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Aula 21

Direito Penal
- 2022 (Pós-Edital)

Autor:
Michael Procopio

10 de Fevereiro de 2022

Bons estudos -Bons Estudos


Michael Procopio
Aula 21

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA E CONTRA A FÉ


PÚBLICA

Sumário
DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA E CONTRA A FÉ PÚBLICA........................................................................ 1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................................................................... 3
DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA ....................................................................................................... 3
1 - INCITAÇÃO AO CRIME ............................................................................................................................. 4
2 - APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO ........................................................................................................ 5
3 - ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ........................................................................................................................ 7
4 - CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA ....................................................................................................... 12
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA ....................................................................................................... 15
1 - DA MOEDA FALSA ............................................................................................................................... 16
1.1- Moeda Falsa ..................................................................................................................... 16
1.2- Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa .......................................................................... 18
1.3- Petrechos para Falsificação de Moeda............................................................................ 19
1.4- Emissão de Título ao Portador sem Permissão Legal ..................................................... 20
2 - DA FALSIDADE DE TÍTULOS E DE OUTROS PAPÉIS ....................................................................................... 21
2.1- Falsificação de Papéis Públicos ........................................................................................ 21
2.2- Petrechos de Falsificação ................................................................................................. 24
2.3- Forma majorada ............................................................................................................... 24
3 - DA FALSIDADE DOCUMENTAL ................................................................................................................ 25
3.1- Falsificação de Selo ou Sinal Público ............................................................................... 25
3.2- Falsificação de Documento Público ................................................................................. 26
3.3- Falsificação de Documento Particular ............................................................................. 29

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3.4- Falsidade Ideológica......................................................................................................... 30


3.5- Falso Reconhecimento de Firma ou Letra ....................................................................... 33
3.6- Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso ................................................................. 33
3.7- Falsidade de Atestado Médico ........................................................................................ 34
3.8- Reprodução ou Adulteração de Selo ou Peça Filatélica ................................................. 35
3.9- Uso de Documento Falso ................................................................................................. 36
3.10- Supressão de Documento ................................................................................................ 38
4 - DE OUTRAS FALSIDADES ....................................................................................................................... 38
4.1- Falsificação do Sinal Empregado no Contraste de Metal Precioso ou na Fiscalização
Alfandegária, ou Para Outros Fins ................................................................................................. 39
4.2- Falsa Identidade ............................................................................................................... 39
4.3- Uso de Documento de Identidade Alheio ....................................................................... 41
4.4- Fraude de Lei Sobre Estrangeiro ...................................................................................... 42
4.5- Fraude de Lei Sobre Propriedade por Estrangeiro .......................................................... 42
4.6- Adulteração de Sinal de Veículo Automotor .................................................................. 43
5 - DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO ................................................................................. 44
5.1- Fraudes em Certames de Interesse Público .................................................................... 44
QUESTÕES COMENTADAS .................................................................................................................... 46
LISTA DE QUESTÕES ........................................................................................................................... 73
GABARITO ....................................................................................................................................... 85
QUESTÃO DISSERTATIVA ..................................................................................................................... 86
DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA .................................................................................... 88
RESUMO ....................................................................................................................................... 113
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................... 139

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DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA E CONTRA A FÉ


PÚBLICA
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No nosso estudo da Parte Especial do Código Penal, chegaremos, agora, aos crimes contra a paz pública e
aos crimes contra a fé pública.
O Título IX da Parte Especial do Código é denominado “Dos Crimes Contra a Paz Pública”. Cuida-se de divisão
mais sucinta, sem subdivisão em capítulos. Abrange os crimes de incitação ao crime, apologia de crime ou
criminoso, associação criminosa e constituição de milícia privada.
Já o Título X se intitula “Dos Crimes Contra a Fé Pública”, subdividindo-se nos seguintes capítulos: “Da Moeda
Falsa”, “Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis Públicos”, “Da Falsidade Documental”, “De Outras
Falsidades” e “Das Fraudes em Certames de Interesse Público”.
Esta aula será composta pelos seguintes capítulos:

Dos Crimes Contra a Dos Crimes Contra a


Paz Pública Fé Pública

Ao final da aula, teremos estudados mais dois títulos da Parte Especial do Código Penal, avançando no
estudo dos crimes em espécie.
Como sempre, espero que a aula seja produtiva. Nosso estudo deve ser aprofundado, para que a prova nos
pareça leve. Espero ter apresentado os temas aqui propostos de forma instigante, para que haja atenção e
verdadeiro aprendizado.
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de novas súmulas, alterações legislativas e tudo o que houver de atualização, de forma ágil e com contato
direto. Use as redes sociais a favor dos seus estudos.

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA


O Título IX do Código Penal trata dos crimes contra a paz pública, aqueles que visam a tutelar a tranquilidade
social, ou seja, a sensação de segurança da sociedade em geral.

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1 - INCITAÇÃO AO CRIME
A infração penal denominada de incitação ao crime possui previsão no artigo 286 do Código Penal:
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem incita, publicamente, animosidade entre as Forças
Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade.
O núcleo do tipo é “incitar”, que significa estimular, encorajar, incentivar. A conduta incriminada é incitar,
publicamente, a prática de crime.
Como elementar do tipo, exige-se que a conduta se dê publicamente, ou seja, na presença de várias pessoas.
Notem que o tipo penal não abrange a contravenção penal. Em se tratando de lei penal incriminadora, não
se admite a extensão de sua abrangência para que se puna também a incitação à prática de contravenção
penal, sob pena de se admitir analogia in malam partem.
O crime é comum, não se exigindo nenhuma qualidade específica do sujeito ativo para sua prática. É doloso,
não se exigindo elemento subjetivo especial. Não há previsão de modalidade culposa. É plurissubsistente,
admitindo a tentativa, salvo se praticado oralmente. Cuida-se de crime de perigo abstrato, não sendo
necessária a demonstração de que o bem jurídico foi colocado em risco para a sua configuração.
O STJ já decidiu que o fato de a incitação ao crime ter sido praticada por meio da Internet não atrai a
competência da Justiça Federal:
“Substância entorpecente (técnica de cultivo). Incitação ao crime (investigação). Internet (veiculação).
Competência (Justiça estadual). 1. A divulgação, pela internet, de técnicas de cultivo de planta
destinada à preparação de substância entorpecente não atrai, por si só, a competência federal. 2.
Ainda que se trate, no caso, de hospedeiro estrangeiro, a ação de incitar desenvolveu-se no território
nacional, daí não se justificando a aplicação dos incisos IV e V do art. 109 da Constituição. 3. Caso,
pois, de competência estadual. Conflito do qual se conheceu, declarando-se competente o suscitante.”
(STJ, CC 62949/PR, Rel. Min. Nilson Naves, Terceira Seção, DJ 26/02/2007).
O STF, sobre referido crime, já apontou que o crime do artigo 286 do CP se configura com qualquer conduta
apta a provocar ou reforçar a intenção da prática de um crime:
“(...) 7. A incitação ao crime, enquanto delito contra a paz pública, traduz afronta a bem jurídico diverso
daquele que é ofendido pela prática efetiva do crime objeto da instigação. 8. A incitação ao crime
abrange tanto a influência psíquica, com o objetivo de fazer surgir no indivíduo (determinação ou
induzimento) o propósito criminoso antes inexistente, quanto a instigação propriamente dita, que
reforça eventual propósito existente. Consectariamente, o tipo penal do art. 286 do Código Penal
alcança qualquer conduta apta a provocar ou a reforçar a intenção da prática criminosa. Na valiosa
lição de Nelson Hungria, incita a prática do crime aquele que atira a primeira pedra contra a mulher
adúltera. (...)” (STF, Inq 3932/DF, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Julgamento: 21/06/2016).
Em um julgado um pouco mais antigo, o STF já entendeu ser atípica a conduta se praticada em reunião
privada, em virtude da exigência de ser praticada publicamente:

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“(...) PRESCRIÇÃO – INCITAÇÃO À PRÁTICA CRIMINOSA. O prazo prescricional do delito, à luz da pena
máxima cominada em abstrato, é de três anos. INCITAÇÃO AO CRIME – REUNIÃO PRIVADA –
ATIPICIDADE. O tipo do artigo 286 do Código Penal pressupõe a incitação em local público. (...)” (STF,
Inq 3811/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, Julgamento: 24/11/2015).

• Forma equiparada

A Lei n. 14.197, de 1º de setembro de 2021, incluiu o parágrafo único ao artigo 286 do Código Penal.
Entretanto, houve previsão de vacatio legis de 90 dias de sua publicação oficial. Referido parágrafo traz uma
modalidade equiparada, consistente na incitação de animosidade entre as Forças Armadas ou delas contra
os Poderes Constituídos, as instituições civis ou a sociedade.
Trata-se de clara incriminação de manifestações de particulares e mandatários políticos quanto a uma
possível intervenção militar, buscando ressuscitar a figura do Poder Moderador, exercido pelo Imperador
no período da Monarquia. Em vários episódios, houve incitação de que as Forças Armadas interviessem a
favor de determinada posição político-partidária ou que tomasse o poder à força, o que, claramente, já
violava a legislação vigente, pois a conduta era prevista na antiga Lei de Segurança Nacional, em seu artigo
23, inciso II:

Lei 7.170/1983 Código Penal (Lei 14.197/2021)

Art. 23 - Incitar: Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de


crime:
(...)
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
II - à animosidade entre as Forças Armadas ou
entre estas e as classes sociais ou as Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem
instituições civis; incita, publicamente, animosidade entre as
Forças Armadas, ou delas contra os poderes
(...)
constitucionais, as instituições civis ou a
Pena: reclusão, de 1 a 4 anos. sociedade.

2 - APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO


O crime de apologia de crime ou criminoso está tipificado no artigo 287 do Código Penal:
Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
Fazer apologia é enaltecer, elogiar, exaltar. A conduta incriminada é fazer, de forma pública, apologia de
fato criminoso ou de autor de crime.
Exige-se que a conduta se refira a um fato criminoso ou a autor de crime. O tipo não abrange apologia de
contravenção penal nem apologia de contraventor.

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Também se defende que a analogia não pode ser de crime culposo, por se tratar de ato involuntário
praticado pelo agente. Parte da doutrina entende que o fato criminoso deve ser um fato do passado.
O tipo exige que a conduta seja realizada publicamente, ou seja, presenciada por um número indeterminado
de pessoas ou de forma a que a mensagem possa chegar a um número indeterminado de indivíduos.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É crime de forma livre, devendo apenas ser
praticado em público. É crime plurissubsistente, admitindo a tentativa, exceto na forma oral.
Há divergência na doutrina se é necessário ou não o trânsito em julgado de sentença condenatória do autor
do crime a que se fez referência.
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a manifestação pela liberação de substâncias entorpecentes
conhecida como “Marcha da Maconha” não configura o delito de apologia de crime ou criminoso, por ser
expressão do direito de reunião e da livre expressão de pensamento:
==13272f==

“MÉRITO: “MARCHA DA MACONHA” - MANIFESTAÇÃO LEGÍTIMA, POR CIDADÃOS DA REPÚBLICA, DE


DUAS LIBERDADES INDIVIDUAIS REVESTIDAS DE CARÁTER FUNDAMENTAL: O DIREITO DE REUNIÃO
(LIBERDADE-MEIO) E O DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO DO PENSAMENTO (LIBERDADE-FIM) - A
LIBERDADE DE REUNIÃO COMO PRÉ-CONDIÇÃO NECESSÁRIA À ATIVA PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS
NO PROCESSO POLÍTICO E NO DE TOMADA DE DECISÕES NO ÂMBITO DO APARELHO DE ESTADO – (...)
DEBATE QUE NÃO SE CONFUNDE COM INCITAÇÃO À PRÁTICA DE DELITO NEM SE IDENTIFICA COM
APOLOGIA DE FATO CRIMINOSO - DISCUSSÃO QUE DEVE SER REALIZADA DE FORMA RACIONAL, COM
RESPEITO ENTRE INTERLOCUTORES E SEM POSSIBILIDADE LEGÍTIMA DE REPRESSÃO ESTATAL, AINDA
QUE AS IDEIAS PROPOSTAS POSSAM SER CONSIDERADAS, PELA MAIORIA, ESTRANHAS,
INSUPORTÁVEIS, EXTRAVAGANTES, AUDACIOSAS OU INACEITÁVEIS - O SENTIDO DE ALTERIDADE DO
DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO E O RESPEITO ÀS IDEIAS QUE CONFLITEM COM O PENSAMENTO E OS
VALORES DOMINANTES NO MEIO SOCIAL - CARÁTER NÃO ABSOLUTO DE REFERIDA LIBERDADE
FUNDAMENTAL (CF, art. 5º, incisos IV, V e X; CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, Art.
13, § 5º).” (STF, ADPF 187/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, Julgamento: 15/06/2011).
Quanto à exigência que a conduta se dê publicamente, o Superior Tribunal de Justiça, em precedente não
tão recente, já consignou que tal elementar exige que a conduta seja dirigida a um número indeterminado
de pessoas, dirigido a elas ou que a mensagem possa ser por elas recebida:
“RHC - PENAL - APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO – CONTRAVENÇÃO PENAL - PAZ PUBLICA - A
DENUNCIA DEVE DESCREVER A INFRAÇÃO PENAL, COM TODAS AS SUAS CIRCUNSTANCIAS. NO CASO
DO ART. 287, CP, INDICAR A CONDUTA QUE ELOGIA OU INCENTIVA "FATO CRIMINOSO", OU "AUTOR
DO CRIME". A APOLOGIA DE CONTRAVENÇÃO PENAL NÃO SATISFAZ ELEMENTO CONSTITUTIVO DESSE
DELITO. ALEM DISSO, IMPRESCINDIVEL REGISTRAR QUE A APOLOGIA SE DEU PUBLICAMENTE, ISTO
E, DIRIGIDA OU PRESENCIADA POR NUMERO INDETERMINADO DE PESSOAS, OU, EM
CIRCUNSTANCIA, EM QUE A ELAS POSSA CHEGAR A MENSAGEM. SO ASSIM, SERA RELATADO O
RESULTADO (PERIGO A PAZ PUBLICA), JURIDICAMENTE ENTENDIDO COMO A PROBABILIDADE (PERIGO
CONCRETO) DE O CRIME SER REPETIDO POR OUTREM, OU SEJA, ESTIMULAR TERCEIROS A
DELINQUENCIA.” (STJ, RHC 4660/RJ, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, Sexta Turma, DJ: 30/10/1995).

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3 - ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA
O crime de associação criminosa está previsto no artigo 288 do Código Penal:
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a
participação de criança ou adolescente.
A atual redação do dispositivo foi dada pela Lei 12.850/2013, que trocou seu nomen iuris de quadrilha ou
bando para associação criminosa. A redação era a seguinte:
Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes:
Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.
Percebam que não há grande diferença prática, salvo no que se refere ao número
mínimo de agentes (antes eram necessários mais de três, agora três ou mais). Além
disso, houve a alteração da causa de aumento de pena, que era de aplicação da pena
em dobro quando a quadrilha ou bando fosse armado, sendo que agora incide a
majorante de até metade da pena para o caso de haver participação de criança ou
adolescente ou de a associação criminosa ser armada. Fora isso, houve alteração
apenas de nomenclatura, sendo que parte da doutrina diferenciava a quadrilha do bando, ao destacar que
a primeira atuaria na zona urbana, enquanto o bando se voltaria à prática de crimes na zona rural.
Voltando ao delito na forma prevista atualmente, o núcleo do tipo é “associarem-se”, que se significa
reunirem-se, agregarem-se. A conduta incriminada é associarem-se, três ou mais pessoas, para o fim
específico de cometer crimes.
A associação criminosa é infração penal classificada como sendo de concurso necessário ou plurissubbjetiva.
Isto porque se exigem três ou mais pessoas para a configuração do crime.
O tipo penal é doloso, exigindo o elemento subjetivo especial do injusto, consistente no intuito de praticar
crimes. Não se pode fazer analogia in malam partem para incluir na norma o intuito de praticar
contravenções penais, já que o tipo é expresso ao exigir a finalidade de cometimento de crimes.
É imprescindível que haja a associação, de forma autônoma e estável, para a prática de crimes, e não a
mera reunião de pessoas para o cometimento de um delito e voltada diretamente para a sua execução. A
associação deve preceder o cometimento do(s) crime(s) para a sua configuração, como se depreende de
excerto do julgado do Supremo Tribunal Federal, envolvendo o crime de quadrilha, mas que se aplica ao
atual crime de associação criminosa:
“(...) De todo modo, caso se fosse avançar para o exame da procedência ou improcedência das
imputações, a hipótese dos autos revela concurso de agentes, e não a caracterização do crime de
quadrilha. Inexistência de elementos suficientes que demonstrem a formação deliberada de uma
entidade autônoma e estável, dotada de desígnios próprios e destinada à prática de crimes
indeterminados. (...)” (STF, AP 470 – EI décimos terceiros/MG, Rel. Min. Luiz Fux, Rel. para acórdão
Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, Julgamento: 27/02/2014).

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No mesmo sentido, entendimento do Superior Tribunal de Justiça:


“(...) 6. Deve ser reconhecida a inépcia no tocante ao delito previsto no art. 288, parágrafo único, do
Código Penal. Isso porque, para caracterização do crime de quadrilha e bando, exige-se a
demonstração do elemento subjetivo específico do tipo, do intuito de "cometer crimes". Ademais,
faz-se necessário comprovar o caráter de durabilidade e estabilidade da associação, o que a
distingue do concurso de pessoas. (...)” (STJ, HC 426706/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma,
DJe 24/04/2018).
“(...) 4. No que concerne à imputação do delito de associação criminosa, previsto no art. 288 do Código
Penal, verifico que não basta apontar a prática de crimes por 3 (três) ou mais pessoas para configurar
o delito, porquanto indispensável o dolo de associação, com demonstração de vínculo subjetivo e
permanente entre os associados, pela vontade consciente de cometerem delitos. Dessarte, deve ficar
clara, já na denúncia, a vontade consciente de o acusado integrar-se, de forma estável e permanente,
aos demais sujeitos ativos para a prática de delitos. (...)” (STJ, RHC 98228/PA, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, Quinta Turma, DJe 15/06/2018).
O crime é autônomo, não se exigindo que haja o efetivo cometimento de crimes pelos agentes. O crime,
portanto, é de perigo abstrato. Não é necessária a demonstração de que o bem jurídico foi efetivamente
colocado em risco para a sua consumação. É, ainda, de perigo coletivo, por colocar em perigo um número
indeterminado de pessoas.
Quanto à desnecessidade de efetiva prática de crimes para a configuração do delito previsto no artigo 288
do CP, há o seguinte precedente do Supremo Tribunal Federal:
“(...) O crime de quadrilha é juridicamente independente daqueles que venham a ser praticados pelos
agentes reunidos na societas delinquentium (RTJ 88/468). O delito de quadrilha subsiste
autonomamente, ainda que os crimes para os quais foi organizado o bando sequer venham a ser
cometidos. - Os membros da quadrilha que praticarem a infração penal para cuja execução foi o bando
constituído expõem-se, nos termos do art. 69 do Código Penal, em virtude do cometimento desse outro
ilícito criminal, à regra do cúmulo material pelo concurso de crimes (RTJ 104/104 - RTJ 128/325 - RT
505/352). (...)” (STF, HC 72992, Rel. Min. Celso de Mello, Primeira Turma, Julgamento em 21/11/1995).
Ademais, a finalidade, por lógica, deve ser de cometimento de crimes dolosos, pois ninguém tem o intuito
de praticar crimes por culpa em sentido estrito (imprudência, negligência ou imperícia).
Cuida-se de crime permanente, pois sua consumação se protrai no tempo enquanto durar a associação dos
agentes. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário. Não se admite a tentativa do crime de associação
criminosa. É doloso, não havendo previsão da modalidade culposa.

Forma majorada
O parágrafo único do artigo 288 prevê que a pena deve ser aumentada até a metade se a associação é
armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. Anteriormente, como visto, o aumento se
dava pelo dobro da pena, o que torna a nova redação mais benéfica ao agente que fora condenado pela
prática de quadrilha ou bando armado, já que era a única hipótese em que se previa a incidência da causa
de aumento de pena.

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Pune-se de forma mais gravosa o delito de associação criminosa se houver a participação de criança ou
adolescente, o que deve abranger os indivíduos menores de dezoito anos. Em tais casos, pune-se o maior
desvalor da conduta, ao envolver, na perturbação da paz pública, indivíduos ainda em formação mental e
moral.
O STJ tem decidido que a causa de aumento de pena não configura bis in idem em relação à condenação, no
mesmo contexto, pelo crime de corrupção de menores (art. 244-B do ECA):
5. A jurisprudência desta Corte Superior se assentou no sentido de que não configura bis in idem a
incidência da causa de aumento referente ao concurso de agentes pelo envolvimento de adolescente
na prática do crime, seguida da condenação pelo crime de corrupção de menores, já que se está diante
de duas condutas autônomas e independentes, que ofendem bens jurídicos distintos. (STJ, REsp
1714810/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 03/10/2018).
Quanto à previsão de associação armada, o STJ também decidiu não haver bis in idem em caso de
condenação simultânea pelo crime de roubo majorado pelo concurso de pessoas:
4. Segundo a jurisprudência desta Corte, não há bis in idem na condenação pelo crime de associação
criminosa armada e pelo de roubo qualificado pelo concurso de agentes, pois os delitos são autônomos,
aperfeiçoando-se o primeiro independentemente do cometimento de qualquer crime subsequente.
Ademais, os bens jurídicos protegidos pelas normas incriminadoras são distintos - no caso do art. 288,
parágrafo único, do CP, a paz pública e do roubo qualificado, o patrimônio, a integridade física e a
liberdade do indivíduo. (STJ, AgRg no AREsp 1425424/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 06/08/2019, DJe 19/08/2019)
Sobre essa majorante, há divergência doutrinária sobre a necessidade de todos os agentes estarem armados
ou se basta que um deles esteja portando arma.
O STJ tem entendido ser suficiente, para a incidência da majorante, que um dos agentes porte a arma:
“(...) 4. Na terceira fase da dosimetria, basta que um dos membros da associação criminosa, com o
conhecimento dos demais, traga arma de fogo consigo para ficar caracterizada a situação de maior
perigo e atrair a majorante do art. 288, parágrafo único, do CP. (...)” (STJ, REsp 1688915/RJ, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 20/03/2018).
O Supremo Tribunal Federal possui julgado no mesmo sentido, ainda se referindo ao crime de quadrilha
(antigo nomen iuris ou denominação do crime do artigo 288 do Código Penal):
“(...) CRIME DE QUADRILHA ARMADA (CP, ART. 288, PAR. ÚNICO). - A utilização de arma por qualquer
membro da quadrilha constitui elemento evidenciador da maior periculosidade do bando, expondo
todos que o integram à causa especial de aumento de pena prevista no art. 288, parágrafo único, do
Código Penal. Para efeito de configuração do delito de quadrilha armada, basta que um só de seus
integrantes esteja a portar armas. (...)” (STF, HC 72992, Rel. Min. Celso de Mello, Primeira Turma,
Julgamento em 21/11/1995).

Qualificadora do crime de associação criminosa


O caput do artigo 8º da Lei 8.072/90 prevê uma modalidade qualificada do crime, se os agentes possuem o
fim específico de cometer crimes hediondos ou equiparados:

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Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se
tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou
terrorismo.
São equiparados a hediondos os crimes de tortura, de tráfico ilícito de entorpecentes e de terrorismo (os
três se iniciam com a letra “T”). Quanto ao tráfico de drogas, entretanto, a Lei 11.343/06 trouxe crime
específico caso a associação busque a prática dos crimes previstos nos seus artigos 33, caput e §1º, 34 e 36:

Modalidade especial: associação para o tráfico de drogas


A Lei 11.343/2006, em seu artigo 35, prevê modalidade especial do delito, se a associação
tiver como fim praticar o crime de tráfico de entorpecentes, mais especificamente as
condutas incriminadas nos seus artigos 33, caput e § 1º, e 34. O parágrafo único do artigo 35
estende a previsão para o caso de associação para o cometimento do crime do artigo 36 da
referida lei, ou seja, de financiamento do tráfico ilícito de entorpecentes:
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não,
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos)
dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática
reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Delação premiada
O parágrafo único do artigo 8º da Lei 8.072/90 prevê a delação premiada no caso de algum participante ou
associado relatar à autoridade a associação criminosa, possibilitando seu desmantelamento, ou seja, sua
decomposição. Neste caso, há a minorante de um a dois terços:
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

Acordo de Leniência
A Lei 12.529/2011, em seu artigo 87, prevê a possibilidade de celebração de acordo de leniência nos casos
de crimes relacionados à prática de cartel, inclusive o de associação criminosa. Havendo a celebração de tal
acordo, o prazo prescricional fica suspenso e fica impedido o oferecimento de denúncia quanto ao agente
que for parte beneficiada no acordo. Cumprido o acordo, o parágrafo único do artigo 87 prevê a extinção da
punibilidade:
Lei 12.529/2011, Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de
dezembro de 1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais como os
tipificados na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei,
determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com
relação ao agente beneficiário da leniência.

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Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a


punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo.

Bis in idem?
O Superior Tribunal de Justiça entende não configurar bis in idem a condenação do sujeito pelo crime de
roubo majorado pelo emprego de arma de fogo e pelo crime de associação criminosa, com a majorante de
a associação ser armada. Entende-se que há diversidade dos bens jurídicos tutelados:
“(...) 2. Segundo a jurisprudência deste Tribunal Superior, não "há falar em bis in idem, pela imputação
concomitante da majorante do emprego de arma do crime de roubo com a majorante da quadrilha
armada - prevista no parágrafo único do art. 288 do CP (em sua antiga redação) -, na medida em
que se trata de delitos autônomos e independentes, cujos objetos jurídicos são distintos - sendo,
quanto ao crime de roubo: o patrimônio, a integridade jurídica e a liberdade do indivíduo e, quanto ao
de formação de quadrilha (atual associação criminosa): a paz pública -, bem como diferentes as
naturezas jurídicas, sendo o primeiro material, de perigo concreto, e o segundo formal, de perigo
abstrato" (HC n 131.838/SP, relator Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 10/6/2014,
DJe 1º/7/2014). (...)” (STJ, AgRg no REsp 1456290/MT, Rel. Min. Saldanha Palheiro, Sexta Turma, DJe
29/04/2019).
Também entende a Corte não configurar bis in idem no caso de condenação por associação criminosa e
roubo majorado pelo concurso de agentes:
“(...) 4. Segundo a jurisprudência desta Corte, não há bis in idem na condenação pelo crime de
associação criminosa armada e pelo de roubo qualificado pelo concurso de agentes, pois os delitos são
autônomos, aperfeiçoando-se o primeiro independentemente do cometimento de qualquer crime
subsequente. Ademais, os bens jurídicos protegidos pelas normas incriminadoras são distintos - no
caso do art. 288, parágrafo único, do CP, a paz pública e do roubo qualificado, o patrimônio, a
integridade física e a liberdade do indivíduo. (...)” (STJ, AgRg no AREsp 1425424/SP, Rel. Min. Jorge
Mussi, Quinta Turma, DJe 19/08/2019).

Cumpre, para finalizar o tema da associação criminosa, verificar no quadro abaixo as diferentes previsões
sobre sujeitos que se associam para a prática de crimes, seja para a tipificação do crime de associação
criminosa, seja para a configuração do crime de organização criminosa, ou, por fim, para o reconhecimento
de organização criminosa com o intuito de instalação do julgamento colegiado em primeiro grau de
jurisdição:

Associação Criminosa (Código Organização Criminosa Organização Criminosa


Penal) (Lei 12850/2013) (Lei 12694/2012)

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Art. 288. Associarem-se 3 Art. 1º, § 1o Considera-se Art. 2o Para os efeitos desta
(três) ou mais pessoas, para o organização criminosa a Lei, considera-se organização
fim específico de cometer associação de 4 (quatro) ou criminosa a associação, de 3
crimes: mais pessoas estruturalmente (três) ou mais pessoas,
ordenada e caracterizada pela estruturalmente ordenada e
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3
divisão de tarefas, ainda que caracterizada pela divisão de
(três) anos.
informalmente, com objetivo tarefas, ainda que
Parágrafo único. A pena de obter, direta ou informalmente, com objetivo
aumenta-se até a metade se a indiretamente, vantagem de de obter, direta ou
associação é armada ou se qualquer natureza, mediante a indiretamente, vantagem de
houver a participação de prática de infrações penais qualquer natureza, mediante
criança ou adolescente. cujas penas máximas sejam a prática de crimes cuja pena
superiores a 4 (quatro) anos, máxima seja igual ou
ou que sejam de caráter superior a 4 (quatro) anos ou
transnacional. que sejam de caráter
transnacional.

Lei 8.072/90: Art. 8º Será de Art. 2o Promover, constituir, Sem tipificação, lei criada
três a seis anos de reclusão a financiar ou integrar, para dispor sobre o
pena prevista no art. 288 do pessoalmente ou por julgamento colegiado em
Código Penal, quando se tratar interposta pessoa, organização primeiro grau de jurisdição.
de crimes hediondos, prática criminosa:
da tortura, tráfico ilícito de Pena - reclusão, de 3 (três) a 8
entorpecentes e drogas afins (oito) anos, e multa, sem
ou terrorismo. prejuízo das penas
correspondentes às demais
infrações penais praticadas.

Vale recordar, ainda, que há a previsão de associação para o tráfico de drogas, tipificada no artigo 35 da Lei
11.343/2006, constituindo norma especial em relação ao art. 288 do CP.

4 - CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA


O crime de constituição de milícia privada está previsto no artigo 288-A do Código Penal, nos seguintes
termos:
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste
Código:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.

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Referido delito foi acrescentado pela Lei 12.720, de 27 de setembro de 2012. Possui como ações nucleares
os seguintes verbos: constituir (estabelecer, formar); organizar (estruturar, coordenar); integrar (fazer
parte); manter (fazer perdurar, sustentar) e custear (prover as despesas, financiar o funcionamento). Cuida-
se de tipo penal misto alternativo.
A conduta incriminada é constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal.
Há crítica doutrinária, como do professor Cezar Bitencourt1, sobre a não definição do que
constituem a organização paramilitar, a milícia particular, o grupo e o esquadrão. Busca o
legislador punir a constituição das milícias, que atuam, de forma paralela em relação ao Estado
e em transgressão a lei, em vários pontos do território nacional, mas especialmente no Rio de
Janeiro.
A doutrina busca elaborar os conceitos de cada uma das figuras previstas no tipo de
constituição de milícia privada:
a) Organização paramilitar: associação civil armada, com estrutura que se assemelha à militar,
podendo conter membros civis e militares. Possuem forma de tropa, em sua organização ou
hierarquia.
b) Milícia particular: é a reunião de pessoas armadas que dominam determinado território, a pretexto
de restabelecer a paz e a ordem na ausência do Estado, mas agindo com violência e grave ameaça
para impor o seu domínio.
c) Grupo ou esquadrão: seria a referência a grupo de extermínio, conjunto de pessoas que atuam como
justiceiros, buscando fazer a justiça por suas próprias mãos e praticando crimes com vistas a
neutralizar ou eliminar pessoas que são consideradas perigosas ou marginais.
Percebe-se, portanto, que o intuito do legislador era abranger qualquer reunião de pessoas que constituam
uma milícia privada, ou seja, uma organização armada que atue de forma paralela, além de ilícita, com as
instituições militares do Estado.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É plurissubjetivo, exigindo o concurso de
pessoas para sua configuração, sendo também chamado de crime de concurso necessário.
✓ Surge a dúvida, qual o número mínimo de pessoas necessárias para a prática do crime de
constituição de milícia privada?
Há dois entendimentos:
a) O número de agentes deve ser o mesmo da associação criminosa, ou seja, três ou mais pessoas;
b) O número de agente deve ter como parâmetro o da organização criminosa, consistente em, no
mínimo, quatro pessoas.
Como não há posicionamento dos Tribunais Superiores até a conclusão desta aula, sugere-se o
acompanhamento do tema, não sendo possível definir uma posição majoritária.
A tipificação da constituição de milícia privada tem a finalidade de buscar a punição dos grupos que atuam
especialmente em comunidades carentes ou locais em que o Poder Público falha na área de segurança
pública. Obtêm a simpatia ou apoio de parte da comunidade, por alegar que atua para o restabelecimento
da paz. Na verdade, dominam determinada região, podendo ter lucro com a própria atividade (cobrança

1
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, volume IV: parte especial. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.367-371.

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de “taxas” dos comerciantes locais, por exemplo) ou mesmo ligação com crimes como o de tráfico de
entorpecentes, além de usar de violência e grave ameaça para controlar o território e evitar a desobediência
dos locais. Por implantarem o terror e muitas vezes contarem com membros infiltrados nos órgãos de
segurança pública, são de difícil combate e desmantelamento.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Como já dito, é de concurso necessário,
também denominado plurissubjetivo. É crime, permanente, não admitindo a tentativa. Além disso,
configura-se independentemente da efetiva prática de algum crime pela organização.
O crime é doloso, exigindo o elemento subjetivo especial do tipo, consistente no
intuito de praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal. Portanto, não se
admite analogia in malam partem para se considerar configurado o crime se a
finalidade do conjunto de pessoas for a prática de crime previsto na legislação
extravagante. Pode ser o caso de configuração do crime de associação criminosa, que
exige a finalidade de prática de crime, sem especificar que seja do Código Penal.
Tal qual no crime de associação criminosa, o intuito de praticar crimes previstos no Código Penal envolve as
infrações criminais dolosas. Não há compatibilidade lógica em várias pessoas se reunirem para praticar
homicídios culposos, por exemplo. Se querem ou assumem o risco da produção do resultado, suas condutas
são, obviamente, dolosas.
O crime dispensa a divisão de tarefas. É possível que haja tal circunstância, por exemplo, no caso de
organização paramilitar. No esquadrão, também chamado esquadrão da morte, por exemplo, pode haver a
reunião de pessoas que, ao chegar ao local em que há pessoas “indesejadas”, promovam a chacina de forma
desorganizada, de improviso.
Não se exige, ainda, a finalidade de obtenção de vantagem de qualquer natureza. É comum a finalidade
de obtenção da vantagem, mas, caso não haja, a configuração do crime não fica afastada por isso.
Quanto à competência, o STJ já decidiu não se tratar de crime militar, mas de crime a ser julgado pela Justiça
Comum:
“(...) 1. Imputada ao recorrente a conduta de integrar milícia armada (art. 288-A do Código Penal),
revela-se legítima a decretação de sua prisão preventiva por Juízo Comum, não havendo que se falar
em incompetência, pois de crime militar não se trata. (...)” (STJ, RHC 71174/RN, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, Sexta Turma, DJe 17/04/2017).

(FMP Concursos/MPRO/Promotor de Justiça Substituto/2017)


Em relação ao crime de constituição de milícia privada (artigo 288-A do Código Penal), assinale a alternativa
CORRETA:
a) É possível haver esse tipo de associação criminosa para a prática de crimes preterdolosos.

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b) A finalidade consiste na prática de crimes previstos no Código Penal e na legislação penal extravagante,
para a subsunção ao artigo 288-A do Código Penal.
c) Tendo em vista que o tipo penal não exige o número mínimo de participantes, é possível o crime de
constituição de milícia privada com mais de um agente.
d) Em que pese o fato de o tipo penal não exigir um número mínimo de participantes, tampouco os
requisitos da estabilidade e da permanência, a doutrina e a jurisprudência têm sustentado que a quantidade
mínima de 3 (três) pessoas, além da estabilidade e da permanência, são requisitos ínsitos ao tipo do artigo
288-A do Código Penal, tal como sucede em relação ao artigo 288 do mesmo diploma legal.
e) A consumação exige a efetiva prática de crimes por parte de organização paramilitar, milícia particular,
grupo ou esquadrão.
Comentários
A assertiva A está incorreta. A finalidade de praticar crimes previstos no Código Penal é incompatível com o
cometimento de crimes com resultado provocado por culpa em sentido estrito (imprudência, negligência
ou imperícia). O sujeito não se reúne para praticar crimes com resultados não desejados por ele, sendo aí
que reside a incompatibilidade lógica.
A assertiva B está incorreta. O tipo penal só se refere aos crimes previstos no Código Penal, não abarcando
aqueles da legislação penal extravagante.
A assertiva C está incorreta. A maioria da doutrina e da jurisprudência não admite a configuração do crime
com apenas mais de um agente (dois, por exemplo). Diverge-se sobre serem necessários três ou quatro, no
mínimo, para sua configuração.
A assertiva D está correta e é o gabarito da questão. Apesar de haver divergência doutrinária, é a única
questão que pode estar correta, já que parte considerável da doutrina defende que a quantidade mínima
de agentes deve ser a mesma do crime de associação criminosa, previsto no artigo 288 do Código Penal.
A assertiva E está incorreta. Não se exige a efetiva prática de crimes pela organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão para a consumação do crime previsto no artigo 288-A do Código Penal.

DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA


O Título X da Parte Especial do Código Penal trata dos chamados “Crimes Contra a Fé Pública”. Compõe dos
seguintes capítulos: “Da Moeda Falsa”; “Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis Públicos”; “Da Falsidade
Documental”; “De Outras Falsidades” e “Das Fraudes em Certames de Interesse Público”.

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1 - DA MOEDA FALSA
O primeiro capítulo do Título X da Parte Especial se denomina “Da Moeda Falsa”, abrangendo os crimes de
moeda falsa, de crimes assimilados ao de moeda falsa, de petrechos para falsificação de moeda e de emissão
de título ao portador sem permissão legal.

1.1- Moeda Falsa

O crime de moeda falsa está previsto no artigo 289 do Código Penal, nos seguintes termos:
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no
país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à
circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente,
ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda
autorizada.
O núcleo do tipo é falsificar, que significa adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. A
conduta incriminada é falsificar, fabricando-a ou adulterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso
legal no país ou no estrangeiro.
A ação nuclear típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas formas:
• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.
• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.
A conduta recai sobre moeda metálica, como moedas de R$ 0,50, ou papel-moeda de curso legal no país,
como uma cédula de R$ 50,00, ou no exterior, como uma nota de US$ 100,00.
A falsificação por meio de fabricação ocorre quando o agente fabrica a moeda ou o papel-moeda, como com
a confecção de notas a partir de papel comum com aparência de cédula verdadeira ou com base em matéria-
prima obtida ilicitamente, com insumos furtados, por exemplo.
Já a falsificação por meio da alteração ocorre quando o agente utiliza uma cédula verdadeira ou uma moeda
autêntica, promovendo sua alteração de modo a torná-la mais valiosa. A doutrina afasta a configuração do
delito em caso de a alteração não causar a majoração no valor da moeda ou da cédula ou de não promover
modificação alguma no seu valor nominal.

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Para a configuração do crime, é imprescindível que a falsificação seja capaz de enganar, ou seja,
de fazer a moeda falsa se passar por verdadeira. O material falsificado deve apresentar imitatio
veri, ou seja, ter a aparência da moeda verdadeira, sob pena de não se configurar o crime do
artigo 289 do Código Penal. Entretanto, caso a falsificação seja grosseira, é possível que a
conduta do agente, se ele buscar uma vantagem indevida, configure o crime de estelionato, tal
qual consigna o enunciado número 73 do STJ:
A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da
competência da Justiça Estadual.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, sendo que a maioria da doutrina
não exige elemento subjetivo especial do tipo.
É crime plurissubsistente, admitindo a tentativa. Vale consignar que, se o agente falsificar a moeda e depois
a colocar em circulação, este último ato será post factum não punível.
O STJ já decidiu que, ainda que o crime de moeda falsa seja absorvido pelo peculato, a efetiva utilização das
notas falsificadas atrai o interesse da União e determina a competência da Justiça Federal:
“3. Independentemente da análise se o crime de moeda falsa será absorvido pelo crime de peculato,
constata-se que houve a efetiva utilização de notas falsificadas na prática criminosa, o que, por si só,
já revela o interesse da União e autoriza a manutenção dessa ação penal na Justiça Federal. (...)” (STJ,
CC 145.378/MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, DJe 06/10/2017).

Forma equiparada: circulação de moeda falsa


O parágrafo primeiro do artigo 289 do Código Penal prevê incorrer nas mesmas penas quem, por conta
própria ou alheia, importar (trazer para o país) ou exportar (fazer sair do território nacional), adquirir
(comprar, adquirir, receber), vender (alienar, comercializar, negociar por um preço), trocar (dar por outra
coisa, permutar), ceder (transferir, dar a outra pessoa), emprestar (entregar para obter de volta), guardar
(ter em depósito, armazenar) ou introduzir na circulação (repassar, transmitir a outrem como moeda
verdadeira) moeda falsa. Cuida-se de forma dolosa e plurissubsistente, além de ser um tipo misto
alternativo.
O agente deve saber que a moeda é falsa, sob pena de não se configurar o delito. Além disso, ele não deve
ter sido quem falsificou a moeda ou quem participou da falsificação, ou será pós fato não punível a conduta
que se subsuma ao parágrafo primeiro do artigo 289.

Forma privilegiada
O artigo 289 prevê, em seu parágrafo segundo, a forma privilegiada do delito, em que a pena passa a ser de
detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Incide a forma privilegiada se o agente, tendo recebido de
boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação (repassar de novo ou retransmitir
a outrem como moeda verdadeira), depois de conhecer a falsidade.
Percebam que é o caso do comerciante que, tendo recebido inúmeras notas falsas durante o movimento
semanal, decide não ficar com o prejuízo, repassando as cédulas a outros clientes, mesmo tendo percebido
sua falsidade.

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É crime doloso e plurissubsistente. Neste caso, a pena é menor pois o agente não inicia a conduta de
introdução da moeda falsa em circulação, mas é vítima, em um primeiro momento, e quer evitar o prejuízo,
optando por restituir a moeda à circulação, mesmo ciente de sua falsidade.

Formas qualificadas
O parágrafo terceiro do artigo 289 prevê a forma qualificada do crime de moeda falsa, cuja pena passa a ser
de reclusão, de três a quinze anos, e multa. Pune-se a condutado do funcionário público ou diretor, gerente,
ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
• de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
• de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
Cuida-se de crime próprio, só podendo ser praticado por funcionário público, diretor, gerente ou fiscal de
banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão. Atualmente, referido banco é a
Casa da Moeda.
O parágrafo quarto, por sua vez, prevê incorrer na mesma pena do tipo qualificado quem desvia e faz
circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. Aqui, exige-se para a consumação do delito o
desvio e a sua efetiva circulação, sendo delito plurissubsistente, que admite a forma tentada. A moeda é
autêntica, mas ainda não havia autorização para a sua circulação. Imaginem que a nota de R$ 200,00, antes
de autorização do Banco Central, tenha sido usada no comércio por funcionário da Casa da Moeda,
colocando-a em circulação. Ainda que sua conduta tenha sido praticada com a mera intenção de ser o
pioneiro a usar a cédula e que não tenha havido prejuízo (por exemplo, ele trocou a cédula de R$ 200,00,
no trabalho, por duas de R$ 100,00), sua conduta é penalmente típica.

1.2- Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa

O artigo 290 do Código Penal prevê o que se denomina de crimes “assimilados” ao de moeda falsa:
Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas
ou bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à
circulação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais
condições, ou já recolhidos para o fim de inutilização:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze anos e multa, se o crime é cometido por
funcionário que trabalha na repartição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso,
em razão do cargo.
Neste caso, há três figuras típicas diversas no caput do dispositivo:
• Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou
bilhetes verdadeiros. O agente reúne fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros para
formar uma unidade nova, falsificada.

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• suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal
indicativo de sua inutilização. O agente retira da cédula, nota ou bilhete o sinal que demonstra que
está fora de circulação, como uma marca de carimbo.
• restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de
inutilização. O agente reintroduz em circulação cédula, nota ou bilhete recolhidos para a inutilização,
repassando-os a outrem.
Tal como no delito de moeda falsa, é indispensável a potencialidade de enganar. Se o objeto falsificado não
tiver a potencialidade de iludir alguém, sendo um elemento grosseiro, não se configura o tipo penal.
Ademais, o tipo penal abrange cédula, nota e bilhete, não havendo menção a moeda (metálica). Não é
possível a interpretação de forma a abranger as moedas, sob pena de se admitir a analogia in malam partem.
O crime é comum, por não exigir qualidade específica do sujeito ativo para a sua configuração. É doloso, não
havendo previsão de modalidade culposa. A segunda modalidade (suprimir) exige expressamente o
elemento subjetivo especial, consistente no intuito de restituir a cédula ou bilhete recolhidos à circulação.
Cezar Bitencourt também defende ser necessária a presença de referido elemento subjetivo na modalidade
de “formar cédula”, por exigência de forma implícita no tipo penal.
O crime é plurissubsistente, sendo admissível a tentativa. O crime é formal, não exigindo a ocorrência do
resultado naturalístico para a sua consumação. É, ainda, delito de forma livre.

Forma qualificada
O parágrafo único prevê a modalidade qualificada do delito, cuja pena é de dois a doze anos de reclusão e
multa. Configura-se se o crime for cometido por funcionário que trabalha na repartição onde o dinheiro se
achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso, em razão do cargo. É, portanto, forma própria do crime, por
exigir qualidade específica do sujeito ativo.

1.3- Petrechos para Falsificação de Moeda

O crime de petrechos para falsificação de moeda está tipificado no artigo 291 do Código Penal:
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Fabricar é manufaturar, produzir a partir de matérias-primas. Adquirir é comprar, adquirir, receber.
Fornecer é abastecer, prover (seja a título oneroso ou gratuito). Possuir é ter, deter. Guardar é ter em
depósito, ter sob sua guarda.
A conduta incriminada, no tipo penal misto alternativo do artigo 291 do CP, é fabricar, adquirir, fornecer, a
título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto
especialmente destinado à falsificação de moeda.

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Trata-se de situação que configuraria mera fase de preparação do crime de falsificação de


moeda e, portanto, irrelevante penal, caso não houvesse sua previsão em tipo penal próprio.
Seria uma marca da expansão do Direito Penal, nos dizeres do Professor Silva Sanchez, em que
se busca criminalizar conduta que sequer entrou na fase da execução. Vale lembrar que os atos
de cogitação não são puníveis, enquanto os atos de preparação também não o são, mas em
regra. Caso o legislador preveja sua tipificação autônoma, como no caso do artigo 291 do CP,
haverá sua punição. Pelo exposto, o tipo penal do artigo 291 é classificado como crime obstáculo.
É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. É
doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial do tipo. É formal, por não exigir resultado naturalístico
(efetiva fabricação de moeda) para a sua consumação.
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, se os petrechos servirem para a prática de outros crimes, a
competência será da Justiça Estadual:
“PROCESSUAL PENAL - COMPETENCIA - PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA (ART. 291 DO CP)
1. SE OS PETRECHOS OU INSTRUMENTOS APREENDIDOS NÃO SE PRESTAM APENAS PARA A
CONTRAFAÇÃO DA MOEDA, JA QUE PODEM SER UTILIZADOS PARA A PRATICA DE OUTRAS FRAUDES,
COMO, POR EXEMPLO, O "CONTO DO PACO", A COMPETENCIA PARA CONHECER DA AÇÃO PENAL E DA
JUSTIÇA ESTADUAL. 2. CONFLITO CONHECIDO E DECLARADO COMPETENTE O JUIZO SUSCITADO.” (STJ,
CC 7682/SP, Rel. Min. Anselmo Santiago, Terceira Seção, DJ 05/12/1994).

1.4- Emissão de Título ao Portador sem Permissão Legal

A emissão de título ao portador sem permissão legal constitui um delito em razão do que prevê o artigo 292
do Código Penal:
Art. 292 - Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha promessa de
pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva ser
pago:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como dinheiro qualquer dos documentos referidos neste
artigo incorre na pena de detenção, de quinze dias a três meses, ou multa.
Emitir, para os fins do artigo, significa colocar o documento em circulação, não bastando a sua confecção
ou assinatura. A conduta incriminada é emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que
contenha promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou aquele em que falte a indicação do nome da
pessoa a quem deve ser pago.
O crime se consuma com a entrada do documento em circulação, sendo formal, por não exigir a ocorrência
de resultado naturalístico para a sua consumação. É comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do
sujeito ativo.
O crime é considerado plurissubsistente, admitindo a tentativa. É instantâneo, sendo que sua consumação
ocorre em determinado instante no tempo. É doloso, não havendo previsão de modalidade culposa nem
exigência de elemento subjetivo especial do tipo.

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Modalidade privilegiada
O parágrafo único prevê modalidade privilegiada, com pena de detenção, de quinze dias a três meses, ou
multa. Incorre em tal forma do delito quem recebe ou utiliza como dinheiro qualquer dos documentos
referidos no caput. Protege-se o uso da moeda oficial, incriminando quem se utiliza, por exemplo, de um
vale chamado “Vale do Ribeira”, usado como substitutivo de moeda em determina região, como se dinheiro
fosse.

2 - DA FALSIDADE DE TÍTULOS E DE OUTROS PAPÉIS


O Capítulo II do Título dos Crimes contra a Fé Pública abrange os delitos de falsificação de papéis públicos e
de petrechos de falsificação.

2.1- Falsificação de Papéis Públicos

O crime de falsificação de papéis públicos está previsto no artigo 293 do Código Penal:
Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à
arrecadação de tributo;
II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
III - vale postal;
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento
mantido por entidade de direito público;
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas
ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável;
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou
por Município:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo;
II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
selo falsificado destinado a controle tributário;
III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;

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b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
parágrafo anterior.
§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou
alterados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, incorre
na pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1o, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros públicos e em
residências.
O núcleo do tipo é falsificar, que significa adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. A
conduta incriminada é falsificar, fabricando ou alterando, algum dos papeis públicos enumerados nos incisos
do caput do artigo 293.
A ação nuclear típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas formas:
• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.
• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.
O rol de elementos que podem constituir o objeto material do referido delito é extenso:
• selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à
arrecadação de tributo;
• papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
• cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido
por entidade de direito público;
• talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas
ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável;
• bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou
por Município.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, não exigindo resultado
naturalístico para a sua consumação. Cuida-se de crime de forma livre. Além disso, admite a tentativa, por
ser plurissubsistente. É doloso, sem exigência de intuito específico perseguido pelo sujeito ativo.
Somente no caso do vale postal, houve revogação tácita do tipo (portanto, revogação parcial, derrogação)
pelo artigo 36 da Lei 6.358/78:
Art. 36 - Falsificar, fabricando ou adulterando, selo, outra fórmula de franqueamento ou vale-postal:
Pena: reclusão, até oito anos, e pagamento de cinco a quinze dias-multa.

Formas equiparadas

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O parágrafo primeiro do artigo 293 prevê as modalidades equiparadas ao caput. Determina se submeter à
mesma sanção penal aquele que:
• usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo;
• importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação selo
falsificado destinado a controle tributário;
• importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
o em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;
o sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.
O crime é permanente nas modalidades de guardar, possuir e deter. Quanto aos demais núcleos do tipo das
formas equiparadas, é instantâneo. Também é crime comum, plurissubsistente e formal, além de ser doloso.
A terceira figura, correspondente ao inciso III do § 1º do Código Penal, exige que o sujeito ativo seja
industrial ou comercial, seja ele formalizado (regularizado) ou não. Além disso, a conduta deve ser praticada
no exercício de atividade comercial ou industrial para a configuração do crime.
Atividade comercial: o parágrafo quinto do artigo 293 equipara à atividade comercial, para os fins de
referida figura típica, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias,
praças ou outros logradouros públicos e em residências. Deste modo, mesmo o comerciante informal, como
o ambulante, pode ser enquadrado em referido tipo penal.

Formas complementares
O parágrafo segundo do artigo 293 do Código Penal criminaliza a conduta de suprimir, em qualquer dos
papéis já mencionados, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal
indicativo de sua inutilização. A pena é de reclusão, de um a quatro anos, e multa. O agente deve ter a
finalidade de tornar o papel novamente utilizável.
Já o parágrafo terceiro de citado dispositivo determina a imposição da mesma pena para quem usa, depois
de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo anterior. Se o agente já supriu o carimbo ou
sinal ou participou da supressão, o fato de usar qualquer dos papéis tratados pelo tipo penal configura post
factum não punível, que é absorvido pelo crime referente à própria supressão.

Forma privilegiada
O parágrafo quarto do artigo 293 prevê a forma privilegiada, com pena de detenção, de seis meses a dois
anos, ou multa. Incorre na pena quem usa ou restitui à circulação, embora recebido de boa-fé, qualquer dos
papéis falsificados ou alterados, a que se referem o artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou
alteração.

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2.2- Petrechos de Falsificação

O artigo 294 do Código Penal criminaliza a conduta de petrechos de falsificação:


Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação
de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Fabricar é manufaturar, produzir a partir de matérias-primas. Adquirir é comprar, adquirir, receber.
Fornecer é abastecer, prover. Possuir é ter, deter. Guardar é ter em depósito, ter sob sua guarda.
A conduta incriminada no tipo penal misto alternativo do artigo 294 do CP, é fabricar, adquirir, fornecer, a
título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer
dos papéis referidos no artigo anterior. Cuida-se de norma penal em branco, sendo complementada pelo
artigo 293 do Código Penal, em que há a previsão de vários papéis públicos.
É uma situação que configuraria mera fase de preparação do crime de falsificação de papéis
públicos e, portanto, irrelevante penal, se não houvesse sua previsão em tipo penal próprio.
Alguns criticam essa previsão de punição de algo que seria mera fase de preparação de outro
crime, entendendo ser uma manifestação do direito penal de autor. Cuida-se, assim, de crime
obstáculo.
De toda forma, cumpre observar que o objeto deve ser especialmente destinado à
falsificação dos papéis mencionados no artigo 293 do Código Penal. O fato de o agente possuir um objeto
que possa ser utilizado para a falsificação, mas também tenha outros fins, não configura o delito, ainda que
ele cogitasse a prática do delito de falsificação.
É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. É
doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial do tipo. É formal, por não exigir resultado naturalístico
(efetiva falsificação dos papéis públicos) para a sua consumação. É permanente apenas nas modalidades de
possuir e guardar.

2.3- Forma majorada

O artigo 295 do Código Penal prevê uma causa de aumento de pena que, segundo a doutrina, se aplica aos
crimes do Capítulo II do Título X (Da Falsidade de Títulos e Outros Papéis Públicos):
Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se
a pena de sexta parte.
Trata-se de modalidade em que se tem um crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário
público. É, portanto, crime funcional, sendo que o agente deve praticar o crime prevalecendo-se do seu
cargo, ou seja, valendo-se dele para facilitar a execução da conduta. A majorante tem como fração fixada
pelo legislador a de um sexto da pena. Aplica-se, portanto, aos crimes tratados nos artigos 293 e 294 do
Código Penal.

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3 - DA FALSIDADE DOCUMENTAL
O Capítulo III do Título X do Código Penal trata da falsidade documental. Nele, há os crimes de falsificação
de selo ou sinal público, de falsificação de documento público, de falsificação de documento particular
(abrangendo a falsificação de cartão), de falsidade ideológica, de falso reconhecimento de firma ou letra, de
certidão ou atestado ideologicamente, falsidade material de atestado ou certidão, falsidade de atestado
médico, reprodução ou alteração de selo ou peça filatélica, uso de documento falso e supressão de
documento.

3.1- Falsificação de Selo ou Sinal Público

O crime de falsificação de selo ou sinal público está previsto no artigo 296 do Código Penal:
Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de
tabelião:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Incorre nas mesmas penas:
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio
ou alheio.
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos
utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública.
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
pena de sexta parte.
A ação nuclear típica consiste no verbo falsificar, que significa adulterar, fazer passar por verdadeiro o que
não é, fraudar. A conduta incriminada é falsificar, fabricando ou alterando, selo público destinado a
autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município, ou selo ou sinal atribuído por lei a entidade de
direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião.
A ação nuclear típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas formas:
• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.
• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.
Eis o rol dos possíveis objetos materiais do crime:
• selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;
• selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade;
• sinal público de tabelião.

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O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Cuida-se de crime de forma livre. Além disso,
admite a tentativa, por ser plurissubsistente. É doloso, sem previsão de modalidade culposa.

Forma equiparada
O parágrafo primeiro do artigo 296 prevê as modalidades equiparadas ao caput:
• quem faz uso do selo ou sinal falsificado. Pune-se, o agente que utiliza o selo ou sinal falsificado.
Não pode ser ele quem falsificou o selo ou sinal, senão seu uso estará absorvido, como pós fato não
punível.
• quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito
próprio ou alheio. Aqui, Cezar Bitencourt entende haver a exigência de efetivo prejuízo de outrem
ou proveito próprio ou alheio, classificando tal modalidade de material. Já Rogério Sanches Cunha
defende ser o caso de exigência de elemento subjetivo especial do tipo penal.
• quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos
utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública. A modalidade
abrange tanto a adulteração ou contrafação das marcas logotipos, siglas ou símbolos dos órgãos
públicos quanto seu uso indevido, ou seja, de forma não permitida pela legislação.

Modalidade majorada
Há causa de aumento de pena no parágrafo único do artigo 296 do Código Penal, consistente em o agente
ser funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se do cargo. Neste caso, uma modalidade majorada
e funcional, aumenta-se a pena de sexta parte.

3.2- Falsificação de Documento Público

O delito de falsificação de documento público tem previsão no artigo 297 do Código Penal:
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal,
o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis
e o testamento particular.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante
a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir
efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;

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III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da


empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do segurado
e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.
Os núcleos do tipo são “falsificar” (adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e “alterar”
(modificar, transformar, produzir a mudança de).
A conduta típica é falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro. Portanto, pune-se a falsificação total ou parcial do documento público, assim como a
modificação de um documento público verdadeiro, autêntico.
O parágrafo segundo torna mais abrangente o tipo penal, ao incluir como seu objeto material
o documento emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por
endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
São documentos que seriam, a rigor, considerados particulares. Entretanto, para fins de
punição por falsificação, são equiparados pela lei a documentos públicos.
Há divergência doutrinária se a cópia autenticada de documento público consiste em objeto
material do delito, ou seja, se sua contrafação configura o crime do artigo 297 do CP.
Cuida-se de crime comum, não se exigindo qualidade específica do sujeito ativo. É doloso, não havendo
previsão de elemento subjetivo especial do tipo, nem de modalidade culposa. É plurissubsistente, sendo
admissível a tentativa. Ademais, é formal, consumando-se sem a exigência de ocorrência de resultado
naturalístico.
Cumpre analisar algumas súmulas sobre os crimes referentes à falsidade, ainda que se apliquem a outros
crimes estudados durante o curso:
No caso de estelionato cometido mediante a falsificação de cheque, o enunciado 48 da Súmula do STJ define
como competente o juízo do local da obtenção da vantagem ilícita (consumação do estelionato):
Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato
cometido mediante falsificação de cheque.
A súmula 62 do STJ fixava a competência da Justiça Estadual para julgar o crime de falsa anotação na CTPS,
se o registro for atribuído a empresa privada:
Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e
Previdência Social, atribuído à empresa privada.
Entretanto, apesar de não oficialmente cancelada, o entendimento contido na Súmula foi superado em
julgamento posterior pela Terceira Seção do STJ:
“No julgamento do CC n. 127.706/RS (em 9/4/2014), da relatoria do Ministro Rogerio Schietti Cruz, a
Terceira Seção desta Corte, por maioria, firmou o entendimento de que, no delito tipificado no art. 297,
§ 4º, do Código Penal, o sujeito passivo é o Estado e, eventualmente, de forma secundária, o particular,
terceiro prejudicado com a omissão das informações, circunstância que atrai a competência da Justiça
Federal, conforme o disposto no art. 109, IV, da Constituição Federal.”
O STJ também atribui à Justiça Estadual a competência para o julgamento de crime de falsificação de
documento relacionado a estabelecimento particular de ensino, conforme a Súmula 104:

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Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de documento
falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento consolidado, fixado no enunciado 107, que compete à
Justiça Estadual julgar crime de estelionato praticado por meio de falsificação de guia de recolhimento das
contribuições previdenciárias, desde que não tenha ocorrido lesão ao Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS:
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado mediante
falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão
à autarquia federal.
O seguinte acórdão do Superior Tribunal de Justiça consigna que a falsidade documental, assim como a
ideológica, consuma-se no momento da falsificação. Ademais, decidiu que a falsificação de documento
emitido por junta comercial não atrai, apenas pela sua subordinação técnica ao Departamento Nacional de
Registro do Comércio, a competência da Justiça Federal:
“(...) I - Na linha da jurisprudência desta Corte, "os tipos penais de falsidade ideológica e
falsificação documental consumam-se no momento da falsificação, sendo irrelevante o local do
resultado [...]" (CC n. 101.184/PR, Terceira Seção, Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe de
21/6/2013). II - A competência da Justiça Federal para apuração de crimes decorre do art. 109,
inciso IV, da Constituição Federal, que afirma, dentre outras coisas, que compete aos juízes federais
processar e julgar "as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse
da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e
ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral". III - É cediço que as juntas
comerciais estão subordinadas administrativamente ao ente federativo de sua jurisdição e,
tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do Comércio, ex vi da Lei n. 8.934/1994. IV -
No caso vertente, entretanto, não houve ofensa direta a bens, serviços ou interesses da União,
conforme art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, razão pela qual se afasta a competência da
Justiça Federal. (...)” (STJ, RHC 66784/RS, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, DJe 01/08/2016).
Também já decidiu o STJ ser da competência da Justiça Eleitoral a falsificação de documento público para
fins eleitorais:
“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. JUÍZOS COMUM E ELEITORAL. FALSIFICAÇÃO DE
TÍTULO. FINS ELEITORAIS. CANDIDATURA À VEREADORA. CAPITULAÇÃO NO CÓDIGO ELEITORAL. A
falsificação do respectivo documento público - título de eleitor - tinha fins eleitorais, crime previsto
no Código Eleitoral (arts. 348 e 353). Conflito conhecido, declarando-se a competência do juízo
eleitoral suscitado.” (STJ, CC 26105/PA, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Terceira Seção, DJ
27/08/2001).

Forma majorada
O parágrafo primeiro do artigo 297 prevê a forma majorado crime no caso de o agente ser funcionário
público e cometer o crime prevalecendo-se do cargo. Apena deve ser aumentada em um sexto. É
modalidade própria e funcional do crime.

Formas equiparadas

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O artigo 297, em seu parágrafo terceiro, prevê as formas equiparadas, trazendo


condutas que também são consideradas como falsificação de documento público.
Prevê o dispositivo a mesma sanção penal para quem insere ou faz inserir:
• na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado
a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de
segurado obrigatório;
• na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir
efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
• em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da
empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
Percebam que, por se tratar de condutas de inserir ou fazer inserir, a rigor estamos diante de hipóteses de
falsidade ideológica, mas foram equiparadas à falsificação de documento público. O caso é de falsidade
ideológica pois diz respeito ao conteúdo do documento, e não à adulteração ou falsificação do seu
instrumento. Só são aptas a tipificar o crime em exame as condutas que tiverem potencial de produção de
efeitos perante a Previdência Social, sob pena de configuração de outro delito.
O parágrafo quarto do artigo 297, por sua vez, prevê incorrer nas mesmas penas incorre quem omite, nos
documentos acima elencados, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do
contrato de trabalho ou de prestação de serviços. Nesta modalidade, o crime é omissivo puro, não
admitindo tentativa.

3.3- Falsificação de Documento Particular

O crime de falsificação de documento particular está previsto no artigo 298 do Código Penal:
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular
verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
O tipo penal é bem parecido com o do artigo 297, mas desta vez o objeto material é documento particular.
Os núcleos do tipo são “falsificar” (adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e “alterar”
(modificar, transformar, produzir a mudança de).
A conduta típica é falsificar, no todo ou em parte, documento particular, ou alterar documento particular
verdadeiro. Portanto, pune-se a falsificação total ou parcial do documento particular, assim como a
modificação de um documento particular verdadeiro, autêntico.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, consumando-se
independentemente da ocorrência de resultado naturalístico. É doloso, sem exigência de qualquer elemento
subjetivo especial. Não se pune a conduta praticada por negligência, imprudência ou imperícia. O crime é
plurissubsistente, admitindo a forma tentada.

Falsificação de cartão

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O parágrafo único do artigo 298 estende a abrangência do caput, ao incluir como seu objeto material o
cartão de crédito ou débito, dando a essa figura um nomen iuris diverso, o de falsificação de cartão:
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de
crédito ou débito.
O cartão, ainda que não seja propriamente um documento, é a ele equiparado para fins da proteção penal
por previsão expressa. Anteriormente, porém, já havia essa interpretação.

3.4- Falsidade Ideológica

O crime de falsidade ideológica está tipificado, no Código Penal, no seu artigo 299, nos seguintes termos:
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos,
e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se
a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
As condutas centrais são “omitir declaração”, ou seja, não declarar, deixar de fazer a declaração; “inserir”,
ou seja, gravar, introduzir, apor; e “fazer inserir”, o agente leva outrem a inserir, faz com que outra pessoa
introduza o conteúdo indevido.
As figuras típicas são:
• omitir, em documento público ou particular, declaração que dele deveria constar.
• Inserir, em documento público ou particular, declaração falsa.
• Inserir, em documento público ou particular, declaração diversa da que deveria ser escrita.
• Fazer inserir, em documento público ou particular, declaração falsa.
• Fazer inserir, em documento público ou particular, declaração diversa da que deveria ser inscrita.
Todas as modalidades exigem o elemento subjetivo especial do injusto, consistente no intuito do agente de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Basta que o
agente possua tal intenção, não sendo necessário que a alcance, com a produção do resultado naturalístico,
para a consumação do delito.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, com exigência de elemento
subjetivo especial, como visto. É formal, não dependendo do efetivo prejuízo a direito, da real criação de
obrigação nem da eficaz alteração da verdade para sua consumação.
É crime plurissubsistente, admitindo a modalidade tentada. Não há previsão de modalidade culposa. É,
ainda, crime de forma livre.

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Como a falsidade tratada pelo artigo 299 do Código Penal envolve o teor, o conteúdo
do documento, ele é, materialmente, autêntico. É como o caso de um delegado que
emite cédula de registro de identidade com nome falso para um amigo. A cédula terá
o papel verdadeiro, a efetiva assinatura do funcionário público responsável pelo
departamento e, se passar por um exame pericial, o perito não encontrará sinais
externos de falsidade. Isto porque o conteúdo é que é falso. Por isso, o STJ entende
dispensável a realização de exame pericial:
(...) I - O acórdão impugnado não dissentiu da jurisprudência desta Corte, no sentido de que, sendo a
acusação de falsidade ideológica, é desnecessária a realização de perícia, uma vez que,
diferentemente do que ocorre com a falsidade documental, a alteração é no conteúdo (e não na forma)
do documento (...)” (STJ, AgRg no REsp 1669729/SP, Rel. Min. Félix Fischer, Quinta Turma, DJe
29/06/2018).
Entende-se que o preenchimento de cambial emitida em branco ou com lacunas, pelo credor de boa-fé, é
lícito, o que afasta o cometimento do crime, conforme o enunciado 387 da Súmula do STF:
A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé
antes da cobrança ou do protesto.
Neste sentido, o STJ já decidiu pelo afastamento do crime pelo preenchimento de nota promissória emitida
em branco:
“RECURSO ESPECIAL. NOTA PROMISSÓRIA. EMISSÃO EM BRANCO. PREENCHIMENTO INCORRETO. MÁ-
FÉ DO CREDOR. INVALIDADE. 1. É lícito emitir nota promissória em branco, para que o valor seja
posteriormente preenchido pelo credor. 2. O preenchimento, entretanto, pode acarretar a nulidade do
título se o credor agir de má-fé, impondo ao devedor obrigação cambial sabidamente superior à
prometida. 3. Ainda que se afaste a tese da existência de falsidade ideológica, o título fica maculado
pela quebra da boa-fé, princípio regente do direito privado e ignorado por quem preencheu a nota
promissória.” (STJ, REsp 598891/GO, Rel. p/ acórdão Min. Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma,
DJ 12/06/2006).
Sobre a prescrição, o STJ já delineou ser o crime formal, não havendo modificação da contagem da
prescrição por eventual produção posterior de efeitos:
2. A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem vir a se protrair no tempo.
A despeito dos efeitos que possam, ou não, vir a gerar, ela se consuma no momento em que é praticada
a conduta. Precedentes.
(RvCr 5.233/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
13/05/2020, DJe 25/05/2020)
O Supremo Tribunal Federal possui precedente em que considera que o documento sujeito à verificação, de
forma objetiva e com confronto de seu conteúdo pela autoridade, não é apto para configuração do crime
de falsidade ideológica:
“'HABEAS CORPUS'. FALSIDADE IDEOLOGICA A SER APURADA EM INQUERITO POLICIAL, QUE SE
PRETENDE DEVA SER TRANCADO. - ESTA PRIMEIRA TURMA, AO JULGAR O HC-62874 (RTJ-115/166 E
SEGS.), ENTENDEU QUE, AINDA QUANDO SE ADMITA QUE O DOCUMENTO SUJEITO A VERIFICAÇÃO
NÃO E HABIL PARA A CONFIGURAÇÃO DE FALSIDADE IDEOLOGICA, ISSO SÓ OCORRERIA 'QUANDO A
VERDADE, QUE O FUNCIONÁRIO ESTA ADSTRITO A VERIFICAR, E APURAVEL POR MEIO DE CONFRONTO

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OBJETIVO E CONCOMITANTE DA AUTORIDADE, DISPENSANDO INDAGAÇÃO COMPLEXA E FUTURA'. _


COMO TAMBÉM DECIDIU ESTA CORTE, POR SUA SEGUNDA TURMA, AO JULGAR O RE CRIMINAL 93292
(RTJ 101/311 E SEGS.), 'PARA QUE SE CONFIGURE ESSE CRIME (O DE FALSIDADE IDEOLOGICA) NÃO E
MISTER A OCORRENCIA DE DANO EFETIVO, BASTA QUE SE VERIFIQUE A POTENCIALIDADE DE UM
EVENTO DANOSO'. - INEXISTÊNCIA, POIS, DE RAZÃO PARA O TRANCAMENTO DO INQUERITO POLICIAL.
RECURSO ORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.” (STF, RHC 67023/SP, Rel. Min. Moreira Alves,
Primeira Turma, Julgamento em 29/11/1988).
O Superior Tribunal de Justiça, de forma mais recente, tem decidido neste sentido, afastando o crime de
falsidade ideológica se o documento estiver sujeito a posterior verificação, sem indagação complexa:
“(...) 1. Não há ofensa à fé pública e conseqüentemente não se perfaz a figura delituosa do art. 299 do
Código Penal, simples requerimento de inscrição em concurso público, onde se afirma, sob as penas da
lei, ser portador de diploma de Bacharel em Direito, sem que isto corresponda à realidade. É que o
requerimento nesta hipótese, sujeito a posterior verificação, sem indagação complexa e futura, não se
presta à comprovação da condição habilitadora, ou na dicção do STF, não vale por si mesmo. 2. Recurso
especial não conhecido.” (STJ, REsp 137739/RS, Rel. Min. Fernando Gonçalves, Sexta Turma, DJ
13/10/1998).
“(...) 3. A indicação de endereço incorreto em petição inicial para fins de alteração da competência
para processar e julgar determinada ação não caracteriza o crime previsto no artigo 299 do Código
Penal, pois a veracidade do domicílio poderá ser objeto de verificação. (...)” (STJ, RHC 70596/MS, Rel.
Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 09/09/2016).
De igual modo, o STJ não considera configurar o crime de falsidade ideológica a declaração de pobreza para
fins de gratuidade da justiça que não se coadune com a realidade:
“(...) 2. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a mera declaração de
estado de pobreza para fins de obtenção dos benefícios da justiça gratuita não é considerada
conduta típica, diante da presunção relativa de tal documento, que comporta prova em contrário (RHC
24.606/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 02/06/2015) (...)” (STJ, AgRg no RHC
43279/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 19/12/2016).

Forma majorada
O parágrafo único do artigo 299 prevê uma causa de aumento de pena com patamar de aumento de um
sexto.
Incide se o agente for funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se do cargo. É modalidade
própria, por exigir qualidade específica do sujeito ativo, e funcional, por ser seu sujeito ativo um funcionário
público. É necessário que ele prevaleça das suas funções para a prática da conduta, sob pena de não se
configurar a majorante.
Também incide a majorante se a falsificação ou alteração for de assentamento de registro civil. O maior
desvalor se refere ao resultado de refere conduta, que afeta os direitos da personalidade de alguém, além
de, é claro, afetar o sentimento de fé ou de confiabilidade da sociedade nos registros de nascimento dos
seus membros.

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3.5- Falso Reconhecimento de Firma ou Letra

O artigo 300 do Código Penal criminaliza o falso reconhecimento de firma ou letra, dispondo assim:
Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o não seja:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público; e de um a três anos, e multa,
se o documento é particular.
O tipo penal de falso reconhecimento de firma ou letra é funcional, ou seja, só pode ser praticado por quem
está no exercício de função pública. A função pública deve ser aquela que dá poderes ao agente para o
reconhecimento da veracidade ou autenticidade de firma ou letra, como o tabelião, o oficial de registro, os
cônsules etc.
A conduta típica é reconhecer (atestar, admitir) como verdadeira firma ou letra que não o seja. Como já dito,
exige-se que o sujeito ativo esteja no exercício de função pública que lhe dê tal poder.
A sanção penal varia: se o documento for público, a pena será de reclusão, de um a cinco anos, e multa. Se
o documento for particular, a pena será de reclusão, de uma a três anos, e multa.
É crime próprio, por exigir qualidade do sujeito ativo para sua configuração. É crime de forma livre, sendo
que Nucci discorda, entendendo ser crime de forma vinculada.
O crime é doloso, não havendo exigência de elemento subjetivo especial do tipo. É plurissubsistente, por
ser fracionável a sua conduta. Por isso, é punível o conatus.

3.6- Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso

O artigo 301 do Código Penal prevê o crime de certidão ou atestado ideologicamente falso:
Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que
habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer
outra vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Atestar é afirmar ou provar oficialmente. Certificar é afirmar por escrito a veracidade. A conduta típica é
atestar ou certificar falsamente fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de
ônus ou de serviço de caráter público ou qualquer outra vantagem. Exige-se, ainda, que o agente atue em
razão de sua função pública. É uma forma específica de falsidade ideológica, com a inserção de conteúdo
falso em atestado ou certidão, com destinação de habilitação do cargo, isenção de ônus ou se serviço de
serviço público ou qualquer outra vantagem.
Só pode praticar o crime o funcionário público, razão pela qual é classificado como próprio. É doloso, sem
previsão de modalidade culposa. Cezar Bitencourt2 entende indispensável o elemento subjetivo especial,
que se traduz na vontade de obter vantagem.

2
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, volume IV: parte especial. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 465.

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É crime de forma livre. Além disso, é plurissubsistente, já que sua conduta pode ser fracionada. Admite-se,
então, a tentativa.

Falsidade material de atestado ou certidão


O parágrafo primeiro do artigo 301 prevê forma qualificada de praticar o delito:
§ 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado
verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de
ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Os núcleos do tipo são “falsificar” (adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e “alterar”
(modificar, transformar, produzir a mudança de).
Crime comum na figura de falsidade material de atestado ou certidão, podendo ser praticado por qualquer
pessoa. Ou o agente falsifica o documento, criando um de forma ilegítima, ou ele adultera o documento
verdadeiro, tornando-o ilegítimo. O documento deve ter a finalidade de provar fato ou circunstância que
habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
vantagem.
O preceito secundário traz a pena de detenção, de três meses a dois anos.

Crime mercenário
O artigo 301 do Código Penal, em seu parágrafo segundo, prevê a modalidade mercenária do delito, ou
seja, a forma em que o crime é praticado com intuito de lucro:
§ 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de
multa.
Neste caso, além da pena privativa de liberdade, deve-se aplicar a pena de multa ao agente.

3.7- Falsidade de Atestado Médico

O artigo 302 do Código Penal prevê o crime de falsidade de atestado médico, com os seguintes termos:
Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:
Pena - detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
A conduta incriminada é dar atestado médico falso. Dar atestado é entregar ou fornecer atestado falso, ou
seja, documento médico com informações falsas. Pode-se concluir, assim, que é uma modalidade especial
do crime de falsidade ideológica.

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Só o médico, no exercício da sua profissão, pode cometer o crime, razão pela qual ele é
próprio. É doloso, não exigindo elemento subjetivo especial do tipo, que, se for o de lucro,
determina a cominação cumulativa da pena de multa.
É crime formal, independendo de resultado naturalístico para sua consumação. É possível
o fracionamento da conduta, sendo plurissubsistente e admitindo o conatus.

Crime mercenário
O artigo 302 do Código Penal, em seu parágrafo segundo, prevê a modalidade mercenária do delito, ou seja,
a forma em que o crime é praticado com intuito de lucro. Neste caso, havendo o elemento subjetivo especial
do tipo, deve haver aplicação cumulativa da pena de multa.

3.8- Reprodução ou Adulteração de Selo ou Peça Filatélica

Dispõe sobre o crime de reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica o artigo 303 do Código Penal:
Art. 303 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica que tenha valor para coleção, salvo quando a
reprodução ou a alteração está visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou peça:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para fins de comércio, faz uso do selo ou peça
filatélica.
O tipo penal foi ab-rogado, ou seja, sofreu revogação total pelo artigo 39 da Lei 6.538/78:
Art. 39 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica de valor para coleção, salvo quando a reprodução
ou a alteração estiver visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou peça:
Pena: detenção, até dois anos, e pagamento de três a dez dias-multa.
Reproduzir é imitar ou repetir. Alterar é mudar, modificar. A conduta incriminada na legislação penal
extravagante é reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica de valor para coleção. A pena passou a ser de
detenção até dois anos, sem estipulação de pena mínima, além do pagamento de 3 a 10 dias-multa.
Exclui-se o delito se a reprodução ou alteração estiver anotada, de forma visível, na face ou no verso do selo
ou da peça filatélica.
O crime é comum, doloso, formal, de forma livre e plurissubsistente.

Forma equiparada
O parágrafo único do artigo 303 trazia a forma equiparada de cometer o crime, consistente no uso do selo
ou peça filatélica reproduzidos ou falsificados para o fim de comércio. Exigia-se, portanto, elemento
subjetivo especial do tipo, consistente no intuito de comércio.
Houve sua revogação tácita pelo artigo 39, parágrafo único, da Lei 6.538/78, de seguinte teor:
Parágrafo único - Incorre nas mesmas penas, quem, para fins de comércio, faz uso de selo ou peça
filatélica de valor para coleção, ilegalmente reproduzidos ou alterados.

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Portanto, o uso de selo ou peça reproduzidos ou alterados, para fins de comércio, continua sendo fato típico,
sendo exigível, ainda, a finalidade comercial.

3.9- Uso de Documento Falso

O crime de uso de documento falso está previsto no artigo 304 do Código Penal:
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a
302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
O uso de documento falso é classificado como tipo remissivo, pois faz remissão a outros tipos penais para
a complementação do seu próprio tipo. A referência é feita aos artigos 297 a 302, que são alguns dos crimes
previstos no Capítulo III do Título X (Da Falsidade Documental). São os crimes de falsificação de documento
público, falsificação de documento particular (inclusive o de falsificação de cartão), de falsidade ideológica,
de falso reconhecimento de firma ou letra, de certidão ou atestado ideologicamente falso (incluída a
falsidade material de atestado ou certidão) e de falsidade de atestado médico.
O tipo penal tem como núcleo a conduta de fazer uso, que significa usar, utilizar. A conduta incriminada é
fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados referidos nos artigos 297 a 302 do Código Penal,
que tratam dos crimes acima elencados.
Cuida-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É crime doloso, não havendo
previsão de modalidade culposa. Também não há necessidade de elemento subjetivo especial do tipo.
É crime formal, consumando-se independentemente de qualquer resultado naturalístico. Constitui um
crime de forma livre. Há divergência sobre a possibilidade de tentativa do crime.
Para a configuração do delito, o Superior Tribunal de Justiça tem decidido que o documento usado deve ter
imitatio veri, isto é, ter potencial para enganar, como também defende a doutrina majoritária:
“(...) II - Com efeito, a doutrina e a jurisprudência majoritariamente, entendem que para a configuração
do tipo penal de uso de documento falso, a falsificação deve ser apta para iludir, enganar, ludibriar.
(...)” (STJ, HC 384567/SP, Rel. p/ acórdão Min. Félix Fischer, Quinta Turma, DJe 15/10/2018).
O Supremo Tribunal Federal entende não ser necessário o exame pericial no documento falso, se houver
elementos nos autos que demonstrem que o agente fez uso de tal documento, bem como que permitam a
conclusão sobre sua falsidade:
“(...) I – Este Tribunal já assentou o entendimento de que, para a caracterização do delito de uso de
documento falso, previsto no art. 304 do Código Penal, é despiciendo o exame pericial no documento
utilizado pelo agente, se os demais elementos de prova contidos dos autos evidenciarem a sua
falsidade. Precedentes. II – No caso sob exame, o próprio paciente confessou que adquiriu os
documentos falsos na Praça da Sé, em São Paulo, circunstância que foi corroborada pela prova
testemunhal produzida em juízo. III – Ambas as Turmas desta Corte já se pronunciaram no sentido de
que comete o delito tipificado no art. 307 do Código Penal aquele que, conduzido perante a
autoridade policial, atribui a si falsa identidade com o intuito de ocultar seus antecedentes,
entendimento que foi reafirmado pelo Plenário Virtual, ao apreciar o RE 640.139/DF, Rel. Min. Dias

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Toffoli. IV – Habeas corpus denegado.” (STF, HC 112176/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª
Turma, Julgamento: 14/08/12)
No mesmo sentido, o STJ já decidiu que o crime de uso de documento falso não depende exclusivamente
de prova pericial, podendo ser demonstrado por outros meios de prova:
“(...) 2. Em relação ao crime previsto no art. 304, do CP, este Superior Tribunal de Justiça possui
entendimento jurisprudencial no sentido de que, embora ausente laudo pericial atestando a falsidade
documental, o delito tipificado no mencionado dispositivo pode ser comprovado por outros
elementos probatórios existentes nos autos. Precedentes. (...)” (STJ, REsp 1688535/MG, Rel. Min.
Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 31/08/2018).
A Suprema Corte também já afastou a alegação de atipicidade da conduta no caso de uso de documento
falso com a finalidade de ocultar a situação irregular no país, por não ser tal fato abrangido pelo exercício
da autodefesa:
“HABEAS CORPUS. PENAL. USO DE DOCUMENTO FALSO. 1. ALEGADA ATIPICIDADE DA CONDUTA DE
USO DESSE DOCUMENTO COM A FINALIDADE DE OCULTAR SITUAÇÃO IRREGULAR NO PAÍS. NÃO HÁ
FALAR EM EXERCÍCIO DA AUTODEFESA. 2. CONDENAÇÃO POR TRÁFICO INTERNACIONAL DE
ENTORPECENTE EM RAZÃO DE FATO AUTÔNOMO DAQUELES QUE ENSEJARAM A CONDENAÇÃO PELO
USO DE DOCUMENTO FALSO. INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE PROVA
EM HABEAS CORPUS. 3. REITERAÇÃO DELITIVA CONSIDERADA NA PRIMEIRA E NA TERCEIRA FASE DA
DOSIMETRIA DA PENA. BIS IN IDEM CARACTERIZADO. 1. Alegação de atipicidade da conduta
imputada ao Paciente. Uso de documento falso com a finalidade de ocultar situação irregular no
país, que não caracteriza o exercício da autodefesa.(...)” (STF, HC 111706/SP, Rel. Min. Carmen Lúcia,
2ª Turma, Julgamento: 04/02/2012).
O STJ, no enunciado 546 da sua Súmula, já decidiu que a competência para julgar o crime de uso de
documento falso é definida em virtude da autoridade, entidade ou órgão ao qual foi apresentado. Assim,
conclui-se que o uso de documento falso perante a Justiça do Trabalho torna competente a Justiça Federal,
enquanto a apresentação de documento falso para a Secretaria Municipal de Saúde configura crime
estadual:
A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da
entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do
órgão expedidor.
Ademais, o STJ firmou o entendimento, em sua Súmula 200, de que é competente o Juízo Federal do local
em que se consumou o crime de uso de documento falso, consistente em passaporte:
O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o
do lugar onde o delito se consumou.
O STJ também considera ser o crime fomal, independendo de resultado naturalístico para a sua consumação:
Ademais "é pacífico o entendimento neste Superior Tribunal de Justiça de que, tratando-se de crime
formal, o delito tipificado no artigo 304 do Código Penal consuma-se com a utilização ou apresentação
do documento falso, não se exigindo a demonstração de efetivo prejuízo à fé pública nem a terceiros"
(AgInt no AREsp 1229949/RN, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado
em 06/03/2018, DJe 14/03/2018). (STJ, AgRg no AREsp 656601/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta
Turma, DJe 31/10/2018).

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Além disso, o STJ já decidiu tem decidido que, se praticados ambos os crimes pelo mesmo agente, o uso
deve ser absorvido pelo delito de falsificação de documento público ou privado, por se constituir em pós-
fato não punível:
1. A teor da jurisprudência desta Corte, o uso de documento falsificado (CP, art. 304) deve ser
absorvido pela falsificação do documento público ou privado (CP, arts. 297 e 298), quando praticado
pelo mesmo agente, caracterizando o delito de uso post factum não punível, ou seja, mero exaurimento
do crime de falso, não respondendo o falsário pelos dois crimes, em concurso material. (...)
(AgRg no RHC 112.730/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 03/03/2020,
DJe 10/03/2020)

3.10- Supressão de Documento

O crime de supressão de documento está previsto no artigo 305 do Código Penal, com os termos abaixo:
Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um a cinco anos,
e multa, se o documento é particular.
São núcleos do tipo: “destruir” (demolir, desmanchar, devastar), “suprimir” (extinguir, retirar) e “ocultar”
(encobrir, esconder, sonegar). A conduta típica é destruir, suprimir ou ocultar documento público ou
particular verdadeiro, de que não podia dispor.
O elemento subjetivo é dolo, exigindo-se, ainda, o elemento subjetivo especial do tipo consistente em agir
em benefício próprio ou de outrem ou em prejuízo alheio. O agente não pode ter a disponibilidade do
documento, caso contrário o fato será atípico.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, não dependendo de resultado
naturalístico para sua consumação. É instantâneo de efeitos permanentes. Por fim, admite a tentativa por
ser plurissubsistente.

4 - DE OUTRAS FALSIDADES
O Capítulo IV do Título X do Código Penal trata dos crimes reunidos sob a denominação “De Outras
Falsidades”, que são o de falsificação do sinal empregado no contraste de metal precioso ou na fiscalização
alfandegária, ou para outros fins; de falsa identidade; de fraude sobre lei sobre estrangeiro e de adulteração
de sinal identificador de veículo automotor.

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4.1- Falsificação do Sinal Empregado no Contraste de Metal Precioso ou na


Fiscalização Alfandegária, ou Para Outros Fins

O artigo 306 do Código Penal torna crime a falsificação de sinal empregado no contraste de metal precioso
ou na fiscalização alfandegária ou para outros fins:
Art. 306 - Falsificar, fabricando-o ou alterando-o, marca ou sinal empregado pelo poder público no
contraste de metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa natureza,
falsificado por outrem:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Parágrafo único - Se a marca ou sinal falsificado é o que usa a autoridade pública para o fim de
fiscalização sanitária, ou para autenticar ou encerrar determinados objetos, ou comprovar o
cumprimento de formalidade legal:
Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e multa.
Os núcleos do tipo são falsificar (adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e usar (utilizar,
fazer uso de). As condutas incriminadas são:
• falsificar, fabricando ou alterando, marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste de
metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou
• usar marca ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem.
A ação nuclear de falsificar pode ser praticada de uma das duas formas:
• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.
• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, não dependendo de resultado
naturalístico para sua consumação.
É doloso, sendo desnecessária qualquer finalidade específica por parte do agente para sua configuração. É
plurissubsistente, salvo na modalidade “usar”, a qual não admite a tentativa.

Forma privilegiada
O parágrafo único do artigo 306 prevê uma modalidade privilegiada do delito, em que a pena passa a ser
de reclusão ou detenção, de um a três anos, e multa. Incide essa modalidade se a marca ou sinal falsificado
for o que usa a autoridade pública para o fim de fiscalização sanitária, ou para autenticar ou encerrar
determinados objetos, ou comprovar o cumprimento de formalidade legal.

4.2- Falsa Identidade

O crime de falsa identidade tem como seus preceitos primário e secundário os seguintes:
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio
ou alheio, ou para causar dano a outrem:

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Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais
grave.
Atribuir é imputar. A conduta incriminada é atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter
vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. Exige-se, portanto, o elemento
subjetivo especial, que é a finalidade do agente de obter vantagem, para si ou para outrem, ou de causar
dano a outra pessoa.
O crime é comum, não exigindo qualidade específica do sujeito ativo. É formal, não exigindo a ocorrência
do resultado naturalístico para sua consumação. Cuida-se de delito de forma livre.
É subsidiário, pois há indicação expressa de que só se configura se não for elemento de crime mais grave. É
plurissubsistente, admitindo a tentativa, salvo na forma oral.
Depois de controvérsia na jurisprudência, o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que a
atribuição de falsa identidade perante a autoridade policial configura o crime do artigo 307 do Código Penal,
não estando abrangida pelo exercício regular do direito de defesa. Tal entendimento está consagrado no
enunciado 522:
A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação
de alegada autodefesa.
O Supremo Tribunal Federal possui precedente no mesmo sentido:
“CONSTITUCIONAL. PENAL. CRIME DE FALSA IDENTIDADE. ARTIGO 307 DO CÓDIGO PENAL.
ATRIBUIÇÃO DE FALSA INDENTIDADE PERANTE AUTORIDADE POLICIAL. ALEGAÇÃO DE AUTODEFESA.
ARTIGO 5º, INCISO LXIII, DA CONSTITUIÇÃO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL. CONFIRMAÇÃO DA
JURISPRUDÊNCIA DA CORTE NO SENTIDO DA IMPOSSIBILIDADE. TIPICIDADE DA CONDUTA
CONFIGURADA. O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança
aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus
antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente (art. 307 do CP). O tema possui
densidade constitucional e extrapola os limites subjetivos das partes. (STF, RE 640139 RG/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, Tribunal Pleno, Julgamento 22/09/2011).
O crime de falsa identidade se configura quando o agente busca se passar por outra pessoa sem
apresentação de um documento. Quando o agente se apresenta, com identidade diversa da sua, utilizando-
se de documento falso, o crime será o do artigo 304 do CP. Neste sentido:
Vejamos o crime que configura cada conduta em situações parecidas, envolvendo
identificação do agente:

Conduta Tipificação

O agente se passa por outra pessoa sem


Falsa identidade
apresentação de documento.

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O agente se passa por outra pessoa com


Uso de documento falso
apresentação de documento falso.

O agente se passa por outra pessoa usando o Artigo 308 (uso de documento de identidade
documento de identificação alheio. alheio)

O agente público deixa de se identificar ou se Crime de abuso de autoridade, desde que atue
identifica falsamente ao preso por ocasião de com a finalidade específica de prejudicar
sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro,
detenção ou prisão, ou ainda, como ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
responsável por interrogatório criminal, deixa pessoal.
de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo
falsa identidade, cargo ou função. (art. 16 da Lei n. 13.869/2019)

4.3- Uso de Documento de Identidade Alheio

Prevê o artigo 308 do Código Penal a criminalização do uso de documento de identidade alheio:
Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer
documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa
natureza, próprio ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui elemento de crime mais
grave.
Usar é utilizar, fazer uso de. Ceder é dar, transferir a posse a alguém. As condutas incriminadas são:
• Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento
de identidade alheia ou
• ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro.
Não há nomen iuris para este delito, sendo que a denominação aqui utilizada é doutrinária. O crime é
comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, consumando-se independentemente de
resultado naturalístico. É instantâneo, consumando-se em um dado instante determinado no tempo.
Se um indivíduo usa a cédula de identidade do seu irmão gêmeo, responderá por este
delito, por estar usando, como próprio, documento de identidade alheio. Pode ser, por
exemplo, que tenha antecedentes ou um mandado de prisão em aberto e usa o
documento do seu irmão para fugir da ação das autoridades.
Vale lembrar que esta conduta pode ser um meio para a prática de outro delito, quando
então poderá se configurar crime mais grave.
É de forma livre e doloso. É plurissubsistente na modalidade “ceder”, admitindo, neste caso, a tentativa. Na
forma de “usar”, a doutrina majoritária o considera unissubsistente, não sendo possível o fracionamento da
conduta e, por consequência, não se reconhecimento a modalidade tentada.

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4.4- Fraude de Lei Sobre Estrangeiro

O artigo 309 do Código Penal prevê o delito de fraude de lei sobre estrangeiro:
Art. 309 - Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o seu:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Atribuir a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território
nacional:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
No caput, tipifica-se a conduta do estrangeiro de usar, para entrar ou permanecer no território nacional,
nome que não é seu. Cuida-se de uma forma de atribuição de falsa identidade que somente pode ser
cometida pelo estrangeiro, devendo ele ter a finalidade de entrar ou permanecer no território nacional, o
que constitui elemento subjetivo especial do injusto.
Nesta forma, o crime é próprio, pois só pode praticá-lo o estrangeiro. Nesta modalidade, não se admite a
tentativa, pois a ação nuclear não pode ser fracionada. É doloso e formal.
No parágrafo único, o núcleo do tipo é atribuir (imputar). Tipifica-se a ação de atribuir a um estrangeiro
falsa qualidade com o fim de promover sua entrada em território nacional. Há, também, elemento subjetivo
especial. Ademais, tal modalidade é classificada como comum, por não exigir nenhuma qualidade específica
do sujeito ativo.
O crime é doloso, sem previsão de modalidade culposa. O crime é, ainda, doloso e formal. Há divergência
sobre a possibilidade de tentativa.

4.5- Fraude de Lei Sobre Propriedade por Estrangeiro

O crime de fraude de lei sobre propriedade por estrangeiro está previsto no artigo 310 do Código Penal:
Art. 310 - Prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a
estrangeiro, nos casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro é
atuar falsamente, é agir como “laranja” ou “testa de ferro”. Configura-se o crime se a conduta for praticada
nos casos em que é vedada por lei ao estrangeiro a posse ou a propriedade de referidos bens, o que leva a
concluir que o artigo 310 do CP é norma penal em branco.
Parte substancial da doutrina entende que o crime é próprio, pois só pode praticá-lo o detentor da
nacionalidade brasileira. É crime de forma livre. Seu elemento subjetivo é o dolo, sem previsão de finalidade
específica do agente para sua configuração.
É crime instantâneo. Classifica-se como plurissubsistente, por ser fracionável a conduta e admitir a tentativa.
É formal, não exigindo elemento subjetivo especial do tipo para sua configuração.

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4.6- Adulteração de Sinal de Veículo Automotor

O crime de adulteração de sinal de veículo automotor está tipificado no artigo 311 do Código Penal, da
seguinte forma:
Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo
automotor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é aumentada
de um terço.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro
do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação oficial.
Adulterar é falsificar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. Remarcar é inserir nova marca,
assinalar novamente. A conduta incriminada é adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal
identificar de veículo automotor, de seu componente ou equipamento.
Percebam que o tipo penal só se configura se o agente falsificar ou remarcar o veículo ou sua peça, não
havendo a previsão de criminalização, neste tipo penal, de quem usa ou compra o carro com a falsificação
ou remarcação. É importante a diferenciação, pois não se admite analogia in malam partem.
Ademais, não se configura o delito no caso de adulteração de sinal identificador de semirreboque (veículo
de carga independente sem tração própria), que, apesar de ter como finalidade ser acoplado a um veículo
automotor, com este não se confunde. O entendimento deve ser também aplicado aos casos de veículos
reboques:
“(...) 1. A conduta imputada aos Recorrentes é formalmente atípica, pois não se amolda à previsão
do art. 311, caput, do Código Penal, já que, nos termos do art. 96, inciso I, do Código de Trânsito
Brasileiro, existe diferença entre veículos automotores – previsto no tipo penal – e veículos
semirreboques, de modo que, em atenção ao princípio da legalidade, é de rigor o trancamento da ação
penal quanto ao delito em análise. (...)” (STJ, RHC 98.058/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Sexta Turma,
Julgamento em 24/09/2019).
Por outro lado, o crime se configura com a alteração das placas:
“A jurisprudência deste Superior Tribunal entende que a simples conduta de adulterar a placa de
veículo automotor é típica, enquadrando-se no delito descrito no art. 311 do Código Penal. Não se
exige que a conduta do agente seja dirigida a uma finalidade específica, basta que modifique qualquer
sinal identificador de veículo automotor” (STJ, AgRg no REsp 1834864/SP, Rel. Min. Sebastião de Reis
Júnior, Sexta Turma, Julgamento em 19/11/2019).
A alteração pode se dar, inclusive, por meio de colocação de fita adesiva, conforme posicionamento do STJ
(HC 369501/SC, Rel. Min Ribeiro Dantas, Quinta Turma, Julgamento em 05/10/2017).
O crime é doloso, não exigindo elemento subjetivo especial do tipo. Não há modalidade culposa. É material,
por exigir alteração no mundo exterior para a sua consumação. É comum, podendo ser praticado por
qualquer pessoa. Sendo fracionável a conduta, é plurissubsistente e admite a tentativa.

Forma majorada

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O parágrafo primeiro do artigo 311 prevê uma causa de aumento de pena de um terço. É cabível se o crime
for cometido por agente no exercício da função pública ou em razão dela. Neste caso, o crime é próprio.

Forma equiparada
O artigo 311, em seu parágrafo segundo, prevê incorrer nas mesmas penas o funcionário público que
contribui (auxilia, ajuda) para o licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo
(dando, entregando) indevidamente material ou informação oficial. Nesta modalidade, é crime próprio.

5 - DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO


O último capítulo do Título X da Parte Especial foi introduzido pela Lei 12.550 de 2011. Buscou trazer a
criminalização das fraudes em certames de interesse público, após vários escândalos de fraudes envolvendo
concursos públicos e vestibulares, inclusive com organizações especializadas na prática. Só houve a previsão
de um crime, o de fraudes em certames de interesse público.

5.1- Fraudes em Certames de Interesse Público

O crime de fraudes em certames de interesse público está previsto no artigo 311-A do Código Penal:
Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de
comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
I - concurso público;
II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não
autorizadas às informações mencionadas no caput.
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público.
Os núcleos do tipo são utilizar (usar, fazer uso de) e divulgar (propagar, difundir, transmitir). A conduta
incriminada é utilizar ou divulgar conteúdo sigiloso de certame de interesse público.
Exige-se o dolo, além do elemento subjetivo especial, que é a finalidade do agente de beneficiar a si ou a
outrem ou de comprometer a própria credibilidade do certame.
O objeto material, consistente no certame de interesse público, pode ser:

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• concurso público;
• avaliação ou exames públicos;
• processo seletivo para ingresso no ensino superior ou
• exame ou processo seletivo previstos em lei.
Abrange-se, portanto, uma ampla gama de certames de interesse público. Deve-se frisar que
a configuração do crime exige que o agente se utilize ou divulgue conteúdo sigiloso. Se ele,
por exemplo, repassar informações da prova ao candidato ao lado, sem ter tido acesso a
conteúdo sigiloso, não se configura a infração penal.
O crime é doloso, com exigência de intuito especial do agente. Não há modalidade culposa. É
formal, dispensando a obtenção da vantagem para a sua consumação, que, se ocorrer, será
mero exaurimento do crime. É plurissubsistente, admitindo o conatus.

Modalidade qualificada
O artigo 331-A do Código Penal, em seu parágrafo segundo, prevê a modalidade qualificada do crime de
fraudes em certame de interesse público. Cuida-se de crime agravado pelo resultado, configurando-se se da
conduta resultar dano à administração pública. A pena passa a ser de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e
multa.

Modalidade majorada
O parágrafo terceiro do artigo 311-A prevê a causa de aumento de pena de um terço no caso de o sujeito
ativo ser cometido por funcionário público.

O Supremo Tribunal Federal já consignou, antes da introdução do artigo 311-A no Código


Penal, que a conduta denominada de “cola eletrônica” era formalmente atípica:
“EMENTA: HABEAS CORPUS. "COLA ELETRÔNICA". ATIPICIDADE. TRANCAMENTO PARCIAL
DA AÇÃO PENAL CONTRA O PACIENTE. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do Inquérito 1145 (no qual fiquei vencido), reconheceu que a conduta
designada "cola eletrônica" é penalmente atípica. O que impõe o trancamento, no ponto,
da ação penal contra o paciente. Prosseguimento da ação penal, quanto a acusações de
outra natureza. Ordem parcialmente concedida..” (STF, HC 88697/AC, Rel. Min. Carlos Britto, 1ª Turma,
Julgamento 06/02/2007).
O Superior Tribunal de Justiça possuía entendimento semelhante:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. COLA ELETRÔNICA. CRIME DE ESTELIONATO. ATIPICIDADE.
INFORMATIVO Nº 0506/2012. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Nos termos do informativo nº
0506, Período: 4 a 17 de outubro de 2012, A "cola eletrônica", antes do advento da Lei n.
12.550/2011, era uma conduta atípica, não configurando o crime de estelionato. 2. Agravo regimental
improvido.” (STJ, AgRg no AResp 702915/DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª Turma, DJe 23/10/2007).
Atualmente, a “cola eletrônica” pode ou não ser fato típico, dependendo, por exemplo, de o sujeito
utilizar-se de conteúdo sigiloso. Caso contrário, não se configura o crime do artigo 311-A do CP.

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Junto com a introdução da nova figura típica, foi acrescentado ao artigo 47 do Código Penal o inciso V,
trazendo uma nova modalidade de pena de interdição temporária de direitos:
Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são:
(...)
V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.
Referida pena possui aplicação adequada para os casos de indivíduos condenados por fraudes em certames
públicos, impedindo que voltem a delinquir e que comprometam a lisura de tais procedimentos. A sua mera
inscrição no concurso, em datas próximas à do fato criminoso, pode comprometer a fé pública, trazendo a
desconfiança da população sobre a probidade e transparência do processo seletivo em sentido amplo.

Com a análise deste tipo, encerramos o estudo dos crimes contra a fé pública, bem como nossa aula.

QUESTÕES COMENTADAS
Q1. CESPE/Polícia Federal/Delegado de Polícia/2013
Item 40
A falsa atribuição de identidade só é caracterizada como delito de falsa identidade se feita oralmente,
com o poder de ludibriar; quando formulada por escrito, constitui crime de falsificação de documento
público.
o Certo
o Errado

Comentários
De início, vejamos o tipo penal da falsa identidade, previsto no artigo 307 do Código Penal:
Falsa identidade
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio
ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais
grave.
Verifica-se que o tipo penal não faz diferença entre a forma escrita e a forma oral.
O item está incorreto. O crime de falsa identidade pode ser praticado verbalmente ou por escrito.

Q2. FCC/MPE-CE/Promotor de Justiça/2009


O crime de uso de documento falso

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a) é de ação penal pública condicionada.


b) admite a suspensão condicional do processo se a falsificação for de documento particular.
c) admite tentativa, pois não se trata de crime instantâneo.
d) ocorre mesmo quando o agente é forçado pela autoridade a exibir o documento, segundo pacífico
entendimento jurisprudencial.
e) permite a transação na modalidade culposa.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. O crime de uso de documento falso é de ação penal pública incondicionada.
A alternativa B está correta. A pena cominada ao delito de uso de documento falso é a pena correspondente
à falsificação ou à alteração prevista nos artigos 297 a 302 do Código Penal. Se a falsificação for de
documento particular, a pena será de 1 (um) a 5 (cinco) anos de reclusão e multa, sendo assim, possível a
confecção de proposta de suspensão condicional do processo.
A alternativa C está incorreta. O crime é instantâneo. Quanto à possibilidade de tentativa, há divergência.
A alternativa D está incorreta. A configuração do crime de uso de documento falso ocorre quando o agente
é solicitado pela autoridade a exibir o documento ou quando o agente faz uso de forma espontânea. Qual
A alternativa E está incorreta. Não há previsão para a modalidade de natureza culposa.

Q3. FUNDEP/DPE-MG/Defensor Público/2014


O art. 288 do Código Penal, com a redação dada pela Lei nº 12.805/2013, define o crime de associação
criminosa como associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes.
A consumação de tal delito ocorrerá
a) quando o grupo iniciar suas atividades criminosas.
b) quando o grupo praticar ao menos dois delitos.
c) quando, independentemente da prática de qualquer crime é demonstrada apenas a pretensão de
habitualidade.
d) quando o grupo, realizando os atos preparatórios de um único fato criminoso, denota animus socii.
Comentários:
A alternativa C está correta. O delito se consuma no momento em que os agentes formam um grupo para
o fim de cometer crimes, não havendo necessidade de ser praticado qualquer crime em razão de tal
associação.

Q4. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2017


A conduta do acusado que, ao ser preso por prática de crime contra o patrimônio, se atribui falsa
identidade, constitui
a) contravenção penal relativa à recusa de fornecimento de dados à autoridade.

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b) fato atípico, porém antijurídico.


c) crime de falsa identidade.
d) fato impunível, pois tal conduta é amparada pelo exercício do direito de defesa.
e) circunstância agravante do crime de roubo.
Comentários:
A alternativa C está correta. O crime de falsa identidade configura-se quando agente atribui-se ou atribui a
terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem.

Q5. CESPE/TRF 2ª Região/Juiz Federal/2011


Márcio, maior, capaz, reincidente em crime doloso, comprou, na mercearia do bairro em que mora,
na cidade de São João de Meriti – RJ, gêneros alimentícios no montante de R$ 60,00, pagou as compras
com duas cédulas de R$ 50,00, cuja inaltenticidade era de seu pleno conhecimento, e recebeu o troco
em moeda nacional autêntica. No dia seguinte, arrependido de sua conduta pela repercussão que
poderia adquirir, procurou o proprietário da mercearia, Paulo, maior capaz e com ensino médio
completo, confessou o ocorrido, restituiu o troco e pagou integralmente, com dinheiro legal, as
mercadorias. Paulo chamou a polícia, que encontrou, no caixa da mercearia, apenas uma das cédulas
falsificadas, tendo sido ela apreendida. Márcio foi conduzido à delegacia, ocasião em que foram
encontrados em sua posse os seguintes petrechos destinados especificamente à falsificação de
moeda: duas matrizes metálicas e faixa magnética que imita o fio de segurança de cédulas autênticas.
A partir dessa situação hipotética, assinale a opção correta.
a) Paulo deve ser acusado da prática do delictum privilegiatum de reinserir em circulação moeda falsa,
classificado como de menor potencial ofensivo, ainda que alegue desconhecer norma legal proibitiva,
caso se comprove que ele, tendo recebido como verdadeira cédula falsa, portanto, de boa-fé, a tenha
restituído à circulação, após perceber sua inautenticidade, para evitar prejuízo a seu regular comércio.
b) Tendo sido o crime praticado sem violência ou grave ameaça a pessoa, com posterior reparação do
prejuízo sofrido pela vítima, e em face do comportamento voluntário do agente, anterior ao
oferecimento da denúncia, fica caracterizado o arrependimento eficaz, o que impõe a redução da pena
de um a dois terços.
c) Caso se demonstre, na instrução do processo, que Márcio é o autor da falsificação do dinheiro e
igualmente o responsável por sua circulação, ele deverá ser responsabilizado por concurso material,
em face da peculiaridade do tipo misto cumulativo que caracteriza o crime de moeda falsa.
d) No caso de moeda falsa, o CP estabelece a sanção na modalidade culposa, de maneira excepcional,
em duas circunstâncias: quando o agente tem ciência da falsidade da moeda e a guarda ou a tem em
depósito de forma culposa, ou quando, ciente da falsidade, igualmente de forma culposa, a restitui à
circulação.
e) O delito de posse de petrechos para falsificação de moeda, previsto em tipo próprio no CP como
ato preparatório, de perigo abstrato, deve ser punido de forma independente e autônoma em relação
ao crime de falsificação, posse e circulação da moeda.

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Comentários:
A alternativa A está correta. Incide a forma privilegiada se o agente, tendo recebido de boa-fé, como
verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação (repassar de novo ou retransmitir a outrem como
moeda verdadeira), depois de conhecer a falsidade. Neste caso, a pena é menor pois o agente não inicia a
conduta de introdução da moeda falsa em circulação, mas é vítima, em um primeiro momento, mas quer
evitar o prejuízo, optando por restituir a moeda à circulação, mesmo consciente de sua falsidade.
A alternativa B está incorreta. A alternativa trata do arrependimento posterior e não do arrependimento
eficaz. Assim, de acordo com o entendimento do STJ, os crimes contra a fé pública não são passíveis de
arrependimento posterior. Vejamos:
RECURSO ESPECIAL. MOEDA FALSA. DOSIMETRIA DA PENA. CONFISSÃO ESPONTÂNEA. DELAÇÃO
PREMIADA. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. No crime de moeda falsa - cuja consumação se dá com a falsificação da moeda, sendo irrelevante
eventual dano patrimonial imposto a terceiros - a vítima é a coletividade como um todo e o bem
jurídico tutelado é a fé pública, que não é passível de reparação.
2. Os crimes contra a fé pública, assim como nos demais crimes não patrimoniais em geral, são
incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de haver
reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída.
(...)
(REsp 1242294/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 18/11/2014, DJe 03/02/2015)
A alternativa C está incorreta. O tipo penal previsto no caput do art. 289 e sua forma equiparada prevista
no art. 289, § 1º, do Código Penal consiste em tipo misto alternativo, bastando o preenchimento de um dos
núcleos para que o crime esteja consumado. Desta forma, não há como configurar concurso material entre
as condutas.
A alternativa D está incorreta. Não há previsão de modalidade culposa para o crime de moeda falsa.
A alternativa E está incorreta. O delito de posse de petrechos para falsificação de moeda, previsto em tipo
próprio no CP como ato preparatório, de perigo abstrato, poderá ser absorvido pelo crime de falsificação,
posse e circulação da moeda.

Q6. VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito/2014


Assinale a opção verdadeira. No Direito brasileiro posto, é elemento do tipo penal da Associação
Criminosa:
a) Voltar-se à prática de delitos cuja pena máxima supera cinco anos.
b) Possuir ao menos três pessoas.
c) Estruturação hierarquizada, com divisão de tarefas entre os seus membros.
d) Possuir ao menos quatro pessoas.

Comentários

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A alternativa B está correta. São elementos típicos do crime de associação criminosa, a conduta de se
associarem três ou mais pessoas e o fim específico de cometer crimes.

Q7. FCC/DPE-AM/Defensor Público/2018


Comete o crime de
a) falsa identidade aquele faz uso de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) falsa para conduzir veículo
automotor.
b) falso testemunho aquele que imputa a outrem falsamente fato definido como crime.
c) uso de documento falso aquele que faz uso de documento particular falso.
d) falsidade de atestado médico aquele produz atestado falso se passando pela condição de médico.
e) falsificação de documento público aquele que insere em documento público declaração falsa com
o fim de prejudicar direito de terceiro.

Comentários
A alternativa A está incorreta. O agente que faz uso de CNH falsa para conduzir veículo automotor comete
o crime de uso de documento falso, previsto no art. 304 do Código Penal.
A alternativa B está incorreta. Comete o crime de calúnia, previsto no art. 138 do Código Penal, o agente
que imputa, falsamente, a outrem, fato definido como crime.
A alternativa C está correta. crime de uso de documento falso está previsto no artigo 304 do Código Penal:
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a
302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
O uso de documento falso é classificado como tipo remissivo, pois faz remissão a outros tipos penais para a
complementação do seu próprio tipo. A referência é feita aos artigos 297 a 302, que são alguns dos crimes
previstos no Capítulo III do Título X (Da Falsidade Documental). São os crimes de falsificação de documento
público, falsificação de documento particular (inclusive o de falsificação de cartão), de falsidade ideológica,
de falso reconhecimento de firma ou letra, de certidão ou atestado ideologicamente falso (incluída a
falsidade material de atestado ou certidão) e de falsidade de atestado médico.
A alternativa D está incorreta. Comete o crime de falsidade ideológica aquele que produz atestado falso se
passando pela condição de médico.
A alternativa E está incorreta. O agente que falsifica documento público inserindo nele declaração falsa com
o fim de prejudicar direito de terceiro comete o crime de falsidade ideológica previsto no art. 299 do Código
Penal.

Q8. FCC/DPE-AP/Defensor Público/2018


Sobre o crime de falsidade ideológica:

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a) É atípica, em tese, a conduta daquele que faz inserir, em documento público, declaração falsa acerca
do verdadeiro condutor de veículo envolvido em sinistro de trânsito uma vez que integrante do direito
à ampla defesa.
b) É necessária a realização de perícia, uma vez que, a exemplo do que ocorre com a falsidade
documental, a alteração é no conteúdo do documento.
c) O documento para fins de falsidade ideológica deve ser uma peça que tenha possibilidade de
produzir prova de um determinado fato, ainda que para tanto sejam necessárias outras verificações.
d) É crime material, como todo falso, não sendo suficiente para sua consumação a mera potencialidade
lesiva.
e) É atípica a conduta de fazer afirmações possivelmente falsas, em ação judicial, com base em
documentos também tidos por adulterados (instrumentos procuratórios com assinaturas falsas e
comprovantes de residência adulterados), uma vez que a Constituição Federal assegura a todos o
acesso à justiça.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. A conduta daquele que faz inserir, em documento público, declaração falsa
acerca do verdadeiro condutor de veículo envolvido em sinistro de trânsito configura crime de falsidade
ideológica.
A alternativa B está incorreta. É desnecessária a realização de perícia, pois, a falsidade é no conteúdo do
documento.
A alternativa C está incorreta. Neste caso, o documento deve ser considerado possível de produzir prova de
um determinado fato, sem necessidade de outras verificações.
A alternativa D está incorreta. O crime é formal, não dependendo do efetivo prejuízo a direito, da real
criação de obrigação nem da eficaz alteração da verdade para sua consumação.
A alternativa E está correta. Este é o entendimento firmado pelo STJ:
RECURSO EM HABEAS CORPUS. ADVOGADO. ESTELIONATO JUDICIAL. ATIPICIDADE. USO DE
DOCUMENTO FALSO. SUPORTE PROBATÓRIO MÍNIMO. PRISÃO PREVENTIVA. MATÉRIA PREJUDICADA.
RECURSO EM HABEAS CORPUS PARCIALMENTE PREJUDICADO E, NO MAIS, PROVIDO EM PARTE.
1. É atípica a conduta de fazer afirmações possivelmente falsas, em ação judicial, com base em
documentos também tidos por adulterados (instrumentos procuratórios com assinaturas falsas e
comprovantes de residência adulterados), haja vista que a Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXV,
assegura a todos o acesso à justiça. Eventual ilicitude de documentos que embasam o pedido judicial
são crimes autônomos, diversos do delito previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal.
(...)
(RHC 53.461/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 28/04/2015, DJe
07/05/2015)

Q9. VUNESP/Prefeitura de São José dos Campos SP/Procurador/2017

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A simples conduta de adulterar a placa de veículo automotor, com arrependimento posterior, tem
como bem jurídico tutelado a
a) identificação de veículo automotor.
b) fé pública.
c) idoneidade de documento público.
d) idoneidade de sinal público.
e) idoneidade particular.
Comentários
A alternativa B está correta. O crime de adulteração de sinal de veículo automotor está tipificado no artigo
311 do Código Penal, da seguinte forma:
Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo
automotor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é aumentada
de um terço.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro
do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação oficial.
Adulterar é falsificar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. Remarcar é inserir nova marca,
assinalar novamente. A conduta incriminada é adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal
identificar de veículo automotor, de seu componente ou equipamento. A fé pública é o bem juridicamente
protegido pelo tipo penal.

Q10. IBADE/PC-AC/Delegado de Polícia/2017


O crime de falsidade de atestado médico:
a) resta caracterizado quando uma pessoa adultera um atestado verdadeiro, a fim de ampliar seus
dias de afastamento do trabalho.
b) exige, em sua forma simples, especial fim de agir
c) além de exigir uma falsidade material, é classificado como crime comum.
d) é uma forma de falsidade ideológica, tipificado de forma autônoma devido à especialidade.
e) está arrolado entre os crimes contra a saúde pública.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. A conduta incriminada é dar atestado médico falso.
A alternativa B está incorreta. É doloso, não exigindo elemento subjetivo especial do tipo, que, se for o de
lucro, determina a cominação cumulativa da pena de multa.

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A alternativa C está incorreta. Só o médico, no exercício da sua profissão, pode cometer o crime, razão pela
qual ele é próprio.
A alternativa D está correta. O atestado fornecido pelo médico é um documento verdadeiro em sua forma,
mas o conteúdo é falso, sendo considerado, por isso, uma forma especial de falsidade ideológica.
A alternativa E está incorreta. O Capítulo III do Título X do Código Penal trata da falsidade documental e o
crime de falsidade de documento médico está arrolado entre os crimes contra a fé pública.

Q11. CESPE/PC-GO/Delegado de Polícia/2017


Durante a instrução de determinado processo judicial, foi comprovada falsificação da escrituração em
um dos livros comerciais de uma sociedade limitada, em decorrência da criação do chamado “caixa
dois”. A sentença proferida condenou pelo crime apenas o sócio com poderes de gerência.
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção correta.
a) A conduta praticada pelo sócio constitui crime falimentar.
b) Na situação, configura-se crime de falsificação de documento público.
c) Sendo o diário e o livro de registro de atas de assembleia livros obrigatórios da sociedade citada, a
referida falsificação pode ter ocorrido em qualquer um deles.
d) Em decorrência da condenação criminal, o sócio-gerente deverá ser excluído definitivamente da
sociedade.
e) O nome do condenado não pode ser excluído da firma social, que deve conter o nome de todos os
sócios, seguido da palavra “limitada”.
Comentários:
A alternativa B está correta. O parágrafo segundo do art. 297 do Código Penal torna mais abrangente o tipo
penal de falsificação de documento público, ao incluir como seu objeto material o documento emanado de
entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial,
os livros mercantis e o testamento particular. Vejamos:
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:
(...)
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal,
o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis
e o testamento particular.

Q12. FUNCAB/PC-PA/Delegado de Polícia/2016


Etevaldo, depois de ingressar na posse de uma carteira de habilitação pertencente a outrem,
aproveitando-se de sua semelhança fisionômica para com o titular do documento, adultera o nome
ali constante, substituindo-o pelo seu. Considerando que a adulteração não era perceptível ictu oculi
e que o autor pretendia utilizar o documento para conduzir irregularmente veículo automotor, é
correto afirmar que Etevaldo cometeu crime de:

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a) falsificação de documento público.


b) uso de documento de identidade alheia.
c) falsa identidade.
d) uso de documento falso, na forma tentada.
e) falsidade ideológica documento público.
Comentários:
A alternativa A está correta. A conduta típica do crime de falsificação de documento público é falsificar, no
todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro. Portanto, pune-se a
falsificação total ou parcial do documento público, assim como a modificação de um documento público
verdadeiro, autêntico. Neste crime ocorre a falsidade material, ou seja, a falsidade quanto à forma do
documento, ao contrário do que ocorre no crime de falsidade ideológica, que exige que a alteração seja
quanto ao conteúdo do documento.

Q13. TRT 4ª Região/TRT 4ª Região/Juiz do Trabalho/2016


Assinale a assertiva incorreta sobre crimes em espécie.
a) O empregador que anota dolosamente, na Carteira de Trabalho e Previdência Social de seu
empregado, data de admissão diversa da verdadeira, incorre nas penas previstas para o crime de
falsidade ideológica.
b) O dentista, o médico ou o psicólogo que, no exercício da profissão, dão atestado falso, incorrem
nas penas previstas para o crime de falsidade ideológica.
c) O trabalhador que utiliza o atestado falso, emitido por dentista, médico ou psicólogo, comete crime
de uso de documento falso.
d) O trabalhador que apresenta declaração de pobreza com informações falsas, para obtenção do
benefício da justiça gratuita, não comete crime de falsidade ideológica nem de uso de documento
falso.
e) O trabalhador que insere declaração falsa, em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, para
fazer prova, para fins de aposentadoria, incorre nas penas previstas para o crime de falsificação de
documento público.
Comentários:
A alternativa A foi considerada correta. Entretanto, é discutível se o caso não seria de falsificação de
documento público. Apesar de no RHC 23592/SP, ser mencionado o crime do artigo 299 do CP, parece
prevalecer a norma especial, consistente no artigo 297, § 3º, II, do CP. Ocorre que Masson (Direito Penal,
Parte Especial, vol. 3, 9ª edição, p. 450) e Sanches Cunha (Manual de Direito Penal, Parte Especial, 12ª
edição, p. 297) fazem referência apenas aos valores das anotações para a configuração do crime. Não se
pode, entretanto, causar tal restrição, já que a data de admissão e de demissão do empregado também são
relevantes para a finalidade de obtenção de benefícios previdenciários.
A alternativa B está incorreta e é o gabarito da questão. O artigo 302 do Código Penal prevê o crime de
falsidade de atestado médico, com os seguintes termos:

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Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:


Pena - detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
A conduta incriminada é dar atestado médico falso. Dar atestado é entregar ou fornecer atestado falso, ou
seja, documento médico com informações falsas. Só o médico, no exercício da sua profissão, pode cometer
o crime, razão pela qual ele é próprio.
A alternativa C está correta, já que o tipo do uso de documento falso faz expressa referência ao uso do
papel referido no artigo 302 do CP (falsidade de atestado médico).
A alternativa D está correta, já que a jurisprudência considera que se trata de mera declaração, sujeita a
verificação posterior.
A alternativa E está correta, já que a conduta se enquadra no artigo 297, § 3º, II, do CP.

Q14. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2016


Segundo o Código Penal, o crime intitulado fraudes em certames de interesse público, atentatório
contra a administração pública, consiste na conduta de utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim
de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de
concurso público; avaliação ou exame públicos; processo seletivo para ingresso no ensino superior;
ou, exame ou processo seletivo previstos em lei. Comete a mesma infração penal quem permite ou
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas acima.
o Certo
o Errado
Comentários
A assertiva está errada. Primeiramente, o crime intitulado fraudes em certames de interesse público atenta
contra a Fé Pública. Em segundo lugar, incorre na mesma pena, e não comete a mesma infração penal, quem
permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas
no caput do art. 311-A do Código Penal.

Q15. TRT 2ª Região/TRT 2ª Região/Juiz do Trabalho/2016


Segundo a tipologia especificamente adotada pelo Código Penal, quem omite, na folha de pagamento
ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, nome
do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação
de serviços, incorre nas penas correspondentes ao crime de:
a) Atentado contra a liberdade de trabalho.
b) Apropriação indébita previdenciária.
c) Falsificação de documento público.
d) Falsificação de documento particular.

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e) Redução a condição análoga à de escravo.


Comentários
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. O artigo 297, em seu parágrafo terceiro, prevê as
formas equiparadas, determinando a mesma sanção penal para quem insere ou faz inserir:
• na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante
a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
• na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir
efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
• em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da
empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
O parágrafo quarto do artigo 297, por sua vez, prevê incorrer nas mesmas penas incorre quem omite, nos
documentos acima elencados, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do
contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

Q16. CAIP-IMES/DAE de São Caetano do Sul - SP/Procurador Judicial/2015


É sabido, nos termos do artigo 291 do Código Penal que a pena prevista por fabricar, adquirir, fornecer,
a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer
objeto especialmente destinado à falsificação de moeda, é de:
a) reclusão, de dois a seis anos, e multa.
b) detenção, de um a seis anos, e multa.
c) reclusão, de um a seis anos, e multa.
d) detenção, de dois a seis anos, e multa.
Comentários
O crime de petrechos para falsificação de moeda está tipificado no artigo 291 do Código Penal:
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Portanto, a alternativa A está correta.

Q17. FCC/TJ-PI/Juiz de Direito/2015


Segundo a nova redação do art. 288 do Código Penal, conferida pela Lei n° 12.850/13, o crime de
associação criminosa
a) deve ter a pena aumentada até o dobro, se houver a participação de criança ou adolescente.
b) consiste na associação de mais de três pessoas para o fim específico de cometer crimes.

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c) deve ter a pena aumentada até a metade, se houver a participação de criança ou adolescente, não
retroagindo tal disposição.
d) conduz à aplicação da pena em dobro, se a associação é armada.
e) deve ter a pena aumentada até a metade, se a associação é armada, não retroagindo tal disposição.
Comentários:
A alternativa C é o gabarito. O crime de associação criminosa está previsto no artigo 288 do Código Penal:
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a
participação de criança ou adolescente.
Como se vê, o parágrafo único do artigo 288 prevê que a pena deve ser aumentada até a metade se a
associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.

Q18. FCC/TRT 15ª Região/Juiz do Trabalho/2015


Segundo disposição expressa da lei penal, quem insere na folha de pagamento, ou em documento de
informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a
qualidade de segurado obrigatório incorre nas penas cominadas ao delito de
a) sonegação de contribuição previdenciária.
b) falsificação de documento público.
c) uso de documento falso.
d) falsificação de documento particular.
e) falsidade ideológica.
Comentários:
A alternativa B está correta. O artigo 297, em seu parágrafo terceiro, prevê as formas equiparadas do delito
de falsificação de documento público, determinando a mesma sanção penal para quem insere ou faz inserir:
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante
a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir
efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da
empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.

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§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do segurado
e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.
O parágrafo quarto do artigo 297, por sua vez, prevê incorrer nas mesmas penas incorre quem omite, nos
documentos acima elencados, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do
contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

Q19. CESPE/TJ-PB/Juiz de Direito/2015


Gustavo, funcionário público estadual, com o objetivo de obter vantagem patrimonial ilícita para si,
utilizou papel-moeda grosseiramente falsificado para efetuar pagamento de compras de alto valor em
um supermercado.
Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correspondente à figura típica do delito praticado
por Gustavo.
a) estelionato
b) moeda falsa
c) crime assimilado ao de moeda falsa
d) fraude no comércio
e) concussão
Comentários
Para a configuração do crime de moeda falsa, é imprescindível que a falsificação seja capaz de enganar, ou
seja, de fazer a moeda falsa se passar por verdadeira. O material falsificado deve apresentar imitativo veri,
ou seja, ter a aparência da moeda verdadeira, sob pena de não se configurar o crime do artigo 289 do Código
Penal. Entretanto, caso a falsificação seja grosseira, é possível que a conduta do agente, se ele buscar uma
vantagem indevida, configura o crime de estelionato, tal qual consigna o enunciado número 73 do STJ:
A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da
competência da Justiça Estadual.
Logo, a alternativa A está correta.

Q20. CAIP-IMES/Prefeitura de Rio Grande da Serra – SP/Procurador/ 2015


Configura crime de uso de documento falso, fazer uso de:
a) selo público falsificado destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município.
b) atestado médico falso.
c) sinal falsificado atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade.
d) sinal falsificado público de tabelião.
Comentários:

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O uso de documento falso é classificado como tipo remissivo, pois faz remissão a outros tipos penais para a
complementação do seu próprio tipo. A referência é feita aos artigos 297 a 302, que são alguns dos crimes
previstos no Capítulo III do Título X (Da Falsidade Documental). São os crimes de falsificação de documento
público, falsificação de documento particular (inclusive o de falsificação de cartão), de falsidade ideológica,
de falso reconhecimento de firma ou letra, de certidão ou atestado ideologicamente falso (incluída a
falsidade material de atestado ou certidão) e de falsidade de atestado médico. Portanto, a alternativa B
está correta.

Q21. FCC/TCM-RJ/Procurador da Procuradoria Especial/2015


Quanto ao crime de uso de documento de identidade alheia como próprio, é INCORRETO afirmar que
a) a carteira profissional pode ser objeto material do delito.
b) não se exige que o uso tenha por finalidade a obtenção de vantagem.
c) a consumação ocorre com o uso de documento de identidade alheia.
d) não é necessário que o uso tenha por objetivo causar dano a outrem.
e) na forma culposa é necessário que agente tenha consciência de que o uso é ilícito.
Comentários:
A alternativa E está incorreta. Os crimes contra a fé pública não admitem modalidade culposa.

Q22. CAIP-IMES/Consórcio Intermunicipal Grande ABC SP/ Procurador/2015


Incorre nas mesmas penas do crime de falsificação de documento público:
a) quem usa, guarda, possui ou detém bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte
administrada pela União, por Estado ou por Município.
b) quem insere ou faz inserir em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante
a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório.
c) quem importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à
circulação selo falsificado destinado a controle tributário.
d) quem utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial, produto ou
mercadoria sem selo oficial, nos casos em que a legislação determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.
Comentários:
A alternativa B está correta. O artigo 297 do Código Penal, em seu parágrafo terceiro, prevê as formas
equiparadas:
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:
§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante
a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;

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II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir


efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da
empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.

Q23. FCC /TJ-GO/Juiz de Direito/2015


Falsificar cartão de crédito ou débito é
a) conduta atípica.
b) crime de falsificação de documento particular.
c) crime de falsa identidade.
d) crime de falsidade ideológica.
e) crime de falsificação de documento público, por equiparação.
Comentários:
A alternativa B está correta. O parágrafo único do artigo 298 estende a abrangência do caput, ao incluir
como seu objeto material o cartão de crédito ou débito, dando a essa figura um nomen iuris diverso, o de
falsificação de cartão:
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de
crédito ou débito.
O cartão, ainda que não seja um documento, é a ele equiparado para fins da proteção penal.

Q24. CESPE/DPU/Defensor Público Federal/2015


Em relação aos crimes contra a fé pública, aos crimes contra a administração pública, aos crimes de
tortura e aos crimes contra o meio ambiente, julgue o item a seguir.
Praticará o crime de falsidade ideológica aquele que, quando do preenchimento de cadastro público,
nele inserir declaração diversa da que deveria, ainda que não tenha o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.
o Certo
o Errado
Comentários:
A assertiva está errada. As condutas típicas centrais do crime de falsidade ideológica centrais são “omitir
declaração”, ou seja, não declarar, deixar de fazer a declaração; “inserir”, ou seja, gravar, introduzir, apor; e
“fazer inserir”, o agente leva outrem a inserir, faz com que outra pessoa introduza o conteúdo indevido.
Todas as modalidades exigem o elemento subjetivo especial do injusto, consistente no intuito do agente de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. A assertiva erra
ao determinar que praticará o crime aquele que, quando do preenchimento de cadastro público, nele inserir

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declaração diversa da que deveria, ainda que não tenha o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar
a verdade sobre fato juridicamente relevante, contrariando o que está disposto no art. 299 do Código Penal.

Q25. VUNESP/Prefeitura de Caieiras - SP/Procurador/2015


João, responsável pela emissão de certidões em determinada repartição pública, a fim de ajudar seu
amigo José, que concorre a um cargo público, emite certidão falsa, atestando que ele desenvolveu
determinados projetos profissionais para a Administração Pública. Sobre a conduta de João, pode-se
afirmar que cometeu o crime de
a) falsidade ideológica, previsto no artigo 299 do Código Penal, ao inserir declaração falsa em
documento público.
b) falsificação de documento particular, previsto no artigo 298 do Código Penal, pois o documento se
destinava para uso particular e para fins particulares.
c) certidão materialmente falsa, previsto no parágrafo 1 o , do artigo 301 do Código Penal.
d) falsificação de documento público, previsto no artigo 297 do Código Penal: “falsificar, no todo ou
em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro”.
e) certidão ideologicamente falsa, previsto no artigo 301 do Código Penal.
Comentários
A alternativa E está correta. João praticou o crime e de certidão ou atestado ideologicamente falso, pois, o
documento emitido é materialmente verdadeiro, mas seu conteúdo é ideologicamente falso. A conduta
típica do crime é atestar ou certificar falsamente fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo
público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público ou qualquer outra vantagem.

Q26. Instituto Acesso/PC-ES/Delegado/2019


João Carlos, 30 anos, brasileiro, com residência transitória na Argentina, aproveitando-se da aquisição
de material descartado por uma indústria gráfica falida, passou a fabricar moeda brasileira em
território argentino. Para garantir a diversidade da moeda falsificada, João imprimia notas de 50 e de
100 reais. Ao entrar em território brasileiro João foi revistado por policiais que encontraram as notas
falsificas em meio a sua bagagem. João foi acusado da prática do crime previsto no artigo 289 do
Código Penal.

De acordo com as teorias que informam a aplicação da lei penal no espaço, é correto dizer que, nesse
caso, cabe a aplicação:

a) Da lei argentina, em atenção à regra da territorialidade, uma vez que o crime fora praticado na
Argentina.
b) Incondicionada da lei brasileira, uma vez que o crime cometido atenta contra a fé pública.
c) Da lógica da extraterritorialidade, já que o fato ocorreu em território argentino.
d) Condicionada da lei brasileira, pelo fato de a conduta ter sido cometida em território argentino.

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Condicionada da lei brasileira, já que a conduta integra dois ordenamentos jurídicos.


Comentários

Cabe a aplicação incondicionada a lei brasileira. Isto porque o crime de moeda falsa é um crime contra a fé
pública, incidindo o artigo 7º, I, b, do CP:
Art. 7º – Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I – os crimes:
(…)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
Poder Público;
(…)
§ 1º – Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro
Referidos dispositivos tratam da extraterritorialidade incondicionada. Assim, é correta a alternativa B.

Entretanto, a alternativa C, a meu ver, enseja o cabimento de recurso, já que fala sobre a aplicação da lógica
da extraterritorialidade, o que está correto, a grosso modo. Será um caso de extraterritorialidade. Ademais,
o fato ocorreu em território argentino (a contrafação), apesar de a importação ter ocorrido em território
brasileiro.

Q27. VUENSP/TJ-SP/Juiz de Direito/2018


Assinale a alternativa correta quanto aos crimes contra a fé pública.

(A) Há concurso material de crimes quando o falsificador posteriormente usa o documento falsificado
que se esgota nessa conduta.
(B) O crime de falsidade material se consubstancia na alteração do conteúdo de documento, ainda
que parcial, omitindo declaração que dele devia constar, ou nele inserindo ou fazendo inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita.
(C) Para efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o
título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis
e o testamento particular.
(D) Atribuir-se falsa identidade perante a autoridade policial em autodefesa, uma vez que procurado
pela justiça, não constitui crime, aplicando-se o princípio da dignidade da pessoa humana.

Comentários:

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A alternativa A: errada. Neste caso, há absorção, conforme a seguinte tese do STJ firmada em recurso
repetitivo:

“RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. RITO PREVISTO NO ART. 543-C DO CPC.


DIREITO PENAL. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. DESCAMINHO. USO DE DOCUMENTO FALSO. CRIME-
MEIO. ABSORÇÃO. POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. 1. Recurso especial processado
sob o rito do art. 543-C, § 2º, do CPC e da Resolução n. 8/2008 do STJ. 2. O delito de uso de documento
falso, cuja pena em abstrato é mais grave, pode ser absorvido pelo crime-fim de descaminho, com
menor pena comparativamente cominada, desde que etapa preparatória ou executória deste, onde se
exaure sua potencialidade lesiva. Precedentes. 3. Delimitada a tese jurídica para os fins do art. 543-C
do CPC, nos seguintes termos: Quando o falso se exaure no descaminho, sem mais potencialidade
lesiva, é por este absorvido, como crime-fim, condição que não se altera por ser menor a pena a este
cominada 4. Recurso especial improvido.” (REsp 1378053/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 10/08/2016, DJe 15/08/2016).

A alternativa B: errada. A descrição é do crime de falsidade ideológica, e não de falsidade material. O crime
de falsificação ideológica está tipificado, no Código Penal, no seu artigo 299, nos seguintes termos:

Art. 299 – Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos,
e multa, se o documento é particular.

Parágrafo único – Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se


a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

A alternativa C: correta. O parágrafo segundo do art. 297 do Código Penal torna mais abrangente o tipo
penal de falsificação de documento público, ao incluir como seu objeto material o documento emanado de
entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial,
os livros mercantis e o testamento particular. Vejamos:

Art. 297 – Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:
(…)
2º – Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o
título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis
e o testamento particular.

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A alternativa D: errada. Há sim crime no caso mencionado, conforme entendimento do Supremo Tribunal
Federal:

“(…) III – Ambas as Turmas desta Corte já se pronunciaram no sentido de que comete o delito tipificado
no art. 307 do Código Penal aquele que, conduzido perante a autoridade policial, atribui a si falsa
identidade com o intuito de ocultar seus antecedentes, entendimento que foi reafirmado pelo Plenário
Virtual, ao apreciar o RE 640.139/DF, Rel. Min. Dias Toffoli. IV – Habeas corpus denegado.” (STF, HC
112176/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, Julgamento: 14/08/12)

Q28. Instituto Acesso/PC-ES/Delegado/2019


No dia 09/07/2017, Henrique foi parado em uma fiscalização da Operação Lei Seca. Após solicitar a
Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de Henrique, o policial militar que participava da operação
suspeitou do documento apresentado. Procedeu então à verificação na base de dados do DETRAN e
confirmou a suspeita, não encontrando o número de registro que constava na CNH, embora as demais
informações (nome e CPF) a respeito de Henrique, estivessem corretas. Questionado pelo policial,
Henrique confessou que havia adquirido o documento com Marcos, seu vizinho, que atuava como
despachante, tendo pago R$ 2.000,00 pelo documento. Afirmou ainda que sequer havia feito prova
no DETRAN. Acrescente-se que, durante a instrução criminal, ficou comprovado que, de fato, Henrique
obteve o documento de Marcos, sendo este o autor da contrafação. Além disso, foi verificado por
meio de perícia judicial que, no estado em que se encontra o documento, e em face de sua aparência,
pode iludir terceiros como se documento idôneo fosse. Logo, pode-se afirmar que a conduta de
Henrique se amolda ao crime de:

a) Falsa identidade, previsto no art. 307 do Código Penal.


b) Falsificação de documento particular, previsto no art. 209 do Código Penal.
c) Falsificação de documento público, previsto no art. 297 do Código Penal.
d) Falsidade ideológica, previsto no caput do art. 299 do Código Penal.
e) Uso de documento falso, previsto no art. 304 do Código Penal.

Comentários

A falsificação do documento absorve o uso. No caso, o agente sequer se atribuiu identidade falsa. O que
ele fez foi usar documento que tinha potencial de iludir terceiros, como se idôneo fosse. Logo, falsificação
de documento público, já que ele participou do crime (levou o terceiro a falsificar mediante pagamento
de dinheiro).

Não se trata de falsidade ideológica, que haveria se o documento fosse verdadeiro, mas com inserção de
informações falsas. Assim, é correta a alternativa C.

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O gabarito oficial apontou a letra E. Entendo que cabe recurso. Alguém que manda matar responde pelo
homicídio. Quem manda falsificar um documento (o documento em si foi contrafeito), responde também
pela falsificação da CNH, um documento público. O uso é absorvido como apontam o doutrinador Cezar
Bitencourt e a jurisprudência:
ABSORÇÃO DO CRIME DE USO DO DOCUMENTO FALSO PELO DELITO DE FALSIFICAÇÃO DE
DOCUMENTO PÚBLICO. MATÉRIA NÃO ANALISADA PELA CORTE DE ORIGEM. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. 1. A alegada absorção do delito de uso de documento falso pelo de falsificação não foi
alvo de deliberação pela Corte de origem no acórdão impugnado, circunstância que impede qualquer
manifestação deste Sodalício sobre o tópico, sob pena de se configurar a prestação jurisdicional em
indevida supressão de instância. (...)
(AgRg nos EDcl no RHC 128.342/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
04/08/2020, DJe 25/08/2020)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. FALSIFICAÇÃO E USO DE DOCUMENTO


FALSO. DELITO DE USO POST FACTUM NÃO PUNÍVEL. ABSORÇÃO. PERMANÊNCIA DA AÇÃO PENAL
SOMENTE COM RELAÇÃO AO DELITO DO ART. 298 DO CÓDIGO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. A teor da jurisprudência desta Corte, o uso de documento falsificado (CP, art. 304) deve ser
absorvido pela falsificação do documento público ou privado (CP, arts. 297 e 298), quando praticado
pelo mesmo agente, caracterizando o delito de uso post factum não punível, ou seja, mero
exaurimento do crime de falso, não respondendo o falsário pelos dois crimes, em concurso material.
(...)
(AgRg no RHC 112.730/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 03/03/2020,
DJe 10/03/2020)

Q29. FUNDEP/Defensor Público/2019


Leila, menor de 21 anos de idade, foi denunciada pela prática do delito de falsificação de documento
público, previsto no art. 297, caput, por três vezes, na forma do art. 69, ambos do CP, tendo o Juiz
convertido a prisão em flagrante em preventiva, não obstante a documentação juntada pela defesa,
comprovando que Leila tem uma filha de 2 anos de idade, que está sob sua guarda. Recebida a
denúncia e processado o feito, 10 meses após a prisão da ré foi realizada audiência de instrução,
debates e julgamento, tendo Leila sido condenada à pena mínima para cada delito, em razão de sua
primariedade, seus bons antecedentes, bom comportamento carcerário e do fato de não fazer parte
de organização criminosa. Todavia, em razão do reconhecimento do concurso material, a pena final
foi fixada em 6 anos de reclusão. A respeito do regime inicial de cumprimento de pena cabível no caso,

a) De acordo com o entendimento majoritário do Superior Tribunal de Justiça, quando as condições


pessoais do réu foram favoráveis e a pena base tiver sido fixada no mínimo legal, é cabível regime
inicial aberto, ainda que a sanção aplicada seja superior a 4 anos, com base no princípio da
individualização da pena.

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b) Considerando que a pena aplicada é superior a 4 anos e não excede a 8 anos, bem como que a ré
é primária e de bons antecedentes, é cabível o regime inicial semiaberto, não sendo possível
aplicar a detração, porque a ré não cumpriu o lapso temporal de 1/6 (um sexto) necessário à
progressão do regime.
c) De acordo com o entendimento consolidado do Supremo Tribunal Federal, a mulher gestante ou
com filho de até 12 anos de idade incompletos, ainda que condenada à pena superior a quatro
anos, tem direito ao regime inicial aberto, desde que o crime tenha sido praticado sem violência
ou grave ameaça à pessoa e que não integre organização criminosa.
d) Considerando que a pena aplicada é superior a 4 anos e não excede 8 anos, bem como que a ré é
primária e de bons antecedentes, seria cabível o regime inicial semiaberto, podendo o juiz fixar,
de imediato, o regime aberto, uma vez que a ré já cumpriu o lapso temporal de 1/8 (um oitavo)
necessário à progressão de regime.
e) Considerando que a pena aplicada é superior a 4 anos e não excede 8 anos, bem como que a ré é
primária e de bons antecedentes, é cabível o regime inicial semiaberto, não sendo possível aplicar
a detração, porque a ré não cumpriu o lapso temporal de 1/3 (um terço) necessário à progressão
de regime.

Comentários:

A alternativa A é incorreta. Ainda que as circunstâncias judiciais sejam favoráveis, o STJ não admite o
início do cumprimento de pena no regime aberto se a condenação for superior a 4 (quatro) anos.

Está incorreta a alternativa B porque Leila poderá progredir de regime, sendo que cumpriu 1/8 da pena
exigido para a progressão para regime menos gravoso. Entretanto, não se trata de não cabimento de
detração, que não possui requisito consistente em cumprimento de parte da pena. A detração é cabível,
já que houve prisão provisória.

Outrossim, é incorreta a alternativa C porque a mulher iniciaria o cumprimento de sua pena (superior a
4 anos e inferior a 8 anos) no regime semiaberto e, após cumprimento de 1/8 da mesma e observância
dos requisitos do art. 112, § 3º da LEP, passaria ao regime aberto.

Considerando que a ré já cumpriu 10 meses de sua pena e reúne os seguintes requisitos: não cometeu
crime com violência ou grave ameaça a pessoa; não cometeu crime contra seu filho ou dependente;
cumpriu pelo menos 1/8 da pena no regime anterior; é primária e teve bom comportamento carcerário;
não integra organização criminosa, faz jus à progressão de regime. Logo, com a sua condenação e
detração do período já cumprido, poderá iniciar o cumprimento de sua pena em regime aberto, por isso
que é correta a alternativa D.

O requisito temporal é exigido para a progressão, e não para detração. Isto posto, é incorreta a
alternativa E.

Q30. CESPE/Delegado de Polícia Federal/2018

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A falsa atribuição de identidade só é caracterizada como delito de falsa identidade se feita oralmente,
com o poder de ludibriar; quando formulada por escrito, constitui crime de falsificação de documento
público.

Comentários:

De início, vejamos o tipo penal da falsa identidade, previsto no artigo 307 do Código Penal:

Falsa identidade
Art. 307 – Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio
ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais
grave.

Verifica-se que o tipo penal não faz diferença entre a forma escrita e a forma oral.

O item está incorreto. O crime de falsa identidade pode ser praticado verbalmente ou por escrito.

Q31. CESPE/TJPA/Juiz Substituto/2019


Fernando, imputável, cumpria pena de sete anos de reclusão em regime semiaberto. Em 15/02/2019,
foi autorizado a realizar trabalho externo. Em 16/02/2019, ele saiu do estabelecimento penitenciário
para o trabalho externo, mas não mais retornou. Por essa razão, foi expedido mandado de prisão
contra ele. Abordado por policiais em um bar, Fernando identificou-se como Domingos. Ele foi
encaminhado à delegacia e lá novamente se identificou como Domingos. A verdadeira identidade de
Fernando foi descoberta somente dois dias depois. Ouvido como investigado, Fernando disse que
tinha adotado o nome Domingos porque sabia que contra ele havia mandado de prisão expedido.
De acordo com a jurisprudência do STJ, quando se identificou como Domingos, Fernando
(A) Praticou o crime de fraude processual, embora tenha alegado situação de autodefesa.
(B) Praticou o crime de falsidade ideológica, embora tenha alegado situação de autodefesa.
(C) Não praticou qualquer crime, uma vez que estava em situação de autodefesa.
(D) Praticou o crime de falsa identidade, embora tenha alegado situação de autodefesa.
(E) Praticou o crime de falso testemunho, embora tenha alegado situação de auto defesa.
Comentários:
O Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que a atribuição de falsa identidade perante
a autoridade policial configura o crime do artigo 307 do Código Penal, não estando abrangida pelo
exercício regular do direito de defesa. Tal entendimento está consagrado no enunciado 522:
A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação
de alegada autodefesa.

Por isso, está correta a alternativa D.

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Q32. FCC /TJ-AL/Juiz de Direito/2019


Quanto aos crimes contra a fé pública,
a) compete à Justiça Estadual comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de falsificação
e de uso de documento público falso quando se tratar de Carteira de Habilitação de Amador, ainda
que expedida pela Marinha do Brasil.
b) há sempre concurso entre os crimes de falsificação de documento público e estelionato, segundo
entendimento do sumulado do Superior Tribunal de Justiça.
c) configura crime de falsificação de documento particular o ato de falsificar, no todo ou em parte,
testamento particular, duplicata e cartão bancário de crédito ou débito.
d) atípica a conduta de, em situação de autodefesa, atribuir-se falsa identidade perante autoridade
policial.
e) inadmissível proposta de suspensão condicional do processo no crime de falsidade ideológica de
assentamento de registro civil.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. De acordo com a Súmula Vinculante nº 36, a competência, neste caso, é da
Justiça Federal:
Súmula Vinculante 36 - Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos
crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta
de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas
pela Marinha do Brasil.
Para alguns, o entendimento hoje estaria superado.
A alternativa B está incorreta. Conforme Súmula nº 17 do STJ, se o falso se exaure o estelionato, o crime é
por este absorvido. Vejamos:
Súmula 17 - Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido.
A alternativa C está incorreta. De acordo com o parágrafo único do artigo 298, o cartão, ainda que não seja
um documento particular, é a ele equiparado para fins da proteção penal:
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de
crédito ou débito.
Enquanto, o testamento particular e a duplicata são equiparados a documento público:
Art. 297 (...)
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade
paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial,
os livros mercantis e o testamento particular.
A alternativa D está incorreta. De acordo com o enunciado da Súmula nº 522 do STJ, a conduta narrada é
típica:
Súmula nº 522 - A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica,
ainda que em situação de alegada autodefesa.

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A alternativa E está correta. Com o aumento da pena previsto no parágrafo único do art. 299 do Código
Penal, a pena mínima seria maior de um ano, o que impossibilitaria a concessão da suspensão condicional
do processo:
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três
anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta
parte.

Q33. VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito/2015


Segundo a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa correta.
a) O tempo de duração da medida de segurança pode ultrapassar o máximo da pena abstratamente
cominada ao delito praticado.
b) A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é atípica, ainda que em
situação de alegada autodefesa.
c) É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento
em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.
d) É admissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante de roubo.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. A Súmula nº 527 do STJ prevê o contrário:
Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite
máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.
A alternativa B está incorreta. Conforme enunciado da Súmula nº 522 do STJ, a conduta narrada é típica:
Súmula nº 522 - A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica,
ainda que em situação de alegada autodefesa.
A alternativa C está correta. A Súmula 438 do STJ aponta que:
É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento
em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.
A alternativa D está incorreta. Na realidade, de acordo com o teor da Súmula nº 442, tal aplicação é
inadmissível:
É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.

Q34. CESPE/TJ-PB/Juiz de Direito/2015


No que se refere aos crimes contra a paz pública, assinale a opção correta.

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a) A conduta de custear milícia privada para a prática de homicídios é tipificada como crime de
associação criminosa.
b) No crime de associação criminosa, incide causa de aumento de pena o fato de a associação ser
armada ou haver participação de criança ou de adolescente.
c) Constitui crime incitar terceira pessoa a praticar conduta punida pela lei como contravenção penal.
d) Funcionário público que fizer apologia de fato criminoso praticará, na forma qualificada, delito de
apologia de crime ou criminoso.
e) O crime de associação criminosa caracteriza-se pela união de duas ou mais pessoas com o fim
específico de cometer crimes.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. Os crimes de associação criminosa e constituição de milícia privada são crimes
distintos, previstos nos seguintes artigos do Código Penal:
Associação Criminosa
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a
participação de criança ou adolescente.
Constituição de milícia privada
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste
Código:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.
A alternativa B está correta. É o que está previsto no parágrafo único do art. 288 do Código Penal:
Art. 288. (...)
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a
participação de criança ou adolescente.
A alternativa C está incorreta. Apenas constitui crime incitar terceira pessoa a praticar conduta punida pela
lei como crime, desde que o faça publicamente. Vejamos:
Incitação ao crime
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
A alternativa D está incorreta. Inexiste qualificadora prevista no art. 287 do Código Penal:
Apologia de crime ou criminoso
Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
A alternativa E está incorreta. De acordo com o art. 288 do Código Penal, a associação criminosa se configura
quando se associam 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes.

Q35. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal/2021

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Julgue o item a seguir:


Em se tratando de crime de falsidade ideológica, o prazo prescricional se reinicia com eventual
reiteração dos seus efeitos.
Comentários
Incorreto. Não há reinício do prazo. É o que recentemente decidiu o STJ e não surpreende, já que o crime é
formal e assim, como a regra geral, tem o prazo prescricional iniciado com a sua consumação (artigo 111,
inciso I, do Código Penal):
“2. A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem vir a se protrair no tempo.
A despeito dos efeitos que possam, ou não, vir a gerar, ela se consuma no momento em que é praticada
a conduta. Precedentes.” (RvCr 5.233/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/05/2020, DJe 25/05/2020)

Q36. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal/2021


Com relação aos crimes contra a fé pública, julgue os itens que se seguem:
O crime de moeda falsa é incompatível com o instituto do arrependimento posterior.
Comentários
Correto. Aqui o tema foi estudado dentro do assunto do arrependimento posterior:
“Os crimes contra a fé pública, assim como nos demais crimes não patrimoniais em geral, são
incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de haver
reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída.” (STJ, REsp 1242294/PR, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, DJe 03/02/2015).

Q37. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal/2021


Com relação aos crimes contra a fé pública, julgue os itens que se seguem:
O funcionário público que faz afirmação falsa em procedimentos de autorização ou de licenciamento
ambiental não responde por falsidade ideológica do Código Penal, mas por crime específico previsto
na lei de crimes ambientais.
Comentários
Correto. Nesse caso, foi cobrado tema de legislação penal especial em meio às questões do Código Penal,
para verificar o princípio da especialidade. Nesse caso, realmente existe tipo penal específico na Lei
9.605/98:
“Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar
informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento
ambiental: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.”

Q38. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal

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Com relação aos crimes contra a fé pública, julgue os itens que se seguem:
O advogado do réu pode vir a responder pelo crime de falso testemunho, no caso de induzir
testemunha a prestar determinado depoimento.
Comentários:
Correto. Nem se cobrou a controvérsia de autoria/participação, mas apenas a responsabilização, tratada no
Curso (pdf) assim:
A conduta do advogado que instrui a testemunha a mentir seria, então, de participação no crime de
falso testemunho, segundo a doutrina e a jurisprudência majoritárias. Deve-se consignar, entretanto,
que o Supremo Tribunal Federal já decidiu ser possível a coautoria em caso de advogado que induziu
testemunha a mentir em processo trabalhista (RHC 81327/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Primeira Turma,
Julgamento em 11/12/2001).

Q39. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal


Com relação aos crimes contra a fé pública, julgue os itens que se seguem:
O indivíduo foragido do sistema carcerário que utiliza carteira de identidade falsa perante a autoridade
policial para evitar ser preso responde pelo crime de falsa identidade.
Comentários:
Incorreto. De início, destaco que a situação é típica, como destacado no Curso (pdf):
Depois de controvérsia na jurisprudência, o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de
que a atribuição de falsa identidade perante a autoridade policial configura o crime do artigo 307 do
Código Penal, não estando abrangida pelo exercício regular do direito de defesa. Tal entendimento
está consagrado no enunciado 522:
A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação
de alegada autodefesa.
Entretanto, no livro é trazida uma tabela para diferenciar os crimes:

Conduta Tipificação

O agente se passa por outra pessoa sem


Falsa identidade
apresentação de documento.

O agente se passa por outra pessoa com


Uso de documento falso
apresentação de documento falso.

O agente se passa por outra pessoa usando o Artigo 308 (uso de documento de identidade
documento de identificação alheio. alheio)

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LISTA DE QUESTÕES
Q1. CESPE/Polícia Federal/Delegado de Polícia/2013
Item 40
A falsa atribuição de identidade só é caracterizada como delito de falsa identidade se feita oralmente,
com o poder de ludibriar; quando formulada por escrito, constitui crime de falsificação de documento
público.
o Certo
o Errado

Q2. FCC/MPE-CE/Promotor de Justiça/2009


O crime de uso de documento falso
a) é de ação penal pública condicionada.
b) admite a suspensão condicional do processo se a falsificação for de documento particular.
c) admite tentativa, pois não se trata de crime instantâneo.
d) ocorre mesmo quando o agente é forçado pela autoridade a exibir o documento, segundo pacífico
entendimento jurisprudencial.
e) permite a transação na modalidade culposa.

Q3. FUNDEP/DPE-MG/Defensor Público/2014


O art. 288 do Código Penal, com a redação dada pela Lei nº 12.805/2013, define o crime de associação
criminosa como associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes.
A consumação de tal delito ocorrerá
a) quando o grupo iniciar suas atividades criminosas.
b) quando o grupo praticar ao menos dois delitos.
c) quando, independentemente da prática de qualquer crime é demonstrada apenas a pretensão de
habitualidade.
d) quando o grupo, realizando os atos preparatórios de um único fato criminoso, denota animus socii.

Q4. MPE-SP/MPE-SP/Promotor de Justiça/2017


A conduta do acusado que, ao ser preso por prática de crime contra o patrimônio, se atribui falsa
identidade, constitui
a) contravenção penal relativa à recusa de fornecimento de dados à autoridade.

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b) fato atípico, porém antijurídico.


c) crime de falsa identidade.
d) fato impunível, pois tal conduta é amparada pelo exercício do direito de defesa.
e) circunstância agravante do crime de roubo.

Q5. CESPE/TRF 2ª Região/Juiz Federal/2011


Márcio, maior, capaz, reincidente em crime doloso, comprou, na mercearia do bairro em que mora,
na cidade de São João de Meriti – RJ, gêneros alimentícios no montante de R$ 60,00, pagou as compras
com duas cédulas de R$ 50,00, cuja inaltenticidade era de seu pleno conhecimento, e recebeu o troco
em moeda nacional autêntica. No dia seguinte, arrependido de sua conduta pela repercussão que
poderia adquirir, procurou o proprietário da mercearia, Paulo, maior capaz e com ensino médio
completo, confessou o ocorrido, restituiu o troco e pagou integralmente, com dinheiro legal, as
mercadorias. Paulo chamou a polícia, que encontrou, no caixa da mercearia, apenas uma das cédulas
falsificadas, tendo sido ela apreendida. Márcio foi conduzido à delegacia, ocasião em que foram
encontrados em sua posse os seguintes petrechos destinados especificamente à falsificação de
moeda: duas matrizes metálicas e faixa magnética que imita o fio de segurança de cédulas autênticas.
A partir dessa situação hipotética, assinale a opção correta.
a) Paulo deve ser acusado da prática do delictum privilegiatum de reinserir em circulação moeda falsa,
classificado como de menor potencial ofensivo, ainda que alegue desconhecer norma legal proibitiva,
caso se comprove que ele, tendo recebido como verdadeira cédula falsa, portanto, de boa-fé, a tenha
restituído à circulação, após perceber sua inautenticidade, para evitar prejuízo a seu regular comércio.
b) Tendo sido o crime praticado sem violência ou grave ameaça a pessoa, com posterior reparação do
prejuízo sofrido pela vítima, e em face do comportamento voluntário do agente, anterior ao
oferecimento da denúncia, fica caracterizado o arrependimento eficaz, o que impõe a redução da pena
de um a dois terços.
c) Caso se demonstre, na instrução do processo, que Márcio é o autor da falsificação do dinheiro e
igualmente o responsável por sua circulação, ele deverá ser responsabilizado por concurso material,
em face da peculiaridade do tipo misto cumulativo que caracteriza o crime de moeda falsa.
d) No caso de moeda falsa, o CP estabelece a sanção na modalidade culposa, de maneira excepcional,
em duas circunstâncias: quando o agente tem ciência da falsidade da moeda e a guarda ou a tem em
depósito de forma culposa, ou quando, ciente da falsidade, igualmente de forma culposa, a restitui à
circulação.
e) O delito de posse de petrechos para falsificação de moeda, previsto em tipo próprio no CP como
ato preparatório, de perigo abstrato, deve ser punido de forma independente e autônoma em relação
ao crime de falsificação, posse e circulação da moeda.

Q6. VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito/2014

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Assinale a opção verdadeira. No Direito brasileiro posto, é elemento do tipo penal da Associação
Criminosa:
a) Voltar-se à prática de delitos cuja pena máxima supera cinco anos.
b) Possuir ao menos três pessoas.
c) Estruturação hierarquizada, com divisão de tarefas entre os seus membros.
d) Possuir ao menos quatro pessoas.

Q7. FCC/DPE-AM/Defensor Público/2018


Comete o crime de
a) falsa identidade aquele faz uso de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) falsa para conduzir veículo
automotor.
b) falso testemunho aquele que imputa a outrem falsamente fato definido como crime.
c) uso de documento falso aquele que faz uso de documento particular falso.
d) falsidade de atestado médico aquele produz atestado falso se passando pela condição de médico.
e) falsificação de documento público aquele que insere em documento público declaração falsa com
o fim de prejudicar direito de terceiro.

Q8. FCC/DPE-AP/Defensor Público/2018


Sobre o crime de falsidade ideológica:
a) É atípica, em tese, a conduta daquele que faz inserir, em documento público, declaração falsa acerca
do verdadeiro condutor de veículo envolvido em sinistro de trânsito uma vez que integrante do direito
à ampla defesa.
b) É necessária a realização de perícia, uma vez que, a exemplo do que ocorre com a falsidade
documental, a alteração é no conteúdo do documento.
c) O documento para fins de falsidade ideológica deve ser uma peça que tenha possibilidade de
produzir prova de um determinado fato, ainda que para tanto sejam necessárias outras verificações.
d) É crime material, como todo falso, não sendo suficiente para sua consumação a mera potencialidade
lesiva.
e) É atípica a conduta de fazer afirmações possivelmente falsas, em ação judicial, com base em
documentos também tidos por adulterados (instrumentos procuratórios com assinaturas falsas e
comprovantes de residência adulterados), uma vez que a Constituição Federal assegura a todos o
acesso à justiça.

Q9. VUNESP/Prefeitura de São José dos Campos SP/Procurador/2017

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A simples conduta de adulterar a placa de veículo automotor, com arrependimento posterior, tem
como bem jurídico tutelado a
a) identificação de veículo automotor.
b) fé pública.
c) idoneidade de documento público.
d) idoneidade de sinal público.
e) idoneidade particular.

Q10. IBADE/PC-AC/Delegado de Polícia/2017


O crime de falsidade de atestado médico:
a) resta caracterizado quando uma pessoa adultera um atestado verdadeiro, a fim de ampliar seus
dias de afastamento do trabalho.
b) exige, em sua forma simples, especial fim de agir
c) além de exigir uma falsidade material, é classificado como crime comum.
d) é uma forma de falsidade ideológica, tipificado de forma autônoma devido à especialidade.
e) está arrolado entre os crimes contra a saúde pública.

Q11. CESPE/PC-GO/Delegado de Polícia/2017


Durante a instrução de determinado processo judicial, foi comprovada falsificação da escrituração em
um dos livros comerciais de uma sociedade limitada, em decorrência da criação do chamado “caixa
dois”. A sentença proferida condenou pelo crime apenas o sócio com poderes de gerência.
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção correta.
a) A conduta praticada pelo sócio constitui crime falimentar.
b) Na situação, configura-se crime de falsificação de documento público.
c) Sendo o diário e o livro de registro de atas de assembleia livros obrigatórios da sociedade citada, a
referida falsificação pode ter ocorrido em qualquer um deles.
d) Em decorrência da condenação criminal, o sócio-gerente deverá ser excluído definitivamente da
sociedade.
e) O nome do condenado não pode ser excluído da firma social, que deve conter o nome de todos os
sócios, seguido da palavra “limitada”.

Q12. FUNCAB/PC-PA/Delegado de Polícia/2016

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Etevaldo, depois de ingressar na posse de uma carteira de habilitação pertencente a outrem,


aproveitando-se de sua semelhança fisionômica para com o titular do documento, adultera o nome
ali constante, substituindo-o pelo seu. Considerando que a adulteração não era perceptível ictu oculi
e que o autor pretendia utilizar o documento para conduzir irregularmente veículo automotor, é
correto afirmar que Etevaldo cometeu crime de:
a) falsificação de documento público.
b) uso de documento de identidade alheia.
c) falsa identidade.
d) uso de documento falso, na forma tentada.
e) falsidade ideológica documento público.

Q13. TRT 4ª Região/TRT 4ª Região/Juiz do Trabalho/2016


Assinale a assertiva incorreta sobre crimes em espécie.
a) O empregador que anota dolosamente, na Carteira de Trabalho e Previdência Social de seu
empregado, data de admissão diversa da verdadeira, incorre nas penas previstas para o crime de
falsidade ideológica.
b) O dentista, o médico ou o psicólogo que, no exercício da profissão, dão atestado falso, incorrem
nas penas previstas para o crime de falsidade ideológica.
c) O trabalhador que utiliza o atestado falso, emitido por dentista, médico ou psicólogo, comete crime
de uso de documento falso.
d) O trabalhador que apresenta declaração de pobreza com informações falsas, para obtenção do
benefício da justiça gratuita, não comete crime de falsidade ideológica nem de uso de documento
falso.
e) O trabalhador que insere declaração falsa, em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, para
fazer prova, para fins de aposentadoria, incorre nas penas previstas para o crime de falsificação de
documento público.

Q14. MPE-SC/MPE-SC/Promotor de Justiça/2016


Segundo o Código Penal, o crime intitulado fraudes em certames de interesse público, atentatório
contra a administração pública, consiste na conduta de utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim
de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de
concurso público; avaliação ou exame públicos; processo seletivo para ingresso no ensino superior;
ou, exame ou processo seletivo previstos em lei. Comete a mesma infração penal quem permite ou
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas acima.
o Certo
o Errado

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Q15. TRT 2ª Região/TRT 2ª Região/Juiz do Trabalho/2016


Segundo a tipologia especificamente adotada pelo Código Penal, quem omite, na folha de pagamento
ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, nome
do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação
de serviços, incorre nas penas correspondentes ao crime de:
a) Atentado contra a liberdade de trabalho.
b) Apropriação indébita previdenciária.
c) Falsificação de documento público.
d) Falsificação de documento particular.
e) Redução a condição análoga à de escravo.

Q16. CAIP-IMES/DAE de São Caetano do Sul - SP/Procurador Judicial/2015


É sabido, nos termos do artigo 291 do Código Penal que a pena prevista por fabricar, adquirir, fornecer,
a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer
objeto especialmente destinado à falsificação de moeda, é de:
a) reclusão, de dois a seis anos, e multa.
b) detenção, de um a seis anos, e multa.
c) reclusão, de um a seis anos, e multa.
d) detenção, de dois a seis anos, e multa.

Q17. FCC/TJ-PI/Juiz de Direito/2015


Segundo a nova redação do art. 288 do Código Penal, conferida pela Lei n° 12.850/13, o crime de
associação criminosa
a) deve ter a pena aumentada até o dobro, se houver a participação de criança ou adolescente.
b) consiste na associação de mais de três pessoas para o fim específico de cometer crimes.
c) deve ter a pena aumentada até a metade, se houver a participação de criança ou adolescente, não
retroagindo tal disposição.
d) conduz à aplicação da pena em dobro, se a associação é armada.
e) deve ter a pena aumentada até a metade, se a associação é armada, não retroagindo tal disposição.

Q18. FCC/TRT 15ª Região/Juiz do Trabalho/2015


Segundo disposição expressa da lei penal, quem insere na folha de pagamento, ou em documento de
informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a
qualidade de segurado obrigatório incorre nas penas cominadas ao delito de
a) sonegação de contribuição previdenciária.

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b) falsificação de documento público.


c) uso de documento falso.
d) falsificação de documento particular.
e) falsidade ideológica.

Q19. CESPE/TJ-PB/Juiz de Direito/2015


Gustavo, funcionário público estadual, com o objetivo de obter vantagem patrimonial ilícita para si,
utilizou papel-moeda grosseiramente falsificado para efetuar pagamento de compras de alto valor em
um supermercado.
Em face dessa situação hipotética, assinale a opção correspondente à figura típica do delito praticado
por Gustavo.
a) estelionato
b) moeda falsa
c) crime assimilado ao de moeda falsa
d) fraude no comércio
e) concussão

Q20. CAIP-IMES/Prefeitura de Rio Grande da Serra – SP/Procurador/ 2015


Configura crime de uso de documento falso, fazer uso de:
a) selo público falsificado destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município.
b) atestado médico falso.
c) sinal falsificado atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade.
d) sinal falsificado público de tabelião.

Q21. FCC/TCM-RJ/Procurador da Procuradoria Especial/2015


Quanto ao crime de uso de documento de identidade alheia como próprio, é INCORRETO afirmar que
a) a carteira profissional pode ser objeto material do delito.
b) não se exige que o uso tenha por finalidade a obtenção de vantagem.
c) a consumação ocorre com o uso de documento de identidade alheia.
d) não é necessário que o uso tenha por objetivo causar dano a outrem.
e) na forma culposa é necessário que agente tenha consciência de que o uso é ilícito.

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Q22. CAIP-IMES/Consórcio Intermunicipal Grande ABC SP/ Procurador/2015


Incorre nas mesmas penas do crime de falsificação de documento público:
a) quem usa, guarda, possui ou detém bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte
administrada pela União, por Estado ou por Município.
b) quem insere ou faz inserir em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante
a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório.
c) quem importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à
circulação selo falsificado destinado a controle tributário.
d) quem utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial, produto ou
mercadoria sem selo oficial, nos casos em que a legislação determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.

Q23. FCC /TJ-GO/Juiz de Direito/2015


Falsificar cartão de crédito ou débito é
a) conduta atípica.
b) crime de falsificação de documento particular.
c) crime de falsa identidade.
d) crime de falsidade ideológica.
e) crime de falsificação de documento público, por equiparação.

Q24. CESPE/DPU/Defensor Público Federal/2015


Em relação aos crimes contra a fé pública, aos crimes contra a administração pública, aos crimes de
tortura e aos crimes contra o meio ambiente, julgue o item a seguir.
Praticará o crime de falsidade ideológica aquele que, quando do preenchimento de cadastro público,
nele inserir declaração diversa da que deveria, ainda que não tenha o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.
o Certo
o Errado

Q25. VUNESP/Prefeitura de Caieiras - SP/Procurador/2015


João, responsável pela emissão de certidões em determinada repartição pública, a fim de ajudar seu
amigo José, que concorre a um cargo público, emite certidão falsa, atestando que ele desenvolveu
determinados projetos profissionais para a Administração Pública. Sobre a conduta de João, pode-se
afirmar que cometeu o crime de

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a) falsidade ideológica, previsto no artigo 299 do Código Penal, ao inserir declaração falsa em
documento público.
b) falsificação de documento particular, previsto no artigo 298 do Código Penal, pois o documento se
destinava para uso particular e para fins particulares.
c) certidão materialmente falsa, previsto no parágrafo 1 o , do artigo 301 do Código Penal.
d) falsificação de documento público, previsto no artigo 297 do Código Penal: “falsificar, no todo ou
em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro”.
e) certidão ideologicamente falsa, previsto no artigo 301 do Código Penal.

Q26. Instituto Acesso/PC-ES/Delegado/2019


João Carlos, 30 anos, brasileiro, com residência transitória na Argentina, aproveitando-se da aquisição
de material descartado por uma indústria gráfica falida, passou a fabricar moeda brasileira em
território argentino. Para garantir a diversidade da moeda falsificada, João imprimia notas de 50 e de
100 reais. Ao entrar em território brasileiro João foi revistado por policiais que encontraram as notas
falsificas em meio a sua bagagem. João foi acusado da prática do crime previsto no artigo 289 do
Código Penal.

De acordo com as teorias que informam a aplicação da lei penal no espaço, é correto dizer que, nesse
caso, cabe a aplicação:

e) Da lei argentina, em atenção à regra da territorialidade, uma vez que o crime fora praticado na
Argentina.
f) Incondicionada da lei brasileira, uma vez que o crime cometido atenta contra a fé pública.
g) Da lógica da extraterritorialidade, já que o fato ocorreu em território argentino.
h) Condicionada da lei brasileira, pelo fato de a conduta ter sido cometida em território argentino.
Condicionada da lei brasileira, já que a conduta integra dois ordenamentos jurídicos.

Q27. VUENSP/TJ-SP/Juiz de Direito/2018


Assinale a alternativa correta quanto aos crimes contra a fé pública.
(A) Há concurso material de crimes quando o falsificador posteriormente usa o documento falsificado
que se esgota nessa conduta.
(B) O crime de falsidade material se consubstancia na alteração do conteúdo de documento, ainda
que parcial, omitindo declaração que dele devia constar, ou nele inserindo ou fazendo inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita.
(C) Para efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o
título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis
e o testamento particular.

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(D) Atribuir-se falsa identidade perante a autoridade policial em autodefesa, uma vez que procurado
pela justiça, não constitui crime, aplicando-se o princípio da dignidade da pessoa humana.

Q28. Instituto Acesso/PC-ES/Delegado/2019


No dia 09/07/2017, Henrique foi parado em uma fiscalização da Operação Lei Seca. Após solicitar a
Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de Henrique, o policial militar que participava da operação
suspeitou do documento apresentado. Procedeu então à verificação na base de dados do DETRAN e
confirmou a suspeita, não encontrando o número de registro que constava na CNH, embora as demais
informações (nome e CPF) a respeito de Henrique, estivessem corretas. Questionado pelo policial,
Henrique confessou que havia adquirido o documento com Marcos, seu vizinho, que atuava como
despachante, tendo pago R$ 2.000,00 pelo documento. Afirmou ainda que sequer havia feito prova
no DETRAN. Acrescente-se que, durante a instrução criminal, ficou comprovado que, de fato, Henrique
obteve o documento de Marcos, sendo este o autor da contrafação. Além disso, foi verificado por
meio de perícia judicial que, no estado em que se encontra o documento, e em face de sua aparência,
pode iludir terceiros como se documento idôneo fosse. Logo, pode-se afirmar que a conduta de
Henrique se amolda ao crime de:

a) Falsa identidade, previsto no art. 307 do Código Penal.


b) Falsificação de documento particular, previsto no art. 209 do Código Penal.
c) Falsificação de documento público, previsto no art. 297 do Código Penal.
d) Falsidade ideológica, previsto no caput do art. 299 do Código Penal.
e) Uso de documento falso, previsto no art. 304 do Código Penal.

Q29. FUNDEP/Defensor Público/2019


Leila, menor de 21 anos de idade, foi denunciada pela prática do delito de falsificação de documento
público, previsto no art. 297, caput, por três vezes, na forma do art. 69, ambos do CP, tendo o Juiz
convertido a prisão em flagrante em preventiva, não obstante a documentação juntada pela defesa,
comprovando que Leila tem uma filha de 2 anos de idade, que está sob sua guarda. Recebida a
denúncia e processado o feito, 10 meses após a prisão da ré foi realizada audiência de instrução,
debates e julgamento, tendo Leila sido condenada à pena mínima para cada delito, em razão de sua
primariedade, seus bons antecedentes, bom comportamento carcerário e do fato de não fazer parte
de organização criminosa. Todavia, em razão do reconhecimento do concurso material, a pena final
foi fixada em 6 anos de reclusão. A respeito do regime inicial de cumprimento de pena cabível no caso,

a) De acordo com o entendimento majoritário do Superior Tribunal de Justiça, quando as condições


pessoais do réu foram favoráveis e a pena base tiver sido fixada no mínimo legal, é cabível regime
inicial aberto, ainda que a sanção aplicada seja superior a 4 anos, com base no princípio da
individualização da pena.

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b) Considerando que a pena aplicada é superior a 4 anos e não excede a 8 anos, bem como que a ré
é primária e de bons antecedentes, é cabível o regime inicial semiaberto, não sendo possível
aplicar a detração, porque a ré não cumpriu o lapso temporal de 1/6 (um sexto) necessário à
progressão do regime.
c) De acordo com o entendimento consolidado do Supremo Tribunal Federal, a mulher gestante ou
com filho de até 12 anos de idade incompletos, ainda que condenada à pena superior a quatro
anos, tem direito ao regime inicial aberto, desde que o crime tenha sido praticado sem violência
ou grave ameaça à pessoa e que não integre organização criminosa.
d) Considerando que a pena aplicada é superior a 4 anos e não excede 8 anos, bem como que a ré é
primária e de bons antecedentes, seria cabível o regime inicial semiaberto, podendo o juiz fixar,
de imediato, o regime aberto, uma vez que a ré já cumpriu o lapso temporal de 1/8 (um oitavo)
necessário à progressão de regime.
e) Considerando que a pena aplicada é superior a 4 anos e não excede 8 anos, bem como que a ré é
primária e de bons antecedentes, é cabível o regime inicial semiaberto, não sendo possível aplicar
a detração, porque a ré não cumpriu o lapso temporal de 1/3 (um terço) necessário à progressão
de regime.

Q30. CESPE/Delegado de Polícia Federal/2018


A falsa atribuição de identidade só é caracterizada como delito de falsa identidade se feita oralmente,
com o poder de ludibriar; quando formulada por escrito, constitui crime de falsificação de documento
público.
o CERTO
o ERRADO

Q31. CESPE/TJPA/Juiz Substituto/2019


Fernando, imputável, cumpria pena de sete anos de reclusão em regime semiaberto. Em 15/02/2019,
foi autorizado a realizar trabalho externo. Em 16/02/2019, ele saiu do estabelecimento penitenciário
para o trabalho externo, mas não mais retornou. Por essa razão, foi expedido mandado de prisão
contra ele. Abordado por policiais em um bar, Fernando identificou-se como Domingos. Ele foi
encaminhado à delegacia e lá novamente se identificou como Domingos. A verdadeira identidade de
Fernando foi descoberta somente dois dias depois. Ouvido como investigado, Fernando disse que
tinha adotado o nome Domingos porque sabia que contra ele havia mandado de prisão expedido.
De acordo com a jurisprudência do STJ, quando se identificou como Domingos, Fernando
(A) Praticou o crime de fraude processual, embora tenha alegado situação de autodefesa.
(B) Praticou o crime de falsidade ideológica, embora tenha alegado situação de autodefesa.
(C) Não praticou qualquer crime, uma vez que estava em situação de autodefesa.
(D) Praticou o crime de falsa identidade, embora tenha alegado situação de autodefesa.

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(E) Praticou o crime de falso testemunho, embora tenha alegado situação de auto defesa.

Q32. FCC /TJ-AL/Juiz de Direito/2019


Quanto aos crimes contra a fé pública,
a) compete à Justiça Estadual comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de falsificação
e de uso de documento público falso quando se tratar de Carteira de Habilitação de Amador, ainda
que expedida pela Marinha do Brasil.
b) há sempre concurso entre os crimes de falsificação de documento público e estelionato, segundo
entendimento do sumulado do Superior Tribunal de Justiça.
c) configura crime de falsificação de documento particular o ato de falsificar, no todo ou em parte,
testamento particular, duplicata e cartão bancário de crédito ou débito.
d) atípica a conduta de, em situação de autodefesa, atribuir-se falsa identidade perante autoridade
policial.
e) inadmissível proposta de suspensão condicional do processo no crime de falsidade ideológica de
assentamento de registro civil.

Q33. VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito/2015


Segundo a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa correta.
a) O tempo de duração da medida de segurança pode ultrapassar o máximo da pena abstratamente
cominada ao delito praticado.
b) A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é atípica, ainda que em
situação de alegada autodefesa.
c) É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento
em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.
d) É admissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante de roubo.

Q34. CESPE/TJ-PB/Juiz de Direito/2015


No que se refere aos crimes contra a paz pública, assinale a opção correta.
a) A conduta de custear milícia privada para a prática de homicídios é tipificada como crime de
associação criminosa.
b) No crime de associação criminosa, incide causa de aumento de pena o fato de a associação ser
armada ou haver participação de criança ou de adolescente.
c) Constitui crime incitar terceira pessoa a praticar conduta punida pela lei como contravenção penal.

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d) Funcionário público que fizer apologia de fato criminoso praticará, na forma qualificada, delito de
apologia de crime ou criminoso.
e) O crime de associação criminosa caracteriza-se pela união de duas ou mais pessoas com o fim
específico de cometer crimes.

Q35. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal/2021


Julgue o item a seguir:
Em se tratando de crime de falsidade ideológica, o prazo prescricional se reinicia com eventual
reiteração dos seus efeitos.

Q36. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal/2021


Com relação aos crimes contra a fé pública, julgue os itens que se seguem:
O crime de moeda falsa é incompatível com o instituto do arrependimento posterior.

Q37. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal/2021


Com relação aos crimes contra a fé pública, julgue os itens que se seguem:
O funcionário público que faz afirmação falsa em procedimentos de autorização ou de licenciamento
ambiental não responde por falsidade ideológica do Código Penal, mas por crime específico previsto
na lei de crimes ambientais.

Q38. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal


Com relação aos crimes contra a fé pública, julgue os itens que se seguem:
O advogado do réu pode vir a responder pelo crime de falso testemunho, no caso de induzir
testemunha a prestar determinado depoimento.

Q39. DPF/CEBRASPE/2021/Delegado de Polícia Federal


Com relação aos crimes contra a fé pública, julgue os itens que se seguem:
O indivíduo foragido do sistema carcerário que utiliza carteira de identidade falsa perante a autoridade
policial para evitar ser preso responde pelo crime de falsa identidade.

GABARITO
Q1. ERRADA Q2. B Q3. C

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Q4. C Q18. B Q32. E


Q5. A Q19. A Q33. C
Q6. B Q20. B Q34. B
Q7. C Q21. E Q35. INCORRETO
Q8. E Q22. B Q36. CORRETO
Q9. B Q23. B Q37. CORRETO
Q10. D Q24. ERRADA Q38. CORRETO
Q11. B Q25. E Q39. INCORRETO
Q12. A Q26. B
Q13. B Q27. C
Q14. ERRADA Q28. E
Q15. C Q29. D
Q16. A Q30. ERRADA
Q17. C Q31. D

QUESTÃO DISSERTATIVA
Q1. MPE-RS/MPE-RS/Promotor de Justiça/2008
Epaminondas estava no Aeroporto Internacional Salgado Filho à procura de uma oportunidade
para ganhar dinheiro fácil, quando percebeu que um turista norte-americano deixou uma
pequena bolsa num balcão de lancheria. Imediatamente recolheu-a e percebeu que continha
alguns “travellers-checks” em dólares. Como não poderia reproduzir as assinaturas que ali
constavam, teve a ideia de falsificar aqueles documentos com a ajuda de Setembrino, técnico
de informática de uma grande empresa. Na sua concepção criminosa, como tais cheques de
viagem estrangeiros são aceitos no país pelos estabelecimentos bancários como papel-moeda,
e não havendo uma fiscalização aguda do Banco Central e das autoridades policiais, seria mais
fácil falsifica-los do que as cédulas de reais. Utilizando os mais sofisticados e aprimorados
métodos e aparelhos, ambos conseguiram falsificar os cheques de uma forma quase perfeita,
usando os originais como modelos. De posse dos mesmos, Epaminondas dirigiu-se a uma
agência do HSBC em Porto Alegre, que negocia cheques de viagem em moedas estrangeiras
(dólares e euros), onde efetuou a troca de dez cheques de U$ 100,00 por dinheiro nacional. Na
hora, como a falsificação não era grosseira, o funcionário nem desconfiou. Dois dias mais tarde
porém, foi descoberto o golpe e a Polícia Civil, agindo com rapidez e eficiência, logrou descobrir
os autores, capitulando o fato no inquérito policial como sendo o delito de moeda falsa (art. 289
do Código Penal). Recebendo os autos, o Dr. Promotor de Justiça ficou indeciso, notadamente
acerca do juízo competente para processar os falsários. Considerando todos os dados
pertinentes ao evento delituoso, analise-os e indique, com fundamento legal e justificativa, qual
seria a solução correta a ser adotada pelo “Parquet”.
Comentários:
Questão polêmica, mas que é necessária para estudos para concursos, nem que seja para discussão.
Se considerássemos a capitulação da polícia, vale lembrar que a conduta do crime de moeda falsa
recai sobre moeda metálica, como moedas de R$ 0,50, ou papel-moeda de curso legal no país, como
uma cédula de R$ 50,00, ou no exterior, como uma nota de US$ 100,00. Considerando que somente

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a União controla a emissão de papel moeda, o crime de moeda falsa, de regra, é da competência da
Justiça Federal. O fundamento legal encontra-se no art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, que
fixa a competência da Justiça Federal para processar e julgar as infrações que lesam os interesses da
União. Vejamos:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Para a configuração do crime, é imprescindível que a falsificação seja capaz de enganar, ou seja, de
fazer a moeda falsa se passar por verdadeira. O material falsificado deve apresentar imitativo veri, ou
seja, ter a aparência da moeda verdadeira, sob pena de não se configurar o crime do artigo 289 do
Código Penal. Entretanto, caso a falsificação seja grosseira, é possível que a conduta do agente, se ele
buscar uma vantagem indevida, configura o crime de estelionato, tal qual consigna o enunciado
número 73 do STJ:
A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de
estelionato, da competência da Justiça Estadual.
Como no caso em tela, a falsificação foi capaz de enganar o homem médio, a competência seria da
Justiça Federal.
Entretanto3, o melhor entendimento deve ser o adotado pelo STJ4, conquanto haja divergência, de
que não se configura o crime de moeda falsa:
“1. A possível falsificação que permeia a hipótese não é de outro documento senão cheques de
viagem, os quais não se confundem com moeda, elemento objetivo do tipo de moeda falsa (art.
289 do CPB). Precedente desta Corte (CC 21.908/MG, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 22.03.09).”
(CC, 98848/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, DJe 20/03/2009).
Deste modo, considerando não ser o crime o de moeda falsa, com a modificação da opinio delicti (a
classificação do crime na opinião do membro do Ministério Público), a competência será da Justiça
Comum Estadual. O crime pode ser enquadrado como falsificação de documento particular ou
emissão de título ao portador sem permissão legal (o que parece prevalecer).

3 Modifico a versão anterior, em que interpretei que a questão só questionava a competência. Revendo, percebo que a
capitulação não estava de acordo com a posição majoritária, apesar de ter havido essa discussão sobre a configuração ou
não do crime de moeda falsa.
4 Registro, entretanto, que Cezar Bitencourt (Tratado de Direito Penal, vol. 4, 4ª edição, p. 391), entende que se justifica
a extensão da proteção legal aos cheques de viagem e até mesmo aos cartões de crédito. Entretanto, em nome da
tipicidade estrita, não defende tal posição, mas entende difícil enquadrar a falsificação do cheque de viagem em outro
dispositivo legal, como no caso do artigo 292 (emissão de título ao portador sem permissão legal).

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DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA


Neste ponto da aula, citamos, para fins de revisão, os principais dispositivos de lei e entendimentos
jurisprudenciais que podem fazer a diferença na hora da prova. Lembre-se de revisá-los!

 Art. 286 do Código Penal: incitação ao crime


Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem incita, publicamente, animosidade entre as
Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade.
 CC 62949/STJ: o STJ já decidiu que o fato de a incitação ao crime ter sido praticada por meio da
Internet não atrai a competência da Justiça Federal
Substância entorpecente (técnica de cultivo). Incitação ao crime (investigação). Internet
(veiculação). Competência (Justiça estadual).
1. A divulgação, pela internet, de técnicas de cultivo de planta destinada à preparação de
substância entorpecente não atrai, por si só, a competência federal.
2. Ainda que se trate, no caso, de hospedeiro estrangeiro, a ação de incitar desenvolveu-se no
território nacional, daí não se justificando a aplicação dos incisos IV e V do art. 109 da
Constituição.
3. Caso, pois, de competência estadual. Conflito do qual se conheceu, declarando-se competente
o suscitante.
(CC 62.949/PR, Rel. Ministro NILSON NAVES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/10/2006, DJ
26/02/2007, p. 549)
 Art. 287 do Código Penal: crime de apologia de crime ou criminoso
Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
 ADPF 187/STF: o Supremo Tribunal Federal já decidiu que a manifestação pela liberação de
substâncias entorpecentes conhecida como “Marcha da Maconha” não configura o delito de apologia
de crime ou criminoso, por ser expressão do direito de reunião e da livre expressão de pensamento
E M E N T A: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL - ADMISSIBILIDADE
- OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE (Lei nº 9.882/99, art. 4º, § 1º) -
JURISPRUDÊNCIA - POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DA ADPF QUANDO CONFIGURADA LESÃO
A PRECEITO FUNDAMENTAL PROVOCADA POR INTERPRETAÇÃO JUDICIAL (ADPF 33/PA e ADPF
144/DF, v.g.) - ADPF COMO INSTRUMENTO VIABILIZADOR DA INTERPRETAÇÃO CONFORME À
CONSTITUIÇÃO - CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL RELEVANTE MOTIVADA PELA EXISTÊNCIA DE
MÚLTIPLAS EXPRESSÕES SEMIOLÓGICAS PROPICIADAS PELO CARÁTER POLISSÊMICO DO ATO
ESTATAL IMPUGNADO (CP, art. 287) - MAGISTÉRIO DA DOUTRINA - PRECEDENTES DO SUPREMO

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TRIBUNAL FEDERAL - ADPF CONHECIDA. “AMICUS CURIAE” - INTERVENÇÃO PROCESSUAL EM


SEDE DE ADPF - ADMISSIBILIDADE - PLURALIZAÇÃO DO DEBATE CONSTITUCIONAL E A QUESTÃO
DA LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA DAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO
EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL - DOUTRINA - PRECEDENTES - PRETENDIDA
AMPLIAÇÃO, POR INICIATIVA DESSE COLABORADOR PROCESSUAL, DO OBJETO DA DEMANDA
PARA, NESTA, MEDIANTE ADITAMENTO, INTRODUZIR O TEMA DO USO RITUAL DE PLANTAS
ALUCINÓGENAS E DE DROGAS ILÍCITAS EM CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS, A SER ANALISADO SOB A
ÉGIDE DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE RELIGIOSA - MATÉRIA JÁ VEICULADA NA
CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS, DE 1971 (Artigo 32, n. 4),
DISCIPLINADA NA RESOLUÇÃO CONAD Nº 1/2010 E PREVISTA NA VIGENTE LEI DE DROGAS (Lei
nº 11.343/2006, art. 2º, “caput”, “in fine”) - IMPOSSIBILIDADE, NO ENTANTO, DESSE
ADITAMENTO OBJETIVO PROPOSTO PELO “AMICUS CURIAE” - DISCUSSÃO SOBRE A (DESEJÁVEL)
AMPLIAÇÃO DOS PODERES PROCESSUAIS DO “AMICUS CURIAE” - NECESSIDADE DE VALORIZAR-
SE, SOB PERSPECTIVA EMINENTEMENTE PLURALÍSTICA, O SENTIDO DEMOCRÁTICO E
LEGITIMADOR DA PARTICIPAÇÃO FORMAL DO “AMICUS CURIAE” NOS PROCESSOS DE
FISCALIZAÇÃO NORMATIVA ABSTRATA. MÉRITO: “MARCHA DA MACONHA” - MANIFESTAÇÃO
LEGÍTIMA, POR CIDADÃOS DA REPÚBLICA, DE DUAS LIBERDADES INDIVIDUAIS REVESTIDAS DE
CARÁTER FUNDAMENTAL: O DIREITO DE REUNIÃO (LIBERDADE-MEIO) E O DIREITO À LIVRE
EXPRESSÃO DO PENSAMENTO (LIBERDADE-FIM) - A LIBERDADE DE REUNIÃO COMO PRÉ-
CONDIÇÃO NECESSÁRIA À ATIVA PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS NO PROCESSO POLÍTICO E NO
DE TOMADA DE DECISÕES NO ÂMBITO DO APARELHO DE ESTADO - CONSEQUENTE
LEGITIMIDADE, SOB PERSPECTIVA ESTRITAMENTE CONSTITUCIONAL, DE ASSEMBLEIAS,
REUNIÕES, MARCHAS, PASSEATAS OU ENCONTROS COLETIVOS REALIZADOS EM ESPAÇOS
PÚBLICOS (OU PRIVADOS) COM O OBJETIVO DE OBTER APOIO PARA OFERECIMENTO DE
PROJETOS DE LEI, DE INICIATIVA POPULAR, DE CRITICAR MODELOS NORMATIVOS EM VIGOR, DE
EXERCER O DIREITO DE PETIÇÃO E DE PROMOVER ATOS DE PROSELITISMO EM FAVOR DAS
POSIÇÕES SUSTENTADAS PELOS MANIFESTANTES E PARTICIPANTES DA REUNIÃO - ESTRUTURA
CONSTITUCIONAL DO DIREITO FUNDAMENTAL DE REUNIÃO PACÍFICA E OPONIBILIDADE DE SEU
EXERCÍCIO AO PODER PÚBLICO E AOS SEUS AGENTES - VINCULAÇÃO DE CARÁTER
INSTRUMENTAL ENTRE A LIBERDADE DE REUNIÃO E A LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO
PENSAMENTO - DOIS IMPORTANTES PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SOBRE A
ÍNTIMA CORRELAÇÃO ENTRE REFERIDAS LIBERDADES FUNDAMENTAIS: HC 4.781/BA, REL. MIN.
EDMUNDO LINS, E ADI 1.969/DF, REL. MIN. RICARDO LEWANDOWSKI - A LIBERDADE DE
EXPRESSÃO COMO UM DOS MAIS PRECIOSOS PRIVILÉGIOS DOS CIDADÃOS EM UMA REPÚBLICA
FUNDADA EM BASES DEMOCRÁTICAS - O DIREITO À LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO:
NÚCLEO DE QUE SE IRRADIAM OS DIREITOS DE CRÍTICA, DE PROTESTO, DE DISCORDÂNCIA E DE
LIVRE CIRCULAÇÃO DE IDEIAS - ABOLIÇÃO PENAL (“ABOLITIO CRIMINIS”) DE DETERMINADAS
CONDUTAS PUNÍVEIS - DEBATE QUE NÃO SE CONFUNDE COM INCITAÇÃO À PRÁTICA DE DELITO
NEM SE IDENTIFICA COM APOLOGIA DE FATO CRIMINOSO - DISCUSSÃO QUE DEVE SER
REALIZADA DE FORMA RACIONAL, COM RESPEITO ENTRE INTERLOCUTORES E SEM
POSSIBILIDADE LEGÍTIMA DE REPRESSÃO ESTATAL, AINDA QUE AS IDEIAS PROPOSTAS POSSAM
SER CONSIDERADAS, PELA MAIORIA, ESTRANHAS, INSUPORTÁVEIS, EXTRAVAGANTES,
AUDACIOSAS OU INACEITÁVEIS - O SENTIDO DE ALTERIDADE DO DIREITO À LIVRE EXPRESSÃO E
O RESPEITO ÀS IDEIAS QUE CONFLITEM COM O PENSAMENTO E OS VALORES DOMINANTES NO
MEIO SOCIAL - CARÁTER NÃO ABSOLUTO DE REFERIDA LIBERDADE FUNDAMENTAL (CF, art. 5º,

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incisos IV, V e X; CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, Art. 13, § 5º) - A PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL À LIBERDADE DE PENSAMENTO COMO SALVAGUARDA NÃO APENAS DAS
IDEIAS E PROPOSTAS PREVALECENTES NO ÂMBITO SOCIAL, MAS, SOBRETUDO, COMO AMPARO
EFICIENTE ÀS POSIÇÕES QUE DIVERGEM, AINDA QUE RADICALMENTE, DAS CONCEPÇÕES
PREDOMINANTES EM DADO MOMENTO HISTÓRICO-CULTURAL, NO ÂMBITO DAS FORMAÇÕES
SOCIAIS - O PRINCÍPIO MAJORITÁRIO, QUE DESEMPENHA IMPORTANTE PAPEL NO PROCESSO
DECISÓRIO, NÃO PODE LEGITIMAR A SUPRESSÃO, A FRUSTRAÇÃO OU A ANIQUILAÇÃO DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS, COMO O LIVRE EXERCÍCIO DO DIREITO DE REUNIÃO E A PRÁTICA
LEGÍTIMA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, SOB PENA DE COMPROMETIMENTO DA CONCEPÇÃO
MATERIAL DE DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL - A FUNÇÃO CONTRAMAJORITÁRIA DA
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO - INADMISSIBILIDADE DA
“PROIBIÇÃO ESTATAL DO DISSENSO” - NECESSÁRIO RESPEITO AO DISCURSO ANTAGÔNICO NO
CONTEXTO DA SOCIEDADE CIVIL COMPREENDIDA COMO ESPAÇO PRIVILEGIADO QUE DEVE
VALORIZAR O CONCEITO DE “LIVRE MERCADO DE IDEIAS” - O SENTIDO DA EXISTÊNCIA DO “FREE
MARKETPLACE OF IDEAS” COMO ELEMENTO FUNDAMENTAL E INERENTE AO REGIME
DEMOCRÁTICO (AC 2.695-MC/RS, REL. MIN. CELSO DE MELLO) - A IMPORTÂNCIA DO CONTEÚDO
ARGUMENTATIVO DO DISCURSO FUNDADO EM CONVICÇÕES DIVERGENTES - A LIVRE
CIRCULAÇÃO DE IDEIAS COMO SIGNO IDENTIFICADOR DAS SOCIEDADES ABERTAS, CUJA
NATUREZA NÃO SE REVELA COMPATÍVEL COM A REPRESSÃO AO DISSENSO E QUE ESTIMULA A
CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS DE LIBERDADE EM OBSÉQUIO AO SENTIDO DEMOCRÁTICO QUE
ANIMA AS INSTITUIÇÕES DA REPÚBLICA - AS PLURISSIGNIFICAÇÕES DO ART. 287 DO CÓDIGO
PENAL: NECESSIDADE DE INTERPRETAR ESSE PRECEITO LEGAL EM HARMONIA COM AS
LIBERDADES FUNDAMENTAIS DE REUNIÃO, DE EXPRESSÃO E DE PETIÇÃO - LEGITIMIDADE DA
UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO NOS CASOS EM QUE
O ATO ESTATAL TENHA CONTEÚDO POLISSÊMICO - ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE
PRECEITO FUNDAMENTAL JULGADA PROCEDENTE.
(ADPF 187, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 15/06/2011,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-102 DIVULG 28-05-2014 PUBLIC 29-05-2014)
 RHC 4660/STJ: quanto à exigência que a conduta do crime de apologia do crime ou criminoso se dê
publicamente, o Superior Tribunal de Justiça já consignou que tal elementar exige que a conduta seja
dirigida a um número indeterminado de pessoas, dirigido a elas ou que a mensagem possa ser por
elas recebida
RHC - PENAL - APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO - CONTRAVENÇÃO PENAL - PAZ PUBLICA - A
DENUNCIA DEVE DESCREVER A INFRAÇÃO PENAL, COM TODAS AS SUAS CIRCUNSTANCIAS. NO
CASO DO ART. 287, CP, INDICAR A CONDUTA QUE ELOGIA OU INCENTIVA "FATO CRIMINOSO",
OU "AUTOR DO CRIME". A APOLOGIA DE CONTRAVENÇÃO PENAL NÃO SATISFAZ ELEMENTO
CONSTITUTIVO DESSE DELITO. ALEM DISSO, IMPRESCINDIVEL REGISTRAR QUE A APOLOGIA SE
DEU PUBLICAMENTE, ISTO E, DIRIGIDA OU PRESENCIADA POR NUMERO INDETERMINADO DE
PESSOAS, OU, EM CIRCUNSTANCIA, EM QUE A ELAS POSSA CHEGAR A MENSAGEM. SO ASSIM,
SERA RELATADO O RESULTADO (PERIGO A PAZ PUBLICA), JURIDICAMENTE ENTENDIDO COMO A
PROBABILIDADE (PERIGO CONCRETO) DE O CRIME SER REPETIDO POR OUTREM, OU SEJA,
ESTIMULAR TERCEIROS A DELINQUENCIA.

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(RHC 4.660/RJ, Rel. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, SEXTA TURMA, julgado em
05/09/1995, DJ 30/10/1995, p. 36810)
 Art. 288 do Código Penal: crime de associação criminosa
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a
participação de criança ou adolescente.
 Art. 288 do Código Penal: redação anterior a alteração feita pela Lei 12.850/2013
Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer
crimes:
Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.
 AP 470 EI-décimos terceiros/STF: é imprescindível que haja a associação para a prática de crimes,
e não a mera reunião de pessoas para o cometimento de um delito e voltada diretamente para a sua
execução. A associação deve preceder o cometimento do(s) crime(s) para a sua consumação.
Ementa: EMBARGOS INFRINGENTES. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA PRESCRIÇÃO DA PENA
MÁXIMA APLICÁVEL EM TESE. PROVIMENTO DOS EMBARGOS. 1. As penas aplicadas ao crime
de quadrilha pelo acórdão embargado foram desproporcionais em si e, ademais, incongruentes
com as demais penas aplicadas aos outros crimes pelos quais foram os embargantes
condenados. 2. Mantendo-se proporcionalidade mínima e aplicando-se à pena de quadrilha o
maior percentual de majoração aplicado aos demais crimes, verifica-se a inexorável prescrição
da pretensão punitiva, com a extinção da punibilidade dos embargantes. 3. Se quatro juízes se
pronunciaram pela absolvição e ao menos dois pela prescrição, a incidência da pena por
quadrilha faria com que a posição da minoria prevalecesse sobre a da maioria, e isso em tema
especialmente sensível como o da privação da liberdade individual. 4. Preliminar de mérito que
pode ser conhecida em sede de embargos infringentes. Juízo que não envolve reapreciação da
dosimetria in concreto, e sim a constatação de vício interno ao acórdão, do qual resulta um
necessário realinhamento da pena máxima a que se poderia chegar. 5. Embargos infringentes
providos para se declarar extinta a punibilidade, sem necessidade de julgamento do mérito
propriamente dito. 6. De todo modo, caso se fosse avançar para o exame da procedência ou
improcedência das imputações, a hipótese dos autos revela concurso de agentes, e não a
caracterização do crime de quadrilha. Inexistência de elementos suficientes que demonstrem a
formação deliberada de uma entidade autônoma e estável, dotada de desígnios próprios e
destinada à prática de crimes indeterminados. (AP 470 EI-décimos terceiros, Relator(a): Min.
LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
27/02/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-161 DIVULG 20-08-2014 PUBLIC 21-08-2014)
 HC 426.706/STJ: para caracterização do crime, exige-se a demonstração do elemento subjetivo
específico do tipo, do intuito de "cometer crimes".
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. EXCEPCIONALIDADE. INÉPCIA DA DENÚNCIA. FRAUDE A

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PROCESSO SELETIVO PARA INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR. REQUISITOS DO ART. 41 DO CPP


PREENCHIDOS. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. ELEMENTOS DO TIPO. DEMONSTRAÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. DENÚNCIA INEPTA. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA
DE OFÍCIO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe
habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não
conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato
judicial impugnado.
2. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento segundo o qual, em razão da
excepcionalidade do trancamento da ação penal, tal medida somente se verifica possível quando
ficarem demonstrados - de plano e sem necessidade de dilação probatória - a total ausência de
indícios de autoria e prova da materialidade delitiva, a atipicidade da conduta ou a existência de
alguma causa de extinção da punibilidade. É certa, ainda, a possibilidade de trancamento da
persecução penal nos casos em que a denúncia for inepta, não atendendo o que dispõe o art. 41
do Código de Processo Penal, o que não impede a propositura de nova ação desde que suprida a
irregularidade. Precedentes.
3. Para o oferecimento da denúncia, exige-se apenas a descrição da conduta delitiva e a
existência de elementos probatórios mínimos que corroborem a acusação. Provas conclusivas
acerca da materialidade e da autoria do crime são necessárias apenas para a formação de um
eventual juízo condenatório. Embora não se admita a instauração de processos temerários e
levianos ou despidos de qualquer sustentáculo probatório, nessa fase processual, deve ser
privilegiado o princípio do in dubio pro societate. De igual modo, não se pode admitir que o
Julgador, em juízo de admissibilidade da acusação, termine por cercear o jus accusationis do
Estado, salvo se manifestamente demonstrada a carência de justa causa para o exercício da
ação penal.
4. A alegação de inépcia da denúncia deve ser analisada de acordo com os requisitos exigidos
pelos arts. 41 do CPP e 5º, LV, da CF/1988. Portanto, a peça acusatória deve conter a exposição
do fato delituoso em toda a sua essência e com todas as suas circunstâncias, de maneira a
individualizar o quanto possível a conduta imputada, bem como sua tipificação, com vistas a
viabilizar a persecução penal e o exercício da ampla defesa e do contraditório pelo réu.
5. No caso em exame, quanto ao crime descrito no art. 311-A, III, do Código Penal, a denúncia
exibe a tipificação legal da conduta praticada, traz a qualificação da paciente e expõe os atos
supostamente criminosos, com as suas circunstâncias. Nesse contexto, verifica-se que, além de
a paciente ter sido devidamente qualificada, juntamente com outros denunciados, no início da
denúncia, a acusação, ao relatar os fatos supostamente criminosos, faz referência a "todas as
provas dos denunciados" - mencionando, inclusive, declaração de expert no sentido de que "os
trinta e seis candidatos receberam orientações prévias acerca da metodologia a ser utilizada
para codificação".
6. Deve ser reconhecida a inépcia no tocante ao delito previsto no art. 288, parágrafo único, do
Código Penal. Isso porque, para caracterização do crime de quadrilha e bando, exige-se a
demonstração do elemento subjetivo específico do tipo, do intuito de "cometer crimes".
Ademais, faz-se necessário comprovar o caráter de durabilidade e estabilidade da associação, o
que a distingue do concurso de pessoas.

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7. No caso aqui analisado, a peça acusatória não descreve vínculo durável entre a paciente e os
demais denunciados para o cometimento de "crimes". Pelo contrário, a acusação, ao descrever
a suposta prática do crime de associação criminosa, afirmou estar "comprovado que os
denunciados, todos residentes em Goiânia ou em cidades próximas, frequentaram os mesmos
cursos preparatórios e lá se associaram com o fim específico de cometerem crimes". Todavia,
encontra-se comprovado nos autos que a paciente reside na cidade de Torrinha/SP, localizada a
mais de 750km de Goiânia/GO.
8. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para determinar o trancamento da
Ação Penal n. 0015053-44.2014.8.13.0470, apenas em relação à paciente e somente no tocante
ao crime de quadrilha, sem prejuízo de eventual oferecimento de nova inicial acusatória em
razão desse mesmo delito, desde que observados os requisitos do art. 41 do Código de Processo
Penal.
(HC 426.706/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe
24/04/2018)
 HC 72992/STF: é desnecessária efetiva prática de crimes para a configuração do delito previsto no
artigo 288 do CP
E M E N T A: HABEAS CORPUS - CASO "ABÍLIO DINIZ" - CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO, CONTRA
A PAZ PÚBLICA, CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CONTRA A PESSOA - DELITOS
PRATICADOS EM CO-AUTORIA - CONDENAÇÃO - PENA IN CONCRETO ATRIBUÍDA EM IGUAL
QUANTIDADE PARA TODOS OS RÉUS - DECISÃO PLENAMENTE MOTIVADA - FUNDAMENTAÇÃO
PROPORCIONAL AO RIGOR UTILIZADO NA APLICAÇÃO DA PENA - INOCORRÊNCIA DE OFENSA AO
ART. 29 DO CÓDIGO PENAL - INADMISSIBILIDADE DA DISCUSSÃO, EM HABEAS CORPUS, DOS
CRITÉRIOS DE ÍNDOLE PESSOAL SUBJACENTES À DOSIMETRIA DA PENA - PRETENDIDA
DESCARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE QUADRILHA - INADMISSIBILIDADE - PEDIDO INDEFERIDO.
IMPOSIÇÃO DE PENA CRIMINAL - RIGOR PENAL - NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO DO ATO
DECISÓRIO. - Os sentenciados têm direito público subjetivo à fundamentação individualizadora
das penas que venham a sofrer por efeito de condenação criminal. - Satisfaz integralmente a
exigência constitucional de motivação dos atos decisórios a condenação penal, que, ao optar
pelo limite máximo das penas impostas, expõe os elementos de fato em que se apoiou o juízo de
especial exacerbação da pena, explicitando dados da realidade objetiva aos quais se conferiu,
com extrema adequação, a pertinente valoração judicial procedida com estrita observância dos
parâmetros fixados pelo ordenamento positivo. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
- tratando-se de decisão penal condenatória que se revela impregnada, em toda a sua estrutura
formal, de coerência lógico-jurídica - tem ressaltado ser inviável o habeas corpus, quando
utilizado para impugnar o ato de fixação da pena, que, apoiado nas diretrizes dos arts. 59 e 68
do Código Penal, tenha derivado de valoração efetuada pelo Tribunal no que concerne ao grau
de culpabilidade dos agentes. CRIME DE QUADRILHA - ELEMENTOS DE SUA CONFIGURAÇÃO
TÍPICA. - O crime de quadrilha constitui modalidade delituosa que ofende a paz pública. A
configuração típica do delito de quadrilha ou bando deriva da conjugação dos seguintes
elementos caracterizadores : (a) concurso necessário de pelo menos quatro (4) pessoas (RT
582/348 - RT 565/406), (b) finalidade específica dos agentes voltada ao cometimento de delitos
(RTJ 102/614 - RT 600/383) e (c) exigência de estabilidade e de permanência da associação
criminosa (RT 580/328 - RT 588/323 - RT 615/272). - A existência de motivação política

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subjacente ao comportamento delituoso dos agentes não descaracteriza o elemento subjetivo


do tipo consubstanciado no art. 288 do CP, eis que, para a configuração do delito de quadrilha,
basta a vontade de associação criminosa - manifestada por mais de três pessoas -, dirigida à
prática de delitos indeterminados, sejam estes, ou não, da mesma espécie. - O crime de quadrilha
é juridicamente independente daqueles que venham a ser praticados pelos agentes reunidos na
societas delinquentium (RTJ 88/468). O delito de quadrilha subsiste autonomamente, ainda que
os crimes para os quais foi organizado o bando sequer venham a ser cometidos. - Os membros
da quadrilha que praticarem a infração penal para cuja execução foi o bando constituído
expõem-se, nos termos do art. 69 do Código Penal, em virtude do cometimento desse outro ilícito
criminal, à regra do cúmulo material pelo concurso de crimes (RTJ 104/104 - RTJ 128/325 - RT
505/352). CRIME DE QUADRILHA ARMADA (CP, ART. 288, PAR. ÚNICO). - A utilização de arma
por qualquer membro da quadrilha constitui elemento evidenciador da maior periculosidade do
bando, expondo todos que o integram à causa especial de aumento de pena prevista no art. 288,
parágrafo único, do Código Penal. Para efeito de configuração do delito de quadrilha armada,
basta que um só de seus integrantes esteja a portar armas. PERSECUÇÃO PENAL - CONDENAÇÃO
- ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE JUSTA CAUSA - NECESSIDADE DE REEXAME DA MATÉRIA DE
FATO - INADMISSIBILIDADE EM SEDE DE HABEAS CORPUS. - Torna-se inviável reconhecer, em
sede de habeas corpus, a ausência de justa causa para a persecutio criminis, se inexiste certeza
objetiva quanto à alegação de divórcio entre a condenação penal decretada e os elementos de
fato em que se apoiou a decisão judicial. É que a interpretação do conjunto probatório e o exame
aprofundado dos elementos de convicção não se revelam possíveis na via estreita do habeas
corpus. (HC 72992, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 21/11/1995,
DJ 14-11-1996 PP-44469 EMENT VOL-01850-02 PP-00350)
 REsp 1688915/STJ: quanto à previsão de associação armada, o STJ tem entendido ser suficiente,
para a incidência da majorante, que um dos agentes porte a arma
RECURSO ESPECIAL. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ARMADA. POSSE ILEGAL DE ARMAS DE FOGO DE
USO PERMITIDO E COM NUMERAÇÃO RASPADA. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. ALEGAÇÃO DE
DECLARAÇÃO SUPOSTAMENTE OBTIDA MEDIANTE TORTURA. SÚMULA N. 7 DO STJ. ART. 155 DO
CPP. OBSERVÂNCIA. ART. 8° DA LEI N. 8.072/1990. INCIDÊNCIA. PRÁTICA DE CRIMES HEDIONDOS
PELO BANDO. ART. 288, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CP. CARACTERIZAÇÃO. ARMA DE FOGO
UTILIZADA POR INTEGRANTES DO GRUPO, COM O CONHECIMENTO DOS DEMAIS. PERCENTUAL
DE AUMENTO MÁXIMO NÃO JUSTIFICADO. ART. 59 DO CP. NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO
CONCRETA PARA A EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. CRIMES AUTÔNOMOS. NECESSIDADE DE
INDICAÇÃO DE PROVAS DE AUTORIA OU DE PARTICIPAÇÃO PARA INCIDÊNCIA DO CONCURSO
MATERIAL. ART. 65, I, DO CP. RÉU MENOR DE 21 ANOS. INCIDÊNCIA OBRIGATÓRIA. PRIMEIRO
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTA EXTENSÃO, PARCIALMENTE
PROVIDO. SEGUNDO RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. TERCEIRO RECURSO
ESPECIAL NÃO CONHECIDO, COM CONCESSÃO DE ORDEM DE OFÍCIO, NOS TERMOS DO ART. 580
DO CPP.
1. A tese de nulidade de todo o processo, deduzida sob o argumento de que o depoimento que
originou a investigação criminal e, por consequência, a interceptação telefônica, foi obtido por
meio de coação na delegacia de polícia, demanda reexame de provas para ser dirimida, incabível
no recurso especial a teor da Súmula n. 7 do STJ. 2. À luz do art. 155 do CPP, é possível condenar
o réu com lastro em interceptação telefônica (prova cautelar com contraditório diferido)

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convergente com as demais provas obtidas no processo penal e com a declaração de testemunha
ouvida na fase policial.
3. O ingresso em associação criminosa estruturalmente organizada para a prática de ilícitos
variados, inclusive de natureza hedionda, caracteriza o crime do art. 288 do CP em sua forma
qualificada, com a pena estabelecida no art. 8° da Lei n. 8.072/1990, independentemente da
efetiva participação do integrante nos crimes-fins. O aresto recorrido registra que, entre os
delitos praticados pelo bando, consta a prática de extorsão mediante sequestro e homicídios
qualificados, objetos de procedimentos próprios.
4. Na terceira fase da dosimetria, basta que um dos membros da associação criminosa, com o
conhecimento dos demais, traga arma de fogo consigo para ficar caracterizada a situação de
maior perigo e atrair a majorante do art. 288, parágrafo único, do CP.
5. No delito de associação criminosa armada, aumenta-se a pena até a metade, sempre de forma
justificada, o que não ocorreu na hipótese.
Ante a ausência de motivação judicial, o percentual de exasperação deve ser redimensionado
para o mínimo legal (1/6).
6. Não há falar em violação do art. 59 do CP se a magnitude do crime, que ultrapassou o
resultado inerente do tipo penal, foi registrada pela instância ordinária para manter a mais
severa punição do agente. Constou no acórdão, de maneira idônea, que a perturbação à paz
pública foi de tal monta que ensejou a submissão dos moradores de todo um bairro às
determinações da associação criminosa integrada pelo agravante.
7. O simples fato de o agente integrar o bando criminoso não é suficiente para, por si só,
responsabilizá-lo por todos os crimes autônomos praticados por outros membros, inteiramente
alheios a sua vontade. 8. Sem indicação de provas de coautoria ou de participação de alguns
recorrentes em crimes autônomos previstos no Estatuto do Desarmamento, não há falar em
condenação automática na forma dos arts. 12 e 16, parágrafo único, ambos da Lei n.
10.826/2003.
9. Em relação ao réu que, consoante o enquadramento fático do acórdão, circulava
ostensivamente armado, com o registro de apreensão do artefacto em sua residência,
remanesce a incursão no art. 12 da Lei n. 10.826/2003, com o reconhecimento de violação do
art. 59 do CP, à míngua de fundamentação concreta para a exasperação da pena básica.
10. Para fins penais, pouco importa a modificação do conceito civil de maioridade. Permanece a
estipulação da idade de 21 anos para fins de incidência do art. 65, I, do CP, a menos que haja
revogação legal expressa, pois o legislador considerou, na etapa da individualização da pena, a
imaturidade do agente, ainda fortemente influenciável em razão de sua pouca idade.
11. O recurso especial lastreado no art. 105, III, "c", da Constituição Federal não pode ser
conhecido se ausente a indicação de arestos paradigmas para comprovação de dissídio
jurisprudencial.
Contudo, ante a regra do art. 580 do CPP, de ofício, devem ser estendidos os efeitos do acórdão
a corréus em idêntica situação fática-processual.

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12. Recurso especial de Sidney Pereira de Abreu parcialmente conhecido e, nesta extensão,
parcialmente provido, para reconhecer a violação do art. 288, parágrafo único, do CP e arts. 12
e 16 da Lei n. 10.826/2003, com a absolvição do recorrente pelos crimes do Estatuto do
Desarmamento e a redução da pena do crime de associação criminosa armada, a ser cumprida
no regime inicial fechado. Recurso especial de Wellington Correa do Amparo, Jefferson da Silva
Francisco e Marcio Henrique Idalgo Rodrigues dos Santos parcialmente provido, nos termos do
voto, que especifica a situação de cada um, para reconhecer a violação dos arts. 65, I, 288,
parágrafo único, ambos do CP, e dos arts. 12 e 16 da Lei n. 10.826/2003. Recurso especial de Luiz
Felipe Nunes de Souza e Alexandre dos Santos não conhecido, com aplicação, de ofício, do art.
580 do CPP, para estender a eles os efeitos benéficos do acórdão, com absolvição pelos crimes
do Estatuto do Desarmamento e redimensionamento da pena de associação criminosa armada.
(REsp 1688915/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
27/02/2018, DJe 20/03/2018)
 HC 72992/STF: o Supremo Tribunal Federal possui julgado no mesmo sentido, ainda se referindo
ao crime de quadrilha (antigo nomen iuris ou denominação do crime do artigo 288 do Código Penal)
E M E N T A: HABEAS CORPUS - CASO "ABÍLIO DINIZ" - CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO, CONTRA
A PAZ PÚBLICA, CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CONTRA A PESSOA - DELITOS
PRATICADOS EM CO-AUTORIA - CONDENAÇÃO - PENA IN CONCRETO ATRIBUÍDA EM IGUAL
QUANTIDADE PARA TODOS OS RÉUS - DECISÃO PLENAMENTE MOTIVADA - FUNDAMENTAÇÃO
PROPORCIONAL AO RIGOR UTILIZADO NA APLICAÇÃO DA PENA - INOCORRÊNCIA DE OFENSA AO
ART. 29 DO CÓDIGO PENAL - INADMISSIBILIDADE DA DISCUSSÃO, EM HABEAS CORPUS, DOS
CRITÉRIOS DE ÍNDOLE PESSOAL SUBJACENTES À DOSIMETRIA DA PENA - PRETENDIDA
DESCARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE QUADRILHA - INADMISSIBILIDADE - PEDIDO INDEFERIDO.
IMPOSIÇÃO DE PENA CRIMINAL - RIGOR PENAL - NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO DO ATO
DECISÓRIO. - Os sentenciados têm direito público subjetivo à fundamentação individualizadora
das penas que venham a sofrer por efeito de condenação criminal. - Satisfaz integralmente a
exigência constitucional de motivação dos atos decisórios a condenação penal, que, ao optar
pelo limite máximo das penas impostas, expõe os elementos de fato em que se apoiou o juízo de
especial exacerbação da pena, explicitando dados da realidade objetiva aos quais se conferiu,
com extrema adequação, a pertinente valoração judicial procedida com estrita observância dos
parâmetros fixados pelo ordenamento positivo. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
- tratando-se de decisão penal condenatória que se revela impregnada, em toda a sua estrutura
formal, de coerência lógico-jurídica - tem ressaltado ser inviável o habeas corpus, quando
utilizado para impugnar o ato de fixação da pena, que, apoiado nas diretrizes dos arts. 59 e 68
do Código Penal, tenha derivado de valoração efetuada pelo Tribunal no que concerne ao grau
de culpabilidade dos agentes. CRIME DE QUADRILHA - ELEMENTOS DE SUA CONFIGURAÇÃO
TÍPICA. - O crime de quadrilha constitui modalidade delituosa que ofende a paz pública. A
configuração típica do delito de quadrilha ou bando deriva da conjugação dos seguintes
elementos caracterizadores : (a) concurso necessário de pelo menos quatro (4) pessoas (RT
582/348 - RT 565/406), (b) finalidade específica dos agentes voltada ao cometimento de delitos
(RTJ 102/614 - RT 600/383) e (c) exigência de estabilidade e de permanência da associação
criminosa (RT 580/328 - RT 588/323 - RT 615/272). - A existência de motivação política
subjacente ao comportamento delituoso dos agentes não descaracteriza o elemento subjetivo
do tipo consubstanciado no art. 288 do CP, eis que, para a configuração do delito de quadrilha,

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basta a vontade de associação criminosa - manifestada por mais de três pessoas -, dirigida à
prática de delitos indeterminados, sejam estes, ou não, da mesma espécie. - O crime de quadrilha
é juridicamente independente daqueles que venham a ser praticados pelos agentes reunidos na
societas delinquentium (RTJ 88/468). O delito de quadrilha subsiste autonomamente, ainda que
os crimes para os quais foi organizado o bando sequer venham a ser cometidos. - Os membros
da quadrilha que praticarem a infração penal para cuja execução foi o bando constituído
expõem-se, nos termos do art. 69 do Código Penal, em virtude do cometimento desse outro ilícito
criminal, à regra do cúmulo material pelo concurso de crimes (RTJ 104/104 - RTJ 128/325 - RT
505/352). CRIME DE QUADRILHA ARMADA (CP, ART. 288, PAR. ÚNICO). - A utilização de arma
por qualquer membro da quadrilha constitui elemento evidenciador da maior periculosidade do
bando, expondo todos que o integram à causa especial de aumento de pena prevista no art. 288,
parágrafo único, do Código Penal. Para efeito de configuração do delito de quadrilha armada,
basta que um só de seus integrantes esteja a portar armas. PERSECUÇÃO PENAL - CONDENAÇÃO
- ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE JUSTA CAUSA - NECESSIDADE DE REEXAME DA MATÉRIA DE
FATO - INADMISSIBILIDADE EM SEDE DE HABEAS CORPUS. - Torna-se inviável reconhecer, em
sede de habeas corpus, a ausência de justa causa para a persecutio criminis, se inexiste certeza
objetiva quanto à alegação de divórcio entre a condenação penal decretada e os elementos de
fato em que se apoiou a decisão judicial. É que a interpretação do conjunto probatório e o exame
aprofundado dos elementos de convicção não se revelam possíveis na via estreita do habeas
corpus. (HC 72992, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 21/11/1995,
DJ 14-11-1996 PP-44469 EMENT VOL-01850-02 PP-00350)
 Art. 8º da Lei 8.072/90: qualificadora do crime de associação criminosa
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando
se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins
ou terrorismo.
 Art. 8º, parágrafo único da Lei 8.072/90: delação premiada
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
Ä Art. 87, parágrafo único da Lei 12.529/2011: acordo de leniência
Lei 12.529/2011, Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de
27 de dezembro de 1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais
como os tipificados na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, a celebração de acordo de
leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede
o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a
punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo.
 Art. 35 da Lei 11.343/2006: associação para o tráfico de drogas
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não,
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

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Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e
duzentos) dias-multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a
prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.
 HC 288929/STJ: o Superior Tribunal de Justiça entende não configurar bis in idem a condenação do
sujeito pelo crime de roubo majorado pelo emprego de arma de fogo e pelo crime de associação
criminosa, com a majorante de a associação ser armada. Entende-se que há diversidade dos bens
jurídicos tutelados.
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. DESCABIMENTO. ROUBO TRIPLAMENTE
CIRCUNSTANCIADO. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ARMADA. 1) CONCOMITÂNCIA ENTRE OS
DELITOS DE ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO EMPREGO DE ARMA E CONCURSO DE PESSOAS E
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (QUADRILHA OU BANDO) ARMADA. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA. 2)
UTILIZAÇÃO DE ARMA DE FOGO. AUSÊNCIA DE APREENSÃO E PERÍCIA. COMPROVAÇÃO POR
OUTROS MEIOS DE PROVA. POSSIBILIDADE. 3) CRITÉRIO MATEMÁTICO DE AUMENTO DE PENA
NA TERCEIRA FASE DA DOSIMETRIA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. ENUNCIADO N. 443 DA
SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
4) CONTINUIDADE DELITIVA. DESÍGNIOS AUTÔNOMOS. MODIFICAÇÃO DO ENTENDIMENTO DAS
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. REEXAME APROFUNDADO DE PROVAS. INADMISSIBILIDADE DA VIA
ELEITA. IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
- O STJ, seguindo entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, passou a não admitir o
conhecimento de habeas corpus substitutivo de recurso previsto para a espécie. No entanto,
deve-se analisar o pedido formulado na inicial, tendo em vista a possibilidade de se conceder a
ordem de ofício, em razão da existência de eventual coação ilegal.
- Inexiste bis in idem em razão da condenação concomitante pelos delitos de roubo majorado
pelo emprego de arma de fogo e concurso de pessoas e de associação criminosa armada, antigo
quadrilha ou bando armado, porquanto os delitos são independentes entre si e tutelam bens
jurídicos distintos.
- A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a incidência da majorante da
utilização de arma prescinde da apreensão e perícia no objeto, uma vez comprovada sua
utilização por outros meios de prova, como o testemunho das vítimas, como ocorreu no caso dos
autos.
- Nos termos do disposto na Enunciado n. 443 da Súmula desta Corte, "o aumento na terceira
fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta,
não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes".
Ressalva do entendimento deste Relator.
- Na hipótese, embora as circunstâncias fáticas do delito em tela justificassem um aumento mais
elevado, as instâncias ordinárias fundamentaram o aumento da pena em fração superior a 1/3
com base unicamente no critério matemático, a evidenciar a necessidade de aplicação da fração
mínima.
- O reconhecimento da continuidade delitiva, em detrimento da prática dos delitos com desígnios
autônomos, em reiteração criminosa, como estabelecido pelas instâncias de origem, requer o

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revolvimento do conteúdo fático-probatório dos autos, o que não é cabível na estreita via do
habeas corpus.
Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reduzir a pena aplicada ao
paciente unicamente quanto aos delitos de roubo.
(HC 288.929/SP, Rel. Ministro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP),
SEXTA TURMA, julgado em 16/04/2015, DJe 30/04/2015)
 Art. 288-A do Código Penal: crime de constituição de milícia privada
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste
Código:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.
 Art. 289 do Código Penal: crime de moeda falsa
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal
no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à
circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e
multa.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor,
gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava
ainda autorizada.
Ä CC 145.378/STJ: o STJ já decidiu que, ainda que o crime de moeda falsa seja absorvido pelo peculato,
a efetiva utilização das notas falsificadas atrai o interesse da União e determina a competência da
Justiça Federal
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO
DE USO RESTRITO. MOEDA FALSA. INEXISTÊNCIA DE CONEXÃO ENTRE AS CONDUTAS.
INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 122/STF. SEPARAÇÃO DOS PROCESSOS. CONFLITO CONHECIDO.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO PARA PROCESSO E JULGAR OS CRIMES DE TRÁFICO E POSSE
DE ARMA DE USO RESTRITO.
1. É pacífico o entendimento desta Corte Superior no sentido de ser possível a separação das
investigações, quando não há conexão probatória, teleológica ou instrumental entre os crimes
em apuração.

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2. Inexistindo qualquer ligação do crime de moeda falsa, que ocorreu em contexto totalmente
diverso da investigação relativa aos crime de tráfico de drogas e porte de ilegal de arma de fogo
de uso restrito, não há que se falar em conexão. 3. Independentemente da análise se o crime de
moeda falsa será absorvido pelo crime de peculato, constata-se que houve a efetiva utilização
de notas falsificadas na prática criminosa, o que, por si só, já revela o interesse da União e
autoriza a manutenção dessa ação penal na Justiça Federal.
4. Conflito de competência conhecido para declarar o Juízo Federal da 35ª Vara da Seção
Judiciária de Minas Gerais o competente para processar e julgar a suposta prática de crime com
utilização de moeda falsa, devendo a investigação relativa aos crimes de tráfico de drogas e
porte de arma de fogo de uso restrito ser remetida para o Juízo de Direito da Vara da Comarca
de Santa Luzia/MG.
(CC 145.378/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/09/2017,
DJe 06/10/2017)
 Art. 290 do Código Penal: crimes assimilados ao de moeda falsa
Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas,
notas ou bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de
restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir à circulação cédula, nota ou
bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de inutilização:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze anos e multa, se o crime é cometido
por funcionário que trabalha na repartição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela tem fácil
ingresso, em razão do cargo.
 Art. 291 do Código Penal: crime de petrechos para falsificação de moeda
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação
de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
 CC 7682/STJ: o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, se os petrechos servirem para a prática
de outros crimes, a competência será da Justiça Estadual
PROCESSUAL PENAL - COMPETENCIA - PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA (ART. 291
DO CP) 1. SE OS PETRECHOS OU INSTRUMENTOS APREENDIDOS NÃO SE PRESTAM APENAS PARA
A CONTRAFAÇÃO DA MOEDA, JA QUE PODEM SER UTILIZADOS PARA A PRATICA DE OUTRAS
FRAUDES, COMO, POR EXEMPLO, O "CONTO DO PACO", A COMPETENCIA PARA CONHECER DA
AÇÃO PENAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL.
2. CONFLITO CONHECIDO E DECLARADO COMPETENTE O JUIZO SUSCITADO.
(CC 7.682/SP, Rel. Ministro ANSELMO SANTIAGO, TERCEIRA SECAO, julgado em 16/06/1994, DJ
05/12/1994, p. 33519)
 Art. 292 do Código Penal: emissão de título ao portador sem permissão legal

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Art. 292 - Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha promessa
de pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte indicação do nome da pessoa a quem
deva ser pago:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como dinheiro qualquer dos documentos referidos
neste artigo incorre na pena de detenção, de quinze dias a três meses, ou multa.
 Art. 293 do Código Penal: crime de falsificação de papéis públicos
Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal
destinado à arrecadação de tributo;
II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
III - vale postal;
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento
mantido por entidade de direito público;
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas
públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável;
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por
Estado ou por Município:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo;
II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à
circulação selo falsificado destinado a controle tributário;
III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação.
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere
o parágrafo anterior.

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§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé, qualquer dos papéis
falsificados ou alterados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade
ou alteração, incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1o, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros
públicos e em residências.
 Art. 294 do Código Penal: crime de petrechos de falsificação
Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à
falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
 Art. 295 do Código Penal: causa de aumento de pena que, segundo a doutrina, se aplica aos crimes
do Capítulo II do Título X
Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.
 Art. 296 do Código Penal: crime de falsificação de selo ou sinal público
Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público
de tabelião:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Incorre nas mesmas penas:
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito
próprio ou alheio.
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros
símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública.
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-
se a pena de sexta parte.
 Art. 297 do Código Penal: delito de falsificação de documento público
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-
se a pena de sexta parte.

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§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade


paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial,
os livros mercantis e o testamento particular.
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova
perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva
produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido
escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações
da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter
constado.
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do
segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de
prestação de serviços.
 Súmula nº 48 do STJ: no caso de estelionato cometido mediante a falsificação de cheque, é
competente o juízo do local da obtenção da vantagem ilícita (consumação do estelionato)
Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
 Súmula nº 62 do STJ: o enunciado fixa a competência da Justiça Estadual para julgar o crime de
falsa anotação na CTPS, se o registro for atribuído a empresa privada
Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho
e Previdência Social, atribuído à empresa privada.
 Súmula nº 104 do STJ: o STJ também atribui à Justiça Estadual a competência para o julgamento de
crime de falsificação de documento relacionado a estabelecimento particular de ensino
Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de
documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
 Súmula nº 104 do STJ: o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento consolidado que
compete à Justiça Estadual julgar crime de estelionato praticado por meio de falsificação de guia de
recolhimento das contribuições previdenciárias, desde que não tenha ocorrido lesão ao Instituto
Nacional do Seguro Social – INSS
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado mediante
falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente
lesão à autarquia federal.
 RHC 66784/STJ: o Superior Tribunal de Justiça consigna no seguinte acórdão que a falsidade
documental, assim como a ideológica, consuma-se no momento da falsificação. Ademais, foi decidido
que a falsificação de documento emitido por junta comercial não atrai, apenas pela sua subordinação
técnica ao Departamento Nacional de Registro do Comércio, a competência da Justiça Federal

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PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FALSIDADE IDEOLÓGICA E


FALSIDADE DOCUMENTAL. COMPETÊNCIA DETERMINADA PELO LOCAL DA CONSUMAÇÃO DOS
DELITOS. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 69, INCISO I, E 70, AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
SIMPLES ENVOLVIMENTO DA JUNTA COMERCIAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO.
RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO.
I - Na linha da jurisprudência desta Corte, "os tipos penais de falsidade ideológica e falsificação
documental consumam-se no momento da falsificação, sendo irrelevante o local do resultado
[...]" (CC n. 101.184/PR, Terceira Seção, Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe de 21/6/2013).
II - A competência da Justiça Federal para apuração de crimes decorre do art. 109, inciso IV, da
Constituição Federal, que afirma, dentre outras coisas, que compete aos juízes federais processar
e julgar "as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União
ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada
a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral".
III - É cediço que as juntas comerciais estão subordinadas administrativamente ao ente
federativo de sua jurisdição e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do
Comércio, ex vi da Lei n. 8.934/1994.
IV - No caso vertente, entretanto, não houve ofensa direta a bens, serviços ou interesses da
União, conforme art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, razão pela qual se afasta a
competência da Justiça Federal.
Recurso Ordinário desprovido.
(RHC 66.784/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2016, DJe
01/08/2016)
 CC 26105/STJ: o STJ já decidiU ser da competência da Justiça Eleitoral a falsificação de documento
público para fins eleitorais
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. JUÍZOS COMUM E ELEITORAL. FALSIFICAÇÃO
DE TÍTULO. FINS ELEITORAIS. CANDIDATURA À VEREADORA. CAPITULAÇÃO NO CÓDIGO
ELEITORAL.
A falsificação do respectivo documento público - título de eleitor ? tinha fins eleitorais, crime
previsto no Código Eleitoral (arts. 348 e 353).
Conflito conhecido, declarando-se a competência do juízo eleitoral suscitado.
(CC 26.105/PA, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
27/06/2001, DJ 27/08/2001, p. 221)
 Art. 298 do Código Penal: crime de falsificação de documento particular
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular
verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

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Ä Art. 298, parágrafo único do Código Penal: estende a abrangência do caput, ao incluir como seu
objeto material o cartão de crédito ou débito, dando a essa figura um nomen iuris diverso, o de
falsificação de cartão
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão
de crédito ou débito.
 Art. 299 do Código Penal: crime de falsificação ideológica
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três
anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta
parte.
 Súmula nº 387 do STF: o preenchimento de cambial emitida em branco ou com lacunas, pelo credo
de boa-fé, é lícito, o que afasta o cometimento do crime
A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de
boa-fé antes da cobrança ou do protesto.
 REsp 598.891/STJ: o STJ já decidiu pelo afastamento do crime pelo preenchimento de nota
promissória emitida em branco
RECURSO ESPECIAL. NOTA PROMISSÓRIA. EMISSÃO EM BRANCO. PREENCHIMENTO INCORRETO.
MÁ-FÉ DO CREDOR. INVALIDADE.
1. É lícito emitir nota promissória em branco, para que o valor seja posteriormente preenchido
pelo credor.
2. O preenchimento, entretanto, pode acarretar a nulidade do título se o credor agir de má-fé,
impondo ao devedor obrigação cambial sabidamente superior à prometida.
3. Ainda que se afaste a tese da existência de falsidade ideológica, o título fica maculado pela
quebra da boa-fé, princípio regente do direito privado e ignorado por quem preencheu a nota
promissória.
(REsp 598.891/GO, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Rel. p/ Acórdão Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/04/2006, DJ 12/06/2006, p.
473)
 RHC 67023/STF: Supremo Tribunal Federal possui precedente em que considera que o documento
sujeito à verificação, de forma objetiva e com confronto de seu conteúdo pela autoridade, não é apto
para configuração do crime de falsidade ideológica
'HABEAS CORPUS'. FALSIDADE IDEOLOGICA A SER APURADA EM INQUERITO POLICIAL, QUE SE
PRETENDE DEVA SER TRANCADO. - ESTA PRIMEIRA TURMA, AO JULGAR O HC-62874 (RTJ-
115/166 E SEGS.), ENTENDEU QUE, AINDA QUANDO SE ADMITA QUE O DOCUMENTO SUJEITO A
VERIFICAÇÃO NÃO E HABIL PARA A CONFIGURAÇÃO DE FALSIDADE IDEOLOGICA, ISSO SÓ

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OCORRERIA 'QUANDO A VERDADE, QUE O FUNCIONÁRIO ESTA ADSTRITO A VERIFICAR, E


APURAVEL POR MEIO DE CONFRONTO OBJETIVO E CONCOMITANTE DA AUTORIDADE,
DISPENSANDO INDAGAÇÃO COMPLEXA E FUTURA'. _ COMO TAMBÉM DECIDIU ESTA CORTE,
POR SUA SEGUNDA TURMA, AO JULGAR O RE CRIMINAL 93292 (RTJ 101/311 E SEGS.), 'PARA
QUE SE CONFIGURE ESSE CRIME (O DE FALSIDADE IDEOLOGICA) NÃO E MISTER A OCORRENCIA
DE DANO EFETIVO, BASTA QUE SE VERIFIQUE A POTENCIALIDADE DE UM EVENTO DANOSO'. -
INEXISTÊNCIA, POIS, DE RAZÃO PARA O TRANCAMENTO DO INQUERITO POLICIAL. RECURSO
ORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (RHC 67023, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES,
Primeira Turma, julgado em 29/11/1988, DJ 17-02-1989 PP-00972 EMENT VOL-01530-02 PP-
00411)
 REsp 137739/STJ: o Superior Tribunal de Justiça, de forma mais recente, tem decidido neste
sentido, afastando o crime de falsidade ideológica se o documento estiver sujeito a posterior
verificação, sem indagação complexa
PENAL. FALSIDADE IDEOLÓGICA. DOCUMENTO SUJEITO A POSTERIOR VERIFICAÇÃO, SEM
INDAGAÇÃO COMPLEXA.
1. Não há ofensa à fé pública e conseqüentemente não se perfaz a figura delituosa do art. 299
do Código Penal, simples requerimento de inscrição em concurso público, onde se afirma, sob as
penas da lei, ser portador de diploma de Bacharel em Direito, sem que isto corresponda à
realidade. É que o requerimento nesta hipótese, sujeito a posterior verificação, sem indagação
complexa e futura, não se presta à comprovação da condição habilitadora, ou na dicção do STF,
não vale por si mesmo.
2. Recurso especial não conhecido.
(REsp 137.739/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA, julgado em
08/09/1998, DJ 13/10/1998, p. 193)
 AgRg no RHC 43279/STJ: o STJ não considera configurar o crime de falsidade ideológica a declaração
de pobreza para fins de gratuidade da justiça que não se coadune com a realidade
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. WRIT JULGADO PREJUDICADO. PERDA DO
INTERESSE DE AGIR. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. INOCORRÊNCIA. FALSIDADE
IDEOLÓGICA. DECLARAÇÃO DE POBREZA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. TRANCAMENTO DA AÇÃO
PENAL. AGRAVO PROVIDO.
1. "A aceitação, pelo recorrente, do benefício da suspensão condicional do processo nos termos
do artigo 89 da Lei n. 9.099/1995, não prejudica o exame de mérito do presente writ, pois, acaso
descumpridas as condições impostas, a ação penal poderá retomar o seu curso normal."(RHC
60.739/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, DJe 05/10/2016)
2. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a mera declaração de
estado de pobreza para fins de obtenção dos benefícios da justiça gratuita não é considerada
conduta típica, diante da presunção relativa de tal documento, que comporta prova em contrário
"(RHC 24.606/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 02/06/2015) 3. In casu, o ora
agravante foi denunciado por falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal), por ter firmado
falsamente declaração de pobreza, com o fito de obter o benefício da justiça gratuita. Após
receber a peça exordial, o Magistrado determinou a intimação do acusado para comparecer à
audiência de proposta de suspensão condicional do processo, sem antes apreciar as teses

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aventadas pela Defesa na resposta à acusação, dentre as quais sustentava-se que a conduta
praticada era atípica.
4. Agravo regimental provido para trancar a ação penal.
(AgRg no RHC 43.279/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 19/12/2016)
 Art. 300 do Código Penal: crime de falso reconhecimento de firma ou letra
Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o não
seja:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público; e de um a três anos, e
multa, se o documento é particular.
 Art. 301 do Código Penal: crime de certidão ou atestado ideologicamente falso
Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que
habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou
qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
 Art. 301, parágrafo primeiro do Código Penal: forma qualificada
§ 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o teor de certidão ou de
atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo
público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
 Art. 301, parágrafo segundo do Código Penal: modalidade mercenária do delito
§ 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de liberdade,
a de multa.
 Art. 302 do Código Penal: crime de falsidade de atestado médico
Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:
Pena - detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
 Art. 303 do Código Penal: crime de reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica
Art. 303 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica que tenha valor para coleção, salvo quando
a reprodução ou a alteração está visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou peça:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para fins de comércio, faz uso do selo ou peça
filatélica.
 Art. 39 da Lei 6.538/78: o tipo penal previsto no art. 303 do Código Penal foi ab-rogado, ou seja,
sofreu revogação total pelo artigo abaixo transcrito

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Art. 39 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica de valor para coleção, salvo quando a
reprodução ou a alteração estiver visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou peça:
Pena: detenção, até dois anos, e pagamento de três a dez dias-multa.
Ä Art. 39 da Lei 6.538/78: revogou o artigo 303, parágrafo único do Código Penal
Parágrafo único - Incorre nas mesmas penas, quem, para fins de comércio, faz uso de selo ou
peça filatélica de valor para coleção, ilegalmente reproduzidos ou alterados.
 Art. 304 do Código Penal: crime de uso de documento falso
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts.
297 a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
 HC 112176/STF: o Supremo Tribunal Federal entende não ser necessário o exame pericial no
documento falso, se houver elementos nos autos que demonstrem que o agente fez uso de tal
documento, bem como que permitam a conclusão sobre sua falsidade
Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL. PACIENTE CONDENADO PELOS CRIMES DE USO DE
DOCUMENTO FALSO (ART. 304 DO CP) E FALSA IDENTIDADE (ART. 307 DO CP). EXAME PERICIAL
PRESCINDÍVEL. MATERIALIDADE DEMONSTRADA POR OUTROS ELEMENTOS DE PROVA.
ATRIBUIÇÃO DE FALSA IDENTIDADE PERANTE AUTORIDADE POLICIAL. ALEGAÇÃO DE
AUTODEFESA. JURISPRUDÊNCIA DA CORTE NO SENTIDO DA IMPOSSIBILIDADE. TIPICIDADES DAS
CONDUTAS VERIFICADAS. ORDEM DENEGADA. I – Este Tribunal já assentou o entendimento de
que, para a caracterização do delito de uso de documento falso, previsto no art. 304 do Código
Penal, é despiciendo o exame pericial no documento utilizado pelo agente, se os demais
elementos de prova contidos dos autos evidenciarem a sua falsidade. Precedentes. II – No caso
sob exame, o próprio paciente confessou que adquiriu os documentos falsos na Praça da Sé, em
São Paulo, circunstância que foi corroborada pela prova testemunhal produzida em juízo. III –
Ambas as Turmas desta Corte já se pronunciaram no sentido de que comete o delito tipificado
no art. 307 do Código Penal aquele que, conduzido perante a autoridade policial, atribui a si falsa
identidade com o intuito de ocultar seus antecedentes, entendimento que foi reafirmado pelo
Plenário Virtual, ao apreciar o RE 640.139/DF, Rel. Min. Dias Toffoli. IV – Habeas corpus
denegado.
(HC 112176, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
14/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-168 DIVULG 24-08-2012 PUBLIC 27-08-2012)
 HC 111706/STF: a Suprema Corte também já afastou a alegação de atipicidade da conduta no caso
de que a finalidade de ocultar a situação irregular no país não afasta a ocorrência do crime de uso de
documento falso, por não ser tal fato abrangido pelo exercício da autodefesa
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. USO DE DOCUMENTO FALSO. 1. ALEGADA ATIPICIDADE DA
CONDUTA DE USO DESSE DOCUMENTO COM A FINALIDADE DE OCULTAR SITUAÇÃO IRREGULAR
NO PAÍS. NÃO HÁ FALAR EM EXERCÍCIO DA AUTODEFESA. 2. CONDENAÇÃO POR TRÁFICO
INTERNACIONAL DE ENTORPECENTE EM RAZÃO DE FATO AUTÔNOMO DAQUELES QUE
ENSEJARAM A CONDENAÇÃO PELO USO DE DOCUMENTO FALSO. INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM.
IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE PROVA EM HABEAS CORPUS. 3. REITERAÇÃO DELITIVA
CONSIDERADA NA PRIMEIRA E NA TERCEIRA FASE DA DOSIMETRIA DA PENA. BIS IN IDEM

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CARACTERIZADO. 1. Alegação de atipicidade da conduta imputada ao Paciente. Uso de


documento falso com a finalidade de ocultar situação irregular no país, que não caracteriza o
exercício da autodefesa. 2. Delito de tráfico internacional praticado pelo Paciente em 7.4.2008.
Denúncia relativa à imputação da prática dos delitos previstos no art. 304 c/c 297 do Código
Penal pela utilização de documento falso em momentos distintos. Inexistência de bis in idem.
Impossibilidade de reexame de fatos e de provas em habeas corpus. 3. Reiteração da conduta
imputada ao Paciente considerada na primeira fase da dosimetria, para a fixação da pena-base,
e na terceira fase, com a aplicação da causa de aumento da continuidade delitiva do art. 71 do
Código Penal. Bis in idem caracterizado. 4. Ordem parcialmente concedida para determinar que
o juízo da 1ª Vara Federal de Guarulhos, Seção Judiciária de São Paulo, refaça a dosimetria da
pena do Paciente sem considerar a reiteração delitiva do Paciente em bis in idem e, em razão da
nova pena a ser imposta, reexamine os requisitos para a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos e para a fixação do regime prisional.
(HC 111706, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 04/12/2012,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-246 DIVULG 14-12-2012 PUBLIC 17-12-2012)
 Súmula nº 546 do STJ: o STJ decidiu que a competência para julgar o crime de uso de documento
falso é definida em virtude da autoridade, entidade ou órgão ao qual foi apresentado. Assim, conclui-
se que o uso de documento falso perante a Justiça do Trabalho torna competente a Justiça Federal,
enquanto a apresentação de documento falso para a Secretaria Municipal de Saúde configura crime
estadual
A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão
da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a
qualificação do órgão expedidor.
 Súmula nº 200 do STJ: o STJ firmou o entendimento de que é competente o Juízo Federal do local
em que se consumou o crime de uso de documento falso
O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso
é o do lugar onde o delito se consumou.
 O STJ tem entendi que o uso deve ser absorvido pelo crime de falsificação de documento, quando
o agente cometeu ambos os delitos:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. FALSIFICAÇÃO E USO DE
DOCUMENTO FALSO. DELITO DE USO POST FACTUM NÃO PUNÍVEL. ABSORÇÃO. PERMANÊNCIA
DA AÇÃO PENAL SOMENTE COM RELAÇÃO AO DELITO DO ART. 298 DO CÓDIGO PENAL. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A teor da jurisprudência desta Corte, o uso de documento falsificado (CP, art. 304) deve ser
absorvido pela falsificação do documento público ou privado (CP, arts. 297 e 298), quando
praticado pelo mesmo agente, caracterizando o delito de uso post factum não punível, ou seja,
mero exaurimento do crime de falso, não respondendo o falsário pelos dois crimes, em concurso
material.
2. Se da simples leitura da denúncia, é possível verificar que os agentes são acusados de terem
falsificado um Termo de Confissão de Dívidas e, após, utilizado o mesmo documento para cobrar
a "falsa dívida" do devedor, é possível, de plano, verificar que não há que se falar em prática de

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dois crimes (falsificação de documento particular e de uso de documento falso), devendo


continuar a persecução penal somente no que se refere ao crime do art. 298 do CP.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no RHC 112.730/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
03/03/2020, DJe 10/03/2020)
 Art. 305 do Código Penal: crime de supressão de documento
Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um a cinco
anos, e multa, se o documento é particular.
 Art. 306 do Código Penal: crime de falsificação de sinal empregado no contraste de metal precioso
ou na fiscalização alfandegária ou para outros fins
Art. 306 - Falsificar, fabricando-o ou alterando-o, marca ou sinal empregado pelo poder público
no contraste de metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa
natureza, falsificado por outrem:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Parágrafo único - Se a marca ou sinal falsificado é o que usa a autoridade pública para o fim de
fiscalização sanitária, ou para autenticar ou encerrar determinados objetos, ou comprovar o
cumprimento de formalidade legal:
Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e multa.
 Art. 307 do Código Penal: crime de falsa identidade
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime
mais grave.
 Súmula nº 522 do STJ: depois de controvérsia na jurisprudência, o Superior Tribunal de Justiça
pacificou o entendimento de que a atribuição de falsa identidade perante a autoridade policial
configura o crime do artigo 307 do Código Penal, não estando abrangida pelo exercício regular do
direito de defesa
A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em
situação de alegada autodefesa.
 RE 640139 RG/STF: o STF firmou o entendimento de que o princípio constitucional da autodefesa
(art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade
policial com o intento de ocultar maus antecedentes
EMENTA CONSTITUCIONAL. PENAL. CRIME DE FALSA IDENTIDADE. ARTIGO 307 DO CÓDIGO
PENAL. ATRIBUIÇÃO DE FALSA INDENTIDADE PERANTE AUTORIDADE POLICIAL. ALEGAÇÃO DE
AUTODEFESA. ARTIGO 5º, INCISO LXIII, DA CONSTITUIÇÃO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO
GERAL. CONFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DA CORTE NO SENTIDO DA IMPOSSIBILIDADE.

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TIPICIDADE DA CONDUTA CONFIGURADA. O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º,


inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial
com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo
agente (art. 307 do CP). O tema possui densidade constitucional e extrapola os limites subjetivos
das partes. (RE 640139 RG, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, julgado em 22/09/2011,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT VOL-
02607-05 PP-00885 RT v. 101, n. 916, 2012, p. 668-674 )
 Art. 308 do Código Penal: criminalização do uso de documento de identidade
Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer
documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa
natureza, próprio ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui elemento de crime
mais grave.
 Art. 309 do Código Penal: delito de fraude de lei sobre estrangeiro
Art. 309 - Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é
o seu:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Atribuir a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em
território nacional:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
 Art. 310 do Código Penal: crime de fraude de lei sobre propriedade por estrangeiro
Art. 310 - Prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente
a estrangeiro, nos casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
 Art. 311 do Código Penal: crime de adulteração de sinal de veículo automotor
Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo
automotor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é
aumentada de um terço.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o licenciamento ou
registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação
oficial.
 Art. 311-A do Código Penal: crime de fraudes em certames de interesse público
Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de
comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
I - concurso público;

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II - avaliação ou exame públicos;


III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de
pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput.
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público.
 HC 88967/STF: o Supremo Tribunal Federal já consignou, antes da introdução do artigo 311-A no
Código Penal, que a conduta denominada de “cola eletrônica” era formalmente atípica
EMENTA: HABEAS CORPUS. "COLA ELETRÔNICA". ATIPICIDADE. TRANCAMENTO PARCIAL DA
AÇÃO PENAL CONTRA O PACIENTE. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
Inquérito 1145 (no qual fiquei vencido), reconheceu que a conduta designada "cola eletrônica"
é penalmente atípica. O que impõe o trancamento, no ponto, da ação penal contra o paciente.
Prosseguimento da ação penal, quanto a acusações de outra natureza. Ordem parcialmente
concedida. (HC 88967, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em
06/02/2007, DJ 13-04-2007 PP-00102 EMENT VOL-02271-02 PP-00339 RT v. 96, n. 863, 2007, p.
506-509)
 AgRg no AResp 702915/STJ: a "cola eletrônica", antes do advento da Lei n. 12.550/2011, era uma
conduta atípica
PENAL E PROCESSUAL PENAL. COLA ELETRÔNICA. CRIME DE ESTELIONATO. ATIPICIDADE.
INFORMATIVO Nº 0506/2012. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. Nos termos do informativo nº 0506, Período: 4 a 17 de outubro de 2012, A "cola eletrônica",
antes do advento da Lei n. 12.550/2011, era uma conduta atípica, não configurando o crime de
estelionato.
2. Agravo regimental improvido.
(AgRg no AREsp 702.915/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
10/10/2017, DJe 23/10/2017)
 Art. 47 do Código Penal: junto com a introdução da nova figura típica prevista no artigo 311-A do
CP, foi acrescentado ao artigo 47 do Código Penal o inciso V, trazendo uma nova modalidade de pena
de interdição temporária de direitos
Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são:
(...)
V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

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RESUMO
Para finalizar o estudo da matéria, trazemos um resumo dos principais aspectos estudados ao longo
da aula. Sugerimos que esse resumo seja estudado sempre previamente ao início da aula seguinte,
como forma de “refrescar” a memória. Além disso, segundo a organização de estudos de vocês, a cada
ciclo de estudos é fundamental retomar esses resumos. Caso encontrem dificuldade em compreender
alguma informação, não deixem de retornar à aula.

Dos Crimes Contra a Paz Pública


O Título IX do Código Penal trata dos crimes contra a paz pública, aqueles que visam a tutelar a
tranquilidade social, ou seja, a sensação de segurança da sociedade em geral.

1.1 Incitação ao crime


A infração penal denominada de incitação ao crime possui previsão no artigo 286 do Código Penal. O
núcleo do tipo é “incitar”, que significa estimular, encorajar, incentivar. A conduta incriminada é
incitar, publicamente, a prática de crime. Como elementar do tipo, exige-se que a conduta se dê
publicamente, ou seja, na presença de várias pessoas. Notem que o tipo penal não abrange a
contravenção penal. Em se tratando de lei penal incriminadora, não se admite a extensão de sua
abrangência para que se puna também a incitação à prática de contravenção penal, sob pena de se
admitir analogia in malam partem. O crime é comum. É doloso, não se exigindo elemento subjetivo
especial. Não há previsão de modalidade culposa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, salvo se
praticado oralmente. Cuida-se de crime de perigo abstrato, não sendo necessária a demonstração de
que o bem jurídico foi colocado em risco para a sua configuração. O STJ já decidiu que o fato de a
incitação ao crime ter sido praticada por meio da Internet não atrai a competência da Justiça Federal.

A Lei n. 14.197, de 1º de setembro de 2021, incluiu o parágrafo único ao artigo 286 do Código Penal.
Esse parágrafo traz uma modalidade equiparada, consistente na incitação de animosidade entre as
Forças Armadas ou delas contra os Poderes Constituídos, as instituições civis ou a sociedade, o que,
claramente, já configurava crime previsto na antiga Lei de Segurança Nacional, em seu artigo 23, II.

1.2 Apologia de Crime ou Criminoso


O crime de apologia de crime ou criminoso está tipificado no artigo 287 do Código Penal. Fazer
apologia é enaltecer, elogiar, exaltar. A conduta incriminada é fazer, de forma pública, apologia de

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fato criminoso ou de autor de crime. Exige-se que a conduta se refira a um fato criminoso ou a autor
de crime. O tipo não abrange apologia de contravenção penal nem apologia de contraventor. Também
se defende que a analogia não pode ser de crime culposo, por se tratar de ato involuntário praticado
pelo agente. Parte da doutrina entende que o fato criminoso deve ser um fato do passado. O tipo
exige que a conduta seja realizada publicamente, ou seja, presenciada por um número indeterminado
de pessoas ou de forma a que a mensagem possa chegar a um número indeterminado de indivíduos.
O crime é comum. É crime de forma livre, devendo apenas ser praticado em público. É crime
plurissubsistente, admitindo a tentativa, exceto na forma oral. Há divergência na doutrina se é
necessário ou não o trânsito em julgado de sentença condenatória do autor do crime a que se fez
referência. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a manifestação pela liberação de substâncias
entorpecentes conhecida como “Marcha da Maconha” não configura o delito de apologia de crime ou
criminoso, por ser expressão do direito de reunião e da livre expressão de pensamento. Quanto à
exigência que a conduta se dê publicamente, o Superior Tribunal de Justiça já consignou que tal
elementar exige que a conduta seja dirigida a um número indeterminado de pessoas, dirigido a elas
ou que a mensagem possa ser por elas recebida.

1.3 Associação Criminosa


O crime de associação criminosa está previsto no artigo 288 do Código Penal. A atual redação do
dispositivo foi dada pela Lei 12.850/2013, que trocou seu nomen iuris de quadrilha ou bando para
associação criminosa. Percebam que não há grande diferença prática, salvo no que se refere ao
número mínimo de agentes (antes eram necessários mais de três, agora três ou mais). Além disso,
houve a alteração da causa de aumento de pena, que era de aplicação da pena em dobro quando a
quadrilha ou bando fosse armado, sendo que agora incide a majorante de até metade da pena para o
caso de haver participação de criança ou adolescente ou de associação criminosa ser armada. Fora
isso, houve alteração apenas de nomenclatura, sendo que parte da doutrina diferenciava a quadrilha
do bando ao destacar que o primeiro atuaria na zona urbana, enquanto o segundo se voltaria à prática
de crimes na zona rural. Voltando ao delito na forma prevista atualmente, o núcleo do tipo é
“associarem-se”, que se significa reunirem-se, agregarem-se. A conduta incriminada é associarem-se,
três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes. A associação criminosa é infração penal
classificada como sendo de concurso necessário ou plurissubbjetiva. Isto porque se exigem três ou
mais pessoas para a configuração do crime. O tipo penal é doloso, exigindo o elemento subjetivo

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especial do injusto, consistente no intuito de praticar crimes. Não se pode fazer analogia in malam
partem para incluir na norma o intuito de praticar contravenções penais, já que o tipo é expresso ao
exigir a finalidade de cometimento de crimes. É imprescindível que haja a associação para a prática
de crimes, e não a mera reunião de pessoas para o cometimento de um delito e voltada diretamente
para a sua execução. A associação deve preceder o cometimento do(s) crime(s) para a sua
consumação. O crime é autônomo, não se exigindo que haja o efetivo cometimento de crimes pelos
agentes. O crime, portanto, é de perigo abstrato. Não é necessária a demonstração de que o bem
jurídico foi efetivamente colocado em risco para a sua consumação. É, ainda, de perigo comum, por
colocar em perigo um número indeterminado de pessoas. Quanto à desnecessidade de efetiva prática
de crimes para a configuração do delito previsto no artigo 288 do CP, o Supremo Tribunal Federal
decidiu que o delito de quadrilha subsiste autonomamente, ainda que os crimes para os quais foi
organizado o bando sequer venham a ser cometidos. Ademais, a finalidade, por lógica, deve ser de
cometimento de crimes dolosos, pois ninguém tem o intuito de praticar crimes por culpa em sentido
estrito. Cuida-se de crime permanente. O crime é comum. É crime plurissubjetivo ou de concurso
necessário. Não se admite a tentativa do crime de associação criminosa. É doloso, não havendo
previsão da modalidade culposa.

 Forma majorada

O parágrafo único do artigo 288 prevê que a pena deve ser aumentada até a metade se a
associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. Anteriormente,
como visto, o aumento se dava pelo dobro da pena, o que torna a nova redação mais benéfica
ao agente que fora condenado pela prática de quadrilha ou bando armado, já que era a única
hipótese em que se previa a incidência da causa de aumento de pena. Pune-se de forma mais
gravosa o delito de associação criminosa se houver a participação de criança ou adolescente, o
que deve abranger os indivíduos menores de dezoito anos. Em tais casos, pune-se o maior
desvalor da conduta, ao se envolver na perturbação da paz pública indivíduos ainda em
formação mental e moral. Quanto à previsão de associação armada, há divergência doutrinária
sobre a necessidade de todos os agentes estarem armados ou se basta que um deles esteja
portando arma. O STJ tem entendido ser suficiente, para a incidência da majorante, que um dos
agentes porte a arma. O Supremo Tribunal Federal possui julgado no mesmo sentido, ainda se

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referindo ao crime de quadrilha (antigo nomen iuris ou denominação do crime do artigo 288 do
Código Penal).

 Qualificadora do crime de associação criminosa

O caput do artigo 8º da Lei 8.072/90 prevê uma modalidade qualificada do crime, se os agentes
possuem o fim específico de cometer crimes hediondos ou equiparados. São equiparados a
hediondos os crimes de tortura, de tráfico ilícito de entorpecentes e de terrorismo.

 Delação premiada

O parágrafo único do artigo 8º da Lei 8.072/90 prevê a delação premiada no caso de algum
participante ou associado relatar à autoridade a associação criminosa, possibilitando seu
desmantelamento, ou seja, sua decomposição. Neste caso, há a minorante de um a dois terços.

Ä Acordo de Leniência

A Lei 12.529/2011, em seu artigo 87, prevê a possibilidade de celebração de acordo de leniência
nos casos de crimes relacionados à prática de cartel, inclusive o de associação criminosa.
Havendo a celebração de tal acordo, o prazo prescricional fica suspenso e fica impedido o
oferecimento de denúncia quanto ao agente que for parte beneficiada no acordo. Cumprido o
acordo, o parágrafo único do artigo 87 prevê a extinção da punibilidade.

 Modalidade especial: associação para o tráfico de drogas

A Lei 11.343/2006, em seu artigo 35, prevê modalidade especial do delito, se a associação tiver
como fim praticar o crime de tráfico de entorpecentes, mais especificamente as condutas
incriminadas nos seus artigos 33, caput e § 1º, e 34. O parágrafo único do artigo 35 estende a
previsão para o caso de associação para o cometimento do crime do artigo 36 da referida lei, ou
seja, de financiamento do tráfico ilícito de entorpecentes. O Superior Tribunal de Justiça
entende não configurar bis in idem a condenação do sujeito pelo crime de roubo majorado pelo
emprego de arma de fogo e pelo crime de associação criminosa, com a majorante de a
associação ser armada. Entende-se que há diversidade dos bens jurídicos tutelados.

1.4 Constituição de Milícia Privada


O crime de constituição de milícia privada está previsto no artigo 288-A do Código Penal. Referido
delito foi acrescentado pela Lei 12.720, de 27 de setembro de 2012. Possui como ações nucleares os

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seguintes verbos: constituir (estabelecer, formar); organizar (estruturar, coordenar); integrar (fazer
parte); manter (fazer perdurar, sustentar) e custear (prover as despesas, financiar o funcionamento).
Cuida-se de tipo penal misto alternativo. A conduta incriminada é constituir, organizar, integrar,
manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de
praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal. Há crítica doutrinária, como do professor
Cezar Bitencourt, sobre a não definição do que constituem a organização paramilitar, a milícia
particular, o grupo e o esquadrão. Busca o legislador punir a constituição das milícias, que atuam, de
forma paralela em relação ao Estado e em transgressão a lei, em vários pontos do território nacional,
mas especialmente no Rio de Janeiro. A doutrina busca elaborar os conceitos de cada uma das figuras
previstas no tipo de constituição de milícia privada:

• Organização paramilitar: associação civil armada, com estrutura que se assemelha à militar,
podendo conter membros civis e militares. Possuem forma de tropa, como na organização e
hierarquia.
• Milícia particular: é a reunião de pessoas armadas que dominam determinado território, a
pretexto de restabelecer a paz e a ordem na ausência do Estado, mas agindo com violência e
grave ameaça para impor o seu domínio.
• Grupo ou esquadrão: seria a referência a grupo de extermínio, conjunto de pessoas que atuam
como justiceiros, buscando fazer a justiça por suas próprias mãos e praticando crimes com vistas
a neutralizar ou eliminar pessoas que são consideradas perigosas ou marginais.
Percebe-se, portanto, que o intuito do legislador era abranger qualquer reunião de pessoas que
constituam uma milícia privada, ou seja, uma organização armada que atue de forma paralela, além
de ilicitamente, com as instituições militares do Estado. O crime é comum. É plurissubjetivo, exigindo
o concurso de pessoas para sua configuração, sendo também chamado de crime de concurso
necessário.

✓ Surge a dúvida, qual o número mínimo de pessoas necessárias para a prática do crime de
constituição de milícia privada?
Há dois entendimentos:

• O número de agentes deve ser o mesmo da associação criminosa, ou seja, três ou mais pessoas;

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• O número de agente deve ter como parâmetro o da organização criminosa, consistente em, no
mínimo, quatro pessoas.
Como não há posicionamento dos Tribunais Superiores até a conclusão desta aula, sugerimos o
acompanhamento do tema, não sendo possível definir uma posição majoritária. A tipificação da
constituição de milícia privada tem a finalidade de buscar a punição dos grupos que atuam
especialmente em comunidades carentes ou locais em que o Poder Público falha na área de segurança
pública. Obtêm a simpatia ou apoio de parte da comunidade, por alegar que atua para o
restabelecimento da paz. Na verdade, dominam determinada região, podendo ter lucro com a própria
atividade (cobrança de “taxas” dos comerciantes locais, por exemplo) ou mesmo ligação com crimes
como o de tráfico de entorpecentes, além de usar de violência e grave ameaça para controlar o
território e evitar a desobediência dos locais. Por implantarem o terror e muitas vezes contarem com
membros infiltrados nos órgãos de segurança pública, são de difícil combate e desmantelamento. O
crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Como já dito, é de concurso necessário,
também denominado plurissubjetivo. É crime, permanente, não admitindo a tentativa. Além disso,
configura-se independentemente da efetiva prática de algum crime pela organização. O crime é
doloso, exigindo o elemento subjetivo especial do tipo, consistente no intuito de praticar qualquer
dos crimes previstos no Código Penal. Portanto, não se admite analogia in malam partem para se
considerar configurado o crime se a finalidade do conjunto de pessoas for a prática de crime previsto
na legislação extravagante. Pode ser o caso de configuração do crime de associação criminosa, que
exige a finalidade de prática de crime, sem especificar que seja do Código Penal. Tal qual no crime de
associação criminosa, o intuito de praticar crimes previstos no Código Penal envolve as infrações
criminais dolosas. O crime dispensa a divisão de tarefas. É possível que haja, por exemplo, no caso de
organização paramilitar. Não se exige, ainda, a finalidade de obtenção de vantagem de qualquer
natureza. É comum a finalidade de obtenção da vantagem, mas, caso não haja, a configuração do
crime não fica afastada por isso.

Dos Crimes Contra a Fé Pública


O Título X da Parte Especial do Código Penal trata dos chamados “Crimes Contra a Fé Pública”.

2.1 Da Moeda Falsa

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O primeiro capítulo do Título X da Parte Especial se denomina “Da Moeda Falsa”, abrangendo os
crimes de moeda falsa, de crimes assimilados ao de moeda falsa, de petrechos para falsificação de
moeda e de emissão de título ao portador sem permissão legal.

2.1.1 Moeda Falsa


O crime de moeda falsa está previsto no artigo 289 do Código Penal. O núcleo do tipo é falsificar, que
significa adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. A conduta incriminada é falsificar,
fabricando-a ou adulterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no
estrangeiro. A ação nuclear típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas formas:

• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.


• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.
A conduta recai sobre moeda metálica, como moedas de R$ 0,50, ou papel-moeda de curso legal no
país, como uma cédula de R$ 50,00, ou no exterior, como uma nota de US$ 100,00. A falsificação por
meio de fabricação ocorre quando o agente fabrica a moeda ou o papel-moeda, como com a
confecção de notas a partir de papel comum com aparência de cédula verdadeira ou com base em
matéria-prima obtida ilicitamente, com insumos furtados, por exemplo. Já a falsificação por meio da
alteração se verifica se o agente utiliza uma cédula verdadeira ou uma moeda autêntica, promovendo
sua alteração de modo a torná-la mais valiosa. A doutrina afasta a configuração do delito em caso de
a alteração não causar a majoração no valor da moeda ou da cédula ou de não promover modificação
alguma no seu valor nominal. Para a configuração do crime, é imprescindível que a falsificação seja
capaz de enganar, ou seja, de fazer a moeda falsa se passar por verdadeira. O material falsificado deve
apresentar imitativo veri, ou seja, ter a aparência da moeda verdadeira, sob pena de não se configurar
o crime do artigo 289 do Código Penal. Entretanto, caso a falsificação seja grosseira, é possível que a
conduta do agente, se ele buscar uma vantagem indevida, configura o crime de estelionato, tal qual
consigna o enunciado número 73 do STJ. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer
pessoa. É doloso, sendo que a maioria da doutrina não exige elemento subjetivo especial do tipo. É
crime plurissubsistente, admitindo a tentativa. Vale consignar que se o agente falsificar a moeda e
depois a colocar em circulação, este último ato será post factum não punível. O STJ já decidiu que,
ainda que o crime de moeda falsa seja absorvido pelo peculato, a efetiva utilização das notas
falsificadas atrai o interessa da União e determina a competência da Justiça Federal.

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 Forma equiparada: circulação de moeda falsa

O parágrafo primeiro do artigo 289 do Código Penal prevê incorrer nas mesmas penas
quem, por conta própria ou alheia, importar (trazer para o país) ou exportar (fazer sair do
território nacional), adquirir (comprar, adquirir, receber), vender (alienar, comercializar,
negociar por um preço), trocar (dar por outra coisa, permutar), ceder (transferir, dar a
outra pessoa), emprestar (entregar para obter de volta), guardar (ter em depósito,
armazenar) ou introduzir na circulação (repassar, transmitir a outrem como moeda
verdadeira) moeda falsa. Cuida-se de forma dolosa e plurissubsistente, além de ser um
tipo misto alternativo. O agente deve saber que a moeda é falsa, sob pena de não se
configurar o delito. Além disso, ele não deve ter sido quem falsificou a moeda ou quem
participou da falsificação, ou será pós fato não punível a conduta que se subsuma ao
parágrafo primeiro do artigo 289.

 Forma privilegiada

O artigo 289 prevê, em seu parágrafo segundo, a forma privilegiada do delito, em que a
pena passa a ser de detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Incide a forma
privilegiada se o agente, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou
alterada, a restitui à circulação (repassar de novo ou retransmitir a outrem como moeda
verdadeira), depois de conhecer a falsidade. É crime doloso e plurissubsistente. Neste
caso, a pena é menor pois o agente não inicia a conduta de introdução da moeda falsa em
circulação, mas é vítima, em um primeiro momento, mas quer evitar o prejuízo, optando
por restituir a moeda à circulação, mesmo consciente de sua falsidade.

 Formas qualificadas

O parágrafo terceiro do artigo 289 prevê a forma qualificada do crime de moeda falsa, cuja
pena passa a ser de reclusão, de três a quinze anos, e multa. Pune-se a conduta do
funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite
ou autoriza a fabricação ou emissão:

• de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;


• de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

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Cuida-se de crime próprio, só podendo ser praticado por funcionário público, diretor,
gerente ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou
emissão. Atualmente, referido banco é a Casa da Moeda. O parágrafo quarto, por sua vez,
prevê incorrer na mesma pena do tipo qualificado quem desvia e faz circular moeda, cuja
circulação não estava ainda autorizada. Aqui, exige-se para a consumação do delito o
desvio e a sua efetiva circulação, sendo delito plurissubsistente, que admite a forma
tentada.
2.1.2 Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa
O artigo 290 do Código Penal prevê o que se denomina de crimes assimilados ao de moeda falsa.
Neste caso, há três figuras típicas diversas no caput do dispositivo:

• Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou
bilhetes verdadeiros. O agente reúne fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros para
formar uma unidade nova, falsificada.
• suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal
indicativo de sua inutilização. O agente retira da cédula, nota ou bilhete o sinal que demonstra
que está fora de circulação, como uma marca de carimbo.
• restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de
inutilização. O agente reintroduz em circulação cédula, nota ou bilhete recolhidos para a
inutilização, repassando-os a outrem.
Tal como no delito de moeda falsa, é indispensável a potencialidade de enganar. Se o objeto falsificado
não tiver a potencialidade de iludir alguém, sendo um elemento grosseiro, não se configura o tipo
penal. Ademais, o tipo penal abrange cédula, nota e bilhete, não havendo menção a moeda (metálica).
Não é possível a interpretação de forma a abranger as moedas, sob pena de se admitir a analogia in
malam partem. O crime é comum. É doloso. A segunda modalidade (suprimir) exige expressamente o
elemento subjetivo especial, consistente no intuito de restituir a cédula ou bilhete recolhidos à
circulação. Cezar Bitencourt também defende ser necessária a presença de referido elemento
subjetivo na modalidade de “formar cédula”, por exigência de forma implícita no tipo penal. O crime
é plurissubsistente, sendo admissível a tentativa. O crime é formal, não exigindo a ocorrência do
resultado naturalístico para a sua consumação. É, ainda, delito de forma livre.

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 Forma qualificada

O parágrafo único prevê a modalidade qualificada do delito, cuja pena é de dois a doze
anos de reclusão e multa. Configura-se se o crime for cometido por funcionário que
trabalha na repartição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso, em
razão do cargo. É, portanto, forma própria do crime, por exigir qualidade específica do
sujeito ativo.

2.1.3 Petrechos para Falsificação de Moeda


O crime de petrechos para falsificação de moeda está tipificado no artigo 291 do Código Penal.
Fabricar é manufaturar, produzir a partir de matérias-primas. Adquirir é comprar, adquirir, receber.
Fornecer é abastecer, prover. Possuir é ter, deter. Guardar é ter em depósito, ter sob sua guarda. A
conduta incriminada, no tipo penal misto alternativo do artigo 291 do CP, é fabricar, adquirir, fornecer,
a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer
objeto especialmente destinado à falsificação de moeda. Trata-se de situação que configuraria mera
fase de preparação do crime de falsificação de moeda e, portanto, irrelevante penal, caso não
houvesse sua previsão em tipo penal próprio. É crime comum, podendo ser praticado por qualquer
pessoa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. É doloso, sem exigência de elemento subjetivo
especial do tipo. É formal, por não exigir resultado naturalístico (efetiva fabricação de moeda) para a
sua consumação. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, se os petrechos servirem para a prática
de outros crimes, a competência será da Justiça Estadual.

2.1.4 Emissão de Título ao Portador sem Permissão Legal


A emissão de título ao portador sem permissão legal se configura como delito em razão do que prevê
o artigo 292 do Código Penal. Emitir, para os fins do artigo, significa colocar o documento em
circulação, não bastando a sua confecção ou assinatura. A conduta incriminada é emitir, sem
permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro
ao portador ou a que falte indicação do nome da pessoa a quem deve ser pago. O crime se consuma
com a entrada do documento em circulação, sendo formal, por não exigir a ocorrência de resultado
naturalístico para a sua consumação. É comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do sujeito
ativo. O crime é considerado plurissubsistente, admitindo a tentativa. É instantâneo, sendo que sua
consumação ocorre em determinado instante no tempo. É doloso, não havendo previsão de
modalidade culposa nem exigência de elemento subjetivo especial do tipo.

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 Modalidade qualificada

O parágrafo único prevê modalidade privilegiada, com pena de detenção, de quinze dias
a três meses, ou multa. Incorre em tal forma do delito quem recebe ou utiliza como
dinheiro qualquer dos documentos referidos no caput.

2.2 Da Falsidade de Títulos e de Outros Papéis


O Capítulo II do Título dos Crimes contra a Fé Pública abrange os delitos de falsificação de papéis
públicos e de petrechos de falsificação.

2.2.1 Falsidade de Papéis Públicos


O crime de falsificação de papéis públicos está previsto no artigo 293 do Código Penal. O núcleo do
tipo é falsificar, que significa adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. A conduta
incriminada é falsificar, fabricando ou alterando, algum dos papeis públicos enumerados nos incisos
do caput do artigo 293. A ação nuclear típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas formas:

• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.


• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.
O rol de elementos que podem constituir o objeto material do referido delito é extenso:

• selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado
à arrecadação de tributo;
• papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
• vale postal;
• cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento
mantido por entidade de direito público;
• talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas
públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável;
• bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado
ou por Município.
O crime é comum, formal, de forma livre, admite a tentativa, por ser plurissubsistente. É doloso, sem
exigência de intuito específico perseguido pelo sujeito ativo.

 Formas equiparadas

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O parágrafo primeiro do artigo 293 prevê as modalidades equiparadas ao caput.


Determina se submeter à mesma sanção penal aquele que:

• usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este
artigo;
• importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui
à circulação selo falsificado destinado a controle tributário;
• importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda,
troca, cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou
mercadoria:
o em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário,
falsificado;
o sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a
obrigatoriedade de sua aplicação.
O crime é permanente nas modalidades de guardar, possuir e deter. Quanto aos demais
núcleos do tipo das formas equiparadas, é instantâneo. Também é crime comum,
plurissubsistente e formal, além de ser doloso. A terceira figura, correspondente ao inciso
III do § 1º do Código Penal, exige que a conduta seja praticada no exercício de atividade
comercial ou industrial para a configuração do crime.

 Atividade comercial: o parágrafo quinto do artigo 293 equipara à atividade comercial,


para os fins de referida figura típica, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino,
inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros públicos e em residências.
Deste modo, mesmo o comerciante informal, como o ambulante, pode ser enquadrado
em referido tipo penal.

 Formas complementares

O parágrafo segundo do artigo 293 do Código Penal criminaliza a conduta de suprimir, em


qualquer dos papéis já mencionados, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização. A pena é de reclusão, de um a
quatro anos, e multa. O agente deve ter a finalidade de tornar o papel novamente

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utilizável. Já o parágrafo terceiro de citado dispositivo determina a imposição da mesma


pena para quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo
anterior. Se o agente já supriu o carimbo ou sinal ou participou da supressão, o fato de
usar qualquer dos papéis tratados pelo tipo penal configura post factum não punível, que
é absorvido pelo crime referente à própria supressão.

 Forma privilegiada

O parágrafo quarto do artigo 293 prevê a forma privilegiada, com pena de detenção, de
seis meses a dois anos, ou multa. Incorre na pena quem usa ou restitui à circulação,
embora recebido de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se
referem o artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração.

2.2.2 Petrechos de Falsificação


O artigo 294 do Código Penal criminaliza a conduta de petrechos de falsificação. Fabricar é
manufaturar, produzir a partir de matérias-primas. Adquirir é comprar, adquirir, receber. Fornecer é
abastecer, prover. Possuir é ter, deter. Guardar é ter em depósito, ter sob sua guarda. A conduta
incriminada no tipo penal misto alternativo do artigo 294 do CP, é fabricar, adquirir, fornecer, a título
oneroso ou gratuito, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer
dos papéis referidos no artigo anterior. Cuida-se de norma penal em branco, sendo complementada
pelo artigo 293 do Código Penal, em que há a previsão de vários papéis públicos. É uma situação que
configuraria mera fase de preparação do crime de falsificação de moeda e, portanto, irrelevante
penal, se não houvesse sua previsão em tipo penal próprio. Alguns criticam essa previsão de punição
de algo que seria mera fase de preparação de outro crime, entendendo ser uma manifestação do
direito penal de autor. De toda forma, cumpre observar que o objeto deve ser especialmente
destinado à falsificação dos papéis mencionados no artigo 293 do Código Penal. O fato de o agente
possuir um objeto que possa ser utilizado para a falsificação, mas também tenha outros fins, não
configura o delito, ainda que ele cogitasse a prática do delito de falsificação. É crime comum, podendo
ser praticado por qualquer pessoa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. É doloso, sem exigência
de elemento subjetivo especial do tipo. É formal, por não exigir resultado naturalístico (efetiva
falsificação dos papéis públicos) para a sua consumação. É permanente apenas nas modalidades de
possuir e guardar.

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 Forma majorada

O artigo 295 do Código Penal prevê uma causa de aumento de pena que, segundo a
doutrina, se aplica aos crimes do Capítulo II do Título X (Da Falsidade de Títulos e Outros
Papéis Públicos). Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário
público. É, portanto, crime funcional, sendo que o agente deve praticar o crime
prevalecendo-se do seu cargo, ou seja, valendo-se dele para facilitar a execução da
conduta. A majorante tem como fração fixada pelo legislador a de um sexto da pena.
Aplica-se, portanto, aos crimes tratados nos artigos 293 e 294 do Código Penal.

2.3 Da Falsidade Documental


O Capítulo III do Título X do Código Penal trata da falsidade documental.

2.3.1 Falsidade de Selo ou Sinal Público


O crime de falsificação de selo ou sinal público está previsto no artigo 296 do Código Penal. A ação
nuclear típica consiste no verbo falsificar, que significa adulterar, fazer passar por verdadeiro o que
não é, fraudar. A conduta incriminada é falsificar, fabricando ou alterando, selo público destinado a
autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município, ou selo ou sinal atribuído por lei a
entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião.

A ação nuclear típica, falsificar, pode ser praticada de uma das duas formas:

• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.


• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.
Eis o rol dos possíveis objetos materiais do crime:

• selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;


• selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade;
• sinal público de tabelião.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Cuida-se de crime de forma livre. Além
disso, admite a tentativa, por ser plurissubsistente. É doloso, sem previsão de modalidade culposa.

 Forma equiparada

O parágrafo primeiro do artigo 296 prevê as modalidades equiparadas ao caput:

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• quem faz uso do selo ou sinal falsificado. Pune-se, o agente que utiliza o selo ou sinal
falsificado. Não pode ser ele quem falsificou o selo ou sinal, senão seu uso estará
absorvido, como pós fato não punível.
• quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em
proveito próprio ou alheio. Aqui, Cezar Bitencourt entende haver a exigência de
efetivo prejuízo de outrem ou proveito próprio ou alheio, classificando tal
modalidade de material. Já Rogério Sanches Cunha defende ser o caso de exigência
de elemento subjetivo especial do tipo penal.
• quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer
outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da
Administração Pública. A modalidade abrange tanto a adulteração ou contrafação
das marcas logotipos, siglas ou símbolos dos órgãos públicos quanto seu uso
indevido, ou seja, de forma não permitida pela legislação.

 Modalidade majorada
Há causa de aumento de pena no parágrafo único do artigo 296 do Código Penal,
consistente em o agente ser funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se do
cargo. Neste caso, aumenta-se a pena de sexta parte.

2.3.2 Falsidade de Documento Público


O delito de falsificação de documento público tem previsão no artigo 297 do Código Penal. Os núcleos
do tipo são “falsificar” (adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e “alterar”
(modificar, transformar, produzir a mudança de). A conduta típica é falsificar, no todo ou em parte,
documento público, ou alterar documento público verdadeiro. Portanto, pune-se a falsificação total
ou parcial do documento público, assim como a modificação de um documento público verdadeiro,
autêntico. O parágrafo segundo torna mais abrangente o tipo penal, ao incluir como seu objeto
material o documento emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por
endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. Há
divergência doutrinária se a cópia autenticada de documento público consiste em objeto material do
delito, ou seja, se sua contrafação configura o crime do artigo 297 do CP. Cuida-se de crime comum,
não se exigindo qualidade específica do sujeito ativo. É doloso, não havendo previsão de elemento

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subjetivo especial do tipo, nem de modalidade culposa. É plurissubsistente, sendo admissível a


tentativa. Ademais, é formal, consumando-se sem a exigência de ocorrência de resultado
naturalístico. Cumpre analisar algumas súmulas sobre os crimes referentes à falsidade, ainda que se
apliquem a outros crimes estudados durante o curso: No caso de estelionato cometido mediante a
falsificação de cheque, o enunciado 48 da Súmula do STJ define como competente o juízo do local da
obtenção da vantagem ilícita (consumação do estelionato). O STJ atribui à Justiça Estadual a
competência para o julgamento de crime de falsificação de documento relacionado a estabelecimento
particular de ensino, conforme a Súmula 104. O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento
consolidado, fixado no enunciado 107, que compete à Justiça Estadual julgar crime de estelionato
praticado por meio de falsificação de guia de recolhimento das contribuições previdenciárias, desde
que não tenha ocorrido lesão ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. O Superior Tribunal de
Justiça consigna em um relevante acórdão que a falsidade documental, assim como a ideológica,
consuma-se no momento da falsificação. Ademais, foi decidido que a falsificação de documento
emitido por junta comercial não atrai, apenas pela sua subordinação técnica ao Departamento
Nacional de Registro do Comércio, a competência da Justiça Federal. Também já decidi o STJ ser da
competência da Justiça Eleitoral a falsificação de documento público para fins eleitorais.

 Forma majorada
O parágrafo primeiro do artigo 297 prevê a forma majorado crime no caso de o agente ser
funcionário público e cometer o crime prevalecendo-se do cargo. Apena deve ser
aumentada em um sexto.
 Formas equiparadas
O artigo 297, em seu parágrafo terceiro, prevê as formas equiparadas, determinando a
mesma sanção penal para quem insere ou faz inserir:

• na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer


prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado
obrigatório;
• na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que
deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que
deveria ter sido escrita;

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• em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as


obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da
que deveria ter constado.
O parágrafo quarto do artigo 297, por sua vez, prevê incorrer nas mesmas penas incorre
quem omite, nos documentos acima elencados, nome do segurado e seus dados pessoais,
a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

2.3.3 Falsificação de Documento Particular


O crime de falsificação de documento particular está previsto no artigo 298 do Código Penal. O tipo
penal é bem parecido com o do artigo 297, mas desta vez o objeto material é documento particular.
Os núcleos do tipo são “falsificar” (adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e
“alterar” (modificar, transformar, produzir a mudança de). A conduta típica é falsificar, no todo ou em
parte, documento particular, ou alterar documento particular verdadeiro. Portanto, pune-se a
falsificação total ou parcial do documento particular, assim como a modificação de um documento
particular verdadeiro, autêntico. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É
formal, consumando-se independentemente da ocorrência de resultado naturalístico. É doloso, sem
exigência de qualquer elemento subjetivo especial. Não se pune a conduta praticada por negligência,
imprudência ou imperícia. O crime é plurissubsistente, admitindo a forma tentada.

 Falsificação de cartão
O parágrafo único do artigo 298 estende a abrangência do caput, ao incluir como seu
objeto material o cartão de crédito ou débito, dando a essa figura um nomen iuris diverso,
o de falsificação de cartão. O cartão, ainda que não seja um documento, é a ele equiparado
para fins da proteção penal.

2.3.4 Falsificação Ideológica


O crime de falsificação ideológica está tipificado, no Código Penal, no seu artigo 299. As condutas
centrais são “omitir declaração”, ou seja, não declarar, deixar de fazer a declaração; “inserir”, ou seja,
gravar, introduzir, apor; e “fazer inserir”, o agente leva outrem a inserir, faz com que outra pessoa
introduza o conteúdo indevido. As figuras típicas são:

• omitir, em documento público ou particular, declaração que dele deveria constar.


• Inserir, em documento público ou particular, declaração falsa.

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• Inserir, em documento público ou particular, declaração diversa da que deveria ser escrita.
• Fazer inserir, em documento público ou particular, declaração falsa.
• Fazer inserir, em documento público ou particular, declaração diversa da que deveria ser
inscrita.
Todas as modalidades exigem o elemento subjetivo especial do injusto, consistente no intuito do
agente de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, com exigência de elemento
subjetivo especial, como visto. É formal, não dependendo do efetivo prejuízo a direito, da real criação
de obrigação nem da eficaz alteração da verdade para sua consumação. É crime plurissubsistente,
admitindo a modalidade tentada. Não há previsão de modalidade culposa. É, ainda, crime de forma
livre. Entende-se que o preenchimento de cambial emitida em branco ou com lacunas, pelo credor de
boa-fé, é lícito, o que afasta o cometimento do crime, conforme o enunciado 387 da Súmula do STF.
Neste sentido, o STJ já decidiu pelo afastamento do crime pelo preenchimento de nota promissória
emitida em branco. O Supremo Tribunal Federal possui precedente em que considera que o
documento sujeito à verificação, de forma objetiva e com confronto de seu conteúdo pela autoridade,
não é apto para configuração do crime de falsidade ideológica. O Superior Tribunal de Justiça, de
forma mais recente, tem decidido neste sentido, afastando o crime de falsidade ideológica se o
documento estiver sujeito a posterior verificação, sem indagação complexa. De igual modo, o STJ não
considera configurar o crime de falsidade ideológica a declaração de pobreza para fins de gratuidade
da justiça que não se coadune com a realidade.

 Forma majorada
O parágrafo único do artigo 299 prevê uma causa de aumento de pena com patamar de
aumento de um sexto. Incide se o agente for funcionário público e cometer o crime
prevalecendo-se do cargo. É modalidade própria, por exigir qualidade específica do sujeito
ativo, e funcional, por ser seu sujeito ativo um funcionário público. É necessário que ele
prevaleça das suas funções para a prática da conduta, sob pena de não se configurar a
majorante. Também incide a majorante se a falsificação ou alteração for de assentamento
de registro civil. O maior desvalor se refere ao resultado de refere conduta, que afeta os
direitos da personalidade de alguém, além de, é claro, afetar o sentimento de fé ou de
confiabilidade da sociedade nos registros de nascimento dos seus membros.

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2.3.5 Falso Reconhecimento de Firma ou Letra


O artigo 300 do Código Penal criminaliza o falso reconhecimento de firma ou letra. O tipo penal de
falso reconhecimento de firma ou letra é funcional, ou seja, só pode ser praticado por quem está no
exercício de função pública. A função pública deve ser aquela que dá poderes ao agente para o
reconhecimento da veracidade ou autenticidade de firma ou letra, como o tabelião, o oficial de
registro, os cônsules etc. A conduta típica é reconhecer (atestar, admitir) como verdadeira firma ou
letra que não o seja. Como já dito, exige-se que o sujeito ativo esteja no exercício de função pública
que lhe dê tal poder. A sanção penal varia: se o documento for público, a pena será de reclusão, de
um a cinco anos, e multa. Se o documento for particular, a pena será de reclusão, de uma a três anos,
e multa. É crime próprio, por exigir qualidade do sujeito ativo para sua configuração. É crime de forma
livre, sendo que Nucci discorda, entendendo ser crime de forma vinculada. O crime é doloso, não
havendo exigência de elemento subjetivo especial do tipo. É plurissubsistente, por ser fracionável a
sua conduta. Por isso, é punível o conatus.

2.3.6 Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso


O artigo 301 do Código Penal prevê o crime de certidão ou atestado ideologicamente falso. Atestar é
afirmar ou provar oficialmente. Certificar é afirmar por escrito a veracidade. A conduta típica é atestar
ou certificar falsamente fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de
ônus ou de serviço de caráter público ou qualquer outra vantagem. Exige-se, ainda, que o agente atue
em razão de sua função pública. Só pode praticar o crime o funcionário público, razão pela qual é
classificado como próprio. É doloso, sem previsão de modalidade culposa. Cezar Bitencourt entende
indispensável o elemento subjetivo especial, que se traduz na vontade de obter vantagem. É crime de
forma livre. Além disso, é plurissubsistente, já que sua conduta pode ser fracionada. Admite-se, então,
a tentativa.

 Falsidade material de atestado ou certidão


O parágrafo primeiro do artigo 301 prevê forma qualificada de praticar o delito. Os núcleos
do tipo são “falsificar” (adulterar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e
“alterar” (modificar, transformar, produzir a mudança de). Crime comum na figura de
Falsidade material de atestado ou certidão.
 Crime mercenário

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O artigo 301 do Código Penal, em seu parágrafo segundo, prevê a modalidade mercenária
do delito, ou seja, a forma em que o crime é praticado com intuito de lucro. Neste caso,
além da pena privativa de liberdade, deve-se aplicar a pena de multa ao agente.

2.3.7 Falsidade de Atestado Médico


O artigo 302 do Código Penal prevê o crime de falsidade de atestado médico. A conduta incriminada
é dar atestado médico falso. Dar atestado é entregar ou fornecer atestado falso, ou seja, documento
médico com informações falsas. Só o médico, no exercício da sua profissão, pode cometer o crime,
razão pela qual ele é próprio. É doloso, não exigindo elemento subjetivo especial do tipo, que, se for
o de lucro, determina a cominação cumulativa da pena de multa. É crime formal, independendo de
resultado naturalístico para sua consumação. É possível o fracionamento da conduta, sendo
plurissubsistente e admitindo o conatus.

 Crime mercenário
O artigo 302 do Código Penal, em seu parágrafo segundo, prevê a modalidade mercenária
do delito, ou seja, a forma em que o crime é praticado com intuito de lucro. Neste caso,
havendo o elemento subjetivo especial do tipo, deve haver aplicação cumulativa da pena
de multa.

2.3.8 Reprodução ou Adulteração de Selo ou Peça Filatélica


Dispõe sobre o crime de reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica o artigo 303 do Código
Penal. O tipo penal foi ab-rogado, ou seja, sofreu revogação total pelo artigo 39 da Lei 6.538/78.
Reproduzir é imitar ou repetir. Alterar é mudar, modificar. A conduta incriminada na legislação penal
extravagante é reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica de valor para coleção. A pena passou a ser
de detenção até dois anos, sem estipulação de pena mínima, além do pagamento de 3 a 10 dias-multa.
Exclui-se o delito se a reprodução ou alteração estiver anotada, de forma visível, na face ou no verso
do selo ou da peça filatélica. O crime é comum, doloso, formal, de forma livre e plurissubsistente.

 Forma equiparada
O parágrafo único do artigo 303 trazia a forma equiparada de cometer o crime, consistente
no uso do selo ou peça filatélica reproduzidos ou falsificados para o fim de comércio.
Exigia-se, portanto, elemento subjetivo especial do tipo, consistente no intuito de

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comércio. Houve sua revogação pelo artigo 39 da Lei 6.538/78. Portanto, o uso de selo ou
peça reproduzidos ou alterados, para fins de comércio, continua sendo fato típico.

2.3.9 Uso de documento falso


O crime de uso de documento falso está previsto no artigo 304 do Código Penal. O uso de documento
falso é classificado como tipo remissivo, pois faz remissão a outros tipos penais para a
complementação do seu próprio tipo. A referência é feita aos artigos 297 a 302, que são alguns dos
crimes previstos no Capítulo III do Título X (Da Falsidade Documental). São os crimes de falsificação
de documento público, falsificação de documento particular (inclusive o de falsificação de cartão), de
falsidade ideológica, de falso reconhecimento de firma ou letra, de certidão ou atestado
ideologicamente falso (incluída a falsidade material de atestado ou certidão) e de falsidade de
atestado médico. O tipo penal tem como núcleo a conduta de fazer uso, que significa usar, utilizar. A
conduta incriminada é fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados referidos nos artigos
297 a 302 do Código Penal, que tratam dos crimes acima elencados. Cuida-se de crime comum,
podendo ser praticado por qualquer pessoa. É crime doloso, não havendo previsão de modalidade
culposa. Também não há necessidade de elemento subjetivo especial do tipo. É crime formal,
consumando-se independentemente de qualquer resultado naturalístico. Constitui um crime de
forma livre. Há divergência sobre a possibilidade de tentativa do crime. O Supremo Tribunal Federal
entende não ser necessário o exame pericial no documento falso, se houver elementos nos autos que
demonstrem que o agente fez uso de tal documento, bem como que permitam a conclusão sobre sua
falsidade. A Suprema Corte também já afastou a alegação de atipicidade da conduta no caso de que
a finalidade de ocultar a situação irregular no país não afasta a ocorrência do crime de uso de
documento falso, por não ser tal fato abrangido pelo exercício da autodefesa. O STJ, no enunciado
546 da sua Súmula, já decidiu que a competência para julgar o crime de uso de documento falso é
definida em virtude da autoridade, entidade ou órgão ao qual foi apresentado. Assim, conclui-se que
o uso de documento falso perante a Justiça do Trabalho torna competente a Justiça Federal, enquanto
a apresentação de documento falso para a Secretaria Municipal de Saúde configura crime estadual.
Ademais, o STJ firmou o entendimento, em sua Súmula 200, de que é competente o Juízo Federal do
local em que se consumou o crime de uso de passaporte falso.

2.3.10 Supressão de Documento

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O crime de supressão de documento está previsto no artigo 305 do Código Penal. São núcleos do tipo:
“destruir” (demolir, desmanchar, devastar), “suprimir” (extinguir, retirar) e “ocultar” (encobrir,
esconder, sonegar). A conduta típica é destruir, suprimir ou ocultar documento público ou particular
verdadeiro, de que não podia dispor. O elemento subjetivo é dolo, exigindo-se, ainda, o elemento
subjetivo especial do tipo consistente em agir em benefício próprio ou de outrem ou em prejuízo
alheio. O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, não dependendo de
resultado naturalístico para sua consumação. É instantâneo de efeitos permanentes. Por fim, admite
a tentativa por ser plurissubsistente.

2.4 De outras Falsidades


O Capítulo IV do Título X do Código Penal trata dos crimes reunidos sob a denominação “De Outras
Falsidades”.

2.4.1 Falsificação do Sinal Empregado no Contraste de Metal Precioso ou na Fiscalização


Alfandegária, ou Para Outros Fins
O artigo 306 do Código Penal torna crime a falsificação de sinal empregado no contraste de metal
precioso ou na fiscalização alfandegária ou para outros fins. Os núcleos do tipo são falsificar (adulterar,
fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar) e usar (utilizar, fazer uso de). As condutas
incriminadas são:

• falsificar, fabricando ou alterando, marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste
de metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou
• usar marca ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem.
A ação nuclear de falsificar pode ser praticada de uma das duas formas:

• Fabricando: manufaturando, produzindo a partir de matérias-primas, fazendo a cunhagem de.


• Alterando: modificando, transformando, produzindo a mudança de.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, não dependendo de
resultado naturalístico para sua consumação. É doloso, sendo desnecessária qualquer finalidade
específica por parte do agente para sua configuração. É plurissubsistente, salvo na modalidade “usar”,
a qual não admite a tentativa.

 Forma privilegiada

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O parágrafo único do artigo 306 prevê uma modalidade privilegiada do delito, em que a
pena passa a ser de reclusão ou detenção, de um a três anos, e multa. Incide essa
modalidade se a marca ou sinal falsificado for o que usa a autoridade pública para o fim
de fiscalização sanitária, ou para autenticar ou encerrar determinados objetos, ou
comprovar o cumprimento de formalidade legal.

2.4.2 Falsa Identidade


O crime de falsa identidade tem como seus preceitos primário e secundário os seguintes. Atribuir é
imputar. A conduta incriminada é atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter
vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. Exige-se, portanto, o
elemento subjetivo especial, que é a finalidade do agente de obter vantagem, para si ou para outrem,
ou de causar dano a outra pessoa. O crime é comum, não exigindo qualidade específica do sujeito
ativo. É formal, não exigindo a ocorrência do resultado naturalístico para sua consumação. Cuida-se
de delito de forma livre. É subsidiário, pois há indicação expressa de que só se configura se não for
elemento de crime mais grave. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, salvo na forma oral. Depois
de controvérsia na jurisprudência, o Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que a
atribuição de falsa identidade perante a autoridade policial configura o crime do artigo 307 do Código
Penal, não estando abrangida pelo exercício regular do direito de defesa. Tal entendimento está
consagrado no enunciado 522.

2.4.3 Uso de Documento de Identidade Alheio


Prevê o artigo 308 do Código Penal a criminalização do uso de documento de identidade alheio. Usar
é utilizar, fazer uso de. Ceder é dar, transferir a posse a alguém. As condutas incriminadas são:

• Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer


documento de identidade alheia ou
• ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro.
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, consumando-se
independentemente de resultado naturalístico. É instantâneo, consumando-se em um dado instante
determinado no tempo. É de forma livre e doloso. É plurissubsistente na modalidade “ceder”,
admitindo, neste caso, a tentativa. Na forma de “usar”, a doutrina o considera unissubsistente, não

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sendo possível o fracionamento da conduta e, por consequência, não se reconhecimento a


modalidade tentada.

2.4.4 Fraude de Lei Sobre o Estrangeiro


O artigo 309 do Código Penal prevê o delito de fraude de lei sobre estrangeiro. No caput, tipifica-se a
conduta do estrangeiro de usar, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é
seu. Cuida-se de uma forma de atribuição de falsa identidade que somente pode ser cometida pelo
estrangeiro, devendo ele ter a finalidade de entrar ou permanecer no território nacional, o que
constitui elemento subjetivo especial do injusto. Nesta forma, o crime é próprio, pois só pode praticá-
lo o estrangeiro. Nesta modalidade, não se admite a tentativa, pois a ação nuclear não pode ser
fracionada. É doloso e formal. No parágrafo único, o núcleo do tipo é atribuir (imputar). Tipifica-se a
ação de atribuir a um estrangeiro falsa qualidade com o fim de promover sua entrada em território
nacional. Há, também, elemento subjetivo especial. Ademais, tal modalidade é classificada como
comum, por não exigir nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. O crime é doloso, sem previsão
de modalidade culposa. O crime é, ainda, doloso e formal. Há divergência sobre a possibilidade de
tentativa.

2.4.5 Fraude de Lei Sobre Propriedade por Estrangeiro


O crime de fraude de lei sobre propriedade por estrangeiro está previsto no artigo 310 do Código
Penal. Prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a
estrangeiro é atuar falsamente, é agir como “laranja” ou “testa de ferro”. Configura-se o crime se a
conduta for praticada nos casos em que é vedada por lei ao estrangeiro a posse ou a propriedade de
referidos bens, o que leva a concluir que o artigo 310 do CP é norma penal em branco. Parte
substancial da doutrina entende que o crime é próprio, pois só pode praticá-lo o detentor da
nacionalidade brasileira. É crime de forma livre. Seu elemento subjetivo é o dolo, sem previsão de
finalidade específica do agente para sua configuração. É crime instantâneo. Classifica-se como
plurissubsistente, por ser fracionável a conduta e admitir a tentativa. É formal, não exigindo elemento
subjetivo especial do tipo para sua configuração.

2.4.6 Adulteração de Sinal de Veículo Automotor

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O crime de adulteração de sinal de veículo automotor está tipificado no artigo 311 do Código Penal.
Adulterar é falsificar, fazer passar por verdadeiro o que não é, fraudar. Remarcar é inserir nova marca,
assinalar novamente. A conduta incriminada é adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer
sinal identificar de veículo automotor, de seu componente ou equipamento. Percebam que o tipo
penal só se configura se o agente falsificar ou remarcar o veículo ou sua peça, não havendo a previsão
de criminalização de quem usa ou compra o carro com a falsificação ou remarcação. É importante a
diferenciação, pois não se admite analogia in malam partem. O crime é doloso, não exigindo elemento
subjetivo especial do tipo. Não há modalidade culposa. É material, por exigir alteração no mundo
exterior para a sua consumação. É comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Sendo
fracionável a conduta, é plurissubsistente e admite a tentativa.

 Forma majorada
O parágrafo primeiro do artigo 311 prevê uma causa de aumento de pena de um terço. É
cabível se o crime for cometido por agente no exercício da função pública ou em razão
dela. Neste caso, o crime é próprio.
 Forma equiparada
O artigo 311, em seu parágrafo segundo, prevê incorrer nas mesmas penas o funcionário
público que contribui (auxilia, ajuda) para o licenciamento ou registro do veículo
remarcado ou adulterado, fornecendo (dando, entregando) indevidamente material ou
informação oficial. Nesta modalidade, é crime próprio.

2.5 Das Fraudes em Certames de Interesse Público


O último capítulo do Título X da Parte Especial foi introduzido pela Lei 12.550 de 2011.

2.5.1 Fraudes em Certames de Interesse Público

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O crime de fraudes em certames de interesse público está previsto no artigo 311-A do Código Penal.
Os núcleos do tipo são utilizar (usar, fazer uso de) e divulgar (propagar, difundir, transmitir). A conduta
incriminada é utilizar ou divulgar conteúdo sigiloso de certame de interesse público. Exige-se o dolo,
além do elemento subjetivo especial, que é a finalidade do agente de beneficiar a si ou a outrem ou
de comprometer a própria credibilidade do certame. O objeto material, consistente no certame de
interesse público, pode ser:

• concurso público;
• avaliação ou exames públicos;
• processo seletivo para ingresso no ensino superior ou
• exame ou processo seletivo previstos em lei.
Abrange-se, portanto, uma ampla gama de certames de interesse público. Deve-se frisar que a
configuração do crime exige que o agente se utilize ou divulgue conteúdo sigiloso. Se ele, por exemplo,
repassar informações da prova ao candidato ao lado, sem ter tido acesso a conteúdo sigiloso, não se
configura a infração penal. O crime é doloso, com exigência de intuito especial do agente. Não há
modalidade culposa. É formal, dispensando a obtenção da vantagem para a sua consumação, que, se
ocorrer, será mero exaurimento do crime. É plurissubsistente, admitindo o conatus.

 Modalidade qualificada
O artigo 331-A do Código Penal, em seu parágrafo segundo, prevê a modalidade
qualificada do crime de fraudes em certame de interesse público. Cuida-se de crime
agravado pelo resultado, configurando-se se da conduta resultar dano à administração
pública. A pena passa a ser de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
 Modalidade majorada
O parágrafo terceiro do artigo 311-A prevê a causa de aumento de pena de um terço no
caso de o sujeito ativo ser cometido por funcionário público. O Supremo Tribunal Federal
já consignou, antes da introdução do artigo 311-A no Código Penal, que a conduta
denominada de “cola eletrônica” era formalmente atípica. O Superior Tribunal de Justiça
possuía entendimento semelhante. Atualmente, a “cola eletrônica” pode ou não ser fato
típico, dependendo, por exemplo, de o sujeito utilizar-se de conteúdo sigiloso. Caso

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contrário, não se configura o crime do artigo 311-A do CP. Junto com a introdução da nova
figura típica, foi acrescentado ao artigo 47 do Código Penal o inciso V, trazendo uma nova
modalidade de pena de interdição temporária de direitos: proibição de inscrever-se em
concurso, avaliação ou exame públicos. Referida pena possui aplicação adequada para os
casos de indivíduos condenados por fraudes em certames públicos, impedindo que voltem
a delinquir e que comprometam a lisura de tais procedimentos. A sua mera inscrição no
concurso, em datas próximas à do fato criminoso, pode comprometer a fé pública,
trazendo a desconfiança da população sobre a probidade e transparência do processo
seletivo em sentido amplo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o fim desta aula, espero que tenham compreendido bem as nuances dos crimes contra a paz
pública e contra a fé pública, com as características essenciais de cada delito, como suas classificações,
o elemento subjetivo, as ações nucleares típicas e a admissibilidade ou não da tentativa.
Notem que o estudo de cada crime, mais detido ou mais sucinto, vai depender de sua complexidade,
de sua relevância prática e, principalmente, da forma e frequência de sua cobrança nos concursos
públicos, considerado o objetivo do Curso.
Até a próxima aula. Forte abraço e meus desejos de sempre de sucesso!
Michael Procopio.

procopioavelar@gmail.com

professor.procopio

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