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Direito Penal
- 2022 (Pós-Edital)
Autor:
Michael Procopio
09 de Fevereiro de 2022
Sumário
DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA .......................................................................................... 1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................................................ 3
DOS CRIMES DE PERIGO COMUM .............................................................................................................. 3
1 - INCÊNDIO ...............................................................................................................................................4
2 - EXPLOSÃO...............................................................................................................................................7
3 - USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE ............................................................................................................9
4 - FABRICO, FORNECIMENTO, AQUISIÇÃO POSSE OU TRANSPORTE DE EXPLOSIVOS OU GÁS TÓXICO, OU ASFIXIANTE .....10
5 - INUNDAÇÃO ..........................................................................................................................................11
6 - PERIGO DE INUNDAÇÃO ...........................................................................................................................12
7 - DESABAMENTO OU DESMORONAMENTO ....................................................................................................13
8 - SUBTRAÇÃO, OCULTAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE MATERIAL DE SALVAMENTO .....................................................13
9 - FORMAS “QUALIFICADAS” DE CRIME DE PERIGO COMUM ..............................................................................14
10 - DIFUSÃO DE DOENÇA OU PRAGA .............................................................................................................15
DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS ..... 15
1 - PERIGO DE DESASTRE FERROVIÁRIO ...........................................................................................................16
2 - ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE TRANSPORTE MARÍTIMO, FLUVIAL OU AÉREO ..........................................18
3 - ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE OUTRO MEIO DE TRANSPORTE ..............................................................19
4 - FORMA QUALIFICADA .............................................................................................................................20
5 - ARREMESSO DE PROJÉTIL .........................................................................................................................20
6 - ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBICA .............................................................21
7 - INTERRUPÇÃO OU PERTURBAÇÃO DE SERVIÇO TELEGRÁFICO, TELEFÔNICO, INFORMÁTICO, TELEMÁTICO OU DE INFORMAÇÃO
DE UTILIDADE PÚBLICA.................................................................................................................................22
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São crimes que tutelam a incolumidade, ou seja, a ausência de perigo ou de dano. Busca-se garantir a
segurança nas relações sociais, situação que, ainda que apenas de passagem, faz registrar que alguns
pensadores, a reboque de Ulrich Beck, entendem que vivemos atualmente em uma sociedade de risco.
Segundo Nelson Hungria, crimes contra a incolumidade pública são aqueles que se tipificam por meio de
condutas que "acarretam situação de perigo a indeterminado ou não individuado grupo de pessoas".
Voltando ao tema, espero que a exposição dos crimes contra a incolumidade pública seja didática e
suficiente para a compreensão da matéria. Seguindo a estratégia já exposta, alguns crimes terão uma análise
mais detida, enquanto outros serão analisados sucintamente. Busca-se que o material tenha uma extensão
adequada, sem deixar de abordar o conteúdo programático de Direito Penal, com ênfase nos assuntos mais
relevantes. Então, aos estudos!
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1 - INCÊNDIO
O crime de incêndio está previsto no artigo 250 do Código Penal:
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
II - se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
Culposo
§ 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos.
A conduta típica é causar (provocar) incêndio. Para a configuração do delito é imprescindível, ainda, que
haja a exposição da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem a perigo. Vale lembrar que
incêndio é definido como fogo perigoso1 ou aquele com labaredas de grandes proporções2 e, nos termos de
Hungria, um “perigo dirigido a uma círculo, previamente incalculável na sua extensão, de pessoas ou coisas
não individualmente determinadas”3 A ideia, portanto, é de não basta causar uma chama ou um fogo em
local controlado, é necessário um incêndio, aquele que tem proporção maior ou que não seja suscetível de
fácil controle.
O crime se classifica em comum, por não exigir nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. É de perigo
concreto, por exigir que efetivamente se exponha a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de
outrem.
1 PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral e parte especial. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 902.
2 MASSON, Cleber. Direito Penal: parte especial (arts. 213 a 359-H – vol. 3. 9 ed. São Paulo: MÉTODO, 2019, p. 219.
3 HUNGRIA, Nelson apud CUNHA, Rogério Sanches.Manual de Direito Penal: parte especial (arts. 121 ao 361). 12 ed. rev. atual. e
ampl. Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 652.
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É doloso, sem exigência de elemento subjetivo do tipo, sendo que o parágrafo segundo prevê a modalidade
culposa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa.
Houve revogação parcial do artigo 250 com a superveniência da Lei 9.605/98, em razão do
que prevê o seu artigo 41:
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa.
Deste modo, se o incêndio for praticado em mata ou floresta, seja ele doloso ou culposo, o crime será o da
Lei 9.605/98. Cumpre destacar, ainda, que o crime da lei extravagante não exige a comprovação do perigo,
sendo crime de perigo abstrato.
Se o intuito do agente não for expor a vida de um número indeterminado de pessoas a perigo, pode-se
configurar o crime de perigo para a vida ou a saúde de outrem, do artigo 132 do Código Penal.
O STJ já entendeu possível a absorção do crime de incêndio pelo delito de denunciação caluniosa, desde que
o primeiro crime tenha sido instrumento para a prática do último, na ausência de desígnios autônomos:
“(...) 1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça possui entendimento firmado no sentido de
inexistir qualquer obstáculo para a aplicação do princípio da consunção quando restar confirmado,
mediante a análise dos elementos fático-probatórios existentes nos autos, que um crime foi utilizado
como instrumento para a prática de outro, mesmo que os delitos tutelem bens jurídicos diversos.
Precedentes. 2. In casu, constatada a ausência de desígnios autônomos entre os crimes tipificados nos
arts. 250, § 1º, inciso II, alínea "a", e 339 do CP, inexiste qualquer vedação para a aplicação da
consunção entre os delitos.(...)” (STJ, AgRg no REsp 1687688/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma,
DJe 29/08/2018).
Referida Corte Superior também já decidiu que, havendo a exposição a perigo da vida de mais de uma pessoa
e o prejuízo patrimonial de ambas, há concurso formal de crimes de incêndio:
“(...) 3. O art. 250 do CP - crime de incêndio - tutela a incolumidade pública, sendo o Estado, ou melhor,
a coletividade a vítima primária da infração penal ali descrita. Não obstante, o mesmo tipo penal
também protege a integridade física e o patrimônio de indivíduos eventualmente atingidos pela prática
incendiária - vítimas secundárias. 4. No caso concreto, duas pessoas foram expostas a perigo de vida,
bem como tiveram prejuízos patrimoniais, pois habitavam o imóvel contra o qual o recorrente ateou
fogo. Cabível, assim, a incidência da norma do art. 70 do CP - concurso formal de crimes -, já que,
mediante uma só ação, o recorrente atingiu diversos bens jurídicos tutelados pela lei penal. Neste
ponto, mais uma vez, a revisão do acórdão recorrido ensejaria o revolvimento de matéria fático-
probatória, providência incompatível com a via recursal eleita - incidência da Súmula 7/STJ. (...)” (STJ,
AgRg no AResp 1068614/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 25/05/2017).
• Modalidades majoradas
O parágrafo primeiro do artigo 250 traz causas de aumento de pena aplicáveis ao crime de incêndio, com a
fixação da fração de aumento em um terço da pena. São suas hipóteses:
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A primeira modalidade majorada do crime de incêndio se configura pelo maior desvalor da conduta do
agente, ao buscar uma recompensa financeira com a sua conduta. Cuida-se do chamado crime mercenário,
em que há o elemento subjetivo especial do tipo, consistente no intuito de se obter vantagem pecuniária,
seja em proveito próprio ou alheio.
II. se o incêndio é:
• Incêndio Culposo
O parágrafo segundo do artigo 250 prevê a modalidade culposa do crime de incêndio, envolvendo
negligência, imprudência ou imperícia. Caso o elemento subjetivo seja a culpa em sentido estrito, a pena é
de detenção, de seis meses a dois anos.
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2 - EXPLOSÃO
O crime de explosão está tipificado no artigo 251 do Código Penal:
Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão,
arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 2º - As penas aumentam-se de um terço, se ocorre qualquer das hipóteses previstas no § 1º, I, do
artigo anterior, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no nº II do mesmo parágrafo.
Modalidade culposa
§ 3º - No caso de culpa, se a explosão é de dinamite ou substância de efeitos análogos, a pena é de
detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, é de detenção, de três meses a um ano.
O núcleo do tipo penal é “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo a vida, a integridade física ou o
patrimônio de outrem. A execução pode se dar por algum dos seguintes modos:
• Explosão;
• Arremesso ou
• Simples colocação
Em todos os casos, o objeto material é o engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos.
Explosão é a arrebentação violenta, súbita e provocadora de grande ruído, além de deslocamento de ar,
que pode decorrer da expansão abruta de um corpo sólido ou pela liberada de substância gasosa. O
arremesso é o lançamento de engenho ou substância que tenha a potencialidade de explosão. Por fim, a
simples colocação é o ato de deixar, colocar ou arrumar o mesmo engenho, artefato ou substância, ou seja,
aquele que tenha eficácia explosiva.
O tipo penal não exige a efetiva explosão para a configuração do crime, mas exige que haja o efetivo risco à
vida, à integridade física ou ao patrimônio de outrem. Por isso, é classificado como crime de perigo concreto.
É crime comum, não se exigir nenhuma qualidade especial do sujeito ativo. É doloso, na figura do caput,
sendo que o parágrafo terceiro prevê a punição a título de culpa em sentido estrito. O crime se consuma no
momento em que os atos descritos no caput causarem perigo a coletividade. Por ser plurissubsistente,
admite-se a tentativa.
• Modalidades privilegiada
O artigo 251, parágrafo primeiro, do Código Penal, traz uma pena menor, de reclusão, de um a quatro anos,
e multa, para uma forma mais leve do crime. Incide se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de
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efeitos análogos, ou seja, se é uma explosão de menor potência, como no caso de uso de pólvora, exemplo
dado pela doutrina.
• Modalidades majoradas
O artigo 251, parágrafo segundo, do Código Penal, determina a aplicação das causas de aumento de pena
aplicáveis ao crime de incêndio, com a fixação da mesma fração de aumento da pena: um terço. Incidem as
majorantes:
Cuida-se do chamado crime mercenário, em que há o intuito de se obter vantagem pecuniária, seja em
proveito próprio ou alheio.
II. se o incêndio é:
• Modalidade culposa
A punição a título de culpa encontra previsão no parágrafo terceiro do artigo 251. A pena se diferencia,
sendo de detenção, de seis meses a dois anos, se a explosão for de dinamite ou substância de efeitos
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análogos. Nos demais casos, a pena será de detenção, de três meses a um ano. Cumpre relembrar que, em
caso de crime culposo, não se admite a tentativa.
Antes do advento da Lei 13.654/2018, o STJ já entendeu incidir o concurso formal entre
os crimes de furto e de explosão se, para a realização da subtração, o sujeito ativo
utilizasse explosivos, colocando em risco a incolumidade pública:
“(...) 3. Demonstrado que a conduta delituosa expôs, de forma concreta, o patrimônio de
outrem decorrente do grande potencial destruidor da explosão, notadamente porque o
banco encontra-se situado em edifício destinado ao uso público, ensejando a adequação
típica ao crime previsto no art. 251 do CP, incabível a incidência do princípio da consunção. 4. Infrações
que atingem bens jurídicos distintos, enquanto o delito de furto viola o patrimônio da instituição
financeira, o crime de explosão ofende a incolumidade pública. (...)”. (STJ, REsp 1647539/SP, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 01/12/2017).
Atualmente, o emprego de explosivo configura uma modalidade qualificada de furto, nos termos do artigo
155, § 4º-A, do Código Penal. Deste modo, alguns doutrinadores já se manifestaram sobre não haver mais
o concurso entre os crimes de furto e de explosão, de modo que será necessário aguardar a jurisprudência
após a Lei 13.654/2018.
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O crime do artigo 252 do Código Penal é considerado comum, por se configurar independentemente de
qualquer qualidade específica do agente. É doloso, sendo que, se houver o elemento subjetivo específico de
lesionar ou de matar, o crime será outro. Admite a tentativa, por ser plurissubsistente.
• Modalidade Culposa
O parágrafo único prevê a punição a título de culpa em sentido estrito (negligência, imprudência ou
imperícia). Em tal caso, a pena é de detenção, de três meses a um ano.
4
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts.121 ao 361). 12ª Ed. Salvador: JusPODIVM, 2020, p.
665.
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III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar;
Comparemos os dispositivos:
Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir Parágrafo único. Nas mesmas penas [reclusão,
ou transportar, sem licença da autoridade, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa] incorre
substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou quem:
asfixiante, ou material destinado à sua (...)
fabricação:
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e artefato explosivo ou incendiário, sem
multa. autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar;
Referido autor defende que todos os núcleos do tipo do artigo 253 do CP estão abarcados pelo crime da
legislação extravagante, já que, para que o agente forneça ou transporte, ele antes precisa possuir. Ademais,
deter o artefato abrange a conduta de adquirir, já que quem adquire passa a ter a posse, ainda que indireta,
ou, ainda, passa a deter a coisa.
Entretanto, há condutas que ainda são tipificadas apelas pelo Código Penal, por não estarem abrangidas
pelo dispositivo da Lei 10.826/2003 acima transcrito. É que esta última apenas se refere a artefato explosivo
ou incendiário, enquanto o Código Penal tem previsão mais abrangente, ao mencionar substância ou
engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação.
Deste modo, a ação típica nuclear que não envolver artefato explosivo ou incendiário, mas gás tóxico ou
asfixiante, ou mesmo material destinado à fabricação de explosivo ou de mencionado gás, será enquadrada
na previsão do Código Penal, que continua vigente, tendo sofrido apenas derrogação (revogação parcial).
O crime é comum, sendo que qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. É doloso, não se prevendo modalidade
culposa. A tentativa é de difícil configuração, segundo Cezar Bitencourt, sendo que, por outro lado, Heleno
Fragoso não a admite. A doutrina majoritária entende ser o crime de perigo abstrato, não se exigindo a
efetiva demonstração de que a incolumidade pública foi colocada em risco.
5 - INUNDAÇÃO
O artigo 254 do Código Penal traz o crime de inundação, com a seguinte disposição:
Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa, no caso de dolo, ou detenção, de seis meses a dois anos,
no caso de culpa.
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A ação nuclear típica é causar, que significa provocar, motivar, dar causa a. A conduta incriminada é dar
causa a inundação, que é um grande alagamento ou um grande fluxo de água.
Exige-se que haja a exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem, o que leva
o crime a ser classificado como de perigo concreto, ou seja, cuja demonstração de risco ao bem jurídico é
necessária para a sua configuração.
Na forma dolosa, a pena é de reclusão, de 3 a 6 anos, e multa, sem exigência de elemento subjetivo especial.
É crime comum, por não exigir qualidade específica do sujeito ativo. É plurissubsistente, admitindo o
conatus. É crime comissivo (ressalvada a possibilidade de ser omissivo impróprio, se houver a figura do
garante).
• Modalidade culposa
O preceito secundário do artigo 254 prevê a modalidade culposa, ao mencionar que a pena será de
detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa.
6 - PERIGO DE INUNDAÇÃO
O crime de perigo de inundação tem lugar no artigo 255 do Código:
Art. 255 - Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir
inundação:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
O tipo penal é misto alternativo, ou seja, prevê mais de uma conduta típica, sendo que basta uma delas
para a configuração do crime, ao tempo em que a prática de mais de uma delas enseja a punição por um
único crime.
Os núcleos do tipo são “remover” (transferir, retirar, afastar, deslocar), “destruir” (demolir, devastar,
extinguir, por no chão) e “inutilizar” (tornar inútil, estragar, deixar imprestável).
As condutas se volvam a obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação. Portanto, configura-se o
crime no caso de remoção, destruição ou inutilização de diques, barragens, comportas, ou mesmo
obstáculos naturais, como pode ser uma formação rochosa que impede que a água de um rio atinja um vale,
onde haja uma comunidade de moradores tradicionais.
O tipo penal exige que haja a exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outra
pessoa ou de outras pessoas. Com essa exigência de efetivo risco a um dos bens jurídicos tutelados pela
norma, o crime é de perigo concreto.
O crime é comum, sendo que até o proprietário da barragem, por exemplo, pode cometer o crime, se da
sua conduta sobrevier a exposição da vida de alguém a perigo. É doloso, não havendo previsão de forma
culposa nem de finalidade específica do sujeito ativo. Apesar de haver controvérsia, parte da doutrina
entende admissível a tentativa.
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7 - DESABAMENTO OU DESMORONAMENTO
O artigo 256 do Código Penal trata do crime de desabamento ou desmoronamento:
Art. 256 - Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou
o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Modalidade culposa
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano.
Causar, o núcleo do tipo, é provocar, motivar, dar causa a. O tipo penal é causar desabamento ou
desmoronamento.
Exige-se que haja a efetiva exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem, o
que leva o crime a ser classificado como de perigo concreto, ou seja, cuja demonstração de risco ao bem
jurídico é necessária para a sua configuração.
Desmoronamento, conforme ensina a doutrina, refere-se à queda, a fazer vir abaixo uma quantidade
considerável de rocha ou solo. Já o desabamento se refere a uma queda ou de fazer vir ao chão uma parte
de uma edificação ou toda ela.
É um crime comum, que pode ter como sujeito ativo qualquer pessoa. O caput prevê a forma dolosa, em
que não se exige finalidade específica do agente. É plurissubsistente, sendo possível o conatus, ou seja, a
modalidade tentada.
• Modalidade Culposa
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Subtrair é assenhorear-se, apropriar-se, surrupiar. Ocultar é esconder, encobrir, sonegar. Inutilizar é tornar
inútil, danificar. O tipo penal, que é misto alternativo, conta com os três núcleos.
A conduta de subtração, ocultação ou inutilização recai sobre material ou qualquer meio destinado a serviço
de combate ao perigo, de socorro ou salvamento.
Há, ainda, a figura de impedir (obstruir, tornar impraticável) ou dificultar (estorvar, tornar difícil) serviço de
combate ao perigo, socorro ou salvamento.
Em todos os casos, deve haver a seguinte circunstância: ocasião de incêndio, inundação, naufrágio ou outro
desastre (como um desmoronamento, por exemplo) ou calamidade (como um tufão).
Este tipo penal não exige a demonstração do perigo concreto a um bem jurídico, presumindo-o em virtude
das circunstâncias, de modo que o crime é de perigo abstrato.
O crime é comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. É doloso, sem previsão de modalidade
culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto. Por ser fracionável a conduta típica, é
considerado plurissubsistente e admite a modalidade tentada.
Se houver resultado de lesão corporal de natureza grave em crime doloso de perigo comum, a pena deve
ser aumenta de metade. Se o resultado for morte, a pena deve ser aplicada em dobro. Ambas as figuras são
preterdolosas, em razão de a conduta antecedente possuir o dolo como elemento subjetivo e o resultado,
conduta subsequente, ser produzido a título de culpa em sentido estrito.
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Se o crime de perigo comum for culposo e dele resultar lesão corporal (aqui não se exige que seja grave,
como no caso dos crimes dolosos), a pena deve ser aumentada de metade. Caso o resultado seja a morte,
deve-se aplicar a pena do homicídio culposo, aumentada de um terço.
5
PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral e parte especial. 18ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 926-
927.
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O crime é comum, não havendo exigência de nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. É
plurissubsistente, sendo possível a tentativa. A doutrina classifica o delito como de perigo concreto,
entendendo necessária a efetiva situação de perigo para sua configuração.
O parágrafo quarto do artigo 260 traz uma norma interpretativa, segundo a qual se
entende por estrada de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos
de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo. Estão incluídos os bondes,
os metrôs e os teleféricos.
O Superior Tribunal de Justiça já consignou que, com referido delito, tutelam-se tanto
a segurança dos meios de transporte, de forma direta, como a vida e a integridade
física dos passageiros, indiretamente. Ademais, ressaltou que a competência para seu julgamento, em regra,
é da Justiça Estadual:
“PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE PERIGO DE
DESASTRE FERROVIÁRIO. AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA A BENS, SERVIÇOS E INTERESSES DA UNIÃO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. TRANCAMENTO DO INQUÉRITO INSTAURADO PELA POLÍCIA
FEDERAL. 1. O bem jurídico tutelado pelo crime de perigo de desastre ferroviário é a incolumidade
pública, consubstanciada na segurança dos meios de comunicação e transporte. Indiretamente,
também se tutelam a vida e a integridade física das pessoas vítimas do desastre. 2. Ausente
especificada ofensa direta a bens, serviços e interesses da União, não se dá hipótese de competência
da Justiça Federal para persecução do crime previsto no art. 260, IV, §2º, c/c art. 263, ambos do Código
Penal, a teor do art. 109, IV, da Constituição Federale. (...)” (STJ, RHC 50054/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
6ª Turma, DJe 14/11/2014).
A doutrina aponta não ser o caso de conduta típica o chamado “surf ferroviário”, que seria a conduta de o
sujeito se deslocar em cima do vagão do trem, colocando em risco a própria vida. Apesar de se tratar de
julgado cível, nota-se que o STJ considerou que o sujeito coloca a própria vida em risco:
“Responsabilidade civil. Acidente ferroviário. Queda de trem. "Surfista ferroviário". Culpa exclusiva da
vítima. I - A pessoa que se arrisca em cima de uma composição ferroviária, praticando o denominado
"surf ferroviário", assume as consequências de seus atos, não se podendo exigir da companhia
ferroviária efetiva fiscalização, o que seria até impraticável. II – Concluindo o acórdão tratar o caso de
"surfista ferroviário", não há como rever tal situação na via especial, pois demandaria o revolvimento
de matéria fático-probatória, vedado nesta instância superior (Súmula 7/STJ). III – Recurso especial
não conhecido.” (STJ, REsp 160051/RJ, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, Terceira Turma, DJ
17/02/2003).
O Código Penal, nos parágrafos primeiro e segundo do artigo 260, traz formas qualificadas do crime de
perigo de desastre ferroviário, trazendo uma denominação diversa: desastre ferroviário.
O parágrafo primeiro traz uma figura preterdolosa, no caso de ocorrer o resultado consistente em desastre,
que deve ter sido praticado por negligência, imprudência ou imperícia. Inadmissível, portanto, a tentativa.
A pena será a de reclusão, de quatro a doze anos e multa.
Há também a previsão de outro crime qualificado pelo resultado. Também se pune a efetiva ocorrência do
desastre, como fato subsequente, mas no caso de o agente agir com culpa também quanto ao fato
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O parágrafo quarto do artigo 260 traz uma norma interpretativa, segundo a qual se entende por estrada de
ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de
cabo aéreo. Estão incluídos os bondes, os metrôs e os teleféricos, públicos ou privados
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• Crime mercenário
O parágrafo segundo do artigo 261 prevê a forma mercenário do delito, ou seja, quando haja a finalidade
específica de obtenção de vantagem econômica, seja para o próprio agente, seja para outrem. Neste caso,
aplica-se, cumulativamente, a pena de multa.
• Modalidade culposa
O artigo 261, em seu parágrafo terceiro, prevê a punição do delito a título de negligência, imprudência ou
imperícia. Em tal caso, a pena será de detenção, de seis meses a dois anos.
O parágrafo primeiro do artigo 262 prevê a forma qualificada pelo resultado desastre. Cuida-se de figura
preterdolosa, cuja pena é de reclusão, de dois a cinco anos.
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• Modalidade culposa
Já o parágrafo segundo do artigo 262 trata também de forma qualificada pelo resultado consistente em
desastre. Entretanto, a previsão é de culpa tanto no fato antecedente quanto no subsequente. A pena passa
a ser de detenção, de três meses a um ano.
4 - FORMA QUALIFICADA
O artigo 263 prevê forma qualificada, cabível a vários dos delitos estudados:
Art. 263 - Se de qualquer dos crimes previstos nos arts. 260 a 262, no caso de desastre ou sinistro,
resulta lesão corporal ou morte, aplica-se o disposto no art. 258.
O dispositivo é aplicável aos crimes de perigo de desastre ferroviário; atentado contra a segurança de
transporte marítimo, fluvial ou aéreo; sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo e atentado contra a
segurança de outro meio de transporte.
Determina-se que, no caso de lesão corporal ou morte, deve-se aplicar o disposto no artigo 258 do CP, já
estudado:
Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena
privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de
culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a
pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
5 - ARREMESSO DE PROJÉTIL
O delito de arremesso de projétil está previsto no artigo 264 do Código Penal:
Art. 264 - Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra,
por água ou pelo ar:
Pena - detenção, de um a seis meses.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos;
se resulta morte, a pena é a do art. 121, § 3º, aumentada de um terço.
A ação nuclear típica é arremessar, que significa atirar, lançar longe, jogar. A conduta incriminada é
arremessar projétil (objeto sólido lançado por impulsão, que a doutrina destaca dever ser pesado) contra
veículo, em movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar.
Há quem defenda não se tipificar o crime se o veículo for particular. Entretanto, o que a lei exige é que seja
veículo de transporte público, seja por terra (ferroviário ou rodoviário), por água (marítimo, fluvial ou
lacustre) ou pelo ar (aéreo). Ademais, o veículo deve estar em movimento.
O crime é doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial do tipo, sendo que, se este estiver presente,
pode-se configurar crime diverso. É comum, não se exigindo qualidade especial do sujeito ativo. É de forma
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livre. É de perigo abstrato. A maioridade da doutrina entende ser unissubsistente, não sendo admissível a
tentativa, sendo que Mirabete tem entendimento contrário.
Por razão de especialidade, o disparo de projétil com emprego de arma de fogo tipifica o crime do Estatuto
do Desarmamento, Lei 10.826/2003. O artigo 15 de referida lei prevê o crime de disparo de arma de fogo.
• Forma qualificada
O parágrafo único prevê modalidade qualificada do delito, consistente em figura preterdolosa. Sobrevindo
resultado consistente em lesão corporal, por culpa do agente, a pena passa a ser de detenção, de seis meses
a dois anos. Se o resultado, decorrente de imprudência, negligência ou imperícia, for a morte, aplica-se a
pena do homicídio culposa (detenção, de um a três anos), com a causa de aumento de um terço.
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• Especialidade
Há crimes especiais em relação ao art. 265, do CP. Se houver intenção política, pode-se configurar o crime
do artigo 15, § 1º, b, da Lei de Segurança Nacional, a Lei 7.170/83. No caso de prédios militares ou sujeitos
à administração militar, há o crime do art. 287 do Código Penal Militar. Por fim, se a conduta se referir ao
funcionamento de instalação nuclear ou o transporte de material nuclear, incide o crime do artigo 27 da Lei
6.453/77.
• Forma majorada
O parágrafo único do artigo 265 prevê a causa de aumento de pena de um terço até metade se o dano
ocorrer em virtude de subtração de material essencial ao fornecimento de serviço de água, luz, força, calor
ou outro que seja de utilidade pública.
Diferencia-se do furto em razão da finalidade. Aqui, o agente subtrai com a finalidade de prejudicar um
serviço de utilidade pública, e não apenas com fins patrimoniais. No furto, a intenção do agente é de cunho
patrimonial.
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do som à distância, seja mediante ondas ou fios. O que se tutela é o próprio serviço, e não uma comunicação
isoladamente considerada.
Como forma equiparada, o parágrafo primeiro reza que incorre na mesma pena quem interrompe serviço
telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento. Na forma
equiparada, não há previsão da conduta de perturbar.
Serviço telemático é o que possibilita a transmissão de comunicação por meio de informação
computadorizada, ou seja, mediante o uso de computador ou outro equipamento de processamento de
informações. Serviço de informação de utilidade pública é o que interessa para a população, como o de
jornais.
O crime é doloso, sem previsão de finalidade específica nem de modalidade culposa. É comum, podendo ser
cometido por qualquer pessoa. É plurissubsistente, sendo sua conduta fracionável. Por isso, admite a
tentativa, também denominada de conatus.
• Forma majorada
O parágrafo segundo do artigo 266 prevê a forma majorada, com aplicação em dobro, se o delito for
cometido por ocasião de calamidade pública.
1 - EPIDEMIA
O crime de epidemia está previsto no artigo 267 do Código Penal:
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
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• Forma qualificada
O parágrafo primeiro do artigo 267 prevê que a pena passa a ser de reclusão, de dez a quinze anos, se do
fato resultar morte. Cuida-se de figura preterdolosa, devendo o resultado ser provocado por culpa em
sentido estrito. Caso contrário, o crime será o de homicídio.
Caso haja o resultado morte e o elemento subjetivo seja o dolo, o crime é hediondo, como prevê o artigo
1º, inciso VII, da Lei 8.072/90:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de
7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
(...)
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).
Portanto, configura-se a hediondez se configurar o delito previsto no parágrafo primeiro do artigo 267, que
é a modalidade preterdolosa.
O parágrafo segundo do artigo 267, por sua vez, trata do crime cometido por imprudência, negligência ou
imperícia. Em tal modalidade, sua pena é a de detenção, de um a dois anos. Havendo resultado morte e
sendo o delito culposo, a pena passa a ser de detenção, de dois a quatro anos.
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Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de
doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou
exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
“Infringir” é a ação nuclear típica, significando desobedecer, desrespeitar, violar. A conduta incriminada é
infringir determinação do poder público, destinada a impedir (obstruir, não permitir) a introdução ou a
propagação de doença contagiosa.
O crime de infração de medida sanitária está previsto em norma penal em branco, por fazer referência à
determinação do poder público. O termo é abrangente, incluindo leis, decretos, portarias e regulamentos,
dentre outros.
É crime comum, sendo que a qualidade especial do sujeito ativo pode torná-lo majorado, nos termos do
parágrafo único do artigo 268. É plurissubsistente, possibilitando a punição da forma tentada. É formal,
doloso, de forma livre, comissivo e de perigo abstrato.
• Forma majorada
Há causa de aumento de pena no parágrafo único do artigo 268, com estabelecimento da fração de um
terço. Incide se o agente possuir uma das seguintes condições pessoas: se for funcionário da saúde pública
ou exercer a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
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CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts.121 ao 361). 12ª Ed. Salvador: JusPODIVM, 2020, p. 703.
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III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de
uma comunidade;
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias
oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim
o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave
ou irreversível.
Entretanto, a posição não é compartilhada por toda a doutrina, apesar de possuir argumentos sólidos, já
que poluir envolve a conduta de envenenar. É possível sustentar entendimento diverso, já que o
envenenamento, colocando em risco a saúde pública de forma direta, seria mais grave que a poluição, que
pode afetar a saúde indiretamente, no caso, por exemplo, de águas não utilizadas para consumo humano e
em nível que não prejudique a saúde humana.
• Modalidade equiparada
Há, ainda, a forma equiparada de prática do delito, consoante prevê o parágrafo primeiro do artigo 270.
Incorre na mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água
ou a substância envenenada. Na modalidade de ter em depósito, o crime é permanente, já que sua
consumação se protrai no tempo, enquanto o agente possuir a água ou a substância envenenada em
depósito, desde que a finalidade seja a de sua distribuição.
Entretanto, também aqui os autores acima mencionados defendem ter havido a revogação pela Lei
9.605/98, em razão do que dispõe seu artigo 56:
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar,
armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde
humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus
regulamentos:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas
ambientais ou de segurança;
II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a
resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento.
§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um
terço.
§ 3º Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
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• Modalidade culposa
O parágrafo segundo do artigo 270 prevê a modalidade culposa, determinando a aplicação da pena de
detenção, de seis meses a dois anos.
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“PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A RELAÇÃO DE CONSUMO. ART. 7º,
IX, Lei 8.137/90. FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE SUBSTÂNCIA OU
PRODUTOS ALIMENTÍCIOS. ART. 272, §1º-A, CP. INEXISTÊNCIA DE PERÍCIA TÉCNICA. AUSÊNCIA DE
PROVA DA MATERIALIDADE DELITIVA. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUÇÃO CRIMINAL.
ORDEM DENEGADA. 1. A venda de produtos impróprios ao uso e consumo, nocivos à saúde ou com
valor nutricional reduzido, constituem delitos que deixa vestígios, sendo indispensável, nos termos do
artigo 158 do Código de Processo Penal, a realização de exame pericial que ateste a materialidade
delitiva, não bastando, para tanto, mero laudo de constatação. Precedentes. (...)” (STJ, RHC 45171,
Rel. Min. Nefi Cordeiro, 6ª Turma, DJe 12/05/2016).
• Modalidade culposa
O parágrafo segundo do artigo 272 prevê a responsabilização criminal em caso de imprudência, negligência
ou imperícia. A pena correspondente é a de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
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§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
O artigo 273 traz um tipo penal misto alternativo, cujos núcleos do tipo são “falsificar” (contrafazer, dar
como verdadeiro o que não é, fazer passar o falso por verdadeiro); “corromper” (estragar, deteriorar);
“adulterar” (introduzir modificação para pior, deturpar, defraudar) ou “alterar” (modificar, mudar,
transformar).
O parágrafo primeiro prevê a primeira modalidade equiparada, ao dispor que submete-se às mesmas penas
quem importa (traz do exterior); vende (aliena, comercializa, negocia por um preço); expõe à venda (mostra
ou exibe para a negociação, a venda); tem em depósito (guarda, armazena) para vender ou, de qualquer
forma, distribui (espalha, divide) ou entrega (dá, repassa) a consumo o produto falsificado, corrompido ou
adulterado.
O parágrafo 1º-A aumenta o objeto material do crime, estendendo-o para os medicamentos (remédio,
substância utilizada para tratamento medicinal), as matérias-primas (substância usada para a fabricação ou
produção de outra), os insumos farmacêuticos (substância devida de matérias-primas, utilizada para
produção de medicamentos), os cosméticos (produtos que se destinam à limpeza, melhoria e maquiagem
da pele, ou seja, para melhoria da aparência), os saneantes (produtos usados para a limpeza, para a
purificação) e os de uso em diagnóstico (aqueles que se destinam à realização de exames da área da saúde).
Além disso, há maior ampliação na abrangência do crime em estudo, com a introdução do parágrafo 1º-B,
que determina a punição de quem pratica qualquer das condutas previstas no parágrafo primeiro (importar,
vender, expor à venda, distribuir ou entregar a consumo) em relação a produtos nas seguintes condições:
• sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
• em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
• sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
• com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
• de procedência ignorada;
• adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.
O objeto material mencionado no caput é produto destinado a fins farmacêuticos ou medicinais, ou seja,
aqueles que buscam o tratamento ou a cura do seu consumidor, do seu usuário.
O crime é comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. É de perigo abstrato, conforme
entendimento majoritário. É instantâneo, formal e unissubjetivo, além de ser plurissubsistente, admitindo
a tentativa.
Conforme prevê o artigo 1º, inciso VII-B, da Lei 8.072/90, o crime de falsificação, corrupção, adulteração ou
alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais é hediondo em todas as suas
modalidades, salvo a culposa (prevista no seu parágrafo segundo):
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de
7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
(...)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho
de 1998).
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No caso de transnacionalidade do delito, o STJ já decidiu, por meio de sua Terceira Seção, que a competência
é da Justiça Federal:
II - Configurada a aquisição dos medicamentos no estrangeiro, resta configurada a internacionalidade
da conduta a justificar a atração da competência da Justiça Federal.
(STJ, CC 109.474/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/02/2011, DJe
17/02/2011)
Além disso, o STJ não tem aceitado a aplicação do princípio da insignificância ao delito:
3. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de ser inaplicável o princípio da
insignificância ao crime do art. 273, §1º e § 1º-B, incisos I, V e VI do Código Penal, qualquer que seja a
quantidade de medicamentos falsificados apreendidos.
(STJ, AgRg no REsp 1852819/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2020,
DJe 16/12/2020)
A pena do crime previsto no artigo 273, na modalidade dolosa, é de 10 a 15 anos de reclusão e multa. Sua
desproporção é patente, quando se compara, por exemplo, o crime de homicídio simples (reclusão, de 6 a
20 anos) ou de tráfico ilícito de entorpecentes (reclusão, de 5 a 15 anos, e multa).
Ademais, cumpre lembrar – e esta é uma das causas de arguição de inconstitucionalidade – que o crime do
artigo 273 do Código Penal abrange, por disposição do seu artigo § 1º-B, V, do CP, aquele que tem em
depósito para a venda cosmético de procedência ignorada. Ou seja: a pena abstratamente cominada (ao
menos a mínima, que mais influencia a dosimetria) é maior para o caso de alguém ter um produto cosmético
de origem ignorada em seu estabelecimento do que de possuir cocaína para distribuição.
Deste modo, passou-se a questionar a constitucionalidade da pena prevista para a infração penal do artigo
273 do CP. O STF, na primeira análise do tema, decidiu que não caberia ao Judiciário alterar a pena escolhida
pelo legislador, o que seria violação do princípio da separação de poderes7.
Entretanto, pouco tempo depois, o Superior Tribunal de Justiça, por meio de sua Corte Especial, declarou a
inconstitucionalidade do preceito secundário do artigo 273, § 1º, V, do CP, em festejado julgado:
“ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 273, § 1º-B, V, DO CP.
CRIME DE TER EM DEPÓSITO, PARA VENDA, PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU
MEDICINAIS DE PROCEDÊNCIA IGNORADA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. 1. A
intervenção estatal por meio do Direito Penal deve ser sempre guiada pelo princípio da
proporcionalidade, incumbindo também ao legislador o dever de observar esse princípio como
proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente. 2. É viável a fiscalização judicial da
constitucionalidade dessa atividade legislativa, examinando, como diz o Ministro Gilmar Mendes, se o
legislador considerou suficientemente os fatos e prognoses e se utilizou de sua margem de ação de
forma adequada para a proteção suficiente dos bens jurídicos fundamentais. 3. Em atenção ao
princípio constitucional da proporcionalidade e razoabilidade das leis restritivas de direitos (CF, art.
7
STF. RE 829226 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, julgado em 10/02/2015.
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5º, LIV), é imprescindível a atuação do Judiciário para corrigir o exagero e ajustar a pena cominada
à conduta inscrita no art. 273, § 1º-B, do Código Penal. 4. O crime de ter em depósito, para venda,
produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais de procedência ignorada é de perigo abstrato e
independe da prova da ocorrência de efetivo risco para quem quer que seja. E a indispensabilidade do
dano concreto à saúde do pretenso usuário do produto evidencia ainda mais a falta de harmonia entre
o delito e a pena abstratamente cominada (de 10 a 15 anos de reclusão) se comparado, por exemplo,
com o crime de tráfico ilícito de drogas - notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a
saúde pública. 5. A ausência de relevância penal da conduta, a desproporção da pena em ponderação
com o dano ou perigo de dano à saúde pública decorrente da ação e a inexistência de consequência
calamitosa do agir convergem para que se conclua pela falta de razoabilidade da pena prevista na
lei. A restrição da liberdade individual não pode ser excessiva, mas compatível e proporcional à
ofensa causada pelo comportamento humano criminoso. 6. Arguição acolhida para declarar
inconstitucional o preceito secundário da norma.” (STJ, AI no HC 239.363/PR, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, Corte Especial, DJe 10/04/15).
Pela argumentação expendida no decisum, é possível que o entendimento seja aplicado para outros casos
além do inciso V do parágrafo 1º-B do artigo 273, em razão de haver modalidades do crime em que também
se nota a desproporcionalidade da pena cominada. Vale ressaltar que o Ministro Og Fernandes apresentou
voto vencido, pois ele entendia pela declaração da inconstitucionalidade do artigo 273, § 1º-B, como um
todo, e não apenas do inciso V.
O Supremo Tribunal Federal, de início, apreciou casos em que a dosimetria ocorreu da forma como entende
o STJ e não os reformou. Assim, manteve a aplicação da pena aplicável ao tráfico de entorpecentes, mas
sem adentrar o mérito da controvérsia.
“(...) 3. In casu, o recorrente foi condenado à pena de 05 (cinco) anos de reclusão, em regime inicial
semiaberto, pela prática do crime previsto no artigo 273, §§ 1º, 1º-A e 1º-B, I, V e VI, do Código Penal,
sendo-lhe aplicado preceito secundário do delito de tráfico ilícito de entorpecentes, com fulcro no
princípio da proporcionalidade. O Tribunal de origem negou incidência da causa de diminuição
prevista no artigo 33, § 4º, da Lei 11.343/06 em razão da habitualidade delitiva. 4. O habeas corpus é
ação inadequada para a valoração e exame minucioso do acervo fático-probatório engendrado nos
autos (...)” (STF, HC 168769 AgRg/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Julgamento em 24/06/2019).
Agravo regimental no recurso extraordinário. 2. Alegação de inconstitucionalidade do artigo 273, § 1º-
B, do Código Penal. Tese infundada. 3. As penas cominadas ao delito do artigo 273, §1º-B, do Código
Penal devem ser substituídas por aquelas previstas no artigo 33 da Lei de Drogas, mantida a
constitucionalidade do preceito primário daquele tipo. 4. Agravo desprovido. (STF, RE 1105421 AgR/SP,
Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, Julgamento: 08/02/2019).
Em 24 de março de 2021, o Pleno do Supremo Tribunal Federal decidiu que a pena, para o caso do artigo
273, § 1º-B, inciso I, do Código Penal, tem uma sanção penal inconstitucional. Assim, entendeu aplicável a
pena anteriormente prevista pelo instituto, em efeito repristinatório. Atenção para a delimitação do
julgado, que se restringe à hipótese de importação de medicamento e, assim, não corresponde exatamente
à inconstitucionalidade declarada pelo STJ (art. 273, § 1º-B, inciso V). Foi fixada a seguinte tese:
"É inconstitucional a aplicação do preceito secundário do artigo 273 do Código Penal, com a redação
dada pela Lei 9.677/1998 - reclusão de 10 a 15 anos - à hipótese prevista no seu parágrafo 1º-B, inciso
I, que versa sobre a importação de medicamento sem registro no órgão de vigilância sanitária. Para
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esta situação específica, fica repristinado o preceito secundário do artigo 273, na redação originária -
reclusão de um a três anos e multa".
Vamos procurar visualizar o que há de declaração de inconstitucionalidade pelos Tribunais Superiores:
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que introduzir produtos para fins terapêuticos ou medicinais
configura o crime em estudo, e não o de descaminho. Ademais, tem entendido não ser cabível a aplicação
do princípio da insignificância:
“1. A conduta de introduzir no país produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais sem registro
no órgão de vigilância sanitária competente ou de procedência ignorada se subsume ao delito do artigo
273, §§ 1º, 1º-B, I e V, do CP, sendo equivocada a desclassificação da conduta para o crime do art.
334 do Código Penal (descaminho), por afronta ao princípio da especialidade da norma penal
imputada ao réu. 2. A jurisprudência deste Sodalício orienta-se no sentido de ser descabida a
incidência do princípio da insignificância na hipótese em que o agente introduz no território nacional
medicamentos não autorizados pelas autoridades competentes, in casu a importação de oitocentas
unidades da pomada Dragon and Tiger, produto não registrado na ANVISA, diante da potencial
lesividade à saúde pública. 3. Embora haja relevância jurídica em se punir tais condutas, verifica-se a
necessidade de atuação do Judiciário para corrigir o exagero e ajustar a pena cominada à conduta
inscrita no art. 273, § 1º-B, do Código Penal. (...).” (STJ, AgRg no REsp 1618458/PR, Rel. Min. Jorge
Mussi, Quinta Turma, DJe 04/05/2018).
“(...) 3. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de ser inaplicável o princípio da
insignificância ao crime do art. 273, §1. º e § 1.º-B, incisos I, V e VI do Código Penal, qualquer que seja
a quantidade de medicamentos falsificados apreendidos. (...)” (AgRg no REsp 1852819/SC, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2020, DJe 16/12/2020)
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Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação artificial,
matéria corante, substância aromática, anti-séptica, conservadora ou qualquer outra não
expressamente permitida pela legislação sanitária:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Empregar é usar, utilizar. Fabrico é a fabricação, processo de transformação. A conduta incriminada é
empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação, matéria corante,
substância aromática, antisséptica, conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida pela
legislação sanitária.
O crime se configura se qualquer das substâncias empregadas não for expressamente permitida pela
legislação sanitária, o que faz do artigo 274 uma norma penal em branco. A lista é exemplificativa, pois
termina com uma fórmula de interpretação analógica muita ampla: “qualquer outra”. Obviamente, toda e
qualquer substância, esteja no rol (matéria corante, por exemplo) ou não (como o fermento) não podem
estar autorizadas expressamente pela legislação sanitária, ou o crime não se configurará.
Qualquer pessoa pode praticar o crime em comento, sendo comum. É de perigo abstrato, já que a lei não
exige a sua demonstração no caso concreto. É doloso, sem previsão de modalidade culposa. Por fim, sua
conduta é fracionável, sendo plurissubsistente e admitindo a tentativa.
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Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a
consumo produto nas condições dos arts. 274 e 275.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
A conduta incriminada é vender (alienar, comercializar, negociar por um preço); expor à venda (mostrar ou
exibir para a negociação, a venda); ter em depósito (guardar, armazenar) para vender ou, de qualquer forma,
entregar (dar, repassar) a consumo produto nas condições dos artigos 274 e 275.
O tipo penal, que é misto alternativo, constitui norma penal em branco, fazendo referência a produto nas
condições dos artigos 274 e 275:
• com emprego de qualquer ou ingrediente substância não expressamente permitido pela legislação
sanitária;
• com inculcação, em seu invólucro ou recipiente, a existência de substância que não se encontra em
seu conteúdo ou que nele exista em quantidade menor que a mencionada.
O crime é comum, sem mencionar a exigência de qualidade específica do sujeito ativo. Sendo
plurissubsistente, admite a tentativa. É doloso, não sendo necessário o elemento subjetivo especial. Neste
ponto, Rogério Sanches Cunha entende-o necessário na conduta de ter em depósito, defendendo ser
imprescindível o intuito de vender o produto.
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• Modalidade culposa
O parágrafo único do artigo 278 prevê a punição se a conduta for praticada por negligência, imprudência ou
imperícia, com a atribuição de pena de detenção, de dois meses a um ano.
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prescrevê-lo. Cezar Bitencourt8 entende que, se o farmacêutico, que tem conhecimento técnico sobre os
medicamentos, entender que a prescrição foi equivocada, deve entrar em contato com o médico que o
prescreveu para a eventual substituição da receita, e não substituir por conta própria, o que configuraria o
crime.
Há quem entenda que há o crime ainda que o medicamento dado em substituição seja melhor ou de igual
qualidade, havendo entendimento em sentido contrário.
O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo comum. É de perigo abstrato, não se exigindo a
comprovação do risco ao bem jurídico para sua configuração. O caput prevê forma dolosa, sem exigência de
elemento subjetivo especial do tipo. Admite a tentativa, por ser plurissubsistente.
• Modalidade culposa
O parágrafo único do artigo 280 prevê que, se o crime for culposo, a pena passa a ser de detenção, de dois
meses a um ano.
8
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, volume IV: parte especial. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p.326-327.
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É doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial. Se houver o intuito de lucro, há aplicação
cumulativa de multa. É crime habitual, razão pela qual não se admite a tentativa. É considerado crime de
perigo abstrato, não sendo necessária a demonstração de risco ao bem jurídico tutelado, ou seja, à saúde
pública, para configuração do crime.
Há divergência sobre o estado de necessidade, em razão da habitualidade exigida. Existe o entendimento
de que se configuraria se não houver profissional na região, com pessoas necessitando de atendimento
urgente.
O STJ já decidiu não se configurar o crime no caso de acupuntura, dada a ausência de regulamentação da
profissão:
“(...) 4. No que concerne ao crime de exercício ilegal da medicina, ausente complementação da norma
penal em branco, por ausência de regulamentação acerca do exercício da acupuntura, a conduta é
atípica. (...)” (STJ, RHC 66641/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 10/03/2016).
Por fim, ainda que tratando de prisão processual, é interessante a leitura de trecho do julgado a seguir,
como exemplo de situação fática que enseja a tipificação do crime:
“(...) IV - No caso, o decreto prisional encontra-se devidamente fundamentado em dados extraídos
dos autos, que evidenciam que a liberdade do ora paciente acarretaria risco à ordem pública,
notadamente por sua periculosidade, uma vez que se apresentava frequentemente como médico,
mesmo não possuindo a devida habilitação legal para o exercício da medicina, e realizava o transporte
de pacientes entre hospitais, sendo que em uma dessas remoções a paciente veio a óbito. Tais
circunstâncias justificam a prisão cautelar imposta ao paciente como garantia da ordem pública, em
virtude do fundado receio de reiteração delitiva (...).” (STJ, HC 415954/SP, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta
Turma, DJe 19/02/2018).
• Crime mercenário
O parágrafo único prevê que, havendo o intuito de lucro, deve haver a aplicação cumulativa da pena de
multa.
15 - CHARLATANISMO
O artigo 283 do CP tipifica o charlatanismo:
Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Inculcar é imprimir algo no espírito de outrem, é repetir seguidamente. Anunciar é dar publicidade,
comunicar. O tipo penal, misto alternativo, é inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível.
Basta um ato para sua configuração, sendo que a tentativa é admissível, pela possibilidade de seu
fracionamento (crime plurissubsistente). Entretanto, cumpre registrar que Cezar Bitencourt9 entende ser o
9
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, volume IV: parte especial. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 336.
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crime habitual. Não é necessário o efetivo convencimento de alguma vítima para sua configuração, sendo o
crime de perigo abstrato.
Parcela da doutrina, incluindo Mirabete, entende que o charlatanismo não é absorvido quando praticado
em concurso com o crime de estelionato, devendo ambos serem considerados para fins de concurso formal
de delitos, uma vez que protegem bens jurídicos diversos.
É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, por não exigir resultado naturalístico
para a sua consumação. É doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial do injusto.
16 - CURANDEIRISMO
O artigo 284 traz o último dos crimes contra a saúde pública do Código, o de curandeirismo:
Art. 284 - Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.
O artigo 282 do Código Penal pune a conduta de exercer (praticar, desempenhar) o curandeirismo (que seria
o exercício da arte de curar por métodos não científicos, grosseiros, sem a devida autorização legal). O crime,
de forma vinculada, pode ser praticado de um dos seguintes modos:
• Prescrevendo (receitando), ministrando (dando, fornecendo) ou aplicando (injetando, utilizando,
empregado), habitualmente, qualquer substância. O agente pode se utilizar de qualquer substância,
seja ela farmacêutica, produto medicinal não autorizado ou mesmo produto sem finalidade
farmacêutica, como sangue de animais;
• Usando (utilizando, fazendo uso de) gestos, palavras ou qualquer outro meio. Crimina-se, inclusive,
o sujeito que diz curar por massagens, toque das mãos ou rituais de gesticulação. Aqui se torna mais
nítida a questão da fé, que não deve ser incluída no âmbito de abrangência de norma penal
incriminadora, salvo se exceder os limites religiosos para a promessa de cura milagrosa, como
anúncio de método de cura que busca substituir a medicina e trazer risco à saúde pública. Claro que
os limites são tênues e complicados. O juiz deve analisar na prática.
• Fazendo diagnósticos (realizando a constatação de doenças e enfermidades, é a atividade de
identificação de problemas de saúde).
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, sem exigência de elemento
subjetivo especial do tipo. É crime formal, não exigindo resultado naturalístico para a sua consumação.
Por ser crime habitual, ou seja, aquele que exige uma reiteração de atos para a sua configuração, não se
admite a tentativa.
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• Crime mercenário
O parágrafo único prevê que, sendo o crime praticado mediante remuneração, deve haver a aplicação
cumulativa da pena de multa.
17 - FORMA “QUALIFICADA”
O artigo 285 se denomina forma qualificada, fazendo remissão ao artigo 258 para determinar sua aplicação
aos crimes contra a saúde pública:
Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao definido
no art. 267.
Vale lembrar que o artigo 258 prevê, na verdade, causas de aumento de pena:
Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena
privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de
culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a
pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
Entretanto, o artigo 285 ressalva o disposto no artigo 267 do Código Penal. Ou seja, não se aplicam as suas
disposições ao crime de epidemia, que já possui causa de aumento de pena e modalidade culposa
qualificada.
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QUESTÕES COMENTADAS
Q1. PGR/PGR/Procurador da República /2017
Em tema de crimes contra a incolumidade pública, assinale a alternativa incorreta:
a) incorre no chamado ataque de denegação de serviço quem interrompe perturba, impede ou
dificulta o restabelecimento de serviço telemático ou de informação de utilidade pública;
b) considera-se como tal a conduta descrita na Lei n. 11.343, de 2006, de conduzir embarcação ou
aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem;
c) é característico desses crimes ultrapassarem a ofensa a determinada pessoa e classificarem-se como
vagos;
d) o exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica classifica-se como crime comum ou
próprio.
Comentários
A alternativa A está incorreta e é o gabarito da questão. Incorre na chamada infração penal de interrupção
ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade
pública, em sua modalidade equipara prevista no artigo primeiro quem interrompe perturba, impede ou
dificulta o restabelecimento de serviço telemático ou de informação de utilidade pública.
A alternativa B está correta. Como os crimes de perigo comum, a conduta descrita na Lei n. 11.343, de 2006,
busca tutelar a incolumidade pública ao criminalizar condutas que causa perigo comum, ou seja, risco a um
número indeterminado de pessoas.
A alternativa C está correta. Crime vago é aquele em que o sujeito passivo é uma coletividade sem
personalidade jurídica.
A alternativa D está correta. O crime é comum na conduta de exercer, podendo ser praticado por qualquer
pessoa, e próprio na modalidade de exceder os limites da profissão, quando só pode ser cometido por
médico, dentista ou farmacêutico.
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Situação hipotética: Após anos de trabalho como auxiliar de enfermagem, Marcos abriu um
consultório médico e passou a realizar consulta, a ministrar medicamentos aos seus pacientes e a
realizar pequenas intervenções cirúrgicas. Assertiva: Nessa situação, Marcos pratica o crime de
exercício ilegal da profissão.
o Certo
o Errado
Comentários:
A assertiva está errada. O crime praticado foi o crime de exercício ilegal da medicina, arte dentária ou
farmacêutica tem previsão no artigo 282 do CP:
Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem
autorização legal ou excedendo-lhe os limites:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.
O artigo 282 do Código Penal pune a conduta de exercer (praticar, desempenhar) a profissão de médico,
dentista ou farmacêutico sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites. O crime se configura ainda que
o exercício se dê a título gratuito.
Comentários
O parágrafo segundo do artigo 250 prevê a modalidade culposa do crime de incêndio. Caso o elemento
subjetivo seja a culpa em sentido estrito, a pena é de detenção, de seis meses a dois anos. O parágrafo único
do artigo 256 prevê a modalidade culposa do crime de desabamento ou desmoronamento. A pena, se o
elemento subjetivo for a imprudência, negligência ou imperícia, será de detenção, de seis meses a um ano.
Logo, a assertiva está certa.
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o Errado
Comentários
Como visto na aula, o crime do artigo 253 do Código Penal restou parcialmente revogado pela Lei
10.826/2003, que assim prevê em seu artigo 16, notadamente no seu parágrafo único, inciso III:
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação
legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: ==13272f==
(...)
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar;
Referido autor defende que todos os núcleos do tipo do artigo 253 do CP estão abarcados pelo crime da
legislação extravagante, já que, para que o agente forneça ou transporte, ele antes precisa possuir. Ademais,
deter o artefato abrange a conduta de adquirir, já que quem adquire passa a ter a posse, ainda que indireta,
ou, ainda, passa a deter a coisa.
Entretanto, há condutas que ainda são tipificadas apelas pelo Código Penal, por não estarem abrangidas
pelo dispositivo da Lei 10.826/2003 acima transcrito. É que esta última apenas se refere a artefato explosivo
ou incendiário, enquanto o Código Penal tem previsão mais abrangente, ao mencionar substância ou
engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação.
Deste modo, João praticou o crime previsto no art. 16, parágrafo único da Lei 10.826/2003 e assertiva está,
portanto, errada.
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A alternativa B está correta. A título de exemplo, podemos citar o crime de infração de medida sanitária
preventiva.
A alternativa C está correta. O bem juridicamente protegido é a saúde pública.
A alternativa D está incorreta. Como exemplo, podemos citar o crime de omissão de notificação de doença
é próprio, pois só pode praticá-lo o médico.
A alternativa E está correta. Conforme prevê o artigo 1º, inciso VII-B, da Lei 8.072/90, o crime de falsificação,
corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais é hediondo em
todas as suas modalidades, salvo a culposa (prevista no seu parágrafo segundo):
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de
7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
(...)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho
de 1998).
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Comentários
A alternativa E é a correta. A conduta incriminada é deixar de denunciar à autoridade pública doença cuja
notificação é compulsória. O crime, portanto, é omissivo próprio, pois prevê como ação típica um não fazer.
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d) Se culposo e do fato resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de
um terço.
e) As formas qualificadas de crime de perigo comum, dispostas no artigo 258 do Código Penal, não se
aplicam ao crime de incêndio na modalidade culposa.
Comentários
A alternativa D está correta. O artigo 258 do Código Penal trata de formas majoradas dos crimes de perigo
comum:
Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena
privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de
culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a
pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.
Apesar de a lei trazer o título de “formas qualificadas”, a Ciência do Direito Penal reserva referido termo
para os casos em que há novos limites mínimo e máximo de penas abstratamente cominadas. Deste modo,
as hipóteses trazidas no artigo 258 se referem a majorantes.
Q18. VUNESP/SAEG/Advogado/2015
Humberto e Cristina, casados há 3 anos, já não vivem aquela felicidade dos tempos de namoro. Muitos
problemas financeiros e o ciúme incontrolável do marido fizeram com que Cristina decidisse separar-
se de Humberto, que não concorda e não quer se separar de sua mulher. Certo dia, Cristina fez as
malas e foi embora, morar com sua mãe. Humberto, enfurecido e inconformado, decidiu atear fogo à
casa da mãe de Cristina. Arremessou uma mecha acesa pela janela da casa, que, no momento, estava
vazia. O fogo alastrou pelo sofá, mas foi apagado pelos vizinhos antes de tomar conta de toda a casa.
Com base na narrativa, pode-se afirmar que Humberto responderá por
a) incêndio doloso consumado.
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Comentários:
O parágrafo primeiro do artigo 250 traz causas de aumento de pena aplicáveis ao crime de incêndio, com a
fixação da fração de aumento em um terço da pena. No inciso II, há a previsão de aumento de pena se o
incêndio for cometido, dentre outras hipóteses prevista, em estaleiro, fábrica ou oficina. Portanto, a
alternativa C está correta.
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As ações nucleares típicas, que compõe o tipo penal misto alternativo, devem recair sobre substância ou
engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante ou material destinado à sua fabricação. Entretanto, insta
destacar que como ensina Rogério Sanches Cunha, o crime do artigo 253 do Código Penal restou
parcialmente revogado pela Lei 10.826/2003.
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O crime de incêndio, do caput do art. 250 do CP, tem expressa previsão de aumento de pena de um
terço se o incêndio
a) ocorre durante o repouso noturno.
b) causa interrupção dos serviços públicos de água, luz, gás ou telefonia.
c) é praticado por vingança ou com o fim de receber indenização securitária.
d) resulta em comoção social, como grande número de feridos ou desalojados.
e) é em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura.
Comentários
A alternativa E está correta. O parágrafo primeiro do artigo 250 traz causas de aumento de pena aplicáveis
ao crime de incêndio, com a fixação da fração de aumento em um terço da pena. No inciso II, alínea b,
constata-se que uma das hipóteses se refere à incêndio provocado. Vejamos:
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
(...)
No crime de incêndio, aumenta-se a pena em dois terços se o delito for praticado em galeria de
mineração.
Comentários:
A assertiva está errada, nos termos do § 1º do artigo 250 do Código Penal:
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
II - se o incêndio é:
(...)
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
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d) Se culposo e do fato resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de
um terço.
e) As formas qualificadas de crime de perigo comum, dispostas no artigo 258 do Código Penal, não se
aplicam ao crime de incêndio na modalidade culposa.
Q18. VUNESP/SAEG/Advogado/2015
Humberto e Cristina, casados há 3 anos, já não vivem aquela felicidade dos tempos de namoro. Muitos
problemas financeiros e o ciúme incontrolável do marido fizeram com que Cristina decidisse separar-
se de Humberto, que não concorda e não quer se separar de sua mulher. Certo dia, Cristina fez as
malas e foi embora, morar com sua mãe. Humberto, enfurecido e inconformado, decidiu atear fogo à
casa da mãe de Cristina. Arremessou uma mecha acesa pela janela da casa, que, no momento, estava
vazia. O fogo alastrou pelo sofá, mas foi apagado pelos vizinhos antes de tomar conta de toda a casa.
Com base na narrativa, pode-se afirmar que Humberto responderá por
a) incêndio doloso consumado.
b) incêndio culposo, com causa de aumento de pena.
c) tentativa de incêndio doloso.
d) tentativa de incêndio culposo.
e) incêndio doloso qualificado.
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b) apenas poderá haver responsabilização civil, uma vez que o fato é penalmente atípico.
c) houve crime de explosão dolosa.
d) houve crime de explosão culposa.
e) houve crime de uso de gás tóxico ou asfixiante.
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Constitui causa de aumento da pena do crime de incêndio, previsto no Código Penal Brasileiro, ação
de colocar fogo em balsa que transporta veículos na travessia de um rio que liga dois municípios do
mesmo Estado.
o Certo
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O crime de incêndio, do caput do art. 250 do CP, tem expressa previsão de aumento de pena de um
terço se o incêndio
a) ocorre durante o repouso noturno.
b) causa interrupção dos serviços públicos de água, luz, gás ou telefonia.
c) é praticado por vingança ou com o fim de receber indenização securitária.
d) resulta em comoção social, como grande número de feridos ou desalojados.
e) é em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura.
GABARITO
Q1. A Q5. ERRADA Q9. D
Q2. ERRADA Q6. CERTA Q10. D
Q3. CERTA Q7. ERRADA Q11. A
Q4. ERRADA Q8. D Q12. ERRADA
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Modalidade culposa
Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa.
Art. 61 da Lei 9.605/98: houve a revogação tácita do crime previsto no art. 259 pela superveniência
da Lei 9.605/98, em razão do disposto no seu artigo 61
Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à
fauna, à flora ou aos ecossistemas:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 260 do Código Penal: crime de perigo de desastre ferroviário
Art. 260 - Impedir ou perturbar serviço de estrada de ferro:
I - destruindo, danificando ou desarranjando, total ou parcialmente, linha férrea, material
rodante ou de tração, obra-de-arte ou instalação;
II - colocando obstáculo na linha;
III - transmitindo falso aviso acerca do movimento dos veículos ou interrompendo ou
embaraçando o funcionamento de telégrafo, telefone ou radiotelegrafia;
IV - praticando outro ato de que possa resultar desastre:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Desastre ferroviário
§ 1º - Se do fato resulta desastre:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos e multa.
§ 2º - No caso de culpa, ocorrendo desastre:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 3º - Para os efeitos deste artigo, entende-se por estrada de ferro qualquer via de comunicação
em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por meio de cabo aéreo.
RHC 50054/STJ: o Superior Tribunal de Justiça já consignou que, com o crime de perigo de desastre
ferroviário, tutelam-se tanto a segurança dos meios de transporte, de forma direta, como a vida e a
integridade física dos passageiros, indiretamente. Ademais, ressaltou que a competência para seu
julgamento, em regra, é da Justiça Estadual.
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE PERIGO DE
DESASTRE FERROVIÁRIO. AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA A BENS, SERVIÇOS E INTERESSES DA
UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. TRANCAMENTO DO INQUÉRITO INSTAURADO
PELA POLÍCIA FEDERAL.
1. O bem jurídico tutelado pelo crime de perigo de desastre ferroviário é a incolumidade pública,
consubstanciada na segurança dos meios de comunicação e transporte. Indiretamente, também
se tutelam a vida e a integridade física das pessoas vítimas do desastre.
2. Ausente especificada ofensa direta a bens, serviços e interesses da União, não se dá hipótese
de competência da Justiça Federal para persecução do crime previsto no art. 260, IV, §2º, c/c
art.
263, ambos do Código Penal, a teor do art. 109, IV, da Constituição Federal.
3. Trancamento determinado do inquérito policial instaurado pela Polícia Federal, com sua
remessa à Polícia Civil, tendo em vista o reconhecimento da competência estadual para o feito.
4. Recurso ordinário em habeas corpus provido.
(RHC 50.054/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 04/11/2014, DJe
14/11/2014)
REsp 160051/STJ: a doutrina aponta não ser o caso de conduta típica o chamado “surf ferroviário”,
que seria a conduta de o sujeito se deslocar em cima do vagão do trem, colocando em risco a própria
vida. Apesar de se tratar de julgado cível, nota-se que o STJ considerou que o sujeito coloca a própria
vida em risco.
Responsabilidade civil. Acidente ferroviário. Queda de trem."Surfista ferroviário". Culpa
exclusiva da vítima.
I - A pessoa que se arrisca em cima de uma composição ferroviária, praticando o denominado
"surf ferroviário", assume as conseqüências de seus atos, não se podendo exigir da companhia
ferroviária efetiva fiscalização, o que seria até impraticável.
II – Concluindo o acórdão tratar o caso de "surfista ferroviário", não há como rever tal situação
na via especial, pois demandaria o revolvimento de matéria fático-probatória, vedado nesta
instância superior (Súmula 7/STJ).
III – Recurso especial não conhecido.
(REsp 160.051/RJ, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
05/12/2002, DJ 17/02/2003, p. 268)
Art. 261 do Código Penal: crime de atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou
aéreo
Art. 261 - Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato
tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
Sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo
§ 1º - Se do fato resulta naufrágio, submersão ou encalhe de embarcação ou a queda ou
destruição de aeronave:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Prática do crime com o fim de lucro
§ 2º - Aplica-se, também, a pena de multa, se o agente pratica o crime com intuito de obter
vantagem econômica, para si ou para outrem.
Modalidade culposa
Lei 8.137/90, e conceder a soltura ao recorrente JONAS RICARDO PIRES, o que não impede nova
e fundamentada fixação de cautelar penal diversa da prisão.
(RHC 45.171/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 03/05/2016, DJe
12/05/2016)
Art. 273 do Código Penal: delito de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para
vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido,
adulterado ou alterado.
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-
primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico.
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a
produtos em qualquer das seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.
Modalidade culposa
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Art. 1º, inciso VII-B, da Lei 8.072/90: o crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração
de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais é hediondo em todas as suas modalidades,
salvo a culposa
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
(...)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos
ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de
2 de julho de 1998).
RE 829226 AgR/STF: ao apreciar o tema, o STF já decidiu que ao cabe ao Judiciário alterar a pena
escolhida pelo legislador, o que seria violação do princípio da separação de poderes
(RE 829226 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 10/02/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-043 DIVULG 05-03-2015 PUBLIC 06-03-2015)
AI no HC 239.363/STJ: pouco tempo depois, o Superior Tribunal de Justiça, por meio de sua Corte
Especial, declarou a inconstitucionalidade do preceito secundário do artigo 273, § 1º, V, do CP
ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 273, § 1º-B, V, DO
CP. CRIME DE TER EM DEPÓSITO, PARA VENDA, PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS
OU MEDICINAIS DE PROCEDÊNCIA IGNORADA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.
1. A intervenção estatal por meio do Direito Penal deve ser sempre guiada pelo princípio da
proporcionalidade, incumbindo também ao legislador o dever de observar esse princípio como
proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente.
2. É viável a fiscalização judicial da constitucionalidade dessa atividade legislativa, examinando,
como diz o Ministro Gilmar Mendes, se o legislador considerou suficientemente os fatos e
prognoses e se utilizou de sua margem de ação de forma adequada para a proteção suficiente
dos bens jurídicos fundamentais.
3. Em atenção ao princípio constitucional da proporcionalidade e razoabilidade das leis
restritivas de direitos (CF, art. 5º, LIV), é imprescindível a atuação do Judiciário para corrigir o
exagero e ajustar a pena cominada à conduta inscrita no art. 273, § 1º-B, do Código Penal.
4. O crime de ter em depósito, para venda, produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
de procedência ignorada é de perigo abstrato e independe da prova da ocorrência de efetivo
risco para quem quer que seja. E a indispensabilidade do dano concreto à saúde do pretenso
usuário do produto evidencia ainda mais a falta de harmonia entre o delito e a pena
abstratamente cominada (de 10 a 15 anos de reclusão) se comparado, por exemplo, com o crime
de tráfico ilícito de drogas - notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a saúde
pública.
5. A ausência de relevância penal da conduta, a desproporção da pena em ponderação com o
dano ou perigo de dano à saúde pública decorrente da ação e a inexistência de consequência
calamitosa do agir convergem para que se conclua pela falta de razoabilidade da pena prevista
na lei. A restrição da liberdade individual não pode ser excessiva, mas compatível e proporcional
à ofensa causada pelo comportamento humano criminoso.
6. Arguição acolhida para declarar inconstitucional o preceito secundário da norma.
(AI no HC 239.363/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, CORTE ESPECIAL, julgado em
26/02/2015, DJe 10/04/2015)
HC 168769 AgRg/STF: O Tribunal, de início, apreciou casos em que a dosimetria ocorreu da forma
como entende o STJ, mas não adentrou o mérito da controvérsia:
“(...) 3. In casu, o recorrente foi condenado à pena de 05 (cinco) anos de reclusão, em regime
inicial semiaberto, pela prática do crime previsto no artigo 273, §§ 1º, 1º-A e 1º-B, I, V e VI, do
Código Penal, sendo-lhe aplicado preceito secundário do delito de tráfico ilícito de
entorpecentes, com fulcro no princípio da proporcionalidade. O Tribunal de origem negou
incidência da causa de diminuição prevista no artigo 33, § 4º, da Lei 11.343/06 em razão da
habitualidade delitiva. 4. O habeas corpus é ação inadequada para a valoração e exame
minucioso do acervo fático-probatório engendrado nos autos (...)” (STF, HC 168769 AgRg/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Julgamento em 24/06/2019).
RE 1105421 AgR/STF: A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal chegou a mencionar, em
julgado também recente, que deve ser aplicada a pena de tráfico de entorpecentes ao crime em
estudo:
Agravo regimental no recurso extraordinário. 2. Alegação de inconstitucionalidade do artigo
273, § 1º-B, do Código Penal. Tese infundada. 3. As penas cominadas ao delito do artigo 273,
§1º-B, do Código Penal devem ser substituídas por aquelas previstas no artigo 33 da Lei de
Drogas, mantida a constitucionalidade do preceito primário daquele tipo. 4. Agravo desprovido.
(STF, RE 1105421 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, Julgamento: 08/02/2019).
RE 979962/STF: o STF declarou inconstitucional a pena na hipótese de importação de medicamento
(art. 273, § 1º-B, inciso I), em 24/03/2021, com a fixação da seguinte tese:
"É inconstitucional a aplicação do preceito secundário do artigo 273 do Código Penal, com a
redação dada pela Lei 9.677/1998 - reclusão de 10 a 15 anos - à hipótese prevista no seu
parágrafo 1º-B, inciso I, que versa sobre a importação de medicamento sem registro no órgão
de vigilância sanitária. Para esta situação específica, fica repristinado o preceito secundário do
artigo 273, na redação originária - reclusão de um a três anos e multa".
AgRg no REsp 1618458/STJ: o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que introduzir produtos para
fins terapêuticos ou medicinais configura o crime em estudo, e não o de descaminho. Ademais, apesar
de aplicar a pena alternativa, como acima mencionado, não entendeu cabível a aplicação do princípio
da insignificância.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. POMADA CHINESA "DRAGON & TIGER".
AUSÊNCIA DE REGISTRO NA ANVISA. ART. 273, § 1º-B, INCISOS I E V, DO CÓDIGO PENAL.
DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA. DESCAMINHO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DA ESPECIALIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
1. A conduta de introduzir no país produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais sem
registro no órgão de vigilância sanitária competente ou de procedência ignorada se subsume ao
delito do artigo 273, §§ 1º, 1º-B, I e V, do CP, sendo equivocada a desclassificação da conduta
para o crime do art. 334 do Código Penal (descaminho), por afronta ao princípio da especialidade
da norma penal imputada ao réu. 2. A jurisprudência deste Sodalício orienta-se no sentido de ser
descabida a incidência do princípio da insignificância na hipótese em que o agente introduz no
território nacional medicamentos não autorizados pelas autoridades competentes, in casu a
importação de oitocentas unidades da pomada Dragon and Tiger, produto não registrado na
ANVISA, diante da potencial lesividade à saúde pública.
3. Embora haja relevância jurídica em se punir tais condutas, verifica-se a necessidade de
atuação do Judiciário para corrigir o exagero e ajustar a pena cominada à conduta inscrita no
art. 273, § 1º-B, do Código Penal.
4. Determinação de prosseguimento da ação penal, com a adoção, se for o caso, de alternativas
para o fim de evitar a imposição de penas desproporcionais às condutas praticadas.
5. Agravo Regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1618458/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
24/04/2018, DJe 04/05/2018)
Art. 274 do Código Penal: crime de emprego de processo proibido ou de substância não permitida
Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação
artificial, matéria corante, substância aromática, anti-séptica, conservadora ou qualquer outra
não expressamente permitida pela legislação sanitária:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 275 do Código Penal: crime de invólucro ou recipiente com falsa indicação
Art. 275 - Inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêuticos ou
medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou que nele existe
em quantidade menor que a mencionada:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 276 do Código Penal: delito de produto ou substância nas condições dos dois artigos anteriores
Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar
a consumo produto nas condições dos arts. 274 e 275.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 277 do Código Penal: infração penal de substância destinada à falsificação
Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à falsificação
de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 278 do Código Penal: outras substâncias nocivas à saúde pública
Art. 278 - Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma,
entregar a consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação
ou a fim medicinal:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Modalidade culposa
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Art. 280 do Código Penal: o crime de medicamento em desacordo com receita médica
Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa.
Modalidade culposa
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Art. 282 do Código Penal: crime de exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica
Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico,
sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.
RHC 66641/STJ: o STJ já decidiu não se configurar o crime de exercício ilegal da medicina no caso
de acupuntura, dada a ausência de regulamentação da profissão
PROCESSO PENAL E PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. INFRAÇÃO DE MEDIDA
SANITÁRIA PREVENTIVA. INÉPCIA. INOCORRÊNCIA. EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA. NORMA
PENAL EM BRANCO. EXERCÍCIO DA ACUPUNTURA. AUSÊNCIA DE LEI FEDERAL
REGULAMENTANDO A ATIVIDADE. ATIPICIDADE. OCORRÊNCIA. DETERMINAÇÃO DE
INDICIAMENTO FORMAL APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
EXISTÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL QUANTO AO CRIME
DE EXERCÍCIO ILEGAL DA MEDICINA E CASSAR A DECISÃO QUE DETERMINOU O INDICIAMENTO
FORMAL DO PACIENTE.
1. O trancamento da ação penal por meio do habeas corpus só é cabível quando houver
comprovação, de plano, da ausência de justa causa, seja em razão da atipicidade da conduta
supostamente praticada pelo acusado, seja da ausência de indícios de autoria e materialidade
delitivas, ou ainda da incidência de causa de extinção da punibilidade.
2. É afastada a inépcia quando a denúncia preencher os requisitos do art. 41 do CPP, com a
individualização da conduta do réu, descrição dos fatos e classificação dos crimes, de forma
suficiente para dar início à persecução penal na via judicial, bem como para o pleno exercício da
defesa.
3. Quanto ao delito do art. 268 do CP, foram devidamente descritas na denúncia as medidas
sanitárias preventivas descumpridas pelo paciente, não havendo, portanto, que se falar em
nulidade por inépcia da denúncia.
4. No que concerne ao crime de exercício ilegal da medicina, ausente complementação da norma
penal em branco, por ausência de regulamentação acerca do exercício da acupuntura, a conduta
é atípica.
RESUMO
Para finalizar o estudo da matéria, segue o resumo dos principais aspectos estudados ao longo da
aula.
Os crimes de perigo comum são tratados no Capítulo I do Título VIII, os quais buscam a tutelar a
incolumidade pública ao criminalizar condutas que causa perigo comum, ou seja, risco a um número
indeterminado de pessoas.
1.1 Incêndio
O crime de incêndio está previsto no artigo 250 do Código Penal. A conduta típica é causar (provocar)
incêndio. Para a configuração do delito é imprescindível, ainda, que haja a exposição da vida, da
integridade física ou do patrimônio de outrem a perigo. O crime se classifica em comum. É de perigo
concreto. É doloso, sem exigência de elemento subjetivo do tipo, sendo que o parágrafo segundo
prevê a modalidade culposa. É plurissubsistente, admitindo a tentativa. Houve revogação parcial do
artigo 250 com a superveniência da Lei 9.605/98, em razão do que prevê o seu artigo 41. Deste modo,
se o incêndio for praticado em mata ou floresta, seja ele doloso ou culposo, o crime será o da Lei
9.605/98. Cumpre destacar, ainda, que o crime da lei extravagante não exige a comprovação do
perigo, sendo crime de perigo abstrato. Se o intuito do agente não for expor a vida de um número
indeterminado de pessoas a perigo, pode-se configurar o crime de perigo para a vida ou a saúde de
outrem, do artigo 132 do Código Penal.
Modalidades majoradas
O parágrafo primeiro do artigo 250 traz causas de aumento de pena aplicáveis ao crime
de incêndio, com a fixação da fração de aumento em um terço da pena. São suas
hipóteses:
II - se o incêndio é:
São hipóteses em que as circunstâncias do crime de incêndio o tornam mais grave, devido
ao local em que ocorre o incêndio.
Incêndio Culposo
O parágrafo segundo do artigo 250 prevê a modalidade culposa do crime de incêndio. Caso
o elemento subjetivo seja a culpa em sentido estrito, a pena é de detenção, de seis meses
a dois anos.
1.2 Explosão
O crime de explosão está tipificado no artigo 251 do Código Penal. O núcleo do tipo penal é “expor”
(deixar ou ficar sem proteção) a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. A
execução pode se dar por algum dos seguintes modos:
• Explosão;
• Arremesso ou
• Simples colocação
Modalidades majoradas
Incidem as majorantes:
II - se o incêndio é:
Modalidade culposa
A punição a título de culpa encontra previsão no parágrafo terceiro do artigo 251. A pena
se diferencia, sendo de detenção, de seis meses a dois anos, se a explosão for de dinamite
ou substância de efeitos análogos. Nos demais casos, a pena será de detenção, de três
meses a um ano. Cumpre relembrar que, em caso de crime culposo, não se admite a
tentativa.
O crime de uso de gás tóxico ou asfixiante está previsto no artigo 252 do Código Penal. O tipo penal
do crime de uso de gás tóxico ou asfixiante é “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem. A execução pode se dar por algum dos seguintes modos:
Não é necessário que o gás seja letal, bastando que seja tóxico, isto é, que tenha potencial de produzir
efeitos nocivos ao organismo, que é venenoso, ou que seja asfixiante, tenha o efeito de asfixiar, de
privar de oxigênio. O tipo penal se refere apenas ao uso do gás tóxico ou asfixiante para a configuração
do crime, o que pode se dar de diversas maneiras. Exige, entretanto, que haja o efetivo risco à vida, à
integridade física ou ao patrimônio de outrem. Por isso, o crime deve ser classificado como de perigo
concreto. É comum. É doloso, sendo que, se houver o elemento subjetivo específico de lesionar ou de
matar, o crime será outro. Admite a tentativa, por ser plurissubsistente.
Modalidade culposa
A tentativa é de difícil configuração, segundo Cezar Bitencourt, sendo que, por outro lado, Heleno
Fragoso não a admite. A doutrina majoritária entende ser o crime de perigo abstrato.
1.5 Inundação
O artigo 254 do Código Penal traz o crime de inundação, com a seguinte disposição. A ação nuclear
típica é causar, que significa provocar, motivar, dar causa a. A conduta incriminada é dar causa a
inundação, que é um grande alagamento ou um grande fluxo de água. Exige-se que haja a exposição
a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outrem, o que leva o crime a ser classificado
como de perigo concreto, ou seja, cuja demonstração de risco ao bem jurídico é necessária para a sua
configuração. Na forma dolosa, a pena é de reclusão, de 3 a 6 anos, e multa, sem exigência de
elemento subjetivo especial. É crime comum. É plurissubsistente, admitindo o conatus. É crime
comissivo (ressalvada a possibilidade de ser omissivo impróprio, se houver a figura do garante).
Modalidade culposa
O preceito secundário do artigo 254 prevê a modalidade culposa, ao mencionar que a pena
será de detenção, de seis meses a dois anos, no caso de culpa.
O crime de perigo de inundação tem lugar no artigo 255 do Código Penal. O tipo penal é misto
alternativo, ou seja, prevê mais de uma conduta típica, sendo que basta uma delas para a configuração
do crime, ao tempo em que a prática de mais de uma delas enseja a punição por um único crime. Os
núcleos do tipo são “remover” (transferir, retirar, afastar, deslocar), “destruir” (demolir, devastar,
extinguir, por no chão) e “inutilizar” (tornar inútil, estragar, deixar imprestável). As condutas se
volvam a obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação. Portanto, configura-se o crime no
caso de remoção, destruição ou inutilização de diques, barragens, comportas, ou mesmo obstáculos
naturais, como pode ser uma formação rochosa que impede que a água de um rio atinja um vale,
onde haja uma comunidade de moradores tradicionais. O tipo penal exige que haja a exposição a
perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de outra pessoa ou de outras pessoas. Com essa
exigência de efetivo risco a um dos bens jurídicos tutelados pela norma, o crime é de perigo concreto.
O crime é comum, sendo que até o proprietário da barragem, por exemplo, pode cometer o crime, se
da sua conduta sobrevier a exposição da vida de alguém a perigo. É doloso, não havendo previsão de
forma culposa nem de finalidade específica do sujeito ativo. Apesar de haver controvérsia, parte da
doutrina entende admissível a tentativa.
O artigo 256 do Código Penal trata do crime de desabamento ou desmoronamento. Causar, o núcleo
do tipo, é provocar, motivar, dar causa a. O tipo penal é causar desabamento ou desmoronamento.
Exige-se que haja a efetiva exposição a perigo da vida, da integridade física ou do patrimônio de
outrem, o que leva o crime a ser classificado como de perigo concreto, ou seja, cuja demonstração de
risco ao bem jurídico é necessária para a sua configuração. Desmoronamento, conforme ensina a
doutrina, refere-se à queda, a fazer vir abaixo uma quantidade considerável de rocha ou solo. Já o
desabamento se refere a uma queda ou de fazer vir ao chão uma parte de uma edificação ou toda ela.
É um crime comum, que pode ter como sujeito ativo qualquer pessoa. O caput prevê a forma dolosa,
em que não se exige finalidade específica do agente. É plurissubsistente, sendo possível o conatus, ou
seja, a modalidade tentada.
Modalidade culposa
O artigo 257 trata de um crime com nomen iuris de subtração, ocultação ou inutilização de material
de salvamento. Subtrair é assenhorear-se, apropriar-se, surrupiar. Ocultar é esconder, encobrir,
sonegar. Inutilizar é tornar inútil, danificar. O tipo penal, que é misto alternativo, conta com os três
núcleos. A conduta de subtração, ocultação ou inutilização recai sobre material ou qualquer meio
destinado a serviço de combate ao perigo, de socorro ou salvamento. Há, ainda, a figura de impedir
(obstruir, tornar impraticável) o dificultar (estorvar, tornar difícil) serviço de combate ao perigo,
socorro ou salvamento. Em todos os casos, deve haver a seguinte circunstância: ocasião de incêndio,
inundação, naufrágio ou outro desastre (como um desmoronamento, por exemplo) ou calamidade
(como um tufão). Este tipo penal não exige a demonstração do perigo concreto a um bem jurídico,
presumindo-o em virtude das circunstâncias, de modo que o crime é de perigo abstrato. O crime é
comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. É doloso, sem previsão de modalidade culposa
nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto. Por ser fracionável a conduta típica, é
considerado plurissubsistente e admite a modalidade tentada.
O artigo 258 do Código Penal trata de formas majoradas dos crimes de perigo comum. Apesar de a lei
trazer o título de “formas qualificadas”, a Ciência do Direito Penal reserva referido termo para os casos
em que há novos limites mínimo e máximo de penas abstratamente cominadas. Deste modo, as
hipóteses trazidas no artigo 258 se referem a majorantes. Causa estranheza que o artigo sobre as
formas majoradas de todos os crimes de perigo comum não esteja ao final do capítulo, mas antes do
delito de difusão de doença e praga, que também se classifica entre referidos crimes. De todo modo,
este último crime foi revogado, não havendo mais sequer a discussão sobre a aplicação da majorante
a ele.
Se o crime de perigo comum for culposo e dele resultar lesão corporal (aqui não se exige
que seja grave, como no caso dos crimes dolosos), a pena deve ser aumentada de metade.
Caso o resultado seja a morte, deve-se aplicar a pena do homicídio culposo, aumentada
de um terço.
O crime de difusão de doença ou praga está previsto, formalmente, no artigo 259 do CP. Entretanto,
houve sua revogação tácita pela superveniência da Lei 9.605/98, em razão do disposto no seu artigo
61. Assim preleciona a doutrina, como o jurista Luiz Regis Prado. Com a revogação tácita, não há mais
a modalidade culposa do crime. Portanto, o delito passou a ser da disciplina de Direito Penal Especial,
a ser lá analisada.
2. Dos Crimes Contra a Segurança dos Meio de Comunicação e Transporte e Outros Serviços
Públicos
O Capítulo II do Título VIII da Parte Especial do Código se intitula “Dos Crimes Contra a Segurança dos
Meios de Comunicação e Transporte e Outros Serviços Públicos”, o que já demonstra que se tutela a
segurança de tais serviços de interesse público.
O crime de perigo de desastre ferroviário tem seu tipo penal insculpido no artigo 260 do Código Penal.
Os núcleos do tipo são duas condutas alternativas: “impedir” (obstruir, interromper, tornar
impraticável) ou “perturbar” (estorvar, atrapalhar, abalar), recaindo ambos sobre serviço de estrada
de ferro. O crime, que é de forma vinculada, pode ser praticado de um dos seguintes modos:
O crime é comum. É plurissubsistente, sendo possível a tentativa. A doutrina classifica o delito como
de perigo concreto, entendendo necessária a efetiva situação de perigo para sua configuração. O
parágrafo quarto do artigo 260 traz uma norma interpretativa, segundo a qual se entende por estrada
de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em trilhos ou por
meio de cabo aéreo. O Superior Tribunal de Justiça já consignou que, com referido delito, tutelam-se
tanto a segurança dos meios de transporte, de forma direta, como a vida e a integridade física dos
passageiros, indiretamente. Ademais, ressaltou que a competência para seu julgamento, em regra, é
da Justiça Estadual. A doutrina aponta não ser o caso de conduta típica o chamado “surf ferroviário”,
que seria a conduta de o sujeito se deslocar em cima do vagão do trem, colocando em risco a própria
vida. O STJ considerou que o sujeito coloca a própria vida em risco, apesar de ter julgado desta forma
em recurso cível.
O Código Penal, nos parágrafos primeiro e segundo do artigo 260, traz formas qualificadas
do crime de perigo de desastre ferroviário, trazendo uma denominação diversa: desastre
ferroviário. O parágrafo primeiro traz uma figura preterdolosa, no caso de ocorrer o
resultado consistente em desastre, que deve ter sido praticado por negligência,
imprudência ou imperícia. A pena será a de reclusão, de quatro a doze anos e multa. Há
também a previsão de outro crime qualificado pelo resultado. Também se pune a efetiva
ocorrência do desastre, como fato subsequente, mas neste caso de o agente agir com
culpa também quanto ao fato antecedente. Neste caso, a pena prevista é a de detenção,
de seis meses a dois anos.
O crime de atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo está previsto no
artigo 261 do Código Penal. A conduta típica é “expor” (deixar ou ficar sem proteção) a perigo
embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou “praticar” (fazer, produzir) qualquer ato tendente a
impedir (obstruir, interromper, tornar impraticável) ou dificultar (tornar difícil ou mais difícil, estorvar,
atrapalhar) navegação marítima, fluvial ou aérea. É crime comum, podendo ser praticado por
qualquer pessoa. É de perigo concreto, consumando-se com a criação do perigo, que deve ser efetivo
e concreto. É plurissubsistente, admitindo a tentativa.
Crime mercenário
O parágrafo segundo do artigo 261 prevê a forma mercenário do delito, ou seja, quando
haja a finalidade específica de obtenção de vantagem econômica, seja para o próprio
agente, seja para outrem. Neste caso, aplica-se, cumulativamente, a pena de multa.
Modalidade culposa
O artigo 261, em seu parágrafo terceiro, prevê a punição do delito a título de negligência,
imprudência ou imperícia. Em tal caso, a pena será de detenção, de seis meses a dois anos.
O delito de atentado contra a segurança de outro meio de transporte está situado no artigo 262 do
Código Penal. O dispositivo acima prevê como conduta típica a de “expor” (deixar ou ficar sem
proteção) a perigo outro meio de transporte público. Há, ainda, as formas alternativas de impedir
(obstruir, interromper, tornar impraticável) ou dificultar (tornar difícil ou mais difícil, estorvar,
atrapalhar) o funcionamento de outro meio de transporte público. O tipo penal faz referência a outro
meio de transporte, em razão de já estarem abrangidos, pelo artigo 261, o marítimo, fluvial e o aéreo.
Restariam, assim, o lacustre e o rodoviário. Podemos pensar, ainda, no aeroespacial, que, ainda que
não implementado como serviço de transporte de passageiros, já vem sendo utilizado inclusive para
fins privados e pode se tornar público no futuro. O crime é comum, podendo ser praticado por
qualquer pessoa. É plurissubsistente, sendo cabível a punição pela tentativa. A doutrina o classifica
como crime de perigo concreto, de modo que é necessária a demonstração de perigo real e efetivo
para a sua configuração.
O parágrafo primeiro do artigo 262 prevê a forma qualificada pelo resultado desastre.
Cuida-se de figura preterdolosa, cuja pena é de reclusão, de dois a cinco anos.
Modalidade culposa
Já o parágrafo segundo do artigo 262 trata também de forma qualificada pelo resultado
consistente em desastre. Entretanto, a previsão é de culpa tanto no fato antecedente
quanto no subsequente. A pena passa a ser de detenção, de três meses a um ano.
O artigo 263 prevê forma qualificada, cabível a vários dos delitos estudados previstos nos arts. 260 a
262. O dispositivo é aplicável aos crimes de perigo de desastre ferroviário; atentado contra a
segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo; sinistro em transporte marítimo, fluvial ou aéreo
e atentado contra a segurança de outro meio de transporte. Determina-se que, no caso de lesão
corporal ou morte, deve-se aplicar o disposto no artigo 258, já estudado.
O delito de arremesso de projétil está previsto no artigo 264 do Código Penal. A ação nuclear típica é
arremessar, que significa atirar, lançar longe, jogar. A conduta incriminada é arremessar projétil
(objeto sólido lançado por impulsão, que a doutrina destaca dever ser pesado) contra veículo, em
movimento, destinado ao transporte público por terra, por água ou pelo ar. Há quem defenda não se
tipificar o crime se o veículo for particular. Entretanto, o que a lei exige é que seja veículo de transporte
público, seja por terra (ferroviário ou rodoviário), por água (marítimo, fluvial ou lacustre) ou pelo ar
(aéreo). Ademais, o veículo deve estar em movimento. O crime é doloso, sem exigência de elemento
subjetivo especial do tipo, sendo que, se este estiver presente, pode-se configurar crime diverso. É
comum. É de forma livre. É de perigo abstrato. A maioridade da doutrina entende ser unissubsistente,
não sendo admissível a tentativa, sendo que Mirabete tem entendimento contrário.
Forma qualificada
O artigo 265 do Código Penal trata sobre o crime de atentado contra a segurança de serviço de
utilidade pública. A ação nuclear típica é atentar, que significa cometer ofensa, importunar. Volta-se
a conduta contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, podendo
ainda se voltar contra qualquer outro que seja de utilidade pública (interpretação analógica). É crime
comum e doloso. O entendimento majoritário é que o crime é de perigo abstrato, sendo que o perigo,
assim, é presumido por lei. É possível a tentativa, por ser o delito plurissubsistente.
Ä Forma majorada
O parágrafo único do artigo 265 prevê a causa de aumento de pena de um terço até
metade se o dado ocorrer em virtude de subtração de material essencial ao fornecimento
de serviço de água, luz, força, calor ou outro que seja de utilidade pública.
O artigo 266 do Código Penal dispõe sobre a infração penal de interrupção ou perturbação de serviço
telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública. Os núcleos do
tipo são condutas alternativas: “impedir” (fazer cessar, pôr termo a) ou “perturbar” (estorvar,
atrapalhar, abalar). A conduta incriminada é impedir ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico
ou telefônico. Também se tipifica as condutas de “impedir” (fazer cessar, pôr termo a) ou “dificultar”
(estorvar, tornar difícil) o restabelecimento de serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico.
Serviço telegráfico é o que permite a transmissão de mensagens a distância, através de fios, mediante
o uso de código de sinais. Serviço radiotelegráfico é o de transmissão de mensagens, através de ondas
eletromagnéticas, utilizando-se também um código de sinais. Serviço telefônico é o que se realiza pela
transmissão do som à distância, seja mediante ondas ou fios. O que se tutela é o próprio serviço, e
não uma comunicação isoladamente considerada. Como forma equiparada, o parágrafo primeiro reza
que incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de informação de utilidade
pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento. Na forma equiparada, não há previsão da
conduta de perturbar. Serviço telemático é o que possibilita a transmissão de comunicação por meio
de informação computadorizada, ou seja, mediante o uso de computador ou outro equipamento de
processamento de informações. Serviço de informação de utilidade pública é o que interessa para a
população, como o de jornais. O crime é doloso, sem previsão de finalidade específica nem de
modalidade culposa. É comum. É plurissubsistente, sendo sua conduta fracionável. Por isso, admite a
tentativa.
Forma majorada
O parágrafo segundo do artigo 266 prevê a forma majorada, com aplicação em dobro, se
o delito for cometido por ocasião de calamidade pública.
Denomina-se “Dos Crimes Contra a Saúde Pública” o Capítulo III do Título VIII do Código Penal, que,
como se pode deduzir, também busca tutelar a incolumidade pública, mais especificamente no que
se refere à saúde da população.
3.1 Epidemia
O crime de epidemia está previsto no artigo 267 do Código Penal. O núcleo do tipo é causar, que
significa provocar, ser a causa de, motivar. Penaliza-se a conduta de causar epidemia, mediante a
propagação de germes patogênicos. Epidemia é um surto de doença, atacando um grande número de
pessoas em uma determinada região, mas de forma transitória. O crime é de forma vinculada, sendo
que, para sua configuração, a epidemia deve ser causada mediante a propagação (disseminação) de
germes patogênicos, ou seja, de microorganismos que transmitem doenças. Pode ser sujeito ativo
qualquer pessoa, sendo o crime comum. O caput prevê a modalidade culposa. Se houver elemento
subjetivo do tipo, consistente na intenção de matar (animus necandi), o crime será o de homicídio.
Caso a intenção seja transmitir a moléstia a pessoa determinada ou a pessoas determinadas, pode-se
configurar o crime de perigo de contágio de moléstia grave. O crime é plurissubsistente, admitindo a
tentativa.
Forma qualificada
O parágrafo primeiro do artigo 267 prevê que a pena passa a ser de reclusão, de dez a
quinze anos, se do fato resultar morte. Cuida-se de figura preterdolosa, devendo o
resultado ser provocado por culpa em sentido estrito. Caso contrário, o crime será o de
homicídio. Caso haja o resultado morte e o elemento subjetivo seja o dolo, o crime é
hediondo, como prevê o artigo 1º, inciso VII, da Lei 8.072/90. Portanto, configura-se a
hediondez se configurar o delito previsto no parágrafo primeiro do artigo 267, que é a
modalidade preterdolosa.
O parágrafo segundo do artigo 267, por sua vez, trata do crime cometido por imprudência,
negligência ou imperícia. Em tal modalidade, sua pena é a de detenção, de um a dois anos.
Havendo resultado morte e sendo o delito culposo, a pena passa a ser de detenção, de
dois a quatro anos.
O crime de infração de medida sanitária preventiva está previsto no artigo 268 do Código Penal.
“Infringir” é a ação nuclear típica, significando desobedecer, desrespeitar, violar. A conduta
incriminada é infringir determinação do poder público, destinada a impedir (obstruir, não permitir) a
introdução ou a propagação de doença contagiosa. O crime de infração de medida sanitária está
previsto em norma penal em branco, por fazer referência à determinação do poder público. O termo
é abrangente, incluindo leis, decretos, portarias e regulamentos, dentre outros. É crime comum,
sendo que a qualidade especial do sujeito ativo pode torná-lo majorado, nos termos do parágrafo
único do artigo 268. É plurissubsistente, possibilitando a punição da forma tentada. É formal, doloso,
de forma livre, comissivo e de perigo abstrato.
Forma majorada
Há causa de aumento de pena no parágrafo único do artigo 268, com estabelecimento da
fração de um terço. Incide se o agente possuir uma das seguintes condições pessoas: se
for funcionário da saúde pública ou exercer a profissão de médico, farmacêutico, dentista
ou enfermeiro.
O crime de omissão de notificação de doença está previsto no artigo 269 do Código Penal. A conduta
incriminada é deixar de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória. O
crime, portanto, é omissivo próprio, pois prevê como ação típica um não fazer. O médico deve
denunciar, aqui no sentido de comunicar ou informar, doença cuja notificação seja compulsória. A
norma penal é classificada como em branco, por depender de complementação normativa,
consistente em diploma legal ou regulamentar que defina as doenças que obrigam o médico a
comunicar a autoridade. Caso haja prazo para a notificação, o crime se consumará com a expiração
do prazo. Se não houver prazo, dependerá das circunstâncias, como no caso de o médico arquivar o
prontuário, mais de um mês após encerrado o atendimento do paciente, sem proceder à notificação.
É crime próprio, pois só pode praticá-lo o médico. Seu elemento subjetivo é dolo, sem exigência de
intuito específico do agente. Por ser omissivo puro, não admite a tentativa. É formal e instantâneo.
Rogério Sanches Cunha defendem ter havido a revogação parcial (derrogação) do artigo 270 no que
se refere à água potável, de uso comum ou particular. O tipo penal continuaria vigente no que se
refere à substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo. A revogação seria decorrência do
que prevê o artigo 54 da Lei 9.605/98. Entretanto, a posição não é compartilhada por toda a doutrina,
apesar de possuir argumentos sólidos, já que poluir envolve a conduta de envenenar. É possível
sustentar entendimento diverso, já que o envenenamento, colocando em risco a saúde pública de
forma direta, seria mais grave que a poluição, que pode afetar a saúde indiretamente, no caso, por
exemplo, de águas não utilizadas para consumo humano e em nível que não prejudique a saúde
humana.
Modalidade equiparada
Há, ainda, a forma equiparada de prática do delito, consoante prevê o parágrafo primeiro
do artigo 270. Incorre na mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para
o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada. Na modalidade de ter em
depósito, o crime é permanente, já que sua consumação se protrai no tempo, enquanto o
agente possuir a água ou a substância envenenada em depósito, desde que a finalidade
seja a de sua distribuição. Entretanto, também aqui os autores acima mencionados
defendem ter havido a revogação pela Lei 9.605/98, em razão do que dispõe seu artigo
56.
Modalidade culposa
O parágrafo segundo do artigo 270 prevê a modalidade culposa, determinando a aplicação
da pena de detenção, de seis meses a dois anos.
O parágrafo 1º-A prevê a primeira modalidade equiparada, ao dispor que submete-se às mesmas
penas quem fabrica (manufatura, produz), vende (aliena, comercializa, negocia por um preço), expõe
à venda (mostre ou exibe para a negociação, a venda), importa (traz do exterior), tem em depósito
(guarda, armazena) para vender ou, de qualquer forma, distribui (espalha, divide) ou entrega (dá,
repassa) a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. O
parágrafo primeiro também prevê modalidade equiparada, determinado a sujeição às mesmas penas
de quem pratica as ações previstas no tipo penal do caput em relação a bebidas, com ou sem teor
alcoólico. Há, portanto, um alargamento do rol dos objetos materiais do crime. É doloso, na forma do
caput e dos §§ 1º-A e 1º, sem necessidade de elemento subjetivo especial do injusto. É crime comum,
plurissubsistente e de forma livre, além de ser classificado como de perigo abstrato. A doutrina
majoritária aponta que o crime se consuma com a prática de qualquer das condutas típicas. Na forma
do caput, entretanto, a leitura demonstra a necessidade de que a substância ou o produto alimentício
destinado a consumo se torne nocivo à saúde ou tenha seu valor nutritivo reduzido. De todo modo,
recomenda-se considerar o crime formal em todas as formas, conforme entendimento que prevalece.
Por se tratar de crime de fato não transeunte, ou seja, que deixa vestígios, é necessária a realização
de exame pericial.
Ä Modalidade culposa
O parágrafo segundo do artigo 272 prevê a responsabilização criminal em caso de
imprudência, negligência ou imperícia. A pena correspondente é a de detenção, de 1 (um)
a 2 (dois) anos, e multa.
O parágrafo 1º-A aumenta o objeto material do crime, estendendo-o para os medicamentos (remédio,
substância utilizada para tratamento medicinal), as matérias-primas (substância usada para a
fabricação ou produção de outra), os insumos farmacêuticos (substância devida de matérias-primas,
utilizada para produção de medicamentos), os cosméticos (produtos que se destinam à limpeza,
melhoria e maquiagem da pele, ou seja, para melhoria da aparência), os saneantes (produtos usados
para a limpeza, para a purificação) e os de uso em diagnóstico (aqueles que se destinam à realização
de exames da área da saúde).
Além disso, há maior ampliação na abrangência do crime em estudo, com a introdução do parágrafo
1º-B, que determina a punição de quem pratica qualquer das condutas previstas no parágrafo
primeiro (importar, vender, expor à venda, distribuir ou entregar a consumo) em relação a produtos
nas seguintes condições:
comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. É de perigo abstrato, conforme entendimento
majoritário. É instantâneo, formal e unissubjetivo, além de ser plurissubsistente, admitindo a
tentativa. Conforme prevê o artigo 1º, inciso VII-B, da Lei 8.072/90, o crime de falsificação, corrupção,
adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais é hediondo em todas
as suas modalidades, salvo a culposa (prevista no seu parágrafo segundo).
O crime de emprego de processo proibido ou de substância não permitida está localizado no artigo
274 do CP. Empregar é usar, utilizar. Fabrico é a fabricação, processo de transformação. A conduta
incriminada é empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação,
matéria corante, substância aromática, antisséptica, conservadora ou qualquer outra não
expressamente permitida pela legislação sanitária. O crime se configura se qualquer das substâncias
empregadas não for expressamente permitida pela legislação sanitária, o que faz do artigo 274 uma
norma penal em branco. A lista é exemplificativa, pois termina com uma fórmula de interpretação
analógica muita ampla: “qualquer outra”. Obviamente, toda e qualquer substância, esteja no rol
(matéria corante, por exemplo) ou não (como o fermento) não podem estar autorizadas
expressamente pela legislação sanitária, ou o crime não se configurará. Qualquer pessoa pode praticar
o crime em comento, sendo comum. É de perigo abstrato, já que a lei não exige a sua demonstração
no caso concreto. É doloso, sem previsão de modalidade dolosa. Por fim, sua conduta é fracionável,
sendo plurissubsistente e admitindo a tentativa.
O crime de invólucro ou recipiente com falsa indicação está previsto no artigo 275 do CP. “Inculcar” é
a ação nuclear típica, que significa gravar, imprimir. A conduta incriminada é inculcar em invólucro (o
que envolve o produto, como o rótulo) ou recipiente (a embalagem do produto, como a caixa ou a
lata) de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de substância que não se
encontra em seu conteúdo ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada. O crime é
comum, pois qualquer pessoa pode praticá-lo; é doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial
nem previsão de modalidade culposa; e é plurissubsistente, sendo possível a tentativa.
O delito de produto ou substância nas condições dos dois artigos anteriores tem previsão no artigo
276 do Estatuto Repressivo. A conduta incriminada é vender (alienar, comercializar, negociar por um
preço); expor à venda (mostrar ou exibir para a negociação, a venda); ter em depósito (guardar,
armazenar) para vender ou, de qualquer forma, entregar (dar, repassar) a consumo produto nas
condições dos artigos 274 e 275. O tipo penal, que é misto alternativo, constitui norma penal em
branco, fazendo referência a produto nas condições dos artigos 274 e 275:
O crime é comum, sem mencionar a exigência de qualidade específica do sujeito ativo. Sendo
plurissubsistente, admite a tentativa. É doloso, não sendo necessário o elemento subjetivo especial.
Neste ponto, Rogério Sanches Cunha entende-o necessário na conduta de ter em depósito,
defendendo ser imprescindível o intuito de vender o produto.
O artigo 277 do CP prevê a infração penal de substância destinada à falsificação. O tipo penal é misto
alternativo, sendo seus núcleos: vender (alienar, comercializar, negociar por um preço); expor à venda
(mostrar ou exibir para a negociação, a venda); ter em depósito (guardar, armazenar) ou ceder (dar,
transferir a posse a alguém). A conduta incriminada é vender, expor à venda, ter em depósito ou
ceder substância destinada à falsificação de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais.
Percebam que, neste caso, pune-se conduta que seria mera fase de preparação de outros crimes
contra a saúde pública. O legislador, entretanto, optou por punir tal conduta de forma autônoma,
tipificando o que seria mero ato preparatório de outro delito e, portanto, que seria um indiferente
penal. O crime é doloso, sendo que grande parte da doutrina defende a necessidade da finalidade
especial do agente, consistente na falsificação de produtos. É comum, razão pela qual qualquer pessoa
pode praticá-lo. É plurissubsistente, sendo admissível a tentativa, apesar de ser difícil a sua ocorrência.
O artigo 278 do Código Penal prevê o crime chamado de outras substâncias nocivas à saúde pública.
São núcleos do tipo: fabricar (produzir a partir da matéria-prima, manufaturar, produzir), vender
(alienar, comercializar, negociar por um preço); expor à venda (mostrar ou exibir para a negociação,
a venda); ter em depósito (guardar, armazenar) para vender ou entregar (dar, repassar) a consumo o
produto coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou fim medicinal.
O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo comum. É doloso na forma do caput, sem
exigência de elemento subjetivo especial do tipo, salvo na modalidade de ter em depósito, que se liga
Modalidade culposa
O parágrafo único do artigo 278 prevê a punição se a conduta for praticada por
negligência, imprudência ou imperícia, com a atribuição de pena de detenção, de dois
meses a um ano.
O artigo 280 prevê o crime de medicamento em desacordo com receita médica. Fornecer é abastecer,
prover. A conduta típica, portanto, é fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica.
A doutrina aponta cometer o crime o servidor do hospital, o prático ou farmacêutico que fornecerem
medicamento fora do descrito pelo médico, que acompanha o paciente e tem a formação técnica para
prescrevê-lo. Cezar Bitencourt entende que, se o farmacêutico, que tem conhecimento técnico sobre
os medicamentos, entender que a prescrição foi equivocada, deve entrar em contato com o médico
que o prescreveu para a eventual substituição da receita, e não substituir por conta própria, o que
configuraria o crime. Há quem entenda que há o crime ainda que o medicamento dado em
substituição seja melhor ou de igual qualidade, havendo entendimento em sentido contrário. O crime
pode ser praticado por qualquer pessoa, sendo comum. É de perigo abstrato, não se exigindo a
comprovação do risco ao bem jurídico para sua configuração. O caput prevê forma dolosa, sem
exigência de elemento subjetivo especial do tipo. Admite a tentativa, por ser plurissubsistente.
Modalidade culposa
O parágrafo único do artigo 280 prevê que, se o crime for culposo, a pena passa a ser de
detenção, de dois meses a um ano.
O crime de exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica tem previsão no artigo 282 do
CP. O artigo 282 do Código Penal pune a conduta de exercer (praticar, desempenhar) a profissão de
médico, dentista ou farmacêutico sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites. O crime se
configura ainda que o exercício se dê a título gratuito. São duas as figuras típicas, portanto:
• Exercer a profissão de médico, dentista ou farmacêutico sem autorização legal. O sujeito ativo
não tem a formação necessária ou não possui inscrição no conselho profissional.
• Exercer os limites da profissão de médico, dentista ou farmacêutico. Nesta modalidade, o agente
possui a formação e a inscrição regular, mas se excede. Os limites de cada profissão estão
previstos na legislação que regulamente seu exercício. Portanto, cuida-se de norma penal em
branco.
O crime é comum na conduta de exercer, podendo ser praticado por qualquer pessoa, e próprio na
modalidade de exceder os limites da profissão, quando só pode ser cometido por médico, dentista ou
farmacêutico. É doloso, sem exigência de elemento subjetivo especial. Se houver o intuito de lucro,
há aplicação cumulativa de multa. É crime habitual, razão pela qual não se admite a tentativa. Há
divergência sobre o estado de necessidade, em razão da habitualidade exigida. Existe o entendimento
de que se configuraria se não houve profissional na região, com pessoas necessitando de atendimento
urgente. O STJ já decidiu não se configurar o crime no caso de acupuntura, dada a ausência de
regulamentação da profissão.
Crime mercenário
O parágrafo único prevê que, havendo o intuito de lucro, deve haver a aplicação
cumulativa da pena de multa.
3.15 Charlatanismo
O artigo 283 do CP tipifica o charlatanismo. Inculcar é imprimir algo no espírito de outrem, é repetir
seguidamente. Anunciar é dar publicidade, comunicar. O tipo penal, misto alternativo, é inculcar ou
anunciar cura por meio secreto ou infalível.
Basta um ato para sua configuração, sendo que a tentativa é admissível, pela possibilidade de seu
fracionamento (crime plurissubsistente). Entretanto, cumpre registrar que Cezar Bitencourt entende
ser o crime habitual. Não é necessário o efetivo convencimento de alguma vítima para sua
configuração, sendo o crime de perigo abstrato. É crime comum, podendo ser praticado por qualquer
pessoa. É formal, por não exigir resultado naturalístico para a sua consumação. É doloso, sem
exigência de elemento subjetivo especial do injusto.
3.16 Curandeirismo
O artigo 284 traz o último dos crimes contra a saúde pública do Código, o de curandeirismo. O artigo
282 do Código Penal pune a conduta de exercer (praticar, desempenhar) o curandeirismo (que seria
o exercício da arte de curar por métodos não científicos, grosseiros, sem a devida autorização legal).
O crime, de forma vinculada, pode ser praticado de um dos seguintes modos:
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, sem exigência de elemento
subjetivo especial do tipo. É crime formal, não exigindo resultado naturalístico para a sua consumação.
Por ser crime habitual, ou seja, aquele que exige uma reiteração de atos para a sua configuração, não
se admite a tentativa. O Superior Tribunal de Justiça já entendeu cabível o concurso entre o crime de
curandeirismo e o de exercício ilegal de arte farmacêutica.
Crime mercenário
O parágrafo único prevê que, sendo o crime praticado mediante remuneração, deve haver
a aplicação cumulativa da pena de multa.
O artigo 285 se denomina forma qualificada, fazendo remissão ao artigo 258 para determinar sua
aplicação aos crimes contra a saúde pública. Vale lembrar que o artigo 258 prevê, na verdade, causas
de aumento de pena. Entretanto, o artigo 285 ressalva o disposto no artigo 267 do Código Penal. Ou
seja, não se aplicam as suas disposições ao crime de epidemia, que já possui causa de aumento de
pena e modalidade culposa qualificada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Deste modo, terminamos mais uma aula dos crimes em espécie do Código Penal, tratando daqueles
contra a incolumidade pública. Espero que tenha compreendido bem e que a exposição tenha sido
completa e didática.
Relembro de que qualquer dúvida da Parte Geral deve ser motivo para o retorno ao material das aulas
passadas para a devida compreensão da Parte Especial.
Quaisquer sugestões são bem-vindas e, apesar de elaborada com muito rigor, toda aula pode ser
aperfeiçoada a partir de contribuições. O contato pode ser feito pelo fórum, por e-mail ou pelo
Instagram.
Até a próxima aula. Forte abraço e meus desejos de sempre de sucesso!
Michael Procopio.
procopioavelar@gmail.com
professor.procopio