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Aula 03

Direito
Processual Penal - 2022 (Pós-Edital)

Autor:
Leonardo Ribas Tavares, Equipe
Materiais Carreiras Jurídicas

21 de Janeiro de 2022

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Sumário
Considerações gerais.......................................................................................................................................... 5

1 - Definições e distinções .............................................................................................................................. 5

2 - Jurisdição – princípios ou características .................................................................................................. 9

3 - Jurisdição – elementos ............................................................................................................................ 16

4 - Jurisdição – classificação ......................................................................................................................... 17

5 - Competência absoluta e relativa ............................................................................................................ 18

6 - Classificação da competência ................................................................................................................. 21

Doutrina Complementar................................................................................................................................................. 25

Competência territorial .................................................................................................................................... 38

1 - Lugar da infração como regra geral ....................................................................................................... 38

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 45

2 - Casuística ................................................................................................................................................ 46

2.1 - Crime de homicídio................................................................................................................................................. 46

2.2 - Crimes qualificados pelo resultado ........................................................................................................................ 47

2.3 - Crime de estelionato .............................................................................................................................................. 48

2.4 - Crimes falimentares................................................................................................................................................ 52

2.5 - Apropriação indébita .............................................................................................................................................. 52

2.6 - Atos infracionais ..................................................................................................................................................... 52

2.7 - Contrabando ou descaminho ................................................................................................................................. 53

2.8 - Crime de uso de documento falso .......................................................................................................................... 53

2.9 - Infrações de menor potencial ofensivo .................................................................................................................. 53

3 - Domicílio ou residência do réu como foro supletivo ............................................................................... 57

Competência em razão da matéria .................................................................................................................. 67

1 - Competência da Justiça Eleitoral ............................................................................................................ 68

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2 - Competência da Justiça do Trabalho ...................................................................................................... 73

3 - Competência da Justiça Militar ............................................................................................................... 75

3.1 - Crimes dolosos contra a vida praticados por militares contra civis ....................................................................... 81

3.2 - Justiça Militar da União e dos Estados ................................................................................................................... 83

3.3 - Súmulas pertinentes ao tema................................................................................................................................. 86

3.4 - Lei nº 13.491/2017 e seus efeitos – direito intertemporal .................................................................................... 87

4 - Competência da Justiça Federal .............................................................................................................. 92

4.1 - Art. 109, inciso IV da CF .......................................................................................................................................... 94

4.2 - Art. 109, inciso V da CF ........................................................................................................................................... 99

4.3 - Art. 109, inciso V-A c/c o § 5º da CF ..................................................................................................................... 102

4.4 - Art. 109, inciso VI da CF ........................................................................................................................................ 104

4.5 - Art. 109, inciso VII da CF ....................................................................................................................................... 106

4.6 - Art. 109, inciso VIII da CF ...................................................................................................................................... 107

4.6 - Art. 109, inciso IX da CF ........................................................................................................................................ 107

4.7 - Art. 109, inciso X da CF ......................................................................................................................................... 111

5 - Competência da Justiça Estadual .......................................................................................................... 123

6 - Competência para crimes de responsabilidade .................................................................................... 124

Competência por prerrogativa de função ...................................................................................................... 154

1 - Conceito................................................................................................................................................. 154

2 - O atual panorama perante os tribunais superiores .............................................................................. 156

3 - Considerações gerais ............................................................................................................................. 161

3.1 - Investigação policial e indiciamento..................................................................................................................... 161

3.2 - Duplo grau de jurisdição ....................................................................................................................................... 162

3.3 - Local da infração................................................................................................................................................... 162

3.4 - Competência por prerrogativa de função x competência do Tribunal do Júri ..................................................... 163

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3.5 - Concurso de agentes ............................................................................................................................................ 164

3.6 - Princípio da simetria e as Constituições Estaduais ............................................................................................... 165

3.7 - Prerrogativa de função e exceção da verdade ..................................................................................................... 168

4 - Casuística .............................................................................................................................................. 170

4.1 - Competência em relação aos tribunais ................................................................................................................ 171

4.2 - Competência em relação aos titulares de foro por prerrogativa de função ........................................................ 176

Competência de juízo ..................................................................................................................................... 201

1 - Determinação do juízo competente ...................................................................................................... 201

2 - Juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher .................................................................. 202

3 - Juízo colegiado em primeiro grau de jurisdição para julgamento de crimes praticados por organização
criminosa .................................................................................................................................................... 205

3.1 - Conceito de organizações criminosas................................................................................................................... 205

3.2 - Formação do juízo colegiado em primeiro grau ................................................................................................... 206

4 - Competência do juízo da execução ....................................................................................................... 211

5 - Competência por distribuição ............................................................................................................... 214

6 - Competência por prevenção ................................................................................................................. 215

Modificação de competência ......................................................................................................................... 226

1 - Conexão e continência .......................................................................................................................... 226

2 - Conexão ................................................................................................................................................. 230

3 - Continência............................................................................................................................................ 237

3.1 - Espécies de continência........................................................................................................................................ 237

4 - Unidade de processo e julgamento ....................................................................................................... 240

5 - Juízo prevalente..................................................................................................................................... 242

6 - Separação de processos ........................................................................................................................ 252

7 - Prorrogação de competência ................................................................................................................ 261

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8 - Perpetuação de competência................................................................................................................ 264

Método para verificação de competência ..................................................................................................... 272

Referências bibliográficas .............................................................................................................................. 274

Resumo........................................................................................................................................................... 277

1 - Jurisdição ............................................................................................................................................... 277

2 - Competência absoluta e relativa .......................................................................................................... 277

3 - Classificação da competência ............................................................................................................... 278

4 - Competência territorial ......................................................................................................................... 279

5 - Competência em razão da matéria ....................................................................................................... 279

6 - Competência por prerrogativa de função ............................................................................................. 280

7 - Competência de Juízo ............................................................................................................................ 281

8 - Modificação de competência ................................................................................................................ 282

Questões com comentários ........................................................................................................................... 283

Lista de Questões ........................................................................................................................................... 313

Gabarito.......................................................................................................................................................... 323

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CONSIDERAÇÕES GERAIS
De início, cumpre distinguir jurisdição de competência. Para isso, aproveitaremos um pouco daquilo que
dissemos na aula passada com relação à jurisdição, aprofundando o estudo dos institutos.

1 - DEFINIÇÕES E DISTINÇÕES
Jurisdição: CHIOVENDA define como “função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da
lei, por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros
órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-la praticamente efetiva” (Tornaghi,
1987). “Como poder jurídico, a jurisdição é manifestação da soberania do Estado e tem por contraposto o
status subjetionis do indivíduo”.

Corolário da organização jurídica das sociedades, aparece o poder do Estado de se reservar a


solução dos conflitos juridicamente relevantes. Sem ele, a ordem jurídica não poderia subsistir.
E o Estado não alcançaria prescindir dele sem se negar a si mesmo. Estado sem poder de resolver
conflitos de interesses e de normas não preencheria a própria finalidade. Mas, além de
necessária à conservação e aperfeiçoamento do Estado. A jurisdição, enquanto jurisdição penal,
encontra ainda outro motivo para se reservar ao Estado; é o de que o delito produz sempre, em
qualquer caso, um dano mediato ou imediato, a todos os consócios da comunhão civil que,
dessarte, são parte no conflito (Tornaghi, 1987).

JORGE DE FIGUEIREDO DIAS:

O princípio do monopólio estatal da função jurisdicional constitui hoje um alicerce inatacável


de todas as sociedades; o que não significa, no entanto, total exclusão da autodefesa, mas
reconhecimento da sua admissibilidade só em casos muito excepcionais, rigorosamente
delimitados pela lei e subordinados à ideia da impossibilidade de recorrer em tempo útil aos
meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática do direito (Dias, 1974).

JOSÉ FREDERICO MARQUES:

A jurisdição é uma das funções que o Estado exerce, como entidade soberana, dentro de seu
território. Por meio da jurisdição, o Estado atua para fazer justiça, dando, assim, a cada um o que
é seu, sempre que exista situação intersubjetiva litigiosa, ou lide, que deva ser composta ou
solucionada. No exercício da jurisdição o Estado aplica a lei, ou melhor, o direito objetivo. Mas a
aplicação das regras jurídicas não é a causa finalis da jurisdição, e sim, a de compor litígios, para
ser dado a cada um o que é seu (Marques, 1997).

AFRÂNIO SILVA JARDIM:

Na vida em sociedade, trava o homem múltiplas relações tendentes à satisfação de suas


necessidades materiais e espirituais. Em sendo assim, torna-se natural que delas surjam conflitos
de interesses os quais, o mais das vezes, são resolvidos pelas próprias partes em litígio, através

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de transações, renúncias e demais formas de autocomposição. Sucede, porém, que, em havendo


resistência de uma das partes à pretensão da outra, vedada que está a autotutela, surge a
necessidade de que o Estado, através do processo, resolva este conflito de interesses opostos,
trazido à sua apreciação, dando a cada um o que é seu e reintegrando a ordem e a paz no grupo.
De tal importante tarefa se desincumbe o Estado através da jurisdição, poder-dever, reflexo da
soberania, através do qual, substituindo-se à atividade das partes, coativamente age em prol da
ordem ou segurança jurídica. Trata-se de uma função pública de capital importância para o bom
convívio dos homens na sociedade complexa e tensa em que vivemos. [...] Em resumo [...],
jurisdição é o poder-dever que cabe ao Estado de, substituindo-se às partes, resolver o conflito
de interesses que lhe é apresentado a fim de que, tutelando o ordenamento jurídico, dê a cada
um o que efetivamente é seu. Em poucas palavras: é o poder de julgar. Este seria o conceito
preferido pela doutrina majoritária, baseado na chamada “teoria do conflito” e na “teoria da
atuação do direito” (Jardim, 2003).

Como traz PACELLI, em remissão a autor estrangeiro e mais na atualidade, jurisdição é “o poder-dever
atribuído, constitucionalmente, ao Estado para aplicar a lei ao caso concreto, compondo litígios e resolvendo
conflitos. Trata-se de um aspecto do exercício da soberania do Estado, que, na sua indestrutível unidade
orgânica, ora se mostra como atividade legislativa, ora como atividade jurisdicional, ora como atividade
executiva” (Pacelli, 2018).

A função jurisdicional (do latim jurisdictione), sob o ponto de vista etimológico, significa ação de
dizer o direito. Pois jus, juris significa direito, e dictio, dictionis, ação de dizer. Jurisdição é a função
estatal de aplicar o direito objetivo a um caso concreto, protegendo um determinado direito
subjetivo, através do devido processo legal, visando ao acertamento do caso penal. [...] A
jurisdição é a atividade do Estado que tem como escopo substituir a vontade das partes. Aliás,
essa substitutividade é uma das suas características principais, pois o Estado só atua porque foi
provocado por uma das partes que não conseguiu, extraprocesso, a solução da controvérsia.
Dessa forma, a vontade do autor e do réu sobre determinado direito será substituída pela
vontade da lei que irá imperar através da sentença. Dada a sentença, será extraída a regra jurídica
que regulará aquela situação litigiosa concreta (Rangel, 2018).

Competência, por outro lado e como há tempos prega a doutrina, é a medida da jurisdição. Apresenta-se
como uma verdadeira limitação da jurisdição, definindo e especificando, por meio de um conjunto de
normas, qual é o juiz que vai atuar nos mais variados casos.

O conceito de jurisdição não se confunde com o de competência. Jurisdição é o poder conferido


pela Constituição Federal a todo qualquer Juiz para declarar o direito, sendo abstrata e subjetiva.
Já a competência é o conjunto de regras que vai definir qual é o juiz que poderá examinar
determinado litígio, sendo concreta e objetiva. Logo, apresenta-se a competência como uma
limitação ao exercício da jurisdição. Ora, se todo o Juiz regularmente investido possui jurisdição,
é correto dizer que esta não pode ser objeto de discussão, sendo equivocada a terminologia
empregada pelo Código de Processo Penal quando se refere à possibilidade de ocorrer, entre
dois ou mais juízes, conflito de jurisdição (Livro I, Título VI, Capítulo IV – arts. 113 a 117). O que
pode surgir, isto sim, são conflitos de competência, discutindo-se qual o Juiz que exercerá
jurisdição no caso concreto, que será, então, o Juiz natural do processo (art. 5º, LIII, da CF).

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Seria impossível que um só órgão jurisdicional ou uma só autoridade julgasse todos os possíveis e os mais
variados casos que podem bater às portas do Poder Judiciário. Diante dessa inarredável constatação, o
ordenamento jurídico não só concebeu a existência de vários juízos, como também criou critérios normativos
para esclarecer a ‘atribuição’ (competência) de cada qual.

Assim, cada ‘unidade judiciária’ tem um determinado espaço de atuação (ou, tem a sua competência), espaço
que deve ser previamente estabelecido e dentro do qual a jurisdição se exerce e se legitima (e fora dos quais
pode se tornar arbitrária). Todos os juízes têm jurisdição (que é una), mas nem todos, considerando um
determinado caso concreto, têm competência para nele atuar. Quando um juiz, por exemplo, é removido de
uma Vara para outra, pode mudar sua competência, mas nunca deixou de ter jurisdição.

Aliás, são exatamente as regras de competência que devem distinguir, exatamente, qual é o juiz que deve
exercer a jurisdição num determinado processo. Quanto melhores essas regras, mais claras e objetivas, mais
segurança jurídica se terá e menos conflitos surgirão.

A complexidade de certas tarefas, o acúmulo de quefazeres, a conveniência da especialização, o


empenho em obter o maior rendimento com o menor dispêndio, além de muitas outras razões,
levam a distribuir os cometimentos entre várias pessoas, ou por diversos órgãos de uma
instituição, ou por diferentes ramos de um estabelecimento etc. Os operários de uma fábrica
podem produzir todas as peças de um motor, mas a racionalização do trabalho aconselha a
atribuir a cada um a feitura de uma parte. Um professor de Direito Civil pode lecionar qualquer
ramo dessa disciplina. Mas a lei, guiada por critérios didáticos e científicos, limita-lhe o poder,
cometendo-lhe, no 2º ano, o ensino da Teoria Geral, no 3º, o das Obrigações, no 4º, o das Coisas
e, no 5º, o de Família e Sucessões. Só isso lhe compete fazer em cada uma das séries. Repare-se
bem: ao declará-lo competente, ao dizer que lhe cabe, que lhe incumbe, a lei não lhe dá o poder
de ensinar. Esse ele o adquiriu pela simples investidura no cargo de professor. O que realmente
a lei faz é tolher-lhe o exercício do poder de ensinar, limitando-o, em cada ano, a determinado
assunto. O que se passa nessa esfera pode repetir-se em qualquer outra. A competência é
sempre a permissão legal de exercer parte de certa atribuição. A lei que dá competência, na
verdade, usa um processo negativo: cerceia o exercício de um poder, além de lindar a ação
daqueles aos quais nega competência. É exatamente isso que acontece com os juízes. Pelo
simples fato de serem juízes, têm jurisdição, poder de julgar. Se esse poder não é restringido por
nenhuma lei, compete-lhes julgar tudo (Tornaghi, 1997).

Como destaca WALFREDO CUNHA CAMPOS, competência é o “limite qualitativo de jurisdição estabelecido para
cada órgão do Poder Judiciário, como uma forma encontrada de se dividir racionalmente o trabalho entre
seus membros e de se prestar, de maneira eficaz, o serviço público jurisdicional”.

Cada juiz recebe então, da lei, um trecho delimitado de poder jurisdicional, onde poderá exercer
sua atividade; este círculo de atividade jurisdicional, construído abstrata e impessoalmente pela
lei, chama-se competência. [...] jurisdição é o poder genérico e abstrato de aplicar o direito, pelos
membros do Judiciário; já a competência é a forma concreta, estabelecida pela Constituição e
pelas leis, de se dividir entre os magistrados as mais variadas causas (Campos, 2018).

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A competência particulariza a jurisdição; NUCCI a conceitua dizendo que competência é a “delimitação de


jurisdição, ou seja, o espaço dentro do qual pode determinada autoridade judiciária aplicar o direito aos
litígios que lhe forem apresentados, compondo-os”. Fazendo remissão a TORNAGHI, define:

Jurisdição é um poder, enquanto a competência é a permissão legal para exercer uma fração
dele com exclusão do resto, ou melhor, a possibilidade (não o poder, não a potencialidade) de
exercitá-lo por haver a lei entendido que o exercício limitado do poder quadra em determinado
esquema metódico. Todo ato de exercício de poder jurisdicional que não contrarie o plano da lei
é permitido ao juiz. E isso é, exatamente, a simples possibilidade. Possível é tudo que não envolve
absurdo, que não é inconsequente, que não acarreta contrassenso. (...) O conceito de jurisdição
é ontológico, diz respeito ao poder em si, ao poder de julgar. O de competência é metodológico.
Jurisdição é força, é virtude, é princípio criador, algo positivo. Competência é simples
possibilidade, qualidade daquilo que não contradiz, que não ultrapassa os limites impostos por
lei. Aliás, confira-se a redação do art. 69, caput, do CPP, mencionando hipóteses de determinação
de competência jurisdicional, isto é, a medida do exercício jurisdicional de cada juiz (Nucci, 2018).

Imagine a jurisdição como o todo, o círculo externo, e as competências como parcelas desse todo, umas
mais, outras menos abrangentes:

competência

competência

competência

competência

O autor chama a atenção para o art. 16 do Código de Processo Civil:

Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional,
conforme as disposições deste Código.

Essa parte em destaque, ao final, “significa, exatamente, os limites estabelecidos pela competência”.

Aliás, este é o título adequado conferido ao Capítulo I do Título II do CPC: “Dos limites da
jurisdição nacional”, quando começa a cuidar das regras de competência. E completa o art. 42:
“as causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência...”. Sob
o manto da velhice, o CPP nem toca no termo jurisdição no Título V, preferindo mencionar

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competência. Entretanto, quando regulamenta o conflito entre juízes em razão da competência,


o Capítulo IV do Título VI, erroneamente, opta pela expressão conflito de jurisdição (Nucci, 2018).

Normalmente é o Poder Judiciário que resolve as controvérsias, mas nem sempre. Em situações
extraordinárias a atividade jurisdicional do Estado pode ser exercida pelo Poder Legislativo, ganhando
evidentes contornos políticos. É o que ocorre quando, por exemplo, o Presidente da República é julgado pelo
Senado Federal nos crimes de responsabilidade ou quando um prefeito é julgado pela Câmara Municipal em
crimes de responsabilidade, nos termos do DL 201/1967, in verbis:

Art. 4º São infrações político-administrativas dos Prefeitos Municipais sujeitas ao julgamento


pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com a cassação do mandato: [...]

2 - JURISDIÇÃO – PRINCÍPIOS OU CARACTERÍSTICAS


Por vezes, a doutrina traz o que chama de características e/ou princípios da jurisdição. Não há unanimidade
no tema; em várias situações o que traduz característica para uns é explicado como princípio por outros. Não
há uniformidade na classificação (como sói acontecer na área jurídica). De todo modo, o importante é
compreender a ‘ideia’ de cada uma dessas características ou princípios, conforme veremos na sequência.

Substitutividade – característica essencial da jurisdição, que faz parte da sua própria definição. Traduz a ideia
de que o Estado atua por outrem (em substituição), normalmente a parte ou a vítima que, na maioria das
situações, está proibida de impor sua própria justiça – autotutela vedada.

Unidade – a jurisdição é ‘una’, uma só, exercida com a finalidade de aplicar o direito ao caso concreto, por
órgãos do Poder Judiciário. É “única, pertencente ao Poder Judiciário, diferenciando-se apenas no tocante à
sua aplicação e ao grau de especialização, podendo ser civil – federal ou estadual; penal – federal ou estadual;
militar – federal ou estadual; eleitoral ou trabalhista” (Nucci, 2018).

A jurisdição, como função do poder soberano do Estado de aplicar a lei ao caso concreto, é única
em si e nos seus fins. Não há, como se diz comumente, jurisdição civil e penal ou eleitoral e
trabalhista. O que há é uma única jurisdição, dividida sob o aspecto da natureza da matéria, e aí
surge o caso penal, a lide civil, eleitoral ou trabalhista. Destarte, há uma impropriedade técnica
ao falarmos em conflito de jurisdição, pois, se ela é única, não pode haver conflito dela com ela
mesma. Na realidade, o que se quer dizer é conflito de competência. Se a jurisdição é o poder
que tem o Estado de dar a cada um aquilo que é seu, há a necessidade de se dividir essa prestação
de forma a se atender a todos de forma satisfatória e, para tal, mister se faz a delimitação desse
poder (Rangel, 2018).

Inércia – a atividade jurisdicional só pode se desenvolver quando provocada e, nesse sentido, nenhuma
tutela pode ser concedida por iniciativa do próprio julgador. O início dos processos, a ‘provocação’, deve
partir de outra pessoa ou autoridade que não o juiz. Depois de iniciado o processo o impulso oficial deve
ocorrer, com vistas ao desfecho do procedimento; todavia, ao início (é desse momento que estamos falando)
a jurisdição deve ser invocada por aquele que, nos termos da norma, seja legitimado. Esse princípio foi
concebido em salvaguarda da imparcialidade, partindo-se da premissa de que ela estaria absolutamente

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comprometida em caso contrário – caso o próprio julgador pudesse tomar a iniciativa perante o conflito que
ele mesmo julgará. Quanto às exceções, vejamos a divergência de opiniões:

Inércia: o Magistrado depende da iniciativa das partes, não podendo iniciar, ex officio,
uma ação judicial. Esse princípio tem relação com a necessidade de justa composição da
lide e de absoluta imparcialidade do Juiz, garantias estas que restariam comprometidas
se fosse atribuída ao julgador a faculdade de iniciar uma ação penal sem a provocação
dos legitimados constitucionais – Ministério Público, mediante denúncia, e o particular,
mediante queixa-crime. No processo penal, hoje, não há nenhuma exceção a esse
princípio (Avena, 2020).

Os órgãos jurisdicionais são, por sua própria índole, inertes (nemo judex sine actore; ne procedat
judex ex officio), pois a experiência histórica demonstrou que o exercício espontâneo da
atividade jurisdicional afeta, sobremaneira, a imparcialidade do julgador, que se deixa influenciar
pela iniciativa tomada. Há algumas exceções, como a execução penal das penas privativas de
liberdade e restritivas de direito, em que cabe ao juiz determinar a expedição da carta de guia,
dando prosseguimento à persecução penal (LEP, art. 105), além da possibilidade conferida ao
magistrado de conceder ex officio a ordem de habeas corpus (CPP, art. 654, § 2º), ou, ainda, a
produção de provas de ofício (CPP, art. 156, I) (Capez, 2018).

Indeclinabilidade – no sentido de que nenhum juiz pode se eximir da prestação jurisdicional. A jurisdição
não é um ‘convite’ que admite recusa; traduz não só um poder, mas principalmente um dever do órgão
jurisdicional. A Constituição Federal, no art. 5º, traz o mesmo axioma num enfoque diferente:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Veja, então, que nem mesmo a lei pode impedir ou criar obstáculos de difícil transposição para o acesso à
Justiça. A ideia tem muita lógica: na medida em que se veda a autotutela por parte do cidadão, não pode
nem mesmo a lei (produto do próprio Estado) pretender de algum modo eximir o Poder Judiciário de função
tão relevante para a pacificação social. A partir do momento em que o Estado proíbe a ‘justiça pelas próprias
mãos’, não pode o mesmo Estado se esquivar da incumbência que ele mesmo monopolizou.

Nenhuma das garantias anteriores teria eficácia se fosse permitido ao juiz declinar ou subtrair-
se do dever de julgamento do processo. A garantia da jurisdição careceria de sentido se fosse
possível sua fungibilidade. A inderrogabilidade é garantia que decorre e assegura a eficácia da
garantia da jurisdição, no sentido de infungibilidade e indeclinabilidade do juízo, assegurando a
todos o livre acesso ao processo e ao poder jurisdicional. Logo, o juiz natural não pode declinar
ou delegar a outro o exercício da sua jurisdição, até porque existe uma exclusividade desse poder,
de modo a excluir a de todos os demais (Júnior, 2021).

Inevitabilidade / irrecusabilidade / cogência – a atividade dos órgãos jurisdicionais constitucional e


legalmente estabelecidos a todos se impõe, independentemente da vontade de cada um, como imperativo
de um Estado democrático. O jurisdicionado não pode recusar ou evitar a prestação jurisdicional. A
“atividade dos órgãos jurisdicionais é incontrastável, isto é, não é possível a oposição juridicamente válida
de qualquer instituto para impedir que a jurisdição alcance os seus objetivos e produza os seus efeitos”

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(Filho, 2012). A jurisdição não está sujeita à vontade das partes; nesse sentido, não há margem para a recusa
de juiz que não a legalmente admitida (somente nas hipóteses de impedimento ou suspeição, por exemplo).

Indelegabilidade – as atribuições jurisdicionais somente podem ser exercidas, segundo a discriminação


constitucional, pelos órgãos previamente estabelecidos, por meio de seus membros legalmente investidos,
sendo proibida a abdicação dessas funções em favor de outros órgãos ou autoridades. “A jurisdição
apresenta, também, uma indelegabilidade interna, isto é, cada órgão tem suas funções, devendo exercê-las
segundo as normas de processo, na oportunidade correta, não se permitindo a atribuição de funções de um
para outro órgão” (Filho, 2012).

Citam-se duas exceções à indelegabilidade: a carta precatória e a carta de ordem. Essas


figuras, contudo, não são verdadeiras exceções, porque a delegação ocorre se um órgão
atribui a outro competência que ele não tem. No caso das duas últimas hipóteses, a
autoridade que depreca ou envia a carta de ordem não cria a competência do que executa,
porque este já tem em sua competência genérica o poder de cumprir cartas precatórias
ou de ordem (Filho, 2012).

Indelegabilidade: este princípio é consequência do Juiz natural, impedindo que o Magistrado


possa delegar sua jurisdição a órgão distinto. E quando se tratar de produção de prova oral
mediante a expedição de carta precatória? Parte da doutrina vislumbra, nesse caso, uma exceção
ao princípio da indelegabilidade expressamente prevista no art. 222 do CPP. Destoando dessa
linha de pensamento, cremos que a possibilidade de interrogatório do réu, da inquirição de
testemunha e de outras providências mediante carta precatória não importa em ressalva ao
princípio da indelegabilidade, pois tais atos não pressupõem delegação de poderes, consistindo
em mera solicitação, pelo Juiz do processo, da cooperação de outro Juiz para a prática de ato
processual fora de sua área de jurisdição. Idêntico raciocínio é extensivo à carta de ordem (Avena,
2020).

Veja que não seria absurda uma questão de prova que fizesse a seguinte indagação: quando se expede uma
carta precatória ou uma carta de ordem, ocorre delegação de jurisdição? NÃO é isso, segundo doutrina
majoritária. Nos utilizamos dos ensinamentos de GUILHERME DE SOUZA NUCCI para fundamentar a resposta:

Pensamos que a jurisdição – entendida como o poder jurisdicional de aplicar o direito ao caso
concreto – é sempre indelegável, já que todos os juízes a possuem e não podem repassar a quem
não é magistrado. O que se pode delegar, em verdade, segundo as regras legais, é a
competência, o limite para o exercício jurisdicional. Assim, para que um juiz ouça uma
testemunha residente em outra Comarca, fora de sua competência, expede carta precatória,
delegando a possibilidade de colher a prova a outro magistrado. Este, que possui jurisdição, passa
a ser competente para a oitiva. O mesmo se dá com a carta de ordem. Note-se que são situações
previstas expressamente em lei. Alguns processualistas preferem tratar o tema como “delegação
de jurisdição” [...]. Mantemos o nosso entendimento de que se trata de um aspecto da delegação
de competência. A jurisdição não é delegável, nem transmissível. Somente o seria se um órgão
jurisdicional pudesse delegá-la a quem não a possui, sendo ente estranho ao Poder Judiciário, o
que não ocorre. Por isso, tanto na precatória quanto na carta de ordem transmite-se
possibilidade de realizar atos jurisdicionais que a autoridade deprecada não poderia fazer sem a
autorização do deprecante. Essa transmissão é expressamente autorizada em lei, o que não lhe

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retira o caráter de delegável. [...] Lembremos que delegar é transmitir poderes atribuições ou
meramente incumbir alguém de fazer algo, exatamente o que faz o deprecante: transmite o
poder de convocar e ouvir uma testemunha que diz respeito a processo seu, a outro juízo.
Estende-se a competência do juiz em face de delegação autorizada em lei. Por outro lado, se um
desembargador pode ir à Comarca do interior onde se encontra determinada testemunha para
inquiri-la, mas prefere não fazê-lo, deprecando o ato (carta de ordem), está autorizando, por
delegação de competência, que o juiz local o faça. Não é uma questão de transmitir poder
jurisdicional, mas de conferir competência a magistrado que não a possui. Essa parece não ser
a questão central, que autoriza concluir ser delegável apenas a competência, de acordo com os
ditames legais (Nucci, 2018).

Improrrogabilidade / aderência – traduz a ideia de que um juiz não pode usurpar a competência de outro;
um órgão jurisdicional não pode (salvo situações excepcionais disciplinadas) estender sua parcela de
jurisdição, de forma arbitrária e ao arrepio da lei, suplantando as atribuições de outro. Sob outro viés, às
partes também não é lícito querer subtrair o conhecimento da causa do seu juiz natural. Um exemplo de
violação: suponha que numa carta precatória cujo objeto seja inquirição de testemunha o juízo deprecado
resolva julgar, sentenciar o feito – haveria nítida violação desse princípio, caso de nulidade.

Investidura – é a assunção no cargo, ato complexo que se completa com a posse. Segundo DE PLÁCIDO E SILVA,
investidura deriva do latim, investire (revestir), “é empregado na terminologia jurídica, para indicar o ato
jurídico, em virtude do qual se dá a posse à pessoa para desempenho de cargo ou função, para que foi
designada ou nomeada. [...] Refere-se ao ato em que se concede à pessoa um benefício, um poder, uma
autoridade ou um direito” (Silva, 2005). Pois bem. De acordo com esse princípio, só pode exercer jurisdição
a pessoa/autoridade investida no cargo ao qual se atribui jurisdição. A investidura legítima ordinariamente
pressupõe concurso, nomeação, tudo de acordo com as diretrizes constitucionais e legais. Lembre-se,
todavia, do excepcional caso referente ao ‘quinto constitucional’ na composição de alguns tribunais:

CF. Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e
do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de
dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais
de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de
representação das respectivas classes.

Imutabilidade – diferentemente dos atos legislativos e administrativos, apenas os atos jurisdicionais podem
formar a coisa julgada; isto é, tornarem-se imutáveis, impedindo-se a rediscussão da matéria. Veja-se a
Constituição Federal, art. 5º:

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Um bom conceito de coisa julgada retiramos da lição de HÉLIO TORNAGHI:

[...] a partir do instante em que o litígio é levado a juízo, diz-se que a coisa litigiosa foi ali
apresentada (res in iudicium deducta est) e que a lide pende de julgamento (daí: litispendência).
Mas chega um momento em que o litígio é resolvido definitivamente, sem possibilidade de ser
de novo proposto à consideração de qualquer juiz e a decisão se torna imutável. Desde então
deve dizer-se que a coisa está julgada (res iudicata est). Coisa julgada, portanto, é a própria coisa

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discutida depois que o juiz se pronuncia sem mais qualquer possibilidade de recurso ou de
mudança da decisão (Tornaghi, 1967).

A definição legal, hoje, perfeitamente aproveitável no processo penal (art. 3º, CPP), está no artigo 502 do
Código de Processo Civil1:

Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a
decisão de mérito não mais sujeita a recurso.

É fato, todavia, que esse princípio tem sido bastante relativizado no Direito brasileiro. No processo penal,
em especial, há muito tempo a coisa julgada é relativa quando se refere a sentença condenatória, na medida
em que esta pode ser completamente desconstituída pela revisão criminal.

Juiz natural – este é o princípio mais importante dentro do tema que estamos estudando, com previsão na
Constituição Federal, em diversos dispositivos, em particular no art. 5º:

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

Ainda em nível de Constituição Federal (sem prejuízo da disciplina existente na legislação


infraconstitucional), o princípio do Juiz natural está presente em vários dispositivos, por exemplo,
ao estabelecer que ao Tribunal do Júri cabe o julgamento dos crimes dolosos contra a vida (art.
5.º, XXXVIII), ao prever a competência dos Tribunais Regionais Federais para o julgamento dos
crimes comuns e de responsabilidade cometidos por Juízes Federais (art. 108, I); ao determinar
que ao Supremo Tribunal Federal compete processar e julgar, nas infrações penais comuns, o
Presidente da República (art. 102, I, b) etc. (Avena, 2020).

Em breves palavras, é traduzido como o direito que toda pessoa tem de saber, previamente, por qual juiz
será julgada caso venha a ser submetida a um processo judicial. “Daí se conclui que juiz natural é aquele
constituído antes do fato a ser julgado, de acordo com a ordem taxativa de competência estabelecida em
conformidade com a lei” (Júnior, et al., 2009).

No peso das tradicionais palavras de JORGE DE FIGUEIREDO DIAS, é “o direito fundamental dos cidadãos a que
uma causa seja julgada por um tribunal previsto como competente por lei anterior, e não ad hoc criado ou

1
Enquanto no processo civil é o dispositivo da sentença que faz coisa julgada, no processo penal são os fatos ou a realidade
histórica. Discutiremos isso no momento oportuno.

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tido como competente” (Dias, 1974). Segundo o insigne jurista português, o princípio tem um tríplice
significado:

a) Ele põe em evidência, em primeiro lugar, o plano da fonte: só a lei pode instituir o juiz e fixar-
lhe a competência.

b) Em segundo lugar, procura ele explicar um ponto de referência temporal, através deste
afirmando um princípio de irretroatividade: a fixação do juiz e de sua competência tem de ser
feita por uma lei vigente já ao tempo em que foi praticado o facto criminoso que será objecto do
processo.

c) Em terceiro lugar, pretende o princípio vincular a uma ordem taxativa de competência, que
exclua qualquer alternativa a decidir arbitrária ou mesmo discricionariamente. Daqui a proibição
de jurisdições de excepção, i. é, jurisdições ad hoc criadas para decidir um caso concreto ou um
determinado grupo de casos, com quebra das regras gerais de competência; o que não obstará
à válida existência de tribunais especiais que a Constituição e as leis prevejam, mas proibirá
terminantemente o desaforamento de qualquer causa criminal, bem como a sua suspensão
discricionária por qualquer autoridade.

A ordem constitucional das jurisdições não poderá ser subvertida nem os imputados poderão ser subtraídos
aos seus juízes naturais (Dias, 1974). É um dos princípios fundamentais, de permanente interação com outros
princípios informadores do processo penal, dentre eles o da imparcialidade. Decorre do devido processo
legal, da isonomia, pois visa garantir um julgamento justo, equânime, realizado, em qualquer grau de
jurisdição, por um juiz constitucionalmente competente. A legalidade e a anterioridade, verdadeiros
postulados, também se relacionam por demais; o juízo natural é constituído previamente por lei, e não criado
post factum.

Nas palavras do Ministro CELSO DE MELLO:

[...] O princípio da naturalidade do juízo representa uma das mais importantes matrizes político-
ideológicas que conformam a própria atividade legislativa do Estado e condicionam o
desempenho, pelo Poder Público, das funções de caráter penal-persecutório, notadamente
quando exercidas em sede judicial. O postulado do juiz natural, em sua projeção político-jurídica,
reveste-se de dupla função instrumental, pois, enquanto garantia indisponível, tem, por titular,
qualquer pessoa exposta, em juízo criminal, à ação persecutória do Estado, e, enquanto
limitação insuperável, representa fator de restrição que incide sobre os órgãos do poder estatal
incumbidos de promover, judicialmente, a repressão criminal. É irrecusável, em nosso sistema
de direito constitucional positivo - considerado o princípio do juiz natural - que ninguém poderá
ser privado de sua liberdade senão mediante julgamento pela autoridade judiciária competente.
Nenhuma pessoa, em consequência, poderá ser subtraída ao seu juiz natural. A nova Constituição
do Brasil, ao proclamar as liberdades públicas - que representam limitações expressivas aos
poderes do Estado - consagrou, de modo explícito, o postulado fundamental do juiz natural. [...]
(HC 81963, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 18/06/2002)

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O princípio tem previsão em vários tratados internacionais, dentre eles destacamos, respectivamente, a
Convenção Americana de Direitos Humanos e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, ambos
incorporados ao nosso ordenamento jurídico:

Artigo 8. Garantias Judiciais. 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e
dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra
ela, [...].

Artigo 14. 1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa
terá o direito de ser ouvida publicamente e com devidas garantias por um tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter
penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil.

LUIZ FLÁVIO GOMES, comentando a Convenção, diz que o princípio do juiz natural “tem o significado de juiz
competente” e dele podemos “extrair três garantias: a) ninguém pode ser subtraído do seu juiz natural; b)
irrecusabilidade do juiz natural (salvo motivo legal fundamentado) e c) está proibida pela Constituição
Federal a criação de tribunal ou juízo de exceção” (Gomes, et al., 2009).

O princípio do juiz natural não é mero atributo do juiz, senão um verdadeiro pressuposto para a
sua própria existência. Como explicamos anteriormente, na esteira de MARCON, o Princípio do
Juiz Natural é um princípio universal, fundante do Estado Democrático de Direito. Consiste no
direito que cada cidadão tem de saber, de antemão, a autoridade que irá processá-lo e qual o
juiz ou tribunal que irá julgá-lo, caso pratique uma conduta definida como crime no ordenamento
jurídico-penal. O nascimento da garantia do juiz natural dá-se no momento da prática do delito,
e não no início do processo. Não se podem manipular os critérios de competência e tampouco
definir posteriormente ao fato qual será o juiz da causa. Elementar que essa definição posterior
afetaria, também, a garantia da imparcialidade do julgador, como visto anteriormente. Importa
afastar a criação de tribunais de exceção (post factum) e extinguir os privilégios das justiças
senhorais (foro privilegiado). Na clara definição de COUTINHO, trata-se de definir qual é o “meu
juiz”, pois todos passam a ser julgados pelo “seu juiz”, cuja competência é previamente
estabelecida por uma lei vigente antes da prática do crime.

Conforme ROGÉRIO LAURIA TUCCI, a verdade é que “o indivíduo envolvido numa persecutio criminis só pode ser
validamente processado e julgado por agente do Poder Judiciário – juiz ou tribunal – dito autêntico; assim
concebido quem seja”:

a) legítima e regularmente investido no exercício da jurisdição penal (cf. arts. 93, I; 101, parágrafo
único; 104, parágrafo único; 107, 119 e 123, e seu parágrafo único, da CF); e

b) dotado das garantias ínsitas ao normal e autônomo desempenho da função de seu cargo (cf.,
também, arts. 93, VIII e IX, e 95 da Carta Magna vigente: vitaliciedade, independência política e
jurídica, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos).

Explica CLAMANDREI que, integrando-se o juiz natural à determinação de irretroatividade da lei, se


apresenta a garantia, na qual se consubstancia, “inseparável do sistema de legalidade”. É por

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isso, aliás, que, incidente ao processo penal a máxima tempus criminis regit iudicem, deve
prevalecer, para o conhecimento e o julgamento das causas criminais, a organização judiciária
preexistente à prática da infração penal; equivalendo, consequentemente, à concepção de juiz
natural as de juiz legal e de juiz competente. [...] Em suma, excluindo-se, necessariamente, em
matéria penal, os órgãos jurisdicionais ad hoc e ex post facto, a garantia do juiz natural, na Justiça
Criminal, presenta-se dupla, a saber:

a) ao imputado confere a certeza da inadmissibilidade de processamento da causa e julgamento


por juiz ou tribunal distinto daquele tido como competente à época da prática da infração penal;
e,

b) à jurisdição penal, a segurança de que os regramentos da unidade e do monopólio da


administração da justiça, assim como o determinante da independência de seus agentes, não
serão ameaçados pela constituição de tribunais ou de órgãos excepcionais e submissos a outro
poder do Estado (Tucci, 2004).

3 - JURISDIÇÃO – ELEMENTOS
Em atenção à completude do material, cumpre dizer que alguns autores, quando tratam da jurisdição, fazem
referência aos elementos que a compõe. A objetiva e precisa lição de NORBERTO AVENA, em relação ao tema,
merece transcrição e dispensa acréscimos:

a) Notio ou cognitio: trata-se da atividade de conhecimento, abrangendo o poder atribuído aos


órgãos jurisdicionais de conhecer dos litígios; de investigar a presença dos pressupostos de
existência e de validade da relação processual, das condições de procedibilidade e das condições
da ação; de adotar as providências cabíveis à tramitação regular do processo e de instruir o feito,
colhendo a prova necessária à formação de seu convencimento.

b) Vocatio: trata-se da atividade de chamamento, correspondendo à faculdade inerente aos


juízes de fazer comparecer a juízo toda pessoa cuja presença seja necessária ao desenvolvimento
regular do processo. Nesse aspecto, abrange-se também a coertio, consistente na possibilidade
de o Magistrado aplicar medidas de coação processual para garantir a efetividade da vocatio,
determinando, por exemplo, a condução coercitiva da testemunha que, regularmente notificada,
tenha se mantido inerte.

c) Judicium: trata-se de atividade de julgamento, compreendendo-se, aqui, a fase conclusiva da


jurisdição, na qual o Juiz deverá pronunciar sentença, compondo a lide e aplicando o direito
objetivo.

d) Executio: trata-se da atividade de execução, abarcando a prática dos atos necessários ao


cumprimento da decisão judicial.

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4 - JURISDIÇÃO – CLASSIFICAÇÃO
O mesmo autor, de forma breve, ainda consolida a classificação que a doutrina costuma fazer em relação à
jurisdição, da seguinte forma:

inferior
graduação
superior

penal, civil,
matéria
eleitoral etc.

JURISDIÇÃO contenciosa
objeto
voluntária

plena ou
limitada
competênci
a exclusiva ou
cumulativa

a) Quanto à sua graduação: a jurisdição poderá ser inferior, como tal se compreendendo a
primeira instância de julgamento das esferas federal ou estadual; e superior, que abrange as
demais instâncias, isto é, aquelas a que compete o julgamento dos recursos interpostos.

b) Quanto à matéria: a jurisdição leva em conta aqui a natureza da causa a ser julgada,
classificando-se, então, em jurisdição penal, civil, eleitoral etc.

c) Quanto ao objeto: a jurisdição poderá ser contenciosa, se houver litígio; ou voluntária


(também chamada de graciosa), caso tenha caráter apenas homologatório de vontade do
interessado ou de acordo das partes. Na esfera penal discute-se a existência desta última
possibilidade, predominando o entendimento negativo. Considera-se, que, nas hipóteses em que
não há um litígio (v.g., pedido de reabilitação criminal, requerimento de restituição de bem
apreendido etc.), o que ocorre é uma atividade judiciária em sentido estrito, e não uma função
jurisdicional.

d) Quanto à competência: aqui é necessário considerar duas subordens de classificações:

• Plena ou limitada: há a jurisdição plena quando o Juiz possui competência para decidir todos
os casos, o que ocorre na hipótese de Comarcas com vara única. Já a jurisdição limitada dá-se
quando tal competência é restrita a determinadas hipóteses, como nas Comarcas com varas
especializadas.

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• Exclusiva ou cumulativa: diz-se jurisdição exclusiva quando o órgão jurisdicional tem


competência apenas para apreciar determinados crimes, como é o caso do Tribunal do Júri, a
que está afeto, unicamente, o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. No tocante à
jurisdição cumulativa, ela ocorre quando não existe essa delimitação.

Há ainda duas outras classificações adotadas por parte da doutrina. Para estes, classifica-se a
jurisdição também quanto ao organismo jurisdicional, dizendo respeito ao órgão que vai exercer
cada espécie de jurisdição (Juiz de Direito, no âmbito da Justiça Comum Estadual; Juiz da Infância
e da Juventude, relativamente aos interesses da criança e do adolescente; Juiz de Família e
Sucessões, na esfera cível e assim por diante); e quanto à função, dividindo-se nesse enfoque em
ordinária ou comum, se integrada por órgãos do Poder Judiciário, e em extraordinária ou
especial, se, por exceção, estiver investido no poder de julgar outro órgão, a exemplo do Senado
no julgamento dos crimes de responsabilidade atribuídos ao Presidente da República (art. 52, I,
CF). Criticamos essas duas classificações, pois a primeira já está inserida na classificação da
jurisdição segundo a matéria (letra b, acima). E, quanto à segunda, pelo fato de não conseguirmos
vislumbrar poder jurisdicional em esfera distinta do Poder Judiciário, sinalando, quanto à
competência do Congresso Nacional para o julgamento de crimes de responsabilidade, que não
se trata essa atividade do exercício de jurisdição, mesmo porque não se está aí diante de uma
ação penal, e sim de um procedimento de natureza política visando à apuração de infrações
político-administrativas (Avena, 2020).

5 - COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA


É comum a distinção que se faz entre competência absoluta e relativa. É uma classificação que se faz mais a
nível de doutrina e de jurisprudência, na medida em que não existe disposição legal expressa sobre isso.

Competência absoluta – seria aquela que não pode ser flexibilizada, que não admite prorrogação, ditada por
critérios de ordem pública e que, por isso mesmo, não poderia ser alterada por questões circunstanciais ou
razões de interesse particular. O vício gerado pela inobservância dessa modalidade de competência não
convalesce, pode ser alegado em qualquer tempo e grau de jurisdição. Ainda, segundo doutrina ortodoxa, o
vício que a ela diz respeito seria de nulidade absoluta, com prejuízo presumido 2.

Diz-se, portanto, que uma competência é absoluta quando ela não puder ser flexibilizada, é
dizer, quando estiver em risco a própria jurisdição como Poder Público, como
constitucionalmente responsável pela tutela da questão penal. Aqui, o interesse é
eminentemente público, indisponível e inafastável por qualquer decisão dos interessados que
concretamente estejam integrando determinada relação processual, sejam eles partes (acusado,
Ministério Público, assistentes de acusação), seja o próprio órgão julgador. Trata-se, pois, de
interesse metaprocessual, então identificado como aquele que ultrapassa a fronteira do

2
Hoje em dia essa concepção está relativamente ultrapassada; falaremos disso em outra oportunidade, quando tratarmos das
nulidades.

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interesse dos envolvidos em determinado e específico processo para atingir todo e qualquer
outro processo, já passado, em curso ou, ainda, a ser instaurado. Tal modalidade de
incompetência, como intuitivo, não se submete à preclusão, podendo ser alegada até mesmo
após o trânsito em julgado da sentença condenatória (da absolutória, não, diante da proibição
de revisão pro societate, como vimos nos princípios fundamentais do processo penal) (Pacelli,
2018).

Denomina-se absoluta a hipótese de fixação de competência que tem origem em regra


constitucional, apresentando como seu fundamento o interesse público na correta e adequada
distribuição de Justiça. Como é o interesse público que determina a criação dessa regra de
competência, essa espécie de competência é indisponível às partes e se impõe com força cogente
ao juiz. Logo, não admite modificações, cuidando-se de uma competência improrrogável,
imodificável. [...] Caso um juiz absolutamente incompetente decida determinada causa, até que
sua incompetência seja declarada, essa sentença não será considerada inexistente, mas sim
1
dotada de nulidade absoluta, dependendo de pronunciamento judicial para ser desconstituída.
Com efeito, diversamente do que sucede no direito privado, a nulidade dos atos processuais não
é automática, ficando seu reconhecimento condicionado a um pronunciamento judicial,
retirando a eficácia do ato praticado irregularmente. Tanto é verdade essa assertiva que no
campo processual civil, a sentença de mérito proferida por juiz absolutamente incompetente
consiste em motivo ensejador da ação rescisória (NCPC, art. 966, II, in fine), produzindo efeitos
até que efetivamente rescindida (Lima, 2021).

E quais espécies de competência se encaixam nesse perfil, de competência absoluta? Quem nos traz a
resposta, de forma mais direta, é o artigo 62 do Código de Processo Civil:

Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é


inderrogável por convenção das partes.

O raciocínio, amparado por doutrina amplamente majoritária, é o seguinte: se são ‘inderrogáveis’, se não
podem ser alteradas ou modificadas é porque a competência em razão da matéria, da pessoa (por
prerrogativa de função) e a competência funcional são absolutas.

Competência relativa – em sentido inverso, a competência relativa seria aquela que admite prorrogação,
pode ser ‘relativizada’; aquela regulamentada por regras que não são de interesse público – ao contrário, a
disciplina é voltada a atender as pretensões das partes e dos interessados. Segundo a doutrina mais
ortodoxa, o desrespeito às normas dessa modalidade de competência gera apenas nulidade relativa,
dependente, para a invalidação do ato, da demonstração do prejuízo. A inobservância dessa competência
deve ser alegada no momento oportuno, em prazos definidos em lei, sob pena de preclusão,
convalescimento do vício e prorrogação da competência.

Lado outro, tem-se como relativa a hipótese de fixação de competência pelas regras
infraconstitucionais que atende ao interesse preponderante das partes, seja para facilitar ao
autor o acesso ao Judiciário, seja para propiciar ao réu melhores oportunidades de defesa.
Mesmo em se tratando de hipótese de competência relativa, sempre haverá, em certa medida,
algum interesse público [...]. Todavia, terá caráter preponderante o interesse das partes, em
função de, em regra, atribuir-se a elas ônus da prova de suas alegações (CPP, art. 156, caput).

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Exatamente por esse motivo, essa espécie de competência admite prorrogação, ou seja, caso não
seja invocada no momento oportuno, um juízo que abstratamente seria incompetente para
processar e julgar o feito passará a ter competência para julgá-lo no caso concreto (Lima, 2021).

Já a competência relativa, ou territorial, é aquela que pode ser flexibilizada ou, de modo mais
simples, relativizada, dependendo do exame concreto de determinada relação processual e do
interesse das partes envolvidas. Explica-se. Como já mencionado, as regras infraconstitucionais
de competência têm em vista a tutela imediata do processo em curso, de modo a conduzir ou
possibilitar um provimento judicial final o mais acertado possível. E, também como já
adiantamos, tais regras dirigem-se à qualidade da instrução criminal e da formação do
convencimento judicial. Ora, desde que observados os princípios fundamentais do contraditório
e da ampla defesa, o fato é que quem deve aferir da qualidade da instrução e da suficiência do
conjunto probatório levado a juízo é, precisamente, e em regra, a quem puder interessar a sua
produção: o acusado e o órgão da acusação (Pacelli, 2018).
3
E quais espécies de competência se encaixam nesse perfil, de competência relativa? Quem nos traz a
resposta, mais uma vez, é o Código de Processo Civil:

Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo
foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações.

Se as partes podem modificar a competência em razão do território é porque essa modalidade é de natureza
relativa. Assim, portanto, segundo doutrina corrente, a competência em razão do território (ratione loci) é
relativa.

Também seriam relativas as competências relacionadas aos institutos da prevenção, distribuição, conexão e
continência. Sobre a competência por prevenção, há, inclusive, Súmula do STF:

Súmula 706, STF. É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção.

RENATO BRASILEIRO traz um quadro sinóptico dos regimes jurídicos das regras de competência absoluta e
relativa:

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA


Regra de competência criada com base no Regra de competência criada com base no
interesse público. interesse preponderante das partes.
A regra de competência absoluta não pode ser
A regra de competência relativa pode ser
modificada, ou seja, cuida-se de competência
modificada, ou seja, cuida-se de competência
improrrogável ou imodificável. Nesse sentido: art.
prorrogável ou derrogável.
62 do novo CPC.
Incompetência absoluta é causa de nulidade Incompetência relativa é causa de, no máximo,
absoluta: a) pode ser arguida a qualquer momento, nulidade relativa: a) deve ser arguida no momento
mesmo após o trânsito em julgado (após a oportuno (resposta à acusação – CPP, art. 396-A),
formação da coisa julgada somente pode ser sob pena de preclusão; b) o prejuízo deve ser
arguida em favor do acusado, por meio de revisão comprovado.

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criminal ou habeas corpus); b) o prejuízo é


presumido.
Pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado,
Pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado, porém somente até o início da instrução
enquanto não esgotada sua jurisdição pela processual, em virtude da adoção do princípio da
prolação da sentença. identidade física do juiz (CPP, art. 399, § 2º). Não
se aplica ao processo penal a súmula nº 33 do STJ.
Pode ser arguida por meio de exceção de Pode ser arguida por meio de exceção de
incompetência. Porém, como o magistrado pode incompetência. Porém, como o magistrado pode
conhecê-la de ofício, nada impede que a parte conhecê-la de ofício, nada impede que a parte
aborde a incompetência absoluta de outra forma. aborde a incompetência relativa de outra forma.
Como a competência relativa admite modificações,
Se a competência absoluta não admite
a conexão e a continência podem funcionar como
modificações, a conexão e a continência, que são
critérios modificativos da competência, tornando
causas modificativas da competência, não podem 2
competente para o caso concreto juiz que não o
alterar uma regra de competência absoluta.
seria sem elas. Nesse sentido: art. 54 do novo CPC.
Exemplos: ratione loci, competência por
Exemplos: ratione materiae, ratione funcionae e
distribuição, competência por prevenção (súmula
competência funcional.
nº 706 do STF), conexão e continência.

Aliás, no processo penal (diferente do processo civil), a incompetência relativa pode ser reconhecida de ofício
pelo juiz, independentemente de exceção ou pedido da parte, não tendo aplicação a Súmula 33 do STJ. Assim
estabelece o Código de Processo Penal:

Art. 109. Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente,
declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na forma do artigo
anterior.

Note-se que a norma não distingue sobre a espécie de incompetência que o juiz pode reconhecer, de
maneira que a possibilidade se estende também sobre a incompetência relativa, não só a absoluta.

Importante pontuar que a distinção entre as competências absolutas e relativas, no processo penal, perdeu
muito da sua importância nos últimos anos, isso em razão da mudança jurisprudencial em relação à natureza
das nulidades que sobre elas recaem e a possibilidade ou não de prorrogação e convalidação 3.

6 - CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Tratando dos critérios determinantes da competência, o art. 69 do CPP assim estabelece:

3
Estudaremos isso no momento oportuno, quando tratarmos das nulidades.

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Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:

I - o lugar da infração; FORO (ratione loci)

II - o domicílio ou residência do réu; FORO (ratione loci)

III - a natureza da infração; JUÍZO (ratione materiae)

IV - a distribuição; JUÍZO

V - a conexão ou continência; CAUSA DE DESLOCAMENTO

VI - a prevenção; CAUSA DE DESLOCAMENTO

VII - a prerrogativa de função. 7PESSOA (ratione personae/funcionae)4

A competência de foro está nos incisos I e II; a competência de juízo nos incisos III e IV; nos incisos V, VI e VII
temos causas de deslocamento de competência. Mas o art. 69 do CPP não exaure o assunto e há necessidade
de conjugação com outros dispositivos do próprio Código, da Constituição Federal e das leis de organização
judiciária, sobre a função que os juízes são chamados a desempenhar (competência funcional) e sobre as
matérias que devem conhecer (competência material). Tudo sem descuidar das exceções e das normas
especiais que derrogam as gerais (Tornaghi, 1997).

A jurisdição tanto pode ser limitada em sua extensão quanto em seu conteúdo. Quando se lhe
demarca a primeira, já ela não se estende a todos os territórios sujeitos à soberania do Estado
ou todas as matérias submetidas a julgamento. Quando se lhe restringe o outro, já ela não
compreende todos os poderes jurisdicionais. No primeiro caso, surgem a competência territorial
e a material. No segundo, a competência funcional. Naquele, de processos diferentes, conhecem
juízes diversos: neste, no processo, funcionam vários juízes.

Se, por exemplo, dois crimes ocorreram, no lugar A, outro no lugar B, tem competência para
conhecer do primeiro o juiz de A e, do segundo, o juiz de B. O exercício da jurisdição do primeiro
não se estende até B. Para usar uma imagem grosseira: o braço daquele não alcança o lugar B.
Mas se ocorre um só crime, no lugar A, e a lei limita o poder do juízo X a instruir o processo, o do
juízo Y a julgá-lo, o do juízo Z a executar a sentença, então o que se lindou não foi a extensão do
poder jurisdicional, foi sua compreensão, seu conteúdo. O poder foi fracionado entre vários
juízes. Não é que o braço de cada um deles não alcance o fato por ter ocorrido fora de
determinado território, ou por versar matéria estranha, mas é que o primeiro só tem olhos para
ver e ouvidos para ouvir, o segundo só tem cabeça para julgar, e o último só tem braços para
executar. Esta é, a meu ver, a verdadeira diferença entre a competência material e a territorial,

4
Em azul as relativas; em vermelho as absolutas.

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de um lado, e a competência funcional, de outro, e creio que este critério é hábil para pôr fim a
todas as vacilações da doutrina no que respeita à competência funcional (Tornaghi, 1997).

A doutrina mais assentada, costuma dizer que existem critérios a serem observados para firmar a
competência:

1) Ratione loci – refere-se aos incisos I e II do art. 69 do Código de Processo Penal, tendo em conta, portanto,
o lugar onde ocorreu a infração penal ou, supletivamente, o lugar de residência do réu. Estamos aqui
verificando a chamada competência de foro.

Competência ratione loci [...]: refere-se ao lugar onde ocorreu a infração penal. A definição, aqui,
é estabelecida a partir da indagação: onde ocorreu o fato delituoso? É pelo exame das normas
de competência ratione loci que se chegará ao foro competente para o processo e julgamento
da ação penal, isto é, o Conselho de Justiça na2esfera da Justiça Militar; a Zona no caso da Justiça
Eleitoral, a Seção/Subseção judiciária no âmbito da Justiça Federal e a Comarca na órbita da
Justiça Estadual. [...] Critério alternativo ou facultativo. Trata-se do domicílio ou residência do
réu (art. 69, II, CPP), que ora funciona como critério alternativo na fixação da competência, ora
atua como critério facultativo. A primeira situação – domicílio do réu como critério alternativo –
tem lugar quando não for conhecido o local onde foi praticada a infração penal (art. 72 do CPP).
Já o segundo caso – domicílio do réu como critério facultativo – incide nas hipóteses de ação
penal exclusivamente privada. Aqui, o uso do domicílio do réu fica na opção exclusiva do
querelante, sendo irrelevante se conhecido ou não o lugar da infração (art. 73 do CPP) (Avena,
2020).

2) Ratione materiae – refere-se ao inciso III do art. 69 do CPP, importando saber, para definir a competência
de juízo, qual a natureza ou espécie do crime praticado.

Competência ratione materiae (art. 69, III, CPP): este critério leva em conta a natureza dos fatos
incriminados. Neste caso, a fixação da competência decorre do questionamento: qual foi o fato
delituoso praticado pelo agente? E a resposta a esta pergunta vai permitir que se estabeleça qual
das seguintes Justiças será a competente para o processo e julgamento da infração: Justiça
especial militar, Justiça especial eleitoral, Justiça comum federal e Justiça comum estadual. Não
se inclui nesse elenco, logicamente, a Justiça do Trabalho, pois o art. 114 da CF não lhe atribui
competência criminal (Avena, 2020).

3) Ratione personae ou ratione funcionae – refere-se ao inciso VII do art. 69 do CPP, importando saber, para
definição e deslocamento da competência, a função desempenhada pela pessoa – é o famoso foro por
prerrogativa de função.

Competência ratione personae (art. 69, VII, CPP): concerne à condição funcional ou à qualidade
das pessoas acusadas, sendo estabelecida a partir da resposta à seguinte indagação: quem
praticou o fato delituoso? É a partir do exame das regras de competência ratione personae que
se define se uma determinada ação penal tramitará perante os juízes singulares ou perante os
Tribunais. A inobservância das regras processuais de competência em razão da prerrogativa de
função impõe a anulação de todo o processo criminal, inclusive da denúncia oferecida por órgão
que não detinha a legitimidade ativa (v.g., denúncia oferecida por Promotor de Justiça em relação

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a quem possui prerrogativa de função junto ao Tribunal de Justiça e que, por isso mesmo, deveria
ter sido acusado pelo Procurador-Geral de Justiça) (Avena, 2020).

Difícil quem não reconheça, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, esses três (3) primeiros critérios
para definir a competência. Todavia, ao se classificar as competências (é disso que estamos tratando), boa
parte da doutrina ainda refere à competência funcional.

4) Competência funcional – refere-se à “distribuição feita pela lei entre diversos juízes da mesma instância
ou de instâncias diversas para, num mesmo processo, ou em um segmento ou fase do seu desenvolvimento,
praticar determinados atos. Nesse caso, a competência é fixada conforme a função que cada um dos vários
órgãos jurisdicionais exerce em um processo” (Lima, 2021).

A rigor, toda competência é funcional: é uma distribuição de funções entre os juízes. Reserva-se,
entretanto, este nome a determinado tipo de fcompetência. Em princípio, a competência de um
juiz refere-se a todos os poderes da jurisdição: o de conhecer do pedido, o de instruir o processo,
o de decidir e o de executar a sentença. Mas a limitação criada ao poder jurisdicional pelas
normas de competência pode atingi-lo também em seu conteúdo, retirando ao juiz qualquer
daqueles poderes. Assim é, por exemplo, que uma norma especial nega ao juiz da condenação a
competência para executar a própria sentença, deixando-a ao juiz das execuções criminais. Um
caso particular de competência funcional, e o mais importante, é o da competência por graus. O
princípio da devolução do conhecimento da sentença a um órgão diverso do recorrido traz em
consequência a pluralidade de instâncias, isto é, de graus da jurisdição (Tornaghi, 1997).

A competência funcional pode ser determinada de acordo com três (3) critérios, tomando em conta:

i. as fases do processo: de tal modo que, conforme a etapa ou fase do processo (instrução, julgamento,
execução) atuará este ou aquele juízo; as tarefas são atribuídas a um ou outro órgão jurisdicional
conforme o momento e a atividade desenvolvida no processo. É o que ocorre, por exemplo, em
relação a varas de execução penal, com juízo e competência diferenciada das varas criminais.
Também em relação ao procedimento do júri que, não raras vezes, terá um juízo para a primeira fase
e outro para a segunda (após a preclusão da pronúncia atua o juiz presidente do Tribunal do Júri),
onde se realiza o plenário.
ii. os graus de jurisdição: também se fala em competência funcional vertical e as instâncias, aqui, é que
são relevantes. Há um escalonamento entre os graus de jurisdição e isso é relevante para definir a
competência funcional, seja de forma originária (competência por prerrogativa de função), seja em
âmbito recursal (princípio do duplo grau de jurisdição).
iii. os atos do processo ou objeto do juízo: aqui, importa saber qual o ato processual para definir a
competência funcional. Assim, observadas as regras legais, existem atos de competência do relator,
do revisor, do presidente em órgãos colegiados. No Tribunal do Júri, também, existem tarefas que são
do juiz togado (presidir a sessão, aplicar a pena), como tarefas que ficam na incumbência dos jurados
(juízes do fato).

Pois bem. Vistos alguns critérios, há se ponderar que não há, na doutrina, uma forma única ou padronizada
de explanar sobre as competências; preferimos, diante disso, seguir, essencialmente, a ordem dos critérios
estabelecida pelo Código de Processo Penal, conforme veremos a seguir – por mais que ela não represente
a melhor ordem na definição das competências nos casos concretos.

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NUCCI, com muita propriedade, afirma:

Para um estudo a respeito de competência, torna-se indispensável considerar que existem vários
textos normativos disciplinando a matéria. Portanto, deve-se consultar não somente o Código de
Processo Penal, mas também a Constituição Federal, a Lei de Organização Judiciária do Estado e
os Regimentos Internos dos Tribunais. Com isso, tem-se um quadro amplo e correto da
competência. Por outro lado, é valioso lembrar que, no contexto penal, a regra principal é
garantir a punição do autor da infração penal no lugar onde ela se realizou, até porque, assim
fazendo, mantém-se acesa uma das funções e finalidades da pena, que é o seu caráter
intimidatório geral, ou seja, pune-se o criminoso para sinalizar à sociedade o mal que pode advir
da prática do delito.

E mesmo para aqueles que consideram somente o caráter preventivo geral positivo, isto é, que
a pena é aplicada somente para reafirmar a efetividade e vigência do direito penal, não deixa de
ser fundamental assegurar que tal se dê no local onde a infração penal concretizou-se. Afinal,
onde houve o abalo causado pelo delito, busca-se aplicar a lei penal, reativando os valores
positivos do Direito. De nada adiantaria punir o autor de um furto na cidade de Manaus em uma
Vara Criminal do Rio de Janeiro, distante, pois, do lugar onde a ordem jurídica foi efetivamente
lesada.

Em suma, busca-se, em primeiro plano, o lugar da infração penal (ratione loci). E, a partir disso,
visualiza-se o contexto das exceções à regra: a) quando houver matéria especial a ser cuidada
(ratione materiae), levando-se em conta a natureza da infração (é o que ocorre com a Justiça
Militar ou Eleitoral, para crimes militares ou eleitorais); b) quando houver privilégio especial em
função da pessoa a ser julgada (ratione personae), como ocorre no julgamento de altas
autoridades. Tendo em vista que, muitas vezes, desconhece-se o local da infração, elegeu-se uma
segunda regra geral, embora supletiva, que é o lugar do domicílio ou residência do réu (este foro
pode ser o da eleição do querelante nos crimes de ação privada, conforme art. 73, CPP). A partir
do estabelecimento da competência inicial, em razão do lugar da infração penal ou do
domicílio/residência do réu, passa-se ao critério da seleção sorteada do magistrado, usando-se a
distribuição. Há também exceções com relação à escolha fortuita do juiz: a) em função da matéria
debatida, o que se extrai através da natureza da infração penal. É o caso do delito contra a vida,
que segue diretamente para Vara privativa do Júri – quando existente; b) em função da conexão
ou da continência, motivos que favorecem a colheita da prova, evitando decisões contraditórias;
c) em razão da prevenção, isto é, quando, por situação pretérita, algum juiz já tomou
conhecimento de matéria relevante no processo. Por derradeiro, não havendo condições de
determinar o lugar da infração ou do domicílio do réu, porque a infração penal desenvolveu-se
em várias localidades, ou porque há incerteza quanto às divisas da Comarca, usa-se a regra
subsidiária da prevenção, que é residual (Nucci, 2018).

Doutrina Complementar

NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017):
“Verificação da competência: primeira etapa – incidência das regras de competência ratione
personae (arts. 69, VII e 84 a 87 do CPP). O primeiro passo na busca do juízo competente é definir
o Órgão Jurisdicional a que incumbirá o processo e julgamento da infração. Para tanto, é

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necessário verificar se a condição funcional do agente garante ou não a ele prerrogativa de


função (ou foro privilegiado), isto é, o direito de ser processado criminalmente (não há esta
prerrogativa na esfera cível) e julgado diretamente nos Tribunais. Trata-se, enfim, de pessoas
que, por ocuparem cargos de relevância, detêm a prerrogativa de serem processadas e julgadas
perante órgãos jurisdicionais superiores. [...] O critério ratione personae predomina sobre o
critério relativo ao lugar da infração. [...] Verificação da competência: segunda etapa – incidência
das regras de competência ratione materiae, também chamada de competência de jurisdição ou
de competência de justiça (arts. 69, III, e 74, do CPP). É a partir deste critério que será definida
qual a justiça competente para o processo e julgamento da infração, dentre as quatro existentes
na estrutura do Poder Judiciário do Brasil com competência criminal: Justiça Eleitoral, Justiça
Militar, Justiça Federal e Justiça Estadual, as duas primeiras integrantes da denominada
Jurisdição Especial e, as duas últimas, compondo a chamada Jurisdição Comum. [...] Verificação
da competência: terceira etapa – definição do foro competente. Não sendo hipótese de
competência originária dos tribunais e uma vez definida a Justiça competente (Militar, Eleitoral,
Federal ou Estadual), passa-se à verificação do foro competente para a tramitação da ação penal.
Trata-se de definir, enfim, o Conselho de Justiça, na esfera da Justiça Militar; a Zona Eleitoral, no
âmbito da Justiça Eleitoral; a Subseção ou Circunscrição Judiciária, na órbita da Justiça Federal
ou a Comarca, quando se tratar de competência da Justiça Estadual. Para esta definição, será
utilizado o critério principal de fixação da competência relacionado ao lugar da infração (art. 69,
I, CPP), ou, não sendo este conhecido, ao domicílio do réu (art. 69, II, CPP). [...] Utilização dos
critérios secundários de fixação da competência: prevenção, normas de organização judiciária,
distribuição e conexão ou continência. Às vezes, a aplicação dos critérios ratione materiae,
ratione loci e domicílio do réu conduz, no caso concreto, à presença de mais de um órgão do
Judiciário igualmente competente para a ação penal. Quando isso ocorrer, deveremos buscar os
critérios secundários fixadores da competência, que são os seguintes: prevenção, normas de
organização judiciária, distribuição e conexão ou continência. [...] Depois de firmada a
competência ratione materiae (Justiça Federal, Justiça Estadual, Militar etc.) e após definido o
foro competente para a apuração segundo os critérios lugar do crime, domicílio e residência do
réu e prevenção, é necessário definir o Juiz competente dentro da Comarca a que incumbir o
processo e julgamento do feito. Sob este último enfoque, estabelece o art. 74 do CPP que devem
ser consideradas as normas de organização judiciária. Estas leis é que estabelecerão, por
exemplo, dentre os vários juízes criminais de uma determinada Comarca, qual deles detém
competência para julgar este ou aquele delito”. [...] “São critérios principais aqueles que
informam a competência ratione personae, ratione materiae e ratione loci. a) Competência
ratione personae (art. 69, VII, CPP): concerne à condição funcional ou à qualidade das pessoas
acusadas, sendo estabelecida a partir da resposta à seguinte indagação: quem praticou o fato
delituoso? b) Competência ratione materiae (art. 69, III, CPP): este critério leva em conta a
natureza dos fatos incriminados. Neste caso, a fixação da competência decorre do
questionamento: qual foi o fato delituoso praticado pelo agente? c) Competência ratione loci
(art. 69, I, CPP): refere-se ao lugar onde ocorreu a infração penal. A definição, aqui, é
estabelecida a partir da indagação: onde ocorreu o fato delituoso? Note-se que as competências
ratione personae e ratione materiae são absolutas, já que as normas que as regem são de ordem
pública. Logo, em regra, podem ser objeto de deliberação judicial independentemente de
provocação do interessado, em qualquer tempo e grau de jurisdição, inclusive após o trânsito em
julgado de decisão condenatória. Já a competência ratione loci é relativa, pois as normas que a
disciplinam encontram-se na legislação infraconstitucional, possuindo natureza privada. A

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declaração da nulidade decorrente da violação às regras de competência em razão do lugar


depende de provocação do interessado, não podendo, em tese, ser realizada ex officio. Neste
sentido, dispõe a Súmula 33 do STJ que “a incompetência relativa não pode ser declarada de
ofício”. Outro aspecto a considerar respeita ao tempo de arguição desse vício, que não é
indefinido, devendo ser suscitado nos lapsos previstos em lei, sob pena de preclusão. Critério
alternativo ou facultativo. Trata-se do domicílio ou residência do réu (art. 69, II, CPP), que ora
funciona como critério alternativo na fixação da competência, ora atua como critério
facultativo. A primeira situação – domicílio do réu como critério alternativo – tem lugar quando
não for conhecido o local onde foi praticada a infração penal (art. 72, CPP). Já o segundo caso –
domicílio do réu como critério facultativo – incide nas hipóteses de ação penal exclusivamente
privada. Aqui, o uso do domicílio do réu fica na opção exclusiva do querelante, sendo irrelevante
se conhecido ou não o lugar da infração (art. 73, CPP)”.

VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012): “O legislador,
desde o constitucional até o estadual, utiliza esses critérios, objetivos e funcionais, de maneira
escalonada, ou seja, adotando um sistema de eliminação gradativa segundo a regra da
especia-lidade. Aplicando um a um os critérios, objetivos ou funcionais, que ele entendeu
relevantes, o legislador sucessivamente vai determinando a separação das infrações em grupos,
até chegar à fixação de um juiz para um fato específico. O legislador estabelece grandes cortes
que vão reduzindo as infrações a grupos menores até chegar ao juiz competente. Como se disse,
o princípio é o da especialidade, de modo que as atribuições expressas preferem às mais gerais
ou comuns, até que se alcance a jurisdição penal estadual, que é a mais comum de todas. A
conclusão a respeito do juiz competente, portanto, deve resultar da passagem por várias etapas,
que são as seguintes: 1) verificação da competência internacional, ou seja, se o juiz brasileiro,
genericamente, é competente para processar e julgar a infração. O juiz brasileiro só é
competente para as infrações em que ocorra a aplicação territorial e extraterritorial da lei penal,
nos termos do Código Penal (arts. 5o a 7o); 2) exame da competência originária dos tribunais,
desde que essa competência esteja definida na Constituição Federal. Neste caso, a determinação
precede a qualquer outra. Se, contudo, a competência originária por prerrogativa de função é
estabelecida em lei ordinária, as competências estabelecidas na Constituição têm precedência,
como a competência das justiças especiais e a do júri; 3) verificação da competência das justiças
especiais, que são a militar e a eleitoral, nos termos da Constituição, do Código Penal Militar e
do Código Eleitoral, respectivamente; 4) exame da competência da Justiça Federal, nos termos
do art. 109 da Constituição Federal; 5) definição da competência territorial ou de foro, segundo
a disciplina do Código de Processo Penal; 6) definição da competência de juízo, do júri ou de
juízos especializados segundo as leis de organização judiciária, que podem definir, inclusive, a
competência de varas distritais ou foros regionais. Se no foro, ou comarca, houver mais de um
juízo com a mesma competência, define-se esta pela distribuição. Esse caminho, que às vezes
resulta rápido em face da inexistência de aspectos especiais a serem considerados, contudo, é
inevitável no plano lógico, passando sempre por todas as etapas. A infração que não receber a
definição da competência em etapa anterior deverá passar pelo exame na fase seguinte”.

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021): “Assim, é lugar-
comum na doutrina vincular o conceito de jurisdição ao de poder-dever. Não negamos que seja
um poder-dever, mas pensamos que a questão exige, à luz da Constituição, um deslocamento.
Assim, pensamos que jurisdição é um direito fundamental, tanto que, ao tratarmos dos

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princípios/garantias do processo penal, o primeiro a ser analisado é exatamente esse: a garantia


da jurisdição. Ou seja, o direito fundamental de ser julgado por um juiz, natural (cuja
competência está prefixada em lei), imparcial e no prazo razoável. É nessa dimensão que a
jurisdição deve ser tratada, como direito fundamental, e não apenas como um poder-dever do
Estado. [...] O que se evidencia é a coexistência dos conceitos. Não se nega o caráter de poder-
dever, mas, acima de tudo, é um direito fundamental do cidadão. E a ação, como visto, é a
invocação necessária para obtenção desse direito fundamental (jurisdição). Essa concepção
decorre, ainda, do princípio da necessidade do processo em relação à pena, pois, como visto, não
há pena sem processo anterior. Logo, ação, jurisdição e processo formam um núcleo de direitos
fundamentais que impedem a aplicação imediata e ilegítima da pena. Como consequência, a
própria conceituação de competência também é afetada. A competência, ao mesmo tempo em
que limita o poder, cria condições de eficácia para a garantia da jurisdição (juiz natural e
imparcial). [...] A competência impõe severos limites ao poder jurisdicional (es la medida de la
jurisdicción, sintetiza LEONE) e, por sua vez, está estreitamente disciplinada por regras que, em
última análise, asseguram a própria qualidade e legitimidade da jurisdição. Ao final de tudo, está
a garantia de ter um juiz natural, imparcial e cuja competência está claramente definida por lei
anterior ao fato criminoso. [...] Propomos definir a competência a partir de três perguntas
básicas: 1ª Qual é a Justiça e órgão competente? Aqui se discutem os critérios relativos à matéria
e pessoa, considerando a existência de: 1. Justiças Especiais 1.1. Justiça Militar 1.1.1. Justiça
Militar Federal 1.1.2. Justiça Militar Estadual 1.2. Justiça Eleitoral 2. Justiças Comuns 2.1. Justiça
Comum Federal 2.2. Justiça Comum Estadual. Sempre, para definição da ‘Justiça’ competente,
deve-se considerar a matéria em julgamento e começar a análise pela esfera mais restrita das
Justiças Especiais (começando pela Justiça Militar Federal, depois Estadual e, por fim, a Eleitoral),
para, por exclusão, chegar às Justiças Comuns (Primeiro a Federal), para só então chegar à Justiça
mais residual de todas: a Justiça Comum Estadual. Assim, um crime somente será de competência
da Justiça Comum Estadual quando não for de competência de nenhuma das anteriores. Definida
a Justiça, deve-se analisar ainda em qual será o nível da jurisdição que terá atuação originária,
pois pode ocorrer que, por exemplo, em virtude do cargo que o réu ocupe, o processo já nasça
no Tribunal de Justiça, no Superior Tribunal de Justiça ou mesmo no Supremo Tribunal Federal.
Mas o problema poderá não estar resolvido ainda, com a mera definição da Justiça e órgão
julgador. Em se tratando de primeiro grau de jurisdição, deve-se ainda definir qual é o foro
competente, passando então à segunda pergunta. 2ª Qual é o foro competente (local)? Quando,
em razão da natureza do delito (matéria) e qualidade do agente (pessoa), o julgamento for de
competência da Justiça de primeiro grau, deve-se ainda definir qual será o foro competente
(lugar), atendendo, nesse caso, às regras dos arts. 70 e 71 do CPP. Excepcionalmente,
dependendo da situação, poderá ser necessário recorrer às regras dos arts. 88 a 90, quando o
delito for cometido a bordo de navio ou aeronave, como explicaremos na continuação. 3ª Qual
é a vara ou juízo? Ainda que respondidas as duas perguntas anteriores, pode a competência não
estar definida, como ocorre, por exemplo, com um crime de roubo cometido na cidade de Porto
Alegre. A Justiça será a comum estadual (diante da não incidência das demais), o órgão é o juiz
de direito (primeiro grau) e o local será a comarca de Porto Alegre. Contudo, ainda assim, quantos
juízes igualmente competentes em razão da matéria, pessoa e lugar existem nessa cidade?
Dezenas. Logo, qual deles irá julgar? Deveremos recorrer aos critérios da prevenção (art. 83) ou
da distribuição, conforme o caso. Finalmente, após responder corretamente a essas três
perguntas, teremos a exata definição do juiz ou tribunal competente para o julgamento do
processo penal. Mas, como advertimos no início, esse é um tema bastante complexo e, ainda

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que tudo isso tenha sido definido, a ocorrência de conexão ou continência pode alterar
substancialmente a resposta final [...]”. Especificamente sobre a competência ratione loci, em
posição reconhecidamente minoritária, sustenta: “Com relação à competência em razão do
lugar, ao compreendermos que a jurisdição é uma garantia, não pode ela ser esvaziada com a
classificação civilista de que é ‘relativa’. Ou seja, a eficácia da garantia do juiz natural não permite
que se relativize a competência em razão do lugar. Assim, também consideramos a competência,
em razão do lugar, absoluta. Contudo, até por honestidade acadêmica, destacamos que não é
essa a posição majoritária na jurisprudência brasileira. Predomina a noção civilista de que a
competência, em razão do lugar do crime, é relativa. Desde a mera leitura do CPP, defendem que
a incompetência em razão do lugar do crime deve ser arguida pelo réu no primeiro momento em
que falar no processo, sob pena de preclusão e prorrogação da competência do juiz (prorrogatio
fori)”. Ainda, em relação ao reconhecimento dessa incompetência e sua arguição, assevera: “O
julgador, que inicialmente era incompetente em razão do lugar, adquire competência pela
preclusão da via impugnativa. Somente o réu pode alegar a incompetência em razão do lugar,
pois o Ministério Público, ao eleger o local onde ofereceu a denúncia, fez sua opção e, portanto,
preclusa a via para ele. Contudo, ao contrário de alguma doutrina que não descola das categorias
do processo civil, pensamos que a incompetência em razão do lugar pode também ser conhecida
pelo juiz de ofício. Isso porque o art. 109 do CPP não faz nenhuma restrição, todo oposto: [...]
Assim, poderá o juiz de ofício, e até a prolação da sentença, declinar de sua competência,
inclusive em razão do lugar. A distinção está em que, na incompetência em razão da matéria e
pessoa, por serem critérios absolutos e indisponíveis, não se opera nenhuma espécie de
convalidação. Inclusive em grau recursal pode ser declarada a incompetência do juiz. Já em
relação ao lugar, ou a defesa alega através da respectiva exceção ou ela se prorroga. Nesse caso,
somente o juiz poderá fazê-lo, até a sentença, nos termos do art. 109”.

CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO (Teoria Geral do Novo Processo Civil, São Paulo – Malheiros, 2016) faz
uma didática distinção entre certas palavras de uso corriqueiro no trato da competência e da
organização judiciária: “Foro, em direito processual, é o nome que se dá a cada uma das porções
territoriais em que se divide o país para efeito de distribuição da competência, seja em primeiro
grau jurisdicional, seja em grau mais elevado. Há milhares de foros de primeiro grau espalhados
por todo o território nacional, integrantes das várias Justiças. Nas Justiças dos Estados cada foro
de primeiro grau chama-se comarca. Na Federal, subseção judiciária. O foro de cada Tribunal de
Justiça é todo o Estado em que se situa. O dos Tribunais Regionais Federais abrange toda uma
Região. O foro do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça é todo o país. Na
disciplina da competência, porém, só se costuma manejar o conceito de foro de primeiro grau
(comarcas ou subseções). [...] Não confundir foro com fórum. Esses dois vocábulos vêm da
mesma origem latina, sendo o vocábulo forum-fori empregado para dizer praça ou, por extensão,
área. Em língua portuguesa o significado desse vocábulo se bifurcou, sendo usada a forma foro
para designar as áreas territoriais da divisão judiciária e fórum para o edifício onde têm sede os
órgãos jurisdicionais de primeiro grau de jurisdição. Mas na linguagem comum em alguns Estados
brasileiros costuma-se dizer foro para designar o prédio ocupado pelo Poder Judiciário. Há
também o péssimo uso do vocábulo foro, especialmente pela mídia mal informada, na expressão
foro privilegiado. Não existe um foro privilegiado. Um tribunal não é um foro, mas um órgão
judiciário. Mas com muita frequência se emprega equivocadamente essa locução para designar
a competência originária de certos tribunais, especialmente do Supremo Tribunal Federal, para
processar criminalmente os ocupantes de algum cargo elevado na hierarquia do Poder Executivo

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ou do Legislativo. Em vez de dizerem (corretamente) que o Supremo Tribunal Federal tem


competência originária para julgar o Presidente da República, dizem (erradamente) que este tem
foro privilegiado. Corretamente, em muitas disposições fala o novo Código de Processo Civil em
comarca ou subseção judiciária e não somente em comarca, como fazia o estatuto de 1973.
Comarca é o nome dado aos milhares de foros em que se divide o território nacional na
organização das Justiças Estaduais, para o exercício da jurisdição de primeiro grau pelos juízes de
direito. Mas só nas Justiças Estaduais. Na Federal os foros de primeiro grau são chamados
subseções, ou subseções judiciárias, e em cada um deles, também espalhados por todo o país,
atuam os juízes federais. O conceito de subseção judiciária é ligado ao de seção judiciária,
empregado pela Constituição Federal ao dispor que "cada Estado, bem como o Distrito Federal,
constituirá uma seção judiciária que terá por sede a respectiva Capital, e varas localizadas
segundo o estabelecido em lei" (art. 110). Esse é, no entanto, um conceito inteiramente inútil,
porque não há em lei alguma, sequer no Código de Processo Civil ou mesmo na própria
Constituição, qualquer disposição atribuindo competência a uma seção judiciária para o exercício
da jurisdição. Na estrutura da Justiça Federal existem as Regiões, que atualmente são cinco e
num futuro próximo provavelmente passarão a ser nove. Cada Região é composta de uma ou
mais unidades da Federação. A Quarta Região, p. ex., abrange territorialmente os Estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, sendo o Tribunal Regional Federal dessa Região sediado
em Porto Alegre. Na Segunda Região estão os Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro etc.
Como em cada Região só existe um Tribunal Regional Federal, e não em cada Estado ou seção
judiciária, tem-se que a competência de cada um desses tribunais inclui todos os Estados que
façam parte de sua Região. Uma causa julgada em primeiro grau de jurisdição em uma das varas
federais da cidade de Vitória poderá ir ter, em grau de recurso, ao Tribunal Regional Federal da
Segunda Região, sediado na cidade do Rio de Janeiro - simplesmente porque não há um desses
órgãos de segundo grau na cidade de Vitória ou em lugar algum do Estado do Espírito Santo. Por
isso é que, como foi dito acima, o conceito de seção judiciária, de dimensão igual ao de cada
Estado, não serve para coisa alguma. Existe apenas a competência de primeiro grau de cada uma
das subseções e a competência de segundo grau do Tribunal Regional Federal de cada uma das
Regiões. Juízo é sinônimo de órgão jurisdicional. Há juízos de primeiro grau, que são as varas
federais ou estaduais existentes em todo o país, e também os de grau superior, que são os
tribunais em geral – embora usualmente essa palavra seja empregada somente para designar os
juízos de primeiro grau. Em cada foro há ao menos um juízo de primeiro grau, e onde os há em
maior número os juízos poderão ter competência comum e cumulativa ou, conforme as leis de
organização judiciária, competências diversificadas (varas cíveis, da família e sucessões, criminais
etc.).

PAULO RANGEL (Direito processual penal, 26ª ed., São Paulo: Atlas, 2018), sobre jurisdição,
sustenta: “A função jurisdicional (do latim jurisdictione), sob o ponto de vista etimológico,
significa ação de dizer o direito. Pois jus, juris significa direito, e dictio, dictionis, ação de dizer.
[...] A jurisdição é a atividade do Estado que tem como escopo substituir a vontade das partes.
Aliás, essa substitutividade é uma das suas características principais, pois o Estado só atua porque
foi provocado por uma das partes que não conseguiu, extraprocesso, a solução da controvérsia.
Dessa forma, a vontade do autor e do réu sobre determinado direito será substituída pela
vontade da lei que irá imperar através da sentença. Dada a sentença, será extraída a regra jurídica
que regulará aquela situação litigiosa concreta”. A respeito do conceito de competência, aduz:
“Competência, assim, é o espaço, legislativamente delimitado, dentro do qual o órgão estatal,

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investido do poder de julgar, exerce sua jurisdição. Surge, assim, a competência em matéria cível,
a competência em matéria penal, militar, trabalhista, eleitoral etc. [...] Essa delimitação feita pela
lei visa uma melhor prestação de serviços, pois seria desumano que um único juiz (órgão
investido de jurisdição) fosse o responsável pela solução de todos os conflitos de interesse de
alta relevância social que lhe fossem apresentados”.

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019),
advertindo sobre a inadequação da utilização do termo ‘jurisdição’ em determinados casos,
pondera: “No plano lógico, o estudo do juízo competente conforme o caso que se apresenta ao
jurista geralmente se inicia pela busca do ‘tipo de jurisdição’ que o ordenamento jurídico
determina como incidente em cada caso. Quanto a isso, costuma-se falar na existência de uma
jurisdição especial, que se contraporia à jurisdição comum. A chamada jurisdição especial seria
exercida pelas ‘justiças’ especiais: a Justiça Militar federal, as Justiças Militares estaduais, onde
houver, a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. Já a jurisdição comum seria exercida pelas
‘justiças’ comuns: a Justiça Federal e as Justiças Estaduais (não militares). A terminologia,
entretanto, é inadequada. O que ocorre é que a Constituição Federal, ao organizar o Poder
Judiciário, instituiu diversos órgãos judiciários, ‘cada um deles constituindo uma unidade
administrativa autônoma e recebendo da própria Lei Maior os limites de sua competência’. As
‘justiças, portanto, são entidades autônomas da Administração Pública, mas não exercem
‘jurisdições’ diferentes. A jurisdição, emanação do poder do Estado, é una; todos os órgãos
judiciais são investidos desse poder. O que varia é a medida em que cada órgão poderá exercê-
la, ou seja, a competência de cada um. A Constituição Federal, ao distribuir competências entre
as ‘justiças’, o faz primordialmente sob o aspecto da natureza das causas das quais poderá cada
uma conhecer. O critério, portanto, diz respeito à natureza da relação jurídica material que
constitui o fato que se apresenta à apreciação do Poder Judiciário (competência ratione
materiae)”.

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017), a respeito das
competências absoluta e relativa e suas possíveis consequências para o processo, assevera:
“Competência absoluta é aquela que não admite prorrogação. Vale dizer: ajuizada a ação perante
juízo absolutamente incompetente, este deve declarar-se como tal e determinar a imediata
remessa do processo ao juiz natural; ao juiz que entenda competente conforme as regras
Constitucionais e processuais penais. Exemplos: competência em razão da matéria e
competência em razão de prerrogativa de função (CPP, art. 69, III e VII). Juiz incompetente é
aquele que não tem jurisdição para o processo e, por isso, se não for feita a remessa dos autos
àquele que for competente, ocorrerá nulidade absoluta; será nula a pseudoprestação
jurisdicional que se verificar em sede imprópria. Competência relativa é aquela que admite
prorrogação. Se a incompetência relativa não for alegada no prazo para a defesa preliminar,
haverá preclusão, decorrendo daí o fenômeno jurídico denominado prorrogação de
competência; com isso, o juiz que inicialmente não era, passa a ser competente, e, portanto,
serão válidos, sob tal enfoque, todos os atos que praticar no processo. Exemplos: competência
pelo lugar da infração e competência pelo domicílio ou residência do réu (CPP, art. 69, I e II). No
processo penal, a declaração de incompetência – absoluta ou relativa – não depende de
provocação de quem quer que seja e, portanto, deve ser feita ex officio pelo juiz (CPP, art. 109)”.
[...] Em relação ao reconhecimento, pelo juiz, de sua incompetência e à arguição desse fato
pelos legitimados, expõe: “Por outro vértice, se não agir da forma anteriormente indicada,

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caberá ao legitimado arguir a exceção de incompetência do juízo, verbalmente ou por escrito, no


prazo de defesa. [...] São legitimados para tanto: o réu, o querelado, o querelante, o Ministério
Público, especialmente nos casos em que atuar no processo como fiscal da lei, e o assistente da
acusação. Em relação ao querelado ou réu, o primeiro momento para falar nos autos ocorre por
ocasião da resposta preliminar tratada nos arts. 396 e 396-A do CPP, mas a exceção deve ser
apresentada em petição distinta, pois, conforme determina o art. 111 do CPP, ‘as exceções serão
processadas em autos apartados’, em apenso aos autos principais. [...] A decisão que conclui pela
incompetência do juízo comporta recurso em sentido estrito (CPP, art. 581, II)”.

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “Nos casos de
competência ratione materiae e personae e competência funcional, cumpre observar que é o
interesse público que dita a distribuição de competência. Assim, por exemplo, no caso da
jurisdição comum e especial, dos juízes superiores e inferiores (competência originária e
competência recursal) e segundo a natureza da infração penal, a competência é fixada muito
mais por imposição de ordem pública do que no interesse de uma das partes. Trata-se, aí, de
competência absoluta, que não pode ser prorrogada nem modificada pelas partes, sob pena de
implicar nulidade absoluta. No caso de competência de foro (territorial), porém, o legislador
pensa preponderantemente no interesse de uma das partes. Costuma-se falar, nesses casos, em
competência relativa, prorrogável, capaz de gerar, no máximo, se comprovado prejuízo, nulidade
relativa. A prorrogação de competência consiste na possibilidade de substituição da competência
de um juízo por outro, sem gerar vício processual. Como já se disse, a competência inderrogável
é chamada de absoluta. Ao contrário, quando a lei possibilitar às partes que se submetam a juiz
originariamente incompetente, a competência é tida como relativa. A competência territorial é
relativa; não alegada no momento oportuno, ocorre a preclusão. Por conseguinte, é prorrogável
(STF, Tribunal Pleno, HC-AgR 88.759/ES, rel. Min. Ellen Gracie, j. 31-3-2008)”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), sobre o
reconhecimento e as exceções de incompetência, aduz: “Há quem entenda, contudo, que, a
partir da adoção do princípio da identidade física do juiz pelo Código de Processo Penal, o
reconhecimento da incompetência relativa de ofício pelo juiz apenas terá lugar até o início da
instrução processual, razão pela qual haveria preclusão pro judicato toda vez que fosse iniciada
a instrução (preclusão para o próprio magistrado). Não nos parece que seja assim, eis que, de um
lado, instrução não se inicia com a audiência, mas com todos os atos probatórios que geralmente
acontece em momento anterior, seja pela realização de perícias, seja pela admissão de
documentos aos autos. De outro lado, a referência preclusiva para que a competência relativa se
fixe alusivamente a um só juiz, evitando incertezas quanto a tal aspecto relevante do processo,
há de ser o primeiro momento seguidamente àquele que a parte tenha para suscitá-la nos autos,
sendo este, para o juiz, a etapa de examinar se é o caso de absolver sumariamente ou não o
acusado (art. 397, CPP). De outro lado, em processo penal, não há óbice para que a arguição de
incompetência absoluta seja feita por meio de exceção: tanto a incompetência absoluta, quanto
a incompetência relativa podem ser fustigadas em exceção de incompetência. O art. 111, CPP,
dispõe que as exceções serão processadas em apartado e não suspenderão, como regra, o
processo principal. O juiz mandará autuar em apartado toda vez que ele não concorde de plano
com a alegação de incompetência, quando haverá necessidade de ser seguido o rito próprio
previsto no Código de Processo Penal. Note-se que o processo penal, no ponto, difere do civil,
que prevê especificamente exceção de incompetência relativa (art. 112, CPC), não cabendo

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arguição de incompetência absoluta em exceção apartada. Cabe anotar que tal art. 112,
CPC/1973, prevê exceção de incompetência para as hipóteses de incompetência relativa. Com o
Novo CPC, desaparece a exceção de incompetência na esfera processual civil,
independentemente da natureza relativa ou absoluta da competência do juízo (a regra passa a
ser a de que a incompetência absoluta ou relativa deve ser alegada em preliminar de
contestação, consoante o art. 64, NCPC). Outra mudança relevante, restrita ao direito processual
civil, é a de que não haverá automaticamente a nulidade dos atos decisórios quando a
incompetência reconhecida for absoluta. Tais alterações não repercutem na sistemática do
direito processual penal, que permanece admitindo tanto a exceção, quanto o reconhecimento
de ofício pelo juiz. Aliás, no nosso campo, permanece aplicável a regra do art. 567, do CPP, que
determina a nulidade dos atos decisórios quando do reconhecimento da incompetência
(absoluta, segundo jurisprudência dominante). [...] A incompetência absoluta reconhecida
impõe, segundo o STF e jurisprudência majoritária, a nulidade dos atos decisórios, enquanto a
incompetência relativa só determina a remessa dos autos ao órgão judicante naturalmente
incompetente, sem nulidade de qualquer ato. Como dispõe o art. 567 do CPP, ‘a incompetência
do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade,
ser remetido ao juiz competente’. Embora o STF entenda que, em regra, o recebimento de
denúncia tem a natureza de despacho – e não de decisão –, fato é que entende a Suprema Corte
que a incompetência absoluta reconhecida tem a força de anular inclusive o recebimento da
denúncia, razão pela qual não tem ele o condão de interromper a prescrição, retirando o efeito
decorrente do art. 117, do Código Penal. Na doutrina, prevalece o entendimento de que, em que
pese a lei não ter distinguido entre competência absoluta ou relativa, há de se reconhecer que,
em se tratando de incompetência absoluta, não só os atos decisórios, mas também os
instrutórios devem ser reputados imprestáveis. Se a incompetência é meramente relativa, é que
se aproveitam os atos de prova, restando imprestáveis os atos decisórios. No entanto, com o
princípio da identidade física do juiz, sendo a incompetência relativa, os atos instrutórios devem
ser anulados, já que, nesse caso, a prova produzida se deu perante juiz diverso daquele
competente para julgar o fato. A jurisprudência, contudo, segue a tendência de não anular a
prova produzida perante juiz relativamente incompetente territorialmente só por conta do
princípio da identidade física do juiz, sob o argumento de que é necessária a demonstração de
prejuízo para o réu”.

PEDRO HENRIQUE DEMERCIAN E JORGE ASSAF MALULY (Curso de processo penal, 9ª ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2014), a respeito da incompetência relativa e absoluta e sua alegação, asseveram: “Por
outro lado, em que pese judiciosas posições em sentido contrário, entendemos que a
incompetência relativa, mesmo quando não alegada no momento oportuno, não opera a
preclusão. É bem verdade que nesses casos a norma visa tutelar predominantemente o interesse
da parte, não afastando, contudo, o interesse público que é a garantia do Juiz Natural. Portanto,
o reconhecimento da nulidade relativa, ainda que não arguida na forma e no prazo previstos no
art. 108 do CPP, ficará condicionado à prova do prejuízo. Tratando-se, ao reverso, de nulidade
absoluta, independerá de prova do prejuízo (que é presumido), não se aproveitando os atos
então praticados. Questão interessante emerge quando se estuda a ratificação dos atos que não
tenham cunho decisório (art. 567, CPP). O que o legislador pretendeu aí foi preservar alguns atos
processuais, como, por exemplo, a coleta da prova e a instrução do processo. Contudo, oportuna
a indagação se o despacho de recebimento da denúncia é, ou não, um ato decisório. E, sem
dúvida, o é. Inicialmente, a denúncia e, consequentemente, o início da ação penal, por

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implicarem a restrição do direito de ir e vir, bem como por representarem sério gravame ao
status dignitatis da pessoa, devem estar embasados em um mínimo de viabilidade fática (indícios
suficientes de autoria e prova da existência do crime), que representam o interesse de agir. Além
disso, devem estar presentes as demais condições da ação (art. 395, CPP), perfeita descrição do
fato (do qual deverá o réu se defender), nos termos do art. 41 do CPP”.

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “A competência
material é a delimitação de competência ditada por três aspectos: (i) ratione materiae (CPP, art.
69, III): em razão da relação de direito, isto é, em razão da natureza da infração penal; por
exemplo, o Júri popular tem competência para julgar os crimes dolosos contra a vida (CF, art. 5º,
XXXVIII) e a justiça eleitoral, para o julgamento dos crimes e contravenções eleitorais; (ii) ratione
personae (CPP, art. 69, VII): em razão da qualidade da pessoa do réu, como nos casos de foro
especial por prerrogativa de função; (iii) ratione loci (CPP, art. 69, I e II): em razão do território,
levando-se em conta o lugar da infração ou da residência ou domicílio do réu. Atenção: nesse
critério de classificação, competência material é um termo mais amplo do que competência
ratione materiae. A competência funcional é ditada por outros três aspectos: (i) fase do
processo: pode haver juiz do processo, juiz da execução, juiz do sumário de culpa do Júri etc.; (ii)
objeto do juízo: no Júri, ao juiz presidente incumbe resolver as questões de direito suscitadas no
curso do julgamento (art. 497, X), proferindo sentença condenatória ou absolutória (art. 492) e
fixando a pena, enquanto aos jurados compete responder aos quesitos que lhes são formulados
(arts. 482 a 491); (iii) grau de jurisdição (competência funcional vertical): a competência pode
ser originária (como no foro por prerrogativa de função) ou em razão do recurso (princípio do
duplo grau de jurisdição)”.

Jurisprudência pertinente

Súmula 706, STF: É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção.

Supremo Tribunal Federal - STF

O princípio da naturalidade do juízo representa uma das mais importantes matrizes político-
ideológicas que conformam a própria atividade legislativa do Estado e condicionam o
desempenho, pelo Poder Público, das funções de caráter penal-persecutório, notadamente
quando exercidas em sede judicial. O postulado do juiz natural, em sua projeção político- -
jurídica, reveste-se de dupla função instrumental, pois, enquanto garantia indisponível, tem, por
titular, qualquer pessoa exposta, em juízo criminal, à ação persecutória do Estado, e, enquanto
limitação insuperável, representa fator de restrição que incide sobre os órgãos do poder estatal
incumbidos de promover, judicialmente, a repressão criminal. - É irrecusável, em nosso sistema
de direito constitucional positivo - considerado o princípio do juiz natural - que ninguém poderá
ser privado de sua liberdade senão mediante julgamento pela autoridade judiciária
competente. Nenhuma pessoa, em consequência, poderá ser subtraída ao seu juiz natural. A
nova Constituição do Brasil, ao proclamar as liberdades públicas - que representam limitações
expressivas aos poderes do Estado - consagrou, de modo explícito, o postulado fundamental
do juiz natural. O art. 5º, LIII, da Carta Política prescreve que "ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente". [...] (HC 81963, Relator(a): Min. CELSO DE
MELLO, Segunda Turma, julgado em 18/06/2002).

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[...] JULGAMENTO DE APELAÇÃO POR TURMA JULGADORA COMPOSTA MAJORITARIAMENTE


POR JUÍZES FEDERAIS CONVOCADOS. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ
NATURAL. INOCORRÊNCIA. PRECEDENTES. RECURSO DESPROVIDO. I – Não viola o postulado
constitucional do juiz natural o julgamento de apelação por órgão composto majoritariamente
por juízes convocados, autorizado no âmbito da Justiça Federal pela Lei 9.788/1999. II –
Colegiado constituídos por magistrados togados, integrantes da Justiça Federal, e a quem a
distribuição de processos é feita aleatoriamente. III – Julgamentos realizados com estrita
observância do princípio da publicidade, bem como do direito ao devido processo legal, à ampla
defesa e ao contraditório. IV – Recurso extraordinário desprovido. (RE 597133, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 17/11/2010, REPERCUSSÃO GERAL).

Não viola o princípio do Juiz natural o julgamento de apelação por órgão colegiado presidido
por Desembargador, sendo os demais integrantes Juízes convocados. Precedente do Plenário
do STF. 2. Habeas Corpus extinto sem resolução de mérito. (HC 101473, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em
16/02/2016).

Um juízo de primeiro grau não pode rescindir um acórdão de instância superior, mesmo na
hipótese de existência de nulidade absoluta, sob pena de violação das normas processuais
penais e constitucionais relativas à divisão de competência. [...] (HC 110358, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 12/06/2012).

[...] LEI ESTADUAL. TRANSFERÊNCIA DE COMPETÊNCIA. DELITOS SEXUAIS DO CÓDIGO PENAL


PRATICADOS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. JUIZADOS DA INFÂNCIA E JUVENTUDE.
VIOLAÇÃO DO ART. 22 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E OFENSA AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS. NÃO OCORRÊNCIA. ORDEM DENEGADA. [...] Não há violação aos princípios
constitucionais da legalidade, do juiz natural e do devido processo legal, visto que a leitura
interpretativa do art. 96, I, a, da Constituição Federal admite que haja alteração da
competência dos órgãos do Poder Judiciário por deliberação dos Tribunais. Precedentes. III – A
especialização de varas consiste em alteração de competência territorial em razão da matéria,
e não alteração de competência material, regida pelo art. 22 da Constituição Federal. IV –
Ordem denegada. (HC 113018, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
julgado em 29/10/2013).

O Tribunal, ao julgar apelação do Ministério Público contra sentença absolutória, não pode
acolher nulidade -- ainda que absoluta --, não veiculada no recurso da acusação. Interpretação
da Súmula 160/STF que não faz distinção entre nulidade absoluta e relativa. Os atos praticados
por órgão jurisdicional constitucionalmente incompetente são atos nulos e não inexistentes, já
que proferidos por juiz regularmente investido de jurisdição, que, como se sabe, é una. Assim,
a nulidade decorrente de sentença prolatada com vício de incompetência de juízo precisa ser
declarada e, embora não possua o alcance das decisões válidas, pode produzir efeitos.
Precedentes. A incorporação do princípio do ne bis in idem ao ordenamento jurídico pátrio, ainda
que sem o caráter de preceito constitucional, vem, na realidade, complementar o rol dos direitos
e garantias individuais já previstos pela Constituição Federal, cuja interpretação sistemática leva
à conclusão de que a Lei Maior impõe a prevalência do direito à liberdade em detrimento do
dever de acusar. Nesse contexto, princípios como o do devido processo legal e o do juízo natural

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somente podem ser invocados em favor do réu e nunca em seu prejuízo. Por isso, estando o
Tribunal, quando do julgamento da apelação, adstrito ao exame da matéria impugnada pelo
recorrente, não pode invocar questão prejudicial ao réu não veiculada no referido recurso, ainda
que se trate de nulidade absoluta, decorrente da incompetência do juízo. Habeas corpus deferido
em parte para que, afastada a incompetência, seja julgada a apelação em seu mérito. (HC 80263,
Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, julgado em 20/02/2003).

O Código de Processo Penal prevê expressamente que a incompetência de juízo anula somente
os atos decisórios e que cabe ao juiz que pronunciar a nulidade declarar os atos a que ela se
refere (arts. 567 e 573, par.2.) [...] (RHC 72962, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda
Turma, julgado em 12/09/1995).

Tanto a denúncia quanto o seu recebimento emanados de autoridades incompetentes rationae


materiae são ratificáveis no juízo competente. Precedentes. [...] (HC 83006, Relator(a): Min.
ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 18/06/2003).

O recebimento da denúncia, quando efetuado por órgão judiciário absolutamente


incompetente, não se reveste de eficácia interruptiva da prescrição penal, eis que decisão nula
não pode gerar a consequência jurídica a que se refere o art. 117, I, do Código Penal.
Precedentes. Doutrina. (Inq 1544 QO, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado
em 07/11/2001).

Se a denúncia, inicialmente apresentada pelo Ministério Público do Estado, perante Juiz estadual,
foi, posteriormente, ratificada pelo Ministério Público federal, perante Juiz federal, que, com
jurisdição penal, no caso, procedeu a citação e a instrução e proferiu a sentença condenatória,
não e de ser esta anulada, sob alegação de invalidade da ratificação da denúncia. 3. Nessa
ratificação, não há necessidade de o Ministério Público competente reproduzir os termos da
denúncia apresentada pelo Ministério Público incompetente, bastando que a eles se reporte. [...]
(HC 70541, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Primeira Turma, julgado em 09/11/1993).

É da jurisprudência do Tribunal que é relativa a incompetência resultante de infração às regras


legais da prevenção: daí a ocorrência de preclusão se, como sucedeu no caso, não foi arguida,
no procedimento ordinário de primeiro grau, no prazo da defesa prévia. [...] (HC 81134,
Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 07/08/2007).

O art. 83 C.Pr.Pen há de ser entendido em conjugação com o art. 75, parag. único: só se pode
cogitar de prevenção da competência, quando a decisão, que a determinaria, tenha sido
precedida de distribuição: não previnem a competência decisões de juiz de plantão, nem as
facultadas, em caso de urgência, a qualquer dos juízes criminais do foro. 2. A jurisprudência do
STF está consolidada no sentido de que é relativa, no processo penal, não só a competência
territorial de foro, mas também a firmada por prevenção (precedentes): donde a falta de
exceção tempestivamente oposta, o convalescimento, pela preclusão, da incompetência do juiz
que equivocadamente se entendeu prevento. (HC 69599, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 30/06/1993).

Superior Tribunal de Justiça – STJ

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O postulado do juiz natural tem por finalidade resguardar a legitimidade, a imparcialidade e a


legalidade da jurisdição. 2. A garantia do devido processo legal somente se realizará plenamente
com a certeza de que não haverá juiz de exceção. 3. É ilícita a designação ad personam de
magistrado para atuar especificamente em determinado processo. 4. No caso, falta
razoabilidade à justificativa apresentada pelo Tribunal de origem - grande acúmulo de serviços
daquele que seria o substituto legal na ação - para proceder à designação casuística, especial,
de magistrados para julgar o feito. As Portarias n. 1.623/2009 e 744/2010, do Tribunal de Justiça
do Estado do Piauí, são incompatíveis com os regramentos constitucionalmente estabelecidos.
5. Ordem concedida a fim de anular todos os atos praticados pelos magistrados designados pelo
Tribunal de Justiça do Estado do Piauí para atuarem, especificamente, na ação penal em questão.
(HC 161.877/PI, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP),
SEXTA TURMA, julgado em 10/05/2011, DJe 15/06/2011).

[...] CONDENAÇÃO DE PROMOTOR DE JUSTIÇA. QUORUM DA SESSÃO DE JULGAMENTO


COMPLEMENTADO POR JUÍZES DE PRIMEIRO GRAU CONVOCADOS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO
JUIZ NATURAL. NULIDADE ABSOLUTA. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. É pacífico o
entendimento deste Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal no sentido de
ser perfeitamente possível a convocação de juízes de primeiro grau para substituírem
desembargadores nos Tribunais, quando, em conformidade com a legislação de regência, não
há qualquer ofensa à Constituição Federal. 2. O caso em apreço não se amolda à hipótese
acima, tendo em vista tratar-se de ação penal originária, porquanto, em última análise, refere-
se às prerrogativas dos membros do Ministério Público que, por expressa previsão
constitucional (art. 96, inciso III), possuem foro privilegiado por prerrogativa de função. 3.
Prevendo o Regimento Interno do Tribunal de Justiça Estadual, vigente à época do julgamento
do paciente, de que era necessária a presença de pelo menos dois terços de seus membros na
sessão de julgamento, viola o princípio do juiz natural quando o referido quorum é completado
com juízes de primeiro grau convocados. [...] (HC 88.739/BA, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 15/06/2010).

[...] PRIMEIRA SENTENÇA ANULADA EM FACE DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA. IMPOSIÇÃO DE


PENA MAIS GRAVE EM SEGUNDA CONDENAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO
QUE PROÍBE A REFORMATIO IN PEJUS. RESTRIÇÃO DO JUÍZO NATURAL À REPRIMENDA IMPOSTA
PELO MAGISTRADO INCOMPETENTE. [...] O artigo 617 do Código de Processo Penal, no qual está
explicitada a vedação da reformatio in pejus, não estabelece qualquer ressalva quanto aos casos
de anulação do processo, ainda que por incompetência absoluta, não devendo o intérprete
proceder à tal restrição. [...] Mesmo que haja anulação do feito por incompetência absoluta,
deve-se ter presente que se este acontecimento só se tornou possível diante de irresignação
exclusiva da defesa, como na hipótese vertente, razão pela qual não é admissível que no
julgamento proferido pelo Juízo competente seja agravada a situação do réu, devendo
prevalecer o princípio que proíbe a reformatio in pejus. [...] (HC 114.729/RJ, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 21/10/2010, DJe 13/12/2010).

[...] CRIAÇÃO DE NOVA VARA. REDISTRIBUIÇÃO DO FEITO PARA IGUALAR OS ACERVOS ENTRE OS
JUÍZOS COMPETENTES. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL.
PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ORDEM
DENEGADA. [...] O Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido da inexistência de

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violação ao princípio do juiz natural pela redistribuição do feito em virtude de mudança na


organização judiciária, uma vez que o art. 96, 'a', da Constituição Federal, assegura aos
Tribunais o direito de dispor sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos
jurisdicionais. 3. Habeas corpus denegado. (HC 102.193/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 02/02/2010, DJe 22/03/2010).

[...] COMPETÊNCIA. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO.


DECRETAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA E QUEBRA DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES
TELEFÔNICAS. PREVENÇÃO. [...] Verificar-se-á a competência por prevenção quando, havendo
dois ou mais juízes competentes para o processo e julgamento de determinado feito, um deles
houver antecedido ao(s) outro(s) na prática de algum ato do processo ou medida a ele relativa,
ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou queixa. 2. A decisão que decreta a prisão
temporária, bem como a que determina a quebra do sigilo das comunicações telefônicas, na
fase inquisitorial, realizam, de modo pleno, o suporte fático da norma de competência por
prevenção. 3. Uma vez firmada a competência pela prevenção, faz-se desnecessária a
distribuição subseqüente do inquérito. [...] (HC 18.120/SC, Rel. Ministro HAMILTON
CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 03/06/2002, DJ 24/03/2003, p. 286).

COMPETÊNCIA TERRITORIAL
É competência de foro definida ratione loci, firmada nos termos do art. 70 do CPP:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

§ 1º Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a


competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato
de execução.

§ 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente
o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado.

1 - LUGAR DA INFRAÇÃO COMO REGRA GERAL


Nosso processo penal, portanto, adota como regra determinar a competência pelo lugar do crime. Isso por
várias razões (como vimos), considerando que “nenhum juiz mais indicado para conhecer de um crime do
que o da localidade na qual ocorreu a infração (forum delicti comissi). Para nenhum outro será tão acessível
o corpo de delito e tão fácil a prova. Diante de nenhum outro se logrará tanta economia. Em nenhuma outra
parte se conseguirá melhor o efeito tranquilizador da distribuição de justiça” (Tornaghi, 1997).

A opção do legislador, ao eleger como foro competente o local da consumação do delito, é


calcada em dois motivos. O primeiro leva em conta razões de política criminal: para que a
repressão penal atinja sua finalidade exemplificativa, é mais adequado que o julgamento da

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causa ocorra no lugar em que houve a violação da norma, em que, via de regra, o delito causa
maior repercussão social. É a melhor forma de o Estado demonstrar à população local a
prevalência da ordem jurídica vigente. O segundo motivo é de ordem instrumental, pois o lugar
da infração é onde mais provavelmente se encontrarão os vestígios e provas do crime (Bonfim,
2015).

Essa regra consubstancia no processo penal a teoria do resultado. Veja-se a crítica pontual de
PACELLI e FISCHER quanto a isso:

Lugar e teoria do resultado: Adotando-se a teoria do resultado, lugar do crime será aquele onde
se consumou a infração e não onde se realizou ou se realizaram os atos de execução, que vem a
ser o local acolhido pela chamada teoria da ação. Diz-se, ainda, teoria da ubiquidade a concepção
pela qual se considera lugar do crime tanto aquele onde se praticaram atos de execução – ação
– quanto aquele onde se produziu ou se produziram os resultados – consumação. A escolha pela
teoria do resultado não é das mais felizes. Com efeito, o local no qual se consuma o crime nem
sempre é favorável à produção da prova, se outro tiver sido o lugar da ação ou dos atos de
execução. A testemunha ocular da prática de um crime, de modo geral, reside ou tem domicílio
naquele local. Assim, se a vítima for deslocada para outra cidade, a fim de receber cuidados
médicos, não resta dúvida de que a instrução criminal, e, por isso, a ação penal, deveriam ter
curso no local onde se praticou a ação e não onde ocorreu o resultado. Certamente por isso, há
sólida jurisprudência endossando a aplicação da teoria da ação, para justificar exceções à regra
do resultado. Correto. Afinal, o lugar do crime não foi o critério escolhido exatamente em razão
da facilitação da prova? No caso de tentativa, isto é, nas hipóteses em que não tenha se
consumado o resultado pretendido, será competente o do lugar em que se realizaram os últimos
atos de execução. Conclusão inevitável, como se vê (Pacelli, et al., 2018).

Vejamos a diferença com o Código Penal, que adota a teoria da ubiquidade, e assim estabelece:

Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou
em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Diante desse aparente conflito (entre o que diz o Código Penal e o que estabelece o CPP), a
doutrina majoritária verifica no art. 6º do Código Penal “apenas um dispositivo para aplicação da
norma penal no espaço, isto é, quando o crime atingir mais de uma nação”. A teoria da
ubiquidade estaria reservada, então, para as situações em que um crime se iniciou no estrangeiro
e se findou no Brasil ou vice-versa (é o chamado crime à distância). Resguarda-se, assim, a
soberania brasileira para levar o agente a julgamento, “desde que qualquer parte da infração
penal tenha tocado solo nacional, constituindo um prestígio ao princípio da territorialidade”.
Para situações de crimes praticados, integralmente, dentro do território brasileiro, aplica-se o
art. 70 do CPP. “O ideal seria que o legislador tivesse deixado bem clara essa posição, ao cuidar
da redação do art. 6º do Código Penal, ao invés de deixar ao intérprete a tarefa de conciliar as
normas em conflito meramente aparente” (Nucci, 2018).

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A definição do art. 6º do Código Penal não se aplica à determinação do foro competente para o
julgamento (regra processual), mas sim à determinação da lei penal (material) nos denominados
crimes à distância, em que a conduta é praticada em um país e o resultado se produz ou deveria
se produzir em outro. Trata-se de verificação da aplicação da lei penal brasileira ao caso concreto.
Daí dizer-se que a lei processual adotou a teoria do resultado, enquanto a lei material adotou a
teoria da ubiquidade. A regra do art. 70, caput, portanto, ao contrário do que chegou a defender
parte da doutrina com o advento da Lei n. 7.209/84 (que implementou a Parte Geral do CP
atualmente vigente), não derrogou o disposto no art. 6º do Código Penal, tampouco se choca
com o art. 4º, também do Código Penal, que disciplina a aplicação da norma penal material no
tempo, adotando a teoria da atividade. Via de regra, portanto, uma vez praticado o crime,
cumpre identificar no território de qual comarca ou seção judiciária (conforme a competência
para o julgamento seja da Justiça Estadual ou da Justiça Federal) consumou-se o delito (Bonfim,
2015).

Com a objetividade de sempre, os exemplos são de HÉLIO TORNAGHI:

— Tício posta no correio em Curitiba bombons envenenados que vão matar Caio, o destinatário,
em Buenos Aires. De acordo com o art. 6º do CP, o crime foi praticado no território nacional; e
segundo o art. 70, § 1º, do CPP, é competente o foro de Curitiba;

— Caio põe no correio, em Assunção, uma carta com substância explosiva que serve de cola para
fechar o envelope. Tício recebe a carta no Recife e, ao abri-la, morre. Competente é o foro do
Recife;

— Caio manda de La Paz uma bomba que deverá explodir no Rio de Janeiro, quando Tício, o
destinatário, abrir a caixa. Mas a encomenda tarda a chegar e, quando Tício a recebe, o engenho
já não funciona. A competência é do foro do Rio de Janeiro (Tornaghi, 1997).

Esses exemplos, pontuemos, se referem ao chamado crime à distância.

Vale o reforço em relação à parte final do art. 70, no sentido de que no caso de crimes tentados, será
competente o foro em que foi realizado o último ato de execução.

Ok, mas além dos crimes à distância (aos quais se aplica a ubiquidade), temos também os chamados crimes
plurilocais – que são aqueles cuja ação ou omissão se dá num determinado local e o resultado sobrevém em
outro, dentro do país. Processualmente falando, a competência para julgamento vai se firmar pelo foro do
resultado.

Nos crimes formais, que se consumam com a mera conduta, competente será o lugar da ação ou
omissão.

Consideram-se crimes plurilocais aqueles em que a ação ou omissão ocorre em um determinado


lugar e o resultado, em local distinto. Abstraídos os crimes a distância (delitos em que a execução
é iniciada em um país, e a consumação ocorre em outro), que possuem regramento próprio para
a definição da competência, bem como situações especiais objeto de definição jurisprudencial
(v.g., crimes qualificados pelo resultado e, para muitos, os crimes dolosos contra a vida), a regra

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é a de que, nos crimes plurilocais, a competência deverá firmar-se pelo foro do local da
consumação (resultado). A aplicação desta disciplina, porém, condiciona-se a que se tratem os
delitos em análise de crimes materiais, isto é, aqueles que produzem um resultado naturalístico
que ocorre em momento visivelmente distinto do ato da ação ou omissão.

Exemplo: Imagine-se um crime de roubo, com execução iniciada na cidade de Guaíba. Sendo o
agente perseguido pela autoridade policial, considere-se que somente vem ele a obter a posse
tranquila da res quando já ingressou no espaço territorial de Porto Alegre. Ora, a jurisprudência
do STJ e do STF tem compreendido que “o crime previsto no art. 157 do Estatuto Repressivo se
consuma com a posse, ainda que breve, do bem subtraído, não sendo necessária que a mesma
se dê de forma mansa e pacífica, ou que a coisa saia da esfera de vigilância da vítima, bastando
que cesse a violência”. A partir desse critério, infere-se, no exemplo citado, que a consumação
ocorreu em Guaíba, pois lá cessou a violência empregada, sendo esse, portanto, o foro
competente para o processo e julgamento do crime. Se se viesse a entender que o roubo se
consuma com a posse mansa e tranquila da res, nesse caso em Porto Alegre deveria ser apurado
o delito. Por outro lado, sendo o caso de crimes formais (cujo resultado coincide com a ação ou
omissão) ou de crimes de mera conduta (delitos sem um resultado naturalístico), evidentemente
estariam consumados no instante de sua prática. É o que ocorre com o crime de falso testemunho
em que o depoimento tenha sido colhido por precatória: tratando-se de crime formal, considera-
se este como consumado no momento e no local em que se deu o falso, sendo competente para
a propositura da ação penal, então, o juízo deprecado (Avena, 2020).

Aproveitando o mesmo exemplo de correspondências ‘assassinas’, se uma carta é encaminhada de Curitiba


e provoca a morte do destinatário em São Paulo, aplica-se a teoria do resultado, a regra do art. 70 do CPP,
para eleger o foro de São Paulo como competente.

Crimes plurilocais: Como a própria expressão está a indicar, será ainda possível a ocorrência de
crimes que tenham atos de execução e de consumação em diferentes locais do país. É o caso
típico dos denominados crimes permanentes, em que a ação ou conduta típica se prolonga no
tempo, caso, por exemplo, da extorsão mediante sequestro. Outro exemplo seria a hipótese de
crimes que somente se realizam mediante pluralidade de condutas, tal como ocorre nas infrações
que puderem caracterizar os tipos penais definidos como integrantes de organizações criminosas
(Lei nº 12.850/13). Nessas situações, como existirá mais de um local tanto da ação quanto da
execução, a regra será a da prevenção, nos termos do art. 83 do CPP. Prevento será o juiz que,
em concurso com outros juízes igualmente competentes, tiver antecedido o outro na prática de
qualquer ato de conteúdo decisório. Note-se bem: ato de conteúdo decisório e não a prática de
simples atos de movimentação de inquéritos policiais. No caso de início da ação penal, estará
prevento o juiz que receber a denúncia, já que esse é um ato que deve ser considerado decisório,
ainda que não se exija, nele, a declinação de motivação específica. É que, quando nada, o juiz
que recebe uma denúncia afirma a sua competência para a causa, afasta questões relativas aos
pressupostos processuais e às condições da ação (art. 395, CPP) (Pacelli, et al., 2018).

Existe a situação, ainda, de crimes cometidos fora do território nacional (extraterritorialidade), situação
disciplinada no art. 88 do CPP:

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Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo
da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no
Brasil, será competente o juízo da Capital da República.

Do citado artigo, duas situações podem ser extraídas, com consequências diversas para a fixação da
competência:

✓ se o acusado em algum momento residiu no Brasil: será competente a Justiça Estadual da Capital do
Estado em que tenha residido por último;
✓ se o acusado nunca residiu no Brasil: será competente a Justiça Estadual da Capital da República.

Em ambas as situações, para que haja a incidência da norma, há se ter presente o interesse na aplicação da
lei brasileira ao caso concreto.

AURY LOPES JR. concebe um didático exemplo sobre a matéria:

Vejamos um exemplo hipotético: o casal Mané e Tícia, residentes em Campinas, em viagem de


lua de mel a Punta del Este (Uruguai), discute violentamente. Após, Mané mata a esposa e a
enterra em território uruguaio. De volta ao Brasil, o agressor é preso pela polícia federal
brasileira, que em comunhão de esforços com a polícia uruguaia havia apurado a prática do
delito. Estamos diante de um caso de extraterritorialidade da lei penal brasileira (art. 7º, II, “b
”, do Código Penal). Não se trata de crime militar ou eleitoral, pelo que, desde logo, afastamos
a incidência da Justiça Especial. Diante das residuais – Justiça Comum Federal e Estadual –, qual
delas será a competente para julgar o réu pelos delitos de homicídio e ocultação de cadáver? A
Justiça Comum Estadual. Por quê? Porque a situação não se encontra naquelas previstas no art.
109 da Constituição. O simples fato de um crime ter sido praticado no exterior não desloca a
competência para a Justiça Federal. Para uma resposta completa, além da Justiça (Estadual),
devemos apontar que o órgão será o Tribunal do Júri (nos termos do art. 74, § 1º, do CPP) da
comarca de São Paulo (art. 88 do CPP) 261, pois é a capital do Estado onde por último residia o
imputado (Júnior, 2021).

Outrossim, como registra AVENA, não se descura de eventual competência da Justiça Federal acaso presente
hipótese constitucional de sua incidência:

Perceba-se que a competência para o processo e julgamento, em ambos os casos citados [réu
que nunca ou já residiu no Brasil], estará afeta à Justiça Federal apenas nos casos de “crimes
previstos em tratados ou convenções, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha
ocorrido ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente” (art. 109, V, da CF) (Avena,
2020).

Por outro lado, o “Código adota o critério da prevenção (forum preventionis) todas as vezes que, apesar da
aplicação dos demais, possa ainda haver dúvida” (Tornaghi, 1997). Vejamos pela letra da lei, no art. 70 do
Código de Processo Penal:

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§ 3º Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a
jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições,
a competência firmar-se-á pela prevenção.

O artigo, na verdade, contempla duas situações distintas: uma, crime perpetrado em região onde
não há certeza quanto ao limite territorial (hipótese, atualmente, pouco provável); e outra,
quando, embora certo o limite, há dúvida quanto à competência, quer porque praticado o delito
na divisa de duas localidades, quer porque a execução do crime estendeu-se a mais de um local.
Em tais casos, a competência será definida pela prevenção. (Avena, 2020)

Incerteza quantos aos limites territoriais e quanto ao local do crime: Pode ser ainda que o fato
tenha sido praticado ou se consumado na divisa de dois ou mais territórios limítrofes, ou que
haja dúvida quanto aos limites de um e outro território. Em tais situações, aplicar-se-á também
a regra da prevenção, valendo aqui o quanto se disse logo acima: prevento é o juiz que, dentre
aqueles igualmente competentes, tenha antecedido o outro na prática de um ato de conteúdo
decisório. Haverá que ter conteúdo de natureza decisória o ato para que se tenha uma
antecipação do conhecimento efetivo da matéria, aproveitando-se o quanto possível a atividade
jurisdicional já empreendida. Contudo, cumpre assinalar que não se trata de um prejulgamento
da questão, mas de uma análise inicial acerca do fato e do direito, ainda que relativo à matéria
cautelar, isto é, medidas acautelatórias adotadas antes da ação penal, tal a hipótese da
concessão de interceptação telefônica, de busca e apreensão domiciliar, de prisões, liberdade
provisória etc (Pacelli, et al., 2018).

Com relação ao crime permanente ou continuado, a fixação também será firmada pela prevenção, nos
termos do Código de Processo Penal. Mais que isso, “se, no caso de crime continuado, for instaurado mais
de um processo, aplica-se o disposto no art. 82 do Código de Processo Penal, segundo o qual caberá à
autoridade prevalente (aquela que houver primeiro conhecido da ação) avocar os demais processos, que se
reunirão sob a sua competência” (Bonfim, 2015).

Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou


mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Não se confundem os conceitos de crime continuado e crime permanente. Para que se configure
crime continuado, é necessária a existência de várias infrações independentes, todas da mesma
espécie, as quais, por terem sido cometidas em condições semelhantes de tempo, lugar e
execução, são reunidas, por ficção jurídica, como se fossem apenas uma, aplicando-se a pena da
mais grave (se diversas), acrescida de 1/6 até 2/3 (art. 71 do CP). Nesse caso, os momentos
consumativos pertinentes a cada infração ocorrem autonomamente. Exemplo: vários roubos
perpetrados pelos acusados, em concurso de agentes (semelhantes formas de execução), com
intervalo inferior a 30 dias entre cada um (semelhantes condições de tempo), no âmbito da
região metropolitana de Belo Horizonte (semelhantes condições de lugar). Portanto, como a
execução das várias condutas que caracterizaram o crime continuado abrangeu territórios
pertinentes a Comarcas distintas, a competência para o processo e julgamento firmar-se-á pela

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prevenção, considerando-se, pois, competente o juízo do lugar onde for praticado o primeiro ato
de jurisdição.

Por outro lado, crimes permanentes são aqueles cuja consumação ocorre com uma única ação,
mas o resultado se prolonga no tempo, como o cárcere privado, a associação criminosa (art. 288
do CP, com a alteração determinada pela Lei 12.850/2013), o porte ilegal de arma etc. Também
nessa hipótese a competência será fixada pela prevenção, devendo ser considerado competente
o juízo que, entre os vários lugares pelos quais passou a vítima, tenha se antecipado aos demais
na prática de ato de jurisdição. A título de exemplo, considere-se um crime de sequestro (art.
148 do Código Penal) ocorrido no território da Comarca de Teresina, sendo a vítima, durante a
ação criminosa, conduzida para o âmbito da Comarca de Buriti dos Lopes, ambas no Estado do
Piauí. Em regra, a competência deveria ser determinada pelo lugar em que se consumou a
infração, nos termos do art. 70 do CPP (locus commissi delicti). Contudo, tratando-se o sequestro
de crime permanente e tendo esse delito se iniciado em Teresina e se estendido até Buriti dos
Lopes, conclui-se que ambos os juízos serão competentes. Logo, a competência para o processo
e julgamento deverá ser determinada pela prevenção (art. 71 do CPP), considerando-se
competente o juízo da Comarca que se anteceder na prática de ato de jurisdição (art. 83 do CPP)
(Avena, 2020).

Devemos lembrar que a competência territorial é relativa e, portanto, admite prorrogação. Deve ser alegada
no momento oportuno, o vício da sua inobservância convalesce se isso não acontecer.

A nulidade decorrente de incompetência territorial é relativa, dependendo, pois, de alegação


oportuna e demonstração de prejuízo (STJ: RT 823/ 537). No mesmo sentido: Não há que falar
em nulidade do despacho de recebimento da queixa-crime por incompetência territorial, se a
arguição não for feita oportunamente, com a demonstração do prejuízo. Aplicação do art. 567
do CPP (TACrimSP: RT 619/ 302). A jurisprudência desta Suprema Corte é firme no sentido de
que a competência ratione loci é relativa e prorrogável. Não tendo sido alegado o vício no
momento oportuno, ocorre a preclusão da matéria, fixando-se a competência no juízo em que
tramita a ação penal (STF: RHC 100969/ DF, 1ª T., Rel. Ricardo Lewandowski, j. 27.4.2010, DJe
14.5.2010) (Bonfim, 2015).

Por fim, confira-se o seguinte diagrama de NORBERTO AVENA que muito bem resume a fixação da competência
territorial (Avena, 2020):

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Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “A regra geral é que
o processo e o julgamento de toda infração penal ocorra no juízo da comarca em que esta se
consumar, ou, no caso de tentativa, na comarca em que for praticado o último ato de execução.
A competência pelo lugar da infração – competência ratione loci – leva em conta o espaço
geográfico em que o delito se deu: o país, Estado, comarca ou circunscrição (conforme dispuser
a lei de organização judiciária do Estado). Está indicada no art. 69, I, e regulada nos arts. 70 e 71,
todos do CPP. Lugar da infração é o local onde foi praticado o delito. Nada mais razoável do que
fixar, como regra geral e primeira, a competência para o processo e julgamento,
preferencialmente, no lugar em que o delito ocorreu, pois é lá que repercutiu; é lá que a
comunidade sentiu seus efeitos; é lá que estão as provas que interessam ao processo (ou a
maioria delas), de modo que a fixação da competência com base em tal critério atende não só a
uma das finalidades da pena – prevenção geral –, mas também a princípios de economia e
celeridade processual. Existem três teorias para definir o que se deve considerar como lugar do
delito. [...] 1) Teoria da atividade: considera-se lugar da infração o local em que ocorreu a ação
ou omissão delitiva, pouco importando o local em que se tenha produzido o resultado. 2) Teoria
do resultado: considera-se lugar da infração o local em que se produziu o resultado, sendo
irrelevante o local da ação ou omissão delitiva. 3) Teoria da ubiquidade: considera-se lugar da

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infração tanto o local da ação ou omissão delitiva quanto o local em que ocorreu o resultado. O
Código de Processo Penal, em seu art. 70, caput, adota a teoria do resultado. De tal sorte, a
competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração. No caso de
delito tentado, é preciso distinguir: (1) se todos os atos foram praticados em uma mesma
comarca; (2) se os atos foram praticados limites territoriais de determinada comarca é de
competência do juízo local; deve ser julgado no juízo da comarca em que foi praticado. No caso
de infração penal tentada, cuja execução se estenda geograficamente, passando por territórios
expostos à competência de juízes diversos – delitos plurilocais –, competente será o juiz do lugar
em que for praticado o último ato de execução”.

2 - CASUÍSTICA
Aqui, neste tópico, analisaremos variadas situações relacionadas à competência territorial, procurando
verificar exceções e o entendimento da doutrina mais abalizada. Nesse sentido, faremos mais remissões que
o normal – até para que o aluno tenha acesso aos mais variados pensamentos com relação à casuística.

2.1 - Crime de homicídio

Há precedentes, na jurisprudência, no sentido de que em caso de homicídio deve prevalecer o juízo da ação
ou da omissão (teoria da atividade), fugindo, portanto, da regra geral (teoria do resultado). Nesse sentido,
vejam-se notícias dos informativos 715 do STF e 489 do STJ, respectivamente:

Competência e crime plurilocal - A 1ª Turma negou provimento a recurso ordinário em habeas


corpus no qual se pretendia a declaração de incompetência do juízo processante para que a ação
penal fosse remetida à comarca em que ocorrido o resultado naturalístico — morte — do delito
de homicídio culposo imputado a médica (CP, art. 121, § 3º c/c o § 4º). Na espécie, a recorrente
fora denunciada porque teria deixado de observar dever objetivo de cuidado que lhe competiria
em sua profissão e agido de forma negligente durante o pós-operatório da vítima, inclusive em
afronta ao que disporia o Código de Ética Médica. No acórdão recorrido, o STJ mantivera a
competência do lugar em que se iniciaram os atos executórios do delito de homicídio culposo,
uma vez que facilitaria a apuração dos fatos e a produção de provas, bem assim garantiria a busca
da verdade real. Ratificou-se manifestação do Ministério Público, em que assentado ser possível
excepcionar a regra do art. 70, caput, do CPP (“A competência será, de regra, determinada pelo
lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado
o último ato de execução”) para se facilitar a instrução probatória. Esclareceu-se que o
atendimento médico teria ocorrido em um município e a vítima falecera noutro. Enfatizou-se
estar-se diante de crime plurilocal a justificar a eleição do foro em que praticados os atos. RHC
116200/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 13.8.2013. (RHC-116200)

COMPETÊNCIA. CRIME PLURILOCAL. VERDADE REAL. In casu, o ora paciente foi denunciado pela
suposta prática dos crimes previstos no art. 121, § 2º, I, III e IV, e no art. 211, ambos do CP, em
concurso material. A denúncia foi recebida em parte pelo juiz singular da vara do júri de
Guarulhos-SP, que, na mesma decisão, decretou a prisão preventiva do paciente. O habeas
corpus impetrado perante o TJ foi denegado. Nesta superior instância, entre outras alegações,
sustentou-se a ocorrência de constrangimento ilegal, pois o juiz que decretou a prisão do

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paciente seria incompetente para processar e julgar a causa. Aduziu-se, ainda, não haver como
ser acolhida a tese do crime plurilocal por não existir nos autos nenhuma prova de que o crime
ou os atos preparatórios ter-se-iam iniciado em Guarulhos. A Turma denegou o habeas corpus
por entender, entre outras questões, que, no caso, embora os atos executórios do crime de
homicídio tenham-se iniciado na comarca de Guarulhos, local em que houve, em tese, os disparos
de arma de fogo contra a vítima, e não obstante tenha-se apurado que a causa efetiva da sua
morte foi asfixia por afogamento, a qual ocorreu em represa localizada na comarca de Nazaré
Paulista-SP, sem dúvida o lugar que mais atende às finalidades almejadas pelo legislador ao fixar
a competência de foro é o do local em que foram iniciados os atos executórios, o juízo de
Guarulhos. Observou-se que este é o local onde, em tese, ter-se-ia iniciado o crime, onde reside
a maior parte das testemunhas arroladas tanto pela defesa quanto pela acusação, onde residem
os réus e residia a vítima, onde a exemplaridade da pena mostrar-se-á mais eficaz e onde a
instrução iniciou-se, colhendo-se provas não só testemunhais como técnicas, pelo que o
desenrolar da ação penal nesse juízo, sem dúvidas, melhor atenderá às finalidades do processo
e melhor alcançará a verdade real. Consignou-se, ainda, que eventual nulidade quanto à
competência, no caso, é relativa, cujo reconhecimento exige não só a sua arguição no momento
oportuno como também a demonstração de efetivo prejuízo, o que não ocorreu na espécie.
Ademais, quando se firmou a competência do juízo da vara do júri de Guarulhos, nem sequer se
tinha notícia de que a vítima morrera, sendo, pois, incerto o local da consumação do crime
naquele momento, já que o corpo da ofendida somente foi localizado aproximadamente dezoito
dias após o suposto cometimento do delito. HC 196.458-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 6/12/2011.

2.2 - Crimes qualificados pelo resultado

Há se relembrar o art. 70 do CPP:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

Considerando o teor do dispositivo, indaga-se: como será fixada a competência para o julgamento de crimes
que se qualificam pelo resultado, a exemplo de lesões corporais seguidas de morte, extorsão mediante
sequestro com resultado morte, estupro com resultado morte etc.?

Na hipótese de o resultado ocorrer no mesmo local da prática dos fatos, fica mais fácil: será competente o
juízo do respectivo local (da consumação – regra geral do CPP).

Todavia, a controvérsia se instaura nos casos em que esses locais são distintos. Imagine-se a hipótese de
uma vítima de lesões corporais na cidade ‘X’ que venha a falecer, em decorrência das agressões, na cidade
‘Y’. Afinal, qual será o juízo competente para processar e julgar esse crime de lesões corporais seguidas de
morte, o juízo do local das agressões ou o do local da morte? AVENA sintetiza os dois entendimentos a respeito
do tema:

Não obstante, em face do paradoxo jurídico que poderá decorrer da aplicação ipsis litteris do art.
70 do CPP, duas posições surgiram quanto à definição do foro em casos tais:

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• Primeira: Mesmo se o resultado que qualifica o crime ocorrer em outro local, critérios de
razoabilidade e lógica impõem a fixação da competência no lugar onde se deu a ação delituosa.
Segundo essa linha de pensamento, no caso do estupro qualificado pelo resultado morte, em
que a conjunção carnal tenha ocorrido no território de uma Comarca e a morte no território de
outra, o processo e julgamento estarão afetos ao local onde foi praticado o ato sexual forçado –
no exemplo alhures, Gravataí. Trata-se do entendimento a que aderimos. E como justificar essa
conclusão diante dos termos peremptórios do art. 70? Muito simples: primeiro, na conveniência
da instrução criminal, vale dizer, pela maior facilidade na busca de provas no lugar onde a ação
foi praticada; segundo, pela regra do art. 4.º do Código Penal, relativa à lei penal no tempo,
dispondo que “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado”; e, terceiro, em razão do disposto no art. 6.º do CP, pertinente à
lei penal no espaço, estabelecendo que “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu
a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado”. Essas duas regras – arts. 4.º e 6.º do CP –, embora conflitem, aparentemente, com a
previsão do art. 70 do CPP, na verdade não o revogam (a despeito da posterioridade do Código
Penal em relação ao Código de Processo Penal), permitindo, apenas, em casos específicos, como
nas hipóteses de crimes qualificados pelo resultado, a interpretação flexível de seus termos
segundo a razoabilidade do caso concreto.

• Segunda: A regra do art. 70 do CPP obriga ao processo e julgamento no local em que se


consumou o resultado que qualifica o crime. Compreende-se, aqui, que nos crimes qualificados
pelo resultado a competência deverá ser fixada no lugar onde ocorreu o evento qualificador.
Destarte, no exemplo citado do estupro perpetrado em Gravataí e a morte da vítima ocorrida em
hospital de Porto Alegre, nesta última Comarca é que o processo por estupro seguido de morte
deverá ser intentado. Esta posição é adotada no STJ (Avena, 2020).

RENATO BRASILEIRO vai pela segunda posição, afirmando textualmente que, “em relação a tais delitos, firma-se
a competência pelo local da produção do resultado qualificador” (Lima, 2021). NUCCI também afirma que a
competência se fixa pelo lugar onde ocorreu o resultado qualificador. Todavia, baseado na jurisprudência
referida em relação ao homicídio, no item anterior, baseada no “lugar de maior facilidade de busca da prova,
podemos admitir que, conforme o caso, o delito qualificado pelo resultado siga a mesma regra, isto é, caso
da conduta (roubo, por exemplo) desenvolva-se em uma cidade, mas o ofendido venha a morrer em outra
localidade – para onde apenas foi levado, objetivando-se o tratamento dos ferimentos sofridos –, o melhor
é que o crime seja apurado no foro do desenvolvimento da conduta” (Nucci, 2018).

2.3 - Crime de estelionato

Eis, no que interessa, o crime previsto no art. 171 do Código Penal – estelionato:

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

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VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
pagamento.

Com relação à fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, § 2º, VI, CP), o entendimento da
jurisprudência havia se consolidado pela súmulas 521 do STF e 244 do STJ, respectivamente:

O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão
dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
[superada]

Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem
provisão de fundos. [superada]

Os enunciados não traduziam uma exceção ao princípio geral de que o crime deve ser apurado no lugar da
consumação. Estelionato é crime material (não formal), de tal maneira que exige a ‘obtenção da vantagem
ilícita’, a fraude com efetiva lesão patrimonial. Por essa forma de pensar, consuma-se justamente no lugar
onde deveria ter havido o pagamento e o cheque foi recusado, gerando prejuízo para a vítima.

Há se distinguir as situações de estelionato, a forma da sua execução. Nesse sentido e reafirmando a regra
geral, veja-se a súmula 48 do STJ:

Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato
cometido mediante falsificação de cheque.

Ainda, repare na notícia do Informativo 565 desse mesmo Tribunal Superior, em caso de vítima induzida a
depositar em conta do agente criminoso:

[...] Compete ao juízo do foro onde se encontra localizada a agência bancária por meio da qual o
suposto estelionatário recebeu o proveito do crime - e não ao juízo do foro em que está situada
a agência na qual a vítima possui conta bancária - processar a persecução penal instaurada para
apurar crime de estelionato no qual a vítima teria sido induzida a depositar determinada quantia
na conta pessoal do agente do delito. Com efeito, a competência é definida pelo lugar em que se
consuma a infração, nos termos do art. 70 do CPP. Dessa forma, cuidando-se de crime de
estelionato, tem-se que a consumação se dá no momento da obtenção da vantagem indevida,
ou seja, no momento em que o valor é depositado na conta corrente do autor do delito,
passando, portanto, à sua disponibilidade. Note-se que o prejuízo alheio, apesar de fazer parte
do tipo penal, está relacionado à consequência do crime de estelionato e não propriamente à
conduta. De fato, o núcleo do tipo penal é obter vantagem ilícita, razão pela qual a consumação
se dá no momento em que os valores entram na esfera de disponibilidade do autor do crime, o
que somente ocorre quando o dinheiro ingressa efetivamente em sua conta corrente. [...] CC
139.800-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/6/2015, DJe 1º/7/2015.

No mesmo sentido o Informativo STJ/663: Na hipótese em que o estelionato se dá mediante vantagem


indevida, auferida mediante o depósito em favor de conta bancária de terceiro, a competência deverá ser
declarada em favor do juízo no qual se situa a conta favorecida (CC 169.053-DF, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 11/12/2019).

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De um modo geral, portanto, a jurisprudência, nos casos de estelionato, se inclinava pela teoria do resultado.
Interessava, portanto, saber distinguir, em cada caso concreto, onde se consumou o crime com a obtenção
da vantagem ilícita. No caso de cheque verdadeiro, sem provisão de fundos, no local de recusa do
pagamento. No caso de falsificação de cheque ou de indução da vítima em erro, no local de obtenção da
vantagem. Do Informativo STJ/663, ainda, colhia-se a seguinte consolidação:

[..] Anote-se que a melhor solução jurídica seria aquela que estabelece distinção entre a hipótese
de estelionato mediante depósito de cheque clonado ou adulterado (competência do Juízo do
local onde a vítima mantém conta bancária), daquela na qual a vítima é induzida a efetivar
depósito ou transferência bancária em prol do beneficiário da fraude (competência do Juízo
onde situada a agência bancária beneficiária do depósito ou transferência). Assim, se o crime só
se consuma com a efetiva obtenção da vantagem indevida pelo agente ativo, é certo que só há
falar em consumação, nas hipóteses de transferência e depósito, quando o valor efetivamente
ingressa na conta bancária do beneficiário da fraude.

Nesse contexto de insegurança jurídica, quando a jurisprudência aparentava se consolidar pela


teoria do resultado (identificando o estelionato como um crime material), sobreveio a Lei
14.155, de 27 de maio de 2021, que acrescentou o § 4º ao art. 70 do CPP e passou a inaugurar,
pontualmente, um novo critério determinante da competência5 para o estelionato – o domicílio
da vítima:

§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante
transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em
caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

5
Interessante: não recordamos de nenhum outro crime que tenha, como critério definidor de competência, o domicílio da vítima.

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Essa é uma ótima alteração legislativa, que tende a trazer mais segurança jurídica, facilitar o papel da vítima
(diante do crime que pretende ver apurado), além de melhorar a colheita das provas. Por outro lado, torna
superadas as Súmulas 244/STJ e 521/STF (que estabeleciam ‘local da recusa’ de pagamento). Em suma,
esquematizando o entendimento mais atual, teríamos o seguinte (em cores para correlação com a norma):

cheque s/fundos local da recusa de Súm. 521/STF e


domicílio da vítima
(art. 171, VI do CP) pagamento 244/STJ

cheque c/pgto. local da recusa de Súm. 521/STF e


domicílio da vítima
estelionato

frustrado pagamento 244/STJ

cheque falsificado local de obtenção da Súmula 48/STJ e art. normalmente


ou adulterado vantagem 70 do CPP domicílio da vítima

local da conta CC 169.053 e


depósito ou
bancária 167.025 STJ 3ª domicílio da vítima
transferência
beneficiária Seção/2019

Repare que pelo novo critério, nessas situações pouco importa saber onde o agente ‘obteve a vantagem
ilícita’; interessa sim saber qual a Comarca onde a vítima mora. Exemplos:

✓ agente reside e tem conta em banco (agência sacada) no Rio de Janeiro, mas compra coisas em loja
em São Paulo, pagando com cheque sabidamente sem fundos – competência agora será da Comarca
de São Paulo (sede da empresa vítima);
✓ vítima reside em Curitiba e, enganada, faz transferência de dinheiro para conta de estelionatário que
reside e tem conta em Salvador – competência agora será de Curitiba, não mais de Salvador, como
outrora.

No caso de pluralidade de vítimas (o que é comum em casos de estelionato), a norma estabelece que a
competência será definida pela prevenção, nos termos do art. 83 do CPP; ou seja, dentre vários domicílios
de variadas vítimas, será competente o foro do juízo que primeiro antecedeu aos outros na prática de algum
ato da persecução penal.

Um último ponto que pode gerar controvérsias: essa nova disposição se aplica de imediato,
em relação a investigações e processos em andamento? Em princípio, SIM. Embora se trate de
competência territorial (ratione loci), que teoricamente admitiria prorrogação, há se
reconhecer e dar efetividade ao princípio tempus regit actum (art. 2º do CPP e 1º da Lei de
Introdução ao CPP) e à aplicação imediata da lei tipicamente processual (como se mostra o novo
dispositivo). Não é o caso de perpetuação da jurisdição, nem mesmo de aplicação do princípio
da identidade física do juiz (art. 399, § 1º do CPP), na medida em que não tenha se iniciado a instrução
criminal (produção de provas em fase de processo).

Certamente haverá os que defenderão o contrário, sustentando a perpetuação da jurisdição. No fundo, o


que vai interessar para definir a controvérsia será o seguinte: a perpetuação da jurisdição no processo penal
é restrita à situação do art. 81 do CPP? Ou não, também abrange o regramento do Código de Processo Civil
(art. 43 do CPC) aplicado em analogia (art. 3º do CPP)? Porque se abranger, não se tratando de competência

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absoluta (como é o caso), definir-se-ia no momento do registro ou da distribuição, sendo irrelevantes as


modificações de direito posteriores a isso.

Mas esse é um tema que depende de análise e pacificação pelos tribunais superiores.

2.4 - Crimes falimentares

A Lei nº 11.101/2005 que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da


sociedade empresária prevê, em seu artigo 183, que a competência para julgamento dos crimes previstos
naquela lei é do juízo criminal do local onde tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial
ou homologado o plano de recuperação extrajudicial.

Art. 183. Compete ao juiz criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a falência, concedida
a recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação extrajudicial, conhecer da ação
penal pelos crimes previstos nesta Lei.

2.5 - Apropriação indébita

O delito de apropriação indébita está previsto no artigo 168 do CP, nos seguintes termos:

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

No que se refere à competência para julgamento desse tipo de crime, eis o que descreve RENATO BRASILEIRO:

Consuma-se o delito previsto no artigo 168 do CP no local em que se dá a inversão da posse,


independentemente do local onde o bem for encontrado. No entanto, devido à dificuldade de se
comprovar o exato momento da apropriação – imagine-se a hipótese de um representante
comercial que viaja por todo o interior de um estado da federação vendendo produtos – os
tribunais têm entendido que, quando não for possível estabelecer com precisão o local da
inversão da posse, o foro competente será o do local onde o elemento subjetivo da apropriação
indébita (animus rem sibi habendi) puder ser aquilatado por elementos objetivos, tais como o
lugar da prestação de contas (ou qualquer outro ato a partir do qual o agente externe sua
vontade de não restituir o bem que estava em sua posse ou detenção, transformando-as em
propriedade) (Lima, 2018).

2.6 - Atos infracionais

Nos casos de prática de ato infracional, a competência será determinada pelo lugar da ação ou omissão,
conforme disposição do § 1º do art. 147 da Lei nº 8.069/90:

Art. 147. A competência será determinada:

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§ 1º Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou omissão,
observadas as regras de conexão, continência e prevenção

2.7 - Contrabando ou descaminho

A questão relativa à competência nos crimes de contrabando e descaminho é sumulada, perante o STJ, no
seguinte sentido:

Súmula 151/STJ. A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho
define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.

Deste modo, independentemente do local da entrada ao país da mercadoria apreendida, considerar-se-á


competente o juízo do local da apreensão. Por exemplo: suspeito detido com mercadoria que tenha
adentrado ao Brasil pela cidade de Guaíra, no Estado do Paraná, mas é apreendida no Rio de Janeiro/RJ; no
caso, competente será o juízo do Rio de Janeiro.

2.8 - Crime de uso de documento falso

O local em que o documento falso foi apresentado define a competência para julgamento desse tipo de
crime. Entretanto, tratando-se da utilização do documento pelo próprio falsificador, o crime de uso estará
englobado pelo de falsificação, sendo a competência definida pelo local onde ocorreu a falsificação. Não
sendo conhecido o local onde a falsificação se operou, fixada estará a competência no local do
uso/apresentação do documento falso.

Quando o documento falsificado for passaporte, a questão quanto à competência está sumulada no STJ:

Súmula 200/STJ. O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de
passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.

2.9 - Infrações de menor potencial ofensivo

Lembrando, consideram-se infrações de menor potencial ofensivo as contravenções penais e os crimes a que
a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cuja competência é afeta aos Juizados Especiais
Criminais.

A Lei nº 9.099/1995, Lei dos Juizados Especiais, assim estabelece:

Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração
penal.

Diante do termo usado, surgiu a dúvida: lugar onde ocorreu a ação ou omissão ou onde se
consumou a infração penal?

Surgiu, então, a polêmica doutrinária acerca do foro competente para apurar a infração,
tendo em vista a dubiedade do termo “praticada”. Alguns preferem interpretá-lo como o
lugar onde ocorreu a ação ou omissão (ADA PELLEGRINI GRINOVER, ANTONIO MAGALHÃES GOMES FILHO.

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 53


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ANTONIO SACARANCE FERNANDES e LUIZ FLÁVIO GOMES), outros veem como certo o local onde ocorreu o
resultado, crendo que o termo “praticada” é sinônimo de “consumada” (TOURINHO FILHO, ROLDÃO OLIVEIRA
DE CARVALHO e ALGOMIRO CARVALHO NETO). Posicionamo-nos pela teoria da ubiquidade, podendo ser tanto
o lugar da ação ou omissão quanto o lugar do resultado. O termo “praticar” quer dizer tanto
“levar a efeito” ou “realizar” – que daria o sentido de consumação -, quanto “executar” –
conferindo a impressão de ser ação, motivo pelo qual o melhor a fazer é acolher a teoria mista,
aceitando como foro competente ambos os lugares, certamente quando a infração penal
comportar essa divisão entre ação e resultado. Havendo conflito, dirime-se pela prevenção, ou
seja, torna-se competente o primeiro juiz que conhecer do feito, No mesmo sentido que
defendemos está a posição defendida por PEDRO HENRIQUE DEMERCIAN e JORGE ASSAF MALULY; MARINO PAZZAGLINI
FILHO, ALEXANDRE DE MORAES, GIANPAOLO POGGIO SMANIO e LUIZ FERNANDO VAGGIONE; MIRABETE (A competência dos
juizados especiais criminais, p. 145) (Nucci, 2018)

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016) muito bem
condensa o tema da competência ratione loci relacionada às diversas espécies de infrações, bem
como, pontualmente, aos crimes em espécie: “A teoria do resultado ganha relevância nos delitos
plurilocais, que são aqueles onde os atos executórios ocorrem em local distinto do resultado,
sempre dentro do território nacional. É aplicável tal teoria aos seguintes casos: 1) Imaginemos
uma carta injuriosa que é escrita em Teresina e enviada a João Pessoa, onde a vítima reside.
Nesta hipótese, a competência territorial será de João Pessoa, local onde a infração veio a
consumar-se. 2) Adequando as regras processuais penais à moderna criminalidade, o STJ firmou
o entendimento de que, configurado o crime de furto mediante fraude através de saques
indevidos em conta corrente por meio da internet, o juízo competente será aquele em que se
situa a conta fraudada, por aplicação do art. 70 do CPP. 3) Tratando-se de crimes materiais, ou
seja, delitos que preveem e exigem a produção de resultado naturalístico, a regra é que o juízo
competente seja o da produção do resultado, porquanto geralmente é o local com maior
probabilidade de se apurar mais facilmente o crime. 4) Se o delito for qualificado pelo resultado,
a competência é estabelecida no juízo do local da produção do resultado qualificador. 5) Quando
se cuidar de crime formal, relevante é saber o momento consumativo do crime, que firmará o
foro competente, não sendo capaz que fixar a competência nem o juízo da ação ou da omissão,
nem muito menos onde tiver ocorrido o mero exaurimento da infração penal. 6) Caso o crime
seja permanente, enquanto perdurar a permanência tem-se foro competente, razão pela qual,
havendo pluralidade de juízos igualmente competentes, será utilizado o critério subsidiário: a
prevenção, que atua como norma de encerramento. No caso de contrabando e descaminho, é a
prevenção que resolve a competência territorial, pelo que a Súmula 151, do STJ, reza que a
competência para o processo e julgamento desses delitos é definida pela prevenção do Juízo
Federal onde foram apreendidos os bens. 7) Também a prevenção resolve hipótese de
continuação delitiva, eis que esse instituto é ficção jurídica relativamente a vários delitos que,
por seu turno, podem ser cometidos em foros distintos. 8) Por outro lado, entendemos que em
se tratando de depoimento de testemunha tomado por videoconferência, a competência é do
juízo criminal do local do juízo processante, já que o depoimento é diretamente tomado pelo
juízo onde corre o processo principal, ou seja, pelo juízo da causa. 9) O crime de uso de
documento falso é julgado pelo juízo do local onde o documento foi apresentado (onde se
consumou o delito de uso). Se a falsificação se deu pelo próprio sujeito que usou o documento,

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o uso é mero exaurimento do primeiro crime, pelo que a competência é definida pelo lugar onde
se consumou a feitura do documento falso. b) Teoria da atividade: a competência seria fixada
pelo local da ação ou omissão. É adotada nas hipóteses de crime tentado e também nos Juizados
Especiais Criminais (art. 63 da Lei nº 9.099/1995). No crime de homicídio, o STJ tem construído
sólida jurisprudência no sentido de que a competência é fixada pelo local da ação, e não do
resultado. Isso pela facilidade da colheita probatória no lugar em que os atos executórios se
desenvolveram, além da resposta à comunidade que reside onde ocorreu a ofensa ao bem
jurídico tutelado. Ressalta-se que, pelas mesmas razões, o STJ já aplicou este raciocínio ao
latrocínio, espécie de crime contra o patrimônio qualificado pelo resultado morte. Como se
depreende, a regra do art. 70, do CPP, que se aplica aos crimes plurilocais para determinar o
julgamento do delito no local onde se produziu o resultado, é afastada em relação à espécie,
porque a realidade dita que a investigação do delito, bem como a instrução do processo penal
terá mais êxito se correr no local onde aconteceram os fatos (local da ação ou da omissão). Trata-
se de aplicação do princípio do esboço do resultado que, nas palavras de Fernando de Almeida
Pedroso, consiste em se verificar que a conduta delituosa se exauriu em determinado local onde
deveria ter sido também o do momento consumativo do crime, pelo que se adota interpretação
teleológica consistente em considerar que o fato delituoso já havia prenunciado ou esboçado o
seu resultado no local da ação ou da omissão e que sua consumação só ocorreu em outro lugar
por acidente ou casualidade. Já na Lei de Imprensa, a competência territorial era fixada pelo local
de impressão do jornal ou periódico, e pelo local onde estivesse situado o estúdio do
permissionário ou concessionário do serviço de radiofusão, bem como o da administração
principal da agência noticiosa (art. 42, Lei nº 5.250/1967). Todavia, com a não recepção da norma
pela CF (ADPF nº 130-7), passamos a seguir a regra geral, qual seja, local da consumação do delito
(art. 70, caput, CPP), que em última análise, já era o que previa o não recepcionado art. 42 da Lei
nº 5.250/67, que continuará servindo como parâmetro para direcionar a matéria. Atente-se para
o fato de que, na esteira do entendimento do STJ, as ofensas proferidas através da internet são
de competência do juízo do lugar de onde partiu a publicação virtual e não do local onde
ganharam publicidade. Com efeito, em relação a crimes contra a honra praticados através da
rede mundial de computadores (internet), como não é possível definir o local da produção do
resultado, já que se dá em múltiplos locais, a competência será do juízo do local da conduta
delituosa, ou seja, onde o comportamento criminoso foi concluído. Sendo crime de pedofilia
cometido pela internet, mediante divulgação de imagens pornográficas de crianças e de
adolescentes, como não é possível precisar o lugar do resultado, a competência será o do lugar
da ação ou da omissão (momento consumativo do crime), sendo irrelevante o local da sede do
provedor respectivo. Já quanto às hipóteses de crimes de mera conduta, cujo tipo penal não faz
menção a resultado naturalístico, como se dá com o delito de violação de domicílio, o juízo
competente para seu processamento e julgamento é o lugar da ação ou omissão, aplicando-se a
teoria em tela (da atividade). Desse modo, a competência para processamento e julgamento do
falso testemunho, tomado por carta precatória, é do juízo deprecado, pois lá ocorreu a
consumação do delito. c) Teoria da ubiquidade (mista ou eclética): a competência territorial no
Brasil seria estabelecida tanto pelo local da ação quanto pelo do resultado, desde que um ou
outro aqui ocorram. É aplicada nos crimes à distância ou de espaço máximo, que são aqueles
em que os atos executórios se iniciam no Brasil e o resultado ocorre em outro país, ou a ação
delituosa se inicia no estrangeiro, e o resultado, mesmo que parcialmente, ocorre ou deveria
ocorrer no Brasil (§§ 1º e 2º, art. 70, CPP). Não bastam atos preparatórios para definir a

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competência da Justiça brasileira, sendo necessário que, ao menos em parte, o iter criminis se dê
no Brasil”.

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021): “Partindo de uma
necessidade probatória, tem-se feito uma ginástica jurídica, criando-se um conceito de
consumação para o processo penal que não corresponde àquele previsto no Código Penal,
adotando-se na prática a teoria da atividade. Nessa linha, “lugar da infração” passou a ser visto
como aquele onde se esgotou o potencial lesivo da infração, ainda que distinto do resultado. Isso
atende a uma necessidade probatória, pois todos os elementos do crime estão na cidade onde
ocorreu o atropelamento, e não onde a vítima morreu. Lá está o lugar do crime (atropelamento)
para ser periciado, lá será feita a reconstituição simulada, e lá residem as testemunhas
presenciais do fato. [...] Esse entendimento também tem sido empregado para o crime de
homicídio doloso e outros, nos quais a ação criminosa se desenvolve integralmente numa cidade
e apenas o resultado se dá em outra. Noutra dimensão, é importante não esquecer do art. 71 do
CPP. Quando forem vários os crimes, praticados em diferentes cidades, mas que, pelas
circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução, constituam uma continuidade delitiva (art.
71 do Código Penal), a competência pelo lugar da infração será definida a partir da prevenção. A
mesma regra também se aplica quando for um crime permanente, praticado em território de
duas ou mais jurisdições. Nesses dois casos, será competente o juiz que tiver antecedido os
demais na prática de algum ato decisório, como o recebimento da denúncia. Mas também será
competente, em razão da prevenção, aquele que tiver praticado, na fase pré-processual, algum
ato decisório, como a homologação da prisão em flagrante, a decretação da prisão preventiva ou
temporária, ou, ainda, tiver decidido sobre alguma medida assecuratória ou mesmo busca e
apreensão. E nos crimes contra a honra, praticados pela imprensa: é o local onde ocorreu a
impressão ou, no caso de reportagem veiculada pela internet, no local onde se encontra o
responsável pela veiculação. Nesta linha sinaliza a decisão proferida pelo STJ no Conflito de
Competência n. 106.625/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 12/05/2010. Neste caso,
a Seção entendeu, lastreada em orientação do STF, que a Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) não
foi recepcionada pela CF/ 1988. Assim, nos crimes contra a honra, aplicam-se, em princípio, as
normas da legislação comum, quais sejam, os arts. 138 e seguintes do CP e os arts. 69 e seguintes
do CPP. Logo, nos crimes contra a honra praticados por meio de publicação impressa em
periódico de circulação nacional, deve-se fixar a competência do juízo pelo local onde ocorreu a
impressão, uma vez que se trata do primeiro lugar onde as matérias produzidas chegaram ao
conhecimento de outrem, de acordo com o art. 70 do CPP. Quanto aos crimes contra a honra
praticados por meio de reportagens veiculadas na internet, a competência fixa-se em razão do
local onde foi concluída a ação delituosa, ou seja, onde se encontra o responsável pela veiculação
e divulgação das notícias, indiferente a localização do provedor de acesso à rede mundial de
computadores ou sua efetiva visualização pelos usuários. Precedentes citados do STF: ADPF
130/DF, DJe 06/11/2009; do STJ: CC 29.886/SP, DJ 1º/02/2008. Nos crimes praticados fora do
território nacional, mas em que incida a regra da extraterritorialidade da lei penal, será
competente o juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado e, caso ele
nunca tenha residido no Brasil, será julgado em Brasília, nos termos do art. 88 do CPP.
Recordemos que o simples fato de o crime ter sido praticado no exterior não significa que será
julgado na Justiça Federal. Todo o oposto. A regra é o julgamento pela Justiça Estadual, salvo se
estiver presente alguma das causas do art. 109 da Constituição, conforme explicado
anteriormente. Nos crimes praticados a bordo de navios ou aeronaves, incidem as regras dos

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arts. 89 e 90, com a ressalva de que somente será de competência da Justiça Federal quando se
tratar de navio ou aeronave de grande porte, conforme explicado no item anterior”.

3 - DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU COMO FORO SUPLETIVO


Tratando da competência territorial, vimos que a regra geral é eleger o foro com base no lugar em que se
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução, nos
exatos termos do art. 70 do CPP.

Pode ocorrer, evidentemente, que não se saiba onde a infração penal se consumou; nessa hipótese abre-se
a possibilidade desse foro ser fixado com base na residência do acusado, estabelecido em caráter supletivo
ou subsidiário, conforme caput do art. 72 do CPP:

Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu.

É secundário o critério de eleição de foro até pela localização topográfica (no inciso II e após o inciso I que
trata do lugar da infração) no art. 69 do CPP. Só se utiliza desse critério quando a regra geral não puder ser
aplicada.

A definição do que seja domicílio é resgatada do Código Civil, conforme artigos transcritos a seguir:

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva,
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o
lugar onde esta é exercida.

Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá
domicílio para as relações que lhe corresponderem.

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde
for encontrada.

Domicílio, na acepção jurídica, tem significação mais estrita. Indica o centro ou sede de
atividades de uma pessoa, o lugar em que mantém o seu estabelecimento ou fixa a sua residência
com ânimo definitivo – gera uma situação de direito. Em matéria processual, o domicílio é
elemento determinante da competência. (Silva, 2005) “Domicílio é o local onde a pessoa habita
com desígnio de permanecer [...]. É a sede jurídica da pessoa, o lugar em que ela assenta a vida.

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[...] é o mais alto grau de vinculação da pessoa ao âmbito geográfico-humano em que vive”
(Tornaghi, 1997).

Residência representa situação meramente de fato e traduz o local onde a pessoa vive, sem o
caráter da definitividade ou de centro de atividades. O domicílio pode compreender a residência,
mas esta nem sempre indica o domicílio (Silva, 2005).

Repare que o art. 72 fala em fixar a competência pelo domicílio ou residência do réu. “Nessas condições,
deve entender-se que o critério principal é o do domicílio e, falhando esse, haverá o subsidiário: o da
residência” (Tornaghi, 1997), desprezando o animus permanendi.

Subsidiariamente, caso não seja possível determinar o lugar da infração, a competência será
firmada pelo domicílio ou residência do réu (CPP, art. 72, caput) - forum domicilii. Tem-se aí o
denominado foro supletivo ou foro subsidiário. Talvez o melhor exemplo de crime em que não
seja possível estabelecer-se com precisão o exato local da consumação da infração penal seja a
hipótese de um crime patrimonial cometido no interior de um ônibus durante uma viagem
interestadual. Supondo-se que as investigações tenham obtido êxito na identificação do autor
do crime, sendo inviável a descoberta do local em que se consumou a infração penal, deve o
processo tramitar no foro do domicílio ou residência do réu (Lima, 2021).

Para outras hipóteses, assim estabelecem os parágrafos do art. 72 do CPP:

§ 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.

§ 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz
que primeiro tomar conhecimento do fato.

Caso o réu, portanto, tenha mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção. “Apesar do
silêncio da lei, prevalece que o mesmo raciocínio será aplicável ao réu que possua vários domicílios, ou na
hipótese de vários corréus com domicílio e residências diferentes” (Lima, 2021).

Considerando que o fato de a vítima ter residência fora do Brasil não é fator de determinação da
competência jurisdicional, compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar
eventual crime de estelionato cometido por particular contra particular, ainda que a vítima resida
no estrangeiro, na hipótese em que, além de os atos de execução do suposto crime terem
ocorrido no Brasil, não haja qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União (Lima, 2021).

Outra situação de utilização da prevenção para solucionar conflito surgido entre vários juízos,
que poderiam conhecer do feito, é a hipótese do acusado que não tem residência fixa – pode ser
um andarilho, um sem-teto, um viajante ou um desocupado aventureiro –, razão pela qual
ignora-se onde possa ser encontrado (art. 72, § 2º, CPP) (Pacelli, 2018).

Nos casos de ação penal privada, assim estabelece o Código de Processo Penal:

Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio
ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

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“A despeito de ser regra geral para a fixação do foro competente o do lugar da infração penal, tal não se
aplica necessariamente nos casos de ação exclusivamente privada, pois o interesse público, nesses casos, é
secundário; tanto é verdade que a iniciativa da ação penal pertence ao particular” (Nucci, 2018). Na ação
penal privada, então, fica a critério do autor da ação optar entre o foro do lugar da infração (regra geral) e
do domicílio ou da residência do réu.

Critério alternativo ou facultativo. Trata-se do domicílio ou residência do réu (art. 69, II, CPP),
que ora funciona como critério alternativo na fixação da competência, ora atua como critério
facultativo. A primeira situação – domicílio do réu como critério alternativo – tem lugar quando
não for conhecido o local onde foi praticada a infração penal (art. 72 do CPP). Já o segundo caso
– domicílio do réu como critério facultativo – incide nas hipóteses de ação penal exclusivamente
privada. Aqui, o uso do domicílio do réu fica na opção exclusiva do querelante, sendo irrelevante
se conhecido ou não o lugar da infração (art. 73 do CPP) (Avena, 2020).

De um modo geral, não se vislumbra prejuízo para o querelado que só se veria processado no foro ordinário
decorrente do princípio da territorialidade, ou, facilitando-lhe a defesa, no foro do local onde mora.

Doutrina complementar

GUSTAVO BADARÓ (Processo Penal, 8ª ed., São Paulo: RT, 2020. “O art. 72 não trata de um “critério
de competência” em caráter principal ou autônomo. Muito menos, cuida de foro especial. O que
o art. 72 disciplina são regras de foro subsidiário, em primeiro e em segundo graus, que somente
terão incidência se não for possível aplicar o foro geral previsto no art. 70, caput, do CPP. O CPP
prevê, também, um foro supletivo ou subsidiário, para os casos em que não se consegue
determinar o local em que o crime foi cometido e, consequentemente, qual a comarca ou seção
judiciária competente (p. ex.: a vítima percebe que foi furtada durante uma viagem de ônibus,
mas não sabe em que cidade, ao longo do trajeto, ocorreu o crime). Dispõe o art. 72, caput, do
CPP que, “não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio
ou residência do réu”... Trata-se de foro subsidiário em primeiro grau. Finalmente, pode ocorrer
que nem mesmo a regra subsidiária – local da residência – seja suficiente. Em tal hipótese opera
um critério subsidiário em segundo grau: “Se o réu tiver mais de uma residência, a competência
firmar-se-á pela prevenção” (CPP, art. 72, § 1º). Neste caso, porém, trata-se de prevenção entre
uma das comarcas nas quais o réu resida. Por exemplo: o acusado tem residência nas cidades de
São Paulo e Ribeirão Preto. Não se poderá considerar prevento o juiz de uma comarca que não
seja residência do acusado (por exemplo, comarca de Santos). A prevenção também deverá ser
aplicada, diante da lacuna do CPP, no caso de vários corréus com domicílios diferentes.
Finalmente, há ainda o que se pode considerar um terceiro grau de subsidiariedade, definido no
§ 2º do art. 72: “Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será
competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato”. Novamente, o critério subsidiário
será o da prevenção. Aqui, todavia, o âmbito das comarcas em que poderá se firmar a prevenção
é muito mais amplo do que no caso do § 1º do mesmo artigo. No foro subsidiário de segundo
grau, a prevenção deverá ocorrer entre uma das comarcas em que o acusado resida (art. 72, §
1º). Já no foro subsidiário de terceiro grau a prevenção poderá se dar em relação a qualquer
comarca que integre a ‘Justiça’ competente (art. 72, § 2º)”.

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EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “Se o réu
tiver mais de uma residência, ou quando não tiver residência certa, bem como nos casos em que
for ignorado seu paradeiro, a competência será firmada pela regra da prevenção (§§ 1º e 2º do
art. 72), sendo competente o primeiro juízo que conhecer da causa, no primeiro caso, dentre os
que atuarem nos diversos locais de residência do réu, e, no segundo caso, dentre todos os juízes
abstratamente competentes para o julgamento do delito, em qualquer comarca ou seção
judiciária. Da mesma forma, determina-se a competência pela regra da prevenção quando
houver pluralidade de réus, com domicílios ou residências diferentes. Tratando-se de ação
privada exclusiva, a lei processual faculta ao querelante optar pelo foro do domicílio ou da
residência do réu, mesmo quando conhecido o lugar da infração. A mens legis, ao excepcionar a
regra geral, foi evidentemente no sentido de facilitar a atuação do ofendido. Quanto à questão
de saber se o Código de Processo Penal equiparou os conceitos de domicílio e residência, a
doutrina diverge: para alguns autores, a legislação processual não estabeleceu distinção entre os
conceitos, tomando-os como sinônimos. A maior parte da doutrina entende, entretanto, que os
termos conservam, em sede processual penal, os traços característicos estabelecidos pelo Direito
Civil. Será considerado domicílio, assim, o local em que a pessoa “estabelece a sua residência
com ânimo definitivo” (art. 70 do Código Civil), enquanto residência é ‘relação de fato, é o lugar
em que a pessoa habita ou tem o centro de suas ocupações’. Havendo diversos locais onde
alternadamente viva, considerar-se-á seu domicílio qualquer deles. No que toca às relações
concernentes à sua profissão, será o domicílio o local onde a pessoa a exerce (art. 72).
Finalmente, não havendo residência habitual, o domicílio será qualquer lugar em que seja a
pessoa encontrada (art. 73). Regra de igual teor encontra-se na Lei de Introdução ao Código Civil,
art. 7º, § 8º”.

Jurisprudência pertinente

Súmula 521, STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a
modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do
pagamento pelo sacado.

Súmula 48, STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque.

Súmula 151, STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho
define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.

Súmula 200, STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de
passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.

Súmula 244, STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante
cheque sem provisão de fundos.

Súmula 528, STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via
postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.

Supremo Tribunal Federal - STF

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Em se tratando de competência ratione loci e, portanto, relativa, e não tendo o paciente alegado
o vício no momento oportuno, isto é, na fase da defesa prévia, houve prorrogatio fori em favor
da comarca em que foi ele julgado, não sendo mais possível examinar sua impugnação a respeito,
em razão da incontestável preclusão. Precedentes. [...] (HC 98205 AgR, Relator(a): Min. ELLEN
GRACIE, Segunda Turma, julgado em 24/11/2009).

É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que a competência territorial do


Tribunal do Júri é relativa e, portanto, sujeita à preclusão se não arguida em momento oportuno.
[...] (HC 95139, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 23/09/2008).

[...] Caso em que se discute competência ratione loci, cuja inobservância, segundo a reiterada
jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, implica nulidade relativa, que deve ser arguida,
oportunamente -- no tríduo da defesa prévia ou mediante oposição de exceção (art. 108 do CPP)
-, sob pena de preclusão. Habeas corpus indeferido. (HC 83563, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO,
Primeira Turma, julgado em 18/11/2003).

[...] Crime de homicídio culposo (CP, art. 121, §§ 3º e 4º). Competência. Consumação do delito
em local distinto daquele onde foram praticados os atos executórios. Crime plurilocal.
Possibilidade excepcional de deslocamento da competência para foro diverso do local onde se
deu a consumação do delito (CPP, art. 70). Facilitação da instrução probatória, Precedente.
Recurso não provido. [...] Embora se possa afirmar que a responsabilidade imputada à recorrente
possa derivar de negligência decorrente da falta do exame pessoal da vítima e do seu correto
diagnóstico após a alta hospitalar, é inconteste que esse fato deriva do ato cirúrgico e dos
cuidados pós-operatórios de responsabilidade da paciente, de modo que se está diante de crime
plurilocal, o que justifica a eleição como foro do local onde os atos foram praticados e onde a
recorrente se encontrava por ocasião da imputada omissão (por ocasião da prescrição de
remédios por telefone à vítima). 3. Recurso não provido. (RHC 116200, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 13/08/2013).

Superior Tribunal de Justiça - STJ

CRIME CONTRA A HONRA PRATICADO PELA INTERNET. NATUREZA FORMAL. CONSUMAÇÃO


NO LOCAL DA PUBLICAÇÃO DO CONTEÚDO OFENSIVO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE
PARA O CONHECIMENTO E JULGAMENTO DO FEITO. 1. Crimes contra a honra praticados pela
internet são formais, consumando-se no momento da disponibilização do conteúdo ofensivo
no espaço virtual, por força da imediata potencialidade de visualização por terceiros. 2.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo suscitante para o conhecimento e
julgamento do feito. (CC 173.458/SC, STJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
25/11/2020).

[...] HOMICÍDIO CULPOSO. FORO COMPETENTE. LOCAL DA CONSUMAÇÃO E DA PRÁTICA DA


MAIORIA DOS ATOS EXECUTÓRIOS. PREVENÇÃO. INOCORRÊNCIA. ATOS SEM CONTEÚDO
DECISÓRIO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A regra geral da fixação da competência
criminal, insculpida no art. 70 do Código de Processo Penal – CPP, determina que o local da
consumação do crime servirá para determinar o juízo competente. A jurisprudência desta Corte
admite que, em situações excepcionais, o local dos atos executórios seja utilizado para fixação

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da competência, em razão da necessidade de se dar eficiência à produção das provas. Contudo,


o acórdão impugnado esclareceu que o óbito da vítima ocorreu em Londrina, local em que foi
atendida pelos demais corréus da ação penal, sendo que é nesta cidade em que deverá ocorrer
maior parte dos atos da coleta de provas, não havendo necessidade de excepcionar-se a regra
geral [...] (AgRg em HC 531.810/PR, STJ, Rel. Min. Joel Ilan Parcionink, DJ em 13/05/2020).

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. REGRAS DE COMPETÊNCIA FIXADAS PELA LEI DE


ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO. RESOLUÇÃO 790/2017 DO ÓRGÃO
ESPECIAL DO TJ/SP QUE MODIFICA A COMPETÊNCIA RATIONE LOCI DO JUÍZO DA EXECUÇÃO DA
COMARCA DE FRANCO DA ROCHA/SP. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA QUE NÃO PODE SER
MODIFICADA POR ATO ADMINISTRATIVO HIERARQUICAMENTE INFERIOR À LEI. COMPETÊNCIA
ORIGINÁRIA QUE DEVE SER RESTABELECIDA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A Lei de Execução Penal
determina no seu art. 65 que A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local de
organização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença. 2. O art. 56, parágrafo único, da Lei de
Organização Judiciária de São Paulo estabelece competir ao Juízo da comarca em que estiverem
custodiados os presos definitivamente condenados, a execução das respectivas penas. 3. Embora
possa o Tribunal local organizar a distribuição de trabalho entre os juízos a ele vinculados, isso
se dará nos limites da lei, não servindo a Resolução 790/2017 do Órgão Especial do Tribunal de
Justiça de São Paulo para alterar determinação de competência da própria Lei de Organização
Judiciária estadual, gerando insegurança jurídica e violação dos princípios do juiz natural e do
devido processo legal. 4. Habeas corpus concedido para determinar a remessa dos autos ao Juízo
das Execuções Criminais da Comarca de Franco da Rocha/SP. (STJ - HC: 460974 SP 2018/0185111-
8, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 23/04/2019, T6 - SEXTA TURMA).

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA.


PRECLUSÃO. COMPETÊNCIA RATIONE LOCI. RELATIVA E PRORROGÁVEL. PRINCÍPIO DO
PROMOTOR NATURAL. LEI ORGÂNICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE DE DESIGNAÇÃO
EXCEPCIONAL E FUNDAMENTADA PARA O EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES PROCESSUAIS AFETAS A
OUTRO INTEGRANTE. UNICIDADE E INDIVISIBILIDADE DA INSTITUIÇÃO. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE DESVIO DE FINALIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
1 - Ressalvada pessoal compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de Justiça ser
inadequado o writ em substituição a recursos especial e ordinário, ou de revisão criminal,
admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a constatação de ilegalidade flagrante, abuso
de poder ou teratologia. 2 - A competência ratione loci é relativa e prorrogável, de modo que
eventual insurgência deve ser suscitada no momento processual oportuno, sob pena de
preclusão. 3 - A Lei Orgânica do Ministério Público dispõe, dentre as competências do
Procurador-Geral de Justiça, a designação de seus integrantes para, por ato excepcional e
fundamentado, exercer as funções processuais afetas a outro integrantes da instituição,
submetendo sua decisão previamente ao Conselho Superior (art. 10, IX, g). 4 - Este Superior
Tribunal de Justiça firmou orientação quanto à unicidade e indivisibilidade do Ministério
Público, cujos membros o representam como um todo, sendo, portanto, substituíveis em suas
atribuições. 5 - Conforme se extrai da regra do art. 5º, LIII, da Constituição Federal, veda-se pelo
ordenamento jurídico pátrio apenas a designação de um "acusador de exceção", nomeado
mediante manipulações casuísticas e em desacordo com os critérios legais pertinentes (HC
57.506/PA, Rel. Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, DJe 22/02/2010). 6 - O impetrante não se
desincumbiu de demonstrar que a designação impugnada se deu para fins de manipulações

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casuísticas ou por critérios políticos, ou até mesmo em desacordo com o regramento legal
pertinente, nem sequer acostando aos autos os termos da Portaria por meio da qual foram
designados os Promotores para atuar do feito. 7 - Habeas corpus não conhecido. (STJ - HC:
332583 SE 2015/0195321-0, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 09/08/2016,
T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/08/2016)CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DIREITO
PENAL E PROCESSUAL PENAL. EXTORSÃO. CRIME FORMAL. CONSUMAÇÃO NO LOCAL DO
CONSTRANGIMENTO. SÚMULA Nº 96/STJ. 1. O crime de extorsão é formal e consuma-se no
momento e no local em que ocorre o constrangimento para se faça ou se deixe de fazer alguma
coisa. Súmula nº 96 do Superior Tribunal de Justiça. 2. Hipótese em que a vítima foi coagida a
efetuar o depósito, mediante ameaça proferida por telefone, quando estava em seu
consultório, em Rio Verde/GO. Independentemente da efetivação do depósito ou do local
onde se situa a agência da conta bancária beneficiada, foi ali que se consumou o delito.
Precedentes. 3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 4ª Vara
Criminal de Rio Verde/GO, o suscitado. (CC 115.006/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2011, DJe 21/03/2011).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. JUÍZOS ESTADUAIS. EXTORSÃO VIA MENSAGENS


ELETRÔNICAS PELA INTERNET. DELITO FORMAL. MOMENTO CONSUMATIVO. PRESENÇA DOS
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO TIPO. LOCAL DO RECEBIMENTO DOS E-MAILS. Na hipótese dos
autos, houve o momento consumativo perpetrado pelo agente ao praticar o ato de
constrangimento (envio dos e-mails de conteúdo extorsivo), e o das vítimas que se sentiram
ameaçadas e intimidadas com o ato constrangedor, o que ocasionou a busca da Justiça.
Consumação do lugar do recebimento das mensagens eletrônicas. Conflito conhecido,
declarando-se a competência do Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Guarapuava/PR. (CC
40.569/SP, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/03/2004,
DJ 05/04/2004, p. 201).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO. ARTIGO 70 DO CÓDIGO DE


PROCESSO PENAL. PLURALIDADE DE VÍTIMAS. SORO CONTAMINADO. MORTES OCORRIDAS EM
HOSPITAL LOCALIZADO NA COMARCA DE FORTALEZA/CE. 1. A jurisprudência desta Corte
Superior de Justiça firmou já entendimento no sentido de que a competência para o
conhecimento e julgamento do crime de homicídio, em regra, é determinada pelo lugar em
que se consumou a infração, ou seja, pelo lugar onde ocorreu a morte da vítima, sendo esta
passível de modificação na hipótese em que outro seja o local que melhor sirva para a formação
da verdade real. Precedentes. 2. Se as mortes das vítimas ocorreram no Município de
Fortaleza/CE, o juízo desta Comarca é que será o competente para conhecer e julgar os fatos,
pouco importando que a sede da empresa fabricante do soro contaminado seja na comarca do
Juízo suscitado, bem como a existência de outra ação penal, instaurada na comarca do Juízo
suscitante, contra os mesmos acusados por crimes praticados contra outras vítimas. 3. O Superior
Tribunal de Justiça, no conflito de competência, é competente para declarar a competência de
outro juízo, que não o suscitante ou o suscitado. Precedentes. 4. Conflito conhecido para declarar
competente um dos Juízos da Vara Criminal da Comarca de Fortaleza/CE, lugar onde os autos
deverão ser encaminhados para posterior distribuição. (CC 34.557/PE, Rel. Ministro HAMILTON
CARVALHIDO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/06/2002, DJ 10/02/2003, p. 169).

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HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO. ATOS


EXECUTÓRIOS. CONSUMAÇÃO DO DELITO EM LOCAL DIVERSO. TEORIA DO RESULTADO.
POSSIBILIDADE DE RELATIVIZAÇÃO. INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DA LEGISLAÇÃO
PROCESSUAL PENAL. BUSCA DA VERDADE REAL. FACILITAÇÃO DA INSTRUÇÃO PROBATÓRIA.
COMOÇÃO POPULAR. JULGAMENTO EM FORO DIVERSO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DE EVENTUAL PREJUÍZO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. [...]
Embora, no caso concreto, os atos executórios do crime de homicídio tenham se iniciado na
comarca de Guarulhos/SP, local em que houve, em tese, os disparos de arma de fogo contra a
vítima, e não obstante tenha se apurado que a causa efetiva da sua morte foi asfixia por
afogamento, a qual ocorreu em represa localizada na comarca de Nazaré Paulista/SP, tem-se
que, sem dúvidas, o lugar que mais atende às finalidades almejadas pelo legislador ao fixar a
competência de foro é o do local em que foram iniciados os atos executórios, o Juízo de
Guarulhos/SP, portanto. 8. O local onde o delito repercutiu, primeira e primordialmente, de
modo mais intenso deve ser considerado para fins de fixação da competência. [...] (HC
196.458/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 06/12/2011, DJe
08/02/2012).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. HOMICÍDIOS QUALIFICADOS. CRIMES PERPETRADOS


POR BRASILEIRO, JUNTAMENTE COM ESTRANGEIROS, NA CIDADE DE RIVERA - REPÚBLICA
ORIENTAL DO URUGUAI. REGIÃO FRONTEIRIÇA. VÍTIMAS. POLICIAIS CIVIS BRASILEIROS.
RESIDENTES EM SANTANA DO LIVRAMENTO/RS. EXTRATERRITORIALIDADE. AGENTE BRASILEIRO,
QUE INGRESSOU NO PAÍS. ÚLTIMO DOMICÍLIO. CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO/SP. O ITER CRIMINIS
OCORREU NO ESTRANGEIRO. 1. Os crimes em análise teriam sido cometidos por brasileiro,
juntamente com uruguaios, na cidade de Rivera - República Oriental do Uruguai, que faz fronteira
com o Brasil. 2. Aplica-se a extraterritorialidade prevista no art. 7.º, inciso II, alínea b, e § 2.º,
alínea a, do Código Penal, se o crime foi praticado por brasileiro no estrangeiro e,
posteriormente, o agente ingressou em território nacional. 3. Nos termos do art. 88 do Código
de Processo Penal, sendo a cidade de Ribeirão Preto/SP o último domicílio do indiciado, é
patente a competência do Juízo da Capital do Estado de São Paulo. 4. Afasta-se a competência
da Justiça Federal, tendo em vista a inexistência de qualquer hipótese prevista no art. 109 da
Carta da República, principalmente, porque todo o iter criminis dos homicídios ocorreu no
estrangeiro. 5. Conflito conhecido para declarar a competência de uma das Varas do Júri da
Comarca de São Paulo/SP. (CC 104.342/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 12/08/2009, DJe 26/08/2009).

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. NOTÍCIA-CRIME PELA SUPOSTA


PRÁTICA DOS DELITOS PREVISTOS NOS ARTS. 20 E 21 DA LEI 5.250/97 (LEI DE IMPRENSA). LEI
NÃO RECEPCIONADA PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ADPF 130/DF. APLICAÇÃO DOS ARTS. 138 E
139 DO CP E ART. 70 DO CPP. DUAS SEQUÊNCIAS DE FATOS DISTINTOS. PUBLICAÇÃO DE
REPORTAGENS VEICULADAS NA REVISTA ISTOÉ. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DO LOCAL DA
IMPRESSÃO DA REVISTA. MATÉRIAS DISPONIBILIZADAS NO BLOG "CONVERSA AFIADA".
COMPETÊNCIA DO LOCAL EM QUE PRATICADOS OS ATOS DE PUBLICAÇÃO. CONFLITO
CONHECIDO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PAULISTA. 1. Não recepcionada a Lei de
Imprensa pela nova ordem Constitucional (ADPF 130/DF), quanto aos crimes contra a honra,
aplicam-se, em princípio, as normas da legislação comum, quais sejam, art. 138 e seguintes do
Código Penal e art. 69 e seguintes do Código de Processo Penal. 2. Na hipótese de crime contra

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a honra praticado por meio de publicação impressa de periódico, deve-se fixar a competência
do Juízo onde ocorreu a impressão, tendo em vista ser o primeiro local onde as matérias
produzidas chegaram ao conhecimento de outrem, nos moldes do art. 70 do Código de Processo
Penal. Remanesce, na prática, o resultado processual obtido pela antiga aplicação da regra de
competência prevista na não recepcionada Lei de Imprensa. 3. Crimes contra a honra praticados
por meio de reportagens veiculadas pela internet ensejam a competência do Juízo do local
onde foi concluída a ação delituosa, ou seja, onde se encontrava o responsável pela veiculação
e divulgação de tais notícias. 4. Conheço do conflito para declarar competente o Juízo Federal
da 4ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado de São Paulo. (CC 106.625/DF, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/05/2010).

PENAL E PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. 1. CRIME DE ESTELIONATO.


CONSUMAÇÃO COM A OBTENÇÃO DA VANTAGEM ILÍCITA. DEPÓSITO EM CONTA CORRENTE.
COMPETÊNCIA DO LOCAL EM QUE SITUADA A AGÊNCIA. 2. CONFLITO CONHECIDO PARA
RECONHECER A COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DE INQUÉRITOS
POLICIAIS DE BELO HORIZONTE/MG. 1. O prejuízo alheio, apesar de fazer parte do tipo penal,
está relacionado à consequência do crime de estelionato e não à conduta propriamente. De
fato, o núcleo do tipo penal é obter vantagem ilícita, razão pela qual a consumação se dá no
momento em que os valores entram na esfera de disponibilidade do autor do crime, o que
somente ocorre quando o dinheiro ingressa efetivamente em sua conta corrente. 2. Conheço
do conflito para reconhecer a competência do Juízo de Direito da Vara Criminal de Inquéritos
Policiais de Belo Horizonte/MG, o suscitante. (CC 139.800/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES
DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 24/06/2015, DJe 01/07/2015).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. CONSUMAÇÃO. LOCAL EM


QUE O AGENTE TRANSFORMA A POSSE EM PROPRIEDADE. 1. Hipótese em que o agente
entregou, como forma de pagamento de dívida anteriormente contraída, na cidade de
Guaraçai/SP, veículo que lhe havia sido emprestado na cidade de Curitiba/PR. 2. Inversão da
posse em propriedade se deu no local da entrega do bem. 3. Conflito conhecido para declarar
competente o Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Mirandópolis/SP, suscitado.
(CC 102.103/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
12/08/2009, DJe 21/08/2009).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. REPRESENTANTE


COMERCIAL. COMPETÊNCIA. 1. Hipótese em que o representante comercial recebia os valores
referentes à venda de mercadorias da empresa representada, sem, no entanto, repassá-los a
esta. 2. Competência do local onde deveria ser realizada a prestação de contas. 3. Conflito
conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da Comarca de São Sebastião da
Grama/SP, suscitado. (CC 89.067/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/02/2008, DJ 22/02/2008, p. 162).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL E PROCESSO PENAL. FRAUDE ELETRÔNICA NA


INTERNET. TRANSFERÊNCIA DE NUMERÁRIO DE CONTA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. FURTO
MEDIANTE FRAUDE QUE NÃO SE CONFUNDE COM ESTELIONATO. CONSUMAÇÃO. SUBTRAÇÃO
DO BEM. APLICAÇÃO DO ART. 70 DO CPP. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARANAENSE. [...]
Hipótese em que o agente se valeu de fraude eletrônica para a retirada de mais de dois mil e

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quinhentos reais de conta bancária, por meio da "Internet Banking" da Caixa Econômica
Federal, o que ocorreu, por certo, sem qualquer tipo de consentimento da vítima, o Banco. A
fraude, de fato, foi usada para burlar o sistema de proteção e de vigilância do Banco sobre os
valores mantidos sob sua guarda. Configuração do crime de furto qualificado por fraude, e não
estelionato. [...] A consumação do crime de furto ocorre no momento em que o bem é subtraído
da vítima, saindo de sua esfera de disponibilidade. No caso em apreço, o desapossamento que
gerou o prejuízo, embora tenha se efetivado em sistema digital de dados, ocorreu em conta-
corrente da Agência Campo Mourão/PR, que se localiza na cidade de mesmo nome. Aplicação
do art. 70 do Código de Processo Penal. 5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo
Federal de Campo Mourão - SJ/PR. (CC 67.343/GO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 28/03/2007, DJ 11/12/2007, p. 170).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSO PENAL. VEICULAÇÃO NA INTERNET DE


IMAGENS PORNOGRÁFICAS ENVOLVENDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES. COMPETÊNCIA QUE SE
FIRMA PELO LOCAL DA PUBLICAÇÃO ILÍCITA. 1. Conforme entendimento desta Corte, o delito
previsto no art. 241 da Lei 8.069/90 consuma-se no momento da publicação das imagens, ou
seja, aquele em que ocorre o lançamento na Internet das fotografias de conteúdo pornográfico.
É irrelevante, para fins de fixação da competência, o local em que se encontra sediado o
responsável pelo provedor de acesso ao ambiente virtual. 2. Conflito conhecido para determinar
competente o suscitado, Juízo Federal da 1ª Vara Criminal, do Júri e das Execuções Penais da
Seção Judiciária do Estado de São Paulo. (CC 66.981/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 16/02/2009, DJe 05/03/2009).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL E PROCESSUAL PENAL. TORTURA. CRIME COMETIDO FORA


DO TERRITÓRIO NACIONAL POR AGENTES ESTRANGEIROS COM VÍTIMAS BRASILEIRAS.
EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI BRASILEIRA. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE FIXEM A
COMPETÊNCIA FEDERAL. 1. A lei penal brasileira pode ser aplicada ao crime de tortura cometido
no exterior, por agentes estrangeiros, contra vítimas brasileiras, tanto por força do art. 7º, II,
a, § 2º, do Código Penal, como por força do art. 2º, da Lei nº 9.455/97. 2. A competência da
jurisdição federal se dá em caso de crime à distância previsto em tratado internacional, o que
não ocorre quando o crime por inteiro se verifica no estrangeiro. 3. Tampouco se tem provocação
e hipótese de grave violação a direitos humanos, ou danos diretos a bens ou serviços de entes
federais. 4. Conflito conhecido para declarar a competência da Justiça Estadual, ora suscitante.
(CC 107.397/DF, Rel. Min. NEFI CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, j. em 24/09/2014).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. QUEIXA-CRIME. CALÚNIA PRATICADA, EM TESE, POR


JORNALISTA. CARTA PUBLICADA EM BLOG. LEI DE IMPRENSA. NORMA NÃO RECEPCIONADA PELA
CONSTITUIÇÃO DE 1988. ART. 70 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
SUSCITADO. [...] O crime de calúnia (art. 138, caput, do Código Penal) consuma-se no momento
em que os fatos "veiculados chegam ao conhecimento de terceiros" (CC n. 107.088/DF, Relatora
Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 4/6/2010). 3. Tratando-se de queixa-crime que
imputa a prática do crime de calúnia em razão da divulgação de carta em blog, na internet, o
foro para processamento e julgamento da ação é o do lugar de onde partiu a publicação do
texto tido por calunioso. 4. In casu, como o blog em questão está hospedado em servidor de
internet sediado na cidade de São Paulo, é do Juízo da 13ª Vara Criminal dessa comarca a
competência para atuar no feito. 5. Conflito conhecido para declarar competente o suscitado.

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(CC 97.201/RJ, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP),


TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/04/2011, DJe 10/02/2012).

CRIMINAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FALSO TESTEMUNHO. DELITO CONSUMADO NO


MOMENTO EM QUE SE ENCERRA O DEPOIMENTO. INTELIGÊNCIA DO ART. 70 DO CPP.
DEPOIMENTO REALIZADO POR CARTA PRECATÓRIA. IRRELEVÂNCIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE
DIREITO DA 3ª VARA DE REGISTRO/SP. Firma-se a competência, em regra, pelo lugar em que o
delito é consumado, nos termos do art. 70 da Lei Processual Penal. O crime de falso testemunho
consuma-se com o encerramento do depoimento prestado pela testemunha, quando a mesma
profere afirmação falsa, nega ou cala a verdade, razão pela qual, para a sua apuração, sobressai
a competência do Juízo do local onde foi prestado o depoimento, sendo irrelevante o fato de
ter sido realizado por intermédio de carta precatória. Conflito conhecido para se declarar
competente, para o processamento e julgamento do feito, o Juízo de Direito da 3ª Vara de
Registro/SP, o suscitado. (CC 30.309/PR, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
28/11/2001, DJ 11/03/2002, p. 163).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. USO DE PASSAPORTE IDEOLOGICAMENTE FALSIFICADO.


PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. CRIME DE USO ABSORVIDO PELO DE FALSIFICAÇÃO. 1. É de se
reconhecer a ocorrência de consunção, quando o uso do documento falso constitui exaurimento
do crime de falsidade ideológica. 2. O uso de documento falso pelo próprio autor da falsificação
configura um só crime, qual seja, o de falsificação, devendo a competência ser definida pelo
lugar onde este delito se consumou. Precedentes do STF. 3. Conflito conhecido para declarar
competente o Juízo Federal da 9ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais, suscitante.
(CC 31.571/MG, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
13/12/2001, DJ 18/02/2002, p. 233).

PROCESSUAL PENAL. HABEAS-CORPUS. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO E USO DE DOCUMENTO


FALSO. ART. 297, C/C O ART. 304, DO CP. DENÚNCIA. TIPICIDADE. JUSTA CAUSA EVIDENCIADA.
COMPETÊNCIA. DESCONHECIMENTO DO LUGAR DA FALSIFICAÇÃO. FIXAÇÃO PELO LUGAR DO
USO DO DOCUMENTO FALSO. [...] Este Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de
que, desconhecendo-se o lugar da falsificação, deve-se fixar a competência pelo local de uso
do documento falso. - Habeas-corpus denegado. (HC 22.519/MS, Rel. Ministro VICENTE LEAL,
SEXTA TURMA, julgado em 12/12/2002, DJ 17/02/2003, p. 375).

COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA


Seguindo a ordem definida pelo art. 69 do CPP, falamos da competência territorial (referente aos incisos I e
II) e agora trataremos da competência pela natureza da infração, constante do inciso III do mesmo artigo
(ratione materiae). Matéria, evidentemente, tem a ver com a natureza do crime.

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Aqui, importa saber qual a espécie de crime que é objeto da persecução penal, qual a sua natureza, enfim,
para relacionar com o nome, qual a ‘matéria’ criminal. A partir
disso, por correspondência, define-se qual será a ‘justiça’
competente para o processo e julgamento “dentre as quatro Eleitoral

Justiça Criminal
existentes na estrutura do Poder Judiciário do Brasil com especial
competência criminal: Justiça Eleitoral, Justiça Militar, Justiça Militar
Federal e Justiça Estadual, as duas primeiras integrantes da
denominada Jurisdição Especial e, as duas últimas, compondo a Federal
chamada Jurisdição Comum” (Avena, 2020). comum
Estadual
De acordo com as lições de JORGE DE FIGUEIREDO DIAS:

[...] designa-se por competência material aquela parcela de jurisdição que é distribuída às
diferentes espécies de tribunais, tendo em atenção a natureza das causas a resolver; de maneira
que as particularidades decisivas na matéria ou na natureza dos assuntos a tratar correspondam
órgãos jurisdicionais com uma organização e um formalismo que lhes sejam adequados. Trata-
se pois aqui, fundamentalmente, de repartir as causas penais pelas diferentes espécies de
tribunais de 1ª instância (Dias, 1974).

“Esta competência é também chamada de competência de jurisdição ou de justiça. [...] é absoluta, seguindo,
em primeiro lugar, os ditames da Constituição Federal, e, secundariamente, as normas estabelecidas pela
legislação infraconstitucional e pelas Leis de Organização Judiciária” (Campos, 2018).

[...] a distribuição constitucional de competência visa atender aos interesses da otimização do


exercício da jurisdição, com a criação de Justiças especializadas em determinadas matérias, com
o que se pode falar em competência ratione materiae. Normalmente, reserva-se a expressão
Justiça especializada como referência à Justiça Militar, Eleitoral, no âmbito da jurisdição penal,
e à Justiça Trabalhista, em matéria não penal. Fala-se em Justiça Comum quando se quer aludir
à competência da Justiça Estadual e à da Justiça Federal. Entretanto, é bem de ver que qualquer
distinção que se faça entre uma e outra jurisdição somente é explicada em razão das diferentes
matérias atribuídas à competência de cada uma delas. É nesse sentido que nos referimos à
especialização, a dizer que todas, em certa medida, são efetivamente especializadas em
determinadas matérias. Assim, a Justiça Federal, no âmbito criminal, que é o que nos interessa,
é especializada em crimes federais. Não obstante, recebe o tratamento de Justiça Comum, do
mesmo modo que a Justiça Estadual, em razão da técnica utilizada no Código de Processo Penal,
que a coloca em oposição à Justiça Especial. Porém, não há razão alguma para maiores
preocupações em relação a tais questões. O que efetivamente importa é a compreensão do
sentido que se quer atribuir à aludida expressão. Aqui, estamos nos referindo à especialização
apenas no sentido de explicar a repartição constitucional de jurisdição, pelo critério da matéria
(Pacelli, 2018).

1 - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL


A Constituição Federal estabelece quais são os órgãos da Justiça Eleitoral e diz que lei complementar que
deverá dispor sobre a competência:

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Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:

I - o Tribunal Superior Eleitoral;

II - os Tribunais Regionais Eleitorais;

III - os Juízes Eleitorais;

IV - as Juntas Eleitorais. [...]

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes
de direito e das juntas eleitorais.

E qual seria essa lei complementar? O que se deve entender por crime eleitoral, passível de julgamento pela
Justiça Eleitoral?

A resposta deve ser construída – não deve ser diferente – partindo da legislação. Nesse sentido, o Código
Eleitoral (recepcionado pela Constituição Federal como lei complementar quando trata da competência e da
organização da Justiça Eleitoral) assim estabelece:

Art. 35. Compete aos juízes: [...]

II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada a
competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais;

A maioria dos tipos penais eleitorais estão no Código Eleitoral, mas nem todos. Diversas leis posteriores
introduziram outras condutas típicas, tentando adaptar a realidade jurídica às necessidades, peculiaridades
e tecnologias existentes em cada momento histórico. “É o caso, por exemplo, da Lei 6.091, de 15 de agosto
de 1974; da Lei 6.996, de 7 de junho de 1982; da Lei 7.021, de 6 de setembro de 1982; da Lei Complementar
64, de 18 de maio de 1990; e da Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997” (Avena, 2020).

Lançamos uma indagação atual: crime eleitoral é o mesmo que crime político? NÃO. Eis a
fundamentação da resposta, com objetividade, por NORBERTO AVENA:

Não se pode confundir crimes eleitorais com crimes políticos. Os primeiros, como
referimos antes, são aqueles tipificados na legislação eleitoral e que, direta ou
indiretamente, relacionam-se com as votações. Já nos segundos, previstos nos arts.
8º e seguintes da Lei 7.170/1983, enquadram-se as condutas que afetam a segurança nacional e
a ordem política e social, cabendo seu processo e julgamento também à Justiça Federal, agora
por força do art. 109, IV, 1ª parte, da CF (Avena, 2020).

Em complemento, pelo acerto das palavras, vem a lição de RENATO BRASILEIRO:

Embora editado como lei ordinária, o Código Eleitoral (Lei D0 4.737/65) foi recepcionado pela
Constituição Federal como lei complementar, mas tão somente no que tange à organização
judiciária e competência eleitorais, tal qual prevê a Carta Magna (CF, art. 121, caput). Portanto,

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no tocante à definição dos crimes eleitorais, as normas postas no Código Eleitoral mantêm o
status de lei ordinária. A competência criminal da Justiça Eleitoral é fixada em razão da matéria,
cabendo a ela o processo e julgamento dos crimes eleitorais. Mas o que se deve entender por
crimes eleitorais? Como adverte a doutrina, somente são crimes eleitorais os previstos no Código
Eleitoral (v.g., crimes contra a honra, praticados durante a propaganda eleitoral) e os que a lei,
eventual e expressamente, defina como eleitorais. Todos eles referem-se a atentados ao
processo eleitoral, que vai do alistamento do eleitor (ex: falsificação de título de eleitor para fins
eleitorais – art. 348 do Código Eleitoral) até a diplomação dos eleitos. Crime que não esteja no
Código Eleitoral ou que não tenha a expressa definição legal como eleitoral, salvo o caso de
conexão, jamais será de competência da Justiça Eleitoral. A motivação política ou mesmo
eleitoral não é suficiente para definir a competência da Justiça Especial de que estamos tratando.
Da mesma forma, a existência de campanha eleitoral é irrelevante, pois, de per si, não é
suficiente para caracterizar os crimes eleitorais à falta de tipificação legal no Código Eleitoral ou
em leis eleitorais extravagantes. Assim, por exemplo, a prática de um homicídio, ainda que no
período que antecede as eleições, e mesmo que por motivos político-eleitorais, será julgado pelo
Júri comum, porquanto tal delito não é elencado como crime eleitoral.

Ao discorrer sobre a organização dos crimes eleitorais, JOEL JOSÉ CÂNDIDO apresenta a seguinte
classificação: a) crimes contra a organização administrativa da Justiça Eleitoral: arts. 305 e 306;
arts. 310 e 311; art. 318 e 340 do CE; b) crimes contra os serviços da Justiça Eleitoral: arts. 289 a
293; art. 296; arts. 303 e 304; arts. 341 a 347 do CE; art. 11 da Lei n° 6.091/74; art. 45, §§ 9" e 11,
art. 47, § 4", art. 68, § 2", art. 71, § 3", art. 114, parágrafo único e art. 120, §5°, todos do Código
Eleitoral; c) crimes contra a fé pública eleitoral: arts. 313 a 316; arts. 348 a 354 do CE; art. 15 da
Lei n° 6.996/82 e art. 174, § 3°, do Código Eleitoral; d) crimes contra a propaganda eleitoral: arts.
322 a 337 do CE; e) crimes contra o sigilo e o exercício do voto: art. 295; arts. 297 a 302; arts. 307
a 309; art. 317; art. 339 do CE; art. 5º da Lei no 7.021/82; art. 129, parágrafo único e art. 135, §
5°, do Código Eleitoral; f) crimes contra os partidos políticos: arts. 319 a 321; art. 338 do CE e art.
25 da LC 64/90. A simples existência, no Código Eleitoral, de descrição formal de conduta típica
não se traduz, incontinenti, em crime eleitoral, sendo necessário, também, que se configure o
conteúdo material do crime. Sob o aspecto material, deve a conduta atentar contra a liberdade
de exercício dos direitos políticos, vulnerando a regularidade do processo eleitoral e a
legitimidade da vontade popular. Ou seja, a par da existência do tipo penal eleitoral específico,
faz-se necessária, para sua configuração, a existência de violação do bem jurídico que a norma
visa tutelar, intrinsecamente ligado aos valores referentes à liberdade do exercício do voto, à
regularidade do processo eleitoral e à preservação do modelo democrático. Exemplificando,
ainda que conste no Código Eleitoral o crime de destruição de título eleitoral de terceiro (“Art.
339. Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo votos, ou documentos relativos à eleição”), se
restar evidenciado que a conduta fora perpetrada sem guardar qualquer vinculação com pleitos
eleitorais, tendo, na verdade, o intuito exclusivo de impedir a identificação pessoal, não há falar
em crime de competência da Justiça Eleitoral. Havendo infrações conexas de competência da
Justiça Estadual, a Justiça Eleitoral exercerá força atrativa, nos exatos termos do dispositivo
constante do art. 78, inciso IV, do CPP, c/c o art. 35, inciso II, do Código Eleitoral (Lei nº
4.737/65). [...] se discute na doutrina a competência para processar e julgar crime de homicídio
doloso conexo a crime eleitoral. Para SUZANA DE CAMARGO GOMES, “havendo conexão entre crimes
eleitorais e crimes dolosos contra a vida, o julgamento de todos eles está afeto à Justiça Eleitoral,
e não ao Tribunal do Júri. (...) Nesses casos não há que se cogitar nem mesmo a hipótese da

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criação de um Tribunal do Júri de natureza eleitoral, posto que não previsto na lei que define a
organização dessa instituição, nem tampouco na justiça eleitoral. É que não autoriza a lei a
constituição de Tribunal do Júri no âmbito da Justiça Eleitoral [...]”. Uma segunda corrente
(majoritária) sustenta que os crimes eleitorais devem ser julgados pela Justiça Eleitoral,
respeitando-se a previsão constitucional, o que, no entanto, não afeta a competência do Tribunal
do Júri para julgar o crime doloso contra a vida, haja vista não ser esse um crime tipicamente
eleitoral. Como ambas as competências estão previstas na Constituição Federal - a da Justiça
Eleitoral para o processo e julgamento dos crimes eleitorais e a do Tribunal do Júri para o
processo e julgamento dos crimes dolosos contra a vida (CF, art. 5", XXXVIII, ‘d’) - somente a
separação dos processos será capaz de garantir o respeito à competência estabelecida pela
Constituição Federal para ambas as situações. De modo algum seria possível admitir-se que a
conexão, norma de alteração de competência prevista na lei processual penal, pudesse afastar a
competência constitucional do júri e da Justiça Eleitoral (Lima, 2021).

Acerca da conexão de crimes eleitorais e crimes comuns, recentemente, o STF reafirmou


a sua própria jurisprudência no sentido de que é competente a Justiça Eleitoral para o
processamento e julgamento de crimes comuns conexos aos crimes eleitorais (Inquérito
4435). Assentou-se, ainda, que a verificação desse tipo de conexão será incumbência da
própria justiça especializada: havendo conexão, julgará os respectivos crimes; não havendo,
remeterá os autos à Justiça competente.

Nesse sentido já se manifestava AVENA, ressalvada a competência constitucional do Tribunal do Júri:

Ao dispor que à Justiça Eleitoral compete processar e julgar os crimes eleitorais e os crimes
comuns que lhes forem conexos, o art. 35, II, do Código Eleitoral harmoniza-se com a regra do
art. 78, IV, do CPP, quando refere que, nos casos de conexão ou continência, a jurisdição
especial prevalecerá sobre a jurisdição comum, não interessando, quanto a estes, se,
isoladamente, concernem à Justiça Estadual ou à Justiça Federal. A Justiça Eleitoral atrai, enfim,
o julgamento do crime eleitoral e dos que lhe forem conexos, independentemente da natureza.
E se for o caso de crime eleitoral conexo com delito doloso contra a vida? Há divergências, muitos
entendendo no sentido de que, de qualquer modo, a Justiça Eleitoral é prevalente, ressalvando-
se, então, aqui, a competência constitucional do Tribunal do Júri. Não comungamos dessa
orientação e, na esteira da orientação prevalente, entendemos que, nesses casos, deve ocorrer
a cisão, ficando o crime eleitoral a cargo da Justiça Eleitoral e o crime comum afeto ao Tribunal
do Júri (Avena, 2020).

O autor finaliza o tema da competência da Justiça Eleitoral consignando o seguinte:

A Justiça Eleitoral, em sua natureza, classifica-se como uma Justiça Federal. Isso significa que, ao
exercerem funções eleitorais, Juízes e Promotores, por exemplo, são considerados como no
exercício de uma função federal. Logo, encontrando-se nessa condição – a serviço da União,
portanto –, crimes contra eles praticados serão julgados no âmbito da Justiça Federal (ressalvada,
por óbvio, a hipótese de a conduta estar tipificada como crime eleitoral, caso em que a
competência estará afeta à Justiça Eleitoral), ex vi do art. 109, IV, 2ª parte, da CF.

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Perceba-se, finalmente, que a jurisdição criminal na órbita eleitoral pode ser exercida no âmbito
das seguintes instâncias (observadas as regras de competência originária e os pressupostos
recursais de admissibilidade): Juízes Eleitorais, Tribunal Regional Eleitoral, Tribunal Superior
Eleitoral e Supremo Tribunal Federal. Descabe recurso especial das decisões do TRE para o STJ,
mas sim para o TSE. Isto porque, de acordo com o art. 105, III, da CF, o STJ possui competência
para julgar recurso especial apenas contra decisões de Tribunais de Justiça e de Tribunais
Regionais Federais. Enseja-se, contudo, recurso extraordinário para o STF, pois o art. 102, III, da
CF, ao disciplinar esta insurgência, não faz qualquer restrição a respeito (Avena, 2020).

Doutrina complementar

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021): “A competência da
Justiça Eleitoral está prevista no art. 121 da Constituição, cuja redação não é das melhores. Sua
competência, diante da lacunosa previsão constitucional, acaba sendo dada pelo Código
Eleitoral, que prevê ainda quais são os crimes eleitorais. Assim, sempre que tivermos um crime
eleitoral conexo com um crime comum, previsto no Código Penal, a competência para
julgamento de ambos (reunião por força da conexão) será da Justiça Eleitoral (art. 78, IV). Os
únicos crimes em que tal reunião dá ensejo a grande discussão são aqueles de competência do
Tribunal do Júri (previstos no art. 74, § 1º, do CPP), especialmente o de homicídio doloso. Nesses
casos, tem prevalecido atualmente a posição de que, quando o crime eleitoral for conexo com
o homicídio doloso (ou outro de competência do júri), haverá cisão: o crime eleitoral será
julgado na Justiça Eleitoral e o homicídio, no Tribunal do Júri. Isso porque a competência do júri
é constitucional, prevalecendo sobre o disposto em leis ordinárias (como o Código Eleitoral e o
CPP). Em primeiro grau, a Justiça Eleitoral é composta pelos juízes eleitorais, que são, na verdade,
juízes estaduais investidos temporariamente dessa função. Em segundo grau estão os Tribunais
Regionais Eleitorais e, acima deles, o Tribunal Superior Eleitoral”.

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “De início,
quanto à definição do que sejam crimes eleitorais, existem duas correntes: a) há autores que
enquadram os crimes eleitorais entre os comuns, que se distinguem dos crimes de
responsabilidade; b) outros consideram os crimes eleitorais delitos de natureza especial
(juntamente com os crimes militares). Por esse motivo, a competência da Justiça Eleitoral
excluiria a possibilidade de que os crimes eleitorais fossem julgados pelas outras ‘justiças’. A Lei
n. 4.737/65 (Código Eleitoral), em seu art. 35, II, confere aos juízes eleitorais a competência para
processar e julgar os crimes eleitorais e, também, os crimes comuns que lhes forem conexos,
ressalvada a competência do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais. Na hipótese de
concurso de competências, portanto, prevalece a competência da Justiça Eleitoral em
detrimento da competência dos demais órgãos judiciários (art. 78, IV, do Código de Processo
Penal). Dúvida exsurge, entretanto, na hipótese em que ocorra concurso entre crime eleitoral e
crime doloso contra a vida, já que a competência do Tribunal do Júri é fixada em sede
constitucional. Parte da doutrina entende que, nesse caso, a competência da Justiça Eleitoral se
prorroga, tornando-se esse órgão, excepcionalmente, competente para o julgamento do crime
doloso contra a vida conexo a um crime eleitoral. Segundo essa corrente, constituir-se-ia aí,
portanto, uma exceção constitucional à competência do Tribunal do Júri. Em sentido contrário,
há quem entenda que nessa hipótese à Justiça Eleitoral caberá processar e julgar tão somente o

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crime eleitoral, competindo ao Tribunal do Júri julgar o crime doloso contra a vida, em respeito
ao art. 5º, XXXVIII, d, da Constituição”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “São
crimes eleitorais somente os definidos na lei eleitoral, ou seja, os crimes eleitorais ratione legis.
São crimes que ferem bens jurídicos alusivos ao pleito eleitoral e que estão dispostos, em regra,
no Código Eleitoral ou em lei que o defina como eleitoral. A Justiça Eleitoral tem competência
para julgar os delitos eleitorais, mas também infrações penais comuns que lhe sejam conexas.
[...] É irrelevante, para a configuração da competência dessa Justiça Especializada, o fato de haver
motivação política ou de ter sido o crime praticado em época de campanha eleitoral”. Se a
infração eleitoral ou aquela comum que lhe seja conexa estiver dentro do patamar de menor
potencial ofensivo, admite-se a aplicação dos institutos despenalizadores da Lei nº 9.099/95,
como a composição civil (art. 74) e a transação penal (art. 76), dentro do respectivo
procedimento eleitoral. É também cabível a suspensão condicional do processo, que tem
aplicação aos delitos com pena mínima de até um ano (art. 89)”.

FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (Processo penal, vol. 2, 32ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010), a
respeito da estrutura da Justiça Eleitoral, aduz: “São Órgãos Jurisdicionais da Justiça Eleitoral: o
Tribunal Superior Eleitoral, que é seu órgão de cúpula, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Juízes
eleitorais. Cada Estado-Membro está dividido em pequenas circunscrições territoriais que, de
regra, coincidem com as ‘comarcas’, chamadas zonas eleitorais. Conforme vimos anteriormente,
os Juízes eleitorais são os próprios Juízes de Direito (da Justiça Comum Estadual). Sempre foi
assim. A propósito, o § 7º do art. 82 da Carta de 1934: “Cabem a juízes locais vitalícios, nos termos
da lei, as funções de juízes eleitorais, com jurisdição plena”. Assim também o art. 117 da Carta
de 1946: ‘Compete aos juízes de direito exercer, com jurisdição plena e na forma da lei, as
funções de juízes eleitorais’. Em cada zona eleitoral haverá um Juiz eleitoral. Se na zona eleitoral
houver mais de uma Vara, o Tribunal Regional designará um dos Juízes, ou mais de um, para
exercer as funções jurisdicionais eleitorais. Por outro lado, na Capital de cada Estado haverá um
Tribunal Regional Eleitoral que funciona como órgão de 2º grau com jurisdição em todo o
território estadual”.

2 - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO


De um modo geral, a competência da Justiça do Trabalho está prevista no art. 114 da Constituição Federal
e, segundo adverte BRASILEIRO, até a Emenda Constitucional nº 45, de 2004, não envolvia nenhum tipo de
matéria criminal. “Assim, caso uma prisão civil de depositário infiel fosse decretada por um juiz do trabalho,
em execução de sentença trabalhista, eventual habeas corpus deveria ser processado e julgado pelo
respectivo Tribunal Regional Federal, nos termos do art. 108, I, "a", da Constituição Federal” (Lima, 2021).

A referida Emenda Constitucional, no que pertinente à matéria criminal, deixou dessa forma a competência
da Justiça do Trabalho:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...]

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IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver
matéria sujeita à sua jurisdição;

Cuida-se de uma competência em matéria criminal muito restrita e pontual; não para julgar crimes de um
modo geral, mas sim para apreciar ação autônoma defensiva que questiona ato coator que envolva matéria
trabalhista.

Aliás, em razão dessa competência muito restrita e específica, muitos autores continuam sustentando que a
Justiça do Trabalho não tem competência criminal.

Assim é que os juízes do trabalho não têm jurisdição penal genérica, para processar e julgar ações penais,
mesmo que digam respeito a temas das relações trabalhistas. Isso foi definido pelo próprio Supremo Tribunal
Federal, na ADI 3684:

EMENTA: COMPETÊNCIA CRIMINAL. Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento.


Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação conforme dada ao art. 114, incs. I, IV e IX,
da CF, acrescidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida com
efeito ex tunc. O disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos
pela Emenda Constitucional nº 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para
processar e julgar ações penais. (ADI 3684 MC, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno,
julgado em 01/02/2007)

NORBERTO AVENA sintetiza:

A competência da Justiça do Trabalho está afeta, basicamente, a questões atinentes às relações


de trabalho, conforme previsão do art. 114 da CF. A Constituição Federal não atribuiu aos órgãos
da Justiça do Trabalho competência penal. Assim, constatada no âmbito da Justiça Trabalhista a
ocorrência de delitos contra a organização do trabalho, deverão estes ser comunicados à
autoridade policial ou ao Ministério Público para a respectiva apuração. Quanto à competência
para o processo e julgamento desta ordem de crimes, a jurisprudência contemporânea do STJ
ainda se baseia na Súmula 115 do extinto Tribunal Federal de Recursos, dispondo que “compete
à Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a organização do trabalho, quando tenham
por objeto a organização geral do trabalho ou direito dos trabalhadores considerados
coletivamente”. Logo, se houver apenas a infringência dos direitos individuais de trabalhadores,
inexistindo violação de sistema de órgãos e instituições destinadas a preservar a coletividade
trabalhista, ter-se-á como afastada a competência da Justiça Federal, definindo-se a competência
da Justiça Estadual para o respectivo processo e julgamento (Avena, 2020).

Não se deve esquecer, como leciona BRASILEIRO, que “um juiz de direito também pode exercer competência
trabalhista, ex vi do art. 112 da Constituição Federal. Logo, da mesma forma que o habeas corpus contra juiz
do trabalho está afeto ao respectivo Tribunal Regional do Trabalho, a este Tribunal também caberá o
julgamento do writ, se, e somente se, o ato questionado do juiz de direito estiver relacionado ao exercício
de competência da Justiça do Trabalho” (Lima, 2021).

Doutrina complementar

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Eugenio Pacelli & Douglas Fischer (Comentários ao código de processo penal e sua
jurisprudência, 13ª ed., São Paulo: Atlas, 2021) “Noutras palavras, todas as questões envolvendo
crimes (aí insertos os habeas corpus) que atinjam diretamente bens, serviços ou interesses da
Justiça Trabalhista deverão ser processadas perante a Justiça Federal em primeiro grau
(ressalvados unicamente os delitos em que os seus autores tenham o chamado foro por
prerrogativa de função, situações em que deverá ser observada a regra ratione muneris). Extrai-
se daí que a única hipótese em que os Tribunais do Trabalho poderiam apreciar habeas corpus
serão aquelas em que o writ seja apresentado contra decisão que prive ou ameace de privação
a liberdade exarada por Juiz do Trabalho e relacionada com questões civis, notadamente a prisão
(ou ameaça de) por depósito infiel. Entretanto, como já referido alhures, o Supremo Tribunal
Federal (posteriormente ao que decidido na ADI nº 3.684-DF) assentou ser inconstitucional a
privação de liberdade do depositário infiel (vide Recurso Extraordinário nº 463.343-SP, Rel. Min.
Cezar Peluso, Plenário, julgado em 3.12.2008, publicado no DJ em 5.6.2009). É importante referir
que, antes mesmo dessa novel disposição constitucional, muitos regimentos internos de
Tribunais Regionais do Trabalho dispunham ser de suas competências o julgamento de todos os
habeas corpus apresentados contra ato de Juízes do Trabalho. Com todas as vênias, nada mais
precisa ser aditado para se ver que esses dispositivos regimentais eram e são manifestamente
contrários à Constituição, mesmo antes da EC nº 45/2004, pois habeas corpus impetrados contra
atos de Juiz Federal, Juízes Militares Federais e Juízes do Trabalho (art. 108, I, a, CF), se
envolverem questões de natureza penal, serão sempre de competência do respectivo Tribunal
Regional Federal”.

3 - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR


Ainda dentro daquilo que se compreende como Justiça ‘Especializada’, agora trataremos da competência da
Justiça Militar.

Temos duas ‘modalidades’ de Justiça Militar no nosso país, a Federal e a Estadual; tanto uma quanto outra,
genericamente falando, tem competência exclusiva para o julgamento de crimes militares que sejam
definidos em lei. Eis a previsão constitucional:

Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.

Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça


Militar.

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a
perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

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Dizer que compete à Justiça Militar processar e julgar crimes militares não representa nada se não definirmos
o que seja, propriamente, crime militar. A definição vem do Código Penal Militar, artigo 9º (em tempo de
paz) e artigo 10 (em tempo de guerra), que contém vários dispositivos – exigindo interpretação.

NORBERTO AVENA sustentava (obra de 2017) que a caracterização de uma conduta como crime militar
condicionava-se à observância de dois requisitos:

Primeiro: Tipificação no Código Penal Militar [*requisito superado]. Não importa se o


comportamento configura crime militar propriamente dito, assim compreendida a conduta
prevista com exclusividade na legislação militar (v.g., a deserção – art. 187, CPM; o abandono de
posto – art. 195, CPM etc.) ou crime militar impróprio, abrangendo-se aqui as condutas que
também são consideradas criminosas em outro diploma (v.g., estupro – art. 232, CPM; roubo –
art. 242, CPM etc.). De qualquer forma, se não estiver contemplada como crime no CPM, a prática
não poderá ser considerada um crime militar, subtraindo-se definitivamente da competência da
Justiça Militar Estadual. [...] Segundo: Enquadramento da conduta no art. 9º do CPM, dispositivo
este que define o que se consideram crimes militares em tempo de paz.

Todavia, a Lei 13.491, publicada em 16/10/2017, fez relevantes alterações e acréscimos no Código Penal
Militar, com reflexos imediatos na competência, ampliando-a significativamente.

Essa nova Lei aumentou o rol dos crimes militares e, na visão de RONALDO JOÃO ROTH, trouxe uma nova
categoria de crimes militares, os crimes militares por extensão:

Ao lado da tradicional classificação dos crimes propriamente militares (aqueles previstos


exclusivamente no CPM), contemplada na CF (art. 5º, LXI, in fine) e no CP (art. 64, II), e dos crimes
impropriamente militares (aqueles que possuem igual definição no Código Penal Comum), a
referida Lei agora instituiu os crimes militares por extensão (aqueles previstos exclusivamente
na legislação penal comum, isto é, no Código Penal (CP) e na legislação extravagante).

Conforme estabelece a Constituição Federal, crime militar é aquele definido por lei (arts. 5º, LXI,
124 e 125, §4º), ou seja, como diz JORGE CESAR DE ASSIS, lembrando as lições do Professor IVO
D’AQUINO, “o legislador adotou o critério ratione legis; isto é, ‘crime militar’, é o que a lei
considera como tal. Não define: enumera. Não quer dizer que não se haja cogitado dos critérios
doutrinários ratione persone, ratione loci, ou ratione numeris. Apenas não estão expressos. Mas
o estudo do art. 9º do Código revela que, na realidade, estão todos ali contidos.”

Na lição de JORGE ALBERTO ROMEIRO crime militar é o que a lei define como tal. Para ÁLVARO
MAYRINK DA COSTA “a expressão delitos militares do preceito constitucional quer dizer, pura e
simplesmente, crimes dessa natureza, previstos e colhidos pela legislação militar.” Como leciona
JOSÉ CRETELLA JR., citando o voto do Ministro PAULO BROSSARD, do STF, “crime militar é somente
aquele que a lei militar, que é o Código Penal Militar, define como tal. O delito penal é típico e
todo conceito de qualquer figura iuris militar deve partir do Direito positivo. Crime militar é
aquele que o Código Penal define como tal. Nem mais, nem menos”, e ainda: “crime militar não
se confunde, assim, com crime de militar.”

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Como já dissemos outrora, “a caracterização do crime militar não depende da motivação da


conduta do agente, bastando, apenas, por imposição legal, o preenchimento de requisitos
objetivos no caso concreto (circunstâncias taxativamente descritas pelo legislador quando o
agente pratica o crime, como estar na ativa quando o crime é praticado contra outro militar na
mesma situação; ser praticado por militar da ativa no interior do quartel; estar de serviço etc.; e
o fato delituoso estar tipificado na Lei Penal Militar)”. Daí que para se rotular o crime como de
natureza militar há necessidade de o tipo penal - previsto no CPM e agora também aqueles
previstos em legislação penal comum (Lei 13.491/17) -, estar subsumido à uma das hipóteses
contidas no artigo 9º, inciso II, do CPM. Só assim, poder-se-á falar em caracterização do crime
militar de competência exclusiva da Justiça Militar.

Precedente do Supremo Tribunal Federal retrata bem o critério a ser observado para a definição do que seja
crime militar:

A competência penal da Justiça Militar da União não se limita, apenas, aos integrantes das Forças
Armadas nem se define, por isso mesmo, “ratione personae”. É aferível, objetivamente, a partir
da subsunção do comportamento do agente – de qualquer agente, mesmo o civil, ainda que em
tempo de paz – ao preceito primário incriminador consubstanciado nos tipos penais definidos
em lei (o Código Penal Militar). – O foro especial da Justiça Militar da União não existe para os
crimes dos militares, mas, sim, para os delitos militares, “tout court”. E o crime militar,
comissível por agente militar ou, até mesmo, por civil, só existe quando o autor procede e atua
nas circunstâncias taxativamente referidas pelo art. 9º do Código Penal Militar, que prevê a
possibilidade jurídica de configuração de delito castrense eventualmente praticado por civil,
mesmo em tempo de paz. (HC 110185, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma,
julgado em 14/05/2013)

É correto consignar, conforme ROTH, que a “Justiça Militar existe para conhecer dos crimes militares e não
os crimes dos militares”. Crimes militares são aqueles definidos no Código Penal Militar, in verbis:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou
nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou


assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar,


contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou


em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva,
ou reformado, ou civil;

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d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou


reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração


militar, ou a ordem administrativa militar;

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições
militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II,
nos seguintes casos:

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou


assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de
função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação,


exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza
militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública,
administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência
a determinação legal superior. [...]

A nova Lei acaba com a ideia de que crimes militares serão somente aqueles com tipificação no Código Penal
Militar. Aquele primeiro requisito (antes transcrito), trazido da obra de NORBERTO AVENA, não é mais
necessário; ou seja (e até sendo redundante), para que uma conduta seja considerada crime militar não é
mais necessário que tenha sua tipicidade prevista no Código Penal Militar, basta que se enquadre na
caracterização nele constante, de acordo com as circunstâncias nele apresentadas.

Quer saber se uma determinada conduta típica é crime militar? Então veja se ela se enquadra em uma das
disposições/situações do art. 9º do Código Penal Militar – critério objetivo da lei, taxativo, observando-se a
segurança jurídica. Não há razão para avaliar critérios subjetivos, como a motivação e o interesse militar.
Não há se confundir crime militar com crime comum, como também não há se confundir crime político com
crime eleitoral - a exigência de motivação do crime recai tão somente no crime político.

A maior inovação da Lei 13.491 operou-se em relação ao inciso II do art. 9º do CPM, norma
que estende a caracterização dos crimes militares também para aqueles previstos na
legislação penal (comum), nas situações que especifica. Assim é que crimes até então tidos
por comuns, com previsão típica no Código Penal e em leis penais não militares, hoje (desde
16/10/2017) podem ser considerados militares, se praticados, por exemplo, por militar em
serviço ou atuando em razão da função (art. 9º, II, ‘c’), ou em lugar sujeito à administração
militar (art. 9º, II, ‘b’).

Na lição de ROTH:

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Ao alterar a redação do art. 9º do CPM, a Lei 13.491/17 alargou a definição de crime militar para
albergar figuras típicas inexistentes no CPM, mas existentes na legislação penal comum, quando
praticados pelos militares federais e por civis quando se trata da competência da Justiça Militar
da União (JMU) e pelos militares estaduais, no âmbito da competência da Justiça Militar Estadual
(JME), numa das hipóteses do inciso II do art. 9º do CPM. De todas as hipóteses previstas no
inciso II do art. 9º do CPM, a de maior incidência é aquela praticada pelo militar em serviço ou
em razão da função, porquanto são as situações em que o militar pratica um fato típico
penalmente no exercício de sua atribuição constitucional e legal, cuja apuração dos fatos deve
ser realizada pela Polícia Judiciária Militar que tem atribuição constitucional para tanto (art. 144,
§ 4º, in fine) e o processo e julgamento será realizado perante a JMU (art. 124, CF), ou perante a
JME (art. 125, § 4º, CF).

Agora, com a novel Lei, além dos crimes previstos no CPM, também os delitos previstos na
legislação penal comum - como por exemplo, abuso de autoridade, tortura, disparo de arma de
fogo e outros crimes previstos no Estatuto do Desarmamento, homicídio culposo ou lesões
corporais culposas na direção de veículo automotor e outros crimes previstos no Código de
Trânsito Brasileiro, crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, na Lei de Licitações
etc. -, quando praticado pelo militar numa das hipóteses do inciso II do art. 9º do CPM, são,
desde a publicação da Lei 13.491 de 16.10.17, considerados crimes militares. [...]

Agora, até mesmo o delito de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio (art. 122, CP), não
previsto no CPM, se ocorrido entre militares, por força da nova redação do inciso II do artigo 9º,
que engloba também os crimes previstos na legislação comum, conjugando-se com a alínea “a”
do citado dispositivo penal, será um crime militar e, portanto, de competência da JMU ou da JME,
conforme o jurisdicionado. Em relação ao crime militar de entorpecente que vincula sua prática
ao lugar sob administração militar (art. 290, CPM), algumas condutas nele tipificadas, como
“importar” e “exportar”, mas previstos no art. 33 da Lei 11.343/06 (Lei de Drogas), se praticados
numa das hipóteses do inciso II do art. 9º do CPM, serão crimes militares, bem como todas as
outras condutas típicas previstas naquela Lei de Drogas quando estas sejam praticadas (art. 9º,
inciso II, alínea “c”, do CPM). Nestes casos, o agente será submetido à pena de 5 a 15 anos de
reclusão, bem superior àquela prevista para outras modalidades de tráfico de entorpecentes
previstas no CPM (1 a 5 anos de reclusão).

Os exemplos acima já nos revelam a dimensão do quanto a competência das Justiças Militares –
da União (JMU) e dos Estados (JME) -, foi ampliada, de forma que, agora, as instituições militares
por seus mecanismos de prevenção e repressão ao crime, em especial de seus integrantes, serão
mais atuantes na repressão dos crimes militares, pois se o militar vier a praticar crime militar -
não só os já previstos no CPM, mas também os crimes militares por extensão -, será incumbência
da Polícia Judiciária Militar (PJM - arts. 7º e 8º do Código de Processo Penal Militar (CPPM), por
meio do IPM (art. 9º a 28 CPPM) ou do Auto de Prisão em Flagrante Delito Militar (APFD - art.
243 a 251, CPPM), reprimir o crime exercendo a persecução penal, na fase da polícia,
correspondentemente, tudo com amparo constitucional (art. 144, § 4º, in fine). Frise-se, mais
uma vez, que quaisquer dos crimes acima, só serão considerados crimes militares por extensão,
se, e somente se, preenchidas uma das circunstâncias do artigo 9º, inciso II, alíneas “a, b, c, d ou
e”, do CPM, caso contrário continuarão considerados crimes comuns. Exemplo: Se um menor de
14 anos for obrigado a praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso (art. 217-A, CP), por ação

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de um militar, em hora de folga e fora do quartel, tratar-se-á de crime comum; se houver uma
pesca, em período de defeso, por um militar de folga e fora de local sob administração militar
(art. 34 da Lei 9.605/98), será um crime comum. Em consequência, é de se reconhecer, também,
que das novas figuras de crime militar (crimes militares por extensão), algumas são consideradas
crimes hediondos na forma da Lei 8.072/90, logo, teremos, ainda que de forma diminuta, em
alguns poucos crimes militares por extensão, uma subcategoria de crimes militares hediondos,
desde que praticadas numa das hipóteses do art. 9º, inciso II, do CPM, tais como estupro de
vulnerável (art. 217-A do CP), favorecimento a prostituição (art. 218-B, caput, §§ 1º e 2º) etc., o
que implicará e possibilitará uma série de efeitos penais e processuais, dentre eles, o
cumprimento da pena em regime inicialmente fechado, a progressão do regime prisional mais
severa, prisão temporária com prazo de trinta dias, prorrogáveis por mais trinta dias etc.6

Arremata o mesmo autor que ao “ampliar o rol de crimes militares, abarcando também os crimes
exclusivamente previstos na legislação comum (crimes militares por extensão), mas que se tornam militares
em face da tipicidade indireta das alíneas do inciso II do art. 9º do CPM, reflexamente promoveu a ampliação
da competência da Justiça Militar para essa nova categoria de crimes militares”.

RENATO BRASILEIRO faz a ressalva de que não será todo e qualquer crime previsto na legislação especial que
será considerado militar, acaso praticado nas condições do art. 9º, II (parte final) do CPM. Na visão do autor,
deve prevalecer a norma especial:

Ao fazer referência aos crimes previstos na legislação penal, o art. 9º, inciso II, in fine, do CPM,
não faz qualquer ressalva. Poder-se-ia concluir, então, que todo e qualquer crime previsto na
legislação penal será considerado crime militar, ainda que referida competência seja outorgada
a outra Justiça por norma constitucional ou por outra lei ordinária. Com tal assertiva não
podemos concordar. A uma porque, como espécie de lei ordinária, a Lei n. 13.491/17 não pode
se sobrepor à Constituição Federal no tocante à fixação de competência. A título de exemplo, se
a Constituição Federal dispõe que à Justiça Eleitoral compete o processo o julgamento dos crimes
eleitorais (CF, art. 121), é de todo evidente que o fato de um crime eleitoral ser praticado por
militar em serviço jamais terá o condão de atrair tal competência para a Justiça Militar. A duas
porque a Lei nº 13.491/17 e o Código Penal Militar hão de ser tratados como normas gerais em
relação à competência. Logo, se a própria legislação especial em questão outorgar a competência
para o processo e julgamento dos crimes nela previstos à outra Justiça, parece-nos indevido o
deslocamento da competência para a Justiça Militar.

Enfim, eventual norma especial sobre competência prevista na própria legislação penal deve
prevalecer sobre a norma geral leia-se, ao Código Penal Militar. É o que ocorre, por exemplo,
com os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Se a própria Lei n. 7.492/86 (art. 26) dispõe
que recai sobre a Justiça Federal a competência para o processo e julgamento de tais delitos, o
que faz com base no permissivo do art. 109, VI, da Constituição Federal, é de se concluir que tal

6
https://www.observatoriodajusticamilitar.info/single-post/2018/01/20/Os-delitos-militares-por-extens%C3%A3o-e-a-nova-
compet%C3%AAncia-da-justi%C3%A7a-militar-Lei-1349117

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dispositivo funciona como norma especial sobre o art. 9º, inciso II, do CPM. Destarte, sem
embargo de opiniões em sentido contrário, a leitura mais adequada do inciso II do art. 9º do CPM
deve ser a seguinte: “os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, mas
desde que não haja previsão constitucional e/ou legal outorgando referida competência à outra
Justiça, quando praticados:” (Lima, 2021).

3.1 - Crimes dolosos contra a vida praticados por militares contra civis

Eis o que, atualmente, estabelece o Código Penal Militar (art. 9º):

§ 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri.

§ 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados
no contexto:

I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou


pelo Ministro de Estado da Defesa;

II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não
beligerante; ou

III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de


atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição
Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;

b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;

c) Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e

d) Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.

Há se perceber a distinção operada pela lei no que se refere ao crime doloso contra a vida cometidos por
militares contra civis: se o agente for militar das Forças Armadas, em determinados contextos (bastante
abrangentes), a competência será da Justiça Militar da União; ao contrário, nos demais casos, em especial
de agente militar estadual, a competência será do Tribunal do Júri.

Significa dizer que a lei criou um tratamento diferenciado conforme o militar seja estadual ou
membro das forças armadas. O policial militar estadual – em atividade – que cometa crime
doloso contra a vida de civil, segue sendo julgado no tribunal do júri. A nova lei atinge apenas os
militares das forças armadas que, nas chamadas “missões de garantia da lei e da ordem”,
cometam crimes dolosos contra a vida de civis. Neste caso, eles serão julgados na justiça militar
da União e não no tribunal do júri. É verdade que parte da doutrina e inclusive da jurisprudência

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do STM já sustentavam que a competência do júri só se aplicaria à justiça militar estadual,


fazendo uma leitura literal e restritiva do art. 125, § 4º, da Constituição. Contudo, também é
verdade que esse desvio de função das forças armadas, para exercerem um policiamento urbano
a la carte, é algo novo, posterior à mudança do Texto Constitucional. A aplicação por analogia
(ou interpretação extensiva se preferir) do art. 125, § 4º, da CF aos militares das forças armadas,
diante dessa nova situação, também seria plenamente sustentável. Mas, agora, a nova Lei veio
para enfrentar o problema e tomar uma clara posição (na contramão do caminho já construído,
repetimos) no sentido de que o militar das forças armadas que nas operações de garantia da lei
e da ordem (leia-se: cláusula genérica, vaga e imprecisa) cometer crime doloso contra a vida de
civil, será processado e julgado na justiça militar da União. Já o policial militar estadual,
permanece sendo julgado no tribunal do júri. Eis aqui mais um ponto polêmico: cria-se uma clara
diferenciação no tratamento dos militares agindo em idêntica situação. E se, em uma operação
conjunta, um policial militar estadual e um membro das forças armadas cometerem um crime
doloso contra a vida de um civil em uma abordagem, como ficará o processo e o julgamento?
Haverá cisão, pois o militar estadual será julgado na justiça comum estadual, no tribunal do júri;
e o militar das forças armadas, será julgado na justiça militar federal (Júnior, 2021).

A competência do Tribunal do Júri nos casos dos militares dos Estados encontra guarida na própria
Constituição Federal, que excepciona, de forma expressa, essa espécie de infração penal no art. 125:

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a
perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

Importante perceber que o art. 90, § 20, do CPM, incluído pela Lei n. 13.491/17, outorga essa
competência para o processo e julgamento de crimes dolosos contra a vida cometidos por
militares contra civis exclusivamente à Justiça Militar da União. E nem poderia ser diferente, sob
pena de manifesta inconstitucionalidade. Afinal, ao tratar da competência da Justiça Militar
Estadual, a própria Constituição Federal já ressalva a competência do Júri quando a vítima for
civil (art. 125, § 40). Por isso, o novel dispositivo do CPM faz referência apenas à Justiça Militar
da União e aos militares das Forças Armadas. Aliás, mesmo que um crime doloso contra a vida
de civil seja cometido em coautoria por um militar do Exército e outro da Polícia Militar em
serviço — como, por exemplo, durante uma atuação conjunta da Força Nacional de Segurança -,
a separação dos feitos será de rigor. Aquele será julgado pela Justiça Militar da União; este pelo
Tribunal do Júri. A uma porque a Constituição Federal é explícita ao ressalvar a competência do
júri em relação aos militares estaduais. A duas porque o art. 90, § 20, do CPM, incluído pela Lei n.
13.491/17, é categórico ao conferir essa competência apenas em relação aos militares das Forças
Armadas. A outorga dessa nova competência à Justiça Militar da União para o processo e
julgamento de crimes dolosos contra a vida cometidos por militares das Forças Armadas contra
civis não se revela incompatível com a competência constitucional do Júri. Por mais que a
Constituição Federal atribua ao Tribunal do Júri a competência para o processo e julgamento dos
crimes dolosos contra a vida (CF, art. 50, XXXVIII, "d"), essa mesma Constituição também dispõe
que compete à Justiça Militar da União o julgamento dos crimes militares definidos em lei (art.
124, caput). Logo, por força do princípio da especialidade, se a Lei n. 13.491/17 optou por
outorgar essa competência à Justiça Castrense Federal, não há falar em inconstitucionalidade

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por tal motivo. De mais a mais, como exposto anteriormente, diversamente do que ocorre em
relação à Justiça Militar Estadual (CF, art. 125, § 40), ao tratar da competência da Justiça Militar
da União, a Constituição Federal não faz nenhuma ressalva quanto à competência do júri quando
a vítima for civil. A Lei n. 13.491/17 não instituiu um Tribunal do Júri no âmbito da Justiça Militar
da União. Na verdade, se o crime doloso contra a vida cometido por militar das Forças Armadas
contra civil for cometido num dos contextos elencados nos incisos do § 20 do art. 90 do CPM, tal
delito continuará sendo julgado por um Conselho de Justiça (Permanente ou Especial). A nosso
juízo, nada impede a criação de um Tribunal do Júri Militar. Porém, para tanto, há necessidade
de alteração legislativa. Afinal de contas, é a própria Constituição Federal que reconhece a
instituição do júri, com a organização que lhe der a lei (art. 50, XXXVIII). Diversamente da Justiça
Estadual (CPP, arts. 406 a 497) e da Justiça Federal (art. 40 do Dec. Lei n. 253/67), a organização
do Júri no âmbito da Justiça Militar não foi objeto de organização pela Lei n. 13.491/17. Logo,
não se pode concluir que a outorga de competência para o processo e julgamento de crimes
dolosos contra a vida tenha o condão de suprir tal lacuna (Lima, 2021).

3.2 - Justiça Militar da União e dos Estados

Quanto à competência criminal, como dito, ambas atuam somente em relação aos crimes militares, embora
tenham uma organização judiciária diferenciada. Justiça Militar estadual, em relação aos militares dos
Estados, nos termos do art. 125, § 4º da Constituição Federal.

Diante dessa específica competência, em havendo conexão de crime militar com crime comum deve se
operar a separação dos processos, nos termos do CPP:

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:

I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

Nesse sentido a Súmula nº 90 do STJ: compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar
pela prática do crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.

Ainda em relação à distinção entre as duas Justiças Militares no tocante à competência criminal,
é de todo conveniente destacar que a Justiça Militar Estadual não tem competência para o
processo e julgamento de eventual crime doloso contra a vida cometido por militar estadual,
ainda que em serviço, contra civis. É nesse sentido, aliás, o art. 125, § 4º, da Constituição Federal,
com redação determinada pela EC n. 45/04, segundo o qual compete à Justiça Militar Estadual
processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for
civil.

Em sentido diverso, ao tratar da competência da Justiça Militar da União, o art. 124 da Carta
Magna não contempla ressalva semelhante. Não por outro motivo, a Lei n. 13.491/17 deliberou
por ampliar a competência da Justiça Militar da União para o processo e julgamento de crimes
dolosos contra a vida cometidos por militares das Forças Armadas contra civis (Lima, 2021).

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Sintetizando algumas questões relevantes, mas sem o aprofundamento que seria mais apropriado no estudo
do processo penal militar, trazemos um quadro comparativo, de autoria de RENATO BRASILEIRO (2021), entre a
Justiça Militar da União e a Justiça Militar Estadual:

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL


1. Competência criminal: crimes militares. Com o 1. Competência criminal: crimes militares. Com o
advento da Lei n. 13.491/17, consideram-se crimes advento da Lei n. 13.491/17, consideram-se crimes
militares não apenas os crimes previstos no Código militares não apenas os crimes previstos no Código
Penal Militar, mas também os previstos na Penal Militar, mas também os previstos na
legislação penal; legislação penal;
1.1. Não tem competência para o processo e
1.1. Tem competência para o processo e julgamento
julgamento de crimes dolosos contra a vida
de crimes dolosos contra a vida cometidos por
cometidos por militares estaduais, ainda que em
militares das Forças Armadas contra civis (CPM, art.
serviço, contra civis (Constituição Federal, art. 125,
9º, § 2º, incluído pela Lei n. 13.491/17);
§ 4º);
2. Competência cível: não tem competência para o 2. Competência cível: é dotada de competência
processo e julgamento de ações judiciais contra atos para o processo e julgamento de ações judiciais
disciplinares Militares; contra atos disciplinares militares;
3. Acusado: pode processar e julgar tanto civis 3. Acusado: pode processar e julgar somente os
quanto militares; militares dos Estados;
4. Critério de fixação da competência: competência
4. Critério de fixação da competência: competência ratione materiae (crimes militares + ações judiciais
ratione materiae (crimes militares); contra atos disciplinares militares) e ratione
personae (militares dos Estados);
5. Órgãos jurisdicionais de 1ª instância:
a) Juízes Federais da Justiça Militar: têm 5. Órgãos jurisdicionais de 1ª instância:
competência monocrática para o processo e a) juiz de Direito do Juízo Militar: julga,
julgamento de civis, e militares, quando estes forem monocraticamente, os crimes militares cometidos
acusados juntamente com aqueles no mesmo contra civis e as ações judiciais contra atos
processo; disciplinares militares;
b) Conselhos Especial e Permanente de Justiça: b) Conselhos Especial e Permanente de Justiça:
julgam os crimes militares praticados apenas por julgam os demais crimes militares;
militares federais;
6. Presidência dos Conselhos de Justiça: Juiz 6. Presidência dos Conselhos de Justiça: Juiz de
Federal da Justiça Militar; Direito do Juízo Militar;
7. Órgão jurisdicional de 2ª instância: Tribunal de
7. Órgão jurisdicional de 2ª instância: Superior Justiça Militar, nos estados de Minas Gerais, São
Tribunal Militar. Paulo e Rio Grande do Sul; Tribunal de Justiça do
Estado, nos demais estados da Federação.

Por outro lado, com olhos no inciso III do art. 9º do CPM, é importante notar que mesmo uma pessoa comum,
um civil, pode ser julgado pela Justiça Militar da União, mas não pela Justiça Militar do Estado. Essa distinção
começa pela Constituição Federal, art. 125:

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei [...].

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A própria Constituição restringiu a competência da Justiça Militar estadual para os militares (dos Estados),
de maneira que qualquer norma que a ampliasse para os civis seria inconstitucional. A situação é diferente
para a Justiça Militar da União, para a qual (art. 124 da Constituição Federal) não se faz essa restrição, falando
apenas em crimes militares.

AURY LOPES JR. levanta um questionamento importante: pode um civil ser julgado pela Justiça Militar Federal?

Antes da Constituição de 1988 não havia essa possibilidade, porque era adotado um critério
objetivo e subjetivo (exigia-se que o agente fosse militar e tivesse praticado um crime militar).
Após a Constituição de 1988 a situação mudou, num grave retrocesso por vacilo do legislador
constituinte. Como o art. 124 da Constituição remete para “crimes militares definidos em lei”,
acaba por transferir para o art. 9º, III do Código Penal Militar a definição da matéria e pessoa, e
como o art. 9º prevê a possibilidade de um civil cometer um crime militar, a resposta agora é:
sim, pode um civil ser julgado na Justiça Militar da União, desde que presentes as situações
previstas no art. 9º do CPM. Exemplo: um grupo de pescadores foi surpreendido dentro de uma
área militar (exército). Foram julgados e condenados pela Justiça Militar Federal pela prática do
delito de ingresso clandestino em área de manobras militares (art. 302 do CPM). [...] Pode um
civil ser julgado na Justiça Militar Estadual? Não. Ao contrário da justiça militar federal, aqui a
Constituição adotou um critério objetivo-subjetivo. Ou seja, deve ser crime militar praticado por
militar do Estado (policiais militares bombeiros ou policiais rodoviários estaduais), descartando
completamente a possibilidade de um civil ser julgado na Justiça Militar Estadual (Júnior, 2021).

Nesses termos, bem arremata BRASILEIRO:

Como o civil não pode ser processado e julgado pela Justiça Militar Estadual, caso pratique
determinado delito contra as instituições militares estaduais, será processado na Justiça comum
se os fatos por ele praticados encontrarem definição na lei penal comum. É nesse sentido o teor
da súmula nº 53 do STJ (“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de
prática de crime contra instituições militares estaduais”). Na mesma linha, eis o teor da súmula
nº 30 do extinto Tribunal Federal de Recursos: “Conexos os crimes praticados por policial militar
e por civil, ou acusados estes como coautores pela mesma infração, compete à Justiça Militar
Estadual processar e julgar o policial militar pelo crime militar (CPM, art. 9º) e à Justiça Comum,
o civil”. Dessa forma, como a competência da Justiça Militar dos Estados e do Distrito Federal
está circunscrita aos militares estaduais ou distritais, mesmo que determinado delito seja
praticado em coautoria, deverá haver a separação de processos, sendo o militar estadual julgado
pela prática do crime militar perante a Justiça Militar, e o civil pela prática do crime comum
perante a Justiça Comum.

Exemplificando, se um policial militar e um civil, agindo em concurso de agentes, subtraírem uma


arma de fogo pertencente à Polícia Militar do interior de um quartel, o militar estadual será
julgado pela Justiça Militar Estadual pela prática do crime militar de furto qualificado pelo
concurso de agentes (art. 240, § 6º, inciso IV, c/c art. 9º, inciso II, alínea “e”, ambos do CPM), ao
passo que o civil será julgado pela Justiça Comum Estadual pelo delito do art. 155, § 4º, inciso IV,
do Código Penal. Agora, se esse civil for autor ou coautor de um crime militar contra as referidas
corporações estaduais sem correspondente na lei penal comum (v.g., ingresso clandestino em
um quartel da PM), não pratica crime algum, vez que a Justiça Comum jamais poderia julgar o

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agente pela prática de um crime militar. Essa condição de militar estadual deve ser aferida por
ocasião da prática do crime (tempus delicti). Assim, caso um policial militar da ativa pratique um
crime militar, eventual exoneração antes da instauração do inquérito policial militar não terá o
condão de alterar a competência da Justiça Militar Estadual. A competência deve ser fixada,
portanto, em relação à qualidade que o agente apresentava no momento do cometimento do
fato, não podendo ser alterada por conta de alteração fática posterior (v.g., exoneração) (Lima,
2021).

3.3 - Súmulas pertinentes ao tema

Súmula nº 6 do STJ: compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de
trânsito envolvendo viatura de polícia militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação
de atividade. Entendimento superado (overruling). Eis a explicação:

Ora, como a nova competência da Justiça Militar passou a abranger os crimes previstos na
legislação especial, se o militar estiver em serviço e praticar, por exemplo, um crime de homicídio
culposo na direção de veículo automotor, deverá ser denunciado perante a Justiça Militar pela
prática do crime do art. 302 da Lei n. 9.503/97 c/c o art. 9º, II, alínea “c”, do Código Penal Militar,
pouco importando se a vítima é civil ou militar (Lima, 2021).

Súmula nº 75 do STJ: compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de
promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.

Até a vigência da Lei nº 13.491/17, referido enunciado era interpretado no seguinte sentido: se
o militar em serviço promovesse ou facilitasse a fuga de preso de estabelecimento penal de
natureza militar (v.g., o presídio militar Romão Gomes abriga policiais militares presos em São
Paulo), o agente seria processado perante a Justiça Militar pela prática do crime do art. 178 do
CPM; se o estabelecimento penal em questão não fosse militar (v.g., Centro de Detenção
Provisória de Guarulhos), o delito seria o do art. 351 do Código Penal Comum, logo, de natureza
comum. Com as mudanças produzidas pela Lei n. 13.491/17, esse crime previsto na legislação
penal, in casu, no art. 351 do Código Penal, também poderá ser julgado pela Justiça Militar, se
acaso praticado numa das condições do inciso II do art. 9º do CPM. Portanto, com as mudanças
produzidas pela Lei n. 13.491/17, a súmula n. 75 do STJ deve ser lida nos seguintes termos:
“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar pelo crime de promover
ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal (CP, art. 351), mas desde que o agente não
se encontre em uma das hipóteses do inciso II do art. 9º do Código Penal Militar. (Lima, 2021).

Súmula nº 90 do STJ: compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do
crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele. Continua válida, todavia,
BRASILEIRO recomenda cautela na sua interpretação:

Antes da Lei n. 13.491/17, justificava-se a separação dos processos porque nem sempre esse
crime era simultâneo ao delito militar que estava previsto no Código Penal Militar. Logo, se o
militar praticasse em serviço, por exemplo, um crime de lesão corporal e outro de abuso de
autoridade, dar-se-ia a separação dos processos. Por se tratar de crime previsto no CPM (art.
209), a lesão corporal era julgada pela Justiça Militar. Por se tratar de crime que não estava

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previsto no CPM, mas sim na legislação especial (Lei n. 4.898/65), o abuso de autoridade era
crime comum, logo, da competência da Justiça Comum. Com as mudanças produzidas pela Lei n.
13.491/17, essa conduta delituosa – no nosso exemplo, abuso de autoridade – simultânea ao
crime militar (v.g. lesão corporal) também passa a funcionar como crime militar. Deveras, se o
militar praticou um crime militar, é porque provavelmente se encontra em uma das hipóteses do
inciso II do art. 9º do CPM (v.g. militar em serviço). Logo, dificilmente este crime simultâneo não
terá sido praticado nas mesmas condições. Destarte, se esse crime simultâneo ao crime militar
for praticado numa das condições do inciso II do art. 9º, é de se concluir que a Lei n. 13.491/17
passou a lhe conferir a natureza de crime militar. Por conseguinte, não haverá mais a necessidade
de desmembramento dos feitos, porque ambas as condutas delituosas passaram a ser crimes
militares. De todo modo, é possível que esse crime simultâneo ao crime militar continue
ostentado natureza comum, mesmo após o advento da Lei n. 13.491/17. É o que ocorre, por
exemplo, com os crimes de lavagem de capitais, porquanto a própria lei n. 9.613/98 (art. 2º, III)
outorga competência para o processo e julgamento desses delitos à Justiça Estadual, salvo se
praticado em detrimento do sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, ou quando a infração penal antecedente for da competência da Justiça
Federal. Supondo, assim, que um militar pratique um crime militar de peculato em detrimento
do patrimônio sob a administração militar (CPM, art. 303, c/c, art. 9º, II, “e”), eventual lavagem
subsequente jamais poderá ser tratada como crime militar, porquanto a própria Lei n. 9.613/98
outorga a referida competência à outra Justiça. Logo, por se tratar de crime comum, continuam
válidos os dizeres da súmula n. 90 do STJ. É dizer, a lavagem será julgada pela Justiça Comum, ao
passo que o crime militar de peculato deverá ser julgado pela Justiça Militar. Afinal, da mesma
forma que a Justiça Militar não pode julgar um crime comum, ainda que conexo ao crime militar,
a Justiça Comum também não pode julgar um delito militar, ainda que conexo ao ilícito comum
(Lima, 2021).

Súmula 172 do STJ: compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade,
ainda que praticado em serviço.

Este verbete foi superado com a ampliação do rol de crimes tidos por militares. O abuso de autoridade não
está previsto no CPM, mas, quando praticado por militar em serviço, por força da nova redação do inciso II
do art. 9º, será considerado um crime militar por extensão, cuja competência, agora, é da Justiça Militar e
não mais da Comum.

Logo, se praticado por militar em serviço, por exemplo, abuso de autoridade consubstanciado
em atentado à liberdade de locomoção, o agente deverá ser denunciado pela prática do agora
crime militar do art. 3º, “a”, da Lei n. 4.898/65, c/c art. 9º, II, “c”, do CPM, perante a Justiça Militar
da União – se militar das Forças Armadas -, ou perante a Justiça Militar dos Estados – se militar
estadual (Lima, 2021).

3.4 - Lei nº 13.491/2017 e seus efeitos – direito intertemporal

A lei em referência trata tanto de questões de direito material (quando amplia o rol de crimes militares, por
exemplo) quanto de questões de direito processual (quando estende a competência); nessa condição, com

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natureza mista, opera o fenômeno da heterotopia, na medida em que mesmo estando num diploma de
feição material (Código Penal Militar) acaba por regulamentar aspectos processuais.

Quando se verifica dos seus efeitos, portanto e como adverte ROTH, há se ter isso em mente:

Assim, por exemplo, em relação ao aspecto penal haverá incidência do princípio constitucional
da irretroatividade da lei penal mais gravosa (art. 5º, XL, CF), e, em relação ao aspecto processual
haverá a aplicação imediata da lei (pelo princípio tempus regit actum), independentemente de
ser ou não mais benéfica ao réu, devendo os atuais inquéritos e processos da justiça comum
serem remetidos para a justiça militar, como ocorreu inversamente à época da edição da Lei
9.299/96, cujos processos da justiça militar foram remetidos para a Vara do Júri. Destarte, desde
a edição da Lei 13.491/17, as infrações penais da legislação penal comum praticadas pelo agente
militar numa das hipóteses do inciso II do art. 9º do CPM se converteram em crimes militares por
extensão. [...] Ainda sob o aspecto processual, quanto ao Juiz Natural dos crimes militares por
extensão, se já houver sentença sobre o crime, fixado estará o Juiz Natural perante o Tribunal
correspondente da Justiça Comum (federal ou estadual), como já decidiu o STJ no HC 21.579-SP,
Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, J. 18/3/2003.

De forma mais detalhada, pondera BRASILEIRO:

Logo, como se trata de lei processual que altera regras de competência, a Lei n. 13.491/17
deve ter aplicação imediata aos processos em andamento, salvo se já houver sentença
relativa ao mérito, hipótese em que o processo deve seguir na jurisdição em que ela foi
prolatada, ressalvada a hipótese de supressão do Tribunal que deveria julgar o recurso.
Enfim, como se trata de norma processual que altera a competência em razão da matéria, não
se pode admitir a perpetuação da competência. Afinal, como preceitua o art. 43 do novo CPC,
subsidiariamente aplicável ao processo penal comum e militar, “determina-se a competência no
momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do
estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário
ou alterarem a competência absoluta”. Por consequência, se o crime praticado por militar em
serviço previsto na legislação penal, outrora considerado crime comum, estava em tramitação
perante a Justiça Comum (Estadual ou Federal), a entrada em vigor da Lei n. 13.491/17 deverá
provocar a imediata remessa do feito à Justiça Militar da União (ou dos Estados).

A ressalva a esse deslocamento imediato da competência fica por conta dos feitos nos quais, à
época da vigência da Lei n. 13.491/17 (16/10/2017), já havia sentença relativa ao mérito. Nesses
casos, o processo deverá continuar tramitando na Justiça de origem, sob pena de violação à
competência recursal. Exemplificando, se um crime previsto na Lei de Licitações cometido por
militar das Forças Armadas em serviço já contava com sentença relativa ao mérito proferida pela
1ª instância da Justiça Federal no dia 16 de outubro de 2017, eventual apelação deverá ser
apreciada pelo respectivo Tribunal Regional Federal, jamais pelo Superior Tribunal Militar, sob
pena de se admitir que o órgão de 2ª instância da Justiça Militar da União funcione como Tribunal
de Apelação no âmbito da Justiça Federal.

Noutro giro, no caso da Justiça Militar Estadual, a controvérsia só terá relevância naqueles
Estados da Federação que são dotados de Tribunal de Justiça Militar — Rio Grande do Sul, Minas

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Gerais e São Paulo —, vez que, em relação aos demais Estados, o juízo ad quem é o mesmo para
a Justiça Comum Estadual e para a Justiça Militar Estadual, qual seja, o respectivo Tribunal de
Justiça. Assim, se já houvesse sentença relativa ao mérito proferida pela Justiça Comum Estadual
de Minas Gerais, por exemplo, pela prática de crime de porte ilegal de arma de fogo por militar
estadual em serviço, eventualapelação interposta contra a referida decisão deverá ser apreciada
pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, e não pelo Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais,
sob pena de violação da competência funcional por grau de jurisdição.

Esse deslocamento imediato da competência à Justiça Militar (da União ou dos Estados) haverá
de ser feito sem prejuízo da observância do princípio da irretroatividade da lex gravior (ou
ultratividade da lei penal mais benéfica) pelo Juiz de Direito do Juízo Militar Estadual ou pelos
respectivos Conselhos de Justiça. Explica-se: a depender do caso concreto, o tratamento
dispensado a determinado fato delituoso, se considerado crime comum, é mais benéfico sob o
ponto de vista do direito do que aquele que lhe é conferido se tratado como crime militar. Tome-
se como exemplo o delito de abuso de autoridade previsto na Lei n. 4.898/65, que tem pena
privativa máxima de 6 (seis) meses (art. 6º, § 3º, "b"). Antes da vigência da Lei n. 13.491/17, ainda
que o referido delito fosse cometido por militar em serviço, ter-se-ia crime da competência da
Justiça Comum (súmula n. 172 do STJ), porquanto referida conduta delituosa não era considerada
crime militar pelo fato de não estar prevista no Código Penal Militar. Como crime comum que era
- na verdade, trata-se de verdadeira infração de menor potencial ofensivo, já que a pena
cominada não é superior a dois anos —, o autor do delito faria jus a inúmeros benefícios, tais
como a aplicação dos institutos despenalizadores da Lei n. 9.099/95 (v.g., transação penal,
suspensão condicional do processo, etc.), substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos na eventualidade de uma condenação, etc. A partir do momento em que tal
se transforma em crime militar, o tratamento dispensado pelo Direito Castrense material lhe é
bem mais gravoso. Primeiro, porque não se admite a aplicação da Lei dos Juizados aos crimes
militares (Lei n. 9.099/95, art. 90-A). Segundo, porque o Código Penal Militar não prevê a
possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. O que fazer,
então, nessas hipóteses? Permitir que um crime militar continue sendo julgado na Justiça
Comum? Não parece ser a melhor solução, sob pena de se admitir que uma mudança de
competência em razão da matéria, logo, absoluta, não tenha aplicação imediata aos processos
em andamento, o que viria de encontro ao princípio do juiz natural. Revela-se mais adequada,
portanto, a aplicação imediata do novo regramento acerca da competência, com o consequente
deslocamento dos feitos para a Justiça Militar, sem prejuízo da aplicação da lex mitior pelo Juiz
de Direito do Juízo Militar (ou pelos Conselhos de Justiça). Assim, no exemplo acima narrado, o
agente seria julgado pela Justiça Militar. Porém, faria jus a todos os benefícios do direito material
acima descritos, respeitando-se, assim, o princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa
(Lima, 2021).

Doutrina complementar

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “À Justiça Militar da
União compete o julgamento dos militares pertencentes às forças armadas (exército, marinha e
aeronáutica), que possuem atuação em todo o território nacional. Essa Justiça está constituída
da seguinte forma: 1º grau – auditorias e conselhos permanentes de justiça e conselho especial
de justiça. 2º grau – é o Superior Tribunal Militar. A competência dessa Justiça Especial está

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prevista no art. 124 da Constituição: (...). [...] A competência da Justiça Militar Estadual está
prevista no art. 125, § 4º, da Constituição: (...). [...] E se o militar do Estado (PM, bombeiro ou
policial militar estadual) praticar, em situação de atividade, um crime doloso contra a vida de um
civil, será julgado pelo tribunal do júri ou pela justiça militar estadual? Será julgado na justiça
comum estadual pelo tribunal do júri. Quanto à sua estrutura, em primeiro grau os crimes serão
julgados pelos juízes de direito do juízo militar, desde que praticados contra civis. Quando for
crime militar praticado contra militar, caberá a competência ao Conselho de Justiça, presidido
pelo juiz de direito (militar). Em segundo grau, o julgamento caberá aos Tribunais de Justiça
Militar ou, na sua falta, aos Tribunais de Justiça dos estados”.

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), a respeito da
mudança legislativa e os efeitos que esta produziu na competência do Tribunal do Júri em relação
aos militares, assevera: “Ainda, no § 1º do art. 9º, a Lei n. 13.491/2017 reafirmou a competência
constitucional (art. 125, § 4º, CF) do Tribunal do Júri para o processamento e julgamento dos
crimes dolosos contra a vida cometidos por militares contra civil: ‘§ 1º Os crimes de que trata
este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da
competência do Tribunal do Júri’. Vale registrar que o dispositivo em comento reforça o disposto
no art. 82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar: ‘§ 2º: Nos crimes dolosos contra a vida,
praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça
comum’. Dessa forma, o crime será apurado pela polícia judiciária militar, através do Inquérito
Policial Militar, com o encaminhamento dos respectivos autos à justiça militar, que então fará a
posterior remessa para a justiça comum. Atenção: o termo ‘militares’ empregado pelo
dispositivo legal refere-se aos militares estaduais, ou seja, policiais e bombeiros militares.
Finalmente, no § 2º do art. 9º, temos outra mudança significativa, haja vista que o citado
dispositivo legal amplia a competência da justiça militar federal, senão vejamos. Dispõe o § 2º:
‘Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das
Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no
contexto:(...)’. Note-se que a aplicação deste dispositivo refere-se especificamente às Forças
Armadas (Marinha, Exército e Força Aérea), uma vez que, no caso dos militares estaduais, a
competência continua sendo do Tribunal do Júri, conforme alhures explicitado. Nesse caso, antes
da mudança promovida pela Lei n. 13. 491/2017, a competência era da justiça comum (tribunal
do júri), sendo que com a atual redação, a competência passou a ser da Justiça Militar da União
(ampliação da competência da Justiça Militar da União), devendo observar que a conduta deve
ter sido praticada no contexto dos incisos I-III e respectivas alíneas do parágrafo em tela, pois, do
contrário, a competência é do Tribunal do Júri”. [...] Sobre outros pontos da competência
criminal da Justiça Militar, pontua: “Excepcionando-se o quanto alterado pela Lei n.
13.491/2017, já exposto, temos que a justiça militar também é a competente para: (i) processar
e julgar os integrantes das polícias militares nos delitos assim definidos em lei, bem como as
ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada, nos crimes dolosos contra a vida, a
competência do júri quando a vítima for civil (apenas nos casos dos militares estaduais, já que no
caso das Forças Armadas a competência será da Justiça Militar da União, conforme já
mencionado – alteração dada pela Lei n. 13.491/2017), cabendo ao tribunal competente decidir
sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças (CF, art. 125, § 4º).
Excetuados os crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, de competência do júri
popular (militares estaduais) ou da Justiça Militar da União (Forças Armadas), os demais crimes
militares serão julgados pela própria Justiça Militar, observando-se que: (i.1) se cometidos contra

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militar (militar × militar), caberá o julgamento em primeiro grau ao Conselho de Justiça, órgão
colegiado heterogêneo composto por juízes de carreira (togados) e juízes fardados; (i.2) sendo o
crime militar cometido contra vítima civil, a decisão de primeira instância competirá,
exclusivamente, aos juízes militares de carreira, singularmente, nos termos do § 5º do art. 125,
ou seja, em decisão monocrática, afastando-se a participação do órgão colegiado e, portanto,
sem a participação de militares de carreira no julgamento (apenas para militares estaduais); (ii)
processar e julgar os delitos cometidos em lugares sujeitos à Administração militar (nesse
sentido: STJ, 3ª Sec., CComp 5.524-0/RS, rel. Min. José Dantas, v. u., DJ, 18 mar. 1996); (iii) julgar
os crimes de favorecimento pessoal, mas somente quando se imputa ao favorecido um crime
militar (nesse sentido: STJ, 3ª Sec., CComp 10.250-0/SP, rel. Min. Edson Vidigal, v. u., DJ, 30 out.
1995)”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), acerca da
composição da Justiça Militar, aduz: “1) Justiça Militar dos Estados: é constituída pelos juízes de
direito e pelos Conselhos de Justiça, e em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por
Tribunal de Justiça Militar nos Estado em que o efetivo seja superior a vinte mil integrantes (§ 3º,
art. 125, CF), tendo competência para apreciar os crimes militares praticados por policiais
militares e bombeiros militares. Logo, não julga civil. Neste sentido, a súmula nº 53 do STJ:
‘Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra
instituições militares estaduais’. * Competência territorial da Justiça Militar Estadual: é definida
pelo local onde o policial estadual desempenha as suas funções, independente do Estado da
federação onde o crime veio a consumar-se. Assim, um PM do Estado da Bahia que pratica crime
militar em Sergipe, será julgado pela Justiça Militar Estadual baiana – súmula nº 78 do STJ:
‘compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito
tenha sido praticado em outra unidade federativa’. 2) Justiça Militar Federal: é composta pelos
Conselhos de Justiça, especial e permanente, sendo órgão colegiado que atuará nas sedes das
Auditorias Militares. Como órgão de instância superior, temos o Superior Tribunal Militar (STM).
A Justiça Castrense Federal tem competência para julgar os membros das Forças Armadas, e além
deles, os civis que incorram em crime militar”.

PAULO RANGEL (Direito processual penal, 26ª ed., São Paulo: Atlas, 2018) elabora e responde alguns
questionamentos em relação à competência da Justiça Militar após o advento da lei 13.491/2017,
exemplificando e elucidando o estado atual dessa questão: “1º Caso. Militar estadual, no
exercício da função ou não, que comete crime de homicídio doloso contra civil. Qual o órgão
jurisdicional que irá julgá-lo? Resposta. Tribunal do Júri (art. 9º, § 1º, do CPM). § 1º Os crimes de
que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão
da competência do Tribunal do Júri. (Incluído pela Lei no 13.491, de 2017). 2º Caso. Militar
estadual, no exercício da função, que comete crime de homicídio doloso contra militar em
atividade. Resposta. Auditoria da justiça militar (art. 9º, § 1º, do CPM). A regra do parágrafo é
clara: contra civil. No caso em tela, a pergunta se refere a militar. 3º Caso. Militar das Forças
Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) que comete crime doloso contra a vida contra civil
por discussão de trânsito (ou discussão de vizinhança no condomínio em que moram; ou por
motivos pessoais num bar, isto é, fora do exercício da função). Qual o órgão jurisdicional
competente para julgá-lo? Resposta. Justiça comum estadual: tribunal do júri. A hipótese não se
amolda ao § 2º do art. 9º do CPM. 4º Caso. Militar das Forças Armadas (Exército, Marinha e
Aeronáutica) que comete crime doloso contra a vida de civil no contexto especificado no § 2º do

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art. 9º do CPM. Qual o órgão jurisdicional competente para julgá-lo? Resposta. Justiça Militar da
União. Nesse caso está a novidade da Lei no 13.491/2017: os militares das Forças Armadas serão
julgados pela Justiça Militar da União e não mais pelo tribunal do júri, como era por força da Lei
nº 9.299/1996”. A respeito das mudanças provocadas pela lei 13.491/2017 sobre os crimes
militares, sustenta: “A Lei no 13.491/2017 ampliou o conceito de crime militar impróprio, isto é,
não são mais apenas aqueles previstos no Código Penal Militar, embora também o fossem com
igual definição na legislação penal comum, mas sim também todo e qualquer crime previsto na
legislação penal (Estatuto do Desarmamento, Lei de Drogas, Abuso de Autoridade, Lei Maria da
Penha etc.). Nesse sentido, se o policial militar, em serviço, cometer um crime de porte ou posse
de arma previsto no Estatuto do Desarmamento, ele será investigado pela corporação policial
militar, por meio do competente inquérito policial militar, e processado e julgado perante a
auditoria da justiça militar, e não mais perante a justiça comum estadual. Da mesma forma, se,
em serviço, o policial militar praticar o crime de abuso de autoridade, antes afeto à justiça comum
estadual, agora será investigado pela corporação policial militar, por meio do competente
inquérito policial militar, e julgado perante a auditoria da justiça militar, doravante chamada de
AJM. Tudo porque a lei fala em “e os previstos na legislação penal”, remetendo o intérprete para
os crimes previstos fora do âmbito do Código Penal Militar, o que antes, pela redação do CPM,
não era feito”.

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “Primeiramente, a
referida lei altera substancialmente o artigo 9º do Código Penal Militar, dando nova definição aos
crimes militares, ampliando o rol desses delitos e deslocando a competência da justiça comum
para a justiça militar estadual, aumentando, portanto, sua competência. Senão, vejamos. A
antiga redação dispunha: ‘Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II – os crimes
previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum,
quando praticados: (...)’, ao passo que a redação atual consigna que ‘art. 9º Consideram-se
crimes militares, em tempo de paz: II- os crimes previstos neste Código e os previstos na
legislação penal, quando praticados: (...)’ (grifo nosso). Daí se infere que, pela redação original,
somente seria crime militar e, consequentemente, investigado, processado e julgado pela justiça
militar, a conduta que estivesse tipificada no Código Penal Militar, embora também pudesse
estar prevista aquela mesma conduta na legislação penal comum. Assim, crimes praticados por
militares que estavam previstos apenas na legislação penal comum e extravagante ficavam fora
do alcance daquela justiça especializada, sendo apurados (via inquérito policial), processados e
julgados pela justiça comum. Atualmente, crime militar, e portanto investigado, processado e
julgado pela justiça militar seria não só aquele previsto na legislação específica (CPM), mas
também o previsto na legislação penal comum e em lei extravagante, abarcando, por exemplo,
os crimes de tortura, abuso de autoridade, associação em organização criminosa, etc. Ou seja, o
art. 9º, com redação alterada pela Lei n. 13.491/2017, deu uma nova definição aos crimes
militares, bem como ampliou o rol desses delitos”.

4 - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL


O critério utilizado pelo constituinte para o equacionamento da competência da Justiça Federal pode ser
explicado “a partir da busca de um dimensionamento mais ou menos preciso das questões que poderiam
afetar, direta ou indiretamente, os interesses federais e/ou nacionais” (Pacelli, 2018).

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A ideia que fundamentou a criação de uma competência específica criminal para a Justiça Federal
é a de que deveria existir uma Justiça Especializada quando, em determinadas causas
expressamente previstas na Lei Maior, estivesse em jogo os interesses da União, afetados pelo
cometimento de crimes em detrimento de seus órgãos centralizados ou descentralizados; os
crimes políticos que possam colocar em risco as Instituições do Estado Democrático de Direito,
ou ainda para que se dê efetividade ao teor das convenções e tratados internacionais celebrados
pelo Brasil. Essa é a fonte inspiradora que originou a previsão da competência criminal da Justiça
Federal (Campos, 2018).

A Justiça Federal (composta por TRFs e juízes federais, art. 106 da CF) está dentro da modalidade de Justiça
Comum, mas no âmbito da União. Julga uma generalidade de infrações penais, que não sejam específicas e
não estejam dentro da alçada de uma Justiça Especializada (Eleitoral, Militar). É comum por não ser especial,
por não estar voltada a um tipo de matéria.

“Todavia, os critérios de determinação de sua competência são, também, de direito estrito, porque guardam
um certo grau de especialidade em relação à Justiça Estadual, que é a mais comum de todas, e tem, em
relação a ela, precedência” (Jardim, 2003).

Em outros termos, podemos compreender que a competência da Justiça Federal é expressa e taxativa, ao
passo que a competência da Justiça Estadual é residual.

A competência da Justiça Federal é estabelecida na Constituição Federal, nos artigos 108 e 109. No que diz
respeito à primeira instância criminal, a competência é estabelecida nas seguintes disposições
constitucionais, com destaque para o inciso IV que dá conta da maior parte dos casos:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou


interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no


País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento


provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; [...]

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça


Militar;

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X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta


rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

Antes de começar a analisar as situações de competência federal (com base na Constituição Federal), vale
transcrever o alerta de NORBERTO AVENA:

[...] nem todas as Comarcas são, também, sedes da Justiça Federal. Pelo contrário. A maioria
delas não é atendida por Juízes Federais. Tal circunstância, por si, não significa que os crimes da
alçada da Justiça Federal serão julgados pela Justiça Estadual. A competência permanece federal.
Logo, a definição da Subseção Judiciária Federal a que está vinculado o município em que o crime
ocorreu condiciona-se ao exame dos Regimentos Internos e provimentos editados pelo Tribunal
Regional Federal na respectiva área de atuação. Por exemplo, um crime federal ocorrido na
cidade de Piratini, no Rio Grande do Sul, será processado e julgado perante a Subseção Judiciária
localizada na cidade de Pelotas. Já um delito federal praticado em Rolândia, no Paraná, será
processado e julgado perante a Subseção Judiciária localizada em Londrina. E assim por diante.

Em termos de estrutura da Justiça Federal, tem-se o seguinte: Os Órgãos de Primeiro Grau são
os Juízes Federais que oficiam nas respectivas varas. Estas varas são distribuídas em subseções
judiciárias (cidades-sede de Justiça Federal), as quais integram seções judiciárias (Estados). Das
decisões dos Juízes Federais, havendo previsão, cabe recurso para o Tribunal Regional Federal. E
as decisões desse Tribunal, nos casos previstos, comportam recursos para o Superior Tribunal de
Justiça e para o Supremo Tribunal Federal (Avena, 2020).

4.1 - Art. 109, inciso IV da CF

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou


interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Crimes políticos – ao largo de controvérsias, seriam os crimes tipificados na Lei de Segurança Nacional
(7.170/1983) e, mais que isso, praticados por motivação política, enquadrando-se também, portanto, nos
requisitos do art. 2º da Lei 7.170/1983:

Art. 1º - Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão:

I - a integridade territorial e a soberania nacional;

II - o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito;

III - a pessoa dos chefes dos Poderes da União.

Art. 2º - Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no Código Penal
Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação desta Lei:

I - a motivação e os objetivos do agente;

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II - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior.

Nesse contexto, importante destacar a compreensão do STF em relação ao tema (conforme precedente
abaixo), que destaca:

✓ a mudança de competência operada com a Constituição de 1988 (Justiça Militar para Justiça Federal);
✓ a alteração da denominação desses crimes (contra a segurança nacional para ‘crime político’);
✓ a sistemática recursal própria, com o STF atuando como órgão de segundo grau de jurisdição (para
julgar eventuais apelações);
✓ a necessidade de i) tipificação e de ii) especial fim de agir (dolo específico, motivação política) para
caracterização do crime político.

EMENTA: CRIME POLÍTICO. COMPETÊNCIA. INTRODUÇÃO, NO TERRITÓRIO NACIONAL, DE


MUNIÇÃO PRIVATIVA DAS FORÇAS ARMADAS, PRATICADO POR MILITAR DA RESERVA (ARTIGO
12 DA LSN). INEXISTÊNCIA DE MOTIVAÇÃO POLÍTICA: CRIME COMUM. PRELIMINARES DE
COMPETÊNCIA: 1ª) Os juízes federais são competentes para processar e julgar os crimes
políticos e o Supremo Tribunal Federal para julgar os mesmos crimes em segundo grau de
jurisdição (CF, artigos 109, IV , e 102, II, b), a despeito do que dispõem os artigos 23, IV, e 6º, III,
c, do Regimento Interno, cujas disposições não mais estão previstas na Constituição. 2ª)
Incompetência da Justiça Militar: a Carta de 1969 dava competência à Justiça Militar para julgar
os crimes contra a segurança nacional (artigo 129 e seu § 1º); entretanto, a Constituição de 1988,
substituindo tal denominação pela de crime político, retirou-lhe esta competência (artigo 124 e
seu par. único), outorgando-a à Justiça Federal (artigo 109, IV). 3ª) Se o paciente foi julgado por
crime político em primeira instância, esta Corte é competente para o exame da apelação, ainda
que reconheça inaplicável a Lei de Segurança Nacional. MÉRITO: 1. Como a Constituição não
define crime político, cabe ao intérprete fazê-lo diante do caso concreto e da lei vigente. 2. Só há
crime político quando presentes os pressupostos do artigo 2º da Lei de Segurança Nacional (Lei
nº 7.170/82), ao qual se integram os do artigo 1º: a materialidade da conduta deve lesar real ou
potencialmente ou expor a perigo de lesão a soberania nacional, de forma que, ainda que a
conduta esteja tipificada no artigo 12 da LSN, é preciso que se lhe agregue a motivação política.
Precedentes. 3. Recurso conhecido e provido, em parte, por seis votos contra cinco, para,
assentada a natureza comum do crime, anular a sentença e determinar que outra seja prolatada,
observado o Código Penal. (RC 1468 segundo, Relator(a): ILMAR GALVÃO, Relator(a) p/ Acórdão:
MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 23/03/2000)

Sob a égide da Constituição Federal anterior, incumbia à Justiça Militar a competência para
julgamento dessa ordem de delitos. Entretanto, com o advento da atual Carta Política,
estabeleceu-se que competem à Justiça Federal o processo e o julgamento dos crimes contra a
segurança nacional, conforme se observa do inciso em exame. Assim, não recepcionada a norma
do art. 30 da Lei 7.170/1983.

Observe-se que o art. 102, II, “b”, da Constituição Federal dispõe que compete ao Supremo
Tribunal Federal julgar em recurso ordinário o crime político. Da exegese dessa disposição
depreende-se que, mesmo no tocante à sentença proferida por Juiz federal em relação a crime

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político, não caberá recurso de apelação ao Tribunal Regional Federal, mas sim recurso ordinário
constitucional ao Supremo Tribunal Federal (Avena, 2020).

A doutrina define como crimes políticos “os dirigidos, subjetiva e objetivamente, de modo imediato, contra
o Estado como unidade orgânica das instituições políticas e sociais. São os crimes contra a segurança
nacional” (Rangel, 2018).

Infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas – toda infração penal, à exceção das contravenções, que atingir o
patrimônio da União, suas autarquias e empresas públicas serão da competência federal.

[...] a questão não oferece maiores dificuldades pelo fato de ser extremamente simples a
identificação do patrimônio de tais entes públicos, necessariamente objeto de registro e
cadastramento particularizado junto à respectiva Administração. Embora não haja referência
expressa no texto constitucional, deve aí ser incluída a fundação pública federal, já que, em
última análise, a lesão atingirá o interesse da União, instituidora e mantenedora daquela. Quanto
à identificação dos serviços, a solução pode não ser tão simples, mas ainda assim é perfeitamente
acessível. Por exemplo: o assassinato de um policial federal (ou de um auditor da Receita Federal
ou do INSS) em razão de sua função, isto é, motivado pelo simples fato de sua atuação funcional,
reclama a competência do Tribunal do Júri Federal. É certo que o bem jurídico protegido pela
norma penal é a vida e não a Administração. Entretanto, não há como negar a lesão, indireta que
seja, ao serviço público federal, atingido em sua finalidade pública. E mais: não há também como
negar a relevância da motivação do crime até mesmo para fins de tipificação penal, o que
também contribui para realçar a importância da identificação do serviço público federal. É nesse
sentido a redação da Súmula 147 do STJ: “Compete a Justiça Federal processar e julgar os crimes
praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.”
(Pacelli, 2018)

[...] por bens, serviços e interesse, tal como previstos no inciso em análise, compreendem-se
aqueles que possuem relação com os fins institucionais das entidades referidas – União, suas
entidades autárquicas ou empresas públicas –, e não aqueles relacionados pessoalmente aos
dirigentes. Outra coisa: a definição da competência federal exige apenas a ofensa a bens, serviços
ou interesse das entidades públicas referidas no art. 109, IV, da CF, não sendo relevante se houve
ou não o prejuízo efetivo à União e suas entidades. Na esteira dessa disciplina, tomando-se como
exemplo a hipótese de crime de roubo perpetrado contra uma agência da Caixa Econômica
Federal, que possui natureza jurídica de empresa pública, deverá ser processado e julgado
perante a Justiça Federal. Do mesmo modo, um latrocínio perpetrado contra policiais federais
durante o exercício de suas funções. Em ambos os casos é inequívoco o interesse da União nos
feitos mencionados, o que justifica o reconhecimento da competência da Justiça Federal para
processar e julgar as respectivas demandas. No caso do crime contra servidor federal em
exercício das funções, cabe abrir um parêntese para explicitar que a atração do foro federal
motiva-se na circunstância de que, nessa atividade, o servidor encontra-se agindo como
representante da União. Daí se depreende que o simples fato de o crime ter sido praticado contra
servidor público não atrai a competência federal, sendo necessário que o crime tenha sido
praticado no exercício da função e relacionado a esta função. Isto, aliás, é o que consta da Súmula
147 do STJ [...] (Avena, 2020).

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Sobre a questão que envolve crime contra servidor público federal, PACELLI faz alusão e crítica sobre
precedente do STJ em relação a crimes praticados contra um juiz federal:

[...] a 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça teve oportunidade de afirmar a competência da


Justiça Federal em caso de crime (ameaça e abuso de autoridade, dentre outros) cometido contra
Juiz Federal, que não se encontrava no exercício de suas funções, sob o argumento de que o
referido cargo não se confunde com o de funcionário público (o que atrairia o conteúdo da
Súmula 147/STJ), mas sim com o de verdadeiro órgão do Judiciário. Veja-se: “1. Nos termos do
art. 92, III, da Lei Maior, os Juízes Federais são órgãos do Poder Judiciário, qualidade essa que
impõe o reconhecimento do interesse da União no julgamento de crimes de que sejam vítimas, o
que atrai a competência da Justiça Federal para processar e julgar a respectiva Ação Penal, nos
termos do art. 109, IV, da CF/88. Outrossim, tal qualidade não pode ser ignorada quando da
fixação do Juízo competente, devendo ser levada em consideração, ainda que a vítima não esteja
no exercício das funções jurisdicionais. [...] 3. O art. 95 da Constituição Federal, que assegura a
garantia da vitaliciedade aos Magistrados, e o art. 35, VIII, da LC 35/79, que dispõe sobre o dever
destes de manterem conduta irrepreensível na vida pública e particular, revelam a
indissolubilidade da qualidade de órgão do Poder Judiciário da figura do cidadão investido no
mister de Juiz Federal e demonstram o interesse que possui a União em resguardar direitos,
garantias e prerrogativas daqueles que detêm a condição de Magistrado. [...] 5. Conflito
conhecido para declarar a competência do Juízo Suscitante, o Juízo Federal da 2ª Vara da Seção
Judiciária do Estado do Acre” (CC nº 89397/AC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 3ª Seção,
julgado em 28.3.2008, DJe 10.6.2008).

Com o devido respeito aos ilustres julgadores, e, particularmente, ao seu douto Relator, a decisão
não encontra qualquer fundamento na ordem jurídica nacional. Não bastasse, contraria súmula
do próprio Tribunal (Súmula 147). Na realidade, tem-se ali verdadeira personificação do cargo
público, como se este (o cargo) fosse inseparável da pessoa que o exerce. Na hipótese concreta,
a vítima não era o cargo, mas a pessoa! Não teria havido lesão ao serviço, mas à individualidade
da pessoa humana. Não vemos como acompanhar o aludido entendimento. E mais: ousamos
afirmar que ele não se sustentará diante da jurisprudência da Suprema Corte, sobretudo no que
diz respeito à fixação de competência por prerrogativa de função: o efetivo exercício do cargo é
pressuposto indeclinável da afirmação do foro privativo. Já veremos essas e outras mazelas
(Pacelli, 2018).

AVENA relembra um interessante caso de propriedade de Presidente da República:

Contemple-se, agora, a hipótese ocorrida há alguns anos, em que integrantes do “Movimento


dos Sem-Terra” tentaram invadir a propriedade rural pertencente ao Presidente da República.
Nesse caso, não há falar em competência da Justiça Federal, pois não se trata o bem em questão
de patrimônio da União, mas sim de propriedade particular do Chefe do Executivo. A esse
respeito, entendeu o STJ que “restou evidenciado que os fatos tidos como delituosos ocorreram
no Estado de Minas Gerais, em uma fazenda particular – ainda que de propriedade da família do
então Sr. Presidente da República [...]. Note-se que não ocorreu, em princípio, lesão ou ameaça
de lesão a bens, serviços ou interesses da União ou de suas Autarquias ou Empresas Públicas – o
que, nos termos do art. 109, inc. IV, da Constituição Federal, atrairia a competência da Justiça
Federal para o processo e julgamento do feito. Desta forma, a possível lesão ao patrimônio

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pessoal ou da família do Exmo. Sr. Presidente da República não tem o condão de atrair a
competência da Justiça Federal, justamente por não se enquadrar na previsão constitucional”
(Avena, 2020).

No caso de crimes cometidos contra sociedades de economia mista, como por exemplo o Banco do Brasil,
a competência para o processo e julgamento será da Justiça Estadual, uma vez que não previstas essas
sociedades entre as entidades mencionadas no precitado inciso IV do art. 109 da Constituição Federal. Eis o
teor da Súmula 42 do STJ:

Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

“E quanto às fundações públicas federais? Apesar de não previstas no art. 109, IV, da CF, prevalece o
entendimento de que os crimes praticados em seu detrimento sujeitam-se, igualmente, à competência da
Justiça Federal”.

Qual a natureza jurídica da Rede Ferroviária Federal (RFFSA)? Ocorrendo um crime


contra a RFFSA, qual o juízo competente para processar e julgar a causa? Trata-se,
mais uma vez, de uma sociedade de economia mista, sendo competente a Justiça
Comum estadual. O operador do direito deve saber identificar a natureza da pessoa
jurídica que sofre a ação criminosa, pois, se assim não o fizer, não saberá identificar o
juiz natural para a causa. A ECT (Empresa de Correios e Telégrafos) tem a natureza
jurídica de uma empresa pública federal, portanto, em qualquer crime em que a mesma for
lesada, a competência será da Justiça Federal, nos termos do que determina o art. 109, IV, da
CRFB. O mesmo pode-se dizer do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social) e da CEF (Caixa Econômica Federal). Como autarquias federais, podemos citar o DNER
(Departamento Nacional de Estrada de Rodagem), a UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro), o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e o BACEN (Banco Central) (Rangel,
2018).

Compreendeu-se, por outro lado, que a competência para proteger o meio ambiente (florestas, fauna e flora)
não é exclusiva da União, mas comum da União e dos Estados, nos termos do art. 23, incisos VI e VII da
Constituição Federal, razão pela qual se cancelou a Súmula 91 do STJ (Alves, 2017).

E os crimes contra a fauna? Dispunha a Súmula 91 do STJ que “compete à Justiça Federal
processar e julgar crimes praticados contra a fauna”. Ocorre que essa súmula foi cancelada em
08.11.2000. Logo, inexistindo qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União, afasta-se a
competência da Justiça Federal, incumbindo à Justiça Estadual o processo e julgamento de crimes
cometidos contra o meio ambiente, nos quais se compreendem os delitos praticados contra a
fauna e a flora (Avena, 2020).

Por falta de previsão legal, também não são de competência federal crimes praticados em detrimento de
bens, serviços ou interesse de concessionária de serviço público, sindicatos e entidade particular de ensino
superior. Por outro lado, se forem contra conselhos de fiscalização profissional, a exemplo da OAB, deve ser
julgado pela Justiça Federal, pois tais entes têm natureza de autarquia, consoante estabelecido pelo STF no
julgamento da ADIN nº 1.717-DF (Alves, 2017).

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As contravenções penais, assim como os crimes militares e eleitorais, são expressamente excluídas da
competência da Justiça Federal e, nesse sentido, já se editou a Súmula 38 do STJ:

Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção
penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades.

Daí se infere que, se, porventura, houver um crime de competência federal conexo com uma
contravenção penal, deverá ser realizada a cisão do processo: o crime federal será processado e
julgado pela Justiça Federal enquanto a contravenção penal será processada e julgada pela
Justiça Estadual. Apesar da simplicidade da regra, é preciso atentar a um detalhe: nos termos do
art. 109, IV, da CF, o processo e o julgamento das contravenções penais são excluídos da
competência dos Juízes Federais, e não dos Tribunais Regionais Federais. Portanto, se
determinado detentor de cargo público com prerrogativa de função praticar uma contravenção
penal, tal infração penal poderá sim ser julgada no âmbito desses Tribunais (Avena, 2020).

Duas Súmulas merecem referência neste momento:

Súmula 224/STJ - Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da
competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.

Súmula 254/STJ - A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser
reexaminada no Juízo Estadual.

AVENA traz didático exemplo em relação aos enunciados:

Considere-se que o ex-prefeito de determinada cidade seja indiciado pela autoridade policial por
desvio de verbas públicas ocorrido no curso de seu mandato, entre as quais verbas sujeitas à
prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União. Remetido o inquérito à Justiça
Estadual, sobrevém manifestação do Ministério Público no sentido da incompetência do juízo
tendo em vista o disposto no art. 109, IV, da CF. Acolhendo este pronunciamento, o Magistrado,
com fundamento na Súmula 122 do STJ, encaminha os autos à Justiça Federal. Neste âmbito,
porém, o Ministério Público Federal manifesta-se no sentido de que não existem elementos que
apontem o cometimento do crime relacionado às verbas federais, promovendo, com relação a
esta conduta, o arquivamento do inquérito policial. Ora, se for acolhida esta manifestação pelo
Juiz Federal, caberá a este, com base na Súmula 224 do STJ, em vez de suscitar conflito de
jurisdição, simplesmente restituir os autos do procedimento investigatório à Justiça Estadual,
decisão esta que, por força da Súmula 254 daquela mesma Corte, não pode ser reexaminada no
âmbito dessa Justiça. Logo, se dela discordar, deverá, aqui sim, o Juiz Estadual suscitar conflito
de jurisdição (Avena, 2020).

4.2 - Art. 109, inciso V da CF

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no


País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

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Esclarecendo a melhor interpretação, o Plenário do STF, no RE 628.624 (embargos julgados em 18/08/2020),


consignou três requisitos essenciais e cumulativos para que se fixe a competência da Justiça Federal com
base nesse dispositivo constitucional:

a) o fato esteja previsto como crime no Brasil e no estrangeiro;


b) o Brasil seja signatário de convenção ou tratado internacional por meio do qual assume o
compromisso de reprimir criminalmente aquela espécie delitiva; e
c) a conduta tenha ao menos se iniciado no Brasil e o resultado tenha ocorrido, ou devesse ter ocorrido
no exterior, ou reciprocamente.

Não basta que o crime simplesmente esteja previsto em tratado ou convenção internacional para que a
competência seja da Justiça Federal. Segundo o STF, para “fins de preenchimento do terceiro requisito, é
necessário que, do exame entre a conduta praticada e o resultado produzido, ou que deveria ser produzido,
se extraia o atributo de internacionalidade dessa relação”.

Perceba-se:

Ementa: habeas corpus. Alegação de vício procedimental. Competência para processar e julgar
crime de incitação à discriminação cometido por meio da internet. Ofensas dirigidas a pessoas
determinadas. 1. Não se declara a nulidade do ato processual que não houver influído na decisão
da causa. 2. É da Justiça estadual a competência para processar e julgar o crime de incitação à
discriminação racial por meio da internet cometido contra pessoas determinadas e cujo
resultado não ultrapassou as fronteiras territoriais brasileiras. 3. Ordem denegada. (HC 121283,
Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 29/04/2014)

Crimes previstos em tratados/convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, por força do art. 7º,
II ‘a’ do Código Penal, sujeitam-se à lei brasileira ainda que praticados integralmente no exterior, desde que
presentes alguns requisitos. É o que se denomina extraterritorialidade condicionada. Perceba-se:

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: [...] II - os crimes: a)
que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; [...]

Essas infrações deverão ser processadas e julgadas pela Justiça Estadual, salvo se houver internacionalidade
(art. 109, V) ou se praticadas contra bens, serviços ou interesses da União, empresas públicas ou autarquias
federais (art. 109, IV, CF).

Exemplos:

Tráfico internacional de drogas

Previsão normativa: Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias
Psicotrópicas (Decreto Legislativo 162/1991 e Decreto 154/1991).

Dispositivos legais pertinentes: artigos 40, I e 70 da Lei nº 11.343/2006.

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Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços,
se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do
fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se
caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal.

Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão
processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.

Súmulas sobre o tema: 522/STF - Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência
será da justiça federal, compete à justiça dos estados o processo e julgamento dos crimes relativos a
entorpecentes.

528/STJ - Compete ao juízo federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal
processar e julgar o crime de tráfico internacional.

OBS 1. É desnecessária a efetiva transposição de fronteiras para que se caracterize o tráfico transnacional.

OBS 2. Para que haja tráfico internacional é imprescindível que a droga seja ilícita tanto no Brasil como no
país de origem/destino.

Tráfico internacional de armas

Previsão normativa: Convenção Interamericana contra a fabricação e o tráfico ilícito de armas de fogo,
munições, explosivos e outros materiais correlatos (Decreto Legislativo 58/1999 e Decreto 3229/1999).

Tráfico internacional de pessoas

Previsão normativa: Convenção das Nações Unidas destinada à repressão do tráfico de pessoas e do
lenocínio (Decreto Legislativo 6/1958 e Decreto 46981/1959); Protocolo adicional à Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de
pessoas, em especial mulheres e crianças (Decreto Legislativo 231/2003 e Decreto 5017/2004); Protocolo de
Emenda da Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças e da Convenção para Repressão
do Tráfico de Mulheres Maiores (Decreto Legislativo 7/1950 e Decreto 37176/1955).

Transferência ilegal de criança ou adolescente para o exterior

Previsão normativa: Convenção sobre os Direitos da Criança (Decreto Legislativo 28/1990 e Decreto
99710/1990); Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional de Menores (Decreto Legislativo
105/1996 e Decreto 2740/1998).

Pornografia infantil

Previsão normativa: Convenção sobre os Direitos da Criança (Decreto Legislativo 28/1990 e Decreto
99710/1990); Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança referente à venda de crianças,
prostituição e pornografia infantis (Decreto Legislativo 230/2003 e Decreto 5007/2004).

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Em relação a este ponto, o STF fixou a seguinte tese, em agosto de 2020 (RE 628.624), referente
ao Tema 393 - repercussão geral:

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou


adquirir material pornográfico, acessível transnacionalmente, envolvendo criança ou
adolescente, quando praticados por meio da rede mundial de computadores (arts. 241,
241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990).

Esclareceu-se o seguinte em sessão plenária:

[...] 2. O Brasil pune a prática de divulgação e publicação de conteúdo pedófilo-pornográfico,


conforme art. 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. Além de signatário da
Convenção sobre Direitos da Criança, o Estado Brasileiro ratificou o respectivo Protocolo
Facultativo. Em tais acordos internacionais se assentou a proteção à infância e se estabeleceu o
compromisso de tipificação penal das condutas relacionadas à pornografia infantil. [...] 5.
Quando a publicação de material contendo pornografia infanto-juvenil ocorre na ambiência
virtual de sítios de amplo e fácil acesso a qualquer sujeito, em qualquer parte do planeta, que
esteja conectado à internet, a constatação da internacionalidade se infere não apenas do fato de
que a postagem se opera em cenário propício ao livre acesso, como também que, ao fazê-lo, o
agente comete o delito justamente com o objetivo de atingir o maior número possível de
pessoas, inclusive assumindo o risco de que indivíduos localizados no estrangeiro sejam,
igualmente, destinatários do material. A potencialidade do dano não se extrai somente do
resultado efetivamente produzido, mas também daquele que poderia ocorrer, conforme própria
previsão constitucional. 6. Basta à configuração da competência da Justiça Federal que o material
pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes tenha estado acessível por alguém no
estrangeiro, ainda que não haja evidências de que esse acesso realmente ocorreu. 7. A extração
da potencial internacionalidade do resultado advém do nível de abrangência próprio de sítios
virtuais de amplo acesso, bem como da reconhecida dispersão mundial preconizada no art. 2º, I,
da Lei 12.965/14, que instituiu o Marco Civil da Internet no Brasil. 8. Não se constata o caráter
de internacionalidade, ainda que potencial, quando o panorama fático envolve apenas a
comunicação eletrônica havida entre particulares em canal de comunicação fechado, tal como
ocorre na troca de e-mails ou conversas privadas entre pessoas situadas no Brasil. Evidenciado
que o conteúdo permaneceu enclausurado entre os participantes da conversa virtual, bem como
que os envolvidos se conectaram por meio de computadores instalados em território nacional,
não há que se cogitar na internacionalidade do resultado.

4.3 - Art. 109, inciso V-A c/c o § 5º da CF

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;

§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República,


com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal.

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Havendo grave violação de direitos humanos, é possível que o Procurador-Geral da República, em qualquer
fase do inquérito ou processo, suscite perante o STJ incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal, isso com o objetivo de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos de que o Brasil seja signatário.

Existem duas Ações Declaratórias de Inconstitucionalidade em curso contra os dispositivos em


análise (ADI 3486 e 3493), sob o fundamento de que a vagueza dos critérios para se definir a
respeito do que se considera grave violação a direitos humanos comprometeria o princípio do
juiz natural, garantindo ao PGR juízo discricionário para definir se suscita ou não o incidente
de deslocamento.

Prevalece na doutrina que para que haja a federalização, imprescindível que dois pressupostos se
verifiquem:

i. crime praticado com grave violação a direitos humanos;


ii. demonstração concreta do risco do descumprimento das obrigações decorrentes de tratados
internacionais firmados pelo Brasil por conta da inércia do Estado-membro.

Aqui não há necessidade de internacionalização para que se implemente o deslocamento.

Outrossim, perceba que o fato de haver o deslocamento de competência não implicará a nulidade dos atos
até então praticados, até porque não há qualquer previsão constitucional ou legal nesse sentido. Com efeito,
se os órgãos de persecução penal e o órgão judicante eram legalmente dotados de atribuição/competência
e agiram regularmente até o deferimento do incidente, não haveria qualquer nulidade a ser invocada quanto
às atuações pretéritas.

Em análise aos julgados do STJ que admitiram o incidente (a exemplo dos IDCs nº 2 e 5), nota-se que a Corte
se limitou a determinar a remessa das investigações e/ou ações penais aos novos órgãos federais
competentes, nada dizendo a respeito de eventual nulidade de atos praticados:

Pedido ministerial parcialmente acolhido para deferir o deslocamento de competência para a


Justiça Federal no Estado da Paraíba da ação penal n.º 022.2009.000.127-8, a ser distribuída para
o Juízo Federal Criminal com jurisdição no local do fato principal; bem como da investigação de
fatos diretamente relacionados ao crime em tela. Outras medidas determinadas, nos termos do
voto da Relatora. (IDC 2/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
27/10/2010).

12. Incidente de deslocamento de competência julgado procedente, para que seja determinada
a imediata transferência do Inquérito Policial n. 07.019.0160.00158/2013-1.1 para a Polícia
Federal, sob o acompanhamento e controle do Ministério Público Federal, e sob a jurisdição, no
que depender de sua intervenção, da Justiça Federal, Seção Judiciária de Pernambuco. Ainda,
determinação para que a tramitação do feito corra sob o regime de segredo de justiça, observada
a Súmula Vinculante n. 14, do Supremo Tribunal Federal. (IDC 5/PE, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/08/2014).

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4.4 - Art. 109, inciso VI da CF

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

A competência pertencerá à Justiça Federal quando violados os direitos dos trabalhadores considerados
coletivamente. Sobre a questão, confira-se o teor da Súmula 115 do TFR: Compete à Justiça Federal processar
e julgar os crimes contra a organização do trabalho, quando tenham por objeto a organização geral do
trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados coletivamente.

O crime de redução à condição análoga à de escravo está previsto no art. 149 do Código Penal, inserido no
capítulo ‘dos crimes contra a liberdade individual’. Para o STF, isso não significa que a infração não possa ser
considerada crime contra a organização do trabalho. Confira-se:

EMENTA: DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. ART. 149 DO CÓDIGO PENAL. REDUÇÃO Á
CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. TRABALHO ESCRAVO. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
DIREITOS FUNDAMENTAIS. CRIME CONTRA A COLETIVIDADE DOS TRABALHADORES. ART. 109, VI
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
PROVIDO. A Constituição de 1988 traz um robusto conjunto normativo que visa à proteção e
efetivação dos direitos fundamentais do ser humano. A existência de trabalhadores a laborar sob
escolta, alguns acorrentados, em situação de total violação da liberdade e da autodeterminação
de cada um, configura crime contra a organização do trabalho. Quaisquer condutas que possam
ser tidas como violadoras não somente do sistema de órgãos e instituições com atribuições para
proteger os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também dos próprios trabalhadores,
atingindo-os em esferas que lhes são mais caras, em que a Constituição lhes confere proteção
máxima, são enquadráveis na categoria dos crimes contra a organização do trabalho, se
praticadas no contexto das relações de trabalho. Nesses casos, a prática do crime prevista no art.
149 do Código Penal (Redução à condição análoga a de escravo) se caracteriza como crime contra
a organização do trabalho, de modo a atrair a competência da Justiça federal (art. 109, VI da
Constituição) para processá-lo e julgá-lo. Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE
398041, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 30/11/2006)

Enfim, o importante é avaliar se o crime atinge os direitos dos trabalhadores considerados coletivamente e
ter em mente que o fato de a infração não estar topologicamente classificada como crime contra a
organização do trabalho não significa que como tal não possa ser considerada para fins de fixação de
competência.

Insistimos. A compreensão desses pontos é de grande importância. A propósito, há uma ‘famosa’ questão
do concurso para ingresso na carreira de Delegado de Polícia/PCPR, do ano de 2007, que comumente causa
confusões aos alunos a respeito desse tema. Vejamos o seu teor, para melhor delinearmos a matéria:

NC-UFPR - 2007 - PC-PR - Delegado de Polícia

Segundo a atual Constituição Federal, o autor de homicídio preterdoloso decorrente de ação violenta
consumada em situação de greve deve ser processado e julgado:

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A) pela Justiça Militar, por se tratar de crime contra a Segurança do Estado.

B) pela Justiça Estadual, por se tratar de crime comum.

C) pelo Tribunal do Júri, por se tratar de crime contra a vida.

D) pela Justiça Federal, por se tratar de crime contra a organização do trabalho.

E) pela Justiça do Trabalho, porque decorrente de paralisação coletiva de trabalho.

Em primeiro lugar, note-se que não há crime doloso contra a vida. O enunciado é claro ao dispor que se trata
de um ‘homicídio preterdoloso decorrente de ação violenta’, que nada mais é do que uma lesão corporal
seguida de morte, com culpa no resultado. Assim, não há se falar em competência do Tribunal do Júri, mas
em competência da Justiça Estadual (alternativa B); todavia, não foi essa a orientação da banca.

A alternativa D foi considerada correta. Com efeito, levando-se apenas em consideração as disposições
constitucionais acerca do tema – em uma leitura deveras superficial, diga-se –, cogitar-se-ia em competência
da Justiça Federal em razão do previsto no art. 109, VI da CF.

Ocorre que, segundo a jurisprudência dos tribunais superiores, só serão de competência da ‘JF’ os crimes
contra a organização do trabalho que transcenderem a individualidade do direito do empregado:

1. Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cometidos contra a organização do


trabalho, quando forem violados direitos dos trabalhadores considerados coletivamente. 2.
Considerando-se que, in casu, o delito do art. 203 do Código Penal foi, em tese, perpetrado em
detrimento de apenas um trabalhador, compete à Justiça Estadual processar e julgar o feito. (CC
108.867/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 24/03/2010)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL


PENAL. ART. 109, INC. VI, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. DELITOS DE GREVE E CRIMES
CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO (ARTS. 197 A 207 DO CÓDIGO PENAL) QUE CAUSEM
PREJUÍZO À ORDEM PÚBLICA, ECONÔMICA OU SOCIAL E AO TRABALHO COLETIVO:
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA
PROVIMENTO. (RE 599943 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em
02/12/2010).

O enunciado da questão é sintético demais para se avaliar acerca desses detalhes e circunstâncias. Aliás,
sequer se sabe se a lesão corporal foi praticada para fins de frustração do direito trabalhista ou apenas
ocorreu no contexto da greve, o que impede a efetiva capitulação jurídica do delito.

Enfim, não obstante o gabarito oficial, o mais importante é que se saiba que, pela jurisprudência dos tribunais
superiores, nem toda infração contra a organização do trabalho ensejará a competência da Justiça Federal;
há se constatar um prejuízo efetivamente coletivo pela conduta do agente.

Seguimos. A competência para a apuração e julgamento dos crimes contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira somente pertencerá à Justiça Federal se assim a lei dispuser. Caso a lei nada

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estabeleça, possível concluir pela competência federal se presente alguma das hipóteses do inciso IV do art.
109 da Constituição Federal:

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou


interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.

As Leis nº 1.521/51, 4.595/64 e 8.137/90 nada dispõem a respeito da competência. Isso conduz à conclusão
de que, via de regra, as infrações nelas previstas serão apuradas pela Justiça Estadual. Sobre a matéria,
confira-se o entendimento da Súmula 498 do STF:

Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos crimes contra a
economia popular.

A Lei nº 7.492/86, por sua vez, prevê expressamente a competência da Justiça Federal em relação aos crimes
contra o Sistema Financeiro Nacional nela previstos (art. 26). A Lei nº 9.613/98, a seu turno, estabelece as
hipóteses em que o crime passará à competência da Justiça Federal (art. 2º, III).

4.5 - Art. 109, inciso VII da CF

VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento


provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;

O supramencionado dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o que estabelece o art. 108, I, ‘a’ e
‘d’ da Constituição Federal:

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:

I - processar e julgar, originariamente:

a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do


Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da
União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; [...]

d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal;

Assim é que, v.g., tratando-se de constrangimento ilegal à liberdade de locomoção praticado por
um delegado da Polícia Federal, como referida autoridade não está sujeita à competência do
Tribunal Regional Federal, eventual habeas corpus contra ele impetrado deve ser apreciado por
um juiz federal pertencente à respectiva seção judiciária. Por sua vez, caso esse delegado da
Policia Federal tenha instaurado um inquérito policial a partir de uma requisição de Procurador
da República, tem-se que a autoridade coatora, para fins de impetração de habeas corpus, será
o órgão do Parquet Federal. Nessa hipótese, questiona-se: a quem compete o julgamento de
habeas corpus contra membro do Ministério Público? Tem prevalecido o entendimento de que
o habeas corpus deve ser processado e julgado pelo Tribunal no qual o membro do Ministério
Público tem foro por prerrogativa de função. Isso porque, do julgamento do writ pode resultar o

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reconhecimento da prática de um crime, razão pela qual somente o respectivo Tribunal poderia
dizer se essa autoridade praticou ou não a infração penal. Destarte, se a autoridade coatora é
um Procurador da República, ao respectivo Tribunal Regional Federal caberá o julgamento do
habeas corpus (CF, art. 108, I, "a"). Caso a autoridade coatora seja um Procurador Regional da
República, sobre o Superior Tribunal de Justiça recairá a competência (CF, art. 105, I, "a").

4.6 - Art. 109, inciso VIII da CF

VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados
os casos de competência dos tribunais federais;

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:

I - processar e julgar, originariamente:

c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;

Do cotejo das duas regras constitucionais tem-se que o TRF terá competência, no que diz respeito ao
mandado de segurança, quando o ato coator for do próprio Tribunal ou de juiz federal; e, ao contrário, serão
os juízes federais que julgarão os mandados de segurança nas hipóteses de autoridade coatora federal (que
não esteja sujeita à competência do Tribunal).

Da leitura do art. 5°, LXIX, da Carta Magna, depreende-se que a abrangência do mandado de
segurança é determinada por exclusão, somente sendo cabível sua impetração quando o direito
não for amparado por habeas corpus ou habeas data. Logo, no âmbito criminal, sua utilização se
dá de maneira subsidiária, pois, havendo constrangimento à liberdade de locomoção, o habeas
corpus prevalece sobre o mandado de segurança. Como exemplos de mandados de segurança
no âmbito criminal cuja competência recai sobre um juiz federal, podemos citar: a) para o
advogado ter vista dos autos de inquérito policial, que lhe é negada por um delegado federal; b)
para o advogado acompanhar seu cliente em diligência em inquérito policial em curso perante a
Polícia Federal; c) para obter restituição de coisas apreendidas pela autoridade policial federal,
etc. Em relação à negativa de acesso do advogado aos autos do inquérito policial, diante da
elaboração da súmula vinculante n° 14 pelo Supremo Tribunal Federal, também é possível se
cogitar do ajuizamento de reclamação-perante a Suprema Corte, de modo a se assegurar a
preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões (CF, art 102, I, "l", c/c
art. 988, IV, do novo CPC).

O mandado de segurança individual tem seu procedimento regulamentado pela Lei n° 12.016,
de 7 de agosto de 2009. Segundo o art. 2º da referida Lei, considerar-se-á federal a autoridade
coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado
houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada (Lima, 2021).

4.6 - Art. 109, inciso IX da CF

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça


Militar;

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Em primeiro lugar, convém rememorar alguns pontos referentes à territorialidade da lei penal brasileira –
art. 5º do Código Penal:

Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.

§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações


e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou


embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território
nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do
Brasil.

Pois bem. Uma vez verificadas as aludidas condições para atração da lei penal brasileira, há se perquirir
acerca da competência, ou não, da Justiça Federal para o julgamento dessas infrações. Neste ponto,
imperioso que se identifique o significado dos termos ‘navios’ e ‘aeronaves’ para fins de adequação ao art.
109, IX da CF.

Navios

Embarcação é gênero do qual navio é espécie. A primeira é deveras abrangente, englobando uma vasta
gama de construções, como se extrai das disposições das Leis nº 9.537/1997 (sobre segurança no tráfego
aquaviário) e nº 2.180/1954 (sobre o Tribunal Marítimo):

Lei 9.537/1997. Art. 2º Para os efeitos desta Lei, ficam estabelecidos os seguintes conceitos e
definições:

V - Embarcação - qualquer construção, inclusive as plataformas flutuantes e, quando rebocadas,


as fixas, sujeita a inscrição na autoridade marítima e suscetível de se locomover na água, por
meios próprios ou não, transportando pessoas ou cargas;

Lei 2.180/1954. Art. 11. Considera-se embarcação mercante toda construção utilizada como
meio de transporte por água, e destinada à indústria da navegação, quaisquer que sejam as suas
características e lugar de tráfego.

O conceito de navio – mormente para os fins do art. 109, IX da CF (que nos interessa) –, por sua vez, não
encontra previsão legislativa.

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É na jurisprudência do STJ, há muito consolidada, que reside a resposta para o adequado enquadramento de
uma embarcação como efetivamente ‘navio’7, a ensejar os rigores da previsão constitucional para fixação da
competência da Justiça Federal.

Para a Corte Superior, dois requisitos hão de ser cumpridos para que haja a atração da competência da JF
nos crimes cometidos em navios:

✓ embarcação de grande porte;


✓ em deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (internacional).

O próprio STJ reconheceu a dificuldade na conceituação de ‘navio’ na doutrina e jurisprudência, mas


assentou as seguintes balizas para a análise do tema:

Em razão da imprecisão do termo ‘navio’ utilizado no referido dispositivo constitucional, a


doutrina e a jurisprudência construíram o entendimento de que ‘navio’ seria embarcação de
grande porte o que, evidentemente, excluiria a competência para processar e julgar crimes
cometidos a bordo de outros tipos de embarcações, isto é, aqueles que não tivessem tamanho
e autonomia consideráveis que pudessem ser deslocados para águas internacionais (CC
118.503/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015).

Em verdade, ambos os requisitos convergem em um ponto, que é o tamanho e autonomia suficientes para
deslocamento em águas internacionais. Quanto à análise a respeito desse ‘potencial deslocamento’, Sua
Excelência assim consignou:

A par da dificuldade de se delimitar a ideia de ‘potencial deslocamento’, cuja análise, a meu juízo,
impõe seja feita de maneira casuística, revela-se ponto comum na interpretação dada pela
jurisprudência desta Corte o fato de que a embarcação deve estar apta a realizar viagens
internacionais, tal como ocorre na hipótese (CC 118.503/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015)

Assim, a análise acerca da competência para processamento e julgamento de crime praticado em


embarcações de grande porte, segundo esse entendimento – que não encontra antítese em outros julgados
–, ficaria vinculada à constatação da aptidão/potencial para deslocamento internacional pelo navio,
mesmo que não seja propriamente essa a ‘intenção’ da viagem.

A título de exemplo, uma embarcação de grande porte em deslocamento por águas brasileiras a um destino
também brasileiro, em tese, poderia caracterizar o conceito de ‘navio’ para os fins do art. 109, IX da CF;
desde que constatada a potencialidade de seu deslocamento internacional.

7
A propósito, um conceito mais pragmático e simplificado, que não aborda definições mais técnicas e específicas, como
navegabilidade e flutuabilidade, mais atinentes ao campo do Direito Marítimo.

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Aeronaves

O conceito de aeronave está contido no Código Brasileiro de Aeronáutica, que, em seu art. 106, estatui:

Art. 106. Considera-se aeronave todo aparelho manobrável em voo, que possa sustentar-se e
circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas.

A interpretação, aqui, é mais simples. Para a fixação da competência da JF, basta que o crime de fato seja
praticado a bordo da aeronave, cujo conceito acima transcrito, como se vê, é também abrangente.

Em tempo: perceba que o fato de a aeronave se encontrar em solo (pousada), quando da prática do crime,
não afetará a fixação da competência:

2. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que "É da competência da Justiça Federal
processar e julgar delitos cometidos a bordo de aeronaves, nos termos do inciso IX do art. 109 da
Constituição Federal. Devendo-se ressaltar ser despiciendo se a aeronave encontra-se em solo
ou sobrevoando." (CC 143.343/MS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, DJe
30/11/2016) (CC 143.400/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
24/04/2019)

A fortiori, eventual deslocamento da aeronave em espaço aéreo brasileiro também não terá o condão de
influir nessa definição. Novamente, basta que a prática se dê a bordo de aeronave.

Note-se, ademais, que o próprio dispositivo constitucional ressalva a competência da Justiça Militar, na sua
parte final. Assim, eventuais crimes militares praticados a bordo de navios e aeronaves não implicarão
deslocamento da competência à Justiça Federal; continuarão a ser julgados perante a Justiça Castrense.

Ao demais, ainda em relação a aparelhos aéreos, BRASILEIRO minudencia algumas questões específicas:

Segundo NÁDIA DE ARAÚJO, "não pode ser considerada aeronave o paraquedas, que tem por
finalidade amortecer uma queda utilizando-se da resistência do ar, nem hovercraft, já que ele
não circula no espaço aéreo deslocando-se através de um colchão de ar, por ele próprio
produzido. Quanto aos planadores, são considerados aeronaves, mesmo porque a definição não
exige que estas possuam motor, apenas que tenham aptidão para sustentar-se circular no
espaço, e que sejam manobráveis. São também aeronaves o helicóptero e os hidroaviões. Ainda
com respeito ao Space Shuttle Columbia, acreditamos tratar-se de uma aeronave que acumula,
além das características básicas desta, a qualidade de efetuar, no espaço epiatmosférico, a
atividade executada por naves espaciais. " Conquanto a Convenção de Tóquio, promulgada pelo
Decreto n° 479/69, estabeleça que um crime praticado a bordo de uma aeronave sobre qualquer
território estrangeiro, por exemplo, o território brasileiro, somente seria da jurisdição brasileira
se a infração produzisse efeitos no território brasileiro, se a infração tivesse sido cometida por
ou contra um nacional do Brasil ou se a pessoa tivesse residência permanente no Brasil, tal
dispositivo não pode prevalecer sobre o disposto no art. 109, inciso IX, da Constituição Federal,
segundo o qual compete à Justiça Federal processar e julgar qualquer crime cometido a bordo
de navio ou aeronave, independentemente da posição dos sujeitos ativo e passivo, ressalvada a
competência da Justiça Militar.

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Analisando conflito positivo de competência entre a Justiça Federal e a Justiça Estadual relativo
ao acidente aéreo envolvendo o jato executivo legacy com o Boeing 737-800 da Gol Transportes
Aéreos, que resultou na queda dessa última em solo no Estado do Mato Grosso, decidiu o
Superior Tribunal de Justiça que a competência seria da Justiça Federal. Ponderou a Min. Relatora
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA que, qualquer que seja o resultado final das investigações, no
tocante à prática de qualquer ilícito penal, seja doloso ou culposo, haverá a competência da
Justiça Federal (art. 109, IV e IX, da CF/1988). Anotou que o tipo penal provisoriamente
capitulado seria o do art. 261 do CP (crime de atentado à segurança do transporte aéreo), que
busca tutelar bem cuja exploração (direta ou mediante autorização, concessão ou permissão) é
da União (art. 21, XII, c, da CF/1988), o que impõe a competência da Justiça Federal (art. 109, IV,
da CF/1988), também obrigatória no caso de admitir-se a prática de crime a bordo de aeronave
(art. 109, IX, da CF/1988). (Lima, 2021).

4.7 - Art. 109, inciso X da CF

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta


rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

Para fins criminais, interessa-nos a primeira parte do inciso X do art. 109 da Constituição Federal,
referente à competência criminal da Justiça Federal para processar e julgar os crimes de ingresso
ou permanência irregular de estrangeiro. Tal dispositivo é interpretado no sentido de que
compete aos juízes federais o processo e julgamento de todo e qualquer crime, previsto na
legislação comum ou especial, cometido pelo estrangeiro com o intuito de regularizar o seu
ingresso e permanência no Brasil.

Inicialmente, cabe ressaltar que o simples fato de um delito ter sido praticado por um estrangeiro
não atrai a competência da Justiça Federal. Com efeito, a condição de estrangeiro, para fins de
fixação de competência criminal, só tem relevância quando se trata de crime relacionado ao
ingresso ou permanência irregular no país.

É importante notar que o ingresso irregular no território nacional sem estar autorizado configura
mera infração administrativa punida com deportação, tal qual dispõe o art. 109, inciso I, da Lei
n° 13.445/17 (Lei de Migração). Da mesma forma, permanecer em território nacional depois de
esgotado o prazo legal da documentação migratória também constitui infração administrativa,
punida com pena de multa, por dia de excesso e deportação, caso o infrator não saia do País ou
não regularize a situação migratória no prazo fixado (Lei 13.445/17, art. 109, II).

O art. 338 do Código Penal, por sua vez, dispõe que a conduta de reingressar no território
nacional o estrangeiro que dele foi expulso será punida com pena de reclusão, de 1 (um) a 4
(quatro) anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena. Por sua vez, versa o
art. 309 do CP acerca do crime de fraude de lei sobre estrangeiro, caracterizando-se pela conduta
de usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o seu
(caput do art 309 do CP). O parágrafo único do art. 309 do CP dispõe acerca da conduta de atribuir

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a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional. Lado outro, o
art. 310 do CP prevê como crime as condutas de prestar-se a figurar como proprietário ou
possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos casos em que a este é vedada
por lei a propriedade ou a posse de tais bens, condutas estas que podem ser praticadas com a
finalidade precípua de garantir a permanência irregular do estrangeiro no território nacional
(Lima, 2021).

XI - a disputa sobre direitos indígenas.

Segundo o disposto no art. 109, inciso XI, da Constituição Federal, compete à Justiça Federal
processar e julgar a disputa sobre direitos indígenas. Nos exatos termos do art. 3º da Lei nº
6.001/73 (Estatuto do Índio), índio ou silvícola é todo indivíduo de origem e ascendência pré-
colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas
características culturais o distinguem da sociedade nacional (inciso I), e comunidade indígena ou
grupo tribal é um conjunto de famílias ou comunidades índias, quer vivendo em estado de
completo isolamento em relação aos outros setores da comunhão nacional, quer em contatos
intermitentes ou permanentes, sem contudo estarem neles integrados (inciso II).

Acerca da competência criminal, pacificou-se a jurisprudência no sentido de que crimes


cometidos por ou contra índios são, em regra, da competência da Justiça Estadual, salvo se o
delito envolver a disputa sobre direitos indígenas. Nesse sentido, aliás, dispõe a súmula nº 140
do STJ que compete à Justiça Comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure
como autor ou vítima. Portanto, se um crime de homicídio for cometido por um índio, motivado
por desentendimento momentâneo, não guardando qualquer pertinência com direitos
indígenas, será de todo irrelevante o fato de o delito ter ocorrido no interior de reserva indígena
- a competência será da Justiça Estadual.

Nessas circunstâncias, não se pode querer atribuir a competência à Justiça Federal pelo simples
fato de recair sobre a FUNAI a tutela sobre os índios, nem tampouco pelo fato de o art. 37 da LC
75/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público da União) atribuir ao MPF a defesa de direitos
e interesses dos índios e das populações indígenas, nem tampouco pelo fato de caber à FUNAI a
tutela sobre os índios. Como visto anteriormente, a competência criminal da Justiça Federal
deriva da própria Constituição Federal, não podendo o legislador infraconstitucional pretender
fazê-lo por via indireta ao atribuir funções à FUNAI ou ao Ministério Público Federal. Se, no
entanto, o delito cometido por ou contra índio envolver a disputa sobre direitos indígenas, ter-
se-á crime de competência da Justiça Federal. Por "direitos indígenas" deve se atentar para o
disposto no art. 231, caput, da Carta Magna, segundo o qual são reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos
os seus bens. Assim, se o chefe de uma tribo indígena for vítima de um crime doloso contra a
vida, estando a infração relacionada à disputa sobre terras ocupadas pelos índios, estará fixada
a competência do Tribunal do Júri Federal para o processo e julgamento do feito. Em relação aos
crimes cometidos em detrimento de terras indígenas, não há como se afastar a competência da
Justiça Federal. A uma porque são bens da União as terras tradicionalmente ocupadas pelos

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índios (CF, art. 20, inciso XI). A duas porque tal delito envolve direitos indígenas, haja vista os
direitos originários dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam (CF, art. 231, caput).
Destarte, seja com fundamento no inciso IV do art. 109 da Constituição Federal, seja com base
no inciso XI do art. 109, crimes envolvendo terras indígenas deverão ser processados e julgados
pela Justiça Federal. Por isso, crime contra o meio ambiente praticado no interior de reserva
indígena deve ser julgado pela Justiça Federal. Este o motivo pelo qual, em caso concreto
atinente a crimes de homicídios praticados por índios cuja motivação teria sido a disputa pela
posse de terras entre índios e produtores rurais locais, concluiu o Superior Tribunal de Justiça
pela competência da Justiça Federal.

Não obstante ser esse o entendimento consolidado dos Tribunais Superiores, ao apreciar o RMS
30,675/AM, a 5ª Turma do STJ concluiu- estranhamente, a nosso ver- que, mesmo em se tratando
de índio integrado à sociedade, haveria a necessidade de intervenção da FUNAI, o que,
consequentemente, acarretaria a fixação da competência da Justiça Federal. O caso concreto
referia-se à prática de crime de tráfico de drogas por acusado pertencente à etnia Kokama. Nas
instâncias ordinárias, a intervenção da FUNAI foi indeferida pelo fato de o acusado ter sido
considerado integrado à sociedade, já que possuía documentos comuns aos não índios (CPF, RG,
título de eleitor etc.). No entanto, sob o argumento de que o normativo da Convenção OIT nº
169 adota, como critério de identificação, a autoidentificação, sendo indígena quem se sente,
comporta-se ou afirma-se como tal, de acordo com os costumes, organizações, usos, língua,
crenças e tradições indígenas da comunidade a que pertença, seria obrigatória a intervenção da
FUNAI daí por que o processo devia ter tramitado perante a Justiça Federal. A nosso juízo,
laborou em equívoco a 5º Turma do STJ, porquanto ausente interesse da FUNAI no caso concreto.
Com efeito, por força do art. 4º da Lei n° 6.001/73, classifica-se o índio em: a) Isolados: quando
vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes através de
contatos eventuais com elementos de comunhão nacional; b) Em vias de integração: quando, em
contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, conservem menor ou maior parte
das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de existência comuns
aos demais setores da comunhão nacional; c) Integrados: quando incorporados à comunhão
nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos,
costumes e tradições características da sua cultura. Compete à União, através da FUNAI (órgão
federal de assistência aos silvícolas), dentre outras, prestar assistência aos índios ainda não
integrados à comunhão nacional (art. 2°. Lei 6001/73), garantindo a ele a igualdade de armas na
disputa travada no processo penal. A sua intervenção, portanto, só se justifica quando o índio
necessitar da tutela, e isso se dá apenas quando não totalmente integrado (art. 7", da Lei
6001173). Quando se trata de índio integrado (com registro civil, inclusive), cessa toda e qualquer
restrição à capacidade (art. 10 da Lei 6001/73), mas nunca sua condição de índio. Dentro desse
espírito, sentir-se, comportar-se ou afirmar-se índio, de acordo com os costumes, organizações,
usos, língua, crenças e tradições indígenas da comunidade a que pertença, não impede que seja
etiquetado como capaz e, como tal, dispensar a tutela do órgão de assistência federal (repise-se:
índio, integrado ou não, continua índio). Ora, no caso concreto apreciado pelo STJ, o acusado,
índio, claramente integrado, possuindo registro civil, comercializou, fora da sua comunidade,
drogas. Logo, não há falar em tutela da FUNAI, muito menos em fixação da competência da
Justiça Federal para o processo e julgamento do feito. Devia ter sido mantida, pois, a
competência da Justiça Estadual.

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Genocídio contra índios. O crime de genocídio está previsto na Lei nº 2.889/56. Da leitura do art.
1º da Lei no 2.889/56 depreende-se que o bem jurídico tutelado pelo genocídio é a existência de
grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Não se trata, pois, de crime doloso contra a vida.
Conclui-se, também, que referido delito pode ser praticado por meio de homicídios, lesões
corporais, maus-tratos, esterilização forçada, aborto e sequestro ou cárcere privado.
Inicialmente, cumpre analisar a competência de Justiça para processar e julgar o delito de
genocídio: Justiça Estadual ou Justiça Federal? É bem verdade que o delito de genocídio está
previsto em tratado ou convenção internacional - o Decreto n° 30.822, de 6 de maio de 1952,
promulgou a Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio, concluída em
Paris, em 11 de dezembro de 1948, por ocasião da III Sessão da Assembleia Geral das Nações
Unidas. No entanto, como visto anteriormente, de acordo com o art. 109, inciso V, da
Constituição Federal, o simples fato de o delito estar previsto em tratado ou convenção
internacional assinada pelo Brasil não enseja, por si só, a competência da Justiça Federal. Para
além disso, é imprescindível que o delito se revista do caráter de internacionalidade, ou seja, que
reste caracterizada a internacionalidade territorial do resultado relativamente à conduta
delituosa. Ora, como o delito de genocídio, pelo menos em regra, não preenche esse segundo
pressuposto, tem-se que o crime de genocídio é da competência da Justiça Estadual.

Como se trata de crime que envolve grave violação aos direitos humanos, afigura-se possível o
incidente de deslocamento da competência para a Justiça Federal (CF, art. 109, inciso V-A, c/c
art. 109, § 5º, o qual, todavia, fica condicionado à demonstração concreta de risco de
descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil,
resultante da inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do Estado-
membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução penal. Assim, imaginando-se
um massacre baseado em intuito genocida, e confirmada a negligência do Estado-membro em
proceder à persecução penal, estará o Procurador-Geral da República autorizado a propor
perante o Superior Tribunal de Justiça o incidente de deslocamento da competência pleiteando
a remessa do feito à Justiça Federal. Em que pese o fato de o delito de genocídio ser, em tese, da
competência da Justiça Estadual, caso esse genocídio seja praticado contra índios, não há como
se afastar a competência da Justiça Federal. Isso porque, como o delito teria o condão de atingir
potencialmente a Própria existência de uma determinada etnia indígena, inegável tratar-se de
crime praticado contra índios envolvendo a disputa sobre direitos indígenas, afastando-se, assim,
a aplicação da súmula n° 140 do STJ. Mas ainda deve ser analisado se esse delito de genocídio
contra índios deve ser julgado por um juiz singular federal ou por um tribunal do júri federal.

Como visto anteriormente, como o delito de genocídio não é crime doloso contra a vida, eventual
delito de genocídio contra índios deve ser processado e julgado, pelo menos em regra, perante
um juiz singular federal. Assim, v.g., se determinado indivíduo, fazendo-se se passar por cientista,
e agindo com intuito genocida, entregar pílulas anticoncepcionais a índias, dizendo tratar-se de
remédios contra a gripe, deverá responder pelo delito do art. 1°, alínea "d", da Lei nº 2.889/56,
perante um juiz singular federal. Todavia, esse mesmo delito de genocídio contra índios pode ser
praticado mediante morte de membros do grupo. Nesse caso, se o agente resolver matar vários
índios, em circunstâncias semelhantes de tempo e de lugar, e com o mesmo modus operandi,
deverá responder pelos diversos homicídios (em continuidade delitiva) e pelo crime de
genocídio, em concurso formal impróprio, não sendo possível a aplicação do princípio da
consunção. Nesse caso, como os crimes dolosos contra a vida de índios envolvem a disputa sobre

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direitos indígenas, a série de continuidade delitiva dos homicídios deverá ser processada e
julgada perante um Tribunal do Júri Federal, que exercerá força atrativa em relação ao crime
conexo de genocídio, tal qual dispõe o art. 78, inciso I do Código de Processo Penal (Lima, 2021).

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016):
“Competência territorial da Justiça Federal. A competência territorial da Justiça Federal é ditada,
como regra, pelas normas gerais afetas à esfera estadual, prevalecendo o local da consumação
da infração como determinante para identificação do foro competente (art. 70, CPP). Vale
destacar apenas, com arrimo na CF, que nas comarcas que não forem sede de vara federal, e
havendo previsão legal, poderá ocorrer o processamento e julgamento de crime federal perante
a própria justiça estadual (§ 3º, art. 109, CF). Eventuais recursos serão endereçados ao
competente Tribunal Regional Federal”. Acerca das diversas matérias criminais atinentes à
competência da Justiça Federal, assevera: “Compete, portanto, aos juízes federais julgar (art.
109, CF): a) Os crimes políticos (inciso IV, primeira parte). Em razão da omissão da Carta Magna
em definir o que seja crime político, ficou a cargo da doutrina e da jurisprudência definir sua
abrangência para fins de fixação da competência da Justiça Federal. Somar-se-ia assim à
necessidade de contemplação legal instituindo o crime político, a intenção de atentar contra a
soberania nacional e a estrutura política brasileira. Atualmente, temos como paradigma a Lei nº
7.170/1983, tratando dos crimes contra a segurança nacional, que serão processados e julgados
perante a Justiça Federal. O art. 30 deste diploma legal informa que a competência seria da
Justiça Militar, não foi recepcionado pela Constituição Federal. A jurisprudência do STF, na
maioria dos casos, tem se posicionado no sentido de não reconhecer como crimes políticos
condutas definidas na Lei de Segurança Nacional quando faltar a eles motivação política tendente
a comprometer a soberania nacional. Entende necessária para tanto a contemplação legal
instituidora do crime político, bem como a intenção de atentar contra a estrutura política
brasileira. [...] A ideia majoritariamente aceita pela doutrina e jurisprudência é a de reconhecer
a existência de crime político, cuja espécie, nas palavras de Roberto Luchi Demo, ‘somente se
caracteriza quando presentes os pressupostos cristalizados no art. 2º, da Lei nº 7.170/1983:
motivação política e lesão real ou potencial aos bens juridicamente tutelados’. b) Infrações
penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades
autárquicas, empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral (inciso IV, parte final). b.1) Infrações abrangidas: Tão
somente os crimes são apreciados pela Justiça Federal. As contravenções estão terminantemente
excluídas. O julgamento de contravenção que afete ente federal será de competência dos
juizados especiais na esfera estadual. [...] b.2) Bens, serviços ou interesses pertencentes a ente
federal. Esta trilogia é o termômetro para a fixação da competência federal. Deve haver
correlação direta entre a conduta delituosa e a afetação a um destes elementos. Os bens são o
patrimônio do ente federal, sendo que a Constituição rotulou os bens pertencentes à União no
art. 20, incisos I a XI. Atenção especial merece a definição de competência para processamento
e julgamento de crimes praticados em detrimento de bens que compõe órgão do Distrito Federal:
ainda que organizado e mantido pela União, os seus bens não são da União, pelo que a
competência para seu processamento e julgamento é da Justiça do Distrito Federal e Territórios
e não da Justiça Federal. Quanto aos serviços, passamos a focalizar a própria atividade do ente
federal, a sua finalidade, ao passo que o interesse, talvez a expressão de significação mais ampla,

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abarca aquilo que está ligado ao ente federal, aquilo que lhe diz respeito. Não é suficiente o
simples interesse genérico ou indeterminado para atrair a competência da Justiça Federal,
imprescindível, para tanto, existir interesse direto e imediato da União, afastando-se ofensas
indiretas, reflexas, que não se coadunem com o parâmetro restritivo para a definição da
competência da Justiça Federal. [...] b.3) Entes contemplados. 1) União: engloba todos os órgãos
da Administração direta, tal como ministérios, departamentos, abrangendo seus serviços,
interesses e patrimônio. 2) Autarquias: as autarquias são “pessoas jurídicas de direito público,
com capacidade exclusivamente administrativa, criadas por lei específica para exercerem, em
caráter especializado e com prerrogativas públicas, atividades típicas referentes à prestação de
certos serviços públicos”342. Ex: Banco Central do Brasil; INSS; Agências Reguladoras (ANATEL,
ANEL, etc.). 3) Empresas públicas: entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado,
com patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criada por lei para a exploração de atividade
econômica que o Governo seja levado a exercer por força de contingência ou de conveniência
administrativa, podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito (art. 5º, inciso
II do Decreto-lei nº 200/67). Ex: Caixa Econômica Federal; Correios. Dessa forma, um crime contra
a agência brasileira de correios e telégrafos é de competência da Justiça Federal porque esta,
ente da administração indireta federal, explora atividade de interesse federal. Caso se trate de
exploração de serviço postal por particulares, a competência é da Justiça Estadual. O STJ tem
entendido que se o crime é praticado em prejuízo de agência de correios comunitária operada
mediante convênio firmado entre a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) e a
municipalidade, também é fixada a competência da Justiça Federal, em razão de haver não só
interesse da prefeitura do município, mas também interesse público federal da EBCT, relativo ao
funcionamento do serviço postal. 4) Fundações públicas: entidade dotada de personalidade
jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para
o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito
público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de
direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes (art. 5º, inciso IV do
Decreto-Lei nº 200/67). Em que pese a omissão do texto constitucional, é prevalente o
entendimento que os crimes praticados em detrimento de fundação pública federal são
apreciados pela justiça federal, ao argumento de que estas seriam espécies do gênero autarquia.
[...] c) Os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente (inciso
V). Sendo da União a atribuição de manter relação com Estados estrangeiros, o que engloba a
celebração de tratados e convenções de ordem internacional (art. 21, I, CF), resta à Justiça
Federal a apreciação das infrações assim contempladas. Contudo, além da existência do tratado
ou convenção, é essencial que a infração praticada transcenda as fronteiras de mais de um país,
ou seja, a internacionalidade da conduta é requisito objetivo para a fixação da competência
federal. Logo, em que pese a existência de tratado ou convenção internacional, se a infração
limitar-se às fronteiras brasileiras, a competência será, de regra, da Justiça Estadual. [...] d) As
causas relativas a direitos humanos (inciso V-A). Este inciso foi acrescentado pela EC nº 45/2004,
movida pela federalização dos crimes que afrontem direitos humanos. Não se pode perder de
vista a necessária conjugação do dispositivo em enfoque com o § 5º do art. 109 da CF: (...). [...]
Temos a previsão de um incidente processual para que se preserve a competência da Justiça
Federal. Resta-nos saber em que circunstâncias ele teria cabimento. A nosso sentir, sendo a
competência federal de ordem material, e por consequência absoluta, os juízes e delegados de
polícia estadual deveriam, de ofício, declinar de sua competência e atribuição respectivamente,

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remetendo os autos para a esfera federal, sempre que estiverem diante de infração que afete
direitos humanos contemplada em tratado internacional que o Brasil seja signatário. [...] O
incidente em estudo foi invocado no caso da missionária americana Dorothy Stang, assassinada
no Estado do Pará, quando então o Procurador Geral da República manifestou-se pelo
deslocamento da competência da Justiça Estadual para a Federal, por aplicação do inciso V-A c/c
§ 5º da CF. O incidente não teve êxito, por entender o STJ que além da violação de direitos
humanos e da existência de tratado ou convenção internacional, seria necessário que a polícia
ou justiça estaduais não cumprissem o seu mister, ou seja, haveria o condicionamento à
existência de algum obstáculo na esfera estadual, que dificultasse ou impedisse o êxito das
investigações ou do processo. [...] Em que pese a autoridade da posição, corroborada pela
jurisprudência do STJ, ousamos discordar. A competência da Justiça Federal, a nosso sentir, não
pode estar condicionada à eficiência na órbita estadual, afinal, o próprio texto constitucional não
fez e nem poderia fazer tal ressalva, que depõe contra a própria autonomia da Justiça Estadual.
Nem se diga que tal expediente é similar ao desaforamento no âmbito do procedimento do Júri,
pois lá, diferente daqui, deslocamos apenas a sessão de julgamento para a comarca mais
próxima, em expediente que afeta a competência meramente territorial, que, diga-se de
passagem, é meramente relativa, em prol de um bem maior que é a regularidade do julgamento
em plenário (arts. 427 e 428, CPP). [...] e) Crimes contra a organização do trabalho (inciso VI,
primeira parte). Tais crimes estão previstos nos arts. 197 a 207 do CP, sendo que, só serão
julgados na Justiça Federal se houver ofensa à coletividade de trabalhadores. Ofensas que afetem
interesses individuais resolvem-se na Justiça Estadual. Nesse sentido, a súmula nº 115 do TFR,
averbando competir ‘à Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a organização do
trabalho, quando tenham por objeto a organização geral do trabalho ou direitos dos
trabalhadores considerados coletivamente’. A posição prevalente (do STF e STJ) continua sendo
a de exigir, em regra, para a atração da competência da Justiça Federal, que haja ofensa pelo
menos a um dado grupo de trabalhadores, excluindo-se do leque daquela Justiça o delito
praticado contra o trabalhador, considerado individualmente. No que toca ao crime de redução
à condição análoga a de escravo, o STJ pacificou seu entendimento, seguindo o STF, que fixou
sua posição no sentido de que o crime de redução à condição análoga à de escravo é de
competência da Justiça Federal, mesmo que perpetrado contra o ‘homem trabalhador’. [...] f)
Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira (inciso VI, parte final).
Iniciaremos pelo tratamento dos crimes contra o sistema financeiro nacional (SFN), que é
composto pelas instituições financeiras públicas e particulares, e as pessoas a elas equiparadas
(parágrafo único do art. 1º da Lei nº 7.492/1986). [...] Ocorre que, não basta que a conduta afete
o SFN. Para que a competência seja da esfera federal, é fundamental que a lei ordinária,
disciplinando a infração, preveja expressamente a competência federal, como manda o inciso VI
do art. 109 da CF. Precisamos de contemplação expressa no texto do diploma normativo. [...] No
que tange à ordem econômico-financeira, da mesma forma, necessita-se de previsão expressa
na legislação ordinária para que haja a apreciação perante a Justiça Federal. As Leis nºs
8.137/1990 e 8.176/1991 tratam da matéria, contudo, por ausência de previsão nos respectivos
textos, os crimes nelas previstos serão apreciados, em regra, na Justiça Estadual. [...] g) O habeas
corpus e o mandado de segurança em matéria criminal (incisos VII e VIII). Neste momento,
tratando da competência para apreciação destas ações, especificamente na seara federal, é por
demais importante dar enfoque ao papel da autoridade coatora, ou seja, a autora da ilegalidade
ou do abuso de poder a ensejar a impetração do HC ou do mandado de segurança. Se esta estiver
sob o manto da jurisdição federal, leia-se, não se encontrando vinculada diretamente a outra

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jurisdição, a competência para apreciação da respectiva ação de impugnação será da esfera


federal. h) Os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da
Justiça Militar (inciso IX). À exceção das embarcações e aeronaves militares, os crimes havidos
dentro de navios e aeronaves civis, sejam consumados ou tentados, dolosos ou culposos, serão
apreciados na Justiça. [...] i) Os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro
(inciso X). [...] É oportuno lembrar que a conduta de ingressar ou permanecer ilegalmente no
país, em si mesma, não é tipificada como crime, tendo natureza de infração de cunho
administrativo, a merecer reprimenda desta natureza. O que será apreciado na Justiça Criminal
Federal são as infrações penais perpetradas para a consecução da permanência ou do ingresso
irregular no Brasil. [...] j) A disputa sobre direitos indígenas (inciso XI). As demandas criminais
que versem sobre direitos indígenas só serão apreciadas pela Justiça Federal em havendo
afetação da coletividade indígena. Portanto, lesões pontuais, individualizadas, que não tenham
por escopo o interesse do grupo, serão apreciadas na Justiça Estadual. Neste sentido, a súmula
nº 140 do STJ: ‘compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena
figure como autor ou vítima’”.

NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017), a
respeito das várias hipóteses de competência criminal da Justiça Federal, pontua: “Dito isto,
passa-se ao exame das competências federais determinadas com base no art. 109, da
Constituição Federal. Incumbe, assim, aos Juízes Federais, processar e julgar: IV – os crimes
políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e
ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral: a) Quanto aos crimes
políticos: considera-se como crime político a conduta que preenche os requisitos previstos no
art. 2. º da Lei 7.170/ 1983, quais sejam, motivação política e lesão real ou potencial aos bens
juridicamente tutelados. b) Quanto às infrações praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União, suas autarquias ou empresas públicas: por bens, serviços e interesse, tal
como previstos no inciso em análise, compreendem-se aqueles que possuem relação com os fins
institucionais das entidades referidas – União, suas entidades autárquicas ou empresas públicas
–, e não aqueles relacionados pessoalmente aos dirigentes. Na esteira dessa disciplina, tomando-
se como exemplo a hipótese de crime de roubo perpetrado contra uma agência da Caixa
Econômica Federal, que possui natureza jurídica de empresa pública, este deverá ser processado
e julgado perante a Justiça Federal. Do mesmo modo, um latrocínio perpetrado contra policiais
federais durante o exercício de suas funções. Em ambos os casos é inequívoco o interesse da
União nos feitos mencionados, o que justifica o reconhecimento da competência da Justiça
Federal para processar e julgar as respectivas demandas. [...] E no caso de crimes contra
sociedades de economia mista (v.g., o Banco do Brasil)? Nesta hipótese, a competência para o
processo e julgamento será da Justiça Estadual, uma vez que não previstas estas sociedades entre
as entidades mencionadas no precitado inciso IV do art. 109 da Carta Política. Confirmando este
raciocínio, estabelece a Súmula 42 do STJ que ‘compete à Justiça Comum Estadual processar e
julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em
seu detrimento’. [...] V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente; A prática de crime previsto em tratado ou convenção internacional, por si, não
atrai, necessariamente, a competência da Justiça Federal para o respectivo processo e
julgamento. Para tanto, será necessário que se trate de delito com repercussão internacional e

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não meramente interna ao País. Tome-se a hipótese de tráfico internacional de drogas. Trata-se
de crime que exige, para que se reconheça a competência da Justiça Federal para seu processo
e julgamento, a demonstração da internacionalidade. Na falta dessa demonstração, firma-se a
competência da Justiça Estadual, pois considerada ocorrente hipótese de tráfico interno. Neste
sentido, a Súmula 522 do Supremo Tribunal Federal, dispondo que, ‘salvo ocorrência de tráfico
para o exterior, quando então a competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos
Estados o processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes’. [...] V-A – as causas
relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; Trata-se de dispositivo
introduzido pela Emenda Constitucional 45/2004, federalizando os crimes perpetrados contra os
direitos humanos a que se refere o § 5º do art. 109 da Carta da República. [...] Questão relevante
refere-se a como caracterizar determinado delito como atentatório ou não aos direitos humanos.
Como se observa, tendo em vista a amplitude do termo ‘direitos humanos’, optou o legislador
constituinte por não definir o rol dos crimes que passariam para a competência da Justiça
Federal, razão pela qual o enquadramento de uma conduta como grave violadora dos direitos
humanos e exigente do deslocamento da competência para a esfera federal requer a análise de
cada situação de fato, de suas circunstâncias e de suas peculiaridades. Como exemplo claro de
delito que se enquadra nessa definição pretoriana, pode ser citado o episódio envolvendo a
Penitenciária Carandiru, quando mais de cem apenados restaram mortos em conflito com as
forças de segurança do Estado de São Paulo. [...] VI – os crimes contra a organização do trabalho
e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
Crimes contra a organização do trabalho: independentemente da amplitude do dispositivo
constitucional, é firme a jurisprudência no sentido de que a competência da Justiça Federal para
o processo e julgamento dos crimes contra a organização do trabalho exige que haja lesão aos
direitos dos trabalhadores considerados coletivamente, pois, tratando-se de simples lesão a
direito individual, remanesce a competência residual da Justiça Estadual. [...] Crimes contra o
sistema financeiro: em razão da exigência inscrita no art. 109, VI, última parte, da Constituição
Federal, limitando a competência da Justiça Federal nesta ordem dos delitos aos casos
determinados em lei, depreende-se que que serão de competência da Justiça Federal apenas os
crimes tipificados em leis que dispuserem expressamente no sentido dessa competência. É o que
ocorre na Lei 7.492/1986, que, ao definir os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional,
estabelece no art. 26, caput, que ‘a ação penal, nos crimes previstos nesta Lei, será promovida
pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal’. Crimes contra a ordem econômico-
financeira: também aqui, por imposição do art. 109, VI, da Constituição Federal, a competência
da Justiça Federal exige que haja expressa previsão legal neste sentido. Tome-se como exemplo
os delitos previstos na Lei 8.137/ 1990, que define os crimes contra a ordem tributária,
econômica e contra as relações de consumo. Neste diploma, não existe atribuição de
competência à Justiça Federal. Logo, os delitos nele previstos devem ser processados e julgados
perante a Justiça Estadual. VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou
quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos
a outra jurisdição; O inciso prevê regra simétrica à constante no art. 650, § 1. º, do CPP, dispondo
que “a competência do Juiz cessará sempre que a violência ou coação provier de autoridade
judiciária de igual ou superior jurisdição.” Assim como no âmbito estadual compete ao Juiz de
direito julgar um habeas corpus impetrado contra ato do delegado de polícia, na esfera federal,
a teor do dispositivo em exame, competirá ao Juiz federal a decisão do writ em relação a
constrangimento [...] IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar; Para a definição da competência federal basta que o crime tenha

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sido cometido a bordo de navios ou aeronave, sendo irrelevante a circunstância de estarem os


primeiros em navegação ou atracados, e os segundos, em voo ou em terra, assim como de serem
os sujeitos ativo e passivo do crime nacionais ou estrangeiros. Questão discutível refere-se ao
porte da embarcação para fins de enquadramento no âmbito da jurisdição federal, já que a
Constituição Federal refere a competência da Justiça Federal para o julgamento de crimes
cometidos a bordo de navios. Predomina, entretanto, o entendimento de que é necessário que
se trate de embarcações de tamanho e capacidade consideráveis, capazes de efetuar, se
necessário, o deslocamento por águas internacionais. Por outro lado, relativamente às
aeronaves, por muito tempo prevaleceu a orientação de que os crimes cometidos em seu interior
são sempre de competência da Justiça Federal, independentemente do seu tamanho (...). No
entanto, esta orientação não mais prevalece. Na atualidade, a tendência é aplicar às aeronaves
a mesma interpretação realizada em relação às embarcações, considerando-se como sujeitos à
competência da Justiça Federal apenas os crimes praticados a bordo de aeronaves de grande
porte. X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; A regra
constitucional inserta nesse inciso apresenta relevância, basicamente em relação aos crimes de
ingresso ou permanência de estrangeiro com utilização de nome falso ou atribuição de falsa
qualidade e de reingresso de estrangeiro expulso, os quais possuem tipificação, respectivamente,
nos arts. 309 e 338 do Código Penal. [...] XI – a disputa sobre direitos indígenas. A hipótese deve
ser analisada diante do teor da Súmula 140 do Superior Tribunal de Justiça, dispondo que
‘compete à justiça comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor
ou como vítima’. Destarte, não é o fato de ser índio o sujeito ativo ou o sujeito passivo da conduta
delituosa que atrai a competência federal, sendo necessário que fique caracterizado estar o
delito relacionado à disputa sobre direitos indígenas. Enfim, exige-se que o crime atinja interesses
gerais da população indígena, assumindo caráter transindividual”.

VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012): “Considerações
diversas: “1. A Justiça Federal, por ser justiça comum, julga, também, os crimes conexos e é
prevalente em relação a eles, ou seja, ocorrendo conexão, a Justiça Federal tem poder de
atração, julgando todos. [...] 2. Ressalvadas as contravenções, a Justiça Federal julga as infrações
contra o patrimônio público de interesse nacional, como as florestas e os animais silvestres. Não
as matas locais ou animais domésticos. [...] 3. Se um crime seria, em tese, da competência da
Justiça Federal, mas ele é crime-meio que fica absorvido pelo crime-fim, da competência da
Justiça Estadual, esta é que se aplica, inexistindo competência da Justiça Federal. É o que
acontece, por exemplo, com uma falsificação de documento federal, exclusivamente feita para a
prática de crime de estelionato. Sendo este da competência da Justiça Estadual, esta é que
prevalece. [...] 4. Quanto à competência para julgamento dos crimes contra a organização do
trabalho, aplica-se ela somente às infrações contra as instituições do trabalho e não em
detrimento de direitos individuais do trabalho, que são da competência da Justiça Estadual. [...]
5. Em se tratando de norma de direito estrito, a competência da Justiça Federal não se estende
a crimes praticados contra sociedades de economia mista, como, por exemplo, o Banco do Brasil,
já que o texto constitucional menciona, apenas, as entidades autárquicas e as empresas públicas.
[...] 6. A Súmula 147 do Superior Tribunal de Justiça, assim como já dispunha a Súmula 98 do
antigo Tribunal Federal de Recursos, considera da competência da Justiça Federal os crimes
praticados contra servidor público federal, no exercício de suas funções com estas relacionados.

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Em se tratando de homicídio, adota-se o procedimento do júri, organizado, nos termos do Código


de Processo Penal, perante a Justiça Federal. O mesmo ocorre para crime da mesma natureza
cometido a bordo de navio ou aeronave. 7. No caso de crime que, originariamente, seria da
competência da Justiça Federal, se, na comarca em que foi cometido, não há Vara Federal, a
competência pode ser atribuída, pela lei, à Justiça Estadual em primeiro grau, com os recursos
para o Tribunal Federal de segundo grau. [...] 8. O crime praticado a bordo de aeronave é de
competência da Justiça Federal, independentemente de ela se encontrar em ar ou em terra, e de
quem seja o sujeito passivo do delito”.

PEDRO HENRIQUE DEMERCIAN E JORGE ASSAF MALULY (Curso de processo penal, 9ª ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2014), especificamente sobre a federalização de competência para julgamento de
crimes contra os direitos humanos e a discussão envolvendo a matéria, muito bem retratam as
visões a favor e contra o instituto: “Os defensores desta providência modificadora da
competência (cf. Schreiber e Costa, 2002; Piovesan, 1999) apresentam, em especial, os seguintes
argumentos: a) o Estado Brasileiro pode ser responsabilizado perante Cortes Internacionais por
violação de direitos humanos e, contudo, não detém a responsabilidade nacional para investigar,
processar e punir os autores da violação; b) o sistema judicial federal pode dispor de melhores
instrumentos para enfrentar a impunidade e a afronta à ordem jurídica, muitas vezes ausentes
nos órgãos estaduais de repressão criminal. Com entendimento diverso, os opositores do
deslocamento da competência destacam que esta fere os princípios do juiz e do promotor natural
e possibilita a criação de tribunais de exceção, além de lesar o pacto federativo, porque ressuscita
o antidemocrático instituto da avocatória. Assim, ocorreria uma intervenção da União nos
Estados fora das situações previstas no art. 34 da Constituição Federal, violando-se, portanto,
cláusula pétrea, que não pode sofrer uma modificação por meio de emenda (cf. Rocha, 2005).
Importante destacar, em desfavor da modificação da competência, que o texto da Lei n.
10.446/2002 admitiu a realização da investigação pela Polícia Federal de infrações penais que
resultem grave violação de direitos humanos. Essa lei assegura a efetividade da apuração policial
dos casos previstos em tratados internacionais, sem que se impeça a atuação das polícias
estaduais. Desse modo, quando a investigação realizada pela Polícia Civil dos Estados não se
mostra satisfatória, a Polícia Federal sempre pode atuar em conjunto ou não para esclarecer o
fato criminoso e sua autoria. Nessa hipótese, se não há comprometimento do Ministério Público
ou da Justiça Estaduais, torna-se desnecessária a federalização da competência para processar e
julgar tais delitos. Outra crítica importante sobre o incidente de deslocamento da competência é
apresentada pelo eminente advogado José Carlos Dias (2004), que entende que a então proposta
de emenda constitucional feria o princípio da legalidade, porque não esclarecia o que eram as
graves violações aos direitos humanos e como se mediria tal gravidade, pelo impacto social, pelo
estrépito na sociedade ou na opinião pública”.

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021), sobre os crimes
ambientais e a competência da Justiça Federal, sustenta: “Como decidiu a Terceira Seção do STJ
(Informativo do STJ, 23/ 09/ 2002), como regra geral, a competência para processar e julgar os
crimes contra o meio ambiente é da Justiça Estadual, salvo os que vierem a lesar bem, serviço ou
interesse da União ou suas entidades, de acordo com o art. 109, IV, da Constituição Federal. Se
o crime ocorrer, por exemplo, em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), a
competência é da Justiça Federal. Assim, o crime ambiental é de competência da Justiça Estadual,
salvo quando praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, suas autarquias

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ou Empresa Pública, situação em que será de competência da Justiça Federal, mas não por força
do inciso XI, senão pela incidência do inciso IV do art. 109 da Constituição. É o caso dos crimes
ambientais praticados no interior de áreas de proteção ambiental, parques e/ ou reservas
nacionais, situação em que a competência será da Justiça Federal. [...] Assim, crimes ambientais
praticados em detrimento da Floresta Amazônica brasileira, da Mata Atlântica, da Serra do Mar,
do Pantanal Mato-Grossense e da Zona Costeira deverão ser julgados na Justiça Federal, pois se
trata de patrimônio nacional. Mas a questão não é pacífica e existe entendimento diverso na
jurisprudência no sentido de que o interesse da União tem de ser direto e específico, não sendo
considerado o interesse genérico. Nesta linha: ‘Não é a Mata Atlântica, que integra o patrimônio
nacional a que alude o art. 225, § 4º, da CF, bem da União. Por outro lado, o interesse da União
para que ocorra a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IV, da Carta Magna tem
de ser direto e específico, e não, como ocorre no caso, interesse genérico da coletividade,
embora aí também incluído genericamente o interesse da União’ (RE 300.244, Rel. Min. Moreira
Alves, julgamento em 20/11/2001, 1ª Turma, DJ 19/ 12/2001). No mesmo sentido: RE 349.184,
Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 03/12/2002, 1ª Turma, DJ 07/03/2003. No mesmo
sentido, também existem manifestações do STJ. Também já se decidiu pelo interesse da União
quando o crime ambiental afetou um rio interestadual, deslocando a competência para a Justiça
Federal. Nesse sentido decidiu o TRF 3ª Região, 1ª Turma, Recurso em Sentido Estrito n.
2002.61.02.002904-2/SP, Rel. Des. Vesna Kolmar, j. 13/2/2007”. Também tece, o autor,
considerações sobre a competência dos Juizados Especiais Criminais Federais: “Por fim, cumpre
tecer algumas considerações sobre o Juizado Especial Criminal Federal, cuja competência está
prevista no art. 2º da Lei n. 10.259/2001, posteriormente alterada pela Lei n. 11.313: Art. 2º
Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da
Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de
conexão e continência. Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o
tribunal do júri, decorrente da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os
institutos da transação penal e da composição dos danos civis. A referida Lei apenas define a
competência dos JECs federais, cabendo à Lei n. 9.099 disciplinar a estrutura, funcionamento e
institutos aplicáveis. Trataremos dessas questões posteriormente. Agora nos interessa apenas a
questão da competência. Para que um crime seja de competência dos JECs federais, deverão ser
observados dois critérios cumulativos: que o delito praticado seja de competência da Justiça
Federal, logo, que se encaixe numa daquelas situações previstas no art. 109 da Constituição;
que o crime tenha uma pena máxima não superior a dois anos ou seja apenado exclusivamente
com multa. Presentes esses dois requisitos, o caso penal deverá ser remetido ao JEC federal. É o
que ocorre com o delito de dano contra o patrimônio da União ou qualquer crime praticado por
ou contra servidor público federal no exercício de suas funções e cuja pena não seja superior a 2
anos, tais como: peculato culposo, art. 312, § 2º; prevaricação, art. 319; condescendência
criminosa, art. 320; advocacia administrativa, art. 321; resistência, art. 329; desobediência, art.
330; desacato, art. 331, entre outros. No seu parágrafo único, prevê a lei que em caso de conexão
(ou continência, se for o caso) entre um crime de competência do JEC e outro que, por sua
gravidade, extrapole essa competência, haverá a reunião fora do JEC, mas mantidas as
possibilidades de transação penal e composição de danos em relação ao delito de menor
potencial ofensivo”.

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017), sobre os casos
conexos envolvendo a Justiça Federal e Justiça Estadual, assinala: “Não há graduação entre

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Justiça Estadual Comum e Justiça Federal Comum, mas a jurisprudência é no sentido de que,
havendo conexão envolvendo essas duas esferas de jurisdição, prevalece a competência da
Justiça Federal, cuja delimitação é encontrada na Constituição Federal (art. 109), enquanto a
Estadual, não. Bem por isso a Súmula 122 do STJ, que tem o seguinte teor: ‘Compete à Justiça
Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e
estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal’.

PAULO RANGEL (Direito processual penal, 26ª ed., São Paulo: Atlas, 2018), ao tratar sobre a conexão
de crimes afetos à competência das justiças federal e estadual, pondera acerca da diferença
entre esse instituto e o Incidente de Deslocamento de Competência, os quais não se confundem:
“O instituto da conexão entre crimes de competência da justiça federal e crimes de competência
da justiça estadual não pode ser confundido com o IDC, pois a previsão da Súmula 122 do próprio
STJ não pode autorizar o entendimento de que há uma espécie de deslocamento de
competência, in verbis: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código
de Processo Penal. Não podemos confundir a conexão, ou seja, a ligação, o liame, o nexo entre
dois fatos, com o IDC. Na conexão, prevista na Súmula 122 do STJ, um dos crimes é de
competência da justiça federal e outro da competência da justiça estadual. Nesse caso, a regra é
de que prevalece a competência da Justiça Federal para processar e julgar os dois fatos. Logo,
não há ‘deslocamento de competência’, mas sim prevalência da justiça federal sobre a estadual.
Trata-se de entendimento jurisprudencial, através da súmula, da regra processual insculpida no
art. 78, II, a, do CPP. Os princípios da celeridade e economia processual autorizam a unidade de
processo e julgamento, além, é claro, de impedir decisões conflitantes. Na conexão, são dois (ou
mais) os fatos, um de competência da justiça estadual e o outro de competência da justiça
federal. No IDC, temos um único fato, que é da competência da justiça estadual (ou distrital),
sendo apreciado pelo STJ e deslocado para a justiça federal, que não é competente para conhecer
daquela matéria”.

5 - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL


Estamos diante do âmbito do que se entende por Justiça Comum, cuja competência não é estabelecida em
relação a matérias específicas (como ocorre com a Militar e a Eleitoral), mas sim de forma residual ou
subsidiária. Na falta de previsão normativa de qual seria o órgão jurisdicional encarregado de processar e
julgar determinado crime, a competência ficará para a Justiça Estadual – não há muito a dizer além disso.

Não por outro motivo que a Justiça Estadual tem o maior número e variedade de crimes dentro da sua
competência. O raciocínio é basicamente o seguinte: tudo aquilo que não se encaixar em matéria de
competência especial ou na esfera da Justiça Federal ficará, por exclusão, na alçada da Justiça dos Estados.

É muito simples a definição da competência da Justiça Comum Estadual: trata-se de competência


residual. Enfim, todas as infrações que, por sua natureza, não estejam afetas às Justiças Especiais
(Militar e Eleitoral) e à Justiça Comum Federal deverão ser processadas e julgadas perante a
Justiça Comum dos Estados. Em termos de estrutura da Justiça Estadual, tem-se o seguinte: Os
Órgãos de Primeiro Grau são os Juízes de Direito que oficiam nas respectivas varas. De suas
decisões, nos casos previstos, cabe recurso para o Tribunal de Justiça. E as decisões desse

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Tribunal, havendo previsão, comportam recursos para o Superior Tribunal de Justiça e para o
Supremo Tribunal Federal (Avena, 2020).

Furto, roubo, tráfico, estelionato e tantos outros crimes comuns serão de competência da Justiça Estadual,
desde que, por alguma norma de especialização, não sejam atribuídos a outra Justiça. Por exemplo: um furto
praticado contra a Caixa Econômica Federal (empresa pública federal) será de competência da Justiça Federal
(CF, art. 109, IV); um furto contra um cidadão comum será processado e julgado na esfera estadual.

Doutrina complementar

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “Não
sendo o caso de infração penal que por sua natureza deva ser julgada por uma das Justiças
Especiais ou pela Justiça Federal, caberá à Justiça Comum dos Estados o processo e julgamento
do feito. Por essa razão, diz-se que a Justiça Comum Estadual tem, no que tange ao critério
ratione materiae, competência residual”.

6 - COMPETÊNCIA PARA CRIMES DE RESPONSABILIDADE


A maioria dos autores sequer trata deste tema, na exata medida em que, aqui, ingressamos, em boa medida,
na esfera política. Como define BRASILEIRO, “corresponde à atividade jurisdicional exercida por órgãos
políticos, alheios ao Poder Judiciário, apresentando como objetivo precípuo o afastamento do agente público
que comete crimes de responsabilidade de suas funções” (Lima, 2021). Sobre essa competência diferenciada,
veja o que diz a Constituição Federal:

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de


responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército
e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;

II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional


de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o
Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;

No caso de governadores e secretários dos Estados é a Lei 1.079/1950 que define:

Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela forma que determinar
a Constituição do Estado e não poderá ser condenado, senão à perda do cargo, com inabilitação
até cinco anos, para o exercício de qualquer função pública, sem prejuízo da ação da justiça
comum. [...]

§ 3º Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o processo nos crimes de


responsabilidade dos Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o
julgamento ser proferido por um tribunal composto de cinco membros do Legislativo e de cinco
desembargadores, sob a presidência do Presidente do Tribunal de Justiça local, que terá direito

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de voto no caso de empate. A escolha desse Tribunal será feita - a dos membros do legislativo,
mediante eleição pela Assembleia: a dos desembargadores, mediante sorteio. [...]

Art. 79. Parágrafo único. Os Secretários de Estado, nos crimes conexos com os dos governadores,
serão sujeitos ao mesmo processo e julgamento.

No caso de prefeitos é o Decreto-Lei nº 201/1967:

Art. 4º São infrações político-administrativas dos Prefeitos Municipais sujeitas ao julgamento


pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com a cassação do mandato: [...]

Conquanto a Constituição Federal e a legislação ordinária acima referida (Lei n° 1.079/50 e


Decreto-lei nº 201/67) se refiram à prática de crimes de responsabilidade, atribuindo ao Senado
Federal, ao Tribunal Especial e à Câmara Municipal o exercício dessa atividade jurisdicional
atípica, tecnicamente não há falar em crime, mas sim no julgamento de uma infração político-
administrativa. Nesse cenário, é indispensável diferenciarmos crimes de responsabilidade em
sentido amplo de crimes de responsabilidade em sentido estrito. Crimes de responsabilidade em
sentido amplo são aqueles cuja qualidade de funcionário público (CP, art. 327) funciona como
elementar do delito. É o que ocorre com os crimes praticados por funcionários públicos contra a
administração pública (CP, arts. 312 a 326). Esses crimes de responsabilidade em sentido amplo
estão inseridos naquilo que a Constituição Federal denomina de crimes comuns ou infrações
penais comuns. Por seu turno, crimes de responsabilidade em sentido estrito são aqueles que
somente determinados agentes políticos podem praticar. Prevalece o entendimento de que não
têm natureza jurídica de infração penal, mas sim de infração político-administrativa, passível de
sanções político-administrativas, aplicadas por órgãos jurisdicionais políticos (normalmente
órgãos mistos, compostos por parlamentares ou por parlamentares e magistrados). Como desses
crimes de responsabilidade não decorre sanção criminal, não podem ser qualificados como
infrações penais, figurando, pois, como infrações políticas da alçada do Direito Constitucional.
[...] não há, por ora, previsão legal de crimes de responsabilidade que podem ser praticados pelos
membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público. Referida
lei estabelece que qualquer cidadão, em todas as infrações político-administrativas nela
delimitadas, possui legitimidade ativa para o oferecimento de denúncia, a ser encaminhada
posteriormente aos órgãos da jurisdição política com competência para o julgamento do feito
(Lei n° 1.079/50, arts. 14, 41 e 75). Como esses crimes de responsabilidade não têm natureza
jurídica de infração penal, essa denúncia a que se refere a lei deve ser compreendida como uma
notitia criminis (comunicação da ocorrência de um ilícito), na medida em que a proposição
acusatória depende de órgão fracionário do Poder Legislativo (vide art. 23, § 1°, da Lei no
1.079/50). Quanto aos Prefeitos Municipais, os crimes de responsabilidade em sentido estrito
estão previstos no art. 4º do Decreto-lei n° 201/67. Embora o Decreto-lei n° 201/67 refira-se a
crimes de responsabilidade em seu art. 1°, tem-se aí, na verdade, verdadeiros crimes comuns, da
competência do Tribunal de Justiça. Por isso, a extinção do mandato do prefeito não impede a
instauração de processo em relação aos crimes comuns, tal qual estabelece a súmula n° 703 do
STF ("A extinção do mandato do prefeito não impede a instauração de processo pela prática
dos crimes previstos no art. 1° do Dec.-lei 201/1967") (Lima, 2021).

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 125


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Doutrina complementar

NORBERTO AVENA (Processo Penal, 12ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2021),
concernente à justiça política exercida pelo Senado Federal, aduz: “Prerrogativas constitucionais
do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente
da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade
(Constituição, arts. 86, 89, § 2. º, e 100): Incide, neste caso, o que se denomina de jurisdição
política, impondo que determinadas condutas não sejam processadas e julgadas pelo Poder
Judiciário, mas sim por órgãos do Poder Legislativo. Relativamente às categorias aqui
mencionadas, o art. 52, I e II, da Carta Política atribuiu ao Senado Federal a competência privativa
para processar e julgar: • O Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército
e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; • Os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional
do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes
de responsabilidade. Embora se refira, impropriamente, o dispositivo a ‘crimes de
responsabilidade’, essa previsão respeita, na verdade, às chamadas infrações político-
administrativas, as quais, no que concerne ao Presidente da República, ao Vice-Presidente da
República, aos Ministros de Estado, aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, ao Procurador-
Geral da República, ao Advogado-Geral da União e aos Governadores e Secretários dos Estados,
estão definidas na Lei 1.079/ 1950. Não se trata, assim, de crimes no sentido comum, visto que
não há pena de prisão ou de multa cominadas, mas sim perda do cargo e inabilitação temporária
para o exercício de cargo ou função pública. No tocante a tal ordem de infrações, o processo
penal será regulado pela referida Lei 1.079/ 1950, pela Constituição Federal e pelo disposto no
regimento interno do Senado Federal, sendo esta a razão pela qual a hipótese em apreço é
considerada uma exceção ao princípio da territorialidade inerente à lei processual penal”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “A Justiça
Política, exercida por órgãos diversos do Poder Judiciário (de forma extraordinária), tem a
competência de julgar só crimes de responsabilidade no sentido estrito do termo, tratando-se de
atividade jurisdicional exercida por órgãos da estrutura política do Legislativo (órgão político,
conforme denominação doutrinária imprópria). Crimes de responsabilidade não se confundem
com crimes comuns. Os crimes de responsabilidade impõem sanções diversas de pena privativa
de liberdade. Os crimes de responsabilidade em sentido estrito são, em verdade, infrações
político-administrativas que podem conduzir ao afastamento das funções, a um impeachment.
De todo modo, tais crimes e respectivas sanções precisam estar tipificados em lei, porém não
deságuam em processo criminal convencional com imposição de penas privativas de liberdade,
mas em sanções de ordem política. [...] A autorização para processamento de determinadas
autoridades e o julgamento dos crimes de responsabilidade que, tecnicamente, são infrações
político-administrativas, é levado a cabo por órgãos do Poder Legislativo: 1) o art. 51, I, da CF,
dispõe que compete privativamente à Câmara dos Deputados autorizar, por dois terços de seus
membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado; 2) o art. 52, I, da CF, prevê que compete privativamente ao Senado Federal:
(a) processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército
e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; (b) processar e julgar os

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Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do


Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral
da União nos crimes de responsabilidade; 3) a Lei 1.079/1950 contém regras sobre o
processamento e julgamento de crimes de responsabilidade, bem como prevê os delitos de
responsabilidade praticados por governador de Estado (infrações político-administrativas). Os
crimes de responsabilidade imputados a governador com o intuito de afasta-lo das funções por
impeachment é de competência da Assembleia Legislativa respectiva; 4) o Decreto-Lei nº
201/1967, que disciplina a responsabilidade dos prefeitos, assenta crimes de responsabilidade
em sentido amplo (que são crimes comuns), de competência da Justiça Ordinária (Poder
Judiciário), e crimes de responsabilidade em sentido estrito, de competência da correspondente
Câmara Municipal, para processamento e julgamento de ilícitos que possam acarretar o
afastamento desse agente político das suas funções (impeachment)”.

JURISPRUDÊNCIA PERTINENTE

STF

Súmula Vinculante 36: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes
de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e
Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.

Súmula 498, STF: Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos
crimes contra a economia popular.

Súmula 522, STF: Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência será da justiça
federal, compete à justiça dos estados o processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.

Súmula 555, STF: É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de jurisdição entre Juiz de Direito
do Estado e a Justiça Militar local.

Súmula 603, STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do
tribunal do júri.

STJ

Súmula 6, STJ: Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de
trânsito envolvendo viatura de polícia militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação
de atividade.*

Súmula 38, STJ: Compete a Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de
suas entidades.

Súmula 42, STJ: Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

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Súmula 47, STJ: Compete a Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar contra civil, com
emprego de arma pertencente a corporação, mesmo não estando em serviço.

Súmula 53, STJ: Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime
contra instituições militares estaduais.

Súmula 59, STJ: Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado, proferida
por um dos juízos conflitantes.

Súmula 62, STJ: Compete a Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na carteira de
trabalho e previdência social, atribuído a empresa privada.

Súmula 75, STJ: Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de
promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.*

Súmula 78, STJ: Compete a Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o
delito tenha sido praticado em outra unidade federativa.

Súmula 90, STJ: Compete a Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime
militar, e a comum pela prática do crime comum simultâneo aquele.*

Súmula 104, STJ: Compete a Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de
documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.

Súmula 107, STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente
lesão à autarquia federal.

Súmula 140, STJ: Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure
como autor ou vítima.

Súmula 147, STJ: Compete a Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário
público federal, quando relacionados com o exercício da função.

Súmula 165, STJ: Compete à justiça federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no
processo trabalhista.

Súmula 172, STJ: Compete a Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade,
ainda que praticado em serviço.* 8

8
Vide nota 1.

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Súmula 192, STJ: Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a
sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a
Administração Estadual.

Súmula 208, STJ: Compete a Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba
sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

Súmula 209, STJ: Compete a Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.

Súmula 546, STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em
razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação
do órgão expedidor.

Supremo Tribunal Federal - STF

EMENTA AGRAVO REGIMENTAL EM PETIÇÃO. COLABORAÇÃO PREMIADA. HOMOLOGAÇÃO.


DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA À JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. ALEGAÇÃO DE
CRIME DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL. CONEXÃO. NÃO OCORRÊNCIA. [...] 2. Não há
indícios do cometimento de crimes eleitorais no anexo do termo de colaboração premiada
tratado nos autos, tampouco delitos a eles conexos, passíveis de justificar a competência da
Justiça Eleitoral. A conclusão é robustecida pela data em que teriam ocorrido as tratativas, em
momento posterior às eleições municipais. 3. A competência da Justiça Federal justifica-se pela
suposta malversação de recursos públicos federais, direcionados à execução de projetos
relacionados com os jogos olímpicos de 2016, cuja prestação de contas teria de ser feita perante
o Tribunal de Contas da União. 4. Ressalvados os casos de flagrante ilegalidade, não cabe ao
Poder Judiciário auditar as hipóteses investigatórias e, em antecipação à própria acusação,
proceder à glosa de linhas de investigação, em um juízo prematuro que, em última análise,
poderá influenciar na própria formação da opinio delicti. 5. A definição da competência pela
Suprema Corte, na etapa embrionária da investigação, tem natureza precária, podendo os
atores processuais atuantes em primeira instância proceder à reclassificação das condutas à
medida em que as hipóteses investigatórias se confirmem (ou não) e venham a alterar o
enquadramento jurídico dos fatos. [...]. (AgRg na Petição 7.979/DF, STF, Rel. Min. Rosa Weber,
eDJ 22/09/2020).

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 114, I, IV e IX, da CF, na redação dada pela Emenda
Constitucional 45/2004. 3. Competência Criminal da Justiça do Trabalho. Inexistência. 4. Medida
cautelar deferida pelo Plenário e confirmada no julgamento de mérito. 5. Interpretação
conforme ao disposto no art. 114, I, IV e IX, da Constituição da República, de modo a afastar a
competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar ações penais. 6. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 3684, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal
Pleno, julgado em 11/05/2020).

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ESTELIONATO (ART. 251 DO CÓDIGO


PENAL MILITAR). ACUSADO CIVIL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA CASTRENSE. JULGAMENTO PELO
CONSELHO PERMANTE DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. 1. De acordo com o art. 124 da

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Constituição da República, compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares


definidos em lei. A norma constitucional autorizou o legislador ordinário, dentro dos preceitos
referentes à Justiça Militar, dispor sobre sua organização, funcionamento e competência. 2. O
art. 9º, III, do Código Penal Militar, por sua vez, estabelece que haverá delito militar praticado
por civil quando o fato ofender as instituições militares, considerando-se como tal, entre outros,
o seguinte caso: “a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
administrativa militar”. Precedentes. 3. A condenação proferida pelo Conselho Permanente de
Justiça não apresenta ilegalidade, já que realizada à luz da legislação vigente à época, forte no
princípio tempus regit actum (CPPM, art. 5º). 4. Agravo Regimental a que se nega provimento.
(HC 170305 AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 16/08/2019).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA SUSCITADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR. 1.


Remessa pelo Tribunal de Justiça ao Superior Tribunal Militar de recurso em exceção de
incompetência interposto pelo Parquet militar estadual, com fundamento no artigo 146 do
CPPM. 2. Declaração de incompetência pelo Superior Tribunal Militar com o consequente
reconhecimento de conflito negativo de jurisdição com o Tribunal de Justiça. 3. O artigo 146 do
CPPM, que prevê o julgamento pelo STM de recurso interposto pelo Parquet em arguição de
incompetência, aplica-se exclusivamente aos processos em curso perante a Justiça Militar
federal. O julgamento de tais recursos, quando interpostos em processos sujeitos à Justiça
Militar estadual, são da competência do Tribunal de Justiça, ou do Tribunal de Justiça Militar
estadual quando existente na unidade federada (artigo 125 da Constituição). 4. Conflito de
jurisdição conhecido, declarando-se a competência do Tribunal de Justiça catarinense. (CC 7086,
Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 13/09/2000).

COMPETÊNCIA – DECLINAÇÃO – INQUÉRITO. A valia do inquérito realizado há de merecer exame


pelo juízo competente. COMPETÊNCIA – JUSTIÇA FEDERAL VERSUS JUSTIÇA COMUM –
DECLINAÇÃO – ALCANCE. Uma vez assentada a incompetência da Justiça Federal, mostra-se
insubsistente não só o ato de recebimento da peça primeira da ação penal como também o de
formalização pelo Ministério Público Federal. (HC 109893, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,
Primeira Turma, julgado em 13/12/2011).

O ato processual de oferecimento da denúncia, praticado, em foro incompetente, por um


representante, prescinde, para ser válido e eficaz, de ratificação por outro do mesmo grau
funcional e do mesmo Ministério Público, apenas lotado em foro diverso e competente, porque
o foi em nome da instituição, que é una e indivisível (HC 85137, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO,
Primeira Turma, julgado em 13/09/2005).

Uma vez reconhecida a competência da Justiça Estadual para julgar o feito, cabia a ratificação
da denúncia pelo Ministério Público local ou o oferecimento de nova peça, o que, no caso, não
ocorreu. Não se pode acatar o argumento do acórdão impugnado no sentido de que houve
ratificação implícita da peça acusatória. Habeas corpus deferido para anular o processo a partir
da denúncia, inclusive. (HC 77024, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em
02/06/1998).

A decisão que declarou extinta a punibilidade em favor do Paciente, ainda que prolatada com
suposto vício de incompetência de juízo, é susceptível de trânsito em julgado e produz efeitos.

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A adoção do princípio do ne bis in idem pelo ordenamento jurídico penal complementa os


direitos e as garantias individuais previstos pela Constituição da República, cuja interpretação
sistemática leva à conclusão de que o direito à liberdade, com apoio em coisa julgada material,
prevalece sobre o dever estatal de acusar. Precedentes. 3. Habeas corpus concedido. (HC 86606,
Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 22/05/2007).

A Justiça Militar estadual não dispõe de competência penal para processar e julgar civil que
tenha sido denunciado pela pratica de crime contra a Policia Militar do Estado. Qualquer
tentativa de submeter os réus civis a procedimentos penais-persecutórios instaurados perante
órgãos da Justiça Militar estadual representa, no contexto de nosso sistema jurídico, clara
violação ao princípio constitucional do juiz natural (CF, art. 5., LIII). - A Constituição Federal, ao
definir a competência penal da Justiça Militar dos Estados-membros, delimitou o âmbito de
incidência do seu exercício, impondo, para efeito de sua configuração, o concurso necessário de
dois requisitos: um, de ordem objetiva (a pratica de crime militar definido em lei) e outro, de
índole subjetiva (a qualificação do agente como policial militar ou como bombeiro militar). A
competência constitucional da Justiça Militar estadual, portanto, sendo de direito estrito,
estende-se, tão-somente, aos integrantes da Policia Militar ou dos Corpos de Bombeiros Militares
que hajam cometido delito de natureza militar. (HC 70604, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
Primeira Turma, julgado em 10/05/1994).

[...] COMPETÊNCIA. CONFLITO. JUSTIÇA ELEITORAL. JUSTIÇA FEDERAL. CRIME ELEITORAL E


CRIMES CONEXOS. ILÍCITOS ELEITORAIS: APURAÇÃO PARA DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE
(ART. 22, INC. XIV, DA LEI COMPLEMENTAR Nº 64, de 18.05.1990). CONFLITO INEXISTENTE.
"HABEAS CORPUS" DE OFÍCIO. [...] Em se verificando, porém, que há processo penal, em
andamento na Justiça Federal, por crimes eleitorais e crimes comuns conexos, é de se conceder
"Habeas Corpus", de ofício, para sua anulação, a partir da denúncia oferecida pelo Ministério
Público federal, e encaminhamento dos autos respectivos à Justiça Eleitoral de 1ª instância, a
fim de que o Ministério Público, oficiando perante esta, requeira o que lhe parecer de direito.
5. Conflito de Competência não conhecido. "Habeas Corpus" concedido de ofício, para tais fins.
Tudo nos termos do voto do Relator. Decisão unânime do Plenário do S.T.F. (CC 7033,
Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 02/10/1996).

COMPETÊNCIA CRIMINAL. Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento. Jurisdição


penal genérica. Inexistência. Interpretação conforme dada ao art. 114, incs. I, IV e IX, da CF,
acrescidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida com efeito
ex tunc. O disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela
Emenda Constitucional nº 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e
julgar ações penais. (ADI 3684 MC, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em
01/02/2007).

CRIME POLÍTICO. COMPETÊNCIA. INTRODUÇÃO, NO TERRITÓRIO NACIONAL, DE MUNIÇÃO


PRIVATIVA DAS FORÇAS ARMADAS, PRATICADO POR MILITAR DA RESERVA (ARTIGO 12 DA LSN).
INEXISTÊNCIA DE MOTIVAÇÃO POLÍTICA: CRIME COMUM. PRELIMINARES DE COMPETÊNCIA: 1ª)
Os juízes federais são competentes para processar e julgar os crimes políticos e o Supremo
Tribunal Federal para julgar os mesmos crimes em segundo grau de jurisdição (CF, artigos 109,
IV , e 102, II, b), a despeito do que dispõem os artigos 23, IV, e 6º, III, c, do Regimento Interno,

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cujas disposições não mais estão previstas na Constituição. 2ª) Incompetência da Justiça Militar:
a Carta de 1969 dava competência à Justiça Militar para julgar os crimes contra a segurança
nacional (artigo 129 e seu § 1º); entretanto, a Constituição de 1988, substituindo tal
denominação pela de crime político, retirou-lhe esta competência (artigo 124 e seu par. único),
outorgando-a à Justiça Federal (artigo 109, IV). 3ª) [...] Só há crime político quando presentes os
pressupostos do artigo 2º da Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/82), ao qual se integram
os do artigo 1º: a materialidade da conduta deve lesar real ou potencialmente ou expor a
perigo de lesão a soberania nacional, de forma que, ainda que a conduta esteja tipificada no
artigo 12 da LSN, é preciso que se lhe agregue a motivação política. Precedentes. 3. Recurso
conhecido e provido, em parte, por seis votos contra cinco, para, assentada a natureza comum
do crime, anular a sentença e determinar que outra seja prolatada, observado o Código Penal.
(RC 1468 segundo, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MAURÍCIO
CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 23/03/2000).

[...] FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE A JUSTIÇA FEDERAL E


A JUSTIÇA COMUM. NATUREZA JURÍDICA DAS FUNDAÇÕES INSTITUÍDAS PELO PODER PÚBLICO.
1. A Fundação Nacional de Saúde, que é mantida por recursos orçamentários oficiais da União
e por ela instituída, é entidade de direito público. 2. Conflito de competência entre a Justiça
Comum e a Federal. Artigo 109, I da Constituição Federal. Compete à Justiça Federal processar e
julgar ação em que figura como parte fundação pública, tendo em vista sua situação jurídica
conceitual assemelhar- se, em sua origem, às autarquias. 3. Ainda que o artigo 109, I da
Constituição Federal, não se refira expressamente às fundações, o entendimento desta Corte
é o de que a finalidade, a origem dos recursos e o regime administrativo de tutela absoluta a
que, por lei, estão sujeitas, fazem delas espécie do gênero autarquia. 4. Recurso extraordinário
conhecido e provido para declarar a competência da Justiça Federal. (RE 215741, Relator(a): Min.
MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma, julgado em 30/03/1999).

[...] Apuração de crimes praticados contra a Companhia Docas do Pará, que, utilizando-se
também de recursos da União, administra e explora as instalações portuárias do referido Estado.
Atividades atribuídas pelo constituinte originário exclusivamente ao ente federal. Artigo 21,
inciso XII, alínea f, da Constituição da República. Interesse jurídico direto e específico da União
amplamente demonstrado. Competência da Justiça Federal. [...] o interesse jurídico direto e
específico da União revela-se incontroverso na espécie, pois a Companhia Docas do Pará tem
por ofício, utilizando-se também de recursos da União, administrar e explorar as instalações
portuárias do referido Estado. Atividades atribuídas pelo constituinte originário
exclusivamente ao ente federal, conforme preleciona o art. 21, inciso XII, alínea f, da
Constituição da República. 3. Agravos regimentais não providos. (RE 614115 AgR,
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 16/09/2014).

Com efeito, os recorrentes, administrador e médico de estabelecimentos hospitalar privado,


ambos credenciados para o atendimento aos usuários do SUS, foram denunciados pela prática,
em princípio, do crime definido pelo art. 316, combinado com o art. 327, na forma dos arts. 29 e
71, todos do Código Penal. A conduta ter-se-ia caracterizado pela exigência a paciente
beneficiária do SUS de vantagem indevida em favor dos acusados. Esta colenda Corte, por
diversas oportunidades, consignou o juízo de que o delito de concussão, quando praticado
nessas condições, deve ser julgado pela Justiça Comum estadual. Precedentes: HC 81.912, Rel.

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Min. Carlos Velloso; HC 56.444, Rel. Min. Cunha Peixoto; HC 71.849, Rel. Min. Ilmar Galvão; e o
HC 77.717, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, em caso que muito se assemelha ao presente.
[...] (RE 429171, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 14/09/2004).

[...] REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME


AMBIENTAL TRANSNACIONAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. INTERESSE DA UNIÃO
RECONHECIDO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. 1[...] A ratio essendi
das normas consagradas no direito interno e no direito convencional conduz à conclusão de
que a transnacionalidade do crime ambiental, voltado à exportação de animais silvestres,
atinge interesse direto, específico e imediato da União, voltado à garantia da segurança
ambiental no plano internacional, em atuação conjunta com a Comunidade das Nações. 9. (a)
Atrai a competência da Justiça Federal a natureza transnacional do delito ambiental de
exportação de animais silvestres, nos termos do art. 109, IV, da CF/88; (b) In casu, cuida-se de
envio clandestino de animais silvestres ao exterior, a implicar interesse direto da União no
controle de entrada e saída de animais do território nacional, bem como na observância dos
compromissos do Estado brasileiro perante a Comunidade Internacional, para a garantia
conjunta de concretização do que estabelecido nos acordos internacionais de proteção do direito
fundamental à segurança ambiental. 10. Recurso extraordinário a que se dá provimento, com a
fixação da seguinte tese: “Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de
caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes
exóticas ou protegidas por Tratados e Convenções internacionais”. (RE 835558, Relator(a): Min.
LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2017).

[...] Competência para processar e julgar crime de incitação à discriminação cometido por meio
da internet. Ofensas dirigidas a pessoas determinadas. [...] É da Justiça estadual a competência
para processar e julgar o crime de incitação à discriminação racial por meio da internet
cometido contra pessoas determinadas e cujo resultado não ultrapassou as fronteiras
territoriais brasileiras. 3. Ordem denegada. (HC 121283, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 29/04/2014).

[...] CONTRABANDO DE ARMA DE FOGO (CP, ART. 334, § 1º, C). DESCLASSIFICAÇÃO PARA
RECEPTAÇÃO (CP, ART. 180). PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
IMPOSSIBILIDADE. 1. A norma do art. 81, caput, do CPP, ainda que busque privilegiar a
celeridade, a economia e a efetividade processuais, não possui aptidão para modificar
competência absoluta constitucionalmente estabelecida, como é o caso da competência da
Justiça Federal. 2. Ausente qualquer das hipóteses previstas no art. 109, IV, da CF, ainda que
isso somente tenha sido constatado após a realização da instrução, os autos devem ser
remetidos ao Juízo competente, nos termos do § 2º do art. 383 do CPP. 3. Ordem concedida.
(HC 113845, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 20/08/2013).

[...] Tráfico internacional de crianças. Artigo 239 da Lei nº 8.069/90. Nulidade do processo.
Reconhecimento pretendido. Alegada incompetência funcional do juiz estadual que declinou da
competência para a Justiça Federal. [...] Questão, ademais, irrelevante e superada, diante da
remessa do processo à Justiça Federal, competente para processar e julgar o crime descrito no
art. 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 109, V, Constituição Federal). [...] (HC
121472, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 19/08/2014).

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Aula 03

COMPETÊNCIA CRIMINAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. INQUÉRITO


POLICIAL MILITAR. REQUISIÇÃO POR PROMOTOR DE JUSTIÇA MILITAR. MEMBRO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL PARA
PROCESSAR E JULGAR EVENTUAL HABEAS CORPUS. ART. 108, I, a, c/c ART. 128, I, c, DA CF.
PRECEDENTES. RECURSO PROVIDO. 1. O presente recurso ordinário em mandado de segurança
visa ao reconhecimento da incompetência do Superior Tribunal Militar para determinar o
trancamento de inquérito policial militar instaurado por requisição do Ministério Público Militar.
[...] 4. Desse modo, se o IPM foi instaurado por requisição de membro do Ministério Público
Militar, este deve figurar como autoridade coatora (RHC 64.385/RS, Rel. Min. Sydney Sanches,
DJ 07.11.1986), cabendo ao Tribunal Regional Federal o julgamento de eventual habeas corpus
impetrado contra a instauração do inquérito. 5. Recurso provido. (RMS 27872, Relator(a): Min.
ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 02/03/2010).

COMPETÊNCIA – HOMICÍDIO PRATICADO POR BRASILEIRO NO EXTERIOR – TRIBUNAL DO JÚRI


ESTADUAL. O cometimento de crime por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a
competência da Justiça Federal, sendo neutra, para tal fim, a prática de atos preparatórios no
território nacional. (HC 105461, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em
29/03/2016).

Superior Tribunal de Justiça - STJ

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL MILITAR E PROCESSO PENAL


MILITAR. HOMICÍDIO DOLOSO PRATICADO POR POLICIAIS MILITARES CONTRA CIVIL. LEGÍTIMA
DEFESA. INQUÉRITO POLICIAL MILITAR. ARQUIVAMENTO PELA JUSTIÇA MILITAR.
IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA JULGAMENTO DA CAUSA.
REMESSA À JUSTIÇA COMUM. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. É entendimento
jurisprudencial pacífico neste Superior Tribunal de Justiça - STJ de que a competência para o
julgamento dos delitos de homicídios contra civis praticados por policiais militares em serviço,
ainda que verificadas as excludentes de ilicitude de legítima defesa e do estrito cumprimento
do dever legal, é da Justiça Comum, não cabendo ao Juízo Militar, de ofício, a determinação do
arquivamento do inquérito penal militar. (AgRg no REsp 1830756/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 23/06/2020, DJe 29/06/2020) 2. Agravo regimental
improvido. (AgRg no REsp 1861250/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
09/03/2021, DJe 12/03/2021).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIMES DE TORTURA, DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA, FALSO


TESTEMUNHO E COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO SUPOSTAMENTE PRATICADOS POR POLICIAIS
MILITARES CONTRA CIVIL. AMPLIAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR PELA LEI N.
13.491/2017. INCIDÊNCIA IMEDIATA. POLICIAL DE FOLGA. IRRELEVÂNCIA. TORTURA EM TESE
PRATICADA NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO. VÍTIMA SOB AUTORIDADE DO AGENTE DELITUOSO
DENTRO DE QUARTEL MILITAR. [...] 2. "A Lei 13.491/2017 (em vigor a partir de 16/10/2017)
ampliou a competência da Justiça Militar, na medida em que doravante não são apenas os crimes
que sejam concomitantemente previstos no Código Penal Militar e na legislação penal comum
que, em virtude do princípio da prevalência da lei especial sobre a lei geral, atrairão a
competência da Justiça Militar. Passa a deslocar-se para a Justiça Castrense também qualquer
crime contra civil previsto na Legislação Penal Comum (Código Penal e Leis Esparsas), desde que

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Aula 03

praticado por militar em serviço, ou no exercício da função. Inteligência da alínea 'c' do inciso II
do art. 9º do CPM." (CC 157.328/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA
SEÇÃO, DJe 05/06/2018) 3. "A Terceira Seção do STJ, no julgamento do Conflito de Competência
n. 161.898/MG, da relatoria do Ministro SEBASTIÃO REIS JUNIOR, DJe de 20/2/2019, firmou o
entendimento de que a alteração de competência promovida pela Lei n. 13.491/2017 é de
natureza processual, motivo pelo qual deve ser aplicada imediatamente aos processos em
curso, mesmo que o fato tenha ocorrido antes da vigência da nova lei, como é o caso dos autos.
Diante das alterações de direito material previstas na Lei n. 13.491/2017, caberá à Justiça Militar
processar e julgar os crimes previstos na legislação penal comum, bem como aplicar os institutos
típicos do direito penal e processual penal comum mais benéficos ao tempo do crime." (AgRg no
CC 165.536/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 26/02/2020)
4. No caso em análise, embora um dos três policiais militares envolvidos encontrava-se de folga,
o crime de tortura foi praticado em razão da função por ele exercida, submetendo a vítima, que
estava sob a sua autoridade, a intenso sofrimento físico, em lugar sujeito à administração militar,
qual seja, no quartel da Polícia Militar de Chapada Gaúcha/MG. Nesse contexto está
caracterizado crime militar, nos termos do art. 9º , inciso "b" e "c" do Código Penal Militar.
Precedente. 5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Auditor da Auditoria da
2ª Circunscrição Judiciária Militar do Estado de Minas Gerais, o suscitante. (CC 163.365/MG, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/11/2020, DJe 27/11/2020).

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MILITAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTROLE DE LEGALIDADE DE
ATOS ADMINISTRATIVOS. PROMOÇÃO DE OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. ACÓRDÃO DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADO. AGRAVO INTERNO DOS MILITARES A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A
orientação deste STJ é a de que a competência para decidir sobre a perda do posto ou da
patente dos oficiais ou da graduação dos praças somente será do Tribunal de Justiça ou Militar,
conforme o caso, nos casos de perda da função como pena acessória do crime que à Justiça
Militar couber decidir, não se aplicando à hipótese de perda por sanção administrativa
decorrente da prática de ato incompatível com a função de Policial ou Bombeiro Militar.
Precedentes: CC 100.682/MG, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 18.6.2009 e CC 99.210/MG, Rel. Min.
CELSO LIMONGI, DJe 7.4.2009. 2. Agravo Interno dos Militares a que se nega provimento. (AgInt
nos EDcl no AREsp 1442965/RN, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 26/10/2020, DJe 29/10/2020).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. DENÚNCIA. IMPUTAÇÃO DE


PRÁTICA DOS CRIMES TIPIFICADOS NOS ARTS. 241-A E 241-B DA LEI N. 8.069/1990. DIVULGAÇÃO
DE MATERIAL, VIA PROGRAMA P2P (PEER TO PEER), COM CONTEÚDO PORNOGRÁFICO
ENVOLVENDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES. CONTEÚDO ACESSÍVEL A USUÁRIOS INDEFINIDOS
E ILIMITADOS, INCLUSIVE NO ESTRANGEIRO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. DELITOS DO
ART. 240 DO ECA E DO ART. 217-A DO CÓDIGO PENAL. EVENTUAL PRÁTICA. CONEXÃO
PROCESSUAL EVIDENCIADA. SÚMULA N. 122 DO STJ. INCIDÊNCIA. CONFLITO CONHECIDO PARA
DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO SUSCITANTE. 1. O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o
leading case referente ao Tema n. 393 do regime da repercussão geral, firmou a tese de que
"compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou
adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B da

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Aula 03

Lei nº 8.069/1990) quando praticados por meio da rede mundial de computadores". 2. De


acordo com a orientação firmada pelo Pretório Excelso, "[b]asta à configuração da competência
da Justiça Federal que o material pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes tenha
estado acessível por alguém no estrangeiro, ainda que não haja evidências de que esse acesso
realmente ocorreu". 3. No caso concreto, segundo a denúncia, para compartilhar as fotos
contendo o material pedopornográfico, o Acusado se utilizava do programa P2P (Peer-to-Peer),
o qual, conforme a peça acusatória, tem como uma das principais características o fato de que
"todos os arquivos existentes na pasta compartilhada do computador membro estarão 'visíveis'
para os demais componentes da rede". 4. Se os arquivos ficavam disponíveis a usuários
indefinidos e ilimitados, inclusive no estrangeiro, bastando que instalassem o aludido programa
em seus dispositivos eletrônicos, para que tivessem acesso ao conteúdo pornográfico, a
competência é da Justiça Federal. [...] (CC 173.960/MS – STJ, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe
14/10/2020).

[...] COMPETÊNCIA JUSTIÇA FEDERAL. POSSIBILIDADE. RATIFICAÇÃO. ATOS DECISÓRIOS [...] 3.


Esta Corte tem entendimento assente de que, nos casos de incompetência absoluta, há
possibilidade de ratificação dos atos decisórios pelo Juízo competente. [...] ED no AgRg em REsp
1.853.262, Rel. min. Jorge Mussi, julgado e 05/05/2020).

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONTROLE DE


COMPETÊNCIA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. MANDADO DE
SEGURANÇA. CABIMENTO. [...]1. É possível a impetração de mandado de segurança, no âmbito
da Justiça comum, com a finalidade de promover o controle de competência nos processos em
trâmite nos juizados especiais. (AgInt no RMS 57.649/SP, Rel. Min. RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 17/12/2019).

GUARDA METROPOLITANO. CRIME COMUM. COMPETENCIA. 1. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART.


144, PAR. 8, AUTORIZA O MUNICIPIO A CONSTITUIR GUARDA MUNICIPAL DESTINADA A
PROTEÇÃO DE SEUS BENS, SERVIÇOS E INSTALAÇÕES. 2. NÃO SENDO OS INTEGRANTES DA
GUARDA METROPOLITANA DE SÃO PAULO, CAPITAL, POLICIAIS MILITARES, NEM BOMBEIROS
MILITARES, OS CRIMES QUE LHES SEJAM IMPUTADOS SERÃO SEMPRE DA COMPETENCIA DA
JUSTIÇA COMUM, AINDA QUE PRATICADOS NO HORARIO DE SERVIÇO. 3. CONFLITO
CONHECIDO; COMPETENCIA DO JUIZO SUSCITADO. (CC 4.276/SP, Rel. Ministro EDSON VIDIGAL,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 16/09/1993).

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. 1. CRIME MILITAR COMETIDO POR POLICIAL
MILITAR DO ESTADO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL. DEMISSÃO ANTERIOR À
INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL. IRRELEVÂNCIA. JUÍZO NATURAL QUE SE FIXA À ÉPOCA
DO FATO. 2. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Crime militar cometido por militar no
exercício da função. Em homenagem à garantia do juízo natural, a competência deve ser fixada
sempre em relação à qualidade que o recorrente apresentava no momento do cometimento
do fato, não podendo ser alterada por conta de alteração fática posterior (exoneração). 2.
Recurso a que se nega provimento. (RHC 20.348/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 24/06/2008).

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Aula 03

PROCESSUAL PENAL MILITAR. HABEAS CORPUS. COMPETÊNCIA. SERVIÇO AUXILIAR


VOLUNTÁRIO. SOLDADO PM TEMPORÁRIO. POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. LEI
FEDERAL 10.029/00 E LEI ESTADUAL 11.064/02. JUSTIÇA ESTADUAL MILITAR. INCOMPETÊNCIA.
SÚMULA 53/STJ. PRECEDENTE DO STF. ORDEM CONCEDIDA. 1. Ao contrário do que sucede com
a Justiça Militar da União, cujo âmbito de incidência, por expressa previsão constitucional –
art. 124, caput, da CF/88 –, abrange também os civis, a competência da Justiça Militar Estadual
abrange apenas os policiais e os bombeiros militares. 2. "Compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais"
(Súmula 53/STJ). 3. A Lei Federal 10.029, de 20/10/00, possibilitou aos Estados e ao Distrito
Federal a instituição da "prestação voluntária de serviços administrativos e de serviços auxiliares
de saúde e de defesa civil nas Polícias Militares e nos Corpos de Bombeiros Militares", sendo o
Serviço Auxiliar Voluntário instituído pela Lei 11.064, de 8/2/02, no âmbito da Polícia Militar do
Estado de São Paulo. 4. O Soldado PM temporário, nos termos da legislação do Estado de São
Paulo, presta serviços administrativos e auxiliares de saúde e de defesa civil, não sendo,
portanto, policial militar, mas civil, de modo que não pode ser processado e julgado pela Justiça
Militar Estadual. 5. Habeas corpus concedido para restabelecer a decisão proferida pela 1ª
Auditoria da Justiça Militar do Estado de São Paulo, que reconheceu a incompetência da Justiça
Militar para processamento e julgamento do feito e determinou a remessa dos autos à Justiça
Comum, anulando-se, por consequência, eventual condenação imposta contra o paciente pela
Justiça Castrense. (HC 133.359/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA,
julgado em 15/09/2009, DJe 19/10/2009).

Justiça Militar. Conselho Especial de Justiça (incompetência). Formação (irregularidade). Juízo


hierárquico (não-observância do critério de antigüidade). Nulidade absoluta (caso). 1. No
julgamento de coronel da reserva da Polícia Militar – último posto da hierarquia militar
estadual –, todos os integrantes do Conselho Especial devem ser da mesma patente, porém
mais antigos que o acusado. 2. À vista disso, não é lícito aceitar que um coronel da reserva que
foi superior hierárquico possa, apenas porque se encontra na reserva, ser julgado por
subordinado que o alcançou no último posto. 3. Caso em que, na composição do Conselho
Especial de Justiça, quatro membros que participaram do julgamento eram mais modernos que
o paciente, evidenciando-se, assim, a nulidade absoluta. 4. Ordem de habeas corpus concedida
para se declarar nulo o julgamento realizado. (HC 42.162/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES,
SEXTA TURMA, julgado em 17/06/2008, DJe 25/08/2008).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. DESACATO. DELITO PRATICADO POR OFICIAL DA


RESERVA CONTRA POLICIAL MILITAR NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE SENTINELA NO QUARTEL.
INEXISTÊNCIA DE CRIME MILITAR. 1. A teor do disposto no art. 125, § 4º, da Constituição
Federal, a Justiça Militar Estadual detém competência para julgar crimes militares praticados
apenas por militares dos Estados. Logo, o crime de desacato praticado por oficial da reserva
em desfavor de policial militar é da competência da Justiça comum. 2. Conflito conhecido para
declarar competente o Juizado Especial Criminal de Juiz de Fora/MG. (CC 50.786/MG, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/08/2006).

CRIMINAL. HC. FURTO. ROUBO. DELITO COMETIDO POR MILITAR CONTRA MILITAR, AMBOS
FORA DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM PARA O
JULGAMENTO DO FEITO. ORDEM DENEGADA. Hipótese em que o paciente – policial militar –,

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Aula 03

juntamente com outro co-réu, praticou o delito de roubo contra vítima qualificada como
soldado do exército. Evidenciado o cometimento de crime de roubo fora do exercício da função
militar do envolvido, em razão de interesse alheio à sua atividade de policial militar, sendo que
a vítima, apesar de ser soldado do exército, também não se encontrava no desempenho de seu
ofício, sobressai a competência da Justiça Comum para o julgamento do feito. Precedentes.
Ordem denegada. (HC 40.241/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em
26/04/2005, DJ 23/05/2005, p. 319).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FALSO TESTEMUNHO PRATICADO POR MILITAR REFORMADO.


PROCESSO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
COMUM ESTADUAL. 1. O delito de falso testemunho praticado por militar reformado, em
processo da competência da Justiça Militar Estadual, não caracteriza crime contra as
instituições militares, por estranho ao elenco do inciso III do artigo 9º do Código Penal Militar.
2. Conflito conhecido para declarar competente a Justiça Comum Estadual, suscitada. (CC
55.432/RS, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/06/2006, DJ
21/08/2006, p. 232).

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. 1. CRIME MILITAR COMETIDO POR POLICIAL
MILITAR DO ESTADO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL. DEMISSÃO ANTERIOR À
INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL. IRRELEVÂNCIA. JUÍZO NATURAL QUE SE FIXA À ÉPOCA
DO FATO. 2. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Crime militar cometido por militar no
exercício da função. Em homenagem à garantia do juízo natural, a competência deve ser fixada
sempre em relação à qualidade que o recorrente apresentava no momento do cometimento
do fato, não podendo ser alterada por conta de alteração fática posterior (exoneração). 2.
Recurso a que se nega provimento. (RHC 20.348/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 24/06/2008).

HABEAS CORPUS. CRIME PRATICADO POR POLICIAL MILITAR REFORMADO. INJÚRIA.


COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. VÍTIMAS TAMBÉM POLICIAIS ESTADUAIS.
FUNÇÃO POLICIAL DE NATUREZA CIVIL. ORDEM CONCEDIDA. 1. A competência, na espécie,
delito de injúria, é da Justiça Comum, porquanto o delito foi imputado a policial militar
reformado, sujeito ativo, tendo como sujeito passivo dois policiais militares. Como não se trata
de crime militar propriamente dito, quer pela qualidade do sujeito ativo, policial militar
reformado - quer pela qualidade do sujeito passivo - dois policiais militares estaduais - em
policiamento de trânsito, função de natureza civil, não há razão para declarar competente a
Justiça Castrense. 2. Ordem concedida. (HC 125.582/SP, Rel. Ministro CELSO LIMONGI
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 27/04/2010).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL E FEDERAL. LESÕES


CORPORAIS CULPOSAS. POLICIAL MILITAR CONTRA CAPITÃO DO EXÉRCITO. BATALHÃO DE
INFANTARIA. LOCAL SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
MILITAR DA UNIÃO. 1. Lesões corporais praticadas por policial militar contra capitão do
exército, dentro de um batalhão de infantaria, local sujeito à Administração militar federal, é
crime militar de competência da Justiça Militar da União, em face da qualificação dos
envolvidos e também pela proteção que merece o local onde acontecidos os fatos. 2. Aplicação
da letra "a" do inciso II do art. 9º do Código Penal Militar. 3. Conflito conhecido para declarar

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competente o Juízo Auditor da 1ª Auditoria da 2ª Circunscrição Judiciária Militar da União em


São Paulo, o suscitado. (CC 107.148/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/10/2010, DJe 21/10/2010).

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME CONTRA A HONRA. OFENSA PROFERIDA FORA DO


PERÍODO DE PROPAGANDA ELEITORAL. CRIME ELEITORAL NÃO CONFIGURADO. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA COMUM. 1. Os crimes contra a honra prescritos no Código Eleitoral exigem
finalidade eleitoral para que restem configurados. 2. Sendo o eventual crime contra a honra
praticado fora do período de propaganda eleitoral, resta afastada a figura típica especial do
Código Eleitoral e subsiste o tipo penal previsto no Código Penal, se for o caso. 3. Conflito
conhecido para declarar a competência do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, suscitado. (CC
79.872/BA, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/09/2007, DJ
25/10/2007, p. 123).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. JUÍZOS COMUM E ELEITORAL. FALSIFICAÇÃO


DE TÍTULO. FINS ELEITORAIS. CANDIDATURA À VEREADORA. CAPITULAÇÃO NO CÓDIGO
ELEITORAL. A falsificação do respectivo documento público - título de eleitor - tinha fins
eleitorais, crime previsto no Código Eleitoral (arts. 348 e 353). Conflito conhecido, declarando-
se a competência do juízo eleitoral suscitado. (CC 26.105/PA, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA
FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/06/2001, DJ 27/08/2001, p. 221).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DESTRUIÇÃO DE TÍTULO ELEITORAL. DOCUMENTO UTILIZADO


APENAS PARA IDENTIFICAÇÃO PESSOAL, SEM CONTEÚDO ELEITORAL. DESVINCULAÇÃO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. [...] A destruição de título eleitoral da vítima, despida de
qualquer vinculação com pleitos eleitorais e com o intuito, tão somente, de impedir a
identificação pessoal, não atrai a competência da Justiça Eleitoral. 4. Conflito conhecido para
declarar a competência do Juízo Federal da Vara de Execuções Fiscais e Criminal de Caxias do Sul
- SJ/RS, ora suscitante. (CC 127.101/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 11/02/2015, DJe 20/02/2015).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. FRAUDE NA OBTENÇÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO


JUNTO AO INSS. CONDUTA QUE SE AMOLDA AO ART. 171, § 3º, DO CÓDIGO PENAL. POSSÍVEL
OCORRÊNCIA DE CRIME ELEITORAL. APURAÇÃO EM SEDE PRÓPRIA. IMPOSSIBILIDADE DE
JULGAMENTO CONJUNTO NA JUSTIÇA ESPECIALIZADA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM
FEDERAL FIXADA NA CONSTITUIÇÃO. NÃO APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE. 1.
Constatada a existência inequívoca da prática do crime previsto no art. 171, § 3º, do Código
Penal, consistente no emprego de fraude para a obtenção de benefício previdenciário junto ao
INSS, a competência para processar e julgar o delito é da Justiça Federal. 2. Na eventualidade de
ficar caracterizado o crime do art. 299 do Código Eleitoral, este deverá ser processado e julgado
na Justiça Eleitoral, sem interferir no andamento do processo relacionado ao crime de
estelionato, porquanto a competência da Justiça Federal está expressamente fixada na
Constituição Federal, não se aplicando, portanto, o critério da especialidade, previsto nos arts.
74, IV, do CPP e 35, II, do Código Eleitoral, circunstância que impede a reunião dos processos
na Justiça especializada. Precedentes. 3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo
Federal da 3ª Vara da Seção Judiciária do Mato Grosso, o suscitado, para processar e julgar o
crime previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal, sem prejuízo de ser apurado, em sede própria,

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eventual crime eleitoral conexo. (CC 107.913/MT, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 24/10/2012, DJe 31/10/2012).

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME COMUM PRATICADO CONTRA JUIZ ELEITORAL.


INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A competência criminal da Justiça
Eleitoral se restringe ao processo e julgamento dos crimes tipicamente eleitorais. 2. O crime
praticado contra Juiz Eleitoral, ou seja, contra órgão jurisdicional de cunho federal, evidencia
o interesse da União em preservar a própria administração. 3. Conflito conhecido para declarar
a competência do Juízo Federal do Juizado Especial Cível e Criminal da Seção Judiciária do Estado
de Rondônia, ora suscitado. (CC 45.552/RO, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 08/11/2006).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. JUSTIÇA DO TRABALHO. AÇÕES DECORRENTES


DA RELAÇÃO DE TRABALHO. INCOMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÕES PENAIS. 1. A
EC n.º 45/2004 ampliou a competência da Justiça Trabalho, para processar e julgar todas as ações
decorrentes da relação de trabalho. Não obstante, muito embora a nova redação do art. 114 da
Constituição Federal tenha atribuído à Justiça laboral o processamento e julgamento do habeas
corpus "quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição", não lhe atribuiu
competência criminal. 2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal já se manifestou acerca do
assunto e decidiu, por unanimidade, deferir a liminar na ADI n.º 3684, Relator Min. Cezar Peluso,
com efeitos ex tunc, para atribuir interpretação conforme a Constituição aos incisos I, IV e IX do
art. 114 da Constituição Federal, afirmando que a Justiça do Trabalho não possui competência
para processar e julgar ações penais. Entendeu-se que haveria violação ao princípio do juiz
natural, já que compete à Justiça Comum julgar e processar matéria criminal. 3. Conflito
conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1.ª Vara Criminal de Santa Maria -
RS. (CC 59.978/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/03/2007).

[...] ATRIBUIÇÕES DA POLÍCIA JUDICIÁRIA QUE NÃO SE CONFUNDEM COM A COMPETÊNCIA DA


JUSTIÇA FEDERAL. POSSIBILIDADE DE A POLÍCIA FEDERAL APURAR CRIMES COM REPERCUSSÃO
INTERESTADUAL. INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO MEDIANTE A NOTÍCIA DA OCORRÊNCIA
DOS CRIMES DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E CONCUSSÃO, ATÉ PARA APURAR A EXTENSÃO E
COMPLEXIDADE DA ASSOCIAÇÃO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. [...] As atribuições da Polícia
Federal não se restringem a apurar infrações em detrimento de bens, serviços e interesses da
União, sendo possível a apuração de infrações em prol da Justiça estadual. [...] RHC 50.011/PE,
Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 16/12/2014).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. FURTO DE BENS DA RFFSA (REDE FERROVIÁRIA FEDERAL


S/A). MEDIDA PROVISÓRIA Nº 353, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.483/2007. PATRIMÔNIO
TRANSFERIDO À UNIÃO/DNIT. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA. ALTERAÇÃO. SENTENÇA
DE MÉRITO. AUSÊNCIA. PERPETUATIO JURISDICTIONIS. INEXISTÊNCIA. 1. A Medida Provisória nº
353, convertida na Lei nº 11.484/2007, determinou a transferência dos bens da Rede Ferroviária
Federal à União (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes – DNIT). 2. Tratando-
se de alteração de competência absoluta (em razão da matéria) e inexistindo sentença de
mérito, desloca-se para a Justiça Federal, em virtude do interesse da União, a competência
para processar e julgar o crime de furto de 'dormentes' de linha férrea pertencente à extinta
RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A). 3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo

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Aula 03

Federal da 2ª Vara do Juizado Especial Cível de Uruguaiana, o suscitante. (CC 101.444/RS, Rel.
Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/06/2010).

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE ESTELIONATO. TENTATIVA DE RESGATE DE


PRECATÓRIO FEDERAL. POSSÍVEL PREJUÍZO SUPORTADO POR PARTICULAR. ATO DELITUOSO NÃO
PRATICADO EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO. EVENTUAL DANO
PARA O BANCO DO BRASIL. SÚMULA 42/STJ. INCIDÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
1. Conquanto tenham os investigados buscado resgatar precatório federal, se não há prejuízo em
"detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e
da Justiça Eleitoral" (CR, art. 109, IV), a competência para processar e julgar a causa é da Justiça
estadual. 2. Ocorre a hipótese quando o eventual prejuízo causado pelo delito praticado pelos
investigados, que visavam resgatar precatório federal, seria suportado pelo particular titular
do crédito. Ainda que a conduta delituosa tivesse se consumado e o dano fosse suportado pelo
Banco do Brasil, seria mantida a competência da Justiça estadual, a teor da Súmula 42/STJ:
"Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento." 3. Conflito conhecido
para declarar a competência do Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Brasília/DF, ora suscitado.
(CC 133.187/DF, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015).

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FRAUDE À LICITAÇÃO. FRAUDE


PROCESSUAL. FINANCIAMENTO ORIUNDO DO BNDES PARA O ESTADO DE MATO GROSSO.
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE CRIME PRATICADO EM
DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO. ENUNCIADO N. 209, DA SÚMULA
DO STJ. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO. I - A competência da Justiça Federal para apuração
de crimes decorre do art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, que afirma, dentre outras coisas,
que compete aos juízes federais processar e julgar "as infrações penais praticadas em detrimento
de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral".
II - No caso, não obstante os recursos do Programa Mato Grosso 100% Equipado serem
provenientes de empresa pública federal, não se evidenciou qualquer prejuízo ao ente público
federal, haja vista que a relação jurídica que vincula o Estado de Mato Grosso ao BNDES é a de
mútuo feneratício, o que indica, à toda evidência, que o valor emprestado deverá ser
ressarcido pelo ente federativo. III - Incide para o caso, mutatis mutandis, a ratio essendi do
Enunciado n. 209, da Súmula do STJ, que afirma que "compete à justiça estadual processar e
julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal".
Recurso Ordinário desprovido. (RHC 42.595/MT, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 16/12/2014, DJe 02/02/2015).

Cinge-se a questão em saber se a Justiça Federal é a competente para o processo e julgamento


do feito relativo ao delito de roubo em casa lotérica. A Seção conheceu do conflito e declarou
competente o juízo de Direito, o suscitado, por entender que o roubo ocorrido em casa lotérica,
estabelecimento de pessoa jurídica de direito privado permissionária de serviço público, não
caracteriza hipótese de competência da Justiça Federal, pois inexiste detrimento de bens,
serviços ou interesses da União e suas entidades. Precedente citado: CC 40.771-SP, DJ
9/5/2005. (CC 100.740-PB, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/8/2009).

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Esta Corte Superior tem posição definida quanto à competência para processar e julgar crimes
praticados contra agências Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT), fundando-se
suas decisões na constatação da exploração direta da atividade pelo ente da administração
indireta federal - caso em que a competência seria da Justiça Federal, nos termos do artigo 109,
inciso IV, da Constituição Federal - ou se objeto de franquia, isto é, a exploração do serviço por
particulares - quando então se verificaria a competência da Justiça Estadual [...] (HC 39.200/SP,
Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, SEXTA TURMA, julgado em 29/11/2005, DJ 19/12/2005,
p. 475).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO PENAL. TENTATIVA DE ESTELIONATO E USO DE DOCUMENTO


FALSO. ABERTURA DE CONTA CORRENTE COM DOCUMENTO FALSO EM AGÊNCIA DOS CORREIOS
E TELÉGRAFOS QUE FUNCIONAVA COMO BANCO POSTAL (BANCO DO BRASIL S/A). PREJUÍZO
ECONÔMICO EVENTUAL SUPORTADO PELO BANCO DO BRASIL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA DIRETA
A INTERESSE, BEM OU SERVIÇO TÍPICO PRESTADO PELA EBCT. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. 1. Se cabe à instituição financeira contratante dos serviços do Banco Postal (in casu
o Banco do Brasil S/A) a responsabilidade pelos serviços bancários disponibilizados pela EBCT
a seus clientes e usuários, ressalta nítido que eventual lesão decorrente da abertura de conta
corrente por meio da utilização de documento falso atingiria o patrimônio e os serviços do
Banco do Brasil S/A e não da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - EBCT ou dos serviços
típicos de sua atividade fim. Tanto é assim que, caso a empreitada delituosa tivesse tido êxito,
os prejuízos decorrentes da abertura de conta corrente na agência do Banco Postal seriam
suportados pelo Banco do Brasil S/A. Precedente desta Corte: HC n. 96.684/BA, rel. Min. MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, 6ª Turma, julgado em 5/8/2010. [...] A lesão apta a justificar a
competência da Justiça Federal para julgamento da ação penal seria aquela em que ficasse
comprovada a ofensa direta a interesse, bem ou serviço que cabe à EBCT por força de lei, sendo
que, na situação dos autos, o serviço de abertura de conta prestado pelos Correios decorre de
contrato com o Banco do Brasil S.A., sendo este o eventual prejudicado com a conduta delituosa
intentada pelo investigado. 3. Não se verificando que a suposta conduta criminosa tenha
causado qualquer prejuízo ou lesionado serviço da EBCT, mas tão somente o serviço de
responsabilidade do Banco do Brasil S.A., instituição financeira contratante do serviço postal,
é de se reconhecer a competência da Justiça Estadual para o julgamento da ação penal. 4.
Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara da Comarca de
Sousa/PB, o Suscitado. (CC 129.804/PB, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe 06/11/2015).

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO PENAL. CRIME DE ROUBO PERPETRADO CONTRA


AGÊNCIA COMUNITÁRIA DOS CORREIOS, CONSTITUÍDA MEDIANTE CONVÊNIO ENTRE A ECT E O
MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO BATISTA/SC. INTERESSE RECÍPROCO NO SERVIÇO PRESTADO,
INCLUSIVE DA EMPRESA PÚBLICA FEDERAL. DANO DE PEQUENO VALOR. IRRELEVÂNCIA. PERDA
MATERIAL E PREJUÍZO AO SERVIÇO POSTAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. [...] A espécie,
contudo, guarda peculiaridade, pois a agência alvo do roubo é tida como "comunitária".
Constituída sob a forma de convênio entre a ECT e a prefeitura municipal, ostenta interesse
recíproco dos entes contratantes, inclusive da empresa pública federal. 3. Embora noticiado
que o ilícito importou em pequeno prejuízo à empresa pública, o fato é que houve perda material
e prejuízo ao serviço postal; logo é o caso de firmar a competência da Justiça Federal para
conhecer do feito, nos termos do art. 109, IV, da Constituição Federal. 4. Conflito conhecido para

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declarar a competência do Juízo Federal e Juizado Especial de Brusque - SJ/SC, o suscitante. (CC
122.596/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2012,
DJe 22/08/2012).

RECURSO EM HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO DE VALORES ORIUNDOS DE OPERAÇÕES


FINANCEIRAS REALIZADAS EM CASA LOTÉRICA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. NÃO
OCORRÊNCIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. No caso, não obstante os valores que
teriam sido indevidamente apropriados, oriundos de operações financeiras realizadas em casa
lotérica, devessem ser repassados para a Caixa Econômica Federal, não há prejuízo para a
empresa pública, na medida em que as lotéricas atuam na prestação de serviços delegados
pela Caixa mediante regime de permissão, isto é, por conta e risco da empresa permissionária.
2. Assim, fica afastada a competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento
da causa, porquanto não caracterizada a hipótese prevista no art. 109, inciso IV, da Carta
Magna. 3. Recurso parcialmente provido para declarar a incompetência da Justiça Federal com
anulação dos atos decisórios praticados e determinação de remessa do feito à Justiça Estadual
de Joinville, no Estado de Santa Catarina. (RHC 59.502/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 25/08/2015).

[...] CONTRABANDO/DESCAMINHO. COMERCIALIZAÇÃO DE DVD's FALSIFICADOS. VIOLAÇÃO DE


DIREITO AUTORAL. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO. 1. Arquivado o feito referente aos delitos
previstos nos artigos 273 e 334 do Código Penal, em face do princípio da insignificância,
remanesce apenas o exame de possível ocorrência do crime previsto no artigo 184, § 2º, do
Código Penal. 2. Não comprovada a procedência estrangeira dos DVD's pelo Laudo de Exame
Material, a mera confissão do acusado de que teria adquirido os produtos no Paraguai não
atrai, por si só, a competência da União em perseguir o delito, até porque a afronta não
ultrapassa os interesses pessoais do titular do direito autoral. 3. Conflito de competência
conhecido, a fim de declarar competente a Justiça Estadual. (CC 127.584/PR, Rel. Ministro OG
FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/06/2013, DJe 25/06/2013).

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DO ART. 273, §§ 1º e 1º-B, INCS. I E II, DO CÓDIGO
PENAL. APREENSÃO DE ANABOLIZANTES DE ORIGEM ESTRANGEIRA SEM O DEVIDO REGISTRO
NO ÓRGÃO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. TRANSNACIONALIDADE DO DELITO. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. "De ordinário, o crime do art. 273
do Código Penal não é cometido 'em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de
suas entidades autárquicas ou empresas públicas'. Salvo se houver provas ou fortes indícios da
transnacionalidade da conduta delitiva ou de conexão instrumental ou probatória com crime
da competência da Justiça Federal, a competência para processar e julgar a ação penal a ele
correspondente é da Justiça estadual" (CC 127.307/SP, Terceira Seção, julgado em 10/06/2015).
[...] (CC 128.668/SP, Rel. Ministro NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/SC), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/08/2015).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. FALSIFICAÇÃO DE AUTENTICAÇÃO MECÂNICA


EM GUIAS DE RECOLHIMENTO RELATIVAS À ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA – ART.
LESÃO AO CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA – CREA.
AUTARQUIA FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A falsificação de autenticação
mecânica em guias de recolhimento relativas à Anotação de Responsabilidade Técnica – ART,

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causa lesão a interesse do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA.


2. O CREA, como órgão fiscalizador do exercício profissional, possui a natureza jurídica de
autarquia federal, nos termos da Lei n.º 5194/66, sendo, portanto, da competência da Justiça
Federal o julgamento da causa, ex vi do art. 109, inciso IV, da Constituição Federal. [...] (CC
43.623/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/09/2004, DJ 11/10/2004,
p. 233).

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE ESTELIONATO PRATICADO CONTRA MÉDICOS.


UTILIZAÇÃO DE DADOS CONSTANTE DE SÍTIO ELETRÔNICO MANTIDO PELO CONSELHO REGIONAL
DE MEDICINA PARA A FRAUDE. INTERESSE GENÉRICO E REFLEXO DA AUTARQUIA FEDERAL.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. [...] Na hipótese de médicos serem enganados e lesados
utilizando-se de dados constantes de sítio eletrônico mantido pelo Conselho Regional de
Medicina, o seu interesse na identificação e punição dos estelionatários seria genérico e reflexo,
pois calcado na representação dos interesses dos médicos, enquanto entidade de classe, ou na
segurança de que os dados por ela disponibilizados não sejam utilizados por meliantes na prática
de infrações penais. 3. Verificado que a autarquia federal não foi ludibriada nem sofreu
prejuízos, pois enganados foram os médicos que acreditaram nas promessas fraudulentas e
lesadas foram essas mesmas pessoas, resta afastada a competência da Justiça Federal. [...] (CC
61.121/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/06/2007).

PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FALSIDADE IDEOLÓGICA. EXERCÍCIO IRREGULAR


DE PROFISSÃO. ADVOGADO. ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - OAB. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL. Verificado que o ilícito, em tese, foi praticado com a utilização de inscrição
da Ordem dos Advogados do Brasil, cancelada por determinação do seu Conselho Federal, deve
ser fixada a competência da Justiça Federal para a instrução e julgamento do feito.
(Precedentes). [...] (CC 44.304/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 28/02/2007).

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CARTEIRA DA OAB. FALSIFICAÇÃO. ART. 109,


IV DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. Compete à Justiça Federal
processar e julgar eventual delito de falsificação de carteira da Ordem dos Advogados do Brasil.
Conflito conhecido, competente a Justiça Federal (Juízo Suscitante). (CC 33.198/SP, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/02/2002, DJ 25/03/2002, p. 175).

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMES PRATICADOS CONTRA CONCESSIONÁRIA DE


SERVIÇOS PÚBLICOS. PREJUÍZO A BENS OU INTERESSES DA UNIÃO. INEXISTÊNCIA. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA ESTADUAL. RECURSO IMPROVIDO. 1. Compete à Justiça Estadual Comum julgar e
processar crimes cometidos contra empresa concessionária de serviços públicos, por inexistir
prejuízo a bens e/ou interesses da União. [...] (RHC 19.202/SC, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES
LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe 08/09/2008).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE DANO. TELEFONE PÚBLICO. BRASIL TELECOM S/A.


CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO À BENS OU INTERESSES DA
UNIÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO ESTADUAL. Nas concessões de serviço público, os bens
pertencem à própria empresa concessionária, que explora o serviço em nome próprio, com seu
patrimônio e por sua conta e risco. Desse modo, sem a demonstração de prejuízo em

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detrimento de bens ou interesses da União, não se justifica a competência da Justiça Federal.


[...] (CC 37.751/DF, Rel. Ministro PAULO MEDINA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/05/2003, DJ
16/06/2003, p. 259).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA - CONCUSSÃO - MÉDICO CREDENCIADO PELO SUS (SISTEMA ÚNICO


DE SAÚDE) - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. - Havendo interesse particular de
médico em obter vantagem indevida (cobrança por tratamento já pago pelo SUS) sobre
paciente conveniado pelo Sistema Único de Saúde (crime de concussão), a competência é da
Justiça Comum Estadual. [...] (CC 29.304/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, Rel. p/ Acórdão Ministro
JORGE SCARTEZZINI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/11/2000, DJ 12/03/2001, p. 87).

PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. USO DE DOCUMENTO FALSO. TENTATIVA DE


SAQUE EM CONTA BANCÁRIA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. OFENSA A BENS DA CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, IV, DA CF. 1. A tentativa
de efetuar saque, mediante documento falso, de conta de correntista da Caixa Econômica
Federal reclama o interesse da União, porquanto a instituição financeira federal teria que
devolver, em razão do contrato de depósito, o numerário ao particular caso sofresse prejuízo
indevido. 2. Em tal caso, competente o Juízo Federal para análise da ação penal. [...] (CC
22.842/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
14/03/2007, DJ 26/03/2007, p. 192).

[...] DESVIO DE VERBAS PROVENIENTES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS. CONTROLE DO


PODER EXECUTIVO FEDERAL E DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. SÚMULA 208/STJ. 1. Segundo o posicionamento do Supremo Tribunal Federal e desta
Corte de Justiça, compete à Justiça Federal processar e julgar as causas relativas ao desvio de
verbas do Sistema Único de Saúde - SUS, independentemente de se tratar de repasse fundo a
fundo ou de convênio, visto que tais recursos estão sujeitos à fiscalização federal, atraindo a
incidência do disposto no art. 109, IV, da Carta Magna, e na Súmula 208 do STJ. 2. O fato de os
Estados e Municípios terem autonomia para gerenciar a verba financeira destinada ao SUS não
elide a necessidade de prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União, nem exclui
o interesse da União na regularidade do repasse e da correta aplicação desses recursos. 3.
Portanto, a competência da Justiça Federal se mostra cristalina em virtude da existência de bem
da União, representada pelas verbas do SUS, bem como da sua condição de entidade
fiscalizadora das verbas federais repassadas ao Município. [...] (AgRg no CC 122.555/RJ, Rel.
Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/08/2013, DJe 20/08/2013).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. FORMAÇÃO DE QUADRILHA. ESBULHO POSSESSÓRIO.


INVASÃO A ASSENTAMENTO ESTABELECIDO EM TERRAS DE PROPRIEDADE DO INCRA. AUSÊNCIA
DE INTERESSE DA AUTARQUIA FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. [...] No caso,
verifica-se que a propriedade das terras, objeto do esbulho possessório, é do INCRA, autarquia
federal, não tendo a conduta delitiva apresentado ameaça à titularidade da terra, que mesmo
invadida, continuou sendo da referida autarquia, prejudicadas apenas as vítimas, que tiveram
suas residências invadidas e de lá foram expulsas violentamente pelos réus. 3. Esta Corte
Superior de Justiça firmou entendimento no sentido de que, considerado inexistente o
interesse do ente federal na causa, deve a Justiça estadual processar e julgar o feito, incidindo,
na espécie, o enunciado da Súmula nº 150/STJ: "Compete à Justiça Federal decidir sobre a

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existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas


autarquias ou empresas públicas". [...] (CC 121.150/PR, Rel. Ministra ALDERITA RAMOS DE
OLIVEIRA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/PE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
04/02/2013, DJe 20/02/2013).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL.


FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO DE ORIGEM FLORESTAL - DOF E VENDA DE MADEIRA SEM
LICENÇA VÁLIDA OUTORGADA PELA AUTORIDADE COMPETENTE. COMPETÊNCIA ESTADUAL.
[...] A competência do foro criminal federal não advém apenas do interesse genérico que tenha
a União na preservação do meio ambiente. É necessário que a ofensa atinja interesse direto e
específico da União, de suas entidades autárquicas ou de empresas públicas federais. 3. Além
disso, o Supremo Tribunal Federal firmou posicionamento no sentido de que não caracteriza
interesse direto e específico da União, a firmar a competência da Justiça Federal, o exercício
da atividade de fiscalização ambiental pelo IBAMA (RE 300.244/SC, Rel. Min. Moreira Alves,
Primeira Turma, DJ 19.11.2001; HC 81.916/PA, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ
11.10.2002; RE 349.189/TO, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ 14.11.2002; RE
349.191/TO, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ 07.03.2003). 4. "A atividade lesiva ao
meio ambiente é que deve nortear, portanto, a existência de interesse direto da União ou de
sua autarquia e, na hipótese, não há nenhum elemento que aponte, com segurança, qual seria
o interesse específico do investigado que pudesse atrair a competência federal." (CC
141.822/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/09/2015,
DJe 21/09/2015) [...] 6. Ausentes indícios de que a madeira irregularmente comercializada
tivesse sido extraída de alguma das áreas de interesse da União descrita no art. 7º, XIV e XV,
da Lei Complementar n. 140/2011 ou de que o licenciamento ambiental da empresa ré tivesse
sido concedido pela União, não há nem prejuízo nem interesse diretos do IBAMA ou da União
que tenham sido feridos seja em decorrência da falsificação do DOF, seja em decorrência de
sua eventual apresentação à fiscalização da autarquia. [...] (CC 147.393/RO, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/09/2016).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL. CRIME


FALSIDADE IDEOLÓGICA CONTRA JUNTA COMERCIAL. INEXISTÊNCIA DE LESÃO DIRETA A BENS,
INTERESSES OU SERVIÇOS DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. As juntas
comerciais subordinam-se administrativamente ao governo da unidade federativa de sua
jurisdição e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do Comércio, conforme
termos da Lei n. 8.934/1994. 2. Para se firmar a competência para processamento de demandas
que envolvem a junta comercial de um estado é necessário verificar a existência de ofensa
direta a bens, serviços ou interesses da União, conforme art. 109, IV, da Constituição Federal,
o que não ocorreu neste caso. [...] (CC 130.516/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/02/2014, DJe 05/03/2014).

[...] DELITO PRATICADO CONTRA CARTEIRO DA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E


TELÉGRAFOS NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES. ALEGADA INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL PARA PROCESSAR E JULGAR O FEITO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. MATÉRIA
NÃO APRECIADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. WRIT NÃO CONHECIDO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO
DO JUIZ NATURAL. FLAGRANTE ILEGALIDADE. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. [...] De acordo
com a jurisprudência deste Sodalício e do Supremo Tribunal Federal, o crime de roubo praticado

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contra carteiro da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, no exercício de suas funções,


atrai a competência da Justiça Federal para o processo e julgamento da ação penal, nos termos
do artigo 109, inciso IV, da Constituição Federal. [...] (HC 210.416/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 06/12/2011, DJe 19/12/2011).

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. GRUPO DE EXTERMÍNIO. FORMAÇÃO DA


QUADRILHA. CRIME PRATICADO PARA EVITAR QUE A VÍTIMA PRESTASSE DEPOIMENTO A
CONSELHO DE DEFESA DOS DIREITOS DA PESSOA HUMANA. ÓRGÃO VINCULADO AO MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA. INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. [...] Não há como negar,
nesta sede, pelos elementos de cognição colhidos nos autos, a existência de uma relação
teleológica entre o homicídio e o intuito de turbar os trabalhos investigativos, no âmbito da
União, realizados pela Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. [...] Se o crime de
homicídio foi praticado, segundo a denúncia, com o objetivo de evitar que a vítima prestasse
declarações ao referido Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, de forma a impedir que
aquele órgão federal descortinasse as práticas da organização criminosa, resta evidente que a
infração penal maculou, de forma indelével, serviço e interesse da União. [...] Tem-se por
caracterizada a ofensa a interesse da União, consoante a disciplina contida no art. 109, IV, da
Constituição Federal, de modo a determinar a competência, na espécie, da Justiça Federal para
o processamento e julgamento do feito criminal. 7. Ordem denegada. (HC 57.189/DF, Rel.
Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 01/02/2011).

[...] LATROCÍNIO. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. CRIME PRATICADO CONTRA


INSTITUIÇÃO FINANCEIRA PRIVADA. TROCA DE TIROS COM POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS
QUE NÃO ESTARIAM ATUANDO EM SUA JURISDIÇÃO ORIGINAL. IRRELEVÂNCIA. AGENTES
PÚBLICOS QUE AGIRAM NO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 301 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. [...] Assim, se um
servidor público federal é vítima de um delito em razão do exercício de suas funções, tem-se
que o próprio serviço público é afetado, o que atrai a competência da Justiça Federal para
processar e julgar o feito. Doutrina. Enunciado 147 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
Precedentes. 4. No caso dos autos, ainda que a atuação dos policiais rodoviários federais tenha
se dado de forma casuística, como sustentado na impetração, o certo é que era sua
incumbência, naquele momento, reprimir a prática criminosa, nos termos do artigo 301 do
Código de Processo Penal, motivo pelo qual não há dúvidas de que agiram no exercício de suas
funções, o que revela a competência da Justiça Federal para processar e julgar o paciente, que
desferiu diversos tiros contra eles ao empreender fuga de agência bancária que tentou assaltar.
Precedente. 5. Habeas corpus não conhecido. (HC 309.914/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 07/04/2015, DJe 15/04/2015).

Ofende diretamente interesse da União Federal, atraindo a competência da Justiça Federal (art.
109, IV da CF), a conduta de Policiais Federais que mesmo fora do exercício funcional, mas
vestindo a farda, portando o distintivo da corporação, as identidades e as armas e no uso de
viatura oficial da DPF, praticam crimes contra pessoas alheias à Administração Pública. [...]
(REsp 1102270/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em
23/11/2010, DJe 06/12/2010).

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PENAL E PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXTRAÇÃO DE CASCALHO


SEM AUTORIZAÇÃO. ART. 55 DA LEI 9.605/98. PROPRIEDADE PRIVADA. IRRELEVÂNCIA. RECURSO
MINERAL. BEM DA UNIÃO. ART. 20, IX, DA CF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, IV,
DA CF. 1. Cuidando-se de delito contra bem da União, explicitamente trazido no artigo 20 da
Constituição Federal, mostra-se irrelevante o local de sua prática, pois onde o legislador
constituinte não excepcionou, não cabe ao intérprete fazê-lo. [...] (CC 116.447/MT, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/05/2011, DJe 02/06/2011).

PENAL E PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME CONTRA O MEIO


AMBIENTE. ART. 34, INCISO II, C/C ART. 29 DA LEI 9.605/98. PESCA PROIBIDA EM ÁREA
ADJACENTE À ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO TAIM/RS - UNIDADE DE CONSERVAÇÃO FEDERAL.
OFENSA A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO, SUAS AUTARQUIAS, OU EMPRESAS
PÚBLICAS. COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL. 1. Tendo sido o suposto delito cometido em área
do entorno de Unidade de Conservação Federal, vislumbra-se prejuízo à União, Autarquias
Federais ou Empresas Públicas Federais, motivo pelo qual o processamento e julgamento de
crime contra a fauna compete à Justiça Estadual. [...] (CC 115.282/RS, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/06/2011, DJe 16/06/2011).

CRIMINAL. AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXTRAÇÃO DE AREIA


EM PROPRIEDADE PARTICULAR. INEXISTÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO E DE LESÃO A BENS,
SERVIÇOS DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. Consoante iterativa
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça compete à Justiça Estadual o processo e
julgamento de feito que objetive à apuração de possível crime ambiental, consistente na
extração de areia sem a devida autorização do órgão competente, quando perpetrado em
propriedade particular. 2. In casu, não restou demonstrado a existência de eventual lesão a bens,
serviços ou interesses da União, a ensejar a atração da competência da Justiça Federal. 3. Agravo
desprovido. (AgRg no CC 30.932/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
09/04/2003, DJ 05/05/2003, p. 217).

PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. DESMATAMENTO. FLORESTA


AMAZÔNICA. DANO OCORRIDO EM PROPRIEDADE PRIVADA. ÁREA DE PARQUE ESTADUAL.
COMPETÊNCIA ESTADUAL. 1. Não há se confundir patrimônio nacional com bem da União.
Aquela locução revela proclamação de defesa de interesses do Brasil diante de eventuais
ingerências estrangeiras. Tendo o crime de desmatamento ocorrido em propriedade particular,
área que já pertenceu - hoje não mais - a Parque Estadual, não há se falar em lesão a bem da
União. Ademais, como o delito não foi praticado em detrimento do IBAMA, que apenas
fiscalizou a fazenda do réu, ausente prejuízo para a União. [...] (CC 99.294/RO, Rel. Min. MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/08/2009).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE INJÚRIA PRATICADO POR MEIO DA INTERNET,


NAS REDES SOCIAIS DENOMINADAS ORKUT E TWITTER. AUSÊNCIA DAS HIPÓTESES DO ART. 109,
INCISOS IV E V, DA CF. OFENSAS DE CARÁTER EXCLUSIVAMENTE PESSOAL. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA ESTADUAL. 1 - O simples fato de o suposto delito ter sido cometido por meio da rede
mundial de computadores, ainda que em páginas eletrônicas internacionais, tais como as redes
sociais "Orkut" e "Twitter", não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. 2 - É preciso
que o crime ofenda a bens, serviços ou interesses da União ou esteja previsto em tratado ou

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convenção internacional em que o Brasil se comprometeu a combater, como por exemplo,


mensagens que veiculassem pornografia infantil, racismo, xenofobia, dentre outros, conforme
preceitua o art. 109, incisos IV e V, da Constituição Federal. 3 - Verificando-se que as ofensas
possuem caráter exclusivamente pessoal, as quais foram praticadas pela ex-namorada da vítima,
não se subsumindo, portanto, a ação delituosa a nenhuma das hipóteses do dispositivo
constitucional, a competência para processar e julgar o feito será da Justiça Estadual. [...] (CC
121.431/SE, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/04/2012).

CRIMINAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZOS FEDERAL E ESTADUAL. "CLORETO DE ETILA"


ADQUIRIDO NA ARGENTINA. SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. RESOLUÇÃO RDC 104. ATO NULO.
INOCORRÊNCIA DE ABOLITIO CRIMINIS. INTERNACIONALIDADE NÃO-CONFIGURADA. TRÁFICO
INTERNO DE DROGAS. INEXISTÊNCIA DE CUMULAÇÃO DE CRIMES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. I - O "cloreto de etila", vulgarmente conhecido como "lança-perfume", continua
sendo substância proibida pela Lei de Tóxicos. [...] Sendo, o "lança-perfume" de fabricação
Argentina – onde não há proibição de uso – e não constando, o "cloreto de etila", das listas
anexas da Convenção firmada entre o Brasil e a Argentina – não se configura a
internacionalidade do delito, mas, tão-somente, a violação à ordem jurídica interna brasileira.
IV - Caracterizado, em tese, apenas o tráfico interno de entorpecentes, sem qualquer cumulação
de crimes, eis que não foi apreendido nenhum outro tipo de mercadoria com o indiciado,
sobressai a competência da Justiça Estadual para o processo e julgamento do feito. [...] (CC
34.767/PR, Rel. Min. GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/06/2002).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL. INQUÉRITO


POLICIAL. DIVULGAÇÃO DE IMAGEM PORNOGRÁFICA DE ADOLESCENTE VIA WHATSAPP E EM
CHAT NO FACEBOOK. ART. 241-1 DA LEI 8.069/90. INEXISTÊNCIA DE EVIDÊNCIAS DE DIVULGAÇÃO
DAS IMAGENS EM SÍTIOS VIRTUAIS DE AMPLO E FÁCIL ACESSO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. [...] Deliberando sobre o tema, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do Recurso Extraordinário n. 628.624/MG, em sede de repercussão geral, assentou
que a fixação da competência da Justiça Federal para o julgamento do delito do art. 241-A do
Estatuto da Criança e do Adolescente (divulgação e publicação de conteúdo pedófilo-
pornográfico) pressupõe a possibilidade de identificação do atributo da internacionalidade do
resultado obtido ou que se pretendia obter. Por sua vez, a constatação da internacionalidade
do delito demandaria apenas que a publicação do material pornográfico tivesse sido feita em
"ambiência virtual de sítios de amplo e fácil acesso a qualquer sujeito, em qualquer parte do
planeta, que esteja conectado à internet" e que "o material pornográfico envolvendo crianças
ou adolescentes tenha estado acessível por alguém no estrangeiro, ainda que não haja
evidências de que esse acesso realmente ocorreu." (RE 628.624, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 29/10/2015)
3. Situação em que os indícios coletados até o momento revelam que as imagens da vítima foram
trocadas por particulares via Whatsapp e por meio de chat na rede social Facebook. 4. Tanto
no aplicativo WhatsApp quanto nos diálogos (chat) estabelecido na rede social Facebook, a
comunicação se dá entre destinatários escolhidos pelo emissor da mensagem. Trata-se de troca
de informação privada que não está acessível a qualquer pessoa. 5. Diante de tal contexto, no
caso concreto, não foi preenchido o requisito estabelecido pela Corte Suprema de que a
postagem de conteúdo pedófilo-pornográfico tenha sido feita em cenário propício ao livre
acesso. [...] Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara Criminal

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e Execução Penal de São Sebastião do Paraíso/MG, o Suscitado. (CC 150.564/MG, Rel. Min.
REYNALDO SOARES DA FONSECA, 3ª SEÇÃO, j. em 26/04/2017).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DESENVOLVIMENTO CLANDESTINO DE ATIVIDADES DE


TELECOMUNICAÇÃO. CRIME COMETIDO A BORDO DE NAVIO ANCORADO NO PORTO DE
PARANAGUÁ. SITUAÇÃO DE POTENCIAL DESLOCAMENTO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. 1. A Constituição Federal, em seu art. 109, IX, expressamente aponta a competência
da Justiça Federal para processar e julgar "os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves,
ressalvada a competência da Justiça Militar". 2. Em razão da imprecisão do termo "navio"
utilizado no referido dispositivo constitucional, a doutrina e a jurisprudência construíram o
entendimento de que "navio" seria embarcação de grande porte o que, evidentemente,
excluiria a competência para processar e julgar crimes cometidos a bordo de outros tipos de
embarcações, isto é, aqueles que não tivessem tamanho e autonomia consideráveis que
pudessem ser deslocados para águas internacionais. 3. Restringindo-se ainda mais o alcance do
termo "navio", previsto no art. 109, IX, da Constituição, a interpretação que se dá ao referido
dispositivo deve agregar outro aspecto, a saber, que ela se encontre em situação de
deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento. 4. Os tripulantes do
navio que se beneficiavam da utilização de centrais telefônicas clandestinas, para realizar
chamadas internacionais, pertenciam a embarcação que estava em trânsito no Porto de
Paranaguá, o que caracteriza, sem dúvida, situação de potencial deslocamento. Assim, a
competência, vista sob esse viés, é da Justiça Federal. [...] (CC 118.503/PR, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015).

[...] É entendimento pacificado por esta Corte o de que as contravenções penais são julgadas
pela Justiça Comum Estadual, mesmo se cometidas em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União ou de suas entidades. Súmula n.º 38 desta Corte. 2. Até mesmo no caso de
conexão probatória entre contravenção penal e crime de competência da Justiça Comum
Federal, aquela deverá ser julgada na Justiça Comum Estadual. Nessa hipótese, não incide o
entendimento de que que compete à Justiça Federal processar e julgar, unificadamente, os
crimes conexos de competência federal e estadual (súmula n.º 122 desta Corte), pois tal
determinação, de índole legal, não pode se sobrepor ao dispositivo de extração constitucional
que veda o julgamento de contravenções por Juiz Federal (art. 109, inciso IV, da Constituição
da República). [...] (AgRg no CC 118.914/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 29/02/2012, DJe 07/03/2012).

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. APLICAÇÃO DA LEI BRASILEIRA. COMPETÊNCIA


JURISDICIONAL. CRIME INICIADO EM TERRITÓRIO NACIONAL. SEQÜESTRO OCORRIDO EM
TERRA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME PROBATÓRIO. CONDUÇÃO DA VÍTIMA PARA
TERRITÓRIO ESTRANGEIRO EM AERONAVE. PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE. LUGAR DO CRIME
- TEORIA DA UBIQÜIDADE. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO EVENTUAL PROCESSAMENTO CRIMINAL
PELA JUSTIÇA PARAGUAIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. ORDEM DENEGADA. 1. Aplica-
se a lei brasileira ao caso, tendo em vista o princípio da territorialidade e a teoria da ubiqüidade
consagrados na lei penal. 2. Consta da sentença condenatória que o início da prática delitiva
ocorreu nas dependências do aeroporto de Tupã/SP, cuja tese contrária exigiria exame profundo
do acervo fático-probatório, incabível em sede de habeas corpus, sendo assegurado ao acusado
o reexame das provas quando do julgamento de recurso de apelação eventualmente interposto,

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instrumento processual adequado para tal fim. 3. Afasta-se a competência da Justiça Federal,
pela não-ocorrência de quaisquer das hipóteses previstas no art. 109 da Constituição Federal,
mormente pela não-configuração de crime cometido a bordo de aeronave. 4. Não existe
qualquer óbice legal para a eventual duplicidade de julgamento pelas autoridades judiciárias
brasileira e paraguaia, tendo em vista a regra constante do art. 8º do Código Penal. 5. Ordem
denegada. (HC 41.892/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em
02/06/2005).

PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. COMPARTILHAMENTO


DE SINAL DE TV POR ASSINATURA, VIA SATÉLITE OU CABO. CARD SHARING. ARTIGO 109, INCISO
V, DA CF/88. NORMATIVO INTERNACIONAL VIGENTE. TRANSNACIONALIDADE DA CONDUTA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. De acordo com o art. 109, V, da Constituição Federal, a
competência da jurisdição federal se dá pela presença concomitante da transnacionalidade do
delito e da assunção de compromisso internacional de repressão, constante de tratados ou
convenções internacionais. 2. No caso em análise, o Ministério Público do Estado de São Paulo,
a partir de notitia criminis formulada pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura,
requereu a busca e apreensão de elementos de prova acerca da prática de crimes de violação de
direitos autorais e contra a Lei de Software, relacionados à atividade de fornecimento ilícito de
sinal de TV por assinatura. 3. O requisito inicial de previsão normativa internacional é
constatado pela Convenção de Berna, integrada ao ordenamento jurídico nacional através do
Decreto nº 75.699, de 6 de maio de 1975, e reiterada na Organização Mundial do Comércio -
OMC por acordos como o TRIPS (Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights) - Acordo
sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (AADPIC),
incorporado pelo Decreto nº 1355, de 30 de Dezembro de 1994, com a previsão dos princípios
de proteção ao direitos dos criadores, além de diversos outros tratados e convenções
multilaterais assinados pelo Brasil, fixando garantias aos patrimônios autorais e culturais. 4. O
segundo requisito constitucional, de tratar-se de crime à distância, com parcela do crime no
Brasil e outra parcela do iter criminis fora do país, é constatado pela inicial prova da atuação
transnacional dos agentes, por meio da internet. [...] (CC 150.629/SP, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe 28/02/2018).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL.


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO, LAVAGEM DE
DINHEIRO E SONEGAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PROBATÓRIOS
APTOS A INDICAR A INTERNACIONALIDADE DO DELITO. INEXISTÊNCIA DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO
CONSTITUÍDO DEFINITIVAMENTE: CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE PARA A PERSECUÇÃO
PENAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. 1. Compete à Justiça Federal o
julgamento dos crimes previstos nos artigos 33 a 37 da Lei nº 11.343/2006, desde que
caracterizado ilícito transnacional, a teor do art. 70 do mesmo diploma legal. 2. As evidências até
o momento coletadas na investigação não revelaram de tráfico internacional de drogas. A
despeito de ser bastante suspeito o fato de que uma das investigadas foi flagrada
comercializando drogas em sua residência no Paraguai (fato diverso investigado pelo país
vizinho), na mesma época em que recebia dinheiro de um dos principais controladores da
movimentação financeira do esquema criminoso, ora em investigação, tal fato não chega a
constituir prova de que os valores transferidos se destinavam à aquisição de drogas no exterior
para futura comercialização em território nacional. 3. Nos termos do art. 2º, III, alíneas "a" e

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"b", da Lei 9.613/1998, o crime de lavagem de dinheiro será da competência da Justiça Federal
quando praticado contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em
detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas; ou quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça
Federal. Não havendo prova de que o delito antecedente é de competência da Justiça Federal,
nem tampouco indícios de que os crimes investigados têm potencial para afetar o sistema
financeiro nacional ou interesses da União, de suas autarquias ou empresas públicas, é inviável
o reconhecimento da competência da Justiça Federal. [...] (CC 155.351/GO, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe 28/02/2018).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. AUSÊNCIA DE


ELEMENTOS PROBATÓRIOS APTOS A INDICAR A INTERNACIONALIDADE DO DELITO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. 1. A origem estrangeira da droga é apenas uma
probabilidade, não sendo possível comprovar a transnacionalidade do delito de modo a atrair
a competência da Justiça Federal. [...] (CC 116.156/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 26/10/2011, DJe 11/11/2011).

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PORNOGRAFIA INFANTIL. TRANSNACIONALIDADE.


INDÍCIOS. INFRAÇÃO PREVISTA EM TRATADO OU CONVENÇÃO INTERNACIONAL. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A "internet" se constitui em um meio de comunicação que possibilita a
divulgação de informações e imagens em todo o mundo, podendo ultrapassar as fronteiras de
um país e produzir efeitos de âmbito internacional. 2. A Justiça Federal é competente, conforme
disposição do inciso V, do art. 109, da Constituição da República, quando se tratar de infrações
previstas em tratados ou convenções internacionais, como é caso do racismo, previsto na
Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, da
qual o Brasil é signatário, assim como nos crimes de guarda de moeda falsa, de tráfico
internacional de entorpecentes, de tráfico de mulheres, de envio ilegal e tráfico de menores,
de tortura, de pornografia infantil e pedofilia e corrupção ativa e tráfico de influência nas
transações comerciais internacionais. [...] (CC 132.984/MG, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, Rel.
p/ Acórdão Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/05/2014).

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE ESTELIONATO. TENTATIVA DE RESGATE DE


PRECATÓRIO FEDERAL. POSSÍVEL PREJUÍZO SUPORTADO POR PARTICULAR. ATO DELITUOSO
NÃO PRATICADO EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO. EVENTUAL
DANO PARA O BANCO DO BRASIL. SÚMULA 42/STJ. INCIDÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL. 1. Conquanto tenham os investigados buscado resgatar precatório federal, se não
há prejuízo em "detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral" (CR, art. 109, IV), a competência para processar e julgar a
causa é da Justiça estadual. [...]. (CC 133.187/DF, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 22/10/2015).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. DELITO DE FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO


PÚBLICO. OMISSÃO DE DADOS NA CARTEIRA DE TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL DO
EMPREGADO. LESÃO DIRETA A INTERESSE DA UNIÃO. ART. 109, INCISO IV, DA CARTA MAGNA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. A partir do julgamento no conflito de competência n.

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127.706/RS, de relatoria do Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, esta egrégia Terceira Seção
pacificou o entendimento no sentido de que "o sujeito passivo primário do crime omissivo do
art. 297, § 4.º, do Diploma Penal, é o Estado, e, eventualmente, de forma secundária, o
particular, terceiro prejudicado, com a omissão das informações, referentes ao vínculo
empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se, portanto de delito que ofende de forma
direta os interesses da União, atraindo a competência da Justiça Federal, conforme o disposto
no art. 109, IV, da Constituição Federal" (DJe 9/4/2014). [...] (CC 145.567/PR, Rel. Ministro JOEL
ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/04/2016).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL. INQUÉRITO


POLICIAL. FALSO TRIBUNAL INTERNACIONAL DE JUSTIÇA E CONCILIAÇÃO MONTADO EM
CAMPINAS/SP, COM O INTUITO DE LUDIBRIAR VÍTIMAS PARTICULARES, COBRANDO-LHES
VALORES INDEVIDOS PARA A SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS. ESTELIONATO. INEXISTÊNCIA DE
REGISTRO JUNTO AO CONSELHO NACIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM
- CONIMA QUE NÃO AFETA INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. [...]
(CC 146.726/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
14/12/2016, DJe 01/02/2017).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ESTELIONATO. CRIME PRATICADO POR PARTICULAR


CONTRA PARTICULAR. AUSÊNCIA DE LESÃO A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO.
VÍTIMA RESIDENTE EM OUTRO PAÍS. IRRELEVÂNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1.
Constatado que o crime de estelionato foi cometido por particular contra particular, não
havendo, portanto, qualquer lesão a bens, serviços ou interesses da União, a competência para
processar e julgar o feito é da Justiça Estadual. [...] (CC 125.237/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, j. em 04/02/2013).

AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO PENAL. PRESÍDIO FEDERAL.


INCLUSÃO OU RENOVAÇÃO DE PRAZO DE PERMANÊNCIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL
DE UNICAMENTE EXAMINAR A LEGALIDADE DA DECISÃO JUDICIAL DE TRANSFERÊNCIA OU
RENOVAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXERCER JUÍZO REVISIONAL SOBRE O MÉRITO DO ATO DE
OUTRO JUÍZO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - 'Persistindo as razões e fundamentos que
ensejaram a transferência do preso para o presídio federal de segurança máxima, como afirmado
pelo Juízo suscitante, notadamente em razão da periculosidade concreta do apenado, que
desempenha função de liderança em facção criminosa, a renovação da permanência é
providência indeclinável, como medida excepcional e adequada para resguardar a ordem pública
(CC n. 120.929/RJ, Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Seção, DJe 16/8/2012).' II - Ao Juízo
Federal cabe exclusivamente a competência para avaliar a legalidade e a existência dos
requisitos para a implantação ou renovação de preso no sistema penitenciário federal, não lhe
competindo revisar as razões do Juízo de origem, ou valorar os fundamentos concretos da
decisão. [...] (AgRg na PET nos EDcl no CC 152.889/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe 28/02/2018).

PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME MILITAR. EXECUÇÃO DA


PENA. MILITAR EXCLUÍDO DA CORPORAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. 1. Compete à
Justiça Comum a execução da pena imposta pela Justiça Castrense, quando o condenado foi

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excluído da Corporação Militar. [...] (CC 109.355/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/04/2011, DJe 30/05/2011).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DEFERIDA POR


JUÍZO FEDERAL. INDÍCIOS DE CRIME DE RUFIANISMO DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
1. Embora o procedimento tenha se originado por meio de medida cautelar (interceptação
telefônica), deferida pelo Juízo Federal, se as investigações lograram comprovar tão-somente a
prática, em tese, do delito de rufianismo, irrelevante a alegação de existência de dependência
com ação penal versando acerca de tráfico de pessoas, porquanto não se verifica que as provas
produzidas tenham relação com o processo principal em curso na Justiça Federal. 2. Inocorre o
instituto da prevenção previsto no art. 83 do Código de Processo Penal porquanto inexistem dois
juízos igualmente competentes. Em que pese a decretação da interceptação telefônica ter se
dado pelo Juízo Federal, óbice não se verifica para que a apuração do suposto crime ali revelado
ocorra perante a Justiça Estadual por ser a competente para o exame do feito, sob pena de
afronta ao princípio do juiz natural. [...] (CC 87.589/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe 24/04/2009).

COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

1 - CONCEITO
A depender da função ou cargo que determinado indivíduo exerça – notadamente os de significativo
prestígio, influência e importância nos quadros do Poder Público – sofrerá a competência para o julgamento
de suas respectivas causas penais diametrais mudanças.

E isso não é a esmo. EUGENIO PACELLI muito bem esclarece o propósito pretendido pelo legislador constituinte
quando da positivação e implementação desse instituto:

Tendo em vista a relevância de determinados cargos ou funções públicas, cuidou o constituinte


brasileiro de fixar foros privativos para o processo e julgamento de infrações penais praticadas
pelos seus ocupantes, atentando-se para as graves implicações políticas que poderiam resultar
das respectivas decisões judiciais.

E continua o autor:

Optou-se, então, pela eleição de órgãos colegiados do Poder Judiciário, mais afastados, em tese,
do alcance das pressões externas que frequentemente ocorrem em tais situações, e em atenção
também à formação profissional de seus integrantes, quase sempre portadores de mais alargada
experiência judicante, adquirida ao longo do tempo de exercício na carreira. (Pacelli, 2017).

Por vezes se ouve, mundo afora – mormente nos noticiários –, menções ao famoso e erroneamente
denominado “foro privilegiado” (embora alguns doutrinadores também utilizem), referindo-se, em verdade,
à competência por prerrogativa de função. Para a doutrina majoritária, não se trata de privilégio concedido

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à pessoa, mas de uma prerrogativa, constitucionalmente assegurada, que concerne única e exclusivamente
à função ou cargo exercido. Nesse sentido, bem assevera FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO:

É verdade que a Lei Maior, no art. 5º, caput, estabelece que “todos são iguais perante a lei”.
Sendo, como efetivamente são, esse direito concedido a tais pessoas não conflitaria com aquela
igualdade? Obviamente não. Não se trata (conforme dissemos) de um privilégio, o que seria
odioso, mas de uma garantia, de elementar cautela, para amparar, a um só tempo, o responsável
e a Justiça, evitando, por exemplo, a subversão da hierarquia, e para cercar o seu processo e
julgamento de especiais garantias, protegendo-os contra eventuais pressões que os supostos
responsáveis pudessem exercer sobre os órgãos jurisdicionais inferiores. Observe-se que esse
foro não é concedido à pessoa, mas lhe é dispensado em atenção à importância ou relevância
do cargo ou função que exerça (Filho, 2011).

A propósito, EDILSON MOUGENOT BONFIM assenta a impropriedade da denominação “foro privilegiado”, não
apenas em relação ao dito ‘privilégio’, mas também em relação ao próprio termo ’foro’:

A competência por prerrogativa de função é vulgarmente conhecida como “foro privilegiado”.


Imprecisa a expressão, uma vez que o termo “foro”, a rigor, diz respeito à divisão territorial de
competências, sendo que a prerrogativa de função implica, mais do que o deslocamento da
competência territorial, a competência originária dos tribunais para o julgamento das causas
sobre as quais incide. Tampouco se trata de privilégio, que implica favorecimento a alguém em
razão de suas qualidades pessoais, mas sim de prerrogativa, vantagem atribuída não à pessoa,
mas ao cargo ou função por ela exercida (Bonfim, 2013).

Contudo, para fins didáticos e a fim de se evitar confusão terminológica entre os autores que foram e serão
citados ao decorrer deste tema, utilizar-se-á o termo “foro” para se lhe referir. Fica o registro e a ressalva,
de qualquer modo.

Convém assinalar que esse critério para fixação de competência não escapa de críticas, as mais variadas.
GUILHERME DE SOUZA NUCCI, por exemplo, posiciona-se contra a manutenção dessa prerrogativa no
ordenamento jurídico:

A doutrina, de maneira geral, justifica a existência do foro privilegiado como maneira de dar
especial relevo ao cargo ocupado pelo agente do delito e jamais pensando em estabelecer
desigualdades entre os cidadãos. Entretanto, não estamos convencidos disso. Se todos são iguais
perante a lei, seria preciso uma particular e relevante razão para afastar o criminoso do seu juiz
natural, entendido este como o competente para julgar todos os casos semelhantes ao que foi
praticado. Não vemos motivo suficiente para que o Prefeito seja julgado na Capital do Estado,
nem para que o juiz somente possa sê-lo pelo Tribunal de Justiça ou o desembargador pelo
Superior Tribunal de Justiça e assim por diante. Se à Justiça Cível todos prestam contas
igualmente, sem qualquer distinção, natural seria que a regra valesse também para a Justiça
Criminal. O fato de se dizer que não teria cabimento um juiz de primeiro grau julgar um Ministro
de Estado que cometa um delito, pois seria uma “subversão de hierarquia” não é convincente,
visto que os magistrados são todos independentes e, no exercício de suas funções jurisdicionais,
não se submetem a ninguém, nem há hierarquia para controlar o mérito de suas decisões. Logo,
julgar um Ministro de Estado ou um cidadão qualquer exige do juiz a mesma imparcialidade e

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dedicação, devendo-se clamar pelo mesmo foro, levando em conta o lugar do crime e não a
função do réu (Nucci, 2015).

2 - O ATUAL PANORAMA PERANTE OS TRIBUNAIS SUPERIORES


Antes de adentramos nas questões gerais e de casuística, necessário compreendermos o atual estado do
foro por prerrogativa de função no âmbito dos tribunais superiores.

Em 2018, o Supremo Tribunal Federal voltou a tratar (em caráter definitivo) sobre o tema. Trata-se da Ação
Penal (AP) 937/RJ, de relatoria do Min. LUÍS ROBERTO BARROSO, cuja decisão final data de 03 de maio de 2018.

Em linhas gerais, referida decisão acabou por limitar significativamente a abrangência da prerrogativa de
foro. Mas como ficou, então?

De início, veja a ementa do aludido julgamento:

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, resolveu questão de ordem no
sentido de fixar as seguintes teses: “(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos
crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii)
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será
mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que
ocupava, qualquer que seja o motivo”, com o entendimento de que esta nova linha interpretativa
deve se aplicar imediatamente aos processos em curso, com a ressalva de todos os atos
praticados e decisões proferidas pelo STF e pelos demais juízos com base na jurisprudência
anterior, conforme precedente firmado na Questão de Ordem no Inquérito 687 (Rel. Min. Sydney
Sanches, j. 25.08.1999), e, como resultado, no caso concreto, determinando a baixa da ação
penal ao Juízo da 256ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro para julgamento, tendo em vista que (i)
os crimes imputados ao réu não foram cometidos no cargo de Deputado Federal ou em razão
dele, (ii) o réu renunciou ao cargo para assumir a Prefeitura de Cabo Frio, e (iii) a instrução
processual se encerrou perante a 1ª instância, antes do deslocamento de competência para o
Supremo Tribunal Federal. Vencidos: em parte, os Ministros Alexandre de Moraes e Ricardo
Lewandowski, que divergiam do Relator quanto ao item (i); em parte, o Ministro Marco Aurélio,
que divergia do Relator quanto ao item (ii); em parte, o Ministro Dias Toffoli, que, em voto
reajustado, resolveu a questão de ordem no sentido de: a) fixar a competência do Supremo
Tribunal Federal para processar e julgar os membros do Congresso Nacional exclusivamente
quanto aos crimes praticados após a diplomação, independentemente de sua relação ou não
com a função pública em questão; b) fixar a competência por prerrogativa de foro, prevista na
Constituição Federal, quanto aos demais cargos, exclusivamente quanto aos crimes praticados
após a diplomação ou a nomeação (conforme o caso), independentemente de sua relação ou
não com a função pública em questão; c) serem inaplicáveis as regras constitucionais de
prerrogativa de foro quanto aos crimes praticados anteriormente à diplomação ou à nomeação
(conforme o caso), hipótese em que os processos deverão ser remetidos ao juízo de primeira
instância competente, independentemente da fase em que se encontrem; d) reconhecer a
inconstitucionalidade das normas previstas nas Constituições estaduais e na Lei Orgânica do

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Distrito Federal que contemplem hipóteses de prerrogativa de foro não previstas expressamente
na Constituição Federal, vedada a invocação de simetria; e) estabelecer, quando aplicável a
competência por prerrogativa de foro, que a renúncia ou a cessação, por qualquer outro motivo,
da função pública que atraia a causa penal ao foro especial, após o encerramento da fase do art.
10 da Lei nº 8.038/90, com a determinação de abertura de vista às partes para alegações finais,
não altera a competência para o julgamento da ação penal; e, em parte, o Ministro Gilmar
Mendes, que assentou que a prerrogativa de foro alcança todos os delitos imputados ao
destinatário da prerrogativa, desde que durante a investidura, sendo desnecessária a ligação com
o ofício, e, ao final, propôs o início de procedimento para a adoção de Súmula Vinculante em que
restasse assentada a inconstitucionalidade de normas de Constituições Estaduais que disponham
sobre a competência do Tribunal de Justiça para julgar autoridades sem cargo similar
contemplado pela Constituição Federal e a declaração incidental de inconstitucionalidade dos
incisos II e VII do art. 22 da Lei 13.502/17; dos incisos II e III e parágrafo único do art. 33 da Lei
Complementar 35/79; dos arts. 40, III, V, e 41, II, parágrafo único, da Lei 8.625/93; e do art. 18,
II, “d”, “e”, “f”, parágrafo único, da Lei Complementar 75/93. Presidiu o julgamento a Ministra
Cármen Lúcia. Plenário, 3.5.2018. STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 03/05/2018.

Por força dessa decisão, assentaram-se duas premissas, concomitantes, para adoção do foro por prerrogativa
de função, uma temporal e outra material:

1) crime praticado durante o exercício do cargo (regra da atualidade);


2) crime que tenha relação com a função desempenhada.

É dizer: se o crime foi praticado durante o exercício do cargo, mas não tem qualquer relação com as
respectivas funções (v.g. deputado federal que pratica crime de lesão corporal em âmbito doméstico e
familiar contra sua esposa), será competente para o processamento e julgamento do delito o juízo de
primeira instância. Da mesma forma, se um senador pratica um crime comum anteriormente à sua
diplomação como parlamentar, também será competente o juízo de primeira instância (desconsiderando-se
a prerrogativa).

Portanto, somente será julgado perante o STF, no caso dos parlamentares federais, o crime praticado após
a diplomação, na constância do mandato, tendo esse crime efetiva relação com as funções exercidas.

Por outro lado, fixou-se um marco temporal, um limite, a ser observado dentro de cada procedimento, até
quando ainda será possível alterar-se a competência: a publicação do despacho de intimação das partes para
a apresentação de alegações finais.

A necessidade de delimitação de um marco procedimental para a estagnação da competência surgiu a partir


de um contexto (que vinha se tornando comum) de manobras processuais perpetradas pelos detentores da
prerrogativa de foro, com a intenção de tumultuar e procrastinar o desfecho dos processos. Os mandatos se
encerravam, ocorriam renúncias, diplomações e nomeações voluntárias que acabavam por deslocar a
competência a qualquer momento.

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Conforme o relator, a ocorrência de prescrições em processos penais submetidos à competência do STF, em


virtude do mau funcionamento do sistema, traz, para além da natural impunidade, um desprestígio à própria
Corte Suprema. O Direito Penal perde o seu principal papel: a prevenção geral.

Para que se tenha ideia, veja o curioso contexto da situação fática referente à mesma AP 937:

A discussão se deu no julgamento da questão de ordem na AP 937, que teve início em maio do
ano passado. O caso concreto é de ação ajuizada pelo MP eleitoral contra o ex-deputado Federal
Marquinho Mendes, por suposta compra de votos nas eleições municipais de 2008, quando foi
eleito prefeito de Cabo Frio/RJ.

O processo começou a tramitar no TRE/RJ, mas no momento do recebimento da denúncia, já


expirado seu mandato de prefeito, o processo teve de ser remetido à 1º instância da Justiça
Eleitoral.

Em 2015, Mendes foi diplomado deputado, então o processo subiu para o Supremo. Mas, nas
eleições municipais de 2016, Marquinho Mendes foi eleito novamente prefeito de Cabo Frio e
renunciou ao mandato de deputado para assumir a prefeitura. Com isso, a competência voltaria
para o TRE. Com as mudanças de competência e o risco de prescrição da pena, o relator decidiu
remeter a questão de ordem ao plenário.

Com a decisão, foi determinada a baixa da ação penal ao juízo da 256ª zona eleitoral do RJ para
julgamento, tendo em vista que o crime imputado ao réu não foi cometido no cargo de deputado
Federal e em razão dele, e ainda que o réu renunciou ao cargo para assumir ao cargo de prefeito,
tendo a instrução processual se encerrado na 1ª instância, antes do deslocamento do processo
(MIGALHAS. STF limita foro privilegiado a crimes durante e em função do cargo. Disponível em:
<https://bit.ly/2NpPobf>. Acesso em: 27 mar. 2019).

Assim, encerrada a instrução criminal, publicado o despacho intimando as partes para apresentarem as
alegações finais, a competência não mais se alterará, independentemente do cargo eventualmente
ocupado/alterado pelo réu. A regra da atualidade, portanto, foi mitigada.

Essa nova orientação acerca do instituto passou a surtir efeito imediatamente (em 03 de maio de 2018),
incidindo sobre todos os processos em curso, sem prejuízo dos atos praticados anteriormente à decisão.

Por fim, vale registrar que a real abrangência da decisão do STF ainda não está completamente delimitada.
A priori, entendia-se que a decisão valia apenas para os parlamentares federais (senadores e deputados
federais). Inclusive, a extensão dos efeitos aos demais cargos e funções públicas chegou a ser proposta no
voto do Min. DIAS TOFFOLI, o que não acabou por constar da tese final.

Apesar disso, o STJ já decidiu (APn 857/DF) pela aplicação do entendimento exarado pelo STF a todos os
cargos e funções elencados no art. 105 da CF (in casu, a governadores e conselheiros de tribunais de contas)
- o que indica uma provável e gradual extensão dos efeitos aos demais cargos e funções:

Proclamação Parcial de Julgamento: Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr.


Ministro Felix Fischer acompanhando a divergência, os votos da Sra. Ministra Nancy Andrighi e

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dos Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin e Jorge Mussi, no mesmo sentido, a
retificação de voto do Sr. Ministro Relator no sentido de que a competência penal originária do
Superior Tribunal de Justiça em relação a todas as autoridades listadas no art. 105 da Constituição
é restrita aos delitos praticados no período em que o agente ocupa a função e deve ter relação
intrínseca às atribuições exercidas e estabelecendo, ainda, outras premissas, segundo o
entendimento do Supremo Tribunal Federal, bem como determinando a imediata remessa dos
autos à Primeira Instância, no que foi acompanhado pelo Sr. Ministro Og Fernandes, a Corte
Especial, por maioria, entendeu, preliminarmente, que cabe ao STJ interpretar a sua competência
constitucional, e, no caso concreto, por unanimidade, determinou a baixa dos autos ao juízo de
primeiro grau. Lavrará o acórdão o Sr. Ministro João Otávio de Noronha. Petição Nº IJ1148/2018
- QO na APn 857 (3001)

Trata-se, segundo o STJ, de interpretação simétrica àquela dada pelo STF, a fim de que se mantenha a
coerência, integridade e unidade da Constituição Federal. A adoção do entendimento pelo STJ acabou por
constar do seu Informativo 630, de 30/08/2018, cujo destaque é: “As hipóteses de foro por prerrogativa de
função perante o STJ restringem-se àquelas em que o crime for praticado em razão e durante o exercício
do cargo ou função”.

Por outro lado – e, aqui, perceba a insegurança na matéria –, o próprio STJ, depois, em Questão de Ordem
levantada na Ação Penal 878/DF, decidiu pela manutenção do foro por prerrogativa de função (no STJ) para
julgamento de crime de lesão corporal praticado por desembargador, mesmo não havendo sido cometido
em razão do seu cargo. Segundo se entendeu, não obstante a tese fixada pelo STF por ocasião da AP 937/RJ,
não se poderia admitir fosse o desembargador julgado por magistrado de primeiro grau vinculado ao mesmo
tribunal, porquanto isso representaria risco à independência na atividade judicante. Confira a ementa:

PROCESSUAL PENAL E CONSTITUCIONAL. QUESTÃO DE ORDEM NA AÇÃO PENAL. COMPETÊNCIA


CRIMINAL ORIGINÁRIA DO STJ. ART. 105, I, "A", DA CONSTITUIÇÃO. QO NA AP 937/STF. QO NA
APN 857/STJ. AGRG NA APN 866/STJ. DESEMBARGADOR. CRIME SEM RELAÇÃO COM O CARGO.
VINCULAÇÃO FUNCIONAL. PRERROGATIVA DE FORO. FINALIDADE DA NORMA. EXERCÍCIO
INDEPENDENTE DAS FUNÇÕES PELA AUTORIDADE DETENTORA DE FORO. IMPARCIALIDADE DO
ÓRGÃO JULGADOR. CREDIBILIDADE DO SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL. COMPETÊNCIA DO STJ.

1. Hipóteses em que Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná responde pela


prática, em tese, de delito de lesão corporal ocorrido em Curitiba-PR.

2. O crime que é imputado ao réu não tem relação com o exercício do cargo de Desembargador,
de modo que, a princípio, aplicando-se o precedente produzido pelo Supremo Tribunal Federal
no julgamento da QO na AP 937, não teria o réu foro no Superior Tribunal de Justiça.

3. A interpretação do alcance das hipóteses de prerrogativa de foro previstas na Constituição da


República, não obstante, responde não apenas à necessidade de que aquele que goza da
prerrogativa tenha condições de exercer com liberdade e independência as funções inerentes ao
cargo público que lhe confere a prerrogativa.

4. Para além disso, nos casos em que são membros da magistratura nacional tanto o acusado
quanto o julgador, a prerrogativa de foro não se justifica apenas para que o acusado pudesse

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exercer suas atividades funcionais de forma livre e independente, pois é preciso também que o
julgador possa reunir as condições necessárias ao desempenho de suas atividades judicantes de
forma imparcial.

5. A necessidade de que o julgador possa reunir as condições para o desempenho de suas


atividades judicantes de forma imparcial não se revela como um privilégio do julgador ou do
acusado, mas como uma condição para que se realize justiça criminal de forma isonômica e
republicana.

6. Questão de ordem resolvida no sentido de se reconhecer a competência do Superior Tribunal


de Justiça nas hipóteses em que, não fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da Constituição), o
Desembargador acusado houvesse de responder à ação penal perante juiz de primeiro grau
vinculado ao mesmo tribunal. (QO na APn 878/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE
ESPECIAL, julgado em 21/11/2018).

Fato é que o último julgado constitui situação excepcional. Como regra geral, só haverá se falar em foro por
prerrogativa de função quando o crime for praticado pela autoridade durante o exercício do cargo/mandato
eletivo e em razão desse cargo ou mandato.

Por fim, e a título de complementação, no que se refere às ações de improbidade administrativa, nas lições
de BRASILEIRO, não haveria se falar nesse foro por prerrogativa de função:

Ação de improbidade administrativa: não há falar em foro por prerrogativa de função, haja vista
a declaração da inconstitucionalidade do art. 84, § 2º, do CPP. Tratando-se de ação civil por
improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), mostra-se irrelevante, para efeito de definição da
competência originária dos Tribunais, que se cuide de ocupante de cargo público ou de titular de
mandato eletivo ainda no exercício das respectivas funções, pois a ação civil em questão deverá
ser ajuizada perante magistrado de primeiro grau (Lima, 2021).

AVENA minudencia, chamando a atenção para alguns detalhes jurisprudenciais:

Por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.797, o STF, em 15.09.2005, por maioria,
declarou inconstitucionais precitados §§ 1º e 2º do art. 84 do CPP, o que implicou no
entendimento desde então vigorante no sentido de que não mais existe foro privilegiado para
ação de improbidade administrativa. Não obstante, recomenda-se cautela aos operadores do
Direito no enfrentamento do tema e o acompanhamento atento da jurisprudência, pois o STJ, a
partir do julgamento da Reclamação 2.790/ SC (DJ 04.03.2010), tem oscilado, ora entendendo
que o foro privilegiado presente na esfera criminal também deve ser aplicado às ações civis
públicas de improbidade administrativa quando houver a possibilidade de a autoridade
investigada perder o cargo ou o mandato, ora seguindo a mesma orientação do STF e
compreendendo que não existe prerrogativa de função nas ações de improbidade administrativa.
Para ilustrar o alcance dessa divergência, considere-se que, em determinada hipótese concreta,
pretenda o Ministério Público responsabilizar um Prefeito Municipal tanto criminalmente como
na esfera da improbidade administrativa. Seguindo-se a primeira corrente (maioria), a ação penal
contra ele deverá ser movida junto ao tribunal competente, e a ação de improbidade

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administrativa, perante o juiz singular. Por outro lado, trilhando-se a segunda orientação, tanto
uma como outra ação devem ser propostas no tribunal (Avena, 2020).

Perceba, no entanto, que esse é apenas o primeiro passo para que se firme a competência. Configurada a
incidência desse foro especial, várias outras questões devem ser consideradas para que se saiba, ao final,
qual será o órgão do Poder Judiciário competente para o processamento e julgamento desses processos.
Vejamos, pois, alguns aspectos gerais que envolvem o tema.

3 - CONSIDERAÇÕES GERAIS
O tema é terreno fértil para várias considerações acerca das inúmeras situações que podem envolvê-lo.

3.1 - Investigação policial e indiciamento

Em relação à investigação policial e indiciamento de pessoas detentoras de foro por prerrogativa de função,
RENATO BRASILEIRO DE LIMA aponta posicionamento já adotado pelo Supremo Tribunal Federal referente a essa
questão:

Em questão de Ordem suscitada no Inq. 2.411, o Plenário do Supremo Tribunal Federal passou a
entender que, tratando-se de investigado titular de foro por prerrogativa de função, a autoridade
policial não pode proceder ao indiciamento sem prévia autorização do Ministro-Relator, sendo
que esta autorização também é necessária para a própria instauração do inquérito originário
(Lima, 2021).

Trata-se de extensão da garantia para a fase pré-processual, conferindo-lhe mais robustez e efetividade,
garantindo-se aos detentores da prerrogativa de foro que todo o desdobramento investigativo se dê perante
o órgão competente para o julgamento ou que, ao menos, referido órgão manifeste ciência e autorize
expressamente a investigação local.

Não obstante, o STJ ainda tem precedentes recentes em sentido diverso:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO ATIVA. PREFEITO MUNICIPAL. PROCEDIMENTO


INVESTIGATÓRIO INICIADO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO TRIBUNAL ESTADUAL. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE. FEITO REMETIDO À PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA. POSSIBILIDADE DE
CONVALIDAÇÃO DOS ATOS. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Da prerrogativa de função não decorre
qualquer condicionante à atuação do Ministério Público, ou da autoridade policial, no exercício
do mister investigatório, sendo, em regra, despicienda a admissibilidade da investigação pelo
Tribunal competente. Precedentes. 2. Não se vislumbra ilegalidade na condução inicial das
investigações pela Promotoria de Justiça, com posterior encaminhamento dos autos à
Procuradoria-Geral de Justiça, que poderá convalidar, ou não, os atos investigatórios já
praticados. 3. Recurso em habeas corpus não provido. (RHC 104.471/PR, Rel. Ministro RIBEIRO
DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 05/03/2020)

Nesse julgado, o Min. RIBEIRO DANTAS consigna que “nas hipóteses de haver previsão de foro por prerrogativa
de função, pretende-se apenas que a autoridade, em razão da importância da função que exerce, seja

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processada e julgada perante foro mais restrito, formado por julgadores mais experientes, evitando-se pois
persecuções penais infundadas. Da prerrogativa de função, contudo, não decorre qualquer condicionante à
atuação do Ministério Público, ou da autoridade policial, no exercício do mister investigatório, sendo, em
regra, despicienda a admissibilidade da investigação pelo Tribunal competente”.

Particularmente, pensamos que o STJ está correto em sua maneira de pensar: o foro deveria ser reservado
à fase de processo, na medida em que relacionado à competência e ao juiz natural. Todavia, não podemos
nos afastar do entendimento da Suprema Corte, que decidiu em sentido contrário.

Impende relembrar que, em se tratando de crimes cometidos por magistrados e membros do Ministério
Público, conforme já assentado em outras oportunidades, por expressa previsão dos artigos 33, parágrafo
único da LOMAN e 41, parágrafo único da LONMP, a autoridade policial deverá imediatamente promover a
remessa dos autos ao Tribunal ou Procurador-Geral de Justiça, respectivamente, para a condução das
investigações.

3.2 - Duplo grau de jurisdição

Uma peculiaridade atinente à competência por prerrogativa de função é a ausência de duplo grau de
jurisdição. Nesses casos, tem-se como juízo a quo uma instância que, para os casos comuns, costuma ser a
ad quem; ou seja, o processo inicia e é diretamente julgado por órgão que, via de regra, é a instância recursal.
Dessa forma, não há ocasião ou oportunidade para reanálise da matéria fática por órgão diverso daquele
que originariamente competente. A esse propósito, AURY LOPES JR. muito bem elucida a questão:

Assim, um deputado estadual, julgado originariamente pelo Tribunal de Justiça, somente terá
recurso especial e extraordinário dessa decisão, e, em ambos, está vedado o reexame da “prova”
do processo, limitando-se a discutir eventual violação de norma federal ou constitucional (essas
questões serão vistas posteriormente). Imagine-se então quem é julgado originariamente pelo
Supremo Tribunal Federal; o duplo grau de jurisdição é inexistente (Júnior, 2021).

No mesmo sentido, o magistério de TOURINHO FILHO:

Diga-se, por outro lado, que a competência originária se exerce em uma única instância. Não
haverá recurso contra as decisões proferidas numa causa da competência originária por
prerrogativa de função, salvante as hipóteses de recurso extraordinário, recurso especial, os
excepcionais casos de denegação de habeas corpus e os recursos referidos no art. 102, II, b, da
Magna Carta (Filho, 2011).

Essa peculiaridade (que é prejudicial ao destinatário) constitui um argumento quanto ao foro especial
constituir uma prerrogativa da função, e não uma garantia da pessoa.

3.3 - Local da infração

No que se refere ao local de prática do crime, é se de observar que a regra de fixação da competência
territorial presente no art. 70 do CPP fica obsoleta perante a prerrogativa de função; prevalecerá esta, como
bem assinala BRASILEIRO DE LIMA:

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Tratando-se de competência por prerrogativa de função, todavia, pouco importa o local onde o
crime foi cometido, recaindo a competência sobre o Tribunal ao qual se encontrar vinculada a
respectiva autoridade. Se o agente faz jus a foro por prerrogativa de função, será julgado pelo
respectivo tribunal, mesmo que o local do crime não esteja dentro dos limites territoriais de sua
competência (Lima, 2021).

A título de exemplo, se um juiz de direito do Estado do Rio de Janeiro praticar um crime comum em Porto
Alegre/RS, o juízo competente para processar e julgar esse crime será o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Entretanto, há se consignar que, em relação aos membros do Ministério Público e magistrados, a prática de
crimes eleitorais enseja regra especial, por expressa ressalva legal, como bem pondera AVENA:

Sem embargo de toda esta disciplina, é necessário atentar a um detalhe: tanto o art. 96, III quanto
o art. 108, I, a, da CF, ao estabelecerem a competência dos Tribunais de Justiça e Tribunais
Regionais Federais para processo e julgamento de Juízes e membros do Ministério Público,
ressalvam a competência da Justiça Eleitoral. Logo, se um Juiz de Direito ou um Juiz Federal
praticar um crime eleitoral, não será ele processado e julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado
ou pelo Tribunal Regional Federal da Região a que vinculado, mas sim perante o Tribunal Regional
Eleitoral do Estado onde exerce suas funções.

O autor exemplifica e complementa:

Exemplos: a) Juiz Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, comete um crime eleitoral. Não será
processado junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, mas sim perante o Tribunal Regional
Eleitoral do Rio Grande do Sul. b) Promotor de Justiça de Florianópolis, em Santa Catarina, pratica
um delito eleitoral. Seu processo e julgamento correrão perante o Tribunal Regional Eleitoral de
Santa Catarina, e não diante do Tribunal de Justiça desse Estado.

A propósito da Justiça Eleitoral, cabe mencionar que as ressalvas apostas nos arts. 96, III, e 108,
I, a, da CF, excluindo da competência dos Tribunais de Justiça dos Estados e dos Tribunais
Regionais Federais o processo e julgamento dos crimes eleitorais, incidem nas hipóteses de
conexão e continência. Logo, se um Juiz de direito, por exemplo, praticar crime comum conexo
com crime eleitoral, a competência da Justiça Eleitoral será prevalente, atraindo para o TRE o
processo e julgamento de ambos os delitos. E quanto aos Prefeitos Municipais? O regramento
não é diferente (Avena, 2020).

3.4 - Competência por prerrogativa de função x competência do Tribunal do Júri

Questão interessante surge quando confrontada a competência por prerrogativa de função com a
competência constitucional do Tribunal do Júri para julgamento dos crimes dolosos contra a vida, tentados
ou consumados. Indaga-se: em tendo sido cometido um crime doloso contra a vida por sujeito detentor de
foro por prerrogativa de função, qual o órgão competente para processá-lo e julgá-lo?

A resposta para a indagação depende da análise do status dessa prerrogativa; é dizer, de qual diploma
normativo ela se origina.

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Como se sabe, a competência do Tribunal do Júri advém de expressa previsão constitucional, conforme art.
5º, XXXVIII, d, da Constituição Federal:

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Assim, é de lógica percepção que, acaso o foro por prerrogativa de função conte exclusivamente com
previsão em Constituição Estadual, por exemplo, não terá o condão de afastar a competência do Tribunal do
Júri, porquanto se trata de norma hierarquicamente inferior à Constituição Federal.

Não bastasse essa natural constatação, o Supremo Tribunal Federal entendeu por sumular a matéria,
conforme enunciado 721 – posteriormente convertido na Súmula Vinculante nº 45 –, fulminando eventuais
dúvidas restantes:

Súmula Vinculante 45. A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.

Por outro lado, em estando a prerrogativa de foro prevista na própria Constituição Federal, entende-se que
deverá ela prevalecer sobre o Tribunal do Júri. Para AURY LOPES, essa prevalência se dá em razão da
superioridade de jurisdição dos tribunais:

Em que pese a competência do júri ser constitucional, se a prerrogativa de foro também estiver
prevista na Constituição, prevalece a prerrogativa de função. Isso porque, quando ambas as
competências forem constitucionais, prevalece a jurisdição superior do tribunal. Nesse caso, um
órgão de primeiro grau, como o Tribunal do Júri, jamais prevalece sobre um tribunal (jurisdição
superior prevalente). Mas, destaque-se, a prerrogativa deve estar prevista na Constituição
Federal (Júnior, 2021).

Para RENATO MARCÃO, prevalece em virtude de sua especialidade em relação à competência do Tribunal do
Júri: “Se a previsão se encontrar na Constituição Federal, prevalecerá a competência originária nesta
indicada, pois especial em relação à competência do Tribunal do Júri, que também é prevista na Constituição
Federal” (Marcão, 2017).

Então, por exemplo, um deputado federal que, durante e em razão do cargo (prerrogativa de função
estabelecida na CF, art. 102, I, ‘b’), comete um homicídio, será julgado pelo Supremo Tribunal Federal e não
pelo Tribunal do Júri (CF, art. 5º, XXXVIII, ‘d’).

3.5 - Concurso de agentes

Também é ponto de importante observação o concurso de agentes e a sua consequência para a fixação da
competência criminal.

Como regra geral, vinha prevalecendo o entendimento de que a competência por prerrogativa de função
que um réu porventura detenha se estendia aos demais coautores e partícipes, independentemente de
ocuparem cargo ou função que lhes assegure foro especial.

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Trata-se, inclusive, de matéria sumulada pelo Pretório Excelso, conforme enunciado nº 704/STF:

Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência
ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

Todavia, mais recentemente, diante da tendência jurisprudencial pela redução do alcance do foro por
prerrogativa de função, o mesmo STF vem entendendo pela não aplicação do foro às hipóteses de conexão
e continência (contrariando o enunciado). Por essa compreensão mais atual, o foro somente seria extensível
quando o fato típico fosse único e indivisível para todos os agentes (AP 937 QO/RJ, 23/11/2017). Em outros
termos, a ideia que vem se consolidando, então, é pela separação dos processos sempre que isso seja
possível.

Situação que pode ocorrer é a coexistência de foros por prerrogativa de função distintos a que fazem jus
alguns dos autores de um mesmo fato delituoso. Em casos envolvendo foros diversos previstos na
Constituição Federal e outro(s) em Constituição Estadual, FERNANDO CAPEZ pondera:

Na hipótese de um dos agentes ter seu foro especial fixado diretamente pela CF e o outro,
exclusivamente, pela Constituição estadual, os processos também deverão ser reunidos. Assim,
se um deputado federal praticar crime em concurso com um deputado estadual, ambos serão
julgados perante o STF (...). É que a competência estabelecida pela CF exerce força atrativa sobre
qualquer outra fixada em escala normativa diversa (Constituições estaduais e leis).

Ou seja, prevalece o foro especial previsto na Constituição Federal. De outro lado, em havendo foros
especiais diversos, mas todos previstos na Constituição Federal, assevera o autor:

A questão complica-se um pouco quando ambos os agentes tiverem o foro especial fixado
diretamente pela CF. É o caso, por exemplo, de um senador que comete um crime em concurso
com um juiz federal. O primeiro é da competência do STF, enquanto o segundo, do TRF da sua
região. [...] O entendimento sumular do Pretório Excelso não faz distinção, afirmando que em
qualquer caso os processos deverão ser reunidos. [...] No exemplo citado, ambos, senador e juiz
federal, deverão ser julgados perante o STF. Essa posição jurisprudencial, aparentemente
firmada de modo irreversível, pode ser criticada pelo fato de que uma regra meramente
processual, como é a da conexão e da continência, não deveria ter o condão de afastar o juiz
natural fixado pela própria CF (Capez, 2018).

Na visão de VICENTE GRECO FILHO, é prevalente “o tribunal de maior hierarquia, se houver um ou mais de um
acusado com prerrogativa de função” (Filho, 2012).

3.6 - Princípio da simetria e as Constituições Estaduais

Outro ponto de destaque é o princípio da simetria ou paralelismo e a limitação imposta às constituições


estaduais quanto à previsão de foros por prerrogativa de função.

Por “simetria” ou “paralelismo”, entende-se que as disposições de constituições estaduais em relação a essa
matéria devem ser harmônicas às fixadas na Constituição Federal. É dizer, não possuem os legisladores

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constituintes estaduais irrestrita liberdade para estabelecerem, como bem entenderem, foros diferenciados
a qualquer função ou cargo dentro do âmbito estadual.

Nesse sentido, as lições de TÁVORA:

Para ser estabelecida prerrogativa de função pela Constituição Estadual é necessário que seja
respeitado o princípio da simetria ou do paralelismo. Deve haver relação de semelhança
relativamente à prerrogativa de função conferida pela Constituição Federal em razão de exercício
de determinado cargo, para ser válida a regra do constituinte estadual que estabelece
prerrogativa de função em face de cargo que guarda correspondência na esfera estadual, ou seja,
com atribuições similares ao cargo que conta com previsão de foro privilegiado na Carta Magna
(Távora, 2017).

BRASILEIRO, concebendo contornos mais práticos ao assunto, exemplifica:

Assim, se a Constituição Federal outorga foro por prerrogativa de função ao Vice-Presidente da


República e a Ministros de Estado (CF, art. 102, I, “b” e “c”), apresentar-se-á simétrica a
Constituição Estadual que atribua prerrogativa de foro ao Vice-Governador e a Secretário de
Estado perante o Tribunal de Justiça. Poderíamos até admitir a previsão de foro por prerrogativa
de função ao Procurador-Geral do Estado, quando este detivesse a condição de Secretário de
Estado, na medida em que a Constituição Federal também outorga ao Advogado-Geral da União,
como Ministro de Estado, foro por prerrogativa de função perante a Suprema Corte (Lima, 2021).

Cumpre registrar, contudo, que o Supremo Tribunal Federal já relativizou o referido princípio no julgamento
da ADI nº 2.587/GO, transferindo a discussão, que era sobre a simetria com a Constituição Federal, para a
aferição de essencialidade da função tratada. PACELLI resume o a conclusão do julgamento:

Ali [STF], no julgamento da ADI nº 2.587/GO, Rel. Min. Maurício Corrêa (vencido), reconheceu-
se, por maioria, a constitucionalidade da criação, na Constituição do Estado de Goiás, de foro
privativo por prerrogativa de função aos Procuradores de Estado e da Assembleia Legislativa e
aos Defensores Públicos, rejeitando-a, porém, em relação aos delegados de polícia. Argumentou-
se que as referidas funções seriam essenciais ao Estado Democrático de Direito, ao contrário do
que ocorreria com os delegados de polícia, funcionalmente subordinados aos Governadores
estaduais e submetidos a controle externo pelo Ministério Público. Curiosidade: acaso não
seriam também subordinados à chefia do Estado os Procuradores (advogados) do Estado, e à
chefia da Assembleia, os respectivos Procuradores? (Pacelli, 2017).

A jurisprudência da mais Alta Corte, em relação ao tema, é vacilante. Vários julgados, em relação a várias
Constituições estaduais, já reconheceram, com base no art. 125, § 1º da CF, a possibilidade de as Assembleias
Legislativas estabelecerem foros por prerrogativa de função. Todavia, num último julgado (que tratava
somente de algumas carreiras, em destaque abaixo), os próprios Ministros reconheceram isso e acabaram
definindo no seguinte sentido:

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EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO PROCESSUAL PENAL.


COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. CONSTITUIÇÃO ESTADUAL QUE
ESTENDE FORO CRIMINAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO A PROCURADORES DE
ESTADO, PROCURADORES DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, DEFENSORES PÚBLICOS E
DELEGADOS DE POLÍCIA. IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DAS HIPÓTESES DEFENDIDAS
PELO LEGISLADOR CONSTITUINTE FEDERAL. AÇÃO DIRETA PROCEDENTE. 1. A Constituição
Federal estabelece, como regra, com base no princípio do juiz natural e no princípio da igualdade,
que todos devem ser processados e julgados pelos mesmos órgãos jurisdicionais. 2. Em caráter
excepcional, o texto constitucional estabelece o chamado foro por prerrogativa de função com
diferenciações em nível federal, estadual e municipal. 3. Impossibilidade de a Constituição
Estadual, de forma discricionária, estender o chamado foro por prerrogativa de função àqueles
que não abarcados pelo legislador federal. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 81, IV, da Constituição do Estado do
Maranhão. (ADI 2553, Relator(a): GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE
MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 15/05/2019, PUBLIC 17-08-2020)

Essa ação não representa ‘pacificação’ na matéria, mas indica uma tendência de mudança de entendimento,
restringindo-se o foro e impedindo-se atuação discricionária das Assembleias Legislativas dos Estados em
criá-los. Os parâmetros e contornos desse entendimento ainda não foram consolidados.

Por fim, é de se observar que, como regra, os foros por prerrogativa de função previstos em Constituição
Estadual apenas são oponíveis perante os crimes de competência da Justiça Estadual, e não perante os juízos
naturais previstos na CF, como os juízos federais e eleitorais. Entretanto, em determinada oportunidade, já
decidiu o Supremo Tribunal Federal estendendo a simetria da jurisdição nesses casos também a matérias
afetas à Justiça Federal e Eleitoral. PACELLI, novamente, ilustra bem o caso:

Com efeito, no julgamento da QO-Inq. nº 2051-6/TO, Relator o eminente Min. Gilmar Mendes,
aquela Corte entendeu que Secretário de Estado teria foro privativo junto ao Tribunal Regional
Federal, quando se tratar de crime federal, precisamente pelo critério da simetria. É dizer:
embora se saiba que o art. 109 da Constituição da República estabelece a competência do Juiz
Federal para o processo relativo a crimes praticados em detrimento da União, autarquias e
empresas públicas federais – juiz natural para tais causas! – entendeu-se possível estender a
referidas funções o foro privativo reservado aos tribunais de segunda instância (no caso, o
Tribunal Regional Federal) (Pacelli, 2017).

Note-se, portanto, que, para além da simetria em relação aos cargos e funções contemplados, a Suprema
Corte entendeu, também, pela observância da simetria do próprio grau de jurisdição ao qual os detentores
das prerrogativas de função estabelecida em Constituição Estadual têm direito. Ou seja, se lhes foi concedida
a prerrogativa de julgamento por crimes comuns perante o segundo grau de jurisdição da Justiça Estadual
(como os Tribunais de Justiça), também lhes teria sido concedida para serem processados e julgados, em
crimes federais e eleitorais, perante as respectivas segundas instâncias (Tribunais Regionais Federais e
Tribunais Regionais Eleitorais).

É nesse sentido que pondera TOURINHO FILHO, ao comentar acerca da decisão do Conflito de Jurisdição nº
6.113/MT, instaurado entre o Tribunal de Justiça e o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso. Na ocasião,

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discutia-se a competência para o julgamento de um deputado estadual pela prática de crime eleitoral; ao
final, considerou-se competente o TRE/MT para o processamento do feito. Nas palavras do autor:

Ao que nos parece, é em decorrência não só de situar o foro pela prerrogativa de função,
necessariamente, no 2º grau de jurisdição, como reconhecido naquela v. decisão retrocitada,
como também, ante a omissão legislativa, e por se tratar de garantia, e não de privilégio, que a
Suprema Corte, por força de compreensão, tem admitido, tranquila e remansosamente, a
competência dos Tribunais Regionais Federais e Eleitorais para o processo e julgamento de
Prefeitos Municipais, Deputados Estaduais, Secretários de Estado e de outras pessoas que têm o
foro privativo fixado exclusivamente nas Constituições locais, nas infrações da alçada da Justiça
Comum Federal e da Justiça Eleitoral (Filho, 2011).

3.7 - Prerrogativa de função e exceção da verdade

Prevê o art. 85 do CPP a respeito da exceção da verdade:

Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que a
Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele
ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.

A exceptio veritatis é a peça por meio da qual o querelado se presta a demonstrar que as imputações por ele
feitas em relação ao querelante condizem com a realidade e, portanto, não o sujeitariam à responsabilização
penal por crime contra a honra.

Pois bem. Em primeiro lugar há se notar que a redação do artigo 85 é primitiva e desatualizada; hoje, a regra
desse dispositivo é aplicável aos querelantes com foro privativo no STF, STJ, TRFs, TREs ou Tribunais de
Justiça.

Assim, em se tratando de exceção de verdade (ou exceptio veritatis) admitida em processo-crime relacionado
a crime contra a honra no qual figura, como querelante, detentor de foro por prerrogativa de função, o
julgamento dessa exceção caberá ao respectivo tribunal.

Para MOUGENOT, a “providência se justifica, já que a admissão da exceção da verdade pode ensejar o
reconhecimento da prática, pela autoridade querelante, da infração penal a ele imputada pelo querelado, o
que ensejará o ajuizamento de ação penal contra aquela autoridade” (Bonfim, 2013).

Há de se tomar cautela, contudo. Embora o artigo supracitado preveja a expressão “processos por crime
contra a honra”, doutrina e jurisprudência têm apresentado o entendimento de que o dispositivo apenas se
aplica aos crimes de calúnia (art. 138 do CP), ou seja, nos casos em que se imputa falsamente a alguém fato
definido como crime. Nesse sentido, as lições de TÁVORA:

O crime contra honra que admite o deslocamento do julgamento da exceção da verdade pelo
tribunal com competência para julgar a suposta vítima que detém prerrogativa de função é o
crime de calúnia, que consiste em imputar a alguém, falsamente, fato definido como crime (art.
138, caput, CP). Como a difamação não consiste em imputação de fato definido como crime –
podendo se tratar de imputação de contravenção –, o entendimento majoritário é que a exceção

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da verdade não é remetida ao tribunal competente para julgar crimes imputados ao agente com
prerrogativa de foro. Isso significa dizer que o art. 85, do Código de Processo Penal, é objeto de
exegese restrita (...) (Távora, 2017).

Em igual direção, adverte AVENA:

Considerando que, como vimos, a exceção da verdade é oponível apenas no caso de imputação
de calúnia e de difamação praticada contra funcionário público no exercício de suas funções, uma
interpretação literal do referido art. 85 permite concluir que é ele aplicável a ambos os casos,
vale dizer, tanto nos processos por crime de calúnia quanto nos processos por crime de
difamação. Não é esse, porém, o entendimento da jurisprudência dominante, que compreende
o deslocamento da competência previsto no citado dispositivo unicamente na hipótese de
exceção da verdade oposta em processo criminal por calúnia, não ocorrendo, portanto, quando
a imputação for de difamação.

O mesmo autor continua:

Agora, sendo o caso de exceção da verdade proposta nos autos de queixa-crime imputativa de
difamação, não se justifica o deslocamento da competência de seu julgamento para o tribunal. É
que, nesse caso, a procedência da exceção não implicará no reconhecimento de que o querelante
praticou infração penal de forma a possibilitar o ajuizamento de ação penal contra ele. Mas
atenção: embora, de fato, a regra seja a de que a aplicação da disciplina do art. 85 do CPP ocorra,
unicamente, quando se trata de processo criminal por calúnia, não se pode esquecer que tal
delito contra honra perfaz-se, apenas, na hipótese de falsa imputação de crime, não se
consubstanciando na hipótese de falsa imputação de contravenção. Neste caso, conforme ilustra
Renato Brasileiro de Lima, “imaginando-se que a vítima dessa difamação seja funcionário público
titular de foro por prerrogativa de função, e que tal delito guarde relação com o exercício de suas
funções, é possível, então, que o julgamento da exceptio veritatis nessa hipótese fique a cargo do
respectivo Tribunal, aplicando-se a regra do art. 85 do CPP, pois, aí, ter-se-ia espécie de infração
penal” (Avena, 2020).

Questão que pode surgir é: acaso admitida a exceptio veritatis, ocorrerá o deslocamento integral do processo
ou apenas da exceção?

Para GRECO FILHO, a conclusão é de que haveria deslocamento total, porquanto a exceção diz respeito ao
próprio mérito da causa, e, portanto, inseparável do resto; embora não seja esse o entendimento
jurisprudencial sobre a matéria:

A redação e a compreensão técnica do instituto levam à conclusão de que o deslocamento é


total. Com efeito, a exceção da verdade não é um procedimento ritual autônomo, mas uma
defesa de direito material que, se procedente, exclui a tipicidade ou a antijuridicidade, ou seja, é
pertencente ao mérito da imputação. Logo, não poderia ser decidida separadamente. Todavia, o
entendimento jurisprudencial é o de que se desloca apenas a exceção, sob o argumento de que
a deslocação total para o tribunal levaria a julgamento em competência originária pessoa sem
prerrogativa de função. O argumento, contudo, data venia, não convence, porque nos crimes

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conexos, por exemplo, também pessoas não sujeitas à jurisdição de determinado tribunal por ele
são julgadas (Filho, 2012).

Com efeito, tem prevalecido no STF o entendimento segundo o qual, nos processos em que o excepto (polo
passivo da exceção; polo ativo da ação penal privada) disponha de foro por prerrogativa na Suprema Corte,
caberá a ela julgar tão somente o mérito da exceptio veritatis, devendo o magistrado de primeira instância
inclusive efetuar o juízo de admissibilidade dessa espécie de defesa e exaurir a respectiva instrução
probatória antes de remeter a exceção para o julgamento.

Em suma: a competência penal originária do Supremo Tribunal Federal restringir-se-á, na


espécie destes autos, apenas ao julgamento da ‘demonstratio veri’ concernente ao delito de
calúnia, eis que – como anteriormente assinalado – o magistrado de primeiro grau não
completou, em referido procedimento incidental, a instrução probatória a ele pertinente.
Somente após realizados todos os atos de instrução probatória referentes à ‘exceptio veritatis’,
é que se justificará, então, o encaminhamento deste processo incidental ao Supremo Tribunal
Federal, para o efeito exclusivo de julgamento da exceção oposta e, assim mesmo, apenas no
que concerne ao delito de calúnia atribuído ao ora excipiente (RTJ 68/316 – RTJ 149/32-33 – RTJ
152/12-13, v.g.). Desse modo, e em face das razões expostas, não conheço da presente exceção
da verdade, que foi prematuramente encaminhada ao Supremo Tribunal Federal. Devolvam-se,
em consequência, os presentes autos ao Juízo de origem (fls. 402), fazendo-o por intermédio do
E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Publique-se. Brasília, 23 de abril de 2018.
Ministro CELSO DE MELLO Relator (Pet 7448, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, julgado em
23/04/2018).

O STJ possui precedentes na mesma linha:

Não obstante, a questão que se põe nos presentes autos é outra, qual seja, é saber se o juízo
criminal, responsável pela instrução da exceção da verdade, pode perfazer um juízo negativo de
admissibilidade da exceptio veritatis, sem adentrar no mérito. E, segundo precedentes desta
Corte e do Excelso Supremo Tribunal Federal, a competência por prerrogativa de foro é só para
o julgamento do mérito da exceção, cabendo ao juízo de origem a admissibilidade e a instrução
do feito" (Voto no Rcl 7.391/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em
19/06/2013)

4 - CASUÍSTICA
Para além das questões gerais, atenção especial deve ser dada às regras de casuística para a fixação do foro
competente; afinal, é por meio delas que efetivamente se fixará a competência.

Todavia, confira as seguintes regras tendo em mente, de antemão, o atual entendimento do STF. É dizer,
para fins didáticos, parta do pressuposto, aqui, de que o foro por prerrogativa de função está configurado
(i.e., crime praticado durante o cargo/mandato e em razão do cargo/mandato), para, aí sim, considerar as
regras de casuística.

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As especificidades do foro por prerrogativa de função podem ser estudadas em relação à competência dos
tribunais e em relação aos cargos e funções exercidos.

4.1 - Competência em relação aos tribunais

4.1.1 - Supremo Tribunal Federal:

A competência do STF é estabelecida pelo art. 102 da Constituição Federal. Vejamos os incisos e alíneas que
interessam à matéria ora tratada:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,


cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente: [...]

b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do


Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;

c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os


Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os
membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente;

d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o
mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-
Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; [...]

Convém trazer à baila a advertência de CAPEZ a respeito do termo infrações penais comuns utilizado no
dispositivo: “Atenção: o STF já firmou o entendimento de que a expressão ‘infrações penais comuns’ do art.
102, I, b e c, abrange todas as modalidades de infrações penais, inclusive os crimes eleitorais e as
contravenções penais” (Capez, 2018).

AURY LOPES corrobora a afirmação, relembrando, ainda, a prevalência dessa prerrogativa sobre as demais:
“(...) se qualquer das pessoas do art. 102, I, “b”, “c”, da Constituição, cometer um crime comum, eleitoral ou
militar, será julgado pelo STF. Prevalece a prerrogativa sobre qualquer outra Justiça ou grau de jurisdição”
(Júnior, 2021).

4.1.2 - Superior Tribunal de Justiça:

O STJ tem sua competência penal fixada pelo art. 105, I, a e c da CF. Veja-se o que ele dispõe:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

I - processar e julgar, originariamente:

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a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos
Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que
oficiem perante tribunais; [...]

c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na
alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou
Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral; [...]

4.1.3 - Tribunal Superior Eleitoral:

O Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65) estabelece a competência criminal do TSE no seu art. 22, I, d:

Art. 22. Compete ao Tribunal Superior:

I - Processar e julgar originariamente: [...]

d) os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos cometidos pelos seus próprios juízes
e pelos juízes dos Tribunais Regionais;

Entretanto, cotejando-se as disposições desse artigo com os supracitados artigos 102 e 105 da Constituição
Federal, é de se perceber que ele não foi recepcionado pela Lei Maior, porquanto as competências outrora
conferidas ao TSE agora o são expressamente ao STF e STJ. Nesse sentido, o magistério de TOURINHO FILHO:

A Constituição Federal de 1988, entretanto, dizendo competir ao Supremo Tribunal Federal


processar e julgar, nos crimes comuns e de responsabilidade, os membros dos Tribunais
Superiores da República (e o TSE é um deles), por óbvio revogou aquela disposição do Código
Eleitoral que conferia ao TSE o processo e julgamento dos seus próprios Ministros. Quanto à
competência para processar e julgar os membros dos Tribunais Regionais Eleitorais, em
quaisquer infrações, nos termos do art. 105, I, a, da Magna Carta, foi deslocada do TSE para o
Superior Tribunal de Justiça (Filho, 2011).

4.1.4 - Superior Tribunal Militar:

A competência para julgamento de crimes pelo STM está prevista no art. 6º, I, a da Lei nº 8.457/92 (Lei de
Organização Judiciária da Justiça Militar da União), que dispõe:

Art. 6° Compete ao Superior Tribunal Militar:

I - processar e julgar originariamente:

a) os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei; [...]

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4.1.5 - Tribunais Regionais Federais:

Dispõe o art. 108 da CF:

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:

I - processar e julgar, originariamente:

a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do


Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da
União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

A respeito da ressalva em relação à Justiça Eleitoral, AURY LOPES complementa:

(...) em simetria, os juízes federais e da Justiça do Trabalho e membros do MP da União serão


julgados nas mesmas condições, mas pelo respectivo Tribunal Regional Federal, art. 108, I, “a”,
da Constituição. Também existe a ressalva em relação aos crimes eleitorais, de modo que, se um
desses agentes cometer um crime dessa natureza, será julgado pelo órgão de segundo grau da
Justiça Eleitoral, ou seja, o TRE (Júnior, 2021).

TOURINHO FILHO, todavia, entende que a ressalva feita quanto à competência da Justiça Eleitoral abrange
apenas os membros do Ministério Público da União:

O enunciado “ressalvada a competência da Justiça Eleitoral”, contido naquela mesma disposição,


pensamos, refere-se aos membros do Ministério Público da União, e se restringe à hipótese de
cometerem eles infração eleitoral no exercício de funções eleitorais (Filho, 2011).

Ademais, como bem realça BRASILEIRO, “também compete aos Tribunais Regionais Federais o julgamento dos
prefeitos e de outras autoridades estaduais com foro por prerrogativa de função previsto nas Constituições
Estaduais, quando cometerem crimes da esfera federal” (Lima, 2021).

4.1.6 - Tribunais Regionais Eleitorais:

Dispõe o art. 121 da CF:

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes
de direito e das juntas eleitorais.

Em virtude da não existência da referida lei complementar até hoje, entende-se ainda vigente o que dispõe
o Código Eleitoral sobre o assunto. Aludido diploma prevê, em seu art. 29, I, d:

Art. 29. Compete aos Tribunais Regionais:

I - processar e julgar originariamente: [...]

d) os crimes eleitorais cometidos pelos juizes eleitorais; [...]

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É pacífico na doutrina que, embora silente o dispositivo nesse quesito, os promotores de justiça no exercício
de função eleitoral também são julgados pelos TREs. Nas lições de TOURINHO FILHO:

Desse modo, como atualmente a competência para o processo e julgamento dos membros do
Ministério Público Estadual vem fixada na Lei Maior, ressalvada apenas a competência da Justiça
Eleitoral, é de entender que, se Juízes e Promotores de Justiça, nas funções eleitorais, cometerem
crimes eleitorais, a competência se desloca para o TRE, ficando portanto alterada, por força
constitucional, a disposição do art. 29, I, d, do Código Eleitoral (Filho, 2011).

Ademais, GONÇALVES et al. assinalam o entendimento jurisprudencial acerca da competência dos TREs
também para o julgamento de crimes eleitorais praticados por prefeitos:

[...] o próprio texto constitucional ressalva a competência da Justiça Eleitoral em detrimento da


competência originária dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça. Assim, caso um
juiz ou promotor, por exemplo, cometa crime eleitoral, será julgado originariamente pelo
Tribunal Regional Eleitoral. A ressalva só é expressa em relação a juízes e promotores, porém, a
jurisprudência firmou entendimento de que também se estende aos Prefeitos que cometam
crimes eleitorais (Gonçalves, et al., 2017).

Por fim, BRASILEIRO aduz, de maneira mais extensiva, sobre a competência dos Tribunais Regionais Eleitorais
para o “julgamento dos crimes eleitorais praticados por juízes e promotores eleitorais, assim como Prefeitos,
Deputados Estaduais e outras autoridades com foro por prerrogativa de função previsto nas Constituições
Estaduais” (Lima, 2021).

4.1.7 - Tribunais de Justiça

Em primeiro lugar, observa-se que, conforme art. 29, X da CF, em expressão genérica, o julgamento de
prefeitos se dá perante os Tribunais de Justiça:

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo
de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e
os seguintes preceitos: [...]

X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça; [...]

Tal dispositivo, contudo, deve ser analisado em conjunto com a Súmula 702 do STF, que dispõe:

A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da
justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de
segundo grau.

Dessa forma, apenas quanto à prática de crimes afetos à competência comum estadual, os prefeitos serão
julgados perante os Tribunais de Justiça.

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Além disso, também há previsão de competência originária dos Tribunais de Justiça para o julgamento de
crimes perpetrados por juízes e promotores da Justiça Estadual, de acordo com o art. 96, III da CF:

Art. 96. Compete privativamente: [...]

III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como
os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral. [...]

Em relação à competência prevista no art. 96 valem as anotações já trazidas a respeito da prevalência do


foro por prerrogativa de função sobre as demais competências, ante o seu status constitucional federal.
Aliás, MOUGENOT as resume, valendo o reforço:

Os magistrados e membros do Ministério Público serão julgados pelos Tribunais de Justiça do


Estado em que exercem as suas funções. Prevalece a competência por prerrogativa de função
sobre a competência de foro, ou seja, é irrelevante a circunstância de que o juiz ou promotor do
Estado haja praticado um crime em outro Estado da Federação, ou um crime cuja competência
ordinariamente seria atribuída à Justiça Federal (ex.: crime contra interesse ou bem da União).
Ainda assim estará sujeito à jurisdição do Tribunal de Justiça do Estado em que ocupa o cargo
público. Será competente o Tribunal de Justiça ainda que se trate de crime doloso contra a vida,
porquanto se entende que o preceito do art. 96, III, da Constituição Federal é norma especial em
relação à norma geral do art. 5º, XXXVIII, excepcionando a competência do Júri para esses casos
(Bonfim, 2013).

Por derradeiro, note-se que os Tribunais de Justiça também serão competentes para julgar autoridades com
foro por prerrogativa de função caso assim prevejam as respectivas Constituições Estaduais. Essa
possibilidade é estampada na própria Constituição Federal, em seu art. 125, § 1º:

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.

§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de


organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

A esse propósito, não se olvide das regras atinentes ao princípio da simetria anteriormente tratadas em
relação a esse ponto.

4.1.8 - Tribunal Especial

Em relação aos crimes de responsabilidade praticados por Governadores, a Lei 1.079/50, em seu art. 78, §
3º estabelece a composição de um tribunal misto entre Legislativo e Judiciário para julgá-los:

§ 3º Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o processo nos crimes de


responsabilidade dos Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o
julgamento ser proferido por um tribunal composto de cinco membros do Legislativo e de cinco
desembargadores, sob a presidência do Presidente do Tribunal de Justiça local, que terá direito

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de voto no caso de empate. A escolha desse Tribunal será feita - a dos membros do legislativo,
mediante eleição pela Assembleia: a dos desembargadores, mediante sorteio.

É de bom alvitre ressaltar a expressão inicial “Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o
processo nos crimes de responsabilidade dos Governadores”. Ou seja, a depender das disposições a esse
respeito contidas nas Constituições Estaduais respectivas, o julgamento dos Governadores por essas
infrações poder-se-ia dar em Tribunal Especial com formação diversa da prevista no referido artigo ou
mesmo se dar em órgão diverso (como ocorre em Minas Gerais, onde há previsão para julgamento perante
a Assembleia Legislativa (art. 91, § 3º da CE-MG).

Não obstante a clara expressão no texto legal, CAPEZ apresenta decisão exarada pelo STF, em sentido
contrário, suspendendo o § 1º do art. 49 da Constituição Estadual de São Paulo, que previa uma composição
diversa para esse Tribunal Especial (sete deputados estaduais e sete desembargadores), na ADIn 2.220-2:

Consta da ementa do julgamento: “Inscreve-se na competência legislativa da União a definição


dos crimes de responsabilidade e a disciplina do respectivo processo e julgamento”. Compete à
União (e não ao Estado, ao Distrito Federal ou ao Município) legislar sobre processo (art. 22, I, da
CF) e, de acordo com a Lei Federal n. 1.079/50, o Tribunal Especial deve ser composto por cinco
Deputados Estaduais (eleitos entre os seus pares) e cinco Desembargadores (sorteados pelo
Presidente do Tribunal de Justiça) (Capez, 2018).

Esse entendimento da Suprema Corte, posteriormente, foi alçado ao status de Súmula:

Súmula 722. São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o
estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

Portanto, em que pese a forma subsidiária pela qual se apresenta o artigo 78, § 3º da Lei 1.079/50, não
detêm os Estados competência para tratar sobre o processo nos crimes de responsabilidade, conforme
enunciado acima transcrito.

4.2 - Competência em relação aos titulares de foro por prerrogativa de função

4.2.1 - Presidente da República

No que se refere aos crimes de responsabilidade, o Presidente da República é julgado pelo Senado Federal,
conforme prevê o art. 52, I da CF:

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de


responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército
e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles

Os crimes de responsabilidade estão previstos no art. 85 da Constituição Federal e compõem rol meramente
exemplificativo:

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Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra
a Constituição Federal e, especialmente, contra:

I - a existência da União;

II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
constitucionais das unidades da Federação;

III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;

IV - a segurança interna do País;

V - a probidade na administração;

VI - a lei orçamentária;

VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Em relação aos crimes comuns, dispõe o art. 86 da CF acerca do procedimento a ser adotado. O processo
desenvolve-se em duas fases: a primeira diz respeito à admissão da acusação pela Câmara dos Deputados; a
segunda, sobre o efetivo julgamento pelo STF (art. 102, I, b, da CF). Veja o que prevê o art. 86:

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:

I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal
Federal;

II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.

§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o
afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.

§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da


República não estará sujeito a prisão.

A propósito, como bem frisa CAPEZ: “Se for crime de ação penal pública, caberá ao procurador-geral da
República oferecer a denúncia; sendo de iniciativa privada, o inquérito aguardará a provocação do ofendido”
(Capez, 2018).

Outrossim, importante consignar o que dispõe o § 4º do supracitado artigo:

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§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por
atos estranhos ao exercício de suas funções.

Desta forma, a responsabilização do Presidente da República em casos totalmente desvinculados ao


exercício de suas funções é sobrestada, mas não cessada. Trata-se, portanto, o fim do mandato como uma
condição de procedibilidade para a persecução penal nesses casos.

Nesse sentido, o magistério de BRASILEIRO:

[...] quanto aos crimes não-funcionais do Presidente da República, cuja persecução penal fica
sobrestada até o término do mandato por força do art. 86, § 4º, da Constituição Federal, quando
então poderão ser ajuizadas as ações penais por infrações cometidas antes do exercício do
mandato ou durante o seu exercício, mas que não guardem vinculação com as suas funções, a
competência não segue as regras especiais da prerrogativa de função. Isso porque, como visto
antes, cessado o exercício funcional, não há mais falar em foro por prerrogativa de função (Lima,
2021).

4.2.2 - Deputados Federais e Senadores

Como já analisado por ocasião do estudo das competências do STF, cumpre à Suprema Corte julgar os
membros do Congresso Nacional pelos crimes comuns que porventura pratiquem (art. 102, I, b da CF). Note-
se, por oportuno, que o foro por prerrogativa de função lhes é conferido no momento da diplomação como
Deputados Federais ou Senadores, conforme art. 51, § 1º da Magna Carta:

§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento


perante o Supremo Tribunal Federal.

Embora o caminho natural seja o desdobramento desse processo perante o Supremo Tribunal Federal com
o seu derradeiro julgamento, a Constituição Federal confere à respectiva Casa do Congresso Nacional,
através de votação pelos seus membros, a possibilidade de suspender o andamento da ação penal e de seu
prazo prescricional. É o que dispõe o § 3º do citado artigo:

§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação,
o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político
nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação.

No que tange aos crimes de responsabilidade, o processo e julgamento correrá perante a respectiva Casa.

Por fim, cabe a advertência de BRASILEIRO acerca da situação dos parlamentares licenciados e o atual
entendimento sobre a matéria nesse ponto:

Inicialmente, prevalecia o entendimento de que, mesmo que o parlamentar estivesse licenciado,


subsistiria a competência por prerrogativa de função. Hoje, todavia, prevalece o entendimento
de que esta competência está relacionada diretamente ao exercício do cargo, razão pela qual se
o parlamentar estiver licenciado não faz jus ao foro por prerrogativa de função, mesmo que se

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encontre no exercício de outra função para a qual não haja a previsão de foro por prerrogativa
de função (Lima, 2021).

4.2.3 - Ministros de Estado

Em relação aos Ministros de Estado, conclui-se, conforme os já citados artigos 102, I, b e 52, I da Constituição
Federal, que compete ao STF o julgamento dos crimes comuns e de responsabilidade por eles praticados;
entretanto, havendo conexão do crime de responsabilidade com o praticado pelo Presidente da República,
a competência recairá ao Senado Federal.

4.2.4 - Membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)

Compete ao Senado Federal julgar os membros no CNJ e CNMP pelos crimes de responsabilidade (art. 52, II
da CF).

Referente aos crimes comuns praticados por esses membros, considerando o silêncio da Constituição
Federal a esse respeito, convém transcrever as pertinentes ponderações de BRASILEIRO:

Destarte, como as hipóteses de foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas de
maneira restritiva, ressalvados os integrantes dos Conselhos que tenham foro por prerrogativa
de função previsto na Constituição Federal (v.g., Juiz Estadual perante o respectivo Tribunal de
Justiça; Desembargador de Tribunal de Justiça perante o STJ), os demais integrantes que não o
tenham – advogados indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e
cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados pela Câmara dos Deputados e
pelo Senado Federal – deverão ser processados e julgados na 1ª instância (Lima, 2021).

4.2.5 - Governadores de Estado

Nos crimes de responsabilidade, como já asseverado, sujeitam-se os Governadores de Estado à competência


para julgamento por Tribunal Especial, formado por membros do Legislativo e Judiciário (art. 78, § 4º da lei
1.079/50. Observação: não se olvide das peculiaridades já registradas por ocasião do aludido item
envolvendo essa questão.

Nos crimes comuns, será competente para julgá-lo o STJ, conforme art. 105, I, a da Lei Maior.

Já se entendeu pela necessidade de autorização da Assembleia Legislativa para que o chefe do Poder
Executivo estadual pudesse ser processado (aplicando-se simetricamente o art. 86 da CF que versa sobre a
autorização da Câmara dos Deputados para o processamento do Presidente da República9).

Todavia, mais recentemente, o “Supremo Tribunal Federal (STF) alterou o entendimento a respeito da
necessidade de autorização prévia das assembleias legislativas para instauração de ação penal. Afirmou que

9
Conforme assentado no AgRg na APn 836/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 05/10/2016).

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a orientação anterior, que privilegiava a autonomia dos Estados-membros e o princípio federativo, entrou
em linha de tensão com o princípio republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes.
Verificou que, ao longo do tempo, as assembleias legislativas bloquearam a possiblidade de instauração de
processos contra governadores” (Informativo 863).

O relator afirmou a necessidade de superar os precedentes da Corte na dimensão


de uma redenção republicana e cumprir a promessa do art. 1º, “caput”, da
Constituição Federal (CF), diante dos reiterados e vergonhosos casos de
negligência deliberada pelas assembleias legislativas estaduais, que têm
sistematicamente se negado a deferir o processamento de governadores.
Asseverou ser refutável a referida autorização prévia em razão de: a) ausência de
previsão expressa e inexistência de simetria; b) ofensa ao princípio republicano (CF, art. 1º,
“caput”); c) ofensa à separação de poderes (CF, art. 2º, “caput”) e à competência privativa da
União (CF, art. 22, I); e d) ofensa à igualdade (CF, art. 5º, “caput”).

Esclareceu não haver na CF previsão expressa da exigência de autorização prévia de assembleia


legislativa para o processamento e julgamento de governador por crimes comuns perante o STJ.
Dessa forma, inexiste fundamento normativo-constitucional expresso que faculte aos Estados-
membros fazerem essa exigência em suas Constituições estaduais.

Não há, também, simetria a ser observada pelos Estados-membros. No ponto, o relator
considerou que, se o princípio democrático que constitui nossa República (CF, art. 1º, “caput”)
se fundamenta e se concretiza no respeito ao voto popular e à eleição direta dos representantes
do povo, qualquer previsão de afastamento do presidente da República é medida excepcional e,
como tal, é sempre prevista de forma expressa e taxativa, sem exceções.

O afastamento do presidente da República é medida excepcional, e, no caso de crime comum,


seu processamento e julgamento devem ser precedidos de autorização da Câmara dos
Deputados (CF, arts. 51, I; e 86, “caput” e § 1º, I). Essa exigência foi expressamente prevista
apenas para presidente da República, vice-presidente e ministros de Estado. Essa é uma
decorrência das características e competências que moldam e constituem o cargo de presidente
da República, mas que não se observam no cargo de governador.

Diante disso, verifica-se a extensão indevida de uma previsão excepcional válida para o
presidente da República, porém inexistente e inaplicável a governador. Sendo a exceção prevista
de forma expressa, não pode ser transladada como se fosse regra ou como se estivesse
cumprindo a suposta exigência de simetria para governador. As eventuais previsões em
Constituições estaduais representam, a despeito de se fundamentarem em suposto respeito à
Constituição Federal, ofensa e usurpação das regras constitucionais.

Segundo o relator, afastado o argumento de suposta obediência à simetria, a consequência da


exigência de autorização prévia de assembleia legislativa para processamento e julgamento de
governador por crime comum perante o STJ é o congelamento de qualquer tentativa de apuração
judicial das eventuais responsabilizações dos governadores por cometimento de crime comum.
Essa previsão afronta a responsividade exigida dos gestores públicos, o que viola o princípio
republicano do Estado.

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A exigência viola, ainda, a separação de poderes, pois estabelece condição não prevista pela CF
para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário. Assim, o STJ fica impedido de exercer suas
competências e funções até a autorização prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de
restrição é sempre excepcional e deve estar expresso na CF. Além disso, a previsão do
estabelecimento de condição de procedibilidade para o exercício da jurisdição penal pelo STJ
consiste em norma processual, matéria de competência privativa da União (CF, art. 22, I),
portanto impossível de ser prevista pelas Constituições estaduais.

O relator afirmou que estabelecer essa condição de procedibilidade equivale a alçar um sujeito
à condição de desigual, supostamente superior por ocupar relevante cargo de representação. No
entanto, tal posição deveria ser, antes de tudo, a de servidor público. A autorização prévia de
assembleias estaduais para o processamento e julgamento de governador por crime comum
perante o STJ é, portanto, afronta cristalina à cláusula geral de igualdade estabelecida na CF.

Destacou que a Emenda Constitucional (EC) 35/2001 alterou a redação do art. 53, § 1º, da CF e
aboliu a exigência de autorização prévia das casas legislativas para o processamento e
julgamento de deputados federais e estaduais. O mesmo entendimento de valorização da
igualdade e “accountability” dos representantes do povo deve ser aplicado aos governadores,
sem as exigências prévias que consubstanciam privilégios e restrições não autorizados pela CF.

Por fim, sustentou inexistir inconstitucionalidade na expressão “ou queixa”, por considerá-la
coerente com o disposto no art. 105, I, “a”, da CF. Explicou que a CF não fez nenhuma distinção
ao se referir a “crimes comuns”, ou seja, não fez diferenciação entre crimes de ação penal pública
ou crimes de ação penal privada.

Vencidos os ministros Dias Toffoli e Celso de Mello, que julgaram improcedente a ação, na linha
da jurisprudência até então prevalecente na Corte no sentido de considerar legítimas as normas
de Constituições estaduais que subordinam a deflagração formal de um processo acusatório
contra o governador a um juízo político da assembleia legislativa local. ADI 5540/MG, rel. Min.
Edson Fachin, julgamento em 3.5.2017. (ADI-5540)

Nessa linha de raciocínio, mudando a concepção, compreendeu o STF que é “vedado às unidades federativas
instituir normas que condicionem a instauração de ação penal contra governador por crime comum à previa
autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) dispor, fundamentadamente,
sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo” (Informativo 863).

4.2.6 - Desembargadores dos Tribunais de Justiça e membros dos Tribunais Regionais Federais

Conforme art. 105, I, a da CF, tanto os crimes comuns quanto os crimes de responsabilidade são julgados
pelo Superior Tribunal de Justiça.

4.2.7 - Magistrados da Justiça Estadual e membros do Ministério Público Estadual

Conforme já tratado quando da análise da competência dos Tribunais de Justiça, dispõe o art. 96, III da Carta
Magna que juízes e promotores da Justiça Estadual serão processados e julgados perante aqueles órgãos

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pela prática de crimes comuns e crimes de responsabilidade, ressalvados os da competência da Justiça


Eleitoral (cujo julgamento ocorrerá perante os Tribunais Regionais Eleitorais). Vale o reforço do dispositivo:

Art. 96. Compete privativamente: [...]

III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como
os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral. [...]

Oportuno relembrar, como já fora também assentado, que a competência dos Tribunais de Justiça, nesses
casos, prevalece ainda que se trate de crime afeto à Justiça Federal, ao Tribunal do Júri ou que tenha sido
praticado em Estado diverso àquele em que desempenha suas funções.

Interessante o registro de BRASILEIRO quanto à pena disciplinar de aposentadoria compulsória porventura


impingida aos exercentes desses cargos:

Se ao juiz de direito acusado pela prática de um crime tiver sido aplicada, em processo
administrativo, a pena disciplinar de aposentadoria compulsória com proventos proporcionais
ao tempo de serviço (LOMAN, art. 42, inciso V), perde-se o direito ao foro por prerrogativa de
função (Lima, 2021).

4.2.8 - Membros do Ministério Público da União (MPU)

Observando as disposições da Constituição Federal em relação aos membros do MPU, pode-se vislumbrar
que, a depender do grau de jurisdição no qual exercem as suas funções, diverso será o órgão competente
para processar e julgá-los por eventuais crimes.

Inicialmente, referente aos membros do MPU que atuam perante à primeira instância, será competente o
respectivo Tribunal Regional Federal para julgar crimes comuns e crimes de responsabilidade, conforme art.
108, I, a da CF:

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:

I - processar e julgar, originariamente:

a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do


Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da
União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

Os membros do MPU que oficiam na primeira instância são: Procuradores da República (MPF); Promotores
e Procuradores da Justiça Militar da União; Procuradores do Trabalho (MPT); Promotores de Justiça do
Distrito Federal (MPDFT) (Lima, 2021).

Por outro lado, em se tratando dos membros do MPU que oficiem nos tribunais, por expressa previsão
constitucional, serão julgados pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme art. 105, I, a da CF – que vale ser
transcrito novamente:

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Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

I - processar e julgar, originariamente:

a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais
Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante
tribunais;

Como membros do MPU atuantes perante os tribunais estão compreendidos: Procuradores Regionais da
República; Procuradores Regionais do Trabalho; Procuradores de Justiça do Distrito Federal que oficiem
perante o TJDF; Subprocuradores-Gerais da República; Subprocuradores-Gerais do Trabalho e Procurador-
Geral da Justiça do Trabalho, que oficiem nos tribunais superiores (Lima, 2021).

Quanto ao chefe do Ministério Público da União, o Procurador-Geral da República (PGR), caberá ao Supremo
Tribunal Federal processar e julgá-lo pela prática de crimes comuns; e ao Senado Federal fazê-lo pelos crimes
de responsabilidade (arts. 102, I, a e 52, II da Constituição Federal).

4.2.9 - Deputados Estaduais

O status que possui o foro por prerrogativa de função conferido aos deputados estaduais é objeto de
divergência doutrinária.

Embora, em regra, o foro especial desses membros do Poder Legislativo seja fixado nas Constituições
Estaduais, uma parte da doutrina sustenta que, em razão do que dispõe o art. 27, § 1º da CF e o princípio da
simetria, também teria essa prerrogativa status de norma constitucional federal:

§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta
Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de
mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.

Desta forma, o foro por prerrogativa de função estaria compreendido na “inviolabilidade” ou “imunidade” a
que faz menção o citado dispositivo. Considerando-se como simétricas as prerrogativas dos deputados
federais e estaduais, a competência para o julgamento de crimes praticados pelos parlamentares estaduais,
nas lições de AURY LOPES, ficaria assim:

[...] se [Deputado Estadual] cometer um crime de competência da Justiça Comum Estadual, será
julgado pelo Tribunal de Justiça; em se tratando de crime de competência da Justiça Federal, será
julgado no TRF; por fim, sendo crime eleitoral, será julgado no TRE. Em se tratando de crime de
competência do Tribunal do Júri, continua prevalecendo a prerrogativa de função, pois está
assegurada na Constituição, sendo julgado no Tribunal de Justiça (ou TRF se for o caso de
competência federal) (Júnior, 2021).

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O autor cita um julgamento pelo STJ, em sede de habeas corpus, balizado justamente nesse entendimento,
oportunidade em que se decidiu ser o Tribunal de Justiça competente para o julgamento de crime doloso
contra a vida praticado por deputado estadual, afastando-se, expressamente, a incidência da Súmula 721
do STF em relação a esses parlamentares10. Relembre o que a Súmula dispõe:

Súmula 721. A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de
função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.

De outro lado, parcela da doutrina sustenta não ter sido o foro por prerrogativa de função expressamente
contemplado pelo supracitado art. 27, § 1º da CF; além de que também não se encaixaria nos termos
“inviolabilidade” e “imunidade” empregados pelo legislador constituinte. Nesse sentido, BRASILEIRO:

Com a devida vênia, preferimos nos filiar à segunda corrente. E isso porque, a nosso ver, foro por
prerrogativa de função não pode ser considerado uma espécie de inviolabilidade, nem tampouco
de imunidade. Logo, se deputados estaduais têm foro por prerrogativa de função, o têm por força
das Constituições Estaduais, que, a partir do princípio da simetria, asseguram a seus
parlamentares referida prerrogativa (Lima, 2021).

Assim, como já tratado quando do estudo do ‘princípio do paralelismo’, a simetria entre as prerrogativas dos
deputados estaduais e federais conferiria àqueles serem julgados pelo segundo grau da Justiça
correspondente ao crime (comum estadual, federal, eleitoral ou militar), ressalvando-se os crimes afetos ao
Tribunal do Júri por incidência inafastável da Súmula 721 do STF. Assim, para essa corrente, deputado
estadual que praticasse crime doloso contra a vida seria processado e julgado perante o Tribunal do Júri.

Entendida a discussão, BRASILEIRO DE LIMA esclarece a visão que tem prevalecido nos tribunais superiores sobre
o tema (a primeira):

Tem prevalecido nos Tribunais Superiores o entendimento de que o foro por prerrogativa de
função de Deputados Estaduais está previsto na Constituição Federal. Logo, deve prevalecer a
competência do Tribunal de Justiça para processar e julgá-los pela prática de crimes dolosos
contra a vida. Nesse sentido, em caso concreto apreciado pela 5ª Turma do STJ envolvendo vários
acusados, concluiu-se pelo desmembramento do processo, devendo ser fixada a competência do
Tribunal de Justiça para processar o deputado estadual, cabendo ao Tribunal do Júri o julgamento
dos demais coautores (Lima, 2021).

4.2.10 - Prefeitos

Conforme art. 29, X da CF, cabe aos respectivos Tribunais de Justiça dos Estados o julgamento dos prefeitos:

10
(HC 109.941/ RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, QUINTA TURMA, julgado em 02/ 12/ 2010, DJe 04/ 04/ 2011).

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Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo
de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e
os seguintes preceitos: [...]

X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça; [...]

Como já observado por ocasião do item “Tribunais de Justiça”, a esses órgãos apenas cabe processar e julgar
os prefeitos pelos crimes afetos à justiça estadual comum, conforme Súmula 702, que vale ser transcrita
novamente:

A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da
justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de
segundo grau.

Desta forma, por exemplo, praticado crime afeto à Justiça Federal por prefeito, será este processado e
julgado perante o Tribunal Regional Federal correspondente; acaso perpetre crime eleitoral, será julgado
pelo respectivo Tribunal Regional Eleitoral.

Referente aos crimes dolosos contra a vida, os prefeitos também serão julgados pelo Tribunal de Justiça,
por estar essa competência prevista na própria Lei Maior e se tratar de norma especial em relação à
competência do Júri. Nesse sentido, CAPEZ:

Como a competência especial do Tribunal de Justiça para o julgamento de Prefeito está prevista
diretamente pela Constituição Federal (CF, art. 29, X), ela prevalecerá sobre a do júri popular.
Deste modo, o Prefeito deverá ser julgado perante o Tribunal de Justiça local mesmo nos crimes
dolosos contra a vida (Capez, 2018).

Ao demais, interessante registrar os casos de competência para julgamento de prefeitos expressamente


contidos em Súmulas, como a 208 e 209 do STJ:

Súmula 208. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a
prestação de contas perante órgão federal.

Súmula 209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.

Ressalte-se que, por “Justiça Federal” e “Justiça Estadual” se está referindo, conforme entendimento da
Súmula nº 702 – parte final –, ao Tribunal Regional Federal e Tribunal de Justiça, respectivamente.

Por derradeiro, note-se que, nas infrações político-administrativas praticadas pelos chefes do Poder
Executivo municipal, o julgamento será realizado pela Câmara dos Vereadores, conforme art. 4º, caput do
Decreto-Lei 201/67:

Art. 4º São infrações político-administrativas dos Prefeitos Municipais sujeitas ao julgamento


pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com a cassação do mandato.

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Essas infrações estão dispostas ao longo dos incisos do referido dispositivo, e vão, desde o comportamento
“incompatível com a dignidade e o decoro do cargo” até a ausência do prefeito “do município por tempo
superior ao permitido em lei”.

4.2.11 - Vereadores

Os vereadores não foram contemplados com foro por prerrogativa de função na Constituição Federal,
apenas lhes foi conferida inviolabilidade no exercício da sua função em relação às suas opiniões, palavras e
votos, conforme art. 29, VIII da CF:

VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato
e na circunscrição do Município;

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016):
“Determinadas pessoas, em razão da alta relevância da função que desempenham, têm direito
ao julgamento por órgão de maior graduação. Permite-se, assim, enaltecer a função
desempenhada, e evitar as pressões indiretas que poderiam ocorrer se as diversas autoridades
fossem julgadas pelos juízes de primeiro grau. Para proteger o exercício do cargo ou da função
que tenha relevância constitucional estatal, contra investidas de toda a ordem, para assegurar
ao acusado detentor de prerrogativa de função um julgamento com menor suscetibilidade a
pressões externas (porque colegiado), bem como para proteger o julgamento contra ameaças de
pressões do próprio acusado, prevê o ordenamento jurídico a prerrogativa de função. Nesse
sentido se diz que o foro por prerrogativa de função é uma garantia dúplice, bilateral, que, de
um lado, tem um caráter favorável ao acusado (outorga a ele o direito de ser julgado por órgão
coletivo, que tem menor chance de ser objeto de constrangimentos por terceiros que o juízo
singular) e, de outro, manifesta-se contra o réu (eis que também é menor o risco de coação
efetuada pelo próprio réu relativamente a um órgão judicial coletivo, que a um órgão singular)”.

Alexandre Cebrian Araújo Reis et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo:
Saraiva, 2017), sobre a relação entre alguns foros por prerrogativa de função e o local da prática
do crime: “Estende-se a competência do Tribunal de Justiça sobre seu jurisdicionado, qualquer
que tenha sido o local do delito no território nacional. Assim, se um juiz de direito de São Paulo
comete um furto em Pernambuco, responde pelo crime perante o Tribunal de Justiça de São
Paulo. [...] A regra supracitada vale também no que se refere à competência originária dos
Tribunais Regionais Federais. Suponha-se um juiz federal de São Paulo (3ª Região) que cometa
crime de estelionato no Rio Grande do Sul (4ª Região). Será julgado perante o Tribunal Regional
Federal de São Paulo”. Conexão ou continência entre crime praticado por detentor e não
detentor de foro por prerrogativa de função: “Em tal caso, ambos serão julgados perante o
Tribunal, já que a questão é solucionada pelo art. 78, III, do Código de Processo Penal, segundo
o qual no concurso entre jurisdições de categorias diversas, prevalece a mais graduada. Aliás, a
Súmula n. 704 do Supremo Tribunal Federal dita que “não viola as garantias do juiz natural, da
ampla defesa e do devido processo legal, a atração por continência ou conexão do processo do
corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”. Lembre-se, outrossim, que,
ainda que o Tribunal absolva aquele que tem foro especial, deverá julgar também o outro,

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tratando-se aqui de hipótese de perpetuatio jurisdicionis (art. 81, caput, do CPP). Se, entretanto,
for rejeitada a denúncia em relação a quem tem o foro por prerrogativa de função, por entender
o Tribunal que não há indícios suficientes em relação a ele, mas que existem tais indícios em
relação ao comparsa, os autos deverão ser remetidos ao juízo comum para apreciação em
relação a este”. Coexistência de foros especiais em órgãos diversos do Poder Judiciário: “Nesses
casos, o Supremo Tribunal Federal tem também entendido que prevalece o órgão jurisdicional
mais graduado. Por isso, se um juiz e um Senador cometem juntos um crime, respondem
conjuntamente perante o Supremo”. Período de exercício da função x tempo do crime: “Se a
infração é praticada antes de o agente possuir o cargo ou função, deverão ser o inquérito ou ação
penal remetidos, no estado em que se encontram, ao Tribunal, tão logo o agente os assuma. [...]
É bastante comum a hipótese em que o sujeito, após cometer o crime no exercício de cargo ou
função, deixe de exercê-los (demissão de Ministro, aposentadoria de Desembargador, não
reeleição de Prefeito etc.). Teria ainda direito ao foro especial? [...] Em suma, em razão da decisão
do Supremo Tribunal Federal, o ex-ocupante de cargo ou mandato não tem direito ao foro por
prerrogativa de função”. Órgão acusador: “Nos casos de foro especial, o oferecimento da
denúncia cabe ao representante do Ministério Público que exerce suas atribuições junto ao
Tribunal. Por isso, denúncias criminais contra Prefeitos ou Juízes são oferecidas pelo Procurador-
Geral de Justiça e denúncias contra Deputados Federais são apresentadas pelo Procurador-Geral
da República.” Duplo grau de jurisdição: “Os julgamentos dos tribunais nos casos de sua
competência originária não podem ser reformados por tribunais superiores por ser irrecorrível a
decisão quanto ao seu mérito. É o que determina a própria Constituição que, neste aspecto, não
reconheceu o direito ao duplo grau de jurisdição, uma vez que o julgamento já é feito por órgão
colegiado e de superior graduação”. Excepctio veritatis: “O art. 85 do Código de Processo Penal
estabelece que, nos crimes contra a honra que admitem exceção da verdade, caso esta seja
oposta contra querelante que tenha foro por prerrogativa de função, deverá a exceção ser
julgada pelo Tribunal, e não pelo juízo por onde tramita a ação. Assim, suponha-se que um
prefeito, sentindo-se caluniado, ingresse com ação penal contra o ofensor, na Comarca de
Presidente Prudente. O ofensor, então, resolve ingressar com exceção da verdade, dispondo-se
a provar que a imputação feita contra o prefeito é verdadeira. Pois bem, nesse caso a exceção da
verdade será julgada pelo Tribunal de Justiça. A doutrina entende que apenas a exceção é julgada
pelo Tribunal, devendo os autos retornar à comarca de origem para a decisão quanto ao processo
originário. Entende-se, também, que o Tribunal limita-se a julgar a exceção, sendo colhidas as
provas no juízo de primeira instância”.

Edilson Mougenot Bonfim (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019), tratando
sobre alguns pontos específicos da matéria, assevera: “Competência por prerrogativa de função
determinada em Constituição Estadual. As Constituições Estaduais também podem fixar foro por
prerrogativa de função para as autoridades do Estado. A competência por prerrogativa de função
estabelecida exclusivamente na Constituição Estadual, entretanto, não excepciona a
competência do Tribunal do Júri, pois não se concebe que possa prevalecer norma
consubstanciada na Constituição Estadual sobre norma de sede constitucional [...] Conexão ou
continência. Sendo o crime praticado em concurso de pessoas, a competência por prerrogativa
de função alcança o corréu que não goza de igual prerrogativa, pois o foro especial prevalece
sobre o geral. [...] Duplo grau de jurisdição. Vale recordar, ainda, que o julgamento dos Tribunais
no exercício de competência originária ratione personae não estará sujeito ao duplo grau de
jurisdição (...). Lei n. 10.628/2002. Prevalência da competência especial após a cessação do

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exercício funcional. Nos termos do art. 84, caput, do Código de Processo Penal, alterado pela Lei
n. 10.628/2002, a competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do
Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e dos Tribunais de Justiça dos
Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante tais cortes
por crimes comuns e de responsabilidade. A competência por prerrogativa de função abrange
tão somente os delitos praticados na duração do exercício funcional que a ensejar. Esse o
entendimento consolidado na Súmula 451 do Supremo Tribunal Federal, que determina que “a
competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a
cessação definitiva do exercício funcional”. Questão que se colocava controvertida na
jurisprudência, entretanto, dizia respeito à extensão da competência ratione personae no que
tange aos processos que, instaurados em razão de delitos praticados durante o exercício
funcional, permaneciam em trâmite após a cessação desse exercício. Sobre a matéria, o Supremo
Tribunal Federal editara a Súmula 394, determinando que, nessa hipótese específica, o processo
deveria continuar tramitando perante o mesmo juízo originalmente competente. Tal súmula, no
entanto, foi cancelada, de modo que, uma vez cessado o exercício da função, o processo ainda
não julgado deveria ser remetido ao juízo comum, deixando a autoridade de gozar da
prerrogativa. A Lei n. 10.628/2002, no entanto, veio restabelecer o disposto na súmula
cancelada, dispondo, em seu art. 84, § 1º, que a competência especial por prerrogativa de
função, relativa a atos administrativos do agente, prevalece ainda que o inquérito ou a ação
judicial sejam iniciados após a cessação do exercício da função pública. A citada lei foi além,
atribuindo, em seu art. 84, § 2º, competência originária por prerrogativa de função para os delitos
de improbidade administrativa, previstos na Lei n. 8.429/92. No entanto, em 15 de setembro de
2005, no julgamento da ADIn 2797/DF, o Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, julgou
inconstitucionais os §§ 1º e 2º do art. 84, acrescentados pela Lei n. 10.628/2002. Dessa forma,
fica consolidado o entendimento de que não prevalece o foro por prerrogativa de função para o
inquérito ou ação penal iniciados após a cessação do exercício da função pública, mantendo-se
o entendimento pretoriano desde a revogação da Súmula 394. [...]

Renato Marcão (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017) também traça alguns
parâmetros gerais a respeito da competência por prerrogativa de foro: “A competência originária
por prerrogativa de função, ademais, atrai o julgamento de corréu que não disponha de igual
garantia. De tal sorte, basta que um dos envolvidos desfrute de ‘foro privilegiado’, para que todos
respondam, em conjunto, num mesmo processo, originariamente, na instância judiciária que
determinar a prerrogativa de foro. Exemplo bastante conhecido é o que ocorreu no famoso
julgamento do ‘caso mensalão’, ação penal n. 470, processada e julgada em única e última
instância no STF. [...] É cabível a separação de processos, tantas vezes recomendada com vistas
a evitar tumulto e morosidade processual, de modo a permitir que somente aquele que desfrutar
da prerrogativa de foro seja processado na instância originária. ‘A doutrina e a jurisprudência são
uníssonas no sentido de aplicar o art. 80 do Código de Processo Penal nos processos criminais em
que apenas um ou alguns dos acusados detêm a prerrogativa de foro. Não há, no caso, qualquer
excepcionalidade que impeça a aplicação do artigo 80 do CPP’ (STF, Inq 2.443 QO/ SP, Tribunal
Pleno, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 1º-7-2008, DJe de 26-9-2008)”.

Nestor Távora (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), sobre o
indiciamento e sua relação com o foro por prerrogativa de função, expõe: “A Lei nº 12.830/2013
dispõe que o indiciamento é ato privativo do delegado de polícia, que deve se dar por ato

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fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria,


materialidade e suas circunstâncias. Quando a pessoa investigada a ser indiciada é detentora de
foro por prerrogativa de função, o delegado de polícia não pode realizar o indiciamento, salvo se
autorizado pelo órgão detentor de competência para processar e julgar o investigado ou, no
âmbito do STF, pelo Ministro-Relator”. A respeito do duplo grau de jurisdição, pondera acerca da
sua mitigação: “O duplo grau de jurisdição para acusados com prerrogativa de função é limitado.
Em algumas situações, o duplo grau não existirá, tal como ocorre com os julgamentos de
competência originária do Supremo Tribunal Federal, onde os recursos dirigidos contra acórdão
condenatório são julgados pelo mesmo órgão. Quanto à competência dos demais órgãos
colegiados para processar e julgar crimes contra titulares de foro por prerrogativa de função, é
de ver que o duplo grau existe, porém mitigado, porquanto não há, nos recursos disponíveis, a
possibilidade de reexame integral da matéria, tal qual acontece com a reapreciação das
sentenças de juízes de primeiro grau, que são impugnadas por apelação”. Concernente aos atos
processuais já praticados e a cessação do exercício do cargo ou função, sustenta: “De outro lado,
a cessação da prerrogativa de função não torna nulos os atos praticados pelo juízo que até então
era competente, porque tempus regit actum. Os recursos contra as decisões e prazos
correspondentes são aqueles previstos nas datas de suas prolações. Na hipótese inversa: quando
o processo é julgado pelo juízo de primeiro grau e, depois da sentença condenatória, passa o
acusado a ter prerrogativa de função porque assumiu mandato eletivo, caberá apelação (porque
define o recurso e o prazo a data da prolação da sentença pelo juízo competente) e o órgão que
julgará o recurso é aquele que passou a ter, seguidamente, competência para julgar o agente,
em virtude do estabelecimento do foro por prerrogativa de função. Caso o agente condenado
em primeira instância tenha passado a ser, depois, Deputado Federal, julgará o apelo o Supremo
Tribunal Federal”. No que tange à figura da exceptio veritatis, pondera: “De tudo que foi dito, a
síntese para inferir a competência para julgar a exceção da verdade é: (1) querelante que detenha
prerrogativa de função junto a tribunal (entendemos possível a exceção da verdade também para
ações penais públicas condicionadas que veiculem imputação de crime de calúnia a acusado,
conquanto o art. 85, do CPP, só faça menção a querelante); (2) crime contra honra de calúnia (é
a regra, posição majoritária), sendo viável o manejo em face de crime de difamação e
deslocamento do seu julgamento para o tribunal em casos restritos, como o de narrar
contravenção); (3) preservação da competência do tribunal para o exame de mérito de crime que
eventualmente possa ser atribuído à autoridade pública, considerando que a autoridade pública
que move ação penal privada temerária pode responder por delito de denunciação caluniosa
(art. 339)”.

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017), em relação à previsão
de foro por prerrogativa de função em Constituição Estadual e à abrangência dos seus efeitos,
assevera, citando a situação dos deputados estaduais: “É oportuno observar, com apoio em
Mirabete, que “o foro por prerrogativa de função estabelecido nas Constituições estaduais e leis
de organização judiciária é válido apenas em relação às autoridades judiciárias estaduais e locais,
não podendo ser invocado em face do Poder Judiciário Federal. Nesse sentido, a orientação
formulada na Súmula 3 do STF: ‘A imunidade concedida a Deputado Estadual é restrita à Justiça
do Estado-membro’. Assim, nos crimes eleitorais, a competência originária é do TRE, nos crimes
contra as instituições militares a competência é dos Conselhos de Justiça de primeira instância”.

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FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), sobre a situação dos
deputados estaduais, afirma: “Poderíamos assim resumir essa questão: (i) se a competência
especial por prerrogativa de função estiver estabelecida na Constituição Federal, prevalecerá
sobre a competência constitucional do Júri, em razão da matéria; (ii) se o foro especial estiver
previsto em lei ordinária ou lei de organização judiciária, prevalecerá a competência
constitucional do Júri; (iii) se o foro especial estiver previsto em Constituição estadual,
prevalecerá a competência constitucional do Júri”. Em relação aos magistrados e membros do
Ministério Público estaduais, assevera: “são julgados sempre pelo tribunal de justiça de seu
Estado, não importando a natureza do crime (se federal ou doloso contra a vida) ou o local de
sua prática (em outra unidade da federação), ressalvados apenas os crimes eleitorais, caso em
que o julgamento caberá ao Tribunal Regional Eleitoral (CF, art. 96, III)”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), sobre o
foro por prerrogativa de função dos prefeitos, afirma: “Os prefeitos, como já visto, serão julgados
perante o Tribunal de Justiça (art. 29, X, CF). Contudo, de acordo com a súmula nº 702 do STF, ‘a
competência do TJ para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça
comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de
segundo grau’. Diante do verbete, nos crimes contra a União, suas autarquias e empresas
públicas, quem julgará o prefeito é o TRF, e nos crimes eleitorais, o TRE. Aplicamos também este
entendimento aos Deputados Estaduais”.

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), ainda sobre os
prefeitos, assevera: “o tratamento dado pelo art. 29, X, da Constituição é pouco representativo
do alcance da prerrogativa. Assim, se o prefeito cometer um crime de competência da Justiça
Comum Estadual, será julgado no Tribunal de Justiça, mesmo que se trate de um crime de
competência do Tribunal do Júri. Contudo, se for um crime eleitoral, será julgado pelo TRE. Se o
delito for de competência da Justiça Federal será julgado pelo TRF. Nesse sentido afirma a Súmula
n. 702 do STF: a competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes
de competência da Justiça Comum Estadual; nos demais casos, a competência originária caberá
ao respectivo tribunal de segundo grau”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), ao expor
sobre a competência do Supremo Tribunal Federal e as questões envolvendo os Ministros de
Estado e o Presidente do Banco Central, pondera: “Questão relevante é a previsão constitucional
que atribui ao STF a competência para processar e julgar os Ministros de Estado, os Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, tanto nas infrações penais comuns, quanto nos crimes
de responsabilidade. A definição de quem é Ministro de Estado é ditada por lei federal, que cria
o cargo e o ministério correspondente. A Lei nº 10.683/2003, alterada pela Lei nº 12.462/2011,
é a que indica quais são os Ministérios e quem são os Ministros de Estado (art. 25, parágrafo
único). Os dois diplomas legislativo decorreram de conversão de medidas provisórias. No ponto,
foi questionada a constitucionalidade da inclusão do Presidente do Banco Central do Brasil como
Ministro de Estado (inciso VII, do parágrafo único, art. 25, da Lei nº 10.683/2003). O STF, por
maioria, rejeitou duas ações diretas de inconstitucionalidade contra esse dispositivo. Entendeu
justificada a relevância e urgência da medida provisória, aduzindo que o cargo apontado é dotado
de importância para a atribuição de prerrogativa de função, a fim de proteger as instituições.
Comparativamente, averbou que previsões no direito internacional colimam proteger o exercício

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de função equivalente. A época do julgamento, divergiram os Ministros Carlos Ayres Britto,


Marco Aurélio, Carlos Velloso e Sepúlveda Pertence. Dentre os argumentos para que não fosse
reconhecido o status de Ministro ao Presidente do Banco Central, foram alinhados,
especialmente, o paradoxo de se criar Ministro sem ministério, a existência de sabatina para a
investidura no cargo de Presidente do Banco Central (o que não se dá com os Ministros de
Estado) e, sobremodo, o fato de ser a regra de competência constitucional numerus clausus. Em
compasso com os votos divergentes, entendemos que o legislador não poderia ampliar a
competência do STF, pela via da atribuição de qualidade de Ministro a certos agentes. Também
o uso de Medida Provisória, ainda que de forma transversa, não deveria ter repercussão em
matéria processual penal, mormente a que se refere a norma de competência para
processamento e julgamento de infrações penais, eis que esbarra na dicção do art. 62, § 1º, inciso
I, “b”, da Constituição de 1988 (incluído pela Emenda Constitucional nº 32/2001)”.

Jurisprudência pertinente

Súmula Vinculante 45: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.

Súmula 451, STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido
após a cessação definitiva do exercício funcional.

Súmula 702, STF: A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de
competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo
tribunal de segundo grau.

Súmula 164, STJ: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime
previsto no art. 1. do Decreto-lei n. 201, de 27/02/67.

Supremo Tribunal Federal - STF

Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. AGENTE QUE
NÃO MAIS OCUPA CARGO A ATRAIR A COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
INVESTIGAÇÃO ENCERRADA COM PROPOSITURA DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL
(ANPP). LEI 13.964/2019. PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
PRECEDENTES. 1. O Plenário desta CORTE, no julgamento da Questão de Ordem na Ação Penal
937, fixou as seguintes teses: "(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o
final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que
seja o motivo". 2. Em virtude da celeridade processual e da efetiva prestação jurisdicional, a
PRIMEIRA TURMA passou a aplicar o referido entendimento definido pelo PLENÁRIO quanto a
prorrogação de competência do STF também para as hipóteses de encerramento da investigação
criminal, com o término do inquérito policial e eventual denúncia ou arquivamento apresentados
(Inquérito 4.641 (Rel. Min. ROBERTO BARROSO, DJe de 16/8/2018). O posicionamento
supracitado tem sido adotado também pela SEGUNDA TURMA desta CORTE. 3. A partir da Lei

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13.964/19, com o encerramento do inquérito policial ou investigação penal, a PGR passou a ter
uma terceira possibilidade de atuação, pois, além do oferecimento de denúncia ou promoção de
arquivamento, poderá propor ‘acordo de não persecução penal’ (ANPP). São três hipóteses
possíveis ao titular da ação penal, após o encerramento do inquérito policial, e que devem, de
maneira isonômica, prorrogarem a competência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL para análise
de ato processual do Procurador Geral da República, enquanto ainda detentor de atribuição
perante a CORTE. 4. No caso em análise, a Procuradoria-Geral da República, em 3/8/2020,
encaminhou termo de acordo de não persecução penal, firmado pelo Ministério Público Federal
com ONYX LORENZONI. Dessa maneira, no momento processual adequado – encerrada a
investigação criminal pelo inquérito – a competência do STF, também nessa hipótese, deverá
ficar prorrogada, nos mesmos moldes da análise da denúncia ou da promoção de arquivamento
da investigação. 5. Agravos regimentais providos assentando a competência do SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL para a análise do acordo de não persecução penal proposto nestes autos.
(Pet 7990 AgR-segundo, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE
MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 17/02/2021).

Ação direta de inconstitucionalidade. Constitucional. Penal. Processo Penal. 2. Competência. 3.


Emenda 49/2014 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. 4. Transferência da
competência do Plenário para as Turmas para processar e julgar, nos crimes comuns, Deputados
e Senadores. Manutenção da competência do Tribunal Pleno para julgar o Presidente da
República, o Vice-Presidente da República, o Presidente do Senado Federal, o Presidente da
Câmara dos Deputados, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e o Procurador-Geral da
República. 5. Preliminar de inépcia da petição inicial. Diploma normativo que integra complexo
normativo incindível não impugnado. Semelhança entre os textos. Relativização do princípio do
pedido. Possibilidade de declaração de inconstitucionalidade por arrastamento. Compreensão
da controvérsia. Superação da preliminar e exame do mérito. Precedentes. 6. Ausência de
violação à isonomia. Distinção das funções exercidas pelos Presidentes do Senado e da Câmara.
Foro por prerrogativa de função não assegura o julgamento pelo Plenário da Corte. 7. Compete
privativamente aos tribunais definir a competência e o funcionamento de seus órgãos, como
expressão de autonomia e autogoverno do Poder Judiciário. 8. O Supremo Tribunal Federal
exerce sua competência pelo Plenário, pelas Turmas, pelo Presidente e por meio de cada
Ministro. 9. Ausência de violação ao princípio da isonomia e da razoabilidade. Alteração
regimental realizada para conciliar as diversas ações penais ao princípio da duração razoável do
processo. 10. As Turmas, como órgãos fracionários, estão mais bem habilitadas a julgar a maior
parte dos processos de índole subjetiva, em razão da maior agilidade e celeridade na prestação
jurisdicional individualizada. Ausência de violação à garantia do Juiz Natural. O foro por
prerrogativa de foro constitui exceção à garantia ao duplo grau de jurisdição. 11. Voto pela
superação da questão preliminar e pela improcedência do pedido. (ADI 5.175/DF, STF, Plenário,
Unânime, DJ 06/08/2020).

TERCEIRO AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO PENAL. PROCESSO PENAL E PENAL. DECISÃO


MONOCRÁTICA. REFORMA. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. COMPETÊNCIA. PRORROGAÇÃO.
ACOLHIMENTO. PRECEDENTES DO PLENÁRIO DESTA CORTE. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. 1.
No julgamento da Questão de Ordem na Ação Penal n. 937/RJ, o Plenário desta Corte fixou as
seguintes teses: “(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o final da

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instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de


alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que
seja o motivo”, com o entendimento de que essa nova linha interpretativa deve ser aplicada
imediatamente aos processos em curso, com a ressalva de todos os atos praticados e decisões
proferidas pelo STF e pelos demais juízos com base na jurisprudência anterior. 2. É dizer: restou
claramente estabelecido, pela colegialidade máxima deste Supremo Tribunal, que o marco
temporal para o declínio da competência é “a publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais”. 3. No caso concreto, estando concluída a instrução criminal,
no âmbito deste Supremo Tribunal, desde setembro de 2011, e já ofertadas as alegações finais
pela acusação, não apenas compete como urge a esta Corte dar continuidade à tramitação da
ação penal em questão, para seu julgamento com a maior brevidade possível. 4. Agravo
regimental provido, a fim de que, respeitando-se o que decidido na QO na AP 937/RJ, seja
reconhecida a persistência da competência deste Supremo Tribunal Federal para processamento
e julgamento da presente ação penal. (AP 508 AgR-terceiro, Relator(a): MARCO AURÉLIO,
Relator(a) p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/2020).

Inquérito. 2. Competência originária. 3. Penal e Processual Penal. 4. Embora o STF tenha


assentado que a prerrogativa de foro dos parlamentares federais é limitada aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas (AP 937 QO, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgada em 3.5.2018) e que essa linha interpretativa deve-se aplicar
imediatamente aos processos em curso, o controle sobre a legitimidade da investigação deve ser
realizado pelo Judiciário. 5. Conforme o art. 231, § 4º, ‘e’, do RISTF, o relator deve determinar o
arquivamento do inquérito, quando verificar a ausência de indícios mínimos de autoria ou
materialidade, nos casos em que forem descumpridos os prazos para a instrução do inquérito. 6.
A declinação da competência em uma investigação fadada ao insucesso representaria apenas
protelar o inevitável, violando o direito à duração razoável do processo e à dignidade da pessoa
humana. 7. Ante o exposto, rejeito o pedido de declinação da competência e determino o
arquivamento do inquérito, na forma do art. 231, § 4º, ‘e’, do Regimento Interno do STF,
observado o disposto no art. 18 do Código de Processo Penal. (Inq 4420, Relator(a): GILMAR
MENDES, Segunda Turma, julgado em 21/08/2018).

[...] CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA IMPUTADO A PARLAMENTAR FEDERAL. COMPETÊNCIA DO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL VERSUS COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. NORMA
CONSTITUCIONAL ESPECIAL. PREVALÊNCIA. [...]. 1. O réu, na qualidade de detentor do mandato
de parlamentar federal, detém prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal, onde
deve ser julgado pela imputação da prática de crime doloso contra a vida. 2. A norma contida no
art. 5º, XXXVIII, da Constituição da República, que garante a instituição do júri, cede diante do
disposto no art. 102, I, b, da Lei Maior, definidor da competência do Supremo Tribunal Federal,
dada a especialidade deste último. Os crimes dolosos contra a vida estão abarcados pelo conceito
de crimes comuns. Precedentes da Corte. 3. [...] (AP 333, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Tribunal Pleno, julgado em 05/12/2007).

[...] DEPUTADO FEDERAL. RENÚNCIA AO MANDATO. ABUSO DE DIREITO: RECONHECIMENTO DA


COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA CONTINUIDADE DO JULGAMENTO DA
PRESENTE AÇÃO PENAL. [...] 1. Renúncia de mandato: ato legítimo. Não se presta, porém, a ser

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utilizada como subterfúgio para deslocamento de competências constitucionalmente definidas,


que não podem ser objeto de escolha pessoal. Impossibilidade de ser aproveitada como
expediente para impedir o julgamento em tempo à absolvição ou à condenação e, neste caso, à
definição de penas. 2. No caso, a renúncia do mandato foi apresentada à Casa Legislativa em 27
de outubro de 2010, véspera do julgamento da presente ação penal pelo Plenário do Supremo
Tribunal: pretensões nitidamente incompatíveis com os princípios e as regras constitucionais
porque exclui a aplicação da regra de competência deste Supremo Tribunal. [...] Questão de
ordem resolvida no sentido de reconhecer a subsistência da competência deste Supremo
Tribunal Federal para continuidade do julgamento. 10. Preliminares rejeitadas. 11. Ação penal
julgada procedente. (AP 396, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em
28/10/2010).

AÇÃO PENAL CONTRA DEPUTADO FEDERAL. QUESTÃO DE ORDEM. RENÚNCIA AO MANDATO.


PRERROGATIVA DE FORO. 1. A renúncia de parlamentar, após o final da instrução, não acarreta
a perda de competência do Supremo Tribunal Federal. Superação da jurisprudência anterior. 2.
Havendo a renúncia ocorrido anteriormente ao final da instrução, declina-se da competência
para o juízo de primeiro grau. (AP 606 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 12/08/2014).

[...] COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FORO. DESMEMBRAMENTO DE INVESTIGAÇÕES E


AÇÕES PENAIS. PRERROGATIVA PRÓPRIA DA SUPREMA CORTE. 1. O Plenário desta Suprema
Corte mais de uma vez já decidiu que ‘é de ser tido por afrontoso à competência do STF o ato da
autoridade reclamada que desmembrou o inquérito, deslocando o julgamento do parlamentar e
prosseguindo quanto aos demais’ (Rcl 1121, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno,
julgado em 04/05/2000). Nessa linha de entendimento, decidiu o Plenário também que, ‘até que
esta Suprema Corte procedesse à análise devida, não cabia ao Juízo de primeiro grau, ao deparar-
se, nas investigações então conjuntamente realizadas, com suspeitos detentores de prerrogativa
de foro - em razão das funções em que se encontravam investidos -, determinar a cisão das
investigações e a remessa a esta Suprema Corte da apuração relativa a esses últimos, com o que
acabou por usurpar competência que não detinha’ (Rcl 7913 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI,
Tribunal Pleno, julgado em 12/05/2011 [...]). 2. Por outro lado, a atual jurisprudência do STF é no
sentido de que as normas constitucionais sobre prerrogativa de foro devem ser interpretadas
restritivamente, o que determina o desmembramento do processo criminal sempre que possível,
mantendo-se sob a jurisdição especial, em regra e segundo as circunstâncias de cada caso,
apenas o que envolva autoridades indicadas na Constituição (Inq 3515 AgR, Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 13/02/2014). 3. No caso, acolhe-se a promoção do
Procurador-Geral da República, para determinar o desmembramento dos procedimentos em que
constam indícios de envolvimento de parlamentar federal, com a remessa dos demais à primeira
instância, aí incluídas as ações penais em andamento. (AP 871 QO, Relator(a): Min. TEORI
ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 10/06/2014).

DESMEMBRAMENTO DOS AUTOS PARA PROSSEGUIMENTO DAS INVESTIGAÇÕES COM RELAÇÃO


A NÃO DETENTORES DE PRERROGATIVA DE FORO. IMPOSSIBILIDADE. ELEMENTOS DO CASO
CONCRETO QUE APONTAM PARA A EXISTÊNCIA DE FATO ÚNICO, O QUE TORNA SUA APURAÇÃO
INDISSOCIÁVEL. AGRAVO PROVIDO. 1. A taxatividade do rol de competências constitucionais
originárias do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL é absoluta, não havendo possibilidades de

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ampliação direta e expressa por meio de edição de lei ordinária. 2. Possibilidade excepcional de
processamento e julgamento conjunto de pessoas sem prerrogativa de foro quando os fatos
típicos forem únicos ou indivisíveis. 3. No caso dos autos, investiga-se fato único, em que as
condutas imputadas aos denunciados teriam sido essenciais para a prática do delito, o que torna
a apuração dos fatos indissociável. 4. Agravo regimental provido. (Inq 4506 AgR, Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado
em 14/11/2017).

COMPETÊNCIA CRIMINAL. Ação penal. Membro do Ministério Público estadual. Condição de co-
réu. Conexão da acusação com fatos imputados a desembargador. Pretensão de ser julgado
perante o Tribunal de Justiça. Inadmissibilidade. Prerrogativa de foro. Irrenunciabilidade. Ofensa
às garantias do juiz natural e da ampla defesa, elementares do devido processo legal.
Inexistência. Feito da competência do Superior Tribunal de Justiça. HC denegado. [...] (HC 91437,
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 04/09/2007).

Segundo entendimento afirmado por seu Plenário, cabe ao Supremo Tribunal Federal, ao exercer
sua prerrogativa exclusiva de decidir sobre a cisão de processos envolvendo agentes com
prerrogativa de foro, promover, em regra, o seu desmembramento, a fim de manter sob sua
jurisdição apenas o que envolva especificamente essas autoridades, segundo as circunstâncias
de cada caso (Inq 3515 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
13/02/2014). Ressalvam-se, todavia, situações em que os fatos se revelem “de tal forma
imbricados que a cisão por si só implique prejuízo a seu esclarecimento” (AP 853, Relator(a): Min.
ROSA WEBER, DJe de 22/5/2014), como ocorre no caso. [...] (Inq 3983, Relator(a): Min. TEORI
ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2016).

[...] Governador de Estado. Normas da Constituição Estadual sobre Crimes de Responsabilidade.


Licença Prévia da Assembleia Legislativa para Instauração de Processos por Crimes Comuns . [...]
Afirmação da seguinte tese: “É vedado às unidades federativas instituírem normas que
condicionem a instauração de ação penal contra o Governador, por crime comum, à prévia
autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça dispor,
fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do
cargo". (ADI 4764, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2017).

[...] AÇÃO PENAL. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. DESEMBARGADOR DO ESTADO DO


CEARÁ. EX-PRESIDENTE E EX-CORREGEDOR GERAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. COMPETÊNCIA
PARA JULGAMENTO. DESLOCAMENTO PARA O PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO. SÚMULAS 394
E 451 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INAPLICABILIDADE. PROVIMENTO VITALÍCIO. GARANTIA
CONFERIDA AOS SERVIDORES DA ATIVA PARA PERMANECEREM NO CARGO. RECURSO
IMPROVIDO. [...] A aposentadoria do magistrado, ainda que voluntária, transfere a competência
para processamento e julgamento de eventual ilícito penal para o primeiro grau de jurisdição. IV
– Recurso extraordinário a que se nega provimento. (RE 549560, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 22/03/2012, REPERCUSSÃO GERAL).

AGRAVO REGIMENTAL. PETIÇÃO. INQUÉRITO. DESMEMBRAMENTO. REMESSA AO TRIBUNAL


REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. PROCURADOR DA REPÚBLICA. COMPETÊNCIA POR

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PRERROGATIVA DE FORO. PEDIDO DE ENVIO DOS AUTOS AO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA


1º REGIÃO. COMPETÊNCIA PELO LUGAR DOS FATOS. AGRAVO DESPROVIDO. HABEAS CORPUS DE
OFÍCIO. COMPETÊNCIA RATIONE LOCI. REMESSA DETERMINADA AO TRF DA 1ª REGIÃO. PRISÃO
PREVENTIVA. MOTIVOS. NÃO SUBSISTÊNCIA. RELAXAMENTO. IMPOSIÇÃO DE MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. ORDEM CONCEDIDA PELA TURMA EM RAZÃO DO EMPATE.
EXTENSÃO A CORRÉU NA MESMA SITUAÇÃO. I – Nos termos do art. 108, I, da Constituição,
compete aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar, originariamente, os membros do
Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Com base nesse
dispositivo, que traz hipótese de competência por prerrogativa de foro, o relator original,
Ministro Edson Fachin, determinou a remessa dos autos ao TRF3. II – Ocorre que, diversamente
dos juízes federais, os procuradores da república não estão vinculados necessariamente a um
dos Tribunais Regionais Federais. Na época dos fatos, o requerente Ângelo Goulart Villela atuava
como Procurador da República exclusivamente no âmbito do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região. III – Assim, aquele tribunal regional é o competente para julgá-lo em razão da
competência ratione loci, que deve ser conjugada com a competência por prerrogativa de foro.
Ademais, há de se ter em conta o princípio da ampla defesa, do qual decorre ser mais benéfico
ao Procurador defender-se no local onde reside, tem domicílio e exerce ou exercia as suas
funções. [...] Ordem concedida, em razão do empate, para fixar a competência do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região para julgar o requerente, bem como para revogar sua prisão
preventiva, impondo-lhe, com fundamento no art. 319 do Código de Processo Penal, medidas
cautelares diversas da prisão. VII – Extensão da medida a corréu, presente semelhante contexto
fático e jurídico. (Pet 7063, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 01/08/2017).

Superior Tribunal de Justiça - STJ

PROCESSUAL PENAL. SINDICÂNCIA. AUTORIDADE COM PRERROGATIVA DE FORO NO SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA. COMPETÊNCIA DO STJ. PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO POR
SUBPROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA NO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO DELEGADA PELO
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. OBRIGATORIEDADE DE ACOLHIMENTO PELO PODER
JUDICIÁRIO. 1. Quando presente autoridade com foro por prerrogativa de função no Superior
Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I, ‘a’, da Constituição Federal, é deste Tribunal a
competência para processamento e análise das questões envolvidas, inclusive a promoção do
Ministério Público de arquivamento de inquérito ou outras peças informativas, como a
sindicância. [...] (Sd 785/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE ESPECIAL, julgado em
17/03/2021, DJe 24/03/2021).

[...] PRERROGATIVA DE FORO. PROCURADOR DA REPÚBLICA QUE OFICIA PRO TEMPORE EM


TRIBUNAL. ART. 18, II, DA LC 75/93. INTERPRETAÇÃO ESTRITA. COMPETÊNCIA DO TRF. [...] 2. A
menção a membros do Ministério Público da União que "oficiem perante tribunais", no art. 18,
II, "b", da Lei Complementar 75/93 - norma que repete o comando do art. 105, I, "a", da CF - não
tem o condão de ampliar a prerrogativa de foro neste STJ aos membros da Instituição que
atuem de forma pro tempore nos tribunais. (AgRg no REsp 1864512/RS, Rel. Ministro RIBEIRO
DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 23/02/2021).

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Aula 03

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. DEPUTADO


ESTADUAL. CRIMES COMETIDOS DURANTE O EXERCÍCIO DO CARGO E RELACIONADOS ÀS
FUNÇÕES DESEMPENHADAS. REELEIÇÃO PARA O MESMO CARGO. CONTINUIDADE DO FORO
ESPECIAL. ORDEM SEQUENCIAL E ININTERRUPTA. [...] 1. A orientação jurisprudencial mais
recente do Supremo Tribunal Federal indica que "o foro por prerrogativa de função restringe-se
apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas." (STF, AP 937 QO, Rel. Ministro ROBERTO BARROSO, TRIBUNAL PLENO, julgado
em 3/5/2018, DJe 10/12/2018). 2. Nos casos em que o delito seja praticado em um mandato e
o réu seja reeleito para o mesmo cargo, haverá continuidade do foro por prerrogativa de
função, desde que os diferentes mandatos sejam exercidos em ordem sequencial e
ininterrupta (STF, Pet. 7.734, Rel. Ministro EDSON FACHIN, SEGUNDA TURMA, j. 30/10/2018). 3.
No caso em exame, segundo a denúncia, os fatos atribuídos aos pacientes e ao corréu com
prerrogativa de foro ocorreram entre os anos de 2011 a 2013, isto é, quando Romildo Luiz Titon
exercia o cargo de Deputado Estadual e se deram em razão desse mesmo cargo que ocupava
perante a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. O mandato político de Romildo
Luiz Titon foi exercido em ordem sequencial e ininterrupta desde 1995 (com prazo para o
encerramento da 19ª legislatura em 2023). Por essa razão impõe-se o reconhecimento da
competência do Órgão Especial para o processamento e julgamento da ação penal. [...] 6.
"Constitui faculdade do Magistrado Processante determinar o desmembramento de processos,
competindo-lhe avaliar a conveniência da separação nas hipóteses em que aplicável a regra
prevista no art. 80 do Código de Processo Penal" (RHC 30.302/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, julgado em 25/2/2014, DJe 12/3/2014). 7. In casu, o Órgão Especial do Tribunal
de Justiça já havia se pronunciado, em duas oportunidades, pela manutenção no feito dos
acusados que não possuem prerrogativa de foro nos autos, dada a regra da atração por conexão
e o risco de prejuízo relevante para a apuração dos fatos e para a prestação jurisdicional. 8. A
orientação do Supremo Tribunal Federal, nos termos da Súmula n. 704, é de que "[n]ão viola as
garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo penal a atração por continência
ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados".
9. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 545.620/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 23/02/2021, DJe 26/02/2021).

QUESTÃO DE ORDEM. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. GOVERNADOR DE ESTADO.


FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO NO STJ. ART. 105, I, "A", DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DEMAIS DENUNCIADOS SEM FORO ESPECIAL. INTERPRETAÇÃO ESTRITA DO DISPOSITIVO.
ALGUNS DOS ACUSADOS SEM FORO ESPECIAL EM PRISÃO PREVENTIVA. RAZOÁVEL DURAÇÃO DO
PROCESSO CRIMINAL. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. DESMEMBRAMENTO OU CISÃO. ART. 80 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. MANUTENÇÃO NO STJ DA AÇÃO PENAL APENAS CONTRA O
GOVERNADOR DE ESTADO. 1. Salvo em casos excepcionalíssimos, a regra que fixa a
competência do Superior Tribunal de Justiça por prerrogativa de foro, extraída do disposto no
art. 105, I, "a", da Constituição Federal de 1988, deve receber interpretação estrita, por se
tratar de norma de caráter excepcional, a despeito das regras previstas no Código de Processo
Penal de conexão e continência. 2. Além disso, no caso concreto, apenas um dos nove
denunciados possui foro especial no STJ, tratando-se de Governador de Estado, em pleno
exercício do mandato de quatro anos para o qual foi eleito, embora afastado cautelarmente do
cargo; bem ainda há outros denunciados presos, impondo-se, pois, o desmembramento ou cisão,
nos moldes do art. 80 do Código de Processo Penal, mantendo-se na Corte da Cidadania apenas

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a autoridade referida. 3. Observância do princípio constitucional da razoável duração do processo


no âmbito criminal, tanto sob o prisma da acusação como da defesa. 4. Em relação aos
denunciados sem foro especial no STJ, invocação do direito irrestrito ao duplo grau de jurisdição,
na forma do art. 8, 2, "h", da Convenção Americana de Direitos Humanos, norma de status
supralegal. 5. Encaminhamento de cópia dos autos à Justiça Estadual do Rio de Janeiro, para
processamento e julgamento como de direito. (QO na APn 976/DF, Rel. Ministro BENEDITO
GONÇALVES, CORTE ESPECIAL, julgado em 11/02/2021, DJe 01/03/2021).

CONSTITUCIONAL. PROCESSO PENAL. INQUÉRITO POLICIAL. QUESTÃO DE ORDEM.


ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, CORRUPÇÃO PASSIVA E LAVAGEM DE DINHEIRO. GOVERNADOR.
MANDATOS SUCESSIVOS. CRIMES COMETIDOS DURANTE O EXERCÍCIO DO CARGO E
RELACIONADOS ÀS FUNÇÕES. PRERROGATIVA DE FORO. DIFERENCIAÇÃO COMPATÍVEL COM A
CONSTITUIÇÃO JÁ QUE ESSENCIAL AO EXERCÍCIO DA JUNÇÃO JUDICANTE. JULGAMENTO DE
GOVERNADOR EXERCENDO MANDATO POR JUIZ DE PRIMEIRO GRAU. INVIABILIDADE.
NECESSIDADE DE JULGAMENTO POR ÓRGÃO COLEGIADO. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. QUESTÃO DE ORDEM REJEITADA. No Leading Case - Questão de Ordem
na Ação Penal n. 937/RJ no Supremo Tribunal Federal houve interpretação restritiva do art. 105,
I, "b" e "c" da CF/88 e a definição de dois parâmetros: "(I) O foro por prerrogativa de função
aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas; e (II) Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de
intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações
penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar
o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo." (APn 937 no QO, Rel. min. Roberto Barroso,
DJe 11.12.2018, grifei). A interpretação restritiva inaugurada na QO na Apn 874/DF do art. 105,
I, "a" da CF/88, porquanto atende ao princípio da isonomia e possui a pertinência lógica em
abstrato, cria equiparação incompatível com os preceitos constitucionais quando reconhece
incompetência do Superior Tribunal de Justiça para processar e julgar Governador, remetendo a
jurisdição ao juiz de primeiro grau referente aos crimes cometidos durante o exercício do cargo
e relacionado às funções desempenhadas. O foro por prerrogativa de função possui razão
plenamente justificável, que transmuta a conotação de privilégio, sendo essencial para o bom
exercício da função, posto que afirma a imparcialidade do Poder Judiciário, prevenindo conflitos,
protegendo o órgão julgador de pressões diversas, além de imprimir segurança jurídica e
institucional. O Governador de Estado quando do exercício do cargo deve ser julgado por órgão
colegiado no sentido de se respeitar o princípio democrático, além de servir para evitar
controvérsias quanto às decisões monocráticas. Na presente hipótese, os delitos imputados ao
investigado ocorreram anos de 2014 a 2016, no curso do primeiro mandato do investigado, vindo
o mesmo a ser reeleito em 2018 para o mesmo cargo. Questão de Ordem rejeitada para
reconhecer, com base no disposto no art. 105, I, "a", da CF/88, a competência do STJ para
examinar o recebimento da denúncia, processamento e julgamento de Governador do Estado no
cargo.(QO na PET no Inq 1.190/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em
18/11/2020, DJe 09/12/2020).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. PROCURADOR DA REPÚBLICA


APOSENTADO. FATO PRATICADO DURANTE O PERÍODO DA INATIVIDADE. APOSENTADORIA.
POSTERIOR REVERSÃO. PRERROGATIVA DE FORO. NÃO INCIDÊNCIA. [...] 1. Nos termos da
jurisprudência atual dos Tribunais Superiores, a competência por prerrogativa de foro exige que

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o fato imputado na denúncia tenha sido praticado durante o exercício do cargo público e tenha
com ele relação. 2. Na situação dos autos, o Acusado se aposentou do cargo de Procurador da
República em 19/04/2011. A suposta prática dos crimes imputados na denúncia, tipificados no
art. 339 do Código Penal, ocorreu em 07/11/2012 e teriam sido cometidos no exercício da
advocacia privada. A reversão de sua aposentadoria, com o retorno à condição de membro do
Ministério Público Federal, no mesmo cargo que anteriormente ocupava, ocorreu em
09/05/2018. 3. Se, na ocasião em que cometido o delito, o Acusado não ocupava nenhum cargo
público que lhe conferisse prerrogativa de foro, a competência para processamento e
julgamento da ação penal é do Juiz de primeiro grau. A circunstância de que reverteu a
aposentadoria e retornou ao cargo de Procurador da República não desloca a competência para
o Tribunal Regional Federal. [...] (CC 168.620/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 14/10/2020, DJe 21/10/2020).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE FALSO TESTEMUNHO.


CONFLITANTES: JUÍZO DE DIREITO DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS E JUÍZO FEDERAL.
CRIME COMETIDO EM CAUSA QUE TRAMITAVA NA JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS. DISTINGUISHING QUE IMPEDE A APLICAÇÃO DA PREMISSA QUE IMPORTOU NA
EDIÇÃO DA SÚMULA Nº 165 PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA
UNIÃO. FEITO QUE NÃO PODE SER PROCESSADO E JULGADO PELA JUSTIÇA COMUM FEDERAL.
CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO SUSCITADO. 1. Ao desenhar a
partição de competências do Poder Judiciário da União, a Constituição da República dividiu-o em
cinco ramos: 1) Justiça Comum Federal; 2) Justiça Eleitoral; 3) Justiça do Trabalho; 4) Justiça
Militar; e 5) Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. 2. É certo que a Terceira Seção do
Superior Tribuna de Justiça, ao editar a Súmula n.º 165 (segundo a qual "Compete à justiça
federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista" - sem
grifos no original), fundou-se em precedentes nos quais se afirmou que "o crime de falso
testemunho em depoimento prestado perante juiz do trabalho atenta contra a administração da
justiça especializada da união" (CC 14.508/SP, Rel. Ministro ANSELMO SANTIAGO, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 07/12/1995, DJ 11/03/1996; sem grifos no original). 3. Embora tanto a Justiça
do Trabalho quanto a do Distrito Federal e dos Territórios constituam o Poder Judiciário da
União, há premissas diversas que impedem o reconhecimento da Justiça Comum Federal para
julgar o crime de falso testemunho cometido em processo que tramitava no TJDFT. 4. O Supremo
Tribunal Federal, no julgamento da ADI 3.684, ocorrido em 11/05/2020, concluiu, em definitivo,
faltar à Justiça do Trabalho jurisdição penal (Rel. Ministro GILMAR MENDES, TRIBUNAL PLENO,
DJe 29/05/2020). 5. A situação relativamente à Justiça Eleitoral também é diversa. É certo que,
em 1992, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça proferiu acórdão no qual firmou a
competência da Justiça Federal para julgar crime de falso testemunho praticado contra a
administração daquela Justiça Especializada (CC 2.437/SP, Rel. Ministro JOSÉ DANTAS, julgado
em 19/03/1992, DJ 06/04/1992). A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, então, passou
a reiterar esse entendimento (CC 106.970/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, julgado em
14/10/2009, DJe 22/10/2009; CC 126.729/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, julgado
em 24/04/2013, DJe 30/04/2013. v.g.). Pela lógica da Jurisprudência do STJ, portanto, no caso de
depoimento falso constatado em causa no âmbito do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito
Federal, é da Justiça Federal a competência para processar e julgar tal delito. 6. Essa orientação
da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça foi ressaltada em decisões monocráticas do
Tribunal Superior Eleitoral (AI n. 411095/SC, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe 31/08/2012; REspE

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n. 267560/RS; Rel. Min. TARCISIO VIEIRA DE CARVALHO NETO, DJe 22/05/2012; AI n. 26717/MG,
Rel. Min. ARNALDO VERSIANI, DJe de 19/04/2010, v.g.). É necessário consignar, todavia, que em
julgado colegiado, o TSE não apontou ilegalidade em hipótese na qual o crime de falso
testemunho cometido em processo judicial eleitoral foi apurado em inquérito instaurado por
requisição de Juízo Eleitoral (REspE n. 166034, Rel. Ministro HENRIQUE NEVES DA SILVA, DJe
14/05/2015, v.g.). 7. No âmbito da Justiça Militar ocorre igual dificuldade, pois o Superior
Tribunal Militar também reconhece a atribuição da Justiça Castrense para o crime de falso
testemunho (art. 346 do Código Penal Militar) cometido em processos de sua jurisdição
(Apelação n. 7000825-65.2019.7.00.0000, Rel. para o Acórdão: Ministro PÉRICLES AURÉLIO LIMA
DE QUEIROZ, DJ 07/08/2020; Revisão Criminal n. 7000931-61.2018.7.00.0000, Rel. Ministro
FRANCISCO JOSELI PARENTE CAMELO, DJ 04/10/2019, v.g.). 8. O Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, ao contrário da Justiça Trabalhista, detém atribuições criminais
(como também as Justiças Eleitoral e a Militar). Todavia, diferentemente de todos outros
braços do Poder Judiciário da União, o TJDFT possui natureza híbrida, pois sua competência
jurisdicional corresponde à dos Tribunais estaduais (ou seja, não se trata de Justiça
especializada). Por isso, o Superior Tribunal de Justiça proferiu julgados nos quais consignou que
outros crimes (diversos do falso testemunho) cometidos contra o MPDFT ou o TJDFT não são
processados e julgados na Justiça Comum Federal. 9. Em conclusão, não cabe a aplicação do
entendimento que resultou na edição da Súmula nº 165/STJ ao TJDFT em razão da índole sui
generis da Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, distinta por guardar competência criminal
e por sua atribuição jurisdicional equivalente à dos Tribunais estaduais impedir o
reconhecimento de interesse direto da União na causa 10. Conflito de competência conhecido
para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara Criminal e Tribunal do Júri do Recanto
das Emas/DF, ora Suscitado. (CC 166.732/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 14/10/2020, DJe 21/10/2020).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. PREFEITO CONDENADO PELO JUÍZO ESTADUAL, EM FACE


DO RECONHECIMENTO DE DESVIO DE VERBAS ORIUNDAS DO FUNDEF. JUÍZO ESTADUAL
INCOMPETENTE (ART. 5º, LIII, CF/88). PRESTAÇÃO DE CONTAS PERANTE O TCU (ART. 71 DA
CARTA MAGNA). INDISCUTÍVEL INTERESSE DA UNIÃO. INCIDÊNCIA DOS ARTIGOS 211, § 1º, PARTE
FINAL E 212, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 218/STJ. PRECEDENTES DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SOBRE O MESMO TEMA. RECONHECIMENTO DA COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. O FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério, atende a uma política nacional de educação (artigo
211, § 1º, parte final). [...] 3. A malversação de verbas decorrentes do FUNDEF, no âmbito penal,
ainda que não haja complementação por parte da União, vincula a competência do Ministério
Público Federal para a propositura de ação penal, atraindo, nessa hipótese, a da Justiça
Federal, bem como o controle a ser exercido pelo TCU, conforme dispõe o artigo 71 da CR/88.
4. Evidenciado o interesse da União frente à sua missão constitucional na coordenação de
ações relativas ao direito fundamental da educação, principalmente por tratar-se de
fiscalização concorrente entre entes federativos, a competência é da Justiça Federal, sendo
nula a sentença condenatória proferida por Juízo Estadual, a teor do disposto no artigo 5º, III, da
Carta Republicana. [...] (CC 119.305/SP, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/02/2012, DJe
23/02/2012).

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HABEAS CORPUS. COMPETÊNCIA. QUEIXA-CRIME. MUDANÇA DE LOTAÇÃO DO QUERELADO.


PROCURADOR DA REPÚBLICA EM EXERCÍCIO NO DISTRITO FEDERAL. COMPETÊNCIA DO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO. 1. A competência penal por prerrogativa de
função (ratione personae) exclui a regra da competência pelo lugar da infração (ratione loci),
não havendo falar, por outro lado, no caso de incompetência superveniente, em perpetuatio
jurisdictionis, ante a natureza constitucional do foro privilegiado (Constituição Federal, artigo
108, inciso I, alínea "a") e o caráter absoluto do princípio do Juiz Natural. 2. A perpetuação da
competência, de qualquer modo, reclama, sobretudo no processo penal, regra expressa, à qual
permanece estranha a espécie, afora ser de índole infraconstitucional (cf. Código de Processo
Penal, artigo 81, caput). 3. Ordem concedida. (HC 97.152/RJ, Rel. Ministro HAMILTON
CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe 20/10/2008).

COMPETÊNCIA DE JUÍZO

1 - DETERMINAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE


Determinar-se a competência territorial não encerra a análise e fixação da competência para o processo e
julgamento de um fato delituoso. É necessário, ainda, estabelecer-se qual é o juízo competente para a causa;
ou seja, qual a vara/juizado em que deverá tramitar o processo.

Inicialmente, o art. 74 do CPP estabelece um critério para a fixação do juízo competente, qual seja, a natureza
da infração:

Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização
judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.

Assim, ressalvada a competência do Tribunal do Júri (porquanto prevista na Constituição Federal), a lei
processual penal conferiu liberdade aos tribunais para que organizem seus juízos criminais criteriosamente.
Permitiu a lei, portanto, sejam criadas varas especializadas para julgamento de determinadas espécies de
crime, a depender das peculiaridades e necessidades verificadas nos específicos contextos das diversas
comarcas espalhadas pelo Brasil.

Exemplificando, podem existir varas específicas para processo e julgamento de crimes de trânsito, tráfico de
drogas, crimes patrimoniais, juizados de violência doméstica etc. A tendência é: quanto maior e mais
populosa uma comarca/região, mais especializados os seus juízos criminais, a fim de que se otimize, ao
máximo, a prestação jurisdicional.

Analisemos, portanto, algumas situações específicas relacionadas à determinação do juízo competente.

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2 - JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER

A fim de se coibir de maneira mais austera a perpetração de atos violentos contra as mulheres nos âmbitos
doméstico e familiar – pressionado que estava o Brasil, internacionalmente, para que tomasse medidas
eficazes no combate a esse tipo de violência11 –, fora publicada a Lei nº 11.340/2006 (mais conhecida por
“Lei Maria da Penha”), que cria mecanismos para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher,
dentre outras providências.

Dentre essas outras providências está a criação dos denominados Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher, que nada mais são do que juízos especializados. Veja o que dispõe o art. 14 da Lei a esse
propósito:

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça
Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal
e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Desta forma, constatada a prática de crime com violência doméstica e familiar contra a mulher, será
competente para o processo e julgamento dessa infração o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher, caso esteja instituído no âmbito da respectiva competência territorial. Caso não esteja, deve-se
observar as disposições do art. 33:

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as
previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o
julgamento das causas referidas no caput.

Em relação ao artigo acima transcrito, BRASILEIRO tece importantes considerações:

Esse art. 33 da Lei nº 11.340/06 não ofende os artigos 96, I, a, e 125, § 1º, ambos da CF, porquanto
a Lei Maria da Penha não implica obrigação, mas mera faculdade de criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, conforme disposto nos artigos 14, caput, e 29,
do mesmo diploma. [...] O art. 33 da Lei Maria da Penha não teria criado varas judiciais, não teria
definido limites de comarcas e não teria estabelecido o número de magistrados a serem alocados

11
Havia sido, inclusive, condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos – Relatório 54/01 – pela insuficiência e
ineficiência de mecanismos aptos a combatê-la

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nos Juizados de Violência Doméstica e Familiar. Apenas facultara a criação desses juizados e
atribuíra ao juízo da vara criminal a competência cumulativa de ações cíveis e criminais
envolvendo violência doméstica contra a mulher, haja vista a necessidade de conferir tratamento
uniforme, especializado e célere, em todo território nacional, às causas sobre a matéria.

No que diz respeito às espécies de infrações que podem ser submetidas a julgamento perante esses juizados,
o mesmo autor bem pondera:

Ao contrário do Tribunal do Júri, que tem sua competência voltada para o processo e julgamento
dos crimes dolosos contra a vida, a violência doméstica normatizada pela Lei Maria da Penha não
guarda correspondência com qualquer delito específico tipificado no Código Penal e na
Legislação Especial. Na verdade, desde que praticados no contexto de violência doméstica e
familiar contra a mulher, infrações penais diversas poderão ser julgadas pelo Juizado de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher. Evidentemente, se a infração penal praticada no contexto
de violência doméstica e familiar contra a mulher referir-se a crime doloso contra a vida, a
competência para o processo e julgamento do feito será do Tribunal do Júri, e não do Juizado
Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher (Lima, 2021).

Percebe-se, pois, que o cerne da questão referente à fixação (ou não) da competência dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher é justamente a caracterização dessa violência.

Mas em que, efetivamente, consistiria a violência doméstica ou familiar? A própria


Lei Maria da Penha traz em seu bojo, além de inúmeros outros detalhes, valiosas
noções a respeito das diversas modalidades pelas quais a violência pode ser
manifestada, bem como a abrangência dos conceitos “doméstica” e “familiar” para os
fins legais. Perceba as disposições elucidativas dos arts. 5º e 7º da Lei 11.340/2006
nesse sentido:

Art. 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de


pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

Art. 7º. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

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I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que
vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,


subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria.

Note-se, então, as diversas formas de violência que podem ensejar a competência dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, com especial atenção para a patrimonial e moral, espécies menos
difundidas, mas igualmente relevantes para esse fim.

É digno de registro que, aos crimes praticados nesse contexto, independentemente da pena, não serão
aplicados os dispositivos da Lei 9.099/1995 – Lei dos Juizados Especiais –, por expressa previsão nesse
sentido. Note o que prevê o art. 41:

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Ao demais, no que se refere à extensão da Lei, PACELLI assim sintetiza:

Quanto à extensão, não há dúvidas: a lei se aplica a toda mulher, qualquer que seja o regime ou
o fundamento da união, desde que caracterizada a vida em comum, e, assim, as relações
domésticas, ainda que seja a do mesmo espaço físico. Já em relação às mulheres adolescentes e
crianças, há normas protetivas na Lei nº 8.069/90. A Lei nº 11.340/06, portanto, não se aplica à
vítima do sexo masculino. O que não significa qualquer demérito ou desvalia em relação a este;
já há legislação suficiente para a proteção das pessoas em geral (Código Penal) (Pacelli, 2018).

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3 - JUÍZO COLEGIADO EM PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO PARA


JULGAMENTO DE CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA

3.1 - Conceito de organizações criminosas

Até o advento da Lei 12.850/2013, não havia definição legal para o que seria uma “organização criminosa”.
A antiga lei que tratava sobre o assunto, Lei 9.034/1995, não trazia em seu bojo qualquer conceito dessa
expressão, de modo que o “referido diploma normativo sempre teve aplicação restrita às quadrilhas (CP,
antiga redação do art. 288) e às associações criminosas (v.g., Lei nº 11.343/06, art. 35; Lei nº 2.889, art. 2º)”
(Lima, 2021).

Com a entrada em vigor da Lei 12.850/2013, passou-se a ter uma clara definição legal do que são as
organizações criminosas. Veja o que dispõe o seu art. 1º, § 1º:

§ 1º. Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas


estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com
objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática
de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de
caráter transnacional.

Observe-se a especificidade dos elementos que integram a sua definição. Oportuna é, nesse contexto, a
transcrição do magistério de NESTOR TÁVORA, a respeito de cada um desses requisitos:

1) associação de 4 (quatro) ou mais pessoas: não basta que haja coautoria momentânea, é
necessário um caráter de estabilidade da organização; 2) estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente: embora não se imponha uma
espécie de “estatuto” da organização criminosa (admite-se a informalidade), o caso concreto
deve evidenciar organização mínima, com estruturação que dê ideia de hierarquia entre os
componentes ou de unidade de comando. A divisão de tarefas deve ser demonstrada pela
repartição de funções entre os componentes da organização, diante de objetivos pré-definidos;
3) com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza: o intuito
de locupletamento deve ser evidenciado pelos sinais externos que caracterizam o interesse dos
membros na empreitada delituosa. Não necessariamente a vantagem deve ser patrimonial,
podendo ser vantagens de naturezas diversas, como sexual, por exemplo, na hipótese de crimes
de pedofilia; 4) mediante a prática de infrações penais cujas penas sejam superiores a 4 (quatro)
anos, ou que sejam de caráter transnacional: para efeito de aferir a pena máxima em abstrato,
deve ser considerado cada crime visto isoladamente, porém fazendo incidir qualificadoras,
causas de aumento e de diminuição de pena, nos casos de tipos penais derivados. A quantidade
de pena se torna irrelevante quando os delitos tenham caráter transnacional, para o fim de
definir a associação como organização criminosa. Como a nova lei menciona “infrações penais”,
é possível, embora remotamente, que sejam tanto crimes como contravenções penais –
independentemente do quantitativo da pena –, quando o delito envolver elemento de
internacionalidade (caráter transnacional) (Távora, 2017).

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Outrossim, imperioso notar que a aludida lei alçou ao status de crime o próprio ato de promover, constituir,
financiar ou mesmo integrar organização criminosa. Trata-se de outra importante inovação proveniente
desse diploma legal, conforme prevê o seu art. 2º:

Art. 2º. Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa,
organização criminosa:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às
demais infrações penais praticadas.

Fala-se em ‘inovação’ porque, pela legislação anterior, as condutas elencadas acima não constituíam crime;
a organização criminosa compunha mera circunstância, mero modo de agir, e sua verificação no caso
concreto ensejava poucas consequências práticas, como bem assenta TÁVORA:

Antes do advento da Lei nº 12.850/2013, “organização criminosa” não era, por si só, crime, ou
seja, não havia definição de crime de organização criminosa. Organização criminosa era o modus
de cometimento de outros crimes, sendo tal conceito usado como parâmetro de outras medidas
restritivas à liberdade ou a direitos do indiciado ou acusado (a exemplo de aplicação da sanção
de regime disciplinar diferenciado ao preso provisório ou definitivo ou da possibilidade de
interrogatório por videoconferência) (Távora, 2017).

3.2 - Formação do juízo colegiado em primeiro grau

Quanto mais passa o tempo, mais evidente fica o crescimento, fortalecimento e aperfeiçoamento das
organizações criminosas; e, conjuntamente, o seu nível de periculosidade, ofensividade e influência. Esse
fenômeno pôde ser observado com clareza nos últimos anos no Brasil, mas não se limita ao país; trata-se de
uma realidade mundial.

As atividades das organizações deixaram de se restringir à prática dos ilícitos almejados quando de suas
criações; passaram a atingir, também, órgãos, instituições e seus membros, notadamente os detentores da
função judicante na esfera criminal: os magistrados de primeira instância responsáveis pelo julgamento e
responsabilização dos integrantes dessas organizações.

Esse cenário propiciou a publicação da Lei 12.694/2012, que dispõe sobre a formação de colegiados
compostos por três juízes em primeiro grau de jurisdição para o processamento e julgamento de crime
praticados por organizações criminosas, como forma de diluir a responsabilidade dos atos decisórios
praticados entre todos os integrantes.

Cautela: não há se confundir esse colegiado com a figura do “juiz sem rosto”. Neste, é desconhecida
qualquer informação a respeito do julgador, não se sabe seu nome, nem se conhece seu rosto (figura que
inexiste no Brasil); naquele, os três integrantes do colegiado são conhecidos e todos assinam as decisões
exaradas pelo colegiado.

O colegiado pode ser formado para a prática de diversos atos processuais, que vão desde a fase pré-
processual (inquérito), passando pelo processo, até o juízo de execução criminal, conforme se percebe do
rol exemplificativo do art. 1º da Lei 12.694/12:

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Art. 1º. Em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por
organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática de
qualquer ato processual, especialmente:

I - decretação de prisão ou de medidas assecuratórias;

II - concessão de liberdade provisória ou revogação de prisão;

III - sentença;

IV - progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena;

V - concessão de liberdade condicional;

VI - transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança máxima; e

VII - inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado.

Para PACELLI, todavia, a formação do colegiado apenas poderia acontecer depois de instaurado o processo-
crime, ou durante a execução penal, mas não no momento das investigações. Assevera o autor:

Voltando aos Colegiados, observe-se que a formação do Colegiado somente será possível na fase
de processo e de execução penal, vedada a sua instituição na fase preliminar, de investigação,
segundo se vê do quanto disposto no art. 1º, caput, que faz referência expressa ao processo e
procedimento, indicando a formação do colegiado para a prática de qualquer ato processual e
não de investigação. Talvez tenha sido outro o desejo do legislador, já que a remissão feita ao
ato de concessão de liberdade provisória (art. 1º, II) poderia demonstrar a intenção de abranger
todos os atos tipicamente judiciais, independentemente da fase (investigação ou processo) em
que praticados. É que a imposição (e não a concessão!) de liberdade provisória, isto é, a aplicação
de alguma cautelar diversa da prisão ou mesmo a restituição pura e simples da liberdade após a
prisão em flagrante, se realiza muito antes do oferecimento da peça acusatória e, por isso, antes
da fase de processo. Todavia, o art. 1º, § 2º, da citada lei, estabelece que o Colegiado será
formado pelo juiz do processo e por mais dois magistrados com competência criminal no primeiro
grau, sorteados aleatória e eletronicamente. É dizer, mais uma vez a referência foi ao processo e
não à investigação. E a interpretação nesse sentido, ou seja, da limitação do colegiado aos atos
do processo, encontra conforto na excepcionalidade intrínseca da medida. Assim, somente após
já formado o juízo de convencimento do Ministério Público é que se legitimaria a instauração de
semelhante modalidade de jurisdição de primeiro grau (Pacelli, 2018).

Diverso é o entendimento de BRASILEIRO:

Especificamente em relação ao processo de conhecimento, parece-nos que sua instauração pode


se dar a qualquer momento, seja durante as investigações, seja durante o curso do processo
judicial, mas desde que antes do início da instrução (Lima, 2021).

E de TÁVORA:

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O juiz terá a faculdade de decidir pela formação do colegiado de forma preparatória ou incidental
ao processo criminal. Preparatória quando se estiver na fase investigativa, com a existência de
inquérito policial ou procedimento investigativo criminal. Incidental quando já existir denúncia
oferecida, isto é, com a instauração de processo criminal. De acordo com a finalidade, é possível
intuir que o colegiado de primeiro grau poderá ser instaurado em qualquer fase da persecução
penal estatal, seja ela fase da investigação preliminar (decidindo o colegiado sobre decretação
de prisão, concessão de liberdade provisória e imposição de medidas cautelares), do processo
penal (decisões de toda ordem e prolação de sentença) ou da execução penal (decisões sobre
benefícios penais, progressão de regime e livramento condicional) (Távora, 2017).

E como se dá a formação desse colegiado? Os parágrafos do citado artigo 1º evidenciam o procedimento


para a sua instauração:

§ 1º O juiz poderá instaurar o colegiado, indicando os motivos e as circunstâncias que acarretam


risco à sua integridade física em decisão fundamentada, da qual será dado conhecimento ao
órgão correicional.

§ 2º O colegiado será formado pelo juiz do processo e por 2 (dois) outros juízes escolhidos por
sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em exercício no primeiro grau de
jurisdição.

§ 3º A competência do colegiado limita-se ao ato para o qual foi convocado.

Percebe-se, então, que a formação do colegiado ocorre por iniciativa do próprio magistrado de primeiro grau
de jurisdição competente, segundo os critérios de definição de competência estudados nessa aula, para o
julgamento do crime perpetrado por organização criminosa. Cabe-lhe, logo após tomada a decisão, apenas
comunicar tal fato ao órgão correicional, medida essa que tem cunho fiscalizatório, impedindo-se que a
faculdade legal seja utilizada sem o esmero que lhe deve ser inerente.

Entretanto, para que seja válida essa iniciativa de formação do colegiado, deverá o juiz fundamentar a
decisão, detalhando concretamente as razões que o levaram a optar por essa atitude, conforme § 1º acima
transcrito.

Nas palavras de TÁVORA, deve ser demonstrada a “existência de motivos e circunstâncias que acarretem risco
à integridade física do juiz. A existência deve ser concreta, não sendo suficientes meras conjecturas. Em
outros termos, o juiz competente deverá justificar a situação que reputa ameaçadora, apontando, por
exemplo, existência de ameaças ou de periculosidade dos agentes. O simples receio não é apto a legitimar a
formação do colegiado (Távora, 2017).

No que diz respeito à composição do colegiado, conforme se observa do § 2º acima colacionado, ter-se-á um
juiz natural da causa (que decidiu pela formação do colegiado) e mais outros dois magistrados de primeiro
grau, com competência criminal, escolhidos mediante sorteio eletrônico.

O instituto do colegiado de primeiro grau, em razão das peculiaridades que envolvem a sua formação e
composição, não escapa de críticas; alega-se, por vezes, a sua inconstitucionalidade, porquanto constituiria
desrespeito à garantia do juiz natural (art. 5º, XXXVII, CF), criando-se verdadeiros “tribunais de exceção”.

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Para BRASILEIRO, as disposições da Lei 12.694/2012 são harmônicas com o referido princípio, haja vista a
cautela administrada pelo legislador quando do estabelecimento do critério para escolha dos magistrados
componentes do colegiado:

[...] o critério de escolha adotado pela Lei nº 12.694/12 está em plena consonância com o
princípio do juiz natural, porquanto se revela objetivo, apriorístico e impessoal, impedindo
qualquer discricionariedade na formação do colegiado. A nosso ver, o sorteio eletrônico preserva
o princípio do juiz natural, vez que impede a escolha post factum dos juízes que irão compor o
órgão colegiado, afastando-se, assim, o perigo de prejudiciais condicionamentos de processos
por meio de designação hierárquica dos magistrados competentes para apreciá-los (Lima, 2021).

Também assevera EUGENIO PACELLI, a respeito da inexistência de excepcionalidade dessa instância:

Com efeito, trata-se de instância judiciária (o Colegiado) devidamente prevista em lei, com
competência instituída antes da prática do delito, o que, por si só, já afastaria a exceção do
tribunal, conforme consta da citada cláusula constitucional. E, mais. O juiz do processo, isto é, o
juiz legal (competência territorial) e constitucional (em razão da matéria), não será afastado do
processo. Juiz ou Tribunal de exceção é aquele instituído para o julgamento de um ou mais fatos,
cuja instalação não só se opera após o fato como também não se submete a quaisquer critérios
legais previamente existentes. No tribunal de exceção, a exceção é da própria jurisdição; no
Colegiado de primeiro grau, o que é excepcional é a circunstância de risco que lhe fundamenta a
instauração (Pacelli, 2018).

Ademais, cabe registrar que, conforme o § 4º da referida Lei, é possibilitado ao colegiado realizar reuniões
sigilosas, desde que evidenciado risco que a sua publicidade ofereça à eficácia dos atos praticados:

§ 4º As reuniões poderão ser sigilosas sempre que houver risco de que a publicidade resulte em
prejuízo à eficácia da decisão judicial.

Por derradeiro, o art. 1º, § 6º estabelece que, conquanto sejam todas as decisões subscritas por todos os
integrantes do colegiado, não se fará menção ao voto divergente de qualquer membro:

§ 6º. As decisões do colegiado, devidamente fundamentadas e firmadas, sem exceção, por todos
os seus integrantes, serão publicadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer
membro.

Esse dispositivo também é alvo de críticas, uma vez que representaria clara inobservância à obrigação
constitucionalmente positivada de fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX da CF).

Para os adeptos da constitucionalidade do artigo, tal medida tem o condão de conferir efetividade às demais
disposições da lei; afinal, cairia por terra o intuito legal de diluir a responsabilidade pelas decisões do
colegiado aos três juízes se, ao mesmo tempo, fosse registrado o voto divergente, atribuindo-lhe a respetiva
autoria. No mínimo já se teria a redução dessa “diluição” do decisum de três para dois magistrados; sem
contar na evidente atribuição do voto em sentido diverso ao magistrado restante.

A esse sentido, pondera BRASILEIRO:

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[...] conclui-se que, até mesmo como forma de se preservar a independência de cada um dos
julgadores, não deve haver menção a voto divergente de qualquer um de seus integrantes. Afinal,
fosse obrigatória a menção individualizada a cada um dos votos, esvaziar-se-ia o próprio escopo
da criação de um órgão colegiado. Como não deve haver referência a votos divergentes, o
conteúdo da decisão tomada no colegiado não pode ser imputado a um único juiz. Isso torna
difusa a responsabilidade de seus membros, o que acaba por mitigar alguns riscos inerentes ao
processo e julgamento de crimes praticados por organizações criminosas (Lima, 2021).

PACELLI, por outro lado, entende inconstitucional o referido dispositivo:

E se conclui, inevitavelmente, pela inconstitucionalidade daquela que prevê a supressão da


“referência a voto divergente de qualquer membro” (art. 1º, § 6º). A Carta de 1988 exige que toda
decisão judicial seja fundamentada, nos termos do disposto no art. 93, IX. Naturalmente, deve-
se dizer: nem poderia ser diferente. E o que a aludida norma legal fez foi exatamente desrespeitar
a Constituição, no ponto em que a retirada da divergência será sempre a supressão dos
fundamentos da decisão. Em outras palavras: não se admite fundamentação parcial das decisões.
O voto divergente integra a decisão colegiada. O acórdão é modalidade de decisão judicial
caracterizado pela pluralidade dos membros julgadores. Obviamente, o voto vencido não deixa
de ser decisão judicial, válida e existente! Suprimir a divergência, portanto, é retirar a
fundamentação do julgado, na parte em que, dialeticamente, se questionou o acerto da decisão
da maioria.

O autor continua, e admite que, embora deva o conteúdo do voto divergente ser divulgado, seria justificável
a não identificação do magistrado ao qual pertence o aludido voto:

Três votos podem até se tornar um, quando de acordo todos os votantes. Mas três consciências
e inteligências não se transformam jamais em uma única. Um por todos e todos por um fica bem
na literatura de Dumas (o Alexandre e seus mosqueteiros), mas não é realizável no plano da
existência personalíssima. O que se pode aceitar, na medida em que justificada até mesmo pela
instauração do Colegiado, é a não referência ao nome do juiz divergente, por razões de ampliação
da proteção. Jamais, porém, o conteúdo de seu voto, esteja ele em que direção estiver (Pacelli,
2018).

AURY LOPES JR. não poupa críticas a essa previsão legal:

Aqui andou muito mal o legislador. É direito das partes terem integral conhecimento da decisão
de cada um dos membros do colegiado e de todos os fundamentos utilizados, para acolher ou
rechaçar o pedido. Decorre da garantia da motivação das decisões previsto no art. 93, IX, da
Constituição. De nada serviria o mandamento constitucional de que “todas as decisões devem
ser fundamentadas” se as partes não tivessem amplo acesso à fundamentação. Ademais,
determina o mesmo dispositivo legal que “todos os julgamentos serão públicos”. Mais do que
uma mera publicidade do ato, no sentido de acessibilidade física, o que está determinando a
Constituição é a “possibilidade” do conteúdo do julgamento. As decisões devem ser motivadas e
acessíveis os fundamentos para os interessados. Não há como conciliar a garantia constitucional
com essa “ocultação” do voto divergente (Júnior, 2021).

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4 - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO


Estabelece o art. 2º da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) acerca do exercício da jurisdição penal em
relação aos processos de execução:

Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território
Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código de
Processo Penal.

Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela Justiça
Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária.

Há se notar que, atinente aos condenados por crimes pela Justiça Federal, Justiça Eleitoral ou Justiça Militar,
a competência do juízo de execução dependerá da natureza do estabelecimento em que se encontre
recolhido o apenado. Tal entendimento advém da Súmula 192 do STJ:

Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela
Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a Administração
Estadual.

Ou seja, desde que o apenado esteja recolhido em estabelecimento penitenciário estadual, nada impede
seja lá cumprida pena referente a crime da alçada federal. A recíproca também é verdadeira.

Concernente à competência da Justiça Castrense como juízo de execução penal, RENATO BRASILEIRO traz à baila
peculiaridades interessantes atinentes aos benefícios e incidentes de execução:

Perceba-se que a Justiça Militar também terá competência para funcionar como juízo da
execução na hipótese em que o acusado tiver sido condenado pela Justiça Castrense e estiver
cumprindo pena em estabelecimento a ela subordinado. Nesse caso, os incidentes da execução
penal não são decididos por um Conselho de Justiça, mas monocraticamente pelo Juiz-Auditor
(no âmbito da Justiça Militar da União) ou pelo juiz de direito do juízo militar (no âmbito da Justiça
Militar dos Estados), ex vi dos arts. 588 e 590 do CPPM. Ainda em relação ao cumprimento da
pena do militar em estabelecimento prisional castrense, convém destacar que, a despeito da
falta de previsão legal no CPPM e no CPM acerca da progressão de regimes, o Supremo vem
entendendo que, em fiel observância ao princípio da individualização da pena, revela-se
inconstitucional a imposição do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Por
isso, tem considerado válida a avaliação das condições objetivas e subjetivas para progressão de
regime prisional, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código Penal e da Lei de
Execução Penal (Lima, 2021).

No que diz respeito à competência territorial dos juízos de execução, necessário se faz analisar o art. 65 da
LEP:

Art. 65. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local de organização judiciária e, na
sua ausência, ao da sentença.

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É dizer, compete ao juiz da Vara de Execuções Penais do local em que se encontra recolhido o apenado o
processamento da execução penal e o julgamento dos incidentes que surjam durante o cumprimento da
reprimenda. Se tal juízo não existir na comarca em que esteja recolhido o sentenciado, sendo a mesma à
qual pertence o juízo sentenciante, competirá ao próprio juiz prolator da sentença a condução e julgamento
do processo de execução.

No que concerne às incumbências do juiz da execução, trata o art. 66 da LEP:

Art. 66. Compete ao Juiz da execução:

I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado;

II - declarar extinta a punibilidade;

III - decidir sobre:

a) soma ou unificação de penas;

b) progressão ou regressão nos regimes;

c) detração e remição da pena;

d) suspensão condicional da pena;

e) livramento condicional;

f) incidentes da execução.

IV - autorizar saídas temporárias;

V - determinar:

a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução;

b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade;

c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;

d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de


segurança;

e) a revogação da medida de segurança;

f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;

g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;

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h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei.

i) (VETADO);

VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;

VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências para o


adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidade;

VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em


condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta Lei;

IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade.

X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.

Deve-se dar destaque ao inciso I do referido artigo, qual seja, a competência para a aplicação retroativa de
lex mitior aos apenados.

Como é cediço, a lei penal é irretroativa, salvo para beneficiar o réu. Trata-se de norma constitucional,
elencada como direito fundamental no art. 5º, XL da CF:

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

No mesmo sentido, o art. 2º, parágrafo único do CP:

Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Desta forma, com o advento de eventual lei que beneficie, de qualquer forma, o apenado, caberá ao juízo
da execução a sua aplicação (nos casos com sentença condenatória transitada em julgado). Aliás, trata-se de
matéria sumulada pelo STF:

Súmula 611. Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação
de lei mais benigna.

A propósito, esta incumbência, em específico, ganhou especial relevo com a Lei 13.654/2018, publicada em
23/04/2018. A pretexto de recrudescer, principalmente, o combate às ações criminosas relacionadas ao
furto de explosivos e seus componentes e a sua utilização em crimes patrimoniais, por falta de técnica
legislativa, referida lei acabou por revogar o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal. Esse inciso previa o
“emprego de arma” como majorante ou causa de aumento de pena do crime de roubo.

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Prevalecia tanto na doutrina quanto na jurisprudência que o termo ‘arma’, em razão da falta de especificação
por parte do legislador sobre qual tipo de instrumento era apto a ensejar a aplicação da majorante,
compreendia tanto as armas de fogo quanto as armas brancas (facas, foices, punhais e afins) e demais
instrumentos que pudessem causar intimidação à vítima, mesmo que produzidos sem finalidade bélica.

Pois bem, o emprego de arma de fogo está especificamente contemplado no inciso I do atual § 2º-A;
contudo, na oportunidade, não houve qualquer menção aos outros tipos de armas; excluiu-se, pois, essa
figura do ordenamento jurídico (ao menos em relação ao crime de roubo, porquanto o art. 158 do CP –
extorsão – permaneceu com a majorante referente ao “emprego de arma”). Mais um indicativo da falta de
técnica legislativa.

Indaga-se: mas enfim, qual a consequência disso? O resultado é que todos os condenados como incursos
nas sanções do artigo 157, § 2º, I do CP (redação antiga) em razão de terem empregado armas brancas, ou
outros instrumentos acima referidos, para a prática de roubos, passaram a ter o direito de remoção dessas
majorantes com a devida readequação, a menor, da pena. Essa tarefa cabia, como acabamos de ver, aos
respectivos juízos de execução penal, em relação aos condenados por sentença penal condenatória
transitada em julgado. Se o processo estivesse em grau recursal, caberia aos próprios tribunais a aplicação
da lei.

Detalhe: o problema foi contornado (em relação aos casos futuros) pelo Pacote Anticrime. Houve a inclusão
de uma majorante pelo emprego de arma branca no inc. VII do § 2º do art. 157 do CP.

Por fim, cabe o pertinente registro de NUCCI concernente à execução de pena de apenados detentores de
foro por prerrogativa de função. Leciona o autor:

Lembremos, ainda, que as pessoas beneficiárias do foro privilegiado em razão da prerrogativa de


função, uma vez condenadas, também terão a execução da sua pena providenciada no mesmo
foro. Assim, exemplificando: caso um deputado federal seja condenado a cumprir pena pelo STF,
cabe ao mesmo órgão do Judiciário cuidar da execução, concedendo os benefícios cabíveis, até
que possa ser julgada extinta a punibilidade (Nucci, 2015).

5 - COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO


Sobre a competência por distribuição dispõe o art. 75 do CPP:

Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição


judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente.

Nada mais é a distribuição, portanto, do que um critério para o estabelecimento da competência do juízo e
da sua competência interna. Em outras palavras, se existem diversas varas criminais em determinada
comarca, é pela distribuição (dos autos/processo) que se fixará a competência de uma delas, assim como a
competência entre juízes com atribuição em um mesmo juízo/vara (juiz titular e juiz substituto).

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Assim, trata-se de mero critério para repartição, divisão de serviço dentre varas de mesma competência,
utilizando-se da aleatoriedade dos sistemas de distribuição a fim de que não haja nenhum direcionamento
indevido de processos.

RENATO BRASILEIRO, tratando sobre a figura da “distribuição por dependência”, leciona:

É possível que ocorra uma distribuição por dependência, ou seja, que um juízo encontre-se
prevento para processar e julgar determinado feito, havendo o oferecimento de denúncia em
relação a crime conexo àquele. Nesse caso, o processo seguirá diretamente para o juízo
prevalente sem necessidade de novo sorteio, hipótese em que deverá ocorrer ulterior
compensação entre os juízes.

Ainda, o autor pondera acerca das situações em que não deve ser adotado o critério da distribuição para a
fixação de competência:

Não se procede à distribuição nas seguintes hipóteses: a) em virtude da matéria, pela natureza
da infração, se for crime de competência do júri popular, o processo não poderá ser distribuído
normalmente entre os juízes do local, pois o julgamento fica afeto a um órgão jurisdicional
especial (CPP, art. 74, § 1º); b) em razão da conexão ou continência, as infrações devem ser
apuradas em processo já afeto à autoridade judiciária prevalente (CPP, arts. 76 a 78); c) em razão
da prevenção, deva a ação penal ser submetida à apreciação de autoridade judiciária, que já
tenha, de algum modo, tomado conhecimento do caso (CPP, art. 83); É comum que, antes da
conclusão do inquérito policial, venha o magistrado a praticar atos jurisdicionais. Por tal razão,
dispõe o art. 75, parágrafo único, do CPP, que a distribuição realizada para o efeito da concessão
de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia
ou queixa prevenirá a da ação penal. Nessa hipótese, em que o magistrado praticou um ato
jurisdicional, evidentemente com prévia distribuição, o inquérito não será novamente
distribuído, devendo sim ser enviado àquele juiz que praticou referidos atos jurisdicionais. Na
verdade, o dispositivo é mal redigido, porque o que ele pretende dizer é que a distribuição para
aquelas medidas dispensará a distribuição da ação penal e prevenirá o juízo (Lima, 2021).

6 - COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO


Conforme prevê o art. 69, VI do CPP, a prevenção também constitui critério para fixação de competência:

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:

VI - a prevenção;

Nas palavras de BADARÓ, prevenção “vem do latim prae-venire, que significa chegar antes”. “Prevenção é,
portanto, a concentração, em um órgão jurisdicional, da competência que abstratamente pertencia a mais
de um órgão, inclusive a ele próprio, por ter atuado, previamente no processo” (Badaró, 2017).

CAPEZ:

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Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que houver dois ou mais juízes igualmente
competentes, em todos os critérios, para o julgamento da causa. Neste caso, a prevenção surge
como uma solução para determinar qual o juízo competente (Capez, 2018).

NUCCI assevera:

Dessa forma, quando a infração espalhar-se por mais de um local, não se encontrando o domicílio
do réu, inexistindo o critério da natureza do delito, nem tampouco houver condições de se
distribuir o feito, visto que os magistrados estão em Comarcas diversas, além de não estar
presente regra alguma de conexão ou continência, deve-se usar a regra residual: quem primeiro
conhecer do feito, é competente para julgá-lo (art. 83, CPP) (Nucci, 2015).

A inobservância desse critério de fixação de competência, que tem cunho territorial (competência relativa),
enseja a declaração de nulidade, também, relativa. Trata-se de questão sumulada pelo STF:

Súmula 706. É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por


prevenção.

Um juízo será considerado prevento com a prática de qualquer ato de cunho decisório pelo respectivo
magistrado, antecedendo-se a outros juízos, mesmo que antes do recebimento da denúncia.

Especificamente em relação aos atos praticados anteriormente à denúncia, BRASILEIRO concebe duas
condições para que, nesses casos, seja possível a determinação de competência pela prevenção:

a) existência de prévia distribuição: o art. 83 do CPP deve ser compreendido em conjunto com o
art. 75, parágrafo único, ou seja, só se pode cogitar de prevenção da competência quando a
decisão, que a determinaria, tenha sido precedida de distribuição, por isso que não previnem a
competência decisões de juiz de plantão, nem as facultadas, em caso de urgência, a qualquer dos
juízes criminais do foro; b) deve a medida ou diligência apresentar o mesmo caráter cautelar ou
contra cautelar (a fiança é exemplo de contracautela) encontrado nas hipóteses exemplificadas
na regra contida no parágrafo único do art. 75 do CPP. Vejamos alguns exemplos de diligências
que previnem o juízo: b.1) concessão de fiança (arts. 321 a 350); b.2) conversão da prisão em
flagrante em preventiva ou temporária (CPP, art. 310, II); b.3) decretação de prisão preventiva
(arts. 311 a 316 do CPP) ou de prisão temporária (Lei nº 7.960/89); b.4) pedidos de medidas
assecuratórias dos arts. 125 a 144 do CPP; b.5) pedidos de provas, como expedição de mandado
de busca e apreensão, interceptação telefônica ou quebra de sigilo bancário; b.6) manifestação
do juízo acerca da regularidade da prisão em flagrante delito, quando comunicado nos termos
do art. 5º, inciso LXII, da Carta Magna (Lima, 2021).

Note-se, portanto, que não é toda e qualquer atuação do magistrado em sede pré-processual que tem o
condão de prevenir o juízo; apenas os pronunciamentos judiciais com cunho efetivamente decisório. Nessa
esteira, o autor supracitado elenca medidas que não tornam o juízo prevento:

a) habeas corpus em primeiro grau (v.g., quando um habeas corpus é impetrado contra ato de
um delegado), por se tratar de matéria especificamente constitucional; b) quando o juiz remete
cópia dos autos ao MP (art. 40 do CPP); c) atos do juiz de plantão não tornam o juízo prevento –

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após o fim do plantão, o processo deve ser objeto de distribuição; d) a simples antecedência de
distribuição de inquérito policial, ou mesmo de ação penal ainda não despachada, também não
gera a prevenção do juízo, por não conterem nenhuma atuação jurisdicional (Lima, 2021).

Outrossim, importante é o registro de NUCCI, mencionando as lições de FREDERICO MARQUES, sobre a


necessidade de se observar a prevenção sob duas óticas:

a) quando não se souber onde se deu a consumação do delito, bem como quando não se tiver
ciência do local de domicílio ou residência do réu, a prevenção funciona como foro subsidiário
(art. 72, § 2º, CPP); b) quando houver incerteza entre os limites territoriais de duas ou mais
Comarcas, bem como quando não se souber onde foi cometido exatamente o delito e, ainda,
quando se tratar de infração continuada ou permanente, a prevenção serve como regra de
fixação da competência (arts. 70, § 3º, e 71, CPP) (Da competência em matéria penal, p. 206)
(Nucci, 2015).

Ou seja, funciona a prevenção como foro subsidiário quando não é possível especificar e fixar a competência
pelos demais critérios legais; evitando-se, assim, um “vácuo” de competência. Por outro lado, funciona como
regra de fixação quando não se tem certeza dos limites territoriais ou quando os atos delituosos tenham sido
perpetrados em mais de uma comarca.

Ademais, continua o autor:

Havendo incerteza no tocante ao limite territorial entre duas ou mais Comarcas, ou mesmo
quando incerta a competência por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas
ou mais Comarcas, resolve-se pela prevenção (art. 70, § 3º, CPP). E nesse aspecto, pode ocorrer
a situação denominada perpetuação da jurisdição (o ideal seria falar perpetuação da
competência), significando que, uma vez iniciada a ação penal em determinado foro, mesmo que
alterada a competência por regra de organização judiciária posterior, firma-se a competência do
juiz prevento. [...] Vale, igualmente, a regra da prevenção para os casos de crime continuado e
de delito permanente (art. 71, CPP).

Crime continuado é uma ficção jurídica, criada para beneficiar o agente que comete mais de uma
ação ou omissão, com mais de um resultado, mas que, por circunstâncias objetivas fixadas em
lei, fazem com que as condutas subsequentes sejam consideradas uma continuação da primeira.
Nessa hipótese, como a execução abrangeu vários lugares, qualquer deles torna-se competente
para apurar a infração penal, firmando-se a competência pela regra da prevenção.

O crime permanente é aquele que se consuma através de uma única conduta, embora a situação
antijurídica criada prolongue-se no tempo até quando queira o agente, significando, pois, a
consumação estendida no tempo. Exemplo disso é o sequestro ou cárcere privado, que priva a
liberdade da vítima até quando o agente a solte. Enquanto está em poder do sequestrador,
encontra-se o delito em plena consumação. Por isso, é possível que se estenda por vários lugares,
imaginando-se a hipótese do ofendido que é colocado em vários cativeiros, até lograr alcançar a
sua liberdade. Qualquer dos lugares por onde passou, justamente por estar em franca
consumação o delito, é foro competente para apurar o ocorrido. Assim, firma-se a competência
pela prevenção (Nucci, 2015).

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Por fim, pertinente a transcrição do magistério de GONÇALVES et al. a respeito das hipóteses em que a
prevenção é critério norteador de fixação da competência:

1) Quando há mais de uma vara para a qual o inquérito pode ser direcionado, porém, antes da
distribuição, algum juiz pratica ato relevante relacionado ao delito investigado, fica ele prevento.
Neste caso, a prevenção define o juízo, a vara onde a ação penal tramitará (art. 83 do CPP). 2)
Quando for cometido crime permanente no território de duas ou mais comarcas (art. 71 do CPP).
3) Quando for cometido crime continuado no território de duas ou mais comarcas (art. 71 do
CPP). 4) Infração praticada em local incerto entre duas ou mais comarcas (art. 70, § 3º, do CPP).
5) Infração cometida em lugar que não se tem certeza se pertence a uma ou outra comarca (art.
70, § 3º, do CPP). 6) Se for desconhecido o lugar da infração e o réu tiver duas residências (art.
72, § 1º, do CPP). 7) No caso de conexão quando não houver foro prevalente, por serem os delitos
da mesma categoria de jurisdição e tiverem as mesmas penas (art. 78, II, c, do CPP). Observação:
Nas hipóteses dos tópicos 2 a 7 a prevenção é utilizada para a fixação do foro competente,
enquanto na hipótese do tópico 1 tal critério serve para fixar o juízo competente (Gonçalves, et
al., 2017).

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016) tece
algumas considerações sobre aspectos dos crimes de violência doméstica e familiar contra a
mulher: “(...) são julgados pelos órgãos especializados da Justiça Estadual, criados conforme
preconiza a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Vislumbra-se a possibilidade de ser
deslocada a competência para a Justiça Federal na hipótese de existir grave violação aos direitos
humanos e de ineficiência dos órgãos locais de persecução penal (polícia, Ministério Público e
Justiça), fazendo incidir o art. 109, § 5º, da Constituição. Para a definição da competência do
juizado ou vara especializada no processamento e julgamento de crimes de violência doméstica
e familiar contra a mulher, é relevante destacar que o crime que se ajusta aos seus limites: 1)
não pode ser delito doloso contra a vida, porquanto este encontra previsão constitucional para
ser julgado pelo tribunal do Júri; 2) o sujeito ativo da infração penal pode ser tanto homem
quanto mulher; 3) o sujeito passivo da infração penal há de ser pessoa do sexo feminino,
independentemente da orientação sexual; 4) a agressão tem que guardar relação com as
relações afetivas da seara doméstica ou familiar, podendo ser cometida tanto no âmbito da
unidade doméstica, quanto fora da residência, mas em razão de relação familiar ou de afeto; 5)
a vítima deve ser econômica ou fisicamente mais frágil (hipossuficiência em sentido amplo), em
situação de maior vulnerabilidade, evidenciando opressão à mulher; e 6) a agressão pode ocorrer
nas relações de parentesco diversas de um casal, ou de companheiros, podendo se dar entre
irmãos por exemplo, mas sempre tendo como pessoa ofendida uma mulher”. A respeito do
conceito e dos elementos da organização criminosa, assevera: “Em síntese, o conceito de
organização criminosa tomado como parâmetro para a possibilidade de formação do órgão
colegiado de primeiro grau de jurisdição é formado pelos seguintes elementos: 1) associação de
4 (quatro) ou mais pessoas: não basta que haja coautoria momentânea, é necessário um caráter
de estabilidade da organização; 2) estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente: embora não se imponha uma espécie de ‘estatuto’ da
organização criminosa (admite-se a informalidade), o caso concreto deve evidenciar organização
mínima, com estruturação que dê ideia de hierarquia entre os componentes ou de unidade de

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comando. A divisão de tarefas deve ser demonstrada pela repartição de funções entre os
componentes da organização, diante de objetivos pré-definidos; 3) com o objetivo de obter,
direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza: o intuito de locupletamento deve ser
evidenciado pelos sinais externos que caracterizam o interesse dos membros na empreitada
delituosa. Não necessariamente a vantagem deve ser patrimonial, podendo ser vantagens de
naturezas diversas, como sexual, por exemplo, na hipótese de crimes de pedofilia; 4) mediante a
prática de infrações penais cujas penas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de
caráter transnacional: para efeito de aferir a pena máxima em abstrato, deve ser considerado
cada crime visto isoladamente, porém fazendo incidir qualificadoras, causas de aumento e de
diminuição de pena, nos casos de tipos penais derivados. A quantidade de pena se torna
irrelevante quando os delitos tenham caráter transnacional, para o fim de definir a associação
como organização criminosa. Como a nova lei menciona ‘infrações penais’, é possível, embora
remotamente, que sejam tanto crimes como contravenções penais – independentemente do
quantitativo da pena –, quando o delito envolver elemento de internacionalidade (caráter
transnacional). Antes do advento da Lei nº 12.850/2013, ‘organização criminosa’ não era, por
si só, crime, ou seja, não havia definição de crime de organização criminosa. Organização
criminosa era o modus de cometimento de outros crimes, sendo tal conceito usado como
parâmetro de outras medidas restritivas à liberdade ou a direitos do indiciado ou acusado (a
exemplo de aplicação da sanção de regime disciplinar diferenciado ao preso provisório ou
definitivo ou da possibilidade de interrogatório por videoconferência). Agora, é crime punido
com reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos a conduta de ‘promover, constituir, financiar ou integrar,
pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa’ (art. 2º, caput, da Lei nº
12.850/2013). Quanto a problemas de direito intertemporal, há quem entenda que a formação
do colegiado de primeiro grau está restrita às persecuções penais relativas a crimes ocorridos
após a vigência da Lei nº 12.694/2012, qual seja, a data de 23 de outubro de 2012. O autor se
arrima na ideia do juiz natural e entende que o colegiado estaria sendo instituído após a prática
do fato delituoso, como se fosse um juízo de exceção. Com a devida vênia, não pensamos que a
instituição do colegiado para processos em andamento chegue a tal ponto. Isso porque se trata
de lei processual, sem conteúdo material. De outro lado, fosse levar às últimas consequências,
mesmo para os processos instaurados após o advento da lei, a formação superveniente do
colegiado não deixaria de ser um provimento concreto de juízes que não estariam previstos
abstratamente na lei. Ademais, o juiz natural da causa não fica afastado do julgamento. Daí que
deve ser aplicado o art. 2º, do CPP, estabelecendo a vigência plena da Lei nº 12.694/2012, para
os processos em curso, mesmo que relativo a fato anterior a sua vigência”.

PAULO RANGEL (Direito processual penal, 26ª ed., São Paulo: Atlas, 2018): “A Lei no 12.694, de 24
de julho de 2012, inovou no cenário jurídico nacional criando a figura do juiz sem rosto, isto é, a
impossibilidade de se identificar o magistrado que adotou esta ou aquela medida de natureza
cautelar, meritória ou de execução penal. Em verdade, a lei vem a reboque de acontecimentos
graves que ocorreram no País envolvendo juízes, como, por exemplo, a morte da juíza Patrícia
Acioli em 11 de agosto de 2011. Mas se a lei quis impedir que se soubesse quem é o juiz que
decidiu dessa ou daquela forma, ela NÃO conseguiu porque o juiz irá assinar a decisão junto com
outros dois colegas, isto é, não se trata de lei do juiz sem rosto, mas de lei da decisão coletiva.
Todos os magistrados do colegiado serão identificados. A figura do ‘juiz sem rosto’ é quando a
sociedade não sabe quem é o magistrado que está à frente daquele processo, assegurando a
integridade física dele a fim de resguardar os atos que serão praticados no curso do processo. É

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perigoso e atentatório das regras processuais da imparcialidade, que são asseguradas através da
incompatibilidade (suspeição e impedimento), não se saber quem é o juiz que está à frente do
processo”. A respeito da formação desse colegiado, assevera: “O colegiado é criado em
decorrência de um risco à integridade física do juiz em decisão fundamentada, ou seja, não pode
ser criado porque o juiz acha que pode ser ameaçado, ou, simplesmente, porque está com medo
do exercício da profissão. A ameaça deve ser concreta, real e histórica (ter conexão com os fatos
objeto de julgamento nas mãos do juiz). [...] § 2º O colegiado será formado pelo juiz do processo
e por 2 (dois) outros juízes escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência
criminal em exercício no primeiro grau de jurisdição (sem grifos no original). A questão levantada
pela doutrina quanto a ofensa ao princípio do juiz natural é resolvida pelo parágrafo acima. O juiz
do processo não é afastado. Há respeito ao juiz natural, pois ele integra o colegiado. [...] E mais:
a formação do colegiado é pontual, ou seja, é para a prática de um ato específico, determinado
(§ 3o A competência do colegiado limita-se ao ato para o qual foi convocado), em regra,
processual (decretar prisão ou medidas assecuratórias, conceder liberdade, revogar prisão) ou
meritório (sentença, progressão ou regressão de regime, liberdade condicional). A figura do juiz
sem rosto (em verdade, da decisão coletiva), como se quer chamar esta lei, não terá aplicação
nos tribunais pela razão de já serem órgão colegiado”. A respeito do sigilo e publicidade das
atividades do colegiado, pondera: “A publicidade do ato processual é restringida para que se
possa alcançar a eficácia do ato a ser praticado, sob pena de, uma vez tomando-se conhecimento
de que será praticado, tornar-se ineficaz. Todavia, o sigilo da reunião é até a prática do ato.
Depois que o ato se realizar, o réu terá conhecimento do seu inteiro teor, dando-se total
publicidade, sob pena de afronta ao disposto no art. 5º, LX, da CR. [...] A lei extirpou qualquer
possibilidade da defesa de conhecer do inteiro teor do voto divergente que, de certa forma, a
beneficia violando, flagrantemente, o direito à ampla defesa e ao contraditório. Se há um juiz,
no colegiado, que discorda da adoção daquela medida extrema de prisão, por exemplo, e o faz
de forma fundamentada, não é razoável que a lei impeça o réu de conhecer do teor da decisão
para que possa, com base nela, interpor a medida judicial cabível a espécie (habeas corpus,
mandado de segurança, revisão criminal, agravo em execução etc.). Chega a ser contraditório: se
a lei quer que a decisão seja devidamente fundamentada, como esconder a decisão divergente?
Não faz nenhum sentido. É como se o bom direito fosse, unicamente, aquele que prejudica o réu.
É MANIFESTAMENTE INCONSTITUCIONAL a previsão de que o voto divergente não possa constar
da decisão colegiada”.

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), ao tratar sobre
julgamento colegiado para os crimes praticados por organização criminosa e a formação desse
colegiado, aduz: “Portanto, a abrangência da lei vai desde antes do recebimento da denúncia até
após o trânsito em julgado, ou seja, tanto a fase pré-processual (inquérito policial), como
também o processo (de conhecimento) e a execução da pena. Inclusive, não se exclui a
possibilidade de ser instaurado o colegiado para proceder a instrução e as audiências
necessárias. [...] A primeira ressalva que se faz é acerca da possibilidade de um juiz decidir sobre
a ‘criação de órgão colegiado’ com poder decisório. Trata-se de uma autorização legal até então
desconhecida pelo sistema nacional e que tem sido objeto de severas críticas, na medida em que
pode representar a violação da garantia do juiz natural. Isso porque o órgão julgador tem que ser
definido previamente à prática do crime. Ou seja, é a garantia de ser julgado por um juiz cuja
competência é preestabelecida em lei e não por um órgão colegiado criado ad hoc, ou seja, para
aquele caso penal e aquele ato procedimental, conforme a discricionariedade de um outro juiz.

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Trata-se de uma medida de duvidosa constitucionalidade, no mínimo. A competência deste


órgão colegiado está limitada ao ato para o qual foi convocado (art. 1º, § 3º, da Lei n. 12.694), o
que acaba gerando um grave problema: ao longo de um mesmo processo, poderá haver
diferentes colegiados proferindo decisões interlocutórias e, ao final, um outro colegiado
decidindo (ou apenas o juiz singular sentenciando). É, ainda, incompatível com a regra da
Identidade Física do Juiz (art. 399, § 2º, do CPP). Para além da violação desta regra, deve-se
considerar que a promiscuidade jurisdicional criada acarretará grave prejuízo para a qualidade
da decisão. Por elementar que o julgamento em colegiado é mais qualificado, mas não desta
forma, onde diversos ‘colegiados’ podem atuar no mesmo processo e, no final, o julgamento
poderá ser feito por outro grupo de juízes ou apenas pelo juiz singular. [...] O juiz da causa poderá
instituir esse colegiado indicando os motivos e as circunstâncias que – segundo seu juízo –
acarretam riscos ‘à sua integridade física’, através de decisão fundamentada, da qual será dado
conhecimento ao órgão correicional. Dois pontos merecem ser destacados neste § 1º do art. 1º:
o juiz valora os riscos para sua integridade física e decide em seu próprio interesse, ou seja, ele
decide em causa própria; e o segundo aspecto é que essa decisão será objeto de mera
comunicação para o órgão correicional (corregedoria da magistratura). Não se trata de a
corregedoria, analisando o pedido do juiz, decidir sobre a necessidade ou não da criação do órgão
colegiado, senão de o juiz decidindo a partir daquilo que ele reputa “risco à sua integridade
física”. Considerando o risco de violação de diversas garantias constitucionais, a formação de
órgão colegiado deve ser considerada uma medida extrema, reservada para situações realmente
graves. Por isso, a decisão do juiz pela composição do órgão colegiado deverá ser fundamentada
em motivos reais, concretos e não fruto de ilações fantasmagóricas. Há que se demonstrar a
existência de suporte fático suficiente e não meras conjecturas ou presunções. Por outro lado, o
excesso de eloquência por parte do juiz – ao decidir pela formação do órgão colegiado – pode
representar um “pré-juízo”, ou seja, um prejuízo processual grave, decorrente do pré-
julgamento. Não se descarta o uso da exceção de suspeição em caso de evidente pré-julgamento
e consequente violação da garantia da imparcialidade do julgador, desvelada pela própria
fundamentação do juiz singular. Há previsão de recurso para a decisão de instauração do órgão
colegiado? Não há previsão de recurso, mas poderá a parte interessada interpor habeas corpus
ou mandado de segurança (especialmente o Ministério Público poderá manejá-lo, diante da
impossibilidade de usar o HC), conforme o caso e a fundamentação. Esse colegiado será
composto pelo juiz do processo e por outros 2 (dois) juízes escolhidos por sorteio eletrônico,
dentre aqueles que possuam competência criminal em primeiro grau. Caberá aos tribunais (de
justiça ou regionais federais) expedir normas regulamentando a composição deste colegiado e
os procedimentos a serem adotados para seu funcionamento, incluindo-se a forma deste ‘sorteio
eletrônico’. [...] Uma pergunta que pode surgir: pode ser instaurado o colegiado no
procedimento do tribunal do júri? Sim, desde que o(s) crime(s) de competência do júri tenha(m)
sido praticado(s) por organização criminosa (como pode ocorrer nos homicídios perpetrados por
‘grupos de extermínio’) e respeitada a soberania dos jurados, ou seja, pode haver atuação do
colegiado de juízes na fase pré-processual (inquérito policial) e durante a primeira fase do
procedimento do júri e na execução da pena. No plenário, em tese, pode haver decisão por parte
desse colegiado, mas respeitada a competência constitucional dos jurados. O órgão colegiado
somente poderá agir na esfera de atuação que compete ao juiz presidente do júri”.

NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017):
[...] Outra questão importante que emerge da disciplina legal respeita à proibição de que, na

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publicação das decisões, haja referência a eventual voto divergente de qualquer dos membros
do colegiado (art. 1. º, § 6. º, 2. ª parte). A partir desta regra, conclui-se que a decisão externada
pelo órgão julgador será apenas aquela que representar o entendimento da maioria dos juízes,
muito embora, repita-se, deva estar firmada por todos os integrantes, inclusive pelo autor do
voto divergente. Com este regramento, mais uma vez objetivou o legislador impedir a influência
de organizações criminosas sobre os membros do colegiado, evitando que se tornem alvo de
ameaças ou de pressões de qualquer natureza. [...] Por fim, alerta-se que, no âmbito doutrinário,
tem sido muito discutida a constitucionalidade dos colegiados de primeiro grau, entendendo
alguns que as únicas situações que viabilizam a sua instituição ocorrem em relação aos
julgamentos pelo tribunal do júri e no âmbito da justiça militar, conforme autorizam os arts. 5. º,
XXXVIII, e 125, § 3. º, da Constituição Federal, respectivamente. Além disso, a atuação de outros
juízes implicaria violação ao princípio do juiz natural. Não obstante esta orientação,
compreendemos no sentido da possibilidade jurídica de instituição dos referidos colegiados, pois
não existe qualquer norma constitucional estabelecendo que o exercício da jurisdição em
primeiro grau seja, necessariamente, reservado ao juiz monocrático. Consideramos, além disso,
que a formação dos colegiados traz garantias adicionais ao acusado ou condenado, pois há menor
risco de erro judicial nas decisões tomadas por vários juízes em conjunto do que naquelas
proferidas por apenas um magistrado. Este último entendimento – constitucionalidade dos
colegiados – foi agasalhado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade 4.414/ AL (j. 31.05.2012), ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil, contra a Lei 6.806/ 2007, do Estado de Alagoas, que, ao criar Vara Criminal
Especializada para processar e julgar delitos praticados por organizações criminosas, atribuiu a
titularidade coletiva de vários juízes. Por outro lado, quanto ao princípio do juiz natural, também
não vislumbramos violação. Afinal, este postulado decorre do art. 5. º, LIII, da Constituição
Federal, e tem por objetivo assegurar ao acusado o direito de ser submetido a processo e
julgamento por órgão do Poder Judiciário regularmente investido, imparcial e previamente
conhecido segundo regras objetivas de competência. Em consequência, fica proibida a criação
de tribunais ou juízos de exceção, assim como a designação de magistrado para atuar em um
caso específico e determinado. Essas situações, porém, não se confundem com os colegiados de
primeiro grau previstos no art. 1. º da Lei 12.694/ 2012, em que o juiz originário do processo
continua atuando mesmo após convocado o colegiado e, quanto aos demais integrantes, não
serão indicados ou designados a partir de critérios políticos (o que efetivamente enfraqueceria a
instituição e afastaria a garantia constitucional do juiz natural), mas sim escolhidos
abstratamente por meio de sorteio eletrônico entre juízes que exerçam a jurisdição criminal”.

PEDRO HENRIQUE DEMERCIAN E JORGE ASSAF MALULY (Curso de processo penal, 9ª ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2014): “Depois de fixado o foro competente em razão do lugar da infração ou da
matéria, quando houver mais de um juiz igualmente competente na mesma repartição
(circunscrição) judiciária, o feito será distribuído para um deles (art. 75, CPP). A distribuição é um
critério objetivo de fixação do foro competente, que busca evitar a interferência subjetiva (STJ,
6ª Turma, RHC n. 5.318/CE, Rel. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, DJU, 25.08.97, p. 39). [...]
Conforme o parágrafo único do art. 75 do CPP, a prática de um ato jurisdicional, em decorrência
da distribuição prévia de um pedido relativo a um processo a ser instaurado (de prisão preventiva
ou temporária, de liberdade provisória, de busca e apreensão etc.), torna prevento o juízo. A
ação penal (iniciada por denúncia ou queixa-crime), por conseguinte, dispensará nova
distribuição e será imediatamente remetida ao juízo já determinado”.

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FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “Havendo mais de
um juiz competente no foro do processo, a competência será determinada pelo critério da
distribuição. Nesse caso, existem dois ou mais juízes igualmente competentes, por qualquer dos
critérios, para o julgamento da causa. A distribuição de inquérito policial e a decretação de prisão
preventiva, a concessão de fiança ou a determinação de qualquer diligência (p. ex.: busca e
apreensão), antes mesmo da distribuição do inquérito, tornam o juízo competente para a futura
ação penal”.

FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (Processo penal, vol. 1, 32ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010):
“Determinado o lugar por onde deva correr o processo, seja ratione loci, seja ratione domicilii,
cumpre indagar se nesse lugar há um único Juiz, caso em que não haverá nenhum problema: o
processo correrá perante ele. E se houver dois ou mais Juizes? É preciso ver se um deles, de
acordo com a Lei de Organização Judiciária, tem competência para conhecer de determinadas
infrações e se a causa penal que se pretende ajuizar é ou não da sua competência. Se for da sua
competência, perante ele correrá o processo E se no lugar onde o processo deva ser instaurado
houver dois ou mais Juizes igualmente competentes? Perante um deles, é óbvio, deverá ser
intentada a ação penal. Qual deles será o competente para o processo e julgamento? Nessa
hipótese, a competência é determinada pela distribuição, e esta nada mais é que um simples
instituto disciplinador de serviços. Distribuir é repartir, dividir. Logo a distribuição, como critério
para determinação da competência, é uma repartição, uma divisão de processos entre Juizes
igualmente competentes. Percebe-se, com facilidade, que a distribuição não é critério para
fixação de foro, mas, sim, para determinação de Vara”.

Jurisprudência pertinente

Supremo Tribunal Federal - STF

COMPETÊNCIA – VARA DO JUIZADO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE – ARTIGO 145 DA LEI Nº 8.069/90


E LEI Nº 12.913/2008, DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Considerado o disposto no artigo
145 da Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente – e na Lei nº 12.913/2008, do
Estado do Rio Grande do Sul, dá-se a competência de Vara do Juizado da Infância e Juventude
de Porto Alegre para julgar delito praticado contra criança ou adolescente. (HC 113102,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 18/12/2012).

[...] O art. 83 C.Pr.Pen há de ser entendido em conjugação com o art. 75, parag. único: só se
pode cogitar de prevenção da competência, quando a decisão, que a determinaria, tenha sido
precedida de distribuição: não previnem a competência decisões de juiz de plantão, nem as
facultadas, em caso de urgência, a qualquer dos juízes criminais do foro. [...] (HC 69599,
Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 30/06/1993).

QUESTÃO DE ORDEM EM AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. DISTRIBUIÇÃO POR


PREVENÇÃO DO RELATOR OU DA TURMA. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 10 E 69 DO RISTF.
REGRAS SUCESSIVAS DE PREVENÇÃO. 1. A regra geral de distribuição de feitos por prevenção no
STF observa a norma contida no art. 69 do RISTF e obedece ao critério do relator do processo. 2.
Na impossibilidade de aplicação dessa norma regimental (nos casos, por exemplo, de declaração
de suspeição ou impedimento do relator, aposentadoria, saída do Tribunal), passa-se à incidência

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do art. 10 do RISTF (prevenção da Turma). 3. As regras de distribuição por prevenção contidas no


RISTF são sucessivas (somente se aplica a prevenção da Turma na impossibilidade de aplicação
da regra de prevenção do relator). 4. Não há no âmbito do STF a existência de turmas temáticas,
o que alteraria a ordem de sucessão das regras de distribuição por prevenção. Agravo regimental
desprovido. (HC 84263 AgR-QO, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em
13/10/2004).

Superior Tribunal de Justiça - STJ

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. QUEIXA-CRIME. DIFAMAÇÃO. AÇÃO PENAL DE INICIATIVA


PRIVADA. LUGAR DA INFRAÇÃO OU DO DOMICÍLIO DO QUERELADO. POSSIBILIDADE DE ESCOLHA
DO QUERELANTE. ART. 73 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CPP. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
SUSCITADO. 1. Conflito conhecido considerando cuidar-se de juízos vinculados a Tribunais
diversos, conforme determina o art. 105, inciso I, alínea d, da Constituição Federal - CF. 2. O Juízo
suscitado invocou o teor do art. 70 do CPP e declinou da competência ao fundamento de que as
"mensagens com suposto teor difamatório foram recebidas por pessoa residente em Natal/RN
e, dessa feita, a consumação ocorreu em referida comarca, no instante em que a mensagem foi
lida". De outro lado, o Juízo suscitante alega que "tratando-se de ação penal privada, como no
caso em comento, de acordo com a literalidade do art. 73 do Código Processo Penal, faculta-se
ao querelante a opção de ajuizá-la no foro de domicílio ou residência do agente, ainda que
conhecido o lugar da infração". 3. "Nas hipóteses de exclusiva ação privada, faculta-se ao
querelante propor a queixa-crime no foro do domicílio ou da residência do réu, ainda quando
conhecido o lugar da infração, ut artigo 73 do Código Processo Penal" (CC 31.525/RJ, Rel.
Ministro FERNANDO GONÇALVES, TERCEIRA SEÇÃO, DJ 29/4/2002). 4. Na espécie, tendo em vista
que a queixa-crime acostada aos autos indica que o querelado pode ser encontrado em endereço
localizado em Curitiba/PR, a escolha da querelante pela propositura da ação penal privada
perante Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Curitiba encontra amparo
no art. 73 do CPP e na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - STJ. 5. Conflito conhecido
para declarar competente o Juízo de Direito do Primeiro Juizado de Violência Doméstica e
Familiar Contra a Mulher de Curitiba/PR, o suscitado. (CC 0190218-64.2019, Rel. Min. Joel Ilan
Parcionik, DJ 10/12/2019).

RECURSO EM HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. ATIVIDADE CRIMINOSA OCORRIDA


EM VÁRIOS MUNICÍPIOS DE PERNAMBUCO. COMPETÊNCIA PELA PREVENÇÃO. ARTIGO 83 DO
CPP. DEFERIMENTO DE PEDIDO DE INTERCEPÇÃO TELEFÔNICA OCORRIDO ANTES DO
OFERECIMENTO DA DENÚNCIA PELO JUÍZO DE LAJEDO. RECURSO IMPROVIDO. 1. Extrai-se da
denúncia que o recorrente integra organização criminosa formada com o objetivo de praticar
roubo de cargas no interior de Pernambuco e também com a finalidade de receptar bens
subtraídos, atuando em diversos Municípios desse Estado, dentre eles Lajedo local onde esta
sendo processada a Ação Penal n. 0000290-94.2016.8.17.0910 e, Cachoeirinhas, Comarca para
onde o recorrente pretende deslocar o referido feito. 2. Os fatos narrados na exordial apontam
para a ocorrência de conexão entre os diversos crimes perpetrados pela referida organização
criminosa, em vários Municípios do Estado de Pernambuco, cabendo, pois, a definição da
competência pela regra da prevenção, estabelecida no artigo 83 do CPP. Precedentes. 3. No caso
em análise, verifica-se que, antes mesmo do oferecimento da denúncia, houve pedido e
deferimento de realização de interceptação telefônica no Juízo de Lajedo - PE, o qual foi o

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primeiro, portanto, a praticar atos relativos ao processo, tornando-se, pois, prevento, na dicção
do dispositivo legal acima referido. 4. Recurso improvido. (RHC 0014325-73.2016, Min. Rel. Jorge
Mussi, DJ em 27/03/2018).

[...] VIAS DE FATO. CONTRAVENÇÃO PENAL PRATICADA EM ÂMBITO DOMÉSTICO OU FAMILIAR.


COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR A INFRAÇÃO PENAL. ARTIGOS 7º E 33 DA LEI MARIA
DA PENHA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA VARA CRIMINAL. 1. Configurada a conduta praticada
como violência doméstica contra a mulher, independentemente de sua classificação como
crime ou contravenção, deve ser fixada a competência da Vara Criminal para apreciar e julgar
o feito, enquanto não forem estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher, consoante o disposto nos artigos 7º e 33 da Lei Maria da Penha. [...] (HC 158.615/RS,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 15/02/2011, DJe 08/04/2011).

[...] Ressalvada a competência do Júri para julgamento do crime doloso contra a vida, seu
processamento, até a fase de pronúncia, poderá ser pelo Juizado de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher, em atenção à Lei 11.340/06. [...] (HC 73.161/SC, Rel. Ministra JANE
SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), QUINTA TURMA, julgado em 29/08/2007).

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE LESÃO CORPORAL PRATICADOS CONTRA


NAMORADA DO RÉU E CONTRA SENHORA QUE A ACUDIU. [...] VÍTIMA MULHER DE RENOME DA
CLASSE ARTÍSTICA. HIPOSSUFICIÊNCIA E VULNERABILIDADE AFASTADA PELO TRIBUNAL A QUO
PARA JUSTIFICAR A NÃO-APLICAÇÃO DA LEI ESPECIAL. FRAGILIDADE QUE É ÍNSITA À CONDIÇÃO
DA MULHER HODIERNA. DESNECESSIDADE DE PROVA. COMPETÊNCIA DO I JUIZADO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA CAPITAL FLUMINENSE. [...] A
situação de vulnerabilidade e fragilidade da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de
afeto, nas circunstâncias descritas pela lei de regência, se revela ipso facto. Com efeito, a
presunção de hipossuficiência da mulher, a implicar a necessidade de o Estado oferecer proteção
especial para reequilibrar a desproporcionalidade existente, constitui-se em pressuposto de
validade da própria lei. Vale ressaltar que, em nenhum momento, o legislador condicionou esse
tratamento diferenciado à demonstração dessa presunção, que, aliás, é ínsita à condição da
mulher na sociedade hodierna. 4. As denúncias de agressões, em razão do gênero, que
porventura ocorram nesse contexto, devem ser processadas e julgadas pelos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, nos termos do art. 14 da Lei n.º 11.340/2006.
[...] (REsp 1416580/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 01/04/2014, DJe
15/04/2014)

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO PENAL. TRANSFERÊNCIA PROVISÓRIA DE


PRESOS DE UM ESTADO DA FEDERAÇÃO PARA OUTRO. INCIDENTES DA EXECUÇÃO PENAL.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO AO QUAL SE ENCONTRA VINCULADO O APENADO. 1. Se a execução
penal é transferida para outra Unidade da Federação, consectário lógico da remoção operada, a
teor do art. 86 da Lei nº 7.210/84, o Juiz competente para esse fim é o indicado pela Lei de
Organização Judiciária, ou seja, aquele da Unidade da Federação onde se executará a pena. Está-
se diante não de uma simples delegação de competência de um Estado para outro, mas de
verdadeira modificação de competência. 2. Não há olvidar a competência do Juízo das Execuções
fluminense para decidir quanto à conveniência da remoção, a teor do art. 5º da Lei 11.671/2008.
Entretanto, a execução das penas é da competência do Juízo Federal de Catanduvas/PR, em

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atenção ao art. 1º, § 1º, da Resolução nº 557/07 do Conselho da Justiça Federal, (redação similar
ao artigo 4º, § 1º da Lei nº 11.671/2008), que determina: "A execução penal da pena privativa de
liberdade, no período em que se efetivar a transferência, ficará a cargo do juízo federal
competente." 3. Para o fiel cumprimento da execução penal deve-se levar em conta, diante das
circunstâncias do caso concreto, não apenas as conveniências pessoais e familiares dos presos,
bem como os da Administração Pública, sobretudo quando relacionadas com o efetivo
cumprimento da pena, uma vez que se reconheça a impossibilidade do Juízo que solicitou o
deslocamento dos apenados de se fazer presente no local do cumprimento da pena para
acompanhá-la e tratar de incidentes que surjam no decorrer da execução. Exegese do Enunciado
Sumular 192 desta Corte, a corroborar a regra disposta no art. 66, III da Lei de Execuções Penais.
4. Conflito conhecido para determinar competente o suscitante, Juízo Federal da Seção de
Execução Penal de Catanduvas da Seção Judiciária do Estado do Paraná.(CC 90.702/PR, Rel.
Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2009, DJe 13/05/2009).

MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA
A competência, intimamente relacionada com o princípio do juiz natural, deve ser disciplinada por regras
próprias que traduzam segurança jurídica e que permitam ao jurisdicionado, de antemão, saber qual o juiz
competente para processo e julgamento no caso da prática de infrações penais.

Todavia, considerando que a jurisdição é una, existem determinadas situações que podem justificar,
recomendar e legitimar a modificação das competências previamente estabelecidas, diante de critérios
relacionados a um melhor funcionamento da Justiça, por economia processual, para maior eficácia e,
inclusive, para se evitar decisões judiciais conflitantes.

1 - CONEXÃO E CONTINÊNCIA
A conexão e a continência, institutos existentes tanto no processo civil quanto no processo penal,
representam formas de alteração da competência. “Não obstante dispor o art. 69, inciso V, do CPP, que a
competência jurisdicional será determinada pela conexão ou continência, tem-se que, em regra, tanto a
conexão quanto a continência não são critérios que fixam a competência. Funcionam, sim, como critérios
que alteram a competência” (Lima, 2021).

Trata-se a conexão e a continência de hipóteses de modificação da competência que ocorrem


apenas nas condições expressamente previstas – a primeira, no art. 76 do CPP, e a segunda, no
art. 77 do mesmo diploma legal. Conquanto essas situações estejam inseridas nos critérios
secundários de fixação da competência – além dos já examinados prevenção, regras de
organização judiciária e distribuição –, procederemos a suas análises em tópico separado, em
razão da complexidade do tema (Avena, 2020).

NUCCI também vai no sentido de que a conexão e a continência “são regras de modificação da competência
– e nunca de fixação”. Faz alusão ao Código de Processo Civil para confirmar a compreensão:

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Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência,
observado o disposto nesta Seção.

Diz que “eventualmente, como exceção à regra, a conexão e a continência podem ser utilizadas para fixação
inicial da competência, desde que já se saiba de antemão que um processo liga-se a outro, sendo um deles
já distribuído. Dessa forma, quando se distribuir o segundo, pode-se requerer ao juiz que determine a
remessa para a mesma Vara, por existência de conexão ou continência” (Nucci, 2018).

É costume dizer que a conexão e a continência modificam a competência. Essa afirmação, porém,
somente é válida no que concerne à competência em abstrato, ou seja, no caminho que se
desenvolve antes da fixação definitiva, em concreto. O desaforamento, sim, modifica a
competência em concreto, depois de definida. A conexão e a continência atuam antes dessa
definição (Filho, 2012).

Resume o autor da seguinte forma: “lato sensu, a conexão e a continência fazem parte das regras de fixação
de competência, embora, stricto sensu, elas modifiquem as convencionais regras de escolha do juiz natural,
por atenderem a critérios de ordem puramente instrumental” (Nucci, 2018).

É controvertida a natureza da conexão e da continência. Uma corrente considera que a conexão


e a continência são critérios de determinação de competência, outra que entende que são
fatores de modificação ou prorrogação de competência. A conexão e a continência, portanto,
não são critérios abstratos de determinação da competência, mas fatores de modificação da
esfera concreta de competência do juiz, alterando a competência que decorreria apenas da
aplicação das regras legais de competência, segundo os critérios territorial e material. Não se
desconhece que, na prática, a conexão também pode modificar a competência em abstrato,
fazendo com que um processo seja distribuído, diretamente, para o juiz que se tornou
competente em razão da conexão. Por outro lado, há situações em que a conexão ou a
continência somente são alegadas no curso do processo, por exemplo, por meio de exceção de
incompetência. Neste caso, reconhecido pelo juiz que ele não era competente, uma vez que o
crime que lhe competia julgar é conexo a outro, de competência de juiz diverso, que é o foro de
atração, deverá remeter o feito a tal juiz. Nesta última hipótese, a conexão implicará a
modificação da competência em concreto e não apenas em abstrato. De qualquer forma, mesmo
no primeiro caso, as regras sobre conexão e continência nunca serão bastantes em si, para
determinar o juiz competente. As regras de competência em razão da matéria, competência por
prerrogativa de função e competência territorial, são suficientes para determinar o juiz
competente. Já as regras sobre conexão e continência não prescindem de outras regras de
competência que, originariamente, determinariam o órgão competente, mas que, somadas ou
integradas a tais regras de modificação e dos critérios de determinação do órgão prevalecente,
indicarão outro órgão competente (Badaró, 2017).

Na lição de VICENTE GRECO FILHO, “a conexão e a continência são fatos, resultantes de vínculos entre as
infrações penais ou seus agentes, que alteram o caminho ordinário de determinação da competência,
impondo a reunião, num mesmo processo, de mais de uma infração ou mais de um agente” (Filho, 2012).

Vejamos o que dizem as cabeças dos artigos 76, 77 e 79 do CPP:

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Art. 76. A competência será determinada pela conexão: [...]

Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: [...]

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: [...]

Poderíamos indagar: quais são os critérios que justificam essa alteração de competência? Essa modificação
viola o princípio do juiz natural? A resposta é dada pelas palavras do mestre português JORGE DE FIGUEIREDO
DIAS:

A particular relacionação intercedente entre vários crimes – seja em nome da sua proximidade
material e objectiva, ou pessoal e subjectiva, ou uma e outra – pode plenamente justificar a
conveniência do seu julgamento conjunto. [...] A razão justificativa desta competência por
conexão será, antes de tudo, de economia processual. Mas não só, pois a ela acrescem – quando
não mesmo se sobrepõem – razões de boa administração da justiça penal (juntando processos
conexos será provavelmente mais esgotante a produção probatória e respectiva cognição) e
mesmo de prestígio das decisões judiciais (pois desaparecerá o perigo de uma pluralidade de
decisões sobre infrações conexas se contradizerem materialmente). O que tudo se alcança,
anote-se ainda, sem prejuízo do conteúdo ínsito na garantia da juiz natural, por isso que os
critérios de conexão estão contidos em lei anterior e elegem, de forma geral e abstracta, o
tribunal em definitivo competente (Dias, 1974).

TORNAGHI destaca a distinção dos conceitos do processo civil se comparados com os do processo penal:

Os conceitos de conexão e continência no Código de Processo Penal diferem dos do Código de


Processo Civil, que são tradicionais. Neste, no Civil, fala-se de conexão e continência de litígios.
O litígio caracteriza-se pelas pessoas que litigam (personae), pelo objeto da controvérsia (res) e
pelo título que fundamenta e gera a pretensão de uma contra a outra (causa petendi). [...]

No Código de Processo Penal, entretanto, a conexão e a continência, de que falam os arts. 76 e


77, são de infrações penais. [...] existe conexão quando mais de um fato configura mais de um
crime, e: 1º, as várias infrações estão ligadas por laços circunstanciais, ou 2º, a prova de uma
infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influi na de outra. Na primeira
hipótese, a conexão é substantiva: os próprios crimes são conexos. Na outra é meramente
processual: não há nexo entre os crimes, mas a comprovação de uns reflete na de outros. [...]
Muitas legislações consideram a continência como espécie do gênero conexão. [...] Quando um
só fato contém vários crimes, diz-se que há continência.

Resume o renomado autor da seguinte forma: “quando com vários fatos se pratica um só crime, há unidade
(crime continuado, crime progressivo, crime plurisubsistente); quando com vários fatos se cometem vários
crimes, há conexão (desde que haja o elemento comum [...], é claro); quando com um só fato se praticam
vários crimes, há continência” (Tornaghi, 1977).

Em se tratando de institutos que se aplicam essencialmente a competências relativas, a violação a regras de


conexão e continência resultam em nulidade relativa.

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Em síntese: as regras de conexão são aplicáveis a causas que, em princípio, seriam examinadas
em separado e que, verificada a conexão entre os feitos, deve-se recorrer aos critérios de
modificação ou prorrogação das competências. Se incabíveis as regras modificativas da
competência, as atribuições jurisdicionais originárias devem ser mantidas, porquanto a
competência absoluta não se modifica ou prorroga. Logo, só se admite que a conexão possa
alterar competências de natureza relativa, tornando competente para o caso concreto juiz que
não o seria sem ela. De acordo com a jurisprudência, eventual violação às regras que
determinam a reunião dos processos por conexão ou continência dará ensejo tão somente a
uma nulidade relativa, cujo reconhecimento fica condicionado à arguição em momento
oportuno, sob pena de preclusão, além da necessária comprovação de prejuízo.

Assim, a título de ilustração, caso haja conexão entre crimes de competência da Justiça Federal
e Estadual, preceitua a súmula no 142 do STJ que deve prevalecer a competência da Justiça
Federal. Não obstante, caso o crime estadual seja processado e julgado perante a Justiça
Estadual, e o crime federal perante a Justiça Federal, ambos os processos serão considerados
válidos, efetuando-se a soma das penas quando da execução da pena. Da leitura dos arts. 76 e
77 do CPP, depreende-se que a lei processual penal trata das hipóteses de unidade de processos,
deixando de fazer qualquer menção ao inquérito policial. Logo, ainda que haja conexão e
continência entre infrações penais, nada impede que inquéritos policiais instaurados por
autoridades policiais distintas possam prosseguir normalmente, sem necessidade de reunião
das investigações. Obviamente, caso a reunião dos procedimentos investigatórios em um só seja
útil ao esclarecimento dos fatos, pensamos ser possível a unificação dos procedimentos
investigatórios mediante autorização judicial, ouvido previamente o órgão do Ministério Público
(Lima, 2021).

Doutrina complementar

Norberto Avena (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017):
“Examinando-se as hipóteses contempladas nos arts. 76 e 77 do CPP, verifica-se que a diferença
substancial entre tais institutos está no fato de que, enquanto na conexão há necessariamente
pluralidade de condutas, na continência há uma só conduta, gerando um ou vários resultados.
De qualquer forma, em que pese existam, nos incisos dos arts 76 e 77, situações que exigem
pluralidade de sujeitos ativos, a verdade é que, em regra, para fins de enquadramento em um ou
outro caso, é irrelevante o número de agentes envolvidos na prática criminosa, isto é, se um ou
mais”.

Aury Lopes Jr. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “Todas as regras
anteriormente explicadas [de fixação de competência] podem ser profundamente alteradas ou
mesmo negadas quando estivermos diante de conexão ou continência, verdadeiras causas
modificadoras da competência e que têm por fundamento a necessidade de reunir os diversos
delitos conexos ou os diferentes agentes num mesmo processo, para julgamento simultâneo. Na
conexão, o interesse é evidentemente probatório, pois o vínculo estabelecido entre os delitos
decorre da sua estreita ligação. Já na continência, o que se pretende é, diante de um mesmo fato
praticado por duas ou mais pessoas, manter uma coerência na decisão, evitando o tratamento
diferenciado que poderia ocorrer caso o processo fosse desmembrado e os agentes julgados em
separado”.

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Edilson Mougenot Bonfim (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “Certas
causas são tão intimamente relacionadas entre si que se torna desejável, por questões de
economia processual — pois que a prova a produzir e os argumentos a deduzir em um poderiam
ser aproveitados nos demais — e de efetividade jurisdicional — porquanto processos
relacionados clamam por decisões harmônicas, a fim de satisfazer a finalidade de pacificação
social, que permeia a função jurisdicional —, sua reunião sob a competência de um único juízo.
A esses casos se aplicam as regras relativas à conexão e à continência. Verificando-se, portanto,
a relação entre duas ou mais infrações penais, independentes entre si, deverão elas ser reunidas
em um único processo (simultaneus processus). Não obstante a letra da lei refira-se à conexão e
à continência como causas de determinação da competência, a doutrina as considera critérios
de modificação da competência”.

Gustavo Badaró (Curso de processo penal, 8ª ed., São Paulo: RT, 2020): “Não se desconhece que,
na prática, a conexão também pode modificar a competência em abstrato, fazendo com que um
processo seja distribuído, diretamente, para o juiz que se tornou competente em razão da
conexão. Por outro lado, há situações em que a conexão ou a continência somente são alegadas
no curso do processo, por exemplo, por meio de exceção de incompetência. Neste caso,
reconhecido pelo juiz que ele não era competente, uma vez que o crime que lhe competia julgar
é conexo a outro, de competência de juiz diverso, que é o foro de atração, deverá remeter o feito
a tal juiz. Nesta última hipótese, a conexão implicará a modificação da competência em concreto
e não apenas em abstrato. De qualquer forma, mesmo no primeiro caso, as regras sobre conexão
e continência nunca serão bastantes em si, para determinar o juiz competente. As regras de
competência em razão da matéria, competência por prerrogativa de função e competência
territorial, são suficientes para determinar o juiz competente. Já as regras sobre conexão e
continência não prescindem de outras regras de competência que, originariamente,
determinariam o órgão competente, mas que, somadas ou integradas a tais regras de
modificação e dos critérios de determinação do órgão prevalecente, indicarão outro órgão
competente”.

2 - CONEXÃO
Vários autores já criticaram a distinção existente entre conexão e continência, dizendo-a errônea. Todavia,
o Código de Processo Penal faz a diferenciação, tanto que trata uma e outra separadamente, nos artigos 76
e 77.

Conforme FREDERICO MARQUES “Na conexão, há pretensões punitivas paralelas que se unem processualmente
em virtude de traços comuns que ligam umas às outras: as infrações são distintas, embora presas entre si
por determinados liames que aconselham o julgamento em simultaneus processos, por unum et idem judex.
[...] Pressupõe um laço ou liame que estabelece ligação entre as infrações praticadas e as pessoas nela
envolvidas” (Marques, 1997).

GUILHERME DE SOUZA NUCCI define a conexão com olhos na lei (art. 76, CPP):

Trata-se de ligação, nexo ou união, segundo o vernáculo. No processo penal, no entanto, ganha
contornos especiais, querendo significar o liame existente entre infrações, cometidas em

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situações de tempo e lugar que as tornem indissociáveis, bem como a união entre delitos, uns
cometidos para, de alguma forma, propiciar, fundamentar ou assegurar outros, além de poder
ser o cometimento de atos criminosos de vários agentes reciprocamente. Enfim, o vínculo surge,
também, quando a produção escorreita e econômica das provas assim o exige (Nucci, 2018).

Segundo TOURINHO FILHO, a conexão “é o nexo, a dependência recíproca que a coisas e os fatos guardam entre
si [...] existe quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um vínculo que aconselha a junção
dos processos, propiciando, assim, ao julgador perfeita visão do quadro probatório e, de consequência,
melhor conhecimento dos fatos, de todos os fatos, de molde a poder entregar a prestação jurisdicional com
firmeza e justiça” (Filho, 2011).

A realidade dos fenômenos da vida nos mostra que pode haver, entre dois ou mais fatos de
relevância penal, alguma espécie de liame, de ligação, seja de natureza subjetiva, no campo das
intenções, motivações e do dolo, seja ainda de natureza objetiva, em referência às circunstâncias
de fato, como o lugar, o tempo e o modo de execução da conduta delituosa. Sem falar na
eventual relação entre os autores dos fatos. Em outras palavras, pode haver entre eles conexão,
hipóteses concretas de aproximação entre um e outro evento, estabelecendo um ponto de
afinidade, de contato ou de influência na respectiva apuração (Pacelli, 2018).

A “conexão provoca a reunião de ações penais num mesmo processo, funcionando como causa de
modificação da competência relativa mediante a prorrogação de competência” (Lima, 2021).

[...] de regra, a jurisdição não se prorroga. O juiz não pode sair dos limites que lhe foram traçados
em lei para conhecer de uma causa ocorrida em outra comarca. Ele não poderá prorrogar seu
poder de jurisdição além daquela área que lhe for delimitada em lei. O Juiz de Bauru somente
processa e julga as infrações cometidas em sua comarca. Todavia, se duas ou mais infrações
forem cometidas em Bauru e em outra ou outras comarcas, e houver entre elas uma relação de
conexidade, dependendo do caso poderá o Juiz de Bauru conhecê-las em sua totalidade.
Percebe-se, pois, que a conexão não determina a competência, antes a altera e modifica (Filho,
2011).

Espécies de conexão

De acordo com a doutrina corrente a conexão pode ser intersubjetiva, objetiva e instrumental.

Intersubjetiva – “como intuitivo, ocorre entre sujeitos, exigindo, portanto, pluralidade de pessoas, ligadas
por quaisquer dos pontos de afinidade a que nos referimos” (Pacelli, et al., 2018); “envolve vários crimes e
várias pessoas obrigatoriamente” (Lima, 2021). Dessa espécie de conexão cuida o inciso I do art. 76 do CPP:

I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, {1} ao mesmo tempo, por
várias pessoas reunidas, ou por {2} várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o
lugar, ou por {3} várias pessoas, umas contra as outras;

A conexão intersubjetiva se subdivide (conforme os três itens destacados na transcrição da norma) e pode
ser:

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{1} por simultaneidade, também chamada de ocasional ou subjetiva-objetiva – ocorre quando duas ou mais
infrações são praticadas por pessoas ocasionalmente reunidas; isto é, sem qualquer vinculação entre elas:

Exemplo: hipótese de um acidente de trânsito, no qual um caminhão, transportando três mil


garrafas de óleo de soja, desgovernado, vem a tombar em uma rodovia. Nesse contexto, pessoas
que passavam pelo local, sem nenhum vínculo, aproximam-se e iniciam o saque da carga do
veículo (Avena, 2020).

[...] o que efetivamente revela o ponto de contato, a ligação entre eles é a circunstância objetiva
do tempo e do lugar. Daí se falar em conexão intersubjetiva por simultaneidade. Exemplo
tradicional seria a hipótese de diversas infrações praticadas no interior de um local de diversões
públicas, ao mesmo tempo, por pessoas ali reunidas. Não seria o caso, por exemplo, do crime de
rixa, já que aqui o delito é único, não havendo por que falar em conexão (Pacelli, 2018).

{2} por concurso, também chamada de subjetiva concursal – haverá esse tipo de conexão intersubjetiva
quando duas ou mais infrações forem praticadas por várias pessoas em concurso (mancomunadas,
vinculadas entre si), mesmo que em condições de tempo e lugar diversas:

Exemplo: associação criminosa, com seis integrantes, organiza-se para a prática de roubos de
veículos. Assim, previamente conluiados, dois indivíduos subtraem um automóvel em Porto
Alegre; outros dois, em Canoas, e, por fim, os dois últimos, em Gravataí. Ao final, vendidos os
automóveis a desmanches da região, repartem o lucro obtido (Avena, 2020).

[...] o que realmente há de ser realçado, para que se identifique a conexão, é o elemento
subjetivo inerente a todas as ações, de modo a permitir a atribuição de responsabilidade penal a
todos os agentes para todos os crimes, pela concreta participação em cada um deles, ainda que,
pela divisão de trabalho, a respectiva presença não tenha sido física. Aqui o dado essencial é o
concurso de agentes na prática de várias infrações. Trata-se, de fato, de conexão intersubjetiva
por concurso (Pacelli, 2018).

A título exemplificativo, suponha-se a existência de três indivíduos que tenham praticado quatro
crimes de roubo no intervalo de dois meses. Haverá conexão intersubjetiva por concurso entre
os 04 (quatro) crimes de roubo praticados pelos agentes, devendo todos eles responder pelos
crimes em um único processo, salvo existência de causa impeditiva (v.g., um dos roubos ser crime
militar) (Lima, 2021).

{3} por reciprocidade – duas ou mais infrações são cometidas por várias pessoas, umas contra as outras:

É o caso, por exemplo, de dois indivíduos, rivais, um objetivando matar o outro, desferirem-se
tiros reciprocamente. Veja-se que nessa espécie de conexão é necessário que estejam
identificados os autores de cada conduta. Destarte, refoge à conexão por reciprocidade o crime
de rixa, pois, nesse caso, vários indivíduos agridem-se mutuamente, sem que se possa precisar
quem agrediu quem (Avena, 2020).

[...] a ser aferida pelo exame do histórico de fatos e de motivações entre pessoas que, entre si,
praticam crimes umas contra as outras. O exemplo típico é o de crimes envolvendo famílias ou

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grupos antagônicos, cujas ações delituosas estejam relacionadas com suas condutas anteriores,
de modo a permitir o exame da motivação de cada uma das infrações. Como a reunião de
processos somente ocorrerá até a sentença – a finalidade é o proveito probatório, como vimos –
, será preciso certa contemporaneidade entre os fatos; do contrário, a motivação terá que ser
analisada em cada processo isoladamente (Pacelli, et al., 2018).

[...] ocorre quando duas ou mais infrações tiverem sido cometidas por diversas pessoas umas
contra as outras (CPP, art. 76, I, parte final). Por exemplo, dois grupos rivais combinam entre si
uma briga em determinado ponto da cidade, hipótese em que os diversos crimes de lesões
corporais estarão vinculados em razão da conexão intersubjetiva por reciprocidade. Como a
conexão intersubjetiva demanda a presença de duas ou mais infrações vinculadas, não se pode
citar o delito de rixa como um de seus exemplos, pois aí haverá crime único (Lima, 2021).

Objetiva, material, – ao contrário da conexão intersubjetiva, não se exige, aqui, a pluralidade de agentes,
mas apenas que o(s) crime(s) seja(m) praticado(s) para facilitar, ocultar, conseguir a impunidade ou a
vantagem de outro crime. “Na conexão objetiva, as infrações ligadas entre si, ou se derivam da mesma causa,
ou são engendradas umas pelas outras. Para existir a conexão objetiva, não há necessidade de mais nada
que a relação de causalidade, não se cogitando, por isso, de concomitância, pluralidade de agentes ou
concerto prévio. Isso quer dizer que nesse conjunto de fatos que se encadeiam uns aos outros, pelos elos da
relação de causa e efeito, podem ser vários os autores, ou haver um só agente” (Marques, 1997). É aquela
prevista no inciso II do artigo 76 do CPP:

II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para {1} facilitar ou {2} ocultar as outras,
ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

A conexão objetiva se subdivide (conforme os dois itens destacados na transcrição da norma) e pode ser:

{1} teleológica – o crime é cometido para facilitar a prática de outro crime.

Como exemplo, a hipótese de lesões corporais contra os pais de uma criança com o objetivo de
facilitar o sequestro desta. Também se pode ilustrar essa conexão com a hipótese de clonagem
de cartão de crédito com a subsequente prática de vários estelionatos. Gize-se que, nessa
situação, não se pode cogitar de absorção da clonagem pelos estelionatos, já que o cartão
falsificado poderá ou ao menos poderia continuar sendo utilizado para o cometimento de outros
delitos, diferindo da hipótese de uma folha de cheque com assinatura falsificada, que é utilizável
apenas uma vez (Avena, 2020).

[...] quando um crime ocorre para facilitar a execução do outro (conexão objetiva teleológica) -
ex: mata o segurança para facilitar o sequestro da vítima (Lima, 2021).

{2} consequencial – o crime é praticado com o fim de ocultar, conseguir a impunidade ou vantagem de outra
infração penal cometida.

Exemplos: ocultação de cadáver para encobrir crime de homicídio; homicídio da única


testemunha para conseguir a impunidade de crime por ela presenciado; homicídio de coautor de
roubo para obtenção de vantagem completa em relação ao objeto subtraído (Avena, 2020).

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Um [crime] para ocultar o outro, ou um [crime] para garantir a impunidade ou vantagem do outro
(conexão objetiva consequencial) - ex: estupra a vítima e, um mês depois, mata a única
testemunha do fato, de modo a eliminar as provas do crime (CPP, art. 76, inciso, II). Como o inciso
II menciona expressamente "se, no mesmo caso, houverem sido praticadas", há doutrinadores
que entendem que, também nesta hipótese de conexão, exige-se a presença de várias pessoas.
Mesmo caso significaria a existência de várias pessoas, tal qual o exige o inciso I do art. 76 do
CPP. Preferimos fazer uma interpretação extensiva desse dispositivo, no sentido de que no
mesmo caso significa ocorrendo duas ou mais infrações penais, e não necessariamente várias
pessoas (Lima, 2021).

AVENA faz uma didática distinção:

Conexão intersubjetiva por concurso: há um vínculo subjetivo entre os agentes, caracterizado


pelo conluio prévio relacionado às diversas práticas delituosas.

Conexão objetiva: o vínculo entre os agentes caracteriza-se pelo elo existente entre os crimes
cometidos, sendo, portanto, objetivo. NUCCI ilustra tal situação com o assalto cometido por
determinado indivíduo, que, depois, percebe a existência de uma testemunha, relatando isto a
seu irmão, o qual, por conta própria, visando à impunidade do crime praticado pelo primeiro,
vem a matar dita testemunha. Nesse caso, jamais houve acerto prévio entre eles, sendo objetivo
o vínculo existente entre os agentes de crimes diversos: o roubo inicialmente realizado. Os
processos, então, deverão ser reunidos, para que haja julgamento simultâneo.

E se for o caso de o próprio agente do crime anterior praticar outro fato visando à impunidade ou
vantagem desse delito? Embora haja divergências, e apesar de o inciso II incorporar a expressão
“se no mesmo caso” (referindo-se, obviamente, ao inciso I, que se refere a situações envolvendo
várias pessoas), entendemos que nada impede o enquadramento, nesse mesmo inciso II, da
infração praticada por um agente visando à impunidade do crime que cometeu anteriormente.
Exemplos: o assaltante que vem a matar a testemunha presencial do roubo (conexão entre o
roubo e o homicídio); indivíduo que vem a ocultar o cadáver da pessoa que matou momentos
antes (conexão entre o homicídio e a ocultação de cadáver) (Avena, 2020).

Instrumental, probatória ou processual – “os nexos e laços entre duas ou mais infrações estão apenas nos
elementos destinados a trazer ao processo os dados instrutórios sobre os fatos delituosos. A reunião dos
processos, em tal hipótese, depende em muito do prudente critério do juiz” (Marques, 1997). É a hipótese
do inciso III do art. 76 do CPP:

III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir
na prova de outra infração.

[...] quando a prova de um crime influencia na existência do outro (CPP, art. 76, III). Note-se que,
para a existência de conexão probatória, não há qualquer exigência de relação de tempo e espaço
entre os dois delitos. Basta que a prova de um crime tenha capacidade para influir na prova de
outro delito. O exemplo sempre citado pela doutrina é a prova do crime de furto auxiliando na
prova do delito de receptação; ou do delito de destruição de cadáver em que o de cujus foi vítima
de homicídio, afigurando-se necessário a prova da ocorrência da morte da vítima, ou seja, de que

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foi destruído um cadáver. Outro exemplo bem atual é o da prova da infração antecedente
auxiliando na prova do delito de lavagem de capitais (Lima, 2021).

[...] a conexão probatória ou instrumental encontra seu fundamento na manifesta


prejudicialidade homogênea que existe. Se a prova de uma infração influi na prova de outra, é
evidente deva haver unidade de processo e julgamento, pois, do contrário, teria o Juiz de
suspender o julgamento de uma, aguardando a decisão quanto à outra. No exemplo dado, para
se condenar o receptador, é preciso provar que a coisa adquirida era produto de crime. O furto
é, pois, prejudicial da receptação. Assim, ambos os crimes devem ser apreciados conjuntamente”
(Filho, 2011).

Adverte TOURINHO FILHO, ainda, que “parte da doutrina prefere denominar aquelas hipóteses tratadas nos
incs. I e II do art. 76 do CPP conexão material, e a prevista no inc. III, conexão processual, sob o fundamento
de que, nas primeiras hipóteses, o nexo se dá, propriamente, entre as infrações, e, na última, em face de a
prova influir em outra prova, matéria nitidamente processual”.

Na lição de PACELLI, “a única nota característica em todas as modalidades de conexão examinadas é a


existência de pluralidade de condutas, isto é, trata-se sempre da prática de duas ou mais ações, e não só de
dois ou mais resultados lesivos, como pode ocorrer, por exemplo, no concurso formal de crimes (art. 70, CP),
uma das hipóteses típicas de continência” (Pacelli, 2018).

Doutrina complementar

Paulo Rangel (Direito processual penal, 26ª ed., São Paulo: Atlas, 2018) bem leciona sobre o
instituto da conexão, tratando-a nas suas diversas facetas, valendo a transcrição de suas lições:
“Conexão significa dizer união, nexo, ligação, relação entre um fato e outro”. Em análise aos
incisos I a III do art. 76 do CPP, assevera o autor: “O inciso I prevê a chamada conexão
intersubjetiva, que se subdivide em três subespécies: a) intersubjetiva por simultaneidade; b)
intersubjetiva concursal; e c) intersubjetiva por reciprocidade. A primeira (letra a) exige que as
duas ou mais infrações sejam praticadas ao mesmo tempo por várias pessoas reunidas, por isso
simultâneas. O que se exige é a unidade temporal do acontecimento complexo (cf. MARQUES,
Frederico. Da competência em matéria penal – atualizado: José Renato Nalini. São Paulo:
Millenium, 2000. p. 365). Exemplo: várias pessoas assistem ao sinistro de um avião em
determinada região e, sem que combinassem nada, passam a saquear a referida aeronave.
Haverá um único processo e um único julgamento de todos os envolvidos (art. 79 do CPP). A
segunda (letra b) exige que as várias pessoas estejam ligadas entre si por um liame subjetivo, ou
seja, que haja entre elas um concerto prévio, a vontade livre e consciente de, unidas pelo mesmo
propósito, praticar crimes. Trata-se de concurso de agentes. Exemplo: A, B, C e D acordam de
praticar crimes, sendo que A vai furtar um veículo; B vai roubar algumas armas de fogo; C vai
falsificar documentos para nova identidade do grupo; e D vai furtar roupas para o disfarce do
grupo. Nesse caso, não serão instaurados quatro processos, um para cada integrante do grupo.
Haverá um único processo, apurando a conduta de todos (art. 79 do CPP), mesmo que os crimes
sejam praticados em lugar e tempo diferentes. Na conexão intersubjetiva concursal o único nexo
existente é o concerto anterior entre os autores (MARQUES, Frederico. Da competência..., p. 367).
A terceira (letra c) exige que as várias pessoas pratiquem crimes umas contra as outras, com
condutas recíprocas. Por isso, por reciprocidade. Exemplo: o estádio do Maracanã, no Estado do

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Rio de Janeiro, é o exemplo típico, onde Fla x Flu se encontram com as suas torcidas organizadas
e há briga entre os torcedores (lesões corporais, injúrias e, quiçá, homicídios). O inciso II prevê a
chamada conexão objetiva ou lógica, em que uma infração é praticada para facilitar ou ocultar a
outra; ou ainda, quando uma é praticada para obter impunidade ou vantagem em relação a
outra. Exemplo de facilitar: Tício, para cometer o estupro contra Etelvina, tranca o marido desta
dentro de um quarto por várias horas. O crime de constrangimento ilegal foi praticado para
facilitar a prática do estupro. Exemplo de ocultar: Tício, após subtrair grande quantidade de
remédios de uma farmácia, coloca fogo na mesma para ocultar o crime de furto. O crime de
incêndio foi para ocultar o crime de furto. Exemplo de impunidade: Tício, após adentrar de
madrugada na residência de Caio e furtar todos os objetos, verifica que Etelvina, vizinha, a tudo
observava. Mata Etelvina para assegurar a impunidade do furto. E, por último, exemplo de
vantagem: Tício e Caio combinam um assalto a banco, com a divisão pela metade do que for
roubado. Roubam R$ 100.000,00 (cem mil reais), porém Tício, não querendo dividir o valor com
Caio, confisca a vida deste para assegurar a vantagem em relação ao crime de roubo. Em todas
as hipóteses exemplificadas, haverá um único processo e um único julgamento (art. 79 do CPP).
O inciso III prevê a chamada conexão instrumental ou probatória, em que a prova de uma
infração influencia na prova de outra. Exemplo típico é o da receptação e do roubo (ou furto),
em que a prova de existência do crime de roubo (ou furto) influencia a prova de existência da
receptação. Da mesma forma que no crime de favorecimento real (art. 349 do CP), a existência
de crime anterior influencia na sua prova, pois, se a coisa não é proveito de crime, não há
favorecimento real. Assim, Tício rouba (ou furta) um veículo na cidade do Rio de Janeiro e o leva
para Caio na cidade de Niterói, que já o aguarda e sabe da origem criminosa do automóvel. Nesse
caso, haverá conexão probatória ou instrumental entre ambas as infrações penais. Em todas as
hipóteses de conexão acima estudadas, importante é saber que haverá um único processo e um
único julgamento (art. 79 do CPP)”.

Fernando da Costa Tourinho Filho (Processo penal, vol. 2, 32ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010): “A
conexão existe quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um vínculo que
aconselha a junção dos processos, propiciando, assim, ao julgador perfeita visão do quadro
probatório e, de consequência, melhor conhecimento dos fatos, de todos os fatos, de molde a
poder entregar a prestação jurisdicional com firmeza e justiça”. “Conclui-se, com facilidade,
dessas noções, que a conexão tem como efeito a unidade dos processos, isto é, todas as infrações
interligadas ratione conexitatis devem correr em um simultaneus processus, e, por consequência,
deflui daí outro efeito, que é a prorrogatio fori. De fato. Se um crime foi cometido em Mogi-
Guaçu e outro em São João da Boa Vista, havendo entre eles conexão, ambos serão apreciados
em um só processo, e, assim, é evidente que, se o processo tramitar pelo juízo de São João da
Boa Vista, este terá, em relação à infração cometida em Mogi, sua competência prorrogada
(prorrogatio fori). Com sua aguda visão de jurista, ensina Frederico Marques que a conexão e a
continência não são causas determinantes da competência, como o lugar da infração, o domicílio
do réu etc., mas motivos que determinam sua alteração”.

José Carlos G. Xavier de Aquino e José Renato Nalini (Manual de processo penal. 3ª ed., São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009): “De acordo com o nexo de vinculação, se decorrente da união
das vontades dos agentes ou da interdependência entre as infrações, a conexão pode ser
subjetiva ou moral e objetiva ou material. Dá-se a conexão subjetiva ou moral: ‘a) quando várias
pessoas combinam previamente a execução de infrações de mesma ou diferente espécie, e as

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executam com uma ação conjugada, para a obtenção de um fim comum, que foi o móvel
determinante da deliberação em comum; b) quando várias pessoas, ocasionalmente reunidas,
resolvem e executam, ao mesmo tempo, diversas infrações, impulsionadas por um sentimento
comum que as une; c) quando várias pessoas, por circunstâncias predeterminadas ou ocasionais,
entram em conflito e cometem diversas infrações, umas contra as outras’. Já a conexão objetiva
ou material é verificada: a) quando uma infração é cometida para facilitar a realização de outra;
b) quando, cometida uma infração, outra é praticada a fim de ocultar a primeira; c) quando
cometida uma infração, outra é praticada no propósito de conseguir a impunidade da anterior,
ou alguma vantagem que a favoreça”.

3 - CONTINÊNCIA
Muitos autores criticam a distinção entre conexão e continência, alegando que não existe um interesse
prático em extremá-las. No Direito italiano não se faz tal distinção. As hipóteses que, entre nós, são
consideradas como de continência, lá recebem a denominação de conexão subjetiva ou conexão objetiva
(Filho, 2011).

O Código de Processo Civil assim define a continência:

Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às
partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.

Na continência, como o próprio nome está a indicar, uma causa está contida na outra, não sendo devida
cisão. Todavia, como critica PACELLI, o “processo penal brasileiro adota uma conceituação de continência
absolutamente inadequada. Não há na continência processual penal, com efeito, nenhuma relação de
continente para conteúdo, tampouco identidade de partes, remanescendo apenas, do paradigma do
processo civil (art. 104, CPC/1973 e art. 56, CPC/2015), a identidade de causa de pedir” (Pacelli, 2018).

Citando DENILSON FEITOZA, BRASILEIRO transcreve o seguinte: “Cuida-se, pois, de um vínculo jurídico entre duas
ou mais pessoas, ou entre dois ou mais fatos delitivos, de forma análoga a continente e conteúdo, de tal
modo que um fato delitivo contém as duas ou mais pessoas, ou uma conduta humana contém dois ou mais
fatos delitivos, tendo como consequência jurídica, salvo causa impeditiva a reunião das duas ou mais
pessoas, ou dos dois ou mais fatos delitivos, em um único processo penal, perante o mesmo órgão
jurisdicional” (Lima, 2021).

3.1 - Espécies de continência

Subjetiva, concursal ou por cumulação subjetiva – é aquela onde há pluralidade de agentes e unidade de
infração, prevista no inciso I do art. 77 do Código de Processo Penal:

I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;

[...] ocorre quando duas ou mais pessoas são acusadas pela mesma infração penal – é o que
ocorre no concurso eventual de pessoas (art. 29 do CP) e no concurso necessário de pessoas
(crimes plurissubjetivos). Atente-se para a diferença entre a conexão intersubjetiva e a

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continência subjetiva: na conexão, são vários crimes e várias pessoas; na continência, são várias
pessoas e um único crime. Como exemplo de continência por cumulação subjetiva, imagine-se
um crime de homicídio praticado por dois agentes (Lima, 2021).

É a que ocorre quando for a infração praticada em concurso de agentes. Difere da conexão por
concurso, pois nesta há várias pessoas cometendo vários fatos criminosos, ao passo que, aqui, o
fato é apenas um, sendo ele cometido por vários indivíduos. Exemplos: 1) Crime de furto
perpetrado por vários agentes conluiados; 2) Para expressiva parcela doutrinária, a rixa, que
incorpora hipótese de coautoria necessária, enquadra-se na continência concursal, pois há um
crime perpetrado por várias pessoas, umas aderindo e encorajando a ação de outras no embate
(Avena, 2020).

Por cumulação objetiva – quando uma única conduta delituosa do agente produz mais de um resultado,
prevista no inciso II do art. 77 do CPP: ==13272f==

II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e
54 do Código Penal.

Depois da reforma de 1984 do Código Penal, as remissões do dispositivo correspondem aos “arts. 70, 73 e
74, 2ª parte, do mesmo Código, que se referem, respectivamente, às hipóteses de concurso formal de crimes,
de aberratio ictus e de aberratio delicti” (Avena, 2020).

a) Concurso formal (art. 70 do CP): perfaz a situação em que o agente, mediante uma só conduta
(ação ou omissão), pratica dois ou mais crimes. Exemplo: dirigindo imprudente e
negligentemente, o motorista de um ônibus vem a tombar o veículo, ferindo vários passageiros
e matando outros tantos. Nesse caso, todos os eventos típicos serão apurados conjuntamente,
sendo, ao final, no caso de condenação, aplicada a pena de um só crime (se idênticas) ou a do
crime mais grave (se diversas), acrescida, em qualquer caso, de um sexto até a metade.

b) “Aberratio ictus” complexa (art. 73, 2ª parte, do CP): também chamada de “aberratio ictus”
com resultado duplo ou múltiplo, traduz a hipótese em que o agente, por erro na execução,
atinge não apenas a pessoa que desejava, mas, também, outra que não pretendia atingir.
Exemplo: desejando matar Pedro, o agente desfere-lhe um tiro, o qual, além de Pedro, atinge,
também, o transeunte João. A regra a ser aplicada é a mesma do concurso formal. E se fosse
atingida apenas a pessoa não pretendida pelo agente? Nesse caso, a hipótese caracterizaria
aberratio ictus simples ou com resultado único, não havendo que se falar na continência prevista
no art. 77, II, do CPP, já que o agente responderá por um só crime (art. 73, 1.ª parte, do CP), e
não por dois crimes em concurso formal.

c) “Aberratio delicti” (art. 74, 2ª parte, do CP): ocorre quando o agente objetiva determinado
resultado, vindo a alcançá-lo, e, também, outro que não estava nos seus planos. Exemplo: pedra
desferida contra a vidraça de uma casa, visando a danificá-la (crime de dano), mas que atinge,
também, uma pessoa que, no momento, passava pelo local (crime de lesões corporais).
Igualmente, aplicável a regra do concurso formal. E se fosse apenas alcançado o resultado
diverso? Simetricamente à hipótese anterior, também aqui não se falará na continência prevista

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no art. 77, II, do CPP, pois o agente responderá por apenas um crime (art. 73, 1.ª parte, do CP), e
não por dois crimes em concurso formal (Avena, 2020).

RENATO BRASILEIRO lembra que “nas hipóteses de crime continuado, a competência não será determinada pela
conexão, nem tampouco pela continência, mas sim pela prevenção, nos exatos termos do art. 71 do CPP”
(Lima, 2021).

Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “Continência é a
relação de interdependência que ocorre quando uma coisa está indissociavelmente contida em
outra. Por força dela, uma situação não pode ser separada da outra, daí a necessidade de análise
conjunta. Na hipótese, implica simultaneus processus; um só processo para a análise conjunta e
julgamento único dos fatos, de modo a traduzir economia processual e evitar decisões
conflitantes. [...] Primeira hipótese: concurso de agentes. Regulada no inc. I, reclama pluralidade
de agentes em concurso (CP, art. 29) e apenas um delito. Não se confunde com a conexão
intersubjetiva concursal, na qual é imprescindível pluralidade de agentes e de delitos. [...]
Segunda hipótese: concurso formal de delitos. Haverá continência sempre que ocorrer concurso
formal de delitos, o que pressupõe uma só conduta ilícita com pluralidade de resultados. Com a
reforma introduzida no Código Penal pela Lei n. 7.209/84, as matérias tratadas nos arts. 51, § 1º,
53, segunda parte, e 54 passaram a ser reguladas nos arts. 70, 73, 2ª parte, e 74, segunda parte.
Haverá, portanto, continência por (1) concurso formal simples ou puro; por (2) concurso formal
decorrente de erro na execução (aberratio ictus), e por (3) concurso formal com resultado diverso
do pretendido (aberratio delicti ou aberratio criminis). Note-se uma vez mais que é
imprescindível, em qualquer caso, tenha ocorrido concurso formal”.

NORBERTO AVENA (Processo Penal, 12ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020):
“Continência concursal ou por cumulação subjetiva (art. 77, I, do CPP – ‘duas ou mais pessoas
forem acusadas pela mesma infração’). É a que ocorre quando for a infração praticada em
concurso de agentes. Difere da conexão por concurso, pois nesta há várias pessoas cometendo
vários fatos criminosos, ao passo que, aqui, o fato é apenas um, sendo ele cometido por vários
indivíduos. Exemplos: 1) Crime de furto perpetrado por vários agentes conluiados; 2) Para
expressiva parcela doutrinária, a rixa, que incorpora hipótese de coautoria necessária, enquadra-
se na continência concursal, pois há um crime perpetrado por várias pessoas, umas aderindo e
encorajando a ação de outras no embate. Continência por cumulação objetiva (art. 77, II, do CPP)
– ‘no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1. º, 53, segunda parte, e
54 do CP)’. As remissões aos arts. 51, § 1. º, 53, 2. ª parte, e 54 do Código Penal, com a reforma
da Parte Geral pela Lei 7.209/ 1984, correspondem, na atualidade, aos arts. 70, 73 e 74, 2. ª parte,
do mesmo Código, que se referem, respectivamente, às hipóteses de concurso formal de crimes,
de ‘aberratio ictus e de ‘aberratio delicti’. Em todos estes casos uma única conduta delituosa do
agente produz mais de um resultado, impondo-se, portanto, a apuração conjunta de todos eles.
a) Concurso formal (art. 70 do CP): perfaz a situação em que o agente, mediante uma só conduta
(ação ou omissão), pratica dois ou mais crimes. Exemplo: dirigindo imprudente e
negligentemente, o motorista de um ônibus vem a tombar o veículo, ferindo vários passageiros
e matando outros tantos. Neste caso, todos os eventos típicos serão apurados conjuntamente,
sendo, ao final, no caso de condenação, aplicada a pena de um só crime (se idênticas) ou a do

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crime mais grave (se diversas), acrescida, em qualquer caso, de um sexto até a metade. b)
‘Aberratio ictus’ complexa (art. 73, 2. ª parte, do CP): também chamada de ‘aberratio ictus’ com
resultado duplo ou múltiplo, traduz a hipótese em que o agente, por erro na execução, atinge
não apenas a pessoa que desejava, mas, também, uma outra que não pretendia atingir. Exemplo:
desejando matar Pedro, o agente desfere-lhe um tiro, o qual, além de Pedro, atinge, também, o
transeunte João. A regra a ser aplicada é a mesma do concurso formal. E se fosse atingida apenas
a pessoa não pretendida pelo agente? Neste caso, a hipótese caracterizaria aberratio ictus
simples ou com resultado único, não havendo que se falar na continência prevista no art. 77, II,
do CPP, já que o agente responderá por um só crime (art. 73, 1. ª parte, do CP), e não por dois
crimes em concurso formal. c) “Aberratio delicti” (art. 74, 2. ª parte, do CP): ocorre quando o
agente objetiva determinado resultado, vindo a alcançá-lo, e, também, outro que não estava nos
seus planos. Exemplo: pedra desferida contra a vidraça de uma casa, visando a danificá-la (crime
de dano), mas que atinge, também, uma pessoa que, no momento, passava pelo local (crime de
lesões corporais). Igualmente, aplicável a regra do concurso formal. E se fosse apenas alcançado
o resultado diverso? Simetricamente à hipótese anterior, também aqui não se falará na
continência prevista no art. 77, II, do CPP, pois o agente responderá por apenas um crime (art.
73, 1. ª parte, do CP) e não por dois crimes em concurso formal”.

FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (Processo penal, vol. 2, 32ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010): “Na
continência, como o próprio nome está a indicar, uma causa está contida na outra, não sendo
possível a cisão. Como a continência se verifica na hipótese de concurso de pessoas (coautoria e
participação) — e aí a causa petendi é a mesma — e nos casos em que se aplique a regra contida
na primeira parte do art. 70 do CP — arts. 73, segunda parte, e 74 — conclui-se que, como o fato
é o mesmo (no caso de coautoria e participação) ou a conduta é uma só (é a hipótese do concurso
formal), podemos afirmar que a continência está em função da identidade da causa petendi ou
da unidade da conduta. Por essas razões, não se concebe pluralidade de processos quando a
causa de pedir é a mesma. Tampouco quando houver unidade de conduta, nada obstante daí
decorram duas ou mais infrações. Por que apreciar a mesma conduta em diversos processos?
Por que apreciar o mesmo fato, a mesma causa de pedir em processos distintos? Não seria
atentar contra o princípio da economia processual? Não haveria a possibilidade de provas
conflitantes? Por esses motivos, havendo continência, haverá, também, o simultaneus processus.
A continência, à semelhança do que ocorre com a conexão, não é causa determinante da
competência, mas, sim, de alteração, de modificação”.

4 - UNIDADE DE PROCESSO E JULGAMENTO


Analisados e definidos os institutos da conexão e da continência, cumpre agora verificar do seu principal
efeito. Eis o que estabelece o caput do art. 79 do CPP:

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:

Essa reunião dos casos, com eventual prorrogação de competência, para que sejam processados e julgados
conjuntamente, por um único juízo, é uma consequência natural e adequada às próprias razões da criação e
da existência dos institutos – não é por outro motivo que a legislação concebe a conexão e a continência,
senão para viabilizar o julgamento simultâneo (simultaneus processus).

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Eventual alteração de competência e possível prorrogação de competência que decorram da correta


aplicação das disposições legais, segundo já pacificou a jurisprudência, não representarão desrespeito ao
princípio do juiz natural (dentre outros), nos termos da Súmula 704 do STF:

Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência
ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

BRASILEIRO pondera que caso “haja conexão e continência entre crimes de ação penal pública e privada,
estabelecer-se-á litisconsórcio ativo entre o Ministério Público e o titular do jus querelandi” (Lima, 2021).

Identificadas a afinidade, ligação, influência ou identidade entre dois ou mais fatos, a lei haveria
de atribuir alguma consequência a essa realidade, não podendo ignorar o enorme proveito que
a apuração conjunta ou simultânea deles poderia gerar. A principal delas, praticamente comum
a todas as modalidades de conexão e continência, diz respeito à grande utilidade probatória que
a reunião de processos conexos ou continentes permite. Isso no plano da utilidade estritamente
processual. Mas também em outra dimensão revela-se necessária a reunião de processos
conexos ou continentes, como se pode constatar, por exemplo, na conexão por concurso,
quando somente o julgamento conjunto de todas as infrações é que permitirá a demonstração
completa da participação individualizada de todos os réus em todos os fatos delituosos, e não
apenas naquele em que determinado acusado praticara atos típicos de execução. Aqui, o
proveito situa-se no âmbito do direito material, no campo da punibilidade. Na hipótese do art.
77, I, a reunião de processos para unificação do julgamento é absolutamente indispensável, como
meio de impedir a divergência judicial sobre um único e mesmo fato criminoso, funcionando,
então, como estratégia de controle da efetividade e eficácia da jurisdição penal. Nesse passo, o
expediente da unidade de processo e de julgamento assume dimensão não só jurisdicional, mas
até de política criminal, sem falar no princípio geral da igualdade com que devem ser tratados
todos os cidadãos. No entanto, nem o Supremo Tribunal Federal, que manteve a reunião de
processos no caso do famoso “Mensalão” (AP 470), e tampouco o STJ estão seguindo semelhante
orientação. E por razões injustificadas, já que ali não se faz a necessária distinção que deve haver
entre a continência e a conexão. A continência, como visto, por cuidar de unidade de conduta
deve, em regra, receber o mesmo tratamento jurisdicional: o princípio da igualdade o impõe! Já
na conexão a hipótese não é a mesma, exatamente pela pluralidade de ações que a caracteriza.
A reunião de processo nesses casos (de conexão) visa apenas ao melhor proveito da instrução
(Pacelli, 2018).

Diante dessa junção dos processos, cumpre verificar qual o juízo/foro que será o competente e terá sua
competência prorrogada. Qual será o foro prevalente ou qual juízo terá força atrativa. “Por juízo prevalente
deve-se entender o juízo de domínio, ou seja, o juízo que deverá fazer prevalecer a sua jurisdição quando
em concurso (ou em concorrência) com outras, em razão da conexão e da continência” (Pacelli, 2018).

[...] força atrativa (forum attractionis ou vis attractiva): o juízo competente vai trazer para si o
processo e julgamento único. Tem-se aí uma hipótese de prorrogação de competência, tomando-
se competente o juízo que, em abstrato, não o seria, caso se levasse em consideração o lugar da
infração, o domicílio do réu, a natureza da infração e a distribuição. Seu efeito é a sujeição dos
acusados ou dos diversos fatos delituosos a um só juízo, a fim de serem julgados por uma única
sentença, sem que disso resulte qualquer alteração da natureza das infrações penais cometidas.

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Em relação à avocatória, dispõe o art. 82 do CPP: "se, não obstante a conexão ou continência,
forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os
processos que corram perante outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste
caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação
de penas". Se um dos processos já foi sentenciado, não mais haverá razão para a reunião dos
processos na medida em que o objetivo maior da conexão/continência - simultaneus processos
como fator de produção probatória mais eficaz e de se evitar julgamentos conflituosos – não
mais será passível de ser atingido. Nessa linha, dispõe a súmula n° 235 do STJ que a conexão não
determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado. Quando a súmula diz ''já foi
julgado", de modo algum se refere à decisão com trânsito em julgado. Na verdade, quando o art.
82 do CPP diz sentença definitiva, refere-se à decisão de mérito recorrível que comporta
apelação, e não à sentença com trânsito em julgado. Perceba-se que o próprio Código de
Processo Penal, em outro passo, utiliza-se da expressão sentença definitiva sem que esta
pressuponha o trânsito em julgado, dando demonstrativo de que seu uso se refere à sentença
que ainda é recorrível. É o que se nota no art. 593, I, do CPP, que preceitua caber apelação (logo,
inexistente ainda o trânsito em julgado) das sentenças definitivas de condenação ou absolvição.
Caso já haja sentença definitiva, a unidade dos processos somente se dará posteriormente para
o efeito de soma (concurso material e formal impróprio) ou de unificação de penas (concurso
formal próprio e crime continuado). Essa soma ou unificação das penas do condenado ficará a
cargo do juiz da execução penal, assim como preceitua o art. 66, III, "a", da Lei de Execução Penal
(Lei n° 7.210/84). A competência para soma ou unificação de penas infligidas por juízos de
Estados diversos é do juízo de execução criminal do Estado em que está recolhido o condenado.
Se o juiz prevalente avocar o processo em curso perante o outro juiz e este se recusar a entregar
os autos do processo, estará caracterizado um conflito positivo de competência, na medida em
que ambos os juízes se consideram competentes (CPP, art. 114, inciso II). Por fim, como
importante efeito da conexão e da continência, não se pode olvidar que, de acordo com o art.
117, § 1°, do Código Penal, excetuados os casos dos incisos V e VI do referido artigo (início ou
continuação do cumprimento da pena e reincidência, respectivamente), a interrupção da
prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que
sejam objeto de mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles.
Como se vê, em virtude da conexão e da continência, haverá a unidade de processos (simultaneus
processus), daí por que é necessário que a lei determine qual será o foro competente para
apreciar os fatos (forum attractionis). [...] qual juízo exercerá força atrativa (Lima, 2021).

5 - JUÍZO PREVALENTE
Como explica PACELLI, tem-se “a prorrogação de competência quando o órgão jurisdicional originariamente
incompetente para o julgamento de determinado processo adquire a competência em virtude da aplicação
de quaisquer das regras processuais que impõem a reunião de processos” (Pacelli, 2018). Há se verificar qual
juízo terá sua competência derrogada e qual juízo terá sua competência prorrogada, ou seja, será prevalente.

As regras em relação a isso estão no art. 78 do CPP:

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as


seguintes regras:

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Vamos estudar as hipóteses (previstas nos incisos e alíneas do art. 78), uma a uma.

I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá


a competência do júri;

A disposição do art. 78, I, é até dispensável. Ora, se há distribuição de competência na


Constituição, não poderia o CPP alterar a aludida regra, ainda quando fundada em bons
propósitos. Assim, e como o critério de conexão decorre unicamente de norma
infraconstitucional (CPP), a competência do Tribunal do Júri jamais poderia ser afastada. Com
isso, haverá que prevalecer a competência constitucional (Pacelli, et al., 2018).

Ordinariamente, são da competência do júri casos como o de agente que pratica um crime de
estupro e, logo após, para conseguir a impunidade, mata a vítima. Ambos os delitos – o estupro
e o homicídio – serão processados perante o juízo do júri e submetidos, posteriormente, ao
Tribunal Popular. Logo, são aplicáveis ao Tribunal do Júri as regras de conexão e continência
previstas na legislação ordinária.

Quanto à ponderação de que a competência do Tribunal do Júri é constitucionalmente definida


para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, tal não impede a atração ao julgamento
perante os jurados de crimes sem essa natureza se lhes forem conexos ou continentes, mesmo
porque a regra inserida no art. 5º, XXXVIII, d, da CF estabelece a competência mínima do Tribunal
Popular, nada impedindo seja ela aumentada pela legislação infraconstitucional. Observe-se que,
se é pacífica a prevalência da competência do júri sobre a competência dos juízes singulares em
casos tais, existem controvérsias quando se tratar de concurso entre a competência do júri e a
competência originária dos Tribunais provocadas pelas hipóteses de prerrogativa da função.
Exemplo: Um Juiz de direito da Justiça Estadual de São Paulo (que possui prerrogativa de função
estabelecida pela Constituição Federal) e um cidadão comum vêm a matar determinada pessoa,
agindo em concurso de agentes. Nesse caso, é majoritária a orientação que considera que o Juiz
será julgado pelo tribunal a que esteja vinculado (no exemplo, o Tribunal de Justiça de São Paulo),
submetendo-se o agente remanescente ao júri popular. Há, contudo, parcela doutrinária que
compreende que ambos devam ser julgados pelo tribunal, em razão do disposto na Súmula 704
do STF, segundo a qual “não viola as garantias do Juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados”. Concordamos com a primeira vertente,
entendendo inaplicável o verbete 704 do Excelso Pretório, já que o exemplo em questão trata de
uma pessoa uma pessoa com prerrogativa de foro e outra não, envolvendo, ainda, não apenas,
o conflito de normas de competência em razão da pessoa (indivíduo com prerrogativa de foro e
outro sem essa prerrogativa), mas, também, o exame de norma de competência ratione
materiae, relacionada esta à competência do Tribunal do Júri para julgamento dos crimes dolosos
contra a vida, regras estas que, possuindo embasamento constitucional, devem ser conciliadas.
Agora, se o mesmo Juiz estadual, em conluio com cidadão comum, praticar delito de concussão,
aí sim reputamos aplicável a Súmula 704 do STF, fazendo com que ambos sejam julgados pelo
tribunal (foro competente para o julgamento do juiz) (Avena, 2020).

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No entanto, se o crime conexo for militar, deverá ocorrer a separação de processos, na medida
em que ambas as competências estão previstas na Constituição Federal - a do Tribunal do Júri
para o julgamento de crimes dolosos contra a vida, e a da Justiça Militar para o julgamento dos
crimes militares (CPP, art. 79, inciso I; CPPM, art. 102, '"a"). Imagine-se a hipótese de
determinado agente invadir um quartel das Forças Armadas, e de lá subtrair uma arma de fogo,
posteriormente utilizada para o cometimento do homicídio de um desafeto. Nessa hipótese,
caberá à Justiça Militar o julgamento do crime patrimonial (lembre-se: a Justiça Militar da União,
ao contrário da Justiça Militar dos Estados, tem competência para processar e julgar civis), ao
passo que ao Tribunal do Júri caberá o julgamento do crime de homicídio. Ao ampliar a
competência do Tribunal do júri para processar e julgar as infrações penais conexas e originárias
da continência, a lei processual penal não malfere a Constituição Federal, pois esta, na verdade,
estabelece uma competência mínima do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida
(CF, art. 5°, XXXVIII, "d"), o que, todavia, não impede que lei ordinária possa ampliar sua
competência. Se, porventura, essa infração conexa a um crime doloso contra a vida for
descoberta após a prolação da pronúncia, pensamos ser possível a aplicação analógica do
disposto no art. 421, § 1°, do CPP, segundo o qual, ainda que preclusa a decisão de pronúncia,
havendo circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz ordenará a
remessa dos autos ao Ministério Público. Nessas circunstâncias, poderá o Parquet aditar a
denúncia, oportunizando-se a oitiva da defesa, para que, afinal, possa o juiz prolatar nova decisão
de pronúncia, desta feita acolhendo as infrações conexas ou continentes (Lima, 2021).

II - no concurso de jurisdições da mesma categoria:

“Jurisdições da mesma categoria são aquelas entre as quais não há nenhuma hierarquia jurisdicional, como
entre dois juízes estaduais de 1º grau, dois juízes federais de 1º grau, dois pretores etc.” (Alves, 2017). “Se
houver Vara Especializada, instituída em conformidade com as regras previstas em Leis de Organização
Judiciária, prevalecerá o critério da especialização por matéria, aplicando-se, por analogia, o quanto previsto
no art. 78, I” (Pacelli, et al., 2018). Caso contrário, devem ser observadas as regras das alíneas:

a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;

Quanto à definição sobre o que seja “pena mais grave”, deve-se, primeiramente, levar em conta
a natureza da pena cominada – reclusão é mais grave do que a detenção; esta, por sua vez, é
mais grave que a prisão simples e a multa. Sendo da mesma natureza (v.g., ambos os delitos
punidos com reclusão), considerar-se-á a quantidade de pena prevista in abstracto –
primeiramente a pena máxima e, após, a pena mínima. Exemplo: conexão entre o furto
qualificado ocorrido em Pelotas e a receptação consumada em Rio Grande. Prevalecerá a
competência de Pelotas, pois lá foi praticada a infração com pena superior (Avena, 2020).

[...] havendo conexão probatória entre um crime de roubo, praticado na Comarca "A", e um
delito de receptação, cometido na comarca "B", deve preponderar o juízo da comarca "'A".
Perceba-se que, mesmo que quatro delitos de receptação tenham sido cometidos na comarca
"B", ainda assim prevalece a competência do Juízo da Comarca "A", pois o delito de roubo ali
praticado possui pena mais grave. Considera-se a pena mais grave a privativa de liberdade,

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depois as privativas e restritivas de direitos e, por fim, as penas pecuniárias. Entre as penas
privativas de liberdade, a mais grave é a reclusão, seguida da detenção e da prisão simples. Em
cada uma delas, a maior gravidade será determinada pela duração ou quantidade. Consideram-
se sempre as penas como cominadas abstratamente para os crimes que são objeto de conexão
e continência. Ademais, havendo um crime com pena de reclusão de 1 a 6 anos e outro de
reclusão de 2 a 4 anos, a infração com pena mais grave é aquela em que a pena máxima cominada
é a mais alta, e não a que possui maior pena mínima. O legislador permitiu cominar sanção mais
alta a determinado delito porque previu hipóteses em que a conduta ocorre sob particularidades
de maior reprovabilidade, razão pela qual essa deve, em abstrato, ser entendida como a mais
grave. Se as penas máximas cominadas forem iguais, deve prevalecer, para atrair a competência,
a infração de maior pena mínima (Lima, 2021).

b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas


penas forem de igual gravidade;

Considera-se que o local onde o maior número de crimes foi praticado estaria com sua ‘tranquilidade social’
mais abalada, merecendo que a persecução penal atue a nível de pacificação e de prevenção. Isso, aliado ao
fato de que, em tese, a maior parte das provas (se considerado o conjunto de crimes) também deve estar
nesse lugar onde ocorreu a maioria dos crimes.

É o caso, por exemplo, de cinco celulares furtados (furtos simples) em Guaíba terem sido
adquiridos (receptação simples) em Porto Alegre por um determinado receptador. Como o furto
simples e a receptação simples possuem a mesma pena, competente será a Comarca de Guaíba,
onde maior número de infrações foi praticado (Avena, 2020).

c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;

Ora, tratando-se de jurisdições de idêntica categoria e não sendo viável a definição pela
gravidade da infração ou pelo número de delitos, resta a prevenção, como critério residual,
considerando-se competente o juízo do lugar no qual praticado o primeiro ato de jurisdição
(Avena, 2020).

[...] caso nenhum dos dois critérios anteriores - gravidade do delito e maior número de infrações
- seja suficiente para se estabelecer o juízo prevalente, firmar-se-á a competência com base na
prevenção, a qual geralmente funciona como critério subsidiário de fixação de competência. Não
se pode confundir a fixação da competência pela prevenção do art. 75 do CPP, que trata de varas
com idêntica competência (v.g., varas criminais comuns de determinada comarca), com a
situação do art. 78, II, "c", do CPP, que trata de definição do critério de atração em havendo
conexão de infrações penais originariamente tramitando perante varas distintas (Lima, 2021).

João, Mané e Bráulio, previamente ajustados, subtraem em Porto Alegre três veículos com os
quais, na cidade gaúcha de Guaíba, cometem um roubo a banco, atingindo na fuga um vigilante
que reagiu, causando-lhe a morte. No outro dia, na cidade de São Lourenço, abordam um rapaz
e, para subtrair o veículo que ele conduzia, matam-no. Finalmente, semanas após, em Camaquã,
são presos em cumprimento de mandado de prisão preventiva decretada pelo juiz estadual de
São Lourenço (todas as cidades estão no mesmo Estado). No momento da prisão, também é

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lavrado o flagrante pelo porte de 800g de maconha, comprada com o dinheiro do roubo e
destinada a venda. O flagrante é homologado e, dez dias depois, o juiz de direito da comarca de
Camaquã recebe a denúncia por tráfico de substância entorpecente. a) Explique se existe e qual
a modalidade de conexão ou continência. b) Qual Justiça será competente para julgá-los? c) Qual
será o órgão? d) Onde (foro) serão julgados? e) O que deverá fazer o juiz com competência
prevalente quando receber a denúncia e verificar a instauração de processo-crime na cidade de
Camaquã?

Vejamos a solução do caso: a) Existe conexão intersubjetiva concursal, art. 76, I, devendo todos
os crimes e pessoas ser reunidos para julgamento simultâneo. b) João, Mané e Bráulio serão
julgados, por todos os delitos, na Justiça Comum Estadual. c) Os crimes praticados são: furto (art.
155), dois latrocínios (art. 157, § § 1º e 3º) e tráfico de substâncias entorpecentes (art. 14 da Lei
n. 11.343). Não há crime de homicídio, mas sim de latrocínio (roubo impróprio, pois a violência
é empregada após a subtração para assegurar a posse ou impunidade), por isso serão julgados
pelo Juiz de Direito e não pelo Tribunal do Júri. Se, ao invés de latrocínio, fosse homicídio, a
situação se alteraria completamente, sendo todos os fatos e réus julgados no Tribunal do Júri
(em Guaíba). d) Quanto ao foro, será competente o juiz da comarca de São Lourenço, local da
infração mais grave (latrocínio), art. 78, II, “a”, e prevento (art. 78, II, “c”). Existe um “empate”
no critério local da infração mais grave entre São Lourenço e Guaíba. O desempate se dá pela
utilização da alínea “c”, ou seja, a prevenção, pois na primeira cidade existe um mandado de
prisão expedido pelo juiz. e) Caso o processo tenha sido instaurado em diversas comarcas, o juiz
de São Lourenço (competência prevalente) deverá avocar os demais processos, nos termos do
art. 82 (Júnior, 2021).

III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;

[...] contempla o Código de Processo Penal a hipótese em que exista hierarquia jurisdicional, ou
seja, concurso entre uma jurisdição mais graduada e outra inferior (v.g., o Tribunal de Justiça de
um Estado é jurisdição graduada em relação aos juízos singulares do mesmo Estado, pois estes
podem ter suas decisões modificadas por aquele). Nesse caso, estabelece o mencionado
dispositivo que prevalecerá a competência da jurisdição mais graduada, obedecendo-se,
destarte, a um critério lógico. Exemplo: Magistrado Estadual (que possui foro privilegiado por
força do art. 96, III, da CF) e um Oficial Escrevente (que não possui prerrogativa de função)
cometem, em concurso de agentes, crime de lesão corporal grave. A hipótese caracteriza
continência. Então, por força do predomínio da jurisdição mais graduada, o foro privilegiado
afeto ao Magistrado atrairá o processo e julgamento também do coautor despido de prerrogativa
de função, fazendo com que ambos sejam julgados pelo Tribunal de Justiça. Nesse sentido, reza
a Súmula 704 do STF que “não viola as garantias do Juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por
prerrogativa de função de um dos denunciados”.

É importante destacar, entretanto, que, na hipótese de se operar a atração de todos os


envolvidos ao foro privilegiado em decorrência da condição funcional de um deles, caso a
denúncia oferecida contra a pessoa que goza do privilégio não seja recebida ou seja rejeitada, a

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competência para o julgamento dos demais retorna ao foro comum (RT 740/643), pois não
haverá razão para manter o privilégio de foro. Outro exemplo: considere-se que um Promotor de
Justiça, que tem foro privilegiado no Tribunal de Justiça do Estado, e um Desembargador, que
tem direito de ser processado e julgado perante o STJ, cometam delito de concussão. Onde
deverão ser denunciados? Sobre essa situação já se pronunciou o Excelso Pretório no sentido de
que, por força da sua Súmula 704, ambos deverão ser processados e julgados no STJ, que é mais
graduado em relação aos Tribunais estaduais. E se o Promotor quiser renunciar essa prerrogativa
para ser julgado perante seu foro natural, o Tribunal do Estado? Não há essa possibilidade, pois
são irrenunciáveis as regras que o atraem ao foro do corréu (STF, HC 91.347/PI, DJ 18.10.2007).

Tem gerado controvérsia a aplicabilidade da referida Súmula 704 do STF nas hipóteses em que
estiverem definidas constitucionalmente tanto a competência da jurisdição mais graduada (v.g.,
Tribunal de Justiça, Tribunal Regional Federal etc.) como a da menos graduada (v.g., Tribunal do
Júri e Juizados Especiais Criminais). Exemplo: Magistrado Estadual e cidadão comum vêm a matar
determinada pessoa, agindo em concurso de agentes. Essa situação diverge da tratada no
exemplo anterior (lesão corporal grave cometida por Juiz e oficial escrevente em concurso de
agentes), pois aqui incidem em relação a ambos os coautores regras constitucionais definidoras
de competência: para o juiz, o art. 96, III, da CF, atribuindo-lhe a prerrogativa de julgamento
perante o Tribunal de Justiça, independentemente da natureza do crime praticado; e, para o
cidadão comum, o art. 5º, XXXVIII, d, da CF, dispondo sobre a competência do Tribunal do Júri
para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Nesse contexto, surge a discussão quanto
ao foro competente para o processo e julgamento do indivíduo não detentor do privilégio de
foro em casos tais, vale dizer, se do Tribunal de Justiça, por força da incidência genérica da
Súmula 704 do STF, ou do Tribunal do Júri, em face da normatização específica prevista no texto
constitucional. Há duas posições:

Primeira corrente: Traduzindo a maioria da doutrina e da jurisprudência pátria, compreende que


a Súmula 704 não se aplica à hipótese em que os agentes em concurso possuem, cada qual, foro
próprio definido por norma constitucional. No exemplo citado, se tanto o Magistrado, em razão
de sua condição funcional, como o cidadão comum, em face da natureza do crime perpetrado
(doloso contra a vida), estão sujeitos a regras de competência ditadas pela Constituição Federal,
cada um deverá ser processado e julgado no respectivo foro – o juiz, pelo tribunal a que está
vinculado (Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal), e o coautor, pelo júri popular.
Aderimos integralmente a essa corrente, da qual são adeptos, também, Guilherme de Souza
Nucci, Tourinho Filho, Julio Fabbrini Mirabete e Edílson Mougenot Bonfim. Corroborando esse
mesmo entendimento, a jurisprudência do STJ (Reclamação 2.125, Min. Hamilton Carvalhido, DJ
04.04.2006). No âmbito do STF, por sua vez, no julgamento da Ação Penal 333-2/PB, em voto
datado de 05.12.2007, o Ministro Marco Aurélio, embora tratando de assunto diverso, adotou a
posição em exame, observando que, praticando corréus crime doloso contra a vida, o fato de
haver em relação a um deles a prerrogativa de foro constitucionalmente definida não é suficiente
para afastar, quanto ao acusado cidadão comum despido dessa prerrogativa, a competência do
Tribunal do Júri. A partir dessa premissa, concluiu ao final que, “envolvidos em crime doloso
contra a vida conselheiro de Tribunal de Contas de Município e cidadão comum, biparte-se a
competência, processando e julgando o primeiro o Superior Tribunal de Justiça e o segundo, o
Tribunal do Júri”.

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Segunda corrente: A Súmula 704 do STF aplica-se indistintamente, impondo a prevalência da


jurisdição mais graduada afeta ao corréu detentor de privilégio de foro sobre a jurisdição menos
graduada do acusado cidadão comum. Por esse raciocínio, no exemplo retro, tanto o Juiz quanto
o cidadão comum deveriam ser julgados pelo crime doloso contra a vida no Tribunal de Justiça.
Adepto dessa linha de pensamento, Fernando Capez (Curso de processo penal, 13. ed., 2006, p.
217). E, embora se trate de caso isolado, por ocasião do julgamento do HC 83.583/PE, do qual foi
relatora a Ministra Ellen Gracie, em 20.04.2004, o STF agasalhou essa posição, considerando que,
sendo um dos acusados por crime doloso contra a vida Desembargador e, portanto, “detentor
de foro por prerrogativa de função, todos os demais coautores serão processados e julgados
perante o Superior Tribunal de Justiça, por força do princípio da conexão”.

E se for o caso de conexão ou continência envolvendo foro privilegiado e infração de competência


dos Juizados Especiais Criminais? Considere-se o seguinte exemplo: Juiz de Direito Estadual
(detentor de privilégio de foro no Tribunal de Justiça), em concurso de agentes com terceira
pessoa sem foro privilegiado, comete crime de lesão corporal leve. Ora, as infrações de menor
potencial ofensivo estão sujeitas, ordinariamente, aos juizados especiais criminais em razão do
disposto no art. 98, I, da CF. Trata-se, portanto, de competência constitucionalmente
estabelecida. Levando em conta essa circunstância, conclui-se que a situação, no exemplo supra,
é simétrica à anteriormente examinada (competência constitucional do Júri), razão pela qual a
definição da competência dependerá da posição adotada. Na medida em que agasalhamos o
entendimento de que é inaplicável a Súmula 704 do STF quando concorrerem foros
constitucionalmente competentes, compreendemos, no exemplo retro, que a pessoa não
detentora da prerrogativa de foro deverá ser encaminhada ao Juizado Especial Criminal (JECrim)
do lugar em que praticada a infração penal, enquanto o Magistrado responderá pelo delito junto
ao Tribunal de Justiça a que vinculado. Isto ocorre porque a competência do JECrim é fixada
constitucionalmente, possuindo, então, caráter absoluto. Por outro lado, a competência do
Tribunal de Justiça para julgar o Juiz também é estabelecida pela Carta Política, sendo,
igualmente, absoluta. Destarte, incidindo, em relação aos dois indivíduos, competências
constitucionalmente estabelecidas, cada qual deverá responder junto ao órgão próprio. Note-se,
todavia, que, para os que defendem que a Súmula 704 do STF possui aplicação indistinta a
qualquer hipótese em que concorrer jurisdição com maior graduação e outra menos graduada,
a competência para o processo e julgamento em casos tais seria afeta ao Tribunal de Justiça, por
ser este o foro privilegiado do juiz (Avena, 2020).

IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

Tendo em vista que, tratando-se de matéria criminal, podem ser reputadas especiais unicamente
a Justiça Eleitoral e a Militar e considerando que, quanto a esta última, existe regra própria (art.
79, I, do CPP), resta aplicável a norma do art. 78, IV, do CPP, unicamente à Justiça Eleitoral. Assim,
conexo crime eleitoral com crime comum, ambos serão julgados pela Justiça Eleitoral. E quando
se tratar de conexão entre um crime de competência do Júri e outro da Justiça Eleitoral? A
hipótese é bastante controvertida, havendo três correntes:

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• Primeira posição: Não existindo previsão legal sobre o procedimento a ser adotado
especificamente para esses casos, o crime doloso contra a vida e o crime eleitoral que lhe for
conexo serão julgados pelo Tribunal do Júri sob a presidência do Juiz Eleitoral. Trata-se de
entendimento minoritário, sem respaldo na doutrina abalizada.

• Segunda posição: Prevalece a competência da Justiça Eleitoral, em face da regra do art. 78, IV,
do CPP, dispondo que, “no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta”.
Logo, os crimes dolosos contra a vida praticados em conexão com crimes eleitorais serão julgados
por um Juiz Eleitoral. Aderindo a essa posição, TOURINHO FILHO traz o exemplo de alguém que
comete um crime eleitoral e, para conseguir a impunidade desse fato, mata a única testemunha.
Analisando essa hipótese, refere que “é verdade que a Constituição dispõe ser da alçada do
Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados. Mas,
no exemplo dado, perderá ele sua competência para julgar o crime doloso contra a vida”, tendo
em vista que o homicídio é um crime comum e, de acordo com a legislação em vigor (art. 78, IV,
do CPP c/c o art. 35, II, do Código Eleitoral), compete à Justiça Eleitoral processar e julgar os
crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos.

• Terceira posição: Necessária a separação entre as duas jurisdições, de sorte que ao Tribunal do
Júri competirá o julgamento do crime doloso contra a vida, e, à Justiça Eleitoral, o crime eleitoral.
A respeito desse entendimento, FERNANDO CAPEZ esclarece que “leis infraconstitucionais, como os
dispositivos do Código de Processo Penal, que preveem o deslocamento da competência e
consequente reunião de processos pela conexão ou continência, não podem se sobrepor às
regras constitucionais de fixação de competência, como são as do Tribunal do Júri [...]”. Na esteira
da maioria doutrinária, concordamos inteiramente com essa corrente (Avena, 2020).

Doutrina complementar

VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012): “São
prevalentes: 1. o júri em relação aos outros órgãos de jurisdição comum; Súmula 721 do STF: ‘A
competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função
estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual’. 2. a Justiça Federal em relação à
Estadual. No caso de haver conexão com crime de júri, prevalece o júri, mas este será organizado
e presidido por juiz federal, de vara federal; Súmula 52 do Tribunal Federal de Recursos. Não há
previsão expressa no Código porque na época de sua edição não havia Justiça Federal. 3. o
tribunal de maior hierarquia, se houver um ou mais de um acusado com prerrogativa de função;
4. a Justiça Eleitoral em relação aos crimes comuns. A Justiça Militar nunca julga os crimes
conexos comuns, que serão processados em separado perante o respectivo juízo competente. O
Código refere, também (art. 79), que não haverá unidade de processos no concurso entre a
jurisdição comum e a do juízo de menores. Tal regra, porém, seria desnecessária, porque o objeto
da prestação jurisdicional tutelar de menores não é a sanção penal, separando-se, naturalmente,
a sua atividade; 5. no caso de concorrência de juízos da mesma justiça e, hierarquicamente, da
mesma categoria: Estas regras não valem para dois tribunais de justiça ou dois Tribunais
Regionais Federais, como ocorreria no caso de crimes praticados, por exemplo, por dois juízes
subordinados a tribunais diferentes. No caso, cada um será julgado por seu respectivo tribunal.
As regras valem, pois, para juízes de primeiro grau: todos da justiça comum ou todos da Justiça
Federal, ou ainda, todos de justiça especial. a. o lugar da infração a que for cominada pena mais

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grave; b. o lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações se as penas forem iguais;
c. o juízo que praticou qualquer ato ainda anterior ao recebimento da denúncia ou queixa, ou
seja, o juízo que se tornar prevento, se os critérios anteriores não definirem o juízo prevalente”.

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 12ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019) muito bem
ilustra as diversas situações que podem ocorrer em relação ao exercício da vis atractiva:
“Constatada a conexão ou continência entre duas ou mais causas, será preciso determinar sob
qual foro competente estas deverão reunir-se. Dos diversos foros eventualmente competentes
para o julgamento das causas consideradas isoladamente, apenas um deles permanecerá,
prorrogando-se, ademais, sua competência para processar e julgar também as causas para lá
atraídas segundo os critérios de conexão ou de continência. O art. 78 do Código de Processo
Penal estabelece critérios para estabelecer, nesses casos, o foro que exercerá a vis attractiva.
Júri e órgão comum. O inciso I do mencionado dispositivo estabelece que, no concurso entre a
competência do Tribunal do Júri e a de outro órgão de competência comum, deve prevalecer a
competência do Tribunal do Júri, que julgará, excepcionalmente, casos que não estariam sob seu
âmbito de competência, desde que estejam esses em conexão ou continência com relação a um
crime doloso contra a vida. Jurisdições de mesmo grau. Em se tratando do concurso entre
jurisdições de mesma categoria, isto é, de mesmo grau hierárquico, com juízes competentes para
julgar as mesmas causas, estabelece o art. 78, II, três critérios distintos: a) Gravidade da pena.
Preponderará o foro do juízo competente para o julgamento da infração à qual for prevista, em
abstrato, a pena mais grave. Há três graus de gravidade da pena. Em ordem decrescente: pena
privativa de liberdade (reclusão, detenção e prisão simples), penas restritivas de direitos e penas
pecuniárias. A gravidade da pena deverá levar em conta, ainda, as penas abstratamente previstas
para o tipo penal em que incorrer o réu. b) Número de infrações. Sendo as infrações de igual
gravidade, prevalecerá o foro da localidade em que houver ocorrido o maior número de
infrações. c) Prevenção. Sendo as infrações a julgar de igual gravidade, e praticadas em igual
número em cada uma das localidades, a competência firmar-se-á pela regra da prevenção (art.
83 do Código de Processo Penal). Esse o critério residual, aplicável quando não for possível fixar
a competência pelas regras anteriores. Jurisdições de graus diversos. Havendo concurso entre
jurisdições de diversas categorias, isto é, entre órgãos que integram a jurisdição superior e
magistrados que integram a jurisdição inferior, prorrogar-se-á a competência do órgão de maior
graduação (art. 78, III, do Código de Processo Penal). Em face dessa regra, nas hipóteses em que
houver concurso de agentes e apenas sobre um deles incida regra de foro por prerrogativa de
função, a competência do Tribunal, determinada pelo foro especial, será prorrogada, permitindo-
lhe o julgamento de ambos os acusados. Assim tem decidido o Supremo Tribunal Federal.
Destaca a doutrina, entretanto, que, nos casos em que a prerrogativa de função for determinada
originariamente na Constituição Federal, a prorrogação será inviável, já que não pode a lei
ordinária (no caso, o Código de Processo Penal, onde se encontra a regra de atração) alterar a
competência constitucionalmente estabelecida, sendo a única solução possível a tramitação e o
julgamento separado dos processos. Pelo mesmo motivo, na hipótese em que uma pessoa que
goza de foro por prerrogativa de função fixada na Lei Maior pratique crime doloso contra a vida
em concurso com outra despida de tal privilégio, deverão ser ambos julgados separadamente, já
que também a competência do Tribunal do Júri é fixada em sede constitucional (art. 5º, XXXVIII),
não havendo respaldo jurídico para que se proceda à reunião dos processos sob uma ou outra
competência. Imperioso ressaltar que tal entendimento não é unânime, de modo que o Supremo
Tribunal Federal já entendeu ser o Superior Tribunal de Justiça o foro competente para o

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julgamento de desembargadores e dos demais corréus por crime doloso contra a vida, por
aplicação do princípio da conexão (STF, HC 83.583/SP, 2ª T., Rel. Min. Ellen Gracie, j. 19.4.2004,
DJ, 7.5.2004). Não obstante, o STJ já decidiu em sentido contrário, determinando a separação
dos processos (STJ, HC 36.844/MA, 5ª T., Rel. Laurita Vaz, DJ, 1º.8.2005, p. 483). Jurisdição
comum e jurisdição especial. Por fim, no concurso entre jurisdição comum e especial,
prevalecerá esta. Em matéria penal compõem a jurisdição especial a Justiça Militar e a Justiça
Eleitoral, cujas competências já foram objeto de estudo. Em se tratando da Justiça Federal, é ela
considerada especial em relação à Justiça Comum Estadual, cabendo-lhe o julgamento de crimes
conexos de competência da Justiça dos Estados. Nesse sentido, a Súmula 122 do Superior
Tribunal de Justiça, que afasta a incidência do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal no
concurso entre essas duas jurisdições. Vale lembrar que a Justiça Federal não é competente para
processar e julgar contravenções penais, ainda que praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesses da União (Súmula 38 do Superior Tribunal de Justiça), salvo em caso de conexão,
nos termos da referida Súmula 122. Mais uma vez, no entanto, faz-se a ressalva acerca do
entendimento do STJ quanto à cisão no julgamento dos processos conexos nestas circunstâncias.
No caso de conexão ou continência entre crime de competência do juízo comum ou do júri e
infração de menor potencial ofensivo, serão aplicados os institutos despenalizadores da
transação penal e da composição civil dos danos, de acordo com o que preceitua o art. 60,
parágrafo único, da Lei n. 9.099/95, inserido pela Lei n. 11.313/2006”.

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021). “[...] O art. 78 deveria
ser lido em ordem completamente diversa daquela prevista no CPP. Seus incisos devem ser lidos
nessa ordem: Art. 78. IV. Primeiro deve-se verificar se há crime eleitoral, pois a competência da
justiça especial eleitoral prevalece sobre as demais. Ou ainda, se há crime militar naquelas
situações previstas no art. 9º do CPM, situação em que o julgamento é afeto à justiça militar
(estadual ou da União, conforme o caso); III. Não sendo caso de crime eleitoral ou militar, analisa-
se o inciso III. Aqui, a jurisdição federal prevalece sobre a estadual (Súmula 122 do STJ). Se algum
dos agentes tiver prerrogativa de foro, prevalece a jurisdição de segundo grau (tribunais) sobre
as de primeiro grau (juiz, júri, juizado especial), com as ressalvas feitas anteriormente. I. Não
sendo resolvida a questão com as regras anteriores, deve-se perguntar: algum dos crimes é de
competência do júri? Caso afirmativo, todos os crimes e todas as pessoas serão julgados no
Tribunal do Júri (vis atractiva e prevalente). II. Se nenhum dos incisos anteriores resolver a
questão, é porque estamos diante de vários juízes, de mesmo nível de jurisdição, igualmente
competentes. Então passemos para os critérios definidos nesse último inciso, necessariamente
nessa ordem: a) Prepondera o lugar da infração mais grave: até a edição anterior, sustentávamos
que o critério para definir se uma infração é mais grave do que outra, era a análise da pena
mínima. Contudo, estamos revisando nosso entendimento, e acompanhando BADARÓ no
sentido de que ‘a mais grave será a de maior duração, segundo o limite máximo abstratamente
cominado’. Esse também é o critério utilizado pelo legislador para definir a competência do
JECrim e também do STF (em uma das raras manifestações sobre o tema). Portanto, se um crime
tiver uma pena de 1 a 6 anos e o outro de 2 a 4 anos, qual é a mais grave? Aquele cuja pena
máxima é mais elevada (6 anos). Se esse critério não resolver, comparam-se os regimes de
cumprimento da pena, em que os delitos apenados com reclusão são mais graves que os
apenados com detenção. Outro ponto a ser comparado é a existência ou não de pena de multa,
pois pena + multa é mais grave. b) Havendo empate na letra ‘a’, prevalece o lugar onde for
praticado o maior número de infrações. Logo, o juiz, em cuja cidade tiver sido praticado o maior

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número de delitos, será competente para o julgamento. c) Se houver empate em todos os


critérios anteriores, prevalecerá a competência do juiz (das garantias que for) prevento (dentro
do conceito revisado de prevenção, como já explicado). Ou seja, aquele que primeiro atuar como
juiz (das garantias) prevalece sobre os demais (sempre lembrando que – quando for implantado
– o juiz das garantias não será o mesmo a atuar na fase processual, quando então teremos outro
juiz para instrução e julgamento)”.

6 - SEPARAÇÃO DE PROCESSOS
Se de um lado a regra é a unidade de processo e julgamento para os casos de conexão e continência, agora
analisaremos, de acordo com as normas, as situações que estabelecerão a separação dos processos,
iniciando pelo artigo 79 do CPP:

I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

[...] havendo conexão e/ou continência entre um crime militar de competência da Justiça Militar
e um crime comum de competência da Justiça Comum, impõe-se a separação dos processos, nos
exatos termos do art. 79, inciso I, do CPP, e do art. 102, "a", do CPPM. Exemplificando, se um
policial civil e um policial militar, ambos em serviço, praticarem, em concurso de pessoas, lesão
corporal de natureza grave contra um civil, impõe-se a separação dos processos. O policial civil
será julgado pelo crime comum (CP, art. 129, § 1°) perante a justiça comum, ao passo que o
policial milItar será julgado pelo crime militar de lesão grave (CPM, art. 209, § 1°, c/c art. 9º, II,
"c") perante a Justiça Militar Estadual. Relembre-se que, como civil que é, o Policial Civil não pode
ser julgado pela Justiça Militar, ex vi do art. 125, § 4°, da Constituição Federal. Nesse sentido,
dispõe a súmula no 90 do STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial
militar pela prática do crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.
Seu conteúdo assemelha-se ao da súmula n° 30 do extinto Tribunal Federal de Recursos: Conexos
os crimes praticados por policial militar e por civil, ou acusados estes como coautores pela mesma
infração, compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar o policial militar pelo crime militar
(CPM, art. 9) e à Justiça Comum, o civil (Lima, 2021).

II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.

Para começar, crianças e adolescentes, nos termos do nosso ordenamento jurídico não praticam crimes, por
mais que realizem conduta típica – são inimputáveis. Quando muito, os adolescentes podem incorrer em ato
infracional, cuja competência para apuração e responsabilização é do Juizado ou Vara da Infância e
Juventude.

Competindo à Justiça da Infância e Juventude a apuração do ato infracional praticado pela criança
(até 12 anos incompletos) e pelo adolescente (12 anos completos até 18 anos incompletos), é
evidente a necessidade de separação dos processos quando houver concurso de agentes entre
inimputável e pessoa maior de 18 anos. Nesse caso, o imputável será julgado pela Justiça Comum,

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sendo o ato infracional praticado pelo menor apurado pelo Juizado da Infância e Juventude
(Avena, 2020).

§ 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu, sobrevier
o caso previsto no art. 152.

Nada mais óbvio. O art. 152 do CPP trata da superveniência de doença mental. É quando após o crime o réu
é acometido de doença mental; nessa situação, determina o Código que o processo fique suspenso até que
o acusado se restabeleça. Se houver corréu, não faz sentido que o processo fique suspenso para ele também,
sem motivo para isso. Por isso, cessa a unidade dos processos. A ação penal para aquele que não foi
acometido de doença mental deve ter andamento, com o desmembramento dos autos se for o caso.

Trata-se, aqui, do concurso de agentes envolvendo acusado que vem a ser acometido por doença
mental em momento posterior à prática do delito. Como, nesse caso, determina o art. 152 do
CPP a imediata suspensão do processo (o que perdura até que haja o restabelecimento da saúde
mental ou que ocorra a prescrição do crime), seria ilógico permanecer o processo paralisado,
também, em relação ao corréu em pleno gozo da saúde mental. Portanto, em casos tais, prevê a
lei a separação dos processos, permanecendo suspenso o feito referente ao réu mentalmente
enfermo e prosseguindo em relação ao remanescente. Necessário mencionar que tal separação
justifica-se unicamente no caso de superveniência da doença mental à prática da infração, não
se aplicando no caso de a patologia já ser existente por ocasião do fato, pois, nesse caso, não se
cogita de suspensão do processo, o qual prossegue normalmente, assistido o acusado por
curador (art. 151 do CPP) (Avena, 2020).

§ 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que não
possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

Onde a lei fala em ‘art. 461’, atualmente e após reformas do CPP, leia-se art. 469. Ou seja: diz respeito às
recusas de jurados como motivo para separação do julgamento no Tribunal do Júri.

A reunião de processos tem exatamente essa finalidade: permitir a unidade de processo e de


julgamento. Por unidade se deve entender, por primeiro (a de processo), a da tramitação
conjunta e simultânea dos processos reunidos, que devem permanecer apensados. Por unidade
de julgamento, como intuitivo, compreende-se a prolação de uma única sentença, na qual se
resolverão todas as questões de fato e de direito (Pacelli, et al., 2018).

Por força do art. 366 do CPP, se acaso um processo criminal for instaurado contra vários
acusados, sendo um deles citado por edital, daí resultando seu não comparecimento e não
constituição de defensor, deverá o processo ficar suspenso tão somente em relação a sua pessoa.
Para aqueles acusados que foram citados pessoalmente, deixando de apresentar resposta à
acusação, o processo seguirá normalmente, devendo o juiz nomear-lhe defensor dativo (CPP, art.
396-A, § 2º, com redação dada pela Lei n° 11.719/08). Por outro lado, àquele que foi citado por

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hora certa que não comparecer, também deverá o juiz providenciar-lhe a nomeação de dativo
(CPP, art. 362, parágrafo único), dando-se prosseguimento ao processo (Lima, 2021).

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas
em {1} circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo {2} excessivo número de
acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro {3} motivo relevante, o juiz
reputar conveniente a separação.

{1} Essa primeira hipótese de separação facultativa dos processos deve ser analisada à luz das
espécies de conexão/continência. Ora, se essa hipótese de separação demanda que as infrações
tenham sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, forçoso é concluir
não ser possível sua aplicação no caso de conexão intersubjetiva por simultaneidade, na medida
em que esta espécie de conexão prevista na primeira parte do inc. I do art. 76 traz como
pressuposto que as duas ou mais infrações tenham sido praticadas ao mesmo tempo, por
diversas pessoas ocasionalmente reunidas (sem intenção de reunião), aproveitando-se das
mesmas circunstâncias de tempo e de local. Situação semelhante ocorrerá no caso de conexão
intersubjetiva por reciprocidade (CPP, art. 76, I, parte final), na medida em que esta exige a
prática de infrações por pessoas que agem umas contra as outras, pressupondo-se que estejam
no mesmo lugar e ao mesmo tempo. De maneira diversa, em se tratando de conexão
intersubjetiva por concurso (CPP, art. 76, I, 2ª parte), conexão objetiva (CPP, art. 76, inciso 11)
ou conexão probatória (CPP, art. 76, inciso III), pensamos ser possível a separação dos processos
com base no art. 80, 1ª parte, do CPP, pois, em relação a essas três hipóteses de conexão, não se
faz necessário que as infrações tenham sido cometidas em lugares e momentos idênticos. Nos
casos de continência, por sua vez, conquanto seja possível a separação dos processos, parte da
doutrina se posiciona contrariamente, haja vista a possibilidade de decisões contraditórias em
relação a um mesmo fato.

{2} A hipótese de separação facultativa do art. 80, 2ª parte, do CPP, aplica-se a todos os casos de
conexão e continência. Traz em si dois requisitos: a) excessivo número de acusados; b) não
prolongamento da prisão provisória de um dos acusados. A título de exemplo, suponha-se que
um dos acusados esteja preso preventivamente, tendo o advogado de defesa de um outro réu
pleiteado a realização de exame pericial que somente seria interessante a sua defesa. Nesse caso,
e considerada a complexidade do exame pericial é fácil perceber que o acusado preso teria o
curso do processo prejudicado pela realização de prova que não lhe traria qualquer benefício.
Sendo assim, caberia ao magistrado determinar a separação dos processos, prosseguindo-se em
relação ao julgamento do corréu cuja instrução processual já estivesse finda.

{3} Como o legislador não pode prever todas as situações em que a separação dos feitos seja
necessária, a parte final do art. 80 do CPP possibilita que o juiz, por qualquer motivo relevante,
determine a separação dos processos. Podemos citar, como exemplos de motivos relevantes a
ensejar a separação dos processos, o excessivo número de acusados soltos prejudicando o

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andamento do processo, ou quando o simultaneus processus possa dar causa à extinção da


punibilidade de um dos acusados pela prescrição (Lima, 2021).

Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo
da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que
desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos.

A existência de um simultaneus processus por conta da conexão ou da continência não impede


que o magistrado do juízo prevalente, ao julgar o feito, conclua pela incompetência do juízo que
exerceu a força atrativa, quer porque houve absolvição em relação à infração que atraiu a
competência, quer porque ocorreu a desclassificação para outra, que não era originariamente
de sua competência. Nesse caso, indaga-se: continuará este juízo competente em relação aos
demais processos? A resposta à indagação consta do caput do art. 81 do CPP: verificada a reunião
dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria
venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória (acrescentamos, por interpretação
extensiva, também a decisão declaratória extintiva da punibilidade) ou que desclassifique a
infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação
aos demais processos. Exemplificando, havendo conexão probatória entre um crime de roubo
praticado na comarca "A", e um crime de receptação qualificada cometido na comarca "B",
prevalece a competência do juízo da comarca "A", pois ali foi praticado o delito mais grave (CPP,
art. 78, II, ''a"). Caso, ao final do processo, o juiz desclassifique o delito de roubo para furto
simples, cuja pena é menor que a do delito de receptação qualificada, ainda assim continuará
competente para o fato desclassificado e para o outro delito, ex vi do art. 81, caput, do CPP. Essa
perpetuação da competência atende ao princípio da economia processual e da própria
celeridade, na medida em que toda a prova já fora colhida perante este juízo. Ademais, não se
pode perder de vista que, diante da inserção do princípio da identidade física do juiz no processo
penal (CPP, art. 399, § 2º "o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença"), eventual
remessa do processo ao outro juízo traria como consequência inevitável a renovação da
instrução processual, causando indevido retrocesso na marcha procedimental (Lima, 2021).

Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o


juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que
exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente.

No âmbito do júri, há de se ficar atento às seguintes hipóteses:

1) desclassificação na primeira fase do procedimento bifásico do Júri: de acordo com o art. 419
do CPP, com redação dada pela Lei no 11.689/08, quando o juiz se convencer, em discordância
com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1º do art. 74 do CPP (homicídio,
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, infanticídio e aborto, em suas diversas modalidades)
e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja, ficando o acusado

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preso à disposição deste outro juízo. Quanto à infração conexa, preceitua o parágrafo único do
art. 81 do CPP que se o juiz vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver
sumariamente o acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao
juízo competente. Em síntese, excepcionando-se a regra da perpetuatio jurisdictionis constante
do art. 81, caput, do CPP, ao juiz sumariante não caberá o processo e julgamento do crime conexo
quando impronunciar, absolver sumariamente ou desclassificar a infração da sua competência,
devendo remeter as infrações conexas ou continentes ao juízo competente.

2) desclassificação na segunda fase do procedimento escalonado do júri: caso a desclassificação


seja operada pelo Conselho de Sentença quando do julgamento em plenário, seja ela própria ou
imprópria, ao Juiz-Presidente caberá o julgamento da infração desclassificada e também das
infrações conexas (CPP, art. 492, §§ 1° e 2°). Exemplificando, se ao acusado tiverem sido
imputadas as condutas de homicídio doloso e estupro consumado, concluindo os jurados,
todavia, pela desclassificação da imputação de homicídio doloso para lesão corporal seguida de
morte, ao juiz-presidente caberá não só o julgamento desse delito, como também da infração
conexa de estupro.

3) absolvição pelo Conselho de Sentença em relação ao crime doloso contra a vida: se os jurados
deliberaram pela absolvição em relação à infração principal (crime doloso contra a vida), v.g.,
respondendo afirmativamente ao quesito "o jurado absolve o acusado?", significa que,
implicitamente, reconheceram sua competência para processar e julgar o feito. Logo, também
aos jurados caberá o julgamento das demais infrações penais conexas e continentes, aplicando-
se a regra geral do art. 81, caput, do CPP.

Por fim, quanto à perpetuação da competência no caso de conexão e continência entre crimes
de competência da Justiça Federal e Estadual, repetimos aqui o quanto foi visto ao tratarmos da
competência da Justiça Federal. Valendo-se do exemplo ali citado em que um juiz federal, ao
final do processo, entenda que a internacionalidade do tráfico de drogas não esteja comprovada,
tratando-se, pois, de crime de tráfico interno de drogas, da competência da Justiça Estadual, foi
dito que uma primeira corrente sustenta ser possível a aplicação da regra do art. 81 do CPP.
Assim, mesmo que o juiz federal viesse a entender ao final do processo que o delito seria de
tráfico interno de drogas, esse magistrado teria sua competência prorrogada, sendo inviável a
alegação de nulidade absoluta do processo por violação ao princípio do juiz natural. Tem
prevalecido, todavia, a posição segundo a qual, a partir do momento em que o juiz federal
reconhece que não se trata de crime de tráfico internacional, está reconhecendo sua
incompetência absoluta, sendo inviável a perpetuação da competência, porquanto, se se trata
de crime da competência da Justiça Estadual, cessou sua competência para o processo e
julgamento do feito. Não por outro motivo, em caso concreto apreciado pelo STJ, em face da
superveniência da extinção da punibilidade em face do crime que justificava a competência da
Justiça Federal, concluiu-se que os crimes conexos deveriam ser julgados pela Justiça Estadual,
na medida em que não subsistiria qualquer interesse da União. Situação diferente ocorrerá na
hipótese de conexão entre o tráfico internacional de drogas, crime de competência da Justiça
Federal, pelo qual o acusado seja absolvido, e um crime qualquer de competência da Justiça
Estadual, v.g., roubo. A princípio, e em virtude do teor da súmula 122, prevalecerá a competência
da Justiça Federal, nos termos da súmula 122 do STJ: "Compete à Justiça Federal o processo e
julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a

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regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal". Nessa hipótese, mesmo que o juiz federal
absolva o agente em relação à imputação de tráfico internacional de drogas, terá sua
competência prorrogada para julgar o delito conexo, pois, se houve absolvição, significa dizer
que a Justiça Federal afirmou sua competência, a qual será extensiva aos crimes conexos - vide
regra do art. 81 do CPP (Lima, 2021).

Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se
dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.

Como já dissemos, a conexão e a continência, ressalvado o disposto nos arts. 79 e 80 do CPP,


importam em unidade de processo e julgamento. Não obstante, pode ocorrer que, a par de
conexos ou continentes os delitos, sejam instaurados diferentes processos. Imagine-se, por
exemplo, que João foi denunciado por furto simples (pena de reclusão de 1 a 4 anos e multa) de
um veículo junto à 5ª Vara Criminal de Porto Alegre. Posteriormente, Pedro é denunciado pela
receptação qualificada (pena de reclusão de reclusão de 3 a 8 anos e multa) desse mesmo bem
junto à 2ª Vara Criminal de Canoas. Ora, evidentemente são conexos os delitos de furto e
receptação, já que a prova de um desses crimes interfere na prova do outro (conexão
instrumental ou probatória, ex vi do art. 76, III, do CPP). Não obstante, foram instaurados
processos diversos que tramitam em juízos também distintos. Ocorrendo essa hipótese, dispõe
o art. 82 do CPP que caberá ao Juiz com jurisdição prevalente – aquele que, de acordo com as
regras estipuladas no art. 78 do CPP deva processar e julgar os crimes conexos ou continentes –
avocar (chamar para si) – o processo que tramita perante outro juízo. No exemplo, o juízo
prevalente é o da Comarca de Canoas, pois de acordo com o art. 78, II, a, do CPP, no concurso de
jurisdições da mesma categoria, “preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a
pena mais grave”. Agora, de acordo com o mesmo art. 82 do CPP, se apesar de conexos ou
continentes os delitos que estão sendo apurados em juízos diversos, em um dos processos já
tiver sido proferida sentença definitiva, não poderá o juízo considerado prevalente avocar o
outro feito. Nesse mesmo sentido, o teor da Súmula 235 do STJ, dispondo que “a conexão não
determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado”. Note-se que a expressão
sentença definitiva significa apenas sentença que tenha julgado o mérito da ação penal,
condenando ou absolvendo o réu, não possuindo o sentido de sentença transitada em julgado.
Em outras palavras, ainda que não tenha transitado em julgado a decisão proferida em um dos
processos distintos, fica proibida a avocatória. Nesse caso, a unidade dos processos só se dará
posteriormente, para o efeito de soma ou de unificação de penas (art. 82, fine, do CPP). Note-se
que a soma das penas decorre das hipóteses de concurso material de crimes (art. 69 do CP) e de
concurso formal impróprio (art. 70, 2.ª parte, do CP). Já a unificação das penas tem lugar, muito
especialmente, nas hipóteses de concurso formal próprio (art. 70, 1.ª parte, do CP) e de crime
continuado (art. 71 do CP) (Avena, 2020).

Doutrina complementar

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EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 12ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “Será
obrigatória a separação dos feitos quando (art. 79): a) Houver concurso entre a jurisdição comum
e a jurisdição militar (inciso I). Assim, o crime comum será processado e julgado pela Justiça
Comum, cabendo à Justiça Militar processar e julgar o crime militar, mesmo que entre as
infrações se verifique a conexão ou continência. Quanto a isso, cumpre destacar que a Justiça
Militar Federal tem competência para julgar militares e civis, enquanto à Justiça Militar Estadual
cabe somente o julgamento de militares (policiais e bombeiros militares), mas nunca de civis.
Essas questões foram abordadas no tópico referente à competência da Justiça Militar. b) Houver
concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores (inciso II). Os menores de 18 anos
são penalmente inimputáveis (art. 228 da Constituição Federal e art. 27 do Código Penal). A
Justiça Comum será absolutamente incompetente para o julgamento dos atos infracionais por
eles praticados, motivo pelo qual será impossível a reunião dos processos. A situação dos
menores infratores fica sujeita às normas da legislação especial, conforme dispõe, também, o
art. 104 da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Contra o infrator penalmente
imputável será instaurado o devido processo penal para a apuração do delito que cometeu,
enquanto o menor será submetido ao Juízo da Infância e da Juventude, onde responderá pelo
ato infracional praticado. c) Em qualquer caso, se houver de suspender o processo em relação a
um dos corréus, em virtude da superveniência de doença mental ocorrida durante o curso
processual (art. 79, § 1º). É a hipótese prevista no art. 152 do Código de Processo Penal, que se
destina às situações em que a doença mental se manifeste após a prática da infração penal. d)
No procedimento do júri haverá separação do julgamento se, em razão das recusas, não for
alcançado o número de 7 jurados para integrar o Conselho de Sentença (art. 469, § 1º). Cindido
o julgamento, será submetido a júri, em primeiro lugar, aquele a quem foi atribuída a autoria do
fato, ou, em se tratando de coautoria, será observada a ordem de preferência traçada no art.
429”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), em
relação à separação obrigatória, também trata a respeito da fuga de corréu: “Fuga de corréu:
havendo fuga, é possível que o processo fique suspenso, em razão da impossibilidade do
julgamento à revelia. É o que ocorre pela leitura do art. 366 do CPP: se um dos corréus for citado
por edital, não comparecer e nem nomear advogado, o processo, quanto a ele, ficará suspenso,
e estará suspenso também o curso do prazo prescricional, aguardando-se que seja encontrado.
Consequentemente, em que pese ter se iniciado processo único abarcando todos os infratores,
não haverá unidade de julgamento, afinal, o processo não evoluirá em relação ao agente não
encontrado para ser citado pessoalmente. Situação semelhante acontecia no procedimento do
júri, pois havendo corréus pronunciados por crime doloso contra a vida inafiançável, era
obrigatória a intimação pessoal da decisão de pronúncia. Se um deles não era localizado e a
intimação pessoal malograva, o julgamento só prosseguia quanto ao infrator intimado
pessoalmente. Já o prazo prescricional continuava correndo. Era a crise de instância, pois o
processo ficava paralisado enquanto o ato não era realizado. Com a alteração do art. 420 do CPP
pela Lei nº 11.689/08, não sendo possível a intimação pessoal da decisão de pronúncia, haverá a
intimação editalícia, e o réu não encontrado será julgado à revelia, estando, portanto, suprimida
tal hipótese de separação. No júri, também era possível o desmembramento para julgamento,
em se tratando de crime inafiançável, se um dos corréus não comparecesse para a sessão de
julgamento. O réu presente seria julgado, e, se existissem elementos que levassem a crer que o
ausente estava tentando se eximir da responsabilidade penal, poderia ser-lhe decretada a prisão

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preventiva (art. 312, CPP). Com a reforma, o não comparecimento de um dos corréus (solto)
implica no seu julgamento à revelia, de sorte que o desmembramento não irá se operar pela
ausência. Continua possível, entretanto, havendo elementos que façam crer que o agente fugiu,
a decretação da preventiva (art. 457, CPP). Já se um dos corréus preso não foi conduzido pela
autoridade, o julgamento, quanto a ele, será adiado, podendo-se julgar o comparsa presente.
Subsiste, neste caso, a possibilidade de desmembramento”. AURY, ao tratar sobre os incisos do
art. 79 do CPP, sustenta: “Como já explicado diversas vezes nos tópicos anteriores, a Justiça
Militar não prevalece, ela cinde. Ou seja, se é crime militar vai para a Militar, do contrário, separa.
[...] No inciso II está consagrada a lógica e necessária separação entre a jurisdição penal e aquela
destinada à apuração dos atos infracionais praticados por crianças e adolescentes, nos termos
do Estatuto da Criança e do Adolescente. Havendo um concurso de agentes entre imputáveis e
inimputáveis (menores de 18 anos), os imputáveis cometem crime e respondem a processo
penal. Já em relação aos inimputáveis (menores de 18 anos), haverá uma separação, com outro
processo tramitando em vara especializada para apuração do ato infracional. No § 1º, haverá a
cisão quando em relação a algum dos corréus se verificar uma doença mental superveniente ao
crime. Nesse caso, o processo é separado, pois em relação a esse corréu o processo ficará
suspenso, nos termos dos arts. 152 e s. do CPP. Quando a doença é preexistente ao fato
criminoso, o réu é considerado inimputável (art. 26 do CP) e o processo segue, com a eventual
pena sendo substituída por medida de segurança. No § 2º, existem duas situações de cisão. No
primeiro caso, o processo está suspenso porque um dos corréus está foragido e a sessão de
julgamento pelo Tribunal do Júri não pode ocorrer sem a sua presença; ou, ainda, quando um
dos réus é citado e o outro não. Em relação ao citado, o processo continua e, em relação ao revel,
incide a suspensão do processo, nos termos do art. 366 do CPP. A segunda situação era a cisão
ocorrida no momento da composição do conselho de sentença. Ocorre que esse mecanismo de
cisão foi substancialmente alterado pela Lei n. 11.689/2008. Agora, nos termos do art. 469,
somente haverá separação dos julgamentos se houver estouro de urna, ou seja, se em razão das
recusas não for obtido o número mínimo de 7 jurados para compor o conselho de sentença.
Nesse caso, será julgado em primeiro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do fato ou,
em caso de coautoria, aplica-se o critério de preferência disposto no art. 429. As situações
descritas no art. 81 dizem respeito à desclassificação própria e imprópria no Tribunal do Júri”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), quanto à
cisão facultativa do processo, obtempera: “É apresentada pelo art. 80 do CPP nas seguintes
hipóteses: a) Infrações praticadas em circunstância de tempo ou lugar diferentes: a distinção
temporal ou de lugar pode motivar a separação de processos, sendo no último caso, até
conveniente para a captação probatória, pela facilidade em realizar a instrução no próprio
distrito da culpa. b) Número excessivo de acusados: o número excessivo de réus pode ocasionar
uma imoderada dilação processual, desaguando na extensão desproporcional do tempo de
prisão cautelar. A CF assegura no art. 5º, inciso LXXVIII, a razoável duração do processo, devendo
o juiz atuar no intuito de garantir a celeridade, já que o excesso temporal do encarceramento
cautelar leva à ilegalidade da prisão. Cabe ao magistrado, de ofício ou por provocação, analisar a
conveniência de manter processo uno ou determinar a separação, notadamente quando exista
número excessivo de réus, uns presos e outros em liberdade. c) Qualquer outro motivo
relevante: a lei deixa um ‘cheque em branco’ à disposição do judiciário, pois qualquer outro
motivo relevante, desde que devidamente motivado, pode levar à separação processual.
Exemplo de separação facultativa de processos a partir dessa cláusula aberta, é o que dispõe a

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Súmula nº 704, do STF, que enuncia que não há violação às garantias do juiz natural, da ampla
defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu
ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados. Para que haja a separação, deve
haver fundamentação que aponte razão relevante que indique ser melhor a separação do que a
reunião dos julgamentos dos acusados.

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021) muito bem expõe sobre
o art. 80 do CPP, que versa sobre a separação facultativa, retratando o atual cenário desse
instituto perante a jurisprudência dos tribunais superiores: “Por fim, prevê o art. 80 a separação
facultativa dos processos nos casos de crimes praticados em circunstâncias de tempo ou de lugar
diferentes, ou, quando, pelo número excessivo de acusados e para não prolongar a prisão
provisória de qualquer deles, o juiz reputar conveniente. Aqui o Código deixa um amplo espaço
para que o juiz decida pela cisão processual, evitando o julgamento simultâneo decorrente da
conexão ou continência. Esse artigo tem sido muito invocado, especialmente pelos tribunais
superiores, para separar aqueles agentes detentores de prerrogativa de função dos demais
agentes, sem essa prerrogativa. A rigor, como visto, tudo deveria ser reunido no respectivo
tribunal para julgamento simultâneo, mas nem sempre tem sido assim, como já explicado. Mas,
neste caso, existe uma situação muito sensível na cisão quando envolve pessoas com
prerrogativa de função, como por exemplo: várias pessoas são investigadas e surge, entre os
suspeitos, alguém com prerrogativa de função (deputado federal, estadual etc.). Neste
momento, o feito deve ser – imediatamente – remetido para o tribunal competente para o
julgamento daquela autoridade detentora da prerrogativa, a quem competirá decidir sobre os
atos da investigação e posterior ação penal. Aqui tem surgido hipóteses de cisão, pois a
jurisprudência dos tribunais superiores tem oscilado perigosamente entre a reunião para
julgamento simultâneo (observando as regras de conexão ou continência conforme o caso) e a
cisão (ficando no tribunal apenas o detentor da prerrogativa) como já explicamos anteriormente.
O problema é: a quem compete decidir sobre a cisão do art. 80? O tribunal competente ou o
juiz de primeiro grau? A resposta parece evidente. Somente ao tribunal competente para o
julgamento daquele detentor da prerrogativa é que poderá decidir sobre a eventual cisão, sob
pena de grave usurpação de sua competência pelo juiz de primeiro grau. A garantia do “juiz
natural” surge no momento da prática do delito e não no nascimento do processo. Portanto,
ao tribunal competente é que incumbe a decisão, não se podendo falar em prorrogatio fori ou,
ainda, em perpetuatio jurisdicionis em se tratando de (in) competência absoluta. Não existe
prorrogação de competência em relação a quem não é absolutamente competente sob pena de
rasgar-se a garantia do juiz natural e as regras da competência. Em suma: o art. 80 não pode ser
invocado para evitar a reunião de processo. Primeiro todos os processos devem ser reunidos
no juízo de competência prevalente. A ele incumbe, se for o caso, decidir sobre a cisão
processual, desmembrando e remetendo os demais réus para o respectivo juízo de primeiro
grau”.

RENATO BRASILEIRO DE LIMA (Manual de processo penal, 6ª ed., Salvador: JusPodivm, 2018):
Suspensão do processo em relação ao colaborador. Consoante disposto no art. 4°, § 3°, da nova
Lei das Organizações Criminosas, o prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos
ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até
que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo
prescricional. Supondo, assim, a existência de um processo penal instaurado em desfavor de mais

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de um acusado, na hipótese de um deles resolver colaborar com os órgãos responsáveis pela


persecução penal, fornecendo informações úteis para a identificação dos demais coautores e
partícipes da organização criminosa, revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas
da organização criminosa, a prevenção de infrações penais, a recuperação total ou parcial do
produto ou do proveito das infrações penais, ou a localização de eventual vítima com a sua
integridade física preservada, o prazo para o oferecimento da denúncia ou o próprio processo
criminal poderão ser suspensos por até 6 (seis) meses, exclusivamente em relação ao
colaborador. Por consequência, de modo a se evitar o prolongamento indevido do processo em
relação aos demais acusados, notadamente quando um deles estiver preso, o que viria de
encontro à garantia da razoável duração do processo, surge aí mais uma hipótese de separação
obrigatória dos processos.

7 - PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA
Como define DE PLÁCIDO E SILVA, prorrogação de competência tem “o mesmo sentido de prorrogação de
jurisdição. [...] Assim, prorrogação de competência entende-se o aumento ou a dilatação da competência
atribuída à pessoa, para que possa exercer ou continuar a exercer as funções que não estavam antes nos
limites normais de suas atribuições”.

E, desse modo, não sendo embora anteriormente competente, pela prorrogação passa a ser
competente, em vista do que continua a fazer o que já havia começado. No sentido processual,
prorrogação de competência é, assim, a extensão ou a ampliação da competência de um juiz,
para que possa tomar conhecimento da questão trazida à presença dele, por circunstâncias
especiais. E, embora, originariamente, sem competência para a conhecer, pela prorrogação,
investe-se na competência, amplia-se seus poderes jurisdicionais, para que possa continuar no
exercício de suas atribuições, e, sem solução de continuidade, prossiga no feito trazido ao seu
conhecimento (Silva, 2005).

O foro de jurisdição prorrogada é aquele ao qual as partes, ou por disposição de lei ou por vontade própria,
quando lhes seja lícito, se submetem, quando antes, originariamente, fosse incompetente (Marques, 1997).
“Tem-se a prorrogação de competência quando o órgão jurisdicional originariamente incompetente para o
julgamento de determinado processo adquire a competência em virtude da aplicação de quaisquer das
regras processuais que impõem a reunião de processos” (Pacelli, 2018).

Citando DENÍLSON FEITOZA, assim consigna BRASILEIRO:

Prorrogar significa aumentar a extensão da competência de um órgão jurisdicional de modo a


alcançar causas que, abstratamente, não seriam de sua competência, mas que, por algum
motivo, passaram a ser concretamente. Prorrogação de competência, por conseguinte, "é a
modificação na esfera de competência de um órgão jurisdicional, que seria abstratamente
incompetente, mas se tomou concretamente competente com referência a determinado
processo, em razão de um fato processual modificador''. [...] Didaticamente, a prorrogação da
competência pode assim ser classificada:

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1) legal ou necessária: sua ocorrência não depende da iniciativa das partes. A título de exemplo,
é o que se dá nos casos de conexão e continência (CPP, arts. 76 e 77);

2) voluntária: quando depende da iniciativa das partes. Esta, por sua vez, subdivide-se em: 2.1)
expressa: quando há requerimento da parte. É o que se dá quando o desaforamento é requerido
pelo réu, pelo Ministério Público ou pelo querelante (CPP, art. 427, caput); 2.2) tácita: ocorre
diante do silêncio das partes. Exemplificando, quando a incompetência relativa não é arguida no
momento oportuno - resposta à acusação (CPP, art. 396-A) -, dá-se a preclusão para a parte.

Hipóteses de prorrogação de competência são trazidas por PACELLI:

O exemplo mais eloquente de prorrogação de competência é aquele previsto no art. 81 do CPP,


quando o juiz ou tribunal, após desclassificar a infração que determinara o seu foro prevalente
para outra que não seria de sua competência, continua competente para o julgamento dos
processos, ainda que não o fosse originariamente. Merece ainda registro o disposto do art. 74, §
2º, que dispõe acerca da remessa do processo ao juiz competente, na hipótese de
desclassificação própria – quando o juiz desclassifica uma infração penal para outra para cujo
julgamento não é ele o competente –, com a seguinte ressalva: “[...] salvo se mais graduada for
a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada”. Observe-se que
a citada ressalva não encontra mais aplicação, pois atualmente a diferença de graduação, para
fins de competência, é unicamente de instância, conforme já assinalado. Isso porque a
competência dos tribunais, que seriam mais graduados que os juízes de primeira instância, é
originária, em razão de prerrogativa de função. Por isso, quando determinado tribunal recusa a
sua competência e remete os autos ao juiz de primeiro grau, ele, na realidade, não está
desclassificando a infração, mas simplesmente declinando de sua competência por não
reconhecer, por exemplo, a apontada prerrogativa de função

JOSÉ FREDERICO MARQUES, todavia, em relação ao § 2º do art. 74 do CPP, tinha uma compreensão diferenciada.
Transcrevemos o dispositivo legal e na sequência o comentário do mestre:

§ 2º Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da


competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição
do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada.

A graduação de jurisdição, a que se refere o art. 74, parágrafo 2º, não é aquela que distingue os
órgãos judiciários em instâncias, e sim a que estabelece categorias próprias da organização
judiciária, classificando os juízes em entrâncias, efetivos e substitutos, titulares e adjuntos ou
auxiliares (Marques, 1997).

MARQUES também distingue a prorrogação da delegação de competência. Esta seria “a delegação de um


órgão judiciário a outro, para que cumpra certas diligências e pratique determinados atos processuais”. Nas
palavras de CARNELUTTI, “é a prática mediante a qual o órgão competente e eventualmente impedido
encarrega do cumprimento do ato, a respeito do qual se verifica o impedimento, um outro órgão igualmente
judiciário” (Marques, 1997).

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Como nem sempre os atos processuais podem realizar-se o foro onde se instaurou a instância,
torna-se preciso que os juízes se auxiliem uns aos outros, através da cooperação judicial. E a
razão é óbvia: fora de sua jurisdição, nenhuma função tem o juiz. Não vai, por isso, praticar na
outra circunscrição, o ato que deseja. O outro juiz faz seu esse ato. Surge, com isso, a delegação
e com ela o órgão judiciário impedido passa a outro órgão atribuições que normalmente lhe
caberiam. Não se pode negar, pois, que dessa outorga de incumbência, prevista pela lei, decorre
uma parcial alteração de competência. O juiz a quem está afeto o processo, e que, por isso
mesmo, deveria praticar o ato cuja realização delega, transfere a outro a atribuição jurisdicional
que era sua (Marques, 1997).

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “A
prorrogação necessária ou legal é a que não depende de ação ou omissão das partes, mas
decorre de fato jurídico por si só suficiente para determinar que haja modificação de
competência relativamente a um ou mais crimes que não estariam abrangidos pela competência
fixada para um órgão jurisdicional. Ocorre prorrogação necessária ou legal, independentemente
da vontade das partes (nesse sentido, não-voluntária), nas hipóteses de conexão e continência
previstas nos artigos 76 e 77, do CPP. A iniciativa pode ser do próprio juiz processante, que pode
avocar os processos cuja reunião por conexão ou continência seja conveniente, bem como do
juízo que toma conhecimento de outro feito que, pelas circunstâncias, seja revestido de
atratividade que recomende a remessa dos autos. Em regra, todavia, a prorrogação necessária
decorre da narrativa da petição inicial, no bojo da qual já constam os fatos objeto de conexão ou
continência que, conhecidos pelo juiz, determinarão a prorrogação. Prorrogação facultativa.
Também denominada de prorrogação voluntária (no sentido de depender de ação ou omissão
das partes). Quando tal prorrogação acontece em razão de fato omissivo – a exemplo de não ser
fustigada a incompetência de natureza relativa oportunamente, deixando a parte de promover
exceção de incompetência no prazo da resposta preliminar à acusação, dando assim ensejo à
preclusão –, recebe o nome de tácita. Note-se que, para o juiz, só haverá prorrogação (com
preclusão pro judicato), segundo entendemos, após a fase de absolvição sumária do art. 397,
CPP, isto é, passando a oportunidade de absolver sumariamente o acusado e nada sendo dito
sobre a incompetência relativa, dar-se-á a prorrogação de competência de índole facultativa
tácita. De outro lado, será expressa quando houver pedido das partes para que o feito seja
remetido para outro juízo, incompetente relativamente, mas que as circunstâncias do fato
recomendam a prorrogação, tal como se dá com as hipóteses de desaforamento do processo do
Júri”.

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “Prorrogação de
competência necessária e voluntária A necessária ocorre nas hipóteses de conexão e
continência (arts. 76 e 77). A voluntária ocorre nos casos de competência territorial, quando não
alegada no momento processual oportuno (art. 108), ou no caso de ação penal exclusivamente
privada, onde o querelante pode optar pelo foro do domicílio do réu, em vez do foro do local da
infração (art. 73)”.

GUSTAVO BADARÓ (Processo Penal, 8ª ed., São Paulo: RT, 2020). “Prorrogação de competência é a
modificação da esfera concreta de competência de um juiz. Amplia-se a esfera de competência

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de um órgão judiciário, atribuindo-lhe competência para um processo no qual não seria


normalmente (abstratamente) competente, enquanto outro órgão, que abstratamente seria
competente para tal caso, deixará de sê-lo. 88 De forma mais sintética, na conexão e continência
há, contemporaneamente, uma ‘subtração’ e uma ‘adição’ de competência. Só se prorroga a
competência relativa, ditada em razão do interesse das partes. No processo penal, 90 as
hipóteses legais de prorrogação de competência são a conexão (CPP, art. 76) e a continência (CP,
art. 77). Frederico Marques também considera a hipótese do art. 85 do CPP caso de prorrogação
de competência. Tal posicionamento não mais tem razão de ser, desde que se tornou pacífico o
entendimento de que há o deslocamento para o tribunal apenas para o julgamento da exceção
de verdade. Tanto o processamento da exceção da verdade quanto o julgamento da causa, após
a decisão sobre a exceptio veritatis, continuarão sendo da competência do juiz de primeiro grau.
Não se trata, portanto, de um caso de prorrogação de competência, mas sim de hipótese de
competência funcional, segundo as fases do processo. O juiz de primeiro grau é competente para
a instauração do processo e do processamento da exceção da verdade. Posteriormente, o
tribunal passa a ser competente apenas para julgar a exceção da verdade. Por fim, depois de tal
julgamento, a competência volta a ser do juiz de primeiro grau, para julgar a causa”.

8 - PERPETUAÇÃO DE COMPETÊNCIA
Perpetuação é palavra derivada de ‘perpetuar’, do latim perpetuare, de perpetuus (não interrompido para
sempre), significa vulgarmente a ação e efeito de tornar as coisas imutáveis e eternas. “A perpetuação, assim,
neste sentido, quer exprimir a qualidade do que é de existência indefinida, tendo, pois, o mesmo sentido de
perpetuidade, duração indefinida e para sempre” (Silva, 2005).

Após iniciado um processo perante um determinado juízo, observadas as regras de competência, podem
sobrevir várias intercorrências, implicando em modificações no estado dos fatos, do direito ou mesmo em
relação às partes. A questão que se coloca é a seguinte: se ocorrem essas alterações, a competência também
se altera, ou não? A competência se submete à cláusula rebus sic stantibus ou não?

O Código de Processo Penal não tem uma regra expressa quanto a isso; diferente do Código de Processo Civil
que assim define:

Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição


inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas
posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

Destaca BRASILEIRO que “tem prevalecido na jurisprudência a possibilidade de aplicação subsidiária do


disposto no art. 43 do novo CPC”. “Vê-se, pois, que são irrelevantes as modificações do estado de fato ou de
direito, salvo em três hipóteses:”

a) quando ocorrer a extinção do órgão judiciário, tal como ocorreu com os Tribunais de Alçada
(Emenda Constitucional no 45/04, art. 4"); b) quando a competência for alterada em razão da
matéria: vide exemplo da Lei no 9.299/96, que transformou em crime comum o crime doloso
contra a vida praticado por militar contra civil, ainda que cometido em serviço (CPM, art. 9°,
parágrafo único ); c) quando a competência for alterada em razão da hierarquia: imaginando-se

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que determinado acusado seja diplomado deputado federal durante o curso de processo
criminal, cessa automaticamente a competência do Juiz de 1ª instância, cabendo-lhe determinar
a remessa imediata dos autos ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo da validade dos atos
processuais praticados anteriormente (tempus regit actum).12

Mas e no caso de alteração da competência territorial por regra de organização judiciária


posterior? Exemplificando, imagine-se que o acusado esteja sendo processado na comarca "A",
na qual está inserido o município "B", por crime praticado neste município. Futuramente, no
entanto, o município "B" é transformado em comarca autônoma. Deverá se dar a perpetuação
da competência perante a comarca "A"? Ou o processo deve ser remetido à novel comarca?
Diante do silêncio da lei processual penal, em regra, tais casos têm sido resolvidos pelas próprias
leis de organização judiciária: logo, criada a comarca, ou novo juízo, a própria lei irá definir se
serão (ou não) a ela remetidos os processos relativos aos crimes ali cometidos. Nas hipóteses em
que a lei de organização judiciária silenciar acerca do procedimento a ser adotado, tem
prevalecido a aplicação subsidiária da regra constante art. 43 do novo CPC, com a consequente
manutenção do processo na comarca de origem. Tal se dá porque a competência territorial é
prorrogável e relativa, o que não ocorre com a competência em razão da matéria. A aplicação
subsidiária do princípio da perpetuatio jurisdictionis no processo penal pode incidir inclusive em
relação aos crimes dolosos contra a vida, porém somente na fase anterior ao julgamento pelo
júri. De fato, na medida em que a própria existência do Júri está ligada ao objetivo de se preservar
o julgamento do réu pelos seus pares, caso haja a criação de foro no lugar em que foi perpetrado
o crime doloso contra a vida, é nesse foro que deverá se dar o julgamento em plenário. Portanto,
no âmbito do Tribunal do Júri, podemos afirmar que o princípio da perpetuatio jurisdictionis
somente é aplicável à 1ª fase do procedimento bifásico (iudicium accusationis).

Quanto às hipóteses de delegação de competência federal ao juízo estadual nas comarcas que
não forem dotadas de vara federal (CF, art. 109, §§ 3º e 4º), a superveniente instalação de vara
federal afasta a aplicação da regra da perpetuatio jurisdictionis, fazendo com que os processos
que ali tramitavam sejam imediatamente encaminhados à vara federal instalada. Com a
revogação do art. 27 da Lei nº 6.368/76, que previa que o processo e julgamento do tráfico
internacional de drogas caberia à Justiça Estadual se o município em que tivesse sido praticado
o delito não fosse dotado de Vara da Justiça Federal, com recurso para o respectivo TRF, e diante
da nova redação do art. 70, parágrafo único, da Lei nº 11.343/06, não subsiste no ordenamento
processual penal qualquer outra hipótese de delegação da competência criminal da Justiça
Federal para a Justiça Estadual (Lima, 2021).

Exemplos didáticos de NORBERTO AVENA:

Adotando-se o exemplo trazido pela doutrina, considere-se que cinco crimes de furto tenham
sido cometidos por João no município de Caçapava, sendo os objetos de todos os delitos

12
Vale a ressalva de que o entendimento atual do STF afasta o foro por prerrogativa de função nas situações em que o crime é
praticado antes do início do mandato ou da diplomação.

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adquiridos, ao mesmo tempo, por Pedro, na cidade de Tremembé. Em síntese: cinco furtos em
Caçapava e uma receptação em Tremembé. Tendo em vista o número de crimes (art. 78, II, b, do
CPP), todos os seis delitos deverão ser apurados e julgados conjuntamente em Caçapava. Na
hipótese, contudo, de absolvição pelos furtos, não deverá o juízo de Caçapava encaminhar o feito
para Tremembé com vista ao julgamento da receptação, permanecendo competente para julgá-
lo em face da perpetuação de sua jurisdição.

Outro exemplo: imagine-se que tenha sido o agente denunciado, na Justiça Federal (Súmula 122
do STJ) por crime, em tese, de competência dessa Justiça (v.g., facilitação de contrabando) e por
outro que, isoladamente, seria de competência da Justiça Estadual (v.g., extorsão), havendo clara
conexão a recomendar a reunião dos processos, dado o contexto em que cometidos os delitos.
Suponha-se, porém, que, após o encerramento da instrução criminal, ao sentenciar, tenha o Juiz
determinado a absolvição pelo crime que atraiu a competência da Justiça Federal (facilitação de
contrabando). Essa situação amolda-se perfeitamente ao disposto no art. 81 do CPP, cabendo ao
juízo federal, onde tramita o processo, apreciar o crime patrimonial.

Mas, atenção: essa hipótese não se confunde com aquela em que o Juiz federal, em vez de
absolver, julgue extinta a punibilidade do crime de sua competência. Nesse caso, a orientação
jurisprudencial em vigor é no sentido de que, com a extinção da punibilidade do agente pelo
delito de competência da Justiça Federal, desaparece o interesse da União, devendo haver o
deslocamento da competência para a Justiça Estadual. A não aplicação do princípio da
perpetuatio jurisdictionis na espécie justifica-se no fato de que a competência da Justiça Federal
é constitucionalmente estabelecida, não podendo as regras decorrentes da Lei Maior ser
relativizadas a partir de norma estabelecida em nível infraconstitucional, consubstanciada no art.
81 do CPP. Inclusive, a propósito do tema já decidiu o STJ que “a Justiça Federal, por mais que se
enquadre no conceito de justiça comum, é especial diante da Justiça Estadual. Logo, dado o seu
caráter excepcional, cessada a razão de sua existência, e, não tendo sobrevindo julgamento de
mérito, de rigor é o deslocamento do feito para que seja processado e julgado pelo Juiz natural,
na espécie, a Justiça Estadual”.

Considere-se, também, a seguinte situação: Determinado indivíduo é denunciado pela prática de


crimes de resistência (art. 329, caput, CP: pena de 3 meses a 2 anos) e de lesão corporal (art. 129,
caput, CP: pena de 3 meses a 1 ano). Considerando que a soma das penas máximas ultrapassa o
patamar que permite a tramitação no Juizado Especial Criminal (2 anos, conforme art. 61 da Lei
9.099/1995), tal denúncia é oferecida perante o Juízo Comum, aqui se desenvolvendo o processo.
No momento da sentença, entende o Juiz por absolver o réu da imputação do art. 129 do CP.
Ora, tal absolvição não implicará modificação da competência do Juízo Comum, cabendo a este,
pois, julgar o delito remanescente do art. 329 do CP, ainda que se trate de infração de menor
potencial ofensivo. Incide, enfim, a previsão do art. 81 do CPP ao consagrar o instituto da
perpetuatio jurisdicionis.

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “A
perpetuação da jurisdição permite, havendo reunião de infrações e/ou infratores pela conexão
ou continência, que o juiz prevalente, mesmo que venha a absolver ou desclassificar a infração

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que determinou a atração, continue competente para julgar as demais. Ainda que no feito de sua
competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir decisão absolutória ou que desclassifique
a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação
às conexas (art. 81, CPP). De acordo com a Súmula 122, do STJ, compete à Justiça Federal o
processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se
aplicando a regra do art. 78, II, “a”, do Código de Processo Penal. O teor desse enunciado deve
ser conjugado com o do art. 81, do CPP, para aplicar a regra da perpetuatio jurisdictionis quando
o juiz apreciar o mérito do crime de competência da Justiça Federal, mesmo que prolate sentença
absolutória, permanecendo competente para também julgar os conexos que seria,
originariamente, de competência da Justiça Estadual. No entanto, a absolvição do crime que
atraiu a competência da Justiça Federal, deve se distinguir de outras hipóteses em que o juiz não
aprecia o mérito do delito federal de forma mais aprofundada. Isso significa dizer que, se ao invés
de se tratar de absolvição propriamente dita, o juiz federal declarar a extinção da punibilidade
relativamente ao crime federal por motivos relacionados à abolitio criminis, ao óbito do acusado
e à prescrição da pretensão punitiva, deve remeter o julgamento dos demais crimes à Justiça
estadual, por não mais existir o motivo que autorizava a atração. No procedimento do júri, temos
que fazer a seguinte distinção para o estudo da perpetuação da jurisdição: a) Se ao final da
primeira fase o juiz desclassificar a infração, entendendo que não se trata de crime doloso contra
a vida, remeterá os autos ao juízo competente. A primeira fase funciona como filtro para
identificar quais as infrações que encontram ou não substrato mínimo para julgamento pelo
Conselho de Sentença. Da mesma forma, caso o magistrado impronuncie o réu ou o absolva
sumariamente, havendo infrações conexas, serão remetidas ao juízo competente (parágrafo
único, art. 81, CPP). b) Já na segunda fase, em plenário, se os jurados desclassificam o crime
doloso contra a vida, o julgamento, não só deste, mas também dos crimes conexos, fica afeto ao
juiz presidente do júri. Ora, se o corpo de jurados reconhece que não houve dolo de matar,
desclassificando o delito, estão reconhecendo sua incompetência, competindo o julgamento ao
juiz presidente, que de forma singular apreciará a infração desclassificada e as conexas (art. 492,
§ 1º e § 2º, CPP). Já se os jurados absolverem o réu pelo crime doloso contra a vida, afirmam a
competência, e por isso continuam aptos para apreciar as infrações conexas. No entanto, há uma
ressalva importante que afasta a aplicação do art. 492, §§ 1º e 2º, CPP, impedindo o julgamento
do fato pelo juiz-presidente do júri: caso a desclassificação do crime doloso contra a vida pelos
jurados implique reconhecimento de que se trata de crime militar. Como a Justiça comum não
tem competência para julgar crime militar, o juiz-presidente não poderá apreciar o fato, razão
pela qual deve remeter à Justiça castrense o julgamento do fato. Seria a hipótese dos jurados
concluírem que não se trata de crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil,
fazendo com que o fato retorne ao estado de crime militar, consoante os critérios do art. 9º, do
CPM. Caso a desclassificação ocorra no bojo de processo-crime por tráfico internacional de
drogas, que corre perante a Justiça Federal, pelo fato do juiz, na sentença, constatar que não se
deu o elemento da internacionalidade que se supunha inicialmente, duas posições se formam:
1) a primeira (prevalente), entende possível a incidência do art. 81, do CPP, pelo que o juiz federal
continuaria competente para processar e julgar o delito de tráfico de drogas, ainda que não
comprovada a transnacionalidade, restando prorrogada sua jurisdição (perpetuatio
jurisdictionis); 2) a segunda posição sustenta que o juiz federal, ao reconhecer só o cometimento
de tráfico de entorpecentes interno (tráfico de drogas doméstico), torna-se incompetente
absolutamente para julgá-lo, por ser competência do juiz de direito, não se aplicando a
perpetuatio jurisdictionis. Entendemos que se deve aplicar a perpetuatio jurisdictionis, definindo-

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se a competência de acordo com o que se narra no início da demanda, em estado de asserção (in
status assertionis)”.

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019):
“Ocorrendo a prorrogação da competência pela ocorrência de conexão ou continência, e
verificada a reunião dos processos, a competência do órgão julgador fixar-se-á sobre todos os
processos reunidos, ainda que nos autos do processo que exerceu a vis attractiva venha o juiz ou
tribunal a proferir sentença absolutória, ou desclassifique a infração para outra que não se inclua
na sua competência (art. 81, caput, do Código de Processo Penal). Ocorre, nesse caso, a
perpetuação da competência do órgão do foro prevalente. A regra, entretanto, encontra exceção
no que diz respeito aos crimes submetidos à competência do Tribunal do Júri: a) Decisão de
pronúncia. Nos termos do art. 81, parágrafo único, do Código de Processo Penal, se a
desclassificação, que exclua a competência do Tribunal do Júri, ou absolvição ocorrerem no
momento da prolação da decisão de pronúncia, cessa a competência daquele órgão, devendo o
processo ser remetido ao juízo competente. [...] b) Absolvição pelo Conselho de Sentença. Caso
a absolvição quanto ao crime doloso contra a vida decorra das respostas dos jurados aos quesitos
propostos, aplica-se a regra geral do art. 81, caput, cumprindo ao Conselho de Sentença a
apreciação dos crimes conexos ou continentes. Subsistem, assim, os efeitos da prorrogação da
competência. c) Desclassificação pelo Conselho de Sentença. Se o Conselho de Sentença, em vez
de absolver o réu, desclassifica o crime doloso contra a vida para outro que escapa à competência
do Tribunal do Júri (ex.: lesão corporal), caberá ao juiz presidente proferir sentença, aplicando-
se, se se tratar de infração de menor potencial ofensivo, os arts. 69 e seguintes da Lei n. 9.099/95
(art. 492, § 1º). Em relação a crime conexo não doloso contra a vida, competirá ao presidente
julgá-lo, incidindo, também, se a infração for de menor potencial ofensivo, os referidos artigos
da Lei n. 9.099/95 (art. 492, § 2º). Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça manifestou-se
no sentido de que, sendo arquivado o delito de competência para a Justiça Federal, passa-se a
ser competente a Justiça Estadual já que não mais subsiste a alegada conexão invocada pelo Juízo
suscitado (STJ, 3ª Seção, CC 118.815/MS, Min. Rel. Alderina Ramos de Oliveira, (Des. Convocada
do TJ/PE), j. 22.5.2013)”.

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), acerca da
perpetuatio jurisdictionis e a criação de nova Vara, pontua: “Outra situação interessante é a da
criação de nova Vara, quando o processo já se encontra em andamento no juízo existente, o qual
era, até então, competente. Nesse caso, a não ser que o juízo anterior se torne absolutamente
incompetente em razão da matéria ou prerrogativa de função, a competência não se desloca,
perpetuando-se a competência inicialmente fixada. Assim já decidiu o Superior Tribunal de
Justiça: ‘Proposta a ação penal, ainda quando não instalada a vara federal no interior do Estado,
firma-se a competência do Juiz processante, ante a combinação dos arts. 3º do CPP e 87 do CPC
[de 1973; correspondente ao art. 43, CPC/2015]’ (STJ, 5ª T., RHC 4.796/SP, DJU, 20 nov. 1995, p.
39611). A determinação da competência ocorre no momento em que a ação é proposta, sendo
irrelevantes posteriores modificações do estado de fato ou de direito, salvo quando suprimirem
o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria (se o crime fosse de
competência da justiça comum e passasse à justiça federal, hipótese bem diferente da acima
mencionada, haveria o deslocamento de juízo)”.

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NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), também
a respeito da situação de criação de nova Vara, pondera sobre as diversas situações que podem
ocorrer e suas consequências: “É possível que, mesmo iniciado o processo, seja instituída nova
vara criminal na comarca, restando a seguinte dúvida: os processos que versem sobre crimes que
passam a ser de competência da nova vara, devem ou não ser remetidos ao novel órgão
jurisdicional? Tanto na doutrina quanto na jurisprudência, tem-se admitido a aplicação, por força
da analogia, do art. 87 do CPC, de forma que a competência é determinada no momento da
propositura da ação (oferta da denúncia ou da queixa-crime), sendo irrelevantes as modificações
do estado de fato ou de direito ocorridas em momento posterior, salvo nas seguintes hipóteses:
a) Supressão de órgão jurisdicional: foi o que ocorreu com os Tribunais de Alçada, com o advento
da EC nº 45/04. b) Alteração da competência em razão da matéria. Perceba que havendo
alteração da competência de natureza absoluta, qualquer que seja ela, a remessa deve ocorrer.
Tratando-se de competência relativa (territorial), a matéria é resolvida, de regra, pela lei de
organização judiciária. No seu silêncio, não deve haver a remessa. c) Criação de nova vara com
idêntica competência e no mesmo espaço territorial da vara originariamente competente:
trata-se de necessidade de divisão de tarefas, não se aplicando a perpetuatio jurisdictionis. Em
outras palavras, se em comarca de vara única, com excessivo volume de processos, são criadas
mais duas varas com igual competência criminal, haverá redistribuição do acervo, eis que não
seria razoável o desequilíbrio de trabalho entre os referidos órgãos. d) Criação de nova vara
federal com jurisdição sobre o município onde ocorreu a infração penal e que não era
contemplado com vara federal à época do crime: não há incompetência superveniente do juízo
em que se iniciou a ação penal, incidindo a perpetuatio jurisdictionis, isto é, a criação de vara
federal no local em que ocorrida a infração não implica a incompetência superveniente do juízo
a que, até então, competia processar e julgar o processo. Questão tormentosa é aquela inerente
à delegação de competência federal ao juízo estadual do local da consumação do crime. É o que
ocorria com a antiga Lei de Tóxicos (Lei nº 10.409/02), que permitia o julgamento do tráfico
internacional de drogas perante o juízo estadual da comarca em que ocorreu a consumação do
fato. Já a Lei nº 11.343/06 (nova Lei de Tóxicos), dá tratamento diverso à matéria, dispondo que
a competência será da vara federal da circunscrição respectiva. Pergunta-se: os processos
iniciados na esfera estadual, quando da vigência da antiga lei, devem ser remetidos à esfera
federal, em face da nova previsão? Entendemos que não. A ausência, à época da instauração do
processo, de vara específica para julgamento da matéria, permite concluir que o processo foi
iniciado perante o juízo competente, leia-se, aquele já existente, por previsão legal, antes da
ocorrência da infração. Todavia, a matéria está longe de ser pacífica, havendo posições em
contrário tanto na doutrina, como na jurisprudência. e) Alteração da competência em razão da
hierarquia. É o que ocorre quando pessoas comuns passam a desfrutar de foro privilegiado,
implicando remessa dos autos ao tribunal, sendo que os atos anteriormente praticados em
primeiro grau serão reputados válidos (tempus regit actum)”.

Jurisprudência pertinente

Súmula 704, STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.

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Súmula 122, STJ: Compete a justiça federal o processo e julgamento unificado dos crimes
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, "a", do Código
de Processo Penal.

Supremo Tribunal Federal - STF

[...] A conexão é o liame que se estabelece entre dois ou mais fatos que, desse modo, se tornam
ligados por algum motivo, oportunizando sua reunião no mesmo processo, de modo a permitir
que os fatos sejam julgados por um só juiz, com base no mesmo substrato probatório, evitando
o surgimento de decisões contraditórias. Desse modo, a conexão provoca a reunião de ações
penais num mesmo processo e é causa de modificação da competência (relativa) mediante a
prorrogação de competência. 7. Habeas corpus denegado. (HC 96453, Relator(a): Min. ELLEN
GRACIE, Segunda Turma, julgado em 28/10/2008).

[...] CRIMES PRATICADOS EM DIVERSAS COMARCAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.


REUNIÃO DE PROCESSOS. REITERAÇÃO DE MATÉRIA DECIDIDA EM OUTRA IMPETRAÇÃO. NÃO-
CONHECIMENTO. JUÍZO DE CONVENIÊNCIA. [...] Improcedência: a reiteração, que impede o
conhecimento da matéria apresentada, é identificada pelo que se pede. No caso o
reconhecimento da conexão pela continuidade delitiva. De mais a mais, não cabe ao Supremo
Tribunal Federal substituir ao magistrado no juízo de conveniência que lhe é assegurado pela
norma veiculada no artigo 80 do Código de Processo Penal. Agravo regimental não provido. (HC
88867 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 22/05/2007).

Superior Tribunal de Justiça - STJ

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME MILITAR. CRIME DE HOMICÍDIO.


CONEXÃO. REUNIÃO DOS PROCESSOS. IMPOSSIBILIDADE. 1. Mesmo havendo a conexão entre o
crime de homicídio e de furto de armas do patrimônio sob administração militar, não é possível
a reunião do processo, diante de vedação expressa. 2. Conflito conhecido para declarar
competente para o julgamento do crime de furto das armas o juízo da 1ª Auditoria da 3ª CJM do
Rio Grande do Sul. (CC 77.138/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 08/08/2007).

[...] CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO. DUPLICIDADE DE INQUÉRITOS. POLÍCIAS


ESTADUAL E FEDERAL. ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. CONEXÃO. UNIFICAÇÃO
DAS INVESTIGAÇÕES. RECURSO PROVIDO. I. Evidenciada a ocorrência de conexão entre os
delitos apurados nos inquéritos policiais em trâmite nas polícias estadual e federal, impõem-
se a unidade dos feitos inquisitórios, por força dos artigos 76, incisos II e III, e 79, ambos do
Código de Processo Penal. II. Recurso provido para determinar que os autos do inquérito que
tramita no 13º Distrito Policial de São Paulo sejam remetidos à Polícia Federal, para que seja dado
prosseguimento às investigações juntamente com o IP n.º 12.023/99. (RHC 10.763/SP, Rel.
Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2001, DJ 27/08/2001, p. 351).

[...] A conexão e a continência entre crime eleitoral e crime da competência da Justiça Federal
não importa unidade de processo e julgamento. (CC 19.478/PR, Rel. Ministro FONTES DE
ALENCAR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/03/2001, DJ 04/02/2002, p. 278).

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FEITO DESMEMBRADO. CONTINUIDADE DAS INVESTIGAÇÕES.


COMPETÊNCIA DO JUÍZO QUE JULGOU O PROCESSO PRINCIPAL. LOCAL DO DOMICÍLIO DO RÉU.
IRRELEVÂNCIA. 1. Tratando-se de hipótese de desmembramento, em que é evidente a conexão
entre os fatos ora em apuração e aqueles objeto da ação penal primitiva, a competência para
o julgamento do feito desmembrado, conexo com o anterior, é do Juízo que apreciou o
processo principal, sendo irrelevante o local do domicílio do réu. 2. Conflito conhecido para
declarar competente o Juízo Federal da 2ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado do Paraná,
o Suscitado. (CC 107.116/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 10/03/2010, DJe 19/03/2010).

[...] A jurisprudência desta Corte Superior consolidou entendimento no sentido de que "O art.
80 do Código de Processo Penal confere ao juiz a faculdade de determinar a separação dos
processos - reunidos por força de conexão de crimes -, atendendo a razões de mera
conveniência judicial" (RHC 34.440/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
DJe 6/12/2016). [...] (HC 351.231/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado
em 01/03/2018, DJe 07/03/2018).

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. FORO PRIVILEGIADO. DESMEMBRAMENTO DO


FEITO. PEDIDO NEGADO. ATO DISCRICIONÁRIO. ARTIGO 80, DO CPP. [...] A separação dos
processos, nos termos do artigo 80, do CPP, deve observar as circunstâncias ensejadoras da
pretensão e se consubstancia como ato discricionário do juiz, que deverá examinar as
circunstâncias de cada caso. IV - Na hipótese, todos os réus (Membro do Tribunal de Contas;
Deputado Estadual e servidores da Assembléia) estão diretamente envolvidos no invocado ato,
não se vislumbrando motivação para o pretendido desmembramento. V - Agravo improvido.
(AgRg na APn 540/MT, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em
01/04/2009, DJe 27/04/2009).

[...] CONEXÃO. ALEGAÇÃO DE ILEGALIDADE NA SEPARAÇÃO DOS PROCESSOS. INEXISTÊNCIA.


ART. 80 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. FACULDADE DO JUÍZO. PRECEDENTES DO STJ. 1. A
conexão e a continência têm como finalidade garantir a união dos processos de forma a
propiciar ao julgador uma melhor visão do quadro probatório, permitindo-lhe entregar a
melhor prestação jurisdicional e evitando-se, com isso, a existência de decisões conflituosas.
Ocorre que essa junção nem sempre pode ser conveniente, tornando até mesmo mais difícil a
fase probatória, como o fato de envolver muitos réus ou por razões outras que somente o caso
concreto pode determinar. 2. O art. 80, do Código de Processo Penal, trata de hipóteses em que
"será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados
e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar
conveniente a separação." 3. Na hipótese, a decisão de desmembramento do feito em relação
ao delito tipificado no art. 92, da Lei de Licitações, restou devidamente justificada pelo Juiz,
com amparo na parte final do art. 80, do Código de Processo Penal, diante do encerramento
da instrução criminal quanto ao referido crime, bem como em face da proximidade da
ocorrência da prescrição. 4. Precedentes desta Corte. 5. Recurso desprovido. (RHC 18.522/MG,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2007, DJ 06/08/2007, p. 538).

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PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES AMBIENTAIS CONEXOS A CRIME DE


DESOBEDIÊNCIA DE SERVIDOR DO IBAMA. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. SUBSEQUENTE
PRESCRIÇÃO. PERPETUATIO JURISDICTIONIS. NÃO OCORRÊNCIA. DESLOCAMENTO PARA A
JUSTIÇA ESTADUAL. NECESSIDADE. 1. Na hipótese de conexão entre crime de desobediência de
servidor federal e crimes ambientais, em que existiu atração do processamento/julgamento
para a Justiça Federal, sobrevindo prescrição do crime contra a Administração Pública,
desaparece o interesse da União, devendo haver o deslocamento da competência para a Justiça
Estadual. 2. Ordem concedida para determinar o envio dos autos da ação penal para o Juízo
estadual, que se tornou o competente para processar e julgar os crimes ambientais em questão.
(HC 108.350/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
04/08/2009, DJe 24/08/2009).

MÉTODO PARA VERIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA


Durante essa aula procuramos explicar a competência seguindo uma ordem didática, muitas vezes
observando a sequência prevista no próprio CPP, no artigo 69 e seguintes.

Todavia, a lei não foi pragmática ao estabelecer a ordem dos critérios definidores da competência. Não há
um padrão para isso e cada autor faz a sua recomendação no que diz respeito à fixação da competência.
Trazemos algumas de renomados autores:

NORBERTO AVENA:

Ordem do processo de verificação da competência e síntese das etapas. Não existe um critério
obrigatório a ser observado na fixação da competência do juízo. Entretanto, há caminhos que
permitem essa definição com menor possibilidade de erro e, além disso, agilizam a verificação.
Por muito tempo, compreendemos adequado iniciar o exame do juízo competente a partir das
regras de competência ratione materiae. No entanto, em face das diversas alterações ocorridas
na jurisprudência nacional nos últimos tempos, algumas, inclusive, decorrentes do julgamento
da Ação Penal 470/MG (referente ao caso conhecido como mensalão), repensamos o tema e
passamos a defender a obediência à seguinte ordem:

1. Verificação da competência ratione personae, atentando-se à existência ou não de


prerrogativa de função que justifique a tramitação e julgamento do processo junto aos Tribunais.

2. A etapa seguinte deverá ser a análise das regras de competência ratione materiae,
estabelecendo-se, então, a Justiça competente dentre as quatro existentes no Brasil: Justiça
Especial Militar, Justiça Especial Eleitoral, Justiça Comum Federal e Justiça Comum Estadual.

3. No momento seguinte, a partir da análise das normas de competência ratione loci, define-se
o foro competente, que poderá ser o Conselho de Justiça, na esfera da Justiça Militar; a Zona, no
caso da Justiça Eleitoral; a Seção/Subseção Judiciária, na esfera da Justiça Federal e a Comarca
na órbita da Justiça Estadual.

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Se, com a utilização dessas regras, ainda assim restar indefinido o Juízo Competente, passa-se à
utilização dos demais critérios, quais sejam:

1. Domicílio do réu, na hipótese de não ser conhecido o local do fato ou, mesmo conhecido este
local, tratar-se-á de crime de ação penal privada. Neste último caso, o querelante poderá optar
entre mover a ação penal no foro do lugar da infração ou do domicílio do réu.

2. Eventual incidência das regras de prevenção, visando-se a definição do foro competente ou


da vara criminal competente.

3. Eventual incidência de normas locais de organização judiciária, objetivando-se definir a vara


criminal competente.

4. Aplicação do critério da distribuição, quando, já definido o foro, resta necessária a definição


da vara criminal competente.

Observação: Na definição da vara criminal competente, a opção entre os critérios relativos à


prevenção, normas de organização judiciária e distribuição prende-se às peculiaridades do caso
concreto. Exemplo: Considere-se que um cidadão comum, em Porto Alegre, cometa homicídio
culposo de trânsito. Não possuindo prerrogativa de função, será ele processado perante o Juiz
singular. Considere-se que não incidam aqui as competências militar, eleitoral e federal. Logo, a
competência estará afeta à Justiça Estadual. O fato ocorreu em Porto Alegre, o que impõe o
julgamento nessa Comarca. Ocorre que, em Porto Alegre, entre as diversas varas criminais,
existe, instituída por norma de organização judiciária local, vara especializada em delitos de
trânsito. Portanto, esta deverá ser a vara competente. E se houver mais de uma vara de trânsito?
Nesse caso, deve-se atentar se alguma delas antecipou-se à outra na prática de ato de jurisdição.
Se isto ocorreu, tal vara estará preventa. Caso contrário, define-se a competência pela
distribuição.

Independentemente de toda essa disciplina, caberá ao intérprete manter-se atento a eventual


ocorrência de conexão (art. 76 do CPP) ou continência (art. 77 do CPP), pois esses institutos,
observadas determinadas limitações impostas pela Constituição Federal ou pela legislação
infraconstitucional, podem modificar as competências estabelecidas por força dos critérios
anteriores (Avena, 2020).

RENATO BRASILEIRO:

Ao se buscar o juízo competente para processar e julgar determinada infração penal, devemos
passar por várias etapas sucessivas, concretizando-se gradativamente o poder de julgar,
passando do geral para o particular, do abstrato ao concreto. Supondo, assim, que uma infração
penal seja praticada na comarca "X", devemos nos perguntar, inicialmente, se a infração penal é
da competência da Justiça brasileira. Posteriormente, a partir da análise da natureza da infração
penal, busca-se definir a Justiça competente para processar e julgar o delito. Firmada a
competência de Justiça, devemo-nos perquirir se o acusado é titular de foro por prerrogativa de
função. Depois, caso o acusado não faça jus ao julgamento perante um órgão superior, observa-
se a competência territorial (ou de foro). Por fim, chegamos à competência de juízo,

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determinando-se a vara, câmara ou turma competente. Esse caminho que se percorre quando
da fixação da competência pode assim ser sintetizado, parando-se na fase em que a competência
estiver determinada ou prosseguindo-se até que seja devidamente fixada:

1) Competência de Justiça: qual é a Justiça competente? Tradicionalmente, a doutrina costuma


dividir as Justiças em Especial e Comum. São consideradas Justiças Especiais: a) Justiça Militar (da
União e dos Estados); b) Justiça Eleitoral; c) Justiça do Trabalho; d) Justiça Política (crimes de
responsabilidade). Da Justiça Comum fazem parte a Justiça Comum Federal (geral, júri e juizados)
e a Justiça Comum Estadual (geral, júri e juizados).

2) Competência originária: o acusado é titular de foro por prerrogativa de função? O acusado


encontra-se no exercício de cargo ou função que o sujeite diretamente a determinado tribunal,
perante o qual deva ser oferecida a peça acusatória?

3) Competência de foro ou territorial: qual o foro competente para processar e julgar a infração
penal? Qual a comarca (Justiça Estadual), Seção e Subseção Judiciárias (Justiça Federal),
Circunscrição Judiciária Militar (Justiça Militar da União) ou Zona eleitoral (Justiça Eleitoral)
competente?

4) Competência de juízo: qual o juízo competente para processar e julgar a infração penal? Cabe
aqui a análise acerca da possível existência de vara especializada para o julgamento do delito, tal
como ocorre em relação a drogas, acidentes de trânsito, lavagem de capitais e crimes contra o
sistema financeiro, etc.

5) Competência interna ou de juiz: qual o juiz ou órgão internamente competente? Em regra,


havendo juiz titular e juiz substituto em uma mesma vara, a competência é determinada a partir
da distribuição.

6) Competência recursal: a qual órgão jurisdicional compete o julgamento de eventual recurso?


Em regra, essa competência recursal recai sobre órgão jurisdicional superior. No entanto, é
possível que a competência recaia sobre o mesmo órgão que prolatou a decisão recorrida (v.g.,
embargos de declaração).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida, Joaquim Canuto Mendes de. 1973. Princípios fundamentais do processo penal. São
Paulo : RT, 1973.
Alves, Leonardo Barreto Moreira. 2017. Processo penal. 7ª. Salvador : JusPodivm, 2017.
As condições da ação penal e o julgamento de mérito abusivo. Belo, Warley. Porto Alegre : Lex
Editora, Lex Magister.
Avena, Norberto. 2015. Manual de processo penal. 3ª. Rio de Janeiro : Forense, 2015.
—. 2017. Processo penal. 9ª. São Paulo : Método, 2017.
Badaró, Gustavo Henrique Righi Ivahy. 2000. Correlação entre acusação e sentença. São Paulo :
RT, 2000.
Badaró, Gustavo. 2017. Processo penal. 5ª. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2017.

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Campos, Walfredo Cunha. 2018. Curso completo de processo penal. Salvador : JusPodivm, 2018.
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Gonçalves, Victor Eduardo Rios, Reis, Alexandre Cebrian Araújo e Lenza, Pedro. 2017. Direito
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Júnior, Américo Bedê e Senna, Gustavo. 2009. Princípios do processo penal: entre o garantismo e
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Júnior, Aury Lopes. 2017. Direito processual penal. 14. São Paulo : Saraiva, 2017.
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Marcão, Renato Flavio. 2017. Curso de processo penal. São Paulo : Saraiva, 2017.
Marinoni, Luiz Guilherme. 2006. Curso de processo civil : teoria geral do processo. São Paulo : RT,
2006. Vol. 1.

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Marinoni, Luiz Guilherme e Arenhart, Sérgio Cruz. 2015. Prova e convicção. 3. São Paulo : RT,
2015.
Marques, José Frederico. 1997. Elementos de direito processual penal. Reedição 1ª. Campinas :
Bookseller, 1997.
—. 1980. Tratado de direito processual penal. 1. São Paulo : Saraiva, 1980.
Masson, Cleber. 2014. Código Penal comentado. 2ª. Rio de Janeiro : Forense, 2014.
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Mirabete, Julio Fabbrini. 2005. Processo penal. 17. São Paulo : Atlas, 2005.
Mirabete, Julio Fabrini. 2002. Código de Processo Penal interpretado. 9ª. São Paulo : Atlas, 2002.
Moraes, Alexandre de. 2005. Constituição Federal do Brasil interpretada. 5. São Paulo : Atlas,
2005.
Muccio, Hidejalma. 2000. Curso de processo penal. 1. São Paulo : Edipro, 2000. Vol. I.
Nalini, José Renato e Aquino, José Carlos Gonçalves Xavier de. 2009. Manual de processo penal.
São Paulo : RT, 2009.
Netto, José Laurindo de Souza. 2009. Processo penal: sistemas e princípios. 1. Curitiba : Juruá,
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Nicolitt, André Luiz. 2016. Manual de processo penal. 6ª. São Paulo : RT, 2016.
Noronha, E. Magalhães. 1995. Curso de direito processual penal. 23. São Paulo : Saraiva, 1995.
Nucci, Guilherme de Souza. 2013. Código de Processo Penal comentado. 12ª. São Paulo : RT, 2013.
—. 2018. Curso de direito processual penal. 15. Rio de Janeiro : Forense, 2018.
—. 2014. Leis penais e processuais penais comentadas. 8ª. Rio de Janeiro : Forense, 2014.
—. 2015. Manual de Processo Penal e Execução Penal. RJ : Forense, 2015.
Pacelli, Eugênio. 2018. Curso de processo penal. 21. São Paulo : Atlas, 2018.
—. 2017. Curso de processo penal. 21. São Paulo : Atlas, 2017.
Pacelli, Eugênio e Fischer, Douglas. 2013. Comentários ao Código de Processo Penal e sua
jurisprudência. 5ª. São Paulo : Atlas, 2013.
—. 2018. Comentários ao Código de Processo Penal e sua jurisprudência. 10ª. São Paulo : Atlas,
2018.
Pinheiro, Rui. 1976. A constituição e o processo penal. 1. São Paulo : Coimbra, 1976.
—. 1974. A constituição e o processo penal - Clássicos Jurídicos. 1. São Paulo : Coimbra, 1974.
Prado, Luiz Regis. 2009. Direito Processual Penal. São Paulo : RT, 2009.
Rangel, Paulo. 2017. Direito processual penal. 25. São Paulo : Atlas, 2017.
—. 2018. Direito processual penal. 26ª. São Paulo : Atlas, 2018.
Reis, Alexandre Cebrian Araújo. 2012. Direito processual penal esquematizado. 1. São Paulo :
Saraiva, 2012.
—. 2017. Direito processual penal esquematizado. 6ª. São Paulo : Saraiva, 2017.
Rosa, Antonio José Miguel Feu. 1992. Processo penal. Rio de Janeiro : EDC - Editora Didática e
Científica, 1992.
Silva, De Plácido e. 2005. Vocabulário jurídico. 26ª. Rio de Janeiro : Forense, 2005.
Távora, Nestor. 2017. Curso de direito processual penal. 12. Salvador : JusPodvim, 2017.
Távora, Nestor e Araújo, Fábio Roque. 2017. Código de processo penal comentado. 8ª. Salvador :
JusPodivm, 2017.
Tornaghi, Hélio. 1987. A relação processual penal. 2ª. São Paulo : Saraiva, 1987.
Tornaghi, Hélio Bastos. 1977. Instituições de processo penal. 2ª. São Paulo : Saraiva, 1977.
Tornaghi, Hélio. 1967. Compêndio de processo penal. Rio de Janeiro : José Konfino, 1967.

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 276


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—. 1997. Curso de processo penal. São Paulo : Saraiva, 1997. 10.


Tucci, Rogério Lauria. 2004. Direitos e garantias individuais no processo penal Brasileiro. 2. São
Paulo : Saraiva, 2004.
Wambier, Luiz Rodrigues. 2010. Curso avançado de processo civil. 11. São Paulo : RT, 2010.
—. 2010. Curso avnçado de processo civil. 11. São Paulo : RT, 2010.

RESUMO
Jurisdição: manifestação de soberania e monopólio do Estado, que traduz a função (poder-dever de julgar)
de aplicar o direito objetivo ao caso concreto. Etimologia: ação de ‘dizer o direito’.

Competência: é a medida da jurisdição. Apresenta-se como uma verdadeira substitutividade


limitação da jurisdição, definindo, por meio de um conjunto de normas, qual é
o juiz que vai atuar nos mais variados casos. Concreta e objetivamente falando. unidade

Princípios ou características da jurisdição: não há unanimidade quanto à inércia


nomenclatura, enquanto uns tratam como características outros denominam
princípios. indeclinabilidade

1 - JURISDIÇÃO
Jurisdição
inevitabiliade

Quanto à graduação: inferior ou superior; indelegabilidade

improrrogabilida
Quanto à matéria: penal, civil, eleitoral etc.;
de
Quanto ao objeto: contenciosa ou voluntária; investidura

Quanto à competência: plena ou limitada / exclusiva ou cumulativa.


imutabilidade

2 - COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA juiz natural

Absoluta: não pode ser flexibilizada; não admite prorrogação; ditada por critérios de ordem pública; vício
decorrente não se convalida, podendo ser alegado a qualquer tempo; causa de nulidade absoluta; pode/deve
ser reconhecida de ofício pelo juiz. Ex.: competência em razão da matéria, da pessoa (prerrogativa de função)
e funcional.

Relativa: admite prorrogação; pode ser relativizada; voltada mais aos interesses das partes; vício se convalida
se não alegado em momento oportuno; causa de nulidade relativa; pode ser reconhecida de ofício pelo juiz.
Ex.: competência em razão do valor e do território (eleição de foro).

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

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Regra de competência criada com base no interesse Regra de competência criada com base no interesse
público. preponderante das partes.
A regra de competência absoluta não pode ser
A regra de competência relativa pode ser
modificada, ou seja, cuida-se de competência
modificada, ou seja, cuida-se de competência
improrrogável ou imodificável. Nesse sentido: art.
prorrogável ou derrogável.
62 do novo CPC.
Incompetência absoluta é causa de nulidade
Incompetência relativa é causa de, no máximo,
absoluta: a) pode ser arguida a qualquer momento,
nulidade relativa: a) deve ser arguida no momento
mesmo após o trânsito em julgado (após a formação
oportuno (resposta à acusação – CPP, art. 396-A),
da coisa julgada somente pode ser arguida em favor
sob pena de preclusão; b) o prejuízo deve ser
do acusado, por meio de revisão criminal ou habeas
comprovado.
corpus); b) o prejuízo é presumido.
Pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado,
Pode ser reconhecida ex officio pelo magistrado, porém somente até o início da instrução processual,
enquanto não esgotada sua jurisdição pela prolação em virtude da adoção do princípio da identidade
da sentença. física do juiz (CPP, art. 399, § 2º). Não se aplica ao
processo penal a súmula nº 33 do STJ.
Pode ser arguida por meio de exceção de Pode ser arguida por meio de exceção de
incompetência. Porém, como o magistrado pode incompetência. Porém, como o magistrado pode
conhecê-la de ofício, nada impede que a parte conhecê-la de ofício, nada impede que a parte
aborde a incompetência absoluta de outra forma. aborde a incompetência relativa de outra forma.
Como a competência relativa admite modificações,
Se a competência absoluta não admite
a conexão e a continência podem funcionar como
modificações, a conexão e a continência, que são
critérios modificativos da competência, tornando
causas modificativas da competência, não podem
competente para o caso concreto juiz que não o
alterar uma regra de competência absoluta.
seria sem elas. Nesse sentido: art. 54 do novo CPC.
Exemplos: ratione loci, competência por
Exemplos: ratione materiae, ratione funcionae e
distribuição, competência por prevenção (súmula
competência funcional.
nº 706 do STF), conexão e continência.

3 - CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Ratione loci: competência de foro; leva em conta o lugar onde ocorreu a infração penal ou, supletivamente,
o de residência do réu.

Ratione materiae: definida a partir da natureza ou espécie do crime praticado.

Ratione personae ou ratione funcionae: foro por prerrogativa de função, de acordo com a função
desempenhada pela pessoa, o cargo por ela ocupado.

Competência funcional: refere-se à distribuição de funções entre os juízes.

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4 - COMPETÊNCIA TERRITORIAL
Regra geral: lugar do crime; facilidade de prova; proximidade com os elementos do delito; regra baseada na
teoria do resultado.

Crimes tentados: no caso de crimes tentados, será competente o foro em que foi realizado o último ato de
execução.

Crimes à distância: art. 6º Código Penal; teoria da ubiquidade - que estaria reservada para as situações em
que um crime se iniciou no estrangeiro e se findou no Brasil ou vice-versa.

Crimes plurilocais: competência firmada pelo foro do resultado.

Crimes formais: competente o lugar da ação ou omissão.

Crimes cometidos fora do território nacional (extraterritorialidade): agente residia no Brasil antes do
cometimento – Justiça Estadual da Capital do Estado onde por último teve fixada sua residência; agente
jamais residiu no Brasil – havendo interesse na aplicação da lei brasileira ao delito cometido no exterior
(hipóteses do art. 7.º do CP), competente será a Justiça Estadual do foro da Capital da República.

Domicílio ou residência do réu como foro supletivo: art. 72, CPP. Não sendo conhecido o lugar da infração,
a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. Domicílio, na acepção jurídica, tem
significação mais estrita. Indica o centro ou sede de atividades de uma pessoa, o lugar em que mantém o seu
estabelecimento ou fixa a sua residência com ânimo definitivo – gera uma situação de direito. Residência
representa situação meramente de fato e traduz o local onde a pessoa vive, sem o caráter da definitividade
ou de centro de atividades. Critério principal é o domicílio e, falhando este, como subsidiário, o da residência.

5 - COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA


Aqui, importa saber qual a espécie de crime que é objeto da
persecução penal, qual a sua natureza; enfim, para relacionar
com o nome, qual a ‘matéria’ criminal. A partir disso, por Justiça
correspondência, define-se qual será a ‘justiça’ competente Eleitoral
para o processo e julgamento. Justiça Militar

Justiça Eleitoral: art. 121, CF - Lei complementar disporá sobre Ratione Materiae Justiça
a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito Federal
e das juntas eleitorais. Código Eleitoral (recepcionado pela CF Justiça
como lei complementar) traz os principais tipos penais Estadual
eleitorais, mas nem todos. Art. 35, II – compete aos juízes: Justiça do
processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe Trabalho
forem conexos, ressalvada a competência originária do Tribunal
Superior e dos Tribunais Regionais.

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Justiça do Trabalho: Cuida-se de uma competência em matéria criminal muito restrita e pontual; não para
julgar crimes de um modo geral, mas sim para apreciar ação autônoma defensiva que questiona ato coator
que envolva matéria trabalhista – “habeas corpus [...], quando o ato questionado envolver matéria sujeita à
sua jurisdição” (CF, art. 144, IV).

Justiça Militar: Federal ou Estadual – Art. 124, CF. - À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes
militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a
competência da Justiça Militar. § 4º do art. 125, CF. - Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar
os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares
militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir
sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. Crime militar: são aqueles que
se enquadram nas disposições/situações do art. 9º do Código Penal Militar que, recentemente, sofreu
alteração.

Justiça Federal: A competência da Justiça Federal está definida no art. 109 da Constituição Federal, em
resumo: crimes políticos; infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União
ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; crimes previstos em tratado ou convenção
internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro;
causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º; crimes contra a organização do trabalho e, nos
casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; os habeas corpus,
em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não
estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves,
ressalvada a competência da Justiça Militar; os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro.

Justiça Estadual: faz parte da Justiça Comum, cuja competência não é estabelecida em relação a matérias
específicas (como ocorre com a Militar e a Eleitoral), mas sim de forma residual ou subsidiária. Na falta de
previsão normativa de qual seria o órgão jurisdicional encarregado de processar e julgar determinado crime,
a competência ficará para a Justiça Estadual.

Competência para crimes de responsabilidade: “corresponde à atividade jurisdicional exercida por órgãos
políticos, alheios ao Poder Judiciário, apresentando como objetivo precípuo o afastamento do agente público
que comete crimes de responsabilidade de suas funções” (Lima, 2021).

6 - COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO


Tendo em vista a relevância de determinados cargos ou funções públicas, cuidou o constituinte brasileiro de
fixar foros privativos para o processo e julgamento de infrações penais praticadas pelos seus ocupantes,
atentando-se para as graves implicações políticas que poderiam resultar das respectivas decisões judiciais.

Foro por prerrogativa de função e STF: o atual entendimento do STF (já adotado pelo STJ) acerca da matéria
é de que o foro por prerrogativa de função apenas incidirá nos crimes cometidos durante o cargo ou mandato
eletivo e em razão deles, conforme AP 937/RJ. Também restou decidido que o despacho para intimação das
partes para apresentação de alegações finais orais representa marco a partir do qual a competência não mais
será alterada, mesmo que a autoridade deixe o cargo que lhe conferia foro especial.

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Investigação policial e indiciamento: em Questão de Ordem suscitada no Inq. 2.411, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal passou a entender que, tratando-se de investigado titular de foro por prerrogativa de
função, a autoridade policial não pode proceder ao indiciamento sem prévia autorização do Ministro-Relator,
sendo que esta autorização também é necessária para a própria instauração do inquérito originário.

Duplo grau de jurisdição: tem-se como juízo a quo uma instância que, para os casos comuns, costuma ser a
ad quem; ou seja, o processo inicia e é diretamente julgado por órgão que, via de regra, é a instância recursal.
Dessa forma, não há ocasião ou oportunidade para reanálise da matéria fática por órgão diverso daquele
que originariamente competente.

Local da infração: a regra do art. 70 do CPP é menosprezada em razão da prevalência do foro por
prerrogativa. Tratando-se de competência por prerrogativa de função, portanto, pouco importa o local onde
o crime foi cometido, recaindo a competência sobre o Tribunal ao qual se encontrar vinculada a respectiva
autoridade.

Competência por prerrogativa de função x Tribunal do júri: Súmula Vinculante 45. A competência
constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido
exclusivamente pela constituição estadual.

Concurso de agentes: como regra geral, a competência por prerrogativa de função que um réu porventura
detenha se estende aos demais coautores e partícipes, independentemente de ocuparem cargo ou função
que lhes assegure foro especial. Súmula 704. Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa
de função de um dos denunciados.

Princípio da simetria: por “simetria” ou “paralelismo”, entende-se que as disposições de constituições


estaduais em relação a essa matéria devem ser harmônicas às fixadas na Constituição Federal. É dizer, não
possuem os legisladores constituintes estaduais irrestrita liberdade para estabelecerem, como bem
entenderem, foros diferenciados a qualquer função ou cargo dentro do âmbito estadual, ficando adstritos
às previsões/limites da Constituição Federal.

7 - COMPETÊNCIA DE JUÍZO
O art. 74 do CPP estabelece um critério para a fixação do juízo competente, qual seja, a natureza da infração.
A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a
competência privativa do Tribunal do Júri.

Juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher: a Lei nº 11.340/2006 (mais conhecida por “Lei
Maria da Penha”), criou mecanismos para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, dentre
outras providências. Além disso, criou os juízos especializados, denominados Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher.

Juízo colegiado em primeiro grau de jurisdição para julgamento de crimes praticados por organização
criminosa: a Lei 12.694/2012 dispõe sobre a formação de colegiados compostos por três juízes em primeiro
grau de jurisdição para o processamento e julgamento de crime praticados por organizações criminosas,

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como forma de diluir a responsabilidade dos atos decisórios praticados entre todos os integrantes. Com a
entrada em vigor da Lei 12.850/2013, passou-se a ter uma clara definição legal do que são as organizações
criminosas, conforme disposição do § 1º do art. 1 º, considera-se organização criminosa a associação de 4
(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante
a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de
caráter transnacional.

Juízo da Execução: estabelece o art. 2º da Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal) acerca do exercício da
jurisdição penal em relação aos processos de execução: Art. 2º. A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da
Justiça ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade
desta Lei e do Código de Processo Penal. Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório
e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição
ordinária.

Competência por distribuição: Trata-se de mero critério para repartição, divisão de serviço dentre varas de
mesma competência, utilizando-se da aleatoriedade dos sistemas de distribuição a fim de que não haja
nenhum direcionamento indevido de processos. Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência
quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente.

Competência por prevenção: é a concentração, em um órgão jurisdicional, da competência que


abstratamente pertencia a mais de um órgão, inclusive a ele próprio, por ter atuado, previamente no
processo (Badaró, 2017).

8 - MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA
Conexão: “é o nexo, a dependência recíproca que a coisas e os fatos guardam entre si [...] existe quando
duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um vínculo que aconselha a junção dos processos,
propiciando, assim, ao julgador perfeita visão do quadro probatório e, de consequência, melhor
conhecimento dos fatos, de todos os fatos, de molde a poder entregar a prestação jurisdicional com firmeza
e justiça” (Filho, 2011).

Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações,
houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; III - quando a prova de uma
infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

Continência: como o próprio nome está a indicar, uma causa está contida na outra, não sendo devida a cisão.
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à
causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais. Art. 77. A competência
será determinada pela continência quando: I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código
Penal.

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Efeitos da conexão e da continência: Art. 79. CPP. A conexão e a continência importarão unidade de
processo e julgamento. Essa reunião dos casos, com eventual prorrogação de competência, para que sejam
processados e julgados conjuntamente, por um único juízo, é uma consequência natural e adequada às
próprias razões da criação e da existência dos institutos – não é por outro motivo que a legislação concebe
a conexão e a continência, senão para viabilizar o julgamento simultâneo (simultaneus processus).

Juízo prevalente: Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas
as seguintes regras: I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum,
prevalecerá a competência do júri; II - no concurso de jurisdições da mesma categoria; a) preponderará a do
lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido
o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; c) firmar-se-á a competência
pela prevenção, nos outros casos; III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a
de maior graduação; IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

Separação de processos: Art. 79, I e II, CPP - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; no concurso
entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. Art. 80, CPP - Será facultativa a separação dos processos
quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando
pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

Prorrogação da competência: No sentido processual, prorrogação de competência é, assim, a extensão ou


a ampliação da competência de um juiz, para que possa tomar conhecimento da questão trazida à presença
dele, por circunstâncias especiais. E, embora, originariamente, sem competência para a conhecer, pela
prorrogação, investe-se na competência, amplia-se seus poderes jurisdicionais, para que possa continuar no
exercício de suas atribuições, e, sem solução de continuidade, prossiga no feito trazido ao seu conhecimento
(Silva, 2005).

Perpetuação da competência: Perpetuação significa, vulgarmente, a ação e efeito de tornar as coisas


imutáveis e eternas. O Código de Processo Penal não tem uma regra expressa quanto a isso; diferente do
Código de Processo Civil que assim define. Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou
da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas
posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. Na
ausência de disposição específica no CPP, aplica-se subsidiariamente, as disposições do referido art. 43.
Exceto: quando ocorrer a extinção do órgão judiciário, tal como ocorreu com os Tribunais de Alçada; quando
a competência for alterada em razão da matéria: vide exemplo da Lei no 9.299/96, que transformou em
crime comum o crime doloso; e, quando a competência for alterada em razão da hierarquia: imaginando-se,
por exemplo, que determinado acusado seja diplomado deputado federal durante o curso de processo
criminal.

QUESTÕES COM COMENTÁRIOS


Magistratura

1. (FCC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2017) Considere os Casos 1 e 2 abaixo.

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Caso 1: Iniciada a prática de homicídio em Florianópolis, a morte da vítima ocorreu em Itajaí e a prisão do
acusado em Blumenau.
Caso 2: Delito de menor potencial ofensivo foi praticado em Itajaí e se consumou no Balneário de Camboriú,
não sendo possível a transação penal.
a) o Tribunal do Júri da Comarca de Itajaí (Caso 1) e o juiz singular, segundo a organização judiciária da
Comarca do Balneário de Camboriú (Caso 2);
b) em ambos os casos, segundo a regra de distribuição, o juiz criminal da Comarca de Itajaí;
c) o Tribunal do Júri da Comarca de Florianópolis (Caso 1) e o juiz singular, segundo a organização judiciária
da Comarca de Itajaí (Caso 2);
d) o Tribunal do Júri (Caso 1) e o juiz singular (Caso 2), segundo a organização judiciária da Comarca de Itajaí;
e) em ambos os casos, segundo a regra de prevenção, o juiz criminal da Comarca de Itajaí.

Comentários

A alternativa D é a única correta. Em regra, a competência será determinada pelo lugar em que se consuma
a infração (teoria do resultado). Perceba-se:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. § 1o Se,
iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. § 2o
Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o
juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado. § 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando
incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Contudo, existem exceções. A jurisprudência dominante tem afastado a aplicação do art. 70 do Código de
Processo Penal para fixar como competente, nos casos de homicídio, o local em que a conduta foi praticada
(e não onde ocorreu o resultado morte), isso para facilitar a colheita da prova. Diz-se que, nesse caso, aplica-
se a teoria do esboço do resultado. A banca concluiu que a adoção da teoria do esboço do resultado (exceção)
não ocorre em qualquer hipótese de homicídio, mas somente naqueles casos em que vier a facilitar a colheita
da prova. Como o enunciado nada dispôs a esse respeito, segue-se a regra.

Quanto aos crimes de menor potencial ofensivo (regidos pela Lei nº 9.099/95) existe regra própria sobre
competência. De acordo com o art. 63, a competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal.

Tomando em conta essas informações, conclui-se que o Tribunal do Júri será competente para o ‘caso 1’
(embora o enunciado não deixe claro que se tratava de homicídio doloso) e o juiz singular para o ‘caso 2’,
ambos da Comarca de Itajaí.

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Art. 5º, inciso XXXVIII, CF - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a
lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

2. (CESPE – Juiz Substituto – TJ/PR – 2017) Acerca da divisão do exercício da jurisdição entre os
diversos órgãos jurisdicionais, assinale a opção correta.
a) a competência será determinada pela conexão, quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma
infração;
b) caso desclassifique infração que tenha dado causa à conexão, o juiz continuará competente para julgar os
delitos remanescentes e os corréus, haja vista a regra da perpetuatio jurisdicionis;
c) nos crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo da capital da República,
independentemente de o acusado ter residido ou não no Brasil.
d) os domicílios do réu e da vítima são critérios de determinação da competência jurisdicional.

Comentários

A alternativa A está errada. Quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração, a
competência será fixada pela continência e não pela conexão. Note-se:

Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I - duas ou mais pessoas
forem acusadas pela mesma infração; [...]

A assertiva B está correta. Nos casos de conexão, ainda que haja desclassificação da infração que tenha dado
causa a seu reconhecimento, o juiz permanecerá competente para julgar os delitos/corréus remanescentes.
Inteligência do art. 81 do Código de Processo Penal.

Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo
da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que
desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos. Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao
júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou
impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o
processo ao juízo competente.

A alternativa C está incorreta, porque contraria o disposto no art. 88 do Código de Processo Penal. Perceba-
se:

Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo
da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no
Brasil, será competente o juízo da Capital da República.

A assertiva D está errada. O domicílio da vítima não é critério de determinação da competência, embora o
domicílio do réu seja. Veja-se:

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Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: [...] II - o domicílio ou residência do réu; [...]
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu. [...] Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir
o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

3. (FCC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2015) Após a condenação em primeira instância por um crime de
competência federal, o réu de uma ação penal é diplomado como deputado federal. Posteriormente,
quanto ao julgamento de sua apelação, interposta antes da diplomação, deverá ser julgada:
a) pelo Tribunal Regional Federal, se já estiver devidamente instruída com razões e contrarrazões;
b) normalmente pelo juiz federal da causa, em respeito ao princípio do juiz natural;
c) pelo Supremo Tribunal Federal;
d) pelo Superior Tribunal de Justiça;
e) normalmente pelo Tribunal Regional Federal.

Comentários

A alternativa C seria a única correta na época, atualmente é a E. Operada a diplomação, o deputado federal
teria sua apelação julgada pelo Supremo Tribunal Federal. Essa era a orientação da jurisprudência à luz do
que dispõe o art. 53, § 1º da Constituição Federal. Todavia, com a tese definida na AP 937 QO, rel. min.
Roberto Barroso, j. em 03-5-2018, o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. Hoje, o réu seria julgado pelo TRF,
considerando que o crime é de competência federal.

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos. § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão
submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. [...]

4. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/RJ – 2014) Imagine que magistrado integrante do Tribunal Regional
Eleitoral, durante sessão de julgamento e em razão de controvérsia relativa a votos divergentes, atente
dolosamente contra a vida de seu colega. A competência para julgamento é do:
a) Tribunal do Júri;
b) Tribunal de Justiça;
c) Tribunal Regional Eleitoral;
d) Superior Tribunal de Justiça;
e) Tribunal Superior Eleitoral.

Comentários

A assertiva D é a única correta. De acordo com o art. 105, inciso I, alínea ‘a’ da Constituição Federal, compete
ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar originariamente membros dos Tribunais Regionais
Eleitorais. Repare-se:

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Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos
crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais
Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante
tribunais.

5. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/RJ – 2014) De acordo com entendimento sumulado pelo STF, é de
competência da Justiça Federal processar e julgar crimes de tráfico de drogas, desde que haja remessa do
entorpecente para o
a) exterior;
b) exterior, ou entre Estados dentro do país;
c) exterior, ou entre Estados dentro do país, ou entre Municípios;
d) exterior, e desde que seja praticado por associação transnacional.

Comentários

A alternativa A é a única correta. O conhecimento do candidato sobre o teor da Súmula 522 do STF seria
suficiente para responder adequadamente o questionamento. Perceba-se: salvo ocorrência de tráfico para
o exterior, quando, então, a competência será da justiça federal, compete à justiça dos estados o processo e
julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.

6. (TRF3 – Juiz Federal Substituto – TRF3 – 2016) Em virtude de um ofício encaminhado pelo COAF,
noticiando movimentações bancárias suspeitas, um Procurador da República requisitou a instauração de
Inquérito Policial, para apurar a suposta prática de lavagem de dinheiro e de crimes financeiros. A Polícia
Federal instaurou o inquérito, tendo o Delegado determinado, de plano, o indiciamento do investigado.
Desejando questionar a ordem de indiciamento e a própria instauração do inquérito policial, a defesa
decide impetrar habeas corpus, tendo o advogado dúvidas acerca de quem seja a autoridade competente
para apreciar a ação constitucional. Diante desse cenário, assinale a opção correta:
a) A decisão de impetrar habeas corpus é incorreta, pois não há coação ilegal, sequer em tese;
b) A autoridade competente é o juiz de primeira instância;
c) A autoridade competente é o Tribunal Regional Federal;
d) A análise da ordem de indiciamento compete ao juiz de primeira instância e a da instauração do inquérito
policial ao Tribunal Regional Federal.

Comentários

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A alternativa D é a única correta. O enunciado retrata dois atos diferentes: a


instauração de inquérito mediante requisição de Procurador da República e o
indiciamento levado a efeito pela autoridade policial. Eventuais habeas corpus
impetrados em relação a esses dois atos são de competência, respectivamente, do TRF
e do juiz de primeira instância.

O Delegado, ao instaurar o inquérito, agiu por requisição do Ministério Público. Aliás,


em princípio, a autoridade policial sequer poderia deixar de atendê-la:

Diante de requisição do Ministério Público, pensamos que a autoridade policial está obrigada a
instaurar o inquérito policial: não que haja hierarquia entre promotores e delegados, mas sim
por força do princípio da obrigatoriedade, que impõe às autoridades o dever de agir diante da
notícia da prática de infração penal. (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal.
Volume Único. 5ª ed. JusPodivm. 2017, p. 128).

Nesse caso, a autoridade coatora, em verdade, é o membro do Ministério Público e não o Delegado de
Polícia. A competência para o conhecimento do habeas corpus impetrado contra ato ilegal praticado por
membro do Ministério Público Federal pertence ao Tribunal Regional Federal (inteligência do art. 108, I, ‘a’
c/c art. 128, I, ‘d’, CF). Nesse sentido:

[...] Em se tratando de inquérito policial instaurado por requisição do Ministério Público Federal,
carece de competência o juízo de origem para conceder ordem de habeas corpus, com o fim de
determinar o trancamento do apuratório, uma vez que, em casos tais, o Parquet investe-se na
condição de autoridade coatora, cabendo a este Regional, como consequência, o exame de
eventual ilegalidade decorrente de ato praticado pelo ente ministerial, no esteio da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e desta Corte. [...] (TRF4 5038939-
10.2013.4.04.7000, 8ª TURMA, Rel. VICTOR LUIZ DOS SANTOS LAUS, juntado em 18/12/2013)

O indiciamento, por sua vez, é ato privativo da autoridade policial. Eventual constrangimento ilegal dele
decorrente poderá dar ensejo a habeas corpus cuja competência pertence ao juiz de primeiro grau; afinal, o
Delegado de Polícia não tem prerrogativa de foro constitucionalmente prevista.

7. (TRF3 – Juiz Federal Substituto – TRF3 – 2016 – ADAPTADA) Segundo o Supremo Tribunal Federal,
o julgamento dos crimes relacionados à pornografia na internet envolvendo criança ou adolescente
compete:
a) à Vara da Criança e Adolescente, uma vez que o crime está previsto no ECA;
b) à Justiça Federal, pois, dentre outros motivos, presente a internacionalidade;
c) à Justiça Estadual, sempre que as imagens tiverem sido postadas no Brasil;
d) à Justiça Estadual, desde que as imagens tenham sido acessadas no Brasil.

Comentários

A assertiva B é a única correta. Em regra, o simples fato de um crime ser praticado pela internet não atrai a
competência da Justiça Federal. É necessário que, além disso, a infração se enquadre em uma das hipóteses
do art. 109, incisos IV e V da Constituição Federal.

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Os crimes relacionados à pornografia infantil na internet são infrações que o Brasil, por tratado internacional,
se comprometeu a reprimir. Isso fica nítido na Convenção sobre Direitos da Criança (Decreto Legislativo
28/90 e Decreto 99710/90).

A transnacionalidade inerente aos crimes praticados por meio da internet, aliada ao disposto no art. 109, V
da Constituição Federal e ao fato de que o Brasil efetivamente se comprometeu a reprimir tais infrações por
tratado internacional, garante a competência da Justiça Federal para a apuração desses delitos.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...] V - os crimes previstos em tratado
ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse
ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente.

Confira-se a tese firmada sobre o tema 393, no STF: Compete à Justiça Federal processar e julgar
os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico, acessível
transnacionalmente, envolvendo criança ou adolescente, quando praticados por meio da rede
mundial de computadores (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990) (RE 628624, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
29/10/2015).

Veja que basta estar ‘acessível’; não há necessidade de que tenha sido ‘acessada’ a imagem ou o conteúdo.

8. (TRF2 – Juiz Federal Substituto – TRF2 – 2014) Analise as proposições e, ao final, responda:
I – É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em detrimento de bens,
serviços ou interesse de fundações públicas federais.
II - É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em detrimento de bens
de concessionária de serviços públicos federais.
III - É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a fauna.
a) apenas a assertivas I está correta.
b) apenas as assertivas I e II estão corretas.
c) apenas as assertivas I e III estão corretas.
d) apenas as assertivas II e III estão corretas.
e) todas as assertivas estão corretas.

Comentários

A proposição I está correta. Fundações públicas federais são espécies de autarquias federais, logo, por força
do art. 109, inciso IV da Constituição Federal, compete à Justiça Federal processar e julgar crimes praticados
em detrimento de seus bens, serviços ou interesses.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...] IV - os crimes políticos e as infrações
penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; [...]

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As demais afirmações estão incorretas, porque não encontram respaldo no art. 109 da Constituição Federal.
Crimes praticados contra concessionárias de serviços públicos federais e delitos contra a fauna, via de regra,
serão de competência da Justiça Estadual (residual). A competência somente pertencerá à Justiça Federal se
a infração atingir de forma direta e específica bens, serviços ou interesses da União, autarquias ou empresas
públicas federais. Nesse sentido:

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE FURTO DE TRILHOS. EMPRESA FERROVIÁRIA.


CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. INTERESSE DA UNIÃO. NÃO EXISTÊNCIA. PREJUÍZO
SUPORTADO PELA EMPRESA PRIVADA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. Compete à
Justiça estadual processar e julgar ação penal instaurada em decorrência de furto de bens
pertences à sociedade anônima concessionária de serviço público, porquanto o ato não foi
praticado "em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas" (CR, art. 109, inc. IV). 2. Conflito conhecido para declarar a
competência do Juízo de Direito da Comarca de Silvânia/GO, ora suscitado. (CC 122.518/GO, Rel.
Ministro NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC), TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 10/12/2014, DJe 16/12/2014).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL. AÇÃO PENAL.


PESCA, EM LOCAL PROIBIDO DE RIO INTERESTADUAL, COM A UTILIZAÇÃO DE PETRECHOS NÃO
PERMITIDOS - ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DA LEI 9.605/98. PREJUÍZO LOCAL. AUSÊNCIA DE
LESÃO A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. [...]
(CC 154.859/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
22/11/2017, DJe 29/11/2017)

Consequentemente, a alternativa A é a única correta.

9. (CESPE – Juiz Substituto – TJDFT – 2016) Indivíduo que pratique crime a bordo de aeronave
estrangeira em espaço aéreo brasileiro, será processado e julgado pela justiça:
a) da comarca correspondente ao espaço aéreo em que a aeronave se encontrava no exato momento do
cometimento do crime ou, não sendo possível precisá-la, pela justiça da comarca em cujo território se
verificar o pouso;
b) de seu país de origem, pois, somente se estivesse a bordo de aeronave nacional é que a justiça brasileira
seria competente;
c) da comarca correspondente ao espaço aéreo em que a aeronave se encontrava no exato momento do
cometimento do crime;
d) do estado da Federação onde ele tiver residido por último ou, se ele nunca tiver residido no Brasil, no juízo
da capital da República;
e) da comarca em cujo território ocorrer o pouso ou pela comarca de onde houver partido a aeronave.

Comentários

A assertiva E é a única correta, pois retrata a orientação do art. 90, parte final do Código de Processo Penal.
Note-se:

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Art. 90, CPP - Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo
correspondente ao território brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave
estrangeira, dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão
processados e julgados pela justiça da comarca em cujo território se verificar o pouso após
o crime, ou pela da comarca de onde houver partido a aeronave.

10. (CESPE – Juiz Substituto – TJPB – 2015) Em relação às disposições do CPP sobre
competência, assinale a opção correta.
a) em se tratando de crime permanente praticado em território de duas ou mais jurisdições, a competência
será firmada pela residência do réu;
b) não há mais hipótese no CPP de competência por distribuição;
c) em se tratando de crimes conexos em que existe corréu acometido por doença mental, a unidade
processual permanece, embora não seja possível prolatar sentença condenatória em seu desfavor;
d) a justiça federal deverá julgar os casos de contravenção praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União;
e) caso não se conheça o local da infração e o réu tenha mais de um domicílio, será aplicada a regra da
prevenção para fins de fixação da competência jurisdicional.

Comentários

A alternativa A está errada. Em caso de crime permanente praticado em território de duas ou mais
jurisdições, a competência será firmada pela prevenção.

Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou


mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

A assertiva B está incorreta. A distribuição continua sendo critério para definição de competência no
processo penal. Note-se:

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: [...] IV - a distribuição; [...]

A alternativa C está errada, porque contraria o disposto no art. 79, § 1º do Código de Processo Penal. Note-
se:

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: [...] §
1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-réu, sobrevier
o caso previsto no art. 152.

A alternativa D está incorreta. A competência para processamento e julgamento de contravenções penais


pertence à Justiça Estadual, ainda que cometidas em prejuízo de bens, serviços ou interesses da União. O
art. 109, inciso I da Constituição Federal é claro a esse respeito:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...] IV - os crimes políticos e as infrações
penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades

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autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da


Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; [...]

A matéria, inclusive, é sumulada:

Súmula 38, STJ - Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades.

A assertiva E está correta, porque compatível com o que dispõe o § 1º do art. 72 do Código de Processo
Penal:

Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu. § 1o Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela
prevenção. [...]

11. (VUNESP – Juiz Substituto – TJMSP – 2016 – ADAPTADA) Situação hipotética: Considere o seguinte
caso hipotético. Uma juíza do Trabalho de uma das Varas da Capital de São Paulo, em ofício endereçado à
Justiça de Campinas, envia uma carta precatória para a execução provisória de um débito laboral. Tão logo
autuada a precatória, o juiz de Campinas, por entender nula a ação trabalhista originária, encaminha ofício
ao Tribunal Regional do Trabalho da 15a Região (TRT/15), sediado em Campinas, informando que a ordem
da magistrada de São Paulo seria ilegal e que, por isso, não poderia cumprir a determinação. Uma vez
ciente do ofício, e indagada pelo TRT/15, a juíza de São Paulo responde que a ordem era legal. O TRT/15,
por reputar que o magistrado de Campinas cometeu crime contra a honra da magistrada de São Paulo,
determinou que fosse instaurada investigação formal. Uma vez instaurado o inquérito, foi intimada a
suposta ofendida, que representou para que os fatos fossem processados, o que deu ensejo à propositura
de ação penal pelo Ministério Público Estadual de São Paulo.
Assertiva: Tratando-se de crime imputado a magistrada do Trabalho, que detém foro por prerrogativa de
função, foi equivocada a dedução do processo em primeiro grau, sendo a competência originária do Eg.
Tribunal de Justiça de São Paulo. (C/E)

Comentários

A assertiva está incorreta. A competência para julgar crime praticado por juiz do Trabalho pertence ao
Tribunal Regional Federal. O art. 108, inciso I, alínea ‘a’ da Constituição Federal é claro nesse sentido:

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: a) os
juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho,
nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

12. (VUNESP – Juiz Substituto – TJMSP – 2016 – DESATUALIZADA) Acompanhe o caso fictício. Tício,
prefeito de uma cidade do interior de São Paulo/SP, mantém um relacionamento extraconjugal com
Mévia, policial militar. Por ciúmes, Mévia decide matar a mulher de Tício, Semprônia. Para tanto, ingressou
na casa de Tício e, com uma faca, acerta a vítima no peito. Em defesa de sua mulher, Tício, mediante
disparo de arma de fogo, acerta Mévia, de raspão. Tício é processado perante o Tribunal do Júri por

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homicídio tentado simples, além de posse irregular de arma de fogo, na Justiça Comum, sendo, ao final,
absolvido de ambas as imputações, em decisão transitada em julgado; Mévia, por seu turno, foi
processada na Justiça Militar, e condenada em decisão que se tornou definitiva.
A respeito do caso, assinale a alternativa correta.
a) tratando-se de crime comum, correto o julgamento de Tício pelo Tribunal do Júri, visto que a competência
do Tribunal de Justiça para processar e julgar Prefeitos dá-se apenas em crimes de responsabilidade;
b) tratando-se de crime doloso contra a vida praticado por militar, correto o julgamento pela Justiça Militar;
c) o Tribunal do Júri não poderia ter julgado Tício pelo crime de posse irregular de arma de fogo, pois não se
trata de crime doloso praticado contra a vida;
d) Mévia e Tício haveriam de ser julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, haja vista que os
fatos se deram em um mesmo contexto;
e) Tício, por ser Prefeito, haveria de ter sido julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Todavia,
uma vez que a absolvição pelo Tribunal do Júri transitou em julgado, mesmo sendo caso de incompetência
absoluta, a decisão não poderá mais ser revista, sob pena de violação ao princípio da refomatio in pejus.

Comentários

ATENÇÃO! A questão está desatualizada, tendo em vista o atual posicionamento do STF (desde 2018) a
respeito do foro por prerrogativa de função. Assim, independentemente do gabarito oficial, analisemos cada
alternativa em cotejo com essa nova orientação da Suprema Corte.

A alternativa A está errada. A conclusão da assertiva (de que Tício deve ser julgado pelo Tribunal do Júri)
está correta; contudo, parte de premissa equivocada, porquanto o foro por prerrogativa de função previsto
no art. 29, X da CF não se limita aos crimes de responsabilidade, alcançando também os crimes comuns. Para
além disso, relembre-se que, segundo o atual entendimento do STF, o foro por prerrogativa de função aplica-
se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. In
casu, embora tenham sido os crimes praticados durante o mandato de Tício como Prefeito, não possuem
eles qualquer relação com o cargo. Dessa maneira, tratando-se de tentativa de crime doloso contra a vida,
Tício deveria ter sido julgado (e como efetivamente foi) pelo Tribunal do Júri, o qual também será
competente para o julgamento do crime conexo, nos termos do art. 5º, XXXVIII, d da CF e arts. 78, I e 79 do
CPP:

Art. 5º, CF. XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Art. 78, CPP. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as
seguintes regras:

I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá


a competência do júri;

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:

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I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.

A assertiva B também está incorreta, porque incompatível com o teor do 125, § 4º da Constituição Federal
e com o art. 9º, § 1º do Código Penal Militar.

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição. [...] § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos
Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares
militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: § 1o Os crimes de que trata este artigo,
quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da competência do
Tribunal do Júri.

A alternativa C está errada. Não há obstáculo ao julgamento do crime conexo ao doloso contra a vida pelo
Tribunal do Júri. Pelo contrário, como já abordado na alternativa A, o art. 78, I c/c art. 79, caput do Código
de Processo Penal recomendam o julgamento de ambas as infrações pelo júri. Note-se:

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as


seguintes regras: I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição
comum, prevalecerá a competência do júri; [...] Art. 79. A conexão e a continência importarão
unidade de processo e julgamento, salvo: I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; II
- no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.

A assertiva D está incorreta. Em primeiro lugar, nem Tício nem Mévia serão julgados perante o Tribunal de
Justiça, haja vista não se tratar de hipótese para aplicação do foro por prerrogativa de função. Ademais,
hipoteticamente, ainda que Tício fizesse jus ao referido foro, a conexão que existe entre os fatos praticados
por Tício e por Mévia não faz com que a infração por ela praticada seja julgada pelo Tribunal de Justiça (foro
que conheceria dos crimes praticados por Tício, detentor de prerrogativa). Pensar diferente significaria
ignorar a norma constitucional que determina a submissão daqueles que não têm prerrogativa de função ao
Tribunal do Júri, em nítida afronta ao princípio do juiz natural simplesmente por haver conexão (de previsão
infraconstitucional).

A alternativa E era a certa. Todavia, como asseverado no comentário da alternativa A, Tício não deveria ser
julgado pelo Tribunal de Justiça, mas pelo Tribunal do Júri. De qualquer forma, apenas a título de
complementação, cabe registrar que sentença absolutória transitada em julgado, ainda que com vício de
competência absoluta (que, ressalte-se, não é o caso da questão), não poderá ser reformada, sob pena de
afronta ao princípio que veda a reformatio in pejus.

13. (VUNESP – Juiz Substituto – TJMSP – 2016) Compete ao Juízo da Execução Penal do Estado a
execução da pena imposta a sentenciado pela Justiça Federal, quando recolhido a estabelecimento sujeito
à administração estadual. (C/E)

Comentários

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A alternativa A está correta. Ela retrata o teor da Súmula 192 do Superior Tribunal de Justiça: Compete ao
Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal,
Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual.

14. (CESPE – Juiz Substituto – TJ/SE – 2015) Em relação à competência no processo penal, é correto
afirmar:
a) se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de
jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem
com sentença definitiva;
b) nos casos de ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública o querelante poderá preferir o foro de
domicílio ou residência do réu ainda quando conhecido o lugar da infração;
c) na determinação da competência por conexão ou continência, preponderará a competência do lugar da
infração à qual for cominada pena mais grave, entendida esta como a que tem pena mínima cominada mais
alta;
d) nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade
de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, apenas no momento do
oferecimento da denúncia, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal;
e) a competência especial por prerrogativa de função, relativa a atos administrativos do agente, prevalece
ainda que o inquérito ou a ação judicial sejam iniciados após a cessação do exercício da função pública.

Comentários

A assertiva A está correta, porque retrata o teor do art. 82 do Código de Processo Penal. Note-se:

Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se
dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas

A alternativa B está errada. O querelante não tem a prerrogativa indicada na assertiva nos casos de ação
penal privada subsidiária da pública, mas tão somente em relação aos crimes de ação penal exclusivamente
privada. Note-se:

Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou
da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

A alternativa C também está incorreta. Nos casos de conexão/continência em que a competência for fixada
com base no local da infração mais grave, há se observar não a pena mínima cominada, mas a máxima
abstratamente prevista no tipo. Nesse sentido:

Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL PENAL. CONCURSO DE


JURISDIÇÃO ENTRE JUÍZES DE MESMA CATEGORIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DO LUGAR ONDE
PRATICADA A INFRAÇÃO À QUAL FOR COMINADA, ABSTRATAMENTE, A PENA MÁXIMA MAIS

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ALTA. RECURSO IMPROVIDO. I – Na hipótese de concurso de jurisdições entre juízes de mesma


categoria, a competência é determinada em face da infração penal à qual for cominada,
abstratamente, a pena máxima mais elevada, consoante disposto no art. 78, II, a, do Código de
Processo Penal. II - Revela-se insubsistente a pretensão de ver estabelecida a competência do
juízo tomando-se como parâmetro a sanção mínima prevista para o tipo penal, que é o limite da
possibilidade de fazer-se a gradação da pena, ao passo que a sanção máxima representa a
qualidade da condenação imposta em virtude da prática da conduta penalmente tipificada. III -
Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento. (RHC 116712, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 27/08/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
180 DIVULG 12-09-2013 PUBLIC 13-09-2013)

A assertiva D está errada. De acordo com o art. 109, § 5º da Constituição Federal, o incidente de
deslocamento de competência pode ser suscitado em qualquer fase do inquérito ou processo.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...] § 5º Nas hipóteses de grave violação
de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

A alternativa E também está errada. Ela retrata exatamente o teor do art. 84, § 1º do Código de Processo
Penal, que foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal por meio da ADI 2797.

15. (VUNESP – Juiz Substituto – TJMS – 2015) De acordo com o artigo 80, do Código de Processo Penal,
nos processos conexos, será facultativa a separação quando:
a) as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou lugar diferentes, ou, quando pelo
excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante,
o juiz reputar conveniente a separação;
b) venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que
não se inclua na sua competência;
c) houver corréu em local incerto ou não sabido ou foragido que não possa ser julgado à revelia, ainda que
representado por defensor constituído e regularmente citado;
d) concorrerem jurisdição comum e do juízo falimentar;
e) em relação a algum corréu, por superveniência de doença mental, nos termos do artigo 152 do Código de
Processo Penal, ainda que indispensável a suspensão do processo para instauração de incidente de
insanidade mental.

Comentários

A alternativa A está correta, porque retrata exatamente a orientação do art. 80 do Código de Processo Penal.
Note-se:

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas
em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de

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acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz
reputar conveniente a separação.

A assertiva B está errada. No caso constante na alternativa, não há se falar em separação facultativa. Mesmo
que proferida sentença absolutória/desclassificatória, a competência continuará pertencendo, em relação
aos demais processos, ao juiz que a prolatou. Existe previsão legal expressa nesse sentido. Confira-se:

Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo
da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que
desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos.

A alternativa C também está incorreta. O fato de o corréu, citado e representado por defensor constituído,
estar em local incerto ou não sabido não justifica a separação de processos (e não retrata hipótese de
separação facultativa, prevista no art. 80, CPP), devendo ser mantida a unidade processual. A lei não impede
o julgamento. Sobre a matéria:

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: [...] §
2o A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu foragido que não
possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

A assertiva D está errada. Inexiste previsão legal indicando separação facultativa no caso retratado na
alternativa.

A alternativa E está incorreta, porque retrata hipótese de separação obrigatória. O art. 79, § 1º é claro a
esse respeito:

Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I - no


concurso entre a jurisdição comum e a militar; II - no concurso entre a jurisdição comum e a do
juízo de menores. § 1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum
co-réu, sobrevier o caso previsto no art. 152.

16. (PUCPR – Juiz Substituto – TJ/PR – 2014 – ADAPTADA) A competência por continência será
determinada quando a prova de uma infração influir na prova de outra infração. (C/E)

Comentários

A alternativa está incorreta, porque retrata a compreensão de conexão probatória e não de continência.
Note-se:

Art. 76. A competência será determinada pela conexão: [...] III - quando a prova de uma infração
ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

17. (PUCPR – Juiz Substituto – TJ/PR – 2014) Analise as assertivas abaixo e escolha a resposta CORRETA.
Considerando as regras sobre a competência estabelecidas no Código de Processo Penal, pode-se afirmar:

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I. a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
II. quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar
em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
III. nos crimes à distância, cuja execução foi iniciada no Brasil e o resultado ocorreu em outro país, a
competência será da Capital Federal Brasileira.
IV. nos casos de ação privada exclusiva, o querelante pode preferir o foro de domicílio ou da residência do
réu, mesmo que conhecido o lugar da infração.
a) apenas as alternativas I, II e IV estão corretas;
b) apenas as alternativas I e IV estão corretas;
c) apenas as alternativas I e III estão corretas;
d) apenas as alternativas I, III e IV estão corretas.

Comentários

Todas as afirmações são baseadas em letra da lei. Os itens I, II e IV estão corretos, porque retratam o
conteúdo do art. 70, caput, § 2º e art. 73 do Código de Processo Penal. O item III é o único incorreto, porque
destoa da orientação do § 1º do art. 70 da mesma lei. Note-se:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. § 1o Se,
iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. § 2o
Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o
juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado. [...]

Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou
da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

Consequentemente, apenas a alternativa A está correta.

18. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2013) Tratando-se de infração continuada ou permanente,
praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pelo(a):
a) prevenção;
b) lugar da infração;
c) conexão ou continência;
d) distribuição.

Comentários

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A assertiva A é a única correta. Mais uma vez a solução da questão deriva de letra de lei. Confira-se o teor
do art. 71 do Código de Processo Penal: tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em
território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

19. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/MT – 2009) Conforme o disposto pelo art. 82 do Código de Processo
Penal se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade
de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já
estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para:
a) efeito de diminuição e separação das penas;
b) o concurso entre as penas do juízo comum e o juízo de menores;
c) excepcionalmente, a hipótese de reconhecimento do crime continuado;
d) o concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum;
e) efeito de soma ou de unificação das penas.

Comentários

A alternativa E é a única correta. A banca examinadora em questão, recorrentemente, formula


questionamentos relacionados à competência no processo penal com base em letra de lei. Note-se:

Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se
dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.

20. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2009) No caso de depoimento de testemunha ouvida por meio
de carta precatória, assinale a alternativa correta:
a) a competência para a ação penal por crime de falso testemunho é do Juízo deprecado;
b) a competência para a ação penal por crime de falso testemunho é do Juízo deprecante;
c) a competência para a ação penal por crime de falso testemunho é concorrente, do Juízo deprecante ou
do Juízo deprecado;
d) a competência para a ação penal por crime de falso testemunho é definida pelo interesse do titular da
ação penal.

Comentários

A alternativa A é a única correta. Aplica-se aqui a regra geral. A competência deve ser determinada pelo
local da infração (art. 70, CPP). O crime de falso testemunho se consuma no momento em que prestado o
depoimento falso. Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou:

CRIMINAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FALSO TESTEMUNHO. DELITO CONSUMADO NO


MOMENTO EM QUE SE ENCERRA O DEPOIMENTO. INTELIGÊNCIA DO ART. 70 DO CPP.
DEPOIMENTO REALIZADO POR CARTA PRECATÓRIA. IRRELEVÂNCIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE
DIREITO DA 3ª VARA DE REGISTRO/SP. Firma-se a competência, em regra, pelo lugar em que o

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delito é consumado, nos termos do art. 70 da Lei Processual Penal. O crime de falso testemunho
consuma-se com o encerramento do depoimento prestado pela testemunha, quando a mesma
profere afirmação falsa, nega ou cala a verdade, razão pela qual, para a sua apuração, sobressai
a competência do Juízo do local onde foi prestado o depoimento, sendo irrelevante o fato de ter
sido realizado por intermédio de carta precatória. Conflito conhecido para se declarar
competente, para o processamento e julgamento do feito, o Juízo de Direito da 3ª Vara de
Registro/SP, o suscitado. (CC 30.309/PR, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
28/11/2001, DJ 11/03/2002, p. 163).

Promotor

21. (MPE/SC - Promotor de Justiça – MPE/SC – 2016) A competência, segundo o Código de Processo
Penal, será determinada pela continência, quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração e, por conexão, entre outros casos, se,
ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas,
umas contra as outras. (C/E)

Comentários

A assertiva está incorreta. A competência será determinada pela conexão (e não pela continência) quando
a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir da prova da outra. É o
que a doutrina chama de conexão instrumental ou probatória. A respeito do tema:

Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações,
houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; II
- se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; III - quando a prova de uma
infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

22. (MPE/SC - Promotor de Justiça – MPE/SC – 2016) De acordo com o Código de Processo Penal, a
conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo no concurso entre a
jurisdição comum e a militar e no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. Segundo o
mesmo Estatuto, na determinação da competência por conexão ou continência serão observadas, entre
outras, as seguintes regras: no concurso de jurisdições da mesma categoria, preponderará a do lugar da
infração, à qual for cominada a pena mais grave; prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior
número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade. (C/E)

Comentários

A assertiva está correta, porque retrata o teor do art. 78, I, a e b e art. 79, I e II, ambos do Código de Processo
Penal.

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as


seguintes regras: I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição

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comum, prevalecerá a competência do júri; II - no concurso de jurisdições da mesma categoria:


a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a
do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de
igual gravidade; [...] Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e
julgamento, salvo: I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; II - no concurso entre a
jurisdição comum e a do juízo de menores. [...]

23. (MPE/SC – Promotor de Justiça – MPE/SC – 2016) A Súmula 704 do Supremo Tribunal Federal,
dispõe que viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
Já Súmula 705, da mesma corte, estabelece que a renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem
a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta. (C/E)

Comentários

A assertiva está errada. Ao contrário do que estabelece o enunciado, a Súmula 704 do STF estabelece que a
atração por continência/conexão do processo do corréu sem prerrogativa de foro não viola as garantias do
juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal.

Súmula 704, STF - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.

Súmula 705, STF - A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor,
não impede o conhecimento da apelação por este interposta.

24. (MPE/RS – Promotor de Justiça – MPE/RS– 2014) Uma embarcação nacional de grande calado,
destinada ao comércio internacional, viajava de Itajaí (SC) para o porto de Rio Grande para receber alguns
contêineres e depois rumar para a África do Sul. Contudo, nas proximidades de Rio Grande, o marinheiro
Temístocles, natural de Porto Alegre, se envolveu numa luta corporal contra o colega Guido, acabando por
assassiná-lo. A ação penal deverá ser processada:
a) no Tribunal do Júri da Justiça Estadual de Itajaí;
b) no Tribunal de Júri da Justiça Estadual de Rio Grande;
c) no Tribunal do Júri da Justiça Estadual de Porto Alegre;
d) na Justiça da África do Sul;
e) no Tribunal do Júri da Justiça Federal de Rio Grande.

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A alternativa E é a única correta. O crime foi praticado a bordo de navio. Por força do art. 109, inciso IX da
Constituição Federal, a competência para apuração do feito, portanto, pertencerá à Justiça Federal. O
enunciado indica que a vítima foi assassinada; por esse motivo, cabe ao Tribunal do Júri a apreciação do caso
(art. 5º, XXXVIII, CF e art. 74, § 1º, CPP). Finalmente, quanto à competência de foro, o art. 89 do Código de
Processo Penal esclarece que os crimes cometidos em qualquer embarcação (nas águas territoriais da
República) ou em embarcações nacionais (em alto-mar) deverão ser julgados pela justiça do primeiro porto
brasileiro em que tocar a embarcação. Esse conjunto de informações dá conta de que o Tribunal do Júri da
Justiça Federal de Rio Grande será o juízo competente para o processamento do feito no caso indicado no
enunciado.

Art. 5º, XXXVIII, CF - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados: [...] d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar. [...] IX - os crimes cometidos a bordo de
navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar.

Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização
judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º Compete ao Tribunal do Júri o
julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125,
126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados.

Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou
nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão
processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação, após
o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que houver tocado.

25. (MPE/PR – Promotor de Justiça – MPE/PR – 2014) Se BRAVIUS entra num bar e, com intenção de
lesionar, desfere dois tiros de revólver na direção da perna de SERENUS, acerta um dos disparos que
produz lesão grave, mas o outro, por erro de pontaria, vem a produzir lesão, também de natureza grave,
em ASTÚRIAS, dono da bodega, o julgamento de ambos os fatos deve ocorrer, num mesmo processo, em
razão da:
a) Conexão objetiva ou material;
b) Conexão subjetiva por simultaneidade;
c) Continência por cumulação objetiva;
d) Conexão subjetiva por concurso;
e) Continência subjetiva.

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A alternativa C é a única correta. O enunciado retrata caso de erro na execução (aberratio ictus) e isso
determina o julgamento de ambas as infrações em um mesmo processo (art. 77, II c/c art. 79, CPP). Esse é
um dos casos que configura, segundo a doutrina, a continência por cumulação objetiva. Note-se:

Continência por cumulação objetiva: prevista no art. 77, inciso II, do CPP, ocorre nas hipóteses
de concurso formal de crimes (CP, art. 70), aberratio ictus ou erro na execução (CP, art. 73,
segunda parte), e aberratio de!icti ou resultado diverso do pretendido (CP, art. 74, segunda
parte). O concurso formal consiste na prática de uma única ação ou omissão pelo agente,
provocando a realização de dois ou mais crimes. O art. 73, segunda parte, do CP determina a
aplicação da regra do concurso formal quando o agente, por acidente ou erro no uso dos meios
de execução, além de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. De sua
parte, o art. 74, segunda parte, do CP, também prevê a aplicação do concurso formal, quando o
agente, por erro na execução atinge não somente o resultado desejado, mas ainda outro, além
de sua expectativa inicial (ex: visando atingir uma vitrine de uma loja com uma pedra, o agente
acaba também acertando um vendedor do estabelecimento comercial). Perceba-se que, nas
hipóteses de crime continuado, a competência não será determinada pela conexão, nem
tampouco pela continência, mas sim pela prevenção, nos exatos termos do art. 71 do CPP (LIMA,
Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Volume Único. 5ª ed. JusPodivm. 2017, p.
566/7).

O caso hipotético não se amolda a nenhuma das espécies de conexão/continência indicadas nas demais
alternativas. Perceba-se:

Conexão objetiva/material é aquela que ocorre quando um crime é praticado para facilitar a
execução de outro (art. 76, II, CPP), o que não ocorre. A conexão subjetiva por simultaneidade se
verifica quando dois ou mais crimes tiverem sido praticados ao mesmo tempo por diversas
pessoas ocasionalmente reunidas, nas mesmas circunstâncias de local e tempo (art. 76, I,
primeira parte, CPP), que não é o caso. A conexão subjetiva por concurso, por sua vez, ocorre
quando duas ou mais infrações tiverem sido cometidas por várias pessoas em concurso, ainda
que em tempo e local diversos (art. 76, I, segunda parte, CPP), o que não se verifica. A continência
subjetiva, a seu turno, é aquela que se configura quando duas ou mais pessoas são acusadas por
um mesmo crime (art. 77, I, CPP), o que não se constata.

Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais
infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por
várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas
contra as outras; II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar
as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; III - quando
a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de
outra infração. Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I - duas ou
mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; II - no caso de infração cometida nas
condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal.

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 303


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Defensor

26. (CESPE – Defensor Público Federal – DPU – 2017) Auditoria do TCU indicou que o prefeito do
município X desviou, para benefício próprio, valores oriundos da União ainda sujeitos a prestação de
contas perante órgão federal. Nessa situação, conforme o entendimento do STF, a competência para
julgamento do prefeito será do tribunal de justiça do respectivo estado por expressa previsão
constitucional. (C/E)

Comentários

A assertiva está incorreta, porque não expressa a orientação das Súmulas 208 do STJ e 702 do STF.

Súmula 208, STJ - Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba
sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

Súmula 702, STF - A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de
competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo
tribunal de segundo grau.

27. (FCC – Defensor Público – DPE/BA – 2016) De acordo com norma expressa do Código de Processo
Penal, são fatores que determinam a competência jurisdicional:
a) O local da residência da vítima e a natureza da infração;
b) A prevenção e o local da prisão;
c) A prerrogativa de função e o domicílio ou residência do réu;
d) O local da investigação e a conexão ou continência;
e) O local da prisão e o local da infração.

Comentários

As assertivas A, B, D e E estão incorretas, porque os locais da residência da vítima, da investigação e da


prisão não são fatores que determinam a competência.

A alternativa C é a única correta, porque, ao contrário das demais, retrata critérios de competência previstos
no art. 69 do Código de Processo Penal. Note-se:

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: I - o lugar da infração: II - o domicílio ou


residência do réu; III - a natureza da infração; IV - a distribuição; V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção; VII - a prerrogativa de função.

28. (UFMT – Defensor Público – DPE/MT – 2016) Concomitantemente, diversas pessoas saquearam um
estabelecimento comercial sem se conhecerem umas às outras. Cuida-se na espécie de
a) continência de ações, em razão do concurso de pessoas;
b) conexão intersubjetiva por reciprocidade;

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 304


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c) conexão objetiva consequencial;


d) conexão intersubjetiva por simultaneidade;
e) conexão objetiva teleológica.

Comentários

A alternativa A está incorreta, porque não houve concurso de pessoas (inexistia qualquer vínculo jurídico
entre os saqueadores). Cada um dos saqueadores teria praticado um furto e não todos o mesmo furto.
Consequentemente, não se está diante da figura da continência subjetiva. Perceba-se:

Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I - duas ou mais pessoas
forem acusadas pela mesma infração; [...]

A alternativa B também está errada, pois não foram cometidas duas ou mais infrações por diversas pessoas
umas contra as outras (art. 76, I, parte final, CPP). Note-se:

Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações,
houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
[...]

As assertivas C e E estão incorretas. Inexiste conexão objetiva no caso, porque crime algum foi praticado
para facilitar a execução (teleológica), garantir a impunidade ou mesmo a vantagem de outro
(consequencial). Confira-se (art. 76, II, CPP):

Art. 76. A competência será determinada pela conexão: [...] II - se, no mesmo caso, houverem
sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou
vantagem em relação a qualquer delas; [...]

A alternativa D está correta. O enunciado retrata o caso de conexão intersubjetiva por simultaneidade ou
ocasional. Essa espécie de conexão se verifica quando duas ou mais infrações são praticadas, ao mesmo
tempo, por diversas pessoas ocasionalmente reunidas, em circunstâncias de tempo e local comuns (art. 76,
I, primeira parte, CPP).

Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações,
houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras.
[...]

Procurador

29. (PGR – Procurador da República – PGR – 2012) Conforme a jurisprudência prevalente no STJ,
assinale a alternativa falsa:

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a) não é cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial


da pretensão punitiva;
b) intimada a defesa da expedição de carta precatória, torna-se desnecessária a intimação da data da
audiência no juízo deprecado;
c) a conexão não determina a reunião dos processos se um deles já foi julgado;
d) excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o
Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.

Comentários

A alternativa A está correta e, por isso, deveria ser assinalada. As demais assertivas retratam
entendimentos sumulados pelo STJ. Perceba-se:

Súmula 224, STJ - Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da
competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.

Súmula 235, STJ - A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.

Súmula 273, STJ - Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação
da data da audiência no juízo deprecado.

Súmula 337, STJ - É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na


procedência parcial da pretensão punitiva.

Delegado de Polícia

30. (CESPE – Delegado de Polícia – PC/MT – 2017) Em determinado estado da Federação, um juiz de
direito estadual, um promotor de justiça estadual e um procurador do estado cometeram, em momentos
distintos, crimes comuns dolosos contra a vida. Não há conexão entre esses crimes. Sabe-se que a
Constituição do referido estado prevê que crimes comuns praticados por essas autoridades sejam
processados e julgados pelo respectivo tribunal de justiça.
Nessa situação hipotética, segundo o entendimento do STF, será do tribunal do júri a competência para
processar e julgar somente o:
a) promotor de justiça;
b) juiz de direito;
c) procurador do estado e o promotor de justiça;
d) promotor de justiça e o juiz de direito;
e) procurador do estado.

Comentários

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A alternativa E é a única correta. Os crimes dolosos contra a vida praticados por


autoridades que tenham prerrogativa de foro fixada na Constituição Federal não se
submetem ao Tribunal do Júri. É o caso dos magistrados e dos promotores de justiça (art.
96, III, CF). Autoridades que possuam prerrogativa de foro exclusivamente em virtude da
Constituição Estadual, como é o caso dos procuradores do estado, de acordo com o
enunciado, se submetem ao Júri.

Art. 96. Compete privativamente: [...] III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do
Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns
e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. [...]

Confira-se o teor da Súmula Vinculante 45: a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre
o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual.

31. (CESPE – Delegado de Polícia – PC/GO – 2017) Cláudio, maior e capaz, residente e domiciliado em
Goiânia – GO, praticou determinado crime, para o qual é prevista ação penal privada, em Anápolis – GO.
A vítima do crime, Artur, maior e capaz, é residente e domiciliada em Mineiros – GO.
Nessa situação hipotética, considerando-se o disposto no Código de Processo Penal, o foro competente para
processar e julgar eventual ação privada proposta por Artur contra Cláudio será:
a) Anápolis – GO ou Goiânia – GO;
b) Goiânia – GO ou Mineiros – GO;
c) Goiânia – GO, exclusivamente;
d) Anápolis – GO, exclusivamente;
e) Mineiros – GO, exclusivamente.

Comentários

A alternativa A é a única correta. De acordo com o art. 73 do Código de Processo Penal, nos casos de ação
penal exclusivamente privada, o querelante poderá optar pelo foro do domicílio ou da residência do réu,
ainda quando conhecido o lugar da infração. O fato de o querelante poder optar pelo foro de domicílio do
réu não afasta a regra geral (art. 70, CPP), que é o foro do local da infração. Consequentemente, a ação
poderá ser proposta tanto em Anápolis quanto em Goiânia.

32. (VUNESP – Delegado de Polícia – PC/CE – 2015) A competência para a ação penal, caso:
a) desconhecido o domicílio do ofendido, será estabelecida pelo local da infração;
b) desconhecido o local da infração, será estabelecida pela residência ou domicílio do réu;
c) desconhecido o domicílio do réu, será estabelecida pela prevenção;
d) se trate de ação privada, ficará a cargo do querelante, que pode escolher entre o local da infração e o da
sua própria residência;
e) se trate de crime tentado, será fixada no lugar onde deveria ter se consumado a infração.

Comentários

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A alternativa A está incorreta. O domicílio do ofendido não é regra de fixação de competência.

A alternativa B está correta, porque retrata o teor do art. 72 do Código de Processo Penal: não sendo
conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.

A alternativa C está errada. A prevenção é regra subsidiária de competência. Não basta que seja
desconhecido o domicílio do réu para que ela seja estabelecida pela prevenção. É preciso que o local da
infração também seja desconhecido.

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Art. 72. Não
sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do
réu.

À toda evidência, o examinador pretendia que o candidato conhecesse as regras de competência e as


interpretasse sistematicamente.

A assertiva D está incorreta. O domicílio do ofendido não é regra de fixação de competência. Nos casos de
ação exclusivamente privada, poderá o querelante escolher entre o local da infração e o foro do domicílio
ou residência do querelado (e não o de sua própria residência).

Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio
ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

A assertiva E também está errada. No caso de crime tentado, a competência será fixada pelo lugar em que
for praticado o último ato de execução (art. 70, CPP) e não pelo local onde a infração deveria ter se
consumado.

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

33. (VUNESP – Delegado de Polícia – PC/CE – 2015) Nos termos do art. 109, § 5º da Constituição da
República de 1988, o incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal é cabível nas
hipóteses de grave violação de direitos humanos, com a finalidade de assegurar o cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte. Pode
ser suscitado pelo___________ junto ao___________.
Preenchem, correta e respectivamente, as lacunas:
a) Procurador-Geral de Justiça de qualquer Estado ... STF;
b) Procurador-Geral da República ou Procurador-Geral de Justiça de qualquer Estado ... STF;
c) Órgão Especial de Tribunal de Justiça ... STF;
d) Procurador-Geral da República ... STJ;
e) Presidente de Tribunal de Justiça ou de Tribunal Regional Federal ... STJ;

Comentários

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A alternativa D é a única correta, porque retrata o conteúdo do art. 109, § 5º da Constituição Federal:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...] § 5º Nas hipóteses de grave violação
de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
[...]

34. (Fundação Aroeira – Delegado de Polícia – PC/TO – 2014) Os irmãos A. R., B. R. e C. R, residentes e
domiciliados em Palmas, praticam um roubo em Palmas, três furtos em Porto Nacional, um latrocínio em
Miracema do Tocantins e mais dois furtos em Miranorte, onde, finalmente, são presos. Na hipótese, a
competência será determinada pela:
a) residência dos acusados, prevalecendo a competência de Palmas;
b) continência, prevalecendo a competência de Porto Nacional;
c) conexão, prevalecendo a competência de Miracema do Tocantins;
d) prevenção, prevalecendo a competência de Miranorte.

Comentários

A assertiva C é a única correta. A situação descrita no enunciado se amolda ao teor do art. 76, inciso I do
Código de Processo Penal. A competência, portanto, deve ser determinada pela conexão.

Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações,
houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;
[...]

O art. 78 do Código de Processo Penal, por sua vez, estabelece as regras a serem seguidas na
determinação da competência nesses casos.

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as


seguintes regras: I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição
comum, prevalecerá a competência do júri; Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a
do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de
igual gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos.

Dentre os crimes praticados pelos três irmãos, nenhum se submete ao Tribunal do Júri. Não há se falar,
portanto, em aplicação do inciso I do referido dispositivo legal para solução do impasse.

No caso do enunciado, a competência deve ser estabelecida com base na alínea “a” do inciso II do art. 78 do
Código de Processo Penal; ou seja, pertencerá ao local da infração à qual for cominada a pena mais grave.

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Dentre os crimes praticados por A.R., B.R. e C.R., a infração mais grave é o crime de latrocínio. Por esse
motivo, a competência pertence à Comarca de Miracema do Tocantins.

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Pena - reclusão, de um a quatro
anos, e multa.

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos,
além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

35. (ACAFE – Delegado de Polícia – TJ/SP – 2014) De acordo com o Código de Processo Penal analise as
afirmações a seguir e assinale a alternativa correta.
I. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
II. Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
III. Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do
lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
IV. Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição, por ter
sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á
pela prevenção.
a) apenas I, II e III estão corretas;
b) apenas II, III e IV estão corretas;
c) apenas II e IV estão corretas;
d) todas as afirmações estão corretas;
e) todas as afirmações estão incorretas.

Comentários

Todas as afirmações estão corretas; afinal, retratam o conteúdo do art. 70, caput e seus parágrafos do
Código de Processo Penal. Note-se:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. § 1o Se,
iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. § 2o
Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o
juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado. § 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 310


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incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Consequentemente, apenas a assertiva D está correta.

36. (CESPE – Delegado Federal – DPF – 2013) Em se tratando de ações penais privadas, prevalece, no
processo penal, a competência de foro, com preponderância do interesse do queixoso no que diz respeito
à distribuição territorial da competência. (C/E)

Comentários

Embora o art. 73 do Código de Processo Penal garanta ao querelante a opção de escolher entre o foro do
lugar da infração e o foro do domicílio/residência do réu, a banca examinadora considerou a assertiva
incorreta. Confira-se adiante o teor do supramencionado dispositivo legal e a justificativa apresentada pela
banca:

Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou
da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

A distribuição do exercício da função jurisdicional entre órgãos diversos atende, às vezes, ao interesse
público e, outras, ao interesse das partes. Nos casos de competência de foro, o legislador pensa
preponderantemente no interesse de uma das partes em defender-se melhor, entretanto, no processo
penal, em que o foro comum é o da consumação do delito (CPP, art.70), acima do interesse da defesa é
considerado o interesse público expresso no princípio da verdade real. Como é sabido, no processo penal, a
regra geral é de que a competência será determinada pelo lugar onde se consumar a infração penal, sendo,
segundo a doutrina, que " é natural que assim seja, pois o lugar do crime deve ser onde a sociedade sofreu
o abalo, razão pela qual o agente aí deve ser punido. Embora a escolha do domicílio do réu possa ser vista
como favorável, " o fato é que a regra do lugar do crime, no mais das vezes, é a mais adequada para a
produção probatória. Assim, mesmo que se tratem de ações penais privadas, não há que se falar em
preponderância do interesse do queixoso.

37. (FUMARC – Delegado de Polícia – PC/MG – 2011) Para determinação da competência, no âmbito
do juizado especial criminal, adota-se:
a) a teoria do resultado;
b) a teoria da ubiquidade;
c) a teoria da atividade;
d) a teoria da informalidade.

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A assertiva C é a única correta. Os Juizados Especiais Criminais têm regra própria para a delimitação da
competência. Confira-se o que dispõe o art. 63 da Lei nº 9.099/95: a competência do Juizado será
determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal. Evidente a adoção da teoria da atividade.

38. (CESPE – Delegado de Polícia – PC/ES – 2011) Em caso de crime continuado e, também, de infração
permanente, praticado em território de duas ou mais jurisdições, a competência processual penal será
definida pela prevenção. (C/E)

Comentários

A alternativa está correta, pois retrata o teor do art. 71 do Código de Processo Penal: tratando-se de infração
continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á
pela prevenção.

Outros

39. (CESPE – Advogado da União – AGU – 2015) Um servidor público, concursado e estável, praticou
crime de corrupção passiva e foi condenado definitivamente ao cumprimento de pena privativa de
liberdade de seis anos de reclusão, em regime semiaberto, bem como ao pagamento de multa. A respeito
dessa situação hipotética, julgue o item seguinte.
Na hipótese em apreço, a competência seria da justiça federal, caso o servidor público fosse integrante da
administração pública federal e o crime cometido tivesse nexo funcional com o cargo ocupado. (C/E)

Comentários

A assertiva está correta. Eventual crime praticado por servidor público federal que guarde nexo funcional
com o cargo ocupado é de competência da Justiça Federal. Confira-se o que diz a jurisprudência a respeito
do tema:

[...] Nos termos do enunciado 254 da Súmula do extinto Tribunal Federal de Recursos, "Compete
à Justiça Federal processar e julgar os delitos praticados por funcionário público federal no
exercício de suas funções e com estas relacionados". O que norteia a fixação da competência da
Justiça Federal é sempre a proteção aos interesses, serviços e bens da União e, no caso, de suas
autarquias federais. Por óbvio, um delito praticado por servidor público federal no exercício de
suas funções e com elas relacionado mancha a imagem do serviço público, gerando desconfiança
na honestidade e higidez da máquina estatal, o que culmina em sério prejuízo ao Estado. (CC
148.162/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
23/11/2016, DJe 02/12/2016).

40. (AGU – Advogado da União – AGU – 2004) Adão e Bento, previamente ajustados e com unidade de
desígnios, adentraram em uma agência de uma sociedade de economia mista e, mediante graves ameaças
exercidas com o emprego de revólveres municiados, subtraíram do interior do cofre a importância de 100
mil reais. Nessa situação, de acordo com a orientação do STJ, será competente a justiça comum estadual
para processar e julgar o crime de roubo qualificado. (C/E)

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A assertiva está correta. Sociedades de economia mista não estão inseridas no rol do art. 109, IV da
Constituição Federal; logo, não cabe à Justiça Federal processar e julgar infrações penais praticadas em
desfavor dessas pessoas jurídicas.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...] IV - os crimes políticos e as infrações
penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; [...]

A competência da Justiça Estadual nesses casos é matéria sumulada:

Súmula 42, STJ – Compete à Justiça comum estadual processar e julgar as causas cíveis em que é
parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

LISTA DE QUESTÕES
Magistratura

1. (FCC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2017) Considere os Casos 1 e 2 abaixo.


Caso 1: Iniciada a prática de homicídio em Florianópolis, a morte da vítima ocorreu em Itajaí e a prisão do
acusado em Blumenau.
Caso 2: Delito de menor potencial ofensivo foi praticado em Itajaí e se consumou no Balneário de Camboriú,
não sendo possível a transação penal.
a) o Tribunal do Júri da Comarca de Itajaí (Caso 1) e o juiz singular, segundo a organização judiciária da
Comarca do Balneário de Camboriú (Caso 2);
b) em ambos os casos, segundo a regra de distribuição, o juiz criminal da Comarca de Itajaí;
c) o Tribunal do Júri da Comarca de Florianópolis (Caso 1) e o juiz singular, segundo a organização judiciária
da Comarca de Itajaí (Caso 2);
d) o Tribunal do Júri (Caso 1) e o juiz singular (Caso 2), segundo a organização judiciária da Comarca de Itajaí;
e) em ambos os casos, segundo a regra de prevenção, o juiz criminal da Comarca de Itajaí.
2. (CESPE – Juiz Substituto – TJ/PR – 2017) Acerca da divisão do exercício da jurisdição entre os
diversos órgãos jurisdicionais, assinale a opção correta.
a) a competência será determinada pela conexão, quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma
infração;
b) caso desclassifique infração que tenha dado causa à conexão, o juiz continuará competente para julgar os
delitos remanescentes e os corréus, haja vista a regra da perpetuatio jurisdicionis;
c) nos crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo da capital da República,
independentemente de o acusado ter residido ou não no Brasil.
d) os domicílios do réu e da vítima são critérios de determinação da competência jurisdicional.

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3. (FCC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2015) Após a condenação em primeira instância por um crime de
competência federal, o réu de uma ação penal é diplomado como deputado federal. Posteriormente,
quanto ao julgamento de sua apelação, interposta antes da diplomação, deverá ser julgada:
a) pelo Tribunal Regional Federal, se já estiver devidamente instruída com razões e contrarrazões;
b) normalmente pelo juiz federal da causa, em respeito ao princípio do juiz natural;
c) pelo Supremo Tribunal Federal;
d) pelo Superior Tribunal de Justiça;
e) normalmente pelo Tribunal Regional Federal.
4. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/RJ – 2014) Imagine que magistrado integrante do Tribunal Regional
Eleitoral, durante sessão de julgamento e em razão de controvérsia relativa a votos divergentes, atente
dolosamente contra a vida de seu colega. A competência para julgamento é do:
a) Tribunal do Júri;
b) Tribunal de Justiça;
c) Tribunal Regional Eleitoral;
d) Superior Tribunal de Justiça;
e) Tribunal Superior Eleitoral.
5. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/RJ – 2014) De acordo com entendimento sumulado pelo STF, é de
competência da Justiça Federal processar e julgar crimes de tráfico de drogas, desde que haja remessa do
entorpecente para o
a) exterior;
b) exterior, ou entre Estados dentro do país;
c) exterior, ou entre Estados dentro do país, ou entre Municípios;
d) exterior, e desde que seja praticado por associação transnacional.
6. (TRF3 – Juiz Federal Substituto – TRF3 – 2016) Em virtude de um ofício encaminhado pelo COAF,
noticiando movimentações bancárias suspeitas, um Procurador da República requisitou a instauração de
Inquérito Policial, para apurar a suposta prática de lavagem de dinheiro e de crimes financeiros. A Polícia
Federal instaurou o inquérito, tendo o Delegado determinado, de plano, o indiciamento do investigado.
Desejando questionar a ordem de indiciamento e a própria instauração do inquérito policial, a defesa
decide impetrar habeas corpus, tendo o advogado dúvidas acerca de quem seja a autoridade competente
para apreciar a ação constitucional. Diante desse cenário, assinale a opção correta:
a) A decisão de impetrar habeas corpus é incorreta, pois não há coação ilegal, sequer em tese;
b) A autoridade competente é o juiz de primeira instância;
c) A autoridade competente é o Tribunal Regional Federal;
d) A análise da ordem de indiciamento compete ao juiz de primeira instância e a da instauração do inquérito
policial ao Tribunal Regional Federal.
7. (TRF3 – Juiz Federal Substituto – TRF3 – 2016 – ADAPTADA) Segundo o Supremo Tribunal Federal,
o julgamento dos crimes relacionados à pornografia na internet envolvendo criança ou adolescente

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compete:
a) à Vara da Criança e Adolescente, uma vez que o crime está previsto no ECA;
b) à Justiça Federal, pois, dentre outros motivos, presente a internacionalidade;
c) à Justiça Estadual, sempre que as imagens tiverem sido postadas no Brasil;
d) à Justiça Estadual, desde que as imagens tenham sido acessadas no Brasil.
8. (TRF2 – Juiz Federal Substituto – TRF2 – 2014) Analise as proposições e, ao final, responda:
I – É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em detrimento de bens,
serviços ou interesse de fundações públicas federais.
II - É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em detrimento de bens
de concessionária de serviços públicos federais.
III - É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a fauna.
a) apenas a assertivas I está correta.
b) apenas as assertivas I e II estão corretas.
c) apenas as assertivas I e III estão corretas.
d) apenas as assertivas II e III estão corretas.
e) todas as assertivas estão corretas.
9. (CESPE – Juiz Substituto – TJDFT – 2016) Indivíduo que pratique crime a bordo de aeronave
estrangeira em espaço aéreo brasileiro, será processado e julgado pela justiça:
a) da comarca correspondente ao espaço aéreo em que a aeronave se encontrava no exato momento do
cometimento do crime ou, não sendo possível precisá-la, pela justiça da comarca em cujo território se
verificar o pouso;
b) de seu país de origem, pois, somente se estivesse a bordo de aeronave nacional é que a justiça brasileira
seria competente;
c) da comarca correspondente ao espaço aéreo em que a aeronave se encontrava no exato momento do
cometimento do crime;
d) do estado da Federação onde ele tiver residido por último ou, se ele nunca tiver residido no Brasil, no juízo
da capital da República;
e) da comarca em cujo território ocorrer o pouso ou pela comarca de onde houver partido a aeronave.
10. (CESPE – Juiz Substituto – TJPB – 2015) Em relação às disposições do CPP sobre competência,
assinale a opção correta.
a) em se tratando de crime permanente praticado em território de duas ou mais jurisdições, a competência
será firmada pela residência do réu;
b) não há mais hipótese no CPP de competência por distribuição;
c) em se tratando de crimes conexos em que existe corréu acometido por doença mental, a unidade
processual permanece, embora não seja possível prolatar sentença condenatória em seu desfavor;

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d) a justiça federal deverá julgar os casos de contravenção praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União;
e) caso não se conheça o local da infração e o réu tenha mais de um domicílio, será aplicada a regra da
prevenção para fins de fixação da competência jurisdicional.
11. (VUNESP – Juiz Substituto – TJMSP – 2016 – ADAPTADA) Situação hipotética: Considere o seguinte
caso hipotético. Uma juíza do Trabalho de uma das Varas da Capital de São Paulo, em ofício endereçado à
Justiça de Campinas, envia uma carta precatória para a execução provisória de um débito laboral. Tão logo
autuada a precatória, o juiz de Campinas, por entender nula a ação trabalhista originária, encaminha ofício
ao Tribunal Regional do Trabalho da 15a Região (TRT/15), sediado em Campinas, informando que a ordem
da magistrada de São Paulo seria ilegal e que, por isso, não poderia cumprir a determinação. Uma vez
ciente do ofício, e indagada pelo TRT/15, a juíza de São Paulo responde que a ordem era legal. O TRT/15,
por reputar que o magistrado de Campinas cometeu crime contra a honra da magistrada de São Paulo,
determinou que fosse instaurada investigação formal. Uma vez instaurado o inquérito, foi intimada a
suposta ofendida, que representou para que os fatos fossem processados, o que deu ensejo à propositura
de ação penal pelo Ministério Público Estadual de São Paulo.
Assertiva: Tratando-se de crime imputado a magistrada do Trabalho, que detém foro por prerrogativa de
função, foi equivocada a dedução do processo em primeiro grau, sendo a competência originária do Eg.
Tribunal de Justiça de São Paulo. (C/E)
12. (VUNESP – Juiz Substituto – TJMSP – 2016 – DESATUALIZADA) Acompanhe o caso fictício. Tício,
prefeito de uma cidade do interior de São Paulo/SP, mantém um relacionamento extraconjugal com
Mévia, policial militar. Por ciúmes, Mévia decide matar a mulher de Tício, Semprônia. Para tanto, ingressou
na casa de Tício e, com uma faca, acerta a vítima no peito. Em defesa de sua mulher, Tício, mediante
disparo de arma de fogo, acerta Mévia, de raspão. Tício é processado perante o Tribunal do Júri por
homicídio tentado simples, além de posse irregular de arma de fogo, na Justiça Comum, sendo, ao final,
absolvido de ambas as imputações, em decisão transitada em julgado; Mévia, por seu turno, foi
processada na Justiça Militar, e condenada em decisão que se tornou definitiva.
A respeito do caso, assinale a alternativa correta.
a) tratando-se de crime comum, correto o julgamento de Tício pelo Tribunal do Júri, visto que a competência
do Tribunal de Justiça para processar e julgar Prefeitos dá-se apenas em crimes de responsabilidade;
b) tratando-se de crime doloso contra a vida praticado por militar, correto o julgamento pela Justiça Militar;
c) o Tribunal do Júri não poderia ter julgado Tício pelo crime de posse irregular de arma de fogo, pois não se
trata de crime doloso praticado contra a vida;
d) Mévia e Tício haveriam de ser julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, haja vista que os
fatos se deram em um mesmo contexto;
e) Tício, por ser Prefeito, haveria de ter sido julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Todavia,
uma vez que a absolvição pelo Tribunal do Júri transitou em julgado, mesmo sendo caso de incompetência
absoluta, a decisão não poderá mais ser revista, sob pena de violação ao princípio da refomatio in pejus.
13. (VUNESP – Juiz Substituto – TJMSP – 2016) Compete ao Juízo da Execução Penal do Estado a
execução da pena imposta a sentenciado pela Justiça Federal, quando recolhido a estabelecimento sujeito
à administração estadual. (C/E)
14. (CESPE – Juiz Substituto – TJ/SE – 2015) Em relação à competência no processo penal, é correto

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afirmar:
a) se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de
jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem
com sentença definitiva;
b) nos casos de ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública o querelante poderá preferir o foro de
domicílio ou residência do réu ainda quando conhecido o lugar da infração;
c) na determinação da competência por conexão ou continência, preponderará a competência do lugar da
infração à qual for cominada pena mais grave, entendida esta como a que tem pena mínima cominada mais
alta;
d) nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade
de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, apenas no momento do
oferecimento da denúncia, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal;
e) a competência especial por prerrogativa de função, relativa a atos administrativos do agente, prevalece
ainda que o inquérito ou a ação judicial sejam iniciados após a cessação do exercício da função pública.
15. (VUNESP – Juiz Substituto – TJMS – 2015) De acordo com o artigo 80, do Código de Processo Penal,
nos processos conexos, será facultativa a separação quando:
a) as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou lugar diferentes, ou, quando pelo
excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante,
o juiz reputar conveniente a separação;
b) venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que
não se inclua na sua competência;
c) houver corréu em local incerto ou não sabido ou foragido que não possa ser julgado à revelia, ainda que
representado por defensor constituído e regularmente citado;
d) concorrerem jurisdição comum e do juízo falimentar;
e) em relação a algum corréu, por superveniência de doença mental, nos termos do artigo 152 do Código de
Processo Penal, ainda que indispensável a suspensão do processo para instauração de incidente de
insanidade mental.
16. (PUCPR – Juiz Substituto – TJ/PR – 2014 – ADAPTADA) A competência por continência será
determinada quando a prova de uma infração influir na prova de outra infração. (C/E)
17. (PUCPR – Juiz Substituto – TJ/PR – 2014) Analise as assertivas abaixo e escolha a resposta CORRETA.
Considerando as regras sobre a competência estabelecidas no Código de Processo Penal, pode-se afirmar:
I. a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
II. quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar
em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
III. nos crimes à distância, cuja execução foi iniciada no Brasil e o resultado ocorreu em outro país, a
competência será da Capital Federal Brasileira.

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IV. nos casos de ação privada exclusiva, o querelante pode preferir o foro de domicílio ou da residência do
réu, mesmo que conhecido o lugar da infração.
a) apenas as alternativas I, II e IV estão corretas;
b) apenas as alternativas I e IV estão corretas;
c) apenas as alternativas I e III estão corretas;
d) apenas as alternativas I, III e IV estão corretas.
18. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2013) Tratando-se de infração continuada ou permanente,
praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pelo(a):
a) prevenção;
b) lugar da infração;
c) conexão ou continência;
d) distribuição.
19. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/MT – 2009) Conforme o disposto pelo art. 82 do Código de Processo
Penal se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade
de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já
estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para:
a) efeito de diminuição e separação das penas;
b) o concurso entre as penas do juízo comum e o juízo de menores;
c) excepcionalmente, a hipótese de reconhecimento do crime continuado;
d) o concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum;
e) efeito de soma ou de unificação das penas.
20. (VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2009) No caso de depoimento de testemunha ouvida por meio
de carta precatória, assinale a alternativa correta:
a) a competência para a ação penal por crime de falso testemunho é do Juízo deprecado;
b) a competência para a ação penal por crime de falso testemunho é do Juízo deprecante;
c) a competência para a ação penal por crime de falso testemunho é concorrente, do Juízo deprecante ou
do Juízo deprecado;
d) a competência para a ação penal por crime de falso testemunho é definida pelo interesse do titular da
ação penal.

Promotor

21. (MPE/SC - Promotor de Justiça – MPE/SC – 2016) A competência, segundo o Código de Processo
Penal, será determinada pela continência, quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração e, por conexão, entre outros casos, se,
ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas,
umas contra as outras. (C/E)

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22. (MPE/SC - Promotor de Justiça – MPE/SC – 2016) De acordo com o Código de Processo Penal, a
conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo no concurso entre a
jurisdição comum e a militar e no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. Segundo o
mesmo Estatuto, na determinação da competência por conexão ou continência serão observadas, entre
outras, as seguintes regras: no concurso de jurisdições da mesma categoria, preponderará a do lugar da
infração, à qual for cominada a pena mais grave; prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior
número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade. (C/E)
23. (MPE/SC – Promotor de Justiça – MPE/SC – 2016) A Súmula 704 do Supremo Tribunal Federal,
dispõe que viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
Já Súmula 705, da mesma corte, estabelece que a renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem
a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta. (C/E)
24. (MPE/RS – Promotor de Justiça – MPE/RS– 2014) Uma embarcação nacional de grande calado,
destinada ao comércio internacional, viajava de Itajaí (SC) para o porto de Rio Grande para receber alguns
contêineres e depois rumar para a África do Sul. Contudo, nas proximidades de Rio Grande, o marinheiro
Temístocles, natural de Porto Alegre, se envolveu numa luta corporal contra o colega Guido, acabando por
assassiná-lo. A ação penal deverá ser processada:
a) no Tribunal do Júri da Justiça Estadual de Itajaí;
b) no Tribunal de Júri da Justiça Estadual de Rio Grande;
c) no Tribunal do Júri da Justiça Estadual de Porto Alegre;
d) na Justiça da África do Sul;
e) no Tribunal do Júri da Justiça Federal de Rio Grande.
25. (MPE/PR – Promotor de Justiça – MPE/PR – 2014) Se BRAVIUS entra num bar e, com intenção de
lesionar, desfere dois tiros de revólver na direção da perna de SERENUS, acerta um dos disparos que
produz lesão grave, mas o outro, por erro de pontaria, vem a produzir lesão, também de natureza grave,
em ASTÚRIAS, dono da bodega, o julgamento de ambos os fatos deve ocorrer, num mesmo processo, em
razão da:
a) Conexão objetiva ou material;
b) Conexão subjetiva por simultaneidade;
c) Continência por cumulação objetiva;
d) Conexão subjetiva por concurso;
e) Continência subjetiva.

Defensor

26. (CESPE – Defensor Público Federal – DPU – 2017) Auditoria do TCU indicou que o prefeito do
município X desviou, para benefício próprio, valores oriundos da União ainda sujeitos a prestação de
contas perante órgão federal. Nessa situação, conforme o entendimento do STF, a competência para
julgamento do prefeito será do tribunal de justiça do respectivo estado por expressa previsão
constitucional. (C/E)

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27. (FCC – Defensor Público – DPE/BA – 2016) De acordo com norma expressa do Código de Processo
Penal, são fatores que determinam a competência jurisdicional:
a) O local da residência da vítima e a natureza da infração;
b) A prevenção e o local da prisão;
c) A prerrogativa de função e o domicílio ou residência do réu;
d) O local da investigação e a conexão ou continência;
e) O local da prisão e o local da infração.
28. (UFMT – Defensor Público – DPE/MT – 2016) Concomitantemente, diversas pessoas saquearam um
estabelecimento comercial sem se conhecerem umas às outras. Cuida-se na espécie de
a) continência de ações, em razão do concurso de pessoas;
b) conexão intersubjetiva por reciprocidade;
c) conexão objetiva consequencial;
d) conexão intersubjetiva por simultaneidade;
e) conexão objetiva teleológica.

Procurador

29. (PGR – Procurador da República – PGR – 2012) Conforme a jurisprudência prevalente no STJ,
assinale a alternativa falsa:
a) não é cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial
da pretensão punitiva;
b) intimada a defesa da expedição de carta precatória, torna-se desnecessária a intimação da data da
audiência no juízo deprecado;
c) a conexão não determina a reunião dos processos se um deles já foi julgado;
d) excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o
Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.

Delegado de Polícia

30. (CESPE – Delegado de Polícia – PC/MT – 2017) Em determinado estado da Federação, um juiz de
direito estadual, um promotor de justiça estadual e um procurador do estado cometeram, em momentos
distintos, crimes comuns dolosos contra a vida. Não há conexão entre esses crimes. Sabe-se que a
Constituição do referido estado prevê que crimes comuns praticados por essas autoridades sejam
processados e julgados pelo respectivo tribunal de justiça.
Nessa situação hipotética, segundo o entendimento do STF, será do tribunal do júri a competência para
processar e julgar somente o:
a) promotor de justiça;
b) juiz de direito;

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c) procurador do estado e o promotor de justiça;


d) promotor de justiça e o juiz de direito;
e) procurador do estado.
31. (CESPE – Delegado de Polícia – PC/GO – 2017) Cláudio, maior e capaz, residente e domiciliado em
Goiânia – GO, praticou determinado crime, para o qual é prevista ação penal privada, em Anápolis – GO.
A vítima do crime, Artur, maior e capaz, é residente e domiciliada em Mineiros – GO.
Nessa situação hipotética, considerando-se o disposto no Código de Processo Penal, o foro competente para
processar e julgar eventual ação privada proposta por Artur contra Cláudio será:
a) Anápolis – GO ou Goiânia – GO;
b) Goiânia – GO ou Mineiros – GO;
c) Goiânia – GO, exclusivamente;
d) Anápolis – GO, exclusivamente;
e) Mineiros – GO, exclusivamente.
32. (VUNESP – Delegado de Polícia – PC/CE – 2015) A competência para a ação penal, caso:
a) desconhecido o domicílio do ofendido, será estabelecida pelo local da infração;
b) desconhecido o local da infração, será estabelecida pela residência ou domicílio do réu;
c) desconhecido o domicílio do réu, será estabelecida pela prevenção;
d) se trate de ação privada, ficará a cargo do querelante, que pode escolher entre o local da infração e o da
sua própria residência;
e) se trate de crime tentado, será fixada no lugar onde deveria ter se consumado a infração.
33. (VUNESP – Delegado de Polícia – PC/CE – 2015) Nos termos do art. 109, § 5º da Constituição da
República de 1988, o incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal é cabível nas
hipóteses de grave violação de direitos humanos, com a finalidade de assegurar o cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte. Pode
ser suscitado pelo___________ junto ao___________.
Preenchem, correta e respectivamente, as lacunas:
a) Procurador-Geral de Justiça de qualquer Estado ... STF;
b) Procurador-Geral da República ou Procurador-Geral de Justiça de qualquer Estado ... STF;
c) Órgão Especial de Tribunal de Justiça ... STF;
d) Procurador-Geral da República ... STJ;
e) Presidente de Tribunal de Justiça ou de Tribunal Regional Federal ... STJ;
34. (Fundação Aroeira – Delegado de Polícia – PC/TO – 2014) Os irmãos A. R., B. R. e C. R, residentes e
domiciliados em Palmas, praticam um roubo em Palmas, três furtos em Porto Nacional, um latrocínio em
Miracema do Tocantins e mais dois furtos em Miranorte, onde, finalmente, são presos. Na hipótese, a
competência será determinada pela:
a) residência dos acusados, prevalecendo a competência de Palmas;

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b) continência, prevalecendo a competência de Porto Nacional;


c) conexão, prevalecendo a competência de Miracema do Tocantins;
d) prevenção, prevalecendo a competência de Miranorte.
35. (ACAFE – Delegado de Polícia – TJ/SP – 2014) De acordo com o Código de Processo Penal analise as
afirmações a seguir e assinale a alternativa correta.
I. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
II. Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
III. Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do
lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
IV. Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição, por ter
sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á
pela prevenção.
a) apenas I, II e III estão corretas;
b) apenas II, III e IV estão corretas;
c) apenas II e IV estão corretas;
d) todas as afirmações estão corretas;
e) todas as afirmações estão incorretas.
36. (CESPE – Delegado Federal – DPF – 2013) Em se tratando de ações penais privadas, prevalece, no
processo penal, a competência de foro, com preponderância do interesse do queixoso no que diz respeito
à distribuição territorial da competência. (C/E)
37. (FUMARC – Delegado de Polícia – PC/MG – 2011) Para determinação da competência, no âmbito
do juizado especial criminal, adota-se:
a) a teoria do resultado;
b) a teoria da ubiquidade;
c) a teoria da atividade;
d) a teoria da informalidade.
38. (CESPE – Delegado de Polícia – PC/ES – 2011) Em caso de crime continuado e, também, de infração
permanente, praticado em território de duas ou mais jurisdições, a competência processual penal será
definida pela prevenção. (C/E)

Outros

39. (CESPE – Advogado da União – AGU – 2015) Um servidor público, concursado e estável, praticou
crime de corrupção passiva e foi condenado definitivamente ao cumprimento de pena privativa de
liberdade de seis anos de reclusão, em regime semiaberto, bem como ao pagamento de multa. A respeito
dessa situação hipotética, julgue o item seguinte.

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Na hipótese em apreço, a competência seria da justiça federal, caso o servidor público fosse integrante da
administração pública federal e o crime cometido tivesse nexo funcional com o cargo ocupado. (C/E)
40. (AGU – Advogado da União – AGU – 2004) Adão e Bento, previamente ajustados e com unidade de
desígnios, adentraram em uma agência de uma sociedade de economia mista e, mediante graves ameaças
exercidas com o emprego de revólveres municiados, subtraíram do interior do cofre a importância de 100
mil reais. Nessa situação, de acordo com a orientação do STJ, será competente a justiça comum estadual
para processar e julgar o crime de roubo qualificado. (C/E)

GABARITO
Magistratura

1. D
2. B
3. E
4. D
5. A
6. D
7. B
8. A
9. E
10. E
11. INCORRETA
12. E
13. A
14. A
15. A
16. INCORRETA
17. A
18. A
19. E
20. A

Promotor

21. INCORRETA
22. CORRETA
23. INCORRETA
24. E
25. C

Defensor

26. INCORRETA

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27. C
28. D

Procurador

29. A

Delegado de Polícia

30. E
31. A
32. B
33. D
34. C
35. D
36. INCORRETA
37. C
38. CORRETA

Outros

39. CORRETA
40. CORRETA

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