Você está na página 1de 41

2020.

Lei Especial
Crimes Ambientais
(Lei 9.605/1998)

@cadernossistematizados contato@cadernossistematizado.com
CRIMES AMBIENTAIS
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 3
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 4
CRÍTICAS .............................................................................................................................. 4
TERMINOLOGIAS ................................................................................................................ 4
2. CONCURSO DE PESSOAS E OMISSÃO AMBIENTALMENTE RELEVANTE ......................... 5
3. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA (PJ) NA CF/88 ................................... 6
NATUREZA JURÍDICA DA PJ .............................................................................................. 6
3.1.1. Teoria da Ficção Jurídica (Savigny) .............................................................................. 6
3.1.2. Teoria da Realidade ou Organicista (Otto Gierke) ........................................................ 7
RESPONSABILIDADE PENAL DA PJ ................................................................................. 7
3.2.1. Contras e prós da responsabilidade penal da PJ ......................................................... 8
RESPONSABILIDADE PENAL DA PJ DE DIREITO PÚBLICO ........................................ 10
DENÚNCIA GERAL VS PROCESSO PENAL KAFKIANO (CRIPTOIMPUTAÇÃO) ......... 10
4. ENCERRAMENTO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL .......................... 12
5. REQUISITOS LEGAIS PARA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PJ ................................... 13
6. SISTEMA DA DUPLA IMPUTAÇÃO OU DAS IMPUTAÇÕES PARALELAS ........................... 13
7. CRITÉRIOS PARA DOSIMETRIA DA PENA ............................................................................ 15
CRITÉRIOS EXTRAÍDOS DO DISPOSITIVO LEGAL ....................................................... 16
CARÁTER AUTÔNOMO E SUBSTITUTIVO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS
16
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS FÍSICAS ................. 17
7.3.1. Prestação de serviços à comunidade.......................................................................... 17
7.3.2. Interdição temporária de direitos ................................................................................. 18
7.3.3. Suspensão das atividades da pessoa física ............................................................... 18
7.3.4. Prestação pecuniária ................................................................................................... 19
7.3.5. Recolhimento domiciliar ............................................................................................... 19
8. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES .......................................................................................... 20
9. CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES .......................................................................................... 21
10. PENAS APLICÁVEIS ÀS PJ’S ............................................................................................... 24
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE ............................................................... 24
RESTRITIVA DE DIREITOS ............................................................................................... 24
MULTA................................................................................................................................. 24
10.3.1. Critério para aplicação e critério para triplicar ............................................................. 24
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS DA PESSOA JURÍDICA ....................................... 25
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE PELA PESSOA JURÍDICA .................. 25
LIQUIDAÇÃO FORÇADA ................................................................................................... 26
11. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA LCA ..................................... 26
12. SURSIS SIMPLES NOS CRIMES AMBIENTAIS................................................................... 27
13. SURSIS ESPECIAL (REPARAÇÃO DO DANO) NOS CRIMES AMBIENTAIS .................... 27
14. SURSIS ETÁRIO E HUMANITÁRIO NOS CRIMES AMBIENTAIS E TRANSAÇÃO PENAL
28
15. TRANSAÇÃO PENAL ............................................................................................................. 28
16. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CRIMES AMBIENTAIS.................... 29
17. APREENSÃO E VENDA DE INSTRUMENTOS DA INFRAÇÃO .......................................... 30
18. NATUREZA DA AÇÃO NA LCA ............................................................................................. 31
19. POSSIBILIDADE DE HABEAS CORPUS (HC) ..................................................................... 31
20. COMPATIBILIDADE COM O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ........................................ 31
21. INTERROGATÓRIO DA PJ .................................................................................................... 31
22. COMPETÊNCIA ...................................................................................................................... 32

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 1


REGRA ................................................................................................................................ 32
CASUÍSTICA ....................................................................................................................... 32
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL .......................................................................... 32
23. CRIMES EM ESPÉCIE ........................................................................................................... 33
CRIME DO ARTIGO 29 DA LCA ........................................................................................ 33
ARTIGO 37 DA LCA – CIRCUNSTÂNCIAS ATÍPICAS ..................................................... 35
CRIME DO ARTIGO 30 DA LCA ........................................................................................ 35
CRIME DO ARTIGO 31 DA LCA ........................................................................................ 36
CRIME DO ARTIGO 32 DA LCA ........................................................................................ 36
ARTIGO 64 DA LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS (LCP)............................................ 37
CRIME DO ARTIGO 49 DA LCA ........................................................................................ 38
CRIME DO ARTIGO 54 DA LCA ........................................................................................ 38

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 2


APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Legislação Penal Especial – Crimes de Ambientais possui como base as aulas
do professor Vinícius Marçal, do Curso G7 Jurídico, complementadas com as aulas do Professor
Fábio Roque (CERS)

Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2017 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2018, ambos da Editora
Juspodivm.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos!! Bons estudos!!

Equipe Cadernos Sistematizados.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 3


1. INTRODUÇÃO

CRÍTICAS

Quando a Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais – LCA) surgiu, Miguel Reale Júnior
escreveu um artigo intitulado de “A Hedionda Lei dos Crimes Ambientais”, porque entendeu que o
dispositivo transformou comportamentos irrelevantes em crimes.

Além disso, apontou o fenômeno da “abstratização do Direito Penal”, vislumbrado no ato de


o legislador enquadrar inúmeras das infrações administrativas previstas em Decreto-Lei como
crimes. Com essa postura, o Direito Penal ganha margem de populismo, renegando, inclusive,
princípios que o caracterizam, tais como ultima ratio e intervenção mínima.

Também, segundo Reale, a LCA trouxe a figura da responsabilidade penal da pessoa


jurídica sem que se tenha uma teoria do crime própria, isto é, importou-se a referida, mas não por
completo. A denominada “Lei de Adaptação” que existe na França não foi transportada para o
ordenamento jurídico brasileiro. Inexistem normas processuais que regulamentam a
responsabilidade penal da pessoa jurídica na LCA.

Nesse contexto, assenta o doutrinador: “Incongruências e erros desse quilate apresenta a


lei também no que respeita à previsão de novas penas alternativas e aos critérios de sua aplicação,
além da criação inconstitucional da responsabilidade penal da pessoa jurídica e da admissão ampla
e insegura da forma comissiva por omissão. A defesa imprescindível do meio ambiente não autoriza
que se elabore e que o Congresso aprove lei penal ditatorial, seja por transformar comportamentos
irrelevantes em crime, alçando, por exemplo, à condição de delito o dano culposo, seja fazendo
descrição ininteligível de condutas, seja considerando crime infrações nitidamente de caráter
apenas administrativo, o que gera a mais profunda insegurança.”

TERMINOLOGIAS

A LCA menciona termos que merecem atenção.

A figura da Lei Penal em Branco ao Quadrado, por exemplo, significa os casos de


complemento normativo que reclamam outro complemento normativo, como ocorre no art. 38 da
Lei nº 9.605/98, por exemplo:

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação


permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das
normas de proteção:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Para saber no que consiste “floresta de conservação permanente” deve-se atentar ao Código
Florestal que, além de conceituar o termo, estabelece uma hipótese em que a área de preservação
permanente (APP) será assim considerada, após declaração de interesse social por parte do Chefe
do Poder Executivo.

Vide art. 6º da Lei nº 12.651/12:

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 4


Art. 6o Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando
declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas
cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou
mais das seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de
terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou
histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades
militares.
IX – proteger áreas úmidas, especialmente as de importância
internacional. (Incluído pela Medida Provisória nº 571, de 2012).
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância
internacional.

2. CONCURSO DE PESSOAS E OMISSÃO AMBIENTALMENTE RELEVANTE

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos
nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua
culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e
de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa
jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a
sua prática, quando podia agir para evitá-la

A primeira parte do dispositivo assemelha-se à previsão do art. 29 do CP, que agasalha a


“Teoria Unitária” ou “Teoria Monista”.

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade

O restante do artigo prescreve que o omitente responde pelo resultado em razão do nexo
de evitação ou de não impedimento. Os demais sujeitos (mandatário, gerente, preposto) somente
responderão se os requisitos estiverem presentes.

Reforça-se que os agentes poderão responder tanto pela ação, quanto pela omissão
ambientalmente relevante (semelhante ao art. 13, §2º do CP).

Art. 13 (...)
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 5


3. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA (PJ) NA CF/88

A Constituição Federal de 1988 estabelece dois mandados de criminalização da pessoa


jurídica, sendo um de menor citação e outro mais analisado.

O mandado menos versado está no artigo 173, §5º da CF/88:

Art. 173 (...)


§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da
pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às
punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem
econômica e financeira e contra a economia popular

Apesar da previsão, não houve tratamento da responsabilidade penal da pessoa jurídica,


mas, tão somente, da responsabilidade individual. O mandado constitucional de responsabilização
foi parcialmente cumprido.

O outro dispositivo constitucional, de maior debate, é o art. 225, §3º da CF/88:

Art. 225 (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio


ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados

Nesse caso, obedecendo ao mandado constitucional de criminalização, surgiu a Lei nº


9.605/98.

Pode uma lei infraconstitucional estabelecer a responsabilidade penal da PJ para


outros casos (diversos daqueles previstos na CF/88)? A grande maioria da doutrina é contra a
extensão dessa responsabilidade penal para outras hipóteses, inclusive, nos crimes ambientais.
ENTRETANTO, o projeto do Novo Código Penal (NCP) trata da responsabilidade penal da PJ em
outras hipóteses (crimes contra a administração pública).

Vide art. 41 do Projeto de Lei 236 (Novo Código Penal):

Art. 41. As pessoas jurídicas de direito privado serão responsabilizadas


penalmente pelos atos praticados contra a administração pública, a ordem
econômica, o sistema financeiro e o meio ambiente, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual,
do seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade

Note que, no projeto, está claro que somente responderão as pessoas jurídicas de direito
privado.

NATUREZA JURÍDICA DA PJ

Existem duas principais teorias que disputam a natureza jurídica da PJ:

3.1.1. Teoria da Ficção Jurídica (Savigny)

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 6


Tem como eixo algumas premissas, sendo que a principal é a de que “a pessoa jurídica não
tem existência real”, portanto, não tem vontade própria e não pratica conduta. Consequentemente,
não pratica crimes.

3.1.2. Teoria da Realidade ou Organicista (Otto Gierke)

Para seus seguidores, a PJ é ente autônomo, real e distinto das pessoas físicas que a
administram. Tem vontade própria institucional. É capaz de direitos e obrigações na vida civil e,
justamente por esses atributos, pode cometer crimes.

RESPONSABILIDADE PENAL DA PJ

Têm-se cinco correntes a respeito:

1ª corrente (Paganella Boschi e Luiz Regis Prado)

A CF/88 não criou a responsabilidade penal da PJ, por isso, o art. 3º da LCA é
inconstitucional.

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e


penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.

Para essa corrente, o art. 225, §3º da CF/88 deve ser lido de modo diverso.

Art. 225 (...)


§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados

Consoante seus defensores, o dispositivo deve ser lido da seguinte maneira:

“As condutas consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão aos


infratores, pessoas físicas, a sanções penais, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados”.

E “as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão aos


infratores, pessoas jurídicas, a sanções administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

Em suma, condutas e sanções se referem exclusivamente às pessoas físicas. Por outro


modo, atividades e sanções administrativas dizem menção às pessoas jurídicas.

2ª corrente

Parte da premissa da Teoria da Ficção Jurídica. Se a PJ não é ente próprio, não pratica
conduta e não detém vontade, logo, não pode praticar crimes.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 7


Os entendimentos da 1ª e 2ª correntes embasam a perspectiva da doutrina majoritária (Luiz
Luisi, Rogério Greco, Cézar Roberto Bitencourt, Paulo José da Costa Júnior, João Franco Muniz da
Rocha, Eugenio Raúl Zaffaroni, Luiz Vicente Cernicchiaro, José Henrique Pierangeli e outros).

3ª corrente (Luiz Flávio Gomes)

A LCA instituiu, na verdade, um direito judicial sancionador, porque é aplicado pelo juiz e o
principal efeito estigmatizador típico das sanções penais (prisão) não está presente.

4ª corrente (Sílvio Maciel)

Há necessidade de uma Lei de Adaptação como a que existe na França. A CF/88 previu a
responsabilidade penal da PJ, contudo, carece de uma teoria do crime e de normas processuais
compatíveis com a natureza fictícia das PJ’s.

5ª corrente (Damásio de Jesus, Sérgio Salomão Shecaira, Antônio Herman Benjamin


e outros)

Fundada na Teoria da Realidade, conclui que a PJ pode cometer crimes ambientais, tal
como previsto na CF/88 (leitura tradicional do artigo 225, §3º da CF/88).

A 5ª corrente reflete o posicionamento da maioria da jurisprudência.

Obs.: Se cobrado em prova objetiva, adota-se a 5ª corrente. Se questionado em provas subjetiva e


oral, avançam-se com as demais correntes.

3.2.1. Contras e prós da responsabilidade penal da PJ

Contras

• Desde o Direito Romano a sociedade não pode delinquir (societas delinquere non
potest);

• A PJ não possui consciência e vontade, não pratica condutas, portanto, ausente o


elemento subjetivo. A vontade da PJ é, em verdade, a vontade das PF’s que a
representam – Teoria da Ficção Jurídica;

• Como a PJ não é dotada de autoconsciência, não se consegue cumprir as funções


da pena (prevenção e repressão);

• PJ não tem culpabilidade. Não é imputável, somente o ser humano adquire


capacidade de entender o caráter ilícito de um fato e de determinar-se de acordo
com esse entendimento;

• A atuação da PJ é vinculada aos atos vinculados no seu estatuto social, não se


incluindo a prática de crimes;

• Princípio constitucional da personalidade da pena (ou intranscendência): a punição


da PJ alcançaria, ainda que indiretamente, seus integrantes;

• Não se pode aplicar pena privativa de liberdade, característica indissociável do


Direito Penal;

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 8


• Viola o princípio da subsidiariedade do Direito Penal (Decreto Lei 6.514/2008 –
infrações administrativas idênticas);

• Segundo Fernando da Costa Tourinho Filho: “conforme o artigo 3º da LCA, as PJ’s


serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente, nos casos em que a
infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de
seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade”. A própria lei
reconhece que ela não pode praticar crimes.

Prós:

• A PJ é um ente autônomo, dotado de consciência e vontade, razão pela qual pode


realizar condutas (“ação delituosa institucional”) e assimilar a natureza intimidatória
da pena;

• A vontade da PJ resulta do somatório das vontades dos seus dirigentes. Ao lado da


“vontade individual”, passa-se a ter uma “vontade institucional”.

• À culpabilidade penal individual clássica, deve-se somar a culpabilidade social


(baseada na ideia da empresa como centro de emanação de decisões);

• É óbvio que o estatuto social de uma PJ não prevê a prática de crimes como uma de
suas finalidades. Da mesma forma, não contém em seu bojo a realização de atos
ilícitos, o que não os impede de serem realizados (inadimplência, por exemplo);

• A punição da PJ não viola o princípio da personalidade da pena. Deve-se distinguir


a pena dos efeitos decorrentes da condenação, os quais também se verificam com
a punição da pessoa física;

• O direito penal não se limita à pena de prisão: conforme visto no artigo 28 da Lei de
Drogas e artigo 4º, §2º, da Lei nº 7.716.

Outros argumentos coerentes:

• Insuficiência das sanções civis e administrativas para coibir as ações predatórias ao


meio ambiente;

• A forte simbologia que tem a norma penal;

• Punir apenas a pessoa física é criar um escudo para proteger aquele que mais se
beneficia do crime ambiental: a PJ violadora das normas ambientais.

• Relevante se faz a evidenciação da responsabilidade penal da PJ através de ação


delituosa institucional calcada na vontade institucional + culpabilidade social.

A jurisprudência do STJ tem se valido dos fundamentos favoráveis à responsabilização da


PJ.

Resp 564.960 “A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de


delitos ambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas
de punição das condutas lesivas ao meio-ambiente, mas como forma mesmo
de prevenção geral e especial. (...) Se a pessoa jurídica tem existência própria

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 9


no ordenamento jurídico e pratica atos no meio social através da atuação de
seus administradores, poderá vir a praticar condutas típicas e, portanto, ser
passível de responsabilização penal. VI. A culpabilidade, no conceito
moderno, é a responsabilidade social (...). A responsabilidade penal não
poderá ser entendida na forma tradicional baseada na culpa, na
responsabilidade individual subjetiva, propugnada pela Escola Clássica, mas
deve ser entendida à luz der uma nova responsabilidade, classificada como
social”.

RESPONSABILIDADE PENAL DA PJ DE DIREITO PÚBLICO

Acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica de Direito Público, dois são os


entendimentos:

1ª corrente: É possível, pois a CF/88 não fez discrição entre pessoa jurídica de Direito
Público e de Direito Privado.

2ª corrente: Não é possível, pois o Estado não se pode autopunir. A pena terminaria por
prejudicar a própria coletividade, seja em face da lesão ao patrimônio público (multa, por exemplo);
seja ainda com a suspensão ou interdição temporária de atividades (em franco juízo ao princípio da
continuidade dos serviços públicos).

Posição do STJ – “responsabiliza-se apenas as pessoas jurídicas de Direito Privado”

Resp 564.960/SC - Os critérios para a responsabilização da pessoa jurídica


são classificados na doutrina como explícitos: 1) que a violação decorra de
deliberação do ente coletivo; 2) que autor material da infração seja vinculado
à pessoa jurídica; e 3) que a infração praticada se dê no interesse ou
benefício da pessoa jurídica; e implícitos no dispositivo: Que seja pessoa
jurídica de direito privado; Que o autor tenha agido no amparo da pessoa
jurídica; e Que a atuação ocorra na esfera de atividades da pessoa jurídica.”

DENÚNCIA GERAL VS PROCESSO PENAL KAFKIANO (CRIPTOIMPUTAÇÃO)

A denúncia geral, aquela que imputa um fato preciso a mais de uma pessoa, é absolutamente
plausível no ordenamento jurídico, sobretudo, nos crimes de autoria coletiva. Já a denúncia genérica
que, ao contrário da denúncia geral, não detém fato precioso e realiza a imputação criptografada,
não é admitida pelo STJ.

Na denúncia genérica - criptografada (inadmitida pelo STJ) o sujeito não sabe pelo que está
sendo acusado. Nesse contexto é que surge o “processo penal Kafkiano”.

Na obra “O Processo”, Frank Kafka conta a história de “Joseph K”, que foi preso
arbitrariamente sem qualquer explicação. Resumidamente, quando Joseph K. indaga o porquê está
detido, tem como resposta que não lhe cabiam explicar isso, que deveria ele retornar aos aposentos
e ali o esperar enquanto o inquérito, já em curso, corria. Durante todo o romance, Joseph K. insiste
em saber pelo que está sendo acusado. O estilo kafkiano do processo é oriundo dessa história e
reflete a situação em que são tolhidos os preceitos jurídicos. No decorrer do processo do
personagem, são verificados obstáculo os injustos e desumanos, de modo que não lhe era dado
acesso aos autos, justamente para que não soubesse nada esclarecedor e que servisse de

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 10


subsídios para elaboração de defesa. Nesse contexto, alude o autor: “De modo que os expedientes
da justiça e, especialmente, o escrito de acusação eram inacessíveis para o acusado e o seu
defensor, o que fazia com que não se soubesse em geral ou ao menos com precisão a quem devia
se dirigir a demanda”.

É comum o erro do Ministério Público (MP), ao identificar um crime ambiental praticado por
uma PJ, denunciar não só a PJ, como também seu sócio-diretor. Note que ser sócio ou gerente não
é crime. Quem recebe uma denúncia simplesmente porque gerencia uma empresa está sendo
acusado de um nada, de um fato genérico, através de uma denúncia criptografada.

*MP-GO: “A doutrina denomina criptoimputação a imputação contaminada por grave situação de


deficiência na narração do fato imputado, quando não contém os elementos mínimos de sua
identificação como crime, como às vezes ocorre com a simples alusão aos elementos do tipo penal
abstrato.”

Nos chamados crimes de autoria coletiva, “embora a vestibular acusatória


não possa ser de todo genérica, é válida quando, apesar de não descrever
minuciosamente as atuações individuais dos acusados, demonstra um liame
entre o seu agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a plausibilidade
da imputação e possibilitando o exercício da ampla defesa”. (RHC 68.903,
Dje 20/05/2016)

A denúncia geral (ao contrário da genérica) se adequada aos princípios da ampla defesa e
do contraditório.

Dessarte, não é inepta a denúncia – geral – que apresenta uma narrativa


fática congruente, de modo a permitir o due process of law, descrevendo
conduta típica que, “atentando aos ditmaes do art. 41 do CPP, qualifica os
acusados, descreve o fato criminoso e suas circunstâncias. O fato, por si só,
de o MP ter imputado ao recorrente a mesma conduta dos demais
denunciados não torna a denúncia genérica, indeterminada ou impresa.” (HC
311.571, STJ, Dje 15/12/2015)

Repercussão na LCA

“Não se pode confundir a denúncia genérica com a denúncia real, pois o


direito pátrio não admite denúncia genérica, sendo possível, entretanto, nos
casos de crimes societários e de autoria coletiva, a denúncia geral, ou seja,
aquela que, apesar de não detalhar minudentemente as ações imputadas aos
denunciados, demonstra, ainda que de maneira sutil, a ligação entre sua
conduta e o fato delitivo. Da leitura da inicial, verifica-se que os recorrentes
Cristiano e Maria da Graça foram denunciados apenas em virtude de serem
sócios administradores da primeira recorrente, Caiçaras Empreendimentos
Imobiliários Ltda. A acusação limitou-se a vinculá-los ao crime porque eram
sócios administradores da primeira recorrente, o que torna a denúncia
genérica e inadmissível. (...) Recurso em habeas corpus provido em parte,
para reconhecer a inépcia da denúncia aepans com relação aos recorrentes
CRISTIANO e MARIA DA GRAÇA, sem prejuízo do oferecimento de nova
inicial acusatória, desde que observados os requisitos do art. 41 do Código
de Processo Penal.” (RHC 88.264/RS, 5ª T.STJ, Dje 21/02/2018)

Denúncia geral vs processo penal Kafkiano (criptoimputação)

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 11


“A denúncia e o aditamento, apesar de descreverem a conduta delitiva
consistente na supressão de vegetação em APP, não expõem, nem mesmo
de passagem, o nexo causal entre o comportamento dos recorrentes e o fato
delituoso. A acusação limitou-se a vinculá-los ao crime ambiental porque
eram sócios da empresa em que realizada a fiscalização. (...) A mera
atribuição de uma qualidade não é forma adequada para se conferir
determinada prática delitiva a quem quer que seja. Caso contrário, abre-
se margem para formulação de denúncia genérica e, por via de
consequência, para reprovável responsabilidade penal objetiva.” (RHC
70.395, Dje 14/10/2016)

“A mera condição de sócio, diretor ou administrador de determinada pessoa


jurídica não enseja a responsabilização penal por crimes praticados no seu
âmbito, sendo indispensável que o titular da ação penal demonstre uma
mínima relação de causa e efeito entre a conduta do réu e os fatos narrados
na denúncia, permitindo-lhe o exercício da ampla defesa e do contraditório.
(...) No caso dos autos, da leitura da exordial acusatória percebe-se que ao
paciente foi imputada a prática de crime contra o meio ambiente pelo simples
fato de exercer o cargo de Diretor Presidente da companhia Paranaense de
Energia Elétrica – COPEL, não tendo o órgão ministerial demonstrado a
mínima relação de causa e efeito entre os fatos que lhe foram assestados e
a função por ele exercida na mencionada pessoa jurídica, pelo que se mostra
imperioso o trancamento da ação penal contra ele instaurada” (STJ, HC
232751, Dje 15.03.2013).

Não confundir denúncia geral (válida) com denúncia genérica (inválida).

4. ENCERRAMENTO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO AMBIENTAL

Observe a Súmula Vinculante 24:

SV 24: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art.
1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Os delitos ambientais configuram infrações administrativas. No entanto, a doutrina e


jurisprudência são uníssonas ao preconizar pela desnecessidade da conclusão do procedimento
administrativo ambiental para a deflagração da persecução penal.

“2. No caso dos autos, muito embora os crimes ambientais pelos quais o
paciente foi acusado (artigos 39 e 40 da Lei 9.605/1998) sejam materiais,
dependendo da ocorrência de dano para que possam se caracterizar, não há
dúvidas de que o Ministério Público não precisa aguardar a conclusão do
processo administrativo instaurado junto ao IBAMA para deflagrar a
respectiva ação penal. 3. Isso porque as esferas administrativa e penal são
independentes, razão pela qual o Parquet, dispondo de elementos mínimos
para oferecer a denúncia, pode fazê-lo, prescindindo-se da apuração dos
fatos pelo órgão administrativo competente. 4. Eventual celebração de termo
de ajustamento de conduta não impede a persecução penal, repercutindo
apenas na dosimetria da eventual pena a ser cominada ao autor do ilícito
ambiental. Precedentes.” (HC 160.525/RJ, 5ª T. STJ, Dje 14/03/2013)

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 12


5. REQUISITOS LEGAIS PARA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PJ

A responsabilização penal da PJ não surge automaticamente à vista de qualquer fato que


tenha subsunção na LCA.

São dois os requisitos necessários, verificados no art. 3º da Lei nº 9.605/98:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e


penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.

Esses requisitos são cumulativos (e não alternativos):

• a infração seja cometida por decisão do representante legal ou contratual, ou órgão


colegiado da PJ;

• na prática se dê no interesse ou benefício da PJ.

Exemplos dados por Luís Flávio Gomes e Sílvio Rodrigues:

Se um funcionário de uma empresa, que trabalha com motosserra, resolve, por sua conta,
avançar em APP e cortar árvores nesse local proibido; ausente o primeiro requisito, qual seja:
infração ser cometida por decisão de representante ou órgão colegiado.

Se o gerente de uma empresa autoriza o corte de árvores em uma APP, contra os interesses
da empresa, causando-lhe inclusive prejuízos enormes (perda de incentivos fiscais, perda de
contratos com a desmoralização pública); ainda que presente o primeiro requisito, o fato não
foi praticado em interesse ou benefício da empresa (segundo requisito).

*CESPE: Na hipótese de o diretor de uma empresa determinar a seus empregados que utilizem
veículos e instrumentos a ela pertencentes, em horário normal de expediente, para extraírem e
transportarem madeira de lei, sem autorização do órgão ambiental competente, destinada a
construção particular daquele dirigente, fica caracterizada a responsabilidade penal da pessoa
jurídica e da pessoa física. – FALSO!

Questiona-se: o art. 3º da LCA foi o primeiro dispositivo a dispor sobre a


responsabilidade penal da pessoa jurídica no Brasil? Não. Já havia no ordenamento jurídico
uma contravenção penal que previa responsabilização da PJ caso lesionasse o meio ambiente do
trabalho. Vide art. 19, §2º da Lei nº 8.213/91:

Art. 19 (...)
§ 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de
cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho

6. SISTEMA DA DUPLA IMPUTAÇÃO OU DAS IMPUTAÇÕES PARALELAS

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 13


Previsto no art. 3º, §único da Lei nº 9.605/98:

Art. 3º (...)
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.

É cediça a possibilidade de processamento das pessoas físicas e das pessoas jurídicas


(PJ’s). Durante muitos anos, o STJ entendeu que o Sistema da Dupla Imputação ou das Imputações
Paralelas era obrigatório, isto é, haveria de existir concurso necessário entre pessoas físicas e
jurídicas para processamento, sem isso, seria a denúncia inepta.

De acordo com Luís Flávio Gomes: “O sistema de imputações paralelas, também chamado
de sistema da dupla imputação, diz que, nos crimes ambientais, não é possível processar
exclusivamente a pessoa jurídica. É preciso processar a pessoa física com a pessoa jurídica. É
possível punir criminalmente a pessoa física sozinha ou então, em concomitância com a pessoa
jurídica”.

“1. Para a validade de tramitação de feito criminal em que se apura o


cometimento de delito ambiental, na peça exordial devem ser denunciados
tanto a pessoa jurídica com a pessoa física (sistema ou teoria da dupla
imputação). Isso porque a responsabilização penal da pessoa jurídica não
põe ser desassociada da pessoa física – quem pratica a conduta com
elemento subjetivo próprio. 2. Oferecida a denúncia somente contra a pessoa
jurídica, falta pressuposto para que o processo-crime se desenvolva
corretamente. 3. Recurso ordinário provido, para declarar a inépcia da
denúncia e trancar, consequentemente, o processo-crime instaurado contra
a Empresa Recorrente, sem prejuízo de que seja oferecida outra exordial,
válida.” (RMS 37.293/SP, 5ª T.STJ, Dje 09/05/2013)

Todavia, o referido sistema provocava injustiças. Tanto é que o posicionamento foi


radicalmente alterado pelo STF ao entender que o Sistema da Dupla Imputação ou das Imputações
Paralelas não era obrigatório.

STF - 1. O artigo 225, §23º da Constituição Federal não condiciona a


responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à
simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito
da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla
imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se
caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e
responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para
imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do
art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa
física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção
do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções
penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente
às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis internamente
às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A
identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da
produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto,
como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou
deliberaram no exercício regular de suas atribuições internas à sociedade, e

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 14


ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da
entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar
determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com
subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização
conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras
oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou
parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de
responsabilidade penal individual. (...)” (RE 548181, Rl. Min. Rosa Weber, 1ª
T.STF, Dje-213 de 30-10-2014)

ATENÇÃO: o sistema da Dupla Imputação existe, é legalmente previsto, mas é facultativo.

Ante as circunstâncias, o STJ acompanhou o STF e alterou seu entendimento.

“Este Superior Tribunal, na ilha do entendimento externado pelo Supremo


Tribunal Federal, passou a entender que, nos crimes societários, não é
indispensável a aplicação da teoria da dupla imputação ou imputação
simultânea, podendo subsistir a ação penal proposta contra a pessoa jurídica,
mesmo se afastando a pessoa física do polo passivo da ação. Precedentes.”
(AgRg no RMS 48.851/PA, 6ª T.STJ, Dje 26/02/2018)

*Pergunta de prova oral: o STF rejeita a dupla imputação nos crimes ambientais? O STF não nega
a dupla imputação, que está expressa na lei. Apenas entende que não há obrigatoriedade.

7. CRITÉRIOS PARA DOSIMETRIA DA PENA

A LCA nada versou a respeito da dosimetria de pena. Justamente, por isso que se usa
previsão do art. 79 da Lei nº 9.605/98:

Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do Código


Penal e do Código de Processo Penal

Ante o silêncio da lei, serão aplicadas as disposições do Código Penal e do Código de


Processo Penal, porém, observadas algumas especificidades:

(1º) Para a fixação da pena base, observa-se primeiramente a previsão do art. 6º da Lei nº
9.605/98 e, subsidiariamente, a do artigo 59 do CP;

(2º) Circunstâncias atenuantes e agravantes;

(3º) Causas de diminuição e de aumento de pena.

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente


observará:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas
consequências para a saúde pública e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de
interesse ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 15


CP - Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie
de pena, se cabível.

CRITÉRIOS EXTRAÍDOS DO DISPOSITIVO LEGAL

• Gravidade do fato, motivo da infração e consequências para a saúde pública e para


o meio ambiente;

• Antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação ambientais (ou seja,


não exclusivamente penais, mas também normas administrativas);

• Situação econômica do infrator no caso de multa + montante do prejuízo causado.

Vide art. 19 da Lei nº 9.605/98:

Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível,


fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e
cálculo de multa.
Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá
ser aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório.

CARÁTER AUTÔNOMO E SUBSTITUTIVO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

Conforme dispõe o art. 7º da LCA, as penas restritivas de direitos são autônomas,


substituindo as privativas de liberdade nos seguintes casos:

Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as


privativas de liberdade quando:
I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade
inferior a quatro anos;

→ No CP é diferente (artigo 44, inciso I: “aplicada pena privativa de liberdade não superior
a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer
que seja a pena aplicada, se o crime for culposo”).

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do


condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que
a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do
crime.

→ Aborda o Princípio da Suficiência.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 16


Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo
terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída.

→ Sem enormes diferenças com o previsto no art. 55 do CP (As penas restritivas de direitos
referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade
substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46).

Embora a LCA não contemple a previsão do artigo 44, inciso II, do CP (As penas restritivas
de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: II – o réu não for
reincidente em crime doloso), o reincidente em crime doloso (ainda que no mesmo crime) terá direito
à substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, conforme entendimento
majoritário.

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS FÍSICAS

Observe a redação do art. 8º da Lei nº 9.605/98:

Art. 8º As penas restritivas de direito são:


I - prestação de serviços à comunidade;
II - interdição temporária de direitos;
III - suspensão parcial ou total de atividades;
IV - prestação pecuniária;
V - recolhimento domiciliar.

EM SUMA:

LCA, ART. 8º. AS PENAS CP, ART. 43. AS PENAS RESTRITIVAS


RESTRITIVAS DE DIREITO DE DIREITOS SÃO:
(APLICÁVEIS ÀS PESSOAS FÍSICAS)
SÃO:
I – prestação de serviços à comunidade; IV – prestação de serviço à comunidade
ou a entidades públicas;
II – interdição temporária de direitos; V – interdição temporária de direitos;
IV – prestação pecuniária; I – prestação pecuniária;
III – suspensão parcial ou total de II – perda de bens e valores;
atividades;
V – recolhimento domiciliar. III – limitação de fim de semana.

7.3.1. Prestação de serviços à comunidade

Prevista no art. 9º da Lei nº 9.605/98:

Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao


condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades
de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada,
na restauração desta, se possível

Tem finalidade íntima com a preservação e restauração do meio ambiente.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 17


A diferença para o CP são as localidades em que são realizados, os serviços são prestados
em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos, nos termos do art. 46, §4º do CP:

Art. 46 (...)
§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado
cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade
da pena privativa de liberdade fixada.

A previsão do art. 46, §4º do CP será também aplicada à LCA, com base na subsidiariedade
prevista no art. 79 da LCA.

7.3.2. Interdição temporária de direitos

Consagrada no art. 10 da Lei nº 9.605/98:

Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o


condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou
quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo
de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes
culposos

No CP, existem outras proibições diversas, tais quais:

• exercer cargo, função, atividade pública, mandato eletivo;

• exercer profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de


licença ou autorização do poder público; e

• proibição de frequentar determinados lugares (art. 43, inciso V, do CP, com incurso
no art. 47, também do CP).

A doutrina critica sobremaneira os prazos previstos pelo art. 10 da LCA, fundada na ideia de
que a LCA não prevê nenhum crime doloso com pena máxima de 5 anos, tampouco crime culposo
com pena máxima de 3 anos. Portanto, não poderia a pena restritiva de direitos (que tem caráter
substitutivo) ser maior que a pena privativa de liberdade (substituída).

Trata-se de desproporcionalidade. Por essa razão, sugere a desconsideração desses


patamares e invoca-se a previsão do art. 7º, § único da LCA:

Art. 7º (...)
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo
terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída

Aplica-se, portanto, a regra geral, de modo que a pena restritiva de liberdade tenha a mesma
duração da pena privativa de liberdade.

7.3.3. Suspensão das atividades da pessoa física

Prevista no art. 11 da Lei nº 9.605/98:

Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às prescrições legais

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 18


Exemplo: desenvolvimento de atividade impactante sem licença ambiental ou em
desconformidade com a obtida.

7.3.4. Prestação pecuniária

Encontra-se disciplinada no art. 12 da Lei nº 9.605/98:

Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima


ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo
juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta
salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual
reparação civil a que for condenado o infrator

O art. 45, §1º e §2º do CP incide na LCA.

Art. 45. Na aplicação da substituição prevista no artigo anterior, proceder-se-


á na forma deste e dos arts. 46, 47 e 48.
§ 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a
seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social,
de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem
superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será
deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil,
se coincidentes os beneficiários.
§ 2o No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a
prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza.

O descumprimento injustificado da prestação poderá acarretar a conversão em prisão, porque


é modalidade de pena restritiva de direitos, cuja conversão é perfeitamente possível quando não
forem cumpridas.

7.3.5. Recolhimento domiciliar

Previsto no art. 13 da Lei nº 9.605/98:

Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de


responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar,
frequentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido
nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado à
sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória

Segundo Guilherme Nucci, o legislador criou uma modalidade de prisão travestida de pena
restritiva de direitos. Pela leitura do dispositivo, remete-se às penas de regime aberto.

Vide artigo 36 do CP:

Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de


responsabilidade do condenado

MPF: Em crimes ambientais, limitação de fim de semana NÃO é sinônimo de recolhimento


domiciliar.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 19


TJMG: A limitação de fim de semana prevista no art. 48 do CP não é equivalente ao recolhimento
domiciliar estabelecido no art. 13 da LCA.

Artigo 48 do CP:

Art. 48 - A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer,


aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado
ou outro estabelecimento adequado.

Nesse sentido, na prática pode haver semelhança entre a pena restritiva de direitos e a figura
da prisão domiciliar, todavia, na previsão legal são institutos diferentes.

STJ - “II. Se o caótico sistema prisional estatal não possui meios para que o
paciente cumpra a pena restritiva de direitos em estabelecimento apropriado,
é de se autorizar, excepcionalmente, que a mesma seja cumprida em seu
domicílio. III. O que é inadmissível, é impor ao paciente o cumprimento da
limitação de fim de semana em presídio, estabelecimento inadequado para
tanto.” (HC 146.558/RS, 5ª Turma do STJ, DJe 05/04/2010)

8. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES

Aplicação das atenuantes típicas e inominadas do CP na LCA

Salienta-se que é absolutamente admitida a analogia in bonam partem, portanto, podem ser
aplicadas as atenuantes previstas no CP à LCA.

Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:


I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;

O inciso I do artigo 14 é semelhante ao “desconhecimento da lei” previsto no artigo 65, inciso


II, do CP.

De acordo com Cléber Masson: “Embora o desconhecimento da lei seja inescusável (CP,
art. 21) e não afaste o caráter criminoso do fato, funciona como atenuante genérica. Suaviza-se, no
campo penal, a regra definida pelo art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
‘Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece’. ... Justifica-se essa atenuante
elo fato de o ordenamento jurídico brasileiro ser composto por um emaranhado complexo de leis e
atos normativos, constantemente revogados e em contínua modificação, dificultando por parte do
cidadão a exata compreensão de seu significado e do seu alcance.”

*(Advogado do Senado – FGV) Nos crimes previstos na Lei 9.605/98, o baixo grau de instrução ou
escolaridade do agente constitui circunstância que atenua a pena.

II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do


dano, ou limitação significativa da degradação ambiental causada;

Em relação à reparação do dano, somente aplica-se ao infrator que reparar o dano APÓS o
recebimento da denúncia. No entanto, se o reparar antes do recebimento da denúncia será
beneficiado pelo Arrependimento Posterior (causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do CP).

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 20


Atenção: não poderá ocorrer arrependimento posterior em caso de “limitação significativa da
degradação ambiental causada”.

III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação


ambiental;

A comunicação exigida é prévia, ou seja, o dano ainda não ocorreu.

IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle


ambiental.

É chamada, impropriamente, por Roberto Delmanto Júnior, de delação premiada ambiental.

Exemplo: se o infrator ambiental colaborar com a vigilância ambiental indicando o local do


dano ambiental causado, terá sua pena atenuada.

ATENÇÃO: essa figura nada tem a ver com delação premiada, já que inexistentes bons prêmios.

9. CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES

A LCA criou um rol de 18 agravantes.

O referido arrolamento é criticado pela doutrina, porque tais previsões, na sua maioria, não
são aplicadas, ora por já constituírem elementares de outros crimes, ora por funcionarem como
causas de aumento de pena.

Trata-se, em verdade, de adornos legislativos sem qualquer aplicação prática.

Estão previstas no art. 15 da Lei nº 9.605/98:

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;

Somente agrava a pena a reincidência ambiental, ainda que não no mesmo delito.

O período depurativo (artigo 64, I, do CP), em razão da previsão do artigo 79 da LCA, é aqui
aplicado.

II - ter o agente cometido a infração:


para obter vantagem pecuniária;

Majoritariamente, entende-se que basta a intenção de obtenção da vantagem.

b) coagindo outrem para a execução material da infração;

O coato, em se tratando de coação moral resistível, responderá com atenuante da pena.


Em se tratando de coação moral irresistível, o coato não responderá, porque é causa de exclusão
de imputabilidade. Em se tratando de coação física irresistível, também não responderá, porque,
nessa hipótese, não há sequer conduta.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 21


O coator responderá sempre.

c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o


meio ambiente;

Se já foi valorado na primeira fase de fixação da pena, não pode incidir o mesmo critério
como agravante (bis in idem).

d) concorrendo para danos à propriedade alheia;

Os crimes ambientais quase sempre causam danos à propriedade alheia, seja pública ou
privada (bis in idem).

e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do


Poder Público, a regime especial de uso;

Causar dano dessa forma já é crime, nos termos do artigo 40 da LCA.

f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;

Não se aplica quando funcionar como elementar, qualificadora ou causa de aumento de


pena, como ocorre com o crime de poluição – artigo 54, §2º da LCA.

g) em período de defeso à fauna;

Não se aplica quando se tratar de fauna silvestre (artigo 29, §4º, inciso II da LCA), bem como
no artigo 34 da LCA (que é elementar).

h) em domingos ou feriados;

Atenção: o sábado não agrava a pena.

Mas, cuidado, não se aplica aos crimes contra flora, já que lá é causa de aumento de pena.

i) à noite;

Essa agravante também não se aplica aos crimes contra a flora – artigo 54, §4º, II da LCA.
De igual modo, não será aplicada ao crime do artigo 29, §4º, III da LCA – que é causa de aumento
de pena.

j) em épocas de seca ou inundações;

Não se aplica nos crimes contra a flora.

l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;

Roberto Delmanto Júnior: abrangida pela alínea “e” do inciso II (áreas de UC). Ainda que
se considere a expressão da alínea “I” mais abrangente, “a redundância do legislador permanece
já que, então, bastaria a previsão desta agravante, sendo desnecessária a existência da disposta
na alínea e”.

m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 22


Aplica-se aos crimes contra a fauna, inclusive no crime de abuso e maus tratos de animais
(artigo 32 da LCA), que pode ser exercido com ou sem métodos cruéis.

n) mediante fraude ou abuso de confiança;

Exemplo de Guilherme de Souza Nucci: “confiada a um empregado de longos anos a


guarda de uma propriedade, ele é descoberto danificando a floresta nativa, com intuito de lucro.
Houve, nesse caso, crime ambiental com abuso de confiança”.

o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;

Inaplicável aos crimes previstos nos artigos 29, caput, e §1º, 55, 63 e 64 da LCA: abuso da
licença como elementar.

p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas


públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;

Justifica-se a previsão da presente circunstância atenuante.

q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das


autoridades competentes;

Não se aplica aos crimes contra a flora (artigo 53, II, “c” da LCA) e não se aplica aos crimes
do artigo 29, caput e §1º, I a III e §2º, pois o artigo 29, §4º, I já prevê como causa de aumento de
pena a prática de tais infrações contra espécies raras ou ameaçadas de extinção.

r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

Havendo oferecimento ou recebimento de vantagem indevida, haverá concurso com crimes


de corrupção ativa e passiva com o delito ambiental, sem a agravante.

É possível a aplicação das agravantes dos artigos 61 e 62, ambos do CP na LCA?

Luís Flávio Gomes e Sílvio Maciel entendem que as agravantes dos artigos 61 e 62, ambos
do CP não podem ser aplicados na LCA por não haver previsão e tratar de analogia in malam
partem.

Guilherme de Souza Nucci, por seu turno, entende que podem ser aplicados, desde que não
haja conflito com o disposto no artigo 15 da LCA.

Aparentemente, o primeiro entendimento (Luís Flávio Gomes e Sílvio Maciel) é o majoritário.

*CESPE: Os crimes contra a fauna praticados durante a noite, aos sábados e aos domingos
aumentam as respectivas penas - FALSO!
- Domingo, feriado e noite (agravantes de qualquer crime ambiental: art. 15, II,h, i)
- Domingo, feriado e noite é causa de aumento de pena nos crimes contra a flora: art. 53, II, e)
- Noite causa de aumento de pena nos crimes contra a fauna silvestre (art. 29, §4º, III)

*(FGV, Advogado do Senado) Nos crimes previstos na Lei 9.605/98, a prática do crime no domingo
é circunstância que agrava a pena, quando não constitui elementar ou qualifica o crime.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 23


10. PENAS APLICÁVEIS ÀS PJ’S

Estão disciplinadas no art. 21 da Lei nº 9.605/98

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às


pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:
I - multa;
II - restritivas de direitos;
III - prestação de serviços à comunidade.

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE

Para as pessoas jurídicas, a prestação de serviços à comunidade é pena autônoma.

Não está abarcada nas modalidades de penas restritivas de direito, conforme previsto para
as pessoas físicas e na sistemática do Direito Penal.

RESTRITIVA DE DIREITOS

Como têm natureza de penas principais, não substituem as penas privativas de liberdade e
não comportam a marca da conversibilidade.

Com exceção do artigo 22, §3º da LCA, não há estipulação dos limites mínimos e máximos
para fixação dessas penas. Justamente por isso, boa parte dos doutrinadores enxergam-na como
uma mácula à constituição (artigo 5º, XXXIX da CF/88).

Como forma de solução, Luís Flávio Gomes e Sílvio Maciel entendem que deve ser aplicada
a pena restritiva de direitos de forma direta (não em substituição de pena de prisão) utilizando como
limite o máximo da pena privativa de liberdade cominada no tipo penal, obedecendo ao critério
trifásico do artigo 68 do CP.

MULTA

Observe a redação do artigo 18 da Lei nº 9.605/98:

Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se


revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser
aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica
auferida

Sérgio Salomão Shecaira preconiza que dias-multa não deveria ser o critério para as
pessoas jurídicas que cometem crimes ambientais, uma vez que se corre o risco de revelar-se
ineficaz frente à vantagem econômica auferida, por sua vez, sobremaneira maior do que o valor da
multa a ser paga. O critério mais adequado, consoante Shecaira, deveria ser dias-faturamento – no
entanto, essa não foi a opção legislativa.

10.3.1. Critério para aplicação e critério para triplicar

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 24


LCA CP
Art. 6º. Para a imposição e gradação da Art. 60. Na fixação da pena de multa o juiz
penalidade, a autoridade competente deve atender, principalmente, à situação
observará: econômica do réu.

III. a situação econômica do infrator, no


caso de multa. + Montante do prejuízo
causado (art. 19).
Art. 18. Se revelar-se ineficaz, ainda que §1º. A multa pode ser aumentada até o
aplicada no valor máximo, poderá ser triplo, se o juiz considerar que, em virtude
aumentada até três vezes, tendo em vista da situação econômica do réu, é ineficaz,
o valor da vantagem econômica auferida. embora aplicada no máximo.

PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS DA PESSOA JURÍDICA

Disciplinadas no artigo 22 da Lei nº 9.605/98:

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:


I - suspensão parcial ou total de atividades;
II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter
subsídios, subvenções ou doações.
§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do
meio ambiente.
§ 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade
estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a
concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar.
§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,
subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos.

O prazo de dez anos do §3º é demasiadamente criticado pela doutrina, porquanto as penas
previstas na LCA raramente passam de 03 anos. Há nítida incongruência na estipulação do prazo
de dez anos.

Se o legislador comina uma pena máxima de 03 anos para determinado delito, entendendo
esse patamar como suficiente para a prevenção e reprovação do crime, o que justificaria aplicar,
para a mesma infração, uma pena de 10 anos de restrição de direitos? Nada justificaria. Assim, Luís
Flávio Gomes e Sílvio Maciel creem que, em obediência aos princípios da proporcionalidade
(razoabilidade) e da individualização da pena, esse patamar máximo de 10 anos deve ser
desconsiderado, devendo esta pena restritiva de direitos seguir os limites máximos da pena privativa
de liberdade para a infração.

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE PELA PESSOA JURÍDICA

Está prevista no artigo 23 da Lei nº 9.605/98:

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá


em:

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 25


I - custeio de programas e de projetos ambientais;
II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
III - manutenção de espaços públicos;
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

Por óbvio, essas previsões são diferentes daquelas destinadas às pessoas físicas.

Também não têm limites cominados, assim, utilizam-se como parâmetros os prescritos à
pena privativa de liberdade da infração

Os incisos I, II e IV podem ser fixados em valores a serem pagos de uma só vez, não se
falando, nessas hipóteses, em prazo de cumprimento.

Em relação aos valores, não há unanimidade, todavia, considerável parcela da doutrina


sugere a aplicação do artigo 12 da LCA:

Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima


ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo
juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta
salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual
reparação civil a que for condenado o infrator

LIQUIDAÇÃO FORÇADA

Muitos denominam a liquidação forçada como a pena de morte da empresa.

Quando a PJ é constituída preponderantemente para a prática de crimes ambientais, não


deterá função social alguma, por isso, deve “morrer”, nos termos do artigo 24 da Lei nº 9.605/98

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com


o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá
decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado
instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário
Nacional.

O Fundo Penitenciário Nacional não guarda relações com os crimes ambientais. Fiquem
atentos, isso costuma ser cobrado em concursos públicos.

Essa pena deve ser aplicada com cautela, apenas quando a PJ se entrega ao crime, apenas
e tão somente.

O mecanismo para incidência da liquidação forçada, de acordo com parcela da doutrina, é


uma ação penal que incidirá como efeito da condenação criminal, reclamando pedido expresso e
motivação na sentença (Roberto Delmanto Júnior).

Vladimir Passos de Freitas, por seu turno, leciona que pode ser um efeito da condenação,
mas também pode ser Ação Civil Pública proposta pelo MP.

11. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA LCA

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 26


Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à
qualidade do meio ambiente

Ocorrerá a desconsideração da personalidade jurídica na LCA quando a personalidade


servir de obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

Não tem caráter de sanção penal ou efeito da condenação, mas consiste num instituto
relacionado ao Direito Civil e Direito Administrativo, conforme entendimento amplamente
majoritário. Aqui, não se exige abuso de direito.

A verificação da insuficiência patrimonial da PJ para reparar ou compensar os prejuízos por


ela causados à qualidade do meio ambiente é satisfatória para desconsideração de sua
personalidade jurídica.

12. SURSIS SIMPLES NOS CRIMES AMBIENTAIS

LCA CP
Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a Art. 77 - A execução da pena privativa de
suspensão condicional da pena pode ser liberdade, não superior a 2 (dois) anos,
aplicada nos casos de condenação a pena poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4
privativa de liberdade não superior a três (quatro) anos, desde que: I - o condenado
anos. não seja reincidente em crime doloso; II -
a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias
autorizem a concessão do benefício; III -
Não seja indicada ou cabível a
substituição prevista no art. 44 deste
Código.

A grande maioria da doutrina entende que os incisos I, II e III do artigo 77 do CP se aplicam


também ao artigo 16 da LCA.

13. SURSIS ESPECIAL (REPARAÇÃO DO DANO) NOS CRIMES AMBIENTAIS

LCA CP
Art. 17. A verificação da reparação a que Art. 78, §2º. Se o condenado houver
se refere o § 2º do art. 78 do Código reparado o dano, salvo impossibilidade de
Penal será feita mediante laudo de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59
reparação do dano ambiental, e as deste Código lhe forem inteiramente
condições a serem impostas pelo juiz favoráveis, o juiz poderá substituir a
deverão relacionar-se com a proteção ao exigência do parágrafo anterior pelas
meio ambiente. seguintes condições, aplicadas
cumulativamente: a) proibição de

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 27


frequentar determinados lugares; b)
proibição de ausentar-se da comarca
onde reside, sem autorização do juiz; c)
comparecimento pessoal e obrigatório a
juízo, mensalmente, para informar e
justificar suas atividades.

Diferentemente da LCA, as condições do CP não têm viés ambiental e não devem ser
provadas mediante laudo.

14. SURSIS ETÁRIO E HUMANITÁRIO NOS CRIMES AMBIENTAIS E TRANSAÇÃO PENAL

A LCA foi silente em relação à aplicação do sursis Etário e Humanitário. Porém, pela
previsão do artigo 79 da LCA entendem-se aplicáveis as disposições do CP aos crimes Ambientais.

Vide artigo 77, §2º do CP:

Art. 77 (...)
§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos,
poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja
maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão

Existe uma peculiaridade na LCA, tal qual: a prévia reparação do dano.

15. TRANSAÇÃO PENAL

Prevista no artigo 27 da Lei nº 9.605/98:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de


aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76
da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada
desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata
o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

Se o infrator não reparar o dano, será aplicada da transação penal, porque a lei não exigiu
a reparação do dano para haver a transação penal, mas sim a prévia composição do dano que, por
vezes, ocorre num termo de ajustamento de conduta (TAC).

Se a transação é cumprida, mas o infrator deixa de reparar o dano, o MP não pode oferecer
denúncia, conforme preconiza a Súmula Vinculante 35. Nessa hipótese, a transação foi cumprida,
o que foi descumprida foi a reparação do dano. Se a transação penal foi efetuada significa que o
sujeito aceitou, previamente, a imposição de pena restritiva de direitos e multa. Se aceitar, cumprir
e, posteriormente, for denunciado também pelo fato de não ter reparado dano ambiental cumprirá
novamente uma pena. Não se pode cumprir duas penas em virtude do mesmo fato. Assim, não
reparado o dano, executa-se o TAC.

Nesse sentindo, a Súmula Vinculante 35:

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 28


SV 25: A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei
9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas,
retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a
continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou
requisição de inquérito policial.

*VUNESP – PC-BA – 2018: No que concerne à aplicação da Lei n o 9.099/95 quanto às infrações
penais ambientais previstas na Lei no 9.605/98, é correto afirmar que nos crimes ambientais de
menor potencial ofensivo, a transação penal somente poderá ser formulada desde que tenha havido
a prévia composição do dano ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade

16. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CRIMES AMBIENTAIS

Prevista no artigo 28 da Lei nº 9.605/98:

Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,


aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com
as seguintes modificações:

→ A doutrina, em sua maioria, classifica a previsão do caput do artigo 28 da LCA como um


equívoco legislativo, visto que as disposições do artigo 89 da Lei nº 9.099/95 se aplicam não apenas
aos crimes de menor potencial ofensivo, mas também aos de médio potencial ofensivo.

I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo


referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano
ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo
artigo;

→ O laudo é indispensável, em regra.

II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a


reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período
máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com
suspensão do prazo da prescrição;

→ O prazo da suspensão condicional do processo, ordinariamente, é de 02 a 04 anos.

→ Aqui, o período de prorrogação poderá ser de 05 anos, suspendendo-se a prescrição.

III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II,


III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput;
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de
constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu
resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo
previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III;

→ Pode-se prorrogar por mais 05 anos.

Assim, a suspensão condicional na LCA pode durar até 14 anos.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 29


→ Ocorre que, na segunda prorrogação, o legislador esqueceu-se de prever a suspensão
da prescrição. Como deixou de prever, há amplo entendimento na doutrina de que a suspensão da
prescrição NÃO acontece na segunda prorrogação.

V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de


punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado
tomado as providências necessárias à reparação integral do dano.

→ Se não comprovadas as reparações durante os 14 anos, o processo estará fadado ao


insucesso. Assim, caso incorra nessa circunstância de sucessivas prorrogações, é interessante o
requerimento de produção antecipada de provas urgentes, sob pena de ineficácia processual.

17. APREENSÃO E VENDA DE INSTRUMENTOS DA INFRAÇÃO

Observe o artigo 25 da Lei nº 9.605/98:

Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e


instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
§ 1o Os animais serão prioritariamente libertados em seu habitat ou, sendo
tal medida inviável ou não recomendável por questões sanitárias, entregues
a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e
cuidados sob a responsabilidade de técnicos habilitados. (Redação dada
pela Lei nº 13.052, de 2014)
§ 2o Até que os animais sejam entregues às instituições mencionadas no §
1o deste artigo, o órgão autuante zelará para que eles sejam mantidos em
condições adequadas de acondicionamento e transporte que garantam o seu
bem-estar físico. (Redação dada pela Lei nº 13.052, de 2014)
§ 3º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados
e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins
beneficentes. (Renumerando do §2º para §3º pela Lei nº 13.052, de 2014)
§ 4° Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou
doados a instituições científicas, culturais ou educacionais.
§5 os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida
a sua descaracterização por meio da reciclagem.

Quanto à previsão em destaque no §5º, a doutrina aponta os seguintes posicionamentos:

1ª corrente (Fernando Capez): Quaisquer instrumentos utilizados para a prática da infração


ambiental podem ser apreendidos e vendidos, sejam ou não permitidos o seu porte, fabrico ou
alienação.

2ª corrente (Luís Flávio Gomes e Sílvio Maciel): A regra do artigo 25, §5º, não é absoluta,
e deve observar se a utilização do instrumento é reiterada em crime ambiental e se há
proporcionalidade entre o valor do proveito e do bem. “Os objetos que devem ser confiscados são
apenas aqueles usualmente utilizados na prática de delitos ambientais. Um objeto lícito, que muitas
vezes representa o sustento do agente e de sua família, não pode ser confiscado porque,
esporadicamente, foi utilizado irregularmente e caracterizou a prática de um delito ambiental. É
preciso fazer a distinção, para não haver injustiças e abusos. Motosserras utilizadas por madeireiras
clandestinas, barcos utilizados por pesqueiros ilegais devem, sem dúvida, ser confiscados; mas um

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 30


barco de um humilde pescador, que eventualmente pescou peixes além da quantidade permitida,
não tem necessidade de ser confiscado.”

18. NATUREZA DA AÇÃO NA LCA

Todos os crimes previstos na LCA se processam mediante Ação Penal Pública


Incondicionada, nos termos do artigo 26 da Lei nº 9.605/98:

Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública
incondicionada

19. POSSIBILIDADE DE HABEAS CORPUS (HC)

Tecnicamente, não é cabível HC para PJ’s. Em eventual processo deve se valer de Mandado
de Segurança.

20. COMPATIBILIDADE COM O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

1ª corrente: não é possível a aplicação do princípio da insignificância, em virtude do bem


jurídico tutelado e da regência dos princípios da prevenção e precaução no Direito Ambiental (TRF-
3, RSE2004.61.24.001001-8).

2ª corrente: “Esta Corte tem entendimento pacificado no sentido de que é possível a


aplicação do denominado princípio da insignificância aos delitos ambientais, quando demonstrada
a ínfima ofensividade ao bem ambiental tutelado” (AgRg no AREsp 1051541/ES, DJE 04/12/2017).

Entendimento majoritário dos Tribunais Superiores é por ser compatível.

Obs:Não se aplica ao crime do art. 34

21. INTERROGATÓRIO DA PJ

Ada Pellegrini Grinover, inicialmente, entendia que o interrogatório como meio de prova
deveria ser aplicado, por analogia ao disposto no artigo 843, §1º da CLT, ao preposto da empresa,
que tenha conhecimento do fato.

Posteriormente, com o advento da Lei nº 10.792/03, Grinover alterou seu entendimento,


lecionando que o interrogatório como meio de defesa deveria ser feito ao gestor da empresa, que é
quem tem interesse em realizar a defesa da PJ, devendo-se observar todas as garantias
constitucionais (presunção de inocência, direito ao silêncio etc.).

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 31


Na hipótese de o gestor também ser réu no processo que apura infração da PJ, serão
realizados dois interrogatórios: um em sua defesa e outro em nome da PJ. Não se pode cogitar um
único interrogatório, por economia processual, tendo em vista que a previsão artigo 191 do CPP:

Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados separadamente.

“Se houver colidência de interesses entre as defesas da sociedade e do


diretor, este não poderá representá-la no ato de interrogatório. (...) Acaso haja
incompatibilidade entre as defesas do diretor do qual emanou a ordem e da
pessoa jurídica, por certo nesse processo a sociedade não será interrogada,
a não ser que exista outro administrador integrante do colegiado, que não
tenha sido acusado.” (TRF-4, MS 2002.04.01.013843-0, DJ 26.02.2003)

22. COMPETÊNCIA

REGRA

A competência para julgar crimes ambientais é da Justiça Estadual (STJ, CC


88.013), uma vez que a proteção do meio ambiente é de competência comum
da União, dos Estados e dos Municípios, e não há regra constitucional ou
legal que determine a Justiça competente (STJ, REsp 200200848713).

Excepcionalmente, se o delito ambiental causar dano direto e específico a interesse da


União ou de suas entidades, será da Justiça Federal.

Se o delito atingir apenas interesse genérico e indireto daqueles entes, a competência será
da Justiça Estadual.

CASUÍSTICA

Crime cometido em áreas de patrimônio nacional (artigo 225, §4º da CF/88), a saber, a Mata
Atlântica (STF, RE 299.856, e RE 300.244), a Floresta Amazônica, a Serra do Mar e o Pantanal
Mato-Grossense, que não são considerados patrimônio da União (STJ, REsp 610.015).

Crime cometido em área particular (STJ, CC 30.260), ainda que tenham sido cortadas
árvores ameaçadas de extinção (TRF 4, AC 200672060036627).

Crimes contra a “fauna praticados em rios estaduais é da JE, ainda que com a utilização de
petrechos proibidos em normas federais” (STJ, CC 36594/RS).

“O fato de o IBAMA ser responsável pela administração e a fiscalização da APA, conforme


entendimento desta Corte Superior, não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal.” (STJ,
HC 38.649/SC)

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

Crime ocorrido em UC federal, como parques nacionais (STJ, CC 88.013);

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 32


Crime praticado em ilha costeira de propriedade da União;

Crime ocorrido em terreno de marinha, por se tratar de bem da União (STJ, AGREsp
642.957);

Quando o delito ocorrer em águas de propriedade da União (artigo 20, inciso III e VI da CF),
especificamente: a) em rio interestadual (STJ, CC 35.058); b) em lago de usina hidrelétrica formado
por rios interestaduais (STJ, CC 45.154); c) no mar territorial brasileiro (STJ, CC 33.333);

Art. 20. São bens da União


III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio,
ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou
se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os
terrenos marginais e as praias fluviais
VI - o mar territorial

Crime ambiental envolvendo espécie da fauna em perigo de extinção, tendo em vista o


manifesto interesse do IBAMA, já que lhe incumbe, além de elaborar o levantamento e a listagem
dos animais em vias de extermínio, a concessão de autorização prévia para a captura e a criação
de tais espécimes (STJ, CC 37.1367).

Crime ocorrido em terras indígenas (TRF1, RCCR 200642000016992), como no caso em


que havia indícios de que a madeira fora retirada de reserva indígena (TRF1, SER
2004370100000945).

Quando presente a internacionalidade, como, p. ex: no caso dos delitos dos artigos 30, 31 e
29, inciso III, caracterizando o tráfico internacional de animais (TRF4, AC 200671150010947).

23. CRIMES EM ESPÉCIE

CRIME DO ARTIGO 29 DA LCA

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna


silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.

Se o agente possuir a permissão ou autorização e agir dentro dos limites concebidos, não
haverá crime (artigo 23, inciso III do CP).

Objeto material

É a fauna silvestre, terrestre e aquática, em qualquer fase de desenvolvimento (ovos, larvas,


filhotes, adultos).

Vide §3º do artigo 29 da LCA:

§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às


espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 33


tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do
território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras

Exemplos: aves, mamíferos, répteis, anfíbios.

CUIDADO!!! Os insetos também estão protegidos pela legislação penal, por serem considerados
animais. Possuem o corpo constituído por anéis ou segmentos que os dividem em três partes:
cabeça, tórax e abdome. Entre os insetos estão, p.ex., as borboletas (...), as abelhas (...), os grilos
(...) e as cigarras (...)”. (Vladimir & Gilberto Passos de Freitas)

Se a conduta atingir uma única espécie, surgem duas correntes:

1ª corrente (Victor Eduardo Rios Gonçalves, José Paulo Baltazar Júnior): conquanto a
lei faça referências a espécimes, no plural, a intenção do legislador foi estender como típica a morte
ou aprisionamento de um só animal.

2ª corrente (Édis Milaré, Roberto Delmanto Júnior, Luís Régis Prado): como o tipo penal
utiliza a expressão “espécimes”, no plural, se a conduta atingir um único animal o fato é atípico –
esse é o posicionamento majoritário.

O artigo 29 prevê também formas derivadas em seu §1º:

§ 1º Incorre nas mesmas penas:


I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em
desacordo com a obtida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro
ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna
silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela
oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida
permissão, licença ou autorização da autoridade competente.

§2º do artigo 29 da LCA:

§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada


ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar
de aplicar a pena

Exemplo: animais silvestres tidos como bichos de estimação: papagaio – não ameaçado de
extinção – circunstâncias judiciais favoráveis – perdão judicial.

Somente ocorrerá perdão judicial de animal silvestre não ameaçado de extinção.

Vide §6º do artigo 29 da LCA:

§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.

Atenção: o artigo 29 alcança a fauna silvestre aquática. Exemplos: matar tartarugas marinhas que
estejam na praia (artigo 29, caput); vender ou exportar seus ovos, filhotes ou cascos (artigo 29, §1º,
inciso III).

Já os atos de pesca, esses têm incidência própria, nos artigos 34, 35 e 36 da LCA.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 34


Vide §4º do artigo 29 da LCA:

§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:


I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que
somente no local da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar
destruição em massa.

Deve-se tomar cuidado porque, além da previsão do aumento de pena pela metade, há a
possibilidade de aumento até o triplo no caso de caça profissional, conforme prevê o §5º do artigo
29 da LCA

§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça


profissional

Exemplo: caçadores de jacaré do Pantanal.

ARTIGO 37 DA LCA – CIRCUNSTÂNCIAS ATÍPICAS

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:


I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou
destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela
autoridade competente;
III – (VETADO)
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão
competente.

*FCC – Pedro, em estado de necessidade, para saciar sua fome e de sua família, composta por
esposa e cinco filhos, abateu animal da fauna amazônica. Segundo a LCA, tal fato não é
considerado crime.
*CESPE – Com relação aos crimes contra o meio ambiente, a fauna e a flora, se um indivíduo, em
estado de necessidade, abate um animal para saciar sua fome, sua conduta não será considerada
crime.

CRIME DO ARTIGO 30 DA LCA

Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto,
sem a autorização da autoridade ambiental competente:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

A exportação devidamente autorizada será atípica.

A expressão “em bruto” significa “in natura”, isto é, sem manufatura ou transformação em
produtos.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 35


O tráfico interno não é abrangido pelo crime do artigo 30 da LCA, mas sim pelo artigo 29,
§1º, inciso III da LCA, e será de competência da JUSTIÇA FEDERAL.

O tipo não exige intenção de lucro.

Diferenciações relevantes

• Se o agente exporta a pele ou coro de anfíbios e répteis em bruto (in natura) comete
o crime do artigo 30 da LCA.

• Se o agente exporta produtos ou objetos confeccionados com a pele ou o couro dos


anfíbios e répteis (exemplo: bolsas e sapatos de jacaré) comete o crime do artigo 29,
§1º, inciso III.

CRIME DO ARTIGO 31 DA LCA

Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial
favorável e licença expedida por autoridade competente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Alcança qualquer espécime animal.

O mero transporte desse animal dentro do país não enseja esse crime.

A competência será da Justiça Federal, em razão da internacionalidade.

O objeto jurídico será mácula ao equilíbrio ambiental e incolumidade pública.

Segundo LFG, se o animal exótico não tiver predador no Brasil, poderá ter uma
disseminação exagerada. Poderá também ser um predador voraz e exterminar espécimes aqui
existentes. Por outro lado, a introdução de animais destinados ao consumo humano, sem
fiscalização e parecer das autoridades competentes, pode comprometer seriamente a saúde da
população. Cite-se, por exemplo, o mal da vaca louca e a gripe aviária, que acometem alguns
animais exóticos.

CRIME DO ARTIGO 32 DA LCA

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

A CF/88 prevê em seu artigo 225, §1º a incumbência do Poder Público de proteger a fauna
e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que submetam os animais a crueldade.

Por isso, para boa parte da doutrina, há cumprimento do mandado constitucional de


criminalização no artigo 32 da LCA.

Verifica-se o crime nas seguintes práticas cruéis: farra do boi, rinhas de galo e vaquejadas,
segundo o STF.

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 36


Salienta-se que o Legislador, em resposta ao entendimento do STF, em verdadeiro ativismo
congressual (efeito backlash) editou a EC 96/17 que inseriu o §7º ao art. 225 da CF

§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não
se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que
sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição
Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio
cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que
assegure o bem-estar dos animais envolvidos. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 96, de 2017)

ARTIGO 64 DA LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS (LCP)

Diante do afirmado, indaga-se se o referido artigo estaria, portanto, revogado.

Art. 64. Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo:


Pena – prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, de cem a quinhentos
mil réis.

1ª corrente (Victor Eduardo Rios Gonçalves, José Paulo Baltazar Júnior e Lélio Braga
Calhau): Houve revogação do artigo 64 da LCP, pois artigo 32 da LCA tratou da matéria,
posteriormente, e de maneira mais grave.

2ª corrente (Guilherme de Souza Nucci e Luís Paulo Sirvinskas): O artigo 64 da LCP


não está revogado. O objeto do artigo 32 da LCA é, exclusivamente, animais silvestres. Domésticos,
domesticados, nativos ou exóticos são, na verdade, qualidades desses animais (silvestres). Por
isso, o artigo 64 da LCP continua em vigor, devendo ser aplicado aos maus-tratos contra animais
não silvestres (exemplo: cães).

§1º do artigo 32 da LCA:

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel


em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem
recursos alternativos

Criminalizou-se, pois, a vissesecção.

“Nem mesmo cientistas e professores estão, portanto, autorizados a causar sofrimento


desnecessários nos animais, se dispuserem de recursos alternativos para realizar suas aulas,
pesquisas e estudos. Apenas quando for inevitável a utilização de animais (não houver nenhum
recurso alternativo) e quando o objetivo da experiência revelar um interesse socialmente mais
relevante do que a proteção da integridade física do animal é que será lícita a vivissecção.” (Luís
Flávio Gomes e Sílvio Maciel) Mesmo assim, observando-se o disposto no artigo 14, §5º da Lei
11.794/08: “experimentos que possam causar dor ou angústia desenvolver-se-ão sob sedação,
analgesia ou anestesia adequadas”.

*MP-SC – Promotor de Justiça: Somente com a presença do professor da disciplina específica é


admitida, nos estabelecimentos de ensino fundamental, a prática da vissecção de animais – FALSO!

§2º do artigo 32 da LCA:

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 37


§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal

Sempre será aplicada a disposição do §2º do artigo 32 da LCA?

Luís Flávio Gomes e Sílvio Maciel lecionam que “no caso de animais silvestres, apenas se
aplica a causa de aumento de pena se a morte do animal for culposa (crime preterdoloso).

Se o agente pretende, com os maus tratos ou crueldade, matar o animal, haverá o delito do
artigo 29, caput, com a agravante do artigo 15, inciso II, alínea “m” (emprego de método cruel),
todos da LCA.

No caso de animais domésticos, domesticados ou exóticos, o crime pode ser doloso ou


preterdoloso, aplicando-se a majorante ainda que o agente tenha praticado os maus-tratos ou abuso
com a intenção de provocar a morte do animal.”

CRIME DO ARTIGO 49 DA LCA

Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio,
plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada
alheia:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa
.
O crime não ocorrerá se forem destruídas plantas ornamentais de sua própria propriedade.

Parcela doutrinária sustenta a inconstitucionalidade dessa previsão.

Inconstitucionalidade do §único do artigo 49 da LCA

“Em função do princípio da intervenção mínima, não se pode admitir que um tipo penal
incriminador diga respeito a, por exemplo, maltratar plantas ornamentais de forma culposa, sem
qualquer intenção, mas em virtude de pura negligência. Seria o ápice do abuso do Estado no
intervencionismo na vida privada de cada um” (Guilherme de Souza Nucci).

Miguel Reale Júnior: “Para total espanto, admite-se também a forma culposa. Assim,
tropeçar e pisar por imprudência na begônia do jardim do vizinho é crime”.

CRIME DO ARTIGO 54 DA LCA

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou
possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2º Se o crime:
I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;
II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que
momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos
à saúde da população;

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 38


III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do
abastecimento público de água de uma comunidade;
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou
detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências
estabelecidas em leis ou regulamentos:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar
de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de
precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

A primeira parte do dispositivo (“causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que
resultem ou possam resultar em danos à saúde humana’) trata-se de crime formal e de perigo
abstrato.

“A LCA deve ser interpretada à luz dos princípios do desenvolvimento


sustentável e da prevenção, indicando o acerto da análise que a doutrina e a
jurisprudência têm conferido à parte inicial do art. 54 da Lei n. 9.605/1988, de
que a mera possibilidade de causar dano à saúde humana é idônea a
configurar o crime de poluição, evidenciada sua natureza formal ou, ainda, de
perigo abstrato.” (AgRg no AREsp 956.780/AM, 5ª T.STJ, DJe 20/09/2017).

“A ausência de indicação do efetivo dano à saúde das pessoas não implica o


reconhecimento de falta de justa causa, porquanto a conduta tipificada no art.
54 da Lei n. 9.605/98 se trata de crime formal, que não exige resultado
naturalístico.” (RMS 50.393/PA, 5ª T.STJ, DJe 20/09/2017).

Já na segunda parte (“causar poluição de qualquer natureza que provoquem a mortandade


de animais ou a destruição significativa da flora”) exige-se o resultado naturalístico (dano).

A poluição sonora está protegida pelo dispositivo?

“CRIME AMBIENTAL. ... PESSOA JURÍDICA. POLUIÇÃO SONORA. (...) 1.


A emissão de som, quando em desacordo com os padrões estabelecidos,
provocará a degradação da qualidade ambiental. 2. A conduta narrada na
denúncia mostra-se plenamente adequada à descrição típica constante no
art. 54, caput, e §2º, I, da Lei n. 9605/98, c/c o artigo 3º, III, da Lei n. 6.938/81,
pois descreve a emissão pela pessoa jurídica de ruídos acima dos padrões
estabelecidos pela NBR 10.151, causando, por conseguinte, prejuízos à
saúde humana, consoante preconiza a Resolução do Conama n.01/1990.”
(AgRg no REsp 1442333/RS, 6ª T.STJ, DJe 27/06/2016).

Em qualquer caso, a poluição deve ser causada em níveis tais que:

• Resultem ou possam resultar em danos à saúde humana;

• Que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.

Caso contrário, mesmo havendo poluição, não haverá crime.

“Não se adequa “ao tipo penal a conduta de poluir, em níveis incapazes de


gerar prejuízos aos bens juridicamente tutelados (...). Não resta configurada
a poluição hídrica, pois mesmo que o rompimento do talude da lagoa de

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 39


decantação tenha gerado a poluição dos córregos referidos na denúncia, não
se pode ter como ilícita a conduta praticada, pois o ato não foi capaz de gerar
efetivo perigo ou dano para a saúde humana, ou provocar a matança de
animais ou a destruição significativa da flora, elementos essenciais ao tipo
penal.” (RHC 17.429/GO, 5ª T.STJ, DJ 01/058/2005)

Em consequência, se a poluição sonora não for em níveis que possa prejudicar a saúde
humana, haverá contravenção penal do artigo 42 da LCP.

Do mesmo modo, a emissão de gás, fumaça ou vapor que não resulte ou possa resultar em
danos à saúde humana, nem tampouco provoque a mortandade de animais ou a destruição
significativa da flora, redunda em contravenção penal: artigo 38 da LCP.

§3º do artigo 54 da LCA:

§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar


de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de
precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

Consagra-se o princípio da precaução do Direito Ambiental.

VUNESP – TJSP – 2017: o princípio da precaução objetiva regular o uso de técnicas sob as quais
não há um domínio seguro de seus efeitos.

ATENÇÃO: O dano preexistente não afasta a ocorrência de crime.

“O dano grave irreversível que se pretende evitar com a norma prevista no


artigo 54, §3º, da Lei nº 9.605/98 não fica prejudicado pela degradação
ambiental prévia. O risco tutelado pode estar relacionado ao agravamento
das consequências de um dano ao meio ambiente já ocorrido e que se protrai
no tempo.” (HC 90023, 1ª T.STF, DJe-157 de 07-12-2007)

CS – CRIMES AMBIENTAIS 2020.1 40

Você também pode gostar