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Edição 2022

Lei 13.260/2016
Lei de Terrorismo

Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada

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TERRORISMO – LEI 13.260/16
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 2
1. MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO (MANDADOS DE PENALIZAÇÃO) ................................. 3
CONCEITO............................................................................................................................ 3
EXEMPLOS ........................................................................................................................... 3
2. CONTEXTO FÁTICO ................................................................................................................... 3
3. LEI 13.260/2016 ........................................................................................................................... 4
4. TERRORISMO ............................................................................................................................. 4
(IN)EXISTÊNCIA DO CRIME DE TERRORISMO NO BRASIL ANTES DA LEI 13.260/16 5
CONCEITO E PREVISÃO LEGAL........................................................................................ 5
BEM JURÍDICO TUTELADO ................................................................................................ 7
SUJEITOS DO CRIME .......................................................................................................... 7
4.4.1. Sujeito ativo.................................................................................................................... 7
4.4.2. Sujeito passivo ............................................................................................................... 8
TIPO OBJETIVO ................................................................................................................... 8
TIPO SUBJETIVO ................................................................................................................. 8
4.6.1. Dolo ................................................................................................................................ 8
4.6.2. Especial motivo de agir .................................................................................................. 8
4.6.3. Especial fim de agir ........................................................................................................ 9
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 10
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO CRIME DE TERRORISMO DO ART. 2º, CAPUT
DA LEI 13.260/2016 ....................................................................................................................... 10
DISTINÇÃO ENTRE TERRORISMO E ATOS DE TERRORISMO ................................... 10
MANIFESTAÇÕES SOCIAIS E TERRORISMO ................................................................ 11
5. ORGANIZAÇÃO TERRORISTA................................................................................................. 11
PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 11
CONCEITO.......................................................................................................................... 12
6. PREPARAÇÃO DE TERRORISMO ........................................................................................... 12
PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 12
ITER CRIMINIS ................................................................................................................... 12
RECRUTAMENTO DE COMBATENTES TERRORISTA .................................................. 13
7. FINANCIAMENTO AO TERRORISMO E ÀS ORGANIZAÇÕES TERRORISTAS ................... 14
PREVISÃO .......................................................................................................................... 14
CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................ 15
8. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ NA LEI 13.260/2016 ............ 15
9. JUIZ NATURAL PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES PREVISTOS NA LEI
13.260/2016 ....................................................................................................................................... 16
10. ATRIBUIÇÕES INVESTIGATÓRIAS EM RELAÇÃO AOS CRIMES PREVISTOS NA LEI
13.260/2016 ....................................................................................................................................... 16
11. APLICAÇÃO DAS DISPOSIÇÕES DA LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS PARA A
INVESTIGAÇÃO, PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES PREVISTO NA LEI
ANTITERRORISMO .......................................................................................................................... 16
12. CABIMENTO DE PRISÃO TEMPORÁRIA............................................................................. 17

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APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Legislação Penal Especial – Terrorismo possui como base as aulas do professor
Renato Brasileiro, do Curso G7 Jurídico.

Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2019 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2020, ambos da Editora
Juspodivm.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos da lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos! Bons estudos!

Equipe Cadernos Sistematizados.

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1. MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO (MANDADOS DE PENALIZAÇÃO)

CONCEITO

Segundo Alberto Silva Franco (Crimes Hediondos), mandado de criminalização é uma


norma constitucional que cria para o legislador infraconstitucional a obrigação de criminalizar certas
condutas que atentam contra o bem jurídico. Significa dizer que o bem jurídico é relevante, por isso
a própria Constituição Federal traz a previsão.

EXEMPLOS

Há, ao longo da CF, uma série de mandados de criminalização. Assim segue:

• Art. 5º, XLII: a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei;

• Art. 5º, XLIII: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura (Lei 9.455/97), o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (Lei
11.343/06), o terrorismo e os definidos como crimes hediondos (Lei 8072/90), por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

O terrorismo foi o último mandado de criminalização a ser atendido


pelo legislador infraconstitucional, 28 anos após a promulgação da
CF/88.

• Art. 5º, XLIX: constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

• Art. 173, § 5º: a lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa
jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis
com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra
a economia popular;

• Art. 225, § 3º: as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados;

• Art. 226, § 8º: o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos
que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações;

• Art. 227, § 4º: a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da
criança e do adolescente.

2. CONTEXTO FÁTICO

Apenas em 2016 foi editada a Lei Antiterrorismo, sendo um legado dos jogos olímpicos
ocorridos na Cidade do Rio de Janeiro, uma vez que foi imposta ao Brasil pela comunidade

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internacional. Além disso, o Brasil sofria pressão internacional para a criminalização do terrorismo
em razão do crime de lavagem de capitais.

3. LEI 13.260/2016

Art. 1º Esta Lei regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da


Constituição Federal, disciplinando o terrorismo, tratando de disposições
investigatórias e processuais e reformulando o conceito de organização
terrorista.

Ressalta-se que a Lei 13.260/2016 criou 4 figuras delituosas, quais sejam:

1) Terrorismo (art. 2º);

2) Organização terrorista (art. 3º);

3) Atos preparatórios de terrorismo (art. 5º);

4) Financiamento de terrorismo (art. 6º).

É mister evidenciar, em continuidade, o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição


Federal:

Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça


ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Observando-se o dispositivo constitucional acima exposto, percebe-se que apenas o crime


de terrorismo é equiparado a hediondo. Diante disso, indaga-se: todas as figuras delituosas estão
abrangidas ou apenas a do art. 2º da Lei 13.260/2016?

Há, na doutrina, 2 correntes:

• 1ª corrente (ampliativa): todos os crimes previstos na Lei 13.260/2016 (terrorismo,


organização terrorista, atos preparatórios de terrorismo e financiamento ao terrorismo)
são equiparados a hediondo.

• 2ª corrente (restritiva): apenas o delito do art. 2º é considerado terrorismo. Portanto,


apenas este será considerado hediondo.

Obs.: os demais delitos, apesar de não serem equiparados a


hediondos, terão as disposições da Lei dos Crimes Hediondos
aplicadas, conforme o art. 17 da Lei 13.260/2016.

Art. 17. Aplicam-se as disposições da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990,


aos crimes previstos nesta Lei.

4. TERRORISMO

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(IN)EXISTÊNCIA DO CRIME DE TERRORISMO NO BRASIL ANTES DA LEI 13.260/16

Entre o advento da Constituição Federal de 1988 e a Lei 13.260/2016, que entrou em vigor
em 18 de março de 2016, há divergência em relação à previsão do delito de terrorismo na legislação
brasileira.

Verifica-se, para tanto, as correntes que tratam sobre o assunto:

• 1ª corrente (minoritária): entende-se que a antiga Lei 7.170/83 (Lei de Segurança


Nacional), em seu art. 20, já trazia a previsão do delito de terrorismo

Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere


privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou
atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos
destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou
subversivas.

• 2ª corrente (majoritária): para o doutrinador Alberto Silva Franco, não havia previsão
legal. Sustentava-se que considerar o terrorismo como crime, nos termos do art. 20 da
Lei 7.170/83, era uma clara violação ao princípio da legalidade, por se referir
genericamente a atos de terrorismo, sem definir seu significado.

No mesmo sentido, o STF segue a 2ª corrente (PPE 730), afirmando que o delito de
terrorismo não estaria previsto no ordenamento jurídico brasileiro.

Contudo, com a vigência da Lei 13.260/2016, o terrorismo passou a ser previsto pelo
ordenamento jurídico brasileiro.

CONCEITO E PREVISÃO LEGAL

O delito de terrorismo está previsto no art. 2º da Lei 13.260/2016, in verbis:

Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos


previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar
terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz
pública ou a incolumidade pública.
§ 1º São atos de terrorismo:
I - Usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo
explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos,
nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição
em massa;
IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a
pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou
parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de
transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias,
hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas
ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de
geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de
exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias
e sua rede de atendimento;

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V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à
ameaça ou à violência.
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de
pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais,
religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos
sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar,
com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais,
sem prejuízo da tipificação penal contida em lei.

Destaca-se que a maioria dos atos descritos já são considerados crimes pelo CP, mas serão
considerados crime de terrorismo quando cometidos por razões de xenofobia, discriminação ou
preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror
social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade
pública.

Tem-se, ademais, as seguintes observações acerca do delito de terrorismo:

• O terrorismo é um crime unissubjetivo, uma vez que pode ser cometido individualmente,
sem prejuízo de ser praticado em concurso de pessoas;

• O delito de terrorismo possui um especial motivo de agir (razões de xenofobia,


discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião). Por isso, os ataques do PCC,
por exemplo, não podem ser considerados como atentados terrorista;

• O crime de terrorismo, além de ter um especial interesse de agir (motivo), possui um


especial fim de agir (para que), qual seja: provocar terror social ou generalizado;

• Trata-se de crime de perigo concreto, pois é necessária a demonstração que o ato de


terrorismo expôs, efetivamente, a situação de perigo;

• O parágrafo primeiro não traz crimes de terrorismo, mas sim atos que levam a prática do
delito (rol taxativo). Representam, portanto, condutas-meio para que o crime seja
executado.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-CE - Escrivão de Polícia - IDECAN - 2021): Configura ato de terrorismo
sabotar o funcionamento de instituições bancárias com o objetivo de provocar
terror social, servindo-se de mecanismos cibernéticos. Correto.

(PC-SP - Delegado - VUNESP - 2018): São atos de terrorismo incendiar,


depredar, saquear, destruir ou explodir meios de transporte ou qualquer bem
público ou privado. Errado.

(PC-SP - Delegado - VUNESP - 2018): São atos de terrorismo incendiar,


interferir, sabotar ou danificar sistemas de informática ou bancos de dados,
quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado.
Errado.

(ABIN - Oficial de Inteligência - CESPE - 2018): Para que o uso de


explosivos, gases tóxicos, conteúdos biológicos ou nucleares capazes de
causar danos ou destruição em massa caracterize terrorismo, deve-se expor

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a perigo a incolumidade pública com a finalidade de provocar terror
generalizado, por motivo de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia e religião. Correto.

(MPE-GO - Promotor de Justiça - MPE-GO - 2016): É ato de terrorismo a


conduta de apenas uma pessoa que, movida por preconceito religioso,
ameaça usar gases tóxicos capazes de promover destruição em massa com
a finalidade de provocar terror generalizado mediante a exposição da paz
pública a perigo. Correto.

BEM JURÍDICO TUTELADO

Na doutrina estrangeira, o crime de terrorismo possui, pelo menos, 3 bens jurídicos diversos,
bem como 3 correntes, sendo elas:

• 1ª corrente: mesmo bem jurídico tutelado pelo ato de terrorismo, haveria uma dupla
punição. Por exemplo, explodir uma bomba que mata dez pessoas, haveria dez
homicídios e o terrorismo. Confunde crime de terrorismo com atos de terrorismo, por isso
deve ser descartada.

• 2ª corrente: o terrorismo é um atentado contra a democracia, pois é um ato praticado


por motivações políticas. Em alguns países, o crime de terrorismo possui em sua
tipificação a finalidade de mudanças políticas. Contudo, não é o que acontece no Brasil,
razão pela qual deve ser desconsiderada.

• 3ª corrente: tutela-se a paz pública (sentimento coletivo de confiança/segurança).

Segundo Renato Brasileiro, essa deve ser a corrente adotada em provas de concurso, uma
vez que no Projeto de Novo Código Penal está inserido no Capítulo de Crimes contra a Paz Pública.

SUJEITOS DO CRIME

4.4.1. Sujeito ativo

Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Não se exige
qualidade especial do agente.

Nesse sentido, terrorismo é quando, com uma ou mais condutas, provoca-se um sentimento
coletivo de pânico. Assim, é necessária uma qualidade organizacional como elementar do crime de
terrorismo? Há divergência, conforme correntes abaixo:

• 1ª corrente (minoritária): o crime de terrorismo pressupõe uma organização terrorista.


Portanto, só pode ser praticado por mais de uma pessoa (crime plurissubjetivo).

• 2ª corrente (majoritária): é um crime unissubjetivo (art. 2º da Lei 13.260/2016), sendo


perfeitamente possível de ser praticado por um único indivíduo, a exemplo dos franco-
atiradores de W.D.C.

Lobo solitário (lone wolf): é aquele que organiza e executa atos de


terrorismo sozinho, sem estar conectado a um grupo e sem apoio

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material para execução. O FBI tem evitado usar a expressão “lobo
solitário”, preferindo a denominação “rato solitário”.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-CE - Escrivão de Polícia - IDECAN - 2021): Para a prática de terrorismo
exige-se a atuação de mais de um indivíduo. Errado.

4.4.2. Sujeito passivo

É a coletividade, pois trata-se de crime vago.

TIPO OBJETIVO

Consiste na execução reiterada e aleatória de crimes contra bens jurídicos


relevantes/essenciais.

O parágrafo primeiro do art. 2º, em um rol taxativo, traz a descrição dos atos de terrorismo,
ou seja, os meios de execução para a prática do terrorismo.

TIPO SUBJETIVO

Em regra, os crimes trazem apenas o dolo (consciência e vontade) como elemento subjetivo.
Contudo, há determinados delitos que exigem, além do dolo, um especial fim de agir, a exemplo do
crime de terrorismo que estamos analisando.

O dolo do crime de terrorismo é a vontade e a consciência de praticar os atos de terrorismo,


descritos no § 2º da Lei 13.260/2016, somado ao especial motivo de agir (xenofobia, discriminação,
preconceito de ração, cor, etnia e religião) e ao especial fim de agir (provocar temor generalizado).

TIPO
ESPECIAL
ESPECIAL FIM SUBJETIVO
DOLO MOTIVO DE
DE AGIR DO
AGIR
TERRORISMO

4.6.1. Dolo

O dolo poderá ser direto ou eventual.

Destaca-se que NÃO há terrorismo culposo.

4.6.2. Especial motivo de agir

Nos termos do caput do art. 2º da Lei 13.260/2016, o especial motivo de agir se dá em vitude
das seguintes razões:

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1) Xenofobia

A expressão xenofobia é formada por dois termos: xenos (estrangeiros) + phóbos (medo),
significando, portanto, aversão ao estrangeiro.

2) Discriminação

Significa promover distinção, exclusão, restrição ou preferência. Para ser crime,


obrigatoriamente, deve ser acompanhada de preconceito.

A discriminação poderá ser:

a) Positiva: está presente nas ações afirmativas (mecanismos para corrigir determinados
desvios). Ex.: cotas raciais.

b) Negativa: tratamento desigual entre pessoas que possuem características iguais.

3) Preconceito

É uma opinião formada antecipadamente.

Para caracterização da discriminação e preconceito deve haver ligação com a raça, com a
cor, com a etnia ou com a religião.

Obs.: o preconceito contra a orientação sexual não entra aqui.

4) Raça

Identificação do indivíduo segundo características físicas ou biológicas semelhantes.

A doutrina moderna critica o conceito de raça, pois não é possível estabelecer diferenças
entre seres humanos, uma vez que todos são iguais.

5) Cor

É a tonalidade da pele.

6) Etnia

Vínculos culturais semelhantes, a exemplo da língua.

7) Religião

Modo de manifestação da fé.

4.6.3. Especial fim de agir

É a intenção de causar terror social ou generalizado.

Para a definição do especial fim de agir é necessário compreender o método terrorista,


caracterizado por:

1) Caráter aleatório ou indiscriminado de escolhas das vítimas (vítimas sem rosto);

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2) Instrumentalização das vítimas (intimidação massiva);

De acordo com a doutrina, há 2 formas de instrumentalização, quais sejam:

a) Instrumentalização em primeiro grau: as vítimas do ataque terrorista são usadas como


meio necessário para disseminação do terror em um grupo mais amplo da sociedade;

b) Instrumentalização em segundo grau: visa atingir o Governo para se buscar certas


finalidades políticas.

3) Perspectiva de reiteração dos atos. Não se trata de um crime habitual;

4) Terrorismo e mídia: mesmo sem querer, a mídia distribui os atentados terroristas,


contribuindo com a disseminação do terror geral.

Obs.: não há necessidade de finalidade política no Brasil.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime de terrorismo estará consumado quando restar consumado um dos atos terroristas,
presente o especial fim de agir e o especial modo de agir.

A tentativa é possível em algumas hipóteses, desde que o agente inicie a execução do ato
terrorista, mas não consiga concluir a conduta típica. Em tal hipótese, deve ser aplicada a regra do
art. 14, parágrafo único, do Código Penal, que prevê redução da pena de 1/3 até 2/3.

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO CRIME DE TERRORISMO DO ART. 2º, CAPUT


DA LEI 13.260/2016

1) Crime comum: praticado por qualquer pessoa;

2) Crime unissubjetivo: pode ser praticado por um único indivíduo;

3) Crime de perigo concreto: exige-se a criação de uma situação de perigo;

4) Crime formal: a produção do resultado não é necessária para a consumação do delito;

5) Crime de ação múltipla ou conteúdo variado: há vários núcleos;

6) Crime de intenção: exige-se um agir com ânimo;

7) Crime de resultado cortado: será caracterizado mesmo que não cause terror social.

DISTINÇÃO ENTRE TERRORISMO E ATOS DE TERRORISMO

O crime de terrorismo está previsto no caput do art. 2º e não se confunde com os atos de
terrorismo previsto no § 1º do art. 2º da Lei 13.260/2016.

Destaca-se que é norma penal em branco homogênea homovitelina, considerando que o


complemento é oriundo da mesma fonte legislativa, conforme pode ser visualizado abaixo:

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Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos
previstos neste artigo (norma penal em branco), por razões de xenofobia,
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos
com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo
pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.

MANIFESTAÇÕES SOCIAIS E TERRORISMO

As manifestações sociais não podem ser consideradas como terrorismo, nos termos do art.
2º, § 2º da Lei Antiterrorismo, in verbis:

Art. 2º, § 2º O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou


coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais,
sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por
propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar
ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades
constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei.

O disposto acima deve ser aplicado aos demais crimes previstos na Lei 13.260/2016, em
uma interpretação extensiva.

Salienta-se que as manifestações sociais não configuram terrorismo, mas podem


caracterizar outras tipificações penais, a exemplo do crime de dano.

Para o doutrinador Victor Eduardo Rios Gonçalves, o não enquadramento como crime de
terrorismo em razão desse dispositivo somente será possível quando restar plenamente
comprovado no caso concreto que o intuito dos envolvidos na manifestação ou no movimento era
exclusivamente o de contestar, criticar, apoiar ou defender direitos, garantias, liberdades etc.

De outro lado, se ficar provado que apenas usaram o movimento como “fachada” para, em
verdade, de algum modo provocar terror social ou generalizado – tal como mencionado no caput –
estará tipificado o delito.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-CE - Escrivão de Polícia - IDECAN - 2021): É possível tipificação de
terrorismo à conduta coletiva de pessoas em manifestações políticas com
propósitos reivindicatórios. Errado.

5. ORGANIZAÇÃO TERRORISTA

PREVISÃO LEGAL

Está disposto no art. 3º da Lei Antiterrorismo:

Art. 3º Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por


interposta pessoa, a organização terrorista:
Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.

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CONCEITO

De acordo com Renato Brasileiro, deve-se utilizar o conceito de organização criminosa,


previsto na Lei 12.850/13, acrescentando-se o conceito de terrorismo (art. 2º).

Art. 1º, § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro)


ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de
infrações penais (crime de terrorismo) cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional

Para que seja considerada uma organização terrorista, é necessário que os envolvidos
tenham se associado com a intenção de cometer atos terroristas de forma reiterada. Trata-se de
crime formal que se consuma no momento da associação. Caso seus integrantes venham
efetivamente a cometer algum dos crimes de terrorismo descritos no art. 2º da Lei responderão
pelas duas infrações penais em concurso material.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-CE - Escrivão de Polícia - IDECAN - 2021): Aquele que presta auxílio a
organização terrorista não pratica crime descrito na Lei 13.620/2016. Errado.

6. PREPARAÇÃO DE TERRORISMO

PREVISÃO LEGAL

Art. 5º Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco


de consumar tal delito
Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a
metade.
§ 1º Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de praticar
atos de terrorismo:
I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país
distinto daquele de sua residência ou nacionalidade; ou
II - fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua
residência ou nacionalidade.
§ 2º Nas hipóteses do § 1º, quando a conduta não envolver treinamento ou
viagem para país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade, a pena
será a correspondente ao delito consumado, diminuída de metade a dois
terços.

Pode-se verificar que no art. 5º da Lei Antiterrorismo, o legislador estabeleceu que quem
realiza atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito incorre
na pena do delito consumado, diminuída de 1/4 até 1/2. Tal redução de pena é menor do que aquela
prevista no Código Penal para o crime tentado, embora, nesta última hipótese (tentativa), o agente
já tenha percorrido parte maior do iter criminis.

ITER CRIMINIS

CS – TERRORISMO 2023.1 12

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COGITAÇÃO PREPARAÇÃO EXECUÇÃO CONSUMAÇÃO

Criação das condições


Todos os atos
necessárias para a
Pensamentos para foram praticados
execução do delito. Início dos atos.
prática do crime. para realização
Em regra, não são do crime
puníveis.

Há delitos em que, devido a gravidade, os atos preparatórios são puníveis, a exemplo do


crime previsto no art. 5º da Lei Antiterrorismo.

Salienta-se que não há nenhum problema em criminalizar atos preparatórios. Contudo, o


grande problema do art. 5º é a falta de definição do que é considerado um “ato preparatório”. Por
isso, a doutrina questiona a constitucionalidade do caput do art. 5º da Lei de Terrorismo, em face
da violação do princípio da legalidade e da taxatividade.

O STJ (HC 537.118) entende que a tipificação da conduta descrita no art. 5º da Lei
Antiterrorismo (atos preparatórios de terrorismo) exige a motivação por razões de xenofobia,
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, expostas no art. 2º do mesmo diploma
legal.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-CE - Escrivão de Polícia - IDECAN - 2021): Não constitui crime de
terrorismo realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito de
consumar tal delito, pois cogitação e atos preparatórios não são puníveis.
Errado.

(PC-SP - Delegado - VUNESP - 2018): Aquele que for flagrado constituindo


uma organização terrorista, não cometerá um crime, estando sujeito a
responsabilização por realizar atos preparatórios do terrorismo. Errado.

(PC-SP - Investigador - VUNESP - 2018): Nos termos da Lei n° 13.260/16


(Lei Antiterrorismo), aquele que realizar atos preparatórios de terrorismo com
o propósito inequívoco de consumar tal delito responderá pelo delito
consumado com diminuição de pena. Correto.

(DPE-SC - Defensor Público - FCC - 2017): A Lei Antiterrorismo (Lei no


13.260/2016) prevê a punição de atos preparatórios de terrorismo quando
realizado com o propósito inequívoco de consumar o delito. Correto.

(MPE-GO - Promotor de Justiça - MPE-GO - 2016): É penalmente típica a


conduta de realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito
inequívoco de consumar tal delito. Essa hipótese configura um crime
obstáculo que não se compraz, segundo a Lei 13.260/2016, com a
resipiscência. Errado.

RECRUTAMENTO DE COMBATENTES TERRORISTA

CS – TERRORISMO 2023.1 13

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É o delito previsto no art. 5º, § 1º da Lei 13.260/2016, de acordo com a doutrina.

De acordo com o doutrinador Renato Brasileiro, o combatente terrorista estrangeiro é a


pessoa que viaja para um Estado distinto daquele de sua nacionalidade ou de sua residência, com
o fim de perpetrar, planejar, preparar ou participar de atos terroristas, ou fornecer ou receber
treinamento para o terrorismo, inclusive em conexão com conflitos armados.

Além disso, destaca-se que o treinamento para terrorismo deve ser compreendido como o
fato de dar instruções para o fabrico ou para utilização de explosivos, armas de fogo ou de outras
armas ou substâncias nocivas ou perigosas ou para outros métodos e técnicas específicas,
considerando a prática de uma infração terrorista ou que contribua para sua pratica, sabendo que
os conhecimentos específicos fornecidos visam a realização de tal objetivo.

7. FINANCIAMENTO AO TERRORISMO E ÀS ORGANIZAÇÕES TERRORISTAS

PREVISÃO

Previsto no art. 6º da Lei 13.260/2016, possui a seguinte redação legal:

Art. 6º Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito,


solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente, recursos, ativos,
bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para o
planejamento, a preparação ou a execução dos crimes previstos nesta Lei:
Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem oferecer ou receber, obtiver,
guardar, mantiver em depósito, solicitar, investir ou de qualquer modo
contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso financeiro, com a
finalidade de financiar, total ou parcialmente, pessoa, grupo de pessoas,
associação, entidade, organização criminosa que tenha como atividade
principal ou secundária, mesmo em caráter eventual, a prática dos crimes
previstos nesta Lei.

Trata-se de exceção à teoria monista.

Além disso, assemelha-se ao crime de financiamento para o tráfico de drogas (art. 33 da Lei
de Drogas).

Sobre o tema, tem-se o seguinte julgado do STF1:

Não se deve conceder a extradição se, na época do fato, a conduta imputada


ao extraditando não era punida como crime no Brasil, ainda que, no momento
do pedido de extradição, já exista lei tipificando como infração penal. Isso
porque seria uma ofensa à irretroatividade da lei penal brasileira. Ex:
extraditando financiou grupo terrorista em 2013; ocorre que a Lei de
Terrorismo somente foi editada em 2016 (Lei nº 13.260/2016). Não se deve
conceder a extradição se a conduta do extraditando de financiar grupo
terrorista que pretendia tomar o poder caracteriza-se como crime

1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não se deve conceder a extradição se a conduta do extraditando de financiar grupo terrorista
que pretendia tomar o poder caracteriza-se como crime político. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/f1398d2c9b3610251169157332225c49>. Acesso em: 05/12/2022.

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político, tendo em vista a vedação prevista no art. 5º, LII, da CF/88. Não
se deve conceder a extradição se o país requerente vem enfrentando um
quadro de instabilidade política, tendo ocorrido a demissão de juízes e a
prisão de opositores do governo. Isso porque, neste caso, haveria o risco de
o extraditando ser submetido a um tribunal ou juízo de exceção (art. 82, VIII,
da Lei nº 13.445/2017).STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 6/8/2019 (Info 946).

CLASSIFICAÇÃO

1) Crime comum;

2) Crime formal;

3) Crime unissubjetivo;

4) Crime instantâneo.

8. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ NA LEI 13.260/2016

Insta evidenciar, a priori, o disposto nos arts. 15 e 16 do Código Penal:

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução


ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços

A Lei 13.260/2016, por outro lado, prevê em seu art. 10 que mesmo antes de iniciada a
execução do crime de terrorismo, serão aplicados os institutos da desistência voluntária e do
arrependimento eficaz (ponte de ouro):

Art. 10. Mesmo antes de iniciada a execução do crime de terrorismo, na


hipótese do art. 5o desta Lei, aplicam-se as disposições do art. 15 do Decreto-
Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.

No Código Penal tais institutos são aplicados apenas aos casos em que já houver iniciado a
execução do crime, diferentemente da Lei de Terrorismo, que incide já na preparação.

Assim, se o integrante de uma organização terrorista envolve-se em atos preparatórios de


um atentado terrorista específico, mas se arrepende antes do início da execução e desiste de tomar
parte no delito, não incorrerá no delito do art. 5º (tomar parte em ato preparatório de ato terrorista),
em razão da regra do art. 10. Responderá, contudo, pelo delito do art. 3º por ter integrado a
organização terrorista.

Frise-se, ainda, que quem integra organização terrorista e vem efetivamente a cometer ato
terrorista responde pelos dois crimes em concurso material.

CS – TERRORISMO 2023.1 15

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9. JUIZ NATURAL PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES PREVISTOS NA
LEI 13.260/2016

Está previsto no art. 11 da Lei 13.260/2016:

Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos
nesta Lei são praticados contra o interesse da União, cabendo à Polícia
Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça
Federal o seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art.
109 da Constituição Federal.

À luz do art. 11, o juiz natural seria um Juiz Federal, tendo em vista que o dispositivo legal
acima preleciona que o crime atenta contra o interesse da União.

Contudo, para parte da doutrina, há sério problema de inconstitucionalidade, pois tutela-se


a paz pública, que não é um bem da União. O combate ao terrorismo é de interesse de todos e não
apenas da União. Por isso, o correto seria afirmar que a competência é da Justiça Estadual.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-SP - Delegado - VUNESP - 2018): Os crimes previstos na Lei no
13.260/2016 (Lei Antiterrorismo) são praticados contra o interesse da União,
cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito
policial. Correto.

(MPE-GO - Promotor de Justiça - MPE-GO - 2016): A Lei do Terrorismo


considerou que os crimes nela previstos são praticados contra o interesse da
União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de
inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e julgamento, nos
termos do inciso IV do art. 109 da Constituição da República. Correto.

10. ATRIBUIÇÕES INVESTIGATÓRIAS EM RELAÇÃO AOS CRIMES PREVISTOS NA LEI


13.260/2016

Segundo Renato Brasileiro, não há nenhum óbice à investigação pela polícia federal, a qual,
de acordo com a Constituição Federal, poderá investigar crimes dotados de repercussão
interestadual ou internacional.

Art. 144, § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
segundo se dispuser em lei.

11. APLICAÇÃO DAS DISPOSIÇÕES DA LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS PARA A


INVESTIGAÇÃO, PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES PREVISTO NA LEI
ANTITERRORISMO

CS – TERRORISMO 2023.1 16

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A Lei 13.260/2016 não tratou dos procedimentos investigatórios e, por conta disso, faz
referência à Lei das Organizações Criminosas para a investigação, processo e julgamento de todos
os crimes previstos, nos seguintes termos:

Art. 16. Aplicam-se as disposições da Lei nº 12.850, de 2 agosto de 2013,


para a investigação, processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei.

Destaca-se que o julgamento dos crimes previstos na Lei de Organização Criminosa é


regulamentado pela Lei 12.694/2012 (Juízos Colegiados).

12. CABIMENTO DE PRISÃO TEMPORÁRIA

Foi também inserida regra no art. 1º, III, “p”, da Lei 7.960/86, permitindo a prisão temporária
para os envolvidos em crime de terrorismo quando tal providência for imprescindível para as
investigações durante o inquérito policial.

Saliente-se que esta forma de prisão cautelar só é permitida nos delitos expressamente
elencados na mencionada Lei, razão pela qual o legislador resolveu inserir expressamente o delito
de terrorismo no rol.

Vê-se, entretanto, que o art. 2º, § 4º, da Lei dos Crimes Hediondos já continha regra tornando
possível a decretação da prisão temporária para o crime de terrorismo. Em tal hipótese, inclusive,
a prisão temporária pode ser decretada por até trinta dias, prorrogáveis por igual período em caso
de extrema e comprovada necessidade.

A prisão preventiva, por sua vez, será possível sempre que presentes os requisitos legais,
nos termos dos arts. 312 e seguintes do Código de Processo Penal.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-GO - Promotor de Justiça - MPE-GO - 2016): A prisão temporária
daquele que pratica qualquer dos crimes previstos na Lei do Terrorismo terá
o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema
e comprovada necessidade. Correto.

CS – TERRORISMO 2023.1 17

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