decisão
independentemente do prazo que transcorrera desde o respectivo trânsito em julgado.

Mais precisamente, abordaremos a coisa julgada inconstitucional, consistente na imutabilidade de


provimento jurisdicional que afronta direito fundamental. O confronto entre valores constitucionalmente
consagrados de estirpe, em linha de princípio, superiores à própria coisa julgada, em uma análise axiológica,
dá ensejo à possibilidade de ajuizamento de ação com o objetivo de se obter novo provimento – frise-se:
ainda que já haja transcorrido o prazo para que se intente a ação rescisória.

É a injustiça da coisa julgada violadora de direito fundamental, portanto, que legitima a demanda
desconstitutiva. A decisão judicial se torna inconstitucional e deve, assim, ser extirpada do ordenamento
jurídico, por meio da chamada querela nullitatis insanabilis.

Valores que ofendam a moralidade administrativa, o meio ambiente equilibrado, a razoabilidade e a


proporcionalidade e os direitos fundamentais podem ser citados como exemplos nos quais a análise concreta
do vilipêndio pode ensejar a superação do dogma da segurança jurídica e permitir que a coisa julgada seja
desconstituída.

Nomina-se de vício transrescisório o passível de ensejar a relativização ora abordada.

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A corrente doutrinária que se posiciona favoravelmente ao instituto diverge em relação à natureza do vício
que contamina o provimento jurisdicional. De regra, há a vertente que defende que a coisa julgada injusta é
geradora de inexistência do provimento, ao passo que, para outro segmento, o vício é de validade da decisão.

Em importante passo à consolidação do instituto como instrumento de correção de injustiças


inconstitucionais, o Supremo Tribunal Federal assentou a possibilidade de novo ajuizamento de ação de
reconhecimento de paternidade quando, ao tempo da demanda anterior que tivera provimento contrário
ao reconhecimento, não hajam tido meios científicos adequados à averiguação da filiação.

Assim, o provimento que haja se amparado na impossibilidade científica para denegar o reconhecimento da
paternidade (isto é, a improcedência por deficiência instrutória) poderá ser relativizado por nova demanda
em que, enfim, se prove, por exames periciais, a filiação postulada.

Confira-se:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO


GERAL RECONHECIDA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DECLARADA EXTINTA, COM
FUNDAMENTO EM COISA JULGADA, EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE ANTERIOR DEMANDA EM QUE
NÃO FOI POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA, POR SER O AUTOR BENEFICÁRIO DA
JUSTIÇA GRATUITA E POR NÃO TER O ESTADO PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO.
REPROPOSITURA DA AÇÃO. POSSIBILIDADE, EM RESPEITO À PREVALÊNCIA DO DIREITO
FUNDAMENTAL À BUSCA DA IDENTIDADE GENÉTICA DO SER, COMO EMANAÇÃO DE SEU DIREITO
DE PERSONALIDADE.

1. É dotada de repercussão geral a matéria atinente à possibilidade da repropositura de ação de


investigação de paternidade, quando anterior demanda idêntica, entre as mesmas partes, foi
julgada improcedente, por falta de provas, em razão da parte interessada não dispor de
condições econômicas para realizar o exame de DNA e o Estado não ter custeado a produção
dessa prova.

2. Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade em


que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes, em
decorrência da não realização do exame de DNA, meio de prova que pode fornecer segurança
quase absoluta quanto à existência de tal vínculo.

3. Não devem ser impostos óbices de natureza processual ao exercício do direito fundamental à
busca da identidade genética, como natural emanação do direito de personalidade de um ser, de
forma a tornar-se igualmente efetivo o direito à igualdade entre os filhos, inclusive de
qualificações, bem assim o princípio da paternidade responsável.

4. Hipótese em que não há disputa de paternidade de cunho biológico, em confronto com outra,
de cunho afetivo. Busca-se o reconhecimento de paternidade com relação a pessoa identificada.

5. Recursos extraordinários conhecidos e providos.

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(STF - RE: 363889 DF, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 02/06/2011, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-238 DIVULG 15-12-2011 PUBLIC 16-12-
2011)

Destaque-se que a demanda em que o julgado acima mencionado foi lançado possui o Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios como parte interveniente e é constantemente cobrado em provas para a
carreira de Promotor de Justiça.

De mais a mais, saliente-se que a relativização da coisa julgada encontra resistência de parte da doutrina. A
vertente contrária, em suma, aduz que a tutela à segurança jurídica, expressada pela coisa julgada, é valor
estruturante do ordenamento jurídico, de modo que a estabilização social poderia se comprometer com o
enfraquecimento da imutabilidade. Afirma-se que, à míngua de um rol permissivo da querela, a
determinação do vício suficiente à relativização seria abstrata e casuística – potencializando a insegurança
jurídica.

Sobre o tema, e em arremate, Fredie Didier doutrina que as concepções de relativização atípica da coisa
julgada são perigosas. Defendem a prevalência do "justo", mas não definem o que seja o "justo". Partem de
uma noção de justiça, como senso comum captado por qualquer cidadão médio3.

1.4.2 - O contraditório substancial no Novo CPC

O princípio do contraditório trata-se de uma garantia constitucional prevista no artigo 5º, LV, da Carta
Magna, e no artigo 7º do Código de Processo Civil, que se reveste, em sua premissa básica, da noção de
contraditar, contestar, isto é, da ideia aplicada ao processo da necessidade de se possibilitar às partes de
uma relação jurídica processual a apresentação de uma reposta ou de sua particular versão sobre os fatos e
os fundamentos que lhe são contrapostos.

Fredie Didier Jr. (2018, p. 105)4 destaca o princípio do contraditório como “reflexo do princípio democrático
na estruturação do processo”. Para ele, “democracia é participação, e a participação no processo opera-se
pela efetivação da garantia do contraditório”.

Em desenvolvimento mais sofisticado do tema, tem-se que o princípio do contraditório sustenta-se em um


tripé composto pelo conhecimento, participação e possibilidade de influência na decisão, compreendido,
neste último aspecto, o contraditório substancial.

3
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, volume 2, 6ª edição, páginas 452/453,
JusPodivm, 2011.

4
(DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral e
Processo do Conhecimento. 20. ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2018, 895 p. v. 1.)

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Trata-se a garantia de conhecimento e participação da dimensão formal do contraditório, de seu aspecto


mínimo, uma vez que se refere à garantia das partes de conhecerem os fatos e teses que contra ela são
deduzidos, de serem comunicadas dos atos processuais, de se manifestarem e de produzirem provas.

A possibilidade de influência na decisão, por sua vez, é a dimensão substancial do princípio do contraditório,
considerado numa perspectiva mais aprofundada. Para além da garantia de conhecimento e participação,
deve também ser conferido às partes poder de influência sobre os pronunciamentos judiciais.

Não se limita, pois, o princípio do contraditório a oportunizar às partes sua participação, mas se presta, talvez
de uma forma ainda mais relevante, a assegurar que elas possam efetivamente interferir nas decisões,
impondo ao magistrado o correlato dever de apreciar as teses explanadas como meio de formação de seu
convencimento.

É do viés substancial do contraditório que decorre o dever do juízo de enfrentar todos os argumentos
deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador, cujo
descumprimento implica a existência de uma decisão carecedora de fundamentação, nos termos do artigo
489, §1º, do Código de Processo Civil.

Pelas mesmas razões, não há mais espaço para decisões vagas, imprecisas, pautadas em argumentos
genéricos ou em conceitos jurídicos indeterminados, sem que haja relação com as especificidades do caso
concreto.

É também corolário do contraditório substancial a vedação imposta ao juiz de decidir, seja qual for o grau de
jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício, conforme intelecção do artigo
10 do Código de Processo Civil.

A isso, acrescente-se a seguinte construção:

“Não é preciso salientar que, quando se consegue a participação no iter de formação de um


provimento decisório daqueles que serão os seus destinatários, obtém-se evidente legitimação
da tutela do direito litigioso” (TUCCI, Jose Rogerio Cruz e; FERREIRA FILHO, Manoel Caetano;
APRIGLIANO Ricardo de Carvalho; DOTTI, Rogeria Fagundes; MARTINS, Sandro Gilbert. (Orgs.).
Código de Processo Civil Anotado . Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2017).

Tudo isso porque a atual sistemática processual, consubstanciada no neoprocessualismo, reclama a


ordenação, a disciplina e a interpretação do processo civil conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição Federal. Nesse sentido, as garantias processuais devem ser cumpridas não
apenas no seu aspecto formal, mas de maneira efetiva, com vistas a propiciar a real consecução do ideal a
que se destinam.

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1.5 - DIREITO PENAL

1.5.1 - Permissividade da Legítima Defesa

A legítima defesa é causa de exclusão da ilicitude que, conforme o disposto no art. 25 do Código Penal,
consiste em repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente
dos meios necessários.

CP, Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também
em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a
vítima mantida refém durante a prática de crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Constituem requisitos para o reconhecimento da legítima defesa:

I. Existência de agressão injusta;


II. Agressão atual ou iminente;
III. Preservação de direito próprio ou de terceiro;
IV. Moderação no emprego dos meios;
V. Uso de meios necessários;
VI. Vontade de se defender.

Para Juarez Cirino dos Santos, muito embora presentes os requisitos legais, a literatura contemporânea
reconhece hipóteses de defesas necessárias não permitidas por limitações ético-sociais relacionadas ao
autor da agressão, às relações de garantia entre agressor e agredido, ao comportamento do agredido e à
natureza da agressão.

Estaria, de acordo com o autor, sujeitada a limites éticos-sociais para seu reconhecimento a legítima defesa
nas seguintes hipóteses:

1. Agressões de incapazes (crianças, adolescentes, doentes mentais ou bêbados sem sentido).


2. Agressões entre pessoas ligadas por relações de garantia fundadas na afetividade, no parentesco ou
na convivência.
3. Agressão provocada pelo agredido para agredir o agressor.
4. Agressões irrelevantes.

Antes de se reconhecer a permissão (permissividade) para se atuar em legítima defesa nas hipóteses acima
elencadas, o agente deve buscar reações alternativas como desviar, defender-se sem atingir o agressor
(defesa sem dano), pedir por socorro, assumir o risco de pequenos danos.

Ressalte-se no entanto, que diante de potencialidade lesiva ou lesão expressiva, tal teoria não tem emprego;
como, v.g., na hipótese de agressão armada no contexto de violência doméstica.

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O tema foi cobrado no concurso para Promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná:

(2017/MPE-PR - Promotor Substituto)

Sobre legítima defesa, assinale a alternativa correta:

(...)

B A utilização da legítima defesa por B contra agressão injusta e atual realizada por A, bêbado evidente,
com capacidade psicomotora comprometida pelo consumo do álcool, está condicionada a limitações
ético-sociais, que definem a permissibilidade de defesa.

1.5.2 - Financiamento Fraudulento

É crime contra o Sistema Financeiro nacional a conduta de quem obtém, mediante fraude, financiamento
em instituição financeira. Cuida-se do preceito primário da norma penal incriminadora insculpida no art. 19
da Lei nº 7.492/86. A conduta núcleo do tipo consiste justamente na obtenção fraudulenta de financiamento
junto à instituição financeira.

O financiamento deve ser entendido, consoante MARIA HELENA DINIZ, como a:

“(…) operação bancária pela qual o banco antecipa numerário sobre créditos que o cliente
(pessoas física ou jurídica) possa ter, com o escopo de emprestar-lhe certa soma e proporcionar-
lhe recursos necessários para a realização de certo negócio ou empreendimento, reservando-se
o direito de receber de devedores do financiado os créditos em seu nome ou na condição de seu
representante, sem prejuízos das ações que contra ele conserva até a liquidação final.”[1]

É importante frisar a diferença existente entre as operações financeiras de financiamento e de empréstimo,


uma vez que a caracterização se mostra essencial para a correta adequação típica.

No tocante à matéria, o Banco Central editou circular em que define a expressão "financiamento" da seguinte
forma:

“Os financiamentos são as operações realizadas com destinação específica, vinculadas à


comprovação da aplicação dos recursos. São exemplos os financiamentos de parques industriais,
máquinas e equipamentos, bens de consumo durável, rurais e imobiliários”.

Por sua vez, os empréstimos são assim definidos:

“Os empréstimos são as operações realizadas sem destinação específica ou vínculo à


comprovação da aplicação dos recursos. São exemplos os empréstimos para capital de giro, os
empréstimos pessoais e os adiantamentos a depositantes”.

Os financiamentos fraudulentos permitem a tipificação no art. 19 da Lei nº 7.492/86; o mesmo não


acontecendo com os empréstimos que, quando obtidos fraudulentamente, darão ensejo ao reconhecimento
do crime de estelionato, tipificado no art. 171 do Código Penal.

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O Superior Tribunal de Justiça reconhece no crime de financiamento fraudulento a prática de delito formal,
que prescinde, portanto, do efetivo abalo do sistema financeiro nacional. Neste sentido:

PENAL E PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FINANCIAMENTO FRAUDULENTO


JUNTO A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA PARA A AQUISIÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR.
FINANCIAMENTO COM DESTINAÇÃO ESPECÍFICA. CARACTERIZAÇÃO, EM TESE, DO DELITO
DESCRITO NO ART. 19 DA LEI N. 7.492/86. AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE POTENCIAL ABALO DO
SISTEMA FINANCEIRO COMO UM TODO PARA A CONFIGURAÇÃO DO DELITO. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL. MATÉRIA RECENTEMENTE ANALISADA PELO COLEGIADO.

1. A tese do Ministério Público Federal no sentido de que compete à Justiça Estadual apurar
condutas delitivas que afetam apenas o patrimônio de instituições financeira e não o Sistema
Financeiro como um todo não prosperou nesta Corte, a qual entende que para a configuração
do delito descrito no art. 19 da Lei n. 7.492/86, basta a obtenção, mediante fraude, de
financiamento em instituição financeira com destinação específica dos valores obtidos. 2. No
caso dos autos, tendo em vista que o investigado teria obtido financiamento bancário com
destinação específica para adquirir automóvel usando documento falso em nome de terceiro,
resta caracterizada a competência da Justiça Federal, na esteira da pacífica jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça - STJ.Precedentes.

3. O tema foi amplamente debatido em precedente no qual esta Corte Superior manteve sua
jurisprudência no sentido de que o crime tipificado no art. 19 da Lei n. 7.492/86 não exige, para
a sua configuração, efetivo ou potencial abalo ao Sistema Financeiro (EDcl no AgRg no CC
156.185/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 7/5/2018.) O
mencionado paradigma tem sido mantido pela Terceira Seção nos julgamentos que o sucederam.

Precedente: AgRg no CC 161.091/SE, de minha relatoria, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 6/2/2019) 4.


Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 23ª Vara da Seção Judiciária do
Estado do Paraná, o suscitado.

(CC 167.315/PR, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2019,
DJe 06/09/2019)

1.5.3 - Roubo a Mão Armada

O Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19) promoveu importantes alterações na legislação penal e processual
penal. Especificamente em relação ao crime de roubo, previsto no art. 157 do Código Penal, criou-se a
majorante constante do art. 157, §2º-B:

CP, Art. 157.

(...)

§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

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Ademais, também alterou o rol de crimes hediondos previstos no art. 1º da Lei nº 8.072/90, para fazer incluir
o roubo circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (CP, art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (CP, art. 157, § 2º-B).

A jurisprudência dos tribunais superiores é farta na interpretação dos diversos aspectos do roubo cometido
com emprego de arma de fogo.

Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou quanto a ser prescindível a apreensão e perícia
da arma de fogo para a caracterização do roubo majorado, quando evidenciado o seu emprego por outros
meios de prova.

Por sua vez, a utilização de arma sem potencialidade lesiva, atestada por perícia, como forma de intimidar a
vítima no delito de roubo, caracteriza a elementar grave ameaça, porém, não permite o reconhecimento da
majorante de pena.

Igualmente, manifestou-se o STJ quanto à aplicação do princípio da consunção ao crime de porte ilegal de
arma de fogo em face do roubo a mão armada:

“O crime de porte de arma é absorvido pelo de roubo quando restar evidenciado o nexo de
dependência ou de subordinação entre as duas condutas e que os delitos foram praticados em
um mesmo contexto fático, o que caracteriza o princípio da consunção”.

1.6- DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6.1 - A nova rotina do arquivamento do inquérito policial e o sistema acusatório

Em resumo apertado, o inquérito policial cuida de expediente de natureza administrativa, presidido pelo
Delegado de Polícia, destinado a apurar a autoria e a materialidade de infração de médio e maior potencial
ofensivo.

Essa investigação preliminar busca reunir elementos destinados a subsidiar a persecução penal em juízo.

Aliás, o processo penal trabalha quase que em toda a sua integralidade com dois importantes elementos:
materialidade e autoria.

Eles são necessários ao oferecimento de denúncia, o que se extrai da leitura do artigo 395, do CPP, que
reclama a rejeição da peça incoativa para o caso de faltar justa causa.

No transcorrer da ação penal também as partes e o(a) magistrado(a), trabalham com autoria e materialidade,
conforme se vê dos artigos 386 e 387, do CPP, que tratam respectivamente da absolvição e da condenação.
Basicamente, a orientação que se tem, gira em torno desse eixo, acrescido ainda dos demais elementos
estruturais componentes do conceito analítico de crime

Essa lógica orienta, de igual modo, as cautelares, que somente podem ser decretadas quando presentes
indicativos de autoria e materialidade, além dos requisitos inerentes ao periculum libertatis.

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Pois bem. Ocorrido um fato criminoso, surge para o Estado o poder-dever de investigar, processar e
eventualmente punir o seu responsável. A essa atividade, que equivale a perseguir, ir ao encalço, seguir, dá-
se o nome de persecução penal.

A polícia, embora não seja a única instituição legitimada a perscrutar, é a responsável pela condução da
maioria esmagadora das investigações em solo brasileiro, sendo a responsável por subsidiar a atuação do
Ministério Público, na formação da opinio delicti.

Como se sabe, os autos do inquérito policial não podem ser arquivados pela Autoridade Policial, conforme
anela o artigo 17, do CPP, pois cabe ao Ministério Público a titularidade privativa da ação penal, na forma do
artigo 129, I, da CF, e o artigo 257, do CPP.

Assim, a avaliação, em última instância, dos elementos de convicção, colhidos pela Autoridade Policial e
documentados no inquérito, incumbe ao Parquet, até por conta da adoção do sistema acusatório pela
Constituição Federal.

Aliás, a sistemática proposta na Constituição, tem importantes implicações práticas, a saber: segrega
organicamente as funções de acusar e julgar; a gestão das provas é de incumbência da partes, que buscam
apresentar ao(à) magistrado(a) a verdade possível; a presunção de inocência; a exigência de um processo
que oral e público; a adoção do sistema da livre convicção motivada, dentre outros.

No âmbito do STF há importantes julgados que tratam dessas implicações, conforme se vê abaixo:

a) a rigor, requisição dessa natureza é incompatível com o sistema acusatório, que impõe a
separação orgânica das funções concernentes à persecução penal, de modo a impedir que o juiz
adote qualquer postura inerente à função investigatória. Doutrina. Lei 12.830/2013. (HC 115015,
Relator(a): TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 27/08/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-179 DIVULG 11-09-2013 PUBLIC 12-09-2013)

b) No sistema acusatório brasileiro, o ônus da prova é do Ministério Público, sendo


imprescindíveis provas efetivas do alegado, produzidas sob o manto do contraditório e da ampla
defesa, para a atribuição definitiva ao réu, de qualquer prática de conduta delitiva, sob pena de
simulada e inconstitucional inversão do ônus da prova. Inexistência de provas produzidas pelo
Ministério Público na instrução processual ou de confirmação em juízo de elemento seguro
obtido na fase inquisitorial e apto a afastar dúvida razoável no tocante à culpabilidade do réu.
Improcedência da ação penal. (AP 883, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma,
julgado em 20/03/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-092 DIVULG 11-05-2018 PUBLIC 14-05-
2018)

c) O sistema acusatório consagra constitucionalmente a titularidade privativa da ação penal ao


Ministério Público (CF, art. 129, I), a quem compete decidir pelo oferecimento de denúncia ou
solicitação de arquivamento do inquérito ou peças de informação, sendo dever do Poder
Judiciário exercer a “atividade de supervisão judicial” (STF, Pet. 3.825/MT, Rel. Min. GILMAR
MENDES), fazendo cessar toda e qualquer ilegal coação por parte do Estado-acusador (HC
106.124, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 22/11/2011, DJe de 10/9/2013)

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No julgamento da ADI 4693, de relatoria do Min. Alexandre de Moraes, ficou assentado no âmbito do STF a
“flagrante inconstitucionalidade do artigo 379, parágrafo único do Regimento Interno do Tribunal de Justiça
da Bahia, que exclui a participação do Ministério Público na investigação e decisão sobre o arquivamento
de investigação contra magistrados, dando ciência posterior da decisão”.

O que se tinha até edição da lei 13.964, o Pacote Anticrime, é que ao Ministério Público incumbia a gestão
do expediente investigatório, sendo submetido a um controle anômalo promovido pelo Poder Judiciário.

Assim, o arquivamento da investigação era requerido pelo Parquet ao Judiciário, que, em caso de
discordância, remetia o expediente a uma reapreciação pela chefia da instituição, no caso dos Ministérios
Públicos Estaduais, o Procurador-Geral de Justiça.

Trata-se do princípio da devolução, que entrega (ou devolve) a solução da controvérsia à chefia do Ministério
Público.

Este, o PGJ, caso concordasse com as razões do promovente (membro do Ministério Público), ratificava a
manifestação, encerrando assim a discussão, ou, em discordando, oferecia denúncia ou designaria outro
membro para fazê-lo, respeitando, assim, a independência funcional.

A última palavra era dada pelo Ministério Público, porém havia uma fiscalização exercida pelo Judiciário.

Graficamente teríamos o seguinte:

Com a novel redação dada ao artigo 28, do CPP, esse arquivamento passou a ser feito diretamente pelo
Ministério Público (que não mais requer e sim promove ou ordena o arquivamento), sujeitando-se a uma
espécie de reexame necessário, feito pela instância de revisão ministerial (aparentemente o PGJ, conforme
artigo 10, IX, d, da LOMP) para fins de homologação.

A propósito, foi editado pelo Grupo Nacional dos Coordenadores dos Centros de Apoio Criminal, o enunciado
7, que sela a discussão em torno na natureza do ato de arquivamento, bem assim a instância revisora,
conforme se vê:

Compete exclusivamente ao Ministério Público o arquivamento do inquérito policial ou de


quaisquer elementos informativos da mesma natureza. Trata-se de ato composto, constituído de
decisão do promotor natural e posterior homologação pela instância de revisão ministerial
(Procurador-Geral de Justiça ou órgão delegado).

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Não obstante, o membro do Parquet deve comunicar o arquivamento à vítima, ao investigado e à Autoridade
Policial, permitindo-se a insurgência do ofendido.

Temos, pois, o seguinte:

Reafirmou-se, outrossim, a função de dominus litis do Ministério Público, excluindo-se o controle feito pelo
Poder Judiciário, providência salutar até para mantê-lo equidistante às partes.

Sobre o tema, dispõe o enunciado 8, do Grupo Nacional dos Coordenadores dos Centros de Apoio Criminal:

A nova redação do artigo 28 do Código de Processo Penal, em harmonia com o princípio


acusatório, dispõe que o arquivamento do inquérito policial não se reveste mais de um mero
pedido, requerimento ou promoção, mas de verdadeira decisão de não acusar, isto é, o promotor
natural decide não proceder à ação penal pública, de acordo com critérios de legalidade e
oportunidade, tendo em vista o interesse público e as diretrizes de política criminal definidas
pelo próprio Ministério Público.

Uma advertência necessária é que o dispositivo encontra-se com a eficácia suspensa sine die por força de
uma liminar concedida pelo Min. Fux, no bojo da ADI 6305, aplicando-se, enquanto não resolvida a querela,
as disposições do artigo 28, em sua redação originária.

Quadro comparativo:

Com o pacote anticrime (suspenso por força de


Redação originária
liminar do FUX, na ADI 6305)

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Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito


policial ou de quaisquer elementos informativos da
mesma natureza, o órgão do Ministério Público
comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade
policial e encaminhará os autos para a instância de
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de revisão ministerial para fins de homologação, na
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do forma da lei.
inquérito policial ou de quaisquer peças de § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não
informação, o juiz, no caso de considerar concordar com o arquivamento do inquérito
improcedentes as razões invocadas, fará remessa do policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do
inquérito ou peças de informação ao procurador- recebimento da comunicação, submeter a matéria à
geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro revisão da instância competente do órgão
órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou ministerial, conforme dispuser a respectiva lei
insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só orgânica. § 2º Nas ações penais relativas a crimes
então estará o juiz obrigado a atender. praticados em detrimento da União, Estados e
Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito
policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a
quem couber a sua representação judicial. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

1.6.2 - Direito de confrontar

Em recente decisão proferida no INQ 4831, o Min. Celso de Mello indeferiu monocraticamente o pedido
formulado pelo Sr. Presidente da República, Jair Bolsonaro, no sentido de optar, caso assim deseje, pelo
depoimento por escrito, no contexto de seu interrogatório policial.

O pedido encontra guarida no parágrafo primeiro, do artigo 221, do CPP, verbis:

Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os


ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembléias Legislativas
Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da
União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em
local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.

§ 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado Federal, da


Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de
depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz,
Ihes serão transmitidas por ofício.

A despeito de expressa previsão legal, a pretensão deduzida pelo Chefe de Executivo foi denegada e um dos
argumentos expendidos pelo zeloso relator, foi o direito de confrontar a pessoa sob inquirição.

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Mas o que é o direito de confrontar?

A prerrogativa contida no dispositivo reproduzido não é nova, porém foi submetida a essa interpretação em
recente decisão monocrática do STF, e, portanto, passa a ser forte candidata a ser cobrada em concursos.

Para responder a essa indagação, necessário que se faça uma análise, ainda que breve, a respeito do devido
processo legal, sob o aspecto formal ou procedimental.

Segundo já decidido pelo Min. Celso de Mello, no HC 94601, a aludida garantia compreende “requisito
legitimador da própria ‘persecutio criminis’” e nessa qualidade tem uma série desdobramentos, que ele
assim elenca:

(a) direito ao processo (garantia de acesso ao Poder Judiciário);


(b) direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da acusação;
(c) direito a um julgamento público e célere, sem dilações indevidas;
(d) direito ao contraditório e à plenitude de defesa (direito à autodefesa e à defesa técnica);
(e) direito de não ser processado e julgado com base em leis "ex post facto";
(f) direito à igualdade entre as partes;
(g) direito de não ser processado com fundamento em provas revestidas de ilicitude;
(h) direito ao benefício da gratuidade;
(i) direito à observância do princípio do juiz natural;
(j) direito ao silêncio (privilégio contra a auto-incriminação);
(l) direito à prova; e
(m) direito de presença e de "participação ativa" nos atos de interrogatório judicial dos demais
litisconsortes penais passivos, quando existentes.

As “regras do jogo”, lidas sob a lente da Constituição Federal e dos tratados internacionais, apresentam uma
abrangência muito maior do que o que se captura da leitura rasa das normas insertas no Digesto Processual
Penal.

Faremos um pequeno recorte para tratar da ampla defesa, que nos dizeres do Excelentíssimo Ministro
abrange a ampla defesa e a defesa técnica, mas que, com certeza, tem outros importantes desdobramentos.

Aos acusados em geral é garantido o direito de defesa, tanto a patrocinada por profissional habilitado,
quanto aquela que é exercida pelo próprio indigitado, que tem a oportunidade de, em seu interrogatório,
apresentar a sua versão sobre os fatos.

No tocante especificamente à ampla defesa, a Convenção Americana de Direitos Humanos, o Pacto


Internacional de San Jose da Costa Rica, estabelece em seu artigo 8º, as garantias judiciais, reconhecendo

a) o direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua


escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor; e

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b) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no tribunal e de obter o


comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre
os fatos;

O próprio Celso de Mello, em outro emblemático julgado, HC 93.503, reconhece o direito de presença do
réu, é dizer, direito de comparecer, assistir e presenciar os atos processuais, que se realizam sob o manto do
contraditório, sob pena de nulidade absoluta, esclarecendo que:

Essa prerrogativa processual reveste-se de caráter fundamental, pois compõe o próprio estatuto
constitucional do direito de defesa, enquanto complexo de princípios e de normas que amparam
qualquer acusado em sede de persecução criminal, mesmo que se trate de réu processado por
suposta prática de crimes hediondos ou de delitos a estes equiparados.

Renato Brasileiro, em seu Código de Proceso Penal Comentado (Salvador: Juspodivm, 2020, p. 563) apresenta
outros desdobramentos do direito de defesa, como por exemplo a capacidade postulatória autônoma (para
interpor recursos, impetrar HC e postular a revisão criminal, respectivamente artigos 577, 654 e 623, do CPP)
e o próprio direito ao confronto (right of confrontation).

Sobre o confronto, ele compreende o direito de participar da audiência para a colheita da prova e presenciar
a sua produção, o direito de produzir a prova na presença do julgador do mérito, a necessidade de imposição
do compromisso de dizer a verdade, de conhecer a identidade das fontes de prova testemunhal, de inquirir
as testemunhas e de se comunicar de forma livre, reservada e ininterrupta com o seu defensor técnico.

Assim, quando em uma audiência de instrução e julgamento, Ministério Público e defesa suscitam contradita
ou arguem um as testemunhas indicadas pelo outro (cross-examination), o fazem com base nesse direito.

A respeito da sistemática de inquirição de testemunhas no processo penal, importante a observação no


sentido de que:

A Lei n.º 11.690, de 9 de junho de 2008, alterou a redação do art. 212 do Código de Processo
Penal, passando-se a adotar o procedimento do Direito Norte-Americano, chamado cross-
examination, no qual as testemunhas são questionadas diretamente pela parte que as arrolou,
facultada à parte contrária, a seguir, sua inquirição (exame direto e cruzado), e ao juiz os
esclarecimentos remanescentes e o poder de fiscalização.

(HC 230.277/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2012, DJe
26/11/2012)

Como se nota, o contraditório é exercido imediatamente, durante a produção da prova, constituindo


legítimo ato de confronto, na acepção cotidiana da palavra.

Retomando o caso concreto, um dos fundamentos à negativa do pedido, portanto, foi o de que o depoimento
por escrito impediria o direito de confrontar, e dessarte representaria transgressão da cláusula do devido
processo legal.

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Vale registro apontar outro importante argumento utilizado pelo Ministro: o fato de o Presidente, nesse
caso, estar sendo ouvido na qualidade de investigado. Observa-se que a prerrogativa em questão restringe-
se às hipóteses em que a autoridade figura como testemunha, caso em que, ainda assim, a impossibilidade
do confronto colocaria em cheque a sua constitucionalidade.

Se pudéssemos resumir em tópicos o que foi dito:

- o devido processo legal se desdobra em outras variadas garantias, dentre elas a ampla defesa.
- a ampla defesa, no processo penal, compreende, além da defesa técnica e da autodefesa, o
direito de presença do acusado nos atos de produção da prova, para poder, inclusive, contraditar
(no sentido de exercer o contraditório) o que apresentado pela parte ex adversa.
- também como decorrência da ampla defesa, a estrutura de produção da prova, sobretudo a
oral, compreende a cross examination, é dizer, a possibilidade de uma parte pergunte
diretamente às testemunhas apresentadas pela outra, exercendo o contraditório de forma
imediata.
- é natural que as diretrizes da investigação variem em conformidade com a versão que
apresentada pelo depoente, de modo que a presença física do inquirido e a contemporaneidade
da produção da prova apresentem-se como fundamentais à reconstrução da verdade possível
(ex: se a testemunha nega a ocorrência do crime, os questionamento subsequentes serão
diversos da situação em que ela confirma os fatos).
- por fim, a oralidade é traço característico do sistema acusatório, não podendo ser desprezada.

1.7- LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.7.1 - Breves considerações sobre o crime de financiamento ou custeio de práticas ligadas


ao tráfico de drogas (art. 36, da Lei 11.343/2006) e sobre seu possível enquadramento como
crime equiparado a hediondo.

O tipo penal que estudaremos está previsto no art. 36, da Lei n.º 11.343/2006:

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º
, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000
(quatro mil) dias-multa.

Trata-se de crime autônomo, aplicável ao agente que não possui participação direta na execução do tráfico
de drogas, e que se limita a fornecer os recursos necessários para a prática das infrações penais descritas
nos artigos 33, caput e §1º, e 34, da Lei 11.343/2006.

Durante a vigência da revogada Lei n.º 6.368/76, quem financiasse ou custeasse o tráfico de drogas ou de
maquinários, respondia pelo mesmo crime imputado ao traficante, com a pena agravada pelo art. 62, inciso

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I, do Código Penal5. Com a nova Lei de Drogas, criou-se o tipo específico para o agente que pratica esta
mesma conduta.

Diante disso, tem-se uma exceção à teoria monista prevista no art. 29, do Código Penal6, visto que os
indivíduos que concorrem para o mesmo fato (o tráfico de drogas, seja como coautores ou partícipes),
respondem por tipos penais diferentes: as dezenas de condutas tipificadas nos artigos 33, 33,§1º e 34), e
aquele que efetivamente sustenta o crime (financiando-o), incorre no tipo penal previsto no art. 36.

Pacificado está o entendimento de que o art. 36 da Lei de Drogas se refere ao crime cometido por aquele
que não se envolve diretamente no tráfico de drogas (não o executa), mas sim àquele sujeito que, apensar
de não executar nenhum dos verbos dos artigos 33 ou 34, financia ou custeia referidas. Em outras palavras,
o art. 36 da Lei de Drogas não trata do “autofinanciamento”.

Ainda, o crime em estudo não cuida de financiamento ou custeio que tiver como objetivo a prática de outros
delitos previstos da Lei de Drogas, que não sejam os do art. 33, caput e §1º, e do art. 34, da referida Lei.

O art. 36 da Lei de Drogas faz uso de dois verbos distintos: “financiar”, que significa sustentar os fatos, prover
o capital necessário para o desenvolvimento do tráfico; e “custear”, que consiste em prover despesas, gastos.
Parte da doutrina entende que este verbo não abrange apenas o fornecimento de dinheiro, mas também de
outros bens móveis, como armas, munições e veículos (LIMA, 2020, p. 1084).

Neste ponto, importante retomar aquele assunto acima tratado: e o agente que pratica o tráfico de drogas
e, cumulativamente, financia ou custeia a prática destes crimes, responderá por dois delitos diversos? Não!
O legislador previu expressamente que o agente que atua diretamente no tráfico e que também financia ou
custeia a prática do crime, responderá pelo crime de traficância (art. 33), com a incidência da causa especial
de aumento de pena prevista no art. 40, inciso VII, da Lei n.º 11.343/2006. Ou seja: o art. 36 da Lei não trata
do autofinanciamento, que será somente uma causa de aumento de pena do art. 33.

Este é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. FINANCIAMENTO OU CUSTEIO AO TRÁFICO DE DROGAS. CONDUTA


AUTÔNOMA. IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO, EM CONCURSO MATERIAL, PELA PRÁTICA
DOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 33, CAPUT, E NO ART. 36 DA LEI DE DROGAS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

1. O art. 36 da Lei n. 11.343/2006 diz respeito a crime praticado por agente que não se envolve
nas condutas de traficância, ou seja, que financia ou custeia os crimes a que se referem os arts.

5
Art. 62 – A pena será ainda agravada em relação ao agente que: I – promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a
atividade dos demais agentes;[…]
6
Art. 29 – Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. §
1º – Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º – Se algum dos
concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

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33, caput e § 1º, e 34 da Lei n. 11.343/2006, sem, contudo, ser autor ou partícipe (art. 29 do
Código Penal) das condutas ali descritas.

2. Em relação aos casos de tráfico de drogas cumulado com o financiamento ou custeio da


prática do crime, o legislador previu, de maneira expressa, a causa especial de aumento de
pena prevista no inciso VII do art. 40 da Lei n. 11.343/2006.
3. O agente que atua diretamente na traficância – executando, pessoalmente, as condutas
tipificadas no art. 33 da legislação de regência – e que também financia ou custeia a aquisição
das drogas, deve responder pelo crime previsto no art. 33 com a incidência causa de aumento
prevista no art. 40, VII, da Lei n. 11.343/2006 (por financiar ou custear a prática do crime),
afastando-se, por conseguinte, a conduta autônoma prevista no art. 36 da referida legislação.
4. Ordem não conhecida. Habeas corpus concedido, de ofício, para absolver o paciente em
relação ao crime previsto no art. 36 da Lei n. 11.343/2006, com fulcro no art. 386, III, do Código
de Processo Penal.

(HC 306.136/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/11/2015,
DJe 19/11/2015) - negritou-se.

Importante ressaltar que o art. 35 desta Lei, em seu parágrafo único, trata da associação de duas ou mais
pessoas para o fim específico de reiteradamente cometerem o crime previsto no art. 36.

Em resumo:

SITUAÇÃO DELITO

O agente financia ou custeia o tráfico de drogas ou maquinismos e


Responde pelo art. 36, da Lei
outros objetos destinados ao tráfico, mas não pratica nenhum
n.º 11.343/2006.
verbo do art. 33 ou do art. 34 da Lei de Drogas.
Além de financiar ou custear o tráfico, o agente também pratica Responde pelo art. 33, c.c.
algum verbo do art. 33 ou do art. 34 da Lei de Drogas (tráfico de com o art. 40, inciso VII, da
drogas + autofinanciamento). Lei n.º 11.343/2006.
Duas ou mais pessoas se associam para praticar reiteradamente o
Responde pelo art. 35,
crime previsto no art. 36, da lei de drogas (financiamento ou
parágrafo único da Lei n.º
custeio do tráfico de drogas ou maquinismos e outros objetos
11.343/2006.
destinados ao tráfico).

Um dos pontos controvertidos a respeito deste tipo penal é sobre o seu momento consumativo: trata-se de
crime habitual ou não. Veja-se: se o crime for entendido como habitual, uma vez não configurada a reiteração
de condutas, o sujeito que financiou ou custeou o tráfico de drogas ou de maquinários responderá como
partícipe do crime do artigo 33, com a incidência da causa de aumento prevista no art. 40, inc. VII, da Lei de
Drogas. Já se, por outro lado, for entendido como crime instantâneo, aplicar-se-á o art. 36 e não a causa de
aumento mencionada anteriormente, a fim de não ocorrer bis in idem (SILVA, 2016, p. 125).

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Há quem justifique que o delito é habitual sob o argumento de que este entendimento é compatível com a
figura da associação para o financiamento ou custeio para o tráfico de drogas, previsto no art. 35, parágrafo
único, da Lei de Drogas, que pressupõe, para a sua caracterização, o propósito de reiteração do crime (SILVA,
2016, p. 125). Além disso, os verbos do tipo indicariam um certo tom de “habitualidade”: financiar e custear.

Tais razões não convencem outra parte da doutrina, que entende ser o delito crime instantâneo, sendo
prescindível a prova de habitualidade.

Contudo, ainda assim, remanesce mais uma discussão: sendo o crime instantâneo, seria ele material, ou seja,
o crime se consumaria com a efetiva utilização dos bens/dinheiro “cedidos” pelo financiador ao tráfico de
drogas, ou este resultado naturalístico é dispensável, bastando a entrega dos bens/dinheiro ‘para o fim de’,
configurando-se a sua efetiva utilização na traficância mero exaurimento (ou seja, um crime formal, de
consumação antecipada)? A questão é controversa e não há posição que prevalece, principalmente porque
se trata de um crime pouco recorrente na prática forense (infelizmente) e também, talvez por isso, pouco
estudado.

Outra discussão: é sabido que o tráfico de drogas é delito equiparado a hediondo (artigo 5º, inciso XLIII da
CF/88), sendo pacífico o entendimento de que os artigos 33, 33§1º e 34 da Lei de Drogas se subsumem a
esta classificação (são crimes equiparados a hediondo). Mas e a conduta tipificada no art. 36 da Lei de
Drogas? Apesar de o mencionado delito possuir a pena mais gravosa de toda a Lei n.º 11.343/2006 (de 8
(oito) a 20 (vinte) anos), de se tratar de exceção dualista à teoria monista, pouco se discute sobre a hediondez
deste crime.

Cesar Dario Mariano da Silva, na obra “Lei de Drogas Comentada”, afirma que, tal qual o tráfico de
entorpecentes, aquele que financia ou custeia o tráfico, responde também por crime equiparado a hediondo
(p. 126):

Financiamento de práticas ligadas às drogas […] Crime equiparado a hediondo

Quando da vigência da Lei nº 6.368/76, a doutrina e a jurisprudência, de forma majoritária,


propugnavam no sentido de que somente os crimes descritos nos artigos 12 e 13 eram
considerados modalidades de tráfico de drogas. Os artigos 33, caput e § 1º, e o 34 guardam
similitude com os artigos 12 e 13 da lei revogada. Não restam dúvidas, portanto, de que estes
dispositivos devem ser considerados como tráfico de drogas para efeito de enquadramento na
Lei nº 8.072/1990. Entretanto, o artigo 36 em exame define crime de maior gravidade,
cominando- lhe penas mais severas do que para os praticantes dos crimes descritos nos artigos
33, caput, § 1º e 34. O delito definido no artigo 36 nada mais é do que forma de colaboração para
o tráfico especialmente tipificada e punida, que poderia ser enquadrada como participação no
crime de tráfico de drogas (art. 33, caput e § 1º, e art. 34), com fulcro no artigo 29 do CP. Visando
a diferenciação na cominação das penas, o legislador o definiu como crime autônomo (exceção
pluralista à teoria unitária no concurso de pessoas). Cuida-se, à evidência, de modalidade de
tráfico de drogas e deve ser tratada como tal. Não haveria sentido determinar o regime inicial
fechado e dificultar a progressão de regime prisional para o autor dos crimes previstos nos artigos
33, caput, § 1º e 34 e não fazê-lo para o seu financiador, que pratica crime mais grave e tem
culpabilidade mais acentuada.

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No mesmo sentido, o seguinte artigo publicado no site da CONAMP (Associação Nacional dos Membros do
Ministério Público):

De acordo com a Lei nº 6.368/1976, de forma majoritária, entendia-se que somente os crimes
descritos nos artigos 12 e 13 eram considerados modalidades de tráfico de drogas, ficando de
fora a associação para o tráfico (art. 14). Os artigos 33, “caput” e § 1º, e o 34, guardam similitude
com os artigos 12 e 13 da lei revogada.

Certamente esses dispositivos devem ser considerados como tráfico de drogas para efeito de
enquadramento na Lei nº 8.072/1990. No entanto, a nova legislação criou crime de maior
gravidade, cominando-lhe, obviamente, pena mais severa. O artigo 36 define o crime de
financiamento e custeio para o tráfico de drogas e impõe pena de oito a vinte anos de reclusão
e pagamento de mil e quinhentos a quatro mil dias multa. Esse delito nada mais é do que forma
de colaboração para o tráfico especialmente tipificada e punida, que poderia ser enquadrada
como participação no crime de tráfico com fulcro no art. 29 do CP. Visando uma diferenciação
na previsão das penas, o legislador o definiu como crime autônomo (exceção pluralista à teoria
unitária no concurso de pessoas). Cuida-se, à evidência, de espécie de tráfico de drogas e deve
ser tratada como tal. Não haveria sentido dificultar a progressão de regime de cumprimento
de pena para o traficante e não fazê-lo para o seu financiador, que pratica crime mais grave e
tem culpabilidade mais acentuada. Por isso, entendemos devam ser considerados tráfico de
drogas para o fim de enquadramento na Lei nº 8.072/1990 os delitos previstos nos artigos 33,
"caput", § 1º, 34 e 36 da nova Lei de Drogas. - negritou-se.
(https://www.conamp.org.br/pt/biblioteca/artigos/item/403-a-lei-dos-crimes-hediondos-apos-
a-alteracao-de-seu-artigo-2.html, acesso em 30/09/2020)

Neste mesmo sentido se manifestam Claudia Barros Portocarrero (2020, p. 147) e Nestor Távora (2020, p.
667).

Como dito alhures, trata-se de uma infração penal pouco combatida, razão por que não se encontram muitos
julgados e doutrinas verticalizadores do assunto. A grande maioria apenas cita que, na forma do rol taxativo
da Lei dos Crimes Hediondos, somente os artigos 33, 33 §1º e 34 tratam de crimes equiparados a hediondo.
Com relação ao artigo 35 da Lei de Drogas também já se pacificou o entendimento de que não é hediondo.
Mas com relação ao artigo 36, ora em pauta, muito pouco se debate sobre o assunto. Pense a respeito!

1.7.2 - Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito: considerações gerais.

Antes de analisarmos pormenorizadamente o delito previsto no art. 16, do Estatuto do Desarmamento (Lei
n.º 10.826/03), importante esclarecer os conceitos de artefatos de uso restrito e de uso permitido. O Decreto
do Executivo Federal n.º 10.030/2019 apresenta o rol dos produtos que são classificados como de uso restrito
e de uso permitido. São chamados de produtos de uso restrito aqueles que são controlados pelo Exército e
somente podem ser utilizados pelas Forças Armadas ou por instituições de segurança autorizadas. Já os
produtos de uso permitido são aqueles controlados pelo Exército, que a utilização é permitida a pessoas
físicas e jurídicas em geral, se atendidos os requisitos normativos.

Ainda, os conceitos de arma de fogo de uso permitido, de uso restrito e de uso proibido são encontrados no
Decreto n.º 9.847/2019. Dê uma conferida nestes atos normativos!

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Fixadas tais balizas, passemos a analisar especificamente o delito do art. 16 da Lei n.º 10.826/2003 (Estatuto
do Desarmamento).

A redação original do art. 16, do Estatuto do Desarmamento, tratava de forma igual os crimes de posse ou
porte de arma de fogo, acessório ou munição, de uso restrito e de uso permitido. Com o Pacote Anticrime
(Lei n. 13.964/19) a redação ficou a seguinte:

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma
de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:

I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou


artefato;

II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo


de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro
autoridade policial, perito ou juiz;

III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar;

IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou
qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;

V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou
explosivo a criança ou adolescente; e

VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma,


munição ou explosivo.

§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso


proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. - negritou-se.

A conduta típica é expressa por diferentes quatorze verbos, ou seja, é um tipo misto alternativo, no qual a
realização de mais de um verbo pelo mesmo agente implicará em um único delito. Conforme explica Ricardo
Antônio Andreucci (2018, p. 257), é indiferente para a configuração do crime se a arma de fogo estiver
desmuniciada no momento da apreensão, visto que é um crime de mera conduta e de perigo abstrato,
consumando-se independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo/dano para a sociedade.

Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu:

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AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. POSSE ILEGAL DE ARMA DE USO RESTRITO. ARMA
DESMUNICIADA. TIPICIDADE. DELITO DE MERA CONDUTA E PERIGO ABSTRATO. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Esta Corte Superior firmou o entendimento de que é irrelevante
estar a arma desmuniciada para a configuração do delito de posse ilegal de arma de fogo de uso
restrito, por se tratar de crime de mera conduta e de perigo abstrato. 2. Agravo regimental
improvido. (STJ – AgRg no HC: 450234 MS 2018/0114551-2, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO,
Data de Julgamento: 06/11/2018, T6 – SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/11/2018) –
negritou-se.

E o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

APELAÇÃO CRIME. POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM NUMERAÇÃO SUPRIMIDA (ART. 16, §
ÚNICO, INCISO IV, DA LEI 10.826/2003). ARMA DESMUNICIADA OU GUARDADA EM LOCAL
DISTINTO DA RESIDÊNCIA. IRRELEVÂNCIA. CRIME DE MERA CONDUTA. RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO, COM REFORMA DE OFÍCIO DA SENTENÇA PARA REDUZIR O VALOR DA
PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA, A FIM DE QUE GUARDE PROPORCIONALIDADE COM A PENA CORPORAL
IMPOSTA. (TJPR – 2ª C.Criminal – 0000746-71.2014.8.16.0092 – Imbituva – Rel.: Desembargador
José Carlos Dalacqua – J. 03.07.2020) - negritou-se.

Renato Brasileiro de Lima (2020, p. 450) também sustenta ser “crime de perigo abstrato, que presume a
ocorrência de dano à segurança pública e prescinde, para sua caracterização, de resultado naturalístico à
incolumidade física de outrem”.

Ademais, para a configuração de qualquer uma das condutas típicas descritas no caput do art. 16 do Estatuto
do Desarmamento, faz-se necessário que a conduta tenha sido praticada sem autorização e em desacordo
com determinação regulamentar. Ou seja, havendo autorização, ou a conduta estando amparada em
determinação legal ou regulamentar, não se configura crime. Este é o caso, por exemplo, de juízes e
promotores de justiça, que têm direito ao porte de arma de fogo, nos termos de suas leis orgânicas 7 (LIMA,
2020, p. 450).

Outrossim, a doutrina classifica o delito em estudo como crime comum, de execução livre, comissivo,
instantâneo nas condutas de adquirir, fornecer, receber, ceder, emprestar, remeter e empregar, e
permanente nas condutas possuir, portar, deter, ter em depósito, transportar, manter sob sua guarda e
ocultar. Ainda, trata-se de crime doloso, de mera conduta, unissubjetivo e plurissubsistente (LIMA, 2020, p.
452).

7
"Como esses diplomas normativos não especificam a natureza da arma que pode ser utilizada por tais autoridades - se de uso
permitido ou se de uso restrito -, prevalece o entendimento de que magistrados e promotores também podem portar arma de fogo
de uso restrito. Logo, na eventualidade de um Promotor de Justiça ser flagrado portando uma arma de fogo de uso restrito
devidamente registrada, sua conduta será atípica, haja vista que a conduta não fora praticada sem autorização, nem tampouco em
desacordo com determinação legal ou regulamentar" (LIMA, 2020, p. 450).

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Fundamental analisar brevemente o texto legal dos §§1º e 2º do art. 16 da Lei n.º 10.826/03. Primeiramente,
é de se notar que, enquanto o caput do referido artigo trata somente de arma de fogo, acessório ou munição
de uso restrito, o §1º trata de diversos outros produtos, sejam eles permitidos ou restritos. Cuidado!

Pois bem. O §1º, inciso I (“suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma
de fogo ou artefato”) se refere à “arma de fogo ou artefato”, sem especificar de qual natureza. Diante da
não restrição quanto ao tipo de arma ou artefato, o entendimento dominante é de que a disposição legal
abrange qualquer tipo de arma de fogo ou artefato, seja de uso permitido, restrito ou proibido. No caso de
ser proibido, a pena aplicada será de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, conforme o art. 16, §2°, do
Estatuto do Desarmamento (LIMA, 2020, p. 452).

Ainda, o texto legal também não contempla os elementos normativos do caput do artigo 16 (“sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”). Assim, pouco importa se a arma ou
o artefato foi obtido de forma lícita ou ilícita, ou se há ou não registro e porte. Em qualquer caso, havendo a
supressão ou a alteração de marca, numeração ou qualquer sinal de identificação do objeto, haverá crime
(LIMA, 2020, p. 452).

Frisa-se que, tendo em vista que esta conduta já era crime previsto no art. 10, §3º, inc. I, da Lei n.º 9.437/97
(revogada), com pena mais branda (reclusão, de dois a quatro anos), por funcionar a nova norma do art. 16,
do Estatuto do Desarmamento, como novatio legis in pejus, a pena cominada à figura delituosa só será válida
para os crimes cometidos a partir da vigência da Lei n.º 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) (LIMA,
2020, p. 452).

Já o inciso II do, §1º, do mesmo artigo prevê a seguinte conduta: “modificar as características de arma de
fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz”. São duas as condutas incriminadas
por este inciso, ambas tratam da modificação das características de arma de fogo: a primeira tem o objetivo
de tornar a arma de fogo equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito (exemplo: transformar um
revólver .38 em um revólver calibre .357); e a segunda objetiva dificultar ou induzir a erro autoridade policial,
perito ou o juiz (trata-se de norma especial de fraude processual – exemplo: o autor de um latrocínio altera
o raiamento de sua arma de fogo a fim de dificultar eventual confronto balístico) (LIMA, 2020, p. 454).

A primeira parte do inciso incrimina a conduta de “modificar”, que significa mudar a forma, imprimir novo
modo de ser, devendo a conduta efetivamente tornar a arma equivalente a alguma de uso proibido ou
restrito. Neste sentido, Renato Brasileiro afirma “se trata de um efetivo resultado integrante do tipo penal,
cuja produção condiciona a própria consumação do tipo penal. Cuida-se, pois, nesse caso, de efetivo crime
material”. Na segunda parte do inciso, é necessário somente comprovar que a modificação tinha por objetivo
dificultar ou induzir a erro a autoridade policial, perito ou juiz, assim, trata-se de crime formal (LIMA, 2020.
p. 455).

O inciso III, do §1º, do art. 16, do Estatuto do Desarmamento, contempla o objeto material chamado de
artefato, seja ele explosivo ou incendiário (“possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou
incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”). Devido a sua
antiga previsão no art. 10, §3º, inc. III, da revogada Lei n.º 9.437/97, por funcionar como novatio legis in
pejus, o inciso III, do §1º, do art. 16 do Estatuto do desarmamento somente será aplicado aos crimes
cometidos após a vigência da Lei n.º 10.826/03 (LIMA, 2020, p. 457).

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São quatro os verbos núcleos do tipo: possuir, deter, empregar e fabricar. E dois os objetos materiais do
crime: artefato explosivo (conforme prevê o anexo III, Decreto n.º 10.030/19, explosivo “tipo de matéria que,
quando iniciada, sofre decomposição muito rápida, com grande liberação de calor e desenvolvimento súbito
de pressão”. Para o STJ, “explosivo é, em sentido amplo, um material extremamente instável, que pode se
recompor rapidamente, formando produtos estáveis. Esse processo é denominado de explosão e é
acompanhado por uma intensa liberação de energia […]” - Exemplo: granada); e artefato incendiário
(consiste em qualquer mecanismo que, por meio de combustão, tenha a aptidão de provocar incêndio –
Exemplo: ‘coquetel molotov’) (LIMA, 2020, p. 458).

O inciso IV, do artigo em estudo tem a seguinte redação: “portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado”. Diferentemente da previsão do inciso I, do mesmo artigo, este inciso incrimina a conduta
daquele que circula com os sinais da arma de fogo já adulterados. Por isso, tem-se que esta conduta é mais
comum que aquela, visto que nem sempre é possível comprovar quem foi o autor da adulteração (LIMA,
2020, p. 459).

São cinco núcleos do tipo: portar, possuir, adquirir, transportar e fornecer. Como o texto legal não faz
menção a qual tipo de arma de fogo, tem-se que tanto faz se ela for de uso permitido ou restrito. No caso
de a arma ser de uso proibido, responderá o agente pelo tipo penal descrito no §2, do art. 16, do Estatuto
do Desarmamento.

O inciso V, do artigo em estudo prevê: “vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de
fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente”. Os bens jurídicos tutelados são a
segurança e a paz públicas, de maneira direta e de maneira indireta, o tipo penal busca tutelar a vida e a
integridade física das crianças e adolescentes (LIMA, 2020, p. 461)

Os sujeitos passivos do crime são crianças e adolescentes, assim entendidos conforme o art. 2º do Estatuto
da Criança e do Adolescente: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de
idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. Ainda, são três os verbos
núcleos do tipo: vender (alienar algo por preço determinado), entregar (transferência de domínio sem que
haja, necessariamente, contraprestação financeira). E fornecer (prover, abastecer, de maneira onerosa ou
não). Frisa-se que o texto legal não especifica a espécie de arma de fogo ou munição, assim, não há relevância
para a tipificação da conduta (LIMA, 2020, p. 461).

O último inciso do §1º do art. 16, do Estatuto do Desarmamento dispõe: “produzir, recarregar ou reciclar,
sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo”. Este inciso demonstra a
flagrante preocupação do legislador com o uso da rede mundial de computadores, visto que tornou-se
relativamente fácil fabricar munições ou explosivos (LIMA, 2020, p. 462).

São quatro verbos núcleos do tipo: produzir (criar, gerar), recarregar (pôr carga novamente), reciclar
(atualizar algo para ter maior rendimento) e adulterar (modificar). A doutrina classifica este crime da seguinte
forma: comum, de perigo abstrato, execução livre, comissivo, instantâneo, doloso, de mera conduta,
unissubjetivo e plurissubsistente (LIMA, 2020, p. 463).

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Por fim, o §2º do art. 16, do Estatuto do Desarmamento, se refere especificamente ao cometimento das
condutas descritas no caput e no §1º deste artigo, mas quando envolverem armas de fogo de uso proibido.
Cuidado: armas de fogo (e não acessórios ou munição) de uso proibido, tão somente! Veja-se:

Com o Pacote Anticrime (Lei n.º 13.964/19), o legislador suprimiu do caput do art. 16 qualquer menção a
arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido, deslocando a questão para o seu §2º. Ocorre que, o
mencionado parágrafo faz referência somente às armas de fogo de uso proibido, não havendo possibilidade
de punir o agente que praticar qualquer das condutas descritas no caput do art. 16, com acessórios ou
munições de uso proibido. Neste caso, Renato Brasileiro esclarece que tais condutas devem ser tipificadas
na figura do caput, do art. 16, fazendo uma verdadeira analogia in bonam partem (LIMA, 2020, p. 464).

Há quem sustente, porém, que tais artefatos (munições proibidas, principalmente, pois nem há indicação
normativa do que sejam acessórios proibidos) estão acobertados sim pelo §2º do artigo 16 e também pelo
artigo 1ª, parágrafo único, inciso II, da Lei n.º 8072/90, pois o nomen iuris do disposto nestes dois Estatutos
não pode ser utilizado para excluir o real significado do que se pretendeu, o que seja, abranger, tanto na
qualificadora do §2º do artigo 16 (sim, é uma circunstância qualificadora, pois há novo limite mínimo e
máximo da pena abstratamente prevista - de 4 (quatro) a 12 (doze) anos (!)), como na Lei dos Crimes
Hediondos (artigo 1º, parágrafo único, inciso II), arma de fogo, munição e acessórios de uso proibido (CUNHA,
2020 p.1528).

Como já adiantado, somente neste caso (qualificadora do §2º do artigo 16, que trata de armas de fogo de
uso proibido), é que se tratará de crime hediondo, diante da expressa previsão do artigo 1º, parágrafo único,
inciso II, da Lei n.º 8072/90.

REFERÊNCIAS:

ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 13. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva Educação,
2018.

SILVA, César Dario Mariano da. Lei de drogas comentada. 2. ed. São Paulo: APMP – Associação Paulista do
Ministério Público, 2016.

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios; JUNIOR, José Paulo Baltazar. Legislação Penal Especial. 5. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019.

CUNHA, Rogério Sanches. Teses do STJ sobre a lei de Drogas – III (1ª parte). Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/06/26/teses-stj-sobre-lei-de-drogas-iii-1a-parte/.

LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada – volume único. 8ª edi. JusPodivm. 2020.

CORREIA, Martina. Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) Penal e Processo Penal – Lei de Drogas (Leis Especiais –
Juspodivm) + Legislação Criminal Especial Comentada (Renato Brasileiro) + Nestor Távora + Dizer o Direito.
Disponível em: https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-metodista-de-piracicaba/direito-
penal/resumos/resumo-lei-de-drogas/8118181/view.

CUNHA, Rogério Sanchez e outros. Leis Penais Especiais comentadas, Salvador, Editora Juspodium, 3ª edição,
2020.

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PORTOCARRERO, Cláudia Barros e outro. Leis Penais Extravagantes – Teoria, jurisprudência e questões, 5ª
edição, Salvador, editora Juspodium, 2020.

TÁVORA, Nestor e outros. Legislação Criminal para concursos, 5ª edição, Salvador, editora Juspodium, 2020).

1.8 - DIREITO ELEITORAL

1.8.1 - Alistamento Eleitoral - Definição

O alistamento é a primeira fase do processo eleitoral, fase que inaugura esse processo. De acordo com um
conceito mais específico, alistamento eleitoral é um procedimento administrativo de qualificação e
inscrição do eleitor, com a consequente atribuição de um título.

Trata-se de um procedimento administrativo, e não um ato administrativo. Procedimento administrativo é a


reunião, o conjunto, a sistematização de vários atos administrativos visando a prática de um ato
administrativo final (qual seja, a emissão do título de eleitor).

Esse procedimento administrativo tem dois objetivos: qualificar o eleitor (obtenção de seus dados
qualificativos) e inscrever o eleitor (atribuição de um número de inscrição), e ao final esse procedimento é
formalizado por um título eleitoral, no qual constará o nome do eleitor, zona e seção eleitoral.

Neste ponto, o Supremo Tribunal decidiu que o título de eleitor não é documento de porte obrigatório para
o exercício do direito de voto, bastando, para tanto, documento de identificação com foto:

“Por vislumbrar aparente ofensa aos postulados da proporcionalidade e da razoabilidade (...), o


Tribunal, por maioria, concedeu medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade (...),
para, mediante interpretação conforme conferida ao art. 91-A da Lei nº 9.504/97, na redação
dada pela Lei nº 12.034/09 — e ao art. 47, § 1º, da Resolução TSE nº 23.218/10 —, reconhecer
que somente a ausência de documento oficial de identidade com fotografia trará obstáculo ao
exercício do direito de voto. Os dispositivos impugnados determinam que, no momento da
votação, sejam apresentados o título de eleitor e um documento de identificação com foto (...).
Registrou-se a problemática no sistema eleitoral relativamente à identificação dos eleitores.
Salientou-se, nesse sentido, a inexistência de unificação entre as identidades civil e eleitoral ou
de um título eleitoral com foto. Citou-se, inclusive, manifestação do TSE (...) quanto à
possibilidade de se admitir o exercício do voto pelo eleitor que apenas apresentasse o
documento comprobatório de identidade, em razão do extravio, perda ou inutilização de seu
título após o término do prazo para a solicitação de 2ª via” (STF, ADI nº 4.467, Rel. Min. Ellen
Gracie, J. 30.09.2010, Inf. 602).

1.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1.9.1 - Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente

Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente

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Diretriz da Política de Atendimento

A criação dos conselhos de direitos está prevista entre as diretrizes da política de atendimento voltada à
infância e à juventude. A propósito, existirá um conselho de âmbito nacional, outros em nível estadual e,
ainda, outros em nível municipal. Portanto, cada Estado terá o seu respectivo conselho, assim como todo
município também deverá tê-lo.

Natureza do conselho: órgão deliberativo.

Cada conselho de direitos se constitui em um órgão, de modo que não têm personalidade jurídica própria.
Este órgão adotará decisões pelo voto de um colegiado, com a presidência de um de seus membros.

As decisões adotadas pelos conselhos de direitos apresentam-se como atos administrativos e, por isso,
obrigatoriamente, devem observar os princípios que regem a Administração Pública (art. 37, da Constituição
Federal). Além desses, também devem observar os princípios da paridade e da deliberação.

Os conselhos de direitos são compostos por representantes governamentais e da sociedade civil, que são
nomeados para o exercício dessa função, considerada de interesse público. Observando-se o princípio da
paridade, a composição contará com igual número entre os representantes de cada um dos setores
mencionados.

Os conselheiros governamentais serão escolhidos pelo Poder Executivo. De outro lado, os representantes da
sociedade civil serão escolhidos nos termos do que o regimento interno de cada conselho prever. Não
poderão ser remunerados e exercem função de interesse público relevante (não são ocupantes de cargo
público, exercendo função honorífica).

Além disso, os conselhos podem aprovar atos meramente opinativos, como também atos deliberativos, estes
de observância obrigatória, vinculando-se até mesmo a própria administração pública.8

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

A Lei nº 8.242/1991 criou o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – Conanda,
competindo-lhe, entre outras atribuições, elaborar as normas gerais da política nacional de atendimento dos
direitos da criança e do adolescente, fiscalizando as ações de execução, bem como zelar pela aplicação da
política nacional de atendimento dos direitos dessas pessoas.

8
A propósito, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça no REsp 493811/SP, rel. Ministra Eliana Calmon, 3ª. T, j. 11.11.2003, DJ
15.03.2004, p. 236.

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O Conanda já aprovou muitos atos, notadamente resoluções. Entre elas, destaque-se a Resolução nº 113,
que trata do fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente.

O Fundo dos Conselhos de Direitos

A cada um dos conselhos de direitos estará vinculado um fundo, composto pelos recursos necessários para
suprir demandas prioritárias e emergenciais.

Várias são as receitas dos fundos. No âmbito do Conanda, estão presentes: a) contribuições ao Fundo
Nacional, com doações integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os limites legais; b)
recursos consignados no orçamento da União; c) contribuições dos governos e organismos estrangeiros e
internacionais; d) resultado de aplicações do governo e organismo estrangeiros e internacionais; e) resultado
de aplicações no mercado financeiro, observada a legislação pertinente; f) outros recursos.

O Estatuto também trata da destinação ao fundo gerido pelos conselhos municipais de direitos da criança e
do adolescente dos valores das multas aplicadas nos procedimentos judiciais que tramitarem perante o Juízo
da Vara da Infância e da Juventude, bem como nas ações civis públicas para a tutela de direitos
(independentemente de onde tramitem), nos termos dos artigos 154 e 214.

Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente

Política de Atendimento

Consoante já foi assinalado, a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente será feita por
meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais. Trata-se de atendimento
em rede, interligado entre as várias entidades.

A Resolução nº 113 (retificada pela Resolução n. 117).

A Resolução nº 113, do Conanda, dispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e fortalecimento do


Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Em seu art. 1º, indica que o Sistema mencionado “constitui-se na articulação e integração das instâncias
públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento
dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e do
adolescente, nos níveis Federal, Estadual, Distrital e Municipal”.

Passa-se a se explicar os principais aspectos da definição.

O Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente caracteriza-se pela articulação e integração


das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil, de modo que, a um só tempo, uma não se
sobrepõe a outra, agindo todas as entidades em prol do atendimento das necessidades do público infanto-
juvenil.

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Este Sistema baseia-se na aplicabilidade de diversas fontes normativas, como convenções internacionais, a
Constituição Federal, diferentes leis, atos administrativos de diversas ordens etc. Todas as fontes normativas
orientadas pelo princípio do superior interesse e pelos ditames da Doutrina da Proteção Integral.

O Sistema conta com o funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação
dos direitos humanos da criança e do adolescente, que correspondem aos eixos estratégicos de ação.

Eixos estratégicos de ação

Os órgãos públicos e as organizações da sociedade civil que integram o Sistema de Garantia deverão exercer
suas funções, em rede, a partir de três eixos estratégicos de ação:

Defesa dos direitos humanos

Eixos estratégicos Promoção dos direitos humanos

Controle da efetivação dos direitos humanos

De se frisar que os órgãos públicos e as organizações da sociedade civil que integram o Sistema podem
exercer funções em mais de um eixo.

Eixo estratégico de defesa dos direitos humanos

O eixo da defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, prevê o art. 6º, da Resolução,
“caracteriza-se pela garantia do acesso à justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias públicas e mecanismos
jurídicos de proteção legal dos direitos humanos, gerais e especiais, da infância e da adolescência, para
assegurar a impositividade deles e sua exigibilidade, em concreto”.

Diversos são os órgãos públicos inseridos no eixo de defesa, os quais podem ser designados como Atores do
Sistema de Garantia. São eles os órgãos públicos:

I - judiciais, especialmente as Varas da Infância e da Juventude e suas equipes multiprofissionais,


as Varas Criminais especializadas, os Tribunais do Júri, as comissões judiciais de adoção, os
Tribunais de Justiça, as Corregedorias Gerais de Justiça;
II - público-ministeriais, especialmente as Promotorias de Justiça, os centros de apoio
operacional, as Procuradorias de Justiça, as Procuradorias Gerais de Justiça, as Corregedorias
Gerais do Ministério Público;
III - Defensorias Públicas, serviços de assessoramento jurídico e assistência judiciária;
IV - Advocacia Geral da União e as Procuradorias Gerais dos Estados
V - Polícia Civil Judiciária, inclusive a Polícia Técnica;
VI - Polícia Militar;
VII - Conselhos Tutelares; e
VIII - Ouvidorias.

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Mas o rol dos Atores do Sistema de Garantia não está restrito aos órgãos públicos, abrangendo também
entidades sociais de defesa de direitos humanos, incumbidas de prestar proteção jurídico-social.

Eixo estratégico de promoção dos direitos humanos

O eixo estratégico da promoção “operacionaliza-se através do desenvolvimento da ‘política de atendimento


dos direitos da criança e do adolescente’, prevista no artigo 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que
integra o âmbito maior da política de promoção e proteção dos direitos humanos”.

Essa política especializada deve desenvolver-se de forma estratégica, transversal e intersetorialmente,


propiciando-se a articulação de todas as políticas públicas. Operacionaliza-se através de três tipos de
programas, serviços e ações públicas:

I - serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas sociais, afetos aos
fins da política de atendimento dos direitos humanos de crianças e adolescentes;
II - serviços e programas de execução de medidas de proteção de direitos humanos; e
III - serviços e programas de execução de medidas socioeducativas e assemelhadas.

Eixo estratégico de controle da efetivação dos direitos humanos

O controle das ações públicas de promoção e defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente se
fará por meio das instâncias públicas colegiadas próprias, onde se assegure a paridade de participação de
órgãos governamentais e de entidades sociais, tais como:

I - conselhos dos direitos de crianças e adolescentes;


II - conselhos setoriais de formulação e controle de políticas públicas; e
III - os órgãos e os poderes de controle interno e externo definidos nos artigos 70, 71, 72, 73, 74
e 75 da Constituição Federal.

Proteção dos Direitos de Crianças e Adolescentes no Atendimento realizado por Órgãos e Entidades do
Sistema de Garantia de Direitos

A Resolução nº 169, de 13.11.2014, do CONANDA, dispõe sobre a proteção dos direitos das crianças e
adolescentes no atendimento realizado por órgãos e entidades do Sistema de Garantia de Direitos, em
conformidade com a política nacional de atendimento prevista no Estatuto.

Para tanto, considera que a expressão “atendimento” engloba o “conjunto de procedimentos adotados nos
momentos em que a criança e o adolescente são ouvidos nos órgãos e entidades do Sistema de Garantia de
Direitos, envolvendo, entre outros, o Sistema de Justiça, os órgãos de Segurança Pública e do Poder Executivo
e os Conselhos Tutelares” (art. 1º, parágrafo único).

Esse atendimento deverá ser regido por práticas éticas e profissionais, de modo a não agravar o sofrimento
psíquico de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de crimes, respeitando-se o tempo e o silêncio
de quem é ouvido, prevalecendo-se as medidas emergenciais de proteção.

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Enfatize-se que a entrevista, o estudo social, o estudo psicológico e a perícia da criança e do adolescente,
preferencialmente, devem ser conduzidos por profissionais tecnicamente habilitados, possibilidade o
reconhecimento da situação vivenciada e permitindo a busca de medidas de proteção adequadas às
especificidades dos sujeitos envolvidos.

Determinou-se, ainda, que, nas situações de conflito em que a criança e o adolescente sejam ouvidos,
devendo ser priorizados os meios alternativos de resolução, visando à preservação de seus interesses.

Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente Vítima ou Testemunha de Violência

Lei nº 13.431/2017 e Decreto nº 9.603/2018

Já foi dito sobre o Sistema de Garantia, cujo fortalecimento foi enfatizado pela Resolução nº 113, do
Conanda. O SGDCA é voltado a diversas situações, com a implementação de políticas gerais e outras
específicas.

Neste contexto, atendendo-se a uma dessas demandas específicas, foi normatizado o sistema de garantia de
direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, nos termos da Lei nº 13.431/2017,
regulamentada pelo Decreto nº 9.603/2018.

De início, a Lei nº 13.431/2017 enfatize que a criança e o adolescente devem viver sem violência, com
preservação de sua saúde física e mental e desenvolvimento moral, intelectual e social, gozando de direitos
específicos à sua condição de vítima ou testemunha.

Os casos omissos na lei serão interpretados à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como na Lei
Maria da Penha, que serão aplicados de forma subsidiária.

Público-alvo.

O público-alvo do sistema em estudo é a criança e o adolescente. Contudo, a própria lei admite a aplicação
facultativa da lei para as vítimas e testemunhas de violência entre dezoito e vinte e um anos, de forma
excepcional.

Classificação da Violência

A Lei nº 13.431/2017 adotou a seguinte classificação da violência:

MODALIDADE CARACTERÍSTICAS
Ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou
Violência Física
saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico.
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em
relação à criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento,
Violência Psicológica
ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática
(bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou
emocional;

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b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na


formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou induzida
por um dos genitores, pelos avós ou por quem os tenha sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause prejuízo
ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este; e,
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou
indiretamente, a crime violento contra membro de sua família ou de sua
rede de apoio, independentemente do ambiente em que cometido,
particularmente quando isto a torna testemunha.
qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a praticar ou
presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive
exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não, que
compreenda:
a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do
adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso,
realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para estimulação
sexual do agente ou de terceiro;
b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do
adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer
Violência Sexual
outra forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio,
apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio
eletrônico;
c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a
transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente,
dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de
exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de
coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de
situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre
os casos previstos na legislação.
praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando gerar
Violência institucional
revitimização.

Escuta especializada e o depoimento especial

Constatada a situação de violência a que sujeitas a criança e o adolescente, devem as ações voltarem-se à
minimização do dano, evitando-se a revitimização.

Para tanto, detalhou-se que a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de violência por meio
de escuta especializada e depoimento especial. Paralelamente a tais institutos, deve-se também analisar a
revelação espontânea da violência.

Revelação espontânea da violência

Os órgãos de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça adotarão os procedimentos
necessários por ocasião da revelação espontânea da violência. Nesta oportunidade, a criança e o adolescente

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noticiam que foram vítimas ou testemunhas de violência, quando então os profissionais das áreas
mencionadas deverão adotar as providências necessárias para o correto encaminhamento do caso, sob pena
de responderem pela omissão.

Escuta especializada

A escuta especializada tem como finalidade unicamente a entrevista sobre a situação de violência perante
órgão da rede de proteção. Não tem a finalidade de produção de prova.

Depoimento especial

Diferentemente da escuta especializada, o depoimento especial constitui-se em um meio de prova


diferenciado, com característica subsidiária, posto que somente será colhido se não existirem outros meios
para tanto, não sendo admitida nova tomada, salvo quando justificada a imprescindibilidade pela autoridade
competente e houver concordância da vítima ou da testemunha, ou de seu representante legal.

Desse modo, o depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente vítima ou


testemunha de violência perante a autoridade policial ou judiciária (art. 8º, Lei nº 13.431/2017).

O depoimento pessoal será regido por protocolos e, sempre que possível, será realizado uma única vez, em
sede de produção antecipada de prova judicial.

Determina-se que seguirá o rito cautelar de antecipação de provas em duas situações: quando a criança ou
o adolescente tiver menos de sete anos; e, em caso de violência sexual.

Deverá ser ouvido de acordo com o seguinte procedimento:

I - os profissionais especializados esclarecerão a criança ou o adolescente sobre a tomada do


depoimento especial, informando-lhe os seus direitos e os procedimentos a serem adotados e
planejando sua participação, sendo vedada a leitura da denúncia ou de outras peças processuais;
II - é assegurada à criança ou ao adolescente a livre narrativa sobre a situação de violência,
podendo o profissional especializado intervir quando necessário, utilizando técnicas que
permitam a elucidação dos fatos;
III - no curso do processo judicial, o depoimento especial será transmitido em tempo real para a
sala de audiência, preservado o sigilo;
IV - findo o procedimento previsto no item II, o juiz, após consultar o Ministério Público, o
defensor e os assistentes técnicos, avaliará a pertinência de perguntas complementares,
organizadas em bloco;
V - o profissional especializado poderá adaptar as perguntas à linguagem de melhor compreensão
da criança ou do adolescente;
VI - o depoimento especial será gravado em áudio e vídeo.

De toda forma, assegura-se à vítima ou testemunha de violência que seja ouvida diretamente pelo juiz, se
assim entender.

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1.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO

1.10.1 - Não Cumulatividade do IPI

A Constituição Federal também traçou diretrizes que devem ser observadas pela legislação
infraconstitucional na instituição do IPI:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:

§ 3º O imposto previsto no inciso IV:

I - será seletivo, em função da essencialidade do produto;

II - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante
cobrado nas anteriores;

III - não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior.

IV - terá reduzido seu impacto sobre a aquisição de bens de capital pelo contribuinte do imposto,
na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

O inciso II determina que o IPI deve ser não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação
com o montante cobrado nas anteriores.

A não cumulatividade tem como objetivo evitar que as incidências sucessivas nas diversas operações da
cadeia econômica de um produto impliquem em um ônus tributário excessivo, resultante da múltipla
tributação da mesma base econômica. Por meio dela, evita-se a oneração em cascata da produção, que
ocorreria se o IPI pudesse ser cobrado, sem qualquer compensação, nas diversas saídas de produtos
industrializados.9

Assim, por meio da não cumulatividade, o imposto incide em cada etapa da cadeia produtiva, mas o
montante que foi suportado anteriormente pode ser compensado do montante a pagar. O gráfico abaixo
ajuda na compreensão dessa regra:

9
PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário Comentados à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 18. ed. São
Paulo: Saraiva, 2017.

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O fato de a Constituição Federal ter utilizado o verbo cobrar não significa afirmar que o direito ao crédito
pressuponha o adimplemento da obrigação atinente a operação anterior. O adquirente pode se creditar do
IPI destacado na nota fiscal de aquisição independentemente de o vendedor ter ou não realizado o
pagamento do valor do tributo.

Quanto à extensão da regra da não cumulatividade, é importante consignar que não é toda a entrada que
gera direito ao creditamento, mas tão somente aquelas que tenham como objeto embalagens ou matérias
primas e produtos intermediários que integrem o novo produto ou sejam consumidos no processo de
industrialização.

Assim, por exemplo, não gera direito ao creditamento a aquisição de bens integrantes do ativo permanente
da empresa, conforme entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 495 do STJ: A aquisição de bens integrantes do ativo permanente da empresa não gera
direito a creditamento de IPI.

O mesmo ocorre com relação à energia elétrica, aos combustíveis, aos uniformes de funcionários e aos
produtos sanitários10.

Também merece menção o fato de que a sistemática da não cumulatividade é diferente da tributação do
valor agregado. A tributação do valor agregado ocorre quando há a incidência do tributo sobre a diferença
entre o valor de entrada e o valor da saída. No caso da não cumulatividade, a incidência se dá sobre o valor
total da operação de saída, autorizando a legislação que o montante devido possa ser compensado com o
valor cobrado na operação anterior.

Por esse motivo, como regra geral, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal afasta a possibilidade de
creditamento quando a entrada dos insumos não for onerada pelo IPI.

10
REsp 1116552/AL, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/08/2015, DJe 12/08/2015 e
REsp 1263722/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 02/05/2012.

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Essa regra só cede se os insumos, matérias primas ou materiais de embalagens forem provenientes da Zona
Franca de Manaus. Nessa hipótese, a Corte entendeu que é devido o aproveitamento de créditos de IPI, sob
o argumento de que essa interpretação seria mais consentânea com o tratamento dado pela Constituição a
essa região11.

Da mesma forma, embora não haja regra expressa na Constituição nesse sentido – diferentemente do que
ocorre com o ICMS12 – o Supremo Tribunal Federal firmou posição no sentido de que, não havendo cobrança
do IPI na saída, inexiste direito constitucional à manutenção do crédito, dependendo essa circunstância da
existência de autorização legal13.

Atualmente, a lei prevê a manutenção, conforme dispõe o artigo 11 da Lei 9.779/99.

Como o crédito tem natureza escritural, não há, como regra, a incidência da correção monetária sobre esses
valores. No entanto, se o aproveitamento do crédito for obstado por um ato do fisco, o contribuinte faz jus
à correção do valor apurado, conforme entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 411 do STJ:

É devida a correção monetária ao creditamento do IPI quando há oposição ao seu


aproveitamento decorrente de resistência ilegítima do Fisco.

Havia entendimento no sentido de que a regra da não cumulatividade impediria a incidência do IPI nos casos
de importação de bem para uso próprio, sob o fundamento de que a inexistência de uma alienação posterior
impediria o aproveitamento do crédito.

Essa tese, no entanto, foi superada pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 723651:

IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS – IMPORTAÇÃO DE BENS PARA USO PRÓPRIO –


CONSUMIDOR FINAL. Incide, na importação de bens para uso próprio, o Imposto sobre Produtos
Industrializados, sendo neutro o fato de tratar-se de consumidor final.
(RE 723651, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 04/02/2016,

11
Tema 322: Há direito ao creditamento de IPI na entrada de insumos, matéria-prima e material de embalagem adquiridos junto
à Zona Franca de Manaus sob o regime de isenção, considerada a previsão de incentivos regionais constante do art. 43, § 2º, III,
da Constituição Federal, combinada com o comando do art. 40 do ADCT.
12
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da legislação:
b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores;
13
PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário Comentados à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

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PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-164 DIVULG 04-08-2016 PUBLIC 05-
08-2016)

1.11 - DIREITOS PROCESSUAL COLETIVO

1.11.1 - Termo de ajustamento de conduta (TAC).

O termo de ajustamento de conduta ou compromisso de ajustamento de conduta é um instrumento de


atuação extrajudicial, não exclusivo do Ministério Público, mas muito utilizado pela instituição. Tem sua
previsão original no §6º do art. 5º da lei 7.347/85 e possui eficácia de título executivo extrajudicial, podendo
ser ajuizado ou protestado em cartório:

Art. 5º § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de


ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de
título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) (Vide Mensagem de
veto)

O Código de Processo Civil de 2015 também trouxe previsão acerca do termo de ajustamento de conduta na
seara administrativa:

Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras de mediação e
conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito
administrativo, tais como: III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento
de conduta.

Assim, verifica-se que a legitimidade para celebração do TAC é plural conferida aos órgãos públicos
legitimados para a propositura de ação civil pública. De qualquer forma, o instituto tem serventia na defesa
dos interesses e direitos difusos e coletivos, sendo um instrumento de atuação finalística do Ministério
Público, reflexo no art. 129, III, da Constituição Federal. Não está textualmente previsto no referido
dispositivo, mas é uma das decorrências do encerramento do inquérito civil. No âmbito do Ministério
Público, é regulamentado pela resolução 179/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público:

Art. 1º O compromisso de ajustamento de conduta é instrumento de garantia dos direitos e


interesses difusos e coletivos, individuais homogêneos e outros direitos de cuja defesa está
incumbido o Ministério Público, com natureza de negócio jurídico que tem por finalidade a
adequação da conduta às exigências legais e constitucionais, com eficácia de título executivo
extrajudicial a partir da celebração.

No termo de ajustamento de conduta, o Ministério Público age como negociador e encontra seus limites de
atuação no §1º do art. 1º da resolução 179/2017 do CNMP. O membro do Ministério Público não pode, por
ocasião do TAC, abrir mão dos direitos defendidos, pois estes não lhe pertencem, mas sim à sociedade.
Assim:

§ 1º Não sendo o titular dos direitos concretizados no compromisso de ajustamento de conduta,


não pode o órgão do Ministério Público fazer concessões que impliquem renúncia aos direitos

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ou interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, cingindo-se a negociação à


interpretação do direito para o caso concreto, à especificação das obrigações adequadas e
necessárias, em especial o modo, tempo e lugar de cumprimento, bem como à mitigação, à
compensação e à indenização dos danos que não possam ser recuperados.

Por fim, em caso de descumprimento do termo de ajustamento de conduta, como já mencionado, este pode
ser executado em juízo ou ser protestado em cartório, devendo prever obrigações líquidas, certas e exigíveis.

1.11.2 - Princípios do processo coletivo

Primeiramente, é de se observar que o processo coletivo está inserido na ordem jurídica brasileira, devendo
respeitar a Constituição e todos os seus princípios que regem os demais processos judiciais. Assim, os
princípios constitucionais do devido processo legal, contraditório, juiz natural, celeridade, dentre outros,
devem ser, por óbvio, respeitados. Não obstante os princípios constitucionais, pode-se citar alguns
específicos e voltados ao processo coletivo:

Princípio do amplo acesso à justiça, por meio do qual se busca potencializar a distribuição da justiça por
meio da tutela transindividual, facilitando a solução de milhares de causas e trazendo segurança jurídica.

Princípio da economia processual, de modo que uma ação coletiva que busca a solução para várias causas
semelhantes é mais célere e econômica do que várias individuais que buscam o mesmo objeto.

Princípio da indisponibilidade, diz que o autor da ação coletiva não pode abdicar de seu objeto. Este
princípio é flexibilizado pela possibilidade de desistência fundada, prevista na Lei da Ação Civil Pública.

Princípio do interesse (ou primazia) no conhecimento do mérito. Aqui, busca-se o conhecimento e


pronunciamento da questão de mérito.

Princípio do máximo efeito da tutela coletiva, por meio do qual a decisão em processo coletivo não pode
prejudicar, mas somente beneficiar as pessoas. Isto se dá em razão do fato que a legitimação para o ingresso
das ações é extraordinária e independe de qualquer autorização.

Princípio da integratividade, por meio do qual, em razão do microssistema de tutela coletiva, aplica-se a
integração de vários diplomas em prol daquele, como os arts. 19 e 21 da LACP.

Princípio da máxima efetividade do processo coletivo. Decorre dos poderes judiciais para dar azo às
demandas, alinhando-se ao ativismo judicial. Atenção para o art. 84, §5º do CDC.

Princípio da máxima prioridade jurisdicional da tutela coletiva. Por meio deste princípio, evita-se a
proliferação dos processos individuais.

Princípio da prioridade na tramitação. Deve o processo coletivo ter tratamento preferencial sobre as ações
individuais, devido à quantidade de pessoas afetadas por este tipo de relação
processual. Não possui previsão legal. (Rodrigo Picon de Carvalho. Direitos Difusos e Coletivos. 2019)

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Princípio da não taxatividade do processo coletivo. A legislação processual coletiva permite a possibilidade
de impetrar toda e qualquer ação capaz de propiciar a adequada e efetiva tutela da defesa dos direitos
transindividuais. Apesar da impossibilidade de transformação da ação individual em coletiva, dado o veto ao
artigo 333 do CPC, pode-se impetrar ação normalmente individual na modalidade coletiva, visando a devida
proteção dos direitos transindividuais. (Rodrigo Picon de Carvalho. Idem) – Vide. Arts. 83 do CDC e art. 212
do ECA.

1.12 - DIREITO MATERIAL COLETIVO

1.12.1 - Publicidade no Código de Defesa do Consumidor

Primeiramente, deve ser compreendido o conceito de publicidade:

“Atividade desenvolvida no mercado de consumo destinada a apresentar as qualidades e


características de produto ou serviço, a fim de atrair o consumidor à sua aquisição.” (Henrique
da Rosa Ziesemer. Interesses e Direitos Difusos e Coletivos. Juspodivm)

A publicidade pode ser conceituada como sendo qualquer forma de transmissão difusa de dados
e informações com o intuito de motivar a aquisição de produtos ou serviços no mercado de
consumo. (Tartuce & Amorim, Manual de Direito do Consumidor, 2017)

Dentro desse conceito e vinculado à comunicação, a publicidade deve ser facilmente percebida como tal pelo
consumidor (art. 36 do CDC), bem como o ônus de sua veracidade cabe a quem a patrocina (art. 38 do CDC).
Deve a publicidade respeitar os direitos e regras estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor, que
veda toda publicidade enganosa ou abusiva:

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário,


inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir
em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à


violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de
informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

A publicidade enganosa possui um aspecto mais objetivo, voltado ao direito de informação, ao passo que a
publicidade abusiva é mais subjetiva, explorando sentimentos voláteis do consumidor. Há uma terceira
figura, chamada de publicidade enganosa por omissão, que deixa de informar o consumidor sobre dado
essencial do produto o do serviço. O dado essencial é a informação essencial, que pode fazer o consumidor

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mudar sua escolha. Vale dizer, se o consumidor soubesse de “tal coisa” isso poderia fazê-lo adquirir ou
rejeitar um produto ou serviço. Sobreo tema, o STJ assim se pronunciou:

STJ - RECURSO ESPECIAL E AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO COLETIVA. DIREITO DO


CONSUMIDOR. INTERNET. BANDA LARGA. VELOCIDADE. PUBLICIDADE ENGANOSA POR
OMISSÃO. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÕES ESSENCIAIS. EFEITOS DA OMISSÃO. BOA FÉ OBJETIVA E
PROTEÇÃO DA CONFIANÇA LEGÍTIMA. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. ARTS. 4º, III, E
35 DO CDC. REEXAME NECESSÁRIO. ART. 19 DA LEI 4.717/65. SUCUMBÊNCIA. OCORRÊNCIA.
EFEITOS DA SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. EXTENSÃO. ERGA OMNES. 1. Cuida-se de ação coletiva
de consumo, ajuizada pelo recorrente em face da agravante, na qual sustenta que a agravante
pratica publicidade enganosa, pois noticia apenas a velocidade informada como referência da
banda larga, que não é equivalente àquela garantida e efetivamente usufruída pelos
consumidores ao utilizarem o serviço de acesso à internet. 6. No que diz respeito à publicidade
enganosa por omissão, a indução a engano decorre da circunstância de o fornecedor
negligenciar algum dado essencial sobre o produto ou serviço por ele comercializado,
induzindo o consumidor à contratação por meio de erro, por não ter consciência sobre
elemento que, se conhecido, prejudicaria sua vontade em concretizar a transação. (REsp
1540566/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/09/2018, DJe
18/09/2018)

Essas são as formas de publicidade e seu enquadramento legal dado pelo Código de Defesa do Consumidor.

1.12.2 - Federalismo Cooperativo em Matéria Ambiental

Competência legislativa concorrente:

É a regra no Direito Constitucional Ambiental.

Previsão constitucional: art. 24, VI (florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e
dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição), VII (proteção ao patrimônio
histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico) e VIII (responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico)

Divisão de competências concorrentes:

União = normas gerais

Estados e DF =

1. Competência legislativa supletiva ou plena – quando inexistente a lei federal estabelecendo normas
gerais, os Estados e o DF assumem a competência plena. Vide art. 24, §§3º e 4º:

§3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa
plena, para atender a suas peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

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§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no
que lhe for contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

Cuidado para a pegadinha! A superveniência de lei federal não revoga a lei estadual, mas apenas suspende
a sua eficácia.

2. Competência legislativa suplementar - art. 24, §2º, da CR (a competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados) e art. 6º, §1º, da Lei nº 6.938/81 (os
Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e
complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo
CONAMA).

Municípios:

1) competência suplementar - compete aos Municípios suplementar a legislação federal e a estadual no


que couber – art. 30, II, CR e art. 6º, §2º, da Lei nº 6.938/81.
2) assuntos de interesse local (art. 30, I, CR).

A doutrina diverge sobre a natureza da competência legislativa dos Municípios:

• 1ª corrente: não é hipótese de competência concorrente porque não consta expressamente no art.
24;
• 2ª corrente: trata-se de competência concorrente implícita
• 3ª corrente: configura competência exclusiva no art. 30, I, e competência suplementar no art. 30, II
(Romeu Thomé)

Atenção! Apesar da competência suplementar dos Municípios, eles não exercem a competência legislativa
plena na ausência de norma geral da União, uma vez que o art. 24, §3º, se aplica apenas aos Estados.

Hipóteses de conflitos entre leis de diferentes esferas:

O principal critério de repartição de competências ancora-se no princípio da predominância do interesse,


que também deve ser utilizado na verificação da competência em situações concretas de aparente conflito
– ex: interpretação do conceito e alcance de assuntos de interesse local, que atrai a competência do
Município para legislar (art. 30, I, da CRFB).

Assim, na esteira do que preconizou José Afonso da Silva, a competência deverá ser verificada conforme a
amplitude do interesse abordado:

• Interesse nacional = União


• Interesse regional = Estado
• Interesse local = Município

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Ex: regulamentação sobre pesquisa envolvendo OGM – para o STJ, deve ser feita por lei federal, por
interessar a todo o país:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA.


DIREITO AMBIENTAL. PESQUISA CIENTÍFICA COM ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS
(OGMs). SOJA TRANSGÊNICA. INTERDIÇÃO DA UNIDADE DE PESQUISA DA EMBRAPA PELO
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. EXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
INADMISSIBILIDADE. CONTRARIEDADE AO ART. 2º, I E II, DA LEI 5.851/72. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO-COMPROVADO. OFENSA AOS ARTS.
458, II, E 462 DO CPC. NÃO-OCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE (CF/88,
ART. 24, §§ 1º, 2º, 3º E 4º). REGIME JURÍDICO. LEI 8.974/95 (REVOGADA PELA LEI 11.105/05).
DECRETO 1.752/95. LEI ESTADUAL 9.532/91 E DECRETO ESTADUAL 39.314/99. AUTORIZAÇÃO,
FISCALIZAÇÃO E CONTROLE DOS EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS COM OGMs E DERIVADOS.
COMPETÊNCIA. GOVERNO FEDERAL (CTNBio). OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA PREDOMINÂNCIA
DO INTERESSE. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E RELATÓRIO DE IMPACTO AO MEIO
AMBIENTE (EIA/RIMA). EXIGÊNCIA DE CARÁTER NÃO-OBRIGATÓRIO. VIOLAÇÃO DA LEGISLAÇÃO
FEDERAL. DOUTRINA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA PARTE, PARCIALMENTE
PROVIDO. (...). 6. A questão controvertida consiste em saber se a interdição realizada pelo
recorrido, com fundamento na legislação estadual, encontra respaldo no ordenamento jurídico,
considerando-se, especificamente, a disciplina normativa federal à luz do regime da competência
legislativa concorrente previsto na Constituição da República. 7. Constitui competência material
concorrente da União, Estados e Distrito Federal legislar sobre proteção do meio ambiente,
reservando-se ao legislador federal a edição de normas gerais, o que, todavia, não afasta a
competência suplementar dos Estados. A inexistência de lei federal sobre normas gerais autoriza
o exercício da competência legislativa plena pelos Estados e Distrito Federal. Contudo, a
superveniência daquela suspende a eficácia da lei local anterior, naquilo que com ela for
incompatível. 8. Ao tempo do ato de interdição, competia ao Poder Executivo Federal, por meio
da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência e
Tecnologia, autorizar, fiscalizar e controlar os trabalhos de pesquisa científica com OGMs,
incluindo soja transgênica, bem assim emitir o Certificado de Qualidade em Biossegurança (CQB)
e exigir a apresentação do EIA/RIMA quando fosse necessário (Lei 8.974/95, arts. 7º, II, III, IV, VII
e IX, e 10; Decreto 1.752/95, arts. 2º, V, XIV, XV, 11 e 12, parágrafo único). 9. Os estudos de
impacto ambiental, conquanto previstos na CF/88, são exigidos, na forma da lei, nos casos de
significativa degradação ambiental. No sistema normativo infraconstitucional, o EIA e o RIMA não
constituem documentos obrigatórios para realização de experimentos com OGMs e derivados,
salvo quando, sob o ponto de vista técnico do órgão federal responsável (CTNBio), forem
necessários. 10. O Decreto estadual 39.314/99, muito além de extrapolar os limites da Lei
estadual 9.453/91 – pois previu exigência não-contida naquela (apresentação do EIA/RIMA) – e
retroagir para alcançar situação de fato pretérita (trabalho científico em curso), não observou o
disposto na legislação federal vigente desde 1995, contrariando-a. Por conseqüência, resta
caracterizada a violação do direito líqüido e certo da recorrente, consistente em realizar as
pesquisas científicas com soja transgênica em Passo Fundo/RS. 11. A regulamentação das
atividades envolvendo OGMs através de lei federal, que define as regras de caráter geral,
homenageia o princípio da predominância do interesse, na medida em que o controle e a
fiscalização dessas atividades não se limita ao interesse regional deste ou daquele Estado-
membro, mas possui indiscutível alcance nacional. 12. Recurso especial parcialmente conhecido

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e, nessa parte, parcialmente provido para fins de conceder a segurança e anular o ato de
interdição. (STJ - REsp: 592682 RS 2003/0167167-4, Relator: Ministra DENISE ARRUDA, Data de
Julgamento: 06/12/2005, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 06/02/2006 p. 200)

Lembrar! Não há hierarquia entre leis dos diferentes entes da federação (lei federal/estadual/municipal).

Quando surgem dúvidas sobre a distribuição de competências para legislar sobre determinado assunto,
caberá ao intérprete do Direito priorizar o fortalecimento das autonomias locais e o respeito às suas
diversidades como características que assegurem o Estado Federal, garantindo o imprescindível equilíbrio
federativo (STF. ADIN 4.615 CE, acórdão de 20/09/2019).

Ingo SARLET e Tiago FENSTERSEIFER destacam que a existência de conflito legislativo entre normas
provenientes de diferentes entes federativos é inerente ao modelo adotado pela Constituição, de
competências legislativas concorrentes e, sobretudo, de um sistema federativo cooperativo com entes
políticos dotados de autonomia. Nesse contexto, os tribunais brasileiros e, em especial, o STF, exercem papel
fundamental na análise e resolução de tais conflitos legislativos, não se olvidando de que também Juízes e
Tribunais estão vinculados normativamente pelos deveres de proteção estabelecidos, expressa ou
explicitamente pela Constituição, aqui no concernente à proteção do ambiente, nos termos do artigo 225 da
Carta Política brasileira14.

Sobre os limites da competência legislativa da União, no domínio da criação de normas gerais, o Supremo
Tribunal Federal já decidiu:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. LEI MUNICIPAL 4.253/85 DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE.


PREVISÃO DE IMPOSIÇÃO DE MULTA DECORRENTE DA EMISSÃO DE FUMAÇA ACIMA DOS
PADRÕES ACEITOS. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OFENSA À REGRA
CONSTITUCIONAL DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS FEDERATIVAS. INOCORRÊNCIA. NORMA
RECEPCIONADA PELO TEXTO VIGENTE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. Nos casos em que a dúvida sobre a competência legislativa recai sobre norma
que abrange mais de um tema, deve o intérprete acolher interpretação que não tolha a
competência que detêm os entes menores para dispor sobre determinada matéria (presumption
against preemption). 2. Porque o federalismo é um instrumento de descentralização política que
visa realizar direitos fundamentais, se a lei federal ou estadual claramente indicar, de forma
adequada, necessária e razoável, que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de
complementação que detêm os entes menores (clear statement rule), é possível afastar a
presunção de que, no âmbito regional, determinado tema deve ser disciplinado pelo ente menor.
3. Na ausência de norma federal que, de forma nítida (clear statement rule), retire a presunção
de que gozam os entes menores para, nos assuntos de interesse comum e concorrente,
exercerem plenamente sua autonomia, detêm Estados e Municípios, nos seus respectivos

14
SARLET, Ingo e FENSTERSEIFER, Tiago. STF e a solução de conflitos de competências legislativas em matéria ambiental. Disponível
em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-17/direitos-fundamentais-stf-conflitoscompetencia-legislar-materia-ambiental

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âmbitos de atuação, competência normativa. 4. Recurso extraordinário a que se nega


provimento. (RE 194.704, Rel. Min. Edson Fachin, Plenário, julgado em 29/06/2017).

A própria expressão “normas gerais” é indicativa da formação de hipóteses de conflito sobre a competência
legislativa, pois carrega, em si, um conceito jurídico indeterminado, sobre o qual há zonas de absoluta
certeza, de absoluta incerteza e de penumbra (voto do Ministro Relator Marco Aurélio no julgamento da ADI
3.937-7/ SP).

Além do caráter vago e indeterminado dos conceitos de interesse local, regional e nacional, em se tratando
de matéria ambiental, acresce-se a dificuldade de delimitação da abrangência do interesse, em razão da
característica de transnacionalidade dos bens ambientais (princípio da ubiquidade).

Ainda, nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o Estado não pode abdicar de sua
competência legislativa suplementar, de forma que é inconstitucional lei estadual que faça simples
referência à aplicação da legislação federal. Para o STF, em tal situação, a norma estadual fragiliza a
estrutura federativa descentralizada e consagra o monopólio da União, sem atentar para nuances regionais
(STF. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/9/2018 (Info. 914)).

No que se refere à competência municipal, o Município tem competência para legislar sobre meio ambiente,
juntamente com os demais entes federativos, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento
seja harmônico com a disciplina estabelecida na lei estadual e federal (art. 24, VI c.c. art. 30, incisos I e II,
ambos da CR).

A doutrina e a jurisprudência indicam que a Constituição da República estabeleceu verdadeiro condomínio


legislativo entre a União, os Estados e o DF, em razão da competência legislativa concorrente estabelecida
em área ambiental (art. 24). Contudo, há grande controvérsia sobre a definição da competência em relação
ao grau de proteção ao meio ambiente.

Em uma perspectiva tradicional e estática, compreende-se que deve prevalecer o critério da preponderância
do interesse, com base na definição da competência da União em relação às normas gerais. Neste sentido
foi o entendimento adotado pelo STF em relação ao amianto, extraído dos votos proferidos pelos relatores
nas ADIs 2.396-9/MS e 2.656-9/SP, que partiram do pressuposto de que a lei estadual contestada deveria
ser analisada sob a perspectiva da inconstitucionalidade formal, seja por invadir seara reservada
privativamente à competência legislativa da União, seja por extrapolar a competência suplementar dos
Estados em matéria reservada à competência legislativa concorrente.

Veja a ementa da ADI 2.396:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº 2.210/01, DO ESTADO DE MATO GROSSO DO


SUL. OFENSA AOS ARTIGOS 22, I E XII; 25, § 1º; 170, CAPUT , II E IV; 1º; 18 E 5º CAPUT, II E LIV.
INEXISTÊNCIA. AFRONTA À COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE DA UNIÃO PARA EDITAR
NORMAS GERAIS REFERENTES À PRODUÇÃO E CONSUMO, À PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE E
CONTROLE DA POLUIÇÃO E À PROTEÇÃO E DEFESA DA SAÚDE. ARTIGO 24, V, VI E XII E §§ 1º E 2º
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Não cabe a esta Corte dar a última palavra a respeito das
propriedades técnico-científicas do elemento em questão e dos riscos de sua utilização para a
saúde da população. Os estudos nesta seara prosseguem e suas conclusões deverão nortear as

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ações das autoridades sanitárias. Competência do Supremo Tribunal Federal circunscrita à


verificação da ocorrência de contraste inadmissível entre a lei em exame e o parâmetro
constitucional. Sendo possível a este Supremo Tribunal, pelos fatos narrados na inicial, verificar
a ocorrência de agressão a outros dispositivos constitucionais que não os indicados na inicial,
verifica-se que ao determinar a proibição de fabricação, ingresso, comercialização e estocagem
de amianto ou de produtos à base de amianto, destinados à construção civil, o Estado do Mato
Grosso do Sul excedeu a margem de competência concorrente que lhe é assegurada para legislar
sobre produção e consumo (art. 24, V); proteção do meio ambiente e controle da poluição (art.
24, VI); e proteção e defesa da saúde (art. 24, XII). A Lei nº 9.055/95 dispôs extensamente sobre
todos os aspectos que dizem respeito à produção e aproveitamento industrial, transporte e
comercialização do amianto crisotila. A legislação impugnada foge, e muito, do que corresponde
à legislação suplementar, da qual se espera que preencha vazios ou lacunas deixados pela
legislação federal, não que venha a dispor em diametral objeção a esta. Compreensão que o
Supremo Tribunal tem manifestado quando se defronta com hipóteses de competência
legislativa concorrente. Precedentes: ADI 903/MG-MC e ADI 1.980/PR-MC, ambas de relatoria
do eminente Ministro Celso de Mello. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga
parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do artigo 1º e de seus §§ 1º, 2º e
3º, do art. 2º, do art. 3º e §§ 1º e 2º e do parágrafo único do art. 5º, todos da Lei nº 2.210/01, do
Estado do Mato Grosso do Sul. (STF - ADI: 2396 MS, Relator: ELLEN GRACIE, Data de Julgamento:
08/05/2003, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 01-08-2003 PP-00100 EMENT VOL-02117-34
PP-07204)

Em análise crítica do julgado proferido na ADIs 2.396-9/MS, Paulo Affonso Leme Machado argumenta:

A Lei n. 9.055 só não proibiu totalmente o uso do amianto crisotila, como o fez com os outros
tipos. Essa lei deixou o devido espaço que os Estados poderiam completar ou aprimorar. Atente-
se que a função dos Estados, usando de sua competência suplementar, só poderia ser no sentido
de exigir mais proteção da saúde ou melhor defesa do meio ambiente e não menos proteção. A
lei de Mato Grosso do Sul, ao proibir a fabricação e a utilização de produtos tanto à base de
amianto do grupo das serpentinas (crisotila) como do grupo dos anfi bólios, nada mais fez do que
seguir a orientação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Convenção 162 já
mencionada. A lei estadual seguiu a mesma linha da lei federal, mas querendo mais proteção à
saúde proibiu um tipo de amianto que a lei federal interditou só parcialmente. A norma estadual
de Mato Grosso do Sul não incidiu no erro de ser mais ‘permissiva’, como criticou, em outro caso,
o Ministro Sepúlveda Pertence. Ao proibir a variedade do amianto crisotila, o Estado não faz
‘diametral objeção’ à lei da União, como chegou a afi rmar a eminente Ministra [Ellen Gracie, em
seu voto na ADI 2.396-9]. Em nenhum momento pretende-se ofender a lei federal, mas se quer
avançar no mesmo caminho que a lei federal começou e não terminou. O cerne da questão
discutida reside nesse ponto: não tendo a União proibido totalmente o amianto/ crisotila, os
Estados poderiam fazê-lo? [...] Entendo que a resposta deva ser positiva. Os Estados estão agindo
totalmente dentro do seu poder de suplementar. Os Estados poderão adicionar regras que irão
suprir as lacunas da lei federal ou preencher os vazios existentes na lei federal, na parte em que
ela é incompleta. [...] É necessário sublinhar o papel do poder público em reduzir o ‘risco de
doença’, que o referido artigo menciona [art. 196 da CF/1988]. Em havendo meios científi cos,
há uma obrigação constitucional de que não ocorra a doença. A União, na Lei n. 9.055/1995, não
esgotou a possível atuação do poder público na prevenção das doenças que podem ser causadas

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pelo asbesto/amianto. Os Estados têm, portanto, o poder e o dever de agir de forma


suplementar, estabelecendo normas de controle do risco. [...] Suplementar não é desunir.
Suplementar não é somente ornamentar uma norma geral, como se essa competência
representasse uma superfl uidade. Adicionar, completar e aprimorar a norma geral federal faz
parte de um federalismo participativo e cooperativo. O contrário é praticar um federalismo
‘consentido’, em que as autonomias estaduais não são desejadas, mas somente toleradas15.

O referido entendimento encontra respaldo em julgados mais recentes do STF, que passou a considerar uma
perspectiva dinâmica do condomínio legislativo constitucional, que leva em consideração o tema objeto de
regulamentação, em prol da prevalência da norma mais protetiva ao interesse ambiental.

Tal entendimento fundamenta-se no princípio hermenêutico in dubio pro natura, corolário do princípio da
precaução, que orienta no sentido da prevalência da legislação mais protetiva ao meio ambiente. O referido
critério ampara-se, a nível infraconstitucional, no art. 2°, caput, da Lei nº 6.938/81 – PNMA, ao prever o
objetivo de melhoria progressiva da qualidade ambiental.

Neste sentido, a interpretação em conjunto da regra de competência legislativa concorrente com o art. 225
da Constituição da República, considerando a indefinição do que seja norma especial, sustenta a adoção da
diretriz exegética de prevalência da norma ambiental mais estrita para a solução de eventuais conflitos,
quando a noção de norma geral e especial não for suficiente, em atenção ao princípio in dubio pro natura.

De mais a mais, compreende-se que as normas suplementares editadas nos âmbitos estadual e municipal
não podem ser menos protetivas do que as normas gerais editadas pela União, de forma que estas
configuram-se como piso mínimo de tutela ao ambiente.

Além disso, como face inversa do dever de progressividade, o princípio da vedação de retrocesso ambiental
também conforma a atuação do legislador, ao vedar a redução do patamar normativo de proteção
ambiental, podendo ensejar a inconstitucionalidade de eventual norma restritiva ou, no lado oposto,
direcionar a legitimidade de instrumento legislativo – independentemente do ente federativo legislador –
que aumente os padrões normativos de proteção ecológica.

Nas palavras de Ingo Sarlet e Tiago Fensterseifer16:

Tomando por base os argumentos lançados até aqui, o estado e o município devem respeitar o
padrão normativo estabelecido na norma geral e tomar tal standard de proteção ambiental como
piso legal protetivo mínimo, de tal modo que — a prevalecer esse argumento — apenas estaria
autorizado a atuar para além de tal referencial normativo, e não para aquém. Ao legislar de forma

15
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Federalismo, amianto e meio ambiente. Boletim Científico, Brasília, Escola Superior do
Ministério Público da União ESMPU, a. II, n. 9, p. 169-177, out./dez. 2003, p. 175-177.

16
SARLET, Ingo e FENSTERSEIFER, Tiago. STF e a solução de conflitos de competências legislativas em matéria ambiental. Disponível
em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-17/direitos-fundamentais-stf-conflitoscompetencia-legislar-materia-ambiental

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“menos protetiva” em relação ao padrão estabelecido pela norma geral editada pela União, o
legislador estadual ou municipal subverte a sua competência legislativa suplementar e incorre
em prática inconstitucional. A aplicação do princípio (e postulado hermenêutico) da prevalência
da norma mais benéfica à tutela ecológica (e também do princípio “in dubio pro natura”) na
hipótese de conflito normativo existente entre a norma geral federal e a legislação estadual ou
municipal reforça a tese de que no âmbito do dever de proteção ambiental do Estado, no
exercício da sua competência legislativa ambiental, impõem-se tanto o dever de progressiva
melhoria da qualidade ambiental e de sua respectiva proteção, quanto as correlatas noções de
proibição de retrocesso e insuficiência de proteção.

Exceções à competência legislativa concorrente: competência privativa da União para legislar sobre a
exploração econômica de recursos naturais com potencial energético (ex: mineração e hidrelétricas – art.
22, IV, X e XII) – fundamento: são bens e atividades da União – art. 20, IX e art. 177, V.

Lembrar! A competência legislativa privativa pode ser delegada aos Estados mediante lei complementar (art.
22, parágrafo único).

Competência legislativa privativa x competência legislativa exclusiva: a competência exclusiva está prevista
nos §§2º e 3º do art. 25 – hipóteses de competência dos Estados que não admitem delegação:

§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação.

§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,


aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes,
para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse
comum.

Competência legislativa remanescente ou reservada: é a modalidade de competência legislativa dos


Estados que decorre de lacuna, observada a ausência de vedação (explícita ou implícita) – está prevista no
art. 25, §1º (são reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição)

Competência administrativa (ou material) comum:

Trata-se da competência para a prática de atos concretos no cumprimento do dever, a exemplo dos atos
referentes ao poder de polícia, como o licenciamento ambiental e a aplicação de sanções administrativas.

É a regra no Direito Constitucional Ambiental, nos termos do art. 23 da CR:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

(...)

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

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VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e


de saneamento básico;

X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração


social dos setores desfavorecidos;

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de


recursos hídricos e minerais em seus territórios;

A LC nº 140/11, abordada na rodada anterior em relação ao licenciamento ambiental, trouxe as normas de


cooperação entre a União, os Estados, o DF e os Municípios nas ações administrativas decorrentes da
competência administrativa comum, com o objetivo de aclarar as atribuições de cada ente, incentivando a
gestão descentralizada, democrática e eficiente e evitando a sobreposição de atuação entre os entes
federativos (art. 3º, I e III).

As ações de cooperação estão previstas nos arts. 7º, 8º e 9º da LC 140/11, com o reforço da necessidade
articulação entre as políticas ambientais setoriais.

Instrumentos para a cooperação: consórcios públicos, convênios, acordos de cooperação técnica, Comissão
Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão Bipartite do DF, fundos públicos e privados,
delegação de atribuições de um ente federativo a outro (art. 4º da LC nº 140/11).

O conflito entre os entes federativos no exercício da competência administrativa comum:

Assim como a competência legislativa concorrente, a competência material comum enseja diversos conflitos
na definição do âmbito de atuação de cada ente federativo.

Para a solução de tais conflitos, a doutrina e a jurisprudência elencam os critérios da preponderância do


interesse e da colaboração entre os entes da Federação, nos termos do art. 23, parágrafo único (STF, AC
1255, Min Rel. Celso de Mello, j. 22/06/2006 – Informativo 432).

Art. 23 (...)

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
bem-estar em âmbito nacional.

Atente-se que, diferentemente da competência legislativa concorrente, que possui caráter de verticalização,
a competência material comum é marcada pela horizontalidade, de forma que os entes federativos atuam
paralelamente em condições de igualdade. Neste sentido:

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(...) competência comum, é bom que se lembre, difere da competência concorrente. Na primeira
hipótese, a competência de um dos entes federativos não afasta a competência dos demais. Já
na competência concorrente ocorre fenômeno contrário: a competência de um dos entes
federativos exclui a dos demais. Na competência comum, há harmonia e complementação de
atuações; na competência concorrente, há exclusão dos demais entes em favor do único
competente.17

Fundamento da competência comum = conferir maior proteção ao interesse, permitindo a atuação de todos
os entes.

Em relação ao licenciamento ambiental e ao poder de fiscalização, recorde-se do disposto na LC nº 140:

Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso,
de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.

§ 1o Qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente de


empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício
de seu poder de polícia.

§ 2o Nos casos de iminência ou ocorrência de degradação da qualidade ambiental, o ente


federativo que tiver conhecimento do fato deverá determinar medidas para evitá-la, fazer cessá-
la ou mitigá-la, comunicando imediatamente ao órgão competente para as providências
cabíveis.

§ 3o O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da
atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva
ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental
em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a
atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

Exceções à competência material comum: competência material exclusiva da União referente às matérias
de interesse nacional, nos termos do art. 21 da CR:

Art. 21. Compete à União:

(...)

17
Marcelo Dwalibi, Revista de Direito Ambiental, n. 14, p. 99.

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IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de


desenvolvimento econômico e social;

(...)

XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:

(...)

b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água,


em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

(...)

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de


outorga de direitos de seu uso;

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico


e transportes urbanos;

A competência material comum e a estrutura administrativa do SISNAMA:

A estrutura do SISNAMA, implementada de acordo com o art. 23, VI e VII da CR, é formada por:

Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção
e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA, assim estruturado:

I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República


na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os
recursos ambientais;

II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a


finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas
governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua
competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;

III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade
de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as
diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

IV - órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis - IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto
Chico Mendes, com a finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes

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governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as respectivas


competências;

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de


programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a
degradação ambiental;

VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização


dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições;

Atenção! Natureza e competência dos órgãos integrantes do SISNAMA = questão muito cobrada em fase
objetiva dos concursos do Ministério Público Estadual (MPSP/2016, MPMG/2011, MPRR/2012, MPTO/2012,
MPSC/2012, dentre outros).

As competências do CONAMA estão delineadas no art. 8º da Lei nº 6.938/81:

Art. 8º Compete ao CONAMA:

I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de


atividades efetiva ou potencialmente poluídoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado
pelo IBAMA;

II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis
conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais,
estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para
apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou
atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional.

IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de


executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO);

V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais


concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de
participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;

VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por


veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios
competentes;

VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade


do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os
hídricos.

Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o Presidente
do Conama.

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2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 63 questões
distribuídas do seguinte modo:

MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 9
Direito Material Coletivo 6
Direito Processual Coletivo 6
Direito Constitucional 6
Direito Administrativo 6
Legislação Penal Especial 6
Direito Processual Civil 6
Direito Processual Penal 6
Direito Civil 3
Direito da Criança e do Adolescente 3
Direito eleitoral 3
Direito Tributário 3

Vamos lá!

2.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. De acordo com o sentido político que, na obra “Teoria da Constituição”, foi defendido por Carl
Schmitt, a Constituição deve ser entendida como:
a) Lei fundamental do Estado.
b) Norma fundamental hipotética.
c) Fator real de poder.
d) Decisão política fundamental.
e) Fundamento último de validade.

Comentários

A Constituição em sentido político, em conformidade com Carl Schmitt, é definida como produto de uma
decisão política fundamental, ou seja, a vontade manifestada pelo titular do poder constituinte.

Não deve ser olvidado que os conceitos de “norma fundamental hipotética” e de “lei fundamental do
Estado”, que deve servir como fundamento último de validade do ordenamento jurídico, foram
desenvolvidos por Hans Kelsen, na obra “Teoria Pura do Direito”, enquanto que a definição de “fator real de
poder” foi formulado por Ferdinand Lassalle, na obra “O que é uma Constituição?”.

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Em consequência, deve o candidato assinalar a alternativa D.

“Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 6.893, de 28 de janeiro de 1998, do Estado do Mato


Grosso, que criou o Município de Santo Antônio do Leste. Inconstitucionalidade de lei estadual
posterior à EC nº 15/96. Ausência de lei complementar federal prevista no texto constitucional.
Afronta ao disposto no artigo 18, § 4º, da Constituição do Brasil. Omissão do Poder Legislativo.
Existência de fato. Situação consolidada. Princípio da segurança da jurídica. Situação de exceção,
estado de exceção. A exceção não se subtrai à norma, mas esta, suspendendo-se, dá lugar à
exceção – apenas assim ela se constitui como regra, mantendo-se em relação com a exceção (...).
No caso do Município de Santo Antônio do Leste – que existe, de fato, como ente federativo
dotado de autonomia municipal, a partir de uma decisão política fundamental – estamos diante
de uma situação excepcional não prevista pelo direito positivo, porém instalada pela força
normativa dos fatos. A essa força é que Carl Schmitt faz alusão ao apontar o fato de, no princípio
de dezembro de 1949, o representante inglês na ONU ter declarado, em relação ao
reconhecimento do novo governo comunista da China, que um reconhecimento jurídico
internacional não há de apoiar-se senão na realidade fática. No caso que ora apreciamos importa
simplesmente termos consciência da inescondível realidade fática do Município de Santo
Antônio do Leste. Ao seu reconhecimento como ente federativo dotado de autonomia basta a
realidade fática” (STF, ADI nº 3.316, Rel. Min. Eros Grau, J. 09.05.2007, DJU 29.06.2007).

Questão 2. Na Constituição, os direitos, garantias e remédios constitucionais estão previstos na:


a) Parte flexível.
b) Parte dogmática.
c) Maior parte.
d) Parte orgânica.
e) Parte não-escrita.

Comentários

Quanto à sistematização da Constituição, o texto constitucional, antecedido pelo Preâmbulo, sucedido pelo
Ato das Disposições Transitórias, é composto por uma parte orgânica – imanente à “Teoria do Estado” – e
outra parte dogmática – inerente à “Teoria dos Direitos Fundamentais”.

Portanto, na Constituição, os direitos, garantias e remédios constitucionais estão previstos na parte


dogmática a que se refere a alternativa B.

“Ação cível originária. Direito Constitucional Financeiro. Percentual mínimo constitucional de


gastos públicos com ações e serviços de saúde. Estado de Pernambuco. Exercício financeiro
específico. Arts. 198, § 3º, da parte dogmática, e 77, II, do ADCT, todos do texto constitucional.
Sistema Único de Saúde – SUS. Lei nº 8.080/1990. Resolução nº 322/2003 do Conselho Nacional
de Saúde. Portaria nº 2.047/2002 do Ministério da Saúde. Adicional de ICMS que lastreia o Fundo
Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza – FECEP. Dívida ativa de impostos próprios, multa
e juros de mora. Assistência hospitalar e ambulatorial a servidores públicos. Atendimento a
beneficiários de instituo de recursos humanos. Transferências ao fundo financeiro de

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aposentadoria e pensões de servidores (FUNAFIN) relativas ao funcionalismo vocacionado à


saúde pública. Envio de informações ao Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em
Saúde – SIOPS. O Ministério Público é legitimado processual para demandas que visam fiscalizar
a realização da garantia de financiamento de gastos públicos com saúde e educação, por refletir
escolha constitucional fundamental que se enquadra no mister ministerial de defesa da ordem
jurídica e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Ademais, o controle da elaboração e
da execução do orçamento público é matéria indispensável em um Estado Democrático de
Direito, haja vista que se trata de uma condição de possibilidade para a fruição empírica de todos
os demais direitos fundamentais. Arts. 127 e 129, II e III, da Constituição da República (...). Ação
cível originária parcialmente conhecida a que se dá parcial procedência” (STF, ACO nº 1.224, Rel.
Min. Edson Fachin, J. 20.09.2018, DJU 05.10.2018).

Questão 3. O elemento de estabilização constitucional diz respeito a:


a) Divisão do poder político.
b) Afirmação de direitos fundamentais.
c) Solução de conflitos constitucionais.
d) Intervenção na ordem social.
e) Forma de aplicação da Constituição.

Comentários

Os elementos de estabilização constitucional são exteriorizados nas normas constitucionais que prescrevem
os meios de proteção das próprias regras e princípios constitucionais, como, por exemplo, as normas
veiculadas pelo art. 102, inc. I, “a”, initio (ação direta de inconstitucionalidade), art. 102, inc. I, “a”, in fine
(ação declaratória de constitucionalidade), art. 103, § 2o (ação direta de inconstitucionalidade por omissão),
art. 36, inc. III, initio (ação direta de inconstitucionalidade interventiva), art. 102, § 1 o (arguição de
descumprimento de preceito fundamental) e, bem assim, art. 136 (estado de defesa) e arts. 137 a 139
(estado de sítio), todos da Constituição da República.

Destarte, em concordância com a alternativa C, os elementos de estabilização constitucional dizem respeito


a solução de conflitos constitucionais.

“Intervenção federal no Estado da Bahia. Alegado desrespeito à forma republicana e aos direitos
da pessoa humana. Ilegitimidade ativa dos requerentes. Intervenção federal à qual se nega
seguimento (...). A intervenção federal, na realidade, configura expressivo elemento de
estabilização da ordem normativa plasmada na Constituição da República. É-lhe inerente a
condição de instrumento de defesa dos postulados sobre os quais se estrutura, em nosso País, a
ordem republicano-federativa. Cabe destacar , neste ponto, o magistério doutrinário, que,
fundado na necessidade de respeito ao princípio federativo, adverte sobre a excepcionalidade
da intervenção federal, em face do caráter extremamente perturbador que assume qualquer
interferência do Governo Federal nos assuntos regionais e na esfera de autonomia dos Estados-
membros” (STF, IF nº 5.196, Rel. Min. Cármen Lúcia, J. 08.08.2017, DJU 14.08.2017).

Questão 4. A Constituição que, em parte, pode ser modificada por processo legislativo ordinário é:

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a) Escrita.
b) Semirrígida.
c) Dogmática.
d) Liberal.
e) Analítica.

Comentários

A Constituição, quanto à estabilidade, é classificada em Constituição rígida, Constituição flexível e


Constituição semirrígida.

A primeira é a modificável por processo de reforma constitucional, em consequência do exercício do poder


constituinte derivado reformador, tal como as Constituições brasileira e italiana em vigor.
A segunda é a mudável por processo legislativo ordinário, em decorrência do exercício do poder constituído,
tal como a Constituição italiana de 1848.

A terceira possui uma parte rígida, modificável por processo de reforma constitucional, e outra parte flexível,
mudável por processo legislativo ordinário, tal como a Constituição brasileira de 1824.

Portanto, nesta questão objetiva, deveria ser assinalada a alternativa B.

“Processo Constitucional. Mandado de Injunção. Separação de Poderes. Forças Armadas e Poder


Moderador. Art. 142, CF (...). O Poder Moderador só existiu na Constituição do Império de 1824
e restou superado com o advento da Constituição Republicana de 1891. Na prática, era um
resquício do absolutismo, dando ao Imperador uma posição hegemônica dentro do arranjo
institucional vigente. Nas democracias não há tutores (...). Por todo o exposto, com base no art.
21, § 1º, do RISTF, nego seguimento ao presente mandado de injunção. Não há dúvida acerca do
alcance do art. 142 da Constituição, ou omissão sobre o nobre papel das Forças Armadas na
ordem constitucional brasileira” (STF, MI nº 7.311, Rel. Min. Roberto Barroso, J. 10.06.2020, DJU
15.06.2020).

Questão 5. Em consonância com a obra “O Novo Constitucionalismo Latinoamericano”, de Rubén Dalmau,


a Constituição cesarista é:
a) Constituída derivadamente pelo órgão parlamentar, tendo por instrumento a emenda de reforma ou de
revisão.
b) Formada por meio de plebiscito popular sobre um projeto já elaborado.
c) Imposta, sem participação popular, por quem não recebeu poder para tanto.
d) Formada por trabalhos de uma Assembleia Constituinte eleita para tanto.
e) Constituída por um compromisso instável de duas forças políticas rivais e, se converte, mais adiante, numa
estipulação unilateral camuflada.

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Comentários

O “novo constitucionalismo latino-americano” sobre o qual versa Rubén Martínez Dalmau foi desenvolvido
sobre a Constituição do Equador que, a exemplo da Constituição do Estado Pluranacional da Bolívia e
Constituição da República Bolivariana da Venezuela, consideradas como Constituições bonapartistas ou
cesaristas, submeteu o texto constitucional que havia sido promulgado à consulta popular.

Tendo em vista que a Constituição cesarista ou bonapartista é formada, então, por meio de plebiscito
popular sobre um projeto já elaborado, deve o candidato assinalar a alternativa B.

“Ação direta de inconstitucionalidade. Estado do Maranhão. Lei Complementar nº 10/91.


Disciplina da criação de Municípios. Alegada ofensa ao art. 18, par. 4., da Constituição Federal.
Princípio da reserva de plenário. Medida liminar deferida em parte. A consulta plebiscitária, no
processo de institucionalização dos Municípios, deve preceder – enquanto instrumento de
participação popular na formação das decisões estatais – o pronunciamento do ‘plenário’ da
Assembleia Legislativa, consoante ‘impõe’ o art. 18, par. 4., da Constituição Federal” (STF, ADI nº
652, Rel. Min. Celso de Mello, J. 18.12.1991, DJU 02.04.1993).

Questão 6. O Procurador-Geral da República ajuizou, perante o STF, ação de descumprimento de dever


fundamental (ADPF) contra a lei municipal X, em razão da violação a preceito da Constituição Federal. Logo
após a Câmara dos Vereadores tomar ciência da referida ação, o Legislativo municipal aprovou a lei W,
que revogou integralmente a lei municipal X.
Diante desse cenário, assinale a alternativa correta.
a) A atuação do PGR foi indevida, uma vez que deveria ter ajuizado ação direta de inconstitucionalidade
perante o STF, em atenção ao princípio da subsidiariedade.
b) A revogação da lei municipal X não acarreta a extinção da ADPF por perda superveniente do objeto.
c) Para ajuizar ações de controle concentrado de constitucionalidade o PGR deve demonstrar pertinência
temática.
d) O PGR não possui legitimidade para ajuizar ADPF contra lei municipal perante o STF, tendo em vista que
se trata de atribuição do procurador geral de justiça.
e) Caso julgada procedente, a decisão produzirá efeitos ex nunc.

Comentários

A alternativa A está incorreta, tendo em vista que a ADI apenas poderá ter como objeto leis ou atos
normativos federais ou estaduais. Por sua vez, a ADPF possui caráter subsidiário, de modo que diante da
inexistência de outro instrumento de controle abstrato eficaz para sanar a lesividade, será possível seu
ajuizamento. Desse modo, é cabível a ADPF para impugnar lei municipal. Nesse sentido, o art. 1º, p.ú., I, da
Lei n. 9.882/99: “Art. 1º A argüição prevista no §1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante
o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de
ato do Poder Público. Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento de preceito
fundamental: I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato
normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição;”.

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A alternativa B está correta, nos termos da tese firmada no informativo 939 do STF: “A ação de
descumprimento de dever fundamental não carece de interesse de agir em razão da revogação da norma
objeto de controle, ante a necessidade de fixar o regime aplicável às relações jurídicas estabelecidas
durante a vigência da lei, bem como no que diz respeito às leis de idêntico teor aprovadas em outros
Municípios. Trata-se da solução mais consentânea com o princípio da eficiência processual e o imperativo
aproveitamento dos atos já praticados de maneira socialmente proveitosa.”

A alternativa C é a assertiva incorreta. Conforme a jurisprudência do STF, o PGR faz parte do grupo dos
legitimados ativos universais, isto é, não precisa demonstrar pertinência temática. Fazem parte desse grupo:
o Presidente da República, as mesas da Câmara do Deputados e do Senado Federal, o PGR, o Conselho
Federal da OAB e os partidos políticos com representação no Congresso Nacional.

A alternativa D está incorreta, uma vez que a legitimidade para o ajuizamento da ADPF é igual às demais
ações de controle concentrado de constitucionalidade. Portanto, o PGR possui legitimidade ativa para o seu
ajuizamento (art. 2º, I, da Lei 9.882/99).

A alternativa E também está incorreta, visto que a decisão de mérito na ADPF, assim como nas demais ações
de controle concentrado, produz efeitos temporais retrospectivos (ex tunc), ressalvado o caso de modulação
dos efeitos da decisão por dois terços do Tribunal.

Gabarito: letra B.

2.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. São órgãos de direção, controle e comando, mas sujeitos à subordinação e ao controle
hierárquico de uma chefia; não possuem autonomia financeira e administrativa, possuindo apenas
autonomia técnica.
O conceito acima se refere a qual órgão público?
a) Superiores
b) Subalternos
c) Autônomos
d) Independentes
e) Centrais

Comentários

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Quanto à Posição Estatal18

• Órgãos Independentes

São aqueles originários da Constituição e representativos dos três Poderes do Estado, sem qualquer
subordinação hierárquica ou funcional, e sujeitos apenas aos controles constitucionais de um sobre o outro.

Estão nessa classificação as Casas Legislativas, a Chefia do Executivo e os Tribunais. Hoje, a doutrina mais
moderna classifica o Ministério Público e o Tribunal de Contas como órgãos independentes. 19

• Órgãos Autônomos

São os órgãos de cúpula da Administração, subordinados diretamente À chefia dos órgãos independentes;
possuem autonomia administrativa, financeira e técnica. Observe, contudo, que não exercem suas
atribuições de forma independente, de maneira que estão subordinados aos órgãos independentes.

Estão nessa classificação os Ministérios e as Secretarias de Estado.

• Órgãos Superiores

São órgãos de direção, controle e comando, mas sujeitos à subordinação e ao controle hierárquico de uma
chefia; não possuem autonomia financeira e administrativa, possuindo apenas autonomia técnica.

Estão nessa classificação os departamentos, coordenadorias, gabinetes, procuradorias.

• Órgãos Subalternos

São aqueles órgãos de mera execução, como, por exemplo, as seções de material, de portaria, zeladoria.

Gabarito: A

Questão 2. Em relação ao Estatuto Jurídico das Empresas Públicas, das Sociedades de Economia Mista e
suas subsidiárias,

18
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25ª ed São Paulo: Atlas, 2012., p. 578.

19
ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 24. Ed. rev. atual. São
Paulo: Método, 2016. P. 119.

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a) a sociedade de economia mista poderá solucionar, mediante arbitragem, as divergências entre acionistas
e a sociedade, ou entre acionistas controladores e acionistas minoritários, nos termos previstos em seu
estatuto social.
b) a exploração de atividade econômica pelo Estado será exercida por meio de empresa pública, de sociedade
de economia mista e por meio de cooperativas.
c) a constituição de empresa pública ou de sociedade de economia mista não depende de autorização legal
prévia, pois o fato caracterizaria afronta aos princípios da livre iniciativa e do interesse social.
d) sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito público, com
criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em
sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a entidade da administração indireta.
e) a sociedade de economia mista e as empresas públicas constituir-se-ão sob a forma de sociedades por
responsabilidade limitada, a elas se aplicando subsidiariamente as normas do Código Civil.

Comentários

Letra A – Correto – De acordo com o art. 12, parágrafo único, da Lei 13.303/16, A sociedade de economia
mista poderá solucionar, mediante arbitragem, as divergências entre acionistas e a sociedade, ou entre
acionistas controladores e acionistas minoritários, nos termos previstos em seu estatuto social.

Letra B – Errada – Nos termos do Art. 2º A exploração de atividade econômica pelo Estado será exercida por
meio de empresa pública, de sociedade de economia mista e de suas subsidiárias.

Letra C – Errada – De acordo com o art. 2º, § 1º A constituição de empresa pública ou de sociedade de
economia mista dependerá de prévia autorização legal que indique, de forma clara, relevante interesse
coletivo ou imperativo de segurança nacional, nos termos do caput do art. 173 da Constituição Federal.

Letra D – Errada – Nos termos do Art. 4º Sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade
jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações
com direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a
entidade da administração indireta.

Letra E – Errada – A Sociedade de Economia Mista necessariamente será uma sociedade anônima.

Gabarito: A

Questão 3. Considerando a doutrina e o entendimento jurisprudencial dos tribunais superiores acerca do


regime jurídico-administrativo e do princípio constitucional da legalidade na administração pública,
assinale a opção correta.
a) O princípio da legalidade veda à administração a prática de atos inominados, embora estes sejam
permitidos aos particulares.
b) Em virtude do princípio da reserva legal, a administração pública deve fazer o que está prescrito em lei e
abster-se de atuar quando a lei proibir.

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c) A utilização de prova emprestada nos processos administrativos disciplinares ofende o princípio da


legalidade.
d) Apesar de estar submetida à legalidade estrita, a administração pública poderá interpretar normas de
maneira extensiva ou restritiva com relação aos direitos dos particulares quando não existir conteúdo legal
expresso.
e) Aplica-se a teoria do fato consumado no caso de remoção de servidor público para acompanhar cônjuge
em virtude de decisão judicial liminar, ainda que a remoção não se ajuste à legalidade estrita.

Comentários

Letra A – Correta - Pelo princípio da legalidade, a Administração só poderá realizar os atos que possuem
previsão legal. Ato “nominado” é aquele ato que possui previsão em lei, estando apto a alcançar
determinado fim. É vedado à Administração praticar atos inominados, isto é, atos sem previsão em lei. Por
outro lado, ao particular, é possibilitado fazer tudo o que a lei não proíbe.

Letra B – Errada – O princípio da reserva legal não se confunde com o princípio da legalidade. Por este, a
atuação administrativa deve pautar-se na lei em sentido amplo, abrangendo qualquer tipo de norma, desde
a Constituição Federal até os atos administrativos normativos. De outro modo, a reserva legal significa que
determinadas matérias devem ser regulamentadas necessariamente por lei formal.

Letra C – Errada - SÚMULA N. 591: É permitida a prova emprestada no processo administrativo disciplinar,
desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.
Primeira Seção, aprovada em 13/9/2017, DJe 18/9/2017. STJ, Inf.610.

Letra D – Errada - A atuação da Administração Pública é cingida ao princípio da legalidade estrita, devendo
obediência aos preceitos legais, sendo lhe defeso proceder interpretação extensiva ou restritiva, onde a lei
assim não o determinar.

Letra E - Errada - A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor
público destinada a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita, ainda
que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não confirmada por ocasião
do julgamento de mérito.

Gabarito: A

Questão 4. Marque a assertiva incorreta:


a) O exercício da autotutela administrativa, para o desfazimento do ato administrativo que produza efeitos
concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à prévia intimação e oportunidade de
contraditório aos beneficiários do ato.
b) A conduta de apresentação de documentos falsos ou adulterados por pessoa jurídica em processo
licitatório configura o ato lesivo previsto no art. 5º, IV, “d”, da Lei n. 12.846/2013, independentemente de
essa sagrar-se vencedora no certame ou ter a continuidade da sua participação obstada nesse.

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c) Viola a legalidade o regulamento interno de licitações e contratos editado por empresa estatal de qualquer
ente da federação que estabelece prazo inferior ao previsto no artigo 83, § 2º, da Lei Federal nº 13.303/2016,
referente à apresentação de defesa prévia no âmbito de processo administrativo sancionador.
d) A Lei n. 10.520/2002 define o bem ou serviço comum baseada em critérios eminentemente
mercadológicos, de modo que a complexidade técnica ou a natureza intelectual do bem ou serviço não
impede a aplicação do pregão se o mercado possui definições usualmente praticadas em relação ao objeto
da licitação.
e) A avaliação do bem expropriado deve levar em conta as condições mercadológicas existentes à época do
efetivo pagamento da indenização.

Comentários

Letra A – Correta – Trata-se do Enunciado 20 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF.

Letra B – Correta – Trata-se do Enunciado 21 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF.

Letra C – Correta – Trata-se do Enunciado 24 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF.

Letra D – Correta – Trata-se do Enunciado 26 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF.

Letra E – Incorreta – Trata-se do Enunciado 31 da I Jornada de Direito Administrativo realizada pelo CJF. Por
ele, A avaliação do bem expropriado deve levar em conta as condições mercadológicas existentes à época
da efetiva perda da posse do bem.

Gabarito: E

Questão 5. De acordo com os recentes posicionamentos do Supremo Tribunal Federal e do Superior


Tribunal de Justiça, marque a assertiva incorreta:
a) O Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos
em concurso público organizado por pessoa jurídica de direito, quando os exames são cancelados por indícios
de fraude
b) Os servidores temporários fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do terço
constitucional, como regra.
c) Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de
concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou
ação penal.
d) Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do comércio de
fogos de artifício, é necessário que exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá
quando for concedida a licença para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento
do poder público eventuais irregularidades praticadas pelo particular.

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e) Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão
sujeitos ao prazo de 5 anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.

Comentários

Letra A – Correta – Trata-se do entendimento firmado pelo STF no RECURSO EXTRAORDINÁRIO 662.405
ALAGOAS.

O cancelamento de provas de concurso público em virtude de indícios de fraude gera a responsabilidade


direta da entidade privada organizadora do certame de restituir aos candidatos as despesas com taxa de
inscrição e deslocamento para cidades diversas daquelas em que mantenham domicílio. Ao Estado, cabe
somente a responsabilidade

subsidiária, no caso de a instituição organizadora do certame se tornar insolvente.

Letra B – Incorreta – O STF decidiu que servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e
férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo expressa previsão legal e/ou contratual em
sentido contrário, ou comprovado desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública,
em razão de sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações.

Letra C – Correta – Trata-se de tese de Repercussão Geral fixada pelo STF no RE 560900.

Letra D – Correta - Trata-se de tese de Repercussão Geral fixada pelo STF no RE 136861.

Letra E – Correta - Trata-se de tese de Repercussão Geral fixada pelo STF no RE 636553.

Gabarito: B

Questão 6. Suponha que o Estado X pretenda implementar um programa intensivo de recuperação de


rodovias, cogitando a cobrança de tarifa dos usuários. Todavia, concluídos os estudos de viabilidade
econômico-financeira, ficou claro que a tarifa necessária para fazer frente aos investimentos de
recuperação e despesas de manutenção e operação em algumas rodovias seria consideravelmente
elevada. Tendo em vista os princípios aplicáveis à prestação de serviços públicos, bem como a legislação
aplicável a contratos administrativos, o Estado
a) poderá subsidiar a tarifa, mediante o pagamento de contraprestação pecuniária ao particular contratado
para o objeto em questão, se o contrato for firmado sob a modalidade concessão patrocinada.
b) está impedido, caso decida transferir à iniciativa privada a exploração da rodovia, de complementar o
valor auferido pelo concessionário com a cobrança de tarifa, qualquer que seja a modalidade contratual
adotada.
c) está impedido de cobrar tarifa dos usuários caso decida manter as rodovias sob gestão pública, somente
sendo admitida tal cobrança se optar pela concessão à iniciativa privada.

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d) poderá efetuar, previamente à concessão das rodovias à iniciativa privada, todos os investimentos
necessários, assegurando ao concessionário remuneração fixa durante o prazo da concessão, sob a
modalidade comum.
e) poderá celebrar parceria público-privada, na modalidade concessão administrativa, cobrando dos usuários
apenas a tarifa necessária à manutenção da rodovia e efetuando pagamento ao parceiro privado do valor
correspondente aos investimentos.

Comentários

A resposta está no art. 2º, §1º, da Lei nº 11.079/04.

ARTIGO 2º Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada


ou administrativa.

§ 1º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei nº
8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários
contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.

Gabarito: A

2.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Com base nas disposições concernentes às fundações e às associações, somente não se pode
afirmar que:
a) Estabelecida a finalidade da fundação, é vedada sua alteração, ainda que pela totalidade dos
administradores, razão pela qual, acaso se torne ilícita, impossível ou inútil, o Ministério Público ou qualquer
interessado promoverá a extinção da pessoa jurídica, com a incorporação de seu patrimônio em outra
fundação, designada em juízo, com fim igual ou semelhante, salvo disposição em contrário no ato
constitutivo ou estatuto.
b) Caberá ao Ministério Público a elaboração do estatuto da fundação, quando esta incumbência não for
cumprida por aqueles a quem cometer a aplicação do patrimônio no prazo assinado pelo instituidor, ou em
cento e oitenta dias, na ausência de estipulação de prazo.
c) Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá a forma de gestão administrativa, porém, em se
tratando de fundações, o instituidor somente a declarará se for da sua vontade.
d) Constituem-se as associações pela união de pessoas (universitas personarum) que se organizem para fins
não econômicos, isto é, dos quais não resulte lucro, ao passo que as fundações são constituídas por um
conjunto de bens destinados a uma finalidade específica (universitas bonorum).
e) Caso a alteração do estatuto de uma fundação seja aprovada por apenas dois terços dos competentes
para sua gerência e representação, far-se-á necessário requerimento, quando da submissão do estatuto ao
órgão do Ministério Público, de concessão de vista à terça parte vencida, para impugná-la, se quiser, em 10
(dez) dias.

Comentários

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A alternativa A é verdadeira, pois a finalidade de uma fundação é indicada pelo instituidor no ato da
constituição, por escritura pública ou testamento, e dela não se pode desviar, o que implica a impossibilidade
de sua alteração, mesmo que pela totalidade dos administradores. É por essa razão que, caso a finalidade
venha a perecer, a fundação deve ser extinta. Nesse sentido, dispõe o artigo 69 do Código Civil: “Tornando-
se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão
do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu
patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada
pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante”.

A alternativa B é verdadeira, porque a regra concebida pelo artigo 65 do Código Civil é que “aqueles a quem
o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo
com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da
autoridade competente, com recurso ao juiz”. No entanto, “se o estatuto não for elaborado no prazo
assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao
Ministério Público”, na forma do parágrafo único do mesmo dispositivo legal.

A alternativa C é verdadeira, porque, de modo diverso da obrigatoriedade estabelecida pelo legislador de se


conter no estatuto da associação a forma de gestão administrativa (art. 54, VII, do CC), sob pena de nulidade,
impera, no caso das fundações, a faculdade do instituidor, no momento de sua constituição, em declarar a
maneira de administrá-las, conforme artigo 62, “caput”, do mesmo diploma legal.

A alternativa D é falsa, porque o fato de as associações serem constituídas pela união de pessoas que se
organizam para fins não econômicos não significa dizer que tais corporações não possuem lucro, mas sim
que ele não será dividido entre seus associados, uma vez que esse não representa o fim por elas almejado –
haverá a reaplicação do excedente (lucro) na própria atividade da pessoa jurídica.

A alternativa E é verdadeira, porque preceitua o artigo 68 do Código Civil que, quando a alteração do estatuto
não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto
ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser,
em dez dias. Sendo assim, na hipótese de a reforma ser aprovada apenas pelo quórum de dois terceiros, será
necessário requerimento de concessão de ciência à terça parte vencida para eventual impugnação.

Questão 2. Sobre a teoria da norma insculpida na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,
assinale a alternativa correta:
a) A regra de que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga
nem modifica a lei anterior, consagra o sistema da obrigatoriedade simultânea, porquanto autoriza a
existência concomitante de leis sobre mesma matéria, sem prejuízo da força obrigatória oriunda de cada
uma delas.
b) A publicação nova de texto de lei, para fins de correção, nos casos em que essa ainda não houver entrado
em vigor, implica o recomeço do período da vacatio legis tão somente em relação ao conteúdo retificado.
c) Reputa-se direito adquirido o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou e, portanto,
não mais passível de restrição ou atenuação pela vigência de lei nova.
d) Em virtude da vedação ao fenômeno da repristinação, não pode a lei revogada, ainda que por expressa
previsão legal, ser restaurada após a lei revogadora perder a sua vigência, cabendo necessariamente ao
legislador a edição de novo diploma legal.

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e) O erro de direito, mesmo que substancial à realização do negócio jurídico, não possui o condão de anulá-
lo, pois o princípio da obrigatoriedade das leis exprime que ninguém pode se escusar de cumpri-las, alegando
que não as conhece.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque o sistema da obrigatoriedade simultânea representa que, salvo disposição
contrária, a lei começa a vigorar, isto é, a se revestir de força obrigatória, em todo o país, 45 dias depois de
oficialmente publicada. É dizer, estabelece-se um período comum de vacatio legis a todo o país, não
diferenciando a vigência da lei por regiões, conforme intelecção do artigo 1º, “caput”, da LINDB. Esse sistema
não se confunde com a regra de que a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior, contida no artigo 2º, §2º, da mesma lei.

A alternativa B é falsa, porque se consideram adquiridos os direitos que o seu titular, ou alguém por ele,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida
inalterável, a arbítrio de outrem, nos moldes do artigo 6º, §2º, da LINDB. Em outras palavras, direito
adquirido é aquele que se incorporou ao patrimônio do titular. A concepção apresentada na alternativa
refere-se, na verdade, ao ato jurídico perfeito, entendido como aquele já aperfeiçoado, a exemplo de um
negócio jurídico de compra e venda celebrado na vigência de lei anterior.

A alternativa C é verdadeira, pois dispõe o artigo 1º, § 3º, da LINDB, que se, antes de entrar a lei em vigor,
ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo da vacatio legis começará a correr da
nova publicação. Isto significa que, tratando-se de mera correção de erros materiais ou de falhas ortográficas
de lei ainda não vigente, bastará sua republicação, sem necessidade de elaboração de um novo diploma
legal. Neste caso, somente a parte retificada submeter-se-á a um novo período de vacatio. Se, porém, a lei
já estiver vigorando, as eventuais correções do texto serão consideradas lei nova (art. 1º, §4º, da LINDB).

A alternativa D é falsa, porque o que é vedado pelo ordenamento jurídico é a repristinação tácita, ou seja,
que uma lei seja automaticamente restaurada por ter a lei que a revogou perdido a vigência, o que não obsta
a possibilidade de sua restauração por vontade legislativa, expressamente declarada, no momento da
revogação da lei revogadora.

A alternativa E é falsa, porque, excepcionalmente, comporta o ordenamento jurídico a alegação de erro de


direito, de modo a relativizar o princípio da obrigatoriedade das leis, pelo qual ninguém se escusa de cumpri-
las, alegando que não as conhece (art. 3º da LINDB). É o exemplo do erro (de direito), defeito do negócio
jurídico apto a anulá-lo, desde que substancial à sua realização (art. 138 do Código Civil).

Questão 3. A respeito das diversas formas de extinção das obrigações, marque a alternativa correta:
a) A novação subjetiva passiva pode ocorrer por indicação feita pelo devedor – com o seu consentimento,
portanto – de terceiro a substitui-lo, isto é, por delegação, ou por expromissão, independentemente do seu
consentimento, malgrado somente esta modalidade possua previsão legal.
b) Ao fiador não é permitido compensar a sua própria dívida com a de seu credor ao afiançado, haja vista
que, quanto ao débito objeto desta última relação jurídica, existe apenas a sua responsabilidade, não sendo
ele propriamente o titular, o que desnatura o instituto da compensação.

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c) A dação em pagamento, enquanto modalidade de adimplemento da obrigação com prestação diversa da


devida, não se confunde com a novação real ou objetiva, porquanto extingue os elementos acessórios do
vínculo obrigacional sempre que inexistente disposição em contrário.
d) O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que
pagar e se sub-roga nos direitos do credor, mas se o fizer antes do vencimento, somente terá direito ao
reembolso quando este ocorrer.
e) A remissão concedida a um dos codevedores, se aceita, o exime do pagamento e não aproveita aos demais,
aos quais, salvo disposição em contrário, subsistirá a solidariedade e a obrigação pela totalidade da dívida.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porquanto retrata as duas espécies de novação subjetiva passiva: a novação
subjetiva passiva por expromissão, prevista no artigo 362 do Código Civil e segundo a qual a novação por
substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste, e a novação
subjetiva passiva por delegação, hipótese em que se altera o devedor da obrigação com a concordância do
originário, ao qual incumbe indicar o terceiro que o substituirá. A novação subjetiva passiva por delegação
não possui previsão legal.

A alternativa B é falsa, porque preceitua o artigo 371 do Código Civil que “o devedor somente pode
compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor
ao afiançado”, muito embora possua ele tão somente a responsabilidade (haftung) por este débito.

A alternativa C é falsa, porque, de modo contrário ao disposto, a dação em pagamento não gera a extinção
dos acessórios, ao passo que a novação objetiva ou real, forma de pagamento indireto por substituição da
dívida, ocasiona a extinção de todos os acessórios, conforme o artigo 364 do Código Civil.

A alternativa D é falsa, porque o terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem
direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor, isto é, a ele não são
transferidos todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor primitivo, em relação à dívida, com
fulcro no artigo 305 do Código Civil.

A alternativa E é falsa, porque a remissão concedida a um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele
correspondente, de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode
cobrar o débito sem dedução da parte remitida (perdoada). É o que prevê o artigo 388 do Código Civil.

2.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. É princípio fundamental da sistemática processual brasileira o duplo grau de jurisdição,
exercido, comumente, por meio da interposição de recurso pela parte prejudicada, a fim de submeter a
sua irresignação a nova análise. Não obstante, existem determinadas circunstâncias que reclamam a
observância desse princípio, independentemente de provocação de qualquer das partes, o que originou o
instituto designado como remessa necessária. Sobre o assunto, marque a alternativa incorreta:

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a) Não se submete ao duplo grau de jurisdição obrigatório a sentença fundada em entendimento coincidente
com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em
manifestação, parecer ou súmula administrativa.
b) É dispensada a remessa necessária quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de
valor certo e líquido inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e
fundações de direito público; 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal e as
respectivas autarquias e fundações de direito público e 100 (cem) salários-mínimos para os Municípios e as
respectivas autarquias e fundações de direito público.
c) Nas hipóteses de remessa necessária, não se aplica a técnica especial de ampliação de colegiado alusiva
aos julgamentos não unânimes.
d) A sentença concessiva em mandado de segurança estará, de modo obrigatório, sujeita ao duplo grau de
jurisdição, independentemente da existência de sucumbência da Fazenda Pública.
e) Embora não se trate de modalidade recursal, porquanto independente de voluntariedade ou provocação
das partes, aplica-se à remessa necessária a proibição da reformatio in pejus, a qual representa, na essência,
a vedação de agravamento da situação da parte em razão de seu próprio recurso.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque retrata hipótese legal em que se descarta a exigência de remessa
necessária, com o intuito de valorizar o sistema dos precedentes, inclusive em se tratando de entendimento
coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público,
consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa, na forma do artigo 496, §4º, IV, do Código
de Processo Civil.

A alternativa B é falsa, porque o critério valorativo que excepciona o cumprimento da remessa necessária
estabelece parâmetros distintos aos municípios que constituam capitais de estados e aos demais municípios,
aplicando-se aos primeiros o mesmo valor disposto aos estados, ao Distrito Federal e suas respectivas
autarquias e fundações de direito público, isto é, 500 (quinhentos) salários mínimos, com fulcro no artigo
496, §3º, do Código de Processo Civil. A alternativa em tela dispôs tratamento idêntico a todos os municípios,
olvidando-se desta diferenciação.

A alternativa C é verdadeira, porque a técnica de ampliação do colegiado - aplicável a determinados casos


em que, não sendo unânime o resultado, o julgamento tem prosseguimento em sessão posterior, com a
presença de outros julgadores, convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a
eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores - é
expressamente afastada na hipótese de remessa necessária, nos termos do artigo 942, §4º, II, do Código de
Processo Civil.

A alternativa D é verdadeira, porque a hipótese de concessão de mandado de segurança reclama, por si só,
o cumprimento da remessa necessária e não guarda relação com a existência de sucumbência da Fazenda
Pública, porquanto registra o artigo 14, §1º, da Lei 12.016/09: “Concedida a segurança, a sentença estará
sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição”.

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A alternativa E é verdadeira, porque, consoante a súmula 45 do Superior Tribunal de Justiça, no reexame


necessário (atualmente remessa necessária), é defeso ao Tribunal agravar a condenação imposta à Fazenda
Pública. Veda-se, assim, a reformatio in pejus.

Questão 2. Em matéria de competência, todas as afirmativas abaixo estão corretas, exceto:


a) É de competência da Justiça Estadual, por delegação, o processamento e julgamento de ação ajuizada
contra o Instituto Nacional de Seguridade Social, autarquia pública federal, com vistas ao recebimento de
benefício por acidente de trabalho, nas comarcas onde não houver a Justiça Federal.
b) Em que pese se tratar de causa de derrogação de competência relativa, pode o juiz, de ofício, reputar
ineficaz cláusula de eleição de foro, se abusiva, e determinar a remessa dos autos ao juízo de foro de
domicílio do réu.
c) Em regra, na hipótese de ingresso ou intervenção da União, suas autarquias ou empresas públicas em
relação jurídica processual em curso em juízo distinto do federal, devem os autos a este ser remetidos,
independentemente de análise da real existência de interesse jurídico que justifique a presença de tais
sujeitos no processo.
d) Para as ações civis públicas de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, é competente o foro do local
onde ocorrer o dano, cujo juízo possui competência funcional para processar e julgar a causa.
e) A reunião das ações conexas far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente, pouco
importando qual seja o juízo relativo ao feito que se encontra em estágio processual mais avançado, salvo
de um deles já houver sido sentenciado, hipótese em que não ocorrerá a reunião.

Comentários

A alternativa A é falsa, porque a competência para o processamento e julgamento das ações ajuizadas contra
o Instituto Nacional de Seguridade Social que visam ao recebimento de benefício por acidente de trabalho,
isto é, das ações acidentárias típicas, é própria da Justiça Estadual e não por delegação. Nesse sentido, o
artigo 109, I, da Constituição Federal: “Aos juízes federais compete processar e julgar as causas em que a
União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral
e à Justiça do Trabalho”. Tal hipótese não se confunde com as demais nas quais se possibilita o
processamento e julgamento do feito pelo juízo estadual, em comarcas onde não existe vara federal,
verdadeira competência delegada (art. 109, §3º, da CF/88).

A alternativa B é verdadeira, porque se afirma corresponder ao único caso permitido de declaração oficiosa
de incompetência relativa, a qual se restringe ao tempo máximo da citação. Isso porque, citado, incumbe ao
réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão, conforme
intelecção do artigo 63, §§ 3º e 4º, do Código de Processo Civil.

A alternativa C é verdadeira, porque compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico
que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas, na forma da súmula
150 do Superior Tribunal de Justiça. Sendo assim, o mero ingresso ou a intervenção de tais sujeitos no
processo é bastante, em regra, a provocar a remessa dos autos à Justiça Federal, porquanto incompetente é
o juízo estadual para definição de sua pertinência. Outrossim, o artigo 45 do Código de Processo Civil registra

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que, tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se
nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de
fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, ressalvadas as
hipóteses mencionadas no mesmo dispositivo.

A alternativa D é verdadeira, porque retrata hipótese excepcional em que o critério territorial/funcional


(local onde ocorrer o dano) representa competência absoluta do juízo, nos moldes do artigo 2º, “caput”, da
Lei 7.347/85.

A alternativa E é verdadeira, porque, para fins de definição do juízo prevento, competente para o
processamento e julgamento das ações conexas, é irrelevante a consideração do estágio processual em que
os feitos se encontrem, salvo se um deles já houver sido sentenciado, caso em que não ocorrerá a reunião,
conforme o artigo 55, §1º, do Código de Processo Civil. A prevenção é determinada estritamente pelo
registro ou distribuição da petição inicial, conforme o artigo 59 do mesmo diploma legal.

Questão 3. Acerca das prerrogativas, faculdades e deveres do Ministério Público, assinale a alternativa
incorreta:
a) Em regra, o Ministério Público goza de prazo em dobro para todas as suas manifestações, cuja contagem
se inicia a partir de sua intimação pessoal, seja por carga, remessa ou meio eletrônico.
b) O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou de
adolescente, independentemente de questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria
Pública na comarca.
c) Aplica-se multa de até vinte por cento do valor da causa ao membro do Ministério Público que pratique
inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso ou que crie embaraços à efetivação das decisões
jurisdicionais, de acordo com a gravidade da conduta.
d) O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica
nos processos que envolvam interesse de incapaz, mesmo que este não figure necessariamente como parte
da relação jurídica processual, desde que haja interesse direto daquele no objeto da lide.
e) É vedado ao membro do Ministério Público exercer suas funções no processo em que for parte ele próprio,
seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive, por constituir causa de impedimento legal.

Comentários

A alternativa A é verdadeira, porque, com exceção dos casos aos quais o legislador estabeleceu prazo
próprio, goza o Ministério Público de prazo em dobro para manifestar-se nos autos, com início a partir de
sua intimação pessoal, a qual pode ser feita mediante carga, remessa ou meio eletrônico, na forma do artigo
180 do Código de Processo Civil.

A alternativa B é verdadeira, porque a legitimidade do Ministério Público para a propositura de ação de


alimentos em favor de criança ou adolescente não se sujeita à consideração da existência ou eficiência da
Defensoria Pública na comarca, porquanto se trata de atuação distinta, fundamentada em direito individual
indisponível, de acordo com as suas atribuições constitucionais (art. 127 da CF). Assim dispõe a súmula 594
do Superior Tribunal de Justiça: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos

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em proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do


fato de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria
Pública na comarca (STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017).

A alternativa C é falsa, porque aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria Pública e
do Ministério Público não se aplica a imposição de multa pelo descumprimento das regras contidas no artigo
77, IV e VI, do Código de Processo Civil, entre elas, a proibição de criação de embaraços à efetivação das
decisões jurisdicionais e a vedação da prática de inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso,
devendo eventual responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria,
ao qual o juiz oficiará, nos moldes do §6º do mesmo dispositivo legal.

A alternativa D é verdadeira, porque o interesse de incapaz a ensejar a intervenção ministerial como fiscal
da ordem jurídica não se apresenta tão somente pela sua integração em um dos polos passivos da relação
jurídica processual, mas poderá existir, também, na ação em que o espólio seja réu, com possível destinação
de parte da herança a um incapaz, pois haverá, neste caso, interesse direto seu no provimento jurisdicional.

A alternativa E é verdadeira, porque os motivos legais de impedimento e suspeição aplicam-se também ao


membro do Ministério Público, na esteira do artigo 148, I, do Código de Processo Civil, razão pela qual a ele
também é vedado exercer suas funções no processo em que for parte ele próprio, seu cônjuge ou
companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive,
conforme artigo 144, IV, do mesmo código.

Questão 4. Acerca da reconvenção, é correto afirmar que:


a) A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de seu mérito obsta ao
prosseguimento do processo quanto à reconvenção.
b) A reconvenção não pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro.
c) É admissível a reconvenção sucessiva, também denominada de reconvenção à reconvenção, desde que a
questão que justifique a propositura tenha surgido na contestação ou na primeira reconvenção.
d) É cabível o oferecimento de reconvenção em embargos à execução.

Comentários

A. Errada
Art. 343, §2ºA desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de seu
mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção.
B. Errada
Art. 343, 4ºA reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro.
C. Correta
O STJ decidiu ser admissível a reconvenção sucessiva, também denominada de reconvenção à reconvenção,
desde que a questão que justifique a propositura tenha surgido na contestação ou na primeira reconvenção

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(REsp 1.690.216-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
por maioria, julgado em 22/09/2020, DJe 28/09/2020).
Ainda na vigência do CPC/1973, a doutrina se posicionou, majoritariamente, pela admissibilidade
da reconvenção à reconvenção, por se tratar de medida não vedada pelo sistema processual,
mas desde que a questão que justifica a propositura da reconvenção sucessiva tenha como
origem a contestação ou a primeira reconvenção. Esse entendimento não se modifica na vigência
do CPC/2015, pois a nova legislação processual solucionou alguns dos impedimentos apontados
ao cabimento da reconvenção sucessiva, como, por exemplo, a previsão de que o autor-
reconvindo será intimado para apresentar resposta e não mais contestação (art. 343, §1º) e a
vedação expressa de reconvenção à reconvenção apenas na hipótese da ação monitória (art. 702,
§6º).Assim, também na vigência do CPC/2015, é igualmente correto concluir que a reconvenção
à reconvenção não é vedada pelo sistema processual, condicionando-se o seu exercício, todavia,
ao fato de que a questão que justifica a propositura da reconvenção sucessiva tenha surgido na
contestação ou na primeira reconvenção, o que viabiliza que as partes solucionem integralmente
o litígio que as envolve no mesmo processo e melhor atende aos princípios da eficiência e da
economia processual, sem comprometimento da razoável duração do processo. (Informativo n.
680)
D. Errada
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SUPOSTA OFENSA AO ARTIGO 535 DO CPC.
DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. RECONVENÇÃO EM EMBARGOS À
EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. NATUREZA CONSTITUTIVA. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO, E NESSA PARTE NÃO PROVIDO.
1. É deficiente a fundamentação do recurso especial em que a alegação de ofensa aos art. 535
do CPC se faz de forma genérica, sem a demonstração exata dos pontos pelos quais o acórdão se
fez omisso, contraditório ou obscuro. Aplica-se, na hipótese, o óbice da Súmula 284 do STF.
2. Cinge-se a controvérsia dos autos acerca do cabimento de reconvenção em embargos à
execução.
3. O processo de execução tem como finalidade a satisfação do crédito constituído, razão pela
qual revela-se inviável a reconvenção, na medida que se admitida, ocasionaria o surgimento de
uma relação instrumental cognitiva simultânea, o que inviabilizaria o prosseguimento da ação
executiva.
4. Assim sendo, a reconvenção somente tem finalidade de ser utilizada em processos de
conhecimento, haja vista que a mesma demanda dilação probatória exigindo sentença de mérito,
o que vai de encontro com a fase de execução, na qual o título executivo já se encontra definido.
5. Em sede de embargos à execução fiscal há previsão legal (art. 16, § 3º, da Lei 6.830/80)
vedando a utilização da reconvenção. O fundamento dessa proibição é, unicamente, de natureza
processual, a fim de não impor dificuldades para o curso da execução fiscal, haja vista que ela
tem como base certidão de dívida líquida e certa.
6. Vale destacar que os embargos à execução não ostentam natureza condenatória, por isso, caso
o embargante entenda ser credor do exequente, deverá cobrar o débito em outra demanda.
7. Entendimento em sentido contrário violaria o princípio da celeridade e criaria obstáculo para
a satisfação do crédito, pois a ideia que norteia a reconvenção é o seu desenvolvimento de forma

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conjunta com a demanda inicial, o que não ocorreria ao se admitir a reconvenção em sede de
embargos à execução, na medida que as demandas não teriam pontos de contato a justificar a
sua reunião.
8. Recurso especial parcialmente conhecido, e nessa parte não provido.
(REsp 1528049/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
18/08/2015, DJe 28/08/2015)
Questão 5. Sobre tutela, assinale a alternativa incorreta:
a) Tutela é a proteção prestada pelo Estado quando provocado por meio de um processo, gerado em razão
da lesão ou ameaça de lesão a um direito material.
b) A tutela satisfativa serve para prestar tutela contra o ilícito e contra o dano.
c) A tutela cautelar serve para prestar tutela contra o ilícito e contra o dano.
d) A tutela contra o dano pode ser uma tutela específica ou pelo equivalente em dinheiro.

Comentários

A. Correto.

Nos termos da alternativa, a tutela pode ser conceituada como uma proteção prestada pelo Estado quando
provocado por meio de um processo, gerado em razão da lesão ou ameaça de lesão a um direito material.

B. Correto.

Há tutela satisfativa quando a tutela jurisdicional se destina a realizar concretamente o direito da parte. Essa
tutela satisfativa serve para prestar:
a) tutela contra o ilícito:

a.1 - visando a inibir a sua prática, reiteração ou continuação (tutela inibitória);

a.2 - visando a remoção da sua causa ou de seus efeitos (tutela de remoção do ilícito).

b) tutela contra o dano:

b.1 – visando à sua reparação (tutela reparatória ou, segundo alguns, ressarcitória específica)

b.2 – objetivando o ressarcimento pela sua ocorrência (tutela ressarcitória ou, segundo alguns, ressarcitória
em dinheiro).

C. Errado.

Há tutela cautelar quando a tutela jurisdicional se destina simplesmente a assegurar o provimento útil da
demanda, a satisfação eventual e futura do direito da parte. Enquanto a tutela satisfativa pode proporcionar
tanto uma tutela contra o ilícito (preventiva ou repressiva) como uma tutela contra o dano (repressiva), a
tutela cautelar é sempre uma tutela contra o dano. Isso porque a tutela cautelar apenas assegura para o caso

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de, ocorrendo o fato danoso, ser possível eventual e futuramente a realização do direito – a tutela cautelar,
embora possa ser concedida anteriormente ao dano, tem a sua atuabilidade condicionada à ocorrência ou
eventual ocorrência do dano.

D. Correto.

A tutela contra o dano pode ser uma tutela específica - reparatória (correspondendo à obrigação in natura)
ou pode ser pelo equivalente em dinheiro - ressarcitória (quando não há como cumprir a obrigação de fazer,
não fazer, dar coisa diversa de dinheiro).

Essas classificações relacionadas à tutela satisfativa e cautelar podem ser esquematizadas da seguinte
maneira:

Questão 6. Em relação à reclamação, é correto afirmar:


a) Não há possibilidade de eventual interessado impugnar o pedido do reclamante.
b) A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a decisão proferida pelo órgão
reclamado prejudica a reclamação.
c) A jurisprudência dos Tribunais Superiores admite o manejo de reclamação preventiva.
d) O CPC passou a prever expressamente que ela será cabível para garantir a observância de precedente
proferido em IRDR e IAC, bem como para garantir observância de acórdão de recurso extraordinário com
repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recurso especial ou extraordinário
repetitivo.

Comentários

A. Errada.

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Art. 990. Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do reclamante.

B. Errada.

Art. 988 § 6º A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a decisão


proferida pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação.

C. Errada.

O ajuizamento da reclamação pressupõe a existência de um ato que efetivamente já tenha


usurpado a competência do Tribunal, violado a autoridade de alguma de suas decisões que
possua efeito vinculante ou incidido em alguma das outras hipóteses de cabimento deste
instituto. STF. Decisão monocrática. Rcl 25310 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
03/10/2016 (Info 845). STF. Plenário. Rcl 4058 AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em
17/02/2010.

D. Correta. Com a CRFB/88, a reclamação passou a ser prevista no art. 102, I, “l” e art. 105, I, “f”, cabível
para:

a) preservar a competência do tribunal;


b) garantir a autoridade de suas decisões.

Depois, teve sua abrangência alargada pela EC3/1993 e EC45/2004, sendo agora cabível também para:

c) impor cumprimento de decisões proferidas no controle concentrado de constitucionalidade;


d) garantir aplicação de súmula vinculante do STF (art. 103-A, §3º).

O que o CPC/15 trouxe de diferente?

Além de o art. 1.027, IV, CPC ter revogado parcela da Lei n. 8.038/90 (arts. 13 a 18), o NCPC previu todas
aquelas 4 hipóteses de cabimento da reclamação (art. 988, incisos I a III) e ainda acrescentou mais duas.

e) garantir observância de precedente proferido em IRDR e IAC (art. 988, IV);

f) garantir observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida OU de


acórdão proferido em julgamento de recurso especial ou extraordinário repetitivo (art. 988, §5º, II).

2.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. Acerca dos crimes contra a vida, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção
correta:
I Em relação ao crime de infanticídio, a lei brasileira não adotou o critério psicológico, mas sim o critério
fisiopsicológico, levando em conta o desequilíbrio oriundo do processo do parto.

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II No que concerne ao crime de homicídio, é possível a coexistência das circunstâncias privilegiadoras com
as qualificadoras de natureza objetiva.
III O homicídio qualificado-privilegiado, nos termos da jurisprudência predominante do STJ, é considerado
crime hediondo, porque a qualificadora prepondera sobre o privilégio, pois este é mera causa de diminuição
da pena.
IV A qualificadora do chamado homicídio funcional, de acordo com o texto legal, só abrange o vínculo
consanguíneo, de forma que ela não incide se a vítima for o filho adotivo do agente de segurança.
V É incompatível o crime de homicídio simples tentado com o caráter hediondo.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I, II e IV;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.

Comentários

Gabarito: Letra B

I Existem três critérios que são utilizados pelas legislações para a conceituação legal do crime de infanticídio.
O primeiro, critério psicológico, descreve o infanticídio tendo em vista a honra, ou seja, a prática do crime se
dá para o fim específico de “ocultar desonra própria”. Era o modelo do Código Penal de 1890. Já o segundo,
critério fisiopsicológico, neste caso não é levada em consideração a honoris causa, mas sim a influência do
estado puerperal. Este é o critério adotado pelo Código Penal em vigor. Por fim o terceiro, critério misto,
levam-se em conta o motivo de honra e o estado puerperal. Há necessidade do concurso desses dois
requisitos para que ocorra infanticídio e não homicídio; a falta de qualquer um deles desnatura o infanticídio.
Este critério foi o adotado pelo Anteprojeto de Código Penal de Nelson Hungria em 1963.

II Homicídio híbrido é aquele onde se apresentam as causas especiais de diminuição de pena, que
caracterizam o homicídio privilegiado, acompanhadas de uma ou mais circunstâncias qualificadoras de
natureza objetiva, previstas no §2º do art. 121 do CP.

III O homicídio qualificado-privilegiado não é crime hediondo, não se lhe aplicando norma que estabelece o
regime fechado para o integral cumprimento da pena privativa de liberdade (Lei nº 8.072/90, artigos 1º e 2º,
parágrafo 1º). (HC 43.043/MG, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em
18/08/2005, DJ 06/02/2006, p. 352)

IV Com fundamento em Rogério Greco, não há consanguinidade, ou seja, relação de sangue, que permita o
reconhecimento de um tronco comum com relação ao filho adotivo. Dessa forma, infelizmente, se o
homicídio for praticado contra o filho adotivo de um policial, em razão dessa condição, não poderemos
aplicar a qualificadora do inc. VII do § 2.º do art. 121 do CP, tendo em vista que, caso assim fizéssemos,
estaríamos utilizando a chamada analogia in malam partem.

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V A partir da redação do Pacote Anticrime (L. n. 13.964/19), é considerado hediondo o crime homicídio (art.
121), consumado ou tentado, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente. (L. 8072/90, Art. 1º, I).

Questão 2. Acerca do crime de roubo, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção
correta:
I Com a entrada em vigor do Pacote Anticrime, o crime de roubo com arma branca passou a ser roubo
qualificado.
II O crime de roubo, praticado com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, terá a pena
duplicada em relação ao roubo simples.
III A Lei nº 13.964/19 transformou em crime hediondo o crime de roubo praticado com arma de fogo de uso
restrito, mas não aquele praticado com arma de fogo de uso permitido.
IV O roubo circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (CP, art. 157, § 2º, inciso V) é considerado
crime hediondo.
V Há latrocínio tentado quando o homicídio se consuma, mas o agente não realiza a subtração de bens da
vítima.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão corretas 4 assertivas

Comentários

Gabarito: Letra C

I O art. 157, § 2º, do Código Penal prevê que a pena do roubo será aumentada de 1/3 (um terço) até metade
se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca. Cuida-se, na realidade, de causa
especial de aumento de penal; e não de qualificadora, já que os limites mínimo e máximo sobre os quais
incidem as majorantes são aqueles constantes do caput do tipo penal.

II Conforme o disposto no art. 157, § 2º-B, do Código Penal, se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
artigo.

III Conforme o disposto no art. 1º, II, b, da Lei nº 8.072/90, é considerado crime hediondo o roubo
circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo
de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B).

IV Conforme o disposto no art. 1º, II, a, o roubo circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art.
157, § 2º, inciso V) é considerado crime hediondo.

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V SÚMULA 610 STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente
a subtração de bens da vítima.

Questão 3. No que toca aos crimes contra a dignidade sexual, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I A conduta do agente que, aproveitando-se da lotação do coletivo, masturbou-se e ejaculou no corpo de
passageira, constitui o crime de estupro de vulnerável, caso esta seja menor de idade.
II A prática de passar as mãos nas coxas e seios da vítima menor de 14 anos, por dentro de sua roupa, não
pode ser tipificado como crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal), haja vista que não
houve a conjunção carnal.
III O estupro (art. 213 do Código Penal) é tipo penal misto alternativo. Logo, se o agente, no mesmo contexto
fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima, pratica um só crime do art. 213
do Código Penal.
IV somente no crime de estupro, praticado mediante violência real, é que a ação penal é pública
incondicionada. Nas demais modalidades de violência, trata-se de crime de ação penal condicionada a
representação.
V O estupro coletivo é aquele praticado mediante concurso de três ou mais pessoas.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.

Comentários

Gabarito: Letra E

I Cuida-se do crime de importunação sexual. Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato
libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5
(cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.

II Agente que passa as mãos nas coxas e seios da vítima menor de 14 anos, por dentro de sua roupa, pratica,
em tese, o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP). Não importa que não tenha havido penetração
vaginal (conjunção carnal). STF. 1ª Turma. RHC 133121/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/o acórdão
Min. Edson Fachin julgado em 30/8/2016 (Info 837).

III O estupro (art. 213 do CP), com redação dada pela Lei 12.015/2009, é tipo penal misto alternativo. Logo,
se o agente, no mesmo contexto fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima,
pratica um só crime do art. 213 do CP. A Lei 12.015/2009, ao revogar o art. 214 do CP, não promoveu a
descriminalização do atentado violento ao pudor (não houve abolitio criminis). Ocorreu, no caso, a
continuidade normativo-típica, considerando que a nova Lei inseriu a mesma conduta no art. 213. Houve,
então, apenas uma mudança no local onde o delito era previsto, mantendo-se, contudo, a previsão de que

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essa conduta se trata de crime. É possível aplicar retroativamente a Lei 12.015/2009 para o agente que
praticou estupro e atentado violento ao pudor, no mesmo contexto fático e contra a mesma vítima, e que
havia sido condenado pelos dois crimes (arts. 213 e 214) em concurso. Segundo entende o STJ, como a Lei
12.015/2009 unificou os crimes de estupro e atentado violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser
reconhecida a existência de crime único na conduta do agente, caso as condutas tenham sido praticadas
contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático, devendo-se aplicar essa orientação aos delitos
cometidos antes da vigência da Lei nº 12.015/2009, em face do princípio da retroatividade da lei penal mais
benéfica. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1262650/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 05/08/2014.
STJ. 6ª Turma. HC 212305/DF, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), julgado em 24/04/2014 (Info
543).

IV Todos os crimes contra a dignidade sexual, definidos nos Capítulos I e II, são crimes de ação penal pública
incondicionada (CP, Art. 225).

V CP, Art. 226. A pena é aumentada: (...) IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:

a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; (...).

Questão 4. A propósito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I É possível o reconhecimento da figura privilegiada nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a
primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem subjetiva.
II O agente que invade um museu público disposto a furtar um quadro e, quando já estava tirando o quadro
da parede, depara-se com um vigilante, disparando contra ele, matando-o e fugindo sem a obra de arte,
comete o crime de furto qualificado tentado em concurso com homicídio qualificado consumado.
III A intimidação feita com arma de brinquedo não autoriza, no crime de roubo, o reconhecimento da causa
de aumento relativa ao emprego de arma de fogo, consumando-se o crime com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição
imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, imprescindível, porém, a posse mansa e pacífica ou
desvigiada.
IV O sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior
do estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.
V Configura o delito de extorsão (art. 158 do Código Penal) a conduta do agente que submete vítima à grave
ameaça espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o pagamento de vantagem
econômica indevida.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas

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Gabarito: Letra C

I SÚMULA 511/STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos
de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
qualificadora for de ordem objetiva.

II SÚMULA 610/STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente
a subtração de bens da vítima.

III A Súmula 174/STJ, que autorizava a consideração de arma de brinquedo para efeitos de aumento de pena
foi revogada; subsiste, no entanto, a seguinte: Súmula 582 STJ - Consuma-se o crime de roubo com a inversão
da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida
à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e
pacífica ou desvigiada.

IV Súmula 567 STJ - Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime
de furto.

V Info 598 STJ: Configura o delito de extorsão (art. 158 do CP) a conduta do agente que submete vítima à
grave ameaça espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o pagamento de
vantagem econômica indevida.

Questão 5. A respeito das causas excludentes de ilicitude, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I Considera-se em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a
vítima mantida refém durante a prática de crimes.
II Se o agente, repelindo uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, vem a atingir
pessoa inocente, por erro no emprego dos meios de execução (aberratio ictus), não estará ele amparado
pela legitima defesa . Exemplo: " A se defende de tiros " B ", revidando disparos de arma de fogo em sua
direção. Acerta, todavia, " C ", que nada tinha a ver com o incidente, matando-o. "A" deve responder pela
morte de " C ".
III Considere o seguinte exemplo: " A " caminha pela rua, em direção ao ponto de ônibus, momento em que
é atacado por um cachorro de grande porte. Caso " A " efetue um disparo de arma de fogo, sacrificando o
animal, sua conduta estará amparada pela legítima defesa. Da mesma forma, caso o cachorro seja utilizado
por uma pessoa como um instrumento para atacar outra pessoa, funcionando como verdadeira arma para a
agressão, o ofendido poder· matar o animal em legítima defesa.
IV A doutrina é pacífica no sentido de que os ofendículos - meios defensivos para a proteção da propriedade
e de outros bens jurídicos, como, por exemplo, arame farpado, cerca elétrica e cacos de vidro sobre muros -
têm natureza jurídica de legítima defesa preordenada.
V A legítima defesa exclui a antijuridicidade da conduta quando repele agressão injusta que esteja ocorrendo
ou em vias de ocorrer, desde que a ação defensiva seja moderada e utilize os meios necessários.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I e V;

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c) Estão corretas apenas as proposições I, IV e V;


d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas duas das proposições estão corretas.

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Gabarito: Letra B

I Cuida-se do texto do Art. 25, Parágrafo único, com a redação que lhe fora dada pelo Pacote Anticrime (Lei
nº 13.964/19): Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima
defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém
durante a prática de crimes.

II O art. 73 do Código Penal é peremptório ao estabelecer que o crime considera-se praticado contra a pessoa
visada, permitindo a conclusão de que essa regra aplica-se inclusive para efeito de exclusão da ilicitude.

III Não há que se falar em legítima defesa no primeiro caso, pois o cachorro atacou "A" sem nenhum comando
de um humano, para que haja legítima defesa, um dos requisitos é que seja proveniente de uma ação
humana ou por meio de um comando humano, como no caso do segundo exemplo, que o cachorro recebe
ordens para atacar o A.

IV Há duas posições em doutrina acerca da espécie de excludente configurada pelas ofendículas. Sebastián
Soler, Vicenzo Manzini, Giuseppe Bettiol e Aníbal Bruno se filiam à tese que sustenta tratar-se de exercício
regular de direito. Nesse sentido, é importante destacar o art. 1.210, § 1.º, do Código Civil: O possuidor
turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os
atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
Já José Frederico Marques, Magalhães Noronha e Costa e Silva situam o assunto como legítima defesa
preordenada, alegando o último que, se o aparelho está disposto de modo que só funcione no momento
necessário e com a proporcionalidade a que o proprietário era pessoalmente obrigado, nada impede a
aplicação da legítima defesa.

V CP, Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando MODERADAMENTE dos MEIOS NECESSÁRIOS,
repele injusta agressão, atual OU IMINENTE, a direito seu ou de outrem.

Questão 6. De acordo com o Art. 91-A do Código Penal, inserido pela Lei 13.964/2019, na hipótese de
condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá
ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o
valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. Sobre o
tema, é correto afirmar, exceto, que:
a) O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do
patrimônio.
b) A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do
oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.

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c) A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pela Defensoria Pública, em ações
privadas, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
d) Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja
perda for decretada.
e) Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser
declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal,
ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério
risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.

Comentários

Resposta: alternativa C

A questão aborda recente inovação trazida pelo Pacote Anticrime, Lei 13.964/2019, ao Código Penal. Foram
inseridas hipóteses adicionais de penas para crimes de enriquecimento sem causa, a fim de buscar maior
eficiência no ressarcimento ao erário. O que se pretende é conseguir reparação quando o condenado possui
patrimônio muito superior aos seus ganhos lícitos. As alternativas da questão trazem variações da
literalidade presente nos parágrafos 2 ao 5, vejamos:

“Art. 91-A

§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita


do patrimônio.

§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público,
por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.

§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os


bens cuja perda for decretada.

§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias


deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde
tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a
ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.”

O erro da alternativa C está em trocar o ente responsável pelo requerimento, que deve ser feito pelo MP e
não pela Defensoria Pública, bem como estabelecer que deve se tratar de ação privada.

Questão 7 – São causas impeditivas de prescrição, antes do trânsito em julgado, exceto:


a) Quando do recebimento da denúncia ou da queixa
b) Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do
crime.
c) Enquanto o agente cumpre pena no exterior.
d) Na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis.

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e) Enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal.

Comentários

Resposta: alternativa A

As causas impeditivas de prescrição estão listadas no Artigo 116 do Código Penal. Com o advento da Lei
13.964/2019, houve ampliação de tais hipóteses. Vejamos:

“Causas impeditivas da prescrição

Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:

I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da


existência do crime;

II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;

III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando


inadmissíveis; e

IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal.”

Na alternativa A a questão traz uma das hipóteses Interruptivas, definidas no Artigo 117 da mesma Lei, o
que não se confunde com as hipóteses Impeditivas da prescrição.

Questão 8. São causas interruptivas da prescrição, exceto:


a) decisão confirmatória da pronúncia.
b) publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis.
c) início ou continuação do cumprimento da pena.
d) reincidência.
e) quando não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal.

Comentários

Resposta: alternativa E

As causas interruptivas de prescrição estão listadas no Artigo 117 do Código Penal. A questão trouxe quatro
das 7 hipóteses, que devem ser de conhecimento do candidato. Vejamos:

“Causas interruptivas da prescrição

Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:

I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;

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II - pela pronúncia;

III - pela decisão confirmatória da pronúncia;

IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;

V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;

VI - pela reincidência.”

Ademais, a alternativa E traz uma hipótese Impeditiva, definida no Artigo 116 da mesma Lei, o que não se
confunde com as hipóteses Interruptivas da prescrição.

Questão 9. No que tange o Direito Penal, assinale a alternativa incorreta:


a) Reconhecida a tentativa, a pena será reduzida em proporção inversa ao iter criminis percorrido pelo
agente.
b) Em crimes comissivos por omissão, a causalidade não é fática mas jurídica, e consiste em não haver atuado
o omitente a fim de impedir o resultado.
c) O crime culposo comissivo por omissão se dá por violação do dever de agir, por parte do omitente, para
impedir o resultado.
d) O erro sobre a ilicitude do fato, quando inevitável, exclui a punibilidade e se confunde com o
desconhecimento da lei.
e) Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.

Comentários

Resposta: alternativa D

Vejamos cada alternativa:

a) A tentativa reconhecida gera diminuição de pena, que varia de acordo com a proximidade de alcance do
resultado. Se a conduta se aproximou do resultado, a diminuição, por conseguinte, ficará próxima do
mínimo. Por outro lado, caso a conduta se distancie da consumação, a diminuição se aproximará do máximo
possível. Portanto, a alternativa está correta.

b) Os crimes omissivos impróprios ou crimes “comissivos por omissão”, são aqueles em que o agente tem a
obrigação legal de agir para evitar o resultado. Portanto, caso deva fazer e não faz, o agente responde pelo
resultado ocorrido. Trata-se, de uma relação de causalidade normativa entre a conduta, não agir, e resultado.
O agente não deu “causa” ao resultado, mas como devia e podia evitá-lo, responde por ele.

c) O agente, neste caso, responderá pelo resultado a título de culpa quando, por inobservância do seu dever
de cuidado, deixar de agir para evitar o resultado, quando devia e podia.

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d) Esta é a nossa resposta, a alternativa está incorreta pois, o desconhecimento da lei não pode ser alegado.
No entanto, o erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, afasta a CULPABILIDADE, não a punibilidade, nos
termos do Art. 21 do CP.

e) Aqui o examinador reproduziu o Art.16 do CP, alternativa corretíssima.

2.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. Sobre o inquérito policial, assinale a alternativa incorreta:
a) Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado de ofício ou mediante requisição da
autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade
para representá-lo.
b) O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser
iniciado.
c) Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento
de quem tenha qualidade para intentá-la.
d) Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
e) Apenas a pessoa direta ou indiretamente interessada na apuração da infração em que caiba ação pública
poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.

Comentários

A questão trata da deflagração da persecução penal extrajudicial.

Como sabido, os crimes se processam por ação penal pública ou por ação penal privada. Na primeira, a
titularidade da ação é do Ministério Público, enquanto que na segunda, do particular, vítima, seu
representante legal ou cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão.

Esse critério, porém, não se restringe ao oferecimento de denúncia. É também aplicável ao início das
investigações, que somente pode ser disparada, no caso da ação penal privada e no caso da ação penal
pública condicionada, após manifestação de vontade de quem seja legitimado, na forma do artigo 38, do
CPP.

No caso de infrações que se processam mediante ação penal pública incondicionada, qualquer do povo pode
provocar a Autoridade Policial, conforme se vê do dispositivo abaixo:

Artigo 5º, §3º, do CPP:

Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba
ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta,
verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

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Gabarito: E

Questão 2. Sobre o inquérito policial, assinale a alternativa incorreta:


a) Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade
policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a
ordem pública.
b) Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e,
neste caso, rubricadas pela autoridade.
c) A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado, indicando o dispositivo no qual incurso o
investigado, e enviará autos ao juiz competente.
d) No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o
lugar onde possam ser encontradas.
e) Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a
devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Comentários

Todas as alternativas constam de expresso texto de lei, especificamente de dispositivos previstos na parte
inaugural do CPP, que tratam do inquérito policial.

A alternativa C está incorreta, pois a Autoridade Policial não indica o dispositivo no qual incurso o investigado.
Essa tarefa, aliás, incumbe ao Ministério Público, que é o dominus litis e apresenta com a denúncia a
adequada tipificação, na forma do artigo 41, do CPP.

Urge registrar que essa tipificação pode ainda ser alterada no curso da instrução, de ofício pelo Ministério
Público, na forma do artigo 569, do CPP, ou nas hipóteses de emendatio e mutatio libelli, respectivamente
artigos 383 e 384, do CPP.

Retomando à questão, veja o artigo 10, do CPP:

Art. 10. A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.

Gabarito: C

Questão 3. Assinale a alternativa incorreta:


a) Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do
inquérito.
b) O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será
realizada, ou não, a juízo da autoridade.
c) À autoridade policial é facultada a realização das diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério
Público, dada a sua autonomia.
d) Incumbirá à autoridade policial cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias.

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e) Incumbirá à autoridade policial representar acerca da prisão preventiva.

Comentários

Todas as alternativas constam de expresso texto de lei, especificamente de dispositivos previstos na parte
inaugural do CPP, que tratam do inquérito policial.

A alternativa C está incorreta, pois a autoridade policial deve cumprir as requisições emanadas do magistrado
e do Ministério Público.

A finalidade do inquérito e de sorte das investigações é municiar o Ministério Público, dominus litis, de
informações quanto à ocorrência do crime e sua autoria, para que ele possa deliberar quanto aos rumos da
persecução penal.

Outrossim, por questões lógicas, as requisições dele exaradas hão de ser cumpridas, aliás, o termo requisição
designa ordem.

Vale registro que as instituições Ministério Público e Polícia são autônomas, inexistindo hierarquia entre elas.

Gabarito: C

Questão 4. Assinale a alternativa verdadeira.


a) A vedação a autoincriminação coercitiva garante que ninguém será obrigado a fornecer padrões
grafotécnicos para a perícia.
b) A busca da verdade real foi utilizada como fundamento para fundamentar a possibilidade de condução
coercitiva de investigados.
c) A autoridade policial pode, quando necessário a investigação criminal, determinar a colheita de padrões
genéticos (exame de DNA), ainda que o investigado não concorde.
d) A identificação do perfil genético será armazenada até a absolvição ou até o término do cumprimento de
pena do réu.
e) A autoridade policial poderá requisitar diretamente informações do Banco Nacional Multibiométrico e de
Impressões Digitais.

Comentários

a) VERDADEIRA. A vedação a autoincriminação coercitiva garante que ninguém está obrigado a fornecer os
seus padrões de grafia (escrita) para a realização de perícia grafotécnica.

b) Falsa. A condução coercitiva de pessoas para fins de investigação, segundo o STF, em razão da vedação da
autoincriminação, não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988.

c) Falsa. O delegado de polícia não pode determinar a realização de exame de DNA da forma como é tratada
na alternativa

d) Falsa. O prazo de armazenamento, se o acuso requerer, será limitado a 20 anos.

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Art. 7 - A, II da Lei nº 12.037 (Lei de identificação criminal) - no caso de condenação do acusado,


mediante requerimento, após decorridos 20 (vinte) anos do cumprimento da pena. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

e) Falsa. O acesso a informações do Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais será concedido
mediante autorização judicial:

Art. 7 – C, § 11. A autoridade policial e o Ministério Público poderão requerer ao juiz competente,
no caso de inquérito ou ação penal instaurados, o acesso ao Banco Nacional Multibiométrico e
de Impressões Digitais. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Questão 5. A respeito da aplicação da lei processual penal, assinale a alternativa verdadeira:


a) A lei processual penal pura não admite a aplicação de analogia.
b) A lei processual penal admite a suplementação dos princípios gerais de direito.
c) Não se aplica a lei processual penal o princípio do tempus regit actum.
d) De acordo com o CPP, aplica-se a lei processual penal vigente à época em que a conduta criminosa foi
praticada, independentemente de quando venha a ser consumado o resultado.
e) A lei processual penal mais nova, se benéfica ao réu, deverá retroagir.

Comentários

a) Falsa. A lei processual penal admite a realização de analogia.

b) Verdadeira. A lei processual penal admite a suplementação dos princípios gerais de direito. O CPP prevê,
em ser art. 3, a possibilidade de suplementação pelos princípios gerais de direito:

Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como
o suplemento dos princípios gerais de direito.

c) Falsa. Em outras palavras, o “tempo rege o ato”, é aplicado ao processo penal brasileiro. Ou seja, aplica-
se a lei processual penal do momento em que o ato está sendo realizado.

d) Falsa. De acordo com o CPP, vigora no processo penal o princípio da aplicação imediata (tempus regit
actum).

e) Falsa. No processo penal a lei processual não retroage para beneficiar o réu, salvo se se tratar de norma
processual mista, híbrida ou heterotópica.

Questão 6. A respeito dos princípios processuais penais, assinale a alternativa verdadeira:


a) O princípio do juiz natural impede o instituto do desaforamento no processo penal.
b) O princípio da vedação das provas ilícitas impede a realização de apreensão de drogas em residência alheia
quando existentes fundadas razões que indiquem a prática de tráfico de drogas no local.
c) O princípio da identidade física do juiz possui como subprincípio a oralidade.

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d) O princípio do duplo grau de jurisdição é expresso na Constituição Federal.


e) O princípio da legalidade no direito processual penal impede a aplicação analogia.

Comentários

a) Falsa. O princípio do juiz natural não impede o desaforamento no processo penal. O desaforamento no
processo penal brasileiro pode ser realizado, de forma excepcional, visando garantir que o julgamento ocorra
sem influências externas. A competência para o julgamento continua sendo do Tribunal do Júri, não há que
se falar em tribunal de exceção, haverá apenas a mudança do local do julgamento.
b) Falsa. Nas circunstâncias descritas no enunciado (fundadas razões) possibilita o ingresso forçado em
residência alheia.
c) VERDADEIRA. O princípio da identidade física do juiz possui como subprincípio a oralidade. Em que pese
não constar na afirmativa, a imediatidade também é subprincípio da identidade física do juiz.
d) Falsa. O princípio do duplo grau de jurisdição não é expresso na Constituição Federal de 1988. Trata-se de
princípio implícito.
e) Falsa. O princípio da legalidade não veda a aplicação de analogia no direito processual penal.

2.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Assinale a alternativa INCORRETA:
a) O roubo circunstanciado pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito é crime hediondo.
b) A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas
impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a
ordem ou incolumidade pública.
c) A lesão corporal dolosa de natureza gravíssima, diferentemente da lesão corporal seguida de morte, não
é crime hediondo.
d) É crime hediondo o favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável.
e) O feminicídio consta no rol dos crimes hediondos.

Comentários

a) CORRETA: conforme art. 1º, inciso II, alínea "b", da Lei n.º 8.072:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no


2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela
Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)

[...]

II – roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

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[...]

b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

b) CORRETA: conforme art. 3º da Lei n.º 8.072:

Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao


cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em
presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.

c) INCORRETA: tanto a lesão corporal dolosa de natureza gravíssima quanto a lesão corporal seguida de
morte, são crimes hediondos, coforme prevê o art. 1º, inciso I-A, da Lei n.º 8.072:

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no


2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela
Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)

[...]

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de
morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142,
de 2015)

d) CORRETA: conforme prevê o art. 1º, inciso VIII, da Lei n.º 8.072:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no


2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela
Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)

[...]

VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou


adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei nº 12.978, de
2014)

e) CORRETA: conforme o art. 1º, inciso I, da Lei n.º 8.072, e o art. 121, inciso VI, do Código Penal:

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Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no


2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela
Lei nº 8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e
VIII); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 121. Matar alguem:

[...]

§ 2° Se o homicídio é cometido:

[...]

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de
2015)

Gabarito: C

Questão 2. Com base na Lei n.º 7.210/84, assinale a alternativa CORRETA:


a) A assistência material ao preso e ao internado consistirá tão somente no fornecimento de alimentação e
vestuário.
b) Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta
será prestada em outro local, mediante autorização do juízo.
c) De acordo com a Lei de Execuções Penais, considera-se egresso o liberado condicional, pelo prazo de 1
(um) ano a contar da saída do estabelecimento. Devendo o serviço de assitência social colcaborar com o
egresso para a obteção de trabalho.
d) O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três
quartos) do salário mínimo.
e) A prática de fato previsto como crime culposo constitui falta grave e, quando ocasionar subversão da
ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem
prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado.

Comentários

a) INCORRETA: além do fornecimento de alimentação e vestuário, a assistência material ao preso e ao


internado também consiste no fornecimento de instalações higiênicas, conforme prevê o art. 12 da Lei de
Execuções Penais:

Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de


alimentação, vestuário e instalações higiênicas.

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b) INCORRETA: a autorização é da direção do estabelecimento, conforme §2º, do art. 14 da Lei de Execuções


Penais:

Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo,


compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.

§ 1º (Vetado).

§ 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica
necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do
estabelecimento.

c) INCORRETA: A última parte da alternativa está correta, conforme o art. 27 da Lei de Execuções Penai.
Contudo, a alternativa está incorreta pois considera-se egresso o liberado condicional, durante o período de
prova. E considera-se egresso o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do
estabelecimento. Conforme prevê o art. 26 da Lei de Execuções Penais:

Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos desta Lei:

I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento;

II - o liberado condicional, durante o período de prova.

Art. 27.O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho.

d) CORRETA: conforme o art. 29, caput, da Lei de Execuções Penais:

Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior
a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.

e) INCORRETA: a prática de fato previsto como crime DOLOSO é que constitui falta grave, conforme prevê o
art. 52, caput, da Lei de Execuções Penais:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional
ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as
seguintes características: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Gabarito: D

Questão 3. Com base na Lei n.º 11.343/06, considere as afirmações a seguir:


I. Para caracterizar o crime de tráfico internacional de drogas, é imprescindível a transposição de fronteira.
II. A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo de 30 (trinta) dias
na presença da autoridade judiciária e do Ministério Público.

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III. Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é
suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta
deste, por pessoa idônea.
IV. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, em razão da dependência, ou sob o efeito,
proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, o agente era, ao tempo da ação ou da omissão,
qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
É incorreto o que se afirma em:
(A) I, II e III.
(B) I, apenas.
(C) II e III, apenas.
(D) I, II e IV.
(E) I e II, apenas.

Comentários

I – INCORRETA: Basta que fique evidenciado a transnacionalidade do delito, conforme o art. 40, inciso I, da
Le n.º 11.343/06 e a Súmula 607 do STJ:

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços,
se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato


evidenciarem a transnacionalidade do delito;

[...]

Súmula 607 - A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006)
configura-se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a
transposição de fronteiras. (Súmula 607, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/04/2018, DJe
17/04/2018)

II – INCORRETA: o prazo é de 15 (quinze) dias e, além do Ministério Público, deve estar presente a autoridade
sanitária, e não a autoridade judiciária, conforme prevê o art. 50, §4º, da Lei 11.343/09:

Art. 50. [...]

§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo de
15 (quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei nº
12.961, de 2014)

[...]

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III – CORRETA: a afirmativa é cópia do §1º, do art. 50, da Lei 11.343/06:

Art. 50. [...]

§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade


do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por
perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.

[...]

IV – INCORRETA: O agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveninente de caso fortuito ou
força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, é isento de pena. Conforme prevê o art. 45,
caput, da Lei n.º 11.343/06:

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente
de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que
tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Gabarito: D

Questão 4. Com base nas disposições da Lei n.º 12.850/2013, assinale a opção CORRETA:
a) Associação criminosa é caracterizada pela reunião de quatro ou mais pessoas, estruturadamente
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo de obter vantagem de qualquer natureza.
b) A pena do crime de financiar organização criminosa será aumentada de um terço a metade se houver
participação de criança ou adolescente.
c) Aquele que embaraçar a investigação de infração penal cometida por organização criminosa, incorrerá na
mesma pena imposta àquele que integra a organização.
d) A Lei das Organizações Criminosas não se aplica às organizações terroristas.
e) Na hipótese de um crime previsto em convenção internacional ter a sua execução sido iniciada no país e
o resultado tenha ocorrido no estrangeiro, aplica-se a Lei das Organizações Criminosas, devendo ser objeto
de processamento e julgamento perante a Justiça Estadual.

Comentários

Gabarito C

a) Incorreta. O conceito apresentado é de organização criminosa, previsto no art. 1º, caput, da Lei n.º
12.850/2013: “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo
de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”.

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Já o crime de associação criminosa é previsto no art. 288 do CP: “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
para o fim específico de cometer crimes: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena
aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.”

b) Incorreta. Art. 2º, §4º, inciso I, da Lei n.º 12.850/2013: “A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois
terços): I – se há participação de criança ou adolescente;”

c) Correta. Conforme o art. 2º, §1º, da Lei n.º 12.850/2013: “Nas mesmas penas incorre quem impede ou,
de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”.

d) Incorreta. Art. 1º, §2º, inciso II, da Lei: “Esta Lei se aplica também: II – às organizações terroristas,
entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos”.

e) Incorreta. De fato, na hipótese será aplicada a Lei das Organizações Criminosas, com base no art. 1º, §2º,
inciso I, da Lei (Esta Lei se aplica também: I – às infrações penais previstas em tratado ou convenção
internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro,
ou reciprocamente;). Contudo, a competência será da Justiça Federal, tendo em vista o caráter de
transnacionalidade, com fulcro no art. 109, inciso V, da Constituição Federal (“aos juízes federais compete
processar e julgar: […] V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;”).

Questão 5. Em atenção às disposições da Lei n.º12.850/2013 e da Lei n.º 7.210/84, assinale a opção
INCORRETA:
a) O percentual para a progressão de regime a ser cumprido pelo preso condenado por exercer o comando
individual de organização criminosa estruturada para a prática de crime equiparado a hediondo é de 50% da
pena.
b) O condenado que exerce liderança de organização criminosa que tenha armas à disposição deverá iniciar
o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de segurança máxima.
c) O condenado expressamente por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá obter
livramento condicional se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo
d) O condenado expressamente por integrar organização criminosa poderá obter livramento condicional,
mesmo que haja elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo.
e) As lideranças de organizações criminosas armadas deverão iniciar o cumprimento da pena em
estabelecimentos penais de segurança máxima.

Comentários

Gabarito D

a) Correta. Conforme o art. 112, inciso VI, alínea “b”, da LEP: “A pena privativa de liberdade será executada
em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando
o preso tiver cumprido ao menos: […] VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: […] b)
condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a
prática de crime hediondo ou equiparado; ou”.

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b) Correta. Art. 2º, §8º da Lei das Organizações Criminosas: “As lideranças de organizações criminosas
armadas ou que tenham armas à disposição deverão iniciar o cumprimento da pena em estabelecimentos
penais de segurança máxima”.

c) Correta. Art. 2º, §9º da Lei das Organizações Criminosas: “O condenado expressamente em sentença por
integrar organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá
progredir de regime de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios
prisionais se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo”.

d) Incorreta. Tanto o condenado por integrar organização criminosa, quanto o condenado por crime
praticado por meio de organização criminosa, comprovado a manutenção do vínculo associativo não
poderão progredir de regime de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios
prisionais, com base no §9º, do art. 2º, da Lei das Organizações Criminosas.

e) Correta. Art. 2º, §8º da Lei das Organizações Criminosas.

Questão 6. Sobre os meios de obtenção de prova previstos na Lei n.º 12.850/2013, assinale a alternativa
CORRETA:
a) Na ação controlada, o retardamento da intervenção policial ou administrativa não exige autorização do
juiz competente, que será apenas comunicado previamente e, se for o caso, estabelecerá seus limites e
comunicará ao Ministério Público,
b) A proposta para formalização de acordo de colaboração apenas demarca o início das negociações.
c) A infiltração de agentes será autorizada pelo prazo de até 12 (doze) meses, sem prejuízo de eventuais
renovações.
d) Para o Ministério Público ter acesso aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a
qualificação pessoal, filiação e endereço, mantidos, entre outras, pelas empresas telefônicas, é
imprescindível a autorização judicial.
e) Somente durante a ação penal o Ministério Público, considerando a relevância prestada da colaboração
premiada, poderá requerer ao juiz a concessão de perdão judicial ao colaborador.

Comentários

Gabarito A

a) Correta. Art. 8º, §1º, da Lei n.º 12.850/2013: “O retardamento da intervenção policial ou administrativa
será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e
comunicará ao Ministério Público”.

b) Incorreta. O recebimento da proposta para formalização que demarca o início das negociações e constitui
marco de confidencialidade. Conforme prevê o art. 3º-B, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “O recebimento da
proposta para formalização de acordo de colaboração demarca o início das negociações e constitui também
marco de confidencialidade, configurando violação de sigilo e quebra da confiança e da boa-fé a divulgação
de tais tratativas iniciais ou de documento que as formalize, até o levantamento de sigilo por decisão
judicial”.

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c) Incorreta. Art. 10, §3º, da Lei n.º 12.850/2013: “A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis)
meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade”.

d) Incorreta. Não depende de autorização judicial, é prescindível. Art. 15, caput, da Lei n.º 12.850/2013: “O
delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de autorização judicial, apenas
aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o
endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de
internet e administradoras de cartão de crédito”.

e) Incorreta. O Ministério Público pode requerer a qualquer tempo. Art. 4º, §2º, da Lei n.º 12.850/2013:
“Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado
de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou
representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha
sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de
outubro de 1941 (Código de Processo Penal)”.

2.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. No Direito Positivo brasileiro, o analfabeto é considerado como:
a) Alistável e elegível.
b) Alistável e inelegível.
c) Inalistável e elegível.
d) Inalistável e inelegível.
e) Nenhuma das alternativas anteriores.

Comentários

No Direito Positivo brasileiro, o analfabeto é considerado como alistável e inelegível, de acordo com a
alternativa B.

De um lado, o analfabeto é alistável, a partir da consideração de que o alistamento é facultativo em relação


a ele, em conformidade com o art. 14, § 1º, inc. II, “a”.

De outro lado, o analfabeto é inelegível, em consonância com o art. 14, § 4º, in fine, ambos da Constituição
da República.

Questão 2. O alistamento eleitoral é proibido para:


a) Os maiores de dezoito anos.
b) Os conscritos.
c) Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
d) Os analfabetos.

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e) Os maiores de setenta anos.

Comentários

O alistamento eleitoral é obrigatório para os maiores de dezoito anos (alternativa A).

O alistamento eleitoral é facultativo para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (alternativa C),
os analfabetos (alternativa D) e os maiores de setenta anos (alternativa E).

Pelo fio do exposto, revela-se correta a alternativa B, porque, de fato, o alistamento eleitoral é proibido para
os conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório, por força do art. 14, § 2º, in fine, da
Constituição da República.

Questão 3. Assinale a opção que indica uma causa legalmente amparada para o cancelamento do
alistamento eleitoral:
a) Incapacidade comprovada de o eleitor se expressar no idioma nacional.
b) Não comparecimento do eleitor em três eleições consecutivas.
c) Residência principal do eleitor localizar-se fora da área do domicílio eleitoral.
d) Aquisição de outra nacionalidade pelo eleitor.
e) Condenação criminal transitada em julgado.

Comentários

A inscrição eleitoral pode ser cancelada, por exemplo, em decorrência de ausência a três eleições
consecutivas, duplicidade de inscrições ou revisão de eleitorado, passível de regularização, após o
recolhimento ou a dispensa das multas eventualmente devidas.

Portanto, deve o candidato assinalar a alternativa B.

2.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. (Cespe – Juiz de Direito – PR/2017) De acordo com as disposições da Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, assinale a opção correta.
a) Além do estabelecimento de idade mínima antes da qual se presume que a criança não tem capacidade
para infringir as leis penais, devem ser estabelecidos procedimentos judiciais obrigatórios para tratar a
criança que tenha infringido as leis penais ou a quem se acuse de ter infringido as leis penais.
b) Em todo processo judicial ou administrativo que a afete, deve ser assegurada à criança que tenha
capacidade de formular seus próprios juízos a oportunidade de ser ouvida, levando-se devidamente em
consideração as opiniões em função da idade e maturidade dela.
c) Em razão do princípio da separação dos poderes, o Poder Judiciário não é alcançado pelo dispositivo
segundo o qual todas as ações relativas às crianças devem considerar o interesse superior da criança, que
deve ser observado por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, autoridades administrativas ou
órgãos legislativos.

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d) O exercício do direito da criança à liberdade de expressão não pode sofrer restrição e inclui a liberdade de
procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma
oral, escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança.

Comentários

A Convenção sobre os Direitos da Criança foi ratificada e internalizada pelo Brasil e considera como criança
todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável
à criança, a maioridade seja alcançada antes.

Alternativa “a”: Os Estados Partes buscarão promover o estabelecimento de leis, procedimentos,


autoridades e instituições específicas para as crianças de quem se alegue ter infringido as leis penais ou que
sejam acusadas ou declaradas culpadas de tê-las infringido, e em particular: a) o estabelecimento de uma
idade mínima antes da qual se presumirá que a criança não tem capacidade para infringir as leis penais; b) a
adoção sempre que conveniente e desejável, de medidas para tratar dessas crianças sem recorrer a
procedimentos judiciais, contando que sejam respeitados plenamente os direitos humanos e as garantias
legais (art.40, 3, a e b, da Convenção sobre os Direitos da Criança ratificada e internalizada pelo Brasil).
Incorreta.

Alternativa “b”. Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular seus próprios
juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre todos os assuntos relacionados com a criança,
levando-se devidamente em consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança. Com
tal propósito, se proporcionará à criança, em particular, a oportunidade de ser ouvida em todo processo
judicial ou administrativo que afete a mesma, quer diretamente quer por intermédio de um representante
ou órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais da legislação nacional (art.12, 1 e 2, da
Convenção sobre os Direitos da Criança ratificada e internalizada pelo Brasil). Correta.

Alternativa “c”: Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de
bem-estar social, TRIBUNAIS, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar,
primordialmente, o interesse maior da criança (art.3, 1, da Convenção sobre os Direitos da Criança ratificada
e internalizada pelo Brasil). Incorreta.

Alternativa “d”: A criança terá direito à liberdade de expressão. Esse direito incluirá a liberdade de procurar,
receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de fronteiras, de forma oral,
escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio escolhido pela criança. O EXERCÍCIO DE
TAL DIREITO PODERÁ ESTAR SUJEITO A DETERMINADAS RESTRIÇÕES, QUE SERÃO UNICAMENTE AS
PREVISTAS PELA LEI E CONSIDERADAS NECESSÁRIAS: a) para o respeito dos direitos ou da reputação dos
demais, ou b) para a proteção da segurança nacional ou da ordem pública, ou para proteger a saúde e a
moral públicas. Incorreta.

Alternativa correta: letra “B”.

Questão 2. (Cespe – Defensor Público – RN/2015) Quanto ao tratamento dispensado a crianças e


adolescentes no âmbito das normas internacionais, assinale a opção correta.
a) A Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças aplica-se à criança que tenha
residência habitual em um Estado contratante até que ela complete dezoito anos de idade.

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b) Embora a Convenção dos Direitos da Criança contemple direitos relativos à proteção da saúde da criança,
tais como assistência médica e cuidados sanitários, ela é silente quanto aos direitos inerentes à previdência
social, que são objeto de convenção internacional específica.
c) As normas da Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
Internacional incorporadas pelo ECA permitem a adoção de criança brasileira por estrangeiros residentes no
exterior, ainda que não se tenham esgotado as possibilidades de colocação dessa criança em família
substituta brasileira.
d) Segundo o STJ, a Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças não objetiva
discutir o direito de guarda de criança, mas sim as questões vinculadas à retirada ilegal de criança de seu país
e (ou) a retenção indevida de criança em local que não o de sua residência habitual.
e) Segundo as Regras de Beijing, a sanção aplicável ao jovem que cometer ato infracional deverá ser
específica e única, princípio que torna inadmissível a aplicação simultânea de uma medida de liberdade
assistida e uma de prestação de serviços à comunidade.

Comentários

A Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, concluída na cidade de Haia,
em 25 de outubro de 1980, aprovada pelo Congresso Nacional brasileiro por meio do Decreto Legislativo nº
79, de 15 de setembro de 1999, promulgada pelo Decreto Executivo Federal nº 3.413, de 14 de abril de 2000,
tem por objetivos: a) assegurar o retorno imediato de crianças ilicitamente transferidas para qualquer Estado
Contratante ou nele retidas indevidamente; e b) fazer respeitar de maneira efetiva nos outros Estados
Contratantes os direitos de guarda e de visita existentes num Estado Contratante.

Alternativa “a”. A Convenção aplica-se a qualquer criança que tenha residência habitual num Estado
Contratante, imediatamente antes da violação do direito de guarda ou de visita. A aplicação da Convenção
cessa quando a criança atingir a idade de dezesseis anos (Decreto Executivo Federal nº 3.413, de 14 de abril
de 2000, art.4). Errada.

Alternativa “b”. A Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada pelo Congresso Nacional por meio do
Decreto Legislativo n° 28, de 14 de setembro de 1990, e promulgada pelo Presidente da República por meio
do Decreto nº 99.710, de 21 de novembro de 1990, considera como criança a pessoa de zero a dezoito anos
ou até sua maioridade civil, e prevê, dentre outras coisas, que os Estados Partes reconhecerão a todas as
crianças o direito de usufruir dos serviços médicos e sanitários, previdência social, inclusive do seguro social,
e adotarão as medidas necessárias para lograr a plena consecução desses direitos, em conformidade com
sua legislação nacional (Artigos 1, 24 e 26). Errada.

Alternativa “c”. A Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
Internacional, aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 1, de 14 de janeiro de
1999, e promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 3.087, de 21 de novembro de
1990, estabelece deveres dos Estados de origem e de acolhida para a realização de adoção internacional. As
autoridades competentes do Estado de origem devem: a) determinar que a criança seja adotável; b) verificar,
depois de haver examinado adequadamente as possibilidades de colocação da criança em seu Estado de
origem, que uma adoção internacional atende ao interesse superior da criança; c) assegurar de: 1) que as
pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a adoção hajam sido
convenientemente orientadas e devidamente informadas das consequências de seu consentimento, em

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particular em relação à manutenção ou à ruptura, em virtude da adoção, dos vínculos jurídicos entre a
criança e sua família de origem; 2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham manifestado seu
consentimento livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento se tenha manifestado ou
constatado por escrito; 3) que os consentimentos não tenham sido obtidos mediante pagamento ou
compensação de qualquer espécie nem tenham sido revogados, e 4) que o consentimento da mãe, quando
exigido, tenha sido manifestado após o nascimento da criança; e d) assegurar, observada a idade e o grau de
maturidade da criança, de: 1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e devidamente
informada sobre as consequências de seu consentimento à adoção, quando este for exigido; 2) que tenham
sido levadas em consideração a vontade e as opiniões da criança; 3) que o consentimento da criança à
adoção, quando exigido, tenha sido dado livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento
tenha sido manifestado ou constatado por escrito; 4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante
pagamento ou compensação de qualquer espécie (Artigo 4). Errada.

Alternativa “d”. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1196954/ES, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 13/03/2014, interpretou o artigo 3
da Convenção da Haia sobre Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, no sentido de que o
sequestro internacional consiste no deslocamento ilegal da criança de seu país e/ou sua retenção indevida
em outro local que não o de sua residência habitual. Na ocasião, fora fixada a tese de que o escopo da
Convenção não se volta a debater o direito de guarda da criança, mas, sim, a assegurar o retorno da criança
ao país de residência habitual, o qual é o juízo natural competente para julgar a guarda. Correta.

Alternativa “e”. Uma das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça, da Infância e
da Juventude (REGRAS DE BEIJING) é a da pluralidade das medidas aplicáveis (artigo 18). Uma ampla
variedade de medidas deve estar à disposição da autoridade competente, permitindo a flexibilidade e
evitando ao máximo a institucionalização. Tais medidas, que podem algumas vezes ser aplicadas
simultaneamente, incluem: a) determinações de assistência, orientação e supervisão; b) liberdade assistida;
c) prestação de serviços à comunidade; d) multas, indenizações e restituições; e) determinação de
tratamento institucional ou outras formas de tratamento; f) determinação de participar em sessões de grupo
e atividades similares; g) determinação de colocação em lar substituto, centro de convivência ou outros
estabelecimentos educativos; h) outras determinações pertinentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente
prevê diversas medidas aplicáveis em caso de prática de ato infracional por criança (artigo 101) e adolescente
(artigo 112). Errada.

Alternativa correta: letra “d”.

Questão 3. De acordo com as disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale a alternativa


INCORRETA:
a) A comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes corresponde ao conceito de
família natural.
b) Segundo o ECA, a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional
não se prolongará por mais de 18 (dezoito) meses, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu
superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
c) Toda criança que estiver inserida em programa de acolhimento familiar terá sua situação reavaliada, no
máximo, a cada 3 (três) meses.

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d) A autoridade judiciária, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar,
decidirá, de forma fundamentada, pela possibilidade de reintegração familiar do adolescente que se
encontre em acolhimento institucional.
e) Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou
da unidade do casal, formada por parentes consanguíneos próximos, ainda que a criança ou o adolescente
não mantenha com eles relações de afinidade e afetividade.

Comentários

Gabarito: Letra “e”.

A questão foi elaborada considerando a estrutura em regra adotada pela FCC nas provas da magistratura
estadual: cobrança dos dispositivos do ECA. Selecionei para vocês os dispositivos de maior incidência para
trabalharmos as questões ao longo das nossas rodadas.

Lembrem sempre de grifar os dispositivos cobrados nas nossas questões! Serão uma excelente forma de
filtrar os dispositivos a serem lidos na véspera da prova!

Os conceitos de família natural e de família extensa são recorrentes em prova.

Após estudo das provas anteriores, verificando os dispositivos de maior incidOs conceitos de família natural,
família ampliada, são recorrentemente cobrados! E

a) CORRETA. Art. 25, caput, do ECA (Lei 8069/90).

b), c) e d) CORRETAS. Essa é a redação do art. 19, § 2º do ECA. Destaque para o prazo máximo de 18 meses
(cai muito) e para o fato de que, excepcionalmente, a autoridade judiciária, de forma fundamentada, poderá
prorrogar. Costuma-se fazer as seguintes modificações, tornando as assertivas erradas:

- “Em hipótese alguma pode ultrapassar 18 meses” – Errado.

- “Poderá haver prorrogação pelo conselho tutelar” ou “pela autoridade administrativa” – Errado.

e) ERRADA. O parágrafo único do art. 25 do ECA traz o conceito de família extensa, devendo ser destacado
o vínculo de afinidade e de afetividade, bem como o fato de que o texto legal não limite as espécies de
parente, apenas faz referência “parentes próximos”. Isso também é objeto de pegadinhas! Então, fiquem
atentas e atentos!

2.10 - DIREITO TRIBUTÁRIO


Questão 1. A respeito das modalidades de suspensão, exclusão e extinção do crédito tributário, assinale a
alternativa correta:
a) No Direito Tributário, quando duas pessoas são ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, abre-
se a possibilidade de exclusão do crédito tributário por meio da compensação.

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b) Na hipótese da autoridade administrativa entender conveniente conceder a remissão, estará extinto o


crédito tributário.
c) A consignação em pagamento consiste em modalidade de exclusão do crédito tributário, ao passo que o
pagamento antecipado consiste em modalidade de extinção do crédito tributário.
d) Havendo a autorização da dilação do prazo de pagamento do tributo, por meio de lei ordinária, o crédito
tributário ficará suspenso até a data de pagamento.
e) A exclusão do crédito tributário também dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes
da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou dela consequente.

Comentários

A alternativa correta é a letra D.

a) Alternativa incorreta. A compensação é modalidade de extinção do crédito tributário.

b) Alternativa incorreta. A autoridade administrativa não é livre para conceder a remissão (forma de extinção
do CT), só podendo fazê-lo se existir lei que assim lhe autorize.

c) Alternativa incorreta. Ambas as modalidades consistem em formas de extinção do crédito tributário. Art.
156 VII e VIII do CTN.

d) Alternativa correta. A assertiva refere-se ao instituto da moratória, previsto no art. 151, inciso I, do CTN.

e) Afirmativa incorreta. Conforme o art. 175, § único, do CTN.

Questão 2. Quanto ao ICMS, assinale a alternativa correta:


a) Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para outro
estabelecimento do mesmo contribuinte.
b) A caracterização do fato gerador independe da natureza jurídica da operação que o constitua.
c) O imposto incide sobre operações com livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
d) O imposto incide sobre operações com ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento
cambial
e) O imposto incide operações e prestações que destinem ao exterior mercadorias, inclusive produtos
primários e produtos industrializados semi-elaborados, ou serviços.

Comentários

a) Alternativa correta. Súmula 166 do STJ

b) Alternativa incorreta. Art. 2, §2º, da LC 87/96.

c) Alternativa incorreta. Art. 3, inciso I, da LC 87/96.

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d) Alternativa incorreta. Art. 3, inciso IV, da LC 87/96.

e) Afirmativa incorreta. Art. 3, inciso II, da LC 87/96.

Questão 3. Sobre as limitações da Competência Tributária, julgue os itens asseguir:


I - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar imposto sobre a renda com
base em lei posterior à data inicial do exercício financeiro a que corresponda.
II - É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e
serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.
III - É facultado à União instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional, ou que importe
distinção ou preferência em favor de determinado Estado ou Município.
a) Os itens I, II e III estão corretos.
b) Os itens I e II estão corretos.
c) Apenas a alternativa II está incorreta.
d) Apenas o item II está correto.
e) Apenas o item I está correto.

Comentários

A afirmativa correta é a letra "D".

I - Correto. Art. 9, inciso I, do CTN c/c artigo 150 da CF

II - Correto. Art. 152 da CF.

III - Incorreta. Art. 151, inciso I, da CF.

2.11 - DIREITO PROCESSUAL COLETIVO


Questão 1. Sobre a ação popular, é correto afirmar:
a) Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a sustar ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
b) É facultado a qualquer pessoa habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.
c) Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e
condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer pessoa, bem como ao representante
do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o
prosseguimento da ação.
d) A sentença que, apreciando o fundamento de direito do pedido, julgar a lide manifestamente temerária,
condenará o autor ao pagamento do décuplo das custas.

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e) A ação popular, em relação ao seu objeto, faz parte do processo coletivo especial, por tratar de direitos
difusos.

Comentários

a- Falta a expressão “salvo comprovada má-fé” do Art. 5º, LXXIII da CF;

b- Facultado a qualquer cidadão, conforme Art. 4º, §5º LAP;

c- Qualquer cidadão e não pessoa pode promover o seguimento da ação, conforme Art. 9º LAP;

d- Correta, conforme Art. 13 da LAP;

e- Incorreta, pois a ação popular faz parte do processo coletivo comum, que não trata de controle abstrato
de constitucionalidade.

Questão 2. Assinale a alternativa correta em relação ao mandado de injunção, previsto na lei 13.300/2016.
a) A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por
decisão transitada em julgado, salvo se a aplicação da norma editada lhes for mais favorável.
b) O Ministério Público possui legitimidade para impetrar mandado de injunção coletivo em qualquer caso.
c) O mandado de injunção coletivo induz litispendência em relação aos individuais.
d) Aplicam-se ao mandado de injunção, as normas do mandado de segurança.
e) No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada erga omnes.

Comentários

a- Correto, de acordo com Art. 11 LMI.

b- Errada, em desacordo com Art. 12, I LMI.

c- Errada, vide Art. 13, p. único LMI.

d- Errada. A aplicação é subsidiária, de acordo com Art. 14 LMI.

e- Errada. Em desacordo com o art. 13, caput, da LMI.

Art. 11. A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos
beneficiados por decisão transitada em julgado, salvo se a aplicação da norma editada lhes for
mais favorável. (Correta)

Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido: I - pelo Ministério Público, quando
a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis;

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Art. 13 Parágrafo único. O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação
aos individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer
a desistência da demanda individual no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada
da impetração coletiva.

Art. 14. Aplicam-se subsidiariamente ao mandado de injunção as normas do mandado de


segurança, disciplinado pela Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009 , e do Código de Processo Civil,
instituído pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 , e pela Lei nº 13.105, de 16 de março de
2015 , observado o disposto em seus arts. 1.045 e 1.046 .

Art. 13. No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente às pessoas
integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo
do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 9º.

Questão 3. Nos termos da lei, cabível ação popular em face de:


a) Atos legislativos.
b) Atos Jurisdicionais.
c) Atos particulares gerais.
d) Atos administrativos.

Comentários

A resposta da questão se dá pela leitura dos artigos 1°, caput, e 6° da Lei n° 4.717/65, para averiguar os
sujeitos passivos da ação popular, e, portanto, determinar quem poderia ter praticado o ato lesivo.

Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade
de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de
sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio
o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio
ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos
Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos
cofres públicos.

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no
art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado,
aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado
oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

Entende-se, portanto, que é correta a alternativa d.

Questão 4. São considerados nulos, nos termos da LAP, os atos que apresentem, EXCETO:
a) Vício de forma.

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b) Ilegalidade do objeto.
c) Abuso de autoridade.
d) Desvio de finalidade.

Comentários

A resposta da questão se dá na simples leitura do artigo 2° da LAP:

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior,
nos casos de:

a) incompetência;

b) vício de forma;

c) ilegalidade do objeto;

d) inexistência dos motivos;

e) desvio de finalidade.

A partir desta leitura, compreende-se como incorreta a alternativa c, tendo em vista que abuso de
autoridade não está inserido no rol apresentado.

Questão 5. Acerca do objeto da ação popular e levando-se em consideração doutrina e jurisprudência, é


incorreto afirmar que os atos atacados:
a) É possível a propositura de ação popular em face de atos particulares que atinjam a moralidade da
administração pública.
b) É possível propor ação popular em face de lesão ao meio ambiente.
c) Nenhuma lei será objeto de ação popular.
d) Não cabe ação popular em face de ato omissivo.

Comentários

Para responder esta questão é necessário olhar para alguns pontos:

i) Apenas será cabível AP em face de particular em casos de lesão ao meio ambiente;

ii) A proteção do ambiente é de responsabilidade também da coletividade, nos termos da Constituição


Federal;

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

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iii) Leis de efeito concreto, isto é, aquelas que independem de fator externo para surtir efeitos, excepcionam
o não cabimento de ação popular em face de ato legislativo.

iv) A AP é oponível a atos tanto comissivos quanto omissivos, preventivos ou repressivos.

A partir do artigo 225 da CF/88, portanto, se compreende que é correta a alternativa b.

Questão 6. Para fins de legitimidade na Ação Popular, considera-se cidadão:


a) Os maiores de 18 anos.
b) Os que detenham título de eleitor.
c) Qualquer pessoa alfabetizada e maior de 18 anos.
d) Brasileiros natos ou naturalizados, maiores de 18 anos e residentes no país.

Comentários

Para responder à questão, deve-se levam em consideração a regra da prova de cidadania constante no §3°
do artigo 1° da LAP:

§ 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com
documento que a ele corresponda.

Nesse sentido, a resposta correta é aquela que diz ser cidadão quem possua Título de Eleitor, sou seja, a
alternativa b.

2.12 - DIREITO MATERIAL COLETIVO


Questão 1. Sobre os princípios do Direito Ambiental, assinale a alternativa correta:
a) De acordo com o princípio da ubiquidade, a conservação do meio ambiente não se prende a situações
geográficas ou referências históricas, extrapolando os limites impostos pelo homem. Os bens ambientais são
transnacionais.
b) O princípio do usuário-pagador incide na hipótese de ocorrência de danos ambientais no âmbito da
utilização de um recurso natural. Tem, portanto, caráter punitivo, voltado à responsabilização do usuário do
bem ambiental quando causar degradação ambiental.
c) Como se sabe, o plástico é um dos grandes vilões da conservação ambiental, tendo em vista que sua
decomposição leva vários anos. Por isso, foram aprovadas algumas leis determinando a cobrança pelo uso
de sacolas plásticas. Tal obrigatoriedade tem como fundamento principal o princípio da participação.
d) A cobrança pelo uso de recursos hídricos, prevista na Lei nº 9.433/97 – Lei de Política Nacional de Recursos
Hídricos, através do sistema de concessão de outorgas, objetiva incentivar a racionalização da água e
encontra fundamento no princípio do protetor-recebedor.
e) O princípio da prevenção opera no âmbito da gestão de riscos potenciais, prescrevendo que, na ausência
de certeza científica, a existência de risco de dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas
efetivas para evitar a degradação ambiental.

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Comentários

Alternativa A: CORRETA

O princípio da ubiquidade define o bem ambiental como despido de fronteiras espaciais, temporais e de
sujeitos. Traduz a ideia de que o meio ambiente é ubíquo, uma vez que está presente em toda e qualquer
parte, e, desta forma, a poluição provoca efeitos cumulativos e sinergéticos, o que também representa a
tônica do princípio da equidade intergeracional.

Nas palavras de Celso Antônio Pacheco Fiorillo:

“Este princípio vem evidenciar que o objeto de proteção do meio ambiente, localizado no
epicentro dos direitos humanos, deve ser levado em consideração toda vez que uma política,
atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade, obra etc. tiver que ser criada e desenvolvida.
Isso porque, na medida em que possui como ponto cardeal de tutela constitucional a vida e a
qualidade de vida, tudo que se pretende fazer, criar ou desenvolver deve antes passar por uma
consulta ambiental, enfim, para saber se há ou não a possibilidade de que o meio ambiente seja
degradado”. (PACHECO FIORILLO, Celso Antônio. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 13ª ed.
rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, p. 131)

A Constituição da República consagra o princípio da ubiquidade ao dispor sobre o direito fundamental ao


meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de
vida, e impor ao Poder Público e à coletividade o dever de preservá-lo e defendê-lo para as presentes e
futuras gerações (art. 225, caput).

Alternativa B: INCORRETA

O princípio do usuário-pagador tem na sua essência uma vertente econômica (não punitiva), com o objetivo
de conscientização e educação ambiental para a utilização racional e eficiente dos recursos naturais. Parte
do pressuposto de que bens sem valor econômico não são valorizados numa sociedade de consumo e que,
por isso, é necessário quantificar economicamente os recursos naturais para evitar o denominado “custo
zero”.

De acordo com o art. 4º, VII, da Lei nº 6.938/81:

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos


causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos.

Destarte, o princípio em comento, embora seja complementar ao princípio do poluidor-pagador, não se


relaciona com a responsabilização por danos ambientais. Se, a despeito do pagamento pelo uso de um
recurso ambiental com fim econômico, o usuário causar dano ambiental, incidirá na hipótese o princípio do
poluidor-pagador, de forma que o agente da poluição, antes apenas usuário, deverá arcar com a reparação
do dano causado.

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Alternativa C: INCORRETA

Trata-se de assertiva cobrada na primeira fase do concurso para Promotor de Justiça do Estado do Piauí
(MPPI – 2019 – CESPE).

A obrigatoriedade de compra de sacolas plásticas é um exemplo concreto de aplicação do princípio do


poluidor-pagador, uma vez que se relaciona com a internalização de externalidades ambientais, com reflexo
no preço do produto.

Trata-se de vertente econômica voltada à promoção da sustentabilidade no consumo, através da avaliação


da “pegada ecológica” dos produtos, por meio da análise dos custos ambientais durante todo o seu ciclo de
vida, a fim de evitar a conhecida “privatização dos lucros e socialização das perdas”.

Alternativa D: INCORRETA

Conforme prescreve o art. 19 da Lei de Política Nacional de Recursos Hídricos:

Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:

I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;

II - incentivar a racionalização do uso da água;

III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados
nos planos de recursos hídricos

O referido instrumento fundamenta-se no princípio do usuário pagador, decorrente da necessidade de


valoração econômica dos recursos naturais para evitar o “custo zero”. Está previsto no art. 4º, VII, da Lei nº
6.938/81, que assim dispõe:

Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos


causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins
econômicos.

O princípio do protetor-recebedor também se fundamenta no ideal de justiça econômica, mas opera no


sentido diametralmente oposto ao princípio do usuário-pagador. Neste caso, não se fala em compensação
pela utilização de bens ambientais, mas na concessão de bonificação pela preservação e renúncia ao uso dos
recursos naturais. Está previsto expressamente no art. 6º, II, da Lei nº 12.305/10 – Lei de Política Nacional
de Resíduos Sólidos.

Alternativa E: INCORRETA

A assertiva traduz o sentido do princípio da precaução, enquanto evolução do princípio da prevenção


direcionado especificamente à gestão de riscos incertos ou desconhecidos.

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Encontra-se previsto no Princípio 15 da Declaração do Rio (Eco/1992): Princípio 15: Com o fim de proteger o
meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério de precaução conforme a suas
capacidades.

Gabarito: A

Questão 2. Não é direito básico do consumidor, previsto no Código de Defesa do Consumidor:


a) a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de
produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.
b) a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências.
c) a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de
escolha e a igualdade nas contratações.
d) a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.
e) A proteção contra variação cambial decorrente de contratos firmados em moeda estrangeira.

Comentários

Todas as alternativas, à exceção da ‘e’ estão contempladas no art. 6º do Código de Defesa do Consumidor, o
que torna a ‘e’ incorreta.

I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no


fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a


liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua


revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

Questão 3. A Constituição Federal elenca princípios norteadores da atividade administrativa, aplicáveis a


todos os Poderes e agentes públicos, sendo eles a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. Sobre o tema, é correto afirmar que:
a) A LIA prevê como ato de improbidade a violação à moralidade administrativa, razão pela qual a doutrina
majoritária entende que moralidade e probidade são conceitos sinônimos.
b) O princípio da moralidade administrativa não difere da moral comum, a não ser em relação ao sujeito a
quem é direcionado.

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c) A moralidade é um requisito de validade do ato administrativo, de modo que um ato contrário a tal
princípio é nulo.
d) A moralidade administrativa é um conceito determinado, não existindo zona de incerteza na qual as
condutas podem ou não ser enquadradas como contrárias a ela.

Comentários

A alternativa A está incorreta, pois, a moralidade administrativa está relacionada à honestidade, à boa-fé, à
lealdade da conduta do agente público, já a probidade também se correlaciona com as mesmas
características que se atribui à moralidade, fazendo com que parte da doutrina trata as expressões como
sinônimas.

Porém, os atos de improbidade descritos na LIA abarcam condutas que vão além da violação à moralidade,
de forma que a doutrina majoritária considera que todo ato imoral configurará ato de improbidade, mas
nem todo ato ímprobo pode ser tachado como imoral.

A alternativa B está incorreta. O princípio da moralidade administrativa manifesta que a conduta dos agentes
públicos deve se pautar na honestidade e na boa-fé, buscando sempre o melhor interesse público.

Por sua vez, a moral comum evidencia os valores que emanam de um grupo social, os quais ditam o que é
considerado como uma conduta correta e o que é reprovável. Apesar da moral comum, servir como ponto
de partida para se definir o conteúdo do princípio da moralidade administrativa, eles não coincidem
inteiramente.

A alternativa C está correta, sendo o gabarito. A aferição da validade de um ato administrativo é realizada
por meio do juízo do atendimento ou não das exigências legais. Como a moralidade, está positivada e tem
conteúdo próprio, é considerada uma moralidade jurídica. Assim, se ato foi editado em desrespeito à
moralidade, ele não atende às exigências legais e, desse modo, também não é válido.

A alternativa D está incorreta, pois uma vez que o conteúdo de moralidade administrativa relaciona-se com
a honestidade, com a boa-fé do agente que pratica o ato administrativo e seja possível delinear o conceito
de moralidade a partir desses elementos, não se consegue definir de antemão o que é honesto do que é
desonesto. Nesse sentido, diz-se que se trata de um conceito jurídico indeterminado, ou seja, não se pode
definir um conceito preciso.

Ainda, justamente por essa razão, a doutrina aponta que há uma zona de incerteza (“zona cinzenta”) no
enquadramento de certas condutas, ou seja, existem certos atos em que se fica na dúvida, se encontrando
em uma zona de incerteza entre aquilo que se consideraria moral e o que se tacharia como imoral.

No entanto, importante ressaltar que a moralidade não está sujeita à discricionariedade do agente, de forma
que a doutrina defende que a moralidade administrativa independe da concepção subjetiva e pessoal de
moral que o agente público tenha, sendo extraída do conjunto de normas existentes no ordenamento
jurídico.

Questão 4. Em relação ao Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e a execução das


medidas destinadas a adolescente que pratique ato infracional, assinale a alternativa incorreta:

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a) A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade
de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21
anos.
b) A decisão judicial relativa à execução de medida socioeducativa será proferida após manifestação da
Defensoria Pública.
c) É legal a internação de adolescente gestante ou com o filho em amamentação, desde que assegurada
atenção integral à sua saúde, bem como as condições necessárias para que permaneça com seu filho durante
o período de amamentação.
d) A regra prevista no art. 49, II, do SINASE deve ser aplicada de acordo com o caso concreto, observando-se
as situações específicas do adolescente, do ato infracional praticado, bem como do relatório técnico e/ou
plano individual de atendimento.

Comentários

A alternativa A está correta. A jurisprudência entende que deve ser permitido o cumprimento da liberdade
assistida até os 21 anos, assim como ocorre com a internação e a semiliberdade.

Súmula 605-STJ: A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato


infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade
assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.

O STF possui o mesmo entendimento manifestado na Súmula 605 do STJ.

Ressalta-se que em 2020 o STJ exarou entendimento de que é válida a extinção de medida socioeducativa
de internação quando o juízo da execução, ante a superveniência de processo-crime após a maioridade
penal, entende que não restam objetivos pedagógicos em sua execução20.

A alternativa B está incorreta, sendo o gabarito. A alternativa não está de acordo com o art. 51 do SINASE,
uma vez que não contemplou a manifestação do Ministério Público, que é necessária para a que a decisão
judicial seja proferida e é considerada direito individual do adolescente.

A alternativa C está correta, o STJ emitiu tal entendimento em decisão recente, confira:

Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em


amamentação, desde que seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de
asseguradas as condições necessárias para que a adolescente submetida à execução de medida
socioeducativa de privação de liberdade permaneça com o seu filho durante o período de
amamentação (arts. 60 e 63, §2º da Lei nº 12.594/12 SINASE).

20
STJ. 6ª Turma. HC 551319-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

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STJ. 5ª Turma. HC 543279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/03/2020 (Info
668)

A alternativa D está correta.

A Lei nº 12.594/2012 (Lei do SINASE) prevê que é direito do adolescente submetido ao


cumprimento de medida socioeducativa "ser incluído em programa de meio aberto quando
inexistir vaga para o cumprimento de medida de privação da liberdade, exceto nos casos de ato
infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, quando o adolescente
deverá ser internado em Unidade mais próxima de seu local de residência".

O simples fato de não haver vaga para o cumprimento de medida de privação da liberdade em
unidade próxima da residência do adolescente infrator não impõe a sua inclusão em programa
de meio aberto, devendo-se considerar o que foi verificado durante o processo de apuração da
prática do ato infracional, bem como os relatórios técnicos profissionais.

A regra prevista no art. 49, II, do SINASE deve ser aplicada de acordo com o caso concreto,
observando-se as situações específicas do adolescente, do ato infracional praticado, bem como
do relatório técnico e/ou plano individual de atendimento.

STJ. 6ª Turma. HC 338517-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 17/12/2015 (Info 576).

Questão 5. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos


Profissionais da Educação (Fundeb) atende toda a educação básica, da creche ao ensino médio. Substituto
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(Fundef), que vigorou de 1997 a 2006, o Fundeb esteve em vigor desde janeiro de 2007 e se estendeu até
2020. O novo Fundeb foi instituído como instrumento permanente de financiamento da educação pública
por meio da Emenda Constitucional n° 108, de 27 de agosto de 2020, e encontra-se regulamentado pela
Lei nº 14.113, de 25 de dezembro de 2020.
Sobre o Fundeb, assinale a alternativa correta:
a) O Fundeb é um Fundo especial, de natureza contábil e de âmbito municipal, conforme disposto nos arts.
212 e 212-A da Constituição Federal.
b) Os recursos oriundos do Fundeb são destinados/distribuídos aos Municípios, para o financiamento de
ações de manutenção e desenvolvimento da educação básica pública.
c) Os Municípios utilizarão os recursos provenientes do Fundeb no ensino fundamental e médio e os Estados
Fundeb na educação infantil e no ensino fundamental.
d) Na distribuição desses recursos será observado o número de matrículas nas escolas públicas e conveniadas
apuradas no último Censo Escolar realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep/MEC).

Comentários

A alternativa A está incorreta. O Fundeb não é de âmbito municipal e sim de âmbito estadual, com um total
de vinte e sete Fundos e composto por recursos provenientes de impostos e das transferências dos Estados,

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Distrito Federal e Municípios vinculados à educação, conforme disposto nos arts. 212 e 212-A da Constituição
Federal.

A alternativa B está incorreta. Mais uma vez, o erro está em afirmar que os recursos são destinados aos
Municípios apenas. Dessa forma, os recursos oriundos do Fundeb são destinados/distribuídos aos Estados,
Distrito Federal e Municípios, para o financiamento de ações de manutenção e desenvolvimento da
educação básica pública, levando-se em consideração os respectivos âmbitos de atuação prioritária,
conforme estabelecido no art. 211, §§2º e 3º da Constituição Federal.

A alternativa C está incorreta. O texto da alternativa trocou o destino dos recursos entre os Municípios e os
Estados. Na verdade, os Municípios utilizarão os recursos provenientes do Fundeb na educação infantil e no
ensino fundamental e os Estados no ensino fundamental e médio.

A alternativa D está correta, sendo o gabarito.

Art. 8º da Lei nº 14.113/2020 Para os fins da distribuição dos recursos de que trata esta Lei, serão
consideradas exclusivamente as matrículas presenciais efetivas, conforme os dados apurados no
censo escolar mais atualizado, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), observadas as diferenças e as ponderações
mencionadas nos arts. 7º e 10 desta Lei.

Questão 6. Assinale a alternativa incorreta:


a) É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados por unidade federativa
e destinados à execução do plano local de imunização.
b) Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no caso de descumprimento do Plano Nacional de
Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 ou na hipótese de cobertura imunológica intempestiva e
insuficiente, poderão dispensar às respectivas populações: a) vacinas das quais disponham, previamente
aprovadas pela Anvisa; e b) no caso não expedição da autorização competente, no prazo de 24 horas, vacinas
registradas por pelo menos uma das autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição
comercial nos respectivos países, bem como quaisquer outras que vierem a ser aprovadas, em caráter
emergencial.
c) O Poder Público não pode ser obrigado a elaborar e implementar plano para o enfrentamento da
pandemia COVID-19 nas comunidades quilombolas.
d) É possível ação direta de inconstitucionalidade por omissão para pleitear a instituição de pagamento de
valor mínimo em favor dos mais necessitados durante situação de calamidade pública decorrente de
pandemia.

Comentários

Atenção, pois a questão exige que se assinale a alternativa incorreta.

A alternativa A está correta, pois, nos termos do entendimento do STF, União não pode requisitar seringas
e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para o plano estadual de imunização e que ainda
estão na indústria, apesar de já terem sido empenhados. Nesse sentido, a requisição administrativa não pode
se voltar contra bem ou serviço de outro ente federativo, sob pena de indevida interferência na autonomia

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de um sobre outro. STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
8/3/2021 (Info 1008).

A alternativa B está correta e se trata de recente precedente do STF. Para a Corte, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, no caso de descumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação
contra a Covid-19 ou na hipótese de cobertura imunológica intempestiva e insuficiente, poderão dispensar
às respectivas populações: a) vacinas das quais disponham, previamente aprovadas pela Anvisa; e b) no caso
não expedição da autorização competente, no prazo de 24 horas, vacinas registradas por pelo menos uma
das autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição comercial nos respectivos países, bem
como quaisquer outras que vierem a ser aprovadas, em caráter emergencial. STF. Plenário. ADPF 770 MC-
Ref/DF e ACO 3451 MC-Ref/MA, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).

A alternativa C está incorreta e é o gabarito da questão. O STF determinou que a União elaborasse plano de
combate à Covid-19 para população quilombola, com a participação de representantes da Coordenação
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Ademais, o STF deferiu o
pedido de suspensão de ações possessórias, reivindicatórias de propriedade, imissões na posse, anulatórias
de processos administrativos de titulação, bem como os recursos vinculados a essas ações, sem prejuízo dos
direitos territoriais das comunidades quilombolas até o término da pandemia. STF. Plenário. ADPF 742/DF,
Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).

A alternativa D está correta. No início da pandemia do COVID-19, chegou a ser proposta uma ADIN por
omissão instando ao Presidente da República e aos Presidentes da Câmara e do Senado a edição de lei
instituindo o pagamento de um valor mínimo às pessoas carentes de recursos, a fim de assegurar a
alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana. Todavia, dias depois, foi publicada a Lei
nº 13.982/2020, que criou o auxílio emergencial. Diante disso, o STF conheceu a ação, ou seja, entendeu ser
cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por omissão para discutir o tema. Mas, julgou seu
mérito prejudicado, em decorrência da aprovação do auxílio emergencial. STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/4/2020 (Info 975)

3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:

MATÉRIA QUESTÕES
Direito Penal 3
Direito Material Coletivo 2
Direito Processual Coletivo 2
Direito Constitucional 2
Direito Administrativo 2
Legislação Penal Especial 2
Direito Processual Civil 2
Direito Processual Penal 2
Direito Civil 1
Direito da Criança e do Adolescente 1

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Direito eleitoral 1

Vamos lá!

3.1 - DIREITO CONSTITUCIONAL


Questão 1. Discorra sobre o conceito de bloco de constitucionalidade.

Comentários

Em decorrência do bloco de constitucionalidade, a validade de lei ou ato normativo deve ser aferida à luz da
ordem constitucional global, isto é, “a apreciação da conformidade de uma lei se dá não só a teor do texto
da Constituição, como também ao seu preâmbulo, à declaração de direitos do homem e aos princípios
fundamentais reconhecidos pelas leis da República, conjunto chamado de bloco de constitucionalidade”
(ARAÚJO, Nadia. O Direito Internacional Privado e a Proteção da Pessoa Humana: evolução do método
conflitual e a observância dos direitos fundamentais. XXVIII Curso de Derecho Internacional organizado por
el Comité Jurídico Interamericano y la Secretaría General de la Organización de los Estados Americanos.
Washington D.C.: OEA, 2002, p. 469).

“Ação direta de inconstitucionalidade. Instrumento de afirmação da supremacia da ordem


constitucional. O papel do Supremo Tribunal Federal como legislador negativo. A noção de
constitucionalidade/inconstitucionalidade como conceito de relação. A questão pertinente ao
bloco de constitucionalidade. Posições doutrinárias divergentes em torno do seu conteúdo. O
significado do bloco de constitucionalidade como fator determinante do caráter constitucional,
ou não, dos atos estatais. Necessidade da vigência atual, em sede de controle abstrato, do
paradigma constitucional alegadamente violado. Superveniente modificação/supressão do
parâmetro de confronto. Prejudicialidade da ação direta. A definição do significado de bloco de
constitucionalidade – independentemente da abrangência material que se lhe reconheça –
reveste-se de fundamental importância no processo de fiscalização normativa abstrata, pois a
exata qualificação conceitual dessa categoria jurídica projeta-se como fator determinante do
caráter constitucional, ou não, dos atos estatais contestados em face da Carta Política. A
superveniente alteração/supressão das normas, valores e princípios que se subsumem à noção
conceitual de bloco de constitucionalidade, por importar em descaracterização do parâmetro
constitucional de confronto, faz instaurar, em sede de controle abstrato, situação configuradora
de prejudicialidade da ação direta, legitimando, desse modo – ainda que mediante decisão
monocrática do Relator da causa – a extinção anômala do processo de fiscalização concentrada
de constitucionalidade. Doutrina. Precedentes” (STF, ADI 595, Rel. Min. Celso de Mello, J.
18.02.2002, DJU 26.02.2002).

Questão 2. O Preâmbulo integra a Constituição Federal? Resposta objetivamente justificada.

Comentários

A natureza jurídica do Preâmbulo é objeto de controvérsia.

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De um lado, Luiz Pinto Ferreira consigna que o Preâmbulo é destituído de normatividade e cogência
(FERREIRA, Luiz Pinto. Comentários à Constituição Brasileira. v. I. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 3).

De outro lado, Tupinambá Castro Nascimento confirma que o Preâmbulo dispõe de valor normativo e força
cogente (NASCIMENTO, Tupinambá Castro. Comentários à Constituição Federal. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1997, p. 134).

O Supremo Tribunal Federal tem entendido que o Preâmbulo não se situa no âmbito do Direito, mas no
domínio da Política.

“Constitucional. Constituição: preâmbulo. Normas centrais. Constituição do Acre. Normas


centrais da Constituição Federal: essas normas são de reprodução obrigatória na Constituição do
Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ou não, incidirão sobre a ordem local.
Reclamações 370-MT e 383-SP (). Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central.
Invocação da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição
estadual, não tendo força normativa. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
improcedente” (STF, ADI 1º 2.076, Rel. Min. Carlos Velloso, J. 15.08.2002, DJU 08.08.2003).

3.2 - DIREITO ADMINISTRATIVO


Questão 1. Tema atual e relevante no Direito Administrativo é a concessão de aposentadoria de servidor
público e a análise de legalidade feita pelas Cortes de Contas Brasil a fora.
João da Silva é servidor público do Tribunal Regional Federal, possuindo os requisitos constitucionais para
aposentadoria. João teve seu pedido de aposentadoria deferido pelo órgão de origem em 01 de setembro
2014.
Em 18 de março de 2015, o processo administrativo chegou ao TCU, que até o presente momento não
realizou a análise de legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria.
Diante do caso apresentando, responda aos itens a seguir, tendo como base a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal sobre o assunto:
a) Qual a natureza jurídica do ato de concessão de aposentadoria?
b) O Tribunal de Contas da União está sujeito a algum prazo para realizar a análise do ato de concessão inicial
de aposentadoria? Se sim, qual o prazo e qual o fundamento legal?
c) Em eventual análise a ser feita pelo TCU, deve haver respeito ao contraditório e a ampla defesa?

Comentários

Nessa rodada, gostaria de discutir com vocês um tema atual na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Trata-se das discussões acerca do ato administrativo de concessão de aposentadoria.

É tema relevante, pois recentemente, o Supremo Tribunal Federal alterou seu entendimento acerca do tema,
o que nos leva a ter certeza que será cobrado nas nossas próximas provas.

Vamos lá.

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De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a concessão de aposentadoria ou pensão


constitui ato administrativo complexo, que somente se aperfeiçoa após o julgamento de sua legalidade pela
Corte de Contas.

O STF, no julgamento do RE-636553/2020, fixou a seguinte tese de repercussão geral: em atenção aos
princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de
cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão,
a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.

Assim, de acordo com a Corte Suprema, diante da inexistência de norma que incida diretamente sobre a
hipótese, aplica-se ao caso o disposto no art. 4º do Decreto-lei 4.657/1942, a Lei de Introdução às normas
do Direito Brasileiro (LINDB).

Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.

Desse modo, tendo em vista o princípio da isonomia, seria correta a aplicação, por analogia, do art. 1º, do
Decreto 20.910/1932.

Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer
direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza,
prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.

Portanto, se o administrado tem o prazo de cinco anos para buscar qualquer direito contra a Fazenda Pública,
também deve-se considerar que o Poder Público, no exercício do controle externo, tem o mesmo prazo para
rever eventual ato administrativo favorável ao administrado.

Desse modo, a fixação do prazo de cinco anos se afigura razoável para que o TCU proceda ao registro dos
atos de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, após o qual se considerarão definitivamente
registrados.

Por conseguinte, a discussão acerca da observância do contraditório e da ampla defesa após o transcurso do
prazo de cinco anos da chegada do processo ao TCU encontra-se prejudicada. Isso porque, findo o referido
prazo, o ato de aposentação considera-se registrado tacitamente, não havendo mais a possibilidade de
alteração pela Corte de Contas.

Questão 2.
a) Caso o Estado proceda com uma obra pública, poderia ser responsabilizado por danos gerados ao
particular?
b) Contra quem a vítima do evento danoso deveria ajuizar a ação de indenização?
c) Há prescrição na Ação de indenização? E na ação de regresso?

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a) O Estado responde civilmente por atos ilícitos ou lícitos. Dessa forma, a antijuridicidade do ato é
prescindível para a responsabilidade do Estado. Um ato válido pode ensejar a responsabilização do poder
público.

Para que o Estado seja responsabilizado por um ato lícito, o dano gerado ao particular deve ser 1) anormal;
2) extraordinário e 3) específico.

A responsabilidade civil do Estado por atos lícitos encontra resguardo na Teoria da Repartição dos encargos
sociais, que está associada ao Princípio da Isonomia.

Nesse sentido, os atos lícitos da Administração que gerem danos a determinados indivíduos devem ser
suportados por toda coletividade, haja vista que esses mesmos atos lícitos geram benefícios à toda
sociedade. Assim, a coletividade que se beneficia do ato lícito danoso tem o dever/ônus de ressarcir aqueles
que sofreram com a conduta estatal. Isso ocorre no momento em que o Estado arca com essa indenização.

Portanto, a responsabilização do Estado por atos lícitos tem o objetivo de evitar a socialização dos bônus e
a privatização dos ônus decorrentes do ato estatal.

b) De acordo com o STF, o art. 37, § 6º da CR/88 protege a vítima, em razão desta ter de ajuizar a ação contra
o Estado, de maneira que este responderia de forma objetiva, prescindindo de comprovação de dolo ou
culpa do agente.

Por outro lado, o dispositivo constitucional também protege o próprio agente causador do dano, uma vez
que só responderia por meio de uma ação de regresso do poder público contra ele, caso haja com dolo ou
culpa. Observe, portanto, que a vítima não pode ajuizar a ação diretamente contra o agente. Deve ajuizar
contra o poder público.

c) Em relação a esta ação, há uma mudança no entendimento do STF. No RE 669069/2016, o Supremo


Tribunal Federal firmou tese de repercussão geral no sentido de que é prescritível a ação de reparação de
danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil. No julgamento, discutiu-se o prazo de prescrição das ações
de ressarcimento por danos causados ao erário. Contudo, observe que essa tese não alcança prejuízos que
decorram de ato de improbidade administrativa.

Entendimento pacífico na doutrina e na jurisprudência é de que o prazo prescricional ação de


responsabilidade civil é de 5 anos, aplicando o art. 1º do Decreto 20.910/32.

STJ entende que o termo inicial para ajuizar ação regressiva é o trânsito em julgado da condenação do ente
público.

3.3 - DIREITO CIVIL


Questão 1. Discorra sobre a limitação voluntária de direitos da personalidade

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Assentado que os direitos da personalidade constituem o plexo de posições jurídicas que tutelam a pessoa
em suas expressões individuais e sociais, salta aos olhos a possibilidade de limitações voluntárias a estes
direitos.

Pode-se afirmar que, em regra, os direitos da personalidade não são disponíveis. Significa que nem o
respectivo titular pode deles abdicar. É o teor do art. 11 do Código Civil:

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis
e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Alinhadas à tutela da autonomia da pessoa, entretanto, doutrina e jurisprudência admitem que haja a
limitação relativa de expressões da personalidade por parte de seu titular. Trata-se, pois, de restrição parcial,
temporária e cujo efeito prática não fulmine o núcleo duro do direito relativizado.

Em arremate, destaque-se:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DIREITO À


IMAGEM. PUBLICAÇÃO EM JORNAL DO TERMO “ACUSADO” PARA REFERIR-SE AO RECORRENTE.
LIBERDADE DE IMPRENSA. AUSÊNCIA DE ABUSO.

1. A imagem é forma de exteriorização da personalidade inserida na cláusula geral de tutela da


pessoa humana (art. 1º, III, da CF e Em. 274 das Jornadas de Direito Civil), com raiz na Constituição
Federal e em diversos outros normativos federais, sendo intransmissível e irrenunciável (CC, art.
11), não podendo sofrer limitação voluntária, permitindo-se a disponibilidade relativa, desde que
não seja de forma geral nem permanente (Em. 4 das Jornadas de Direito Civil).

2. Mesmo nas situações em que há alguma forma de mitigação, não é tolerável o abuso, estando
a liberdade de expressar-se limitada à condicionante ética do respeito ao próximo e aos direitos
da personalidade.

3. Compulsando os autos, é possível verificar, em consonância com a moldura fática estabelecida


pela instância ordinária, que a simples utilização do termo “acusado” para referir-se ao
recorrente não tem o condão de acarretar dano à imagem e à honra, fazendo parte do animus
narrandi e informandi.

4. Agravo interno não provido.

(STJ – AgInt no Resp: 1586380 DF 2014/0055591-9, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data
de Julgamento: 11/06/2019, T4 – QUARTA TURMA, Data de Publicação: Dje 18/06/2019)

3.4 - DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Questão 1. Em processo civil, quais são os critérios definidores da competência absoluta?

Comentários

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A competência absoluta, entendida como aquela que não pode ser modificada pela vontade das partes, por
atender a um interesse de ordem pública, define-se, em regra, pelos critérios hierárquico, funcional e
material.

O critério hierárquico ou funcional impõe o processamento e julgamento da ação por determinado juízo em
razão da pessoa que figura em um dos seus polos (ratione personae) ou da origem/autoria do ato ou fato em
análise, a exemplo das hipóteses de foro por prerrogativa de função e das ações originárias dos Tribunais, na
forma dos artigos 102, I, 105, I, 108, I, e 114, V, todos da Constituição Federal, ou pela verificação de uma
relação de acessoriedade ou dependência com ação anterior, designada como principal, conforme dispõem
os artigos 61 e 286 do Código de Processo Civil, ou mesmo por uma questão de eficiência jurisdicional, de
maneira a otimizar o desempenho da atividade estatal.

O critério material, por sua vez, define a competência de determinado juízo com base na causa de pedir da
ação, em especial por seus fundamentos fáticos, de modo a revelar a natureza da relação jurídica e, assim,
fixar a competência de Justiças Especializadas, a exemplo da Justiça Eleitoral e da Justiça do Trabalho.

Excepcionalmente, pode a competência absoluta ser definida por critério valorativo, isto é, com amparo no
valor da causa, tal como ocorre no âmbito dos Juizados Especiais Federais (art. 3º, §3º, da Lei 10.259/01) e
dos Juizados Especiais da Fazenda Pública (art. 2º, §4º, da Lei 12.153/09), ou pelo critério territorial, em se
tratando de ação fundada em direito real sobre imóvel que recaia sobre direito de propriedade, vizinhança,
servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova (art. 47, §1º, CPC), bem como de ação
possessória imobiliária (art. 47, §2º, CPC) e de ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao
meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico
(art. 2º da Lei 7.347/85).

Em verdade, a atribuição, por via de exceção, de natureza absoluta a tais critérios funda-se em norma que
visa à proteção de interesse público, notadamente a eficiência jurisdicional, razão pela qual se convenciona
nominar de critério valorativo/funcional e territorial/funcional.

Questão 2. É cabível a intervenção iussu iudicis no processo civil brasileiro?

Comentários

A intervenção iussu iudicis, que tem previsão expressa no direito italiano, consiste no ingresso de terceiro
em processo pendente por ordem do Estado-juiz. É dizer, o terceiro é coativamente integrado à lide por
decisão do magistrado. No regime do CPC de 1939, o art. 91 daquele diploma legal consagrava a referida
intervenção, permitindo ao juiz trazer ao processo terceiros que tivessem algum interesse jurídico na causa.

O CPC de 1973, todavia, não repetiu a experiência do Estatuto pretérito. Na verdade, privilegiou o princípio
da inércia determinando que o juiz, caso verifique a ausência de litisconsorte necessário para o regular
trâmite processual, ordene ao autor que adote providências a fim de que sejam todos os litisconsortes
citados para integrar a relação jurídica processual (art. 47, parágrafo único, CPC vigente). Na mesma linha, o
novel diploma processual civil estabeleceu no parágrafo único do art. 115 que “nos casos de litisconsórcio
passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes,
dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo”.

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3.5 - DIREITO PENAL


Questão 1. A Teoria das Velocidades do Direito Penal, proposta por Silva Sánchez, parte da ideia de que o
Direito Penal possui, em seu interior, dois conjuntos diferentes de crimes: o primeiro, com infrações penais
que culminam em penas privativas de liberdade (núcleo); e o segundo, com ilícitos ligados a gêneros mais
próximos do administrativo e de suas sanções (alo periférico), em que se culminaria multas, penas
privativas de direitos, entre outras.
Quais são as chamadas velocidades do Direito Penal; e quais suas características?

Comentários

A Teoria das Velocidades do Direito Penal, em número de quatro, proposta por Silva Sánchez, parte da ideia
de que o Direito Penal possui, em seu interior, dois conjuntos diferentes de crimes: o primeiro, com infrações
penais que culminam em penas privativas de liberdade (núcleo); e o segundo, com ilícitos ligados a gêneros
mais próximos do administrativo e de suas sanções (alo periférico), em que se culminaria multas, penas
privativas de direitos, entre outras.

A primeira velocidade é a mais ligada aos direitos e garantias constitucionais, como a ampla defesa, o
contraditório, a efetivação do devido processo legal, entre outros. Tem-se que o Estado é mais lento em
disciplinar a condenação dos crimes nesta parte, com uma maior extensão do julgamento e aplicação rígida
de pena, culminando na restrição da liberdade do réu.

O Direito Penal de Primeira Velocidade é marcado por aplicação da pena privativa de liberdade, ao mesmo
tempo em que garante ao indivíduo seus direitos e garantias fundamentais.

Na segunda velocidade, experimenta-se uma forma diferente de penalização do ilícito. Aqui não há
necessidade e aplicabilidade da privação de liberdade do agente, mas apenas a aplicação de medidas
alternativas que cumprirão a função sancionadora. Nesse ponto é possível falar numa flexibilização do
sistema penal, marcado pelo afastamento de penas que restrinjam o bem jurídico da liberdade humana, mas
também pela maior celeridade do processo e relativização das regras processuais.

A terceira velocidade, representada pelo Direito Penal do Inimigo, como é chamado por Günther Jakobs, é
tida como um direito de exceção, de emergência. O “inimigo” seria aquele que, cognitivamente, não aceita
se submeter às regras elementares do convívio social. Daí surge a dicotomia “Cidadão — Inimigo”, proposta
por ele como divisão do direito penal. Ao primeiro aplicar-se-ia as normas penais respeitando direitos e
garantias constitucionais; ao segundo, haveria a flexibilização das garantias presentes na Carta Magna.

Segundo Silva Sánchez, a transição da figura de “cidadão” à de “inimigo” seria produzida mediante a
reincidência, a habitualidade, a delinquência profissional e, finalmente, a integração em organizações
delitivas estruturadas.

A quarta velocidade está intimamente ligada ao Direito Penal Internacional e à resolução mundial de
conflitos. Aqui tem-se a figura do Tribunal Penal Internacional (TPI).

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Nesta velocidade, tem-se um aumento do poderio repressor do Estado, inclusive de forma mais arbitrária e
abusiva que o Direito Penal do Inimigo. Por ser de âmbito Penal Internacional, encontra-se muito ligado a
política e a movimentos de seletividade, desrespeitando certas regras, deixando de lado, inclusive, garantias
materiais e processuais dos acusados.

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
A Teoria das Velocidades do Direito Penal, em número
de quatro, proposta por Silva Sánchez, parte da ideia de
que o Direito Penal possui, em seu interior, dois
Identificação das conjuntos diferentes de crimes: o primeiro, com
velocidades do Direito infrações penais que culminam em penas privativas de 10%
Penal. liberdade (núcleo); e o segundo, com ilícitos ligados a
gêneros mais próximos do administrativo e de suas
sanções (alo periférico), em que se culminaria multas,
penas privativas de direitos, entre outras.
O Direito Penal de Primeira Velocidade é marcado por
Análise da primeira
aplicação da pena privativa de liberdade, ao mesmo
velocidade do Direito 20%
tempo em que garante ao indivíduo seus direitos e
Penal –
garantias fundamentais.
Na segunda velocidade, experimenta-se uma forma
Análise da Segunda diferente de penalização do ilícito. Aqui não há
velocidade do Direito necessidade e aplicabilidade da privação de liberdade do 20%
Penal agente, mas apenas a aplicação de medidas alternativas
que cumprirão a função sancionadora.
Análise da terceira A terceira velocidade, representada pelo Direito Penal
velocidade do Direito do Inimigo, como é chamado por Günther Jakobs, é tida 20%
Penal como um direito de exceção, de emergência.
A quarta velocidade está intimamente ligada ao Direito
Análise da quarta
Penal Internacional e à resolução mundial de conflitos.
velocidade do Direito 20%
Aqui tem-se a figura do Tribunal Penal Internacional
Penal
(TPI).
Questão 2. No dia 1º de outubro de 2020, ANTÔNIO MANSO foi autuado em flagrante pelo crime de
estelionato (CP, Art. 171, caput) por ter efetuado ligação clandestina de energia elétrica que possibilitou
o funcionamento de sua empresa, uma pequena gráfica.

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Na audiência de custódia, o autuado foi posto em liberdade provisória, mediante fiança; tendo na
oportunidade apresentado comprovante de quitação do valor devido a título de tarifa pública pela utilização
da energia elétrica obtida ilicitamente.
Encaminhado o auto de prisão em flagrante à Justiça, o Promotor com atribuição para o caso promoveu o
arquivamento do feito sob o fundamento de que a quitação do débito junto à concessionária de energia
operava a extinção da punibilidade do suspeito.
No tocante à atuação do Delegado de Polícia e do membro do Ministério Público, responda:
a) A classificação jurídica do fato feita pela autoridade policial está correta?
b) O fundamento adotado pelo Promotor de Justiça para o arquivamento encontra amparo na jurisprudência
dos tribunais superiores?

Comentários

Ordinariamente, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça classifica o furto de energia elétrica (Gato)
como furto com fraude (CP, Art. 155, §4º, II). Todavia, há precedente reconhecendo a figura do estelionato;
porém, em situação diversa da ligação clandestina. Neste sentido:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECURSO CONHECIDO. ANÁLISE DO MÉRITO RECURSAL. PENAL


E PROCESSUAL PENAL. ALTERAÇÃO NO MEDIDOR DE ENERGIA ELÉTRICA. FRAUDE POR USO DE
SUBSTÂNCIA. REDUÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA. INDUZIMENTO A ERRO DA COMPANHIA
ELÉTRICA. TIPICIDADE LEGAL.

ESTELIONATO. CONDENAÇÃO MANTIDA. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.

1. Extrai-se do autos que fraude empregada pelos agravantes - uso de material transparente nas
fases "a" e "b" do medidor - reduzia a quantidade de energia registrada no relógio e, por
consequência, a de consumo, gerando a obtenção de vantagem ilícita. 2. "No furto qualificado
com fraude, o agente subtrai a coisa com discordância expressa ou presumida da vítima, sendo
a fraude meio para retirar a res da esfera de vigilância da vítima, enquanto no estelionato o autor
obtém o bem através de transferência empreendida pelo próprio ofendido por ter sido induzido
em erro". (AgRg no REsp 1279802/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
8/5/2012, DJe 15/5/2012) 3. O caso dos autos revela não se tratar da figura do "gato" de energia
elétrica, em que há subtração e inversão da posse do bem. Trata-se de prestação de serviço lícito,
regular, com contraprestação pecuniária, em que a medição da energia elétrica é alterada, como
forma de burla ao sistema de controle de consumo, - fraude -, por induzimento ao erro da
companhia de eletricidade, que mais se adequa à figura descrita no art. 171, do Código Penal -
CP (estelionato).

4. Recurso especial desprovido.

(AREsp 1418119/DF, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
07/05/2019, DJe 13/05/2019)

De outro lado, é pacífico o entendimento de que é inviável o reconhecimento da extinção da punibilidade


pela quitação de débito no caso de crime de furto de energia elétrica. Neste sentido:

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AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA MEDIANTE


FRAUDE. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO DO DÉBITO. IMPOSSIBILIDADE.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

1. A Terceira Seção do STJ, no julgamento do RHC n. 101.299/RS, firmou a orientação de que é


inviável o reconhecimento da extinção da punibilidade pela quitação de débito no caso de crime
de furto de energia elétrica.

2. A causa extintiva de punibilidade decorrente do previsto nos arts. 34 da Lei n. 9.249/1995 e 9º


da Lei n. 10.684/2003 não pode ser aplicada, por analogia, aos crimes contra o patrimônio,
notadamente no que tange ao furto de energia elétrica.

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 1799613/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
28/04/2020, DJe 30/04/2020)

Vamos à régua de correção:

COMPOSIÇÃO DA
QUESTIONAMENTO FUNDAMENTO
NOTA DA QUESTÃO
Aspectos
microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
(coerência, clareza, meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
10%
ortografia, propriedade é elemento importante que será considerado para a
vocabular e raciocínio composição da nota.
jurídico)
Classificação jurídica pelo A ligação clandestina de energia elétrica caracteriza furto
40%
Delegado com fraude, nos termos da jurisprudência do STJ.
A Terceira Seção do STJ, no julgamento do RHC n.
Arquivamento pelo 101.299/RS, firmou a orientação de que é inviável o
membro do Ministério reconhecimento da extinção da punibilidade pela 40%
Público quitação de débito no caso de crime de furto de energia
elétrica.
Questão 3 - O Código Penal, no art. 138, § 3º, estabelece que “Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se,
constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime
imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível”.
Dito isso, disserte sobre a “exceção da verdade”, abordando inclusive a competência para julgamento na
hipótese da vítima da suposta ofensa à honra gozar de prerrogativa de foro.
Trace, ainda, um paralelo entre “exceção da verdade” e “exceção de notoriedade”, deixando claro se trata-
se de duas expressões para referir-se ao mesmo instituto.

Comentários

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A exceção da verdade caracteriza-se por ser uma defesa apresentada pelo acusado de calúnia, que prova ser
verdade o fato atribuído ao agente. Sua natureza jurídica é de causa de exclusão da tipicidade, porquanto
exclui o elemento “falsamente”.

Há hipóteses em que a exceção da verdade não é admitida. Duas de cunho processual, preservando
titularidade de ações penais privadas e o trânsito em julgado absolutório, e outra vinculada ao prestígio da
vítima da “calúnia” por seu cargo de Presidente da República ou Chefe de Governo estrangeiro.

Nestas hipóteses em que a exceção da verdade não é admitida, será possível a condenação por calúnia em
razão de imputação de fato verdadeiro, eis que nestes casos não será possível demonstrar a “verdade”.

A doutrina argumenta que as hipóteses em que é vedado o oferecimento da exceção da verdade não teriam
sido recepcionadas pela ordem constitucional, pois afrontam os princípios da ampla defesa e da
inafastabilidade da jurisdição.

“Exceção da verdade” e “exceção de notoriedade” são institutos que não se confundem. Em situações em
que todos têm conhecimento da prática do fato definido como crime, será admitido o oferecimento da
Exceção de Notoriedade (CPP art. 523). Esta tem como finalidade demonstrar a ciência do fato “por todos”
e em razão disto, a afronta à honra objetiva não ocorre, eis que há crime impossível.

CPP Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado,
o querelante poderá contestar a exceção no prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as
testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às
primeiras, ou para completar o máximo legal.

Por fim, caso o “caluniado” goze de foro por prerrogativa de função, a exceção da verdade deverá ser julgada
pelo tribunal em que o sujeito passivo responda criminalmente (CPP art. 85) (STJ, CC 106.625).

CPP Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que
a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação,
àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.

3.6 - DIREITO PROCESSUAL PENAL


Questão 1. No plenário do júri, pode a defesa inovar na tréplica?

Comentários

O rito do júri é escalonado ou bifásico, compreendendo duas fases. A primeira, sumário da culpa, e a segunda
o juízo da causa. Aquela serve como um filtro, para evitar que sejam submetidas a julgamento causas
desprovidas de um mínimo de fundamento. A segunda, compreende a etapa de preparação para o
julgamento e o plenário do júri.

No plenário, após a composição do conselho de sentença e a instrução do feito, as partes seguem para os
debates. O tempo de fala conferido aos litigantes é o seguinte:

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MP DEFESA RÉPLICA TRÉPLICA


1:30 hora (+1 hora se 1:30 hora (+1 hora se 1 hora (ou 2 horas se 1 hora (ou 2 horas se
houver mais de um réu) houver mais de um réu) houver mais de um réu) houver mais de um réu)

Perceba-se que a defesa só tem o direito de ir a tréplica, caso o Ministério Público faça o uso da réplica. É da
defesa, portanto, a prerrogativa de falar por último nos autos.

Isso não significa que ela tenha o direito de inovar na tréplica, surpreendendo o representante do Parquet.

Conquanto o júri oriente-se pelo princípio da plenitude de defesa, espera-se que durante o processo as
partes mantenham um comportamento ético, decorrência essa do princípio da boa-fé, ex vi legis do artigo
6º, do CPC, plenamente aplicável ao processo penal.

Ainda a esse propósito é possível aplicar o princípio da não surpresa, esculpido no artigo 10, do CPC, assim
redigido:

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito
do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria
sobre a qual deva decidir de ofício.

Poderíamos encerrar apenas nesses argumentos, mas há outro, que também tem sede constitucional e que
é norma matriz de todas essas proposições aqui construídas: o princípio do contraditório.

Como decorrência natural do direito de ação (de provocar o Judiciário para obter um provimento), às partes
deve-se assegurar a possibilidade de participar ativamente da formação do convencimento do magistrado,
de sorte que a apresentação de um argumento àquela altura, na tréplica, impediria a parte autora de sobre
ele se manifestar.

Óbvio que a restrição imposta refere-se a argumentos meritórios, já que teses extrajurídicas, tais como
argumentos de política criminal ou de clemência são normais e esperados no procedimento do júri, não
constituindo nenhum fator surpresa.

A esse propósito já decidiu o STJ:

RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. NULIDADE EM


PLENÁRIO. INOVAÇÃO DE TESE NA FASE DE TRÉPLICA. NÃO CONFIGURAÇÃO. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. A inovação de conteúdo na tréplica viola o princípio do contraditório, pois, embora seja


assegurada ao defensor a palavra por último - como expressão inexorável da ampla e plena
defesa - tal faculdade, expressa no art. 477 do CPP, não pode implicar a possibilidade de
inovação em momento que não mais permita ao titular da ação penal refutar seus argumentos.
Tal entendimento, todavia, não se aplica à tese de clemência, uma vez que o quesito previsto
no art. 483, III, do Código de Processo Penal é obrigatório, independentemente do sustentado

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em plenário, em razão da garantia constitucional da plenitude de defesa, cuja ausência de


formulação acarreta nulidade absoluta.

2. Na hipótese, embora haja sido pugnada a absolvição genérica sem conteúdo na tréplica, não
identifico a ocorrência de nenhum prejuízo à acusação, nem mesmo violação do contraditório.
Isso porque não se pode aceitar haver sido o Ministério Público surpreendido pela defesa - razão
de ser da norma processual inserta no art. 482, parágrafo único, do CPP -, especialmente
porquanto, pela ata de julgamento, a defesa apenas sustentou a tese absolutória sem conteúdo,
ou seja, aquela prevista obrigatoriamente em lei.

3. Recurso especial conhecido e não provido.

(REsp 1451538/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
08/11/2018, DJe 23/11/2018)

Questão 2. Indique os possíveis veredictos do conselho de sentença, explicando as suas principais


consequências, mormente em relação aos crimes conexos.

Comentários

O Tribunal do Juri guia-se pelo princípio da soberania dos veredictos, sendo certo que a deliberação tomada
pelos jurados é insuscetível de revisão, seja pelo magistrado presidente, seja pelo Tribunal. Tanto é assim
que eventual recurso baseado na tese de que o julgamento foi manifestamente contrário à prova dos autos
somente pode resultar de anulação, jamais reforma.

Pois bem.

Ao cabo dos debates em plenário, os jurados são convidados à sala secreta para que possam proferir o seu
julgamento, e os veredictos possíveis são: condenação, absolvição e desclassificação.

Em relação à condenação, os jurados reconhecem autoria, materialidade e respondem negativamente ao


quesito genérico “o jurado absolve o acusado?”. Nesta situação, acaso exista algum privilégio e qualificadora,
eles são enfrentados pelos jurados, nesta exata ordem. Após a votação, os autos são remetidos ao
magistrado que fará a dosimetria da pena, baseado na decisão dos jurados: nem mais, nem menos. Lembre-
se da novel redação da alínea “e”, do artigo 492, do CPP, que trata da execução provisória de pena, quando
a sanção corporal ultrapassar 15 (quinze) anos, e cuja legalidade é refutada veementemente pelo STJ.

No veredicto absolutório, os jurados negam autoria, materialidade ou respondem positivamente ao quesito


genérico. Neste caso, eles reconhecem a existência de crime doloso contra a vida, declarando-se
competentes, de sorte que mantém a sua atribuição para apreciar os crimes conexos.

Já no veredicto desclassificatório, os jurados reconhecem autoria e materialidade, mas em quesito próprio,


afastam o elemento subjetivo “animus necandi”: “em assim agindo, o réu iniciou um ato de matar alguém,
que somente não se consumou, por circunstâncias alheias à sua vontade, consistente em erro de pontaria?”.
Ao responder negativamente a esta questão, eles negam o dolo, desclassificando a conduta. Anunciam-se
incompetentes para o julgamento da causa (já que a Constituição os vocaciona para julgamento dos crimes

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dolosos contra a vida apenas), de sorte que o juiz presidente passa a ser o responsável pelo julgamento tanto
do crime “desclassificado”, quanto pelo conexo. É a dicção dos §§ 1º e 2º, do artigo 492, do CPP.

3.7 - LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Questão 1. Discorra sobre a atuação e o papel das autoridades policial e judicial quando da lavratura de
termo ciscuntanciado de ocorrência no caso de flagrante de infração ao artigo 28 da Lei n.º 11.343/06.

Comentários

Conforme a previsão do art. 48, §3º, da Lei n.º 11.343/06, somente na ausência da autoridade judicial é que
a autoridade policial atuará para tomar as providências legais. Veja-se:

Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo
disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo
Penal e da Lei de Execução Penal.

§ 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso
com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts.
60 e seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais
Criminais.

§ 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante,
devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste,
assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e
providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.

§ 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º deste artigo serão


tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção
do agente.

[...]

A questão foi recentemente discutida no Supremo Tribunal Federal em sede de controle concentrado de
constitucionalidade (ADI n.º 3807), e ementada da seguinte forma:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 3º DO ART. 48 DA LEI N. 11.343/2006.


PROCESSAMENTO DO CRIME PREVISTO NO ART. 28 DA LEI N. 11.343/2006. ATRIBUIÇÃO À
AUTORIDADE JUDICIAL DE LAVRATURA DE TERMO CIRCUNSTANCIADO E REQUISIÇÃO DOS
EXAMES E PERÍCIAS NECESSÁRIOS. CONSTITUCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA DE ATO DE
INVESTIGAÇÃO. INOCORRÊNCIA DE ATRIBUIÇÃO DE FUNÇÃO DEPOLÍCIA JUDICIÁRIA AO PODER
JUDICIÁRIO. AÇÃO DIRETA JULGADA IMPROCEDENTE.

A Ministra relatora Cármen Lúcia sustentou que:

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[...] de acordo com o parágrafo 3º do artigo 48 da Lei de Drogas, a autoridade policial, em relação
a quem adquirir, guardar ou transportar droga para consumo pessoa, pode lavrar o flagrante e
tomar as providências previstas na lei “se ausente a autoridade judicial”. Segundo a relatora,
presume-se que, presente a autoridade judicial, cabe a ela a adoção dos procedimentos, até
mesmo quanto à lavratura do termo circunstanciado. Em qualquer dos casos, é vedada a
detenção do autor. Essa interpretação, a seu ver, é a que mais se amolda à finalidade dos
dispositivos, que é a despenalização do usuário de drogas.

De acordo com o procedimento previsto na norma, o autor do crime deve, de preferência, ser
encaminhado diretamente ao juízo competente, se disponível, para que ali seja lavrado o termo
circunstanciado de ocorrência e requisitados os exames e perícias necessários. Esse
procedimento, segundo a ministra, afasta a possibilidade de que o usuário de drogas seja preso
em flagrante ou detido indevidamente pela autoridade policial. “As normas foram editadas em
benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do ambiente policial quando possível e evitar
que seja indevidamente detido pela autoridade policial”, destacou.

[...] o dispositivo não atribuiu ao órgão judicial competências de polícia judiciária, pois a lavratura
de TCO não configura ato de investigação, mas peça informativa, com descrição detalhada do
fato e as declarações do condutor do flagrante e do autor do fato21.

Decidiu a Suprema Corte, portanto, que as disposições do artigo 48, §§ 2º e 3º, da Lei de Drogas são
constitucionais e não violam o papel do juiz no sistema acusatório, ou seja, não ofende a Constituição e nem
interfere na imparcialidade. E assim entendeu por considerar que "o termo circunstanciado não é
procedimento investigativo, mas peça informativa com descrição detalhada do fato e as declarações do
condutor do flagrante e do autor do fato".

As consequências desta decisão são seríssimas, pois, como não poderia deixar de ser, diversas outras
autoridades (como os Delegados de Polícia) já se mobilizam para o fim de retirar da atribuição da Polícia Civil
a confecção de Termos Circunstanciados referentes a este crime (Disponível em:
https://adepoldobrasil.org.br/recomendacoes-de-medidas-a-serem-adotadas-nos-casos-de-posse-de-
drogas-com-base-no-julgado-da-adi-3807/. Acesso: 30/09/2020).

Diante dessas informações, tempos difíceis virão. Será que realmente o Termo Circunstanciado não é um
Procedimento Investigatório simplificado? Será que o Poder Judiciário terá que se estruturar para, além do
juízo de garantas, criar Juizados próprios para cuidar das dezenas de ocorrêncas diárias refernetes ao artigo
28 da Lei de Drogas? Será que é função do Juiz plantonista cuidar disso (vide artigo 1º da Resolução CNJ nº
71/2009)? Pense sobre isso!

Questão 2. É possível responsabilizar uma pessoa jurídica na esfera penal? Em que consiste a teoria da
dupla imputação? Esta teoria é aplicada no Direito pátrio?

Notícia publicada no portal do Superior Tribunal Federal:


21

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=447219.

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Comentários

A Constituição da República estabelece que:

CRFB Art. 225, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Destarte, objetivando interpretar o dispositivo supra e estabelecer (ou não) a possibilidade de


responsabilização penal da pessoa jurídica, três correntes apresentam-se:

1ª Corrente – Não há previsão constitucional sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica


(minoritária): segundo este entendimento, a CRFB (art. 225, §3º) teria relacionado condutas a pessoas físicas
e sanções penais, por sua vez, as atividades estariam relacionadas às pessoas jurídicas e sanções
administrativas. Assim, as condutas de pessoas físicas estariam sujeitas ao Direito Penal, enquanto as
atividades de pessoas jurídicas estariam sujeitas ao Direito Administrativo.

2ª Corrente – Pessoa jurídica não pode cometer crimes - Societas delinquere non potest (minoritária):
embasando-se na teoria da ficção de Savigny, as pessoas jurídicas teriam existência meramente fictícia e, em
razão disto, seriam desprovidas de vontade e consciência próprias e não praticariam conduta. Assim, como
não agiriam com dolo ou culpa, em razão da inexistência de responsabilidade penal objetiva não cometeriam
crimes. Além do mais, não haveria culpabilidade, vez que a reprovabilidade pessoal da conduta não seria
dirigida à pessoa jurídica, mas à pessoa física representante daquela. Também não haveria sentido a
aplicação de pena à pessoa jurídica, vez que as finalidades da pena não incidiriam sobre a pessoa jurídica e
haveria violação ao princípio da intranscendência da pena.

3ª Corrente – Pessoa jurídica pode cometer crime - teoria da realidade, de Otto Gierke (STJ, REsp 610.114):
a pessoa jurídica seria um ente real com capacidade e vontade próprias, distintas das pessoas físicas que a
compõem, assim, não há de se falar em responsabilidade penal objetiva. As mesmas, ainda, possuem
capacidade de culpabilidade (relacionada à vontade do administrador) e de sanção penal. Além disso, ela é
dotada de capacidade de pena, não havendo violação ao princípio da pessoalidade da pena. Ressalta-se,
também, que há previsão na legislação infraconstitucional de penas aplicáveis às pessoas jurídicas e a
Constituição (art. 225, § 3º; CRFB art. 173, §5º) prevê expressamente a responsabilidade da pessoa jurídica.

Os tribunais pátrios, então, estabeleceram que é possível a responsabilizar uma pessoa jurídica na esfera
penal, pela prática de crime ambiental.

Isso ocorre quando preenchidos os seguintes requisitos cumulativos: (a) infração cometida em benefício ou
interesse da PJ; e (b) por decisão do representante legal ou contratual da PJ, ou de seu órgão colegiado;

Lei 9.605/98 Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por
decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
beneficio da sua entidade.

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Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou participes do mesmo fato.

Por fim, a teoria da dupla imputação consistia na necessidade da denúncia do Ministério Público relacionar,
a um só tempo, a pessoa jurídica e a pessoa física que atuou em benefício daquela, figurando ambos em
litisconsórcio passivo necessário.

Essa teoria, entretanto, não é mais aplicada pelos tribunais superiores.

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE


PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À
PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal
da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe
a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se
caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo
inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3.
Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a
pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do
constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de
evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização
dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico
ambiental. 4. A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da
produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de
esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas
atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em
benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado
delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa
jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras
oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal
modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. 5. Recurso
Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido.

(RE 548181, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. RESPONSABILIDADE


PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIME AMBIENTAL: DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO
CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA JURÍDICA.

1. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não
condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma
constitucional não impõe a necessária dupla imputação." (RE 548181, Relatora Min. ROSA

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WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico DJe-213, divulg. 29/10/2014,
public. 30/10/2014).

2. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos
ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em
seu nome. Precedentes desta Corte.

3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática
de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução.

4. Recurso ordinário a que se nega provimento.

(RMS 39.173/BA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
06/08/2015, DJe 13/08/2015)

3.8 - DIREITO ELEITORAL


Questão 1. É admissível que estrangeiro obtenha alistamento eleitoral no Brasil? Resposta objetivamente
justificada.

Comentários

Sim, é admissível que estrangeiro obtenha alistamento eleitoral no Brasil, na hipótese de português com
residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiro, como preceitua o art. 12, §
1º.

Neste caso, ao nacional da República de Portugal são atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro,
ressalvado, no âmbito do Direito Eleitoral, o acesso aos cargos privativos de brasileiro nato sobre os quais
versa o art. 12, § 3º, todos da Constituição da República.

3.9 - DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Questão 1. Em entrevista a um programa televisivo, um dos entrevistados disse que “os adolescentes
assumem o BO, porque não dá em nada”.
Na qualidade de membro do Ministério Público, responda de forma técnica se a pessoa adolescente pode
ter sua liberdade cerceada e, em caso positivo, qual o procedimento a ser seguido para tanto.

Comentários

O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece, no art. 106, que:

ECA Art. 106 - Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.

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Havendo flagrante de ato infracional, o procedimento policial seguirá as seguintes etapas:

a) Adolescente é apresentado à autoridade policial (ECA art. 172);

b) Formalização do flagrante de ato infracional (ECA art. 173): se for ato infracional com violência ou grave
ameaça à pessoa, o delegado deve lavrar auto de apreensão de adolescente (ECA art. 173, caput). Por outro
lado, em se tratando de ato infracional sem violência ou grave ameaça à pessoa, o delegado pode lavrar: (i)
auto de apreensão de adolescente, ou (ii) boletim de ocorrência circunstanciada (ECA art. 173, parágrafo).

c) Destinação do adolescente (ECA art. 174): formalizado o flagrante, o delegado tem duas opções:

c.1) Liberação do adolescente para os pais ou responsável, sob compromisso de apresentação do infrator
ao MP (ECA art. 174, 1ª Parte): Nesta hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente,
cópia do auto de apreensão ou do BOC ao Ministério Público (ECA art. 176).

c.2) Não liberação do adolescente quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva
o mesmo permanecer sob internação para garantia da sua segurança ou da ordem pública (ECA art. 174, 2ª
Parte): Nessa hipótese, a autoridade policial deverá encaminhar, imediatamente, o adolescente ao MP,
juntamente com cópia do auto de apreensão ou do BOC, ou, sendo impossível a apresentação imediata,
encaminhará o mesmo à entidade de atendimento (ECA art. 175, caput e §1º).

Caso não haja entidade de atendimento, o delegado poderá deixar o adolescente apreendido por até 24
horas, devendo este permanecer em repartição especializada para menores. Caso esta seja inexistente,
ficará em dependência comum separada da destinada aos maiores (ECA art. 175, §2º).

O procedimento será seguido, então, por etapas ministerial e judicial.

Noutro giro, caso o cerceamento da liberdade dê-se por ordem judicial, o infante deverá ser encaminhado
diretamente à autoridade judiciária (ECA art. 171).

3.10 - DIREITO PROCESSUAL COLETIVO


Questão 1. Em face do desastre ambiental decorrente do rompimento de barragem de determinada
empresa, Fulano de Tal propôs ação popular contra a União, o Estado-membro e a empresa responsável
pela exploração de minério visando a condenação dos réus a: (i) recuperar o meio ambiente degradado
pelo rompimento da barragem; (ii) pagar indenização pelos danos materiais e morais decorrentes do
desastre, no valor de R$ 4.000.000.000,00 (quatro bilhões de reais); (iii) pagar multa civil por dano
ambiental, em montante a ser arbitrado pelo juízo. A ação foi proposta perante o foro do domicílio do
autor e o magistrado, ao examinar a inicial, entendeu que o foro competente, na situação específica dos
autos, não se enquadraria na regra geral do domicílio do autor, haja vista que, em virtude da defesa do
interesse coletivo, o processamento da ação seria mais bem realizado no local da ocorrência do ato que o
cidadão pretende ver anulado. Remetidos os autos foro de ocorrência do dano, foi suscitado o conflito de
competência.
Em face da divergência instaurada, responda qual o foro competente para processar e julgar o feito.

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Comentários

De acordo com o art. 5º da Lei 4.717/65, a competência para processar e julgar a ação popular será
determinada conforme a origem do ato lesivo impugnado, de modo que será competente a Justiça Federal
se houver interesse da União e caberá à Justiça Estadual o seu exame quando a questão for de interesse dos
Estados ou Municípios.

Não há, entretanto, regramento específico sobre a competência territorial, limitando-se o art. 22 da
mencionada legislação a estabelecer que se aplicam, subsidiariamente, as disposições do CPC naquilo em
que não contrarie sua normatização. O STJ, em mais de uma oportunidade, já enfrentou a questão e
consagrou o entendimento de que a competência é do foro do domicílio do autor da ação popular, sendo
desarrazoada qualquer outra interpretação para determinar o processamento da demanda perante o foro
do local em que se consumou o ato.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO POPULAR AJUIZADA EM FACE DA UNIÃO. LEI


4.717/65. POSSIBILIDADE DE PROPOSITURA DA AÇÃO NO FORO DO DOMICÍLIO DO AUTOR.
APLICAÇÃO DOS ARTS. 99, I, DO CPC, E 109, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Não havendo
dúvidas quanto à competência da Justiça Federal para processar e julgar a ação popular proposta
em face da União, cabe, no presente conflito, determinar o foro competente para tanto: se o de
Brasília (local em que se consumou o ato danoso), ou do Rio de Janeiro (domicílio do autor). 2. A
Constituição Federal de 1988 dispõe, em seu art. 5º, LXXIII, que "qualquer cidadão é parte
legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência". Tal ação é regulada pela Lei 4.717/65, recepcionada pela
Carta Magna. 3. O art. 5º da referida norma legal determina que a competência para
processamento e julgamento da ação popular será aferida considerando-se a origem do ato
impugnado. Assim, caberá à Justiça Federal apreciar a controvérsia se houver interesse da União,
e à Justiça Estadual se o interesse for dos Estados ou dos Municípios. A citada Lei 4.717/65,
entretanto, em nenhum momento fixa o foro em que a ação popular deve ser ajuizada, dispondo,
apenas, em seu art. 22, serem aplicáveis as regras do Código de Processo Civil, naquilo em que
não contrariem os dispositivos da Lei, nem a natureza específica da ação. Portanto, para se fixar
o foro competente para apreciar a ação em comento, mostra-se necessário considerar o objetivo
maior da ação popular, isto é, o que esse instrumento previsto na Carta Magna, e colocado à
disposição do cidadão, visa proporcionar. 4. Segundo a doutrina, o direito do cidadão de
promover a ação popular constitui um direito político fundamental, da mesma natureza de
outros direitos políticos previstos na Constituição Federal. Caracteriza, a ação popular, um
instrumento que garante à coletividade a oportunidade de fiscalizar os atos praticados pelos
governantes, de modo a poder impugnar qualquer medida tomada que cause danos à sociedade
como um todo, ou seja, visa a proteger direitos transindividuais. Não pode, por conseguinte, o
exercício desse direito sofrer restrições, isto é, não se pode admitir a criação de entraves que
venham a inibir a atuação do cidadão na proteção de interesses que dizem respeito a toda a
coletividade. 5. Assim, tem-se por desarrazoado determinar-se como foro competente para
julgamento da ação popular, na presente hipótese, o do local em que se consumou o ato, ou seja,
o de Brasília. Isso porque tal entendimento dificultaria a atuação do autor, que tem domicílio no
Rio de Janeiro. 6. Considerando a necessidade de assegurar o cumprimento do preceito

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constitucional que garante a todo cidadão a defesa de interesses coletivos (art. 5º, LXXIII), devem
ser empregadas as regras de competência constantes do Código de Processo Civil - cuja aplicação
está prevista na Lei 4.717/65 -, haja vista serem as que melhor atendem a esse propósito. 7. Nos
termos do inciso I do art. 99 do CPC, para as causas em que a União for ré, é competente o foro
da Capital do Estado. Esse dispositivo, todavia, deve ser interpretado em conformidade com o §
2º do art. 109 da Constituição Federal, de modo que, em tal caso, "poderá o autor propor a ação
no foro de seu domicílio, no foro do local do ato ou fato, no foro da situação do bem ou no foro
do Distrito Federal" (PIZZOL, Patrícia Miranda. "Código de Processo Civil Interpretado",
Coordenador Antônio Carlos Marcato, São Paulo: Editora Atlas, 2004, p. 269). Trata-se, assim, de
competência concorrente, ou seja, a ação pode ser ajuizada em quaisquer desses foros. 8. Na
hipótese dos autos, portanto, em que a ação popular foi proposta contra a União, não há falar
em incompetência, seja relativa, seja absoluta, do Juízo Federal do domicílio do demandante. 9.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da 10ª Vara Federal da Seção Judiciária
do Estado do Rio de Janeiro, o suscitado22.

No entanto, o caso apresentado possui contornos fáticos que ensejam uma análise diferenciada, exigindo-
se a realização do devido distinguishing. É que o dano derivado de rompimento de barragem tem potencial
para desencadear uma cadeia sucessiva de ações populares e civis públicas, além de inúmeras ações
individuais, não se amoldando aos precedentes que versaram sobre ação popular de forma isolada. Assim, a
fixação da competência no foro do local do fato revela-se útil e necessário à efetividade da tutela jurisdicional
e a defesa do meio ambiente, tal como decidiu o STJ em elucidativo precedente:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. DIREITO AMBIENTAL. DESASTRE DE BRUMADINHO.


ROMPIMENTO DE BARRAGEM DA EMPRESA VALE DO RIO DOCE. AÇÃO POPULAR. LEI 4.717/1965.
COMPETÊNCIA PARA JULGAR A AÇÃO POPULAR QUANDO JÁ EM ANDAMENTO AÇÃO CIVIL
PÚBLICO COM OBJETO ASSEMELHADO. DISTINGUISHING. TEMA AMBIENTAL. FORO DO LOCAL
DO FATO. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

HISTÓRICO DA DEMANDA

1. Trata-se, na origem, de Ação Popular proposta por Felipe Torello Teixeira, advogado
qualificado nos autos, contra a União, o Distrito Federal, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A.,
objetivando liminarmente o bloqueio de ativos financeiros dos réus, no valor de R$
4.000.000.000,00 (quatro bilhões de reais) e, ao final, a confirmação da tutela liminar, cumulada
com a declaração de nulidade dos atos comissivos da Vale S.A. e omissivos da União, do Distrito
Federal e do Estado de Minas Gerais, bem como a condenação dos réus a: a) recuperar o meio
ambiente degradado pelo rompimento da barragem da Vale S.A. no Município de Brumadinho –
MG; b) pagar indenização pelos danos materiais e morais decorrentes do desastre, no valor de
R$ 4.000.000.000,00 (quatro bilhões de reais); c) a pagar multa civil por dano ambiental, em
montante a ser arbitrado por este Juízo. Neste momento, o STJ aprecia apenas o Conflito de
Competência. 2. O juiz suscitado entendeu que o foro competente, na situação específica dos

22
STJ, CC 47.950/DF, 1ª Seção, rel. Min. Denise Arruda, DJ 07/05/2007, p. 252.

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autos, não se enquadraria na regra geral do domicílio do autor, haja vista que, em virtude da
defesa do interesse coletivo, o processamento da ação seria mais bem realizado no local da
ocorrência do ato que o cidadão pretende ver anulado. O juiz suscitante, por sua vez, defende
que o julgamento poderá ser atribuído à Vara Federal do domicílio do peticionante.

A JURISPRUDÊNCIA DO STJ À LUZ DAS CIRCUNSTÂNCIAS PECULIARES DO CASO CONCRETO

3. Não se desconhece a jurisprudência do STJ favorável a que, sendo igualmente competentes o


juízo do domicílio do autor popular e o do local onde houver ocorrido o dano (local do fato), a
competência para examinar o feito é daquele em que menor dificuldade haja para o exercício da
Ação Popular. A propósito: CC 47.950/DF, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Seção, DJ
7/5/2007, p. 252; CC 107.109/RJ, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, DJe 18/3/2010. 4.
Malgrado isso, as circunstâncias do caso concreto devem ser analisadas de forma que se ajuste
o Direito à realidade. Para tanto, mister recordar os percalços que envolveram a definição da
competência jurisdicional no desastre de Mariana/MG, o que levou o STJ a eleger um único juízo
para todas as ações, de maneira a evitar decisões conflitantes e possibilitar que a Justiça se realize
de maneira mais objetiva, célere e harmônica. 5. A hipótese dos autos apresenta inegáveis
peculiaridades que a distinguem dos casos anteriormente enfrentados pelo STJ, o que impõe
adoção de solução mais consentânea com a imprescindibilidade de se evitar tumulto processual
em demanda de tamanha magnitude social, econômica e ambiental. Assim, necessário superar,
excepcionalmente, a regra geral contida nos precedentes invocados, nos moldes do que dispõe
o art. 489, § 1º, VI, do CPC/2015. De fato a tragédia ocorrida em Brumadinho/MG invoca solução
prática diversa, a fim de entregar, da melhor forma possível, a prestação jurisdicional à população
atingida. Impõe-se, pois, ao STJ adotar saída pragmática que viabilize resposta do Poder Judiciário
aos que sofrem os efeitos da inominável tragédia.

DISTINGUISHING: AÇÃO POPULAR ISOLADA E AÇÃO POPULAR EM COMPETIÇÃO COM AÇÃO CIVIL
PÚBLICA COM OBJETO ASSEMELHADO

6. A solução encontrada é de distinguishing à luz de peculiaridades do caso concreto e não de


revogação universal do entendimento do STJ sobre a competência para a ação popular,
precedentes que devem ser mantidos, já que lastreados em sólidos e atuais fundamentos legais
e justificáveis argumentos políticos, éticos e processuais. 9. Assim, a regra geral do STJ não será
aplicada aqui, porque deve ser usada quando a Ação Popular for isolada. Contudo, na atual
hipótese, tem-se que a Ação Popular estará competindo e concorrendo com várias outras Ações
Populares e Ações Civis Públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações individuais,
razão pela qual, em se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do local do
fato.

AÇÃO POPULAR EM TEMAS AMBIENTAIS

8. Deveras a Lei de Ação Popular (Lei 4.717/1965) não contém regras de definição do foro
competente. À época de sua edição, ainda não vigorava a Lei da Ação Civil Pública (Lei
7.347/1985); portanto se utilizava, até então, o CPC, subsidiariamente. Todavia, com a
promulgação da retromencionada Lei 7.347/1985, a aplicação subsidiária do CPC passou a ser
reservada àqueles casos para os quais as regras próprias do processo coletivo também não se

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revelassem suficientes. 9. Nesse contexto, a definição do foro competente para a apreciação da


Ação Popular, máxime em temas como o de direito ambiental, reclama a aplicação, por analogia,
da regra pertinente contida no artigo 2º da Lei da Ação Civil Pública. Tal medida se mostra
consentânea com os princípios do Direito Ambiental, por assegurar a apuração dos fatos pelo
órgão judicante que detém maior proximidade com o local do dano e, portanto, revela melhor
capacidade de colher as provas de maneira célere e de examiná-las no contexto de sua produção.
10. É verdade que, ao instituir a Ação Popular, o legislador constituinte buscou privilegiar o
exercício da fiscalização e da própria democracia pelo cidadão. Disso não decorre, contudo, que
as Ações Populares devam ser sempre distribuídas no foro mais conveniente a ele; neste caso, o
de seu domicílio. Isso porque, casos haverá, como o destes autos, em que a defesa do interesse
coletivo será mais bem realizada no local do ato que, por meio da ação, o cidadão pretenda ver
anulado. Nessas hipóteses, a sobreposição do foro do domicílio do autor ao foro onde ocorreu o
dano ambiental acarretará prejuízo ao próprio interesse material coletivo tutelado por
intermédio desta ação, em benefício do interesse processual individual do cidadão, em manifesta
afronta à finalidade mesma da demanda por ele ajuizada.

AUSÊNCIA DE PREJUÍZO PARA O AUTOR DA AÇÃO POPULAR

11. Cumpre destacar que, devido ao processamento eletrônico, as dificuldades decorrentes da


redistribuição para local distante do domicílio do autor são significativamente minimizadas, se
não totalmente afastadas, em decorrência da possibilidade de acesso integral aos autos por meio
do sistema de movimentação processual.

COMPETÊNCIA DO LOCAL DO FATO

12. Na presente hipótese, é mais razoável determinar que o foro competente para julgamento
desta Ação Popular seja o do local do fato. Logo, como medida para assegurar a efetividade da
prestação jurisdicional e a defesa do meio ambiente, entende-se que a competência para
processamento e julgamento do presente feito é da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do
Estado de Minas Gerais.

CONCLUSÃO 13. Conflito de Competência conhecido para declarar competente o Juízo


suscitante23.

Questão 2. Discorra sobre o objeto do processo coletivo, devendo seu texto obrigatoriamente observar os
seguintes aspectos:
i) Diferença entre direitos e interesses;
ii) Posições acerca da natureza dos direitos metaindividuais.

Comentários

23
STJ, CC 164.362/MG, 1ª Seção, rel. Min. Herman Benjamin, j. 12.06.2019, DJe 19.12.2019.

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Nessa questão é necessário demonstrar que:

i) O objeto de tutela do direito processual coletivo são os direitos e interesses coletivos, e estes são
individualizados por meio do artigo 81 do CDC:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais,
de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem


comum.

A partir da indicação do objeto, é possível prosseguir para o a diferenciação, de fato, entre direitos e
interesses.

• Direito pode ser compreendido como a pretensão tutelada pelo ordenamento jurídico;
• Interesse, por sua vez, é a pretensão que ainda não se encontra tutelada pela norma jurídica.

O segundo ponto a ser abordado, diz respeito aos posicionamentos acerca da composição dos interesses
metaindividuais, isto é, aqueles que transbordam a individualidade e se mostram de tutela coletiva.



Posicionamento
Posicionamento
(Dominante)

Difusos Difusos

Coletivos Coletivos

Individuais
Homogêneos

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Os posicionamentos são no sentido de reconhecer ou não os individuais homogêneos enquanto parte


integrante dos direitos ou interesses metaindividuais. A corrente majoritária argui pela não inclusão.

3.11 – DIREITO MATERIAL COLETIVO


Questão 1. Pode o Ministério Público, em sede de ação civil pública, questionar políticas públicas cuja
discricionariedade pertence ao Poder Executivo? Fundamente na lei e na Constituição.

Comentários

1. Para responder à questão, o candidato deverá iniciar a resposta fazendo uma ponderação entre o art. 2o
da CRFB, que estabelece a independência entre os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), e o art. 5o,
XXXV, que garante a todos o direito de petição no caso de lesão ou ameaça a direito. Neste campo, deve- se
abordar os objetivos da República (art. 3o da CRFB), que, por se constituir em um Estado de Bem-Estar Social
(welfare state), exige-se mais do que políticas públicas de mera abstenção.

2. Ainda no campo constitucional, deve haver menção ao art. 127, que atribui ao Ministério Público a defesa
dos interesses sociais e individuais indisponíveis, inclusive quando a violação partir de ação ou omissão
estatal – pois a defesa da ordem jurídica engloba, também, a exigência que se faça respeitar os direitos
fundamentais de segunda e terceira geração. Assim, haverá campo de atuação ao Ministério Público nas
hipóteses em que a inércia ou a morosidade do Poder Executivo puder resultar em violação aos direitos
fundamentais.

3. No campo legal, deve-se mencionar especialmente a Lei n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), que confere
ao Ministério Público (art. 5o, I) legitimidade para propor a ação quando houver dano causado, dentre
outros, a qualquer interesse difuso ou coletivo (art. 1o, IV).

4. Na lição de Hugo Nigro Mazzilli,

A ação civil pública ainda se presta para que o Ministério Público possa questionar políticas públicas, quando
do exercício de suas funções no zelo para que os Poderes Públicos e os serviços de relevância pública
observem os direitos assegurados na constituição (A defesa dos interesses difusos em juízo. 26. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 141).

5. Por fim, em complementação, vale destacar o seguinte precedente do Supremo Tribunal Federal:

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO

INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS


PÚBLICAS PELO PODER JUDICIÁRIO. POSSIBILIDADE. ANÁLISE DOS LIMITES DA

SENTENÇA JUDICIAL. INFRACONSTITUCIONAL. PREQUESTIONAMENTO.

356/STF. PRELIMINAR

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GERAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. 1. A simples descrição do instituto da repercussão geral


não é suficiente para desincumbir a parte recorrente do ônus processual de demonstrar de forma
fundamentada porque a questão específica apresentada no recurso extraordinário seria
relevante do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico e ultrapassaria o mero
interesse subjetivo da causa. Precedentes. 2. Os temas constitucionais do apelo extremo não
foram objeto de análise prévia e conclusiva pelo Tribunal de origem. Incidência das Súmulas 282
e 356/STF. 3. Para dissentir do acórdão recorrido, seria necessária a análise de legislação
infraconstitucional pertinente (Código de Processo Civil), procedimento inviável em sede de
recurso extraordinário. 4. O acórdão recorrido está alinhado à jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal no sentido da possibilidade, em casos emergenciais, de implementação de
políticas públicas pelo Judiciário, ante a inércia ou morosidade da Administração, como medida
assecuratória de direitos fundamentais. Precedentes. 5. Embargos de declaração recebidos como
agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 557, § 2o, do
CPC/1973 (ARE 898514 ED, Relator (a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em
27/10/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-261 DIVULG 16-11-2017 PUBLIC 17-11-2017).

Questão 2. Conceitue e explique as distinções entre as responsabilizações ambientais civis, administrativa


e criminal. 20 linhas.

Comentários

O ordenamento jurídico brasileiro confere especial proteção ao meio ambiente enquanto bem de natureza
difusa e essencial à sadia qualidade de vida, conforme dispõe art. 225, caput, da CRFB. O direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental e impõe-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para às presentes e futuras gerações.

Nesse sentido, em face da sua importância para as presentes e futuras gerações, o §3º do mesmo dispositivo
prevê a tríplice responsabilização ambiental. Assim, o causador de danos ambientais está sujeito à
responsabilização administrativa, cível e penal, de modo independente e simultâneo.

Art. 225, §3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados.

Nos termos do entendimento doutrinário e jurisprudencial, tais espécies de sanções não excludentes, mas
sim independentes e simultâneas. Dessa forma, é possível que o infrator seja penalizado três vezes, incidindo
uma penalização para cada espécie de responsabilidade, com fundamento na independência entre as
instâncias.

Quanto à responsabilidade por danos ambientais na esfera cível, esta é do tipo objetiva e pautada pela
teoria do risco integral, dispensando dolo ou culpa e inadmitindo excludentes de responsabilização.
Encontra-se prevista no art. 14, §1º, da Lei nº 6.938/81, que preconiza ser o poluidor obrigado, sem que haja
a exclusão das penalidades, a indenizar ou reparar os danos, independentemente da existência de culpa.

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Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o
não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e
danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: (...)

(...)

§1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente.

Por outro lado, para a aplicação de penalidades administrativas, a responsabilidade por danos ambientais é
subjetiva, exigindo dolo ou culpa para sua configuração. Assim, adota-se a sistemática da teoria da
culpabilidade, pois deve ser comprovado o elemento subjetivo do agressor, além da demonstração do nexo
causal entre a conduta e o dano.

A diferença entre os dois âmbitos de punição e suas consequências decorre da redação do art. 14, caput e §
1º, da Lei nº 6.938/81. Como visto acima, apenas o § 1º do art. 14, que trata da responsabilidade civil
ambiental, dispensa a demonstração do elemento subjetivo do agente. Por outro lado, o caput do art. 14,
que trata sobre a responsabilidade administrativa, não dispensa a existência de culpa (em sentido amplo). É
esse o entendimento do STJ, conforme decidido no EREsp 1.318.051.24

Por isso, a aplicação e a execução das penas (responsabilidade administrativa) limitam-se aos transgressores
(somente podem ser aplicadas a quem efetivamente praticou a infração). A reparação ambiental na esfera
cível, de outra banda, pode abranger todos os poluidores, pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.

Ademais, a responsabilidade civil por dano ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as
responsabilidades administrativa e penal, porque as duas últimas não admitem que terceiros respondam a
título objetivo por ofensa ambientais praticadas por outrem.

Por fim, quanto à responsabilização penal por crimes ambientais, esta visa a repressão ao dano provocado,
e requer a demonstração do elemento subjetivo da conduta para que seja aplicada a sanção, dada a maior
gravidade da penalização, bem como do princípio da intervenção penal mínima do Estado. Assim, a
responsabilidade penal ambiental exige a demonstração do dolo do agente em praticar a conduta proibida,
ou a culpa - e, neste último caso, o tipo penal deve prever expressamente a punição a título culposo.

24
STJ. 1ª Seção. EREsp 1318051/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/05/2019 - Info 650.

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PONTUAÇÃO
ABORDAGEM ESPERADA (ESTRATÉGIA)
MÁXIMA
Introdução e citação dos dispositivos constitucionais correlatos. 0,5
Responsabilidade civil ambiental é objetiva, pautada pela teoria do risco integral.
0,5
Fundamentos.
Responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva. Fundamentos.
0,5
==10be0c==

Entendimento trazido no EREsp 1318051/RJ do STJ.


Responsabilidade penal ambiental é subjetiva. Exige dolo ou culpa, bem como
0,5
previsão legal expressa de punição da conduta a título culposo. Fundamentos.

4 – PEÇA PRÁTICA
Enzo Ferreira, de apenas 16 anos de idade, feliz com o avanço da vacinação em sua cidade, ficou sabendo
pelo jornal local que os cinemas iriam reabrir naquele final de semana. A empolgação de Enzo não se
resumia à possibilidade de assistir aos filmes recém-lançados, mas sim pela possibilidade de convidar
Maria Fernanda, sua colega de sala, que não encontrava desde a suspensão das aulas.
Ao ligar para sua amiga, ganhou um não de imediato. Estranhando a atitude de Maria Fernanda, cinéfila
ávida, perguntou o porquê não o acompanharia no cinema, se estava chateada com ele por algum motivo.
Foi então que Enzo descobriu que o problema não era ele e sim a administração do cinema. Maria contou
que o cinema não teria mais a opção de meia entrada, haja vista que a pandemia teria prejudicado seu
faturamento.
Abismado com a situação, Enzo, como consumidor prejudicado, foi imediatamente até o Procon realizar
uma reclamação, bem como pedir providências.
Cientificados da situação, o Promotor de Justiça responsável procurou pela administração do cinema,
explicou a ilegalidade de tal conduta e abriu um procedimento administrativo para fins de solucionar a
questão.
Na condição de Promotor de Justiça Substituto, considerando o cenário fático retratado, elabore a peça
cabível, apresentando todos os aspectos de direito material e processual pertinentes ao caso.
Dispense o resumo dos fatos, não crie fatos novos e fundamente sua resposta, sempre que necessário, na
legislação e na jurisprudência do STJ e do STF.

Modelo de Peça

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Processo Administrativo n.º XXX25

TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

O PROCON DO ESTADO DE MINAS GERAIS, órgão integrante do Ministério Público, criado nos termos do art.
5º, inciso XXXII, da Constituição Federal, Lei 8.078/90, artigo 14 dos ADCT (Constituição Estadual) e Leis
Complementares Estaduais nos 34 (art. 273) e 61 (arts. 22/24), com sede na xxx, por meio do Promotor de
Justiça, lotado na xx Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, xxx, e o fornecedor xxx, inscrito no
CNPJ sob o nº XX.XXX.XXX/XXXX-XX, com sede na xxx, neste ato representado pelo Sr. XXX, CI XXX,
acompanhado do procurador Dr. XXX, OAB/MG XXX, nos termos que autorizam o artigo 129, III, da
Constituição Federal, os artigos 81 e 82 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, artigo 6º do Decreto
Federal nº 2.181/97 e o artigo 16, III, da Resolução PGJ nº 11/2011,

CONSIDERANDO os direitos dos estudantes regularmente matriculados em estabelecimentos de ensino de


1°, 2° e 3° graus ao pagamento de meia-entrada do valor efetivamente cobrado para o ingresso em eventos
culturais no estado de Minas Gerais, na forma da Lei Estadual 11.052/93;

CONSIDERANDO os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos à
participação em atividades culturais e de lazer, na forma do artigo 23 da Lei Federal n° 10.741/03 (Estatuto
do Idoso), em especial o pagamento de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos
artísticos, culturais, esportivos e de lazer;

CONSIDERANDO a necessidade de haver equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores (art. 4°,
inciso III, CDC);

CONSIDERANDO ser direito básico do consumidor a efetiva prevenção e reparação de eventuais danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (art. 6°, inciso VI, CDC);

CONSIDERANDO que o fornecedor deve buscar o aprimoramento na prestação do serviço e a harmonia na


relação de consumo através da preservação dos direitos básicos do consumidor, com base na boa-fé,
transparência e equidade;

CONSIDERANDO, o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, na forma


do art. 4º da Lei Federal 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor);

CONSIDERANDO as constatações feitas pelo Procon-MG acerca da inobservância, por parte da empresa
fornecedora, do direito ao pagamento de meia-entrada conferido pela legislação aos estudantes e idosos;

CONSIDERANDO a necessidade deste Órgão intervir na questão, visando a equacionar o problema;

25
https://www.mpmg.mp.br/areas-de-atuacao/defesa-do-cidadao/consumidorr/material-de-apoio/modelos-de-pecas/modelos-
de-pecas.htm

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RESOLVEM celebrar o presente Termo de Ajustamento de Conduta mediante os seguintes termos:

Art. 1º A empresa somente comercializará ingressos para seus eventos artísticos e culturais
observando o direito ao pagamento de meia-entrada conferido aos estudantes, na forma da Lei
Estadual n° 11.052/93, e aos idosos, nos termos da Lei Federal n° 10.741/03.

Art. 2º A empresa, em seu material publicitário e através de outros meios, deverá esclarecer ao
consumidor os requisitos necessários para o direito à meia-entrada, advertindo que haverá
necessidade de comprovação da situação pessoal no momento da compra do ingresso e na
entrada do evento.

§1º. O fornecedor solicitará aos estudantes, no ato da compra do ingresso, documento de


identificação estudantil e/ou comprovante de matrícula do ano em curso ou outro documento
equivalente, como por exemplo, recibo pagamento de mensalidade escolar, e, quanto aos idosos,
solicitará a apresentação do documento de identificação oficial.

§2º. O fornecedor somente permitirá o acesso ao evento do portador de meia-entrada se for


comprovada a sua situação pessoal; se estudante, deverá apresentar documento de identificação
estudantil e/ou comprovante de matrícula do ano em curso ou outro documento equivalente,
como por exemplo, recibo pagamento de mensalidade escolar; se idoso, deverá apresentar
documento de identificação oficial.

§ 3º. Entende-se por documento de identificação estudantil aquele expedido pelos


correspondentes estabelecimentos de ensino ou pela associação ou agremiação estudantil a que
pertença, inclusive pelos que já sejam utilizados, vedada a exclusividade de qualquer deles, nos
termos da Medida Provisória n° 2.208/2001.

Art. 3º Na eventualidade de haver ingresso promocional em decorrência de patrocínio, o valor


do ingresso de meia-entrada será calculado tomando como base o menor valor de ingresso de
inteira, mesmo que o proporcional.

Art. 4º Fica estabelecida a multa no valor de R$ XXX (XXX), a ser recolhida ao Fundo Estadual de
Proteção e Defesa do Consumidor – FEPDC, no prazo de 10 (dez) dias a contar da assinatura deste
Termo, através de depósito identificado pelo CNPJ da empresa junto ao Banco do Brasil, agência
1.615-2, conta 6.141-7, em razão de eventual dano difuso decorrente do descumprimento do
direito ao pagamento de meia-entrada. O valor da multa foi estabelecido no mínimo legal tendo
em vista o ajuste de conduta ora formalizado, que se mostra como objetivo maior do processo.

Art. 5º Fica estipulada multa pecuniária no valor de R$ XXX (XXX) na eventualidade de


descumprimento dos termos ora propostos, a ser recolhida para o Fundo Estadual de Proteção e
Defesa do Consumidor - FEPDC, através da agência 1.615-2, conta 6.141-7, Banco do Brasil,
nominal ao citado Fundo, sem prejuízo das medidas judiciais cabíveis, inclusive quanto à
conversão da obrigação em perdas e danos, nos termos do art. 4° e art. 84 da lei 8.078/90.

Art. 6º Sendo comprovado o cumprimento deste Termo, o Processo Administrativo será


extinto, de acordo com o artigo 6°, § 4°, do Decreto Federal n° 2.181/97.

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Lido e assinado, o presente compromisso constitui-se título executivo.

Local e data.

Promotor de Justiça:

Fornecedor:

Procurador:

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