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Crimes Hediondos
Lei 8.072/1990
Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada
Olá!
O Caderno Legislação Penal Especial – Crimes Hediondos possui como base as aulas do
professor Cleber Masson (G7), complementadas com as aulas do Prof. Rogério Sanches (CERS).
Três livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2019, b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2018, ambos da Editora
Juspodivm e c) Esquematizado - Legislação Penal Especial (Victor Eduardo Rios Gonçalves), ano
2022, Editora Saraiva.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.
No Brasil, a Lei 8.072/90 foi a primeira a tratar sobre crimes hediondos. De lá para cá, como
todas as leis existentes no país, passou por diversas reformas legislativas.
A expressão “crimes hediondos” foi utilizada pela Constituição Federal, em seu art. 5ª, XLIII,
nos seguintes termos:
Destaca-se, por fim, que no final da década de 80, o Brasil passou por uma onda de crimes
de extorsão mediante sequestro com a finalidade de financiar organizações criminosas, a exemplo
do PCC. Visando coibir tal prática, criou-se a Lei dos Crimes Hediondos (em obediência ao
mandado constitucional de criminalização) e, em sua redação original, o único crime previsto era
extorsão mediante sequestro, sendo ampliado o rol durante a tramitação.
O conceito de crime hediondo é dado de acordo com o critério adotado. Portanto, a seguir,
serão analisamos os 3 critérios existentes: legal, judicial e misto.
De acordo com o critério legal, crime hediondo é aquele que a lei define como tal, pouco
importando as consequências e a forma como é praticado.
É o critério mais seguro de todos, pois elimina eventual discricionariedade dos juízes,
prezando pela segurança jurídica. Não se admite, tampouco, que o magistrado deixe de reconhecer
a natureza hedionda em delito que expressamente conste do rol.
Frisa-se, ainda, que os jurados não são questionados acerca do caráter hediondo do delito,
já que essa característica decorre automaticamente do reconhecimento de uma das qualificadoras.
Segundo o critério judicial, determinado crime será considerado hediondo após a análise,
feita pelo juiz, do caso concreto, das circunstâncias e consequências do crime.
O critério misto sustenta que o juiz possui plena liberdade para definir se o crime é hediondo
ou não, levando em conta os parâmetros mínimos fornecidos pelo legislador.
REGULAMENTAÇÃO LEGAL
O art. 1º da Lei 8.072/90, regulamentando a Constituição Federal, traz o rol dos crimes que
são considerados hediondos, sejam eles tentados ou consumados, in verbis:
A própria Constituição Federal exige um tratamento mais severo aos crimes hediondos, por
isso não há razões para aplicar o princípio da insignificância.
O rol do art. 1º é taxativo. Assim, quando um crime não está no rol, mesmo que seja grave
e que suas circunstâncias sejam bárbaras, não será considerado hediondo.
HOMICÍDIO (I)
Na redação original da Lei dos Crimes Hediondos, o crime de homicídio não era considerado
hediondo. Apenas com a Lei 8.930/94 (Lei Glória Perez), de iniciativa popular, é que passou a ser
considerado como um crime hediondo.
A Lei 14.344/2022, conhecida também como Lei Henry Borel, que cria mecanismos para a
prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e ao adolescente,
publicada em 25 de maio de 2022, alterou a redação do art. 1º, I da Lei de Crimes Hediondos,
incluindo o inciso IX no rol dos crimes hediondos, que trata da qualificadora do homicídio contra
menor de 14 anos.
3) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
7) Contra membro das forças armadas ou das forças auxiliares (arts. 142 e 144 da
Constituição Federal), integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição;
Destaca-se, todavia, que não é todo crime de homicídio que será considerado hediondo.
Observe:
Ex.: uma pessoa resolve sair sozinha de casa, durante as madrugadas, em uma motocicleta,
para procurar moradores de rua dormindo em calçadas, a fim de neles atear fogo. Os homicídios
foram por ele cometidos em atividade típica de grupo de extermínio, embora em atitude solo,
tornando aplicável a Lei dos Crimes Hediondos.
Verifica-se que não há no art. 1º, I, da Lei de Crimes Hediondos referência ao § 6º do art.
121 (homicídio praticado por grupo de extermínio) que, por si só, não é hediondo. Contudo, sempre
será um homicídio qualificado pelas circunstâncias que envolve, o que irá caracterizar a hediondez,
uma vez que, em regra, o homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio apresenta
alguma qualificadora (motivo torpe, recurso que dificultou a defesa da vítima etc.).
Art. 121, § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime
for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
Destaca-se, entretanto, que existe outra corrente que defende que o homicídio qualificado-
privilegiado é hediondo. Entendem que as qualificadoras não são equivalentes ao privilégio, pois
aquelas modificam a própria tipificação do crime (estabelecendo nova pena em abstrato), enquanto
este é tão somente uma causa de diminuição de pena, a ser considerada na última fase da sua
fixação. Como não se equivalem, inaplicável o art. 67 do Código Penal, devendo prevalecer o
caráter hediondo, uma vez que a Lei 8.072/90 não faz qualquer ressalva ao mencionar o homicídio
qualificado como delito dessa natureza.
Com o advento da Lei 13.142/2015, apenas quando for uma lesão corporal gravíssima ou
seguida de morte praticada contra as pessoas definidas nos arts. 142 e 144 da CF (lesão corporal
funcional) será considerada hedionda.
Art. 1º, I-A - lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2 o) e
lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3 o), quando praticadas contra
autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015).
Os arts. 142 e 144 da Constituição Federal mencionados no dispositivo dizem respeito aos
integrantes das forças armadas e aos policiais civis ou militares. Para que o delito tenha natureza
hedionda, é necessário que o agente tenha provocado as lesões gravíssimas ou seguidas de morte
quando a vítima estava no exercício da função ou que o delito tenha sido praticado em decorrência
dela.
Além disso, se essas mesmas infrações forem cometidas contra cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau de uma das autoridades ou agentes acima mencionados,
em razão dessa condição, o delito será igualmente considerado hediondo. O parentesco até terceiro
grau a que a lei se refere abrange, na linha reta, crime contra pai ou filho, avô ou neto, bisavô ou
bisneto, e, na linha colateral, crime contra irmão, tio ou sobrinho.
ROUBO (II)
Nota-se que o roubo, em regra, continua não sendo crime hediondo. O Pacote Anticrime
ampliou as hipóteses que será crime hediondo, antes restrito ao latrocínio, conforme se verifica
abaixo:
O roubo qualificado pela lesão grave (ou gravíssima) pressupõe que o agente provoque o
resultado na vítima sem a intenção de matá-la, pois quando presente tal intenção o crime é o de
tentativa de latrocínio.
O nome latrocínio não mais existe na Lei de Crimes Hediondos, voltou a ser mera
denominação doutrinária e jurisprudencial.
O art. 157, § 3º do Código Penal prevê que o latrocínio ocorre quando a morte resulta da
violência. Logo, NÃO haverá latrocínio quando a morte decorrer de grave ameaça, bem como
quando ausente um dos fatores:
De acordo com Rogério Sanches, a doutrina entende haver também concurso de roubo e
homicídio – e não latrocínio – quando um dos assaltantes mata o outro, para, por exemplo, ficar
com todo o dinheiro subtraído, ainda que a morte ocorra durante o assalto. Isto porque, no caso, o
resultado morte atingiu o próprio sujeito ativo do roubo. Por outro lado, se o agente efetua um
disparo para matar a vítima, mas por erro de pontaria, acaba atingindo e matando o seu comparsa,
o crime é de latrocínio. Neste caso, ocorreu a chamada aberratio ictus (art. 73), respondendo o
agente como se tivesse atingido a pessoa visada.
Por fim, é imperioso relembrar que o latrocínio não é julgado pelo Tribunal do Júri, uma vez
que é crime contra o patrimônio e não contra a vida, nos termos da Súmula 603 do STF:
EXTORSÃO (III)
Destaca-se que houve a exclusão do art. 158, § 2º do CP, excluindo, portanto, do rol dos
crimes hediondos a extorsão qualificada pela morte.
A Lei 8.072/90 deu especial atenção a esse delito em decorrência do grande número de
crimes dessa natureza ocorridos durante sua tramitação, estabelecendo o caráter hediondo tanto
em sua forma simples (sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem como condição ou preço do resgate) como nas formas qualificadas (se dura mais de 24
horas; se a vítima é menor de 18 anos ou maior de 60; se o crime for cometido por quadrilha; se a
vítima sofre lesão grave ou morre).
ESTUPRO (V/VI)
Todas as formas de estupro são consideradas crime hediondo. Nesse sentido, o Info 835 do
STF:
• Estupro: o agente constrangia a vítima para obrigá-la a ter conjunção carnal (coito
vaginal);
O crime de atentado violento ao pudor foi transportado para dentro do delito de estupro.
Compare:
Art. 213. Constranger a mulher à conjunção Art. 213. Constranger alguém, mediante
carnal, mediante violência ou grave ameaça: violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
Art. 214. Constranger alguém, mediante pratique outro ato libidinoso:
violência ou grave ameaça, a praticar ou
permitir que com ele se pratique ato libidinoso Art. 214: foi revogado e a sua conduta passou
diverso da conjunção carnal: a ser descrita no art. 2013.
Outra inovação da Lei 12.015/2009 foi acrescentar o art. 217-A ao Código Penal, criando um
novo delito, chamado de “estupro de vulnerável”:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Antes do art. 217-A, as condutas de praticar conjunção carnal ou ato libidinoso com menor
de 14 anos poderiam ser consideradas crime? SIM. Tais condutas poderiam se enquadrar nos
crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com violência presumida, por ser menor de 14
anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor com violência presumida, por ser
menor de 14 anos), todos do Código Penal, com redação anterior à Lei 12.015/2009.
Desse modo, apesar dos arts. 214 e 224 do CP terem sido revogados pela Lei 12.015/2009,
não houve abolitio criminis dessas condutas, ou seja, continua sendo crime praticar ato libidinoso
com menor de 14 anos. No entanto, essas condutas, agora, são punidas pelo art. 217-A do CP. O
que houve, portanto, foi a continuidade normativa típica, que ocorre quando uma norma penal é
revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração
penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente
diverso do originário.
Para facilitar: seja antes ou depois da Lei 12.015/2009, toda e qualquer forma de estupro
(ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante que a prática de
qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave ou morte.
EPIDEMIA (VII)
Art. 1º, VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º).
Epidemia é o surto de uma doença que atinge grande número de pessoas em determinado
local ou região mediante a propagação de germes patogênicos. A provocação intencional de
epidemia é punida com reclusão, de 10 a 15 anos, mas só terá caráter hediondo quando resultar
em morte. Nessa hipótese, além de hediondo, o crime terá a pena aplicada em dobro.
O crime culposo de epidemia (art. 267, § 2º, do CP) não é considerado hediondo, ainda que
provoque a morte de alguém.
O caput do art. 218-B prevê pena de reclusão, de 4 a 10 anos, para quem submeter, induzir
ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos ou que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, e,
ainda, para quem facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.
O § 1º, por sua vez, prevê a aplicação cumulativa de pena de multa se o delito for cometido
com intenção de obter vantagem econômica.
Por fim, serão também consideradas hediondas as condutas daqueles que infringirem o § 2º
do art. 218-B, ou seja, daqueles que praticarem conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém
menor de 18 e maior de 14 anos em situação de prostituição ou exploração sexual (se a vítima tiver
menos de 14 anos ou for doente mental, o crime será o de estupro de vulnerável), bem como do
proprietário, gerente ou responsável pelo local em que se verifiquem referidas práticas (donos ou
gerentes de estabelecimentos onde ocorra prostituição de menores, por exemplo).
FURTO (IX)
Essa forma qualificada do crime de furto foi inserida no Código Penal pela Lei 13.718/2018
devido ao grande número de explosões efetuadas em caixas eletrônicos com a finalidade de
viabilizar a subtração das cédulas contidas em seu interior. A gravidade diferenciada da conduta é
evidente devido aos grandes danos provocados no local e ao perigo a que ficam expostas as
pessoas que estejam nas proximidades. Tal figura qualificada do crime de furto passou a ter
natureza hedionda a partir da entrada em vigor da Lei 13.964/2019.
O legislador foi muito criticado por ter deixado de inserir no rol dos crimes hediondos o roubo
majorado pelo emprego de explosivo (art. 157, § 2º-A, II), pois este delito é mais grave que o furto
com a mesma qualificadora.
GENOCÍDIO
O parágrafo único do art. 1º da Lei 8.072/90 define a hediondez do referido delito, nos termos
abaixo elencados:
Há, na Lei do Genocídio (Lei 2.889/56), várias condutas típicas, tais como lesão corporal,
morte, impedir a reprodução, in verbis:
O art. 2º pune a associação de mais de 3 pessoas para a prática dos crimes mencionados
no artigo acima, e o art. 3º incrimina quem incita, direta e publicamente, alguém a cometer qualquer
dos crimes de que trata o art. 1º.
É considerado um crime contra a humanidade, não é crime contra a vida. Portanto, não se
trata de crime de competência do tribunal do júri, mesmo quando a conduta seja matar membros
do grupo.
Salienta-se que há na Lei do Genocídio o típico caso de norma penal em branco ao avesso,
ou seja, há o preceito primário, mas falta o preceito secundário (pena).
A Lei 13.497/2017 havia alterado a redação do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 8.072/90
prevendo que também seria considerado como crime hediondo o delito de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito ou proibido, previsto no art. 16 do Estatuto do Desarmamento.
O Pacote Anticrime alterou a redação do parágrafo único, do art. 1º, incluindo o inciso II que
considera como hediondo a posse ou o porte ilegal de arma de fogo de uso proibido:
Art. 1º, Parágrafo único, II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo
de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; .
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de
uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação
de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem
arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12
(doze) anos.
Art. 1º, Parágrafo único, III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo,
previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; .
Conforme apontado, esse crime foi inserido no rol dos crimes hediondos pela Lei
13.964/2019. Consiste em “adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,
desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório
ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
Nos termos do art. 1º, § 1º, da Lei 12.850/2013, considera-se organização criminosa a
associação de quatro ou mais pessoas estruturalmente ordenada caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores
a quatro anos, ou que sejam de caráter transnacional. De acordo com o art. 2º, caput, da mesma
lei, comete o delito de organização criminosa quem promove, constitui, financia ou integra,
pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa.
Assim, reitera-se que o delito só tem natureza hedionda quando a finalidade do grupo é a
prática de crimes hediondos ou equiparados. Há concurso material entre o delito de organização
criminosa e os crimes hediondos ou equiparados efetivamente cometidos.
5. CRIMES MILITARES
O legislador da Lei 8.072/90 não teve o cuidado de conferir natureza hedionda aos crimes
militares. Logo, os crimes militares correspondentes não são considerados hediondos por falta de
previsão legal.
De acordo com o STF, a diferença de tratamento legal entre os crimes comuns e os crimes
militares, mesmo em se tratando de crimes militares impróprios, não revela inconstitucionalidade,
pois o Código Penal Militar não institui privilégios. Ao contrário, em muitos pontos, o tratamento
dispensado ao autor de um delito é mais gravoso do que aquele previsto no Código Penal Comum.
Consoante inicialmente apontado, o Brasil adota o critério legal para definição de crimes
hediondos, os crimes não previstos no rol taxativo do art. 1º da Lei 8.072/90 não são considerados
hediondos, prezando-se pela segurança jurídica.
A cláusula salvatória é uma criação do advogado Alberto Zacharias Toron, segundo a qual
é possível que o juiz, no caso concreto, retire a hediondez do crime assim classificado pela lei.
Por exemplo, seria possível o juiz retirar a hediondez do homicídio qualificado, analisando
as circunstâncias do caso concreto.
O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo, embora não estejam previstos no rol do art. 1º
são crimes equiparados a hediondos. Ou seja, não são crimes hediondos, mas irão receber o
mesmo tratamento dispensado aos crimes hediondos.
TRÁFICO DE DROGAS
A hediondez do tráfico de drogas alcança as figuras previstas no art. 33, caput e no art. 34
da Lei de Drogas.
A figura privilegiada, prevista no art. 33, § 4º da Lei de Drogas, é uma causa de diminuição
da pena, a qual reúne 4 requisitos cumulativos:
1) Agente primário;
Surgiu uma tese defensiva sustentando que o art. 33, § 4º da Lei 11.343/2006 não seria tão
grave e, por isso, não poderia ser equiparado a hediondo. A jurisprudência atual acolhe esta
posição? SIM.
O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei de Drogas não deve ser
considerado crime equiparado a hediondo. Nesse sentido, segue alguns posicionamentos do STF:
O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve
ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
STJ. 3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 595).
Outrossim, destaca-se que o Pacote Anticrime incluiu o § 5º ao art. 112 da Lei de Execução
Penal:
TORTURA
TERRORISMO
8. VEDAÇÕES LEGAIS
Quanto ao indulto, importante destacar a polêmica existente, uma vez que a Constituição
Federal não faz referência, proibindo apenas a concessão de graça e anistia, igualmente a Lei de
Tortura que também proíbe apenas graça e anistia.
FIANÇA
Os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis. Significa dizer que o agente, quando
preso em flagrante, não poderá ser colocado em liberdade mediante o pagamento de fiança, seja
arbitrada pelo delegado ou pelo juiz.
LIBERDADE PROVISÓRIA
Na redação original da Lei 8.072/90 também era vedada a concessão de liberdade provisória
sem e com fiança.
Ocorre que desde a Lei 11.464/2007, a vedação da liberdade provisória sem fiança não mais
vigora. Assim, é possível que se conceda aos crimes hediondos liberdade provisória sem fiança,
desde que haja o convencimento do juiz – que, por vezes, é mais difícil do que os casos em que
simplesmente se arbitra uma fiança – bem como se demonstre que os requisitos da prisão
preventiva não estão presentes.
Atualmente, nos termos do art. 2º, § 1º da Lei 8.072/90, impõe-se o cumprimento de pena
em regime inicialmente fechado.
Durante 15 anos, de 1990 a 2005, o regime integrante fechado sempre foi considerado
constitucional pelo STF, mesmo diante de diversos argumentos contrários.
A Lei de Tortura, de 1997, previa que o condenado iria iniciar o cumprimento de pena em
regime fechado, argumento que foi utilizado por quem sustentava a inconstitucionalidade do regime
integralmente fechado, uma vez que o crime de tortura é equiparado a hediondo, recebendo o
mesmo tratamento. Portanto, deveria ser aplicado o regime inicialmente fechado.
O STF entendeu que não, pois era regra específica que se aplicava apenas aos crimes de
tortura, inclusive sumulou seu entendimento (Súmula 698).
Em 2006, com a Lei 11.464, o cumprimento da pena para os crimes hediondos iniciará em
regime fechado, pouco importando a quantidade da pena e a condição pessoal do sentenciado,
bem como fixou os requisitos para a progressão de regime:
Atenção para a progressão especial para a mulher gestante, mãe ou responsável por pessoa
com deficiência, previsto na LEP:
Art. 112, § 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de
regime são, cumulativamente:
2) STF (em 23/02/2006): decidiu que essa redação original do § 1º era inconstitucional (não
se podia proibir a progressão).
3) Como o STF afirmou que o § 1º era inconstitucional: as pessoas condenadas por crimes
hediondos ou equiparados passaram a progredir com os mesmos requisitos dos demais
crimes não hediondos (1/6, de acordo com o art. 112 da LEP).
5) Logo, a Lei 11.464/2007 foi mais gravosa para aqueles que cometeram crimes antes da
sua vigência (e que podiam progredir com 1/6). Por isso, ela é irretroativa.
a) A CF prevê o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI). Esse princípio também
deve ser observado no momento da fixação do regime inicial de cumprimento de pena.
Assim, a fixação do regime prisional também deve ser individualizada (ou seja, de acordo
com o caso concreto), ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado.
b) A CF prevê, no seu art. 5º, XLIII, as vedações que ela quis impor aos crimes hediondos
e equiparados (são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia). Nesse inciso, não
consta que o regime inicial para esses crimes tenha que ser o fechado. Logo, não poderia
o legislador estabelecer essa imposição de regime inicial fechado, por violar o princípio
da individualização da pena.
c) Desse modo, deve ser superado o disposto na Lei dos Crimes Hediondos
(obrigatoriedade de início do cumprimento de pena no regime fechado) para aqueles que
preencham todos os demais requisitos previstos no art. 33, §§ 2º, e 3º, do CP, admitindo-
se o início do cumprimento de pena em regime diverso do fechado.
O doutrinador destaca que a CF criou dois polos distintos: o primeiro deles está previsto no
art. 98, I em que há referência às infrações de menor potencial ofensivo, as quais recebem um
tratamento brando. Na extremidade oposta, há o art. 5º, XLIII que trata dos crimes hediondos e
equiparados, em que há um tratamento mais severo. Entre os polos, há os crimes comuns, que não
podem ter tratamento igual aos dois polos. Assim, não há coerência em dar aos crimes hediondos
o mesmo tratamento dos crimes comuns, violando-se a lógica constitucional.
Antes do Pacote Anticrime, a progressão de regime nos crimes hediondos seguia o disposto
no revogado § 2º do art. 2º da Lei 8.072/90, in verbis:
Art. 2º, § 2º, A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes
previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da
pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente,
observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de
julho de 1984 (Lei de Execução Penal). (Revogado pelo Pacote Anticrime).
a) 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime
hediondo ou equiparado, se for primário;
c) 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime
hediondo ou equiparado;
d) 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou
equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.
Importante consignar que o § 3º do art. 2º da Lei de Crimes Hediondos deve ser interpretado
conforme a Constituição.
Desta forma:
1) Réu processado preso: recorre preso (salvo se os motivos que ensejaram a prisão
preventiva não mais subsistirem).
2) Réu processado solto: recorre solto (salvo se surgirem fundamentos para a preventiva).
Salienta-se que no âmbito da LEP, o Pacote Anticrime vedou a saída temporária para os
condenados por crime hediondo com resultado morte:
Será possível apenas na fase investigatória, não podendo ser decretada no curso do
processo. Por isso, não é possível que o juiz decrete de ofício, dependendo de requerimento do MP
ou de representação da autoridade judicial.
Nos crimes em geral, será decretada por 5 dias podendo ser prorrogada por mais 5 dias. Já
nos crimes hediondos, a prisão temporária poderá ser decretada por 30 dias, sendo possível a
prorrogação por mais 30 dias, no caso de extrema e comprovada necessidade, nos termos do art.
2º, § 4º da Lei 8.072/90:
Este prazo da temporária não é computado no prazo para a conclusão do inquérito policial.
O art. 1º, III da Lei da Prisão Temporária traz um rol de crimes em que se admite esta
modalidade de prisão. Contudo, alguns crimes hediondos e equiparados, a exemplo da tortura, do
estupro de vulnerável, da falsificação de remédios etc., não constam no dispositivo. Diante disso,
indaga-se: cabe prisão temporária para esses delitos? Sim, pois a própria Lei dos Crimes Hediondos
prevê a prisão temporária.
Isto posto, pode-se inferir que a Lei dos Crimes Hediondos não só aumentou o prazo da
temporária para os crimes hediondos e equiparados, como também ampliou o rol de crimes que
admitem tal modalidade de prisão.
A Lei dos Crimes Hediondos faz referência a estabelecimentos penais de segurança máxima
em seu art. 3º, in verbis:
A lei não condiciona condenação por crime hediondo ou equiparado, bastando que seja um
condenado de alta periculosidade.
Salienta-se que o tráfico de pessoas, apesar de não ser crime hediondo ou equiparado, no
incidente de livramento condicional, segue os mesmos requisitos.
CRIME HEDIONDO/EQUIPARADO +
PRIMÁRIO + BONS ANTECEDENTES REINCIDENTE
TRÁFICO DE PESSOAS
• 2ª corrente: é o reincidente em crimes que violam o mesmo bem jurídico, ainda que em
tipos distintos. Por exemplo, latrocínio e extorsão mediante sequestro.
Por fim, destaca-se que a associação criminosa é crime hediondo, quando visa a prática
de crime hediondo ou equiparados.
Há corrente fomentando o diálogo das fontes, assim o art. 8º, parágrafo único da Lei dos
Crimes Hediondos deve ser norteado pela Lei 12.850/13 (para aprofundar, recomendamos o CS de
Organização Criminosa).
• 1ª corrente: não cabe, tendo em vista que tais benefícios são incompatíveis com a
gravidade dos crimes hediondos e equiparados.
• 2ª corrente: o legislador não deve proibir penas restritivas de direito e sursis com base
na gravidade em abstrato, devendo o juiz aquilatar no caso em concreto. É a corrente
adotada pelo STF.
19. REMIÇÃO