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COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. Manoel Messias Peixinho.
Faculdade de Direito de Campos -
UNIFLU/FDC
______________________________________
Prof.ª Dr.ª Miriam Fontenelle
Faculdade de Direito de Campos –
UNIFLU/FDC
______________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Lucia de Paula Oliveira
Universidade Candido Mendes – UCAM
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
RESUMO .................................................................................................... 10
RIASSUNTO .............................................................................................. 11
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 12
CAPÍTULO I – DIREITO FUNDAMENTAL AO EQUILIBRIO E OS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS...................................... 17
1 - O Direito e o Ambiente .......................................................................... 17
2 - Análise dos Direitos Fundamentais ....................................................... 19
2.1 - Desenvolvimento dos Direitos Fundamentais ............................... 20
2.2 - O Sistema Jurídico dos Direitos Fundamentais ............................ 25
2.3 – As Dimensões dos Direitos Fundamentais ................................... 28
3 – Os Princípios Constitucionais do Equilíbrio Ambiental ......................... 35
3.1 – Os Princípios no Ordenamento Jurídico ....................................... 36
3.1.1 - Os Princípios e Regras de Direitos Fundamentais ............... 41
3.2 – Os Princípios Ambientais ............................................................. 43
3.2.1 – Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ......................... 44
3.2.2 – Princípio da Participação e Democrático .............................. 46
3.2.3 – Princípio da Precaução ........................................................ 49
3.2.4 – Princípio da Prevenção ........................................................ 51
3.2.5 – Princípio da Responsabilidade ............................................. 54
3.2.6 – Princípio do Poluidor-Pagador .............................................. 56
3.2.7 – Princípio do Usuário-Pagador .............................................. 58
3.2.8 – Princípio da Função Socioambiental da Propriedade .......... 60
8
RESUMO
Riassunto
INTRODUÇÃO
1- Objetivo
2- Problema central
3 - Hipóteses
4 - Metodologia
5 - Fontes
6.1 - Capítulo I
15
6.2 - Capítulo II
6.4 - Capítulo IV
1. O Direito e o Ambiente
1
FREITAS, Vladimir Passos de. A Constituição Federal e a Efetividade das Normas Ambientais, 3ª ed., São
Paulo: RT, 2005, p. 13.
2
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, 7ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 6-7. O termo
ambiente é, por essência, extremamente amplo e pode abrigar as inúmeras realidades que se encontram no
interior da legislação protetora do meio ambiente. Basta que se observe a inserção dos chamados bens culturais
18
que o conceito de ambiente é mais abrangente que o de ecologia e, ainda, que este
encontra-se inserido naquele. Assim, o ambiente, além dos estudos de
relacionamento entre os seres vivos, também os estuda em outros aspectos além da
relação existente entre eles. No Brasil o conceito jurídico de ambiente veio com a Lei
da Política Nacional de Meio Ambiente. Observa-se que apesar de ter sido um
avanço para o país, o legislador infraconstitucional ao conceituar o ambiente
somente mencionou os aspectos referentes aos recursos naturais, não abarcando os
outros aspectos mencionados.3
Através dos apontamentos realizados anteriormente é que se
pode considerar que a ecologia está totalmente inserida no ambiente, conforme
mencionado, mas o inverso não ocorre, pois se pode ter um impacto ambiental sem
ter um impacto ecológico. Exemplificando: podemos ter um dano ambiental com a
destruição de um patrimônio cultural.
Por conseguinte, o Direito Ambiental surge com o objetivo de
proteger o ambiente contra “o aumento cada vez mais rápido e até agora
incontrolado da degradação do ambiente”.4 Por diversos anos o homem utilizou-se
dos recursos ambientais de forma descontrolada e predatória, o que deu ensejo à
necessidade de controlar a degradação através de um ordenamento jurídico
específico de proteção ambiental em decorrência de uma visão de não
compatibilidade entre a preservação ambiental e o desenvolvimento humano. Tal
situação justificou a existência no ordenamento jurídico de um direito especializado
na proteção e preservação ambiental.
Para a concretização da proteção dos recursos ambientais
essenciais para o homem, os Estados e a Sociedade devem estabelecer políticas
protecionistas do ambiente e a interpretação jurídica deve ser voltada para a
proteção e preservação dos recursos ambientais. Assim, a construção deste direito
especializado na proteção do ambiente e, conseqüentemente, da vida humana,
necessitou, na sua elaboração, da interferência de outras ciências através do
no interior do amplíssimo conceito de meio ambiente para que se compreenda as limitações causadas pela
designação de nossa disciplina como Direito Ecológico. A insuficiência da denominação demonstra-se evidente.
3
MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Meio Ambiente Direito e Dever Fundamental, Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2004, p. 40
4
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 49.
19
5
FREITAS, Vladimir Passos de. Op. cit., p. 12.
6
ARISTÓTELES. Política, São Paulo: Martin Claret, 2005, p. 14.
20
7
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 2ª ed., Portugal:
Almedina, 1998, p.350 – 351.
21
8
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Op. cit., p. 351-352. As concepções cristãs medievais, especialmente o
direito natural tomista, ao distinguir entre lex divina, lex natura e lex positiva, abririam o caminho para a
necessidade de submeter o direito às normas jurídicas naturais, fundada na própria natureza dos homem. Mas
como era a consciência humana que possibilitava ao homem aquilatar da congruência do direito positivo com o
direito divino, colocava-se sempre o problema do conhecimento das leis justas e das entidades que, para além da
consciência individual, sujeita a erros, captavam a conformidade da lex positiva com a lex divina. Ora, foi a
secularização do direito natural pela teoria dos valores objectivos da escolástica espanhola (Francisco de Vitória,
Varquez e Suarez) que, substituindo a vontade divina pela “natureza ou razão das coisas”, deu origem a uma
concepção secular do direito natural, posteriormente desenvolvida por Grotius, Pufendorf e Locke.
9
Para Manoel Messias Peixinho, em sua Tese de Doutorado, afirma que os direitos naturais são aqueles
anteriores ao direito positivo e que esse último só deve existir em concordância com o primeiro, já os direitos
humanos são aqueles nos quais todos os homens devem ter e não podem ser privados, sendo esses
imprescindíveis para existência digna dos homens, enquanto que as liberdades públicas são direitos que os
Estados devem efetivar e protegê-las para os homens, caso contrário, tem eles o direito de oposição contra as
atitudes estatais que venham a violar tais direitos efetivados, os direitos civis caracterizam como sendo os
atrelados à cidadania dos indivíduos em determinado Estado e dos direitos que essa cidadania traz para o
cidadão, já os direitos morais são aqueles anteriores ao direito que devem estar fundamentando o direito a ser
positivado, e, por fim, os direitos públicos subjetivos são direitos exercidos contra o Estado visando proteger o
interesse individual. Evidente que não se pretendeu aqui fundamentar todos esses direitos, mas somente
explicitar um mínimo do conteúdo desses direitos segundo a leitura da tese.
22
10
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Curso de derechos fundamentales. Teoria Geral. Universidad Carlos,
III de Madrid: 1999, p. 146. Desde el siglo XVII se podrá hablar de modelo inglés y desde el XVIII de modelos
americanos y francés. El modelo inglés está vinculado a la historia, y arranca de una evolución Del
constitucionalismo medieval y del viejo y buen derecho delos ingleses. El americano será um modelo mixto, que
parte, sobre todo em los textos de las colonias em el siglo XVII, de una idea del Derecho y de los derechos, toma
de la metrópoli, pero que recibirá progresivamente la influencia de las fundamentaciones del iusnaturalismo
racionalista y pasará de los derechos históricos a los derechos naturales em los textos de la independência. El
modelo francés rechazará su vinculación con el constitucionalismo histórico de las Leyes fundamentales de la
monarquía francesa, y se construirá desde um racionalismo laico, que contrasta también, en ese sentido, con el
modelo americano, más impregnado de valores religiosos.
11
MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O Espírito das Leis, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 1992, p. 165. Estaria
tudo perdido se um homem, ou um mesmo corpo de principais ou de nobres, ou do Povo, exercesse estes três
poderes: o de fazer leis; o de executar as resoluções públicas; e o de julgar os crimes ou as demandas dos
particulares.
12
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 162.
13
Ibidem, p. 158-159.
23
14
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 152-154.
15
Ibidem, p. 174-175.
16
Devido as conseqüências da degradação ambiental não terem fronteiras e por tal a manutenção desse bem é
imprescindível para homem, podendo ser considerado como sendo um bem comum a nível internacional, pois
segundo (HABERLE, Peter. El Estado Constitucional, México: Universidad Nacional Autónoma de México,
2001, p. 244.) “el bien común se revela como uma fórmula que constituye a la convivencia humana.”. sendo
assim, impossível uma convivência humana adequada sem um ambiente equilibrado, o que demonstra ser o
ambiente um bem comum.
24
17
PORTUGAL. Constituição da República Portuguesa. promulgada em 2 de abril de 1976, Disponível em:
<http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Portugal/Sistema_Politico/Constituicao/05Revisao/constituicao_p07.htm
>. Acesso em: 21 de julho de 2007.
Artigo 66.º (Ambiente e qualidade de vida)
1. Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o
defender.
2. Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento sustentável, incumbe ao Estado, por
meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos:
a) Prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão;
b) Ordenar e promover o ordenamento do território, tendo em vista uma correcta localização das actividades, um
equilibrado desenvolvimento sócio-económico e a valorização da paisagem;
c) Criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como classificar e proteger paisagens e
sítios, de modo a garantir a conservação da natureza e a preservação de valores culturais de interesse histórico ou
artístico;
d) Promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a
estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações;
e) Promover, em colaboração com as autarquias locais, a qualidade ambiental das povoações e da vida urbana,
designadamente no plano arquitectónico e da protecção das zonas históricas;
f) Promover a integração de objectivos ambientais nas várias políticas de âmbito sectorial;
g) Promover a educação ambiental e o respeito pelos valores do ambiente;
h) Assegurar que a política fiscal compatibilize desenvolvimento com protecção do ambiente e qualidade de
vida.
18
ESPANHA, Constituição da Espanha, de 31 de outubro de 1978. Disponível em :
<http://narros.congreso.es/constitucion/constitucion/indice/titulos/articulos.jsp?ini=10&fin=55&tipo=2>. Acesso
em: 21 de julho de 2007.
Artigo 45
1. Todos tienen el derecho a disfrutar de un medio ambiente adecuado para el desarrollo de la persona, así como
el deber de conservarlo.
2. Los poderes públicos velarán por la utilización racional de todos los recursos naturales, con el fin de proteger
y mejorar la calidad de vida y defender y restaurar el medio ambiente, apoyándose en la indispensable
solidaridad colectiva.
3. Para quienes violen lo dispuesto en el apartado anterior, en los términos que la ley fije se establecerán
sanciones penales o, en su caso, administrativas, así como la obligación de reparar el daño causado.
19
CUBA, Constituição da República de Cuba. Disponível em: <http://www.cuba.cu/gobierno/cuba.htm>.
Acesso em: 21 de julho de 2007. Art. 27 . El Estado protege el medio ambiente y los recursos naturales del país.
Reconoce su estrecha vinculación con el desarrollo económico y social sostenible para hacer más racional la vida
humana y asegurar la supervivencia, el bienestar y la seguridad de las generaciones actuales y futuras.
Corresponde a los órganos competentes aplicar esta política.
Es deber de los ciudadanos contribuir a la protección del agua, la atmósfera, la conservación del suelo, la flora, la
fauna y todo el rico potencial de la naturaleza.
20
CHILE, Constitución Política de la República del Chile, Decreto Supremo no. 1.150, de 1980. Disponível em:
< http://www.bcn.cl/leyes/pdf/actualizado/242302.pdf >. Acesso em: 21 de julho de 2007. Art. 19. La
Constitución asegura a todas las personas:
8º.- El derecho a vivir en un medio ambiente libre de contaminación. Es deber del Estado velar para que este
derecho no sea afectado y tutelar la preservación de la naturaleza.
La ley podrá establecer restricciones específicas al ejercicio de determinados derechos o libertades para proteger
el medio ambiente;
21
ARGENTINA, Constitucion De La Nacion Argentina, de 24 de agosto de 1994. Disponível em:
<http://www.argentina.gov.ar/argentina/portal/documentos/constitucion_nacional.pdf >. Acesso em: 21 de julho
de 2007. Artículo 41- Todos los habitantes gozan del derecho a un ambiente sano, equilibrado, apto para el
desarrollo humano y para que las actividades productivas satisfagan las necesidades presentes sin comprometer
las de las generaciones futuras, y tienen el deber de preservarlo. El daño ambiental generará prioritariamente la
obligación de recomponer, según lo establezca la ley.
Las autoridades proveerán a la protección de este derecho, a la utilización racional de los recursos naturales, a la
preservación del patrimonio natural y cultural y de la diversidad biológica, y a la información y educación
ambientales.
25
Corresponde a la Nación dictar las normas que contengan los presupuestos mínimos de protección, y a las
provincias, las necesarias para complementarlas, sin que aquellas alteren las jurisdicciones locales.
Se prohibe el ingreso al territorio nacional de residuos actual o potencialmente peligrosos, y de los radiactivos.
22
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 21 de julho de 2007. Art.225 - Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas.
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à
pesquisa e manipulação de material genético
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem
risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação
do meio ambiente.
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
§2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à
proteção dos ecossistemas naturais.
§6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não
poderão ser instaladas.
26
23
SARMENTO, Daniel. A Dimensão Objetiva dos Direitos Fundamentais: Fragmentos de uma Teoria. In:
BINENBOJM, Gustavo. Revista de Direito da Associação dos Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro:
Direitos Fundamentais. V. XII. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2003, p. 312-313. e PECES BARBA MARTÍNEZ,
Gregorio. Op. cit., p. 354-355. e ALEXY, Robert. Teoria dos Derechos Fundamentales, Madrid: Centro de
Estúdios Contitucionales, 1997, p 507-508.
24
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 357-358. La jerarquía de los subsistemas jurídicos,
dependeria por consiguiente Del grado de proximidad o de alejamento respecto de la norma básica. Así si
comparamos estos subsistemas, que son creaciones intelectuales Del pensamento jurídico, com las diversas
fuentes del Derecho, o formas de producción normativa del Derecho positivo, podemos constatar que la norma
básica formal y material ocupa más preeminente en la Constitución, que es así la sede de la identificación de las
normas en un Estado de Derecho, y que los subsistemas jurídicos que derivan inmediatamente, sin
intermediarios, de dicha norma básica, se suelen situar igualmente en la Constitución.
25
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 504. A este modelo corresponde una teoria de los derechos fundamentales según
la cual los derechos fundamentales no tiene frente al legislador ninguna fuerza vinculante, es decir, el legislador
posee competencia para restringirlos según lo desee, aunque em determinada forma.
27
26
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 503. e Gregório Peces-Barba Martinez. Op. cit., p. 357-358.
27
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 19ª, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 561.
28
MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Op. cit., p. 85.
29
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 187.
28
30
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2001, p. 59-60. A partir da Declaração Universal da ONU, constata-se a existência de uma nova fase,
caracterizada pela universalidade simultaneamente abstrata e concreta, por meio da positivação – na seara do
Direito Internacional – de direitos fundamentais reconhecidos a todos os seres humanos, e não apenas (mas
também) aos cidadãos de determinado Estado. Verifica-se, nesta fase, que se encontra em pleno processo de
maturação, a gradativa e intensa aproximação dos direitos humanos (considerados como os reconhecidos a todos
os homens pelo Direito Internacional) e dos direitos fundamentais, mediante a construção, a exemplo do que já
foi referido alhures, do que vem sendo denominado de um direito constitucional internacional.
31
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 160.
32
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., 571.
33
A teoria das Gerações de Direitos foi desenvolvida pelo jurista francês KAREL VASAK (de origem dele é
checa), em Conferência proferida no Instituto Internacional de Direitos Humanos, no ano de 1979. Karel
classificou em três gerações os Direitos Humanos e fundou o seu pensamento em um dos dísticos da Revolução
Francesa de 1789 (liberté, egalité et fraternité), qual seja, a solidariedade. Cf. VASAK, Karel. For the third
generation of human rights: the rights of solidarity. Inaugural Lecture, Tenth Study Session, International
29
Institute of Human Rights, July, 1979. Ver, ainda, VASAK, Karel. The international dimension of human rights.
Vols. I e II, Paris:UNESCO, 1982.
34
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 68; BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 571-572. Força é
dirimir, a esta altura, um eventual equívoco de linguagem: o vocábulo “dimensão” substitui, com vantagem
lógica e qualitativa, o termo “geração”, caso este último venha a induzir apenas sucessão cronológica e, portanto,
suposta caducidade dos direitos das gerações antecedentes, o que não é verdade. Ao contrário, os direitos da
primeira geração, direitos individuais, os da segunda, direitos sociais, e os da terceira, direito ao
desenvolvimento, ao meio ambiente, à paz e à fraternidade, permanecem eficazes, são infra-estruturais, formam
a pirâmide cujo ápice é o direito à democracia;(...).
35
SARLET, Ingo Wolfgang. Op. cit., p. 49.
36
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 563.
37
PEIXINHO, Manoel Messias.Teorias e Métodos de Interpretação dos Direitos Fundamentais. Tese (Doutorado
em Direito) – Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: PUC, 2004, p. 29. O Professor
Peixinho em sua Tese de Doutorado demonstra que esse direito configuram como sendo direitos de oposição
contra a atuação arbitrária do Estado, que mesmo quando a atuação é livre o ente estatal deve agir de forma
proporcional para que não promova uma violência com os indivíduos e quando isto não ocorre tal dimensão lhe
concede o direito de se opor ao modelo arbitrário imposto pelo Estado. Mais que exigir uma atuação comedida
do Estado, o professor na página 47 de sua tese, aduz que além desta atuação estatal também cabe ao indivíduo
requisitar do Estado ação protetiva contra a atuação violenta e opressora de outros indivíduos.
38
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, RE 201.819, relator: Min. Celso de Mello, j. 11/10/2005.
Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 16 ago. 2007. Eficácia dos direitos fundamentais nas
30
limites para a liberalidade privada quando esta pode causar a invasão de direitos de
outros indivíduos, criando um conflito entre interesses e, ao mesmo tempo, limitando
a sua própria atuação, o que demonstra ser um dever de prestação na concretização
desses direitos.
A limitação de atuação do Estado não está somente incluída na
esfera de atuação privada, mas em todo o processo de atuação estatal, vez que se
deve limitar a ação até mesmo quando exista uma área de livre atuação do Estado.
Por isso, devem os cidadãos participar da condução estatal para evitar abusos sob a
justificativa da não interferência nos direitos de primeira dimensão.39 Ingo Wolfgang
Sarlet menciona que tais direitos têm origem nos preceitos do direito natural e se
desdobram em diversos outros direitos, além dos de liberdade, devido ao seu caráter
individualista.40
A segunda dimensão dos direitos fundamentais é caracterizada
pelos aspectos social, cultural e econômico, tendo o Estado o dever de efetivação.
São direitos prestacionais positivados com o objetivo da realização de justiça.41 Os
direitos dessa dimensão complementam os da primeira dimensão, pois exigem do
Estado a efetivação dos direitos sociais, econômicos e culturais, ocorrendo através
relações privadas. As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o
cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado.
Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes
públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes privados. Os princípios
constitucionais como limites à autonomia privada das associações. A ordem jurídico-constitucional brasileira não
conferiu a qualquer associação civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis e, em
especial, dos postulados que têm por fundamento direto o próprio texto da Constituição da República,
notadamente em tema de proteção às liberdades e garantias fundamentais. O espaço de autonomia privada
garantido pela Constituição às associações não está imune à incidência dos princípios constitucionais que
asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A autonomia privada, que encontra claras
limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de
terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a autonomia da vontade não confere
aos particulares, no domínio de sua incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições postas
e definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força normativa também se impõem, aos particulares, no
âmbito de suas relações privadas, em tema de liberdades fundamentais.
39
PEIXINHO, Manoel Messias. Op. cit., p. 29.
40
SARLET, Ingo Wolfgang. Op. cit., p. 50 – 51. Assumem particular relevo no rol desses direitos,
especialmente pela sua notória inspiração jusnaturalista, os direitos à vida, à liberdade, à propriedade e à
igualdade perante a lei. São, posteriormente, complementados por um leque de liberdades, incluindo as assim
denominadas liberdades de expressão coletiva (liberdades de expressão, imprensa, manifestação, reunião,
associação, etc.) e pelos de direitos de participação política, tais como o direito de voto e a capacidade eleitoral
passiva, revelando, de tal sorte, a íntima correlação entre os direitos fundamentais e a democracia. Também o
direito de igualdade, entendido como igualdade formal (perante a lei) e algumas garantias processuais (devido
processo legal, habeas corpus, direito de petição) se enquadram nesta categoria.
41
O Brasil não positivou os direitos econômicos no título destinado aos direitos e garantias fundamentais, mas
tais direitos foram positivados em título próprio posteriormente no corpo constitucional, demonstrando que, o
texto constitucional está repleto de direitos fundamentais e não só no título próprio, vez que o importante e a
análise do conteúdo da norma e não o local de sua positivação na Constituição.
31
42
SARLET, Ingo Wolfgang. Op. cit., p. 51 – 52. e SARMENTO, Daniel. A Dimensão Objetiva dos Direitos
Fundamentais: Fragmentos de uma Teoria. In: BINENBOJM, Gustavo. Revista de Direito da Associação dos
Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro: Direitos Fundamentais. V. XII. Rio de Janeiro, Lumen Juris,
2003, p. 298 – 299. e BOBBIO, Norberto. Op. cit., p. 69.
43
PEIXINHO, Manoel Messias. Op. cit., p. 48
44
SARLET, Ingo Wolfgang. Op. cit, p. 72.
45
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 428-429.
32
proteção, que passam a ter nessas prestações, além do Estado, a Sociedade como
o agente prestacional.46
As instituições, nesse momento, passam a ter um valor de
grande importância para a concretude dos direitos sociais, culturais e econômicos. A
partir desse aspecto vislumbra-se que elas deveriam ser protegidas, com as
garantias dos valores e dos princípios, surgindo com essa proteção, as garantias
institucionais. Ressalta-se que para que as instituições sejam vistas como
verdadeiras garantidoras dos direitos de segunda dimensão, deveriam ter alguns
elementos: “(...) primeiro, que haja uma garantia e que esta, de ordinária, seja de
natureza constitucional; a seguir que a garantia tenha um objeto específico, a saber,
uma “instituição”, visto que do contrário não se poderia falar de “garantia
institucional”; e, finalmente, que se refira a algo atual, presente e existente, dotado
de forma e organização, a que já se prende também uma situação jurídica
constatável;(...)”.47
De grande relevância para este estudo é a terceira dimensão
dos direitos fundamentais, pois está relacionada com o desenvolvimento da
humanidade através do ambiente sadio e equilibrado, as comunicações e ao
patrimônio comum da humanidade e outros.48 Com isso, o principal protagonista
dessa dimensão deixa de ser o homem como titular desses direitos e passa a ser a
humanidade, que é a destinatária dos direitos consagrados na terceira dimensão.
Os direitos da terceira dimensão são direitos ligados a uma
conduta fraterna e solidária49, pois são metaindividuais. Para sua efetividade,
transcendem os territórios geográficos e, até mesmo, a soberania dos Estados,
46
Acredito que o direito ao ambiente sadio e equilibrado inicia-se como um dever prestacional do Estado no qual
a sociedade não tinha um dever de proteção ambiental e que posteriormente observa-se que este dever
prestacional do Estado é insuficiente para a proteção ambiental e que o direito ao ambiente automaticamente
corresponde a um dever correlato de proteção e preservação, passando a ter uma visão muito mais ampla de que
a prestação de direitos aos indivíduos. Daí Alexy estar certo quando afirma se tratar de um direito muito maior
do que um direito prestacional de segunda dimensão, pois tem seus fundamentos próprios, mas entendo que a
proteção ambiental inicia-se como um direito social e que, posteriormente, este direito ainda social, por estar
atrelado diretamente à vida das pessoas passa a ter uma amplitude que transcende as fundamentações da segunda
dimensão.
47
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 566.
48
MEDEIROS, Fernanda Luiza Fontoura de. Op. cit., p. 73.
49
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 68. Asì, como los derechos de las genereciones anteriores
responden a los valores superiores de la liberdad, de la igualdad, o en caso de fórmulas de síntesis, a la liberdad
igualitaria, en este caso el fundamento se encuentra en el valor solidaridad o fraternidad, o en el valor seguridad
jurídica en ciertos casos, conjuntamente con el de solidaridad. Sin intentar un elenco exhaustivo que es siempre
imposible, sin llegar a una moralidad cerrada y dogmática, se pueden señalar tres dimensiones diferentes de estos
derechos: los referidos al medio ambiente y a la protección del entorno natural; el derecho al desarrollo; y el
derecho a la paz.
33
50
GRECO, Leonardo. Estudos de Direito Processual, Campos dos Goytacazes – RJ: Faculdade de Direito de
Campos, 2005, p. 472. (...) a tutela dos interesses de grupos é bastante abrangente através das ações coletivas,
pois inclui os chamados interesses difusos (metaindividuais de natureza indivisível, de que são titulares pessoas
indeterminadas ligadas por circunstâncias de fato; exemplo: o meio ambiente), os coletivos (metaindividuais de
natureza indivisível de que são titulares grupos de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base; exemplo: a qualidade de um produto oferecido ao consumo (...)
51
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, ADIN nº 3.540-1 DF, relator: Min. Celso de Mello, j.
01/09/2005. Disponível em http://www.stf.gov.br. Acesso em 16 ago. 2007. Trata-se, consoante já o proclamou
o Supremo Tribunal Federal, com apoio em douta lição expedida por Celso Lafer, de um típico direito de terceira
geração (ou de novíssima dimensão), que assiste, de modo subjetivamente indeterminado, a todo o gênero
humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e à própria coletividade
de defende-lo e de preserva-lo em benefício das presentes e futuras gerações, evitando-se, desse modo, que
irrompam, no seio da comunhão social, os graves conflitos intergeneracionais marcados desse bem essencial de
uso comum de todos quantos compõem o grupo social.
52
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 262.
53
Essa solidariedade entre Estados e entre indivíduos, segundo Peces-Barba, os atores envolvidos, que são os
Estados e os indivíduos, estabelecem entre eles uma conduta, na qual exista uma relação de amor com o ser
humano, tendo uma visão de que todos formam uma unidade humana e que tais bens protegidos por essa
dimensão são de uso comum, sendo de todos os uso e assim de todos são o dever de proteção e principalmente o
entendimento de ajuda para a existência da viva digna de todos.
54
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, ADIN nº 3.540-1 DF, relator: Min. Celso de Mello, j.
01/09/2005. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 16 ago 2007. A preocupação com a
preservação do meio ambiente – que hoje transcende o plano das presentes gerações, para também atuar em
34
favor das gerações futuras tem constituído, por isso mesmo, objeto de regulamentações normativas e de
proclamações jurídicas, que ultrapassando a província meramente doméstica do direito nacional de cada Estado
soberano, projetam-se no plano das declarações internacionais, que refletem, em sua expressão concreta, o
compromisso das Nações com o indeclinável respeito a esse direito fundamental que assiste a toda Humanidade.
55
PECES BARBA MARTÍNEZ, Gregorio. Op. cit., p. 184.
56
HABERLE, Peter. El Estado Constitucional, México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2001, p.
259 – El desafio a la teoria constitucional es tanto mayor por cuanto en Ocidente se extiende un nuevo
economicismo o materialismo (mercantilización de casi todos los ámbitos de la vida), en que deben ser
vinculados la ecologia y la economia, y que desdde el punto de vista de la política constitucional, hay que decidir
en todos los processos constituyentes actuales (por ejemplo, en Europa oriental y anteriormente en Alemanha del
este) aquello que, en materia de mercado y economía de mercado, debe convertirse en textos constitucionales, y
cómo debe hacerlo.
57
SARLET, Ingo Wolfgang. Op. cit., p. 52 –53.
35
58
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., 570-571.
59
QUARESMA, Regina; GUIMARAENS, Francisco. Princípios Fundamentais e Garantias Constitucionais. In:
PEIXINHO, Manoel Messias (Org). Os Princípios da Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001,
p. 403. O pluralismo político pressupõe a existência de diversos grupos, muitos com interesses opostos, devendo
ser garantido a cada um deles espaço para manifestação e expressão políticas de suas idéias. Assim, a liberdade
de associação, a liberdade partidária, a liberdade de reunião e de pensamento são direitos que se vinculam
diretamente ao pluralismo político, sem os quais não se pode falar em possibilidade de manifestação livre dos
grupos sociais.
60
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., 571.
36
61
SARLET, Ingo Wolfgang. Op. cit., p. 55.
62
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 83. A menudo, no se contraponen regla y principio sino norma y principio o
norma y máxima. Aquí lãs reglas y los princípios serán resumidos bajo el concepto de norma. Tanto lãs reglas
como los princípios son normas porque ambos dicen lo que debe ser. Ambos pueden ser formulados com la
ayuda de lãs expresiones deónticas básicas Del mandato, la permisión y la prohibición. Los distinción entre
reglas y princípios es pues uma distinción entre dos tipos de normas.
63
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Op. cit., p. 1034.
64
DWORKIN, Robert. Los Derechos en Serio, 4ª reimpresion, Barcelona: Ariel, S.A., 1999, p. 74-75. La
diferencia entre princípios jurídicos y normas jurídicas es uma distinción lógica. Ambos conjuntos de estándares
apuntan a decisiones particulares referentes a la obligación jurídica en determinadas circunstancias, pero difieren
en el carácter de la orienteción que dan. Las normas son aplicables a la manera de disyuntivas. Si los hechos que
estipula uma norma están dados, entonces o bien la norma es válida, en cuyo caso la respuesta que da debe ser
aceptada, o bien no lo es, y entonces no aporta nada a la decisión.
37
ter uma nova norma para aquela nova situação. Portanto, esse nascimento de
normas específicas a partir de princípio, nos faz acreditar que, quando um princípio é
analisado isoladamente, ele não deve ser considerado como uma norma, mas, na
aplicação com outros princípios na busca da solução de determinada situação,
entendo que estaria diante de uma norma jurídica.
Entre os princípios e as regras65 existem diversas diferenças,
principalmente entre o grau de abstração, de determinabilidade, de
fundamentalidade, de aproximação com os ideais de direito e justiça e de diferenças
de base, pois as regras são constituídas a partir dos princípios.66 Tal diferenciação
gera, segundo Alexy67, três teses: a primeira vislumbra a divisão da norma em
classes, em que os princípios são normas que têm conteúdo valorativo que serviriam
para o desenvolvimento do ordenamento jurídico, e são as bases para
fundamentação da aplicação de outra norma de classe diferente que seria a regra.
Na segunda tese, considera que as normas jurídicas são divididas através de graus
65
Neste estudo irei adotar a denominação regra e princípio, considerando que, segundo a doutrina de Dworkin, a
denominação de regra e princípio é muito próxima da denominação que ele propõe sobre princípio e norma.
66
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Op. cit., p. 1035– 1036. Os princípios interessar-nos-ão, aqui, sobretudo
na sua qualidade de verdadeiras normas, qualitativamente distintas das outras categorias de normas ou seja, das
regras jurídicas. As diferenças qualitativas traduzir-se-ão, fundamentalmente, nos seguintes aspectos. Em
primeiro lugar, os princípios são normas jurídicas impositivas de uma optimização, compatíveis com vários
graus de concretização, consoante os condicionalismo fácticos e jurídicos; as regras são normas que prescrevem
imperativamente uma exigência (impõem, permitem ou proíbem) que é ou não é cumprida (nos termos de
Dworkin: applicable in all-or-northing fashion); a convivência dos princípios é conflitual (Zagrebelsky), a
convivência de regras é antinômicas; os princípios coexistem, as regras antinômicas excluem-se.
Consequentemente, os princípios, ao constituírem exigências de optimização, permitem o balanceamento de
valores e interesses (não obedecem, como as regras, à «lógica do tudo ou nada»), consoante o seu peso e a
ponderação de outros princípios eventualmente conflitantes; as regras não deixam espaço para qualquer outra
solução, pois se uma regra vale (tem validade) deve cumprir-se na exacta medida das suas prescrições, nem mais
nem menos. Como se verá mais adiante, em caso de conflito entre princípios, estes podem ser objecto de
ponderação, de harmonização, pois eles contêm apenas «exigências» ou «standards» que, em «primeira linha»
(prima facie), devem ser realizados; as regras contêm «fixações normativas» definitivas, sendo insustentável a
validade simultânea de regras contraditórias. Realça-se também que os princípios suscitam problemas de
validade e peso (importância, ponderação, valia); as regras colocam apenas questões de validade (se elas não são
correctas devem ser alteradas).
67
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 85-86. Sobre la base de este tipo de critérios son posibles tres tesis totalmente
diferentes sobre la distinción entre reglas y princípios. La primeira reza: todo intento de dividir las normas em
dos clases, la de las reglas y la de los principios, es vano debido a la pluralidad realmente existente. Esto se
mostraría, por ejemplo, en el hecho de que los criterios propuestos, de los cuales algunos sólo permiten
distinciones de grado, son combinables entre sí de la manera que se desee. Así, no habría ninguna dificultad en
imaginar una norma que tuviera un alto grado de generalidad pero que no fuera aplicable sin más, que no hubiera
sido establecida expresamente, que lleve en la frente su contenido valorativo, presente una estrecha relación con
a idea de derecho, tenga gran importancia para el ordenamiento jurídico y encuentre aplicación como
fundamento de reglas y como criterio para la evaluación de argumentos jurídicos. A ello se agregaría el hecho de
que aquello que estos criterios, tomados en sí mismo, separan es, a su vez, de um tipo muy heterogéneo.(…)La
segunda tesis es sostenida por quien considera que las normas pueden dividirse de una manera relevante en la
clase de las reglas y la de los principios pero, señala que esta distinción es sólo de grado. Partidarios de esta tesis
son, sobre todo, los numerosos autores que piensan que el grado de generalidad es el criterio decisivo. La tercera
38
tesis dice que las normas pueden dividirse en reglas y principios y que entre reglas y principios existe no sólo
una diferencia gradual sino cualitativa. Esta tesis es correcta.
68
DWORKIN, Robert. Op. cit., p. 78-79.
69
PEIXINHO, Manoel Messias. A Interpretação da Constituição e os Princípios Fundamentais, 3ª ed., Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 136.
39
preponderante em uma determinada situação, ele não é afastado, pois incide, mas
não de forma preponderante, diferentemente do que ocorre com as regras que a
predominância de uma, em determinada situação, elimina do ordenamento jurídico
outras regras que poderiam ser aplicadas à situação.70 Entendo que os princípios
são preceitos que direcionam os intérpretes na construção da norma e é através da
fundamentação e do contexto fático que os mesmos princípios utilizados na
elaboração de uma norma, para determinado caso, podem determinar solução
distinta a um caso semelhante ou diferente. Vislumbro tal situação no julgado do
Superior Tribunal de Justiça71, que aduz sobre as limitações da propriedade no que
tange à preservação de áreas verdes, julgando as situações em que a preservação
das áreas conduziriam a uma diminuição da possibilidade econômica da
propriedade, determinou o STJ que caberia ao Poder Público pagar a devida
indenização; mas, se não houvesse, não caberia, principalmente se estiver
localizada em área de preservação permanente. Desta forma, vejo que, na análise
do julgado, o Ministro utilizou diversos princípios do direito para sua decisão, em
especial, os princípios relacionados à propriedade e ao ambiente, principalmente a
questão da função sócio-ambiental da propriedade, que, em outro caso, poderia não
ter tanta relevância.
Dentre os princípios existentes no ordenamento jurídico,
destacamos os princípios gerais do direito e os princípios constitucionais. Os
primeiros, inicialmente, eram encontrados nos códigos, em especial no Código Civil,
e com a constitucionalização do direito passaram a integrar o ordenamento
constitucional.72
Nem todos os princípios existentes na Constituição são
princípios gerais do direito. Não houve somente uma nova alocação desses
70
OLIVEIRA, Fábio Corrêa Souza de. Por Uma Teoria dos Princípios. O Princípio Constitucional da
Razoabilidade, Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2003, p. 43. A relação é de preponderância, não meramente de
validade. Entre dois princípios, por exemplo, aquele que cede em benefício da concreta prevalência do outro não
é nulificado (eliminado do ordenamento), até porque frente a uma diversa situação os mesmos princípios podem
ter a polaridade invertida: o que antes cedeu é possível que agora prepondere. Aqui não se debate a validade dos
princípios, pois esta é pressuposta.
71
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 670255-RN, relator: Min. Luiz Fux, j. 28/03/2005.
Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 16 ago 2007. 2. A jurisprudência tem oscilado no
entendimento quanto à indenização das matas nativas, mas pacificou-se no sentido de indenizar as que possam
ser exploradas comercialmente. O entendimento afasta a possível indenização das matas situadas em área de
preservação ambiental, por serem bens fora do comércio. 3. A indenização por desapropriação indireta prescreve
em vinte anos (Súmula 119/STJ). 4. As limitações estabelecidas pela administração, ao criar os parques de
preservação ambiental, configuram-se em desapropriação indireta e, conseqüentemente devem ser indenizadas,
na medida em que atinjam o uso e gozo da propriedade.
40
72
PEIXINHO, Manoel Messias. A Interpretação da Constituição e os Princípios Fundamentais, Op. cit., p. 125.
73
Ibidem, p. 127.
74
COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação Constitucional, Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1997, p. 80.
Com efeito – em razão mesmo da sua estrutura normativo-material (se A, deve ser B) -, as regras são aplicadas à
maneira de proposições disjuntivas, isto é, se ocorrerem os fatos descritos na sua hipótese de incidência e se elas
forem normas válidas, de acordo com a regra de reconhecimento do sistema jurídico a que pertencem, as suas
prescrições incidirão, necessariamente, sobre esses fatos, regulando-os na exata medida do que estatuírem e
afastando a incidência de outras regras, que, eventualmente, possam concorrer ou entrar em conflito com elas; e
Vide nota 62.
75
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 280.
41
76
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 88 e DWORKIN, Robert. Op. cit., p. 78.
77
COELHO, Inocêncio Mártires. Op. cit., p. 81.
78
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação Constitucional e Direitos Fundamentais, Rio de Janeiro:
Renovar, 2006, p. 122; e ALEXY, Robert. Op. cit., p. 115 et seq.
42
em especial o artigo 225, que trata sobre o ambiente, conjuntamente com o artigo 23
VI79, que estabelece o dever dos entes da Federação de proteger o ambiente.
Acredito que o modelo da teoria dos princípios é o mais adequado à Constituição
brasileira, seguindo o posicionamento de Jane Reis Gonçalves Pereira.80
A proteção ambiental é uma regra de direito ambiental, na qual
o Poder Público tem o dever de desenvolver instrumentos de controle para sua
efetivação, sendo o licenciamento ambiental um dos instrumentos criados, mas nem
todas as interferências no ambiente devem ser objeto de licenciamento. Quando
determinada interferência tem de ser licenciada, estamos diante de um instrumento
gerado a partir de uma regra de direito fundamental e é dever do Estado assegurar a
efetivação do direito ao ambiente equilibrado, conforme o §1º do artigo 225 da
Constituição Federal do Brasil. Assim, para que possa intervir no ambiente através
de uma atividade potencialmente poluidora, é necessário se submeter ao
licenciamento ambiental, caso contrário, não poderá haver tal interferência. Quem
tem o dever de efetivar a proteção ambiental das atividades possivelmente
poluidoras é o Poder Público, pois este é quem concede a intervenção. Ocorre que,
para existir essa proteção ambiental, é necessário considerar diversos fatores
jurídicos ou não para que a autoridade competente possa conceder a licença,
analisados a partir de estudos ambientais que compatibilizam os impactos positivos
e negativos advindos da interferência no ambiente. Nesse momento, utiliza-se de
princípios de direito fundamental ambiental, como o da prevenção, precaução e
outros, conforme podemos vislumbrar na normatização do §1º, IV do artigo 225 da
Constituição Federal do Brasil de 1988.
Os princípios constitucionais fundamentais são princípios
superiores no ordenamento jurídico que, por sua vez, devem nortear todo o
ordenamento jurídico. São princípios utilizados obrigatoriamente para a interpretação
dos direitos essenciais do homem e que não podem ser afastados pelo intérprete,
pois exercem a função de integrar-se ao direito, sendo a base de todo o
ordenamento jurídico pátrio. Neste sentido afirma Manoel Peixinho: “Estes princípios
fundamentais estão, sem dúvida, numa posição hierarquicamente superior às outras
79
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 21 de julho de 2007. Art. 23. É competência comum da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
VI- proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
80
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 126.
43
81
PEIXINHO, Manoel Messias. A Interpretação da Constituição e os Princípios Fundamentais, Op. cit., p. 137.
82
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 27ª ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 95.
83
Idem.
84
ANTUNES, Paulo Bessa. Op.cit., p. 31.
85
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional Ambiental Português e da União Européia. In:
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional Ambiental Brasileiro,
São Paulo: Saraiva, 2007, p. 8. O significado básico do princípio é obrigar as gerações presentes a incluir como
44
medida de acção e de ponderação os interesses das gerações futuras. Os interesses destas gerações são
particularmente evidenciáveis em três campos problemáticos: (i) o campo das alterações irreversíveis dos
ecossistemas terrestres em conseqüência dos efeitos cumulativos das actividades humanas (quer no plano
espacial, quer no plano temporal); (ii) o campo do esgotamento dos recursos, derivado de um aproveitamento
não racional e da indiferença relativamente à capacidade de renovação e da estabilidade ecológica; (iii) o campo
dos riscos duradouros.
86
MODÉ, Fernando Magalhães. Tributação Ambiental, Curitiba – PR: Juruá, 2004, p.135.
Declaração de Estocolmo 1972.
Princípio 1 – O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e a condições de vida satisfatórias,
num ambiente cuja qualidade lhe permita viver com dignidade e bem-estar, cabendo-lhe o deve solene de
proteger e melhorar o ambiente para as gerações atuais e vindouras. Por conseqüência, são condenadas e devem
ser elimadas as políticas que promovam ou perpetuem o apartheid, a segregação racial, a discriminação e as
formas, coloniais ou outras, de opressão e de domínio estrangeiro.
Princípio 2 – Os recursos naturais do Globo, incluindo o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e, em especial,
amostras representativas dos ecossistemas naturais, devem ser salvaguardados no interesse das gerações
presentes e futuras, mediante planejamento e ou gestão cuidadosa, como apropriado.
87
GUERRA, Isabella Franco. e LIMMER, Flávia C. Princípios Constitucionais Informadores do Direito
Ambiental. In: PEIXINHO, Manoel Messias (Org). Os Princípios da Constituição de 1988. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2001, p. 565.
88
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional Ambiental Português e da União Européia. In:
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Op. cit., p. 5.
45
89
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 13ª ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 54.
90
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente, 4ª ed., São Paulo: RT, 2005, p. 160. De certa maneira, mantém o
princípio ora em exame estreita vinculação com o princípio geral de Direito Público da primazia do interesse
público e também com o princípio do Direito Administrativo da indisponibilidade do interesse público. É que o
interesse na proteção do ambiente, por ser de natureza pública, deve prevalecer sobre os direitos individuais
privados, de sorte que, sempre que houver dúvida sobre a norma a ser aplicada a um caso concreto, deve
prevalecer aquela que privilegie os interesses da sociedade – a dizer, in dúbio pro ambiente. De igual sentir, a
natureza pública que qualifica o interesse na tutela do ambiente, bem de uso comum do povo, torna-o também
indisponível. Não é dado assim, ao Poder Público – menos ainda aos particulares – transigir em matéria
ambiental, apelando para uma disponibilidade impossível.
91
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, ADIN nº 3.540-1 DF, relator: Min. Celso de Mello, j.
01/09/2005. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 16 ago 2007.
46
todo ordenamento jurídico, ter uma concepção ambientalista para que não viole a
dignidade humana; e não seja posteriormente declarada sua inconstitucionalidade.
Da mesma forma, a interpretação das normas ambientais deve se orientar na busca
da maior efetividade possível da proteção ambiental.
92
LEITE, José Rubens Morato. Sociedade de Risco e Estado. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE,
José Rubens Morato. Op. cit., p. 160.
93
ANTUNES, Paulo Bessa. Op. cit., p. 33-34.
47
94
BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Uma Defesa das Regras do Jogo, 6º ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1997, p. 64. Tudo está, portanto em conexão: refazendo o percurso em sentido contrário, a liberdade de
dissentir tem necessidade de uma sociedade pluralista, uma sociedade pluralista consente uma maior distribuição
do poder, uma maior distribuição do poder abre as portas para a democratização da sociedade civil e, enfim, a
democratização da sociedade civil alarga e integra a democracia política.
95
GUERRA, Isabella Franco. e LIMMER, Flávia C. Princípios Constitucionais Informadores do Direito
Ambiental. In: PEIXINHO, Manoel Messias (Org). Os Princípios da Constituição de 1988. Op. cit., p. 576.
96
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., p. 90-91.
48
97
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em: 05/10/1988. Disponível em <URL:
http://www.planalto.gov.br> [10 dez 2006]. Art.225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.
98
BRASIL, Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a
Política Nacional do Meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br> . Acesso em: 10 dez 2006.
99
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 001 de 23 de janeiro de 1986. Disponível em
<http://www.conama.gov.br>. Acesso em: 10 dez 2006. Art 11 - Respeitado o sigilo industrial, assim solicitando
e demonstrando pelo interessado o RIMA será acessível ao público. Suas cópias permanecerão à disposição dos
interessados, nos centros de documentação ou bibliotecas da SEMA e do estadual de controle ambiental
correspondente, inclusive o período de análise técnica,
§ 1º - Os órgãos públicos que manifestarem interesse, ou tiverem relação direta com o projeto, receberão cópia
do RIMA, para conhecimento e manifestação,
§ 2º - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental e apresentação do RIMA, o estadual
competente ou o IBAMA ou, quando couber o Município, determinará o prazo para recebimento dos
comentários a serem feitos pelos órgãos públicos e demais interessados e, sempre que julgar necessário,
promoverá a realização de audiência pública para informação sobre o projeto e seus impactos ambientais e
discussão do RIMA.
100
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 009 de 03 de dezembro de 1987.
Disponível em < http://www.conama.gov.br> . Acesso em: 10 dez 2006.
101
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237 de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em <http://www.conama.gov.br>. Acesso em: 10 dez 2006. Art. 3º- A licença ambiental para
empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do
meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente
(EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de
acordo com a regulamentação.
102
BRASIL, Lei da Ação Civil Pública, Lei nº 7.347 de 24 de julho de 1985 – Disciplina a ação civil pública de
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico (vetado) e dá outras providências. Disponível em <URL:
http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 10 dez 2006.
103
BRASIL, Lei da Ação Popular, Lei nº 4.717 de 29 de junho de 1965 – Regula a ação popular. Disponível em
<URL: http://www.planalto.gov.br> . Acesso em: 10 dez 2006.
49
vida das próximas gerações. Para tal, depende-se “uma soberania menos egoísta
dos Estados e mais solidária no aspecto ambiental, com a incorporação de sistemas
mais efetivos de cooperação entre Estados, em face das exigências de preservação
ambiental”104, conforme preconiza o princípio 10 da Declaração do Rio de 1992.105
104
LEITE, José Rubens Morato. Sociedade de Risco e Estado. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE,
José Rubens Morato. Op. cit., p. 169.
105
MODÉ, Fernando Magalhães. Op. cit., p.143.
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992.
Princípio 10 – A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de
todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações
relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e
atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar em processos de tomada de
decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a
informação à disposição de todos. Deve ser propiciado acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos,
inclusive no que diz respeito a compensação e reparação de danos.
106
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., p. 63. A implementação do princípio da precaução não tem por
finalidade imobilizar as atividades humanas. Não se trata da precaução que tudo impede ou que em tudo vê
catástrofes ou males. O princípio da precaução visa à durabilidade da sadia qualidade de vida das gerações
humanas e à continuidade da natureza existente no planeta. e ARAGÃO, Alexandra. Direito Constitucional
50
Ambiental Português e da União Européia. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens
Morato. Direito, Op. cit., p. 41.
107
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., p. 64-65.
51
108
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Fundamentos do Direito Ambiental no Brasil, Revista dos Tribunais, ano 83, v.
706, São Paulo: RT, agosto 1994, p. 17, e GUERRA, Isabella Franco. e LIMMER, Flávia C. Princípios
Constitucionais Informadores do Direito Ambiental. In: PEIXINHO, Manoel Messias (Org). Op. cit, p. 572.
109
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 161.
110
MODÉ, Fernando Magalhães. Op. cit., p.143 – 144.
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992.
Princípio 15 – De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado
pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a
ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
111
Esse princípio conforme aduz José Rubens Morato Leite em sua obra, Direito Constitucional Ambiental
Português e da União Européia. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Op. cit.,
p. 171, é da mesma família do princípio da precaução estudado anteriormente, uma vez que exerce funções
muito próximas, que é propiciar uma melhor relação entre as condutas humanas e o ambiente de forma que se
52
preserve o ambiente para a atual e futuras gerações, mas também que se desenvolva outras necessidades do
homem. A principal diferença entre os dois princípios é quanto a identificação dos impactos ambientais, visto
que na precaução, o impacto é desconhecido ou indeterminado, o risco com a interferência no ambiente é
incalculável, enquanto que na prevenção os impactos são reconhecidos ou podem ser e são aplicadas medidas
que visem proteger o ambiente e permitir as intervenções desejadas, nesse princípio o risco é mensurável.
112
ANTUNES, Paulo Bessa. Op. cit., p. 37.
113
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., p. 82. (...) divido em cinco itens a aplicação da prevenção: 1º)
identificação e inventário das espécies animais e vegetais de um território, quanto à conservação da natureza e
identificação das fontes contaminantes das águas e do mar, quanto ao controle da poluição; 2º) identificação e
inventário dos ecossistemas, com a elaboração de um mapa ecológico; 3º) planejamento ambiental e econômico
integrados; 4º) ordenamento territorial ambiental para a valorização das áreas de acordo com a sua aptidão; e 5º)
Estudo de Impacto Ambiental.
114
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental, 3ª ed., São Paulo: Saraiva, 2000. p.38. Sob
o prisma da administração, encontramos a aplicabilidade do princípio da prevenção por intermédios das licenças,
das sanções administrativas, da fiscalização e das autorizações, entre outros tantos atos do Poder Público,
determinantes da sua função ambiental de tutela do meio ambiente.
115
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Mandado de Segurança nº 9.101-DF, relator: Min. Luiz Fux, j.
09/06/2004. Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 24 de ago de 2007
53
116
BRASIL, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis: licença prévia nº 251/2007,
Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/novo_ibama/paginas/materia.php?id_arq=5401>. Acesso em:
03/09/2007.
54
117
DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil, 11ª ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 92. O conflito
de interesses não é permanente, como quer fazer crer a doutrina extremista, mas ocasional. E quando ele ocorra,
então, sem nenhuma dúvida, o que há de prevalecer é o interesse da coletividade. Não hesitamos em consentir na
amputação do membro que põe em risco a nossa vida. Não podemos, por qualquer motivo, permitir que o direito
do indivíduo todo-poderoso atinja, não outro indivíduo, mas toda coletividade. Na doutrina do risco, nitidamente
democrática, não se chega jamais à conseqüência de afirmar o princípio, aparentemente individualista, mas, em
essência, de sentido oposto, nitidamente autocrático, de que o direito de um pode prejudicar a outro, pode
ultrapassar as raias da normalidade e fazer do seu titular um pequeno monarca absoluto.
118
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em: 05/10/1988. Disponível em
<URL: http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 10 dezembro 2006. Art.225 - Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados.
119
BRASIL, Lei de Crimes Ambientais, Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 – Dispõe sobre as sanções
penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providencias.
Disponível em <URL: http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 10 dezembro 2006.
Art. 3º - As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto
nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de
seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
120
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Op. cit., p. 18. Dessa forma, sem negligenciar a extraordinária relevância da
prevenção das degradações, é preciso admitir que um sistema completo de preservação e conservação do meio
ambiente supõe necessariamente a responsabilização dos causadores de danos ambientais e da maneira mais
ampla possível envolvendo as esferas civil, penal e administrativa.
55
121
ANTUNES, Paulo Bessa. Op. cit., p. 37.
122
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em: 05/10/1988. Disponível em
<URL: http://www.planalto.gov.br> . Acesso em: 10 dezembro 2006. Art.225 - Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§3º - As condutas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
123
DESTEFENNI, Marcos. A Responsabilidade Civil Ambiental e as Formas de Reparação do Dano Ambiental,
Campinas – SP: Bookseller, 2005, p. 76-78.
124
MODÉ, Fernando Magalhães. Op. cit., p.143 – 144.
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992.
Princípio 13 – Os Estados deverão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização
das vítimas da poluição e outros danos ambientais. Os estados deverão cooperar, da mesma forma, de maneira
rápida e mais decidida, na elaboração das novas normas internacionais sobre responsabilidade e indenização por
efeitos adversos advindos dos danos ambientais causados por atividades realizadas dentro de sua jurisdição ou
sob seu comando, em zonas situadas fora de sua jurisdição.
125
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., p. 83.
56
126
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 263.383-PR, relator: Min. João Otávio de
Norolha, j. 16/06/2005. Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 24 de ago de 2007. Não há,
portanto, por que se falar em ilegitimidade passiva ad causam do adquirente do imóvel para responder a ação
civil pública mediante a qual se busca proteger a área de reserva florestal legal no domínio privado, uma vez que
é sua a responsabilidade pela ocorrência de danos ambientais. Em outras palavras, é o proprietário, ao tempo da
exigência do cumprimento da obrigação de reparação ambiental, que deve responder por ela, visto que adquiriu a
propriedade na vigência da legislação impositiva de restrição ao seu uso, além de que, se assim não fosse, jamais
as reservas legais no domínio privado seriam recompostas, o que abalaria o objetivo da legislação de assegurar a
preservação e equilíbrio ambientais.e BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 195274 - PR,
relator: Min. João Otávio de Norolha, j. 07/04/2005. Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 24 de
ago de 2007 e BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 343.741 - PR, relator: Min. Franciulli
Netto, j. 04/06/2002. Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 24 de ago de 2007.
127
BRASIL, Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a
Política Nacional do Meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Disponível em <URL: http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2006. Art. 3º - Para fins
previstos nesta Lei, entende-se por:
IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental.
57
Aquele que atua fora das normas e padrões de permissibilidade ou aquele que atua
de forma lícita, e mesmo assim vier a causar algum dano, também deverá ser
responsabilizado. Mas não poderá ter sua atividade considerada como poluidora,
pois foi exercida nos limites do permitido, e sua atividade sofreu o controle exercido
pelo poder público.128
Tal princípio tem como elemento fundamental o fato do dano
ter sido causado com o intuito de se ter um retorno econômico. Evidente que não
corresponde a uma permissão econômica para que se possa utilizar os recursos
ambientais de forma irracional, mas uma forma de responsabilizar pelo uso não
racional dos bens ambientais, forçando os empreendimentos e atividades
econômicas a se legalizarem e atuarem nos limites das normas e dos padrões de
permissibilidade. Outra questão que também deve ocorrer diz respeito à atividade
econômica. Os custos decorrentes da responsabilidade, pelo uso irracional, não
podem ser repassados para o consumidor ou para o Estado, visando à reparação do
dano, pois caso contrário, os indivíduos serão duplamente prejudicados, já que terão
seu ambiente danificado em prol do benefício econômico de outro e, ainda, serão
obrigados a reparar o dano promovido pelo poluidor. 129
Observo que o referido princípio do poluidor-pagador não é um
princípio primário do direito ambiental, mas um subprincípio da responsabilidade que
explicitei anteriormente. Não pode ser considerado como sendo o mesmo princípio
em sua amplitude, conforme faz Cristiane Derani, de que o poluidor-pagador
corresponde somente a uma parte do princípio da responsabilidade130, pois este
princípio é muito maior. Ele pune o agente causador de um dano tanto por uma
conduta lícita quanto ilícita, enquanto o poluidor-pagador está relacionado
exclusivamente por danos provocados por condutas ilícitas, tendo somente um
elemento identificador que é o benefício econômico do agente, que no princípio da
responsabilidade também pode existir, mas não é elemento obrigatório.
128
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 160-161.
129
ARAGÃO, Alexandra. ARAGÃO, Alexandra. Direito Constitucional do Ambiente da União Européia. In:
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Op. cit., p. 49.
130
A autora, em sua obra, (Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 158) equipara o
princípio do poluidor-pagador como sendo o mesmo princípio da responsabilidade o que não ocorre, já que,
como dito, o segundo é muito mais amplo do que o primeiro até porque não há a necessidade de um benefício
econômico para ser responsabilizado pelos danos causados ao ambiente, salvo na questão da penalização da
pessoa jurídica, no qual o benefício é elemento fundamental para a responsabilização criminal não dispensando
os sócios, gerentes e outros
58
131
ARAGÃO, Alexandra. Direito Constitucional do Ambiente da União Européia. In: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Op. cit., p. 48. Voltamos a lembrar que o PPP não é um princípio
de responsabilidade, que actue a posteriori, impondo ao poluidor pagamentos para ressarcir as vítimas de danos
passados. O PPP é um princípio que actua sobretudo a título de precaução e de prevenção, que actua, portanto,
antes e independentemente dos danos ao ambiente terem ocorridos, antes e independentemente da existência de
vítimas.
132
DANTAS. Fabiana Santos. Gerenciamento de Recursos Hídricos: Uma Análise Crítica da Lei 9433/97. In:
Krell, Andreas Joachim. A Aplicação do Direito Ambiental no Estado Federativo, Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005. p. 275. (...) possui uma feição predominantemente preventiva, pois parte da idéia de que, conferindo um
valor econômico ao bem ambiental, pode-se racionalizar o seu uso, através da atribuição aos usuários de uma
contrapartida pecuniária pela utilização dos recursos hídricos, até então gratuita, não obstante a previsão do art.
103 do Código Civil.
133
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Op. cit., p. 56.
59
que o homem é mero elemento do sistema. Com isso a pessoa, seja física ou
jurídica, que utiliza os recursos ambientais deve pagar por essa utilização, ocorrendo
uma conversibilidade econômica do uso desses bens, que são de todos. Não pode
existir um benefício econômico pela utilização de um bem de todos em prol de uma
pessoa, que causa com sua atividade impactos ambientais que todos irão suportar.
Como dito, esse princípio tem íntima relação com os possíveis impactos134 que uma
determinada atividade possa causar, e este não se relaciona com a idéia da
promoção de uma degradação, pois a atividade é lícita, demonstrando assim a sua
separação do princípio anterior, considerando que usuário poluidor é utilizador de
recursos de todos e por tal deve pagar por este uso.
Acredito que esse princípio pode ser dividido em duas
classificações: uma na qual o usuário utiliza os recursos como meio para se
beneficiar economicamente, através da produção de algum produto ou pelo
fornecimento de algum recurso ambiental, como é o caso da água fornecida pelas
concessionárias de serviços públicos e a segunda classificação, na qual os usuários
utilizam-se dos recursos naturais para seu próprio sustento, não existindo um
benefício econômico, mas sim um custo pela sua utilização, e por tal faz com que
utilize de forma racional.
Considero que esse princípio tem uma natureza preventiva,
pois atua antes da utilização dos recursos ambientais de forma que já possa calcular
o valor a ser compensado pelo impacto promovido pela utilização dos bens
ambientais da coletividade. 135 Observo, com isso que o princípio do usuário-pagador
não tem nenhuma função reparatória, pois incide anteriormente sobre os possíveis
atos que possam impactar o ambiente, enquanto que a ação reparatória deve
ocorrer após a existência do dano ambiental. Com isso, acreditar que o princípio do
usuário-pagador tem natureza reparatória é distorcê-lo com o princípio da
134
COELHO. Maria Célia Nunes. Impactos ambientais em áreas urbanas – Teorias, conceitos e métodos de
pesquisa. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; Cunha, Sandra Baptista da (coords.). Impactos Ambientais
Urbanos no Brasil, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p. 64. Para a autora impacto ambiental é: “o processo
de mudanças sociais e ecológicas causado por perturbações (uma nova ocupação e/ou construção de um objeto
novo: uma usina, uma estrada ou uma indústria) no ambiente. Diz respeito ainda à evolução conjunta das
condições sociais e ecológicas estimulada pelos impulsos das relações entre forças externas e internas à unidade
espacial e ecológica, histórica ou socialmente determinada. É a relação entre sociedade e natureza que se
transforma diferencial e dinamicamente”.
135
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 170.
60
136
ARAGÃO, Alexandra. Direito Constitucional do Ambiente da União Européia. In: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Op. cit., p. 47. A prossecução dos fins de melhoria do ambiente e
da qualidade de vida, com justiça social e ao menor custo económico, será indubitavelmente mais eficaz se cada
um dos princípios se “especializar” na realização dos fins para os quais está natural e originalmente mais
vocacionado.
137
MODÉ, Fernando Magalhães. Op. cit., p.144.
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992.
Princípio 16 – Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as
autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos
econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos
internacionais.
138
BRASIL, Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei nº 9433 de 08 de janeiro de 1997 – Institui a
Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei 8.001, de 13 de março de
1990, que modificou a Lei 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em <http://www.planalto.gov.br> .
Acesso em: 10 dez 2006. Art 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:
II- A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico.
139
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em: 05/10/1988. Disponível em
<URL: http://www.planalto.gov.br> . Acesso em 10 dez. 2006. Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXII – é garantido o direito de propriedade; XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;
140
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em: 05/10/1988. Disponível em
<URL: http://www.planalto.gov.br> . Acesso em 10 dez. 2006. Art. 182. A política de desenvolvimento urbano,
executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 2º - A
61
a propriedade urbana deve exercer sua função social quando cumpre as exigências
contidas no Plano Diretor da cidade. Este estabelece o ordenamento do crescimento
da cidade e a forma com que a população desejar viver. É a sociedade intervindo no
processo de desenvolvimento da sua qualidade de vida urbana. Na área rural, a
função social é disciplinada no artigo 186141 da Constituição Federal, no qual tem
como requisito expresso o dever de utilizar, de forma racional, os recursos
ambientais e o de proteger o ambiente.
O princípio da função socioambiental tem uma amplitude maior
do que uma limitação da propriedade, pois o proprietário, que além de se abster de
uma conduta prejudicial à coletividade, deve ter também uma postura positiva
imposta pelo ordenamento jurídico. Isso demonstra que no desenvolver de alguma
atividade na propriedade deve-se precaver de possíveis prejuízos ambientais, além
de comprovar que a sua atividade irá contribuir para a qualidade de vida do ser
humano, fundamentando a imposição da regeneração de reserva legal mesmo não
tendo sido o atual proprietário responsável pela supressão.142 Também existe a
necessidade de se apontar os impactos positivos promovidos pelas atividades para
que se possa analisar quais os benefícios que aquela atividade trará para o
ambiente e conseqüentemente para o homem.
Acredito que os princípios apresentados são a base do
ordenamento jurídico ambiental e que os outros princípios proclamados pela
doutrina e pela jurisprudência são subprincípios dos que aqui foram expostos. E é
através da utilização desses e outros, que vierem a surgir com o desenvolvimento
desse direito, que se poderá efetivar o direito fundamental ao ambiente sadio e
equilibrado para as presentes e futuras gerações, visando um desenvolvimento
sustentável do ser humano no planeta.
propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor.
141
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em: 05/10/1988. Disponível em
<URL: http://www.planalto.gov.br> . Acesso em 10 dez. 2006. Art. 186. A função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente; III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV –
exploração que favoreça o bem estar dos proprietários e dos trabalhadores.
142
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios fundamentais do Direito Ambiental. Revista de Direito Ambiental,
nº 2, São Paulo: RT, 1996, p. 59-60. e MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 169. É com base neste princípio que se tem
sustentado, por exemplo, a possibilidade de imposição ao proprietário rural do dever de recomposição da
vegetação em áreas de preservação permanente e reserva legal, mesmo que não tenha sido ele o responsável pelo
desmatamento, certo que tal obrigação possui caráter real – propter rem -, isto é, uma obrigação que se prende ao
titular do direito real, seja ele que for, bastando para tanto sua simples condição de proprietário ou possuidor.
62
143
Preferi adotar como sinônimas as palavras hermenêutica e interpretação, já que a diferença existente entre as
palavras não é de conteúdo, mas sim temporal, pois a hermenêutica tem sua origem na mitologia grega, na qual o
hermeneuta tinha o dever de reconhecer a vontade dos deuses e também a dos homens, e acredito que esse
reconhecimento era relativo à vontade dos deuses para os homens, assim a hermenêutica está inicialmente ligada
à matéria de cunho religioso, já a interpretação é o afastamento da Igreja da interpretação da vontade de Deus
para os homens, passando estes a realizarem sua própria interpretação a partir do conhecimento do homem que lê
a vontade de Deus, surgindo no começo da Idade Média. Observo que ambas buscam o mesmo objetivo, mas sua
diferenciação é histórica e não de conteúdo, como disse inicialmente, PEIXINHO, Manoel Messias. A
Interpretação da Constituição e os Princípios Fundamentais, 3ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 1-3.
63
144
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Op. cit., p. 1074.
Interpretar uma norma constitucional consiste em atribuir um significado a um ou vários símbolos linguisticos
escritos na constituição com o fim de se obter uma decisão de problemas práticos normativo-constitucionalmente
fundada.
145
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito, 6ªed. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 387. A interpretação é,
portanto, uma operação mental que acompanha o processo da aplicação do Direito no seu progredir de um
escalão superior para um escalão inferior.
146
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Op. cit., p. 1074-1075.
e BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 438.
147
LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 5ª ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983, p.
378. Se bem que toda e qualquer interpretação, devida a um tribunal ou à ciência do Direito, encerre
necessariamente a pretensão de ser uma interpretação «correcta», no sentido de conhecimento adequado, apoiado
em razões compreensíveis, não existe, no entanto, uma interpretação «absolutamente corresta», no sentido de
que seja tanto definitiva, como válida para todas as épocas. Nunca é definitiva, porque a variedade inabarcável e
a permanente mutação das relações da vida colocam aquele que aplica a norma constantemente perante novas
questões. e PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 30-31.
64
148
PEIXINHO, Manoel Messias. A Interpretação da Constituição e os Princípios Fundamentais, Op. cit., p. 5.
149
ANTUNES, Paulo Bessa. Op. cit., p. 58. Tem sido reconhecida, unanimemente, pela doutrina, como uma das
características fundamentais do Direito Ambiental, a sua marcante interdisciplinariedade. Não se pode pensar a
proteção jurídica do meio ambiente sem se considerar dados relevantíssimos que são trazidos para o interior do
universo do Direito por outros ramos do conhecimento humano. Dentre estes vários conhecimentos que
influenciam a construção do Direito Ambiental podem ser destacadas a biologia, a química, a meteorologia, as
ciências sociais etc. Muitas vezes, o jurista recorre a conceitos de outras ciências para que possa dar solução a
um problema que, aparentemente, estava alicerçado em uma questão puramente jurídica. e FERREIRA, Heline
Sivini. Política Ambiental Constitucional, In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato.
Op. cit., p. 231.
150
O próprio conceito jurídico adotado pela legislação ambiental brasileira para ambiente, através da Lei nº
6.938/81 que trata da Política Nacional de Meio Ambiente, considera que o ambiente é formado por interações
de ordem física, química e biológica. Assim, a interpretação jurídica ambiental não pode desconsiderar a
65
hermenêutica de outras ciências relacionadas ao ambiente, sob pena de se ter uma norma não condizente com a
realizada.
151
KELSEN, Hans. Op. cit., p. 394-395. Através de uma interpretação autêntica deste tipo pode criar-se Direito,
não só no caso em que a interpretação tem caráter geral, em que, portanto, existe interpretação autêntica no
sentido usual da palavra, mas também no caso em que é produzida uma norma jurídica individual através de um
órgão aplicador do Direito, desde que o ato deste órgão já não possa ser anulado, desde que ele tenha transitado
em julgado. É fato conhecido que, pela via de uma interpretação autêntica deste tipo, é muitas vezes criado
Direito novo – especialmente pelos tribunais de última instância.
152
Ibidem, p. 395. Se um indivíduo quer observar uma norma que regula a sua conduta, quer dizer, pretende
cumprir um dever jurídico que sobre ele impende realizando aquela conduta a cuja conduta oposta a norma
jurídica liga uma sanção, esse indivíduo, quando tal conduta não se encontra univocamente determinada na
norma que tem de observar, também tem de realizar uma escolha entre diferentes possibilidades. Porém, esta
escolha não é autêntica. Ela não é vinculante para o órgão que aplica essa norma jurídica e, por isso, corre
66
sempre o risco de ser considerada como errônea por esse órgão, de forma a ser julgada como delito a conduta do
indivíduo que nela se baseou.
153
KELSEN, Hans. Op. cit., p. 388-389.
154
COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação Constitucional, Porto Alegre – RS: Sergio Antonio Fabris
Editor, 1997, p. 26. Com efeito, enquanto a Lei ostenta um grau de relativamente alto de determinação material e
de precisão de sentido, podendo, por isso, ser diretamente aplicável, a Constituição – pela sua natureza, estrutura
e finalidade – apresenta-se como um sistema aberto de regras e princípios que necessitam da mediação de
legisladores e juízes para lograrem efetividade.
155
DWORKIN, Ronald. Op. cit., p. 146. En el positivismo jurídico encontramos una teoría de los casos difíciles.
Cuando un determinado litigio no se puede subsumir claramente en una norma jurídica, establecida previamente
por alguna institución, el juez – de acuerdo con esa teoría – tiene «discreción» para decidir el caso en uno u otro
sentido. Esta opinión supone, aparentemente, que una u otra de las partes tenía un derecho preexistente a ganar el
proceso, pero tal idea no es más que una ficción. En realidad, el juez ha introducido nuevos derechos jurídicos
que ha aplicado después, retroactivamente, al caso que tenía entre entre manos. En los dos últimos capítulos
sostuve que esa teoría de la adjudicación de competencias al juez es totalmente inadecuada; en este capítulo he
de presentar y defender una teoría mejor.
Mi argumento será que, aun cuando ninguna norma esclarecida resuelvo el caso, es posible que una de las partes
tenga derecho a ganarlo. No deja de ser deber del juez, incluso en los casos difíciles, descubrir cuáles son los
derechos de las partes, en vez de inventar retroactivamente derechos nuevos. Sin embargo, debo decir sin demora
67
que esta teoría no afirma en parte alguna existencia de ningún procedimiento mecánico para demostrar cuáles
son los derechos de las partes en los casos difíciles.
156
HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição, Porto Alegre - RS: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991,
p. 15. Essa pretensão de eficácia (Geltungsanspruch) não pode ser separada das condições históricas de sua
realização, que estão, de diferentes formas, numa relação de interdependência, criando regras próprias que não
podem ser desconsideradas. Devem ser contempladas aqui as condições naturais, técnicas, econômicas, e sociais.
A pretensão de eficácia da norma jurídica somente será realizada se levar em conta essas condições.
157
PEIXINHO, Manoel Messias. A Interpretação da Constituição e os Princípios Fundamentais, Op. cit., p. 63.
Aqui entra o papel da jurisprudência, que através de seus constantes julgados, permite corrigir possíveis
antinomias produzidas pelo legislador. Na verdade, pode-se objetar que no atual sistema não existe a vinculação
dos precedentes, mas também é inegável a força que hodiernamente assumem os Tribunais na missão
interpretativa, consolidando as suas súmulas que materializam de decisões reiteradas.
158
LARENZ, Karl. Op. cit. p. 380.Vimos na Parte Histórica que se formaram na literatura jusfilosófica e
metodológica, já na segunda metade do século XIX, duas teorias sobre o escopo da interpretação da lei, das quais
a primeira, a «teoria subjectivista» ou «teoria da vontade», considera escopo da interpretação a indagação da
vontade histórico-psicológico do legislador, e a segunda, a «teoria objectivista» ou teoria da interpretação
imanente à lei, exploração do sentido que é inerente à própria lei.
159
LARENZ, Karl. Op. cit. p. 381.
68
160
HESSE, Konrad. Op. cit., p. 11. Essa negação do direito constitucional importa na negação do seu valor
enquanto ciência jurídica. Como toda ciência normativa; Diferencia-se, assim, da Sociologia e da Ciência
Política enquanto ciências da realidade. Se as normas constitucionais nada mais expressam do que relações
fáticas altamente mutáveis, não há como deixar de reconhecer que a ciência da Constituição jurídica constitui
uma ciência jurídica na ausência do direito, não lhe restando outra função senão a de constatar e comentar os
fatos criados pela Realpolitik. Assim, o Direito Constitucional não estaria a serviço de uma ordem estatal justa,
cumprindo-lhe tão-somente a miserável função – indigna de qualquer ciência – de justificar as relações de poder
dominantes. Se a Ciência da Constituição adota essa tese e passa a admitir a Constituição real como decisiva,
tem-se a sua descaracterização como ciência normativa, operando-se a sua conversão numa simples ciência do
ser. Não haveria mais como diferençá-la da Sociologia ou da Ciência Política.
161
Ibidem, p. 14-15.
69
da realidade existente, mas de uma realidade a ser buscada. Separar essa relação é
retirar a essência necessária para a eficácia da norma constitucional.162 Assim,
quanto mais forte o vínculo entre a realidade e a norma constitucional, maior eficácia
esta terá e conseqüentemente maior será a força normativa da Constituição.163 Tal
força é perceptível a partir do poder irradiante das normas constitucionais, nos quais
vão pautar toda a interpretação do ordenamento infraconstitucional, disciplinando as
condutas estatais e sociais, sendo estas uma das diferenciações existentes entre a
hermenêutica constitucional e a interpretação das normas não constitucionais.164
Outra diferenciação diz que as normas constitucionais detêm, em sua maioria, um
alto grau de abstração e, diferentemente do que ocorre com as normas abstratas
infraconstitucionais, aquelas não têm parâmetro de valor superior, pois estão no
ápice do ordenamento jurídico pátrio, devendo utilizar na sua concretização, valores
extrajurídicos que existem na realidade social. Daí, a necessidade da existência da
relação entre a norma jurídica e a realidade na concretização da norma
constitucional que visa dar direção ao ordenamento inferior, inserindo-se com
valores culturais, econômicos, políticos, ambientais, sociais e outros para que possa
estabelecer uma norma eficaz no presente e que sirva de fundamento para a
construção da norma do futuro.165 Caso contrário, a força normativa constitucional é
inexistente e volta simplesmente a representar a expressão da vontade de grupos de
poder.
Esse vínculo entre realidade e a norma jurídica é estabelecido
através do sentimento constitucional existente para que a norma constitucional tenha
eficácia, visto que tais normas não podem ser aplicadas de forma forçada e, pelo
contrário, sua força normativa advém do sentir a necessidade de efetividade da
norma constitucional.166 Observo que essa ligação existente entre o sentimento e a
eficácia da norma constitucional se justifica por ser a Constituição um texto jurídico
162
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, ADI 2083-8DF, relator: Min. Moreira Alves, j.
03/08/2000. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 10 de set. 2007. No julgado em questão o
relator expõe as alegações da Consultoria Jurídica do Ministério de Meio Ambiente, no qual afirma que existe
um vínculo entre a norma e a realidade para possa ocorrer a efetiva da norma jurídica e para tal é necessário que
a norma esteja em compasso com a realidade existente, sob pena que se criar um distanciamento entre o
ordenamento jurídico e a realidade existente e concreta.
163
HESSE, Konrad. Op. cit., p. 16. A Constituição adquire força normativa na medida em que logra realizar essa
pretensão de eficácia.
164
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 49.
165
HESSE, Konrad. Op. cit., p. 18.
166
VERDÚ. Pablo Lucas. O Sentimento Constitucional, Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 3 e PEREIRA, Jane
Reis Gonçalves. Op. cit., p. 53.
70
altamente político e, por ser assim, as opções políticas que o Estado e a Sociedade
tomam, fundamentam-se através do sentimento existente no momento da decisão.
Tal aspecto faz com que as normas constitucionais representem mais do que
normas jurídicas, pois valores extrajurídicos compõem a sua formação, mantendo
sua eficácia enquanto o sentimento que incluiu os valores extrajurídicos
permaneçam existentes e continuem fundamentando a aplicação dessas normas.167
Penso que a relação entre sentimento e eficácia normativa pode ser vislumbrada
através das questões ambientais, já que o sentimento pela existência de uma efetiva
e necessária proteção ambiental para a permanência do homem de forma digna no
planeta, concretiza o direito fundamental de terceira dimensão de se ter um
ambiente equilibrado e sadio, tornando cada vez maior a força das normas
ambientais. Assim, os movimentos da Sociedade pela preservação e proteção
ambiental168 fazem com que as instituições políticas sintam o sentimento por uma
efetiva proteção ambiental pelo direito.
Uma Constituição afastada do sentimento de efetivação das
normas constitucionais, em que a sociedade não enxerga a necessidade da
aplicação das normas contidas na Constituição, na sua realidade, não são
efetivadas pelas instituições, não trazem nenhuma força normativa a essa
Constituição, pois esta não é vivida, não há um sentimento que faça a sociedade
viver a norma constitucional de forma voluntária e não coativa, fazendo com que a
norma constitucional não exerça sua função integradora.169 A Constituição, para ter
força ativa, necessita de que as tarefas impostas no seu corpo sejam vividas, que
exista a vontade de concretização dessas normas. Após o surgimento de tal vontade
da Constituição é que a norma constitucional deixa de ser uma tarefa abstrata que
167
VERDÚ. Pablo Lucas. Op. cit., p. 6-7. O sentimento jurídico-constitucional não é a causa de tal efetividade
por si só; é uma prova significativa da consonância entre norma e realidade, ainda que também, ao lado de outros
fatores, seja capaz de colaborar com essa consonância. Dito de outra maneira: quando um ordenamento jurídico
é capaz de suscitar ampla e intensa adesão efetiva quanto à sua normação e, sobretudo, quanto às instituições
mais enraizadas em suas bases sociais, então tal ordenamento é algo vivo. Não está ali, afastado, nutrindo-se
solidariamente de suas próprias interconexões e interpretações formais. Penetra nas entranhas populares para
converter-se em ordenamento sentido.
168
JB Ecológico. O que você acha melhor mudar, A Fonte de Energia ou o Clima? Ano 5 nº 65, Rio de Janeiro:
Jornal do Brasil, junho de 2007, p. 44; JB Ecológico. Uma Bolsa para salvar o Planeta, Ano 5 nº 66, Rio de
Janeiro: Jornal do Brasil, julho de 2007, p. 38 e JB Ecológico. SOS Mata Atlântica, Ano 4 nº 44, Rio de Janeiro:
Jornal do Brasil, setembro de 2005, p. 44.
169
VERDÚ. Pablo Lucas. Op. cit., p. 5. Sendo assim, podemos concluir que o sentimento jurídico brota da
convicção de que determinadas normações, escritas ou consuetudinárias (evidentemente, dada a espontaneidade
destas últimas, nelas opera mais profundamente tal convicção), são convenientes e justas para a convivência. E
mais, essa adesão emocional pode ser tão sentida que aqueles que a expressam atuam com a íntima satisfação de
71
aguarda o momento de sua concretização e passa a ter força ativa para incidir em
todo ordenamento jurídico.170
A existência desse sentimento para a concretude das normas
constitucionais faz com que a Constituição não possa ser vista por uma única
perspectiva, podendo existir outras normas constitucionais advindas do mesmo
enunciado normativo constitucional que também são válidas.171 Assim, é o
sentimento constitucional que irá conduzir a melhor norma para determinada
situação, uma vez que ele estará integrando a norma à realidade existencial. No
Brasil, o Supremo Tribunal Federal172 já pacificou o entendimento que a
interpretação para ser válida, tem de ser razoável com a realidade. Importante é que
a norma interpretada seja razoável e fundamentada principalmente quando ela vem
a modificar uma interpretação razoável que já vem sendo utilizada para determinada
situação, visto que a motivação é imprescindível, pois a nova interpretação busca,
através de sua fundamentação, concluir que aquela norma interpretada não é mais
razoável para determinada situação que anteriormente seria.173
Sendo a interpretação constitucional um procedimento no qual
busca apresentar uma norma jurídica constitucional ligada a uma realidade que tem
como ligação a norma, a realidade e o sentimento na efetividade da norma
constitucional. Acredito que a interpretação deve ocorrer de forma aberta, no qual
cumprir um dever cívico. Obedecem sem temor nem coação alguma, porque, com tal adesão emocional,
experimentam a fruição de integra-se livremente no projeto solidário comum.
170
HESSE, Konrad. Op. cit., p. 19. Embora a Constituição não possa, por si só realizar nada, ela pode impor
tarefas. A Constituição transforma-se em força ativa se essas tarefas forem efetivamente realizadas, se existir a
disposição de orientar a própria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se, a despeito de todos os
questionamentos e reservas provenientes dos juízos de conveniência, se puder identificar a vontade de
concretizar essa ordem. Concluindo, pode-se afirmar que a Constituição converter-se-á em força ativa se
fizerem-se presentes, na consciência geral – particularmente, na consciência dos principais responsáveis pela
ordem constitucional -, não só a vontade de poder (Wille zur Macht), mas também a vontade de Constituição
(Wille zur Verfassung).
171
KELSEN, Hans. Op. cit., p. 390-391. e LARENZ, Karl. Op. cit., p. 410 – 411.
172
BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Súmula 343, Disponível em: <http: ∕∕ www.stf.gov.br> Acesso em: 22
de setembro de 2007. – Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão
rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos Tribunais. e BRASIL. Supremo
Tribunal Federal, Súmula 400, data de aprovação 03/04/1964. Disponível em: <http: ∕∕ www.stf.gov.br> Acesso
em: 22 de setembro de 2007. Decisão que deu razoável interpretação à lei, ainda que não seja a melhor, não
autoriza recurso extraordinário pela letra do art. 101, III, da Constituição Federal.
173
COELHO, Inocêncio Mártires. Op. cit., p. 60. Por isso é que o abandono dos precedentes exige não apenas a
explicação ordinária das razões de fato e de direito que fundamentem essa decisão, como também uma
justificação adicional dos motivos que levaram o intérprete a se afastar do critério anterior. Quem resolve
desprezar um precedente, assume o ônus da argumentação, pois não parece sensato renunciar sem justificação ao
que até então vinha sendo adotado como prevalecente.
72
todos que sintam e vivam a Constituição devam ter o dever de interpretá-la.174 Todos
os grupos da sociedade deverão participar da efetivação da Constituição, sendo a
interpretação proveniente de uma sociedade aberta que vivencie as modificações da
realidade e busque inseri-las na interpretação constitucional.
O fato de a Constituição pautar toda a interpretação
infraconstitucional e ser o eixo principal entre a norma jurídica e a realidade, faz com
que todos os que têm algum dever constitucional tenham que interpretar os
enunciados constitucionais, inserindo valores aos enunciados. Assim, o Poder
Executivo é um intérprete constitucional no momento que tem de exercer sua função
dentro do Estado, devendo interpretar a Constituição na tomada de decisões, da
mesma forma que o Poder Legislativo, quando legisla, também é um intérprete da
Constituição, pois deve elaborar uma legislação condizente às normas
constitucionais sob pena de inconstitucionalidade. O Poder Judiciário é outro que
deve interpretar a Constituição e buscar manter a compatibilidade do ordenamento
jurídico infraconstitucional com o constitucional, caso contrário, declarar-se-á a
inconstitucionalidade das leis e atos normativos que não estejam correspondendo ao
sentimento e, por conseqüência, à norma constitucional.175
Além dos poderes do Estado, cabe também a interpretação
constitucional à sociedade, inclusive acredito que essa é a principal intérprete da
Constituição, visto ser ela que irradia o sentimento da necessidade de eficácia de
determinada norma constitucional, servindo ele de base de fundamentação da
interpretação de todos os outros intérpretes. Presumo que, esses outros intérpretes,
no momento de sua hermenêutica, exercem a função de lapidar o sentimento da
sociedade.
Esse mesmo sentimento dará fundamentação para a
regulamentação dos preceitos constitucionais abertos, em especial, para este
trabalho. A definição de interesse local, contido no art. 30, inciso II da Constituição
174
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional, Porto Alegre – RS: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997, p.
13. Interpretação constitucional tem sido, até agora, conscientemente, coisa de uma sociedade fechada. Dela
tomam parte apenas os intérpretes jurídicos ¨vinculados às corporações¨ (zünftmässige Interpreten) e aqueles
participantes formais do processo constitucional. A interpretação constitucional é, em realidade, mais um
elemento da sociedade aberta. Todas as potências públicas, participantes materiais do processo social, estão nela
envolvidas, sendo ela, a um só tempo, elemento resultante da sociedade aberta e um elemento formador ou
constituinte dessa sociedade (...weil Verfassungsinterpretation diese offene Gesellschaft immer Von neuem
mitkonstituiert und Von ihr konstituiert wird). Os critérios de interpretação constitucional hão de ser tanto mais
abertos quanto mais pluralista for a sociedade.
175
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 56.
73
Federal, relata quem melhor do que a sociedade, que vive a norma176, para informar
qual o interesse que deve existir em determinado Município, pois somente aquela
sociedade que vive naquele local tem possibilidade de interpretar o preceito
constitucional. É evidente que aos órgãos estatais cabem validar a interpretação
dada pela sociedade através de seus atos, em especial, o Poder Judiciário no
pertinente à constitucionalidade, em relação aos interesses regionais e nacionais,
para que não ocorra uma invasão dos interesses dos entes da Federação,
objetivando manter a harmonia entre eles.
A própria Constituição brasileira de 1988 possibilitou a
interpretação aberta de seus preceitos, incluindo a sociedade e conseqüentemente o
cidadão na tarefa de interpretá-la, uma vez que no art. 225, que trata sobre o
ambiente, matéria deste estudo, foi consagrado o ambiente sadio e equilibrado como
sendo um direito de todos e, por tal, gera um dever a todos de preservá-lo e protegê-
lo. Com isso, para que a sociedade possa exercer esse dever constitucional para
obter o direito consagrado, ela deve ser intérprete de tal norma com o objetivo de
obter condutas ambientalmente corretas em relação ao ambiente e,
conseqüentemente, a todos os seres humanos. Assim, observo que, em especial,
mas não unicamente, os direitos fundamentais de terceira dimensão são direitos que
a sociedade tem grande participação da interpretação das normas materialmente
constitucionais.
Alguns autores vislumbram que a interpretação constitucional
não poderia ocorrer da mesma forma que a tradicional e positivista através da
subsunção. Assim construíram uma teoria que dava uma hierarquia às normas
constitucionais por meio de sua eficácia criando vários graus para as normas
constitucionais dependendo de sua natureza jurídica.177 Segundo essa teoria, que
no Brasil veio a surgir com José Horácio Meirelles Teixeira178 e posteriormente
difundida por José Afonso da Silva, as normas constitucionais poderiam ser
classificadas hierarquicamente da seguinte forma: normas de eficácia plena179, que
176
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional, Op. cit., p. 13. O conceito de interpretação reclama um
esclarecimento que pode ser assim formulado: quem vive a norma acaba por interpretá-la ou pelos menos por co-
interpretá-la.
177
PEIXINHO, Manoel Messias.Teorias e Métodos de Interpretação dos Direitos Fundamentais. Op. cit., p. 217.
178
TEIXEIRA, José Horácio Meirelles. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1991.
179
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p.
101. Mas podemos adiantar que estabelecem conduta jurídica positiva ou negativa com o comando certo e
74
são as que tendem a possibilitar a sua aplicação de imediato sem que haja uma
regulamentação posterior pelo legislador ordinário; as normas de eficácia limitada 180,
que são normas que o legislador constituinte regulamentou a matéria de forma
possível à sua aplicabilidade, dando oportunidade para que o legislador ordinário
pudesse restringir o seu campo de eficácia: as normas de eficácia limitada181, que se
assemelham com as normas programáticas, já que necessitam de uma norma de
integração posterior para alcançar sua eficácia imediata. Acredito que essas
classificações, para as normas constitucionais, não podem ser vistas e admitidas de
forma estática, uma vez que, com o desenvolvimento da sociedade e do sentimento
de efetividade das normas constitucionais, elas vão alcançando uma classificação
superior na hierarquia das normas constitucionais em sua eficácia.
definido, incrustado-se, predominantemente, entre as regras organizativas e limitativas dos poderes estatais, e
podem conceituar-se como sendo aquelas que, desde a entrada em vigor da constituição, produzem, ou têm
possibilidade de produzir todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações,
que o legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular.
180
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, Op. cit., p. 116. Normas de eficácia
contida, portanto, são aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a
determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do Poder
Público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados.
181
Ibidem, p. 125. apoiada na jurisprudência italiana, que as considera como preceptivas, dotadas de comandos
jurídicos de aplicação direta, mas não imediata, porque requerem outras normas jurídicas integrativas, com o
quê, salvo a terminologia, podemos concordar, e as programáticas seriam diretivas, destituídas de preceito
concreto, mas dando só indicação ao legislador futuro.
182
No referido julgado, o Ministro relator reconhece que a Constituição não pode ter uma concepção somente
conceitual, mas deve existir uma pluralidade de conceitos e que devem estes serem impregnados em todo o
ordenamento jurídico, sendo a Constituição mais do que um documento formal, pois abrange conceitos materiais
que extrapolam a norma positivada, conforme transcrevo parte do julgado do STF que afirma tal
posicionamento. BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Decisão Monocrática, ADI 595/ES, relator: Min. Celso de
Mello, j. 18/02/2002. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 10 de set. 2007. “ Não foi por outra
razão que o Supremo Tribunal Federal, certa vez, e para além de uma perspectiva meramente reducionista, veio a
proclamar – distanciando-se, então, das exigências inerentes ao positivismo jurídico – que a Constituição da
República, muito mais do que o conjunto de normas e princípios nela formalmente positivados, há de ser
também entendida em função do próprio espírito que a anima, afastando-se, desse modo, de uma concepção
impregnada de evidente minimalismo conceitual (RTJ 71/289, 292 – RTJ 77/657). É por tal motivo que os
tratadistas – consoante observa JORGE XIFRAS HERAS (“Curso de Derecho Constitucional”, p. 43) -, em vez
de formularem um conceito único de Constituição, costumam referir-se a uma pluralidade de acepções, dando
ensejo à elaboração teórica do conceito de bloco de constitucionalidade (ou de parâmetro constitucional), cujo
significado – revestido de maior ou de menor abrangência material – projeta-se, tal seja o sentido que se lhe dê,
para além da totalidade das regras constitucionais meramente escritas e dos princípios contemplados, explicita ou
implicitamente, no corpo normativo da própria Constituição formal, chegando, até mesmo, a compreender
normas de caráter infraconstitucional, desde que vocacionadas a desenvolver, em toda a sua plenitude, a eficácia
75
indivíduos e a coletividade, visto que são direitos essenciais da pessoa humana para
que os mesmo tenham uma vida digna no planeta. Assim, além da diferenciação da
interpretação constitucional para a infraconstitucional, há também diferenças para as
normas fundamentais, tendo em vista um grau muito maior de abertura,
necessitando de uma vinculação da interpretação das normas que explicitam direitos
fundamentais a uma teoria da Constituição e, por conseguinte, a teoria dos direitos
fundamentais, utilizando os valores e direitos consagrados nas dimensões dos
direitos fundamentais para fundamentar a norma interpretada. A partir da inclusão de
princípios e valores externos aos positivados, no qual o processo democrático é
fundamental para tal interpretação, exige-se necessariamente a participação intensa
da Sociedade no processo interpretativo183, já que é ela que permitirá uma
interpretação dos direitos fundamentais necessários para a pessoa humana que, por
muitas vezes, se colidem entre eles. Portanto, é a Sociedade que poderá levar esses
aparentes conflitos para a esfera pública184 de discussão para que possam ser
interpretados segundo uma visão geral para aquela sociedade que detectou os
conflitos, uma vez que um problema entre direitos fundamentais em um local pode
não ocorrer em outro. Daí vislumbra-se a importância do sentimento da sociedade
para que possa dar efetividade ao texto constitucional e aos direitos fundamentais.
Tais direitos extrapolam o formato tradicional da interpretação,
não podendo ser realizado segundo um método formal positivista, o qual tem como
ponto fundamental a literalidade do enunciado normativo, significando a restrição
dos Direitos Fundamentais185 que pode ocorre, mas não de uma forma literal, mas
através de um contexto de situações e realidade existentes, conforme demonstrarei
posteriormente.
A interpretação dos direitos fundamentais deve permitir a maior
amplitude possível desses direitos, pois reconhecem valores essenciais ao homem,
em especial, o da dignidade da pessoa humana que predominantemente se alcança
a partir da existência de um Estado de Direito, Social e Ambiental, pois as normas
dos postulados e dos preceitos inscritos na Lei Fundamental, viabilizando, desse modo, e em função de
perspectivas conceituais mais amplas, a concretização da idéia de ordem constitucional global.
183
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 581.
184
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia entre a facticidade e validade, v. II, Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1997, p. 92. A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de
conteúdos, tomadas de posição e opiniões; nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de
se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos. Do mesmo modo que o mundo da vida
tomado globalmente, a esfera pública se reproduz através do agir comunicativo, implicando apenas o domínio de
uma linguagem natural; ela está em sintonia com a compreensibilidade geral da prática comunicativa cotidiana.
76
ambientais visam permitir a sadia qualidade de vida das pessoas. Não se restringe
somente à vida, entretanto a uma qualidade de vida sadia e, por tal função, as
normas fundamentais interagem em todo o sistema jurídico, complementando e
delimitando os direitos da mesma forma que outros direitos fundamentais
complementam e delimitam o espectro de incidência das normas ambientais,
devendo existir uma proporcionalidade na conjugação dos direitos fundamentais,
tendo em vista que compõem o mesmo sistema e não podem ser vistos de forma
estanque de outras normas de natureza diversa.186
Diante desse aspecto diferenciado no qual existe uma grande
inserção de valores extrajurídicos para uma interpretação constitucional fundamental
adequada, visa-se concretizar os direitos fundamentais através de uma concepção
de bem comum.187 Tendo em vista que a atuação da sociedade é fundamental para
o desenvolvimento da humanidade, porque a mesma estabelece diretivas para a
ordem constitucional fundamental, através da pluralidade de intérpretes188, que têm
missão de manter atualizado o vínculo entre a realidade e a norma jurídica e pelo
aspecto aberto dessa interpretação, alguns entendem que ela conduz a uma
arbitrariedade do intérprete da norma constitucional fundamental, uma vez que
inexiste uma determinação de valores fixados que podem ser utilizados na
185
PEIXINHO, Manoel Messias.Teorias e Métodos de Interpretação dos Direitos Fundamentais. Op. cit., p. 220.
186
LARENZ, Karl. Op. cit., p. 413. mas é verdade que subjaz à Lei fundamental o reconhecimento de
determinados valores humanos gerais como, sobretudo, a dignidade humana e o valor da personalidade humana,
e que para a tutela destes valores foram atribuídos ao indivíduo direitos fundamentais amplamente tutelados,
como também se elevou a Direito vigente de escalão constitucional certos princípios éticos-jurídicos e políticos-
constitucionais – como o princípio da igualdade, o princípio do Estado de Direito e do Estado Social. É também
verdade que estes direitos fundamentais e princípios não estão uns a par dos outros, sem conexão, mas que se
relacionam uns com os outros de acordo com o sentido e, por isso, podem tanto complementar-se como
delimitar-se entre si. Não é outra coisa o que pretende dizer o Tribunal Constitucional Federal quando fala da
Constituição como «um todo de sentido» ou da «unidade deste sistema fundamentalmente de valores». e
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 581.
187
HABERLE, Peter. El Estado Constitucional, Op. cit., p. 245. J) Mientras que el concepto de bien común en el
Estado constitucional debe elaborar cada vez nuevos instrumentos y procedimientos, para impedir los déficit del
bien común (consumidores, contribuyentes, minorías de las minorías, acciones colectivas), la discusión
interdisciplinaria del bien común tiene que prepararse para los enormes desafíos de tipo ideal y material (por
ejemplo, en materia de “desarrollo sustentable”). La concepción abierta del bien camún surge y cae con la
Constitución del pluralismo y con la fertilidad del diálogo entre las disciplinas particulares.
188
Ibidem, p. 39-40. A possibilidade e a realidade de uma livre discussão do indivíduo e de grupos ‘sobre’ e
‘sob’ as normas constitucionais e os efeitos pluralistas sobre elas emprestam à atividade de interpretação um
caráter multifacetado. (Acentua-se que esse processo livre está sempre submetido a ameaça e que também a
nossa ordem liberal-democrática apresenta déficit em relação ao modelo ideal). Teoria de Democracia e Teoria
de Interpretação tornam-se conseqüência da Teoria da Ciência. A sociedade é livre e aberta na medida que se
amplia o círculo dos intérpretes da Constituição em sentido lato.
77
189
LARENZ, Karl. Op. cit., p. 439. e OLIVEIRA, Maria Lúcia de Paula. A Interpretação dos Direitos
Fundamentais e a Constituição de 1988. In Direito Constitucional Brasileiro. QUARESMA, Regina e Oliveira,
Maria Lúcia de Paula. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p.284.
190
Ibidem, p. 438.
191
BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas, 8ª ed., Rio de Janeiro:
Renovar, 2006, p. 81. A eficácia dos atos jurídicos consiste na sua aptidão para a produção de efeitos, para a
irradiação das conseqüências que lhe são próprias. Eficaz é o ato idôneo para atingir a finalidade para a qual foi
gerado. Tratando-se de uma norma, a eficácia jurídica designa a qualidade de produzir, em maior ou menor grau,
os seus efeitos típicos.
192
BONAVIDES, Paulo. Op. cit., p. 594-595.
78
realidade, a mesma passe a ser interpretada como norma de eficácia plena, vez a
necessidade de uma maior efetivação dessa norma diante do contexto fático.193
No ordenamento jurídico brasileiro, os direitos fundamentais
são formalmente de aplicação imediata194 e, por tal, de eficácia plena, mas
materialmente necessitam de uma realidade fática para serem efetivados e, para tal,
carece que os intérpretes tenham o sentimento entre a realidade e a norma e que os
mesmos estejam vivenciando a necessidade da efetivação dos direitos
fundamentais.195 Para as normas fundamentais ambientais, tal vínculo é fundamental
para a efetivação de um direito ao ambiente equilibrado e sadio, pois a sociedade é,
conjuntamente com o Poder Público, responsável pelo dever de concretizar esse
direito fundamental.
193
SALVATORE, Villari. Apud, SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais, Op. cit.,
p. 93. Quando as normas da constituição formal coincidem com as da constituição efetiva, segundo Villari,
dizem-se preceptivas (de eficácia plena, de acordo com nossa terminologia), se não houver tal coincidência, são
diretivas (de eficácia limitada, programáticas) e servem para indicar ao legislador a necessidade de manifestar a
vontade do Estado, emitindo uma lei que faça cessar a eficácia de outra que tem força cogente própria e continua
a ter vigor mesmo depois da emanação de uma constituição escrita que, não tendo força cogente própria, não
pode automaticamente ab-rogar uma norma preexistente em contraste com a constituição formal.
194
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em: 05/10/1988. Disponível em
<URL: http://www.planalto.gov.br> Acesso em: 02 out 2007. Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. § 1º
- As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
195
VERDÚ. Pablo Lucas. Op. cit., p. 7. Em definitivo, uma Constituição afastada da realidade é muito distinta
da living Constitucion e/ou da lebenden Verfassung. Está vigente, mas no fundo é ignorada pelo comum das
pessoas. Uma Constituição vivida é assim considerada, em grande parte, porque é sentida pelo povo e aparece
como símbolo político que tem razão de ser em virtude de sua função integradora.
196
Segundo Jane Reis em sua obra (PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação Constitucional e Direitos
Fundamentais, Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 132-134.), os direitos fundamentais não podem ser
considerados absolutos, devido a diversos fatores que impossibilitam a totalidade de incidência de um direito
fundamental. Inicialmente a autora vislumbra a questão da universalidade dos direitos fundamentais, que por tal
fator necessita de uma limitação, uma vez que é impossível que estes venham a fruir para todos de forma
permanente e simultânea sem que haja uma limitação, caso contrário seria impossível universalizar tais direitos,
pois os mesmo não iriam conseguir se harmonizar. Outro fator importante para a autora é que os direitos
fundamentais não são vistos de uma forma isolada perante eles, já que são um conjunto não existindo uma
hierarquia entre os direitos fundamentais, tendo em vista que as dimensões dos direitos fundamentais se
complementam e não se apresentam como gerações, no qual esses direitos teriam início e fim. Assim, tais
direitos essenciais ao homem formam um conjunto, no qual visa proteger diversos bens fundamentais que muitas
vezes parecem em colisão ou conflitos e, para que sejam efetivados no seu máximo, deve existir uma limitação
desses direitos quando aparentemente em conflitos. Outro autor que defende que os direitos fundamentais não se
79
devido a vários fatores que impossibilitam tais direitos serem absolutos e, até
mesmo, os próprios direitos fundamentais impedem que sejam vistos e admitidos
dessa forma, pois freqüentemente, nos casos concretos, há a incidência de diversos
direitos fundamentais para a mesma situação, até porque, como mencionei
anteriormente, as dimensões dos direitos fundamentais não podem ser vistas como
direitos de início e fim, mas como direitos que se complementam e que não
permitem a existência de uma hierarquia entre os direitos fundamentais. Daí, diante
de um caso concreto, no qual vários direitos fundamentais incidem sobre a mesma
situação, poderia haver uma restrição de um desses direitos em relação ao outro?
Tal situação acontece freqüentemente com relação ao direito da pessoa humana ter
um ambiente equilibrado e sadio, consagrado na terceira dimensão dos direitos
fundamentais e o direito ao desenvolvimento social, econômico e outras formas
desse direito, que também é um direito fundamental de terceira dimensão e que é
essencial ao homem e a sua qualidade de vida, tanto quanto o direito ao ambiente
equilibrado.
Diante dessas situações que apresentam possíveis conflitos ou
colisões entre direitos fundamentais, seria possível e adequado resolver questões
mediante uma restrição desses direitos? Deve-se compatibilizar a incidência de
todos os direitos fundamentais que possivelmente podem ser aplicados a
determinado caso concreto, pois, da mesma forma que não são absolutos, também
vislumbro que não podem ser totalmente expurgados de sua aplicação. Assim,
certos direitos que a princípio aparecem como antagônicos devem ser arrumados
através de uma interpretação que possibilite a aplicação de todos os direitos de
forma restringida.197
Dessa forma, Alexy aduz que existem duas formas de
apresentação do direito. Uma delas é o direito em si em que não há nenhuma
restrição e que aparentemente deve ser aplicado em sua totalidade, e a outra forma
seria o direito restringido que é o substrato do direito após a incidência de diversos
outros direitos que também podem incidir em determinado caso. Assim, a título de
exemplo para um melhor esclarecimento, entendo que o direito ao ambiente
apresentam de forma absoluta é José Carlos Vieira de Andrade que menciona em sua obra (ANDRADE, José
Carlos Vieira de. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976, 2ª ed., Coimbra: Almedina,
2001, p. 275), que os direitos fundamentais não podem ser considerados como absolutos, uma vez que é
inevitável os conflitos entre tais direitos na incidência de um caso concreto e também os mesmo direitos devem
ser limitados para que todos possam tê-los.
80
ecologicamente sadio pode ser considerado como um direito em si, enquanto que a
possibilidade de exercer alguma atividade que venha a impactar o ambiente, quando
permitida, no qual ocorra incidência de diversos direitos, que também são
essenciais, como o direito a economia, fez com que houvesse uma restrição da
proteção ambiental, correspondendo assim, ao direito restringido. Tal concepção,
segundo Alexy, advém da teoria externa dos limites dos direitos fundamentais, a
qual diz que deve haver uma compatibilização de todos os possíveis direitos
incidentes à determinada situação, de forma que concilie todos os interesses e
direitos dos indivíduos e da coletividade.198 Através dessa teoria, o intérprete inicia
seu trabalho a partir da identificação dos direitos incidentes e depois deve observar
os limites de tais direitos, que são marcados por meio de fatores externos. Tal teoria
parte da concepção da existência de conflitos e colisões de direitos fundamentais e
visualiza que o método da ponderação é o adequado para solucionar os possíveis
conflitos existentes, pois entende que esses direitos são princípios e se apresentam,
não de forma definitiva, mas uma primeira imagem do direito e que posteriormente
essa norma passa a ser restringida e aplicada. Com isso, para essa teoria os direitos
fundamentais não podem ser admitidos como regras, mas somente como
princípios.199
Outra teoria dos limites dos direitos fundamentais é a interna,
que considera que não existem duas formas de apresentação do direito, conforme
afirma a teoria anterior, mas somente uma, na qual o limite do direito fundamental é
extraído do seu próprio conceito, dessa forma, segundo Alexy, “el concepto de
restricción es sustituido por el de limite”.200 Para tal teoria não existem conflitos e
colisões de direitos fundamentais e, por tal, não deve-se utilizar o método
ponderativo para a concretização do direito concreto, devendo o intérprete somente
realizar um trabalho de adequação do fato à norma após a identificação do conteúdo
197
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 134.
198
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 268. Si la relación entre derecho y restricción ha de ser definida de esta manera,
entonces existe, primero, el derecho en sí, que no está restringido, y, segundo, lo que queda del derecho
restringido. Esta es la teoría que suele ser llamada – por lo general, con intención crítica – “teoría externa”. La
teoría externa puede, por cierto, admitir que en los ordenamientos jurídicos los derechos se presentan primordial
o exclusivamente como derechos restringidos pero, tiene que insistir en que también son concebibles derechos
sin restricciones. Por ello, según la teoría externa, no existe ninguna relación necesaria entre el concepto de
derecho y el de restricción. La relación es creada sólo a través de una necesidad externa al derecho, de
compatibilizar los derechos de diferentes individuos como así también los derechos individuales y los bienes
colectivos.
199
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 151.
200
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 268-269.
81
201
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 141.
202
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976, 2ª ed.,
Coimbra: Almedina, 2001, p. 297. O limite ao poder legislativo residirá, então, em não poder ele atentar contra
as exigências (mínimas) de valor que, por serem a projecção da idéia de dignidade humana, constituem o
fundamento (a essência) de cada preceito constitucional nesta matéria. O que o legislador não pode, sob pena de
ultrapassar este limite absoluto, é destruir ou restringir gravemente a liberdade física em geral ou a intimidade do
cidadão comum. Não pode é subverter ou desfigurar o valor e a garantia constitucionais ínsitos em cada um dos
diversos preceitos relativos aos direitos fundamentais.
203
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 140.
82
204
ALEXY, Robert. Op. cit., p. 275. Hasta ahora, el concepto de restricción de derecho fundamental ha sido
definido sólo para las reglas. Pero, también principios pueden ser restricciones de derechos fundamentales.
Cuando el Tribunal Constitucional Federal dice que “derechos fundamentales de terceros que entren en colisión
y otros valores jurídicos de rango constitucional” pueden limitar derechos fundamentales, se refiere a
restricciones de derechos fundamentales que tienen el carácter de principios. Desde luego, por sí solos, tales
principios restringentes no pueden colocar al individuo en determinadas posiciones definitivamente restringidas
(no-libertades, no-derechos). Para llegar a restricciones definitivas, se requiere una ponderación entre el
83
respectivo principio de derecho fundamental y el (los) principio(s) que lo restringe(n). por ello, podría pensarse
que sólo las reglas – que, de acuerdo con la ley de colisión, representan el resultado de la ponderación – y no los
principios pueden ser restricciones. Esta concepción equipararía, en un cierto sentido, los principios, en tanto
meros creadores potenciales de restricciones, con las normas de competencia. Sin embargo, en contra de una
equiparación tal existe un argumento importante. Principios contrapuestos restringen materialmente las
posibilidades jurídicas de la realización de principios iusfundamentales. Si no tuvieran vigencia los principios
contrapuestos o si no tuvieran rango constitucional, aquellas posibilidades serían más amplias. Por ello, el
problema no es el carácter de restricciones sino la constatación del alcance de su restricción definitiva.
205
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Op. cit., p. 281.
84
dessa questão é que existem limites imanentes206 dos direitos fundamentais e estes
só poderão ser identificados durante a interpretação do caso e, principalmente, nas
questões de cunho ambiental. Tal interpretação, feita através de limites imanentes, é
muito relevante, tendo em vista que a participação popular é fundamental para as
intervenções nos bens ambientais, pois são os homens os titulares dos direitos
fundamentais, e, assim, podem flexibilizá-los e isso é feito a partir dos limites de
proteção que aquela população deseja impor à proteção dos direitos
fundamentais.207 É evidente que o grau de participação e os legitimados para
participar das decisões que poderão flexibilizar os direitos fundamentais fica adstrito
ao nível de impacto possível daquela atividade, caso contrário, uns poderão
sacrificar a qualidade de vida de alguns em prol da sua, o que também não deve ser
tolerado, devendo existir um equilíbrio.
Diante do exposto acima, as restrições aos direitos
fundamentais podem ocorrer através de três tipificações208, visto que podem ser
diretamente constitucionais quando a restrição encontra-se expressamente no texto
constitucional, como é o caso do inciso VI do artigo 170 da Constituição Federal de
1988, também podem ser indiretamente constitucional quando estabelecido por lei
inferior à Constituição, mas quando esta permite que uma lei de status inferior possa
restringir ou limitar direitos fundamentais, conforme pode ser visualizado no inciso IV
do artigo 225 também da Constituição Federal de 1988, ela determina que a lei
inferior venha a delimitar o nível de exigência para que se possa exigir o estudo de
impacto ambiental, caso contrário, todas as atividades teriam o dever jurídico de
realizar o referido estudo, pois todas causam um impacto ambiental, necessitando
que se identifique quais podem causar significativa degradação ambiental e, por fim,
206
Importante salientar que os limites imanentes devem ter uma demarcação que seria o limite de não violação
de um direito em favor de outro, dessa forma, um direito não poderia, através de uma interpretação, ser tão
amplo ao ponto de causar o esvaziamento de outro direito, deve existir um limite mínimo de proteção aos
direitos incidentes que é o que Vieira Andrade chama de “limites da não-pertubação” em sua obra. (ANDRADE,
José Carlos Vieira de. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976, p. 286.)
207
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Op. cit., p. 284. No entanto, haverá limites imanentes dos direitos
fundamentais que só são determináveis por interpretação, pelo facto de estarem apenas implícitos no
ordenamento constitucional. Se é mais ou menos fácil saber qual o bem jurídico ou a esfera da realidade que o
preceito visa abranger através de um direito fundamental, já é muitas vezes difícil determinar os contornos da
respectiva protecção, sobretudo quando o seu exercício se faça por modos atípicos ou em circunstâncias
especiais, que afetam, de uma maneira ou de outra, valores comunitários ou outros direitos também
constitucionalmente protegidos.
208
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Op. cit., p. 1143. e ALEXY, Robert. Op. cit., p. 276-286. Importante
ressaltar que para Alexy os tipos de restrições são as diretamente constitucionais sendo estas divididas nas
expressas e tácitas e as indiretamente constitucionais.
85
através dos limites imanentes não expressos nas Constituições, já que é a inclusão
de valores que buscam salvaguardar o núcleo fundamental da proteção do direito.
Dessa forma, de grande importância para este estudo, é
observar que a Constituição Federal Brasileira de 1988 não restringiu diretamente
nem indiretamente a competência dos entes da federação no que tange à proteção e
defesa do ambiente, tendo em vista que o artigo 23 do ordenamento constitucional
estabelece uma competência comum e, em seu parágrafo único, disciplina que lei
complementar fixará normas de cooperação, o que não pode ser considerada como
uma restrição que permita excluir algum dos entes da proteção ambiental, o que
contribui, com a possibilidade do Município no seu dever constitucional de proteção
e defesa ambiental, estabelecer o licenciamento ambiental municipal, visto que
considero que somente a Constituição poderia excluir a utilização desse instrumento
pelos Municípios.
209
COMANDUCCI, Paolo. Formas de (Neo)Constitucionalismo: Un Análisis Metateórico. In: CARBONELL,
Miguel. (Org). Neoconstitucionalismo(s). Madrid: Editorial Trota, 2003. p. 75. Me parece oportuno subrayar
86
como Luis Prieto Sanchís, que visualiza, através de três acepções, mas, que na
verdade, representa o mesmo conteúdo da divisão feita anteriormente, sendo que o
autor preferiu dividir em dois o significado ao afirmar que o neoconstitucionalismo
pode ser visto como uma teoria ou ideologia, uma ideologia pode apresentar
diferentes níveis ou projeções.210
Através do neoconstitucionalismo modifica-se o lugar das
normas constitucionais, passando estas a ocupar posição suprema no ordenamento
jurídico do Estado e, ao mesmo tempo, as normas passam a proteger direitos dos
indivíduos e também da coletividade. A Constituição tem um papel de coordenadora
entre as questões sociais e políticas do Estado, devendo concretizar, de forma
igualitária, tanto os direitos individuais como os políticos do cidadão, e este passa a
influenciar no desenvolvimento de um Estado Democrático de Direito.211 Ainda, o
novo constitucionalismo é um projeto político para os indivíduos, através de
diretrizes e programas a serem efetivados, e dependendo da necessidade da
efetivação desses programas, passam as normas que representam a terem eficácia
mais emergente e imediata, uma vez que os indivíduos, que são participantes do
processo político, passam a exigir a participação na formação e efetivação das
normas que os conduzirão.212 A Constituição deixa de ser somente texto que
estabelece a formação do Estado e passa a orientar a condução dele, através da
proteção de direitos fundamentais com a inclusão de princípios e regras que
conduzirão toda a interpretação do ordenamento jurídico e, principalmente,
desde el inicio, a fin de evitar ambigüedades en el análisis que me propongo cumplir, el doble significado
vehiculado por los términos «constitucionalismo» y «neoconstitucionalismo». Designan, en una primera
acepción, una teoría y/o una ideología y/o un método de análisis del derecho. En una segunda acepción designan,
en cambio, algunos elementos estructurales de un sistema jurídico y político, que son descritos y explicados por
el (neo)constitucionalismo como teoría, o que satisfacen los requisitos del (neo)constitucionalismo como
ideología. En esta segunda acepción «constitucionalismo» y «neoconstitucionalismo» designan un modelo
constitucional, o sea el conjunto de mecanismos normativos e institucionales, realizados en un sistema jurídico-
político históricamente determinado, que limitan los poderes del Estado y/o protegen los derechos
fundamentales.
210
SANCHÍS, Luis Prieto. Neoconstitucionalismo y Ponderación Judicial. In: CARBONELL, Miguel. (Org).
Neoconstitucionalismo(s). Madrid: Editorial Trota, 2003. p. 137. Creo que son tres las acepciones principales.
En primer lugar, el constitucionalismo puede encarnar un cierto tipo de Estado de Derecho, designado por tanto
el modelo institucional de una determinada forma de organización política. En segundo término, el
constitucionalismo es también una teoría del Derecho, más concretamente aquella teoría apta para explicar las
características de dicho modelo. Finalmente, por constitucionalismo cabe entender también la ideología que
justifica o defiende la fórmula política así designada.
Aquí nos ocuparemos preferentemente de algunos aspectos relativos a las dos primeras acepciones, pero
conviene decir algo sobre a tercera. En realidad, el (neo)constitucionalismo como ideología presenta diferentes
niveles o proyecciones.
211
Ibidem, p. 124-125.
212
VERDÚ. Pablo Lucas. Op. cit., p. 5.
87
atribuindo ao texto constitucional uma vida, tendo em vista que este passa a
representar um valor em si mesmo, o que diferencia do constitucionalismo
tradicional.213
Com o advento da Constituição Federal de 1988, o Brasil
passa a inserir, no texto constitucional, os princípios e regras de direito ambiental
que, anteriormente, apesar de ser um direito materialmente constitucional, uma vez
que trata-se de um direito fundamental e, assim, essencial aos seres humanos, não
se encontravam positivados no texto constitucional. E, com a inserção explícita e
impressa, esse direito, segundo a concepção neoconstitucional, passa a influenciar
todo o ordenamento jurídico, obrigando que as interpretações jurídicas, que passem
a considerar os aspectos ambientais para a definição dos direitos, modificando as
interpretações realizadas antes da positivação e do neocontitucionalismo. Saliento
que anteriormente esse direito não tinha uma fundamentação constitucional e
também não irradiava o ordenamento jurídico como um todo ao atribuir um valor
através de seus princípios e regras ao ordenamento jurídico infraconstitucional.
Um exemplo evidente dessa nova interpretação constitucional é
a que se refere à propriedade e sua função social, na qual está inserida a proteção
ambiental214. Da mesma forma que a Constituição e o ordenamento
infraconstitucional protegem o direito à propriedade também estabelecem limitações
a tal direito por meio de uma fundamentação também constitucional.215 A partir
dessa nova concepção da interpretação judicial, na qual o ambiente está inserido, o
213
COMANDUCCI, Paolo. Formas de (Neo)Constitucionalismo: Un Análisis Metateórico. In: CARBONELL,
Miguel. (Org). Op. cit., p. 84. En el primero modelo «Constitución» designa un conjunto de reglas jurídicas
positivas, contenidas en un documento o consuetudinarias, que son, respecto a las otras reglas jurídicas,
fundamentales (y por tanto fundantes del entero ordenamiento jurídico y/o jerárquicamente superiores a las otras
reglas).
En el segundo modelo «Constitución» designa un conjunto de reglas jurídicas positivas, contenidas en un
documento o consuetudinarias, que son, respecto a las otras reglas jurídicas, fundamentales (y por tanto
fundantes del entero ordenamiento jurídico y/o jerárquicamente superiores a las otras reglas) – hasta aquí se
recalca la definición precedente - , «a condición de que tengan determinados contenidos a los que se atribuye un
especial valor». En este modelo, como afirma Dogliani, la Constitución está «cargada de un valor intrínseco: la
Constitución es un valor en sí».
214
Outro exemplo da modificação da concepção de propriedade a partir de uma interpretação fundada pelo
neoconstitucionalismo, no qual as normas constitucionais passam a impregnar todo o direito infraconstitucional,
são as unidades de conservação, que correspondem à área de especial interesses ambientais, que são instituídas
em áreas privadas, nos quais houve não uma modificação do direito do proprietário sobre determinada área, mas
sim no seu exercício, (ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental, 7ª ed., Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004, p.
621-625.) até porque ele continua sendo proprietário, mas com ônus especiais pela característica da área para a
coletividade. Assim, nas unidades de conservação como: Reserva Particular do Patrimônio Natural; Área de
Relevante Interesse Ecológico; Áreas de Proteção Ambiental; Refúgio de Vida Silvestre e Monumento Natural
devem conciliar os interesses particulares, dentre estes o de exploração econômica, com os interesses públicos.
215
COMANDUCCI, Paolo. Formas de (Neo)Constitucionalismo: Un Análisis Metateórico. In: CARBONELL,
Miguel. (Org). Op. cit., p. 132.
88
216
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada. In: GRAU,
Eros Roberto. e CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Estudos de Direito Constitucional, São Paulo: Malheiros, 2003.
217
SANCHÍS, Luis Prieto. Neoconstitucionalismo y Ponderación Judicial. In: CARBONELL, Miguel. (Org).
Op. cit., p. 126-127.
218
Ibidem, p. 128-129. Constituciones garantizadas sin contenido normativo y Constituciones con un más o
menos denso contenido normativo, pero no garantizadas. En cierto modo, éste es el dilema que viene a resolver
el neoconstitucionalismo, apostando por una conjugación de ambos modelos: Constituciones normativas
garantizadas. Que una Constitución es normativa significa que, además de regular la organización del poder y las
fuentes del Derecho – que son os aspectos de una misma realidad – genera de modo directo derechos y
obligaciones inmediatamente exigibles. Los documentos jurídicos adscribibles al neoconstitucionalismo se
caracterizan, efectivamente, porque están repletos de normas que les indican a los poderes públicos, y con ciertas
matizaciones también qué deben hacer. Y dado que se trata de normas y más concretamente de normas
supremas, su eficacia ya no depende de la interposición de ninguna voluntad legislativa, sino que es directa e
inmediata. A su vez, el carácter garantizado de la Constitución supone que sus preceptos pueden hacerse valer a
través de los procedimientos jurisdiccionales existentes para la protección de los derechos: la existencia de un
Tribunal Constitucional no es, desde luego, incompatible con el neoconstitucionalismo, pero sí representa un
residuo de otra época y de otra concepción de las cosas, en particular de aquella época y de aquella concepción
(kelseniana) que hurtaba el conocimiento de la Constitución a los jueces ordinarios, justamente por considerar
que aquélla no era una verdadera fuente del Derecho, sino una fuente de las fuentes, cuyos conflictos habían de
dirimirse ante un órgano especialísimo con un rostro mitad político y mitad judicial. Pero si la Constitución es
una norma de la que nacen derechos y obligaciones en las más diversas esferas de relación jurídica, su
89
conocimiento no puede quedar cercenado para la jurisdicción ordinaria, por más que la existencia de un Tribunal
Constitucional imponga complejas y tensas fórmulas de armoniazación.
219
COMANDUCCI, Paolo. Formas de (Neo)Constitucionalismo: Un Análisis Metateórico. In: CARBONELL,
Miguel. (Org). Op. cit., p. 87. El neoconstitucionalismo metodológico sostiene por el contrario – al menos
respecto a situaciones de Derecho constitucionalizado, donde los principios constitucionales y los derechos
fundamentales constituirían un puente entre Derecho y moral – la tesis de la conexión necesaria, identificativa
y/o justificativa, entre Derecho y moral.
220
SANCHÍS, Luis Prieto. Neoconstitucionalismo y Ponderación Judicial. In: CARBONELL, Miguel. (Org).
Op. cit., p. 131-132.
90
221
PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 217-218.
222
BRASIL, Conselho Nacional de Meio Ambiente, Resolução 01 de 17 de fevereiro de 1986, Dispõe sobre
critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Disponível em:
<http://www.conama.org.br>. Acesso em 18 de out. 2007. Art. 1o Para efeito desta Resolução, considera-se
impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada
por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.
223
Tal situação pode ser vislumbrada através do número excessivo de construções em áreas de preservação
permanente, tendo como exemplo a situação dos moradores da localidade de Rio Preto, distrito do Município de
Campos dos Goytacazes - RJ, no qual grande parte dos moradores encontram-se localizados na faixa marginal do
rio Paraíba do Sul e que os mesmos estabeleceram suas vidas naquele local há décadas e atualmente encontram-
se em conflito devido estarem em uma área irregular ambientalmente e por tal foram autuados pela Secretaria
Municipal do Meio Ambiente e são investigados pelo Ministério Público Estadual, conforme se comprova pelos
autos de infração lavrados, (BRASIL, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Campos dos Goytacazes – RJ,
Auto(s) de Infração (ões) nº(s) 2151; 2209; 2208; 2207; 2206; 2205; 2204; 2203; 2202; 3338; 3445; 2201.
Acesso em: 09 de nov. 2007.). Observo clara colisão entre direitos fundamentais, uma vez que ao mesmo tempo
em que não podem estar na área ambientalmente protegida, também não podem ser despejadas e suas casas
derrubadas, ficando sem moradia.
91
224
LARENZ, Karl. Op. cit., p. 491.
225
Ibidem, p. 413.
226
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada. In: GRAU,
Eros Roberto. e CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Estudos de Direito Constitucional, São Paulo: Malheiros, 2003, p.
106. Não se trata apenas de policiar os perigos das “instalações” ou das “actividades”, mas também de
acompanhamento todo do processo produtivo e de funcionamento sob um ponto de vista ambiental. A imposição
de um direito ambiental integrativo obriga, em segundo lugar, à passagem de uma compreensão monotemática
para um entendimento multitemático que obriga a uma ponderação ou balanceamento dos direitos e interesses
existentes de uma forma substancialmente inovadora. Assim, a concepção integrativa obrigará a uma avaliação
integrada de impacto ambiental incidente não apenas sobre projectos públicos ou privados isoladamente
considerados, mas sobre os próprios planos (planos directores municipais, planos de urbanização). Isto implica
uma notável alteração das relações entre as dimensões ambientais e as dimensões urbanísticas. Em terceiro lugar,
um direito de ambiente integrativo produz conseqüências no modo de actuação dos instrumentos jurídicos do
Estado de Direito Ambiental.
92
tradicional227, uma vez que a vinculação entre a norma e o fato apresenta diversas
decisões válidas e de mesma hierarquia, não permitindo a exclusão de uma norma
em favor de outra, pois apresentam a mesma força normativa, como é o caso dos
direitos fundamentais em colisão, eles são normas da mesma hierarquia e força
normativa, não podendo ser excluída uma norma fundamental em prol de outra,
tendo em vista que todas protegem bens e valores essenciais à existência do
homem.228 Assim, é uma técnica que visa atribuir a melhor medida de efetividade
das normas em colisão, através de critérios materiais para a orientação do
intérprete, evitando que exista uma arbitrariedade na solução dos casos a serem
ponderados e, para tal, é necessária a inclusão de princípios materialmente
constitucionais fundamentais para que se obtenha uma solução proporcional e
razoável ao caso.229 Ávila afirma que a ponderação pode ser uma técnica que busca
delimitar a abrangência das normas indefinidas que também podem ser
apresentadas como regras de modo que a técnica irá auxiliar o intérprete para que
este possa demarcar o âmbito da regra posta e ainda é utilizada em processos nos
227
SANCHÍS, Luis Prieto. Neoconstitucionalismo y Ponderación Judicial. In: CARBONELL, Miguel. (Org).
Op. cit., p. 137. Desde luego, no de todas: no de aquellas que puedan resolver-se mediante alguno de los criterios
al uso, jerárquico, cronológico o de especialidad.
228
BARCELLOS, Ana Paula de. Alguns Parâmetros Normativos para a Ponderação Constitucional. In:
BARROSO, Luis Roberto. A Nova Interpretação Constitucional, Rio de Janeiro: Renovar: 2003, p. 55. De
Forma muito geral, a ponderação pode ser descrita como uma técnica de decisão própria para os casos difíceis
(do inglês hard cases), em relação aos quais o raciocínio tradicional da subsunção não é adequado. A estrutura
geral da subsunção pode ser descrita da seguinte forma: premissa maior – enunciado normativo – incidindo sobre
a premissa menor – fatos – e produzindo como conseqüência a aplicação da norma ao caso concreto. O que
ocorre comumente nos casos difíceis, porém, é que convivem, postulando aplicação, diversas premissas maiores
igualmente válidas e de mesma hierarquia que, todavia, indicam soluções normativas diversas e muitas vezes
contraditórias. A subsunção não tem instrumentos para produzir uma conclusão que seja capaz de considerar
todos os elementos normativos pertinentes; sua lógica tentará isolar uma única norma para o caso. e PEREIRA,
Jane Reis Gonçalves. Op. cit., p. 261. O vocábulo ponderação, em sua acepção mais correta, significa a operação
hermenêutica pela qual são contrabalançados bens ou interesses constitucionalmente protegidos que se
apresentem em conflito em situações concretas, a fim de determinar, à luz das circunstâncias do caso, em que
medida cada um deles deverá ceder ou quando seja o caso, qual deverá prevalecer.
229
SANCHÍS, Luis Prieto. Neoconstitucionalismo y Ponderación Judicial. In: CARBONELL, Miguel. (Org).
Op. cit., loc. cit. De las distintas acepciones que presenta el verbo “ponderar” y el sustantivo “ponderación” en el
lenguaje común, tal vez la que mejor se ajusta al uso jurídico es aquella que hace referencia a la acción de
considerar imparcialmente los aspectos contrapuestos de una cuestión o el equilibrio entre el peso de dos cosas.
(…) Ponderar es, pues, buscar la mejor decisión (la mejor sentencia, por ejemplo) cuando en la argumentación
concurren razones justificatorias conflictivas y del mismo valor. ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios, 6ª
ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 130-131. A ponderação de bens consiste num método destinado a atribuir
pesos e elementos que se entrelaçam, sem referência a pontos de vista materiais que orientem esse sopesamento.
Fala-se, aqui e acolá, em ponderação de bens, de valores, de princípios, de fins, de interesses. Para este trabalho
é importante registrar que a ponderação, sem uma estrutura e sem critérios materiais, é instrumento pouco útil
para a aplicação do Direito. É preciso estruturar a ponderação com a inserção de critérios. Isso fica evidente
quando se verifica que os estudos sobre a ponderação invariavelmente procuram estruturar a ponderação com os
postulados de razoabilidade e de proporcionalidade e direcionar a ponderação mediante utilização dos princípios
constitucionais fundamentais. Nesse aspecto, a ponderação, como mero método ou idéia geral despida de
critérios formais ou materiais, é muito mais ampla que os postulados da proporcionalidade e da razoabilidade.
93
230
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios, 6ª ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 57. Afirma o autor que
“atividade de ponderação de regras verifica-se na delimitação de hipóteses normativas semanticamente abertas
ou de conceitos jurídicos-políticos, como Estado de Direito, certeza do Direito, democracia. Nesses casos o
intérprete terá de examinar várias razões contra e a favor da incidência da regra, ou investigar um plexo de
razões para decidir quais elementos constituem os conceitos jurídicos-políticos.” e BARCELLOS, Ana Paula de.
Alguns Parâmetros Normativos para a Ponderação Constitucional. In: BARROSO, Luis Roberto. Op. cit., p. 91.
O exemplo mais evidente dessa situação é dado pelas regras que contém conceitos jurídicos indeterminados ou
cláusulas de indeterminação de outra natureza – como “mulher honesta”, “relevante interesse social”, dentre
outros. Nessas hipóteses, muitas vezes é possível superar o conflito externo da regra com outras normas
dependendo do sentido que se atribua ao conceito jurídico indeterminado nela contido.
231
ANTUNES, Paulo Bessa. Op. cit., p. 58.
232
SARMENTO, Daniel. Colisões entre Direitos Fundamentais e Interesses Público. In: SARMENTO, Daniel e
Galdino, Flavio (orgs). Direitos Fundamentais: Estudos em Homenagem ao Professor Ricardo Lobo Torres, Rio
de Janeiro: Renovar, 2006, p. 294. A doutrina e a jurisprudência dominantes, no Brasil e no Direito Comparado,
admitem também a realização de restrições a direitos fundamentais operadas no caso concreto, através de
ponderação de interesses feitas diretamente pelo Poder Judiciário, em casos de conflitos entre princípios
constitucionais não solucionados previamente pelo Legislativo, ou quando o equacionamento da questão
empreendido por ele se revele inconstitucional. Em algumas hipóteses, tem-se aceitado até mesmo a ponderação
de interesses feita diretamente pela Administração Pública.
94
toma uma decisão233, obtida pela ponderação em outorgar ou não a licença para a
atividade ou empreendimento.
Mas parece claro que a Administração Pública poderá utilizar-
se da técnica da ponderação para a solução dos conflitos e colisões de direitos, já
que ela também é um intérprete do ordenamento jurídico e, por conseguinte, pode
utilizar-se de tal técnica que vem para auxiliar os métodos tradicionais que
demonstram como conseguir solucionar esses casos difíceis. Peter Häberle, em uma
de suas obras234, deixa evidente que todos os que vivem a Constituição são
legítimos intérpretes da mesma e não pode existir uma relação predeterminada de
intérpretes, pois estes podem ser grupos organizados, órgãos públicos e os
cidadãos.235 Com isso, todos esses atores podem e devem-se utilizar da técnica da
ponderação para efetivar a interpretação do ordenamento jurídico.
A aplicação da técnica pela Administração Pública no processo
de licenciamento ambiental deve seguir por etapas para que o intérprete possa
acompanhar criteriosamente todos os aspectos relevantes, até porque pode ocorrer
um conflito entre a efetivação dos direitos fundamentais e o interesse público
existente em determinada coletividade, pois o conceito de interesse público é
altamente indeterminado e, ao mesmo tempo, um conflito entre os direitos
fundamentais e o interesse público pode gerar sérios problemas, visto que os
primeiros devem ser efetivados independente da vontade da sociedade, ao mesmo
tempo, os interesses públicos que, muitas vezes correspondem à efetivação dos
direitos fundamentais, podem não corresponder a maior efetivação de um direito em
prol de outro para determinada sociedade.236 Assim, é totalmente justificada a
aplicação da técnica da ponderação pela Administração Pública, dividindo em três
233
BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, Racionalidade e Atividade Jurisdicional, Rio de Janeiro: Renovar,
2005, p. 27. Ponderação, nesse sentido, é a atividade pela qual se avaliam não apenas enunciados normativos ou
normas, mas todas as razões e argumentos relevantes para o discurso, ainda que de outra natureza (argumentos
morais, políticos, econômicos etc.) e LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. 5ª ed., Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1983, p. 501.
234
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional, Op. cit., p. 13.
235
Idem. Propõe-se, pois, a seguinte tese: no processo de interpretação constitucional estão potencialmente
vinculados todos os órgãos estatais, todas as potências públicas, todos os cidadãos e grupos, não sendo possível
estabelecer-se um elenco cerrado ou fixado com numerus clausus de intérpretes da Constituição.
236
Mais adiante, quando tratar da participação, a Sociedade Civil na identificação dos objetos do licenciamento
ambiental municipal, poderei esclarecer melhor a atuação da sociedade na efetivação dos direitos fundamentais
de forma que a mesma possa influenciar no grau de efetivação dos direitos essenciais para a sobrevivência com
dignidade humana. De forma que Daniel Sarmento em sua obra: (SARMENTO, Daniel. Colisões entre Direitos
Fundamentais e Interesses Público. In: SARMENTO, Daniel e Galdino, Flavio (orgs). Direitos Fundamentais:
Estudos em Homenagem ao Professor Ricardo Lobo Torres, Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 297) expõe com
bastante clareza os possíveis conflitos que podem surgir entre os direitos fundamentais e o interesse público.
95
237
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 188-189. De outra parte, deixa o cidadão de ser mero titular (passivo) de um
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e passa também a ter a titularidade de um dever, o “de
defendê-lo e preservá-lo”. Estabelece-se, nesse ponto, claramente uma relação jurídica do tipo denominado em
doutrina “função”.
238
Ibidem, p. 188. (...) cria-se para o Poder Público um dever constitucional, geral e positivo, representado por
verdadeiras obrigações de fazer, isto é, de zelar pela defesa (defender) e preservação (preservar) do meio
ambiente. Não mais tem o Poder Público uma mera faculdade na matéria, mas está atado por verdadeiro dever.
Quanto à possibilidade de ação positiva de defesa e preservação, sua atuação transforma-se de discricionária em
vinculada.(...)
96
Assim, posso ver o próprio artigo 170 da Constituição que visa a desenvolver uma
adequada ordem econômica fundada na livre iniciativa, o direito à saúde do artigo
196, da moradia, do artigo 6º e tantos outros.
Ana Paula Barcellos aduz que, nessa fase, deve o intérprete
preocupar-se em não confundir os interesses em questão com enunciados
normativos. Com isso, os interesses existentes só podem ser considerados em tal
fase se puderem ser vislumbrados a partir de um determinado enunciado normativo
seja ele explícito ou implícito.239 Para uma correta utilização da técnica da
ponderação, não se pode, na etapa em evidência, considerar enunciados que não
podem ser jurisdicizados e é nesse momento que o intérprete, no licenciamento
ambiental, deve identificar os princípios que estão envolvidos nos casos, princípios
estes como os que foram expostos no capítulo anterior como a responsabilidade,
prevenção, precaução, dignidade da pessoa humana, participação e outros, como
também devem ser identificados os princípio referentes ao direito aparentemente
conflitante.
Evidente que se torna muito abstrata a identificação como foi
feita nos parágrafos acima, uma vez que falta o caso concreto para que se possa
iniciar a identificação dos enunciados normativos que incidem naquela situação e
que podem estar em conflito, até porque um princípio abstrato pode não se
apresentar em conflito com outros, mas, diante do caso concreto, observa-se a
conflitualidade existente, conforme afirma Luis Prieto Sanchís.240 Então, para melhor
visualização da questão, utilizarei um julgado do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio Grande do Sul241, no qual o litígio versava sobre o interesse pela desativação de
um lixão, demonstrado pelo autor da ação popular contra o Município de Tapes, já
que o respectivo lixão causava danos ao ambiente. Ocorre que, como pode ser visto
no julgado, o Município alegava que o “lixão” tratava-se de um aterro controlado e
239
BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, Racionalidade e Atividade Jurisdicional, Op. cit., p. 96-97. Em
outras palavras, é comum que a primeira coisa a captar a atenção de quem esteja examinando o caso sejam as
conveniências dos envolvidos, seus interesses e, de forma geral, a justiça ou injustiça de suas pretensões. Não
obstante isso, quando se vai iniciar a primeira fase da ponderação, interesses genericamente considerados só
podem ser levados em conta se puderem ser reconduzidos a enunciados normativos explícitos ou implícitos.
240
SANCHÍS, Luis Prieto. Neoconstitucionalismo y Ponderación Judicial. In: CARBONELL, Miguel. (Org).
Op. cit., p. 147. Lo que ocurre es que la ponderación resulta um procedimiento idóneo para resolver casos donde
entran en juego principios tendencialmente contradictorios que en abstracto pueden convivir sin dificultad, como
pueden convivir – es importante destacarlo – las respectivas leyes que constituyen una especificación o
concreción de tales principios.
241
BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Agravo de Instrumento Nº 70008935074,
Quarta Câmara Cível, Relator: Des. Vasco Della Giustina, j. 18/08/2004, Disponível em:
<http://www.tj.rs.gov.br>. Acesso em: 26 de out. de 2007.
97
que se encontrava legalmente instalado, pois estava licenciado pelo órgão ambiental
competente e cumpria as determinações legais impostas, visto que somente eram
depositados no local lixo doméstico, conforme foi determinado. Ficou ainda
demonstrado, nos autos do processo, que a situação do “lixão” era ruim, chegando a
se falar em situação de calamidade pública devido à má disposição do lixo, o que
comprova que a atividade estava causando danos ambientais. Mas por outro lado, o
Município também não tinha outro local adequado e legalizado para a disposição
dos resíduos coletados pela cidade e, caso não pudesse depositá-los no respectivo
local, os referidos resíduos ficariam pelas ruas da cidade sem serem coletados por
falta de lugar para depósito final. Evidente que existe um conflito no caso em
questão, no qual posso identificar preliminarmente dois enunciados normativos, que
é da preservação do ambiente equilibrado e sadio, o que faz com que a atividade
seja interrompida e o enunciado no qual garante o direito à saúde para todos e o
dever do Estado em efetivar esse direito que ficaria violado, caso o Município ficasse
sem coleta de lixo na cidade.
Assim, a Administração Pública, que tem o poder-dever de
executar o licenciamento ambiental, deverá identificar todos os enunciados
normativos que possivelmente possam estar em conflito, exercendo, dessa forma, a
primeira etapa da técnica da ponderação, para que a mesma tenha um parâmetro
dos direitos que estão envolvidos com aquela atividade ou empreendimento que
busca a licença ambiental para sua implantação.
Após a identificação dos enunciados normativos incidentes no
caso concreto, que possivelmente têm conflitos de direitos e que necessita da
técnica da ponderação, inicia-se a segunda etapa, que é a identificação dos fatos
relevantes que o caso apresenta. Daí percebe-se que a técnica da ponderação
somente pode ser realizada diante de casos concretos, ou até mesmo hipotéticos,
mas o mesmo não tem como acontecer em casos abstratos, tendo em vista que não
existirão os fatos relevantes a serem identificados e, por sua vez, não se poderá
saber quais as repercussões que advirão.242 Nesse momento, a identificação tanto
dos enunciados normativos quanto dos fatos relevantes, é feita de forma separada
sem que haja uma interação entre eles. Mas antes da identificação dos fatos
relevantes, que é o principal trabalho da segunda etapa, é necessário que o
intérprete saiba o que pode ser considerado como fato relevante para que possa ser
98
ponderado. Assim, para Ana Paula Barcellos, os fatos relevantes podem ser
considerados através de dois fundamentos243, nos quais o primeiro é apresentado
pelo senso comum construído pela sociedade por meio de sua história, tradições e
principalmente a partir da construção de determinada sociedade. Com isso, um fato
relevante para uma determinada localidade pode não ser para outra, tendo em vista
que as sociedades que estarão inseridas nos fatos é que podem considerar
relevantes ou não. De grande importância é para o licenciamento ambiental
municipal a identificação dos fatos relevantes pela sociedade, uma vez que esta é
que deve ser a responsável na identificação dos objetos a serem licenciados,
conforme irei tratar mais detalhadamente adiante. O segundo fundamento para a
identificação dos fatos relevantes é a própria disposição normativa que faz concluir
que determinados fatos, por si sós, independentes dos aspectos da sociedade, já
são relevantes. Esses fatos poderão posteriormente contribuir para que se observe
qual dos enunciados normativos irão incidir com maior ou menor eficácia. Ao final
dessa etapa, deve o intérprete identificar todos ou o maior número possível de
possibilidade para que possa enquadrar os fatos relevantes aos enunciados
normativos, obtendo diversas soluções para o caso concreto aparentemente
conflitante, tentando alcançar a maior satisfação possível para os enunciados
normativos em conflito.244
Retornando ao exemplo exposto anteriormente sobre a
questão do depósito de lixo no Município de Tapes no Rio Grande do Sul, posso
identificar dois fatos relevantes, o primeiro no qual a atividade em si está provocando
uma degradação ambiental negativa e que deve ser interrompida, e o segundo
corresponde ao fato de que se não for depositado o lixo no local adequado ter-se-ão
de manter os resíduos sólidos produzidos nas ruas da própria cidade, o que irá
aumentar a proliferação de doenças na população do Município, ambos os fatos são
identificados a partir das disposições normativas, conforme os artigos 196 e 225 da
Constituição Federal. Diante desses fatos, observo as seguintes possibilidades
anteriores à utilização da técnica da ponderação: primeiro pode ser interrompido o
242
BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, Racionalidade e Atividade Jurisdicional, Op. cit., p. 115-116.
243
Ibidem, p. 116-117.
244
Ibidem, p. 122-123. Nesta segunda fase, e sempre que isso seja possível, o intérprete deverá cogitar de todas
as possibilidades fáticas por meio das quais as diferentes soluções indicadas pelos grupos normativos da primeira
fase podem ser realizadas, desde a que atende mais amplamente às suas pretensões, até a que as restringe de
forma importante, na linha exemplificada acima. Cada uma dessas soluções, na verdade, corresponde a uma
99
norma possível, isto é, a uma possibilidade normativa a ser extraída do conjunto de enunciados pertinentes no
caso.
245
BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Agravo de Instrumento Nº 70008935074,
Quarta Câmara Cível, Relator: Des. Vasco Della Giustina, j. 18/08/2004, Disponível em:
<http://www.tj.rs.gov.br>. Acesso em: 26 de out. de 2007.
100
246
BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, Racionalidade e Atividade Jurisdicional, Op. cit., p. 126-127.
247
Ibidem, p. 136.
248
A identificação do núcleo essencial de cada direito fundamental é visualizada por duas teorias: a relativa ou
absoluta que também podem ser denominadas de núcleo flexível e núcleo duro, no qual a primeira afirma que o
núcleo essencial somente pode ser detectado diante do caso concreto, pois existe um núcleo essencial dos
direitos fundamentais, de forma abstrata, ele somente surge no momento da existência de um conflito. Enquanto
que a teoria do núcleo duro diz que o núcleo essencial dos direitos fundamentais é delimitado abstratamente e
por tal o intérprete quando for ponderar os direitos envolvidos, não poderá restringir esse núcleo essencial pré-
estabelecido. BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, Racionalidade e Atividade Jurisdicional, Op. cit., p.
142-143.
249
BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Agravo de Instrumento Nº 70008935074,
Quarta Câmara Cível, Relator: Des. Vasco Della Giustina, j. 18/08/2004, Disponível em:
<http://www.tj.rs.gov.br>. Acesso em: 26 de out. de 2007. “A situação pode ser contornada, com diligência do
juízo originário, determinando-se a realização de estudo técnico no local, por perito da confiança da Magistrada,
ainda que de maneira expedita, com a concessão de prazo para a Municipalidade, no caso de conclusão técnica
no sentido da contaminação do solo, para adequar o processo de tratamento do lixo urbano, ou mesmo para
designar local alternativo para o depósito do material. Mas a solução adotada pelo juízo de primeiro grau, da
forma posta, inviabiliza qualquer atitude preventiva da Administração, que ver-se-á obrigada a manter nas ruas,
por tempo indeterminado, ocasionado, isso sim, um agravamento na já delicada questão ambiental narrada na
inicial da demanda popular.
101
que não estava adequado, pois foi comprovado que o mesmo degradava o
ambiente. Observo que o Tribunal, ao decidir o recurso interposto para suspender os
efeitos antecipatórios concedidos pelo juízo a quo, realizou um processo de
ponderação, tendo em vista que não adotou nenhuma das possíveis decisões,
afastando totalmente um dos direitos envolvidos: ambiente e saúde, mas adotou um
procedimento que pudesse evitar um dano maior e, ao mesmo tempo, visualizou que
a melhor solução seria a promoção de estudos técnicos no local para aferir o
tamanho do possível dano ambiental e a fixação de prazo para que o Município
pudesse realizar um adequado sistema de depósito de lixo, que não causasse danos
ao ambiente.
O julgado demonstra que a decisão que ponderou diversos
direitos fundamentais envolvidos e cumpriu os parâmetros mencionados na terceira
etapa da técnica da ponderação, mostrando que tal decisão pode ser considerada
universal, tanto que o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro julgou caso
semelhante referente ao recolhimento e depósito de lixo no Município de Niterói250.
No julgado anterior, também posso vislumbrar que o magistrado buscou equilibrar os
direitos envolvidos no caso, uma vez que observou que a interrupção do depósito de
resíduos no local iria causar um dano maior do que o existente, permitindo assim a
continuação da atividade, o que preserva o direito à saúde da população e o estudo
dos danos causados ao ambiente pela inadequação da atividade. E, por fim,
preserva o núcleo dos direitos fundamentais envolvidos, pois evita possível
proliferação de doenças causadas pelo não recolhimento do lixo doméstico e
preserva também o núcleo do direito ao ambiente sadio e equilibrado, através da
realização dos estudos ambientais para a comprovação dos danos para uma
possível reparação posterior.
A Administração Pública, quando for licenciar alguma atividade
ou empreendimento, deverá também utilizar os parâmetros apresentados na terceira
“Vale registrar que a situação não é recente, tendo os documentos acostados pelo próprio autor popular noticiado
que os problemas ambientais decorrentes da má administração do aterro sanitário remontam à década de 80, não
se vislumbrando, ao menos num juízo de verossimilhança, risco de dano irreparável. Essa a solução que melhor
atende à lógica do razoável, e viabiliza a adoção de medidas para solucionar o problema até o julgamento do
mérito da ação.
“Com tais considerações, por presentes os pressupostos do art. 558 do CPC, defiro o efeito suspensivo requerido
pelo agravante, ao fim de sustar os efeitos da liminar concedida na instância originária.”(fls. 157/159).
250
BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Agravo de Instrumento nº 2007.002.01035,
Vigésima Câmara Cível, Relator: Des Marco Antonio Ibrahim, j. 18/01/2007. Disponível em:
<http://www.tj.rj.gov.br> . Acesso em: 26 de out. 2007.
102
251
MIRANDA, Pontes. Comentários à Constituição de 1967, Tomo I, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1967, p.
299. Estado é o poder estabelecido em certo território e sôbre certa população, com competência derivada,
primariamente, da comunidade supra-estatal, ainda que não a exerça sòzinho, desde que permaneça em contacto
pontencial com a ordem jurídica originária, que é a do direito das gentes. e CANOTILHO, José Joaquim Gomes.
Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Op. cit., p. 83-84. O Estado é, assim, uma forma histórica de
organização jurídica do poder dotada de qualidades que a distinguem de outros “poderes” e “organizações de
poder”. Quais são essas qualidades? Em primeiro lugar, a qualidade de poder soberano. A soberania, em termos
gerais e no sentido moderno, traduz-se num poder supremo no plano interno e num poder independente no plano
internacional. Se articularmos a dimensão constitucional interna com a dimensão internacional do Estado
poderemos recortar os elementos constitutivos deste: (1) poder político de comando; (2) que tem como
destinatários os cidadãos nacionais (povo = sujeitos do soberano e destinatários da soberania); (3) reunidos num
determinado território. A soberania no plano interno (soberania interna) traduzir-se-ia no monopólio de edição
do direito positivo pelo Estado e no monopólio da coação física legítima para impôr a efetividade das suas
normas noutras normas jurídicas.
252
BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria Geral do Federalismo, Rio de Janeiro: Forense, 1986, p. 11-12.
e BARROSO, Luis Roberto. Direito Constitucional Brasileiro, Rio de Janeiro: Forense, 1982, p. 6-7.
253
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado, 3ª ed., São Paulo: Malheiros, 2001, p. 79. e FILHO, José dos Santos
Carvalho. Pacto Federativo: Aspectos Atuais, In: QUARESMA, Regina. e OLIVEIRA, Maria Lúcia de Paula.
(Coord.), Direito Constitucional Brasileiro: perspectivas e controvérsias contemporâneas, Rio de Janeiro:
Forense, 2006, p. 408.
105
federalismo atual surgiu a partir dos Estados Unidos da América, o qual uniu seus
Estados, deixando de ser uma Confederação e passando a ser uma Federação,
buscando superar alguns problemas internos, já que todos os Estados tinham
soberania, o que causava sérios conflitos entre os mesmos, e fez que, de forma
voluntária, unissem-se e formassem uma nova organização política, na qual passava
a existir um governo nacional. Dessa forma, surgiu o primeiro formato de Estado
federal em 1787.254 No Brasil, a Federação255 foi inspirada pelo modelo americano,
mas com uma grande diferenciação, pois, nos Estados Unidos, os Estados
passaram de um modelo de confederação para uma federação, através de uma
imposição dos fatos, nos quais a sociedade percebia que a Confederação era um
modelo precário que não atendiam aos anseios dos americanos256, enquanto que no
Brasil a formação do Estado federal não surge de um movimento social, mas através
de uma criação jurídica, visando à formação da República e à rejeição da monarquia
que se apresentava como sendo um Estado Unitário.257
254
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado, Op. cit., loc. cit.. Fê-lo partindo da Constituição dos Estados Unidos,
que ele toma por paradigma na matéria, pois foram os juristas americanos da Revolução os adminiráveis
construtores de uma organização de governo – o Estado Federal – que exprime, com autenticidade, criação nova
da ciência política; aquele modelo, segundo notara Jellinek, que se não compadece com as categorias tradicionais
e serve para separar, entre muitos outros traços de originalidade e distinção em que se apóia o mederno
pensamento político, a concepção nova do Estado da antiga concepção clássica. e BARROSO, Luis Roberto.
Direito Constitucional Brasileiro, Op. cit., p. 8-9.
255
BARROSO, Luís Roberto. A Derrota da Federação: O Colapso Financeiro dos Estados e Municípios, In:
QUARESMA, Regina. e OLIVEIRA, Maria Lúcia de Paula. (Coord.), Op. cit., p. 397. O Brasil é uma República
Federativa, na dicção expressa do art. 1º da Constituição de 1988. Federação traduz a forma de Estado, o modo
como se reparte o poder político no âmbito do território, e tem por pressuposto a descentralização política. Daí
resulta, segundo fórmula clássica, a existência de duas ordens jurídicas: a federal, titularizada pela União, e a
federada (ou estadual), na qual cada Estado-membro exerce sua autonomia, isto é, sua capacidade de auto-
organização, autogoverno e auto-administração nos limites definidos na Constituição. No caso brasileiro,
reconhece-se, ainda, um terceiro nível de poder, representado pelos Municípios, igualmente investidos de
autonomia pela Carta de 1988 (arts. 18, 29 e 30).
256
BARBOSA, Rui. Organização das Finanças Republicanas, Sessão de 16 de novembro de 1890, Disponível
em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br>, Acesso em: 07 de dezembro de 2007. Ao adotar o pacto, que os
incorporava numa só nacionalidade, os treze estados na Nova Inglaterra constituíam sociedades ligadas entre si
pela origem, pelo idioma, pela fé, mas politicamente separadas, diversas na sua organização doméstica, alheias
umas às outras, absolutamente autônomas. Entrando para a comunhão de um governo extensivo a todas, cada
uma, portanto, sacrificava parte de sua entidade peculiar, concorrendo para o tesouro da autoridade coletiva com
um contingente de direitos renunciados a benefício da convivência nacional. Cada uma, separando-se da
metrópole, poderia organizar-se em nação independente, reservando intacta para si mesma a totalidade da
soberania conquistada. Preferindo, porém, a esse alvitre o de fundirem-se numa personalidade comum, as
colônias emancipadas, depois de experimentarem por muitos anos a autonomia política em sua plenitude,
resolveram aliená-la nas mãos de um governo politicamente centralizado. Com a implantação do regímen
federativo, portanto, só tinham que perder em matéria de soberania. Alienaram-na voluntariamente em proveito
de interesses superiores.
257
BARROSO, Luis Roberto. Direito Constitucional Brasileiro, Op. cit., p. 29. O federalismo brasileiro não foi
uma imposição dos fatos, mas uma criação legal, surgida com a República, que segundo muitos – inclusive Rui
Barbosa – se instaurara mais pela necessidade da adoção da forma de Estado federal, do que por rejeição ao
regime monárquico. Ainda que ao sabor de fortes reivindicações, o federalismo se impôs, com o advento da
106
República, de forma artificial, com a transformação de um modelo americano que se fulcrara em bases
radicalmente distintas. Em síntese, por assim dizer, a teoria atropelou o fato social.
258
BARBOSA, Rui. Op. cit. Eu era, senhores, federalista, antes de ser republicano. Não me fiz republicano,
senão quando a evidência irrefragável dos acontecimentos me convenceu de que a monarquia se incrustara
irredutivelmente na resistência à federação. Esse non possumus dos partidos monárquicos foi o seu erro fatal. A
mais grave responsabilidade, a meu ver, dos que presidiram à administração do país no derradeiro estádio do
Império está na oposição obcecada, inepta, criminosa de uns, na fraqueza imprevidente e egoística de outros
contra as aspirações federalistas da nação. A federação teria demorado o advento do regímen republicano por
pouco tempo; mas teria poupado à república as dificuldades de organização, com que temos arcado, e
continuaremos a arcar talvez por não breves dias.
259
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado, Op. cit., p. 86.
260
FILHO, José dos Santos Carvalho. Pacto Federativo: Aspectos Atuais, In: QUARESMA, Regina. e
OLIVEIRA, Maria Lúcia de Paula. (Coord.), Op. cit,, p. 407. As clássicas formas de Estado são representadas
pela confederação, pela federação e pelo regime unitário. Em virtude das variadas modalidades que os Estados
podem assumir, na conformação de seu perfil político, nenhum delas ostenta rigidez que impossibilite eventuais
particularidades, nem impede que seja adotada forma de certo modo híbrida, com a presença de alguns
elementos de uma das modalidades clássicas e outros próprios de modalidade diversa.
261
FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de Direito Constitucional, 18º ed., São Paulo: Saraiva, 1990, p.
42.
262
MIRANDA, Pontes. Op. cit., p. 299. Desde que o tratado os não fundiu e deixou a cada Estado a sua
qualidade de Estado (quer dizer: não os excluiu da distribuição primária por parte da comunidade supraestatal), -
só o tratado (portanto, a unanimidade dos Estados) pode modificar a situação estabelecida: a Confederação
107
nasceu no domínio supra-estatal, e nêle permanece; quer o tratado dê podêres autoconstituintes à Confederação,
quer não os dê, existe cerne constitucional, que é reflexo dos princípios de direito das gentes regedores do
tratado. e FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Op. cit, p. 41.
263
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Teoria do Estado, 2ª ed., Rio de Janeiro: Borsoi, 1969, p. 169.
264
BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Op. cit., p. 54. Tecnicamente, o federalismo é uma divisão
constitucional de poderes entre dois ou mais componentes dessa figura complexa que decorre da existência de
um Estado que possa apresentar formas de distribuição das tarefas políticas e administrativas. e CAVALCANTI,
Themistocles Brandão. Op. cit., p. 171. Define-se o sistema federativo de maneira muito simples; é um estado
soberano constituído de diversos estados autônomos. Este é que é o sistema federativo em sua simplicidade: a
soberania da união interna e externamente, autonomia dos Estados.
265
MIRANDA, Pontes. Op. cit., p. 300. Com a fórmula que ante apontamos (pág. 264) e a inexistência de
critério seguro, uno, que nos diga onde começa e ser federal o Estado, encontramos na explicação acima a única
solução possível: é de ordem subjetiva, interior a cada povo, ao seu passado e ao seu presente, o sentir-se
unitário ou federativo.
108
266
BARROSO, Luis Roberto. Direito Constitucional Brasileiro, Op. cit., p. 29.
267
BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado, Op. cit., p. 89. O federalismo verdadeiro é aquele que se não aparta
da realidade, não teme o intervencionismo em si mesmo, e escrupulosamente combate, e com razão, o
desvirtuamento da prática intervencionista, a politização dos fins a que serve a intervenção do Estado. E não só a
politização senão também o favorecimento ilícito que essa intervenção prodigaliza a grupos econômicos e
financeiros privilegiados. Atuando contra o interesse público, à sombra da proteção oficial, agravam a
desigualdade econômica
268
Ibidem, p. 91. O que há no âmago da crise do federalismo nacional é a inadequação da realidade aos meios de
que dispõe o governo para atacá-la; é a Constituição atrasada com os fatos; é a imperiosa necessidade de
institucionalizar-se juridicamente poderes que a vocação democrática de nosso tempo, ditando aos povos
sentimentos igualitários na esfera social e econômica, parece impor decisivamente, com impaciência algo
revolucionário de quem está a impetrar novos conceitos – e por que não, também? – novos métodos, novos
intérpretes, novos caminhos!
269
GRECO, Leonardo. Competências Constitucionais em Matéria Ambiental, In: Revista Brasileira de Direito
Comparado, nº 14, Instituto de Direito Comparado Luso Brasileiro: Rio de Janeiro, 1993, p. 87.
109
270
Ibidem, p. 96. Normas gerais são normas uniformes, isonômicas, aplicáveis a todos os cidadãos e a todos os
Estados.
271
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Federalismo, Amianto e Meio Ambiente: Julgado sobre Competência, In:
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. (Orgs), Op. cit., p. 225. A norma geral
federal diferencia-se da norma privativa federal. A norma geral situa-se no campo da competência concorrente
limitada e a norma privativa não tem limite de extensão, pois pode conter não só o geral como o pormenor ou o
detalhe.
110
272
FERREIRA, Heline Sivini. Competências Ambientais. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José
Rubens Morato. (Orgs). Op. cit., p. 205-206.
273
Essas competências podem ser percebidas nos artigos: 21 para a União, 25 e parágrafos para os Estados-
membros, e 30 para os Municípios.
274
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. cit., p. 479. e CAVALCANTI,
Themistocles Brandão. Op. cit., p. 172. Como se exerce a competência? Existem três processos principais: ou a
Constituição declara quais são os podêres dos Estados e o restante fica com a União, ou o contrário: a
Constituição determina qual a competência da União e o remanescente fica com os Estados; ou, então, estabelece
regime de podêres ocorrentes.
111
assuntos ligados a alguns elementos ambientais, como a água, uma vez que a
competência do inciso IV, do artigo 22 é que permite a instituição do sistema
nacional de gerenciamento de recursos hídricos e a definição dos critérios de
outorga do direito de uso.
Na verdade, a competência para a proteção do ambiente de
forma plena, agregando todos os seus elementos, somente é definida explicita e
impressa no artigo 23, competência comum ou administrativa e no artigo 24, na
competência concorrente legislativa e por fim, através do interesse local contida no
artigo 30, todos da Constituição Federal de 1988. Assim sendo, as competências
concorrentes correspondem para a União ao poder-dever de editar leis federais e
não nacionais, sendo limitadas às normas gerais. Da mesma forma, em relação aos
Estados-membros, quando editam leis de proteção ambiental devem somente
pormenorizar no tocante à Administração Pública Estadual e generalizar no que diz
respeito aos Municípios que compõem os Estados-membros, restando somente para
os Municípios o poder de exclusivamente legislar, com base no artigo 30, I e II, sobre
normas específicas de interesse local.
Dito isso, a lei da Política Nacional de Meio Ambiente foi
recepcionada pela Constituição Federal de 1988, como sendo uma lei federal e não
mais nacional, pois o texto constitucional não possibilita tal competência à União,
como ocorria na Constituição anterior, na qual apesar de não existir um texto próprio
para proteção ambiental, a Política Nacional de Meio Ambiente foi editada segundo
critérios de proteção à saúde humana o que possibilitava a edição a nível
nacional.275 Paulo Bessa, afirma que o crescente número de políticas nacionais
relacionadas aos elementos ambientais, visam criar uma centralidade de poder na
questão ambiental nas mãos da União, que causa uma série de problemas de
atuação e da compatibilização dos fatos ao texto constitucional no que tange à
atuação administrativa dos entes federativos. E diante desse quadro, o sistema
federativo brasileiro encontra-se em crise devido a uma incessante condução, pela
União, das políticas ambientais. 276 Com isso, acredito que as normas contidas na
centrípeta que, em razão da distribuição de recursos delas advindos, atrai os Estados e Municípios para um
círculo cada vez mais próximo do Executivo Federal, em “revival” da “política dos governadores”.
277
Desta forma cada ente federativo poderá instituir sua própria política ambiental, respeitando as normas gerais
da União e conseqüentemente aos Municípios o dever de respeitar as normas gerais editadas pela União e
Estados-membros. Com isso e com a falta de previsão constitucional da instituição de uma política nacional
sobre o ambiente, entendo que a Lei 6.938/81 atualmente corresponde a Política Federal de Meio Ambiente.
278
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, Op. cit., p. 105.
279
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. cit., p. 478. O princípio geral que
norteia a repartição de competência entre entidades componentes do Estado federal é o da predominância do
interesse, segundo o qual à União caberão aquelas matérias e questões de predominante interesse geral, nacional,
ao passo que aos Estados tocarão as matérias e assuntos de interesse local, tendo a Constituição vigente
desprezado o velho conceito do peculiar interesse local que não lograra conceituação satisfatória em um século
de vigência.
113
280
FARIAS, Talden. Licenciamento Ambiental: aspectos teóricos e práticos, Belo Horizonte – MG: Fórum,
2007, p. 123. Depreende-se do entendimento de parte da doutrina e da jurisprudência que a competência
administrativa comum em matéria ambiental pode ser dividida em competência administrativa fiscalizatória e em
competência administrativa licenciatória.
281
TRENNEPOHL, Curt. e TRENNEPOHL, Terence. Licenciamento Ambiental, Niterói – RJ: Impetus, 2007, p.
13-14. e FARIAS, Talden. Op. cit., p. 150.
282
FREITAS, Vladimir Passos. Op. cit., p. 78.
283
FERREIRA, Heline Sivini. Competências Ambientais. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José
Rubens Morato. (Orgs). Op. cit., p. 217-218.
284
ANTUNES, Paulo de Bessa. Federalismo e Competências Ambientais no Brasil, Op. cit., p. 116-117,
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Op. cit., p. 171. e SILVEIRA, Patrícia Azevedo. Competência
Ambiental, Curitiba – PR: Juruá, 2002, p. 59-60. Tanto a competência administrativa quanto a competência
legislativa são fundadas na lei, com a diferença de que esta é explicitamente legislativa e aquela implicitamente
legislativa e explicitamente legislativa para designá-las, ao invés de utilizarmos a convenção tradicional. Aliás,
114
todo ato administrativo deriva da lei, ou dito de outra forma: a atividade da Administração Pública rege-se pelo
princípio da legalidade (art. 37, caput).
285
ANTUNES, Paulo de Bessa. Federalismo e Competências Ambientais no Brasil, Op. cit., p.178-179.
286
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Teoria do Estado, 2ª ed., Rio de Janeiro: Borsoi, 1969, p. 190.
115
287
FERREIRA, Heline Sivini. Competências Ambientais. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José
Rubens Morato. (Orgs). Op. cit., p. 218
288
BRASIL, Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a
Política Nacional do Meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br> . Acesso em: 10 dez 2006. Art. 10 - A construção,
instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,
considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema
Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. (Redação dada pela Lei
nº 7.804, de 1989). § 1º - Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados
no jornal oficial do Estado, bem como em um periódico regional ou local de grande circulação. § 2º Nos casos e
prazos previstos em resolução do CONAMA, o licenciamento de que trata este artigo dependerá de homologação
do IBAMA. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989). § 3º O órgão estadual do meio ambiente e o IBAMA,
esta em caráter supletivo, poderão, se necessário e sem prejuízo das penalidades pecuniárias cabíveis, determinar
a redução das atividades geradoras de poluição, para manter as emissões gasosas, os efluentes líquidos e os
resíduos sólidos dentro das condições e limites estipulados no licenciamento concedido. (Redação dada pela Lei
nº 7.804, de 1989). § 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com significativo impacto
ambiental, de âmbito nacional ou regional. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)
116
289
OLIVEIRA, Antônio Inagê de Assis. Introdução à Legislação Ambiental Brasileira e Licenciamento
Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2005, p. 353-354. e MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
Ambiental Brasileiro, Op. cit., p. 110.
117
290
JUNIOR, Hamilton Alonso. Da Competência para o licenciamento Ambiental, In: FINK, Daniel Roberto.; JR,
Hamilton Alonso e DAWALIBI, Marcelo. Aspectos Jurídicos do Licenciamento Ambiental, 3ª ed., Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 49. e FARIAS, Talden. Op. cit., p. 158-159.
291
BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei Complementar - PLP nº 388/2007: Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br > . Acesso em: 12 de fev. 2008.
292
BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei Complementar - PLP nº 388/2007: Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br > . Acesso em: 12 de fev. 2008. Art. 6º Para fins do art. 5º, são ações
administrativas da União, dentre outras: XIII – exercer o controle e a fiscalização das atividades e
empreendimentos cuja competência para licenciar, ambientalmente, for cometida à União; XV – promover o
licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos a saber: a) que causem ou possam causar impacto
ambiental direto de âmbito nacional ou regional; b) localização ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em
país limítrofe; c) localizados na plataforma continental, na zona econômica exclusiva, em terras indígenas ou em
unidades de conservação da União, exceto em Área de Proteção Ambiental – APAs, onde deverá ser observado o
critério do impacto ambiental direto das atividades ou empreendimentos; d) destinados a pesquisar, lavrar,
produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem
energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia
Nuclear – CNEN; e e) empreendimentos e atividades militares que servem a defesa nacional, na forma da lei.
118
293
BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei Complementar - PLP nº 388/2007: Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br > . Acesso em: 12 de fev. 2008. Art. 7º Para os fins do art. 5º, são ações
administrativas dos Estados e do Distrito Federal, dentre outras: XII – exercer o controle e a fiscalização das
atividades e empreendimentos cuja competência para licenciar, ambientalmente, for cometida à União; XIV –
promover o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos a saber: a) que causem ou possam
causar impacto ambiental direto de âmbito estadual; e b) localizados em unidades de conservação do Estado ou
do Distrito Federal, exceto em Áreas de Proteção Ambiental – APAs, onde deverá ser observado o critério do
impacto ambiental direto das atividades ou empreendimentos;
294
BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei Complementar - PLP nº 388/2007: Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br > . Acesso em: 12 de fev. 2008. Art. 8º Para fins do art. 5º, são ações
administrativas dos Municípios, dentre outras: XII - exercer o controle e a fiscalização das atividades e
empreendimentos cuja competência para licenciar, ambientalmente, for cometida ao Município; XIV – promover
o licenciamento ambiental das atividades ou empreendimentos a saber: a) que causem ou possam causar impacto
ambiental direto de âmbito local; e b) localizadas em unidades de conservação do Município, exceto em Áreas
de Proteção Ambiental – APAs, onde deverá ser observado o critério do impacto ambiental direto das atividades
ou empreendimentos;
295
TRENNEPOHL, Curt. e TRENNEPOHL, Terence. Op. cit., p. 03. A diversidade de entendimentos sobre
fator determinante da competência para o licenciamento ambiental se reflete, também, nas decisões dos
Tribunais. Conforme pode ser visto nos seguintes Acórdãos, alguns julgadores acatam o critério da abrangência
do impacto, outros optam pelo critério geográfico, enquanto outros, ainda, escolhem o critério da domicialidade
ou o da segurança nacional.
296
BRASIL, Tribunal Regional Federal, 4ª Região, Proc. nº 200272080031198, Quarta Turma, Relator: Juiz
Valdemar Capeletti, julgado em 27 de jul. de 2005: Disponível em: <http://www.trf4.gov.br> . Acesso em: 16 de
fev. 2008; BRASIL, Tribunal Regional Federal, 1ª Região, Proc. nº 200501000378659, Sexta Turma, Relator:
Juíza Maria Isabel Gallotti Rodrigues, julgado em 28 de nov. de 2005: Disponível em: <http://www.trf1.gov.br>
. Acesso em: 16 de fev. 2008; BRASIL, Tribunal Regional Federal, 4ª Região, Proc. nº 1998804010096842,
Quarta Turma, Relator: Juiz Joel Ilan Paciomik, julgado em 18 de dez. de 2005: Disponível em:
<http://www.trf4.gov.br> . Acesso em: 16 de fev. 2008; BRASIL, Tribunal Regional Federal, 1ª Região, Proc. nº
200001001367046, Quinta Turma, Relator: Juíza Selene Maria de Almeida, julgado em 24 de nov. de 2003:
Disponível em: <http://www.trf4.gov.br> . Acesso em: 16 de fev. 2008, e BRASIL. Superior Tribunal de Justiça,
119
Proc. nº 200301597545, Primeira Turma, Relator Ministro José Delgado, julgado em 17 de fev. de 2004:
Disponível em: <http://www.trf4.gov.br> . Acesso em: 16 de fev. 2008.
297
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Curso de Direito Administrativo, 8ª ed., Rio de Janeiro: Livraria
Freitas Bastos S.A., 1967, p. 115.
298
BENVENUTI, Feliciano. Appunti di Diritto Amministrativo, Parte Generale, 3ª ed, Itália: Padova, 1955, p.
165. Infine lo Stato esplica la propria azione inqradrando i soggetti individuali nella collettività soprattutto
mediante l’atto di concessione di cittadinanza (legge 13 giugno 1912 n. 555 e R.D.L. 1 dicembre 1934 n. 1997) il
quale è propriamente un atto di attribuzione di status ed ha carattere costitutivo.
299
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Curso de Direito Administrativo, Op. cit., p. 116. Do poder de
polícia – Nesta expressão compreende-se, em sentido amplo, o exercício do poder sôbre as pessoas e as coisas,
para atender ao interêsse público.
Inclui tôdas as restrições impostas pelo poder público aos indivíduos em benefício do interêsse coletivo, saúde,
ordem pública, segurança, e, ainda mais, os interêsses econômicos e sociais.
300
MASAGÃO, Mario. Curso de Direito Administrativo. 3ª ed. São Paulo: Max Limonad, 1962, p.181. O
sentido da palavra polícia sofreu acentuada evolução. A princípio significava ela tôda ação do Príncipe,
destinada a promover o bem-estar e a segurança dos vassalos, identificando-se dessa forma, quase
completamente, com a ação administrativa em geral. Daí o falar-se em Estado-policial.
120
301
SANTOS, Márcia Walquiria Batista dos. Poder de Polícia, In: Revista da Faculdade de Direito de São
Bernardo do Campos, v. 6 tomo I, São Bernardo do Campo: Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo,
2000, p. 223. A palavra polícia deriva do latim politea e do grego politeo, estando relacionada ao termo política
e, conseqüentemente, ao vocábulo polis que corresponde à cidade. Desta maneira, a Antiguidade denotou a
significação de polícia como o ordenamento político do Estado ou cidade.
302
JUNIOR, José Cretella. Poder de Polícia, Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 4. O poder de polícia, em geral,
sempre existiu no Estado, qualquer que tenha sido sua natureza e funções, no que diz respeito aos fins da
sociedade a ele referida, quer tenha tido um caráter amplo de política interna (concepção originária da polícia
como governo), quer tenha sido concebido como instituição essencialmente administrativa, quer como
administração jurídica, ou administração social do Estado. A idéia de Estado é inseparável da idéia de política. e
MASAGÃO, Mario. Op. cit., p. 182 – 183.
303
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Curso de Direito Administrativo, Op. cit., p. 116. No Direito
português, como em nossos primeiros autores, a palavra era tomada em seus diversos significados, seguindo
mais ou menos a orientação dos autores franceses, que chegavam a confundir o Direito Administrativo com a
polícia. e MASAGÃO, Mario. Op. cit., p. 182 – 183.
304
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Curso de Direito Administrativo, Op. cit., p. 118. e JUNIOR, José
Cretella. Op. cit., p. 5.
121
305
Destaco que durante o estudo deste capítulo a utilização da expressão “indivíduos” compreende tanto as
pessoas físicas como jurídicas, já que o poder de polícia restringe direitos de ambas, tendo em vista que a
restrição à implantação de uma determinada atividade pode ser tanto para uma pessoa física quanto para jurídica.
Dessa forma a Administração Pública através do seu poder de polícia pode e dever restringir direitos das
pessoas, podendo ser de direito público ou privado até porque esse poder visa equilibrar os direitos das pessoas
não diferenciando-os, conforme aduz Paulo Affonso Leme Machado, quando em uma de suas obras trata de
quem pode ter seu direitos restringidos pela polícia ambiental. (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
Ambiental Brasileiro, 13ª ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 319-320).
306
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Tratado de Direito Administrativo, 2ª ed., v. V, Rio de Janeiro:
Livraria Freitas Bastos, 1950, p. 363. Nesta expressão, compreendida em sentido amplo, entende-se o exercício
do poder sôbre as pessoas e as coisas, para atender ao interêsse público.
Não se pode definí-lo de maneira rígida, e isto mesmo reconhecem os autores que mais proficientemente
estudaram o assunto.
Inclui tôdas as restrições impostas pelo poder público aos indivíduos, em benefício do interesse coletivo, saúde,
ordem pública, segurança, e ainda mais, os interêsses econômicos e sociais.
307
BRASIL, Lei 1º de outubro de 1828, Disponível em: <http://www.brasilimperial.org.br/c24a73.htm> Acesso
em: 07 de dezembro de 2007. Art. 66. Terão a seu cargo tudo quanto diz respeito á policia, e economia das
povoações, e seus termos, pelo que tomarão deliberações, e proverão por suas posturas sobre os objetos
seguintes: § 1º Alinhamento, limpeza, iluminação, e desempachamento das ruas, cáes e praças, conservação e
reparos de muralhas feitas para a segurança dos edifícios, e prisões publicas, calçadas, pontes, fontes,
aqueductos, chafarizes, poços, tanques, e quaesquer outras construcções em benefício commum dos habitantes,
ou para decoro e ornamento das povoações. § 2º Sobre o estabelecimento de cemiterios fóra do recinto dos
templos, conferindo a esse fim com a principal autoridade ecclesiastica do lugar; sobre o esgotamento de
pantanos, e qualquer estagnação de aguas infectas; sobre a economia e asseio dos curraes, e matadouros
publicos, sobre a collocação de cortumes, sobre os depositos de immundices, e quanto possa alterar, e corromper
a salubridade da atmosphera. § 3º Sobre edifícios ruinosos, escavações, e precipícios nas vizinhanças das
povoações, mandando-lhes pôr divisas para advertir os que transitam; suspensão e lançamento de corpos, que
possam prejudicaqr, ou enxovalhar aos viandantes; cautela contra o perigo proveniente da divagação os loucos,
embriagados, de animaes ferozes, ou damnados, e daquelles, que, correndo, podem incomodar os habitantes,
providencias para acautelar, e atalhar os incendios. § 4º Sobre as vozeiras nas ruas em horas de silencio, injurias
e, obscenidades com a moral publica. § 5º Sobre os damninhos, e os que trazem gado solto sem pastor em
lugares aonde possam causar qualquer prejuízo aos habitantes, ou lavouras; extirpação de reptis venenosos, ou de
quaesquer animaes, e insectos devoradores das plantas; e sobre tudo o mais que diz respeito á polícia. § 6º Sobre
construcção, reparo, e conservação das estradas, caminhos, plantações de arvores para preservação de seus
limites á commodidade dos viajantes, e das que forem uteis para a sustentação dos homens, e dos animaes, ou
sirvam para fabricação de polvora, e outros objetos de defesa. § 7º Proverão sobre lugares onde pastem e
descancem os gados para o consumo diario, em quanto os Conselhos os não tiverem proprios. § 8º Protegerão os
criadores, e todas as pessoas, que trouxerem seus gados para os venderem, contra quaesquer oppressões dos
empregados dos registros, e curraes dos Conselhos, aonde os haja, ou dos marchantes e mercadores deste genero,
castigando com multas, e prisão, nos termos do titulo 3º art. 71, os que lhes fizerem vexames, e acintes para os
desviarem do mercado. § 9º Só nos matadouros publicos, ou particulares, com licença das Camaras, se poderão
matar, e esquartejar as rezes; e calculado o arrobamento de cada uma rez, estando presente os exactores dos
direitos impostos sobre a carne; permitir-se-há aos donos dos gados conduzi-los depois de esquartejados, e
vendel-os pelos quiserem, e aonde bem lhes convier, com tanto que o façam em lugares patentes, em que a
Camara possa fiscalizar a limpeza, e salubridade dos talhos, e da carne, assim como a fidelidade dos pesos. § 10º
122
Proverão igualmente sobre a commodidade das feiras, e mercados, abastança, e salubridade de todos os
mantimentos, e outros objetos expostos á venda publica, tendo balança de ver o peso, e padrões de todos os
pesos, e medidas para se regularem as aferições; e sobre quanto possa favorecer a agricultura, commercio, e
industria dos seus districtos, abstendo-se absolutamente de taxar os preços dos generos, ou de lhes pôr outras
restricções á ampla liberdade, que compete a seus donos. § 11º Exceptua-se a venda da pólvora, e de todos os
generos susceptiveis de explosão, e fabrico de fogos de artifício, que pelo seu perigo, só se poderão vender, e
fazer nos lugares marcados pelas Camaras, e fóra de povoado, para o que se fará conveniente postura, que
imponha condemnação, aos que a contravierem. § 12º Poderão autorizar espectaculos publicos nas ruas, praças, e
arraiaes, uma vez que não offendam a moral publica, mediante alguma modica gratificação param as rendas do
Conselho, que fixarão por suas posturas. Art. 67. Cuidarão os Vereadores, além disto em adquirir modelos de
machinas, e instrumentos ruraes, ou das artes, para que se façam conhecidos aos agricultores, e industriosos. Art.
68. Tratarão de haver novos animaes úteis, ou de melhorar as raças dos existentes, assim como de ajuntar
sementes de plantas interessantes, e arvores frutíferas, ou prestadias para as distribuírem pelos lavradores. Art.
69. Cuidarão no estabelecimento, e conservação das casas de caridade, para que se criem expostos, se curem os
doentes necessitados, e se vaccinem todos os meninos do distrito, e adultos que o não tiverem sido, tendo
Medico, ou Cirurgião de partido. Art. 70. Terão inspecção sobre as escolas de primeiras letras, e educação, e
destino dos orphãos pobres, em cujo numero entram os expostos; e quando estes estabelecimentos, e os de
caridade, de que trata o art. 69, se achem por Lei, ou de facto encarregados em alguma cidade, ou villa a outras
autoridades individuais, ou collectivas, as Camaras auxiliarão sempre quanto estiver de sua parte para a
propriedade, e augmento dos sobreditos estabelecimentos. Art. 71. As Camaras deliberarão em geral sobre os
meios de promover e manter a tranqüilidade, segurança, saúde, e comodidade dos habitantes; o asseio,
segurança, elegancia, e regularidade externa dos edifícios, e ruas das povoações, e sobre estes objectos formarão
as suas posturas, que serão publicadas por editaes, antes, e depois de confirmadas. Art. 72. Poderão em ditas suas
posturas comminar penas até 8 dias de prizão, e 30$000 de condemnação, as quaes serão aggravadas nas
reincidências até 30 dias de prisão, e 60$000 de multa. As ditas posturas só terão vigor por um anno em quanto
não forem confirmadas, a cujo fim serão levadas aos Conselhos Geraes, que tambem as poderão alterar, ou
revogar. Art. 73. Os cidadãos, que se sentirem aggravados pelas deliberações, acórdãos, e posturas das Camaras,
poderão recorrer aos Conselhos Geraes, e na Côrte para a Assembléia Geral Legislativa; e aos Presidentes das
províncias, e por estes ao Governo, quando a materia fôr meramente economica e administrativa.
308
BRASIL, Código Tributário Nacional, Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br> Acesso em: 11 de dezembro de 2007. Art. 78. Considera-se poder de polícia
atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a
prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem,
aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.
123
respeito ao seu exercício deve existir uma separação, já que são regidos por direitos
diferentes. Com isso, a polícia, como atividade administrativa ou aparelhamento,
corresponde às ações estatais do poder de polícia em detrimento dos direitos da
coletividade.310 Alguns autores entendem que a diferenciação entre a polícia
administrativa e a judiciária está relacionada ao objeto de atuação. Na primeira é a
restrição do exercício de uma conduta lícita dos indivíduos, enquanto que na
segunda é o impedimento de condutas ilícitas, sendo que essa polícia auxilia o
Estado e o Poder Judiciário na repressão ao cometimento de ilícitos criminais.311
Acredito que esse meio de distinção não é o mais adequado, já que as atividades
ditas como lícitas, referentes à policia administrativa são lícitas diante de outros
ramos do direito, mas não são lícitas no Direito Administrativo, tendo em vista a
necessidade de lei para estabelecer as condutas ilícitas administrativamente e,
ainda, a polícia judiciária não auxilia o Estado, ela faz parte dele, é uma espécie do
gênero poder de polícia estatal.
A polícia administrativa é o poder que tem a Administração
Pública de restringir direitos, visando garantir outros direitos de âmbito coletivo e até
mesmo do próprio indivíduo que teve o direito restringido, pois o poder de polícia
ambiental, que tratarei mais posteriormente, consubstancia no dever que tem a
Administração Pública de preservar e proteger o ambiente para as presentes e
futuras gerações e, por ser um direito difuso, a restrição da atuação individual que
possa prejudicar o ambiente é a proteção da coletividade e, por tal, o indivíduo que
teve restringido seu direito em prol do ambiente também está inserido na
coletividade, portanto a restrição também visa a protegê-lo. Assim, a polícia
administrativa tem o dever de proporcionar um equilíbrio entre os direitos individuais
e coletivos, através de restrições dos direitos que muitas vezes não podem ser
totalmente afastados, pois representam normas de interesse essencial para a
309
MASAGÃO, Mario. Op. cit., p.184.
310
BENVENUTI, Feliciano. Op. cit., p. 166. Si tratta, come è agevole compreendere, di tutta quella serie di
compiti di polizia ( protezione dei bene, delle persone, dei costumi), che vanno sotto il nome di polizia di
sicurezza o più comunemente di pubblica sicurezza e che si esercitano mediante limitazione imposte a
determinate categorie de cittadini ( mendicanti, Liberati dal cárcere, ammoniti, confinati, ecc), o mediante
limitazioni e controlli sulla libertà di stampa, di riunione, di associazione, di stabilimento (es. foglio di via
obbligatorio), oppure attengono all’aspetto sociale (non a quello economico perchè altrimenti si tratta di azione
connessa all’esercizio di um servizio reso dal privato allá collettività: v. infra Capitolo XVII) di alcune attività
private (ad es. spettacoli, giochi di abilità ecc.) e JUNIOR, José Cretella. Op. cit., p. 14. Se a polícia é uma
atividade ou um aparelhamento, o poder de polícia é o princípio jurídico que informa essa atividade, justificando
a ação policial, nos Estados de Direito.
311
SANTOS, Márcia Walquiria Batista dos. Op. cit., p. 226 – 227 e GASPARINI, Giogenes. Direito
Administrativo, 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 1995, p. 109.
124
pessoa humana. Para tal exercício, o Estado pode e deve intervir nas atividades
industriais, comerciais e todas as outras de âmbito privado, que ameaçam em seus
exercícios os direitos da coletividade.312
A restrição proporcionada pelo poder de polícia é abstrata,
tendo em vista que não é realizada na incidência de determinado caso concreto,
conforme acontece na interpretação do direito através do método da ponderação de
interesses e valores. Diferentemente do que ocorre no Judiciário, no qual o juiz ao
julgar determinada situação concreta, pode ponderar os direitos aparentemente
conflitantes ou não e utilizar os métodos tradicionais de interpretação jurídica. Já a
Administração Pública, para poder restringir direitos, deverá estar autorizada por lei,
tendo em vista o princípio da legalidade. Caso contrário, os indivíduos ficariam
desprotegidos contra a atuação do Estado que poderia restringir todos os direitos
nos limites de sua conveniência, apresentando-se como um Estado totalitário. Com
isso, o poder de polícia não é ilimitado em se tratando de um Estado Democrático de
Direito, da mesma forma que os direitos individuais não são. É necessário que haja
proporcionalidade e razoabilidade para que o Estado venha restringir direitos
individuais, sob pena de a atuação ser configurada como abusiva. Dessa maneira,
para que se evite uma ilegalidade mediante abuso de poder, deve existir um
equilíbrio entre os direitos individuais e coletivos, de forma que os indivíduos
exerçam seus direitos e ao mesmo tempo sejam preservados os direitos da
coletividade.313 Não estou afirmando que a Administração Pública não possa utilizar
o método da ponderação, mas para tal é necessário que ocorra previsão normativa
para o exercício de tal poder de restrição. Além disso, o âmbito de incidência do
poder de polícia do Estado em seu exercício pode ser diferenciado, uma vez que
existem atuações em que a Administração Pública pode restringir ou não o direito
dos indivíduos de uma forma geral e outras vezes individualmente. Buscando
esclarecer melhor, exemplificarei através da proibição da captura e comercialização
de animais em extinção, como sendo uma restrição de caráter geral, enquanto que o
312
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Curso de Direito Administrativo, Op. cit., p. 117.
313
JUNIOR, José Cretella. Op. cit., p. 16. Do mesmo modo que os direitos individuais são relativos, assim
também acontece com o poder de polícia, que, longe de ser onipotente, incontrolável, é circunscrito, jamais
podendo pôr em perigo a liberdade e a propriedade. Importando, via de regra, o poder de polícia em restrições a
direitos individuais, a sua utilização não deve ser excessiva ou desnecessária, de modo a não configurar um
abuso de poder. Não basta que a lei possibilite a ação coercitiva da autoridade para justificação do ato de polícia.
É necessário, ainda, que se objetivem condições materiais que solicitem ou recomendem a sua inovação. A
coexistência da liberdade individual e do poder de polícia repousa na conciliação entre a necessidade de respeitar
essa liberdade e a de assegurar a ordem social.
125
314
MASAGÃO, Mario. Op. cit., p. 185. Todavia sendo tal atividade simplesmente discricionária, podem ser
indicados os seus limites negativos, que consistem nos direitos, que ela deve respeitar. Assim, pode a polícia
preventiva fazer tudo quanto se torne útil a sua missão, desde que com isso não viole direito de quem quer que
seja. Os direitos que principalmente confinam a atividade da polícia administrativa são aquêles que, por sua
excepcional importância, são declarados na própria Constituição.
315
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, Op. cit., p. 317-318. Poder de polícia
ambiental é a atividade da Administração pública que limita ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a
prática de ato ou a abstenção de fato em razão de interesse público concernente à saúde da população, à
conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas ou
de outras atividades dependentes de concessão, autorização/permissão ou licença do Poder Público de cujas
atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza. e DAWALIBI, Marcelo. O Poder de Polícia em
Matéria Ambiental, In: Revista de Direito Ambiental, ano 04, v. 14, abril-junho São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1999, p. 96.
126
poder de polícia nada mais são do que enunciados normativos de fazer e não fazer
em benefício do interesse público. Assim, a lei que delimita o exercício do poder de
polícia da Administração Pública, é a mesma que conduz o indivíduo no exercício de
sua conduta.316 Dessa forma, quando a Administração Pública, no exercício do seu
dever de proteção ambiental, sanciona o indivíduo que, por exemplo, podou uma
espécie arbórea, tal restrição não tem origem na polícia da administração, mas no
Poder Legislativo que limitou a conduta individual, impedindo que se podassem
árvores ao bel prazer. E caso descumprido essa limitação da liberdade individual
cabe ao Poder Público através da Administração sancioná-lo. Assim, a limitação não
nasce e não tem sua origem na vontade da Administração Pública, mas na lei, sendo
o poder de polícia o meio que o Estado tem de impedir ou sancionar os indivíduos
que pretendem ou violam a lei.317
No ordenamento jurídico brasileiro, tanto constitucional quanto
infraconstitucional, exige uma atuação por parte do Poder Público de controle das
condutas que interfiram no equilíbrio ambiental. A nível constitucional, observo os
artigos 24 VI, VII, VIII e 30, I e II que exigem dos Entes Federativos que legislem
sobre a proteção ambiental, inclusive concedendo à Administração Pública meios
legais, através do poder de polícia para que possam cumprir os seus deveres
ambientais. Já no artigo 23 III, IV, VI, VII do texto constitucional está disposto ser o
dever administrativo de proteção ambiental, no qual uma de suas formas é o
exercício do poder de polícia ambiental delimitado pela lei. Enquanto a nível
316
DAWALIBI, Marcelo. O Poder de Polícia em Matéria Ambiental, Op. cit., p. 95. Todavia, é importante
ressaltar que o ato de polícia de aplicação de pena administrativa depende da previsão em lei da conduta descrita
como infração administrativa e também da sanção correspondente.
317
Dessa forma, para que os indivíduos tenham suas condutas limitadas, é necessária à existência de lei que o
faça e diante ao dever do Estado de quando tiver o objetivo de limitar ou delinear as condutas que faça mediante
lei e não por outro tipo de ato normativo. Com isso, entendendo que a limitação aos direitos só pode ocorrer
através de lei, é que corroboro com autores como Toshio Mukai (Atuação Administrativa e Legislativa dos
Poderes Públicos em Matéria Ambiental, In: Interesse Público, ano 04, nº 15, julho/setembro, Fórum: Nota Dez,
2002, p. 117.) que afirma que o decreto nº 3.179 de 21 de setembro de 1999, que dispõe sobre as infrações e
sanções administrativas em matéria ambiental, é inconstitucional por restringir direitos e delimitar condutas por
um instrumento normativo que não é lei. Ainda o tipo infracionário ambiental deve ser bem definido, de modo
que o indivíduo possa ter a certeza que determinada conduta é proibida pelo Estado e caso a pratique será
sancionado pelo mesmo através da Administração Pública. Em Campos dos Goytacazes, Município do Estado do
Rio de Janeiro, a muito tempo vem implementando uma legislação ambiental para o seu cumprimento
constitucional de proteção ambiental, tanto que as infrações ambientais municipais é anterior a edição da Lei
9605 de 12 de fevereiro de 1998, mas atualmente a Lei Municipal 5419 de 29 de abril de 1993 apresenta-se com
algumas imperfeições que são compreendidas, tendo em vista a época de sua elaboração, na qual o direito
ambiental ainda era pouco estudado e desenvolvido, mas dentre as imperfeições da Lei Municipal está na
tipificação, já que algumas são imprecisas e de difícil estabelecimento entre a conduta e a norma, mas ainda é de
grande eficácia para o exercício do poder de polícia ambiental municipal e um avanço na proteção do ambiente,
uma vez que diversos Municípios ainda não possuem nenhum tipo de legislação municipal ambiental e o de
Campos dos Goytacazes já tem e aplica há aproximadamente 15 anos.
127
318
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, Op. cit., p. 136. Uma das principais atribuições do Direito
Ambiental é a de fixar parâmetros normativos capazes de estabelecer um patamar mínimo de salubridade
ambiental. A obediência e o respeito de tais patamares é o que significa a ordem pública do meio ambiente. A
ordem pública do meio ambiente é o cumprimento e a manutenção de tais padrões. Se os níveis ambientais
legalmente estabelecidos estiverem sendo observados, a ordem pública ambiental estará sendo cumprida. A
polícia do meio ambiente, no intuito de assegurar a obediência às normas ambientais, poderá agir
preventivamente ou repressivamente. A atuação preventiva ou repressiva faz-se mediante a utilização de
medidas de polícia ambiental.
319
DAWALIBI, Marcelo. O Poder de Polícia em Matéria Ambiental, Op. cit., p. 97.
128
320
JUNIOR, José Cretella. Dos Atos Administrativos Especiais, 2ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 116.
321
BANUNAS, Ioberto Tatsch. Poder de Polícia Ambiental e o Município, Porto Alegre: Sulinas, 2004, p. 142.
322
JUNIOR, José Cretella. Dos Atos Administrativos Especiais, Op. cit., p. 121. Fundamenta-se a
executoriedade não só na natureza púbica da atividade que, por meio dos atos chamados executórios, a
Administração traduz sua vontade, como também na concretização rápida dos interesses coletivos, em benefício
dos quais se editam os referidos atos. A faculdade de exigir coativa e diretamente a execução dos próprios atos
deriva do conceito de poder de público e é essencial a este. Sem tal prerrogativa, o interesse público ficaria
equiparado e, por vezes, preterido, em face do interesse privado, ao mesmo tempo que a decisão do Estado seria
129
ambiente, não pode no exercício desse poder causar violação a outros direitos
também fundamentais e tão importantes de serem efetivados quanto o direito
ambiental. Daí a conduta da Administração Pública deve ser proporcional ao dano
que os administrados estão causando ou na iminência de causar ao ambiente e a
executoriedade tem de ser configurada como sendo a única ou a última medida a
ser exercida, não havendo outra de menor prejuízo ao administrado a ser tomada.323
Assim, a Administração Pública, através de seu poder de polícia, somente poderá
exercer um ato executório se este não vier a violar direitos fundamentais da pessoa
humana, uma vez que estaria agindo contra o interesse público que também é a
efetivação dos direitos fundamentais, não poderá em detrimento ao direito
fundamental de ter um ambiente equilibrado e sadio; esvaziar o âmbito de outros
direitos: o direito à moradia, à saúde, à educação, à liberdade e tanto outros direitos
consagrados. Acredito, que a Administração Pública tem total poder executório na
proteção ambiental se a conduta infracionária ainda não concretizou outro direito
fundamental e mais, cabe a mesma o dever de evitar que isso ocorra sob pena de
omissão, tendo em vista que o Estado terá de encontrar meios para equilibrar os
direitos fundamentais envolvidos e concretizados pela falta de ação de polícia
pretérita e tendo como possível técnica para a solução da situação de fato existente,
a ponderação de interesses, que não poderá excluir de forma absoluta um direito
fundamental em decorrência de outro, conforme explicitei no capítulo anterior.
Situação expositiva da questão foi enfrentada pelo Poder Judiciário do Rio de
Janeiro que julgou em primeira instância possível cometimento de dano ambiental
devido à construção de uma pousada na faixa marginal do rio Bela Joana, localizado
no Município de Campos dos Goytacazes, que teve como réus os proprietários da
área e da pousada, devido à construção em área de preservação permanente e, o
Município, por não ter coibido a construção e posteriormente não ter demolido,
através de um ato executório inerente ao seu poder de polícia. Acredito que a
sentença alcançou uma parte de seu objetivo, já que condenou os proprietários que
reparassem os possíveis danos ambientais causados com a construção, mandando
que os referidos réus demolissem a construção dando um depósito adequado ao
passivo da demolição e evitando, dessa forma, que permanecesse a violação ao
inócua, porque inoperante. O caráter público de “potestas administrativa” matiza o ato executório e dá-lhe a
força necessária para atuar, realizando a aspiração de grande parte da coletividade, da qual o Estado é intérprete.
323
MUKAI, Toshio. Atuação Administrativa e Legislativa dos Poderes Públicos em Matéria Ambiental, In:
Interesse Público, ano 04, nº 15, julho/setembro, Belo Horizonte - MG: Fórum, 2002, p. 117.
130
324
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Ação Civil Pública, nº 2005.014.024771-2, 4ª Vara
Cível da Comarca de Campos dos Goytacazes, Juiz: Geraldo da Silva Batista, julgado em: 23 de agosto de 2007.
Disponível em: <http://www.tj.rj.gov.br>. Acesso em: 18 de ago. 2007.
325
BRASIL, Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a
Política Nacional do Meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Disponível em <URL: http://www.planalto.gov.br> . Acesso em: 18 dez 2007. Art 9º - São
131
determinados pelo órgão administrativo de meio ambiente ecologicamente equilibrado e de defender a qualidade
de vida da coletividade.
329
BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, Racionalidade e Atividade Jurisdicional, Op. cit., p. 300 – 302.
330
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 533.
331
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, Op. cit., p. 268-269. Razoável, portanto,
concluir-se que as licenças, autorizações, aprovações prévias e permissões só possam ser criadas por lei ou a lei
deverá prever a sua instituição por outro meio infralegal. O decreto do Presidente da República, do Governador
do Estado ou do Prefeito Municipal somente poderá criar uma licença ambiental se a lei anterior expressamente
cometer-lhe tal tarefa. Da mesma forma, as licenças ambientais não podem ser instituídas por portaria do Ibama-
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, pelos órgãos públicos ambientais e
dos Estados e dos Municípios, pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA ou por outros conselhos.
332
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, ADI nº 1505 ES relator: Min. Eros Grau, j. 24/11/2004.
Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 26 dez. 2007. O Tribunal julgou procedente, em parte,
pedido de ação direta ajuizada pela Confederação Nacional da Indústria – CNI contra o §3º do art. 187 da
Constituição do Estado do Espírito Santo, que determinou que o relatório de impacto ambiental relativo a
projetos de grande porte fosse submetido à apreciação de comissão permanente e específica da Assembléia
Legislativa local. Entendeu-se caracterizada a ofensa ao princípio da independência e harmonia entre os Poderes,
já que a norma em questão conferiu ao Poder Legislativo prerrogativas exclusivas do Poder Executivo
(aprovação e concessão de licenciamento), ressaltando-se inexistir no texto constitucional atribuição de cunho
decisório às comissões parlamentares (art. 58, §2º). Declarou-se a inconstitucionalidade da expressão “e
submetida à apreciação da comissão permanente e específica da Assembléia Legislativa, devendo ser custeada
pelo interessado, proibida a participação de pessoas físicas ou jurídicas que atuaram na sua elaboração” contida
no dispositivo impugnado.
133
333
FARIAS, Talden. Op. cit., p. 32-33.
334
FRAGA, Jesús Jordano. La Protección Del Derecho A Un Medio Ambiente Adecuado, Barcelona: J. M.
Bosch Editor, S.A., 1995, p. 249. Desde otro punto de vista, la autorización en el Derecho ambiental se
generaliza como acto condición de trato sucesivo, adquiriendo pleno carácter operativo. Los fines de
preservación han determinado una progresiva configuración dinámica de la autorización, que deja de ser un mero
acto aislado de control, para convertirse en un instituto configurador de parámetros de una conducta diferida en
el tiempo. Por último, la afección de derechos colectivos ha determinado la incorporación de elementos de
formación y control del posible acto autorizatorio, convirtiendo los trámites de información pública en
preceptivos y esenciales. La autorización en el Derecho ambiental ha dejado ser una relación bilateral (particular
ejercitante de una actividad potencialmente agresora del medio ambiente Administración) para convertirse en
multilateral. El otorgamiento de una autorización en el Derechos ambiental no es algo que sólo afecte a un
núcleo reducido de personas, sino que afecta directamente a la comunidad en su conjunto poseedora del derecho
a un medio ambiente adecuado. e FINK, Daniel Roberto. e MACEDO, André Camargo Horta de. Roteiro para
Licenciamento Ambiental e outras Considerações, In: FINK, Daniel Roberto.; JR, Hamilton Alonso e
DAWALIBI, Marcelo. Op. cit. p. 03.
335
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, Op. cit., p. 264. Os EIA são uma evolução das análises do
tipo custo/benefício, cujos objetivos básicos podem ser resumidos como uma análise custo/benefício do projeto,
tomando-se como parâmetro a repercussão sobre o meio ambiente.
134
336
Acredito que o Estudo de Impacto Ambiental deve se restringir à única e exclusivamente analisar o custo
benefício da implantação, dando as alternativas possíveis para a implantação e as suas conseqüências e até
mesmo sugerir a não implantação, mas ao meu entender a decisão de compatibilizar os direitos existentes está
inserido no licenciamento, tendo em vista que o EIA/RIMA é um dos instrumentos que auxiliam e não o único.
Com isso o EIA/RIMA deve atender a patrões técnicos apresentando indicativos positivos e negativos que a
implantação causará no ambiente e na sociedade.
337
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 535. e FARIAS, Talden. Op. cit., p. 45.
338
FINK, Daniel Roberto. e MACEDO, André Camargo Horta de. Roteiro para Licenciamento Ambiental e
outras Considerações, In: FINK, Daniel Roberto.; JR, Hamilton Alonso e DAWALIBI, Marcelo. Op. cit., p. 05.
Deverá constar obrigatoriamente, entre os documentos que instruem o requerimento da licença ambiental, a
certidão da Prefeitura Municipal, declarando que aquele tipo de empreendimento e o respectivo local de sua
instalação estão de acordo com a legislação de uso e ocupação do solo. e FARIAS, Talden. Op. cit., p. 42.
135
todos os objetos que causem algum tipo de degradação ambiental, não importando
o nível de potencialidade de degradação, mas não se sabendo qual o nível de
degradação que determinado objeto poderá causar no ambiente, é prudente e com
base no princípio da precaução à realização do Estudo de Impacto Ambiental.
Assim, não se deve considerar que a realização do EIA/RIMA seja obrigatório para
todos os objetos a serem licenciados, a não ser que a legislação estadual ou
municipal, para os seus objetos, exija a obrigatoriedade de tal instrumento além dos
que provocam significativa degradação ambiental, como é o caso das Constituições
dos Estados do Ceará339, do Amazonas340 e do Pará.341
339
BRASIL, Constituição do Estado do Ceará. promulgada em: 05 de outubro de 1989. Disponível em:
<http://www.al.ce.gov.br>. Acesso em: 15 de abr. 2008. Art. 264. Qualquer obra ou atividade pública ou
privada, para as quais a Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE, exigir Estudo de Impacto
Ambiental, deverá ter o parecer técnico apreciado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente – COEMA, com a
publicação da resolução, aprovada ou não, publicada no Diário Oficial do Estado. *Com nova redação dada pela
Emenda Constitucional nº 22, de 14 de dezembro de 1991 - D.O. de 21.12.1991.
§ 1º A lei estabelecerá os tipos de obra ou atividades que podem ser potencialmente causadoras de significante
degradação do meio ambiente e/ou que comportem risco à vida e à qualidade de vida, e disporá sobre o Conselho
Estadual do Meio Ambiente, órgão subordinado diretamente ao Governador do Estado, em que é garantida a
participação da comunidade através das entidades representativas de classe de profissionais de nível superior das
áreas de engenharia, arquitetura, agronomia, biologia, medicina e direito.
§ 2º Só será licitada, aprovada ou executada a obra ou atividade, cujo relatório conclusivo do estudo prévio de
que trata o caput deste artigo, apreciado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente, for favorável à licitação,
aprovação ou execução.
340
BRASIL, Constituição do Estado do Amazonas, promulgada em: 05 de outubro de 1989, Disponível em:
<http://www.aleam.gov.br>. Acesso em: 15 de abr. 2008. ART. 235. O estudo de impacto ambiental será parte
integrante e obrigatória do processo de licenciamento, além de outras exigências de ordem normativa ou legal,
nos casos de:
I - implantação de áreas ou pólos industriais ou agroindustriais;
II - alteração de uso de área objeto de zoneamento;
III - transformação de área rural em área urbana;
IV - área de expansão urbana;
V - implantação de projetos ou atividades potencialmente causadores de modificações significativas no meio
ambiente;
VI - outras, por determinação de normas do SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente ou do Conselho
Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia.
§ 1º. A implantação, no território estadual, de usinas de energia nuclear, instalação de processamento e
armazenamento de material radioativo e implantação de unidades de grande porte, geradoras de energia
hidroelétrica, respeitadas as reservas estabelecidas em lei e áreas indígenas, de acordo com o disposto no art.
231, da Constituição da República, além da observância das normas e exigências legais e constitucionais, estarão
sujeitas ao que estabelece o art. 234, desta Constituição, ao parecer conclusivo do Conselho Estadual de Meio
Ambiente, Ciência e Tecnologia e, na hipótese de indicação favorável, aprovação por dois terços dos membros
da Assembléia Legislativa, após consulta plebiscitária aos habitantes da área onde se pretende implantar o
projeto.
§ 2º. Os estudos de previsão de impacto, para os casos de que trata o “caput” deste artigo, incluirão,
obrigatoriamente, as áreas em torno e de influência do empreendimento.
341
BRASIL, Constituição do Estado do Pará. promulgada em: 05 de outubro de 1989. Disponível em:
<http://www.pa.gov.br>. Acesso em: 15 de abr. 2008. Art. 255. Compete ao Estado a defesa, conservação,
preservação e controle do meio ambiente, cabendo-lhe:
§ 1°. Todo e qualquer plano, programa, projeto, atividade ou obra potencialmente causadora de desequilíbrio
ecológico ou de significativa degradação do meio ambiente, exigirá, na forma da lei, estudo prévio de impacto
ambiental e só será autorizada sua implantação, bem como liberado incentivo, financiamento ou aplicação de
136
recursos públicos, após aprovação, na forma da legislação aplicável, pelo órgão técnico de controle ambiental do
Estado, ouvido o órgão de atuação colegiada de que trata o inciso VIII.
342
BRASIL, Lei de Crimes e Infrações Ambientais, Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 – Dispõe sobre as
sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em <URL: http://www.planalto.gov.br> . Acesso em: 18 dez 2007. Art. 79-A. Para o
cumprimento do disposto nesta Lei, os órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, responsáveis pela execução
de programas e projetos e pelo controle e fiscalização dos estabelecimentos e das atividades suscetíveis de
degradarem a qualidade ambiental, ficam autorizados a celebrar, com força de título executivo extrajudicial,
termo de compromisso com pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela construção, instalação, ampliação e
funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou
potencialmente poluidores. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001)
§ 1o O termo de compromisso a que se refere este artigo destinar-se-á, exclusivamente, a permitir que as pessoas
físicas e jurídicas mencionadas no caput possam promover as necessárias correções de suas atividades, para o
atendimento das exigências impostas pelas autoridades ambientais competentes, sendo obrigatório que o
respectivo instrumento disponha sobre: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) I - o nome,
a qualificação e o endereço das partes compromissadas e dos respectivos representantes legais; (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) II - o prazo de vigência do compromisso, que, em função da
complexidade das obrigações nele fixadas, poderá variar entre o mínimo de noventa dias e o máximo de três
anos, com possibilidade de prorrogação por igual período; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de
23.8.2001) III - a descrição detalhada de seu objeto, o valor do investimento previsto e o cronograma físico de
execução e de implantação das obras e serviços exigidos, com metas trimestrais a serem atingidas; (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) IV - as multas que podem ser aplicadas à pessoa física ou jurídica
compromissada e os casos de rescisão, em decorrência do não-cumprimento das obrigações nele pactuadas;
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) V - o valor da multa de que trata o inciso IV não
poderá ser superior ao valor do investimento previsto; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de
23.8.2001) VI - o foro competente para dirimir litígios entre as partes. (Incluído pela Medida Provisória nº
2.163-41, de 23.8.2001) § 2o No tocante aos empreendimentos em curso até o dia 30 de março de 1998,
envolvendo construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de
recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, a assinatura do termo de compromisso
deverá ser requerida pelas pessoas físicas e jurídicas interessadas, até o dia 31 de dezembro de 1998, mediante
requerimento escrito protocolizado junto aos órgãos competentes do SISNAMA, devendo ser firmado pelo
dirigente máximo do estabelecimento. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) § 3o Da data
da protocolização do requerimento previsto no § 2o e enquanto perdurar a vigência do correspondente termo de
compromisso, ficarão suspensas, em relação aos fatos que deram causa à celebração do instrumento, a aplicação
de sanções administrativas contra a pessoa física ou jurídica que o houver firmado. (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) § 4o A celebração do termo de compromisso de que trata este artigo não
impede a execução de eventuais multas aplicadas antes da protocolização do requerimento. (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) § 5o Considera-se rescindido de pleno direito o termo de
compromisso, quando descumprida qualquer de suas cláusulas, ressalvado o caso fortuito ou de força maior.
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) § 6o O termo de compromisso deverá ser firmado
em até noventa dias, contados da protocolização do requerimento. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41,
de 23.8.2001) § 7o O requerimento de celebração do termo de compromisso deverá conter as informações
necessárias à verificação da sua viabilidade técnica e jurídica, sob pena de indeferimento do plano. (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.163-41, de 23.8.2001) § 8o Sob pena de ineficácia, os termos de compromisso deverão
137
ser publicados no órgão oficial competente, mediante extrato. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.163-41, de
23.8.2001)
343
BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Tribunal Pleno, ADI 2083-8DF, relator: Min. Moreira Alves, j.
03/08/2000. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 28 de dez. 2007. Como se vê das informações,
elas sustentam a constitucionalidade das demais normas do dispositivo ora atacado sob o fundamento de que elas
também têm a natureza de normas de transição, uma vez que “o mencionado Termo de Compromisso vem a ser
um instrumento que permitirá ao empreendedor estabelecer cronograma para o cumprimento de etapas de
adequação do seu empreendimento aos novos padrões ambientais ora exigidos, submetidos à fiscalização pelos
órgãos de gestão da Política Ambiental, desde sua implantação e cumprimento, sujeitando-se, no caso de
descumprimento, à imediata aplicação das multas previstas na Lei de Crimes Ambientais”, e isso porque, para
manter-se “a ordem social, tendo por base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça social,
´rescritos que estão nas Disposições Gerais, da Ordem Social, prevista no art. 193 e seguintes da Carta Magna”,
“não se pode, da noite para o dia se interditar fábricas, um sem número de empreendimentos e atividades
geradoras de impostos, empregos, que a norma tachou, de uma hora para outra ilegais, desconsiderando o
Princípio do Direito Adquirido, previsto no art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição”, o que acarreta, inclusive,
que “a urgência da questão tratada na indigitada Medida Provisória é latente, porquanto diz respeito à premente
necessidade de se estabelecer um mecanismo de transição”. Sob esse prisma de norma de transição, essas
ponderações do requerido retiram, nesse exame preliminar, a força da relevância da fundamentação da argüição
de inconstitucionalidade que é necessária para a concessão dessa medida excepcional que é a liminar em ação
direta.
138
de cada etapa, o interessado tem direito à outorga de uma licença ambiental com
prazo de validade determinada. Tais etapas são divididas em três e,
conseqüentemente, para que a atividade ou empreendimento venha a ser
implantado é necessária a outorga das três licenças, mas todas estão interligadas a
um mesmo fim que é a liberação, pelo Poder Público, do exercício de alguma
atividade ou empreendimento, que possam, de alguma forma, causar degradação
ambiental após a análise dos direitos essenciais da pessoa humana envolvidos no
objeto requerido. Assim, posso afirmar que o licenciamento ambiental é um
instrumento de controle ambiental estabelecido pela Política Nacional de Meio
Ambiente que visa, através de um procedimento administrativo uno e complexo
exercido exclusivamente pela Administração Pública, compatibilizar, através da
técnica interpretativa da ponderação, os direitos fundamentais da pessoa humana
que encontram-se aparentemente em conflito, objetivando a efetivação dos direitos
em sua maior proporção possível e tendo como referencial a proteção dos aspectos
ambientais.
344
ANTUNES, Paulo de Bessa. A Proteção Ambiental nas Atividades de Exploração e Produção de Petróleo
Aspectos Jurídicos, Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2003, p. 81. O procedimento de licenciamento ambiental
admite que, se indeferida a licença, o empreendedor possa apresentar recurso perante o órgão ambiental,
podendo chegar ao Ministro de Meio Ambiente.
139
345
BRASIL, Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a
Política Nacional do Meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Disponível em <URL: http://www.planalto.gov.br> Acesso em: 18 dez 2007. Art. 10 - A
construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de
causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do
Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. (Redação dada
pela Lei nº 7.804, de 1989). § 1º - Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão
publicados no jornal oficial do Estado, bem como em um periódico regional ou local de grande circulação. § 2º
Nos casos e prazos previstos em resolução do CONAMA, o licenciamento de que trata este artigo dependerá de
homologação do IBAMA. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989). § 3º O órgão estadual do meio ambiente e
o IBAMA, esta em caráter supletivo, poderão, se necessário e sem prejuízo das penalidades pecuniárias cabíveis,
determinar a redução das atividades geradoras de poluição, para manter as emissões gasosas, os efluentes
líquidos e os resíduos sólidos dentro das condições e limites estipulados no licenciamento concedido. (Redação
dada pela Lei nº 7.804, de 1989). § 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com
significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989)
346
TRENNEPOHL, Curt. e TRENNEPOHL, Terence. Op. cit., p. 13-14.
347
Além dos procedimentos apresentados pelo Decreto nº 99.274/99 e da resolução CONAMA nº 237/97,
existem outros procedimentos específicos para o licenciamento ambiental, como é o caso dos empreendimentos
elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental – Resolução 279 de 27 de junho de 2001; os referentes ao
140
351
Ibidem, p. 86-88.
352
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237 de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em <URL: http://www.conama.gov.br> Acesso em: 18 dez 2007.
353
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, Op. cit., p. 276
142
354
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237 de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em <URL: http://www.conama.gov.br> Acesso em: 18 dez 2007. Art. 18. O órgão ambiental
competente estabelecerá os prazos de validade de cada tipo de licença, especificando-os no respectivo
documento, levando em consideração os seguintes aspectos: I - O prazo de validade da Licença Prévia (LP)
deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos
ao empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos. II - O prazo de validade da Licença
de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou
atividade, não podendo ser superior a 6 (seis) anos. III - O prazo de validade da Licença de Operação (LO)
deverá considerar os planos de controle ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máximo, 10 (dez)
anos. § 1o A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação (LI) poderão ter os prazos de validade prorrogados,
desde que não ultrapassem os prazos máximos estabelecidos nos incisos I e II. § 2o O órgão ambiental
competente poderá estabelecer prazos de validade específicos para a Licença de Operação (LO) de
empreendimentos ou atividades que, por sua natureza e peculiaridades, estejam sujeitos a encerramento ou
modificação em prazos inferiores. § 3o Na renovação da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou
empreendimento, o órgão ambiental competente poderá, mediante decisão motivada, aumentar ou diminuir o seu
prazo de validade, após avaliação do desempenho ambiental da atividade ou empreendimento no período de
vigência anterior, respeitados os limites estabelecidos no inciso III. § 4o A renovação da Licença de Operação
(LO) de uma atividade ou empreendimento deverá ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte)
dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente
prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente.
143
355
ANTUNES, Paulo de Bessa. Federalismo e Competências Ambientais no Brasil, Op. cit., p. 165.
Efetivamente, em matéria ambiental, duas ordens de preocupações devem estar presentes, seja para o legislador,
seja para o intérprete da norma: (i) há a necessidade de que a legislação de proteção ao meio ambiente assegure
níveis nacionais mínimos de tutela ambiental, evitando-se que a possibilidade de poluir mais seja um
diferenciador competitivo entre os estados e municípios e (ii) que a proteção ambiental feita localmente seja
capaz de gerar melhores resultados.
356
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, Op. cit., p. 179.
357
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito à Informação e Meio Ambiente, São Paulo: Malheiros, 2006, p.
181-182.
358
BRASIL, Lei da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Dispõe sobre a
Política Nacional do Meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
144
quando não tiver as informações, buscá-las para que possa informar a coletividade
sobre as possíveis ameaças ao ambiente e, dessa forma, evita-se que, por falta de
informação, não se exerça o dever constitucional. É flagrante que a referida norma
insere o princípio da precaução quando exige que se busque a informação para que
possa informar, sendo proibido informar que não há nada para ser informado.361
Em relação ao licenciamento ambiental, a referida lei obriga os
órgãos públicos a permitir o acesso às informações contidas nos procedimentos
administrativos que tenham o ambiente como um dos elementos de análise e, por
tal, como o licenciamento ambiental é um procedimento administrativo, o acesso a
suas informações é livre, a não ser que haja restrições legais a determinados atos,
mas não ao procedimento completo e, além de o Poder Público possibilitar o acesso,
deve ele fornecer a toda a coletividade as informações necessárias para a sua
participação nos procedimentos administrativos ambientais, como é o caso do
licenciamento ambiental.362 Acredito que o direito às informações ambientais no
licenciamento divide-se em três possibilidades distintas, pelas quais uma é o dever
do Poder Público de proceder às informações obrigadas pelo ordenamento positivo,
através de publicação, outra, a que possibilita a publicação das informações que
entender necessárias; por último, fornecer todas as informações contidas no
procedimento de licenciamento ambiental, que não forem proibidas por lei aos que
requererem, independente de comprovação de interesse, uma vez que a
preservação e proteção ambiental é naturalmente um interesse de toda a
coletividade.
361
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito à Informação e Meio Ambiente, Op. cit., p. 205. O Poder Público
deve informar sobre as matérias que lhe compete controlar ou fiscalizar. Não pode desculpar-se por não informar
alegando que não detém as informações. A admissão dessa desculpa significaria a concordância com o
descumprimento da obrigação constitucional, pois a omissão governamental se tornaria praxe. Além do mais,
abre-se uma porta para a conivência do Poder Público com os agressores da Natureza e com os poluidores,
estimulando-se os órgãos públicos a não saber, para não informar.
146
362
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 558. e MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito à Informação e Meio
Ambiente, Op. cit., p. 206-208.
363
FRAGA, Jesús Jordano. Op. cit., p. 243. Mediante las técnicas autorizatorias se pretende controlar las
actividades potencialmente agresoras al medio ambiente antes de que éstas comiencen. Las autorizaciones en el
Derecho ambiental a menudo no persiguem controlar las actividades potencialmente agresoras sólo ab initio,
sino que extienden esa voluntad de control al ejercicio sucesivo de la actividad autorizada de que se trate.
364
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito à Informação e Meio Ambiente, Op. cit., p. 266-267; MUKAI,
Toshio. Direito Ambiental Sistematizado, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998, p. 80- 81. e
TRENNEPOHL, Curt. e TRENNEPOHL, Terence. Op. cit., p. 13.
365
FARIAS, Talden. Op. cit., p. 242. A licença ambiental tem uma natureza jurídica própria e possui
características específicas que a diferenciam tanto da licença administrativa quanto da autorização, pois caso se
admitisse que a licença ambiental é uma autorização e que por conseqüência pudesse ser revogada a qualquer
momento pela simples discricionariedade da Administração Pública, não existiria segurança jurídica para as
atividades econômicas de uma maneira geral. Por outro lado, querer que a licença ambiental se perpetue no
tempo seria legalizar a degradação ambiental e instituir o direito adquirido a degradar o meio ambiente e a ir de
encontro à qualidade de vida da coletividade.
366
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 537-539; ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, Op. cit., p. 140;
BRAGA, Rodrigo Bernardes. Considerações sobre o Direito Adquirido em Matéria Ambiental, Revista de
Direito Ambiental, nº 35, São Paulo: RT, 2004, p. 88; FINK, Daniel Roberto. e MACEDO, André Camargo
Horta de. Roteiro para Licenciamento Ambiental e outras Considerações, In: FINK, Daniel Roberto.; JR,
Hamilton Alonso e DAWALIBI, Marcelo. Op. cit., p. 15. e DAWALIBI, Marcelo. Licença ou Autorização
Ambiental?, Revista de Direito Ambiental, nº 17, São Paulo: RT, 2000, p. 187.
367
JUNIOR, José Cretella. Dos Atos Administrativos Especiais, Op. cit., p. 153. Possibilita o poder
discricionário certa margem de desvinculação do agente, permitindo-lhe a formulação de juízos de valor, síntese
convergente de uma série infinita de operações emotivo-intelectivas, que dão como resultado, na prática, ao
pronunciamento administrativo, ação ou inércia, palavra ou silêncio, consubstanciada, muitas vezes, a conduta,
em seu momento final, no ato administrativo discricionário. O agente administrativo deve ter sensibilidade para
ajustar a ação administrativa ao meio.
147
Fraga368, tendo em vista que os autores que defendem que se trata de uma
autorização entendem que a licença ambiental é discricionária e precária, pois pode
a Administração Pública através da análise da oportunidade e conveniência,
conceder ou não a licença ambiental. Assim, tentarei contribuir para o
esclarecimento da questão, dando algumas considerações a respeito dos dois
elementos criticados pela doutrina que defende se tratar de uma autorização
administrativa de cunho ambiental.
Inicialmente, o Direito Administrativo não poderá ser visto de
forma isolada do ordenamento jurídico como um todo, ele deverá assim como os
outros ramos do direito se integrar a todo o sistema jurídico da mesma forma que o
Direito Ambiental.369 Mas nesse caso esse instrumento de gestão pública ambiental,
conforme já explicitado, visa compatibilizar direitos envolvidos e aparentemente
conflitantes, principalmente os direitos fundamentais da pessoa humana, de forma
que a estrutura administrativa do direito deve-se amoldar aos elementos e
necessidades ambientais e dos outros direitos envolvidos nesse procedimento
ponderativo. Assim, as licenças ambientais têm algumas características próprias,
mas que não descaracterizam a sua natureza de licença, uma vez que as
tradicionais licenças administrativas têm como elemento base a sua vincularidade à
lei370 e à definitividade, e esses dois elementos estão inseridos, também, nas
licenças ambientais.
Primeiramente, deve-se separar o procedimento de
licenciamento ambiental do ato da licença ambiental, já que, como disse
anteriormente, o primeiro é a reunião de uma série de atos e instrumentos, que
podem ser vinculados ou discricionários, enquanto a licença ambiental é o ato
administrativo final de ênfase ambiental que outorga a determinado interessado a
possibilidade de implantar a atividade ou empreendimento desejado.371 Dessa
forma, não se pode afirmar que o licenciamento ambiental é um procedimento
totalmente vinculado e nem discricionário, pois como dito, é um processo de juntada
368
FRAGA, Jesús Jordano. Op. cit., p. 245. A pesar de las dificultades de extraer conclusiones generalizables de
tan diverso conjunto, es osible establecer, con las debidas prevenciones, las líneas básicas del régimen jurídico
de las autorizaciones en el Derecho ambiental. Estas líneas básicas son: la necesidad de la obtención previa de
las mismas, y la posibilidad de suspensión o de modificación de las condiciones por circunstancias sobrevenidas,
así como de su revocación en caso de incumplimiento de sus condiciones.
369
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno, 2ª ed. São Paulo: RT, 1998, p. 39.
370
FIGUEIREDO. Lucia Valle. Curso de Direito Administrativo, 5ª ed., São Paulo: Malheiros, 2001, p. 165.
148
371
FARIAS, Talden. Op. cit., p. 220. Primeiramente, é preciso destacar que não se deve confundir a licença
ambiental com o licenciamento ambiental. ao se falar em licença ambiental, está-se referindo ao ato final de cada
etapa do licenciamento ambiental, ato de concessão do pedido feito pelo particular ao Poder Público.
372
OLIVEIRA, Antonio Inagê de Assis. O Licenciamento Ambiental, São Paulo: Iglu, 1999, p. 28. Essa licença
formalizada em alvará, representa a anuência da autoridade ambiental competente, depois de verificado que a
construção ou atividade atendeu aos condicionantes constitucionais e legais para sua localização, instalação e
operação. Uma vez que se constitui em direito, garantido a todos o exercício tanto do direito de propriedade
como de desempenhar atividades industriais ou comerciais (ou mesmo de prestação de serviços – liberdade do
exercício de atividade profissional), desde que atendidas as restrições legais, não padecem dúvidas que no
sentido técnico-jurídico, se trata efetivamente de uma licença e não de uma autorização, com conseqüência de
gerar direitos subjetivos ao seu titular, frente à Administração Pública. e FARIAS, Talden. Op. cit., p. 224.
373
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 536. No tocante às licenças ambientais, entretanto, dúvidas podem surgir, já que é
muito difícil, senão impossível, em dado caso concreto, proclamar cumpridas todas as exigências legais. Sim
porque, ao contrário do que ocorre, por exemplo, na legislação urbanística, as normas ambientais são, por vezes,
muito genéricas, não estabelecendo, via de regra, padrões específicos e determinados para esta ou aquela
atividade. Nestes casos, o vazio da norma legal é geralmente preenchido por exame técnico apropriado, ou seja,
pela chamada discricionariedade técnica, deferida à autoridade., FARIAS, Talden. Op. cit., p. 234. e GARCEZ,
Rochelle Jelinek. Licenciamento Ambiental e Urbanístico para o Parcelamento do Solo Urbano. In: BENJAMIN,
Antônio Herman de Vasconcellos e (Org). Paisagem, Natureza e Direito. São Paulo: Instituto O Direito por um
Planeta Verde, 2005. v2, p. 365.
149
374
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito à Informação e Meio Ambiente, Op. cit., p. 266. Desta forma,
razoável é concluir que o sistema de licenciamento ambiental passa a ser feito pelo sistema de autorizações
conforme entendeu o texto constitucional.
375
TRENNEPOHL, Curt. e TRENNEPOHL, Terence. Op. cit., p. 12. A própria Constituição Federal de 1988
demonstra a impropriedade terminológica do termo licença pois, no art. 170, que trata do exercício das
atividades econômicas, emprega o termo autorização.
150
376
FIQUEIREDO, Lúcia Valle. Discriminação Constitucional das Competências Ambientais, In: Revista de
Direito Ambiental, nº 35, São Paulo: RT, 2004, p. 52.
377
Acredito que existindo entre as alternativas finais do EIA a não implantação da atividade, fica, nesse caso, a
Administração Pública vinculada pela não outorga da licença, uma vez que o estudo comprovou que a possível
atividade ou empreendimento não consegue se compatibilizar com a proteção ambiental e a sua implantação
viola um direito fundamental que deve ser protegido. Assim, penso que a discricionariedade da escolha final esta
adstrita a quais medidas serão exigidas para que o interessado possa ter a licença para a implantação da atividade
ou empreendimento.
378
CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Curso de Direito Administrativo, Op. cit., p. 44. É que todo ato
administrativo contém, no seu exercício, uma parcela de poder discricionário, quando a autoridade, usando de
um poder próprio à administração, entra na esfera do exame da conveniência ou oportunidade da medida.
Não existe em nosso regime jurídico nenhum ato de todo discricionário, mas todo ato contém em si uma parcela
de discrição mais ou menos vinculada à lei. É, por conseguinte em função da quantidade de subordinação à lei
que se justifica a discriminação aqui feita.
379
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 538-539. A resposta a tão intrigante questionamento só pode ser encaminhada de
maneira satisfatória se nos convencermos, na linha da mais moderna doutrina, de que, na realidade, não há atos
inteiramente vinculados ou inteiramente discricionários, mas uma situação de preponderância, de maior ou
menor liberdade deliberativa do seu agente.
380
JUNIOR, José Cretella. Dos Atos Administrativos Especiais, Op. cit., p. 158. e MEDAUAR, Odete. Op. cit.,
p. 117. A doutrina contemporânea vem afirmando que, no geral, no cotidiano das atividades administrativas, são
poucas as situações de vinculação pura e de discricionariedade pura, daí ser insustentável a oposição rígida entre
poder vinculado e poder discricionário. Melhor parece levar em conta o aspecto predominante no exercício do
poder mencionando-se decisão ou medida em que predomina o poder vinculado ou o poder discricionário.
381
BRAGA, Rodrigo Bernardes. Op. cit., p. 89. Do contrário, estar-se-ia atentando contra a liberdade de
iniciativa econômica (CF, art. 170), se se pudesse simplesmente negar o exercício do direito de empreender.
Demais disso, os elevados custos de investimentos e a necessidade que o País atravessa de retornar o
crescimento econômico em bases sustentáveis não permitem outra conclusão que não a de ato vinculado da
licença ambiental, a qual deve ser deferida ao interessado toda vez que forem satisfeitos os requisitos legais. Tal
resulta de um direito subjetivo do particular. e ANTUNES, Paulo de Bessa. Federalismo e Competências
151
Ambientais no Brasil, Op. cit., p. 140. Aqui está o ponto mais delicado de todo o sistema de licenciamento
ambiental. A licença ambiental não pode ser reduzida à condição jurídica de simples autorização, pois os
investimentos econômicos que se fazem necessários para a implantação de uma atividade utilizadora de recursos
ambientais, em geral, são elevados. Por outro lado, a concessão de licenças com prazos fixos e determinados
demonstra que o sentido de tais documentos é o de impedir a perenização de padrões que, sempre, são
ultrapassados tecnologicamente.
382
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, Op. cit., p. 267. assim, tanto o termo
“renovação” como o termo “revisão” indicam que a Administração Pública pode intervir periodicamente para
controlar a qualidade ambiental da atividade licenciada. Não há na “licença ambiental” o caráter de ato
administrativo definitivo; e, portanto, com tranqüilidade, pode-se afirmar que o conceito de “licença”, tal como o
conhecemos no Direito Administrativo brasileiro, não está presente na expressão “licença ambiental”.
383
FARIAS, Talden. Op. cit., p. 234. (...) De resto, da mesma maneira que as licenças administrativas, a licença
ambiental é definitiva dentro daquele prazo estabelecido, comportando intervenções somente naqueles casos
legalmente previstos, o que está longe de torná-la uma autorização.
384
TRENNEPOHL, Curt. e TRENNEPOHL, Terence. Op. cit., p. 12 – 13. Não obstante clara a diferença
conforme se tratar de matéria ambiental ou administrativa, em alguns aspectos a licença ambiental guarde
semelhanças com a licença administrativa. Na hipótese de superveniência de norma que impeça a continuidade
de atividade regularmente aprovada, sem possibilidade de adequação às novas regras, a suspensão ou revogação
da licença ambiental ou negativa de sua renovação obrigam à indenização do favorecido. e FARIAS, Talden.
Licenciamento Ambiental: aspectos teóricos e práticos, Belo Horizonte – MG: Fórum, 2007, p. 236-237.
385
JUNIOR, José Cretella. Dos Atos Administrativos Especiais, Op. cit., p. 154-155. No primeiro caso,
incompatível, aliás, com o Estado de direito, ocorre o chamado ato arbitrário, que se concretiza através da
vontade pessoal do titular de um órgão administrativo, que age impulsionado por paixões, caprichos ou
preferências, desamparado, portanto, de qualquer fundamento legal. Neste caso, o agente deixa de ser
administrador, para ser dominus, substituindo o equilíbrio pela emoção.
152
386
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 539. Em síntese, a licença ambiental, apesar de ter prazo de validade estipulado,
goza do caráter de estabilidade, de jure; não poderá, pois, ser suspensa por simples discricionariedade, muito
menos por arbitrariedade do administrador público. Sua renovabilidade não conflita com sua estabilidade; está,
porém, sujeita a revisão, podendo ser suspensa e mesmo cancelada, em caso de interesse público ou ilegalidade
supervenientes ou ainda, quando houver descumprimento dos requisitos preestabelecidos no processo de
licenciamento ambiental. Mais uma vez se pode chamar a atenção para disposições peculiares do Direito do
Ambiente, peculiaridades essas fundadas na legislação e corroboradas por práticas administrativas correntes na
gestão ambiental. e ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, Op. cit., p. 140. A situação, portanto, deve
ser posta nos seguintes termos: enquanto uma licença for vigente, a eventual modificação de padrões ambientais
não pode ser obrigatória para aquele que esteja regularmente licenciado segundo os padrões vigentes à época da
concessão da licença. O Poder Público, entretanto, poderá negociar com o empreendedor a adoção voluntária de
novos parâmetros de proteção ambiental. Uma vez encerrado o prazo de validade de uma licença ambiental, os
novos padrões são imediatamente exigíveis. e BRAGA, Rodrigo Bernardes. Op. cit., p. 89.
387
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, Op. cit., p. 140. A questão não é legal: é econômica. Nem
sempre o capital para os investimentos necessários estão disponíveis e, evidentemente, existem diversos fatores
que impedem o fechamento tout court de uma atividade produtiva. Resulta, deste conjunto de circunstâncias, que
a negociação para o atendimento de novos padrões é o único caminho que pode, de fato, assegurar o
aprimoramento dos padrões é o único caminho que pode, de fato, assegurar o aprimoramento dos padrões
153
efetivos de proteção ambiental. e OLIVEIRA, Antonio Inagê de Assis. O Licenciamento Ambiental, Op. cit., p.
47. Na verdade, o licenciamento ambiental foi concebido e deve ser entendido como se fosse um compromisso
estabelecido entre o empreendedor e o Poder Público. De um lado, o empresário se compromete a implantar e
operar a atividade segundo as condicionantes constantes dos alvarás de licença recebidos e, de outro lado, o
Poder Público lhe garante que durante o prazo de vigência da licença, obedecidos as condicionantes, em
circunstâncias normais, nada mais lhe será exigido a título de proteção ambiental.
388
FINK, Daniel Roberto. e MACEDO, André Camargo Horta de. Roteiro para Licenciamento Ambiental e
outras Considerações, In: FINK, Daniel Roberto.; JR, Hamilton Alonso e DAWALIBI, Marcelo. Op. cit., p. 17.
Em outras palavras, enquanto as condições fixadas pela licença ambiental atenderem ao fim maior que é a
preservação do meio ambiente saudável, será mantida; caso deixe de atendê-lo, a licença deverá ser revista.
Infere-se, portanto, que a licença ambiental é dotada, implicitamente, de uma verdadeira cláusula rebu sic
stantibus, ou seja, se as condições originais que deram ensejo à concessão da licença mudarem, esta também
pode ser alterada ou até retirada. Ademais, essas licenças são revistas periodicamente, já que concedidas por
154
prazos certos. e MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 551. e FIQUEIREDO, Lúcia Valle. Discriminação Constitucional
das Competências Ambientais, Op. cit., p. 54.
155
389
MASAGÃO, Mario. Op. cit., p. 131 – 132.
157
marca toda a trajetória da sua vida, como integrante de uma organização política.390
Enquanto isso, o Município é uma estrutura com atribuições próprias, que tem como
responsabilidade a ordenação da cidade e suas comunidades na abrangência de
seu território, de forma que possa proporcionar um melhor bem estar às pessoas
que vivem no seu espaço, seja no campo, seja na própria cidade.391 Acredito que as
marcas políticas que a cidade deixa nos indivíduos também acontecem nos
Municípios, visto que as pessoas ainda vivem em cidades ou comunidades que
existem no âmbito de abrangência dos Municípios.
No sistema federativo brasileiro, o Município foi elevado a ente
da Federação392, que está no mesmo nível de igualdade perante a União e os
Estados-membros, transformando as características até então existentes de um
federalismo dual para uma formação tripla, formando um terceiro ente autônomo393,
uma vez que, a partir da Constituição Federal de 1988, o Município passou a ter
autonomia plena, pois adquiriu o poder-dever de se autogovernar, auto-administrar e
auto-organizar, que não existia nas Constituições anteriores, tendo em vista que
somente se autogovernavam e auto-administravam seus interesses, não existindo a
possibilidade de se organizarem como ente político. Dessa forma, o Município
alcançou a melhor posição na estrutura política brasileira até então concebida,
390
ROCHA. Cármen Lúcia Antunes. República e Federação no Brasil, Belo Horizonte – MG: Del Rey, 1997, p.
261. A cidade marca mais que a história política imediata do homem; constitui a sua história emocional primária.
O indivíduo descobre-se na cidade, faz-se nela e é, em parte, resultado dela. O ambiente que deixa o seu sinal
mais profundo no homem é aquele que se configura em sua cidade. Nela o indivíduo descobre o seu “eu”
político.
391
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 14ª ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 34 – 35. O
Município no mundo moderno diversificou-se em estrutura a atribuições, ora organizando-se por normas
próprias, ora sendo organizado pela Estado segundo as conveniências da Nação, que lhe regula a autonomia e lhe
defere maiores ou menores incumbências administrativas no âmbito local. O inegável é que na atualidade o
Município assume todas as responsabilidades na ordenação da cidade, na organização dos serviços públicos
locais e na proteção ambiental de sua área, agravadas a cada dia pelo fenômeno avassalador da urbanização, que
invade os bairros e degrada seus arredores co habitações clandestinas e carentes dos serviços públicos essenciais
ao bem-estar dessas populações.
392
José dos Santos Carvalho. Pacto Federativo: Aspectos Atuais, In: QUARESMA, Regina. e OLIVEIRA, Maria
Lúcia de Paula. Op. cit., p. 410-411. Se nas federações em geral a afirmação é exata, com mais razão ela o é no
regime federativo pátrio, em que, diversamente de outras nações, a Constituição adota federação de três graus,
composta de União, Estados-membros e Municípios. Não cabe aqui entrar na discussão sobre se os Municípios
são (ou devem ser) membros da federação. Cabe-nos somente trazer à colação o art. 18 da vigente Constituição,
que não deixa qualquer margem a dúvida sobre a matéria: os Municípios são entes participantes da federação e
são dotados de autonomia, a mesma, aliás, conferida aos demais entes integrantes, embora com demarcação
diferente. Sendo integrantes da federação, não há como alijá-los do pacto federativo, pois que pacto é exatamente
o vínculo político-constitucional que deixa as entidades federativas atreladas entre si como células do Estado
num todo.
393
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, Op. cit., p. 345.
158
passando a ter um real poder municipal, sem a possibilidade de influência dos outros
entes federativos, a não ser para preservar o próprio sistema.394
O Município adquiriu competências privativas que impedem a
intervenção dos outros entes no exercício de tais competências, solidificando sua
autonomia, que anteriormente se restringia à administração de seus interesses e ao
governo, pois passou a se organizar como ente político e com funções próprias e
privativas, fazendo ressurgir fortalecidamente o princípio da autonomia municipal e o
poder de organização política torna-se garantia constitucional, através do dever dos
Municípios elaborarem suas próprias Leis Orgânicas, que alguns consideram como
verdadeiras Constituições Municipais, e é por meio dessas Leis que os Municípios
estabelecem a sua organização política, seus princípios e regras a serem aplicados
no território municipal respeitando as normas gerais nacionais, federais e estaduais.
Importante apontar que esses princípios e regras nacionais, federais e estaduais a
serem respeitados não correspondem a condutas municipais, mas a normas gerais
ou condutas estabelecidas a nível nacional.395 Cármen Lúcia Antunes Rocha396
afirma que a obediência às normas gerais não compromete o raio de atuação dos
Municípios, visto que o cumprimento dessas normas pode ser exercido de diversas
formas e consubstanciam princípios constitucionais que devem ser uniformemente
estabelecidos em toda Federação brasileira, mas a forma de estabelecer e aplicar
esses princípios e regras é atribuição do legislador municipal, através da Lei
Orgânica e as outras normas municipais.
Importante explicitar que a autonomia municipal não tem
obrigatoriamente relação com o sistema federativo, até porque, no Brasil, os
Municípios sempre tiveram algum raio de autonomia, pois, dependendo do momento
político, administraram seus interesses e se autogovernaram, elegendo seus
394
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, Op. cit., p. 347. A concepção política desse poder
transitou de uma modalidade “política” e abstrata, historicamente frágil e passageira, não obstante sua amplitude
teórica, para uma versão mais sólida, porém menos larga, ou politicamente menos ambiciosa, a qual, em
compensação, lhe confere, dentro de quadros formais rígidos, uma superior conotação de juridicidade
institucional, de máxima autonomia possível. Um poder municipal realisticamente concebido, pois, no Estado,
em contraste com aquele esboçado contra o Estado, conforme constava das primeiras versões políticas da
filosofia da liberdade. e ROCHA. Cármen Lúcia Antunes. República e Federação no Brasil, Belo Horizonte –
MG: Del Rey, 1997, p. 291.
395
ROCHA. Cármen Lúcia Antunes. Op. cit., p. 291.
396
Ibidem, p. 292. Poder-se-ai asseverar que o imperioso acatamento dos princípios constitucionais nacionais e
estaduais tolheria o legislador municipal, impedindo criações significativas nesse plano. Não é isso exatamente
verdade, quando se leva em conta que os princípios limitadores, materialmente, do legislador municipal são
aqueles que se referem à Democracia, à República, à participação popular, enfim, princípios que podem ser
aplicados e exercidos de variadas formas, o que permite um raio de ação do legislador bastante interessante.
159
397
MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 40 – 43.
398
BARROSO, Luis Roberto. Direito Constitucional Brasileiro, Op. cit., p. 23. Ressalta-se, por oportuno, que a
capacidade de auto-organização é, do ponto de vista formal, a mais relevante manifestação da autonomia,
conferindo às unidades federadas o poder de se estruturarem tal qual um Estado, gozando da titularidade de
funções da mesma natureza daquelas que compõem o Estado federal.
399
MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 92 – 93.
400
MASAGÃO, Mario. Op. cit., p. 137 – 138.
401
CAVALCANTE, Themistocles Brandão. Teoria do Estado, Op. cit., p. 230. Os interêsses locais são aqueles
mais imediatamente necessários às exigências do povo, em sua vida cotidiana e no exercício de suas atividades
elementares. O indivíduo deve encontrar nas autoridades locais e nos serviços a seu cargo os meios necessários
para satisfazer êsses interêsses.
160
402
ROCHA. Cármen Lúcia Antunes. Op. cit., p. 293.
403
Ibidem, p. 294. É de se enfatizar que o que pode ser interesse municipal pode ser alterado no curso da
história, e normalmente isso ocorre, além de não se poder fazer tal cogitação quando determinado serviço ou
matéria estiver alocada, constitucionalmente, no rol de competências de outra entidade, porque aí então o próprio
constituinte nacional terá definido a exclusão do serviço ou função da apreciação do interesse de outra pessoa.
161
ser exercida pelo Município e quando o Estado-membro atua dessa maneira age de
forma inconstitucional.
Outra questão interessante é delimitar o conteúdo do interesse
local, como se pode identificar o que vem a ser interesse local e o que são
interesses nacional, federal e estadual. Uma forma é através do texto constitucional
quando de forma expressa enuncia o que vem a ser o interesse local, como faz no
artigo 30, da Constituição Federal, outra forma decorre do texto constitucional
estadual, que declara os assuntos de interesse local405 e por fim, o mais importante
meio de definição do conteúdo do interesse local, é o feito pelo próprio Município,
visto que, dessa forma, parte-se de uma definição realística e não abstrata, que além
de ser positivado no texto da Lei Orgânica Municipal, também pode advir de diversos
fatores em desenvolvimento nos Municípios e nesse momento, que é fundamental a
participação da sociedade na definição dos interesses que devem existir no
Município e que por serem interesses locais devem ser regulamentados.406 É a fiel
efetivação do princípio democrático, fundamental em um Estado Democrático de
Direito.
404
GUIMARÃES, Juliana Pita. Competência Constitucional dos Municípios em Matéria Ambiental, In:
COUTINHO, Ronaldo. e ROCCO, Rogério. O Direito Ambiental das Cidades, Rio de Janeiro: DP&A, 2004, p.
81-82.
405
KRELL, Andreas J. Autonomia Municipal e Proteção Ambiental: Critérios para Definição das Competências
Legislativas e das Políticas Locais. In: KRELL, Andreas J. e MAIA, Alexandre da. A Aplicação do Direito
Ambiental no Estado Federativo, Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2005, p. 181.
406
Ibidem, p. 182. O interesse local é, portanto, variável em função da localização geográfica, dimensão,
população, tradição, aspectos históricos e culturais, potencialidades, níveis de urbanização, características do
solo, aspirações do povo, proximidade ou afastamento de centros polarizadores, etc.
162
407
KRELL, Andreas J. Autonomia Municipal e Proteção Ambiental: Critérios para Definição das Competências
Legislativas e das Políticas Locais. In: KRELL, Andreas J. e MAIA, Alexandre da. Op. cit., p. 180 – 181. Os
municípios representam, em geral, a esfera da administração pública na qual as pessoas são mais confrontadas
com as necessidades diárias de proteção ao seu meio ambiente e também onde esses problemas se apresentam de
maneira mais nítida. É no município que se manifestam os chamados conflitos de alvo: a proteção ambiental
local normalmente entra em concorrência com as áreas tradicionais da política econômica, habitacional e de
transporte. São justamente as decisões dos órgãos da política municipal que afeiçoam e organizam o mundo local
e a vida do ser humano e, ao mesmo tempo, transformam o seu meio ambiente natural e social. e ANTUNES,
Paulo de Bessa. Federalismo e Competências Ambientais no Brasil, Op. cit., p. 112 – 113.
408
ROCHA. Cármen Lúcia Antunes. Op. cit., p. 294.
409
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237 de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em <URL: http://www.conama.gov.br> Acesso em: 18 dez 2007. Art. 5o Compete ao órgão
ambiental estadual ou do Distrito Federal o licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades:
I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de conservação de domínio estadual
ou do Distrito Federal;
II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente
relacionadas no artigo 2o da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem
consideradas por normas federais, estaduais ou municipais;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios;
IV – delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio.
Parágrafo único. O órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal fará o licenciamento de que trata este artigo
após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se localizar a
atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento.
Art. 6o Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes da União, dos Estados e do
Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto
ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio.
163
410
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - BR, Lei nº 11.520, de 03 de agosto de 2000 Código Estadual do
Meio Ambiente, Disponível em: <http://www.sema.rs.gov.br>. Acesso em: 18 de mar. 2008. Art. 69 - Caberá
aos municípios o licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades consideradas como de impacto
local, bem como aquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio.
Parágrafo único - O órgão ambiental competente proporá, em razão da natureza, característica e complexidade, a
lista de tipologias dos empreendimentos ou atividades consideradas como de impacto local, ou quais deverão ser
aprovados pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente.
411
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – BR. Decreto nº 40793, de 05 de junho de 2007. Disponível em:
<http://www.feema.rj.gov.br>. Acesso em: 01 de mar. 2008.
164
412
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – BR. Decreto nº 40793, de 05 de junho de 2007. Disponível em:
<http://www.feema.rj.gov.br>. Acesso em: 01 de mar. 2008. Art. 4º - A celebração de convênio de que trata este
ato normativo não desobriga o Estado do exercício do poder de polícia ambiental, quando caracterizada a
comissão ou inépcia do município no desempenho da atividade de licenciamento e fiscalização, não impedindo a
adoção pelo Estado, de medidas urgentes necessárias a evitar ou minorar danos ambientais. § 1º - Os
Órgãos/Entidades ambientais municipais deverão apresentar ao órgão/entidade ambiental estadual,
bimestralmente, o cadastro georeferenciado das atividades licenciadas, juntamente com a cópia das licenças
ambientais outorgadas em meio digital. § 2º - O órgão/entidade ambiental estadual poderá exigir, quando
necessário, o Relatório de Auditoria Ambiental de empreendimentos licenciados pelos municípios.
413
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – BR. Decreto nº 40793, de 05 de junho de 2007. Disponível em:
<http://www.feema.rj.gov.br>. Acesso em: 01 de mar. 2008. Art. 5º - É condição para celebração de convênio e,
conseqüentemente, para a realização do licenciamento ambiental municipal, que o município: III – Possua
legislação própria disciplinando o licenciamento ambiental municipal e as sanções administrativas pelo seu
165
afronta a autonomia financeira dos Municípios, tendo em vista que obriga que os
mesmos repassem ao Estado-membro um percentual de 20% decorrente
obviamente do exercício do poder de polícia, que é a taxa de licenciamento
ambiental, devido à orientação e supervisão.414 Importante observar que esse
decreto estadual é inconstitucional, uma vez que não pode, no sistema federativo
brasileiro, um ente obrigar, para o exercício de uma atuação administrativa, que
outro ente venha a se organizar da forma que o primeiro deseja. A auto-organização
é elemento essencial no federalismo brasileiro, sendo inconstitucional qualquer
imposição de um ente em relação a outro para o exercício de competências
constitucionais. Dessa forma, não pode o decreto estadual exigir que os Municípios
tenham, para exercer o licenciamento ambiental, plano diretor ou leis de diretrizes
urbanas, pois o ordenamento jurídico em nada exigiu a esse respeito; somente
exigiu que os Municípios promovessem a proteção ambiental através do artigo 23 e
225, afastando a possibilidade de restrições ou imposições dos outros entes
federativos, pois a base do exercício do licenciamento ambiental municipal é a
mesma do federal e estadual.
Quanto ao repasse de 20%, decorrente do recebimento da
taxa de licenciamento, tal enunciado viola a autonomia financeira, uma vez que o
licenciamento ambiental municipal não é uma delegação voluntária do Estado-
membro que possa exigir repasse pelo exercício de poder de polícia, mas um poder
municipal constitucional. E por ser assim, não há que se ter repasse pelo exercício
de poder de polícia originário, nascido com a Constituição Federal, e pior é a
justificativa para o repasse por ser em decorrência da orientação e supervisão o que
não procede, uma vez que não cabe ao Estado-membro no exercício do Poder
Executivo supervisionar as competências constitucionais dos Municípios e, quanto à
orientação, está vinculada a uma cooperação voluntária e não obrigatória. Assim
descumprimento; IV – Possua Plano Diretor, Município com a população superior a 20.000 (vinte mil)
habitantes, ou lei de diretrizes urbanas, o Município com população igual ou inferior a 20.000 (vinte mil)
habitantes. V – dê ciência ao órgão/Entidade ambiental estadual sobre as informações relativas aos seguintes
instrumentos de controle vigentes, conforme respectivas Deliberações CECA: Procon Ar, Procon Água,
Inventário e Manifesto de Resíduos;
414
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – BR. Decreto nº 40793, de 05 de junho de 2007. Disponível em:
<http://www.feema.rj.gov.br>. Acesso em: 01 de mar. 2008. Art. 9º - Deverá repassado à FEEMA o valor
correspondente a 20% (vinte por cento) do total arrecadado pelos Municípios no procedimento de licenciamento
ambiental, a título de ressarcimento pelas atividades efetivamente realizadas, referentes a orientação e
supervisão.
166
415
KRELL, Andreas J. Autonomia Municipal e Proteção Ambiental: Critérios para Definição das Competências
Legislativas e das Políticas Locais. In: KRELL, Andreas J. e MAIA, Alexandre da. Op. cit., p. 171. Sob o
aspecto formal, o município brasileiro certamente é a entidade territorial local investida da autonomia mais
abrangente no mundo inteiro. No exercício das suas atribuições, ele atua em absoluta igualdade de condições
com as outras esferas governamentais; os atos municipais independem da prévia autorização ou de posterior
ratificação de qualquer outra entidade estatal.
167
416
KRELL, Andreas J. Autonomia Municipal e Proteção Ambiental: Critérios para Definição das Competências
Legislativas e das Políticas Locais. In: KRELL, Andreas J. e MAIA, Alexandre da. Op. cit., p. 171. Não existe
nenhuma hierarquia formal entre as leis da União, as dos estados e as dos municípios: cada um desses sistemas
possui o seu próprio espaço de soberania enquanto se desenvolve nos limites da sua competência constitucional.
Dentro dessa esfera de autonomia, a norma municipal possui um status de inviolabilidade, podendo derrogar
também normas superiores que a contrariem, sendo inconstitucionais a lei estadual e a lei federal que,
desbordando dos limites das respectivas competências, invadirem o campo da competência municipal.
417
FARIAS, Talden. Op. cit., p. 168. O convênio administrativo tende a racionalizar a atuação dos órgãos
administrativos de meio ambiente, porque evita a duplicidade de ações e permite que um maior número de
atividades seja devidamente licenciado e fiscalizado. Com isso o licenciamento ambiental será mais efetivo e o
seu objetivo maior, que é a concretização do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
estará mais próximo.
418
Ibidem, p. 158. É sabido que é da Constituição Federal que deve se retirar o esclarecimento quanto à
competência dos Municípios para fazer licenciamento ambiental.
168
gerações futuras que têm o direito de ter um ambiente adequado para quando
vierem a existir. Dessa forma o texto constitucional, em capítulo próprio, que trata do
ambiente, normatizou como sendo um dever a proteção e preservação ambiental
pelo Poder Público e pela Coletividade, não excluindo nenhum ente público, visto
que Poder Público compreende todo um complexo de representação estatal,
estando incluído a União, Estados-membros, Municípios e o Distrito Federal, ainda
na distribuição de competências o Município tem o dever de proteger o ambiente
concorrentemente com os outros entes federativos.419 Assim, a Constituição Federal
de 1988 impõe que os entes federativos locais exerçam o controle ambiental e o
licenciamento ambiental, como dito, é um instrumento de controle e por ser o
Município ente da Federação, esses entes têm competência para a instituição do
licenciamento ambiental, ainda porque em nenhum momento o ordenamento
constitucional impossibilitou expressamente o exercício desse instrumento pelos
entes locais.420 Além disso, por se tratar de um instrumento administrativo de
controle ambiental que tem por objetivo ponderar os direitos fundamentais incidentes
em determinado caso concreto, que aparentemente se apresentam conflitantes,
esse é um instrumento que visa à efetivação de direitos fundamentais que também é
um dever constitucional do Município e que somente poderia ser restringido através
do próprio ordenamento constitucional, conforme os apontamentos do segundo
capítulo deste estudo, que tratou da adequada interpretação das normas ambientais
e da possibilidade de restrição dos direitos fundamentais.
Ocorre que, pelo fato de a Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente ter sido editada em momento anterior a Constituição vigente, a sua
interpretação deve adequar-se ao novo ordenamento constitucional e não acreditar
que a interpretação dessa lei a época que foi editada permaneça adequada,
simplesmente pelo fato de ela ter sido recepcionada pela Constituição Federal de
1988, deve o intérprete jurídico estabelecer um entendimento dessa lei federal e não
mais nacional, com a Constituição Federal em vigor, que passou a inserir o
Município no quadro dos entes federativos e atribuiu competências próprias no que
419
FARIAS, Talden. Op. cit., p. 159.
420
JUNIOR, Hamilton Alonso. Da Competência para o licenciamento Ambiental, In: FINK, Daniel Roberto.; JR,
Hamilton Alonso e DAWALIBI, Marcelo. Op. cit., p. 48 – 49. Portanto, União, Estados, Distrito Federal e
Municípios devem sem qualquer sobreposição ou hierarquia administrativa (executiva), “...proteger o meio
ambiente e combater a poluição ...”, utilizando para tanto os instrumentos postos à disposição na legislação,
respeitando, cada qual, a autonomia alheia.
169
Dentre esses instrumentos temos, com grande eficácia, em face do caráter preventivo, o licenciamento ambiental
(art. 9º, IV, da Lei nº 6.938/81).
421
PEIXINHO, Manoel Messias. A Interpretação da Constituição e os Princípios Fundamentais, Op. cit., p. 109.
A interpretação conforme a Constituição permite a independência dos órgãos que a promovem, caracterizando
uma posição ativa e quase criadora do controle constitucional. Imprescindível é que a interpretação conforme a
Constituição não permite que o preceito legal fique sem qualquer função útil ou acolha critérios e soluções
170
este dever. É uma clara interpretação da norma inferior que restringe norma superior
e tal hermenêutica retira a Constituição Federal do ápice do ordenamento jurídico
pátrio.
Ao mesmo tempo, afirmar que o artigo 10 da Lei federal nº
6.938/81 não foi recepcionado pelo ordenamento constitucional em vigor é
extremamente exagerado e prejudicial ao controle ambiental de nível federal, pois é
esse artigo que, segundo o princípio da legalidade, permite que a União possa
exercer o licenciamento ambiental das atividades de sua competência, até porque é
ela que instituiu a utilização de tal instrumento e alguns critérios definidores dos
objetos a serem licenciados pelo órgão ambiental federal, determinado que cabe
atualmente ao IBAMA o licenciamento de atividades e empreendimentos que
possam causar impactos de âmbito nacional ou regional. A não recepção do artigo
10 da lei em comento causa um sério prejuízo à proteção ambiental, pois inexistiria
órgão competente para licenciar as condutas que causem um significativo impacto
de nível nacional ou regional, até porque mesmo a União tendo a competência sobre
os assuntos de predominância nacional e regional, faltaria lei que pudesse autorizar
o exercício desse instrumento, até que fosse editada nova lei federal que instituísse
o licenciamento a nível federal. Evidente que nem todo o artigo 10 poderá ser tido
como recepcionado, tendo em vista que violam a autonomia dos entes federativos,
conforme faz o §2º do artigo em questão, pois o mesmo enuncia que alguns
licenciamentos ambientais somente terão validade após a homologação do IBAMA.
Tal norma fere o sistema federativo brasileiro, uma vez que como dito anteriormente,
cada ente tem sua autonomia administrativa e um não pode condicionar o exercício
administrativo do outro, e é o licenciamento ambiental um instrumento de proteção
ambiental que funciona formalmente através de um procedimento administrativo e
por tal é impossível que uma lei federal estabeleça um condicionamento ao exercício
administrativo dos Estados-membros e dos Municípios. Com isso, para evitar um
prejuízo ao procedimento administrativo de licenciamento ambiental a nível federal é
extremamente importante que se estabeleça uma hermenêutica conforme a
Constituição Federal referente ao licenciamento instituído pela Lei Federal nº
6.938/81.
422
BRASIL, Tribunal Regional Federal, 4ª Região, Proc. nº 200004011184978 UF: RS, Terceira Turma, Relator:
Juiz Luiz Dias Cassales, julgado em 09 de out. de 2001: Disponível em: <http://www.trf4.gov.br> . Acesso em:
18 de mar. 2008. 2. A Resolução Conama 237/97, que introduziu a municipalização do procedimento de
licenciamento, é eivada de inconstitucionalidade, posto que exclui a competência da União nessa espécie de
procedimento.
423
ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental, Op. cit., p. 145 – 147.
172
CONAMA 237/97424 estabeleceu, nos artigos 4º, 5º e 6º, que cabe à União o
licenciamento ambiental das atividades e empreendimentos que causem significativo
impacto de nível nacional ou regional, apresentando uma relação exemplificativa de
situações em que o impacto é nacional ou regional, já no artigo 5º, a mesma
resolução determina que cabe aos Estados-membros o licenciamento de atividades
e empreendimentos relacionados nos incisos do artigo, cabendo, neste momento,
apontar algumas observações, já que o caput do artigo em comento não estabelece
que cabe aos Estados-membros o licenciamento ambiental das condutas que
causem significativo impacto estadual, sendo somente mencionado nos incisos, o
que me faz acreditar que nem todas as atividades relacionadas e possivelmente
licenciadas pelos Estados-membros estão atreladas ao impacto estadual. Tal
situação, penso, vem reafirmar meu posicionamento a respeito da competência
residual dos Estados-membros, inclusive no exercício do licenciamento ambiental,
uma vez que se houvesse uma obrigatoriedade do licenciamento ambiental estadual
somente para atividades de impacto estadual, não poderiam os entes estaduais
exercerem o licenciamento que compreendesse impactos locais, como acontece nos
424
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237 de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em <URL: http://www.conama.gov.br> . Acesso em: 26 de mar de 2008. Art. 4o Compete ao Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o
licenciamento ambiental a que se refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e
atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber: I - localizadas ou
desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona
econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União. II - localizadas ou
desenvolvidas em dois ou mais Estados; III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do
País ou de um ou mais Estados; IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e
dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e
aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN; V - bases ou empreendimentos
militares, quando couber, observada a legislação específica.§ 1o O IBAMA fará o licenciamento de que trata este artigo
após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Estados e Municípios em que se localizar a
atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento. § 2o O
IBAMA, ressalvada sua competência supletiva, poderá delegar aos Estados o licenciamento de atividade com
significativo impacto ambiental de âmbito regional, uniformizando, quando possível, as exigências. Art. 5o
Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o licenciamento ambiental dos empreendimentos e
atividades: I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de conservação de
domínio estadual ou do Distrito Federal; II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de
vegetação natural de preservação permanente relacionadas no artigo 2o da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de
1965, e em todas as que assim forem consideradas por normas federais, estaduais ou municipais; III - cujos
impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios; IV – delegados pela
União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio. Parágrafo único. O órgão
ambiental estadual ou do Distrito Federal fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame
técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se localizar a atividade ou empreendimento,
bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento. Art. 6o Compete ao órgão ambiental municipal,
ouvidos os órgãos competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento
ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo
Estado por instrumento legal ou convênio.
173
425
BRASIL, Tribunal Regional Federal, 4ª Região, Proc. nº 200272080031198 UF: SC, Quarta Turma, Relator:
Juiz Valdemar Capeletti, julgado em 27 de jul. de 2005: Disponível em: <http://www.trf4.gov.br> . Acesso em:
16 de fev. 2008. Não se vislumbra inconstitucionalidade impingida na Resolução 237 do CONAMA, tendo-se
em vista que foi expedida em harmonia com a Constituição da República e com a legislação federal, sendo,
portanto, meio legislativo idôneo para esmiuçar e regulamentar o comando legal que, por sua natureza geral, não
se ocupa de questões específicas e particulares.
426
JUNIOR, Hamilton Alonso. Da Competência para o licenciamento Ambiental, In: FINK, Daniel Roberto.; JR,
Hamilton Alonso e DAWALIBI, Marcelo. Op. cit., p. 55. Por vezes, no entanto, a referida resolução afasta-se do
critério constitucional da predominância do interesse vinculado à influencia direta do impacto ambiental,
entrando em rota de colisão com a autonomia dos entes federativos. Quando isso ocorre, o dispositivo
desrespeitador da Lei Maior evidentemente deve ser desconsiderado diante da sua inconstitucionalidade ou dever
ter tal vício declarado em sede própria.
174
427
JUNIOR, Hamilton Alonso. Da Competência para o licenciamento Ambiental, In: FINK, Daniel Roberto.; JR,
Hamilton Alonso e DAWALIBI, Marcelo. Op. cit., p. 55. A Resolução nº 237, de dezembro de 1997,
compatibilizou o sistema de competência nos licenciamentos aos ditames da Carta Magna, dando competência
implementadora a quem constitucionalmente a tem, possibilitando, outrossim, que o ente federativo diretamente
atingido dentro do raio de influência do dano ambiental (potencial ou concreto) ocupe-se com a questão que lhe
diz de perto.
428
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237 de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em <URL: http://www.conama.gov.br> . Acesso em: 26 de mar de 2008. Art. 20. Os entes federados,
para exercerem suas competências licenciatórias, deverão ter implementados os Conselhos de Meio Ambiente, com
caráter deliberativo e participação social e, ainda, possuir em seus quadros ou a sua disposição profissionais
legalmente habilitados.
429
FARIAS, Talden. Op. cit., p. 160.
430
MUKAI, Toshio. Política Ambiental: responsabilidade do Poder Público por danos ao meio ambiente. In:
Fórum de Direito Urbano e Ambiental, nº 11, Belo Horizonte – MG: Fórum, 2003, p. 1090. Em nenhuma
hipótese, a título de legislação concorrente, União e Estados podem invadir matérias puramente locais, que são
de competência exclusiva do Município, nem obrigar o Município a fazer ou deixar de fazer algo, salvo se
prevista a obrigação na Constituição. Destarte, não há confundir-se: as competências para a atuação
administrativa e legislativa dos três entes federados é de natureza exclusiva, ressalvando-se que todos terão que
observar, nas suas legislações, as normas gerais da União e/ou suplementares dos Estados, quando se tratarem de
175
Municípios; e a este título (concorrente) não cabe nem à União, nem aos Estados, invadir as atribuições de
polícia puramente locais, sob pena de ofensa às autonomias dos Muncípios.
431
MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 547. Um tal sistema reclama base legal e mecanismos gerenciais que lhe garantam
legitimidade, eficiência e eficácia, para que as intervenções feitas sob sua inspiração venham adequar-se ao
176
tratamento correto à gestão ambiental – no que se refere ao Município – e ao tratamento do meio ambiente como
patrimônio da coletividade.
432
KRELL, Andreas. Discricionariedade Administrativa e Proteção Ambiental: o controle dos conceitos
jurídicos indeterminados e a competência dos órgãos ambientais: um estudo comparativo, Porto Alegre – RS:
Livraria do Advogado, 2004, p 118. No entanto, não faz muito sentido a exigência de convênio para o
licenciamento local para atividades cujos impactos se limitam ao território municipal, onde o município
tradicionalmente já é competente para atuar.
433
Ibidem, p. 117. A tradição da autonomia administrativa sempre dominante no Brasil nunca permitiu uma
restrição das tarefas e dos serviços municipais pela legislação estadual ou federal. Uma reformulação dessas
competências administrativas comuns seria possível somente através da citada lei complementar, que deve
regulamentar o art. 23, parágrafo único, CF. na falta dessa lei, são comuns os conflitos institucionais entre os
diferentes órgãos administrativos, gerando ineficiência na consecução das políticas ambientais dos diferentes
entes estatais, o que acaba beneficiando os poluidores e causadores de degradações do ambiente.
177
434
BRASIL, Tribunal Regional Federal, 5ª Região, Apelação Cível nº 393786 - RN, Terceira Turma, Relator:
Juiz Élio Siqueira, julgado em 05 de out. de 2006: Disponível em: <http://www.trf5.gov.br> . Acesso em: 20 de
mar. 2008. Na espécie, os elementos colacionados nos autos me conduzem à conclusão de que o impacto era
eminentemente local, alusivo ao equilíbrio ambiental da cidade de Natal e à questão da contaminação de
aqüíferos responsáveis pelo abastecimento de água da mesma. Nestas circunstâncias, não entendo a razão pela
qual se deva exigir o licenciamento do órgão ambiental estadual. O “caput”, do artigo 10, deve ser
compatibilizado com a Carta Magna de 1988, que contemplou os municípios entre os entes federativos
responsáveis pelo licenciamento e pela própria definição de zonas de proteção ambiental, observados os
parâmetros definidos por lei.
435
BRASIL, Tribunal Regional Federal, 5ª Região, Apelação Cível nº 327.022 - RN, Terceira Turma, Relator:
Juiz Rivaldo Costa, julgado em 22 de abr. de 2004: Disponível em: <http://www.trf5.gov.br> . Acesso em: 21 de
mar. 2008. A competência para licenciar projeto de obra ou atividade potencialmente danosa ao meio ambiente
não se fixa pela titularidade dos bens nele contemplados, mas pelo alcance dos seus possíveis impactos
ambientais.
178
436
ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental, Op. cit., p. 267. É desnecessário dizer que os EIA somente se
destinam a examinar os impactos ambientais decorrentes da intervenção humana voluntária sobre o meio
ambiente. Os impactos ambientais ocorridos em razão de acontecimentos naturais não possuem interesse para o
presente trabalho.
437
Idem.
438
Ibidem, p. 271-272.
439
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 001 de 23 de janeiro de 1986. Disponível
em <http://www.conama.gov.br> . Acesso em: 23 de mar. de 2008. Art. 1º Para efeito desta Resolução,
considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou
indiretamente, afetem: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II- as atividades sociais e
econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos
recursos ambientais.
179
440
BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei Complementar - PLP nº 388/2007: Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br > . Acesso em: 12 de fev. 2008. Art. 10. Para os efeitos desta Lei, considera-se: I -
impacto ambiental direto de âmbito nacional ou regional: aquele que afete diretamente, no todo ou em parte, o
território de dois ou mais Estados Federados ou cujos impactos ambientais significativos diretos ultrapassem os
limites territoriais do País; II - impacto ambiental direto de âmbito estadual: aquele que afete diretamente, no
todo ou em parte, o território de dois ou mais Municípios; e III - impacto ambiental direto de âmbito local:
aquele que afete direta, no todo ou em parte, o território de um município sem ultrapassar o seu limite territorial.
180
441
KRELL, Andreas J. Autonomia Municipal e Proteção Ambiental: Critérios para Definição das Competências
Legislativas e das Políticas Locais. In: KRELL, Andreas J. e MAIA, Alexandre da. Op. cit., p. 179. Pode-se
atribuir aos textos estaduais, que tratam das competências municipais, o seguinte significado: onde a Carta
Estadual declara os municípios a serem competentes para determinar tarefas, o próprio estado reconhece, de
maneira indireta, que tais funções – salvo raras exceções – não são de interesse predominantemente regional (=
estadual) e que, portanto, estão os municípios facultados e “exortados” a editar suas próprias legislações nessas
áreas, podendo incluí-los, desde o início, nas suas Leis Orgânicas Municipais.
181
442
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237 de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em <URL: http://www.conama.gov.br> . Acesso em: 26 de mar de 2008. Art. 1º Para efeito desta
Resolução são adotadas as seguintes definições: IV - Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto
ambiental que afete diretamente (área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou
mais Estados.
443
BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei Complementar - PLP nº 388/2007: Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br > . Acesso em: 12 de fev. 2008.
444
BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei Complementar - PLP nº 388/2007: Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br > . Acesso em: 12 de fev. 2008.
445
BRASIL, Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF, Centro de Biociência e Biotecnologia – CBB,
Herbário, Campos dos Goytacazes – RJ: Disponível em: <http://www.uenf.br/uenf/pages/cbb/herbario>, Acesso
em: 30 de out de 2007.
182
446
BONAVIDES, PAULO. Curso de Direito Constitucional, Op. cit., p. 571.
447
Idem.
448
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. cit., p. 126.
183
449
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. cit., p. 126. Diz-se que é um processo
de convivência, primeiramente para denotar sua historicidade, depois para realçar que, além de ser uma relação
de poder político, é também um modo de vida, em que, no relacionamento interpessoal, há de verificar-se o
respeito e a tolerância entre os conviventes.
450
HABERMAS, Jürgen. Op. cit., p. 11.
451
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. cit., p. 133.
184
452
ARISTÓTELES. Op. cit., p. 177.
453
Ibidem, p. 180. O primeiro tipo de democracia é a que tem a igualdade como base. Nos termos da lei que
regula essa democracia, a igualdade vem a significar que os ricos e os pobres não possuem privilégios políticos,
que tanto uns como os outros não são soberanos de um modo exclusivo, e sim que todos o são precisamente em
igual proporção.
454
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade, 3ª ed, 14ª tiragem, São
Paulo: Malheiros, 2006, p. 12 –13.
185
455
BONAVIDES, PAULO. Curso de Direito Constitucional, Op. cit., p. 372-380.
456
Ibidem, p. 372.
457
GOULART, Clovis de Souto. Formas e Sistemas de Governo. Uma Alternativa para a Democracia Brasileira,
Porto Alegre - RS: Sergio Antonio Fabris Editor, 1995, p. 88.
458
Idem. Mas a democracia ateniense – para nos referirmos apenas ao Estado-cidade que mais se notabilizou
pela prática do governo direto – conforme já observamos em outro momento, não foi, a rigor, “democrático”,
pelo menos na acepção moderna do termo, como governo do povo, posto que a maioria era escrava e, nesta
condição, nenhuma participação tinha no exercício do poder.
459
BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Uma Defesa das Regras do Jogo, Op. cit., p. 42.Mas o
indivíduo rousseauniano conclamado a participar da manhã à noite para exercer os seus deveres de cidadão não
seria o homem total mas o cidadão total (como foi chamado com evidentes intenções polêmicas por Dahrendorf).
E, bem vistas as coisas, o cidadão total nada mais é que a outra face igualmente ameaçadora do estado total.
186
460
Para GOULART, Clovis de Souto, em sua obra (Formas e Sistemas de Governo. Uma Alternativa para a
Democracia Brasileira, Porto Alegre - RS: Sergio Antonio Fabris Editor, 1995 p. 93.) A origem deste modelo de
democracia surgiu verdadeiramente na segunda metade do século XVIII, tendo anteriormente um caráter
eminentemente aristocrático, bastando para isso observar a formação da Câmara dos Lordes na Inglaterra no qual
os contribuintes passaram a serem representados, mas esta representação não tinha nenhuma conotação política
popular. Os parlamentos medievais configuram-se como verdadeiros nascedouros da democracia representativa,
vez que nestes existiam a participação política popular, pois eram constituídos de três estados: nobreza, clero e
burguesia. Esta última por ser altamente numerosa intervinha nos parlamentos através de representantes eleitos
da vontade dos burgueses.
461
BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Uma Defesa das Regras do Jogo, Op. cit., p. 44.
462
COSTA, Juliana Pedrosa. Gestão Democrática das Cidades, Revista de direito Municipal – RDM, Belo
Horizonte: Fórum, ano 5, nº 13, p, 81-102, jun/set. 2004, p. 88. O desvanecimento do poder representante do
cidadão, limitado no seu poder de escolha do mandatário, e a liberdade do mandatário, agindo sem vínculo com a
187
representação, agravam a falência da democracia representativa tanto mais quanto outros órgãos, organismos,
instituições e entidades, sem raízes na vontade popular, sem pouso na soberania do voto e sem legitimidade.
463
GOULART, Clovis de Souto. Op. cit., p. 93.
464
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. cit., p. 140-141.
465
GOULART, Clovis de Souto. Op. cit., p. 99. Se, de um lado, se consolida o pensamento de que o Estado
moderno, por razões múltiplas que vão desde a extensão territorial e densidade demográfica, até a complexidade
dos encargos de governo, tornou-se inviável a democracia direta (nada obstante o caso isolado de cantões
suíços), de outro, surge o convencimento de que é possível, com a criação e exercício de alguns instrumentos de
atuação popular.
188
466
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. cit., p. 141. As primeiras
manifestações da democracia participativa consistiram nos institutos de democracia semidireta, que combinam
instituições de participação direta com instituições de participação indireta(...).
189
467
KRELL, Andreas Joachim. Autonomia Municipal e Proteção Ambiental: Critérios para Definição das
Competências Legislativas e das Políticas Locais. In: KRELL, Andreas Joachim e MAIA, Alexandre da. Op. cit.,
p. 164.
468
HABERMAS, Jürgen. Op. cit., p. 99.
469
Ibidem, p. 92. A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de conteúdos,
tomadas de posição e opiniões; nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se
condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos. Do mesmo modo que o mundo da vida
tomado globalmente, a esfera pública se reproduz através do agir comunicativo, implicando apenas o domínio de
uma linguagem natural; ela está em sintonia com a compreensibilidade geral da prática comunicativa cotidiana.
470
Ibidem, loc. cit. A sociedade civil compõe-se de movimentos, organizações e associações, os quais captam os
ecos dos problemas sociais que ressoam nas esferas privadas, condensam-nos e os transmitem, a seguir, para a
esfera pública política. O núcleo da sociedade civil forma uma espécie de associação que institucionaliza os
discursos capazes de solucionar problemas, transformando-os em questões de interesse geral no quadro de
esferas públicas.
190
471
CARNEIRO, Carla Bronzo Ladeira. Conselhos de Políticas Públicas: Desafios para sua Institucionalização,
Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002, v 36(2), p. 277- 292,
mar/abr., 2002, p. 280.
472
SIRAQUE, Vanderlei. Controle Social da Função Administrativa do Estado, Rio de Janeiro: Saraiva, 2005, p.
123.
473
Ibidem, p. 126-127. Formalmente, talvez não houvesse a necessidade de criação de conselhos de políticas
públicas para a aplicação dos princípios que fundamentaram a República do Brasil. Mas, a bem da verdade,
historicamente não foi possível dar eficácia plena às normas definidoras dos direitos fundamentais sem esses
191
flora e a fauna e, em especial, amostras representativas dos ecossistemas naturais, devem ser salvaguardados no
interesse das gerações presentes e futuras, mediante planejamento e ou gestão cuidadosa, como apropriado.
475
BRASIL, Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237 de 19 de dezembro de 1997.
Disponível em <URL: http://www.conama.gov.br> Acesso em: 18 dez 2007. Art. 20. Os entes federados, para
exercerem suas competências licenciatórias, deverão ter implementados os Conselhos de Meio Ambiente, com
caráter deliberativo e participação social e, ainda, possuir em seus quadros ou a sua disposição profissionais
legalmente habilitados.
193
embargou a construção de uma ponte sobre o rio Paraíba do Sul, tendo em vista
que o conselho requereu ao órgão licenciador que exigisse o estudo de impacto
ambiental e o de vizinhança que foi dispensado, tendo em vista que o Conselho
Municipal entendeu que os impactos advindos daquela obra afetariam a qualidade
ambiental e urbanística dos munícipes. Tal conduta do conselho comprova que a
construção da respectiva ponte causava um ameaça à vida dos munícipes e, por tal,
caracterizava-se que ela era eminentemente uma construção de interesse local; já
que o âmbito de incidência dos seus impactos diretos restringem-se ao território
municipal, entretanto o licenciamento ficou sob a competência do Estado-membro,
uma vez que o Município afetado não tem implementado o licenciamento ambiental,
o que nada impede que o ente local possa requerer ao ente licenciante a realização
de estudos como foi solicitado com base no princípio de participar dos processos
que possam intervir na qualidade ambiental das pessoas humanas. Infelizmente, o
órgão ambiental do Estado-membro responsável pelo licenciamento ambiental, não
ordenou a realização dos estudos ambientais e de vizinhança, na forma requisitada
pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Campos dos
Goytacazes, sendo a questão levada ao Poder Judiciário, que desconsiderou a
possibilidade da intervenção popular no processo de licenciamento ambiental da
ponte sobre o Rio Paraíba do Sul.477
É necessário que exista um conselho municipal do ambiente
para que o Município possa licenciar, pois deve existir nesses processos, a
participação da sociedade, seja representada nas plenárias dos conselhos, seja
através das audiências públicas. A existência do conselho justifica-se porque
qualquer atividade que esteja alterando as características ambientais estará violando
um direito fundamental que é o ambiente equilibrado, a não ser que seja relativizado
através da vontade da sociedade, por meio de um processo ponderativo com os
476
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, Op. cit., p. 478.
477
Tal resolução deu ensejo ao mandado de segurança nº 2005.014.016044-8, ajuizado na Comarca de Campos
dos Goytacazes pelo Estado do Rio de Janeiro. O juiz da 4ª Vara Cível entendeu que o Município não teria
competência para exigir os estudos de impacto ambiental e de vizinhança, tendo em vista não ser o órgão
licenciador, configurando invasão de competência. A referida sentença foi mantida em sede de recurso
necessário nº 2005.009.00916, pelo Tribunal de Justiça 12ª Câmara Cível. Penso que tal posicionamento do
Poder Judiciário demonstra que ainda não está preparado para decidir segundo a interpretação do
neoconstitucionalismo, visto que permanece arraigado ao positivismo clássico, que não consegue concretizar e
compatibilizar as questões ambientais, pois no caso em particular os impactos do empreendimento são
suportados pelos munícipes, que poderão ter seu direito fundamental a um ambiente equilibrado e uma qualidade
de vida adequada violados, por não poderem opinar ou até mesmo ter as informações necessárias sobre a
atividade e empreendimentos que serão submetidos caso licenciados.
194
478
BONAVIDES, PAULO. Curso de Direito Constitucional, Op. cit., p. 571-572.
479
BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Uma Defesa das Regras do Jogo, Op. cit., p. 64. Tudo está
portanto em conexão: refazendo o percurso em sentido contrário, a liberdade de dissentir tem necessidade de
uma sociedade pluralista, uma sociedade pluralista consente uma maior distribuição do poder, uma maior
distribuição do poder abre as portas para a democratização da sociedade civil e, enfim, a democratização da
sociedade civil alarga e integra a democracia política.
480
RONZANI, Dwight Cerqueira. O Município como Alternativa à Vitalização Federativa no Brasil, Revista da
Faculdade de Campos, ano VI, nº 7, Campos dos Goytacazes – RJ: Faculdade de Direito de Campos, dezembro
de 2005, p. 123.
481
KRELL, Andreas Joachim. Autonomia Municipal e Proteção Ambiental: Critérios para Definição das
Competências Legislativas e das Políticas Locais. In: KRELL, Andreas Joachim e MAIA, Alexandre da. Op. cit.,
p. 162-163.
195
482
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ. Lei Orgânica do Município de Campos dos Goytacazes – RJ, In:
FERNANDES, Jeferson Nogueira. Legislação Ambiental de Campos dos Goytacazes, Campos dos Goytacazes –
RJ: Faculdade de Direito de Campos, 2006, p.121 -128. Art. 242 - Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente sadio e equilibrado, bem de uso comum e essencial à qualidade de vida, cabendo à sociedade e,
em especial ao Governo, o dever de recuperá-lo e protegê-lo em benefício das presentes e futuras gerações, que
devem recebê-lo enriquecido. Art. 243 - Incumbe ao Governo Municipal, respeitando as orientações dos
Governos Federal e Estadual, ou colaborando com eles e com a participação da sociedade, através de seus
organismos representativos: I - proceder ao zoneamento econômico-ecológico do território do Município; II -
restaurar e defender as unidades de proteção ambiental e as reservas ecológicas, assim consideradas pela
196
legislação vigente, situadas total ou parcialmente nos limites do Município; III - inventariar, mapear e gravar
todos os ecossistemas nativos, ou parcelas deles, localizados no território do Município, vedando a sua redução e
adulteração e promovendo, direta ou indiretamente, a sua restauração de acordo com solução técnica dos órgãos
públicos competentes; IV - estimular e promover o florestamento e o reflorestamento ecológicos em áreas
degradadas, visando especialmente à proteção de encostas e de margens de ecossistemas aquáticos; V - criar
unidades de preservação e de conservação ambiental, com a finalidade de proteger e permitir a restauração de
amostras de todos os ecossistemas ou de seus remanescentes, existentes no território do Município,
providenciando com brevidade a sua efetivação por meio de indenizações devidas e a manutenção de serviços
públicos indispensáveis à sua integridade; VI - tomar medidas que permitam a compatibilização de atividades
econômicas e a proteção do meio ambiente, estimulando, principalmente, o desenvolvimento de técnicas e
tecnologias apropriadas à utilização auto-sustentada, múltipla, integrada e ótima dos ecossistemas, especialmente
com relação às coleções hídricas existentes nos limites do território municipal; VII - impor e exigir dos órgãos
competentes a adoção de normas conservacionistas para extração e utilização dos recursos não-renováveis e
renováveis; VIII - estimular e promover a arboricultura, de preferência com essências autóctones e diversificadas
em áreas adequadas, para o suprimento de energia e de matéria-prima; IX - elaborar e executar programas de
arborização urbana compatíveis com as características ambientais e culturais do Município; X - impedir a coleta
conjunta de águas pluviais e de esgotos domésticos ou industriais; XI - exigir que os lançamentos finais dos
sistemas públicos e particulares de coletas de esgotos sanitários sejam precedidos, no mínimo, por tratamento
primário completo, na forma da lei; XII - proibir o despejo, nas águas, de caldas ou vinhoto, bem como de
resíduos de dejetos capazes de torná-las impróprias, ainda que temporariamente, para o consumo e a utilização
normais ou para sobrevivência das espécies; XIII - adotar medidas para prevenir, controlar ou impedir a poluição
de qualquer tipo; XIV - zelar pela boa qualidade dos alimentos; XV - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e
a utilização de fontes energéticas renováveis e não-poluentes e tecnologias poupadoras e energia, assegurando a
todas as pessoas, nos meios rural e urbano, o direito de utilizá-las; XVI - tomar medidas que assegurem a
diversidade e a integridade genética no Município e na região em que este se insere; XVII - coibir práticas que
ameacem as espécies vegetais e animais, notadamente as consideradas em perigo de extinção, vulneráveis e
raras; XVIII - a tutela sobre a fauna silvestre autóctone, proibindo sua caça, captura e práticas que submetam
animais a crueldade; XIX - a tutela sobre animais domésticos, assegurando-lhes existência e coibindo toda e
qualquer prática que implique em crueldade, inclusive exigindo a adoção de equipamentos e procedimentos
adequados para os animais de tração e de métodos de insensibilização para animais de abate; XX - coibir,
mediante instrumentos legais, a pesca predatória; XXI - proibir a realização de eventos que impliquem no
consumo de animais capturados em seus ambientes nativos; XXII - proteger os monumentos e os sítios
paleontológicos e paleoecológicos; XXIII - promover a educação ambiental formal e informal em todos os níveis
existentes na rede de ensino, ministrando-a através de disciplina específica e das outras disciplinas, dos meios de
comunicação social e de outros recursos; XXIV - divulgar mensalmente, através dos meios de comunicação
social, informações obtidas pela monitoragem do meio ambiente e da qualidade da água distribuída à população,
a serem fornecidas pelos órgãos governamentais competentes e pelas empresas concessionárias ou
permissionárias ou ainda produzidas pela própria municipalidade, ficando assegurado a todos os interessados o
acesso a tais informações; XXV - criar o Conselho Municipal do Meio Ambiente e Urbanismo, de composição
paritária, do qual participarão os Poderes Executivo e Legislativo, a comunidade científica e as organizações
não-governamentais, na forma da lei. * Inciso alterado pela emenda 11/93. § 1º - Fica excluído da proibição
referida no inciso XII deste artigo, o lançamento de resíduos em áreas especialmente reservadas para este fim,
denominadas águas de lagoas de estabilização.
§ 2º - Incumbe ao Governo Municipal, direta ou indiretamente, providenciar a restauração dos ecossistemas
vegetais nativos destruídos, de forma a atingir pelo menos o mínimo da cobertura exigido pela legislação
vigente, de acordo com solução técnica apresentada pelos órgãos governamentais competentes.
§ 3º - Ficam proibidas obras de drenagem e retificação ou aterros, parciais ou totais, de todos os ecossistemas
aquáticos situados inteiramente nos limites do Município, ainda que integralmente localizados no interior de
propriedade particular, incumbindo ao Governo Municipal alinhar suas margens e orlas, bem como definir suas
respectivas faixas marginais de proteção, na forma da lei, até que o órgão governamental competente do Estado
tome tais providências. § 4º - Todo e qualquer padrão ambiental adotado pelo Governo Municipal deverá ser
igual ou mais restritivo que os padrões adotados pelo Governo do Estado. § 5º - As unidades de preservação e de
conservação ambientais serão criadas por lei ordinária, medida provisória ou decreto, este último ratificado por
lei, e somente alteradas e suprimidas através da lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade
dos atributos que justifiquem a sua proteção. Art. 244 - Na ausência de ação dos Governos Federal e Estadual,
cumpre ao Governo Municipal efetuar a transferência das populações e dos estabelecimentos indevidamente
instalados em caráter permanente, em áreas destinadas por lei à proteção ambiental inteiramente situadas nos
limites do Município, observados os seguintes princípios: I - recurso à ação administrativa e judicial para retirada
de invasores comprovadamente detentores de bens que tornem desnecessário o uso das áreas invadidas; II -
197
enunciadas diversas normas entre diretrizes, metas e deveres para o Poder Público
como também para a sociedade. Em relação ao licenciamento ambiental municipal
no que se refere à efetivação desse instrumento administrativo pela Administração
Pública, torna-se imprescindível a alteração, por meio de emenda, do artigo 245 da
Lei Orgânica, uma vez que o texto, do referido artigo, exclui a possibilidade de
implantação do instrumento, pois exige para a aprovação e autorização de qualquer
obra, projeto ou atividade que, de alguma forma, possa causar alteração nos
aspectos ambientais, a apresentação da licença ambiental expedida pelos órgãos
ambientais competentes da União ou do Estado, excluindo o Município da
possibilidade de poder licenciar, visto que a licença ambiental expedida pelo ente
local não teria eficácia para fundamentar a autorização ou aprovação de obras,
projetos ou atividades. Dessa forma, é necessário que primeiramente seja alterado o
texto da Lei Orgânica para que posteriormente possa ser editada uma lei municipal
com base na Constituição Federal, Estadual e na Lei Orgânica Municipal para a
efetivação do licenciamento ambiental municipal, por ser um instrumento de
proteção ambiental que auxilia o Município no cumprimento do seu dever
constitucional de proteger o ambiente, conforme os artigos 23, VI e 225.
implantação de programas econômico-sociais que permitam a transferência das populações de baixa renda, sem
qualquer ônus para elas, para áreas seguras e legalizadas; III - implantação de programas que reduzam ao
mínimo os impactos ambientais causados pela transferência e proporcionem às populações transferidas melhor
qualidade de vida. Art. 245 - Todo e qualquer projeto, obra e atividade que possa causar, direta ou indiretamente,
efetiva ou potencialmente, danos ao meio ambiente, só terá sua instalação e operação aprovadas e autorizadas
pela Prefeitura mediante apresentação de licença do órgão competente da União ou do Estado, exigindo-se, caso
necessário, relatório de impacto ambiental e sua apresentação em audiência pública na forma da lei. § 1º - É
dever inadiável da Prefeitura embargar todo e qualquer projeto, obra ou atividade que, instalando-se ou operando
clandestinamente, cause, direta ou indiretamente, potencial ou efetivamente, danos ao meio ambiente e contrarie
a legislação em vigor, ainda que conte com a aprovação e a autorização dos órgãos governamentais competentes.
§ 2º - Para defender o meio ambiente no Município e a qualidade de vida de seus habitantes, o governo
Municipal deverá, sempre que necessário, recorrer a todos os meios cabíveis, administrativos e judiciais. Art.
246 - Os servidores públicos encarregados da execução da política municipal de meio ambiente que tiverem
conhecimento de infrações persistentes, intencionais ou por omissão dos padrões e normas ambientais, deverão,
imediatamente, comunicar o fato ao Ministério Público, indicando os elementos de convicção, sob pena de
responsabilidade administrativa, na forma da lei. Art. 247 - Após o prazo de 90 (noventa) dias da criação do
Conselho Municipal de Meio Ambiente, as ações do Governo Municipal concernentes a esta matéria serão
norteadas por política específica, na forma da lei. Art. 248 - O Poder Executivo poderá, através de convênio com
qualquer órgão, efetuar ou fiscalizar a limpeza e conservação de rios e canais dentro do Município, ouvido o
Legislativo. Art. 249 - Fica o Poder Público obrigado a efetuar os despejos de lixos ou detritos em áreas a serem
determinadas pelos órgãos competentes, conforme dispuser a lei no prazo de 120 (cento e vinte) dias. Art. 250 -
As usinas de açúcar sediadas no Município ficam obrigadas a adotar, no prazo mínimo de 180 (cento e oitenta)
dias a contar da promulgação desta Lei, dispositivos que impeçam o lançamento de fuligem pelas suas chaminés.
Parágrafo único - O não cumprimento do disposto neste artigo implicará em multa a ser estabelecida em lei.
Art. 251 - Fica proibida a queima de canaviais nas propriedades localizadas na periferia da cidade, bem como
nas proximidades das sedes dos distritos. Parágrafo único - O não cumprimento do disposto neste artigo
implicará em multa a ser estabelecida em lei.
198
483
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ. Lei nº 5419, de 29 de abril de 1993 – Dispõe sobre o Sistema
Municipal de Fiscalização do Meio Ambiente com base nos incisos VI e VII do art. 23 e nos incisos I e II do art.
30 da Constituição Federal; no parágrafo 1º do Art. 11 da Lei Federal 6.938, de 31/08/81; no inciso I do Art. 1º
do Decreto Federal nº 99.274, de 06/06/90; nos incisos VI e VII do Art. 73 da Constituição Estadual; e nos
parágrafos 1º e 2º do Art. 245 da Lei Orgânica do Município de Campos dos Goytacazes. In: FERNANDES,
Jeferson Nogueira. Legislação Ambiental de Campos dos Goytacazes, Campos dos Goytacazes – RJ: Faculdade
de Direito de Campos, 2006, p.186 – 195.
484
UM PLANO debatido a exaustão. Plano Diretor Participativo. Campos dos Goytacazes: Prefeitura Municipal
de Campos dos Goytacazes, mar. 2007, p. 4.
199
485
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ. Decreto nº 15, de 10 de março de 1995 – Aprovando o Regimento
Interno do Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. In: FERNANDES, Jeferson Nogueira.
Legislação Ambiental de Campos dos Goytacazes, Campos dos Goytacazes – RJ: Faculdade de Direito de
Campos, 2006, p.198 – 200. Art. 14 – O plenário do C.C.M.M.A.U. criará câmaras técnicas e grupos de trabalho
de caráter permanente ou temporário, definindo sua composição, objetivos e atribuições.
486
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ. Lei nº 5.576, de 22 de novembro de 1993 – Institui o Fundo Municipal
do Meio Ambiente (FUMMAM), e dá outras providências. In: FERNANDES, Jeferson Nogueira. Legislação
Ambiental de Campos dos Goytacazes, Campos dos Goytacazes – RJ: Faculdade de Direito de Campos, 2006,
p.198 – 200.
487
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ. Lei nº 7.972, de 10 de dezembro de 2007 – Institui o Plano Diretor de
Campos dos Goytacazes. Disponível em: www.campos.rj.gov.br, Acesso em: 13 de maio de 2008. Art.313. Lei
de iniciativa do Poder Executivo regulamentará o instrumento referido no artigo anterior, identificando as
principais características dos empreendimentos e atividades que estarão sujeitos ao Licenciamento Ambiental
Municipal e à elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório – EIA/RIMA,
complementando as normas federais e estaduais para o controle das obras, atividades ou instalações
potencialmente poluidoras ou que degradem o meio ambiente natural. §1º - A definição dos empreendimentos e
atividades sujeitos ao Licenciamento Ambiental Municipal serão identificados pelo Conselho Municipal de Meio
Ambiente e Urbanismo através de resolução, devendo enquadrar os empreendimentos e atividades às
características mencionadas na regulamentação do Licenciamento Ambiental Municipal.
200
CONCLUSÃO
que este modelo não consegue concretizar direitos fundamentais para as pessoas
humanas, tal modelo para ser adequado à realidade, deve ter como base a
cooperação entre os Estados na busca da concretização dos direitos que as
pessoas necessitam.
O Brasil tem uma divisão federativa diferenciada dos outros
modelos de Federação, pois nele não se adotou um modelo dual, mas uma divisão
com quatro entes federados que são: União, Estados-membros, Municípios e o
Distrito Federal, sendo que este último aglutina as competências dos entes
estaduais e municipais. Todos os entes detêm as características necessárias para
que sejam enquadrados como entes da Federação, já que eles têm autonomia,
independência administrativa, organizacional e política, cada qual atuando nos
limites de suas competências, que é definida pelo princípio da predominância do
interesse.
12. As competências constitucionais ambientais estão
contempladas na Constituição Federal de 1988 em diversos artigos e de diversas
maneiras, podendo ser vistas de forma ampla ou restrita e expressas ou implícitas,
conforme posso observar nos artigos 21 ao 25 e no 30 e 225, sendo que em alguns
incisos o ambiente não é tratado de forma abrangente, sendo somente um elemento
a ser disciplinado por determinado ente, mas somente nos artigos 23, 24 e 225 são
tratados de forma ampla e explícita e nos artigos 25 e 30 estão contidos de forma
implícita, que dependem de outros critérios que leve o intérprete a possibilidade de
atuação com base nesses artigos, sendo um a competência residual ou
remanescente e o outro o interesse local.
13. Dentro do contexto infraconstitucional, é importante que se
analise a recepção da Lei nº 6.938/81, visto que a mesma foi editada antes da
promulgação da Constituição Federal de 1988 e por tal suas normas devem estar
conforme o ordenamento jurídico constitucional, sob pena de não recepção. Dessa
forma, a interpretação da Lei, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, não
será realizada da mesma forma que era anterior a atual carta constitucional.
Inclusive houve uma alteração da sua incidência sobre os entes da Federação, já
que, quando editada em 1981, a matéria estava contida na competência privativa da
União, sendo uma matéria de âmbito nacional, e que após a promulgação da
Constituição Federal de 1988, passou a matéria a ser tratada de forma concorrente e
não mais nacional, impedindo que tenha em seu conteúdo condutas para os outros
208
em seus artigos 23 e 225 e ainda o artigo 30, I, que atribui à competência municipal
sobre todas as matérias de interesse local, inclusive às ambientais, possibilitando o
controle de atividades interventoras no ambiente através da implementação de
instrumentos, como o licenciamento ambiental municipal. Com isso, é
inconstitucional a edição de normas jurídicas que venham a condicionar o exercício
administrativo e legislativo dos Municípios na proteção do ambiente, como ocorre em
diversos casos no ordenamento jurídico ambiental brasileiro, como exemplo na
resolução CONAMA 237/97, em seu artigo 5º e 6º, que possibilitam a delegação de
um ente para outro através de instrumento legal ou convênio de objetos que devem
ser licenciados. Acredito que tal situação é inconstitucional, visto que não é permitido
a transferência de competência constitucional através de delegação entre os entes
federativos, com exceção das possibilidades apontadas pela Constituição Federal.
Tal impossibilidade ocorre devido ao princípio da predominância do interesse, que
impede que a União, ente competente para o licenciamento de objetos que
produzem impactos nacionais ou regionais, sejam licenciados pelos Estados-
membros; como também, ocorre a impossibilidade quando Municípios buscam
licenciar objetos de impacto direto estadual. Com isso, utilizando-se do mesmo
raciocínio, inconstitucionais são os atuais convênios ou instrumentos legais que
delegam aos Municípios o exercício do licenciamento ambiental dos objetos que
geram impactos locais, uma vez que não há o que se delegar aos Municípios, pois
estes já são competentes, tendo em vista o princípio constitucional da
predominância do interesse.
Ocorre que, quando o ente local passa a ter a capacidade para
o exercício do licenciamento ambiental, através da capacitação técnica, financeira,
administrativa e legislativa, os objetos, que até então vinham sendo licenciados pelo
Estado-membro correspondente, passam automaticamente para o ente local
capacitado, pois o ente estadual agia subsidiariamente no licenciamento ambiental
dos objetos de impacto local e, por tal, inexigível a delegação, seja através de
convênio ou de lei, pois a competência originária é dos Municípios e não dos
Estados-membros no que tange ao interesse local. Com isso, afirmo que o Decreto
estadual nº 40793/2007 do Estado do Rio de Janeiro e o Código Estadual de Meio
Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul, no que se referem ao licenciamento
ambiental municipal, apresentam-se inconstitucionais, já que condicionam um
exercício administrativo constitucional do Município, que é a proteção ao ambiente
212
Município, mas para tal é necessário que o Poder Público realize uma série de
atitudes para a implantação do sistema de licenciamento ambiental. Creio que as
condutas necessárias pelo Município, já vêm ocorrendo, tendo em vista a vigência
do novo Plano Diretor Municipal que estabelece um Sistema de Licenciamento
Ambiental, mas para a efetivação desse sistema, primeiramente é necessária a
alteração da Lei Orgânica Municipal que atualmente inviabiliza o exercício do
licenciamento pelo Município, posteriormente a reestruturação do órgão ambiental
municipal que não tem em seus quadros efetivos profissionais habilitados para o
exame dos processos de licenciamento, além disso, é necessário também que se
reestruture o Conselho Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo para que venha,
portanto, desenvolver de forma adequada a competência de identificar os objetos
que deverão ser submetidos ao licenciamento.
216
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ANEXOS
229
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1o Esta Lei Complementar fixa, nos termos do parágrafo único do art. 23
da Constituição, normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, nas ações administrativas decorrentes do exercício da
competência comum relativa à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção
do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à
preservação das florestas, da fauna e da flora, previstas no art. 23, incisos III, VI e
VII, da Constituição Federal.
488
BRASIL, Câmara dos Deputados, Projeto de Lei Complementar - PLP nº 388/2007: Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br > . Acesso em: 12 de fev. 2008.
230
CAPÍTULO II
DOS INSTRUMENTOS DE COOOPERAÇÃO
CAPÍTULO III
DAS AÇÕES DE COOPERAÇÃO
231
Art. 6o Para os fins do art. 5o, são ações administrativas da União, dentre
outras:
I - formular, executar e fazer cumprir, no nível nacional, a Política Nacional do
Meio Ambiente;
II - exercer a gestão dos recursos ambientais, no âmbito de sua competência;
III - promover ações relacionadas à Política Nacional do Meio Ambiente, nos
âmbitos nacional e internacional;
IV - promover a integração de programas e ações de órgãos e entidades da
Administração Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
relacionados à proteção e à gestão do meio ambiente;
V - articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio à Política
Nacional do Meio Ambiente;
VI - promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados à
proteção e à gestão ambiental, divulgando os resultados obtidos;
VII - promover a articulação da Política Nacional do Meio Ambiente com a de
Recursos Hídricos;
VIII - organizar e manter, com a colaboração dos órgãos e entidades da
Administração Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o Sistema
Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente - SINIMA;
IX - elaborar o zoneamento ambiental de âmbito nacional e regional;
X - definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos;
XI - promover e orientar a educação ambiental;
XII - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o
meio ambiente;
XIII - exercer o controle e a fiscalização das atividades e empreendimentos
cuja competência para licenciar, ambientalmente, for cometida à União;
232
Art. 7o Para os fins do art. 5o, são ações administrativas dos Estados e do
Distrito Federal, dentre outras:
I - executar e fazer cumprir, no nível estadual, a Política Nacional de Meio
Ambiente;
233
Art. 14. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília,
EM Nº 62/MMA/2006
237
DISCIPLINA O PROCEDIMENTO DE
DESCENTALIZAÇÃO DA FISCALIZAÇÃO E
DO LICENCIAMENTO MABIENTAL
MEDIANTE A CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIOS
COM OS MUNICÍPIOS DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO QUE POSSUAM
ÓRGÃO/ENTIDADE AMBIENTAL
COMPETENTE DEVIDAMENTE
ESTRUTURADO E EQUIPADO E DÁ OUTRAS
PROVIDÊNCIAS.
DECRETA:
SERGIO CABRAL
DECRETA:
SÉRGIO CABRAL