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Edição 2022

Crimes Hediondos
Lei 8.072/1990

Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada

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CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 3
1. LEI 8.072/90 E ORIGEM HISTÓRICA ......................................................................................... 4
2. CONCEITO DE CRIME HEDIONDO ........................................................................................... 4
CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO ........................................................................................... 4
2.1.1. Critério legal ................................................................................................................... 4
2.1.2. Critério judicial................................................................................................................ 5
2.1.3. Critério misto .................................................................................................................. 5
REGULAMENTAÇÃO LEGAL .............................................................................................. 5
3. CRIMES HEDIONDOS E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .................................................... 6
4. ROL DOS CRIMES HEDIONDOS ............................................................................................... 6
HOMICÍDIO (I) ....................................................................................................................... 6
LESÃO CORPORAL (I-A) ..................................................................................................... 9
ROUBO (II) .......................................................................................................................... 10
EXTORSÃO (III) .................................................................................................................. 11
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (IV) ...................................................................... 12
ESTUPRO (V/VI) ................................................................................................................. 12
EPIDEMIA (VII).................................................................................................................... 14
FALSIFICAÇÃO DE MEDICAMENTOS (VII-B) .................................................................. 15
FAVORECIMENTO DE PROSTITUIÇÃO OU EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU
ADOLESCENTE OU VULNERÁVEL (VIII) .................................................................................... 15
FURTO (IX) ......................................................................................................................... 15
GENOCÍDIO ........................................................................................................................ 16
PORTE OU POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO ......................... 17
COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO ....................................................................... 18
TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO .......................................................... 18
CRIME DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ......................................................................... 18
5. CRIMES MILITARES .................................................................................................................. 19
6. CRIMES HEDIONDOS E CLÁUSULA SALVATÓRIA ............................................................... 19
7. CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS ............................................................................... 19
TRÁFICO DE DROGAS ...................................................................................................... 19
TORTURA ........................................................................................................................... 20
TERRORISMO .................................................................................................................... 20
8. VEDAÇÕES LEGAIS .................................................................................................................. 20
ANISTIA, GRAÇA E INDULTO ........................................................................................... 21
FIANÇA................................................................................................................................ 21
LIBERDADE PROVISÓRIA ................................................................................................ 21
9. CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA ................................................................................... 22
10. PROGRESSÃO DE REGIME ................................................................................................. 24
11. MANUTENÇÃO DA PRISÃO.................................................................................................. 25
12. SAÍDA TEMPORÁRIA ............................................................................................................ 25
13. PRISÃO TEMPORÁRIA.......................................................................................................... 25
14. ESTABELECIMENTOS PENAIS DE SEGURANÇA MÁXIMA .............................................. 26
15. LIVRAMENTO CONDICIONAL .............................................................................................. 27
16. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA VISANDO A PRÁTICA DE CRIMES HEDIONDOS E
EQUIPARADOS ................................................................................................................................. 27
17. DELAÇÃO PREMIADA ........................................................................................................... 28
18. PENAS RESTRITIVAS E SURSIS DE DIREITO ................................................................... 29

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19. REMIÇÃO................................................................................................................................ 29
20. TRABALHO EXTERNO .......................................................................................................... 29

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APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Legislação Penal Especial – Crimes Hediondos possui como base as aulas do
professor Cleber Masson (G7), complementadas com as aulas do Prof. Rogério Sanches (CERS).

Três livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2019, b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2018, ambos da Editora
Juspodivm e c) Esquematizado - Legislação Penal Especial (Victor Eduardo Rios Gonçalves), ano
2022, Editora Saraiva.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos da lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos! Bons estudos!

Equipe Cadernos Sistematizados.

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1. LEI 8.072/90 E ORIGEM HISTÓRICA

No Brasil, a Lei 8.072/90 foi a primeira a tratar sobre crimes hediondos. De lá para cá, como
todas as leis existentes no país, passou por diversas reformas legislativas.

A expressão “crimes hediondos” foi utilizada pela Constituição Federal, em seu art. 5ª, XLIII,
nos seguintes termos:

Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça


ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Trata-se de uma norma constitucional de eficácia limitada e de aplicabilidade imediata, uma


vez que depende de regulamentação por meio de lei ordinária. A Constituição Federal, aqui, traz
um mandado de criminalização expressa.

Nesse liame, segundo Rogério Sanches, as Constituições modernas não se limitam a


especificar restrições ao poder do Estado e passam a conter preocupações com a defesa ativa do
indivíduo e da sociedade em geral. A própria Constituição, assim, impõe a criminalização visando à
proteção de bens e valores constitucionais, pois do Estado, espera-se mais de uma atividade
defensiva.

Destaca-se, por fim, que no final da década de 80, o Brasil passou por uma onda de crimes
de extorsão mediante sequestro com a finalidade de financiar organizações criminosas, a exemplo
do PCC. Visando coibir tal prática, criou-se a Lei dos Crimes Hediondos (em obediência ao
mandado constitucional de criminalização) e, em sua redação original, o único crime previsto era
extorsão mediante sequestro, sendo ampliado o rol durante a tramitação.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(DPE-DF - CESPE - 2022): No intuito de se apropriar de joias e dólares, Raí,
réu primário e sem antecedentes, ameaçou a vítima e a manteve sob sua
vigilância até conseguir arrombar o cofre da residência dela. Após a regular
tramitação processual, a condenação de Raí transitou em julgado. A conduta
de Raí caracteriza o crime de extorsão mediante sequestro, que, por ser
classificado como hediondo, é imprescritível. Errado.

2. CONCEITO DE CRIME HEDIONDO

O conceito de crime hediondo é dado de acordo com o critério adotado. Portanto, a seguir,
serão analisamos os 3 critérios existentes: legal, judicial e misto.

CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO

2.1.1. Critério legal

De acordo com o critério legal, crime hediondo é aquele que a lei define como tal, pouco
importando as consequências e a forma como é praticado.

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O Brasil adota o critério legal, conforme disposto no art. 5º, inciso XLIII da Constituição
Federal, cuja primeira parte da norma menciona que “a lei considerará inafiançáveis e insuscetíveis
de graça ou anistia [...]”.

É o critério mais seguro de todos, pois elimina eventual discricionariedade dos juízes,
prezando pela segurança jurídica. Não se admite, tampouco, que o magistrado deixe de reconhecer
a natureza hedionda em delito que expressamente conste do rol.

Frisa-se, ainda, que os jurados não são questionados acerca do caráter hediondo do delito,
já que essa característica decorre automaticamente do reconhecimento de uma das qualificadoras.

Adotou-se, portanto, um critério que se baseia exclusivamente na existência de lei que


confira caráter hediondo a certos ilícitos penais. Assim, por mais grave que seja determinado crime,
o juiz não lhe poderá conferir o caráter hediondo, se tal ilícito não constar do rol da Lei 8.072/90.

Obs.: há doutrina que sugere a criação de uma “cláusula salvatória”,


permitindo que a depender do caso concreto o juiz afaste a natureza
hedionda de um crime constante do rol fixado pelo legislador.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC/PB - CESPE - 2022): Os crimes hediondos e equiparados estão listados
na Constituição Federal, não dispondo o legislador ordinário de liberdade
para ampliar tal rol. Errado.

(Governo do Distrito Federal - Polícia Penal - Instituto AOCP - 2022): O


ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema legal para fins de
classificação das infrações penais como crimes hediondos, de modo que
incumbe ao legislador enunciar, de forma exaustiva, os crimes que devem ser
considerados hediondos. Correto.

2.1.2. Critério judicial

Segundo o critério judicial, determinado crime será considerado hediondo após a análise,
feita pelo juiz, do caso concreto, das circunstâncias e consequências do crime.

O critério judicial fere a taxatividade, de modo que não há segurança jurídica.

2.1.3. Critério misto

O critério misto sustenta que o juiz possui plena liberdade para definir se o crime é hediondo
ou não, levando em conta os parâmetros mínimos fornecidos pelo legislador.

REGULAMENTAÇÃO LEGAL

O art. 1º da Lei 8.072/90, regulamentando a Constituição Federal, traz o rol dos crimes que
são considerados hediondos, sejam eles tentados ou consumados, in verbis:

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados


no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:

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Destaca-se que a natureza hedionda do crime não é afastada nos casos de tentativa, não
importando se o delito não se consumou. Se há previsão legal, pouco importa se o crime será
tentado ou consumado, uma vez que a tentativa é uma mera causa de diminuição da pena, não
altera a natureza do delito.

3. CRIMES HEDIONDOS E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

O princípio da insignificância, causa supralegal de exclusão da tipicidade, não será aplicado


aos crimes hediondos, em razão da incompatibilidade lógica entre os dois institutos.

A própria Constituição Federal exige um tratamento mais severo aos crimes hediondos, por
isso não há razões para aplicar o princípio da insignificância.

Obs.: em primeiro lugar, tem-se as infrações de menor potencial


ofensivo (contravenções penais e crimes com pena máxima menor do
que dois anos). Há, ainda, os crimes de médio potencial ofensivo
(admitem a suspensão condicional do processo, sua pena mínima
será de até um ano, pouco importando a pena máxima). Por outro lado,
os crimes de elevado potencial ofensivo são aqueles incompatíveis
com os benefícios da Lei 9.099/95.

O STF classifica os crimes indicados no art. 5º, LXII (racismo), LXIII


(hediondos e equiparados) e LXIV (ação de grupos armados) da
Constituição Federal como crimes de máximo potencial ofensivo,
sendo crimes inafiançáveis e, alguns, imprescritíveis.

Art. 5º, XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,


sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

4. ROL DOS CRIMES HEDIONDOS

O rol do art. 1º é taxativo. Assim, quando um crime não está no rol, mesmo que seja grave
e que suas circunstâncias sejam bárbaras, não será considerado hediondo.

HOMICÍDIO (I)

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado

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(art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX); (Redação dada pela
Lei nº 14.344, de 2022)

Na redação original da Lei dos Crimes Hediondos, o crime de homicídio não era considerado
hediondo. Apenas com a Lei 8.930/94 (Lei Glória Perez), de iniciativa popular, é que passou a ser
considerado como um crime hediondo.

A Lei 14.344/2022, conhecida também como Lei Henry Borel, que cria mecanismos para a
prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e ao adolescente,
publicada em 25 de maio de 2022, alterou a redação do art. 1º, I da Lei de Crimes Hediondos,
incluindo o inciso IX no rol dos crimes hediondos, que trata da qualificadora do homicídio contra
menor de 14 anos.

Assim, será considerado hediondo o homicídio qualificado cometido:

1) Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

2) Por motivo fútil;

3) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

4) À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou


torne impossível a defesa do ofendido;

5) Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;

6) Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino;

7) Contra membro das forças armadas ou das forças auxiliares (arts. 142 e 144 da
Constituição Federal), integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição;

8) Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,

9) Contra menor de 14 anos.

Destaca-se, todavia, que não é todo crime de homicídio que será considerado hediondo.
Observe:

• Homicídio qualificado: sempre é hediondo.

• Homicídio privilegiado: não é crime hediondo.

• Homicídio simples: não é crime hediondo.

• Homicídio simples praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que


cometido por um só agente: também denominado de homicídio condicionado, para
Cézar Roberto Bitencourt, atividade típica de grupo de extermínio é a chacina que
elimina a vítima pelo simples fato de pertencer a um determinado grupo ou determinada

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classe social ou racial, como, por exemplo, mendigos, prostitutas, homossexuais,
presidiários etc.

A impessoalidade da ação é uma das características fundamentais, sendo irrelevante a


unidade ou pluralidade de vítimas. Caracteriza-se a ação de extermínio mesmo que seja morta uma
única pessoa, desde que se apresente a impessoalidade da ação, ou seja, pela razão exclusiva de
pertencer ou ser membro de determinado grupo social, ético, econômico, étnico.

Ex.: uma pessoa resolve sair sozinha de casa, durante as madrugadas, em uma motocicleta,
para procurar moradores de rua dormindo em calçadas, a fim de neles atear fogo. Os homicídios
foram por ele cometidos em atividade típica de grupo de extermínio, embora em atitude solo,
tornando aplicável a Lei dos Crimes Hediondos.

Verifica-se que não há no art. 1º, I, da Lei de Crimes Hediondos referência ao § 6º do art.
121 (homicídio praticado por grupo de extermínio) que, por si só, não é hediondo. Contudo, sempre
será um homicídio qualificado pelas circunstâncias que envolve, o que irá caracterizar a hediondez,
uma vez que, em regra, o homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio apresenta
alguma qualificadora (motivo torpe, recurso que dificultou a defesa da vítima etc.).

Art. 121, § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime
for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.

Obs.: o homicídio praticado por milícia só será hediondo quando for


qualificado. Como visto acima, é praticamente impossível que um
homicídio praticado por milicianos não seja considerado qualificado,
oportunidade em que haverá a incidência da Lei de Crimes Hediondos.

Em relação ao homicídio híbrido ou qualificado-privilegiado, prevalece o entendimento


de que não é crime hediondo, considerando que não há previsão legal, bem como que a brandura
do privilégio é incompatível com a hediondez.

Privilégio (art. 121, § 1º) Qualificadora (art. 121, § 2º)


1) Relevante valor social (subjetivo) 1) Motivo torpe (subjetivo)
2) Relevante valor moral (subjetivo) 2) Motivo fútil (subjetivo)
3) Emoção (subjetivo) 3) Meio cruel (objetivo)
4) Modo surpresa (objetivo)
5) Fim especial (subjetivo)

Obs.: quando a qualificadora for de natureza subjetiva, não há que se


falar em homicídio híbrido. Assim, o homicídio privilegiado-qualificado
só existe quando a qualificadora é de caráter objetivo, ou seja, quando
se refere ao meio ou modo de execução.

Salienta-se que essa é a corrente majoritária e consolidada pelo STJ:

Por incompatibilidade axiológica e por falta de previsão legal, o homicídio


qualificado-privilegiado não integra o rol dos denominados crimes hediondos
(Precedentes). (HC 153.728/SP, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, julgado
em 13/04/2010, DJe 31/05/2010).

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A Lei n. 8.072/90, alterada pela Lei n. 8.930/94, em seu art. 1º, considerou
hediondo, entre outros, o homicídio qualificado, consumado ou tentado. Não
faz nenhuma referência à hipótese do homicídio qualificado-privilegiado. A
extensão, aqui, viola o princípio da reserva legal, previsto entre nós tanto na
Carta Magna como em regra infraconstitucional (art. 5º, inc. XXXIX, da Lex
Maxima, e art. 1º, do CP). (STJ - HC 180.694/PR, Rel. Min. Félix Fischer, 5ª
Turma, julgado em 02/02/1999, DJ 22/03/1999, p. 229).

Destaca-se, entretanto, que existe outra corrente que defende que o homicídio qualificado-
privilegiado é hediondo. Entendem que as qualificadoras não são equivalentes ao privilégio, pois
aquelas modificam a própria tipificação do crime (estabelecendo nova pena em abstrato), enquanto
este é tão somente uma causa de diminuição de pena, a ser considerada na última fase da sua
fixação. Como não se equivalem, inaplicável o art. 67 do Código Penal, devendo prevalecer o
caráter hediondo, uma vez que a Lei 8.072/90 não faz qualquer ressalva ao mencionar o homicídio
qualificado como delito dessa natureza.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(DPE/RS - CESPE - 2022): O reconhecimento da causa especial de
diminuição de pena, quando coexistir com o homicídio qualificado, afastará o
caráter hediondo do delito. Correto.

LESÃO CORPORAL (I-A)

Em regra, a lesão corporal não é considerada crime hediondo.

Com o advento da Lei 13.142/2015, apenas quando for uma lesão corporal gravíssima ou
seguida de morte praticada contra as pessoas definidas nos arts. 142 e 144 da CF (lesão corporal
funcional) será considerada hedionda.

Art. 1º, I-A - lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2 o) e
lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3 o), quando praticadas contra
autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015).

Os arts. 142 e 144 da Constituição Federal mencionados no dispositivo dizem respeito aos
integrantes das forças armadas e aos policiais civis ou militares. Para que o delito tenha natureza
hedionda, é necessário que o agente tenha provocado as lesões gravíssimas ou seguidas de morte
quando a vítima estava no exercício da função ou que o delito tenha sido praticado em decorrência
dela.

Além disso, se essas mesmas infrações forem cometidas contra cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau de uma das autoridades ou agentes acima mencionados,
em razão dessa condição, o delito será igualmente considerado hediondo. O parentesco até terceiro
grau a que a lei se refere abrange, na linha reta, crime contra pai ou filho, avô ou neto, bisavô ou
bisneto, e, na linha colateral, crime contra irmão, tio ou sobrinho.

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Renato Brasileiro salienta que para o reconhecimento da hediondez é indispensável que
haja o denominado nexo funcional, ou seja, que o crime tenha sido praticado em razão do exercício
dessas funções. Por fim, destaca que na eventualidade de um crime de lesão corporal gravíssima
(ou seguida de morte) ser cometido contra autoridades ou agentes não elencados no inciso I-A do
art. 1º da Lei 8.072/90, como, por exemplo, Promotores de Justiça ou membros do Poder Judiciário,
não seria possível o etiquetamento de crimes hediondos, sob pena de indevida analogia in malam
partem.

Obs.: a lesão corporal funcional leve ou grave não é considerada crime


hediondo.

ROUBO (II)

Art. 1º, II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)


a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso
V);
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I)
ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-
B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º);

ANTES DA LEI 13.964/2019 APÓS A LEI 13.964/2019

Em regra, o roubo continua não sendo crime


hediondo, salvo quando for majorado pela
Em regra, o roubo não era considerado crime restrição da liberdade da vítima, majorado pelo
hediondo, salvo quando qualificado pela morte emprego de arma de fogo ou de arma de fogo
(latrocínio). de uso restrito ou proibido e quando for
qualificado pela morte ou por lesão corporal
grave.

Nota-se que o roubo, em regra, continua não sendo crime hediondo. O Pacote Anticrime
ampliou as hipóteses que será crime hediondo, antes restrito ao latrocínio, conforme se verifica
abaixo:

1) Roubo majorado pela restrição da liberdade da vítima

A majorante da restrição de liberdade, de acordo com entendimento doutrinário e


jurisprudencial, só se configura quando o agente mantém a vítima em seu poder durante espaço de
tempo não prolongado.

2) Roubo majorado pelo emprego de arma de fogo ou emprego de arma de fogo de


uso restrito ou proibido

Engloba qualquer arma de fogo, inclusive a de uso permitido. Contudo, o roubo


circunstanciado pelo emprego de arma branca não é hediondo.

Igualmente não se reconhecerá a natureza hedionda ao roubo cometido com emprego de


arma inapta a efetuar disparos em razão de algum defeito ou desmuniciada.

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3) Roubo qualificado pela lesão corporal grave

O roubo qualificado pela lesão grave (ou gravíssima) pressupõe que o agente provoque o
resultado na vítima sem a intenção de matá-la, pois quando presente tal intenção o crime é o de
tentativa de latrocínio.

4) Roubo qualificado pelo resultado morte (latrocínio)

O nome latrocínio não mais existe na Lei de Crimes Hediondos, voltou a ser mera
denominação doutrinária e jurisprudencial.

O art. 157, § 3º do Código Penal prevê que o latrocínio ocorre quando a morte resulta da
violência. Logo, NÃO haverá latrocínio quando a morte decorrer de grave ameaça, bem como
quando ausente um dos fatores:

• Fator tempo: violência empregada durante o assalto;

• Fator nexo: violência em razão do assalto.

De acordo com Rogério Sanches, a doutrina entende haver também concurso de roubo e
homicídio – e não latrocínio – quando um dos assaltantes mata o outro, para, por exemplo, ficar
com todo o dinheiro subtraído, ainda que a morte ocorra durante o assalto. Isto porque, no caso, o
resultado morte atingiu o próprio sujeito ativo do roubo. Por outro lado, se o agente efetua um
disparo para matar a vítima, mas por erro de pontaria, acaba atingindo e matando o seu comparsa,
o crime é de latrocínio. Neste caso, ocorreu a chamada aberratio ictus (art. 73), respondendo o
agente como se tivesse atingido a pessoa visada.

Por fim, é imperioso relembrar que o latrocínio não é julgado pelo Tribunal do Júri, uma vez
que é crime contra o patrimônio e não contra a vida, nos termos da Súmula 603 do STF:

Súmula 603 - A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do


juiz singular e não do tribunal do júri.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC/PB CESPE - 2022): O rol de crimes hediondos inclui o roubo qualificado
por lesão corporal grave, porém não abrange o homicídio simples, salvo se
praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Correto.

(DPE/SC - FCC - 2021): Considera-se hediondo o crime de roubo


circunstanciado pelo emprego de arma. Errado.

EXTORSÃO (III)

Art. 1º, III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima,


ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º);

O crime de extorsão consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,


e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
se faça ou deixar de fazer alguma coisa (art. 158, caput, do CP).

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 11

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A Lei 13.964/2019 trouxe muitas mudanças em relação ao caráter hediondo conferido a
algumas modalidades do crime de extorsão. Antes da referida lei, apenas a extorsão qualificada
pela morte (art. 158, § 2º) possuía natureza hedionda. O Pacote Anticrime, todavia, incluiu ao rol
dos crimes hediondos o sequestro relâmpago.

Contudo, surge a dúvida acerca da hediondez da extorsão qualificada pela restrição da


liberdade da vítima, sem que ocorra lesão corporal ou morte. No entendimento de Cleber Masson,
deve ser considerado crime hediondo, tendo em vista que legislador fez referência a todo o art. 158,
§ 3º do CP.

Destaca-se que houve a exclusão do art. 158, § 2º do CP, excluindo, portanto, do rol dos
crimes hediondos a extorsão qualificada pela morte.

EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (IV)

Art. 1º, IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159,


caput, e §§ 1º, 2º e 3º).

A extorsão mediante sequestro, em todas as modalidades, será sempre crime hediondo.


Inclusive, foi o que motivou a criação da lei.

A Lei 8.072/90 deu especial atenção a esse delito em decorrência do grande número de
crimes dessa natureza ocorridos durante sua tramitação, estabelecendo o caráter hediondo tanto
em sua forma simples (sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem como condição ou preço do resgate) como nas formas qualificadas (se dura mais de 24
horas; se a vítima é menor de 18 anos ou maior de 60; se o crime for cometido por quadrilha; se a
vítima sofre lesão grave ou morre).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(DPE/SC - FCC - 2021): Considera-se hediondo o crime de fraude eletrônica
praticada contra pessoa idosa. Errado.

ESTUPRO (V/VI)

Art. 1º, V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);


VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º).

Todas as formas de estupro são consideradas crime hediondo. Nesse sentido, o Info 835 do
STF:

Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, mesmo que cometidos


antes da edição da Lei 12.015/2009, são considerados hediondos, ainda que
praticados na forma simples. Em outras palavras, seja antes ou depois da Lei
12.015/2019, toda e qualquer forma de estupro (ou atentado violento ao
pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante que a prática de
qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave
ou morte. STF. 1ª Turma. HC 100612/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 16/8/2016 (Info 835).

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 12

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Na redação original do Código Penal, havia a previsão tanto do crime de “estupro” (art. 213)
como do delito de “atentado violento ao pudor” (art. 214). A diferença entre eles era a seguinte:

• Estupro: o agente constrangia a vítima para obrigá-la a ter conjunção carnal (coito
vaginal);

• Atentado violento ao pudor: o agente constrangia a vítima para obrigá-la a praticar


outros atos libidinosos diferentes da conjunção carnal. Ex.: coito anal, sexo oral etc.

A Lei 12.015/09 alterou o panorama acima explicado e reuniu, em um só tipo penal, as


condutas de conjunção carnal e de outras espécies de ato libidinoso. Agora, tanto faz: se o agente
constrange a vítima (homem ou mulher) a praticar conjunção carnal ou a realizar qualquer outro ato
libidinoso, terá cometido o crime de estupro.

O crime de atentado violento ao pudor foi transportado para dentro do delito de estupro.
Compare:

REDAÇÃO ORIGINAL DEPOIS DA LEI 12.015 (ATUALMENTE)

Art. 213. Constranger a mulher à conjunção Art. 213. Constranger alguém, mediante
carnal, mediante violência ou grave ameaça: violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
Art. 214. Constranger alguém, mediante pratique outro ato libidinoso:
violência ou grave ameaça, a praticar ou
permitir que com ele se pratique ato libidinoso Art. 214: foi revogado e a sua conduta passou
diverso da conjunção carnal: a ser descrita no art. 2013.

Outra inovação da Lei 12.015/2009 foi acrescentar o art. 217-A ao Código Penal, criando um
novo delito, chamado de “estupro de vulnerável”:

Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

Antes do art. 217-A, as condutas de praticar conjunção carnal ou ato libidinoso com menor
de 14 anos poderiam ser consideradas crime? SIM. Tais condutas poderiam se enquadrar nos
crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com violência presumida, por ser menor de 14
anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor com violência presumida, por ser
menor de 14 anos), todos do Código Penal, com redação anterior à Lei 12.015/2009.

Desse modo, apesar dos arts. 214 e 224 do CP terem sido revogados pela Lei 12.015/2009,
não houve abolitio criminis dessas condutas, ou seja, continua sendo crime praticar ato libidinoso
com menor de 14 anos. No entanto, essas condutas, agora, são punidas pelo art. 217-A do CP. O
que houve, portanto, foi a continuidade normativa típica, que ocorre quando uma norma penal é
revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração
penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente
diverso do originário.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 13

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Atualmente, o crime de estupro simples (art. 213, caput, do CP) e de estupro de vulnerável
são considerados hediondos? SIM. Isso está previsto expressamente no art. 1º, V e VI, da Lei
8.072/90:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no


Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º);
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);

E antes da Lei 12.015/09, o estupro e o atentado violento ao pudor eram considerados


hediondos? SIM, conforme determinado pelo STF:

Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, mesmo que cometidos


antes da edição da Lei nº 12.015/2009 e mesmo que praticados na forma
simples, eram considerados crimes hediondos. STF. 1ª Turma. HC
100612/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 16/8/2016 (Info 835).

Sendo este, também, o entendimento do STJ:

(...) 1. Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, ainda que em sua


forma simples, configuram modalidades de crime hediondo porque o bem
jurídico tutelado é a liberdade sexual e não a integridade física ou a vida da
vítima, sendo irrelevante, para tanto, que a prática dos ilícitos tenha resultado
lesões corporais de natureza grave ou morte. 2. As lesões corporais e a morte
são resultados que qualificam o crime, não constituindo, pois, elementos do
tipo penal necessários ao reconhecimento do caráter hediondo do delito, que
exsurge da gravidade mesma do crimes praticados contra a liberdade sexual
e merecem tutela diferenciada, mais rigorosa. Precedentes do STJ e STF.
(...) STJ. 3ª Seção. REsp 1110520/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 26/09/2012.

Para facilitar: seja antes ou depois da Lei 12.015/2009, toda e qualquer forma de estupro
(ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante que a prática de
qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave ou morte.

EPIDEMIA (VII)

Art. 1º, VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º).

Epidemia é o surto de uma doença que atinge grande número de pessoas em determinado
local ou região mediante a propagação de germes patogênicos. A provocação intencional de
epidemia é punida com reclusão, de 10 a 15 anos, mas só terá caráter hediondo quando resultar
em morte. Nessa hipótese, além de hediondo, o crime terá a pena aplicada em dobro.

O crime culposo de epidemia (art. 267, § 2º, do CP) não é considerado hediondo, ainda que
provoque a morte de alguém.

Obs.: em se tratando de enfermidade que atinja plantas ou animais, o


crime é o do art. 61 da Lei de Crimes Ambientais.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 14

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Como o tema foi cobrado em concurso?
(DPE/PB - FCC - 2022): É considerado um crime hediondo a epidemia com
resultado lesão grave ou morte. Errado.

FALSIFICAÇÃO DE MEDICAMENTOS (VII-B)

Art. 1º, VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto


destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e
§ 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

FAVORECIMENTO DE PROSTITUIÇÃO OU EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA


OU ADOLESCENTE OU VULNERÁVEL (VIII)

Art. 1º, VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração


sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º
e 2º).

O caput do art. 218-B prevê pena de reclusão, de 4 a 10 anos, para quem submeter, induzir
ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos ou que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, e,
ainda, para quem facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.

O § 1º, por sua vez, prevê a aplicação cumulativa de pena de multa se o delito for cometido
com intenção de obter vantagem econômica.

Por fim, serão também consideradas hediondas as condutas daqueles que infringirem o § 2º
do art. 218-B, ou seja, daqueles que praticarem conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém
menor de 18 e maior de 14 anos em situação de prostituição ou exploração sexual (se a vítima tiver
menos de 14 anos ou for doente mental, o crime será o de estupro de vulnerável), bem como do
proprietário, gerente ou responsável pelo local em que se verifiquem referidas práticas (donos ou
gerentes de estabelecimentos onde ocorra prostituição de menores, por exemplo).

FURTO (IX)

IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que


cause perigo comum (art. 155, § 4º-A).

Essa forma qualificada do crime de furto foi inserida no Código Penal pela Lei 13.718/2018
devido ao grande número de explosões efetuadas em caixas eletrônicos com a finalidade de
viabilizar a subtração das cédulas contidas em seu interior. A gravidade diferenciada da conduta é
evidente devido aos grandes danos provocados no local e ao perigo a que ficam expostas as
pessoas que estejam nas proximidades. Tal figura qualificada do crime de furto passou a ter
natureza hedionda a partir da entrada em vigor da Lei 13.964/2019.

O legislador foi muito criticado por ter deixado de inserir no rol dos crimes hediondos o roubo
majorado pelo emprego de explosivo (art. 157, § 2º-A, II), pois este delito é mais grave que o furto
com a mesma qualificadora.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 15

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Como o tema foi cobrado em concurso?
(DPE/PB - FCC - 2022): É considerado um crime hediondo o furto qualificado
pelo emprego de explosivo. Correto.

(DPE/TO - CESPE - 2022): Segundo a Lei n.º 8.072/1990, consideram-se


hediondos, consumados ou tentados, os crimes de roubo majorado com
emprego de arma de fogo de uso proibido, restrito ou permitido, o de porte
ilegal de arma de fogo de uso proibido e restrito e o de furto qualificado pelo
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
Errado.

(TJ/MG - FGV - 2022): O furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de


artefato análogo que cause perigo comum é crime hediondo, na forma da Lei
nº 8.072/1990. Correto.

GENOCÍDIO

É crime hediondo não previsto no Código Penal.

O parágrafo único do art. 1º da Lei 8.072/90 define a hediondez do referido delito, nos termos
abaixo elencados:

Art. 1º, Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou


consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º
de outubro de 1956;

Genocídio não é simplesmente a matança generalizada, mas sim a intenção de destruir no


todo ou em parte um grupo étnico, nacional, racial ou religioso.

Há, na Lei do Genocídio (Lei 2.889/56), várias condutas típicas, tais como lesão corporal,
morte, impedir a reprodução, in verbis:

Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo


nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de
ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.

O art. 2º pune a associação de mais de 3 pessoas para a prática dos crimes mencionados
no artigo acima, e o art. 3º incrimina quem incita, direta e publicamente, alguém a cometer qualquer
dos crimes de que trata o art. 1º.

É considerado um crime contra a humanidade, não é crime contra a vida. Portanto, não se
trata de crime de competência do tribunal do júri, mesmo quando a conduta seja matar membros
do grupo.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 16

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Obs.: há casos em que o genocídio é julgado pelo tribunal do júri,
quando há conexão com o crime de homicídio doloso. Por exemplo, a
morte de um policial que estava fazendo segurança de uma tribo
indígena.

Salienta-se que há na Lei do Genocídio o típico caso de norma penal em branco ao avesso,
ou seja, há o preceito primário, mas falta o preceito secundário (pena).

PORTE OU POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO

A Lei 13.497/2017 havia alterado a redação do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 8.072/90
prevendo que também seria considerado como crime hediondo o delito de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito ou proibido, previsto no art. 16 do Estatuto do Desarmamento.

O Pacote Anticrime alterou a redação do parágrafo único, do art. 1º, incluindo o inciso II que
considera como hediondo a posse ou o porte ilegal de arma de fogo de uso proibido:

Art. 1º, Parágrafo único, II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo
de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; .

Em continuidade, necessário observar a nova redação do art. 16 do Estatuto do


Desarmamento, dada pelo Pacote Anticrime:

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de
uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação
de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem
arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12
(doze) anos.

Destaca-se que há 2 correntes acerca do alcance da Lei de Crimes Hediondos:

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 17

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• 1ª corrente: só será considerado crime hediondo o emprego de arma de fogo de uso
proibido.

• 2ª corrente: considera-se crime hediondo tanto a conduta de uso de arma de fogo de


uso proibido quanto de uso restrito, através de uma interpretação sistemática. Nota-se,
para tanto, que o art. 1º, parágrafo único, II da Lei 8.072/90 fala de forma genérica no
“art. 16 da Lei 10.825, de 22 de dezembro de 2003”, não se restringindo ao § 2º.

Por fim, todas as condutas equiparadas do § 1º estão abrangidas, de acordo com o


entendimento do STJ.

COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO

Foi incluído pelo Pacote Anticrime.

Art. 1º, Parágrafo único, III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo,
previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; .

Conforme apontado, esse crime foi inserido no rol dos crimes hediondos pela Lei
13.964/2019. Consiste em “adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,
desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório
ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.

A pena é de reclusão, de 6 a 12 anos, e multa.

TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO

Igualmente, foi incluído pelo Pacote Anticrime:

Art. 1º, Parágrafo único, IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo,


acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003; .

CRIME DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

O Pacote Anticrime tornou hediondo o crime de organização criminosa, desde que a


organização seja destinada à prática de crimes hediondos ou equiparados.

Art. 1º, Parágrafo único, V - o crime de organização criminosa, quando


direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado. .

Nos termos do art. 1º, § 1º, da Lei 12.850/2013, considera-se organização criminosa a
associação de quatro ou mais pessoas estruturalmente ordenada caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores
a quatro anos, ou que sejam de caráter transnacional. De acordo com o art. 2º, caput, da mesma
lei, comete o delito de organização criminosa quem promove, constitui, financia ou integra,
pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 18

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A pena é de reclusão, de 3 a 8 anos, e multa.

Assim, reitera-se que o delito só tem natureza hedionda quando a finalidade do grupo é a
prática de crimes hediondos ou equiparados. Há concurso material entre o delito de organização
criminosa e os crimes hediondos ou equiparados efetivamente cometidos.

5. CRIMES MILITARES

O legislador da Lei 8.072/90 não teve o cuidado de conferir natureza hedionda aos crimes
militares. Logo, os crimes militares correspondentes não são considerados hediondos por falta de
previsão legal.

De acordo com o STF, a diferença de tratamento legal entre os crimes comuns e os crimes
militares, mesmo em se tratando de crimes militares impróprios, não revela inconstitucionalidade,
pois o Código Penal Militar não institui privilégios. Ao contrário, em muitos pontos, o tratamento
dispensado ao autor de um delito é mais gravoso do que aquele previsto no Código Penal Comum.

6. CRIMES HEDIONDOS E CLÁUSULA SALVATÓRIA

Consoante inicialmente apontado, o Brasil adota o critério legal para definição de crimes
hediondos, os crimes não previstos no rol taxativo do art. 1º da Lei 8.072/90 não são considerados
hediondos, prezando-se pela segurança jurídica.

A cláusula salvatória é uma criação do advogado Alberto Zacharias Toron, segundo a qual
é possível que o juiz, no caso concreto, retire a hediondez do crime assim classificado pela lei.

Por exemplo, seria possível o juiz retirar a hediondez do homicídio qualificado, analisando
as circunstâncias do caso concreto.

7. CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS

O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo, embora não estejam previstos no rol do art. 1º
são crimes equiparados a hediondos. Ou seja, não são crimes hediondos, mas irão receber o
mesmo tratamento dispensado aos crimes hediondos.

TRÁFICO DE DROGAS

A hediondez do tráfico de drogas alcança as figuras previstas no art. 33, caput e no art. 34
da Lei de Drogas.

A figura privilegiada, prevista no art. 33, § 4º da Lei de Drogas, é uma causa de diminuição
da pena, a qual reúne 4 requisitos cumulativos:

1) Agente primário;

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 19

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2) Bons antecedentes;

3) Não se dedica a atividades criminosas;

4) Não integra organização criminosa.

Surgiu uma tese defensiva sustentando que o art. 33, § 4º da Lei 11.343/2006 não seria tão
grave e, por isso, não poderia ser equiparado a hediondo. A jurisprudência atual acolhe esta
posição? SIM.

O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas não deve ser
considerado crime equiparado a hediondo. Nesse sentido, segue alguns posicionamentos do STF:

O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº


11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime equiparado a
hediondo. STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 23/6/2016 (Info 831).

O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve
ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
STJ. 3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 595).

Outrossim, destaca-se que o Pacote Anticrime incluiu o § 5º ao art. 112 da Lei de Execução
Penal:

Art. 112, § 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste


artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343,
de 23 de agosto de 2006. .

Assim, apenas as modalidades de tráfico de entorpecentes definidas no art. 33, caput e §


1º, da Lei nº 11.343/2006 são equiparadas aos crimes hediondos.

TORTURA

Está disciplinada na Lei 9.455/97.

Maiores informações podem ser obtidas em nosso CS sobre a Lei de Tortura.

TERRORISMO

Está previsto na Lei 13.260/2016.

Maiores informações podem ser obtidas em nosso CS sobre Terrorismo.

8. VEDAÇÕES LEGAIS

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 20

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O art. 2º da Lei 8.072/90 dispõe sobre as proibições conferidas aos crimes hediondos e
equiparados. Assim segue:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança.

ANISTIA, GRAÇA E INDULTO

São causas extintivas da punibilidade, formas de clemência soberana, emanadas de órgãos


alheios ao Poder Judiciário.

Quanto ao indulto, importante destacar a polêmica existente, uma vez que a Constituição
Federal não faz referência, proibindo apenas a concessão de graça e anistia, igualmente a Lei de
Tortura que também proíbe apenas graça e anistia.

Contudo, a Lei de Crimes Hediondos faz expressa referência à proibição de concessão de


indulto. Diante disso, há 2 posições sobre a constitucionalidade de tal dispositivo:

• 1ª corrente: a proibição de indulto é inconstitucional, tendo em vista que a Lei dos


Crimes Hediondos tenta de forma exagerada, inaceitável proibir um instituto que não foi
proibido pela CF.

Sugere-se utilizar tal corrente para provas de DPE/DPU.

• 2ª corrente: a proibição de indulto é constitucional, pois quando a CF utiliza a expressão


“graça” o faz em sentido amplo, graça em sentido estrito e abrangendo indulto também
(espécie de graça coletiva).

É a posição adotada pelo STF.

FIANÇA

Os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis. Significa dizer que o agente, quando
preso em flagrante, não poderá ser colocado em liberdade mediante o pagamento de fiança, seja
arbitrada pelo delegado ou pelo juiz.

LIBERDADE PROVISÓRIA

Na redação original da Lei 8.072/90 também era vedada a concessão de liberdade provisória
sem e com fiança.

Ocorre que desde a Lei 11.464/2007, a vedação da liberdade provisória sem fiança não mais
vigora. Assim, é possível que se conceda aos crimes hediondos liberdade provisória sem fiança,
desde que haja o convencimento do juiz – que, por vezes, é mais difícil do que os casos em que
simplesmente se arbitra uma fiança – bem como se demonstre que os requisitos da prisão
preventiva não estão presentes.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 21

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Como o tema foi cobrado em concurso?
(PC/PB - CESPE - 2022): Os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia,
graça, indulto, liberdade provisória e fiança. Errado.

9. CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA

Atualmente, nos termos do art. 2º, § 1º da Lei 8.072/90, impõe-se o cumprimento de pena
em regime inicialmente fechado.

A redação original previa o cumprimento de pena no regime integralmente fechado, não


sendo possível a progressão de regime. O único benefício era o livramento condicional. O STF,
contudo, entendeu que tal previsão era inconstitucional, uma vez que violava a individualização da
pena, a proporcionalidade, além de ofender o princípio da dignidade humana.

Durante 15 anos, de 1990 a 2005, o regime integrante fechado sempre foi considerado
constitucional pelo STF, mesmo diante de diversos argumentos contrários.

A Lei de Tortura, de 1997, previa que o condenado iria iniciar o cumprimento de pena em
regime fechado, argumento que foi utilizado por quem sustentava a inconstitucionalidade do regime
integralmente fechado, uma vez que o crime de tortura é equiparado a hediondo, recebendo o
mesmo tratamento. Portanto, deveria ser aplicado o regime inicialmente fechado.

O STF entendeu que não, pois era regra específica que se aplicava apenas aos crimes de
tortura, inclusive sumulou seu entendimento (Súmula 698).

Súmula 698 STF – Não se estende aos demais crimes hediondos a


admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao
crime de tortura.

Apenas com a nova composição do STF em 2006, houve mudança de entendimento,


considerando-se inconstitucional o cumprimento em regime integralmente fechado. Porém, como
não era prevista progressão de regime para crimes hediondos, não havia legislação que fixasse o
modo de progressão, razão pela qual se utilizava os parâmetros dos crimes comuns.

Em 2006, com a Lei 11.464, o cumprimento da pena para os crimes hediondos iniciará em
regime fechado, pouco importando a quantidade da pena e a condição pessoal do sentenciado,
bem como fixou os requisitos para a progressão de regime:

Art. 2º, § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes


previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da
pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente,
observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de
julho de 1984 (Lei de Execução Penal).

Atenção para a progressão especial para a mulher gestante, mãe ou responsável por pessoa
com deficiência, previsto na LEP:

Art. 112, § 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de
regime são, cumulativamente:

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 22

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I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime
anterior;
IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo
diretor do estabelecimento;
V - não ter integrado organização criminosa.
§ 4º O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a
revogação do benefício previsto no § 3º deste artigo.

O STF, no informativo 672, também declarou a inconstitucionalidade do regime inicialmente


fechado para os crimes hediondos. Em síntese:

1) § 1º (em sua redação original): proibia a progressão para crimes hediondos.

2) STF (em 23/02/2006): decidiu que essa redação original do § 1º era inconstitucional (não
se podia proibir a progressão).

3) Como o STF afirmou que o § 1º era inconstitucional: as pessoas condenadas por crimes
hediondos ou equiparados passaram a progredir com os mesmos requisitos dos demais
crimes não hediondos (1/6, de acordo com o art. 112 da LEP).

4) Lei 11.464/2007: modificou o § 1º prevendo que a progressão para crimes hediondos e


equiparados passaria a ser mais difícil que em relação aos demais crimes (2/5 para
primários e 3/5 para reincidentes).

5) Logo, a Lei 11.464/2007 foi mais gravosa para aqueles que cometeram crimes antes da
sua vigência (e que podiam progredir com 1/6). Por isso, ela é irretroativa.

Observe os argumentos utilizados pelo STF:

a) A CF prevê o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI). Esse princípio também
deve ser observado no momento da fixação do regime inicial de cumprimento de pena.
Assim, a fixação do regime prisional também deve ser individualizada (ou seja, de acordo
com o caso concreto), ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado.

b) A CF prevê, no seu art. 5º, XLIII, as vedações que ela quis impor aos crimes hediondos
e equiparados (são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia). Nesse inciso, não
consta que o regime inicial para esses crimes tenha que ser o fechado. Logo, não poderia
o legislador estabelecer essa imposição de regime inicial fechado, por violar o princípio
da individualização da pena.

c) Desse modo, deve ser superado o disposto na Lei dos Crimes Hediondos
(obrigatoriedade de início do cumprimento de pena no regime fechado) para aqueles que
preencham todos os demais requisitos previstos no art. 33, §§ 2º, e 3º, do CP, admitindo-
se o início do cumprimento de pena em regime diverso do fechado.

d) O juiz, no momento de fixação do regime inicial, deve observar as regras do art. 33 do


Código Penal, podendo estabelecer regime prisional mais severo se as condições
subjetivas forem desfavoráveis ao condenado, desde que o faça em razão de elementos
concretos e individualizados, aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da
medida privativa de liberdade do indivíduo.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 23

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De acordo com Cleber Masson, esta decisão do STF violou claramente o espírito da CF,
pois não há diferença de tratamento para um crime comum ou um crime hediondo, eis que há
traficantes, estupradores iniciando a pena em regime semiaberto, por exemplo.

O doutrinador destaca que a CF criou dois polos distintos: o primeiro deles está previsto no
art. 98, I em que há referência às infrações de menor potencial ofensivo, as quais recebem um
tratamento brando. Na extremidade oposta, há o art. 5º, XLIII que trata dos crimes hediondos e
equiparados, em que há um tratamento mais severo. Entre os polos, há os crimes comuns, que não
podem ter tratamento igual aos dois polos. Assim, não há coerência em dar aos crimes hediondos
o mesmo tratamento dos crimes comuns, violando-se a lógica constitucional.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(Governo do Distrito Federal - Polícia Penal - Instituto AOCP - 2022):
Segundo entendimento do STF, é inconstitucional a fixação de regime inicial
fechado com base unicamente na hediondez do delito. Correto.

(SERIS-AL - Agente Penitenciário - CESPE - 2022): Pessoa presa e


condenada por ter cometido crime hediondo estará insuscetível de indulto
após a sentença transitar em julgado, devendo cumprir sua pena inicial
obrigatoriamente no regime fechado. Errado.

10. PROGRESSÃO DE REGIME

Antes do Pacote Anticrime, a progressão de regime nos crimes hediondos seguia o disposto
no revogado § 2º do art. 2º da Lei 8.072/90, in verbis:

Art. 2º, § 2º, A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes
previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da
pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente,
observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de
julho de 1984 (Lei de Execução Penal). (Revogado pelo Pacote Anticrime).

Assim, era necessário:

1) O cumprimento de 2/5 da pena, no caso de réu primário (requisito objetivo);

2) O cumprimento de 3/5 da pena, no caso de condenado reincidente (requisito objetivo),


pouco importa a natureza da reincidência;

3) Mérito do condenado (requisito subjetivo): condições pessoais que autorizam o regime.

O Pacote Anticrime alterou a sistemática da progressão de regime, pois revogou o § 2º do


art. 2º e tratou o tema na LEP. Assim, para os crimes hediondos e equiparado praticados após, 23
de janeiro de 2020, a progressão de regime ocorrerá após o cumprimento de:

a) 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, se for primário;

b) 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 24

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• Condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for
primário, vedado o livramento condicional;

• Condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa


estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou

• Condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;

c) 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime
hediondo ou equiparado;

d) 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou
equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ/GO - FCC - 2021): Segundo tese fixada pelo Superior Tribunal de Justiça,
os apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado
sem resultado morte, e que não sejam reincidentes em delito de natureza
semelhante, poderão progredir de regime prisional quando tiverem cumprido
ao menos quarenta por cento da pena. Correto.

11. MANUTENÇÃO DA PRISÃO

Importante consignar que o § 3º do art. 2º da Lei de Crimes Hediondos deve ser interpretado
conforme a Constituição.

Art. 2º, § 3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá


fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.

Desta forma:

1) Réu processado preso: recorre preso (salvo se os motivos que ensejaram a prisão
preventiva não mais subsistirem).

2) Réu processado solto: recorre solto (salvo se surgirem fundamentos para a preventiva).

12. SAÍDA TEMPORÁRIA

Salienta-se que no âmbito da LEP, o Pacote Anticrime vedou a saída temporária para os
condenados por crime hediondo com resultado morte:

Art. 122, § 2º Não terá direito à saída temporária a que se refere


o caput deste artigo o condenado que cumpre pena por praticar crime
hediondo com resultado morte.

13. PRISÃO TEMPORÁRIA

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 25

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A prisão temporária é modalidade de prisão provisória, com natureza cautelar, decretada
antes do trânsito em julgado da condenação.

Será possível apenas na fase investigatória, não podendo ser decretada no curso do
processo. Por isso, não é possível que o juiz decrete de ofício, dependendo de requerimento do MP
ou de representação da autoridade judicial.

Nos crimes em geral, será decretada por 5 dias podendo ser prorrogada por mais 5 dias. Já
nos crimes hediondos, a prisão temporária poderá ser decretada por 30 dias, sendo possível a
prorrogação por mais 30 dias, no caso de extrema e comprovada necessidade, nos termos do art.
2º, § 4º da Lei 8.072/90:

Art. 2º, § 4º - A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21


de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30
(trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.

Este prazo da temporária não é computado no prazo para a conclusão do inquérito policial.

O art. 1º, III da Lei da Prisão Temporária traz um rol de crimes em que se admite esta
modalidade de prisão. Contudo, alguns crimes hediondos e equiparados, a exemplo da tortura, do
estupro de vulnerável, da falsificação de remédios etc., não constam no dispositivo. Diante disso,
indaga-se: cabe prisão temporária para esses delitos? Sim, pois a própria Lei dos Crimes Hediondos
prevê a prisão temporária.

Isto posto, pode-se inferir que a Lei dos Crimes Hediondos não só aumentou o prazo da
temporária para os crimes hediondos e equiparados, como também ampliou o rol de crimes que
admitem tal modalidade de prisão.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC/PB - CESPE - 2022): O prazo de prisão temporária para os crimes
hediondos e equiparados é de 30 dias, não sendo admitida prorrogação,
porque ele já é ampliado em relação ao regramento da Lei n.º 7.960/1989.
Errado.

14. ESTABELECIMENTOS PENAIS DE SEGURANÇA MÁXIMA

A Lei dos Crimes Hediondos faz referência a estabelecimentos penais de segurança máxima
em seu art. 3º, in verbis:

Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima,


destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta
periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a
ordem ou incolumidade pública.

A lei não condiciona condenação por crime hediondo ou equiparado, bastando que seja um
condenado de alta periculosidade.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 26

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Obs.: para o presídio federal não vão apenas condenados pela Justiça
Federal, mas também os condenados pela Justiça Estadual (maioria),
tendo em vista a alta periculosidade.

15. LIVRAMENTO CONDICIONAL

O livramento condicional é uma liberdade antecipada, medida alternativa à prisão que


modifica a execução penal, desde que cumprida determinadas condições. Observe o disposto no
art. 83, V do Código Penal:

Art. 83, V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de


condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado
não for reincidente específico em crimes dessa natureza.

Salienta-se que o tráfico de pessoas, apesar de não ser crime hediondo ou equiparado, no
incidente de livramento condicional, segue os mesmos requisitos.

Observe como se dá o prazo para o livramento condicional:

CRIME HEDIONDO/EQUIPARADO +
PRIMÁRIO + BONS ANTECEDENTES REINCIDENTE
TRÁFICO DE PESSOAS

Cumprimento de + de 2/3 da pena,


Cumprimento de + de 1/3 da pena Cumprimento de + de 1/2 da pena desde que não seja reincidente
específico

Caso seja reincidente específico, não terá direito ao livramento condicional.

Há 3 correntes acerca do que se entende por reincidente específico:

• 1ª corrente: é o reincidente em crimes previstos no mesmo tipo penal. Por exemplo,


estupro e estupro.

• 2ª corrente: é o reincidente em crimes que violam o mesmo bem jurídico, ainda que em
tipos distintos. Por exemplo, latrocínio e extorsão mediante sequestro.

• 3ª corrente (majoritária): é o reincidente em crimes hediondos ou equiparados, não


importando o tipo ou o bem jurídico tutelado.

16. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA VISANDO A PRÁTICA DE CRIMES HEDIONDOS E


EQUIPARADOS

Tem-se o disposto no art. 8º da Lei de Crimes Hediondos:

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 27

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Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do
Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.

Nota-se, em seguida, o previsto no art. 288 do CP:

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de


cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada
ou se houver a participação de criança ou adolescente.

Diante dos dispositivos acima, pode-se concluir que:

Associação criminosa para prática Associação criminosa para prática


de crime comum de crime hediondos e equiparados

Pena: 1 a 3 anos Pena 3 a 6 anos

Tratando-se de associação criminosa com a finalidade de praticar tráfico de drogas,


genocídio e terrorismo, há tipos específicos, não se aplicando o disposto acima.

Por fim, destaca-se que a associação criminosa é crime hediondo, quando visa a prática
de crime hediondo ou equiparados.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC/PB - CESPE - 2022): Se associação criminosa destinada à prática de
crimes hediondos for desmantelada em razão de informações fornecidas por
participante ou associado do grupo criminoso, este receberá perdão judicial.
Errado.

(PRF - Policial Rodoviário Federal - CESPE - 2021): Caso três pessoas


associadas, com divisão de tarefas, subtraiam substância explosiva, estará
configurado crime hediondo. Errado.

17. DELAÇÃO PREMIADA

Para a maioria da doutrina, a Lei 12.850/13 trouxe um microssistema da colaboração


premiada, aplicando-se em todos os casos em que a lei admite justiça negociada.

Há corrente fomentando o diálogo das fontes, assim o art. 8º, parágrafo único da Lei dos
Crimes Hediondos deve ser norteado pela Lei 12.850/13 (para aprofundar, recomendamos o CS de
Organização Criminosa).

Art. 8º, Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à


autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a
pena reduzida de um a dois terços.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 28

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18. PENAS RESTRITIVAS E SURSIS DE DIREITO

Acerca do cabimento de penas restritivas de direito e de sursis há 2 correntes:

• 1ª corrente: não cabe, tendo em vista que tais benefícios são incompatíveis com a
gravidade dos crimes hediondos e equiparados.

• 2ª corrente: o legislador não deve proibir penas restritivas de direito e sursis com base
na gravidade em abstrato, devendo o juiz aquilatar no caso em concreto. É a corrente
adotada pelo STF.

19. REMIÇÃO

A remição é o resgate de parcela da pena pelo trabalho ou estudo penitenciário e, como a


lei não proíbe, é perfeitamente possível.

20. TRABALHO EXTERNO

Preenchidos os requisitos, é perfeitamente possível que o preso por crime hediondo ou


equiparado exerça trabalho externo.

CS – CRIMES HEDIONDOS 2023.1 29

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