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Aula 05

Direito
Processual Penal - 2022 (Pós-Edital)

Autor:
Leonardo Ribas Tavares, Equipe
Materiais Carreiras Jurídicas

23 de Janeiro de 2022

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Sumário
1. Exame do corpo de delito e perícias .............................................................................................................. 8

1.1 Natureza jurídica ...................................................................................................................................... 8

1.2 Definição e terminologia ........................................................................................................................ 11

1.3 Corpo de delito ....................................................................................................................................... 13

1.4 Exame de corpo de delito ....................................................................................................................... 15

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 20

1.5 Laudo pericial ......................................................................................................................................... 21

1.5.1 Oportunidade para a juntada do laudo pericial .................................................................................................... 22

1.5.2 Contraditório em relação ao laudo pericial ........................................................................................................... 23

1.5.3 Suprimento de falhas............................................................................................................................................. 25

1.5.4 Laudos complementares ....................................................................................................................................... 25

1.5.5 Conclusões dos peritos x convencimento judicial ................................................................................................. 26

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 27

1.6 Obrigatoriedade do exame de corpo de delito ...................................................................................... 28

1.6.1 Diferença entre corpo de delito e exame de corpo de delito ............................................................................... 30

1.6.2 Exame de corpo de delito direto e indireto ........................................................................................................... 31

1.6.3 Questões correlatas e casuística ........................................................................................................................... 33

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 37

1.7 Peritos..................................................................................................................................................... 38

1.8.1 Formalidades e número de peritos ....................................................................................................................... 43

1.8.2 Divergência entre peritos ...................................................................................................................................... 45

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 46

1.8 Atuação processual das partes em relação à perícia ............................................................................. 47

1.9.1 Oitiva dos peritos em audiência ............................................................................................................................ 54

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Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 55

1.9 Autópsia e exumação ............................................................................................................................. 56

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 58

1.10 Laudo complementar no crime de lesões corporais ............................................................................. 59

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 60

1.11 Exame de local de crime ....................................................................................................................... 61

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 61

1.12 Exames laboratoriais ............................................................................................................................ 62

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 62

1.13 Avaliação .............................................................................................................................................. 62

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 63

1.14 Exame de local de incêndio .................................................................................................................. 64

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 64

1.15 Exame grafotécnico.............................................................................................................................. 65

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 66

1.16 Exame dos instrumentos do crime ....................................................................................................... 67

1.17 Perícias não previstas em lei ................................................................................................................ 67

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 69

1.18 Quadro-resumo .................................................................................................................................... 69

Jurisprudência pertinente............................................................................................................................................... 73

2. Interrogatório judicial .................................................................................................................................. 79

2.1 Conceito .................................................................................................................................................. 79

2.2 Natureza jurídica .................................................................................................................................... 80

2.3 Momento para realização do interrogatório ......................................................................................... 82

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2.4 Condução coercitiva ............................................................................................................................... 86

2.5 Foro competente para a realização do interrogatório .......................................................................... 89

2.6 Ausência do interrogatório .................................................................................................................... 90

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 91

2.7 Características do interrogatório ........................................................................................................... 92

2.7.1 Ato personalíssimo ................................................................................................................................................ 92

2.7.2 Ato contraditório ................................................................................................................................................... 93

2.7.3 Ato assistido tecnicamente ................................................................................................................................... 93

2.7.4 Ato oral .................................................................................................................................................................. 95

2.7.5 Ato individual ......................................................................................................................................................... 95

2.7.6 Ato bifásico ............................................................................................................................................................ 96

2.7.7 Ato público............................................................................................................................................................. 96

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 97

2.8 Local da realização do interrogatório .................................................................................................... 97

Doutrina complementar ................................................................................................................................................. 99

2.9 Nomeação de curador ............................................................................................................................ 99

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 100

2.10 Interrogatório por videoconferência .................................................................................................. 100

2.10.2 Finalidades do uso da videoconferência ........................................................................................................... 102

2.10.3 Da (in)constitucionalidade do interrogatório por videoconferência ................................................................. 103

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 106

Jurisprudência pertinente............................................................................................................................................. 108

3. Confissão .................................................................................................................................................... 111

3.1 Conceito ................................................................................................................................................ 111

3.2 Espécies de confissão ........................................................................................................................... 111

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3.3 Características da confissão ................................................................................................................. 113

3.4 Valor probatório da confissão .............................................................................................................. 113

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 114

4. Declarações do ofendido ........................................................................................................................... 116

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 121

5. Prova testemunhal ..................................................................................................................................... 121

5.1 Conceito e natureza jurídica ................................................................................................................. 121

5.2 Características ...................................................................................................................................... 122

5.3 Deveres das testemunhas .................................................................................................................... 124

5.3.1 Dever de depor .................................................................................................................................................... 124

5.3.2 Dever de comparecimento .................................................................................................................................. 127

5.3.3 Dever de prestar o compromisso de dizer a verdade ......................................................................................... 130

5.3.4 Dever de comunicar mudança de residência ...................................................................................................... 131

5.4 Classificação das testemunhas............................................................................................................. 132

5.5 Procedimento para a oitiva de testemunhas ....................................................................................... 134

5.5.1 Número máximo de testemunhas ....................................................................................................................... 135

5.5.2 Intimação das testemunhas................................................................................................................................. 137

5.5.3 Substituição de testemunhas .............................................................................................................................. 138

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 139

5.5.4 Desistência da oitiva de testemunha................................................................................................................... 139

5.5.5 Incomunicabilidade das testemunhas ................................................................................................................. 140

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 141

5.5.6 Retirada do acusado da sala de audiência........................................................................................................... 142

5.5.7 Compromisso de dizer a verdade ........................................................................................................................ 144

5.5.8 Qualificação da testemunha ................................................................................................................................ 147

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5.5.9 Contradita e arguição de parcialidade da testemunha ....................................................................................... 147

5.5.10 Colheita do depoimento .................................................................................................................................... 150

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 153

5.5.11 Inversão da ordem de inquirição das testemunhas .......................................................................................... 154

5.6 Direito ao confronto e produção de prova testemunhal incriminadora .............................................. 156

5.6.1 Testemunhas anônimas e direito ao confronto .................................................................................................. 158

5.6.2 Testemunhas ausentes e direito ao confronto.................................................................................................... 161

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 162

6. Reconhecimento de pessoas e coisas ........................................................................................................ 163

6.1 Conceito ................................................................................................................................................ 163

6.2 Procedimento ....................................................................................................................................... 164

6.3 Reconhecimento fotográfico e fonográfico ......................................................................................... 170

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 172

7. Acareação ................................................................................................................................................... 173

7.1 Conceito ................................................................................................................................................ 173

7.2 Procedimento ....................................................................................................................................... 174

7.3 Valor probatório ................................................................................................................................... 175

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 176

8. Prova documental ...................................................................................................................................... 177

8.1 Conceito ................................................................................................................................................ 177

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 178

8.2 Espécies ................................................................................................................................................ 179

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 181

8.3 Produção da prova documental ........................................................................................................... 182

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 184

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8.4 Tradução de documentos em língua estrangeira ................................................................................ 185

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 186

8.5 Restituição de documentos .................................................................................................................. 187

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 187

9. Indícios ....................................................................................................................................................... 188

9.1 Conceito e natureza jurídica ................................................................................................................. 188

9.2 Valor probatório ................................................................................................................................... 189

9.3 Classificação dos indícios ..................................................................................................................... 190

10. Busca e apreensão ................................................................................................................................... 191

10.1 Conceito e natureza jurídica............................................................................................................... 191

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 192

10.2 Iniciativa e decretação ....................................................................................................................... 193

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 194

10.3 Objeto ................................................................................................................................................. 195

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 196

10.4 Espécies de busca ............................................................................................................................... 197

10.4.1 Busca domiciliar ................................................................................................................................................. 197

10.4.2 Mandado de busca e apreensão........................................................................................................................ 203

10.4.3 Execução da busca domiciliar ............................................................................................................................ 204

10.4.4 Descoberta de elementos probatórios diversos e encontro fortuito de provas ............................................... 207

10.4.5 Busca pessoal ..................................................................................................................................................... 209

Doutrina complementar ............................................................................................................................................... 211

Jurisprudência pertinente............................................................................................................................................. 214

11. Interceptação telefônica .......................................................................................................................... 221

12. Quebra do sigilo de dados........................................................................................................................ 224

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13. Colaboração premiada ............................................................................................................................. 224

14. Infiltração de agentes............................................................................................................................... 224

15. Referências bibliográficas ........................................................................................................................ 225

16. Questões .................................................................................................................................................. 227

16.1 Questões com comentários ................................................................................................................ 227

16.2 Questões sem comentários ................................................................................................................ 272

16.3 Gabarito ............................................................................................................................................. 287

17. Resumo..................................................................................................................................................... 288

17.1 Exame de corpo de delito e perícias ..................................................................................................................... 288

17.2 Interrogatório judicial ........................................................................................................................................... 292

17.3 Confissão............................................................................................................................................................... 295

17.4 Declarações do ofendido ...................................................................................................................................... 295

17.5 Prova testemunhal ............................................................................................................................................... 296

17.6 Reconhecimento de pessoas e coisas ................................................................................................................... 301

17.7 Acareação ............................................................................................................................................................. 301

17.8 Prova documental................................................................................................................................................. 302

17.9 Indícios .................................................................................................................................................................. 302

17.10 Busca e apreensão .............................................................................................................................................. 303

Gabarito.......................................................................................................................................................... 306

Magistratura ................................................................................................................................................................. 306

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EXAME DO CORPO DE DELITO E PERÍCIAS


A matéria relativa ao exame do corpo de delito e às perícias em geral encontra-se regulamentada no Capítulo
II, do Título VII do Código de Processo Penal. Sem prejuízo de alguma regulamentação em leis fora do Código,
é nos artigos 158 a 184 que encontramos a disciplina essencial acerca do assunto.

1 - NATUREZA JURÍDICA
A natureza jurídica da perícia e do exame do corpo de delito é, em certa medida, controvertida. Para alguns
constituem meio de prova; para outros, mais do que simples meio de prova.

Divergem os autores na conceituação da perícia: uns a consideram meio de prova: a perícia seria
um testemunho de pessoa entendida ou algo parecido; outros a reputam um pouco mais do que
a prova. Para os últimos a perícia tem tudo que se exige de um meio de prova, mas ainda contém
qualquer coisa mais que nessa não existe. O perito é mais que um sujeito de prova (testemunha
ou outro qualquer) e menos do que o juiz (Tornaghi, 1997).

TORNAGHI entende que “a perícia não prova somente, mas também ilumina” e, nessa maneira de pensar,
quando conceitua, traz uma série de distinções entre a perícia e prova testemunhal.

Se o perito se limitasse a transmitir ao juiz o que apurou com seus conhecimentos técnicos, então
a perícia seria realmente apenas meio de prova, testemunho. Mas tal não se dá: o perito emite
juízo sobre o valor dos fatos, externa impressão sobre a possibilidade de terem sido causados
por outros acontecimentos e de virem a produzir outros ainda. Considera não apenas a realidade,
mas joga também com as probabilidades, com os princípios da experiência (Erfahrungssätzen).
Entra em conjeturas sobre as relações do fato com outros eventos. Não se atém a relatar ao juiz
o que se passou e de que teve conhecimento graças a seu saber científico ou artístico. Por vezes,
até, o juiz já está informado dos fatos passados e para isso não foi necessária qualquer perícia.
Mas ele quer saber do perito qual o valor e quais as prováveis consequências dos fatos. Não
apenas o que ocorreu, mas o que há de vir. O diagnóstico e o prognóstico do perito não podem,
de maneira alguma, considerar-se mera prova. Acresce que o perito, por vezes, nem sequer se
pronuncia sobre o fato, mas apenas ministra ao juiz esclarecimentos teóricos e gerais que lhe
permitam ver aquilo que antes não via (Tornaghi, 1997).

Para TORNAGHI, além da observação e declaração (inerentes à prova testemunhal), a perícia envolve avaliação.
Para a testemunha a manifestação é puramente objetiva; para o perito, além do elemento objetivo, tem um
componente subjetivo. “O testemunho é retrospectivo, refere-se a fatos passados. A perícia é retrospectiva
na medida em que relata fatos passados e é prospectiva enquanto aponta eventos futuros como
consequência dos outros. [...] A testemunha recorda, o perito relata: ‘a primeira é meio de reconstrução, o
segundo de comunicação da verdade’”.

Se o perito fosse apenas sujeito de prova, não se perceberia como, sem incoerência, se lhe
aplicariam as normas sobre impedimentos de juízes e por que razão o Código Penal pune a
inovação artificiosa da situação de coisa, pessoa, ou local, com o fim de induzir em erro o juiz ou

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perito, equiparando, portanto, juiz e perito na proteção contra a fraude processual. Se o perito
fosse sujeito de prova, e não apreciador técnico da prova, assessor do juiz, não se veria por que
há de estar submetido às mesmas causas de recusa do julgador. O acertado seria retirar a perícia
do capítulo da prova e situá-la em lugar autônomo, entre esta e a sentença. Tanto mais quando
a lei não coloca o perito entre os sujeitos de prova, mas o considera auxiliar da justiça e sujeita-
o à disciplina judiciária (arts. 275 e s.). De qualquer modo, o que se conclui depois de examinar o
sistema do Código de Processo Penal é que esse considera o perito investido do múnus público
de assessorar tecnicamente o juiz (Tornaghi, 1997).

Nessa mesma compreensão caminha MIRABETE, para quem a perícia não é um simples meio de prova.

O perito é um apreciador técnico, assessor do juiz, com uma função estatal destinada a fornecer
dados instrutórios de ordem técnica e a proceder à verificação e formação do corpo de delito. A
perícia é um elemento subsidiário, emanado de um órgão auxiliar da Justiça, para a valoração da
prova ou solução da prova destinada a descoberta da verdade. Por isso, o Código de Processo
Penal inclui os peritos entre os “auxiliares da justiça”, sujeitando-os à “disciplina judiciária” (art.
275) e à “suspeição” dos juízes (art. 280), impedindo ainda que as partes intervenham na sua
nomeação (art. 276) (Mirabete, 2005).

MARINONI & ARENHART distinguem a prova pericial da testemunhal:

Note-se que o perito traz ao processo uma análise técnica e científica acerca dos fatos. Assim, é
fácil distinguir a prova testemunhal e a prova pericial: enquanto a primeira se destina a aportar
ao processo apenas uma versão leiga sobre os fatos, a segunda tem por objetivo tomar do perito
impressões técnicas ou juízos especializados. Por isso mesmo, a prova pericial somente será
admitida se for possível e necessária para o esclarecimento dos fatos da causa e, ainda, se a prova
de um específico fato depender de conhecimento especial (art. 464, § 1º, CPC/2015, contrario
sensu) (Marinoni, et al., 2015).

Nesse contexto, vale a pena lembrarmos as disposições do Código de Processo Civil:

Art. 464. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.

§ 1º O juiz indeferirá a perícia quando:

I - a prova do fato não depender de conhecimento especial de técnico;

II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas;

III - a verificação for impraticável.

Muito pertinente é a visão de PACELLI & FISCHER a respeito da hierarquia e da especificidade da prova técnica:

É comum e já assentado em boa doutrina e na melhor jurisprudência o entendimento segundo o


qual não existiria hierarquia probatória no processo penal, de tal modo que qualquer meio de
prova idôneo se prestaria a firmar o convencimento judicial. De outro modo: superado o modelo

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da chamada prova tarifada, no qual a convicção do juiz se vinculava a critérios rígidos e fixados
aprioristicamente, no sistema do livre convencimento motivado, ao contrário, não haveria prova
superior à outra. É dizer: desde que motivada a escolha, pode o juiz se convencer em qualquer
direção, a partir do livre exame do material probatório disponível. Parece-nos, contudo, que as
coisas não são exatamente assim. É de se observar, por primeiro, que o convencimento judicial
está ligado à complexa questão da formação da certeza, no processo, quanto à veracidade da
existência de um fato, para fins de aplicação do direito, ou, numa palavra (que, em geral, são
mais!): da verdade processual. Nesse passo, fica mais fácil compreender a razão pela qual não
podemos acompanhar, ao menos em sua inteireza, o ditado afirmativo da ampla liberdade do
convencimento judicial. Mas não porque não concordemos com a inexistência de uma hierarquia
de provas. Nisso, estamos de acordo. Ocorre que a demonstração da existência (do fato) e das
(suas) circunstâncias de determinados fatos envolve questões de maior complexidade que a
simples e livre escolha da subjetividade do julgador. Não se pode exigir que o juiz – ou qualquer
outro ser humano – abarque em si todos os meios e todos os níveis de conhecimento possíveis.
O depoimento em língua grega, por exemplo, pode oferecer grandes dificuldades ao juiz, mesmo
quando seja ele versado no aludido idioma. Os exemplos seriam muitos: conhecimentos médicos,
biológicos, de engenharia ou, enfim, quaisquer conhecimentos cuja compreensão demande
certo grau de especialização. Por isso, no exemplo dado anteriormente, não poderia o juiz
desconsiderar o depoimento prestado em língua grega, para, livremente, pender para o lado em
cujo ambiente de prova estiver mais habilitado. Não há, portanto, hierarquia de prova. Mas
especificidade dela, não temos dúvidas! E por especificidade da prova entendemos o meio
técnico especializado que permite maior compreensão do significado da prova, bem como de
suas possíveis interpretações. A prova técnica não é uma prova superior às demais. Mas é, sim,
uma prova especial, quanto ao conteúdo de interpretação de um meio de prova. A prova pericial
ou a prova técnica, mediante análise especializada do meio de prova, seja quanto ao fato em si
(morte, lesão corporal etc.), surge como uma exigência garantista para um mais adequado
conhecimento judicial da matéria a ser julgada, diante da necessidade da comprovação específica
de determinados fatos. Apenas nesse sentido é que pode exigir a prova pericial: quando o exame
dos vestígios deixados pela infração for relevante para o julgamento da causa e quando esse
exame demandar conhecimentos técnicos específicos e especiais (Pacelli, et al., 2018).

Para finalizar, um quadro comparativo entre a prova testemunhal e a prova pericial, destacando as
diferenças:

PROVA TESTEMUNHAL PROVA PERICIAL


Testemunha é sujeito de prova Perito é apreciador técnico da prova
Apresenta versão leiga dos fatos Faz análise técnica e científica dos fatos
Exige-se expertise, habilitação técnica
Qualquer pessoa pode ser (202)
relacionada com a natureza do exame (159, §1º).
Só quando dependa de conhecimento especial
É admitida para provar qualquer fato pertinente
técnico (art. 464, § 1º, CPC)
Responde quesitos, descreve o que foi
Não pode fazer apreciação pessoal (213), tirar
examinado (160), apresenta conclusões técnicas
conclusões
(não jurídicas)
Envolve observação e declaração – é retrospectiva Vai mais longe, tem avaliação – é prospectiva
De regra oral, proibido trazer depoimento escrito (204) Normalmente escrita, por laudo (160)

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Testemunha é arrolada pela parte Perito é nomeado pelo juiz


Testemunha é escolhida em gestão da prova realizada Perito é auxiliar da justiça - sujeita-se à
pelas partes “disciplina judiciária” (art. 275)
Testemunhas podem ser contraditadas (214) Peritos podem ser suspeitos (280)
Regra geral tem obrigação de depor (206) Obrigado a aceitar o encargo (277)
Compromisso de bem e fielmente desempenhar
Compromisso legal de dizer a verdade (203)
o encargo (159, §2º)

Diante desse quadro, não é difícil entender a dificuldade doutrinária em compreender a perícia como um
meio de prova qualquer. Embora não se possa dizer que a perícia tem um ‘valor’ maior (nosso sistema não
atribui valores predeterminados paras as provas – livre convencimento), trata-se, realmente e na prática, de
uma prova ‘especial’ ou diferenciada.

2 - DEFINIÇÃO E TERMINOLOGIA
A prova pericial “advém da necessidade de se demonstrar no processo fato que dependa
de conhecimento especial que esteja além dos conhecimentos que podem ser exigidos do
homem e do juiz de cultura média”. Certo, mas o juiz poderia dispensar uma perícia, por
exemplo, quando ele mesmo tivesse conhecimentos técnicos sobre a questão?

Não importa que o magistrado que está tratando da causa, em virtude de


capacitação técnica individual e específica (porque é, por exemplo, formado em engenharia civil),
tenha qualificação para analisar a situação concreta. Se a capacitação requerida por essa situação
não estiver dentro dos parâmetros daquilo que se pode esperar de um juiz, não há como
dispensar a prova pericial [...]. O fato que requer conhecimento técnico não interessa apenas ao
juiz, mas fundamentalmente às partes, que têm o direito de discuti-lo de forma adequada,
mediante, se for o caso, a indicação de assistentes técnicos. Em poucas palavras: a legitimidade
do resultado da prova pericial requer que as partes tenham tido a devida possibilidade de
participar em contraditório da sua formação. Ademais, dentro do sistema brasileiro, os casos
podem ser levados, em regra, a dois órgãos jurisdicionais, o que arreda, definitivamente, a
dispensa de prova pericial pelo motivo de o juiz – que teve contato inicial com a causa – ter
qualificação técnica especial. Ora, se outro juiz deve analisar a situação de fato, não há como
supor que essa análise possa ser feita de forma adequada quando a questão técnica for de
conhecimento apenas do primeiro julgador. Na verdade, se o conhecimento técnico que é
peculiar a um juiz, mas não pertence ao comum dos julgadores, pudesse dispensar a prova
pericial, estar-se-ia diante de uma hipótese de ciência privada. Enfim, como corretamente já
disse o Tribunal de Alçada do Paraná, “não pode o magistrado valer-se de conhecimentos
pessoais, de natureza técnica, para dispensar a perícia” (Marinoni, et al., 2015).

JOSÉ FREDERICO MARQUES diz que “perícia é a prova destinada a levar ao juiz elementos instrutórios sobre
normas técnicas e sobre fatos que dependem de conhecimento especial” (Marques, 1997).

HÉLIO TORNAGHI: “perícia nada mais é do que um exame que exige conhecimentos técnicos, científicos ou
artísticos. Os franceses lhe chamam expertise ou avaliation [...]” (Tornaghi, 1997).

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DENILSON FEITOZA: “perícia é o exame técnico feito em pessoa ou coisa para comprovação de fatos e realizado
por alguém que tem determinados conhecimentos técnicos ou científicos adequados à comprovação. A
perícia é realizada porque o magistrado não tem tais conhecimentos ou porque a lei exige” (Feitoza, 2008).

EUGÊNIO PACELLI consigna que a prova pericial “é uma prova técnica, na medida em que pretende certificar a
existência de fatos cuja certeza, segundo a lei, somente seria possível a partir de conhecimentos específicos.
Por isso, deverá ser produzida por pessoas devidamente habilitadas, sendo o reconhecimento desta
habilitação feito normalmente na própria lei, que cuida das profissões e atividades regulamentadas,
fiscalizadas por órgãos regionais e nacionais”. Lembra que, normalmente, “o próprio Poder Público tem em
seus quadros de carreiras os peritos judiciais, responsáveis pela realização das perícias solicitadas pela
jurisdição penal. São os chamados peritos oficiais” (Pacelli, 2018).

As definições sobre perícia, basicamente, vão nesse sentido e, em relação a elas, assim pondera GUILHERME
MADEIRA:

Estas lições sobre prova pericial possuem valor relativo hoje, pois, diante da tecnologia,
precisamos repensar o conceito. Pensemos, por exemplo, no caso do teste do bafômetro. Trata-
se de um aparelho que pode ser manuseado por qualquer pessoa e cujos resultados podem ser
lidos por qualquer pessoa. No entanto, o aparelho analisa a questão toda da alcoolemia e emite
os resultados. Podemos tratar o bafômetro como prova pericial? O fato de não precisar de
nenhum conhecimento técnico específico afasta sua natureza jurídica de prova pericial? Não há
resposta segura para este tema. No entanto, tendemos a achar que o bafômetro é sim prova
pericial porque esse equipamento realiza a análise técnica, cabendo ao seu usuário avaliar as
conclusões dessa pesquisa (Dezem, 2018).

Como vimos há pouco, nos termos do artigo 464 do Código de Processo Civil, “a prova pericial consiste em
exame, vistoria ou avaliação”. Estamos tratando, neste tópico, de definição e terminologia, donde
importante o seguinte apontamento:

Não há uniformidade, na doutrina, quanto ao significado dos vocábulos exame e vistoria.


FREDERICO MARQUES, por exemplo, afirma que exame é a inspeção realizada por perito para
cientificar-se da existência de algum fato ou circunstância que interesse à solução do litígio,
podendo incidir sobre móveis, semoventes, livros comerciais, documentos e papéis em geral e
pessoas. Já a vistoria – segundo esse processualista – é a perícia que recai sobre bem imóvel.
Para MONIZ DE ARAGÃO, embora a palavra “exame” possa significar a própria prova pericial ou
determinada atividade pericial (como a prova realizada sobre documentos), o exame também
pode incidir sobre bem imóvel (e ele aludia ao art. 976, CPC/1973, em abono à sua ideia). A
“vistoria” seria “vocábulo destinado a indicar a atividade de quem vê; por isso, é reservada para
denominar a observação pelo perito de coisas, móveis ou imóveis”. Essa discordância é reflexo
do Código de Processo Civil utilizar inadequada e irrefletidamente tais vocábulos em suas
normas. Perceba-se que não há base para distinguir os dois vocábulos supondo o seu objeto e
afirmando, sem nenhuma base normativa, que a vistoria recai sobre imóvel e o exame não.
Também não procede, para o efeito da pretendida diferenciação, afirmar que a vistoria é a
atividade de quem vê, pois no exame ocorre o mesmo: aquele que vê e relata algo – seja na
forma oral ou por escrito – realiza exame ou vistoria. Como o CPC utiliza, sem significação precisa,
as duas expressões, é melhor requerer simplesmente prova pericial, precisando-se o objeto

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sobre o qual deve recair e a sua finalidade. Por fim, cabe dizer que a “avaliação” tem o objetivo
de estabelecer o valor de determinada coisa – obrigação, direito, serviço – corpórea ou
incorpórea, embora possa ser denominada, ainda, de “arbitramento” (Marinoni, et al., 2015).

3 - CORPO DE DELITO
O Código de Processo Penal trata das perícias em geral e do exame do corpo de delito, conjuntamente, no
Capítulo II do Título VII. Precisamos, então, distinguir para não fazer confusão.

Corpo de delito é “o conjunto de vestígios materiais deixados pelo crime”.

A expressão é de FARINÁCIO que distinguia a alma do delito (anima delicti), que é a malícia ou a
negligência do agente, e o corpo de delito (corpus delicti), que é a materialidade do crime, aquilo
que se vê, ouve, palpa, sente, aquilo que cai sob os sentidos; instrumentos e produto do crime,
marcas, impressões, pegadas etc. O cadáver no crime de homicídio, o cheque, no de emissão de
cheque sem fundos; a carta injuriosa, no de injúria por meio epistolar; a ferida, no de lesão
corporal etc. Os crimes que deixam vestígios são facta permanentes; os que não deixam, facta
transeuntes (Tornaghi, 1997).

MALATESTA já explicava que corpo de delito significa a exteriorização material, a aparição física (ou figura
física) que se liga imediatamente à consumação do delito; seria “o corpo da entidade jurídica que se chama
delito”; a materialidade permanente imediatamente ligada à consumação criminosa. Assim concluiu o
mestre:

[...] o corpo de delito, segundo nós, baseia-se nos meios materiais imediatos e nos efeitos
materiais imediatos da consumação do delito, enquanto permanentes, quer acidentalmente,
quer por razões inerentes à essência de fato do delito [...]. Tomemos, por exemplo, um meio não
imediatamente ligado à consumação do delito; tomemos um fato puramente preparatório. Tício,
querendo lançar-se inesperadamente sobre o inimigo e feri-lo. Tendo-se postado de vigia sobre
o patamar de uma escada, ou numa esquina, receando a luz de uma lâmpada, quebra-a para
apagá-la; o inimigo passa, e Tício fere-o na escuridão. Aquela lâmpada quebrada, que foi um meio
material para a consumação do crime, será, em certos casos, uma prova indiciária, submetida à
direta percepção do juiz; mas não lhe ocorrerá por certo à mente considerá-la corpo de delito,
pois em tal meio não é causalidade imediata da consumação do crime. Tomemos agora um efeito
material, não imediatamente conjugado à consumação do delito. Tício, depois de ter cometido
um crime, ao afastar-se do local, sente-se perseguido: foge e cai-lhe o chapéu, que fica, assim,
nas mãos do perseguidor. Será este chapéu, que caiu e foi apanhado, um corpo de delito? De
modo algum, ele não é um efeito imediato da consumação do crime, e só pode, nos casos
adequados, ser prova material indiciária, nada mais. A prova material permanente, como
qualquer outra espécie formal de prova, pode ser direta ou indiciária: a direta é sempre corpo
do delito, pois consiste sempre em uma materialidade que delineia a figura física do delito; a
indiciária, ao contrário, abrange muitos atos não compreendidos pelo corpo de delito (Malatesta,
2004).

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Na lição de JOÃO MENDES JÚNIOR, “o corpo do delito é o conjunto de elementos sensíveis do fato criminoso”
(Nucci, 2018), de modo que formar o corpo de delito nada mais é que “a recomposição dos elementos
sensíveis do crime, isto é, daqueles elementos materiais ou físicos de um delito que podem afetar os
sentidos” (Marques, 1997).

Corpo é toda a substância formada de elementos sensíveis, ou melhor, de partes elementares


dispostas e conjuntas. Elementos sensíveis são aqueles princípios produtores que podem afetar
os sentidos, isto é, que podem ser percebidos ou pela vista, ou pelo ouvido, ou pelo tato, ou pelo
gosto, ou pelo olfato. São chamados também elementos materiais ou físicos não só por sua
natureza, como porque constituem a força física ou resultam do movimento da força física”
(Nucci, 2018).

Conforme FREDERICO MARQUES:

Compõe, portanto, nesse conceito histórico e tradicional do instituto, os elementos do corpus


criminis e o corpus instrumentorum. Tríplice, assim, é o seu conteúdo, como bem se exprime
FLORIAN, visto que abrange: a) os sinais da atividade do delinquente; b) o resultado ou produto
da infração; c) o corpus instrumentorum, ou meios empregados pelo delinquente. Nesse sentido
foi que a expressão corpo de delito entrou na legislação pátria desde o tempo das velhas
Ordenações do Reino e por meio das leis processuais do Império. Os Códigos e leis estaduais de
processo penal permaneceram fieis a essa nomenclatura, a qual, a depois, foi mantida pelo
vigente Código de Processo Penal (Marques, 1997).

Assim define e exemplifica RENATO BRASILEIRO:

Corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais ou sensíveis deixados pela infração penal.
A palavra corpo não significa necessariamente o corpo de uma pessoa. Significa sim o conjunto
de vestígios sensíveis que o delito deixa para trás, estando seu conceito ligado à própria
materialidade do crime. Exemplificando, suponha-se que haja um delito de latrocínio no interior
de um apartamento. Nessa hipótese, o corpo de delito não se resume ao cadáver, abrangendo
também todos os vestígios perceptíveis pelos sentidos humanos, tais como eventuais marcas de
sangue deixadas no chão, a arma de fogo utilizada para a prática do delito, eventuais sinais de
arrombamento da porta do apartamento, etc. (Lima, 2018).

Essa ligação com a materialidade já era referida por alguns autores, como por exemplo GUILHERME DE SOUZA
NUCCI, este que chega a afirmar que “corpo de delito é a prova da existência do crime (materialidade do
delito)” (Nucci, 2018).

Em arremate, a precisa lição de HÉLIO TORNAGHI:

Resumindo, chama-se corpo de delito tudo quanto pode ser usado como prova material do
crime: o objeto físico da ação criminosa (p. ex., o corpo lesado), os instrumentos do crime, o
produto da infração, os efeitos que caem sob os sentidos, isto é, podem ser vistos, ouvidos,
tocados, cheirados, degustados. LOSCHIAVO (‘Corpo del reato, in’ Nuovo Digesto Italiano)
considera corpo de delito: os instrumentos do crime; as coisas e pessoas ligadas a ele; os
eventuais vestígios por ele deixados; os fatos materiais permanentes que identificam a

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prossecução do elemento criminoso (sic); as coisas cujo fabrico, alienação, uso, detenção ou
parte constituem fato ilícito: o proveito material do crime. A corpo de delito se caracteriza por
sua natureza e por sua utilidade. Quanto à primeira, pelo fato de pertencer ao mundo físico;
quanto à segunda, pela circunstância de ser utilizável prova do crime. Distingue-se da
responsabilidade que pertence ao mundo psíquico e que poderia ser chamada a alma do delito,
tal como fazia FARINÁCIO. MALATESTA, em geral prolixo e difuso, apresenta, neste caso, um conceito
sucinto e preciso: “corpo de delito é tudo que apresenta a exteriorização material e a aparência
física do delito”. Ele está nos meios materiais empregados e nos efeitos físicos produzidos, isto
é, nas transformações do mundo exterior. Mas observe-se, nem toda prova material é corpo de
delito, e sim apenas o que está ligado à execução do crime. A nota fiscal da compra de um
revólver pode, somada a outras provas, servir de elemento de convicção. Mas ela se refere a um
ato preparatório, e não ao delito em si; logo, não é corpo de delito. O mesmo se diga de tudo
quanto está ligado à preparação do crime. Bem assim, não é corpo de delito o vestígio material
de fatos posteriores ao crime. O cofre em que o autor do furto esconde as jóias subtraídas pode,
eventualmente, servir ao juiz para formar seu convencimento. Será prova material, não corpo de
delito (Tornaghi, 1997).

Convém destacar que com o advento do Pacote Anticrime, ao disciplinar toda a cadeia de custódia, o próprio
CPP passou a conceituar o que seja vestígio:

Art. 158-A § 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou
recolhido, que se relaciona à infração penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Repare então que, grosso modo, o conjunto desses vestígios é que, para a doutrina majoritária, constitui o
corpo de delito.

4 - EXAME DE CORPO DE DELITO


Assimilado o conceito de ‘corpo de delito’, cumpre destacar que o exame de corpo de delito nada mais é que
uma perícia, a principal, a mais importante de todas as perícias, realizada sobre todos e cada um dos vestígios
materiais deixados pelo crime.

Como dizia FREDERICO MARQUES: “é o meio ou instrumento de verificação do corpus delicti, e o termo com que
se documenta, devidamente, a investigação para esse fim levada a efeito” (Marques, 1997).

É a “verificação da prova da existência do crime, feita por peritos, diretamente, ou por intermédio de outras
evidências, quando os vestígios, ainda que materiais, desapareceram”. NUCCI, ainda, conceitua vestígio como
“o rastro, a pista ou o indício deixado por algo ou alguém. Há delitos que deixam sinais aparentes da sua
prática, como ocorre com o homicídio, uma vez que se pode visualizar o cadáver. Outros delitos não os
deixam, tal como ocorre com o crime de ameaça, quando feita oralmente”.

Os vestígios podem ser materiais ou imateriais. Materiais são os vestígios que os sentidos acusam
(ex.: a constatação do aborto pela visualização do feto expulso e morto). Imateriais são aqueles
que se perdem tão logo a conduta criminosa finde, pois não mais captáveis, nem passíveis de
registro pelos sentidos humanos (ex.: a injúria verbal proferida) (Nucci, 2018).

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Vale o apontamento de que essa classificação doutrinária de vestígios ‘imateriais’ atualmente estaria
superada; o conceito legal de vestígio constante do art. 158-A § 3º do CPP (introduzido pela Lei 13.964/2019),
ao falar de “objeto ou material bruto, visível ou latente”, não é compatível com essa definição.

O exame de corpo de delito é “a perícia destinada à


comprovação da materialidade das infrações que deixam
vestígios (v.g., homicídio, lesões corporais, furto qualificado
material pelo arrombamento, dano etc.). A própria nomenclatura
idade utilizada – “corpo de delito” – sugere o objetivo dessa perícia:
exame
de corpo corporificar o resultado da infração penal, de forma a
de delito documentar o vestígio, perpetuando-o como parte do
vestígio
processo criminal” (Avena, 2017).

NORBERTO AVENA pontua, ainda, a impropriedade de se falar em


exame de corpo de delito ou mesmo em materialidade nos casos de crimes que não deixam vestígios:

Assim, não se pode falar em exame de corpo de delito quando ausente um vestígio em
consequência da prática delituosa. Nestes casos, imprópria até mesmo a referência a expressão
materialidade do crime, que é própria das infrações das quais decorrem um resultado perceptível
pelos sentidos. Uma injúria verbal proferida diretamente à vítima, por exemplo, não possui
materialidade a ser comprovada, pois não deixa um vestígio perceptível. Neste caso, o que
deverá ser demonstrado pelo querelante por ocasião do oferecimento da queixa será a existência
do crime, mas não a sua materialidade. Já no caso do homicídio, a situação difere, pois há, como
resultado do crime, um cadáver, que se constitui o vestígio deixado pelo crime. Então, no
homicídio, haverá materialidade. Tal distinção, aliás, decorre da exegese do art. 158 do CPP,
dispondo que, “quando a infração deixar vestígios, será imprescindível o exame de corpo de
delito, direto ou indireto...” (Avena, 2017).

Quem nos traz uma síntese bastante direta e objetiva em relação a institutos correlatos (todavia distintos)
são DENILSON FEITOZA e GUILHERME MADEIRA, este baseado na lição de ROGÉRIO LAURIA TUCCI, conforme
consolidamos na sequência:

Não raro são feitas confusões entre os termos corpo de delito, exame de corpo de delito, laudo
de exame de corpo de delito e perícias em geral. Para que melhor se compreenda o tema ora em
estudo, há necessidade de esclarecimento desta terminologia. Assim, temos:

a) Corpo de delito: “corresponde ao conjunto de elementos físicos, materiais, contidos,


explicitamente, na definição do crime, isto é, no modelo legal” (Dezem, 2018). É o conjunto de
vestígios materiais e sensíveis deixados pela infração penal. O vocábulo corpo, nessa expressão,
significa conjunto, e não especificamente o corpo de uma pessoa. Suponhamos que, com a
intenção de matar, uma pessoa entre em luta corporal com a vítima, num bar. Durante a luta,
dois copos e uma garrafa são quebrados, uma cadeira é danificada, a parede é suja de sangue, a
faca ensanguentada cai em cima de uma mesa e, por fim, a vítima cai morta no chão. O corpo de
delito é o conjunto de todos esses vestígios sensíveis, ou seja, perceptíveis pelos sentidos
humanos, que foram deixados pela prática da infração penal (crime de homicídio doloso).

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Portanto, os dois copos e a garrafa quebrados, a cadeira danificada, o sangue na parede, a faca
ensanguentada e o cadáver da vítima são o corpo de delito (Feitoza, 2008).

b) Exame de corpo de delito: é a verificação levada a cabo pelos peritos acerca dos vestígios da
infração penal (Dezem, 2018). É a análise que o perito faz nos vestígios materiais ou sensíveis,
deixados pela infração penal (Feitoza, 2008).

c) Laudo de exame de corpo de delito: é a peça que materializa o trabalho do perito (Dezem,
2018). É a peça técnica em que o perito descreve os vestígios materiais da infração penal que
foram analisados e expressa suas conclusões técnicas (Feitoza, 2008).

d) Perícias em geral: correspondem às demais verificações técnicas feitas pelos peritos quando
não se referirem ao corpo de delito (Dezem, 2018).

Estas definições acabam por se apresentar de maneira mais clara e evidente quando se analisa
outra passagem da obra de TUCCI em que afirma que “O vocábulo exame parece-nos
corretamente empregado, por isso que não há confundir corpus delicti – conjunto dos elementos
físicos ou materiais, principais ou acessórios, permanentes ou temporários, que corporificam a
prática criminosa – com a sua verificação existencial, mediante atividade judicial de natureza
probatória e cautelar, numa persecução penal em desenvolvimento. Configura ele, com efeito,
uma das espécies de prova pericial consistente na colheita, por pessoa especializada, de
elementos instrutórios sobre fato cuja percepção dependa de conhecimento de ordem técnica
ou científica...”.

Desta forma, evidenciada está toda a diferença: o corpo de delito refere-se à materialidade da
infração penal, ou seja, ao conjunto de vestígios deixados pela infração penal. Este corpo de
delito é verificado por uma espécie de perícia, chamada exame de corpo de delito. Todas as
demais atividades técnicas que não se refiram ao corpo de delito são reconhecidas pelo Código
de Processo Penal, em geral, com o termo perícia (Dezem, 2018).

FEITOZA, com propriedade, ainda esclarece e exemplifica:

O corpo de delito pode sofrer vários exames periciais por peritos diferentes. Os laudos
produzidos serão laudos de exame de corpo de delito. Todavia, por costume, esses laudos
recebem nomes diferentes e, inclusive, um mesmo tipo de exame pode receber nomes diversos
conforme a polícia que o faça. Exemplificativamente, um ou dois peritos criminais vão ao local
do fato e examinam todos aqueles vestígios do exemplo dado, a partir do que elaboram um laudo
de exame de local de morte violenta, que nada mais é do que um laudo de exame de corpo de
delito. O cadáver da vítima é recolhido e levado aos médicos-legistas, os quais o examinam,
afirmam que a vítima está morta, concluem qual a causa mortis e elaboram o laudo de exame
cadavérico, também um laudo de exame de corpo de delito. A faca ensanguentada pode ser
enviada a outros peritos criminais diferentes, para determinarem algum aspecto relevante dela,
com o que será produzido outro laudo de exame de corpo de delito e assim por diante.

Na hipótese de homicídios dolosos, normalmente, os dois primeiros laudos referidos são


elaborados. Entretanto, popularmente, é comum as pessoas leigas pensarem que exame de

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corpo de delito é somente aquele feito para constatar lesões corporais e que laudo de exame de
corpo de delito é o respectivo laudo pericial. Há mesmo quem pense que corpo de delito seja
apenas o cadáver da vítima! Nada impediria que todos os laudos fossem denominados pelos
peritos laudos de exame de corpo de delito, complementando com a espécie, por exemplo laudo
de exame de corpo de delito (cadavérico), laudo de exame de corpo de delito (estupro), laudo de
exame de corpo de delito (lesões corporais) etc. Há vários exames periciais que não são exame
de corpo de delito. Por exemplo, os exames de identidade de pessoas não o são, pois a identidade
de alguém não é vestígio deixado pela infração penal. Tampouco os exames para constatação da
idade do acusado, pois a idade de alguém também não é vestígio da prática da infração penal.
Normalmente, os exames de sanidade mental também não, pois a saúde ou indenidade mental
de alguém não é, normalmente, vestígio deixado pela infração penal, salvo, obviamente, por
exemplo, se a doença mental da vítima for resultante de crime de lesão corporal.

O art. 6º, VII, do CPP se refere a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias. O art.
159, caput, do CPP também menciona os exames de corpo de delito e as outras perícias. Numa
interpretação gramatical, existe a perícia exame de corpo de delito e as outras perícias. Portanto,
depreende-se desses dispositivos legais que, na sistemática do CPP, os exames de corpo de delito
também são perícias e, assim, devem ser realizados por peritos. Todavia, com fundamento nos
arts. 167 do CPP e 328, parágrafo único, do CPPM, temos que apenas o exame de corpo de delito
direto é uma perícia (ou exame pericial), enquanto o exame de corpo de delito indireto pode ser
um exame pericial (prova pericial) ou exame judicial (análise do juiz sobre outras provas, como
prova testemunhal ou documental) (Feitoza, 2008).

A constatação, portanto, de que o corpo de delito pode sofrer vários exames periciais e que as perícias que
se realizam sobre o corpo de delito não são as únicas (embora, normalmente, as mais importantes), na
medida em que outros exames podem ocorrer numa persecução penal é extraída, inclusive, de artigos do
Código de Processo Penal:

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias;

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.

Além da prova pericial realizada, direta ou indiretamente, sobre o corpo de delito, como ocorre
para a comprovação do óbito, da falsidade documental, que demonstram a existência da
materialidade do delito, há outras que também se revelam necessárias para o esclarecimento de
questões igualmente relevantes. Essas são as perícias realizadas para a demonstração de
circunstâncias do crime (modo, tempo de execução etc.), que, inclusive, poderão ser úteis na
identificação da autoria, como ocorre com o exame de balística, bem como de todos aqueles
realizados sobre o instrumento do delito [...] (Pacelli, 2018).

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BRASILEIRO exemplifica e acrescenta:

A depender do caso concreto, um mesmo corpo de delito pode ser submetido a vários exames
periciais. Usando o mesmo exemplo citado acima, um perito oficial deverá comparecer ao
apartamento em que o crime de latrocínio foi cometido, elaborando um laudo de exame de local
de morte violenta. O cadáver da vítima será encaminhado aos médicos-legistas, os quais, após
examiná-lo, elaborarão um laudo cadavérico, apontando qual teria sido a causa mortis. A arma
de fogo apreendida no local do delito será submetida a exame pericial, a fim de se comprovar se
teriam partido dela os disparos de arma de fogo, aferindo, ademais, sua potencialidade lesiva.
Não se trata, o exame de corpo de delito, de uma prova hierarquicamente superior às demais.
Na verdade, diante do reconhecimento da incapacidade de determinados meios nominados de
prova para gerar um juízo de convicção mais seguro em relação a fatos específicos, torna-se
necessário recorrer à prova técnica para a comprovação da existência de determinado elemento
do delito. É o que ocorre, a título de exemplo,1com a identificação de uma arcada dentária. Caso
não fosse determinada a realização de exame pericial, subsistiria a dúvida quanto à identidade
da pessoa, sendo inviável que o juiz suprisse a ausência do exame pericial com base em seus
conhecimentos jurídicos. Em regra, o exame pericial pode ser determinado tanto pela autoridade
policial quanto pelas autoridades judiciária e ministerial. De acordo com o art. 6º, incisos I e VII,
do CPP, logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá
dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas,
até a chegada dos peritos criminais, devendo, ademais, determinar, se for o caso, que se proceda
a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias. Importante ressalva deve ser feita
quanto ao exame de sanidade mental, cuja determinação só pode ser feita pela autoridade
judiciária. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de
ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente,
descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal (CPP, art.
149, caput). O exame também poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante
representação da autoridade policial ao juiz competente (CPP, art. 149, § 1º) (Lima, 2018).

Embora as autoridades da persecução penal (delegado, promotor e juiz) possam determinar a realização do
exame pericial, não poderão interferir na conclusão dos peritos, estes que têm autonomia, nos termos da
lei:

Lei 12.030/2009. Art. 2º No exercício da atividade de perícia oficial de natureza criminal, é


assegurado autonomia técnica, científica e funcional, exigido concurso público, com formação
acadêmica específica, para o provimento do cargo de perito oficial.

Lei 9.266/1996. Art. 2º-D. Os ocupantes do cargo de Perito Criminal Federal são responsáveis
pela direção das atividades periciais do órgão.

Parágrafo único. É assegurada aos ocupantes do cargo de Perito Criminal Federal autonomia
técnica e científica no exercício de suas atividades periciais, e o ingresso no cargo far-se-á
mediante concurso público de provas e títulos, exigida formação superior e específica.

Segundo o CPP, não existe restrição de horário para realização do exame de corpo de delito e, além disso,
não há obrigatoriedade para as demais perícias:

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Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a
perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

É razoável a não imposição de horário. A “necessidade da verificação feita pelos peritos é que deve impor os
limites para a concretização do exame. É possível que uma necropsia precise ser feita durante um feriado ou
na madrugada para que o cadáver possa ser logo liberado para as cerimônias funerais, incomodando o
mínimo possível a família da vítima” (Nucci, 2018).

Vale a referência de que a Lei 13.721/2018 (que acrescentou um parágrafo único ao art. 158 do CPP)
estabeleceu prioridade do exame de corpo de delito em relação a determinadas infrações:

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização


3 do exame de corpo de delito quando se tratar
de crime que envolva:

I - violência doméstica e familiar contra mulher;

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Doutrina complementar

NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017): “Por exame
de corpo de delito compreende-se a perícia destinada à comprovação da materialidade da infração que
deixa vestígio (v.g., homicídio, lesões corporais, dano etc.). Tal conceituação decorre da exegese do art. 158
do Código de Processo Penal, dispondo que, quando a infração deixar vestígios, será imprescindível o
exame de corpo de delito, direto ou indireto”.
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “1) Direto — é o que se realiza por meio da análise, pelos peritos, do próprio corpo de delito, sem
qualquer intermediação. 2) Indireto — é o realizado sobre dados ou vestígios paralelos (ficha clínica de
atendimento hospitalar, imagens de câmera de vigilância, fotografias etc.). Na hipótese em que o perito
examina o cadáver, constatando a ocorrência da morte e as causas que a determinaram, o exame é dito
direto. Já quando o perito, ante a impossibilidade de estudo do cadáver (por ocultação ou destruição, por
exemplo), analisa imagens que registram o momento em que a vítima é decapitada, fala-se em exame
indireto”.
AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018) ao tratar sobre os exames direto
e indireto, faz importantes observações: “Diz-se que o exame de corpo de delito é direto quando a análise
recai diretamente sobre o objeto, ou seja, quando se estabelece uma relação imediata entre o perito e
aquilo que está sendo periciado. O conhecimento é dado sem intermediações entre o perito e o conjunto
de vestígios deixado pelo crime. Essa é a regra: a materialidade (existência) dos crimes que deixam
vestígios deve ser comprovada através de exame de corpo de delito direto. Mas, em situações
excepcionais, em que o exame de corpo de delito direto é impossível de ser feito porque desapareceram
os vestígios do crime, o art. 167 do CPP admite o chamado exame indireto. O exame de corpo de delito
indireto é uma exceção excepcionalíssima, admitido quando os vestígios desapareceram e a prova
testemunhal vai suprir a falta do exame direto. Mas não só ela; também pode haver a comprovação
indireta através de filmagens, fotografias, gravações de áudio etc. A rigor, o exame indireto deveria
corresponder à perícia feita pelos técnicos a partir de outros elementos que não o corpo de delito, tais
como depoimento de testemunhas, fotografias, filmagens etc. Seria um laudo emitido a partir dessas
informações. Isso é, tecnicamente, o exame indireto. Ocorre que, na prática forense, isso não é observado,
e o chamado exame indireto acaba sendo a produção de outras provas (testemunhal, fotografias etc.) para

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suprir a falta do exame direto. Ou seja, o chamado exame indireto não é, tecnicamente, um exame
indireto, senão o suprimento da falta de exame direto por outros meios de prova. Trata-se de se admitir
que a materialidade de um delito seja demonstrada de outra forma”.
GUSTAVO BADARÓ. (Processo Penal, 8ª ed., São Paulo: RT, 2020). “Há divergência sobre o que seria o exame
de corpo de delito indireto. Uma corrente entende que o exame de corpo de delito indireto é um exame
que não é realizado sobre o corpus criminis, mas sim com base em testemunhos e outros elementos.
Outra corrente entende que o exame de corpo de delito indireto é a própria prova testemunhal sobre a
materialidade delitiva. Para análise da divergência é preciso distinguir duas situações. Mesmo quando os
vestígios desaparecem, é possível que os peritos, com base em seus conhecimentos técnicos, científicos
ou artísticos, opinem à vista dos elementos que disponham, por exemplo, depoimentos, filmes,
fotografias, objetos encontrados etc. Haveria, neste caso, um exame de corpo de delito indireto. De outro
lado, é possível que não haja qualquer outro vestígio e somente testemunhas comprovem a materialidade
do crime (CPP, art. 167). Neste caso, não haverá laudo indireto nem opinião dos peritos. A prova será,
apenas, testemunhal. Não se pode confundir, portanto, o depoimento de testemunhas como um dos
dados considerados pelos peritos para a realização do exame de corpo de delito indireto, com a prova
testemunhal propriamente dita, que, no caso da impossibilidade do exame de corpo de delito, direto ou
2 Como adverte Tornaghi: “(...) o exame indireto não
indireto, é apta a comprovar a materialidade delitiva.
se confunde com o mero depoimento de testemunhas, o qual pode suprir o exame de corpo de delito
(CPP, art. 167). Nele, no exame indireto, há sempre um juízo de valor feito pelos peritos. Uma coisa é
afirmarem as testemunhas que viram tais ou quais sintomas, e outra é os peritos concluírem daí que a
causa mortis foi essa ou aquela”. O legislador não confundiu exame de corpo de delito indireto (CPP, art.
158) com prova testemunhal para suprir o exame de corpo de delito (CPP, art. 167). O art. 158 trata do
gênero e das espécies: “o exame de corpo de delito, direto ou indireto”. Já o art. 167 faz menção apenas
ao gênero, sem distinguir as espécies: “não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”. E, onde o legislador não
distingue, não cabe ao intérprete distinguir. Ora, se a intenção do legislador fosse que a prova
testemunhal pudesse suprir o exame de corpo de delito direto, teria dito expressamente: “não sendo
possível o exame de corpo de delito direto, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”. Não é isto que
está na lei”.

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “Nessa ótica,
seguimos uma ordem de predileção na tentativa de demonstração da materialidade. Primeiro, e ideal, é
a realização do exame direto, que deve ser o mais próximo do acontecimento, sem delongas, para que os
vestígios não desapareçam. Tanto é verdade que ele pode ser realizado a qualquer hora do dia ou da noite
(art. 161, CPP). Não sendo possível, será realizado o exame indireto, com atuação dos peritos, que
elaborarão o respectivo laudo através das percepções extraídas dos elementos acessórios investigados.
Na impossibilidade de ambos, a prova testemunhal supre a omissão. Assumimos aqui a orientação de que
exame de corpo de delito, seja o direto ou o indireto, contará com a atuação dos peritos e com a confecção
de laudo. Esta é também a posição de Guilherme Nucci, dentre outros. A matéria, entretanto, não é
pacífica. Tem prevalecido o entendimento de que o exame indireto careceria de qualquer rigor formal,
dispensando a elaboração de laudo e figurando, em alguns casos, como sinônimo de oitiva da prova
testemunhal. [...] A propósito, Espínola Filho assim se manifesta: ‘nem há qualquer formalidade para
constituição desse corpo de delito indireto; não se lavra termo algum; inquirindo a testemunha, o juiz
perguntará sobre a materialidade do fato, como sobre as demais circunstâncias, e a palavra de uma única
testemunha bastará para firmar o convencimento do julgador, de acordo com o princípio da livre
apreciação’. Essa também a posição de Tourinho Filho, do STF e do STJ, sagrando-se prevalente”.

5 - LAUDO PERICIAL
Assim prescreve o Código de Processo Penal:

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Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos formulados.

Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este
prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.

O laudo pericial é a manifestação que normalmente encerra o trabalho do perito, contendo a sua declaração
técnica a respeito dos fatos e pontos examinados. É o documento que traduz o exame pericial realizado,
formalizando-o.

Subdivide-se em 4 (quatro) partes: a) preâmbulo: qualificação do perito oficial ou dos peritos


não-oficiais e do objeto da perícia; b) exposição: narrativa de tudo que é observado pelos experts;
c) fundamentação: motivos que levaram os experts à conclusão final; d) conclusão técnica:
resposta aos quesitos (Lima, 2018). 7

5.1 - Oportunidade para a juntada do laudo pericial

Não há um momento certo e definido pela lei para que o laudo pericial seja apresentado/juntado no
procedimento. A própria denúncia, de regra, pode ser recebida sem ele e isso constantemente acontece,
principalmente nos procedimentos com réus presos, que devem tramitar mais rapidamente.

Recomenda-se, claro, que a juntada do laudo ocorra o quanto antes, inclusive para efeito de contraditório,
lembrando que é na fase de investigação que normalmente se realiza e se colhe a prova pericial, tendo em
conta que os vestígios da infração penal tendem a desaparecer ao longo do tempo. Em outras palavras: as
autoridades não podem aguardar a fase processual para somente então determinar a realização das perícias
necessárias, sob pena de completo esvaziamento de sua utilidade e eficácia em muitos casos.

Independentemente da ausência de oportunidade específica fixada em lei, “qualquer que seja o prazo,
devem os laudos estar prontos antes da realização da audiência, já que o esclarecimento dos respectivos
conteúdos deverá, em regra, ali se realizar. Aliás, as partes devem apresentar os quesitos para resposta com
prazo de, no mínimo, dez dias de antecedência da aludida audiência” (Pacelli, et al., 2018). Essa também é a
opinião de RENATO BRASILEIRO:

Como o acusado deve ter conhecimento de tudo que contra ele foi produzido ou venha a ser
utilizado, a fim de que possa exercer o seu direito de fazer a contraprova, apresentando
elementos probatórios para se contrapor ao trazido aos autos pelo exame pericial, queremos
crer que o laudo pericial deve ser juntado aos autos antes da audiência una de instrução e
julgamento, com antecedência mínima de 10 (dez) dias. Explica-se: o próprio Código de Processo
Penal prevê que, durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia,
requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde
que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em
laudo complementar (CPP, art. 159, § 5º, I). Ora, se a própria lei prevê que o requerimento da
oitiva dos peritos para esclarecerem a prova pericial deve ser feito com antecedência mínima de
10 (dez) dias, é evidente que a parte só poderá considerar a possibilidade de solicitar
esclarecimentos caso já tenha tido ciência do laudo pericial que foi juntado aos autos do

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processo. De todo modo, mesmo que o laudo pericial seja juntado extemporaneamente,
prevalece o entendimento de que se trata de mera nulidade relativa, daí por que imprescindível
a comprovação do prejuízo (Lima, 2018).

Duas exceções legais exigem a feitura do laudo antecipadamente, uma da Lei de Drogas e outra em relação
aos crimes contra a propriedade imaterial (produtos ‘piratas’):

Lei 11.343/2006. Art. 50 § 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e


estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.

CPP. Art. 525. No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será
recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.
2
5.2 - Contraditório em relação ao laudo pericial

Como pontuamos antes, normalmente os exames periciais são realizados em fase de investigação, para que
não desapareçam os vestígios e não se perca o objeto do exame1. Há necessidade empírica para isso e por
essa razão temos os comandos dos incisos I e VII do art. 6º do CPP.

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas,
até a chegada dos peritos criminais; [...]

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias;

Importante notar que nessa fase embrionária da persecução penal não se tem processo, não se tem
advogado, não se tem acusado e, muitas das vezes, não há sequer suspeito. Impraticável, portanto,
implementar um contraditório pleno e antecipado. A maneira pela qual a lei compatibilizou o contraditório
(que se será diferido) consta do art. 159 do CPP:

§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: [...]

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos,
desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em
laudo complementar;

1
A propósito, é já na preservação do local de crime que se inicia a cadeia de custódia, nos termos do art. 158-A, § 1º do CPP.

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II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz
ou ser inquiridos em audiência.

§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será
disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de
perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.

Sobre essa questão do contraditório na perícia, vejamos a lição de PACELLI & FISCHER:

Embora não se possa, com ela, sustentar a possibilidade de contraditório e ampla defesa já na
fase de investigação, cumpre observar que a faculdade de apresentação de laudo técnico pelas
partes, sobretudo pela defesa, amplia sobremaneira o horizonte de prova, e, assim, o de
convencimento judicial, acerca dos conhecimentos específicos. Uma coisa é questionar o laudo
oficial no âmbito das argumentações genéricas f da defesa. Outra, muito diferente, é poder
apresentar quesitação para ser respondida pelos peritos, acompanhada de laudo técnico em
sentido diverso. Portanto, ainda que não seja possível o acompanhamento – em tempo real – da
perícia oficial, a possibilidade de indicação de assistente (perito) técnico e de quesitação para
respostas em audiência ou em laudo complementar consolida a perspectiva dialética no
processo, permitindo um mais amplo exercício do contraditório (Pacelli, et al., 2018).

Um breve apontamento: o Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019) introduziu, dentre as atribuições do juiz das
garantias, “deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia” (inc.
XVI, art. 3ºB do CPP). Como se sabe, essa disposição (assim como outras relativas ao juiz das garantias) está
com a eficácia suspensa por liminar do Min. LUIZ FUX. Se e quando tiver aplicação, não se descarta a mudança
na compreensão, para dela extrair a prerrogativa de acompanhamento dos trabalhos dos peritos, em um
contraditório técnico atual mediante assistentes técnicos.

Ponderam os mesmos autores, ainda, sobre os quesitos a serem apresentados:

Os quesitos devem ser apresentados no prazo de até dez dias antes da realização da audiência.
De outro lado, não se pode impor às partes o cumprimento da expedição de mandado de
intimação no mesmo prazo. À parte cabe a indicação e a apresentação de quesitos; à
administração da justiça, a formalização das pretensões. Pensamos, então, que, não obstante a
Lei (art. 159, § 5º, CPP) dispor ser permitido às partes, durante o curso do processo, apresentar
quesitos aos peritos, sem apontar nenhum momento específico, a produção de tais diligências
deve ser apresentada por ocasião da resposta escrita (art. 396-A, CPP), oportunidade em que se
esclarece a atividade probatória que se pretende exercer. Obviamente, pressuposto de validade
do que vem de se afirmar é a existência do laudo oficial já na fase de investigação. Se, por
qualquer razão (réu preso, por exemplo), o laudo for posterior ao oferecimento da denúncia,
poderá a defesa – e também os demais legitimados – apresentar quesitação em momento
posterior, com a antecedência dos dez dias previstos no art. 159, § 5º, I, CPP. Note-se que
estamos nos referindo a duas questões diferentes: uma coisa é requerer a intimação do perito
para esclarecimentos em audiência ou mesmo por meio de laudo complementar e a indicação
de assistente técnico. A outra é formular os quesitos a serem respondidos. Estes, os quesitos,
devem obedecer ao prazo de antecedência dos dez dias, até porque dependerão do exame
pericial a ser desenvolvido também pelos assistentes técnicos. O meio de prova, no entanto,

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acompanhado da indicação do assistente técnico, deve ser requerido no momento reservado


para a indicação das provas (Pacelli, et al., 2018).

5.3 - Suprimento de falhas

Em caso de problemas nos laudos periciais, é possível a correção ou até mesmo a repetição do exame:

Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou


contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou
esclarecer o laudo.

Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por
outros peritos, se julgar conveniente.
==13272f==

Repita-se aqui o que se disse linhas antes: embora o juiz não se apresente como um expert para
apreciar o laudo pericial, eventuais omissões, obscuridades ou mesmo contradições, podem ser
constatadas a olho nu, isto é, a olho desarmado, até mesmo por pessoa sem os conhecimentos
dos peritos. Nesse campo, o papel dos assistentes técnicos será de suma importância, na medida
em que poderão apontar defeitos nos laudos oficiais, demonstrando ao juiz a incompletude do
laudo, sobretudo quando não esclarecidas as dúvidas em audiência (art. 159, § 5º, I, CPP) (Pacelli,
et al., 2018).

5.4 - Laudos complementares

São aqueles supervenientes, feitos depois do exame principal e normalmente realizados pelos mesmos
peritos, seja para esclarecimentos, seja porque o caso, em si, exige uma análise posterior.

Laudos complementares são aqueles resultantes de perícias realizadas em momento posterior à


perícia principal e que devem ser realizados, se possível, pelos próprios experts que fizeram o
primeiro exame. Duas, basicamente, são as situações que levam o Delegado de Polícia, o juiz e o
próprio Ministério Público a determinarem ou requisitarem essa providência, a saber:

a) Esclarecimento de omissões, obscuridades ou contradições (art. 181 do CPP). Não se trata,


aqui, de posicionamentos divergentes dos peritos, mas de laudo, efetivamente, contraditório em
suas conclusões. Exemplo: Atesta, como causa mortis da pessoa encontrada em um rio,
afogamento por água, ao mesmo tempo em que refere encontrarem-se os pulmões do cadáver
íntegros e secos;

b) Necessidade de aguardar o decurso de certo período de tempo para viabilizar a resposta a


quesitos relevantes na apuração do delito. Exemplos: Exame complementar para a constatação
da efetiva incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias, o que deve ser feito
logo após o decurso desse período (art. 168, caput e §§ 1º e 2º, do CPP); exame complementar
para constatar o caráter permanente de debilidade de órgão, sentido, ou função etc. (Avena,
2017).

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5.5 - Conclusões dos peritos x convencimento judicial

A questão que se coloca é a seguinte: o juiz está vinculado às conclusões das perícias? A
doutrina costuma citar dois sistemas em relação a isso:

1º) sistema vinculatório – como o próprio nome sugere, nesse sistema o juiz fica vinculado,
adstrito àquilo que concluiu a perícia; não há como definir diferente. Essa característica é
inerente à prova tarifada (por nós não adotada);

2º) sistema liberatório – por ele o juiz estaria livre para decidir de forma diversa, não estaria vinculado às
conclusões da perícia.

Ok, mas qual é o sistema adotado pelo Brasil? Citamos dois artigos do Código de Processo Penal para que
cheguemos à resposta:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, [...].

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em
parte.

A persuasão racional ou o livre convencimento motivado, como já vimos, implicam num sistema liberatório
– não há como ser diferente. Conforme vimos, por força do parágrafo único do art. 181, o juiz pode, inclusive,
ordenar que se realize novo exame, se julgar conveniente.

E quando o dispositivo afirma que o juiz poderá ordenar a realização de outro exame, ou mesmo
a complementação daquele já feito, pelos mesmos ou por outros peritos, sempre que julgar
conveniente, reforça-se, ainda mais uma vez, o princípio do livre convencimento quanto à
matéria probatória e à possibilidade de iniciativa probatória do juiz na fase processual, para fins
de esclarecimento de provas indicadas ou produzidas pelas partes. Renove-se também aqui:
constatando o juiz que a defesa técnica do acusado se mostra insuficiente, particularmente em
relação às questões objeto de prova pericial, deve ele, de ofício, determinar a sua produção,
ainda que não requerida pela defesa. A essência constitutiva do processo penal é a ampla defesa!

[...] o juiz, por não se qualificar como expert, não pode arvorar-se em censor dos peritos e dos
assistentes técnicos. No entanto, omissões, obscuridades, contradições e, enfim, quaisquer
dúvidas sobre o acerto das conclusões lançadas no laudo oficial, podem e devem justificar a sua
rejeição, no todo ou em parte. Mas, como o objeto da prova pericial demanda conhecimentos
técnicos para a comprovação de fato ou de circunstância relevante para o julgamento do caso
penal, deverá o juiz determinar a complementação, o esclarecimento ou até mesmo a elaboração
de novo laudo oficial, recorrendo, se necessário, a outros peritos ou profissionais com
conhecimento na matéria (Pacelli, et al., 2018).

MARINONI & ARENHART explicam sobre o valor relativo da prova pericial no processo civil. A essência do
pensamento se aplica integralmente ao processo penal:

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O art. 479 do CPC/2015 (“O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371,
indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as
conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito”) deixa claro que o juiz
não está adstrito a nenhuma prova. A sua convicção deve ser formada a partir do conjunto
probatório. É nesse sentido que o artigo diz que a convicção judicial pode tomar em consideração
a prova pericial e os demais elementos ou fatos provados nos autos. Aliás, nem mesmo é exata
a comparação da prova pericial com os elementos e fatos provados, uma vez que, dessa maneira,
relaciona-se a prova com o seu objeto. Note-se que os fatos são objeto de prova, inclusive de
prova pericial. Ora, se existem fatos provados que nada têm a ver com a prova pericial, tais fatos
devem se colocar ao lado daquele que pode ser demonstrado mediante a perícia. Nessa linha,
ninguém poderia sequer pensar que a prova pericial excluiria os fatos já provados. Deixe-se claro,
porém, que a prova pericial, por ser uma prova técnica e, nesse sentido, objetiva, possui maior
possibilidade de convencer o juiz do que a prova testemunhal.

Portanto, quando a prova pericial não se mostrar esclarecedora, o juiz não deve deixar de pedir
esclarecimentos (ver art. 477) e, se for o caso, determinar uma segunda perícia para corrigir a
primeira (art. 480). Caso o problema tenha relação com a confiança no perito, deverá nomear
outro perito para produzir a segunda perícia (arts. 466 e 468, I). De qualquer forma, embora a
justificativa seja uma consequência natural da livre valoração da prova, e assim algo
imprescindível em toda e qualquer sentença, não há prejuízo em ressaltar a necessidade de o
juiz explicar por que a prova pericial não foi suficiente para esclarecer os fatos e fez com que o
julgamento se apoiasse nas outras provas, ou por que os esclarecimentos solicitados ou a
segunda perícia não puderam suprir as suas imperfeições (Marinoni, et al., 2015).

Doutrina complementar

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “Nada mais é do que o
documento elaborado pelos peritos, o qual deve conter: descrição minuciosa do objeto examinado;
respostas aos quesitos formulados; fotografias, desenhos etc., sempre que possível. Por outro lado, o laudo
pericial pode ainda ser complementado, quando se apresentar lacunoso, deficiente e obscuro, iniciativa
que caberá à autoridade policial ou judiciária, dependendo da fase em que estiver a apuração”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), sobre a apreciação
dos laudos periciais pelo juiz, afirma: “Quanto à apreciação dos laudos periciais, resta-nos saber: pode o
magistrado julgar contrariamente às conclusões periciais? Dois sistemas dão resposta à indagação: o
sistema vinculatório, pelo qual o juiz estaria adstrito às conclusões dos peritos, pois haveria um vínculo
indissociável ao laudo; e, o sistema liberatório, adotado pelo ordenamento pátrio, conferindo liberdade ao
julgador na análise do laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte, afinal, o juiz é livre para
decidir, desde que o faça de forma motivada. Pode até mesmo, como já afirmado, acatar o parecer técnico
do assistente, que é meio de prova, afastando as conclusões do laudo oficial”.
AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), a respeito do contraditório nos
exames periciais, sustenta: “Sob inspiração de SCARANCE FERNANDES, entendemos que assistem às
partes os seguintes direitos em relação à prova pericial: requerer sua produção; apresentar quesitos com
antecedência mínima de 10 dias da realização da perícia; se possível, pela natureza do ato, acompanhar a
colheita de elementos pelos peritos (extração de sangue, vestígios químicos no local etc.); manifestar-se
sobre a prova, podendo requerer nova perícia, sua complementação ou esclarecimento dos peritos;
indicar assistente técnico, que elaborará parecer sobre a perícia realizada; obter uma manifestação do juiz
sobre a prova pericial realizada. Com esses direitos, em relação à prova pericial, efetiva-se o contraditório
e o direito de defesa, havendo cerceamento (e nulidade, portanto) quando injustificadamente lhe for
negado”.

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GUSTAVO BADARÓ (Direito processual penal, 8ª ed., São Paulo: RT, 2020). “Acerca do assistente técnico,
pontua: “No processo penal brasileiro não existia a figura do assistente técnico até a reforma de 2008 do
CPP. Desde então, passou a haver previsão expressa da possibilidade de as partes nomearem assistentes
técnicos (art. 159, § 3º). O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz, segundo a previsão
do § 4º do art. 159. Todavia, merece ser criticada a parte final desse dispositivo, ao prever que o assistente,
mesmo depois de admitido, somente atuará ‘após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos
peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão’. Muitas vezes, para que a atividade do assistente
possa ser eficazmente realizada, deverá ele acompanhar a realização das perícias (por exemplo, as
entrevistas dos psiquiatras com o acusado, no incidente de insanidade mental, o exame do cadáver, no
caso de exumação etc.). A atuação do assistente somente após a realização do laudo do perito oficial,
impedindo-o de examinar diretamente a pessoa ou coisa em relação à qual recai a perícia, em certos casos
será uma restrição demasiadamente intensa, prejudicando a parte a que assiste. O assistente técnico
apresentará um parecer técnico, bem como poderá ser chamado a prestar esclarecimentos orais em
audiência, o que pode ser bastante importante, por exemplo, em um caso de tribunal do júri. O parecer
técnico do assistente poderá reforçar o laudo do perito oficial, mas, muitas vezes, sua finalidade será
analisar criticamente o exame e o respectivo laudo do perito oficial, demonstrando sua inconsistência ou
deficiência. O juiz, por óbvio, não é obrigado a acolher tal parecer, mas, como toda e qualquer prova, não
poderá ser ignorado no momento da sentença. O juiz poderá preferir a perícia oficial, mas terá o dever de
valorar o parecer técnico, em especial, confrontando-o com o laudo do perito oficial, fundamentando as
razões pelas quais deu mais valor a este ou àquele”.

6 - OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO


Eis o que estabelece o Código de Processo Penal, em três normas sobre a questão:

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios,
a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: [...]

III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: [...]

b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art.
167;

FREDERICO MARQUES já concluíra: “da conjugação desses três dispositivos, o que se infere é que o auto ou
exame de corpo de delito deve ser realizado em todo o delito que deixa vestígios, sob pena de nulidade. Por
outra parte, não pode a confissão supri-lo; e, ante a impossibilidade de exame dos vestígios do crime, a prova
testemunhal é a única que o pode suprir” (Marques, 1997).

A partir da conjugação dessas três normas – arts. 158, 564, III, b, e 167 –, constata-se que a regra,
efetivamente, é a obrigatoriedade da perícia como meio hábil à constatação dos sinais visíveis
deixados pela infração penal. Também como regra, a falta dessa perícia importará em nulidade
processual, salvo se motivada no desaparecimento do vestígio, caso em que a prova testemunhal
poderá suprir-lhe a falta. Destarte, afirmações leigas como “sem corpo não há homicídio” restam

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completamente desfiguradas pelo texto legal, nada impedindo venha alguém a ser condenado
pela morte de outrem, mesmo sem ter sido encontrado o cadáver, bastando que se utilize do
permissivo incorporado ao art. 167 do Código (Avena, 2017).

Cabe o apontamento de que não só no caso de ‘desaparecimento’ dos vestígios e não só por ‘prova
testemunhal’, a substituição do laudo pericial tem sido admitida pela jurisprudência. Nesse sentido a tese nº
9 do Jurisprudência em Teses do STJ, edição 111:

9) É necessária a realização do exame de corpo de delito para comprovação da materialidade do


crime quando a conduta deixar vestígios, entretanto, o laudo pericial será substituído por outros
elementos de prova na hipótese em que as evidências tenham desaparecido ou que o lugar se
tenha tornado impróprio ou, ainda, quando as circunstâncias do crime não permitirem a análise
técnica.

A ideia da jurisprudência, flexibilizando o rigor da lei, é basicamente a seguinte: infração deixou vestígios,
obrigatório se torna o exame pericial; vestígios desapareceram ou por alguma razão plausível/justificável o
exame não foi realizado, possível a utilização de outros meios de prova.

TORNAGHI esclarece que a razão de a lei exigir o exame de corpo de delito está na tentativa de evitar erros
judiciários. Fazendo remissão a CARRARA lembra que “a história dos processos criminais oferece dolorosos
testemunhos de que os tribunais, ao esquecer uma regra tão salutar (a da exigência de constatar o corpo de
delito), frequentemente condenaram infelizes, como culpados de haver morto alguém que ainda vivia”.

Para explicar o tema, a doutrina traz uma classificação em relação aos crimes:

• infrações penais transeuntes – aquelas onde há fato transitório, momentâneo ou


passageiro (facti transeuntis), que normalmente não deixa vestígios;
• infrações penais não transeuntes – aquelas que deixam vestígios, resquícios materiais
da ocorrência (facti permanentis).

Para determinar a classificação nos mais variados casos, é preciso ter em conta o tipo do crime. “Para
exemplificar: o homicídio consiste em matar alguém. Então, quando houver homicídio haverá cadáver. O
crime de moeda falsa consiste em fabricar ou alterar moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país
ou no estrangeiro. Logo, onde houver o crime haverá a moeda falsificada”. Todavia, existem crimes “que se
podem consumar deixando ou não deixando vestígios e, então, só em concreto será possível dizer se ele foi
de efeito permanente ou transitório. A injúria verbal, para ilustrar a afirmação, em geral não deixa vestígios.
Mas, se ela é gravada, a marca permanece” (Tornaghi, 1997).

Exemplo de MADEIRA: “um homicídio, uma lesão corporal ou mesmo um estupro. São todos crimes que
deixam vestígios e, por isso mesmo, há necessidade de realização do exame de corpo de delito. Por outro
lado, pense-se no crime de injúria por manifestação oral. Nesse segundo exemplo não há o que ser periciado,
na medida em que a infração não deixou qualquer vestígio a ser analisado” (Dezem, 2018).

Dessa classificação percebe-se que a relevância da realização do exame de corpo de delito recai
sobre as infrações não transeuntes, pois tais delitos costumam deixar vestígios. Dizemos que
costumam deixar vestígios materiais porque, a depender do caso concreto, esses vestígios

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podem ter desaparecido. A título exemplificativo, suponha-se um crime de lesão corporal


praticado com violência doméstica e familiar contra a mulher, do qual tenham resultado graves
ofensas à integridade corporal da vítima. Por temor do agressor, a vítima deixa de reportar de
imediato o fato à autoridade policial, inviabilizando que os vestígios inicialmente deixados pelo
delito sejam diagnosticados pelos peritos num exame pericial. Nesse caso, o desaparecimento
dos vestígios do delito de lesão corporal impede a realização de exame pericial direto, porém não
impede que a materialidade da infração seja comprovada por prova testemunhal, ex vi do art.
167 do CPP (Lima, 2018).

6.1 - Diferença entre corpo de delito e exame de corpo de delito

Nesse ponto da matéria, para que não haja confusão, é importante distinguir (rememorando as definições
que já trouxemos) entre corpo de delito e exame de corpo de delito. Para isso, considerando a propriedade
das palavras (e por fazer referência à visão de outros autores, numa forma bastante abrangente de ensinar),
nos valeremos, integralmente, da lição de GUILHERME DE SOUZA NUCCI:

O corpo de delito, como já exposto, é a prova da existência do crime, que pode ser feita de modo
direto ou indireto. De maneira direta é a verificação de peritos do rastro deixado nitidamente
pelo delito, como o exame necroscópico. De modo indireto é a narrativa de testemunhas, que
viram o fato. Como ensina ROGÉRIO LAURIA TUCCI, a respeito de ‘exame’ do corpo de delito, “o
vocábulo exame parece-nos corretamente empregado, por isso que não há confundir corpus
delicti - conjunto dos elementos físicos ou materiais, principais ou acessórios, permanentes ou
temporários, que corporificam a prática criminosa - com a sua verificação existencial, mediante
atividade judicial de natureza probatória e cautelar, numa persecução penal em
desenvolvimento. Configura ele, com efeito, uma das espécies de prova pericial, consistente na
colheita, por pessoa especializada, de elementos instrutórios sobre fato cuja percepção dependa
de conhecimento de ordem técnica ou científica (...).

É o exame do corpo de delito, em nosso processo penal, uma espécie de prova pericial
constatatória da materialidade do crime investigado, realizada, em regra, por peritos oficiais, ou
técnicos, auxiliares dos agentes estatais da persecutio criminis...” (Do corpo de delito no direito
processual penal brasileiro, p. 180-181). Exige-se, para a infração que deixa vestígios, a realização
do exame de corpo de delito, direto ou indireto, isto é, a emissão de um laudo pericial atestando
a materialidade do delito. Esse laudo pode ser produzido de maneira direta – pela verificação
pessoal dos peritos – ou de modo indireto—quando os profissionais se servem de outros meios
de provas. Note-se que, de regra, a infração que deixa vestígio precisa ter o exame de corpo de
delito direto ou indireto (que vai constituir o corpo de delito direto, isto é, a prova da existência
do crime atestada por peritos). Somente quando não é possível, aceita-se a prova da existência
do crime de maneira indireta, isto é, sem o exame e apenas por testemunhas.

Não nos parece, pois, correta a lição daqueles que, como TOURINHO FILHO e MAGALHÃES NORONHA,
dizem que o exame de corpo de delito indireto é o composto pelos depoimentos das
testemunhas. O exame de corpo de delito é sempre produzido por peritos, de maneira direta
ou indireta, como já abordado. O corpo de delito, no entanto, pode resultar de forma direta ou
indireta. Quando o perito vê o cadáver, por exemplo, analisa-o e atesta ao juiz que houve a morte
e como esta se deu, prova-se a materialidade de maneira direta. Quando o cadáver se perde,

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contando-se com a mera narrativa de leigos que, de longe, viram o réu desferindo tiros na vítima,
por exemplo, caindo o corpo no mar e perdendo-se, há a prova indireta da ocorrência da morte.
É o corpo de delito indireto. Se o Código de Processo Penal considerasse exame de corpo de
delito também os depoimentos testemunhais não teria colocado no art. 167 que, não sendo
possível realizá-lo, a prova testemunhai poderá suprir-lhe a falta.

Na ótica que sustentamos, estão os ensinamentos de HÉLIO TORNAGHI, para quem o “exame
indireto não se confunde com o mero depoimento de testemunhas, o qual pode suprir o exame
de corpo de delito (art. 167)” e INOCÊNCIO BORGES DA ROSA, que diz obter-se o corpo de delito
indireto, inquirindo-se as testemunhas. Anote-se, ainda, a lição de SÉRGIO MARCOS DE MORAES
PITOMBO: “O corpo de delito indireto produz-se mediante a prova pessoal, quer dizer,
interrogatório ao réu, perguntas ao ofendido e depoimento de testemunhas”. Leciona TOURINHO
FILHO que, não havendo o exame, direto ou indireto, a “nulidade é tão grande que fulmina todo
o processo, nos termos do art. 564, III, b, do Código de Processo Penal”. Novamente, não nos
parece que tal seja o disposto no capítulo referente às nulidades. Diz o art. 564, III, b, que
ocorrerá nulidade se não for realizado o exame de corpo de delito nos crimes que deixam
vestígios, ressalvado o disposto no art. 167, isto é, quando não for possível fazer o exame, direto
ou indireto, aceita-se a prova de existência do crime por intermédio de testemunhas. Por isso,
pode não estar presente o exame de corpo de delito, sem que isso signifique nulidade absoluta,
uma vez que a materialidade é provada por outras fontes. Há que se destacar, ainda, a posição
assumida por alguns processualistas tratando, indistintamente, exame de corpo de delito e corpo
de delito como expressões sinônimas, o que não nos parece adequado. EDUARDO ESPÍNOLA FILHO, a
título de exemplo, ora chama de exame de corpo de delito indireto, ora de corpo de delito
indireto a prova da materialidade do crime constituída por intermédio de testemunhas (Nucci,
2018).

6.2 - Exame de corpo de delito direto e indireto

RENATO BRASILEIRO DE LIMA também aborda a distinção antes mencionada por NUCCI, quando fala de exame de
corpo de delito direto e indireto.

Como dito acima, dispõe o art. 158 do CPP que, quando a infração deixar vestígios, será
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
do acusado. Da leitura do referido dispositivo legal, denota-se que são duas as espécies de exame
de corpo de delito: o direto e o indireto. O exame de corpo de delito direto é aquele feito por
perito oficial (ou dois peritos não oficiais) sobre o próprio corpo de delito. Supondo-se um crime
de homicídio em que o cadáver tenha sido localizado, será considerado exame direto aquele feito
no próprio cadáver. Se não há dúvidas quanto ao conceito de exame de corpo de delito direto, o
mesmo não ocorre quando se busca na doutrina o conceito de exame de corpo de delito indireto.

* Para uma primeira corrente, não há qualquer formalidade para a constituição do corpo de
delito indireto, constituindo-se pela colheita de prova testemunhal, a qual, afirmando ter
presenciado o crime ou visto os vestígios, será suficiente para suprir o exame direto, ou, ainda,
pela análise de documentos que comprovem a materialidade, tais como fotografias dos vestígios
sensíveis ou o prontuário médico do atendimento da vítima no posto de saúde. É o que dispõe o
art. 167 do CPP, quando preceitua que, não sendo possível o exame de corpo de delito, por

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haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. Perceba-se


que, para essa primeira corrente, o exame de corpo de delito indireto não é propriamente um
exame, mas sim a prova testemunhal ou documental suprindo a ausência do exame direto, em
virtude do desaparecimento dos vestígios deixados pela infração penal.

* Para uma segunda corrente, o exame de corpo de delito indireto é um exame pericial e não
se confunde com o mero depoimento de testemunhas (CPP, art. 167). Para essa corrente, após
colherem os depoimentos das testemunhas acerca dos vestígios deixados pela infração penal, ou
analisar documentos pertinentes à materialidade da infração penal, os peritos irão extrair suas
conclusões, firmando um laudo pericial. Esse exame é tido como indireto pelo fato de não ser
feito diretamente sobre os vestígios deixados pela infração. Logo, nessa acepção, não se tem
na regra do art. 167 do CPP uma espécie de exame de corpo de delito indireto, mas sim
exclusivamente prova testemunhal. É essa a posição, entre outros, de VICENTE GRECO FILHO e HÉLIO
TORNAGHI. Conclui-se, portanto, que o exame de corpo de delito direto é, sim, um exame pericial.
De outro lado, a depender da corrente adotada, o exame de corpo de delito indireto pode ser
considerado um exame pericial ou um exame judicial, ou seja, uma análise do juiz acerca da
materialidade do delito, porém a ser feita a partir da prova testemunhal ou documental (Lima,
2018).

Adepto dessa primeira corrente, a lição de NUCCI que assim afirma: “É próprio afirmar que toda infração
penal possui corpo de delito, isto é, prova da sua existência, pois se exige materialidade para condenar
qualquer pessoa, embora nem todas fixem o corpo de delito por vestígios materiais. Em relação a estes
últimos é que se preocupou o art. 158 do CPP, exigindo que se faça a inspeção pericial, com a emissão de um
laudo, para comprovar a materialidade”.

Vestígio é o rastro, a pista ou o indício deixado por algo ou alguém. Há delitos que deixam sinais
aparentes da sua prática, como ocorre com o homicídio, uma vez que se pode visualizar o
cadáver. Outros delitos não os deixam, tal como ocorre com o crime de ameaça, quando feita
oralmente. Preocupa-se particularmente a lei processual penal com os crimes que deixam rastros
passíveis de constatação e registro, obrigando-se, no campo das provas, à realização do exame
de corpo de delito (art. 158, CPP). Trata-se de uma prova imposta por lei (prova tarifada), de
modo que não obedece à regra da ampla liberdade na produção das provas no processo criminal.
Assim, não realizado o exame determinado, pode ocorrer nulidade, nos termos do disposto no
art. 564, III, b, do Código de Processo Penal. Os vestígios podem ser materiais ou imateriais.
Materiais são os vestígios que os sentidos acusam (ex.: a constatação do aborto pela visualização
do feto expulso e morto). Imateriais são aqueles que se perdem tão logo a conduta criminosa
finde, pois não mais captáveis, nem passíveis de registro pelos sentidos humanos (ex.: a injúria
verbal proferida). Explica TUCCI que há fatos permanentes (facti permanentis), ou seja, “aqueles
de que sobram marcas indeléveis, temporária ou permanentemente, como os de lesões
corporais leves ou graves, estupro etc.” e fatos transitórios (facti transeuntis), isto é, que
possuem “vida efêmera, embora determinados, momentaneamente que seja, ao tempo do
evento delitivo, de elementos físicos, próprios e inconfundíveis, e.g., a injúria verbal”. Por isso,
corpo de delito não passa da “necessidade de cognoscer e documentar, procedimentalmente,
mediante a observância de regras específicas, a prática criminosa” (Nucci, 2018).

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Repare que NUCCI chega a afirmar que os vestígios podem ser ‘imateriais’. Não foi essa, entretanto, a
concepção legal inserida pelo Pacote Anticrime, observado o conceito do art. 158-A, § 3º do CPP. Em

exame de
corpo de delito
corpo de delito

direto indireto direto indireto

feito por exame direto exame indireto prova


atestado por testemunhas do perito (ex. do perito (feito testemunhal
perito (exame) ou outras necropsia num por outros ou outras
provas homicídio) vestígios que suprem a falta
não os do do exame - 2ª
corpo) - 1ª corrente
corrente
arremate, podemos consolidar o seguinte em relação a essas correntes doutrinárias:

6.3 - Questões correlatas e casuística

Algumas questões bastante pertinentes são levantadas por NORBERTO AVENA, quando cuida da
obrigatoriedade do exame de corpo de delito, analisando os artigos do CPP antes referidos:

1) Por que apenas a prova testemunhal é capaz de suprir a perícia? Efetivamente, a menos que
se considere que a prova testemunhal possui maior valor do que as demais (o que não procede,
pois o Código não estabelece hierarquia entre as provas), não há sentido nessa restrição imposta
pelo legislador de 1941. Assim, na atualidade, é consolidada a jurisprudência no sentido de que,
tal como a prova testemunhal, qualquer outra, exceto a confissão isolada, é capaz de suprir a
falta da perícia na hipótese de desaparecimento do vestígio. Pode ser uma prova documental,
como a fotografia, ou até mesmo a palavra da vítima. Imagine-se um crime de estupro sob a
modalidade de conjunção carnal no qual o laudo apresente conclusões negativas quanto à
constatação de vestígios dado o tempo em que o delito foi cometido. Nesse tipo de delito não
há, normalmente, testemunhas, sendo possível comprovar a materialidade pela palavra da
ofendida, desde que se trate de narrativa verossímil e que guarde coerência com os demais
elementos trazidos ao processo, ainda que sejam estes meramente circunstanciais.

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2) Por que não se aceita a confissão do réu (isoladamente considerada) como


meio hábil ao suprimento da perícia quando desaparecidos os vestígios? Isso
ocorre porque a confissão do réu é uma prova que tem valor relativo, vale dizer,
dependente de confirmação por outros meios. Tanto é assim que o art. 197 do
CPP, ao tratar do valor da confissão, estabelece que será apreciada pelos
critérios adotados para os outros elementos de prova, mas que, para sua
valoração, deverá ser confrontada com as demais provas do processo, verificando-se se entre ela
e estas existe compatibilidade ou concordância. Em suma, relativamente à confissão, pode-se
afirmar que é limitada a liberdade de convencimento do juiz, o qual pode utilizá-la como prova,
mas não sem antes cotejá-la com os demais elementos de convicção carreados ao processo, a
fim de verificar se corroboram a confissão judicialmente prestada. Tendo em vista, exatamente,
esse valor relativo da confissão, dependente de confirmação por outros meios, a excluiu o
legislador da possibilidade de suprir a falta do exame de corpo de delito diante de infração cujo
vestígio tenha desaparecido.

3) A previsão do art. 77, § 1º, da Lei 9.099/1995, relativa às infrações de menor potencial
ofensivo, quando não incidente a regra do art. 167 do CPP, dispensa a apresentação de exame
de corpo de delito em momento posterior? Dispõe o referido dispositivo que, “para o
oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art.
69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame de corpo de delito
quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente”. Como
se vê, o artigo não exige, no momento do oferecimento da denúncia ou da queixa, a prova pericial
comprobatória da materialidade delitiva, bastando a presença de boletim médico ou prova
equivalente. E para efeito de condenação? Neste caso, parte da doutrina compreende que não é
suficiente boletim médico, sendo necessário que venha aos autos, antes da sentença final, o
correspondente auto de exame de corpo de delito. Discordando dessa linha de pensamento,
aderimos ao entendimento de que no âmbito dos juizados especiais deve ser flexibilizado o rigor
formal exigido pelo Código de Processo Penal para os feitos que tramitam na justiça comum,
devendo-se aceitar, sim, o boletim médico ou prova equivalente como meios hábeis para a
condenação. O próprio STF, aliás, já decidiu neste mesmo sentido.

4) E nas infrações praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher? Não há
qualquer dúvida aqui. Considerando a possibilidade estabelecida no art. 12, § 3º, da Lei
11.340/2006, é plenamente viável a utilização de documentos médicos com o fito de comprovar
a ocorrência do crime (Avena, 2017).

RENATO BRASILEIRO, pondera que “tratando-se de delito de fato permanente, e sendo possível a realização do
exame pericial, impõe-se que a materialidade da infração penal seja comprovada através de exame de corpo
de delito direto”, trazendo alguns exemplos com base na jurisprudência:

1) Crime de vender, ter em depósito para vender, ou expor à venda, ou de qualquer forma,
entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo (Lei nº 8.137/90,
art. 7º, IX): na visão da 1ª Turma do Supremo, sua tipificação exige a comprovação da
impropriedade do produto para uso, pelo que imprescindível a realização de exame pericial para
aferir a nocividade dos produtos apreendidos, comprovando que a mercadoria era inadequada
ao consumo;

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2) Furto qualificado pelo rompimento de obstáculo à subtração da coisa (CP, art. 155, § 4°, I): se
se trata de delito que deixa vestígios, toma-se indispensável a realização de perícia para a sua
comprovação, a qual somente pode ser suprida por prova testemunhal quando desaparecerem
os vestígios de seu cometimento ou se esses não puderem ser constatados pelos peritos, nos
termos do arts. 158 e 167 do CPP. Logo, na hipótese de furto qualificado pelo arrombamento de
porta e janela da residência, se o rompimento de obstáculo não for comprovado por perícia
técnica não é possível o reconhecimento da referida qualificadora;

3) Furto qualificado pela escalada (CP, art. 155, § 4º, II): ainda que não tenha sido realizado exame
de corpo de delito, pode ser reconhecida a referida qualificadora na hipótese em que a dinâmica
delitiva tiver sido registrada por meio de sistema de monitoramento com câmeras de segurança
e a materialidade do crime qualificado puder ser comprovada por meio das filmagens e também
por fotos e testemunhos;

4) Violação de direitos autorais prevista no art. 184, § 2º, do CP: para a comprovação da prática
do referido crime, é dispensável a identificação dos produtores das mídias originais no laudo
oriundo de perícia efetivada nos objetos falsificados apreendidos, sendo, de igual modo,
desnecessária a inquirição das supostas vítimas para que elas confirmem eventual ofensa a seus
direitos autorais. Comprovada a materialidade delitiva por meio da perícia (CPP, art. 530-D), é
totalmente desnecessária a identificação e inquirição das supostas vítimas, até mesmo porque o
ilícito em exame é apurado mediante ação penal pública incondicionada, nos termos do inciso II
do artigo 186 do CP. Na verificação da materialidade desse delito, a perícia pode ser realizada
com base nas características externas do material apreendido, sendo desnecessária a
catalogação dos CD's e DVD's, bem como a indicação de cada título e autor da obra apreendida
e falsificada. A propósito, eis o teor da súmula n° 574 do STJ: "Para a configuração do delito de
violação de direito autoral e a comprovação de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada
por amostragem do produto apreendido, nos aspectos externos do material, e é desnecessária a
identificação dos titulares dos direitos autorais violados ou daqueles que os representem".

5) Crimes previstos no Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03), especificamente no


tocante à ausência do laudo pericial da arma de fogo ou da munição atestando a sua
potencialidade lesiva: para o Supremo, o Estatuto do Desarmamento - que dispõe sobre registro,
posse e comercialização de armas de fogo - fora promulgado com o objetivo de disciplinar a
venda de armas e munições em território nacional, bem como de regulamentar os registros e
portes das armas que estão em posse de cidadãos comuns, visando, em última análise, garantir
a segurança da coletividade. A objetividade jurídica dos delitos nele tipificados transcende a mera
proteção da incolumidade pessoal, para alcançar também a tutela da liberdade individual e do
corpo social, asseguradas ambas pelo incremento dos níveis de segurança coletiva que a lei
propicia. Por conseguinte, é irrelevante indagar-se acerca da eficácia da arma ou das munições
para a configuração do tipo penal em comento, sendo, assim, despicienda, do ponto de vista
jurídico, a falta ou nulidade do laudo pericial. Nesse sentido, a 1ª Turma do STF reputou
configurado o crime previsto no caput do art. 16 da Lei 10.826/2003, uma vez que restara
atestada a materialidade delitiva por outros meios de prova;

6) Majorante do emprego de arma no crime de roubo (Código Penal, art. 157, § 2°, inciso I): muito
se discute acerca da necessidade de apreensão da arma de fogo e subsequente exame pericial

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para fins de incidência (ou não) da majorante do inciso I do art. 157, § 2°, do CP, sobretudo nas
hipóteses em que o agente se livra da arma durante uma possível tentativa de fuga. [...] Na visão
do Supremo, não se exige que a arma de fogo seja periciada ou apreendida, desde que, por outros
meios de prova, reste demonstrado o seu potencial lesivo. Se, por qualquer meio de prova - em
especial pela palavra da vítima ou pelo depoimento de testemunha presencial - ficar comprovado
o simples emprego de arma de fogo, pouco importando a demonstração de que disparos teriam
sido efetuados, esta circunstância deverá ser levada em consideração pelo magistrado na fixação
da pena. Assim, caso o acusado alegue o contrário ou sustente a ausência de potencial lesivo da
arma empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal evidência, nos termos
do art. 156 do CPP, segundo o qual a prova da alegação incumbirá a quem a fizer. Afinal, mesmo
que eventualmente não tenha o poder de disparar projéteis, a arma de fogo pode ser empregada
como instrumento contundente, apto a produzir lesões graves contra vítimas atemorizadas.
Enfim, entende o Supremo que exigir uma perícia para atestar a potencialidade lesiva da arma
de fogo empregada no delito de roubo teria como resultado prático estimular os criminosos a
desaparecer com elas, de modo a que a qualificadora do art. 157, § 2°, I, do CP, dificilmente
poderia ser aplicada, a não ser nas raras situações em que restassem presos em flagrante,
empunhando o artefato ofensivo (STF, Tribunal Pleno, HC 96.099/RS, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, DJe 104 04/06/2009) (Lima, 2018).

Em abril de 2018, a Terceira Seção do STJ tinha suspenso as ações em todo o território nacional e afetado
dois recursos especiais sobre o assunto para julgamento pelo rito dos repetitivos. Era o Tema 991: se é ou
não necessária a apreensão e a perícia da arma de fogo para a incidência da majorante do artigo 157,
parágrafo 2º, I, do Código Penal. ‘Ao propor a afetação dos recursos, o ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR destacou
que o assunto já está pacificado na Terceira Seção do STJ, que, em 2010, ao julgar os EREsp 961.863, decidiu
que é prescindível a apreensão e a perícia da arma de fogo para a aplicação da causa de aumento de pena,
desde que a sua utilização possa ser comprovada por outros meios de prova’.

Todavia, em 22 de maio de 2018, o mesmo ministro tornou sem efeito a afetação antes promovida, diante
da superveniência da Lei 13.654/2018, que revogou o inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal. É verdade
que a majorante foi apenas aumentada (de 1/3 passou para metade) e deslocada para o atual § 2º-A, inc. I
do mesmo art. 157 do Código Penal. Não obstante, entendeu-se pela perda de objeto.

BRASILEIRO, lembrando que a lei estabelece a obrigatoriedade da realização do exame de corpo de delito
quando a infração deixar vestígios, erige a seguinte questão: “supondo-se que o exame de corpo de delito
não tenha sido realizado, deve ser declarada a nulidade ab initio do processo ou o acusado deve ser
absolvido por ausência de prova da materialidade da infração penal?”

Inicialmente, vale lembrar que, segundo o art. 564, inciso III, "b", do CPP, haverá nulidade por
falta do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no art.
167 do CPP. Como o art. 572 do CPP não ressalvou essa nulidade dentre aquelas que podem ser
sanadas (ou seja, nulidades relativas), conclui-se que se trata de uma nulidade absoluta. Logo, se
era possível a realização do exame direto, ou, ainda, se a ausência do exame direto não foi
suprida pelo exame de corpo de delito indireto, deverá o processo ser anulado, a partir do
momento em que o laudo deveria ter sido juntado ao processo. Afinal de contas, é a própria lei
que estabelece que, quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito. Situação distinta diz respeito à falta de comprovação do corpo de delito, direto ou

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indireto, sem que essa ausência possa ser suprida pela determinação de realização do exame
pericial. A título de exemplo, suponha-se que, ao final de um processo por tráfico de drogas,
verifique o juiz a ausência de exame pericial atestando a natureza da droga. Em situação como
essa, caso ainda seja possível a realização do exame pericial, nada impede que o magistrado
determine a produção da prova pericial, valendo-se de seus poderes instrutórios (CPP, art. 156,
inciso II). Porém, se acaso não houver sido guardada uma pequena quantidade da droga para
uma contraprova, sendo inviável a realização do exame pericial, o magistrado jamais poderá
condenar o acusado pelo delito de tráfico e/ou porte de drogas para consumo pessoal, na medida
em que não há comprovação da materialidade da infração, sendo inviável que a prova
testemunhal supra a ausência do exame pericial. Nesse caso, inevitavelmente, deve o magistrado
prolatar uma sentença absolutória, por ausência de prova da materialidade da infração penal,
nos termos do art. 386, inciso II, do CPP (Lima, 2018).

Em arremate, vejamos questão aberta já cobrada em concurso do Ministério Público de Santa Catarina:

MPE SC – Promotor de Justiça (MPE SC)/2013/38º. O Código de Processo Penal prescreve


que: “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. Nesse contexto, nas hipóteses abaixo diga,
fundamentadamente, quando a perícia é imprescindível, desnecessária ou facultativa, nula ou que
pode ser suprida: 1. Perícia na arma, munições e acessórios para comprovação da qualificadora da
causa especial de aumento de pena previstas no artigo 157, § 2º, inciso I, do Código Penal e crimes
tipificados na Lei n. 10.826/2003. 2. Segunda perícia, quando: a. houver dúvida sobre a parcialidade de
um dos peritos que realizaram a primeira. b. para precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º, I,
do Código Penal. c. houver divergência entre os peritos. d. houver inobservância de formalidades,
omissões, obscuridades ou contradições. 3. Laudo de constatação da natureza e quantidade da droga.
4. Laudo pericial firmado por apenas 1 (um) perito oficial, ou por 1 (uma) pessoa idônea, com
habilitação técnica relacionada com natureza do exame, justificada pela inexistência, na comarca, de
outro profissional habilitado. 5. Para a identificação das vozes captadas nas interceptações telefônicas.
6. De exame criminológico para fins de progressão do regime prisional e livramento condicional.
7. Para caracterizar o crime previsto no art. 7º, IX, da Lei n. 8.137/1990.

Doutrina complementar

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “Existem infrações que não
deixam vestígios (delicta facti transeuntis), como nos crimes contra a honra praticados oralmente, no
desacato etc. Mas, por outro lado, existem as infrações que deixam vestígios materiais (delicta facti
permanentis), como o homicídio, o estupro, a falsificação etc. Nesse caso, é necessária a realização de um
exame de corpo de delito, ou seja, a comprovação dos vestígios materiais deixados. O exame de corpo de
delito é um auto em que os peritos descrevem suas observações e se destina a comprovar a existência do
delito (CP, art. 13, caput); o corpo de delito é o próprio crime em sua tipicidade”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017): “Apesar da
imprescindibilidade da perícia determinada pelo art. 158 do Código de Processo Penal quando se tratar
de infração que deixa vestígio, não se pode afastar a possibilidade de que tal vestígio desapareça, quer
pela ação do tempo (p. ex. a cicatrização da lesão sofrida pela vítima), quer em face de comportamento
humano (p. ex. o fato de ter a vítima trocado a fechadura arrombada pelo réu para entrar em sua casa e
perpetrar o furto). Nestes casos, a prova da materialidade da infração pode ser feita com base no
permissivo do art. 167 do CPP, dispondo este que, quando o vestígio houver desaparecido, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta. Trata-se, enfim, de testemunhas que comparecem perante o

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delegado ou perante o juiz declarando terem visto os sinais deixados pelo crime. Perceba-se que, apesar
da literalidade do dispositivo – que se refere apenas à prova testemunhal – tem-se compreendido que, na
verdade, qualquer prova lícita é capaz de suprir o laudo pericial no caso de desaparecimento dos sinais da
infração, como é o caso, por exemplo, da prova documental consubstanciada na fotografia do vestígio”.
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017), acerca do disposto no art. 158 do CPP, faz interessantes observações: “Constata-se, portanto, que a
lei atribuiu valor quase que absoluto ao exame técnico-científico para fins de comprovação da existência
material da infração que deixa vestígios, tanto que fulmina de nulidade o processo em que estiver ausente
tal prova (art. 564, III, b, do CPP). Importa registrar que ‘mesmo quando a materialidade for evidenciada
diretamente por elemento constante dos autos (ex.: o próprio documento falsificado), não é possível
prescindir-se do exame de corpo de delito’. Averbe-se que a exigência em questão pode relacionar-se à
demonstração do tipo básico ou de forma qualificada de um tipo penal. Assim, embora a comprovação
de uma mera subtração não dependa do exame de corpo de delito, a demonstração da existência do furto
qualificado pela destruição de obstáculo subordina-se à realização da referida prova técnica (art. 171 do
CPP)”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “A não realização da
perícia implicaria nulidade absoluta do processo, a teor do art. 564, III, b, do Código de Processo Penal,
com a ressalva da possibilidade de utilização das testemunhas. Tal a saída do código, que não nos parece,
contudo, a mais adequada para todos os casos. No transcorrer do processo, percebendo o magistrado a
ausência do exame, a determinação ex officio supriria a omissão. Em não sendo possível a realização do
exame, e percebendo que a materialidade não ficou demonstrada, a alternativa é a absolvição do réu, e
não o reconhecimento da nulidade do processo. Por sua vez, a condenação sem a perícia implicaria
nulidade insanável. Já quanto à admissibilidade da inicial acusatória, nada impede, nas infrações que
deixam vestígios, que a denúncia ou a queixa sejam recebidas sem estar acompanhadas pela prova
pericial. Isso se deve porque o exame pode ser realizado no curso do processo. Contudo, se a lei exigir
como condição de procedibilidade ao início do processo a prévia realização do laudo, a sua presença
lastreando a denúncia ou a queixa será obrigatória. Caso contrário, a exordial deve ser rejeitada. É o que
ocorre com as infrações contra a propriedade imaterial que deixam vestígios (art. 525, CPP). O mesmo
acontece na Lei nº 11.343/2006 (tóxicos), onde o laudo de constatação é requisito essencial para a lavratura
do flagrante e para a oferta da denúncia (art. 50, § 1º)”.

7 - PERITOS
A disciplina a respeito dos peritos está nos seguintes artigos do CPP:

Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à disciplina judiciária.

Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.

Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa
de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.

Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente:

a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;

b) não comparecer no dia e local designados para o exame;

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c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos.

Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá
determinar a sua condução.

Art. 279. Não poderão ser peritos:

I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV do art. 69 do Código
Penal;

II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto


da perícia;

III - os analfabetos e os menores de 21 anos.

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que lhes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes.

Art. 281. Os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados aos peritos.

Perito, como ensina FREDERICO MARQUES, “é órgão técnico e auxiliar do juízo na formação e colheita do
material instrutório” (Marques, 1997).

FEITOZA também ensina a respeito:

Perito é a pessoa detentora de certos conhecimentos técnicos ou científicos que realiza o exame
pericial. Perito oficial é a pessoa investida na função por lei, para a realização de exames periciais
em geral, e não por nomeação do juiz ou da autoridade administrativa (geralmente a autoridade
policial). Perito não-oficial ou inoficial é a pessoa nomeada por juiz ou por autoridade
administrativa (geralmente autoridade policial) para realizar determinado exame pericial. A
expressão perito leigo, para esse perito, não é muito adequada, pois o perito inoficial pode ser
nomeado exatamente porque detém uma especialização necessária que não é possuída por
peritos oficiais ou mesmo porque não há um perito oficial disponível. Assim, pode ser nomeado
como perito não-oficial um médico do posto de saúde local e ele será não-oficial ainda que seja
um servidor público municipal, pois não é investido no cargo ou na função específicos de perito,
por concurso público. É denominado médico-legista ou simplesmente legista o perito
especializado em medicina legal, ou seja, a especialidade médica que aplica conhecimentos
médicos na resolução das questões jurídicas. Geralmente, o médico-legista é quem exame o
corpo humano [sic] para constatar, por exemplo, a morte, lesões corporais etc. (Feitoza, 2008).

No mesmo sentido define MADEIRA:

Os peritos classificam-se segundo sua vinculação com o Estado ou a falta dela. Desta forma, tem-
se a seguinte classificação:

a) perito oficial – corresponde ao sujeito investido no cargo criado por lei, mediante concurso
público, para a realização das perícias.

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b) perito não oficial – corresponde à pessoa nomeada pela autoridade (delegado ou magistrado)
para a realização da perícia e que não ocupa cargo criado por lei. Normalmente seu uso se dá no
caso de falta de peritos oficiais (Dezem, 2018).

Disciplina judiciária significa a obediência à direção judicial do processo, “bem como o comprometimento
necessário com a imparcialidade e com o zelo e presteza na sua atuação profissional, não só por força dos
deveres de sua formação específica (leis orgânicas regulamentadoras de determinadas profissões), mas,
sobretudo, pelo munus publico que implica a disciplina judiciária (art. 159, § 2º, CPP), ainda que sob
remuneração pelo Estado” (Pacelli, et al., 2018).

A ela estão sujeitos tanto os peritos oficiais quanto aqueles que eventualmente sejam nomeados pelo juiz
(art. 159, § 1º, CPP). PACELLI & FISCHER sustentam que inclusive os assistentes técnicos estariam sujeitos à
disciplina judiciária, tendo compromisso com a verdade.

A violação dos deveres da disciplina judiciária pode até caracterizar crime, como ocorre em
relação à falsa perícia (art. 342, Código Penal) ou qualquer outro comportamento doloso ou
culposo. Pode autorizar, também, condução coercitiva para a participação no ato processual,
salvo motivo relevante, devidamente fundamentado (ver art. 278, CPP). A Lei nº 11.690/08
introduziu novidade na legislação processual penal brasileira [...]. No particular, relativamente à
prova pericial, permitiu-se a indicação de assistentes técnicos pelas partes, pelo assistente de
acusação e pelo ofendido, se não habilitado como assistente de acusação (art. 159, § 3º, CPP).
Também estes, indicados pelas partes e os demais legitimados, se submeterão à disciplina
judiciária, mesmo não tendo sido nomeados pelo juiz. Não é porque a defesa indicou
determinada testemunha que poderá ela prestar quaisquer declarações. Não, ela estará sempre
compromissada, por imposição legal, a dizer a verdade. O mesmo ocorre em relação ao
assistente técnico indicado por quem que seja. É que referido profissional, precisamente por se
ver obrigado a apresentar laudo técnico sobre a matéria debatida em juízo e com possibilidade
de influência no convencimento do juiz, também deve atuar sob o compromisso de verdade de
seu conhecimento. E, mais, sob pena, de falsa perícia (art. 342, CP). E, nesse ponto, não nos
deteremos diante da ausência de qualificação específica no citado tipo penal. É bem verdade que
ali não se aponta o assistente de perito e sim este último (o perito). No entanto, ambos produzem
prova pericial, que vem a ser o objeto da tutela penal ali prevista. Não fosse assim, o juiz também
não poderia se firmar no laudo apresentado pelo assistente técnico – perito da parte – para a
formação de seu convencimento.

Os mesmos autores ainda ensinam sobre os impedimentos e suspeições aplicáveis aos peritos:

Impedimento por interdição de direitos: Estarão impedidos de exercer a função de peritos


aqueles que tiverem sido condenados em ação penal, sendo-lhes impostas as restrições de
direitos previstas no atual art. 92 do Código Penal (Lei nº 7.209/84) e os que tiverem participado,
como testemunha ou perito (ou intérprete e tradutor) do processo ou de fase anterior, prestando
depoimento ou se manifestando sobre o objeto da prova. Também não serão peritos os
analfabetos e os menores de 21 anos. Em relação às pessoas condenadas nas sanções do atual
art. 92, cuja redação, dada pela Lei nº 7.209/74 – Reforma da Parte Geral do Código Penal –
abarca e modifica a anterior redação do art. 69, não vemos invalidade na vedação ao exercício
da função de perito, se e porque a proibição é limitada ao tempo da pena. Se a previsão fosse

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somente pela condenação, não hesitaríamos em apontar a invalidade da norma, por violação ao
próprio sistema de penas do Código Penal, além das garantias e direitos individuais assegurados
na Constituição da República. Sendo assim, limitado e como consequência da pena aplicada, não
poderá ele exercer a função de perito no processo penal, desde que a sentença tenha assim
decidido, de modo expresso. Os efeitos da condenação à interdição de direitos devem ser
declarados na sentença, consoante o disposto expressamente no parágrafo único do mesmo art.
92.

Regras gerais e regras específicas de impedimento: A nosso aviso, o que deve ser posto em
relevo aqui, relativamente ao inciso II [do art. 279], é a participação anterior do perito, no
processo ou na investigação, por via da qual ele tenha emitido juízo técnico sobre a matéria de
prova. Nesse sentido, ele não produziria outra e nova prova, uma vez já antecipada sua
apreciação, parcial ou total, da matéria em momento anterior. Pensamos, também, que o fato
de ter ele prestado depoimento, seja na polícia ou em juízo, não só sobre o objeto da perícia,
mas sobre qualquer questão tratada no processo (como testemunha, então), parece-nos
suficiente para o seu impedimento. Aliás, qualquer uma das hipóteses previstas no art. 252, CPP,
quando cabível e pertinente em relação ao perito, pode ser aplicada para o seu afastamento. Ali
se descrevem situações e circunstâncias da vida privada que justificam o receio quanto ao
comprometimento da liberdade de manifestação do perito sobre o objeto da perícia. O mesmo
ocorre em relação à dispensa do dever de depor prevista em relação aos parentes mencionados
no art. 206 do CPP. Já em relação aos analfabetos e menores de 21 anos, deve-se esclarecer que:
(a) a prova pericial é eminentemente técnica, exigindo formação profissional específica em
relação ao conteúdo da prova. Naturalmente, não queremos prestar homenagens indevidas ao
conhecimento e à formação profissional do ensino oficial. Tampouco queremos afirmar a
impossibilidade de conhecimento técnico ao analfabeto. Há empreiteiros, por exemplo, sem
formação superior ou mesmo média, ou, ainda, portadores de conhecimentos rudimentares da
linguagem, que detêm saberes iguais ou superiores àqueles de reconhecida formação técnica.
No entanto, não se trata disso. A questão é unicamente de saberes objetivos, aptos a convencer
não só o juiz, mas também as partes e aos demais jurisdicionados, na medida em que interessa
a todos a correta atuação da função estatal da jurisdição. O mesmo se poderia dizer em relação
ao menor de 21 anos. Por primeiro, alerta-se para o fato da alteração civil da menoridade,
limitada agora aos 18 anos. Contudo, o art. 2.043 do Código Civil ressalva a vigência das
disposições penais e processuais penais existentes à época da nova legislação civil codificada, o
que é o caso do presente dispositivo. Como impedir a designação de um menor de 21 anos para
opinar sobre questões de informática, por exemplo? Parece-nos voz já corrente a maior
habilitação de tais pessoas em assuntos técnicos dessa natureza. Todavia, a existência de norma
expressa em sentido contrário poderá resultar na anulação de processos exatamente por essa
razão. Melhor, então, seguir a letra fria da Lei, ainda quando em processo de óbvio
congelamento. [...]

Ora, se são extensíveis aos serventuários da Justiça as regras de suspeição previstas para o juiz,
por que não seriam elas extensíveis ao perito e ao intérprete ou tradutor? De se ver, mais, que,
em relação aos peritos, intérpretes e tradutores, a possibilidade de influência na decisão judicial
é ainda mais visível, dado caber a eles, como técnicos, afirmar conhecimento verdadeiro sobre o
objeto do processo. E, a nosso aviso, como já antecipado (art. 274, CPP), aplicam-se a eles
(peritos, intérpretes e tradutores) também as regras de impedimento, desde que

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analogicamente cabíveis, como, aliás, explicita uma delas (regra de impedimento) o disposto no
inciso II do artigo anterior.

Tal como já o afirmamos em inúmeras oportunidades, há equiparação, para todos os efeitos


descritos no Capítulo – Sujeitos do Processo – entre as diversas pessoas que dele (processo)
participam, no que toca às regras de impessoalidade da atuação funcional. Serventuários,
peritos, intérpretes, tradutores e, enfim, todos aqueles que puderem atuar no processo e, de
algum modo, influir na sua tramitação ou na formação do convencimento judicial (os peritos,
intérpretes e tradutores, com muito mais razões), devem ser afastados, seja com fundamento
em suspeição, em impedimento ou em incompatibilidade (art. 112, CPP). Mais importante que a
rubrica ou a designação terminológica da situação é a preservação da independência e do
distanciamento objetivo – imparcialidade – da jurisdição. Enfim, todos eles se submetem à
disciplina judiciária durante a tramitação do processo penal (Pacelli, et al., 2018).

Cumpre lembrar o art. 177 do Código de Processo Penal:

Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo deprecado.
Havendo, porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita
pelo juiz deprecante.

Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão transcritos na precatória.

Também vale fazer remissão (são poucos artigos) à Lei 12.030/2009, que dispõe sobre as perícias oficiais:

Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais para as perícias oficiais de natureza criminal.

Art. 2º No exercício da atividade de perícia oficial de natureza criminal, é assegurado autonomia


técnica, científica e funcional, exigido concurso público, com formação acadêmica específica,
para o provimento do cargo de perito oficial.

Art. 3º Em razão do exercício das atividades de perícia oficial de natureza criminal, os peritos de
natureza criminal estão sujeitos a regime especial de trabalho, observada a legislação específica
de cada ente a que se encontrem vinculados.

Art. 5º Observado o disposto na legislação específica de cada ente a que o perito se encontra
vinculado, são peritos de natureza criminal os peritos criminais, peritos médico-legistas e peritos
odontolegistas com formação superior específica detalhada em regulamento, de acordo com a
necessidade de cada órgão e por área de atuação profissional.

Perceba-se, por fim, que os peritos (sejam os oficiais, sejam os não oficiais) são considerados funcionários
públicos para os fins do art. 327 do CP, na medida em que essa condição abrange cargos, empregos ou
funções públicas, ainda que transitórias ou não remuneradas. Ambos podem cometer, portanto, crimes
funcionais.

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7.1 - Formalidades e número de peritos

Assim estabelece o CPP:

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.

§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras
de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o


encargo.

MADEIRA faz um breve retrospecto histórico a respeito do assunto:

Inicialmente, o art. 159 tinha a seguinte redação: “Art. 159. Os exames de corpo de delito e as
outras perícias serão em regra feitos por peritos oficiais. § 1.º Não havendo peritos oficiais, o
exame será feito por duas pessoas idôneas, escolhidas de preferência as que tiverem habilitação
técnica. (...)”. Na época fora editada a Súmula 361 do STF com o seguinte teor: “No processo
penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver
funcionado, anteriormente, na diligência de apreensão”. Posteriormente, com a redação dada
pela Lei 8.862/1994 ao art. 159, passou-se a exigir dois peritos oficiais para a realização do laudo,
tendo o caput do dispositivo, a partir de então, a seguinte redação: “Os exames de corpo de
delito e as outras perícias serão feitos por dois peritos oficiais”. No entanto, passados quatorze
anos desde a reforma de 1994, capitulou-se no ano de 2008 em direção à necessidade de
exigência de somente um perito para a realização do laudo pericial, quando se tratar de peritos
oficiais. Ou seja, em 2008 tivemos nova reforma em que passou-se a entender pela necessidade
de apenas um perito oficial (Dezem, 2018).

Regra geral (existem legislações específicas que disciplinam de forma diversa), atualmente, como se vê no
caput do art. 159, a perícia será realizada por apenas um perito oficial. Na falta de perito oficial é que se
permite a atuação de duas pessoas idôneas que prestarão o compromisso legal.

Ao empregar a palavra “perito” no singular, a alteração legislativa de 2008, visando agilizar a


produção dos laudos e o andamento das investigações e processos, aboliu a exigência de dois
experts para a realização do exame. Sendo oficial, portanto, basta um perito, ressalvada a
hipótese de perícia que abranja mais de uma área do conhecimento, caso em que poderá ser
designada a atuação de mais de um expert (art. 159, § 7.º). Considerando a imposição legislativa
de curso superior, depreende-se que a admissão de peritos pelos institutos oficiais
obrigatoriamente deverá atentar a esta condição. Não obstante esta regulamentação, o art. 159,
§ 1.º, prevê que, na falta de perito oficial, poderá a perícia ser realizada por dois peritos não
oficiais (peritos leigos), como tal consideradas as pessoas idôneas, portadoras de curso superior
preferencialmente na área que constitui o objeto da perícia, que possuam habilitação técnica
relacionada à natureza do exame e que, nomeadas pelo Delegado de Polícia ou pelo juiz, prestem
o compromisso de bem e fielmente desempenharem a função para a qual encarregados (§ 2º).

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E se o compromisso não for prestado? Concordamos com a orientação de que tanto a ausência
de portaria de nomeação dos peritos subscrita pela autoridade policial como a falta de
compromisso constituem mera irregularidade, não maculando o resultado atestado no laudo.

E se os peritos leigos não tiverem graduação superior? Há duas posições: a primeira


no sentido da necessidade do preenchimento dessa formalidade e reputando nulo
o exame de corpo de delito quando realizado por peritos nomeados que não
detenham instrução superior. Já a segunda compreende como mera irregularidade
a circunstância de não possuírem os peritos leigos curso superior. Esse último
entendimento, aliás, aproxima-se do regramento de outros dispositivos legais, tais
como o art. 50, § 1º, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) e o art. 530-D do CPP,
inserido no procedimento de apuração dos crimes contra a propriedade imaterial de ação penal
pública. Ambos, ao tratarem dos peritos leigos, não trazem a escolaridade superior como
condição para a nomeação. Na atualidade, tendem os tribunais a adotar posição eclética,
compreendendo que, embora a regra seja a de que a ausência de curso superior, efetivamente,
vicia o laudo realizado pelos peritos não oficiais, a mácula não se perfaz quando se tratar de
perícia visando a constatar situação singela, vale dizer, aquela em que são prescindíveis maiores
conhecimentos técnico-científicos de seus realizadores. É o caso da perícia realizada para
constatar a funcionalidade de arma de fogo.

Observe-se que este regramento estabelecido pelo art. 159 no sentido da suficiência de um
perito oficial ou da necessidade de dois peritos não oficiais tem natureza geral, não sendo
aplicável a hipóteses regulamentadas por leis especiais. É o caso, por exemplo, da Lei
11.343/2006 (Lei de Drogas), prevendo que, para efeito da lavratura do auto de prisão em
flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação de
natureza e quantidade da droga, firmado por “perito oficial” ou, na falta deste, por “pessoa
idônea” (art. 50, § 1º). Considerando que, nesta hipótese, tanto a referência à perícia oficial como
a menção ao exame realizado por perito não oficial constam no singular, depreende-se que em
qualquer caso bastará que um profissional realize o exame. Frise-se que a perícia assim realizada
é suficiente, apenas, para a lavratura do auto de prisão e o desencadeamento do processo
criminal, sendo necessário, para fins de sentença condenatória, que aporte ao processo o laudo
toxicológico definitivo, confeccionado em obediência ao disposto no art. 159 do Código de
Processo Penal, já que não existe na Lei de Drogas regramento especial acerca dessa perícia
(Avena, 2017).

Sobre a exigência de compromisso legal somente para os peritos não oficiais, assim esclarecem PACELLI &
FISCHER:

Diz a Lei, ainda, no artigo em comento, que os peritos não oficiais prestarão o compromisso de
seriedade e fidelidade no desempenho de suas funções. Ora, com ou sem o compromisso, devem
eles, se e quando atuarem como peritos designados pela Justiça Pública, cumprir fielmente o seu
encargo. Note-se que não há referência também aos peritos oficiais por uma razão muito
simples: estes, como servidores públicos, já atuam sob os deveres do cargo, por força da
legislação correspondente (Pacelli, et al., 2018).

Em casos que exijam perícia complexa, permite a lei que mais de um perito seja nomeado (art. 159, CPP):

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§ 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento


especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais
de um assistente técnico.

Se o objeto da perícia exigir conhecimentos especiais em mais de uma área, deverá o juiz designar
mais de um perito oficial. Embora o Código (§ 7º) se utilize da expressão poderá, não temos
dúvidas em afirmar que se trata de uma exigência e não de uma faculdade. É que a justificativa
da prova pericial – conhecimentos técnicos específicos – se harmoniza inteiramente com a sua
necessidade: ampliar as possibilidades de cognição (conhecimento) do caso penal, funcionando
como garantia de maior segurança no julgamento judicial. Assim, se o objeto da perícia oferecer
desdobramentos técnicos em mais de uma área, deverá o juiz designar mais de um perito oficial
(Pacelli, et al., 2018).

7.2 - Divergência entre peritos

Sobre eventual divergência entre peritos, assim disciplina o CPP:

Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as
declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a
autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar
proceder a novo exame por outros peritos.

Divergência entre peritos: De se ver que, em regra, o laudo pericial oficial, isto é, aquele
produzido pelos agentes do Poder Público, por determinação judicial, é elaborado por apenas
um perito. O aludido dispositivo legal se refere à ordem jurídica pretérita, na qual o laudo,
obrigatoriamente, era produzido por dois peritos oficiais. Ocorre que, quando não houver perito
oficial, o juiz designará dois profissionais com conhecimento na matéria a ser objeto da prova
pericial, consoante o disposto no art. 159, § 1º, CPP. Assim, nessas situações, poderá surgir ainda
divergência entre os peritos responsáveis pelo laudo oficial. Nesse caso, embora o Código, pela
literalidade do texto, sugira a obrigatoriedade de designação de outro perito (um terceiro), cabe
ponderar o seguinte: (a) na hipótese em que o laudo oficial tiver que ser feito, necessariamente,
por dois peritos (art. 159, § 1º), será preciso a convergência entre pelo menos dois deles (se outro
tiver sido designado), daí por que deve ser obrigatória a designação de outro expert; (b) se o
terceiro perito nomeado concordar com um deles, o juiz poderá dar-se por satisfeito; se, porém,
entender que o laudo assim produzido não lhe parece ter força de convencimento suficiente,
poderá designar novos peritos para a elaboração de outro laudo, afinal, ele não está adstrito a
um laudo específico; (c) se houver divergência também entre o laudo inicial e aquele produzido
pelo terceiro, deverá o juiz designar dois novos peritos, a fim de que cumpra a exigência de duplo
conhecimento técnico, nos casos em que a Lei assim o exige. Mas relembre-se: sempre será
facultado ao juiz determinar a elaboração de outro laudo pericial. Seja no caso de laudo oficial
produzido por um único perito oficial (art. 159, CPP); seja na hipótese de designação de dois
profissionais para o laudo oficial (art. 159, § 1º), seja, por fim, independentemente da

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convergência entre eles. O que aparece como exigência para o convencimento judicial é que a
decisão, quando se fundar em prova pericial, obedeça aos requisitos legais, caso em que, a
depender da situação exigirá a convergência entre dois profissionais (Pacelli, et al., 2018).

AVENA elabora um resumo quanto à divergência entre os peritos:

a) Peritos convergem nas conclusões e o juiz concorda integralmente com o resultado do laudo:
a decisão será proferida em acordo com a perícia.

b) Peritos convergem nas conclusões e o juiz discorda com o resultado do laudo: o juiz proferirá
decisão contrária ao laudo, fundamentando-a, porém, em outros elementos de prova coligidos
ao processo.

c) Peritos divergem nas conclusões, caso em que o juiz:

• Poderá optar por uma das soluções apontadas, discordando da remanescente e


fundamentando esse seu entendimento.

• Poderá nomear terceiro perito – chamado de “desempatador” – para indicar qual sua posição
em face das conclusões contraditórias dos peritos que o antecederam no exame, guiando-se o
magistrado, neste caso, pelo resultado das observações desse último expert.

• Se o perito desempatador divergir das conclusões dos peritos que realizaram o primeiro laudo,
poderá o juiz determinar nova perícia, a ser realizada por dois outros peritos, ignorando, então,
a primeira realizada (Avena, 2017).

Doutrina complementar

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 12ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019), sobre a figura dos
peritos, aduz: “A perícia será realizada por perito oficial ou, em sua falta, por duas pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, dentre as que tiverem habilitação
técnica relacionada à natureza do exame. Quando a perícia for realizada por peritos não oficiais, será
necessário que os peritos firmem compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo (art. 159, § 2º,
do CPP). A Súmula 361 do Supremo Tribunal Federal estabelece: ‘No processo penal, é nulo o exame
realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionado anteriormente na diligência
de apreensão’. A Lei n. 11.690/2008, que alterou o § 1º do art. 159 do CPP, retirou a exigência no sentido de
que dois peritos oficiais realizassem o exame pericial, restando revogada referida súmula em relação às
perícias oficiais. No caso de mais de um perito oficial designado e em havendo divergência entre eles,
cada um fará consignar no auto do exame suas declarações e respostas, ou redigirá seu laudo
separadamente. Nesse caso caberá à autoridade nomear um terceiro perito. Se o terceiro perito divergir
dos dois primeiros, poderá o juiz ou delegado mandar proceder a novo exame, que será realizado por
outros peritos (art. 180 do Código de Processo Penal)”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “Entende-se por perito o
indivíduo que é especialista, expert em um assunto ou atividade; que possui habilidade ou conhecimento
específico sobre algo; que detenha perícia, em última análise, e sobre esse auxiliar da justiça falaremos no
capítulo destinado ao estudo dos “sujeitos processuais”. Perito oficial é o profissional aprovado em
concurso público, que ao ser nomeado para o cargo e assumir as respectivas funções presta compromisso
de bem e fielmente portar-se no exercício de sua profissão. Perito nomeado ou louvado é o perito não
oficial, nomeado em confiança para determinado trabalho pericial”.

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VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012): “Na atualidade, então, a
perícia, quando realizada por perito oficial, ou seja, membro de instituto de criminalística ou assemelhado
organizado na estrutura oficial de auxílio à atividade policial e judicial enquanto função pública, poderá
ser realizada por um só perito, que, aliás, era o que ocorria habitualmente, porque o segundo perito então
previsto na lei meramente o subscrevia para cumprir a exigência formal, sem qualquer participação de
fato em sua elaboração. Passou a ser clara a exigência de dois peritos, no caso de não serem oficiais, repita-
se, considerando-se como oficiais os pertencentes a órgão público especializado, sendo que os não oficiais
serão nomeados pela autoridade, devendo ser pessoas idôneas portadoras de diploma de curso superior,
preferencialmente da área objeto da perícia e que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza
do exame. É excessiva a obrigatoriedade de que os peritos tenham diploma de nível superior, porque, por
exemplo, em certas áreas, como, por exemplo, a de avaliação de joias, obras de arte, direitos imateriais
etc., tem muito maior importância o reconhecido conhecimento técnico que o diploma de curso superior
que, como está na lei, somente preferencialmente deve ser da área específica. A lei, contudo, não dá
margem a dúvidas: há necessidade de que ambos tenham diploma de curso superior, o que não se exige
no caso do perito oficial, como, por exemplo, técnicos de laboratório de nível médio, cuja capacidade
técnica é presumida em virtude de sua investidura no órgão oficial. Os peritos não oficiais nomeados pela
autoridade policial ou judicial prestarão compromisso, que se traduz na assinatura de um termo de
responsabilidade de sua atuação”.

8 - ATUAÇÃO PROCESSUAL DAS PARTES EM RELAÇÃO À PERÍCIA


Destacamos, inicialmente, algumas regras do CPP (art. 159) que preveem algumas prerrogativas processuais
para as partes, com relação às perícias:

§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao


querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.

§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames
e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.

§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos,
desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em
laudo complementar;

II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz
ou ser inquiridos em audiência.

§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será
disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de
perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.

De acordo com essas regras, podemos identificar três nítidas prerrogativas processuais para as partes com
relação à perícia: 1) formulação de quesitos; 2) indicação de assistente técnico; 3) disponibilização do
material probatório.

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Essas regras foram introduzidas no CPP em 2008, havendo uma relativa inovação a respeito da matéria.
MADEIRA esclarece sobre isso:

Antes da Lei 11.690/2008, entendia-se, majoritariamente, pela impossibilidade de


nomeação de assistente técnico pelas partes. Assim, veja-se o seguinte julgado
representativo desta posição:

“Criminal. HC. Perícia. Ausência de indicação de assistentes técnicos. Perícia de


natureza criminal. Aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. Impossibilidade.
Nulidade. Inocorrência. Ausência de demonstração de prejuízo. Matéria nova. Supressão de
Instância. Ordem denegada. I – A ausência de indicação de assistentes técnicos para acompanhar
a realização da perícia não constitui nulidade, uma vez que se trata de providência prevista no
Código de Processo Civil, inaplicável na hipótese, que trata de exame pericial de natureza
criminal. II – Ressalte-se, ainda, que, no tocante ao tema de nulidades, é princípio fundamental,
no processo penal, a assertiva de que não se declara nulidade de ato, se dele não resultar prejuízo
comprovado para o réu, nos termos do art. 563 do CPP e da Súmula 523 do Supremo Tribunal
Federal. (...)” (STJ, HC 32.543/CE, 5.ª T., Rel. Min. Gilson Dipp, DJ 02.08.2004).

Na doutrina sustentava a posição do acórdão acima GUILHERME NUCCI, que, no entanto, a


moderava com a posição de SCARANCE FERNANDES: “É inadmissível, no processo penal, a indicação
de assistentes técnicos pelas partes, o que não impede, como destaca ANTONIO SCARANCE
FERNANDES, que ‘a parte possa recorrer a peritos particulares para análise da prova produzida
pelos peritos oficiais, emitindo pareceres técnicos. Quem mais se socorre desses pareceres é o
acusado’ (Processo penal constitucional, p. 76). O laudo particular seria prova documental,
analisada livremente pelo magistrado (art. 157 do CPP)” (Dezem, 2018).

A nova redação dos §§ 3º e 4º do art. 159 do CPP, atualmente, não dá margem a dúvidas: as partes têm a
prerrogativa de indicar assistentes técnicos e formular quesitos, como antes já ocorria no processo civil.

As partes podem indicar auxiliares para representá-las na formação da prova técnica. Estes são vinculados
às partes com quem contribuem, recebendo a designação de assistentes técnicos. “A eles não se aplicam as
causas de impedimento e de suspeição, e a sua nomeação ou destituição não fica na esfera de decisão do
magistrado” (Marinoni, et al., 2015). O assistente técnico “deve ser compreendido como um auxiliar das
partes, dotado de conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, responsável por trazer ao processo
informações especializadas pertinentes ao objeto da perícia” (Lima, 2018). Lembre-se que há pouco
pontuávamos, de acordo com o pensamento de PACELLI & FISCHER, que estariam sujeitos à disciplina judiciária,
tendo compromisso com a verdade.

Assistente técnico e contraditório: Inovando na legislação processual penal, a Lei nº 11.690/08


passou a permitir uma maior participação das partes na elaboração da prova pericial, autorizando
a indicação de assistentes técnicos pelo Ministério Público e querelante (na ação privada), pelo
assistente de acusação, pela defesa e também pelo ofendido, ainda que não habilitado (como
assistente de acusação). A novidade há que ser bem recebida. Embora não se possa, com ela,
sustentar a possibilidade de contraditório e ampla defesa já na fase de investigação, cumpre
observar que a faculdade de apresentação de laudo técnico pelas partes, sobretudo pela defesa,
amplia sobremaneira o horizonte de prova, e, assim, o de convencimento judicial, acerca dos

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conhecimentos específicos. Uma coisa é questionar o laudo oficial no âmbito das argumentações
genéricas da defesa. Outra, muito diferente, é poder apresentar quesitação para ser respondida
pelos peritos, acompanhada de laudo técnico em sentido diverso. Portanto, ainda que não seja
possível o acompanhamento – em tempo real – da perícia oficial, a possibilidade de indicação de
assistente (perito) técnico e de quesitação para respostas em audiência ou em laudo
complementar consolida a perspectiva dialética no processo, permitindo um mais amplo
exercício do contraditório (Pacelli, et al., 2018).

BRASILEIRO diferencia o assistente técnico do perito com base nos seguintes motivos:

1) Tratando-se de auxiliar das partes, é evidente que, da sua atuação, não se pode esperar a
mesma imparcialidade que permeia a atuação do perito. Destarte, ao contrário dos peritos, os
assistentes técnicos não se sujeitam às causas de impedimento e suspeição;

2) Ao contrário dos peritos oficiais ou não oficiais, os assistentes técnicos não podem ser
considerados funcionários públicos, na medida em que não exercem cargo, nem tampouco
função pública;

3) Como o crime de falsa perícia previsto no art. 342 do Código Penal é um crime de mão própria,
tendo como sujeito ativo apenas o perito, eventuais falsidades cometidas pelo assistente técnico
não configuram o referido delito. A depender do caso concreto, todavia, poderá restar
caracterizado o delito de falsidade ideológica (CP, art. 299), caso seja comprovado que o
assistente técnico omitiu em seu parecer declaração que dele devia constar, nele inseriu ou fez
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Logicamente, a prática do
delito de falsidade ideológica está condicionada à inserção de um dado objetivo falso em seu
parecer, jamais podendo ser censurada criminalmente eventual opinião do assistente técnico
distinta daquela firmada pelos peritos (Lima, 2018).

Para demonstrar a diferença de posicionamentos doutrinários, vamos repetir aqui


passagem de PACCELI & FISCHER:

No particular, relativamente à prova pericial, permitiu-se a indicação de


assistentes técnicos pelas partes, pelo assistente de acusação e pelo ofendido,
se não habilitado como assistente de acusação (art. 159, § 3º, CPP). Também
estes, indicados pelas partes e os demais legitimados, se submeterão à disciplina judiciária,
mesmo não tendo sido nomeados pelo juiz. Não é porque a defesa indicou determinada
testemunha que poderá ela prestar quaisquer declarações. Não, ela estará sempre
compromissada, por imposição legal, a dizer a verdade. O mesmo ocorre em relação ao
assistente técnico indicado por quem que seja. É que referido profissional, precisamente por se
ver obrigado a apresentar laudo técnico sobre a matéria debatida em juízo e com possibilidade
de influência no convencimento do juiz, também deve atuar sob o compromisso de verdade de
seu conhecimento. E, mais, sob pena, de falsa perícia (art. 342, CP). E, nesse ponto, não nos
deteremos diante da ausência de qualificação específica no citado tipo penal. É bem verdade que
ali não se aponta o assistente de perito e sim este último (o perito). No entanto, ambos produzem
prova pericial, que vem a ser o objeto da tutela penal ali prevista. Não fosse assim, o juiz também

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não poderia se firmar no laudo apresentado pelo assistente técnico – perito da parte – para a
formação de seu convencimento (Pacelli, et al., 2018).

Eis, em forma de questão discursiva, como o tema já foi cobrado em concurso público:

Com. Exam. (MPE SP) – Promotor de Justiça (MPE SP)/2010/87º. Qual é a função do assistente técnico
indicado pela parte, em relação aos exames periciais?

Algumas questões, conforme a doutrina, podem ser erigidas a respeito do assunto.

• 1ª) Quando, em que momento os interessados devem ser notificados para eventual indicação de
assistentes técnicos e apresentação de quesitos?

Entendemos que a obrigatoriedade de notificação das partes para a formulação de quesitos e a


indicação de assistente técnico contemplada no art. 159, § 3º, é restrita às perícias determinadas
na fase judicial, não sendo extensiva à etapa das investigações policiais. Isto parece claro pela
própria semântica utilizada no dispositivo, que não se refere ao investigado, mas se utiliza da
palavra acusado, tecnicamente usada para identificar o imputado na denúncia ou na queixa-
crime. Reforçando este entendimento, ainda, a explicitude do art. 159, § 5º, II, ao determinar
que, durante o curso do processo judicial, será permitido às partes indicar assistente técnico.
Observe-se que o art. 159, § 3º, do CPP contém regramento cogente, alertando que serão
facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao
acusado a formulação de quesitos e a indicação de assistentes. Logo, a ausência de notificação
destes sujeitos processuais poderá acarretar nulidade processual, cuja natureza reputamos ser
relativa, sujeitando-se à demonstração de prejuízo para que seja declarada. Difere o regramento
inserto ao citado § 3º daquele incorporado ao art. 176 do CPP, pois este último é restrito a
disciplinar que as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência, estatuindo simples
faculdade às partes que poderá ser exercida também na fase do inquérito. Seguindo esse
raciocínio, conclui-se que, em relação à participação do investigado e da vítima nos atos do
inquérito, persistem em vigor as normas que estabelecem discricionariedade à autoridade
policial para deferir ou não diligências eventualmente requeridas, inclusive no que concerne à
prova pericial. Em verdade, a única exceção em que a autoridade policial não possui essa
liberdade para atender ou não solicitações do investigado ou do ofendido refere-se àquela
destinada à comprovação do corpo de delito. Isso ocorre em face do que dispõe o art. 184 do
CPP (Avena, 2017) [...]:

Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia
requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

Os quesitos devem ser apresentados no prazo de até dez dias antes da realização da audiência.
De outro lado, não se pode impor às partes o cumprimento da expedição de mandado de
intimação no mesmo prazo. À parte cabe a indicação e a apresentação de quesitos; à

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administração da justiça, a formalização das pretensões. Pensamos, então, que, não obstante a
Lei (art. 159, § 5º, CPP) dispor ser permitido às partes, durante o curso do processo, apresentar
quesitos aos peritos, sem apontar nenhum momento específico, a produção de tais diligências
deve ser apresentada por ocasião da resposta escrita (art. 396-A, CPP), oportunidade em que se
esclarece a atividade probatória que se pretende exercer. Obviamente, pressuposto de validade
do que vem de se afirmar é a existência do laudo oficial já na fase de investigação. Se, por
qualquer razão (réu preso, por exemplo), o laudo for posterior ao oferecimento da denúncia,
poderá a defesa – e também os demais legitimados – apresentar quesitação em momento
posterior, com a antecedência dos dez dias previstos no art. 159, § 5º, I, CPP. Note-se que
estamos nos referindo a duas questões diferentes: uma coisa é requerer a intimação do perito
para esclarecimentos em audiência ou mesmo por meio de laudo complementar e a indicação
de assistente técnico. A outra é formular os quesitos a serem respondidos. Estes, os quesitos,
devem obedecer ao prazo de antecedência dos dez dias, até porque dependerão do exame
pericial a ser desenvolvido também pelos assistentes técnicos. O meio de prova, no entanto,
acompanhado da indicação do assistente técnico, deve ser requerido no momento reservado
para a indicação das provas. Quanto aos demais interessados: o querelante e o Ministério
Público, como órgãos de acusação, devem indicar o meio de prova e o assistente técnico por
ocasião da denúncia ou da queixa; o assistente de acusação e o ofendido, com a antecedência
dos dez dias anteriores à audiência (Pacelli, et al., 2018).

• 2ª) Existe necessidade de admissão do assistente técnico?

A parte interessada, seja a acusação, representada pelo Ministério Público ou pelo acusador
particular (assistente de acusação ou querelante), seja a defesa, deverá requerer ao juiz a
admissão do assistente técnico eventualmente indicado. Exige-se, deste modo, que haja um
pronunciamento judicial a respeito, sendo que somente após essa admissão é que o assistente
técnico poderá atuar, condicionando-se esta sua atuação, ainda, a que a perícia do juízo já tenha
sido concluída, bem como elaborado o laudo correspondente. Considerando que o art. 159, § 3º,
possui, como dissemos antes, linguagem cogente, aduzindo que “serão facultadas ao Ministério
Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de
quesitos e a indicação de assistente técnico”, compreendemos que não será lícito ao juiz indeferir
a admissão do assistente técnico pretendido pelas partes, salvo se motivos processuais
conduzirem-no a esta decisão, como a inexistência de ação penal em andamento (requerimento
feito na fase do inquérito) (Avena, 2017).

• 3ª) Quantos assistentes técnicos podem ser indicados?

A regra deverá ser a de que se faculte a indicação de apenas um assistente por cada um dos
sujeitos referidos no art. 159, § 3º, evitando-se, destarte, tumultos e delongas ao andamento do
processo decorrente do trabalho de inúmeros profissionais em torno do objeto da perícia.
Havendo mais de um réu, poderão ser indicados tantos assistentes quanto for o número de
imputados. Sendo indicado número de assistentes superior ao permitido, deverá o juiz ordenar
a intimação do interessado que realizou a indicação, para que escolha qual deles realizará o
trabalho. Exceção a esta regra, todavia, existe no art. 159, § 7.º, do CPP, dispondo que, “tratando-
se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-
á designar a atuação de mais de um perito oficial e a parte indicar mais de um assistente técnico”

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(grifamos). É o caso, por exemplo, da perícia envolver conhecimentos médicos e de balística.


Apesar de a redação do mencionado § 7.º tratar como perícia complexa aquela que envolva mais
de uma área de conhecimento especializado, reputamos que também deve enquadrar-se como
tal – e, portanto, autoriza a indicação de mais de um assistente técnico – aquela que, embora
relativa a apenas uma área do conhecimento, tenha sua complexidade determinada pelo objeto
(Avena, 2017).

• 4º) Em que momento do procedimento deve atuar o assistente técnico?

Mais uma vez o § 4º do art. 159 do CPP:

§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos
exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.

Na verdade, esse dispositivo incorpora grave impropriedade redacional quando dispõe que o
assistente técnico atuará depois da “elaboração do laudo pelos peritos oficiais”. É evidente que
o legislador quis referir-se, aqui, não a peritos oficiais (mesmo porque, sendo oficial, basta um
perito), e sim à perícia oficial, vale dizer, aquela determinada pelo juiz, não importando se
realizada por perito oficial ou por peritos não oficiais. Raciocínio oposto importaria na conclusão
de que, sendo a perícia executada por peritos leigos, não ensejaria a admissão de assistente
técnico, o que é tese inconcebível. Pois bem, ao proibir a atuação do assistente técnico enquanto
ainda não concluído o laudo oficial, objetivou o legislador, no art. 159, § 4º, evitar que a
interferência de profissional indicado pelas partes em momento anterior a esse prazo
prejudicasse não só a qualidade técnica do trabalho a ser realizado pelos peritos do juízo, como
também a necessária isenção destes profissionais. Ao deferir a admissão de assistente técnico,
deverá o juízo, para evitar procrastinação do processo, fixar prazo para que apresente suas
conclusões, conforme determina o art. 159, § 5º, II, do CPP. Descumprido, injustificadamente, o
prazo fixado, faculta-se ao juiz dar prosseguimento ao processo, possibilitando-se, inclusive, a
apresentação de razões finais pelas partes e a prolação de sentença. Da decisão que admite o
assistente técnico, as partes deverão ser intimadas, o que se justifica na necessidade de permitir
a elas eventual impugnação, alegando-se, por exemplo, o fato de se tratar dito assistente de
pessoa impedida de realizar validamente perícia nos autos (art. 279 do CPP). Não se pode ignorar,
afinal, que o laudo produzido pelo referido profissional, uma vez acostado aos autos, poderá ser
utilizado pelo juiz como elemento de convicção no momento da prolação da sentença (Avena,
2017).

E estes, os assistentes técnicos, somente ingressarão na fase processual depois da realização do


laudo oficial (§§ 4º e 5º). Quando se afirma que o juiz deve admitir o assistente técnico, quer-se
dizer que cabe ao juiz avaliar o momento de pertinência do ingresso do aludido profissional no
processo. É dizer: não basta a parte indicar e apresentar o laudo de profissional de sua confiança;
deve ele requerer a sua habilitação nos autos, até mesmo para que se comprove tratar-se de
técnico especializado na matéria sub examen (Pacelli, et al., 2018).

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“Não se admite, portanto, a intervenção do assistente na fase investigatória” (Lima, 2018). Alertamos,
entretanto, para a possibilidade desse entendimento ser alterado, em caso de eficácia de disposição do
Pacote Anticrime que está suspensa pelo STF (Art. 3ºB, inc. XVI do CPP).

• 5º) As partes poderão ter acesso ao material examinado?

Art. 159. § 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à
perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na
presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua
conservação.

A guarda do material probatório deve ficar com o órgão oficial – central de custódia. Nesse sentido:

Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à
guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de
perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

E quanto ao acesso, vejamos mais uma vez a lição de AVENA:

Assim, não sendo suficiente o contato com elementos formais integrantes dos autos e com as
conclusões dos peritos oficiais e necessitando o assistente técnico interagir diretamente com
esse objeto (v.g., a arma do crime, a fibra encontrada no local do fato, a peça de vestuário
contendo resíduos de sangue etc.), poderá ter acesso ao material probatório que serviu de base
à perícia, o qual, porém, “será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre
sob sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for
impossível a sua conservação”. Observa-se, portanto, que referido material não será entregue ao
assistente admitido no caso, mas ficará em ambiente oficial (v.g., departamentos de perícias,
institutos de criminalística, institutos médico-legais etc.), sob a guarda do órgão oficial
competente, podendo ser manuseado pelo assistente técnico sob a atenta fiscalização do
responsável junto a tal órgão, ao qual incumbirá zelar para que essa manipulação não importe
em destruição do objeto ou em sua descaracterização (Avena, 2017).

• 6ª) O juiz pode indeferir a admissão do assistente técnico?

[...] não havendo óbices processuais, o juiz está obrigado à admissão do assistente técnico
quando indicado pelos legitimados do art. 159, § 3º, do CPP. Assim, o indeferimento injustificado
ensejará a dedução de remédios como o habeas corpus, o mandado de segurança e a própria
correição parcial, conforme seja a parte interessada e a hipótese em exame. Por outro lado, se
equivocado o deferimento de atuação do assistente técnico indicado, restará à parte ex adversa
o pedido de correição parcial, fulcrado na ilegalidade do proceder judicial (Avena, 2017).

• 7ª) Qual o valor das conclusões dos assistentes técnicos?

Não é muito apropriado nem científico atribuir ‘valor’ às provas que são produzidas dentro de um processo
– não estamos em sistema de prova tarifada (como já se falou).

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[...] quanto ao valor do laudo apresentado por assistentes técnicos, deverá ser aferido pelo juízo
segundo o seu livre convencimento, em confronto com as conclusões do laudo oficial e dos
demais elementos de prova angariados ao processo. Obviamente, tratando-se de meio de prova
apresentado por profissional constituído ou designado pelas partes, e, portanto, despido de
isenção, caberá ao juiz examiná-lo com reservas, acautelando-se em suas conclusões (Avena,
2017).

• 8ª) Quais são os sujeitos que podem apresentar quesitos e indicar assistente técnico?

Pelo que se infere do art. 159, § 3º, não apenas o Ministério Público e a defesa, mas também o
assistente de acusação, o querelante e o ofendido tiveram assegurado o direito de serem
notificados para, se quiserem, apresentar quesitos a serem respondidos na perícia e indicarem
assistente técnico para atuar no processo. Note-se que, de acordo com o art. 30 do CPP,
querelante é o ofendido na condição de autor da ação penal privada. Por outro lado, segundo
regra do art. 268 do CPP, assistente de acusação é o ofendido na qualidade de interveniente na
ação penal pública. Entretanto, o art. 159, § 3º, do CPP, além de se referir ao querelante e ao
assistente de acusação, também faz menção ao ofendido, independentemente de ocupar essas
posições. Assim, é necessário concluir que, mesmo não sendo o ofendido autor da ação privada
e, no caso da ação penal pública, não se encontrando habilitado como assistente do Ministério
Público, ainda assim deverá ser instado quanto às perícias para os fins do citado § 3º.
Compreendemos, porém, que, tratando-se de processo iniciado por denúncia do Ministério
Público, o exercício dessas faculdades condiciona-se a que, previamente ou concomitantemente
à apresentação de quesitos e indicação de assistente técnico, o ofendido habilite-se nos autos
como assistente de acusação, uma vez que propor meios de prova é faculdade que a lei confere
ao ofendido quando devidamente habilitado no processo a esse título (art. 271 do CPP) (Avena,
2017).

8.1 - Oitiva dos peritos em audiência

Mais uma vez o § 5º do art. 159 do CPP:

§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos,
desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em
laudo complementar;

Visando a ampliar o contato dos interessados com os peritos e facilitar a obtenção de


esclarecimentos em torno do exame realizado, acrescentou a Lei 11.690/2008 ao art. 159, § 5º,
I, do CPP, ainda, a possibilidade de as partes requererem ao juiz, no curso do processo judicial, a
oitiva dos peritos para “esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos”. Neste caso, o
mandado de intimação dos experts para a audiência deverá ser cumprido com antecedência
mínima de dez dias em relação à data aprazada para a solenidade, encaminhando-se, no mesmo

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prazo, a eles, os quesitos a serem respondidos ou as questões a serem esclarecidas. Tal lapso
justifica-se na necessidade de conceder aos peritos um prazo mínimo para que possam, se
preciso for, realizar novos estudos e exames sobre o objeto da perícia e, assim, prestar os
esclarecimentos que lhes estão sendo solicitados por qualquer das partes. Não se aplica,
portanto, aqui, a regra incorporada ao art. 176 do CPP (redação de 1941), segundo a qual “as
partes poderão formular quesitos até o ato da diligência”.

Atente-se que esta faculdade, obviamente, não se confunde com aquela prevista no art. 159, §
3º, este conferindo ao Ministério Público, querelante, assistente de acusação, ofendido e defesa
a faculdade de apresentação de quesitos. No § 3º, com efeito, assegura o Código aos sujeitos lá
mencionados o direito de, previamente à perícia oficial, apresentarem quesitos a serem
respondidos pelos peritos por ocasião da apresentação do laudo principal em juízo. Já no § 5º,
inciso I, objetiva a providência mencionada possibilitar às partes a oitiva dos peritos em audiência
judicial ou o esclarecimento a questões que venham a surgir ou a novos quesitos que lhes sejam
formulados em razão de dúvidas geradas pelas conclusões apresentadas no laudo oficial já
confeccionado e acostado aos autos. Tanto é assim que, no § 5º, refere a lei que os peritos
poderão, querendo, apresentar as respostas aos novos questionamentos “em laudo
complementar” – “complementar” ao laudo principal, obviamente, pressupondo-se que já tenha
este sido apresentado.

Ademais, parece claro que a possibilidade de oitiva dos experts em audiência deve, também, ser
extensiva a eventuais assistentes técnicos que, indicados no processo, tenham acostado seus
pareceres aos autos. Afinal, se a prova daí resultante também é capaz de formar a convicção do
julgador, não lhe atribuindo a lei valor inferior, nada mais justo do que facultar às partes, em
especial àquela que figurar em polo adverso à que indicou o assistente, a inquirição do referido
profissional quanto às suas conclusões. No caso do Ministério Público, o interesse ainda mais se
justifica pela sua condição de custos legis na ação penal privada ou de parte imparcial na ação
penal pública, podendo e devendo inclinar-se em favor do réu quando detectar a inexistência de
elementos que conduzam à sua responsabilização criminal. Corroborando esta conclusão o fato
de que o art. 159, § 5º, I, refere-se a “peritos”, utilizando a palavra no plural, o que abrange todo
e qualquer profissional que subscrever legitimamente laudos ou pareceres juntados aos autos;
e, também, a circunstância de que o inciso II do mesmo artigo possibilita expressamente a
inquirição de assistentes técnicos em audiência (Avena, 2017).

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “A atuação do
assistente ocorrerá na fase processual, e após a elaboração do laudo pelos peritos oficiais. A intervenção
do assistente se efetiva quando a perícia oficial já foi concluída, de sorte que cabe ao juiz, após o ingresso
do laudo oficial nos autos, deliberar pela admissibilidade ou não do assistente técnico indicado, intimando
as partes da sua decisão, que é irrecorrível, o que não afasta a possibilidade do mandado de segurança
(ou habeas corpus) manejado como sucedâneo recursal, e a discussão da negativa em preliminar de
apelação, alegando-se eventual nulidade por cerceamento do direito de defesa ou de acusação. As
conclusões do assistente serão vazadas em parecer técnico, a ser apresentado em prazo estabelecido pelo
magistrado. Entendemos que a regra deve ser o prazo de dez dias, por analogia ao parágrafo único do art.
160 do CPP, ao tratar do prazo para os peritos apresentarem o seu laudo. Se houver motivo justificado, não
enxergamos obstáculo para a prorrogação, existindo requerimento neste sentido. Os assistentes também
poderão ser inquiridos na audiência de instrução e julgamento, pressupondo requerimento dos

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interessados. Poderá haver até mesmo acareação entre os assistentes de acusação e da defesa, ou entre
eles e o perito do juízo, tudo em prol do maior e melhor esclarecimento técnico possível. Estamos diante
de mais um meio de prova, afinal, o magistrado, se assim estiver convencido, poderá afastar o laudo oficial
e valer-se do parecer do assistente para lastrear a decisão”.
FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (Processo penal, vol. 3, 32ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010), criticando a
forma como foi concebida a atuação dos assistentes técnicos pelo CPP, assevera: “A Lei n. 11.690/2008
criou a figura do “assistente técnico” no Processo Penal. A propósito o § 4º do art. 159 do CPP: “O assistente
técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após à conclusão dos exames e elaboração do laudo
pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas dessa decisão”. Se a prova pericial deve ser contraditória,
sob pena da sua imprestabilidade, para que assistente técnico se este não poderá participar de sua
produção? Se as perícias em mais de 90% dos casos são feitas na Polícia, para que assistente técnico em
juízo se não pode ele participar da sua elaboração? Se a maioria dos acusados é constituída de pessoas
pobres, quem pagará os honorários do assistente técnico? Vai ser privilégio dos abonados...”.

9 - AUTÓPSIA E EXUMAÇÃO
Assim dispõe o Código de Processo Penal:

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão
no auto.

Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver,
quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar
a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma
circunstância relevante.

Normalmente a doutrina critica o uso da locução autópsia, dizendo que o ideal seria o uso da palavra
necropsia.

O art. 162 do CPP estabelece as regras para que seja realizada a autópsia. A autópsia (mais
tecnicamente conhecida como necropsia, visto que o prefixo auto dá a ideia do próprio cadáver
realizar em si o exame o que, convenhamos, é impossível) (Dezem, 2018).

Apesar de o CPP usar a expressão autópsia, o ideal é usar a palavra necropsia, pois autópsia
significa inspeção de si próprio. Em regra, a necropsia envolve o exame interno e externo,
lavrando-se, em seguida, o laudo necroscópico ou cadavérico (Lima, 2018).

E necropsia, portanto, é o exame interno do cadáver que “tem por finalidade precípua a constatação da
causa da morte. Mas não apenas esta finalidade, pois se destina também a verificar outros elementos, tais
como o número de ferimentos havidos no cadáver, a trajetória dos projéteis e outras tantas informações
relevantes para a elucidação do crime”. Quando ao prazo mínimo de 6 horas e à morte violenta, assim explica
MADEIRA:

Este prazo fixado pela lei tem sua razão de ser: estabelece-se um parâmetro mínimo de
segurança para o surgimento de possíveis sinais incontroversos da morte a serem analisados
pelos peritos, daí a identificação clara do motivo da exceção apresentada pelo próprio artigo. É

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desnecessária a necropsia em se tratando de morte violenta e nos casos em que ocorra uma das
duas seguintes situações (art. 162): (1) não há infração penal a ser apurada; (2) as lesões externas
permitem precisar a causa da morte e não há outra circunstância relevante a ser analisada
(Dezem, 2018).

Exumar, por outro lado, traduz o ato de desenterrar o cadáver da sua sepultura, normalmente para se
realizar algum exame faltante ou complementar algum já existente.

Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que,
em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado.

Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou particular indicará o lugar da


sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a
sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade
procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto.

A exumação de cadáver presta-se à realização de prova pericial nos casos em que, por meio dela,
seja possível, ao exame cadavérico, apontarem-se alguma ou algumas conclusões relevantes
acerca da causa da morte. Exames de DNA, de arcada dentária (havendo dúvidas sobre a
identidade do morto) e outros de idêntica natureza, podem esclarecer situações, fatos ou
circunstâncias relevantes à imputação penal. Evidentemente, será necessária a demonstração
cabal da necessidade e da utilidade do exame, tendo em vista os transtornos dele decorrentes.
E, a nosso aviso, cabe apenas à autoridade judicial a autorização para a sua realização,2 na medida
em que a diligência implica o tangenciamento a direitos subjetivos de terceiros, legitimados em
razão da proteção à imagem, à honra e, enfim, ao patrimônio moral do falecido. Autorizada que
seja a providência, cabe à Administração do local em que estiver enterrado o cadáver a
identificação do sepultamento, sob pena de responsabilidade (por desobediência) (Pacelli, et al.,
2018).

Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem
como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.

O objetivo é óbvio e dispensa especulações. A cena do crime deve ser preservada, a fim de que
a perícia técnica possa realizar seus trabalhos, muitas vezes relevantíssimos para a apuração do

2
A iniciativa para determinação da exumação é matéria controvertida na doutrina. Embora PACELLI & FISCHER entendam que se
trata de providência a ser determinada exclusivamente pelo magistrado, NORBERTO AVENA afirma ser desnecessária prévia
autorização judicial se houver consentimento da família para a realização do ato – confira abaixo, na “Doutrina Complementar”.

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crime. Como nem sempre as primeiras diligências relativas à identificação do crime são feitas
pela Polícia Judiciária, impõe-se toda cautela aos membros da Polícia Militar, bem como aos
particulares que, eventualmente, chegam ao local e se deparem com cena do crime. Os peritos
deverão, então, antes do recolhimento do material cuja apreensão é legalmente autorizada,
preservar a memória da situação de fato, para posteriores conclusões (Pacelli, et al., 2018).

Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível,
juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente
rubricados.

Recomendação desbordante da regra de necessidade da regulação legal, isto é, excesso de zelo


na criação de regras legais, tendo em vista que o presente dispositivo já se conteria no anterior.
Se a ideia é a preservação da memória, por que não desenhos, esquemas e outros grafismos,
desde que comprovada a respectiva originalidade? (Pacelli, et al., 2018)

Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao


reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela
inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se
descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.

Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos


encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver.

A dúvida aqui se resume à identidade do cadáver exumado. Aliás, como vimos, seria esse (a
dúvida) um dos fundamentos possíveis para a autorização da exumação. Nesse caso, serão
adotados os procedimentos de rotina para a identificação do cadáver (arcada dentária, exame
de DNA, impressões datiloscópicas, ou, se ainda possível, o reconhecimento pessoal pelos
parentes). A referência feita ao recolhimento de objetos parece supor que tal providência não
tenha sido realizada quanto do sepultamento, o que é bastante raro, mas não impossível. E estes,
os objetos, podem mesmo ser úteis na confirmação da identificação, não valendo, por si só, como
prova. (Pacelli, et al., 2018)

Doutrina complementar

ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “Autópsia ou necropsia (art. 162 do CPP) — é o exame levado a efeito no cadáver para determinar a
causa da morte. Em regra, haverá exame interno do cadáver, que, no entanto, não será necessário quando
não houver infração penal a apurar ou quando o exame externo permitir a conclusão sobre a causa da

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morte. Exige-se, para sua realização, o período de segurança de seis horas a contar do momento do óbito,
já que, transcorrido esse lapso, há o aparecimento de sinais tanatológicos mais evidentes. Determina o
Código que os cadáveres sejam fotografados na posição em que forem encontrados, bem assim que se
faça registro fotográfico das lesões que porventura neles existirem e, ainda, que os peritos instruam o
laudo com fotografias, esquemas ou desenhos representativos das lesões. Esse exame é também
denominado necroscópico. Se houver necessidade de exame de cadáver já sepultado (inumado), a
autoridade policial ou o juiz poderão determinar sua exumação (art. 163 do CPP), ou seja, a retirada do
cadáver da sepultura. A exumação não é, portanto, modalidade de perícia, mas procedimento destinado
a propiciar o exame cadavérico”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017), sobre a
figura da exumação, sustenta: “Por exumação compreende-se o ato de desenterrar ou retirar o cadáver
da sepultura. O procedimento requer justa causa, vale dizer, motivo justo para que seja realizado, qual
seja, sanar dúvidas quanto à causa mortis. Pode ser utilizada, ainda, para complementar dados já obtidos
por ocasião do periciamento do cadáver. Dispõe o art. 163 do CPP que, ‘em caso de exumação para exame
cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a
diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado’. Evidentemente, a autoridade a que faz referência o
dispositivo é a policial, que é a quem compete determinar as providências necessárias para a necropsia
(art. 6º, VII, do CPP). Havendo o consentimento dos familiares (observada, por analogia, a ordem
preferencial prevista no art. 24, § 1º, e no art. 31 do CPP – cônjuge, ascendente, descendente ou irmão,
agregando-se aqui também o companheiro estável), reputamos desnecessária prévia autorização judicial
para exumação. Não havendo tal consentimento, por cautela, entendemos adequado ao Delegado de
Polícia representar ao Juízo para este fim. O mesmo pode ser dito em relação ao Ministério Público, dentro
da faculdade investigatória que lhe confere o art. 129, VIII, da CF, podendo o Promotor, portanto, requisitar
a exumação à autoridade policial (se houver anuência dos citados familiares) ou requerer ao juiz que o
faça. Nada providenciando a autoridade policial ou o Ministério Público, poderão o assistente de acusação
e o advogado do investigado ou réu requerer ao juiz que determine a exumação. Perceba-se que,
existindo receio de perecimento da prova, tal requerimento poderá, inclusive, ser realizado por meio de
ação cautelar inominada a ser deduzida na vara criminal”.

10 - LAUDO COMPLEMENTAR NO CRIME DE LESÕES CORPORAIS

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto,
proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de
ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

§ 1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de


suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.

§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º, I, do Código Penal,
deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

Como se vê, o dispositivo prevê a possibilidade de complementação do exame pericial incompleto sobre
lesões corporais, seja para o seu suprimento, seja para a sua correção.

É de notável relevância o que dispõe o § 2º do referido artigo. É cediço que a tipificação do crime de lesões
corporais graves, com fundamento no inciso I do art. 129, § 1º do Código Penal, exige a comprovação da
incapacidade do ofendido para as suas ocupações habituais por mais de 30 dias:

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Lesão corporal de natureza grave

Art. 129 § 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

Daí por que a previsão do § 2º - decorridos os 30 dias da pratica do crime, há de ser realizado o exame
complementar para que se ateste a existência ou não da incapacidade pelo tempo indicado no tipo penal.

Para RENATO BRASILEIRO, o referido prazo deve ser contado nos moldes dos prazos penais/materiais (art. 10 do
CP):

Como esse prazo de 30 (trinta) dias serve para tipificar o delito do art. 129, § 1°, I, do CP,
queremos crer que se trata de um prazo penal. Portanto, sua contagem deve se dar à
luz do art. 10 do Código Penal, incluindo-se o dia do começo no cômputo do prazo.

Em relação à possibilidade de que a ausência desse laudo possa ser suprida por prova testemunhal, PACELLI
& FISCHER ponderam:

A prova testemunhal, por exemplo, poderá suprir o aludido exame complementar. E, em duas
situações, a saber: (a) quando a incapacidade já tiver desaparecido, sem que a vítima tenha se
submetido a exame complementar no período posterior a 30 dias, por razões justificáveis; (b)
quando, ainda no citado período (de 30 dias), o exame complementar será manifestamente
desnecessário, em razão da notoriedade das lesões e da incapacidade física dela resultante. E,
naturalmente, qualquer das partes (vítima ou seu representante legal, defensor, membro do
Ministério Público), bem como a autoridade policial, têm legitimação para requererem a
produção do exame complementar, que também pode ser realizado no caso de incompletude do
primeiro (exame). Pensamos que, na ausência de representantes legais do ofendido menor ou
incapaz, também as pessoas que estejam respondendo por sua guarda provisória poderão
requerer a realização do exame (Pacelli, et al., 2021).

Doutrina complementar

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal,13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “O exame de lesões
corporais visa identificar a natureza e gravidade das lesões eventualmente infligidas à vítima. Em face da
possibilidade de que as lesões sejam transeuntes, desaparecendo com o tempo, é fundamental que se
proceda ao exame tão logo seja possível. Entretanto, o art. 168 do Código de Processo Penal prevê a
realização de exame complementar nos casos de lesão corporal nas seguintes hipóteses: a) se o primeiro
exame pericial tiver sido incompleto; b) se o exame tiver por finalidade determinar a classificação do delito
no art. 129, § 1º, I, do Código Penal. O referido dispositivo é o que tipifica a lesão corporal classificada como
sendo de natureza grave, por resultar na vítima incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30
dias. Nesse caso, o novo exame deverá ser realizado logo que decorra o trintídio, prazo cujo dies a quo será
a data do crime (STJ, HC 117.417/MS, 5ª T., Rel. Jorge Mussi, j. 29.9.2009, DJ, 9.11.2009). O exame
complementar será determinado pela autoridade, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do
ofendido, do acusado ou de seu defensor. A sua falta pode ser suprida pela prova testemunhal”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 13ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020): “O art. 168,
§ 2º, do Código de Processo Penal dispõe que, se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no

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art. 129, § 1. º, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias, contado da
data do crime. Embora não estabeleça um prazo certo e determinado para a realização da perícia nesse
caso, dispondo o artigo, apenas, que deverá ser feita ‘logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias’, entende-
se que o exame deve ser realizado nos primeiros dias que se seguirem ao final do trintídio. Tratando-se de
prazo material (previsto no próprio tipo penal incriminador), deve-se levar em conta, para efeitos de
contagem, a data da lesão sofrida pela vítima. E se a perícia for realizada antes do decurso do lapso legal?
Nessa hipótese, a prova daí decorrente será inválida, pois a lei não se contenta com um prognóstico de
incapacidade, sendo necessário um diagnóstico em relação a esta para fins de reconhecimento da
gravidade da lesão corporal com fulcro no art. 129, § 1. º, I, do CP”.

11 - EXAME DE LOCAL DE CRIME

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão,
no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

O dispositivo mantém forte relação com uma das primeiras providências a serem adotadas pela autoridade
policial no âmbito das investigações – art. 6º, I do CPP:

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas,
até a chegada dos peritos criminais;

Os peritos devem descrever tudo o quanto encontrado no local do crime e, inclusive, devem fazer
constar de seu laudo eventual alteração que tenha ocorrido no local. Tal providência, que deve
provir de natural bom senso, decorre do disposto no parágrafo único do art. 169 do CPP: “Os
peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as
consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos” (Dezem, 2018).

Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “A perícia no local poderá
indicar, entre outras coisas: o exato local onde os fatos se deram; se há vestígios de luta corporal; se no
local foi encontrado o pedaço de madeira supostamente usado pela vítima fatal e se nele havia vestígios
de sangue ou tecido humano; a extensão e o(s) local(is) por onde havia sangue; o(s) tipo(s) sanguíneo(s)
dos vestígios encontrados; se a faca utilizada foi encontrada no local etc. Tais apurações podem ser
decisivas para indicar se o investigado diz a verdade; se houve, de fato, situação de legítima defesa, e
outros apontamentos que, somados e confrontados com o restante da prova, podem conduzir à verdade
real. Dentre outros, a perícia no local é de suma importância, ainda, na apuração de certos crimes
ambientais (Lei n. 9.605/98)”.

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12 - EXAMES LABORATORIAIS

Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a
eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas
fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.

Há determinadas perícias que demandam análise em laboratório, como as que investigam se


uma substância é entorpecente ou se é venenosa, ou mesmo qual a quantidade de álcool
existente no sangue de uma pessoa. Nesta situação, há necessidade de se atentar para a
exigência legal do art. 170 do CPP (Dezem, 2018).

Seguem, a partir daqui, inúmeras obviedades. Naturalmente, em se tratando de prova técnica,


realizada sobre os chamados vestígios, isto é, aquele material cujas natureza, espécie, utilidade,
e, enfim, principais características sejam importantes para a determinação dos fatos e respectiva
extensão e consequências, deve-se mesmo preservar um mínimo que seja para eventual
necessidade de repetição da prova (pericial). Não bastasse a prudência inerente ao
conhecimento nas ciências, o acelerado desenvolvimento tecnológico e dos meios técnicos de
avaliação pericial das coisas, aliado ao risco, sempre presente, de surgimento de novas provas,
poderá determinar o reexame de material sobre o qual já tenha sido emitido juízo de certeza.
Por isso, a providência se justificaria mesmo se ausente previsão legal (Pacelli, et al., 2018).

Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “Quando a hipótese versar sobre
perícia de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia.
Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas,
desenhos ou esquemas (CPP, art. 170). É o que ocorre, por exemplo, no crime de tráfico em que, após a
apreensão, a droga deverá ser submetida a exame pericial em laboratório, com reagentes, a fim de que
fique demonstrada a natureza da substância apreendida, sem o que não se prova a materialidade do
crime”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), trazendo exemplo
real sobre esse tipo de perícia, assevera: “Algumas perícias vão exigir o aparato laboratorial, com a
realização de estudos experimentais ou práticos ligados aos diversos ramos da ciência. A tecnicidade e a
complexidade de alguns casos levam à necessidade do aparelhamento da polícia técnica que é chamada
à realização de complexos exames, objetivando identificar a natureza de algumas substâncias, a
resistência ou qualidade de objetos e materiais, o atendimento a regras técnicas em construção etc. Foi o
que ocorreu com o desabamento do metrô no Estado de São Paulo, onde para aferição das causas do
incidente, fizeram-se necessários ensaios geotécnicos (para aferir as características do solo), além dos
ensaios de resistência do concreto e aço”.

13 - AVALIAÇÃO

Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas ou


que constituam produto do crime.

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Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por meio
dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

A depender da natureza do delito, é de fundamental importância a realização de exame pericial


atestando o valor dares ou do prejuízo suportado pela vítima. A uma, para fins de aplicação do
princípio da insignificância ou reconhecimento das figuras delituosas do furto ou do estelionato
privilegiados (CP, art. 155, § 2°, e art. 171, § 1º). A duas porque, em virtude das alterações
produzidas pela Lei nº 11.719/08, ao proferir sentença condenatória, deverá o magistrado fixar
valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido (CPP, art. 387, inciso IV), sem prejuízo da liquidação para a apuração do
dano efetivamente sofrido (CPP, art. 63, parágrafo único). Nos crimes cometidos com destruição
ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de
descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que meios e em que época
presumem ter sido o fato praticado. Ademais, deverão proceder, quando necessário, à avaliação
de coisas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do crime. Caso seja impossível a
avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos autos
e dos que resultarem de diligências (Lima, 2018).

Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “A avaliação dos danos serve
ora para demonstrar a própria tipicidade do delito, como é o caso do crime de dano (CP, art. 163), visto que
para tal imputação é preciso indicar o valor pericialmente apurado, sem o que a denúncia ou queixa estará
inepta; ora para permitir ou afastar o reconhecimento de privilégio, como é o caso do furto de pequeno
valor tratado no § 2º do art. 155 do CP; ora para justificar o aumento da pena-base em razão das
consequências do crime (CP, art. 59) etc. No crime de furto, a propósito, poderá servir não apenas para a
verificação da incidência do furto privilegiado, mas também para a própria tipicidade material, visto que
por vezes aplicável o princípio da insignificância. Mas não é só. O art. 387, IV, do CPP determina que, ao
proferir sentença condenatória, o juiz deverá fixar o valor mínimo para a reparação dos danos causados
pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido, e, nessa ordem de ideias, também com
vistas à recomposição do patrimônio lesado, as coisas destruídas, deterioradas ou que constituam
produto do crime deverão ser avaliadas. Avalia-se, por exemplo: o carro; as joias, o relógio, o aparelho de
telefonia celular etc. Calha destacar que a regra fala na avaliação de coisas, portanto se refere a bens
materiais, daí não ser possível, com base no art. 172, proceder à avaliação, para fins reparatórios, de dano
imaterial (dano moral ou lucro cessante, por exemplo) decorrente de crime de homicídio, lesões corporais,
estupro, abandono material etc.”.
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “Sua realização pode prestar-se a finalidade vária, dentre as quais: a) possibilitar a aplicação do
privilégio em crimes como furto, apropriação indébita, estelionato e receptação, quando o bem for
considerado de pequeno valor — inferior a um salário mínimo; b) fornecer elementos para o juiz
estabelecer o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração (art. 387, IV, do CPP); c)
dimensionar as consequências do crime para o ofendido (art. 59, caput, do CP). A avaliação pode ser
realizada de forma direta ou indireta, ocorrendo a primeira quando o perito analisa o próprio bem ou
coisa que pretende avaliar, e a segunda, quando, em virtude do desaparecimento do objeto da perícia,
estima-se seu valor por meio da comparação com coisas similares”.
ANTONIO MAGALHÃES GOMES FILHO et al. (Código de processo penal comentado, 1ª ed., São Paulo: RT, 2018).
A determinação do valor das coisas destruídas, deterioradas ou que constituem produto do crime
constitui providência cabível nos crimes patrimoniais, sempre que isso tiver relevância para a aplicação

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de normas penais que preveem benefícios em razão do diminuto significado econômico da coisa ou do
prejuízo (v.g., arts. 155, § 2º, 170, 171, § 1º, todos do CP). O mesmo pode ser dito quanto houver alegação da
insignificância para exclusão da tipicidade. Não nos parece que a introdução da regra do art. 387, IV, do
CPP, pela reforma de 2008, autorize a realização da perícia para avaliação dos prejuízos causados pela
infração em outras situações, até porque isso poderia levar à indevida introdução do instituto da ação civil
no processo penal, coisa que certamente não foi pretendida pelo legislador. O que se permite, à vista dos
elementos existentes nos autos, é a fixação de um valor mínimo, sem prejuízo da apuração do dano efetivo
no juízo civil”.

14 - EXAME DE LOCAL DE INCÊNDIO

Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado,
o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e
o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.

Em se tratando de crime de incêndio, previsto no art. 250 do CP, há necessidade de exame


minucioso, pois detalhes havidos no crime podem alterar a tipificação do delito (Dezem, 2018).

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE INCÊNDIO. AUSÊNCIA DE EXAME PERICIAL.


NECESSIDADE. ARTS. 158 E 173 DO CPP. MATERIALIDADE NÃO COMPROVADA. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Relativamente às infrações que deixam vestígios, a realização de exame pericial
se mostra indispensável, podendo ser suprida pela prova testemunhal apenas se os vestígios do
crime tiverem desaparecido. 2. Na hipótese, tratando-se de delito de incêndio, inserido entre os
que deixam vestígios, apenas poderia ter sido comprovada a materialidade do crime por meio de
exame pericial, já que os vestígios não haviam desaparecido. 3. "No caso de incêndio, os peritos
verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a
vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias
que interessarem à elucidação do fato" (art. 173 do CPP). 4. Ordem concedida para restabelecer
a sentença absolutória. (HC 65.667/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA,
julgado em 07/08/2008)

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “O crime de incêndio
encontra-se previsto no art. 250, CP, e diversas peculiaridades circundam a matéria, não só para a
ocorrência do enquadramento típico, como a exposição a perigo de vida, integridade física ou patrimônio
de outrem; para a incidência de causas de aumento, como o provocado em edifício público ou em lavoura;
e na constatação da intenção do agente, já que o incêndio culposo também é apenado. Nessa linha, os
peritos procurarão identificar as causas, o local do início, o perigo causado à vida e ao patrimônio alheio, a
dimensão do dano e o seu valor, além das demais circunstâncias relevantes para elucidar o fato”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017): “A perícia,
nessa espécie de delito, é importante, mesmo porque poderá concluir tanto no sentido de que o incêndio
foi criminoso como pela ocorrência de caso fortuito, vale dizer, sinistro acidental, sem relevância penal.

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Não é, todavia, imprescindível. Assim, se o conjunto probatório possibilitar a certeza quanto à intenção do
agente em cometer o crime de incêndio (v.g., testemunhas que presenciaram o agente espalhar gasolina
sobre a casa da vítima e, logo após, colocar fogo), a ausência de perícia não inviabiliza um juízo
condenatório”.

15 - EXAME GRAFOTÉCNICO

Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á
o seguinte:

I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for
encontrada;

II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou
já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não
houver dúvida;

III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem
em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem
ser retirados;

IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a


autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas
em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as
palavras que a pessoa será intimada a escrever.

Já decidiu o STF sobre a impossibilidade de se obrigar o acusado a fornecer elementos para a confecção do
referido exame, sob pena de ofensa ao princípio nemo tenetur se detegere:

Diante do princípio nemo tenetur se detegere, que informa o nosso direito de punir, é fora de
dúvida que o dispositivo do inciso IV do art. 174 do Código de Processo Penal há de ser
interpretado no sentido de não poder ser o indiciado compelido a fornecer padrões gráficos do
próprio punho, para os exames periciais, cabendo apenas ser intimado para fazê-lo a seu
alvedrio. É que a comparação gráfica configura ato de caráter essencialmente probatório, não se
podendo, em face do privilégio de que desfruta o indiciado contra a auto-incriminação, obrigar
o suposto autor do delito a fornecer prova capaz de levar à caracterização de sua culpa. Assim,
pode a autoridade não só fazer requisição a arquivos ou estabelecimentos públicos, onde se
encontrem documentos da pessoa a qual é atribuída a letra, ou proceder a exame no próprio
lugar onde se encontrar o documento em questão, ou ainda, é certo, proceder à colheita de
material, para o que intimará a pessoa, a quem se atribui ou pode ser atribuído o escrito, a
escrever o que lhe for ditado, não lhe cabendo, entretanto, ordenar que o faça, sob pena de
desobediência, como deixa transparecer, a um apressado exame, o CPP, no inciso IV do art. 174.
Habeas corpus concedido. (HC 77135, Relator(a): ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em
08/09/1998).

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Por outro lado, como se percebe da parte final do julgado, corroborada em decisões posteriores da Suprema
Corte, embora não se possa compelir o réu ao fornecimento dos padrões gráficos, nada obsta que eles sejam
obtidos por outros meios, mesmo indiretos. Nesse sentido, o Informativo 639 do STF:

A 2ª Turma denegou habeas corpus em que se sustentava a nulidade de sentença condenatória


por crime de falso, sob a alegação de estar fundamentada em prova ilícita, consubstanciada em
exame grafotécnico a que o paciente se negara realizar. Explicitou-se que o material a partir do
qual fora efetuada a análise grafotécnica consistira em petição para a extração de cópias,
manuscrita e formulada espontaneamente pelo próprio paciente nos autos da respectiva ação
penal. Consignou-se inexistir ofensa ao princípio da proibição da auto-incriminação, bem assim
qualquer ilicitude no exame grafotécnico. Salientou-se que, conforme disposto no art. 174, II e
III, do CPP, para a comparação de escritos, poderiam servir quaisquer documentos judicialmente
reconhecidos como emanados do punho do investigado ou sobre cuja autenticidade não
houvesse dúvida. Em seguida, aduziu-se que a autoridade poderia requisitar arquivos ou
estabelecimentos públicos do investigado, a quem se atribuíra a letra. Assentou-se que o fato de
ele se recusar a fornecer o material não afastaria a possibilidade de se obter documentos. [...]

Sobre esse ponto, detalha GUILHERME MADEIRA DEZEM:

É de se notar que há discussão no que se refere à possibilidade de obrigar o acusado a fornecer


padrões gráficos para comparação [...]. No entanto, a par desta discussão, há outro mecanismo
possível de utilização para tal comparação. É possível que se verifique o padrão gráfico do
acusado em escritos ou fichas que estejam arquivados nos cartórios extrajudiciais. Nesta
situação, há necessidade de autorização judicial para a retirada do livro do cartório: “Os livros de
registro não sairão do respectivo cartório, salvo por autorização judicial, ou ocorrendo força
maior” (art. 22 da Lei 6.015/1973). Por outro lado, reza o disposto no art. 46 da Lei 8.935/1994
(que dispõe sobre os serviços notariais): “Art. 46. Os livros, fichas, documentos, papéis,
microfilmes e sistemas de computação deverão permanecer sempre sob a guarda e
responsabilidade do titular de serviço notarial ou de registro, que zelará por sua ordem,
segurança e conservação. Parágrafo único. Se houver necessidade de serem periciados, o exame
deverá ocorrer na própria sede do serviço, em dia e hora adrede designados, com ciência do titular
e autorização do juízo competente”. Tendo-se em vista a aparente antinomia entre as normas
citadas, deparamo-nos com a seguinte solução: como regra, tais exames serão realizados na
serventia extrajudicial, mediante autorização judicial; e, excepcionalmente, poderão estes
escritos ser retirados da unidade, desde que com autorização judicial (Dezem, 2018).

Doutrina complementar

NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017): “Não
existindo material para confronto, estabelece o inciso IV que ‘a autoridade mandará que a pessoa escreva
o que lhe for ditado’. Considerando, porém, o privilégio da não autoincriminação, decorrente do próprio
texto constitucional e pelo qual se reconhece aos investigados ou acusados o direito de não produzirem
provas contra si, é evidente que tal disposição legal não pode ser interpretada literalmente, sendo vedado
à autoridade mandar que o suspeito forneça material gráfico, podendo, unicamente, solicitar-lhe esta
providência, no que poderá ser atendida ou não”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “Para que a
comparação documental seja realizada, o documento que vai servir de paradigma pode ser qualquer um

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reconhecidamente escrito pelo indivíduo, ou judicialmente reconhecido como dele. Neste caso,
funcionaria como verdadeira prova emprestada entre processos. Admitem-se ainda os documentos sobre
cuja autenticidade não exista dúvida. Pode a autoridade ainda requisitar os documentos existentes em
arquivos ou repartições públicas, ou realizar a perícia no local onde estes se encontrem, se de lá não
puderem ser retirados. Se o material existente for insuficiente para a realização do exame, a autoridade
mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado, como forma de serem colhidos elementos suficientes
para a realização da perícia. Advertimos que a contribuição é facultativa, pois ninguém está obrigado a
produzir prova contra si mesmo. A omissão em fornecer o escrito para a comparação não pode levar à
presunção de culpa em desfavor do imputado, nem desaguar na responsabilização por desobediência.
Afinal, é ato inerente à autodefesa. Nesse sentido posicionou-se o STF. Da mesma forma, caso o réu
disfarce a letra no momento do escrito, ou se diga canhoto quando na verdade é destro, para dificultar a
perícia, não estará incorrendo em nenhuma infração”.

16 - EXAME DOS INSTRUMENTOS DO CRIME

Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim
de se lhes verificar a natureza e a eficiência.

Providência relacionada à diligência investigativa contida no art. 6º, II do CPP:

II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;

A utilidade deste exame limita-se à aferição da potencialidade lesiva do instrumento utilizado na


infração. Se, por exemplo, a arma de fogo não apresentava qualquer risco à vida, por absoluta
impossibilidade de funcionamento, semelhante circunstância poderá ser relevante para a
definição do juízo de valoração jurídico-penal do fato. Do mesmo modo, aquele que ministra
substância que acredita tratar-se de veneno poderá deixar de ser responsabilizado (crime
impossível, por absoluta impossibilidade do meio empregado) criminalmente se constatado
cuidar-se de substância de outra natureza – não nociva. Naturalmente, nessa última hipótese (do
veneno), não é necessário recorrer-se à norma aqui prevista, que se refere ao instrumento. No
entanto, a referência que fizemos tem o objetivo de esclarecer a finalidade e a importância da
diligência (Pacelli, et al., 2018).

17 - PERÍCIAS NÃO PREVISTAS EM LEI

Tem havido alguma discussão doutrinária acerca de perícias não previstas em lei. Com efeito, a
evolução da ciência acontece com maior rapidez do que a evolução legislativa, daí por que a
dificuldade em se regulamentar estas demais perícias. A questão aqui, contudo, não está ligada
diretamente à tipicidade do meio de prova, mas ao método investigativo utilizado pelo perito.
Não é possível que se reconheça atipicidade nessa situação, pois a perícia existe regulamentada
como meio de prova. O que não está regulamentado em lei é o procedimento técnico levado a
cabo pelo perito, e, insista-se, esse não precisa estar expresso para que se possa reconhecer a
tipicidade do meio de prova. A forma como se dá o trabalho científico não é, via de regra,
integrante da tipicidade processual. Como visto acima, apenas de maneira excepcional são

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introduzidos elementos normativos na realização da perícia pelo legislador, e isso se dá por


situações normalmente ligadas à tipicidade do delito ou, ainda, como critério uniformizador do
trabalho do perito por parte do legislador. No primeiro caso, tem-se, por exemplo, a situação
descrita no art. 173 do CPP. Exige-se, neste artigo, que os peritos discutam, entre outras
situações, o perigo que tiver resultado do fogo havido nos casos de crime de incêndio. Ora, esta
razão (influência na tipicidade penal material) não justifica que, por si só, se reconheça a
tipicidade da prova havida. Caso o legislador considere necessário realçar determinado aspecto
da tipicidade material, então haverá de esclarecer isto por meio de reforma legislativa; ou, então,
as partes poderão superar esta questão por meio dos quesitos a serem apresentados para os
peritos, mas a ausência de tal aspecto não conduz ao reconhecimento da tipicidade ou da
atipicidade da prova. No segundo caso (critério de uniformidade para os peritos), entende o
legislador que se mostra importante estabilizar os procedimentos periciais havidos, daí o
disposto no art. 174 do CPP, que estabelece regras uniformes para o exame de reconhecimento
de escritos. Ora, também nesse caso não se mostra integrante este procedimento da tipicidade
processual, a ponto de desfigurar o meio de prova típico da perícia. O raciocínio pode ser feito
ao contrário: imagine-se os casos de perícia de laboratório (art. 170 do CPP): será razoável supor
que a descoberta de reagentes químicos cada vez mais precisos deva integrar a legislação para
que se possa reconhecer o meio de prova como típico? A resposta não pode ser positiva. A
técnica desenvolvida pelo perito não integra a tipicidade processual como nota distintiva do meio
de prova. As notas típicas fundamentais do meio de prova continuam a existir, ainda que haja
evolução científica a alterar a forma do trabalho dos peritos.

Há, contudo, posições em contrário. Em discussão sobre a admissibilidade do exame de DNA


como meio de prova em Portugal, manifesta-se contrariamente SÓNIA FIDALGO, afirmando que “à
semelhança de outros países europeus, também em Portugal os juízes estão agora, no âmbito
do processo penal, a ordenar a realização destes testes para determinação do perfil genético.
Não existindo uma lei que regule especificamente esta matéria, poderão vir a ser violados os
mais elementares direitos fundamentais do arguido. Sem lei, os nossos juízes não podem ordenar
(independentemente do consentimento do arguido) a realização destas perícias.” Também na
Itália há autores que entendem que a prova pericial do exame de DNA se constitui prova atípica,
disciplinada pelo art. 189 do CPP daquele país. Tais posições são coerentes com o conceito de
prova atípica por elas aceito, qual seja, a aceitação da posição restritiva mencionada
anteriormente. Não parece, contudo, adequado o pensamento acima apresentado de maneira
integral. A prova do DNA nada mais é do que exame pericial e, como tal, está sujeita às regras
próprias das perícias. Contudo, com um detalhe: por se tratar de intervenção corporal, há
necessidade de consentimento do acusado na produção dessa prova pericial, de forma que esteja
presente o elemento volitivo da tipicidade processual. Ausente o consentimento, não poderá ser
admitido este meio de prova; e, além disso, não poderá ser extraída qualquer consequência
negativa para o acusado diante do exercício de faculdade. Por fim, há que se observar algumas
questões específicas, notadamente no que se refere ao resultado da prova e sua documentação.
A tal respeito menciona JAIRO PARRA QUIJANO: “La prueba pericial debe ingresar al proceso con la
utilización de términos que ‘hablen’ al menos a mayoría de la población, para que se pueda
ejercer el derecho de contradicción. La ciencia puede ser esotérica, ‘lujo’ que no se puede dar el
proceso judicial, porque genera violencia y no despierta adhesión social. El proceso penal que
‘habla’ sobre todo a los sujetos procesales com pruebas esotéricas, no es ético y pierde legitimad
también de cara a toda la población.” Com efeito, o perito, notadamente quando utiliza método

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novo, sobretudo quando ainda não conhecido dos atores processuais, deve utilizar linguagem
acessível a todos, de forma a documentar o resultado da perícia da maneira mais clara possível,
até mesmo para que possa haver impugnação quanto ao método empregado (Dezem, 2018).

Doutrina complementar

NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017), em relação
ao conteúdo do art. 175 do CPP, registra: “Embora a redação do dispositivo possa sugerir obrigatoriedade,
a verdade é que este exame nem sempre imprescindível. Isso porque, em primeiro lugar, o instrumento
do crime pode não ser localizado para fins de apreensão e sujeição à perícia; e, em segundo, porque a
própria condição do objeto, por vezes, afasta qualquer dúvida quanto a sua potencialidade lesiva (punhal
utilizado no homicídio, por exemplo). Além de tudo isso, é preciso considerar a natureza do crime
praticado. No crime de roubo, por exemplo, embora não seja tema pacífico, tem-se entendido que a
impossibilidade da perícia para comprovar a eficácia da arma de fogo utilizada em sua prática não afasta
a causa especial de aumento prevista no inciso I do § 2. º do art. 157 do Código Penal, desde que existentes
outros meios aptos a comprovar o seu efetivo emprego na ação delituosa”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “Não se trata de periciar todo e
qualquer objeto apreendido no local do delito, mas apenas aqueles empregados para sua prática. Isso não
quer dizer que os objetos que não foram diretamente usados não interessam para a prova. Tanto
interessam que devem ser apreendidos para ficar à disposição. Só não precisam, num primeiro momento,
ser periciados. O instrumento referido pode ser uma arma própria (revólver, espingarda etc.), uma arma
imprópria (faca ou facão, p. ex.) ou mesmo qualquer outro artefato que tenha sido utilizado para a prática
infracional (um pedaço de madeira, uma pedra, um bloco de cimento, p. ex.). O que se busca com isso
apurar é se tal ou qual instrumento foi realmente utilizado, daí ser importante constatar eventuais
vestígios de sangue ou tecido humano e, sendo caso, se provieram da vítima (tais resquícios são
normalmente encontrados no instrumento utilizado: faca, machado etc.); se o objeto tem natureza
cortante, perfurante, contundente, perfurocortante, perfurocontundente, dilacerante etc., para ser
possível concluir se as lesões apresentadas pela vítima poderiam ter sido causadas por referido
instrumento”.
FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (Processo penal, vol. 3, 32ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010): “Se os exames
periciais deverem realizar-se dentro da jurisdição da autoridade perante a qual tramita o processo, à
autoridade processante caberá determiná-los e nomear os peritos. Ocorre, muitas vezes, devam os
exames ser feitos em outras comarcas. Nesse caso, a autoridade que estiver presidindo ao processo, seja
a Policial, seja a Judiciária, deverá solicitar à autoridade competente do lugar onde o exame deva ser
realizado que o determine, devendo os quesitos da autoridade e das partes ser transcritos na precatória,
cabendo, por outro lado, à autoridade deprecada, a nomeação dos peritos, conforme o art. 177. Tratando-
se de ação penal privada, se querelante e querelado acordarem, os peritos poderão ser nomeados pela
autoridade deprecante”.

18 - QUADRO-RESUMO
Para finalizar o capítulo, de modo a consolidar os ensinamentos, trazemos um quadro-resumo de NORBERTO
AVENA a respeito de perícias em determinadas infrações penais, inclusive registrando o entendimento da
jurisprudência:

NATUREZA DA PREVISÃO
ASPECTOS PRINCIPAIS
PERÍCIA LEGAL
Art. 162 do • Trata-se do exame interno do cadáver.
1. Necropsia
CPP • Regra: obrigatória, no caso de morte violenta.

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• Exceções: mesmo nos casos de morte violenta, poderá ser dispensada


a necropsia em duas hipóteses:
1. Quando a causa mortis for absolutamente certa. Ex.: morte por
decapitação.
2. Quando não houver indicativos da prática de infração penal. Ex.:
considere-se que as provas apontem no sentido do suicídio da pessoa
encontrada morta, não havendo indicativos de que alguém tenha
induzido, instigado ou auxiliado nessa prática.
• Não sendo possível a realização da necropsia em face do
desaparecimento dos vestígios, a prova testemunhal pode suprir a falta
do exame nos termos do art. 167 do CPP. Ex.: hipótese em que
testemunhas afirmam ter presenciado o homicídio da vítima, sendo o
corpo, após, lançado ao mar. Não sendo localizado o cadáver, o
depoimento das referidas testemunhas será suficiente para
comprovação da existência do crime.
• Ato de retirar o corpo da sepultura ou desenterrá-lo. Este
procedimento exige justa causa, qual seja, buscar evidências a respeito
da morte do indivíduo.
Art. 163 do • Difere da inumação, que é o ato de sepultar ou enterrar o corpo.
2. Exumação
CPP • Tanto a exumação quanto a inumação, se realizadas sem a
observância das formalidades legais, importarão na ilegitimidade da
prova, sem prejuízo de se configurar a contravenção penal do art. 67
do DL 3.688/1941.
• A constatação da incapacidade deve ocorrer a partir de exame
complementar realizado logo que decorram os 30 dias (art. 168, § 2º).
• Se não for possível realizar esse exame por haverem desaparecido os
vestígios, entende-se que:
1ª Corrente (majoritária): a prova testemunhal (também outras provas
lícitas) poderá suprir-lhe a falta, ex vi do art. 168, § 3º.
3. Lesões 2ª Corrente: o crime deve ser desclassificado para lesões corporais
corporais graves leves, tendo em vista que não se pode aceitar o suprimento da perícia
(incapacidade Art. 168, §§ em tal caso.
para as 2.º e 3.º, do • Se a perícia complementar não for realizada logo que decorra o prazo
ocupações CPP de 30 dias, entende-se que:
habituais por 1ª Corrente: o laudo pode ser utilizado pelo juiz, pois o objetivo do art.
mais de 30 dias) 168, § 2º, ao determinar a realização da perícia logo que decorram os
30 dias, é impedir que se percam os vestígios e não estabelecer um
prazo máximo para sua elaboração.
2ª Corrente: O laudo deverá ser invalidado, operando-se, em
consequência, a desclassificação do crime para lesões corporais leves.
• O prazo de 30 dias estabelecido no art. 129, § 1º, I, do CP possui
natureza material. Logo, conta-se a data do crime.
4. Furto
• Trata-se do furto cometido mediante arrombamento de portas ou
qualificado pelo Art. 171, 1.ª
janelas, destruição de telhas, corte de cercas e qualquer outra forma
rompimento de parte, do CPP
de violação de obstáculos.
obstáculo à

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subtração da • De acordo com o art. 171 do CPP, é necessária perícia para


coisa constatação do rompimento do obstáculo à subtração da coisa. Se esta
perícia não for realiza, entende a jurisprudência:
1.ª Corrente: é imperativa a desclassificação do delito para furto
simples.
2.ª Corrente (majoritária): Se a não realização da perícia decorreu da
circunstância de que desaparecidos os vestígios, admite-se a
comprovação do rompimento por meio de prova testemunhal (art. 167
do CPP).
• A escalada compreende o ingresso em determinado lugar por meio
anormal, exigindo do agente um esforço incomum ao homem médio
para transposição do obstáculo. Ex.: penetração no lugar por meio de
janela, telhado, saltando muros ou portões, através de túneis etc.
Quanto à necessidade de perícia no obstáculo vencido, duas correntes
são aceitas pelos Tribunais:
1ª Corrente: se a própria natureza do obstáculo superado pelo agente
já revela, por si, esforço incomum, é desnecessária a perícia. Ex.:
5. Furto
Art. 171, 2.ª ingresso na casa através de janela basculante. Por outro lado, se tal
qualificado pela
parte, do CPP esforço não fica evidente, é imperativo o exame pericial. Ex.: o ato de
escalada
pular o muro apenas implica escalada quando esse mesmo muro, pela
sua altura, não pode ser ultrapassado com um simples salto. Em tais
casos, a falta de perícia e o seu suprimento pela prova testemunhal
apenas se justificam quando não for possível realizá-la, v.g., a hipótese
de o portão inutilizado pelo agente ter sido substituído por outro.
2ª Corrente: tratando-se a escalada de expediente que não deixa
vestígios, a realização de perícia pode, sempre, ser suprida por outros
meios de prova.
•Estabelece o art. 173 do CPP que, no caso de incêndio, os peritos
verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que
dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio, a extensão do
dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à
Art. 173 do
6. Incêndio elucidação do fato.
CPP
• Em tese, a realização da perícia técnica é necessária para a
comprovação do caráter criminoso do incêndio. No entanto, se o
conjunto probatório, aí se incluindo a prova testemunhal, permitir essa
conclusão, a perícia poderá ser dispensada.
• Dispõe o art. 175 do CPP que os instrumentos do crime deverão ser
periciados, a fim de se comprovar a respectiva natureza e eficiência.
• Aplicado esse dispositivo ao crime de porte ilegal, infere-se que, em
princípio, a arma utilizada deverá ser apreendida e submetida a exame
7. Porte ilegal de Art. 175 do
para verificação de sua potencialidade lesiva.
arma de fogo CPP
• Divide-se a jurisprudência quanto à possibilidade de condenação
pelos crimes dos arts. 14 e 16 da Lei 10.826/2003 (porte de arma de
fogo de uso permitido e de uso restrito, respectivamente) na hipótese
de não ocorrerem a apreensão e o periciamento. Assim:

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1ª Corrente: o crime de porte ilegal exige a comprovação da


potencialidade lesiva da arma de fogo, não bastando a simples
indicação de perigo abstrato.
2ª Corrente: trata-se o porte ilegal de arma de fogo de crime de perigo
abstrato, que se configura com o simples fato de serem praticadas as
condutas descritas nos verbos dos arts. 14 e 16 da Lei 10.826/2003.
Logo, prescindível a apreensão e perícia.
• Na esteira da posição dominante, não é necessário que a arma esteja
municiada para que se configure o crime de porte ilegal.
• A perícia na arma de fogo utilizada na prática do roubo justifica-se no
art. 175 do CPP, dispondo que os instrumentos do crime deverão ser
examinados a fim de lhes comprovar a natureza e eficiência.
• Na hipótese de ausência desta perícia, compreende a jurisprudência:
1ª Corrente: é imprescindível o exame pericial com a finalidade de
8. Roubo Art. 157, §
comprovar a potencialidade lesiva da arma de fogo. Ausente este
majorado pelo 2.º, I, do CP e
exame, impõe-se a desclassificação da conduta para roubo na
uso de arma de art. 175 do
modalidade simples.
fogo CPP
2ª Corrente (majoritária): o reconhecimento da causa especial de
aumento de pena pode ocorrer a partir de outros meios de prova, não
sendo indispensável a perícia. Mesmo porque tal majorante se justifica
no maior poder de intimidação do agente e não apenas no perigo
causado ao ofendido em decorrência da utilização de arma de fogo.
• A necessidade de perícia fundamenta-se no art. 175 do CPP.
• Ausente este exame, divide-se a jurisprudência:
1ª Corrente: é necessária a perícia, sob pena de inviabilizar-se a
9. Disparo de Art. 175 do condenação.
arma de fogo CPP 2ª Corrente (majoritária): o delito do art. 15 da Lei 10.826/2003 pode
ser comprovado mediante prova testemunhal, sendo desnecessários a
apreensão e o periciamento da arma, mesmo porque, se houve o
disparo, a potencialidade lesiva é inequívoca.
• Trata-se da perícia estabelecida no CPP com a finalidade de
confrontar a grafia incorporada a um determinado documento com a
letra da pessoa suspeita de tê-lo produzido.
• Para sua realização, a autoridade policial ou judicial poderá requisitar
documentos existentes em órgãos públicos para fins de confrontação
(art. 174, III). A referência de que tal requisição deve ser feita a
10. Grafia em Art. 174 do estabelecimentos públicos decorre da necessidade de que não haja
escritos CPP dúvidas sobre a autenticidade do documento utilizado na comparação.
• Em que pese o art. 174, IV estabelecer que, na ausência de
documentos para fins de confrontação, a autoridade “mandará” que a
pessoa escreva o que lhe for ditado, é entendimento consolidado que
o investigado ou acusado não pode ser obrigado a fornecer material
gráfico, sob pena de violação ao privilégio nemo tenetur se detegere
(privilégio da não autoincriminação).
11. Crimes Arts. 527 e • Nos crimes contra a propriedade imaterial, havendo vestígios, o
contra a 530-D do CPP exame de corpo de delito será condição de procedibilidade para o

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propriedade exercício da ação penal. Sem ele, não poderão a denúncia e a queixa
imaterial ser recebidas.
• Nos crimes contra a propriedade imaterial de ação penal privada, o
ofendido, fazendo prova de seu direito de ação (legitimidade), deverá
requerer ao juiz a apreensão do objeto para fins de perícia. Neste caso,
o exame será feito por dois peritos nomeados pelo juiz (art. 527).
• Opostamente, nos crimes de ação pública não haverá a necessidade
de o Ministério Público requerer ao juiz a apreensão do objeto a ser
periciado, o que poderá ser efetivado, diretamente, pela autoridade
policial, respeitadas, obviamente, as restrições à busca domiciliar (art.
530-B). Aqui, o exame poderá ser feito por apenas um perito (o art.
530-D refere-se a “pessoa tecnicamente habilitada”, no singular,
portanto).
• A exigência de perícia fundamenta-se no art. 158 do CPP, obrigando
12.
Art. 158 do a este exame quando se tratar de infração que deixa vestígio.
Falsificação de
CPP • Em tal situação, a perícia é indispensável, sob pena de inviabilizar o
documento
prosseguimento da ação penal e a prolação de sentença condenatória.
• O crime de dano, logicamente, deixa vestígios. Sendo assim, a perícia
é necessária, ex vi do art. 158.
• Independentemente desta regra, compreende a jurisprudência que a
Art. 158 do
13. Dano falta do exame de corpo de delito não impede a propositura da ação
CPP
penal, não só porque ele pode ser produzido na fase instrutória, mas,
também, porque pode ser suprido pela prova testemunhal, na forma
do art. 167 do CPP.
• Nem sempre a tortura deixa vestígios. Deixando-os, incide a regra
14. Tortura
Art. 158 do geral do art. 158.
(Lei
CPP • Sem embargo, é possível o suprimento da perícia por outros meios
9.455/1997)
de prova quando os vestígios houverem desaparecido (art. 167).
• A materialidade dos crimes contra a dignidade sexual, havendo
vestígios, deve ser atestada mediante exame de corpo de delito.
15. Crimes
Art. 158 do • Não obstante, é tranquila a jurisprudência no sentido de que nos
contra a
CPP crimes contra a dignidade sexual, a despeito da previsão do art. 158 do
dignidade sexual
CPP, pode o exame de corpo de delito ser suprido por outros meios de
prova quando tiverem desaparecido os vestígios.
• A influência do álcool ou de outra substância psicoativa que cause
16. Art. 306 da dependência pode ser comprovada por meio de etilômetro e de exame
Embriaguez ao Lei de sangue, ou, na recusa do motorista, por qualquer outro meio de
volante 9.503/1997 prova lícita, tais como exame clínico, vídeos e prova testemunhal
(Avena, 2017).

Jurisprudência pertinente

Súmula 361, STF: No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-
se impedido o que tiver funcionado, anteriormente, na diligência de apreensão.

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Súmula 574, STJ: Para a configuração do delito de violação de direito autoral e a comprovação
de sua materialidade, é suficiente a perícia realizada por amostragem do produto apreendido,
nos aspectos externos do material, e é desnecessária a identificação dos titulares dos direitos
autorais violados ou daqueles que os representem.

Supremo Tribunal Federal - STF

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO.


AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA. LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO. EXAME INDIRETO. PROVA
IDÔNEA. AUSÊNCIA DE EXAME PERICIAL. IRRELEVÂNCIA. PRECEDENTES QUINTA E SEXTA TURMA
DESTA CORTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. AGRAVO DESPROVIDO. [...] II - A
ausência de laudo pericial no local do delito não impede o reconhecimento da qualificadora do
rompimento de obstáculo quando realizada perícia indireta, além do mais as fotografias e filmagens
juntadas aos autos comprovam o modus operandi da ação. (STF - RHC: 199162 MS 0226182-
84.2020.3.00.0000, Relator: EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 14/04/2021).
HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO, COM PEDIDO LIMINAR. ART. 33 DA LEI 11.343/06. ILEGALIDADE DA
PRISÃO EM FLAGRANTE DECORRENTE DE INVASÃO DOMICILIAR E POR AUSÊNCIA DO EXAME DE
CORPO DE DELITO. IMPROCEDÊNCIA. CONVERSÃO DA CUSTÓDIA EM PREVENTIVA. ORDEM
CONHECIDA E DENEGADA. DECISÃO UNÂNIME. 1. Não há que se cogitar de nulidade da detenção
flagrancial, sobretudo considerando que o delito de tráfico de drogas quanto ao núcleo verbal manter em
depósito é de natureza permanente e a própria Constituição da República autoriza (art. 5º, XI, da CR) o
adentramento domiciliar sem mandado judicial, nos casos de flagrante delito, somado aos elementos de
convicção coletados na fase investigatória dando conta da existência de justa causa autorizadora do
ingresso do Estado na casa da paciente. 1.1. No caso, a entrada dos policiais na residência da paciente, após
denúncia anônima de que na casa estaria sendo praticado o tráfico de drogas, deu-se com o prévio
consentimento, o que afasta a alegação de nulidade da busca e apreensão. 2. A ausência do exame de
corpo de delito da paciente, por si só, não é capaz de tornar ilegal o decreto de prisão preventiva,
ante a ausência de prejuízo, uma vez que, quando ouvida perante a autoridade policial, não relatou
a ocorrência de qualquer violação à sua integridade física. (STF - HC: 199069 PA 0049766-
98.2021.1.00.0000, Relator: CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 19/03/2021).
LAUDO - ALCANCE. Laudo elaborado de forma unilateral não constitui prova pericial, mas
documental, não se submetendo ao previsto nos artigos 158 e seguintes do Código de Processo Penal.
PERÍCIA - CORPO DE DELITO - VESTÍGIOS - DESAPARECIMENTO. Ante o desaparecimento dos vestígios
e a impossibilidade de realização do exame de corpo de delito, surge viável a demonstração da
materialidade criminosa por outros meios de prova, nos termos do artigo 167 do Código de Processo
Penal. (HC 136964, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 18/02/2020).
[...] 2. Incabível a tese de reconhecimento de nulidade do Relatório Psicológico, realizado na Delegacia de
Proteção à Criança e ao Adolescente, uma vez que o artigo 159, do Código de Processo Penal, se refere ao
Exame de Corpo de Delito e a outras perícias, não incluído aqui o Relatório Psicológico da vítima,
normalmente confeccionado para avaliar os danos sofridos com o abuso sexual, não se tratando o
aludido diagnóstico, de prova obrigatória, muito menos indispensável para a comprovação do delito
ou de sua materialidade. [...] (STF - ARE: 1258546 RJ - RIO DE JANEIRO 0059316-12.2018.8.19.0000, Relator:
Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 27/02/2020).
[...]RECORRENTE CONDENADO PELA TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. ALEGAÇÃO DE
NULIDADE DA PRONÚNCIA DECORRENTE DA AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO.
SUPERVENIÊNCIA DE JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI. AUTORIA BASEADA POR OUTROS
ELEMENTOS DE PROVA. [...] II O Supremo Tribunal Federal já decidiu que, por ser a pronúncia mero juízo
de admissibilidade da acusação, não é necessária prova incontroversa do crime, para que o réu seja
pronunciado. As dúvidas quanto à certeza do crime e da autoria deverão ser dirimidas durante o
julgamento pelo Tribunal do Júri (HC 73.522/MG, Rel. Min. Carlos Velloso), como ocorreu no caso sob
exame. III A única preliminar suscitada na apelação defensiva foi o suposto cerceamento de defesa
decorrente da não oitiva em Plenário de peritos que atuaram no processo. Nada foi dito quanto à

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necessidade do exame de corpo de delito em questão. No mérito, a Corte Estadual reconheceu que a
autoria do delito estava sobejamente demonstrada por outros elementos de provas, em grande parte por
prova testemunhal. IV Sobre esses aspectos, o Supremo Tribunal Federal já decidiu, em caso análogo, que
a inquinada nulidade decorrente da falta de realização do exame de corpo de delito não tem
sustentação frente à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que não considera imprescindível
a perícia, desde que existentes outros elementos de prova. Inépcia da denúncia: alegação superada
com o advento da sentença condenatória” (HC 74.265/RS, Rel. Min. Ilmar Galvão). V No Superior Tribunal
de Justiça, depois de sucessivos recursos interpostos pela defesa, a Ministra Vice-Presidente daquela Corte
negou seguimento ao RE nos EDcl no AgRg no Recurso Especial 1.764.236/SP, de modo que a tese trazida
nesta pretensão recursal a não comprovação da materialidade delitiva, em razão da falta de exame
de corpo de delito encontra-se superada. VI Agravo regimental a que se nega provimento. (STF - AgR
RHC: 171700, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 23/08/2019, Segunda Turma).
[...] TRÁFICO DE DROGAS. MATERIALIDADE DELITIVA. NÃO APREENSÃO DA SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE. COMPROVAÇÃO PELAS DEMAIS PROVAS PRODUZIDAS NOS AUTOS. DEPOIMENTOS
DE TESTEMUNHAS E INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. INTELIGÊNCIA DO ART. 167 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. [...] 1. A falta de laudo pericial não conduz, necessariamente, à inexistência de prova
da materialidade de crime que deixa vestígios, a qual pode ser demonstrada, em casos excepcionais,
por outros elementos probatórios constante dos autos da ação penal (CPP, art. 167). Precedentes. [...]
(HC 130265, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 31/05/2016).
PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE USO DE DOMUMENTO FALSO. [...] NÃO REALIZAÇÃO DE
PERÍCIA TÉCNICA PARA ATESTAR A MATERIALIDADE DO CRIME PREVISTO NO ART. 304 DO CÓDIGO
PENAL. DESNECESSIDADE. EXISTÊNCIA DE OUTROS MEIOS DE PROVAS. PRECEDENTES. ORDEM
DENEGADA. [...] 2. Embora a produção da prova técnica seja necessária para esclarecer situações de
dúvida objetiva acerca da existência da infração penal, o seu afastamento é sistemático e
teleologicamente autorizado pela legislação processual penal nos casos em que há nos autos outros
elementos idôneos aptos a comprovar a materialidade do delito. Precedentes. 3. Ordem parcialmente
conhecida, mas denegada. (STF - HC: 108463 MG, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Data de Julgamento:
27/08/2013, Segunda Turma).
[...] Pedido de afastamento da qualificadora do perigo de vida (art. 129, § 1º, II, do CP) em razão da ausência
do laudo pericial, que poderia apontar o grau das lesões sofridas. 4. Desaparecimento da vítima.
Comprovação da gravidade das lesões sofridas mediante prova testemunhal e laudo médico. 5. A
ausência do laudo pericial não impede seja reconhecida a materialidade do delito de lesão corporal
de natureza grave por outros meios. 6. Ordem denegada. (HC 114567, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
Segunda Turma, julgado em 16/10/2012).
PORTE DE ARMA, ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO - LAUDO PERICIAL - FORMALIDADE DO TIPO. A teor do
disposto no artigo 25 da Lei nº 10.826/2003, apreendida arma de fogo, acessório ou munição, cumpre
proceder-se a perícia elaborando-se laudo para juntada ao processo. O abandono da formalidade
legal implica a impossibilidade de ter-se como configurado o tipo. (HC 97209, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 16/03/2010).
[...] PORTE ILEGAL DE ARMA. NULIDADE DO EXAME PERICIAL POR AUSÊNCIA DE QUALIFICAÇÃO DOS
PERITOS NOMEADOS. INEXISTÊNCIA. POLICIAIS QUE POSSUEM HABILITAÇÃO TÉCNICA PARA O EXAME.
ORDEM DENEGADA. 1. A questão debatida no presente writ diz respeito à eventual nulidade do exame
pericial de arma de fogo, que teria sido realizado por pessoas sem a qualificação necessária, em desacordo
com os ditames legais do Código de Processo Penal. 2. Os pacientes foram condenados pela prática do
delito previsto no art. 16, parágrafo único, IV, da Lei 10.826/03. 3. A pistola apreendida estava municiada e
o laudo pericial concluiu que a arma se mostrou eficaz para produzir disparos. 4. A perícia foi realizada
por dois policiais, nomeados pelo Delegado de Polícia, que assumiram o compromisso, sob as penas
da lei, de bem e fielmente desempenharem o encargo. 5. Ainda que o laudo pericial não tenha
informado se os peritos nomeados para o exame tinham ou não diploma de curso superior, é inegável
que, enquanto policiais, possuíam a necessária habilitação técnica para aferir a eficácia de uma arma
de fogo. 6. Habeas corpus denegado. (HC 98306, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, 2ª Turma, j. 29/09/2009).
ROUBO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO. APREENSÃO E PERÍCIA PARA A
COMPROVAÇÃO DE SEU POTENCIAL OFENSIVO. DESNECESSIDADE. CIRCUNSTÂNCIA QUE PODE SER

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EVIDENCIADA POR OUTROS MEIOS DE PROVA. ORDEM DENEGADA. I - Não se mostra necessária a
apreensão e perícia da arma de fogo empregada no roubo para comprovar o seu potencial lesivo,
visto que tal qualidade integra a própria natureza do artefato. II - Lesividade do instrumento que se
encontra in re ipsa. III - A qualificadora do art. 157, § 2º, I, do Código Penal, pode ser evidenciada por
qualquer meio de prova, em especial pela palavra da vítima - reduzida à impossibilidade de resistência
pelo agente - ou pelo depoimento de testemunha presencial. IV - Se o acusado alegar o contrário ou
sustentar a ausência de potencial lesivo da arma empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de
produzir tal prova, nos termos do art. 156 do Código de Processo Penal. V - A arma de fogo, mesmo que
não tenha o poder de disparar projéteis, pode ser empregada como instrumento contundente, apto a
produzir lesões graves. VI - Hipótese que não guarda correspondência com o roubo praticado com arma
de brinquedo. VII - Precedente do STF. VIII - Ordem indeferida. (HC 96099, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 19/02/2009).
[...] 1. Agentes que fabricam e mantém em depósito, para venda, produtos em desconformidade com as
normas regulamentares de fabricação e distribuição. Imputação do crime do inciso IX do art. 7º da Lei nº
8.137/90. Norma penal em branco, a ter seu conteúdo preenchido pela norma do inciso II do § 6º do art. 18
da Lei nº 8.078/90. 2. São impróprios para consumo os produtos fabricados em desacordo com as
normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação. A criminalização da conduta,
todavia, está a exigir do titular da ação penal a comprovação da impropriedade do produto para uso.
Pelo que imprescindível, no caso, a realização de exame pericial para aferir a nocividade dos produtos
apreendidos. 3. Ordem concedida. (HC 90779, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado
em 17/06/2008).
[...] Exame de corpo de delito: não é indispensável ao oferecimento da denúncia, podendo realizar-se
no curso do processo; de qualquer sorte, prescinde-se do exame pericial direto, se é imputável ao
acusado a sonegação do documento onde se materializaria a falsidade material; de resto, há
imputação também de falsidade ideológica, à prova da qual "sendo certa a sua existência" não é
necessário o exame de corpo de delito. (HC 78719, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira
Turma, julgado em 11/05/1999).

Superior Tribunal de Justiça - STJ

[...] FURTO QUALIFICADO PELO ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. LAUDO PERICIAL INDIRETO REALIZADO
POR POLICIAIS. QUALIFICADORA CORROBORADA POR OUTROS MEIOS DE PROVA. ILICITUDE NÃO
VERIFICADA. 1. Nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal, quando a infração penal deixar
vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto. 2. O exame técnico deve
ser realizado por perito oficial, portador de diploma de curso superior ou por duas pessoas idôneas,
compromissadas e que possuam qualificação técnica - ex vi do art. 159, §§ 1º e 2º, do Código de Processo
Penal -, exatamente como ocorre na presente hipótese, consoante se observa no auto de exame de corpo
de delito indireto, na portaria de nomeação de peritos e no auto de avaliação indireta. No caso concreto,
foi realizado exame pericial indireto por duas agentes de polícia civil, compromissadas e portadoras de
diploma de curso superior. 4. Ademais, consoante assinalado pela instância ordinária, o rompimento de
obstáculo, consistente no arrombamento de uma porta, também "restou demonstrado pela prova oral"
[...]. (STJ - AgRg no REsp: 1808343 RS 2019/0111309-8, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento:
24/09/2019, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/10/2019).
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FURTO.
QUALIFICADORA. EXAME DE CORPO DE DELITO. DESAPARECIMENTO COMPLETO DOS VESTÍGIOS.
JUSTIFICATIVA IDÔNEA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Este Superior Tribunal de Justiça possui o
entendimento que, nas infrações que deixam vestígios, o exame de corpo de delito se mostra
indispensável à comprovação da materialidade do crime, podendo apenas ser substituído por outro
meio de prova quando os vestígios tiverem desaparecido por completo ou o lugar tenha se tornado
improprio para a constatação dos peritos. 2. Quando o acórdão impugnado demonstrar por meio de
fundamentos aptos a total impossibilidade de realização do laudo pericial, o caso passa a se enquadrar na
exceção relativa à indispensabilidade do exame de corpo de delito, de modo a admitir suprimento por

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outros meios de prova. 3. Agravo regimental improvido. (STJ – AgRg na AREsp: 1103518 MS, Relator Min.
Nefi Cordeiro, DJe 30/04/2018).
[...] Deve ser relembrado que os laudos são dirigidos ao Magistrado, que, em seu livre convencimento
motivado, pode adotá-los ou não. Não se considerando na posse dos elementos necessários, pode o
julgador solicitar nova perícia. Tal providência, se não foi determinada na hipótese, é porque a Juíza do
processo entendeu desnecessária. 5. "Diante de dois laudos técnicos divergentes, o Juiz pode basear-
se em qualquer um deles para motivar sua decisão, atribuindo-os o peso que sua consciência indicar,
uma vez que é soberano na análise das provas carreadas aos autos" (HC nº 83.923/SP, Relator Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, DJ de 28.4.08). [...] (HC 63.087/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA
TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe 26/04/2010).
[...] Para a demonstração da materialidade do crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990, é
imprescindível a realização de perícia para atestar se as mercadorias apreendidas estavam em
condições impróprias para o consumo. Precedentes. [...] (AgRg no REsp 1111736/RS, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe 19/12/2013).
[...] 1. Da leitura do artigo 7º, inciso IX, da Lei 8.137/90, percebe-se que se trata de delito contra as relações
de consumo não transeunte, que deixa vestígios materiais, sendo indispensável, portanto, a
realização de perícia para a sua comprovação, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal.
Doutrina. Precedentes do STJ e do STF. 2. Na hipótese dos autos, a recorrente foi dada como incursa no
delito em comento, pois, em operação realizada em conjunto por diversos órgãos estatais destinados à
tutela das relações de consumo, foram encontrados no estabelecimento comercial pelo qual era
responsável legal diversos produtos "sem registro no SIE" expostos à venda. 3. O acórdão recorrido reputou
suficiente as informações contidas no auto de infração lavrado pelas referidas autoridades, tendo em vista
o conceito de matérias-primas e mercadorias impróprias ao consumo previsto no artigo 18, § 6º, inciso II,
do Código de Defesa do Consumidor, combinado com o Decreto Estadual n. 31.455/87, o qual estabelece
os requisitos da propriedade ao consumo de alimentos e bebidas para fins de comercialização. 4. A
conclusão exarada pela Corte de origem significaria dar relevância penal a decreto apto a produzir efeitos
apenas no âmbito da referida unidade da federação, em flagrante ofensa à competência privativa da
União para legislar sobre Direito Penal, prevista no artigo 22, inciso I, da Constituição Federal. 5. Em casos
como tais, uma persecução criminal condizente com os princípios e objetivos de um Estado Democrático
de Direito deve ser acompanhada de comprovação idônea da materialidade delitiva, conforme preceitua
o artigo 158 do Código de Processo Penal, não sendo admissível a presunção de impropriedade ao
consumo de produtos expostos à venda com base exclusivamente no conteúdo de normas locais,
circunstância que revela a flagrante ausência de justa causa na hipótese. 6. Recurso provido para
determinar o trancamento da ação penal deflagrada em desfavor da recorrente. (RHC 49.752/SC, Rel.
Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 14/04/2015, DJe 22/04/2015).
[...] FURTO QUALIFICADO. ESCALADA. AUSÊNCIA DE PERÍCIA. EXISTÊNCIA DE FOTOS E TESTEMUNHOS.
DINÂMICA DELITIVA FILMADA. MATERIALIDADE COMPROVADA. [...] Estando devidamente
demonstrada a existência de provas referentes à utilização da escalada para realizar o furto, por meio
de filmagem, fotos e testemunhos, ainda que não tenha sido realizado exame de corpo de delito - o
qual pode ser suprido pela prova testemunhal, nos termos do que disciplina o art. 167 do Código de
Processo Penal -, não há se falar em violação ao art. 155, § 4º, inciso II, do Código Penal, encontrando-
se, dessarte, legalmente comprovada a materialidade. Não pode o processo penal andar em
descompasso com a realidade, desconsiderando-se elementos de prova mais modernos e
reiteradamente usados. Com efeito, atualmente existem inúmeros recursos aptos a registrar imagens, as
quais, na maioria das vezes, podem revelar de forma fiel a dinâmica delitiva e as circunstâncias do crime
praticado. [...] (REsp 1392386/RS, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, j. em 03/09/2013).
[...] Comprovada a materialidade do crime previsto no § 2º do artigo 184 do Código Penal por meio da
perícia que atestou serem falsificados os cd's e dvd's apreendidos com o paciente, mostra-se
totalmente dispensável e irrelevante a inquirição dos produtores das mídias a partir das quais teriam sido
feitas as cópias com ele encontradas para confirmarem que seus direitos autorais teriam sido violados. [...]
(HC 191.568/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 07/02/2013, DJe 19/02/2013).
[...] 1. A Lei nº 10.695/2003 previu novas regras para a apuração nos crimes contra a propriedade imaterial,
prescindindo de maiores formalidades o laudo pericial. 2. É possível a realização da perícia com base nas

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características externas do material apreendido, não sendo necessária a catalogação dos Cd's e DVd's,
bem como a indicação de cada título e autor da obra apreendida e falsificada, mesmo porque o delito se
procede mediante ação penal pública incondicionada. [...] (AgRg no AREsp 276.128/MG, Rel. Ministro
WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DES. CONV. DO TJ/SP), QUINTA TURMA, julgado em 02/10/2014).
[...] PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. FUNDAMENTOS INSUFICIENTES PARA REFORMAR A DECISÃO
AGRAVADA. INAPTIDÃO DO INSTRUMENTO. LAUDO PERICIAL ATESTANDO A TOTAL IMPROPRIEDADE
DO OBJETO PARA REALIZAR DISPAROS. PERÍCIA ESTATAL CONCLUSIVA. CONDUTA ATÍPICA. [...] 4.
Flagrado o recorrido portando um objeto eleito como arma de fogo, temos um fato provado - o porte do
instrumento - e o nascimento de duas presunções, quais sejam, de que o objeto é de fato arma de fogo,
bem como tem potencial lesivo. 5. Sendo a tese nuclear da defesa o fato de o objeto não se adequar ao
conceito de arma, por estar quebrado e, consequentemente, inapto para realização de disparo,
circunstância devidamente comprovada pela perícia técnica realizada, temos, indubitavelmente, o
rompimento da ligação lógica entre o fato provado e as mencionadas presunções. Nesse contexto,
impossível a manutenção do decreto condenatório por porte ilegal de arma de fogo. [...] (AgRg no AREsp
397.473/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 19/08/2014).
[...] Na hipótese, contudo, em que demonstrada por laudo pericial a total ineficácia da arma de fogo
(inapta a disparar) e das munições apreendidas (deflagradas e percutidas), deve ser reconhecida a
atipicidade da conduta perpetrada, diante da ausência de afetação do bem jurídico incolumidade
pública, tratando-se de crime impossível pela ineficácia absoluta do meio. [...] (REsp 1451397/MG, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2015, DJe 01/10/2015).
[...]. I - Para a caracterização da majorante prevista no art. 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, prescinde-
se da apreensão e realização de perícia em arma utilizada na prática do crime de roubo, se por outros
meios de prova restar evidenciado o seu emprego. Precedentes do STF. II - Os depoimentos do
condutor, da vítima, das testemunhas, bem como qualquer meio de captação de imagem, por exemplo,
são suficientes para comprovar a utilização de arma na prática delituosa de roubo, sendo desnecessária a
apreensão e a realização de perícia para a prova do seu potencial de lesividade e incidência da majorante.
III - A exigência de apreensão e perícia da arma usada na prática do roubo para qualificá-lo constitui
exigência que não deflui da lei resultando então em exigência ilegal posto ser a arma por si só -- desde
que demonstrado por qualquer modo a utilização dela - instrumento capaz de qualificar o crime de roubo.
IV - Cabe ao imputado demonstrar que a arma é desprovida de potencial lesivo, como na hipótese de
utilização de arma de brinquedo, arma defeituosa ou arma incapaz de produzir lesão. [...] (EREsp
961.863/RS, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), Rel. p/ Acórdão
Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/12/2010, DJe 06/04/2011).
[...] A possibilidade da realização do laudo pericial por duas pessoas idôneas e portadoras de diploma
de curso superior, quando inviável a efetivação do exame por peritos oficiais, está amparada no art.
159, § 1º, do Código de Processo Penal, sem nenhuma restrição ao fato delas serem policiais. [...] (REsp
1416392/RS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 25/11/2013).
[...] FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. PERÍCIA TÉCNICA. NECESSIDADE. 1. O
entendimento desta Corte é no sentido de que para incidir a qualificadora prevista no art. 155, § 4º,
inciso I, do Código Penal é indispensável a realização de perícia, a fim de se constatar o rompimento
de obstáculo. 2. No caso, como bem ressaltou o Ministério Público Federal em seu parecer (e-fl. 60), "a
infração deixou vestígios materiais. Logo, a prova pericial seria essencial. Inexistente o laudo, não haveria
como reconhecer a incidência da qualificadora de rompimento de obstáculo." 3. Ordem concedida para,
afastando da condenação o acréscimo decorrente da qualificadora do rompimento de obstáculo (art. 155,
§ 4º, I, do CP), reduzir a pena decorrente da condenação pelo crime de furto - art. 155 do CP - para 1 (um)
ano e 6 (seis) meses de reclusão, mais 15 (quinze) dias-multa, mantido, o regime prisional aberto. (HC
207.588/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 23/08/2011, DJe 08/09/2011).
[...] FURTO QUALIFICADO PELO ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. VIDRO DE VEÍCULO AUTOMOTOR.
CONFIGURAÇÃO DA QUALIFICADORA. PRECEDENTE DA TERCEIRA SEÇÃO. 1. A questão em exame já foi
enfrentada no âmbito da Terceira Seção desta Corte no julgamento do EREsp n. 1.079.847/SP, ocasião em
que se consolidou a orientação de que a subtração de objeto localizado no interior de veículo

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automotor mediante o rompimento do vidro qualifica o furto. 2. Agravo Regimental a que se nega
provimento. (AgRg no REsp 1364606/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, j. em 22/10/2013).

INTERROGATÓRIO JUDICIAL

1 - CONCEITO
O interrogatório judicial é o ato por meio do qual o acusado é ouvido e perguntado pelo magistrado a
respeito de suas qualificações pessoais e sobre os fatos imputados na denúncia, “abrindo-lhe oportunidade
para que, querendo, deles se defenda (incidindo, nesse caso, o direito constitucional ao silêncio, que não
pode ser tomado como prova contra o réu)” (Bonfim, 2019).

É manifestação dos princípios da ampla defesa e do contraditório; mais especificamente, é manifestação do


direito à autodefesa, mormente em seu elemento “direito de audiência”.

Em outras palavras, é a oportunidade que o réu tem, dentro do processo penal, de exercer diretamente a
autodefesa. Após tomadas as suas qualificações pessoais, poderá o acusado expor ao magistrado a sua
versão dos fatos; confessar ou negar a autoria delitiva; contestar as alegações das testemunhas inquiridas;
esclarecer pontos que entender pertinentes; ou mesmo permanecer em silêncio – art. 186, caput e parágrafo
único do CPP:

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado
será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado
e de não responder perguntas que lhe forem formuladas.

Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em
prejuízo da defesa.

Como se nota, o interrogatório judicial engloba tanto uma fase sobre a pessoa do acusado quanto uma fase
a respeito dos fatos imputados. É o interrogatório, portanto, um ato bifásico.

Essa constatação, ainda, decorre de expressa previsão legal, conforme art. 187 do CPP, o qual também dita
o ‘roteiro’ durante a realização do ato:

Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa do acusado e sobre os
fatos.

§ 1º Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência, meios de vida ou


profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente
se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, se houve
suspensão condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados
familiares e sociais.

§ 2º Na segunda parte será perguntado sobre:

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I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;

II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atribuí-la, se conhece
a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas
esteve antes da prática da infração ou depois dela;

III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta;

IV - as provas já apuradas;

V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde quando, e se tem


o que alegar contra elas;

VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer objeto que com esta
se relacione e tenha sido apreendido;

VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos antecedentes e
circunstâncias da infração;

VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.

Vale o apontamento de que se o sujeito, na primeira parte do ato, mentir em relação à sua
identidade, poderá incorrer no crime de falsa identidade (art. 307 do CP); por outro lado,
em recusando informações, poderá incidir em contravenção penal prevista no art. 68 do
DL 6.388/1941. Aliás, atestando a possibilidade de a mentira caracterizar crime, eis o
seguinte enunciado:

Súmula 522/STJ – A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica,
ainda que em situação de alegada autodefesa.

2 - NATUREZA JURÍDICA
A natureza jurídica do interrogatório judicial está longe de ser ponto pacífico na doutrina.

RENATO MARCÃO aponta quatro correntes de entendimento sobre o tema: “1ª) o interrogatório é meio de
prova; 2ª) o interrogatório é meio de defesa; 3ª) o interrogatório é meio de prova e de defesa; 4ª) o
interrogatório é meio de defesa e eventualmente meio de prova” (Marcão, 2017).

a) Interrogatório como meio de prova: guarda relação com o próprio sistema inquisitorial, no qual o acusado
é visto como mero objeto de prova. Essa natureza jurídica parece ter sido a adotada pelo CPP (que é de 1941,
a propósito), como bem expõe BRASILEIRO:

Confirmando seu viés inquisitorial, o Código de Processo Penal em vigor sempre considerou o
interrogatório como meio de prova. A própria posição topográfica que o interrogatório ocupa no

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CPP, dentro do Capítulo III (“Do interrogatório do acusado”) do Título VII (“Da prova”) reforça
esse entendimento (Lima, 2017).

b) Interrogatório como meio de defesa: visão que tem crescido nos últimos tempos e defendida por célebres
doutrinadores. Para essa corrente, o interrogatório é meio de defesa, (não obstante a sua localização dentro
da estrutura do CPP), mormente em razão do próprio direito constitucional ao silêncio garantido durante o
ato (art. 5º, LXIII) e seus consectários.

Afirma NESTOR TÁVORA:

(...) o interrogatório é, na essência, meio de defesa, notadamente porque o réu pode invocar o
direito ao silêncio, sem nenhum prejuízo à culpabilidade. Ademais, o interrogatório é o momento
para o réu, em desejando, esboçar a versão dos fatos que lhe é própria, sendo expressão da
autodefesa. Pode até mesmo mentir para livrar-se da imputação. Nesse sentido ADA PELLEGRINI,
SCARANCE FERNANDES, GOMES FILHO, TOURINHO, dentre outros. É também a nossa posição. O
interrogatório pode funcionar até como fonte de prova, mas não deve ser enquadrado na vala
comum dos meios de prova (Távora, 2017).

Complementa BRASILEIRO:

Com a entrada em vigor da Lei nº 10.792/03, e, posteriormente, em virtude da reforma


processual de 2008, esse entendimento ganhou reforço. Isso porque foram introduzidas as
seguintes inovações: a) cariz facultativo do comparecimento do acusado perante o Juiz [sic]; b)
obrigatoriedade da presença do defensor técnico no interrogatório; c) direito à entrevista
reservada do interrogando com seu defensor técnico antes da realização desse ato; d) proibição
do uso do direito ao silêncio como argumento de prova contra o acusado; e) colocação do
interrogatório ao final da instrução probatória, possibilitando que o acusado seja ouvido após a
colheita de toda a prova oral (Lima, 2017).

c) Interrogatório como meio de prova e de defesa: visão que tem prevalecido nos tribunais superiores. Para
os adeptos dessa corrente, ao mesmo tempo em que o interrogatório é meio de defesa (pelas razões
expressas na corrente anterior), é, também, meio de prova, porquanto o magistrado, ao formular perguntas
e receber respostas referentes aos fatos imputados, poderá delas se valer como auxílio para a apuração da
verdade e para formar sua convicção.

d) Interrogatório como meio de defesa e, eventualmente, meio de prova: diferencia-se da corrente anterior
por não considerar ambas as naturezas como presentes permanente e concomitantemente, mas de maneira
casuística e gradativa; apenas caso o acusado não faça uso de seu direito ao silêncio (meio de defesa) é que
se pode pensar no interrogatório como meio de prova. Nas palavras de NUCCI, adepto dessa corrente:

Note-se que o interrogatório é, fundamentalmente, um meio de defesa, pois a Constituição


assegura ao réu o direito ao silêncio. Logo, a primeira alternativa que se avizinha ao acusado é
calar-se, daí não advindo consequência alguma. Defende-se apenas. Entretanto, caso opte por
falar, abrindo mão do direito ao silêncio, seja lá o que disser, constitui meio de prova inequívoco,
pois o magistrado poderá levar em consideração suas declarações para condená-lo ou absolvê-
lo (Nucci, 2015).

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MARCÃO, que adere a essa posição, sintetiza:

Afirmar que o interrogatório constitui apenas meio de prova não explica a situação em que o
acusado faz opção pelo silêncio Constitucional, pois desse silêncio não se pode retirar prova
alguma quanto ao mérito da imputação. Dizer que é meio de defesa também não explica aquelas
situações em que ocorre confissão e/ou delação de corréu, que em harmonia com o restante da
prova servirá para a formação de juízo condenatório. Isso também afasta a possibilidade de
afirmar que será sempre meio de prova e de defesa (Marcão, 2017).

3 - MOMENTO PARA REALIZAÇÃO DO INTERROGATÓRIO


Anteriormente à reforma do Código de Processo Penal, em 2008, o interrogatório era ato inaugural da
instrução processual.

Houve a quebra desse paradigma com o advento da Lei 11.719/2008, momento a partir do qual passou o
art. 400 do CPP a prever o interrogatório como último ato da instrução:

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60


(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art.
222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.

Apenas a título de complementação, essa alteração abrangeu também o procedimento do Tribunal do Júri,
tanto na primeira (art. 411, caput do CPP) quanto na segunda fase (como se percebe dos arts. 473 e 474 do
CPP):

Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se


possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem
como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o debate.

Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz
presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão,
sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas
arroladas pela acusação.

Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, na forma estabelecida no
Capítulo III do Título VII do Livro I deste Código, com as alterações introduzidas nesta Seção.

Há se ter cautela, todavia. Não obstante essa previsão no Código de Processo Penal, o interrogatório ainda
é previsto como sendo o primeiro ato da instrução em algumas leis penais especiais, como exemplifica
RENATO BRASILEIRO DE LIMA:

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Apesar da nova posição topográfica do interrogatório no curso do procedimento comum previsto


no CPP, não se pode olvidar que, em certos procedimentos especiais, o interrogatório continua
sendo o primeiro ato da instrução probatória. É o que acontece, por exemplo, no procedimento
da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06, art. 57), no procedimento ordinário do processo penal militar
(CPPM, art. 302, c/c art. 404, caput) e no procedimento especial da Lei de Licitações (Lei nº
8.666/93, art. 104).

O autor traz à baila o HC 127.900/AM, julgado pelo STF, ocasião na qual concluiu o Plenário pela necessidade
de se realizar o interrogatório ao final da instrução criminal também no processo penal militar:

Na visão do Plenário, revela-se mais condizente com o contraditório e a ampla defesa a


aplicabilidade da nova redação do art. 400 do CPP ao processo penal militar. Entretanto, o
Plenário ponderou ser mais recomendável frisar que a aplicação do art. 400 do CPP no âmbito da
justiça castrense não incide para os casos em que já houvera interrogatório [...].

E finaliza:

Aliás, no julgamento desse habeas corpus, o Plenário do STF acabou firmando a seguinte
orientação: “a norma inscrita no art. 400 do CPP comum aplica-se, a partir da publicação da ata
do presente julgamento, aos processos penais militares, aos processos penais eleitorais e a todos
os procedimentos penais regidos por legislação especial incidindo tão somente naquelas ações
penais cuja instrução não se tenha encerrado” (Lima, 2017).

Ou seja, por essa orientação do STF, mesmo nos procedimentos penais especiais, regulados em legislação
esparsa e que possuam previsão do interrogatório como primeiro ato de instrução, o ato deve ser realizado
ao final, o que representaria efetiva observância aos postulados da ampla defesa e contraditório.

Contudo, o entendimento apenas incidiria nos casos posteriores à data de publicação da ata de julgamento
(11/3/2016) cuja instrução ainda não tenha encerrado. Confira trecho da esclarecedora ementa do aludido
julgado:

Habeas corpus. Penal e processual penal militar. Posse de substância entorpecente em local
sujeito à administração militar (CPM, art. 290). Crime praticado por militares em situação de
atividade em lugar sujeito à administração militar. Competência da Justiça Castrense configurada
(CF, art. 124 c/c CPM, art. 9º, I, b). Pacientes que não integram mais as fileiras das Forças
Armadas. Irrelevância para fins de fixação da competência. Interrogatório. Realização ao final
da instrução (art. 400, CPP). Obrigatoriedade. Aplicação às ações penais em trâmite na Justiça
Militar dessa alteração introduzida pela Lei nº 11.719/08, em detrimento do art. 302 do
Decreto-Lei nº 1.002/69. Precedentes. Adequação do sistema acusatório democrático aos
preceitos constitucionais da Carta de República de 1988. Máxima efetividade dos princípios do
contraditório e da ampla defesa (art. 5º, inciso LV). Incidência da norma inscrita no art. 400 do
Código de Processo Penal comum aos processos penais militares cuja instrução não se tenha
encerrado, o que não é o caso. Ordem denegada. Fixada orientação quanto a incidência da
norma inscrita no art. 400 do Código de Processo Penal comum a partir da publicação da ata
do presente julgamento, aos processos penais militares, aos processos penais eleitorais e a
todos os procedimentos penais regidos por legislação especial, incidindo somente naquelas

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ações penais cuja instrução não se tenha encerrado. [...] 3. Nulidade do interrogatório dos
pacientes como primeiro ato da instrução processual (CPPM, art. 302). 4. A Lei nº 11.719/08
adequou o sistema acusatório democrático, integrando-o de forma mais harmoniosa aos
preceitos constitucionais da Carta de República de 1988, assegurando-se maior efetividade a
seus princípios, notadamente, os do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, inciso LV). 5. Por
ser mais benéfica (lex mitior) e harmoniosa com a Constituição Federal, há de preponderar, no
processo penal militar (Decreto-Lei nº 1.002/69), a regra do art. 400 do Código de Processo Penal.
6. De modo a não comprometer o princípio da segurança jurídica (CF, art. 5º, XXXVI) nos feitos já
sentenciados, essa orientação deve ser aplicada somente aos processos penais militares cuja
instrução não se tenha encerrado, o que não é o caso dos autos, já que há sentença condenatória
proferida em desfavor dos pacientes desde 29/7/14. [...] (HC 127900, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 03/03/2016)

Entretanto, embora fixada essa orientação, a própria Corte Suprema, posteriormente, já decidiu a matéria
de forma diversa, ao dar prevalência ao princípio da especialidade nesse conflito aparente de normas. Veja
os julgados da 1ª Turma do STF:

PENA – DOSIMETRIA. A dosimetria da pena, em geral, circunscreve-se ao âmbito do justo ou


injusto, sendo exceção a ilegalidade. PENA – FIXAÇÃO. Ante circunstâncias negativas, tem-se
razoabilidade na fixação da pena, em relação a cada qual dos crimes, quando em torno de 7 e 3
anos, considerados os pisos de 5 e 2 e os tetos de 15 e 12. LEI ANTIDROGAS – INTERROGATÓRIO
– PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. Ante o princípio da especialidade, nos processos submetidos
ao rito previsto na Lei nº 11.343/2006, o interrogatório inaugura a instrução criminal,
considerado o artigo 57 do citado diploma legal (HC 132854, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,
Primeira Turma, julgado em 26/06/2018).

INTERROGATÓRIO – PROCESSO PENAL MILITAR – ESPECIALIDADE. Ante a aplicação subsidiária


do Código de Processo Penal ao processo militar, impõe-se observar a especialidade, ou seja, o
interrogatório na fase prevista no Código de Processo Penal Militar, não incidindo a norma geral
(HC 128179, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 02/05/2017)

Em relação ao último julgado, como complementação, confira parte da fundamentação trazida pelo Min.
MARCO AURÉLIO DE MELLO:

“[...] A transferência do interrogatório, de ato inaugural instrutório para derradeiro, foi positivada
para os ritos ordinário e sumário, tendo em vista a redação dada pela Lei nº 11.719/2008 aos
artigos 400 e 532 do Código de Processo Penal. Apesar de o procedimento comum, do qual são
vertentes os acima referidos, ser observável, subsidiariamente, nos demais processos, o artigo
394, § 2º, do citado Código expressamente ressalva as disposições em sentido contrário,
direcionando os holofotes para o princípio da especialidade. Ciente disso, o legislador, por
intermédio de lei diversa – de nº 11.689/2008 –, estendeu, expressamente, a inovação ao
procedimento do júri, que é especial, tanto na primeira quanto na segunda fases, presentes as
redações conferidas aos artigos 411, cabeça, e 474, cabeça, do Código de Processo Penal. Se
assim não procedeu em relação aos demais, descabe ao intérprete fazê-lo, sob pena de
legislar, em descompasso com o citado princípio da especialidade, adentrando seara própria
ao Poder Legislativo. Ofende-se, em última análise, o artigo 2º da Constituição Federal. Qualquer

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mudança normativa, considerada lei nova, há de ser expressa, e não tácita, conforme preceitua
o artigo 12 da Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, mediante reprodução integral
em novo texto, quando se tratar de alteração considerável (inciso I), revogação parcial (inciso II)
ou por meio de substituição, no próprio texto, do dispositivo alterado, ou acréscimo de
dispositivo novo (inciso III). Uma vez que nada disso foi implementado no Decreto-Lei nº
1.002/1969 – Código de Processo Penal Militar –, subsiste, hígido, o artigo 302, a alocar o
interrogatório como ato primeiro da instrução, e não último. Indefiro a ordem. É como voto. (HC
128179, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 02/05/2017).

Não obstante, mais recentemente, os precedentes da Suprema Corte estão observando a tese firmada no
caso paradigma – interrogatório como último ato da instrução, para que não haja violação ao contraditório
e à ampla defesa:

EMENTA: PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL. INSTRUÇÃO CRIMINAL. REALIZAÇÃO DO


INTERROGATÓRIO DO RÉU AO FINAL. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROVIMENTO DO AGRAVO. 1. O art. 7º da
Lei n. 8.038/1990 determina que "recebida a denúncia ou a queixa, o relator designará dia e hora
para o interrogatório, mandando citar o acusado ou querelado e intimar o órgão do Ministério
Público, bem como o querelante ou o assistente, se for o caso". A interpretação literal do
comando normativo é no sentido de que o interrogatório do réu, nos processos de competência
originária do Supremo Tribunal Federal, deve ser o ato inaugural da instrução processual penal.
2. No entanto, o dispositivo não se coaduna com os princípios do contraditório e da ampla defesa,
que impõem a realização do ato apenas ao término da instrução. 3. Nesse sentido é o
entendimento do Pleno e dessa 1 ª Turma (AP 528 AgR, Rei. Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Tribunal Pleno, DJe de 8/6/2011). (AP 988 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURELIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 04/04/2017, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-101 DIVULG 15-05-2017 PUBLIC 16-05-2017). 4. Provimento do Agravo para
reformar a decisão agravada, determinando que a instrução processual penal se inicie com a
oitiva das testemunhas arroladas pela acusação, realizando-se o interrogatório ao final. (AP 1027
AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 02/10/2018).

De todo modo, para que se cogite de possível nulidade do interrogatório pela inversão da ordem dos atos,
tem-se exigido que a defesa a tenha arguido por ocasião da própria audiência de instrução e que seja
demonstrado efetivo prejuízo causado ao acusado em virtude disso, em observância ao princípio pas de
nullité sans grief. Já decidiu o STF:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33 DA LEI 11.343/2006). INTERROGATÓRIO REALIZADO NO INÍCIO DA
INSTRUÇÃO CRIMINAL. NULIDADE DO PROCESSO. INOCORRÊNCIA. ALEGAÇÃO DEFENSIVA
TARDIA. EFETIVO PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. 1. Na audiência de instrução e julgamento, a
defesa, em momento algum, questionou a ordem da colheita das inquirições, tampouco
requereu a reinquirição após o término da instrução processual. Nessas circunstâncias, não pode
a defesa, agora, valer-se de suposto prejuízo decorrente de sua omissão, para invalidar a ação
penal. 2. Sem a demonstração de efetivo prejuízo causado à parte não se reconhece nulidade no
processo penal (pas de nullité sans grief). Precedentes. 3. Embargos de declaração recebidos

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como agravo regimental, ao qual se nega provimento (HC 158104 ED, Relator(a): Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 28/09/2018)

Assim também tem entendido o STJ:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. IMPOSSIBILIDADE. TRÁFICO DE DROGAS.


NULIDADE PROCESSUAL. INTERROGATÓRIO COMO PRIMEIRO ATO DO PROCESSO. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. PRECLUSÃO. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. [...] 2. A jurisprudência desta Corte é
reiterada no sentido de que a decretação da nulidade processual, ainda que absoluta, depende
da demonstração do efetivo prejuízo por aplicação do princípio do pas de nullité sans grief. No
caso em análise, a defesa não logrou demonstrar qual o prejuízo experimentado em razão da
antecipação da prova, restringindo-se a sustentar a aplicação do art. 400 do Código de Processo
Penal - CPP no procedimento especial previsto na Lei n. 11.343/06. 3. A suposta nulidade do
interrogatório está preclusa, pois não alegada na própria audiência. A defesa permaneceu
silente, somente arguindo a nulidade em sede de recurso de apelação. 4. Habeas Corpus não
conhecido. (HC 472.605/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, 5ª T., julgado em 12/02/2019)

Superada essa questão, importante lembrar que o CPP, em seu art. 185, prevê a possibilidade de o
interrogatório ser realizado a qualquer momento durante o “curso do processo penal”:

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.

Conforme art. 196 do CPP, mesmo na hipótese de já ter sido o acusado interrogado, há a possibilidade de
que se proceda a novo interrogatório, seja por iniciativa das partes, seja ex officio pelo juiz:

Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de ofício ou a pedido
fundamentado de qualquer das partes.

Hipótese raríssima de se ver, mas o art. 616 não descarta a possibilidade de repetição do ato inclusive em
grau de recurso:

Art. 616. No julgamento das apelações poderá o tribunal, câmara ou turma proceder a novo
interrogatório do acusado, reinquirir testemunhas ou determinar outras diligências.

4 - CONDUÇÃO COERCITIVA
Outra questão que desperta intensas discussões é a possibilidade ou não de se poder conduzir o acusado
contra a sua vontade (coercitivamente) para o seu interrogatório.

Em primeiro lugar, veja o que dispõe o art. 260 do CPP:

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Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou


qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-
lo à sua presença.

Para TÁVORA, tal medida não é admissível. O autor afirma que a impossibilidade da condução coercitiva para
esse ato seria justamente uma das consequências do fato de o interrogatório constituir (na sua visão) meio
de defesa:

O mais importante são as consequências processuais de considerar o interrogatório como meio


substancial de defesa, ligado ao princípio constitucional correlato. A primeira consequência, já
reconhecida, é a impossibilidade de haver prejuízo ao imputado por ter invocado o direito ao
silêncio, pois este não pode levar à presunção de culpa. Uma segunda seria a impossibilidade de
condução coercitiva daquele que mesmo citado pessoalmente, deixa de comparecer ao ato. A
ausência deve ser encarada como expressão da autodefesa, evitando-se o constrangimento de
trazer o réu, mesmo a contragosto, para a audiência. Uma terceira consequência avistável é a
impossibilidade de decretação da revelia do réu ausente, pois o não comparecimento não poderá
trazer prejuízos processuais (Távora, 2017).

Pode-se perceber, nesse tema, a relação existente entre o entendimento adotado sobre a natureza jurídica
do interrogatório e a possibilidade ou não de que seja possível a condução coercitiva do réu para a sua
realização. Seria incongruente, por exemplo, considerar o interrogatório como meio de defesa e afirmar ser
possível a condução forçada do acusado ao ato.

Para BRASILEIRO, o art. 260 do CPP deve ser analisado sob um filtro constitucional e convencional, de maneira
que não se poderia conduzir coercitivamente o acusado para qualquer ato que demande comportamento
ativo, em razão do princípio nemo tenetur se detegere, o que englobaria não só o interrogatório, mas vários
outros atos:

Na medida em que a Constituição Federal e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos


asseguram ao acusado o direito de não produzir prova contra si mesmo, tratando o
interrogatório como meio de autodefesa, o art. 260 do CPP, que fala expressamente em
possibilidade de condução coercitiva para a realização do interrogatório, precisa ser
obrigatoriamente submetido a um controle de constitucionalidade e convencionalidade. Logo,
reputa-se ilegal a expedição de mandado de condução coercitiva objetivando a consecução das
seguintes finalidades: a) prestar declarações perante Comissão Parlamentar de Inquérito; b)
comparecer à audiência una de instrução e julgamento; c) participar de reconstituição simulada
do crime ou fornecer padrões gráficos ou vocais para perícia criminal; d) fazer exame pericial de
dosagem alcoólica; e) prestar declarações em Delegacia de Polícia; f) participar de acareação,
etc. (Lima, 2017).

NUCCI sustenta ideia parcialmente diferente. Para o autor, seria possível a condução coercitiva do acusado
ao interrogatório apenas para a fase de qualificação pessoal, a fim de confirmar a sua identidade:

É viável a determinação judicial de condução coercitiva para o momento do interrogatório, mas


única e tão somente quando o magistrado deseje realizar o interrogatório de qualificação, pois
tem dúvida quanto à identidade do réu. No mais, não tem o menor sentido determinar a

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condução coercitiva (ato violento por natureza) para que o acusado, conhecido e perfeitamente
identificado, invoque o direito ao silêncio. Teria sido conduzido à presença do juiz inutilmente,
motivo pelo qual não tem valia a violência da coerção. Por isso, atento ao princípio constitucional
de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo e à garantia constitucional de se
manter em silêncio, não é viável a aplicação literal do disposto no art. 260 do Código de Processo
Penal, que prevê a possibilidade de condução coercitiva para interrogatório simplesmente
porque o réu, ciente da data, deixou de comparecer (Nucci, 2015).

Em decisão de 14/06/2018, o Plenário do STF, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou
procedente a ADPF 444, para pronunciar a não recepção da expressão ‘para o interrogatório’, constante do
art. 260 do CPP, e declarar a incompatibilidade com a Constituição Federal da condução coercitiva de
investigados ou de réus para interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. O
Tribunal destacou, ainda, que esta decisão não desconstitui interrogatórios realizados até a data do presente
julgamento, mesmo que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para tal ato. Repare nos
principais fatores tomados em conta na decisão, em destaque (nosso) na ementa:

1. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Constitucional. Processo Penal.


Direito à não autoincriminação. Direito ao tempo necessário à preparação da defesa. Direito à
liberdade de locomoção. [...] 4. Presunção de não culpabilidade. A condução coercitiva
representa restrição temporária da liberdade de locomoção mediante condução sob custódia
por forças policiais, em vias públicas, não sendo tratamento normalmente aplicado a pessoas
inocentes. Violação. 5. Dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88). O indivíduo deve ser
reconhecido como um membro da sociedade dotado de valor intrínseco, em condições de
igualdade e com direitos iguais. Tornar o ser humano mero objeto no Estado,
consequentemente, contraria a dignidade humana (NETO, João Costa. Dignidade Humana: São
Paulo, Saraiva, 2014. p. 84). Na condução coercitiva, resta evidente que o investigado é
conduzido para demonstrar sua submissão à força, o que desrespeita a dignidade da pessoa
humana. 6. Liberdade de locomoção. A condução coercitiva representa uma supressão
absoluta, ainda que temporária, da liberdade de locomoção. Há uma clara interferência na
liberdade de locomoção, ainda que por período breve. 7. Potencial violação ao direito à não
autoincriminação, na modalidade direito ao silêncio. Direito consistente na prerrogativa do
implicado a recursar-se a depor em investigações ou ações penais contra si movimentadas, sem
que o silêncio seja interpretado como admissão de responsabilidade. Art. 5º, LXIII, combinado
com os arts. 1º, III; 5º, LIV, LV e LVII. O direito ao silêncio e o direito a ser advertido quanto ao
seu exercício são previstos na legislação e aplicáveis à ação penal e ao interrogatório policial,
tanto ao indivíduo preso quanto ao solto – art. 6º, V, e art. 186 do CPP. O conduzido é assistido
pelo direito ao silêncio e pelo direito à respectiva advertência. Também é assistido pelo direito
a fazer-se aconselhar por seu advogado. 8. Potencial violação à presunção de não culpabilidade.
Aspecto relevante ao caso é a vedação de tratar pessoas não condenadas como culpadas – art.
5º, LVII. A restrição temporária da liberdade e a condução sob custódia por forças policiais em
vias públicas não são tratamentos que normalmente possam ser aplicados a pessoas inocentes.
O investigado é claramente tratado como culpado. 9. A legislação prevê o direito de ausência
do investigado ou acusado ao interrogatório. O direito de ausência, por sua vez, afasta a
possibilidade de condução coercitiva. 10. Arguição julgada procedente, para declarar a
incompatibilidade com a Constituição Federal da condução coercitiva de investigados ou de réus

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para interrogatório, tendo em vista que o imputado não é legalmente obrigado a participar do
ato, e pronunciar a não recepção da expressão ‘para o interrogatório’, constante do art. 260 do
CPP. (ADPF 444, Relator(a): Gilmar Mendes, Pleno, julgado em 14/06/2018, PUBLIC 22-05-2019)

Detalhe: a decisão se refere aos ‘investigados ou acusados’; não tem aplicação no que diz respeito a
testemunhas que sejam intimadas a prestar declarações e não comparecem. Até porque em relação a elas,
em princípio, não socorrem as prerrogativas de silêncio e de não comparecimento, dentre outras.

Vejamos como o tema já foi cobrado em concurso público:

Com. Exam. (MPF) – Procurador da República/2013/27º. Discorra sobre a


condução coercitiva de pessoa suspeita de ter praticado crime, no âmbito da
investigação criminal policial ou do Ministério Público.

5 - FORO COMPETENTE PARA A REALIZAÇÃO DO INTERROGATÓRIO


Em relação ao foro competente para o interrogatório, é evidente que o acusado, em regra, deva ser ouvido
pelo juiz competente para o julgamento do respectivo processo-crime. Todavia, em determinadas situações,
há a possibilidade de ser o acusado interrogado por juiz diverso.

Trata-se dos interrogatórios realizados por meio de cartas precatórias; instrumentos de cooperação entre
juízos de Comarcas e Estados diversos.

Em termos mais práticos: se o acusado reside em localidade deveras afastada daquela em que tramita o
processo, não seria razoável exigir-lhe custoso e inconveniente deslocamento para que tenha a oportunidade
de exercer o seu direito de audiência. Portanto, nada impede (muito pelo contrário; o bom senso dita) que
o réu possa ser interrogado perante o juízo criminal da Comarca em que se encontra, remetendo-se a
respectiva mídia digital/termos de audiência ao juízo competente para o julgamento.

Não se pode perder de vista a extensão continental do Brasil. Exigir-se, sempre, o interrogatório perante a
autoridade que conduz o processo-crime representaria insuperável estagnação dos feitos, com prejuízos
para toda a sociedade e à própria administração da Justiça. Poderia representar, em algumas situações,
prejuízo ao próprio acusado, porquanto lhe seria tolhido o direito à autodefesa pelas contingências da
distância.

Poder-se-ia indagar: como ficaria o aparente embate entre o princípio da identidade física do juiz e o
interrogatório por carta precatória?

Essa questão já foi pacificada pelo Superior Tribunal de Justiça. Para a Corte, analisando-se o processo penal
por enfoque global e a finalidade da reforma de 2008, sem se olvidar das peculiaridades que geralmente
envolvem os casos concretos, não haveria choque entre o referido postulado e essa modalidade de
interrogatório.

GONÇALVES et. al sintetiza a questão com um julgado esclarecedor do STJ:

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É pacífico o entendimento, no Superior Tribunal de Justiça, de que é possível a realização do


interrogatório por meio de carta precatória, sem que isso importe em ofensa ao princípio da
identidade física do magistrado: ‘1. Com a introdução do princípio da identidade física do Juiz no
processo penal pela Lei 11.719/08 (art. 399, § 2º do CPP), o Magistrado que presidir os atos
instrutórios, agora condensados em audiência una, deverá proferir a sentença, descabendo, em
regra, que o interrogatório do acusado, visto expressamente como autêntico meio de defesa e
deslocado para o final da colheita da prova, seja realizado por meio de carta precatória,
mormente no caso de réu preso, que, em princípio, deverá ser conduzido pelo Poder Público (art.
399, § 1º do CPP); todavia, não está eliminada essa forma de cooperação entre os Juízos,
conforme recomendarem as dificuldades e as peculiaridades do caso concreto, devendo, em todo
o caso, o Juiz justificar a opção por essa forma de realização do ato. 2. A adoção do princípio da
identidade física do Juiz no processo penal não pode conduzir ao raciocínio simplista de
dispensar totalmente e em todas as situações a colaboração de outro juízo na realização de
atos judiciais, inclusive do interrogatório do acusado, sob pena de subverter a finalidade da
reforma do processo penal, criando entraves à realização da Jurisdição Penal que somente
interessam aos que pretendem se furtar à aplicação da Lei’ (STJ — CC 99.023/PR — 3ª Seção —
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho — julgado em 10.06.2009 — DJe 28.08.2009) (Gonçalves,
et al., 2017).

6 - AUSÊNCIA DO INTERROGATÓRIO
A ausência do interrogatório pode se dar por diferentes motivos, e, a depender da origem dessa ausência,
diferentes também serão as suas consequências.

Imprescindível se faz, pois, separar duas situações completamente diferentes: a não ocorrência do
interrogatório por vontade do acusado e a não realização do interrogatório por vontade do julgador.

Partindo-se das premissas de que: i) o interrogatório constitui manifestação direta dos princípios
constitucionais do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV da CF); ii) o direito à autodefesa (dentro da
ampla defesa) é renunciável; e iii) o interrogatório é (pelo menos ‘também’) meio de defesa – é
completamente possível que o acusado não tenha interesse e não participe do ato. Isso não acarreta
qualquer nulidade ao processo, desde que lhe tenha sido oportunizada, caso porventura desejasse, a
possibilidade de exercer tal direito.

Situação totalmente diversa é a não designação do interrogatório pelo magistrado ou a não realização do
ato estando o réu presente e interessado em participar dele. MARCÃO muito bem distingue:

A não designação de interrogatório é causa de nulidade absoluta por quebra dos princípios
anteriormente anotados [contraditório e ampla defesa]. Não há que se confundir, entretanto, a
não designação com a não realização. Embora necessário, o interrogatório não é imprescindível
(Marcão, 2017).

Ou seja, em sentido diametralmente oposto à primeira situação, a segunda enseja reconhecimento de


nulidade absoluta, conforme art. 564, III, e do CPP:

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Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: [...]

III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: [...]

e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos
concedidos à acusação e à defesa;

É dizer, a única hipótese em que se admite a não ocorrência de interrogatório em um processo-crime é


quando isso advir da própria vontade do acusado. Caso contrário, estar-se-á diante de uma nulidade
processual.

Doutrina complementar

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “O Código de Processo Penal,
ao tratar do interrogatório do acusado no capítulo concernente à prova, fez clara opção por considerá-lo
verdadeiro meio de prova, relegando a segundo plano sua natureza de meio de autodefesa do réu.
Entretanto, a doutrina mais avisada, seguida pela jurisprudência mais sensível aos novos postulados
ideológicos informativos do processo penal, tem reconhecido o interrogatório como meio de defesa, i. e.,
como ato de concretização de um dos momentos do direito de ampla defesa, constitucionalmente
assegurado, qual seja, o direito de autodefesa, na espécie direito de audiência. Desse modo, tem
prevalecido a natureza mista do interrogatório, sendo aceito como meio de prova e de defesa. Nesse
sentido: STJ, 6ª T., REsp 60.067-7/SP, rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, v. u., DJ, 5 fev. 1996”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017): “Corolário
da ampla defesa e do contraditório, sua oportunidade está prevista em todos os procedimentos criminais,
embora possa existir variação quanto ao momento em que deva ser aprazado. Antes das reformas
introduzidas ao CPP pela Lei 11.719/2008, era normalmente realizado no início do processo, logo após o
recebimento da denúncia ou queixa e citação. Na atualidade, foi relegado, como regra, à fase posterior à
instrução, embora em alguns procedimentos ainda persista previsão de sua efetivação nos termos iniciais
do processo”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “(...) em analogia ao
art. 222 do CPP, nada impede que residindo o réu fora da comarca, o interrogatório seja realizado
mediante precatória, ficando consignadas na carta as perguntas a serem feitas. É possível também, pela
enfermidade ou velhice do interrogado, que o ato seja realizado onde este se encontre (art. 220, CPP)”.
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), ao traçar um paralelo entre o
interrogatório por carta precatória e o princípio da identidade física do juiz, pondera: “O princípio da
identidade física do juiz está expresso no Código de Processo Penal (CPP, art. 399, § 2º), o qual preceitua
que o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença, constituindo verdadeiro corolário do
princípio da oralidade, do qual decorrem outros dois subprincípios, quais sejam, o da imediatidade do juiz
com as partes e com as provas e o da concentração. Desse modo, a atual previsão legal fatalmente
suscitará dúvidas quanto à legalidade do interrogatório realizado via carta precatória, até porque, nesse
contexto, com a reforma processual penal, que passou a contemplar, no procedimento ordinário e
sumário, a audiência única (CPP, arts. 400 e 531), na qual se insere o interrogatório, o acusado preso será
requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresentação
(CPP, art. 399, § 1º). O mencionado dispositivo legal não faz menção à requisição do réu preso para
acompanhar a instrução probatória; contudo, como o interrogatório, no novo procedimento ordinário e
sumário, é realizado após a instrução, obrigatoriamente o réu deverá ser requisitado não só para ser
interrogado, mas para acompanhar toda audiência de instrução e julgamento. [...] Se de um lado o Código
prescreve o princípio da identidade física do juiz e a requisição do réu preso para o interrogatório, por
outro lado, o art. 473, § 3º, do CPP prevê expressamente, no procedimento do júri, a utilização da carta
precatória: as partes e os jurados poderão requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e
esclarecimento dos peritos, bem como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas

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colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis. Haveria, ainda,
outros argumentos a favor do interrogatório realizado por carta precatória: deparamo-nos com o grande
obstáculo, que é a extensão territorial de nosso país, a qual impossibilita o transporte de presos de uma
comarca para outra. Além disso, incidiria, no caso, o princípio da celeridade processual, de magnitude
constitucional, o qual prima pela eficiência do processo, não constituindo o princípio da identidade física
do juiz um direito absoluto. Interessante também lembrar que pode a realização do interrogatório, a teor
da letra do § 1º do art. 9º da Lei n. 8.038/90, ser delegada a juiz ou membro de tribunal com competência
territorial no local de cumprimento da carta de ordem, dispondo, em idêntico sentido, o Regimento
Interno do STF – art. 239, § 1º – e, também, o Regimento Interno do STJ – art. 225, § 1º”.
EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019) “Tramitando o
processo com a presença do réu, a falta do interrogatório constituirá causa de nulidade, nos termos do
art. 564, III, e, do CPP. Em contrapartida, nas situações em que o processo correr sem a presença do
acusado, a falta do interrogatório não vicia o processo. Entretanto, comparecendo o acusado, ainda que
após a condenação, mas antes do trânsito em julgado da sentença, deverá ele ser ouvido. Se pendente o
julgamento de recurso de apelação, a oitiva deverá preceder o julgamento pelo tribunal”.
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “O caráter obrigatório do interrogatório relaciona-se à necessidade de o juiz ouvir o réu presente,
constituindo nulidade a inobservância do dever em questão (art. 564, III, e, do CPP). A falta de
interrogatório é considerada nulidade de natureza relativa pelo Supremo Tribunal Federal, embora haja
doutrinadores que atribuam caráter insanável à referida eiva. Nesse sentido: ‘A falta do ato de
interrogatório em juízo constitui nulidade meramente relativa, suscetível de convalidação, desde que não
alegada na oportunidade indicada pela lei processual penal. — A ausência da arguição, opportuno
tempore, desse vício formal, opera insuperável situação de preclusão da faculdade processual de suscitar
a nulidade eventualmente ocorrida. Com essa preclusão temporal, registra-se a convalidação do defeito
jurídico apontado. — A nulidade relativa, qualquer que ela seja, ocorrida após a prolação da sentença no
primeiro grau de jurisdição, deve ser arguida, sob pena de convalidação, nas razões de recurso.
Precedentes da Corte’ (STF — HC 68.490/DF — 1ª Turma — Rel. Min. Celso de Mello — DJ 09.08.1991 — p.
10.363)”.
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “Convém ressaltar o disposto
no art. 564, III, e, do CPP, o qual considera nulidade insanável a falta de realização do interrogatório,
quando possível. Há quem afirme, entretanto, que, após a sentença, a oitiva do acusado passa a constituir
mera faculdade do juiz, ao contrário da fase processual, anterior ao decisum, em que o magistrado, vindo
a tomar conhecimento, através de notícia nos autos, de que o réu apareceu (desde que revel), está
peremptoriamente obrigado a interrogá-lo. Cremos, todavia, que a melhor posição é aquela que assevera
ser o interrogatório dispensável apenas por iniciativa exclusiva do acusado, de modo que comparecendo
ele em juízo, antes do trânsito em julgado, e manifestando o desejo de ser ouvido, o juiz deve ordenar a
sua qualificação e proceder ao seu interrogatório. Havendo apelação interposta, deve o julgamento ser
convertido em diligência, a fim de que ao réu seja dado influenciar sobre o convencimento do órgão
julgador, sob pena de nulidade decorrente do cerceamento da defesa (nesse sentido, STF, 1ª T., HC 70.019-
5, rel. Min. Octavio Gallotti, j. 16-2-1993, v. u., DJU, 23 abr. 1993, p. 6922)”.

7 - CARACTERÍSTICAS DO INTERROGATÓRIO

7.1 - Ato personalíssimo

É ato pessoal do acusado, não podendo outra pessoa ocupar a sua posição. Não pode haver delegação.

Convém registrar que, em casos de processo penal contra pessoa jurídica, o interrogatório é realizado pelo
seu representante legal.

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7.2 - Ato contraditório

Permite-se, no interrogatório, a participação de ambas as partes na formulação de reperguntas ao acusado,


como efetivo exercício do postulado do contraditório. Nesse sentido, a atual redação do art. 188 do CPP:

Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para
ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante.

Como assenta BRASILEIRO, essa característica do interrogatório nem sempre esteve presente:

Com a entrada em vigor da Lei nº 10.792/03, e a consequente alteração do art. 188 do CPP, o
interrogatório passou a se submeter ao princípio do contraditório, possibilitando a interferência
das partes. Ao contrário do que se dá com os depoimentos de testemunhas e do ofendido, em
relação aos quais vigora o sistema do exame direto e cruzado (CPP, art. 212), o interrogatório
continua submetido ao sistema presidencialista, devendo o juiz formular as perguntas antes das
reperguntas das partes. Apesar de a maioria da doutrina entender que o interrogatório tem
natureza jurídica de meio de defesa, tem prevalecido o entendimento de que quem repergunta
primeiro é a acusação (Ministério Púbico, querelante, ou assistente), seguindo-se as perguntas
da defesa (Lima, 2017).

A propósito: segundo entendimento que prevalece na jurisprudência, advogados de corréus devem ser
intimados sobre o ato; terão a prerrogativa de comparecer ou não (conforme sua estratégica de defesa); em
comparecendo, poderão participar e formular perguntas, na exata medida do contraditório. Repare, desde
já, que a presença do advogado no interrogatório, ordinariamente (tirante situações de delação), só é
imprescindível em relação ao réu que ele defende.

7.3 - Ato assistido tecnicamente

No interrogatório, o acusado deve, necessariamente, ser assistido por defensor público ou particular,
constituído ou nomeado. A defesa técnica é um aspecto da ampla defesa irrenunciável pelo réu.

Essa obrigatoriedade da presença de defensor está estampada no art. 185 do CPP:

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.

Perceba-se, contudo, que não basta a mera presença do defensor durante a realização do ato, é necessário
que se possibilite ao acusado entrevistar-se prévia e reservadamente com o referido profissional.

Aliás, o próprio CPP, no § 5º do art. 185, prevê, peremptoriamente, a necessidade de que, em qualquer
modalidade de interrogatório, seja garantido esse contato do defensor e acusado antes do ato. In verbis:

§ 5º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista


prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica também
garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja
no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.

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A esse respeito, NUCCI:

Se necessário, é imprescindível que o juiz possibilite ao réu, que não possua advogado
constituído, avistar-se com o defensor público ou dativo nomeado, reservadamente, para que
possa ser orientado das consequências de suas declarações, de modo a não prejudicar sua
defesa. [...] Nada impede, no entanto, que o defensor deseje orientar seu cliente, antes do
interrogatório, justamente em função da prova que foi produzida na audiência. É um direito de
ambos e o magistrado deve assegurar esse momento (Nucci, 2015).

Sobre as consequências da não observância desses direitos pelo magistrado durante o interrogatório, expõe
BRASILEIRO, ao citar interessante julgado do STJ3 sobre o tema:

De fato, como já concluiu o STJ, com a alteração do CPP pela Lei nº 10.792/03, assegurou-se, de
um lado, a presença do defensor durante a qualificação e interrogatório do réu; de outro, o
direito do acusado de entrevista reservada com seu defensor antes daquele ato processual. Por
consistirem tais direitos em direitos sensíveis – direitos decorrentes de norma sensível –, a
inobservância pelo juiz dessas novas regras implica a nulidade do ato praticado. Caso em que o
réu foi interrogado sem a assistência de advogado, tendo dispensado a entrevista prévia com o
defensor nomeado pelo juiz. Recurso provido a fim de se anular o processo penal desde o
interrogatório do acusado (Lima, 2017).

E quanto à necessidade de presença de advogado de corréu em interrogatório que é de outro acusado;


nessas situações, a defesa técnica do réu que não está presente e não será interrogado é imprescindível no
ato?

Na AO 2093/RN (rel. Min. CÁRMEN LÚCIA), julgada em 03/9/2019, o STF entendeu que NÃO, ponderando o
seguinte:

[...] o interrogatório de corréu é ato do juiz, que propicia à defesa dos demais denunciados mera
faculdade de participação. A imprescindibilidade da presença de defesa técnica ocorre durante
o interrogatório do réu por ela representado, não quanto aos demais. No tocante aos corréus,
há obrigatoriedade de intimação da data de interrogatório, a permitir o comparecimento do
advogado, o que comprovado na espécie (Informativo 950).

Por este precedente (insistimos no ponto), há necessidade de intimação, para que se faculte o
acompanhamento do ato por todos os defensores; a efetiva presença, por outro lado, constitui apenas uma
faculdade, considerando que o interrogatório é um ato essencialmente do juiz e da defesa.

3
STJ, 6ª Turma, RHC 17.679/DF, Rel. Min. Nilson Naves, DJ 20/11/2006 p. 362.

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7.4 - Ato oral

Como regra geral, o interrogatório é realizado de forma oral, ou seja, através da fala.

A depender do caso, de maneira excepcionalíssima, o interrogatório será realizado e registrado de outras


formas. O próprio CPP prevê algumas possíveis situações e a maneira de se proceder para garantir a lisura e
a validade do ato.

Em se tratando de acusado surdo, mudo ou surdo-mudo, dispõe o art. 192 do CPP:

Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma seguinte:

I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente;

II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito;

III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as
respostas

Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como intérprete
e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo.

Caso o acusado não fale ou compreenda a língua portuguesa, o interrogatório deverá contar com intérprete.
É o que prevê o art. 193 do CPP:

Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório será feito por meio
de intérprete.

Ainda, se o acusado não souber escrever, não puder ou não quiser assinar, tal fato será feito constar do
termo. Art. 195 do CPP:

Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não puder ou não quiser assinar, tal fato será
consignado no termo.

7.5 - Ato individual

Nos processos em que haja mais de um réu, os interrogatórios deverão ser feitos individualmente. É o que
dispõe o art. 191 do CPP:

Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados separadamente.

Complementa BRASILEIRO: “Nesse caso, (...) deve-se possibilitar ao advogado do corréu a possibilidade de
formular reperguntas aos demais acusados, notadamente se as defesas de tais acusados se mostrarem
colidentes, sob pena de violação à ampla defesa” (Lima, 2017).

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7.6 - Ato bifásico

Conforme já explanado, o interrogatório é constituído de duas fases distintas: uma sobre a pessoa do
acusado; outra sobre os fatos imputados. Relembre o que dispõe o art. 187 do CPP.

A título de complementação, interessante notar que as informações pessoais do acusado colhidas na


primeira fase do interrogatório (§ 1º do art. 387 do CPP) guardam forte relação com as circunstâncias judiciais
presentes no art. 59 do CP, as quais serão valoradas pelo juiz para a fixação da pena-base na primeira fase
de dosimetria da pena. Repare:

Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade
do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao
comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação
e prevenção do crime.

Além disso, como bem registra TÁVORA:

A falta de oportunidade de emprego, moradia, educação, saúde, que contribuem para que o
agente se envolva na atividade delitiva, pode funcionar como atenuante genérica, ou nas
situações de maior evidência, pode implicar na absolvição do réu, afastando-se a culpabilidade
pela inexigibilidade de conduta diversa. Salutar a previsão do CPP em permitir o conhecimento
da vida do interrogado, destin

ando um tópico do interrogatório com esta finalidade (Távora, 2017).

Ao demais, na segunda fase, o acusado será perguntado sobre a imputação que lhe é feita (§ 2º), o que
permitirá ao magistrado (caso o acusado não faça uso de seu direito constitucional ao silêncio) ouvir a sua
versão dos fatos, esclarecer pontos relevantes e melhor apurar a verdade.

7.7 - Ato público

Em regra, o interrogatório (assim como todos os atos judiciais) é público (art. 93, IX da CF). Entretanto,
existem situações nas quais a publicidade pode ser mitigada, dando lugar ao sigilo. São ocasiões
excepcionais, descritas no art. 792, § 1º do CPP:

Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão
nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça
que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados.

§ 1º Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo,


inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma,
poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja
realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes.

Portanto, apenas será admitida a mitigação da publicidade, reduzindo-se o número de pessoas presentes
durante o ato de interrogatório, quando houver perigo de escândalo, perturbação da ordem ou

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inconveniente grave que possa ocorrer em decorrência da própria publicidade. Caso contrário, qualquer do
povo poderá acompanhar o ato.

Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “O interrogatório é ato privativo
do juiz: vige o sistema presidencialista, em que só o juiz pode interrogar o acusado. Muito embora o art.
188 do CPP permita certa atuação do Ministério Público e da defesa na realização do ato, quem o preside
e formula perguntas é o juiz. [...] Na fase investigatória da persecução, quem preside o interrogatório é o
Delegado de Polícia, evidentemente, e, seja qual for o delito, não há previsão jurídica de participação do
Ministério Público, do ofendido ou de defensor. O interrogatório é ato personalíssimo: decorre dessa
característica que só o acusado, pessoalmente, pode ser interrogado, daí não ser possível falar em
‘interrogatório por procuração’, prestado por terceiro, ou coisa que o valha. [...] Outra característica é a
oralidade: em sua forma de se operacionalizar, o Juiz formula perguntas diretamente ao acusado, que as
responde também oralmente. Em seguida, salvo se o interrogatório for gravado em mídia (CD, DVD ou
hard disk) ou taquigrafado, o juiz ditará as respostas ao escrevente, que tudo consignará no termo de
interrogatório. [...] O interrogatório é um ato público, salvo quando incidente a regra do art. 792, § 1º, do
CPP, segundo o qual, se da publicidade puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de
perturbação da ordem, poderá ser realizado a portas fechadas, limitando o juiz o número de pessoas que
possam estar presentes. Por fim, é ato não preclusivo: o interrogatório não preclui”.
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “1) Ato personalíssimo, já que só o acusado (ou o querelado) pode ser interrogado, sem que haja
possibilidade de ser substituído por outrem no ato (defensor, curador etc.). Na hipótese de interrogatório
de pessoa jurídica acusada de crime ambiental (art. 225, § 3º, da CF), será ouvido o representante que for
indicado pela ré, ainda que não seja seu representante legal, uma vez que esse pode não ter
conhecimento do fato. 2) Ato oral, pois se perfaz, em regra, por meio de palavras. 3) Ato não sujeito a
preclusão, na medida em que pode ser praticado a qualquer tempo. 4) Ato público, uma vez que, salvo
excepcionalmente, qualquer pessoa pode presenciá-lo. 5) Ato bifásico, porque constituído de duas partes,
uma sobre a pessoa do acusado (interrogatório de qualificação), e, outra, sobre os fatos (interrogatório de
mérito)”.
EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “O interrogatório é
ato público, personalíssimo e oral: a) público, pois, salvo naquelas ocasiões em que for aconselhável a
decretação do sigilo, deve ele ser conduzido à vista de todos; b) personalíssimo, porque a presença do réu
não pode ser substituída, inexistindo o interrogatório por procuração e admitindo-se a participação ativa
de terceiros no procedimento apenas no caso do interrogado surdo e mudo que não saiba ler e escrever
(art. 192, parágrafo único); c) oral, porquanto, salvo nas hipóteses em que o interrogado esteja
impossibilitado de falar, nessa forma deverá ser a manifestação do réu, que será reduzida a escrito por
escrivão judicial”.

8 - LOCAL DA REALIZAÇÃO DO INTERROGATÓRIO


O interrogatório dos réus soltos segue a regra geral em relação ao local de realização dos atos processuais:
ocorrerá na sede do juízo, ou seja, na sala de audiências do Fórum.

Essa regra geral provém do art. 792 do CPP:

Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão
nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça
que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados.

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Excepciona-se a essa regra o interrogatório de réu preso. Nesses casos, há três formas de realização do ato
no que diz respeito ao local, conforme sustenta BRASILEIRO:

a) pessoalmente, dentro do presídio em que se encontra, mas desde que haja segurança para
todas as pessoas envolvidas no ato; b) por videoconferência; c) pessoalmente, no fórum: de
acordo com o art. 185, § 7º, do CPP, será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas
hipóteses em que o interrogatório não possa ser realizado no interior do presídio ou por
videoconferência (Lima, 2017).

a) Interrogatório dentro do estabelecimento prisional: com previsão no art. 185, § 1º do CPP, parece ter
sido essa a primeira opção do legislador infraconstitucional no que diz respeito ao local de realização do
interrogatório. Dispõe o artigo:

§ 1º O interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em que


estiver recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério
Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato.

Não obstante essa aparente preferência, a prática tem demonstrado a inviabilidade de realização do ato nos
estabelecimentos prisionais.

A inviabilidade é causada, em primeiro lugar, pelos próprios requisitos que necessitam ser observados para
que se possa proceder ao ato nesses moldes, como uma sala de audiências própria (não se olvidando das
situações estruturais já quase sempre precárias desses estabelecimentos); garantia da segurança de todas
as pessoas envolvidas no ato (que demandaria deslocamento do já escasso efetivo de agentes de segurança
penitenciária); observância da publicidade (como se garantir, ao mesmo tempo, a publicidade do ato dentro
de um estabelecimento prisional, a segurança de todos os envolvidos e a própria manutenção do controle e
ordem dentro do presídio?), dentre outros requisitos.

Em segundo lugar, a inviabilidade (de índole processual) é demonstrada pela própria adoção da audiência
una de instrução e julgamento pelo processo penal brasileiro, a partir da reforma de 2008, como bem registra
BRASILEIRO:

(...) de acordo com a reforma processual de 2008, houve a adoção de uma audiência una de
instrução e julgamento, na qual é colhida toda a prova oral – oitiva do ofendido, das
testemunhas, eventuais esclarecimentos dos peritos, e, por fim, o interrogatório do acusado –
com ulteriores alegações orais e sentença proferida pelo magistrado. Ora, se a intenção do
legislador foi a de imprimir maior celeridade ao procedimento comum, concentrando os atos da
instrução probatória em uma audiência una, que deve ser realizada no fórum, não se mostra
razoável que todas as pessoas envolvidas com tal audiência tenham que se deslocar até o
estabelecimento prisional (Lima, 2017).

b) Interrogatório por videoconferência: previsto no art. 185, §§ 1º a 6º do CPP. Será analisado em item
próprio.

c) Interrogatório pessoal no Fórum: apesar de também ser apresentada no CPP como uma forma subsidiária
de interrogatório (art. 185, § 7º), essa tem sido a praxe no processo penal, tendo em vista toda a

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problemática envolvendo o interrogatório nos estabelecimentos prisionais, bem como a dificuldade de


implementação e utilização dos sistemas de videoconferência e sua inerente carga de excepcionalidade.

Dispõe o referido parágrafo:

§ 7º Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses em que o


interrogatório não se realizar na forma prevista nos §§ 1º e 2º deste artigo.

Dessa forma, o réu que se encontra preso terá a sua apresentação em juízo requisitada às respectivas
autoridades, de modo que será escoltado ao Fórum para que acompanhe todos os atos processuais e possa,
ao final, ser interrogado pessoalmente.

Doutrina complementar

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “A regra é que o
interrogatório, como todo ato processual, seja realizado na sede do juízo (art. 792, caput, do CPP). Assim,
caso o acusado esteja em liberdade, deve ser interrogado na sede do juízo. (...) [...]. O art. 185, § 1º, do CPP
excepcionou a regra, ao dispor que o réu preso será interrogado no estabelecimento prisional em que se
encontrar, em sala própria, desde que garantidas a segurança do magistrado e de seus auxiliares, a
presença do defensor e a publicidade do ato. Caso não haja a segurança necessária, o interrogatório será
feito na sede do juízo”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “Em resumo, quanto ao acusado
preso temos o seguinte: 1º) poderá ser interrogado em sala especial do presídio em que se encontrar
recolhido; 2º) poderá ser interrogado pessoalmente na sala de audiências, no fórum, e, 3º) poderá ser
interrogado por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real. Seja como for, devem ser respeitadas as regras garantidoras da ampla defesa, do
contraditório e do devido processo legal, sob pena de nulidade absoluta do ato processual”.

9 - NOMEAÇÃO DE CURADOR
A redação anterior do art. 194 do CPP previa a necessidade de se nomear curador para os acusados menores
de 21 (vinte e um) anos para que acompanhasse o interrogatório. Veja o que dispunha o artigo:

Art. 194. Se o acusado for menor, proceder-se-á ao interrogatório na presença de curador.

A menoridade a que o dispositivo fazia menção era a civil. Ocorre que, com o advento do Código Civil de
2002, a menoridade passou a cessar (no critério ‘idade’) aos 18 (dezoito) anos completos. Essa alteração
esvaziou a efetividade do art. 194.

Veja, in verbis, o que dispõe o artigo 5º do Código Civil:

Art. 5º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à
prática de todos os atos da vida civil.

Além disso, logo em seguida, como bem contextualiza MARCÃO, essa alteração ocasionou mudanças na lei
processual penal:

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A nova regra determinou efeitos na legislação penal e processual penal, sendo um deles
exatamente a revogação do art. 194 do CPP, situação posteriormente confirmada pelo art. 10
da Lei n. 10.792/ 2003, que cuidou de revogar expressamente referido dispositivo. Foi
derrogado o art. 564, III, c, parte final, do CPP, que tipificava nulidade quando não providenciada
a nomeação de curador ao menor de 21 (vinte e um) anos. Está superada a discussão (Marcão,
2017).

Outrossim, encontra-se revogado tacitamente o artigo 15 do CPP que determina a nomeação de curador
para os indiciados menores de 21 (vinte e um) anos de idade por ocasião da tomada de declarações no
inquérito policial (Távora, 2017).

Não obstante esses registros, a figura do curador no processo penal ainda subsiste em algumas situações,
como para os indígenas não integrados à sociedade e os doentes mentais incapazes, como bem pontua
RENATO MARCÃO:

Com efeito, deverá ocorrer nomeação nas hipóteses em que o acusado for indígena que não
esteja completamente integrado à civilização, ou quando se tratar de pessoa portadora de
doença mental que a torne incapaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de
acordo com esse entendimento – semi-imputável ou inimputável – na forma do art. 26 do CP. A
ausência de curador especial torna nulo o interrogatório e, por consequência, os demais atos a
seguir praticados (Marcão, 2017).

Doutrina complementar

VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012): “Não há mais previsão
legal de nomeação de curador para o acusado menor de 21 anos, por duas razões: porque o Código Civil
de 2002 atribuiu a capacidade plena aos 18 anos, o que coincide com a imputabilidade penal e porque o
interrogatório será realizado com a presença de defensor. Em acréscimo, o art. 194, que exigia a nomeação
de curador ao acusado menor, em seu interrogatório, foi expressamente revogado pela Lei n. 10.792, de
2003”.

10 - INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA


Com o advento da Lei nº 11.900/2009, essa forma de interrogatório passou a ser tratada pelo CPP em seu
art. 185, § 2º, o qual, de antemão, já deixa explícita a excepcionalidade da medida:

§ 2º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das


partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro
recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
necessária para atender a uma das seguintes finalidades: [...]

A respeito do aparato tecnológico a ser utilizado para a prática do ato, BRASILEIRO concebe algumas
interessantes premissas básicas empíricas:

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1) a transmissão audiovisual bidirecional (two-way), de molde a permitir a efetiva interação entre


o acusado (ou a testemunha remota) e os demais participantes do depoimento; 2) um padrão de
qualidade e clareza na transmissão do sinal que permita a perfeita audição e visualização
recíproca entre todos os participantes do ato processual, além da continuidade da transmissão
durante todo o ato processual; 3) a plena visualização por parte das pessoas situadas na sala de
audiências de todos os recantos do recinto onde o acusado ou a testemunha remota se
encontram, a fim de evitar a presença de pessoas estranhas, que estejam orientando ou coagindo
tal testemunha (Lima, 2017).

Não basta que o interrogatório por videoconferência ocorra a esmo; é imprescindível que sejam tomadas
todas as medidas cabíveis para garantir que o ato seja realmente efetivo e escorreito, evitando-se que essa
modalidade de interrogatório seja utilizada de maneira subversiva ante as peculiaridades que envolvem essa
medida excepcional.

Outrossim, conforme § 3º do mesmo artigo, devem as partes ser intimadas com antecedência mínima de 10
(dez) dias da data do interrogatório:

§ 3º Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência, as partes


serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência.

Ademais, é expressamente permitido ao acusado (e já o seria de qualquer forma, tendo em vista os


inafastáveis postulados da ampla defesa e do contraditório) acompanhar, pela videoconferência, a realização
dos demais atos de instrução criminal anteriores ao interrogatório. Trata-se do § 4º do referido art. 185:

§ 4º Antes do interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo


sistema tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento
de que tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código.

Outro ponto relevantíssimo, já trabalhado por ocasião das características do interrogatório, é a previsão legal
da necessidade de se garantir ao acusado entrevista prévia e reservada com o seu defensor. A previsão legal
abrange todas as modalidades de interrogatório, mas pormenoriza como esse acesso e contato do acusado
e seu defensor deve ocorrer nas videoconferências. Relembre o que dispõe o artigo, atentando-se para a sua
segunda parte:

§ 5º Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o direito de entrevista


prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica também
garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que
esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.

Perceba-se, então, a necessidade de haver dois defensores nas hipóteses de interrogatório por
videoconferência, permanecendo um no estabelecimento prisional e outro na sala de audiência do Fórum.
Além disso, deve-se garantir o contato telefônico (direto e sigiloso) entre os dois defensores e entre o
advogado presente na sala de audiência e o preso.

Por fim, o § 6º do artigo em análise impôs a necessidade de fiscalização da sala reservada para audiências
por todos os sujeitos do processo, bem como pelos órgãos e entidades em sentido genérico:

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§ 6º A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais por


sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como
também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.

10.1 - Finalidades do uso da videoconferência

Estão elencadas no art. 185, § 2º do CPP:

I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre
organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;

Destaque para “fundada suspeita”. Não basta meras conjecturas e ilações sobre ser o preso integrante de
organização criminosa, ou mero receio de que possa fugir durante eventual deslocamento. São necessários
elementos concretos nesse ou naquele sentido.

II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade
para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;

Hipótese de o acusado, por alguma circunstância pessoal involuntária (interna ou externa) não poder ser
conduzido ao juízo, ou que tal condução não seja recomendável no momento. Assegura-se, assim, que o réu
participe do ato processual através da videoconferência e possa exercer sua autodefesa.

NORBERTO AVENA esmiúça as expressões “enfermidade” e “outra circunstância pessoal” referidas no


dispositivo. Vale a transcrição do seu magistério:

Enfermidade: não necessariamente há de ser uma patologia grave, relacionada, por exemplo, a
estágios terminais ou doenças contagiosas (embora tais situações, evidentemente, possibilitem
a aplicação do dispositivo). Justifica-se, assim, a videoconferência em qualquer situação na qual
a enfermidade que acometer o réu preso possa importar em extrema dificuldade de
comparecimento, v.g., paralisias, fraturas nos membros inferiores, estados pós-cirúrgicos etc.
Outras circunstâncias pessoais: aqui se enquadra qualquer motivo ligado à pessoa do réu e que,
mesmo abstraídos aspectos relacionados a enfermidades, possam dificultar o seu transporte ao
juízo. Cremos que, nesta previsão, é possível enquadrar, por exemplo, a hipótese em que o réu
esteja sob ameaças de morte patrocinadas por desafeto ou familiares da vítima. Não justificam
o interrogatório por meio de videoconferência situações alheias à pessoa do réu, v.g., ausência
de veículo oficial de transporte, greve dos agentes encarregados de escoltá-lo, rebelião no
presídio em que se encontra recolhido o acusado, entre outros fatores, impondo-se, em tais
situações, o adiamento do ato processual (Avena, 2015).

III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível
colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código;

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No magistério de BRASILEIRO, “em outras palavras, a testemunha e o ofendido serão inquiridos por
videoconferência. Caso não seja possível a oitiva deles por videoconferência, aí sim o juiz determinará a
retirada do acusado da sala de audiências, prosseguindo-se na inquirição por videoconferência com a
presença do seu defensor” (Lima, 2017).

IV - responder à gravíssima questão de ordem pública

O termo “gravíssima” empregado no dispositivo gera dúvidas acerca de seu verdadeiro significado e
abrangência, cabendo à doutrina conceber contornos mais palpáveis a esse inciso.

AVENA, novamente, bem esclarece o assunto:

Cremos que nele se enquadra toda sorte de motivos que levem o juiz a compreender
que a videoconferência, no caso concreto, justifica-se pelo receio de que o
comparecimento pessoal do acusado preso ao fórum possa acarretar prejuízo à ordem
normal dos trabalhos a serem realizados em audiência.

O autor, ainda, exemplifica:

Como exemplos de situações que poderiam conduzir à aplicação do art. 185, § 2º, IV, estão o
clamor social em torno do fato imputado ou da pessoa do réu preso, de tal forma que a sua
presença em audiência possa importar em protestos populares, riscos de agressão física, ofensas
morais etc.; e o grau de periculosidade do acusado, exigindo elevado contingente de policiais ou
agentes para impedi-lo de eventuais agressões contra o juiz, partes e servidores (Avena, 2015).

10.2 - Da (in)constitucionalidade do interrogatório por videoconferência

Mais um tema longe de ser pacificado. A constitucionalidade ou não do interrogatório por videoconferência
é objeto de entendimentos diversos, todos com argumentos robustos a seu favor. A discussão remonta à
época da entrada em vigor da Lei nº 11.909/09 e perdura até os dias atuais.

As posições abaixo colacionadas bem representam o espectro da divergência, permitindo-se visualizar os


argumentos favoráveis e desfavoráveis a respeito do tema.

Para FERNANDO CAPEZ, que entende pela constitucionalidade do instituto em voga, o interrogatório por
videoconferência não reduziu a garantia da autodefesa nem mitigou a proteção do acusado contra coações
e tortura, que seria um dos argumentos contra essa modalidade do ato processual. A lei resguardou todos
os direitos e garantias do acusado, como a entrevista prévia e reservada com defensor; a presença de
advogado tanto no estabelecimento prisional quanto na sala de audiência do Fórum; a garantia do contato
entre os defensores e o acusado em tempo real; a exigência de uma sala reservada no estabelecimento
prisional, fiscalizada tanto pelo Ministério Público quanto pela Ordem dos Advogados do Brasil, bem como
pelos corregedores e pelo próprio juiz da causa (Capez, 2018).

Além disso, CAPEZ refuta outro argumento desfavorável ao interrogatório por videoconferência:

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Afirma-se, também, que esse recurso tecnológico agrediria o direito de o acusado estar
perante o juiz, isto é, o de sua presença real no interrogatório, pois estatui o art. 185,
caput, do CPP que o acusado comparecerá perante a autoridade judiciária. No mesmo
sentido, prescreve a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José
da Costa Rica) no sentido de que toda pessoa detida deve ser conduzida à presença de
um juiz. Ora, a expressão “presença da autoridade” merece uma interpretação
consentânea com a evolução tecnológica que se vem processando nos últimos tempos.
Quando tais diplomas foram editados, respectivamente, nos idos de 1941 e 1969, nem
sequer se cogitava da existência do sistema de videoconferência. É certo que, quando a
Lei afirma que o réu tem direito de estar perante um juiz, o ideal é que isso ocorra no
plano concreto, mas o Direito não se encontra apenas no plano do ideal, forjado na
mente humana, sob ele há um pano de fundo concreto, que exige soluções concretas,
viáveis. Estar perante o juiz, dadas as condições da realidade, pode, uma vez garantidos
os direitos dos acusados, como o fez a Lei, significar ser interrogado pelo sistema de
videoconferência, sem que isso implique o aniquilamento desses direitos.

O autor continua, ao afirmar a existência de outros argumentos de política criminal favoráveis ao


interrogatório por videoconferência:

Aliado a isso, há inúmeros argumentos de política criminal que favorecem o interrogatório on-
line, pois deve-se pontuar que constitui um avanço incomparável na prática forense, impedindo
que milhões de reais mensais com despesas de transporte sejam gastos, além da necessidade de
um contingente significativo de policiais militares para a realização da escolta. Sem falar no risco
que sofrem os policiais e a população em geral com o perigo de fuga dos presos no trajeto até o
fórum ou retorno ao presídio. Há mais um ponto positivo: a utilização da videoconferência
imprimirá maior agilidade ao processo penal, em consonância com o princípio da celeridade
processual, expressamente acolhido pelo Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana
sobre Direitos Humanos) e a própria Magna Carta, em seu art. 5º, LXXVIII (Capez, 2018).

BRASILEIRO sustenta em semelhante sentido:

A nosso juízo, a realização do interrogatório por videoconferência não atende somente


aos objetivos de agilização, economia e desburocratização da justiça. Atende também à
segurança da sociedade, do magistrado, do membro do Ministério Público, dos
defensores, dos presos, das testemunhas e das vítimas, razão pela qual não pode ser
tachada de inconstitucional.

Segue o autor, aprofundando:

Se o modelo garantista de processo pensado por LUIGI FERRAJOLI vem fundamentado nas premissas
da jurisdicionalidade, inderrogabilidade do juízo, separação das atividades de julgar e acusar,
presunção de inocência e contradição, forçoso é concluir que o interrogatório por
videoconferência também preserva essas cinco linhas mestras. Isso porque quem determina a

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utilização dessa medida de natureza excepcional é o magistrado, que, aliás, não se vê obrigado a
delegar a outro juízo a oitiva do acusado, assim como de testemunhas e ofendidos, reforçando
assim a inderrogabilidade da jurisdição, bem como os princípios do juiz natural e da identidade
física do juiz. Ademais, ao acusado se assegura a mais ampla defesa, não só pela presença de dois
defensores – um no presídio e outro no fórum – como também pela possibilidade de se
comunicar com cada um deles por meio de canais telefônicos reservados, preservando-se,
ademais, seu direito de presença remota de acompanhar os demais atos da instrução processual.
Enfim, a realização de atos processuais está em franca sintonia com a ordem constitucional
vigente, assim como com todos os vetores informadores do princípio da dignidade da pessoa
humana. Nenhum princípio resultou arranhado com a videoconferência: juiz natural, identidade
física do juiz, publicidade, dignidade da pessoa humana, acesso à justiça, ampla defesa,
contraditório, devido processo, direito de ser julgado em prazo razoável etc. (Lima, 2017).

Do outro lado, entendendo pela inadmissibilidade dessa modalidade de interrogatório, salvo


excepcionalíssimas situações, o magistério de NUCCI:

Uma tela de aparelho de TV ou de computador jamais irá suprir, satisfatoriamente, o contato


direto que o magistrado deve ter com o réu, até mesmo para constatar se ele se encontra em
perfeitas condições físicas e mentais. Qual réu, detido numa penitenciária a quilômetros de
distância, sentir-se-á à vontade para denunciar os maus-tratos que vem sofrendo a um juiz
encontrado atrás da lente de uma câmara? Qual acusado terá oportunidade de se soltar diante
do magistrado, confessando detalhes de um crime complexo, voltado a um aparelho e não a um
ser humano? Por outro lado, qual julgador terá oportunidade de sentir as menores reações
daquele que mente ou ter a percepção de que o réu conta a verdade visualizando-o por uma
tela? Enfim, o ato processual do interrogatório é importante demais para ser banalizado e
relegado, sempre, ao singelo contato dos maquinários da tecnologia. Quando faltava lei federal
regulando o assunto, não concordávamos com a realização do interrogatório por
videoconferência em caso algum. Afinal, cuidava-se de assunto vinculado à ampla defesa,
garantia constitucional do réu. Leis estaduais, regimentos de tribunais e resoluções
administrativas não poderiam imiscuir-se em tarefa legislativa federal por excelência. Advinda a
Lei 11.900/2009, em termos específicos e proclamando a excepcionalidade da medida, revemos
a nossa posição. Parece-nos que, não se tornando regra, pode-se admitir a realização do
interrogatório por esse meio tecnologicamente avançado, quando sumamente necessário
(Nucci, 2015).

Também em visão contrária, as lições de TÁVORA:

A tendência reformista do Código de Processo Penal veio consagrar a polêmica possibilidade de


interrogatório por videoconferência, mediante a edição de lei de constitucionalidade material
duvidosa. A Lei nº 11.900/2009 trouxe a previsão de que, excepcionalmente, o magistrado, por
decisão suficientemente motivada, possa realizar o interrogatório do réu preso por sistema de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real.
[...] A ideia que norteou a edição desse diploma legislativo é conhecida e vem inspirando as
sucessivas alterações do Código de Processo Penal, de cunho inquisitivo, embora vez por outra
procure fazer crer que se está prestigiando os valores constitucionais. Busca-se,
primordialmente, atender os ditames da lei e da ordem, sustentando-se no discurso que enfatiza

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a necessidade de “segurança”, “economia” e “celeridade”, deixando ao largo os direitos e


garantias processuais constitucionais (Távora, 2017).

Por derradeiro, GONÇALVES et. al apresenta recente e substancioso julgado do STJ a respeito desse tema:

Destacando o caráter excepcional da providência, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou


pela validade do interrogatório por videoconferência, quando realizado após a vigência da Lei n.
11.900/2009: “1. A determinação judicial para a realização da audiência de instrução e o
interrogatório do réu por videoconferência ocorreu após a alteração do artigo 185 do Código de
Processo Penal pela Lei n. 11.900/2009. 2. A adoção da medida foi calcada em elementos
extraídos do caso concreto, especialmente nos fortes indícios de que a conduta do agente
provavelmente estaria inserida na atividade de organização criminosa empresarial com atuação
internacional e na necessidade da escolta do acusado por centenas de quilômetros para propiciar
o interrogatório presencial, com risco de fuga. 3. Não se limitou o magistrado a reproduzir o texto
legal, mas alinhavou a gravidade concreta como substrato para a realização de atos processuais
por intermédio da referida tecnologia, com espeque nos requisitos do artigo 185, § 2º, incisos I
e IV, do Código de Processo Penal, demonstrando-se, assim, a necessidade da providência
excepcional. 4. Recurso a que se nega provimento” (STJ — RHC 57.546/SP — 6ª Turma — Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura — julgado em 14.04.2015 — DJe 23.04.2015) (Gonçalves, et
al., 2017).

Em verdade, o grande obstáculo que se apresentava à admissibilidade do interrogatório por


videoconferência era justamente a falta de normatização a seu respeito. Nesse sentido, NUCCI, ao colacionar
julgado do STF de 2007 (e, portanto, anterior à Lei 11.909/09), no qual se deferiu habeas corpus
reconhecendo a invalidade dessa modalidade de interrogatório, admite a propensão de que a Corte Suprema
reveja o entendimento:

Certamente, o advento da Lei 11.900/2009, autorizando a realização do interrogatório por


videoconferência, nos casos nela previstos, provocará nova manifestação do STF, quando
necessário. Parece-nos, no entanto, que a Suprema Corte poderá rever o posicionamento
contrário à videoconferência, pois a fundamentação mais abrangente do V. Acórdão
supramencionado era calcada na ausência de disciplina legal a respeito, o que agora é suprido
pela novel legislação (Nucci, 2015).

Veja-se, por oportuno, de que forma a questão foi cobrada em concurso para Procurador da República:

Com. Exam. (MPF) – Procurador da República/2013/27º. Discorra sobre a


constitucionalidade do interrogatório por videoconferência no processo penal.

Doutrina complementar

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012) trata com
profundidade sobre a figura do interrogatório por videoconferência: “(...) O art. 185, § 2º, do CPP dispõe
textualmente sobre a hipótese de interrogatório de réu preso por sistema de videoconferência ou outro
recurso tecnológico análogo, verbis: Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a
requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência
ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida

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seja necessária para atender a uma das seguintes finalidades: I — prevenir risco à segurança pública,
quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra
razão, possa fugir durante o deslocamento; (Incluído pela Lei n. 11.900, de 2009). Não exige a lei que o
acusado integre organização criminosa, mas que exista “fundada suspeita” de que a integre. Do mesmo
modo, para tal hipótese permissiva do interrogatório online, não é preciso conexão ou nexo etiológico
entre os crimes praticados pela possível organização criminosa e o delito de que o acusado se vê
processar. É suficiente, como dito, a fundada suspeita (não se exige, pois, prova) de que o réu integre
organização criminosa, pouco importando a natureza do processo a que responda, visto que, por tal — ou
“outra razão” não especificada pelo inciso — este possa vir a fugir durante o deslocamento. [...] II —
viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu
comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; (Incluído pela Lei n. 11.900,
de 2009); III — impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja
possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; (Incluído
pela Lei n. 11.900, de 2009). Trata-se de medida destinada a salvaguardar a conveniência da instrução
criminal quando da audiência una, ou seja, naqueles casos (por exemplo, procedimento do júri e
procedimento comum) em que se ouvem, na mesma oportunidade, réu (em interrogatório), vítima
(declarações) e testemunhas (depoimentos). ‘Na verdade’, como sustenta a doutrina, ‘em que pese o
aparente conflito que decorre da conjugação do art. 185 § 2º, inc. III, com o art. 217 do CPP, tais dispositivos
são plenamente conciliáveis, bastando que se parta da premissa de que, enquanto o primeiro tem em
vista, unicamente, o interrogatório do réu preso e visa a evitar o seu deslocamento ao fórum quando sua
presença interferir na produção da prova oral, o segundo dirige-se, primordialmente, à inquirição da
vítima e testemunhas nas hipóteses em que o acusado já se encontrar no fórum para acompanhar a
instrução’. IV — responder à gravíssima questão de ordem pública. (Incluído pela Lei n. 11.900, de 2009).
O adjetivo ‘gravíssimo’ justapõe-se à questão de ordem pública. Pensamos pudesse o legislador prescindir
da expressão adjetiva utilizada em sua máxima potência, porquanto toda questão ‘grave’ de ordem
pública, já resultaria lógica, de per si, para a adoção do interrogatório online, tornando despropositado o
requisito imposto pelo exagero vernacular, porque de muito subjetiva valoração: o que seria meramente
‘grave’ e não ‘gravíssimo’, impedindo a realização do ato online? Com que bitola se mede a gravidade —
e extensão da mesma — para fins de adequação da medida? À falta de clareza para a incidência do
dispositivo, a doutrina sugere situações passíveis de aplicação do dispositivo, v.g., ‘clamor social em torno
do fato imputado ou da pessoa do réu preso, de tal forma que a sua presença em audiência possa importar
em protestos populares, riscos de agressão física, ofensas morais etc.; e o grau de periculosidade do
acusado, exigindo elevado contingente de policiais ou agentes para impedi-lo de eventuais agressões
contra o juiz, partes e servidores’”. Ainda, o autor elenca requisitos a serem observados para o
interrogatório online: “a) Aplica-se a excepcionalidade da medida — somente possível para réus presos —
, quando ocorrer uma das hipóteses do art. 185, § 2º, I a IV. b) Da decisão que determinar a realização de
interrogatório por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 dias de antecedência (§ 3º). c)
Quando impossível ao magistrado interrogar o réu no estabelecimento prisional (§ 1º). d) Direito de
entrevista prévia e reservada do réu com o seu defensor e garantia de acesso a canais telefônicos
reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de
audiência do Fórum, e entre este e o preso (§ 5º)”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “Convencido da existência de
situação justificadora, o juiz deverá decidir de forma fundamentada a esse respeito (CF, art. 93, IX) e
determinar a intimação das partes para a realização do ato, com 10 (dez) dias de antecedência (§ 3º). Não
há recurso previsto para atacar essa decisão; todavia, aquele que se sentir lesado poderá ingressar com
pedido de habeas corpus, visto que de alguma maneira implica em seu direito de liberdade e atinge
garantias fundamentais, ou alegar o que entender de direito em sede de recurso de apelação. Antes do
interrogatório por videoconferência ou outra tecnologia autorizada, o preso poderá acompanhar, pelo
mesmo sistema, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento até o término
dela, e bem assim aqueles que se seguirem. Com vistas a assegurar sem restrições o exercício da ampla
defesa, nessa modalidade de interrogatório o preso deverá estar acompanhado de defensor no local em
que se encontrar, ao mesmo tempo em que outro defensor irá atuar em seu favor, simultânea e
fisicamente perante o juiz, na sala de audiências. A sala reservada no estabelecimento prisional para a
realização de atos processuais por sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo

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juiz de cada causa, como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil (CPP, §
6º do art. 185)”.

Jurisprudência pertinente

Supremo Tribunal Federal - STF

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ROUBO. AGÊNCIA DOS
CORREIOS. ARTIGO 157, § 2º, INCISOS I E II, DO CP. INTERROGATÓRIO POR VÍDEO CONFERÊNCIA.
NULIDADE. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. PENA-BASE. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AGRAVO REGIMENTAL
NÃO PROVIDO. 1. Na hipótese dos autos, a defesa não demonstrou o prejuízo concreto causado ao
recorrente em decorrência da ocorrência de falhas na comunicação durante o interrogatório por
videoconferência. A esse respeito, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se firmou no sentido
de que, no campo da nulidade no processo penal, vigora o princípio pas de nullité sans grief, previsto no
art. 563 do CPP, segundo o qual o reconhecimento de nulidade exige a comprovação de efetivo prejuízo.
Nesse contexto, foi editada pelo Supremo Tribunal Federal a Súmula n. 523, que assim dispõe: No processo
penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de
prejuízo para o réu. 2. Ainda que possa ter ocorrido falhas na comunicação, a Corte de origem consignou
que houve o pleno exercício do direito ao contraditório e à ampla defesa. Assim, não comprovado efetivo
prejuízo ao réu, não há que se declarar a nulidade pela ocorrência de cerceamento de defesa. [...] (STF
- HC: 197167 PE 0038022-09.2021.1.00.0000, Relator: EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 23/02/2021).
[...] PRECLUSÃO. INTERROGATÓRIO NÃO REALIZADO. SUPOSTA AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PARA O ATO
PROCESSUAL. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. NÃO
COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO. [...] 5. A tese defensiva atinente à ausência de intimação para o
interrogatório demandaria o reexame e a valoração de fatos e provas, para o que não se presta a via eleita.
Precedentes 6. “Não há nulidade se a ausência proposital do réu acarretou na falta de seu
interrogatório. (STF - RHC: 123900 PR 9997723-58.2014.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de
Julgamento: 08/03/2021, Primeira Turma).
[...] INTERROGATÓRIO – AUSÊNCIA VOLUNTÁRIA – NULIDADE – INEXISTÊNCIA. Intimado acusado, em
liberdade e representado por advogado credenciado, o não comparecimento voluntário a ato
processual voltado ao interrogatório não constitui nulidade. (STF - HC: 185848 SP 0093036-
12.2020.1.00.0000, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 07/12/2020, Primeira Turma).
[...] INTERROGATÓRIO NAS AÇÕES PENAIS ORIGINÁRIAS DO STF. ATO QUE DEVE PASSAR A SER
REALIZADO AO FINAL DO PROCESSO. NOVA REDAÇÃO DO ART. 400 DO CPP. AGRAVO REGIMENTAL A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei
11.719/2008, fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal. II – Sendo tal prática
benéfica à defesa, deve prevalecer nas ações penais originárias perante o Supremo Tribunal Federal,
em detrimento do previsto no art. 7º da Lei 8.038/90 nesse aspecto. Exceção apenas quanto às ações
nas quais o interrogatório já se ultimou. III – Interpretação sistemática e teleológica do direito. [...] (AP 528
AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011).

Superior Tribunal de Justiça

INVERSÃO DA ORDEM DO INTERROGATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. ART. 400 DO CPP. ENTENDIMENTO


EXARADO PELO STF NO JULGAMENTO DO HC N. 127.900/AM. PRECEDENTE DO STJ. ILEGALIDADE
MANIFESTA EVIDENCIADA. [...] 2. A Sexta Turma desta Corte entende ser prescindível a comprovação de
prejuízo da parte, em relação à ilegalidade de interrogatório do réu tenha sido realizado no início da
instrução, pois não há, num processo penal, prejuízo maior do que uma condenação resultante de
um procedimento que não respeitou as diretrizes legais e tampouco observou determinadas
garantias constitucionais do réu (no caso, a do contraditório e a da ampla defesa). (REsp n.
1.825.622/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz, DJe 28.10.2020).

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[...] NULIDADE DO INTERROGATÓRIO. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. PRINCÍPIO PAS DE NULITTÉ


SANS GRIEF. [...] Esta Corte tem entendimento assente de que a ausência de informação quanto ao
direito ao silêncio constitui na nulidade relativa, a qual depende da comprovação de efetivo prejuízo,
não caracterizando na espécie, uma vez que os acusados negaram a prática dos delitos, apresentando
suas versões [...] (AgRg nos ED no REsp n. 1.868.466/RO, STJ, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 09.09.2020).
[...] INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. [...] 3. Não há falar em
violação do art. 185, § 2°, I e II, do CPP se o interrogatório foi realizado por videoconferência em razão
da dificuldade de comparecimento do acusado em Juízo, haja vista a sua prisão em outra comarca,
a grande distância necessária ao deslocamento e a impossibilidade de escolta. A nulidade do ato
processual não foi deduzida em momento oportuno e não houve comprovação do prejuízo concreto
à defesa, pois os agravantes, pessoalmente, tiveram a oportunidade de narrar sua própria versão dos
fatos ao Juiz e foram assistidos por defensor. [...]. (STJ - AgRg no REsp: 1410824 SP 2013/0341536-0,
Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 22/10/2019, T6 - SEXTA TURMA).
[...] HOMICÍDIO QUALIFICADO. NULIDADES. AUSÊNCIA DE INTERROGATÓRIO. RÉU FORAGIDO. NÃO
OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL. ADVOGADO CONSTITUÍDO NOS AUTOS. DIÁRIO DE
JUSTIÇA. [...] 1. O interrogatório é o ato processual por meio do qual o réu tem a faculdade de expor a sua
versão dos fatos narrados na denúncia, nos termos do art. 185 e seguintes do CPP. Não há violação do
contraditório e da ampla defesa, pela não realização do referido ato processual, se o próprio réu -
ciente da acusação - empreende fuga do distrito da culpa; estava foragido na data designada para o
interrogatório e só veio a alegar a ocorrência de nulidade nas alegações finais, logo após a sua
captura, quando já encerrada a instrução criminal e já apresentadas as alegações finais do Ministério
Público estadual. (STJ - RHC: 98263 GO 2018/0115200-9, Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data
de Julgamento: 07/08/2018, T6 - SEXTA TURMA).
AUSÊNCIA DE INTERROGATÓRIO DO RÉU. PEDIDO DE ADIAMENTO INDEFERIDO. NÃO
COMPARECIMENTO. INVIABILIDADE DE RECONHECIMENTO DE NULIDADE COM A QUAL
CONCORREU A PARTE. ARTIGO 565 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL . 1. De acordo com o artigo 565
do Código de Processo Penal , "nenhuma das partes poderá argüir nulidade a que haja dado causa, ou
para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse". 2.
Na hipótese, na véspera do julgamento para o qual fora intimado com a antecedência de 15 dias, o
agravante solicitou o adiamento do interrogatório, informando a necessidade de comparecer à
solenidade pública para a qual foi convidado, anexando o respectivo informe. Contudo, teve sua pretensão
indeferida pela Corte estadual, ante a generalidade dos motivos apresentados e a ausência de
comprovação da imprescindibilidade de sua presença no evento, circunstâncias que afastam a ilegalidade
apontada pela defesa. 3. Ademais, nos termos da Jurisprudência desta Corte Superior "não caracteriza
violação à ampla defesa, a ausência de interrogatório judicial do réu, na hipótese em que este é intimado
pessoalmente para a audiência e, sem justificativa plausível, deixa de comparecer [...]. STJ - AgRg no
AREsp: 1004254 SC 2016/0271410-3, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 06/03/2018).
[...]. I - A realização de interrogatório por meio de videoconferência é medida que objetiva a
desburocratização, agilização e economia da justiça, podendo ser determinada excepcionalmente
nas hipóteses previstas no rol elencado no § 2º do art. 185 do Código de Processo Penal. II - Assim,
deve-se ressaltar que não há qualquer incompatibilidade de realização de interrogatório por
videoconferência em sessão plenária do Júri, sendo imprescindível apenas a observância da
excepcionalidade da medida e da necessidade de devida fundamentação na sua determinação, em
respeito ao disposto no art. 93 , inciso IX , da Constituição Federal , bem como aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. III - Na hipótese, a alta periculosidade do recorrente, fundamento
utilizado pelo magistrado de origem para determinar a realização de interrogatório por videoconferência,
encontra amparo em dados concretos extraídos dos autos, constituindo motivação suficiente e idônea
para tal providência, com fulcro no inciso IV do § 2º do art. 185 do CPP . Recurso ordinário desprovido. (STJ
- RHC: 80358 RJ 2017/0011969-0, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 14/03/2017).
[...] A Lei 11.719/08, de reforma do Código de Processo Penal, superado o período de vacatio legis, incidiu
imediatamente sobre os feitos em curso. Assim, o interrogatório, como meio de defesa que é, deve ser
realizado ao cabo da instância, não ficando ao talante do juiz estabelecer o momento apropriado,

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invocando-se o art. 196 do Codex. [...] (HC 123.958/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 26/04/2011, DJe 04/05/2011).
[...] INTERROGATÓRIO DO PACIENTE, DETENTOR DE FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO,
DESIGNADO COMO PRIMEIRO ATO DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL, NOS TERMOS DA LEI 8.038/1990.
PLEITO DE APLICAÇÃO DO ARTIGO 400 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, QUE PREVÊ A INQUIRIÇÃO
DO ACUSADO COMO ÚLTIMO ATO DA FASE INSTRUTÓRIA. POSSIBILIDADE.PRECEDENTE DO STF.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. CONCESSÃO DA ORDEM. 1. Ao julgar caso semelhante, este
Relator se posicionou no sentido de que o artigo 400 da Legislação Processual Penal não pode ser adotado
nas ações penais regidas pela Lei 8.038/1990, uma vez que as regras do rito comum ordinário só têm lugar
no procedimento especial quando nele houver omissões ou lacunas (HC 121171/SP, QUINTA TURMA,
julgado em 22/03/2011, REPDJe 01/09/2011, DJe 25/04/2011). 2. Contudo, ao apreciar o AgRg na Apn 528/DF,
o Plenário do Supremo Tribunal Federal, pela unanimidade dos eminentes Ministros presentes à sessão,
entendeu que a previsão do interrogatório como último ato da instrução processual, por ser mais
benéfica à defesa, deve ser aplicada às ações penais originárias, em detrimento do disposto no artigo
7º da Lei 8.038/1990. 3. Embora a aludida decisão seja desprovida de qualquer caráter vinculante, é certo
que se trata de posicionamento adotado pela unanimidade dos integrantes da Suprema Corte, órgão que
detém a atribuição de guardar a Constituição Federal e, portanto, dizer em última instância quais
situações são conformes ou não com as disposições colocadas na Carta Magna, motivo pelo qual o
posicionamento até então adotado por este Superior Tribunal de Justiça deve ser revisto, para que passe
a incorporar a interpretação constitucional dada ao caso pelo Excelso Pretório. 4. Ordem concedida,
confirmando-se a medida liminar anteriormente deferida. (HC 205.364/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 06/12/2011, DJe 19/12/2011).
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. MOMENTO DO
INTERROGATÓRIO. ÚLTIMO ATO DA INSTRUÇÃO. NOVO ENTENDIMENTO FIRMADO PELO PRETÓRIO
EXCELSO NO BOJO DO HC 127.900/AM. MODULAÇÃO DE EFEITOS. PUBLICAÇÃO DA ATA DE
JULGAMENTO. ACUSADO INTERROGADO NO INÍCIO DA INSTRUÇÃO. NULIDADE PRESENTE. ORDEM
CONCEDIDA. 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n. 127.900/AM, deu nova conformidade
à norma contida no art. 400 do CPP (com redação dada pela Lei n. 11.719/08), à luz do sistema
constitucional acusatório e dos princípios do contraditório e da ampla defesa. O interrogatório passa a
ser sempre o último ato da instrução, mesmo nos procedimentos regidos por lei especial, caindo por
terra a solução de antinomias com arrimo no princípio da especialidade. Ressalvou-se, contudo, a
incidência da nova compreensão aos processos nos quais a instrução não tenha se encerrado até a
publicação da ata daquele julgamento (11.03.2016). [...] (HC 397.382/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe 14/08/2017).
[...] A colenda Sexta Turma entende possível, em casos de delação, a intervenção do Advogado em
interrogatório de réu diverso daquele que defende (Precedentes do STJ/STF). Em prestígio à
multifacetada cláusula do due process of law, é de se estender tal compreensão para casos de ausência
de delação. A contribuição de todas as partes do processo para a escorreita busca da verdade
consagra o teor do art. 188 do Código Processo Penal (Precedentes do STF). [...] Ordem concedida em
parte para anular a sentença, convertendo o julgamento em diligência, a fim de intimar os defensores
para manifestarem eventual interesse na arguição dos réus que não defendem, designando-se data para
a complementação dos interrogatórios. Após, deve-se retomar a marcha processual, a partir do disposto
no art. 402 do CPP. (HC 112.993/ES, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado
em 16/03/2010, DJe 10/05/2010).
[...] 2. O interrogatório é também um meio de prova, e para que seja validamente introduzido no processo
deve atender às garantias constitucionais instituídas em favor do acusado. 3. Para o ato do interrogatório
nas ações penais com pluralidade de réus, o Código de Processo Penal prevê apenas que estes devem
ser interrogados separadamente, o que não significa, por si só, que a inquirição complementar seja
feita apenas pelo próprio defensor e pelo órgão acusatório, sob pena de ofensa ao contraditório e à
paridade de armas que deve ser resguardada no processo penal. 4. Não há no Código de Processo
Penal nenhum comando proibitivo à participação do defensor do corréu no ato do interrogatório,
estabelecendo o seu artigo 188, com a redação dada pela Lei n. 10.792/03, que "Após proceder ao
interrogatório, o juiz indagará as partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as
perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante", razão pela qual não é dado ao

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intérprete restringir esse direito, que tem assento em princípios constitucionais. 5. Ordem concedida para
anular a ação penal desde o interrogatório dos acusados, inclusive, ficando prejudicada a análise dos
pleitos remanescentes. (HC 198.668/SC, Rel. Min. JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 04/09/2012).

CONFISSÃO

1 - CONCEITO
A confissão nada mais é do que a admissão, pelo indiciado ou acusado, da veracidade das imputações que
lhe são feitas.

Nas palavras de TOURINHO FILHO, “é o reconhecimento feito pelo imputado da sua própria responsabilidade”
(Filho, 2011).

Tem natureza de meio de prova, não só pela sua localização topográfica dentro do CPP (capítulo IV do Título
VII – ‘DA PROVA’), mas pelo fato de que é um instrumento possível de ser utilizado pelo magistrado na busca
da verdade e formação de sua convicção - quando efetivamente exteriorizado pelo acusado, evidentemente.

2 - ESPÉCIES DE CONFISSÃO
Várias são as classificações da confissão. Vejamos, então, as suas diversas espécies:

a) Confissão extrajudicial: é a confissão realizada fora do processo, normalmente antes, é exteriorizada na


fase investigatória. Para AURY LOPES JR., não há sentido na distinção entre a confissão ‘extrajudicial’ e a
‘judicial’, porquanto apenas pode ser valorada a confissão realizada em juízo, com efetiva compreensão, pelo
acusado, de seus direitos constitucionais e assistido por defensor técnico (Júnior, 2018).

BRASILEIRO, sobre esse ponto, registra:

Em duas situações, todavia, a jurisprudência tem admitido a valoração da confissão extrajudicial:


a) no plenário do júri, em virtude do sistema da íntima convicção do juiz, que vigora em relação
à decisão dos jurados; b) quando a confissão extrajudicial é feita na presença de defensor (Lima,
2017).

Devemos aqui fazer um apontamento. Confissão extrajudicial vai se traduzir num ‘elemento informativo’,
como outro qualquer. A regra que incide a respeito da sua ‘valoração’ é aquela do art. 155 do CPP. Ou seja:
não poderá o juiz se valer exclusivamente dela para fundamentar sua decisão; todavia, poderá ela sim ser
considerada pelo juiz na sentença, desde que em conformidade com o conjunto probatório produzido na
instrução criminal (com contraditório e ampla defesa).

b) Confissão judicial: é a confissão realizada perante o magistrado, como uma ato processual em audiência,
observados o contraditório e a ampla defesa.

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MARCÃO aponta a existência de subdivisões dessa espécie de confissão: a confissão judicial própria e a
imprópria:

Em relação à confissão judicial, há quem diga que ela pode ser dividida em: confissão judicial
própria e confissão judicial imprópria, referindo-se a primeira hipótese à confissão prestada
perante a autoridade judiciária competente para julgar o caso, e a segunda à hipótese de ser
prestada perante autoridade judicial diversa (Marcão, 2017).

c) Confissão explícita: trata-se de uma confissão direta e objetiva. O acusado confessa de maneira
indubitável o fato delituoso.

d) Confissão implícita: o acusado pratica ou busca praticar atos que podem revelar a admissão de culpa. Nas
palavras de CAPEZ, essa espécie de confissão ocorre “quando o pretenso autor da infração procura ressarcir
o ofendido dos prejuízos causados pela infração” (Capez, 2018). Dentro do processo penal, essa confissão
não tem qualquer valor (Lima, 2017).

e) Confissão simples: o acusado admite como verdadeiras as imputações que lhe são feitas sem invocar
quaisquer justificantes (excludentes de ilicitude – art. 23 do CP) ou exculpantes (excludentes de culpabilidade
– arts. 26 e 28, § 1º do CP, dentre outros).

f) Confissão qualificada: o acusado confessa a prática do fato delituoso, mas afirma que teria agido sob o
manto de alguma excludente de ilicitude ou culpabilidade. Contanto que seja utilizada para a formação do
convencimento do magistrado, essa espécie de confissão também enseja a aplicação da atenuante genérica
de pena prevista no art. 65, III, d do CP. A esse propósito, veja o que dispõe a Súmula 545 do STJ:

Súmula 545 - Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o
réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

g) Confissão ficta: ocorre por omissão; o acusado não contesta as imputações feitas.

MOUGENOT BONFIM, para quem a confissão tácita e ficta são sinônimos, assevera que essa espécie
é incompatível com o processo penal brasileiro: “O processo penal brasileiro não admite a
confissão tácita, vigendo a presunção de inocência e dispondo expressamente que o silêncio do
acusado não importará em confissão” (Bonfim, 2013).

No mesmo sentido, CAPEZ: “A confissão ficta ou presumida, contumaz no processo civil, não se
verifica no âmbito do processo penal, por falta de amparo legal. Ainda que o acusado deixe o
processo correr à sua revelia, tal fato não importa na presunção de veracidade acerca daquilo
que foi alegado pela acusação” (Capez, 2018).

h) Confissão delatória: o acusado confessa a prática do crime e, ao mesmo tempo, aponta terceiros
envolvidos nessa empreitada criminosa. Nas palavras de AVENA: “A confissão delatória consiste na afirmação
realizada pelo acusado, por ocasião de seu interrogatório, de que, além de seu próprio envolvimento, uma
terceira pessoa, agindo como seu comparsa, também concorreu para a prática delituosa” (Avena, 2015).

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3 - CARACTERÍSTICAS DA CONFISSÃO
Podem ser elencadas quatro características principais da confissão:

a) Ato personalíssimo: apenas e tão somente o acusado pode confessar a prática delituosa,
não lhe sendo possível outorgar ou delegar o ato a outra pessoa, nem mesmo a seu procurador
ou defensor constituído.

b) Ato livre e voluntário: a confissão deve advir da própria vontade do acusado, seja qual for a motivação de
cunho íntimo que o tenha levado a externá-la. É inadmissível a confissão obtida através de coação ou de
outros meios que viciem a manifestação de vontade do interrogado. A propósito, o constrangimento
mediante violência ou grave ameaça para a sua obtenção caracterizará o crime de tortura, nos termos do
art. 1º, inc. I da Lei 9.455/1997:

Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento


físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

c) Ato retratável: mesmo após ter confessado a prática de determinado crime, pode o acusado se retratar.
Conforme leciona MARCÃO: “Uma vez feita, o confitente poderá voltar atrás; desdizer-se e apresentar, ou
não, elementos de convicção a respeito dessa nova versão”.

d) Ato divisível: a confissão pode ser direcionada a apenas alguns fatos delituosos. Caso essa confissão
pontual venha a compor elemento para a formação da convicção do julgador, ensejará a aplicação da
atenuante genérica em relação ao respectivo crime confessado. Tanto a retratabilidade quanto a
divisibilidade da confissão decorrem de expressa previsão legal, conforme art. 200 do CPP:

Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz,
fundado no exame das provas em conjunto.

3.4 VALOR PROBATÓRIO DA CONFISSÃO


Sobre o tema, contextualiza TOURINHO FILHO:

Houve tempo em que a confissão era considerada a rainha das provas, porque ninguém
melhor do que o acusado pode saber se é ou não culpado. Tão importante era ela que
se torturava o pretenso culpado para arrancar-lhe o reconhecimento de sua
culpabilidade. E, muitas vezes, a tortura era pior que a pena cominada à infração, o que
levava o indivíduo, mesmo inocente, a confessar sua pretensa culpa (Filho, 2011).

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Já ultrapassada a época em que a confissão tinha valor supremo dentro de um processo penal, constituindo
a chamada regina probationum, ou ‘rainha das provas’.

Com o abandono do sistema inquisitorial como sistema processual vigente e do sistema da prova tarifada
como método de avaliação das provas, a confissão passou a ter valor relativo, assim como todos os demais
meios de prova.

Convém relembrar trecho do item VII da Exposição de Motivos do Código de Processo Penal a esse respeito:

VII – [...] Não serão atendíveis as restrições à prova estabelecidas pela lei civil, salvo quanto ao
estado das pessoas; nem é prefixada uma hierarquia de provas: na livre apreciação destas, o juiz
formará, honesta e lealmente, a sua convicção. A própria confissão do acusado não
constitui, fatalmente, prova plena de sua culpabilidade. Todas as provas são
relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor decisivo, ou necessariamente maior
prestígio que outra. [...]

É exatamente essa a visão explicitada pelo art. 197 do CPP:

Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de
prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo,
verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.

É dizer, possuindo valor relativo, a confissão deve ser analisada sob um ponto de vista conglobado do
processo, cotejando-a com os demais elementos probatórios coligidos durante a persecução penal, a fim de
que lhe possa ser conferido maior ou menor força como meio de prova.

Ao demais, e por fim, pertinente é a advertência de TÁVORA:

Lembramos que se o crime deixar vestígios, a materialidade não pode ser provada pela
confissão, pois é necessária a realização do exame de corpo de delito (art. 158, CPP). Na
ausência deste, a prova testemunhal suprirá a omissão (art. 167, CPP). Nestas hipóteses,
a confissão servirá para demonstrar a autoria, já que a materialidade estará a depender
da realização de perícia (Távora, 2017).

CESPE – Procurador do Ministério Público junto ao TCU (TC DF)/2013.


Considerando que determinado réu, em seu depoimento pessoal, tenha
confessado o fato alegado pelo autor, responda, de forma fundamentada, aos
seguintes questionamentos. 1- Ao confessar, o réu abdica do direito de produzir
prova sobre o fato confessado? 2- A confissão poderá́ ser invalidada se for
demonstrado o erro de direito? 3- Nesse caso, estará́ o autor liberado de provar o
fato por ele alegado? 4- A confissão vincula o juiz?

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016) apresenta uma
classificação robusta e completa da confissão, sendo ela em relação à local/autoridade, aos efeitos; à forma

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 114


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e à abrangência subjetiva. Vale a integral transcrição: “A classificação da confissão está assim apresentada:
a) Quanto ao local ou autoridade perante a qual é feita: • Judicial: é a realizada perante o magistrado
competente (confissão judicial própria). É possível que seja realizada perante autoridade incompetente
para o julgamento do processo, como na hipótese de carta precatória (confissão judicial imprópria); •
Extrajudicial: realizada no transcurso do inquérito policial ou fora dos autos, ou ainda perante outras
autoridades, como dentro de procedimento administrativo correicional ou perante CPI. Terá que ser
reproduzida no processo para surtir algum efeito na esfera penal. b) Quanto aos efeitos: • Simples: é o
reconhecimento puro e simples da imputação, sem modificação ou implemento de informações; •
Complexa: quando o réu reconhece vários fatos criminosos que são objeto do processo; • Qualificada: o
réu confessa o fato, agregando novos elementos para excluir a responsabilidade penal, como excludentes
de ilicitude, de culpabilidade etc. c) Quanto à forma: • Expressa ou explícita: é aquela produzida através
da palavra falada ou escrita, onde indubitavelmente o agente reconhece os fatos que lhe são imputados;
• Tácita ou: é a decorrente da não impugnação da inicial acusatória. Evidente, pela presunção de inocência,
que a confissão tácita não tem aplicação na esfera criminal. Da mesma forma, a previsão da parte final do
art. 198 do CPP, admitindo que o silêncio, apesar de não significar confissão, poderá constituir elemento
para a formação do convencimento do julgador não tem mais aplicação, pois está tacitamente revogado,
em face da nova redação do parágrafo único do art. 186 do CPP, ao dispor que o silêncio não pode ser
interpretado em desfavor da defesa; • Implícita: é a que decorre de atitude (ação) do agente incompatível
com a produção de defesa, tal como se dá com a reparação do dano civil. Tal confissão não tem
aplicabilidade no direito processual penal, só incidindo no âmbito onde o direito é disponível. d) Quanto
à abrangência subjetiva: • Individual, exclusiva ou confissão stricto sensu: o agente reconhece
exclusivamente os fatos que lhe são imputados, sem apontar a participação de outras pessoas ou fatos
imputados a outros agentes; • Delatória: é a confissão que se faz acompanhar da colaboração do agente
para apontar coautores ou partícipes da mesma infração penal ou de outras conexas. Cuida-se de
afirmação que possibilita o chamamento de coautores ou partícipes e que, se admitida por lei, possibilita
uma sanção premial em favor do agente colaborador (delação premiada)”.
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018): “(i) Retratabilidade: o
acusado pode retratar-se, ou seja, desdizer a confissão ofertada. A confissão não produzirá efeitos se a
vontade do agente ao confessar estiver viciada a ponto de não poder produzir seus efeitos como ato
jurídico. Atenção: a simples negação do fato praticado não equivale à retratação, pois esta pressupõe o
conhecimento de confissão anterior. (ii) Divisibilidade ou cindibilidade: a confissão pode-se dar no todo
ou em parte, com relação ao crime atribuído ao confitente. Se o acusado confessa haver praticado um
homicídio, e, ao mesmo tempo, alega que o perpetrou em legítima defesa, é óbvio que, se outros
elementos existentes nos autos realçarem a veracidade da palavra do confitente, no sentido de ter sido
ele o autor do homicídio, o magistrado aceitará a confissão, por sincera”.
EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “No tempo da prova
legal, a confissão era conhecida como regina probationum (rainha das provas), valendo como prova plena
da imputação. Entretanto, atualmente a confissão, como os demais elementos de prova, não tem, por si
só, o condão de determinar a comprovação dos fatos alegados pela acusação. A confissão terá, dessa
forma, valor probante relativo, devendo o juiz apreciá-la em confronto com as demais provas do processo,
verificando se entre ela e estas há compatibilidade ou concordância (art. 197 do CPP). A disposição é
consentânea com a realidade, pois não raro a confissão é prestada de maneira fraudulenta, não podendo
o julgador ficar adstrito ao seu conteúdo para proferir o julgamento”.
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “É o cotejo da confissão com os demais elementos de informação existentes nos autos que
permitirá ao juiz concluir sobre a veracidade da admissão feita pelo acusado e, assim, estabelecer sua
eficácia probante. O valor que se atribuirá à confissão tem estreita relação com as condições em que ela
foi colhida, pois é sabido que há, em juízo, garantias plenas para que o acusado manifeste-se de forma
espontânea, o que pode não ocorrer na hipótese de confissão extrajudicial. Por isso, costuma-se atribuir à
confissão judicial, quando afinada com outros elementos de convicção, elevado valor probatório, apto a
evidenciar a responsabilidade criminal do confitente. É bem verdade que o juiz deve estar atento a
possíveis causas que levam à insincera admissão de culpabilidade, como, por exemplo, o recebimento de
vantagem pecuniária pelo réu para confessar o delito praticado por outrem ou sua submissão a coação
moral. A falsidade das confissões derivadas de circunstâncias como essas, todavia, será de fácil

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constatação por meio da análise do conjunto probatório, pois a admissão estará, fatalmente, em
desarmonia com o restante da prova”.

4. DECLARAÇÕES DO OFENDIDO
O Código de Processo Penal trata acerca da figura do ofendido em capítulo apartado daquele em que fala
sobre as testemunhas, isso, certamente, para deixar claro que os dois sujeitos não se confundem.

O ofendido não presta o compromisso legal de dizer a verdade (art. 203, CPP), portanto não comete o crime
de falso testemunho (art. 342, CP). Além disso, não deve ser computado no que se refere ao número máximo
de testemunhas das partes (arts. 401 e 532, CPP).

Entretanto, apesar de não estar sujeito ao crime de falso testemunho, caso se comprove que deu causa a
instauração de investigação, processo etc., contra pessoa que sabia ser inocente, pode responder pelo crime
de denunciação caluniosa (art. 339, CP).

É o sujeito passivo do crime – a vítima –, ou seja, a pessoa que teve diretamente o seu
interesse ou bem jurídico violado pela prática da infração penal. [...] Por certo que a
vítima não pode ser considerada testemunha. As razões são várias: a) menção à vítima
está situada, propositadamente, no Código de Processo penal, em capítulo destacado
daquele que é destinado às testemunhas; b) ela não presta compromisso de dizer a
verdade, como se nota pela simples leitura do caput do art. 201; c) o texto legal menciona
que a vítima é ouvida em “declarações”, não prestando, pois, depoimento (testemunho);
d) o ofendido é perguntado sobre quem seja o autor do crime ou quem “presuma ser”
(uma suposição e não uma certeza), o que é incompatível com um relato objetivo de
pessoa que, efetivamente, sabe dos fatos e de sua autoria, como ocorre com a
testemunha (art. 203, CPP); e) deve-se destacar que a vítima é perguntada sobre as
provas que possa indicar, isto é, toma a postura de autêntica parte no processo,
auxiliando o juiz e a acusação a conseguir mais dados contra o acusado; f) a vítima tem
interesse na condenação do réu, na medida em que pode, com isso, obter mais
facilmente a reparação do dano na esfera cível (art. 63, CPP). Da testemunha, exige-se,
diversamente, fatos dos quais tenha ciência e as razões do seu conhecimento, tudo para
aferir a sua credibilidade (Nucci, 2018).

Em sentido ‘complementar’, ao descrever a figura do ofendido, ressaltando que nem sempre este será o
sujeito passivo do crime, temos o magistério de HÉLIO TORNAGHI.

É quem sofre a lesão causada pelo crime. Nem sempre é o sujeito passivo. São muitos
os casos em que esse é o Estado, titular do bem jurídico protegido em primeiro plano, e
ofendido é o particular, que também teve um bem jurídico atingido. A lei emprega a
palavra ofendido sempre para designar uma pessoa que foi objeto material do crime.
Assim, por exemplo, se Tício passa a Caio moeda falsa, sujeito passivo do crime é o

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Estado, titular da fé pública; mas não há dúvida de que Caio foi ofendido em seu
patrimônio. Quando a lei diz que se o Ministério público não promover ação penal por
crime de ação pública o ofendido pode fazê-lo (Constituição Federal, art. 6º, LIX; Código
Penal, art. 100, § 3º; e CPP, art. 29), é evidente que não está se referindo ao Estado, pois
então não teria sentido (Tornaghi, 1997).

O artigo 201 do CPP estabelece que o ofendido deve ser ouvido sempre que possível, isso em primazia à
busca pela verdade e esclarecimento dos fatos.

Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias
da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por
termo as suas declarações.

Alguns doutrinadores entendem, ainda, que o magistrado deve (por obrigação) determinar sua oitiva de
ofício, ainda que não tenha sido arrolado pelas partes (o que, aliás, não se exige). Ressalte-se, por oportuno,
que a não realização da oitiva é causa de nulidade relativa, devendo ser alegada pela parte em eventual
prejuízo.

Assim, caso as partes não arrolem a parte ofendida, deve o magistrado determinar, de
ofício, a sua inquirição, sob pena de enfraquecer a colheita da prova. É evidente, no
entanto, que, deixando de fazê-lo, não se trata de nulidade absoluta, mas relativa,
podendo uma das partes apontar o prejuízo sofrido e invocar a anulação do feito. No
mesmo prisma, de ser obrigatória a inquirição da vítima, está o magistério de RENE ARIEL
DOTTI (Nucci, 2018).

O próprio Código prescreve os ‘fatos’ sobre os quais repousará a oitiva do ofendido, a qual se inicia, sempre,
por sua qualificação. Segundo o caput do artigo 201 do CPP, após a sua qualificação, o ofendido será
perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor e, ainda, sobre as
provas que possa indicar.

- qualificação do depoente, isto é, sua individualização e caracterização pelo nome,


residência, profissão, estado civil e outros elementos que o juiz repute idôneos para
contradistingui-lo. A lei não diz como se deve fazer a qualificação; ato não é formal, não
é solene. Pode aplicar-se, por analogia (art. 3º), o que diz a respeito da qualificação do
acusado (art. 188) e das testemunhas (art. 203). A diferença entre ofendido, acusado e
testemunha não é, evidentemente, relativa à maneira de qualificá-lo. Nisso, são
análogos; - inquirição, propriamente dita (art. 201), para a qual também não há forma
substancial. A lei limita-se a dizer, a indicar o conteúdo da indagação. O ofendido será
perguntado sobre: circunstâncias da infração, isto é, toda aquela constelação de fatos
que cerca a infração, os incidentes, as particularidades relativas ao tempo, lugar,
maneira de execução etc. (ubi, quando, quomodo, cur etc.), autoria, isto é, quem o
ofendido crê que tenha sido autor ou coautor da infração (quis et quibus auxiliis).

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Indicação de provas. O ofendido não tem o ônus e muito menos a obrigação de provar
nada. Mas tem o encargo de indicar as provas que puder (Tornaghi, 1997).

Destarte, se intimado para prestar declarações, no caso de não comparecimento de forma injustificada, pode
ser conduzido coercitivamente (art. 201, § 1º, CPP), inclusive para realização de exames periciais, exceto no
caso de exames invasivos (p.ex.: tirar sangue para comprovar que o sangue encontrado no local do crime é
o seu), caso em que terá de concordar com a realização.

Após a edição das leis nº 11.690/2008 e 11.719/2008 reconheceu-se, explicitamente, que a oitiva do
ofendido deve se dar em audiência de instrução e julgamento (arts. 400, 411, 473 e 531 do CPP), embora
essa sempre tenha sido a forma adotada na prática.

Ao ofendido concede-se o direito de:

✓ ser comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à
designação de data para audiência e à sentença e aos respectivos acórdãos que a mantenham ou
modifiquem (art. 201, § 2º, CPP);
✓ ser comunicado no endereço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio
eletrônico (§ 3º);
✓ ter espaço reservado e separado para si, antes do início da audiência de instrução e durante a sua
realização (§ 4º);
✓ caso necessário, de ser encaminhado para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas
psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado (§ 5º);
✓ e, por fim, de que o juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada,
honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos
dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua
exposição aos meios de comunicação (§ 6º).

Assim como toda e qualquer prova produzida no processo penal, a oitiva do ofendido deve ocorrer
observando-se o contraditório (artigo 5º, LV, CF). Isso não significa dizer que a vítima deve ser ouvida na
presença do acusado. O artigo 217 do CPP garante, à vítima e às testemunhas, a faculdade de pedir a retirada
do réu da sala de audiência, quando a sua presença puder causar humilhação, temor ou sério
constrangimento.

Com relação ao valor probante das declarações do ofendido é importante destacar que, em razão do
‘sentimento’ de ter tido algum bem violado, a sua força probante é reduzida (relativa). Lembre-se que ele
não é, de regra, totalmente imparcial, porquanto sofreu as consequências do ato criminoso. Por outro lado,
como a análise do ‘valor’ da prova fica a critério do juiz, nada impede que um acusado seja condenado apenas
com base nas declarações da vítima (alguns autores criticam ferozmente essa possibilidade), principalmente
nos crimes cometidos na clandestinidade, desde que revestidas de elementos que lhe confiram credibilidade
e estejam em consonância com as circunstâncias delineadas pela instrução.

Não há se olvidar, porém, que em alguns crimes, à palavra da vítima é dada grande importância, porquanto
será o principal elemento a esclarecer não só como os fatos se deram, mas, principalmente, quem foi o autor.
Cite-se como exemplo os crimes contra a dignidade sexual que, na maioria das vezes, não é presenciado por

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nenhuma testemunha. Caso a palavra da vítima não tivesse grande valia, nesses casos, certamente não
ocorreriam condenações na maior parte dos casos de estupro, por exemplo.

Embora a palavra do ofendido deva ser considerada com reservas, exigindo-se que seja
sempre confrontada com os demais elementos de prova existentes nos autos, não se
pode deixar de reconhecer que, em alguns casos, possui alto valor, como nas hipóteses
de crimes contra a dignidade sexual, os quais, cometidos na clandestinidade, não
apresentam testemunhas. Não se está dizendo, com isso, que possa apenas a versão
prestada pela vítima justificar condenação. Afinal, como a maioria das provas, possui
valor relativo. Logo, deverá o juiz, para o bem de valorar essa versão, socorrer-se de
outros elementos de convicção, tais como a prova pericial, a ausência de álibi
convincente de parte do réu, a presença de antecedentes judiciais pela prática de crime
semelhante ao imputado, as contradições entre as versões do réu na polícia e em juízo,
a coerência da versão da vítima sempre que ouvida etc. (Avena, 2017).

Em visão bastante coerente, e pormenorizada, segue explanação de NUCCI, acerca do valor probante das
declarações do ofendido:

Trata-se de ponto extremamente controverso e delicado na avaliação da prova.


Primeiramente, convém mencionar que as declarações do ofendido constituem meio de
prova, tanto quanto o é o interrogatório do réu, quando este resolve falar ao juiz.
Entretanto, não se pode dar o mesmo valor à palavra da vítima, que se costuma conferir
ao depoimento de uma testemunha, esta, presumidamente, imparcial. Por outro lado, é
importante destacar que a prática forense nos mostra haver vítimas muito mais
desprendidas e imparciais do que as próprias testemunhas, de forma que suas
declarações podem se tornar fontes valorosas de prova. Assim, cumpre apenas destacar
alguns pontos de cautela para o juiz analisar a fala do ofendido. Lembra-nos,
inicialmente, ALTAVILLA que a vítima é pessoa diretamente envolvida pela prática do
crime, pois algum bem ou interesse seu foi violado, razão pela qual pode estar coberta
por emoções perturbadoras do seu processo psíquico, levando-a à ira, ao medo, à
mentira, ao erro, às ilusões de percepção, ao desejo de vingança, à esperança de obter
vantagens econômicas e à vontade expressa de se desculpar – neste último caso,
quando termina contribuindo para a prática do crime. Por outro lado, há aspectos
ligados ao sofrimento pelo qual passou a vítima, quando da prática do delito, podendo,
então, haver distorções naturais em suas declarações. A pessoa sequestrada, por
exemplo, diante da dor e da aflição suportadas, pode elevar sobremaneira o período em
que ficou sob poder do sequestrador, justamente porque perde a noção real do tempo,
estando com a liberdade privada. Outro aspecto a ser considerado é que exposições
pormenorizadas do fato criminoso nem sempre são fruto da verdade, uma vez que o
ofendido tem a capacidade de inventar muitas circunstâncias, até, como já se frisou,
para atenuar a sua responsabilidade na ocorrência do delito. O sujeito agressivo, que
vive provocando terceiros, em outro exemplo, ao ser fisicamente atacado, poderá

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construir na sua mente um universo de escusas para a sua atitude inicial, que o leva a
omitir tal afronta, criando, em seu lugar, outros dados inexistentes. Outro exemplo
curioso da psicologia humana é a tendência natural que pessoas violentadas ou
agredidas por entes queridos têm de amenizar ou desculpar, totalmente, o ataque
sofrido. A ânsia de permanecer com os seres amados, mormente porque dá como certo
e acabado o crime ocorrido, faz com que se voltem ao futuro, querendo, de todo modo,
absolver o culpado. É a situação enfrentada, muitas vezes, por mulheres agredidas por
seus maridos, por filhos violentados por seus pais e, mesmo, por genitores idosos
atacados ou enganados por seus descendentes. Ao magistrado só resta exercitar ao
máximo a sua capacidade de observação, a sua sensibilidade para captar verdades e
inverdades, a sua particular tendência de ler nas entrelinhas e perceber a realidade na
linguagem figurada ou propositadamente distorcida (Nucci, 2018).

Ofendido: sujeito passivo do crime; quem sofre a lesão do crime.

Oitiva obrigatória, ainda que as partes não arrolem; deve o juiz


determinar de ofício, sempre que possível.

Condição diversa de testemunha, portanto, não presta compromisso de


dizer a verdade; não é computado no número máximo de
testemunhas das partes; não responde por falso testemunho.

"Do ofendido" - art. 201,


CPP. Declarações com força probante relativa, devendo ser confrontada com
os demais elementos dos autos a fim de verificar a sua credibilidade; em
determinados crimes seu valor é aumentado (p. ex.: crimes sexuais).

Direitos conferidos pelo art. 201, CPP:


§ 2º - ser comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à
saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à
sentença e aos respectivos acórdãos que a mantenham ou
modifiquem;
§ 3º - ser comunicado no endereço por ele indicado, admitindo-se, por
opção do ofendido, o uso de meio eletrônico;
§ 4º -ter espaço reservado e separado para si, antes do início da
audiência de instrução e durante a sua realização
§ 5º - caso necessário, de ser encaminhado para atendimento
multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência
jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado ; e,
§ 6º - não publicidade das audiências, sessões e outros atos, quando
isso for necessário para preservar sua imagem, honra e vida privada.

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Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017), sobre a possibilidade de
condução coercitiva do ofendido, dispõe: “Se, intimado para depor, deixar de comparecer sem motivo
justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade (§ 1º do art. 201). A previsão tem
fundamento não apenas na importância de suas declarações para a apuração da verdade real, mas
decorre também da regra geral segundo a qual ninguém, exceto o acusado, se exime do dever de
colaborar com o Poder Judiciário. Não cabe ao ofendido decidir se irá ou não depor. Uma vez intimado,
deverá comparecer em juízo e prestar suas informações a respeito dos fatos. Se não se dirigir
voluntariamente ao local de sua inquirição, será levado contra sua vontade: conduzido coercitivamente
por autoridade policial ou oficial de justiça”.
FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (Processo penal, vol. 3, 32ª ed., São Paulo: Saraiva, 2010), acerca do valor
probatório das declarações do ofendido, registra: “Sendo assim, qual seria o valor probatório de suas
palavras? Prima facie, parecerá que suas declarações devem ser aceitas sem reservas, pois ninguém
melhor que a vítima para esclarecer o ocorrido. É de ponderar, entretanto, que aquele que foi objeto
material do crime, levado pela paixão, pelo ódio, pelo ressentimento e até mesmo pela emoção, procura
narrar os fatos como lhe pareçam convenientes; às vezes, a emoção causada pela cena delituosa é tão
intensa que o ofendido, julgando estar narrando com fidelidade, omite ou acrescenta particularidades,
desvirtuando os fatos. Atendendo a tais circunstâncias, o ofendido nem presta compromisso nem se
sujeita a processo por falso testemunho. Desse modo, a sua palavra deve ser aceita com reservas, devendo
o Juiz confrontá-la com os demais elementos de convicção, por se tratar de parte interessada no desfecho
do processo. Em certos casos, porém, é relevantíssima a palavra da vítima do crime. Assim, naqueles
delitos clandestinos qui clam comittit solent — que se cometem longe dos olhares de testemunhas —, a
palavra da vítima é de valor extraordinário. Nos crimes contra os costumes, e. g., a palavra da ofendida
constitui o vértice de todas as provas. Na verdade, se assim não fosse, dificilmente alguém seria
condenado como corruptor, estuprador etc., uma vez que a natureza mesma dessas infrações está a
indicar não poderem ser praticadas à vista de outrem”.
EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019) faz algumas
interessantes observações gerais sobre as palavras do ofendido no processo penal: “Segundo a
jurisprudência dominante, a palavra do ofendido, desde que coerente e firme, pode lastrear uma
condenação, especialmente nos crimes cometidos por desconhecidos e às escondidas, tais como o roubo
e os delitos contra os costumes. O ofendido será intimado para, uma vez qualificado, responder a
perguntas sobre as circunstâncias da infração e sua autoria, podendo indicar as provas de que tenha
conhecimento (art. 201, caput, do CPP). A oitiva do ofendido não é obrigatória, não constituindo sua falta
causa de nulidade. Entretanto, uma vez determinada sua realização, o comparecimento da vítima será
obrigatório. Se, regularmente intimado, ela não comparecer, poder-se-á determinar sua condução
coercitiva à presença da autoridade policial ou judicial (art. 201, § 1º do CPP), podendo o ofendido resistente
responder, inclusive, pelo crime de desobediência, previsto no art. 330 do Código Penal”.

5. PROVA TESTEMUNHAL

5.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA


Nas lições de NESTOR TÁVORA, testemunha “é a pessoa desinteressada que declara em juízo o que sabe sobre
os fatos, em face das percepções colhidas sensorialmente” (Távora, 2017).

Ou, ainda, nas palavras de FERNANDO CAPEZ, testemunha é “a pessoa idônea, diferente das partes, capaz de
depor, convocada pelo juiz, por iniciativa própria ou a pedido das partes, para depor em juízo sobre fatos
sabidos e concernentes à causa” (Capez, 2018).

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Atente-se para o fato de que, com base na definição empregada pela maioria da doutrina, só há se falar em
‘testemunha’ durante a fase judicial da persecução penal – é o que os autores denominam de característica
da judicialidade da prova testemunhal.

A testemunha presta o seu testemunho em juízo, com a observância do contraditório e da ampla defesa.
Durante a fase inquisitorial da persecução, essa pessoa declara o que tem de conhecimento sobre os fatos;
mas, para que se possa conferir ao relato o ‘status’ de ‘prova testemunhal’, deverá haver a reprodução da
oitiva perante o magistrado.

Interessante observar que, no processo penal, toda pessoa pode ser testemunha. É exatamente a regra geral
que desponta do art. 202 do Código de Processo Penal:

Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha.

É dizer: independentemente do fato de determinada pessoa ser menor de 18 (dezoito) anos ou incapaz por
qualquer outro motivo, poderá ela figurar como testemunha em um processo-crime. Frise-se, por evidente,
que determinadas condições pessoais da testemunha poderão afetar o grau de credibilidade dos seus
depoimentos.

No que diz respeito à natureza jurídica, a prova testemunhal é considerada meio de prova e apresenta valor
relativo.

Segundo o magistério de TÁVORA, “é mais um meio de prova, que conta com a colaboração daqueles que,
escolhidos pelo destino, acabam tendo conhecimento do acontecimento delitivo” (Távora, 2017).

5.2 CARACTERÍSTICAS
Podem ser elencadas cinco principais características atinentes à prova testemunhal. Vejamos.

a) Judicialidade: conforme já tratado acima, a prova testemunhal é constituída em juízo, perante o


magistrado, com a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. Para que se considere um
depoimento prestado perante a autoridade policial em sede de inquérito (ou em outra forma de
investigação), deverá ocorrer a reprodução da oitiva em juízo.

b) Oralidade: a testemunha relata o que sabe dos fatos de forma oral, manifestando seu pensamento por
meio da fala. Aliás, essa oralidade decorre de expressa previsão legal, conforme art. 204 do CPP:

Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo
por escrito.

Embora a testemunha não possa levar o seu depoimento por escrito, não há impedimento a que ela se valha
de anotações para breves consultas, conforme parágrafo único do referido dispositivo:

Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entretanto, breve consulta a apontamentos.

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Todavia, convém registrar que, sendo regra, a oralidade da prova testemunhal


comporta exceções.

Como exceção à própria disposição do art. 204 do CPP, às autoridades máximas dos
Três Poderes conferiu-se a expressa possibilidade de prestarem o seu depoimento por
escrito. É o que dispõe o art. 221, § 1º do CPP:

§ 1º O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara


dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por
escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão
transmitidas por ofício.

Há muito entendem os tribunais superiores (sobretudo o STF) pela inaplicabilidade das prerrogativas
contidas no art. 221, caput e § 1º do CPP quando as referidas autoridades figurarem como ‘investigadas’ ou
‘rés’ no bojo da persecução penal. Essas prerrogativas serão observadas, pois, quando, e apenas quando, as
autoridades ostentarem a condição de ‘testemunhas’ ou ‘vítimas’ de infrações penais.

Ao demais, também há (lógica) exceção à oralidade nos casos de testemunha surda, muda ou surda-muda.
O parágrafo único do art. 223 do CPP determina que, nesses casos, proceder-se-á nos moldes do art. 192,
que trata sobre o interrogatório de acusados que apresentem essas condições:

Art. 223. Quando a testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intérprete para
traduzir as perguntas e respostas.

Parágrafo único. Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mudo, proceder-se-á na conformidade


do art. 192.

Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma seguinte:

I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente

II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito

III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as
respostas.

Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como intérprete
e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo.

c) Objetividade: a testemunha deve relatar o que tem de conhecimento acerca do fato delituoso de forma
estritamente objetiva, apontando o que efetivamente presenciou/conheceu/sentiu pelas percepções
sensoriais.

A testemunha deve abster-se de tecer considerações subjetivas ou pessoais sobre os fatos, a não ser que tais
apreciações subjetivas não possam ser separadas da narrativa. É isso que dispõe o art. 213 do CPP:

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Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo
quando inseparáveis da narrativa do fato.

d) Retrospectividade: o depoimento de testemunha sempre será sobre fatos já ocorridos. Nas palavras de
TÁVORA: “a testemunha vai narrar o que sabe sobre os fatos de que tem conhecimento. A percepção é
pretérita. Refere-se a acontecimentos passados, para não se tornar mera especuladora” (Távora, 2017).

e) Individualidade: assim como os interrogatórios, as inquirições são realizadas separadamente, a fim de


que o depoimento de uma testemunha não influencie no depoimento da outra. A individualidade está
expressa no art. 210 do CPP:

Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo que umas não saibam
nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso
testemunho.

Ademais, como forma de tutelar ainda mais essa característica (embora de maneira basicamente
impraticável), dispõe o parágrafo único desse artigo:

Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua realização, serão reservados
espaços separados para a garantia da incomunicabilidade das testemunhas.

5.3 DEVERES DAS TESTEMUNHAS

5.3.1 Dever de depor

Presenciar um fato delituoso escapa à esfera de controle das pessoas; trata-se de uma coincidência de
espaço e tempo entre aquele e esta, para bem ou para mal. Outrossim, tomar conhecimento das
circunstâncias de um fato criminoso pode estar relacionado ao próprio ofício desempenhado por um
indivíduo (como o investigador da Polícia Civil) ou, também, simplesmente acontecer com pessoas que nada
tenham a ver com o fato, mas por vias oblíquas acabem possuindo informações relevantes.

Fato é que essas pessoas, uma vez convocadas a figurarem como testemunhas em um processo-crime,
passarão a ter o dever de depor e contribuir com o que sabem para a elucidação do caso.

Algumas pessoas, entretanto e excepcionalmente, em virtude de relações familiares que porventura


ostentem com os envolvidos nos fatos, poderão recusar esse dever. É o que dispõe o art. 206 do CPP:

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto,
recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que
desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível,
por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Atenção: como o próprio dispositivo explicita, essas pessoas podem recusar a obrigação de depor. É dizer,
caso queiram depor independentemente desse vínculo familiar, nada as impede que o façam. Nesses casos,

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não prestarão o compromisso legal de dizer a verdade constante do art. 203, conforme deixa claro o art. 208
do Código de Processo Penal:

Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais
e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.

Porém, conforme parte final do art. 206 do CPP, se o testemunho desses familiares constituir a única forma
de se obter ou integrar a prova do fato e de suas circunstâncias, não lhes caberá a recusa ao dever de depor;
serão inquiridos, todavia, sem prestar o compromisso legal do art. 203.

Nesse ponto, interessantes as colocações de NORBERTO AVENA:

Importante frisar que, se o juiz não aceitar a recusa da testemunha em depor, por
entender inexistirem outras provas do crime e venha esta, mesmo assim, a silenciar,
poderá responder por crime de falso testemunho, pois, como já vimos, tal crime
também se consuma pelo silêncio da testemunha e independe de compromisso.
Destarte, a única tese defensiva possível à testemunha silente, nesse caso, para não ser
responsabilizada pelo falso testemunho, será a excludente da inexigibilidade de conduta
diversa em face da vinculação parental com o acusado (Avena, 2017).

Também estão os agentes diplomáticos desobrigados a depor como testemunhas, nos termos do art. 31,
item 2 da Convenção de Viena Sobre Relações Diplomáticas:

2. O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha.

De outro lado, existem algumas pessoas que estão proibidas de depor. Ou seja, mesmo que queiram, não
poderão prestar o seu depoimento, a não ser que sejam desobrigadas pela parte interessada. Estão referidas
no art. 207 do CPP:

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
o seu testemunho.

A esse respeito, exemplifica AVENA:

Exemplos: padre, psicólogo, psiquiatra, advogado etc., em relação, evidentemente, aos


fatos que souberam em decorrência da confiança inspirada pela atividade que exercem.
Se, contudo, desobrigados vierem a depor, estarão sujeitos a compromisso, já que não
incluídos no rol do art. 208 do CPP (Avena, 2017).

TÁVORA muito bem elucida a ideia do art. 207 e o seus termos genéricos:

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Como salienta MIRABETE, ao “invés de adotar o sistema de indicar especificamente as


profissões compatíveis com o segredo profissional, como outras legislações, a lei pátria
usa de palavras compreensivas, de forma genérica, para indicá-las. Considera-se, na
doutrina, como pessoas que devem guardar segredo, aquelas: a) previstas em lei; b)
previstas nos regulamentos que disciplinam o exercício da atividade; c) previstas por
normas consuetudinárias; e d) as indicadas pela própria natureza da atividade”. Para
efeito da vedação legal, considera-se:
a) função: o encargo que alguém recebe em virtude de lei, decisão judicial ou contrato.
Pode abarcar ainda a função pública; b) ministério: é o encargo em atividade religiosa
ou social; c) ofício: é a atividade eminentemente mecânica, manual; d) profissão: é a
atividade de natureza intelectual, ou aquela que contempla a conduta habitual do
indivíduo, tendo fim lucrativo (Távora, 2017).

Além disso, existem outras situações peculiares previstas no ordenamento jurídico; vale o registro.

a) Deputados e Senadores: conforme art. 53, § 6º da Constituição Federal, não serão obrigados a depor
sobre informações relacionadas ao exercício do mandato e os sujeitos emitentes ou receptores de tais
informações:

§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas


ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou
deles receberam informações.

b) Magistrados e promotores: não poderão atuar nos casos em que tenham figurado ou figurem como
testemunhas, conforme arts. 252, II e 258 do CPP:

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:

II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;

Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou
qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, as
prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.

c) Corréu: ao largo de vedação legal expressa, segundo entendimento corrente da jurisprudência, um réu
não pode figurar como testemunha de outro, no que se refere a uma mesma imputação. A natureza jurídica
do interrogatório – ato essencialmente de defesa – é distinta da prova testemunhal; não se pode confundir
e há incompatibilidade entre os atos processuais. Além disso, não se pode cobrar qualquer dever de
colaboração, de compromisso, de isenção ou de verdade, preponderando o direito ao silêncio e de não
produzir provas contra si mesmo em relação ao corréu. O conteúdo das declarações de um réu até pode
afetar o resultado do processo em relação a outro (favoravelmente ou não); mas será ‘interrogado’ (com
todas as prerrogativas inerentes) e não inquirido na condição de ‘testemunha’.

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d) Advogado: a questão do advogado como testemunha em processo criminal demanda atenção especial,
haja vista a necessidade de se cotejar, juntamente ao CPP, as disposições do Estatuto da OAB (Lei 8.906/04)
e do Código de Ética e Disciplina da OAB:

Sobre essa questão, RENATO BRASILEIRO DE LIMA muito bem leciona:

É o que ocorre, por exemplo, com advogados, na medida em que o Estatuto da Ordem
dos Advogados do Brasil proíbe o advogado de depor, mesmo que desobrigado pela
parte interessada. O art. 7º, inciso XIX, da Lei nº 8.906/94 prevê que é direito do advogado
“recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva
funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo
quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua
sigilo profissional”. Em sentido semelhante, o art. 26 do Código de Ética e Disciplina da
OAB também prevê que “o advogado deve guardar sigilo, mesmo em depoimento
judicial, sobre o que saiba em razão de seu ofício, cabendo-lhe recusar-se a depor como
testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato
relacionado com pessoa de quem seja ou tenha sido advogado, mesmo que autorizado
ou solicitado pelo constituinte”. Somente em situações excepcionais é que se verifica a
presença de justa causa autorizadora da revelação do segredo, como ocorre no caso de
grave ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando o advogado é afrontado pelo próprio
cliente ou necessitar depor em defesa própria (art. 25 do Código de Ética e Disciplina da
OAB).

Conclui o autor:

Não se deve interpretar o referido dispositivo no sentido de que o advogado jamais


poderá ser testemunha. Na verdade, essa proibição está relacionada ao conteúdo da
confidência que o advogado teve conhecimento para exercer o múnus que lhe foi
confiado. Logo, ausente a proibição de depor prevista no art. 207 do Código de Processo
Penal e inaplicável a prerrogativa prevista no art. 7º, XIX, da Lei n° 8.906/94, o advogado
passa a ter o dever de depor (Lima, 2017).

Em síntese, o advogado, mesmo que liberado do seu dever de sigilo, tem a prerrogativa – assegurada em lei
federal – de recusar-se a depor nos termos e situações descritos no art. 7º, XIX do Estatuto da OAB.

5.3.2 Dever de comparecimento

Além do dever de depor, a testemunha também tem o dever de comparecer em juízo em local, data e hora
previamente designados para ser inquirida, quando intimada para esse fim.

A testemunha que, devidamente intimada, não compareça ao ato injustificadamente poderá ter
determinada a sua apresentação pela autoridade policial ou a sua condução por oficial de justiça. É o que
dispõe o art. 218 do CPP:

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Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado,
o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida
por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.

Além disso, essa testemunha estará sujeita a multa, pagamento das custas da diligência e até mesmo a
processo criminal por desobediência, nos termos do art. 219 do CPP:

Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art. 453 4, sem prejuízo
do processo penal por crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da
diligência.

O art. 220 do CPP dispõe acerca das testemunhas impossibilitadas de comparecer à audiência, as quais
deverão ser inquiridas onde estiverem:

Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para
depor, serão inquiridas onde estiverem.

Ao contrário das testemunhas ‘comuns’, que são intimadas para comparecerem em local e tempo
previamente determinados, o art. 221 do CPP elenca algumas autoridades que poderão ajustar, com o
magistrado, local, dia e hora para a inquirição:

Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os


ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias Legislativas
Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da
União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em
local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.

Sobre o referido dispositivo, BRASILEIRO tece algumas importantes considerações:

Essa regra prevista no art. 221 do CPP tenta conciliar o dever que todos têm de
testemunhar com as relevantes funções públicas exercidas pelas autoridades ali
mencionadas, por meio de agendamento prévio de dia, hora e local para a realização de
audiência em que essas autoridades serão ouvidas. De modo algum, todavia, poderá
esse dispositivo legal abrir espaço para que essas autoridades possam, simplesmente,
recusar-se a testemunhar, seja não indicando a data, a hora e o local em que quisessem

4
Depois de reformas no CPP, o texto do art. 453 passou para o art. 458, que por sua vez remete ao art. 436, § 2º do
CPP, em que é prevista multa de 1 a 10 salários mínimos; ou seja, a mesma que se aplica a jurado que se recusa
injustificadamente ao serviço do júri.

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ser ouvidas, seja não comparecendo aos locais, nas datas e nos horários por elas
indicados (Lima, 2017).

Nos casos de testemunhas que residam em outra Comarca, serão elas inquiridas no respectivo juízo, por
meio de carta precatória. Veja o que dispõe o art. 222 do CPP:

Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de
sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
partes.

§ 1º A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.

§ 2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a precatória,
uma vez devolvida, será junta aos autos.

§ 3º Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser realizada por
meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a
realização da audiência de instrução e julgamento.

Sobre esse ponto, importante ficar atento ao conteúdo de algumas súmulas dos tribunais superiores:

Súmula 155/STF. É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da


expedição de precatória para inquirição de testemunha.
Súmula 273/STJ. Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se
desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.

Ainda, a respeito da necessidade de presença do acusado nesses atos deprecados, BRASILEIRO expõe a visão
do STF a esse respeito:

Muito se discute acerca da obrigatoriedade da presença do acusado perante o juízo


deprecado. Em se tratando de acusado solto, logicamente, fica a critério do acusado
comparecer (ou não) ao juízo deprecado. No caso de acusado preso, o Supremo Tribunal
Federal entende que, desde que tenha havido prévio requerimento do acusado, a ele
deve se assegurar o direito de presença perante o juízo deprecado (Lima, 2017).

Caso a testemunha resida no estrangeiro, será expedida carta rogatória para a sua inquirição. Trata-se de
medida excepcional, que será apenas admitida em situações realmente necessárias. Essa visão decorre do
art. 222-A do CPP:

Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua


imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio.

Sobre esse caráter de imprescindibilidade da expedição de carta rogatória, BRASILEIRO assevera:

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Parte da doutrina sustenta que esta exigência de se demonstrar previamente a


imprescindibilidade das cartas rogatórias viola o direito à prova e a ampla defesa. Nesse
contexto, GRINOVER sustenta que, em matéria de prova, o que conta é a sua relevância.
Logo, se a prova é relevante para o julgamento, a parte tem o direito – como visto de
índole constitucional –, à sua produção, sendo indevida a demonstração prévia de sua
imprescindibilidade. Ainda segundo a autora, o pagamento prévio de custas revela-se
incompatível com a presunção de inocência, ampla defesa e com o princípio
constitucional da igualdade, porquanto estabelece odiosa distinção entre o acusado
com recursos financeiros e o pobre. Em sentido oposto, o Plenário do Supremo já teve
a oportunidade de se manifestar quanto à constitucionalidade do novel dispositivo. Na
visão do STF, a norma que impõe à parte no processo penal a obrigatoriedade de
demonstrar a imprescindibilidade da oitiva da testemunha por ela arrolada, e que vive
no exterior, guarda perfeita harmonia com a garantia da razoável duração do processo
(Lima, 2017).

5.3.3 Dever de prestar o compromisso de dizer a verdade

Como regra geral, a testemunha presta o compromisso legal de dizer a verdade, nos termos do art. 203 do
CPP:

Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que
souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência,
sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes,
ou quais suas relações com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando sempre as razões
de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.

Já sob o compromisso legal, caso a testemunha venha a fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade,
poderá responder pelo crime de falso testemunho, nos termos do art. 342 do Código Penal.

Conforme dito, não são todas as pessoas que prestam esse compromisso legal. Relembre o art. 208 do CPP
e suas referências:

Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais
e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto,
recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que
desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível,
por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Há discussão na doutrina acerca da possibilidade de que testemunhas não compromissadas possam


responder pelo crime de falso testemunho. BRASILEIRO sintetiza os entendimentos:

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Não há consenso na doutrina quanto à possibilidade de a testemunha não


compromissada (CPP, arts. 206 e 208) poder responder pelo crime de falso testemunho.
Parte minoritária da doutrina entende que, como o juramento ou compromisso não é
pressuposto do crime, é indiferente tratar-se de testemunha numerária ou mero
informante. Outra corrente sustenta a impossibilidade de as testemunhas não
compromissadas (meros informantes) praticarem falso testemunho, ante a inexistência
do dever da verdade, em razão do vínculo que as prende a uma das partes e que as
torna desmerecedoras da mesma credibilidade das demais, isto é, das testemunhas
numerárias (Lima, 2017)

Adepto à primeira corrente, AVENA aduz:

Na atualidade tem sido repensado o conceito de compromisso, considerando-se que


este instituto não pode mais ser interpretado como o dever de verdade, visto que isto
importa, também, entender que a testemunha não compromissada pode mentir,
postura esta inaceitável dada a seriedade que caracteriza o processo criminal. Segundo
esta posição, à qual nos filiamos, o compromisso não passa de um sinal, um símbolo
que, conforme esteja presente ou ausente no depoimento, permite ao juiz conferir-lhe
maior ou menor valor no ato de sentenciar. Deste modo, qualquer testemunha, mesmo
a dispensada de compromisso, poderá responder pelo crime de falso testemunho se
faltar, calar ou negar a verdade. “É irrelevante a formalidade do compromisso para a
caracterização do crime de falso testemunho”, decidiu o STJ. Alerta-se, de qualquer
modo, que o tema não é pacífico, havendo forte posição doutrinária em sentido oposto,
qual seja, de que remanesce o compromisso como formalismo indispensável à
caracterização do crime de falso testemunho (Avena, 2020).

Adepto à segunda corrente, MARCÃO:

Com efeito, já sabemos que durante a instrução do processo o juiz poderá ouvir
testemunhas e informantes. Só se encaixa no conceito de testemunha aquela pessoa
que é compromissada ou deveria ser, ainda que por descuido não tenha sido. O
informante não presta compromisso. Logo: o informante não pode ser processado por
crime de falso testemunho, ex vi do disposto no art. 342 do CP. Ainda que por equívoco
o juiz venha a tomar o compromisso daquele que só pode ser ouvido como informante,
disso não se extrai nulidade, tampouco autorização para tentativa de responsabilização
criminal em razão de eventual falsidade das informações que prestar (Marcão, 2017).

5.3.4 Dever de comunicar mudança de residência

Outro dever que a testemunha assume ao adquirir esse status é o de comunicar o juízo sobre eventual
mudança de endereço. Veja o que dispõe o art. 224 do CPP:

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Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um ano, qualquer mudança de


residência, sujeitando-se, pela simples omissão, às penas do não-comparecimento.

No preciso magistério de TÁVORA:

Não o fazendo, caso precise ser novamente ouvida e não seja encontrada, será tratada
como testemunha faltante, incorrendo nas consequências do art. 219 do CPP (multa,
condução coercitiva, pagamento da diligência, responsabilidade por desobediência).
Entendemos, portanto, que a mera ausência de comunicação não pode desaguar em
tais sanções, como prevê o art. 224 do CPP. A omissão deve ter reflexos efetivos, ou seja,
deve frustrar intimação para que ela seja novamente ouvida (Távora, 2017).

5.4 CLASSIFICAÇÃO DAS TESTEMUNHAS


a) Testemunhas numerárias: são as testemunhas arroladas pelas partes e que prestam o compromisso legal.
São computadas no sentido de número máximo de testemunhas arroláveis por cada parte – daí o nome.

b) Testemunhas extranumerárias: não são computadas para verificação do limite de testemunhas. Para
BRASILEIRO: “São testemunhas extranumerárias: as ouvidas por iniciativa do juiz (art. 209, caput, CPP), as que
não prestam o compromisso legal e foram arroladas pelas partes, e as que nada sabem que interesse à
decisão da causa (CPP, art. 209, § 2º)” (Lima, 2017).

MARCÃO sustenta que as testemunhas extranumerárias são “aquelas arroladas pelas partes além do número
máximo permitido. O juiz não está obrigado a ouvi-las, mas, se forem ouvidas, poderão ser compromissadas
ou não, conforme o caso” (Marcão, 2017).

c) Testemunha direta: testemunha que presenciou ou visualizou o acontecimento.

d) Testemunha indireta: testemunha que não presenciou diretamente o crime, mas teve conhecimento
sobre o fato por outras pessoas. Nas palavras de MARCÃO, “são aquelas cujos depoimentos consistem na
reprodução de algo que ouviram de terceira pessoa” (Marcão, 2017).

GUSTAVO BADARÓ registra a necessidade de prudência na consideração dos depoimentos dessa espécie de
testemunhas, também conhecidas como “testemunhas de ouvir dizer” ou hearsay testimony:

A ‘testemunha de ouvir dizer’ não pode ser aceita como verdadeira prova testemunhal, mas sim
como uma ‘prova de segunda mão’. Devem, segundo Bento de Faria, ‘ser consideradas
elementos indignos de informação, sem o caráter de testemunho’. Tal elemento de informação
pode ser válido para que se descubra a fonte de prova originária, isto é, a testemunha presencial,
e produzir esta prova em juízo. Entretanto, a testemunha indireta não é prova válida para o juiz
formar o seu convencimento. A ‘testemunha de ouvir dizer’ não tem nenhuma responsabilidade
por seu testemunho, mesmo que ele não corresponda à verdade. Além disso, seu depoimento,
quanto ao fato, não poderia ser explorado contraditoriamente, pois ela não é fonte originária
dos fatos (Badaró, 2020).

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O Superior Tribunal de Justiça, embora não considere o testemunho hearsay uma prova imprestável ao
processo, tem relativizado fortemente o seu valor, mormente em casos nos quais esse tipo de prova constitui
o único suporte acusatório contra o réu:

[...] 5. Não se verifica contrariedade à lei federal em acórdão que deixa de acolher o testemunho
indireto (por ouvir dizer) como prova idônea, de per si, para submeter alguém a julgamento pelo
Tribunal Popular. 6. A norma segundo a qual a testemunha deve depor pelo que sabe per
proprium sensum et non per sensum alterius impede, em alguns sistemas - como o norte-
americano - o depoimento da testemunha indireta, por ouvir dizer (hearsay rule). No Brasil,
embora não haja impedimento legal a esse tipo de depoimento, "não se pode tolerar que
alguém vá a juízo repetir a vox publica. Testemunha que depusesse para dizer o que lhe constou,
o que ouviu, sem apontar seus informantes, não deveria ser levada em conta." (Helio Tornaghi).
7. Recurso especial não provido. (REsp 1444372/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 16/02/2016, DJe 25/02/2016).

e) Testemunha própria: é aquela que depõe sobre a imputação feita ao acusado na peça inaugural do
processo (thema probandum);

f) Testemunha imprópria ou fedatária: depõe sobre um ato processual, geralmente para atestar a sua
regularidade. Como exemplo, as testemunhas que presenciaram a oitiva do acusado perante a autoridade
policial e assinaram o respectivo termo (art. 6º, V do CPP).

g) Informante: pessoas que não prestaram o compromisso de dizer a verdade. São os indivíduos elencados
no art. 206 do CPP, os menores de 14 (quatorze) anos e os doentes/deficientes mentais, conforme art. 208
do CPP.

h) Testemunha referida: são pessoas referidas por outras testemunhas durante o seu depoimento. Nos
termos do art. 209, § 1º, se ao juiz parecer conveniente, poderá haver a inquirição dessas testemunhas
referidas:

Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas
pelas partes.

§ 1º Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas se referirem.

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i) Depoimento ad perpetuam rei memoriam: são as testemunhas nas situações do art. 225 do CPP, as quais
poderão ter antecipada a sua inquirição:
Numerária e extranumerária
Art. 225. Se qualquer testemunha houver de
ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, Direta e indireta
inspirar receio de que ao tempo da instrução
criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou
Própria e imprópria/fedatária
a requerimento de qualquer das partes, tomar-

Testemunha
lhe antecipadamente o depoimento.
Informante
j) Testemunha anônima: testemunha cujos dados de
qualificação permanecem em sigilo em relação ao
Referida
imputado, como forma de preservação de sua imagem
e integridade.
Depoimento ad perpetuam
rei memoriam
k) Testemunha ausente: nas palavras de BRASILEIRO, é
“aquela que não comparece em pessoa para prestar
depoimento durante o julgamento do acusado, por Anônima
diversos motivos (v.g., testemunha que faleceu logo
após o crime)” (Lima, 2017). Ausente

5.5 PROCEDIMENTO PARA A OITIVA DE TESTEMUNHAS


Para a acusação, seja a ação pública ou privada, o momento previsto em lei para a indicação (‘rol’) de
testemunhas é quando da apresentação da peça acusatória, note-se:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

A defesa, por outro lado, deve arrolar testemunhas quando da apresentação de resposta à acusação:

Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à
sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar
testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.

Essas oportunidades devem ser exercidas pelas partes sob pena de, em tese, incorrer em preclusão,
perdendo a oportunidade de produção da prova testemunhal. Fala-se ‘em tese’ porque não se descarta a
possibilidade de o juiz determinar a inquirição delas, usando das faculdades dos seguintes dispositivos do
CPP:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de
ofício:[...]

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II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências


para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas
pelas partes.

§ 1º Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas se referirem.

Interessante notar – e isso fica claro na interpretação das regras citadas – que a inquirição de testemunhas
fica a critério do juízo, por discricionariedade, observados os princípios do processo penal e as circunstâncias
do caso concreto. Em outras palavras: caso alguma das partes perca a oportunidade de arrolar testemunhas
não terá amparo normativo explícito e específico para impor a inquirição ao juiz da causa.

5.5.1 Número máximo de testemunhas

Existe um número máximo de testemunhas que cada parte pode arrolar (Lima, 2018):

1) Procedimento comum ordinário: 8 (oito) testemunhas (CPP, art. 401, caput);

2) Procedimento comum sumário: 5 (cinco)testemunhas (CPP, art. 532);

3) Procedimento sumaríssimo (Lei n° 9.099/95): 3 (três) testemunhas;

4) Primeira fase do procedimento do júri: 8 (oito) testemunhas (CPP, art. 406, § 3°);

5) Segunda fase do procedimento do júri: 5 (cinco) testemunhas (CPP, art. 422);

6) Procedimento da Lei de drogas: 5 (cinco) testemunhas (Lei n° 11.343/06, art. 54, inciso III);

7) Procedimento ordinário do CPPM: 6 (seis) testemunhas (CPPM, art. 77, alínea "h'').

Ao largo de alguma controvérsia na doutrina, o entendimento jurisprudencial que prevalece entende que o
número máximo de testemunhas deve ser considerado de acordo com cada fato delituoso imputado. Para a
defesa, além disso, deve ter em conta quantos são os réus.

[...] já consolidado doutrinária e jurisprudencialmente, o número de testemunhas seria


por fato criminoso narrado, não por peça acusatória. Assim, exemplificativamente,
sendo um réu e um fato criminoso, cada parte (acusação e defesa) poderão arrolar até
8 testemunhas. Dois réus e um fato criminoso, até 8 testemunhas para a acusação e até
8 testemunhas para cada um dos processados. E assim por diante (Pacelli, et al., 2018).
Como regra geral, para a acusação, por analogia ao art. 357, § 6º, do CPC/2015, o número
é definido segundo a quantidade de fatos imputados, independentemente de quantos
sejam os acusados. Exemplo: no procedimento comum ordinário, poderá o Ministério
Público arrolar até oito testemunhas para apuração de um crime de roubo,
desimportando se a denúncia atribui o delito a um ou vários agentes; entretanto, se a

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denúncia estiver imputando dois crimes de roubo ao mesmo ou vários agentes, o


número de testemunhas será de, no máximo, dezesseis.
Já para a defesa, leva-se em consideração não apenas o número de fatos, como também
o número de réus. Exemplo: dois réus acusados da prática de um roubo terão o direito
de arrolar, cada qual, oito testemunhas, totalizando dezesseis, ainda que possuam o
mesmo defensor. O mesmo número será facultado para o caso de um só réu responder
por dois crimes de roubo. No entanto, se dois réus respondem a dois crimes de roubo,
o número máximo permitido será de trinta e duas testemunhas, isto é, oito para cada
fato atribuído a cada réu (Avena, 2020).

Com relação ao número de testemunhas pelas partes, há se observar que algumas não entram na contagem,
segundo o Código de Processo Penal:

Art. 209. § 2º Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que interesse à
decisão da causa.

Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação
e 8 (oito) pela defesa.

§ 1º Nesse número não se compreendem as que não prestem compromisso e as referidas.

Conforme consolida AVENA, podemos encontrar, então, quatro categorias que não serão consideradas dentro
desse número máximo:

Também, como regra, não se computarão no número máximo permitido as


testemunhas referidas, as não compromissadas, as judiciais e as que nada souberem
que importe à decisão da causa (arts. 401, § 1º, e 209, caput e § 2º). Destarte, ainda que
esgotado o número máximo de testemunhas passíveis de serem arroladas em cada
procedimento pelos interessados, poderá o juiz ouvir, no curso da instrução, outras
testemunhas, quer agindo de ofício (testemunhas judiciais), quer porque foram elas
referidas durante a audiência. Igualmente, poderão o Ministério Público e a defesa
arrolar, além do que lhe permite o rito correspondente, quantas testemunhas não
compromissadas (informantes) entenderem conveniente, uma vez que quanto a estas
pode ser extrapolado o número máximo. Em casos tais, contudo, se exagerada a
quantidade de pessoas que se pretende sejam inquiridas, poderá o magistrado
determinar a intimação das partes, para que limitem o número, adequando-o ao
estabelecido por lei ou esclareçam a necessidade de inquirição das pessoas que, mesmo
não compromissadas, excedem o máximo permitido (Avena, 2020).

Para finalizar, uma tabela de AVENA:

OITO TESTEMUNHAS CINCO TESTEMUNHAS TRÊS TESTEMUNHAS

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Antigo e revogado
procedimento do crime de
Procedimento comum ordinário (art. 401, Procedimento comum sumário (art. 532
abuso de autoridade (art.
caput, do CPP) do CPP)
2º, parágrafo único, da Lei
4.898/1965).
Procedimento dos crimes falimentares
Procedimento do júri (art. 406, §§ 2º e
(art. 185 da Lei 11.101/2005 c/c o art.
3º, do CPP)
532 do CPP)
Procedimento dos juizados especiais
Procedimento dos crimes de criminais, por analogia ao art. 532 do
responsabilidade de funcionário público CPP. Inaplicável o art. 34 da Lei
(art. 518 do CPP) 9.099/1995, pois específico aos juizados
especiais cíveis
Procedimento dos crimes contra honra Procedimento previsto na lei de drogas
(art. 519 do CPP) (arts. 54 e 55, § 1º, da Lei 11.343/2006)
Procedimento dos crimes contra a
propriedade imaterial (art. 524 do CPP)
Procedimento dos crimes de
competência dos tribunais dos Estados,
tribunais regionais federais e tribunais
superiores (art. 9.º da Lei 8.038/1990 c/c
a Lei 8.658/1993)
Procedimento dos crimes eleitorais, Procedimento dos crimes eleitorais,
quando punidos com pena máxima igual quando punidos com pena máxima
ou superior a quatro anos (analogia ao inferior a quatro anos (analogia ao
procedimento comum ordinário) procedimento comum sumário)

5.5.2 Intimação das testemunhas

Em princípio, as testemunhas devem ser intimadas para comparecer em juízo no dia e hora marcados, onde,
normalmente, serão inquiridas em audiência. A intimação, de regra e diferente do processo civil, opera-se
pessoalmente e por mandado, a teor do art. 370 c/c o art. 351 do CPP.

Caso a audiência seja adiada/redesignada, as testemunhas que tiverem comparecido devem ser intimadas
no próprio ato, consignando-se a ciência na assentada:

Art. 372. Adiada, por qualquer motivo, a instrução criminal, o juiz marcará desde logo, na
presença das partes e testemunhas, dia e hora para seu prosseguimento, do que se lavrará termo
nos autos.

Caso a testemunha, intimada, não compareça, poderá sofrer as consequências previstas nos já citados art.
218 e 219 do CPP – condução coercitiva, responsabilização penal pelo crime de desobediência, obrigação de
pagamento de multa e das custas relacionadas à diligência de condução.

A condução coercitiva da testemunha decorre do dever de depor, atribuído pela Lei a


todos aqueles que forem a tanto intimados (art. 206, CPP). Trata-se de verdadeiro múnus

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imposto pelo Estado, como atributo inerente aos deveres da cidadania. À evidência,
havendo justificativa para o não comparecimento, e desde que ciente do fato, deve o
juiz adiar o referido ato processual. A ausência da testemunha à instrução causa
inúmeros e graves transtornos à atividade judicante, sobretudo a partir das novas regras
procedimentais trazidas pela Lei nº 11.719/08, dentre as quais avulta a de instrução
concentrada, na qual em uma única audiência são ouvidos o ofendido, as testemunhas,
peritos, intérpretes e o acusado. Diante do não comparecimento, sem apresentação
tempestiva de qualquer justificativa, deve o magistrado determinar a sua condução
imediata, de modo a evitar o adiamento da audiência, em prejuízo das demais pessoas
a serem ouvidas. Se a testemunha for de defesa, porém, nada impede que sejam
ouvidas as outras, fracionando-se a audiência (Pacelli, et al., 2018).

Ainda, o art. 221, §§ 2º e 3º prevê regras específicas nos casos de intimação de testemunhas militares e
funcionários públicos:

§ 2º Os militares deverão ser requisitados à autoridade superior.

§ 3º Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art. 218, devendo, porém, a expedição
do mandado ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com
indicação do dia e da hora marcados.

5.5.3 Substituição de testemunhas

Não há previsão acerca da substituição de testemunhas no CPP, na medida em que a Lei nº 11.719/2008
modificou as disposições dos artigos 397 e 405. O artigo 397, que antes tratava da possibilidade de substituir
testemunha que não fosse encontrada, hoje disciplina a absolvição sumária. O artigo 405, por outro lado,
passou a cuidar do registro dos fatos ocorridos durante a audiência.

Entretanto, diante da importância da prova testemunhal no processo penal e do silêncio da norma, entende-
se aplicável, quanto ao tema, as disposições do Código de Processo Civil, em analogia.

Art. 451. Depois de apresentado o rol de que tratam os §§ 4º e 5º do art. 357, a parte só pode
substituir a testemunha:

I - que falecer;

II - que, por enfermidade, não estiver em condições de depor;

III - que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não for encontrada.

A disciplina é perfeitamente aplicável ao processo penal, tanto que não se verifique eventual fraude
processual e/ou preclusão da oportunidade de se arrolar testemunhas.

[...] A recente Reforma Processual Penal alterou capítulos inteiros e inúmeros dispositivos do
Código de Processo Penal. No contexto dessa reforma, a Lei nº 11.719/2008 deu nova redação a

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inúmeros artigos e revogou diretamente outros. Dentre os dispositivos cujo texto foi alterado,
encontra-se o art. 397, que previa a possibilidade de o juiz deferir a substituição de testemunha
que não fosse localizada. A ausência de previsão específica do Código de Processo Penal acerca
do direito à substituição não pode ser interpretada como “silêncio eloquente” do legislador. A
busca por um provimento jurisdicional final justo e legítimo não pode ser fulminada pelo
legislador, sob pena de o processo não alcançar sua finalidade de pacificação da lide. A prova
testemunhal é uma das mais relevantes no processo penal. Por esta razão, o juiz pode
convocar, de ofício, testemunhas que considere importantes para a formação do seu
convencimento. Daí porque não se pode usurpar o direito da parte de, na eventualidade de
não ser localizada uma das testemunhas que arrolou para comprovar suas alegações, substituí-
la por outra que considere apta a colaborar com a instrução. É inadmissível a interpretação de
que a “vontade do legislador”, na Reforma Processual Penal, seria no sentido de impedir
quaisquer substituições de testemunhas no curso da instrução, mesmo quando não localizada
a que fora originalmente arrolada. Tal interpretação inviabilizaria uma prestação jurisdicional
efetiva e justa, mais próxima possível da “verdade material”. Perfeitamente aplicável, à espécie,
o art. 408, III, do Código de Processo Civil, tendo em vista que a testemunha substituída não foi
localizada em razão de mudança de endereço. O fato de a testemunha arrolada em substituição
ser conhecida desde a época do oferecimento da denúncia não impede seu aproveitamento,
quando houver oportunidade legal para tanto. No caso, não é possível vislumbrar fraude
processual ou preclusão temporal para o arrolamento da testemunha substituta, tendo em vista
que a testemunha que não foi encontrada existe e prestou depoimento na fase policial. Sua não
localização no curso da instrução abre a possibilidade legal de sua substituição. Agravo
regimental desprovido (Agravo Regimental na Ação Penal 470-1/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
Plenário, por maioria, julgado em 23.10.2008, publicado no DJ em 30.4.2009).

Doutrina complementar

ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017), sobre a substituição de testemunhas, sustenta: “Embora o Código de Processo Penal não preveja,
em sua redação atual, a possibilidade de as partes substituírem testemunhas arroladas que não tenham
sido localizadas, aplica-se, subsidiariamente (art. 3º do CPP), o dispositivo do Novo Código de Processo
Civil, que trata do tema (art. 451), o que conduz à conclusão de que se permite a substituição, por outra,
apenas da testemunha: a) que falecer; b) que, por enfermidade, não estiver em condições de depor; c)
que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não for encontrada.

5.5.4 Desistência da oitiva de testemunha

A gestão da prova no processo penal é essencialmente das partes. Nesse sentido, elas têm a prerrogativa de
não arrolar testemunhas ou, mesmo tendo arrolado, desistir da inquirição em tempo oportuno. Eis o que
estabelece o Código:

Art. 401. § 2º A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas,
ressalvado o disposto no art. 209 deste Código.

O artigo 209 do CPP, referido, trata dos casos em que o juiz, de ofício, decide ouvir testemunhas além
daquelas indicadas pelas partes.

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A desistência pode ser feita, inclusive, durante a realização da audiência de instrução, desde que, é claro,
ainda não se tenha iniciado o depoimento.

Por igual, a possibilidade de desistência de testemunha não traz novidade efetiva ao


processo penal. A desistência da oitiva é direito da parte (acusação ou defesa). Embora
praxe na jurisprudência a homologação do pedido (muitas vezes com a desnecessária
oitiva da parte adversa), tecnicamente pensamos que se trata de hipótese de mera
chancela formal do pedido formulado. É dizer: a desistência encontra-se na esfera de
disponibilidade das partes, que, se assim entenderem, podem declinar da testemunha
que arrolaram anteriormente. Claro: o expediente não pode servir para, de forma direta
ou até indireta, querer burlar o devido processo legal, que determina o momento
próprio para a indicação das testemunhas tidas como relevantes (Pacelli, et al., 2018).

Em processos de competência do Tribunal do Júri, igualmente, a parte pode desistir da oitiva de testemunha
arrolada, desde que o faça antes do início da sessão de julgamento. Após a abertura da sessão, só poderá
desistir com a concordância do juiz-presidente, dos jurados e da parte adversa.

5.5.5 Incomunicabilidade das testemunhas

No intuito de preservar as variadas versões de depoimentos de cada uma das testemunhas, a fim de que
externem a sua visão dos fatos e não opiniões de outrem, o artigo 210 do CPP estabelece que as oitivas serão
realizadas de forma separada, de modo que uma testemunha não ouça o depoimento da outra.

Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo que umas não saibam
nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso
testemunho.

Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua realização, serão reservados
espaços separados para a garantia da incomunicabilidade das testemunhas.

O artigo prevê, ainda, que se reserve espaço separado, mesmo fora da sala de audiência, para garantir a
incomunicabilidade das testemunhas. Na prática forense, normalmente, as testemunhas aguardam juntas
em uma única antessala. Cabe ao juízo fiscalizar a incomunicabilidade antes e durante a audiência.

A norma busca resguardar a isenção no relato da testemunha, afastando eventual influência de outras
versões ou impressões pessoais.

Sem dúvida alguma, o objetivo dessa incomunicabilidade é preservar a autenticidade da


prova testemunhal, evitando que uma testemunha possa ser induzida por outra,
considerando como próprias percepções alheias, alterando de maneira inconsciente as
informações que irá transmitir ao juiz. Apesar do parágrafo único do art. 210 do CPP
prever a incomunicabilidade das testemunhas, cuja observância deve ser fiscalizada
antes e durante a audiência, é óbvio que jamais será possível sua fiscalização fora do
juízo. Portanto, eventual contato entre testemunhas antes da realização da audiência

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una de instrução e julgamento deve ser considerado mera irregularidade, devendo o


magistrado ficar atento à essa possibilidade quando da valoração de seu depoimento.
Como esclarece ADA PELLEGRINI GRINOVER, "a incomunicabilidade prevista na disposição em
exame não tem o mesmo rigor daquela adotada em relação aos jurados, nem a sua
violação conduzirá a nulidade do depoimento, como sucede no procedimento do júri
para a comunicação entre jurados (art. 466, § 1°, CPP, na redação da Lei 11.689/2008 e
art. 564, III, j, na redação original). O que poderá ocorrer, se constatada a sua quebra, é
a formulação mais minuciosa de perguntas, para aferição da sinceridade das
declarações, além de uma avaliação final mais crítica do conteúdo do depoimento”
(Lima, 2018).
Como já afirmamos ao exame do interrogatório de réus e mesmo da inquirição de
ofendidos, deve-se sempre guardar sigilo em relação a todo depoimento prestado em
juízo, no que toca às demais pessoas que também devam depor. Já adiantamos as
razões: o que deve ser colhido em instrução é o conhecimento pessoal do depoente e
não as impressões que lhe foram repassadas por terceiros. De notar-se que, quando tal
ocorre, pode-se sempre esperar um reforço de convencimento do magistrado, no que
diz respeito àquele conteúdo assumido pela testemunha, a partir do quanto declarado
pela outra. É dizer: a versão que deveria ser, em princípio, uma, isto é, de uma
testemunha, passa a ser duas, mas não como duplo conhecimento dos fatos, mas como
reprodução de ciência alheia. Recomenda a Lei, ainda, que se garanta a
incomunicabilidade entre elas – e entre elas e os réus e os ofendidos! –, de modo a se
preservar exatamente a subjetividade e a pessoalidade de cada conhecimento. Ainda
que não seja possível a acomodação de testemunhas, réus e ofendidos (para este, há
previsão específica de ambiente separado, como vimos – art. 201, § 4º, CPP) no mesmo
espaço, deve o Juízo acautelar-se contra tentativas de cooptação de testemunhos, antes
das audiências (Pacelli, et al., 2018).

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016) resume todo o
procedimento para inquirição de testemunha nos seguintes termos: “1) Inicialmente, a testemunha
devidamente intimada deverá comparecer no dia e hora aprazados. Não o fazendo, poderá ser conduzida
coercitivamente, sem prejuízo das demais sanções (art. 219, CPP). [...] É possível que a oitiva da testemunha
seja antecipada, se eventualmente tiver de ausentar-se, como para realizar viagem internacional ou morar
em outra localidade, ou ainda se houver receio de falecimento antes da instrução, seja por enfermidade
ou velhice (art. 225, CPP). 2) As testemunhas serão ouvidas separadamente, de sorte que umas não
tenham contato com os depoimentos das outras. Fala-se agora, com a inserção do parágrafo único ao art.
210 do CPP pela Lei nº 11.690/08, em verdadeira incomunicabilidade, tanto que as testemunhas não devem
saber nem ouvir os depoimentos das outras, reservando-se espaços separados para que não tenham
contato entre si. Não se pode fechar os olhos do quão é difícil a preservação da incomunicabilidade,
principalmente porque o contato das testemunhas fora do juízo, notadamente nas comarcas menores, é
frequente. Desta sorte, ficarão incomunicáveis no fórum, antes e durante a audiência, mas não se tem
como fiscalizar o contato pretérito. Se elas tiverem conversado entre si, o fato deve ser encarado como
mera irregularidade, cabendo ao magistrado deixar consignado no termo esta circunstância, chegando
ao seu conhecimento, para dar a devida valoração às declarações prestadas. 3) A testemunha deve ser
compromissada, e advertida das penas cominadas ao falso testemunho (art. 210, in fine, CPP). A
testemunha não poderá invocar o direito ao silêncio, e se o fizer, responde por falso testemunho, afinal, o

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falso também se caracteriza quando alguém cala à verdade. A exceção se dá quando o fato possa
incriminar a própria testemunha, que não estará obrigada a se autoincriminar. 4) Uma vez
compromissada, a testemunha será qualificada, ‘devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua
residência, sua profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das
partes, ou quais suas relações com qualquer delas’ (art. 203, CPP). Entendemos que a qualificação integra
o ato, e se a testemunha falta com a verdade, incorrerá nas sanções do art. 342 do CP (falso testemunho).
Contra, acreditando que o crime em espécie seria o de falsa identidade (art. 307, CP), encontra-se
Guilherme Nucci; 5) Havendo dúvidas quanto à identidade da testemunha, o juiz patrocinará o
esclarecimento pelos meios à sua disposição, podendo até mesmo socorrer-se-á à autoridade policial para
tal verificação, sem prejuízo de ouvi-la desde logo (art. 205, CPP); 6) Após a qualificação, oportuniza-se a
contradita, ou seja, a impugnação da testemunha a ser ouvida. É o que ocorre se a pessoa está impedida
de depor (art. 207, CPP), ou não deve ser admitida a prestar compromisso (art. 208, CPP). A contradita é
julgada na audiência, devendo o magistrado ouvir a parte contrária, a testemunha contraditada, e depois
decidir se é caso de exclusão da testemunha, ou simplesmente de não tomada de compromisso,
mantendo-se a realização do depoimento. Nada impede que a parte que arrolou a testemunha apresente
contradita, se eventualmente descobrir algo que macule a pessoa por ela arrolada. O magistrado, por sua
vez, como presidente do feito, identificando impedimento ou hipótese de dispensa de compromisso, deve
de ofício tomar as providências adequadas, independente de contradita das partes. As partes podem
alegar ainda circunstâncias ou defeitos que tornem a testemunha suspeita de parcialidade ou indigna de
fé (art. 214, CPP). Estes elementos, que nada mais são do que uma forma de impugnação, servem para
alertar o julgador de quem seja aquela testemunha, para dar a devida valoração ao depoimento. É possível
que a testemunha seja amiga íntima ou inimiga capital do réu, tenha quebrado a incomunicabilidade, ou
responda a processo semelhante, ou já tenha sido condenada por falso testemunho. São circunstâncias
que não impedem o depoimento, nem a tomada de compromisso, mas alertam o magistrado no
momento de valorar a prova”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017), a respeito da
incomunicabilidade das testemunhas, assevera a dificuldade em observá-la na prática: “Com vistas a
assegurar a idoneidade da prova, dispõe utopicamente o parágrafo único do art. 210 do CPP que, antes
do início da audiência e durante a sua realização, serão reservados espaços separados, de modo a
Interpretada gramaticalmente, a regra leva a concluir que seria necessário providenciar uma sala para
cada testemunha, pois só assim é que se poderia pensar em tentar impedir a comunicação entre elas.
Nada mais impraticável e absurdo! [...] No mais, e aí sim, quando das respectivas oitivas o juiz deverá
providenciar para que uma testemunha não presencie a tomada de declarações da outra, por isso deverão
ser inquiridas separadamente, de modo a preservar a integridade da prova, que se espera seja colhida
livre de influências evitáveis e indesejadas”.

5.5.6 Retirada do acusado da sala de audiência

Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério
constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor.

Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá
constar do termo, assim como os motivos que a determinaram.

No caso de a testemunha pedir para ser ouvida sem a presença do réu o juiz, constatando que essa
providência é realmente necessária, pode realizar a oitiva por videoconferência ou, na impossibilidade,
determinará a retirada do réu da sala de audiências. A presença do defensor é indispensável. Qualquer das
medidas deve constar do termo de audiências, com os motivos que a ordenaram.

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Da leitura do art. 217 do CPP fica a impressão de que, sendo a audiência realizada por
videoconferência, estaria o acusado autorizado a assisti-la, ou seja, a retirada do
acusado da sala de audiência seria permitida apenas quando da realização da audiência
na forma comum, leia-se, com a presença de todos. Não parece ser este o objetivo do
dispositivo. Na verdade, seja por meio da videoconferência, seja pessoalmente, não se
deve permitir, em hipótese alguma, que a pessoa constrangida seja identificada pelo
acusado. É bem verdade que a testemunha ou o ofendido terão contato com os
defensores do acusado, mas estes, sob compromisso de seu grau, certamente não irão
desvendar-lhe a identidade (Lima, 2018).

É certo que essa determinação, como todas as demais, exige fundamentação concreta.

Retirada do réu e ampla defesa: Quando iniciado o ato processual e o comportamento


do acusado, em audiência, puder gerar as situações descritas na Lei, de temor,
constrangimento ou de sentimento de humilhação à testemunha, dever-se-á recorrer
ao amargo recurso de retirada do acusado da sala. Insistimos na observação atinente à
atualidade da conduta do réu, que deve ocorrer em audiência. Quando o temor e o
constrangimento decorrerem de situações já conhecidas anteriormente à audiência, o
que deverá ser designada é a realização do ato por meio de videoconferência, de modo
a se preservar o direito à participação do réu ao aludido ato, em homenagem ao
princípio da ampla defesa. A retirada do réu da sala de audiências é medida extrema e
deve ser usada com toda parcimônia. Mas deve ser usada, quando necessário. A
permanente tensão na aplicação de normas constitucionais é inerente à pluralidade dos
direitos fundamentais no Estado Democrático. Desde que justificada a medida
coercitiva, pode-se reduzir o espaço da ampla defesa, por ato imputável unicamente ao
acusado. Do mesmo modo que se determina a prisão cautelar de quem ainda é
considerado inocente. De tudo, como é óbvio, se fará registro do ocorrido no Termo de
Assentada da audiência (Pacelli, et al., 2018).

AVENA tem uma visão mais abrangente em relação a essa possibilidade:

A alteração legislativa incorporada ao Código alterou substancialmente a previsão


anterior, que se limitava a autorizar a retirada do réu da sala de audiências pelo juiz
quando sua presença pudesse interferir no ânimo da testemunha, consignando-se em
ata tanto essa saída quanto os motivos que a ensejaram. Agora, tal procedimento
assumiu caráter residual, aplicável apenas quando não for possível a inquirição da
testemunha por meio de videoconferência – método pelo qual a testemunha presta seu
depoimento em local distinto de onde se encontra o juiz que oficia no processo, sendo
as perguntas e respostas transmitidas mediante um sistema composto de microfones,
televisores e câmeras, facultando-se a todos uma visão simultânea de ambos os
ambientes. Sem embargo do que estabelece o citado art. 217 do CPP, a possibilidade de

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afastamento do réu da solenidade judicial não se restringe às hipóteses lá previstas,


podendo ocorrer sempre que demonstrar comportamento inadequado. Neste sentido,
a regra do art. 796 do CPP, que dispõe que “os atos de instrução ou julgamento
prosseguirão com a assistência do defensor, se o réu se portar inconvenientemente”,
considerando-se inconvenientes gritos, expressões faciais intimidativas ou irônicas,
roupas inapropriadas etc.
Tratando-se o réu de advogado em causa própria e inviabilizada por qualquer razão a
videoconferência, deverá o magistrado facultar-lhe a constituição de defensor para
acompanhar a solenidade, inclusive transferindo-a para outro dia, se isso for necessário.
Não havendo interesse na constituição de defensor, deverá o juiz, aí sim, nomear-lhe
um.
E se o comportamento do advogado perante a testemunha for inconveniente? Deverá o
magistrado determinar, igualmente, sua retirada da sala de audiências, adiando o ato e
adotando as medidas administrativas (v.g., comunicação à OAB) e legais (nas hipóteses
de prática criminosa, como desacato, desobediência, injúria etc.) cabíveis ao caso.
Evidentemente, o ato não poderá ser realizado sem a presença de defensor, devendo-
se, nesse caso, facultar ao acusado a constituição de outro, ou, recusando-se este,
nomear-lhe defensor dativo (Avena, 2017).

Pondera, ainda, RENATO BRASILEIRO:

A retirada do acusado da sala de audiências não pode ser determinada tão somente
com base em mero juízo de suspeita do juiz acerca de possível intimidação futura da
testemunha. Pelo contrário, a adoção de tal medida pressupõe a efetiva prática de atos
comissivos que demonstrem o propósito do acusado no sentido de influenciar o ânimo
da testemunha. Não se nega que o acusado tenha o direito fundamental de presenciar
e participar da colheita da prova oral contra ele produzida em audiência pública (direito
ao confronto). Porém, não se trata de um direito de natureza absoluta. Dentre os direitos
fundamentais que podem colidir com o direito ao confronto, legitimando sua restrição,
encontram-se os direitos da testemunha de acusação à vida, à segurança, à intimidade
e à liberdade de declarar, os quais se revestem de inequívoco interesse público, e cuja
proteção é indiscutível dever do Estado. Portanto, no caso de efetiva prática de atos
intimidatórios, subentende-se que houve uma renúncia tácita ao direito ao confronto
pelo acusado, pela adoção de comportamento incompatível com ele (Lima, 2018).

5.5.7 Compromisso de dizer a verdade

Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber
e lhe for perguntado [...].

A par da impossibilidade de se eximir da obrigação de depor, prevista no art. 206 do CPP, a testemunha é
exortada e deve prometer dizer a verdade.

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Muito ao contrário do que se pensa, o dever de dizer a verdade jamais decorreu da


assunção do decantado compromisso de dizer a verdade, previsto nesse dispositivo. Na
realidade, decorre é do dever de depor resultante do comando do art. 206 [...]. O que
aqui se contém não passa de mera exortação de fundo moral ou cívico, com o qual se
pretende convencer a testemunha da importância de seu múnus, e da necessidade de
se ater ela aos ditames de sua consciência, quanto à veracidade dos fatos de que tem
conhecimento. Imagine-se a hipótese de o juiz se esquecer de tomar o compromisso da
testemunha; imagine-se, ainda, que, exortada ao compromisso de dizer a verdade, a
testemunha afirmar ao juiz, por quaisquer razões pessoais, não admitidas em Lei, que
não irá dizer a verdade. O que fazer? Ora, pouco importa estar ela compromissada –
formalmente, isto é, pela tomada de compromisso – ou não. Se a Lei a obriga a depor, e
é essa a disposição do art. 206, CPP, obriga também ao depoimento verdadeiro,
parecendo-nos impensável a hipótese de se obrigar alguém a comparecer em juízo
apenas para se entrevistar com o magistrado e com as partes. Deve-se dizer a verdade
porque, igualmente, deve-se depor (Pacelli, et al., 2018).

Segundo a parte final do art. 210 do CPP, além da tomada do compromisso, deve o juiz advertir a testemunha
em relação ao falso testemunho:

Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo que umas não saibam
nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso
testemunho.

NORBERTO AVENA aprofunda o tema; embora já tenhamos trazido trecho da lição anteriormente, vale a integral
remissão do entendimento neste tema:

Por compromisso sugere o Código de Processo Penal, no art. 203, o instituto que
importa em advertência à testemunha quanto à sua obrigação de falar a verdade. Em
nome deste pensamento é que se construiu o entendimento no sentido de que apenas
a testemunha compromissada poderia responder pelo crime de falso testemunho (art.
342 do Código Penal). Na atualidade tem sido repensado o conceito de compromisso,
considerando-se que este instituto não pode mais ser interpretado como o dever de
verdade, visto que isto importa, também, entender que a testemunha não
compromissada pode mentir, postura esta inaceitável dada a seriedade que caracteriza
o processo criminal. Segundo esta posição, à qual nos filiamos, o compromisso não
passa de um sinal, um símbolo que, conforme esteja presente ou ausente no
depoimento, permite ao juiz conferir-lhe maior ou menor valor no ato de sentenciar.
Deste modo, qualquer testemunha, mesmo a dispensada de compromisso, poderá
responder pelo crime de falso testemunho se faltar, calar ou negar a verdade. “É
irrelevante a formalidade do compromisso para a caracterização do crime de falso
testemunho”, decidiu o STJ. Alerta-se, de qualquer modo, que o tema não é pacífico,
havendo forte posição doutrinária em sentido oposto, qual seja, de que remanesce o

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compromisso como formalismo indispensável à caracterização do crime de falso


testemunho.
Testemunhas não sujeitas a compromisso. O Código de Processo Penal, como se
observa do art. 203, traz a prestação do compromisso como regra. Exceção, portanto, é
sua dispensa, que ocorre apenas em relação às categorias expressamente mencionadas
no art. 208, as quais consistem em:
– Doentes mentais;
– Menores de 14 anos;
– Parentes do réu enumerados no art. 206 do CPP: ascendente, descendente, irmão e
cônjuge ainda que separado judicialmente; pai, mãe ou filho adotivo, e, por fim, os afins
em linha reta (sogro, sogra, enteado etc.).
Levando em conta a taxatividade deste rol, algumas questões relativas ao compromisso
destacam-se, quais sejam:
a) Quanto ao ex-cônjuge do réu, agora dele divorciado: Está sujeito ao compromisso.
Isso porque, entre as pessoas citadas no art. 206 do Código como dispensadas do
compromisso, está o “desquitado”. Ora, ao desquite sucedeu a separação judicial, e não
o divórcio. Além disso, este último instituto dissolve completamente o vínculo conjugal,
ao contrário do primeiro, não se justificando, pois, a dispensa do compromisso ao
divorciado.
b) Quanto ao(à) companheiro(a) do(a) réu(ré): Não temos dúvida de que, desde que
caracterizada hipótese de união estável, ao(à) companheiro(a) estende-se a dispensa do
compromisso prevista para o cônjuge, dada a equiparação constitucional.
c) Quanto ao amigo íntimo e inimigo capital do réu ou da vítima: Não estão dispensados
do compromisso, pois nada existe em termos de legislação processual penal
estabelecendo regra oposta. Destarte, serão compromissados, devendo, contudo,
constar no termo essa condição especial que torna suspeito o depoimento, a fim de que
seja levada em consideração pelo juiz no momento da valoração.
d) Quanto aos parentes da vítima: Não se incluindo no rol do art. 208 do CPP, estão
sujeitos a compromisso também, descabendo analogia à regra do art. 206, que é
expresso e restrito a determinados parentes do réu. Claro que, assim como no caso
anterior, também aqui a vinculação com o sujeito passivo do crime deverá ser expressa
em ata, levando o juiz a examinar com reservas tais depoimentos.
e) Se o depoimento importar em autoincriminação: Embora nada disponha o Código de
Processo Penal, entende-se que, ainda que tenha sido prestado o compromisso pela
testemunha, o crime de falso testemunho não se configura quando, com a declaração
da verdade, o depoente assume o risco de ser incriminado.
f) Quanto aos ascendentes do pai adotivo e descendentes do filho adotivo do réu: O art.
206 do CPP, referido no art. 208 da mesma lei, diz respeito aos ascendentes e
descendentes do réu, sem limitação de grau, o que abrange avô, bisavô, neto, bisneto e
daí por diante. Tal previsão intui-se que seja concernente ao parentesco legítimo, pois o
mesmo artigo, mais à frente, faz menção ao pai, mãe ou filho adotivos do réu. Ora, a
leitura fria do dispositivo permite concluir que, relativamente aos ascendentes e
descendentes legítimos do acusado, não haja limitação de grau para dispensa do

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compromisso, isso não ocorrendo, contudo, em relação ao parentesco por adoção,


quando ficariam dispensados apenas o pai e a mãe adotivos e o filho adotivo do réu,
mas não o pai do pai adotivo, o pai da mãe adotiva, o filho do filho adotivo e assim
sucessivamente. Referida diferenciação, porém, não foi recepcionada pela Constituição
Federal, pois esta equiparou o parentesco legítimo ao parentesco por adoção. Neste
viés, ascendentes ou descendentes do réu, em qualquer grau, independentemente da
forma de parentesco, ficarão dispensados de compromisso, compreendidos que estão
no alcance do art. 208 do CPP.
g) Quanto aos tios, primos e cunhados do réu: Sujeitos, normalmente, a compromisso.
Todos, afinal, são parentes colaterais – os dois primeiros legítimos, o terceiro por
afinidade – não incluídos no âmbito do art. 206, referido no art. 208 do CPP. Entre os
colaterais, como vimos, o único dispensado do compromisso é o irmão do réu, por
expressa disposição legal (Avena, 2020).

5.5.8 Qualificação da testemunha

Art. 203. [...] devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua profissão,
lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais
suas relações com qualquer delas [...].

A identificação e a qualificação da testemunha são medidas obrigatórias e antecedentes ao depoimento e,


havendo dúvidas, diz o art. 205 do CPP como proceder:

Art. 205. Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha, o juiz procederá à verificação
pelos meios ao seu alcance, podendo, entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo.

Diverge a doutrina quanto ao crime que se configura na hipótese de a testemunha


mentir quanto a sua qualificação. Parte da doutrina entende estar caracterizado o delito
de falso testemunho (CP, art. 342). Segundo MAGALHÃES NORONHA, ''trata-se de
formalidade substancial (CPP, art. 203), que influi no mérito e valor que serão dados ao
depoimento. Sua falsidade ofende, do mesmo modo, os diversos interesses em litígio e
atenta contra a administração da justiça, ferindo-a em sua atuação normal e na eficácia
da realização". Em sentido diverso, MIRABETE entende estar caracterizado o delito de falsa
identidade, previsto no art. 307 do Código Penal (Lima, 2018).

5.5.9 Contradita e arguição de parcialidade da testemunha

Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou arguir
circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará
consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só excluirá a testemunha ou
não lhe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208.

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A contradita corresponde à impugnação do depoimento da testemunha, diante de sua proibição de depor


(art. 207, CPP). Arguida a contradita, pretendendo-se impedir o depoimento, o juiz deve decidir o incidente
na própria audiência, antes de iniciado o depoimento.

No caso da arguição de parcialidade, o que se pretende, é a consignação, em ata, de circunstâncias que


tornam a testemunha parcial ou indigna de fé. Nesse caso, não se pretende impedir a testemunha de depor,
mas registrar os fatos que devem ser sopesados pelo juiz quando da valoração do seu depoimento.

Essa é outra das sensíveis diferenças entre o processo civil e o processo penal
brasileiros. Contraditada uma testemunha no processo civil, deve o juiz, se convencido
de sua procedência, excluir o seu depoimento. Circunstâncias pessoais como a amizade,
a inimizade e, enfim, a existência de relações anteriores envolvendo a testemunha e as
partes parecem suficientes para duvidar da credibilidade do testemunho, daí resultando
a sua exclusão, no processo civil.
No processo penal, porém, tal não ocorre, particularmente no que toca à coleta do
depoimento. Nos termos do dispositivo ora em comento, somente se excluirá a
testemunha nos casos expressamente previstos na Lei. E nela (lei) não se aponta
quaisquer dessas circunstâncias que antes mencionamos como vícios ou defeitos
impeditivos da tomada de depoimento. Amigos ou inimigos, todos têm o dever de depor
e, em consequência, o dever de dizer a verdade, sob pena de falso testemunho. Não se
pode aceitar a sugestão doutrinária no sentido de qualificar tais depoentes (amigos,
inimigos etc.) como declarantes [...]. Com efeito, não se pode aplicar o disposto no art.
447, §§ 4º e 5º, CPC/2015 (art. 405, § 4º, CPC/1973), por suposta analogia, dado que
inexiste ausência de regulação da matéria no CPP. Muito ao contrário, há norma
expressa em sentido contrário, a exigir o depoimento de todos aqueles que não se
enquadrem no rol de pessoas alinhadas no art. 207 e no art. 208 do CPP. Devem-se
observar, por fim, as regras de impedimento, incompatibilidades e suspeição aplicáveis
aos magistrados e aos membros do Ministério Público, também em relação às
testemunhas, consoante o disposto no art. 252, II, e na regra geral do art. 112, ambos
do CPP. A solução do problema se encontra ali: afastamento do juiz e não da testemunha
(Pacelli, et al., 2021).

AVENA, mais uma vez, trata o assunto de forma bastante esclarecedora:

Trata-se de formas distintas de impugnar a narrativa de testemunhas arroladas, as quais


deverão ser realizadas antes de iniciado o depoimento e após a qualificação. Frise-se
que nada impede que sejam feitas essas impugnações pela parte em relação às
testemunhas que ela própria arrolou. Exemplo: o Ministério Público arrola determinada
pessoa como testemunha de denúncia, vindo, posteriormente, embora antes do
depoimento, a descobrir que se trata de companheira do réu e, portanto, dispensada de
compromisso. Nesse contexto, poderá impugná-la. Não obstante o Código de Processo
Penal não seja explícito quanto ao exato sentido do art. 214, a sua redação permite
concluir que a contradita e a arguição de defeito no depoimento da testemunha não são

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expressões sinônimas tampouco são institutos aplicáveis aos mesmos casos. Tanto isto
é verdade que refere o precitado dispositivo que as partes poderão contraditar a
testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos ao respectivo depoimento. Quando,
então, ocorrem uma e outra situação? Da leitura do art. 214 do CPP observa-se que
prevê o mesmo três ordens distintas de possibilidades:
1) Pessoas que não poderão depor como testemunhas, devendo ser excluídas;
2) Pessoas que prestarão depoimento como testemunhas não compromissadas;
3) Pessoas que, em razão de particularidades especiais, apesar de não serem impedidas
de depor ou de prestar compromisso, não são absolutamente isentas, podendo ser, em
razão disso, alvo de arguição de defeito.
Ora, considerando o enquadramento da terceira categoria citada como alvo da arguição
de defeito, restam, residualmente, como objeto da contradita, as demais hipóteses
previstas no mesmo dispositivo – proibição de depor e depoimento sem compromisso.
Em síntese, a contradita deve ser utilizada:
a) Em relação à testemunha que não deva prestar compromisso (art. 208 do CPP): são
os doentes mentais, os menores de quatorze anos e as pessoas enumeradas no art. 206
do CPP (cônjuge, ascendentes, descendentes, irmãos e afins em linha reta do réu).
Acolhida, em relação a eles, a contradita, o efeito é serem dispensados do compromisso.
b) Em relação à pessoa que seja proibida de depor (art. 207 do CPP): são aquelas que
têm ciência do fato em razão da função, profissão, ofício ou ministério (v.g., padre,
psicólogo, psiquiatra, advogado etc.). Acolhida, neste caso, a impugnação, o efeito é ser
excluída a testemunha, vale dizer, não deve ser tomado o seu depoimento pelo juiz.
Já a arguição de defeito, por outro lado, prevista, igualmente, no art. 214 citado, ocorrerá
quando alguma das partes tiver ciência de fatos que tornem a testemunha indigna de fé
ou suspeita de parcialidade. Exemplos de situações que justificariam essa forma de
impugnação consistiriam na amizade íntima ou na inimizade capital com qualquer dos
envolvidos no fato delituoso, o parentesco
com a vítima, a circunstância de responder
a processo criminal por fato análogo etc. exclusão
Trata-se, como se pode observar, de
contradita
circunstâncias que não impedem o não
depoimento da testemunha (pois não Art. 214 compromisso
abrangidas pelo art. 207 do CPP), tampouco
registro e
a prestação de compromisso (pois não arguição
consideração
referidas no art. 208 do CPP), mas que, de
qualquer sorte, devem ser consignadas no
termo de audiência para que possam ser consideradas pelo juiz ao proferir a sentença
(Avena, 2020).

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5.5.10 Colheita do depoimento

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo
o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem
na repetição de outra já respondida.

Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.

Antes do advento da Lei nº 11.690/2008, as perguntas que as partes desejassem fazer às testemunhas
deviam ser dirigidas ao juiz que, por sua vez, as faria. Era o chamado sistema presidencialista da instrução.

Com a entrada em vigor da referida Lei, e as mudanças por ela introduzidas, o artigo 212 do CPP passou a
ter nova redação, permitindo que as perguntas sejam feitas pelas partes diretamente às testemunhas (direct-
examination ou ‘exame direto’), sem a necessidade de intermediação pelo juiz. A parte contrária, do mesmo
modo, na reinquirição, dirige-se diretamente à testemunha, ainda que não tenha sido por ela arrolada. Essa
possibilidade de reinquirição pela parte que não arrolou a testemunha (advinda do sistema norte-americano)
é chamada pela doutrina de cross-examination ou ‘exame cruzado’.

Fala-se em cross-examination, ou exame cruzado, pelo fato de a inquirição ser feita pela
parte que não arrolou a testemunha, e que, por isso e em tese, não produziria
diretamente a prova. Coisas do sistema norte-americano (Pacelli, et al., 2018).

Logicamente, a parte que arrolou a testemunha começa a perguntar e, depois, abre-se a possibilidade de
reinquirição pela parte contrária.

Notadamente, conforme artigo antes transcrito, cabe ao juiz indeferir perguntas que puderem induzir a
resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.

RENATO BRASILEIRO aprofunda o tema:

Não obstante a nova redação do art. 212 do CPP, notadamente de seu parágrafo
único, há doutrinadores que ainda sustentam que as perguntas devem continuar
sendo feitas em primeiro lugar pelo magistrado. É essa a posição, entre outros,
de GUILHERME DE SOUZA NUCCI, para quem o art. 212 do CPP, com redação dada pela
Lei n° 11.690/08, só alterou o sistema de inquirição feito pelas partes. Nada mais.
Segundo o autor, "o juiz, como presidente da instrução e destinatário da prova, continua
a abrir o depoimento, formulando, como sempre fez, as suas perguntas às testemunhas
de acusação, de defesa ou do juízo. Somente após esgotar o seu esclarecimento, passa
a palavra às partes para que, diretamente, reperguntem". Com a devida vênia, não
conseguimos concordar com tal entendimento, até mesmo porque não se consegue
imaginar como alguém irá "complementar" aquilo que ainda não se iniciou. A nova
redação do art. 212 do CPP é de clareza meridiana, significando que deverão as partes
formular as perguntas em primeiro lugar, fazendo-o através de perguntas formuladas

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diretamente à testemunha. Após o exame direto e cruzado, o juiz poderá, então,


formular perguntas às testemunhas sobre os pontos não esclarecidos, complementando
a inquirição. É bem verdade que, no dia-a-dia do foro, ainda há certa relutância por parte
de muitos juízes em seguir o novo modelo estabelecido pelo art. 212, teimando em
continuar perguntando primeiro e a receber e retransmitir as perguntas das partes às
testemunhas, contando, vez por outra, com o aval subserviente das próprias partes. No
entanto, o fato de não se concordar com o modelo típico previsto em lei não confere ao
operador do Direito a possibilidade de se arvorar contra ela. A salutar abolição do
sistema presidencial, no qual o juiz perguntava primeiro e as partes faziam perguntas
por intermédio do magistrado, pela adoção do método acusatório (as partes iniciam a
inquirição e o juiz a encerra), veio tornar mais eficaz a produção da prova oral, visto que
permite o efetivo exame direto e cruzado do contexto das declarações tomadas, o que
melhor delineia as atividades de acusar, defender e julgar. Essa mudança visa não
apenas simplificar a colheita de provas, mas, principalmente, garantir mais neutralidade
ao magistrado e conferir maiores responsabilidades aos sujeitos parciais do processo
penal, que são, na realidade, os grandes protagonistas na produção da prova. Esse novo
regramento vem, ademais, ao encontro do sistema acusatório adotado no ordenamento
pátrio (CF, art. 129, inciso I), deixando a cargo das partes a primazia da produção da
prova, sem olvidar da iniciativa probatória do juiz, a ser exercida de maneira subsidiária,
para complementar a prova e dirimir dúvida sobre pontos relevantes. Além de contribuir
para uma apuração mais correta dos fatos delituosos e atestar a correção do debate
dialético entre as partes, a adoção desse método de exame direto e cruzado serve
igualmente à legitimação das decisões. De mais a mais, não se pode esquecer que uma
das grandes diretrizes da reforma processual penal de 2008 é o prestígio do sistema
acusatório, por meio do qual se valoriza a imparcialidade do juiz, que deve ser o
destinatário da prova, e não seu produtor, na feição inquisitiva. Destarte, em virtude da
alteração do art. 212 do CPP, a testemunha será colocada, inicialmente, em contato
direto com as partes, sendo inquirida, primeiramente, por quem a arrolou (direct-
examination) e, em seguida, submetida ao exame cruzado pela parte contrária (cross-
examination), cabendo ao magistrado, nesse momento, apenas decidir sobre a
admissibilidade das perguntas, indeferindo aquelas que possam induzir a resposta, não
tenham relação com a causa ou que importem na repetição de outra já respondida.
Posteriormente, defere-se ao magistrado a possibilidade de complementar a inquirição
quanto aos pontos não esclarecidos (CPP, art. 212, parágrafo único). Como se vê, o
próprio art. 212 defere ao magistrado a possibilidade de indeferir perguntas que
possam induzir a resposta, não tenham relação com a causa, ou importem na repetição
de outra já respondida. Portanto, são vedadas as perguntas sugestivas (em inglês,
“leading questions”). Este conceito compreende perguntas que induzem a testemunha
a responder de forma específica e desejada pelo inquiridor, e perguntas que implicam
reconhecimento de fato ainda não comprovado. Todas as perguntas formuladas pelas
partes devem ser relevantes, isto é, guardar relação de pertinência lógica com os fatos
sob julgamento, e admissíveis, segundo as regras de exclusão probatória. As perguntas
podem versar sobre os fatos imputados ao acusado ou a respeito da credibilidade da

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testemunha. Nessa linha, segundo GOMES FILHO, ''no cross-examination evidenciam-se as


vantagens do contraditório na coleta do material probatório, uma vez que, após o exame
direto, abre-se à parte contrária, em relação à qual a testemunha é presumidamente
hostil, um amplo campo de investigação. No exame cruzado, é possível fazer-se uma
reinquirição a respeito dos fatos já abordados no primeiro exame (cross-examination as
to facts), como também formular questões que tragam à luz elementos para a
verificação da credibilidade do próprio depoente ou de qualquer outra testemunha
(cross-examination as to credit)" • Se o novo regramento da colheita da prova
testemunha dispõe que as partes devem perguntar antes do magistrado, indaga-se: qual
a consequência da inobservância da ordem constante do art. 212 do CPP? Mais
recentemente, nota-se que a jurisprudência do STJ acabou se consolidando no sentido
de restar caracterizada mera nulidade relativa. Logo, a nulidade deve ser arguida
oportunamente, sob pena de preclusão, sendo necessária, ademais, a comprovação do
prejuízo. Por isso, em caso concreto no qual a ordem de inquirição de testemunhas
prevista no art. 212 do CPP não foi observada, houve por bem o STJ determinar a
anulação do processo a partir da audiência de instrução. Isso porque, demonstrando
evidente interesse na colheita de provas de caráter eminentemente acusatório, às
testemunhas de acusação a magistrada realizou dezenas de perguntas antes da
inquirição direta pelas partes. Porém, ao inquirir as testemunhas de defesa, a juíza não
realizou nenhuma pergunta. De seu turno, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a
inversão da ordem de inquirição das testemunhas, fazendo o magistrado suas
perguntas em primeiro lugar para, somente depois, permitir que as partes o façam,
caracteriza nulidade relativa, razão pela qual, além da demonstração de prejuízo,
também deveria haver arguição oportuna, sob pena de preclusão. Se a regra quanto à
colheita da prova testemunhal é a utilização do exame direto e cruzado (CPP, art. 212),
ressalva especial deve ser feita em relação às chamadas testemunhas do juízo. Como se
sabe, com fundamento no princípio da busca da verdade, quando julgar necessário,
poderá o juiz ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes (CPP, art. 209,
caput). Nesse caso, queremos crer que continua a vigorar o sistema presidencialista,
sendo inviável que o juiz exija da acusação (ou da defesa) a formulação das perguntas
em primeiro lugar. Isso porque, tratando-se de prova que não foi requerida pela
acusação (ou pela defesa), não se pode dela exigir que dê início à formulação das
perguntas, visto que não tem conhecimento sobre a real identidade das testemunhas, o
que acaba por inviabilizar não só a exploração do saber testemunhal, como também a
aferição de sua credibilidade. Por isso, em se tratando de testemunhas do juízo, parece-
nos que, sob pena de evidente cerceamento da acusação (ou da defesa), as perguntas
devem ser formuladas, inicialmente, pelo juiz, que, na sequência, deve franquear às
partes - acusação e defesa, nesta ordem - o direito de fazer reperguntas (Lima, 2021).

Tanto o STJ quanto o STF têm precedentes no sentido de que a desobediência à ordem contida na atual
redação do art. 212 do CPP constitui nulidade relativa, de maneira que seu reconhecimento dependerá de
arguição em momento oportuno e demonstração de prejuízo efetivo à parte:

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[...] INVERSÃO NA ORDEM DE PERGUNTAS ÀS TESTEMUNHAS. PERGUNTAS FEITAS


PRIMEIRAMENTE PELA MAGISTRADA, QUE, SOMENTE DEPOIS, PERMITIU QUE AS PARTES
INQUIRISSEM AS TESTEMUNHAS. NULIDADE RELATIVA. NÃO ARGUIÇÃO NO MOMENTO
OPORTUNO. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. ORDEM DENEGADA. 1. A magistrada que não
observa o procedimento legal referente à oitiva das testemunhas durante a audiência de
instrução e julgamento, fazendo suas perguntas em primeiro lugar para, somente depois,
permitir que as partes inquiram as testemunhas, incorre em vício sujeito à sanção de nulidade
relativa, que deve ser arguido oportunamente, ou seja, na fase das alegações finais, o que não
ocorreu. 2. O princípio do pas de nullité sans grief exige, sempre que possível, a demonstração
de prejuízo concreto pela parte que suscita o vício. Precedentes. Prejuízo não demonstrado pela
defesa. 3. Ordem denegada. (HC 103525, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma,
julgado em 03/08/2010).

[...] INVERSÃO NA ORDEM DE OITIVA DE TESTEMUNHAS. INFRINGÊNCIA AO ART. 212 DO CPP.


NULIDADE RELATIVA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. [...] 3. A jurisprudência desta Corte posiciona-se
no sentido de que eventual inobservância ao disposto no art. 212 do CPP, gera nulidade
meramente relativa, sendo necessário, para seu reconhecimento, a comprovação do efetivo
prejuízo, o que inocorreu na espécie. 4. Habeas corpus não conhecido. (HC 260.379/ES, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 03/12/2015, DJe 15/12/2015).

Há julgado recente da 1ª Turma do STF (HC 187.035 – abril/2021) que, por maioria, consignou que o
magistrado não pode ser protagonista na inquirição de testemunhas em um processo penal e, reconhecendo
prejuízo (indução e sugestão de respostas pela juíza), anulou a instrução e a condenação em razão da
inobservância do art. 212 do CPP:

http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=463676&ori=1

Doutrina complementar

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021), sobre a colheita dos
depoimentos, assevera: “Infelizmente, gradativamente, o STJ foi matando a eficácia do art. 212 ao –
erroneamente – aplicar a teoria das nulidades relativas. Culminou por torná-lo letra morta, inclusive com
aval do STF. Mas pensamos que o cenário deve mudar com a reforma de 2019/2020, onde a Lei n. 13.964/
2019 inseriu o art. 3º-A que expressamente estabelece: Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória,
vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. Infelizmente esse dispositivo foi suspenso pela liminar na Medida Cautelar nas ADIn's n. 6.298,
6.299, 6.300 e 6.305 concedida pelo Min. Luiz Fux, no dia 22/1/2020. Esperamos que o STF casse essa medida
liminar e restabeleça o dispositivo, absolutamente fundamental para a evolução constitucional e
democrática do CPP. Mas, mesmo com o artigo suspenso, a Constituição desenha claramente, desde 1988,
a estrutura acusatória, que precisa ser respeitada. Com isso, pensamos que o art. 212 do CPP precisa ser
ressuscitado e torcemos para que o STJ e o STF respondam a necessária mudança cultural, para dar-lhe o
merecido respeito e eficácia”.
EUGÊNIO PACELLI & DOUGLAS FISCHER. (Comentários ao código de processo penal e sua jurisprudência, 13ª
ed., São Paulo: Atlas, 2021. “Infelizmente, e por razões muitas vezes não esclarecidas, ainda hoje se
encontram exemplos de descumprimento das novas regras do art. 212, CPP. Alguns magistrados
permanecem iniciando as inquirições de testemunhas, ao fundamento de que se trataria de prova a ele
destinada. [...] Não há como acolher semelhante pretensão, ainda quando não se duvide das boas
intenções do julgador. Na perspectiva do julgamento, todas as provas se destinariam ao juiz, a quem cabe
o exercício da função jurisdicional, no sentido de afirmar o direito cabível à espécie. O que deve ser

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assentado é que cabe às partes as provas de sua alegação. O sistema presidencialista de inquirição, no
qual o juiz conduz toda a tomada do depoimento, não encontra eco nos modelos processuais mais
modernos, ainda que ao juiz se reserve a transcrição das respostas, de maneira a controlar a legalidade do
ato. A iniciativa da prova pertence às partes. Afinal, não é o juiz quem arrola a testemunha; por que deveria
ele iniciar a inquirição? Por que não aguardar a linha de exploração que pretende o interessado na
produção da prova? De todo modo, o que nos parece absolutamente relevante nesse tópico é apontar a
ausência de qualquer nulidade na inversão da inquirição, a menos quando se possa, por outros meios,
demonstrar a perda de imparcialidade do magistrado. É dizer: em princípio, a inversão traduziria mera
irregularidade, passível de correção disciplinar. Não pode o Tribunal pretender a anulação do processo
pelo simples fato de ter o juiz iniciado a inquirição, sob pena de indevida e perigosa pedagogia
procedimental, em prejuízo de toda a jurisdição. Somente quando houver prejuízo é que se deve
reconhecer e declarar a nulidade de ato processual. Preciosa lição que vem sendo ignorada no cotidiano
forense”.
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), sintetizando o procedimento
para oitiva das testemunhas, aduz: “(i) Na audiência de instrução e julgamento, proceder-se-á à tomada
de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nessa
ordem, ressalvado o disposto no art. 222 do Código de Processo Penal, bem como aos esclarecimentos
dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando, em seguida, o acusado
(CPP, arts. 400, 411 e 531). Com a reforma processual penal, portanto, os atos probatórios passaram a ser
concentrados numa única audiência. (ii) Comparecendo, nessa audiência concentrada, a testemunha
para depor é identificada. (iii) Identificada, deverá prestar o compromisso de dizer a verdade e ser
advertida das penas do falso testemunho. Se não for advertida, ter-se-á uma mera irregularidade, que não
vicia o ato, e não exime a testemunha de eventual responsabilidade pelo falso testemunho. (iv) As partes
poderão contraditá-la, devendo decidir o juiz se a ouve ou não. (v) Caberá primeiramente à parte que
arrolou a testemunha e não ao juiz realizar as perguntas. O sistema presidencialista, em que as perguntas
das partes eram formuladas por intermédio de um magistrado, restou superado com a reforma
processual penal. Assim, tal como sempre sucedeu no interrogatório realizado no Plenário do Júri, as
partes formularão as perguntas diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem
induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida
(CPP, art. 212, caput). Trata-se do sistema de inquirição direta, chamado de cross-examination, de
inspiração norte-americana. Desse modo, o juiz continua com o poder de fiscalização, podendo, de ofício
ou a requerimento das partes, impedir que as indagações com aquelas características sejam respondidas
pela testemunha. [...] (vi) Quando a testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intérprete
para traduzir as perguntas e respostas (CPP, art. 193). (vii) Se for surdo, mudo ou surdo-mudo, procede-se
na forma do art. 192 do CPP. (viii) A recusa em prestar o depoimento caracteriza crime de desobediência”.

5.5.11 Inversão da ordem de inquirição das testemunhas

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60


(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art.
222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.

A leitura do artigo deixa claro que, no que se refere à oitiva das testemunhas, inicia-se pela inquirição das
testemunhas de acusação, passando-se, depois, a ouvir as de defesa. Eis, portanto, a ordem legal.

A ressalva do artigo 222 do CPP se refere à testemunha que tenha de ser ouvida por carta precatória. Quando
isso ocorrer, pode-se ouvir a referida testemunha independentemente da ordem, uma vez que a expedição
de carta precatória não suspende a instrução criminal (§ 1º).

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Há, ainda, outro caso em que se permite a inversão, previsto no artigo 225 do CPP. Se refere à possibilidade
de o juiz tomar antecipadamente o depoimento de testemunha que tenha de “ausentar-se, ou, por
enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista”.

A não observância da ordem de inquirição é causa de nulidade relativa, dependendo, para seu
reconhecimento, da demonstração de prejuízo.

Apesar do exposto, é importante ressaltar que a jurisprudência entende que eventual


inversão da ordem de oitiva das testemunhas é causa de mera nulidade relativa, sendo
indispensável a comprovação do prejuízo. E o que acontece, por exemplo, quando todas
as testemunhas arroladas pela defesa são meramente abonatórias, sem qualquer
conhecimento acerca do fato delituoso. Nesse caso, sobretudo quando houver a
concordância do advogado de defesa, não há falar em nulidade do processo por conta
da inversão da ordem de oitiva das testemunhas. Como já se manifestou o Supremo, se
de um lado é certo que as testemunhas da acusação devem ser ouvidas antes das da
defesa, de outro não menos correto é que a nulidade decorrente da inobservância desta
ordem pressupõe prejuízo. Havendo as testemunhas da defesa declarado desconhecer
o acusado, descabe falar em prejuízo (Lima, 2021).

GUSTAVO BADARÓ entende ser incabível a alteração na ordem de inquirição diante da ausência de testemunha
da acusação no ato:

Há divergência doutrinária, porém, no caso em que não compareça uma das testemunhas de
acusação. Diante da previsão de que toda a prova será produzida em audiência una, duas
soluções seriam possíveis: (1) ouvir todas as testemunhas presentes, primeiro as de acusação e
depois as de defesa, designando-se nova audiência para a oitiva da testemunha faltante; (2) ouvir
apenas as testemunhas de acusação presentes, designando-se nova audiência, na qual seriam
ouvidas a testemunha de acusação faltante e as testemunhas de defesa. Em suma, a divergência
é se as testemunhas de defesa presentes na primeira audiência deverão ser dispensadas ou se
serão ouvidas.

A corrente que admite a possibilidade de oitiva de todas as testemunhas presentes, mesmo que
isso acarrete a inversão na ordem de oitiva de testemunhas, fundamenta-se na busca de
celeridade que, sem dúvida, foi um dos fins da reforma do CPP. Por outro lado, a corrente oposta,
que entende que as testemunhas de defesa deverão ser ouvidas somente na nova audiência,
depois das testemunhas de acusação faltantes, fundamenta tal ponto de vista na preservação da
ampla defesa. Não se pode admitir que a celeridade seja justificativa para tudo, mormente para
a supressão de garantias do acusado. O processo deve se desenvolver em prazo razoável, o que
não pode significar uma busca pela celeridade máxima. Para se respeitar o direito ao processo
em prazo razoável, a busca da celeridade não pode violar outras garantias processuais como a
ampla defesa, numa aceleração antigarantista. Além disso, de qualquer forma, será necessária a
designação de uma nova audiência, o que fará com que, em termos globais, o processo demore
o mesmo tempo, quer as testemunhas de defesa sejam ouvidas na primeira audiência, quer
prestem seu depoimento na segunda audiência. Em suma, não se deve aceitar que, em caso de

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não comparecimento de uma das testemunhas de acusação, se possa inverter a ordem de oitiva
de testemunhas, colhendo-se o depoimento das testemunhas de defesa presentes, para
somente depois, em outra audiência, ouvir a testemunha de acusação faltante (Badaró, 2020).

OFFICIUM - Juiz de Direito (TJ RS)2012. Em audiência realizada para coleta de


prova oral, o magistrado iniciou a formulação das perguntas antes das partes.
Com base na reforma implantada pela Lei nº 11.690/2008, que eliminou o sistema
presidencialista de inquirição de testemunhas no processo penal, indaga-se: a)
deu-se afronta a princípios do processo penal? Fundamente sua resposta. b)
consoante entendimento do Supremo Tribunal Federal, o ato foi nulo:
Fundamente sua resposta.

5.6 DIREITO AO CONFRONTO E PRODUÇÃO DE PROVA


TESTEMUNHAL INCRIMINADORA

Enquanto boa parte da doutrina não comenta, esse tema é muito bem explorado por RENATO BRASILEIRO DE
LIMA (que toma por base as lições de DIOGO RUDGE MALAN). É por isso que suas lições, aqui, serão aproveitadas
na íntegra, em aprofundamento da matéria.

O direito ao confronto (em inglês, right of confrontation) é o direito fundamental do


acusado a presenciar e participar da colheita da prova oral contra ele produzida em
audiência pública. Por força do direito ao confronto, entende-se que o acusado tem o
direito de confrontar quaisquer pessoas que prestem declarações testemunhais
incriminadoras contra ele, ou seja, todo o saber testemunhal incriminador passível de
valoração pelo juiz deve ser produzido de forma pública, oral, na presença do julgador
e do acusado e submetido à inquirição deste último. Logo, a declaração de uma
determinada testemunha não pode ser admitida como elemento de prova contra o
acusado, a não ser que ela tenha sido prestada nas sobreditas condições. Portanto, é
irrelevante a qualificação jurídico-formal que o ordenamento jurídico atribua a essa
pessoa (v.g., ofendido, informante, corréu, delator, declarante, testemunha, assistente
da acusação, perito, assistente técnico, etc.): havendo produção de prova testemunhal
contra o acusado, há de se assegurar a observância do direito ao confronto. Apesar de
não estar previsto expressamente na Constituição Federal, encontra-se consagrado em
diversos tratados internacionais de proteção aos Direitos Humanos: art. 6°, n° 3, alínea
"d", da Convenção para a proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades
Fundamentais (Convenção Europeia de Direitos Humanos), art. 14, n° 3, alínea "e", do
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e art. 8°, n° 2, alínea "f', do Pacto de São
José da Costa Rica (Dec. 678/92). Segundo DIOGO RUDGE MALAN, o direito ao confronto
possui conteúdo normativo multifacetado, consubstanciando-se no direito fundamental
do acusado:
1) à produção da prova testemunhal em audiência pública: essa publicidade atende a
duas finalidades - do ponto de vista do processo em que a prova está sendo colhida
(endoprocessual), essa publicidade reduz os riscos de produção de declarações sob

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coação, além de servir como incentivo para a veracidade das testemunhas; do ponto de
vista extraprocessual, a publicidade assegura a transparência da gestão probatória
judicial, facilitando seu controle social e contribuindo para uma percepção social
respeitosa acerca da legitimidade do aparato judicial. Sobre o assunto, o art. 204 do CPP
prevê que o depoimento será prestado oralmente, valendo lembrar que, por força da
Constituição Federal, deve ser assegurada ampla publicidade aos atos processuais, pelo
menos em regra (art. 93, IX);
2) a presenciar a produção da prova testemunhal: da interpretação do art. 217 do CPP,
denota-se que, em regra, a audiência deve ser produzida com a presença do acusado,
preservando-se, assim, seu direito de presença, consectário lógico da autodefesa e da
ampla defesa. Porém, não se trata de direito absoluto. De fato, como visto acima, se o
juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério
constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa
forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do
seu defensor (CPP, art. 217, caput);
3) à produção da prova testemunhal na presença do julgador do mérito da causa: o juízo
de valor sobre a credibilidade do testemunho é formado não só a partir do conteúdo
deste último, como também da observação do comportamento da fonte de prova ao
prestá-lo. Daí a importância da inserção do princípio da identidade física do juiz no
processo penal, assegurando que o juiz que presidiu a instrução profira sentença (CPP,
art. 399, § 2°);
4) à imposição do compromisso de dizer a verdade às testemunhas: malgrado não
represente uma garantia absoluta de veracidade, a prestação do compromisso
desestimula depoimentos falsos, sobretudo diante da advertência geralmente feita pelo
juiz quanto à sanção penal cominada ao crime de falso testemunho (reclusão, de dois a
quatro anos, e multa). A previsão do compromisso de dizer a verdade consta
expressamente do art. 203 do CPP;
5) a conhecer a verdadeira identidade das fontes de prova testemunhal: o conhecimento
da qualificação da testemunha é essencial para a efetividade tanto de seu exame
cruzado quanto da argumentação da defesa técnica sobre a credibilidade dessa fonte,
ao ensejo da subsequente fase de valoração da prova testemunhal. Assim, só com o
conhecimento sobre a real identidade das testemunhas pode o acusado arguir sua falta
de credibilidade, decorrente de uma série de fatores tais como interesse pessoal em
incriminar o acusado, relações de parentesco com as partes processuais, etc. A
propósito desse direito de se conhecer a identidade da testemunha, o art. 203 do CPP
diz que a testemunha será perguntada sobre seu nome, idade, estado, residência,
profissão, lugar onde exerce sua atividade, etc. Por sua vez, o art. 205 do CPP também
prevê que, na hipótese de dúvida sobre a identidade da testemunha, deve o juiz
proceder à verificação pelos meios ao seu alcance.
6) a inquirir as fontes de prova testemunhal desfavoráveis, de forma contemporânea à
produção da prova testemunhal: proporciona ao acusado uma oportunidade para
questionar a fonte de prova testemunhal desfavorável logo após o seu testemunho ser

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prestado, servindo a dois propósitos distintos. Quanto à credibilidade da fonte de prova,


seu objetivo é demonstrar ao julgador do mérito da causa que ela não é confiável, por
qualquer motivo. Por outro lado, quanto aos fatos narrados, o propósito da inquirição é
mitigar os efeitos desfavoráveis do depoimento sobre o julgador, extraindo-se eventuais
inconsistências ou contradições do relato da testemunha, forçando-a a modificar seu
relato ou até mesmo admitir a inverdade de alguma de suas declarações. Ademais, o
exame por parte do acusado ainda se presta ao papel de tentar obter informações
favoráveis a ele, não relatadas pela testemunha até então. Sobre esse desdobramento
do direito ao confronto, o art. 212 do CPP assegura às partes o direito de formular
perguntas diretamente à testemunha;
7) direito do acusado de se comunicar de forma livre, reservada e ininterrupta com o
seu defensor técnico, durante a inquirição das testemunhas: durante o depoimento
podem ser prestadas declarações cuja falsidade ou incorreção só o acusado consegue
detectar. Nesse caso, o acusado deve poder relatar de imediato tais falsidades ou
incorreções ao seu defensor técnico, a fim de que este último tenha tempo hábil para
explorá-las, durante o exame cruzado da testemunha. Esse direito de comunicação do
acusado com seu defensor técnico é decorrência lógica do princípio da ampla defesa
(autodefesa), sendo obrigatória sua observância inclusive em relação aos atos
processuais praticados por videoconferência. De fato, o art. 185, § 5°, do CPP, assegura
o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja
no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.

5.6.1 Testemunhas anônimas e direito ao confronto

Segundo DIOGO RUDGE MALAN, compreende-se por testemunha anônima aquela cuja
identidade verdadeira - compreendendo nome, sobrenome, endereço e demais dados
qualificativos - não é divulgada ao acusado e ao seu defensor técnico. Esse anonimato é
determinado para se prevenir ou impedir a prática de eventuais ilícitos contra as
testemunhas (v.g., coação processual, ameaça, lesões corporais, homicídios, etc.),
possibilitando, assim, que seu depoimento ocorra sem qualquer constrangimento,
colaborando para o necessário acertamento do fato delituoso. Ainda segundo o autor,
''tal anonimato testemunhal em regra é acompanhado do uso de procedimentos
judiciários que impedem o acusado e seu defensor técnico de vislumbrar o semblante
da testemunha, e de recurso tecnológicos que distorcem a voz dela durante o seu
depoimento em juízo. Ademais disso, aqueles sistemas probatórios que permitem a
produção de fontes de prova oral anônimas no julgamento também costumam impor
restrições quanto às linhas de questionamento que podem ser utilizadas pelo acusado,
ao ensejo da inquirição dessas fontes, a fim de evitar a identificação delas próprias ou
da sua atual residência". Essas medidas são adotadas com o objetivo de se prevenir a
prática de atos ilícitos contra testemunhas por parte do acusado ou de pessoas a ele
associadas, tais como coação processual, ameaça, lesões corporais, homicídio, etc. No
Brasil, de acordo com a Lei nº 9.807/99, que versa sobre a proteção à vítimas e a

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testemunhas ameaçadas, dentre diversas medidas aplicáveis isolada ou


cumulativamente em benefício da pessoa protegida, segundo a gravidade e as
circunstâncias de cada caso, é possível a preservação de sua identidade, imagem e
dados pessoais (Lei no 9.807/99, art. 7º, inciso IV). Essa decretação do anonimato do
depoente deve ser compreendida como uma medida de natureza excepcional, que só
deve ser admitida quando houver fundados indícios de ameaças à integridade física e
moral da testemunha. Na verdade, como dispõe a própria Lei nº 9.807/99 (art. 2°, caput),
"a proteção concedida pelos programas e as medidas dela decorrentes levarão em conta
a gravidade da coação ou da ameaça à integridade física ou psicológica, a dificuldade de
preveni-las ou reprimi-las pelos meios convencionais e a sua importância para a
produção da prova". Aliás, o Brasil é signatário da Convenção das Nações Unidas Contra
o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo) de 2000, a qual foi
incorporada ao nosso ordenamento jurídico pelo Decreto n° 5.015/2004. Em seu art. 24,
esse tratado determina que cada Estado-Parte adote medidas para a proteção eficaz
contra atos de violência ou intimidação das testemunhas que depõem sobre infrações
previstas na própria Convenção e de seus familiares. Dentre tais medidas protetoras de
testemunhas se incluem aquelas destinadas a "impedir ou restringir a divulgação de
informações relativas a sua identidade e paradeiro" (art. 24, nº 2, alínea "a"). Por sua vez,
de acordo com o Provimento nº 32/2000, da Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de
São Paulo, relativo à proteção de vítimas ou testemunhas de crimes que admitem a
prisão temporária, caso essas vítimas ou testemunhas sejam coagidas ou ameaçadas
em decorrência de seus depoimentos e assim o desejarem, não terão seus dados
qualificativos registrados nos respectivos termos de depoimento, e sim em autos
cartorários apartados (art. 3°), aos quais só poderão ter acesso o Ministério Público e o
defensor técnico constituído pelo acusado (art. 5°). Com a reforma processual de 2008,
a proteção às testemunhas e vítimas ameaçadas foi reforçada. De fato, segundo a nova
redação do art. 201, § 6º, do CPP, "o juiz tomará as providências necessárias à
preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo,
inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras
informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios
de comunicação". De maneira semelhante, segundo o art. 217, caput, do CPP, "se o juiz
verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério
constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa
forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do
seu defensor". Como se percebe, em se tratando de testemunhas anônimas, haverá
evidente restrição à publicidade do ato processual, justificada pelo dever estatal de
proteção às testemunhas, evitando-se que seja potencializado qualquer risco de
violência ou intimidação ao depoente. Na verdade, "se o Estado não tem condições de
garantir, totalmente, a segurança da vítima e das testemunhas que vão depor, é preciso
que o magistrado tome tais providências, valendo-se dos princípios gerais de direito e
do ânimo estatal vigente de proteger as partes envolvidas num processo criminal''. Essa
hipótese de publicidade restrita não afronta a Constituição Federal. Afinal, é a própria

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Carta Magna que autoriza que a lei possa limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos em que haja interesse
social (CF, art. 93, IX, c/c art. 5°, LX). Na hipótese de testemunhas anônimas, esse
interesse social na proteção de seus dados está consubstanciado pela proteção à
integridade física e moral da testemunha e pela própria realização do jus puniendi. Em
todas as hipóteses acima mencionadas de testemunhos anônimos, conquanto haja
restrição à presença do acusado, afigura-se obrigatória a presença do defensor quando
da produção da prova testemunhal, devendo-se franquear a ele o acesso aos dados
qualificativos da testemunha. Isso porque, de nada adianta assegurar ao defensor a
possibilidade de fazer reperguntas às testemunhas, se o advogado não tem
conhecimento de quem é a testemunha. Ora, como poderá o advogado fazer o exame
cruzado, se não tem consciência de quem está prestando o depoimento? Como poderá
o advogado aferir o saber testemunhal sem conhecimento de seus dados pessoais? A
nosso juízo, portanto, e de modo a se assegurar o direito à ampla defesa (CF, art. LV),
pensamos que a ocultação da identidade de testemunhas ou vítimas não poderá
alcançar o advogado, o qual ficará responsável pela preservação desses dados. Em
sentido contrário, BEDÊ JÚNIOR E SENNA sustentam que, em casos extremos, havendo
provas concretas de ameaça à integridade física e à própria vida das testemunhas,
vítimas e informantes, pode-se restringir o acesso à identidade do depoente até mesmo
em relação ao advogado, com base na ponderação de interesses, sobretudo quando os
outros meios existentes para a proteção não se mostrarem eficazes, como o
depoimento à distância, a ocultação de endereço, etc. De acordo com os autores, "em
tais situações a proteção em relação aos direitos fundamentais das testemunhas e a
própria realização do jus puniendi terão especial densidade, a justificar a adoção de
medida tão extrema, mormente quando se está diante de crimes de elevadíssima
danosidade social". Em julgado recente acerca do assunto, o Supremo Tribunal Federal
manifestou-se favoravelmente à colheita de prova testemunhal com a preservação do
sigilo dos dados qualificativos da testemunha em relação ao acusado, assegurado,
todavia, o acesso às informações por parte do advogado constituído. Na visão do
Supremo, a preservação do sigilo quanto à identidade de uma das testemunhas teria
sido adotada devido ao temor de represálias, sendo que sua qualificação foi anotada
fora dos autos com acesso restrito aos juízes de direito, promotores de justiça e
advogados constituídos e nomeados. Reputou-se legítima a providência adotada pelo
magistrado com base nas medidas de proteção à testemunha previstas na Lei n°
9.807/99. Devido ao incremento da criminalidade violenta e organizada, o legislador
passou a instrumentalizar o juiz em medidas e providências tendentes a,
simultaneamente, permitir a prática dos atos processuais e assegurar a integridade
físico-mental e a vida das pessoas das testemunhas e de coautores ou partícipes que se
oferecem para fazer a delação premiada.

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5.6.2 Testemunhas ausentes e direito ao confronto

Testemunha ausente é aquela que, por motivo qualquer, não comparece pessoalmente
para prestar seu depoimento durante o julgamento do acusado. Suponha-se, por
exemplo, que determinada testemunha, ouvida durante o curso do inquérito policial,
falece antes de seu depoimento ser colhido em juízo. Discute-se, quanto à testemunha
ausente, sobre a possibilidade de o magistrado levar em consideração declarações
anteriores dessa testemunha, tais como aquelas registradas em declarações pretéritas,
termos de depoimento, gravações, etc. Prevalece o entendimento de que, caso a
impossibilidade da colheita de seu depoimento seja resultado da prática de atos ilícitos
praticados pelo próprio acusado, ou por pessoas a ele associadas, teria havido renúncia
tácita ao exercício do direito ao confronto, daí por que referido depoimento prestado na
fase investigatória seria admitido em juízo como se fosse prova. Assim, comprovando-
se que o acusado praticou ou consentiu na prática de ato ilícito que impediu o
comparecimento pessoal da testemunha, ou comprometeu sua liberdade de declarar
dela em juízo, sua declaração anterior deve ser admitida em juízo, sob pena de se
premiar o acusado pela sua própria torpeza. Se, todavia, a impossibilidade de
comparecimento da testemunha para prestar depoimento decorre de fato acidental ou
neutro, ou por conta da demora na tramitação do feito, tal fato não deve ser considerado
idôneo para convalidar de forma retrospectiva a declaração testemunhal colhida sem
observância ao direito ao confronto. Nesse caso, não se pode querer premiar o órgão
persecutório estatal com a admissão de declarações extrajudiciais, quando a
indisponibilidade da testemunha é causada, em certo sentido, pelo próprio aparato
estatal. Nessa hipótese, então, a doutrina entende que a questão deve ser resolvida à
luz da divisão do ônus da prova. Logicamente, tem a acusação a possibilidade de
proceder à colheita desse depoimento, enquanto a testemunha ainda está disponível,
requerendo a realização de incidente jurisdicional de produção antecipada de prova,
nos termos do art. 225 do CPP. Nesse caso, como vimos no tópico atinente à
terminologia da prova, o acusado será notificado para comparecer ao ato processual
acompanhado de seu defensor técnico para, querendo, exercer o direito ao confronto,
preservando-se, assim, a ampla defesa e o contraditório. Se a autoria delitiva ainda não
tiver sido estabelecida, afigura-se plausível a nomeação de defensor dativo para atuação
no ato processual. Esse defensor deve ter acesso a todos os dados amealhados pelo
Estado até aquele momento. Nessa hipótese de produção da prova antecipada nos
termos do art. 225 do CPP, caso a testemunha venha a se revelar indisponível à época
do processo judicial, tal depoimento deve ser tratado como prova válida, porquanto o
acusado teve a oportunidade de confrontá-la. Como se vê, então, aos olhos da doutrina,
as declarações da testemunha ausente são, em regra, inadmissíveis em juízo,
independendo de haver ou não disponibilidade da testemunha para depor em juízo ou
do caráter imprevisível de eventual indisponibilidade. Admitir em juízo essas
declarações prestadas pela testemunha ausente fora do processo judicial implica
transigir com o direito ao confronto e com as garantias da ampla defesa e do
contraditório. Há, todavia, duas exceções à regra da inadmissibilidade de

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aproveitamento de depoimentos anteriores da testemunha ausente: a) a prática de ato


ilícito, pelo acusado ou com o consentimento dele, que tenha acarretado a ausência da
testemunha; b) a colheita do testemunho em incidente jurisdicional de produção
antecipada de prova (CPP, art. 225), que proporcione ao acusado uma oportunidade
adequada para confrontar a testemunha ausente. Não obstante a posição doutrinária,
é bom destacar que, na visão dos Tribunais Superiores, elementos de informação
produzidos na fase investigatória sem a observância do contraditório, da ampla defesa
e do direito ao confronto, podem ser usados de maneira subsidiária para formar a
convicção do magistrado, complementando a prova produzida em juízo sob o crivo do
contraditório. Como já se pronunciou a 2ª Turma do STF, os elementos do inquérito
podem influir na formação do livre convencimento do juiz para a decisão da causa
quando complementam outros indícios e provas que passam pelo crivo do contraditório
em juízo. A Lei no 11.690/08, ao inserir o advérbio exclusivamente no corpo do art. 155
do CPP, acaba por confirmar a posição jurisprudencial que vinha prevalecendo.
Destarte, pode-se dizer que, isoladamente considerados, elementos informativos não
são idôneos para fundamentar uma condenação. Todavia, não devem ser
completamente desprezados, podendo se somar à prova produzida em juízo e, assim,
servir como mais um elemento na formação da convicção do órgão julgador (Lima,
2018).

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “Ainda no que tange
a esta classificação doutrinária, duas outras espécies merecem destaque. São elas as testemunhas
anônimas e as testemunhas ausentes. [...] Testemunha anônima. A testemunha denominada
impropriamente pela doutrina de ‘testemunha anônima’ é aquela cujos dados são colocados sob sigilo
em relação ao imputado. Trata-se de um plus à proteção legal que deve ser dada a vítimas e testemunhas,
visando assegurar que elas não serão ameaçadas nem lesionadas pelo indiciado ou acusado. Não há
propriamente anonimato, haja vista que a identidade da testemunha não é desconhecida dos órgãos da
Justiça. O que se colima é acautelar a testemunha ou a vítima contra investidas do indiciado ou acusado
nas hipóteses de ameaça grave ou de violência física, protegendo seus dados para que seja atingido este
fim específico. Preocupação da doutrina com a providência de preservação dos dados da testemunha, é
relativamente ao direito ao confronto. Entendemos que a proteção dos dados não deve ser ao ponto de
impedir o acesso do advogado a eles. Em outras palavras, o sigilo não alcança o profissional da advocacia
no exercício de seu mister. Naturalmente, que o advogado, ciente dos dados, tem a responsabilidade de
assegurar a manutenção do segredo relativamente ao seu cliente. Sobre o ponto, o STF já se manifestou
mais de uma vez, no sentido de não haver nulidade quanto ao depoimento de ‘testemunha anônima’,
quando assegurado o acesso dos dados ao juiz, membro do Ministério Público e advogado do acusado
(não ao acusado!), a fim de que seja assegurado o direito constitucional ao contraditório (direito ao
confronto). Testemunhas ausentes. Testemunha ausente é aquela que, ouvida no curso da investigação
preliminar (sem contraditório), falece sem que seja ouvida no curso do processo pelo juiz. A regra que é a
de que a prova testemunhal, para assim ser considerada, deva ser reproduzida em juízo, submetendo-a
ao direito ao confronto, à formação em procedimento contraditório. [...] Prevalece o entendimento
segundo o qual a prova colhida na investigação preliminar não é suficiente, por si só, para fundamentar
condenação, salvo as cautelares (eis que produzidas sob o crivo do contraditório, como a tomada de
depoimento ad perpetuam rei memoriam, em casos de iminência de morte do depoente), as provas
irrepetíveis e as antecipadas (também sob contraditório perante juiz). A doutrina aponta, todavia,
hipóteses em que o depoimento de testemunha ausente prestado no curso de inquérito policial pode ser
considerado como modo retrospectivo de declaração testemunhal, obtida sem o direito ao confronto,

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notadamente quando a impossibilidade de tomada do depoimento testemunhal tiver sido causada em


razão de conduta ilícita atribuída ao próprio acusado ou por pessoas ligadas a ele, a fim de não findar por
admitir comportamento que viole a vedação de se lograr benefício a partir da própria torpeza.
Logicamente, caso a impossibilidade da colheita do depoimento testemunhal seja por fato estranho à
esfera de conhecimento do imputado (tal como o atraso atribuído a órgão estatal da persecução penal),
as declarações da testemunha prestadas no curso do inquérito policial, sem oportunização do
contraditório, não terão o mesmo valor daquelas obtidas judicialmente”.
GUSTAVO BADARÓ (Processo penal, 8ª ed., São Paulo: RT, 2020), a respeito da delação ou chamamento de
corréu, leciona: “Na delação ou chamamento do corréu, na parte em que o acusado reconhece que
praticou o delito, há simples confissão. Já ao atribuir o cometimento do crime a outra pessoa o delator
age como se fosse testemunha. Por tal motivo, afirma-se que, na parte em que formula a declaração
contra o corréu, o ato tem a natureza de prova testemunhal. Pensamos de forma diversa. O delator não é
testemunha na parte em que faz a delação. Seria uma testemunha que não presta o compromisso de
dizer a verdade (art. 203) e não poderia cometer o crime de falso testemunho (CP, art. 342)! Além disso,
por óbvio, tratar-se-ia de ‘testemunha’ que não poderia ser contraditada. Finalmente, seria uma
testemunha que não pode ser arrolada pelas partes. O corréu não tem a característica de terceiro, exigida
de toda e qualquer testemunha, sendo inegável o seu interesse no processo. Por tal motivo, Manzini
entende: “(...) não ser conveniente, além de ser ilógico, dar valor de testemunho às declarações do corréu
em relação ao fato alheio, seja por razões de moralidade, seja para evitar fáceis e frequentes tentativas de
vingança, de extorsões e de chantagem de terceiros, ou porque não se pode presumir no imputado a
liberdade moral que se pressupõe da testemunha.” De qualquer forma, sendo equiparada à prova
testemunhal, para que tenha validade contra o delatado, é necessário que a delação seja submetida ao
contraditório (CR, art. 5º, LV). A parte do interrogatório em que ocorreu a delação deverá ser produzida em
contraditório, dando oportunidade para que as partes, e, principalmente, o defensor do acusado delatado,
formulem perguntas ao delator, como se tratasse de uma testemunha arrolada pela acusação (CPP, art.
212). Se a delação não for produzida em contraditório, não poderá ser considerada prova – no caso, prova
testemunhal sui generis – apta a fundamentar a sentença. Diante na nova redação do art. 188 do CPP,
deve ser assegurado o direito de reperguntas ao defensor do corréu que foi delatado no interrogatório de
outro acusado. O dispositivo não prevê as reperguntas ‘do defensor do interrogado’, mas das ‘partes’, o
que, por certo, inclui os outros acusados”.

6. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS

6.1 CONCEITO
O primeiro conceito do verbo ‘reconhecer’ no dicionário AURÉLIO explica bem o que representa esse instituto
no processo penal:

1 - Conhecer novamente (por certas particularidades) que uma pessoa ou coisa é a


mesma que noutro tempo nos foi conhecida.

A ideia é exatamente essa. No processo penal, reconhecimento é o ato pelo qual um indivíduo descreve,
verifica e identifica outra pessoa ou coisa que lhe é apresentada, como sendo aquela que viu no passado.

Trata-se de medida cabível tanto nas investigações quanto no curso da ação penal (instrução), como
estabelecem os arts. 6º, VI e 226 do CPP:

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Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

Curial mencionar a colocação de RENATO BRASILEIRO no sentido de que o reconhecimento não se confunde com
a figura do retrato falado:

O reconhecimento de pessoas e coisas não se confunde com o retrato falado. Este é


formado a partir de informações prestadas ao perito por pessoa que tenha visto o autor
do delito, sendo considerado não um meio de prova, mas sim um meio de investigação
(Lima, 2017).

6.2 PROCEDIMENTO
O procedimento (rito), está descrito no art. 226 do CPP, que dispõe:

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á


pela seguinte forma:

I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva
ser reconhecida;

II - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que
com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a
apontá-la;

III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de
intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida,
a autoridade providenciará para que esta não veja aquela;

IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela


pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

Parágrafo único. O disposto no nº III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal
ou em plenário de julgamento.

Em vista do conteúdo desse artigo, GUSTAVO BADARÓ concebe o reconhecimento como um procedimento de
três fases: descrição, comparação e indicação. O autor tece importantes considerações sobre cada uma
dessas fases:

A primeira etapa do reconhecimento pessoal é a descrição da pessoa a ser reconhecida


(CPP, art. 226, I). Trata-se de fase obrigatória, sendo imperativo o inciso I: “a pessoa que
tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser

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reconhecida”. Deve-se procurar obter o máximo de elementos possíveis sobre a pessoa


a ser identificada. Esta fase é fundamental, pois o reconhecimento envolve um ato de
percepção passada e um ato de memória. [...]
A segunda fase é de comparação. A pessoa a ser reconhecida deve ser colocada, se
possível, ao lado de outras que tenham as mesmas características. A providência, nos
termos do inciso II, não seria obrigatória, mas facultativa, devendo ser realizada, se
possível. Todavia, sem a realização da segunda fase, a terceira fase também ficará
impossibilitada, sendo ínfimo o valor probatório do ‘reconhecimento’ que seja realizado
em tal caso. [...]
Por fim, na terceira fase, deverá a pessoa que procede ao reconhecimento indicar, entre
as pessoas postas em comparação, qual foi efetivamente reconhecida, devendo a
identidade desta constar do termo a ser lavrado (CPP, art. 226, II, parte final) (Badaró,
2017).

Note que o inciso IV prevê a necessidade de lavratura de auto pormenorizado das ocorrências do
reconhecimento, assinado pela autoridade e por mais duas testemunhas. Entende a doutrina, contudo, que
as exigências desse inciso se aplicam apenas ao reconhecimento perante a autoridade policial, porquanto
na fase judicial o ocorrido é devidamente relatado no próprio termo de audiência/ata de julgamento, com a
concomitante ciência das partes.

Interessante registrar que o parágrafo único do art. 226 do CPP – que veda a aplicação do inciso III em sede
de instrução criminal ou plenário de julgamento – é alvo de críticas doutrinárias, porquanto nada justificaria
essa vedação legal à proteção do reconhecedor fora da fase investigatória. A esse respeito, GUILHERME NUCCI:

A não aplicabilidade da preservação do reconhecedor frente ao reconhecido na fase


judicial, como menciona o art. 226, parágrafo único, do CPP, é inviável. Vale registrar ser
totalmente incompreensível a vedação estabelecida para a preservação da imagem do
reconhecedor frente ao reconhecido em juízo. Como leciona, com pertinência,
TORNAGHI, a medida foi injustificável, demonstrando que a lei brasileira preferiu seguir
“servilmente” a italiana (Compêndio de processo penal, t. III, p. 921). Em sentido oposto,
estando de acordo com a vedação e alegando “razões óbvias”, sem as enumerar, no
entanto, está a posição de TOURINHO FILHO (Comentários ao Código de Processo Penal,
v. 1, p. 432). [...] Portanto, cremos que o referido art. 226, parágrafo único, do CPP, deve
ser interpretado em sintonia com as demais normas existentes, no processo penal
brasileiro, inclusive sob o espírito de proteção trazido pela Lei 9.807/99, permitindo até
mesmo a troca de identidade de pessoa ameaçada, para que seu depoimento seja isento
e idôneo. Defendemos que a leitura deste dispositivo deve ser no sentido da
possibilidade do reconhecimento em juízo ser feito, com ou sem o isolamento do
reconhecedor, conforme as condições locais, enquanto, na polícia, o isolamento é
obrigatório (Nucci, 2015).

Em igual sentido, complementa FERNANDO CAPEZ, ao apontar que, na realidade forense, essa vedação não
costuma ser rigorosamente seguida:

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Na prática, principalmente em processos por crime de roubo, nos quais a palavra do


ofendido assume valor preponderante, já que não conhece o réu nem tem interesse em
prejudicá-lo, o inciso III do art. 226 tem sido largamente aplicado em audiência, sem que
até hoje se tenha determinado a nulidade (Capez, 2018).

Uma indagação: qual a consequência do não cumprimento dos requisitos elencados no art. 226 do CPP?
Trata-se de uma recomendação legislativa ou uma imposição legal para a validade da prova produzida?

A doutrina diverge no ponto. Uns entendendo


que se trata de recomendação, cuja mera
inobservância não invalida o ato, irregularidade¹
recomendação
representando mera irregularidade 2 correntes
processual. Outros, todavia, sustentando a forma legal -
nulidade*
necessidade do respeito às formalidades garantia
legais para validade do ato.

A jurisprudência amplamente majoritária adota o primeiro posicionamento (recomendação, mera


irregularidade). Pelo menos é isso que se consolida(va) até agora.

Entretanto, em outubro/2020, a Sexta Turma do STJ acabou por encampar, de maneira inédita – inclusive
com expressa menção e sugestão da necessidade de revisão da jurisprudência consolidada no sentido oposto
–, a segunda visão apresentada; qual seja, de que a “inobservância das formalidades legais para o
reconhecimento – garantias mínimas para o suspeito da prática de um crime – leva à nulidade do ato”.

Confira-se a esclarecedora parte inicial da ementa do aludido julgado – HC 598.886/SC:

1. O reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por fotografia, realizado na fase do


inquérito policial, apenas é apto, para identificar o réu e fixar a autoria delitiva, quando
observadas as formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo Penal e quando
corroborado por outras provas colhidas na fase judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa.

2. Segundo estudos da Psicologia moderna, são comuns as falhas e os equívocos que podem advir
da memória humana e da capacidade de armazenamento de informações. Isso porque a
memória pode, ao longo do tempo, se fragmentar e, por fim, se tornar inacessível para a
reconstrução do fato. O valor probatório do reconhecimento, portanto, possui considerável grau
de subjetivismo, a potencializar falhas e distorções do ato e, consequentemente, causar erros
judiciários de efeitos deletérios e muitas vezes irreversíveis.

3. O reconhecimento de pessoas deve, portanto, observar o procedimento previsto no art. 226


do Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se vê
na condição de suspeito da prática de um crime, não se tratando, como se tem compreendido,
de ‘mera recomendação’ do legislador. Em verdade, a inobservância de tal procedimento enseja
a nulidade da prova e, portanto, não pode servir de lastro para sua condenação, ainda que
confirmado, em juízo, o ato realizado na fase inquisitorial, a menos que outras provas, por si

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mesmas, conduzam o magistrado a convencer-se acerca da autoria delitiva. Nada obsta, ressalve-
se, que o juiz realize, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido
procedimento probatório.

As formalidades do ato devem, inclusive – e com ainda mais razão –, ser obedecidas nos reconhecimentos
por fotografia, mutatis mutandis. É dizer, revela-se inidôneo e de frágil sustentação probatória o
‘reconhecimento’ realizado com base na exibição de uma única fotografia ao reconhecedor 5.

Transpondo-se as providências elencadas no art. 226 do CPP, anteriormente a essa modalidade de


reconhecimento, deverá o reconhecedor descrever a fisionomia do autor do delito e, posteriormente a isso,
serão apresentadas fotografias de outros possíveis suspeitos. O reconhecimento, pois, não deve ser uma
mera ‘confirmação direcionada’, mas, sim, uma efetiva identificação, colhida em meio a outras possibilidades
e despida de prévio direcionamento pelos agentes estatais. Continua a ementa do referido julgado quanto
ao ponto:

[...] 4. O reconhecimento de pessoa por meio fotográfico é ainda mais problemático, máxime
quando se realiza por simples exibição ao reconhecedor de fotos do conjecturado suspeito
extraídas de álbuns policiais ou de redes sociais, já previamente selecionadas pela autoridade
policial. E, mesmo quando se procura seguir, com adaptações, o procedimento indicado no
Código de Processo Penal para o reconhecimento presencial, não há como ignorar que o caráter
estático, a qualidade da foto, a ausência de expressões e trejeitos corporais e a quase sempre
visualização apenas do busto do suspeito podem comprometer a idoneidade e a confiabilidade
do ato.

5. De todo urgente, portanto, que se adote um novo rumo na compreensão dos Tribunais acerca
das consequências da atipicidade procedimental do ato de reconhecimento formal de pessoas;
não se pode mais referendar a jurisprudência que afirma se tratar de mera recomendação do
legislador, o que acaba por permitir a perpetuação desse foco de erros judiciários e,
consequentemente, de graves injustiças.

[...] 7. Na espécie, o reconhecimento do primeiro paciente se deu por meio fotográfico e não
seguiu minimamente o roteiro normativo previsto no Código de Processo Penal. Não houve
prévia descrição da pessoa a ser reconhecida e não se exibiram outras fotografias de possíveis
suspeitos; ao contrário, escolheu a autoridade policial fotos de um suspeito que já cometera
outros crimes, mas que absolutamente nada indicava, até então, ter qualquer ligação com o
roubo investigado. [...] (HC 598866, 6ª Turma, Rel. Min. Rogério Schietti, 27/10/2020).

5
Apenas a título de curiosidade, atestando a fragilidade que um reconhecimento feito ao arrepio das formalidades
legais pode ostentar, um dos pacientes do referido HC, com 1,95m de altura, teria sido ‘reconhecido’, por foto, pelas
vítimas que alegavam que o referido agente possuiria 1,70m de altura – uma considerável (e extremamente
perceptível) diferença de 25cm.

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Sobre essa questão, a propósito, MOUGENOT já alertava sobre a necessidade de se evitar indevidas influências
no reconhecimento fotográfico:

A neutralidade no momento do reconhecimento é ponto importantíssimo, na medida


em que a exibição de fotografias à vítima ou testemunhas deve dar-se de modo a não
influenciar os reconhecentes. Recomenda Angel Prieto Ederra que, para garantir a
objetividade do reconhecimento, é aconselhável advertir o reconhecente de que o
suspeito pode não estar entre as fotografias que lhe serão exibidas no ato a que se
procederá, evitando-se assim que a pessoa se sinta inclinada a apontar o rosto mais
parecido com o do autor do fato criminoso, como se do próprio autor se tratasse. Deve-
se advertir o reconhecente, igualmente, e por outro lado, de que a pessoa a ser
reconhecida pode estar nas fotografias mas com aspecto diferente daquele em que fora
observado no momento do evento criminoso, ou seja, com mudança de penteado,
utilização de óculos etc., visando dificultar seu reconhecimento (Bonfim, 2013).

Ao cabo, podemos sintetizar o tema da seguinte forma:

✓ É consolidada a jurisprudência, tanto do STF quanto do STJ, acerca da desnecessidade de observação


das formalidades previstas no art. 226 do CPP para a validade do reconhecimento de pessoas. Seriam,
tais providências, sugestões legislativas.
✓ Em outubro/2020, de forma inédita, a 6ª Turma do STJ acabou por inaugurar entendimento em
sentido contrário; qual seja, de que o reconhecimento de pessoas (seja presencial, seja fotográfico)
deve obedecer às formalidades do art. 226 do CPP, sob pena de nulidade e consequente inviabilidade
da prova.
✓ Para além disso, ainda que o ato observe essas providências, o reconhecimento pessoal feito na fase
inquisitorial (assim como acontece com o reconhecimento fotográfico, em todos os casos) deverá ser
corroborado por elementos probatórios colhidos na fase judicial.

Confiram-se, por fim, as conclusões contidas no corpo do próprio julgado, que resumem a
posição agora adotada [grifos no original] e que, quiçá, represente uma futura guinada na
jurisprudência dos tribunais superiores:

1) O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento previsto no art. 226 do


Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem
se encontra na condição de suspeito da prática de um crime;

2) À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do


procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da
pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o
reconhecimento em juízo;

3) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado
o devido procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a
partir do exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado
de reconhecimento;

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4) O reconhecimento do suspeito por mera exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de


dever seguir o mesmo procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa
antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em
ação penal, ainda que confirmado em juízo (HC 598866).

Em suma:

✓ quanto ao reconhecimento pessoal - o momento é de possível mudança de compreensão no que diz


respeito às consequências da inobservância do procedimento do art. 226 do CPP (nulidade ou não),
mas não se pode dizer que a jurisprudência está consolidada
✓ quanto ao reconhecimento fotográfico - ele ainda é admitido, com ressalvas, devendo, na medida
do possível, seguir o procedimento do art. 226 adaptado e não podendo servir de única prova para a
condenação6.

Por fim, no que diz respeito ao reconhecimento de coisas, dispõe o art. 227 do CPP:

Art. 227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as cautelas estabelecidas no artigo


anterior, no que for aplicável.

CESPE – Delegado de Polícia Civil (PC MA)/2018. Dois homens — um


empunhando um revólver; o outro, uma faca — abordaram, por volta de 20h30 min
de determinado dia, duas moças que caminhavam em uma rua e as ameaçaram,
exigindo que lhes entregassem seus telefones celulares, tendo sido prontamente
atendidos. Comunicado o fato, a autoridade policial instaurou inquérito policial e,
dois dias depois, os investigadores chegaram aos dois suspeitos, conhecidos pela
contumácia na prática dessa ação criminosa. Levados os suspeitos à delegacia, as
vítimas prontamente os reconheceram como autores dos roubos, mas sem que a
autoridade policial observasse as normas do Código de Processo Penal que
regulam o procedimento de reconhecimento de pessoas (art. 226 do Código de
Processo Penal). A partir da situação hipotética acima apresentada, elabore um
texto fundamentado no posicionamento dos tribunais superiores, respondendo
aos seguintes questionamentos. 1 Em que consiste o reconhecimento de pessoa?
2 Em que fase da persecução penal deve ocorrer o reconhecimento de pessoa? 3
Dadas as circunstâncias descritas na situação hipotética em apreço, poderá haver
nulidade no auto de reconhecimento de pessoa e, em consequência disso, a
anulação do processo penal instaurado com base no inquérito policial?

6
Convenhamos: toda prova tem valor relativo e normalmente nenhuma pode servir de fundamento isolado para a
condenação de ninguém. É o conjunto, o contexto probatório como um todo que deve traduzir o veredicto. A
credibilidade, o ‘valor’ de cada prova quem outorga, em cada caso concreto, é o juiz (livre convencimento motivado).
Quer nos parecer, então, que boa parte dessa discussão estaria superada caso houvesse uma adequada apreciação
dos standards de prova – do ‘quanto’ se exige, em termos probatórios, para se superar o estado de inocência. A
discussão não deveria ser exatamente se o reconhecimento fotográfico é válido, por exemplo (qualquer juiz com bom
senso deve saber que essa prova é precária). Deveria ser: de que forma e em que circunstâncias foi feito o
reconhecimento fotográfico e o que mais é preciso para uma convicção plena, acima de qualquer dúvida razoável,
para efeito de condenação.

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6.3 RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO E FONOGRÁFICO


Apesar de não contarem com previsão legal expressa, têm-se admitido essas modalidades de
reconhecimento como próprio corolário dos princípios da liberdade probatória (seriam provas inominadas,
segundo alguns autores) e da busca da verdade.

O reconhecimento por foto segue a mesma sorte em relação ao valor probatório, sendo visto com certa
cautela e parcimônia pelos tribunais, ante a natureza de sua produção, que é indireta. Nesse sentido, leciona
RENATO MARCÃO, elencando a visão dos tribunais superiores sobre o tema:

Ainda que bem formalizado, não se trata de reconhecimento direto, daí seu resultado
apresentar mero indício, prova indireta da autoria, a ser confirmada em juízo por outros
elementos de convicção. O Pretório Excelso e o Superior Tribunal de Justiça têm se
pronunciado reiteradamente nessa linha de raciocínio, conforme demonstram as
ementas que seguem: O reconhecimento fotográfico do acusado [realizado na fase
inquisitorial], quando ratificado em juízo, sob a garantia do contraditório e da ampla
defesa, pode servir como meio idôneo de prova para lastrear o édito condenatório (STF,
HC 104.404/ MT, 1ª T., rel. Min. Dias Toffoli, j. 21-9-2010, DJe 230, de 30-11-2010). O
reconhecimento fotográfico tem valor probante pleno quando acompanhado e
reforçado por outros elementos de convicção (STF, HC 74.267/ SP, 2ª T., rel. Min.
Francisco Rezek, j. 26-11-1996, DJ de 28-2-1997). O reconhecimento fotográfico,
acompanhado de outras provas, justifica o regular processamento da ação penal e pode
servir de elemento de convicção do Juiz (STJ, HC 120.867/ SP, 5ª T., rel. Min. Adilson Vieira
Macabu, j. 6-12-2011, DJe de 3-2-2012). Nos moldes da jurisprudência desta Corte, o
reconhecimento fotográfico do acusado, quando ratificado em juízo, sob a garantia do
contraditório e ampla defesa, pode servir como meio idôneo de prova para formar a
convicção do magistrado e lastrear o édito condenatório, notadamente quando
corroborado por outros elementos probatórios, inexistindo, portanto, ilegalidade
manifesta a ser reparada (STJ, HC 248.400/ DF, 5ª T., rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
18-9-2012, DJe de 21-9-2012) (Marcão, 2017).

Em igual sentido, NESTOR TÁVORA:

O reconhecimento através de fotografia tem se tornado expediente comum. Os álbuns


realizados pela polícia remontam verdadeiro acervo de identificação de infratores. É
prova inominada, e segundo o STF e o STJ, pode ser utilizada, desde que corroborado
por outros elementos de prova, em face de sua precariedade. Deve obedecer, por
analogia, às regras do reconhecimento de pessoas (art. 226, CPP). [...] Quanto ao
reconhecimento pela voz (clichê fônico), este pode ser também uma ferramenta
importante, notadamente quando os criminosos estiverem encapuzados ou, o que tem
sido mais comum, utilizando capacete, nos crimes praticados por motociclistas. Da
mesma forma, deve ser encarado como prova inominada, devendo ser analisado em

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conjunto com os demais elementos probatórios, além de se utilizar, por analogia, o


procedimento do reconhecimento de pessoas (Távora, 2017).

O STF, no HC 157007/SP (rel. Min. MARCO AURÉLIO, em julgamento do dia 06/8/2019), assentou da seguinte
forma:

A utilização do meio fotográfico como base a implicar a condenação pressupõe a existência de outras provas, obtidas sob o crivo do
contraditório, aptas a corroborá-lo, revelando-se insubsistente o pronunciamento lastreado exclusivamente nesse meio de prova. O
Supremo Tribunal Federal, em diversas oportunidades, assentou a inadmissibilidade do reconhecimento fotográfico como único
fundamento a respaldar a condenação (HC 70.038, HC 70.936, HC 74.368 e HC 74.751) – Informativo 946.

De outro lado, em posição mais austera, BADARÓ afirma que o reconhecimento fotográfico não é prova
atípica, mas um meio de prova irritual, o qual não poderia servir de fundamento para a condenação:

Todavia, o reconhecimento fotográfico não é uma prova atípica, mas um meio de prova
irritual, que vulnera o procedimento probatório previsto no art. 226, substituindo a
segunda fase de comparação fotográfica. Não se trata, pois, de um simples caso de
prova atípica, que seria admissível ante a regra do livre convencimento judicial. As
formalidades de que se cerca o reconhecimento pessoal são a própria garantia da
viabilidade do reconhecimento como prova, visando a obtenção de um elemento mais
confiável de convencimento. Diante da vulneração do procedimento probatório previsto
no art. 226, o reconhecimento fotográfico não pode servir como fundamento para a
condenação (Badaró, 2017).

Bom, não vamos mais longe nessa discussão. Apenas fazemos remissão, mais uma vez, ao HC 598866, 6ª
Turma, Rel. Min. Rogério Schietti, julgado em 27/10/2020, que pode ser (só o tempo dirá) um ‘divisor de
águas’ na compreensão da jurisprudência em relação à matéria.

Em relação ao reconhecimento fonográfico, BRASILEIRO atesta a sua utilidade:

Supondo-se um crime praticado por criminosos encapuzados, ou usando capacetes, é


possível que a vítima faça o reconhecimento do acusado através de sua voz. Mais uma
vez, deve ser usado o procedimento probatório previsto para o reconhecimento de
pessoas. Seu valor probatório é relativo, sendo inviável que um decreto condenatório
esteja lastreado única e exclusivamente em um reconhecimento fonográfico.

Ainda, o autor toma o cuidado de evitar que se confunda o reconhecimento fonográfico com o exame pericial
sobre a autenticidade da voz:

Importante esclarecer que esse reconhecimento fonográfico não se confunde com o


exame pericial de verificação de locutor (ou de autenticidade de voz), tido como exame
pericial feito por perito oficial (ou por dois peritos não oficiais) para verificar se a voz

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gravada em interceptações telefônicas judicialmente autorizadas provém (ou não) do


aparelho fonador de determinada pessoa (Lima, 2017).

Doutrina complementar

VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012): “Há dois tipos de
reconhecimento de pessoas ou coisas: O informal, que, na prática, se realiza na própria audiência de
testemunhas, quando o juiz pergunta, por exemplo, em audiência se a testemunha reconhece o réu ou a
arma do crime. Esse reconhecimento é confirmatório porque somente complementa o depoimento ou a
declaração. Havendo necessidade de assegurar ao reconhecimento maior certeza e, especialmente, se
houver dúvida a respeito da identificação de pessoa ou coisa, deve ser feito o reconhecimento formal
previsto nos arts. 226 a 228 do Código. A pessoa que tiver de fazer o reconhecimento deverá descrever a
pessoa ou coisa a ser reconhecida. A pessoa ou coisa a ser reconhecida será colocada, sempre que possível,
entre outras semelhantes. Em seguida, a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento deverá apontá-la.
Se houver receio, no caso de reconhecimento de pessoa, de que o confronto possa intimidar a pessoa que
vai fazer o reconhecimento, esta poderá ser colocada em lugar reservado, afastada da presença da outra.
De tudo lavrar-se-á auto circunstanciado, assinado pela pessoa chamada a proceder ao reconhecimento
e por duas testemunhas. Se várias pessoas forem chamadas a fazer o reconhecimento, cada uma fará a
prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas”.
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), a respeito do reconhecimento
por fotos, sustenta: “Assim, doutrinariamente forçoso é concluir que o reconhecimento fotográfico (com
evidente cautela) constitui, na realidade, mais uma das provas inominadas. No entanto, convém ressaltar
que o reconhecimento fotográfico, isoladamente (sem outras provas), não pode ensejar uma sentença
condenatória. Inexiste qualquer empecilho em se considerar este tipo de prova, na medida em que, como
já afirmado em outros tópicos específicos, o rol de provas elencado no Código de Processo Penal é
meramente exemplificativo”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 12ª edição, São Paulo: Método, 2020). “O delegado de polícia, à revelia
de ordem judicial, pode ordenar a condução coercitiva de pessoas? A matéria é controvertida. Alguns
entendem que o delegado, quando necessitar, deve postular ao juiz que ordene a condução coercitiva de
qualquer pessoa (salvo o investigado para fins de interrogatório, em razão da citada deliberação do STF) à
sua presença. Argumenta-se, neste caso, que a condução implica forma de privação da liberdade,
procedimento este que, abstraída a situação de flagrante delito, não pode ser realizado sem ordem
judicial. Outros, ao contrário, sustentam que o art. 144, § 4º, da Constituição Federal, atribuiu às polícias
civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais. Sendo assim, deve ser facultado à autoridade policial adotar todas as providências
necessárias para que seja realizada tal apuração (ressalvadas, por óbvio, aquelas sobre as quais incide a
reserva de jurisdição), até mesmo a própria condução de testemunhas e vítimas para prestar informações
sobre o fato investigado. Concordamos com esta última orientação”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017) vê com reservas o
reconhecimento por voz: “O CPP não trata especificamente do reconhecimento de voz; não há forma
prevista para esse tipo de prova. Eventualmente a voz gravada poderá ser reconhecida por uma
testemunha, mas esse será um indício muito leve, anêmico, que, por si, no mais das vezes, não conduzirá
a um juízo de certeza a respeito de autoria delitiva. Havendo necessidade, o que se pode fazer é prova
pericial comparativa. Essa sim, depois de materializada em laudo formal pormenorizado, poderá levar à
elucidação da autoria. Cabe ressaltar que a situação aqui tratada não se confunde com aquela em que a
gravação de voz decorre de escuta telefônica judicialmente autorizada, em que não há dúvida a respeito
da identidade dos interlocutores”.
EUGÊNIO PACELLI & DOUGLAS FISCHER. (Comentários ao código de processo penal e sua jurisprudência, 13ª
ed., São Paulo: Atlas, 2021), em relação ao direito de confronto e o reconhecimento de pessoas,
registram: “No entanto, a realidade dos dias que correm (nem sempre foi assim?) estão a comprovar
inúmeras situações nas quais as vítimas – e não apenas as testemunhas – são revitimizadas,

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sistematicamente, por meio de ameaças contra si e seus familiares. Não são poucas as vezes em que a Lei
do silêncio, imposta a todos que tenham qualquer conhecimento dos fatos, impede, eficazmente, a
intervenção penal, sobretudo e particularmente, naqueles crimes praticados no cotidiano de
organizações ou grupos instituídos para tais finalidades. Nesses casos, e na exata medida em que seja
necessário proteger a vítima (e testemunhas, familiares etc.), deve-se afastar a regra do confronto,
justificando-se a redução na aplicação de um princípio constitucional (ampla defesa) em face da
preferência de outros (direitos individuais fundamentais) àqueles casos concretos antes mencionados.
Perfeitamente válida a exceção em comento, devendo ser evitado reconhecimento da testemunha pelo
réu, ressalvadas as observações relativas aos depoimentos na instrução criminal, e, sobretudo, a regra do
art. 217, CPP”. A respeito do reconhecimento na instrução e plenário de julgamento, ponderam: “Nosso
Código é uma colcha de retalhos, diante das inúmeras alterações que foram feitas ao longo do tempo de
sua edição. Em princípio, o reconhecimento de pessoas seria realizado, inicialmente, na fase de
investigação, até para possibilitar o convencimento do parquet. A sua realização em juízo parece rejeitada
na atual configuração dos procedimentos. É que todos os atos de instrução devem ser realizados de uma
única assentada – uma única audiência (art. 400). Assim, o dispositivo em comento afasta a aplicação da
regra do reconhecimento à instrução criminal e ao plenário do Júri, permitindo, porém, a sua adoção na
fase preliminar do processo da competência do Tribunal do Júri. Ora, tanto na instrução criminal quanto
no plenário do Júri, espera-se a presença do acusado, sobretudo porque se trata de direito dele. Assim,
estando ele presente, as testemunhas que deporão no ato poderão proceder à sua (dele) identificação
física. Supõe-se, então, superada já a fase de investigação e realizado o reconhecimento do réu, se e
quando presentes dúvidas quanto a ela (identificação). Daí ser desnecessária a adoção do procedimento
naquelas fases do processo. De outro lado, nos recintos em que se realizam os aludidos atos processuais
não há, como regra, ambientes separados para o depoimento. Por isso, aplicável, por simetria, e se
necessário, a norma do art. 217, CPP”.

7. ACAREAÇÃO

7.1 CONCEITO
Acarear é confrontar, é colocar frente a frente, ou ‘cara a cara’, na linguagem coloquial.

Trazendo esse conceito para o processo penal, nas palavras de EDILSON MOUGENOT BONFIM, acareação é o “ato
pelo qual se colocam frente a frente duas ou mais pessoas cujas declarações sobre fatos ou circunstâncias
relevantes sejam conflitantes, a fim de que expliquem os pontos de divergência” (Bonfim, 2013).

É, portanto, um meio de prova com o propósito de expurgar quaisquer inconsistências e conflitos que
tenham surgido entre e a partir dos relatos e declarações dos depoentes.

O artigo 229 do CPP estabelece as hipóteses em que é admissível a acareação:

Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, entre acusado e testemunha, entre
testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas,
sempre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes.

Parágrafo único. Os acareados serão reperguntados, para que expliquem os pontos de


divergências, reduzindo-se a termo o ato de acareação.

Ou seja, consolidando o dispositivo de lei, a acareação pode acontecer entre réus, vítimas e testemunhas.

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A doutrina concebe, com base na parte final do artigo 229, pressupostos a serem observados para que se
possa realizá-la. MARCÃO sintetiza:

Pressuposto da acareação é a preexistência de declarações formalizadas nos autos, nas


quais se identifique divergência sobre fatos ou circunstâncias relevantes para a
reconstrução da verdade. Objeto da acareação, portanto, são as divergências existentes
nas declarações que se antagonizam. A divergência sobre fato irrelevante ou
impertinente não autoriza a providência, porquanto inútil para o julgamento da causa
(Marcão, 2017).

Lembre-se que a acareação pode também ocorrer, assim como o reconhecimento, em sede de inquérito
policial, conforme art. 6º, VI do CPP:

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

7.2 PROCEDIMENTO
Qualquer das partes pode requerer a realização de acareação, assim como também é possível que o
magistrado a determine ex officio.

O procedimento em si nada mais é do que o previsto no parágrafo único do art. 229 acima transcrito: os
acareados são perguntados novamente sobre pontos específicos e relevantes de suas narrativas, a fim de
que expliquem as divergências de seus relatos.

Nas lições de VICENTE GRECO FILHO: “Perante as pessoas acareadas, o juiz exporá os pontos divergentes e
solicitará esclarecimentos ou confirmação do que fora afirmado anteriormente, lavrando-se termo do
ocorrido. Os acareados poderão ser reperguntados pelas partes sobre os pontos discordantes” (Filho, 2012).

Ainda, conforme art. 230 do CPP, a acareação é possível por meio de carta precatória; ou seja, entre pessoas
de Comarcas e até mesmo Estados diversos:

Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de outra, que esteja
presente, a esta se darão a conhecer os pontos da divergência, consignando-se no auto o que
explicar ou observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar
onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se as declarações desta e as da testemunha
presente, nos pontos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim de que se
complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida para a
testemunha presente. Esta diligência só se realizará quando não importe demora prejudicial ao
processo e o juiz a entenda conveniente.

Tal possibilidade, contudo, não escapa de críticas. Nesse sentido, NUCCI:

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Segundo cremos, se algum valor pode haver na acareação é justamente a colocação de


duas pessoas, cujos depoimentos são contraditórios, frente a frente, para que o
magistrado tenha a oportunidade de perceber, inclusive através de pequenos gestos
corporais e faciais, frases e estado de espírito, quem está mentindo e quem fala a
verdade. Realizado o ato por precatória, a prova é esvaziada em grande parte, restando
pouca chance de ter sucesso. Assim, inicialmente, o magistrado colhe as respostas
acerca das contradições da pessoa presente, para, depois, expedir precatória à
autoridade judiciária de onde se encontra a pessoa ausente, que poderá esclarecer, na
sua visão, as divergências existentes. É possível ocorrer duas situações: a) a pessoa
presente está na Comarca do juiz do feito e a ausente em outra. Convoca o magistrado
a residente na sua esfera de jurisdição, ouvindo-a sobre as contradições existentes. Se
tudo ficar esclarecido devidamente, nenhuma outra providência é tomada; b) ouve o juiz
a pessoa presente; persistindo as contradições, expede-se precatória para outro
magistrado ouvir a pessoa ausente, porque reside em Comarca diversa.

Por fim, o autor relembra a possibilidade de que a acareação também ocorra por videoconferência, com o
advento da Lei 11.900/2009:

Atualmente, a edição da Lei 11.900/2009 viabilizou a realização de acareação por meio


da videoconferência, de modo que se torna desnecessária a utilização da precatória (art.
185, § 8º, CPP). É lógico que as Comarcas envolvidas (onde se encontram os acareados)
devem possuir o equipamento para tanto. Enquanto esse material inexistir, permanece
o envio da precatória como única forma para a acareação à distância (Nucci, 2015).

7.3 VALOR PROBATÓRIO


Assim como todos os demais meios de prova, a acareação tem valor relativo. Entretanto, a prática tem
revelado que a acareação dificilmente logra êxito em cumprir o seu objetivo, o que acaba por afetar o seu
valor como meio de prova. A doutrina, a esse respeito, é unívoca. Veja o que afirma TÁVORA:

Na prática, o valor probatório da acareação se reduz porque os envolvidos costumam


sustentar as versões de suas declarações ou depoimentos. De todo modo, o produto da
acareação, seja transcrito, seja gravado em sistema audiovisual, será aferido de forma
relacionada com as demais provas dos autos (Távora, 2017).

BRASILEIRO, no mesmo sentido:

Doutrina e jurisprudência são uníssonas em afirmar que a acareação dificilmente


conduz à solução das controvérsias entre os depoentes, na medida em que os acareados
costumam reiterar o que haviam dito anteriormente, sendo raras as vezes em que

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retificam seus depoimentos. Quanto ao seu valor probatório, oriundo de eventual


retificação de um depoimento, ou até mesmo pela impressão pessoal do juiz sobre as
reações e maneira de proceder de um dos acareados, temos que seu valor assemelha-
se àquele concedido à prova testemunhal e às declarações do acusado e do ofendido,
conforme se tratar, respectivamente, de testemunha, acusado e vítima (Lima, 2017).

E MARCÃO:

Se eficaz, a acareação pode revelar eficiente meio de prova, mas a realidade é que, na
prática, em regra é de nenhum efeito, visto que os acareados normalmente acabam
mantendo a versão original, de modo a não resolver as divergências (Marcão, 2017).

Eis questão discursiva acerca do tema:

CESPE – Delegado de Polícia (PC AL)/2012. Discorra,


fundamentadamente, sobre o instituto da acareação. Ao elaborar
seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos: 1-
conceito e discussões sobre a natureza jurídica; 2- os acareados; 3-
pressupostos; 4- procedimento.

Doutrina complementar

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019) tece interessantes
considerações gerais sobre a acareação: “Não é o indiciado ou o réu obrigado a participar da acareação,
porquanto ninguém está obrigado a fazer prova contra si mesmo, conforme o princípio nemo tenetur se
detegere (privilege against self-incrimination), decorrente da combinação dos princípios da presunção
do estado de inocência (art. 5º, LVII), ampla defesa (art. 5º, LV), com o direito ao silêncio do acusado (art. 5º,
LXIII). [...] No ato de acareação, os acareados serão reperguntados acerca dos pontos de divergência,
reduzindo-se a termo suas declarações (art. 229, parágrafo único, do CPP). Quando ausente um dos
acareados, pode-se proceder à ‘acareação indireta’, que a rigor não constitui acareação, já que não haverá
confrontação entre os acareados. Nessa modalidade, ao acareado presente será relatado o que houver de
divergente entre seu relato e o do acareado ausente, consignando-se nos autos a sua explicação ou
observação. Subsistindo a discordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar em que resida o
acareado ausente, se se situar este em local conhecido, a fim de que seja ouvido, pela mesma forma
estabelecida para o que se fazia presente. Na precatória deverão ser transcritas as declarações de ambos
os acareados, nos pontos em que divergirem, bem como a resposta do acareado presente (art. 230 do
CPP). Essa diligência só será realizada caso não importe demora prejudicial ao processo e o juiz a julgue
conveniente (art. 230, in fine). Em princípio, a acareação deve ocorrer oralmente, de modo a colher
esclarecimentos espontâneos, evitando-se eventual conluio entre os acareados ou a premeditação das
declarações por qualquer deles”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 12ª edição, São Paulo: Método, 2020). “Não há como constranger alguém
a submeter-se ao procedimento da acareação, confirmando ou negando fatos anteriormente declarados,
sejam acusados, testemunhas ou ofendidos. Nada impede, contudo, que sejam tais sujeitos conduzidos à
Delegacia de Polícia ou ao Juízo na hipótese de não comparecimento injustificado. Em síntese, embora
não se possa obrigar alguém a participar do ato, isto não significa que não exista obrigação de a ele fazer-
se presente. Inclusive, em relação ao acusado, há previsão expressa no art. 260 do CPP de que, se não
atender à intimação para qualquer ato que, sem ele, não possa ser realizado (e aí se inclui a acareação
quando envolver contradições em depoimento por ele prestado), a autoridade poderá mandar conduzi-
lo à sua presença, possibilidade esta que se estende, igualmente, ao ofendido (art. 201, § 1º, do CPP) e à

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testemunha (art. 218 do CPP). Atente-se que, consoante mencionamos no tópico 8.15.1 deste Capítulo, o
STF, no julgamento da ADPF 395/ DF e da ADPF 444/ DF, declarou não recepcionado o art. 260 do CPP no
que toca à possibilidade de condução coercitiva do investigado ou do réu apenas para fins de ser
interrogado. Logo, em tese, tal proibição não alcança a possibilidade de condução coercitiva para outros
atos em que é necessária sua presença, inclusive para acareação que envolva depoimentos seus
anteriores. De qualquer forma, dado ao caráter recente das deliberações do STF, é preciso acompanhar a
evolução da jurisprudência sobre o tema”. Ainda, a respeito da possibilidade de o membro do Ministério
Público presidir acareações, assevera: “Questão relevante respeita à possibilidade de o representante do
Ministério Público presidir acareações. Entendemos que tal possibilidade existe apenas quando estiver
ele instruindo expediente de investigação criminal formalmente instaurado no âmbito da Promotoria de
Justiça. Fora essa hipótese, não poderá presidir o ato, cabendo, na fase do inquérito, requisitá-lo à
autoridade policial, e, na fase judicial, requerê-lo ao juízo”.

8. PROVA DOCUMENTAL

8.1 CONCEITO
Os documentos são tratados pelo Código de Processo Penal no seu Capítulo IX, do art. 231 ao art. 238.

É possível conceituar documento de forma ampla e de forma estrita. Criam-se, pois, as figuras
do documento lato e stricto sensu, e, a depender da forma conceitual empregada, alarga-se ou
estreita-se o rol de objetos contemplados.

Para BADARÓ: “Em sentido amplo, documento é qualquer suporte material que represente um
fato juridicamente relevante. É todo e qualquer objeto que serve para demonstrar a verdade
de um fato, como escritos, fotografias, pinturas, filmes... Em sentido estrito, documento são os
escritos que servem como prova em juízo” (Badaró, 2017).

Dentro do processo penal, é possível afirmar que o CPP, no seu art. 232, apenas faz menção aos documentos
em sentido estrito:

Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou


particulares.

Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo valor


do original.

Todavia, como adverte CAPEZ, emprega-se, nos dias atuais, o conceito mais amplo de documento para que
se considere as demais formas de expressão e manifestação do pensamento humano:

Atualmente, lança-se mão de um conceito mais amplo, segundo o qual os documentos


compreendem não só os escritos, mas também qualquer forma corporificada de
expressão do sentimento ou pensamento humano, tais como a fotografia, a filmagem,
a gravação, a pintura, o desenho, o e-mail etc. (Capez, 2018).

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Nessa mesma esteira, NORBERTO AVENA tece importantes considerações:

O art. 232 do CPP define documento como escritos, instrumentos ou papéis, públicos
ou particulares. Não obstante esta definição, na atualidade vem-se considerando como
documento lato sensu tudo aquilo capaz de retratar determinada situação fática, sejam
papéis, sejam arquivos digitalizados na forma da Lei 12.682/2012 (que disciplina a
digitalização, o armazenamento em meio eletrônico, óptico ou equivalente e a
reprodução de documentos públicos e privados), seja por meio de áudio ou vídeo, v.g.,
um DVD com imagens relativas ao fato imputado. Qualquer coisa, enfim, capaz de
representar um ato ou um fato. Tal amplitude é importante, já que, em se considerando
tais elementos como documentos, sua juntada aos autos deve seguir as mesmas regras
atinentes à da prova documental (Avena, 2017).

Convém lembrar que o Código de Processo Penal remonta à década de 1940. A restrição do art. 232, ao
considerar como documento apenas os escritos em papel, não mais se coaduna com o atual estado da
sociedade e com todas as evoluções ocorridas até os dias atuais.

Por derradeiro, dentro da definição de documento, importante se faz separar os conceitos de instrumentos
e de papéis ou documentos acidentais. Novamente, nas lições de BADARÓ:

Os documentos escritos podem ser instrumentos ou papéis. Instrumentos são os


escritos confeccionados com a finalidade de provar determinados fatos (por exemplo,
uma escritura), enquanto os papéis são os escritos que não foram produzidos com o fim
determinado de provar um fato, mas que vêm a servir de prova (por exemplo, uma carta)
(Badaró, 2017).

No mesmo sentido, BRASILEIRO registra:

O conceito de documento não se confunde com o de instrumento. Instrumentos são


documentos confeccionados com o objetivo de fazer prova, funcionando como
documentos pré-constituídos (v.g., contratos). Diferenciam-se, portanto, dos
documentos eventuais ou acidentais (meros papéis), os quais não são produzidos com
o intuito de fazer prova de determinados fatos (probatórios ou escritos ad probationem),
podendo, todavia, ser utilizados para tanto (v.g., uma correspondência particular) (Lima,
2017).

Doutrina complementar

EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012): “Documento, em
sentido amplo, é todo objeto material que condense em si a manifestação de pensamento ou um fato,
reproduzindo-o em juízo. O conceito amplo, adotado pela doutrina majoritária, é mais abrangente do que
aquele adotado pelo Código de Processo Penal, que faz referência apenas a escritos, instrumentos e

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papéis, públicos ou particulares (art. 232, caput). Escrito é uma representação indireta, codificada em sinais
linguísticos (letras, palavras, frases), que faz referência a determinado fato, transmitindo sobre ele alguma
informação. Instrumentos são documentos constituídos com a finalidade específica de que sirvam,
posteriormente, de prova. Já os papéis são, no sentido técnico, os documentos cuja função primeira não
era constituir prova, mas que incidentalmente assim possam ser aproveitados. Nessa concepção, pouco
importa se lhes sirvam de substrato folhas confeccionadas em papel ou em qualquer outro material. O
conceito adotado pela doutrina, além dessas espécies de documento, abrange também todo tipo de
material visual, auditivo ou audiovisual, bem como informações registradas em meios mecânicos, ópticos
e magnéticos de armazenamento etc., adequando as novas tecnologias à disposição da Justiça”.
EUGÊNIO PACELLI & DOUGLAS FISCHER. (Comentários ao código de processo penal e sua jurisprudência, 13ª
ed., São Paulo: Atlas, 2021). “Do ponto de vista formal, qualquer escrito, grafia, símbolos, sinais, figuras ou
outro tipo de reproduções gráficas podem se qualificar como documentos, desde que originais. Não há
exigência processual de definição vernacular específica do documento, sendo a referência explicativa do
art. 232, CPP, logo adiante, mera exemplificação de sentido. Na verdade, semelhante qualificação já
implicaria um indicativo de idoneidade daquilo que se contém como linguagem ou qualquer forma de
expressão, artística, cultural ou de outra natureza, em papéis ou equivalentes. Tanto podem ser
consideradas documento uma correspondência quanto uma gravura subscrita por alguém. Do mesmo
modo, também poderão ser consideradas documento a fotografia, uma gravação de vídeo ou de áudio,
sobretudo quando constituírem o objeto material do delito. Aqui, muito mais importante que uma
definição conceitual é o esclarecimento das consequências jurídicas atribuídas a determinados papéis
e/ou equivalentes, utilizados para o registro de informação ou linguagem”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016) faz interessantes
apontamentos sobre algumas formas específicas de manifestação humana que não seriam consideradas
como documentos: “Não é documento o parecer de jurista renomado. O parecer apenas tece argumentos
jurídicos favoráveis às teses de uma das partes. Não se destina a provar, demonstrativamente, o fato, mas
se cuida de simples opinião sobre a plausibilidade do direito vertido na demanda, não preenchendo os
requisitos da legislação para ser considerado documento. Constitui-se o parecer jurídico em um reforço
de argumentação. Também não é documento, por não ser revestido de seus requisitos e características
(relevância jurídica para o fim de ingressar no mundo do direito), o material jornalístico ou de mídia
(reportagens) sobre o fato objeto do caso penal. Pacelli, a propósito, aplaude a vedação de que tais
recursos sejam apresentados no Tribunal do Júri, notadamente porque os jurados são leigos e decidem
sem justificar seus votos”.

8.2 ESPÉCIES
Várias são as espécies de documentos:

a) original: são os documentos apresentados na sua forma genuína, fiel à sua fonte produtora;

b) cópia: reproduções dos documentos originais. São as fotocópias, as impressões, arquivos escaneados.
Conforme parágrafo único do art. 232 do CPP (acima transcrito), se devidamente autenticadas, essas cópias
possuem o mesmo valor do documento original.

AURY LOPES JR., todavia, registra que, como regra geral, tem-se dispensado a autenticação das cópias:

Atualmente, predomina o (acertado) entendimento de que as fotocópias não necessitam


de autenticação, exceto quando colocada em dúvida sua veracidade, circunstância em
que a parte interessada na produção dessa prova deverá providenciar os originais ou
fotocópias autenticadas (Júnior, 2018).

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Ademais, TÁVORA traz algumas considerações interessantes sobre pontos bem específicos desse tema:

A pública-forma, que é uma cópia de escrito avulso, extraída por oficial público, só terá
valor quando conferida com o original, na presença da autoridade (art. 237, CPP).
Havendo a conferência, a pública-forma fica nos autos, dispensando-se a retenção do
original. De outro lado, os microfilmes de documentos particulares e públicos, assim
como as certidões, os traslados e as cópias fotográficas obtidas diretamente dos filmes
produzirão os mesmos efeitos legais dos documentos originais em juízo ou fora dele,
conforme dispõe a Lei nº 5.433/1968 (Távora, 2017).

c) Público: é o documento emitido por funcionário público no exercício de suas funções. Para que seja
considerado como tal, necessita cumprir alguns requisitos:

Tem como requisitos: a qualidade de funcionário público de quem o redige; a sua


competência na matéria e no território; a formação do ato durante as suas funções
públicas; e a observância das formalidades legais exigidas na espécie. Caso falte ao
documento público qualquer requisito legal para sua autenticidade, será considerado
documento particular, desde que devidamente assinado (Lima, 2017).

Interessante, a título de complementação, notar as disposições do Código Penal sobre a figura dos
“documentos públicos por equiparação”. Trata-se do artigo 297, § 2º, que dispõe:

§ 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade


paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial,
os livros mercantis e o testamento particular.

Os documentos públicos gozam de presunção relativa (juris tantum) de autenticidade; ou seja, admitem
prova em contrário e podem ser submetidos a perícias, havendo fundada suspeita de falsificação (Távora,
2017).

d) Particular: são os documentos elaborados e emitidos por particulares; ou seja, por exclusão, são os
documentos que não são públicos e nem equiparados a esses. Em relação aos documentos particulares,
sempre que contestada a sua autenticidade, serão eles submetidos a exame pericial, nos termos do art. 235
do CPP.

MOUGENOT BONFIM levanta importante questão a respeito dos documentos nominativos e anônimos. Para o
autor, mesmo os escritos anônimos podem ser considerados, efetivamente, como ‘documentos’, sem
prejuízo das cautelas necessárias quando de sua valoração:

O documento pode ser, segundo cremos, nominativo – que possui o nome de quem o
produziu – ou anônimo – que não possui a indicação de quem o materializou. Há
doutrina sustentando que o documento anônimo não pode ser assim considerado,
como ocorre com os escritos anônimos (BENTO DE FARIA, Código de Processo Penal, v.

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1, p. 329), embora não seja essa a melhor opinião. Uma fotografia, por exemplo,
retratando determinada situação importante para o desfecho de um processo pode ser
juntada aos autos, mesmo que não se saiba quem a produziu. Ainda assim é um
documento. Logicamente, um escrito anônimo terá de ser cuidadosamente avaliado
pelo magistrado, visto não ter o mesmo valor do documento nominativo. Entretanto, o
fato de não se saber quem o escreveu não o torna inútil, nem lhe retira o aspecto
documental de uma ideia reduzida em base material. Imagine-se alguém que tenha
presenciado um homicídio e, não desejando ser reconhecido, envia carta anônima à
polícia; graças a isso, localiza-se o autor, que ampla e espontaneamente confessa seu
ato. Torna-se importante fator de prova aquela carta, pois justifica o fato de o Estado-
investigação ter chegado a desvendar a autoria da infração penal, legitimando-a de
alguma forma. Não se quer absolutamente dar a esse documento anônimo o mesmo
valor que possui o nominativo, passível de confirmação, mas não deixa de ser, no
contexto probatório, um elemento a mais para a avaliação judicial. Somente não se deve
excluí-lo do conjunto das provas, visto que ilícito não é (Bonfim, 2013).

Outrossim, pertinentes as colocações de BRASILEIRO, citando MIRABETE, concernentes à valoração dos


documentos em geral:

A valoração de todo e qualquer documento passa pela análise de sua autenticidade e


pela verificação da veracidade dos fatos nele representados. Como leciona Mirabete,
“são requisitos indispensáveis do documento a verdade e a autenticidade. A verdade é
a existência real do que no instrumento se contém, se relata ou se expõe. A
autenticidade é a certeza legal de ser o escrito emanado da pessoa a quem o documento
é atribuído. Os documentos públicos têm a seu favor a presunção juris tantum de
autenticidade. Não se pode, assim, negar-se valor a tal prova para concluir-se coisa
diversa do que contém o documento público. O documento particular é autêntico
quando reconhecido por oficial público, quando aceito ou reconhecido por quem possa
prejudicar e quando provado por exame pericial (CPP, art. 235) (...)” (Lima, 2017).

Doutrina complementar

NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “a) Particular: aquele
produzido por particular, ou elaborado por funcionário público que não esteja no exercício de suas
funções. Uma vez contestada a autenticidade, a letra e a firma (assinatura) de tais documentos serão
submetidas a exame pericial (art. 235, CPP). b) Público: é o documento elaborado por funcionário público
no exercício funcional. Equiparam-se a documentos públicos para efeitos penais (documentos públicos
por equiparação), aqueles emanados de entidade paraestatal, o título ao portador, o transmissível por
endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular (art. 297, § 2º, CP).
Gozam de presunção relativa (juris tantum) de autenticidade, podendo se submeter a perícia, havendo
fundada suspeita de falsificação. c) Original: escrito na fonte originariamente produtora. Em se tratando
de escritura lavrada em livro de notas, a primeira certidão por inteiro teor ou traslado é, também,
considerada original. d) Cópia: é a reprodução do documento original. A xerox, o scanner e a impressão
têm sido vastamente utilizados para tal desiderato. Se a fotocópia estiver devidamente autenticada, terá
o mesmo valor que o original (art. 232, parágrafo único, CPP). [...] e) Nominativo: é aquele que contém o

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seu autor. f) Anônimo: não contempla a indicação do responsável. g) Escrito: meio de formação do
documento que toma corpo em papel escrito. h) Gráfico: o documento de forma através de fatos ou ideias
representadas por sinais, a exemplo de desenhos gráficos ou esquemas. e) Digital: os documentos
constituídos por intermédio de meios eletrônicos e softwares (inserido no conceito de documento em
sentido amplo). h) Direto: documento que representa de forma direta a coisa que pretende demonstrar,
tal como a fotografia. i) Indireto: documento que é criado pela mente de seu autor, tal como uma pintura.
j) Instrumental, probatório em sentido estrito ou escrito ad probationem: é o documento pré-constituído,
produzido com o cunho de servir de prova de um fato. Exemplo: contratos. k) Eventual ou acidental: é
aquele que foi produzido sem que houvesse motivação para servir de prova de determinado fato, mas
que, naturalmente, pode ser plenamente usado para fins probatórios. É o caso das correspondências e
das mensagens eletrônicas”.
GUSTAVO BADARÓ (Processo penal, 8ª ed., São Paulo: RT, 2020), a respeito dos documentos eletrônicos,
minudencia: “Na era da informática e, principalmente, da internet, cada vez mais tem se tornado
frequente a utilização dos chamados ‘documentos eletrônicos’, em especial os chamados e-mails.
Inicialmente, é de observar que o e-mail, isto é, a correspondência eletrônica enviada de um computador
para outro, pela internet, não possui um substrato material. O documento eletrônico pode ser entendido
como aquele que foi ‘gerado ou arquivado por sistema computadorizado, em meio digital. Os pontos
críticos desse tipo de documento são: a comprovação da identidade das partes (autoria e aceitação) e a
prova do seu conteúdo e da sua integridade.’ Não se trata, portanto, de um documento escrito, isto é, um
suporte cartáceo, que contenha signos estampados, nos termos do art. 232, caput, do CPP. O e-mail, como
documento eletrônico, não se confunde com o papel impresso pelo destinatário do e-mail, reproduzindo
o conteúdo do próprio e-mail. Neste caso, o que se tem é um documento particular, mais especificamente,
papéis, no conceito do art. 232, caput, do CPP, cuja autenticidade deve ser reconhecida pela parte, para
que possa ser tido como tal. A Medida Provisória n. 2.200-2, de 24.08.2001, que instituiu a Infraestrutura de
Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), estabelece, no seu art. 10, que ‘consideram-se documentos públicos
ou particulares, para todos os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata esta medida provisória’.
De acordo com a origem do e-mail, ele será um documento público (se emitido por um funcionário
público no exercício de suas funções) ou um documento particular (emitido por pessoa que não seja
funcionário público). De qualquer forma, tanto o documento eletrônico público quanto o documento
eletrônico particular gozam de ‘presunção de autenticidade’. O regime dos documentos eletrônicos
modifica as regras gerais do CPP, em que somente os documentos públicos presumem-se autênticos
(CPP, art. 235). No regime do documento eletrônico a diferenciação não leva em conta a origem de quem
o emitiu, mas sim o órgão emissor do certificado digital. O documento certificado pelo ICP-Brasil
presume-se autêntico (MP 2.200-2/2001, art. 10, § 1º), enquanto o documento certificado por outro meio de
comprovação de autoria e integridade será considerado autêntico e íntegro, ‘desde que admitido pelas
partes como válido ou aceito pela pessoa a quem for oposto os documentos’ (art. 10, § 2º). Em suma, os
documentos eletrônicos certificados por outro órgão que não seja o ICP-Brasil seguem o mesmo regime
do CPP para os documentos particulares. Outra importante diferença é que, em relação aos documentos
eletrônicos com certificação digital, não se aplica a distinção entre documento original e cópia, pois ‘os
documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com garantia da origem
e de seu signatário, na forma da lei, são considerados originais para todos os efeitos, nos termos do art. 11
da Lei 11.419/2006’”.

8.3 PRODUÇÃO DA PROVA DOCUMENTAL


O art. 231 do CPP deixa claro que, regra geral, as partes podem apresentar documentos a qualquer tempo
durante o processo:

Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar documentos em
qualquer fase do processo.

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Perceba a ressalva referente aos “casos expressos em lei”, nos quais há limitação a essa regra de liberdade
do momento de apresentação de documentos. Como típico caso dessa limitação – que já foi trabalhado
(princípio da liberdade probatória) – está o art. 479 do CPP. Relembre:

Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de
objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis,
dando-se ciência à outra parte.

Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro
escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou
qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à
apreciação e julgamento dos jurados.

Além disso, há outra limitação à produção de prova documental no art. 233 do CPP:

Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios criminosos, não serão
admitidas em juízo.

Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a
defesa de seu direito, ainda que não haja consentimento do signatário.

A bem da verdade, trata-se da própria inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos constante do
art. 5º, LVI da Constituição Federal. Essa inadmissibilidade, que também já foi abordada, não só constitui
robusta limitação à produção de prova documental, mas a qualquer outro meio de prova que se afigure
ilícito.

A doutrina concebe a produção da prova documental em duas formas: espontânea e provocada. RENATO
BRASILEIRO bem sintetiza essa divisão:

A produção da prova documental pode ser espontânea, com a exibição, juntada ou


leitura pela parte, ou provocada (coacta), tal qual preceitua o art. 234 do CPP: “Se o juiz
tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação ou da
defesa, providenciará, independentemente de requerimento de qualquer das partes,
para sua juntada aos autos, se possível”. É possível, ademais, que o magistrado
determine, de ofício ou mediante requerimento das partes, a busca e apreensão de
documento, nos termos do art. 240, § 1º, alínea “h”, do CPP. Havendo requerimento das
partes, cabe ao magistrado analisar a possibilidade legal, relevância da prova e
pertinência do documento (Lima, 2021).

A produção espontânea, pois, refere-se à própria liberdade probatória conferida às partes no processo penal,
enquanto a produção provocada decorre da iniciativa probatória conferida ao juiz.

Para PACELLI & FISCHER, a previsão do art. 234 do CPP, que possibilita a iniciativa do magistrado para a juntada
de documentos ex officio ao processo, não ofende o sistema acusatório:

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Não vemos inconstitucionalidade no presente dispositivo, cujo conteúdo nada mais faz que
compatibilizar o princípio acusatório com o princípio da investigação. Deles (princípios) se deduz
que: (a) o juiz não é parte e nem o protagonista da instrução; pelo contrário, as partes têm ônus
e faculdades processuais; e (b) nem pode o juiz e nem o tribunal substituir o Ministério Público –
órgão dotado das mesmas prerrogativas institucionais – suprindo-lhe os ônus da atividade
probatória; (c) por outro lado, já em razão do princípio da investigação, pode e deve o juiz (e
tribunal) determinarem prova, ex officio, sempre a partir daquelas produzidas pelas partes, com
o intuito de esclarecer dúvidas sobre pontos relevantes do processo, de modo a permitir um
julgamento mais seguro quanto à correta aplicação da Lei penal. Também em relação aos
documentos, pode o juiz determinar a sua juntada aos autos, antes (ou, ao invés) de as partes
assim se manifestarem, desde que as informações tenham surgidas da instrução criminal. Deve
o juiz, porém, deter-se e evitar a busca de informações ou de elementos informativos para a
produção de provas na fase de investigação. Não deve o juiz reportar-se ao inquérito, na busca
de maiores esclarecimentos da matéria a ele submetida. A fase de investigação destina-se ao
órgão da acusação e não ao julgador. Já o processo, sim, diz respeito a ele. A eventual má atuação
do membro do Ministério Público diz respeito tanto ao magistrado quanto a qualquer cidadão;
cumpre-lhe encaminhar a questão aos órgãos correcionais da instituição, não lhe cabendo
semelhante papel, na ordem constitucional vigente (Pacelli, et al., 2021).

Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017), acerca da iniciativa probatória
do juiz para produção de prova documental conferida pelo art. 234 do CPP, observa: “Com efeito, se o
conteúdo de determinado documento pode mudar o rumo do julgamento da causa, a inércia das partes
diante da informação de sua existência não obsta seu conhecimento em juízo. Para tanto, o juiz poderá
expedir requisição à repartição pública que detiver o documento, determinando se proceda ao seu
encaminhamento aos autos; a intimação de particular para que faça a exibição do documento em juízo,
sendo caso, bem como busca e apreensão, domiciliar ou pessoal. Considerando que o acusado não está
obrigado a produzir prova em seu desfavor, não pode o juiz obrigá-lo a apresentar ou exibir documento
de que disponha, cujo conteúdo não lhe seja favorável. Caso haja determinação nesse sentido, o
desatendimento não poderá acarretar qualquer consequência ao acusado (v.g.: crime de desobediência),
por se tratar de ordem manifestamente ilegal. Bem observou Jauchen, ainda, que também em relação ao
imputado, e em salvaguarda de seu direito de defesa, não se poderá sequestrar as cartas ou documentos
que tenha enviado ou entregue a seus defensores para o desempenho profissional. [...] Há que se fazer
uma ressalva em relação ao tema tratado: o juiz não pode atuar de modo a suprir a ausência de iniciativa
probatória da acusação, e isso decorre logicamente do modelo de processo penal acusatório adotado,
atrelado a valiosos princípios, tais como o da imparcialidade do juiz. É imprescindível que o magistrado
atue com redobrado equilíbrio e cautela no que diz respeito à iniciativa probatória que lhe é conferida; há
uma linha tênue entre tal proceder e o rompimento de garantias fundamentais, apto a nulificar o
processo”.
AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018) é sabidamente contra essa
iniciativa probatória do magistrado (e qualquer outra): “Dispõe o art. 234 que o juiz, quando tiver notícia
da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação ou defesa, providenciará de ofício sua
juntada, independentemente de qualquer requerimento das partes. Novamente estamos diante do tão
criticado juiz-ator, ou seja, do ativismo probatório judicial, que compromete seriamente a estrutura
dialética do processo, fulmina com o contraditório e com a própria imparcialidade do julgador. Como já
explicamos em diversos momentos ao longo desta obra, não cabe ao juiz a iniciativa probatória no
processo penal constitucional-acusatório”.
GUSTAVO BADARÓ (Processo penal, 8ª ed., São Paulo: RT, 2020). “Na prova documental, o momento de
requerimento da prova se confunde com o momento da sua produção: na petição em que se requer a

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juntada dos documentos, ele já é levado aos autos. O juízo de admissibilidade da prova acaba ocorrendo
após a sua juntada. Em caso de juízo negativo, a consequência será o desentranhamento, posto que a
prova já foi produzida. Embora o CPP não tenha regra expressa, deve ser aplicado, por analogia, o § 1º do
art. 437 do CPC, que prevê a manifestação da parte contrária, no prazo de quinze dias, toda vez que uma
das partes junte documento aos autos, que é uma decorrência do princípio do contraditório”. Quanto ao
valor probatório dos documentos, o autor leciona: “Para a compreensão do valor do documento, é
necessário distinguir os aspectos extrínseco e intrínseco, isto é, a forma e o conteúdo dos documentos,
respectivamente. Todo documento escrito contém determinadas afirmações (conteúdo ou aspecto
intrínseco); além disso, considerado graficamente, o documento escrito afirma-se como proveniente de
determinada pessoa, quer por seu contexto, quer por sua assinatura. Outros aspectos extrínsecos
relevantes são a data e o local em que foi constituído o documento. Tais elementos, contudo, são
eventuais, e não obrigatórios. Por sua vez, quanto à autoria, o documento que não possa ter a sua autoria
identificada, como os escritos anônimos, não pode ter qualquer valor probatório. É possível que o
conteúdo seja falso, mas o documento seja autêntico (por exemplo, uma declaração falsa, por afirmar um
fato que não ocorreu, assinado por uma pessoa que sustenta tê-lo visto). Por outro lado, é possível que o
conteúdo seja verdadeiro, mas o documento não seja autêntico (por exemplo uma declaração de um fato
que realmente ocorreu, mas que não foi feita pela pessoa cuja assinatura consta do documento). É
possível, ainda, que o documento não seja verdadeiro nem autêntico (uma declaração de algo que não
existiu feita com falsa assinatura daquele que seria o declarante). Para valoração da prova documental
deve-se distinguir o documento público do documento particular. O primeiro presume-se autêntico,
enquanto o segundo deve ter a sua autenticidade provada no processo”.

8.4 TRADUÇÃO DE DOCUMENTOS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA


Situação interessante diz respeito aos documentos expedidos em língua estrangeira. Como seriam esses
documentos incorporados ao processo penal pátrio?

A resposta está no art. 236 do CPP:

Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela
autoridade.

Embora o dispositivo preveja a possibilidade de não tradução do documento por desnecessidade, RENATO
BRASILEIRO aduz em sentido contrário, considerando a tradução uma medida imprescindível:

A nosso juízo, em que pese a ressalva constante do art. 236 do CPP (“se necessário”),
mesmo que as partes tenham conhecimento da língua estrangeira, impõe-se a tradução
do documento para o Português, haja vista o princípio da publicidade dos atos
processuais, do qual deriva a necessária acessibilidade de todos ao conteúdo do
documento. A dispensa de tradução só deverá ocorrer quando o conteúdo do
documento não interessar ao acertamento do fato delituoso. Eventual indeferimento de
tradução é causa de nulidade relativa, devendo ser alegada oportunamente, sob pena
de preclusão, além da necessária comprovação do prejuízo (Lima, 2021).

No mesmo sentido, TÁVORA, apontando interessante questão referente à língua espanhola (notadamente
similar à portuguesa em razão da mesma origem latina):

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Caso o documento seja realmente utilizado, entendemos que a necessidade de tradução


é presumida, pois mesmo que as partes e a autoridade dominem a língua estrangeira, a
publicidade dos autos e a necessidade de acessibilidade do conteúdo assim o exigem.
Mesmo o documento em espanhol deve ser traduzido. O STJ já teve oportunidade de
assentar que mesmo o castelhano, idioma mais próximo do português depois do galego,
deve ser objeto de tradução, sendo assim acompanhado por versão em vernáculo por
tradutor juramentado. A tradução pode ser indeferida fundamentadamente pelo juiz
quando verificar que o documento não guarda relevância jurídica ou não interessar ao
processo (Távora, 2017).

Com efeito, assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL. DOCUMENTO EM LÍNGUA ESPANHOLA. TRADUÇÃO. INDISPENSABILIDADE (CPC


ART. 157). AUTENTICAÇÃO CONSULAR. I - Embora seja, depois do galego, a língua mais próxima
do português, o idioma castelhano tem idiossincrasias que a fazem traiçoeira para o leigo, falante
de portunhol. Bem por isso, só é permitido o ingresso de documento escrito em espanhol,
quando ‘acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado’ (CPC, Art.
157). II – Para fazerem prova no Brasil, os documentos oficiais, passados por agentes públicos de
países estrangeiros, dependem de tradução, autenticação consular brasileira e registro no ofício
de títulos e documentos (L. 6015/73, Art. 129, 6º). [...] (REsp 606.393/RJ, Rel. Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/05/2005).

Mais recentemente, todavia, notam-se precedentes do STJ e também do STF que corroboram a faculdade
legal do magistrado quanto à determinação da tradução dos documentos em idioma estrangeiro:

Nos moldes da orientação desta Casa, a “norma inserta no art. 236 do Código de Processo Penal
não impõe que sejam necessariamente traduzidos os documentos em língua estrangeira,
autorizando a juntada dos mesmos, mesmo sem tradução, se a crivo do julgador esta se revele
desnecessária, ressalvando-se, obviamente, que tal medida não pode cercear a defesa dos
acusados” (REsp n. 1.183.134/SP, rel. p/ Acórdão Min. Gilson Dipp, 6ª Turma, DJe 29.6.2012). [...]
(Agravo Regimental no RHC n. 74.296-RJ, STJ, 6ª Turma, unânime, Rel. Min. Antônio Saldanha
Palheiro, julgado em 19.6.2018).

A tradução para o vernáculo de documentos em idioma estrangeiro só deverá ser realizada se tal
providência tornar-se absolutamente ‘necessária’, nos termos do que dispõe o art. 236 do Código
de Processo Penal. [...] (Inq. 4.146-DF, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
22.6.2016).

Doutrina complementar

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), para quem a tradução de
documentos em língua estrangeira é sempre indispensável, sustenta: “No que se refere a documentos
em língua estrangeira, podem ser eles imediatamente juntados, mas é imprescindível que sejam
traduzidos por tradutor juramentado. Não havendo a tradução, ou sendo ela objeto de impugnação,
deverá o juiz determinar que o faça um tradutor público. Considerando que peritos e intérpretes são

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equiparados no art. 281, não seria excesso que se observasse a regra geral das perícias, prevista no art. 159
do CPP, nomeando-se um tradutor público ou, na sua falta, duas pessoas idôneas e com reconhecido
domínio do idioma. Tal cautela, especialmente quando o documento for de grande relevância para a
constituição do crime (como ocorre nas falsidades documentais) ou prova de alguma de suas
circunstâncias, é sempre importante”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017) concebe a tradução como uma
possibilidade, de modo que sua ausência não acarretaria, necessariamente, em nulidade: “Essa regra não
é impositiva, de modo que sua não aplicação nem sempre acarretará nulidade. Pode acontecer que as
partes e o juiz disponham de conhecimento suficiente a respeito do idioma em que materializado o
documento, de maneira a tornar-se desnecessária a tradução. Não sendo esse o caso, ou havendo
requerimento de qualquer dos interessados, o juiz deverá providenciar a nomeação de tradutor público,
oficial, sempre que possível, e, na ausência deste, nomeará pessoa de confiança que disponha de
conhecimento que a habilite, não necessariamente um professor da língua estrangeira tratada”.

8.5 RESTITUIÇÃO DE DOCUMENTOS


A respeito da restituição de documentos, dispõe o autoexplicativo art. 238 do CPP:

Art. 238. Os documentos originais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante
que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o
Ministério Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando traslado nos autos.

No que concerne a documentos apreendidos no processo, BRASILEIRO faz interessante observação:

Em relação aos documentos apreendidos, caso a restituição seja pretendida antes do


trânsito em julgado da sentença final, e desde que não haja necessidade de sua
manutenção nos autos do processo, nem tampouco dúvida quanto à sua propriedade,
o procedimento a ser observado é o de restituição de coisas apreendidas, previsto entre
os arts. 118 e 124 do CPP (Lima, 2017).

Doutrina complementar

RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017) faz pertinentes registros a
respeito da restituição de documentos: “É preciso redobrada cautela quando se tratar de documento que
constitua o corpo de delito, pois em alguns casos a discussão poderá ser renovada em sede de revisão
criminal, e a ausência do documento original poderá acarretar consequências indesejadas para a
realização da Justiça. No caso de documento falso que tenha sido utilizado como meio de prova, como
vimos no item anterior, deverá ser encaminhado para o Ministério Público, com vistas a dar suporte a
eventual ação penal pelo crime que configurar. É correta a disposição do art. 238 do CPP quando se refere
à possibilidade de devolução apenas do documento original. Se o que estiver juntado aos autos for cópia,
não terá sentido o desentranhamento: nesse caso bastará que dele se faça outra cópia, que então será
entregue. Se houver dúvida a respeito da propriedade do documento, a devolução não poderá ser feita
até que a questão seja definitivamente resolvida no juízo cível”.

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9. INDÍCIOS

9.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA


O conceito de indício é conferido pelo próprio CPP em seu art. 239:

Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o
fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.

Partindo dessa definição legal, elucida CAPEZ:


indício

É toda circunstância conhecida e provada, a partir da inferência ou


presunção
qual, mediante raciocínio lógico, pelo método indutivo,
indução
obtém-se a conclusão sobre um outro fato. A indução conclusão
por
parte do particular e chega ao geral. Assim, nos indícios, circunstânc
a partir de um fato conhecido, deflui-se a existência do ias
que se pretende provar. Indício é o sinal demonstrativo
do crime: signum demonstrativum delicti (Capez, 2018).
fato

Todavia, indício não se confunde com presunção, como bem


assinala MOUGENOT BONFIM:

O indício não se confunde com a presunção, embora alguns autores os tomem como
sinônimos. Além de não constituir meio de prova, a presunção é, em sentido técnico, o
nome da operação lógico dedutiva que liga um fato provado (um indício) a outro
probando, ou seja, é o nome jurídico para descrição justamente desse liame entre
ambos. O indício vincula-se a um fato real, apontando para a demonstração de algo. Ao
raciocínio que se fará, concluindo-se — certa ou equivocadamente — acerca do fato
probando, chamar-se-á, então, presunção (Bonfim, 2013).

Concernente à natureza jurídica dos indícios, entende a maioria doutrinária que se trata de meio de prova.
Nesse sentido, MARCÃO:

Os indícios têm natureza jurídica de meio de prova. Integram o sistema de provas


regrado no CPP. Nesse particular, está superada a sustentação de FLORIAN, que não
incluía os indícios entre os meios de prova (Marcão, 2017).

E CAPEZ: “Os indícios e as presunções são provas, pois o legislador os colocou no Título VII (Das provas). Trata-
se de provas indiretas, uma vez que obtidas através de raciocínio lógico” (Capez, 2018).

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GUSTAVO BADARÓ, contudo, discorda dessa visão, não considerando os indícios como meio de prova:

Embora o CPP discipline o indício entre os meios de prova, o indício não é um meio de
prova, mas o resultado probatório de um meio de prova. O indício é o fato provado, que
permite, mediante inferência, concluir pela ocorrência de outro fato. O que pode ser
provado é o fato indicativo (por exemplo, uma testemunha que viu o acusado com uma
faca suja de sangue e a vítima esfaqueada aos seus pés). O indício é o fato certo que está
na base da inferência da presunção. Em outras palavras, o indício é o ponto de partida
da presunção. Ou, visto pelo outro lado, a presunção é um juízo fundado sobre o indício
(Badaró, 2017).

9.2 VALOR PROBATÓRIO


Vistos como meio de prova, os indícios, assim como os demais meios, possuem valor probatório relativo e,
a depender do grau de verossimilhança com os demais elementos probatórios, podem lastrear decretos
condenatórios e absolutórios.

Nesse ponto, as lições de TÁVORA:

O indício tem valor bastante relativo. É tanto prova indireta, permitindo aliar as
presunções para se chegar a um resultado maior, quanto é uma prova semiplena, na
medida em que pode constituir prova (parcial) da materialidade de um fato (a exemplo
de não se achar o corpo, mas tão-somente sangue da vítima) (Távora, 2017).

E BONFIM:

O valor probatório da prova indiciária, mais que qualquer outra, resultará da análise
conjunta dos elementos de prova existentes. Dentre os indícios, será especialmente
relevante verificar se todos indicam no mesmo sentido (conjunto indiciário). Ademais,
um indício será tanto mais forte quanto mais geral e constante for a máxima contida em
sua premissa maior. Assim também, quando os indícios apurados (premissa menor)
forem convergentes e concordes, maior valor terão para demonstrar a existência do fato
a ser provado. Sendo meio de prova, é entendimento majoritário que os indícios
poderão servir de fundamento seja à condenação, seja à absolvição do acusado (TRF, 4ª
R., Ap. Criminal n. 2002.38.00.022809-4, Rel. Ítalo Fioravanti Sabo Mendes, j. 16.1.2007)
(Bonfim, 2013).

Também, BADARÓ, com uma importante ressalva:

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O primeiro requisito para que a prova indiciária tenha valor é que o fato indiciário esteja
plenamente provado, sendo conhecido e induvidoso. [...] Prevalece o entendimento de
que uma pluralidade de indícios, desde que coerentes e concatenados, pode dar a
certeza exigida para a condenação. Por outro lado, embora a certeza absoluta seja
inatingível, não é razoável admitir a condenação com base em um único indício, por mais
veemente que seja. Tal situação não permite que se considere atingida a “elevadíssima
probabilidade” necessária para a condenação penal. O indício, que permite um
raciocínio inferencial com base em uma regra de normalidade, ou do que comumente
acontece, jamais autorizará um juízo de certeza, mas sim de mera probabilidade, o que
é insuficiente para a condenação (Badaró, 2020).

O STF já reconheceu o valor probatório dos indícios como fundamento inclusive para condenações:

[...] 1. O princípio processual penal do favor rei não ilide a possibilidade de utilização de
presunções ou facti, pelo juiz, para decidir sobre a procedência do ius puniendi, máxime porque
o Código de Processo Penal prevê expressamente a prova indiciária, definindo-a no art. 239 como
“a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução,
concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”. Doutrina (LEONE, Giovanni. Trattato
di Diritto Processuale Penale. v. II. Napoli: Casa Editrice Dott. Eugenio Jovene, 1961. p. 161-162).
Precedente (HC 96062, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em
06/10/2009, DJe-213 DIVULG 12-11-2009 PUBLIC 13-11-2009 EMENT VOL-02382-02 PP-00336).
2. O julgador pode, através de um fato devidamente provado que não constitui elemento do tipo
penal, mediante raciocínio engendrado com supedâneo nas suas experiências empíricas, concluir
pela ocorrência de circunstância relevante para a qualificação penal da conduta. [...] (HC 103118,
Relator(a): LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 20/03/2012).

A força instrutória dos indícios é bastante para a elucidação de fatos, podendo, inclusive, por si
própria, o que não é apenas o caso dos autos, conduzir à prolação de decreto de índole
condenatória, quando não contrariados por contraindícios ou por prova direta. [...] (Habeas
Corpus n. 97.781-PR, STF, 1ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, Redator do acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 26.11.2013).

9.3 CLASSIFICAÇÃO DOS INDÍCIOS


Com efeito, e em suma, pode-se verificar a existência de dois tipos de indícios:

a) Indício positivo: é o indício que aponta a existência de algo que se quer provar. Nas lições de TÁVORA: “Visa
elucidar as circunstâncias do fato, pelo que deve ser corroborado por outras provas. O indício positivo ratifica
a tese sustentada” (Távora, 2017).

b) Indício negativo ou contraindício: busca inviabilizar ou tornar insustentável uma tese alegada ou um
indício em determinada direção. Conforme o magistério de AVENA: “São circunstâncias que invalidam, em
determinadas condições e circunstâncias, os indícios colhidos contra alguém. Exemplo de contraindício

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reside no álibi, que pode desfazer o indício de que, no dia e horário do crime, o réu se encontrava no local
onde este ocorreu” (Avena, 2017).

10. BUSCA E APREENSÃO

10.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA


A busca e apreensão costumam ser tratadas em bloco, como constituíssem uma só coisa. Na verdade, são
fenômenos distintos e até mesmo independentes.

Como leciona BONFIM, “poderá haver busca sem apreensão (quando não se encontrar o objeto procurado),
ou apreensão sem busca (na hipótese em que a coisa seja apresentada à autoridade, lavrando-se auto de
exibição e apreensão). Não obstante, na maior parte dos casos, a diligência será integrada por esses dois
atos” (Bonfim, 2013).

Por busca entende-se o ato de procurar algo ou alguém; por apreensão, o ato de apossamento, custódia ou
guarda de coisa ou pessoa.

Embora estejam contidas junto aos demais meios de prova dentro do Título VII do CPP, a doutrina entende
que a natureza jurídica da busca e apreensão não é de puro meio de prova, mas de meio de obtenção de
prova (para uns) ou mesmo de providência acautelatória (para outros).

Considerando-a como meio de obtenção de prova, BRASILEIRO:

Isso porque consiste em um procedimento (em regra, extraprocessual) regulado por lei,
com o objetivo de conseguir provas materiais, e que pode ser realizado por outros
funcionários que não o juiz (v.g., policiais). Sua finalidade precípua não é a obtenção de
elementos de prova, mas sim de fontes materiais de prova. Exemplificando, se, de uma
busca e apreensão domiciliar determinada pelo juiz, resultar a apreensão de
determinado documento, este sim funcionará como meio de prova, uma vez juntado
aos autos do processo (Lima, 2017).

MARCÃO, para quem a busca e apreensão são providências acautelatórias, aglutina entendimento de diversos
doutrinadores a respeito dessa natureza jurídica, demonstrando a divergência de entendimentos sobre o
tema:

TOURINHO FILHO entende que se trata de meio de prova; MIRABETE escreveu tratar-se
de medida acautelatória, e no mesmo sentido doutrinam CAPEZ e PACELLI; NUCCI
sustenta que são medidas de natureza mista, e justifica: “Conforme o caso, a busca pode
significar um ato preliminar à apreensão de produto do crime, razão pela qual se destina
à devolução à vítima. Pode significar, ainda, um meio de prova, quando a autorização é
dada pelo juiz para se proceder a uma perícia em determinado domicílio. A apreensão

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tem os mesmos ângulos. Pode representar a tomada de um bem para acautelar os


direitos de indenização da parte ofendida, como pode representar a apreensão da arma
do delito para fazer prova. Assim, tanto a busca, quanto a apreensão, podem ser vistos,
individualmente, como meios assecuratórios ou como meios de prova, ou ambos”. Para
o legislador, a busca e a apreensão têm natureza jurídica de meio de prova, por isso
foram tratadas no capítulo em que se encontram. Em geral, a nosso ver, a busca e a
apreensão são medidas acautelatórias – que têm por escopo evitar o perecimento ou
assegurar a produção da prova, com a qual não se confundem –, e não meio de prova
em sentido estrito (Marcão, 2017).

Doutrina complementar

VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012): “A busca e a apreensão
foram tratadas de forma unitária no Capítulo XI do Título VII (“Da prova”) o do Livro I (“Do processo em
geral”), do Código de Processo Penal, o que, segundo parte da doutrina, tem provocado confusão por
serem institutos autônomos, com características diversas. Dispensando tratamento diverso, Cleunice
Bastos Pitombo conceitua a busca como ‘ato do procedimento persecutivo penal, restritivo de direito
individual (inviolabilidade da intimidade, vida privada, domicilio e da integridade física ou moral),
consistente em procura, que pode ostentar-se na revista ou varejamento, conforme a hipótese: de pessoa
(vítima de crime, suspeito, indiciado, acusado, condenado, testemunha e perito), semoventes, coisas
(objetos, papéis e documentos), bem como de vestígios (rastros, sinais e pistas) da infração’”.
NORBERTO AVENA (Processo Penal, 12ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020): “Por busca
compreendem-se as diligências realizadas com o objetivo de investigação e descoberta de materiais que
possam ser utilizados no inquérito policial ou no processo criminal, assim como de pessoas em relação às
quais exista ordem judicial de prisão ou que sejam vítimas de crimes. Trata-se de uma atitude de procura,
a ser realizada em lugares ou em pessoas. Já por apreensão depreende-se o ato de retirar alguma coisa
que se encontre em poder de uma pessoa ou em determinado lugar, a fim de que possa ser utilizada com
caráter probatório ou assecuratório de direitos. Quanto à natureza jurídica da busca e apreensão, tudo
dependerá do caráter de que venha a se revestir. Normalmente, assume natureza de meio de prova,
destinada à utilização nas investigações criminais e nos processos judiciais. Pode, contudo, revestir-se de
caráter assecuratório de direitos, como ocorre na hipótese de ser efetivada em decorrência de
determinação de arresto (art. 137 do CPP), cujo objetivo é garantir o êxito da reparação civil dos danos
causados pela prática da infração penal”.
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “A busca e apreensão é a providência de natureza cautelar destinada a encontrar e conservar
pessoas ou bens que interessem ao processo criminal. Busca é o nome que se dá ao conjunto de ações
dos agentes estatais para a procura e descoberta daquilo que interessa ao processo, ao passo que
apreensão é o ato consistente em retirar pessoa ou coisa do local em que esteja para fins de sua
conservação. Essa distinção autoriza a conclusão de que a busca nem sempre enseja a apreensão de algo,
na medida em que a procura pode não produzir o resultado desejado e, ainda, porque há hipóteses em
que não há necessidade de conservação em poder da autoridade do objeto da busca. Pode ocorrer, ainda,
apreensão sem busca, como quando o acusado entrega, voluntariamente, instrumento do crime à
autoridade. A busca e apreensão tem natureza variada, já que pode constituir: a) meio de prova — quando
a localização de coisa ou pessoa em determinado lugar ou em poder de alguém faz prova do fato
criminoso ou de circunstâncias, tal como ocorre na hipótese de apreensão da arma do crime na posse do
investigado; b) meio de obtenção de prova — na hipótese em que a diligência, por si, não permite formar
convicção acerca do fato probando, mas propicia o encontro de elemento útil à demonstração da infração;
c) meio de assegurar direitos — acaso o objeto da diligência relacione-se ao interesse reparatório do
ofendido, como a busca por bens passíveis de arresto”.

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FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), a respeito da natureza jurídica
da busca e apreensão, afirma: “Para a lei, é meio de prova, de natureza acautelatória e coercitiva; para a
doutrina, é medida acautelatória, destinada a impedir o perecimento de coisas e pessoas”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016), sobre a natureza
jurídica, sustenta: “Quanto à natureza jurídica, os institutos são tratados pela legislação como meio de
prova (Título VII, Capítulo XI, CPP). Contudo, como assevera Marcellus Polastri Lima, ‘apesar do Código de
Processo Penal a classificar como meio de prova, a busca e apreensão, com finalidade de preservar
elementos probatórios ou assegurar reparação do dano proveniente do crime, ontologicamente, não é
prova, tendo, ao contrário, a natureza jurídica de medida cautelar que visa à obtenção de uma prova para
o processo, com o fim, portanto, de assegurar a utilização do elemento probatório no processo ou evitar o
seu perecimento’. Neste cotejo, entendemos que a busca e a apreensão podem figurar, cada uma de per
si, a depender da finalidade pretendida com o ato: 1) como meio de prova: quando o fim da apreensão for
previamente definido e consistir no objeto material do delito. Exemplo: a apreensão da substância
entorpecente para a configuração do delito de tráfico; 2) como meio de obtenção de prova: quando a
busca e apreensão se destinar não a produzir a prova em si, mas a apreender as provas, tal como se dá
com a apreensão de documentos. A busca e a apreensão, neste caso, é o meio para a obtenção da prova
(o documento). 3) como medida instrumental, cautelar probatória: quando o ato, em seu aspecto
processual, for revestido de urgência (fumus boni iuris e periculum in mora) e visar assegurar que seja
viabilizada produção probatória que, sem o seu deferimento, não seria possível (necessidade)”.

10.2 INICIATIVA E DECRETAÇÃO


Em relação à iniciativa, dispõe o art. 242 do CPP:

Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de qualquer das partes.

Importante destacar a diferença entre as buscas pessoal e domiciliar nesse quesito.

Em se tratando de busca pessoal, a determinação a que se refere o dispositivo citado pode advir tanto da
autoridade policial quanto judiciária. Lembre-se que uma das diligências investigatórias previstas no art. 6º
do CPP é justamente a apreensão de objetos relacionados com o fato (inc. II), que não raras vezes se
encontram em poder do indivíduo preso.

A busca pessoal é tratada pelo § 2º do art. 240 do CPP:

§ 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte
consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.

Não é demais repisar (já falamos sobre isso) que a busca pessoal independerá de mandado judicial quando
realizada sobre o indivíduo que está sendo preso e quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja
de posse de armas proibidas ou objetos que constituam corpo de delito. Ou, ainda, se já há mandado
expedido para busca domiciliar (art. 244 do CPP).

Por outro lado, em relação à busca domiciliar, por força do direito fundamental à inviolabilidade do domicílio
previsto na Constituição Federal em seu art. 5º, XI, somente será admitida com a expedição do competente
mandado pela autoridade judiciária.

A esse respeito, as pertinentes conclusões de BRASILEIRO:

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Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no texto
constitucional (flagrante delito, desastre, ou para prestar socorro), nenhum agente
público, ainda que vinculado à administração tributária do Estado, poderá, contra a
vontade de quem de direito (“invito domino”), ingressar, durante o dia, sem mandado
judicial, em espaço privado não aberto ao público, onde alguém exerce sua atividade
profissional, sob pena de a prova resultante da diligência de busca e apreensão assim
executada reputar-se inadmissível, porque impregnada de ilicitude material (Lima,
2017).

Partindo-se dessa visão, não se demonstra compatível com a Constituição Federal o disposto no art. 241 do
CPP, que daria margem à realização de busca domiciliar pela autoridade policial, sem autorização judicial:

Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária não a realizar pessoalmente, a busca
domiciliar deverá ser precedida da expedição de mandado.

Nesse sentido, aduz AVENA:

Quanto à faculdade conferida em precitado dispositivo [art. 241] no sentido da dispensa


do mandado quando o delegado de polícia cumprir pessoalmente a busca, não foi,
obviamente, recepcionada pelo art. 5º, XI, da Constituição Federal. Destarte, o
dispositivo vige apenas em relação ao magistrado (Avena, 2017).

Doutrina complementar

ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “A diligência de busca e apreensão pode ser realizada: a) em momento anterior à instauração do
inquérito policial; b) durante o inquérito policial; c) no curso do processo; e d) na fase de execução (para,
por exemplo, prender o sentenciado)”.
EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “Será determinada
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes (art. 242 do Código de Processo Penal). Quando
depender de mandado, a busca será ordenada pelo juiz competente, cabendo, quando for o caso, ao
delegado de polícia representar à autoridade judicial nesse sentido. Somente na hipótese de a própria
autoridade judicial realizar pessoalmente a busca domiciliar será desnecessária a expedição de mandado
(art. 241)”.
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “Certamente, a
busca e apreensão domiciliar está adstrita a cláusula de reserva jurisdicional, cabendo privativamente ao
judiciário a expedição do mandado. Afora esta hipótese, não havendo possibilidade de violação domiciliar,
outras autoridades podem determinar a medida, como na hipótese da busca pessoal, que poderá ser
determinada pela autoridade policial. Prevê o art. 6º, II, CPP, que tendo a autoridade policial conhecimento
da infração, deverá “apreender os objetos que tiverem relação com a infração, após liberados pelos
peritos”. Ora, a autoridade irá atuar de ofício, não carecendo de ordem do magistrado para tanto”.

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10.3 OBJETO
O objeto da busca e apreensão consta do art. 240 do CPP:

Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.

§ 1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:

a) prender criminosos;

Conforme § 1º do art. 243 do CPP, se também houver ordem de prisão, constará do próprio texto do
mandado de busca. Na prática, contudo, observa-se a separação desse tipo de ordem em documento
diverso, o que é recomendado pela melhor doutrina.

b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;

Por coisas achadas entendem-se os objetos eventualmente encontrados e que podem auxiliar na resolução
do caso. As coisas obtidas por meio criminosos, como assenta TÁVORA, “devem ser arrecadadas para evitar o
locupletamento ilícito, viabilizando também a indenização das possíveis vítimas” (Távora, 2017).

c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou


contrafeitos;

Tanto os instrumentos para falsificação ou contrafação quanto os próprios objetos deles advindos podem
ser objeto de busca e apreensão. A propósito, contrafação é a reprodução fraudulenta de algo em prejuízo
do criador ou inventor.

d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim


delituoso;

Sobre essa alínea, as irretocáveis considerações de TÁVORA:

[...] admite-se a captação dos objetos especialmente utilizados para o ataque ou para a
defesa, que são as armas próprias, ou seja, confeccionadas com esta finalidade. Podem
ainda ser utilizadas armas impróprias ou acidentais, que são objetos que não têm
especialmente esta finalidade, como uma picareta ou um facão, mas que também
servem como instrumento do crime. Já a munição é o objeto de alimentação, de
suprimento da arma, como a pólvora ou os cartuchos. Os instrumentos utilizados para
a prática da infração serão periciados para verificação da natureza e eficiência (art. 175,
CPP), servindo, em si, como meio de prova” (Távora, 2017).

e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;

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São os objetos que guardam relação íntima com a própria existência do crime, como os vestígios da infração
ou registros de qualquer natureza que atestem sua ocorrência, como peças de roupa manchadas de sangue
nos crimes violentos, fotografias, filmagens etc.

f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja
suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;

Essa alínea é alvo de críticas doutrinárias, haja vista a aparente lesão ao sigilo constitucionalmente
assegurado das correspondências. BRASILEIRO bem retrata a situação:

No tocante às cartas lacradas, há quem entenda que, por força do art. 5º, inciso XII, da
Constituição Federal, que assegura a inviolabilidade do sigilo da correspondência, não
se afigura possível sua apreensão e violação, sob pena de ilicitude da prova. Não
obstante, convém ressaltar que o Supremo Tribunal Federal já reconheceu a
possibilidade de a administração penitenciária, com fundamento em razoes de
segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, poder,
sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo
único, da Lei nº 7.210/84, proceder à interceptação da correspondência remetida pelos
sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode
constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas (Lima, 2017).

g) apreender pessoas vítimas de crimes;

Trata-se de legitimação da retirada de pessoas vítimas de crimes como sequestro ou cárcere privado de seus
paradeiros. Há de se ter em mente que nem sempre a existência de crimes dessa natureza é manifesta e
indubitável, havendo linhas tênues entre uma guarda (em sentido amplo) legítima e uma criminosa. Ao
demais, como bem lembra BRASILEIRO, “se a autoridade policial tem plena convicção de que determinada
pessoa é mantida em cárcere em determinado local, poderá ingressar no domicílio por estar caracterizada
situação de flagrância” (Lima, 2017).

h) colher qualquer elemento de convicção.

Hipótese residual; abarca os demais elementos que possam ser úteis para a persecução penal.

§ 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte
consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.

Dispositivo já tratado anteriormente.

Doutrina complementar

AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021), a respeito dos vários objetos da
busca domiciliar, tece várias considerações: “a) Prender criminosos: trata-se aqui de buscar, não para
apreender, mas sim para prender pessoas cuja prisão tenha sido previamente decretada. O mandado de

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prisão, por si só, não autoriza o ingresso na casa de terceiros onde eventualmente o agente se esconda,
sendo necessária a duplicidade de mandados (de prisão e de busca). b) Apreender coisas achadas ou
obtidas por meios criminosos: as coisas achadas devem ser devolvidas ao seu legítimo proprietário ou
entregues à autoridade policial, sob pena de incorrer o agente nas sanções do art. 169 do CP (apropriação
de coisa achada). As coisas obtidas por meios criminosos, por vezes, confundem-se com o próprio corpo
de delito. Assim, as coisas subtraídas de alguém no crime de furto ou roubo (quando há violência ou grave
ameaça) foram obtidas por meio criminoso, devendo ser buscadas e apreendidas (até para permitir a
restituição a seu devido proprietário). c) Apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e
objetos falsificados ou contrafeitos: o documento ou objeto que seja um falso material ou ideológico deve
ser apreendido, pois constitui o corpo de delito. Também tipifica o Código Penal, art. 294, os petrechos de
falsificação, ou seja, é crime a posse de instrumentos e objetos destinados à fabricação ou contrafação do
falso. Em ambos os casos, está autorizada a busca e apreensão. d) Apreender armas e munições,
instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso: claro que somente podem ser
buscadas e apreendidas as armas e munições ilegais ou, se legais, tenham sido utilizadas para a prática
de crime. Mas não são apenas as armas utilizadas no crime que podem ser objeto de busca, mas também
“instrumentos” utilizados para sua prática, como ferramentas, carros, disfarces, computadores, telefones
celulares etc. e) Descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu: a primeira parte é
uma cláusula genérica, onde os objetos devem ter uma conexão probatória com o crime. Interessante,
ainda que seja de pouca eficácia prática, é a possibilidade de busca no interesse da defesa do réu (melhor
seria imputado, pois essa medida pode ser tomada na fase de investigação preliminar). f) Apreender
cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o
conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato: o Código ainda está no tempo das
cartas, quando a problemática atual está por conta dos e-mails e messengers... As cartas, pela leitura do
CPP, podem ser objeto de busca judicialmente autorizada, e assim defende a doutrina majoritária.
Contudo, numa dimensão crítica e constitucional, tal dispositivo não resiste a uma filtragem. Nessa linha,
explica BASTOS PITOMBO que o art. 5º, XII, da Constituição assegura a inviolabilidade do sigilo da
correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal. A Constituição excepciona, apenas, as comunicações telefônicas
(o “último caso”, na expressão constitucional), não a inviolabilidade de cartas e, como não se admite
analogia para ampliar a restrição de direitos fundamentais, é inconstitucional essa medida. Noutra
dimensão, autorizada que está a intervenção das comunicações de dados e telefônicas, nenhum
problema existe na apreensão judicialmente autorizada de computadores, discos rígidos, CDs, contendo
dados, e-mails etc. g) Apreender pessoas vítimas de crimes: não se confunde com a prisão do imputado,
pois o dispositivo se refere à “vítima”, logo, será ela custodiada pelo Estado. Na prática, pouco uso tem esse
dispositivo. h) Colher qualquer elemento de convicção: típica cláusula genérica, de perigosa abertura e
indeterminação. O problema é que dispositivos assim autorizam uma busca domiciliar sem um objetivo
claramente definido, dando espaço para o substancialismo inquisitorial e o autoritarismo judicial. À luz da
proteção constitucional do domicílio e da privacidade, o mandado de busca deverá ser o mais específico
possível, evitando ao máximo as cláusulas genéricas ainda empregadas pelo CPP de 1941. Inclusive,
defendemos a ilegalidade da busca feita exclusivamente com base na alínea “h”, pois implicaria
inequívoca violação do art. 5º, incisos X e XI, da Constituição. Considerando a extensão do rol, sua
amplitude conceitual e a existência de cláusulas genéricas, não vislumbramos possibilidade de
interpretação extensiva ou mesmo analogias, ainda mais em se tratando de medida restritiva de direitos
fundamentais”.

10.4 ESPÉCIES DE BUSCA

10.4.1 Busca domiciliar

Dispõe o art. 5º, XI da Lei Maior:

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XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
o dia, por determinação judicial;

Ou seja, durante a noite é possível a entrada no domicílio de um indivíduo:

i. em situação de flagrante delito;


ii. em situação de desastre;
iii. para prestar de socorro;
iv. com o consentimento do morador.

Durante o dia, além dessas mesmas hipóteses, adiciona-se o cumprimento de mandado judicial (da busca
domiciliar, nesse caso).

Pois bem. Algumas questões podem surgir dentro desse contexto delineado pelo dispositivo constitucional.
Poder-se-ia indagar, por exemplo, qual a definição de ‘dia’, ou mesmo qual a abrangência do termo ‘casa’;
afinal, são conceitos indeterminados. A doutrina trouxe esclarecimentos; todavia, há divergências.

Em relação ao conceito de dia (e, via de consequência, de ‘noite’), MARCÃO pondera:

Já se tentou na doutrina e na jurisprudência estabelecer regra para definir – entre limites


marcados por hora certa – o que se deve entender por dia ou noite. Entendemos que a
discussão é estéril diante da regra contida no art. 212 do CPC/2015 segundo o qual os
atos processuais devem ser praticados em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas. Para
tais efeitos, portanto, dia é o período compreendido entre 6 (seis) e 20 (vinte) horas.
Noite é o período restante. Não se deve confundir noite com o conceito de repouso
noturno, e apenas para este é que servem as reflexões sobre as disparidades regionais
(Marcão, 2017).

Diverge TÁVORA, ao afirmar que o dia inicia às 6 e se finda às 18h:

Já durante o dia, que é o intervalo que vai das 6 às 18 horas, no horário local, com a
incidência das alterações pelo horário de verão, simbolizando justamente o período de
atividade, de labor, distinto da noite, que é o momento de descanso, soma-se, além das
hipóteses anteriores, a possibilidade do cumprimento de mandado judicial (Távora,
2017).

CAPEZ diverge dos dois autores:

Seguimos a posição do Ministro do Supremo Tribunal Federal, José Celso de Mello Filho,
segundo o qual a expressão “dia” deve ser compreendida entre a aurora e o crepúsculo
(Capez, 2018).

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AVENA muito bem explicita as diversas posições sobre o tema, inclusive reunindo a visão de doutrinadores a
esse respeito, sem prejuízo de manifestar a sua visão e a que tem prevalecido:

Mas o que se compreende por dia? Há três posições a respeito:


• Primeira: Compreende-se o período entre as 6 horas e as 20 horas, por interpretação
analógica do art. 172 do CPC/1973 (art. 212 do CPC/2015). Neste sentido: AURY LOPES JR.
É, também, a posição a que aderimos.
• Segunda: Deve ser considerado o período entre às 6 horas e às 18 horas, visando-se,
com isso, a preservar ao máximo a vida privada e a intimidade no âmbito doméstico. Em
apertada maioria, tem sido esta a orientação dominante. Neste sentido: JOSÉ AFONSO DA
SILVA e FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO.
• Terceira: O critério deve ser o físico-astronômico, considerando-se como dia o período
em que houver iluminação solar. Neste sentido: GUILHERME DE SOUZA NUCCI e FERNANDO
CAPEZ (Avena, 2017).

A Lei nº 13.869/19 (nova Lei do Abuso de Autoridade) trouxe dispositivo que poderá, dependendo do
posicionamento adotado pela jurisprudência, pôr fim a essas divergências.

O inciso III do § 1º do artigo 22 da referida Lei prevê que cometerá crime de abuso de autoridade
o agente que cumprir mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h ou antes das 5h.

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do


ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem
determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:

III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes
das 5h (cinco horas).

As possibilidades de interpretação são várias; desde aquelas que entendem que esse dispositivo teria
estabelecido o conceito de dia (5h em diante) e de noite (depois das 21h), àquelas que apontam que esses
horários apenas têm relação com a ‘tipificação do crime’ trazido na nova norma.

Vejamos o que diz a doutrina de ROGÉRIO GRECO e ROGÉRIO SANCHES CUNHA quando discorrem sobre o conceito
atual e a perspectiva de mudanças interpretativas com a nova lei:

As correntes acima citadas enfrentarão o dispositivo em comento. A primeira, por certo,


lecionará que o período defeso referido no art. 22, § 1º, III, da Lei 13.869/2019 não
alterou a sistemática atual. O mandado continua tendo que ser cumprido em dias úteis,
das 6 (seis) às 18 (dezoito) horas. Se cumprido antes das 6h (mas não antes das 5h) ou
depois das 18h (mas não depois das 21h), a prova eventualmente obtida é ilegal, mas

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sem caracterizar crime. Agora, se cumprido antes das 5h ou depois das 21h, além de a
prova ser produzida de forma ilegal, haverá o crime de abuso de autoridade.
A segunda corrente, por sua vez, diante da “janela temporal” expressamente colocada
no tipo (5h até 21h), ensinará que a Lei 13.869/2019 criou novas balizas. Enquanto
houver iluminação solar, desde que após as 5h e antes das 21h, admite-se a medida
excepcional. O crime ocorre se cumprido o mandado antes das 5h ou depois das 21h,
mesmo que perdurar a luz do sol. É a que nos parece correta (Cunha, et al., 2020).

Sobre o tema, RENATO BRASILEIRO entende que, a fim de “afastar quaisquer controvérsias acerca da matéria, a
Lei n. 13.869/19 passou a criminalizar o cumprimento de mandado de busca e apreensão domiciliar após as
21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas), positivando, enfim, pelo menos para fins de tipificação
de abuso de autoridade, o conceito de ‘noite’ e, a contrario sensu, também o de ‘dia’”.

O mesmo autor aponta, ainda, algumas correntes que, certamente, alimentarão divergências sobre o
assunto:

a) inconstitucionalidade do conceito de noite (e de dia) constante do art. 22, § 1º, III, da


Lei n. 13.869/19: A Constituição Federal autoriza o ingresso em domicílio alheio
exclusivamente durante o dia, sendo inadmissível, portanto, que o legislador
infraconstitucional venha afirmar que um mandado de busca domiciliar possa ser cumprido
à 20h59min, quando certamente o sol já terá desaparecido no horizonte; (...)
b) constitucionalidade do conceito de noite (e de dia) constante do art. 22, § 1º, III, da Lei
n. 13.869/19, desde que interpretado conforme a Constituição: para conservar a validade do
dispositivo em comento, conferindo-lhe um sentido compatível com o texto constitucional,
cujo art. 5º, XI, autoriza o ingresso em domicílio por determinação judicial apenas durante o
dia, será considerado lícito o cumprimento de mandado de busca domiciliar após as 21h (vinte
e uma horas) ou antes das 5H (cinco horas), desde que presente a luz do sol;
c) constitucionalidade do conceito de noite (e de dia) constante do art. 22, § 1º, III, da Lei
n. 13869/19, sem a necessidade de interpretação conforme a constituição (nossa posição): (...)
o legislador optou por positivar o conceito de dia (5h-21h) e o de noite (21h-5h), e não o
condicionou à existência de luminosidade solar. (...) Por mais que se queira argumentar que
não há mais luminosidade solar às 20h59min, trata-se de horário em que as pessoas ainda
estão acordadas, pelo menos em regra. Pelo contrário. Bem ou mal, agiu dentro de uma
margem de razoabilidade e proporcionalidade para definir o conceito de noite e, a contrario
sensu, de dia. (Lima, 2020)

Então agora, para resumir, temos 4 correntes:

i. 6 às 20h – com base nas regras do processo civil;


ii. 6 às 18h – com base na tradição de um horário comercial;
iii. Claridade – com base no momento que o sol nasce e se põe.
iv. 5 às 21h – com base na Lei de Abuso de Autoridade.

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Pessoalmente, somos adeptos da última corrente, por um raciocínio bastante objetivo e pragmático:
finalmente temos, em lei criminal, uma definição do que seja ‘dia’ ou ‘noite’ para efeito de proteção
domiciliar. Não obstante eventuais críticas sobre a amplitude do período, essa foi a opção política do
legislador e, convenhamos, nenhum absurdo nessa compreensão. O Brasil tem dimensões continentais.
Existem lugares em que os primeiros raios do sol surgem antes das 5h (Paraíba); em outros pontos (sul do
país), é possível que o sol perdure até por volta de 20h30, considerando-se o ‘horário de verão’. As leis têm
abrangência em todo o território nacional (art. 1º do CPP). Diante desses fatos/realidades e da presunção de
constitucionalidade, não vemos nenhuma afronta direta da lei ao texto constitucional, que deve sim ganhar
essa interpretação conforme.

A segurança jurídica neste ponto é fundamental. Melhor um período mais longo e determinado, a um
período um pouco mais curto, variável e duvidoso que gera incertezas e questionamentos; não só para os
agentes que cumprem a ordem judicial como também para o cidadão que não sabe a extensão da sua
garantia de inviolabilidade domiciliar. O parâmetro objeto facilitaria inclusive a prova para a constatação de
eventuais ilicitudes. Todos ganhariam com isso: o cidadão, para identificar e demonstrar ilicitudes; o agente
policial para saber precisamente o horário limite para a diligência; o juiz para avaliar eventual prova nesse
sentido. A questão ainda não está definida; esperamos que a jurisprudência caminhe nesse sentido.

Em relação ao outro ponto de discussão: qual seria a abrangência do termo “casa”?

Extrai-se o conceito de casa do art. 150, § 4º do Código Penal:

§ 4º - A expressão "casa" compreende:

I - qualquer compartimento habitado;

II - aposento ocupado de habitação coletiva;

III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.

O § 5º do mesmo artigo complementa:

§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":

I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a


restrição do n.º II do parágrafo anterior;

II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

BRASILEIRO, a partir do dispositivo citado, exemplifica:

Insere-se no conceito de casa, portanto, não só a casa ou habitação, mas também o


escritório de advocacia, o consultório médico, o quarto ocupado de hotel ou motel, o
quarto de hospital, empresas e lojas (do balcão para dentro), pátios, jardins, quintal,
garagens, depósitos, etc. Não se exige, para a definição de “casa”, que ela esteja fixada

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ao solo, pois o conceito constitucional abrange as residências sobre rodas (trailers


residenciais), barcos-residência, a parte traseira do interior da boleia do caminhão, etc.
(Lima, 2017).

Atenção especial deve ser conferida aos escritórios de advocacia. Dispõe o art. 7º da Lei 8.906/1994 –
Estatuto da Advocacia, em seu inciso II:

Art. 7º São direitos do advogado:

II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de


trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas
ao exercício da advocacia;

Por outro lado, atente-se ao que dispõe os §§ 6º e 7º do mesmo artigo:

§ 6º Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a


autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o
inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão,
específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em
qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes
a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que
contenham informações sobre clientes.

§ 7º A ressalva constante do § 6º deste artigo não se estende a clientes do advogado averiguado


que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou coautores pela prática do
mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade.

Nesse sentido, as ponderações de BONFIM:

A inviolabilidade do escritório ou local de trabalho do advogado, entretanto, não é


absoluta. Pode ser quebrada por ordem judicial, devidamente fundamentada, desde
que presentes indícios de autoria e materialidade de infração penal perpetrada por
advogado. O magistrado determinará a expedição de mandado de busca e apreensão
específico e detalhado, a ser cumprido na presença de representante da Ordem dos
Advogados do Brasil. Ademais, como garantia da inviolabilidade do escritório do
advogado, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que o mandado
de busca e apreensão não pode ser expedido de modo genérico, exigindo uma maior
especificidade no seu objeto em relação àquele mandado expedido para busca em
residência (STF, HC 91.610/BA, Rel. Gilmar Mendes, j. 8.6.2010, Informativo n. 590/STF)
(Bonfim, 2013).

Outra questão importante é referente à possibilidade ou não de busca e apreensão em repartições públicas.
CAPEZ expõe as duas posições acerca do tema:

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 202


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Há duas posições: (i) admite-se: sempre que possível e indispensável tal diligência,
incumbirá à autoridade policial ou judiciária requisitar o objeto da busca e apreensão,
comunicando-se antecipadamente com o respectivo ministro ou secretário, ou até
mesmo com o chefe de serviço; (ii) não se admite: para os que se filiam a esta posição,
vedada é a busca e apreensão a ser procedida pela autoridade policial ou judiciária,
através de seus funcionários (Capez, 2018).

Para MARCÃO, tal medida seria plenamente possível:

Muito embora o art. 240 se refira à busca domiciliar, é possível que tal se realize em
repartições públicas. Se não houver receio de que a prova pereça ou extremada
urgência, o ideal é que a autoridade requisite do responsável pela repartição, via ofício,
o encaminhamento do que entender necessário. No caso de inércia ou recusa
injustificada, sem prejuízo das medidas tendentes à responsabilização penal (em razão
do crime de desobediência previsto no art. 330 do CP, v.g.), caberá busca e apreensão.
A requisição prévia não é condição de legalidade da busca em repartições públicas, que,
portanto, poderá ser realizada “de pronto”, sempre que fundadas razões justifiquem tal
medida (Marcão, 2017).

Também para NUCCI, que recomenda:

Quanto à repartição pública, o mais indicado é requisitar à autoridade que a controla a


entrega do objeto procurado. Essa é a posição partilhada igualmente, segundo menção
feita por CLEUNICE A. VALENTIM BASTOS PITOMBO, por ESPÍNOLA FILHO, TOURINHO
FILHO e ROGÉRIO LAURIA TUCCI, embora, para a autora, deva-se dividir o lugar público
aberto a todos, daqueles resguardados (Nucci, 2015).

10.4.2 Mandado de busca e apreensão

Os requisitos necessários ao mandado de busca e apreensão estão elencados no art. 243 do Código de
Processo Penal:

Art. 243. O mandado de busca deverá:

I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do
respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de
sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;

II - mencionar o motivo e os fins da diligência;

III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 203


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§ 1º Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de busca.

§ 2º Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, salvo


quando constituir elemento do corpo de delito.

TÁVORA, para além dos requisitos previstos no CPP, complementa:

A medida de busca e apreensão domiciliar só poderá ser determinada quando fundadas


razões a autorizarem, sendo necessário lastro mínimo indicando que os objetos ou
pessoas estão realmente na casa passível da medida. Da mesma forma, não se admite
mandado genérico, permitindo uma devassa geral na residência, o que simbolizaria
verdadeiro abuso de autoridade, ou mesmo mandado franqueando o ingresso em
número indeterminado de casas de um complexo de favelas, ou de uma rua inteira. O
mandado não pode ser um cheque em branco (Távora, 2017).

10.4.3 Execução da busca domiciliar

O procedimento da busca domiciliar está contido no art. 245 do CPP:

Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se
realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado
ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta.

§ 1º Se a própria autoridade der a busca, declarará previamente sua qualidade e o objeto da


diligência.

§ 2º Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a entrada.

§ 3º Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de força contra coisas existentes no


interior da casa, para o descobrimento do que se procura.

§ 4º Observar-se-á o disposto nos §§ 2º e 3º, quando ausentes os moradores, devendo, neste


caso, ser intimado a assistir à diligência qualquer vizinho, se houver e estiver presente.

§ 5º Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o morador será intimado a mostrá-
la.

§ 6º Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente apreendida e posta sob
custódia da autoridade ou de seus agentes.

§ 7º Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstanciado, assinando-o com duas


testemunhas presenciais, sem prejuízo do disposto no § 4º.

O dispositivo, per se, bem esclarece a forma como será procedida a execução da busca. Entretanto, algumas
considerações adicionais são pertinentes:

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 204


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a) Em relação ao consentimento do morador à realização da busca em período noturno, NUCCI pontua:


“Configura o abuso de autoridade caso a concordância seja extraída mediante ameaça ou qualquer tipo de
logro, como, por exemplo, ocorreria se houvesse a promessa de retornar no dia seguinte com um mandado
de busca e outro de prisão por desobediência” (Nucci, 2015).

b) Para a doutrina, o não atendimento à intimação para a abertura da porta pelo morador pode configurar
crime. TÁVORA, para quem tal atitude poderia ser enquadrada como desobediência, assevera:

Antes de adentrarem na residência, os executores mostrarão e lerão o mandado ao


morador, ou a quem o represente, intimando-o, na sequência, a abrir a porta. Não sendo
atendido o reclamo, será arrombada a porta e forçada a entrada. Neste caso, é possível
o enquadramento por desobediência (art. 330, CP) (Távora, 2017).

Para BONFIM, isso poderia configurar crime de resistência: “Em caso de desobediência, será arrombada a
porta e forçada a entrada (art. 245, § 2º). A conduta do morador desobediente poderá configurar o crime de
resistência, tipificado no art. 329 do Código Penal” (Bonfim, 2013).

c) NUCCI, ainda, faz interessante distinção em relação aos possíveis tipos de resistência quando da análise da
recalcitrância a que se refere o § 3º do artigo e as suas consequências:

Na análise da recalcitrância do morador em permitir a diligência, é preciso estabelecer


a diferença existente entre a resistência ativa e a passiva. A primeira dá margem à
utilização de força por parte dos executores, que cumprem o mandado, mesmo porque,
não o fazendo, será impossível cumprir, com sucesso, o determinado pelo juiz.
Entretanto, passiva é a rebelião natural da pessoa que se sente invadida em seu
domicílio, tendo sua intimidade devassada, o que termina sendo um mal necessário,
podendo gritar, esbravejar, mostrar sua contrariedade e ter reações nervosas de toda
ordem. Esta atitude não autoriza o emprego de força, nem tampouco a prisão do
morador por desobediência, resistência ou desacato. Observa, com argúcia, BENTO DE
FARIA que “os executores da busca devem ser pacientes, para relevar qualquer
exaltação, de momento, por parte do morador, levando em conta as excitações nervosas
que quase sempre produzem tais situações, e se manifestam sem intenção ofensiva,
mas como manifestação natural de independência e de liberdade” (Código de Processo
Penal, v. 1, p. 360) (Nucci, 2015).

d) Procede-se de igual maneira à estampada no § 4º do artigo quando apenas houver, na casa, pessoas que
não detenham capacidade de consentir à medida, como menores de idade ou incapazes por outros motivos.

e) Sobre o encerramento da execução do mandado, TÁVORA pontua:

A diligência será encerrada com a lavratura de auto circunstanciado, assinado pelos


executores, por duas testemunhas presenciais e eventualmente por um vizinho, nas

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hipóteses que preveem a sua convocação (item IV). A ausência de testemunhas


presenciais é mera irregularidade, relevando observar que os executores, naturalmente,
não figuram como testemunha. Prevê o art. 247 do CPP que não “sendo encontrada a
pessoa ou coisa procurada, os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver
sofrido a busca, se o requerer”. O fundamento da medida deve constar do mandado,
que ao ser lido ao morador no início do ato, objetiva esclarecê-lo de tudo que será
realizado. Se eventualmente restar alguma dúvida, ou se o morador não estava em casa,
poderá requerer mais explicações à autoridade responsável pela ordem (Távora, 2017).

f) Deve-se sempre buscar a minimização dos prejuízos e moléstias aos moradores de casas habitadas durante
esse tipo de procedimento, como bem dispõe o art. 248 do CPP. Nada mais é, pois, do que o bom-senso dos
executores da medida:

Art. 248. Em casa habitada, a busca será feita de modo que não moleste os moradores mais do
que o indispensável para o êxito da diligência.

Interessantes as colocações de BRASILEIRO a respeito do ingresso da autoridade ou de seus agentes para a


realização da apreensão em território de jurisdição alheia:

A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia, ainda


que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa
ou coisa, devendo apresentar-se à competente autoridade local, antes da diligência ou
após, conforme a urgência desta. Entende-se que a autoridade ou seus agentes vão em
seguimento da pessoa ou coisa, quando: a) tendo conhecimento direto de sua remoção
ou transporte, a seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista; b) ainda
que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações fidedignas ou circunstâncias
indiciárias, que está sendo removida ou transportada em determinada direção, forem
ao seu encalço (Lima, 2017).

CESPE – Delegado de Polícia Civil (PC MT)/2017. À noite, no


retorno para a delegacia, depois de cumpridas outras diligências,
policiais civis suspeitaram, com razões justificáveis, da ocorrência
de tráfico de drogas em determinada residência. Imediatamente,
entraram à força no local e realizaram busca e apreensão no
domicílio. Considerando o entendimento do STF, responda, de
forma fundamentada, aos seguintes questionamentos a respeito
da legalidade da entrada na residência e da busca e apreensão realizada na
situação hipotética acima descrita. 1. Ao entrarem na residência, naquele
momento, os policiais agiram de maneira legal? 2. Ao realizarem busca e
apreensão no domicílio, os policiais agiram legalmente? Em que momento ocorre
o controle judicial desse tipo de ação? 3. Caso a ação dos policiais seja considerada
ilícita, quais serão as consequências dessa ação?

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Por fim, vale a referência de que o STJ tem precedente (Informativo 690 - RMS 57.740-PE, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 23/03/2021) reconhendo a aplicação da
teoria da aparência no que diz respeito à autorização para a busca e apreensão:

Destaque - É válida a autorização expressa para busca e apreensão em sede de empresa


investigada dada por pessoa que age como sua representante.

Informações do Inteiro Teor - Cinge-se a controvérsia a saber sobre a validade da autorização


para cumprimento de mandado de busca e apreensão dada por pessoa que, embora tenha
deixado de ser sócia formal de empresa, continua assinando documentos, possui a chave do
escritório e apresenta-se como responsável para as autoridades policiais.

A teoria da aparência, quando cabível, valida a autorização expressa para a realização de busca
e apreensão em sede de empresa investigada.

Vale ressaltar que, embora tal teoria tenha encontrado maior amplitude de aplicação
jurisprudencial na seara civil, processual civil e no Código de Defesa do Consumidor, nada há que
impeça sua aplicação também na seara penal.

Contudo, para sua aplicação, há de reforçar a necessidade de conjugação da boa-fé com o erro
escusável e alguns requisitos essenciais. Segundo a doutrina, são seus requisitos essenciais
objetivos: a) uma situação de fato cercada de circunstâncias tais que manifestamente a
apresentem como se fora uma situação de direito; b) situação de fato que assim possa ser
considerada segundo a ordem geral e normal das coisas; c) e que, nas mesmas condições acima,
apresente o titular aparente como se fora titular legítimo, ou o direito como se realmente
existisse. São seus requisitos subjetivos essenciais: a) a incidência em erro de quem, de boa-fé, a
mencionada situação de fato como situação de direito considera; b) a escusabilidade desse erro
apreciada segundo a situação pessoal de quem nele incorreu.

Assim, reputa-se válida a autorização de ingresso da autoridade policial no estabelecimento dada


por empregados da empresa, ou quem se apresenta como tal, observados os requisitos
supracitados, em face da teoria da aparência.

10.4.4 Descoberta de elementos probatórios diversos e encontro fortuito de provas

Outra questão curiosa diz respeito à legitimidade da diligência e à validade de elementos probatórios
referentes a delito ignorado localizados durante busca e apreensão por outro crime.

Confessando ser ponto de difícil análise, NUCCI propõe:

Segundo nos parece, deve-se buscar o meio-termo. Caso a polícia esteja procurando,
por exemplo, por documentos falsificados e localizar uma arma que faz crer, por suas
peculiares características (um punhal manchado de sangue e devidamente escondido),
ser o instrumento usado para o cometimento de outro delito ou, então, localiza várias
fotos do morador na companhia de menores de idade, em atividade sexual, não deve

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simplesmente ignorar o que está vendo, mas deve preservar o local e as coisas
encontradas, solicitando, de imediato, ao juiz de plantão uma autorização legal para
proceder à apreensão. Assim fazendo, não se despreza a nova prova, mas também não
se apreende algo que não é objeto do mandado de busca e apreensão. Em se tratando
de pertences lícitos de terceiros, não indiciados ou acusados, não deve a polícia efetuar
qualquer tipo de apreensão. Encontrando algo ilícito, conforme a sua natureza, pode
haver a apreensão (ex.: droga ou arma, que são objetos de crimes permanentes) ou não
(ex.: documentos indicativos de cometimento de ilícito tributário, normalmente objetos
de delitos instantâneos). Para esta última situação, cabe ao agente do Estado solicitar ao
magistrado competente, mesmo que em regime de plantão, a apreensão cautelar. Na
sequência, instaurado o procedimento próprio (inquérito policial, por exemplo), torna-
se a apreensão definitiva, ao menos enquanto houver necessidade à instrução (Nucci,
2015).

BRASILEIRO, remetendo à teoria do encontro fortuito de provas, sustenta:

Fala-se em encontro fortuito de provas, portanto, quando a prova de determinada


infração penal é obtida a partir de diligência regularmente autorizada para a
investigação de outro crime. Nesses casos, a validade da prova inesperadamente obtida
está condicionada à forma como foi realizada a diligência. Nesses casos de cumprimento
de mandados de busca e apreensão, deve-se atentar para o fato de que a Constituição
Federal autoriza a violação ao domicílio nos casos de flagrante delito (CF, art. 5º, XI). Logo,
se a autoridade policial, munida de mandado de busca e apreensão, depara-se com
certa quantidade de droga no interior na residência, temos que a apreensão será
considerada válida, pois, como se trata do delito de tráfico de drogas na modalidade de
“guardar”, espécie de crime permanente, haverá situação de flagrante delito,
autorizando o ingresso no domicílio mesmo sem autorização judicial. Portanto, nas
hipóteses de flagrante delito (v.g., crimes permanentes), mesmo que o objeto do
mandado de busca e apreensão seja distinto, será legítima a intervenção policial, a
despeito da autorização para entrar na casa lhe ter sido deferida com outra finalidade
(Lima, 2017).

MOREIRA ALVES traz à baila interessante teoria a respeito dessa localização de provas, a chamada “teoria dos
campos abertos ou da primeira vista (plain view doctrine)”, segundo a qual, cumpridos certos requisitos,
poderia haver a apreensão desses elementos alheios ao objeto do mandado:

A teoria dos campos abertos ou da primeira vista (plain view doctrine) postula que, na
hipótese de uma prova se encontrar à vista da autoridade competente para a sua
colheita, dispensa-se a necessidade de mandado judicial para a produção desta prova.
Destarte, o mandado de busca e apreensão poderia então ser dispensado em casos em
que um agente policial se encontra, legalmente, em posição na qual ele pode perceber
determinado objeto, sendo que o caráter incriminador deste mesmo objeto é

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imediatamente aparente. Essa percepção pode ser feita através de qualquer um dos
cinco sentidos humanos. Ademais, para que essa teoria se implemente na prática, faz-
se indispensável ainda o cumprimento de dois requisitos, quais sejam: a) o objeto a ser
apreendido deve estar exposto, não ocorrendo, pois, qualquer busca em sentido
técnico/legal; b) nesta situação, não há qualquer expectativa legítima de privacidade. A
título de ilustração, é o que ocorre quando um policial apreende “maconha” ao sentir o
cheiro desta droga sendo queimada no interior de um veículo (olfato). A apreensão de
arma de fogo por policial que escuta o som de seu disparo (audição) é também outro
exemplo clássico aplicável à espécie (Alves, 2017).

Fazemos remissão, aqui, às teorias que estudamos na teoria geral da prova.

10.4.5 Busca pessoal

A busca pessoal, como a denominação explicita, recai sobre o próprio indivíduo e os seus pertences
imediatos.

Nas lições de MARCÃO:

Verdadeiro constrangimento legal, a busca pessoal é modalidade de diligência que recai


diretamente sobre a pessoa, e também sobre pertences seus, tais como vestimenta,
carteira, bolsa, mala, automóvel, motocicleta etc., daí ser possível falar em busca pessoal
direta e indireta nas situações respectivamente indicadas (Marcão, 2017).

A busca pessoal é admitida nos casos descritos no art. 240, § 2º do CPP:

§ 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte
consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.

Ou seja, poderá ocorrer quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo:

a) arma proibida;

b) coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;

c) instrumentos de falsificação ou contrafação e objetos falsificados e contrafeitos;

d) armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso;

e) objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;

f) cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o
conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;

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g) qualquer outro elemento de convicção.

Além do mais, conforme já assentado anteriormente, a busca pessoal não dependerá de mandado judicial
nas hipóteses do art. 244 do CPP:

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

RENATO BRASILEIRO, a respeito da expressão “fundada suspeita” constante do art. 244, registra a visão do STF
sobre o assunto:

Na dicção do Supremo Tribunal Federal, “a fundada suspeita prevista no art. 244 do CPP
não pode fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos
concretos que indiquem a necessidade da revista, em face do constrangimento que
causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza, que não se pode ter por
configurados na alegação de que trajava, o paciente, um ‘blusão’ suscetível de esconder
uma arma, sob risco de referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos e garantias
individuais e caracterizadoras de abuso de poder” (Lima, 2021).

A seu turno, registra AVENA:

Por fundadas razões compreende-se o conjunto de elementos objetivos que permitem ao juiz
formar sua convicção quanto a possuir, efetivamente, o indivíduo, em seu domicílio, o material
objeto da diligência. Já por fundadas suspeitas entende-se, no dizer de Nucci (ob. cit., p. 434), a
desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil, diferindo, pois, do conceito de fundadas razões,
que requer uma maior concretude quanto à presença dos motivos que ensejam a busca
domiciliar. A motivação, na busca pessoal, encontra-se no subjetivismo da autoridade que a
determinar ou executar (Avena, 2020).

Por fim, em se tratando de busca pessoal realizada em mulher, prevê o art. 249 do CPP:

Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou
prejuízo da diligência.

CESPE – Juiz federal (TRF 5ª Região)2017/XIV. João, suspeito de um roubo à


agência da Caixa Econômica Federal de Campina Grande/PB, ocorrido em
20/6/2012, foi preso em flagrante no dia 3/1/2013, durante diligência de
cumprimento do mandado de busca e apreensão, de que resultou a descoberta de
R$ 900.000,00 (novecentos mil reais) em espécie enterrados no quintal de sua
residência. Considerando essa situação hipotética, pronuncie-se sobre a validade
da prisão de João.

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Doutrina complementar

FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018), a respeito do termo
“domicílio”, faz as seguintes considerações: “A expressão domicílio não tem, nem pode ter, o significado a
ela atribuído pelo direito civil, não se limitando à residência do indivíduo, ou seja, o local onde o agente se
estabelece com ânimo definitivo de moradia (art. 70), tampouco ao lugar que a pessoa elege para ser o
centro de sua vida negocial. A interpretação deve ser a mais ampla e protetiva possível, consoante o
disposto no § 4º do art. 150 do Código Penal e o art. 246 do Código de Processo Penal. Domicílio, portanto,
para fins de inviolabilidade, será qualquer compartimento habitado, aposento ocupado de habitação
coletiva ou qualquer compartimento não aberto ao público, no qual se exerce profissão ou atividade (p.
ex., a sala interna do juiz, distinta da sala de audiências, o escritório do advogado, o consultório médico ou
dentário ou, simplesmente, atrás do balcão de um bar). Manoel Gonçalves Ferreira Filho fornece-nos o
critério discriminativo para a individualização do conceito de domicílio para a garantia constitucional: ‘É
todo local, delimitado e separado, que alguém ocupa com direito exclusivo e próprio, a qualquer título.
O ponto essencial da caracterização está na exclusividade em relação ao público em geral. Assim, é
inviolável como domicílio tanto a moradia quanto o estabelecimento de trabalho, desde que este não
esteja aberto a qualquer um do povo, como um bar ou restaurante’”.
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017): “Decorre do sistema de
garantias fundamentais que o mandado judicial de busca deve ser certo e determinado. Materializa
constrangimento ilegal o mandado incerto, indeterminado, aleatório. Se a diligência de busca for
realizada pela autoridade judiciária – coisa rara de se ver na prática, mas juridicamente possível –, não será
necessária a expedição de mandado prévio, pois não tem sentido imaginar que o juiz deva despachar e
fazer expedir documento autorizando ele mesmo”.
AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021): “A indicação da casa ou local
onde a busca será realizada é imprescindível. Não se justifica que a autoridade policial (ou o MP) postule
a busca e apreensão como primeiro ato da investigação. Não se busca para investigar, senão que se
investiga primeiro e, só quando necessário, postula-se a busca e apreensão. Logo, inexiste justificativa para
que uma busca seja genérica nesse requisito (endereço correto). Que primeiro a autoridade policial
investigue e defina o que precisa buscar e onde. Situação absolutamente ilegal a nosso sentir são os
mandados de busca e apreensão genéricos, muitas vezes autorizando a diligência em quarteirões inteiros
(obviamente na periferia...), conjuntos residenciais ou mesmo nas ‘favelas’ de tal ou qual vila. É inadmissível
o ‘mandado incerto, vago ou genérico. A determinação do varejamento, ou da revista, há de apontar, de
forma clara, o local, o motivo da procura e a finalidade, bem como qual a autoridade judiciária que a
expediu. É importantíssima a indicação detalhada do motivo e os fins da diligência’, como determina o
art. 243, II, do CPP. É imprescindível para a validade do ato que o mandado de busca e apreensão (e sua
consequente execução) tenha um foco claramente definido previamente. Como ato decisório, o mandado
judicial deve ser devidamente fundamentado, nos termos do art. 93, IX, da Constituição, não bastando,
por elementar, instrumentos padronizados ou formulários. A decisão judicial que a decreta deve ser muito
bem fundamentada, apontando os elementos que a legitimam, sua necessidade probatória e razões que
amparam essa decisão. A inobservância dessas regras conduz à ilicitude da prova obtida. Como muito
bem sintetiza BASTOS PITOMBO, eventual resultado positivo da busca e da apreensão não torna válida
decisão abusiva e ilegal. Seguindo com a autora, concluímos que mandado vazio é perigoso e difícil de
debelar-se. Autoritário, traz risco ínsito, arraigado na forma. Arbitrária e sem eficácia mostra-se a busca
que desatenda aos aludidos preceitos legais. E sem serventia a apreensão dela decorrente. Quanto ao
motivo e fins da diligência, exige-se uma rigorosa fundamentação por parte da autoridade judiciária que
a autoriza, devendo para tanto apontar a necessidade e a finalidade da busca. O motivo relaciona-se com
a definição do fumus commissi delicti e a necessidade de obter-se aquela prova para a investigação e
posterior processo. Exige, ainda, que não possa a prova ser obtida por outro meio menos violento, devendo
evidenciar-se assim a imprescindibilidade da diligência. Os fins da diligência impõem a clara definição –
de forma apriorística – do que se busca. Ou seja, impede-se a busca genérica de documentos e objetos.
Se possível, deve ser delimitado o objeto ou objetos buscados, para evitar um substancialismo inquisitório.
Se o que se busca é uma arma, que se faça a busca direcionada para isso, não estando a autoridade policial
autorizada a buscar e apreender documentos, cartas ou computadores. Em muitos casos, sabe-se, de
antemão, o que se busca. Logo, que se defina”.

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NORBERTO AVENA (Processo Penal, 12ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020):
“Abstraídas as situações que autorizam a busca independentemente de ordem judicial, condiciona-se o
deferimento da ordem judicial de busca e apreensão domiciliar à existência de fundadas razões que a
autorizem (art. 240, § 1. º, do CPP), como tais consideradas aquelas externadas por meio de motivação
concreta quanto à sua ocorrência e amparadas, senão em início de prova, ao menos em indícios
relativamente convincentes quanto à necessidade da medida. Divergem, como se vê, as razões que
determinam a busca domiciliar daquelas que autorizam a busca pessoal, para as quais é suficiente a
existência de fundada suspeita de que alguém esteja na posse dos objetos mencionados em lei (art. 240,
§ 2. º, do CPP), parâmetro este de ordem mais subjetiva e que dispensa fundamentação ou indicação de
motivos concretos. Outra exigência é a de que, se não for determinado (rua e número explicitados), deve
ser ao menos determinável o local da busca, bem como quem lá reside ou está sendo investigado. Afinal,
trata-se a busca domiciliar de medida de exceção, visto que importa em violação do domicílio e,
consequentemente, da intimidade alheia. Nesse contexto, seriam inadmissíveis o pedido e a expedição
de ordem judicial genérica, facultando-se à autoridade ou ao agente da autoridade a escolha do local a
ser invadido. Assim, apenas em caráter excepcional admite-se seja a medida autorizada sem a exata
precisão do local e do morador. Mesmo nestes casos, contudo, é preciso que haja a possibilidade de
determinação e pelo menos um deles deve ser informado ao juiz. Em suma, ou conhece-se o endereço e
desconhece-se o morador ou vice-versa. Não poderá, ainda, haver indefinição quanto ao objeto da
providência – v.g., apreensão de armas, localização de drogas, obtenção de documentos, objetos
receptados, etc. –, ao qual estará cingido o exequente da busca. Claro, portando mandado judicial
destinado, por exemplo, à localização de armas de uso restrito, caso venha a autoridade a encontrar
drogas ilícitas, nada impedirá a respectiva apreensão, uma vez que, nesse caso, a manutenção da
substância proibida, por si, já importa em prática criminosa, ensejando, inclusive, a voz de prisão em
flagrante do morador”. A respeito dos diversos locais que poderiam ser objeto da medida, pontua: “Pátio
da casa: Tratando-se de local cercado ou, ainda que não haja essa delimitação, havendo evidências certas
de que integra o ambiente da residência, o pátio deverá ter o mesmo tratamento desta, exigindo, para
que se proceda a busca e apreensão, a ordem judicial. Bem diferente, todavia, é a situação dos campos
abertos ou terrenos baldios, nos quais é permitida a livre ação da autoridade para diligenciar e apreender
objetos e provas. • Veículos: Não podem ser equiparados a domicílio, pois se trata de coisas que
pertencem à pessoa. No mesmo caso encontram-se os ônibus de transporte de passageiros, que podem
ser livremente examinados. Diferente é a situação da rotulada boleia do caminhão, que se equipara a
domicílio na hipótese de encontrar-se o motorista em viagem prolongada, valendo-se da cabine do
veículo como dormitório, lá possuindo seus objetos pessoais, roupas e material de higiene. Nesse caso,
deve ser respeitada a previsão constitucional exigente de ordem judicial para revista específica, quer dizer,
a abordagem diretamente relacionada àquele veículo. Evidentemente, essa regra não tem aplicabilidade
na hipótese de blitz, que se caracteriza como operação de revista geral em todos os veículos que passam
por determinado local, caso em que a revista aos veículos deve ser livremente facultada. • Trailers, cabine
de barcos, barracas, motor homes e afins: Tratando-se de locais destinados à habitação, ainda que
provisória, da pessoa, deverão receber idêntico tratamento conferido à busca na casa propriamente dita.
• Repartições públicas: Aqui a busca equipara-se à domiciliar. Entretanto, há duas orientações a respeito
da oportunidade de sua realização. Primeira, no sentido de que deve, necessariamente, ser precedida de
requisição da autoridade competente ao responsável pela repartição. Conforme esta posição, a
determinação judicial de busca e apreensão apenas ocorrerá se desatendida requisição prévia pelo
responsável ou se houver suspeita do envolvimento em prática criminosa desse responsável ou de
servidor que, ciente da diligência judicial, possa modificar o estado das coisas ou esconder, alterar ou
destruir provas. Segunda, entendendo que é viável a realização da busca de pronto, vale dizer,
independentemente de prévia requisição, desde que ocorrentes as situações legais que autorizam a
providência, especialmente as fundadas razões que a justifiquem. Sopesando estas duas linhas de
pensamento, compreendemos correta a primeira orientação. • Quarto ocupado de hotel, motel, pensão,
hospedaria e congêneres: Quarto de hotel e similares, quando ainda ocupados, qualificam-se
juridicamente como casa para fins da tutela da inviolabilidade domiciliar. Portanto, a inobservância das
regras legais e constitucionais na busca e apreensão realizada nesta espécie de recinto conduz à ilicitude
da prova, acarretando o seu banimento do processo criminal. O mesmo não ocorre, entretanto, quando,
encontrando-se aberto o estabelecimento, não estiver o quarto em que se deva proceder a operação de
busca ocupado por pensionistas ou hóspedes. • Escritório, consultório, gabinete de trabalho e similares:

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Estão abrigados pela tutela constitucional, exigindo-se, portanto, ordem judicial para que lá sejam feitas
diligências de busca. E se o escritório, consultório, gabinete e congêneres não estiverem ocupados no
momento da busca? Embora haja controvérsia, já decidiu o STF por afastar os referidos ambientes da
proteção constitucional da inviolabilidade domiciliar quando não estiverem ocupados no momento da
diligência. Isto ocorreu no julgamento do já mencionado Inquérito 2.424/ RJ100 (20.11.2008), entendendo
aquela Corte que “é, no mínimo, duvidosa a equiparação entre escritório vazio com domicílio stricto
sensu, que pressupõe a presença de pessoas que o habitem”. Neste contexto, validou a busca e
apreensão realizada no local, durante a noite (in casu, tratava-se do escritório de advogado a quem se
imputava participação em crimes), refutando os argumentos de que essa providência teria afrontado o
art. 5. º, XI, da CF por não ter sido realizada no período diurno. • Gabinete ocupado por servidor público:
Também aqui incide a proteção constitucional. Considere-se, por exemplo, o gabinete de um delegado
de polícia: mesmo que situado em prédio público, a busca em tal lugar insere-se no contexto de busca
domicílio para efeitos legais e constitucionais, já que se trata de compartimento cujo acesso é restrito e
depende de autorização, “constituindo local fechado ao público em que determinado indivíduo exerce
suas atividades”.
EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2019): “Antes de
adentrarem a casa, os executores do mandado de busca deverão mostrá-lo e lê-lo ao morador ou a quem
o represente, ordenando-lhe que abra a porta (art. 245, in fine). Se for o próprio juiz a conduzir a busca,
caso em que não haverá necessidade de expedição de mandado, deve ele declarar previamente sua
qualidade e o objetivo da diligência (art. 245, § 1º). Aliás, já se decidiu que, ainda que haja consentimento
do morador, a busca e apreensão domiciliar realizada sem o mandado viola o art. 5º, XI e LVI, da
Constituição Federal, e os arts. 240 e 241 do Código de Processo Penal (STJ, RHC 18.204/RS, 6ª T., Rel. Nilson
Naves, j. 28.10.2008, DJe, 16.2.2009). Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a entrada
(art. 245, § 2º). [...] Se for previamente determinada a pessoa ou coisa que se procura, o morador será
intimado a mostrá-la (art. 245, § 5º). Havendo recalcitrância do morador, é permitido o emprego de força
contra coisas existentes no interior da casa, com o fim de descobrir o que for procurado (art. 245, § 3º). O
uso da força deve restringir-se ao estritamente necessário para o sucesso da diligência. Essa regra está,
também, insculpida no art. 248 do Código de Processo Penal, que determina que, em casa habitada, a
busca será feita de modo a não molestar os moradores mais do que o indispensável para o êxito da
diligência. Quando ausentes os moradores, a diligência será acompanhada por vizinho, se houver e estiver
presente, permitindo-se aos executores arrombar a porta e forçar a entrada, bem como usar de força
contra as coisas do interior da casa, para o descobrimento do que se procura (art. 245, § 4º). Descoberta a
coisa ou a pessoa que se procura, será apreendida e posta imediatamente sob custódia da autoridade ou
de seus agentes (art. 245, § 6º), lavrando-se, ao final, auto circunstanciado da diligência, que deverá ser
assinado por duas testemunhas presenciais (art. 245, § 7º). Não sendo encontrada a pessoa ou coisa
procurada, os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver sofrido a busca, se o requerer (art.
247). Iniciada a busca, esta não se interrompe pelo advento da noite”
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016): “O mandado de
busca e apreensão deve ser interpretado de forma restrita. Não pode a autoridade, no cumprimento da
diligência, angariar todos os elementos que venha a encontrar na residência vasculhada, caso estejam
vinculados a infração diversa daquela, objeto da investigação. Deve-se então provocar o juiz, plantonista
ou não, para que se obtenha uma ampliação do mandado, em razão dos novos elementos eventualmente
descobertos, possibilitando assim, com a ordem judicial expressa, a sua captação. A exceção diz respeito
aos elementos que autorizem a prisão em flagrante, notadamente quando simbolizarem a existência de
crime permanente. É o que ocorre, v.g., com aquele que armazena substância entorpecente em casa.
Mesmo que a polícia esteja cumprindo mandado com outra finalidade, poderá apreender a droga, e
prender em flagrante os responsáveis, uma vez caracterizado o tráfico. Mesmo que os objetos pertençam
a terceiros, devem ser passíveis da apreensão, caracterizando-se verdadeira notícia crime. Discordamos
neste particular de Guilherme Nucci, que não entende possível a apreensão se os objetos não
pertencerem àquele que figura como indiciado ou réu”.
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva,
2017): “Realiza-se busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma
proibida ou objetos relacionados com infração penal (art. 240, § 2º, do CPP). A diligência pode abranger,
conforme o caso, a revista do corpo da pessoa, de suas vestes, de bolsas, de pastas ou de veículos.

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‘Havendo fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de objetos ou papéis que constituam corpo
de delito, como no caso, a busca em veículo, a qual é equiparada à busca pessoal, independerá da
existência de mandado judicial para a sua realização’ (STJ — HC 216.437/DF — 6ª Turma — Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior — julgado em 20.09.2012 — DJe 08.03.2013)”.

Jurisprudência pertinente

Súmula 545, STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento
do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.
Súmula 455, STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art.
366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero
decurso do tempo.

Súmula 591, STJ: É permitida a prova emprestada no processo administrativo


disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o
contraditório e a ampla defesa.
Supremo Tribunal Federal - STF
[...] TRÁFICO DE DROGAS E POSSE IRREGULAR DE MUNIÇÕES. NULIDADE POR VIOLAÇÃO DE
DOMICÍLIO. INEXISTÊNCIA. ELEMENTOS PROBATÓRIOS PRELIMINARES. PRESENÇA. AGRAVO
DESPROVIDO. [...] 2. Não há se falar em ilegalidade por violação de domicilio se no caso concreto
ocorreu justa causa para a medida, considerando-se que a operação que resultou na flagrância foi
acompanhada, além da denúncia de que o imóvel era utilizado para o mercadejo de entorpecentes
há tempos, de outros elementos preliminares indicativos de ocorrência de crime. 3. Agravo regimental
desprovido. (STF - RHC: 198977 SC, Relator: ROBERTO BARROSO, Data de Julgamento: 22/03/2021).
TESE DE NULIDADE. BUSCA VEICULAR. VIOLAÇÃO DO ART. 240 P. 2º DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
AUSÊNCIA DE FUNDADAS SUSPEITAS. [...] 1. Nos termos da orientação desta Corte Superior e do art. 240,
p/ 2º, do Código de Processo Penal, a busca veicular, que é equiparada à busca pessoal, não necessita
de prévia autorização judicial quando houver fundadas suspeitas de possível delito, o que não se
verificou no caso concreto. 2. Na espécie, a busca no veículo não foi justificada pela autoridade policial e o
Tribunal de origem limitou-se a afirmar que “os denunciados trafegavam durante o fim da madrugada
(por volta das 05h20m), o que podia indicar que premeditadamente aproveitavam-se daquele horário.
Assim, constata-se a ilicitude das provas colhidas, conforme o art. 157 do Código de Processo Penal. [...].
(Agravo Regimental no HC n. 530.167 – SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, DJe 11.03.2021).
[...] BUSCA E APREENSÃO. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL EM CASO DE FLAGRANTE.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO. [...] 1. Não constitui ofensa ao princípio da inviolabilidade do
domicílio o fato de os policiais terem entrado na casa do réu, sem autorização judicial, para realizar
busca e apreensão, se o réu estava em estado de flagrância, o que legitima a conduta dos policiais,
de acordo com a ressalva contida no artigo 5º, XI, da Constituição Federal. [...] (STF - ARE: 1316619 DF,
Relator: LUIZ FUX, Data de Julgamento: 25/03/2021, Data de Publicação: 29/03/2021).
[...] BUSCA PESSOAL. APREENSÃO DE DOCUMENTOS EM AUTOMÓVEL. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE.
[...] Apreensões de documentos realizadas em automóvel, por constituir típica busca pessoal,
prescinde de autorização judicial, quando presente fundada suspeita de que nele estão ocultados
elementos de prova ou qualquer elemento de convicção à elucidação dos fatos investigados, a teor
do § 2º do art. 240 do Código de Processo Penal. [...] (RHC 117767, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI,
Segunda Turma, julgado em 11/10/2016).
[...] DEPUTADO FEDERAL ARROLADO COMO TESTEMUNHA. NÃO INDICAÇÃO DE DIA, HORA E LOCAL
PARA A OITIVA OU NÃO COMPARECIMENTO NA DATA JÁ INDICADA. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA
O NÃO ATENDIMENTO AO CHAMADO JUDICIAL. DECURSO DE MAIS DE TRINTA DIAS. PERDA DA
PRERROGATIVA PREVISTA NO ART. 221, CAPUT, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. Passados mais de
trinta dias sem que a autoridade que goza da prerrogativa prevista no caput do art. 221 do Código de

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Processo Penal tenha indicado dia, hora e local para a sua inquirição ou, simplesmente, não tenha
comparecido na data, hora e local por ela mesma indicados, como se dá na hipótese, impõe-se a
perda dessa especial prerrogativa, sob pena de admitir-se que a autoridade arrolada como
testemunha possa, na prática, frustrar a sua oitiva, indefinidamente e sem justa causa. Questão de
ordem resolvida no sentido de declarar a perda da prerrogativa prevista no caput do art. 221 do Código de
Processo Penal, em relação ao parlamentar arrolado como testemunha que, sem justa causa, não atendeu
ao chamado da justiça, por mais de trinta dias. (AP 421 QO, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal
Pleno, julgado em 22/10/2009).
[...] ALEGAÇÃO DE NÃO OBSERVÂNCIA DO ART. 212 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, COM ALTERAÇÃO
DA LEI N. 11.690/2008. NULIDADE RELATIVA. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO[...] O princípio do pas de
nullité sans grief exige, sempre que possível, a demonstração de prejuízo concreto pela parte que
suscita o vício. Precedentes. Prejuízo não demonstrado pela defesa. 3. Ordem denegada. (HC 115336,
Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 21/05/2013).
[...] O reconhecimento fotográfico tem valor probante pleno quando acompanhado e reforçado por
outros elementos de convicção. Habeas corpus indeferido. (HC 74267, Relator(a): Min. FRANCISCO
REZEK, Segunda Turma, julgado em 26/11/1996).
[...] BUSCA E APREENSÃO FUNDAMENTADA. VERIFICAÇÃO DE QUE NO LOCAL FUNCIONAVA
ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO ESPECÍFICA. AUSÊNCIA DE
COMUNICAÇÃO AO MAGISTRADO ANTES DA EXECUÇÃO DA MEDIDA. IMPOSSIBILIDADE DE
EXECUÇÃO EM SITUAÇÃO DISTINTA DAQUELA DETERMINADA NA ORDEM JUDICIAL. NULIDADE DAS
PROVAS COLHIDAS. ORDEM CONCEDIDA. [...] 2. Tratando-se de local onde existem documentos que
dizem respeito a outros sujeitos não investigados, é indispensável a especificação do âmbito de
abrangência da medida, que não poderá ser executada sobre a esfera de direitos de não investigados.
3. Equívoco quanto à indicação do escritório profissional do paciente, como seu endereço residencial, deve
ser prontamente comunicado ao magistrado para adequação da ordem em relação às cautelas
necessárias, sob pena de tornar nulas as provas oriundas da medida e todas as outras exclusivamente
delas decorrentes. 4. Ordem concedida para declarar a nulidade das provas oriundas da busca e
apreensão no escritório de advocacia do paciente, devendo o material colhido ser desentranhado dos
autos do INQ 544 em curso no STJ e devolvido ao paciente, sem que tais provas, bem assim quaisquer das
informações oriundas da execução da medida, possam ser usadas em relação ao paciente ou a qualquer
outro investigado, nesta ou em outra investigação. (HC 91610, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 08/06/2010).
Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral. 2. Inviolabilidade de domicílio
– art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso de crime permanente.
Possibilidade. A Constituição dispensa o mandado judicial para ingresso forçado em residência em
caso de flagrante delito. No crime permanente, a situação de flagrância se protrai no tempo. 3.
Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao período do dia é aplicável apenas aos casos em
que a busca é determinada por ordem judicial. Nos demais casos – flagrante delito, desastre ou para
prestar socorro – a Constituição não faz exigência quanto ao período do dia. 4. Controle judicial a
posteriori. Necessidade de preservação da inviolabilidade domiciliar. Interpretação da Constituição.
Proteção contra ingerências arbitrárias no domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o ingresso
forçado em casa sem determinação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente. A inexistência
de controle judicial, ainda que posterior à execução da medida, esvaziaria o núcleo fundamental da
garantia contra a inviolabilidade da casa (art. 5º, XI, da CF) e deixaria de proteger contra ingerências
arbitrárias no domicílio (Pacto de São José da Costa Rica, artigo 11, 2, e Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos, artigo 17, 1). O controle judicial a posteriori decorre tanto da interpretação da Constituição,
quanto da aplicação da proteção consagrada em tratados internacionais sobre direitos humanos
incorporados ao ordenamento jurídico. Normas internacionais de caráter judicial que se incorporam à
cláusula do devido processo legal. 5. Justa causa. A entrada forçada em domicílio, sem uma justificativa
prévia conforme o direito, é arbitrária. Não será a constatação de situação de flagrância, posterior ao
ingresso, que justificará a medida. Os agentes estatais devem demonstrar que havia elementos mínimos
a caracterizar fundadas razões (justa causa) para a medida. 6. Fixada a interpretação de que a entrada
forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da

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casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados. 7. Caso concreto. Existência de fundadas
razões para suspeitar de flagrante de tráfico de drogas. Negativa de provimento ao recurso. (RE 603616,
Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 05/11/2015, PUBLIC 10-05-2016).
Habeas corpus. 2. Inviolabilidade de domicílio (art. 5º, IX, CF). Busca e apreensão em estabelecimento
empresarial. Estabelecimentos empresariais estão sujeitos à proteção contra o ingresso não
consentido. 3. Não verificação das hipóteses que dispensam o consentimento. 4. Mandado de busca
e apreensão perfeitamente delimitado. Diligência estendida para endereço ulterior sem nova
autorização judicial. Ilicitude do resultado da diligência. 5. Ordem concedida, para determinar a
inutilização das provas. (HC 106566, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, j. em 16/12/2014).
[...] 1. A gravação ambiental meramente clandestina, realizada por um dos interlocutores, não se
confunde com a interceptação, objeto cláusula constitucional de reserva de jurisdição. 2. É lícita a
prova consistente em gravação de conversa telefônica realizada por um dos interlocutores, sem
conhecimento do outro, se não há causa legal específica de sigilo nem de reserva da conversação.
Precedentes. 3. Agravo regimental desprovido. (AI 560223 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Segunda Turma, julgado em 12/04/2011).
[...] A jurisprudência desta Corte admite o uso de prova emprestada em processo administrativo
disciplinar, em especial a utilização de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente para
investigação criminal. Precedentes. [...] (RMS 28774, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 22/09/2015).
[...] O Supremo Tribunal Federal afasta a necessidade de transcrição integral dos diálogos gravados
durante quebra de sigilo telefônico, rejeitando alegação de cerceamento de defesa pela não
transcrição de partes da interceptação irrelevantes para o embasamento da denúncia. Precedentes.
[...] (Inq 3693, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 10/04/2014).
Superior Tribunal de Justiça - STJ
...] TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE DA PROVA. [...] INGRESSO NA RESIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE
MANDADO DE BUSCA E APREENSAO. NÃO COMPROVAÇÃO DE FUNDADA SUSPEITA. ILEGALIDADE.
NULIDADE RECONHECIDA. ORDEM CONCEDIDA. [...] 2. É pacífico nesta Corte o entendimento de que,
nos crimes permanentes, tal como o tráfico de drogas, o estado de flagrância se protrai no tempo, o
que, todavia, não é suficiente, por si só, para justificar busca domiciliar desprovida de mandado
judicial, exigindo-se a demonstração de indícios mínimos de que, naquele momento, dentro da
residência, está-se diante de situação de flagrante delito. 3. Ausente, assim, justa causa para o
ingresso domiciliar, sem consentimento do morador nem autorização judicial, ainda que obtido êxito
na apreensão de droga. [...] (Habeas Corpus n. 617.232/SP, STJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. em 23.02.2021).
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMAS E DE DROGAS. VIOLAÇÃO DE
DOMICÍLIO. NÃO OCORRÊNCIA. FLAGRANTE DELITO. CRIME PERMANENTE. [...] ILEGALIDADE NÃO
CONFIGURADA. [...] O estado flagrancial dos delitos de tráfico internacional de armas de fogo e
organização criminosa consubstanciam uma das exceções à inviolabilidade de domicílio prevista no
inciso XI do art. 5º da Constituição, não havendo se falar, pois, em eventual ilegalidade na entrada
dos policiais na residência do recorrente, pois o mandado de busca e apreensão é dispensável em
tais hipóteses [...] No caso, havia notícia da prática de crimes e os policiais já vinham investigando o
local, sendo que, ainda do lado de fora da residência ou seja, na via pública, abordaram alguns
indivíduos egressos dali, logrando encontrar armas de fogo, corroborando as suspeitas e notícias dos
flagrantes ilícitos, justificando, assim, o ingresso. [...] (Agravo Regimental no Recurso em Habeas Corpus
n. 141.452/MS, STJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 30.01.2021).
[...] O mandado de busca e apreensão é desnecessário quando se trata de situação de flagrante delito
por crime permanente, como no presente caso (art. 33 da Lei nº 11.343 /06). 2. O artigo 5º , inciso XI ,
da Constituição Federal garante ao indivíduo a inviolabilidade de seu domicílio, tal direito não é
absoluto, uma vez que, tratando-se de crimes de natureza permanente, como é o caso do tráfico
ilícito de entorpecentes, mostra-se prescindível o mandado de busca e apreensão para que os
policiais adentrem o domicílio do acusado, não havendo se falar em eventuais ilegalidades relativas

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ao cumprimento da medida. 3. Uma vez franqueada a entrada dos policiais responsáveis pelo ato,
torna-se dispensável o mandado judicial, afastando-se, portanto, qualquer ilegalidade ( HC n.
310.338/SP , Relator Ministro GURGEL DE FARIA, Quinta Turma, julgado em 28/4/2015, DJe 18/5/2015). 4.
Para rever a conclusão da instância de origem, quanto à ausência de autorização para a entrada no
domicílio, seria indispensável a revisão do conjunto fático-probatório, providência que não encontra
espaço em recurso especial, em razão da vedação da Súmula n. 7/STJ. 5. Agravo regimental não provido.
(STJ - AgRg no REsp: 1909082 MG 2020/0320749-4, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
Data de Julgamento: 02/02/2021, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 04/02/2021).
[...] TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. INVASÃO DOMICILIAR EFETUADA POR POLICIAIS MILITARES
SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. DENÚNCIA ANÔNIMA E FUGA DE INDIVÍDUO PARA O INTERIOR DE SUA
RESIDÊNCIA, AO AVISTAR A VIATURA POLICIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. NULIDADE DAS PROVAS
OBTIDAS NA BUSCA E APREENSÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. [...] 2. O Supremo
Tribunal Federal definiu, em repercussão geral, que o ingresso forçado em domicílio sem mandado
judicial apenas se revela legítimo - a qualquer hora do dia, inclusive durante o período noturno -
quando amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso
concreto, que indiquem estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito (RE n.
603.616/RO, Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe 8/10/2010). Nessa linha de raciocínio, o ingresso em
moradia alheia depende, para sua validade e sua regularidade, da existência de fundadas razões
(justa causa) que sinalizem para a possibilidade de mitigação do direito fundamental em questão. É
dizer, somente quando o contexto fático anterior à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência
de crime no interior da residência é que se mostra possível sacrificar o direito à inviolabilidade do
domicílio. Precedentes desta Corte. 3. "a mera denúncia anônima, desacompanhada de outros
elementos preliminares indicativos de crime, não legitima o ingresso de policiais no domicílio indicado,
estando, ausente, assim, nessas situações, justa causa para a medida." (STJ - AgRg no HC: 645519 SP, Rel.
Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 20/04/2021, T5 - QUINTA TURMA).
[...] MEDIDA DE BUSCA E APRENSÃO DECRETADA NO CURSO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. SEGREDO DE
JUSTIÇA. CONTRADITÓRIO POSTERGADO. LEGALIDADE. [...] as medidas cautelares, em nosso sistema
processual, podem ser determinadas inaudiatur et altera pars; daí o contraditório postecipado [...].
(AgRg no HC n. 124.829/PE, STJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18.08.2020).
[...] POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. FLAGRANTE DELITO. BUSCA DOMICILIAR
SEM MANDADO JUDICIAL. AUSÊNCIA DE FUNDADAS RAZÕES. ILEGALIDADE DA MEDIDA. PROVA
ILÍCITA. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. [...] 1. Esta Corte se posicionou no sentido de que é prescindível o
mandado de busca e apreensão para que os policiais ingressem no domicílio do acusado, desde que
existam fundadas razões de prática de ilícito, configurando, assim, o flagrante de crime. Contudo, na
hipótese, não ficaram demonstradas as fundadas suspeitas de que estaria sendo cometido um delito na
residência. 2. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no AREsp: 1392367 RS, Relator: Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, Data de Julgamento: 03/09/2019, T5 - QUINTA TURMA).
[...] 4. A quebra do sigilo do correio eletrônico somente pode ser decretada, elidindo a proteção ao
direito, diante dos requisitos próprios de cautelaridade que a justifiquem idoneamente, desaguando
em um quadro de imprescindibilidade da providência. 5. Com o avanço tecnológico, o aparelho
celular deixou de ser apenas um instrumento de comunicação interpessoal. Hoje, é possível ter
acesso a diversas funções, entre elas, a verificação de mensagens escritas ou audível, de
correspondência eletrônica, e de outros aplicativos que possibilitam a comunicação por meio de
troca de dados de forma similar à telefonia convencional. 6. Hipótese em que, embora acessado
conteúdo do celular, sem prévia autorização judicial, não se verifica ofensa ao art. 5º , incisos X e XII,
da CF , uma vez que as mensagens encontradas eram de conteúdo publicitários, além de um registro de
mensagem de voz que teria sido deixada na caixa postal. Além disso, as referidas mensagens não
embasaram a condenação, mas sim as demais provas amealhadas na instrução criminal, inclusive a
confissão do paciente na empreitada criminosa, que foi levada em consideração na segunda fase da
dosimetria. [...] (STJ - HC: 426452 RS 2017/0306839-5, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de
Julgamento: 30/05/2019, T5 - QUINTA TURMA).
[...] INVERSÃO DA ORDEM DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS. AUSÊNCIA NULIDADE. OITIVA
REALIZADA POR CARTA PRECATÓRIA. ART. 222 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CPP . AGRAVO

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DESPROVIDO. 1. Nos termos da jurisprudência consolidada por esta Corte, "a inversão da oitiva de
testemunhas de acusação e defesa não configura nulidade quando a inquirição é feita por meio de
carta precatória, cuja expedição não suspende a instrução criminal, a teor do que dispõe o art. 222
do Código de Processo Penal . Precedentes" (AgRg no RHC 105.154/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 13/12/2018, DJe 4/2/2019). 2. Agravo desprovido. (STJ - AgRg no HC:
462121 PR, Relator: Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Data de Julgamento: 02/04/2019, T5 - QUINTA TURMA).
[...] PLEITO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ILICITUDE DA PROVA. NÃO OCORRÊNCIA. ENCONTRO
FORTUITO DE ELEMENTOS PROBATÓRIOS. CRIME PERMANENTE. DESNECESSIDADE DE MANDADO DE
BUSCA E APREENSÃO. RECURSO DESPROVIDO. 1. Não há ilicitude a ser declarada quando ocorre a
descoberta de fatos por meio do encontro fortuito de provas, ocorrido por ocasião do cumprimento
de mandado de busca e apreensão determinado pelo Juízo competente e de acordo com os
requisitos previstos no art. 243 do Código de Processo Penal. Precedentes. 2. Conforme o
entendimento deste Superior Tribunal de Justiça "[...] o delito de tráfico de entorpecentes, nas
modalidades guardar, ter em depósito, expor à venda, transportar e trazer consigo, é crime
permanente que, como tal, se protrai no tempo, sendo, portanto, prescindível a existência de
mandado de busca e apreensão" (RHC 91.442/SP , Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe 26/03/2018). [...] (STJ - RHC: 95659 RJ, Relator: Ministra LAURITA VAZ,
Data de Julgamento: 23/10/2018, T6 - SEXTA TURMA).
[...] INQUÉRITO POLICIAL. POSSIBILIDADE DE, EM TESE, REALIZAR-SE BUSCA E APREENSÃO EM
ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. MEDIDA QUE, TODAVIA, NÃO PODE SER UTILIZADA COMO INÍCIO DAS
INVESTIGAÇÕES POLICIAIS. ILEGALIDADE. [...] 1. Os escritórios de advocacia, como também os de outros
profissionais, não são impenetráveis à investigação de crimes. 2. Contudo, trata-se de evidente excesso a
instauração de investigações ou Ações Penais com base apenas em elementos recolhidos durante a
execução de medidas judiciais cautelares, relativamente a investigados que não eram, inicialmente,
objeto da ação policial. 3. Se a autoridade policial tem os elementos de suspeita, deve instaurar o
devido Inquérito Policial; mas autorizar ou homologar a posteriori provas colhidas durante medida
de busca e apreensão, se cria uma enorme insegurança para a sociedade. 4. Ordem parcialmente
concedida, tão-somente para declarar imprestáveis os elementos de prova colhidos na busca e apreensão
realizada, sem prejuízo que se instaure o devido Inquérito Policial e, se for o caso, proceda-se ao
indiciamento do paciente, bem como sejam tomadas todas as medidas legais cabíveis. (STJ - HC: 149008
PR 2009/0190819-0, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 17/06/2010, T5).
[...] 1. Nos crimes sexuais contra vulnerável, quando inexiste certidão de nascimento atestando ser a vítima
menor de 14 anos na data do fato criminoso, este Superior Tribunal tem admitido a verificação etária a
partir de outros elementos de convicção colacionados aos autos (AgRg no AREsp 114.864/DF e HC
81.181/SP[...]). 2. Na hipótese, embora inexista certidão civil, os laudos periciais, as declarações das
testemunhas, a compleição física das vítimas e as declarações do próprio acusado suprem
satisfatoriamente a ausência daquela prova documental. [...] (AgRg no AREsp 12.700/AC, Rel. Ministro
WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DES. CONV. TJ/SP), Rel. p/ Acórdão Ministro GURGEL DE FARIA,
QUINTA TURMA, julgado em 10/03/2015).
[...] 1. Nos termos do art. 167 do Código de Processo Penal, a prova testemunhal pode suprir a falta do
exame de corpo de delito, caso desaparecidos os vestígios. Esta Corte já decidiu que tal situação se
aplica inclusive aos casos de homicídio, se ocultado o corpo da vítima. 2. Hipótese em que a Corte
estadual, no julgamento do recurso em sentido estrito, entendeu pela existência de outras provas que
demonstrariam a materialidade do crime, indicando a confissão do paciente e depoimentos
testemunhais. 3. Diante desse contexto, não se mostra possível avaliar profundamente as provas
carreadas aos autos para se concluir de modo diverso. Ademais, caberá aos jurados competentes a
análise detida dos elementos de convicção carreados, por ocasião do julgamento pelo Tribunal do
Júri, mostrando-se prematuro o estancamento do feito. 4. Ordem denegada. (HC 170.507/SP, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 16/02/2012, DJe 05/03/2012).
[...] A jurisprudência é firme nesta Corte Superior no sentido de que, se a confissão foi utilizada para
corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação, deve incidir a atenuante prevista no
art. 65, III, "d", do Código Penal, sendo irrelevante o fato de haver sido qualificada. [...] (EREsp
1416247/GO, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/06/2016, DJe 28/06/2016).

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[...] A produção da prova testemunhal é complexa, envolvendo não só o fornecimento do relato, oral,
mas, também, o filtro de credibilidade das informações apresentadas. Assim, não se mostra lícita a
mera leitura pelo magistrado das declarações prestadas na fase inquisitória, para que a testemunha,
em seguida, ratifique-a. 3. Ordem concedida para para anular a ação penal a partir da audiência de
testemunhas de acusação, a fim de que seja refeita a colheita da prova testemunhal, mediante a regular
realização das oitivas, com a efetiva tomada de depoimento, sem a mera reiteração das declarações
prestadas perante a autoridade policial. (HC 183.696/ES, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 14/02/2012, DJe 27/02/2012).
[...] O artigo 221 do Código de Processo Penal, que assegura às autoridades com prerrogativa de foro
o direito de serem inquiridas em local, dia e hora previamente ajustados com o juiz, tem incidência
quando os ocupantes dos referidos cargos participarem do processo na qualidade de testemunhas.
[...] (HC 250.970/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 23/09/2014, DJe 30/09/2014).
[...] 1. Segundo o entendimento majoritário desta Corte, não há qualquer vício a ser sanado nas hipóteses
em que, apesar de intimado, o Ministério Público deixa de comparecer à audiência e o Magistrado,
condutor do processo, formula perguntas às testemunhas sobre os fatos constantes da denúncia,
mormente nas hipóteses em que a defesa não se insurge no momento oportuno e que não há
demonstração de efetivo prejuízo (art. 563 do CPP). 2. As modificações introduzidas pela Lei n.º
11.690/08, ao art. 212 do Código de Processo Penal, não retiraram do juiz a possibilidade de formular
perguntas às testemunhas, a fim de complementar a inquirição, na medida em que a própria
legislação adjetiva lhe incumbe do dever de se aproximar o máximo possível da realidade dos fatos
(princípio da verdade real e do impulso oficial), o que afasta o argumento de violação ao sistema
acusatório. 3. Eventual inobservância ao disposto no art. 212 do Código de Processo Penal gera
nulidade meramente relativa, sendo necessário para seu reconhecimento a alegação no momento
oportuno e a comprovação do efetivo prejuízo, o que não ocorreu, uma vez que, presente em audiência,
o causídico não suscitou o vício no decorrer das oitivas, tampouco nas alegações finais, não logrando
demonstrar qual o prejuízo causado ao réu. 4. Recurso especial provido para excluir a nulidade
reconhecida pelo Tribunal a quo e, por conseguinte, determinar o retorno dos autos a fim de que se
prossiga no julgamento do mérito do apelo. (REsp 1348978/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Rel.
p/ Acórdão Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 17/12/2015, DJe 17/02/2016).
[...] 1. A nova redação dada ao art. 212 do CPP, em vigor a partir de agosto de 2008, determina que as vítimas,
testemunhas e o interrogado sejam perquiridos direta e primeiramente pela acusação e na sequência
pela defesa, possibilitando ao magistrado complementar a inquirição quando entender necessário
quaisquer esclarecimentos. 2. Em anterior writ aqui impetrado, esta Corte Superior de Justiça reconheceu
a eiva ora reclamada na mesma ação penal em tela, embora em ato distinto, considerando tratar-se de
nulidade absoluta. 3. Nos dias atuais, o entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça
evoluiu para exigir que o reconhecimento da nulidade pela inobservância do disposto no artigo 212
do Código de Processo Penal seja precedida da sua arguição oportuna, bem como da comprovação
do efetivo prejuízo suportado. 4. Embora não se tenha notícia de eventual sentença condenatória
proferida na ação penal em tela, o que impede o reconhecimento de prejuízo em detrimento do paciente
com a utilização da prova colhida em desconformidade com o modelo legal para a formação da convicção
do magistrado, evita-se, em nome da segurança jurídica, a adoção de soluções díspares para a mesma
questão no bojo do mesmo processo. 5. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator. (HC 210.703/SP,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2011, DJe 09/11/2011).
[...] 1. A inversão da ordem de inquirição de testemunhas estabelecida pelo art. 212 do Código de
Processo Penal constitui nulidade capaz de viciar o processo quando suscitada a tempo e quando
demonstrado prejuízo efetivo sofrido pelo paciente. 2. Hipótese em que a nulidade tanto foi arguida
no momento adequado como também ficou demonstrado o prejuízo sofrido pelo paciente com a
inquirição das testemunhas feitas em primeiro lugar pelo juiz. 3. Ordem concedida. (HC 212.618/RS, Rel.
Ministro OG FERNANDES, Rel. p/ Acórdão Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, 6ªT, julgado em 24/04/2012).
[...] 1. Não há nulidade por ofensa ao art. 212 quando, a despeito de o Juiz haver formulado perguntas
diretamente às testemunhas, a defesa, presente à audiência, deixa de manifestar qualquer
inconformismo quanto ao sistema de inquirição adotado pelo Juiz. Ademais, por se tratar de nulidade
relativa, para seu reconhecimento, há necessidade de demonstração de prejuízo, o que, in casu, não

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ocorreu. 2. Embora o art. 411 do Código de Processo Penal haja estabelecido uma ordem de inquirição
das testemunhas, "a inversão da oitiva de testemunhas de acusação e defesa não configura nulidade
quando a inquirição é feita por meio de carta precatória, cuja expedição não suspende a instrução
criminal" (HC n. 160.794/RS, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5ª T., DJe 4/5/2011). Ainda que assim não fosse,
a não observância dessa regra acarreta, no máximo, nulidade relativa, sendo necessária, também, a
demonstração de efetivo prejuízo (pas de nullité sans grief), por se tratar de mera inversão. [...] (HC
159.885/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 21/06/2016).
[...] No caso em análise, o reconhecimento fotográfico apenas corroborou os indícios de autoria, a
justificar o regular processamento da ação penal, até porque do inquérito policial colacionado aos
autos observa-se que existiram outros elementos para embasar a denúncia oferecida pelo Ministério
Público, como as declarações prestadas pelas vítimas e testemunhas. [...] (HC 238.577/SP, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 06/12/2012, DJe 18/12/2012).
[...] A inobservância da forma estabelecida no art. 226 do Código de Processo Penal para o
reconhecimento de pessoas e coisas não produz nulidade absoluta, máxime quando se tratar de
confirmação de reconhecimento já realizado na fase inquisitorial. [...] (HC 397.523/SP, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 05/04/2018, DJe 16/04/2018).
[...] Havendo fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de objetos ou papéis que constituam
corpo de delito, como no caso, a busca em veículo, a qual é equiparada à busca pessoal, independerá
da existência de mandado judicial para a sua realização. [...] (HC 216.437/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 20/09/2012, DJe 08/03/2013).
[...] Consoante o disposto nos §§ 6º e 7º do art. 7º da Lei n. 8.906/1994, documentos, mídias e objetos
pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como demais instrumentos de trabalho que
contenham informações sobre clientes, somente poderão ser utilizados caso estes estejam sendo
formalmente investigados como partícipes ou coautores pela prática do mesmo crime que deu causa
à quebra de inviolabilidade. No caso, o paciente não estava sendo formalmente investigado e o crime
ora apurado não guarda relação com o estelionato judiciário (que originou a cautelar de busca e
apreensão). [...] (HC 227.799/RS, Rel. Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, 6ª TURMA, julgado em 10/04/2012).
[...] 11. Na hipótese sob exame, o acusado estava em local supostamente conhecido como ponto de venda
de drogas, quando, ao avistar a guarnição de policiais, refugiou-se dentro de sua casa, sendo certo que,
após revista em seu domicílio, foram encontradas substâncias entorpecentes (18 pedras de crack). Havia,
consoante se demonstrou, suspeitas vagas sobre eventual tráfico de drogas perpetrado pelo réu, em
razão, única e exclusivamente, do local em que ele estava no momento em que policiais militares
realizavam patrulhamento de rotina e em virtude de seu comportamento de correr para sua residência,
conduta que pode explicar-se por diversos motivos, não necessariamente o de que o suspeito cometia,
no momento, ação caracterizadora de mercancia ilícita de drogas. 12. A mera intuição acerca de eventual
traficância praticada pelo recorrido, embora pudesse autorizar abordagem policial, em via pública,
para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem
o consentimento do morador - que deve ser mínima e seguramente comprovado - e sem
determinação judicial. 13. Ante a ausência de normatização que oriente e regule o ingresso em domicílio
alheio, nas hipóteses excepcionais previstas no Texto Maior, há de se aceitar com muita reserva a usual
afirmação - como ocorreu na espécie - de que o morador anuiu livremente ao ingresso dos policiais para
a busca domiciliar, máxime quando a diligência não é acompanhada de qualquer preocupação em
documentar e tornar imune a dúvidas a voluntariedade do consentimento. 14. Em que pese eventual boa-
fé dos policiais militares, não havia elementos objetivos, seguros e racionais, que justificassem a invasão
de domicílio. Assim, como decorrência da Doutrina dos Frutos da Árvore Envenenada (ou venenosa, visto
que decorre da fruits of the poisonous tree doctrine, de origem norte-americana), consagrada no art. 5º,
LVI, da nossa Constituição da República, é nula a prova derivada de conduta ilícita - no caso, a apreensão,
após invasão desautorizada do domicílio do recorrido, de 18 pedras de crack -, pois evidente o nexo causal
entre uma e outra conduta, ou seja, entre a invasão de domicílio (permeada de ilicitude) e a apreensão de
drogas. 15. Recurso especial não provido, para manter a absolvição do recorrido. (REsp 1574681/RS, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 20/04/2017, DJe 30/05/2017).

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[...] Ilícita é a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidas diretamente pela
polícia em celular apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial. [...] (RHC 51.531/RO, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2016, DJe 09/05/2016).
[...] I - A obtenção do conteúdo de conversas e mensagens armazenadas em aparelho de telefone celular
ou smartphones não se subordina aos ditames da Lei 9296/96. II - O acesso ao conteúdo armazenado
em telefone celular ou smartphone, quando determinada judicialmente a busca e apreensão destes
aparelhos, não ofende o art. 5º, inciso XII, da Constituição da República, porquanto o sigilo a que se
refere o aludido preceito constitucional é em relação à interceptação telefônica ou telemática
propriamente dita, ou seja, é da comunicação de dados, e não dos dados em si mesmos. III - Não há
nulidade quando a decisão que determina a busca e apreensão está suficientemente fundamentada,
como ocorre na espécie. IV - Na pressuposição da ordem de apreensão de aparelho celular ou smartphone
está o acesso aos dados que neles estejam armazenados, sob pena de a busca e apreensão resultar em
medida írrita, dado que o aparelho desprovido de conteúdo simplesmente não ostenta virtualidade de
ser utilizado como prova criminal. V - Hipótese em que, demais disso, a decisão judicial expressamente
determinou o acesso aos dados armazenados nos aparelhos eventualmente apreendidos, robustecendo
o alvitre quanto à licitude da prova. Recurso desprovido. (RHC 75.800/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 15/09/2016, DJe 26/09/2016).
[...] ESTUPRO DE VULNERÁVEL. OITIVA DA VÍTIMA MEDIANTE "DEPOIMENTO SEM DANO".
CONCORDÂNCIA DA DEFESA. [...] 1. Esta Corte tem entendido justificada, nos crimes sexuais contra
criança e adolescente, a inquirição da vítima na modalidade do "depoimento sem dano", em respeito
à sua condição especial de pessoa em desenvolvimento, procedimento admitido, inclusive, antes da
deflagração da persecução penal, mediante prova antecipada (HC 226.179/RS, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 08/10/2013, DJe 16/10/2013). [...] (RHC 45.589/MT, Rel. Ministro GURGEL
DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 24/02/2015, DJe 03/03/2015).
[...] 1. O artigo 221 do Código de Processo Penal, que assegura às autoridades com prerrogativa de foro
o direito de serem inquiridas em local, dia e hora previamente ajustados com o juiz, tem incidência
quando os ocupantes dos referidos cargos participarem do processo na qualidade de testemunhas.
2. Tal previsão não se estende às referidas autoridades quando figuram na condição de investigados
em inquérito policial ou acusados em ação penal. [...] (HC 250.970/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 23/09/2014, DJe 30/09/2014).
[...] Não obstante o mandado de busca e apreensão tenha sido expedido para apuração de crime
praticado pelo estagiário do escritório do recorrente, verificou-se, no cumprimento da medida, a
ocorrência flagrancial de dois outros crimes que possuem natureza permanente. Contraria a
razoabilidade exigir-se dos policiais envolvidos na diligência que fingissem não ver os crimes, para
solicitar, a posteriori, um novo mandado específico de busca e apreensão para o escritório do
recorrente (Doutrina e jurisprudência). [...] A despeito da não indicação expressa de representante da
OAB local para o acompanhamento da diligência, foi solicitado, pelos policiais nela envolvidos, que uma
advogada, estivesse presente e acompanhasse o cumprimento do mandado de busca e apreensão no
escritório do recorrente, o qual se dirigia contra o estagiário. Diligência que não se revela nula em sua
execução, quando muito, meramente irregular. Recurso ordinário desprovido. (RHC 39.412/SP, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 03/03/2015, DJe 17/03/2015).

11. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA


Assim estabelece a Constituição Federal:

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das


comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

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Tal norma constitucional foi regulamenta pela Lei 9.296/1996, que trata da interceptação telefônica:

Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em


investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e
dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.

Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em


sistemas de informática e telemática.

Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer
das seguintes hipóteses:

I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;

II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da
investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade
manifesta, devidamente justificada.

Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício
ou a requerimento:

I - da autoridade policial, na investigação criminal;

II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual


penal.

Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônica conterá a demonstração de que a


sua realização é necessária à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem
empregados.

§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde
que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão
será condicionada à sua redução a termo.

§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o pedido.

Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de
execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual
tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.

Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação,


dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização.

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§ 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da comunicação interceptada, será


determinada a sua transcrição.

§ 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará o resultado da interceptação ao


juiz, acompanhado de auto circunstanciado, que deverá conter o resumo das operações
realizadas.

§ 3° Recebidos esses elementos, o juiz determinará a providência do art. 8°, ciente o Ministério
Público.

Art. 7° Para os procedimentos de interceptação de que trata esta Lei, a autoridade policial poderá
requisitar serviços e técnicos especializados às concessionárias de serviço público.

Art. 8° A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos


apartados, apensados aos autos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o
sigilo das diligências, gravações e transcrições respectivas.

Parágrafo único. A apensação somente poderá ser realizada imediatamente antes do relatório
da autoridade, quando se tratar de inquérito policial (Código de Processo Penal, art.10, § 1°) ou
na conclusão do processo ao juiz para o despacho decorrente do disposto nos arts. 407, 502 ou
538 do Código de Processo Penal.

Art. 9° A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o
inquérito, a instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público
ou da parte interessada.

Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo Ministério Público, sendo
facultada a presença do acusado ou de seu representante legal.

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou


telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não
autorizados em lei.

Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 12. Revogam-se as disposições em contrário.

Trouxemos aqui a Lei, para completude do material e contextualização da matéria, mas não faremos
explicações e apontamentos em relação a ela porque isso será feito pelo professor de Legislação Especial –
evitando-se a redundância.

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12. QUEBRA DO SIGILO DE DADOS


“O sigilo bancário e financeiro é um dever jurídico imposto às instituições financeiras para que estas não
divulguem informações acerca das movimentações financeiras de seus clientes, tais como aplicações,
depósitos, saques etc. Pode ser compreendido, portanto, como o dever jurídico de sigilo das entidades
atuantes no sistema financeiro nacional” (Lima, 2018). Tal imposição deriva da Lei Complementar 105/2001:

Art. 1º As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e


serviços prestados.

Também, por ser matéria de Legislação Especial, o tema não será aqui explorado, fazendo-se mera
referência.

13. COLABORAÇÃO PREMIADA


Esse tema é totalmente regulamentado por legislação esparsa, em especial as Leis 12.850/2013 e 9.807/99,
ficará também por conta do professor de Legislação Especial.

14. INFILTRAÇÃO DE AGENTES


“Integrante da estrutura dos órgãos policiais, o agente infiltrado (undercover agent) é introduzido
dissimuladamente em uma organização criminosa, passando a agir como um de seus integrantes, ocultando
sua verdadeira identidade, com o objetivo precípuo de identificar fontes de prova e obter elementos de
informação capazes de permitir a desarticulação da referida associação” (Lima, 2018).

Por ser tema regulamentado em Legislação Especial, será abordado na respectiva matéria.

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15. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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1973.
Alves, Leonardo Barreto Moreira. 2017. Processo penal. 7ª. Salvador : JusPodivm, 2017.
As condições da ação penal e o julgamento de mérito abusivo. Belo, Warley. Porto Alegre : Lex Editora, Lex
Magister.
Avena, Norberto. 2015. Manual de processo penal. 3ª. Rio de Janeiro : Forense, 2015.
—. 2017. Processo penal. 9ª. São Paulo : Método, 2017.
Badaró, Gustavo Henrique Righi Ivahy. 2000. Correlação entre acusação e sentença. São Paulo : RT, 2000.
—. 2003. Ônus da prova no processo penal. São Paulo : RT, 2003.
Badaró, Gustavo. 2017. Processo penal. 5ª. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2017.
Bonfim, Edilson Mougenot. 2015. Código de processo penal anotado. 5ª. São Paulo : Saraiva, 2015.
—. 2013. Curso de processo penal. 8ª. São Paulo : Saraiva, 2013.
Branco, Emerson Castelo. 2014. Processo penal: questões comentadas, CESPE. 3ª. Rio de Janeiro : Forense,
2014.
Campos, Walfredo Cunha. 2018. Curso completo de processo penal. Salvador : JusPodivm, 2018.
Capez, Fernando. 2018. Curso de processo penal. 24. São Paulo : Saraiva, 2018.
Carnelutti, Francesco. 2005. Das provas no processo penal. [trad.] Vera Lúcia Bison. 1ª. Campinas :
Impactus, 2005.
Cunha, Rogério Sanches, Taques, Pedro e Gomes, Luiz Flávio. 2009. Limites constitucionais da
investigação. 1. São Paulo : RT, 2009.
Demercian, Pedro Henrique e Maluly, Jorge Assaf. 2014. Curso de processo penal. Rio de Janeiro : Forense,
2014.
Dezem, Guilherme Madeira. 2018. Curso de processo penal. 4ª. São Paulo : RT, 2018.
Dias, Jorge de Figueiredo. 1974. Direito processual penal - Clássicos Jurídicos. 1. São Paulo : Coimbra, 1974.
Feitoza, Denilson. 2008. Reforma processual penal: Leis 11.689/2008, 11.690/2008 e 11.719/2008: uma
abordagem sistêmica. Niterói : Impetus, 2008.
Filho, Eduardo Espínola. 1980. Código de Processo Penal brasileiro anotado. 6ª. Rio de Janeiro : Rio -
Sociedade Cultural Ltda, 1980.
Filho, Fernando da Costa Tourinho. 2017. Manual de processo penal. 17. São Paulo : Saraiva, 2017.
—. 2011. Processo penal. 33. São Paulo : Saraiva, 2011. Vol. I.
Filho, Vicente Greco. 2012. Manual de processo penal. 9. São Paulo : Saraiva, 2012.
Fragoso, Heleno Cláudio. 1993. Lições de Direito Penal. 14ª. Rio de Janeiro : Forense, 1993.
Franco, Alberto Silva e Stoco, Rui. 2001. Código de Processo Penal e sua interpretação jurisprudencial. 1ª.
São Paulo : RT, 2001.
Gomes, Luiz Flávio e Mazzuoli, Valerio de Oliveira. 2009. Comentário à Convenção Americana sobre
Direitos Humanos. 2ª. São Paulo : RT, 2009.
Gonçalves, Victor Eduardo Rios, Reis, Alexandre Cebrian Araújo e Lenza, Pedro. 2017. Direito processual
penal esquematizado. São Paulo : Saraiva, 2017.
Jardim, Afrânio Silva. 2003. Direito processual penal. 11ª. Rio de Janeiro : Forense, 2003.
Jesus, Damário E. de. 1994. Código de Processo Penal anotado. 11ª. São Paulo : Saraiva, 1994.
Jesus, Damázio E. de. 1994. Código de Processo Penal anotado. 11ª. São Paulo : Saraiva, 1994.

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Júnior, Américo Bedê e Senna, Gustavo. 2009. Princípios do processo penal: entre o garantismo e a
efetividade da sanção. 1. São Paulo : RT, 2009.
Júnior, Aury Lopes. 2017. Direito processual penal. 14. São Paulo : Saraiva, 2017.
—. 2018. Direito processual penal. 15ª. São Paulo : Saraiva, 2018.
Júnior, Fredie Didier, et al. 2016. Processo penal. Salvador : JusPodivm, 2016.
Júnior, Roberto Delmanto. 2001. As modalidades de prisão provisória e seu prazo de duração. 2. Rio de
Janeiro : Renovar, 2001.
Lima, Renato Brasileiro de. 2018. Código de Processo Penal comentado. 3ª. Salvador : JusPodivm, 2018.
—. 2018. Legislação criminal especial comentada. 6ª. Salvador : JusPodivm, 2018.
—. 2017. Manual de processo penal. 5ª. Salvador : JusPodvim, 2017.
—. 2018. Manual de processo penal. 6ª. Salvador : JusPodvim, 2018.
Malatesta, Nicola Framarino Dei. 2004. A lógica das provas em matéria criminal. [trad.] Paolo Capitanio.
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—. 2014. Leis penais e processuais penais comentadas. 8ª. Rio de Janeiro : Forense, 2014.
—. 2015. Manual de Processo Penal e Execução Penal. RJ : Forense, 2015.
Pacelli, Eugênio. 2018. Curso de processo penal. 21. São Paulo : Atlas, 2018.
—. 2017. Curso de processo penal. 21. São Paulo : Atlas, 2017.
Pacelli, Eugênio e Fischer, Douglas. 2013. Comentários ao Código de Processo Penal e sua jurisprudência.
5ª. São Paulo : Atlas, 2013.
—. 2018. Comentários ao Código de Processo Penal e sua jurisprudência. 10ª. São Paulo : Atlas, 2018.
Pedroso, Fernando de Almeida. 2005. Prova penal. 2ª. São Paulo : RT, 2005.
Pinheiro, Rui. 1976. A constituição e o processo penal. 1. São Paulo : Coimbra, 1976.
—. 1974. A constituição e o processo penal - Clássicos Jurídicos. 1. São Paulo : Coimbra, 1974.

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Prado, Luiz Regis. 2009. Direito Processual Penal. São Paulo : RT, 2009.
Rangel, Paulo. 2017. Direito processual penal. 25. São Paulo : Atlas, 2017.
—. 2018. Direito processual penal. 26ª. São Paulo : Atlas, 2018.
Reis, Alexandre Cebrian Araújo. 2012. Direito processual penal esquematizado. 1. São Paulo : Saraiva,
2012.
—. 2017. Direito processual penal esquematizado. 6ª. São Paulo : Saraiva, 2017.
Rosa, Antonio José Miguel Feu. 1992. Processo penal. Rio de Janeiro : EDC - Editora Didática e Científica,
1992.
Silva, De Plácido e. 2005. Vocabulário jurídico. 26ª. Rio de Janeiro : Forense, 2005.
Távora, Nestor. 2017. Curso de direito processual penal. 12. Salvador : JusPodvim, 2017.
Távora, Nestor e Araújo, Fábio Roque. 2017. Código de processo penal comentado. 8ª. Salvador :
JusPodivm, 2017.
Tornaghi, Hélio. 1987. A relação processual penal. 2ª. São Paulo : Saraiva, 1987.
Tornaghi, Hélio Bastos. 1977. Instituições de processo penal. 2ª. São Paulo : Saraiva, 1977.
Tornaghi, Hélio. 1967. Compêndio de processo penal. Rio de Janeiro : José Konfino, 1967.
—. 1997. Curso de processo penal. São Paulo : Saraiva, 1997. 10.
Tucci, Rogério Lauria. 2004. Direitos e garantias individuais no processo penal Brasileiro. 2. São Paulo :
Saraiva, 2004.
Wambier, Luiz Rodrigues. 2010. Curso avançado de processo civil. 11. São Paulo : RT, 2010.
—. 2010. Curso avnçado de processo civil. 11. São Paulo : RT, 2010.

16. QUESTÕES

16.1 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS


1. VUNESP – Juiz Substituto – TJ/RS – 2018. A respeito das provas, assinale a alternativa correta.
a) São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilegítimas, assim entendidas as
obtidas em violação a normas constitucionais ou legais;
b) a pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa será computada como testemunha;
c) o exame para o reconhecimento de escritos, tal como o reconhecimento fotográfico, não tem previsão
legal;
d) o juiz não tem iniciativa probatória;
e) a falta de exame complementar, em caso de lesões corporais, poderá ser suprida pela prova testemunhal.
►Comentários
Alternativa A errada. Segundo a doutrina, provas ilegítimas são aquelas produzidas em violação a normas
procedimentais. Essas provas não se confundem com as ilícitas, que são aquelas que afrontam normas de
direito material. Prevalece a orientação de que provas ilegítimas não devem ser desentranhadas, porque a
lei isso não determina, além de serem submetidas ao regime das nulidades.

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Art. 157, CPP. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

Alternativa B incorreta. De acordo com o art. 209, § 2º do Código de Processo Penal, não será computada
como testemunha a pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa.
Alternativa C errada. O reconhecimento de escritos tem previsão legal no art. 174 do Código de Processo
Penal.

Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á
o seguinte: I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato,
se for encontrada; II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita
pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre
cuja autenticidade não houver dúvida; III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o
exame, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes
realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados; IV - quando não houver escritos para a
comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o
que lhe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá
ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.

Alternativa D errada. O juiz tem iniciativa probatória supletiva/complementar. As disposições do art. 156 do
Código de Processo Penal são prova disso.

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade
da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Assertiva E correta. De acordo com o art. 168, § 3º do Código de Processo Penal, a falta de exame
complementar pode ser suprida por prova testemunhal.

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto,
proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de
ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
§ 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de
suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo. § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do
delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias,
contado da data do crime. § 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova
testemunhal.

2. VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2017. No que diz respeito ao exame de corpo de delito e às
perícias em geral, é correto afirmar que
a) será facultada ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado
a indicação de assistente técnico, vedada, porém, a formulação de quesitos;

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b) é permitido às partes, durante o curso do processo, requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a
prova, desde que o mandado de intimação e as questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com
antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar;
c) é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionado,
anteriormente, na diligência de apreensão;
d) o assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz, sempre antes da conclusão dos exames e
elaboração do laudo pelo perito oficial, sendo as partes intimadas desta decisão.
►Comentários
Alternativa A errada. As partes indicadas na assertiva podem formular quesitos.

Art. 159, CPP. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. [...]§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao
assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e
indicação de assistente técnico. [...]

Alternativa B correta, porque compatível com o teor do art. 159, § 5º, inciso I do Código de Processo Penal.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. § 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido
às partes, quanto à perícia: I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para
responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem
esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo
apresentar as respostas em laudo complementar.

Alternativa C incorreta. A assertiva retrata o conteúdo da antiga Súmula 361 do STF, cujo enunciado, hoje, é
incompatível com a atual redação do caput do art. 159 do CPP que fala em “perito oficial”, no singular,
indicando que seja somente um.
Alternativa D errada. O assistente técnico só passa a atuar após sua admissão pelo juiz, após a conclusão dos
exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais. Perceba-se:

Art. 159, CPP. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. § 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão
pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as
partes intimadas desta decisão.

3. CESPE – Juiz Substituto – TJ/PR – 2017. Considerando os princípios que norteiam o interrogatório
do acusado e os requisitos para a realização desse ato, assinale a opção correta.
a) é válido o interrogatório do acusado que dispensa a presença do advogado e permanece em silêncio, pois,
se o silêncio não puder ser interpretado contra a defesa, não haverá prejuízo, considerando-se o
princípio pas de nullité sans grief.
b) se o interrogado não souber escrever, não puder ou não quiser assinar, o juiz nomeará curador e este,
após a leitura do interrogatório, assinará o termo;

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c) por não contar com as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, a confissão
extrajudicial, ainda que indireta, não é admitida como meio de prova;
d) o exercício do direito ao silêncio não gera presunção de culpabilidade para o acusado, tampouco pode ser
interpretado em prejuízo da defesa.
►Comentários
Alternativa A errada. O interrogatório do acusado deve ser necessariamente acompanhado por advogado
(constituído ou nomeado), sob pena de nulidade que, segundo a inteligência da Súmula 523 do STF, é
presumida.

Art. 185, CPP. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo
penal, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.

Súmula 523, STF - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Alternativa B errada. De acordo com o art. 195 do Código de Processo Penal, se o interrogado não souber
escrever, não puder ou não quiser assinar, tal fato será consignado no termo. A lei não determina a nomeação
de curador, tampouco exige sua assinatura no termo.
Alternativa C errada. A confissão, ainda que extrajudicial, é considerada meio de prova. Nesse sentido,
confira-se:

A confissão extrajudicial, não contando com as garantias constitucionais inerentes ao


processo, especialmente o contraditório e a ampla defesa, é apenas um meio de prova
indireto, isto é, um indício. (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e
Execução Penal. 12ª ed. Rio de Janeiro. Forense. 2015).

Assertiva D correta, porque compatível com o princípio da não culpabilidade e com o art. 186, parágrafo
único do Código de Processo Penal.

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LXIII - o preso será informado
de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
família e de advogado;

Art. 186, CPP. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o
acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer
calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas. Parágrafo único. O silêncio, que
não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.

4. CESPE – Juiz Substituto – TJ/AM – 2016. Acerca dos meios de prova no processo penal, assinale a
opção correta.

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a) a interceptação telefônica é medida subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada quando não
houver outro meio para se apurar os fatos tidos por criminosos, sendo ilegal quando for determinada apenas
com base em notícia anônima, sem investigação preliminar;
b) a competência para autorizar a interceptação telefônica é exclusiva do juiz criminal, caracterizando prova
ilícita o aproveitamento da diligência como prova emprestada a ser utilizada pelo juízo cível ou em processo
administrativo;
c) de acordo com o STJ, o prazo de quinze dias é contado a partir da data da decisão judicial que autoriza a
interceptação telefônica e pode ser prorrogado sucessivas vezes pelo tempo necessário, especialmente
quando o caso for complexo e a prova, indispensável;
d) em regra, o CPP estabelece que o interrogatório do réu preso será feito pelo sistema de videoconferência
ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real. Não sendo isso possível por
falta de disponibilidade do recurso tecnológico, o preso será apresentado em juízo, mediante escolta;
e) a busca domiciliar poderá ser feita sem autorização do morador, independentemente de dia e horário, no
caso de a autoridade judiciária comparecer pessoalmente para efetivar a medida, devendo esta declarar
previamente sua qualidade e o objeto da diligência.
►Comentários
Assertiva A correta. A interceptação telefônica é medida excepcional e só deve ser deferida se não houver
outros meios para produzir a prova (inteligência do art. 2º inciso II da Lei nº 9.296/96). Segundo a
jurisprudência, são ilegais as interceptações deferidas com base exclusiva em delação anônima.

Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer
das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração
penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir
infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer
hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a
indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente
justificada.

[...] 2. O anonimato, per se, não serve para embasar a instauração de inquérito policial
ou a interceptação de comunicação telefônica. Contudo, in casu, à denúncia anônima
somaram-se outras diligências efetuadas pela autoridade policial, que, só então,
formulou o requerimento respectivo.[...] 4. A interceptação telefônica é medida cautelar
penal, marcada, ontologicamente, pela necessidade e pela brevidade. (HC 350.645/MA,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2016,
DJe 29/04/2016)

Assertiva B errada. É possível que as provas obtidas com a interceptação telefônica legalmente deferida em
juízo criminal sejam utilizadas em processos cíveis/administrativos. Sobre o tema, confira-se o teor da
Súmula 591 do STJ e a orientação do STF sobre a matéria:

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Súmula 591, STJ - É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo


disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o
contraditório e a ampla defesa.

A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo


criminal pode ser utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo. Assim, é
possível que as provas provenientes de interceptações telefônicas autorizadas
judicialmente em processo criminal sejam emprestadas para o processo administrativo
disciplinar. (STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão
Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016).

Assertiva C errada. O prazo da interceptação telefônica é contado a partir da efetivação da medida e não da
data do deferimento do pedido pelo juízo.
Assertiva D errada. A realização do interrogatório por videoconferência não é a regra. Confira-se o teor do
art. 185, §§ 1º e 2º do Código de Processo Penal:

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. § 1o O
interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em que estiver
recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público
e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato. §
2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
necessária para atender a uma das seguintes finalidades: I - prevenir risco à segurança pública,
quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por
outra razão, possa fugir durante o deslocamento; II - viabilizar a participação do réu no referido
ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por
enfermidade ou outra circunstância pessoal; III - impedir a influência do réu no ânimo de
testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV - responder à gravíssima questão de
ordem pública.

Assertiva E errada, porque incompatível com as diretrizes do art. 245, caput do Código de Processo Penal.

Art. 245, CPP. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que
se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado
ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta.

5. CESPE – Juiz Substituto – TJ/AM – 2016. Carla fez um seguro de vida que previa o pagamento de
vultosa indenização a seu marido, José, caso ela viesse a falecer. O contrato previa que o beneficiário
não teria direito à indenização se causasse a morte da segurada. Alguns meses depois, Carla foi
encontrada morta, tendo o perito oficial que assinou o laudo cadavérico concluído que a causa provável
fora envenenamento. Em que pese o delegado não ter indiciado José, o MP concluiu que havia indícios

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de autoria, razão pela qual ele foi denunciado por homicídio doloso. O juiz recebeu a denúncia e
determinou a citação do réu. José negou a autoria do delito, tendo solicitado a admissão de assistente
técnico e apresentado defesa em que requereu sua absolvição sumária. O parecer do assistente técnico
foi no sentido de que a morte de Carla tivera causas naturais. Acerca dessa situação hipotética, assinale a
opção correta.
a) caso o juiz absolva José por estar provado não ser ele autor do fato, essa decisão não impedirá que os
genitores de Carla ingressem com ação civil indenizatória e obtenham o reconhecimento de sua
responsabilidade civil;
b) o MP não poderia ter oferecido denúncia sem que o delegado tivesse indiciado José e procedido à sua
oitiva na fase extrajudicial, razão pela qual o juiz deveria ter remetido os autos à delegacia para a referida
providência;
c) o juiz poderá fundamentar uma sentença absolutória acatando o parecer elaborado pelo assistente
técnico contratado por José, rejeitando as conclusões do perito oficial;
d) o laudo de exame cadavérico de Carla é nulo porque a legislação processual penal determina que ele seja
elaborado e assinado por dois peritos oficiais;
e) a seguradora poderá intervir no processo criminal como assistente da acusação no intuito de demonstrar
que José foi o autor do crime.
►Comentários
Assertiva A errada. Caso José seja absolvido por estar provado não ser ele o autor do fato, não será
responsabilizado civilmente pela morte de Carla. A decisão do juízo criminal, nesse caso, fará coisa julgada
no cível.

Art. 935, CC. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar
mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se
acharem decididas no juízo criminal.

Como se trata de decisão absolutória baseada em um juízo de certeza, que reconhece


categoricamente que o acusado não concorreu para o cometimento do delito, esta
absolvição faz coisa julgada no cível. Ora, se o juiz atestou estar provado que o acusado
não concorreu para a infração penal, conclui-se que tal questão foi decidida no âmbito
criminal, inviabilizando a propositura de ação indenizatória no cível (LIMA, Renato
Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Volume Único. 5ª ed. JusPodivm. Salvador.
2017. P. 316/7)

Assertiva B errada. O inquérito é peça dispensável. O Ministério Público não está adstrito à conclusão da
autoridade policial, tampouco depende de eventual aditamento para que possa oferecer denúncia.
Assertiva C correta, porque compatível com o que dispõe o art. 182 do Código de Processo Penal.

Art. 182, CPP. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em
parte.

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Assertiva D errada. O Código de Processo Penal não exige que o laudo de exame seja elaborado por dois
peritos oficiais.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.

Assertiva E errada. A seguradora não está relacionada no rol do art. 268 do Código de Processo Penal. O
simples interesse patrimonial na demanda não a eleva à condição de vítima.

1. A seguradora não tem direito líquido e certo de figurar como assistente do Ministério
Público na ação penal em que se imputa a um dos denunciados, beneficiário de seguro
de vida da vítima, a prática de homicídio (art. 121, § 2º, incisos I e IV, do Código Penal),
porquanto não se caracteriza como vítima desse delito, tampouco há previsão legal
nesse sentido. (RMS 47.575/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 14/04/2015, DJe 23/04/2015)

6. FCC – Juiz Substituto – TJ/SE – 2015. No tocante à interceptação telefônica, de acordo com
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, é INCORRETO afirmar:
a) transcrição integral do conteúdo de gravação das interceptações telefônicas é dispensável, sendo
imprescindíveis tão somente os trechos que digam respeito ao investigado − embasadores da denúncia −,
para que, assim, exerça o contraditório e a ampla defesa;
b) admite-se a serendipidade, ou seja, a descoberta de fatos novos advindos do monitoramento
judicialmente autorizado pode resultar na identificação de pessoas inicialmente não relacionadas no pedido
da medida probatória, mas que possuam estreita ligação com o objeto da investigação, e tal circunstância
não invalida a utilização das provas colhidas contra esses terceiros;
c) a condução dos trabalhos de interceptação telefônica autorizada judicialmente por órgão da Polícia Militar
− Agência de Inteligência − implica ilegitimidade na execução da medida constritiva;
d) o prazo de duração da interceptação telefônica pode ser seguidamente prorrogado, quando a
complexidade da investigação assim o exigir, desde que em decisão devidamente fundamentada;
e) embora a interceptação telefônica só possa ser autorizada para fins de produção de prova em investigação
ou processo criminal, o certo é que, uma vez autorizada judicialmente, o seu conteúdo pode ser utilizado
para fins de imposição de pena, inclusive de perda de cargo, função ou mandato, não se mostrando razoável
que as conversas gravadas, cujo teor torna-se público com a prolação de sentença condenatória, não sejam
aproveitadas na esfera civil ou administrativa.
►Comentários
Assertiva A correta. É prescindível a transcrição integral dos diálogos colhidos por meio de interceptação
telefônica ou escuta ambiental, visto que a Lei 9.269/1996 não traz nenhuma exigência nesse sentido [...]
(MS 20.513/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/12/2017, DJe
18/12/2017)
Assertiva B correta. Fala-se em encontro fortuito de provas (serendipidade) quando, no cumprimento de
uma diligência, a autoridade policial localiza provas referentes a outra infração ou que permitam a

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identificação de pessoas inicialmente não relacionadas com a investigação. Não há vedação à utilização de
tais provas.
Assertiva C incorreta. De acordo com o STJ, a interpretação do artigo 6.º da Lei nº 9.296/96 não pode ser
demasiadamente estrita, sob pena de degenerar em ineficácia, entendendo-se, assim, que a condução dos
trabalhos de interceptação telefônica por órgão da Polícia Militar - Agência de Inteligência - não implica
ilegitimidade na execução da medida constritiva. [...] (RHC 40.983/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 06/11/2014, DJe 19/11/2014)
Assertiva D correta. Apesar de o artigo 5º da Lei 9.296/1996 prever o prazo máximo de 15 (quinze) dias para
a interceptação telefônica, renovável por mais 15 (quinze), não há qualquer restrição ao número de
prorrogações possíveis, exigindo-se apenas que haja decisão fundamentando a dilatação do período. (HC
359.809/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 27/04/2017, DJe 09/05/2017)

Art. 5°, Lei 9.296/96. A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a
forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por
igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.

Assertiva E correta. Embora a interceptação telefônica só possa ser autorizada para fins de produção de
prova em investigação ou processo criminal, o certo é que uma vez autorizada judicialmente, o seu conteúdo
pode ser utilizado para fins de imposição de pena, inclusive de perda de cargo, função ou mandato, não se
mostrando razoável que as conversas gravadas, cujo teor torna-se público com a prolação de sentença
condenatória, não sejam aproveitadas na esfera civil ou administrativa. (RHC 52.209/RS, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 20/11/2014, DJe 27/11/2014)
7. VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2015. A confissão do acusado no processo penal
a) só pode ser admitida se houver outras provas;
b) para ter validade, deve ser apresentada na polícia e em juízo;
c) pode ser considerada válida ainda que feita somente na fase extrajudicial;
d) nunca será tida como valor probante se houver posterior retratação judicial.
►Comentários
Assertiva A errada. O ordenamento jurídico não condiciona a admissão da confissão à existência de outras
provas. O que se exige é que, para uma condenação, eventual confissão esteja amparada por outras provas
(art. 197, CPP).

Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de
prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo,
verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.

Assertiva B errada. Não se exige, para fins de validade, que o acusado tenha confessado na fase de inquérito
e também em juízo. Uma confissão extrajudicial, por exemplo, pode perfeitamente auxiliar na formação do
convencimento do juiz.
Assertiva C correta. A confissão, ainda que extrajudicial, é considerada meio de prova. Nesse sentido, confira-
se:

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A confissão extrajudicial, não contando com as garantias constitucionais inerentes ao


processo, especialmente o contraditório e a ampla defesa, é apenas um meio de prova
indireto, isto é, um indício. (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e
Execução Penal. 12ª ed. Rio de Janeiro. Forense. 2015).

Assertiva D errada. A confissão retratada tem valor probante e pode, ao lado de outras provas, amparar
eventual condenação. Sobre o tema, confira-se:

A Jurisprudência deste Tribunal Superior firmou-se no sentido de que incide a atenuante


prevista no art. 65, III, "d", quando a confissão do acusado, ainda que retratada ou
parcial, seja utilizada para fundamentar a sua condenação, como ocorreu no caso em
apreço (HC 433.722/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
15/05/2018, DJe 22/05/2018)

8. CESPE – Juiz Substituto – TJ/PB – 2015. Assinale a opção correta a respeito de provas no CPP.
a) em caso de divergência entre os peritos, a controvérsia será resolvida internamente pelo diretor da
repartição de lotação dos peritos, que elaborará laudo a fim de apresentar uma versão consensual;
b) no processo penal, a prova do estado de casado deve obedecer às restrições referentes ao estado de
pessoas previstas no ordenamento civil;
c) em respeito ao princípio acusatório, é vedado ao magistrado ordenar de ofício a produção antecipada de
provas;
d) por ser uma peça técnica, o laudo pericial deve ser aceito pelo juiz, sendo-lhe vedado inclusive rejeitá-lo
em parte;
e) o assistente técnico atuará no exame de corpo de delito juntamente com o perito oficial.
►Comentários
Assertiva A incorreta, porque incompatível com a solução indicada pelo art. 180 do Código de Processo
Penal:

Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as
declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a
autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar
proceder a novo exame por outros peritos.

Assertiva B correta. Encontra amparo legal no art. 155, parágrafo único do Código de Processo Penal:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

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Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil.

Assertiva C está errada. Nos termos do art. 156, inciso I do Código de Processo Penal, o juiz pode determinar
de ofício a produção antecipada de provas. Note-se:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de
ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade
da medida;

Assertiva D incorreta. Segundo o art. 182 do Código de Processo Penal, o juiz pode rejeitar o laudo pericial
no todo ou em parte. Veja-se:

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em
parte.

Assertiva E está incorreta. O assistente técnico não atua juntamente com o perito oficial, mas após a
conclusão dos exames e a elaboração do respectivo laudo, nos moldes do art. 159, § 4º do Código de
Processo Penal:

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. § 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão
pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as
partes intimadas desta decisão.

9. FCC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2015. Com relação ao exame de corpo de delito e às perícias em
geral, analise as seguintes assertivas, nos termos do Código de Processo Penal:
I. Na falta de perito oficial, o exame poderá ser realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma
de curso superior, mas não necessariamente na área técnica específica da natureza do exame.
II. O Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante e o acusado poderão formular
quesitos, mas somente o Ministério Público e o acusado poderão indicar assistente técnico.
III. A autópsia será feita sempre após seis horas do óbito, não prevendo a lei qualquer exceção.
IV. A exumação será realizada em dia e hora previamente agendados, e somente após autorização judicial.
V. As partes poderão requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a
quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 dias, podendo apresentar as respostas em laudo
complementar.
É correto o que se afirma APENAS em
a) II e IV;
b) I, IV e V;
c) I, II, III e IV;

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d) I e V;
e) II, III e V.
►Comentários
Proposição I correta, porque compatível com o § 1º do art. 159 do Código de Processo Penal.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. § 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por
2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

Proposição II incorreta. Não apenas o Ministério Público e o acusado poderão indicar assistente técnico, mas
também o assistente de acusação, o ofendido e o querelante.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. [...] § 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao
assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e
indicação de assistente técnico

Proposição III incorreta. De acordo com o art. 162, caput do Código de Processo Penal, a autópsia será feita
pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que
possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.
Proposição IV incorreta. É desnecessária autorização judicial para a exumação. A autoridade policial pode,
por conta, determiná-la por força do que estabelece o art. 6º, inciso VII, parte final, do Código de Processo
Penal.

Art. 6o, CPP. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá: [...] VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias.

Art. 163, CPP. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para
que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado.

Em alguns casos, para que se possa fazer o exame cadavérico, é necessária a exumação
do cadáver. Nesse caso, a autoridade policial ou judiciária providenciará para que, em
dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Volume Único.
5ª ed. JusPodivm. Salvador. 2017. P. 667).

Proposição V correta. Exterioriza o teor do art. 159, § 5º, inciso I do Código de Processo Penal:

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. § 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às

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partes, quanto à perícia: I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para
responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem
esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo
apresentar as respostas em laudo complementar.

Consequentemente, apenas a assertiva D está correta.


10. FCC – Juiz Substituto – TJ/GO – 2015. Em relação às testemunhas no processo penal, de acordo
com o Código de Processo Penal,
a) caso as testemunhas de acusação se sintam ameaçadas pelo réu, poderão deixar de prestar depoimento.
b) caso arrolado como testemunha, o Governador poderá optar por prestar depoimento por escrito;
c) as cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando
a parte requerente com os custos de envio;
d) caso a testemunha seja arrolada pela defesa e esteja impossibilitada, por enfermidade, de comparecer
para depor, o juiz determinará que a defesa substitua esta testemunha, sob pena de preclusão da prova;
e) são proibidas de depor, ainda que desobrigadas pela parte interessada, as pessoas que, em razão da
profissão, devam guardar segredo.
►Comentários
Assertiva A errada. A testemunha não pode se eximir da obrigação de depor (art. 206, CPP). Além disso, caso
testemunhas se sintam ameaçadas, o juiz procederá à inquirição por videoconferência ou, na
impossibilidade, determinará a retirada do réu, prosseguindo na oitiva.

Art. 206, CPP. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto,
recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que
desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível,
por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Art. 217, CPP. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou
sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor.

Assertiva B errada. Apenas o Presidente, o Vice-Presidente da República e os presidentes da Câmara dos


Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal podem optar por prestar depoimento por
escrito (art. 221, § 1º, CPP).

Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os


ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembléias Legislativas
Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da
União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em
local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. § 1o O Presidente e o Vice-Presidente
da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo

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Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por ofício.

Assertiva C correta, porque compatível com o art. 222-A, caput do Código de Processo Penal.

Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua


imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio.

Assertiva D errada. De acordo com o art. 220 do Código de Processo Penal, as pessoas impossibilitadas, por
enfermidade ou por velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem. A lei não orienta o
juiz a determinar a substituição de tais testemunhas.
Assertiva E incorreta. Caso sejam desobrigadas pela parte interessada, as pessoas que, em razão da profissão
devam guardar segredo, podem dar seu testemunho.

Art. 207, CPP. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
o seu testemunho.

11. CESPE – Juiz Substituto – TJ/DFT – 2014. Telmo, surdo, alfabetizado em língua portuguesa,
integrante de organização criminosa, preso preventivamente, foi denunciado pela prática dos crimes de
associação criminosa, tortura, sequestro e latrocínio, por diversas vezes, tendo todos os crimes por ele
praticados ocorrido na região administrativa do Lago Sul – DF. Ao final de cada instrução foi determinado
o interrogatório de Telmo pelos juízos competentes.
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta:
a) por ocasião do interrogatório de Telmo, o juízo deve nomear para intervir no ato pessoa habilitada a
entender o interrogado, a qual deve agir, sob compromisso, como intérprete;
b) as perguntas a que Telmo deixar de responder devem ser devidamente consignadas a pedido das partes,
bem como as razões que ele invocar para não fazê-lo;
c) caso Telmo, ao ser interrogado, negue a acusação, no todo, poderá prestar esclarecimentos, mas não
indicar provas, já que está encerrada a instrução;
d) o interrogatório de Telmo poderá ser realizado, ordinariamente, por sistema de videoconferência, dadas,
por si mesmas, as graves imputações que constam nas denúncias;
e) encerrada a instrução, o juiz poderá, a qualquer tempo, proceder de ofício a novo interrogatório de Telmo.
►Comentários
Assertiva A errada. O acusado é surdo e alfabetizado em língua portuguesa. O interrogatório, portanto, deve
seguir as disposições do art. 192, inciso I do Código de Processo Penal.

Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma seguinte:
I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente;

Assertiva B errada. Atualmente, inexiste previsão legal que determine que as perguntas não respondidas e
eventuais razões invocadas para tanto sejam consignadas em termo. Dispositivo de lei que isso previa (art.

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191, CPP) teve a redação alterada em 2003. Ora, se o acusado é detentor do direito ao silêncio, não se pode
admitir que eventuais perguntas não respondidas sejam consignadas em ata como se o indivíduo estivesse
praticando comportamento irregular. Perguntas não respondidas e as razões invocadas para tanto não
podem ser avaliadas pelo magistrado em prejuízo do acusado.
Assertiva C errada. De acordo com o art. 189 do Código de Processo Penal, o interrogando que negar a
acusação poderá prestar esclarecimentos e indicar provas.

Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em parte, poderá prestar


esclarecimentos e indicar provas.

Assertiva D incorreta. O interrogatório por videoconferência não é regra, mas exceção (art. 185, § 2º, incisos
I ao IV, CPP).

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. §
2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
necessária para atender a uma das seguintes finalidades: I - prevenir risco à segurança pública,
quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por
outra razão, possa fugir durante o deslocamento; II - viabilizar a participação do réu no referido
ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por
enfermidade ou outra circunstância pessoal; III - impedir a influência do réu no ânimo de
testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV - responder à gravíssima questão de
ordem pública.

Assertiva E correta. Encerrada a instrução, o juiz poderá, a qualquer tempo, proceder de ofício a novo
interrogatório.

Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de ofício ou a pedido
fundamentado de qualquer das partes.

12. UFPR – Juiz Substituto – TJ/PR – 2013. Assinale a alternativa INCORRETA:


a) quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
podendo supri-lo a confissão do acusado;
b) não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
c) o exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora;
d) laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez (10) dias, podendo este prazo ser prorrogado, em
casos excepcionais, a requerimento dos peritos.
►Comentários

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Assertiva A incorreta. A confissão não supre a ausência do exame de corpo de delito quando a infração deixar
vestígios.

Art. 158, CPP. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Assertiva B correta. De acordo com o art. 167 do Código de Processo Penal, não sendo possível o exame de
corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Assertiva C correta. Segundo o art. 161 do Código de Processo Penal, o exame de corpo de delito poderá ser
feito em qualquer dia e a qualquer hora.
Assertiva D correta, porque compatível com as disposições do art. 160 do Código de Processo Penal.

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos formulados. Parágrafo único. O laudo pericial será
elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos
excepcionais, a requerimento dos peritos.

13. TJ/SC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2013. Assinale a alternativa correta:


a) cumprimento de ordem de busca e apreensão domiciliar, por implicar no afastamento de garantia
fundamental, demanda, obrigatoriamente, a apresentação do correspondente mandado no local da
diligência;
b) a vítima poderá, desde o curso do inquérito policial, requerer sua habilitação como assistente de acusação;
c) condução coercitiva é medida que se aplica apenas às testemunhas, não podendo o juiz assim determinar
em relação ao acusado;
d) não podem servir como testemunha os doentes e deficientes mentais e os menores de 14 (quatorze) anos;
e) caberá recurso em sentido estrito, a ser manejado no prazo de 20 (vinte) dias, da decisão que incluir ou
excluir jurado na lista geral, contados da data de sua publicação definitiva.
►Comentários
Assertiva A errada. De acordo com o art. 241 do Código de Processo Penal, quando a própria autoridade
policial ou judiciária não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedida da expedição de
mandado.
Sobre o supramencionado dispositivo legal, confira-se o que diz a doutrina:

O artigo não foi recepcionado pela Constituição, na parte em que permite à autoridade
policial realizar a busca domiciliar sem o mandado judicial (art. 5°, XI, CF). Se a busca é
efetivada pela própria autoridade judiciária, o mandado é dispensável. A hipótese,
contudo, é teórica, e de difícil ocorrência prática, pois as decisões judiciais são cumpridas
pelos servidores do Judiciário (oficiais de justiça) e pela polícia. Ademais, de duvidosa
constitucionalidade quando interpretada à luz do sistema acusatório, já que é
inconcebível a figura do juiz inquisidor. A busca dispensa o mandado, obviamente, na
hipótese de flagrante delito, por expressa autorização constitucional (TÁVORA, Nestor;

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ARAÚJO, Fábio Roque. Código de Processo Penal para concursos. 7ª ed. Editora
JusPodivm. 2016 P. 401).

Assertiva B errada. Não há se falar em habilitação do ofendido como assistente de acusação no curso do
inquérito. Sobre o tema, confiram-se as disposições do art. 268 do Código de Processo Penal:

Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério
Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas
no Art. 31.

Assertiva C errada. A condução coercitiva não se aplica apenas às testemunhas. É possível que o juiz
determine a condução do ofendido e de peritos (arts. 201 e 278, CPP).

Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias
da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por
termo as suas declarações. § 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo
justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.

Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá
determinar a sua condução.

OBS. O art. 260 do Código de Processo Penal possibilita a condução do acusado para interrogatório,
reconhecimento e outros atos que, sem ele, não possam ser realizados. Entretanto, recentemente, em
liminar deferida na ADPF 395, o STF vedou a condução coercitiva de investigados para interrogatórios.
Assertiva D errada. De acordo com o art. 202 do Código de Processo Penal, toda pessoa poderá ser
testemunha. O que não se confere aos doentes, deficientes mentais e aos menores de quatorze (14) anos é
o compromisso legal do art. 203 do Código de Processo Penal (cf. art. 208, CPP).

Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais
e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.

Assertiva E correta, porque compatível com as disposições do art. 581, XIV c/c art. 586, parágrafo único do
Código de Processo Penal

Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: XIV - que incluir
jurado na lista geral ou desta o excluir. Art. 586. O recurso voluntário poderá ser interposto no
prazo de cinco dias. Parágrafo único. No caso do art. 581, XIV, o prazo será de vinte dias, contado
da data da publicação definitiva da lista de jurados.

14. FCC – Juiz Substituto – TJ/PE – 2013. Em relação à prova testemunhal, de acordo com o Código de
Processo Penal, é INCORRETO afirmar:
a) se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar temor à testemunha ou ao ofendido, de modo que
prejudique a verdade do depoimento, determinará desde logo a retirada do réu, prosseguindo na inquirição,
com a presença de seu defensor;

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b) a testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência,
expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes;
c) as perguntas no procedimento comum serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem
na repetição de outra já respondida;
d) as cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando
a parte requerente com os custos de envio;
e) o Vice-Presidente da República poderá optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhe serão transmitidas por ofício.
►Comentários
Assertiva A incorreta. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar temor à testemunha ou ao
ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e,
somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a
presença do seu defensor (art. 217, CPP).
Assertivas B, C, D e E corretas, porque compatíveis com o teor dos artigos 212, 221, § 1º, 222, caput e 222-
A do Código de Processo Penal.

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo
o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem
na repetição de outra já respondida. Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz
poderá complementar a inquirição.

Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os


ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembléias Legislativas
Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da
União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em
local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. § 1o O Presidente e o Vice-Presidente
da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo
Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por ofício.

Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de
sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
partes.

Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua


imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio.

15. FCC – Juiz Substituto – TJ/GO – 2012. Em relação às testemunhas, é correto afirmar que
a) as pessoas impossibilitadas por enfermidade ou velhice serão dispensadas de depor;
b) será permitida à testemunha breve consulta a apontamentos;

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c) as pessoas com dever de sigilo são proibidas de depor mesmo se desobrigadas pela parte interessada;
d) as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, exceto se não tiverem relação
com a causa;
e) se o juiz reconhecer que alguma testemunha fez afirmação falsa, remeterá cópia do depoimento para o
Ministério Público, para instauração de inquérito.
►Comentários
Assertiva A errada. As pessoas impossibilitadas por enfermidade ou velhice de comparecer para depor serão
inquiridas onde estiverem (art. 220, CPP).
Assertiva B correta. A testemunha pode consultar brevemente apontamentos (art. 204, parágrafo único,
CPP).

Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo
por escrito. Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entretanto, breve consulta a
apontamentos.

Assertiva C errada. Se desobrigadas pela parte interessada, as pessoas com dever de sigilo podem depor, se
quiserem (art. 207, CPP).

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
o seu testemunho.

Assertiva D errada. As perguntas devem ser formuladas pelas partes diretamente à testemunha. Eventuais
questionamentos que não tiverem relação com a causa, serão indeferidos pelo juiz.

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo
o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem
na repetição de outra já respondida.

Assertiva E errada. Segundo o art. 211 do Código de Processo Penal, se o juiz, ao pronunciar sentença final,
reconhecer que alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a verdade, remeterá cópia do
depoimento à autoridade policial para a instauração de inquérito.
16. TJ/SC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2010. Assinale a alternativa correta:
I. O interrogatório do réu preso será realizado em sala própria, no estabelecimento em que estiver recolhido,
desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público e dos auxiliares bem
como a presença do defensor e a publicidade do ato.
II. Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício, ou a requerimento das partes, poderá
realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender as
finalidades descritas na lei.
III. O abandono do defensor em relação ao processo será comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil,
com incidência de multa de 10 (dez) a 50 (cinquenta) salários mínimos.

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IV. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o
juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais cominações
cabíveis.
V. As perguntas das partes serão requeridas ao juiz, que as formulará à testemunha. O juiz não poderá
recusar as perguntas da parte, salvo se não tiverem relação com o processo ou importarem em repetição de
outra já respondida.
a) somente as proposições III e V estão corretas;
b) somente as proposições I, III e IV estão corretas;
c) somente as proposições I, II e IV estão corretas;
d) somente as proposições II e V estão corretas;
e) somente as proposições II, III e V estão corretas.
►Comentários
Proposição I, II e IV corretas, porque compatíveis com o teor do art. 185, §§ 1º e 2º e do art. 265, ambos do
Código de Processo Penal.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. § 1o O
interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em que estiver
recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público
e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato. §
2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
necessária para atender a uma das seguintes finalidades: I - prevenir risco à segurança pública,
quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por
outra razão, possa fugir durante o deslocamento; II - viabilizar a participação do réu no referido
ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por
enfermidade ou outra circunstância pessoal; III - impedir a influência do réu no ânimo de
testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV - responder à gravíssima questão de
ordem pública.

Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso,
comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos,
sem prejuízo das demais sanções cabíveis.

Proposição III incorreta. A multa, de acordo com o art. 265 do Código de Processo Penal, deve ser fixada
entre dez (10) e cem (100) salários mínimos.
Proposição V incorreta. Retrata o teor do art. 212 do Código de Processo Penal, antes da alteração de sua
redação pela Lei nº 11.690/2008. Atualmente, no sistema do cross examination, as perguntas devem ser
formuladas pelas partes diretamente à testemunha. Caso os questionamentos possam induzir a resposta,

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não tenham relação com a causa ou importem na repetição de outra pergunta já respondida, deverão ser
inadmitidos pelo juiz. Confira-se a atual redação do art. 212 do Código de Processo Penal.

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo
o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem
na repetição de outra já respondida. Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz
poderá complementar a inquirição.

Consequentemente, apenas a alternativa C está correta.


17. FCC – Juiz Substituto – TJ/GO – 2009. No tocante ao interrogatório por videoconferência, é
correto afirmar:
a) independe de prévia intimação das partes, ante a excepcionalidade da medida;
b) é garantido ao réu o direito de entrevista prévia com o defensor, como em qualquer outra modalidade do
ato, mas não o de contato reservado com o advogado;
c) pode ser determinado por ato discricionário do juiz, independentemente de decisão fundamentada;
d) é cabível nos casos em que o réu responder a gravíssima questão de ordem pública;
e) não garante ao preso o direito de acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização dos
anteriores atos da audiência de instrução e julgamento.
►Comentários
Assertiva A errada. As partes devem ser intimadas com antecedência de dez (10) dias de que o interrogatório
será realizado por videoconferência (art. 185, § 3º, CPP).
Assertiva B errada. A lei garante ao réu o direito de entrevista prévia e reservada do réu com seu defensor
também no caso de interrogatório por videoconferência (art. 185, § 5º, CPP).
Assertiva C errada. A realização do interrogatório por videoconferência depende de decisão fundamentada
e só se justifica quando for necessária para atender a uma das finalidades constantes nos incisos do § 2º do
art. 185 do Código de Processo Penal.
Assertiva D correta, porque compatível com o inciso IV do § 2º do art. 185 do Código de Processo Penal.
Assertiva E errada. O § 4º do art. 185 do Código de Processo Penal garante que o preso acompanhe, pelo
mesmo sistema tecnológico (videoconferência/recurso de transmissão de sons e imagens em tempo real), a
realização de todos os atos da audiência de instrução e julgamento.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. § 1o O
interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em que estiver
recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público
e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato. §
2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
necessária para atender a uma das seguintes finalidades: I - prevenir risco à segurança pública,
quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por

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outra razão, possa fugir durante o deslocamento; II - viabilizar a participação do réu no referido
ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por
enfermidade ou outra circunstância pessoal; III - impedir a influência do réu no ânimo de
testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV - responder à gravíssima questão de
ordem pública. § 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório por
videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência. § 4o Antes do
interrogatório por videoconferência, o preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema
tecnológico, a realização de todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que
tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código. § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o
juiz garantirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado
por videoconferência, fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para
comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência
do Fórum, e entre este e o preso. § 6o A sala reservada no estabelecimento prisional para a
realização de atos processuais por sistema de videoconferência será fiscalizada pelos
corregedores e pelo juiz de cada causa, como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos
Advogados do Brasil. § 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses
em que o interrogatório não se realizar na forma prevista nos §§ 1o e 2o deste artigo. § 8o Aplica-
se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no que couber, à realização de outros atos
processuais que dependam da participação de pessoa que esteja presa, como acareação,
reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou tomada de declarações do
ofendido. § 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompanhamento do ato
processual pelo acusado e seu defensor. § 10. Do interrogatório deverá constar a informação
sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o
contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.

18. FUNDEP – Promotor de Justiça – MPE/MG – 2018. Examine as alternativas abaixo, referentes à
prova, assinalando a CORRETA:
a) por força do princípio da comunhão da prova, a parte, para desistir da inquirição da testemunha que haja
arrolado, deverá obter a aquiescência da parte contrária;
b) as pessoas proibidas de depor em razão do dever de guardar segredo, se dispensadas pela parte a quem
isso interesse, estarão obrigadas a fazê-lo;
c) embora não permita a lei interceptação de comunicações telefônicas para a investigação de crimes
punidos com detenção, os tribunais superiores admitem, com base na teoria do encontro fortuito, que
aquela legitimamente deferida seja empregada para subsidiar ação penal em crimes sujeitos a tal pena;
d) ao Presidente e Vice-presidente da República, presidentes da Câmara dos Deputados e Senado Federal e
aos Ministros do Supremo Tribunal Federal se permite, na condição de testemunhas, prestar depoimento
por escrito.
►Comentários
Assertiva A errada. A redação do art. 401, § 2º do Código de Processo Penal deixa claro que a parte pode
desistir da inquirição de testemunha que tenha arrolado independentemente da concordância da parte
adversa. O princípio da comunhão da prova orienta, em resumo, que eventual prova produzida passa a
pertencer ao processo e por todos pode ser aproveitada no feito. Esse postulado, entretanto, não autoriza

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que uma das partes interfira na iniciativa probatória alheia a ponto de impedir que a parte desista de ouvir
testemunha que ela mesma arrolou.

Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) testemunhas arroladas pela acusação
e 8 (oito) pela defesa. § 1o Nesse número não se compreendem as que não prestem
compromisso e as referidas. § 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das
testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 deste Código.

Assertiva B errada. Segundo o art. 207 do Código de Processo Penal, as pessoas proibidas de depor em razão
do dever de guardar segredo, se dispensadas pela parte a quem isso interesse, poderão depor, caso queiram.

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar
o seu testemunho.

Assertiva C correta. A Lei 9.296/1996 impede a interceptação telefônica na investigação de crimes punidos
com detenção (art. 2º, III). Entretanto, a jurisprudência admite o aproveitamento de eventuais
interceptações deferidas na apuração de crimes punidos com reclusão nas investigações de infrações
sancionadas com detenção.

Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer
das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração
penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir
infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer
hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a
indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente
justificada.

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERCEPTAÇÃO


TELEFÔNICA LICITAMENTE CONDUZIDA. ENCONTRO FORTUITO DE PROVA DA PRÁTICA
DE CRIME PUNIDO COM DETENÇÃO. LEGITIMIDADE DO USO COMO JUSTA CAUSA PARA
OFERECIMENTO DE DENÚNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O Supremo
Tribunal Federal, como intérprete maior da Constituição da República, considerou
compatível com o art. 5º, XII e LVI, o uso de prova obtida fortuitamente através de
interceptação telefônica licitamente conduzida, ainda que o crime descoberto, conexo
ao que foi objeto da interceptação, seja punido com detenção. 2. Agravo Regimental
desprovido. (AI 626214 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma,
julgado em 21/09/2010, DJe-190 DIVULG 07-10-2010 PUBLIC 08-10-2010 EMENT VOL-
02418-09 PP-01825 RTJ VOL-00217-01 PP-00579 RT v. 100, n. 903, 2011, p. 492-494)

Assertiva D incorreta. A prerrogativa de prestar depoimentos por escrito não se estende a todos os membros
do Supremo Tribunal Federal, mas somente a seu presidente (art. 221, § 1º, CPP).

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Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os


ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias Legislativas
Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da
União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em
local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. § 1o O Presidente e o Vice-Presidente
da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo
Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por ofício.

19. CESPE – Delegado de Polícia – PC/MA – 2018. No que se refere às provas no processo penal,
julgue os itens a seguir.
I. Em atendimento ao princípio da legalidade, no processo penal brasileiro são inadmissíveis provas não
previstas expressamente no CPP.
II. Caso a infração tenha deixado vestígio, a confissão do acusado não acarretará a dispensa da prova pericial.
III. Havendo evidências da participação do indiciado em organização criminosa, a autoridade policial poderá
determinar a quebra do sigilo da sua comunicação telefônica como forma de instruir investigação criminal.
IV. A prova obtida por meios ilícitos não constitui suporte jurídico capaz de ensejar sentença condenatória,
ainda que corroborada pela confissão do acusado.
Estão certos apenas os itens:
a) I e II;
b) I e III;
c) II e IV;
d) I, III e IV;
e) II, III e IV.
►Comentários
Proposição I incorreta. De acordo com a doutrina: como desdobramento do princípio da busca da verdade,
além dos meios de prova especificados na lei (nominados), também se admite a utilização de todos aqueles
meios de prova que, embora não previstos no ordenamento jurídico (inominados), sejam lícitos e
moralmente legítimos (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Volume Único. 5ª ed.
Salvador. Juspodivm. 2017. P. 601)
Proposição II correta. A confissão do acusado não dispensa a prova pericial nos casos em que a infração tenha
deixado vestígio (art. 158, CPP).

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Proposição III incorreta. A autoridade policial não pode determinar a quebra do sigilo das comunicações
telefônicas. Pode, no máximo, ter acesso aos dados cadastrais do investigado (art. 15, Lei nº 12850/2013) e
representar pela quebra ao juiz, a quem incumbe determiná-la.

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Art. 15. O delegado de polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de


autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente
a qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas
telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de
crédito.

Proposição IV correta. As provas ilícitas são inadmissíveis (art. 157, CPP); portanto, não podem servir de
suporte a uma condenação, ainda que corroboradas.

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.

Consequentemente, apenas a assertiva C está correta.


20. FAPEMS – Delegado de Polícia – PC/MS – 2017. Sobre os documentos no processo penal, de
acordo com o Código de Processo Penal vigente, assinale a alternativa correta.
a) caso o juiz obtenha notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação ou da
defesa, somente poderá determinar a juntada aos autos mediante requerimento da parte interessada.
b) os documentos podem ser apresentados em qualquer fase do processo, salvo em grau de recurso quando
os autos estiverem conclusos para julgamento;
c) considera-se documento quaisquer escritos, instrumentos ou papéis públicos ou particulares, possuindo
o mesmo valor a fotografia atual do documento;
d) os documentos originais, juntos a processo findo, quando inexistir motivo relevante que justifique a sua
conservação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Ministério Público, ser entregues à
parte que os produziu.
e) documentos em língua estrangeira serão necessariamente traduzidos por tradutor oficial ou pessoa
idônea nomeada pela autoridade para serem juntados aos autos, exceto quando os sujeitos processuais
dominarem o idioma.
►Comentários
Assertiva A errada. De acordo com o art. 234 do Código de Processo Penal, se o juiz tiver notícia da existência
de documento relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de
requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se possível.
Assertiva B errada. Segundo o art. 231 do Código de Processo Penal, salvo os casos expressos em lei, as
partes poderão apresentar documentos em qualquer fase do processo.
Assertiva C errada. Conforme estabelece o art. 232, caput e parágrafo único do Código de Processo Penal,
consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. [...] À
fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo valor do original.
Assertiva D correta, porque retrata, praticamente, o teor do art. 238 do Código de Processo Penal.

Art. 238. Os documentos originais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante
que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o
Ministério Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando traslado nos autos.

Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 251


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Assertiva E errada, porque incompatível com as diretrizes do art. 236 do Código de Processo Penal, que
estabelece: os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.
21. FAPEMS – Delegado de Polícia – PC/MS – 2017. De acordo com as disposições expressas no
Código de Processo Penal vigente, o interrogatório por videoconferência do réu preso será realizado.
a) excepcionalmente, de ofício pelo juiz, por decisão fundamentada, desde que a medida seja necessária
para impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou vítima, com a intimação das partes no prazo de
15 (quinze) dias de antecedência;
b) imediatamente, pelo juiz, ou mediante requerimento das partes, delegado de polícia e diretor do
estabelecimento prisional, por decisão fundamentada, para prevenir que o preso possa fugir durante o
deslocamento;
c) mediante requerimento das partes para garantir que o réu participe do referido ato processual, quando
houver dificuldade de comparecer em juízo por motivo de doença grave ou para atender questão de ordem
pública;
d) excepcionalmente, de ofício pelo juiz ou a requerimento das partes, por decisão fundamentada, desde
que a medida seja necessária para responder à gravíssima questão de ordem pública;
e) por decisão fundamentada pelo juiz ou pelo delegado de polícia, para prevenir risco à segurança pública,
quando existir fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa.
►Comentários
Assertiva A errada. O interrogatório por videoconferência poderá ser determinado, a pedido das partes ou
de ofício pelo juiz, no caso indicado na alternativa e em outros previstos no § 2º do art. 185 do Código de
Processo Penal. Dessa decisão, as partes deverão ser intimadas com dez (10) dias de antecedência e não
quinze (15) como prevê a assertiva.
Assertiva B errada. Pelas disposições do Código de Processo Penal, o juiz determinará a realização do
interrogatório por videoconferência de ofício ou a requerimento das partes. A lei em momento algum
menciona a possibilidade de determiná-lo mediante requerimento do delegado de polícia ou do diretor de
estabelecimento prisional.
Assertiva C errada. O art. 185 do Código de Processo Penal não exige que a dificuldade de comparecimento
em juízo seja decorrência de doença grave. A lei fala, simplesmente, em enfermidade ou outra circunstância
pessoal. Além disso, é possível que se determine o interrogatório por videoconferência em resposta à
gravíssima questão de ordem pública. Mais uma vez, a lei não se contenta, simplesmente, com qualquer
questão de ordem pública.
Assertiva D correta, porque compatível com o teor do art. 185, § 2º, inciso IV do Código de Processo Penal.
Assertiva E errada. O Código de Processo Penal não autoriza que o delegado de polícia determine a realização
do interrogatório por videoconferência (art. 185, § 2º, CPP).

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. § 1o O
interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em que estiver
recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público
e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato. §

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2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,


poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
necessária para atender a uma das seguintes finalidades: I - prevenir risco à segurança pública,
quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por
outra razão, possa fugir durante o deslocamento; II - viabilizar a participação do réu no referido
ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por
enfermidade ou outra circunstância pessoal; III - impedir a influência do réu no ânimo de
testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV - responder à gravíssima questão de
ordem pública. § 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório por
videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência. [...]

22. FAPEMS – Delegado de Polícia – PC/MS – 2017. A busca e apreensão está prevista no Código de
Processo Penal vigente como um meio de prova possível de ser realizada antes e durante a investigação
preliminar, no curso da instrução criminal e, ainda, na fase recursal. A esse respeito, assinale a
alternativa correta.
a) a busca pessoal será realizada pela autoridade policial, independentemente de mandado, no caso de
prisão, quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, no decorrer da
busca domiciliar nas pessoas que se encontrem no interior da casa;
b) a autoridade policial, assim que tomar conhecimento da prática da infração penal, deverá colher todas as
provas e determinar a imediata busca e apreensão de objetos, o que prescinde de autorização judicial, pois
é, um ato administrativo autoexecutável;
c) autoridade policial não poderá penetrar no território de jurisdição alheia para o fim de apreensão, quando
for no seguimento de pessoa ou coisa, sem antes se apresentar obrigatoriamente e sempre antes da
diligência à competente autoridade local;
d) dispõe do Código de Processo Penal vigente que a busca pessoal em mulher será sempre realizada por
outra mulher, o que se estende às transexuais e às travestis, uma vez reconhecido o direito de se
identificarem como do gênero feminino, devendo a autoridade policial observar de maneira fidedigna essa
regra;
e) não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusado pela autoridade policial,
mesmo que constituir elemento do corpo de delito, haja vista a probabilidade de servir de prova de tese
defensiva.
►Comentários
Assertiva A correta. Não obstante a redação truncada, a alternativa retrata o conteúdo do art. 244 do Código
de Processo Penal.

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

Assertiva B incorreta. Segundo o art. 6º, inciso III do Código de Processo Penal, a autoridade policial, assim
que tomar conhecimento da prática da infração penal, deverá colher todas as provas que servirem para o

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esclarecimento do fato e de suas circunstâncias. Esse dispositivo, contudo, não lhe garante a prerrogativa de
determinar a imediata busca e apreensão de objetos (como consta na alternativa). A busca e apreensão
depende de autorização judicial (art. 5º, XI, CF). O que a autoridade policial poderá fazer é representar pela
busca e apreensão ou, no caso de flagrante, apreender objetos que, nas circunstâncias, tiverem relação com
o fato (art. 6º, II, CPP).

Art. 6o, CPP Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o
fato, após liberados pelos peritos criminais; [...]

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XI - a casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial.

Assertiva C incorreta. De acordo com o art. 250 do Código de Processo Penal, a autoridade ou seus agentes
poderão penetrar no território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando, para o fim de
apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente autoridade local,
antes da diligência ou após, conforme a urgência desta.
Assertiva D incorreta. A busca em mulher somente será feita por outra mulher se não importar retardamento
ou prejuízo da diligência (art. 249, CPP).

Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou
prejuízo da diligência.

Assertiva E incorreta. De acordo com o art. 243, § 2º do Código de Processo Penal, não será permitida a
apreensão de documento em poder do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de
delito.
23. IBADE – Delegado de Polícia – PC/AC – 2017. No que tange à regência do código de processo
penal sobre reconhecimento de pessoas, leia as assertivas a seguir.
I. A pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser
reconhecida.
II. A pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela
tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la, não sendo
possível, serão apresentadas fotografias de pessoas diversas para quem tiver que proceder o
reconhecimento de pessoa.
III. Se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou
outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará
para que esta não veja aquela, seja em sede policial, no curso da instrução criminal ou no plenário do júri.

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IV. Do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa
chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Está correto apenas o que se afirma em:
a) I e IV;
b) I, III e IV;
c) I e III;
d) II, III e IV;
e) I e II.
►Comentários
Proposições I e IV corretas, porque compatíveis com os incisos I e IV do art. 226 do Código de Processo Penal.

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á


pela seguinte forma: I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever
a pessoa que deva ser reconhecida; [...] IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto
pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao
reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.

Proposição II incorreta. Não há previsão legal sobre a possibilidade de reconhecimento por meio de
fotografias. Perceba-se:

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á


pela seguinte forma: [...] II - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se
possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver
de fazer o reconhecimento a apontá-la;

Proposição III incorreta. O art. 226, inciso III do Código de Processo Penal prevê que se houver razão para
recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga
a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja
aquela. O parágrafo único do mesmo artigo, contudo, esclarece que as disposições do mencionado inciso
não se aplicam na fase de instrução criminal ou em plenário de julgamento.
Consequentemente, apenas a alternativa A está correta.
24. IBADE – Delegado de Polícia – PC/AC – 2017 – ADAPTADA. Segundo o código de processo penal o
mandado de busca domiciliar deverá:
a) indicar ainda que de forma genérica e indeterminada a casa na qual se realizará a diligência, precisando a
região da busca;
b) indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo
proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais
que a identifiquem;
c) em qualquer caso permitir a apreensão de documento em poder do defensor do acusado;
d) ser subscrito pelo escrivão de polícia e assinado pela autoridade policial;

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e) mencionar ainda que de forma genérica o motivo e os fins da diligência.


►Comentários
Assertiva A incorreta. O mandado de indicar o mais precisamente possível a casa em que se realizará a
diligência (art. 243, I, CPP).
Assertiva B correta, porque adequada ao teor do inciso I do art. 243 do Código de Processo Penal.

Art. 243. O mandado de busca deverá: I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que
será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca
pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;

Assertiva C incorreta. Segundo o art. 243, § 2º do Código de Processo Penal, não será permitida a apreensão
de documento em poder do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito.
Assertiva D incorreta. O mandado de busca e apreensão deve ser subscrito pelo escrivão do cartório do juízo
(e não o de Polícia) e assinado pela autoridade que o fizer expedir. Como a busca e apreensão depende de
autorização judicial, o mandado, consequentemente, deve ser assinado pelo juiz e não pela autoridade
policial.

Art. 243, CPP. O mandado de busca deverá: III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela
autoridade que o fizer expedir.

Assertiva E incorreta. O mandado deve mencionar o motivo e os fins da diligência. O art. 243, inciso II do
Código de Processo Penal, contudo, não estabelece a possibilidade de tal menção ser genérica (como a
alternativa pretende fazer crer). Perceba-se:

Art. 243. O mandado de busca deverá: II - mencionar o motivo e os fins da diligência;

25. CESPE – Delegado de Polícia – PC/GO – 2017. Suponha que o réu em determinado processo
criminal tenha indicado como testemunhas o presidente da República, o presidente do Senado Federal, o
prefeito de Goiânia – GO, um desembargador estadual aposentado, um vereador e um militar das Forças
Armadas. Nessa situação hipotética, conforme o Código de Processo Penal, poderão optar pela prestação
de depoimento por escrito:
a) o presidente do Senado Federal e o desembargador estadual;
b) o prefeito de Goiânia – GO e o militar das Forças Armadas;
c) o desembargador estadual e o vereador;
d) o presidente da República e o presidente do Senado Federal;
e) o presidente da República e o vereador.
►Comentários
Assertiva D é a única correta. De acordo com o § 1º do art. 221 do Código de Processo Penal, o Presidente e
o Vice-Presidente da República e os Presidentes do Senado Federal, Câmara dos Deputados e Supremo
Tribunal Federal poderão optar por prestar depoimento por escrito.

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Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os


ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os
prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias Legislativas
Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da
União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em
local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. § 1o O Presidente e o Vice-Presidente
da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo
Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por ofício.

26. FUNIVERSA – Delegado de Polícia – PC/DF – 2015. À luz da legislação processual penal e da
jurisprudência e doutrina majoritária a respeito da matéria, assinale a alternativa correta.
a) de acordo com o CPP, em regra, o exame de corpo de delito será realizado por ao menos dois peritos
oficiais portadores de diploma de curso superior;
b) conforme o STF, a perícia sobre a aptidão da arma de fogo para efetuar disparos é necessária para que se
configure o crime de roubo circunstanciado por emprego de arma de fogo.
c) em se tratando de crime de falsificação de documento público, a falta de perícia, por ter-se recusado o
réu a colaborar para a realização de exame grafotécnico, não pode ser suprida por outros meios de prova.
d) durante o inquérito policial, as medidas cautelares pessoais poderão ser decretadas pelo juiz mediante
representação da autoridade policial, de ofício ou após requerimento do Ministério Público;
e) conforme dispositivo expresso no CPP, a prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz
verificar que o agente praticou o fato por estado de necessidade.
►Comentários
Assertiva A errada. Segundo o art. 159 do Código de Processo Penal, o exame, em regra, será realizado por
um perito oficial detentor de diploma de nível superior.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.

Assertiva B errada. De acordo com o Supremo Tribunal Federal, é dispensável que a arma de fogo utilizada
no roubo seja periciada para fins de reconhecimento da majorante. Note-se:

[...] ROUBO – ARMA DE FOGO – APREENSÃO E PERÍCIA. A caracterização do crime de


roubo prescinde da apreensão e perícia da arma de fogo utilizada e, portanto, da
definição da potencialidade lesiva desta última. (HC 112654, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 03/04/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-073
DIVULG 16-04-2018 PUBLIC 17-04-2018)

Assertiva C errada. O réu não está obrigado a praticar comportamento ativo para colaborar com a realização
de exame grafotécnico (nemo tenetur se detegere). Isso, contudo, não deve impedir o juiz de suprir a falta
da perícia com outros meios de prova, a fim de formar sua convicção sobre os fatos (art. 155, CPP).

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Art. 155, CPP. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.

Assertiva D errada. No curso do inquérito, medidas cautelares pessoais não poderão ser decretadas de ofício
pelo juiz (inteligência do art. 282, § 2º, CPP).

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: §
2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou,
quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante
requerimento do Ministério Público.

Assertiva E correta, porque compatível com o que dispõe o art. 314 do Código de Processo Penal c/c art. 23,
I do Código Penal.

Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas
constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III
do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade.

27. CESPE – Delegado de Polícia – DPF – 2013. É apresentada uma situação hipotética, seguida de
uma assertiva a ser julgada em relação ao inquérito policial e suas peculiaridades, às atribuições da
Polícia Federal e ao sistema probatório no processo penal brasileiro.
José foi indiciado em inquérito policial por crime de contrabando e, devidamente intimado, compareceu
perante a autoridade policial para interrogatório. Ao ser indagado a respeito de seus dados qualificativos
para o preenchimento da primeira parte do interrogatório, José arguiu o direito ao silêncio, nada
respondendo. Nessa situação hipotética, cabe à autoridade policial alertar José de que a sua recusa em
prestar as informações solicitadas acarreta responsabilidade penal, porque a lei é taxativa quanto à
obrigatoriedade da qualificação do acusado. (C/E)
►Comentários
Assertiva correta. O direito ao silêncio (art. 5º, LXIII, CF) não se estende aos questionamentos relacionados
à qualificação do indivíduo. Caso o acusado continue em silêncio ao ser questionado sobre sua qualificação
responderá por contravenção penal (art. 68 do Decreto-Lei nº 3.688/41).

Art. 5º, LXIII, CF - LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.

Art. 68. Recusar à autoridade, quando por esta, justificadamente solicitados ou exigidos, dados
ou indicações concernentes à própria identidade, estado, profissão, domicílio e residência: Pena
– multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. Parágrafo único. Incorre na pena de prisão
simples, de um a seis meses, e multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, se o fato não

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constitui infração penal mais grave, quem, nas mesmas circunstâncias, faz declarações
inverídicas a respeito de sua identidade pessoal, estado, profissão, domicílio e residência.

28. CESPE – Delegado de Polícia – PC/BA – 2013. A autoridade policial deve promover as diligências
para o devido esclarecimento dos fatos lesivos a algum direito. Essa averiguação deve ser baseada em
procedimentos de demonstração, os quais dependem da natureza dos fatos. Com relação a esse assunto,
julgue o item a seguir.
No foro penal, o relatório do médico perito, denominado laudo pericial médico-legal, somente poderá ser
solicitado pela autoridade competente até o momento da sentença. (C/E)
►Comentários
Assertiva errada. Não existe limitação ao momento em que o laudo pericial pode ser requisitado. É possível,
inclusive, que, em sede de apelação, o Tribunal determine a realização de uma perícia. Confiram-se as
disposições do art. 616 do Código de Processo Penal: no julgamento das apelações poderá o tribunal, câmara
ou turma proceder a novo interrogatório do acusado, reinquirir testemunhas ou determinar outras
diligências. Não é só. Possível determinar, por exemplo, a realização de uma exumação (art. 163, CPP) após
o trânsito em julgado de uma sentença. Com base no laudo confeccionado, o réu, inclusive, pode manejar
uma revisão criminal (art. 621, III, CPP).

Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que,
em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto
circunstanciado.

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: [...] III - quando, após a sentença, se
descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou
autorize diminuição especial da pena.

A partir das orientações do Manual de Processo Penal de RENATO BRASILEIRO DE LIMA, possível analisar a questão
sob outra ótica e, ainda sim, concluir pelo desacerto da questão. Perceba-se:

Em regra, o laudo pericial não funciona como condição de procedibilidade da ação penal,
o que significa dizer que o laudo pericial não é peça indispensável para o início do
processo. Portanto, o laudo pode ser juntado aos autos ao longo de todo o processo. No
entanto, diante do silêncio da lei, questiona-se até quando essa juntada pode ocorrer.
Como o acusado deve ter conhecimento de tudo que contra ele foi produzido ou venha
a ser utilizado, a fim de que possa exercer o seu direito de fazer a contraprova,
apresentando elementos probatórios para se contrapor ao trazido aos autos pelo
exame pericial, queremos crer que o laudo pericial deve ser juntado aos autos antes da
audiência una de instrução e julgamento, com antecedência mínima de 10 (dez) dias
(LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Volume Único. 5ª ed. JusPodivm.
Salvador. 2017. P. 655/6).

29. CESPE – Delegado de Polícia – PC/BA – 2013. Com relação às provas criminais, julgue o item que
se segue.

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É indispensável o exame pericial, direto ou indireto, nos casos em que a infração penal deixe vestígios, não
podendo supri-lo a confissão do acusado, facultada ao MP, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao
querelante e ao acusado a indicação de assistente técnico para atuar na etapa processual após sua admissão
pelo juiz e a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais. (C/E)
►Comentários
Assertiva correta, porque compatível com as disposições do art. 158, caput e art. 159, §§ 3º e 4º do Código
de Processo Penal.

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. [...] § 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao
assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e
indicação de assistente técnico. § 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo
juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes
intimadas desta decisão.

30. CESPE – Delegado de Polícia – PC/BA – 2013. Com relação às provas criminais, julgue o item que
se segue.
Consoante a interpretação doutrinária da legislação penal, as buscas e apreensões são consideradas não só
meios de prova, mas também providências acautelatórias da atividade probante (medida cautelar), podendo
ser executadas em qualquer fase da persecução penal.
►Comentários
Assertiva correta. Embora tachada pelo Código de Processo Penal como meio de prova, a busca e apreensão,
para a doutrina, pode ser considerada como medida instrumental cautelar probatória ou ainda como meio
de obtenção de prova. Perceba-se:

Quanto à natureza jurídica, os institutos são tratados pela legislação como meio de
prova (Título VII, Capítulo XI, CPP). Contudo, como assevera Marcellus Polastri Lima,
“apesar do Código de Processo Penal a classificar como meio de prova, a busca e
apreensão, com finalidade de preservar elementos probatórios ou assegurar reparação
do dano proveniente do crime, ontologicamente, não é prova, tendo, ao contrário, a
natureza jurídica de medida cautelar que visa à obtenção de uma prova para o processo,
com o fim, portanto, de assegurar a utilização do elemento probatório no processo ou
evitar o seu perecimento. Neste cotejo, entendemos que a busca e a apreensão podem
figurar, cada uma de per si, a depender da finalidade pretendida com o ato: 1) como
meio de prova: quando o fim da apreensão for previamente definido e consistir no
objeto material do delito. Exemplo: a apreensão da substância entorpecente para a
configuração do delito de tráfico; 2) como meio de obtenção de prova: quando a busca
e apreensão se destinar não a produzir a prova em si, mas a apreender as provas, tal
como se dá com a apreensão de documentos. A busca e a apreensão, neste caso, é o
meio para a obtenção da prova (o documento). 3) como medida instrumental, cautelar

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probatória: quando o ato, em seu aspecto processual, for revestido de urgência (fumus
boni iuris e periculum in mora) e visar assegurar que seja viabilizada produção
probatória que, sem o seu deferimento, não seria possível (necessidade). (TÁVORA,
Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 11ª ed.
Salvador. JusPodivm. 2016).

31. CESPE – Delegado de Polícia – PC/BA – 2013. Em relação aos direitos e deveres fundamentais
expressos na Constituição Federal de 1988 (CF), julgue o item subsecutivo.
A conversa telefônica gravada por um dos interlocutores não é considerada interceptação telefônica. (C/E)
►Comentários
Assertiva correta. Interceptação telefônica é a captação da conversa por um terceiro sem conhecimento
daqueles que se comunicam. A gravação telefônica (também chamada de gravação clandestina) com ela não
se confunde; consiste, como o nome sugere, na gravação da comunicação por um daqueles que se
comunicam, normalmente sem conhecimento do outro. Sobre o tema, confira-se o que diz a doutrina:

Parte da doutrina considera que o art. 1° da Lei n° 9.296/96 abrange tanto a


interceptação telefônica em sentido estrito quanto a escuta telefônica. Isso porque
ambas consistem em processos de captação da comunicação alheia. Não estão
abrangidas pelo regime jurídico da Lei n° 9.296/96, por consequência, a gravação
telefônica, a interceptação ambiental, a escuta ambiental e a gravação ambiental. Assiste
razão a essa corrente. Ao tratar da interceptação telefônica, admitindo-a, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que fosse estabelecida em lei, para fins de investigação
criminal e instrução processual penal (art. 5°, XII, parte final), a Constituição Federal
refere-se à interceptação feita por terceiro, sem conhecimento dos dois interlocutores
ou com conhecimento de um deles. Não fica incluída a gravação de conversa por terceiro
ou por um dos interlocutores, à qual se aplica a regra genérica de proteção à intimidade
e à vida privada do art. 5º, X, da Carta Magna. (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de
Processo Penal. Volume Único. 5ª ed. JusPodivm. Salvador. 2017. P. 737).

Vale a referência de que o Congresso, em 19/04/2021, rejeitou o veto da Presidência quanto ao § 4º do art.
8º-A da Lei 9.296/96, com o seguinte teor: “A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o
prévio conhecimento da autoridade policial ou do Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de
defesa, quando demonstrada a integridade da gravação”. Ou seja: de acordo com o dispositivo vigente, o
Congresso restringiu o alcance desse meio de prova – só vale para a defesa.

32. COPS-UEL – Delegado de Polícia – PC/PR – 2013. Sobre o tema prova, atribua V (verdadeiro) ou F
(falso) às afirmativas a seguir.
(__) O juiz formará sua convicção pela apreciação da prova judicial, estando impedido de fundamentar sua
decisão nos elementos informativos colhidos na investigação.
(__) A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo vedado ao juiz determiná-la de ofício e antes de
iniciada a ação penal.

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(__) O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias, podendo ser prorrogado, em casos
excepcionais, a requerimento dos peritos.
(__) Quando a infração deixar vestígios, será dispensável o exame de corpo de delito, mediante a confissão
do acusado.
(__) O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e qualquer hora.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.
a) V, V, F, V, F;
b) V, F, V, F, V;
c) F, V, F, V, F;
d) F, V, F, F, V;
e) F, F, V, F, V.
►Comentários
Proposição I incorreta. O juiz pode formar sua convicção com base nos elementos colhidos na investigação.
O que a lei veda é que o juiz utilize exclusivamente tais elementos para fazê-lo. Note-se:

Art. 155, CPP. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.

Proposição II incorreta. O juiz pode determinar, de ofício, a produção de prova antes de iniciada a ação penal.

Art. 156, CPP. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de
ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade
da medida;

Proposição III correta. De acordo com o art. 160, parágrafo único do Código de Processo Penal, o laudo
pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos
excepcionais, a requerimento dos peritos.
Proposição IV incorreta. Segundo o art. 158 do Código de Processo Penal, quando a infração deixar vestígios,
será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do
acusado.
Proposição V correta. De fato. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e hora (art. 161,
CPP).

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.

Consequentemente, apenas a assertiva E está correta.


33. UEG – Delegado de Polícia – PC/GO – 2013. Quanto à prova pericial, segundo o Código de

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Processo Penal, tem-se o seguinte:


a) na falta de peritos oficiais, a perícia será realizada por uma pessoa idônea, portadora de diploma de
qualquer área de habilitação técnica;
b) será facultada ao Ministério Público e ao acusado a formulação de quesitos aos peritos, mas,
diferentemente do previsto no Código de Processo Civil, as partes não poderão indicar assistente técnico;
c) em regra, o exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior;
d) a falta do exame de corpo de delito direto nos crimes que deixam vestígios é causa de nulidade insanável,
não podendo ser suprida pela prova testemunhal.
►Comentários
Assertiva A incorreta. Segundo o art. 159, § 1º do Código de Processo Penal, na falta de perito oficial, o
exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza
do exame.
Assertiva B incorreta. Além do Ministério Público e do acusado, o assistente de acusação, o ofendido e o
querelante podem tanto formular quesitos quanto indicar assistente técnico. Note-se:

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior. [...] § 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao
assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e
indicação de assistente técnico.

Assertiva C correta, porque compatível com a orientação do art. 159, caput do Código de Processo Penal
supratranscrito.
Assertiva D incorreta. A falta do exame de corpo de delito direto nos crimes que deixam vestígios não é
causa de nulidade insanável. Primeiro, porque a lei autoriza a realização de exame indireto (art. 158, CPP).
Segundo, porque, de acordo com o art. 167 do Código de Processo Penal, a falta do exame pode ser suprida
por prova testemunhal quando desaparecidos os vestígios.

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios,
a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

34. FUMARC – Delegado de Polícia – PC/MG – 2011. Sobre a prova pericial é INCORRETO afirmar:
a) o exame de corpo de delito deverá ser assinado por 2 (dois) peritos oficiais, portadores de diploma de
curso superior;
b) o exame de corpo de delito poderá ser realizado qualquer dia e horário, inclusive aos domingos;
c) a autópsia será realizada, em regra, 6 (seis) horas após o óbito;
d) nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia.

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►Comentários
Assertiva A incorreta. De acordo com o art. 159 do Código de Processo Penal, para a realização do exame de
corpo de delito basta um perito oficial, portador de diploma de curso superior.
Assertiva B correta. Segundo o art. 161 do Código de Processo Penal, o exame de corpo de delito poderá ser
feito em qualquer dia e a qualquer hora.
Assertiva C correta. Em regra, a autópsia deve ser realizada pelo menos seis horas após o óbito (art. 162,
caput, CPP). O fato de a alternativa não mencionar a expressão pelo menos prevista na lei não a torna errada.

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão
no auto.

Assertiva D correta, porque compatível com a orientação do art. 170 do Código de Processo Penal.

Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a
eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas
fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.

35. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2017. Analise as afirmativas abaixo e, a seguir, assinale a opção
correta.
I - Oferecida a denúncia ou queixa, o juiz deverá citar o réu para a apresentação de resposta escrita em dez
dias. Após tal manifestação da defesa, o juiz proferirá decisão de recebimento ou de rejeição da denúncia ou
queixa apresentada.
II - O réu preso só deve ser interrogado por videoconferência quando presentes razões excepcionais previstas
no Código de Processo Penal, devendo ser garantido, durante o ato, o acesso a canais telefônicos reservados
para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do
fórum, e entre este e o preso.
III - Se o réu, citado pessoalmente, não apresentar a resposta no prazo legal, o juiz decretará sua revelia e
proferirá decisão de saneamento do processo. A petição de resposta escrita não é termo essencial do
processo e sua falta não enseja nulidade.
a) apenas a assertiva I está correta;
b) apenas a assertiva II está correta;
c) apenas a assertiva III está correta;
d) apenas as assertivas II e III estão corretas;
e) todas as assertivas são falsas.
►Comentários
Proposição I incorreta. A citação do acusado ocorre após o recebimento da peça acusatória pelo juiz e não
antes (inteligência do art. 396, CPP).

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Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não
a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação,
por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

Proposição II correta, porque compatível com o teor dos parágrafos 2º e 5º do art. 185 do Código de Processo
Penal.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. [...] §
2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
necessária para atender a uma das seguintes finalidades: I - prevenir risco à segurança pública,
quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por
outra razão, possa fugir durante o deslocamento; II - viabilizar a participação do réu no referido
ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por
enfermidade ou outra circunstância pessoal; III - impedir a influência do réu no ânimo de
testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV - responder à gravíssima questão de
ordem pública. [...] § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o
direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência,
fica também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o
defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre
este e o preso.

Proposição III incorreta. A resposta à acusação é peça essencial; caso o réu, citado pessoalmente, não a
apresente no prazo legal, deverá o juiz nomear defensor dativo (ou notificar a Defensoria Pública) para que
o faça.

Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à
sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar
testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. § 1o A exceção
será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código. § 2o Não apresentada
a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará
defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias.

Consequentemente, a assertiva B é a única correta.


36. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014. Assinale a alternativa correta:
a) na oitiva de testemunha por carta precatória, a presença do réu será indispensável, sendo facultativa a
presença de defensor;
b) a defesa deve ser intimada da expedição de carta precatória e da data da audiência no Juízo deprecado,
sob pena de nulidade;

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c) a expedição da carta precatória não suspende a instrução criminal, que pode prosseguir em seus ulteriores
termos até a sentença; cumprida e devolvida a carta após a oitiva das testemunhas de defesa, ela não poderá
ser juntada aos autos;
d) é absoluta a nulidade decorrente de falta de intimação de expedição de carta precatória para inquirição
de testemunha, nos termos da jurisprudência sumulada do Egrégio Supremo Tribunal Federal;
e) quando a testemunha residir fora da jurisdição, poderá o juiz que preside o feito ouvi-la, diretamente, por
videoconferência ou qualquer outro meio tecnológico de transmissão de sons e imagens, podendo tal oitiva
se dar dentro da audiência una de instrução e julgamento.
►Comentários
Assertiva A incorreta. A presença do réu não é indispensável na inquirição de testemunhas por carta
precatória. Entretanto, é imprescindível que na audiência que tenha essa finalidade, o acusado seja
representado por defensor, sob pena de violação à ampla defesa (inteligência do art. 5º, LV da Constituição
Federal e do art. 261, caput do Código de Processo Penal). Sobre o tema, confira-se:

[...] 1. A ausência do paciente na audiência de oitiva de testemunhas não constitui


nulidade de modo a comprometer os atos processuais, na medida em que, além de o
paciente não ter manifestado a intenção de comparecer ao ato processual, houve
expressa dispensa por parte do advogado constituído. Não cabe, portanto, a alegação
de cerceamento de defesa, a teor do que dispõe o art. 565 do CPP: “Nenhuma das partes
poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido”. 2.
Ademais, em sede de repercussão geral, o Tribunal fixou o entendimento, mutatis
mutandis aqui aplicável, de que não há nulidade na realização de audiência de oitiva de
testemunha por carta precatória, se ausente réu preso que não manifestou
expressamente a sua intenção em participar da audiência (RE 602.543-QO-RG,
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO). [...] (HC 120759, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI,
Segunda Turma, julgado em 28/10/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-223 DIVULG 12-
11-2014 PUBLIC 13-11-2014)

Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LV - aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Art. 261, caput, CPP. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou
julgado sem defensor.

Assertiva B incorreta. A defesa apenas deve ser intimada do envio da carta precatória e não da data da
audiência no juízo deprecado.
Assertiva C incorreta. A expedição de carta precatória efetivamente não suspende a instrução criminal; caso
a deprecata seja devolvida após o transcurso do prazo nela fixado, deverá ser juntada ao processo, mesmo
que o feito já esteja julgado. Perceba-se:

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Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de
sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
partes. § 1o A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal. § 2o Findo o prazo
marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida,
será junta aos autos.

Assertiva D incorreta. Ao contrário do que consta na alternativa, a nulidade por falta de intimação sobre a
expedição da carta precatória para inquirição de testemunha é relativa de acordo com o STF. Note-se:

Súmula 155, STF – É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da
expedição de precatória para inquirição de testemunha.

Assertiva E correta, porque retrata o conteúdo do § 3º do art. 222 do Código de Processo Penal.

Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de
sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
partes. [...] § 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser
realizada por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive,
durante a realização da audiência de instrução e julgamento.

37. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014. Analise as assertivas e assinale, ao final, a opção correta.
I. Antes da oitiva da testemunha, o juiz tomará seu compromisso de dizer a verdade. Em princípio, toda
pessoa poderá ser testemunha, ainda as consideradas de má reputação, ou mesmo os amigos do acusado,
cabendo ao julgador aferir o valor da prova produzida no momento da sentença.
II. Antes de iniciar a oitiva testemunhal, é possível às partes contraditar as testemunhas. O juiz fará consignar
a contradita e a resposta da testemunha, mas só a excluirá ou não lhe deferirá compromisso nos casos
previstos em lei.
III. O corréu não poderá ser testemunha, na medida em que a testemunha encontra-se compromissada e
tem a obrigação de dizer a verdade, enquanto o corréu pode falsear a verdade, sem incorrer em crime de
falso testemunho, por se encontrar descompromissado.
IV. O Juízo competente para processar e julgar o crime de falso testemunho é o do lugar do delito, e a Justiça
Federal é competente para julgar os crimes de falso testemunho cometidos em processo trabalhista.
Acerca dos sistemas de apreciação de provas e da licitude dos meios de prova, julgue o item subsequente.
a) apenas as assertivas II e III estão corretas;
b) apenas as assertivas II e IV estão corretas;
c) todas as assertivas estão corretas;
d) apenas as assertivas I, II e III estão corretas;
e) todas as assertivas estão incorretas.
►Comentários

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Proposição I correta. O conteúdo do art. 203 do Código de Processo Penal deixa claro que o compromisso de
dizer a verdade deve ser tomado antes da realização da oitiva. O art. 202 do mesmo texto normativo, por
sua vez, esclarece que toda pessoa pode ser testemunha; não há dúvida, portanto, de que estão abrangidas
nesse rol indivíduos de má reputação ou eventuais amigos do acusado. Por ocasião da sentença, o juiz
formará sua convicção garantindo a cada um dos depoimentos seu devido valor à luz do conjunto probatório
(art. 155, CPP).

Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber
e lhe for perguntado, devendo declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua
profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes,
ou quais suas relações com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando sempre as razões
de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas. Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as
restrições estabelecidas na lei civil.

Proposição II correta, porque compatível com a orientação do art. 214 do Código de Processo Penal.

Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou arguir
circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará
consignar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só excluirá a testemunha ou
não lhe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208.

Proposição III correta. Corréu não pode ser testemunha, porque não tem dever de dizer a verdade, tem o
direito de permanecer em silêncio e, para alguns, de mentir. Sobre o tema, confira-se o que diz a
jurisprudência:

II - O sistema processual penal brasileiro impede a oitiva de corréu na qualidade de


testemunha, na mesma ação penal, em razão da incompatibilidade entre o direito
constitucional ao silêncio e a obrigação de dizer a verdade imposta nos termos do
Código de Processo Penal. (RHC 67.493/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 19/04/2016, DJe 02/05/2016)

OBS. Não há impedimento quanto à tomada das declarações do colaborador em delação premiada por força
do § 14º do art. 4º da Lei 12.850/2013

Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3
(dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde
que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: [...] § 14. Nos
depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao
silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.

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Sobre a matéria:

3. A categoria indicada ao colaborador deve ser de corréu ou informante (se não integra
a ação penal), pelo direto interesse nos fatos acusatórios, mas a errônea nominação
como testemunha não gera nulidade na colheita ou valoração dessa prova. 4. A
diferença de valor da prova colhida, como informante ou testemunha, com ou sem
compromisso de dizer a verdade, inobstante a previsão do art. 4º, § 14, da Lei nº
12.850/2013, decorre da ponderação judicial e não como prova legal com valoração pela
categoria da prova oral. (RHC 75.856/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 06/12/2016, DJe 16/12/2016)

Proposição IV correta, porque resume a orientação do art. 70, caput do Código de Processo Penal e da
Súmula 165 do Superior Tribunal de Justiça.

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.

Súmula 165, STJ - Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho
cometido no processo trabalhista.

Consequentemente, apenas a assertiva C está correta.


38. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014. Analise as assertivas e assinale, ao final, a opção correta.
I - O interrogatório do acusado estrangeiro, que não fale português, será feito por intérprete, ainda que o
magistrado seja fluente na língua estrangeira que fala o acusado;
II - O interrogatório do surdo-mudo será feito por intérprete, sendo vedada a inquirição por escrito;
III - O interrogatório do preso será feito, como regra, pessoalmente, admitindo-se, quando determinado por
decisão fundamentada, sua realização por videoconferência.
a) todas as assertivas estão corretas;
b) apenas a assertiva I está correta;
c) apenas a assertiva II está correta;
d) apenas a assertiva III está correta;
e) apenas as assertivas I e III estão corretas.
►Comentários
Proposição I correta. Segundo o art. 193 do Código de Processo Penal, quando o interrogado não falar a
língua nacional, o interrogatório será feito por meio de intérprete.
Proposição II incorreta. No interrogatório do surdo-mudo, as perguntas serão formuladas por escrito e por
esse mesmo modo se darão as respostas. A intervenção de intérprete somente se justificará quando o
interrogando surdo-mudo não saiba ler ou escrever (art. 192, III e parágrafo único, CPP).

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Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma seguinte:
[...] III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as
respostas. Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como
intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo.

Proposição III correta. De acordo com o art. 185 do Código de Processo Penal, o interrogatório do preso, em
regra, deve ser pessoal. Excepcionalmente, por decisão fundamentada, nos casos previstos em lei, possível
que seja tomado por videoconferência.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal,
será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. § 1o O
interrogatório do réu preso será realizado, em sala própria, no estabelecimento em que estiver
recolhido, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público
e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a publicidade do ato. §
2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes,
poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja
necessária para atender a uma das seguintes finalidades: I - prevenir risco à segurança pública,
quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por
outra razão, possa fugir durante o deslocamento; II - viabilizar a participação do réu no referido
ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por
enfermidade ou outra circunstância pessoal; III - impedir a influência do réu no ânimo de
testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV - responder à gravíssima questão de
ordem pública.

Consequentemente, apenas a assertiva E está correta.


39. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014. De acordo com o Código de Processo Penal, assinale a opção
correta:
a) Indícios são circunstâncias conhecidas e provadas que, tendo relação com o fato, autorizam, por indução,
concluir-se sobre a existência de outras circunstâncias;
b) a juntada de documentos depende de requerimento da parte interessada;
c) em nome da privacidade, as cartas particulares não poderão, sem o consentimento do signatário, ser
exibidas em juízo pelo réu dela destinatário;
d) os documentos em língua estrangeira só serão juntados ao processo depois de traduzidos;
e) uma vez reduzida a termo a confissão, e exatamente por isso, ela é irretratável, embora possa ser reputada
nula.
►Comentários
Assertiva A correta. Segundo o art. 239 do Código de Processo Penal, considera-se indício a circunstância
conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra
ou outras circunstâncias.

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Assertiva B incorreta. De acordo com o art. 231 do Código de Processo Penal, salvo os casos expressos em
lei, as partes poderão apresentar documentos em qualquer fase do processo.
Assertiva C incorreta. O destinatário de carta particular poderá exibi-la em juízo para a defesa de seu direito,
ainda que sem consentimento do signatário (art. 233, CPP).

Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios criminosos, não serão
admitidas em juízo. Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo
destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não haja consentimento do signatário.

Assertiva D incorreta. Documentos em língua estrangeira serão juntados imediatamente ao processo. Tais
documentos somente serão traduzidos se necessário (art. 236, CPP).

Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela
autoridade.

Assertiva E incorreta. A confissão é retratável por expressa previsão legal (art. 200, CPP).

Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz,
fundado no exame das provas em conjunto.

40. MPE/RS – Promotor de Justiça – MPE/RS – 2017. Em uma ação penal o Ministério Público,
durante a instrução, junta documento em língua estrangeira. Intimada a defesa especificamente sobre o
documento, esta silencia. No momento de requerer diligências do art. 402 do Código de Processo Penal,
Ministério Público e defesa nada requerem. Oferecidas alegações finais orais, o Ministério Público vale-
se do documento em língua estrangeira para pedir a condenação. A defesa, por sua vez, produz eficiente
defesa sem fazer referência ao documento em língua estrangeira. Concluso para sentença, considerando
o documento em língua estrangeira, o juiz deverá:
a) determinar a conversão do julgamento em diligência para que seja providenciada a tradução do
documento por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea a ser nomeada pelo juízo,
independentemente da solução ser condenatória ou absolutória, ou ainda do uso do documento nesta
solução;
b) ordenar o desentranhamento do documento já que em todos os atos e termos do processo é obrigatório
o uso da língua portuguesa e não foi providenciada a sua tradução em momento oportuno;
c) decidir pela conversão do julgamento em diligência para que seja providenciada a tradução do documento
por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea a ser nomeada pelo juízo, apenas se for condenar o
acusado e valer-se do documento para tanto;
d) apreciar livremente a prova produzida, inclusive quanto ao documento em língua estrangeira, uma vez
que a sua tradução não é obrigatória;
e) resolver pela conversão do julgamento em diligência para que o Ministério Público e a defesa juntem cada
um a sua versão em língua portuguesa do documento em língua estrangeira.
►Comentários

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Assertiva D é a única correta. Segundo o art. 236 do Código de Processo Penal, os documentos em língua
estrangeira somente serão traduzidos se isso for necessário. Não há absolutamente nada no enunciado que
sugira a imprescindibilidade dessa tradução. O Ministério Público ofereceu memoriais com base no
documento em questão e a defesa, em suas eficientes (segundo o próprio enunciado) alegações, não fez a
ele referência. O juiz, portanto, deverá analisar a prova produzida, inclusive o documento em língua
estrangeira, para formar sua convicção (art. 155, CPP).
Entretanto, conveniente relacionar entendimento doutrinário em sentido diverso:

A nosso juízo, em que pese a ressalva constante do art. 236 do CPP ("se necessário"),
mesmo que as partes tenham conhecimento da língua estrangeira, impõe-se a tradução
do documento para o Português, haja vista o princípio da publicidade dos atos
processuais, do qual deriva a necessária acessibilidade de todos ao conteúdo do
documento. A dispensa de tradução só deverá ocorrer quando o conteúdo do
documento não interessar ao acertamento do fato delituoso. Eventual indeferimento de
tradução é causa de nulidade relativa, devendo ser alegada oportunamente, sob pena
de preclusão, além da necessária comprovação do prejuízo (LIMA, Renato Brasileiro de.
Manual de Processo Penal. Volume Único. 5ª ed. JusPodivm. Salvador. 2017. P. 723)

41. MPE/SC – Promotor de Justiça – MPE/SC – 2016. De acordo com o Código de Processo Penal, o
interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma seguinte: ao surdo serão
apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; ao mudo as perguntas serão feitas
oralmente, respondendo-as por escrito; ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do
mesmo modo dará as respostas; caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como
intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo. (C/E)
►Comentários
Assertiva correta. Objetivamente: i) réu surdo: perguntas escritas e respostas orais; ii) réu mudo: perguntas
orais e respostas escritas; iii) réu surdo-mudo: perguntas e respostas escritas; iv) réu surdo-mudo que não
saiba ler OU escrever: intérprete; v) réu que não fala a língua nacional: intérprete.

Art. 192, CPP. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma
seguinte: I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá
oralmente; II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito; III - ao
surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as respostas.
Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como intérprete
e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo.

Art. 193, CPP. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o interrogatório será feito por
meio de intérprete.

16.2 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS


1. VUNESP – Juiz Substituto – TJ/RS – 2018. A respeito das provas, assinale a alternativa correta.

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a) São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilegítimas, assim entendidas as
obtidas em violação a normas constitucionais ou legais;
b) a pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa será computada como testemunha;
c) o exame para o reconhecimento de escritos, tal como o reconhecimento fotográfico, não tem previsão
legal;
d) o juiz não tem iniciativa probatória;
e) a falta de exame complementar, em caso de lesões corporais, poderá ser suprida pela prova testemunhal.
2. VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2017. No que diz respeito ao exame de corpo de delito e às
perícias em geral, é correto afirmar que
a) será facultada ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado
a indicação de assistente técnico, vedada, porém, a formulação de quesitos;
b) é permitido às partes, durante o curso do processo, requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a
prova, desde que o mandado de intimação e as questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com
antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar;
c) é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionado,
anteriormente, na diligência de apreensão;
d) o assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz, sempre antes da conclusão dos exames e
elaboração do laudo pelo perito oficial, sendo as partes intimadas desta decisão.
3. CESPE – Juiz Substituto – TJ/PR – 2017. Considerando os princípios que norteiam o interrogatório
do acusado e os requisitos para a realização desse ato, assinale a opção correta.
a) é válido o interrogatório do acusado que dispensa a presença do advogado e permanece em silêncio, pois,
se o silêncio não puder ser interpretado contra a defesa, não haverá prejuízo, considerando-se o
princípio pas de nullité sans grief.
b) se o interrogado não souber escrever, não puder ou não quiser assinar, o juiz nomeará curador e este,
após a leitura do interrogatório, assinará o termo;
c) por não contar com as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, a confissão
extrajudicial, ainda que indireta, não é admitida como meio de prova;
d) o exercício do direito ao silêncio não gera presunção de culpabilidade para o acusado, tampouco pode ser
interpretado em prejuízo da defesa.
4. CESPE – Juiz Substituto – TJ/AM – 2016. Acerca dos meios de prova no processo penal, assinale a
opção correta.
a) a interceptação telefônica é medida subsidiária e excepcional, só podendo ser determinada quando não
houver outro meio para se apurar os fatos tidos por criminosos, sendo ilegal quando for determinada apenas
com base em notícia anônima, sem investigação preliminar;
b) a competência para autorizar a interceptação telefônica é exclusiva do juiz criminal, caracterizando prova
ilícita o aproveitamento da diligência como prova emprestada a ser utilizada pelo juízo cível ou em processo
administrativo;

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c) de acordo com o STJ, o prazo de quinze dias é contado a partir da data da decisão judicial que autoriza a
interceptação telefônica e pode ser prorrogado sucessivas vezes pelo tempo necessário, especialmente
quando o caso for complexo e a prova, indispensável;
d) em regra, o CPP estabelece que o interrogatório do réu preso será feito pelo sistema de videoconferência
ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real. Não sendo isso possível por
falta de disponibilidade do recurso tecnológico, o preso será apresentado em juízo, mediante escolta;
e) a busca domiciliar poderá ser feita sem autorização do morador, independentemente de dia e horário, no
caso de a autoridade judiciária comparecer pessoalmente para efetivar a medida, devendo esta declarar
previamente sua qualidade e o objeto da diligência.
5. CESPE – Juiz Substituto – TJ/AM – 2016. Carla fez um seguro de vida que previa o pagamento de
vultosa indenização a seu marido, José, caso ela viesse a falecer. O contrato previa que o beneficiário
não teria direito à indenização se causasse a morte da segurada. Alguns meses depois, Carla foi
encontrada morta, tendo o perito oficial que assinou o laudo cadavérico concluído que a causa provável
fora envenenamento. Em que pese o delegado não ter indiciado José, o MP concluiu que havia indícios
de autoria, razão pela qual ele foi denunciado por homicídio doloso. O juiz recebeu a denúncia e
determinou a citação do réu. José negou a autoria do delito, tendo solicitado a admissão de assistente
técnico e apresentado defesa em que requereu sua absolvição sumária. O parecer do assistente técnico
foi no sentido de que a morte de Carla tivera causas naturais. Acerca dessa situação hipotética, assinale a
opção correta.
a) caso o juiz absolva José por estar provado não ser ele autor do fato, essa decisão não impedirá que os
genitores de Carla ingressem com ação civil indenizatória e obtenham o reconhecimento de sua
responsabilidade civil;
b) o MP não poderia ter oferecido denúncia sem que o delegado tivesse indiciado José e procedido à sua
oitiva na fase extrajudicial, razão pela qual o juiz deveria ter remetido os autos à delegacia para a referida
providência;
c) o juiz poderá fundamentar uma sentença absolutória acatando o parecer elaborado pelo assistente
técnico contratado por José, rejeitando as conclusões do perito oficial;
d) o laudo de exame cadavérico de Carla é nulo porque a legislação processual penal determina que ele seja
elaborado e assinado por dois peritos oficiais;
e) a seguradora poderá intervir no processo criminal como assistente da acusação no intuito de demonstrar
que José foi o autor do crime.
6. FCC – Juiz Substituto – TJ/SE – 2015. No tocante à interceptação telefônica, de acordo com
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, é INCORRETO afirmar:
a) transcrição integral do conteúdo de gravação das interceptações telefônicas é dispensável, sendo
imprescindíveis tão somente os trechos que digam respeito ao investigado − embasadores da denúncia −,
para que, assim, exerça o contraditório e a ampla defesa;
b) admite-se a serendipidade, ou seja, a descoberta de fatos novos advindos do monitoramento
judicialmente autorizado pode resultar na identificação de pessoas inicialmente não relacionadas no pedido
da medida probatória, mas que possuam estreita ligação com o objeto da investigação, e tal circunstância
não invalida a utilização das provas colhidas contra esses terceiros;

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c) a condução dos trabalhos de interceptação telefônica autorizada judicialmente por órgão da Polícia Militar
− Agência de Inteligência − implica ilegitimidade na execução da medida constritiva;
d) o prazo de duração da interceptação telefônica pode ser seguidamente prorrogado, quando a
complexidade da investigação assim o exigir, desde que em decisão devidamente fundamentada;
e) embora a interceptação telefônica só possa ser autorizada para fins de produção de prova em investigação
ou processo criminal, o certo é que, uma vez autorizada judicialmente, o seu conteúdo pode ser utilizado
para fins de imposição de pena, inclusive de perda de cargo, função ou mandato, não se mostrando razoável
que as conversas gravadas, cujo teor torna-se público com a prolação de sentença condenatória, não sejam
aproveitadas na esfera civil ou administrativa.
7. VUNESP – Juiz Substituto – TJ/SP – 2015. A confissão do acusado no processo penal
a) só pode ser admitida se houver outras provas;
b) para ter validade, deve ser apresentada na polícia e em juízo;
c) pode ser considerada válida ainda que feita somente na fase extrajudicial;
d) nunca será tida como valor probante se houver posterior retratação judicial.
8. CESPE – Juiz Substituto – TJ/PB – 2015. Assinale a opção correta a respeito de provas no CPP.
a) em caso de divergência entre os peritos, a controvérsia será resolvida internamente pelo diretor da
repartição de lotação dos peritos, que elaborará laudo a fim de apresentar uma versão consensual;
b) no processo penal, a prova do estado de casado deve obedecer às restrições referentes ao estado de
pessoas previstas no ordenamento civil;
c) em respeito ao princípio acusatório, é vedado ao magistrado ordenar de ofício a produção antecipada de
provas;
d) por ser uma peça técnica, o laudo pericial deve ser aceito pelo juiz, sendo-lhe vedado inclusive rejeitá-lo
em parte;
e) o assistente técnico atuará no exame de corpo de delito juntamente com o perito oficial.
9. FCC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2015. Com relação ao exame de corpo de delito e às perícias em
geral, analise as seguintes assertivas, nos termos do Código de Processo Penal:
I. Na falta de perito oficial, o exame poderá ser realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma
de curso superior, mas não necessariamente na área técnica específica da natureza do exame.
II. O Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante e o acusado poderão formular
quesitos, mas somente o Ministério Público e o acusado poderão indicar assistente técnico.
III. A autópsia será feita sempre após seis horas do óbito, não prevendo a lei qualquer exceção.
IV. A exumação será realizada em dia e hora previamente agendados, e somente após autorização judicial.
V. As partes poderão requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a
quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 dias, podendo apresentar as respostas em laudo
complementar.
É correto o que se afirma APENAS em
a) II e IV;

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b) I, IV e V;
c) I, II, III e IV;
d) I e V;
e) II, III e V.
10. FCC – Juiz Substituto – TJ/GO – 2015. Em relação às testemunhas no processo penal, de acordo
com o Código de Processo Penal,
a) caso as testemunhas de acusação se sintam ameaçadas pelo réu, poderão deixar de prestar depoimento.
b) caso arrolado como testemunha, o Governador poderá optar por prestar depoimento por escrito;
c) as cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando
a parte requerente com os custos de envio;
d) caso a testemunha seja arrolada pela defesa e esteja impossibilitada, por enfermidade, de comparecer
para depor, o juiz determinará que a defesa substitua esta testemunha, sob pena de preclusão da prova;
e) são proibidas de depor, ainda que desobrigadas pela parte interessada, as pessoas que, em razão da
profissão, devam guardar segredo.
11. CESPE – Juiz Substituto – TJ/DFT – 2014. Telmo, surdo, alfabetizado em língua portuguesa,
integrante de organização criminosa, preso preventivamente, foi denunciado pela prática dos crimes de
associação criminosa, tortura, sequestro e latrocínio, por diversas vezes, tendo todos os crimes por ele
praticados ocorrido na região administrativa do Lago Sul – DF. Ao final de cada instrução foi determinado
o interrogatório de Telmo pelos juízos competentes.
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta:
a) por ocasião do interrogatório de Telmo, o juízo deve nomear para intervir no ato pessoa habilitada a
entender o interrogado, a qual deve agir, sob compromisso, como intérprete;
b) as perguntas a que Telmo deixar de responder devem ser devidamente consignadas a pedido das partes,
bem como as razões que ele invocar para não fazê-lo;
c) caso Telmo, ao ser interrogado, negue a acusação, no todo, poderá prestar esclarecimentos, mas não
indicar provas, já que está encerrada a instrução;
d) o interrogatório de Telmo poderá ser realizado, ordinariamente, por sistema de videoconferência, dadas,
por si mesmas, as graves imputações que constam nas denúncias;
e) encerrada a instrução, o juiz poderá, a qualquer tempo, proceder de ofício a novo interrogatório de Telmo.
12. UFPR – Juiz Substituto – TJ/PR – 2013. Assinale a alternativa INCORRETA:
a) quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
podendo supri-lo a confissão do acusado;
b) não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
c) o exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora;
d) laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez (10) dias, podendo este prazo ser prorrogado, em
casos excepcionais, a requerimento dos peritos.

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13. TJ/SC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2013. Assinale a alternativa correta:


a) cumprimento de ordem de busca e apreensão domiciliar, por implicar no afastamento de garantia
fundamental, demanda, obrigatoriamente, a apresentação do correspondente mandado no local da
diligência;
b) a vítima poderá, desde o curso do inquérito policial, requerer sua habilitação como assistente de acusação;
c) condução coercitiva é medida que se aplica apenas às testemunhas, não podendo o juiz assim determinar
em relação ao acusado;
d) não podem servir como testemunha os doentes e deficientes mentais e os menores de 14 (quatorze) anos;
e) caberá recurso em sentido estrito, a ser manejado no prazo de 20 (vinte) dias, da decisão que incluir ou
excluir jurado na lista geral, contados da data de sua publicação definitiva.
14. FCC – Juiz Substituto – TJ/PE – 2013. Em relação à prova testemunhal, de acordo com o Código de
Processo Penal, é INCORRETO afirmar:
a) se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar temor à testemunha ou ao ofendido, de modo que
prejudique a verdade do depoimento, determinará desde logo a retirada do réu, prosseguindo na inquirição,
com a presença de seu defensor;
b) a testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência,
expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as partes;
c) as perguntas no procedimento comum serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem
na repetição de outra já respondida;
d) as cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando
a parte requerente com os custos de envio;
e) o Vice-Presidente da República poderá optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as
perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhe serão transmitidas por ofício.
15. FCC – Juiz Substituto – TJ/GO – 2012. Em relação às testemunhas, é correto afirmar que
a) as pessoas impossibilitadas por enfermidade ou velhice serão dispensadas de depor;
b) será permitida à testemunha breve consulta a apontamentos;
c) as pessoas com dever de sigilo são proibidas de depor mesmo se desobrigadas pela parte interessada;
d) as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, exceto se não tiverem relação
com a causa;
e) se o juiz reconhecer que alguma testemunha fez afirmação falsa, remeterá cópia do depoimento para o
Ministério Público, para instauração de inquérito.
16. TJ/SC – Juiz Substituto – TJ/SC – 2010. Assinale a alternativa correta:
I. O interrogatório do réu preso será realizado em sala própria, no estabelecimento em que estiver recolhido,
desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério Público e dos auxiliares bem
como a presença do defensor e a publicidade do ato.
II. Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício, ou a requerimento das partes, poderá
realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de

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transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender as
finalidades descritas na lei.
III. O abandono do defensor em relação ao processo será comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil,
com incidência de multa de 10 (dez) a 50 (cinquenta) salários mínimos.
IV. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o
juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais cominações
cabíveis.
V. As perguntas das partes serão requeridas ao juiz, que as formulará à testemunha. O juiz não poderá
recusar as perguntas da parte, salvo se não tiverem relação com o processo ou importarem em repetição de
outra já respondida.
a) somente as proposições III e V estão corretas;
b) somente as proposições I, III e IV estão corretas;
c) somente as proposições I, II e IV estão corretas;
d) somente as proposições II e V estão corretas;
e) somente as proposições II, III e V estão corretas.
17. FCC – Juiz Substituto – TJ/GO – 2009. No tocante ao interrogatório por videoconferência, é
correto afirmar:
a) independe de prévia intimação das partes, ante a excepcionalidade da medida;
b) é garantido ao réu o direito de entrevista prévia com o defensor, como em qualquer outra modalidade do
ato, mas não o de contato reservado com o advogado;
c) pode ser determinado por ato discricionário do juiz, independentemente de decisão fundamentada;
d) é cabível nos casos em que o réu responder a gravíssima questão de ordem pública;
e) não garante ao preso o direito de acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização dos
anteriores atos da audiência de instrução e julgamento.
18. FUNDEP – Promotor de Justiça – MPE/MG – 2018. Examine as alternativas abaixo, referentes à
prova, assinalando a CORRETA:
a) por força do princípio da comunhão da prova, a parte, para desistir da inquirição da testemunha que haja
arrolado, deverá obter a aquiescência da parte contrária;
b) as pessoas proibidas de depor em razão do dever de guardar segredo, se dispensadas pela parte a quem
isso interesse, estarão obrigadas a fazê-lo;
c) embora não permita a lei interceptação de comunicações telefônicas para a investigação de crimes
punidos com detenção, os tribunais superiores admitem, com base na teoria do encontro fortuito, que
aquela legitimamente deferida seja empregada para subsidiar ação penal em crimes sujeitos a tal pena;
d) ao Presidente e Vice-presidente da República, presidentes da Câmara dos Deputados e Senado Federal e
aos Ministros do Supremo Tribunal Federal se permite, na condição de testemunhas, prestar depoimento
por escrito.
19. CESPE – Delegado de Polícia – PC/MA – 2018. No que se refere às provas no processo penal,
julgue os itens a seguir.

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I. Em atendimento ao princípio da legalidade, no processo penal brasileiro são inadmissíveis provas não
previstas expressamente no CPP.
II. Caso a infração tenha deixado vestígio, a confissão do acusado não acarretará a dispensa da prova pericial.
III. Havendo evidências da participação do indiciado em organização criminosa, a autoridade policial poderá
determinar a quebra do sigilo da sua comunicação telefônica como forma de instruir investigação criminal.
IV. A prova obtida por meios ilícitos não constitui suporte jurídico capaz de ensejar sentença condenatória,
ainda que corroborada pela confissão do acusado.
Estão certos apenas os itens:
a) I e II;
b) I e III;
c) II e IV;
d) I, III e IV;
e) II, III e IV.
20. FAPEMS – Delegado de Polícia – PC/MS – 2017. Sobre os documentos no processo penal, de
acordo com o Código de Processo Penal vigente, assinale a alternativa correta.
a) caso o juiz obtenha notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação ou da
defesa, somente poderá determinar a juntada aos autos mediante requerimento da parte interessada.
b) os documentos podem ser apresentados em qualquer fase do processo, salvo em grau de recurso quando
os autos estiverem conclusos para julgamento;
c) considera-se documento quaisquer escritos, instrumentos ou papéis públicos ou particulares, possuindo
o mesmo valor a fotografia atual do documento;
d) os documentos originais, juntos a processo findo, quando inexistir motivo relevante que justifique a sua
conservação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Ministério Público, ser entregues à
parte que os produziu.
e) documentos em língua estrangeira serão necessariamente traduzidos por tradutor oficial ou pessoa
idônea nomeada pela autoridade para serem juntados aos autos, exceto quando os sujeitos processuais
dominarem o idioma.
21. FAPEMS – Delegado de Polícia – PC/MS – 2017. De acordo com as disposições expressas no
Código de Processo Penal vigente, o interrogatório por videoconferência do réu preso será realizado.
a) excepcionalmente, de ofício pelo juiz, por decisão fundamentada, desde que a medida seja necessária
para impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou vítima, com a intimação das partes no prazo de
15 (quinze) dias de antecedência;
b) imediatamente, pelo juiz, ou mediante requerimento das partes, delegado de polícia e diretor do
estabelecimento prisional, por decisão fundamentada, para prevenir que o preso possa fugir durante o
deslocamento;
c) mediante requerimento das partes para garantir que o réu participe do referido ato processual, quando
houver dificuldade de comparecer em juízo por motivo de doença grave ou para atender questão de ordem
pública;

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d) excepcionalmente, de ofício pelo juiz ou a requerimento das partes, por decisão fundamentada, desde
que a medida seja necessária para responder à gravíssima questão de ordem pública;
e) por decisão fundamentada pelo juiz ou pelo delegado de polícia, para prevenir risco à segurança pública,
quando existir fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa.
22. FAPEMS – Delegado de Polícia – PC/MS – 2017. A busca e apreensão está prevista no Código de
Processo Penal vigente como um meio de prova possível de ser realizada antes e durante a investigação
preliminar, no curso da instrução criminal e, ainda, na fase recursal. A esse respeito, assinale a
alternativa correta.
a) a busca pessoal será realizada pela autoridade policial, independentemente de mandado, no caso de
prisão, quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, no decorrer da
busca domiciliar nas pessoas que se encontrem no interior da casa;
b) a autoridade policial, assim que tomar conhecimento da prática da infração penal, deverá colher todas as
provas e determinar a imediata busca e apreensão de objetos, o que prescinde de autorização judicial, pois
é, um ato administrativo autoexecutável;
c) autoridade policial não poderá penetrar no território de jurisdição alheia para o fim de apreensão, quando
for no seguimento de pessoa ou coisa, sem antes se apresentar obrigatoriamente e sempre antes da
diligência à competente autoridade local;
d) dispõe do Código de Processo Penal vigente que a busca pessoal em mulher será sempre realizada por
outra mulher, o que se estende às transexuais e às travestis, uma vez reconhecido o direito de se
identificarem como do gênero feminino, devendo a autoridade policial observar de maneira fidedigna essa
regra;
e) não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusado pela autoridade policial,
mesmo que constituir elemento do corpo de delito, haja vista a probabilidade de servir de prova de tese
defensiva.
23. IBADE – Delegado de Polícia – PC/AC – 2017. No que tange à regência do código de processo
penal sobre reconhecimento de pessoas, leia as assertivas a seguir.
I. A pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser
reconhecida.
II. A pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela
tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la, não sendo
possível, serão apresentadas fotografias de pessoas diversas para quem tiver que proceder o
reconhecimento de pessoa.
III. Se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou
outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará
para que esta não veja aquela, seja em sede policial, no curso da instrução criminal ou no plenário do júri.
IV. Do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa
chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
Está correto apenas o que se afirma em:
a) I e IV;
b) I, III e IV;

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c) I e III;
d) II, III e IV;
e) I e II.
24. IBADE – Delegado de Polícia – PC/AC – 2017 – ADAPTADA. Segundo o código de processo penal o
mandado de busca domiciliar deverá:
a) indicar ainda que de forma genérica e indeterminada a casa na qual se realizará a diligência, precisando a
região da busca;
b) indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo
proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais
que a identifiquem;
c) em qualquer caso permitir a apreensão de documento em poder do defensor do acusado;
d) ser subscrito pelo escrivão de polícia e assinado pela autoridade policial;
e) mencionar ainda que de forma genérica o motivo e os fins da diligência.
25. CESPE – Delegado de Polícia – PC/GO – 2017. Suponha que o réu em determinado processo
criminal tenha indicado como testemunhas o presidente da República, o presidente do Senado Federal, o
prefeito de Goiânia – GO, um desembargador estadual aposentado, um vereador e um militar das Forças
Armadas. Nessa situação hipotética, conforme o Código de Processo Penal, poderão optar pela prestação
de depoimento por escrito:
a) o presidente do Senado Federal e o desembargador estadual;
b) o prefeito de Goiânia – GO e o militar das Forças Armadas;
c) o desembargador estadual e o vereador;
d) o presidente da República e o presidente do Senado Federal;
e) o presidente da República e o vereador.
26. FUNIVERSA – Delegado de Polícia – PC/DF – 2015. À luz da legislação processual penal e da
jurisprudência e doutrina majoritária a respeito da matéria, assinale a alternativa correta.
a) de acordo com o CPP, em regra, o exame de corpo de delito será realizado por ao menos dois peritos
oficiais portadores de diploma de curso superior;
b) conforme o STF, a perícia sobre a aptidão da arma de fogo para efetuar disparos é necessária para que se
configure o crime de roubo circunstanciado por emprego de arma de fogo.
c) em se tratando de crime de falsificação de documento público, a falta de perícia, por ter-se recusado o
réu a colaborar para a realização de exame grafotécnico, não pode ser suprida por outros meios de prova.
d) durante o inquérito policial, as medidas cautelares pessoais poderão ser decretadas pelo juiz mediante
representação da autoridade policial, de ofício ou após requerimento do Ministério Público;
e) conforme dispositivo expresso no CPP, a prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz
verificar que o agente praticou o fato por estado de necessidade.
27. CESPE – Delegado de Polícia – DPF – 2013. É apresentada uma situação hipotética, seguida de
uma assertiva a ser julgada em relação ao inquérito policial e suas peculiaridades, às atribuições da
Polícia Federal e ao sistema probatório no processo penal brasileiro.

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José foi indiciado em inquérito policial por crime de contrabando e, devidamente intimado, compareceu
perante a autoridade policial para interrogatório. Ao ser indagado a respeito de seus dados qualificativos
para o preenchimento da primeira parte do interrogatório, José arguiu o direito ao silêncio, nada
respondendo. Nessa situação hipotética, cabe à autoridade policial alertar José de que a sua recusa em
prestar as informações solicitadas acarreta responsabilidade penal, porque a lei é taxativa quanto à
obrigatoriedade da qualificação do acusado. (C/E)
28. CESPE – Delegado de Polícia – PC/BA – 2013. A autoridade policial deve promover as diligências
para o devido esclarecimento dos fatos lesivos a algum direito. Essa averiguação deve ser baseada em
procedimentos de demonstração, os quais dependem da natureza dos fatos. Com relação a esse assunto,
julgue o item a seguir.
No foro penal, o relatório do médico perito, denominado laudo pericial médico-legal, somente poderá ser
solicitado pela autoridade competente até o momento da sentença. (C/E)
29. CESPE – Delegado de Polícia – PC/BA – 2013. Com relação às provas criminais, julgue o item que
se segue.
É indispensável o exame pericial, direto ou indireto, nos casos em que a infração penal deixe vestígios, não
podendo supri-lo a confissão do acusado, facultada ao MP, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao
querelante e ao acusado a indicação de assistente técnico para atuar na etapa processual após sua admissão
pelo juiz e a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais. (C/E)
30. CESPE – Delegado de Polícia – PC/BA – 2013. Com relação às provas criminais, julgue o item que
se segue.
Consoante a interpretação doutrinária da legislação penal, as buscas e apreensões são consideradas não só
meios de prova, mas também providências acautelatórias da atividade probante (medida cautelar), podendo
ser executadas em qualquer fase da persecução penal.
31. CESPE – Delegado de Polícia – PC/BA – 2013. Em relação aos direitos e deveres fundamentais
expressos na Constituição Federal de 1988 (CF), julgue o item subsecutivo.
A conversa telefônica gravada por um dos interlocutores não é considerada interceptação telefônica. (C/E)
32. COPS-UEL – Delegado de Polícia – PC/PR – 2013. Sobre o tema prova, atribua V (verdadeiro) ou F
(falso) às afirmativas a seguir.
(__) O juiz formará sua convicção pela apreciação da prova judicial, estando impedido de fundamentar sua
decisão nos elementos informativos colhidos na investigação.
(__) A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo vedado ao juiz determiná-la de ofício e antes de
iniciada a ação penal.
(__) O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias, podendo ser prorrogado, em casos
excepcionais, a requerimento dos peritos.
(__) Quando a infração deixar vestígios, será dispensável o exame de corpo de delito, mediante a confissão
do acusado.
(__) O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e qualquer hora.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.
a) V, V, F, V, F;

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b) V, F, V, F, V;
c) F, V, F, V, F;
d) F, V, F, F, V;
e) F, F, V, F, V.
33. UEG – Delegado de Polícia – PC/GO – 2013. Quanto à prova pericial, segundo o Código de
Processo Penal, tem-se o seguinte:
a) na falta de peritos oficiais, a perícia será realizada por uma pessoa idônea, portadora de diploma de
qualquer área de habilitação técnica;
b) será facultada ao Ministério Público e ao acusado a formulação de quesitos aos peritos, mas,
diferentemente do previsto no Código de Processo Civil, as partes não poderão indicar assistente técnico;
c) em regra, o exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior;
d) a falta do exame de corpo de delito direto nos crimes que deixam vestígios é causa de nulidade insanável,
não podendo ser suprida pela prova testemunhal.
34. FUMARC – Delegado de Polícia – PC/MG – 2011. Sobre a prova pericial é INCORRETO afirmar:
a) o exame de corpo de delito deverá ser assinado por 2 (dois) peritos oficiais, portadores de diploma de
curso superior;
b) o exame de corpo de delito poderá ser realizado qualquer dia e horário, inclusive aos domingos;
c) a autópsia será realizada, em regra, 6 (seis) horas após o óbito;
d) nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia.
35. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2017. Analise as afirmativas abaixo e, a seguir, assinale a opção
correta.
I - Oferecida a denúncia ou queixa, o juiz deverá citar o réu para a apresentação de resposta escrita em dez
dias. Após tal manifestação da defesa, o juiz proferirá decisão de recebimento ou de rejeição da denúncia ou
queixa apresentada.
II - O réu preso só deve ser interrogado por videoconferência quando presentes razões excepcionais previstas
no Código de Processo Penal, devendo ser garantido, durante o ato, o acesso a canais telefônicos reservados
para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do
fórum, e entre este e o preso.
III - Se o réu, citado pessoalmente, não apresentar a resposta no prazo legal, o juiz decretará sua revelia e
proferirá decisão de saneamento do processo. A petição de resposta escrita não é termo essencial do
processo e sua falta não enseja nulidade.
a) apenas a assertiva I está correta;
b) apenas a assertiva II está correta;
c) apenas a assertiva III está correta;
d) apenas as assertivas II e III estão corretas;
e) todas as assertivas são falsas.

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36. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014. Assinale a alternativa correta:


a) na oitiva de testemunha por carta precatória, a presença do réu será indispensável, sendo facultativa a
presença de defensor;
b) a defesa deve ser intimada da expedição de carta precatória e da data da audiência no Juízo deprecado,
sob pena de nulidade;
c) a expedição da carta precatória não suspende a instrução criminal, que pode prosseguir em seus ulteriores
termos até a sentença; cumprida e devolvida a carta após a oitiva das testemunhas de defesa, ela não poderá
ser juntada aos autos;
d) é absoluta a nulidade decorrente de falta de intimação de expedição de carta precatória para inquirição
de testemunha, nos termos da jurisprudência sumulada do Egrégio Supremo Tribunal Federal;
e) quando a testemunha residir fora da jurisdição, poderá o juiz que preside o feito ouvi-la, diretamente, por
videoconferência ou qualquer outro meio tecnológico de transmissão de sons e imagens, podendo tal oitiva
se dar dentro da audiência una de instrução e julgamento.
37. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014. Analise as assertivas e assinale, ao final, a opção correta.
I. Antes da oitiva da testemunha, o juiz tomará seu compromisso de dizer a verdade. Em princípio, toda
pessoa poderá ser testemunha, ainda as consideradas de má reputação, ou mesmo os amigos do acusado,
cabendo ao julgador aferir o valor da prova produzida no momento da sentença.
II. Antes de iniciar a oitiva testemunhal, é possível às partes contraditar as testemunhas. O juiz fará consignar
a contradita e a resposta da testemunha, mas só a excluirá ou não lhe deferirá compromisso nos casos
previstos em lei.
III. O corréu não poderá ser testemunha, na medida em que a testemunha encontra-se compromissada e
tem a obrigação de dizer a verdade, enquanto o corréu pode falsear a verdade, sem incorrer em crime de
falso testemunho, por se encontrar descompromissado.
IV. O Juízo competente para processar e julgar o crime de falso testemunho é o do lugar do delito, e a Justiça
Federal é competente para julgar os crimes de falso testemunho cometidos em processo trabalhista.
Acerca dos sistemas de apreciação de provas e da licitude dos meios de prova, julgue o item subsequente.
a) apenas as assertivas II e III estão corretas;
b) apenas as assertivas II e IV estão corretas;
c) todas as assertivas estão corretas;
d) apenas as assertivas I, II e III estão corretas;
e) todas as assertivas estão incorretas.
38. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014. Analise as assertivas e assinale, ao final, a opção correta.
I - O interrogatório do acusado estrangeiro, que não fale português, será feito por intérprete, ainda que o
magistrado seja fluente na língua estrangeira que fala o acusado;
II - O interrogatório do surdo-mudo será feito por intérprete, sendo vedada a inquirição por escrito;
III - O interrogatório do preso será feito, como regra, pessoalmente, admitindo-se, quando determinado por
decisão fundamentada, sua realização por videoconferência.
a) todas as assertivas estão corretas;

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b) apenas a assertiva I está correta;


c) apenas a assertiva II está correta;
d) apenas a assertiva III está correta;
e) apenas as assertivas I e III estão corretas.
39. TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014. De acordo com o Código de Processo Penal, assinale a opção
correta:
a) Indícios são circunstâncias conhecidas e provadas que, tendo relação com o fato, autorizam, por indução,
concluir-se sobre a existência de outras circunstâncias;
b) a juntada de documentos depende de requerimento da parte interessada;
c) em nome da privacidade, as cartas particulares não poderão, sem o consentimento do signatário, ser
exibidas em juízo pelo réu dela destinatário;
d) os documentos em língua estrangeira só serão juntados ao processo depois de traduzidos;
e) uma vez reduzida a termo a confissão, e exatamente por isso, ela é irretratável, embora possa ser reputada
nula.
40. MPE/RS – Promotor de Justiça – MPE/RS – 2017. Em uma ação penal o Ministério Público,
durante a instrução, junta documento em língua estrangeira. Intimada a defesa especificamente sobre o
documento, esta silencia. No momento de requerer diligências do art. 402 do Código de Processo Penal,
Ministério Público e defesa nada requerem. Oferecidas alegações finais orais, o Ministério Público vale-
se do documento em língua estrangeira para pedir a condenação. A defesa, por sua vez, produz eficiente
defesa sem fazer referência ao documento em língua estrangeira. Concluso para sentença, considerando
o documento em língua estrangeira, o juiz deverá:
a) determinar a conversão do julgamento em diligência para que seja providenciada a tradução do
documento por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea a ser nomeada pelo juízo,
independentemente da solução ser condenatória ou absolutória, ou ainda do uso do documento nesta
solução;
b) ordenar o desentranhamento do documento já que em todos os atos e termos do processo é obrigatório
o uso da língua portuguesa e não foi providenciada a sua tradução em momento oportuno;
c) decidir pela conversão do julgamento em diligência para que seja providenciada a tradução do documento
por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea a ser nomeada pelo juízo, apenas se for condenar o
acusado e valer-se do documento para tanto;
d) apreciar livremente a prova produzida, inclusive quanto ao documento em língua estrangeira, uma vez
que a sua tradução não é obrigatória;
e) resolver pela conversão do julgamento em diligência para que o Ministério Público e a defesa juntem cada
um a sua versão em língua portuguesa do documento em língua estrangeira.
41. MPE/SC – Promotor de Justiça – MPE/SC – 2016. De acordo com o Código de Processo Penal, o
interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito pela forma seguinte: ao surdo serão
apresentadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; ao mudo as perguntas serão feitas
oralmente, respondendo-as por escrito; ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do
mesmo modo dará as respostas; caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como
intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo. (C/E)

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16.3 GABARITO

1. E 11. E 21. D 31. C 41. C


2. B 12. A 22. A 32. E
3. D 13. E 23. A 33. C
4. A 14. A 24. B 34. A
5. C 15. B 25. D 35. B
6. C 16. C 26. E 36. E
7. C 17. D 27. C 37. C
8. B 18. C 28. E 38. E
9. D 19. C 29. C 39. A
10. C 20. D 30. C 40. D

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17. RESUMO
17.1 Exame de corpo de delito e perícias

Natureza jurídica: meio de prova ou até mais que isso (para parte da doutrina). Além da observação e
declaração (inerentes à prova testemunhal), envolve avaliação, prospecção e ‘perito’ seria apreciador
técnico da prova, auxiliar da justiça sujeito à disciplina judiciária. A prova técnica não é uma prova superior
às demais (não há hierarquia) - é, sim, uma prova especial, quanto ao conteúdo de interpretação de um meio
de prova. A prova pericial, por ser uma prova técnica e, nesse sentido, objetiva, possui maior possibilidade
de convencer o juiz do que a prova testemunhal.

Definição e terminologia: perícia é o exame técnico feito em pessoa ou coisa para comprovação de fatos e
realizado por alguém que tem determinados conhecimentos técnicos ou científicos adequados à
comprovação.

Corpo de delito: conjunto de vestígios materiais ou sensíveis deixados pela infração penal. O conceito é
ligado à materialidade do crime. Ortodoxamente, é definido como tudo que representa a exteriorização
material e a aparência física do delito – está nos meios materiais empregados e nos efeitos físicos produzidos.
Os vestígios têm de estar ligados diretamente à consumação do crime para constituírem corpo de delito.

Exame de corpo de delito: nada mais é que uma perícia, a principal, a mais importante de todas as perícias,
realizada sobre todos e cada um dos vestígios deixados pelo crime, destinada a comprovar materialidade.
Parte da doutrina sustenta que não se pode falar em exame de corpo de delito quando ausente um vestígio
em consequência da prática delituosa e que não se deveria falar, nesses casos, nem mesmo em
materialidade.

Laudo pericial: manifestação que normalmente encerra o trabalho do perito, contendo a sua declaração
técnica a respeito dos fatos e pontos examinados. É o documento que traduz o exame pericial realizado,
formalizando-o. Prazo de elaboração de 10 dias e não há momento fixado em lei para a juntada, devendo
isso acontecer o quanto antes, inclusive para viabilizar contraditório em audiência.

Sistema liberatório – CPP. Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no
todo ou em parte.

Obrigatoriedade: a regra é a obrigatoriedade da perícia como meio hábil à constatação dos sinais visíveis
deixados pela infração penal. A falta dessa perícia importará em nulidade processual, salvo se motivada no
desaparecimento do vestígio, caso em que a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta (art. 158, 564, III,
‘b’ e 167 do CPP).

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NUCCI: é próprio afirmar que toda infração penal possui corpo de delito, isto é, prova da sua existência, pois
se exige materialidade para condenar qualquer pessoa, embora nem todas fixem o corpo de delito por
vestígios materiais. Em relação a estes últimos é que se preocupou o art. 158 do CPP, exigindo que se faça a
inspeção pericial, com a emissão de um laudo, para comprovar a materialidade”.

exame de corpo
corpo de delito
de delito

direto indireto direto indireto

exame indireto
prova
exame direto do do perito (feito
feito por testemunhal ou
atestado por perito (ex. por outros
testemunhas ou outras suprem a
perito (exame) necropsia num vestígios que
outras provas falta do exame -
homicídio) não os do corpo)
2ª corrente
- 1ª
Perito: é órgão técnico e auxiliar do juízo na formação e colheita do material instrutório, submetido à
disciplina judiciária. Tanto o perito oficial quanto o perito não oficial são considerados funcionários públicos
para os fins do art. 327 do Código Penal.

CPP. Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.

§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras
de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o


encargo.

Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as
declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a
autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar
proceder a novo exame por outros peritos.

Atuação processual das partes:

CPP. Art. 159. § 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido,
ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.

§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames
e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.

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§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos,
desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam
encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em
laudo complementar;

II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz
ou ser inquiridos em audiência.

§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será
disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de
perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.

Assistente técnico: deve ser compreendido como um auxiliar das partes, dotado de conhecimentos técnicos,
científicos ou artísticos, responsável por trazer ao processo informações especializadas pertinentes ao objeto
da perícia. “A eles não se aplicam as causas de impedimento e de suspeição, e a sua nomeação ou destituição
não fica na esfera de decisão do magistrado”. Estariam “sujeitos à disciplina judiciária, tendo compromisso
com a verdade”. Não se admite assistente na fase investigatória.

CPP. Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a
perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

Necropsia/autópsia: exame interno do cadáver que tem por finalidade precípua a constatação da causa da
morte, dentre outros vestígios relevantes.

Exumar: ato de desenterrar o cadáver da sua sepultura, normalmente para se realizar algum exame faltante
ou complementar algum já existente.

Laudo complementar no crime de lesões corporais:

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto,
proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de
ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

§ 1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de


suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.

§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º, I, do Código Penal,
deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

Exame de local de crime:

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Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão,
no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

Exames laboratoriais:

Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a
eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas
fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.

Avaliação:

Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coisas destruídas, deterioradas ou


que constituam produto do crime.

Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos procederão à avaliação por meio
dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

Exame de local de incêndio:

Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado,
o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e
o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.

Exame grafotécnico:

Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á
o seguinte:

I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for
encontrada;

II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou
já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não
houver dúvida;

III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem
em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem
ser retirados;

IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a


autoridade mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas

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em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as
palavras que a pessoa será intimada a escrever.

Exame dos instrumentos do crime:

Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim
de se lhes verificar a natureza e a eficiência.

Perícias não previstas em lei: a perícia existe regulamentada como meio de prova, o que não está
regulamentado em lei é o procedimento técnico levado a cabo pelo perito. Procedimentos técnicos novos,
desde que se traduzam em perícia, são típicos. A técnica desenvolvida pelo perito não integra a tipicidade
processual. Existem posicionamentos contrários, exigindo previsão legal para a tipicidade (como, por
exemplo, no exame de DNA).

17.2 Interrogatório judicial

Conceito: é o ato por meio do qual o acusado será ouvido pela autoridade judiciária a respeito da sua pessoa
e dos fatos a ele imputados.

Natureza jurídica: não há consenso na doutrina a respeito da natureza jurídica do interrogatório. Há quatro
correntes sobre o tema: 1) interrogatório como meio de prova: relacionada com o sistema inquisitorial do
processo penal. O interrogatório é visto como um ato cuja única finalidade é conferir ao julgador elementos
probatórios para a formação de sua convicção e o julgamento do processo; 2) interrogatório como meio de
defesa: em virtude do direito constitucional ao silêncio de que pode fazer uso o acusado, do fato de o
interrogatório ser o último ato da instrução criminal, da garantia da entrevista prévia e reservada com o
defensor antes do interrogatório, bem como da necessidade de sua presença durante o ato, o interrogatório
seria um meio de defesa do réu. É a oportunidade de expor, pessoalmente, a sua versão dos fatos; 3)
interrogatório como meio de prova e meio de defesa: visão que tem prevalecido. É a soma das visões
apresentadas pelas duas outras correntes, de maneira que ambas as naturezas jurídicas estão presentes
concomitantemente; 4) interrogatório como meio de defesa e, eventualmente, como meio de defesa: difere-
se da corrente anterior por não considerar que ambas as naturezas coexistam em um mesmo tempo. O
interrogatório é considerado meio de defesa até o momento em que o acusado deixa de fazer uso do seu
direito ao silêncio. Uma vez que passe a narrar a sua versão dos fatos e a responder as perguntas que lhe são
feitas, o conteúdo do interrogatório poderá ser utilizado pelo julgador para a formação de sua convicção em
um ou outro sentido.

Momento para realização do interrogatório: após a reforma processual penal de 2008, passou o art. 400 do
CPP a prever o interrogatório como último ato da instrução criminal. O mesmo aconteceu em relação ao rito
do Júri, conforme arts. 473 e 474 do CPP. Algumas legislações penais especiais (em grande parte anteriores
à aludida reforma) ainda possuem previsão do interrogatório como primeiro ato da instrução, a exemplo da
Lei 11.343/2006 (nova ‘Lei de Drogas’), Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações, em sua Seção IV) e o próprio Código
de Processo Penal Militar. Não obstante tal fato, conforme atual orientação do STF, o interrogatório do
acusado deve ser o último ato da instrução criminal em todo e qualquer procedimento previsto em leis
penais esparsas.

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Condução coercitiva: não há consenso na doutrina a respeito da possibilidade, ou não, de que se conduza
um acusado ao seu interrogatório contrariamente à sua vontade. Embora o art. 260 do CPP expressamente
preveja essa possibilidade, boa parcela da doutrina sustenta a incompatibilidade do dispositivo com a visão
de que o interrogatório é (também) meio de defesa, constituindo expressão de autodefesa plenamente
renunciável pelo acusado, não havendo qualquer sentido na determinação de sua condução para exercer
direito do qual abriu mão. Ademais, os tribunais superiores têm entendido pela impossibilidade da condução
coercitiva de réus para fins de interrogatório.

Foro competente: o interrogatório deve, em regra, ocorrer perante a autoridade judiciária que conduz e
julgará o respectivo processo-crime. Tem-se admitido o interrogatório realizado perante juiz diverso nos
casos de inviabilidade de comparecimento ao ato em razão da distância entre o domicílio do acusado e a
sede do juízo perante o qual tramita o processo. O STJ já decidiu que o interrogatório via carta precatória
não se choca com o princípio da identidade física do juiz.

Ausência de interrogatório: há se diferenciar duas situações sobre a ausência do interrogatório no processo.


Se o interrogatório não ocorrer em razão da livre vontade do acusado nesse sentido, não há nulidade alguma.
Por outro lado, se o interrogatório não é designado por vontade da própria autoridade judiciária,
contrariamente aos anseios do acusado pela realização do ato, estar-se-á diante de nulidade (art. 564, III, e
do CPP).

Características:

Ato personalíssimo: apenas o acusado pode ser interrogado, não lhe cabendo outorgar essa posição a
qualquer outra pessoa.

Ato contraditório: as partes participam do interrogatório, podendo formular reperguntas após os


questionamentos do magistrado (art. 188 do CPP).

Ato assistido tecnicamente: o acusado deve estar, necessariamente, assistido por defensor técnico durante
o interrogatório (art. 185, caput do CPP). Ainda, anteriormente ao ato, deve ser-lhe garantida entrevista
reservada com dito defensor (art. 185, § 5º do CPP).

Ato oral: o interrogatório é feito de forma oral, em regra. Em se tratando de acusado surdo, mudo ou surdo-
mudo, o interrogatório será realizado nas formas previstas nos incisos I, II e III do art. 192 do CPP,
respectivamente. Caso o acusado não fale ou não entenda a língua portuguesa, o interrogatório contará com
a presença de intérprete (art. 193 do CPP).

Ato individual: havendo mais de um acusado, os interrogatórios deverão ocorrer de forma separada,
conforme art. 191 do CPP.

Ato bifásico: conforme deixa explícito o art. 187 do CPP, o interrogatório é dividido em duas fases: uma sobre
a pessoa do acusado, outra sobre os fatos a ele imputados.

Ato público: como todo ato processual, o interrogatório é, em regra, público. Nas hipóteses excepcionais
previstas no art. 792, § 1º do CPP, poderá haver restrição a essa publicidade.

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Local de realização do interrogatório: réus soltos serão interrogados na sede do juízo ou tribunal (sala de
audiências do Fórum, geralmente), conforme caput do art. 792 do CPP. Em se tratando de réus presos,
existem três formas de realização do interrogatório: 1) no estabelecimento prisional, devendo ser
observados os requisitos do art. 185, § 1º do CPP; 2) por videoconferência, em hipóteses excepcionalíssimas
(art. 185, §§ 2º a 6º do CPP); e 3) na sala de audiências do Fórum, que é a forma mais comum (art. 185, § 7º
do CPP).

Nomeação de curador: a antiga redação do art. 194 do CPP exigia a nomeação de curador para que
acompanhasse o interrogatório dos acusados menores de 21 (vinte e um) anos. Com a entrada em vigor do
Código de Civil de 2002, que expressamente consignou a cessação da menoridade civil aos 18 (dezoito) anos
de idade completos (art. 5º do CC), o referido dispositivo perdeu sua efetividade, vindo a ser revogado em
2003. Assim, não há mais necessidade de se nomear curador para interrogatório de menores de 21 (vinte e
um) anos de idade, nem para a tomada de declarações de indiciados em idêntica situação. Por outro lado,
subsiste a necessidade de se nomear curador nas hipóteses de indígenas não integrados à sociedade e de
doentes mentais incapazes de entender o caráter ilícito de seus atos e de se determinar por esse
entendimento.

Interrogatório por videoconferência: o CPP prevê, em seu art. 185, §2º, que, excepcionalmente, será
admitido o interrogatório do acusado por videoconferência, determinado ex officio ou a requerimento das
partes, por decisão devidamente fundamentada e calcada em uma das finalidades previstas nos incisos do
referido parágrafo. As partes devem ser intimadas da realização do ato com antecedência mínima de 10 (dez)
dias (§ 3º). Ao acusado será permitido acompanhar todos os atos processuais anteriores ao seu
interrogatório (§ 4º). O acusado contará com dois defensores, sendo que um ficará sala reservada dentro do
estabelecimento prisional e o outro na sala de audiências do Fórum, garantindo-se, sempre, a sua
comunicação telefônica, sem prejuízo de entrevista prévia e reservada com o interrogado (§ 5º). A sala
reservada no presídio será alvo de fiscalização por parte dos corregedores, do juiz da causa, do Ministério
Público e também da OAB (§ 6º).

(In)constitucionalidade do interrogatório por videoconferência: trata-se de questão intensamente debatida


na doutrina. Para os adeptos de sua constitucionalidade e admissibilidade, essa modalidade de
interrogatório representa importante avanço para o processo penal, evitando-se os custos e problemas
inerentes ao deslocamento de presos dos presídios aos Fóruns, ao mesmo tempo em que imprime aos feitos
maior celeridade no sentido da duração razoável do processo. Também se afirma que, do modo como foi
concebido o interrogatório por videoconferência no CPP, há total observância aos direitos e garantias
individuais do acusado, nos termos dos §§ 4º a 6º do art. 185 do CPP. Do outro lado, para a parcela
doutrinária que entende pela inadmissibilidade dessa modalidade de interrogatório, a ânsia do legislador na
busca pela celeridade, segurança e economia acabou por suplantar, temerariamente, a necessidade de
observância aos direitos e garantias constitucionais do acusado, que ficaram ao relento. Ainda, argumenta-
se que o interrogatório de um acusado por meio de uma tela acabaria por lhe subtrair valioso e substancioso
elemento inerente ao próprio ato, que é justamente o contato pessoal do réu com o julgador, o que confere
um caráter mais humano e empático ao procedimento. Ao demais, já entendeu o STJ, em julgado recente,
pela validade do interrogatório por videoconferência ocorrido após o advento da Lei 11.909/2009.

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17.3 Confissão

Conceito: admissão, pelo acusado ou indiciado, de que as imputações que lhe são feitas correspondem com
a verdade.

Espécies de confissão: a) extrajudicial: fora da fase processual da persecução penal; b) judicial: durante o
processo; c) explícita: direta, objetiva e indubitável; d) implícita: subentendida; decorreria de atos praticados
pelo acusado que demonstrem admissão de culpa. Não admitida no processo penal brasileiro; e) simples:
admissão de culpa sem invocação de causas excludentes de ilicitude ou culpabilidade que amparem a
conduta; f) qualificada: admissão de culpa com a alegação de que teria agido acobertado por justificantes ou
exculpantes; g) ficta: confissão decorrente da omissão do acusado em contestar as imputações que recaem
sobre a sua pessoa. Inadmitida no processo penal brasileiro, em razão do direito constitucional ao silêncio e
da vedação à utilização desse silêncio em seu desfavor; h) delatória: o acusado confessa a prática delituosa
e aponta coautor(es) e partícipe(s) que teria(m) concorrido para o crime.

Características da confissão: a) ato personalíssimo: apenas e tão somente a pessoa acusado pode confessar;
b) ato livre e espontâneo: para que a confissão seja realmente válida, é necessário que tenha advindo da
própria vontade do acusado, livre de coações, torturas ou outros meios que maculem a sua manifestação
volitiva; c) ato retratável: tendo confessado o crime, pode o acusado, posteriormente, retratar-se dessa
confissão, tornando-a sem efeito. A retratabilidade está prevista no art. 200 do CPP; d) ato divisível: a
confissão pode ser específica para determinado fato delituoso, sem prejuízo de que continue a negar a
autoria referente às demais imputações. A divisibilidade também está prevista no art. 200 do CPP.

Valor probatório da confissão: atualmente, com a superação do sistema inquisitório como sistema
processual e do sistema das provas tarifadas como método de avaliação das provas, a confissão, assim como
os demais meios de prova, possui valor relativo. Destarte, como prevê o art. 197 do CPP, a confissão será
analisada juntamente às demais provas amealhadas durante a persecução penal, podendo ser-lhe conferido
maior ou menor valor probatório a depender da maior ou menor sintonia entre o seu conteúdo e todo o
conjunto probatório.

17.4 Declarações do ofendido

Previsão legal: O artigo 201 do CPP estabelece que o ofendido deve ser ouvido sempre que possível, isso em
primazia à busca pela verdade e esclarecimento dos fatos. Segundo o caput do artigo 201 do CPP, após a sua
qualificação, o ofendido será perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o
seu autor e, ainda, sobre as provas que possa indicar.

Características: O ofendido não presta o compromisso legal de dizer a verdade (art. 203, CPP); não comete
o crime de falso testemunho (art. 342, CP); e, não deve ser computado no que se refere ao número máximo
de testemunhas das partes (art. 398, CPP).

Se intimado para prestar declarações, no caso de não comparecimento de forma injustificada, pode ser
conduzido coercitivamente (art. 201, § 1º, CPP).

Consequências: A não realização da oitiva é causa de nulidade relativa, devendo ser alegada pela parte em
eventual prejuízo.

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17.5 Prova testemunhal

Conceito: testemunha é a pessoa imparcial e desinteressada na causa que, em juízo, relata as suas
percepções sensoriais a respeito de um fato (no caso, delituoso) que tenha presenciado ou do qual tenha
tomado conhecimento.

Natureza jurídica: meio de prova que possui valor relativo.

Características:

a) Judicialidade: a testemunha presta o seu depoimento em juízo, perante o magistrado e sob o crivo do
contraditório e ampla defesa. A oitiva realizada em sede inquisitorial deve ser reproduzida durante o
processo para que o relato possa ser considerado prova testemunhal;

b) Oralidade: a inquirição da testemunha se dá de forma oral, como regra (art. 204 do CPP). Excepcionam-se
a tal regra as autoridades máximas do Executivo (Presidente da República), Legislativo (Presidentes da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal) e Judiciário (Presidente do Supremo Tribunal Federal), às quais
é facultada a possibilidade de apresentar depoimento por escrito, nos termos do art. 221, § 1º do CPP.
Também constitui lógica exceção à oralidade o depoimento de testemunha surda, muda ou surda-muda,
situação na qual proceder-se-á à inquirição nos moldes do art. 192 do CPP, conforme preceitua o art. 223,
parágrafo único do CPP;

c) Objetividade: a testemunha deverá narrar os fatos que tenha presenciado ou tomado conhecimento, por
percepções sensoriais, de maneira objetiva, devendo abster-se de manifestar suas considerações pessoais
ou subjetivas sobre o ocorrido, salvo se estas forem indissociáveis dos fatos (art. 213 do CPP).

d) Retrospectividade: só há testemunho a respeito de fatos pretéritos, nunca sobre algo que ainda não
ocorreu ou terminou de ocorrer.

e) Individualidade: as testemunhas são inquiridas separadamente, de maneira a evitar tanto quanto possível
qualquer influência do depoimento de uma sobre o da outra, conforme art. 210 do CPP.

Deveres das testemunhas.

Dever de depor: regra geral, a testemunha não pode se eximir da obrigação de depor. No entanto, nas
hipóteses do art. 206 do CPP (familiares dos envolvidos nos fatos) poderá ocorrer a recusa em prestar
depoimento (art. 208 do CPP). Entretanto, não há impedimento à inquirição dessas pessoas caso elas assim
desejem, caso em que não serão compromissadas nos termos do art. 203 do CPP. Por outro lado, nos casos
do art. 207 do CPP (basicamente casos de sigilo profissional etc.), há expressa proibição ao testemunho, que
só pode ser elidido pela desobrigação manifestada pela parte interessada. Alguns casos peculiares:
Deputados e Senadores nas situações do art. 53, § 6º da CF (possibilidade de recusa a prestar depoimento
decorrente do sigilo de informações obtidas ou enviadas em razão do oficio); magistrados e promotores nos
termos dos arts. 252, II e 258 do CPP (incompatibilidade da atuação funcional e figuração como testemunha
em um mesmo processo); e advogados, conforme art. 7º, XIX do Estatuto da OAB (direito de recusa a
testemunhar em virtude do sigilo profissional).

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Dever de comparecimento: a testemunha que for devidamente intimada tem o dever de comparecer em
local, data e hora previamente determinados para que seja inquirida. A ausência injustificada enseja a
aplicação de multa, pagamento de custas da diligência, possibilidade de condução coercitiva e até mesmo a
instauração de processo criminal pelo crime de desobediência (arts. 218 e 219 do CPP). As testemunhas que
estiverem impossibilitadas de comparecer em razão de velhice ou enfermidade poderão ser inquiridas onde
estiverem (art. 220 do CPP). Às autoridades elencadas no art. 221 do CPP conferiu-se, expressamente, a
possibilidade de ajustarem local, data e hora com o respectivo magistrado para a tomada de seus
depoimentos. Testemunhas residentes em outras Comarcas serão inquiridas por carta precatória (art. 222
do CPP); testemunhas residentes no estrangeiro poderão ser inquiridas por carta rogatória, desde que
demonstrada sua imprescindibilidade, nos termos do art. 222-A do CPP – o STF já se manifestou pela
constitucionalidade desse dispositivo.

Dever de prestar o compromisso de dizer a verdade: regra geral, as testemunhas prestam o compromisso
legal de dizer a verdade a que alude o art. 203 do CPP. Não haverá a prestação desse compromisso nas
hipóteses elencadas no art. 208, ou seja, em relação às pessoas descritas no art. 203, aos menores de 14
(quatorze) anos, aos doentes e deficientes mentais e nem às pessoas a que se refere o art. 206 do CPP. A
testemunha compromissada que fizer afirmação falsa, negar ou calar a verdade poderá ser responsabilizada
pelo crime de falso testemunho – art. 342 do CP. Há duas posições acerca da possibilidade (ou não) dessa
responsabilização criminal às pessoas que não prestaram o compromisso de dizer a verdade: 1) seria
possível, na medida em que a tomada do compromisso legal não seria pressuposto do crime; 2) não seria
possível, porquanto os informantes não possuem o dever de dizer a verdade e isso nem lhes poderia ser
exigido em razão do vínculo que possuem com os envolvidos no fato.

Dever de comunicar mudança de residência: após o testemunho, pelo período de 1 (um) ano, a testemunha
deverá informar ao juízo eventual alteração de endereço, sob pena de se submeter às mesmas sanções que
são impostas às testemunhas faltosas descritas no art. 219 do CPP (art. 224 do CPP). Embora o art. 224
prescreva a cominação dessas sanções pela mera omissão, há doutrina no sentido de que é necessária a
frustração de tentativa de nova intimação da testemunha decorrente dessa mudança de endereço.

Classificação das testemunhas.

a) Numerárias: contabilizadas para o limite de testemunhas arroláveis pelas partes. São as testemunhas
arroladas e que prestam o compromisso legal de dizer a verdade;

b) Extranumerárias: embora haja dissenso na doutrina sobre esse conceito, são, em suma, as testemunhas
que não são computadas para aferição do limite de testemunhas no processo. Podem ser as testemunhas
ouvidas por iniciativa do próprio juiz (art. 209, caput do CPP), as que nada souberem a respeito dos fatos
(art. 209, § 2º do CPP), as que não prestam o compromisso legal, e aquelas que forem arroladas acima do
limite máximo previsto para o procedimento, cabendo ao magistrado inquiri-las ou não (faculdade conferida
pelo art. 209 do CPP);

c) Direta: testemunha que visualizou ou presenciou o fato criminoso;

d) Indireta: não visualizou nem presenciou o fato, mas tomou conhecimento do crime por terceiros;

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e) Própria: testemunha que depõe sobre o próprio objeto da imputação da peça acusatória (thema
probandum);

f) Imprópria ou fedatária: depõe especificamente sobre um ato processual ou procedimental, para atestar a
sua regularidade, como no caso do art. 304, § 3º do CPP;

g) Informante: pessoas que prestaram o compromisso de dizer a verdade. São os indivíduos elencados no
art. 206 do CPP, os menores de 14 (quatorze) anos e os doentes/deficientes mentais, conforme art. 208 do
CPP.

h) Testemunha referida: testemunha mencionada por outra pessoa e que até então era desconhecida.
Poderá ser inquirida, caso entenda o juiz por pertinente (art. 209, § 1º do CPP).

i) Depoimento ad perpetuam rei memoriam: testemunhas que necessitem se ausentar ou inspirem receio,
pela velhice ou enfermidade, de não mais estarem presentes por ocasião da instrução criminal (art. 225 do
CPP). Poderão ter a inquirição antecipada a requerimento das partes ou ‘ex officio’ pelo juiz.

j) Testemunha anônima: testemunha cujos dados qualificativos permanecem em sigilo em relação ao


acusado, como forma de proteção.

k) Testemunha ausente: não comparece à inquirição por uma miríade de motivos.

Procedimento para oitiva de testemunhas.

Momento para arrolar: O rol deve ser apresentado com a peça acusatória (art. 41, CPP), pelo Ministério
Público, e quando da resposta à acusação, pela defesa (art. 396-A, CPP). O descumprimento gera preclusão
do direito de produção da prova, não obstante o Juiz possa (faculdade/discricionariedade) realizar a oitiva
de ofício (arts. 156 e 209, CPP).

Número máximo de testemunhas – por fato delituoso: Procedimento comum ordinário: 8 (oito) testemunhas
(CPP, art. 401, caput); Procedimento comum sumário: 5 (cinco)testemunhas (CPP, art. 532); Procedimento
sumaríssimo (Lei n° 9.099/95): 3 (três) testemunhas; Primeira fase do procedimento do júri: 8 (oito)
testemunhas (CPP, art. 406, § 3°); Segunda fase do procedimento do júri: 5 (cinco) testemunhas (CPP, art.
422); Procedimento da Lei de drogas: 5 (cinco) testemunhas (Lei n° 11.343/06, art. 54, inciso
III);Procedimento ordinário do CPPM: 6 (seis) testemunhas (CPPM, art. 77, alínea "h''). Não se computam
nesse número: a pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa (§ 2º, art. 209, CPP), as que não
prestam compromisso e as referidas (§ 1º, art. 401, CPP).

Intimação das testemunhas

Forma: opera-se pessoalmente e por mandado, a teor do art. 370 c/c o art. 351 do CPP. Caso a audiência
seja adiada/redesignada, as testemunhas que tiverem comparecido devem ser intimadas no próprio ato,
consignando-se a ciência na assentada (art. 372, CPP).

Não comparecimento: se, intimada, a testemunha não comparecer, pode ser conduzida coercitivamente,
sem prejuízo de multa de 1 a 10 salários mínimos, responsabilização criminal por desobediência e pagamento
das custas da condução (arts. 218 e 219, CPP).

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Regras específicas: os militares devem ser requisitados à autoridade superior (§ 2º, art. 221, CPP); no caso
dos funcionários públicos, após a intimação pessoal, deve haver a expedição de mandado ao chefe da
repartição comunicando o dia e hora marcados para o depoimento (§ 3º, art. 221, CPP).

Substituição de testemunhas

Previsão legal: não há previsão legal no CPP, aplica-se, por analogia, as regras do Código de Processo Civil,
permitindo-se a substituição da testemunha que falecer, da que, por enfermidade, não estiver em condições
de depor e daquela que não for encontrada (art. 451, CPC).

Desistência da oitiva de testemunha

Possibilidade: partes têm a prerrogativa de não arrolar testemunhas ou, mesmo tendo arrolado, desistir da
inquirição em tempo oportuno – antes de iniciado o depoimento (§ 2º, art. 451, CPP). Ressalvado o caso de
o Juiz, de ofício, decidir ouvir testemunhas além daquelas indicadas pelas partes (art. 209, CPP). No
procedimento do júri, antes do início da sessão de julgamento as partes podem desistir sem qualquer
restrição; entretanto, iniciada a sessão, para a desistência, deve haver concordância do juiz-presidente e da
parte contrária.

Incomunicabilidade das testemunhas

Previsão legal: o artigo 210 do CPP estabelece que as oitivas serão realizadas de forma separada, de modo
que uma testemunha não ouça o depoimento da outra; prevê, ainda, que mesmo antes do ato as
testemunhas devem aguardar separadas, para preservação da incomunicabilidade.

Retirada do acusado da sala de audiências

Possibilidade: caso a testemunha peça para ser ouvida sem a presença do réu o juiz, constatando que essa
providência é realmente necessária, pode realizar a oitiva por videoconferência ou, na impossibilidade,
determinará a retirada do réu da sala de audiências. A presença do defensor é indispensável. Qualquer das
medidas deve constar do termo de audiências, com os motivos que a ordenaram (art. 217, CPP).

Compromisso de dizer a verdade

Obrigação legal: as testemunhas têm obrigação legal de depor (art. 206, CPP); prestam o compromisso legal
de dizer a verdade sobre o que lhes for perguntado (art. 203, CPP), devendo o juiz advertir acerca das penas
do crime de falso testemunho (art. 210, CPP).

Exceções: não prestam compromisso os doentes mentais, os menores de 14 anos, o ascendente ou


descendente, os afins em linha reta (sogro, sogra, enteado etc), o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e
o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado (arts. 206 e 208, CPP).

Qualificação da testemunha

Momento: a qualificação, para identificação da testemunha, deve ser feita antes do início do depoimento
(art. 203, CPP) e, havendo dúvidas quando à identidade, o juiz pode utilizar-se dos meios ao seu alcance para
esclarecer, sem prejuízo da tomada imediata do depoimento (art. 205, CPP).

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Contradita e arguição de parcialidade de testemunha

Objeto: na contradita a parte impugna o depoimento da testemunha quando esta é proibida de depor (art.
207 e 214, CPP); na alegação de parcialidade, se pretende a consignação, em ata, de circunstâncias que
tornam a testemunha parcial ou indigna de fé (art. 214, CPP).

Colheita do depoimento

Procedimento: as partes perguntam diretamente à testemunha; a parte que arrolou começa perguntando,
depois passa-se à reinquirição pela parte contrária; o juiz pode indeferir perguntas que puderem induzir a
resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida (art. 212,
CPP).

Inversão da ordem de inquirição

Ordem legal: quanto à oitiva das testemunhas, inicia-se pelas da acusação e, somente depois, ouve-se as de
defesa. De regra, apenas após a oitiva de todas as testemunhas de acusação é que poderão ser ouvidas as
de defesa; exceções: no caso de oitiva por carta precatória, onde a testemunha pode ser ouvida
independentemente da ordem (art. 222, CPP); e, quando a testemunha tenha de ausentar-se, ou, por
enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista (art. 225,
CPP).

Direito ao confronto e produção de prova testemunhal incriminadora.

Normativa: art. 6°, n° 3, alínea "d", da Convenção para a proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades
Fundamentais (Convenção Europeia de Direitos Humanos), art. 14, n° 3, alínea "e", do Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos, e art. 8°, n° 2, alínea "f', do Pacto de São José da Costa Rica (Dec. 678/92).

Conceito: é o direito fundamental do acusado a presenciar e participar da colheita da prova oral contra ele
produzida em audiência pública. Por força do direito ao confronto, entende-se que o acusado tem o direito
de confrontar quaisquer pessoas que prestem declarações testemunhais incriminadoras contra ele, ou seja,
todo o saber testemunhal incriminador passível de valoração pelo juiz deve ser produzido de forma pública,
oral, na presença do julgador e do acusado e submetido à inquirição deste último.

Desdobramentos: direitos do acusado à produção da prova testemunhal em audiência pública; a presenciar


a produção da prova testemunhal; à produção da prova testemunhal na presença do julgador do mérito da
causa; à imposição do compromisso de dizer a verdade às testemunhas; a conhecer a verdadeira identidade
das fontes de prova testemunhal; a inquirir as fontes de prova testemunhal desfavoráveis, de forma
contemporânea à produção da prova testemunhal; e de se comunicar de forma livre, reservada e
ininterrupta com o seu defensor técnico, durante a inquirição das testemunhas.

Testemunhas anônimas – que prestam depoimento sem que seus dados sejam fornecidos ao acusado: em
julgado recente acerca do assunto, o Supremo Tribunal Federal manifestou-se favoravelmente à colheita de
prova testemunhal com a preservação do sigilo dos dados qualificativos da testemunha em relação ao
acusado, assegurado, todavia, o acesso às informações por parte do advogado constituído. Na visão do
Supremo, a preservação do sigilo quanto à identidade de uma das testemunhas teria sido adotada devido ao
temor de represálias, sendo que sua qualificação foi anotada fora dos autos com acesso restrito aos juízes

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de direito, promotores de justiça e advogados constituídos e nomeados. Reputou-se legítima a providência


adotada pelo magistrado com base nas medidas de proteção à testemunha previstas na Lei n° 9.807/99
(Lima, 2017).

Testemunhas ausentes: testemunha ausente é aquela que, por motivo qualquer, não comparece
pessoalmente para prestar seu depoimento durante o julgamento do acusado. Suponha-se, por exemplo,
que determinada testemunha, ouvida durante o curso do inquérito policial, falece antes de seu depoimento
ser colhido em juízo. Prevalece o entendimento de que, caso a impossibilidade da colheita de seu
depoimento seja resultado da prática de atos ilícitos praticados pelo próprio acusado, ou por pessoas a ele
associadas, teria havido renúncia tácita ao exercício do direito ao confronto, daí por que referido depoimento
prestado na fase investigatória seria admitido em juízo como se fosse prova. (Lima, 2017)

17.6 Reconhecimento de pessoas e coisas

Conceito: ato pelo qual um indivíduo descreve, verifica e identifica outra pessoa ou coisa que lhe é
apresentada, como sendo aquela que viu no passado.

Procedimento: conforme art. 226 do CPP, a pessoa que fará o reconhecimento será convidada a descrever
a coisa ou pessoa a ser reconhecida. A pessoa que se pretenda reconhecer será colocada, se possível, ao lado
de outras com características semelhantes. Após a comparação, o reconhecedor apontará o sujeito que
eventualmente tenha reconhecido, lavrando-se auto pormenorizado da ocorrência, assinado por duas
testemunhas e pela autoridade, caso tenha o reconhecimento ocorrido em sede investigatória. Se for
realizado em sede judicial, o ocorrido será feito constar do termo de audiência ou ata de julgamento.

Reconhecimento fotográfico e fonográfico: a maior parte da doutrina e a jurisprudência têm reputado como
válidos os reconhecimentos por foto e por voz, considerando-os tipo de prova inominada. Essa validade é
observada com certa cautela, todavia. Para os tribunais superiores, reconhecimentos dessa natureza devem
ser acompanhados e corroborados por outros meios probatórios para que se afigurem como realmente
efetivos e possam lastrear éditos condenatórios.

17.7 Acareação

Conceito: meio de prova através do qual se colocam frente a frente depoentes com relatos divergentes, para
que expliquem essa dissonância sobre fatos relevantes ao deslinde do processo. Conforme art. 220 do CPP,
admite-se acareação entre: a) acusados; b) acusado e testemunha; c) testemunhas; d) acusado e ofendido;
e) testemunha e ofendido; f) ofendidos.

Procedimento: o juiz exporá aos acareados os pontos de divergência dos seus depoimentos e passará a
reperguntá-los sobre esses pontos para que esclareçam ou confirmem os seus relatos. As partes poderão,
também, fazer reperguntas para elucidar dúvidas remanescentes.

Valor probatório: em tese, possui a mesma carga probatória dos demais meios de prova, sendo relativa. É
uníssono na doutrina, contudo, que a acareação dificilmente logra êxito em cumprir o papel a que se destina,
o que acaba reduzindo o seu valor como prova.

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17.8 Prova documental

Conceito: documento em sentido amplo: todo objeto ou forma corporificada que represente a manifestação
do pensamento humano e que possa comprovar a existência de determinado fato (fotos, pinturas,
gravações, filmagens etc.). É a visão adotada atualmente para o termo “documento”. Documento em sentido
estrito: são os escritos que se prestam a comprovar algo em juízo. Nos termos do art. 232 do CPP, são
“quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares”.

Espécies: 1) Original: fiéis à fonte produtora; genuínos; 2) Cópia: reproduções dos originais (xerox,
impressões, digitalizações) que, conforme parágrafo único do art. 232 do CPP, se devidamente autenticadas,
possuem o mesmo valor probatório daqueles; 3) Público: emitido por funcionário público no exercício
funcional, seguindo as devidas formalidades legais para a sua expedição. É equiparado a documento público,
por força do art. 297, § 2º do CP, o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível
por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. Presumem-se
autênticos; mas a presunção é juris tantum e admite prova em contrário (inclusive perícia); 4) Particulares:
por exclusão, são os documentos que não são públicos nem equiparados a esses. São emitidos por
particulares, sem a necessária observância das formalidades que envolvem a elaboração de documentos
públicos, de modo que, tão logo tenham a sua autenticidade contestada, serão submetidos a exame pericial
para atestá-la (art. 235 do CPP).

Produção: conforme art. 231 do CPP, as partes podem apresentar documentos a qualquer momento durante
o processo, ressalvados os casos expressos em lei. Como limitações a essa liberdade de apresentação de
documentos, estão o art. 479 do CPP (que impõe o respeito ao intervalo mínimo de 3 dias da sessão de
julgamento, cientificando-se a outra parte) e a própria inadmissibilidade das provas ilícitas e seus corolários
(art. 5º, LVI da CF e art. 233 do CPP).

Tradução de documentos em língua estrangeira: o art. 236 do CPP dispõe que, sem prejuízo de sua juntada
imediata, os documentos em língua estrangeira, se necessário, serão traduzidos por tradutor público ou
pessoa idônea eventualmente nomeada. Contudo, para boa parte da doutrina e jurisprudência, embora o
dispositivo legal preveja a dispensabilidade da tradução, é ela obrigatória, como própria decorrência do
princípio da publicidade, permitindo-se a todos o acesso e compreensão do conteúdo desse documento.

Restituição de documentos: conforme art. 238 do CPP, os documentos originais, ao fim do processo,
poderão ser restituídos a quem de direito, contanto que não restem motivos relevantes que justifiquem a
sua manutenção nos autos. Serão devolvidos à parte que os produziu mediante requerimento, ouvido o
Ministério Público, ficando traslado no processo.

17.9 Indícios

Conceito: são circunstâncias conhecidas e provadas que permitam, por indução, concluir-se pela existência
de outras circunstâncias (art. 239 do CPP).

Natureza jurídica: embora não seja unívoco na doutrina, os indícios são considerados meios de prova.

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Valor probatório: como os demais meios de prova, os indícios apresentam valor probatório relativo. É dizer,
a força probatória será proporcional à harmonia dos indícios com os demais elementos de prova coligidos
no processo.

Classificação dos indícios.

a) Indício positivo: indicam a existência de algo que se queira provar.

b) Indício negativo ou contraindício: indica a insustentabilidade de uma tese alegada ou de um indício


apresentado. Como maior exemplo de contraindício tem-se a figura do álibi, que busca demonstrar a
incompatibilidade temporal e espacial entre o acusado e as circunstâncias do fato a ele imputado.

17.10 Busca e apreensão

Conceito: embora comumente estejam ligados, busca e apreensão são conceitos distintos e até mesmo
independentes. Busca é o ato de procurar algo ou alguém; apreensão é o ato de apossamento ou guarda de
algo ou alguém. Pode haver busca sem apreensão e vice-versa.

Natureza jurídica: há divergências na doutrina sobre o assunto. Embora esteja contido juntamente aos
demais meios de prova no CPP, entende-se que a busca e apreensão têm natureza de meio de obtenção de
prova (porque buscaria obter fontes materiais de prova) ou mesmo de providência/medida acautelatória
(porquanto evitaria o perecimento e asseguraria a produção da prova).

Iniciativa ou decretação: a busca pessoal pode ser determinada tanto pela autoridade policial quanto
judiciária. Nas hipóteses do art. 244 do CPP, independerá de qualquer mandado judicial. Por outro lado, a
busca domiciliar sempre dependerá de mandado judicial.

Objeto: os objetos da busca pessoal e domiciliar estão previstos no art. 240 do CPP. Busca domiciliar: a)
prender criminosos; b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; c) apreender
instrumentos de falsificação ou contrafação e objetos falsificados e contrafeitos; d) apreender armas e
munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso; e) descobrir objetos
necessários à prova de infração ou à defesa do réu; f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao
acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato; g) apreender pessoas vítimas de crime; h) colher qualquer outro elemento de convicção.
Busca pessoal: conforme § 2º do art. 240 do CPP, quando alguém oculte consigo arma proibida ou os objetos
mencionados nas letras b a f e letra h acima mencionadas.

Espécies de busca: pode ser domiciliar ou pessoal:

Busca domiciliar: guarda íntima relação com a inviolabilidade do domicílio/casa prevista no art. 5º, XI da CF:
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial. Poderia, pois, a busca ser realizada durante a noite com o consentimento do morador. Mas, em
regra, será realizada durante o dia, em cumprimento ao mandado judicial. Da leitura do dispositivo algumas
questões são relevantes:

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Conceito de “dia”: há pelo menos quatro posições sobre o conceito de “dia”: 1) das 6h às 20h; 2) das 6h às
18h; 3) da aurora ao crepúsculo, enquanto há iluminação solar; 4) das 5h às 21h, com base na Lei de Abuso
de Autoridade. Até antes da Lei, prevalecia a posição de número 2. Somos adeptos da última.

Abrangência de “Casa”: o conceito de casa é extraído do Código Penal, art. 150, § 4º. Seriam abrangidos,
pois: qualquer compartimento habitado; aposento ocupado de habitação coletiva ou compartimento não
aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. Não são abrangidas, conforme § 5º do mesmo
artigo, hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
n.º II do parágrafo anterior; taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

Escritórios de advocacia: conforme art. 7º, II do Estatuto da Advocacia, são invioláveis o escritório ou local
de trabalho, os instrumentos de trabalho e as correspondências relacionadas ao exercício da profissão. A
inviolabilidade não é absoluta, e conforme o § 6º do mesmo dispositivo, poderá haver a sua quebra por
decisão judicial fundamentada, expedindo-se mandado de busca e apreensão específico e pormenorizados
a ser cumprido na presença de representante da OAB.

Busca e apreensão em repartições públicas: há quem entenda pela possibilidade da medida e quem entenda
pela sua impossibilidade. Para a corrente que entende admissível, embora não constitua necessariamente
um requisito de validade da busca e apreensão, é extremamente recomendável a requisição à respectiva
repartição pública para que encaminhe o objeto que se entende necessário. Caso não seja o pleito atendido,
a busca e apreensão deve ser executada normalmente.

Mandado de busca e apreensão: os requisitos do mandado constam do art. 243 do CPP. Deverá haver: a) a
indicação da casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no
caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem; b) o motivo e
os fins da diligência; c) subscrição pelo escrivão e assinatura da autoridade que o fizer expedir.

Execução da busca e apreensão: o procedimento está descrito no art. 245 do CPP. Em suma será assim
procedido: 1) os executores, munidos do mandado de busca e apreensão, dirigem-se ao local descrito na
ordem judicial. Lá, será feita a apresentação e leitura do mandado ao morador, intimando-o, em seguida, a
abrir a porta (caput do art. 245); 2) caso assim não o faça, será arrombada a porta e forçada a entrada (§ 2º),
podendo o não atendimento à intimação pelo morador configurar crime; 3) caso necessário, faculta-se a
utilização de força contra coisas existentes no interior da coisa que atrapalhem ou impossibilitem o
cumprimento da diligência (como cachorros ferozes soltos, portas trancadas etc.) (§ 3º); 4) se ausentes os
moradores ou se estiverem presentes apenas pessoas incapazes de consentir (crianças, doentes mentais e
demais incapazes), qualquer vizinho será intimado para que acompanhe a diligência (§ 4º); 5) se a busca for
por coisa ou pessoa específica, o morador será intimado a mostrá-la (§ 5º); 6) localizada a coisa ou pessoa,
será prontamente apreendida ou custodiada pelos executores (§ 6º); 7) ao final da diligência será lavrado
auto do ocorrido, assinado por duas testemunhas presenciais (§ 7º).

Descoberta fortuita de elementos probatórios referentes a outra infração: não há consenso nesse tema. Há
doutrina no sentido de que, caso os executores da busca e apreensão se deparem com elementos
probatórios referentes a crime ignorado, não deve ser procedida a sua apreensão, mas comunicado o fato
ao juiz para que se obtenha mandado específico para tal. Por outro lado, há corrente doutrinária no sentido
de que, em se tratando de flagrante delito (crimes permanentes), seria admissível a apreensão dos

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respectivos objetos envolvidos na prática delituosa que foram encontrados fortuitamente. Em sentido
semelhante caminha a chamada plain view doctrine.

Busca pessoal: recai sobre a própria pessoa e seus pertences imediatos. Reforçando, é admissível nos casos
descritos no art. 240, § 2º do CPP, ou seja, quando houver fundado receio de que a pessoa traga consigo: a)
arma proibida; b) coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; c) instrumentos de falsificação ou
contrafação e objetos falsificados e contrafeitos; d) armas e munições, instrumentos utilizados na prática de
crime ou destinados a fim delituoso; e) objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu; f) cartas,
abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do
seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato; g) qualquer outro elemento de convicção. Não dependerá
de mandado judicial nas hipóteses do art. 244 do CPP; quando houver fundada suspeita de que a pessoa
esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a
medida for determinada no curso de busca domiciliar.

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GABARITO
Magistratura

1. B
2. D
3. E

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