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Curso OAB

a
1 FASE XXIX

PROCESSO CIVIL
Prof. Leonardo Fetter
SUMÁRIO

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL ........................................ 8


1.1 Princípio do devido processo legal ................................................................................................ 9
1.2 Princípio da isonomia .................................................................................................................... 9
1.3 Princípio do juiz natural ou da imparcialidade do juiz .......................................................... 11
1.4 Princípio do contraditório e da ampla defesa ....................................................................... 12
1.5 Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional / princípio do acesso à justiça .............. 14
1.6 Princípio da motivação das decisões judiciais............................................................................. 14
1.7 Princípio da boa-fé processual .................................................................................................... 14
1.8 Duração razoável do processo .................................................................................................... 15
1.9 Princípio do duplo grau de jurisdição.......................................................................................... 16
1.10 Princípio da proporcionalidade e razoabilidade ....................................................................... 17
1.11 Princípio da Legalidade: ........................................................................................................ 17
1.12 Princípio da publicidade dos atos processuais ...................................................................... 18
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO ................................................................................. 19
2.1 Investidura................................................................................................................................... 19
2.2 Indelegabilidade .......................................................................................................................... 20
2.3 Aderência ou territorialidade ...................................................................................................... 20
2.4 Indeclinabilidade ......................................................................................................................... 20
2.5 Inércia .......................................................................................................................................... 21
ATOS PROCESSUAIS .............................................................................................. 21
3.1 Teoria geral e espécies ................................................................................................................ 21
3.2 Sistema de transmissão de dados: fac-símile ou outro similar ................................................... 23
3.3 Processo eletrônico ..................................................................................................................... 24
3.4 Nulidades..................................................................................................................................... 27
3.5 Ineficácia ..................................................................................................................................... 28
3.6 Expediente forense ..................................................................................................................... 28
3.7 Processo calendário .................................................................................................................... 29
ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO .................................................................................... 30
LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL .................................................................... 30
TUTELAS PROVISÓRIAS......................................................................................... 31
PROCESSO DE CONHECIMENTO.......................................................................... 32
7.1 Procedimentos no novo processo civil........................................................................................ 32

1
PETIÇÃO INICIAL ..................................................................................................... 33
8.1 Endereçamento ........................................................................................................................... 33
8.2 Da qualificação das partes........................................................................................................... 34
EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL ............................................................................... 36
INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL E IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO ......... 37
10.1 Juízo de admissibilidade: ........................................................................................................... 37
10.2 Indeferimento da petição inicial: .............................................................................................. 38
10.3 Hipóteses de indeferimento (art. 330, CPC): ............................................................................ 40
10.4 Improcedência liminar do pedido: ............................................................................................ 43
10.5 Requisitos para improcedência liminar:.................................................................................... 44
CITAÇÃO .................................................................................................................. 45
11.1 Formas de citação ..................................................................................................................... 46
11.2 Nulidade da citação ................................................................................................................... 48
11.3 Não poderá ser citado: .............................................................................................................. 49
MECANISMOS DE SOLUÇÃO ADEQUADA DE CONFLITOS ................................. 50
12.1 Da conciliação e mediação ........................................................................................................ 51
12.3 Ausência das partes em audiência ............................................................................................ 53
12.4 Prazo para defesa ...................................................................................................................... 53
12.5 Mediação ................................................................................................................................... 54
12.6 Funções do mediador ................................................................................................................ 54
12.7 Conciliação e mediação envolvendo o Poder Público............................................................... 55
12.8 A mediação extrajudicial dos direitos disponíveis e indisponíveis transacionáveis ................. 56
12.9 Audiência de conciliação após o encerramento da fase postulatória ...................................... 57
DO DESINTERESSE DAS PARTES......................................................................... 57
13.1 Prazo para defesa ...................................................................................................................... 59
ARBITRAGEM E A LEI 9.307/96 COM AS MODIFICAÇÕES INTRODUZIDAS PELA
LEI Nº 13.129/15 ....................................................................................................... 60
14.1 A conciliação e a mediação judiciais no CPC e na Lei nº 13.140/15 ......................................... 60
LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIROS .......................................... 61
CUSTAS PROCESSUAIS ......................................................................................... 64
16.1 Justiça gratuita .......................................................................................................................... 64
16.2 Má-fé na relação processual ..................................................................................................... 66
16.3 Responsabilidade por dano processual..................................................................................... 67
16.4 Dever de colaboração ............................................................................................................... 67
PRECLUSÃO ............................................................................................................ 68
17.1 Preclusão temporal ................................................................................................................... 68

2
17.2 Preclusão lógica ......................................................................................................................... 68
17.3 Preclusão consumativa.............................................................................................................. 69
17.4 Preclusão “pro judicato” ........................................................................................................... 69
CONTESTAÇÃO E RECONVENÇÃO ....................................................................... 70
18.1 Formas de resposta: .................................................................................................................. 70
18.2 Princípio da Eventualidade ou da concentração de defesa: ..................................................... 71
18.3 Ônus da impugnação especificada: ........................................................................................... 72
18.4 Prazo para contestação: ............................................................................................................ 72
18.5 Preliminares: ............................................................................................................................. 74
18.6 Defesas que devem ser alegadas fora da contestação ou que podem ser alegadas depois da
contestação: ...................................................................................................................................... 80
18.7 Aditamento ou indeferimento da contestação:........................................................................ 81
18.8 Reconvenção ............................................................................................................................. 82
REVELIA ................................................................................................................... 83
19.1 São efeitos da revelia: ............................................................................................................... 86
19.2 Quando a revelia não produz seus efeitos: ............................................................................... 86
19.3 Observações importantes sobre a revelia:................................................................................ 87
COMPETÊNCIA ........................................................................................................ 87
20.1 Incompetência........................................................................................................................... 89
20.2 Modificação de competência .................................................................................................... 90
SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO ................................................................................ 92
21.1 Arguição de impedimento ou suspeição ................................................................................... 92
21.2 Hipóteses de impedimento ....................................................................................................... 93
21.3 Hipóteses de suspeição ............................................................................................................. 95
RÉPLICA ................................................................................................................... 96
FORMAÇÃO E SUSPENSÃO DO PROCESSO ....................................................... 97
23.1 Suspensão do processo ............................................................................................................. 97
PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES.......................................................................... 100
JULGAMENTO CONFORME ESTADO DO PROCESSO: EXTINÇÃO PARCIAL OU
TOTAL DO PROCESSO ......................................................................................... 101
25.1 Providências preliminares ....................................................................................................... 101
25.2 Julgamento conforme estado do processo ............................................................................. 103
25.4 Julgamento antecipado do mérito .......................................................................................... 104
25.5 Julgamento antecipado parcial do mérito .............................................................................. 105
DESPACHO SANEADOR ....................................................................................... 106
AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO ................................................................................. 107
27.1 Dos atos em audiência: ........................................................................................................... 109

3
27.2 Antecipação e adiamento da audiência de instrução e julgamento: ...................................... 109
27.3 Conciliação .............................................................................................................................. 110
27.4 Documentos da audiência ....................................................................................................... 111
27.5 Estrutura da audiência ............................................................................................................ 111
TEORIA GERAL DA PROVA .................................................................................. 112
28.1 Conceito de prova ................................................................................................................... 112
28.2 Características e objeto da prova............................................................................................ 113
28.3 Valoração da prova ................................................................................................................. 114
28.4 A quem cabe o requerimento de produção de provas? ......................................................... 115
28.5 Ônus da prova ......................................................................................................................... 116
28.5.1 Ônus da prova em ações do consumidor ............................................................................. 118
28.6 Provas por presunção.............................................................................................................. 118
28.7 Provas ilícitas ........................................................................................................................... 119
28.8 Instrução por meio de carta precatória ou rogatória ............................................................. 119
28.9 Dever de cooperação: ............................................................................................................. 120
28.10 Prova emprestada ................................................................................................................. 121
28.11 Produção antecipada de provas ............................................................................................ 121
28.11.1Tipos de provas que podem ser antecipadas...................................................................... 123
28.11.2 Competência ...................................................................................................................... 123
28.11.3 Petição e procedimento ..................................................................................................... 124
28.11.4 Medida inaudita altera parte ............................................................................................. 126
28.11.5 Destino dos autos ............................................................................................................... 126
PROVAS EM ESPÉCIE........................................................................................... 126
29.1 Ata notarial .............................................................................................................................. 127
29.2 Depoimento pessoal ............................................................................................................... 129
29.3 Confissão: conceito ................................................................................................................. 131
29.3.1 (In)eficácia da confissão: ...................................................................................................... 132
29.3.2 Classificação da confissão: ................................................................................................... 133
29.3.3 Efeitos da confissão:............................................................................................................. 134
29.3.4 Indivisibilidade da confissão................................................................................................. 135
29.4 Exibição de documento ou coisa:............................................................................................ 135
29.4.1 Procedimento e efeitos da exibição requerida contra a parte ............................................ 135
29.4.2 Quando o documento ou coisa estiver em poder de terceiros: .......................................... 137
29.5 Prova documental: conceito e força probante ....................................................................... 139

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29.5.1 Documentos públicos ........................................................................................................... 140
29.5.2 Documentos particulares ..................................................................................................... 141
29.5.3 Alguns documentos regulados pelo CPC:............................................................................. 143
A) Telegrama, radiograma ou qualquer outro meio de transmissão: ......................................... 143
B) Cartas e registros domésticos: ................................................................................................ 143
C) Nota escrita: ............................................................................................................................ 144
D) Livros empresariais:................................................................................................................. 144
E) Reproduções mecânicas de coisas ou fatos: ........................................................................... 144
F) Arguição de falsidade de documento ..................................................................................... 145
29.5.4 Procedimento do incidente de falsidade ............................................................................. 146
29.5.5 Produção da prova documental ........................................................................................... 146
29.5.6 Produção de prova que pertencem à administração pública: ............................................. 148
29.5.7 Documentos eletrônicos ...................................................................................................... 149
29.6 Prova testemunhal: conceito e admissibilidade ..................................................................... 150
29.6.1 Direitos e deveres da testemunha: ...................................................................................... 151
29.6.2 Produção da prova testemunhal: ......................................................................................... 154
29.7 Prova pericial ........................................................................................................................... 157
29.8 Inspeção judicial ...................................................................................................................... 160
EXTINÇÃO DO PROCESSO .................................................................................. 160
30.1 Alegações Finais ...................................................................................................................... 160
30.2 Sentença .................................................................................................................................. 161
30.3 Sentença terminativa: extinção do processo SEM resolução do mérito ................................ 162
30.4 Sentença definitiva: extinção do processo COM resolução do mérito ................................... 166
30.5 Estrutura e formalidades da sentença .................................................................................... 167
30.6 Classificação da sentença ........................................................................................................ 169
30.7 Remessa necessária ................................................................................................................ 169
PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO................................................................................. 170
31.1 Princípio da autonomia da execução ...................................................................................... 170
31.2 Princípio do título .................................................................................................................... 171
31.3 Princípio da patrimonialidade / responsabilidade patrimonial .............................................. 171
31.4 Princípio da disponibilidade da execução ............................................................................... 171
31.5 Princípio do exato adimplemento e da utilidade .................................................................... 172
31.6 Princípio da menor onerosidade ............................................................................................. 172
31.7 Princípio do contraditório ....................................................................................................... 172

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AS PARTES NA RELAÇÃO PROCESSUAL EXECUTIVA ..................................... 172
REQUISITOS DA EXECUÇÃO ............................................................................... 176
33.1 Inadimplemento do devedor .................................................................................................. 176
33.2 Titulo executivo ....................................................................................................................... 177
33.2.1 Requisitos do título executivo .............................................................................................. 178
RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL ................................................................... 178
34.1 Responsabilidade patrimonial de terceiros ............................................................................ 181
LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA ................................................................................ 184
35.1 Liquidação provisória .............................................................................................................. 184
35.2 Liquidação de sentença parcialmente ilíquida ........................................................................ 185
35.3 Liquidação por arbitramento x Liquidação pelo procedimento comum ................................ 185
MEIOS DE EXECUÇÃO .......................................................................................... 186
36.1 Execução de título extrajudicial: regras gerais ........................................................................ 186
36.2 Execução por quantia certa..................................................................................................... 188
36.2.1 Processo de execução para entrega de coisa certa ............................................................. 196
36.3 Processo de execução para entrega de coisa incerta ............................................................. 198
36.4 Processo de execução de obrigação de fazer e não fazer....................................................... 198
36.5 Execução contra fazenda pública ............................................................................................ 200
36.6 Execução de alimentos ............................................................................................................ 200
FRAUDE A EXECUÇÃO E FRAUDE CONTRA CREDORES ................................. 200
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ........................................................................... 203
38.1 Cumprimento de sentença: obrigação de fazer, não fazer e entrega de coisa certa ............. 204
38.2 Cumprimento de sentença de quantia certa .......................................................................... 204
38.3 Cumprimento de sentença de quantia certa contra fazenda pública..................................... 205
38.4 Cumprimento de sentença de prestação de alimentos .......................................................... 206
PROTESTO DA DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO E
NEGATIVAÇÃO DO NOME DO DEVEDOR ........................................................... 206
A HIPOTECA JUDICIÁRIA ...................................................................................... 207
SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DAS EXECUÇÕES.................................................... 208
41.1 Suspensão das execuções ....................................................................................................... 208
41.2 Extinção das execuções ........................................................................................................... 209
DEFESA DO EXECUTADO .................................................................................... 210
42.1 Defesa do executado ............................................................................................................... 210
42.2 Embargos à execução .............................................................................................................. 210
42.3 Procedimento dos embargos .................................................................................................. 213
42.4 Impugnação ao cumprimento de sentença ............................................................................ 217
42.4.1 Procedimento da impugnação ao cumprimento de sentença ............................................. 219

6
EXCEÇÕES DE PRÉ-EXECUTIVIDADE ................................................................ 220
DEFESA DO EXECUTADO APÓS A APRESENTAÇÃO DOS EMBARGOS ......... 221
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 223

7
01 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O conflito entre pessoas e o conflito que pode resultar na instauração de um


processo judicial são diferentes. No processo há a interferência judicial, na figura de
um juiz, cuja a função é a de aplicar a lei ao caso concreto, na busca da pacificação
social, através de um mecanismo político e ético (GONÇALVES; LENZA, 2016).

Processo Civil é um dos subgrupos de processo, ainda se tem processo penal


e processo do trabalho. O processo civil tem ligação com todos os demais ramos do
direito, entre eles, com o Direito Constitucional.
Direito material (direito primário) é aquilo que pertence a cada um, por
exemplo o direito de um filho de postular alimento do pai. O direito processual
(direito secundário) é aquele de pleitear perante o Estado um direito material
desrespeitado, onde, através das normas de direito processual, o Estado-juiz fará
valer o direito.
O direito processual é formado por um conjunto de normas processuais, que,
segundo Fredie Didier Jr (2016), podem ser princípios (como o devido processo
legal) ou regras (como a proibição do uso de provas ilícitas). A norma é fundamental
porque estrutura o modelo do processo civil brasileiro e serve de norte para
compreensão de todos atos e procedimentos, portanto, além da regra é muito
importante estudar os princípios do direito processual, pois visam alcançar o estado
de coisas ideal. Assim, neste primeiro problema, vamos revisar alguns dos principais
princípios do processo civil.

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1.1 Princípio do devido processo legal

O direito ao processo é uma das garantias constitucionais, direito fundamental


previsto no artigo 5º, inciso XXXV, portanto, é um princípio constitucional e
processual.
O princípio do devido processo legal, também conhecido como due process of
law, significa dizer que para a composição da lide será prestada a tutela jurisdicional
e essa tutela deverá seguir as normas processuais traçadas, dais quais o Estado
não poderá declinar, sob pena de violação do princípio do devido processo leal.
Encontra-se previsto no artigo 5º, inciso LIV e LV, da Constituição Federal, que diz
que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal”.
O devido processo legal está relacionado com o outros princípios, como:
contraditório, ampla defesa e duração razoável do processo. A finalidade do devido
processo legal é não permitir o abuso de direito, ou seja, prezar por um processo
justo e equânime.

1.2 Princípio da isonomia

Trata-se de um princípio que visa dar tratamento igual às partes, objetivando


um processo justo e equilibrado. Encontra-se presente no artigo 5º, caput, da
Constituição Federal, bem como no artigo 7º do CPC, com as seguintes redações:

Art. 5o. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes.

Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao


exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos

9
ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao
juiz zelar pelo efetivo contraditório.

Também está vinculado ao princípio da isonomia o direito ao contraditório e


ampla defesa, conforme artigo 5º, inciso LV, da CF, e as súmulas vinculantes
número 5 e 14. A isonomia formal é aquela que busca tratamento igualitário sem
levar em consideração diferenças entre os sujeitos da ação, já a isonomia real, a
qual leva em consideração a peculiaridade de cada sujeito, é a famosa frase “tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade”.
Pelo princípio da isonomia o juiz deve ser imparcial ao conduzir o processo e
emergindo circunstâncias que geram a parcialidade, o juiz deve afastar-se ou ser
afastado.
Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções
no processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito,
funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como
testemunha;
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou
membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro,
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa
jurídica parte no processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer
das partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha
relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por
advogado de outro escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
§ 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o
defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já
integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz.
§ 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar
impedimento do juiz.
§ 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de
mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus
quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista,
mesmo que não intervenha diretamente no processo.

Art. 145. Há suspeição do juiz:


I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;

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II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes
ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca
do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do
litígio;
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu
cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro
grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das
partes.
§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões.
§ 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I - houver sido provocada por quem a alega;
II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta
aceitação do arguido.

Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição:


I - ao membro do Ministério Público;
II - aos auxiliares da justiça;
III - aos demais sujeitos imparciais do processo.
§ 1o A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em
petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade
em que lhe couber falar nos autos.
§ 2o O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão
do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a
produção de prova, quando necessária.
§ 3o Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1o será disciplinada pelo
regimento interno.
§ 4o O disposto nos §§ 1o e 2o não se aplica à arguição de impedimento ou
de suspeição de testemunha.

1.3 Princípio do juiz natural ou da imparcialidade do juiz

O princípio do juiz natural determina que as partes têm direito a um


julgamento realizado por um juiz competente e imparcial artigo 5º, LIII e XXXVII, da
CF. O primeiro inciso dispõe que ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente, e o segundo, que não haverá juízo ou tribunal de
exceção.
Requisitos para caracterização do juiz natural: a) o julgamento deve ser
proferido por alguém investido de jurisdição; b) o órgão deve ser preexistente; c) a
causa deve ser submetida ao juiz competente, de acordo com as regras postas pela
CF e por lei.

 Exceção: leis novas que suprimam o órgão ou que alterem a


competência absoluta (hipóteses de lei superveniente, art. 43, CPC).

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Exemplo: a partir da lei 9.278/96 (vide art. 9º, da lei) a união estável
deixou de ser julgada pelas Varas Cíveis comuns e passou a ser
julgada pelas Varas de família, essa alteração não viola o princípio da
imparcialidade do juiz ou do juiz natural. Todos os processos que ainda
não haviam sido julgados, quando sobreveio lei nova, foram
encaminhados às Varas de família.

1.4 Princípio do contraditório e da ampla defesa

Trata-se de um princípio muito importante, que garante às partes a


oportunidade de se manifestar em todos os atos do processo, tratamento paritário
para dialogar com o juiz, sob pena de nulidade, não podendo, assim, o juiz julgar
qualquer ação sem que os litigantes tenham tido a oportunidade de se defender.
Encontra amparo legal no artigo, art. 7º, 9º e 10, do CPC. Neste princípio
podemos chamar a atenção do fato que o juiz não pode proferir nenhuma decisão
sem antes ter ouvido todas as partes, é vedada a decisão surpresa, nem mesmo
quando se tratar de matéria que deva ser decidida de ofício.
 Exceção 01: quando se tratar de tutela provisória de urgência, tutela
de evidência e a decisão prevista no artigo 701 (decisão autorizadora
do mandado de pagamento na ação monitória). Nestes casos, para
evitar dano irreparável ou de difícil reparação, o direito de defesa não é
afastado, somente tomado a posteriori.
 Exceção 02: No artigo 332, do CPC, estão descritas as hipóteses em
que o juiz poderá julgar liminarmente improcedente o pedido do autor,
sem mesmo citar o réu, isto não acarretará em nulidade da decisão,
por ofensa ao princípio, visto que não prejudica ao réu, mas sim o autor
(o que caberá apelação da liminar).

ATENÇÃO: o art. 346 do Código de Processo Civil não gera ofensa ao


contraditório:
Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão
da data de publicação do ato decisório no órgão oficial.

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Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase,
recebendo-o no estado em que se encontrar.

Art. 349. Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às


alegações do autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de
praticar os atos processuais indispensáveis a essa produção.

ATENÇÃO: Cabe ao Poder Judiciário fazer com que o devido processo legal
e o contraditório sejam respeitados, na forma da parte final do art. 7º do Código de
Processo Civil.
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos
ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao
juiz zelar pelo efetivo contraditório.

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:
I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

Art. 5º, LV, CF: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;

NEGÓCIO JURÍDICO: As partes podem estipular, de comum acordo,


mudanças no procedimento:

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição,


é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o
processo.

Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das


convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos
casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que
alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

AMPLIAÇÃO DO CONTRADITÓRIO:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios
de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir
maior efetividade à tutela do direito;

13
1.5 Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional / princípio do acesso
à justiça

O artigo 3º do CPC, disciplina que “não se excluirá da apreciação jurisdicional


ameaça ou lesão a direito”, estando quase igualmente de acordo com o artigo 5º,
inciso XXXV, da CF. Diante disso, não pode o Poder Judiciário deixar de amparar
casos que lesionem ou ameacem lesionar algum direito e nem poderá deixar de
prestar uma tutela efetiva e justa, para tanto devem ser observadas todas garantias
fundamentais do processo, princípios e direitos básicos.

1.6 Princípio da motivação das decisões judiciais

Este princípio disciplina que todas as decisões judiciais devem


obrigatoriamente ser motivava, de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição
Federal e artigo 11 do CPC, abaixo transcritos:

Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão


públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Art. 93. (...)
IX. todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação

A motivação é pressuposto indispensável, visto que, se a parte não souber os


motivos que levaram o juiz a tomar determinada decisão ficará impossível ao
litigante fundamentar em eventual recurso, ou pelo avaliar a possibilidade de interpor
recurso contra a decisão.

1.7 Princípio da boa-fé processual

De acordo com este princípio as partes do processo devem sempre se


comportar com boa-fé, lealdade e urbanidade, este princípio está intimamente ligado

14
ao princípio da dignidade da pessoa humana, pois visa promovê-lo no ordenamento
jurídico, no julgamento da causa. Encontra-se previsto no artigo 5º do CPC.
A parte que agir com má-fé pode ser penalizada com multa. As práticas
consideradas má-fé estão previstas no art. 80 do CPC:

Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como
autor, réu ou interveniente.

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a


pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por
cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos
prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com
todas as despesas que efetuou.

§ 1o Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará


cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou
solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária.

§ 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser


fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo.

§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível
mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos
próprios autos.

1.8 Duração razoável do processo

É decorrente do Pacto São José da Costa Rica. O princípio da duração


razoável do processo é também conhecido como princípio da celeridade processual.
Não há na lei uma predeterminação de duração do processo, todavia não se pode
tolerar a procrastinação injustificável do judiciário e seus serviços. Está previsto no
artigo 5º, inciso LXXVIII, da CF, garantindo que “a todos, no âmbito judicial e
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que

15
garantam a celeridade de sua tramitação”. Está previsto também nos artigos 4º e 6º
do CPC.
A obediência aos prazos processuais é uma forma de atender ao princípio da
duração razoável do processo. Para as partes, a consequência da não observância
dos prazos processuais é a preclusão, ou seja, a perda do direito de manifestação:

Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de


emendar o ato processual, independentemente de declaração judicial,
ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa
causa.

O magistrado também deverá obedecer prazos processuais, na forma do art.


226 do CPC:
Art. 226. O juiz proferirá:
I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias;
II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias;
III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias.

Art. 235. Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria Pública


poderá representar ao corregedor do tribunal ou ao Conselho Nacional
de Justiça contra juiz ou relator que injustificadamente exceder os
prazos previstos em lei, regulamento ou regimento interno.

§ 1º Distribuída a representação ao órgão competente e ouvido previamente


o juiz, não sendo caso de arquivamento liminar, será instaurado
procedimento para apuração da responsabilidade, com intimação do
representado por meio eletrônico para, querendo, apresentar justificativa no
prazo de 15 (quinze) dias.

§ 2º Sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis, em até 48


(quarenta e oito) horas após a apresentação ou não da justificativa de que
trata o § 1o, se for o caso, o corregedor do tribunal ou o relator no Conselho
Nacional de Justiça determinará a intimação do representado por meio
eletrônico para que, em 10 (dez) dias, pratique o ato.

§ 3º Mantida a inércia, os autos serão remetidos ao substituto legal do juiz


ou do relator contra o qual se representou para decisão em 10 (dez) dias.

1.9 Princípio do duplo grau de jurisdição

Este princípio não se encontra expresso na Constituição Federal, mas diante


de terem sido criados juízos e tribunais, cuja competência é julgar os recursos contra
as decisões de primeiro grau, automaticamente estabeleceu-se o duplo grau de
jurisdição, que busca reanalisar os atos judiciais que geram inconformismo na parte

16
e estão substanciados por falhas, ilegalidades, provas, através do julgamento de um
órgão superior.
Deste princípio, decorre a necessidade de hierarquia diferente entre dois
juízos distintos, portanto temos os de primeiro grau (juízes singulares) e o de
segundo grau (Tribunais Superiores). Os primeiros são os juízos da causa e o
segundo, os juízos dos recursos (THEODORO JÚNIOR, 2017).

 Exceções: não há duplo grau de jurisdição para as causas que tem


competência originária dos tribunais, por exemplo, para as ações
originárias do Supremo Tribunal Federal, para embargos infringentes
(previstos na lei de execução fiscal), nas hipóteses do artigo 1.013, §3º,
do CPC.

1.10 Princípio da proporcionalidade e razoabilidade

De acordo com o artigo 8º do CPC, o juiz, ao aplicar as normas deverá


atender os fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo
a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade,
a legalidade, a publicidade e a eficiência. Exemplo de aplicação dos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade: obrigação alimentar.

1.11 Princípio da Legalidade:

Previsto no artigo 8º, do CPC, e artigo 5º, II, da CF, equivale a limitar o
exercício do Poder Público, o juiz não poderá afastar-se da lei, mas nada impede
que ele tenha que adequá-las às peculiaridades de cada caso. Lembrando que o
direito não é apenas legal, não está somente escrito na lei (fonte formal), há as
fontes formais acessórias ou indiretas: analogia, costumes, princípios gerais do
direito (art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), súmulas do STF
(art. 103-A, e parágrafos, da CF; Lei n. 11.417/2006), decisões de mérito do STF

17
(art. 102, §2º, da CF); e as fontes não formais (informais): doutrina e os precedentes
jurisprudenciais (salvo as súmulas vinculantes e as decisões de mérito do STF).

1.12 Princípio da publicidade dos atos processuais

Está previsto nos artigos 5º, LX, 93, X, ambos da CF e artigos 11, caput, e
368 ambos do CPC, impõe que sejam públicos os julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário, justifica-se no fato de haver interesse público maior que somente das
partes, pois visa a garantia da paz e harmonia social. A publicidade é mecanismo de
controle das decisões judiciais. Todavia não se aplica somente as decisões, mas
também a qualquer esfera dos Poderes institucionais, segundo o artigo 37 da CF.
 Exceção: processos que correm com segredo de justiça: o segredo de
justiça ocorre, evidentemente, apenas com terceiros, não com as
partes e seus procuradores. Haverá segredo de justiça quando: a) em
que o exigir o interesse público ou social (art. 189, I, CPC); b) que
dizem respeito a casamento, separação de corpos, divórcio,
separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e
adolescentes (art. 189, II); c) em que constem dados protegidos pelo
direito constitucional à intimidade (art. 189, III); d) que versem sobre
arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o
juízo (art. 189, IV) (GONÇALVES; LENZA, 2016).

18
ACESSO DO ADVOGADO AO PROCESSO
VISTA DO PROCESSO: O advogado pode ter vista de qualquer processo judicial
em tramitação, mesmo sem procuração, desde que não estejam sob a proteção do
segredo de justiça, caso em que é necessário procuração.

CARGA DE PROCESSO EM ANDAMENTO: para que o advogado faça carga dos


processos que estão em tramitação será necessário apresentar procuração.

CARGA DE PROCESSO ARQUIVADO: para que o advogado faça carga dos


processos que estão arquivados, não é necessário procuração, salvo processos em
segredo de justiça.

PROCESSO ARBITRAL: o processo arbitral, por ser uma atividade não estatal, não
é regrado pela publicidade, ou seja, as partes podem definir se o processo tramita
sob a proteção do segredo de justiça ou de forma pública.

PUBLICIDADE NO NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL: a publicidade dos atos


processuais não poderá ser alterada no negócio jurídico processual (art. 190, CPC),
visto que decorre de lei.

02 PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO

2.1 Investidura

De acordo com este princípio, apenas o juiz, regularmente investido no cargo,


tem competência para exercer a jurisdição, sendo que “a ausência de investidura

19
implica óbice intransponível para o exercício da jurisdição, pressuposto processual
da própria existência do processo”. (GONÇALVES, 2016, p. 104).

2.2 Indelegabilidade

A função jurisdicional não poderá ser exercida por outro órgão que não o
Poder Judiciário, sendo, portanto, indelegável. Isso porque afetaria o princípio
constitucional do juiz natural. Fala-se que a exceção ao princípio seria nos casos de
cartas precatórias ou de ordem, na verdade não se trata de delegação voluntária,
mas de cooperação entre órgãos jurisdicionais, pois a responsabilidade de
prosseguimento da ação é do juiz competente.

2.3 Aderência ou territorialidade

Ao exercer a função jurisdicional, o juiz deve-se limitar ao território nacional,


bem como, ao limite de sua competência, seja ela na comarca, Estado, Distrito
Federal ou todo território nacional. Entretanto, há casos em que os juízes devem
cooperar entre si, como no caso da carta precatória.

2.4 Indeclinabilidade

Trata-se de um princípio que visa garantir a tutela jurisdicional aos processos,


devendo o juiz, independentemente de lacuna ou obscuridade na lei julgar a
demanda. Neste caso ele irá julgar através dos mecanismos de integração, visto que
de acordo com o artigo 5º, inciso XXXV, da CF, não se “excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Há uma exceção, o juiz poderá declinar-
se sob a alegação de suspeição por motivo íntimo, amparado pelo artigo 145, §1º,
do CPC.

20
2.5 Inércia

Também chamado de princípio da ação ou da demanda, ou princípio da


iniciativa da parte, regula que, como o juiz não tem autonomia para agir por conta
própria, ou seja, de ofício, deve necessariamente ser provocado pela parte
interessada, conforme o artigo 2º do CPC.

03 ATOS PROCESSUAIS

O processo consiste em uma sucessão de atos. Atos processuais são os atos


humanos realizados no processo, os quais devem ser praticados em conformidade
com o que determina a lei. Podem ser orais ou por escrito, todavia, sempre que
forem orais, serão reduzidos a termo pelo escrivão, para sua documentação nos
autos, por exemplo, o pregão nas hastas públicas e as audiências de instrução e
julgamento. “No entanto, o CPC flexibiliza essa regra, em especial no artigo 190, ao
permitir que, nos processos em que se admite a autocomposição, as partes capazes
possam estipular mudanças no procedimento e convencionar sobre o seu ônus,
poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou depois do processo, com o
controle do juiz” (GONÇALVES, 2016, p. 307).
Um ato processual não se assemelha a um fato processual, visto que esses
se realizam independentemente da vontade do agente, ocorrendo naturalmente,
porém causando algum efeito ao processo, como a morte de uma das partes, por
exemplo.

3.1 Teoria geral e espécies

Como visto, os atos processuais são os atos praticados dentro de um


processo, voluntariamente por uma das partes e que tenham alguma relevância
processual.

21
Quanto a sua forma, os atos são considerados válidos se atingirem a
finalidade para a qual foram propostos. Em regra, não precisam seguir uma forma
determinada, diante do princípio da instrumentalidade das formas, exceto se a lei
expressamente a estipular.
Independentemente de sua forma, em regra, os atos processuais serão
públicos. Há determinados casos, entretanto, que requerem uma proteção maior,
necessitando tramitar em segredo de justiça, sendo eles (artigo 189):

I - em que o exija o interesse público ou social;


II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio,
separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e
adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à
intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta
arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo.

Estes atos protegidos pelo segredo de justiça ficam restringidos à apreciação


das partes e de seus procuradores, cabendo a um terceiro interessado apenas a
possibilidade de ter acesso a certidão do dispositivo da sentença, do inventário e da
partilha.
É possível a prática de atos processuais também por meio eletrônico.
Um requisito obrigatório de todos os atos e termos processuais é a utilização
da língua nacional (portuguesa). Na hipótese de a parte querer juntar ao processo
um documento escrito em outra língua que não a nacional, deverá necessariamente
juntar também a respectiva tradução, realizada por tradutor juramentado.
Os atos processuais classificam-se de acordo com a pessoa que o pratica,
podendo ser ato das partes, do juiz ou dos auxiliares da justiça.

a) Atos processuais das partes: previsto no artigo 200 do CPC, se


subdivide em declarações unilaterais, que são os atos realizados apenas pela parte,
como no caso da petição inicial, ou bilaterais, que requerem a manifestação de
ambas as partes, como no caso do acordo. São atos que geram imediatamente a
constituição, modificação ou extinção de direitos processuais. Os atos das partes
também podem ser classificados em atos postulatórios, que exprimem a pretensão

22
das partes (petição inicial), instrutórios, que visam provar as respectivas alegações,
ou dispositivos, que são os atos que finalizam o processo.

b) Atos processuais do juiz: o pronunciamento do juiz poderá ser feito


através de sentenças, decisões interlocutórias e despachos. De acordo com art.
203, §1º, sentença é o meio pelo qual o juiz, através dos artigos 485 e 487, finaliza a
fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Decisão
interlocutória é toda decisão judicial que não se enquadra no conceito de sentença
(§ 2º). E despacho são os demais procedimentos do juiz realizados no processo, de
ofício ou a requerimento da parte (§ 3º).

c) Atos processuais dos auxiliares de justiça: são os atos praticados pelo


escrivão ou chefe de secretaria, por exemplo. Estão disciplinados nos artigos 206 a
201 do CPC. Todavia não podemos deixar de mencionar que há outras pessoas que
também pode praticar atos jurídicos no curso do processo e que não estão
sistematizadas no Código, como por exemplo, os oficiais de justiça, depositários,
peritos, testemunhas, leiloeiros, arrematantes, etc.

3.2 Sistema de transmissão de dados: fac-símile ou outro similar

Regulado pela Lei n. 9.800/1999, a qual não foi revogado pelo Código de
Processo Civil de 2015, considerar-se-á cumprindo o ato sempre que a mensagem
enviada via fax for dentro do prazo legal, incumbindo a parte apresentar os originais
até cinco dias da data de seu término (art. 2º). Ainda que o ato processual não esteja
sujeito a prazo, o agente tem o dever de entregar até cinco dias os originais em
cartório. O prazo é contínuo e não se interrompe pela eventual intercalação de
sábado, domingo ou feriado. Não obstante o CPC/2015 determinar que a contagem
dos prazos ocorre em dias úteis, neste caso estamos tratando de lei específica que
regulamente atos processuais por fac-símile, assim, deverá ser em dias corridos.

Para a determinação do termo inicial da contagem do prazo de cnco dias


para apresentação dos originais, o entendimento fixado pela jurisprudência

23
do STJ, que se harmoniza com o do STF, é no sentido de distinguirem-se
duas situações: (i) se o ato praticado está sujeito a prazo predeterminado,
contar-se-á o quinquídio legal a partir do dia seguinte ao término do prazo
do recurso ou ato, pouco importando se a petição foi transmitida antes de
findo o prazo de lei; (ii) se o ato não estiver sujeito a prazo legal, a entrega
dos originais terá de correr em cinco dias contados a partir da recepção do
fax pelo órgão judiciário de destino. É, aliás, o que decorre da literalidade do
art. 2º e parágrafo único da Lei 9.800/1999 (THEODORO JR, 2017, p. 491).

Além desse meio, a partir da Lei 11.280/2006, que acrescentou o parágrafo


único ao artigo 154, do CPC, acrescentou a possibilidade de utilização das vias
eletrônicas no processo judicial. O uso da internet deverá atender requisitos de
autencidade, integridade e validade, o que se torna possível através da assinatura
digital.

3.3 Processo eletrônico

O processo eletrônico ganhou forma com o objetivo de proporcionar maior


celeridade e efetividade ao processo. Essa forma processual está disciplinada na Lei
nº 11.419/06, e nos artigos 193 a 199 do CPC.
Os atos processuais podem ser totais ou parcialmente digitais, permitindo que
sejam produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio eletrônico
(artigo 193 do CPC).
De acordo com o artigo 194 do CPC, os sistemas de automação processual
deverão respeitar a publicidade dos atos, o acesso e a participação das partes e de
seus procuradores, inclusive nas audiências e sessões de julgamento, observadas
as garantias da disponibilidade, independência da plataforma computacional,
acessibilidade e interoperabilidade dos sistemas, serviços, dados e informações que
o Poder Judiciário administre no exercício de suas funções.
O ato processual eletrônico será registrado em padrões abertos, atendendo
os requisitos de autenticidade, integridade, temporalidade, não repúdio, conservação
e, nos casos de segredo de justiça, confidencialidade, observada a infraestrutura de
chaves públicas unificada nacionalmente (artigo 195 do CPC).
Todos os atos praticados pela via eletrônica deverão ser assinados
eletronicamente por assinatura digital certificada por Autoridade Certificadora e

24
mediante controle em cadastro do Poder Judiciário (art. 8º, parágrafo único da lei
11.419/06). Implantado o Diário da Justiça Eletrônica (antigo Diário oficial), que
agora já não é mais impresso.
O Poder Judiciário deverá manter de forma gratuita, em suas unidades, à
disposição dos interessados, equipamentos necessários à prática de atos
processuais, consulta e acesso ao sistema, bem como documentos constantes no
processo. No caso de a unidade não possuir os referidos equipamentos será
admitida a prática de atos por meio não eletrônico.
Ainda, de acordo com o artigo 199 do CPC, as unidades do Poder Judiciário
assegurarão às pessoas com deficiência acessibilidade aos seus sítios na rede
mundial de computadores, ao meio eletrônico de prática de atos judiciais, à
comunicação eletrônica dos atos processuais e à assinatura eletrônica.
Há regras específicas para citações e intimações, precatórias, rogatórias e de
ordem.

Art. 4o Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado


em sítio da rede mundial de computadores, para publicação de atos judiciais
e administrativos próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem como
comunicações em geral.
§ 1o O sítio e o conteúdo das publicações de que trata este artigo deverão
ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade
Certificadora credenciada na forma da lei específica.
§ 2o A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui qualquer outro
meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos
casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal.
§ 3o Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao
da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico.
§ 4o Os prazos processuais terão início no primeiro dia útil que seguir ao
considerado como data da publicação.
§ 5o A criação do Diário da Justiça eletrônico deverá ser acompanhada de
ampla divulgação, e o ato administrativo correspondente será publicado
durante 30 (trinta) dias no diário oficial em uso.
Art. 5o As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos
que se cadastrarem na forma do art. 2o desta Lei, dispensando-se a
publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.
§ 1o Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando
efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos
a sua realização.
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, nos casos em que a consulta se dê
em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro
dia útil seguinte.
§ 3o A consulta referida nos §§ 1o e 2o deste artigo deverá ser feita em até
10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de
considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término
desse prazo.

25
§ 4o Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de
correspondência eletrônica, comunicando o envio da intimação e a abertura
automática do prazo processual nos termos do § 3o deste artigo, aos que
manifestarem interesse por esse serviço.
§ 5o Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo
possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for
evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá
ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade, conforme
determinado pelo juiz.
§ 6o As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda
Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais.
Art. 6o Observadas as formas e as cautelas do art. 5o desta Lei, as citações,
inclusive da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais
Criminal e Infracional, poderão ser feitas por meio eletrônico, desde que a
íntegra dos autos seja acessível ao citando.
Art. 7o As cartas precatórias, rogatórias, de ordem e, de um modo geral,
todas as comunicações oficiais que transitem entre órgãos do Poder
Judiciário, bem como entre os deste e os dos demais Poderes, serão feitas
preferentemente por meio eletrônico.

Cabe ressaltar que os atos eletrônicos são considerados desde o dia e hora
de seu envio ao Sistema, ocasião em que é gerado o protocolo eletrônico. Quando a
petição eletrônica for enviada para atender prazo processual, serão consideradas
tempestivas as transmitidas até as 24 (vinte e quatro) horas do seu último dia (art. 3º
e parágrafo único).
O processo eletrônico por meio de autos totalmente digitais está regulado
nos artigos 8º a 13 da Lei 11.419, permitindo que desde a petição inicial até o
julgamento da ação, em última instância, seja de forma informatizada. As provas e
documentos digitalizados valerão com o mesmo efeito dos documentos originais,
segundo o artigo 11.
Os originais dos documentos digitalizados, deverão ser preservados pelo seu
detentor até o trânsito em julgado da sentença ou, quando admitida, até o final do
prazo para interposição de ação rescisória. Os documentos cuja digitalização seja
tecnicamente inviável devido ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade
deverão ser apresentados ao cartório ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias
contados do envio de petição eletrônica comunicando o fato, os quais serão
devolvidos à parte após o trânsito em julgado.

26
3.4 Nulidades

Um ato processual será considerado nulo quando não observar todos os


requisitos de validade e acarretar algum prejuízo. Se o juiz identificar uma nulidade
durante o processo, ordenará que seja corrigida, avaliando, inclusive, se os atos
posteriores que dele dependam também devem ser reparados (artigo 282 do CPC).
A nulidade de um ato só poderá anular os atos posteriores que dele dependam, não
prejudicando os atos posteriores independentes, conforme disciplina o artigo 281 do
CPC.
Após o encerramento do processo ainda haverá a possibilidade de ser
alegada alguma nulidade absoluta, através da ação rescisória, entretanto, passado o
prazo para a propositura da ação, a nulidade restará sanada. Já a nulidade relativa
deverá ser alegada na primeira oportunidade, sob pena de preclusão.
Enquanto a nulidade não for identificada e o juiz não a reconhecer ela será
considerada um ato válido, produzindo seus efeitos normalmente.
A nulidade, neste caso, diz respeito apenas aos atos praticados pelo juiz ou
seus auxiliares, sendo que os atos praticados pelas partes, caso estejam em
desconformidade com os requisitos legais, apenas não irão gerar efeitos, sendo atos
ineficazes e não nulos.
São exemplos de atos nulos:

- As decisões prolatadas por juízes impedidos ou por juízos


absolutamente incompetentes;
- Falta de intervenção do Ministério Público, quando obrigatória;
- A citação realizada sem obediência às formalidades legais;
- A sentença que não observe a forma prescrita em lei. (GONÇALVES,
2016, p. 322).

A nulidade absoluta poderá ser decretada de ofício ou por qualquer uma das
partes (exceto em alguns casos), já a relativa só poderá ser alegada pela parte
interessada/prejudicada.
De acordo com o artigo 277 do CPC, o ato será considerado válido pelo juiz,
desde que tenha alcançado a finalidade para o qual foi previsto, mesmo que tenha
sido realizado de forma contrária a lei. Isso porque adota-se o princípio da

27
instrumentalidade das formas, que diz que a forma é necessária apenas para que o
ato alcance o seu objetivo, sendo que se atingir o objetivo por outro meio não
existirá o vício. Exemplo: o réu é citado de forma incorreta, mas comparece à
audiência e se defende. O ato que inicialmente era nulo se tornará válido.

3.5 Ineficácia

A ineficácia de um ato processual ocorre quando não há a observância de


alguma forma essencial ou estrutural do processo.
A ineficácia, diferentemente da nulidade, não será sanada pelo decurso do
tempo, podendo ser alegada a qualquer momento, ou seja, não gera a preclusão.
Se for identificada a ineficácia no curso do processo, o juiz determinará que o
ato seja sanado, com a renovação dos atos viciados e os seus subsequentes, e se o
processo já estiver encerrado poderá ser alegada através de uma ação declaratória
de ineficácia, impugnação ao cumprimento de sentença ou ação de embargos à
execução.

3.6 Expediente forense

Os atos processuais serão praticados em dias úteis, das 06 às 20 horas,


conforme o artigo 212 do CPC. Este prazo poderá ser prorrogado no caso de
finalização de algum ato iniciado dentro do horário, quando o adiamento prejudicar a
diligência ou causar grave dano (§1º), exceto no caso dos atos (não eletrônicos) que
dependam de protocolo, sendo que esses só poderão ser realizados dentro do
horário de expediente do respectivo órgão. Já os atos processuais realizados por
meio eletrônico poderão ocorrer até as 24 horas do último dia do prazo,
independentemente do horário (artigo 213 do CPC).

28
No período das férias forenses, feriados ou dias úteis fora do horário
mencionado anteriormente os atos processuais não serão praticados, exceto no
caso das citações, intimações, penhoras e tutelas de urgência, independentemente
de autorização judicial.
Ainda, durante as férias forenses também serão praticados outros atos
processuais, conforme o artigo 215 do CPC.

Art. 215. Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e não


se suspendem pela superveniência delas:
I - os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à
conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento;
II - a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e
curador;
III - os processos que a lei determinar.

Para efeito forense, além dos declarados em lei, também consideram-se


como feriados, os sábados, os domingos e os dias em que não haja expediente nos
órgãos jurisdicionais (artigo 216 do CPC).
Em regra, os atos processuais se realizarão na sede do juízo (cartório ou vara
judicial). Porém, de acordo com o artigo 217 do CPC, também podem se realizar em
outro lugar, em razão de deferência, interesse da justiça (cartas precatórias), bem
como diante da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido
pelo juiz (testemunha que não tem condições de se locomover).

3.7 Processo calendário

“Neste momento, sobretudo na audiência de saneamento e organização do


processo. Em cooperação com as partes, pode-se celebrar outro negócio jurídico
plurilateral típico: o calendário processual (art. 191, CPC)” (DIDIER JR, 2016, p.
706).

Trata-se de um agendamento para a prática de atos processuais, feito de


comum acordo entre partes e órgão julgador e em atenção às
particularidades da causa. Normalmente relacionado à prática dos atos
instrutórios, o calendário também pode ter por objeto atos postulatórios
(entrega de razões-finais, p. ex.), decisórios e executórios (DIDIER JR,
2016, p. 706)

29
O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente
serão modificados em casos excepcionais, devidamente justificados (§1º, art. 191,
CPC).
Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou a
realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário (§2º, art.
191, CPC).

04 ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO

A jurisdição é algo único, não se divide. Porém, é separada em algumas


espécies, como a jurisdição contenciosa e voluntária, a distinção em relação ao seu
objeto, órgão que a exerce e hierarquia.
A jurisdição contenciosa é aquela em que o juiz interfere diretamente na
demanda, julgando o processo de acordo com o que entende correto e impondo a
sua vontade sobre as partes. Já na voluntária, o juiz age como um tipo de fiscal da
lei, cabendo a ele apenas participar e validar alguns atos de interesse privado, como
no caso da separação consensual.
Quanto ao objeto e ao órgão que a exerce, a jurisdição se divide em relação
ao conteúdo que será apreciado pelo Poder Judiciário. Diante disso, é definido quem
tem a competência para o julgamento da demanda, que será apreciada pela justiça
comum ou especial. A especial cuida das matérias trabalhista, eleitoral e militar,
sobrando as demais para a justiça comum, que se subdivide em estadual e federal.
E, por fim, quanto à hierarquia, a jurisdição pode ser inferior ou superior,
dependendo da instância do órgão a quem compete o julgamento.

05 LIMITES DA JURISDIÇÃO NACIONAL

Como regra, a jurisdição brasileira deve se limitar ao território nacional,


entretanto, em alguns casos, admite-se a aceitação de decisões de outros países,

30
levando-se em conta alguns limites definidos nos tratados internacionais, e diante do
interesse de manterem uma boa relação entre si.
A competência brasileira para o julgamento das demandas está prevista no
artigo 21 do CPC, que disciplina que:

Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as


ações em que:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no
Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.

Além dessas, cabe também à autoridade judiciária julgar as ações de


alimentos quando o credor tiver domicílio ou residência no Brasil ou quando o réu
mantiver vínculos no Brasil, como posse ou propriedade de bens. Ou, ainda, nas
hipóteses de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou
residência no Brasil ou em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem
à jurisdição nacional. (MOTA et al., 2016, p. 586).
O artigo 23 do CPC, elenca as hipóteses de competência exclusiva da
jurisdição brasileira:

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de


qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de
testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil,
ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
domicílio fora do território nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder
à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

06 TUTELAS PROVISÓRIAS

O objetivo do Estado Democrático de Direito é de prestar a tutela, mas não só


prestar a tutela, prestar de forma efetiva. Pouco importa qual das partes será
carecedora da tutela, o Estado, através da jurisdição tem o dever de dar a tutela ao
direito, assim, sendo ela inicial, correspondente a composição judicial do conflito,

31
temos a tutela de conhecimento, se já a vantagem pretendida já se encontra
juridicamente comprovada, temos a tutela de execução. Todavia, há situações em
que a demora do processo judicial pode comprometer a efetividade da tutela.

07 PROCESSO DE CONHECIMENTO

Ação é o meio pelo qual as pessoas exercem o direito subjetivo de provocar o


Poder Judiciário, requerendo uma solução à demanda proposta, ou seja, o meio
utilizado para a defesa de seus direitos. Para a concretização desse direito é preciso
seguir todo um trâmite processual.
O direito de ação está previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da CF, e trata-se de
um direito independente, não estando diretamente vinculado ao direito material.
Assim, mesmo que a ação seja julgada improcedente, continua existindo o direito de
ação. E a demanda é o problema apresentado ao juiz, aquilo que se visa requerer
com a ação proposta. A ação deverá seguir um procedimento, que terá seus passos
estipulados por lei, poderá ser procedimento comum ou especial. O procedimento
comum é regulado pelo Código de Processo Civil, já os procedimentos especiais são
regulados por leis específicas de determinados temas do direito.

7.1 Procedimentos no novo processo civil

A partir da entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil, as


disposições relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos especiais (do
antigo CPC, que foram revogadas) passam a seguir o procedimento comum ou um
dos procedimentos especiais regulados em outras leis, conforme dispõe o artigo
1.046.
Desta forma, conforme o § 1o, do referido artigo, o procedimento sumário
deixa de existir nos novos processos, contudo, as ações propostas que não foram
sentenciadas até a entrada em vigor do CPC, seguirão o rito sumário normalmente.
Os procedimentos podem ser classificados em:

32
a) Comuns: segue sempre o mesmo padrão, são aqueles que a lei não definir o
procedimento especial. É encontrado no Livro I, Título I, da Parte Especial do
CPC.
b) Especiais: possuí procedimento específico, dispostos em leis esparsas.

08 PETIÇÃO INICIAL

O juiz não age por ofício nos processos, isto é, faz-se necessário a iniciativa
da parte (ou do Ministério Público, arts. 177 e 720) a partir da formulação do pedido,
a petição inicial é a peça exordial para a inauguração do processo civil,
independente do rito. Será a responsável pela instauração da demanda e da tutela
pública ou privada.
Portanto, Petição Inicial “é o ato que dá início ao processo, e define os
contornos subjetivo e objetivo da lide, dos quais o juiz não poderá desbordar”
(GONÇALVES; LENZA, 2016). É por meio dela que serão identificadas as partes, o
pedido e a causa do pedir do novo processo.
Em regra, deve ser escrita, datada e assinada, contudo admite-se postulação
oral, como por exemplo, nos Juizados Especiais Cíveis (art. 14, §3º, lei n. 9099/95),
pedido de concessão de medidas protetivas de urgência em favor da mulher vítima
de violência doméstica ou familiar (art. 12, lei n. 11340/06) e no procedimento
especial da ação de alimentos (art. 3º, §1º, da lei n. 5478/68), ainda assim, a
postulação oral é sempre reduzida a termo escrito (DIDIER JR, 2016).
Conforme artigos 319 e 320 do CPC, a petição inicial deverá conter alguns
requisitos:

8.1 Endereçamento

Compreende a competência a que será dirigida a inicial, conforme inciso I, do


artigo 319, do CPC. Trata-se do órgão competente para conhecer a demanda,
observando, para tanto, as regras de competência funcional (como regra, previstas

33
na Constituição Federal, Constituições Estaduais e nas leis de organização
judiciária), bem como, de competência territorial (estabelecidas nos arts. 46 a 53 do
CPC).
O autor deve indicar o juízo a quem dirige a sua pretensão (singular ou
colegiado), observando as regras de competência 1. Um eventual erro não enseja no
indeferimento da inicial (GONÇALVES; LENZA, 2016), mas a remessa da inicial ao
correto destinatário. O endereço é feito no cabeçalho da petição inicial e deve ser
observada as designações corretas, por exemplo, “Comarca” é a unidade territorial
da Justiça Estadual, já da Justiça Federal chama-se “Seção Judiciária”, juiz federal é
o juiz da Justiça Federal, já o juiz de direito, é o juiz da Justiça Estadual.

8.2 Da qualificação das partes

O CPC traz uma inovação referente a qualificação das partes na petição


inicial, tratado no artigo 319, inciso II, que a petição agora deverá indicar além do
nome, prenomes, estado civil, profissão, domicilio e residência do autor e do réu,
deverá mencionar também a existência de união estável, o CPF ou CNPJ e o
endereço eletrônico (pelo qual poderá ser feita intimação ou citação, de acordo
com o artigo 246, incido V do CPC).
A petição não será indeferida, se na falta da indicação de uma dessas
informações, ainda seja possível a citação do réu, ou então se a obtenção de tais
informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça,
conforme §§ 2º e 3º, do artigo 319 do CPC. Ainda, o juiz tem o dever de, quando o
réu não for encontrado, ou não houver dados suficientes sobre sua localização,
requisitar informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de
concessionárias de serviços públicos (art. 256, §3º), podendo essas diligências
serem requeridas ao juiz, na petição inicial (art. 319, VII e 334, do CPC).
Além do mais, a petição inicial deverá indicar se o autor deseja ou não de que
lhe seja designada audiência de conciliação ou mediação (art. 334), bem como,

1Que pode ser: a) funcional (em razão da hierarquia); b) territorial; c) Objetiva (em razão da matéria,
valor da causa ou pessoa da parte).

34
deverá juntar a procuração contendo nome do advogado, OAB, endereço completo
(art. 105, §2º). A não juntada será admitida somente, para evitar preclusão,
decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente (art. 287, I c/c
art. 104).
Assim, a indicação e a qualificação completa das partes deverá conter:
os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o
número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da

Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu.


Para as pessoas jurídicas deve ser indicado: nome da empresa, sede,
número de inscrição no CNPJ, endereço eletrônico, representante da pessoa jurídica
(colocar a qualificação do representante).
IMPORTANTE: Se o autor for absolutamente ou relativamente incapaz,
deverá ser indicado a pessoa que o representa ou assiste.

A qualificação é indispensável para que as partes sejam identificadas no


processo, para que não sejam processadas pessoas de forma equivocada, para
concessão do benefício da justiça gratuita (art. 98 e seguintes), etc. Nesse momento
é muito importante que o autor identifique corretamente e da forma mais completa o
réu, contudo, se o juiz identificar que não há meios para identificar o réu, ele
receberá a inicial e a citação será feita por edital, na forma do artigo 256, I, do CPC.
Como exemplo disso, temos as ações possessórias, quando há grandes invasões
de sem-terra e não é possível identificar e qualificar os invasores, neste caso,
seguirá a citação prevista no artigo 554, §1º, do CPC (serão citados os ocupantes
encontrados no local, os demais serão citados por edital, também, neste caso, serão
intimado o Ministério Público e a Defensoria Pública, em caso de pessoas em

35
situação de hipossuficiência). O legislador, atento a essas circunstâncias, trouxe em
sua redação (DIDIER JR, 2016):

Art. 319, § 1°, CPC: Caso não disponha das informações previstas no inciso
11, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências
necessárias à sua obtenção.
§ 2° A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de
informações a que se refere o inciso 11, for possível a citação do réu.
§ 3° A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto
no inciso 11 deste artigo se a obtenção de tais informações tornar
impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça".

A Resolução n. 46 de· Conselho Nacional de Justiça: determina que "o


cadastramento de partes dos processos deverá ser realizado,
prioritariamente, pelo nome ou razão social constante do cadastro de
pessoas físicas ou jurídicas perante a Secretaria. Da Receita Federal do
Brasil, mediante alimentação automática, observados os convênios e
condições tecnológicas disponíveis"
(Art. 6°, da resolução). Além disso, "na impossibilidade de cumprimento da
previsão do caput, deverão ser cadastrados o nome ou razão social
informada na petição inicial, vedado o uso de abreviaturas, e outros dados
necessários à precisa identificação das panes (RG, título de eleitor, nome
da mãe etc.), sem prejuízo de posterior adequação à denominação
constante do cadastro de pessoas físicas ou jurídicas perante a Secretaria
da Receita Federal do Brasil (CPF/ CNPJ)" (art. 6°, par. ún.).

O art. 15 da Lei n. 11.419/2006, que regulamenta o processo eletrônico,


dispõe
que: "Salvo impossibilidade que comprometa o acesso à justiça, a parte
deverá informar, ao distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial, o
número no cadastro de pessoas físicas ou jurídicas, conforme o caso,
perante a Secretaria da Receita Federal".

Obs. 1: Quando a parte autora for pessoa jurídica, é fundamental que a


petição venha acompanhada do estatuto social e da documentação que comprove a
regularidade da representação.
Obs. 2: quando a parte for incapaz, deverá ser qualificado junto o seu
representante legal.

09 EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL

Se a petição inicial estiver irregular, por faltar algum dos requisitos


mencionados ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o
julgamento de mérito, determinará que o autor emende ou a complete, no prazo de

36
15 dias. O juiz deverá informas com precisão o que deve ser corrigido ou
completado, artigo 321, do CPC. Se o autor não cumprir a diligência ordenada, a
petição inicial será indeferida (art. 321, parágrafo único, do CPC).
A emenda poderá ocorrer mesmo após a contestação, desde que não
modifique pedido ou causa de pedir sem consentimento do réu, pois senão tratar-se-
ia de aditamento da petição (art. 329, II, do CPC). Se não for possível emendar,
impõem-se a extinção do processo sem resolução do mérito (DIDIER JR., 2016).
O prazo para emendar a inicial não é preclusivo: “se o autor a emendar
depois dos quinze dias, o juiz receberá a emenda, salvo se tiver proferido a
sentença de indeferimento. Se necessário, poderá determinar outra emenda, até que
todos os esclarecimentos sejam prestados” (GONÇALVES; LENZA, 2016). Ainda, é
o entendimento da jurisprudência, de acordo com REsp n. 812.323/MG, do Relator
Ministro Luiz Fux, que “ofende o artigo. 284 do CPC o acórdão que declara extinto o
processo, por deficiência da petição inicial, sem dar ao autor oportunidade para
suprir a falha” (BRASIL, STJ, 2008).

10 INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL E IMPROCEDÊNCIA DO


PEDIDO

10.1 Juízo de admissibilidade:

A primeira atuação do juiz no processo é o juízo de admissibilidade da petição


inicial. Se ela não estiver apta para que possa ser determinado o prosseguimento

37
com a citação do réu para audiência de conciliação ou mediação, ou, não sendo o
caso, para apresentar contestação, o juiz, então, terá 3 opções:

Como visto no problema anterior, constando a necessidade de algum


esclarecimento, ou a solução de algum defeito ou omissão, o juiz concederá prazo
ao autor, de 15 dias, para que emende ou complete, devendo indicar com precisão o
que deve ser corrigido ou completado (art. 321). Sendo o vício insanável, ou que não
foi sanado pelo autor, no prazo que lhe foi dado para emendá-la, o juiz proferirá
sentença sem resolver o mérito indeferindo a petição inicial (art. 330 e 485, do CPC).
Ainda, poderá julgar liminarmente procedente o pedido, antes mesmo da citação do
réu (art. 332, do CPC), o que será estudado no próximo problema.

10.2 Indeferimento da petição inicial:

O indeferimento da petição é uma decisão judicial (é uma hipótese especial


de extinção do processo por falta de pressupostos processuais) que obsta o
prosseguimento da causa, pois não se admite o processamento da demanda por
determinados motivos (que em sequência serão vistos). O indeferimento só pode
ocorrer no início do processo: só há indeferimento antes da oitiva do réu, isto é, ele
nem foi citado ainda para contestar, pois, após a citação, o juiz não poderá mais
indeferir a petição inicial, se houver alguma alegação do réu, como inépcia, deverá
ser reconhecida, mas não como indeferimento preliminar, mas na extinção do
processo sem análise do mérito (art. 485, inciso IV, CPC). Por que é importante
distinguir indeferimento da petição inicial de extinção do processo sem
resolução do mérito com base no art. 485, IV, do CPC? Porque não se condenará

38
o autor ao pagamento de honorários advocatícios em favor do réu ainda não citado
(DIDIER JR, 2016).
Não se admite indeferimento indiscriminado, lembre-se que deverá ser dado
oportunidade de correção do vício da inicial, contudo, se houve oportunidade para o
autor emendar a inicial e não o fez ou, então, não atendeu satisfatoriamente a
determinação, neste caso será indeferida a petição inicial, com base no artigo 330,
inciso IV combinado com o artigo 485, inciso I, ambos do CPC.
O indeferimento poderá ser total ou parcial, contra a decisão que indeferir
parcialmente a petição inicial caberá agravo de instrumento, de acordo com o artigo
354, parágrafo único, do CPC. Exemplo de indeferimento parcial é quando o juiz é
incompetente para julgar um dos pedidos, neste caso ele indeferirá a cumulação,
mas irá julgar o pedido de sua competência (art. 45, §§1º e 2º, do CPC) (DIDIER
JR., 2016). Nesse sentido a súmula 170 do STJ: “compete ao juízo onde primeiro for
intentada a ação envolvendo acumulação de pedidos, trabalhistas e estatuário,
decidi-la nos limites da sua jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de nova causa,
com o pedido remanescente, no juízo próprio”.

ATENÇÃO!
“O indeferimento da petição inicial pode ocorrer tanto em juízo
singular (o mais corriqueiro) como em tribunal. Na segunda hipótese, o
indeferimento tanto pode ser decisão do relator (...) como pode ser um
acórdão” (DIDIER JR., 2016)

Nem toda decisão que indefere a petição inicial é uma sentença e, portanto,
recorrível através da apelação. Segundo Fredie Didier Jr. (2016), quando o
indeferimento é parcial chamaremos de:
a) Decisão interlocutória: se ocorreu em juízo singular;
b) Decisão unipessoal: se proferida por relator, em tribunal;
c) Decisão colegiada: se por um acórdão.

39
Com base nisso, podemos estabelecer que:
a) Da decisão interlocutória, de indeferimento parcial por juiz singular, caberá
agravo de instrumento.
b) Da decisão definitiva, de indeferimento total por juiz singular, caberá
apelação.
c) Do indeferimento parcial ou total, de relator em sede de Tribunal, dessa
decisão unipessoal caberá agravo interno.
d) Da decisão colegiada, de indeferimento total ou parcial por acórdão, no
Tribunal, caberá, dependendo do caso, Recurso Ordinário Constitucional, ou
Recurso Especial, ou Recurso Extraordinário.

No caso de apelação, segundo o artigo 331, do CPC, o juiz poderá retratar-se


de sua decisão de indeferimento, no prazo de 05 dias, se não se retratar, o réu será
citado para responder ao recurso. Havendo provimento da apelação (isto é, em favor
ao autor que havia tido a petição indeferida), abrirá o prazo para o réu contestar.
Contudo, se indeferida totalmente a petição inicial, e o autor não apelar, neste caso
o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença (Art.331, §3º, do CPC).

10.3 Hipóteses de indeferimento (art. 330, CPC):

a) Inépcia, art. 330, inciso I e §1º, do CPC:


“A inépcia (ou inaptidão) da petição inicial gira em torno de defeitos vinculados
à causa de pedir e ao pedido; são defeitos que não apenas dificultam, mas impedem
o julgamento do mérito da causa” (PASSOS, 1998 apud DIDIER JR., 2016). O §1º
exemplifica algumas hipóteses de inépcia:
I- Ausência de pedido ou de causa de pedir: sem pedido ou causa
de pedido é impossível o órgão jurisdicional saber os limites da
demanda e, por consequência, os limites de atuação do juiz. A
afirmação incompleta equivale à ausência, a clareza da ação é uma
exigência dos princípios da boa-fé, cooperação e do contraditório

40
(como vou me defender do que não compreendo?). “A parte não pode
expor as suas razões de modo genérico; não pode valer-se de meras
paráfrases da lei (art. 489, §1°, I, CPC); não pode alegar a incidência
de conceito jurídico indeterminado, sem demonstrar as razões de sua
aplicação ao caso (art. 489, §1°, 11, CPC) etc.” (DIDIER JR., 2016).
II- Pedido indeterminado: ressalvada as hipóteses que permitem
pedido genérico, o pedido deve ser sempre determinado, fora dessas
hipóteses excepcionais do artigo 324, do CPC, (já estudadas no
problema anterior) será inépcia a inicial com pedido indeterminado.
III- Se a narração dos fatos não decorrer logicamente a
conclusão: a petição precisa ser coerente, por exemplo, João pede a
invalidação do negócio jurídico em razão do inadimplemento, contudo
inadimplemento não é motivo para pedir invalidade do negócio
jurídico, pois ele é válido, o que se deve requerer é a resolução do
negócio (DIDIER JR., 2016.
IV- Cumulação de pedidos incompatíveis: também estudado no
problema anterior, quais as hipóteses que se pode cumular pedidos.
Neste caso, o juiz determinará que o autor emende a inicial indicando
um dos pedidos ou trocando um deles por outro, deixando-os
compatíveis.
Também são hipóteses de inépcia da inicial, aquelas elencadas nos §§2º e 3º,
do artigo 330, do CPC. Nas ações que tenham objeto a revisão de obrigação
decorrente de empréstimo, financiamento ou alienação de bens, o autor deverá
discriminar, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter,
além de quantificar o valor incontroverso do débito, assim, cabe ao autor identificar,
precisamente, qual o valor que pretende controverter e qual a parcela incontroversa,
isto é, não basta pedir revisão da dívida, é preciso especificar o que se discute.
Segundo o §3º, estes valores incontroversos deverão continuar a serem
pagos no tempo e modo contratados, pois inadimplida a parcela incontroversa, há
mora, pois a simples discussão dessa dívida, não gera efeito suspensivo a eficácia
desse negócio.

41
b) A parte for manifestamente ilegítima, art. 330, II, do CPC:
Trata-se logicamente da capacidade, capacidade de ser parte, capacidade
processual (para estar em juízo) e capacidade postulatória. É a aptidão de participar
da relação processual, em nome próprio ou alheio “Em regra geral, a capacidade
que se exige da parte para o processo é a mesma que se reclama para os atos da
vida civil, isto é, para a prática dos atos jurídicos de direito material (Código Civil de
2002, arts. 5º e 40) (THEODOR JR., 2015). Isto é, “toda pessoa que se encontre no
exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo” (art. 70, do CPC).

c) O autor carecer de interesse processual, art. 330, III, do CPC:


O interesse processual ou interesse de agir é condição essencial para
exercício da ação, onde devem estar presentes os pressupostos processuais que
possibilitam a apreciação do mérito. Os pressupostos processuais podem ser
subjetivos ou objetivos. Subjetivos quando se refere as partes do processo, quanto
ao juiz, manifesta-se por meio da competência e da ausência de impedimento ou
suspeição do órgão jurisdicional. Referente aos litigantes, relaciona-se com a
capacidade civil de exercício, bem como da necessidade de representação por
advogado. Já os pressupostos objetivos, são aqueles que dizem respeito à
regularidade dos atos processuais, principalmente no tocante a forma e o rito. Não
há preclusão para a matéria de pressupostos do processo, pode ser reconhecida
durante o início da fase processual, o que levará ao indeferimento da inicial, bem
como, em toda fase de saneamento, segundo o artigo 485, §3º, do CPC.

d) Não atendidas as prescrições dos artigos 106 e 321 do CPC:


A petição não será deferida quando não forem cumpridas as determinações
do artigo 106, §1º e artigo 321 do CPC:

Art. 106. Quando postular em causa própria, incumbe ao advogado:


I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço, seu número de
inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de
advogados da qual participa, para o recebimento de intimações;
II - comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço.

42
§ 1º Se o advogado descumprir o disposto no inciso I, o juiz ordenará que
se supra a omissão, no prazo de 5 (cinco) dias, antes de determinar a
citação do réu, sob pena de indeferimento da petição.
§ 2º Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão consideradas
válidas as intimações enviadas por carta registrada ou meio eletrônico ao
endereço constante dos autos.

Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos
dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de
dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15
(quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve
ser corrigido ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a
petição inicial.

O autor terá prazo de quinze dias para interpor apelação contra decisão
proferida, caso não seja interposta, o réu será intimado do trânsito em julgado da
sentença, nos termos do artigo 241. Caso haja interposição do recurso, o juiz poderá
retratar-se, não havendo retratação, o réu será intimado para apresentar
contrarrazões de apelação no prazo de quinze dias (ainda que não tenha sido citado
para apresentar contestação). Ex.: João entra com uma ação, o juiz julgou de forma
liminar a improcedência da ação, o autor apela, e o réu que nem sabia da existência
dessa ação será chamado para apresentar contrarrazões.
No caso de sentença reformada: “Sendo a sentença reformada pelo tribunal,
o prazo para a contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos,
observados o disposto no artigo 334 do CPC” (MOTA et al, 2016, p.684).

10.4 Improcedência liminar do pedido:

Quando o juiz verificar que a inicial preenche os requisitos, determinará a


citação do réu para que possa ser integrado ao processo, mas se verificar uma das
hipóteses do artigo 332, do CPC, estará autorizado a proferir decisão liminar de total

43
improcedência, sentença com resolução do mérito. Para que não viole o princípio da
ampla defesa e do contraditório, o juiz deverá ouvir o autor. Por que não é
necessária a oitiva do réu? Porque as causas de improcedência liminar não
prejudicam o réu, apenas ao autor, ademais, essa decisão liminar ocorre antes da
citação do réu.

10.5 Requisitos para improcedência liminar:

a) Que a causa dispense fase instrutória: isto porque a questão de mérito


deverá ser exclusivamente de direito (matéria jurídica), que pode ser comprovada
pela prova documental, jamais de matéria de fato (que é sempre específica em cada
processo);
b) Que esteja presente qualquer uma das hipóteses do art. 332, I ao IV e
§1º, do CPC: “Determinados precedentes devem ser observados pelos juízes e
tribunais, como forma de garantir a segurança jurídica, a igualtade e a duração
razoável do processo. Os arts. 926-928 são os pilares desse arcabouço legal”
(DIDIER JR., 2016). Assim, o artigo 332 elenca as possibilidades do pedido ser
improcedente por contrariar precedentes judiciais (arts. 926-928, do CPC).

Em todos esses casos, o órgão julgador deve observar o sistema de


precedentes: isso significa dizer que o juiz poderá deixar de aplicar um
desses precedentes se for o caso de superá-lo ou de distinguir a situação a
ser julgada (se se tratar de caso com particularidades que o distinguem). O
juiz pode fazer isso de ofício, ao receber a petição inicial e não julgar
liminarmente improcedente o pedido, ou pelo juízo de retratação, no caso
de o autor apelar e demonstrar a necessidade de distinção ou superação
(DIDIER JR., 2017).

Admite-se a improcedência liminar do pedido que contrariar:


I- Enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça:
II- Acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo
Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;

44
III- Entendimento firmado em incidente de resolução de
demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV- Enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o
pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de
prescrição.

Da decisão liminar do juiz de improcedência parcial do pedido, caberá ao


agravo de instrumento, por se tratar de decisão interlocutória. Se a decisão for de
improcedência total, caberá ao autor apelar. O juiz poderá retratar-se no prazo de
cinco dias, se houve a retratação o juiz irá determinar o prosseguimento do
processo, com a citação do réu, contudo se não houver retratação, determinará que
o réu apresente contrarrazões, no prazo de 15 dias.
Se o autor não interpor apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado
da sentença, pelo escrivão ou chefe de secretaria, o qual fará a comunicação o
resultado do julgamento, “até para que ele possa ter conhecimento de uma decisão
que, de resto, lhe favorece e que está acobertada pela coisa julgada” (DIDIER JR.,
2016) nos termos dos artigos 241 e 332, §2º, ambos do CPC.

11 CITAÇÃO

No Código de Processo Civil anterior o pedido de citação era essencial na


petição inicial, sob pena de ter que emendar a inicial, contudo, no novo CPC, não
mais se exige tal pedido, como pode-se conferir no quadro comparativo abaixo:
Nota-se que no lugar do requerimento de citação no CPC de 1973, hoje se
prevê que o autor deverá manifestar seu interesse ou não na audiência de
conciliação ou de mediação, não mencionando mais o dever do autor de requerer a
citação.

45
11.1 Formas de citação

O CPC trouxe uma inovação quanto ao meio de citação (art. 246), a


possibilidade de utilização da fé pública do escrivão ou do chefe de secretaria para
citação.
O escrivão ou o chefe de secretaria fará a citação no balcão do fórum,
certificando no processo que a parte está sendo citada.
As demais formas de citação continuam da mesma forma (art. 246):

46
Art. 246. A citação será feita:
I - pelo correio;
II - por oficial de justiça;
III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em
cartório;
IV - por edital;
V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei.
§ 1o Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte,
as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos
sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de
citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse
meio.
§ 2o O disposto no § 1o aplica-se à União, aos Estados, ao Distrito Federal,
aos Municípios e às entidades da administração indireta.
§ 3o Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados
pessoalmente, exceto quando tiver por objeto unidade autônoma de prédio
em condomínio, caso em que tal citação é dispensada.

Segundo o artigo 247, a citação não poderá ser por correio quando:

I - nas ações de estado, observado o disposto no art. 695, § 3o;


II - quando o citando for incapaz;
III - quando o citando for pessoa de direito público;
IV - quando o citando residir em local não atendido pela entrega domiciliar
de correspondência;
V - quando o autor, justificadamente, a requerer de outra forma.

A chamada citação por hora certa, nada mais é do que após duas tentativas
de citação pelo oficial de justiça, poderá o réu ser citado por hora certa, desde que
seja suspeito de ocultação.
No caso da citação por hora certa, o oficial poderá avisar um vizinho, por
exemplo, que em tal dia e tal hora estará no local novamente para realizar a citação.
Se o réu não se encontrar no dia e hora marcados o oficial fará a citação ficta, na
presença de um conhecido do réu.
Cuidado: o oficial que vai duas vezes na casa do réu e ele não se encontra
porque está trabalhando, não dá motivos para fazer a citação por hora certa.
A citação por edital antes, no antigo CPC, ocorria no diário oficial e no jornal
local, agora ela ocorrerá em duas plataformas digitais, no site do Tribunal de
Justiça (se em âmbito estadual) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), sendo
FACULTATIVA a publicação em jornal local.

47
“Despacho que ordena a citação interrompe a prescrição, ainda que
ordenado por juízo incompetente. Ao proferi-lo, o juiz, implicitamente, está
recebendo a petição inicial, o que pressupõe que ela esteja em ordem”
(GONÇALVES, 2016, p. 397). Os efeitos da citação estão elencados no artigo 240
do CPC:

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente,
induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o
devedor, ressalvado o disposto nos
§ 1o A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a
citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de
propositura da ação.
§ 2o Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências
necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto
no § 1o.
§ 3o A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao
serviço judiciário.
§ 4o O efeito retroativo a que se refere o § 1o aplica-se à decadência e aos
demais prazos extintivos previstos em lei.

Posso, nos pedidos, requerer a forma de citação, por exemplo, sei que o
correio não chega até o local onde o réu mora, posso pedir para que seja por oficial,
justificando.
Em se tratando de pessoa jurídica a citação poderá ser do gerente ou até
mesmo do empregado responsável pelo recebimento de correspondência, de acordo
com o §2º, do artigo 248 da CPC.

11.2 Nulidade da citação

O CPC ao falar de citação, trouxe diversas novidades. Anteriormente o réu,


na contestação alegava nulidade da citação e o juiz poderia reconhecer essa
nulidade e intimar o réu da decisão, sendo que a partir disso começava a correr o
prazo de contestação novamente, contudo, no novo CPC, diz que o comparecimento
espontâneo do réu, supre a nulidade da citação, vide o artigo 239:

Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou


do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial
ou de improcedência liminar do pedido.

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§ 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou
a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação
de contestação ou de embargos à execução.
§ 2o Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de processo de:
I - conhecimento, o réu será considerado revel;
II - execução, o feito terá seguimento.

Decorre do princípio da instrumentalidade, expressamente convencionado no


artigo 188, do CPC, o quer dizer que:

A desobediência a determinada forma prescrita na lei processual não


invalidará o ato que tenha atingido o resultado para o qual foi previsto. Por
exemplo: a lei impõe determinadas formalidades para a citação do réu.
Ainda que desobedecidas, o ato será válido se o réu comparecer ajuízo
(CPC, art. 239, § 1°). A finalidade da citação é dar ciência ao réu da
existência do processo; e, se ele compareceu, é porque tomou
conhecimento (GONÇALVES, 2016, p. 40).

Desta forma, estando o réu habilitado no processo, começara a correr os


prazos, ainda que ele apenas tenha se habilitado para dizer que a citação é nula ou
que não foi citado, ou seja, não poderá se habilitar no processo e esperar o juiz
decidir se há ou não nulidade, deverá desde já observar o prazos processuais.

11.3 Não poderá ser citado:


De acordo com o artigo 244 e 245, não poderão ser citados, salvo para evitar
perecimento do direito:

I - de quem estiver participando de ato de culto religioso;


II - de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente do morto,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha colateral em segundo grau,
no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes;
III - de noivos, nos 3 (três) primeiros dias seguintes ao casamento;
IV - de doente, enquanto grave o seu estado.
Art. 245. Não se fará citação quando se verificar que o citando é
mentalmente incapaz ou está impossibilitado de recebê-la.
§ 1o O oficial de justiça descreverá e certificará minuciosamente a
ocorrência.
§ 2o Para examinar o citando, o juiz nomeará médico, que apresentará
laudo no prazo de 5 (cinco) dias.

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§ 3o Dispensa-se a nomeação de que trata o § 2o se pessoa da família
apresentar declaração do médico do citando que ateste a incapacidade
deste.
§ 4o Reconhecida a impossibilidade, o juiz nomeará curador ao citando,
observando, quanto à sua escolha, a preferência estabelecida em lei e
restringindo a nomeação à causa.
§ 5o A citação será feita na pessoa do curador, a quem incumbirá a defesa
dos interesses do citando.

12 MECANISMOS DE SOLUÇÃO ADEQUADA DE CONFLITOS

A autocomposição é o método que visa auxiliar as partes no objetivo de


encontrar uma solução adequada para os conflitos, ou seja, é a base que dá
fundamento as demais técnicas. São meios de encontrar a solução diferentes da
prestação jurisdicional. O ordenamento jurídico reconhece como forma de
autocomposição a transação, conciliação ou mediação e a arbitragem.
a) Transação: negócio jurídico entre os sujeitos, pode ocorrer antes ou
depois da instauração do processo judicial, se ocorrer durante o processo
judicial, ensejará na solução do mérito, o acordo, se não ferir nenhum
direito indisponível, será homologado pelo juiz (art. 487, III, b, CPC).
b) Conciliação ou mediação: é mais que uma transação obtida em juízo, pois
há interferência de um terceiro, o conciliador ou mediador. A maior
diferença é que o mediador apenas atua na facilitação do diálogo entre as
partes, para que elas encontrem a melhor solução para seu litígio, é
realizado com partes que possuíam um vínculo anterior, por exemplo, um
marido e mulher que discutem sobre o divórcio e a guarda dos filhos. Já a
conciliação, em regra é utilizada com parte que não possuíam um vínculo
anterior, o conciliador além de facilitar o diálogo entre as partes, poderá
propor soluções ao litigio.

50
c) Arbitragem: regido pela Lei n. 9.307/1996, importa na renúncia da via
judicial, as partes confiam a resolução do seu litígio às pessoas que não
pertencem aos quadros do Poder Judiciário. A sentença do juiz árbitro
produz os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder
Judiciário.

Com exceção a arbitragem, que ocorre fora do poder judiciário, a


autocomposição pode acontecer a qualquer momento, inclusive na fase de
execução. Todavia, existe um momento mais específico, onde a conciliação ou
mediação é tentada, é na audiência de conciliação e mediação, que acontece antes
mesmo da apresentação da contestação, pela parte passiva da ação.

12.1 Da conciliação e mediação

A audiência ocorrerá no centro judiciário de solução consensual de conflitos,


somente em casos excepcionais a audiência será realizada na sede do juízo.
Poderá ser por meio eletrônico, através de videoconferência (art. 344, §7º, do CPC).
Cada audiência será marcada com intervalo de 20 minutos no mínimo (§12).

O centro de solução consensual dos conflitos pode ser externo ao Poder


judiciário. Nada impede que entidades de classe, serventias extrajudiciais,
associação de moradores, escolas (art. 42 da Lei n. 13.140/201 5),
Defensoria Pública (art. 43 da Lei n. 13.140/2015), outros entes privados
etc. criem centros de mediação e conciliação que, conveniados com o
tribunal, prestem esse serviço (DIDIER JR., 2016).

O artigo 166 do CPC, diz que a conciliação e a mediação serão informadas


pelos princípios da independência, imparcialidade, autonomia da vontade,
confidencialidade, oralidade, informalidade e da decisão informada.
A audiência só não ocorrerá em duas hipóteses:

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Os Tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos
(composição e organização definida pelo CNJ), locais onde se realizarão sessões e
audiências de conciliação e mediação, conforme o que estabelece o artigo 165, do
CPC.
Essa audiência não será realizada pelo juiz, na sala de audiências, mas pelos
conciliadores ou mediadores, nos centros judiciários de solução consensual de
conflitos, que serão criados pelos tribunais. A redação do art. 165, caput, não deixa
dúvida quanto à obrigatoriedade imposta aos tribunais de que criem tais centros.
Sem eles, não haverá como realizar adequadamente a audiência inicial do
procedimento comum. Onde houver mais de uma vara, caberá ao Centro, que
deverá ocupar espaço próprio, realizar todas as audiências do art. 334, para todos
os juízos (GONÇALVES, 2016, p. 40).
Segundo o artigo 165, §§ 2º e 3º, do CPC, o conciliador atuará
preferencialmente nos casos em que NÃO houver vinculo anterior entre as partes,
podendo sugerir soluções ao litigio, já o mediador atuará preferencialmente nos
casos em que houver vinculo anterior entre as partes litigantes, auxiliando-os a
entender as questões em conflitos, apenas auxiliando para que as próprias partes
encontrem uma solução consensual.
Os mediadores e conciliadores, formados por cursos do CNJ, é que
comandarão tais audiências, não os juízes, esses apenas homologarão os acordos,
quando houver. Os mediadores e conciliadores serão escolhidos pelas partes em
comum acordo (art. 168), não havendo acordo, haverá distribuição entre aqueles
cadastrados no registro do tribunal.

52
12.3 Ausência das partes em audiência

O comparecimento das partes é obrigatório, sob pena de ato atentatório


contra à dignidade da justiça e sob pena de multa de 2% da vantagem econômica
pretendia ou do valor da causa (art. 334, §8º).
As partes devem comparecer e estarem acompanhadas de seus respectivos
advogados ou defensores públicos. Contudo, se a parte não puder comparecer,
poderá ser representada por seu advogado, desde que tenha procuração com
poderes específicos (art. 334, §10º).

12.4 Prazo para defesa

Se o réu manifestar desinteresse, por petição simples, o prazo para


contestação começa a correr da data do protocolo do pedido de cancelamento da
audiência de conciliação ou de mediação, conforme artigo 335, inciso II, CPC).
Começará a correr o prazo para defesa no dia que as partes não realizarem o
acordo em audiência, ou, caso haja auto composição, o processo será extinto,
homologada sentença pelo juiz, tornando-se título executivo judicial (art. 515, II).
Em caso de litisconsórcio, para ter o prazo em dobro, deverão ter diferentes
procuradores, com escritórios diversos. Para a audiência de conciliação ou
mediação, todas partes deverão se manifestar, o silêncio de alguma acarreta na
designação da audiência, pelo juiz. Em caso de cancelamento, todos os réus
litisconsortes devem manifestar que não querem.
Nestes casos, o prazo começará a contar desde a manifestação de cada réu,
diferente do antigo Código, onde o prazo começava a correr do último litisconsorte,
ficando um prazo único para todos os réus. Agora, no CPC, o prazo é diferente para
cada réu, começando a correr a partir do protocolo de cancelamento da audiência de
cada um.

53
12.5 Mediação

Trata-se de um meio de solução de conflitos. Seu conceito está disciplinado


no parágrafo único, do artigo 1º, da Lei nº 13.140/15, que assim dispõe: “Considera-
se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório,
que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou
desenvolver soluções consensuais para a controvérsia”.
De acordo com o artigo 2º da Lei nº 13.140/15, a mediação deverá seguir os
seguintes princípios:
I - Imparcialidade do mediador;
II - Isonomia entre as partes;
III - Oralidade; IV - Informalidade;
V - Autonomia da vontade das partes;
VI - Busca do consenso;
VII - Confidencialidade;
VIII - Boa-fé.

Essa técnica poderá tratar de todo um processo ou apenas de uma parte


dele. A audiência de conciliação ou mediação poderá ser realizada também por meio
eletrônico, conforme o artigo 334, §7º, do CPC.
O objeto da mediação pode ser tanto questões que tratam de direitos
disponíveis, quanto de direitos indisponíveis, conforme o artigo 3º, da Lei nº
13.140/15.
O procedimento de mediação deve ser concluído no prazo de 60 dias, de
acordo com o artigo 28, da lei n. 13.140/15, não em dois meses, conforme §2º, artigo
334, do CPC, visto que a lei de mediação é posterior.

12.6 Funções do mediador

O mediador será indicado pelo tribunal ou pelas partes. Ele intermediará a


conversação entre os litigantes, visando o entendimento e o acordo entre eles, com
o objetivo de resolver o conflito.
No momento da escolha do mediador é importante observar as hipóteses de
suspeição e impedimento do juiz, visto que neste caso se aplicam as mesmas

54
normas, devendo ser observados os artigos 144 e 145 do CPC. Assim, o mediador
tem a obrigação de revelar, antes de assumir o posto, qualquer circunstância que
comprometa a sua imparcialidade, dando a oportunidade para que as partes se
manifestem sobre a sua aceitação ou não.
Depois de mediar algum processo, o mediador fica impedido, pelo período de
um ano, de figurar nas demandas que envolvam as partes que mediou. Fica
impedido, ainda, de ser arbitro ou testemunha nos processos em que tenha atuado.
Para os efeitos penais, o mediador e os que o auxiliaram são igualados a um
servidor público.
A audiência de mediação será marcada pelo juiz, após serem observados os
requisitos da petição inicial e não sendo caso de indeferimento preliminar. A partir da
primeira sessão o procedimento tem 60 dias para ser finalizado, exceto no caso de
ambas as partes concordarem pela prorrogação.
Havendo êxito e sendo feito acordo entre as partes, o processo será
arquivado pelo juiz, ou, em caso de pedido das partes, o juiz, antes do
arquivamento, homologará o acordo através da uma sentença.
Caso não tenha ocorrido a citação do réu no momento da solução do conflito,
não serão cobradas custas judiciais finais.

12.7 Conciliação e mediação envolvendo o Poder Público

A conciliação e a mediação também podem ser utilizadas em relações


envolvendo pessoas jurídicas de Direito Público.
O artigo 174 do CPC, dispõe que:

Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão


câmaras de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas à solução
consensual de conflitos no âmbito administrativo, tais como:
I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública;
II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio
de conciliação, no âmbito da administração pública;
III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de
conduta.

55
Também encontra amparo legal nos artigos 32 e seguintes da Lei nº
13.140/15.
A criação dessas câmaras não obriga que todos os conflitos do Poder Público
sejam apreciados por elas, visto que são facultativos, e com a ressalva de que
estejam previstos no regulamento do ente federado. Ainda, exclui-se os conflitos que
apenas podem ser decididos pelo Poder Legislativo.
Poderá haver mediação coletiva de casos referentes a prestação de serviços
públicos.
Quando instaurados os procedimentos de mediação e arbitragem na
administração pública ocorre a suspensão da prescrição.
Também poderão ser criadas câmeras para resolver os conflitos entre
particulares nas questões que se referem a atividades supervisionadas ou reguladas
pelo Poder Público.

12.8 A mediação extrajudicial dos direitos disponíveis e indisponíveis


transacionáveis

A mediação também pode ocorrer extrajudicialmente, no caso de as partes


tentarem resolver o conflito, através da mediação, antes de adentrarem na esfera
judicial.
Poderá atuar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz, não
precisando ter feito nenhum curso específico, desde que tenha a confiança das
partes e seja capacitado para fazer mediação (artigo 9º, da Lei nº 13.140/15). A
escolha do mediador será feita livremente pelas partes.
O convite feito pela parte interessada na mediação extrajudicial à outra parte
poderá ser feito através de qualquer meio de comunicação, devendo ser estipulado
o objetivo para a negociação, a data e o local do primeiro encontro.
Diante disso, a parte contrária poderá aceitar ou recusar expressamente a
mediação ou até mesmo não responder, caso em que será considerado rejeitado,
visto que a lei estipula o prazo de 30 dias para resposta (artigo 21, parágrafo únicos,
da Lei nº 13.140/15).

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Se a parte convidada não comparecer à primeira reunião de mediação e não
houver cláusula punitiva regulando essa possibilidade, ficará obrigada ao pagamento
de cinquenta por cento das custas e honorários sucumbenciais caso venha a ser
vencedora em procedimento arbitral ou judicial posterior, que envolva o escopo da
mediação para a qual foi convidada (artigo art. 22, § 2º, IV, da Lei).

12.9 Audiência de conciliação após o encerramento da fase postulatória

Ressalta-se que as partes podem apresentar o acordo para homologação


judicial a qualquer momento, e tal acordo será homologado por sentença, segundo o
que determina o artigo 487, III, b, do CPC, gerando, assim, título executivo judicial
(art. 515, III, CPC).
Inclusive, segundo o artigo 139, V, CPC, o juiz pode promover a qualquer
tempo a autocomposição. Além disso, as próprias partes poderão requerer essa
audiência, com fundamento no princípio da cooperação processual, previsto no
artigo 6º, do CPC (BARROSO, LETTIÉRE, 2016).
Ao homologar, o juízo estará limitado a verificação de existência dos
requisitos de validade do negócio jurídico (capacidade, forma legal ou não proibida e
objeto lícito), deverá observar também a competência para homologar acordo.
Portanto, só não poderá homologar senão estiverem presentes estes requisitos.

13 DO DESINTERESSE DAS PARTES

De acordo com o artigo 334 do CPC, o juiz ao receber a petição e não for
caso de improcedência liminar ou indeferimento, deverá designar a audiência de
conciliação ou mediação com antecedência mínima de 30 dias, sendo que o réu terá
que ser citado, pelo menos 20 dias antes da audiência, “Na carta (art. 248, §3°,
CPC) ou no mandado de citação (art. 250, IV, CPC), o réu será intimado para
comparecer, acompanhado de advogado ou de defensor público, à audiência de
conciliação ou de mediação, com a menção do dia, da hora e do lugar do

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comparecimento” (DIDIER JR., 2016). Sua manifestação de desinteresse deverá ser
apresentada até 10 dias antes (§5º) da audiência, por simples petição. Em caso de
litisconsórcio, todos deverão manifestar o desinteresse (§6º). Lembrando que, para
não ocorrer a audiência ambas as partes deverão demonstrar desinteresse.
Já no início da fase postulatória o Juiz marcará audiência de mediação ou
conciliação, atendendo o que prevê o artigo 3º, §2º e 3º do CPC:

Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a


direito.
§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos.
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo
judicial.

O autor deverá demonstrar na petição inicial que tem interesse na audiência


de mediação e conciliação. Contudo, ainda que diga que não tem interesse, o juiz
marcará audiência e mandará citar o réu, que também deverá se manifestar sobre o
seu interesse na autocomposição, somente não será designada quando o juiz
entender que a autocomposição é inviável naquela lide ou se AMBAS as partes
disserem que não tem interesse.
Se o autor omitir na inicial seu interesse ou não pela audiência, o juiz
entenderá sua omissão como concordância com o ato, então, caso o réu venha a
dizer que não tem interesse, será designada audiência mesmo assim, ou ainda, se o
autor disser que não quer, mas o réu se manifestar pela realização da audiência de
conciliação ou mediação, ela será designada pelo juiz.
De acordo com o artigo 334 do CPC, o juiz ao receber a petição e não for
caso de improcedência liminar, deverá designar a audiência de conciliação ou
mediação com antecedência mínima de 30 dias, sendo que o réu terá que ser
citado, pelo menos 20 dias antes da audiência e sua manifestação de desinteresse
ou interesse deverá ser apresentada até 10 dias antes (§5º) da audiência. Em caso
de litisconsórcio, todos deverão manifestar o desinteresse (§6º).

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Ainda, o artigo 166 do CPC, diz que a conciliação e a mediação serão informadas
pelos princípios da independência, imparcialidade, autonomia da vontade,
confidencialidade, oralidade, informalidade e da decisão informada.

13.1 Prazo para defesa

Começará a correr o prazo para defesa no dia em que as partes não


realizarem o acordo em audiência, ou, caso haja auto composição, o processo será
extinto, homologada sentença pelo juiz, tornando-se título executivo judicial (art. 515,
II).
Se na petição inicial o autor se manifestou pela não realização da audiência
de mediação ou conciliação, no protocolo do pedido de cancelamento do réu (quanto
a audiência de conciliação e mediação) começará a correr o prazo para contestar.
Em caso de litisconsórcio, para ter o prazo em dobro, deverão ter diferentes
procuradores, com escritórios diversos. Para a audiência de conciliação ou
mediação, todas partes deverão se manifestar, o silêncio de alguma acarreta na
designação da audiência, pelo juiz. Em caso de cancelamento, todos os réus
litisconsortes devem manifestar que não querem.
Nestes casos, o prazo começará a contar desde a manifestação de cada réu,
diferente do antigo Código, onde o prazo começava a correr do último litisconsorte,
ficando um prazo único para todos os réus. Agora, no CPC, o prazo é diferente para
cada réu, começando a correr a partir do protocolo de cancelamento da audiência de
cada um.

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ARBITRAGEM E A LEI 9.307/96 COM AS MODIFICAÇÕES
14 INTRODUZIDAS PELA LEI Nº 13.129/15

A arbitragem, que está disciplinada na Lei nº 9.307/96, é uma técnica de


solução de conflitos, onde as partes, através de um acordo, escolhem uma terceira
pessoa que ficará encarregada de decidir a demanda, atuando como uma espécie
de juiz. Porém, não é para qualquer conflito que se admite a referida técnica, sendo
que existem algumas limitações, precisando, assim, de autorização judicial.
A Lei nº 13.129/15 trouxe algumas modificações a esse instituto em relação a
sua aplicação:
Recentemente, através da edição da Lei 13.129/15 foi ampliada a aplicação
da arbitragem para dispor sobre a escolha de árbitros quando as partes recorrem a
órgão arbitral, a interrupção da prescrição pela instituição da arbitragem. Ademais,
regulamenta a concessão de tutelas de urgência, carta arbitral, bem como a
sentença arbitral. (MOTA et al, 2016, p. 573).
De acordo com o artigo 31 da Lei 13.129/15, a sentença proferida pelo juiz
arbitral constituirá título executivo se for condenatória, mas o conteúdo da referida
sentença poderá ser averiguado pelo Poder Judiciário, em se tratando dos
elementos de regularidade.
E diferentemente da mediação, na arbitragem apenas podem ser apreciados
os direitos disponíveis, que são os patrimoniais.

14.1 A conciliação e a mediação judiciais no CPC e na Lei nº 13.140/15

A conciliação e a mediação também podem ser utilizadas em relações


envolvendo pessoas jurídicas de Direito Público.
O artigo 174 do CPC, dispõe que:

Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão


câmaras de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas à solução
consensual de conflitos no âmbito administrativo, tais como:
I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública;

60
II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio
de conciliação, no âmbito da administração pública;
III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de
conduta.

Também encontra amparo legal nos artigos 32 e seguintes da Lei nº


13.140/15.
A criação dessas câmaras não obriga que todos os conflitos do Poder Público
sejam apreciados por elas, visto que são facultativos, e com a ressalva de que
estejam previstos no regulamento do ente federado. Ainda, exclui-se os conflitos que
apenas podem ser decididos pelo Poder Legislativo.
Poderá haver mediação coletiva de casos referentes a prestação de serviços
públicos.
Quando instaurados os procedimentos de mediação e arbitragem na
administração pública ocorre a suspensão da prescrição.
Também poderão ser criadas câmeras para resolver os conflitos entre
particulares nas questões que se referem a atividades supervisionadas ou reguladas
pelo Poder Público.

LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIROS


15

O litisconsórcio ocorre quando duas ou mais pessoas são partes em um


mesmo processo, tendo interesses em comum. O instituto do litisconsórcio está
previsto no artigo 113 do CPC, que disciplina que:

Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em


conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à
lide;
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.

No caso de haver mais de um autor, o litisconsórcio será chamado de ativo,


havendo mais de um réu, litisconsórcio passivo, e se houver pluralidade de autores e
réus, será chamado de misto.

61
O litisconsórcio pode ser obrigatório ou não. No caso de ser obrigatório, tem-
se o litisconsórcio necessário ou obrigatório, acarretando, no caso de sua não
observância, a extinção do processo (artigo 115, parágrafo único, do CPC). E não
existindo essa obrigatoriedade, tem-se o litisconsórcio facultativo.
O litisconsórcio necessário ou obrigatório decorre de expressa previsão legal,
como no caso do artigo 73 do CPC, que exige que ambos os cônjuges ou
companheiros figurem conjuntamente em ações que versem sobre direito real
imobiliário ou, ainda, devido à natureza da relação entre as partes. Já o litisconsórcio
facultativo deriva apenas da vontade da parte autora, que pode optar por propor uma
única ação contra todos os réus que tenham ligação na demanda.
Ainda, o litisconsórcio poderá ser simples, quando a sentença não tiver que
ser igual para todos os litisconsortes, ou unitário, quando necessariamente precisar
ser igual para todos.
Em relação a intervenção de terceiros, em regra, a decisão atinge apenas as
partes que integram a lide, ou seja, autor e réu. Porém existem casos em que a
sentença acaba atingindo também pessoas estranhas ao processo, violando ou
ameaçando algum direito seu. Nestes casos, o terceiro interessado pode vir a
integrar a demanda, seja voluntariamente ou diante da provocação de uma das
partes.
A intervenção de terceiros pode se dar através das seguintes formas:

a) Assistência: Trata-se de uma intervenção voluntária, em que um terceiro


interessado no conteúdo da sentença intervém no processo a fim de assistir e ajudar
a parte com a qual tenha relação jurídica. Chama-se assistência simples.
Ainda, existe a assistência litisconsorcial, que é quando o assistente e uma
das partes tem um adversário em comum e o assistente visa defender um direito
seu. Nesse caso ele poderá pertencer tanto ao polo ativo, quando ao passivo.

b) Denunciação da lide: Aqui a intervenção é originada pela iniciativa de


uma das partes, que será chamado de denunciante, cujo objetivo é garantir o direito
de regresso no caso de improcedência do processo. Esse direito de regresso

62
somente será julgado pelo juiz se o denunciante perder a ação principal. Está
previsto no artigo 125 do CPC.

c) Chamamento ao processo: Ocorre quando o réu chama a integrar o polo


passivo da demanda (apenas em processos de conhecimento) os demais devedores
da mesma dívida, configurando o litisconsórcio passivo. Assim, ao invés do réu
pagar integralmente a dívida no processo e depois ter direito de regresso contra os
outros devedores, ele já os chama para integrar o processo e ali mesmo ser
estipulada a responsabilidade de cada um. As hipóteses de chamamento ao
processo estão disciplinadas no artigo 130 do CPC:

Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:


I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu;
II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;
III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de
alguns o pagamento da dívida comum.

d) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica: O incidente


de desconsideração da personalidade jurídica vem regulado nos art. 133 a 137 do
Código de Processo Civil. Sua finalidade é a responsabilização das pessoas físicas,
sócias de empresas, pelos atos da pessoa jurídica. Fala-se, também, na
responsabilização da pessoa jurídica pelos atos das pessoas naturais que a
controlam ou comandam. Os requisitos para as relações civis são: Abuso de poder,
confusão patrimonial ou desvio de finalidade, conforme art. 50 do Código Civil. A
desconsideração da personalidade jurídica está prevista, também, no Código de
Defesa ao Consumidor (art. 28) e no Código Tributário Nacional (art. 134 e 135).

d) Amicus Curie: O amicus Curie está previsto no art. 138 do Código de


Processo Civil e sua finalidade é auxiliar na formação de convencimento do juiz.
Para que seja admitido o Amicus Curie, deverá ser observada a relevância da
matéria, a especificidade do tema objeto da demanda e a repercussão social da
controvérsia.

63
16 CUSTAS PROCESSUAIS

O processo envolve uma série de gastos e atividades, como a manutenção


dos prédios onde são desempenhas as atividades, os serviços dos juízes, peritos,
servidores, advogados, entre outros. Grande parte desses custos são pagos pelo
Estado através dos tributos, porém uma parcela é cobrada dos que utilizam
efetivamente os serviços, exceto nos casos da concessão da justiça gratuita. Além
das custas, o trâmite de um processo requer, ainda, o pagamento de despesas,
honorários advocatícios e multas, se descumprida alguma obrigação. Esses
encargos processuais estão disciplinados nos artigos 82 a 97 do CPC.

16.1 Justiça gratuita

De acordo com o artigo 98 do CPC, toda pessoa natural ou jurídica, tanto


brasileira, quanto estrangeira, que tenha insuficiência de recursos para o pagamento
das custas, das despesas processuais e dos honorários advocatícios, tem direito à
justiça gratuita.
Embora tenha havido discordância quanto ao fato da pessoa jurídica também
poder ser beneficiária da justiça gratuita, predomina o entendimento de que a
pessoa jurídica também tem direito ao benefício, visto que, muito embora não possa
constituir família, pode muito bem possuir insuficiência de recursos (Súmula 481 do
STJ). O benefício da justiça gratuita está previsto no art. 5°, inciso LXXIV, da
Constituição Federal.
É concedido a qualquer das partes, podendo ser, inclusive, a um terceiro que
interveio no processo, desde que cumpra os requisitos impostos na lei.
O parágrafo 1º, do artigo 98, do CPC, traz o rol de elementos compreendidos
pela Gratuidade da justiça, quais sejam:

I - as taxas ou as custas judiciais;


II - os selos postais;
III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a
publicação em outros meios;

64
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá
do empregador salário integral, como se em serviço estivesse;
V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de
outros exames considerados essenciais;
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete
ou do tradutor nomeado para apresentação de versão em português de
documento redigido em língua estrangeira;
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para
instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para
propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes
ao exercício da ampla defesa e do contraditório;
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da
prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à
efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual
o benefício tenha sido concedido.

A justiça gratuita pode também ser concedida em face de apenas um ato


processual ou até mesmo proporcionar um desconto (em termos percentuais) ou a
possibilidade de parcelamento dos custos que tiver que adiantar durante o processo.
O pedido ao benefício poderá ser feito em várias fases do processo, na inicial,
contestação, em recursos ou até mesmo na petição que traz um terceiro ao
processo.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição


inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou
em recurso.
§ 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o
pedido poderá ser formulado por petição simples, nos autos do próprio
processo, e não suspenderá seu curso.
§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos
elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a
concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar
à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural.
§ 4o A assistência do requerente por advogado particular não impede a
concessão de gratuidade da justiça.
§ 5o Na hipótese do § 4o, o recurso que verse exclusivamente sobre valor de
honorários de sucumbência fixados em favor do advogado de beneficiário
estará sujeito a preparo, salvo se o próprio advogado demonstrar que tem
direito à gratuidade.
§ 6o O direito à gratuidade da justiça é pessoal, não se estendendo a
litisconsorte ou a sucessor do beneficiário, salvo requerimento e
deferimento expressos.
§ 7o Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o
recorrente estará dispensado de comprovar o recolhimento do preparo,
incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o requerimento e, se indeferi-lo,
fixar prazo para realização do recolhimento.

65
No caso da pessoa natural, basta a alegação de ser hipossuficiente, não
podendo o juiz indeferir o benefício sem que esteja evidenciado no processo o
contrário. Nesse caso, ainda, antes do indeferimento, a parte tem a oportunidade de
provar o contrário.
Diferentemente é a situação da pessoa jurídica, que para fazer jus à justiça
gratuita deve provar ser financeiramente hipossuficiente.
Em regra, o benefício da gratuidade é apenas para a pessoa que a postulou,
não se expandido para o litisconsorte ou sucessor do beneficiário, por exemplo,
exceto no caso de o juiz expressamente ter-lhe conferido esse direito, após o
respectivo pedido.
No caso de a parte não ter mais direito ao benefício, ela terá de pagar as
despesas do processo ainda não quitadas, e em havendo má-fé, ficará obrigada ao
pagamento de uma multa consistente em até o décuplo do valor devido.
Diante da decisão de indeferimento ou de acolhimento do pedido de
revogação da justiça gratuita, caberá agravo de instrumento, exceto quando a
decisão for dada em sentença, hipótese em que caberá apelação.

16.2 Má-fé na relação processual

Conforme já visto no tópico referente ao respectivo princípio, as partes devem


sempre participar e agir em um processo de acordo com a boa-fé (artigo 5º, do
CPC). As condutas tidas como de má-fé estão enumeradas no artigo 80 do CPC,
sendo elas:

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Diante disso, as partes não podem agir processualmente com má-fé, sob
pena das responsabilidades civis cabíveis.

66
16.3 Responsabilidade por dano processual

A responsabilidade das partes por dano processual está disciplinada nos


artigos 79 a 81 do CPC.
Conforme o artigo 79 do CPC, responderá por perdas e danos aquele que
litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente.
Caso a parte atue de má-fé, visando prejudicar a parte contrária ou dificultar e
ofender o exercício jurisdicional, incorrendo nas hipóteses do artigo 80 do CPC,
poderá vir a sofrer uma sanção, que consiste no pagamento de uma multa não
excedente a um e inferior a dez por cento sobre o valor atualizado da causa, bem
como indenizar a outra parte pelos prejuízos sofridos, arcando, ainda, com os
honorários advocatícios e as demais despesas efetuadas (artigo 81, caput, do CPC).
Se duas ou mais partes agirem de má-fé o juiz condenará cada uma
proporcionalmente de acordo com o seu interesse na causa ou solidariamente, no
caso dos que se juntaram para lesar a parte contrária.
No caso de o valor da causa ser irrisório ou inestimável, a multa será fixada
em até 10 vezes o valor do salário-mínimo.
Quem fixa o valor da indenização é o juiz, ou no caso de não ser possível
mensurá-lo, será liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos
próprios autos.

16.4 Dever de colaboração

Trata-se de um dever imposto às partes de colaborarem entre si, visando


atingir o mais rápido possível uma decisão de mérito justa e efetiva, conforme o
artigo 6º do CPC.
Esse princípio, também conhecido como princípio da cooperação, tem origem
no direito europeu e disciplina que um processo se dá através da atividade conjunta
e cooperada do juiz e das partes.

67
Assim, não cabe apenas ao juiz o encargo de tutelar o processo a fim de
torna-lo célere e efetivo, mas também às partes, que devem ter uma participação
ativa e conjunta.

17 PRECLUSÃO

A preclusão é um mecanismo de grande importância ao processo, visto que


sem ele o processo se eternizaria. (GONÇALVES, 2016, p. 320).
Trata-se de um mecanismo que gera a perda da faculdade processual, ou
seja, a parte não poderá mais praticar determinado ato processual, podendo ser
gerada por:

-não ter sido exercida no tempo devido (preclusão temporal);


-incompatibilidade com um ato anteriormente praticado (preclusão lógica);
-já ter sido exercida anteriormente (preclusão consumativa). (GONÇALVES,
2016, p. 320).

17.1 Preclusão temporal

Ocorre a preclusão temporal quando algum prazo previsto em lei deixa de ser
observado, acarretando a perda do direito de agir ou de ingressar com o respectivo
ato processual, como por exemplo, a não observância do prazo de uma apelação.
Passado o prazo de 15 dias a parte interessada não poderá mais apelar. A perda do
prazo para alegar a incompetência relativa em preliminar de contestação ocasiona a
prorrogação, isto é, o juízo que não era competente, torna-se competente, de acordo
com o artigo 65 do CPC.

17.2 Preclusão lógica

Nesse caso a parte deixa de ter a possibilidade de praticar algum ato, diante
de já ter realizado ato anterior incompatível com o mesmo. Exemplo:
impossibilidade de recorrer de uma decisão depois de já ter cumprido o determinado

68
por ela, isto é, pago o valor da condenação e recorro mediante apelação ao mesmo
tempo. Está previsto no artigo 1.000 do CPC.

17.3 Preclusão consumativa

Trata-se da impossibilidade da parte refazer ou aperfeiçoar algum ato já


realizado. Se a parte já ingressou com algum recurso, por exemplo, mesmo antes do
último dia do prazo, não conseguirá mais incluir outros argumentos a ele ou até
mesmo refazê-lo, visto que o seu direito já terá se exaurido. Por exemplo, temos a
reconvenção, que deverá ser apresentada junto com a contestação, nem antes, nem
depois, junto.

17.4 Preclusão “pro judicato”

Além da preclusão imposta às partes, também existem algumas hipóteses em


que o juiz fica sujeito a ela. É o caso da vedação de decidir novamente algo que já
foi analisado. “Não se trata de preclusão temporal, mas da impossibilidade de decidir
novamente aquilo que já foi examinado. Não há a perda de uma faculdade
processual, mas vedação de reexame daquilo que já foi decidido anteriormente, ou
de proferir decisões incompatíveis com as anteriores”. (GONÇALVES, 2016, p. 320).
Porém nem todas as decisões realizadas pelos juízes estão sujeitas a essa regra.
As decisões que o juiz não pode reexaminar são as que deferem a produção
de provas, concedem medidas de urgência e as que decidem matérias que não são
de ordem pública, como as referentes a nulidades relativas. Entretanto,
excepcionalmente poderá modificar mesmo essas decisões, no caso de sobrevirem
fatos novos que justifiquem a reanálise.
No caso de a decisão ter sido objeto de agravo de instrumento, o juiz também
poderá exercer o juízo de retratação, durante o tempo em que o agravo ainda não
tiver sido julgado.
As decisões que não estão sujeitas a essa preclusão são as seguintes:

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- aquelas que examinam matéria de ordem pública, como falta de condições
da ação e pressupostos processuais, requisitos de admissibilidade dos
recursos;
- aquelas em que há indeferimento de provas, porque, por força do art. 370
do CPC, o juiz pode, a qualquer tempo, de ofício, determinar as provas
necessárias ao seu convencimento. (GONÇALVES, 2016, p. 321)

18 CONTESTAÇÃO E RECONVENÇÃO

A segunda etapa do processo de conhecimento, fase postulatória, é a


apresentação da resposta pelo réu (sujeito passivo), essa fase poderá ser de
oportunidade para o autor se manifestar também, caso o réu apresente sua versão
dos fatos e formule eventual pretensão ao juízo (art. 338, do CPC):

Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o
responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze)
dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as
despesas e pagará os honorários ao procurador do réu excluído, que serão
fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este
irrisório, nos termos do art. 85, § 8o (BRASIL, 2015).

Neste momento, o réu irá ser citado, de acordo com o artigo 238, do CPC,
para integrar a relação processual, e apresentar dois tipos de resposta: contestação
e a reconvenção (GONÇALVES; LENZA, 2016).

18.1 Formas de resposta:

a) CONTESTAÇÃO: em regra.
b) RECONVENÇÃO: pela qual poderá contra-atacar, apresentada na
contestação, na qual poderá dirigir pretensões contra o autor da ação.

A defesa poderá DIRETA ou INDIRETA, isto é, se atacar aspectos


processuais (como petição inepta), será defesa indireta. Agora, se atacar o mérito,
alegar, por exemplo, que não é causador da explosão do fogão, será uma defesa
direta.

70
É conveniente atacar só a defesa indireta? Não, pois se não foi acolhida pelo
juiz, o juiz passará a analisar o mérito da questão.

Ao apresentá-la, ele formula a pretensão de ver o pedido inicial desacolhido,


no todo ou em parte, apresentando os argumentos e fundamentos que
servirão para convencer o juiz. Daí que a pretensão contida na contestação
é sempre declaratória negativa, de que o juiz declare que o autor não tem
razão, desacolhendo o pedido (GONÇALVES; LENZA, 2016).

As questões de defesa indireta devem ser tratadas antes das questões de


mérito, assim, denominadas de PRELIMINARES.

18.2 Princípio da Eventualidade ou da concentração de defesa:

Ao contrário do que ocorrer na petição inicial, a Contestação não possuí


requisitos a serem preenchidos obrigatoriamente. Contudo, devem ser observados
alguns pontos, os quais são necessários para o correto andamento processual,
como por exemplo: o endereçamento correto, a indicação do número do processo,
nome das partes, a qualificação das partes será necessária apenas se houve
alguma retificação a ser feita, caso contrário, poderá apenas escrever ao lado do
nome da parte “já qualificado nos autos em epígrafe”, deverá requerer as provas,
pedidos, requerimento e juntada de procuração.
Além do mais, cabe ao réu alegar na contestação toda matéria de defesa, de
forma específica, expondo as razões de fato e de direito para impugnar o pedido do
autor (art. 336, do CPC), afim de que não haja presunção de veracidade dos fatos
alegados pelo autor.
O réu somente poderá arguir novos argumentos, após a contestação, sobre
fatos supervenientes, de acordo com o artigo 342, do CPC:

Art. 342. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações


quando:
I - relativas a direito ou a fato superveniente;
II - competir ao juiz conhecer delas de ofício;
III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer
tempo e grau de jurisdição (BRASIL, 2015).

71
18.3 Ônus da impugnação especificada:

O Réu não pode apresentar contestação genérica, devendo enfrentar de


forma específica tudo aquilo que foi alegado pelo autor, na petição inicial, e dizer
que os argumentos não verdades, ou então reconhecer a procedência do pedido
formulado pelo autor. De acordo com o artigo 341, do CPC:

Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as


alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras
as não impugnadas, salvo se:
I - não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considerar da substância do ato;
III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.
Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se
aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial
(BRASIL, 2015).

Assim, se não for uma das exceções dos incisos I ao III, do artigo 341, do
CPC, a consequência para a não impugnação específica dos fatos é a presunção de
veracidade dos fatos, autorizando o magistrado a julgar antecipadamente o
processo.

ATENÇÃO!!!
De acordo com o parágrafo único do artigo 341, do CPC,
o ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao
defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial.

18.4 Prazo para contestação:

O prazo para contestar é de 15 dias (Art. 335, caput, do CPC). Contudo, se o


réu for o Ministério Público (Art. 180, CPC), ente público (art. 183, CPC), réu
representado pela defensoria pública (art. 186, CPC), escritório de prática jurídica
das faculdades de direito (§3º, 186, CPC) ou litisconsorte com advogados diferentes
(art. 229, CPC), o prazo para contestar será de 30 dias (DIDIER JR, 2016).

72
ATENÇÃO!!!
Observar que contam apenas os dias úteis (art. 219, CPC) e
nos procedimentos especiais o prazo da contestação poderá
ser outro e ter outro marco inicial.

Quanto ao termo inicial, devem ser observados os incisos do artigo 335, do


CPC:

Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15


(quinze) dias, cujo termo inicial será a data:
I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de
conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não
houver autocomposição;
II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou
de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, §
4o, inciso I;
III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos
demais casos.
§ 1o No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, §
6o, o termo inicial previsto no inciso II será, para cada um dos réus, a data
de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência.
§ 2o Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso II, havendo
litisconsórcio passivo e o autor desistir da ação em relação a réu ainda não
citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão que
homologar a desistência.

Quando houver mais de um réu, é necessário que todos manifestem recusa à


audiência de conciliação para que esta não seja realizada. A partir de cada recusa
começa a fluir o prazo para contestação, de forma que o prazo não vai ser comum,
mas individualizado para cada réu, de acordo com os §§1º e 2º, artigo, 335 do CPC.
Quanto ao termo inicial para apresentação da Contestação, conforme
previsão do inciso III, artigo 335, do CPC, tal dispositivo prevê a aplicação
subsidiária do artigo 231, a depender da forma que foi realizada a citação:

Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo


do prazo:
I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação
ou a intimação for pelo correio;
II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou
a intimação for por oficial de justiça;

73
III - a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por
ato do escrivão ou do chefe de secretaria;
IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando a citação
ou a intimação for por edital;
V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao
término do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a
intimação for eletrônica;
VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não
havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de origem devidamente
cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em cumprimento de
carta;
VII - a data de publicação, quando a intimação se der pelo Diário da Justiça
impresso ou eletrônico;
VIII - o dia da carga, quando a intimação se der por meio da retirada dos
autos, em carga, do cartório ou da secretaria.
§ 1o Quando houver mais de um réu, o dia do começo do prazo para
contestar corresponderá à última das datas a que se referem os incisos I a
VI do caput.
§ 2o Havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado
individualmente.
§ 3o Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou por
quem, de qualquer forma, participe do processo, sem a intermediação de
representante judicial, o dia do começo do prazo para cumprimento da
determinação judicial corresponderá à data em que se der a comunicação.
§ 4o Aplica-se o disposto no inciso II do caput à citação com hora certa.

18.5 Preliminares:

Trata-se da defesa indireta, que deverá ser discutida antes do mérito (defesa
direta). As preliminares podem ser divididas em PEREMPTÓRIAS (que dão fim ao
processo) ou em DILATÓRIAS (suspendem ou dilatam o curso do processo, não
extinguem, portanto, são vícios sanáveis).
As preliminares estão no artigo 337, do CPC:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


I - inexistência ou nulidade da citação;
II - incompetência absoluta e relativa;
III - incorreção do valor da causa;
IV - inépcia da petição inicial;
V - perempção;
VI - litispendência;
VII - coisa julgada;
VIII - conexão;
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
X - convenção de arbitragem;
XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

74
“As preliminares, à exceção da incompetência relativa e do compromisso
arbitral, devem ser conhecidas pelo juiz de ofício. Por isso, não precluem, ainda que
não alegadas na contestação” (GONÇALVES; LENZA, 2016). Trataremos a seguir
de cada uma das preliminares:

a) Inexistência ou nulidade de citação, art. 337, inciso I: trata-se de


defesa dilatória, pois não haverá extinção do mérito, mas renovação do
prazo para apresentar sua reposta. Contudo, se o réu apresenta
contestação fora do prazo, alegando tal nulidade, se for rejeitada a
preliminar de nulidade de citação, o réu será considerado revel, no
processo de conhecimento, de acordo com o artigo 239, I, §2º do CPC,
mas, se acolhida, terá novo prazo para apresentar a resposta (DIDIER JR,
2016). Se o réu comparecer mesmo havendo nulidade da citação ou não
tendo sido citado, mas isso não o prejudicou, está nulidade será suprimida
pelo princípio da instrumentalidade das formas, se ele apresentar
contestação será considerada tempestiva e acolhida. Poderá também
comparecer na audiência apenas para alegar a nulidade, requerendo novo
prazo para elaborar corretamente a contestação, artigo 239:

Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou


do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial
ou de improcedência liminar do pedido.
§ 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou
a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação
de contestação ou de embargos à execução.
§ 2o Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de processo de:
I - conhecimento, o réu será considerado revel;
II - execução, o feito terá seguimento.

b) Incompetência absoluta ou relativa, artigo 337, incido II: a


incompetência deverá ser arguida em preliminar, segundo o artigo 337, II e
artigo 64, ambos do CPC. A incompetência absoluta poderá ser
reconhecida de ofício pelo juiz, por se tratar de matéria de ordem pública,
onde as partes não podem dispor sobre o assunto ou eleger o foro. A
alegação de incompetência é formulada perante o juízo do domicílio do
réu, assim, toda a contestação será apresentada no foro competente.

75
Cuidado: se haver data designada para audiência de conciliação ou
mediação, em foro incompetente, o réu deverá apresentar a contestação
no juízo competente, se ele acolher a alegação, será o juízo competente
para julgar a causa. Neste caso, a audiência de conciliação e mediação
que estava designada, será suspensa (§3º, do artigo 340, CPC) e, após, o
juiz competente designará nova data para a audiência de conciliação ou
mediação (§4º, do artigo 340, CPC).

c) Incorreção do valor da causa: pode se basear em dois fundamentos:


I- O autor atribuí à causa valor em desconformidade ao artigo 292, do
CPC, o qual estabelece os critérios para o cálculo;
II- Nas hipóteses não reguladas pelo artigo 292, cabe ao autor definir o
valor da causa, nesse caso a impugnação do réu poderá ocorrer se o
valor atribuído foi irrazoável, incoerente, incompatível (DIDIER JR,
2016).
A não impugnação pelo réu, gera a preclusão, isto é, de acordo com o artigo
293, do CPC, não haverá outro momento para impugnar o valor da causa.

d) Inépcia da petição inicial, artigo 337, inciso IV: poderá precluir se não
for alegada em preliminar de contestação. O §1º, do artigo 330, do CPC, é
que traz a definição de inépcia, conforme estudado no problema 03.

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:


I - for inepta;
II - a parte for manifestamente ilegítima;
III - o autor carecer de interesse processual;
IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.
§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando:
I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que
se permite o pedido genérico;

76
III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

e) Perempção, artigo 337, inciso V: o autor dá causa a extinção do


processo por 03 vezes, sem resolução do mérito. Exemplo: quando o autor
abandonar a causa por mais de 30 dias, deixando de praticar atos e
diligências, se ele der causa para indeferimento da petição inicial, se não
comprovar o pagamento de custas (art. 486, §2º, CPC). Assim, na quarta
tentativa do autor de propor ação judicial com mesmo causa de pedir e
partes, o réu poderá alegar a perempção em preliminar e requerer a
extinção do processo sem resolução do mérito, de acordo com o artigo
485, inciso V, do CPC.

f) Litispendência, artigo 337, inciso VI: quando houver a propositura de


duas ações idênticas, possuindo o mesmo elemento (partes, causa de
pedir e pedido). Está previsto nos parágrafos 1º ao 3º, do artigo 337, do
CPC:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


(...)
§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação
anteriormente ajuizada.
§ 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a
mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3o Há litispendência quando se repete ação que está em curso.

Neste caso, o processo deverá ser extinto sem julgamento de mérito,


conforme artigo 485, inciso V, do CPC. O juiz prevento (que obteve a primeira
distribuição) irá excluir a competência do outro juízo e julgar o mérito, o outro juízo
irá julgar a causa sem resolução do mérito.

g) Coisa julgada, artigo 337, inciso VII, do CPC: ocorre quando a parte
autora ingressa com ação idêntica a uma outra que já teve julgamento com
sentença transitada em julgado. Ressalta-se que para que haja coisa
julgada não se torna possível a interposição de qualquer recurso no

77
primeiro processo. Isso porque, se ainda for possível a interposição de
recurso, se refere à litispendência e não coisa julgada, pois o referido
processo ainda não teria transitado em julgado. Tal preliminar trará como
consequência a extinção do processo sem julgamento de mérito, sendo,
portanto, peremptória.

h) Conexão, artigo 337, inciso VIII, do CPC: de acordo com o artigo 55, do
CPC, são conexas duas ou mais ações que tiverem como comum o pedido
ou a causa de pedir, nessas ações deverá haver a conexão/reunião dos
processos para evitar julgamento contraditório, uniformizando as
sentenças que serão prolatadas. Não acarreta na extinção do processo,
apenas na reunião das ações para serem julgadas por um só juízo.

i) Incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de


autorização, artigo 337, inciso IX, do CPC: trata-se de preliminar
peremptória, contudo, a extinção não é automática, uma vez que deve ser
dada a parte oportunidade para sanar o defeito processual. Assim,
somente se o vício não for sanado é que será prolatada sentença,
extinguindo o processo sem resolução do mérito, conforme previsão do
artigo 485, inciso IV, do CPC.

j) Convenção de arbitragem, artigo 337, inciso X, do CPC: o juiz não


poderá reconhecer de ofício a convenção de arbitragem (§5º), assim, deve
ser arguida em preliminar, na contestação, sob pena de preclusão, de ser
considerada aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral,
portanto, trata-se de incompetência relativa. Assim, cabe o réu o ônus de
provar a existência da cláusula compromissória entre as partes,
requerendo a extinção do processo sem julgamento de mérito. O art. 8°,
parágrafo único, da Lei n. 9.307/1996 (Lei de Arbitragem), é claro ao dizer
que "caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as

78
questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de
arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória".

k) Ausência de legitimidade ou de interesse processual, artigo 337,


inciso XI, do CPC: quando faltar uma ou mais condições da ação. Sobre
as condições da ação o artigo 17 do CPC/15 estabelece: “Para postular
em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”. O interesse processual
é a necessidade da tutela jurisdicional, a adequação do provimento
pleiteado em face da situação de fato e a utilidade que o processo pode
trazer ao demandante. Assim, caso for acolhida a preliminar, o processo
deverá ser extinto sem julgamento de mérito, constituindo-se em preliminar
peremptória, de acordo com a previsão do artigo 485, VI do CPC, quando
estabelece: “O juiz não resolverá o mérito quando: (...) VI - verificar
ausência de legitimidade ou de interesse processual”. A alegação de
ilegitimidade passiva, confere ao autor o direito de, no prazo de 15 dias,
pedir alteração da petição inicial, para substituição do réu (art. 338, caput,
do CPC). O réu deverá indicar o verdadeira sujeito passivo, caso tenha
conhecimento (art. 339, CPC) e o autor aceitar a indicação e proceder com
a alteração da petição inicial para substituição do polo passivo ou incluí-lo
(formando um litisconsorte passivo), se o réu tiver conhecimento e não
indicar, deverá arcar com as despesas processuais e indenizar o autor
pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação.

l) Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como


preliminar, artigo 337, inciso XII, do CPC: como por exemplo, a falta do
pagamento de honorários advocatícios de processo extinto sem resolução
de mérito, quando o autor está propondo a mesma ação novamente (art.
486, §2º, CPC) ou, então, o não pagamento de custas processuais (art.
290, CPC), a não realização do depósito obrigatório na ação rescisória
(art. 968, II, CPC), etc.

79
m) Indevida concessão do benefício da gratuidade de justiça, artigo 337,
inciso XIII, do CPC: poderá impugnar conforme o artigo 100, do CPC:

Art. 100. Deferido o pedido, a parte contrária poderá oferecer impugnação


na contestação, na réplica, nas contrarrazões de recurso ou, nos casos de
pedido superveniente ou formulado por terceiro, por meio de petição
simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos autos do
próprio processo, sem suspensão de seu curso.
Parágrafo único. Revogado o benefício, a parte arcará com as despesas
processuais que tiver deixado de adiantar e pagará, em caso de má-fé, até
o décuplo de seu valor a título de multa, que será revertida em benefício da
Fazenda Pública estadual ou federal e poderá ser inscrita em dívida ativa.

Se a gratuidade da justiça for concedida após a petição inicial, o pedido


de revogação será formulado por petição simples, no prazo de quinze
dias (art. 100, caput, CPC). Da decisão que acolhe esse pedido de
revogação da justiça gratuita, cabe Agravo de instrumento (art. 101 e art.
1.015, V, CPC) (DIDIER JR, 2016).

18.6 Defesas que devem ser alegadas fora da contestação ou que podem ser
alegadas depois da contestação:

São defesas que a lei exige peça distinta, como, por exemplo, arguição de
impedimento ou suspeição do juiz, membro do Ministério Público ou auxiliar da
justiça (que será vista com detalhes em problemas a seguir).
Também há defesas que podem ser alegadas posteriormente a apresentação
da contestação, como (art. 342, CPC):
a) Relativas a direito ou fato superveniente: refere-se a fato ou situação
jurídica que surgiu após a apresentação da defesa e que é relevante para
a decisão do juiz, este direito está reafirmado no artigo 493, do CPC, ou,
então, que a parte só teve conhecimento depois; Exemplo: réu, no
decorrer do processo, consegue comprovar

b) Competir ao juiz conhecer delas de ofício: “as objeções processuais,


defesas que digam respeito a matérias de ordem pública. Em regra, as
defesas processuais (entre as quais as preliminares, mencionadas no art.

80
337, como exceção da incompetência relativa e do compromisso arbitral).
Não se sujeitam à preclusão, se não alegadas na primeira oportunidade.
Mas há também defesas substanciais, que podem ser conhecidas de
ofício” (GONÇALVES; LENZA, 2016). Exemplo: decadência (art. 210, CC),
prescrição (art. 193, CC).

c) Por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer


tempo ou juízo: “essa hipótese coincide, ao menos em parte, com a
anterior, pois as matérias que o réu, por autorização legal, pode
apresentar depois são as de ordem pública, não sujeitas à preclusão”
(GONÇALVES; LENZA, 2016).

18.7 Aditamento ou indeferimento da contestação:

A contestação pode ser indeferida se for intempestiva, ou se ficar comprovada


a irregularidade da representação processual da parte, por exemplo, a falta de
documentos que comprovam a aptidão do sócio para atuar em nome da sociedade
(DIDIER JR, 2016).
Se o réu se apresentar sem advogado, o juiz deverá nomear advogado dativo,
que pode ser o próprio Defensor Público, não podendo ser indeferida a contestação,
a mesma coisa ocorre para o réu incapaz que se apresentar ao processo, com
advogado, contudo, sem representante legal, o juiz deverá nomear um curador
especial, e, em nenhuma das duas hipóteses, considerar a revelia (DIDIER JR,
2016).
Sobre a contestação intempestiva, cabe observar:

a) se ela contiver a afirmação de defesas que podem ser alegadas após o


prazo de contestação (art. 342, CPC), não poderá ser desentranhada;
b) se estiver acompanhada de documentos, embora a peça de defesa
possa ser desentranhada, se for o caso, os documentos permanecem nos
autos, pois, como se sabe, o réu revel tem o direito à produção de provas
(art. 349, CPC; enunciado n. 231 da súmula da jurisprudência do STF: "O
revel, em processo cível, pode produzir provas desde que compareça em
tempo oportuno").

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O aditamento da contestação poderá ocorrer nos casos que é permitido
acrescentar defesa, aquelas que podem ser alegadas após o prazo de resposta do
réu e que estão previstas no artigo 342, do CPC.

18.8 Reconvenção

Além da contestação, o réu poderá se valer da reconvenção para contra-


atacar o autor, isto é, através da reconvenção o réu poderá formular pretensões,
assim como fez o autor na petição inicial. O que justifica a reconvenção é a
economia processual e, também, a maior eficiência do processo, pois as pretensões
de ambos litigantes serão processadas e julgadas de uma só vez (GONÇALVES;
LENZA, 2016).
Chama-se reconvinte o réu-demandante e reconvindo o autor-demandado. O
autor deverá apresentar contestação sobre a reconvenção, artigo 343, §1º, do CPC.

ATENÇÃO!
O autor é intimado para apresentar resposta (contestação) da
reconvenção, não será intimado para uma audiência preliminar de
conciliação ou mediação. Assim, o prazo para apresentação da
contestação à reconvenção conta-se dessa intimação, e não nos
termos do artigo 335, do CPC.

Embora sejam autônomas, serão julgadas na mesma sentença (a pretensão


do autor e do réu). A desistência da ação ou a ocorrência de alguma causa extintiva
que impeça o exame do mérito da petição inicial, não prejudicará o prosseguimento
do processo quanto à reconvenção (§2º, do artigo 343).
A reconvenção é facultativa, o réu não está obrigado a trazer os fatos na
contestação, poderá propor reconvenção independente da contestação (§6º, artigo.
343).

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A reconvenção poderá ser proposta contra o autor e terceiros (CUIDADO:
autor e terceiros, não somente contra terceiros), ainda, poderá ser formado
litisconsórcio entre o réu e terceiros (§§3º e 4º, art. 343).

O juízo da causa principal é competente para julgar a reconvenção:

Se o juízo não tiver competência para a reconvenção, indeferirá a sua


petição inicial, não admitindo o seu processamento. A consequência da
incompetência absoluta, neste caso, não pode ser a remessa dos autos ao
juízo competente nem a extinção do processo. Somente é possível cogitar
reconvenção se houver ação; assim, a reconvenção não poderia ser
enviada a outro juízo distinto daquele onde tramita a demanda principal.
Porque demanda incidente o seu não-conhecimento não implica a extinção
do processo, que prossegue para o exame da demanda principal.

Deverá haver conexão entre a ação principal ou a algum dos fundamentos de


defesa, portanto, deverá haver ser afinidade de questões (DIDIER JR, 2016).
A reconvenção é permitida no procedimento comum, contudo, os Juizados
Especiais Cíveis vedam sua utilização (art. 31, da Lei n. 9099/95).

19 REVELIA

A revelia é configurada pela inércia do réu, que deixa de apresentar defesa


em relação aos fatos narrados na inicial e ocorre quando: a) citado, o réu deixar de
apresentar defesa; b) comparecer aos autos, constituindo advogado, não apresentar
defesa; c) apresentar defesa de forma intempestiva; d) não impugnar
especificamente os fatos narrados na petição inicial.

83
A revelia do réu acarreta na presunção de veracidade dos fatos narrados na
petição inicial (art. 344 do CPC) e a desnecessidade de sua intimação para os
demais atos do processo caso não tenha constituído procurador nos autos, já que os
prazos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial (art. 346)
(GONÇALVES, 2016, p.449).

A qualquer momento o revel poderá intervir no processo, recebendo-o no


estado em que se encontrar, passando a ser intimado dos atos processuais, desde
que constitua advogado.
O art. 341 do CPC traduz a necessidade de contestar especificamente os
fatos narrados na petição inicial sob pena de presumir-se verdadeiros os fatos não
impugnados, ou seja, não poderá o réu apresentar defesa genérica, exceto quando
tratar-se de defensor público, advogado dativo e o curador especial.

Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as


alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras
as não impugnadas, salvo se:
I - não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considerar da substância do ato;
III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.
Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se
aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial.

Conforme já mencionado, a revelia acarreta a presunção de veracidade dos


fatos narrado na petição inicial e, sendo estes suficientes para convicção do juiz,

84
poderá ocorrer o julgamento antecipado do mérito, conforme termos do art. 355, II,
do CPC.

Os casos previstos nos incisos do art. 341 e no art. 345 são hipóteses que
afastam a aplicação da revelia.

Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considere indispensável à prova do ato;
IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou
estiverem em contradição com prova constante dos autos.

Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as


alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras
as não impugnadas, salvo se:
I - não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considerar da substância do ato;
III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Havendo pluralidade de réus, a defesa de um somente aproveitará aos


demais quando o fato contestado for atribuído, também, ao réu revel, caso contrário,
ocorrerá a aplicação dos efeitos da revelia.
Destaca-se que não se fala em revelia quando trata-se de ação de
execução, pois a citação do executado não é para apresentar defesa, mas para
cumprir a obrigação prevista no título executivo.
Nos casos de requerimento de tutela provisória cautelar antecedente
também são aplicados os efeitos da revelia, conforme comando do art. 307 do CPC:”
Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão aceitos
pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias”.

85
19.1 São efeitos da revelia:

a) Presunção de veracidade das alegações de fato feitas pelo autor na


petição inicial (art. 344, CPC);
b) Os prazos contra o réu revel que não tenha advogado no autos fluirão da
data da publicação da decisão (art. 346, CPC);
c) Preclui em desfavor do réu o poder de alegar algumas matérias de defesa,
exceto aquelas previstas no artigo 342, do CPC, que tratam das matérias
passíveis de serem alegadas após a contestação.
d) Julgamento antecipado da lide, sentença com resolução de mérito de não
houver requerimento de outras provas (art. 355, inciso II, do CPC).

19.2 Quando a revelia não produz seus efeitos:

De acordo com o artigo 345, do CPC, são hipóteses que a revelia não irá
produzir seus efeitos:
a) Quando houver pluralidade de réus e algum deles contestar a ação, assim,
não haverá presunção de veracidade quanto aos fatos que forem comuns
aos litisconsortes (revel e aquele que contestou), observe que o efeito só é
afastado para aquilo que for comum entre os sujeitos passivos (DIDIER
JR, 2016).
b) Se o litigio versar sobre direitos indisponíveis (são aqueles direitos dos
quais não podemos abrir mão, como direitos à vida, liberdade, dignidade,
etc.).
c) Se a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considere indispensável à prova do fato;
d) As alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou
estiverem em contradição com as provas constantes nos autos: se a
petição não vier com o mínimo de provas que a comprove ou se não
houver verossimilhança entre a postulação do autor (DIDIER JR, 2016).

86
e) “Quando a citação houver sido ficta (por edital ou com hora certa) ou o réu
revel estiver preso, pois o curador especial, nesses casos, haverá de
promover a defesa do réu revel: art. 72, 11, c/c art. 341, par. ún.” (DIDIER
JR, 2016).
f) Quando terceiro houver ingressado no processo como assistente do revel,
hipótese em que será considerado seu substituto processual (art. 121,
parágrafo único, CPC) (DIDIER JR, 2016).

19.3 Observações importantes sobre a revelia:

 A qualquer momento o revel poderá intervir no processo, recebendo-o no


estado em que se encontrar, passando a ser intimado dos atos processuais,
desde que constitua advogado (art. 346, parágrafo único, CPC).
 Revelia não significa a vitória automática do autor, podendo alegar
posteriormente aquelas matérias elencadas no artigo 342, do CPC.
 O autor não poderá aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, diante da
revelia, apenas se o réu for novamente citado e reaberto o prazo para
contestar, no prazo de quinze dias (art. 329, II, CPC).
 O revel poderá produzir provas, desde que ainda tenha tempo oportuno para
tanto, de acordo com o artigo 349, do CPC, e súmula 231, do STF.
 O réu revel que possui advogado constituído, não poderá deixar de ser
intimado para os demais atos processuais, apenas o réu revel que não tenha
patrono, fica dispensado das intimações dos atos processuais (art. 322, CPC).

20 COMPETÊNCIA

Competência é o limite de atuação dos órgãos jurisdicionais. Dentro de seu


campo de atuação é outorgado ao juiz poder para decidir sobre os conflitos.

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O artigo 42 do CPC dispõe que “as causas cíveis serão processadas e
decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de
instituir juízo arbitral, na forma da lei”.
De acordo com o artigo 43 do CPC, a competência é definida no instante em
que ocorre a propositura da ação.

Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da


distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado
e fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem
órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

Existem 5 critérios de determinação da competência, quais sejam:

Territorial: Está baseado na circunscrição geográfica. É o critério de foro.


Encontrado no CPC/15 nos artigos 46 a 53.
Material: Tem por base o objeto litigioso, a pretensão que está sendo
discutida. Exemplo: causa de família, ou de trânsito, etc.
Valor da causa: Poderá ser um critério de determinação de competência, é
um dos motivos da obrigatoriedade do valor da causa na inicial. Ex: art. 3º
da Lei 9.099/95.
Funcional ou hierárquico: Tem por base as funções confiadas aos órgãos
jurisdicionais. Gera a chamada competência originária. Em razão da função
ou hierarquia move-se a causa no tribunal, por exemplo.
Pessoas: Os sujeitos da relação processual também podem influir na regra
de competência. Eis o que estabelece na Justiça Federal e nas Varas de
Fazenda pública. (MOTA et al. 2016, p. 596).

No caso de mais de um juiz se achar competente ou incompetente para um


mesmo processo ou quando houver controvérsia sobre reunião ou separação de
processos (artigo 66 do CPC), ocorre o conflito de competência, que está
disciplinado nos artigos 951 a 959 do CPC. Esse conflito pode ser alegado pelo
próprio juiz, pelo Ministério Público ou por uma das partes.
Quem julga o referido conflito é o tribunal, manifestando-se também sobre a
validade dos atos já realizados pela autoridade que considerar incompetente.

88
20.1 Incompetência

Caso não sejam observados os limites processuais, ocorre a chamada


incompetência do juízo. Essa incompetência pode ser relativa ou absoluta. Em
regra, a incompetência não faz com que o processo seja extinto, ainda que se trate
de incompetência absoluta, exceto em alguns casos, como quando for reconhecida
a incompetência territorial (artigo 51, inciso III, da Lei 9.099/95), na incompetência
internacional e na hipótese do § 1º do artigo 21 do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal.
A competência absoluta trata dos casos de interesses públicos. A
incompetência aqui pode ser demonstrada a qualquer momento, por todas as partes,
podendo também ser declarada de oficio pelo juiz, conforme o artigo 64, § 1º do
CPC, sendo então os autos enviados para o juízo competente.
Já a competência relativa disciplina os casos de interesses privados. Nesse
caso, para enviar os autos ao juiz competente, é necessário que a incompetência
primeiro seja acolhida, para posteriormente ser analisado o assunto.
Em relação as custas e honorários:

Na incompetência absoluta, responderá integralmente pelas custas, a parte


que deixar de alegar na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos
autos. Na relativa, o juiz não pode reconhecê-la de ofício (Sumula 33 do
STJ), salvo se houver contrato de adesão cujo foro de eleição seja abusivo
(MOTA et al. 2016, p. 596).

Embora o artigo 64 do CPC discipline que ambas incompetências devem ser


apontadas na contestação, entende-se que a competência absoluta pode ser
demonstrada em preliminar de contestação. Caso seja alegada depois da
contestação, será cobrado custas processuais da parte, ainda que ganhe o
processo.

89
20.2 Modificação de competência

A modificação da competência poderá ocorrer apenas na competência


relativa, não sendo possível na competência absoluta. Está disciplinada nos artigos
54 a 63 do CPC.

Haverá modificação de competência quando as regras de competência


relativa apontarem a competência de um foro X, mas determinadas
circunstâncias tornarem competente para a causa o foro Y, diferente
daquele previsto originariamente em lei. Só pode haver modificação de
competência de foro nos casos em que for relativa; nunca de juízo, pois
esta é sempre absoluta. (GONÇALVES, 2016, p. 137).

São causas de modificação de competência: prorrogação, derrogação,


conexão e continência:

a) Prorrogação: Conforme a Súmula 33 do STJ a incompetência relativa não


pode ser declarada de ofício, devendo o réu alega-la em preliminar de contestação.
No caso de o réu não alegar a referida incompetência nesse momento, o foro, que a
princípio era relativamente incompetente, automaticamente se tornará competente,
visto que terá ocorrido a preclusão (perda do direito de agir), não havendo mais a
possibilidade do réu ou outra parte alegar a incompetência.

90
b) Derrogação: Estabelece que as partes podem modificar a competência em
razão do valor e do território, elegendo, a partir de um acordo entre elas, o foro
competente para o julgamento de futuras demandas, em relação ao contrato por
elas celebrado. Essa eleição de foro só é possível nas ações oriundas de direitos e
obrigações, conforme disciplina o artigo 63 do CPC, e só produzirá efeito se constar
de instrumento escrito e mencionar expressamente o negócio jurídico determinado
(artigo 63, §1º, CPC).

c) Conexão: Está previsto no artigo 55 do CPC e determina que duas ou


mais ações podem se reunir para julgamento conjunto, quando o pedido e a causa
de pedir lhes forem comuns. Assim, evita que ações iguais tenham julgamentos
diferentes, em razão das convicções diferenciadas dos juízes, além de proporcionar
economia processual. Não se aplica a conexão quando uma das ações já tiver sido
sentenciada, conforme a súmula 235 do STJ.
Aplica-se também a conexão nas seguintes hipóteses:
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao
mesmo ato jurídico;
II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.

d) Continência: Está disciplinado no artigo 56 do CPC e determina que para


haver a modificação de competência é necessário que duas ou mais ações tenham
identidade quanto às partes e a causa de pedir, e que o pedido de uma, por ser mais
amplo, abranja o das demais.
Aqui também ocorre a reunião de duas ou mais ações, visando evitar
decisões divergentes. As regras aplicadas à conexão aplicam-se também a
continência.

Prevenção: Visa confirmar e manter a competência de um juiz respectivo


quando houver mais de um juízo competente para o julgamento de uma mesma
causa. Está previsto no artigo 59 do CPC, que diz que o que torna o juízo prevento é
o registro ou a distribuição da petição inicial.

91
21 SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO

21.1 Arguição de impedimento ou suspeição


“O incidente de arguição de impedimento ou suspeição é a forma
estabelecida em lei para afastar o juiz da causa, por lhe faltar imparcialidade, que é
pressuposto processual subjetivo referente ao juiz” (DIDIER JR, 2016, p. 681).
Diferente da incompetência, pois está se refere ao juízo, não r da. No incidente de
arguição de impedimento ou suspeição o juiz torna-se réu.

Também é possível arguir a suspeição e o impedimento de membro do


Ministério Público, de auxiliar da justiça ou de outro sujeito Imparcial do
processo (art. 148, CPC). No tribunal, a arguição de impedimento ou
suspeição, nesses casos, será regulada pelo regimento interno (art. 148,
§3°, CPC). A arguição de suspeição ou impedimento de testemunha dá-se
de forma especial. Pelo incidente da contradita, regulado pelo §1° do art.
457 do CPC - daí a ressalva prevista no §4° do art. 148, do enunciado n.
234 do STJ aplica-se, por analogia, ao Ministério Público autor, no processo
civil: "A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória
criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento
da denúncia". Isso significa que, atuando o membro do Ministério Público
em inquérito civil, não há impedimento para ser ele o autor da ação civil
pública, por exemplo (DIDIER JR, 2016, p. 681).

Há dois graus de parcialidade: o impedimento e a suspeição. Verificada a


imparcialidade do juiz, através dessas duas hipóteses, não será declara extinção do
processo, contudo ele deverá ser encaminhado ao seu substituto legal e os atos
decisórios praticados até a substituição devem ser invalidados, segundo §7º, artigo
146, do CPC (DIDIER JR, 2016, p. 682).
No antigo código de processo civil, o impedimento ou a suspeição eram
alegados por meio de exceção (peça distinta da contestação, que possuía várias
formalidades), hoje, no atual código, a alegação de suspeição NÃO é mais feita por
exceção, NEM É FEITA em preliminar de contestação, deve ser alegado em petição
específica para isso, sem maiores formalidades (TARTUCE; DELLORE, 2016, p.
197).

92
No prazo de 15 dias, a contar do conhecimento do fato, a parte deverá alegar
o impedimento ou suspeição, em petição específica, dirigida ao juiz do processo, na
qual deverá ser indicada o fundamento da recusa, podendo instruí-la com
documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas (art. 146, CPC).
Se reconhecer o impedimento ou a suspeição, o juiz ordenará imediatamente
remessa dos autos a seu substituto legal, caso contrário, se não receber a petição,
determinará a autuação em apartado e no prazo de 15 dias deverá apresentar suas
razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver,
ordenando remessa ao tribunal para que julgue o incidente (§1º, art. 146, CPC).
No tribunal, distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos,
sendo que, se o incidente for recebido:
a) Sem efeito suspensivo: o processo voltará a correr em primeira instância.
b) Com efeito suspensivo: o processo permanecerá suspenso até o
julgamento do incidente de impedimento ou suspeição (§2º, art. 146 e 313,
III, CPC).

Atenção!
A alegação de impedimento ou suspeição de membro do Ministério
Público, auxiliares da justiça e demais sujeitos do processo, não
suspende o processo, de acordo com o §2º do art. 148, do CPC.

Se o tribunal acolher o incidente, o juiz será condenado ao pagamento de


custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo recorrer da decisão
(§5º, art. 146, CPC), os autores retrocedem até o momento em que o juiz não
poderia ter atuado, decretando-se a nulidade dos demais (§6º e 7º, art. 146, CPC).

21.2 Hipóteses de impedimento

As hipóteses de impedimento estão previstas no artigo 144, do CPC, dão


ensejo à nulidade dos atos praticados pelo juiz impedido, pois há uma presunção

93
legal absoluta de que o magistrado não tem condições subjetivas para atuar de
forma imparcial. É vício que pode ser alegado a qualquer tempo ou grau de
jurisdição, pode ser reconhecido ex officio pelo próprio magistrado impedido. É tão
grave, que admite até ação rescisória posteriormente, segundo artigo 966, inciso II,
do CPC, pois compete toda condução processual (DIDIER JR, 2016, p. 682).

São hipóteses de impedimento:


I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou
como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou
membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive.
Nestes casos, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado
ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da
atividade judicante do juiz. Também se verifica no caso de mandato conferido a
membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que
individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha
diretamente no processo. (§§1º e 2º, art. 144, CPC).
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro,
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa
jurídica parte no processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das
partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação
de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral,

94
até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro
escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.

Segundo o §3º, do artigo 144, do CPC, é vedada a criação de fato


superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz.

21.3 Hipóteses de suspeição

As hipóteses de suspeição estão previstas no artigo 145, do CPC, também


dão ensejo a invalidade do ato processual praticado pelo magistrado, mas não de
forma tão grave como impedimento, “embora o magistrado possa reconhecer-se
suspeito (art. 145, §1º, do CPC), a parte tem prazo preclusivo para arguir a
suspeição (quinze dias) e pedir a nulificação do ato” (DIDIER JR, 2016, p. 682).
São hipóteses de suspeição:
I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes
ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do
objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge
ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.

O juiz poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões (§1º, art. 145, CPC), protegendo a sua
intimidade.
Cuidado: será ilegítima a alegação de suspeição se houver sido provocada
por quem alegada ou, então, a parte que alega houver praticado ato que significa
manifesta aceitação do arguido (§2º, art. 145, CPC).

95
22 RÉPLICA

Na contestação, quando o réu trouxer defesas processuais


(preliminares/defesa indireta) ou novos argumentos quanto ao mérito, em atenção
ao princípio da ampla defesa e do contraditório, o juiz dará oportunidade de oitiva ao
autor, isto é, oportunidade para que se manifeste sobre tais alegações, consoantes
artigos 350 e 351, do CPC:

Art. 350. Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito


do autor, este será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe o
juiz a produção de prova.
Art. 351. Se o réu alegar qualquer das matérias enumeradas no art. 337, o
juiz determinará a oitiva do autor no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-
lhe a produção de prova.

A petição que o autor poderá expor seus argumentos contra essas novas
alegações chama-se RÉPLICA, tal denominação não consta no Código de Processo
Civil, trata-se de uma construção doutrinária e jurisprudencial.
A réplica deve ser apresentada no prazo de 15 dias, contado da intimação do
autor para sua apresentação.
O conteúdo da petição, denominada réplica deve ser apenas de refutação
contra as alegações do réu, não podendo trazer novos fatos ou novos pedidos. Não
há requisitos formais para sua elaboração.
Nem sempre se dará oportunidade ao autor de apresentar réplica, pois se o
réu não trouxe fatos novos na contestação, apenas refutou a inicial de forma
específica, não haveriam motivos para haver réplica.

Atenção!
“Não há previsão legal de tréplica. Depois da réplica, o juiz não dará
nova oportunidade de manifestação ao réu, porque o autor não pode nela
inovar, formulando novos pedidos ou causas de pedir. Mas,
excepcionalmente, poderá mandar ouvir o réu, ainda uma vez, se, na
réplica, o autor juntar documentos novos ou suscitar questões processuais

96
23 FORMAÇÃO E SUSPENSÃO DO PROCESSO

Proposta a ação, o juiz analisará se a petição preenche os requisitos


necessários, preenchendo, determinará que o réu seja citado, tornando a relação
processual completa.
A partir da propositura da demanda, incumbirá o juiz a zelar pelo
desenvolvimento do processo, através do impulso oficial, tomando alguns cuidados,
como por exemplo se houver litispendência, isto é, analisar qual a primeira citação
válida para definir o juízo competente, devendo o outro extinguir sem resolução do
mérito.
Quando um ato processual depende de iniciativa do autor, o juiz aguardará,
se o autor não fizer, o processo fica paralisado, neste caso o juiz deverá determinar
a intimação para dar andamento no prazo de cinco dias, sob pena de resolução de
mérito. Entretanto, o STJ exige que a extinção seja requerida pelo réu, de acordo
com o artigo 240, se o réu não requerer, o processo ficará paralisado por um ano, e
só então o juiz poderá decretar a extinção, de acordo com o artigo 485, inciso II, do
CPC.

23.1 Suspensão do processo

A suspensão do processo pode ser PRÓPRIA (paralisa inteiramente o


processo, salvo os urgentes, necessários para a preservação dos direitos das
partes, a fim de evitar danos irreparáveis), ou então IMPRÓPRIA (paralisa somente
o procedimento principal, uma vez que os incidentes tramitam regularmente, como a
arguição de impedimento ou de suspeição). Enquanto o processo estiver suspenso,
nenhum ato será praticado.
Das causas de suspensão, elencadas no artigo 313 do CPC, algumas são
aplicáveis a todos os tipos (I, II, III e VI), outras são específicas do processo de
conhecimento (IV e V), já as do processo de execução são tratadas no artigo 921:

97
Art. 313. Suspende-se o processo:
I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das
partes, de seu representante legal ou de seu procurador;
II - pela convenção das partes;
III - pela arguição de impedimento ou de suspeição;
IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas;
V - quando a sentença de mérito:
a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência
ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de
outro processo pendente;
b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou
a produção de certa prova, requisitada a outro juízo;
VI - por motivo de força maior;
VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da
navegação de competência do Tribunal Marítimo;
VIII - nos demais casos que este Código regula.
(...)

a) Pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das


partes, de seu representante legal ou de seu procurador: desde o momento da
morte ou da perda de capacidade o processo considerar-se-á suspenso,
independentemente da determinação judicial, pois a suspensão é automática,
possuindo efeito ex tunc. Em caso de morte da parte, o processo seguirá através do
espólio ou herdeiros. Em caso de perda da capacidade processual ou morte do
representante legal ou advogado, o juiz fixará prazo para regularização, conforme
artigo 76 do CPC (GONÇALVES, 2016, p. 400).

b) Pela convenção das partes: as partes podem suspender o processo,


desde que ambas concordem, sendo que ao juiz é vedado indeferir no requerimento.
Entretanto esse prazo não poderá ser superior há seis meses, de acordo com o § 4o,
do artigo 313.

c) Pela arguição de impedimento ou de suspeição: se alguma das partes


apresentar arguição, o Tribunal poderá ou não receber o efeito suspensivo. Caso
receba, o processo ficará suspenso até que haja decisão do incidente, entretanto, se
não for recebido com efeito suspensivo, o processo voltará a correr.

98
d) Pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas: a
suspensão ocorre quando há diversos processos que contenham controvérsias
sobre a mesma questão jurídica, seja a nível local, estadual ou nacional (art. 976 e
ss. do CPC). Nestes casos, qualquer interessado poderá solicitar ao STF ou STJ a
suspensão de todos os processos (individuais ou coletivos), conforme artigo 982.

e) quando a sentença de mérito depender do julgamento de outra causa


ou da declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica que
constitua o objeto principal de outro processo pendente: trata-se de uma
questão prejudicial externas, pois na conexão nem sempre será possível o
julgamento conjunto, pois cada uma das ações pode estar vinculada a determinado
juízo, por regras de competência absoluta. Para que não haja decisões conflitantes,
suspende-se uma até que a outra seja julgada (GONÇALVES, 2016, p. 400).

f) Quando a sentença de mérito tiver de ser proferida somente após a


verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada a
outro juízo: trata-se de uma relação prejudicial interna, isto é, depende da
verificação de fato ou produção de prova requisitada pelo juiz. Tanto da interna,
quanto na externa, a suspensão não poderá ultrapassar o prazo de um ano, de
acordo com o § 4o, do artigo 313 (GONÇALVES, 2016, p. 400).

g) Por motivo de força maior: fato imprevisíveis e inevitáveis, como


catástrofes naturais.

h) Quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos


da navegação de competência do Tribunal Marítimo: “Quando há acidente ou
fato de navegação, o processo deverá ficar suspenso, aguardando a apuração pelo
Tribunal Marítimo. Mas as conclusões dele não vinculam o Poder Judiciário”
(GONÇALVES, 2016, p. 401).

99
i) Nos demais casos que este Código regula: como, por exemplo, a
existência de processo crime versando sobre o fato discutido na esfera cível (sendo
facultado ao juiz suspender, de acordo com o art. 315 do CPC). Se houver dúvida
quanto a sanidade mental do réu (art. 245, do CPC). Se houver instauração do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art. 134, § 3o, do CPC).

24 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES

Não havendo contestação e verificando o juiz a inocorrência do efeito da


revelia previsto no art. 344, o juiz determinará que o autor especifique as provas que
pretende produzir, se ainda não as tiver indicado. Ao réu revel também será
permitido a produção de provas, desde que se faça representar nos autos ao tempo
de praticar os atos processuais indispensáveis a essa produção (arts. 348 – 349 do
CPC).
Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor,
este será ouvido no prazo de quinze dias, permitindo-lhe o juiz a produção de prova.
Fato impeditivo é uma alegação que impede o direito do autor, como por exemplo, a
ausência de entrega de uma mercadoria ante a falta de pagamento, o autor fica
impedido de exigi-la já que não cumpriu com a sua parte (pagamento).
O fato modificativo, por exemplo, é quando o autor efetua a cobrança de
determinado valor, mas o réu apresenta recibo de pagamento parcial, modificando o
direito do autor, que terá limitado seu direito de receber.
Fato extintivo é aquele que extingue por total a pretensão do autor, como por
exemplo, o adimplemento integral da dívida.
Quando a alegação do réu for referente às matérias elencadas no art. 337 do
CPC, o juiz determinará a oitiva do autor, no prazo de quinze dias, permitindo-lhe a
produção de provas, conforme art. 351 do CPC.
Verificando o juiz que o processo apresenta vícios sanáveis, determinará sua
correção, nunca no prazo superior a trinta dias, por força do art. 352 do CPC.

100
Cumpridas as providências preliminares ou não havendo necessidade delas, o juiz
proferirá julgamento de acordo com o estado do processo.

JULGAMENTO CONFORME ESTADO DO PROCESSO: EXTINÇÃO


25
PARCIAL OU TOTAL DO PROCESSO

25.1 Providências preliminares

Apresentada ou não ou a resposta do réu, após a fase postulatória, inicia-se


uma fase do procedimento comum que se denomina Fase de Saneamento ou Fase
de Ordenamento do Processo. Durante este período, o magistrado, se for o caso,
deve tomara providências que deixem o processo apto para seja proferida uma
decisão, chamada de julgamento conforme o estado do processo, artigo 347 do
Código de Processo Civil (DIDIER JR, 2016, p. 695).
É bem verdade que em todo o momento o juiz toma providências para
regularizar eventuais defeitos processuais, como por exemplo o própria
determinação ao autor para emendar a petição inicial, contudo, na fase do
saneamento é que essas providências se tornam mais concentradas (DIDIER JR,
2016, p. 695).
São providências preliminares:

a) Tendo sido apresentada defesa indireta (preliminares), deve o juiz intimar o


autor para apresentar réplica, no prazo de 15 dias (Art. 350 e 351, CPC), que
consiste na manifestação sobre os fatos trazidos pelo réu na contestação, se
a defesa direta (apenas mérito), não haverá intimação para réplica. Se há
réplica e o autor traz documentos, o réu deverá ser intimado para se
manifestar, no prazo de 15 dias, conforme artigo 437, §1º, do CPC (chama-se
tréplica).

101
b) Se há defeitos processuais que possam ser corrigidos, inclusive aqueles
relacionados aos requisitos de admissibilidade do procedimento, deve o juiz
providenciar a sua correção, fixando, para tanto, prazo não superior a trinta
dias (art. 352, CPC) (DIDIER JR, 2016, p. 696).

c) Se o réu não contestar a ação e o juiz identificar os efeitos da revelia,


previstos no artigo 344, do CPC, ordenará que o autor especifique as provas
que pretenda produzir, se ainda não tiver indicado (Art. 348, CPC), o prazo
para especificar é de 5 dias (art. 218, §3º, CPC).

d) Ao réu revel, será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do


autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos
processuais indispensáveis a essa produção.

e) Se a revelia decorrer de citação ficta ou se o réu revel estiver preso, deve o


magistrado designar o curador especial (art. 72, 11, CPC) (DIDIER JR, 2016,
p. 697).

f) Se houve reconvenção, o juiz dará o prazo de 15 dias para o autor se


manifestar, apresentando contestação.

g) Se o réu promover uma denunciação da lide ou um chamamento ao processo,


o magistrado tomará as providências inerentes a essas intervenções, como,
por exemplo, determinar a comunicação do terceiro cujo ingresso no processo
se pleiteia (DIDIER JR, 2016, p. 697).

h) Se o réu requereu a revogação da justiça gratuita concedida ao autor, o juiz,


após ouvi-lo, decidirá a respeito; se revogar a gratuidade da justiça, caberá
agravo de instrumento (art. 101 e art. 1.01 s, V, CPC) (DIDIER JR, 2016, p.
697).

102
i) Se houver alegação de incompetência, o juiz decidirá sobre a sua
competência. Se reconhecer a sua incompetência, determinará a remessa
dos autos ao juízo competente (DIDIER JR, 2016, p. 697).

Após as providências preliminares e sanadas eventuais irregularidades, o juiz


verificará se o processo ou alguns dos pedidos do autor estão aptos a serem
julgados, desde logo. Existem quatro possibilidades: a) a extinção do processo
ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487 incisos II e III
(conforme art. 354 do CPC); b) julgamento antecipado do mérito; c) julgamento
antecipado parcial do mérito; d) determinação de abertura da fase de instrução
depois do despacho saneador e organização do processo (GONÇALVES, 2016, p.
461).

25.2 Julgamento conforme estado do processo

Na sequência à apresentação da réplica sob o aspecto processual, se o juiz


verificar a existência de irregularidades ou nulidades sanáveis, mandará a parte
supri-las no prazo de 30 dias, conforme artigo 352, do Código de Processo Civil.
Se já foram cumpridas as providências preliminares, o juiz procederá ao
julgamento conforme estado do processo, momento em que deverá analisar o
destino da relação processual, assim, ocorrendo qualquer hipótese prevista nos
artigos 485 e 487, inciso II e III, o juiz proferirá sentença, conforme artigo 354, do
Código de Processo Civil, ainda, essa decisão poderá ser apenas uma parcela do
processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento, conforme
parágrafo único, do artigo 354, do CPC. Desta forma tema que o juiz poderá decidir
pela:

a) Extinção sem resolução do mérito (artigo 485 c/c art. 354, CPC). Podendo
essa decisão ser parcial ou total.
b) Extinção com resolução do mérito, em razão da autocomposição total (art.
487, III c/c o art. 354 do CPC). Podendo essa decisão ser parcial ou total.

103
c) Extinção com resolução do mérito pela verificação da ocorrência da
decadência ou prescrição (art. 487, II c/c o art. 354, do CPC). Podendo
essa decisão ser parcial ou total.
d) Julgamento antecipado do mérito da causa (art. 355 c/c art. 487, I, do
CPC). Podendo essa decisão ser parcial ou total.
e) Profere decisão de saneamento ou organização do processo, com ou sem
audiência para produzi-la em cooperação com as partes (art. 357, CPC).

25.4 Julgamento antecipado do mérito

Após as providencias preliminares, o juiz verifica se há alguma hipótese do


artigo 485 ou dos incisos II e III do artigo 487, ambos do Código de Processo Civil,
em caso positivo, procede o juiz pela extinção do feito:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das
partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa
julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou
quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por
disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código.
§ 1o Nas hipóteses descritas nos incisos II e III, a parte será intimada
pessoalmente para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 2o No caso do § 1o, quanto ao inciso II, as partes pagarão
proporcionalmente as custas, e, quanto ao inciso III, o autor será condenado
ao pagamento das despesas e dos honorários de advogado.
§ 3o O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e
IX, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito
em julgado.
§ 4o Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do
réu, desistir da ação.
§ 5o A desistência da ação pode ser apresentada até a sentença.
§ 6o Oferecida a contestação, a extinção do processo por abandono da
causa pelo autor depende de requerimento do réu.
§ 7o Interposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos
deste artigo, o juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se.

104
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência
ou prescrição;
III - homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na
reconvenção;
b) a transação;
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.
Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1o do art. 332, a prescrição e
a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes
oportunidade de manifestar-se.

Se não for o caso, o juiz analisa a hipótese de cabimento de algum tipo de


julgamento antecipado do mérito, trata-se de uma decisão de mérito em que o
magistrado decide o objeto litigioso, julgando procedente ou improcedente, com
base no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil.
Neste momento o juiz reconhece a desnecessidade de produção de mais
provas em audiência de instrução e julgamento (provas orais, periciais e inspeção
judicial), proferindo sentença com resolução de mérito, segundo artigo 355, do
Código de Processo Civil:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com


resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver
requerimento de prova, na forma do art. 349.

25.5 Julgamento antecipado parcial do mérito

O novo CPC também contempla a possibilidade de serem proferidas decisões


parciais de mérito, o juiz decidirá parcialmente o mérito quando:

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos


pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.

Como exemplo, considera uma demanda em que há pedidos de dano moral e


material; para o dano moral (decorrente, por exemplo, de inscrição indevida em
cadastro restritivo), não há necessidade de prova em audiência, mas o dano material

105
exige provas testemunhal e pericial. Nesse caso, o juiz julga o mérito parcialmente
quanto ao dano moral (pela procedência) e prossegue com a instrução quanto ao
dano material (TARTUCE; DELLORE, 2016, p. 221).
A parte poderá liquidar e executar desde logo a decisão que julgar
parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra
essa interposto. Havendo trânsito em julgado, a execução será definitiva, segundo
os §§2º e 3º do artigo 356, do Código de Processo Civil.
Da decisão de julgamento antecipado parcial do mérito cabe agravo de
instrumento, como instrumento correto para impugnação, segundo o §5º, do artigo
356, do Código de Processo Civil.

26 DESPACHO SANEADOR

Passada a fase de providências preliminar e não sendo o caso de julgamento


antecipado do mérito, o juiz proferirá o despacho saneador, conforme art. 357 do
CPC, que terá por objetivo:

A regra é que o despacho saneador seja proferido através de decisão


interlocutória, mas, havendo complexidade na matéria de fato ou de direito, poderá
ser agendada audiência para o saneamento do processo, onde as partes deverão

106
comparecer com o rol de testemunhas que desejam ouvir na audiência de instrução
e julgamento, caso seja necessária sua designação. (GONÇALVES, 2016, p.464).
O art. 357, §1º, do CPC prevê a possibilidade de as partes pedir
esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo de cinco dias, findo o qual a decisão
se torna estável. Contra o despacho saneador caberá agravo de instrumento quando
decidir matérias elencadas no rol do art. 1.015 do CPC.
As partes poderão apresentar ao juiz, para homologação, a delimitação
consensual das questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV do
art. 357, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz (art. 357, §2º, do CPC).
Havendo necessidade de produção de prova testemunhal, o juiz fixará o
prazo não superior a quinze dias para que as partes apresentem o rol de
testemunhas - até dez, sendo no máximo três para cada fato, conforme art. 357, §6º,
do CPC – podendo o juiz delimitar o número de testemunhas levando em conta a
complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados.

27 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO

A audiência de instrução e julgamento é um ato solene e público, no qual


comparecem as partes, advogados, testemunhas e auxiliares da justiça e tem por
objetivo: conciliar as partes, produzir prova oral, esclarecer questões de perícia,
debater e decidir a causa.
O momento adequado para sua designação é na decisão de saneamento e
organização do processo, oportunidade em que o juiz deferirá as provas que serão
produzidas na audiência (art. 357, CPC).
No dia e hora designados, o juiz declarará aberta a audiência, anunciará as
partes e advogados, bem como, outras pessoas que deverão participar da audiência
(art. 358, CPC). Será sempre una e contínua, podendo, excepcionalmente e desde
que justificada pela ausência de perito ou de testemunha, ser marcada o seu
prosseguimento para uma outra data próxima, em pauta preferencial, desde que
haja concordância das partes (art. 365, CPC).

107
Atenção!
Tratando-se de audiência UNA, significa dizer que, se essa
audiência for fracionada em mais audiências, mesmo assim não perderá
sua característica de unidade, logo, se houver motivos de nulidade de
algumas das sessões, todas as demais estarão afetadas, pois o vício
atingirá a audiência como um todo.

A audiência é pública, ressalvada algumas exceções legais (art. 368 e 189,


CPC):

Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo


de justiça os processos:
I - Em que o exija o interesse público ou social;
II - Que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio,
separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e
adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à
intimidade;
IV - Que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta
arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo.
§ 1o O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de
justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus
procuradores.
§ 2o O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz
certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha
resultantes de divórcio ou separação.

O juiz exercerá um dos “poderes constitucionais inerentes à soberania estatal”


(THEODORO JUNIOR, 2015, p.1087) o poder de polícia durante a audiência, desta
forma, compete-lhe (art. 360, CPC):

I - Manter a ordem e o decoro na audiência;


II - Ordenar que se retirem da sala de audiência os que se comportarem
inconvenientemente;
III - requisitar, quando necessário, força policial;
IV - Tratar com urbanidade as partes, os advogados, os membros do
Ministério Público e da Defensoria Pública e qualquer pessoa que participe
do processo;
V - Registrar em ata, com exatidão, todos os requerimentos apresentados
em audiência.

108
Em síntese, as características da audiência de instrução e julgamento são: a
publicidade, a solenidade, a essencialidade, a presidência do juiz, a finalidade
(complexa e concentrada, discussão e decisão da causa), a unidade e continuidade.

27.1 Dos atos em audiência:

Na audiência de instrução e julgamento poderão haver quatro espécies de


atos, segundo Theodoro Junior (2015, p. 1088):

a) atos preparatórios: a designação de data e horário para a audiência, a


intimação das partes e outras pessoas que devem participar; depósito do rol de
testemunhas em cartório; o pregão das partes e advogados na sua abertura;

b) atos de tentativa da conciliação das partes: quando a lide versar sobre


direitos patrimoniais privados;

c) atos de instrução: esclarecimento do perito e assistentes técnicos;


depoimentos pessoais; inquirição de testemunhas; acareação de partes e
testemunhas;

d) ato de julgamento: debate oral e sentença.

27.2 Antecipação e adiamento da audiência de instrução e julgamento:

Por motivos de conveniência da Justiça, ou a requerimento de alguma das


partes, a audiência poderá ter sua data antecipada, devendo o juiz determinar a
intimação dos advogados ou da sociedade de advogados para que tenham ciência
da nova data designada (art. 363, CPC).
Assim como pode antecipar a audiência, o juiz poderá determinar a
suspensão dos trabalhos e adiar a audiência, segundo o artigo 362, nas hipóteses
de:

109
Art. 362. A audiência poderá ser adiada:
I - Por convenção das partes;
II - Se não puder comparecer, por motivo justificado, qualquer pessoa que
dela deva necessariamente participar;
III - por atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30 (trinta)
minutos do horário marcado.

O impedimento de comparecimento deverá ser comprovado até a abertura da


audiência, caso não seja comprovado, o juiz procederá normalmente com à
instrução (§1º, art., 362, CPC).
Inclusive, o Juiz poderá dispensar a produção das provas requeridas pela
parte cujo advogado ou defensor público não tenha comparecido e nem tenha
justificado, aplicando a mesma regra ao Ministério Público (§2º, art., 362, CPC).
Se o juiz faltar a audiência, ficará inviável de ser realizada, contudo a
ausência injustificada das outras partes, não é motivo, em regra, para adiamento da
audiência de instrução e julgamento. Se ambos as partes faltarem à audiência, o juiz
poderá dispensar toda instrução e proferir desde logo o julgamento conforme estado
do processo, ou, então, promover a colheita de provas, sem a presença dos
interessados (THEODORO JUNIOR, 2015, p.1089).
A parte que deu causa ao adiamento da audiência responderá pelas
despesas acrescidas (§3º, art., 362, CPC).

27.3 Conciliação

Ninguém mais indicado do que as próprias partes para encontrarem uma


solução para seu litígio, assim cumpre ao juiz promover pela conciliação,
novamente, agora na audiência de instrução e julgamento.
Assim, segundo o artigo 359, do CPC, o juiz tentará conciliar as partes,
independentemente do emprego anterior de outros métodos de solução consensual
de conflitos, como a mediação e a arbitragem.
Não há maiores formalidades para a tentativa de conciliação. Ao abrir a
audiência, o juiz, verbalmente, e sem prejulgar a causa, provocará os litigantes a
procurarem uma composição amigável para suas divergências.

110
27.4 Documentos da audiência

Os atos praticados em audiência deverão ser documentados em livro próprio


e nos autos do processo. Cabe ao servidor lavrar, sob ditado do juiz, termo que
conterá, em resumo, o ocorrido na audiência, bem como, por extenso, os
despachos, decisões e a sentença (se proferida na audiência).
“Obrigatoriamente, ficarão consignados: (a) as presenças registradas na
abertura da audiência; (b) todos os requerimentos formulados durante os trabalhos;
(c) as decisões do juiz a respeito dos requerimentos; (d) o debate oral; (e) a
sentença” (THEODORO JUNIOR, 2015, p.1095).
Quando o termo não for registrado de forma eletrônica, mas em folhas soltas,
deverá o juiz rubricar cada uma das folhas e posteriormente serem encadernadas
em volume próprio (§1º, art. 367, CPC).
Subscreverão o termo: o juiz, os advogados, o membro do MP e o escrivão
chefe de secretaria, dispensada as partes, exceto quando houver disposições cujos
advogados não possuem poderes específicos para atuar/decidir/acordar, sendo
assim, deverão assinar também (§2º, do 367, CPC).
A audiência poderá ser gravada (pelos próprios servidores ou pelas partes),
independente de autorização judicial (§§ 5º e 6º, art. 367, CPC).

27.5 Estrutura da audiência

Não havendo conciliação, terá início os atos instrutórios da audiência.


A colheita de provas orais na audiência observará a seguinte ordem,
preferencialmente (art. 361, CPC):

Art. 361. As provas orais serão produzidas em audiência, ouvindo-se nesta


ordem, preferencialmente:
I - o perito e os assistentes técnicos, que responderão aos quesitos de
esclarecimentos requeridos no prazo e na forma do art. 477, caso não
respondidos anteriormente por escrito;
II - O autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos pessoais;
III - as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu, que serão inquiridas.

111
Observe que o artigo dispõe do termo “preferencialmente”, significa dizer que
ao juiz é facultado inverter a sequência mencionada no artigo 361, escutando as
provas orais em uma sequência diferente da sugerida.
Durante a oitiva do perito, assistentes técnicos, partes e testemunhas, os
advogados e Ministério Público, não poderão intervir ou interromper, sem a licença
do juiz (parágrafo único, art. 361, CPC).
Finda a instrução, o juiz passará a palavra para o advogado do autor, logo
depois, ao advogado do réu, bem como, ao membro do Ministério Público, se for o
caso de sua intervenção. Cada um terá o prazo de vinte minutos, prazo que poderá
ser prorrogado por mais dez minutos, se o juiz achar necessário (art. 364, CPC).
Se um dos polos for composto por litisconsórcio, o prazo acima mencionado
será dividido entre eles, caso não convencionem de modo diverso (§1º, 364, CPC).
Quando a causa apresentar complexidade em fatos ou de direito, o debate
oral poderá ser substituído por razões finais escritas (memoriais), que serão
apresentados pelo autor e pelo réu, bem como, pelo Ministério Público se for o caso
de intervenção, em prazos sucessivos de 15 dias para cada, sendo assegurada vista
aos autos (§2º, 364, CPC).
Encerrados os debates orais ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá
sentença em audiência, ou no prazo de 30 dias (art. 366, CPC).

28 TEORIA GERAL DA PROVA

28.1 Conceito de prova

A prova é um instrumento ou meio hábil para demonstrar a existência de um


fato ou de um direito, assim, em sentido objetivo, é todo elemento material dirigido
ao juiz, capaz de esclarecer o que foi alegado por escrito nas peças processuais.
Normalmente é na instrução do processo a fase para as partes produzirem
suas provas, exceto aquelas que podem ser produzidas de forma antecipada ou a
qualquer tempo (art. 342 do CPC).

112
O acesso à justiça, mediante um processo justo, é garantido por direito
inserido entre os fundamentais pela Constituição. Entre os requisitos desse
processo, figuram o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, CF), que
envolvem, sem dúvida, o direito inafastável à prova necessária à solução justa do
litígio (THEODORO JUNIOR, 2015, p.1104).
A prova passa por três estágios no procedimento probatório:
a) A proposição: através da petição ou da resposta do réu, quando as
partes se manifestam sobre as provas que pretendem produzir;
b) O deferimento: que se dá na hora do saneamento do processo, momento
em que o Juiz, com ou sem a participação das partes, definirá quais
provas deverão ser produzidas e apreciadas.
c) A produção: consiste na diligência das partes, do juiz ou de seus
auxiliares, para que a prova efetivamente incorpore aos autos.

28.2 Características e objeto da prova

Toda prova há de ter um objeto, uma finalidade, um destinatário, e deverá


ser obtida mediante meios e métodos determinados.
a) Objeto: São os fatos deduzidos pelas partes em juízo, relevantes para
o julgamento da causa.

b) Finalidade: é a formação da convicção em torno dos mesmos fatos.

c) Destinatário: é o juiz, pois é ele que deverá se convencer da verdade


dos fatos para dar solução jurídica ao litígio.

d) Os meios legais de prova são os previstos nos arts. 369 a 484 do CPC;
mas, além deles, permite o Código outros não especificados, desde
que “moralmente legítimos” (art. 369). (THEODORO JUNIOR, 2015,
p.1105).

113
Com relação aos fatos, a prova pode ser direta ou indireta. Direta é a que
demonstra a existência do próprio fato narrado nos autos. Indireta, a que evidencia
um outro fato, do qual, por raciocínio lógico, se chega a uma conclusão a respeito
dos fatos dos autos. É o que se denomina também prova indiciária ou por presunção
(THEODORO JUNIOR, 2015, p.1106).
Só os fatos relevantes devem ser provados, não os fatos impertinentes ou
aqueles que não dependem de prova, de acordo com o artigo 374:
a) Notórios: de conhecimento geral, como datas históricas, fatos heroicos,
situações geográficas, de tempo. Por exemplo: o autor alega que estava
chovendo no dia do acidente, não será necessário comprovar que de fato
choveu.
b) Afirmados por uma parte e confessados pela outra parte: quando a
parte confirma as alegações da parte contrária.
c) Admitidos no processo como incontroversos: é o fato incontroverso,
sobre o qual não há dúvidas, não há pontos controvertidos, não há pontos
divergentes entre as partes que precisam ser provados ou, então, não
houve impugnação sobre eles.
d) Em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade:
as presunções legais são regras jurídicas que impõe que se leve em
consideração a ocorrência de determinado fato. Presunções legais são
normas jurídicas, podem ser absolutas ou relativas. Presunção absoluta,
por exemplo: presunção legal de ciência da decisão proferida no processo,
no caso de retirada dos autos do cartório ou da secretaria em carga (art.
272, §6º, CPC). Presunção relativa: a presunção de necessidade de
gratuidade da justiça em decorrência do pedido da parte (art. 99, §3º,
CPC) (DIDIER JR.; BRAGA; OLIVEIRA; 2015).

28.3 Valoração da prova

No código de 1973, o juiz poderia apreciar livremente a prova, atendendo aos


fatos e circunstâncias constantes nos autos, cabendo indicar na sentença os motivos

114
que lhe levaram a tal convencimento, era o chamado “sistema da persuasão
racional” ou do “livre convencimento motivado”. Essa livre liberdade na apreciação
das provas poderia ensejar inconvenientes, como o fato do juiz isolar uma prova, dar
força para outra, utilizando-a para formar seu convencimento, com total ou parcial
eliminação dos outros elementos probatórios produzidos no processo (THEODORO
JUNIOR, 2015, p.1113).
Adotado o Novo Código de Processo Civil, passou a vigorar o “princípio
democrático da participação efetiva das partes na preparação e formação do
provimento que haverá de ser editado pelo juiz para se chegar à justa composição
do litígio” (THEODORO JUNIOR, 2015, p.1113). Supriu a menção do “livre
convencimento do juiz” e deu ao artigo 371 a seguinte redação: “O juiz apreciará a
prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e
indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”. Assim, deverá
apreciar todo o conjunto probatório, não apenas aquele que considerar suficiente
para tomar e fundamentar sua decisão.
Ademais, cabe ao juiz apreciar a prova constante nos autos,
independentemente de quem a tiver promovido e indicará na decisão as razões da
formação de seu convencimento (art. 371, CPC).

28.4 A quem cabe o requerimento de produção de provas?

As partes, em regra, têm o dever de requer a produção das provas e cabe


ao poder judiciário deferir ou não. O juiz não pode substituir a vontade de uma das
partes determinando a produção de alguma prova que a parte não produziu ou
nem mesmo citou, exceto quando se tratar de direito indisponível, ocasião em que
poderá solicitar de ofício a produção de provas, tratando-se de uma exceção.
Cabe ao magistrado indeferir provas protelatórias ou inúteis, desde que
fundamente, observando o princípio da ampla defesa e do contraditório. Essa
fundamentação não poderá ser com mera indicação do dispositivo
correspondente, mas justificando o porquê de sua decisão, mostrando os
embasamentos que o levaram a decidir de tal forma.

115
Em tese as provas não possuem hierarquia, cabendo ao juiz determinar o
peso de cada uma, conforme o seu livre convencimento. Após a juntada aos
autos, as provas passam a ser do processo, não mais das partes, possibilitando
assim que o juiz analise todas sem diferenciar as partes que as produziram,
inclusive dando interpretação diferente daquele que a produziu, desde que o
magistrado demonstre as razões de sua convicção, utilizando-se de sua
experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente
acontece (art. 375, CPC), chama-se sistema da persuasão racional.

28.5 Ônus da prova

Caberá o ônus da prova ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito,


e ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito
do autor, essa é a regra geral (art. 373, CPC).
O fato constitutivo do direito do autor, em tal circunstância, torna-se
incontroverso, dispensando, por isso mesmo, a respectiva prova (art. 374, III). A
controvérsia deslocou-se para o fato trazido pela resposta do réu. A este, pois,
tocará o ônus de prová-lo. Assim, se o réu na ação de despejo por falta de
pagamento nega a existência da relação ex locato, o ônus da prova será do autor.
Mas, se a defesa se basear no prévio pagamento dos aluguéis reclamados ou na
inexigibilidade deles, o ônus probandi será todo do réu (THEODORO JUNIOR,
2015).
Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo,
ou quando, for mais fácil para a outra parte provar fato contrário, o juiz poderá
determinar, por decisão fundamentada, que o ônus seja de forma diversa, ocasião
em que deverá dar oportunidade a parte de se desincumbir do ônus de que lhe foi
atribuído. Além do mais, a distribuição diversa do ônus da prova poderá ser
determinada pelas próprias partes (através de um acordo antes ou durante o
processo), salvo quando:
a) Recair sobre direito indisponível; ou

116
b) Tornar excessivamente difícil a outra parte o exercício do direito (art.
373, §§, CPC).
Chama-se ônus dinâmico da prova, que se afasta das concepções de
distribuição estática do ônus da prova.

Não se trata de revogar o sistema do direito positivo, mas de complementá-


lo à luz de princípios inspirados no ideal de um processo justo,
comprometido, sobretudo com a verdade real e com os deveres de boa-fé e
lealdade que transformam os litigantes em cooperadores do juiz no
aprimoramento da boa prestação jurisdicional (THEODORO JUNIOR, 2015).

Sendo assim, a inversão do ônus da prova poderá ser por vontade das
partes, determinação legal ou judicial. Da redistribuição do ônus da prova caberá
agravo de instrumento, por se tratar de decisão interlocutória (art. 1015, XI).

A lei processual formula uma série de regras aplicáveis somente na


hipótese de, no momento do julgamento, os fatos não terem ficado
suficientemente esclarecidos. São as regras do ônus da prova, cuja
função é indicar qual dos litigantes sofrerá as consequências negativas
advindas da falta de comprovação (GONÇALVES, 2016, p. 470).

A redistribuição dinâmica do ônus da prova justifica-se como meio de


equilibrar as forças das partes litigantes e possibilitar a cooperação entre elas e o
juiz na formação da prestação jurisdicional justa. Se, no caso concreto, a
observância da distribuição estática do art. 373 praticamente inviabilizaria a entrada
nos autos de meios probatórios relevantes, por deficiência da parte que
ordinariamente caberia produzi-los, o deslocamento se impõe, como medida de
justiça e equidade. Com isso, ambas as partes assumem as mesmas possibilidades
de convencer o julgador sobre a veracidade das alegações de fatos aduzidas, além
de ser fomentada a solidariedade entre os sujeitos processuais, nos termos
previstos no CPC.
Esgotadas as possibilidades das partes de produção de provas e ainda
houver dúvidas quantos aos fatos, poderá o juiz determinar de ofício a produção de
alguma prova que o auxilie no julgamento do mérito (art. 370).
Por fim, importante destacar que essa redistribuição do ônus probandi é
sempre parcial. Não pode nunca ser total (THEODORO JUNIOR, 2015).

117
28.5.1 Ônus da prova em ações do consumidor

Segundo o artigo 6º, inciso VIII, do CDC, são direitos básico do consumidor,
entre outros, a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências. Todavia não quer dizer que o consumidor esteja totalmente liberado do
ônus da prova, pois o próprio artigo traz requisitos que deverão ser aferidos pelo juiz
para que conceda a inversão do ônus da prova, quais sejam:
a) Verossimilhança das alegações;
b) Hipossuficiência do consumidor;
c) Suporte probatório mínimo;

O expediente da inversão do ônus da prova tem de ser utilizado com


equidade e moderação, dentro da busca de harmonização dos interesses em conflito
nas relações de consumo. Dessa maneira, tem de ser visto como “instrumento para

a obtenção do equilíbrio processual entre as partes, não tendo por fim causar
indevida vantagem, a ponto de se conduzir o consumidor ao enriquecimento sem
causa, vedado pelo art. 884 do Código Civil” (THEODORO JUNIOR, 2015).

28.6 Provas por presunção

As presunções correspondem mais um tipo de raciocínio lógico do que uma


prova propriamente. A partir de uma prova, pode-se chegar a uma noção acerca de
determinado fato, sem que ele seja diretamente demonstrado, é a chamada prova
indireta (circunstancial ou indiciária). “As presunções às vezes são adotadas por
regra legal (presunções legais); outras vezes, são estabelecidas na experiência da

118
vida, segundo o que comumente acontece (presunções comuns ou simples) e, por
isso, se dizem presunções do homem” (THEODORO JUNIOR, 2015).
Por exemplo: o proprietário de um veículo, prova que na hora do acidente
estava em outra cidade, não podendo, portanto, ser apontado como responsável
pelo acidente discutido na ação.
Em matéria de negócio jurídico é possível, também, usar-se a presunção
como meio de prova. Mas não se pode empregá-la indiscriminadamente, porque há
regras especiais que interferem na forma e nos meios de prova de certos negócios,
tornando-os solenes ou, pelo menos, sujeitos a certas exigências probatórias. Há
negócios que só valem se praticados por escritura pública e outros que exigem a
forma escrita para valer, não podendo ser presumidos (THEODORO JUNIOR, 2015).

28.7 Provas ilícitas

São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos,


segundo o inciso LVI, do artigo 5º da Constituição Federal.

A ilicitude da prova pode decorrer de duas causas: da obtenção por meios


indevidos (exs.: emprego de violência ou grave ameaça, tortura, entre
outras); e do meio empregado para a demonstração do fato (exs.: as
interceptações telefônicas, a violação de sigilo bancário, sem autorização
judicial, a violação de sigilo de correspondência).

A prova obtida por meios ilícitos ou as provas que dela derivem não são
admitidas em processo, exceto quando se tratar de legitima defesa própria ou de
terceiros. É a chamada teoria dos frutos da árvore contaminada.

28.8 Instrução por meio de carta precatória ou rogatória

Quando a prova a ser produzida por de outra comarca (cidade), o juiz terá
que requisitar a cooperação do juiz competente do local da prova a ser produzida.
Isso será feito por meio da carta precatória (outra cidade, dentro do mesmo país), ou
carta rogatória (para outro país).

119
De acordo com o artigo 377, do CPC, a carta precatória, a carta rogatória e o
auxílio direto suspenderão o julgamento da causa:

a) Nos casos previstos no art. 313, inciso V, alínea “b”:


Art. 313. Suspende-se o processo:
[...]
V - quando a sentença de mérito:
[...]
b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou
a produção de certa prova, requisitada a outro juízo;

b) quando, tendo sido requeridos antes da decisão de saneamento, a prova


neles solicitada for imprescindível.

A carta precatória e a carta rogatória não devolvidas no prazo ou concedidas


sem efeito suspensivo poderão ser juntadas aos autos a qualquer momento.
Há dois tipos de carta rogatória: a carta rogatória ativa, que é expedida no
Brasil (no juiz deprecante) e encaminhada para outro país para ser cumprida pelo
juiz deprecado e; a carta rogatória passiva, quando algum país estrangeiro expede
carta rogatória para oitiva de alguma testemunha no Brasil.
Nesses casos compete ao STJ autorizar o cumprimento da carta rogatória
passiva, chamado exequatur (art. 105, I, “i” da CF), mas cuidado, o STJ apenas vai
autorizar a execução da carta rogatória, pois quem vai de fato executar, escutar a
testemunha ou parte, será o juiz federal (art. 109, X da CF).

28.9 Dever de cooperação:

Segundo os artigos 378 e 379, do CPC, ninguém se exime do dever de


colaborar com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade, assim, impõem-
se as partes o dever de dizer a verdade e da lealdade, além disso, incumbe as
partes:
I - comparecer em juízo, respondendo ao que lhe for interrogado;
II - colaborar com o juízo na realização de inspeção judicial que for
considerada necessária;

120
III - praticar o ato que lhe for determinado.
Ademais, incumbe aos terceiros também, o dever de cooperação no
processo, sob pena determinar, além da imposição de multa, outras medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias, em caso de
descumprimento, quando o juiz determinar que: informe os fatos e as circunstâncias
de que tenha conhecimento; que exiba coisa ou documento que esteja em seu poder
(art. 380, CPC).

28.10 Prova emprestada

“Por prova emprestada entende-se aquela que foi produzida em outro


processo e que é trasladada por meio de certidão para os autos de nova causa, nos
quais entra sob a forma documental” (THEODORO JUNIOR, 2015). Pode ser
qualquer tipo de prova produzida: testemunhal, confissão, perícia, documento,
depoimento, etc. Em nome do princípio da economia processual e da celeridade,
qualquer prova para ser utilizada, está previsto no artigo 372, do CPC, que diz: “O
juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe
o valor que considerar adequado, observado o contraditório”.
É extremamente útil em casos de falecimento da testemunha ou perecimento
de um bem.
No antigo código de processo civil, para a utilização da prova emprestava era
necessária a observação de determinados requisitos: identidade das partes nas
ações; identidade ou semelhança do objeto da prova; a prova emprestada deveria
ter sido produzida na presença de um juiz natural. Contudo, o novo CPC, é
bastante liberal, tanto é que esses requisitos não constam mais, mas, deverá
ser assegurado as partes o contraditório, inclusive com contraprova.

28.11 Produção antecipada de provas

“Dá-se a antecipação de prova propriamente quando a parte não tem


condições de aguardar o momento processual reservado à coleta dos elementos de

121
convicção necessários à instrução da causa pendente ou por ajuizar” (THEODORO
JUNIOR, 2015). A prova antecipada é permitida em qualquer que seja a natureza da
demanda, seja ela contenciosa, ou jurisdição voluntária, pode ser manejada por
quem quer agir (autor) ou por quem quer defender-se (réu), ou até mesmo porque
queira apenas certificar-se sobre a ocorrência de determinado fato, documentando-o
judicialmente (THEODORO JUNIOR, 2015).
A prova antecipada pode ser “para viabilizar a autocomposição ou outro meio
adequado de solução do conflito, ou para permitir ao interessado que tenha prévio
conhecimento dos fatos, que possa justificar ou evitar o ajuizamento da ação”
(GONÇALVES, 2016, p. 479).

A prova pode ser antecipada quando (art. 381, CPC):

a) Fundado receio de impossibilidade ou dificuldade de verificação de


certos fatos: haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito
difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação, é o típico caso quando a
testemunha é muito idosa ou está muito doente e teme-se que ela não poderá ser
ouvida em outra hora oportuna. Somente nessa situação será considerada natureza
cautelar, pois nas demais será de natureza satisfativa, já que não servirá para
afastar um risco, somente para esclarecer e fornecer informações.

b) Prova para autocomposição das partes: a prova a ser produzida seja


suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solução de
conflito, é quando a prova pode solucionar o conflito entre as partes durante a
mediação, conciliação ou outra forma de autocomposição.

c) Fatos que podem justificar ou evitar o ajuizamento: o prévio


conhecimento de fatos que possam justificar ou evitar o ajuizamento de uma ação,
é quando “a antecipação da prova servirá para que colha elementos necessários
para a ação principal”, essa antecipação pode fornecer elementos para que o
interessado ajuíze ou pelo contrário, deixe de ajuizar uma ação.

122
Assim, aquele que pretender justificar a existência de um fato ou relação
jurídica para simples documento e sem caráter contencioso, deverá expor em
petição circunstanciada, a sua intenção (Art. 381, §5º, CPC).
A antecipação de prova poderá sempre ser questionada pela outra parte, que
poderá alegar medida desnecessária e onerosa.
A antecipação de prova pode dar-se antes do ajuizamento da ação principal,
ou no curso desta. Se ocorrer antes da ação principal, não ensejara na prevenção
da competência do juízo para o processo futuro, se vier ser proposta a ação
principal (§3º. Art. 381, CPC). Portanto, ela pode ser de natureza preparatória ou
incidental.

28.11.1Tipos de provas que podem ser antecipadas

A antecipação de provas não tem restrições, pode ser documental,


testemunhal, pericial, ou algum outro meio idôneo de prova. Mesmo o depoimento
pessoal da parte diversa (prova testemunhal), quando ainda não se tiver sido
apresentada a contestação, poderá ser de relevante valor para o desfecho do
processo. Não será possível saber quais fatos são realmente controvertidos,
contudo, será possível, nesses casos, saber quais os fatos relevantes para causa
e como as partes irão prosseguir.

28.11.2 Competência

A produção antecipada da prova é da competência do juízo do foro onde esta


deva ser produzida ou do foro de domicílio do réu (art. 381, §2º, CPC). Contudo, de
acordo com o §3º, isso não significa que o juiz tornará prevento (lembre-se,
prevenção é quando o juiz que teve o primeiro contato com a causa, torna-se
competente para julgá-la).

123
O juízo estadual tem competência para produção antecipada de prova
requerida em face da União, entidade autárquica ou empresa pública federal se, na
localidade, não houver vara federal (art. 381, §4º, CPC).

28.11.3 Petição e procedimento

Se for ajuizado como ação autônoma, isto é, antes mesmo da ação principal,
em caráter não contencioso, deverá ser provocada por petição inicial, satisfazendo
os requisitos do artigo 319, do CPC. Contudo, se o pedido ocorrer durante a ação
principal, apenas para adiantar a produção de determinada prova, ela deverá ser
requerida em por simples petição, naquela deverá ser demonstrada a necessidade
de tal medida.
Assim, importante ressaltar que o pedido sempre deverá apresentar as razões
que justificam a necessidade de se produzir antecipadamente.
O requerente deve apresentar as razões que justificam a necessidade de
antecipação da prova, mencionando com precisão os fatos sobre os quais a prova
deve recair (Art. 382, CPC).
Recebida a petição, o juiz determinará, de ofício ou a requerimento da
parte, a citação de interessados na produção da prova ou no fato a ser provado,
salvo quando não houver caráter contencioso entre as partes (Art. 382, §1º, CPC).
O juiz, na antecipação de tutela, não pode se pronunciar sobre a ocorrência
ou inocorrência do fato discutido em tela, nem sobre as respectivas consequências
jurídicas, sob pena de violar o devido processo legal e o princípio da ampla defesa
e do contraditório. “Apesar da vedação de defesa, o réu poderá arguir a
incompetência do juízo, ou o impedimento e a suspeição do juiz, já que isso
repercutirá sobre a própria validade das provas colhidas” (GONÇALVES, 2016, p.
482).
Em se tratando de prova oral, o juiz, ao despachar a petição, simplesmente
designará audiência para inquirição da testemunha ou interrogatório da parte. A
testemunha será intimada e a parte contrária citada. Se a prova a antecipar for
pericial, o procedimento terá de adaptar-se ao disposto nos arts. 464 a 480. O

124
promovente deverá formular seus quesitos e indicar seu assistente técnico na
própria petição, bem como pedir a citação da parte contrária para acompanhar a
perícia. Ao despachá-la, o juiz, de plano, nomeará o perito (art. 465) e fixará de
imediato o prazo para a entrega do laudo. A parte, em quinze dias, deverá arguir
impedimento ou suspeição do perito, indicar seu assistente técnico e apresentar
quesitos (THEODORO JUNIOR, 2015).
Se os assistentes não subscreverem o laudo do perito do juízo, terão o prazo
comum de quinze dias para oferecerem seus pareceres, a contar do momento em
que as partes forem intimadas da apresentação do laudo (art. 477, § 1º). As partes
poderão, após o laudo, ou laudos, pedir esclarecimentos sobre as respostas dadas
(art. 474, § 3º). Aplicam-se às perícias antecipadas as regras sobre substituição,
escusa, impedimento ou suspeição do perito. O assistente, por assumir a posição de
auxiliar de confiança da parte, não se sujeita a impedimentos e suspeição
(THEODORO JUNIOR, 2015).
Neste procedimento não se admite defesa ou recurso, salvo contra decisão
que indeferir totalmente a produção da prova pleiteada, ocasião em que caberá
recurso de apelação (art. 382, §4º, CPC). Se a prova for indeferida parcialmente,
NÃO caberá agravo de instrumento, já que não é uma hipótese abrangida pelo
artigo 1015 do novo Código de Processo Civil. Claro que não se pode também
violar o direito de defesa, negando ao requerido o direito de contraditório. O que
não haverá é a instauração de controvérsia sobre o fato em si, ou seja, não irá se
entrar no mérito, pois isso é discutido na ação principal, mas o requerido pode
alegar nulidade da prova.
O procedimento é de natureza administrativa, não estando restrito ao pedido
inicialmente manifestado. Podem os interessados, por isso, requerer a produção de
qualquer outra prova no mesmo procedimento, desde que relacionada ao mesmo
fato. Contudo, isso não será admitido se a produção conjunta acarretar excessiva
demora (art. 382, § 3º).
O juiz não se pronunciará sobre a ocorrência ou a inocorrência do fato, nem
sobre as respectivas consequências jurídicas (Art. 382, §2º, CPC), assim, a

125
sentença proferida na antecipação de prova é apenas homologatória, não faz coisa
julgada material.

28.11.4 Medida inaudita altera parte

A antecipação de prova geralmente se faz com prévia citação da parte


contrária. Mas casos urgentes, como o risco de vida da testemunha, e a
necessidade de citação por precatória em vistoria, poderão ensejar deferimento
liminar da medida, na forma do art. 300, § 2º, do NCPC. Feitas, porém, a inquirição
ou a vistoria, seguir-se-á a citação do promovido que, na medida do possível, poderá
requerer diligências complementares, como nova inquirição, se ainda possível, ou
formulação de quesitos complementares e indicação de assistente técnico
(THEODORO JUNIOR, 2015).

28.11.5 Destino dos autos


Após a sentença homologatória, os autos da antecipação de prova
permanecem em Cartório durante um mês, para extração de cópias e certidões
pelos interessados (art. 383, CPC). Após esse prazo, os autos serão entregues ao
promovente da medida para a adoção das providências que entender pertinentes
(art. 383, parágrafo único) (THEODORO JUNIOR, 2015).

29 PROVAS EM ESPÉCIE

As provas são os mecanismos usados no processo para investigação e


demonstração dos fatos. Não se pode confundir fonte de prova, que são os
elementos específicos e concretos, com os meios de provas, que são os tipos
genéricos que se admitem no processo, como ata notarial, depoimento pessoal,
confissão, exibição de documento ou coisa, prova documental, testemunhal,
pericial e inspeção judicial.
Um exemplo claro entre a diferença de meio de prova e fonte da prova é a

126
prova documental, a espécie é o meio de prova, já o documento em si, que
comprova o negócio jurídico discutido entre as partes, que será apreciado pelo
juízo e terá relevante valor para o processo, essa é uma fonte de prova.
O rol anteriormente descrito, de espécies de prova, não é taxativo, tendo
em vista o caráter genérico do artigo 369 do NPCP, no qual diz que outros meios
de prova também serão aceitos, desde que não violem a lei ou a moral.

As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os


moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz.

29.1 Ata notarial

A ata notarial é um documento lavrado pelo tabelião de notas exclusivamente,


conforme dispõe o artigo 7º, inciso III, da Lei n. 8.935/1994, o qual se tornou, a partir
da vigência do novo Código de Processo Civil, uma espécie de prova devidamente
regulamentada por lei. Os serviços notariais e de registro são os de organização
técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade,
segurança e eficácia dos atos jurídicos (Art. 1º, Lei 8.935/94). Ela tem a finalidade de
atestar a existência ou o estado de coisas. Da ata poderão constar dados
representados por imagem ou sons gravados em arquivos eletrônicos. A atividade
notarial e de registro é exercida pelo tabelião ou notário, profissional do direito,
dotado de fé pública (art. 3º da Lei 8.935/1994), que atua como delegatário do Poder

Público, por meio de concurso público. Dispõe o artigo 384 do CPC:

Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem ser


atestados ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata
lavrada por tabelião.
Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em
arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial.

Para que o tabelião, que goza de fé pública, possa atestar algum fato, ele
precisa ter conhecimento, por isso é necessário que ele acompanhe ou presencie
pessoalmente. Ao fazer a ata o escrivão deverá descrever o fato apresentando, as
circunstâncias e o modo como ocorreram os fatos, informações necessárias para

127
que o acontecimento seja esclarecido.
Diferente das escrituras públicas (que são declarações de vontade das
partes), a ata notarial é a atestação de um “fato cuja existência ou forma de existir
é apreensível pelos sentidos (pela visão, pela audição, pelo tato etc.)”.
(GONÇALVES, 2016, p. 494).

Importante ressaltar que o notário não dá autenticidade ao fato, apenas o


relata com autenticidade. Ele “produz o documento autêntico, que
representa o fato”. Assim, a ata notarial não se confunde com a escritura
pública. Enquanto está se destina a provar negócios jurídicos e declarações
de vontade, aquela simplesmente descreve, a requerimento do interessado,
fatos constatados presencialmente pelo tabelião (THEODORO JUNIOR,
2015).

De acordo com o artigo 427, parágrafo único, inciso I, a ata notarial não se
constitui prova legal absoluta, a presunção é juris tantum, isto é, admite-se prova
ao contrário, podendo ser alegada falsidade da mesma, provando que o
documento não é verdadeiro, ou que há alteração no documento verdadeiro, por
exemplo.
São exemplos de fatos registrados por ata notarial, segundo a jurisprudência:
a) Informações veiculadas pela internet: o tabelião atesta consultando tal
material através de determinado endereço eletrônico.
b) Diligências de constatação: tabelião vai até o local registra e informa ao
juiz o que foi verificado.
c) Declaração de testemunhas: importante ressaltar que a ata não pode
servir de instrumento de coleta de depoimentos testemunhais, que devem
ser tomados seguindo o rito do Código de Processo Civil. Contudo, nada
impede que as partes, de comum acordo, solicitem a um tabelião que
registre a oitiva da testemunha em ata, para posterior juntada em juízo,
como simples peça informativa (THEODORO JUNIOR, 2015).
d) Reuniões assemblares: é comum que os sócios ou acionistas requeiram
a um tabelião que compareça à assembleia para registrar os fatos
ocorridos durante sua realização, tais como número de presentes,
discussões, deliberações etc. (THEODORO JUNIOR, 2015).

128
29.2 Depoimento pessoal

“Cabe à parte requerer o depoimento pessoal da outra parte, a fim de que


esta seja interrogada na audiência de instrução e julgamento, sem prejuízo do
poder do juiz de ordená-lo de ofício”, é o que diz o caput, do artigo 385, do CPC.
Trata-se de um meio de prova, pelo qual o juiz acolhe as declarações da parte
diversa, com a finalidade de obter informações relevantes sobre o fato objeto do
litigio.
O depoimento pessoal das partes é um dever das partes, pois segundo o
artigo 379, inciso I, do CPC, as partes deverão comparecer em juízo e responderão
o que lhe for interrogado pelo juiz. Segundo o artigo 387, do CPC, “A parte
responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo servir-se de
escritos anteriormente preparados, permitindo-lhe o juiz, todavia, a consulta a notas
breves, desde que objetivem completar esclarecimentos”.
O próprio juiz ouvirá as partes em audiência de instrução e julgamento, salvo
as hipóteses do artigo 453 do CPC (nas quais são ouvidas por carta precatória ou
rogatória, por outro juízo, ou prestam depoimento antecipadamente).
Só cabe as próprias partes prestar o depoimento, autores e réus, no caso de
um terceiro, já configuraria prova testemunhal. Somente a parte poderá requerer o
depoimento pessoal da parte diversa, não podendo requerer o próprio depoimento.
Entre os poderes do juiz há um outro expediente determinado a ouvir a parte, que,
entretanto, não se confunde com o depoimento pessoal. Trata-se da determinação
do “comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa”, o
que se dará sem a cominação da “pena de confesso” e que poderá ocorrer “a
qualquer tempo”, durante o curso do processo (art. 139, VIII) (THEODORO
JUNIOR, 2015).
Se a parte, pessoalmente intimada para prestar depoimento pessoal não
comparecer, ou se comparecer, recursar-se a depor, aplicar-se-á pena de confissão
(Art. 385, §1º, CPC), desde que advertida da pena de confesso no ato da intimação
(que deve ser pessoal). Essa pena consiste em admitir o juiz como verdadeiros os

129
fatos contrários ao interesse da parte faltosa e favoráveis ao adversário
(THEODORO JUNIOR, 2015).
O ônus da parte não é apenas o de depor, mas o de responder a todas as
perguntas formuladas pelo juiz, com clareza e lealdade. Dessa forma, quando a
parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao que lhe for perguntado, ou
empregar respostas evasivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias e
elementos de prova, declarará, na sentença, que houve recusa de depor
(THEODORO JUNIOR, 2015), é o que trata o artigo 386, do CPC: “Art. 386. Quando
a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao que lhe for perguntado ou
empregar evasivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias e os elementos de
prova, declarará, na sentença, se houve recusa de depor”.
Em caso de pessoa jurídica, o depoimento poderá ser prestado por seus
representantes legais ou prepostos indicados pelo contrato social, desde que
tenham poderes para isso e, obviamente, tenham conhecimento dos fatos.
As partes serão ouvidas em separado, sendo vedado quem ainda não
depôs, assistir ao interrogatório da outra parte (Art. 385, §2º, CPC). “Se a parte for
absolutamente incapaz, o depoimento será prestado por seu representante legal;
se relativamente incapaz, por ele mesmo” (GONÇALVES, 2016, p. 494).
Somente não será obrigada a prestar depoimento pessoal nas hipóteses
elencadas no artigo 388, do CPC:

Art. 388. A parte não é obrigada a depor sobre fatos:


I - Criminosos ou torpes que lhe forem imputados;
II - A cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo;
III - acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu
cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível;
IV - Que coloquem em perigo a vida do depoente ou das pessoas referidas
no inciso III.
Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de estado e de
família.

Outra inovação do CPC foi a possibilidade de o depoimento ocorrer por meio


de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagem em tempo real, inclusive durante a audiência de instrução e julgamento, a
fim de tornar o andamento do processo mais célere, é o que dispõe o §3º do artigo
385.

130
29.3 Confissão: conceito

Segundo o artigo 389 do Código de Processo Civil, há confissão quando a


parte admite a verdade de um fato, contrário ao seu próprio interesse e favorável
aos interesses do adversário. Ela poderá ser feita em juízo ou fora dele:
Assim, a confissão poderá ser:
a) Judicial;
b) Extrajudicial;

A confissão pode ser provocada ou espontânea, parcial ou total. Não se trata


de reconhecer uma justiça ou injustiça, mas de confirmar os fatos narrados pela
parte adversária. Dessa forma, a confissão não pode ser reconhecida como figura
de reconhecimento da procedência do pedido (artigo. 487, III, a), que ocasiona a
extinção do feito com resolução do mérito (THEODORO JR, 2017, p. 957). Neste
último, o demandado aceita a pretensão (o efeito jurídico) que lhe foi dirigida pelo
demandante, conduta que implicará resolução do mérito por autocomposição
(DIDIER Jr; BRAGA; OLIVEIRA, 2015, p.163).
É a confissão apenas por meio de prova, que como as demais as provas,
serve para formar a convicção do julgador, pode muito bem ocorrer a confissão e a
ação ser julgada em favor do confitente, basta que o fato confessado não seja
suficiente para, por si só, justificar o acolhimento do pedido (THEODORO JR, 2017,
p. 957).
Em regra, a confissão deve conter:
a) O reconhecimento de um fato alegado pela outra parte.
b) A voluntariedade desse reconhecimento.
c) Um prejuízo para o confitente, em decorrência do reconhecimento
(THEODORO JR, 2017, p. 957).

A confissão tem dois elementos:


a) A subjetividade: ânimo de confessar, intenção de reconhecer
voluntariamente um fato alegado pela outra parte.

131
b) A objetividade: o próprio fato litigioso reconhecido em detrimento do
confitente (THEODORO JR, 2017, p. 957).

Atenção!
Ninguém está obrigado a confessar e a fazer prova em favor dos
adversários e contra si. Contudo, todo litigante tem o dever da veracidade e
lealdade no comportamento processual (art. 5º e 77, I, CPC), assim, se a
parte é intimada a depor, não poderá se recusar nem mesmo deixar de
responder as indagações do magistrado. Se a parte se recusar, tem como
sanção a quebra do ônus da prova, pois aquele que requereu o depoimento,
ficará exonerado de provar o fato, pois presume-se verdadeira a versão
fática apresentada pelo adversário (art. 385, §1º), resultando numa
confissão ficta ou presumida (THEODORO JR, 2017, p. 957/958).

29.3.1 (In)eficácia da confissão:


“Como a confissão pode importar, reflexamente, verdadeira renúncia de
direitos (os possíveis direitos envolvidos na relação litigiosa), só as pessoas maiores
e capazes têm legitimidade para confessar” (THEODORO JR, 2017, p. 958). Ainda,
segundo o artigo 392, não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos
relativos a direitos indisponíveis.
Do artigo 392 podemos extrair os seguintes requisitos para validade da
confissão:
a) Disponibilidade dos direitos (art. 392, caput): não vale como confissão a
admissão, em juízo, de fatos relativos a direitos indisponíveis.

b) Ineficácia da confissão de quem não pode dispor dos direitos


relacionados aos fatos confessados (art. 392, §1º, CPC): Advém do artigo
213 do Código Civil: “Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é
capaz de dispor do direito a que se referem os fatos confessados”. Importante
frisar que, não invalida a confissão, por incapacidade, apenas retira-se desta

132
declaração a eficácia da confissão. Um exemplo de confissão ineficaz é a do
cônjuge, em relação aos direitos reais imobiliários, que somente poderão
produzir efeito com o consentimento do outro, salvo regime de casamento
com separação total de bens (art. 391, parágrafo único, do CPC) (DIDIER Jr;
BRAGA; OLIVEIRA, 2015, p.170).

c) Eficácia da confissão por representante (art. 392, §2º, CPC e 213,


parágrafo único, CC): é possível a confissão espontânea feita pelo
representante legal, contudo, quem confessa é o representado, o
representante é quem apresentará a confissão espontânea ao magistrado, ou
seja, ele é mero condutor da vontade declarada pelo real confitente. Para
isso, é necessário poder especial (Art. 390, §1º, e 105, do CPC). “Na outorga
do poder especial, deve o confitente indicar quais os fatos cuja confissão o
representante apresentará em juízo” (DIDIER Jr; BRAGA; OLIVEIRA, 2015,
p.170).

O legislador deixa claro que a confissão feita por procurador sem poder
especial é ineficaz como confissão (art. 116 c/c o art. 213 do Código Civil e
§2º do art. 392 do CPC), mas pode ser levada em consideração pelo
magistrado, bem como pode ser ratificada posteriormente (DIDIER Jr;
BRAGA; OLIVEIRA, 2015, p.170).

d) Inexigibilidade de forma especial: não se pode confessar um casamento


sem demonstrar que ele se realizou com as solenidades legais; ou a
aquisição da propriedade imobiliária sem a transcrição no Registro de Imóveis
(THEODORO JR, 2017, p. 958).

29.3.2 Classificação da confissão:


Conforme artigo 389 do Código de Processo Civil, poderá ser judicial ou
extrajudicial. A confissão extrajudicial é a que o confitente faz fora do processo, de
forma escrita ou oral, perante a parte contrária ou terceiros, ou ainda por meio de
testamento (art. 394) (THEODORO JR, 2017, p. 959).
Pode ser feita por procurador ou pessoalmente. É subdividida em:

133
a) Espontânea: a que resulta da iniciativa do próprio confitente, o qual dirige a
petição nesse sentido ao juiz, manifestando sua vontade de confessar.
Deverá ser reduzida a temo nos autos (art. 390). Poderá ser prestada por
mandatário com poderes especiais.
b) Provocada: que resulta de depoimento pessoal, requerido pela parte
contrária, ou determinado, ex officio. Esta não poderá ser prestada por
mandatário e constará do termo do depoimento pessoal (art. 390 §2º).

29.3.3 Efeitos da confissão:


“A confissão costuma ser chamada de rainha das provas, pela maior força de
convicção que gera no espírito do juiz” (THEODORO JR, 2017, p. 959). Seus
principais efeitos, são:
a) A confissão implica na perda do direito de produzir prova contrária sobre o
fato confessado. Exceto se estivermos falando de litisconsórcio, ocasião
em que se a confissão cair sobre fato comum, só será eficaz para os
demais litisconsortes se eles também confessarem. Se for uma confissão
que faz prova contra o confitente, será eficaz e não prejudicará os
litisconsortes (DIDIER Jr; BRAGA; OLIVEIRA, 2015, p.167).
b) A parte adversária ao confitente fica liberada do ônus da prova dos fatos
que o confitente afirmou (art. 374, II, CPC) (DIDIER Jr; BRAGA;
OLIVEIRA, 2015, p.167).
c) A confissão, não vincula o magistrado, que deverá examinar outros meios
de provas, portanto, não se trata de prova plena, que impede a apreciação
in concreto do conjunto probatório (DIDIER Jr; BRAGA; OLIVEIRA, 2015,
p.167).
d) Irretratabilidade: uma vez proferida, a confissão, não mais se retrata.
Exceto quando provar erro de fato ou coação (art. 393, caput). É o que
trata, também, o Código Civil, em seu artigo 214: “A confissão é
irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de
coação”. Em caso de anulação dos efeitos da confissão, o confitente
deverá ajuizar ação de anulação, e caso o confitente vier a falecer no

134
andamento processual, poderá ser substituído pelos seus herdeiros, os
quais darão prosseguimento a ação (art. 393, parágrafo único)
(THEODORO JR, 2017, p. 960).

29.3.4 Indivisibilidade da confissão


“A confissão é, em regra, indivisível, não podendo a parte que a quiser
invocar como prova aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for
desfavorável, porém cindir-se-á quando o confitente a ela aduzir fatos novos,
capazes de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção”.
Isto é, as declarações do confitente que são desfavoráveis a parte contrária, não
poderão ser consideradas como confissão. Ainda, a parte contrária poderá defender-
se dos fatos novos trazidos na confissão.

29.4 Exibição de documento ou coisa:


O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre
em seu poder, sempre que o exame desses bens seja útil ou necessário para a
instrução processual (art. 396, CPC).
Pode ser prova direta ou indireta. Prova direta podemos ter como exemplo a
exibição de recibo de pagamento controvertido, como prova indireta, pode ser a
exibição de um veículo acidentado para submeter-se à perícia e provar danos
ocasionados.
Ao processo de conhecimento pertence a exibição apenas como incidente da
fase probatória. O juiz poderá provoca-la de ofício ou, então, a requerimento de uma
das partes, ou de interveniente no processo (THEODORO JR, 2017, p. 963).

29.4.1 Procedimento e efeitos da exibição requerida contra a parte


O pedido poderá ser formulado na inicial, na contestação ou em petição
posterior. O incidente ocorre dentro dos autos do processo, como parte da fase
instrutória do processo. São requisitos do pedido, segundo o artigo 397, do Código
de Processo Civil:
I - A individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa;

135
II - A finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o
documento ou com a coisa;

III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o


documento ou a coisa existe e se acha em poder da parte contrária.

Deferido o pedido exibitório, a parte contrária será intimada na pessoa de seu


advogado, para responder o seu pedido, no prazo de cinco dias subsequentes à sua
intimação (Art. 398, caput). Se a exibição é feita, encerra-se o incidente. Contudo o
demandado poderá, no lugar de exibir documento ou coisa, permanecer-se inerte ou
contestar o pedido, afirmando, por exemplo, inexistência da coisa ou documento, ou
negando o dever de exibir. Neste caso, o juiz permitirá ao requerente que prove, por
qualquer meio, que a declaração não corresponde à verdade (art. 398, parágrafo
único).

Quando o juiz não admitirá a recusa da exibição por parte do demandado?


Conforme artigo 399, o juiz não admitirá a recusa se:
I - O requerido tiver obrigação legal de exibir: obrigação prevista em lei, como
por exemplo, a exibição de livros mercantis (art. 1190 e 1191, do CC).
II - O requerido tiver aludido ao documento ou à coisa, no processo, com o
intuito de constituir prova: o requerido afirmou durante o processo a existência
de tal documento ou coisa.
III - o documento, por seu conteúdo, for comum às partes: como o recibo, seu
conteúdo é comum às partes que litigam sobre determinado negócio jurídico.

Se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer nenhuma declaração no


prazo de cinco dias, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que a parte contrária
pretendia demonstrar pelo documento ou coisa a ser exibida (art. 400, I, CPC). Ou,
ainda, se a recusa de exibição for ilegítima (art. 400, II, CPC).

136
O Novo Código de Processo Civil trouxe, através do parágrafo único do artigo
400, a possibilidade do juiz adotar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou
sub-rogatórias para que o documento seja exibido.

Atenção!
O julgamento do incidente de exibição contraparte, seja de procedência ou
improcedência, é sempre conteúdo de decisão interlocutória, que poderá ser
objeto de agravo de instrumento, conforme artigo 1015, inciso VI, do Código de
Processo Civil.

29.4.2 Quando o documento ou coisa estiver em poder de terceiros:


Nestes casos o juiz ordenará que a citação do terceiro, para que, no prazo de
15 dias responda, segundo o artigo 401.
Se o terceiro negar a obrigação de exibir ou a posse do documento ou da
coisa, o juiz designará audiência especial, tomando-lhe o depoimento, bem como o
das partes e, se necessário, o de testemunhas, e em seguida proferirá decisão (art.
402, CPC).
Ainda, segundo o artigo 403, se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a
efetuar a exibição, o juiz ordenar-lhe-á que proceda ao respectivo depósito em
cartório ou em outro lugar designado, no prazo de 5 (cinco) dias, impondo ao
requerente que o ressarça pelas despesas que tiver.
Se, mesmo assim, o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de
apreensão, requisitando, se necessário, força policial, sem prejuízo da
responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de multa e outras medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar
a efetivação da decisão.

137
Quando o terceiro poderá escusar-se da obrigação de exibir documento ou
coisa?
O artigo 404, traz as hipóteses em que o terceiro poderá escusar-se de exibir,
em juízo, o documento ou a coisa:
I - Concernente a negócios da própria vida da família;
II - Sua apresentação puder violar dever de honra;
III - sua publicidade redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a
seus parentes consanguíneos ou afins até o terceiro grau, ou lhes representar
perigo de ação penal;
IV - Sua exibição acarretar a divulgação de fatos a cujo respeito, por estado
ou profissão, devam guardar segredo: por exemplo, o sigilo profissional
previsto no Código de ética médica, contudo, esse sigilo não é absoluto,
consoante a Suprema Corte, “a obrigatoriedade do sigilo profissional do
médico não tem caráter absoluto. A matéria, pela sua delicadeza, reclama
diversidade de tratamento diante das peculiaridades de cada caso”
(THEODORO JR, 2017, p. 966).
V - Subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do
juiz, justifiquem a recusa da exibição;
VI - Houver disposição legal que justifique a recusa da exibição.

Contudo, cabe observar que, se os motivos de que tratam os incisos I a VI


do caput disser respeito a apenas uma parcela do documento, a parte ou o terceiro
exibirá a outra em cartório, para dela ser extraída cópia reprográfica, de tudo sendo
lavrado auto circunstanciado.

138
Atenção!
O pedido de exibição, quando formulado contra quem não é parte no
processo principal, provoca a instauração de um novo processo, em que são
partes o pretendente à exibição e o possuidor do documento ou coisa.
Estabelece-se, pois, uma relação processual paralela, com partes diferentes,
tendo também por objeto uma lide diferente, girando em torno da existência do
documento ou coisa procurada e do dever de exibir.
Esse feito incidental, para evitar tumulto no andamento da ação, deverá
ser processado em autos próprios, em apenso aos principais, e será julgado por
decisão interlocutória, como dispõe o artigo 402, in fine, da qual caberá agravo de
instrumento. (Art. 1.015, VI).

29.5 Prova documental: conceito e força probante

“Documento é o resultado de uma obra humana, que tenha por objetivo a


fixação ou retratação material de algum acontecimento. Contrapõe-se ao
testemunho, que é o registro de fatos gravados apenas na memória do homem”
(THEODORO JR, 2017, p. 971).
Documento compreende não apenas os escritos, mas qualquer coisa que
transmita diretamente um registro físico a respeito de um fato, como desenhos,
fotografias, as gravações sonoras, filmes cinematográficos, etc. Esses documentos
podem ser públicos ou particulares (THEODORO JR, 2017, p. 971).
O documento, quando autêntico, goza de grande força probatória, apesar de
que no sistema brasileiro não propriamente uma hierarquia entre as provas, de
modo que o juiz deve examinar o conjunto, formando seu convencimento com
liberdade (Art. 371, CPC). Apesar do princípio do convencimento judicial formado
sobre o conjunto probatório dos autos, sem hierarquia entre os meios de provas, há
atos solenes, como os documentos públicos (de registro público), exigidos por lei,
que para sua validade assume supremacia sobre qualquer outra prova, pois não
podem ser substituídos por nenhum outro meio de convicção (THEODORO JR,
2017, p. 972-973), é o que traz o artigo 406: “Quando a lei exigir instrumento público

139
como da substância do ato, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode
suprir-lhe a falta”.
De acordo com o artigo 192, do Código de Processo Civil, “O documento
redigido em língua estrangeira somente poderá ser juntado aos autos quando
acompanhado de versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomática ou
pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado”.

29.5.1 Documentos públicos


O documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos
fatos que o escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou o servidor declarar que
ocorreram em sua presença (Art. 405, CPC). Do artigo 405, extrai-se a presunção
legal de veracidade e autenticidade do documento público, entre as partes e perante
terceiros, isso decorre da fé pública conferida aos órgãos estatais (THEODORO JR,
2017, p. 973).
“A presunção da veracidade acobertada pela fé pública do oficial só atinge os
elementos de formação do ato e a autoria das declarações das partes, e não o
conteúdo destas mesmas declarações”, uma vez que os autores é que são
responsáveis pelas suas afirmações (THEODORO JR, 2017, p. 973).

A presunção é, no entanto, iuris tantum, porque pode ser desconstituída por


declaração judicial de falsidade do documento (art. 427), que deve ser
suscitada em contestação, réplica ou no prazo de quinze dias da juntada
aos autos do documento, e será resolvida como questão incidental, salvo se
a parte requerer que o juiz a decida como questão principal. O incidente
seguirá o procedimento dos arts. 430 a 433 (THEODORO JR, 2017, p. 974).

Nem sempre será possível a exibição de documentos públicos em original,


daí a necessidade de usar cópias ou reproduções para juntada aos autos judiciais.
Sobre isso, dispõe o artigo 425, que fazem a mesma prova que os originais:

I - as certidões textuais de qualquer peça dos autos, do protocolo das


audiências ou de outro livro a cargo do escrivão ou do chefe de secretaria,
se extraídas por ele ou sob sua vigilância e por ele subscritas;
II - os traslados e as certidões extraídas por oficial público de instrumentos
ou documentos lançados em suas notas;
III - as reproduções dos documentos públicos, desde que autenticadas por
oficial público ou conferidas em cartório com os respectivos originais;

140
IV - as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial
declaradas autênticas pelo advogado, sob sua responsabilidade pessoal, se
não lhes for impugnada a autenticidade;
V - os extratos digitais de bancos de dados públicos e privados, desde que
atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações
conferem com o que consta na origem;
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento público ou
particular, quando juntadas aos autos pelos órgãos da justiça e seus
auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pela Defensoria Pública
e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições públicas em geral e
por advogados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de
adulteração.

Atenção!
O documento feito por oficial público incompetente ou sem a observância
das formalidades legais, sendo subscrito pelas partes, tem a mesma eficácia
probatória do documento particular (Art. 407).

29.5.2 Documentos particulares


Documentos particulares são, por óbvio, aqueles que não ocorrem por
interferência de órgão público em sua elaboração. “É indiferente que a redação do
texto tenha sido manuscrita, datilografada ou impressa. A autenticidade e a força
probante variam conforme o tipo do documento particular” (THEODORO JR, 2017, p.
975).
As declarações constantes do documento particular escrito e assinado ou
somente assinado presumem-se verdadeiras em relação ao signatário (art. 408,
CPC). Contudo, quando o documento contiver declaração de ciência de determinado
fato, o documento particular prova a ciência, mas não o fato em si, incumbindo o
ônus de prová-lo ao interessado em sua veracidade (art. 408, parágrafo único,
CPC).
Considera-se autor do documento particular, segundo o artigo 410:

I - aquele que o fez e o assinou;


II - aquele por conta de quem ele foi feito, estando assinado;
III - aquele que, mandando compô-lo, não o firmou porque, conforme a
experiência comum, não se costuma assinar, como livros empresariais e
assentos domésticos.

141
Segundo o artigo 411, do CPC, os documentos particulares serão
considerados autênticos quando:

I - o tabelião reconhecer a firma do signatário;


II - a autoria estiver identificada por qualquer outro meio legal de
certificação, inclusive eletrônico, nos termos da lei;
III - não houver impugnação da parte contra quem foi produzido o
documento.

O documento particular de cuja autenticidade não se dúvida prova que o seu


autor fez a declaração que lhe é atribuída (art. 411, CPC).
O valor do documento particular cessa quando (Art. 428, CPC):

I - for impugnada sua autenticidade e enquanto não se comprovar sua


veracidade;
II - assinado em branco, for impugnado seu conteúdo, por preenchimento
abusivo.

De acordo com os artigos 427 e 428, do Código de Processo Civil, poderá ser
declarada cessada a fé do documento público ou particular sendo-lhe declarada
judicialmente a falsidade quando: for impugnada sua autenticidade e enquanto não
se comprovar sua veracidade; assinado em branco, for impugnado seu conteúdo,
por preenchimento abusivo.
A falsidade será declarada quando for formado documento não verdadeiro ou
se alterar o conteúdo do documento verdadeiro. Ainda, é entendido como
preenchimento abusivo quando aquele que recebeu documento assinado com texto
não escrito no todo ou em parte formá-lo ou completá-lo por si ou por meio de
outrem, violando o pacto feito com o signatário. Ainda, o juiz apreciará
fundamentadamente a fé que deva merecer o documento, quando em ponto
substancial e sem ressalva contiver entrelinha, emenda, borrão ou cancelamento
(art. 426, CPC).

Art. 429. Incumbe o ônus da prova quando:


I - se tratar de falsidade de documento ou de preenchimento abusivo, à
parte que a arguir;
II - se tratar de impugnação da autenticidade, à parte que produziu o
documento.

142
“Pode, outrossim, surgir controvérsia não sobre o teor das declarações de
vontade contidas no documento particular, mas apenas quanto à época em que
foram manifestadas” (THEODORO JR, 2017, p. 977). Essa questão resolve-se por
meio do artigo 409, que traz a seguinte redação: “A data do documento particular,
quando a seu respeito surgir dúvida ou impugnação entre os litigantes, provar-se-á
por todos os meios de direito”.
Em relação a terceiros, considera-se datado o documento particular (art. 409,
parágrafo único, CPC):

I - no dia em que foi registrado;


II - desde a morte de algum dos signatários;
III - a partir da impossibilidade física que sobreveio a qualquer dos
signatários;
IV - da sua apresentação em repartição pública ou em juízo;
V - do ato ou do fato que estabeleça, de modo certo, a anterioridade da
formação do documento.

29.5.3 Alguns documentos regulados pelo CPC:

A) Telegrama, radiograma ou qualquer outro meio de transmissão:


O Código de Processo Civil prevê, em seu artigo 413, o telegrama, o
radiograma ou qualquer outro meio de transmissão tem a mesma força probatória do
documento particular se o original constante da estação expedidora tiver sido
assinado pelo remetente, os quais podem ser reconhecidos pelo tabelião, também.
Presumem-se conforme com o original, provando as datas de sua expedição e de
seu recebimento pelo destinatário.

B) Cartas e registros domésticos:


As cartas (correspondências entre duas pessoas, não assinadas ou com firma
incompleta) e os registros domésticos (escritos pela parte, mas não assinados, como
anotações, memórias, diários, etc.), também podem ser usados como prova,
contudo, apenas contra quem os escreveu e desde que a lei não exija determinada
prova para o ato (art. 415, CPC):

I - enunciam o recebimento de um crédito;

143
II - contêm anotação que visa a suprir a falta de título em favor de quem é
apontado como credor;
III - expressam conhecimento de fatos para os quais não se exija
determinada prova.

C) Nota escrita:
A nota escrita também vale como prova, independentemente de assinatura, a
nota escrita pelo credor, aplica-se essa regra tanto para o documento que o credor
conservar em seu poder quanto para aquele que se achar em poder do devedor ou
de terceiros (art. 416, parágrafo único, CPC). “Apenas as anotações favoráveis ao
devedor é que têm esse efeito, como as quitações parciais, prorrogações de
vencimento etc.” (THEODORO JR, 2017, p. 979).

D) Livros empresariais:
Segundo o artigo 418, do CPC, os livros empresariais que preenchem os
requisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor no litígio entre empresários,
contudo, também podem provar contra seu autor, mas, neste caso, será lícito ao
empresário, demonstrar que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos
(art. 417, CPC).
A apreciação dos livros mercantis se dará de forma indivisível, assim,
segundo o artigo 419, do CPC, se alguns lançamentos forem favoráveis ao interesse
de seu autor e outros serem contrários, ambos serão analisados conjuntamente,
como uma unidade.
A exibição dos livros pode ser integral ou apenas parcial, extraindo-se deles
somente o que interessar ao litígio (art. 421, CPC). O requerimento da exibição
poderá ser de ofício, pelo juiz, pela parte, quando (Art. 420, CPC):

I - na liquidação de sociedade;
II - na sucessão por morte de sócio;
III - quando e como determinar a lei.

E) Reproduções mecânicas de coisas ou fatos:


Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica, a cinematográfica, a
fonográfica ou de outra espécie, tem aptidão para fazer prova dos fatos ou das

144
coisas representadas, se a sua conformidade com o documento original não for
impugnada por aquele contra quem foi produzida (Art. 422, CPC).
As fotografias digitais e as extraídas da rede mundial de computadores fazem
prova das imagens que reproduzem, devendo, se impugnadas, ser apresentada a
respectiva autenticação eletrônica ou, não sendo possível, realizada perícia (art.
422, §1º). O mesmo ocorre com à forma impressa de mensagens eletrônicas (art.
422, §3º).
Se se tratar de fotografia publicada em jornal ou revista, será exigido um
exemplar original do periódico, caso impugnada a veracidade pela outra parte (art.
422, §2º).
As reproduções dos documentos particulares, fotográficas ou obtidas por
outros processos de repetição, como, por exemplo, a cópia (xerox), valem como
certidões sempre que o escrivão ou o chefe de secretaria certificar sua conformidade
com o original (art. 423, CPC). Esta cópia tem o mesmo valor probante que o
original, basta apenas que o escrivão ou chefe de secretária certificar sua
conformidade com o original (art. 424, CPC).

F) Arguição de falsidade de documento


“A arguição de falsidade pode se dar como simples matéria de defesa, mas
pode, também, constituir um incidente em que a falsidade se torne questão principal
a ser solucionada por decisão de mérito” (THEODORO JR, 2017, p. 988). Quando
consistir como questão principal, deverá ser arguido em ação declaratória incidental,
onde, o juiz, além de solucionar a lide pendente, terá que declarar ou não a falsidade
de documento produzido nos autos. O seu julgamento se dará junto com o da causa
principal, numa só sentença. Essa arguição poderá ser pode contestação, réplica ou
no prazo de quinze dias (preclusivos, segundo o artigo 411, III, CPC), contados a
partir da intimação da juntada aos autos do documento (art. 430, CPC), poderá ser
tanto referente a documentos públicos, quanto a particulares.
Arguição de falsidade poderá ocorrer somente perante ao juízo de primeiro
grau, não podendo ser cogitada em instâncias recursais (THEODORO JR, 2017, p.
989).

145
“Se foi produzido com a inicial, o réu deverá suscitar o incidente na
contestação. Se em qualquer outro momento processual, a parte interessada terá
quinze dias, a contar da intimação da juntada, para propor o incidente” (THEODORO
JR, 2017, p. 989).

29.5.4 Procedimento do incidente de falsidade


Em regra, o incidente não suspende o curso do processo. A parte que arguir,
deverá expor os motivos em que funda a sua pretensão e os meios com que provará
o alegado (art. 431, CPC). Recebida a arguição, o juiz deverá intimar a parte diversa
para se manifestar, no prazo de 15 dias. Após ouvidas as partes, será realizada a
prova pericial (art. 432, CPC). Não se procederá ao exame pericial se a parte que
produziu o documento concordar em retirá-lo (art. 432, parágrafo único, CPC).
Uma vez arguida, a falsidade será resolvida como questão incidental, salvo se
a parte requerer que o juiz a decida como questão principal, nos termos do inciso II
do art. 19.

Decidir como questão incidente que dizer apreciar a falsidade no plano dos
motivos da sentença, e não questão de mérito. Logo, não fará coisa julgada
matéria o reconhecimento ou a rejeição da arguição. Incidirá a regra do art.
504, I segundo a qual “não fazem coisa julgada, os motivos, ainda que
importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença
(THEODORO JR, 2017, p. 990).

Significa dizer que, se o interessado alegar a falsidade como questão


principal, segundo o artigo 19, do CPC, ocorrerá o deslocamento da matéria da área
dos “simples motivos para o campo do mérito, de tal modo que o pronunciamento
jurisdicional a respeito da falsidade documental se revestirá da indiscutibilidade e
imutabilidade que caracterizam a coisa julgada material (art. 433)” (THEODORO JR,
2017, p. 991).

29.5.5 Produção da prova documental


Incumbe à parte instituir a petição inicial ou a contestação com os
documentos destinados a provar suas alegações (art. 434, CPC), cabendo a parte
diversa manifestar-se aos documentos anexados. Sempre que uma das partes
requerer a juntada de documento aos autos, o juiz ouvirá a outra parte, no prazo de

146
quinze dias, podendo esse prazo ser dilatado, levando-se em consideração a
complexidade da documentação (Art. 437, CPC).

O entendimento dominante é o de que “a rigor somente os documentos


havidos como pressupostos da ação é que, obrigatoriamente, deverá ser
produzido com a petição inaugural e com a resposta. Tratando-se de
documentos não reputados indispensáveis à propositura da ação,
conquanto a lei deseje o seu oferecimento com a inicial ou a reposta, não
há inconveniente em que sejam exibidos em outra fase do processo”
(THEODORO JR, 2017, p. 992).

Quando o documento consistir em reprodução cinematográfica ou fonográfica,


a parte deverá trazê-lo nos termos do caput, mas sua exposição será realizada em
audiência, intimando-se previamente as partes (art. 434, parágrafo único, CPC).
É lícita a juntada posterior dos documentos, a qualquer tempo do processo,
inclusive, desde que (art. 435, CPC):
a) Destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados;
b) Para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos;
c) Documentos formados após a petição inicial ou a contestação;
d) dos que se tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis após esses atos,
cabendo à parte que os produzir comprovar o motivo que a impediu de juntá-
los anteriormente e incumbindo ao juiz, em qualquer caso, avaliar a conduta
da parte de acordo com o art. 5o.

Segundo o artigo 436, do CPC, à parte, intimada a falar sobre o documento


constante dos autos poderá:
I - Impugnar a admissibilidade da prova documental;
II - Impugnar sua autenticidade; (Nesta hipótese a impugnação deverá
basear-se em argumentação específica, não se admitindo alegação genérica
de falsidade, segundo o parágrafo único, do artigo 436).
III - suscitar sua falsidade, com ou sem deflagração do incidente de arguição
de falsidade; (Nesta hipótese a impugnação deverá basear-se em
argumentação específica, não se admitindo alegação genérica de falsidade,
segundo o parágrafo único, do artigo 436).
IV - Manifestar-se sobre seu conteúdo.

147
29.5.6 Produção de prova que pertencem à administração pública:
“Com relação aos documentos pertencentes à administração pública, prevê o
art. 438, I, o poder conferido ao juiz de requisitar, em qualquer tempo ou grau de
jurisdição, ‘as certidões necessárias à prova das alegações das partes”
(THEODORO JR, 2017, p. 994).
Segundo o artigo 5º, XXXIII, da Constituição Federal, é direito fundamental de
todos de “receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado”.
A lei n. 12.527/2011, que regula o acesso a informação previsto no inciso
visto anteriormente, traz no seu artigo 5º o “dever do Estado garantir o direito de
acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e
ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão”.
Nesse sentido, o juiz deverá requisitar às repartições públicas, em qualquer
tempo ou grau de jurisdição:
I- As certidões necessárias à prova das alegações das partes;
II - Os procedimentos administrativos nas causas em que forem interessados
a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios ou entidades da
administração indireta.
As repartições públicas poderão fornecer todos os documentos em meio
eletrônico, conforme disposto em lei, certificando, pelo mesmo meio, que se trata de
extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou no documento digitalizado (art.
438, §2º, CPC).
A requisição que trata o artigo 438 tem efeito temporário apenas, visto que:
recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo máximo e improrrogável de 1
(um) mês, certidões ou reproduções fotográficas das peças que indicar e das que
forem indicadas pelas partes, e, em seguida, devolverá os autos à repartição de
origem (art. 438, §1º, CPC).

148
29.5.7 Documentos eletrônicos
“O documento eletrônico é aquele que resulta do armazenamento de dados
em arquivo digital” (THEODORO JR, 2017, p. 997), podem ser considerados
documentos eletrônicos, os desenhos, mapas, fotografias, sons, imagens gravadas
em fitas, filmes, discos, vídeos, etc., não, portanto, apenas os papéis escritos.
O problema legal do uso do documento eletrônico no processo judicial, está
ligado a sua autenticidade e integridade, uma vez que ele não é assinado pelo autor,
na forma gráfica tradicional, além disso, é suscetível de alterações na sua
composição originária, problemática que se torna ainda maior quando não é possível
comprovar a data de sua criação (THEODORO JR, 2017, p. 998).

O direito positivo resolve a questão da autenticidade, integridade e


tempestividade, por meio de tecnologia concebida para apuração de tais
dados. Mediante o sistema da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras,
baseado no mecanismo da criptografia assimétrica, é possível obter-se o
certificado digital, como garantia de autenticidade, integridade e
tempestividade.
Esse documento é operado por órgão governamental, vinculado ao Instituto
Nacional de Tecnologia da Informação – ITI, que é uma autarquia federal
ligada à Casa Civil da Presidência da República. Seu objetivo institucional é
manter a Infraestrutura de Chaves Pública Brasileiras – ICP – Brasil. A
cadeia de certificação dos documentos digitais parte da ICP – Brasil, que se
coloca na cabeça do sistema, ao qual se liga outros agentes também
certificadores, aos quais se reconhece uma função assemelhada à dos
tabeliães (certificação da autenticidade do documento digital) (THEODORO
JR, 2017, p. 998).

A utilização de documentos eletrônicos no processo convencional dependerá


de sua conversão à forma impressa e da verificação de sua autenticidade, na forma
da lei (art. 439, CPC).
O juiz apreciará o valor probante do documento eletrônico não convertido,
assegurado às partes o acesso ao seu teor (art. 440, CPC), significa dizer que o
“documento eletrônico desacompanhado da certificação digital não perde por inteiro
sua eficácia probatória” (THEODORO JR, 2017, p. 999).

149
Ademais, cabe ressaltar que serão admitidos documentos eletrônicos
produzidos e conservados com a observância da legislação específica, qual seja, a
Lei n. 11.419/2006, segundo artigos 11 e 12.

29.6 Prova testemunhal: conceito e admissibilidade


A prova testemunhal é um dos meios mais utilizados no processo civil,
consiste na inquirição em audiência de pessoas que não sejam as próprias partes,
que tenham presenciado ou possam contribuir sobre os fatos relevantes no
julgamento. Podemos ter as testemunhas presenciais, que são aquelas que
assistiram pessoalmente o fato; as testemunhas de referência, que são aquelas que
souberam dele por meio de terceiros, ou, então, as testemunhas referidas, das quais
se teve conhecimento a partir do depoimento de outra testemunha (THEODORO JR,
2017, p. 994), a testemunha judiciária, que relata em juízo o seu conhecimento a
respeito do fato; e a testemunha instrumentária, a que presenciou a assinatura do
instrumento do ato jurídico e o firmou (DIDIER Jr; BRAGA; OLIVEIRA, 2015, p.240).
A prova testemunhal, em regra, será sempre admissível, será indeferida
somente quando (Art. 442 e 443, CPC):
I – Se o fato já foi provado por documento ou confissão da parte:
quando o documento é autentico e não houve impugnação à sua veracidade, por
exemplo.
II – Se o fato só pode ser provado por documento ou perícia.

Só é prova testemunhal a colhida com as garantias que cercam o


depoimento oral, que obrigatoriamente se faz em audiência, em presença
do juiz e das partes, sob compromisso legal previamente assumido pelo
depoente e sujeição à contradita e reperguntas daquele contra quem o meio
de convencimento foi produzido. Não se pode atribuir valor de prova
testemunha, portanto, às declarações ou cartas obtidas, particular e
graciosamente, pela parte (THEODORO JR, 2017, p. 1001).

De acordo com o artigo 371, do CPC, a prova testemunhal não nem mais,
nem menos importante que as demais, a não ser em naqueles casos que a “lei exija
a forma solene para reconhecer eficácia ao ato jurídico” (THEODORO JR, 2017, p.
1002), como, por exemplo, registro de imóveis.

150
A verossimilhança e a improbabilidade do relato, a honorabilidade ou má
fama da testemunha, a coerência entre os vários depoimentos são, sem
dúvida, elementos valiosos a serem computados pelo juiz na aferição do
valor de convencimento da prova testemunhal.
São, outrossim, quase inevitáveis as contradições e abusos nessa prova.
Mas, à luz do bom senso e do critério do juiz, poderão ser superados os
conflitos que ordinariamente ocorrem entre os depoimentos das várias
testemunhas ouvidas no mesmo processo (THEODORO JR, 2017, p. 1003)

Nos casos em que a lei exigir prova escrita da obrigação, é admissível a


prova testemunhal quando:
a) Houver começo de prova por escrito, emanado da parte contra a qual se
pretende produzir a prova (Art. 444, CPC);
b) Quando o credor não pode ou não podia, moral ou materialmente, obter a
prova escrita da obrigação, em casos como o de parentesco, de depósito
necessário ou de hospedagem em hotel ou em razão das práticas
comerciais do local onde contraída a obrigação (Art. 445, CPC)

Previdenciário. Rurícola (Boia-Fria). Aposentadoria por velhice. Prova


puramente testemunhal. Interpretação de lei de acordo com o art. 5º da
LICC, que tem foro supralegal. Recurso Especial não conhecido pela alínea
'a' do autorizativo constitucional. I - O juiz - e em suas águas o tribunal a quo
– julgou procedente pedido da autora, não o obstante ausência de prova ou
princípio de prova material (lei n. 8.213/91, art. 55, §3). II - A Previdência,
após sucumbir em ambas as instâncias, recorreu de especial (alínea a do
art. 105, III, da CF). III - O dispositivo infraconstitucional que não admite
'prova exclusivamente testemunhal' deve ser interpretado cum grano salis
(LICC, art. 5º) . Ao juiz, em sua magna atividade de julgar, caberá valorar a
prova, independentemente de tarifação ou diretivas infraconstitucionais.
Ademais, o dispositivo constitucional (art. 202, I) para o " boia-fria" se
tornaria praticamente infactível, pois dificilmente alguém teria como fazer a
exigida prova material. IV - Recurso especial não conhecido pela alínea 'a'
do autorizativo constitucional’. (6ª T., RESP 46879/SP, rel. Adhemar Maciel,
Dj. de 20.06. 1994, p. 1.612) (DIDIER Jr; BRAGA; OLIVEIRA, 2015, p.242).

Nesta linha, o artigo 466, do CPC, vai trazer que é lícito à parte provar com
testemunhas:
I - Nos contratos simulados, a divergência entre a vontade real e a vontade
declarada;
II - Nos contratos em geral, os vícios de consentimento.

29.6.1 Direitos e deveres da testemunha:

151
Qualquer pessoa poderá depor como testemunhas, exceto as incapazes,
impedidas ou suspeitas. Quando necessário a oitiva de testemunhas impedidas,
menores ou suspeitas (§4º, 447, CPC), os depoimentos destes serão prestados
independentemente de compromisso, e o juiz lhes atribuirá o valor que possam
merecer (§5º, 447, CPC). De acordo com o artigo 447:

a) SÃO INCAPAZES:
I - O interdito por enfermidade ou deficiência mental;
II - O que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em
que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve
depor, não está habilitado a transmitir as percepções;
III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos;
IV - o cego E o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que
lhes faltam.

b) SERÃO CONSIDERADOS IMPEDIDOS:


I - O cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer
grau e o colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por
consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou,
tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de
outro modo a prova que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito;
II - O que é parte na causa (inclusive o assistente e o terceiro interveniente);
III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante
legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham
assistido as partes.

c) SERÃO CONSIDERADOS SUSPEITOS:


I - O inimigo da parte ou o seu amigo íntimo;

152
II - O que tiver interesse no litígio.

A doutrina reconhece como principais deveres das testemunhas:


a) O de comparecer em juízo;
b) De prestar depoimento (Art. 378, CPC);
c) De dizer a verdade (Art. 458, CPC);

A testemunha não será obrigada a depor sobre fatos que lhe acarretem
grave dano ou ao seu cônjuge, companheiro, parentes consanguíneos ou afins, em
linha reta ou colateral, até terceiro grau; ou ainda, se pela profissão ou estado deva
guardar sigilo (art. 448, CPC). Inclusive, violação de segredo profissional é crime,
de acordo com o art. 154, do Código Penal. “E ninguém deve ser obrigado a depor
sobre fatos que importem desonra própria ou dos que lhe são próximos
(THEODORO JR, 2017, p. 1008).

Atenção!!!
A desobediência ao dever da verdade, sobre o qual a testemunha é
advertida expressamente antes de depor (Art. 458), acarreta-lhe pena
criminal de dois a quatro anos de reclusão (Art. 352 do Código Penal). O
crime de falso testemunho ocorre tanto quando se faz afirmação falsa,
como quando se nega ou oculta a verdade (Art. 458, par]agrafo único,
CPC) (THEODORO JR, 2017, p. 1008).

Em suma, reconhece-se às testemunhas os seguintes direitos:


a) O de se recursar a depor, nas hipóteses do artigo 448;
b) De ser tratada pelas partes e juízo, com urbanidade, sendo que, não é lícito
formular perguntas ou considerações impertinentes, capciosas ou vexatórias
(§2º, art. 459, CPC).

153
c) A testemunha pode requerer ao juiz o pagamento da despesa que efetuou
para comparecimento à audiência, devendo a parte pagá-la logo que
arbitrada ou depositá-la em cartório dentro de 3 (três) dias (Art. 462, CPC).
d) O depoimento prestado em juízo é considerado serviço público. Desta forma,
a testemunha, quando sujeita ao regime da legislação trabalhista, não sofre,
por comparecer à audiência, perda de salário nem desconto no tempo de
serviço (Art. 463, CPC).

29.6.2 Produção da prova testemunhal:


O momento adequado para requerer a prova testemunhal é a petição inicial
(para o autor), na contestação (para o réu), ou, então, na fase de especificação da
prova, durante as providencias preliminares (fase de saneamento). Será na decisão
de saneamento que o juiz irá determinar quais provas serão deferidas, quais
testemunhas serão ouvidas, sendo designada audiência de instrução e julgamento
para sua oitiva.
O rol de testemunhas juntado pela parte deverá conter, sempre que possível,
o nome, a profissão, o estado civil, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas, o número de registro de identidade e o endereço completo da residência e
do local de trabalho. A parte pode substituir sua testemunha em caso de morte,
enfermidade, tenha mudado de resistência ou local de trabalho e não for
encontrada, ou se por algum motivo não tenha condições de depor (Art. 357, §4º e
450).
Cada parte poderá arrolar até 10 testemunhas, 3 para cada fato, podendo o
juiz dispensar as que considerar impertinentes (art. 357, §6º, CPC).

Tem, outrossim, entendido a jurisprudência que a falta de requerimento ou


especificação da prova testemunhal pela parte, antes do saneador, não
impede de arrolar testemunhas quando o juiz designa audiência de
instrução e julgamento, desde, é claro, que não tenha havido expresso
indeferimento desse tipo de prova. Mesmo ao revel, isto é, ao que não
contestou a ação, é assegurado o direito de produzir testemunhas, quando
os efeitos da revelia não ocorreram, nos termos do art. 347 (THEODORO
JR, 2017, p. 1010).

154
Depois de apresentado o rol de testemunhas, a parte só pode substituir a
testemunha quando:
I - Que falecer;
II - Que, por enfermidade, não estiver em condições de depor;
III - que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não for
encontrada.

E as testemunhas deverão depor na audiência de instrução e julgamento,


perante o juízo da causa, exceto se já houve o depoimento de forma antecipada, ou
aquelas que forem inquiridas por carta precatória ou rogatória (art. 453, CPC), ou,
também, a testemunha que residir em comarca, seção ou subseção judiciária
diversa daquela onde tramita o processo poderá ser realizada por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão e recepção de sons e
imagens em tempo real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante a audiência de
instrução e julgamento (art. 453, §1º, CPC).

Atenção!!!
Os incisos do artigo 454, do Código de Processo Civil, trazem o rol de
testemunhas que poderão ser inquiridas na sua residência ou onde
exercem sua função.

Cabe ao advogado da parte informar ou intimar a testemunha por ele


arrolada, dispensando, assim, a intimação pelo juiz (art. 455, caput, CPC). A
intimação deve ser realizada por carta com aviso de recebimento (AR), devendo o
advogado juntar aos autos, com antecedência de 3 dias da data da audiência, cópia
do AR e do comprovante de recebimento pela testemunha (Art. 455, §1º, CPC).
A inércia na realização da intimação, acarreta na desistência da inquirição,
pois é interesse da parte levar a testemunha que esclareça e comprove os fatos
que alega (§§2º e 3º, art. 455, CPC).
Conforme §4º, do artigo 455, a intimação só será feita pela via judicial

155
quando:
I - For frustrada a intimação prevista no § 1o deste artigo;
II - Sua necessidade for devidamente demonstrada pela parte ao juiz;
III - figurar no rol de testemunhas servidor público ou militar, hipótese em que
o juiz o requisitará ao chefe da repartição ou ao comando do corpo em que
servir;
IV - A testemunha houver sido arrolada pelo Ministério Público ou pela
Defensoria Pública;
V - a testemunha for uma daquelas previstas no art. 454.

A testemunha que, intimada por AR ou pela via judicial, deixar de comparecer


sem motivo justificado será conduzida e responderá pelas despesas do adiamento
(§5º, Art. 455, CPC).
As testemunhas são ouvidas pelo juiz depois do esclarecimento dos peritos
e dos depoimentos pessoais das partes (Art. 361, CPC), elas são ouvidas
separadamente, inicialmente as testemunhas do autor, depois as do réu, podendo
o juiz alterar a ordem se as partes concordarem expressamente com isso
(parágrafo único, do artigo 456).
No início da inquirição a testemunha prestará o compromisso dizer a
verdade, e antes de depor será qualificada, declarará seus dados e informará se
tem parentesco com a parte ou se tem interesse no objeto do processo, podendo a
parte diversa contraditar a testemunha alegando incapacidade, impedimento ou
suspeição (podendo a testemunha defender-se, trazendo documentos e
testemunhas no prazo de 3 dias), sendo verdadeiras as alegações o juiz poderá
ouvi-la como informante (Art. 457, CPC).
A partir do CPC as partes poderão perguntar diretamente às testemunhas,
começando por quem as arrolou. O juiz indeferirá perguntas que induzirem a
resposta da testemunha, as que não tiverem relação com as questões de
discutidas no processo ou que sejam repetidas (Art. 459, CPC). O juiz poderá
inquirir a testemunha a qualquer tempo. Ademais, as perguntas que o juiz indeferir,
deverão ser transcritas no termo, se a parte requerer.

156
O depoimento das partes poderá ser documentado por meio de gravação,
digitado, registrado por meio de taquigrafia, estenotipia ou outro meio idôneo de
documentação, devendo ser assinado pelo juiz, pelo depoente e pelos
procuradores das partes (Art. 460, CPC).
Quanto a acareação, poderá ser ordenada de ofício ou a requerimento das
partes, quando houverem declarações divergentes. Os acareados serão
reperguntados para que expliquem os pontos de divergência. Essa acareação
poderá ser por meio de videoconferência (Art. 461, CPC).

29.7 Prova pericial


A prova pericial é o meio utilizado quando a apuração dos fatos exige
estudos técnicos, conhecimento de profissionais especializados em determinadas
áreas. Nestes casos são nomeados peritos, que realizam exame, vistoria ou
avaliação.
Quando a prova não for complexa, poderá o juiz de oficio ou a requerimento
das partes substituir a perícia por prova técnica simplificada, que consiste na
inquirição de especialista, com formação acadêmica específica na área do objeto
em análise, podendo valer-se de recursos tecnológicos a fim de esclarecer os
pontos controvertidos da causa.

Atenção!
Existem pericias extrajudiciais, promovidas por iniciativa das partes,
por meio de técnicos particulares ou agentes administrativos,
contudo sua força de convencimento não tem a mesma da perícia
judicial, tais laudos são simples pareceres (THEODORO JR, 2017,
p. 1017).

O exame ocorre em pessoas ou coisas, para que delas sejam extraídas


informações necessárias para solucionar o litigio, como exemplo, um médico que
analisa se determinada pessoa ficou incapacitada em decorrência do acidente

157
provocado pelo réu. Já a vistoria consiste na análise de bens, como por exemplo,
quando se quer constatar que avarias ocorridas no veículo. A avaliação refere-se a
atribuição de valor pecuniário a determinada coisa, por exemplo a um bem
sucessório.
De acordo com o §1º, do artigo 464, o juiz não determinará a inspeção pericial
somente quando:

I - a prova do fato não depender de conhecimento especial de técnico;


II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas; III -
a verificação for impraticável.

O perito, logo que nomeado, receberá a data da entrega do laudo e caberá


as partes, dentro de 15 dias contados da intimação do despacho que nomeou o
perito, apresentar impedimento ou suspeição, indicar assistente técnico e
apresentar quesitos (que poderão ser indeferidos pelo juízo, caso sejam
impertinentes). Ciente da nomeação o perito apresentará em 05 dias (Art. 465, §2º):

I- proposta de honorários;
I - currículo, com comprovação de especialização;
II - contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico, para onde
serão dirigidas as intimações pessoais.

Poderá o juiz determinar o pagamento da metade dos honorários do perito


antes dos trabalhos começarem sendo o restante pago posteriormente a sua
conclusão, depois de entregue o laudo e prestados os esclarecimentos
necessários. Contudo, se o perito apresentar um laudo deficiente ou não concluso,
o juiz determinará a redução da remuneração inicialmente arbitrada.
O perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e
acompanhamento completo das diligências e dos exames que realizar, avisando-as
com antecedência mínima de 05 dias.
O perito também pode pedir substituição por impedimento ou suspeição, ou,
ainda, poderá ser substituído quando lhe faltar conhecimento técnico ou científico,
ou se deixar de cumprir suas obrigações no prazo, devendo restituir, em 15 dias, os
valores que já havia recebido, caso não o faça, será penalizado com a proibição de
atuar como perito judicial pelo prazo de 5 anos (Art. 468, §2º). Ademais, poderão as

158
partes executar o perito, na forma do artigo 513 e seguintes.

Atenção!
Se o perito, por motivo justificado, não puder entregar o laudo no
prazo determinado, poderá ser prorrogado pela metade o prazo
originalmente estabelecido (Art. 476).

As partes podem escolher o perito, a partir do CPC, indicando mediante


requerimento, desde que estejam em comum acordo, sejam capazes e a causa
possa ser resolvida por autocomposição. E mesmo indicando o perito, poderão
indicar também assistente técnico. Essa pericia consensual substitui a realizada por
perito nomeado pelo juiz.
O novo Código de Processo Civil estabelece como deverá ser o laudo
pericial:

Art. 473. O laudo pericial deverá conter:


I - a exposição do objeto da perícia;
II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito;
III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser
predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da
qual se originou;
IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas
partes e pelo órgão do Ministério Público.
§ 1o No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem
simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões.
§ 2o É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como
emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do
objeto da perícia.
§ 3o Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos
podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas,
obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da
parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo
com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos
necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.

Em caso de matérias mais complexas, que exigem conhecimentos de diversas


áreas, poderá ser determinado mais de um perito e consequentemente as partes
poderão indicar mais de um assistente técnico, conforme a especialização de cada
perito, por exemplo em caso de um acidente de trânsito, poderá haver um perito com

159
conhecimentos em engenharia, outro em medicina.
O juiz deverá analisar a prova pericial conforme o que estabelece o artigo 371
“juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a
tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu
convencimento”, isto é, deverá indicar na sentença os motivos que o levaram a
considerar as conclusões do laudo.

29.8 Inspeção judicial

Por fim, dentro os meios de provas elencados no Código de Processo Civil, o


qual não é taxativo, pois a lei é clara em dizer que outros meios de provas são
válidos, desde que não sejam ilícitos, temos a inspeção judicial, que nada mais é
do que o exame feito diretamente pela pessoa do juiz, tanto em pessoas ou coisa,
com a finalidade de aclarar os fatos discutidos no processo.
A inspeção pode ocorrer em qualquer fase do processo, de ofício ou a
requerimento, podendo, inclusive, ser assistido por peritos e pelas partes, que
poderão pedir esclarecimentos e fazer observações. O juiz irá no local onde se
encontra a coisa ou pessoa quando:

I - julgar necessário para a melhor verificação ou interpretação dos fatos


que deva observar;
II - a coisa não puder ser apresentada em juízo sem consideráveis
despesas ou graves dificuldades;
III - determinar a reconstituição dos fatos.

Concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado,


mencionando nele tudo o que for útil para esclarecer o processo, podendo, este
auto, ser instruído com desenho, gráfico ou fotografias.

30 EXTINÇÃO DO PROCESSO

30.1 Alegações Finais

160
No encerramento da audiência de instrução e julgamento as partes vão para
debates orais, onde o juiz passa a palavra para ao advogado do autor e do réu, bem
como, ao membro do Ministério Público, se for o caso, cada parte terá o prazo de 20
minutos, podendo ser prorrogado por mais 10 minutos.
Todavia, quando a causa é complexa, há muitas testemunhas ou outro motivo
que justifique a troca de debates orais por memoriais escritos, que nada mais é que
a forma escrita das alegações finais, conforme o artigo 364, §2º, do CPC, o prazo é
sucessivo de 15 dias para cada parte apresentar suas alegações de forma escrita,
após a juntada dos memoriais de ambas as partes o processo segue concluso para
sentença.
Quando houver litisconsorte ou terceiro interveniente, o prazo, que formará
com o da prorrogação um só todo, dividir-se-á entre os do mesmo grupo, se não
convencionarem de modo diverso.
A peça não exige nenhum requisito técnico, porém o advogado deve ser
atentar a finalidade: a manifestação das partes, recapitulando os pontos principais
da prova coletada em juízo, demonstrando como elas confirmam suas alegações ou
infirmam as alegações da parte adversária.

30.2 Sentença

A sentença é emitida como prestação do Estado, em virtude de um negócio


jurídico que gerou a obrigação de uma parte com a outra, através da sentença o juiz
encerra o processo, no qual discutia-se tal obrigação que necessitou da intervenção
estatal para solucionar tal discussão. Diferente do processo de execução, que não é
não é destinado a solucionar uma controvérsia, mas apenas garantir a satisfação do
direito do exequente, assim, a sentença no processo de execução, tem função
meramente processual, de encerrar o processo.
A sentença pode ser tanto o ato que extingue o mérito da causa, resolvendo-
o, como também poderá ser sem resolução do mérito, apenas resolução processual
(art. 485 e 487, do CPC.
A sentença é tradicionalmente classifica em:

161
a) Sentença terminativa: que põe fim ao processo, sem resolver o mérito,
conforme o artigo 485, do CPC, o direito a ação permanece, mesmo após
proferida a sentença. O juiz põe fim no processo, sem dar uma resposta
definitiva (nem positiva, nem negativa).

b) Sentença definitiva ou em sentido estrito: são as sentenças que decidem o


mérito da questão, todo ou em parte, decisão com resolução do mérito,
segundo o artigo 487, do CPC. Após a publicação da sentença, não poderá
mais alterá-la (art. 494 e 505, do CPC).

30.3 Sentença terminativa: extinção do processo SEM resolução do mérito

Ocorre quando o juiz extingue a relação processual sem dar uma reposta ao
pedido do autor. Essa negativa de prestação jurisdicional pode se dar nas seguintes
fases do processo (THEODORO JR, 2017, p. 1040):

1) Logo após a propositura da ação, por meio do indeferimento da petição inicial


(Art. 485, I, CPC);
2) Na fase destinada ao saneamento do processo, no julgamento conforme o
estado do processo (Art. 485, CPC);
3) Na sentença ao final do procedimento (Art. 366, CPC);
4) Em qualquer fase do processo, quando ocorrer o abandono da causa ou
outros fatos impeditivos do prosseguimento da ação, como a própria
desistência da ação (Art. 485, §3º, CPC).

Passaremos agora para uma analises mais minuciosa do artigo 485:

1) Indeferimento da inicial: ocorre o indeferimento nas hipóteses elencadas no


artigo 330, “mesmo depois da contestação, o juiz poderá voltar ao exame da
matéria e, uma vez reconhecida a inépcia da petição com que o autor abriu a

162
relação processual, ser-lhe-á lícito decretar a extinção do processo”
(THEODORO JR, 2017, p. 1041);

2) Abandono da causa: é a inércia das partes, o processo fica parado por mais
um ano, por negligência das partes (Art. 485, II) ou, então, se o autor não
promover os atos e diligências que lhe incumbir, se o autor abandonar a
causa por mais de trinta dias (art. 485, III), equivale ao desaparecimento do
interesse das partes em prosseguir com a ação. Esta extinção poderá ocorrer
por provocação da outra parte, do Ministério Público ou de ofício pelo juiz,
salvo se a inércia for do autor, pois depois de apresentada a contestação,
deve ser respeitado o interesse do réu de provar sua inocência ou da simples
resolução do mérito, assim, só poderá ocorrer a extinção por abandono da
causa, se houver requerimento do réu (art. 485, §6º). Mas a extinção não
ocorre de imediato, nestes casos, o juiz terá que mandar intimar a parte,
pessoalmente, para suprir a falta (dar andamento ao feito), no prazo de cinco
dias (art. 485, §1º), só depois dessa diligência é que poderá dar a sentença
de extinção do processo sem resolução do mérito, ordenando o arquivamento
dos autos. Quanto as despesas e honorários de advogado, importante as
partes pagarão proporcionalmente as custas, quando ocorrer a hipótese do
inciso II, mas em se tratando de abandono por parte do autor, conforme inciso
III, o autor será condenado ao pagamento de despesas e honorários
advocatícios (art. 485, §2º) (THEODORO JR, 2017, p. 1041-1043);

3) Ausência de pressupostos processuais: os pressupostos são classificados


em subjetivos (sujeitos do processo, juiz e as partes: relacionam-se com a
competência, impedimento ou suspeição do juiz, como também, com a
capacidade civil das partes ou da representação do advogado) e objetivos
(está relacionado a regularidade dos atos processuais). Se reconhecida a
ausência de pressuposto processual, logo no início da ação, levará ao
indeferimento da inicial, ou em qualquer outra fase do processo, até ocorrer o
trânsito em julgado (art. 475, §3º)

163
4) Perempção, litispendência ou coisa julgada: Perempção é quando o autor
da causa à extinção do processo sem resolução do mérito, por mais de três
vezes (art. 486, §3º e 485, V), na quarta tentativa o autor perderá o direito de
renovar a propositura da ação. Litispendência é quando a mesma lide está
sendo objeto de mais de um processo simultaneamente, para isso, as duas
ações deverão ter identidade de partes, objeto e pedido. Nestes casos, o
segundo processo deverá ser extinto com base no artigo 485, inciso V.
Semelhante a litispendência é a coisa julgada, a diferença neste caso é que
um dos processos já foi decidido, já há uma sentença para ele. A decretação
da extinção ocorre pode ofício ou a requerimento das partes (THEODORO
JR, 2017, p. 1044-1045);

5) Condição da ação (carência da ação): é a ausência de legitimidade ou de


interesse processual, segundo o artigo 485, inciso VI, pode ocorrer de ofício
ou a requerimento das partes. Não se confunde com os pressupostos
processuais, pois estes dizem respeito a validade da relação processual,
enquanto que a condição da ação diz respeito a possibilidade ou não de obter
uma sentença de mérito. Assim para uma ação válida, a parte tem que além
de constituir uma relação processual válida, satisfazer os seguintes pontos:
legitimidade de parte para a causa, interesse jurídico na tutela jurisdicional
(THEODORO JR, 2017, p. 1045-1047).

6) Perda do objeto: quando um evento ulterior venha a prejudicar a apreciação


da causa, é caso da ação de cobrança diante do pagamento voluntário da
dívida antes da sentença, agravo manejado contra prova indeferida, depois
que o agravante saiu vitorioso na sentença de mérito transitada em julgado. É
praticamente o desinteresse da ação (THEODORO JR, 2017, p. 1047-1048);

7) Convenção de arbitragem: trata-se de cláusula compromissória que afastar


o poder de jurisdição estatal, se a convenção de arbitragem é anterior ao

164
processo, impede a abertura, se for é superveniente, provoca imediata
extinção (THEODORO JR, 2017, p. 1048);

8) Desistência da ação: o autor pode desistir da ação antes da resposta do réu,


ou, se depois da resposta do réu, deverá ter o consentimento do réu para tal
(art. 485, §4º). A desistência da ação pode ser apresentada até a sentença
(art. 485, §5º), depois da sentença o que poderá ter é a renúncia à pretensão
formulada na ação (Art. 487, III), que não depende da anuência do réu, mas
provoca a solução do mérito contrária ao pedido do autor, com eficácia de
coisa julgada material (THEODORO JR, 2017, p. 1048-1049);

9) Intransmissibilidade da ação: quando ocorre o falecimento do titular do


direito intransmissível, o direito se extingue com a pessoa do titular. Por
exemplo, em ação de divórcio e a de alimentos, quando a parte interessada
falece.

10) Confusão entre autor e réu: quando as partes se confundem, ocorre, por
exemplo, entre descendentes e ascendentes, em que por morte de um dos
litigantes o outro se torne o único sucessor com direito no bem que estava
sendo discutido (THEODORO JR, 2017, p. 1050);

A sentença sem resolução do mérito não produz coisa julgada, o seu efeito é
apenas de coisa julgada formal, pois não impede que a parte renove sua
propositura processual (art. 486). Contudo importante observar que a nova proposta
de ação só poderá ocorrer se houve o pagamento das custas e honorários referente
a ação anterior (art. 92 e 486, §2º).

Atenção!!!
Antes de extinguir o mérito o juiz deverá conceder à parte oportunidade de
corrigir o vício (art. 317, CPC).

165
30.4 Sentença definitiva: extinção do processo COM resolução do mérito

No artigo 487, inciso I, encontra-se a forma mais completa de extinção da


causa com resolução do mérito, ocorre quando o juiz acolhe ou rejeito o pedido
formulado na ação (inicial) ou na reconvenção. É a forma de julgar procedente ou
improcedente a pretensão da parte, do próprio pedido (direito material) e não da
ação (direito subjetivo).
O inciso II, trata sobre a prescrição e decadência, isso quer dizer que os atos
jurídicos são condicionados ao tempo. A prescrição, por exemplo, é a sanção ao
titular do direito que permaneceu inerte diante de sua violação por outrem, extingue-
se a pretensão. Já a decadência, é a perda do direito, não da pretensão. Em ambos
os casos o juiz deve assegurar o direito das partes de manifestar, segundo o
parágrafo único do artigo 487.
Na sentença, o juiz também poderá reconhecer o pedido formulado pelo réu,
na reconvenção, além do pedido do autor (art. 487, III, a), esse reconhecimento
poderá ser total, parcial ou condicional.
Também haverá resolução do mérito quando o juiz homologar transação (Art.
487, III, b), ou seja, é a forma de autocomposição da lide, as partes chegam a um
acordo, neste caso ao juiz caberá apenas analisar se as partes possuem
capacidade, se o objeto é lícito e se foi observada regularidades formais ao ato.
Depois da transação, se uma parte se arrepende ou se julga lesada, nova lide pode
surgir em torno da eficácia do negócio transacional, mas em outro processo, pois no
processo que se produziu a transação, o arrependimento ou a denúncia unilateral é
ato inoperante, mesmo antes da homologação judicial, segundo a jurisprudência
(THEODORO JR, 2017, p. 1062);
O juiz poderá, ainda, homologar a renúncia à pretensão formulada na ação ou
na reconvenção (Art. 487, III, c), isto é, abre-se mão da pretensão, deve ocorrer de
forma expressa e a parte deve ter capacidade civil plena. A renúncia difere da
desistência da ação, pois a primeira elimina a possibilidade de reabertura do
processo em torno da mesma lide, há, portanto, coisa julgada material, já na
desistência, a parte não fica privada de propor nova ação, pois há coisa julgada

166
forma somente. Ademais, importante saber, que a renúncia poderá ocorrer em
qualquer grau, inclusive em fase recursal.
A sentença definitiva exaure a instância ou o primeiro grau de jurisdição, pois
dá a solução do litígio, portanto, de acordo com o artigo 488, o juiz, sempre que
possível, deverá julgar o mérito, em vez de extinguir o feito sem resolução do mérito.

30.5 Estrutura e formalidades da sentença


“A eficácia da sentença depende da reunião de condições intrínsecas e
formais” (THEODORO JR, 2017, p. 1070), é preciso que ela resuma todo o processo
e contenha os elementos essenciais:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso,


com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais
ocorrências havidas no andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as
partes lhe submeterem.

Se não são observadas esses elementos, ocorre a nulidade da sentença, que


poderá ser invalidada em grau de apelação ou de ação rescisória.
Sobre a fundamentação ou motivação da sentença, é importante observar
que não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão que (art. 489, §1º):

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem


explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de,
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento.

Quanto ao dispositivo ou conclusão, ele se subdivide em direto, quando


específica a prestação imposta ao vencido, como por exemplo, pagar o réu, a

167
importância de X ao autor, ou então, pode ser indireto, quando o juiz apenas se
reporta ao pedido para julgá-lo procedente ou improcedente.
A sentença precisa ter clareza, caso não tenha, é cabível embargos de
declaração, segundo o artigo 1022, deve ser precisa também, isto é, deve ser certa,
desta forma, é vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem
como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi
demandado (art. 492, CPC).
Está sentença será proferida na audiência de instrução e julgamento, 30 dias
após a audiência, em documento escrito ou, então, 30 dias após à conclusão,
quando o julgamento se dá independente de audiência.
Após a publicação da sentença é possível retratar-se em duas hipóteses (Art.
494, CPC):

I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões


materiais ou erros de cálculo;
II - por meio de embargos de declaração.

Está sentença possui limites, que, se não respeitados, provocam sua


nulidade, são as chamadas sentenças ultra petita, citra petita e extra petita.
Sentença extra petita é aquela que “o juiz julga ação diferente da que foi
proposta, sem respeitar as partes, a causa de pedir ou pedido, tais como
apresentados na petição inicial” (GONÇALVES, 2016, p. 532), é o que trata a
primeira e última parte do caput do artigo 492 do CPC, onde diz “É vedado ao juiz
proferir decisão de natureza diversa da pedida [...] ou em objeto diverso do que lhe
foi demandado”. Ao juiz só permitido inovar em relação aos fundamentos jurídicos
do pedido, já que é o detentor do conhecimento jura novit cúria. Caso profira uma
sentença extra petita, caberá nulidade.
Já a sentença ultra petita é aquela “em que o juiz julga a pretensão posta em
juízo, mas condena o réu em quantidade superior à pedida” (GONÇALVES, 2016, p.
532), sendo o vício menos grave que o anterior, pois concedeu aquilo que foi
postulado, contudo em quantidade superior, conforme artigo 492 quando diz
“condenar a parte em quantidade superior”.

168
A sentença infra ou citra petita é quando o juiz deixa de apreciar algum pedido
da parte, quando houver cumulação de pedidos. Cumpre a juiz apreciar todas as
pretensões formuladas pelo autor na inicial e pelo réu em reconvenção ou na própria
contestação. Neste caso, caberá embargos de declaração por omissão do juízo,
solicitando ao juiz para se pronunciar sobre a pretensão.

30.6 Classificação da sentença


As sentenças classificam-se em:
a) Sentença declaratória: cujo efeito é o de declarar a certeza da existência ou
inexistência de relação jurídica, ou da autenticidade ou falsidade de
documento, esta sentença poderá ou não entrar em detalhes materiais, ou
seja, poderá ou não ter aptidão para configurar título executivo judicial.
b) Sentença condenatória: certifica-se a existência de um direito da parte
vencedora, aprecia e declara o direito existente, diferente da declaratória, pois
na sentença condenatória há um comando que determina que se realize e
torne efetiva determinada sanção, isto é, que o vencido cumpra a pretensão
do vencedor.
c) Sentença constitutiva: sem se limitar a mera declaração, nem proferir
decisão/comando, a sentença constitutiva cria, modifica ou extingue uma
relação jurídica, cria uma situação nova, por exemplo, que decreta a
separação de cônjuges, anulação de casamento, rescisão de contrato, etc.

30.7 Remessa necessária


Estarão sujeitos ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença (Art. 496):

I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e


suas respectivas autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução
fiscal.

169
Nestes casos, se não for interposta apelação no prazo legal, o juiz ordenará a
remessa dos autos ao tribunal e se não fizer, deverá o presidente do respectivo
tribunal avocá-los.
Não se aplicará a remessa necessária quando a condenação for de mil
salários-mínimos para a União e respectivas autarquias e fundações de direito
público; de 500 salários-mínimos para os Estados, DF e respectivas autarquias e
fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados e;
100 salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e
fundações de direito público.
Também não se aplicará o reexame necessário em casos em que a sentença
estiver fundada em:

I - súmula de tribunal superior;


II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação,

TEORIA DA EXECUÇÃO

31 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO

31.1 Princípio da autonomia da execução

Podemos entender pelo princípio da autonomia da execução que o processo


de execução tem uma função própria, distinta da fase cognitiva. A execução de
título extrajudicial implica na propositura de uma ação autônoma, ao passo que a
execução de título judicial – denominado cumprimento de sentença – ocorre nos
próprios autos, sendo uma fase subsequente do processo de conhecimento, mas
que com esse não se confunde.

170
31.2 Princípio do título

Deste princípio podemos extrair a necessidade da apresentação prévia de


um título executivo, que pode ser judicial (conforme art. 515 CPC) ou extrajudicial
(conforme art. 784 CPC), a fim de que a atividade executiva seja exercida.

31.3 Princípio da patrimonialidade / responsabilidade patrimonial

Tal princípio pode ser extraído do art. 789 do CPC, que dispõe:

“Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros
para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas
em lei.”

Significa afirmar que a execução não recaí sobre a pessoa do devedor, mas
sobre seus bens. Atualmente, o devedor responde por suas obrigações através de
seu patrimônio. A única hipótese de prisão civil possível no nosso ordenamento
jurídico é a prisão do devedor de alimentos. O STF editou a súmula vinculante nº
25, que dispõe: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade de depósito”.

31.4 Princípio da disponibilidade da execução

O exequente tem o direito de desistir da execução ou de parte dela,


conforme disposto no art. 775 do CPC. Importante observar que a desistência da
execução independe da concordância do devedor quando a execução não tiver
sido impugnada ou embargada, ou ainda, quando a impugnação e os embargos
versarem somente sobre questões processuais, contudo, havendo questões
relativas a matéria de mérito, a extinção dependerá da concordância do
embargante.

171
31.5 Princípio do exato adimplemento e da utilidade

De acordo com este princípio, o credor deve obter o resultado exato da


obrigação assumida pelo devedor, ou seja, a execução deve atribuir pontualmente
aquilo que o credor faz jus. Existem duas exceções ao princípio do exato
adimplemento: a) quando for de preferência do credor; b) quando for impossível o
cumprimento específico da obrigação. Importante destacar o art. 831 do CPC que
estabelece que a penhora deve recair sobre tantos bens quantos bastem para o
pagamento do débito atualizado, custas e honorários advocatícios. Pelo princípio
da utilidade, a execução somente é viável quando acarretar em algum benefício
para o credor, ou seja, quando tornar-se possível a satisfação do débito integral ou
parcialmente.

31.6 Princípio da menor onerosidade

Quando houver dois ou mais meios equivalentes para garantir o crédito do


credor, deverá preferir-se aquele que for menos prejudicial ao devedor, é o que
dispõe o art. 805 do CPC.

31.7 Princípio do contraditório

O princípio do contraditório é, na verdade, um princípio geral do processo,


aplicável também à execução, haja vista que o executado deve ser citado e
intimado de todos os atos do processo.

32 AS PARTES NA RELAÇÃO PROCESSUAL EXECUTIVA

A LEGITIMIDADE ATIVA para propor a execução está prevista no art. 778 do


CPC, que dispõe:

172
Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei confere
título executivo.
§ 1o Podem promover a execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão
ao exequente originário:
I - o Ministério Público, nos casos previstos em lei;
II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por
morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título executivo;
III - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for
transferido por ato entre vivos;
IV - o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional.
§ 2o A sucessão prevista no § 1o independe de consentimento do
executado.

No que tange aos legitimados presentes no art. 778, II, são os denominados
sucessores “causa mortis”, isto porque com o falecimento do credor, o direito de
receber o crédito passou a seus sucessores. As pessoas elencadas neste inciso
podem propor a ação de execução se ao tempo do falecimento ainda não havia sido
proposta, ou ainda, seguir na execução quando o falecimento ocorrer durante a
tramitação processual mediante prévia habilitação. Importante referir que enquanto
não houver homologação da partilha de bens a legitimidade será do espólio (através
do inventariante) e após a homologação da partilha o credor será o herdeiro a quem
detenha o direito do crédito. Frisa-se que os herdeiros podem requerer a execução
individualmente ou em litisconsórcio, antes de homologada a partilha, caso o
inventariante se mantiver inerte a execução. (GONÇALVES, 2016, 718-719).
Também está no rol de legitimados o cessionário do título executivo, quando
este lhe for transferido por ato entre vivos. Quando a cessão do título ocorrer antes
do ajuizamento da execução, deverá o cessionário promover a execução juntando o
título executivo e a comprovação da cessão; sendo a cessão posterior à execução, o
cessionário deverá comprovar a cessão e requerer a substituição do polo ativo da
demanda na posição de exequente, sem necessidade de consentimento do credor,
conforme disposto no art. 778, §2º e 286 do Código Civil:

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a
natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula
proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não
constar do instrumento da obrigação.

A sub-rogação legal ou convencional (hipóteses dos arts. 346 e 347 do CC)


ocorre quando um terceiro efetua o pagamento da dívida ao credor e assume,

173
assim, o direito de cobra-la perante o devedor. Importante realçar o caso da sub-
rogação na fiança, pois quando o fiador paga a dívida pelo afiançado está autorizado
a executa-lo nos autos do mesmo processo. É o que dispõe os arts. 831 do CC e
794 §2º do CPC:

Art. 831. O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado nos
direitos do credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores
pela respectiva quota.
Parágrafo único. A parte do fiador insolvente distribuir-se-á pelos outros.
Art. 794. O fiador, quando executado, tem o direito de exigir que primeiro
sejam executados os bens do devedor situados na mesma comarca, livres e
desembargados, indicando-os pormenorizadamente à penhora.
§ 2o O fiador que pagar a dívida poderá executar o afiançado nos autos
do mesmo processo.

Além dos legitimados previstos no rol do art. 778, importante destacar a


legitimidade do ofendido nos casos de sentença penal condenatória transitada em
julgado nos crimes de ação penal pública. Muito embora a vítima não figure como
sujeito ativo ou passivo da ação penal, pode promover a execução civil dos danos
sofridos, assim como aquele que não figura na ação civil coletiva, mas que também
pode requerer a liquidação e execução dos danos sofridos (GONÇALVES, 2016, p.
720-721)
Outro legitimado ativo da execução previsto na doutrina é o advogado. O art.
23 da Lei nº 8.906/94 conferiu ao advogado o direito de executar os honorários
advocatícios de sucumbência, vejamos:

Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou


sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para
executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório,
quando necessário, seja expedido em seu favor.

Os LEGITIMADOS DO POLO PASSIVO da execução, estão previstos no art.


779 do CPC.

Art. 779. A execução pode ser promovida contra:


I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo;
II - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;
III - o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a
obrigação resultante do título executivo;
IV - o fiador do débito constante em título extrajudicial;
V - o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento
do débito;

174
VI - o responsável tributário, assim definido em lei.

O art. 779, II prevê a possibilidade de figurar como executado o espólio, os


herdeiros ou os sucessores do devedor. Caso a execução ocorra após o falecimento
do devedor e sem que haja ocorrido a partilha, deverá ser ajuizada em face do
espólio (representado pelo inventariante), possuindo o credor a legitimidade para
requerer a abertura do inventário. Após a partilha dos bens do falecido, o credor
deverá ajuizar a ação em face dos herdeiros e sucessores, sendo que cada um
deles responderá pela dívida de acordo com sua proporção da herança. Caso a
morte ocorra durante a tramitação da execução, deverá ser promovida a habilitação
dos sucessores. Importante destacar que a execução deverá respeitar os limites
da herança. (GONÇALVES, 2016, p.721-722).
Sobre a legitimidade passiva prevista no art. 779, III, (novo devedor que
assumiu com consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo) é
importante destacar a necessidade de concordância prévia do credor, já que o
devedor responde com seus bens pela execução.
O caso do art. 779, IV, do CPC é aquele em que figura no polo passivo da
execução o fiador do débito constante em título extrajudicial. É importante frisar que
o fiador, caso não tenha renunciado, tem direito ao benefício de ordem (827 CC),
podendo requerer que sejam executados primeiramente os bens do devedor, sitos
no mesmo munícipio, livres e desembargados (tantos quantos bastarem para
quitação do débito).

Art. 827. O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir,
até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do
devedor.
Parágrafo único. O fiador que alegar o benefício de ordem, a que se refere
este artigo, deve nomear bens do devedor, sitos no mesmo município, livres
e desembargados, quantos bastem para solver o débito.

A legitimidade prevista no art. 779, V (o responsável titular do bem vinculado


por garantia real ao pagamento do débito) refere-se aos casos em que determinada
pessoa oferece bem em garantia real de dívida, tornando-se responsável, até o
limite do valor do bem da garantia real, pelo adimplemento do débito.

175
Além dos legitimados no art. 779 do CPC, temos ainda a figura do avalista,
que é o indivíduo que presta garantia de adimplemento do título caso o devedor
principal não efetue o pagamento. No caso do avalista, a execução pode ser dirigida
diretamente contra a sua pessoa, ficando a critério do credor a inclusão ou não do
avalizado. Em caso de adimplemento do débito pelo avalista, a este sub-roga-se o
direito de seguir na execução, inclusive nos próprios autos, contra o avalizado.

33 REQUISITOS DA EXECUÇÃO

Para que seja possível o ajuizamento da ação de execução é necessário o


preenchimento dos requisitos: inadimplemento do devedor e título executivo que
represente uma obrigação liquida, certa e exigível.

33.1 Inadimplemento do devedor

Gonçalves (2016, p. 724-725) afirma que o inadimplemento do devedor é


configurado pelo descumprimento da obrigação no tempo, local e forma acordada
pelas partes, corroborando com o art. 788 do CPC, que dispõe:

Art. 788. O credor não poderá iniciar a execução ou nela prosseguir se o


devedor cumprir a obrigação, mas poderá recusar o recebimento da
prestação se ela não corresponder ao direito ou à obrigação estabelecidos
no título executivo, caso em que poderá requerer a execução forçada,
ressalvado ao devedor o direito de embargá-la.

Caso a obrigação seja a termo, a mora resta configurada assim que vencido o
prazo estipulado no título, contudo, caso não haja prazo específico para o
cumprimento, o devedor deverá ser notificado para que seja constituído em mora.
O lugar de cumprimento das obrigações é aquele que foi convencionado
pelas partes e inexistindo convenção à respeito observa-se o art. 327 do Código
Civil.

176
Importante discorrer sobre os contratos bilaterais de prestações simultâneas,
pois nestes casos não será possível a nenhum dos contraentes ajuizar execução a
fim de exigir do outro obrigação não cumprida, caso também não tenha cumprida a
sua, conforme preceituado no art. 798, I “d” do CPC.

33.2 Titulo executivo

Conforme disposto anteriormente, o título executivo é requisito essencial do


processo de execução e sua criação somente ocorrerá através de lei. Deve-se
observar ainda o princípio da tipicidade, ou seja, os títulos executivos devem
obedecer rigorosamente ao padrão determinado na lei que os criou.

Quanto a cumulação de dois ou mais títulos na mesma execução não há


nenhum impedimento legal, desde que os títulos apresentem os requisitos de
cumulação previstos no art. 327 §1º e 780 do CPC.
O STJ editou a súmula nº 27 a fim de pôr fim às controvérsias: “Pode a
execução fundar-se em mais de um título extrajudicial relativos ao mesmo negócio”.

177
Outro aspecto relevante sobre os títulos executivos é a necessidade de
juntada nos autos do processo do documento original, não se admitindo cópia,
exceto em ocasiões extremas de impossibilidade de juntada da via original por
questões alheias à vontade do credor. Gonçalves exemplifica duas situações em
que são admitidas a cópia do título: quando a via original não está na posse do
credor por ter sido juntada nos autos de outro processo, devendo nesse caso a
cópia ser acompanhada de uma certidão atestando a situação, ou ainda, quando for
o caso de execução provisória de um título juntado nos autos do processo de
conhecimento pendente de julgamento de recurso no órgão ad quem.
(GONÇALVES, 2016, p.729).

33.2.1 Requisitos do título executivo

O art. 783 e 786 do CPC dispõe que “A execução para cobrança de crédito
fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível”. Para Gonçalves,
os requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade não são dos títulos propriamente
ditos, mas das obrigações que eles representam (GONÇALVES, 2016, p. 729).

34 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

O devedor responderá pelo cumprimento das suas obrigações com seu


patrimônio presente e futuro, consoante art. 789 do CPC.
Contudo, preocupou-se o legislador em preservar determinados bens,
tornando-os impenhoráveis.

178
O rol dos bens impenhoráveis encontra-se no art. 833 do CPC.

Os bens descritos no rol do art. 833 do CPC são absolutamente


impenhoráveis e caso o devedor não disponha de nenhum outro bem, a execução
poderá tornar-se infrutífera (sem resultado) (WAMBIER e TALAMINI, 2014, p. 151).
Importante destacar, ainda, o art. 834 do CPC, visto que dispõe sobre os
bens relativamente impenhoráveis. Segundo o dispositivo legal, os frutos e
rendimentos dos bens inalienáveis somente poderão ser penhorados na falta de
outros bens penhoráveis.

ATENÇÃO:
POUPANÇA: art. 833, X, do CPC: A impenhorabilidade dos bens
depositados na caderneta de poupança é limitada a 40 salários mínimos.
DIVERSAS CADERNETAS DE POUPANÇA: Caso o devedor possua
diversas cadernetas de poupança, o limite de impenhorabilidade deve considerar a
soma de todas elas. Havendo saldo excedente, é passível de penhora
(GONÇALVES, 2016, p. 742).
DÍVIDA RELATIVA AO PRÓPRIO BEM: Lembre-se que a
impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem,
inclusive àquela contraída para sua aquisição, na forma do art. 833, §1º.
BOX DE ESTACIONAMENTO: Caso o box do estacionamento tenha
matrícula individualizada poderá ser objeto de penhora (ver súmula 449 do STJ).

179
O art. 833, §2º é categórico ao afirmar que a impenhorabilidade prevista nos
incisos IV e X não se aplica aos casos de penhora para pagamento de prestação
alimentícia. A segunda parte do inciso 2º do art. 833 refere-se à possibilidade de
penhora dos ganhos excedentes a 50 salários mínimos mensais, seja qual for a
origem da obrigação.
IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA: Previsão na Lei 8.009/90. O
imóvel residencial familiar é impenhorável por dívidas de qualquer natureza.
EXCEÇÃO: Pode haver penhora do bem de família nos casos previstos no art. 3º da
Lei 8.009/90.

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial,
fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou
pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas
hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza
e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que
guarnecem a casa, desde que quitados.

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução


civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das
respectivas contribuições previdenciárias; (Revogado pela Lei
Complementar nº 150, de 2015)
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos
constituídos em função do respectivo contrato;
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o
bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou
conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida;
(Redação dada pela Lei nº 13.144 de 2015)
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições
devidas em função do imóvel familiar;
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real
pelo casal ou pela entidade familiar;
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de
sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento
de bens.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
(Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)

180
Quanto à penhora dos bens móveis, deve-se observar a regra contida no art.
833, II, ou seja, somente não serão penhoráveis aqueles indispensáveis para uma
moradia digna.
Tratando-se de imóvel locado deve-se aplicar o disposto no art. 2º, parágrafo
único da lei 8.009/90: "No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos
bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do
locatário, observado o disposto neste artigo".
Por fim, cabe destacar que não permanece a impenhorabilidade do bem
quando o devedor oferece-o para penhora, entendendo-se como renúncia ao
benefício da impenhorabilidade.

34.1 Responsabilidade patrimonial de terceiros

Os terceiros sujeitos à execução estão arrolados no art. 790 do CPC:

Art. 790. São sujeitos à execução os bens:


I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito
real ou obrigação reipersecutória;
II - do sócio, nos termos da lei;
III - do devedor, ainda que em poder de terceiros;
IV - do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou
de sua meação respondem pela dívida;
V - alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;
VI - cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão
do reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores;
VII - do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade
jurídica.

181
A responsabilidade do sucessor a título singular, prevista no art. 790, I, ocorre
quando no curso do processo de execução, o devedor aliena o bem litigioso a
terceiro. Conforme Gonçalves:

“A alienação da coisa litigiosa é ineficaz perante o credor, feita no curso da


ação fundada em direito real ou pretensão reipersecutória, desde que a
pendência da ação tenha sido averbada no respectivo registro público,
configura fraude à execução, nos termos do art. 792, I, do CPC”.
(GONÇALVES, 2016, p. 745) (grifo próprio).

O art. 790, II, do CPC remete aos bens do sócio, que somente serão atingidos
quando esses têm responsabilidade patrimonial ou em caso de desconsideração da
personalidade jurídica.
ATENÇÃO: O sócio réu, quando responsável pelo pagamento de dívida da
sociedade, tem o direito de exigir que primeiro sejam penhorados os bens da
sociedade, na forma do art. 795, §1º do CPC. Além disso, o sócio que adimplir a
dívida poderá cobrar da sociedade nos mesmos autos da execução, na forma do art.
795, §3º do CPC. Os bens da empresa solvente devem responder pelas obrigações
contraídas por essas.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: É autorizada a
desconsideração da personalidade jurídica quando resta evidenciado que os sócios
usam da empresa para contrair dívidas sem que haja sua responsabilização
pessoal. Nesses casos, o magistrado estenderá a responsabilidade patrimonial da
empresa aos sócios, que responderão pelos débitos com o seu patrimônio pessoal.
A desconsideração da pessoa jurídica tem previsão no art. 50 do CC, que dispõe:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir
no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou
sócios da pessoa jurídica.

Importante mencionar, ainda, que o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica deverá ser processado na forma do art. 133 a 137 do Código
de Processo Civil.

182
Em regra, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica
suspenderá o processo de execução, na forma do art. 134, §3º, do CPC. Somente
não haverá a suspensão do processo quando a desconsideração da personalidade
jurídica for requerida na própria petição inicial da ação de execução, oportunidade
em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica, na forma do art. 134, §2º e §3º do
CPC. Cabe destacar, ainda, que o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica será resolvido por decisão interlocutória (art. 136, CPC) da qual caberá
agravo de instrumento (art. 1.015, IV, CPC).
Tratando-se de relação de consumo, o art. 28 do CDC, prevê a possibilidade
da desconsideração da pessoa jurídica:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade


quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou
contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa
jurídica provocados por má administração.
§ 1° (Vetado).
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades
controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações
decorrentes deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas
obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados aos consumidores.

Ainda sobre a responsabilidade patrimonial de terceiros, os bens do cônjuge


ou companheiro respondem pela obrigação quando a dívida contraída tiver revertido
em proveito do casal ou da família, contudo, tal presunção não é absoluta e poderá
ser afastada quando restar comprovado que o cônjuge não auferiu vantagens da
dívida contraída.
São sujeitos à execução os bens alienados ou gravados com ônus real em
fraude à execução, já que as alienações com objetivo de fraudar à execução são
ineficazes diante do credor. Neste caso, o bem transferido ao terceiro continua
sujeito à execução, mesmo que de posse do adquirente ou cessionário. Caso o valor
do bem seja superior ao valor do débito, o excedente será restituído ao possuidor do
bem, e, sendo o bem de valor inferior, a execução prossegue contra os bens do

183
devedor, já que a responsabilidade do adquirente limita-se ao bem adquirido.
(Gonçalves, 2016, p. 146).
Os bens cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em
razão de reconhecimento em ação autônoma, de fraude contra credores, também
são passiveis de serem executados.

35 LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

Em regra, para que seja possível a execução de um título é necessária sua


liquidez, ou seja, deve ser possível identificar o objeto devido. A liquidação de
sentença se destina nos casos de sentença ilíquida, quando impossível ao
Judiciário determinar o quantum da indenização ou individualizar seu objeto. Nesses
casos, antes de iniciar a fase de cumprimento de sentença é necessária uma etapa
intermediária, denominada de liquidação de sentença. ATENÇÃO: Os títulos
extrajudiciais serão sempre líquidos, não sendo possível a liquidação de um título
executivo extrajudicial.
Atualmente, o art. 509 do CPC prevê duas formas de liquidação de sentença:
por arbitramento e pelo procedimento comum.
ATENÇÃO: O recurso adequado contra as decisões interlocutórias proferidas
na fase de liquidação de sentença é o agravo de instrumento, conforme previsão
do art. 1.015, parágrafo único, do CPC.

35.1 Liquidação provisória

Poderá ser instaurada a liquidação provisória de sentença ilíquida nas


mesmas hipóteses em que se admitir a execução provisória, ou seja, quando há
interposição de recurso e este não é recebido com efeito suspensivo. Caso haja
provimento do recurso interposto com a modificação da sentença, a liquidação e
execução perderão seus efeitos, devendo as partes retornar ao status a quo.
O CPC (art. 512) ainda prevê a possibilidade de liquidação de sentença
mesmo quando o recurso tenha sido recebido com efeito suspensivo. Apesar de não

184
ser possível sua execução, a parte poderá, por sua conta e risco, promover a
liquidação a fim de ganhar tempo caso a sentença se confirme, momento em que
estará apta para executá-la. Como a liquidação, neste caso, ocorre por conta e risco
do requerente, em caso de não confirmação da sentença (reforma do julgamento) o
valor desembolsado para custear a liquidação será perdido. (GONÇALVES, 2016,
p.755).

35.2 Liquidação de sentença parcialmente ilíquida

Quando a sentença proferida for apenas parcialmente ilíquida, o credor tem


a possibilidade de promover a execução da parte liquida e a liquidação da parte
ilíquida de forma concomitante (GONÇALVES, 2016, p.756).

35.3 Liquidação por arbitramento x Liquidação pelo procedimento comum

A liquidação por arbitramento está prevista no art. 509, I do CPC. Neste caso,
o juiz intimará as partes para apresentação de pareceres ou documentos no prazo
que fixar, e se ainda assim não tiver elementos suficientes para decidir de plano,
nomeará perito, observado o procedimento pericial. Na liquidação por
arbitramento, não se fala em demonstração de fatos novos, pois limita-se a
apuração do quantum.
O art. 509, I, do CPC define as hipóteses em que a liquidação por
arbitramento poderá ser utilizada: a) quando determinado pela sentença; b)
convencionado pelas partes; c) exigido pela natureza do objeto da liquidação.
Por sua vez, a liquidação pelo procedimento comum (art. 509, II, CPC) é
utilizada quando há necessidade de alegar e provar fato novo. Entende-se por
fato novo a matéria que não foi apreciada pelo magistrado quando proferiu a
sentença e que tenha relação ao quantum.
Na liquidação por procedimento comum, o autor deverá apresentar os fatos
novos, o réu será intimado para apresentar defesa e serão admitidos todos os meios
de prova, podendo o juiz, inclusive, designar audiência de instrução e julgamento.

185
36 MEIOS DE EXECUÇÃO

36.1 Execução de título extrajudicial: regras gerais

Os títulos executivos extrajudiciais estão previstos no art. 784, do CPC. Todos


os meios de execução de título executivo extrajudicial deverão ser iniciados através
de petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 319 e 320 do CPC
(requisitos gerais da petição inicial), cumulados com o art. 798 do CPC (requisitos
gerais da execução), além dos requisitos específicos de cada meio de execução,
que serão estudados a seguir.
A petição inicial deverá indicar os fatos e fundamentos da execução, que
deverá se basear em um título executivo que reflete uma obrigação certa, liquida e
exigível (sob pena de nulidade, art. 803, I, CPC) e no inadimplemento do devedor.
Tratando-se de uma obrigação em pecúnia, deve acompanhar a inicial memória de
cálculo, conforme art. 798, I, “b” + 798, II, parágrafo único (atentar-se sempre ao
enunciado para evitar a identificação de peça). Sempre que estiver elaborando uma
petição inicial referente ao processo de execução, analisar se o enunciado
apresentado pela banca exige a intimação de alguma das pessoas arroladas no art.
799 do CPC.
CADASTRO DE INADIMPLENTES: Atualmente, o exequente poderá
requerer, na petição inicial, a inclusão do executado no cadastro de inadimplentes,
conforme previsão do art. 782, §3º, do CPC. A inscrição no cadastro de será
imediatamente cancelada no caso do pagamento da dívida, se garantida a execução
ou se a execução for extinta por qualquer outro motivo, na forma do art. 782, §4º.
Na petição inicial é necessário incluir a indicação do valor da causa, bem
como informar sobre o recolhimento das custas processuais ou requerimento de
justiça gratuita (conforme enunciado). Por fim, deve-se fazer o fechamento da peça
com a indicação de local e data, advogado e número de OAB (sempre de modo
genérico para evitar a identificação de peças).

186
ATENÇÃO: O CPC elenca um rol de documentos indispensáveis para
propositura da ação de execução, como por exemplo o título executivo extrajudicial –
contudo, não esqueça de analisar o enunciado para evitar a identificação de peça.
Importante destacar que o exequente deverá promover a execução sempre
pelo meio menos gravoso ao executado, por força do art. 805 do CPC.
Ausente algum dos requisitos ou documentos indispensáveis, o juiz
determinará a intimação do exequente para que no prazo de quinze dias providencie
a emenda da petição inicial, sob pena de indeferimento. Caso a inicial esteja de
acordo com os requisitos legais, o juiz determinará a citação do executado.
No processo de execução são admitidas todas as formas de citação previstas
no CPC (art. 246), inclusive citação por edital e por hora certa, observado o teor da
súmula 196 do STJ: “Ao executado que, citado por edital ou por hora certa,
permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos”. A citação válida produz os mesmos efeitos que no
processo de conhecimento, previstos no art. 240 do CPC (induz litispendência,
interrupção da prescrição, constituição do devedor em mora). (Gonçalves, 2016,
p.767). Não ocorrendo a citação válida do executado, a execução será nula (art.
803, II, CPC).
A competência para julgar a execução está prevista no art. 781 do CPC,
podendo o juiz requisitar o uso da força policial, caso seja necessário, conforme
previsão do artigo 782, §2º, do CPC.
No processo de execução, o juiz poderá, de oficio ou a requerimento,
determinar as medidas necessárias ao cumprimento da ordem de entrega de
documentos e dados (art. 773 do CPC).
O executado cometerá ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA
quando através de conduta comissiva ou omissiva: a) fraudar a execução; b) se opor
maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; c) dificultar ou
embaraçar a realização da penhora; d) resistir injustificadamente às ordens judiciais;
e) intimado, não indicar ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e
os respectivos valores, nem exiba prova de sua propriedade e, se for o caso,
certidão negativa de ônus (art. 774 do CPC).

187
36.2 Execução por quantia certa

A execução por quantia certa tem o objetivo de compelir o devedor a pagar


determinada quantia em dinheiro. Na petição inicial, o exequente deverá juntar a
memória de cálculo do débito atualizado, por força do art. 798, I, “b” e parágrafo
único e terá a opção de indicar os bens que deseja penhorar, conforme art. 798, II,
“c” do CPC (Verifique sempre o enunciado a fim de evitar a identificação de peças!).
Caso a petição inicial não contenha os requisitos, o juiz concederá o prazo de
quinze dias para que o exequente providencie o saneamento. Ao receber a petição
inicial o juiz determinará a citação do devedor para pagar o débito em três dias,
sob pena de penhora, fixando desde já os honorários advocatícios.
No caso de execução por quantia certa, a citação implica no prazo de três
dias para pagar (a partir da efetiva citação do devedor) e o prazo de quinze dias
para oferecer embargos (contados da juntada do mandado aos autos),
independentemente de realizada ou não a penhora.
A súmula 196 do STJ dispõe: “ao executado que, citado por edital ou por hora
certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para
apresentação de embargos”.
PENHORA: Não ocorrendo o pagamento em três dias, o oficial de justiça fará
a penhora dos bens indicados pelo credor na petição inicial e caso não haja
indicação, fará a penhora sobre os bens que localizar em diligência, observado o rol
de bens impenhoráveis previsto no art. 833 do CPC e da Lei n. 8.009/90. Salienta-
se, ainda, que a penhora de bens que estão em posse de terceiro é plenamente
possível, sendo cabível, neste caso, o terceiro apresentar embargos de terceiro,
conforme art. 674 do CPC.

188
O art. 830 do CPC dispõe que: “Se o oficial de justiça não encontrar o
executado, arrastar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução”.
Trata-se da hipótese de arresto, que ocorre antes de realizada a citação do devedor
a fim de evitar o desaparecimento dos bens. Com a citação do devedor, o arresto
converte-se em penhora.
Destaca-se que a penhora nada mais é do que a individualização dos bens
que serão afetados pelo pagamento da obrigação. Conforme já mencionado, é
facultado ao credor indicar na petição inicial os bens do devedor em que deseja que
recaía a penhora, observada a ordem do art. 835, do CPC:

Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:


I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira;
II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com
cotação em mercado;
III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV - veículos de via terrestre;
V - bens imóveis;
VI - bens móveis em geral;
VII - semoventes;
VIII - navios e aeronaves;
IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
X - percentual do faturamento de empresa devedora;
XI - pedras e metais preciosos;
XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de
alienação fiduciária em garantia;
XIII - outros direitos.

Não havendo indicação dos bens a serem penhorados na petição inicial e não
localizando o oficial de justiça bens em diligência, o juiz poderá (a pedido ou de
oficio) determinar a intimação do devedor para que indique bens passiveis de
penhora. O devedor cometerá ato atentatório à dignidade da justiça caso tenha
bens para indicar a penhora, mas não os informe.
O art. 845 § 1º do CPC prevê o procedimento da penhora quando recair
sobre bens imóveis ou veículos automotores.

Art. 845. Efetuar-se-á a penhora onde se encontrem os bens, ainda que


sob a posse, a detenção ou a guarda de terceiros.
§ 1o A penhora de imóveis, independentemente de onde se localizem,
quando apresentada certidão da respectiva matrícula, e a penhora de
veículos automotores, quando apresentada certidão que ateste a sua
existência, serão realizadas por termo nos autos.

189
A penhora sobre veículos automotores ou imóveis poderá ocorrer através da
juntada nos autos da matrícula do imóvel ou da certidão do veículo comprovando
sua existência e propriedade – para atribuir efeito erga omnes à penhora é
necessária a averbação junto ao registro competente no caso dos bens registráveis.

Sobre a penhora no rosto dos autos, regulada pelo art. 860 do CPC,
Gonçalves explica:

A penhora no rosto dos autos é a que recai sobre eventual direito do


executado, discutido em processo judicial. Enquanto não julgado o crédito, o
devedor tem uma expectativa de direito, que só vai se transformar em
direito efetivo se a sua pretensão for acolhida. É possível efetuar a penhora
dessa expectativa, no processo em que o executado demanda contra
terceiros. Caso ele se saia vitorioso, a penhora terá por objeto os bens ou
créditos que lhe forem reconhecidos ou adjudicados; caso seja derrotado,
ficará sem efeito.
O nome vem de ela ser realizada nos autos do processo em que o
executado discute o seu direito. (GONÇALVES, 2016, p.775)

O art. 854, do CPC, regula a PENHORA ON-LINE, que ocorre quando o juiz
determina o bloqueio de valores diretamente da conta do devedor, através da
emissão de comandos às unidades supervisoras das instituições financeiras.

Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em


aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente, sem dar ciência
prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras, por
meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema
financeiro nacional, que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em
nome do executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na
execução.
§ 1o No prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar da resposta, de ofício, o
juiz determinará o cancelamento de eventual indisponibilidade excessiva, o
que deverá ser cumprido pela instituição financeira em igual prazo.
§ 2o Tornados indisponíveis os ativos financeiros do executado, este será
intimado na pessoa de seu advogado ou, não o tendo, pessoalmente.
§ 3o Incumbe ao executado, no prazo de 5 (cinco) dias, comprovar que:
I - as quantias tornadas indisponíveis são impenhoráveis;
II - ainda remanesce indisponibilidade excessiva de ativos financeiros.

190
§ 4o Acolhida qualquer das arguições dos incisos I e II do § 3o, o juiz
determinará o cancelamento de eventual indisponibilidade irregular ou
excessiva, a ser cumprido pela instituição financeira em 24 (vinte e quatro)
horas.
§ 5o Rejeitada ou não apresentada a manifestação do executado, converter-
se-á a indisponibilidade em penhora, sem necessidade de lavratura de
termo, devendo o juiz da execução determinar à instituição financeira
depositária que, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, transfira o montante
indisponível para conta vinculada ao juízo da execução.
§ 6o Realizado o pagamento da dívida por outro meio, o juiz determinará,
imediatamente, por sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do
sistema financeiro nacional, a notificação da instituição financeira para que,
em até 24 (vinte e quatro) horas, cancele a indisponibilidade.
§ 7o As transmissões das ordens de indisponibilidade, de seu cancelamento
e de determinação de penhora previstas neste artigo far-se-ão por meio de
sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro
nacional.
§ 8o A instituição financeira será responsável pelos prejuízos causados ao
executado em decorrência da indisponibilidade de ativos financeiros em
valor superior ao indicado na execução ou pelo juiz, bem como na hipótese
de não cancelamento da indisponibilidade no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, quando assim determinar o juiz.
§ 9o Quando se tratar de execução contra partido político, o juiz, a
requerimento do exequente, determinará às instituições financeiras, por
meio de sistema eletrônico gerido por autoridade supervisora do sistema
bancário, que tornem indisponíveis ativos financeiros somente em nome do
órgão partidário que tenha contraído a dívida executada ou que tenha dado
causa à violação de direito ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a
responsabilidade pelos atos praticados, na forma da lei.

Recaindo a penhora on-line sobre valores impenhoráveis, caberá ao


executado informar ao juízo, no prazo de cinco dias (§3º), incumbindo ao magistrado
determinar a instituição financeira a proceder o desbloqueio dos valores no prazo de
24 horas (§4º).
O procedimento para modificação do bem penhorado está regulado nos arts.
847 a 853, do CPC. O art. 847, do CPC, dispõe que o executado poderá, no prazo
de dez dias contado da intimação da penhora, requerer a substituição do bem
penhorado, desde que comprove que lhe seja menos oneroso e não traga prejuízos
ao exequente. O art. 848, do CPC, prevê as hipóteses em que as partes poderão
requerer a substituição da penhora:

Art. 848. As partes poderão requerer a substituição da penhora se:


I - ela não obedecer à ordem legal;
II - ela não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial
para o pagamento;
III - havendo bens no foro da execução, outros tiverem sido penhorados;

191
IV - havendo bens livres, ela tiver recaído sobre bens já penhorados ou
objeto de gravame;
V - ela incidir sobre bens de baixa liquidez;
VI - fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou
VII - o executado não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das
indicações previstas em lei.
Parágrafo único. A penhora pode ser substituída por fiança bancária ou por
seguro garantia judicial, em valor não inferior ao do débito constante da
inicial, acrescido de trinta por cento.

A SEGUNDA PENHORA somente será autorizada nas hipóteses previstas no


art. 851 do CPC: a) quando a primeira for anulada; b) executados os bens, o produto
da alienação não bastar para o pagamento do exequente; c) o exequente desistir da
primeira penhora, por serem litigiosos os bens ou por estarem submetidos a
constrição judicial.
Conforme disposto no art. 874 do CPC, poderá ocorrer a ampliação ou
redução da penhora mediante requerimento da parte interessada, sempre que
verificada a desproporção entre o valor do bem penhorado e o valor da dívida. O art.
850, do CPC, prevê ainda: “Será admitida a redução ou a ampliação da penhora,
bem como sua transferência para outros bens, se, no curso do processo, o valor de
mercado dos bens penhorados sofrer alteração significativa”.
O art. 908, do CPC dispõe que havendo pluralidade de credores ou
exequentes, o dinheiro lhes será distribuído e entregue consoante a ordem das
respectivas preferencias.
A penhora considera-se perfectibilizada quando os bens são confiados ao
depositário, que deverá assinar o auto de penhora. A ordem de preferência dos
depositários está contida no art. 840, do CPC.

Se a penhora for realizada na ausência do executado, este deverá ser


intimado (através de seu advogado ou pessoalmente quando não estiver
representado nos autos) da penhora, a fim de apontar eventuais irregularidades ou
nulidades.

192
O art. 842, do CPC, determina a intimação do cônjuge do executado quando a
penhora recair sobre bem imóvel ou direito real sobre bem imóvel, exceto se forem
casados no regime de separação absoluta de bens. Importante ressaltar que a
intimação será necessária inclusive se o bem penhorado pertencer a apenas um dos
cônjuges.
Após a penhora dos bens e não havendo adimplemento da obrigação, segue-
se para a fase de expropriação dos bens.
A EXPROPRIAÇÃO DOS BENS é o meio pelo qual o credor alcançará a
satisfação de seu crédito na execução por quantia certa e consiste na adjudicação,
alienação ou apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou estabelecimento e
de outros bens.
A ADJUDICAÇÃO ocorre quando o bem móvel ou imóvel penhorado é
transferido para o credor a fim de satisfazer seu crédito e nunca poderá ocorrer por
valor inferior ao da avaliação. Caso o valor do crédito seja inferior ao valor da
avaliação, o credor deve depositar a diferença em juízo, na forma do art. 876, §4º, I,
do CPC). Caso o valor do crédito seja superior ao valor da avaliação do bem, após a
adjudicação do bem, o credor poderá seguir com a execução a fim de efetuar a
cobrança, na forma do art. 876, §4º, II do CPC.
Destaca-se que a qualquer tempo, após a avaliação do bem, enquanto não
for realizada a alienação particular ou o leilão judicial, os legitimados poderão
requerer a adjudicação.
Podem requerer a adjudicação do bem: a) exequente; b) as pessoas
enumeradas no art. 889, incisos II a VIII; c) credores que hajam penhorado o mesmo
bem; d) cônjuge / companheiro, ascendente e descendente do executado
(GONÇALVES, 2016, p.783). ATENÇÃO: pessoas alheias a execução devem
depositar o valor da avaliação para poder fazer a adjudicação do bem.
Havendo mais de um legitimado interessado na adjudicação do bem será
efetuado licitação entre eles, sendo deferida a preferência pela adjudicação àquele
que oferecer maior valor pelo bem, podendo a adjudicação ocorrer por valor superior
a avaliação, mas nunca inferior. No caso de empate na licitação, a preferência será
do cônjuge, companheiro, descendente e ascendentes do devedor.

193
No caso da adjudicação, quando o débito for inferior ao bem adjudicado, o
exequente deverá depositar a diferença do valor entre o débito e a avaliação. Sendo
o bem adjudicado pelos demais interessados, estes deverão depositar integralmente
o valor do preço em juízo.

Se a adjudicação for deferida aos demais legitimados, cumprir-lhes-á


depositar integralmente o preço em juízo. Salvo se o for em favor de algum
credor que tenha preferência, na forma do art. 908 do CPC, caso em que o
preço servirá para abater o débito desse credor, e não daquele que
promoveu a execução, onde a hasta for realizada. (GONÇALVES, 2016, p.
783).

Não havendo interessados na adjudicação do bem, o exequente poderá


requerer a ALIENAÇÃO DO BEM, que far-se-á por iniciativa particular (art. 866) ou
em leilão judicial eletrônico ou presencial (art. 879, CPC).

Art. 879. A alienação far-se-á:


I - por iniciativa particular;
II - em leilão judicial eletrônico ou presencial.
Art. 880. Não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer a
alienação por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro
público credenciado perante o órgão judiciário.

Na ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR, o juiz fixará as regras para


a venda do bem penhorado, além de fixar a forma de publicidade, preço mínimo,
comissão de corretagem (se for o caso), condições de pagamento e as garantias
que devem ser prestadas pelo adquirente, em caso de pagamento parcelado (art.
880, §1º. O adquirente depositará o preço do bem em juízo e formalizada a
transação será expedida a carta de alienação do imóvel para o registro no Cartório
de Registros de Imóveis e o mandado de imissão na posse (no caso de bem imóvel).
No caso dos bens móveis, o juiz ordenará a entrega da coisa ao adquirente (art.
880, §2º, CPC).
Não havendo interessados na adjudicação do bem, nem interesse na
alienação particular, a expropriação do bem ocorrerá através de leilão judicial,
processo regulado pelos arts. 881 a 903 do CPC.

Art. 881. A alienação far-se-á em leilão judicial se não efetivada a


adjudicação ou a alienação por iniciativa particular.
§ 1o O leilão do bem penhorado será realizado por leiloeiro público.

194
§ 2o Ressalvados os casos de alienação a cargo de corretores de bolsa de
valores, todos os demais bens serão alienados em leilão público.

Com a reforma do CPC, o LEILÃO JUDICIAL abrange tanto a expropriação


de bens imóveis como os móveis, diferentemente do que ocorria no CPC de 1973,
onde havia dois tipos de hasta pública: a praça (expropriação de bens imóveis) e o
leilão (expropriação de bens móveis).
A alienação judicial por meio eletrônico, vem regulada no art. 882, §1º e ss, do
CPC, que dispõe sobre a necessidade de observância das garantias processuais
das partes, de acordo com a regulamentação específica do CNJ. O leilão judicial
presencial ocorrerá em local determinado pelo juiz, que designará o leiloeiro (que
por sua vez poderá ser indicado pelo exequente), duas datas para a sua realização
e as condições de pagamento com as devidas garantias. Será necessário a
publicação do edital do leilão com antecedência de, no mínimo, cinco dias da data
de sua primeira realização, devendo constar no edital todos os requisitos previstos
no art. 886 e 887, do CPC, sob pena de nulidade da arrematação.
Além da publicação do edital, também é necessária a intimação das pessoas
arroladas no art. 889, do CPC, com antecedência mínima de cinco dias da data do
leilão judicial.
Na primeira realização do leilão, o preço mínimo de arrematação do bem será
o valor de avaliação. Não havendo interessados na aquisição do bem no primeiro
leilão judicial, no segundo, o bem poderá ser alienado por valor abaixo do previsto
na avaliação, desde que não seja por preço vil (preço inferior ao mínimo estipulado
pelo juiz e ao constante no edital e não constando no edital, considera-se vil o preço
inferior a 50% do valor de sua avaliação), conforme art. 891, do CPC.
Quando o bem penhorado pertencer a incapaz e não alcançar em leilão pelo
menos 80% do valor da avaliação, o juiz o confiará à guarda e à administração de
depositário idôneo, adiando a alienação pelo prazo de um ano, conforme art. 896, do
CPC.
Conforme art. 892, do CPC, excetuado pronunciamento judicial em sentido
diverso, o pagamento será realizado de imediato pelo arrematante, por depósito
judicial ou por meio eletrônico, salvo quando o exequente for o próprio arrematante,

195
hipótese em que não estará obrigado a exibir o preço, exceto se superior ao valor de
seu crédito, devendo, neste caso, depositar a diferença em juízo, no prazo de três
dias, sob pena de tornar sem efeito a arrematação e, realizar-se novo leilão à sua
custa. (art. 892 §1º, CPC).
A legislação prevê a possibilidade da aquisição do bem penhorado através de
pagamento parcelado, devendo seguir o rito do art. 895, do CPC, mas, a proposta
de pagamento à vista sempre prevalecerá sobre a proposta de pagamento
parcelado.
Efetivada a arrematação será lavrado auto devidamente assinado pelo
leiloeiro, arrematante e juiz, passando a fluir o prazo de dez dias para que se postule
a invalidade, ineficácia ou resolução da arrematação nos casos previstos no art.903,
§1º, do CPC. Não havendo impugnação no prazo de dez dias, a carta de
arrematação será expedida e conforme o caso, a ordem de entrega ou mandado de
imissão na posse.
Após a expedição da carta de arrematação, a invalidação somente poderá ser
postulada em ação própria, na qual o arrematante figurará como litisconsorte
necessário (GONÇALVES, 2016, p.787).
Por fim, as situações que permitem a desistência da arrematação pelo
arrematante estão previstas no art. 903, §5º, do CPC.
A apropriação de frutos e rendimentos de bens móveis ou imóveis também é
meio expropriatório de bens e vem regulado nos arts. 867 a 869, do CPC. Neste
caso, após o deferimento da penhora, o juiz nomeará administrador/depositário, que
será investido de todos os poderes que concernem à administração do bem e a
fruição de seus frutos e utilidades, perdendo o executado o direito de gozo do bem
até que o exequente seja pago do principal, custas, honorários e juros.

36.2.1 Processo de execução para entrega de coisa certa


O processo de execução para entrega de coisa certa fundada em título
executivo extrajudicial está previsto nos arts. 806 e ss do CPC. Tratando-se de
cumprimento de sentença deve-se observar o art. 513, caput, e art. 538 do CPC.

196
Gonçalves conceitua a coisa certa: “A "coisa certa" a que alude a lei é a
individualizada, determinada, no momento da propositura da execução; distingue-se
da "coisa incerta", que não está determinada, mas é determinável pelo gênero e pela
quantidade” (GONÇALVES, 2016, p.768).
Todas as regras gerais da execução previstas nos arts. 771 a 805 do
CPC são aplicáveis à execução para entrega de coisa certa. Verificar arts. 233
a 242 do CC que podem ser usados para fundamentar a ação.
A petição inicial de uma ação de execução para entrega de coisa certa deverá
ser fundamentada no inadimplemento de um título executivo extrajudicial que
representa uma obrigação líquida, certa e exigível. Da mesma forma que as demais
ações de execuções mencionadas, o título executivo deve instruir a petição inicial
para atender ao previsto no art. 798, I, “a”, do CPC. Verificar, ainda, se o problema
constante no enunciado não exige o cumprimento de mais algum dos requisitos
previstos no art. 798 e 799 do Código de Processo Civil. Atentar ao art. 498 do
Código de Processo Civil.
Após receber a petição inicial, o juiz ordenará a citação do executado para
que no prazo de quinze dias (contagem conforme art. 231 CPC) efetue a entrega da
coisa, fixando os honorários advocatícios devidos caso o devedor efetive o
cumprimento da obrigação. Apesar da citação ter como objetivo a entrega da coisa,
o devedor tem a possibilidade de apresentar Embargos à execução no prazo de 15
dias, na forma dos art. 914 e 915 do CPC. Nos embargos, o embargante poderá
alegar qualquer matéria de defesa, como por exemplo realização de benfeitorias
úteis e necessárias no bem (que lhe confere o direito de retenção, conforme art. 917,
IV).
Em caso de inadimplemento na entrega da coisa será expedido mandado de
imissão na posse ou de busca e apreensão de bens em favor do exequente.
Destaca-se que poderá haver requerimento de fixação de multa astreinte, conforme
previsão do art. 806, §1º, CPC.
Com a citação, o executado poderá: a) entregar a coisa e satisfazer a
execução, conforme previsão do art. 807 do CPC: “Se o executado entregar a coisa,
será lavrado o termo respectivo e considerada satisfeita a obrigação, prosseguindo-

197
se a execução para o pagamento de frutos ou o ressarcimento de prejuízos, se
houver”; b) não entregar a coisa, hipótese em que a ordem de imissão na posse
(imóvel) ou de busca e apreensão (móvel) será cumprida. Se impossível a entrega
da coisa certa poderá haver conversão em perdas e danos (art. 809), e se
alienada a coisa, o mandado será dirigido contra o terceiro (art. 808), passando
a fluir o prazo para oposição de embargos. (GONÇALVES, 2016, p.768).
Nos embargos de execução para entrega de coisa certa, o embargante
poderá alegar qualquer matéria de defesa, como por exemplo realização de
benfeitorias úteis e necessárias no bem (que lhe confere o direito de retenção,
conforme art. 917, IV).

36.3 Processo de execução para entrega de coisa incerta

O art. 243 do Código Civil define o conceito de coisa incerta: “A coisa incerta
será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade”.
A execução para entrega de coisa incerta tem previsão nos arts. 811 a 813 do
CPC, aplicando-se também as regras gerais da execução (arts. 771 a 805) e no que
couber, as regras da execução para entrega de coisa certa.
O executado será citado para entregar a coisa individualizada, se couber a ele
a escolha, nos termos do art. 811 do CPC. Cabendo individualização da coisa ao
exequente, este deverá indica-la na petição inicial.

Art. 811. Quando a execução recair sobre coisa determinada pelo gênero e pela
quantidade, o executado será citado para entregá-la individualizada, se lhe couber
a escolha.
Parágrafo único. Se a escolha couber ao exequente, esse deverá indicá-la na
petição inicial.
Art. 812. Qualquer das partes poderá, no prazo de 15 (quinze) dias, impugnar a
escolha feita pela outra, e o juiz decidirá de plano ou, se necessário, ouvindo
perito de sua nomeação.
Art. 813. Aplicar-se-ão à execução para entrega de coisa incerta, no que couber,
as disposições da Seção I deste Capítulo.

36.4 Processo de execução de obrigação de fazer e não fazer

198
As obrigações de fazer e não fazer vêm reguladas nos arts. 814 ao 823 do
CPC e também podem ser fundamentadas nos arts. 247 a 251 do CC. São aquelas
em que o devedor se compromete na realização de determinada prestação.
A petição inicial de uma ação de execução de uma obrigação de fazer ou não
fazer é fundamentada no inadimplemento de um título executivo extrajudicial que
representa uma obrigação líquida, certa e exigível. Da mesma forma que as demais
ações de execuções mencionadas, o título executivo deve instruir a petição inicial
para atender ao previsto no art. 798, I, “a”, do CPC. Verificar, ainda, se o problema
constante no enunciado não exige o cumprimento de mais algum dos requisitos
previstos no art. 798 e 799 do Código de Processo Civil.
No caso da obrigação de fazer, o executado será citado para satisfazer a
obrigação no prazo determinado pelo magistrado, se outro não estiver determinado
no título executivo, na forma do art. 815 do CPC. No tocante a obrigação de não
fazer, o pedido de citação será no sentido de que o executado desfaça o ato cuja
abstenção estava obrigado, na forma do art. 822 do CPC.
Citado, se o executado deixar de cumprir a obrigação, será necessário
analisar se trata-se de uma obrigação fungível ou infungível.
As obrigações de fazer fungíveis são aquelas que podem ser prestadas por
pessoas diversas do devedor (não são personalíssimas) correndo os custos às
expensas do executado, conforme previsão dos arts. 816 e 817 do CPC.
As obrigações de fazer infungíveis são aquelas que, em razão das qualidades
pessoais do devedor, somente podem ser prestadas por ele (são personalíssimas).
Sendo infungível a obrigação, não poderá ser prestada por terceiros e em caso de
impossibilidade de adimplemento deverá ser convertida em perdas e danos.
Já nas obrigações de não fazer, o juiz determinará a citação do devedor para
que se abstenha de fazer determinada conduta, sob pena de multa. Se o exequente
requerer e for cabível, o juiz deferirá o desfazimento da coisa por terceiro (a
expensas do devedor). Não sendo possível o adimplemento da obrigação de não
fazer, poderá ser convertida em perdas e danos.
Utilizar, ainda, na fundamentação da peça, o art. 497 do CPC.

199
36.5 Execução contra fazenda pública

A execução contra fazenda pública fundada em título extrajudicial está


regulada no art. 910, do CPC, que determina sua citação para opor embargos à
execução em trinta dias.

Não havendo interposição de embargos ou rejeitados em decisão transitada


em julgado, será expedido precatório ou requisição de pequeno valor em favor do
exequente, observado o disposto no art. 100 da C.F. Destaca-se que não cabe
expropriação de bens contra a Fazenda Pública.
Nos embargos apresentados pela Fazenda Pública poderá ser alegado
qualquer matéria que lhe seja licito deduzir.

36.6 Execução de alimentos

A execução por quantia certa contra o devedor de alimentos fundada em


título executivo extrajudicial vem regulado a partir do art. 911 do CPC, mas se será
devidamente tratada nas aulas de Direito de Família.

37 FRAUDE A EXECUÇÃO E FRAUDE CONTRA CREDORES

Tanto a fraude contra execução quanto a fraude contra credores visam atacar
o desfazimento do patrimônio pelo devedor, contudo, o que as diferencia é o
momento em que ocorre a alienação dos bens.
A FRAUDE CONTRA CREDORES é um defeito do negócio jurídico previsto
no art. 158 a 165 do Código Civil. Ocorre fraude contra credores quando o devedor

200
se desfaz do seu patrimônio antes de iniciado o processo judicial (que não precisa
ser necessariamente uma ação de execução) ficando totalmente insolvente para
adimplir as obrigações assumidas. Para atacar a fraude contra credores é possível
valer-se da AÇÃO PAULIANA ou AÇÃO REVOCATÓRIA com o objetivo de anular
o negócio jurídico viciado pela fraude. Deve-se provar na ação o consilium fraudis,
ou seja, que o devedor e o terceiro adquirente de seus bens tinham o objetivo de
fraudar o adimplemento do débito. Observa-se, ainda, que a ação deve conter o
pedido de nulidade da transferência dos bens.
Por sua vez, a FRAUDE CONTRA EXECUÇÃO atenta contra o credor e
contra o Poder Judiciário, já que a alienação dos bens ocorre somente após a
ciência da ação de execução. O pedido de reconhecimento de fraude contra a
execução poderá ser feito através de PETIÇÃO e seu reconhecimento poderá
ocorrer nos próprios autos da ação de execução. ATENÇÃO: Antes de declarar a
fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser poderá
opor EMBARGOS DE TERCEIRO, no prazo de 15 dias, conforme art. 792, §4º, do
CPC.
As hipóteses de fraude à execução estão previstas no art. 792 do CPC, que
dispõe:
Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à
execução:
I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com
pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido
averbada no respectivo registro público, se houver;
II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do
processo de execução, na forma do art. 828;
III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou
outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a
fraude;
IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o
devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência;
V - nos demais casos expressos em lei.
§ 1o A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente.
§ 2o No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro
adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a
aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no
domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem.
§ 3o Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à
execução verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se
pretende desconsiderar.
§ 4o Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro
adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de
15 (quinze) dias.

201
O art. 828 do CPC foi editado diante da possibilidade do devedor se desfazer
de seus bens no período entre o protocolo da inicial e a citação do devedor.

Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida
pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de
averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a
penhora, arresto ou indisponibilidade.
§ 1o No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá
comunicar ao juízo as averbações efetivadas.
§ 2o Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da
dívida, o exequente providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o
cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados.
§ 3o O juiz determinará o cancelamento das averbações, de ofício ou a
requerimento, caso o exequente não o faça no prazo.
§ 4o Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens
efetuada após a averbação.
§ 5o O exequente que promover averbação manifestamente indevida ou não
cancelar as averbações nos termos do § 2o indenizará a parte contrária,
processando-se o incidente em autos apartados.

O art. 828 permite que o exequente obtenha certidão comprobatória da


admissão da execução a fim de averbar no registro de imóveis, de veículos ou
de outros bens passiveis de penhora. Após a averbação, é considerado frade à
execução à alienação do bem gravado. (GONÇALVES, 2015, p. 748). O §1º do art.
828 determina a necessidade de comunicação ao juízo, no prazo de dez dias, da
averbação. O §2º prevê o prazo de dez dias para que haja levantamento das
averbações excedentes, após a penhora dos bens suficientes para garantir a
execução.

202
Por fim, o art. 828 § 5º observou que aquele que promover a averbação
manifestamente indevida ou não cancelar as averbações no prazo previsto no §2º
(dez dias), indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos
apartados.
Ainda, no que tange a fraude contra execução, fica caracterizada a má-fé do
terceiro adquirente somente após o registro da penhora, que, no entanto, poderá
retroagir à data em que foi averbada a certidão prevista no art. 828, conforme
previsão da súmula 375 do STJ: “O reconhecimento da fraude à execução depende
do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro
adquirente”. (Gonçalves, 2015, p. 748).
O art. 792 §4º do CPC determina a intimação do terceiro adquirente antes da
declaração de fraude à execução, para, querendo, opor embargos de terceiro, no
prazo de quinze dias. Em sua defesa o terceiro deverá demonstrar que a aquisição
do bem não foi fraudulenta.
No caso da fraude contra credores, o art. 178, II do CC prevê o prazo
decadencial de 4 anos para anulação do negócio jurídico.

38 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

O cumprimento de sentença é utilizado quando o credor tem um título


executivo judicial (conferir o rol de títulos executivos judiciais no art. 515, CPC).
Para que seja iniciado o cumprimento de sentença é necessário a presença
de três requisitos: a) o título executivo judicial; b) inadimplemento do devedor; c)
iniciativa do exequente (513, §1º, do CPC).
É possível fazer o cumprimento de sentença de decisões interlocutórias
(exemplo: fixação liminar de alimentos), cumprimento de sentença provisório
(quando a decisão exigida ainda pode ser modificada) e, ainda, cumprimento de
sentença definitivo (sentença já transitada em julgado).
No requerimento para cumprimento de sentença que ocorrer após um ano do
trânsito em julgado, a intimação deverá ser feita na pessoa do devedor através de

203
carta com aviso de recebimento, encaminhada no endereço constante nos autos,
observado o art. 274, parágrafo único e o art. 513, §3, §4 do CPC.
Nos casos em que a relação jurídica esteja sujeita a condição ou termo, o
cumprimento da sentença ficará condicionado à demonstração de que se realizou a
condição ou de que ocorreu o termo (art. 514 do CPC).

38.1 Cumprimento de sentença: obrigação de fazer, não fazer e entrega de


coisa certa

O cumprimento de sentença é a execução de um título executivo judicial


referente à condenação em uma obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa
certa.
No caso das obrigações de fazer e não fazer, o art. 497, do CPC, determina
que ao proferir a sentença de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz deverá fixar
tutela específica a fim de assegurar a obtenção da tutela pelo resultado prático
equivalente. No caso da obrigação de entrega de coisa certa, não cumprida a
obrigação de entregar a coisa no prazo estabelecido na sentença, o art. 538 do CPC
autoriza a expedição de mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em
favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel.

38.2 Cumprimento de sentença de quantia certa

O art. 523 §1º dispõe que: “Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo
do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de
honorários de advogado de dez por cento.” Em caso de pagamento parcial do
débito, devemos aplicar o §2º, que dispõe: “Efetuado o pagamento parcial no prazo
previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1o incidirão sobre o
restante”.
Para que o cumprimento de sentença seja iniciado é necessária a
manifestação do credor, através de petição nos mesmos autos, requerendo a
intimação do devedor para que efetue o pagamento do débito no prazo de quinze

204
dias. Juntamente com o requerimento deverá ser apresentado a memória de cálculo
atualizado do débito (conforme os requisitos do art. 524) e a indicação dos bens
passiveis de penhora (conforme enunciado).

Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com


demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição
conter:
I - o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas
ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do executado,
observado o disposto no art. 319, §§ 1o a 3o;
II - o índice de correção monetária adotado;
III - os juros aplicados e as respectivas taxas;
IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária
utilizados;
V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
VI - especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados;
VII - indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível.

38.3 Cumprimento de sentença de quantia certa contra fazenda pública

Constituído o título judicial contra a Fazenda Pública, o cumprimento de


sentença deve constar cálculo discriminado do valor do débito de acordo com os
requisitos previstos no art. 534, do CPC.
A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por
carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de trinta dias e nos
próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir as matérias elencadas nos
incisos do art. 535, do CPC.
Se a Fazenda Pública não apresentar impugnação, será expedido o
precatório ou requisição de pequeno valor. Os precatórios referentes à créditos
alimentares terão preferência sobre os demais, conforme súmula n.º 144 do STJ:
“Os créditos de natureza alimentícia gozam de preferência, desvinculados os
precatórios da ordem cronológica dos créditos de natureza diversa”.
A requisição de pequeno valor (RPV) contra a Fazenda Pública da União
abrange as obrigações de até 60 salários mínimos, conforme art. 17, §1º da Lei n.º
10.259/2001. No caso de execução contra Fazenda Pública Municipal e Estadual, o
valor do RPV varia de acordo com a legislação editada por cada ente federado.
Enquanto os entes federados não editem a lei regulando o valor do RPV, será

205
considerado como tal a obrigação até 30 salários mínimos no caso da Fazenda
Municipal e de até 40 salários mínimos no caso das Fazendas Estaduais e Federais
(GONÇALVES, 2016, p.816).
Na obrigação limitada aos valores do RPV, haverá intimação da Fazenda
Pública para, no prazo de 30 dias, opor impugnação, não opondo o juiz emitirá a
requisição de pagamento, que deverá ser cumprida pela Fazenda Pública no prazo
de dois meses, sob pena de sequestro de bens (Lei n. 10.259/2001, art. 17).

38.4 Cumprimento de sentença de prestação de alimentos

O cumprimento de sentença de prestação de alimentos está regulado a partir


dos arts. 528 do CPC e será tratado na matéria de Direito de Família.

PROTESTO DA DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO E


39
NEGATIVAÇÃO DO NOME DO DEVEDOR
A possibilidade de protesto da decisão judicial transitada em julgado está
prevista no art. 517 do CPC:

Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a


protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento
voluntário previsto no art. 523.
§ 1o Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de
teor da decisão.
§ 2o A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três)
dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do executado, o
número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para
pagamento voluntário.
§ 3o O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a
decisão exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua
responsabilidade, a anotação da propositura da ação à margem do título
protestado.
§ 4o A requerimento do executado, o protesto será cancelado por
determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo
de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que
comprovada a satisfação integral da obrigação.

206
O procedimento para efetivar o protesto é simples: o exequente deve
apresentar certidão com o teor da decisão judicial, comprovar o trânsito em julgado e
o transcurso do prazo de pagamento voluntário (art. 523 CPC).
A certidão deverá conter o nome do exequente e do executado e a
qualificação de ambos, o número do processo judicial, valor da dívida e o decurso do
prazo do pagamento voluntário. Caso o executado efetue o adimplemento da
obrigação de modo integral, poderá requerer ao juiz que, no prazo de três dias,
expeça oficio ao tabelionato, ordenando o cancelamento do protesto, ou ainda, caso
ingresse com ação rescisória da decisão, poderá requerer tal anotação à margem do
título protestado (GONÇALVES, 2016, p. 800).
Além do protesto, o CPC prevê a possibilidade da negativação do nome do
executado no cadastro dos inadimplentes até que efetive o pagamento do valor
devido, garanta o cumprimento de sentença ou até que o processo seja extinto por
outro motivo, conforme art. 782, §3º, do CPC. (BARROSO; LETTIÈRE, 2016, p.169).

Art. 782. Não dispondo a lei de modo diverso, o juiz determinará os atos
executivos, e o oficial de justiça os cumprirá.
§ 3o A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do
nome do executado em cadastros de inadimplentes.

40 A HIPOTECA JUDICIÁRIA

A hipoteca judiciária, após seu registro, visa garantir ao credor hipotecário o


direito de preferência sobre o produto da excussão do bem gravado e tem previsão
no art. 495 do CPC (GONÇALVES, 2016, p.539).

Art. 495. A decisão que condenar o réu ao pagamento de prestação


consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de
fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como
título constitutivo de hipoteca judiciária.

207
Em síntese, a hipoteca judiciária é um direito real de garantia em que o bem
do devedor fica vinculado ao cumprimento de determinada obrigação em caso de
inadimplemento, a fim de assegurar o crédito do credor.

41 SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DAS EXECUÇÕES

41.1 Suspensão das execuções

A suspensão da execução vem regulada nos arts. 921 a 923 do CPC:

Art. 921. Suspende-se a execução:


I - nas hipóteses dos arts. 313 e 315, no que couber;
II - no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os
embargos à execução;
III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;
IV - se a alienação dos bens penhorados não se realizar por falta de
licitantes e o exequente, em 15 (quinze) dias, não requerer a adjudicação
nem indicar outros bens penhoráveis;
V - quando concedido o parcelamento de que trata o art. 916.
§ 1o Na hipótese do inciso III, o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1
(um) ano, durante o qual se suspenderá a prescrição.
§ 2o Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o
executado ou que sejam encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o
arquivamento dos autos.
§ 3o Os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução se a
qualquer tempo forem encontrados bens penhoráveis.
§ 4o Decorrido o prazo de que trata o § 1o sem manifestação do exequente,
começa a correr o prazo de prescrição intercorrente.
§ 5o O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias,
poderá, de ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4o e extinguir o
processo.

208
EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS: No caso de concessão de efeito
suspensivo aos embargos à execução ou a impugnação, a execução ficará
suspensa, no todo ou em parte, até o julgamento dos embargos/impugnação ou
revogação do efeito concedido.
INEXISTÊNCA DE BENS DO DEVEDOR: A hipótese mais frequente de
suspensão da execução é a inexistência de bens do devedor. Neste caso, a
execução ficará suspensa pelo prazo de um ano, consoante art. 921 §1º. Decorrido
o prazo de um ano sem localização de bens passiveis de penhora, o juiz
determinará o arquivamento dos autos (§2º), nada impedindo seu posterior
desarquivamento se a qualquer tempo forem encontrados bens penhoráveis (§3º).
PARCELAMENTO DO DÉBITO: Com o parcelamento do débito (previsto no
art. 916 CPC) a execução também deve ser suspensa até o adimplemento das
parcelas.
O art. 923 do CPC dispõe que não serão praticados atos processuais
enquanto estiver suspensa a execução, podendo o juiz, entretanto, ordenar
providências urgentes, salvo nos caso de arguição de impedimento ou suspeição.

41.2 Extinção das execuções

Os motivos que levam a extinção da execução estão previstos no art. 924 do


CPC, o rol apresentado é exemplificativo, já que existem outras formas que
acarretam na extinção da execução, como por exemplo, o acolhimento dos
embargos.

Art. 924. Extingue-se a execução quando:


I - a petição inicial for indeferida;
II - a obrigação for satisfeita;
III - o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da dívida;
IV - o exequente renunciar ao crédito;
V - ocorrer a prescrição intercorrente.
Art. 925. A extinção só produz efeito quando declarada por sentença.

O art. 925 determina a necessidade de sentença para que a extinção da


execução produza efeitos.

209
42 DEFESA DO EXECUTADO

42.1 Defesa do executado

A defesa do executado é apresentada através de uma ação de conhecimento,


visto que dentro da ação de execução não há defesa. ATENÇÃO: Se a execução se
fundar em um título executivo extrajudicial, a forma de defesa do executado é a
apresentação de EMBARGOS À EXECUÇÃO. Tratando-se de um título executivo
judicial, a forma de defesa é IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.

42.2 Embargos à execução

A propositura de embargos à execução é o meio adequado para defesa do


executado na ação de execução fundada em título executivo extrajudicial.
Trata-se de uma ação autônoma, mas vinculada à execução (deve ser
proposta no juízo da execução e a distribuição deve ser por dependência com
tramitação em autos apartados), tem natureza de processo de conhecimento e se
presta para desconstituir ou declarar a nulidade ou inexistência do crédito. Sua
previsão legal está contida no art. 914 e seguintes do CPC.

Art. 914. O executado, independentemente de penhora, depósito ou


caução, poderá se opor à execução por meio de embargos.
§ 1o Os embargos à execução serão distribuídos por dependência, autuados
em apartado e instruídos com cópias das peças processuais relevantes, que
poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua
responsabilidade pessoal.
§ 2o Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo
deprecante ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do
juízo deprecante, salvo se versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da
penhora, da avaliação ou da alienação dos bens efetuadas no juízo
deprecado.

Conforme o art. 914§2º, no caso de execução por carta, os embargos


poderão ser propostos tanto no juízo deprecante quanto no deprecado, mas a
competência para julga-los será a do deprecante, exceto se os embargos versarem

210
unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, avaliação ou alienação dos bens
efetuados no juízo deprecado.
Importante destacar que o caput do art. 914 previu a possibilidade da
interposição dos embargos independentemente de penhora, depósito ou caução.
Nesse caso, prazo de embargos fluirá a partir do momento da citação, observado as
regras pertinentes constantes no art. 231 do CPC.
O PRAZO para apresentação dos embargos é de quinze dias, conforme
preceitua o art. 915 do CPC e observado o art. 231 do CPC que fixa as regras para
a contagem do prazo.
Deve-se destacar que o comparecimento espontâneo do executado supre a
falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação
dos embargos à execução, conforme art. 239, §1º, do CPC.

Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou


do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial
ou de improcedência liminar do pedido.
§ 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou
a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação
de contestação ou de embargos à execução.

Gonçalves destaca que devido à natureza de ação autônoma, não se aplica


aos embargos à execução o prazo em dobro para litisconsortes com advogados
distintos, de escritórios diferentes, previsto no art. 229 do CPC, não se aplicando
também o art. 231, §1 º, do CPC:

“Não se aplica ao prazo dos embargos o art. 229 do CPC. Ele não se
modifica se houver litisconsortes com advogados diferentes, de escritórios
distintos, porque os embargos são nova ação, e não incidente da execução.
Também não se aplica o art. 231, § 1°, do CPC: havendo mais de um
executado, o prazo correrá para cada qual independentemente,
conforme forem sendo citados e o comprovante da citação for sendo
juntado aos autos. Para que o prazo tenha início, não é necessário que
todos os executados já tenham sido citados. O prazo para cada um será
autônomo. Há, no entanto, uma exceção a essa regra: se os executados
litisconsortes forem cônjuges ou companheiros, o prazo de embargos
contar-se-á da juntada aos autos do último comprovante de citação
(art. 915, § 1°, do CPC)”. (GONÇALVES, 2016, p. 789/790).

Caso o executado reconheça o crédito do exequente no prazo dos embargos


e comprove o depósito de 30% do valor da execução (acrescido de custas e

211
honorários), poderá requerer o PARCELAMENTO do restante em até 6 parcelas
mensais, acrescidas de correção monetária e juros de um por cento por mês (art.
916 CPC). Com o deferimento do pedido de parcelamento, a execução ficará
suspensa até a quitação integral do débito.

Importante destacar que o credor não poderá opor-se ao parcelamento, pois


se trata de um direito que a lei confere ao devedor, mas será intimado (art. 916 §1º)
para manifestar-se em 5 dias sobre o preenchimento dos pressupostos. Caso o
devedor não tenha observado os requisitos do art. 916, poderá o credor manifestar-
se negativamente acerca do parcelamento do débito.

Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e


comprovando o depósito de trinta por cento do valor em execução,
acrescido de custas e de honorários de advogado, o executado poderá
requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas
mensais, acrescidas de correção monetária e de juros de um por cento ao
mês.
§ 1o O exequente será intimado para manifestar-se sobre o preenchimento
dos pressupostos do caput, e o juiz decidirá o requerimento em 5 (cinco)
dias.
§ 2o Enquanto não apreciado o requerimento, o executado terá de depositar
as parcelas vincendas, facultado ao exequente seu levantamento.
§ 3o Deferida a proposta, o exequente levantará a quantia depositada, e
serão suspensos os atos executivos.
§ 4o Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o
depósito, que será convertido em penhora.
§ 5o O não pagamento de qualquer das prestações acarretará
cumulativamente:
I - o vencimento das prestações subsequentes e o prosseguimento do
processo, com o imediato reinício dos atos executivos;
II - a imposição ao executado de multa de dez por cento sobre o valor das
prestações não pagas.
§ 6o A opção pelo parcelamento de que trata este artigo importa renúncia ao
direito de opor embargos
§ 7o O disposto neste artigo não se aplica ao cumprimento da sentença.

O inadimplemento de qualquer das prestações do parcelamento acarretará no


vencimento antecipado das prestações subsequentes e no prosseguimento do

212
processo com o imediato reinicio dos atos executivos, além de multa de 10% sobre o
valor das prestações não pagas.

O art. 917 do CPC prevê as TESES DE DEFESA que o executado poderá


alegar nos embargos. A Fazenda Pública, além das teses previstas no art. 917 do
CPC, poderá alegar as teses elencadas no art. 910, §2º, do CPC.

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:


I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
II - penhora incorreta ou avaliação errônea;
III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução
para entrega de coisa certa;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em
processo de conhecimento. (...)

Quando o fundamento dos embargos for o excesso da execução (art. 917, III,
CPC), o embargante deverá, OBRIGATORIAMENTE, informar o valor que entende
devido e acostar aos autos cálculo discriminado, conforme art. 917, §3º, do CPC,
sob pena de rejeição liminar (art. 917, §4ª, I, CPC).

A natureza de ação de conhecimento dos embargos à execução, permite,


inclusive, prova pericial ou oral, a fim de que se produza uma sentença de mérito.

42.3 Procedimento dos embargos

PETIÇÃO INICIAL: A petição inicial deve preencher os requisitos previstos no


art. 319 do CPC (requisitos gerais da petição inicial), devendo o embargante postular
a intimação do embargado para apresentar impugnação, querendo.

213
Ainda, deverão ser juntados aos embargos as cópias das peças processuais
relevantes do processo de execução, que poderão ser autenticadas pelo próprio
advogado, além do instrumento de procuração. Poderão ser juntados documentos
complementares comprobatórios das alegações apresentadas (atenção para o
enunciado a fim de evitar identificação de peças).

Art. 319. A petição inicial indicará:


I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a
profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e
a residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos
alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou
de mediação.
§ 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o
autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua
obtenção.
§ 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de
informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu.
§ 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto
no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível
ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.

Sobre o valor da causa, Gonçalves ensina:

“Deve, ainda, indicar o valor da causa, que corresponderá ao benefício


econômico que se pretende auferir com os embargos e que nem sempre
coincidirá com o valor da execução. Pode ocorrer, por exemplo, que o
devedor impugne apenas uma parte do débito, caso em que os embargos
terão o valor apenas do montante controvertido” (GONÇALVES, 2016,
p.792).

EFEITOS: O art. 919 do CPC aponta que, em regra, os embargos à execução


não terão efeito suspensivo, ou seja, a execução poderá prosseguir normalmente.

214
Contudo, como exceção, o juiz poderá atribuir o efeito suspensivo, a requerimento
do embargante, quando verificados os requisitos para concessão da tutela provisória
e desde que a execução esteja garantida por penhora, depósito ou caução
suficiente. A decisão que determinar o efeito suspensivo dos embargos poderá ser
modificada ou revogada a qualquer tempo, desde que haja requerimento da parte,
circunstâncias que determinem a modificação dos efeitos e decisão fundamentada.
Conforme art. 1.015, X, do CPC, da decisão que defere ou indefere o efeito
suspensivo, cabe agravo de instrumento. Caso os embargos sejam parciais e o
juiz conceda o efeito suspensivo, a execução poderá prosseguir no tocante a parte
incontroversa. Sendo vários devedores, o efeito suspensivo concedido aos
embargos oferecidos por um dos executados não se aproveita aos demais quando o
fundamento versar exclusivamente ao embargante, mas tratando-se de fundamento
que seja comum, o efeito suspensivo poderá ser estendido.

Por fim, cabe destacar que o efeito suspensivo não obstará a efetivação dos
atos de substituição, reforço ou redução da penhora e avaliação dos bens (919, §5º).

Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.


§ 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo
aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão da tutela
provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito
ou caução suficientes.
§ 2o Cessando as circunstâncias que a motivaram, a decisão relativa aos
efeitos dos embargos poderá, a requerimento da parte, ser modificada ou
revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada.
§ 3o Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito
apenas a parte do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à parte
restante.
§ 4o A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos
executados não suspenderá a execução contra os que não embargaram
quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao
embargante.

215
§ 5o A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos
de substituição, de reforço ou de redução da penhora e de avaliação dos
bens.

Gonçalves afirma que concedido o efeito suspensivo e julgados


improcedentes os embargos, a execução poderá prosseguir ainda que haja
apelação, uma vez que esta não tem efeito suspensivo (GONÇALVES, 2016, p.793).
INDEFERIMENTO LIMINAR DOS EMBARGOS: O art. 918 elenca as
situações de indeferimento liminar dos embargos:

Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os embargos:


I - quando intempestivos;
II - nos casos de indeferimento da petição inicial e de improcedência liminar
do pedido;
III - manifestamente protelatórios.
Parágrafo único. Considera-se conduta atentatória à dignidade da justiça o
oferecimento de embargos manifestamente protelatórios.

EMBARGOS PROTELATÓRIOS: O juiz rejeitará liminarmente os embargos


quando forem manifestamente protelatórios, na forma do art. 918, III, do Código de
Processo Civil. Embargos protelatórios são aqueles cujo único objetivo a
procrastinação do processo, configurando, inclusive, ato atentatório a dignidade da
justiça.
EMENDA: Se houver algum vício sanável na petição inicial dos embargos, o
juiz poderá determinar a emenda no prazo de 15 dias.
IMPUGNAÇÃO: Conforme art. 920, I, recebidos os embargos, o exequente
será intimado para impugnar em 15 dias. Conforme Gonçalves, havendo mais de um
embargado, sendo os advogados de escritórios distintos e tratando-se de processo
físico, o prazo de impugnação será contado em dobro (aplicação do art. 229 CPC).
Novamente destaca-se que o prazo para opor embargos é simples, pois trata-se de
ação autônoma (Gonçalves, 2015, p. 794).
A falta de impugnação aos embargos acarreta na revelia do embargado
(credor) e serão presumidos verdadeiros os fatos alegados na inicial, desde que as
alegações não sejam contrarias àquilo que consta no título executivo, já que este
goza de certeza, liquidez e exigibilidade.

216
Apresentada a impugnação, o rito será da ação de conhecimento. Em caso de
julgamento improcedente dos embargos, a execução terá seguimento, tendo em
vista que o recurso de apelação, em regra, não tem efeito suspensivo. Já o
julgamento procedente dos embargos poderá acarretar na extinção da execução,
modificação do valor executado ou desconstituição de algum ato processual.
(Gonçalves, 2016, p. 795).

42.4 Impugnação ao cumprimento de sentença

A impugnação é o meio adequado de defesa do devedor no cumprimento de


sentença (título executivo judicial), tratando-se de incidente da fase de cumprimento
de sentença, julgado por intermédio de decisão interlocutória.
Existe uma única hipótese em que a impugnação será ação incidental:
quando versar sobre declaração de inexistência ou extinção do título (art. 525, VII)
(GONÇALVES, 2016, p.802).
O prazo para apresentação de impugnação ao cumprimento de sentença é de
15 dias após o decurso do prazo para pagamento voluntário, independentemente de
penhora ou nova intimação, conforme art. 525 do CPC:

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento


voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado,
independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios
autos, sua impugnação.

PRAZO EM DOBRO: O prazo em dobro previsto no art. 229 do Código de


Processo Civil aplica-se ao prazo de impugnação, mas não é aplicável ao prazo de
embargos (GONÇALVES, 2016, p. 803).

217
GARANTIA DO JUÍZO: O cumprimento de sentença não necessita de prévia
garantia do juízo, na forma do art. 525 do Código de Processo Civil.
EFEITO: Como regra, a impugnação do cumprimento de sentença não tem
efeito suspensivo, contudo, o juiz poderá concedê-lo conforme os mesmos requisitos
dos embargos (requerimento do impugnante; garantia do juízo; fundamentação
relevante; possibilidade de dano grave de difícil ou incerta reparação).
MATÉRIAS DE DEFESA: Na impugnação ao cumprimento de sentença
existem limitações quanto as matérias de defesa, que estão previstas no art. 525,
§1º, do CPC:

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento


voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado,
independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios
autos, sua impugnação.
§ 1o Na impugnação, o executado poderá alegar:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo
correu à revelia;
II - ilegitimidade de parte;
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV - penhora incorreta ou avaliação errônea;
V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como
pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que
supervenientes à sentença.

Quando a impugnação versar sobre excesso da execução, deve-se observar


o art. 525, §4º do CPC, que determina a necessidade do executado declarar de
imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e
atualizado de seu cálculo, sob pena de rejeição liminar.

Se o executado não cumprir a determinação e o excesso de execução for o


único fundamento da impugnação, ela será rejeitada liminarmente. Se
houver outros fundamentos, a impugnação será recebida, mas a alegação
de excesso de execução não será examinada. (GONÇALVES, 2016, p.
806).

Destaca-se que todos os meios de prova são admitidos na impugnação ao


cumprimento de sentença, inclusive prova pericial e, havendo necessidade,
audiência de instrução e julgamento.

218
42.4.1 Procedimento da impugnação ao cumprimento de sentença

A impugnação ao cumprimento de sentença ocorre por intermédio de petição


direcionada ao juízo da execução, devendo seu mérito basear-se de acordo com os
fundamentos do art. 525, §1º, do CPC. Além disso, caso o impugnante deseje,
deverá formular o pedido do efeito suspensivo. No caso da impugnação do
cumprimento de sentença, por se tratar de incidente processual, não há necessidade
de recolhimento de custas processuais.
Caso a impugnação esteja de acordo com os requisitos legais, o juiz a
receberá e determinará a intimação do impugnado (exequente) para apresentar sua
resposta no prazo de quinze dias.
Estando o processo maduro para julgamento, assim o juiz procederá, caso
contrário, determinará a realização das provas necessárias. Destaca-se que a regra
é o julgamento do incidente através de decisão interlocutória (recurso adequado:
agravo de instrumento), exceto quando do acolhimento das alegações do
impugnante acarretar em extinção da execução (alegação de prescrição ou
pagamento, por exemplo), hipótese em que a decisão terá caráter de sentença.
(GONÇALVES, 2016, p. 808-809).
No caso de acolhimento da impugnação ao cumprimento de sentença com
extinção da execução, haverá fixação de honorários advocatícios.
Cabe destacar que a impugnação meramente protelatória será considerada
ato atentatório à dignidade da justiça e ensejará na aplicação de multa, conforme art.
918, III, parágrafo único cumulado com art. 774, do CPC.
Os atos supervenientes a impugnação de sentença poderão ser alegados
através de petição nos autos, no prazo de 15 dias a partir da ciência ou intimação do
ato, conforme preceitua o art. 525, § 11 do CPC:

§ 11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo


para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à
validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos
executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição,
tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze)
dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do
fato ou da intimação do ato.

219
42.5 Desistência da ação de execução X Defesa

Se a execução for extinta, os embargos serão extintos? Em caso de


desistência da ação de execução, serão extintas a impugnação e os embargos que
versarem apenas sobre as questões processuais, devendo o exequente adimplir as
custas processuais e honorários advocatícios (art. 775, parágrafo único, I, do CPC).
Neste caso (embargos atacando apenas aspectos processuais) a extinção da
impugnação e dos embargos, independe de concordância do embargante /
impugnante.
Nos demais casos, quando houver a extinção da ação de execução e os
embargos versarem sobre questões de direito material, a extinção dos embargos
dependerá de concordância do embargante/impugnante (art. 775, parágrafo único,
II, do CPC).

43 EXCEÇÕES DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

A exceção de pré-executividade não tem previsão expressa no Código de


Processo Civil. Esse instituto pode ser utilizado quando o executado quiser alegar
circunstâncias que apresentem prova pré-constituída e que podem ser reconhecidas
de imediato pelo magistrado – não há possibilidade de produção de provas.
A alegação de nulidade da execução com fundamento em alguma das causas
previstas no art. 803 do Código de Processo Civil é uma possível tese de exceção
de pré-executividade, assim como a prescrição.
PETIÇÃO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE: A exceção de pré-
executividade é feita através de simples petição a ser juntada nos autos, podendo
o magistrado determinar sua tramitação em apenso, caso a juntada tenda a causar
tumulto no andamento processual.
Proposta a exceção de pré-executividade caberá ao juiz analisar se a matéria
é cabível e, recebendo a petição, determinar a intimação do credor para manifestar-
se; não sendo o caso, porém, indeferirá de plano a petição.

220
EFEITOS: A doutrina majoritária entende que a exceção e objeção de pré-
executividade não têm efeito suspensivo (Gonçalves, 2016, p. 811).
Em regra, a exceção e objeção de pré-executividade são julgadas por decisão
interlocutória, contudo, quando o acolhimento da petição acarretar em extinção da
execução, esta deverá ser declarada por sentença.

DEFESA DO EXECUTADO APÓS A APRESENTAÇÃO DOS


44
EMBARGOS

Em regra, a defesa do executado ocorre através de embargos de terceiros ou


das exceções e objeções de pré-executividade.
Embora não caracterize mecanismo de defesa do devedor, as ações de
conhecimento podem ser utilizadas para, por exemplo, declarar a inexigibilidade de
determinado título, impactando sobre a execução.
É possível que o devedor, por exemplo, perca o prazo de embargos e ajuíze
uma ação de conhecimento visando a desconstituição do título, caso em que se
julgada procedente impactará na ação de execução.
A ação de conhecimento utilizada pelo devedor, em regra, não suspenderá a
execução, isto porque, o art. 784, §1º do CPC dispõe que a propositura de qualquer
ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-
lhe a execução.
A doutrina ressalva que, ajuizada a ação de conhecimento antes da execução
do título ou durante o prazo de embargos, poderá ser atribuído o efeito suspensivo à
execução desde que estejam presentes as mesmas circunstancias que autorizam o
efeito suspensivo nos embargos, de acordo com o art. 919, §1º, do CPC. Não será
concedido o efeito suspensivo se a ação de conhecimento for ajuizada após o
decurso do prazo dos embargos (GONÇALVES, 2016, p.796).
A ação de conhecimento deverá ser reunida à ação de execução quando seu
objeto for a desconstituição ou a declaração de inexigibilidade do débito constante
no título objeto da execução, por força do art. 55, §2º, I, do CPC.

221
Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.
§ 2o Aplica-se o disposto no caput:
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao
mesmo ato jurídico;

Se o devedor opor embargos à execução e estes forem julgados


improcedentes (transitado em julgado), o devedor não poderá ajuizar ação de
conhecimento se os fundamentos forem idênticos aos dos embargos, somente se
existir nova causa de pedir.

222
REFERÊNCIAS

BARROSO, Darlan; Lettière, Juliana Francisca. Prática processual no novo


processo civil. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil03/constituicao/ constituicaocompilado.htm> Acesso em: 24 jun. 2017.

BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário


Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 16 mar. 2016. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso
em: 01 out. 2017.

DIDIER Jr, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual
civil, parte geral, processo de conhecimento. 18. ed. Salvador: Jus Podivm, 2016.

DIDIER Jr, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
direito processual civil: teoria da prova, direito provatório, decisão, precedente, coisa
julgada e tutela provisória. 10. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado.


(Coord.) Pedro Lenza. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

MOTA, André; SOBRAL, Cristiano; FIGUEIREDO, Luciano; FIGUEIREDO,


Roberto; DOURADO, Sabrina. Prática Civil. 3. ed. Recife: Armador, 2016.

Talamini, Eduardo; Wambier, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo


civil: execução. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

TARTUCE, Fernanda; DELLORE, Luiz. Manual de prática civil. 12. ed. São Paulo:
Editora Forense, 2016.

THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria do geral


do Direito Processual Civil, Processo de Conhecimento, Procedimento Comum. vol.
I. 58. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

223
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