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Universidade Rovuma
Nampula
2023
Abiba Agostinho
Cardoso Delfina Paposseco
Gescica João Alfredo
Hermenegildo Bernardo Vesta
Isaías Leandro Inchiche
Omar Mussa
Universidade Rovuma
Nampula
2023
Índice
CAPITULO I: Introdução e Objectivos.......................................................................................4
1. Introdução.............................................................................................................................4
1.1. Objectivos.............................................................................................................................4
1.1.1. Objectivo geral..................................................................................................................4
1.1.2. Objectivos específicos.......................................................................................................4
1.2. Metodologia..........................................................................................................................4
Capitulo II: Fundamentação Teórica...............................................................................................5
2. Vicissitudes dos direitos Reais.................................................................................................5
2.1. Constituição..........................................................................................................................5
2.1.1. Usucapião.........................................................................................................................5
2.1.1.1. Noção da usucapião......................................................................................................5
2.1.1.2. Pressupostos da usucapião...........................................................................................5
2.1.1.3. Capacidade para usucapir............................................................................................6
2.1.1.4. Direitos adquiridos por usucapião................................................................................7
2.1.1.5. Prasos da usucapião.....................................................................................................8
2.1.1.5.1. Usucapião de coisas imóveis.........................................................................................8
2.1.1.5.2. Usucapião de coisas móveis..........................................................................................9
2.1.1.6. Usucapião e posse sob violência ou sob ocultação......................................................9
2.1.2. Ocupação..........................................................................................................................9
2.1.2.1. Objecto........................................................................................................................10
2.1.2.1.1. Coisas móveis..............................................................................................................10
2.1.2.1.2. A ocupação de animais e plantas em especial.............................................................11
2.1.2.1.2.1. Aspectos gerais........................................................................................................11
2.1.2.1.2.2. Ocupação de animais e flora bravios.......................................................................11
2.1.2.1.2.3. Ocupação de animais selvagens com guarida própria.............................................11
2.1.2.1.2.4. Ocupação de animais ferozes fugidos......................................................................12
2.1.2.1.2.5. Ocupação de enxames de abelhas............................................................................13
2.1.2.1.2.6. Aquisição de tesouros..............................................................................................13
2.1.3. Acessão e especificação..................................................................................................14
2.1.3.1. Distinção da acessão e especificação.........................................................................15
2.1.3.2. Acessão........................................................................................................................15
2.1.3.2.1. Acessão natural............................................................................................................15
2.1.3.2.1.1. Princípio e regime geral...........................................................................................15
2.1.3.2.2. Acessão fluvial ou lagunar – a aluvião e a avulsão.....................................................16
2.1.3.2.3. A acessão industrial mobiliaria...................................................................................18
2.1.3.2.3.1. A união ou confusão intencional.............................................................................19
2.1.3.2.3.2. A confusao casual....................................................................................................19
2.1.3.2.4. Acessão indusrial imobiliária......................................................................................20
2.1.3.2.4.1. Obras, sementeiras ou plantações com materiais alheios........................................20
2.1.3.2.4.2. Obras, sementeira ou plantações feitas em terreno alheio.......................................20
2.1.3.2.4.3. Obras, sementeira ou plantações feitas com materiais alheios em terreno alheio...21
2.1.3.2.4.4. Prolongamento de edifício por terreno alheio.........................................................21
2.1.3.2.5. Momento da produção de efeitos................................................................................22
2.1.3.3. Especificação...............................................................................................................22
2.1.3.3.1. Regime.........................................................................................................................22
2.1.4. O negócio jurídico..........................................................................................................23
2.1.5. A lei, os actos judiciais e os factos administrativos. A reversão automática a favor do
Estado 24
2.1.5.1. A constituição de direitos reais por efeito da lei.........................................................24
2.1.5.2. A reversão automática a favor do Estado...................................................................24
2.1.5.2.1. Aquisição de imoveis..................................................................................................25
2.1.5.2.2. Aquisição de móveis...................................................................................................25
2.1.5.3. A constituição e direitos reais por autoridade judicial ou administrativa...................25
Conclusão......................................................................................................................................27
Referências bibliográficas.............................................................................................................28
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1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo geral
Falar das vicissitudes dos direitos Reais.
1.2. Metodologia
As técnicas usadas para a coleta das informações patentes no presente trabalho e, para a sua
análise foram: Livros, Manuais, e Legislação aplicável ao tema acima citado.
O trabalho em apresso vem estruturado da seguinte forma: elementos pré-textuais (capa, folha de
rosto, indice), elementos textuais (introdução, desenvolvimento e conclusão), e elementos pós-
textuais (referências bibliográficas).
E de realçar que, o tema é de grande importância para os estudantes e, aos demais leitores pois,
ajudará a ter mais conhecimento em relação ao curso.
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2.1. Constituição
2.1.1. Usucapião
2.1.1.1. Noção da usucapião
A posse do direito de propriedade ou de outros direitos reais de gozo, mantida por certo lapso de
tempo, faculta ao possuidor, salvo disposição em contrário, a aquisição do direito a cujo exercício
corresponde a sua actuacao: é oque se chama usucapião (art.1287.° do CC). Por outra pode se
dizer de forma sucinta que a usucapião é a aquisição do direito de propriedade ou de outro direito
real de gozo por efeito da posse nos termos desse direito, mantida por certo lapso de tempo.
O art. 1287.° enuncia os dois requisitos essenciais da usucapião: a posse e a sua duração (tempus
usucapionis). A primeira é um facto juridicamente relevante, um poder de facto sobre as coisas a
que tende o direito real. São susceptíveis de usucapião a propriedade e a propriedade horizontal,
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bem como outros direitos reais de gozo: o usufruto, o direito de superfície e as servidões prediais,
excepto os direitos de uso e de habitação, e as servidões prediais não aparentes (art. 1293.° do
CC).
O segundo requisito consiste no tempus usucapionis, ou seja, a duração da posse, fixada pela lei.
Esta depende essencialmente dos caracteres da posse para se produzir o efeito legal da usucapião,
a posse tem que ser pública e pacífica, sendo ainda necessário atender a outros caracteres da
posse titulada ou não titulada e boa fé ou má fé e à natureza dos bens móveis ou imóveis, assim
como ao facto de a posse estar ou não inscrita no registo predial.
Aquela disposição prevê ainda que a posse faculta ao possuidor a sua aquisição, o que significa
que, para ser eficaz, a usucapião necessita de ser invocada, judicial ou extrajudicialmente, por
aquele a quem aproveita, pelo seu representante ou, tratando-se de incapaz, pelo Ministério
Público (art. 1291.° do CC); também podem invocar a usucapião os credores do possuidor ou
terceiros com interesse legítimo na aquisição. Não há, pois, aquisição por usucapião ipso jure.
O art. 1287.° do CC, prevê que o possuidor só pode adquirir o direito a cujo exercício
corresponde a sua actuação. Assim, e em primeiro lugar, havendo uma actuação correspondente
ao exercício do direito de propriedade e de um direito de usufruto, quem possui como
proprietário pode adquirir a propriedade (o direito da propriedade de raiz) e quem possui como
usufrutuário pode adquirir o direito de usufruto. Em segundo lugar, o preceito significa que,
adquirido certo direito, a extensão ou os limites objectivos dele também têm de ser definidos pela
actuação do possuidor, em harmonia com a expressão latina tantum praes criptum quantum
possessum, ou seja, tanto prescrito quanto possuído.
Os detentores ou possuidores precários não podem adquirir para si por usucapião, excepto se
adquirem posse por inversão do título da posse, mas neste caso, o tempo necessário para a
usucapião só começa a correr desde a inversão do título (art. 1290.° do CC). Invertido o título da
posse, o possuidor precário transforma-se em possuidor e, como tal, poderá adquirir por
usucapião. A usucapião invocada por um compossuidor relativamente ao objecto comum
aproveita aos demais compossuidores (art. 1211.°), o que traduz o princípio de solidariedade
existente na composse.
Relativamente a estas proibições, são apontadas as seguintes razões para a sua previsão:
As servidões não aparentes, porque não se manifestam por sinais visíveis e permanentes,
podem confundir-se com meros actos de tolerância e além disso, podem ser exercidas sem
conhecimento do titular do prédio serviente.
Quanto ao direito de uso e habitação, aponta-se a dificuldade séria, que é a atipicidade do
uso e habitação, e sua confusão, quanto ao corpus, não só com a figura da propriedade,
mas também com a do usufruto.
A esta razão pode acrescentar-se o facto de este direito possuir uma natureza pessoal (intuitu
personae), ou seja, de ser um direito que vocacionado apenas para satisfazer as necessidades
pessoais do titular e da respectiva família (art. 1487.°); ora, semelhante finalidade é incompatível
com a possibilidade de o mesmo direito ser adquirido (por usucapião) por pessoa diversa daquela
em benefício da qual havia sido originariamente constituído.
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Quando a posse, sendo de boa fé, tiver durado por dez anos, contados desde a data do
respectivo registo.
Quando a posse, ainda que de má fé, houver durado quinze anos, contados da mesma data
(art. 1214.°).
Temos nesta disposição dois prazos de usucapião que têm como ponto de partida o critério do
título e do registo. Primeiro, temos o prazo de dez anos, a contar da data do registo, para aqueles
possuidores que adquirem a posse de boa-fé (art. 1180.°, n.°1). Segundo, há o prazo de quinze
anos, também a contar da data do registo, para aqueles possuidores que adquirem a posse de má
fé (art. 1180.°, n.° 2 e n.°3). A diferença fundamental nestes dois prazos de usucapião tem a ver
com a característica da boa fé ou da má fé da posse.
Não havendo registo do título de aquisição, mas registo da mera posse, a usucapião tem lugar:
Se a posse tiver continuado por cinco anos, contados desde a data do registo, e for de boa
fé;
S a posse tiver durado dez anos, a contar da mesma data, ainda que não seja de boa fé (art.
1295.° do CC, n.° 1).
A mera posse só pode ser registada em vista de sentença passada em julgado, na qual se
reconheça que o possuidor tem possuído pacífica e publicamente por tempo não inferior a
cinco anos (art. 1295.°, n.° 2).
Por fim, não havendo registo do título nem da mera posse, a usucapião só pode dar-se no
termo de quinze anos, se a posse for de boa fé, e de vinte anos, se for de má fé (art. 1296.°).
Por último, se a posse tiver sido constituída com violência ou tomada ocultamente, os prazos
da usucapião só começam a contar-se desde que cesse a violência ou a posse se torne pública
(art. 1297.°).
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Relativamente aos móveis não sujeitos a registo (coisas móveis simples), o prazo para a
usucapião é de três anos, se a posse for titulada e de boa fé; o prazo é de seis anos, se a posse for
não titulada e de má fé (art. 1219.°).
2.1.2. Ocupação
A ocupação traduz-se no mero apossamento ou domínio sobre uma coisa de que decorreria, em
certas circunstâncias legalmente estabelecidas, em efeito legal de aquisição da propriedade sobre
a coisa. Esta aquisição ocorre, segundo a alínea a) do artigo 1317.° do CC, no momento da
verificação dos factos respectivos.
Por último, ninguém pode ser obrigado a titularidade de direitos disponíveis contra a sua vontade.
Por isso, é possível ao ocupante impedir a produção do efeito legal mediante declaração de
vontade contemporânea. Ou seja, o animus occupandi deve estar presente, sendo uma
circunstância legalmente estabelecida. Nesse caso, embora se aposse da coisa, o sujeito exprime o
desejo de não querer ser dono dela, mas pode apenas manter sob o seu domínio como mero
detentor nos termos da alínea a) do artigo 1253.° do CC.
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E deve se saber que, não são todas coisas que são suscetíveis de ocupação mas sim, podem ser
adquiridos por ocupação os animais e outras coisas móveis que nunca tiveram dono, ou foram
abandonados, perdidos ou escondidos pelos seus proprietários, nos termos do art. 1318.º.
Mas, porque esta dispensa da exigência de uso da razão? Porque sendo certo que pela ordem
natural das coisa o animus nem sequer é suscepyivel de se formar na mente do incapaz, também é
certo que visto a coisa ser res nullius, não há possuidor ou dono da coisa que possa ser
prejudicado pela constituição da posse a favor do sujeito desprovido de uso da razão, nem
tampouco pela constituição do direito de fundo.
2.1.2.1. Objecto
2.1.2.1.1. Coisas móveis
Importa considerar o objecto da ocupação. Ela dá-se, em primeiro lugar, apenas em relação a
coisas móveis, como decorre o art.1318.°.
No conceito de coisa móvel cabem quer coisas inanimadas quer os animais como a lei quis
sublinhar. Há todo um regime especial de ocupação de animais nos arts. 1319.° e 1322.°. As
coisas inanimadas tanto podem ser móveis não sujeitos a registo, (um relógio), como um móvel
sujeito a registo (um automóvel).
Por outro lado, a coisa móvel ocupada deve estar na situação de não ter dono no momento do
apossamento, isto é tratar-se de uma coisa de ninguém ou res nullius, em sentido amplo. Isto
sucederá porque nunca teve dono (res nullius em sentido estrito), ou porque dono anterior
renunciou voluntariamente a propriedade sobre ela (res derelictae).
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Exemplo: A encontra no lixo um relógio avariado e fica com ele, procedendo também a sua
recuperação. O relógio, atentas as circunstâncias objectivas do achado, foi abandonado. O mesmo
A leva para casa um cachorro de uma cadela de rua. O cachorro nunca teve dono.
Nos casos em que, embora envolvendo animais e flora, não se verifique o preenchimento por
completo das previsões normativas especiais a ocupação ou não é possível, no caso da caҫa e
pesca, para as quais há legislação especial, ou é possível se o animal tiver deixado de ter dono,
nos termos gerais da ocupação, assim, com os animais bravios habituados a certa guarida, os
animais ferozes e os enxames abandonados, ou com os enxames no seu estado natural.
Mas também a ocupação de flora bravia ou seja a recolha e abate de espécies vegetais em estado
selvagem, situação não comtemplada pela remissão do art. 1319.° esta sujeita a legislação
própria.
Os animais domésticos, de companhia ou de guarda, cao e gato, não cabem nesta previsão, pois a
indiferenciação não ocorre.
Esta impossibilidade de reconhecimento da identidade dos animais permite que, caso os animais
mudem de guarida, fujam e sejam recolhidos por outrem, o novo possuidor faca seus os animais.
O anterior dono não tem direito a indemnização alguma porque, pura e simplesmente, não é
possível saber a nenhum dos interessados a quem os animais pertenciam, pois eles não são
passiveis de animais bravios de serem identificados.
Exemplo: uma vaca pertencente a J tresmalhou-se e juntou-se a , manada do vizinho. Este pode
ficar com ela, se não se poder saber, qual vaca dentro da sua manada é que era do vizinho.
No caso contrário, de ser possível o reconhecimento individual, por marcas, pode o antigo dono
recuperá-los, contanto que o faҫa sem prejuízo do outro (segunda parte do n.°1 do artigo
1320.°do CC).
Diferentemente, o anterior dono já tem direito a indemnização no montante do triplo do valor dos
animais, caso prove que os animais foram atraídos por fraude ou artifício do dono da guarida
onde se hajam acolhido (primeira parte do n.°2 do artigo), se o novo dono não tiver possibilidade
de restitui-los.
Exemplo: a vaca pertencente a J foi atraída para a manada do vizinho através do uso de um boi.
Se a vaca já tiver sido abatida deve o triplo do seu valor ser entregue a J.
Em caso de fuga, o perigo publico que representam justifica que possam ser destruídos ou
ocupados livremente, aprisionados de nosso, por qualquer pessoa. O anterior dono não tem
direito a qualquer indemnização pois o dono resultante da actividade lícita do destruidor ou
ocupante cabe por completo dentro do risco inerente a exploração deste tipo de animais.
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Exemplo: qualquer cidadão pode matar um leao que haja fugido do circo.
Por outro lado, é de extrema importância perceber que a coisa tem dono, e que não está perdida,
tendo havido um acto voluntário de ocultação revelado objectivamente pela localização física da
coisa. A circunstância do bem estar enterrado revela, naturalmente, uma intenção de ocultação, e
por isso a lei ate lhe faz referência expressa.
De modo semelhante ao que sucede no achamento, o achador de tesouro ao encontrar a coisa
torna-se um mero possuidor precário e não um verdadeiro possuidor, nos termos da al. a) do
art.1253.°, excepto se adquirir de imediato o tesouro por se evidente que o tesouro foi escondido
ou enterrado há mais de vinte anos (art.1324.°, n.° 1).
De salientar que, nos termos do achamento, essa posse precária extinguir-se-a caso o tesouro seja
restituído a seu dono dentro do prazo de um ano, a contar do anúncio ou aviso (art. 1323.°, n°. 2 e
n.° do art.1324.° ou passara a verdadeira posse findo o prazo ou ainda, se, antes disso, o achador
inverter o titulo da posse ao decidir ficar com a coisa para si, apesar do anuncio (art. 1324, n. ° 3).
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a) União e incorporação;
b) Entre coisas;
c) De donos diferentes.
Enquanto requisito comum ele consiste numa ligação física entre coisas com carácter de
permanência, de tal forma que a sua separação não é possível ou, sendo-o, dela resulte prejuízo
para uma ou ambas as coisas.
Assim, não há acessão entre um candeeiro de tecto e o imóvel onde seja colocado, mais já há
entre uma nova parede e o imóvel onde foi construída.
Por outro lado, a acessão vem resolver um conflito entre os direitos ou posições jurídicas de duas
ou mais pessoas, correspondentes a outras tantas coisa unidas. Na acessão, seja natural, seja não
natural, há sempre um sujeito a quem o regime legal civil dá o direito sobre o produto da união, o
beneficiário da acessão. Quando resulte da actividade de alguém, o autor da união toma o nome
de incorporante.
A lei distingue várias espécies da acessão no art. 1326.°, dando-lhes de seguida um tratamento
diferenciado. Assim, a união com carácter de permanência entre coisas de donos diferentes.
a. Pode resultar exclusivamente das forças da natureza - acessão natural, regulada nos
arts.1327.° a 1332.°;
b. Pode resultar de facto do homem – acessão industrial, regulada nos arts. 1333.° e
seguintes.
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A cessão industrial, por seu turno, é mobiliária ou imobiliária, conforme a natureza das coisas
(n.° 2 do art. 1326.°), ou seja a coisa objecto do facto do incorporante, seja incorporada numa
coisa móvel ou numa coisa imóvel.
A acessão industrial mobiliária rege-se pelos arts. 1333.° a 1337.°, enquanto a imobiliária pelos
arts. 1338.° a 1343.°.
2.1.3.2. Acessão
2.1.3.2.1. Acessão natural
2.1.3.2.1.1. Princípio e regime geral
Há um princípio norteador quanto a esta matéria, segundo o qual, a acessão se de por efeito da
natureza é o de que pertence ao dono da coisa oque a esta acrescer (art.1327.°). É este
beneficiário da acessão natural por regra.
Tanto coisas móveis quanto imóveis podem sofrer acréscimos por acção de forças da natureza.
Podemos assim falar numa acessão natural mobiliária e numa acessão natural imobiliária.
Este acréscimo em nossa opinião deve se traduzir numa verdadeira incorporação, própria da
acessão, e não apenas numa deposição em terreno ou coisa alheia. Assim, este princípio não
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funciona se o vento trouxe para um terreno um arbusto solto. Ai não há verdadeira acessão,
podendo o dono respectivo vir reclamar a coisa.
Todas as causas naturais aqui se incluem, telúricas, marítimas, fluviais, lagunares, climatéricas,
biológicas.
Mas os acréscimos fluviais e lagunares, originados por correntes de água, lagos ou lagoas, tem
um regime próprio nos arts. 1328.° a 1332.°. Ainda assim, estes regimes especiais não esgotam
todas as situações possíveis de acessão fluvial ou lagunar, valendo sempre e residualmente o
princípio geral do art.1327.°.
Excluída da acessão natural esta, em qualquer caso, a união ou acréscimo que tenha causa
humana involuntária, ou seja, não querida pelo agente. Não tem carácter natural, tendo-lhe a lei
reservado um regime específico no art. 1335.° em sede da acessão industrial.
Por último, o dono das coisas ou elementos acrescentados não tem direito a alguma forma de
indemnização ou compensação, em resultado da sua perda para o dono da coisa acrescida.
Não há aqui nenhuma actividade ilícita de violação de direito ou interesse alheio (art.483.°, n.°
1). A nenhum dos donos poderá ser imputada responsabilidade pelo sucedido, bem poderia a lei
estabelecer uma previsão de obrigação de indemnizar a favor do prejudicado, a despeito da
licitude do acto e da falta de culpa do beneficiário, mas tal previusao legal não existe (n.° 2 do
art. 483.°).
Não sera porém de excluir a possibilidade de nos termos gerais se aplicar o enriquecimento sem
causa, coisa que alias se faz na acessão imobiliária industrial no art. 1333.°, n.° 4.
Dada a natureza das coisas, a aluvião da-se apenas sobre os prédios que confinam ou marginam a
água, enquanto a avulsão pode acontecer também sobre prédios mais distantes a que a água tenha
chegado. Desta forma vem acrecer a um prédio confinante ou situado na bacia de uma corrente da
água, coisas móveis trazidas pela água.
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Na aluvião pode ser tudo o oque, por acção das águas (n.° do art. 1328.°), se depositar nos termos
próprios da aluvião, de maneira lenta e impercetível, areias, pedras, folhas de árvores, pedaços de
madeira, e em geral tudo oque se possa designar por vaza da corrente e que constitui, afinal, uma
margem.
Exemplo: uma parcela de terreno situado a beira do rio Umbelúzi foi, ao longo dos anos,
tornando-se mais alta por cumulação de areias trazidas pela corrente.
Na avulsão são quaisquer plantas, objecto ou porcao conhecida de terrenio (n.° 1 do art. 1329.°),
árvores e arbustos, completos ou não, vedações, pneus, torrões arrancados a outros prédios.
Exemplo: numa parcela de terreno situado a 200 metros do tio Umbelúzi, por efeito das cheias
acorridas no Verao, acumularam-se pedaços de árvores e parte de uma habitação de caniҫo.
Mas se tratar de terreno perdido ou sua parte que insensivelmente se for deslocando, por acção
das águas, de uma das margens para a outra, ou de um prédio superior para outro inferior, é-lhe
aplicável o regime da aluvião.
No caso de aluvião pertence aos donos dos prédios confinates, tudo o que, por acção das águas,
se lhes unir ou neles for depositado (n.° 1 do art. 1328.°). A aquisição é assim imediata,
ocorrendo no momento do depósito. Mesmo que se trate terreno perdido o respectivo proprietário
não pode invocar direitos sobre ele (parte final do n.°1 do art. 1328.°).
Já no caso da avulsão o dono das coisas tem direito de exigir que lhe sejam entregues, contanto
que o faҫa dentro de seis meses. Mas pode muito bem o dono do terreno ter fixado por via
judicial um prazo diferente (parte final do n.°1 do art. 1328.°), ao abrigo dos arts. 1456.° e
1457.°do Codigo de Processo Civil.
Se transcorrido o prazo, legal ou judicial, as coisas não tiverem sido removidos é aplicável o
disposto para a aluvião, segundo o n.º 2 do art. 1329.°. Ou seja, só então é que as coisas passam
para a propriedade do dono do terreno.
A lei procede uma divisão essencial conforme a acessão foi querida pelo incorporante ou se foi
um resultado inesperado, não desejado. Neste caso a confusão foi casual merecendo um
tratamento próprio no arg. 1335.°.
O rregime determinativo de quem adquire por força da acessão industrial mobiliaria não
apresenta uma solução única mas antes várias soluções determinadas pelos seguintes factores:
c) A vontade do dono da coisa incorporante enre ficar com as coisas adjuntas, respeitando as
regras do enriquecimento sem causa, ou preferir o seu valor e indemnização (args. 1333.°, n.° 4).
A lei usa a distinção entre união e confusão na enunciação dos factos que consubstanciam a
acessão industrial mobiliária. Na união as coisas conjuntas mantém a sua identidade, enquanto na
confusão as coisas adjuntas perderam a sua identidade.
Exemplo de união: M, bordadeira, tece um tapete com fio vermelho seu e o fio amarelo, sem
saber que este fora dado pela filha a uma vizinha.
Exemplo de confusão: J, fabricante de blocos, junta cimento seu com cascalho que furou na
obra ao lado. M, junta numa mesma saca, castanha de caju com castanha alheia.
Na união ou confusão de boa fé o agente incorporante ignorava ao juntar as coisas que lesava
direito de outrem.
Isso quer dizer que o autor da confusão não pode pretender legitimamente ficar, em alternativa
com o valor da coisa, ele está num estado de sujeição. Contudo nada o impede de pura e
simplesmente renunciar a atribuição legal de propriedade que lhe e feia, ficando nesse caso sem
nada.
É sim, uma acessão acidental, não dolosa, saiba-se ou não da existência de direitos de terceiros
sobre uma das coisas.
Exemplo: H, inadvertidamente, deixa cair o conteúdo de uma lata de tinta numa lata com tinta
alheia.
O seu regime está muito próximo do regime da acessão intencional de boa fé. A diferença
significativa é que não se concede ao dono da coisa adjunta o direito de pedir indemnização (n.°4
do arts. 1333.°). Perdendo a coisa para o autor da união ou confusão.
Se uma das coisas tiver valor superior a outra, o produto da confusão ficará, pertencendo ao dono
da coisa mais valiosa, que pagará o justo valor, da coisa alheia incluída (n.° 1 do art. 1335.°). Se,
porém, este não quiser fazê-lo, assiste idêntico direito ao dono da coisa menos valiosa condição
(ainda, n.°1). Portanto aqui, não há uma aquisição do direito real ipso factum.
Exemplos: E, constrói uma casa em talhão do Estado, mas já atribuído em direito de uso e
aproveitamento a E.
Exemplos: A planta cajueiros em talhão, não atribuído a ninguém que, por isso pertence ao
Estado.
Exemplo: E constrói uma casa com blocos, em talhão que lhe foi concedido em uso e
aproveitamento.
A lei estatui, então que o autor da incorporação, o titular do direito sobre o terreno, adquire os
materiais, sementes ou plantas que utilizou, pagando:
Exemplo: E, constrói uma casa com blocos e materiais seus, em talhão que é do Estado e não lhe
concedido em uso e aproveitamento. A planta cajueiros em talhão do Estado.
Exemplos: E, constrói uma casa com blocos e materiais furtados, em talhão que é do Estado e
não lhe foi concedido em uso e aproveitamento. A planta cajueiros do seu primo, em talhão o
Estado.
Estamos perante um conflito triangular, mais complexo que os anteriores, envolvendo o dono dos
materiais, o dono do terreno e o incorporante.
Para esta situação a lei fixa uma regulação que, no essencial, remete para o disposto nos arts.
1340.° e 1341.°.
Assim, quer o autor da incorporação, esteja de boa fé, quer de ma fé, a solução é uma: cabe ao
dono dos materiais, sementes ou plantas os direitos constantes do art. 1340.° ai referidos para a o
incorporante (n.°1 do art. 1342.°).
Efectivamente, também aqui há uma situação de alguém que de boa fé, aferida nos termos do n.°
4 este artigo, levanta construção em terreno alheio. A diferença é a de que essa construção
resultou do prolongamento de obra feita em terreno próprio. Coloca-se então um problema de
direitos quanto a parte prolongada de construção e o terreno por ela ocupado.
2.1.3.3. Especificação
2.1.3.3.1. Regime
A especificação é a actividade pela qual alguém dá nova forma, por seu trabalho, a coisa móvel
pertencente a outrém, de que pode resultar, em certas circunstâncias legalmente estabelecidas, a
constituição na esfera jurídica do agente de um novo direito real (n.°1 do art. 1336.°).
Esta nova forma ou transformação deve ser definitiva, ou seja, não deve ser possível voltar a
forma inicial. Só assim é que se coloca um verdadeiro problema de atribuição final da
propriedade sobre a coisa que há que resolver.
A actividade de transformação de uma coisa alheia pode resultar de escrita, pintura, desenho,
fotografia, impressão, gravura e de todos os actos semelhantes (art. 1338.°).
Por outro lado, ela cinge-se as coisas móveis, tidas como matérias do trabalho alheio.
Os efeitos desta actuação sobre coisa alheia variam consoante haja sido feitas de boa ou ma fé,
nos termos dos artigos 1336.° e 1337.°. Esta apura-se nos termos em que se apura na acessão.
Tendo a especificação sido feita de boa fé, e se coisa não puder ser restituída a forma primitiva
sem perda do valor criado, o agente especificador faz sua a coisa transformada, ficando obrigado
a indemnizar o dano da cousa de respectivo valor n.1, primeira parte, e n.° 2 do art. 1336.°).
Trata-se de um verdadeiro direito real de aquisição.
Exemplo: (1) M, artesão de madeira, faz uma caixa de fino acabamento, de um ramo de pau-
preto que julgava-lhe pertencer, mas que, efectivamente, é de N. se a matéria-prima valer 60.000
Mts e a caixa 200.000 Mts, então o valor da especificação é de 140.000 Mts. Neste caso, o M fica
dono das caixas, tende de pagar os 60.000 Mts a N. (2) suponha-se que M se limitou a escavar o
tronco fazendo uma caixa tosca de abertura simples, de valor comercial de 80.000 Mts. Neste
caso o valor da especificação é inferior ao da matéria-prima 60.000 Mts, o M apenas ficara com a
caixa se o N quiser.
Estatui, ainda o art. 1337.° que se a especificação foi feita de ma fe esta coisa especificada
restituída a seu dono no estado em que se encontrar, o qual terá direito a ser indemnizado dos
danos que sofreu.
Por seu turno o especificado não tem direito a qualquer indemnização pelo seu trabalho, salvo se
o valor da especificação tiver aumentado em mais de um terço a coisa especificada. Neste caso
deve o dono da cosa repor o que exceder o dito terço.
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Exemplo: no caso atras usado, M tinha furtado o ramo de pau-preto a N. O N fica com a caixa ou
caixas que M haja feito, mas enquanto no caso (1) como valor da especificação 140.000 Mts, é
superior a um terço do valor da coisa 20.000 Mts deverá dar 120.000 Mts a M, já no caso (2)
como valor da especificação 20.000 Mts não excede, antes iguala, um terço do valor da coisa
60.000 Mts, o M não tem direito a receber nada de N.
A constituição de direito reais por negócio jurídico não é admissível nos termos reais criados ex
lege, como no usufruto legal (art. 1893.°), ou hipoteca legal (art. 704.°).
de retenção (art. 754.°) e das preferências legais (arts. 1380.°, 1409.°, 1535.°, 1555.°.) incluindo o
direito de remição do cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e descendentes ou
ascendentes do executado (art. 912.° CPC).
Estes direitos existem ex lege, não carecendo de acto jurisdicional ou administrativo para a sua
existência.
A titulo de exemplo, passam para o Estado os direitos de achador de tesouro como cominação de
ele não ter promovido o anuncio ou aviso do achado, ter feito seu achado ou parte dele sabendo a
quem pertencia, ou ter ocultado do proprietário da coisa onde se encontrava (n.° 3 do art. 1324.°).
Interessa-nos agora buscar e analisar os casos em que essa reversão é automática, ocorre em
função de uma qualificação ou situação da própria coisa, não sendo sequer necessário o
apossamento efectivo pelo Estado.
Tanto os bens imoveis como bens móveis podem ser objecto de reversão automática. Ainda
assim, no essencial, podemos dizer que é a salvaguarda do interesse publico que justifica tais
situações.
As aquisições feitas pelo Estado ao abrigo da reversão automática são originárias. O Estado
constitui o seu direito de propriedade sem qualquer relação, dependência ou continuidade com o
direito anterior.
Assim sendo, podemos concluir que não se acha no art. 1345.° nenhum caso de reversão
automática da propriedade sobre imoveis. Alias, na ordem jurídica moçambicana não
conhecemos nenhum regime legal nesse sentido. A reversão, a acontecer, será sempre
condicionada pela renúncia do titular.
São, então, criados direitos na ordem jurídica por efeito de decisão judicial ou de facto
administrativo.
Assim, as sentenças judiciais produzidas em acção de natureza constitutiva (art. 4.°, n. 2.° al. c)
CPC), podem criar direitos reais objetivamente novos.
É o que ocorre, entre outros, com: a propriedade singular, em acção de divisão de coisa comum
(arts. 1412.° n.° 1, 1413.°, n.° 1), segunda parte); a propriedade horizontal, em acção de divisão
da coisa comum ou em processo de inventário (art. 1417.°, n.°1); a servidão predial legal, em
acção constitutiva de servidão (art. 1550.°, n.°1); a consignação de rendimentos judicial de
imoveis ou móveis sujeitos a registo penhoras, na respectiva acção executiva (art. 685.°, n.°1 e 2,
e arts. 879.° e ss. CPC); a hipoteca judicial (art. 710); o arresto, no procedimento cautelar
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respectivo (art. 619.°, e arts. 402.°e ss. CPC); a penhora, na acção executiva respectiva (arts.
817.° e ss., e arts. 838.° e ss. CPC).
Por último, também os factos administrativos podem criar direitos reais, como, entre outros, o
direito de uso e aproveitamento, mediante pedido de autorização (arts. 12.°, c) LT, ainda arts.
19.° a 21.° e 25.° a 27.° LT), ou a servidão predial legal, mediante acto administrativo ( art.
1550.° n.° 1).
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Conclusão
Após a realização do trabalho concluiu-se que, as espécies das vicissitudes apresentam um modo
de agir, e regime ou âmbito de aplicação totalmente de diferente uma das outras. Alguma das
quais consiste na aquisição do direito de propriedade ou de outro direito real de gozo por efeito
da posse nos termos desse direito, mantida por certo lapso de tempo, e nestes termos de acordo
com a lei (art. 1287.°) ,apenas podem ser adquiridos por usucapião os direitos reais de gozo,
excluindo-se assim os direitos reais de garantia e de aquisição.
E que, a lei distingue varias espécies da acessão no art. 1326.°, dando-lhes de seguida um
tratamento diferenciado, designadamente: acessão natural e a industrial. A primeira provém de
causas naturais e a outra por força do homem.
E por fim, quando se trata da reversão automático a favor do Estado, dá-se quando a posse e os
direitos sobre bens aptos para serem afectados a particulares sofrem uma transferencia para o
Estado. Porém, é de crucial importância deixar claro que, tanto os bens imoveis como bens
móveis podem ser objecto de reversão automática. Porém ao se verificar esta reversão não
significa que o bem passa a ser propriedade do Estado mas sim é a salvaguarda do interesse
publico que justifica tais situações. Tanto é que, aparecendo o dono pode este fazer a reclamação
do bem. Oque quer se evitar com esta reversão é evitar que o bem fique a deriva.
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Referências bibliográficas
PINTO, Rui, Direitos Reais de Mocambique – Teoria geral dos Direitos Reais. Posse, Edicao
Almedina, Coimbra, 2006. Pp: 268 – 364.
SOARES, Antonio et all, Licoes de Direitos Reais Timoe – Leste, 2ª Edicao, Universidade do
Porto. Reitora, 2022. Pp: 179 – 193.