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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

6º Grupo

EDNILZA GIL

LIZIRIA MARCELINO

LEONEL DIONÍSIO JAIME

NÚRIA SUZANA MATIAS ANDRE

TELMA MUSSENA

VICENTE ALFREDO

CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA

NAMPULA

2022
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO

EDNILZA GIL

LIZIRIA MARCELINO

LEONEL DIONÍSIO JAIME

NÚRIA SUZANA MATIAS ANDRE

TELMA MUSSENA

VICENTE ALFREDO

CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA

O presente trabalho é de carácter avaliativo,


da disciplina do Direito Penal I, no 2º ano, para
apresentar na Faculdade do Direito ao docente da
cadeira. MA. Sezinho Muashana.

NAMPULA

2022
Lista de Abreviaturas
CP – Código Penal;

BR- Boletim da República;

OMS – Organização Mundial da Saúde;

Art - Artigo;

Pag - Página;

Cf – Conforme.

iii
Índice
Lista de Abreviaturas.................................................................................................................iii
Introdução...................................................................................................................................2
CAPÍTULO I: ASPECTOS GERAIS.........................................................................................3
1.1. Noção...................................................................................................................................3
1.2. Bem jurídico.........................................................................................................................3
1.2.1. Saúde física.......................................................................................................................3
1.2.2. Saúde mental ou psíquica..................................................................................................3
1.3. Objecto Material..................................................................................................................3
1.4. Características do crime contra a saúde pública..................................................................4
1.4.1. Exteriorização da conduta.................................................................................................4
1.4.2. Perigosidade do acto.........................................................................................................4
1.4.3. O dolo................................................................................................................................4
1.5. Formas de aparecimento de crime.......................................................................................5
1.5.1. Tentativa...........................................................................................................................5
1.5.2. Frustração..........................................................................................................................5
CAPÍTULO II: DOS CRIMES...................................................................................................6
2.1. Recusa ao profissional da saúde..........................................................................................6
2.1.1. Sujeito...............................................................................................................................6
2.2. Venda ou exposição de substâncias venenosas ou abortivas...............................................6
2.3. Falsificação, corrupção, avaria de substâncias alimentícias ou produtos alimentícios........6
2.4. Venda de utensílios e outros equipamentos tóxicos............................................................7
2.4.1. Falsificação.......................................................................................................................7
2.4.2. Avaria................................................................................................................................8
2.4.3. Corrupção..........................................................................................................................8
2.4.4. Objectividade jurídica.......................................................................................................8
2.4.5. Sujeito...............................................................................................................................8
2.4.6. Tipo objectivo...................................................................................................................8
2.4.7. Tipo subjectivo..................................................................................................................9
2.4.8. Consumação e tentativa....................................................................................................9
2.4.9. Concurso...........................................................................................................................9
2.5. Abate clandestino.................................................................................................................9

1
2.5.1. Tipo objectivo.................................................................................................................10
2.5.2. Tipo subjectivo................................................................................................................10
2.5.3. Consumação e tentativa..................................................................................................11
2.6. Abate de rezes impróprias para o consumo.......................................................................11
2.6.1. Tipo objectivo.................................................................................................................11
2.6.2. Tipo subjectivo................................................................................................................11
2.6.3. Exclusão da responsabilidade criminal...........................................................................11
2.6.4. Agravantes......................................................................................................................12
2.7. Tráfico e outras actividades ilícitas....................................................................................12
2.8. Cultivo de Cannabis Sativa................................................................................................13
2.9. Utilização indevida do equipamento indevida do equipamento material e precursores....13
2.10. Trafico e consumo em lugares públicos ou de reunião....................................................14
2.11. Abuso de exercício de profissão......................................................................................14
2.12. Incitamento ao uso de estupefacientes.............................................................................15
2.13. Abandono de seringas, instrumentos ou produtos...........................................................15
2.13.1. Tentativa.......................................................................................................................15
Conclusão..................................................................................................................................16
Bibliografia...............................................................................................................................17

2
Introdução

Ainda que o Estado crie normas penalizadoras de certas condutas do homem em


sociedade, ainda que o mesmo crie mecanismos de efectivação destas normas, ainda que crie
meios que auxiliem esses mecanismos da efectivação das normas, ainda a sociedade sofre
várias tentativas de crimes, por vezes ate chegam a ocorrer esses crimes, facto que nos leva a
fazer estudo constante de condutas criminosas para melhor compreender e nos acautelar em
relação as mesmas.

Portanto, com o nosso trabalho, vamos fazer uma pesquisa em torno do tema saúdes
contra a saúde pública, o nosso objectivo geral, é fazer um estudo destes crimes e o nosso
objectivo geral é compreender a legislação penal que regula os crimes contra saúde pública,
desde aos ao código penal até as outras legislações que sirvam de auxílio ao Código Penal na
disciplina destes crimes.

O trabalho apresenta três capítulos, cada capítulo aborda de forma autónoma uma
determinada matéria porem todos os capítulos se correlacionam para proporcionar coesão no
estudo do tema em estudo, assim, o primeiro capítulo estudo crime no geral, o segundo
capítulo faz um estudo de alguns crimes contra a saúde pública na generalidade e o terceiro
capítulo faz um estudo sobre crimes contra a saúde pública no âmbito alimentar.

O trabalho é composto por elementos pré textuais (capa, contra-capa, lista de


abreviaturas e índice); os elementos textuais (introdução, desenvolvimento e conclusão); bem
como os elementos pós-textuais (referencias bibliográficas), com as devidas enumerações e
divisões.

3
CAPÍTULO I: NOÇÕES GERAIS

1.1. Noção
Falar dos crimes contra a saúde pública, consiste efectivamente falar de todo acto que
coloque em perigo a saúde colectiva, ou seja, qualquer comportamento que a pessoa vai ter,
que de certa forma vai colocar a saúde de um número indeterminado de pessoas numa
situação de exposição ao perigo, poderemos designar de crime contra a saúde pública.1

1.2. Bem jurídico


O bem jurídico tutelado nos crimes contra a saúde pública é essencialmente a saúde
pública. A saúde pública, pode ser conceituada como sendo o estado funcional do corpo
humano, quer de ponto de vista anatómico, quer de ponto de vista fisiológico ou mental, das
pessoas no geral.2

1.2.1. Saúde física


Condição geral do corpo em relação ao vigor físico. Esta condição e influenciada por
questões como genética, condições de trabalho, etc.3

1.2.2. Saúde mental ou psíquica


Segundo a OMS, não existe uma definição oficial para saúde psíquica. Coisas como
diferenças culturais, teorias concorrentes e julgamentos subjectivos afectam em como a saúde
mental é definida.A saúde mental pode ser descrita como qualidade de vida emocional e
cognitiva de uma pessoa. Percepção da realidade, integração social e emocional, entre outros
aspectos são avaliados para definir a saúde mental de uma pessoa.4

1.3. Objecto Material


Algumas considerações devem ser feitas sobre o objecto material nos crimes contra a
saúde pública do Cód. Penal. No art. 223 o objecto material do crime substancia venenosa.
Em vários tipos penais o objecto material é a substância alimentícia ou a substância
medicinal. Substância alimentícia é toda a substância sólida ou líquida, destinada à
alimentação. Podemos em sede deste trabalho considerar alimento a substância destinada a ser

1
CASTILHO, Ela Wiecko Volkmer de, Crimes Contra a Saúde Pública, Universidade Federal de Santa
Catarina, Brasil, p.2.
2
FABRINNI, Renato N. ; MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal (Parte especial), Vol.II, 28ª
Edição revista e actualizada, Atlas Editores ,São Paulo, 2011, pág. 67.
3
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/saude-mental-fisica-mental-e-social/51347
4
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/saude-mental-fisica-mental-e-social/51347

4
ingerida pelo homem e a fornecer elementos necessários a seu desenvolvimento e
manutenção, inclusive as bebidas como sinónimas as expressões “alimento”, “géneros
alimentícios” e “produtos alimentícios”.5 Portanto, as definições acima apresentadas são
razoáveis e adequadas ao que nosso ordenamento jurídico dispõe mormente art.1º da lei que
regula crimes contra a saúde pública no âmbito da higiene alimentar.6

Substância medicinal é toda a substância, sólida ou líquida, empregada na cura ou


prevenção de doenças.7 Para a melhor compreensão do que consiste produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais, há que recorrer Lei n. 3/97 Que regula o trafico e o consumo de
estupefacientes.

1.4. Características do crime contra a saúde pública


Os crimes contra a saúde pública, possuem essencialmente três características
nomeadamente:

1.4.1. Exteriorização da conduta


Portanto um dos factores que caracterizam os crimes contra a saúde pública é a
exteriorização da sua conduta, isto implica dizer que não se verificara o crime contra a saúde
pública apenas com mera cogitação ou mero pensamento e panejamento do seu cometimento,
sendo necessário a prática de uma acção que torne o seu pensamento exterior.

1.4.2. Perigosidade do acto


Portanto um dos elementos que caracteriza os crimes contra a saúde pública, é o perigo
que se verifica no comportamento do agente independentemente do seu resultado, bastando o
comportamento do agente denotar uma perigosidade no bem jurídico acima referido, que é a
saúde de um número indeterminado de pessoas.

1.4.3. O dolo
Nos crimes contra a saúde pública o agente deve ter consciência de que pode criar
perigo para a saúde pública. Não é exigido que tenha esse propósito, uma vez que o fim
particular do agente não interessa para a caracterização do crime. Por essa razão, o dolo pode
ser directo, eventual ou necessário.8

5
CASTILHO, Ob.Cit.p.8.
6
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os crimes contra a saúde
publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da República.
7
CASTILHO, Ob.Cit.p.8.
8
Idem, p.8.
5
Em termos gerais, atentos ao art.12º do CP, age com dolo aquele que, representando um
facto que preenche um tipo legal de crime, actua com intenção de o realizar. Age, também
com dolo, aquele que representar a realização de um facto tipificado como crime, sendo este
consequência necessária da sua conduta.9

1.5. Formas de aparecimento de crime

1.5.1. Tentativa
Nos crimes contra a saude publica há tentativa em termos gerais e algumas
especificacoes de acordocom o crime, materia que iremos nos ocupar em abordar no proximo
capitulo, para já, em termos gerais, de acordo com o nr.1 do art.17º do CP, há tentativa
quando o agente praticar actos de execução de um crime que decidiu cometer, sem que este
chegue a consumar-se.
Nos termos do nr2. Do mesmo artigo, entende-se por actos de execuçao, São actos de
execução: os que preencherem um elemento constitutivo de um tipo de crime; os que forem
idóneos a produzir o resultado típico; e os que, segundo a experiência comum e salvo
circunstâncias imprevisíveis, forem de natureza a fazer esperar que se lhes sigam actos
anteriormente. E em termos gerais, salvo disposição em contrário, a tentativa só é punível se
ao crime consumado respectivo corresponder pena superior a 2 anos de prisão.10

1.5.2. Frustração
A frustração se verifica quando o agente executa todos os actos criminosos mas como
resultado, não se verificara o facto por ele cogitado, em outras palavras, o agente faz tudo que
tinha que fazer para cometer o seu crime, porem não chega a se verificar o resultado por ele
desejado. Atentos que a nova lei que procede com a revisão do código penal não prevê mais a
figura da frustração, podemos de forma abstracta chegar a uma conclusão que nos crimes
contra a saúde pública não vai existir a frustração.

9
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 24/2019, de 24 de Dezembro (Lei de Revisão do Código Penal), in
Boletim da República.
10
Idem.
6
CAPÍTULO II: DOS CRIMES

2.1. Recusa ao profissional da saúde


Este e um típico crime contra a saúde publica previsto no artigo 222 do CP, que
preconiza que o medico ou outro profissional de saúde que em caso urgente recusar o auxilio
da sua profissão, e bem assim aquele que, competente convocado ou intimado para exercer o
acto da sua profissão, necessário, segundo a lei, para o desempenho das funções de autoridade
pública, recusar a exerce-lo, será punido com pena de prisão de 2 meses a um ano e multa
correspondente.11

2.1.1. Sujeito
Em principio importa referir que este crime é um crime especifico, ou seja, não é
cometido por qualquer pessoa, podendo ser apenas cometido por um profissional de saúde
numa situaçao em que tem obrigaçao de atender um paciente.

2.2. Venda ou exposição de substâncias venenosas ou abortivas


O outro crime contra a saúde pública que o nosso código penal nos apresenta é a
questão de venda ou exposição de substâncias venenosas ou abortivas, este crime consiste na
exposição, venda ou ministração de substâncias venenosas ou abortivas, sem autorização ou
sem obedecer as formalidades exigidas em termos legais. Portanto, o agente sem autorização e
sem obediência daquilo que a lei vai exigir, este vai colocar uma substancia venenosa ou
abortiva exposta ou vender o mesmo para as pessoas. Verificados os termos acima
mencionados, estaremos assim perante a um crime cuja lei penal estabelece uma moldura
penal ate seis meses e multa correspondente.12

2.3. Falsificação, corrupção, avaria de substâncias alimentícias ou produtos alimentícios


Uma das espécies de fraude à substancia alimentícia ou de produtos alimentícios
consiste na falsificação, corrupção e avaria dos produtos alimentícios que estão previstos no
art.2 da lei 8/82, de 23 de Junho, estes crimes, consiste na produção, vender ou expor para a
venda, adquirir, transportar ou armazenar para fins comerciais, géneros alimentícios
avariados, falsificados ou corruptos.

11
FIGUEIREDO, Jorge Dias, Direito Penal – Questões Fundamentais a Doutrina Geral do Crime, Tomo I, 2a
edição, 2a Reimpressão, Coimbra editora, 2012, Pág. 365.
12
Cf.art.223º do CP.
7
2.4. Venda de utensílios e outros equipamentos tóxicos
Ainda na redacção da alínea b) do artigo supra citado, incorre à este crime, quem
produzir, vender ou expor para a venda, adquirir, transportar ou armazenar para fins
comerciais, utensílios de cozinha ou de mesa, recipientes, quaisquer outros objectos ou
equipamentos desde que no seu uso corrente tenham um contacto directo com os alimentos
transmitindo-lhes assim produtos tóxicos numa quantidade considerada acima da normal em
termos legais.

A punição pelos crimes acima mencionados, nomeadamente a falsificação, corrupção


ou avaria de produtos alimentícios, assim como a venda de utensílios de cozinha e outros
equipamentos tóxicos para os alimentos, se encontra efectivamente estatuída no art.3º da lei
em supra citada.13

Este crime é punido com uma pena de prisão de oito a doze anos se o alimento
alimentício corrupto, avariado ou falsificado for susceptível de prejudicar gravemente a saúde
do consumidor e se a quantidade de produtos tóxicos transmissíveis são gravemente
prejudiciais a saúde do consumidor.

Com pena de prisão de dois a oito anos se os géneros alimentícios forem por sua
qualidade ou natureza susceptíveis de prejudicar a saúde de consumidor e se as quantidades
dos produtos tóxicos transmissíveis são prejudiciais a saúde do consumidor.

Com multa de 5.000.00 a 50.000.00mts se o defeito de alimento ou a transmissão de


produto tóxicos forem ignorados pelo infractor em virtude dos seus insuficientes
conhecimentos técnico-científicos e de educação sanitária.14

2.4.1. Falsificação
A falsificação de género alimentício consiste em adicionar quais quer substâncias
alimentares ou não que seja, estranhas a sua composição de natureza, em qualquer quantidade
para lhe aumentar o seu peso, volume ou encobrir do consumidor a sua avaria ou ma
qualidade; substituir para o consumo com imitação fraudulenta das respectivas qualidades,
géneros alimentícios por substâncias alimentares ou não; subtrair total ou parcialmente algum
ou alguns dos seus componentes contrariando a regulamentação apropriada.

13
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os crimes contra a saúde
publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da República.
14
Cf. Art.3º da lei 8/82, de 23 de Julho (lei que regula os crimes contra a saúde publica no âmbito da saúde
alimentar)
8
2.4.2. Avaria
Considera-se género alimentício avariado, todo aquele que por negligência ou causa
acidental, se deteriorou ou sofreu uma modificação mais ou menos profunda na sua
composição tornando-se impróprio para o consumo.

2.4.3. Corrupção
Considera-se género alimentício corrupto, todo aquele que entrou em putrefacção ou
decomposição; contem germes patogénicos ou germes indicadores de contaminação fecal,
substâncias químicas ou radioactivas, tóxicas ou parasitas em quantidades capazes de
poderem produzir ou transmitir doenças ao homem.15

2.4.4. Objectividade jurídica


Ainda é saúde pública o bem jurídico tutelado, já que a incolumidade das pessoas é
posta em causa com o consumo de produtos alimentícios nas condições acima indicados.

Trata-se agora de crime de perigo concreto, por exigir a lei que a substancia seja
nociva a saúde ou que tenha reduzido o seu valor nutritivo embora não depende da
comprovação de risco efectivo para a incolumidade de qualquer pessoa.

2.4.5. Sujeito
Qualquer pessoa pode cometer o crime, embora na maior parte das vezes se revista o
sujeito activo qualidade de industrial, agricultor ou comerciante. O sujeito passivo é a
colectividade, bem como qualquer pessoa que seja lesada ou colocada em perigo pela
falsificação, corrupção ou avaria dos alimentos ou produtos alimentícios.

2.4.6. Tipo objectivo


O tipo prevê condutas como corromper a substancia, ou seja, o de estragar, desnaturar,
infectar, decompor, tornar pobre a substancia. Tal conduta pode ocorrer por omissão deixando
o agente, conscientemente, de tomar os cuidados necessários a conservação da substancia
alimentícia.

Outra conduta é falsificar, quer dizer alterar com fraude, contrafazer. Falsifica-se com
o emprego das substâncias diversas das que entram na composição normal do produto, tendo-
se o cuidado de que ele se apresente com a aparência normal do produto. Externamente a

15
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os crimes contra a saúde
publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da República.
9
substancia idêntica ou muito semelhante com a genuína, embora a sua composição seja
diversa da normal. Outra conduta é por deixar o produto entrar em putrefacção criando
germes patogénicos que atentem a saúde do consumidor.

2.4.7. Tipo subjectivo


O dolo é a vontade de corromper, falsificar ou deixar avariar a substancia ou produto
alimentício, tendo o agente a consciência de que pode criar perigo para a saúde pública. Não
se exige que tenha o intuito uma vez que o fim particular do agente não interessa à
caracterização do ilícito.16

2.4.8. Consumação e tentativa


Consuma-se o crime com a corrupção, falsificação ou avaria do produto alimentício,
não se exigindo que seja ele posto à disposição do comércio ou do público. E nele é possível a
tentativa que ocorre com a interrupção da conduta típica.

2.4.9. Concurso
Quando o falsificador vende o produto não comete dois crimes, respondendo apenas
em termos do artigo 2º da lei 8/82. Pode ocorrer o concurso com outro crime contra as
relações de consumo, quando a fraude ao consumidor não se restringir à alteração sofrida pelo
produto que o tornou nocivo à saúde ou lhe reduziu o valor nutritivo. Na impede também a
existência de um crime continuado.17

2.5. Abate clandestino


Outro crime que a lei 8/82, de 23 de Junho nos oferece é a questão de abate
clandestino que se encontra estabelecido no artigo 7º com a seguinte redacção:

É crime contra a saúde pública punível com uma pena de prisão até dois anos e multa igual ao
triplo do valor das rezes abatidas, o abate dos animais das espécies bovina, caprina, ovina,
suína ou equina para o consumo público fora dos locais oficialmente autorizados e sem
inspecção sanitária.

A mesma pena é aplicada à pessoas que vendam ou exponham para a venda, bem
como adquiram, transportem ou armazenem para o comercio a carne dos animais das espécies

16
FABRINNI, Ob.Cit.pp.113-115.
17
FABRINNI, Ob.Cit.p.116.
10
acima mencionados, abatidos sem inspecção sanitária, ou os produtos com ela fabricados,
desde que conhecessem ou devessem conhecer o carácter clandestino do abate.

Ainda a mesma pena vai ser aplicado as pessoas que venderem ou deixarem exposta a
venda e aqueles que adquirem, transportam, armazenam para o fim comercial a carne
proveniente do exercício das actividades venatórias, que não sejam submetidas à prévia
inspecção sanitária.18

2.5.1. Tipo objectivo


Do que podemos abstrair do artigo 7º da lei acima referida são várias condutas que
compõem o tipo legal do crime, primeiro vai se consubstanciar no abate de espécies de
animais acima mencionadas tendo a finalidade do consumo público e sem a inspecção
sanitária que visara qualificar as condições na qual são abatidas como não sendo perigosas a
saúde da colectividade.

Segunda conduta vai se resumir na venda, ou exposição a venda, adquirir ou


armazenar tendo como fim último proceder a sua comercialização, a carne dos animais que
foram mencionadas e que foram abatidas sem inspecção sanitária.

Outra conduta se refere a na aquisição, transporte e armazenamento de carne que


venha doutras actividades também não inspeccionadas.

2.5.2. Tipo subjectivo


O tipo subjectivo deste tipo de crime vai se consubstanciar na existência de dolo que
se traduz na vontade de abater, vender ou expor à venda os animais previstos no artigo
nomeadamente bovino, ovino, caprino, suíno, com a finalidade do consumo público, tendo o
agente a consciência de que pode criar perigo para a saúde pública. Não se exige que tenha o
intuito uma vez que o fim particular do agente não interessa à caracterização do ilícito.

2.5.3. Consumação e tentativa


Consuma-se o crime com o abate, aquisição ou armazenamento da carne dos animais
referidos, não se exigindo que seja ele posto à disposição do comércio ou do público. E nele é
possível a tentativa que ocorre com a interrupção da conduta típica.19

18
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os crimes contra a saúde
publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da República.
19
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os crimes contra a saúde
publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da República.
11
2.6. Abate de rezes impróprias para o consumo
É crime contra a saúde pública punível coma pena de prisão de dois a oito anos,
conforme o artigo 8º da lei 8/82, o abate dos animais das espécies bovina, ovina, caprina, suína
ou equina, impróprios para o consumo público e a este destinado, sendo conhecido o seu
estado.

Conforme nr.2 do mesmo artigo, em igual pena incorrem aqueles que, por qualquer
modo aproveitarem para alimentação de outrem a carne de animais acima referidos,
impróprios para o consumo publico e dos que hajam morrido de doenças, desde que, num ou
noutro caso conheçam o seu defeito.20

2.6.1. Tipo objectivo


Portanto, do artigo 8º da lei acima referida são duas condutas essenciais que compõem
o tipo legal do crime, primeiro consiste no abate de espécies bobina, caprina, ovina, equina
que sejam pela sua natureza impróprias para o consumo público.

A outra conduta diz respeito a quem vai se aproveitar da carne destas espécies para
alimentar o outro, conhecendo o seu estado.

2.6.2. Tipo subjectivo


O dolo de abater e alimentar o outro da carne dos animais acima mencionados, com
consciência do possível perigo que esta proporciona a saúde da colectividade, vai preencher o
tipo subjectivo deste tipo de crime.

2.6.3. Exclusão da responsabilidade criminal


Nem sempre que se verificarem as circunstâncias de alimentar outrem com animais
impróprios haverá responsabilidade criminal, há casos em que pode se excluir a
responsabilidade criminal, isso vai ocorrer quando haja prova de total ignorância do estado ou
qualidade dos produtos em virtude do modo como elas se apresentam., nos termos do artigo
10º da lei 8/82 de 23 de Junho. 21

20
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os crimes contra a saúde
publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da República.
21
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os crimes contra a saúde
publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da República.
12
2.6.4. Agravantes
O artigo 11º por sua vez, apresenta-nos circunstâncias agravantes dos crimes contra a
saúde pública no âmbito da saúde alimentar tais como: ter a infracção envolvido produtos ou
mercadorias essenciais ao abastecimento do povo ou estratégicos de importação ou
exportação; ser a infracção praticada em estado de carência ou insuficiência dos produtos ou
mercadorias em causa; o suborno ou tentativa de suborno ou ameaça a quem houver
participado a infracção; e por fim ser a infracção ser cometida encontrando-se o pai sem
guerra, estado de sitio ou de emergência.22

2.7. Tráfico e outras actividades ilícitas


Um dos crimes contra a saúde pública é o que se encontra previsto no art.33º da lei
3/97, de 13 de Março que vai se consubstanciar efectivamente no cultivo, fabrico, venda,
exposição a venda, distribuição, cessão por qualquer título, receber, proporcionar a outra
pessoa, transportar, exportar, importar, fazer transitar ou ilicitamente detiver substancias que
estão previstas na tabela I a III, como são os casos de Oxicodona, Catinona, Bromazepam
entre outros, não sendo para o seu consumo conforme esta no art.55º da mesma lei, será
punido com uma pena de prisão de 16 a 20 anos.

Este preceito legal, não vai se limitar apenas em penalizar quem praticar o que se
encontra acima previsto, o nr.2 do mesmo artigo estende a penalização para pessoas que
estiverem devidamente autorizadas a sua posse, se estes ao invés de proceder a sua utilização
nos termos autorizados e ceder ou diligenciar para que seja colocado no comércio as plantas e
substâncias preparadas e referidas acima, como não bastasse, o artigo ainda vai estender mais
para quem proceder com o cultivo, produção e fabrico ou preparados que não sejam os que
constam no seu titulo de autorização de acordo com o nr.3.

2.8. Cultivo de Cannabis Sativa


Um dos crimes contra a saúde pública que possivelmente pouco se aborda a nível da
doutrina é o crime que consiste no cultivo de Cannabis sativa, portanto, de acordo com o o
preceituado no artigo 34º da lei citada, quem fizer o cultivo de cannabis sativa vulgarmente

22
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os crimes contra a saúde
publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da República
13
conhecido por suruma terá una penalização que a sua moldura penal varia de 1 dias a um ano
de prisão.

2.9. Utilização indevida do equipamento indevida do equipamento material e


precursores
Portanto, quem sem autorização, proceder com o fabrico, importação, exportação,
transportar ou distribuição dos equipamentos materiais, substancias ou preparados constantes
das tabelas V E VI sabendo que são ou vão ser utilizados no cultivo, produção ou fabrico
ilícito de estupefacientes, substâncias psicotrópicas preparados ou outras substâncias de
efeitos similares, será punido com a pena de 8 a 12 anos de prisão maior.

Como também vai ser punido, ao indivíduo que detiver por qualquer título sem
autorização, equipamento, materiais ou substanciar incluídas nas tabelas acima mencionadas,
sabendo que, são ou vão ser utilizados no cultivo, produção ou fabrico ilícitos de
estupefacientes ou substâncias psicotrópicas, será punido com uma pena de 2 a 8 anos de
prisão maior agravada em termos gerais e multa de trinta a cem milhões de meticais

Traficante consumidor

Quando com a prática dos factos previstos no artigo 33º nomeadamente produzir,
exportar, vender, expor a vente, e outros, o agente tiver tido por objectivo único, conseguir
plantas, substâncias ou preparados destinados ao seu uso pessoal, incorre nas penas de prisão
de um a dois anos e uma multa ate dez milhões de meticais, se estes forem as substancias
previstas nas tabelas I a III.

Sendo cultivados, exportados, exportados para uso pessoal as substancias previstas na


tabela IV, o seu agente será penalizado com a pena de prisão ate uma no e multa ate 5 milhões
de meticais.23

2.10. Trafico e consumo em lugares públicos ou de reunião


Este crime se encontra previsto no artigo 38º da lei em estudo, estando mais virado
aos proprietários, gerentes, directores ou qualquer dirigentes que usem um lugar público como
restaurante, cervejaria, pastelaria, casa de pasto, discoteca, clubes ou recinto de reunião de
espectáculo ou de diversão similar par se fazer trafico ou o uso ilícito das plantas, substancias

23
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.3/97, de 13 de Março, (lei que regula o consumo e trafico de
estupefacientes), in Boletim da República.

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ou preparados mencionados nas tabelas um a quatro, a lei penal condena estes actos e pune
com a pena de 12 a 16 anos de prisão maior.

Será ainda punido com a pena de oito a doze anos de prisão maior, aquele que tenha ao
seu dispor edifício, recinto, veiculo, embarcação ou aeronaves consentir que seja usado para o
tráfico ou uso de plantas ou substancias ou preparados que constam nas tabelas I a IV

Portanto, não permitindo que seja utilizado o lugar público ou seu recinto ou aeronave,
seja lá uma das situações acima referidas mas mesmo assim acontecer e o proprietário ou
dirigente, não fazer nada para evitar será punido com a pena de prisão de 2 a 8 anos de prisão
e multa de vinte a cinquenta milhões de meticais.

Em relação ao consentimento e falta de adopção de medidas, importa referir que se


considera bastante e suficiente o facto de anteriormente terem sido encontrados utentes a
consumirem ou a traficarem drogas nos mencionados lugares. 24

2.11. Abuso de exercício de profissão


De acordo com o art.39º, ao médico ou outro profissional que passe receita, ministre
ou entregue substâncias ou preparados indicados nos números 2 e 4 do artigo 33º e no artigo
36º, para fins não terapêuticos, serão aplicadas as penas previstas respectivamente, nesses
preceitos legais.

As mesmas penas serão aplicadas aos farmacêuticos ou quem o substituir que vender
ou entregar aquelas substancias ou preparados para fins não terapêuticos.

Importa referir que a entrega de substâncias ou preparados com violação do disposto


no artigo 22º será punido com a pena de prisão de oito a doze anos de prisão maior. E como
não bastasse, condenado nos termos acima referidas, vai determinar a suspensão do exercício
da profissão por um período ate um ano e erradicação no caso de reincidência.

2.12. Incitamento ao uso de estupefacientes


No rol dos crimes contra a saúde pública podemos incluir o incitamento ao uso de
estupefacientes ou substâncias psicotrópicas, portanto este crime, conforme o artigo 43º da lei
que regula ouso de estupefacientes, vai se consubstanciar na indução, incitamento, instigação
que vai se exercer ou facilitar de algum modo ao outro de modo que este use ilicitamente as

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estupefacientes), in Boletim da República.
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plantas, substancias ou preparados que se encontram descritos nas três tabelas primeiras, o
legislador entendeu punir este acto com a pena de prisão com a moldura penal de dois a oito
anos, podendo ser agravada se for instigado um menor que esteja sob cuidado do agente, se o
agente for medico, farmacêutico ou qualquer profissional de saúde, se a infracção for
cometida instalações de tratamento de consumidores de droga; se esta instigação ou indução
for no uso de substâncias que estão na quarta tabela o legislador resolveu atenuar com uma
pena de prisão e multa correspondente.25

2.13. Abandono de seringas, instrumentos ou produtos


Este crime consiste no abandono de seringas, instrumentos ou outro produto usado no
consumo ilícito de estupefacientes ou de substâncias psicotrópicas em lugares públicos ou de
acesso público ou mesmo em lugar privado que seja de uso comum, colocando com isso em
risco a saúde ou integridade física de terceiros. Portanto este crime pressupõe exposição de
material que seja usado para se usar droga ilicitamente, podendo ser seringa ou outro e isto
ocorrer em lugar onde outros tem acesso e estes instrumentos estiverem a atentar a saúde ou
integridade física destes. Quando isso ocorrer estaremos diante deste crime e a lei pune com a
pena de prisão de um a dois anos e multa correspondente, conforme o artigo 44º da Lei 3/97.26

2.13.1. Tentativa
Os actos preparatórios, e a tentativa dos crimes de utilização indevida de equipamento,
abuso de exercício de profissão e incitação ou instigação ao uso de estupefacientes, são
puníveis com uma pena de prisão e multa correspondente. E aos crimes de trafico e outras
actividades ilícitas, conversão ou dissimulação de bens ou produtos é punível sua tentativas de
acordo com o artigo 46º da lei citada.

Conclusão
Chegados ao fim da nossa pesquisa no que concerne ao tema crimes contra a saúde
pública, dos vários doutrinários podemos compreender que na verdade se trata de crimes que
merecem uma tutela penal, não só porque colocam em causa o bem jurídica saúde pública,

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estupefacientes), in Boletim da República.
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estupefacientes), in Boletim da República.
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mas porque também trata-se condutas moralmente e juridicamente inaceitáveis para a boa
convivência.

Olhando para o ponto de vista classificativo, trata-se de crimes de perigo, ou seja, para
a consumação de alguns destes crimes não é necessário que o agente efectue o que deseja
fazer, bastando a mera exposição do bem que atenta a saúde pública para ocorrer a sua
consumação; por outro lado, estes crimes são crimes comuns na medida que qualquer cidadão
pode cometê-los podendo cometer contra qualquer pessoa na sociedade no geral sem
qualquer distinção de cor, raça, religião, classe social ou etnia.

Para a tipificação destes crimes, carecem de dolo, ou seja, deve existir representação e
consciência da proibição da conduta e o agente mesmo assim querer fazer; e para terminar,
importa salientar que estes crimes se manifestam em forma de uma consumação apesar que
podemos admitir que uma parte destes crimes podem se verificar sobre a forma de uma
tentativa.

Bibliografia
Legislação:

 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº. 24/2019, 24 de Dezembro, Código de


Penal, in Boletim da República, I série, no 248;

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 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.3/97, de 13 de Março, (lei que regula o
consumo e trafico de estupefacientes), in Boletim da República;
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nr.8/82, de 23 de Junho, (lei que regula os
crimes contra a saúde publica no âmbito da saúde alimentar), in Boletim da
República.

Doutrina:

 CASTILHO, Ela Wiecko Volkmer de, Crimes Contra a Saúde Pública, Universidade
Federal de Santa Catarina, Brasil;
 FABRINNI, Renato N. ; MIRABETE, Júlio Fabbrini, Manual de Direito Penal
(Parte especial), Vol.II, 28ª Edição revista e actualizada, Atlas Editores ,São Paulo,
2011;
 FIGUEIREDO, Jorge Dias, Direito Penal – Questões Fundamentais a Doutrina
Geral do Crime, Tomo I, 2a edição, 2a Reimpressão, Coimbra editora, 2012.

Internet

https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/saude-mental-fisica-
mental-e-social/51347, acesso aos 22/ de Março de 2022, pelas 18:02mins.

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