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FACULDADE DE DIREITO
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE TRABALHO DE CURSO
MONOGRAFIA JURÍDICA
Trindade – GO
2018
INSTITUTO APHONSIANO DE ENSINO SUPERIOR - IAESup
FACULDADE DE DIREITO
Trindade – GO
2018
EDUARDO BUENO SOARES
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________________
Orientador: Prof. Ms. Isac Cardoso das Neves Nota
_________________________________________________________________________
Prof. Nota
_________________________________________________________________________
Prof. Nota
Nota Final_____________
Primeiramente agradecer a Deus, por me guiar e
iluminar todo meu caminho e me acompanhar à conclusão
deste árduo trabalho.
Gostaria também de agradecer e cumprimentar
meu professor e orientador, professor Me. Isac Cardoso
das Neves, que de forma criteriosa e paciente contribuiu
intensamente com seu brando saber e serenidade à
produção deste projeto.
Agradecer também à minha mãe, pessoa e mulher
mais importante da minha vida, aquela que sempre me
apoiou e se desdobrou para me dar sempre o melhor, e que
serviu de exemplo e de espelho para toda minha
experiência social e profissional.
Ao meu irmão, que sempre esteve comigo em
todas as situações, que sempre me impulsionou e que hoje
é o modelo de pessoa que desejo ser.
A minha namorada, amiga, mulher e companheira,
que está diariamente ao meu lado, sentindo também o
quão é laborioso a produção desta pesquisa.
A toda minha família, especialmente meu pai,
avós, tios e padrinhos, que participam e estão presentes
sempre em minha vida direta ou indiretamente perante
qualquer ocasião, me dando total apoio e servindo-me
como um alicerce para o que me tornei.
Enfim, agradecer também a todos meus amigos e
colegas de curso, com quem passei tantos momentos
especiais e difíceis nestes 5 anos, amigos estes que estarão
sempre presentes em toda a minha vida.
RESUMO
Este projeto é o resultado de uma branda pesquisa qualitativa, onde aborda sobre os Direitos
Individuais e Coletivos de propriedade da sociedade atual, sob o viés da Constituição Federal
de 1988 e a posição atual do Supremo Tribunal Federal. Com o enfoque direcionado
preponderantemente para os bens dominicais dos entes federativos, especificamente, tratando
da posse e obtenção do direito de propriedade sobre a terra devoluta. Colocou-se em foco a
falta de legitimidade dessas terras, não reconhecidas pelos seus entes e a falta do cumprimento
de sua função social, dever que é garantia fundamental de todo e qualquer indivíduo. A
pesquisa procurou mostrar que a legislação atual se contraria à ideia, se promovendo e
fortalecendo em texto constitucional sua posição, e que mesmo diante do exposto, demonstrar
o lado do direito exequível dado aos indivíduos, que se colocam e se esforçam para dar
destinação à aquele bem esquecido. Neste estudo, levou-se ainda em consideração que
atualmente o Supremo Tribunal Federal adota posições contrárias à própria legislação,
homologando a usucapião em alguns casos específicos, onde as terras nunca foram
reconhecidas pelo ente que a detém. Ao final, mostrou também, que devido à não
discriminação desses bens, o não reconhecimento e devido registro, põem-se consentido
adquirir-lhe à propriedade desses bens.
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 09
1. USUCAPIÃO E O DIREITO À 10
PROPRIEDADE.............................................
1.1 Da Usucapião ....................................................................................................... 10
1.1.1 Breve Abordagem Histórica, Conceito de Usucapião e seus 10
Requisitos............
1.1.2 Previsão Legal da 11
Usucapião..............................................................................
1.1.3 Das Modalidades de 12
Usucapião..........................................................................
2. A PROPRIEDADE E SUA FUNÇÃO 17
SOCIAL ................................................
2.1 Propriedade........................................................................................................... 17
2.1.1 Propriedade 20
Pública............................................................................................
2.1.1.1 Terras Devolutas ............................................................................................ 21
2.2. A Função Social da Propriedade.......................................................................... 23
2.2.1 Evolução Histórica ............................................................................................ 23
2.2.2 Função Social da Propriedade e a Constituição Brasileira de 25
1988.....................
2.2.3 Função Social da Propriedade 26
Pública................................................................
3. A POSSIBILIDADE DE USUCAPIÃO EM IMÓVEL PÚBLICO.................. 28
3.1 O Artigo 191 da Constituição Federal de 28
1988.....................................................
3.2 A Possibilidade de Usucapião de Terras Devolutas não 29
Discriminadas................
3.3 Julgados, entendimentos, 30
tribunais........................................................................
CONCLUSÃO........................................................................................................... 32
REFERÊNCIAS........................................................................................................ 33
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INTRODUÇÃO
Atualmente no cenário brasileiro, ainda nos debatemos com várias faixas de terras sem
dono e sem destinação, muitas das vezes, nem o próprio governo tem ciência da existência
dessas propriedades, diante disso, muitas pessoas, se apropriam dessas terras, em sua maioria
de boa -fé, tentando após um período de tempo, adquirir-lhe-á com à usucapião.
Nesse trabalho irá ser abordado sobre a previsão legal que torna a usucapião
impossível quando recair sobre bens públicos, por se tratar de bens coletivos, assim como os
bens dominicais que devido ao direito sumular é considerado também um modelo de bem
público.
Porém, surge diante de alguns julgados e posições doutrinárias, que a terra devoluta,
ou seja, a terra que não tem “dono” ou nenhuma destinação, por se tratar de um bem
dominical, em algum dos casos poderá haver a possibilidade da usucapião sobre tais bens,
contrariando assim a Carta magna de 1988 e demais previsões legais.
1.1 DA USUCAPIÃO
Até o momento não havia direitos e garantias para o possuidor peregrino, ele poderia
garantir sua posse, porém, não conseguia ter o título de proprietário, com a denominada
exceção de prescrição, apenas se protegendo de ações reivindicatórias. No entanto, tudo foi se
aprimorando, até que no ano de 528 d.C ocorrem mudanças alarmantes na legislação, quando
os Justinianos unificaram a usucapio e a praescriptio, pois já não existia diferenças entre as
propriedades civis e as dos peregrinos (pretoriana). Assim se tornou então unificado o
instituto da usucapião, concedendo-se aos detentores da posse o direito de pleitear ação
reivindicatória e a possibilidade de tirar o domínio do proprietário se estivesse durante certo
tempo naquela terra. (FARIAS E ROSENVALD, 2014)
A prescrição aquisitiva pela usucapião, para a validade jurídica do instituto, é
necessário alguns requisitos essenciais, são eles:
Posse.
Um outro requisito essencial, que a maioria das pessoas não levam em consideração
para a configuração da usucapião é o tempo necessário para se fazer valer do direito.
A usucapião exige para cada modalidade um determinado tempo para se consolidar,
lembrando que se conta o tempo a partir da posse legitima e que todo esse tempo não tenha
oposição da pessoa titular da propriedade.
Coisa hábil.
São passíveis de usucapião apenas as coisas que possam ser apropriadas, inseridas no
comércio. Assim, são insuscetíveis de usucapião direitos pessoais, bens gravados com
cláusula de inalienalidade, bens indivisíveis, bens de incapazes e bens públicos de uso comum
e especial, dentre outros.
Diante do exposto, podemos considerar que no instituto da usucapião, deve ser
considerado por seus requisitos principais abordados, pois sem os mesmos, se torna
desconsiderado o seu direito.
A usucapião tem sua previsão legal no artigo 1.238 do Código Civil, onde prevê a
possibilidade de aquisição de propriedade, independente de título e boa-fé:
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir
como seu um imóvel, adquirir-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-
fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de
título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo Único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se á há dez anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado
obras ou serviços de caráter produtivo.
Com fulcro no referido artigo, há então a se imaginar que para que se configure o
instituto da usucapião e o direito sobre determinado bem móvel, é necessário a posse
ininterrupta e sem oposição por quinze anos, mesmo não feito por boa-fé, bastando então
respeitar o período estipulado em lei, sem que nem o proprietário legitimo e portador do justo
título e nem terceiro interessado haja com oposição contra as ações.
Logo após, no parágrafo único, podemos observar que o período de tempo estipulado
no CAPUT do artigo reduz para dez anos se o possuidor fazer da coisa sua moradia habitual e
torná-la produtiva, ou seja, cumprir sua função social. A lei nos traz a modalidade de
usucapião extrajudicial, modalidade esta que não necessita da via jurídica para a declaração
do direito.
Todavia, o instituto da usucapião cresceu a abrange diversidades e modalidades,
ambas para cada tipo de situação, tendo suas características, peculiaridades e requisitos
individuais.
Ante o exposto, podemos avaliar que tal modo de aquisição de propriedade se torna
um direito expressamente declarado, pois preenchidos os requisitos, não é necessário que essa
decisão seja decidida pelas vias judiciais, porém, existem diversos modos de aquisição por
meio deste instituto.
O justo título e a boa-fé se tornam requisitos importantes para essa modalidade, tendo
que os possuidores devem cumpri-los para pleitear desse direito.
Tal modalidade é embutida na letra do Código Civil de 2002, que por força do mesmo,
pode o possuidor usucapir o imóvel no prazo de 10 anos entre os presentes e de 20 anos entre
os ausentes, se não houvesse contestação ou oposição de outrem quanto à posse do possuidor
que pretende pleitear o direito.
O Código Civil, em seu art.1.242, reduziu o prazo de 10 anos para a usucapião
ordinária, assim como ocorreu na modalidade extraordinária.
(d) Usucapião ordinária com prazo reduzido.
No art. 191 da Carta Magna de 88, dispõe então sobre a usucapião rural:
“Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu,
por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a
cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade”.
A referida modalidade tem características similares à Usucapião Especial Urbana,
citada anteriormente, com o mesmo prazo de 5 anos estipulado no art. 1239 do CC/02, quando
se fala da modalidade urbana e que também com limitação na proporção da terra, pleiteando
então o direito, aquele que possuir terra menor que 50 hectares.
A propriedade para ser considerada própria para a modalidade apresentada, além dos
requisitos citados acima, necessita também nesse período de 5 anos, ser uma terra produtiva, e
cumprir devidamente sua função social, ou seja, deve ter o máximo de aproveitamento,
estabelecendo-se como moradia habitual e não podendo ter outra propriedade imóvel em seu
nome.
(g) Usucapião coletiva.
Ao se falar em coletivo, já nos vem na cabeça que tal modalidade necessita de mais de
uma pessoa, e a ação é pleiteada por toda a massa, ou seja, todos que vivem naquele local
pleiteiam ação coletiva para a obtenção de uma resolução para ambos.
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A recente Lei n. 12.424, de 16 de junho de 2011, em seu artigo 9º, disciplinou nova
espécie de usucapião, denominada usucapião especial urbana por abandono de lar, acrescentando
o artigo 1.240-A ao Código Civil:
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Com toda certeza, uma das espécies mais recentes deste instituto abordado, a Lei
12.424/11, trouxe em seu texto, e ainda acrescentando o artigo 1.240-A ao Código Civil, a nova
modalidade denominada usucapião especial urbana por abandono de lar. O artigo citado do
código civil coloca então no ordenamento jurídico tal modalidade, in verbis:
“Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos, ininterruptamente e sem oposição,
posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dívida com ex-cônjuge ou ex
companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural.
§ 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez”.
A nova categoria pretende solucionar as situações em que um dos cônjuges ou
companheiros abandona o lar conjugal, sem renunciar ou partilhar o bem comum.
O dispositivo citado, vem com o intuito e objetivo de resolução de conflitos e
situações que um dos conjunges ou companheiros abandona o lar, sem renunciar ou partilhar
o bem comum.
A hipótese prevista na lei envolve a separação de fato de um casal e o abandono do lar
por um dos membros desse casal, sem fazer a regular partilha do bem, quando é o caso. Se o
ex-cônjuge ou ex companheiro permanecer no imóvel de até 250 m² durante dois anos, sem
oposição daquele que abandonou o lar e, ainda, não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural, adquire a propriedade do bem. Deve-se observar que, considerando o regime de
comunhão de bens (seja parcial ou universal), a aquisição é da meação do cônjuge que
abandonou o lar, embora seja possível se falar em aquisição do todo, nos casos em que há o
regime de separação.
Havendo disputa, judicial ou extrajudicial, relativa ao imóvel, não ficará caracterizada a
posse ad usucapionem, afastando-se a possibilidade de se invocar tal modalidade de usucapião.
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2.1 PROPRIEDADE
Conseguimos então observar que o objetivo hoje vai além do citado acima, temos
vários problemas relacionados a proprietários e suas propriedade, neste modo se cessou a vida
em conjunto, pois, esse direito à propriedade é complexo, absoluto, perpétuo e exclusivo.
A Constituição Federal de 1988, através de seus textos e dispositivos, nos mostra que
um dos pilares vem a ser, primordialmente, a supremacia do interesse social, versa também o
bem da coletividade como finalidade de muitos de seus artigos, se tratando também de
Direitos e Garantias Fundamentais. Contudo, a mesma lei coloca a propriedade como um
direito individual e absoluto, em contrapartida impõe uma função social a ser devidamente
cumprida.
propriedade, dos quais cito “qualidades inerentes aos seres, pertença ou direito legal de
possuir (algo); porção considerável de terra com tudo que existe nela, pertencentes a um dono;
imóvel pertencente a alguém; coisa possuída com exclusividade.
Quando nos falamos de uso, não necessariamente precisa ser algo habitual, pois é
bastante que o proprietário preserve o bem em condições para o servir quando for necessário.
Exemplificando: se A é proprietário de uma casa de praia e só frequenta o local no verão, não
estará privando-a de seu uso no resto do ano, já que o bem estará ao seu alcance, se preciso, a
qualquer tempo.
Com efeito, as faculdades não prescrevem pelo não uso. Destarte, só a posse
prolongada de terceiro pelos prazos legais provocará a mutação subjetiva da faculdade.
Caso ninguém exercite poder de fato sobre a coisa, intocado restará o direito subjetivo,
malgrado a desídia quanto a uma de suas faculdades.
Porém, vale salientar que o proprietário pode se ausentar, contudo, nunca abandonar o
imóvel, pois o mesmo perderá seu direito de propriedade, em caso que se mostrar antissocial.
O instituto da desapropriação por interesse social entende que o abandono ocorre pela inação
do proprietário, ou seja, o não uso do bem. E nos mostra que a faculdade ou poder de usar,
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acaba se tornado um dever jurídico de todo proprietário, que poderá perder a coisa se o não
uso perdurar por mais de três anos (art. 1276 do CC)*.
Há o que se falar sobre a diferença entre frutos e produtos, onde o primeiro é dado
como utilidades renováveis, ou seja, que a coisa principal produz e é constantemente
renovada, à medida que são retirados. Já os produtos são utilidades não-renováveis, ou seja,
vão se extinguindo, à medida em que forem percebidos. (v. g., carvão mineral)
O Código Civil, em seu artigo 1.232, coloca que o proprietário tem o direito de
perceber tanto os frutos quanto os produtos advindos de sua coisa. Ambos se encaixam na
categoria de bens acessórios, aplicando então o principio geral que “o acessório segue o
principal”.
que o proprietário, de forma onerosa (venda) ou gratuita (doação), praticar ato de alienação,
em ambos os casos, o alienante cederá todos os poderes e faculdades inerentes à aquela
propriedade.
A disposição parcial nesse caso se revelaria com a instituição de ônus reais sobre o
bem, ou seja, coloca parte da coisa como garantia de alguma obrigação. Exemplificando: O
proprietário dispõe parcialmente da coisa quando institui um gravame sobre ela, tal como o
usufruto ou a hipoteca (Farias e Rosenvald, 2015).
Para concluir, o direito de reaver, segundo preceitua o caput do art. 1.228 do CC/2002,
a ação reivindicatória tem como sujeito passivo o possuidor ou detentor, que injustamente
tenha a coisa. Vimos então que o ato de reaver, não e tão somente em casos de invasão ou
esbulho, mas também, em casos de que o proprietário deseja reaver o bem de um caseiro ou
mesmo de um inquilino. Exemplificando: o proprietário de um imóvel loca-o para terceiro e
durante o percurso da locação, o mesmo decide reavê-lo para que o imóvel fique à sua
disposição para outra destinação.
Estados (art. 26, I a IV) ou aos Municípios. Os bens dominicais são os de maior proporção,
englobam as estradas de ferro, as terras devolutas, ilhas e etc.
As terras devolutas seriam aquelas que, embora pertençam ao poder público, não há
nenhum planejamento para com as mesmas, nem mesmo finalidade especifica e destinação
futura. Muita das vezes são terras onde o poder publico nem tem o conhecimento de sua
existência. O termo “devoluta” se relaciona com o a palavra devolvida, levando em
consideração então que é uma terra a ser devolvida para quem a pertença, nesse sentido, o
Estado.
2.1.1.1 TERRAS DEVOLUTAS
Terras devolutas são terras públicas, sem destinação pelo poder público, incluídas
dentre os bens dominicais pertencentes ao Estado, e que em nenhum momento fizeram parte
do patrimônio particular, mesmo que alguém a detenha ou possua de forma irregular. O termo
“devoluta” se relaciona com o conceito de terra devolvida ou a ser devolvida ao estado.
Após a descoberta do Brasil, o nosso território se tornou integralmente pertencente ao
domínio da Coroa Portuguesa, e nesse período, os mesmos adotaram o sistema de sesmarias
para a distribuição de terras, criando então as capitanias hereditárias. Basicamente eram
formadas por faixas de terra que partiam do litoral para o interior, comandadas por donatários
e cuja posse era passada de forma hereditária, a estes era dada a missão de medi-las, demarca-
las e cultivá-las, sob a pena de reversão das terras à Coroa.
Logo, as terras que não foram passadas hereditariamente e não foram revertidas à
Coroa, formaram então as terras devolutas, que após a independência, tornara-se então
integrantes do patrimônio do Estado como um todo, fazendo que todas as terras que não
pertencessem legitimamente a particulares e que não houvesse nenhuma destinação por parte
do Poder Público seriam consideradas devolutas e consequentemente bens do Estado
brasileiro.
Em 1850, surge então a Lei nº 601, devidamente conhecida como a Lei de Terras, que
passou a nortear sobre questões de domínio no nosso ordenamento jurídico. Veio como
principal objetivo a resolução de conflitos e a regularização das terras públicas, evitando
assim os abusos em posses e ocupações irregulares. A mesma lei, trata em seu artigo 3º sobre
esta modalidade de bens dominiais, as terras devolutas, que in verbis:
§ 2º As que não se acharem no domínio particular por qualquer titulo legítimo, nem
forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial,
não incursas em comisso por falta do cumprimento das condições de medição,
confirmação e cultura.
§ 4º As que não se acharem ocupadas por posses, que, apesar de não se fundarem em
titulo legal, forem legitimadas por esta Lei.
O Estado para não haver conflitos, usa, para estabelecer se a terra é devoluta ou
particular de ações chamadas “discriminatórias”, que são reguladas pela Lei 6383/76.
A nossa Constituição Brasileira de 1988, especificamente em seu artigo 20, II, nos
coloca que:
Art. 20. São bens da União: [...] II - as terras devolutas indispensáveis à defesa
das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de
comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei [...]
Então, as demais terras que não fazem parte desse rol do texto acima se compreendem
aos Estados. Adentrando também no âmbito fundiário, as terras devolutas devem ser
compatíveis com a politica agrícola e com a reforma agrária.
2.2 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
Nesta concepção vemos então que a lei maior coloca em ênfase a importância da
consciência de cada individuo em prol da melhoria na qualidade de vida da própria sociedade.
Tal liberdade se tornou algo de muita revolta e escândalo por não haver limites para a
proteção dessa propriedade privada, onde a violência e os abusos se tornavam normais diante
dessa proteção ilimitada. Eis que surgiu então o Estado intervencionista que coloca então
através de imposições limites, até mesmo a um direito que se dizia absoluto.
O nobre pensador via a constante evolução da sociedade e com isso defendia que a
propriedade deveria sempre acompanhar o mesmo ritmo, no mesmo contexto, também
pregava que deveria existir leis, que até então não existiam, que regulassem essas
propriedades e colocasse também junto ao direito, o dever de estabelecer uma finalidade à
aquela terra, tornando-a produtiva e visando assim além do interesse privado, uma parcela de
contribuição para um benefício coletivo.
Esta concepção nasce a partir de um pensamento, onde coloca que, o individuo fizer
parte da sociedade, logicamente, deve o mesmo se esforçar em dar uma contribuição para um
bem estar coletivo em detrimento dos interesses próprios e particulares. Daí então resplandece
a teoria da função social, visando então o objetivo principal de determinar que todo indivíduo
tem o dever social para com o coletivo.
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A partir desse momento a propriedade deixa de ser um direito absoluto e começa a ter
o entendimento de subjetivo, por nela ter a obrigação de cumprir sua função social. Por mais
que a principio a propriedade fosse algo conquistado e o seu principal objetivo era o proveito
próprio e individual, com a evolução natural da sociedade e a vida em conjunto e
aglomerados, foi então mudada a concepção desse direito, passando então a ter como
principal entrando no arcabouço jurídico, respeitando então que o direito público sobrepõem o
particular.
Então, tal principio veio a se tornar parte do texto constitucional em 1967, sendo
colocado entre o rol dos princípios da ordem econômica e social, in verbis:
Art. 5. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[…]
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;"
XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou
utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
Logo mais, há também referência ao principio da função social, associando então o
mesmo à propriedade, em assunto de ordem econômica e financeira, que diz:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
II – propriedade privada;
III – função social da propriedade;
"O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas."
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Deve-se entender que a função social enquanto principio, foi criada e destinada para
acompanhar o direito de propriedade, onde o absolutismo era vigente nessa modalidade de
direito, então, se deve compreender que o principio da função social da terra, é atributo da
propriedade, tanto privada quanto da pública, ou seja, ambas necessitam seguir e cumprir o
seu dever social para um melhor desenvolvimento e bem estar coletivo.
Cesar Luiz Pasold (1984, p. 17 ), afirma que:
Não há sentido na criação do Estado senão na condição – inarredável – de
instrumento em favor do Bem Comum. Há nessa criatura da sociedade um
compromisso com a sua criadora, sob pena de perda de substância e de razão de ser
do ato criativo. Tal compromisso se configura concretamente, na dedicação do
Estado à consecução do Bem Comum.
E a conclui, ainda,
A condição instrumental do Estado é consequência de dupla causa: ele nasce na
Sociedade, e existe para atender demandas que, permanente ou conjunturalmente,
esta mesma Sociedade deseja sejam atendidas.
O desconhecimento ou o desrespeito a esta dupla motivação é causa de um “leviatã”
que, muitas vezes se presta a oprimir os elementos socioeconômicos mais fracos em
favor de elementos privilegiados.
Podemos observar que toda ação partida do Estado deve ter então o objetivo de
alimentar o bem estar social, em prol de promover o sempre o beneficio coletivo. Logo,
considerando o citado, somente se justifica a propriedade ser do Estado se a mesma é voltada
para o atendimento e bem estar da sociedade, e se por isso necessitar de uso de bens imóveis,
conclui que o Estado então, como parte necessária deve atender também à função social.
Porém, houve grande repercussão quando o assunto entrou no entorno das terras
devolutas, e o cumprimento da função social por parte do Estado, pois, vemos que o principio
é integrado juntamente com o direito de propriedade, logo, se o Estado tem o direito sobre
esses bens, deve o mesmo cumprir essa prestação.
28
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural,
não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua
família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Conseguimos ver então, que essa modalidade poderia se estender às terras devolutas,
porém, o próprio parágrafo único do mesmo artigo coloca que os imóveis públicos não podem
ser adquiridos pela usucapião.
Acontece um desencontro, onde no primeiro momento tinha uma série de requisitos
preenchidos para o gozo do direito de usucapião e ao final uma letra de lei impedindo ou
deixando o rol desse instituto taxativo ao negar a possibilidade em terras públicas,
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Podemos observar, que nesse julgado, o STJ não atendeu ao pedido da União de
extinção da ação de usucapião proposta por duas mulheres referentes a uma área localizada
no município de Bagé – RS.
Portanto podemos ver, que a simples presunção não configura que o imóvel é da
União ou dos Estados, necessariamente ambos precisam de comprovar seu título de
domínio, devidamente registrado no cartório de registro de imóveis e com o nome
integrando à matricula do imóvel.
Tal entendimento vem sendo quase que pacificado em nossos tribunais, tendo o STJ,
inclusive, já se manifestado sobre a matéria, quando assim se posicionou. Vejamos:
CONCLUSÃO
O presente trabalho teve por finalidade abordar todo o Direito Objetivo em prol dos
bens públicos, da usucapião e da função social da propriedade, colocando em discussão que
tais normas, nem sempre possuem um caráter benéfico, pois sabemos que muitas das vezes, o
Estado nem tem conhecimento sobre esses bens (terras devolutas ou de fronteiras), e o
particular a torna bem mais produtiva, colocando assim uma melhor finalidade diante ao ente
que a rege.
Como sabemos, a lei e a maioria da doutrina nos traz uma impossibilidade quando se
trata da Usucapião sobre os bens públicos. Vários institutos do direito têm posições contrárias,
a própria Constituição Federal de 1988, o Código Civil detém uma norma escrita colocando
sempre barreiras a fim de que não haja tentativa de nenhuma parte privada.
Porém, ao observarmos que se torna “inútil” a terra estar sem finalidade alguma,
ficamos então com o pensamento de oposição à própria lei, pois se um particular exerce a
função social dessa propriedade e consegue usar a mesma de forma proveitosa para si e sua
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Portanto, ainda que se considere a terra devoluta como patrimônio público impossível
de se usucapir, esta condição terá de ser comprovada pelo Estado. E este, sem dúvida, tem
sido o entendimento da jurisprudência, em especial, do Superior Tribunal Tribunal de Justiça,
para quem a inexistência de prova do registro em nome do Estado autoriza a consolidação do
domínio em nome do possuidor interessado, mediante usucapião
REFERÊNCIAS
BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1ª edição. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2002.
BRASIL. Lei de Terras, Lei 601, de 18 setembro de 1850. 1ª edição. Disponível em:
<http://abral.org.br/lielos-licencia-personagens-da-mattel-e-da-warner/>. Acessado em
04.04.2018.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol 5: direito das coisas. 7.ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, vol 4: direito das coisas. 27.ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
PASOLD, Cesar Luiz. Função Social do Estado contemporâneo. Santa Catarina: LADESC,
1984. p. 16-17.
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