Você está na página 1de 379

Direito

Constitucion
al
De acordo com as Emendas Constitucionais 109/2021 e
111/2021

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 1


CONSTITUCIONAL – PARTE II
APRESENTAÇÃO...........................................................................................................................................12
DIREITOS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE.......................................................................................................13
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS.................................................................................................................13
2. DESTINATÁRIOS...................................................................................................................................13
3. DIREITO À VIDA....................................................................................................................................14
PREVISÃO CONSTITUCIONAL E CONSIDERAÇÕES..............................................................14
ÂMBITO DE PROTEÇÃO...............................................................................................................14
INVIOLABILIDADE x IRRENUNCIABILIDADE........................................................................16
RESTRIÇÕES AO DIREITO À VIDA............................................................................................17
3.4.1. Pena de morte no caso de guerra declarada..............................................................................17
3.4.2. Aborto.......................................................................................................................................17
3.4.3. Interrupção da gravidez de feto com anencefalia......................................................................18
3.4.4. Aborto e microcefalia causada pelo Zika Vírus........................................................................19
3.4.5. Pesquisas com células-tronco embrionárias..............................................................................20
4. DIREITO À IGUALDADE......................................................................................................................21
PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES....................................................................................21
EVOLUÇÃO HISTÓRIA.................................................................................................................21
CONCEPÇÃO MATERIAL.............................................................................................................22
ÂMBITO DE PROTEÇÃO E INTERVENÇÃO..............................................................................23
DESTINATÁRIOS DO DEVER DE IGUALDADE.......................................................................25
4.5.1. Igualdade perante a lei..............................................................................................................25
4.5.2. Igualdade na lei.........................................................................................................................25
IGUALDADE COMO RECONHECIMENTO................................................................................26
AÇÕES AFIRMATIVAS.................................................................................................................26
4.7.1. Conceito....................................................................................................................................26
4.7.2. Modalidades ou exemplos de ações afirmativas empregadas em vários países.......................27
4.7.3. Sistemas de cotas......................................................................................................................27
4.7.4. Lei Maria da Penha...................................................................................................................29
5. DIREITO À PRIVACIDADE...................................................................................................................29
PREVISÃO.......................................................................................................................................29

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 2


GRAU DE PROTEÇÃO...................................................................................................................29
5.2.1. Locais públicos e reservados.....................................................................................................29
5.2.2. Pessoas públicas e comuns........................................................................................................29
5.2.3. Fatos de interesse público e de mero interesse público............................................................30
5.2.4. Teoria das Esferas.....................................................................................................................30
5.2.5. Honra.........................................................................................................................................30
5.2.6. Imagem......................................................................................................................................31
DISTINÇÕES CONCEITUAIS........................................................................................................32
5.3.1. Interceptação ambiental............................................................................................................32
5.3.2. Gravação clandestina................................................................................................................32
5.3.3. Quebra de sigilo de dados.........................................................................................................33
5.3.4. Interceptação de comunicações.................................................................................................36
INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO..........................................................................................41
6. DIREITO DE LIBERDADE.....................................................................................................................45
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.........................................................................................................45

LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO...........................................................45


6.2.1. Previsão constitucional.............................................................................................................45
6.2.2. Âmbito de proteção...................................................................................................................45
6.2.3. Restrições..................................................................................................................................47
LIBERDADE DE INFORMAÇÃO..................................................................................................49
6.3.1. Conceito....................................................................................................................................49
6.3.2. Liberdade de informação jornalística........................................................................................49
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO..............................................................50
6.4.1. Conceitos...................................................................................................................................50
6.4.2. Escusa de consciência (art. 5º, VIII).........................................................................................50
6.4.3. Dever de neutralidade do Estado..............................................................................................52
LIBERDADE DE REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO.............................................................................55
6.5.1. Conceito....................................................................................................................................55
6.5.2. Reunião X Associação (diferenças e semelhanças)..................................................................55
6.5.3. Reunião.....................................................................................................................................56
6.5.4. Associação................................................................................................................................57
6.5.5. Sindicato....................................................................................................................................59
7. DIREITO DE PROPRIEDADE................................................................................................................60
ÂMBITO DE PROTEÇÃO...............................................................................................................60
REGIME JURÍDICO DO DIREITO DE PROPRIEDADE.............................................................60
RESTRIÇÕES...................................................................................................................................60
7.3.1. Função social (art. 5º, XXII).....................................................................................................61
7.3.2. Requisição.................................................................................................................................62
7.3.3. Desapropriação (art. 5º, XXIV)................................................................................................62
7.3.4. Expropriação-sanção e Confisco (art. 243, “desapropriação confiscatória”)...........................64
7.3.5. Usucapião..................................................................................................................................65
GARANTIAS INDIVIDUAIS..........................................................................................................................67
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS.................................................................................................................67
2. FINALIDADE...........................................................................................................................................67
3. GARANTIAS RELACIONADAS À SEGURANÇA JURÍDICA...........................................................67
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE......................................................................................................67
3.1.1. Previsão legal............................................................................................................................67
3.1.2. Objetivo.....................................................................................................................................67
3.1.3. Significado................................................................................................................................67

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 3


3.1.4. “Lei”.........................................................................................................................................68
3.1.5. Restrições expressas.................................................................................................................68
3.1.6. Princípio da Reserva Legal.......................................................................................................69
PRINCÍPIO DA NÃO RETROATIVIDADE DAS LEIS................................................................70
3.2.1. Objetivo....................................................................................................................................70
3.2.2. Previsão.....................................................................................................................................70
3.2.3. Abrangência da eficácia retroativa...........................................................................................71
3.2.4. Direito adquirido.......................................................................................................................71
3.2.5. Ato jurídico perfeito.................................................................................................................73
3.2.6. Coisa julgada............................................................................................................................73
4. GARANTIAS DE NATUREZA PENAL................................................................................................74
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.....................................................................................................74
4.1.1. Finalidade.................................................................................................................................74
4.1.2. Disposições normativas............................................................................................................74

4.1.3. Posição do STF.........................................................................................................................75


4.1.4. Presunção de inocência e eliminação de concurso público......................................................78
5. MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE NÃO CRIMINALIZAÇÃO..................................................78
CONCEITO............................................................................................................................................78
CRIMES INAFIANÇÁVEIS E IMPRESCRITÍVEIS.....................................................................79
CRIMES INAFIANÇÁVEIS E INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA.............................79
6. AÇÕES CONSTITUCIONAIS................................................................................................................80
CONSIDERAÇÕES.........................................................................................................................80
HABEAS DATA..............................................................................................................................80
6.2.1. Considerações e previsão..........................................................................................................80
6.2.2. Legitimidade ativa....................................................................................................................81
6.2.3. Legitimidade passiva................................................................................................................81
6.2.4. Objeto.......................................................................................................................................81
6.2.5. Objetivo....................................................................................................................................82
6.2.6. Hipóteses de cabimento............................................................................................................82
6.2.7. Interesse de agir........................................................................................................................83
6.2.8. Decisão liminar.........................................................................................................................83
6.2.9. Decisão de mérito.....................................................................................................................83
AÇÃO POPULAR............................................................................................................................84
6.3.1. Considerações...........................................................................................................................84
6.3.2. Legitimidade ativa....................................................................................................................84
6.3.3. Legitimidade passiva................................................................................................................85
6.3.4. Objeto.......................................................................................................................................86
6.3.5. Objetivo....................................................................................................................................86
6.3.6. Requisitos específicos...............................................................................................................86
6.3.7. Competência.............................................................................................................................87
6.3.8. Decisão liminar.........................................................................................................................88
6.3.9. Decisão de mérito.....................................................................................................................89
DIREITOS SOCIAIS.......................................................................................................................................91
2. FINALIDADE..........................................................................................................................................91
3. EFICÁCIA................................................................................................................................................91
4. INTERVENÇÃO JUDICIAL...................................................................................................................93
PRIMEIRA FASE: AUSÊNCIA DE NORMATIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS
CONSAGRADOS EM NORMAS PROGRAMÁTICAS............................................................................93
SEGUNDA FASE: INTERVENÇÃO ATUANTE DO PODER JUDICIÁRIO, MAS SEM O

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 4


ESTABELECIMENTO DE CRITÉRIOS....................................................................................................93
TERCEIRA FASE: CONSOLIDAÇÃO DE PARÂMETROS........................................................93
ARGUMENTOS CONTRA INTERVENÇÃO JUDICIAL............................................................93
4.4.1. Separação dos poderes/legislador positivo...............................................................................93
4.4.2. Ausência de legitimidade democrática.....................................................................................94
4.4.3. Desenho e capacidades institucionais.......................................................................................94
4.4.4. Acesso restrito ao Poder Judiciário..........................................................................................95
4.4.5. Custo dos direitos e reserva do possível...................................................................................95
PARÂMETROS PARA A JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE (STF)..........95
5. NORMAS CONSTITUCIONAIS PROGRAMÁTICAS ATRIBUTIVAS DE DIREITOS SOCIAIS E
ECONÔMICOS................................................................................................................................................98
6. RESERVA DO POSSÍVEL......................................................................................................................99
CONSIDERAÇÕES INICIAIS........................................................................................................99
DIMENSÕES...................................................................................................................................99
6.2.1. Possibilidade Fática..................................................................................................................99
6.2.2. Possibilidade Jurídica.............................................................................................................100
6.2.3. Razoabilidade da exigência e proporcionalidade da prestação..............................................100
QUEM ALEGA A RESERVA DO POSSÍVEL?..........................................................................101
NÃO APLICAÇÃO.......................................................................................................................101
7. MÍNIMO EXISTENCIAL.....................................................................................................................102
CONCEITO....................................................................................................................................102
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA E O MÍNIMO EXISTENCIAL................................103
RESERVA DO POSSÍVEL X MÍNIMO EXISTENCIAL............................................................103
8. VEDAÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL............................................................................................104
NOMENCLATURAS E CONSIDERAÇÕES INICIAIS..............................................................104
FUNDAMENTOS..........................................................................................................................104
DEFINIÇÃO..................................................................................................................................104
ACEPÇÕES....................................................................................................................................105
DIREITOS DE NACIONALIDADE.............................................................................................................106
NACIONALIDADE PRIMÁRIA OU ORIGINÁRIA...................................................................106
NACIONALIDADE SECUNDÁRIA OU ADQUIRIDA..............................................................107
1.2.1. Naturalização tácita................................................................................................................107
1.2.2. Naturalização expressa...........................................................................................................107
1.2.3. Naturalização especial............................................................................................................108
1.2.4. Naturalização provisória.........................................................................................................109
2. “QUASE NACIONALIDADE”.............................................................................................................109
3. DIFERENÇAS DE TRATAMENTO ENTRE BRASILEIRO NATO E NATURALIZADO..............109
CARGOS PRIVATIVOS...............................................................................................................110
CONSELHO DA REPÚBLICA.....................................................................................................110
PROPRIEDADE DE EMPRESA JORNALÍSTICA E DE RADIODIFUSÃO SONORA...........110
EXTRADIÇÃO..............................................................................................................................111
4. PERDA DA NACIONALIDADE..........................................................................................................115
AÇÃO DE CANCELAMENTO DA NATURALIZAÇÃO..........................................................115
NATURALIZAÇÃO VOLUNTÁRIA...........................................................................................115
DIREITOS POLÍTICOS................................................................................................................................117
2. DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS...................................................................................................117
SUFRÁGIO....................................................................................................................................117
ALISTABILIDADE.......................................................................................................................118
ELEGIBILIDADE..........................................................................................................................120
3. DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS.................................................................................................121

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 5


INELEGIBILIDADES...................................................................................................................121
PERDA E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS..............................................................125
4. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL.............................................................................125
CONCEITO....................................................................................................................................125
FINALIDADE................................................................................................................................125
CLÁUSULA PÉTREA...................................................................................................................126
5. PARTIDOS POLÍTICOS.......................................................................................................................126
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO...................................................................................................................131
FORMAS DE GOVERNO.............................................................................................................131
SISTEMAS DE GOVERNO..........................................................................................................131
FORMAS DE ESTADO................................................................................................................133
2. TIPOS DE FEDERALISMO..................................................................................................................134
QUANTO AO SURGIMENTO.....................................................................................................134

2.1.1. Federalismo por agregação.....................................................................................................134


2.1.2. Federalismo por segregação...................................................................................................134
QUANTO À CONCENTRAÇÃO DE PODER.............................................................................134
2.2.1. Federalismo centrípeto ou centralizador................................................................................134
2.2.2. Federalismo centrífugo...........................................................................................................134
2.2.3. Federalismo de equilíbrio.......................................................................................................135
QUANTO À REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS...................................................................135
2.3.1. Federalismo dualista ou dual..................................................................................................135
2.3.2. Federalismo por integração....................................................................................................135
2.3.3. Federalismo cooperativo........................................................................................................135
QUANTO À HOMOGENEIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS.....................135
2.4.1. Federalismo simétrico ou homogêneo....................................................................................135
2.4.2. Federalismos assimétrico ou heterogêneo..............................................................................136
QUANTO ÀS CARACTERÍSTICAS DOMINANTES................................................................136
2.5.1. Federalismo simétrico............................................................................................................136
2.5.2. Federalismo assimétrico.........................................................................................................136
QUANTO ÀS ESFERAS DE COMPETÊNCIA...........................................................................137
2.6.1. Federalismo típico (bidimensional, bipartite ou de segundo grau)........................................137
2.6.2. Federalismo atípico (tridimensional, tripartite ou de terceiro grau).......................................137
3. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA FEDERAÇÃO....................................................................137
DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA FIXADA PELA CONSTITUIÇÃO
137
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO................................................................................................137
AUTO-ORGANIZAÇÃO POR MEIO DE CONSTITUIÇÕES PRÓPRIAS (PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA)..........................................................................................................................................137
REQUISITOS PARA A MANUTENÇÃO DA FEDERAÇÃO....................................................138
4. SOBERANIA X AUTONOMIA............................................................................................................138
5. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA...................................................................................................139
CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................................139
CRITÉRIOS PARA REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS........................................................139
5.2.1. Campos específicos de competências administrativas e legislativas.....................................139
5.2.2. Possibilidade de delegação.....................................................................................................143
5.2.3. Competências comuns............................................................................................................143
5.2.4. Competências correntes..........................................................................................................144
6. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA...........................................................................147
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL........................................................................................147

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 6


ESTADOS......................................................................................................................................148
6.2.1. Limites à autonomia...............................................................................................................149
6.2.2. Princípios constitucionais sensíveis.......................................................................................149
6.2.3. Princípios constitucionais extensíveis....................................................................................150
6.2.4. Princípios constitucionais estabelecidos................................................................................151
DISTRITO FEDERAL...................................................................................................................151
MUNICÍPIOS.................................................................................................................................152
TERRITÓRIOS..............................................................................................................................156
7. CRIAÇÃO DE ESTADOS E MUNICÍPIOS.........................................................................................156
INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO DE ESTADOS.........................156
7.1.1. Previsão..................................................................................................................................156
7.1.2. Distinções...............................................................................................................................156
7.1.3. Requisitos...............................................................................................................................157
7.1.4. Procedimento..........................................................................................................................158
CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS...........158
7.2.1. Previsão e considerações........................................................................................................158
7.2.2. Requisitos...............................................................................................................................159
8. INTERVENÇÃO....................................................................................................................................160
CONCEITO....................................................................................................................................160
CARACTERÍSTICAS....................................................................................................................160
INTERVENÇÃO FEDERAL.........................................................................................................160
8.3.1. Pressupostos materiais............................................................................................................161
8.3.2. Pressupostos formais..............................................................................................................161
8.3.3. Casuísticas..............................................................................................................................162
8.3.4. Espécies de intervenção..........................................................................................................162
8.3.5. Controle..................................................................................................................................163
INTERVENÇÃO ESTADUAL.....................................................................................................164
8.4.1. Pressupostos materiais............................................................................................................164
8.4.2. Pressupostos formais..............................................................................................................164
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES...............................................................................................................165
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS..............................................................................................................165
2. IMPROPRIEDADE DA EXPRESSÃO TRIPARTIÇÃO DOS PODERES..........................................165
3. FINALIDADE DA SEPARAÇÃO DE PODERES...............................................................................166
LIMITAR O PODER DO ESTADO..............................................................................................166
LEGITIMAR O EXERCÍCIO DO PODER E MELHORAR O DESEMPENHO DO PODER O
ESTADO....................................................................................................................................................166
PODER LEGISLATIVO................................................................................................................................167
1. ATRIBUIÇÕES DO LEGISLATIVO: FISCALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA.
COMISSÕES PARLAMENTARES..............................................................................................................167
FISCALIZAÇÃO PELO LEGISLATIVO.....................................................................................167
CLASSIFICAÇÕES DAS COMISSÕES PARLAMENTARES...................................................167
1.2.1. Quanto à duração da comissão...............................................................................................167
1.2.2. Quanto à composição.............................................................................................................168
2. ESPÉCIES DE COMISSÃO PARLAMENTAR...................................................................................168
COMISSÃO TEMÁTICA OU EM RAZÃO DA MATÉRIA (ART. 58, §2º)..............................168
COMISSÃO REPRESENTATIVA OU DE REPRESENTAÇÃO................................................169
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI).............................................................169
3. ESTUDOS DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI)............................................169
CPI E OS “PODERES PRÓPRIOS DAS AUTORIDADES JUDICIAIS”...................................169

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 7


MANDADO DE SEGURANÇA OU HABEAS CORPUS EM FACE DA CPI...........................170
OBJETIVOS DA CPI.....................................................................................................................170
COMPOSIÇÃO DA CPI................................................................................................................171
SUJEITOS DA INVESTIGAÇÃO PELA CPI..............................................................................171
REQUISITOS PARA A INSTAURAÇÃO DA CPI.....................................................................171
3.6.1. Requerimento de 1/3, no mínimo, dos deputados federais e/ou senadores............................172
3.6.2. Apuração de ato determinado.................................................................................................173
3.6.3. Prazo certo de duração...........................................................................................................173
PODERES DA CPI........................................................................................................................174
3.7.1. Notificar testemunhas e determinar sua condução coercitiva................................................174
3.7.2. Busca e apreensão..................................................................................................................175
3.7.3. Requisitar perícias, exames, vistorias, documentos...............................................................175
3.7.4. Afastar sigilo bancário, fiscal e telefônico (dados), sem necessidade de autorização judicial
175
LIMITES DA CPI..........................................................................................................................176
3.8.1. Cláusula de Reserva de Jurisdição (jurisprudência do STF)..................................................176
3.8.2. Autonomia federativa e separação de poderes.......................................................................177
3.8.3. Direitos e Garantias Individuais.............................................................................................177
3.8.4. Medidas acautelatórias...........................................................................................................177
3.8.5. Acusações...............................................................................................................................178
QUADRO CPI................................................................................................................................178
CPI NO ÂMBITO ESTADUAL....................................................................................................178
3.10.1. Requisitos...............................................................................................................................178
3.10.2. Poderes da CPI estadual.........................................................................................................179
3.10.3. HC e MS.................................................................................................................................179
CPI NO ÂMBITO MUNICIPAL...................................................................................................179
3.11.1. Fundamentos..........................................................................................................................179
3.11.2. Poderes...................................................................................................................................179
3.11.3. HC e MS.................................................................................................................................180
TÉRMINO DOS TRABALHOS DA CPI.....................................................................................180
4. GARANTIAS DO PODER LEGISLATIVO.........................................................................................180
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS...................................................................................................180
SENADORES E DEPUTADOS FEDERAIS................................................................................181
4.2.1. Foro por prerrogativa de função.............................................................................................181
4.2.2. Imunidade material.................................................................................................................183
4.2.3. Imunidade formal...................................................................................................................185
4.2.4. Outras garantias......................................................................................................................188
DEPUTADOS ESTADUAIS E DISTRITAIS...............................................................................188
4.3.1. Previsão legal e considerações...............................................................................................188
4.3.2. Foro por prerrogativa de função.............................................................................................189
IMUNIDADES DOS VEREADORES..........................................................................................190
4.4.1. Foro por prerrogativa de função.............................................................................................190
4.4.2. Imunidade material.................................................................................................................190
4.4.3. Imunidade formal...................................................................................................................191
5. PERDA DE MANDATO.......................................................................................................................191
CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................................191
CASSAÇÃO DO MANDATO......................................................................................................193
5.2.1. Conceito..................................................................................................................................193
5.2.2. Hipóteses de cassação............................................................................................................193

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 8


EXTINÇÃO DO MANDATO........................................................................................................194
RENÚNCIA DO PARLAMENTAR..............................................................................................195
6. PROCESSO LEGISLATIVO.................................................................................................................196
CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................................196
ESPÉCIES DE PROCESSOS LEGISLATIVOS...........................................................................196
6.2.1. Processo legislativo ordinário.................................................................................................196
6.2.2. Processo legislativo sumário...................................................................................................197
6.2.3. Processos legislativos especiais..............................................................................................197
7. PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO...............................................................................198
FASE INTRODUTÓRIA (INICIATIVA)......................................................................................198
FASE CONSTITUTIVA.................................................................................................................201
7.2.1. Discussão................................................................................................................................201
7.2.2. Votação...................................................................................................................................202
7.2.3. Aprovação...............................................................................................................................202
7.2.4. Sanção/Veto do Poder Executivo............................................................................................205
FASE COMPLEMENTAR.............................................................................................................207
8. MEDIDAS PROVISÓRIAS (MP’s).......................................................................................................208
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................208
EFEITOS IMEDIATOS DA MEDIDA PROVISÓRIA.................................................................208
PRAZO DA MEDIDA PROVISÓRIA...........................................................................................208
REGIME DE URGÊNCIA.............................................................................................................210
TRÂMITE DA MEDIDA PROVISÓRIA......................................................................................211
REVOGAÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA...............................................................................213
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS.....................213
8.7.1. Aspectos formais.....................................................................................................................213
8.7.2. Aspectos materiais..................................................................................................................214
LIMITES MATERIAIS..................................................................................................................215
MEDIDA PROVISÓRIA NOS ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS.................217
9. LEIS DELEGADAS...............................................................................................................................218
CONCEITO....................................................................................................................................218
PROCESSO LEGISLATIVO DE LEIS DELEGADAS................................................................218
ESPÉCIES DE DELEGAÇÃO.......................................................................................................219
LIMITAÇÕES MATERIAIS..........................................................................................................219
10. DECRETO LEGISLATIVO x RESOLUÇÕES.................................................................................220
PODER EXECUTIVO....................................................................................................................................225
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................................................................225
2. SISTEMAS OU REGIMES DE GOVERNO.........................................................................................225
SISTEMA DE “ASSEMBLEIA”....................................................................................................225
PARLAMENTARISMO.................................................................................................................226
PRESIDENCIALISMO..................................................................................................................226
PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO.......................................................................................227
3. REQUISITOS PARA SER PRESIDENTE DA REPÚBLICA..............................................................227
4. ELEIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA................................................................................228
5. POSSE DO PRESIDENTE.....................................................................................................................230
6. SUCESSÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA..............................................................................231
7. ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA........................................................................234
8. MANDATO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA..............................................................................237
9. VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA................................................................................................237
10. MINISTROS DE ESTADO................................................................................................................238
REQUISITOS.................................................................................................................................238

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 9


COMPETÊNCIA...........................................................................................................................239
CRIAÇÃO DE CARGOS..............................................................................................................239
CONSELHO DA REPÚBLICA E CONSELHO DE DEFESA NACIONAL...............................240
11. CRIMES DE RESPONSABILIDADE..............................................................................................241
CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................................241
DIPLOMAS NORMATIVOS QUE TIPIFICAM CRIMES DE RESPONSABILIDADES.........242
SUJEITOS QUE PODEM PRATICAR CRIMES DE RESPONSABILIDADE E COMPETÊNCIA
PARA JULGAMENTO.............................................................................................................................242
12. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA.................................244
NATUREZA JURÍDICA...............................................................................................................244
COMPETÊNCIA...........................................................................................................................244
SANÇÃO.......................................................................................................................................245
CONDUTAS QUE IMPORTAM CRIME DE RESPONSABILIDADE......................................245
DUPLO REGIME SANCIONATÓRIO........................................................................................245
PROCEDIMENTO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS.............................................................246
12.6.1. Oferecimento da denúncia......................................................................................................246
12.6.2. Acolhimento do pedido..........................................................................................................246
12.6.3. Instalação da Comissão Especial............................................................................................247
12.6.4. Notificação do Presidente da República.................................................................................247
12.6.5. Votação do relatório final.......................................................................................................247
12.6.6. Decisão do Plenário................................................................................................................247
PROCEDIMENTO NO SENADO FEDERAL..............................................................................248
12.7.1. Instauração..............................................................................................................................248
12.7.2. Rito.........................................................................................................................................248
12.7.3. Presidência.............................................................................................................................249
12.7.4. Absolvição..............................................................................................................................249
12.7.5. Condenação............................................................................................................................249
12.7.6. Renúncia.................................................................................................................................249
13. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS GOVERNADORES DE ESTADO.............................250
INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS........................................................................250
PROCEDIMENTO.........................................................................................................................250
JULGAMENTO.............................................................................................................................251
SANÇÕES......................................................................................................................................252
14. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS MUNICIPAIS.......................................252
PREVISÃO CONSTITUCIONAL.................................................................................................252
TIPOS DE INFRAÇÕES QUE PODEM SER COMETIDAS POR PREFEITOS........................253
PROCEDIMENTO DOS CRIMES “DE RESPONSABILIDADE” DO PREFEITO NA LEI
201/67 (NATUREZA PENAL)..................................................................................................................253
CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS NO DL 201/67 (NATUREZA
POLÍTICO-ADMINISTRATIVA – “VERDADEIRO” CRIME DE RESPONSABILIDADE!).............255
15. PROCESSO E JULGAMENTO CRIMES COMUNS......................................................................256
PRATICADOS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA.............................................................256
15.1.1. Irresponsabilidade penal relativa............................................................................................256
15.1.2. Competência...........................................................................................................................257
15.1.3. Necessidade de autorização....................................................................................................257
15.1.4. Procedimento..........................................................................................................................258
15.1.5. Crimes abrangidos pela expressão “infração penal comum”.................................................260
PRATICADOS PELO GOVERNADOR.......................................................................................260
PRATICADOS PELO PREFEITO................................................................................................261

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 10


16. RECALL.............................................................................................................................................262
CONSIDERAÇÕES E CONCEITO...............................................................................................263
RECALL x IMPEACHMENT........................................................................................................263
PODER JUDICIÁRIO....................................................................................................................................264
1. GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO.............................................................................................264
CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................................264
GARANTIAS FUNCIONAIS DOS MAGISTRADOS.................................................................264
1.2.1. Garantias de INDEPENDÊNCIA...........................................................................................264
1.2.2. Garantias de IMPARCIALIDADE.........................................................................................266
GARANTIAS INSTITUCIONAIS.................................................................................................267

1.3.1. Garantia de autonomia orgânico-administrativa.....................................................................267


1.3.2. Garantia de autonomia financeira/orçamentária.....................................................................268
2. ÓRGÃO ESPECIAL DO PODER JUDICIÁRIO..................................................................................269
3. QUINTO CONSTITUCIONAL..............................................................................................................269
4. FUNÇÕES DO PODER JUDICIÁRIO..................................................................................................271
FUNÇÕES TÍPICAS......................................................................................................................271
4.1.1. Exercício da jurisdição............................................................................................................271
4.1.2. Proteção de direitos fundamentais..........................................................................................272
4.1.3. Defesa da força normativa da Constituição............................................................................272
4.1.4. Edição da “legislação judicial”...............................................................................................272
FUNÇÕES ATÍPICAS...................................................................................................................272
4.2.1. Administrativa.........................................................................................................................272
4.2.2. Legislativa...............................................................................................................................272
5. ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO.......................................................................................272
6. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL......................................................................................................273
ATRIBUIÇÕES DO STF................................................................................................................273
COMPOSIÇÃO E REQUISITOS PARA SER MEMBRO DO STF.............................................273
7. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.................................................................................................275
ORIGEM E OBJETIVO DO STJ...................................................................................................275
COMPOSIÇÃO DO STJ................................................................................................................275
PROCEDIMENTO DE ESCOLHA................................................................................................276
7.3.1. Desembargadores....................................................................................................................276
7.3.2. Advogados..............................................................................................................................276
7.3.3. Ministério Público...................................................................................................................276
8. JUSTIÇA COMUM FEDERAL.............................................................................................................276
2º GRAU DE JURISDIÇÃO: TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS........................................276
1º GRAU DE JURISDIÇÃO: JUÍZES FEDERAIS.......................................................................277
9. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL..........................................................................................................278
2º GRAU DE JURISDIÇÃO: TRIBUNAIS DE JUSTIÇA............................................................278
1º GRAU DE JURISDIÇÃO: JUIZ DE DIREITO.........................................................................278
10. JUSTIÇA ELEITORAL......................................................................................................................278
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL.........................................................................................278
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL........................................................................................279
JUÍZES ELEITORAIS....................................................................................................................280
JUNTAS ELEITORAIS..................................................................................................................280
11. JUSTIÇA MILITAR...........................................................................................................................280
SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR..............................................................................................280
12. JUSTIÇA DO TRABALHO...............................................................................................................281
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO..................................................................................281
TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO...............................................................................281

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 11


JUÍZES DO TRABALHO..............................................................................................................282
13. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.........................................................................................282
NATUREZA JURÍDICA...............................................................................................................282
ATRIBUIÇÕES..............................................................................................................................282
COMPOSIÇÃO..............................................................................................................................283
COMPETÊNCIAS DO CNJ..........................................................................................................285
AÇÕES PROPOSTAS CONTRA O CNJ......................................................................................287
14. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO................................................................290
COMPOSIÇÃO..............................................................................................................................290

DIFERENÇAS NAS REGRAS DE NOMEAÇÃO E DESTITUIÇÃO DO PROCURADOR-


GERAL DA REPÚBLICA E DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA............................................291
CONFLITOS DE ATRIBUIÇÕES................................................................................................292
15. RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL............................................................................................296
ORIGEM........................................................................................................................................297
NATUREZA JURÍDICA...............................................................................................................297
OBJETO DA RECLAMAÇÃO.....................................................................................................297
15.3.1. Preservação de competência...................................................................................................298
15.3.2. Garantir a autoridade das decisões.........................................................................................298
LEGITIMIDADE ATIVA..............................................................................................................300
16. SÚMULA VINCULANTE................................................................................................................300
CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................................300
FUNDAMENTOS NORMATIVOS..............................................................................................301
NATUREZA JURÍDICA...............................................................................................................301
OBJETO.........................................................................................................................................301
REQUISITOS.................................................................................................................................302
16.5.1. Reiteradas decisões sobre matéria constitucional..................................................................302
16.5.2. Iniciativa.................................................................................................................................302
16.5.3. Quórum...................................................................................................................................303
16.5.4. Publicação..............................................................................................................................303
16.5.5. Efeito vinculante....................................................................................................................303
CANCELAMENTO.......................................................................................................................304
17. RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E RECURSOS ESPECIAIS..................................................304
CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................................304
PREQUESTIONAMENTO...........................................................................................................308
PRÉVIO ESGOTAMENTO DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS...............................................308
IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS..................................................309
REPERCUSSÃO GERAL.............................................................................................................310
HIPÓTESES DE CABIMENTO DE RE.......................................................................................310
HIPÓTESES DE CABIMENTO DE RESP...................................................................................312
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS........................................................315
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS..............................................................................................................315
2. NORMAS GERAIS COMUNS AO SISTEMA CONSTITUCIONAL DAS CRISES.........................315
TEMPORARIEDADE...................................................................................................................315
PROPORCIONALIDADE.............................................................................................................316
DELIMITAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS...............................................................316
MOTIVAÇÃO................................................................................................................................317
3. ESTADO DE DEFESA..........................................................................................................................318
CONCEITO....................................................................................................................................318
EFEITOS........................................................................................................................................319

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 12


CONTROLE DOS ATOS DO PODER EXECUTIVO..................................................................319
4. ESTADO DE SÍTIO...............................................................................................................................322
CONCEITO....................................................................................................................................322
EFEITOS.........................................................................................................................................322
RESPONSABILIZAÇÃO PELAS MEDIDAS EXECUTIVAS....................................................323
APRESENTAÇÃO
Olá!

Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja útil na
sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de estudo, mais
familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Sistematizado de Direito Constitucional, está dividido em Parte I e Parte II, possui como
base as aulas do Prof. Marcelo Novelino (G7), complementadas com as aulas do Prof. Bernardo Fernandes,
com o intuito de deixar o material mais completo, utilizados as seguintes fontes complementares: a)
Constituição Federal para Concursos, 2019, (Marcelo Novelino e Dirley da Cunha Jr.); b) Curso de Direitos
Constitucional, 2018, (Dirley da Cunha Júnior) e c) Curso de Direito Constitucional, 2020, Bernardo
Gonçalves Fernandes.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito). Destacamos: é
importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da semana para ler no site do
Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é necessária leitura
conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você faça uma
boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos!! Bons estudos!! Equipe

Cadernos Sistematizados.

DIREITOS INDIVIDUAIS EM ESPÉCIE

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Serão analisados o direito à vida, o direito à igualdade, o direito à privacidade, o direito de liberdade
e o direito à propriedade. Pertinente destacar que o direito à privacidade não está previsto no caput do art.
5º, mas pode ser extraído de seus incisos, conforme veremos.

Destaca-se, ainda, que o direito à segurança, previsto no caput do art. 5º, refere-se à

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 13


segurança jurídica, que não é um direito individual, mas sim uma garantia para que os direitos sejam
protegidos, a exemplo do habeas corpus que protege o direito de liberdade. Portanto, será analisada em
tópico separado.

Obs.: A segurança pública, prevista no art. 6º da CF, será analisada na parte dos direitos sociais.

2. DESTINATÁRIOS

Observe a redação do art. 5º da CF:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

De acordo com a interpretação literal (José Afonso da Silva) do dispositivo, percebe-se que
apenas os brasileiros natos e naturalizados (pessoas físicas e jurídicas) e apenas os estrangeiros residentes no
Brasil são os titulares dos direitos e garantias individuais. Contudo, não prevalece tal entendimento, isso
porque, de acordo com a melhor doutrina, os direitos e garantias fundamentais visam a proteção e a
promoção da dignidade da pessoa humana (qualidade intrínseca de todo ser humano, independentemente de
qualquer condição).

Para o Supremo Tribunal Federal (STF) e para a esmagadora doutrina, deve ser dada uma
interpretação extensiva ao art. 5º da CF, ou seja, os direitos e garantias INDIVIDUAIS possuem como
destinatários os brasileiros (pessoas físicas – natos e naturalizados – e as pessoas jurídicas), os estrangeiros
residentes no país e, também, os estrangeiros não residentes. Em razão da dignidade da pessoa humana e da
primazia dos direitos humanos nas relações internacionais (art. 4º, II da CF).

STF – HC 94.016/SP: O súdito estrangeiro, mesmo aquele sem domicílio


no Brasil, tem direito a todas as prerrogativas básicas que lhe assegurem a
preservação do status libertatis e a observância, pelo Poder Público, da
cláusula constitucional do due process. [...] A condição jurídica de não
nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir
domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado,
de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório.
As pessoas jurídicas (inclusive de direito público) também são destinatárias dos direitos e garantias
fundamentais, tendo em vista que em um Estado Democrático de Direito não podem ser admitidas condutas
arbitrárias. Obviamente, não serão todos os direitos e garantias, na maioria dos casos estão relacionadas a
garantias procedimentais.

STF - AC 2.395 MC/PB: A imposição de restrições de ordem jurídica, pelo


Estado, quer se concretize na esfera judicial, quer se realize no âmbito
estritamente administrativo (como sucede com a inclusão de supostos
devedores em cadastros públicos de inadimplentes), supõe, para legitimar-
se constitucionalmente, o efetivo respeito, pelo Poder Público, da garantia
indisponível do ‘due process of law’, assegurada, pela Constituição da
República (art. 5º, LIV), à generalidade das pessoas, inclusive às próprias
pessoas jurídicas de direito público, eis que o Estado, em tema de limitação
ou supressão de direitos, não pode exercer a sua autoridade de maneira

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 14


abusiva e arbitrária. Doutrina. Precedentes.

3. DIREITO À VIDA

PREVISÃO CONSTITUCIONAL E CONSIDERAÇÕES

O Direito à Vida está consagrado no caput do art. 5º da CF, é o mais importante dos direitos
fundamentais, tendo em vista que é pressuposto para o exercícios dos demais direitos. Afinal, para que seja
possível exercer qualquer outro direito individual (igualdade, propriedade, privacidade e liberdade) o direito
à vida deve ser assegurado.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do DIREITO À VIDA, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:...

ÂMBITO DE PROTEÇÃO

Todos os direitos fundamentais, salvo o direito à igualdade, possuem um âmbito de proteção, ou seja,
protegem determinado bem jurídico.

Em relação ao direito à vida, o bem jurídico protegido é APENAS a vida humana em sentido
biológico. Perceba, portanto, que a vida espiritual não recebe proteção do art. 5º da CF, será protegida pelo
direito de liberdade religiosa.

Ressalta-se que o direito à vida compreende duas acepções, uma negativa e outra positiva.
Vejamos:
ACEPÇÃO NEGATIVA ACEPÇÃO POSITIVA

Corresponde ao dever de respeito, é o direito de Corresponde ao dever de proteção e


permanecer vivo. Portanto, impede que o Estado promoção do direito à vida, impondo ao
ou terceiros ceifem a vida humana. Estado o dever de agir.

Vedação da pena de morte (salvo em caso de Proteção de testemunhas;


guerra declarada).
Proteção contra violência doméstica e
familiar;

Promoção de condições dignas de existência


(mínimo existencial).

Além disso, o direito à vida (como todo e qualquer direito fundamental) possui duas dimensões,
quais sejam:

DIMENSÃO SUBJETIVA DIMENSÃO OBJETIVA

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 15


É a perspectiva do indivíduo, titular do direito. Consagração de valores, de fins importantes para
Por exemplo, o indivíduo possui direito à vida, a sociedade como um todo.
à liberdade, à igualde, à propriedade.

Analisando os votos da ADI 3510, que tinha como objeto a Lei de Biossegurança por permitir a
pesquisa com células-tronco embrionárias, pode-se perceber a adoção das duas dimensões. O Ministro Ayres
Britto analisou o direito à vida em sua dimensão subjetiva e o Ministro Ricardo Lewandowski analisou o
direito à vida em sua dimensão objetiva.

De acordo com Ayres Britto, a Constituição não se refere ao exato momento em que a vida humana
tem o seu início. Porém, toda vez que se refere à inviolabilidade do direito à vida, trata do direito à vida das
pessoas que já nasceram, e não da vida do embrião ou do feto (interpretação sistemática da Constituição).
Garante-se a inviolabilidade à vida aos brasileiros natos ou naturalizados, bem como aos estrangeiros
residentes no país, perceba que todos são pessoas que já nasceram. Portanto, o embrião e o feto não têm o
direito à vida protegido pela CF. A legislação infraconstitucional, a exemplo do Código Penal, é que protege
o direito à vida do embrião e do feto.

STF - ADI 3.510 (Ayres Britto): o Magno Texto Federal não dispõe sobre o
início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não faz de
todo e qualquer estádio (etapa) da vida humana um autonomizado bem
jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque
nativiva (teoria ‘natalista’, em contraposição às teorias ‘concepcionista’ ou
da ‘personalidade condicional’).

Por outro lado, para Ricardo Lewandowski o direito à vida tem que ser analisado não em sua
dimensão subjetiva (perspectiva do titular do direito), mas na perspectiva da coletividade, já que é um valor
extremamente importante.

STF - ADI 3.510 (Lewandowski): Creio que o debate deve centrar-se no


direito à vida entrevisto como um bem coletivo, pertencente à sociedade ou
mesmo à humanidade como um todo, sobretudo tendo em conta os riscos
potenciais
que decorrem da manipulação do código genético humano.

INVIOLABILIDADE x IRRENUNCIABILIDADE

O direito à vida é, além de inviolável, irrenunciável.

INVIOLABILIDADE IRRENUNCIABILIDADE

Proteção contra violação por parte de Protege contra o PRÓPRIO TITULAR. Em


TERCEIROS e do ESTADO princípio, a pessoa não possui o direito de
renunciar sua própria vida.

De acordo com a doutrina, todos direitos fundamentais são irrenunciáveis. Em outras palavras, não
pode haver renuncia definitiva do direito (embora possa não ser exercido temporariamente).

Importante consignar que nenhum direito fundamental é absoluto, nem mesmo o direito à vida. Há
hipóteses em que, apesar da inviolabilidade, outros valores de peso maior, no caso concreto, irão prevalecer,
justificando sua a restrição.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 16


Poderá, ainda, haver conflito entre o direito à vida e outro direito fundamental, a exemplo do direito
à liberdade religiosa. É o que ocorre, por exemplo, com as Testemunhas de Jeová. Em razão de sua fé, não
aceitam receber transfusões de sangue, mesmo que isso coloque sua vida em risco. Havendo tratamentos
alternativos, não há dúvidas de que não podem ser obrigadas a receber transfusão de sangue. Contudo,
quando a transfusão for a única forma de mantê-la vida, segundo Novelino deve-se observar a plena
capacidade para renunciar ao seu direito à vida em razão da liberdade religiosa, não poderá o Estado impor o
recebimento da transfusão quando a pessoa plenamente capaz manifesta a sua vontade.

Destaca-se que caso a pessoa esteja gravemente ferida, por exemplo em coma, e tenha deixado
documento escrito negando o recebimento de sangue de terceiros, a transfusão poderá ocorrer, eis que não
pode manifestar sua vontade no exato momento. Isso vale em relação aos menores, o pai/a mãe, por seus
crenças religiosas, não possuem o direito de impedir a transfusão de sangue no filho.

O Conselho da Justiça Federal criou um enunciado a respeito do tema e adotou uma diretriz que é
considerada adequada:

Enunciado n. 403 (CJF): O direito à inviolabilidade de consciência e de


crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à
pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de
sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta
dele, desde que observados os seguintes critérios:
a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou
assistente;
b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e
c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do
declarante
RESTRIÇÕES AO DIREITO À VIDA

Consistem em intervenções, constitucionalmente previstas (expressa ou implicitamente), que


permitem a limitação do direito à vida.

Ressalta-se que a restrição não pode ser confundida com violação, que é uma intervenção
inconstitucional no direito à vida.

3.4.1. Pena de morte no caso de guerra declarada

Trata-se da única restrição expressa na Constituição (art. 5º, XLVII, a). Observe:

É o Código Penal Militar que regulamenta o dispositivo constitucional, prevendo que a pena de
morte será executada por fuzilamento.

Veja como foi cobrado:

PC/GO (2018): A Constituição admite como possível a pena de morte em caso de guerra declarada. Correto!

3.4.2. Aborto

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 17


O aborto em algumas hipóteses é admitido no ordenamento jurídico brasileiro, seja por previsão
legal expressa (art. 128 do CP) seja pela jurisprudência do STF.

CP, art. 128: Não se pune o aborto praticado por


médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da
gestante;
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Não há óbice para o legislador infraconstitucional limitar um direito fundamental consagrado na CF,
pois a restrição está fundamentada em outro direito fundamental, passando, obviamente, pelo crivo da
proporcionalidade. Desta forma, se a medida adotada for apta a atingir o fim almejado, necessária e
proporcional em sentido estrito, é constitucional.

Diante disso, o legislador ponderou entre o direito à vida e outros direitos, criando duas hipóteses em
que o direito à vida sofrerá restrições legítimas.

1º ABORTO TERAPÊUTICO OU NECESSÁRIO – há colisão entre dois direitos à vida, de um lado


o feto e do outro a mãe. O Estado não pode obrigar a mãe a colocar sua vida em risco, seria caso de estado de
necessidade ou de legítima defesa.

2º ABORTO SENTIMENTAL – é o aborto decorrente de estupro. Há ponderação entre direito à vida


do feto e a dignidade da pessoa humana da mãe, além de sua liberdade sexual. Seria uma espécie de tortura
psicológica obrigar a mulher, que sofreu o ato violento, gerar uma criança contra a sua vontade.

Há alguns autores, no entanto, que sustentam que o direito à vida é inviolável e a dignidade é um
direito absoluto, portanto o art. 128, II não teria sido recepcionado pela Constituição Federal.
Obs.: Embora o CP criminalize o aborto, a 1ªTurma do STF (voto condutor de Luís Roberto Barroso) adotou
o entendimento de que o CP deve ser interpretado à luz da CF, a fim de que o aborto realizado no primeiro
trimestre de gestação não pode ser criminalizado.

STF – HC 124.306/RJ (1ª Turma): “[...] 3. Em segundo lugar, é preciso conferir


interpretação conforme a Constituição aos próprios arts. 124 a 126 do
Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito
de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro
trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos
fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade
[...] 7. Anote-se, por derradeiro, que praticamente nenhum país democrático
e desenvolvido do mundo trata a interrupção da gestação durante o primeiro
trimestre como crime, aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido,
Canadá, França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália.”

A questão está sendo analisada no julgamento da ADPF 442, proposta pelo PSOL.

Argumentos (PSOL): os dois dispositivos do Código Penal afrontam postulados fundamentais como
a dignidade da pessoa humana, a cidadania, a não discriminação, a inviolabilidade da vida, a liberdade, a
igualdade, a proibição de tortura ou o tratamento desumano e degradante, a saúde e o planejamento familiar
das mulheres e os direitos sexuais e reprodutivos.

Marcelo Novelino destaca que o argumento mais importante está relacionado à saúde. Há estudos
que comprovam que o Brasil realiza um milhão de abortos clandestinos por ano, gerando inúmeras
consequências, principalmente, para as mulheres de baixa renda, que colocam em risco sua própria vida.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 18


Observe os itens considerados corretos na questão cobrada na prova da DPE/SP, em 2019:

Uma mulher, no primeiro mês de gestação de uma gravidez indesejada, procura orientação jurídica na Defensoria
Pública a respeito da possibilidade de realização de aborto. Nesse contexto:
III. Explicar as hipóteses previstas no Código Penal e pela interpretação do STF (ADPF 54), nas quais o aborto não é
punido, e que está pendente de julgamento no STF a ADPF 442, que busca dar interpretação conforme a Constituição
aos artigos 124 e 126 do Código Penal, a fim de que se declare a sua não recepção parcial, para excluir do seu âmbito de
incidência a interrupção da gestação indesejada e voluntária realizada nas primeiras 12 semanas. Correto!
IV. Esclarecer que há um precedente na decisão proferida no HC 124.306/RJ, julgado pelo STF, em que não se manteve
prisão preventiva de réus que respondiam criminalmente pela prática de aborto por se considerar fato não típico por
violação da Constituição (direitos fundamentais das mulheres à vida, à liberdade, à integridade física e psicológica, à
igualdade de gênero, à autonomia, à saúde e ao planejamento familiar) e da regra da proporcionalidade, o que
viabilizaria a impetração em favor dela de um habeas corpus preventivo com os mesmos fundamentos. Correto!

3.4.3. Interrupção da gravidez de feto com anencefalia

Anencefalia consiste na malformação do tubo neural, a caracterizar-se pela ausência parcial do


encéfalo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo neural durante o desenvolvimento
embrionário.

O CFM, mediante a Resolução 1.752/2004, considera os anencéfalos natimortos cerebrais. Desse


modo, segundo o Min. Marco Aurélio, os fetos anencéfalos jamais se tornariam pessoa. Assim, não se trata
de vida em potencial, porém, seguramente, de morte.
Para o STF (ADPF 54), é inconstitucional a interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez
de feto anencéfalo seria conduta tipificada nos arts. 124, 126 e 128, I e II, do CP. A interrupção da gravidez
de feto anencéfalo é atípica. Não se exige autorização judicial para que o médico realize a interrupção de
gravidez de feto anencefálico. Assim, médicos que fazem a cirurgia e as gestantes que decidem interromper a
gravidez não cometem crime de aborto. Esta conduta é considerada atípica (atipicidade formal).

Por fim, não há conflito entre o direito à vida dos anencéfalos e o direito da mulher à dignidade. Isso
porque, segundo o Min. Relator, direito à vida de anencéfalo seria um termo antitético considerando que o
anencéfalo, por ser absolutamente inviável, não seria titular do direito à vida. Assim, o alegado conflito entre
direitos fundamentais seria apenas aparente. Assentou que o feto anencéfalo, mesmo que biologicamente
vivo, porque feito de células e tecidos vivos, seria juridicamente morto, de maneira que não deteria proteção
jurídica, principalmente a jurídico-penal. Corroborou esse entendimento ao inferir o conceito jurídico de
morte cerebral da Lei 9.434/97, de modo que seria impróprio falar em direito à vida intra ou extrauterina do
anencéfalo, natimorto cerebral. Destarte, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria
crime contra a vida, porquanto se revelaria conduta atípica.

Veja como foi cobrado:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 19


PC/PA (2021) - Maria, casada, mãe de dois filhos, teve a terceira gestação aos quarenta e quatro anos. Quando estava
na 13ª semana da gestação, descobriu que o feto era anencéfalo e, com 100% de certeza, não teria perspectiva de
sobrevida. Imediatamente, Maria pensou em fazer um aborto, mas não tinha certeza se poderia em razão do direito
fundamental à vida, previsto na Constituição Federal Brasileira. Após conversar com o médico, Maria acredita que poderá
fazer o aborto, mediante comprovação por laudo médico da condição do feto, em razão de o Supremo Tribunal Federal
já ter decidido sobre a matéria, entendendo favoravelmente ao aborto em algumas situações. Nesse caso, no que tange
ao direito fundamental à vida previsto no artigo 5º da Constituição Federal, é correto afirmar que:
- por ser um direito fundamental, é absoluto, mas, nesse caso, diante da inexistência de perspectiva de sobrevida do
feto, não há o que se falar em proteção do direito à vida. Errado! Não é um direito absoluto.
- apesar de ser um direito fundamental, não é absoluto e, nesse caso, foi relativizado, dentre outros, pelos princípios da
proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana, em prol da proteção da mãe. Correto!

TJ/MS (2020) - É compatível com a Constituição Federal a interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de
feto anencéfalo viola o direito à vida, recaindo na esfera de proteção que a legislação penal outorga a esse bem jurídico,
vedando sua prática. Errado!

3.4.4. Aborto e microcefalia causada pelo Zika Vírus

Em razão do Zika Vírus muitas crianças nasceram com microcefalia, a Anadep então ajuizou uma
ADPF para que o STF, apontando omissão do poder público quanto à possibilidade de interrupção da
gravidez nas políticas de saúde para mulheres grávidas infectadas pelo zika. Além disso, requereu a
inconstitucionalidade do enquadramento de mulheres nessa situação ao art. 124 do Código Penal.

Veja a notícia do dia 01 de maio de 2020 retirada do site do STF:

STF julga prejudicada ação sobre lei de combate a doenças transmitidas


pelo Aedes aegypti. Por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal
Federal (STF), em sessão virtual concluída nesta quinta-feira (30)), julgou
prejudicada a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5581, ajuizada
pela Associação
Nacional dos Defensores Públicos (Anadep) contra dispositivos da Lei
13.301/2016, que trata de medidas de vigilância em saúde relativas aos
vírus da dengue, da chikungunya e da zika. O colegiado acompanhou a
relatora, ministra Cármen Lúcia, pela perda do objeto da ação, diante da
revogação do principal ponto questionado pela Medida Provisória 894/2019,
que institui pensão vitalícia a crianças com microcefalia decorrente do zika
vírus.
A ADI foi ajuizada juntamente com ação de arguição de descumprimento de
preceito fundamental (ADPF). A entidade alegava diversas omissões do
Poder Público no acesso à informação, a cuidados de planejamento familiar
e aos serviços de saúde e pedia a declaração de inconstitucionalidade do
enquadramento da interrupção da gestação em relação à mulher infectada
pelo zika vírus no artigo 124 do Código Penal. Para a relatora, a Anadep
não tem legitimidade para a propositura da ADPF. A ministra ressaltou que
a jurisprudência do STF somente reconhece a legitimidade das entidades de
classe nacionais para o ajuizamento de ação de controle abstrato se houver
nexo de afinidade entre os seus objetivos institucionais e o conteúdo dos
textos normativos. No caso, ela não constatou interesse jurídico da
associação de procuradores nas normas e políticas públicas questionadas.

Importante consignar que o Ministro Barroso fez ressaltou que a Anadep possui legitimidade para

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 20


ajuizar ADPF afirmando “ter direito de questionar normas que afetam os interesses de pessoas

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 21


hipossuficientes, que sentem, de forma mais acentuada, os impactos tanto da epidemia do Zika
vírus quanto da criminalização da interrupção da gestação”. Além disso, fez a seguinte reflexão:

“A extinção das ações adia a discussão de um tema que as principais


supremas cortes e tribunais constitucionais do mundo em algum momento já
enfrentaram: o tratamento constitucional a ser dado à interrupção de
gestação, aos direitos fundamentais da mulher e à proteção jurídica do feto.
A reflexão que se segue, portanto, parece-me necessária e, em rigor,
transcende a questão da Zika e da microcefalia, alcançando os direitos
reprodutivos das mulheres de maneira geral. O aborto é um fato indesejável,
e o papel do Estado e da sociedade deve ser o de procurar evitar que ele
ocorra, dando o suporte necessário às mulheres. Essa é a premissa sobre a
qual se assenta o raciocínio aqui desenvolvido. Reitero, porém, o meu
entendimento, já manifestado em decisão anterior (HC 124.306), de que o
tratamento do aborto como crime não tem produzido o resultado de elevar a
proteção à vida do feto. Justamente ao contrário, países em que foi
descriminalizada a interrupção da gestação até a 12ª semana conseguiram
melhores resultados, proporcionando uma rede de apoio à gestante e à sua
família. Esse tipo de política pública, mais acolhedora e menos repressiva,
torna a prática do aborto mais rara e mais segura para a vida da mulher

3.4.5. Pesquisas com células-tronco embrionárias

O STF adotou o entendimento de que as pesquisas podem ser realizadas porque promovem outros
direitos consagrados no texto constitucional, como o direito à saúde.

ADI 3.510/DF: A Lei de Biossegurança não veicula autorização para extirpar


do corpo feminino esse ou aquele embrião. Eliminar ou desentranhar esse
ou aquele zigoto a caminho do endométrio, ou nele já fixado. Não se cuida
de interromper gravidez humana, pois dela aqui não se pode cogitar. A
‘controvérsia constitucional em exame não guarda qualquer vinculação com
o problema do aborto.’ (Ministro Celso de Mello).

Veja como foi cobrado:

TJ/MS (2020) - O uso de células-tronco embrionárias, ainda que em pesquisas científicas para fins terapêuticos,
autorizadas em lei federal, viola o direito à vida, pela potencialidade de formação de pessoa humana, cuja dignidade
recebe proteção máxima constitucional. Errado!

4. DIREITO À IGUALDADE

PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES

O direito à igualdade, assim como o direito à vida, encontra-se previsto no art. 5º, caput, da
CF.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, À IGUALDADE, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:...

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 22


Há inúmeros termos referentes à igualdade:

o Igualdade perante a lei e igualdade na lei

o Igualdade formal e igualdade material

o Igualdade jurídica (ou de direito) e igualdade fática (ou de fato)

EVOLUÇÃO HISTÓRIA

ETAPAS DA EVOLUÇÃO

Os direitos e deveres dos indivíduos eram decorrentes do grupo social ao qual


ANTIGO REGIME pertenciam. Não decorriam da simples condição de ser um ser humano.

Consagraram a igualdade formal, extirparam privilégios de origem


estamental e afirmaram a igualdade de todos perante a lei.

Exigência de tratamento isonômico a todos os seres de uma mesma categoria


REVOLUÇÕES essencial. Exige que todas aquelas pessoas que se encontrem em uma mesma
LIBERAIS situação devem receber o mesmo tipo de tratamento. Não exige, porém, que
todas as pessoas recebam o mesmo tratamento.

Não havia preocupação com o conteúdo da igualdade, apenas a forma de


tratamento deveria ser isonômica, não importava se justa ou injusta.
Por isso, tratava os senhores e os escravos de forma diferente, já que
pertenciam a categorias distintas.

Segundo Walzer, citado por Novelino, “o igualitarismo serve a um


propósito específico: a abolição de privilégios, da superioridade de
indivíduos e grupos sociais, uns sobre os outros. Essa é a esperança
vigorosa à qual denomina a palavra igualdade: fim do temor trêmulo;
fim dos todo-poderosos; fim dos senhores, fim dos escravos”.

Constatou-se que o mero dever de tratamento formal ocasionava diferenciações


arbitrarias e injustas. Com isso, passou-se a dotar a igualdade na sua
ESTADOS SOCIAIS
concepção material, defendia um conteúdo justo e a redução das
desigualdades existentes.

CONCEPÇÃO MATERIAL

A concepção material propõe dois tipos de igualdade. Observe:

PRINCÍPIO DA IGUALDADE JURÍDICA PRINCÍPIO DA IGUALDADE FÁTICA

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 23


Impõe o dever de tratar igualmente os iguais e Impõe ao Estado uma atuação positiva visando a
desigualmente os desiguais, na medida de suas igualização dos desiguais, por meio da concessão
desigualdades, a exemplo do tratamento tributário de direitos sociais substanciais (Direitos
especial e diferenciado para empresas de pequeno fundamentais de 2ª Geração, direitos de
porte e microempresas. prestacionais, status positivus ou civitatis,
conforme Jellinek). O objetivo é reduzir a
Para Dworkin, a isonomia exige um desigualdade fática existente.

tratamento de todos com igual respeito e Políticas de cunho Políticas de


consideração, é um reconhecimento das açõesuniversalista afirmativas
diferenças. Isto é, para se tratar todos com igual
respeito e consideração, é preciso reconhecer que Destinadas a Destinadas a atingir
as pessoas são diferentes. número grupos sociais
indeterminado de determinados, por
Para Boaventura de Souza Santos, temos o direito pessoas meio da atribuição de
de ser iguais quando a diferença nos inferioriza e certas vantagens, por
temos o direito de ser diferentes quando a tempo limitado, para
igualdade nos descaracteriza. atingir a suplantação
de desigualdades
ocasionadas por
situações históricas
particulares.

Ex: melhoria do Ex.: cotas raciais


ensino universal em universidades.
gratuito.

Veja como foi cobrado:

MPE/MG (2021): Não ofende o princípio da isonomia norma legal que concede tratamento tributário especial e
diferenciado às microempresas e empresas nacionais de pequeno porte. Correto!

Obs.: A CF consagrou a igualdade jurídica (alguns, de forma equivocada, consideram sinônimo de igualdade
formal), em seu art. 5º, e a igualdade fática, em seu art. 3º. Conjugando-se os dispositivos, percebe-se que a
CF/88 adotou tanto a concepção formal quanto a concepção material de igualdade.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, À IGUALDADE, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 24


ÂMBITO DE PROTEÇÃO E INTERVENÇÃO

Ao contrário dos demais direitos, a igualdade não possui um âmbito de proteção material específico,
é um conceito relacional. Ou seja, é necessário analisar a situação e as pessoas envolvidas, a fim de averiguar
se o tratamento é justo ou não. Ocorre uma comparação entre indivíduos, grupos, coisas e situações.

Imagine, por exemplo, que um edital para concurso de agente de penitenciária feminina, preveja que
apenas mulheres podem realizar a inscrição. Existem dois critérios básicos como meio de averiguar a
constitucionalidade de determinada discriminação (ou distinção):

1º Critério: Identificar o elemento de distinção, a exemplo da cor da pele, da idade, do sexo;

2º Critério: Verificar se o elemento de distinção é OBJETIVO, RAZOÁVEL e PROPORCIONAL ao


fim buscado pelo ato discriminatório (no caso o edital). Aqui, examinando o exemplo, tem-se que o objetivo
do edital é o provimento de cargo para agente de penitenciária feminina, logo não há nada mais razoável e
proporcional que a limitação de inscrições a mulheres. Vale dizer ainda que a limitação foi objetiva, ou seja,
a todas as mulheres, sem qualquer distinção de caráter subjetivo.

Haverá intervenção quando o tratamento for igual para situações essencialmente desiguais ou
desigual para situações essencialmente iguais. Além disso, deverá haver justificação constitucionalmente
adequada para ser legítima. Mas caso seja justificada em critérios arbitrários, preconceituosos e
discriminatórios será ilegítima.
Obs.: Em razão disso, parcela da doutrina entende que a igualdade jurídica corresponde a uma proibição de
arbítrio. Portanto, o que a igualdade jurídica proíbe não é o tratamento desigual, mas o tratamento desigual
arbitrário, sem justificação constitucional legítima.

Importante consignar que o STF entende que é possível estabelecer determinados requisitos nos
editais de concurso público, desde que sejam observadas algumas regras. Vejamos:

1ª Regra – é necessária a existência de uma lei que preveja tais requisitos. O edital, sem
embasamento legal anterior, não pode estabelecer.

RE 307.112: “Concurso público para policial militar. Limitação de idade.


Edital que fixa idade limite para o ingresso na corporação, o que a Lei
ordinária (L. 7.289/84), não restringiu. Jurisprudência assentada”

2ª Regra – o requisito deve ser justificado pela natureza do cargo. Nesse sentido, a Súmula 683 do
STF:

STF SÚMULA 683 - O limite de idade para a inscrição em concurso público


só se legitima em face do art. 7º, x, da Constituição, quando possa ser
justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

3ª Regra – grau mínimo de objetividade e de publicidade para evitar arbitrariedades.

STF - RE 417.019 AgR: “Concurso público: além da necessidade de lei formal


prevendo-o como requisito para o ingresso no serviço público, o exame
psicotécnico depende de um grau mínimo de objetividade e de publicidade
dos atos em que se desdobra: precedentes.”

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 25


Veja como foi cobrado:

TRF2 (2018): Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações
excepcionais, em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. Correto! STF RE 8984520 (Info 835).

TRF2 (2018): A adoção de critérios diferenciados para o licenciamento dos militares temporários, em razão do sexo,
não viola o princípio da isonomia. Correto!

O STF (ADI 3541 – Info 735) entende que a lei que veda o exercício da atividade de advocacia por
aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o princípio da isonomia.

Veja como foi cobrado:

MPE/PR (2019): Viola o princípio da isonomia a norma que veda o exercício da atividade de advocacia por aqueles
que desempenham, direta ou indiretamente, serviço de caráter policial. Errado!

Por fim, importante ainda destacarmos o conceito de discriminação indireta, que ocorre sempre
que em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem, uma
disposição, critério ou prática aparentemente neutra coloque uma pessoa ou grupo de pessoas numa situação
de desvantagem, designadamente em comparação com outra pessoa ou grupo de pessoas, a não ser que essa
disposição, critério ou prática seja objetivamente justificada por um objetivo legítimo e que os meios
utilizados para o alcançar sejam adequados e necessários.
O art. 35, III e V, da Lei nº 9.250/95 introduz uma discriminação indireta contra as pessoas com
deficiência, notadamente à luz do seu direito ao trabalho, já que a aparente neutralidade do critério da
capacidade física ou mental para o trabalho oculta o efeito anti-isonômico produzido. Para a generalidade dos
indivíduos, pode fazer sentido que a aptidão laborativa seja o critério definidor da condição de dependente
em relação aos ganhos do genitor ou responsável, tendo em vista que, sob essa circunstância, eles possuem
chances de se alocarem no mercado de trabalho e proverem o próprio sustento. Tal probabilidade se reduz de
forma drástica quando se trata de pessoas com deficiência, cujas condições físicas ou mentais restringem de
forma mais ou menos intensa as oportunidades profissionais.

Veja como foi cobrado:

DPE/RJ (2021): Diante de dados que comprovam que os efeitos de determinadas políticas públicas violam
desproporcionalmente os direitos fundamentais de grupos vulneráveis identificáveis, é correto afirmar que tais políticas
podem ser questionadas com fundamento da Teoria da Discriminação Indireta. Correto!

DESTINATÁRIOS DO DEVER DE IGUALDADE

Em virtude da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, o princípio da igualdade aplica- se aos
particulares e aos poderes públicos.

Há, na doutrina, uma diferenciação entre igualdade na lei e igualdade perante a lei.

4.5.1. Igualdade perante a lei

Interpretação literal do art. 5º da CF, fórmula tradicionalmente usada em todas as Constituições. É


dirigida não ao legislador, mas aos intérpretes e aplicadores da lei (executivo e

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 26


judiciário), vedando que apliquem os enunciados jurídicos de forma a tratar desigualmente quem a lei tratou
como iguais.

Esse entendimento foi adotado até a década de 1950, na Europa, ainda não havia o pleno
reconhecimento da força normativa da Constituição. Entendia-se que as declarações de direitos fundamentais
não vinculavam o legislador, que era visto como um amigo desses direitos, e não como um inimigo. Com o
passar do tempo, verificou-se que muitas das violações de direitos fundamentais vinham do próprio
Parlamento. Posteriormente, com o reconhecimento definitivo da força normativa da Constituição, todos os
Poderes, inclusive o Legislativo, passaram a ser vinculados por ela.

4.5.2. Igualdade na lei

A igualdade deve ser observada tanto na aplicação da lei quanto na elaboração da lei pelo legislador.
Trata-se do sentido moderno, no qual todos os Poderes Públicos encontram-se vinculados ao texto
constitucional.

É destinado precipuamente ao legislador, a quem seria vedado usar-se da lei para realizar tratamentos
discriminatórios entre pessoas que mereçam o mesmo tratamento. A igualdade, aqui, deve ser aplicada no
momento de elaboração da lei.

STF - AI 360.461 Agr/MG: “O princípio da isonomia - que vincula, no plano


institucional, todas as instâncias de poder - tem por função precípua,
consideradas as razões de ordem jurídica, social, ética e política que lhe
são inerentes, a de obstar discriminações e extinguir privilégios (RDA
55/114), devendo ser examinado sob a dupla perspectiva da igualdade na
lei e da igualdade perante a lei (RTJ 136/444-445)”

No Brasil, essa distinção não tem muita utilidade, pois apesar de a CF falar em “perante a lei”, todo o
poder legislativo é vinculado aos preceitos constitucionais. Assim, todos os poderes públicos são
destinatários do princípio da igualdade (eficácia vertical), e além deles os particulares também são
destinatários do princípio da igualdade (eficácia horizontal).

IGUALDADE COMO RECONHECIMENTO1

A igualdade como reconhecimento significa o respeito que se deve ter para com as minorias, sua
identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais ou quaisquer outras. A injustiça a ser
combatida nesse caso tem natureza cultural ou simbólica. Ela decorre de modelos sociais de representação
que, ao imporem determinados códigos de interpretação, recusariam os “outros” e produziriam a dominação
cultural, o não reconhecimento ou mesmo o desprezo.

Determinados grupos são marginalizados em razão da sua identidade, suas origens, religião,
aparência física ou opção sexual, como os negros, judeus, povos indígenas, ciganos, deficientes, mulheres,
homossexuais e transgêneros.

O instrumento para se alcançar a igualdade como reconhecimento é a transformação cultural ou


simbólica. O objetivo é constituir um mundo aberto à diferença (“a difference-friendly world”).

A igualdade como reconhecimento encontra-se também prevista no art. 3º, IV, da CF/88, que
determina que um dos objetivos fundamentais da República é o de “promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 27


Vale ressaltar que, em muitos casos, alguns grupos sofrem tanto uma desigualdade material como
uma desigualdade quanto ao reconhecimento. As mulheres e os negros, por exemplo, sofrem injustiças cujas
raízes se encontram tanto na estrutura econômica, quanto na estrutura cultural- valorativa, exigindo ambos os
tipos de remédio.

Obs.: É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da
CF/88), a exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-
servidores públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da
CF/88). STF. Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral
– Tema 457) (Info 994).

AÇÕES AFIRMATIVAS

4.7.1. Conceito

Consistem em políticas públicas ou programas privados, em geral de caráter temporário,


desenvolvidos com a finalidade de reduzir desigualdades decorrentes de discriminações, ou de uma

1 Márcio Cavalcante.
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3202111cf90e7c816a472aaceb72b0df?cat
egoria=1&subcategoria=1&assunto=2
hipossuficiência econômica ou física, por meio de concessão de alguma vantagem. Ações afirmativas são
medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos, com o fito
de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
fundamentais. (Art. 2°, II, da Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da
Organização das Nações Unidas, ratificada pelo Brasil em 1968).

Veja como foi cobrado:

DPE/PE (CESPE – 2018): As medidas de discriminação reversa que, com o objetivo de proteger grupos
historicamente discriminados ou vulneráveis, promovem políticas compensatórias focais são denominadas ações
afirmativas. Correto!

A transformação do direito à isonomia em igualdade de possibilidades, sobretudo no tocante a uma


participação equitativa nos bens sociais, apenas é alcançada, segundo John Rawls, por meio da aplicação da
denominada “justiça distributiva”. A “justiça distributiva” permite a superação das desigualdades no mundo
dos fatos por meio de intervenção estatal que realoque bens e oportunidades existentes na sociedade em
benefício de todos. O modelo constitucional pátrio incorporara diversos mecanismos institucionais para
corrigir distorções resultantes da incidência meramente formal do princípio da igualdade. No caso concreto, a
aplicação desse preceito consiste em técnica de distribuição de justiça, com o objetivo de promover a
inclusão social de grupos excluídos, especialmente daqueles que, historicamente, teriam sido compelidos a
viver na periferia da sociedade.

4.7.2. Modalidades ou exemplos de ações afirmativas empregadas em vários países

a) Levar em consideração critérios como a raça, o gênero ou outros aspectos que


caracterizem grupos minoritários para promover sua integração social;

b) Afastar requisitos de antiguidade para a permanência ou promoção de membros de

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 28


categorias socialmente dominantes em determinados ambientes profissionais;

c) Definir distritos eleitorais para o fortalecimento das minorias representadas por estes distritos
eleitorais; e

d) Estabelecer cotas ou reserva de vagas para integrantes de setores marginalizados.

4.7.3. Sistemas de cotas

O sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial, é


CONSTITUCIONAL. No entanto, as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial possuem
natureza transitória.

ADPF 186 (Cotas – UNB): “I – Não contraria - ao contrário, prestigia – o


princípio da igualdade material, previsto no caput do art. 5º da Carta da
República, a possibilidade de o Estado lançar mão seja de políticas de
cunho universalista, que abrangem um número indeterminados de
indivíduos, mediante ações de natureza estrutural, seja de ações
afirmativas, que atingem grupos sociais determinados, de maneira pontual,
atribuindo a estes certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a
permitir-lhes a superação de desigualdades decorrentes de situações
históricas. II – O
modelo constitucional brasileiro incorporou diversos mecanismos
institucionais para corrigir as distorções resultantes de uma aplicação
puramente formal do princípio da igualdade. III – Esta Corte, em diversos
precedentes, assentou a constitucionalidade das políticas de ação
afirmativa. IV – Medidas que buscam reverter, no âmbito universitário, o
quadro histórico de desigualdade que caracteriza as relações étnico-raciais
e sociais em nosso País, não podem ser examinadas apenas sob a ótica de
sua compatibilidade com determinados preceitos constitucionais,
isoladamente considerados, ou a partir da eventual vantagem de certos
critérios sobre outros, devendo, ao revés, ser analisadas à luz do arcabouço
principiológico sobre o qual se assenta o próprio Estado brasileiro. V -
Metodologia de seleção diferenciada pode perfeitamente levar em
consideração critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a
assegurar que a comunidade acadêmica e a própria sociedade sejam
beneficiadas pelo pluralismo de ideias, de resto, um dos fundamentos do
Estado brasileiro, conforme dispõe o art. 1º, V, da Constituição (...)VII – No
entanto, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa
apenas são legítimas se a sua manutenção estiver condicionada à
persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que lhes deu origem.
Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se benesses permanentes,
instituídas em prol de determinado grupo social, mas em detrimento da
coletividade como um todo, situação [...] incompatível com o espírito de
qualquer Constituição que se pretenda democrática, devendo, outrossim,
respeitar a proporcionalidade entre os meios empregados e os fins
perseguidos.”

STF – ADC 41/DF: “[...] a desequiparação promovida pela política de ação


afirmativa em questão está em consonância com o princípio da isonomia.
Ela se funda na necessidade de superar o racismo estrutural e institucional
ainda existente na sociedade brasileira, e garantir a igualdade material entre
os cidadãos, por meio da distribuição mais equitativa de bens sociais e da

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 29


promoção do reconhecimento da população afrodescendente [...] Tese de
julgamento: “É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 30


concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos
no âmbito da administração pública direta e indireta. É legítima a utilização,
além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o
contraditório e a ampla defesa”.

É importante ressaltar que as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial possuem
natureza transitória já que as desigualdades entre negros e brancos não resultam, como é evidente, de uma
desvalia natural ou genética, mas decorrem de uma acentuada inferioridade em que aqueles foram
posicionados nos planos econômico, social e político em razão de séculos de dominação dos primeiros pelos
segundos.

Assim, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas são legítimas se a
sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que lhes deu
origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se em benesses permanentes, instituídas em prol de
determinado grupo social, mas em detrimento da coletividade como um todo, situação incompatível com o
espírito de qualquer Constituição que se pretenda democrática.
4.7.4. Lei Maria da Penha

Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de a Lei 11.340/06 ser voltada
apenas à proteção das mulheres.

O STF entendeu que que a Lei Maria da Penha promove a igualdade em seu sentido material, sem
restringir de maneira desarrazoada o direito das pessoas pertencentes ao gênero masculino. O legislador
utilizou meio adequado e necessário para fomentar o fim traçado pelo referido preceito constitucional.
Aduziu-se não ser desproporcional ou ilegítimo uso do sexo como critério de diferenciação, visto que a
mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos
em âmbito privado.

5. DIREITO À PRIVACIDADE

PREVISÃO

O direito à privacidade, como já mencionado, é o único dos direitos fundamentais que não está
previsto no caput do art. 5º, é encontrado em seus incisos X, XI e XII.

Art. 5º,
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 31


O direito à privacidade (gênero) engloba quatro espécies fundamentais de direitos: direito à
intimidade, direito à vida privada, direito à imagem e direito à honra.

GRAU DE PROTEÇÃO

5.2.1. Locais públicos e reservados

Os locais públicos e reservados possuem grau de proteção diversos. Um fato ocorrido em local
reservado (residência, escritório) possui uma proteção maior do que um fato ocorrido em local público.

Assim, por exemplo, uma câmera escondida colocada na residência viola a privacidade em um grau
mais elevado do que uma câmera de vigilância de rua, em que não há expectativa de privacidade.

5.2.2. Pessoas públicas e comuns


A proteção de privacidade de uma pessoa pública, em virtude da sua atividade, possui uma proteção
menor do que as pessoas comuns. Além disso, os políticos possuem uma proteção menor do que outras
pessoas públicas, como um artista por exemplo.

Obs.: as pessoas públicas, por se submeterem voluntariamente à exposição pública (artistas, esportistas e
políticos), renunciam a uma parcela de sua privacidade, sendo menor a intensidade de proteção (esfera
privada e íntima). Entretanto, ainda podem se opor à propagação da imagem ou divulgação de uma
informação sem o consentimento quando envolverem questões domésticas, familiares ou íntimas, hipóteses
nas quais, geralmente, a divulgação é abusiva. A proteção à privacidade de agentes políticos eleitos pelo voto
popular deve ocorrer apenas na esfera íntima, em razão de um interesse geral na obtenção de certas
informações de caráter pessoal.

5.2.3. Fatos de interesse público e de mero interesse público

A liberdade de informação abrange apenas fatos verdadeiros. Portanto, as chamadas “fake news” não
podem ser amparadas pela liberdade de informação, de impressa, não podendo afetar a intimidade dos
indivíduos.

Fatos de interesse público são aqueles relevantes para a sociedade, possuem proteção menor. Por
outro lado, os fatos de mero interesse público são aqueles em que as pessoas possuem curiosidade, portanto,
são protegidos em um grau maior pelo direito à intimidade.

5.2.4. Teoria das Esferas

A Teoria das Esferas, de origem alemã, pode ser adaptada à realidade brasileira e para o que está
previsto no art. 10, X, CF. Quanto mais próxima das características de identificação do indivíduo, maior deve
ser o grau de proteção ao direito à privacidade.

PÚBLICA/PUBLICIDADE PRIVADA ÍNTIMA

Abrange os atos praticados em


Abrange relações com o meio
local público ou com o desejo
social, sem o interesse de tornar Abrange informações
de torná-los públicos.
público. Por confidenciais e segredos
A vontade pode ser expressa

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 32


(reality show) ou tácita exemplo, frequentar clube pessoais. Por exemplo,
(pessoa pública recreativo, declaração de mensagens no WhatsApp.
em um evento público). imposto de renda.

5.2.5. Honra

A Constituição protege a honra subjetiva (estima de si próprio) e a honra objetiva (reputação perante
o meio social).

Importante consignar que se protege a honra objetiva das pessoas jurídicas, nos termos do art. 52 do
CC e da Súmula 227 do STJ.

CC, art. 52: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos
direitos da personalidade.
Súmula 227 STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral

5.2.6. Imagem

Observe o disposto nos arts. 20 e 21 do CC:

CC, art. 20: Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da


justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem
prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama
ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas
para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes.

CC, art. 21: A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a


requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para
impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
Percebe-se que a proteção à imagem é autônoma em relação à honra, porque, mesmo quando a
utilização da imagem não atinge a honra da pessoa, haverá a proteção à sua imagem.

Os dispositivos acima, ao protegerem a privacidade, acabaram por intervir nas liberdades de


informação, expressão, artística e científica. Tal fato ocorre porque para se publicar determinadas obras
envolvendo pessoas, inclusive públicas, seria necessária a autorização, da própria pessoa ou de seus
familiares, caso morto. Todavia, o STF entendeu que esses dispositivos precisariam passar por uma
interpretação conforme à Constituição, ou seja, precisariam de uma filtragem constitucional, pois estariam
violando as liberdades de informação, artística e intelectual, na forma como eles foram elaborados.

STF – ADI 4.815/DF: EMENTA: [...] APARENTE CONFLITO ENTRE


PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DE
INFORMAÇÃO, ARTÍSTICA E CULTURAL, INDEPENDENTE DE CENSURA
OU AUTORIZAÇÃO PRÉVIA (ART. 5º INCS. IV, IX, XIV; 220, §§ 1º E 2º) E
INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E IMAGEM
DAS PESSOAS (ART. 5º, INC. X). ADOÇÃO DE CRITÉRIO DA
PONDERAÇÃO PARA INTERPRETAÇÃO DE PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL. PROIBIÇÃO DE CENSURA (ESTATAL OU

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 33


PARTICULAR). GARANTIA CONSTITUCIONAL DE INDENIZAÇÃO E DE
DIREITO DE RESPOSTA. ADOÇÃO DE CRITÉRIO DA PONDERAÇÃO
PARA INTERPRETAÇÃO DE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL. PROIBIÇÃO
DE CENSURA (ESTATAL OU PARTICULAR). GARANTIA
CONSTITUCIONAL DE INDENIZAÇÃO E DE DIREITO DE RESPOSTA. (...)
9. Ação direta julgada procedente para dar interpretação conforme à
Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto, para,
em consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e
de sua expressão, de criação artística, produção científica, declarar
inexigível autorização de pessoa biografada relativamente a obras
biográficas literárias ou audiovisuais, sendo também desnecessária
autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes (ou de seus
familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes).
Veja como foi cobrado:

MPE/MG 2021: A liberdade de expressão, mesmo ocupando posição de destaque no rol dos direitos fundamentais, não
se traduz em direito absoluto, razão por que o Supremo Tribunal Federal vedou a publicação de biografias não
autorizadas, especialmente em casos de ofensa direta a direitos de personalidade do biografado. Errado!!

DISTINÇÕES CONCEITUAIS

5.3.1. Interceptação ambiental

É a captação ambiental (feita no ambiente) de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos feita por
terceiros sem o conhecimento dos interlocutores.

Destaca-se que a interceptação pressupõe a participação de um terceiro, sem o conhecimento de um


ou de todos os interlocutores. Quando um dos interlocutores grava a conversa, haverá gravação clandestina,
pois ausente a terceira pessoa.

Será considerada ilícita quando violar:

a) Expectativa de privacidade

Obs.: não há expectativa de privacidade quando o ato é praticado na rua, nem quando captado por câmeras
de vigilância.

b) Confiança decorrente das relações interpessoais ou profissionais (cliente e advogado).

A Lei de Organizações Criminosas, em seu art. 3º, trata da interceptação ambiental.

Lei n. 12.850/13, art. 3º: Em qualquer fase da persecução penal, serão


permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios
de obtenção da prova: (...)
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos.

A Lei de Organizações Criminosas não estabelece a forma como a captação ambiental deve ocorrer.
A doutrina e a jurisprudência, por analogia, entendem que o procedimento a ser observado é o mesmo das
interceptações telefônicas (Lei 9.296/96).

5.3.2. Gravação clandestina

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 34


Consiste na captação de uma conversa, que pode ser telefônica, pessoal (gravador de bolso) ou
ambiental (câmera escondida) feita por um dos interlocutores, e não por uma terceira pessoa, sem o
conhecimento dos demais.

Nem sempre a gravação é ilícita, podendo ser utilizada como prova se houver uma justa causa para
tal. A definição de justa causa depende de uma ponderação. Mas que fique claro: qualquer limitação de
direito fundamental só é justificada para salvaguardar outro direito constitucional, que no caso concreto
mereça ser sobreposto em relação àquele.

As gravações realizadas clandestinamente não são admitidas como prova no processo (ilícitas) – art.
5º LVI -, salvo quando justificáveis com base em outros princípios constitucionalmente consagrados, como
no caso de uma gravação clandestina utilizada pelo réu, no processo penal,
para provar sua inocência (direito de liberdade e garantia de ampla defesa).

Vejamos alguns casos que o STF entendeu haver “justa causa”:

Gravação feita pelo réu no


Prevalece o direito à liberdade e ampla defesa do réu sobre o direito
processo penal para sua
à privacidade.
defesa

Gravação feita em legítima Gravação feita contra sequestrador, chantagista, estelionatário etc.
defesa

Fundamento nos princípios da Administração (publicidade e


Gravação feita contra agente moralidade). Novelino: Na realidade o ato do agente não estaria
público protegido pela privacidade, pois estaria na esfera da publicidade

Gravação feita para


documentar conversas e
serem utilizadas Para impedir de o sujeito negar o que tinha afirmado.
futuramente como prova
(direito de defesa)

A gravação clandestina sem justa causa é vedada pelo art. 5º, X (privacidade).

STF – AI 560.223 AgR/SP: “1. A gravação ambiental meramente


clandestina, realizada por um dos interlocutores, não se confunde com a
interceptação, objeto cláusula constitucional de reserva de jurisdição. 2. É
lícita a prova consistente em gravação de conversa telefônica realizada por
um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, se não há causa legal
específica de sigilo nem de reserva da conversação. Precedentes...”.

5.3.3. Quebra de sigilo de dados

Consiste no acesso ao registro de determinadas informações privadas, tais como: extratos bancários,
declarações de imposto de renda, registro de ligações telefônicas e dados constantes de arquivos de
computador.

Pode ocorrer a quebra de sigilo:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 35


o Bancário: acesso às transações bancárias;

o Fiscal: acesso às informações declaradas ao fisco;

o Telefônico: acesso ao registro das ligações telefônicas, não há acesso às conversas da pessoa.
Apenas se sabe os números, o tempo de ligação. O conteúdo das conversas não fica gravado.

o Informático: acesso a dados de computador, pendrive.


Existe uma divergência sobre o enquadramento destes direitos. Para alguns, estariam protegidos pelo
direito à privacidade (art. 5º, X). No entanto, há quem entenda, inclusive dentro do STF, que estariam
protegidos pelo art. 5º, XII.

Art. 5º
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

A quebra do sigilo de dados será considera ilícita quando:

a) For desprovida de uma justificação constitucional (pressuposto material)

A quebra do sigilo afeta a privacidade, mas outros direitos consagrados na CF, como a segurança
pública, podem ser utilizados como justificativa.

b) Autoridade competente (pressuposto formal)

Em regra, apenas os órgãos do Poder Judiciário e as Comissões Parlamentares de Inquérito (federal e


estadual) são competentes para determinar a quebra do sigilo de dados. A CPI, em âmbito municipal, não
pode determinar a quebra do sigilo de dados, eis que não existe Poder Judiciário nos municípios.

Entende o STF que, em regra, o MP e o TCU não podem solicitar diretamente a quebra de sigilo
bancário, salvo quando houver verba pública envolvida.

STF - MS 21.729/DF: “[...] 5. Não cabe ao Banco do Brasil negar, ao Ministério


Público, informações sobre nomes de beneficiários de empréstimos
concedidos pela instituição, com recursos subsidiados pelo erário
federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando de requisição de
informações e documentos para instruir procedimento administrativo
instaurado em defesa do patrimônio público.”

MS 33.340/DF: TCU “não está autorizado a, manu militari, decretar a quebra


de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida cautelar condicionada
à prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em situações pontuais, do Poder
Legislativo. [...]. 8. In casu, contudo, o TCU deve ter livre acesso às
operações financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito
privado da Administração Indireta submetidas ao seu controle financeiro,
mormente porquanto operacionalizadas mediante o emprego de recursos de
origem pública.”

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 36


Veja como foi cobrado:

CESPE – Procurado do Município JP (2018): Não viola o direito à intimidade a requisição, pelo Ministério
Público, de informações bancárias de titularidade de órgão e entidades públicas, a fim de proteger o patrimônio público.
Correto!
Autoridade administrativa, em 2001 editou-se uma lei complementar (105/01), que dava poderes às
autoridades fazendárias, ao fisco para requisitar dados bancários diretamente, sem necessidade de ordem
judicial. A lei foi objeto de diversas ações de inconstitucionalidades, o tema foi pacificado em fevereiro de
2016, pelo STF. Vejamos o que foi decido:

O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser chamado de
"quebra de sigilo bancário". Isso porque as informações são passadas para o Fisco (ex: Receita Federal) em
caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na Administração Tributária. Logo, é uma tramitação
sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser acessível a terceiros, não pode ser considerado violação
(quebra) do sigilo.

Assim, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/2001 faz não é quebra de sigilo bancário, mas
somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados, até então protegidos pelo sigilo bancário,
prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal. Pode parecer um eufemismo, no entanto, é importante ficar atento
porque isso pode ser exigido nas provas de concurso.

Para o STF, o simples fato de o Fisco ter acesso aos dados bancários do contribuinte não viola a
garantia do sigilo bancário. Só haverá violação se esses dados "vazarem" para pessoas estranhas ao órgão
fazendário. Aí sim haveria quebra do sigilo bancário por ter sido exposta a intimidade do contribuinte para
terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/2001 prevê punições ao responsável, que estará sujeito à pena
de reclusão, de 1 a 4 anos, mais multa, além de responsabilização civil, culminando com a perda do cargo
(art. 10).

Veja como foi cobrado:

CESPE – Procurado do Município JP (2018): A inviolabilidade domiciliar não afasta a possibilidade de agentes
da administração tributária, no exercício da autoexecutoriedade, ingressarem em estabelecimento comercial ou
industrial, independentemente de consentimento do proprietário ou de autorização judicial. Errado!

Quadro-resumo dos órgãos que podem requisitar informações bancárias diretamente (sem autorização
judicial)2:

SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das
instituições financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
MP NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/09/2011).
Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias
de contas de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o
patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário
(STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em 20/10/2015).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 37


TCU NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/2012).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito
originárias de recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF. MS
33340/DF, j. em 26/5/2015).

2 Márcio Cavalcante.
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/17e62166fc8586dfa4d1bc0e1742c08b?cat
egoria=1&subcategoria=1&assunto=4
Receita Federal SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001. O repasse das informações dos bancos
para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo bancário".

Fisco estadual, SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de competência, o art.
distrital, municipal 6º da LC 105/2001, de forma análoga ao Decreto Federal 3.724/2001.

CPI SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/2001).


Prevalece que CPI municipal não pode.

Veja como foi cobrado:

TRF2 (2018) - Viola o direito fundamental à intimidade o fornecimento, pelas instituições financeiras, de informações
bancárias dos contribuintes à administração tributária, sem a intermediação do Poder Judiciário. Errado!

PC/GO (2018): O sigilo bancário pode ser levantado independentemente de autorização judicial, mas de forma
devidamente regulamentada, pela Receita Federal, pelo Fisco Estadual e pela CPI federal, estadual ou distrital. Correto!

MPE/BA (2018): A quebra do sigilo fiscal, bancário e de registros telefônicos de investigados pode ser validamente
decretada por Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que haja deliberação fundamentada e indicação da necessidade
objetiva da adoção de tal medida extraordinária. Correto!

5.3.4. Interceptação de comunicações

É a intromissão em uma comunicação, feita por um terceiro, sem o conhecimento dos interlocutores.

O direito ao sigilo das comunicações é previsto no art. 5º, XII da CF/88, e abrange o sigilo das
comunicações telefônicas, telegráficas, dados e correspondências.

Art. 5, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Apesar de o dispositivo proteger o direito de comunicação, também é corolário do direito à


privacidade. Entretanto, nem sempre uma violação a esse dispositivo (direito de comunicação)
obrigatoriamente traduzirá uma violação à privacidade do indivíduo. Ex.: Violação de correspondência que
contém apenas uma nota de 10 reais e nada mais.

a) Interceptação de correspondência (comunicações epistolares)

Art. 5, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,

por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 36
de investigação criminal ou instrução processual penal;
Apesar de o sigilo ser um direito, sabemos que nenhum direito é absoluto, podendo, no caso concreto
ser limitado. Ou seja, se no caso concreto, em um juízo de ponderação e proporcionalidade, for verificada a
necessidade de mitigar o direito à privacidade ou sigilo de correspondência em benefício de outro direito,
nada impede que seja feito.
O STF admitiu, excepcionalmente, que poderia a direção de presídio violar a correspondência de
preso, tendo em vista o uso da correspondência para práticas ilícitas. O preso tem direito à inviolabilidade de
correspondência, todavia, no caso de suspeita deve ser violada. Aqui, o princípio de peso maior (segurança
pública) justifica a violação.

STF - HC 70.814/SP: “A administração penitenciária, com fundamento em


razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da
ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a
norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei n. 7.210/84, proceder à
interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a
cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir
instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.”

‘Topos’ do STF: Direitos fundamentais não podem ser usados como escudos para práticas ilícitas.
Ou seja, o objeto dos direitos fundamentais não é proteger os indivíduos que praticam atos ilícitos, mas sim
proteger os indivíduos dos abusos do Estado.

Correios: Se houver suspeita de prática de crime ou perigo, também pode violar.

Vale lembrar que a CF prevê, expressamente, a possibilidade de violação de correspondências na


ocorrência de Estado de Defesa ou Estado de Sítio. Art. 136, §1º, I, b e art. 139, III, ambos da CF – estados
de legalidade extraordinária.

CF, Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da


República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar ESTADO DE
DEFESA para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e
iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes
proporções na natureza.
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e
limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
b) sigilo de correspondência;

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art.


137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa,
radiodifusão e televisão, na forma da lei;

b) Sigilo da comunicação de dados

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 37


Art. 5º
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Tércio Sampaio Ferraz Jr. e Manuel Gonçalves Ferreira Filho entendem que esses dados seriam
apenas informáticos.

Entre os Ministros do STF também não há um consenso, entendem que:

- Os dados bancários ou telefônicos estariam protegidos pelo inciso XII.

- A proteção a esses outros dados seria dada pelo inciso X.

- Os dois dispositivos estariam protegendo esse tipo de sigilo: o inciso X protegeria o conteúdo dos
dados e o inciso XII a transmissão ou comunicação desses dados. Segundo essa posição, o artigo 5º, inciso
XII não protegeria os dados em si, mas apenas a liberdade de comunicação. Entendimento do Sepúlveda
Pertence, costuma ser reproduzido em algumas decisões.

STF - MS 21.729 (voto do rel. min. Sepúlveda Pertence): “Da minha leitura,
no inciso XII da Lei Fundamental, o que se protege, e de modo absoluto, até
em relação ao Poder Judiciário, é a comunicação ‘de dados’, e não os ‘dados’,
o que tornaria impossível qualquer investigação administrativa, fosse qual
fosse”.

A inviolabilidade dos dados constantes de arquivos pessoais ou privados (“não transmitidos” ao


contrário dos “transmitidos” – constantes no art. 5º XII), deverá ser assegurada apenas quando estiver em
jogo uma invasão indevida na privacidade - art. 5º X.

Consequência: dados que estão em um computador de uma empresa, por exemplo, estão sujeitos a
serem ‘violados’, isto porque não há direito à privacidade, não há intimidade aqui a ser protegida.

O Ministro Gilmar Mendes, no HC 168.052, entendeu que a comunicação e os dados em si devem


ser protegidos. Sugere que ocorra mutação constitucional.

STF – HC 168.052/SP (voto do rel. min. Gilmar Mendes): Naquela


oportunidade, foi assentada a impossibilidade de interpretar-se a cláusula do
art. 5º, XII, da CF no sentido de proteção aos dados como registro, depósito
registral, porquanto a proteção constitucional seria da comunicação, e não
dos dados a modificação das circunstâncias fáticas e jurídicas, a
promulgação de leis posteriores e o significativo desenvolvimento das
tecnologias da comunicação, do tráfego de dados e dos aparelhos
smartphones levam, contudo, nos dias atuais, a solução distinta, em um
típico caso de mutação constitucional.

c) Interceptação de comunicações telefônicas

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 38


Art. 5º, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
O âmbito de proteção das comunicações telefônicas abrange a transmissão, a emissão ou a
receptação de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza
realizadas não só por telefone, mas também por e-mail, “SMS”, “WhatsApp”.

Há restrições à liberdade de comunicação telefônica, a própria Constituição estabelece requisitos


para que possa ocorrer. Antes de analisarmos, é importante diferenciar:

INTERPRETAÇÃO TELEFÔNICA EM ESCUTA


SENTIDO ESTRITO

Não há conhecimento de nenhum dos Conversa está sendo gravada por terceira pessoa e
interlocutores um dos interlocutores sabe que está ocorrendo

Lei 9.296/96, art. 1º: A interceptação de comunicações telefônicas, de


qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução
processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do
juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática (conjunto de
tecnologias que resultam da junção entre os recursos das telecomunicações
(telefonia, satélite, cabos, fibras ópticas) e da informática (computadores,
periféricos, softwares)).

É o único que recebeu tratamento especial da CF no art. 5º, o qual estabeleceu três requisitos para
ser violada em estados de normalidade:

1º Requisito: Ordem judicial

STF: Interceptação é uma matéria que obedece à chamada cláusula de reserva de jurisdição. Ou seja,
cabe somente ao poder judiciário determinar a interceptação. Assim, é defeso ao MP e às CPI’s
determinarem a interceptação telefônica.

STF - MS 23.452/RJ: O postulado da reserva constitucional de jurisdição


importa em submeter, à esfera única de decisão dos magistrados, a prática
de determinados atos cuja realização, por efeito de explícita determinação
constante do próprio texto da Carta Política, somente pode emanar do juiz, e
não de terceiros, inclusive daqueles a quem se haja eventualmente atribuído
o exercício de ‘poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. A
cláusula constitucional da reserva de jurisdição - que incide sobre
determinadas matérias, como a busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), a
interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e a decretação da prisão de
qualquer pessoa, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI) -
traduz a noção de que, nesses temas específicos, assiste ao Poder
Judiciário, não apenas o direito de proferir a última palavra, mas, sobretudo,
a prerrogativa de dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo-se [...] a
possibilidade do exercício de iguais atribuições, por parte de quaisquer
outros órgãos ou autoridades

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 39


(...)
A cláusula de reserva de jurisdição, segundo o STF, comporta as matérias de:

Inviolabilidade de domicílio A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo


(art. 5º, XI) penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial.

Interceptação das É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


comunicações telefônicas telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
(art. 5º, XII) último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal.

Prisão (art. 5º, LXI) Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei.

Sigilo legalmente imposto a A CPI não pode pedir para ter acesso às informações quando o juiz
processo judicial determina que o processo esteja em sigilo.

MS 27.483 MC-REF/DF: Comissão Parlamentar de


Inquérito não tem poder jurídico de, mediante
requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de
decisão nem de mandado judicial de interceptação
telefônica, quebrar sigilo imposto a processo
sujeito a segredo de justiça. Este é oponível a
Comissão Parlamentar de Inquérito, representando
expressiva limitação aos seus poderes
constitucionais.

2º Requisito: Na forma da lei (Lei 9.296/96)

Obs.: antes da lei, não poderia haver interceptação telefônica.

Veda a realização da interceptação de comunicações telefônicas se inexistentes indícios razoáveis da


autoria ou participação em infração penal ou quando a prova puder ser feita por outros meios disponíveis e
menos gravosos. Outrossim, só admite a interceptação para casos em que o crime seja punido com pena de
reclusão (art. 2º)

LIT, Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas


quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração
penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com
pena de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação
dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
A interceptação poderá ser determinada pelo juiz ex officio, a requerimento da autoridade policial ou
do MP, podendo ter duração máxima de 15 dias – renovável uma única vez – deve ser

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 40


processada em autos apartados, a fim de ser garantido o sigilo.

As provas decorrentes da escuta telefônica não autorizada são igualmente ilícitas por aplicação da
doutrina “fruits of a poisonous tree”.

O sigilo profissional do advogado impede a interceptação da comunicação telefônica entre o


acusado e seu defensor, exceto se este também estiver envolvido na atividade criminosa.

3º Requisito: Fim de investigação criminal ou instrução processual penal

IMPORTANTE: A prova obtida com interceptação telefônica (para fins penais) pode ser usada em
PAD contra os mesmos acusados no processo penal ou até mesmo contra outros servidores (prova
emprestada) INQ (QO-QO) 2424/RJ. Na primeira decisão, o STF tinha admitido somente contra os mesmos
réus da investigação criminal. Logo após, mudou o entendimento.

STF - Inq. 2.424 QO-QO/RJ: “Dados obtidos em interceptação de


comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente
autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução
processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo
disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais
foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam
despontado à colheita dessa prova”.

STF - RMS 28.774/DF: “[...] 4. A jurisprudência desta Corte admite o uso de


prova emprestada em processo administrativo disciplinar, em especial a
utilização de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente para
investigação criminal. Precedentes.”

STF - HC 129.678: “O ‘crime achado’, ou seja, a infração penal


desconhecida e, portanto, até aquele momento não investigada, sempre
deve ser cuidadosamente analisada para que não se relativize em excesso
o inciso XII do art. 5º da CF. A prova obtida mediante interceptação
telefônica, quando referente a infração penal diversa da investigada, deve
ser considerada lícita se presentes os requisitos constitucionais e legais.

INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

Observe a redação do art. 5º, XI, da CF:

Art. 5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo


penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito
ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;

Domicílio é a projeção territorial da privacidade, abrangendo não só residência, como também


consultórios, escritórios, quartos de hotel habitados, estabelecimentos comerciais e industriais, entre outros
aposentos. Em suma, abrange espaços privados em que não há acesso ao público. Exceção das partes abertas
ao público.
STF – HC 93.050/RJ: “... o conceito normativo de ‘casa’ revela-se
abrangente e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto
ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º,
III), compreende, observada essa específica limitação espacial (área interna
não acessível ao público), os escritórios profissionais, inclusive os de

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 41


contabilidade, ‘embora sem conexão com a casa de moradia propriamente
dita’ (NELSON HUNGRIA). Doutrina. Precedentes.”

Veja como foi cobrado:

DPE/RN (2015 – CESPE): A inviolabilidade domiciliar refere-se à residência que o indivíduo ocupa com intenção de
moradia definitiva, mas não alcança seu escritório profissional ou outro local de trabalho. Errado!

Vale dizer que violar domicílio significa adentrar ou permanecer na casa sem o consentimento do
dono.

Veículo é considerado casa?

O veículo, em regra, pode ser examinado mesmo sem mandado judicial.

Exceção: quando o veículo é utilizado para a habitação do indivíduo, como ocorre com trailers,
cabines de caminhão, barcos etc.

STF - RHC 117.767/DF: “As apreensões de documentos no interior de


veículos automotores, por constituírem hipótese de busca pessoal —
caracterizada pela inspeção do corpo, das vestes, de objetos e de veículos
(não destinados à habitação do indivíduo) —, dispensam autorização judicial
quando houver fundada suspeita de que neles estão ocultados elementos
necessários à elucidação dos fatos investigados, a teor do disposto no art.
240, § 2º, do CPP”

Não havendo consentimento, só poderá ocorrer a inviolabilidade em duas situações:

1ª Situação: Emergencial: São situações nas quais há um perigo e não é possível esperar ordem
judicial para invadir a casa. São os casos de desastre, prestação de socorro e flagrante delito (mesmo para
fugir). Nessas situações, a casa pode ser invadida em qualquer horário.

ATENÇÃO!

OBS: Flagrante em sentido estrito (não o sentido amplo do Direito processual penal).

Veja como foi cobrado:

CESPE – Procurado do Município JP (2018): Mesmo em caso de flagrante delito, o ingresso forçado de autoridade
policial em domicílio, independentemente de autorização judicial, é condicionado à demonstração de fundada suspeita
de ocorrência de crime no local. Correto!
2ª Situação: Por determinação judicial: somente durante o dia. Está sujeita à cláusula de reserva de
jurisdição.

Resumindo3:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 42


Existem três critérios que definem o que seria dia:

 Critério temporal (cronológico): Período entre às 06h e às 18h (J. A. Silva).

Obs.: No CPC pode ser cumprido até às 20h, desde que não seja necessário invadir.

 Critério físico-astronômico: Período entre a aurora (nascer do sol) e o crepúsculo


(pôr do sol).

 Critério misto (Alexandre Moraes, antes de tornar-se Ministro do STF): Seria a


conjugação dos dois anteriores, sempre na perspectiva de dar mais efetividade à
inviolabilidade. Dessa forma, o início do dia pode ocorrer tanto às 06h quanto no
momento do aurora, adotando-se o evento que ocorrer posteriormente. No mesmo
raciocínio, o dia terminaria às 18h ou quando do crepúsculo, sendo aplicada aquela que
ocorrer primeiro.

Mandado começou a ser cumprido durante o dia e se prolongou durante a noite. As provas ali
colhidas têm validade? Em geral, se for operação de grande complexidade, pela razoabilidade, deve-se
considerar válida a prova. Agora, se o mandado começou a ser cumprido pouco tempo antes das 18 e se
prolongou, haveria uma violação à finalidade constitucional. Não seria razoável. Seria prova ilícita.

Dentro de uma casa, o consentimento sobre a entrada cabe ao chefe (marido ou mulher). Os
dependentes e subordinados tem poder somente sobre proporções da casa que lhe são destinadas (quartos,
por exemplo), não quedando, no entanto, o chefe da casa de adentrar em quaisquer dos recintos.

Na discordância entre consentimentos deve prevalecer aquele que proíbe a entrada na casa.

Fiscal tributário pode entrar à força no estabelecimento? Há legislação antiga que


permitia, dizendo que o fiscal podia requisitar a força policial. No entanto, o STF diz que tal lei não foi
recepcionada neste ponto. A autoexecutoriedade da Administração Tributária cedeu lugar diante da
inviolabilidade do domicílio. Deve requisitar autorização judicial. Isso é em relação tão

3
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c74d97b01eae257e44aa9d5bade97baf?c
ategoria=1&subcategoria=1&assunto=7
somente em fiscalização para fins de tributo. Se o fiscal assim o fizer, a prova obtida será tida como ilícita.

STF – HC 103.325 MC/RJ: “O atributo da autoexecutoriedade dos atos


administrativos [...] não prevalece sobre a garantia constitucional da
inviolabilidade domiciliar, ainda que se cuide de atividade exercida pelo
Poder Público em sede de fiscalização tributária”.

Salienta-se que a arrecadação do Estado não é uma justificação legítima para a invasão de uma
residência ou de um estabelecimento comercial. Contudo, a saúde pública pode justificar a invasão de um
determinado domicílio, como entendeu o legislador quando houver suspeita de casos

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 43


de dengue, Chikungunya por exemplo:

Lei n. 13.301/16, art. 1º: “Na situação de iminente perigo à saúde pública
pela presença do mosquito transmissor do vírus da dengue, do vírus
chikungunya e do vírus da zika, a autoridade máxima do Sistema Único de
Saúde - SUS de âmbito federal, estadual, distrital e municipal fica autorizada
a determinar e executar as medidas necessárias ao controle das doenças
causadas pelos referidos vírus, nos termos da Lei no 8.080, de 19 de
setembro de 1990, e demais normas aplicáveis, enquanto perdurar a
Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional – ESPIN.
§ 1º: Entre as medidas que podem ser determinadas e executadas para a
contenção das doenças causadas pelos vírus de que trata o caput,
destacam- se:
(...)
IV - ingresso forçado em imóveis públicos e particulares, no caso de
situação de abandono, ausência ou recusa de pessoa que possa permitir o
acesso de agente público, regularmente designado e identificado, quando
se mostre essencial para a contenção das doenças.

Escritório vazio e busca e apreensão realizada à noite por ordem judicial:

No Inquérito 2.424/RJ, o STF considerou válida a instalação de escuta ambiental por policiais, no
escritório de advocacia de um advogado suspeito da prática de crimes. A colocação das escutas ocorreu no
período da noite por determinação judicial.

STF – Inq 2.424/RJ: “8. PROVA. Criminal. Escuta ambiental e exploração


de local. Captação de sinais óticos e acústicos. Escritório de advocacia.
Ingresso da autoridade policial, no período noturno, para instalação de
equipamento. Medidas autorizadas por decisão judicial. Invasão de
domicílio. Não caracterização. Suspeita grave da prática de crime por
advogado, no escritório, sob pretexto de exercício da profissão. Situação
não acobertada pela inviolabilidade constitucional”

O STF afirmou que a CF/88, no seu art. 5º, X e XI, garante a inviolabilidade da intimidade e do
domicílio dos cidadãos, sendo equiparados ao domicílio, para fins dessa inviolabilidade, os escritórios de
advocacia, locais não abertos ao público, e onde se exerce profissão (art. 150, § 4º, III, do CP). No entanto,
apesar disso, entendeu-se que tal inviolabilidade pode ser afastada quando o próprio advogado seja suspeito
da prática de crime concebido e consumado, sobretudo no âmbito do seu escritório, sob pretexto de exercício
da profissão. Neste caso, os interesses e valores jurídicos, inviolabilidade do domicílio, que não tem caráter
absoluto, deve ser ponderada e conciliada com o direito de puir, à luz da proporcionalidade.
Assim, apesar de ser possível a equiparação legal da oficina de trabalho com o domicílio, julgou-se
ser possível a instalação da escuta, por ordem judicial, no período da noite, principalmente porque durante
esse período o escritório fica vazio, não sendo, portanto, possível sua equiparação neste caso ao domicílio,
que pressupõe a presença de pessoas que o habitem.

6. DIREITO DE LIBERDADE

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 44


Observe a redação do art. 5º, caput, da CF:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

Liberdade não é sinônimo de arbitrariedade. Liberdade pressupõe responsabilidade.

As liberdades não são absolutas, porém para que o poder público possa restringi-las, alguns limites
devem ser observados (limites dos limites). Não pode haver restrição que viole núcleo essencial do
direito, que não obedeça à reserva legal etc. Se isso não for observado, não há legitimidade da restrição.

Importante a distinção entre liberdade negativa e liberdade positiva, feita por Benjamim Constant,
observe:

LIBERDADE NEGATIVA LIBERDADE POSITIVA

Também chamada de liberdade civil, dos Também chamada de liberdade política, dos
modernos e do agir. antigos e do querer.

É a situação na qual um indivíduo tem a Situação na qual um indivíduo tem a possibilidade


possibilidade de agir sem ser impedido, ou de não de orientar seu próprio querer no sentido de uma
agir sem ser obrigado por todos. Em suma: finalidade, sem ser determinado pelo querer dos
consiste em uma ausência de constrangimento. outros. Consagra a autonomia da vontade.

LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO

6.2.1. Previsão constitucional

Prevista no art. 5º, IV da CF.

Art. 5º, IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o


anonimato;

6.2.2. Âmbito de proteção


A finalidade da liberdade de manifestar o pensamento é permitir a livre competição no “mercado de
ideias”. Em outras palavras, é permitir que as pessoas digam aquilo que pensam para que as melhores ideias
possam prevalecer.

A CF não protege apenas o pensamento em si (e nem precisa, pois qualquer um pode pensar o que
bem entender sem necessidade de qualquer previsão), mas sim a liberdade de manifestar ou expressar o
pensamento.

A interferência estatal no pensamento da pessoa não ocorre. Contudo, ao analisarmos a dimensão


objetiva dos direitos fundamentais, para uma pessoa ter um pensamento realmente livre precisa ter acesso a
determinados bens (saúde, educação) e determinadas informações, pois uma pessoa que não possui este
acesso não tem condições de pensar livremente e ter autodeterminação. Segundo Novelino, citando um
filósofo russo, “assegurar salvaguardas políticas

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 45


ou ampliar a liberdade de indivíduos desnutridos, doentes, seminus é zombar de sua condição”.

Segundo o STF, na ADPF 187 (“Marcha da maconha”), defender, no plano de ideias, que o uso de
drogas deve ser descriminalizado é diferente da prática do delito e é diferente da apologia ao fato criminoso.
Isso porque a liberdade de manifestação do pensamento deve ser assegurada, principalmente, quando o
indivíduo tem ideias contrárias às da maioria. Além disso, a democracia em sentido material não se confunde
apenas com a premissa majoritária, sendo que ela deve ser aliada à proteção dos direitos básicos de todos,
inclusive, o direito das minorias.

STF - ADPF 187/DF: O DIREITO À LIVRE MANIFESTAÇÃO DO


PENSAMENTO: NÚCLEO DE QUE SE IRRADIAM OS DIREITOS DE
CRÍTICA, DE PROTESTO, DE DISCORDÂNCIA E DE LIVRE
CIRCULAÇÃO DE IDEIAS - ABOLIÇÃO PENAL (“ABOLITIO CRIMINIS”) DE
DETERMINADAS CONDUTAS PUNÍVEIS - DEBATE QUE NÃO SE
CONFUNDE COM INCITAÇÃO À PRÁTICA DE DELITO NEM SE
IDENTIFICA COM APOLOGIA DE FATO CRIMINOSO - DISCUSSÃO QUE
DEVE SER REALIZADA DE FORMA RACIONAL, COM RESPEITO ENTRE
INTERLOCUTORES E SEM POSSIBILIDADE LEGÍTIMA DE REPRESSÃO
ESTATAL, AINDA QUE AS IDEIAS PROPOSTAS POSSAM SER
CONSIDERADAS, PELA MAIORIA, ESTRANHAS, INSUPORTÁVEIS,
EXTRAVAGANTES, AUDACIOSAS OU INACEITÁVEIS. A PROTEÇÃO
CONSTITUCIONAL À LIBERDADE DE PENSAMENTO COMO
SALVAGUARDA NÃO APENAS DAS IDEIAS E PROPOSTAS
PREVALECENTES NO ÂMBITO SOCIAL, MAS, SOBRETUDO, COMO
AMPARO EFICIENTE ÀS POSIÇÕES QUE DIVERGEM, AINDA QUE
RADICALMENTE, DAS CONCEPÇÕES PREDOMINANTES EM DADO
MOMENTO HISTÓRICO-CULTURAL, NO ÂMBITO DAS FORMAÇÕES
SOCIAIS - O PRINCÍPIO MAJORITÁRIO, QUE DESEMPENHA
IMPORTANTE PAPEL NO PROCESSO DECISÓRIO, NÃO PODE
LEGITIMAR A SUPRESSÃO, A FRUSTRAÇÃO OU A ANIQUILAÇÃO DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS, COMO O LIVRE EXERCÍCIO DO DIREITO
DE REUNIÃO E A PRÁTICA LEGÍTIMA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO,
SOB PENA DE COMPROMETIMENTO DA CONCEPÇÃO MATERIAL DE
DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL. INADMISSIBILIDADE DA “PROIBIÇÃO
ESTATAL DO DISSENSO” - NECESSÁRIO RESPEITO AO DISCURSO
ANTAGÔNICO NO CONTEXTO DA SOCIEDADE CIVIL COMPREENDIDA
COMO ESPAÇO PRIVILEGIADO QUE DEVE VALORIZAR O CONCEITO DE
“LIVRE MERCADO DE IDEIAS” – [...] A IMPORTÂNCIA DO CONTEÚDO
ARGUMENTATIVO DO DISCURSO FUNDADO EM CONVICÇÕES
DIVERGENTES - A LIVRE CIRCULAÇÃO DE IDEIAS COMO SIGNO
IDENTIFICADOR DAS SOCIEDADES ABERTAS, CUJA NATUREZA NÃO
SE REVELA COMPATÍVEL COM A REPRESSÃO AO DISSENSO E QUE
ESTIMULA A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS DE LIBERDADE EM
OBSÉQUIO AO SENTIDO DEMOCRÁTICO QUE ANIMA AS
INSTITUIÇÕES DA REPÚBLICA.

De acordo com o STF, a liberdade de expressão (liberdade de manifestação do pensamento


+ liberdade de imprensa) possui “posição referencial”, ou seja, não há primazia absoluta deste direito sobre
os demais (todos os direitos fundamentais estão no mesmo plano, embora haja uma hierarquia de valores).
Assim, prima facie a liberdade de expressão prevalece sobre os demais direitos, haverá responsabilidade caso
o manifeste de maneira abusiva. Em suma, deve-se evitar as censuras prévias, permitindo a liberdade de
expressão, sendo a pessoa responsabilizada quando

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 46


houver abusos (ADPF 130).

STF – ADPF 130: “Ponderação diretamente constitucional entre blocos de


bens de personalidade: o bloco dos direitos que dão conteúdo à liberdade
de imprensa e o bloco dos direitos à imagem, honra, intimidade e vida
privada. Precedência do primeiro bloco. Incidência a posteriori do segundo
bloco de direitos, para o efeito de assegurar o direito de resposta e assentar
responsabilidades penal, civil e administrativa, entre outras consequências
do pleno gozo da liberdade de imprensa.”

STF - Rcl 18.638 MC/CE: “[...] 33. A conclusão a que se chega, portanto, é a
de que o interesse público na divulgação de informações – reiterando-se a
ressalva sobre o conceito já pressupor a satisfação do requisito da verdade
subjetiva – é presumido. A superação dessa presunção, por algum outro
interesse, público ou privado, somente poderá ocorrer, legitimamente, nas
situações-limite, excepcionalíssimas, de quase ruptura do sistema. Como
regra geral, não se admitirá a limitação de liberdade de expressão e de
informação, tendo-se em conta a já mencionada posição preferencial
(preferred position) de que essas garantias gozam.”

6.2.3. Restrições

A vedação do anonimato é a única restrição expressa na Constituição, visa evitar manifestações


abusivas do pensamento, que podem ofender terceiros. Assim, permite-se a responsabilização no caso de
manifestações abusivas ou que violem direitos de terceiros.

A Constituição assegura o direito de resposta (art. 5º, V da CF), sendo um direito autônomo em
relação ao direito à liberdade.

Art. 5º, V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além


da indenização por dano material, moral ou à imagem;

Veja como foi cobrado:

PF (CESPE – 2021): Como regra, a medida própria para a reparação de eventual abuso da liberdade de expressão é o
direito de resposta ou a responsabilização civil, e não a supressão de texto jornalístico por meio de liminar. Correta!

Sepúlveda Pertence: a manifestação do pensamento é um direito que se exaure quando se realiza. Ou


seja, não pode ser proibida a manifestação de expressão (não pode haver censura), mas isso não significa que
a pessoa não possa ser, posteriormente, responsabilizada.

Indaga-se:

1) Disque denúncia (denúncia anônima) serve como prova processual, uma vez que a Constituição
veda o anonimato? Não se admite a denúncia anônima, pura e simples, como prova processual. O disque
denúncia serve apenas para que a autoridade investigue e colha as provas válidas para a instauração do
processo.

2) As provas colhidas a partir da denúncia anônima não seriam ilícitas por derivação? Segundo o
STF, a investigação é autônoma em relação à denúncia, ou seja, a autoridade policial não fica impedida de
realizar a investigação porque foi feita uma denúncia anônima, o policial tendo conhecimento do fato iria
investigar e acusaria conforme as provas da investigação.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 47


STF - Inq 1.957 (voto do Min. Celso de Mello): “Nada impede, contudo, que
o Poder Público, provocado por delação anônima (‘disque-denúncia’, p. ex.),
adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação
sumária, ‘com prudência e discrição’, a possível ocorrência de eventual
situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a
verossimilhança dos fatos nela denunciados em ordem a promover, então,
em caso positivo, a formal instauração da ‘persecutio criminis’, mantendo-
se, assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em relação
às peças apócrifas”.

Súmula 611 STJ: Desde que devidamente motivada e com amparo em


investigação ou sindicância, é permitida a instauração de processo
administrativo disciplinar com base em denúncia anônima, em face do
poder- dever de autotutela imposto à Administração.

3) Bilhetes ou cartas apócrifos (sem assinatura) servem como prova? Em regra, não.

Exceções: O STF admite quando o bilhete constitui o próprio corpo de delito do crime (ex.: carta
injuriosa é o corpo de delito do crime contra a honra, logo é válida). Outra hipótese que o STF admite ocorre
quando o bilhete sem assinatura é produzido pelo próprio acusado (ex.: bilhete que o sequestrador pede o
resgate). Claro que a utilização do elemento como prova dependerá de perícia etc.

Importante destacar que a igualdade e a dignidade da pessoa humana, de acordo com o STF, são
restrições implícitas à liberdade de expressão. Assim, a incitação ao ódio (hate speech) não está
protegida pela liberdade de manifestação do pensamento.

STF – RHC 146.303/RJ (2ª Turma): “A incitação ao ódio público contra


quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está protegida
pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. [...] A
Turma considerou que o exercício da liberdade religiosa e de expressão não
é absoluto, pois deve respeitar restrições previstas na própria Constituição.
Nessa medida, os postulados da igualdade e da dignidade pessoal dos
seres humanos constituem limitações externas à liberdade de expressão,
que não pode e não deve ser exercida com o propósito subalterno de
veicular práticas
criminosas tendentes a fomentar e a estimular situações de intolerância e
de ódio público.

Também é o entendimento adotado pelo Legislador que criminalizou este tipo de conduta (art. 20 da
Lei 7.716/89)

Lei 7.716/89, art. 20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou


preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”

LIBERDADE DE INFORMAÇÃO

6.3.1. Conceito

Art. 5º, XIV - é assegurado a todos o acesso à INFORMAÇÃO e resguardado o sigilo da fo


Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, obs

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 48


Temos aqui três aspectos: direito de informar, direito de se informar e direito de ser informado.

O direito de informar consiste em transmitir informações pelos meios de comunicação.

A Constituição reconhece esse direito no art. 220, caput, quando estatui que a informação sob forma
alguma, processo ou veículo não sofrerá qualquer restrição. Ou seja, caráter negativo, o estado se
compromete a não intervir, mas também não dá os meios para que a informação seja transmitida.
Excepcionalmente, neste inc. V do art. 5º, podemos enxergar o caráter positivo deste direito, pois aqui,
quando o indivíduo tem a honra maculada devido ao “direito à informação” ou “manifestação do
pensamento”, terá direito de resposta transmitida por esse mesmo meio de comunicação.

Art. 5º, V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além


da indenização por dano material, moral ou à imagem;

O direito de se informar corresponde à faculdade de o indivíduo buscar as suas informações


pretendidas sem quaisquer obstáculos.

O direito de ser informado equivale à faculdade de ser mantido completa e adequadamente


informado.

6.3.2. Liberdade de informação jornalística

A CF não recepcionou o art. 4º do DL 972/69, o qual exige diploma de curso superior de jornalismo
para o exercício da profissão.

O STF decidiu, neste sentido, por encarar a liberdade de informação jornalística umbilicalmente
ligada à manifestação de pensamento e liberdade de informação, por isso, não quis vincular o exercício do
jornalismo ao diploma, para não obstar tais direitos.
Mesmo entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO

Art. 5º, VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

6.4.1. Conceitos

Liberdade de CONSCIÊNCIA Liberdade de CRENÇA Liberdade de CULTO

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 49


É faculdade de aderir certos É a faculdade de crer em É a exteriorização da liberdade de
valores morais ou espirituais, conceitos sobrenaturais crença, podendo ser exercida
independentemente de proposto por alguma religião ou tanto em locais públicos quanto
qualquer valor religioso. É a mais revelação, chamado de teísmo, provados.
ampla delas. Pode referir-se ao bem como acreditar na existência
fato de a pessoa ter crença ou até de Deus, mas rejeitar qualquer Os locais de realização de cultos
mesmo não ter crença, além de espécie de revelação divina são protegidos pela CF e
poder se referir à consciência (deísmo) ou, ainda, não ter crença possuem imunidade (art. 150, VI,
política, filosófica etc. em Deus algum (ateísmo) “b”).

6.4.2. Escusa de consciência (art. 5º, VIII)

CF, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou
de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;

É a possibilidade de a pessoa invocar o chamado imperativo de consciência, para se eximir de


determinadas obrigações. O sujeito invoca uma convicção pessoal (religiosa, política ou filosófica) para se
eximir de obrigação a todos imposta, devendo, no caso, prestar obrigação alternativa.

Habermas: Não se pode obrigar uma pessoa praticar algo impossível.

O Estado deve criar a lei para que a pessoa tenha a opção em caso de violação de sua consciência. Se
o estado não edita a lei, não pode a pessoa ser penalizada.

Outro exemplo pertinente é o do voto obrigatório, alegando um imperativo de consciência o


indivíduo pode deixar de votar. Caso não cumpra a prestação alternativa, terá que cumprir a pena prevista no
art. 15, IV, CF (suspensão dos direitos políticos).

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa
(SOMENTE A NEGATIVA DE CUMPRIMENTO DE PRESTAÇÃO
ALTERNATIVA QUE GERA), nos termos do art. 5º, VIII;

Destaca-se que objeção de consciência, para ser admitida, deve ser baseada em convicções
seriamente arraigadas, isto é, que poderão causar grave tormento moral, caso o indivíduo seja obrigado a
fazer determinada obrigação. Em suma, deve ser um pensamento suficientemente estruturado, coerente e
sincero.

Exemplo clássico é o serviço militar obrigatório:

CF, art. 143: “(...).


§ 1º: Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em

§ 2º: As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1
obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir”.
50
Observe que o legislador constituinte originário somente assegurou a escusa de consciência no caso
do serviço militar obrigatório em tempo de paz. Como essa é uma norma originária, não há como se
questionar sua constitucionalidade e nem como ponderar diante da escusa de consciência. Além disso, aquele
que alega o imperativo de consciência pode ser dispensado de atividades de caráter essencialmente militar,
podendo prestar outras atividades dentro da estrutura militar.

Indaga-se:

1) Pode-se alegar a escusa de consciência para não se alistar e não votar? Não. Conforme entendeu o
TRF1 (AC 16.203), a obrigação de votar é meramente formal. Em outras palavras, a pessoa é obrigada a
comparecer à votação, mas não é obrigada a votar em determinado candidato ou partido, pode optar pelo
voto em branco ou anular seu voto.

TRF1 - AC 16.203: [...] 2. Não pode o autor eximir-se de comparecer à


votação expondo como argumento a inviolabilidade da liberdade de
consciência e a privação de direitos referentes à convicção filosófica ou
política (art. 5.º, VI e VIII, da CF/1988), pois aos brasileiros alfabetizados,
maiores de dezoito e menores de setenta anos, o voto é obrigatório, conforme
art. 14, § 1.º, I, da Constituição Federal. 3. A obrigatoriedade de votar é
formal, logo a liberdade está garantida pela faculdade do cidadão de
votar em branco ou anular seu voto. 4. Os pedidos de declaração da
inexistência de obrigatoriedade do voto e da desnecessidade de justificação
ou cumprimento de prestação alternativa são juridicamente impossíveis em
face do ordenamento constitucional (art. 14, § 1.º, I da CF/1988). 5.
Apelação improvida.

2) Há o direito de realizar provas ou concursos públicos em dias diferentes dos demais, com o intuito
de respeitar o seu dia de guarda (pôr do sol de sexta até o pôr do sol de sábado)? O ideal é que o direito seja
respeitado, tendo em vista que é uma convicção coerente, sincera dessas pessoas. Contudo, não pode haver
prejuízo para os demais participantes do certame. Por exemplo, provas distintas poderiam causar quebra da
isonomia, já que é impossível fazer duas questões com o mesmo nível de dificuldade. Por isso, o ideal é que
a pessoa que alegou escusa de consciência ,
fique em um local reservado, sem contato com o mundo exterior, aguardando passar o período de guarda,
para realizar a prova

O STF (STA 389 AgR/MG) não admitiu que membros de determinada religião realizassem a prova
do ENEM em dia diverso, em razão da violação do princípio da igualdade.

STA 389 AgR/MG: [...] 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão


do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat 3.
Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e
ao direito à educação. [...] 5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar
que a designação de data alternativa para a realização dos exames não se
revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio
para um determinado grupo religioso [...]; 7. Pendência de julgamento das
Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 391 e nº 3.714, nas quais este
Corte poderá analisar o tema com maior profundidade. 8. Agravo
Regimental conhecido e não provido.

Obs.: tratando-se de provas em faculdades e escolas, a Lei 13.796/2019 alterou a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação permitindo que, mediante prévio e motivado requerimento, o aluno possa
ausentar-se de prova ou da aula nos dias de guarda.
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 51
Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública
ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de
consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado
requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que,
segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais
atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos
para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do
inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:
I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data
alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com
sua anuência expressa;
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com
tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.
§ 1º A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o
plano de aula do dia da ausência do aluno.
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alternativa de que trata este
artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive
regularização do registro de frequência.
§ 3º As instituições de ensino implementarão progressivamente, no prazo de
2 (dois) anos, as providências e adaptações necessárias à adequação de
seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o
art. 83 desta Lei.

6.4.3. Dever de neutralidade do Estado

Destaca-se que no Império o Brasil possuía uma religião oficial, mas desde o advento da República
tornou-se um Estado Laico, nos termos do art. 19 da CF/88.
Desde o advento da República, o Estado brasileiro é considerado um Estado LAICO, não
confessional ou secular. Ou seja, é aquele que não tem religião oficial. Há uma separação entre Estado e
Igreja.

LAICIDADE LAICISMO ATEÍSMO

Esse é o sentido de Estado


LAICO.
Laicidade é uma
NEUTRALIDADE em relação às
concepções religiosas (art. 19).
Não significa que a religião não
tem importância. Significa que não
pode haver favorecimentos ou É a falta de crença em um Deus. O
prejuízos em relação à É uma espécie de antirreligião, o Estado brasileiro não é ateu, basta
determinada religião. que não se coaduna com os
princípios constitucionais ver o preâmbulo.
CF, art. 19: É vedado à União, brasileiros
aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 52


I - estabelecer cultos religiosos ou
igrejas, subvencioná-los,
embaraçar-lhes o funcionamento
ou manter com eles ou seus
representantes relações de
dependência ou aliança,
ressalvada, na forma da lei, a
colaboração de interesse público.

A LAICIDADE fundamenta-se na neutralidade no exercício do poder, é uma condição necessária


para a garantia da simétrica da liberdade religiosa, bem como para desarmar o potencial conflituoso da
diversidade religiosa (Habermas).

Em relação à utilização de crucifixos ou outros símbolos religiosos em locais públicos,


o CNJ, após três pedidos de retirada, entendeu que os crucifixos são parte da cultura brasileiro, não ferindo o
dever de neutralidade do Estado. Na Alemanha, em um caso semelhante, foi decidido exatamente o contrário,
determinou-se a retirada das escolas públicas.

Segundo Novelino, Dworkin também corrobora com o entendimento da abstenção da utilização de


símbolos religiosos, afirma que: “Em uma sociedade secular tolerante o Estado não deve estar
oficialmente comprometido com o ateísmo nem com qualquer religião. Não deve tolerar qualquer
referência ou insinuação religiosa ou antirreligiosa em cerimônias oficiais ou em declarações
políticas. [...] Não deve considerar ilegal símbolos religiosos, mas também não deve instalar ou
permitir que se instale tais símbolos em qualquer propriedade pública”

Em relação ao ensino religioso ministrado nas escolas públicas, a CF (art. 210, §1º) e o art.
33 da LDB consideram uma matéria facultativa, devendo respeitar a diversidade cultural religiosa que existe
no Brasil, ficando proibido qualquer forma proselitismo (esforço para converter alunos).

CF – Art. 210, § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá


disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.

LDB - Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante


da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais
das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à
diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a
definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas
para a habilitação e admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas
diferentes
O Brasil possui um acordo denominações
com a Santa religiosas, para a definição dos conteúdos do
Sé que prevê:

Art. 11, §1º o ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de


matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras
leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação.

A LDB e o Acordo Brasil-Santa Sé foram objeto de uma ação de inconstitucionalidade no STF, em


que se requereu uma interpretação conforme à Constituição para que o ensino religioso fosse não
confessional.

Importante consignar que há três espécies de ensino religioso, são elas:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 53


CONFESSIONAL INTERCONFESSIONAL NÃO CONFESSIONAL

É transmitido os princípios e
dogmas de cada religião, a
É transmitido os princípios É transmitida uma visão
exemplo da Católica,
comuns de cada religião. neutra de cada religião.
Protestante, Evangélica,
Espírita.

Na ADI 4.439/DF, por maioria de votos, o STF entendeu que haveria um esvaziamento do ensino
religioso se fosse ministrado na espécie não confessional. O ensino religioso deve ser confessional,
assegurando as várias crenças (pluralismo), substituir os dogmas de fé (núcleo do conceito de ensino
religioso) tornaria uma espécie de filosofia ou sociologia.

STF - ADI 4.439/DF: ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS PÚBLICAS.


CONTEÚDO CONFESSIONAL E MATRÍCULA FACULTATIVA. RESPEITO
AO BINÔMIO LAICIDADE DO ESTADO/LIBERDADE RELIGIOSA.
IGUALDADE DE ACESSO E TRATAMENTO A TODAS AS CONFISSÕES
RELIGIOSAS. CONFORMIDADE COM ART. 210, §1°, DO TEXTO
CONSTITUCIONAL. CONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 33, CAPUT E
§§ 1º E 2º, DA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
E DO ESTATUTO JURÍDICO DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL
PROMULGADO PELO DECRETO 7.107/2010. AÇÃO DIRETA JULGADA
IMPROCEDENTE.
Veja como foi cobrado:

MPE/GO (2019): Segundo jurisprudência recente do Supremo Tribunal Federal, o ensino religioso nas escolas públicas de
ensino fundamental, que constituir· disciplina dos horários normais, poderá ter natureza confessional, na medida que
sua matrícula É facultativa nos termos do artigo 210, § 1°, da CF/88. Correto!

Contudo, Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Marco Aurélio e Celso de Mello (minoria) concederam
interpretação conforme à Constituição Federal, em razão da liberdade religiosa e o dever de neutralidade
do Estado, devendo o ensino religioso ter natureza não confessional, transmitindo uma visão neutra de
cada religião.

Em relação ao sacrifício de animais em rituais religiosos, questionou-se no STF uma lei do


Rio Grande do Sul que proibia o sacrifício de animais, salvo nos casos de livre exercício dos cultos religiosos
de matrizes africanas. O STF entendeu que a lei do RS era compatível com a Constituição, tendo em vista
que o sacrifício de animais é essencial aos rituais das religiões de matriz africana, não se admite crueldade
com o animal, empregam-se técnicas e procedimentos para que morte ocorra rapidamente.

STF – RE 494.601/RS: É constitucional a lei de proteção animal que, a fim


de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em
cultos de religiões de matriz africana.

Veja como foi cobrado:

MPE/GO (2019): É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o
sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana, conforme entendimento recente do STF. Correto!

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 54


LIBERDADE DE REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO

6.5.1. Conceito

*OBS: estão protegidos pelo art. 60 CF (cláusulas pétreas), embora se refira só a “individuais”.

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


...
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; voto obrigatório não é
cláusula pétrea.
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

Há quem diga que são direitos coletivos, no entanto, conforme a doutrina de José Afonso da Silva,
trata-se de direitos individuais de expressão coletiva.

É a expressão coletiva da liberdade de manifestação do pensamento. (Dirley da Cunha)

6.5.2. Reunião X Associação (diferenças e semelhanças)

Conforme Jean Rivero, possuem duas características em comum:


• ELEMENTO SUBJETIVO: Pluralidade de participantes.

• ELEMENTO TELEOLÓGICO: Fim previamente determinado, ou seja, a reunião ou associação


casuística, sem qualquer finalidade, não estão no âmbito de proteção da norma constitucional.

Característica distintiva

• ELEMENTO TEMPORAL: reunião é temporária; associação é definitiva.

6.5.3. Reunião

É uma pluralidade de pessoas que se unem durante determinado tempo, em determinado local, em
defesa conjunta de determinada ideia, com o fim de protestar, expressar opinião ou proteger interesses. Deve
ser pacífica e sem armas.

Reunião não pacífica é aquela em que seus participantes põem em risco outras pessoas ou bens
alheios.

A reunião tem caráter temporário, episódico. As pessoas se reúnem, deliberam sobre o fim proposto,
e a reunião acaba (art. 5º, XVI). Não é necessário autorização de autoridade, basta o AVISO PRÉVIO, para
não frustrar outra reunião e para que a autoridade pública tome as providências necessárias.

Art. 5º, XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

A exigência de aviso prévio existe unicamente para permitir que o poder público zele para

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 55


que o exercício do direito se dê de forma pacífica e que não frustre outra reunião no mesmo local. Assim,
esse prévio aviso deve ocorrer sempre que possível, mas, se não existir, não se pode falar em reunião ilegal.

Conforme explicou o Min. Dias Toffoli:

“(...) o ‘prévio aviso à autoridade competente’, nos termos do art. 5º, inciso
XVI, da Constituição, não constitui condicionante ao exercício do direito de
reunião e de manifestação, mas formalidade a ser cumprida, sempre que
possível, a fim de propiciar que o direito de reunião e de livre manifestação
seja exercido de maneira pacífica, ordeira e segura (...)”

O STF afirmou que as autoridades públicas devem adotar uma postura ativa, ou seja, diante de uma
reunião que esteja sendo anunciada publicamente ou mesmo que já esteja ocorrendo, as autoridades não
podem simplesmente alegar que não foram previamente notificadas. Afinal de contas, manifestações
espontâneas (sem estarem previamente organizadas) não são proibidas nem pelo texto constitucional, nem
pelos tratados de direitos humanos. Assim, a inexistência de notificação não torna ipso facto (por si só)
ilegal a reunião.

Tese fixada pelo STF:


A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de
reunião é satisfeita com a veiculação de informação que permita ao poder
público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para que
não frustre outra reunião no mesmo local. STF. Plenário. RE 806339/SE,
Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 855) (Info 1003).

O direito de reunião pode ser RESTRINGIDO em estado de defesa, e SUSPENSO em estado de


sítio, AINDA que exercido no seio de associações.

6.5.4. Associação

Art. 5º XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos (acepção


positiva), vedada a de caráter paramilitar;

Ninguém é obrigado a associar-se, e uma vez associado, ninguém é obrigado a manter-se nessa
condição. (Acepção negativa)

As sociedades unipessoais e as fundações não estão no âmbito de proteção da norma. Apesar disso, o
termo associação deve ser entendido em sentido lato, não ficando restrita à proteção de pessoas jurídicas
regularmente constituídas. Nada impede, no entanto, que o legislador ordinário limite às associações
devidamente registradas o exercício de determinados direitos, numa necessidade de mantença da ordem
pública e defesa de terceiros.

A associação tem caráter permanente. As pessoas, geralmente, se associam com a intenção de


permanecer associadas entre si.

Art. 5º, XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas,


têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;

Esse caso configura representação ou substituição processual? Trata-se de


REPRESENTAÇÃO, segundo o STF. Pois precisa de autorização expressa, ou seja, a autorização

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 56


não pode estar genericamente prevista no Estatuto da associação. Deve haver uma autorização específica,
podendo ser tanto individual quanto coletiva em assembleia. A representação deve ter relação com os fins da
entidade.

Art. 5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou ASSOCIAÇÃO legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;

Esses legitimados da alínea B são mais amplos que os da ADI.

Questão: Qual a natureza da impetração de MS coletivo pela associação? Aqui é hipótese de


substituição processual (legitimação extraordinária). Ou seja, não é necessária a autorização expressa,
peculiar aos casos de representação. Aqui, a associação age em nome próprio, defendendo o interesse dos
associados, não havendo necessidade de o direito violado ter relação direta com os fins da associação.
STF: Súmula 629 - a impetração de mandado de segurança coletivo por
entidade de classe em favor dos associados independe da autorização
destes.

STF Súmula 630 - a entidade de classe tem legitimação para o mandado de


segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma
parte da respectiva categoria.

De acordo com o STF4:

AS ASSOCIAÇÕES PRECISAM DE AUTORIZAÇÃO ESPECÍFICA DE SEUS FILIADOS


PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÕES EM DEFESA DESTES?

REGRA GERAL: SIM


ão é suficiente para legitimar a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados. Para cada ação, é indispensável que os filiado
a.
o defende, em nome dos filiados, direito dos filiados que autorizaram).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 57


EXCEÇÃO 1: MS coletivo EXCEÇÃO 2: MI coletivo
Fundamento: o inciso LXX do art. 5º da CF/88 NÃO exige autorização
Fundamento:expressa.
o art. 12, III, da Lei nº 13.300/2016 afirma ex
O LXX do art. 5º da CF/88 NÃO exige autorização expressa. Trata-se de hipótese de legitimação extraordinária (substitu

4
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/07d5938693cc3903b261e1a3844590ed?p alavra-
chave=As+associa%C3%A7%C3%B5es+podem+propor+a%C3%A7%C3%B5es+coletivas+em+favor+dos+
seus+associados
Em suma (conclusões feitas pelo Prof. Márcio Cavalcante – Dizer o Direito5):

1) As associações podem propor ações coletivas em favor dos seus associados.

2) A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus
interesses.

3) A autorização dada pelos associados precisa ser expressa e específica para cada ação. Assim, não
é suficiente a autorização genericamente prevista no estatuto da associação.

4) Essa autorização pode ser feita de duas formas: a) por declaração individual do
associado; ou b) por aprovação na assembleia geral da entidade.

5) Vale ressaltar que, no caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a


associação não precisa de autorização específica dos filiados (Súmula 629-STF).

6) Para que seja beneficiada pela sentença favorável obtida na ação coletiva proposta pela
associação é necessário que a pessoa: a) esteja filiada à associação no momento da propositura;
b) seja residente no âmbito da jurisdição do órgão julgador; e c) tenha autorizado o ajuizamento da ação e
seu nome esteja na lista anexada junto à petição inicial.

7) O art. 2-A da Lei nº 9.494/97 é constitucional.

6.5.5. Sindicato

Art. 8º, III - ao SINDICATO cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos
ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas;

Não há necessidade de autorização expressa dos sindicalizados, logo é hipótese de


substituição processual.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 58


Essa autorização é um traço que distingue a legitimidade das entidades associativas (art.
5º, XXI) em relação à legitimidade das entidades sindicais (art. 8º, III)6:

Ação coletiva proposta por ASSOCIAÇÃO Ação coletiva proposta por


ENTIDADES SINDICAIS
Art. 5º (...) Art. 8º (...)
XXI - as entidades associativas, quando III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e
expressamente autorizadas, têm legitimidade para interesses coletivos ou individuais da categoria,
representar seus filiados judicial ou inclusive em questões judiciais ou administrativas;
extrajudicialmente;
A associação atua como representante O sindicato atua como substituto processual (em
processual (atua em nome dos associados). nome próprio defendendo direito alheio).
A associação precisa da autorização dos O sindicato não precisa da autorização dos
associados para propor a ação coletiva na defesa membros da categoria (trabalhadores) para propor
de seus interesses. a ação coletiva na defesa de seus interesses.

5 Idem
6 Idem
A associação é obrigada a apresentar a relação O sindicato não precisa apresentar a relação
nominal dos associados que autorizaram a nominal dos substituídos juntamente com a
demanda juntamente com a petição inicial da ação petição inicial da ação proposta.
proposta.

O sindicato não precisa apresentar a relação nominal dos substituídos juntamente com a petição
inicial da ação proposta

OBS: Direitos que não dependem de autorização estatal

1) Liberdade de reunião;

2) Criação de associações e, na forma da lei, de cooperativas;

3) Criação de sindicatos;

4) Criação de partidos políticos.

7. DIREITO DE PROPRIEDADE

ÂMBITO DE PROTEÇÃO

O art. 5º, XXII da CF garante o direito de propriedade. Assim como os demais direito, não é
absoluto, é apenas prima facie, em algumas hipóteses sofrerá restrições. Nesse sentido, o entendimento do
STF.

STF – MS 25.284: O direito de propriedade não se revela absoluto. Está


relativizado pela Carta da República – arts. 5º, XXII, XXIII e XXIV, e 184.

Dentro do âmbito de proteção, encontra-se a impenhorabilidade da pequena propriedade

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 59


rural.

CF, art. 5º, XXVI –a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde
que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os
meios de financiar o seu desenvolvimento.

REGIME JURÍDICO DO DIREITO DE PROPRIEDADE

José Afonso da Silva afirma que o regime é de DIREITO PÚBLICO, isso porque a base do direito à
propriedade é constitucional (já foi adoto pelo CESPE em provas).

A disciplina do direito de propriedade está consagrada na Constituição, o Código Civil disciplina as


relações civis decorrentes do direito de propriedade.

RESTRIÇÕES
7.3.1. Função social (art. 5º, XXII)

Função social não é apenas uma limitação; ela faz parte do próprio regime, da própria estrutura do
direito de propriedade.

Art. 5º, XXIII - a propriedade atenderá a sua FUNÇÃO SOCIAL;

Existem duas interpretações quanto à relação propriedade X função social:

1ª: Afonso da Silva: a função social faz parte da estrutura do direito de propriedade (trata- se
de um elemento), este só é garantido se a propriedade atender à sua função social.

Crítica: Por essa interpretação, se o MST invade uma propriedade improdutiva (sem função social),
tal atitude seria legítima. Não há como compactuar com algo assim. Mesmo não cumprindo a função social a
propriedade tem uma proteção. Ninguém pode ser privado arbitrariamente de sua propriedade.

O STF, em jurisprudência pacífica, entende que a invasão de terra (MST) é ilegítima. O direito de
propriedade, na verdade, recebe uma proteção constitucional mesmo quando não atender a sua função social,
a propriedade está protegida.

2ª: Daniel Sarmento: Se a propriedade cumpre a sua função social ela terá uma proteção maior do
que aquela que não cumpre, ou seja, não é pelo fato de não cumprir a função social que o direito à
propriedade deixa de ser garantido.

Conforme o STF, ninguém pode ser privado do direito de propriedade sem observância do devido
processo legal. STF MS 23006/PB.

Dirley: mesmo sem cumprir a função social, ainda existe proteção.

Quando a propriedade cumpre sua função social?

A propriedade urbana cumpre a função social quando observa às exigências previstas pelo plano
diretor. Perceba que a CF não estabelece os requisitos, remetendo ao plano diretor.

Art. 182, § 2º - A propriedade URBANA cumpre sua função social quando


atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no
plano diretor.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 60


Quanto à propriedade rural, a CF já estabelece os requisitos, remetendo à lei o seu grau de exigência, quais
sejam:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade RURAL


atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.

Quais as penalidades em caso de descumprimento da função social?


Em relação à propriedade urbana, o art. 182, §4º da CF prevê uma série de penalidades, que devem
ser impostas gradativamente.

CF, art. 182, § 4º: É facultado ao poder público municipal, mediante lei
específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal,
do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.

Tratando-se de propriedade rural as penalidades estão previstas no art. 184 da CF.

CF, art. 184: Compete à União desapropriar por interesse social, para fins
de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será
definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
7.3.2. Requisição

Existem duas espécies de requisição prevista na CF: I -

Civil (art. 5º, XXV).

II - Militar (art. 139, VII).

Art. 5º, XXV - no caso de IMINENTE PERIGO PÚBLICO, a autoridade competente poderá usar de propriedade, assegurada

Art. 139. Na vigência do ESTADO DE SÍTIO decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pe

VII - requisição de bens.


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 61
A requisição civil ocorre quando o poder público faz uso, compulsória e temporariamente, da
propriedade particular, por motivos de iminente perigo público.

A requisição só gera a obrigação de indenizar no caso da ocorrência de dano ao particular.


Indenização, essa, que sempre será posterior à limitação do direito.

7.3.3. Desapropriação (art. 5º, XXIV)

Existem três hipóteses de desapropriação:

I - Necessidade pública: A transferência do bem é imprescindível. II -


Utilidade pública: Não é imprescindível, mas é conveniente.

III - Interesse social: A transferência é feita para gerar benefícios sociais. É a única forma que
justifica a transferência do bem desapropriado para outro particular. Exemplo: reforma agrária.

Art. 5º, XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por


necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa
e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;

Na desapropriação SEMPRE haverá indenização. De acordo com a CF, deve ser uma indenização
justa, prévia e em dinheiro (em regra). O pagamento só não será feito em dinheiro nos casos de
“desapropriação-sanção”. São elas:

a) Imóvel urbano (art. 182, §4º, III – “desapropriação urbanística sancionatória”)

Art. 182, § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica


para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado (falta
de cumprimento da função social), que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo; (imposto extrafiscal)
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.

Percebe-se que, nesse caso, a desapropriação é a última medida para adequar a propriedade à função
social. Nesse caso, o pagamento é feito em títulos da dívida pública. É a única hipótese de pagamento que
não é em dinheiro, no que se refere à desapropriação de imóvel urbano.

b) Imóvel rural (art. 184 – “desapropriação rural”)

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrári
em lei.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 62


Mais um caso de não cumprimento de função social. O pagamento é feito em títulos da dívida
agrária. É o único caso de desapropriação de imóvel rural que não é paga em dinheiro.

Indaga-se:

1) Operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária são isentas de
TRIBUTOS federais, estaduais e municipais? NÃO. ERRADO. Art. 184, §5º. São isentas apenas
de IMPOSTOS. Isenção aqui é o mesmo que imunidade.
Art. 184, § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais
as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de
reforma agrária.

2) PEQUENAS e MÉDIAS propriedades rurais e propriedades produtivas podem ser


desapropriadas? SIM. No entanto, não podem para fins de reforma agrária, pois não
haveria interesse social. Art. 185.

Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária


(para outros fins pode! necessidade pública, por exemplo):
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que
seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva
e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos à sua função
social.

3) Tendo em vista o art. 184, “Compete a União...”, os Estados não poderão desapropriar por
interesse social? Os Estados podem desapropriar por interesse social, mas não para fins de
reforma agrária, sendo, neste caso, atribuição da União (JSCF).

Art. 184. Compete à UNIÃO desapropriar por interesse social, para FINS DE
REFORMA AGRÁRIA, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será
definida em lei.

Diferença desapropriação x requisição


DESAPROPRIAÇÃO REQUISIÇÃO
Bens e serviços

Por exemplo, requisição de profissionais da


saúde para atender população em determinado
Bens
local, em razão da pandemia
da Covid-19.
Aquisição propriedade (transferência
compulsória para o Estado ou outro Uso da propriedade (não altera o dono).
particular)
Necessidades transitórias e urgentes.
Necessidades permanentes
Ex: guerra, calamidade.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 63


Acordo entre as partes ou processo Autoexecutoriedade, ou seja, não é
judicial necessário pedir autorização.
Sempre indenizável (justa, prévia –
Indenizável (posterior) quando há dano.
sempre-, dinheiro em regra – exceção:
Sempre em dinheiro.
sanção)

7.3.4. Expropriação-sanção e Confisco (art. 243, “desapropriação confiscatória”)


No confisco e na expropriação-sanção, por terem natureza sancionatória, não há qualquer tipo de
indenização.

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde


forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a
exploração de trabalho escravo na forma da lei (norma de eficácia limitada)
serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de
habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o
disposto no art. 5º. (EC 81/14)
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da
exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo
especial com destinação específica, na forma da lei.

O STF entendeu que expropriação de terras utilizadas para o cultivo de plantas psicotrópicas, será de
toda a gleba, mesmo que a parte utilizada seja pouca e o resto seja utilizado para cultivar outros alimentos.

Em relação à exploração de trabalho escravo, é necessária uma lei regulamentando. Trata- se de uma
norma de eficácia limitada.

A responsabilidade do proprietário, de acordo com o STF, é subjetiva. Portanto, para que a


propriedade seja expropriada é necessário que o proprietário tenha agido com dolo ou culpa (in eligendo ou
in vigilando). Ressalta-se, contudo, que o ônus da prova caberá ao proprietário provar que não incorreu em
culpa, há uma inversão do ônus da prova.

STF – RE 635.336/PE: A expropriação prevista no artigo 243, da


Constituição Federal, pode ser afastada desde que o proprietário comprove
que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in elegendo.

Destaca-se que para o confisco não é necessária uma lei regulamentadora, segundo Novelino. Além
disso, não se exige qualquer outro requisito para que ocorra o STF, basta que o bem seja decorrente tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo.

STF – RE 638.491/PR: É possível o confisco de todo e qualquer bem de


valor econômico apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a
necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para
tal finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do
acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além daqueles
previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição
Federal (CF)

7.3.5. Usucapião

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 64


A CF/88 prevê duas formas da chamada usucapião especial ou constitucional.

a) Usucapião especial de Imóvel urbano (pró-moradia ou pro misero)

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem
ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

O § 2º dispõe que esse direito é reconhecido apenas uma vez ao possuidor, não incidindo sobre
imóveis públicos.

b) Usucapião especial de Imóvel rural (pró-labore)

Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra,
em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.

Os prazos de posse dos bens previstos na CF são menores (05 anos) que os do CC (05, 10, 15), por
se tratar de modalidade especial de usucapião. Por isso, os requisitos são mais profundos para que a pessoa
adquira o imóvel.

Características comuns:

*Requisitos tradicionais: Posse por cinco anos mansa, pacífica, ininterrupta, precária (não pode
ser um comodato, por exemplo).

*Requisitos especiais:

Usar o imóvel para moradia;

Necessidade de não ter outro imóvel (urbano ou rural).

Metragem máxima: Urbano: 250m²; Rural: 50hec.

Por fim, no imóvel rural ainda é necessário que torne a propriedade produtiva com seu trabalho ou
de sua família.

Imóveis públicos não podem ser adquiridos por usucapião (art. 183, §3º e 191, parágrafo
único).

Indaga-se: A legislação municipal pode estabelecer módulos urbanos com dimensões


mínimas superiores a 250m2 . De acordo com o STF, a metragem mínima poderá ser maior, contudo, para
fins de usucapião urbano deve-se considerar os limites previstos na Constituição.

STF – RE 422.349/RS: Preenchidos os requisitos do art. 183 da CF, o


reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não pode ser

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 65


obstado

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 66


por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na
respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote).

GARANTIAS INDIVIDUAIS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

No tópico anterior analisamos os direitos individuais (vida, igualdade, privacidade, liberdade e


propriedade), valores ou fins considerados importantes para sociedade, que receberam proteção jurídica
(consagrados no texto constitucional em normas expressas ou implícitas).

Por outro lado, garantias individuais são os instrumentos/meios para que os direitos sejam
assegurados. Possuem caráter instrumental, ou seja, são consideradas um meio para proteção e obtenção de
um fim. Podem estar ligadas a um determinado valor ou a valores indeterminados.

2. FINALIDADE

Visam salvaguardar direitos para a sua proteção e sua efetividade.

Segundo Novelino, há casos em que os direitos e garantias estão consagrados em um mesmo


dispositivo constitucional, a exemplo do habeas corpus.

3. GARANTIAS RELACIONADAS À SEGURANÇA JURÍDICA

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

3.1.1. Previsão legal

Previsto no art. 5º, II, da CF.

Art. 5º, II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;

Trata-se de uma garantia voltada a direitos individuais diversos, podendo estar relacionada à
liberdade, à propriedade e à segurança jurídica.

3.1.2. Objetivo

O principal objetivo do Princípio da Legalidade é limitar o poder do Estado, impedindo a prática de


ações e de medidas arbitrárias.

Cabe ao Poder Legislativo (órgão máximo de manifestação da vontade popular) a função de criar leis
restritivas aos direitos. Não significa que poderá estabelecer as restrições que bem entender, deve observar as
normas constitucionais, em especial o princípio da proporcionalidade.

3.1.3. Significado

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 67


O Princípio da Legalidade possui um duplo significado:

1º - Proteger os particulares contra atos arbitrários do Poder Executivo e do Poder Legislativo;

2º - Conformar comportamentos de particulares e da administração às normas jurídicas, das quais as


leis são a suprema expressão.

3.1.4. “Lei”

A expressão “lei” deve ser interpretada em sentido amplo, abrangendo a lei ordinária e a lei
complementar (lei em sentido estrito, porque emanada do Poder Legislativo), e também:

 Emenda constitucional;

 Medidas provisórias;

 Leis delegadas;

 Decretos legislativos;

 Resoluções da Câmara, do Senado ou do Congresso Nacional (art. 59 da CF)

Obs.: Decretos emanados do Chefe do Executivo não podem limitar direitos fundamentais, tendo em vista
que não são considerados lei em sentido amplo. Um decreto só poderá regulamentar, nos termos da lei, uma
obrigação. Em tese, não podem criar limitações que não estão previstas em lei. Contudo, no caso dos
decretos editados no período do Covid-19, em virtude do período excepcional vivido e do valor “saúde
pública” da coletividade, relativizou-se o Princípio da Legalidade.

3.1.5. Restrições expressas

Há casos em que a própria Constituição relativiza o Princípio da Legalidade, a exemplo do estado


de defesa (art. 136 da CF) e do estado de sítio (art. 137 da CF).

Indaga-se: é possível que um Decreto limite direitos fundamentais? Decreto é um ato infralegal,
previsto no art. 84, IV, da CF, com a função de regulamentar (nos exatos termos da lei), determinada
obrigação.

Em 2020, no início da pandemia do COVID-19, diante da situação excepcional que estávamos


vivendo, houve a edição de vários decretos que limitaram a liberdade de locomoção e restringiram direitos,
sendo amparados pela Le 13.979/2020.

Lei 13.979/2020, art. 3º: Para enfrentamento da emergência de saúde


pública de importância internacional de que trata esta Lei, as autoridades
poderão adotar, no âmbito de suas competências, entre outras, as seguintes
medidas: (Redação dada pela Lei nº 14.035, de 2020)
I - isolamento;
II - quarentena;
III - determinação de realização compulsória
de: (...)
d) vacinação e outras medidas profiláticas; ou
(...) I

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 68


II-A – uso obrigatório de máscaras de proteção individual; (Incluído pela Lei nº 14.019, d
(...)
VI – restrição excepcional e temporária, por rodovias, portos ou aeroportos, de: (Redaç
entrada e saída do País; e (Incluído pela Lei nº 14.035, de 2020)
locomoção interestadual e intermunicipal; (Incluído pela Lei nº 14.035, de 2020)
VII - requisição de bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, hipótese em que ser

Vale ressaltar que, em uma situação de normalidade, os decretos do Poder Executivo não poderiam
restringir direitos de forma ampla. No contexto da COVID-19, embora não houvesse previsão expressa no
texto constitucional, a situação foi tão excepcional que o valor “saúde pública” justificou a edição das
normas restritivas de direito.

3.1.6. Princípio da Reserva Legal

Trata-se de um princípio que incide apenas em situações materiais específicas, submetidas


exclusivamente ao tratamento do Poder Legislativo. Em outras palavras, apenas a lei em sentido estrito (lei
ordinária e lei complementar) poderá tratar do tema.

Importante distinguirmos:

RESERVA LEGAL ABSOLUTA RESERVA LEGAL RELATIVA

Regulamentação integral da norma por uma lei Permite que a lei fixe os parâmetros para atuação
emanada do Poder Legislativo (lei em sentido que podem ser regulamentados por outro ato, a
estrito). exemplo de um decreto.

STF - HC 74.109/SP: ALEGADO VÍCIO NA COMPOSIÇÃO DO ÓRGÃO


JULGADOR DE SEGUNDA INSTÂNCIA – INOCORRÊNCIA [...] O sistema
de substituição externa nos Tribunais judiciários constitui, no plano de nosso
direito positivo, matéria sujeita ao domínio temático da lei. Subordina-se, em
consequência, ao princípio da reserva legal absoluta, cuja incidência
afasta, por completo, a possibilidade de tratamento meramente
regimental da questão.

RESERVA LEGAL SIMPLES RESERVA LEGAL QUALIFICADA

A própria CF estabelece os meios a serem


utilizados ou os fins a serem perseguidos pela lei, a
A CF limita-se a prever uma intervenção legislativa exemplo do art. 5º, XII.
sem fazer qualquer exigência, seja em relação ao CF, art. 5º, XII – é inviolável o sigilo da
conteúdo ou à finalidade da lei. correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo,
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e
na
forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual
penal;
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 69
STF - AC 2.695 MC/RS: [...] Mais expressiva, ainda, é a norma contida no §
1º desse artigo [220] ao subordinar, expressamente, o exercício da
liberdade jornalística à ‘observância do disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e
XIV’. Temos aqui verdadeira ‘reserva legal qualificada’, que autoriza o
estabelecimento de restrição à liberdade de imprensa com vistas a
preservar outros direitos individuais, não menos significativos, como
os direitos de personalidade em geral.

Salienta-se que, em um Estado Democrático de Direito, a reserva legal deve ser proporcional. Ou
seja, além da admissibilidade constitucional da restrição, é necessário que a medida restritiva adotada seja
adequada (meio apto para atingir o fim desejado), necessária ou exigível (dentre os meios existentes deve-se
optar pelo menos gravoso) e proporcional em sentido estrito (benefícios devem superar os ônus causados).

STF - RE 511.961/SP: No âmbito do modelo de reserva legal qualificada


presente na formulação do art. 5º, XIII5 , da Constituição de 1988, paira uma
imanente questão constitucional quanto à razoabilidade e proporcionalidade
das leis restritivas, especificamente, das leis que disciplinam as
qualificações profissionais como condicionantes do livre exercício das
profissões. [...] A reserva legal estabelecida pelo art. 5º, XIII, não confere ao
legislador o poder de restringir o exercício da liberdade profissional a ponto
de atingir o seu próprio núcleo essencial.

PRINCÍPIO DA NÃO RETROATIVIDADE DAS LEIS

3.2.1. Objetivo

Visa resguardar a incolumidade de situações definitivamente consolidadas, garantindo a segurança


jurídica.

3.2.2. Previsão

Foi consagrado em todas as Constituições, salvo na de 37(Constituição Polaca). Contudo, já estava


previsto no art. 6º, da Lei de Introdução ao Código Civil de 1916 (atual Lei de Introdução às Normas de
Direito Brasileiro).

Indaga-se: em que se diferencia a previsão do art. 5º, XXXVI e a do art. 6º da LINDB?

CF – Art. 5º, XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada;

LINDB - Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Conforme leciona Novelino, ao ser consagrado em uma lei infraconstitucional o princípio será
aplicado ao Poder Executivo e ao Poder Judiciário, mas não será aplicado ao Poder Legislativo que poderá
revogá-lo total ou parcialmente. Por outro lado, quando possui previsão constitucional aplica-se aos três
poderes, não podendo, em regra, ser editada lei com eficácia retroativa.
3.2.3. Abrangência da eficácia retroativa

De acordo com o STF, para que uma lei tenha eficácia retroativa deverá ser oponível a

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 70


TODAS as espécies de lei, não poderá ser presumida, deverá ser sempre excepcional e emanar de disposição
expressa. Além disso, não poderá lesar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

Portanto, embora a regra seja a não retroatividade da lei, há casos excepcionais em que se admite a
sua retroatividade, a exemplo de uma lei interpretativa, da leis penais que beneficiam o réu.

STF – ADI 605 MC/DF: O princípio da irretroatividade ‘somente’ condiciona


a atividade jurídica do Estado nas hipóteses expressamente previstas pela
Constituição, em ordem a inibir a ação do Poder Público eventualmente
configuradora de restrição gravosa (a) ao status libertatis da pessoa (CF,
art. 5.º, XL), (b) ao status subjectionais do contribuinte em matéria tributária
(CF, art. 150, III, “a”) e (c) a ‘segurança’ jurídica no domínio das relações
sociais (CF, art. 5.º, XXXVI). Na medida em que a retroprojeção normativa
da lei ‘não’ gere e ‘nem’ produza os gravames referidos, nada impede que o
Estado edite e prescreva atos normativos com efeito retroativo. As leis, em
face do caráter prospectivo de que se revestem, devem, ‘ordinariamente’,
dispor para o futuro. O sistema jurídico-constitucional brasileiro, contudo,
‘não’ assentou, como postulado absoluto, incondicional e inderrogável, o
princípio da irretroatividade. A questão da retroatividade das leis
interpretativas.

3.2.4. Direito adquirido

Conforme o STF, não é possível alegar direito adquirido contra a mudança de regime jurídico.
Consequentemente, o regime jurídico poderá ser alterado, é o que ocorreu com a extinção do recebimento de
quinquênios, por exemplo.

Para o STF, a irredutibilidade de vencimentos é uma modalidade de direito adquirido. Não se pode
reduzir o valor total da remuneração, mas é possível que ocorra a diminuição ou a extinção de alguma
parcela dos vencimentos.

Obs.: Não pode ocorrer a diminuição do valor nominal (R$20.000,00 para R$19.900,00), mas se admite a
redução do valor real.

Atenção para as súmulas do STF:

Súmula 654 do STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º,


XXXVI, da Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal
que a tenha editado.

Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos,


quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se
originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
casos, a apreciação judicial.
É possível alegar direito adquirido em face da Constituição? Importante distinguirmos direito
adquirido e nova constituição (poder constituinte originário) e direito adquirido e emenda constitucional.

RETROATIVIDADE MÍNIMA RETROATIVIDADE MÉDIA RETROATIVIDADE MÁXIMA

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 71


É automática, ou seja, toda nova
É necessária expressa previsão.
Constituição é dotada de retroatividade É necessária expressa previsão.
mínima. Alcança fatos consumados no passado,
Alcança fatos passados pendentes de
que já precluíram. Por exemplo, a
Irá atingir os efeitos futuros de fatos consumação, a exemplo de prestações
prestação já foi paga, mas é atingida pela
passados, por exemplo alteração de regra vencidas e não pagas.
nova Constituição.
de competência.

Exemplos

STF - RE 242.740/GO: EMENTA:


Pensão especial cujo valor é
estabelecido em número de salários-
mínimos. Vedação contida na parte
CF, art. 231, §6º: São nulos e
final do artigo 7º, IV, da Carta
extintos, não produzindo efeitos
Magna, a qual tem aplicação STF - RE 168.618/PR: A
jurídicos, os atos que tenham por
imediata. - Esta Primeira Turma, ao Constituição tem eficácia imediata,
objeto a ocupação, o domínio e a
julgar o RE 140.499, que versava alcançando os efeitos futuros de
posse das terras a que se refere
caso análogo ao presente, assim fatos passados (retroatividade
este artigo, ou a exploração das
decidiu: "Pensões especiais mínima). Para alcançar, porém,
riquezas naturais do solo, dos rios
vinculadas a salário- mínimo. hipótese em que, no passado, não
e dos lagos nelas existentes,
Aplicação imediata a elas da havia foro especial que só foi
ressalvado relevante interesse
vedação da parte final do inciso IV do outorgado quando o réu não mais
público da União, segundo o que
artigo 7º da Constituição de 1988. Já era Prefeito - hipótese que configura
dispuser lei complementar, não
se firmou a jurisprudência desta retroatividade média, por estar
gerando a nulidade e a extinção
Corte no sentido de que os tramitando o processo penal -, seria
direito a indenização ou a ações
dispositivos constitucionais têm mister que a Constituição o
contra a União, salvo, na forma da
vigência imediata, alcançando os determinasse expressamente, o que
lei, quanto às benfeitorias derivadas
efeitos futuros de fatos passados não ocorre no caso.
da ocupação de boa-fé.
(retroatividade mínima). Salvo
disposição expressa em contrário - e
a Constituição pode fazê-lo -, eles
não alcançam os fatos consumados
no passado nem as prestações
anteriormente vencidas e não pagas
(retroatividades máxima e média).

Tratando-se de emenda constitucional, há certa controvérsia, em razão da redação do art. 5º, XXXVI,
da CF. A expressão “lei” pode ser interpretada em sentido amplo, abrangendo emendas constitucionais ou
sentido estrito, abrangendo apenas lei complementar e lei ordinária. Para a doutrina majoritária e o STF
(atualmente), a emenda constitucional (lei em sentido amplo) não poderá prejudicar o direito adquirido.

STF - ADI 2.356 MC/DF: [...] O art. 78 do ADCT, acrescentado pelo art. 2.º
da EC 30/2000, ao admitir a liquidação ‘em prestações anuais, iguais e
sucessivas, no prazo máximo de dez anos’ dos ‘precatórios pendentes na
data de promulgação’ da emenda, violou o direito adquirido do beneficiário
do precatório, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. [...] Pelo que a
alteração
constitucional pretendida encontra óbice nos incisos III e IV do § 4.º do art.
60 da Constituição, pois afronta ‘a separação dos Poderes’ e ‘os direitos e
garantias individuais.

3.2.5. Ato jurídico perfeito

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 72


Antes da CF/88, a doutrina entendia que as leis de ordem pública não precisavam observar o ato
jurídico perfeito. Contudo, tal entendimento não mais prevalece, devendo toda e qualquer lei respeitar o ato
jurídico perfeito.

RE 200.514/RS: Esta Corte já firmou o entendimento (assim, entre outros


precedentes, na ADIN 493-0, de que fui relator) de que o princípio
constitucional segundo o qual a lei nova não prejudicará o ato jurídico (artigo
5º, XXXVI, da Carta Magna) se aplica, também, às leis infraconstitucionais
de ordem pública.

3.2.6. Coisa julgada

A coisa julgada poderá ser:

 Formal – produz efeitos dentro do processo (endoprocessuais), tornando a


sentença de reexame e imutável dentro do mesmo processo.

É pressuposto da coisa julgada material, ou seja, todo processo com coisa julgada
material terá coisa julgada formal. Mas nem todo processo com coisa julgada formal terá
coisa julgada material.

 Material – torna imutável os efeitos produzidos pela sentença no mesmo


processo e em qualquer outro processo.

A Constituição protege tanto a coisa julgada formal quanto a coisa julgada formal.

Indaga-se: a coisa julgada administrativa é protegida pela Constituição? De acordo com o STF, a
Constituição não protege a coisa julgada material.

STF - RE n. 144.996: A coisa julgada a que se refere o artigo 5º, XXXVI, da


Carta Magna é, como conceitua o § 3º do artigo 6º da Lei de Introdução do
Código Civil, a decisão judicial de que já não caiba recurso, e não a
denominada ´coisa julgada administrativa.

Já vimos que nenhum direito é absoluto, portanto, há casos em que a coisa julgada será relativizada
com fundamento na força normativa da constituição e do princípio da máxima efetividade.

Atenção a Súmula 343 do STF não está superada. O enunciado continua sendo aplicado, mas apenas
em relação à controvérsia legal. No caso de texto constitucional, em razão dos princípios da força normativa
da constituição e da máxima efetividade, admite-se a relativização da coisa julgada. Trata-se do chamado
distinguishing.

SCúPmCu, lart3. 45325d:o STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo
§de12le:i,Pqaura nedfeoitoa doecdiisãposrteoscniondinecnidsoa IsIIedtoiv§er1bº adsesatedoaretimgo,tecxotonsliedgearal
O CPC/15, nos casosTdriebuinnealxFigeibdielirdaal,doeu dfuentdíatudloo eemxeacpulitcivaoçãjoudoiuciianlteerpdreetacç

conformidade com o entendimCeonnstotitduioçãSoTFFe. deral, em controle de constitucionalidade concentrado ou


difuso. (...)
§ 14: A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser
anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda.
Obs.: No entendimento de Novelino, o §15 do art. 525 do CPC é incompatível com a Constituição,
tendo em vista que prevê como prazo para a ação rescisória a data da decisão do STF e não da decisão exequenda.
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 § 15: Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em
julgad72o da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será
contado do
Por fim, em caso de decisão de Tribunal em conformidade com entendimento consolidado do STF,
mesmo que haja mudança de entendimento do STF, não caberá ação rescisória.

STF - RE 590.809/RS Não cabe ação rescisória quando o julgado estiver


em harmonia com o entendimento firmado pelo Plenário do Supremo à
época da formalização do acórdão rescindendo, ainda que ocorra posterior
superação do precedente.

4. GARANTIAS DE NATUREZA PENAL

PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Também chamada de presunção de não culpabilidade.

4.1.1. Finalidade

Visa a proteção da liberdade, evitando juízos condenatórios precipitados.

4.1.2. Disposições normativas

a) Âmbito internacional

Foi consagrado na Declaração Universal de Direitos do Homem e do Cidadão: “todo homem é


inocente até que seja declarado culpado”.
A partir da Segunda Guerra Mundial, passou a ser consagrado em tratados internacionais.
Vejamos:

DUDH – art. 11.1: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se
presuma sua inocência enquanto não se prove sua culpabilidade conforme
a lei.

CADH – art. 8º, parágrafo I: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a
que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua
culpabilidade.

Tais dispositivos, no entender de Novelino, consagram o núcleo essencial do princípio da não


culpabilidade. Portanto, preservando-se o núcleo essencial seria possível que uma emenda constitucional
alterasse a redação do referido princípio.

b) Âmbito constitucional

Consagrado no art. 5º, LVII e LXI da CF. Observe:

CF, art. 5º
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 73


c) Âmbito infralegal

Consagrado nos arts. 283 e 637 do CPP. Vejamos:

CPP
Art. 283: Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da
investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão
preventiva. (Redação antes das alterações do PAC)
Art. 637: O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez
arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à
primeira instância, para a execução da sentença.

Interpretando-se isoladamente o art. 283 do CPP é possível afirmar que se admite a prisão antes do
trânsito em julgado. Contudo, a interpretação deve ser sistemática, analisando o ordenamento jurídico como
um todo, por isso que há divergência de intepretações acerca da possibilidade ou não da prisão.

4.1.3. Posição do STF7

1º Período - Até fevereiro de 2009: É possível a execução provisória da pena.

7
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9b89bedda1fc8a2d88c448e361194f02?pa lavra-
chave=presun%C3%A7%C3%A3o+de+inoc%C3%AAncia
Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução provisória da pena. Desse modo,
se o réu estivesse condenado e interpusesse recurso especial ou recurso extraordinário, teria que iniciar o
cumprimento provisório da pena enquanto aguardava o julgamento. Os recursos extraordinário e especial são
recebidos no efeito devolutivo. Assim, exauridas estão as instâncias ordinárias criminais é possível que o
órgão julgador de segundo grau expeça mandado de prisão contra o réu (STF. Plenário. HC 68726, Rel. Min.
Néri da Silveira, julgado em 28/06/1991).

2º Período – De fevereiro de 2009 a fevereiro de 2016: NÃO é possível a execução


provisória da pena.

No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou
a entender que não era possível a execução provisória da pena.

Obs.: o condenado poderia até aguardar o julgamento do REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem
previstos os pressupostos necessários para a prisão preventiva (art. 312 do CPP).

Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas cautelarmente (preventivamente) e não como execução
provisória da pena. Principais argumentos:

 A prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título
cautelar.
 A execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação significa restrição do direito
de defesa.
 A antecipação da execução penal é incompatível com o texto da Constituição. Esse
entendimento durou até fevereiro de 2016.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 74


3º Período – De fevereiro de 2016 a novembro de 2019: É possível a execução provisória
da pena

No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. Teori Zavascki), retornou para a sua
primeira posição e voltou a dizer que era possível a execução provisória da pena.

Principais argumentos:

 É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de acórdão condenatório


em 2º grau e isso não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência.
 O recurso especial e o recurso extraordinário não possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP).
Isso significa que, mesmo a parte tendo interposto algum desses recursos, a decisão recorrida
continua produzindo efeitos. Logo, é possível a execução provisória da decisão recorrida
enquanto se aguarda o julgamento do recurso.
 Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em 2º grau, deve-se presumir a inocência do
réu. Mas, após esse momento, exaure-se o princípio da não culpabilidade, até porque os recursos
cabíveis da decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam a discutir fatos e provas, mas
apenas matéria de direito.
 É possível o estabelecimento de determinados limites ao princípio da presunção de não
culpabilidade. Assim, a presunção da inocência não impede que, mesmo antes do trânsito em
julgado, o acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado.
 A execução da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária não compromete o
núcleo essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde que o acusado tenha sido tratado
como inocente no curso de todo o processo ordinário criminal, observados os direitos e as
garantias a ele inerentes, bem como respeitadas as
regras probatórias e o modelo acusatório atual.
 É necessário equilibrar o princípio da presunção de inocência com a efetividade da função
jurisdicional penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os interesses dos acusados,
como também da sociedade, diante da realidade do intrincado e complexo sistema de justiça
criminal brasileiro.
 “Em país nenhum do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma
condenação fica suspensa aguardando referendo da Suprema Corte”.

4º Período – entendimento atual: NÃO é possível a execução provisória da pena

No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a
sua segunda posição e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de
todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena.

Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento
de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial
individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a
prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em
julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena.

Principais argumentos:

 O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, previa que “ninguém

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 75


poderia ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no
curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.”.
Esse artigo era plenamente compatível com a Constituição em vigor.
 O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a
controvérsias de interpretação.
 É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de inocência pode obstruir
as atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a crimes não pode
desrespeitar e transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais dos
investigados.
 A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder Judiciário
embasar suas decisões no clamor público.

STF - ADC 43/DF, 44/DF e 54/DF: “O Tribunal, por maioria, nos termos e
limites dos votos proferidos, julgou procedente a ação para assentar a
constitucionalidade do art. 283 do Código de Processo Penal, na redação
dada pela Lei nº 12.403, de 4 de maio de 2011, vencidos o Ministro Edson
Fachin, que julgava improcedente a ação, e os Ministros Alexandre de
Moraes, Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia, que a julgavam
parcialmente procedente para dar interpretação conforme.”
Importante consignar que o Pacote Anticrime alterou a redação do art. 283 do CPP, mas o conteúdo é
basicamente o mesmo, passando a prever que:

Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em
julgado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Além disso, os tribunais deverão ficar atentos ao exercício abusivo do direito de recorrer, que visa,
na realidade, postergar o trânsito em julgado e afastar a execução da pena. Como forma de coibir tal
comportamento, o Pacote Anticrime incluiu o III ao art. 116 do CP que prevê que a prescrição não corre
enquanto estiverem pendentes os embargos de declaração ou os recursos aos Tribunais Superiores, quando
estes forem inadmissíveis.

CP - Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição


não corre:
(...)
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais
Superiores, quando inadmissíveis; e

Por fim, a vedação da execução provisória da pena não impede a concessão antecipada dos
benefícios prisionais ao preso cautelar.

Súmula 716, STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da


pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada,
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.

Súmula 717, STF: Não impede a progressão de regime de execução da


pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se
encontrar em prisão especial.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 76


4.1.4. Presunção de inocência e eliminação de concurso público

De acordo com o STF, o simples fato de um candidato responder a inquérito ou a ação penal, para
que enseje a sua eliminação, deve estar previsto em lei e ser incompatível com a natureza do cargo.

STF – RE 560.900/DF (Tema 22 - Tese): Sem previsão constitucionalmente


adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de concurso
público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de
responder a inquérito ou a ação penal.

5. MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE NÃO CRIMINALIZAÇÃO

CONCEITO

Trata-se de normas constitucionais que determinam a criminalização de certas condutas, para a


proteção de bens e valores especialmente relevantes para a sociedade. Por exemplo, o direito à vida é um
bem especialmente relevante, em virtude disso a própria Constituição prevê penalidades para o caso de sua
violação.

Destaca-se que não é suficiente a criminalização das condutas previstas na Constituição pelo
legislador ordinária, é preciso observar o princípio da proporcionalidade, principalmente, considerando o seu
viés da proteção insuficiente. Em outras palavras, a criminalização não pode ser irrelevante.

STF - HC 102.087: 1.1. Mandados constitucionais de criminalização: A


Constituição de 1988 contém significativo elenco de normas que, em
princípio, não outorgam direitos, mas que, antes, determinam a
criminalização de condutas (CF, art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art.
227, § 4º). Em todas essas é possível identificar um mandado de
criminalização expresso, tendo em vista os bens e valores envolvidos.
Os direitos fundamentais não podem ser considerados apenas como
proibições de intervenção (...), expressando também um postulado de
proteção (...). Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam, não
apenas uma proibição do excesso (...), como também podem ser traduzidos
em proibições de proteção insuficiente ou imperativos de tutela (...). Os
mandados constitucionais de criminalização, portanto, impõem ao legislador,
para seu devido cumprimento, o dever de observância do princípio da
proporcionalidade como proibição de excesso e proibição de proteção
insuficiente.

Ressalta-se que há na Constituição mandados de criminalização expressos (CF, art. 5º, XLI, XLII,
XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º) e também implícitos (inviolabilidade do direito à vida).

A seguir analisaremos alguns mandados de criminalização.

CRIMES INAFIANÇÁVEIS E IMPRESCRITÍVEIS

Inicialmente, é importante destacar que todos os crimes imprescritíveis são considerados

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 77


inafiançáveis.

A Constituição Federal prevê apenas o crime de racismo e a ação de grupos armados contra ordem
constitucional e o Estado Democrático como imprescritíveis.

CF, art. 5º
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

CRIMES INAFIANÇÁVEIS E INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA

Igualmente, todos os crimes insuscetíveis de graça ou de anistia são considerados inafiançáveis.

A Constituição prevê quatro crimes como inafiançáveis e insuscetível de graça ou anistia, são eles:
 Tortura

 Tráfico

 Terrorismos

 Crimes hediondos

CF, art. 5º
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Obs.: De acordo com o STF (decisão de 2007) possui um entendimento de que o legislador ordinário poderia
criar outras hipóteses de crimes imprescritíveis e insuscetíveis de graça ou anistia. Novelino salienta que não
é possível afirmar que a atual composição do STF manteria o entendimento de 2007. Já na doutrina
permanece o entendimento de que não seria possível a criação pelo legislador ordinário.

STF - RE 460.971: Ademais, a CF se limita, no art. 5º, XLII e XLIV, a excluir


os crimes que enumera da incidência material das regras da prescrição,
sem proibir, em tese, que a legislação ordinária criasse outras hipóteses.

6. AÇÕES CONSTITUCIONAIS

CONSIDERAÇÕES

Aqui, analisaremos apenas o habeas data e a ação popular.

Recomendamos nosso CS de Constitucional I para as informações sobre o mandado de injunção; nosso


CS de Processo Penal II para o estudo do habeas corpus e o CS de Difusos e

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 78


Coletivos para o mandado de segurança.

HABEAS DATA

6.2.1. Considerações e previsão

Trata-se de ação constitucional introduzida pela CF/88, como reação ao regime anterior que
armazenava informações pessoais. Atualmente, qualquer pessoa possui o direito de obter informações a seu
respeito que constam em bancos de dados de caráter público.

Está previsto no art. 5º, LXXII, da CF. Observe:

CF, art. 5º, LXXII – conceder-se-á habeas-data:


a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo.

A Lei que regulamenta o habeas data prevê ainda a possibilidade de impetração para a
complementação das informações contidas no banco de dados.

6.2.2. Legitimidade ativa

A Lei que regulamenta o habeas data não traz os legitimados ativos para a sua impetração. Diante
disso, a doutrina majoritária defende uma legitimação ampla, portanto, qualquer pessoa física ou jurídica,
nacional ou estrangeiro poderá impetrá-lo, desde que seja relativa à sua pessoa (ação personalíssima).

Perceba que, por ser uma ação personalíssima, em regra, não se admite que o habeas data seja
impetrado para que se obtenha a retificação de informações de terceiros. Apenas a própria pessoa poderá
impetrá-lo. Contudo, excepcionalmente, a jurisprudência tem admitido que herdeiros e sucessores impetrem,
desde que haja possibilidade de denegrir a imagem do falecido.

STF - HD 147/DF: É parte legítima para impetrar habeas data o cônjuge


sobrevivente na defesa de interesse do falecido.

Importante consignar que o Ministério Público não possui legitimação, tendo em vista que se trata de
uma ação personalíssima.

6.2.3. Legitimidade passiva

Está prevista no art. 2º da Lei 9.507/1997. Vejamos:

Art. 2° O requerimento será apresentado ao órgão ou entidade depositária


do registro ou banco de dados e será deferido ou indeferido no prazo de
quarenta e oito horas.
Parágrafo único. A decisão será comunicada ao requerente em vinte e
quatro horas.

Deve constar no polo passivo a própria pessoa jurídica e não a autoridade coatora que a representa.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 79


Em relação à natureza da pessoa jurídica, não importa se é pessoa jurídica de direito público ou de
direito privado, o que se deve considerar é a natureza da informação que deve ser de caráter público. É o que
ocorre, por exemplo, com as informações do SPC ou SERASA que são pessoas jurídicas de direito privado,
mas suas informações são de caráter público.

Art. 1º, Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou


banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser
transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou
entidade produtora ou depositária das informações.

6.2.4. Objeto

Tutela-se o direito fundamental à privacidade e ao acesso à informação de caráter pessoal (não se


tutela a informação de interesse coletivo ou geral).
Observe a inciso XXXIII, do art. 5º da CF:

Art. 5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado;

A ressalva constante no dispositivo ativa, conforme o STJ, não pode ser oposta a informações de
caráter pessoal no caso de impetração de habeas data.

STJ – REsp 781.969/RJ: o mesmo direito pode ser exercido de forma


ampla, com ressalva para as informações ‘cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado’; essa restrição não se aplica no caso
do habeas data, que protege a própria intimidade da pessoa.

6.2.5. Objetivo

O habeas data serve para assegurar o conhecimento, retificar ou complementar informações de


caráter pessoal, que constam em bancos de dados, de caráter público.

6.2.6. Hipóteses de cabimento

a) Conhecimento de informações pessoais (art. 7º, I, da Lei 9.507/97)

Art. 7º, I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa


do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;

Salienta-se que se o objetivo for outro, a exemplo da obtenção de certidões, não caberá
habeas data, mas sim outra ação constitucional (mandado de segurança, por exemplo).

STJ – REsp 781.969/RJ: A pretensão do impetrante, de obter certidão para


o cômputo do adicional por tempo de serviço, respeita ao direito de
informação, cuja previsão encontra-se no art. 5.º, XXXIII, da Carta Magna
de 1988, devendo ser pleiteada via mandado de segurança.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 80


b) Retificação de dados (art. 7º, II, da Lei 9.507/97)

Art. 7º, II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo;

O STJ não admite a cumulação de habeas data para o conhecimento e a retificação de dados (para a
doutrina deveria ser possível, em razão da celeridade e da economia processual). O Superior Tribunal de
Justiça entende que a admissibilidade do habeas data para a retificação de dados está condicionada ao
conhecimento da informação.

STJ – HD 160/DF: Em razão da necessidade de comprovação de plano do


direito do demandante, mostra-se inviável a pretensão de que, em um
mesmo habeas data, se assegure o conhecimento de informações e se
determine a sua retificação. É logicamente impossível que o impetrante
tenha, no momento da propositura da ação, demonstrado a incorreção
desses dados
se nem ao menos sabia o seu teor. Por isso, não há como conhecer do
habeas data no tocante ao pedido de retificação de eventual incorreção
existente na base de dados do Banco Central do Brasil.

c) Complementação de informações (art. 7º, III, da Lei 9.507/97)

Art. 7º, III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de


contestação ou explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável e que
esteja sob pendência judicial ou amigável.

A complementação ocorre apenas quando a ausência da informação for apta a gerar alguma espécie
de dano, seja material ou moral.

6.2.7. Interesse de agir

Para a impetração do habeas corpus a Lei exige que tenha havido recusa ou demora na obtenção da
informação. Não havendo, não será cabível.

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a
285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os
documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na
segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias
sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze
dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou
do decurso de mais de quinze dias sem decisão.

Diante disso, surgiram questionamentos se isso não seria uma espécie de esgotamento das vias
administrativos, incompatível com o princípio do acesso à justiça. O STJ firmou entendimento de que não há
violação ao acesso à justiça, a exigência trata-se do interesse de agir.

Súmula 2 do STJ: Não cabe o habeas data se não houve recusa de


informações por parte da autoridade administrativa

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 81


6.2.8. Decisão liminar

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 82


A Lei 9.507/1997 não faz referência a decisão em liminar, tendo em vista que o procedimento é
célere, não justificando a concessão de liminar. Contudo, a doutrina entende que, em situações excepcionais,
será possível a sua concessão.

6.2.9. Decisão de mérito

Prevista no art. 13 da Lei 9.507/97.

Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e


horário para que o coator:
I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de
registros ou bancos de dadas; ou
II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos
assentamentos do impetrante.

Em relação à natureza da decisão, há na doutrina três correntes:

1ª Corrente (Barbosa Moreira, Daniel Neves) – possui natureza mandamental. É majoritária; 2ª

Corrente (Rogerio Tucci) – a decisão tem natureza constitutiva;

3ª Corrente (Vicente Greco Filho) – o habeas data cognitivo possui natureza mandamental; já o
habeas data retificatório e completivo a natureza é constitutiva.

AÇÃO POPULAR

6.3.1. Considerações

A ação popular é assim chamada em razão de sua legitimidade ativa, a qual é atribuída a qualquer
pessoa do povo ou a uma parte do povo, visando a proteção da res publica (coisa pública). Além disso, trata-
se da manifestação da soberania popular (art. 1º, parágrafo único), já que o cidadão irá fiscalizar diretamente
a atuação dos Poderes Públicos.

CF – Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

6.3.2. Legitimidade ativa

A população do Estado brasileiro compreende brasileiros natos e naturalizados, os estrangeiros


residentes e os apátridas residentes; já o povo é formado pelos brasileiros natos e naturalizados. Os cidadãos
brasileiros, conceito mais restrito, são os integrantes do povo que possuem capacidade eleitoral, ou seja, que
podem exercer seus direitos políticos (prova é feita com título de eleitoral).

A legitimidade ativa será apenas do cidadão brasileiro.

Lei 4.717/65 Art. 1º, § 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será
feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 83


Importante consignar que a legitimidade ativa não se confunde com a capacidade postulatória. Por
isso, o cidadão deve ser advogado ou se fazer representar por um para que possa ajuizar uma ação popular.

STF – AO 1.531 AgR: A Constituição da República estabeleceu que o


acesso à justiça e o direito de petição são direitos fundamentais (art. 5º,
XXXIV, a, e XXXV), porém esses não garantem a quem não tenha
capacidade postulatória litigar em juízo, ou seja, é vedado o exercício do
direito de ação sem a presença de um advogado, considerado
‘indispensável à administração da Justiça’ (...), com as ressalvas legais. (...)
Incluem-se, ainda, no rol das exceções, as ações protocoladas nos juizados
especiais cíveis, nas causas de valor até vinte salários-mínimos (art. 9º da
Lei 9.099/1995) e
as ações trabalhistas (art. 791 da CLT), não fazendo parte dessa situação
privilegiada a ação popular.

Em relação aos portugueses, desde que haja reciprocidade por parte de Portugal, terão legitimidade
ativa para o ajuizamento da ação popular. É o que se denomina de “quase nacionalidade”.

O Ministério Público, embora tenha o dever de acompanhar a ação, não possui legitimidade para
propô-la.

Art. 6º, § 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe


apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou
criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese,
assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.

Por fim, a pessoa jurídica não possui legitimidade para propor ação popular.

STF - Súmula 365: Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação
popular.

6.3.3. Legitimidade passiva

Há, na Lei de Ação Popular, um extenso rol exemplificativo de legitimados passivos. Observe a
redação dos arts. 1º e 6º:

Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimô

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridade
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 contra os beneficiários diretos do mesmo

83
Até a Itaipu, empresa binacional, já foi legitimado passivo.

STJ – REsp 453.136/PR: A Itaipu submete-se à lei brasileira, que regula as


obrigações decorrentes dos contratos celebrados com pessoas físicas ou
jurídicas domiciliadas e residentes em território nacional. [...] Evidenciada a
utilização de dinheiro público na criação, custeio ou manutenção de
empresa, ou em qualquer outra forma de apoio, cabe Ação Popular, pouco
importando a natureza da pessoa jurídica em questão.
6.3.4. Objeto

Trata-se de atos de caráter administrativo (de efeitos concretos) ou equiparados. Além disso, os atos
poderão ser omissivos, comissivos, discricionários ou vinculados.

STJ – REsp 889.766/SP: A ação popular é o instrumento jurídico que deve


ser utilizado para impugnar atos administrativos omissivos ou comissivos
que possam causar danos ao meio ambiente. 5. Pode ser proposta ação
popular ante a omissão do Estado em promover condições de melhoria na
coleta do esgoto da Penitenciária Presidente Bernardes, de modo a que
cesse o despejo de elementos poluentes no Córrego Guarucaia (obrigação
de não fazer), a fim de evitar danos ao meio ambiente.

STF – AO 772 MC/SP: [...] Nem porque, quando praticados no desempenho


de poder discricionário, não se assujeitem os atos administrativos a controle
jurisdicional. É velha e aturada a jurisprudência desta Corte, no sentido de
que tais atos, quando insultem por via direta o ordenamento jurídico,
contrariando, por exemplo, postulados constitucionais, como o da
moralidade, ou não atendam ao interesse público específico a que é
predisposto o poder jurídico, são passíveis de fiscalização judicial.

Salienta-se que atos judiciais não podem ser objeto de ação popular, tendo em vista que se deve
utilizar os meios específicos de impugnação. Igualmente, a ação popular não serve como instrumento de
controle abstrato de constitucionalidade. Nesse sentido:

STJ – REsp 1.081/SC: Mérito – da impossibilidade jurídica do pedido da


ação popular. Sob pena de usurpação de competência do Supremo Tribunal
Federal, a ação popular não se mostra a via adequada para a obtenção
de declaração de inconstitucionalidade de lei federal, devendo haver a
comprovação da prática de aos administrativos que violem o erário
público. Precedentes

6.3.5. Objetivo

A ação popular visa defender direitos difusos que pertencem à sociedade, por meio da invalidação de
atos lesivos ao patrimônio público ou de entidades de que o estado participe. Em suma, o objetivo é tutelar
bens materiais (patrimônio público) e bens imateriais (moralidade administrativa, meio ambiente, patrimônio
histórico e cultural).

Parcela da doutrina admite a ação popular para a tutela de direitos do consumidor. Tal entendimento,
contraria a jurisprudência do STJ.

STJ – REsp 818.725/SP: Instrumento flagrantemente inadequado mercê de


evidente ilegitimatio ad causam (art. 1º, da Lei 4.717/1965 c/c o art. 5º, LXXIII,

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 84


da Constituição Federal) do autor popular, o qual não pode atuar em prol da
coletividade nessas hipóteses.

6.3.6. Requisitos específicos

Previstos no art. 2º da Lei da Ação Popular. Observe:


Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas
no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão
as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas
atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou
irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em
violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de
direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou
juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a
fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de
competência.

Para que o cabimento da ação popular o ato, há divergência acerca da necessidade de lesividade e/ou
ilegalidade do ato impugnado.

1ªC (jurisprudência dominante): há necessidade de conjugação da lesividade e da ilegalidade;

STJ – EREsp 260.821/SP: Ação popular. Cabimento. Ilegalidade do ato


administrativo. Lesividade ao patrimônio público. Comprovação do prejuízo.
Necessidade. 1. O fato de a Constituição Federal de 1988 ter alargado as
hipóteses de cabimento da ação popular não tem o efeito de eximir o
autor de comprovar a lesividade do ato, mesmo em se tratando de lesão
à moralidade administrativa, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e
cultural.

2ªC: A lesividade, por si só, já é suficiente;

3ªC: A lesividade contém a ilegalidade.

6.3.7. Competência

O processamento e o julgamento da ação popular serão de competência do juiz de primeiro grau


(competência ordinária) estadual ou federal. Por não possuir natureza penal, não se aplica o foro por
prerrogativa de função.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 85


Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer
da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordo com a organização
judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem à União, ao
Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.
§ 1º Para fins de competência, equiparam-se atos da União, do Distrito
Federal, do Estado ou dos Municípios os atos das pessoas criadas ou
mantidas por essas pessoas jurídicas de direito público, bem como os atos
das sociedades de que elas sejam acionistas e os das pessoas ou entidades
por elas subvencionadas ou em relação às quais tenham interesse
patrimonial.
§ 2º Quando o pleito interessar simultaneamente à União e a qualquer outra
pessoas ou entidade, será competente o juiz das causas da União, se
houver; quando interessar simultaneamente ao Estado e ao Município, será
competente o juiz das causas do Estado, se houver.
§ 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações,
que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os
mesmos fundamentos.
§ 4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato
lesivo impugnado

Nos casos em que a União figurar no polo passivo, a ação popular poderá ser proposta nos seguintes locais:

 Domicílio do autor;

 Onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda;

 Onde esteja situada a coisa objeto da demanda;

 Distrito Federal.

Importante consignar que o STF, nos casos de competência originária (em razão da competência da
demanda), julgará ação popular. São eles (art. 102, I, alíneas “f” e “n”, da CF):

 Interesse, direto ou indireto, de todos os membros da magistratura;

 Quando mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam
direta ou indiretamente interessados;

 Conflito entre União e Estado membro.

6.3.8. Decisão liminar

O cabimento da liminar está previsto no §4º, do art. 5º da Lei 4.717/65.

Art. 5º, § 4º Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do


ato lesivo impugnado.

Salienta-se que as vedações da Lei de Mandado de Segurança são aplicadas à Ação Popular.

Lei 12.016/2009 – Art. 7º, § 2o Não será concedida medida liminar que tenha
por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias86
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e
6.3.9. Decisão de mérito

Em relação à decisão de mérito na ação popular, importante distinguirmos:

1º PEDIDO PROCEDENTE – a decisão condenará os responsáveis e/ou beneficiários em perdas e


danos, bem como determinará a nulidade (art. 2º e art. 4º) ou anulação (art. 3º) do ato.

A decisão que declara a nulidade possui natureza declaratória-condenatória.

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas


no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão
as seguintes normas:
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas
atribuições legais do agente que o praticou;
b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou
irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;
c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em
violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;
d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de
direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou
juridicamente inadequada ao resultado obtido;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a
fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de
competência.

Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou


celebrados por quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.
I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto
às condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ou
constantes de instruções gerais.
II - A operação bancária ou de crédito real, quando:
a) for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares,
estatutárias, regimentais ou internas;
b) o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao constante
de escritura, contrato ou avaliação.
III - A empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:
a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia concorrência
pública ou administrativa, sem que essa condição seja estabelecida em lei,
regulamento ou norma geral;
b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições, que
comprometam o seu caráter competitivo;
c) a concorrência administrativa for processada em condições que
impliquem na limitação das possibilidades normais de competição.
IV - As modificações ou vantagens, inclusive prorrogações que forem
admitidas, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos de
empreitada, tarefa e concessão de serviço público, sem que estejam
previstas em lei ou nos respectivos instrumentos.,

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 87


V - A compra e venda de bens móveis ou imóveis, nos casos em que não cabível con
for realizada com desobediência a normas legais, regulamentares, ou constantes de
o preço de compra dos bens for superior ao corrente no mercado, na época da operação
o preço de venda dos bens for inferior ao corrente no mercado, na época da operação.
VI - A concessão de licença de exportação ou importação, qualquer que seja a sua mod
houver sido praticada com violação das normas legais e regulamentares ou de instruçõ
resultar em exceção ou privilégio, em favor de exportador ou importador. VII - A operaç
VIII - O empréstimo concedido pelo Banco Central da República, quando:
concedidocomdesobediênciadequaisquernormaslegais, regulamentares, regimentais ou
o valor dos bens dados em garantia, na época da operação, for inferior ao da avaliação.
IX - A emissão, quando efetuada sem observância das normas constitucionais, legais e

A decisão que determinada a anulação possui natureza desconstitutiva-condenatória.

Art. 3º Os atos lesivos ao patrimônio das pessoas de direito público ou


privado, ou das entidades mencionadas no art. 1º, cujos vícios não se
compreendam nas especificações do artigo anterior, serão anuláveis,
segundo as prescrições legais, enquanto compatíveis com a natureza
deles.

2º PEDIDO IMPROCEDENTE – haverá duas consequências distintas:

 Ação manifestamente infundada – decisão fará coisa julgada e produzirá efeitos erga omnes.
Não poderá ser proposta nova ação popular;

 Improcedência por insuficiência probatória – caberá ajuizamento de nova ação popular.


DIREITOS SOCIAIS

1. INTRODUÇÃO

Os direitos sociais são consagrados em normas de “textura aberta” (geralmente princípios), ou seja, a
sua concretização fica a cargo dos poderes públicos. Isso é próprio de uma sociedade pluralista, como a
brasileira, pois assim os poderes públicos podem concretizá-los de acordo com a vontade da maioria.

Importante destacar que o art. 6º da CF traz os direitos sociais, já foi alterado algumas vezes. Sempre
para incluir mais algum direito social, a última alteração foi em 2015 e incluiu o transporte como um direito
social.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção

à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 88
Constituição.
Ressalta-se que os direitos sociais, na visão da doutrina majoritária, são considerados cláusulas
pétreas expressas, embora a Constituição Federal preveja como cláusula pétrea apenas direitos e garantias
individuais. Segundo Novelino, os direitos sociais não são cláusulas pétreas expressas, mas sim implícitas,
corroborando tal entendimento Daniel Sarmento, citado por Novelino, afirma que “a liberdade é
esvaziada quando não são asseguradas as condições materiais mínimas (alimentação, saúde,
educação, moradia) para que as pessoas possam desfrutá-las de forma consciente”.

2. FINALIDADE

Direitos de segunda geração (econômicos, sociais, culturais), ligados ao valor de igualdade


(material). São direitos garantidos com o objetivo de diminuir as desigualdades existentes na sociedade. E foi
graças à atuação estatal (direitos de prestação) que os direitos sociais foram alçados ao status de direitos
fundamentais, que até então só eram reconhecidos por indivíduos altruístas ou generosos.

Os direitos sociais têm por finalidade precípua proteger os hipossuficientes e os mais fragilizados.
Vale dizer, se todos tivessem igualdade de condições, os direitos sociais não teriam grande utilidade. Tem a
ver com igualdade material, pois permitem que sejam diminuídas ou atenuadas as desigualdades.

3. EFICÁCIA

Qualquer direito fundamental demanda certa onerosidade para que seja efetivado. No entanto, os
direitos sociais são especialmente onerosos, visto que exigem uma atuação estatal. Ocorre que, por conta
disso, sua eficácia acaba ficando diminuída, se comparada com os direitos
de defesa (1ª geração). Aqui, as prestações devem obedecer ao chamado limite do financeiramente possível
(reserva do possível).

Além disso, a maioria dos direitos sociais é previsto em normas não autoaplicáveis (eficácia
limitada), normas de princípio programático. De outro lado, os direitos de defesa são quase totalmente
autoaplicáveis (eficácia plena ou contida). Daí a diferença de efetividade entre eles.

Essa disposição dos direitos sociais em normas programáticas não pode ser vista como um
defeito. Além disso, se explica: trata-se de uma característica da sociedade pluralista. O constituinte deixa
que o legislador ordinário (representante das maiorias) defina os direitos sociais que devem ser priorizados a
cada época, uma vez que não é possível que todos sejam priorizados ao mesmo tempo.

O art.5º §1º da CF estabelece que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tem
aplicação imediata.

Art. 5º, § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais


têm aplicação imediata.

Aplica-se a todos direitos fundamentais, inclusive os DIREITOS SOCIAIS (porém aqui tem

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 89


um aspecto especial).

Aí surge a seguinte divergência na doutrina, se este dispositivo for interpretado literalmente como
uma regra jurídica que impõe resultado, chegaremos à conclusão de que qualquer direito fundamental, seja
social ou não deve ser aplicado imediatamente. Esta interpretação é adotada por alguns autores, como por
exemplo, Dirley da Cunha Jr. – não se pode exigir uma vontade intermediadora para que eles possam ser
aplicados, segundo ele, todos DF, indistintamente, devem ter aplicação imediata. Então, essa interpretação
feita por ele, é no sentido de que o art. 5º, §1º consagra uma regra: deve ser aplicado na medida exata de suas
prescrições, imediatamente.

O segundo posicionamento, mais correto para Novelino, e cobrado pelo CESPE: é o de Ingo Sarlet
– para ser compatível com a natureza de alguns DF, deve ser interpretada não como uma regra (aplicada na
medida exata de suas prescrições), mas sim como um PRINCÍPIO. As normas devem ter aplicação imediata
na maior medida do possível.

Ex: salário-mínimo. Se não existisse uma lei fixando o salário, não teria efetividade imediata esse
dispositivo.

Nem todos os direitos sociais estão consagrados em princípios, que dependem de outras normas para
terem efetividade. Muitos direitos sociais estão consagrados em regras.

Ex: art. 208, inc. I – aqui temos uma regra, a ser aplicada na medida exata de suas prescrições.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria;
4. INTERVENÇÃO JUDICIAL

Implementação de políticas públicas é tarefa atribuída prioritariamente ao legislativo e ao executivo.


O que se discute é se o judiciário tem este papel, e se o executivo e o legislativo não agirem, até onde o
judiciário pode ir? Quais são os limites para a atuação do poder judiciário?

PRIMEIRA FASE: AUSÊNCIA DE NORMATIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS


CONSAGRADOS EM NORMAS PROGRAMÁTICAS.

Na década de 90, STJ tinha decisões adotando o entendimento que norma de direito social não
gerava direito subjetivo, o cidadão não podia exigir nada do estado baseado em uma norma de princípio
programático.

De repente, começa a haver uma onda de intervenções do poder judiciário.

SEGUNDA FASE: INTERVENÇÃO ATUANTE DO PODER JUDICIÁRIO, MAS SEM O


ESTABELECIMENTO DE CRITÉRIOS.

Observa-se que, hoje, a atuação do poder judiciário neste ramo é uma atuação bastante forte, em
razão da omissão deliberada do legislador, judiciário mandando entrega de medicamentos, internações etc.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 90


Exemplo: Daniel Sarmento comenta o caso da pessoa que na necessidade de medicamentos, vai até o
judiciário, e ganha a tutela no sentido de que “fure”, passe na frente na fila dos medicamentos, conseguindo
tais medicamentos, antes de todos outros...até que ponto um juiz pode determinar que uma pessoa tenha seu
direito sobreposto aos que não tiveram acesso ao judiciário, deveria haver uma ponderação, no sentido de
que todos que se encontram na mesma situação, terem o mesmo direito. A justiça nesse aspecto ao invés de
ser bilateral, deve ser distributiva.

TERCEIRA FASE: CONSOLIDAÇÃO DE PARÂMETROS.

Tentativa de achar um meio termo, em que se assegure os direitos sociais, mas dentro de critérios
racionais, para que não haja distorções.

Exemplo: caso dos medicamentos, o processo não deve ser encarado pelo juiz de modo bilateral –
autor e réu - mas de forma multilateral, uma macro justiça, pois neste caso, não condiz apenas aos envolvidos
no processo, e sim a uma coletividade.

Guido Calabresi/Philip Bobbit: “Escolhas Trágicas”. A questão de adjudicação de direitos sociais


envolve escolhas trágicas. O orçamento é limitado, onde se concede uma prestação para um, retira-se uma
para outro.

Sarmento: “toda decisão alocativa de recursos, é também uma decisão desalocativa”.

ARGUMENTOS CONTRA INTERVENÇÃO JUDICIAL

4.4.1. Separação dos poderes/legislador positivo


Haveria uma violação da separação de poderes, tendo em vista que a intervenção do Poder Judiciário
na concretização de direitos sociais causaria uma usurpação de competências dos Poderes Legislativos e
Executivos. Baseia-se na Teoria de Montesquieu, elaborada em meados do Século XVIII, a qual está
ultrapassada.

Kelsen defendia a ideia da atuação do Poder Judiciário como “legislador negativo”, à época as
Constituições não determinavam tarefas aos poderes públicos. Atualmente, vemos a figura do “legislador
positivo”, tendo em vista que o Poder Judiciário deve suprir as omissões dos outros poderes, a exemplo de
decisões em mandado de injunção, do reconhecimento da união homoafetiva.

Contracríticas: a Constituição é um conjunto de normas dotadas de supremacia, consequentemente,


subordinam os três poderes. Nos casos em que os Poderes Legislativo e Executivo descumprem as normas
constitucionais, caberá ao Poder Judiciário, em um Estado Democrático de Direito, interpretar e aplicar a
Constituição e as leis, assegurando a sua normatividade. Não há que se falar em usurpação de competência.

4.4.2. Ausência de legitimidade democrática

As normas que consagram dos direitos sociais possuem uma “textura aberta”, sua concretização só
será possível por meio de políticas públicas desenvolvidas pelos Poderes Legislativos e Executivos, os quais
foram eleitos democraticamente.

Destaca-se que as políticas públicas são implementadas com os valores arrecadados pelos

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 91


tributos, os quais são provenientes do povo que elege seus representantes. Por isso, afirma-se que o Poder
Judiciário possui ausência de legitimidade democrática, já que os juízes não foram escolhidos pelo povo.

Contracríticas: a democracia é substancial, ou seja, além de corresponder a vontade da maioria deve


respeitar os direitos básicos de todos, inclusive das minorias.

Perceba que a democracia não é apenas vontade da maioria, ou realização de eleições periódicas.
Para que haja uma vontade verdadeiramente livre, é necessário assegurar a fruição de direitos básicos. Hoje,
não tem mais aquele caráter formal, ao lado deste tem um caráter substancial também. A fruição dos direitos
básicos deve ser direito de todos e não somente da maioria. Como uma pessoa pode escolher um governante
sem ter acesso à educação, informação, se não tem comida? A escolha não será verdadeiramente livre como
deveria. Está ligada a igualdade material.

4.4.3. Desenho e capacidades institucionais

Refere-se, principalmente, à adjudicação do direito à saúde, tendo em vista que o constituinte


originário determinou que a consagração de tal direito seria por meio de políticas públicas (art. 196 da CF) e
não através de decisões judiciais.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.
A decisão judicial que concede medicamentos de alto custo para uma pessoa não trata de forma
igual, uma vez que nem todos que possuem a mesma doença irão receber o referido medicamento.

4.4.4. Acesso restrito ao Poder Judiciário

Apenas a minoria da população brasileira consegue, efetivamente, ter acesso ao Poder Judiciário.
Logo, muitas vezes (apesar das boas intenções dos magistrados), acaba havendo uma injustiça com a maioria
que não consegue atuação judicial.

Através das políticas públicas a maioria será contemplada, diversamente das decisões individuais.

4.4.5. Custo dos direitos e reserva do possível

Como vimos, todos direitos sejam de defesa ou sociais possuem um custo.

Contudo, os direitos sociais, por serem prestacionais possuem um custo muito mais elevado. Diante
da escassez de recursos, ao alocar recursos em uma área outra acaba ficando sem, haverá sempre “escolhas
trágicas”, uma vez que não é possível contemplar, ao mesmo tempo, todos os direitos sociais.

PARÂMETROS PARA A JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE (STF)8

Segundo Gilmar Mendes, em tal caso, realizando audiência pública sobre o tema - judicialização da
saúde – alvo de grandes controvérsias no âmbito dos Tribunais Pátrios, foram

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 92


fixados alguns parâmetros para as decisões judiciais:

1) Existência de política estatal

O primeiro dado a ser considerado é a existência, ou não, de política estatal que abranja a prestação
de saúde pleiteada pela parte. Isso porque, ao deferir uma prestação de saúde incluída entre as políticas
sociais e econômicas formuladas pelo SUS, o Judiciário não está criando política pública, mas apenas
determinando o seu cumprimento.

2) Medicamento registrado na ANVISA (regra)

Como regra geral a ser adotada, é vedado à Administração Pública fornecer fármaco que não possua
registro na ANVISA. Apenas em casos excepcionais, cuja verificação ocorrerá em concreto, a importação de
medicamento não registrado poderá ser autorizada pela ANVISA.

Exceção: demora irrazoável da ANVISA para apreciar o registro aliada a três requisitos.

8
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4d7a968bb636e25818ff2a3941db08c1?pa lavra-
chave=O+Poder+Judici%C3%A1rio+pode+determinar+que+o+Poder+P%C3%BAblico+forne%C3%A7a+re m
%C3%A9dios+que+n%C3%A3o+est%C3%A3o+previstos+na+lista+do+SUS
É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso
de mora irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido e desde que preenchidos três requisitos cumulativos:

a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de


medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras);

b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior;


e

c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.

O STF (RE 1165959) fixou mais uma exceção à regra de proibição de fornecimento de medicamento
não registrado na ANVISA, nos casos em que constatada a incapacidade financeira do paciente, o Estado
deve fornecer medicamento que, apesar de não possuir registro sanitário, tem a importação autorizada pela
Anvisa. Para isso, a parte autora precisa comprovar que:

a) o medicamento é imprescindível para o tratamento;

b) não é possível a sua substituição por outro similar constante das listas oficiais de
dispensação e dos protocolos de intervenção terapêutica do SUS.

Cabe ao Estado fornecer, em termos excepcionais, medicamento que,


embora não possua registro na Anvisa, tem a sua importação autorizada
pela agência de vigilância sanitária, desde que comprovada a incapacidade
econômica do paciente, a imprescindibilidade clínica do tratamento, e a
impossibilidade de substituição por outro similar constante das listas oficiais
de dispensação de medicamentos e os protocolos de intervenção
terapêutica do SUS. STF. Plenário. RE 1165959/SP, Rel. Marco Aurélio,
redator do

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 93


acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/6/2021 (Repercussão
Geral – Tema 1161) (Info 1022).

3) Fornecimento de medicamento off label

Off label é uma expressão em inglês que, em tradução literal, significaria “fora de indicação”.
Trata-se do medicamento prescrito para uma finalidade que não estava prevista na bula.

O exemplo mais famoso de medicamento off label é o AAS (ácido acetilsalicílico). Este remédio foi
desenvolvido para ser um mero analgésico. Posteriormente, contudo, percebeu-se que ele servia para outras
finalidades, como, por exemplo, para a prevenção de infartos. Assim, atualmente, muitos médicos
prescrevem o AAS para prevenir infartos, mesmo isso não sendo uma indicação oficial do remédio.

Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de medicamento
para uso off label.

Excepcionalmente, será possível que o paciente exija o medicamento caso esse determinado uso fora
da bula (off label) tenha sido autorizado pela ANVISA.

O Estado não é obrigado a fornecer medicamento para utilização off label,


salvo autorização da ANVISA. STJ. 1ª Seção. PUIL 2.101-MG, Rel. Min.
Sérgio Kukina, julgado em 10/11/2021 (Info 717).

ATENÇÃO! No caso de saúde suplementar, em regra, o plano de saúde não pode negar tratamento
prescrito pelo médico, mesmo sendo off label.

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de


tratamento prescrito pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em
favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual
registrado na ANVISA (uso off-label). STJ. 3ª Turma. REsp 1721705-SP,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

É indevida a recusa do plano de saúde quanto a cobertura de tratamento


prescrito pelo médico, ainda que experimental, porquanto não compete à
operadora a definição do diagnóstico ou do tratamento para moléstia
coberta pelo plano contratado. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1819953/SP,
Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 22/06/2021.

4) Tratamento oferecido pelo SUS (regra)

Como regra geral, deverá ser privilegiado o tratamento fornecido pelo SUS em detrimento de opção
diversa escolhida pelo paciente, sempre que não for comprovada a ineficácia ou a impropriedade da política
de saúde existente; essa sistemática pressupõe, porém, a necessidade de revisão periódica dos protocolos
existentes e de elaboração de novos protocolos - uma vez que o SUS adotou a teoria da Medicina com base
em evidências conjuntamente com um Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas;

Essa conclusão não afasta, contudo, a possibilidade, ainda que excepcional, de o Poder Judiciário, ou
de a própria Administração, decidir que medida diferente da custeada pelo SUS deve ser fornecida a
determinada pessoa que, por razões específicas do seu organismo, comprove que o tratamento fornecido não
é eficaz no seu caso. Assim, em casos excepcionais, os Protocolos

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 94


Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do SUS poderão ser contestados judicialmente.

5) Tratamento não experimental

Além disso, os tratamentos experimentais (sem comprovação científica de sua eficácia) são
realizados por laboratórios ou centros médicos de ponta, consubstanciando-se em pesquisas clínicas. A
participação nesses tratamentos rege-se pelas normas que regulam a pesquisa médica e, portanto, o Estado
não pode ser condenado a fornecê-los.

6) Tratamentos novos

Quanto aos novos tratamentos (ainda não incorporados pelo SUS) é preciso muita cautela para
apreciar a matéria. Como frisado pelos especialistas ouvidos na audiência pública, o conhecimento médico
não é estanque, sua evolução é muito rápida e dificilmente suscetível de acompanhamento pela burocracia
administrativa. Se, por um lado, a elaboração dos Protocolos Clínicos e das Diretrizes Terapêuticas privilegia
a melhor distribuição de recursos públicos e a segurança dos pacientes; por outro, a aprovação de novas
indicações terapêuticas pode ser muito lenta e, assim, acabar por excluir o acesso de pacientes do SUS a
tratamento há muito prestado pela iniciativa privada. Nesses casos, a omissão administrativa no tratamento
de determinada patologia poderá ser objeto de impugnação judicial, tanto por ações individuais como
coletivas
5. NORMAS CONSTITUCIONAIS PROGRAMÁTICAS ATRIBUTIVAS DE DIREITOS
SOCIAIS E ECONÔMICOS

Exemplos: art. 1º, 3º e 170 CF (Min. Eros Grau).

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 95


IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos
de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas
sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos,
salvo nos casos previstos em lei.

As normas programáticas, sobretudo as atributivas de direitos sociais e econômicos, devem ser


entendidas como diretamente aplicáveis e imediatamente vinculantes de todos os órgãos do poder. O que
temos que distinguir são as normas programáticas atributivas de direitos sociais e econômicos das normas
programáticas fixadoras de objetivos e metas puramente políticas que, como se sabe não conferem direitos
imediatos, pelo menos na sua dimensão positiva.
Tais normas são tão jurídicas e vinculativas que, na hipótese de não realização destas normas e
destes direitos por inércia dos órgãos de direção política (Executivo e Legislativo), caracterizada estará a
inconstitucionalidade por omissão.

Reforça esse entendimento a declaração jurídica de que o estado se submete ao ideal de uma
Democracia substantiva ou material, compromissária com os propósitos da Justiça Social. Em decorrência
disso, é possível sustentar-se que, na hipótese de omissão dos órgãos de direção política (legislativo e
executivo), na realização das tarefas sociais, notadamente quando deflagradoras de direitos sociais, deva
ocorrer um sensível deslocamento do centro de decisões destes órgãos para o plano da jurisdição
constitucional (ADPF 45).

6. RESERVA DO POSSÍVEL

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A expressão “reserva do possível” foi criada pelo Tribunal Constitucional da Alemanha (TCA) em
1972. A Constituição alemã consagrou o direito à educação como direito fundamental. No entanto, algumas
pessoas que não conseguiam acesso à universidade, recorrem ao TCA alegando o seguinte: para elas terem a
liberdade de escolha profissional, o estado alemão deveria proporcionar vagas necessárias para todos, para a
escolha ser livre.

Na sua decisão, o TCA entendeu que, embora seja desejável que todos tenham acesso à universidade,
nem sempre o acesso irrestrito será possível, em razão das limitações de recursos do estado. Mesmo sendo
um direito desejável, a reserva do possível impede que seja usufruído por todos.

Há autores que contestam a aplicação da expressão no Brasil (Andreas Krell – Direitos sociais uma
análise no Brasil e na Alemanha). Segundo Andreas Krell, não é possível uma transposição da reserva do
possível para o direito brasileiro, devido à diferença de realidades entre os dois países. Na Alemanha o grau
de efetivação dos direitos sociais alcançou um nível muito superior, em que já existe um padrão
otimizado de bem-estar social, na medida em que o

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 96


desenvolvimento e aplicação da Reserva do Possível é mais condizente com realidade. No Brasil, não se tem
um mínimo de efetivação dos direitos sociais, por isso, o Estado brasileiro não poderia alegar a Reserva do
Possível.

Entretanto, Daniel Sarmento afirma que a reserva do possível é um conceito muito mais necessário
aqui do que na própria Alemanha, em razão da limitação orçamentária e da escassez de recursos que temos.
Aqui, a dificuldade de se implementar direitos sociais é muito maior, se não estabelecer quais critérios,
acaba-se criando mais desigualdade. Justamente, para evitar isso é que a reserva do possível teria uma grande
utilidade, para que todos possam usufruir dos mesmos direitos.

DIMENSÕES

Existem três dimensões utilizadas quando se fala em reserva do possível (Ingo Sarlet):

6.2.1. Possibilidade Fática

Consiste na disponibilidade de recursos necessários para satisfazer uma prestação relacionada aos
direitos sociais. Deve-se analisar se o Estado possui recursos para atender somente aquela pessoa, ou para
todas as pessoas que se encontrem naquela situação. Cita-se, como exemplo, o direito à moradia. O Estado
não pode garantir moradia apenas para algumas pessoas, mas sim para todas as pessoas que estão da mesma
situação.

Em razão do princípio da isonomia, a análise dos recursos orçamentários deve ser feita não de
forma individual, mas conforme uma universalização da demanda. Se aquela pessoa tem o direito, todas as
pessoas na mesma situação têm o direito também.

Obs.: a inexistência de recursos não se confunde com a má alocação de recursos por parte dos Estados. Há
casos em que o Estado possui recursos suficientes, mas aloca de forma errada. Por exemplo, investe em
propagandas de governo e não em educação. Em tais casos, o Poder Judiciário deve intervir quando for
provado.

Sarmento: tem se entendido que o meio mais adequado para a universalização da demanda, o melhor
caminho seriam as ações coletivas, as quais permitem essa universalização.

6.2.2. Possibilidade Jurídica

Compreende dois aspectos:

a) Existência de autorização orçamentária para cobrir as despesas: POSSIBILIDADE


FÁTICA

Obviamente, o limite deve ser analisado, mas não como algo absoluto, porque senão para qualquer
coisa poderia ser usado o argumento da falta de orçamento.

Dirley da Cunha: a liberdade orçamentária está diretamente ligada à efetivação dos direitos
fundamentais. Os DF’s devem servir de parâmetro para a elaboração de políticas públicas ou planos
econômicos. A constitucionalidade dos orçamentos públicos depende de assegurarem os recursos para
implementação das prestações materiais, objeto dos direitos sociais.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 97


b) Análise das competências federativas: POSSIBILIDADE JURÍDICA

Além da dotação orçamentária, é necessária a análise de qual ente federativo possui a competência para
instituir.

Por exemplo, a saúde é de competência comum, pode ser exigida dos municípios, dos estados ou da
união.

6.2.3. Razoabilidade da exigência e proporcionalidade da prestação

Imagine a seguinte hipótese, dois tipos de medicamento para o mesmo tipo da doença, os dois surtem
efeitos. Porém, o medicamento B é mais eficaz que o A. Acontece que o B custa 20x mais.

O Estado tem como fornecer o A, atendendo grande parte das pessoas, mas se for fornecer o B, não
conseguira fornecer a todas. Qual deverá ser fornecido? A análise é feita pelo juiz, em cada caso concreto.
Caberá ao Estado o ônus da prova, por exemplo, demostrando que o
fornecimento do medicamento A alcançaria um maior número de pessoas, sendo razoável e
proporcional sua prestação.

QUEM ALEGA A RESERVA DO POSSÍVEL?

Quem alega a reserva do possível é o Estado em sua defesa, para não cumprir determinada prestação.
Portanto, o ônus da prova lhe compete, o Estado deve demonstrar como e porque não é possível o
cumprimento da prestação, depende de uma atuação da administração. Para o juiz considerar a reserva do
possível, o Estado deverá demonstrar concretamente, não em alegações genéricas como é geralmente
observado.

O Min. Celso de Mello, na ADPF 45, estabeleceu um critério interessante quanto a isso: não basta
invocar genericamente a reserva do possível, é necessário demonstrar a ocorrência de justo motivo
objetivamente aferível.

“As normas programáticas não podem se converter em promessas


constitucionais inconsequentes, sob pena de fraudar justas expectativas
depositadas nos poderes públicos pela população”.

NÃO APLICAÇÃO

Dizer o Direito (Informativo 543 STJ)9

Não se pode invocar a teoria da reserva do possível, importada do Direito alemão, como escudo para
o Estado se escusar do cumprimento de suas obrigações prioritárias. Realmente as limitações orçamentárias
são um entrave para a efetivação dos direitos sociais. No entanto, é preciso ter em mente que o princípio da
reserva do possível não pode ser utilizado de forma indiscriminada.

Na verdade, o direito alemão construiu essa teoria no sentido de que o indivíduo só pode requerer do
Estado uma prestação que se dê nos limites do razoável, ou seja, na qual o peticionante atenda aos requisitos
objetivos para sua fruição.

De acordo com a jurisprudência da Corte Constitucional alemã, os direitos sociais

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 98


prestacionais estão sujeitos à reserva do possível no sentido daquilo que o indivíduo, de maneira racional,
pode esperar da sociedade. Ocorre que não se podem importar preceitos do direito comparado sem atentar
para Estado brasileiro.

Na Alemanha, os cidadãos já dispõem de um mínimo de prestações materiais capazes de assegurar


existência digna. Por esse motivo, o indivíduo não pode exigir do Estado prestações supérfluas, pois isso
escaparia do limite do razoável, não sendo exigível que a sociedade arque com esse ônus. Eis a correta
compreensão do princípio da reserva do possível, tal como foi formulado pela jurisprudência germânica.

9 https://www.dizerodireito.com.br/2014/09/informativo-esquematizado-543-stj_23.html
Todavia, a situação é completamente diversa nos países menos desenvolvidos, como é o caso do
Brasil, onde ainda não foram asseguradas, para a maioria dos cidadãos, condições mínimas para uma vida
digna.

Nesse caso, qualquer pleito que vise a fomentar uma existência minimamente decente não pode ser
encarado como sem razão (supérfluo), pois garantir a dignidade humana é um dos objetivos principais do
Estado brasileiro.

É por isso que o princípio da reserva do possível não pode ser oposto a um outro princípio,
conhecido como princípio do mínimo existencial. Somente depois de atingido esse mínimo existencial é que
se poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em quais outros projetos se devem investir.

Por esse motivo, não havendo comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da


pessoa estatal, inexistirá empecilho jurídico para que o Judiciário determine a inclusão de determinada
política pública nos planos orçamentários do ente político.

IMPORTANTE:

Em provas práticas do MP ou da Defensoria Pública, o candidato, ao preparar uma ação civil pública
requerendo a implementação de alguma política pública, deverá pedir que a verba necessária para essa
medida seja incluída no orçamento estatal a fim de evitar a alegação de violação aos arts. 4º, 6º e 60 da Lei n.
4.320/64 (que preveem a necessidade de previsão orçamentária para a realização das obras em apreço).

PRECEDENTE IMPORTANTE DO STF NO MESMO SENTIDO:

A CF/88 e a Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com


Deficiência asseguram o direito dos portadores de necessidades especiais
ao acesso a prédios públicos, devendo a Administração adotar providências
que o viabilizem. O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode
determinar que a Administração Pública adote medidas assecuratórias de
direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso
configure violação do princípio da separação de poderes. STF. 1ª Turma.
RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013 (Info 726).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 99


7. MÍNIMO EXISTENCIAL

CONCEITO

A expressão “mínimo existencial” foi utilizada pela primeira vez pelo Tribunal Administrativo
Federal, em uma decisão de 1953, migrando logo após para o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha
(TCA). No Brasil, a expressão começou a ser usada após a CF/88 pelo professor Ricardo
L. Torres.

Entende-se por “mínimo existencial” o conjunto de bens e interesses indispensáveis a uma vida
humana digna. Não se trata daquilo que todos querem, mas sim de tudo que, se ausente, pode tornar a vida
indigna.
O mínimo existencial é extraído:

 Princípio da DPH;

 Liberdade material (para ter liberdade material precisamos ter igualdade material ou
substancial);

 Princípio do Estado Social (bem estar social).

PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA E O MÍNIMO EXISTENCIAL

Como vimos, o mínimo existencial seria o conjunto de bens e utilidades indispensáveis a uma vida
humana digna da liberdade material do Estado Social, este dentro do Estado Democrático de Direito.

Quais seriam esses bens e essas utilidades indispensáveis? Por que falar em um mínimo e não em um
máximo? O professor Ricardo Torres, entende que o mínimo existencial não teria um conteúdo definido,
específico. Segundo ele, este conteúdo é variável, depende do local, da época. Por outro lado, Ana Paula de
Barcellos, também professora da UERJ, entende que o mínimo existencial teria um conteúdo definido,
formado por:

 Educação Fundamental;

 Direito à saúde;

 Direito de assistência aos desamparados;

 Acesso à Justiça (fundamental na hipótese de esses direitos acima não serem implementados
pelo estado, a pessoa através desse instrumento possa garantir a efetividade desses direitos);

 Direito à moradia (há quem o defenda aqui. Moradia no Brasil como mínimo existencial
– local, abrigo para pelo menos se recolher durante a noite.

Obs.: alguns direitos sociais são princípios e outros são regras; quanto a estes não se pode falar em
mínimo, pois eles devem ser resguardados na exata medida de suas prescrições.

Direitos

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 Mínimo 100


RESERVA DO POSSÍVEL X MÍNIMO EXISTENCIAL

Daniel Sarmento: exigirá maior ônus argumentativo - de um lado temos os Direitos Sociais de
outro o Princípio Democrático/Separação dos Poderes/Direito de terceiros. Quando o Mínimo Existencial
estiver nesta ponderação, ele exigirá do Estado um ônus argumentativo ainda maior para o caso de não
cumprir o direito. Portanto, possui caráter relativo.
Ingo Sarlet: mínimo existencial tem caráter absoluto - Seu posicionamento é que, em relação ao
mínimo existencial, o estado não pode alegar a reserva do possível. Como se o mínimo existencial tivesse um
caráter absoluto.

Obs.: STJ adotou a tese REsp 1.185.474/SC. Informativo 431, afirmando que o Estado só pode utilizar
este argumento quando se tratar da real insuficiência de recursos em razão da baixa arrecadação, quando se
tratar de falta de recursos por “escolhas trágicas”, não poderia alegar a reserva do possível.

Ana Paula de Barcellos: orçamento deve priorizar o mínimo existencial - deve ter como meta
prioritária a sua efetivação.

STF – RE 482611/SC: “[...] Impossibilidade de invocação, pelo Poder


Público, da cláusula da reserva do possível sempre que puder resultar, de
sua aplicação, comprometimento do núcleo básico que qualifica o
mínimo existencial” (RTJ 200/191-197)

8. VEDAÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL

NOMENCLATURAS E CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Também chamado de “Efeito Cliquet”, de proibição de proibição do retrocesso, de proibição de


contrarrevolução social, de proibição de evolução reacionária, de eficácia vedativa/impeditiva de retrocesso e
de não retorno da concretização.

Obs.: A vedação de retrocesso social relativa aos direitos sociais não se confunde com a vedação ao
retrocesso dirigida ao Poder Constituinte Originário (limites materiais), que não o permite um retrocesso dos
direitos fundamentais já conquistados.

A partir do momento em que é alcançado um determinado nível de concretização de um Direito


Social, não se pode retroceder nessa conquista. Os direitos não são dados pelo Estado, eles são
conquistados pela sociedade.

FUNDAMENTOS

A vedação do retrocesso não está expressa na CF. É extraída:

 Princípio da DPH, art. 1º, III

 Princípio da Segurança Jurídica

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 101


 Princípio da Máxima Efetividade, art. 5º, §1 º

 Princípio do Estado Democrático e Social de Direito art. 1º

DEFINIÇÃO
Trata-se de um impedimento, dirigido aos poderes públicos, de extinguir ou reduzir, de forma
desproporcional e injustificado, o grau de concretização alcançado por um direito fundamental prestacional.

José Carlos Vieira de Andrade (doutrinador português) – diz que a concretização de um DS, acaba
fazendo parte do conteúdo do próprio direito, se incorporando a ele. Raciocínio: é como se a concretização
do direito social pelo Poder Público tivesse o condão de integrar esse direito, ela passa a ter status de norma
materialmente constitucional, é como se os DS “fosse uma esponja que draga a concretização,
fazendo esta parte daquela”. Por isso, é que não se admite um retrocesso desses direitos. Passa a fazer
parte do que é chamado de “bloco de constitucionalidade” (sentido amplo).

ACEPÇÕES

Duas concepções sobre a vedação do retrocesso:

1ª Corrente: Gustavo Zagrabelsky - a vedação de retrocesso impede qualquer redução no grau de


concretização alcançado por uma norma de direito social. O problema dessa concepção é a questão
orçamentária.

Crítica: O poder público acaba ficando engessado pelas prioridades estabelecidas pelos governantes
anteriores, pois não pode restringir o orçamento dado para outros direitos sociais a fim de concretizar novas
prioridades. Ela praticamente elimina a liberdade de conformação legislativa.

Ex: em um governo a prioridade é o lazer, no próximo governo é a segurança pública. Como o


próximo governo irá concretizar a segurança pública se não pode diminuir nada o lazer? Ele fica
impossibilitado de optar por direitos.

2ª Corrente: José Carlos Vieira de Andrade/Jorge Miranda: permite a redução no grau de


concretização de um direito apenas quando essa concretização se mostrar irrazoável ou arbitrária.

A redução deve-se justificar (ex: pela redução do orçamento, pela prioridade de outros direitos).

A segunda corrente é mais correta. Até porque a regra é a livre escolha de prioridades pelo poder
público. O princípio da vedação do retrocesso deve ser tratado como uma exceção.

Vedação do retrocesso atinge somente os direitos sobre os quais haja um consenso profundo.
DIREITOS DE NACIONALIDADE
1. ESPÉCIES DE NACIONALIDADE

A nacionalidade pode ser adquirida por ato de vontade (escolha em tornar-se nacional) ou por
previsão do ordenamento jurídico (nascimento, laços consanguíneos).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 102


NACIONALIDADE PRIMÁRIA OU ORIGINÁRIA

São os considerados brasileiros natos, as hipóteses de nacionalidade originária estão previstas no art.
12, I, CF.

O critério para adquirir está nacionalidade referem-se ao nascimento do indivíduo, não está
relacionada à manifestação de vontade.

O primeiro critério é o jus solin, segundo o qual é brasileiro nato o indivíduo que nasce em
território brasileiro. É utilizado, geralmente, em países de imigração. O Brasil adota no art. 12, I, a, da CF
este critério, excetuando o critério funcional, ou seja, não serão considerados brasileiros natos os nascidos no
Brasil quando o pai e a mãe (estrangeiros) estiverem a serviço do país de origem, uma vez que o país de
origem irá reconhecer a nacionalidade originária da criança.

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;

Obs.: a exceção refere-se a ambos os pais a serviço de seu país ou um deles deve estar apenas acompanhando
o outro. Assim, um diplomata que casa com uma brasileira e tem um filho não será aplicada a exceção, uma
vez que esta não o estava acompanhando e nem era sua esposa.

Obs.: Os pais devem estar a serviço de seu próprio país. Desta forma, se um argentino a serviço da Espanha
tem um filho no Brasil este será brasileiro nato.

O segundo critério é o sanguíneo ou jus sanguinis, geralmente ocorre em países de emigração.


Adotam este critério para que sejam mantidos os laços com o país de origem. O Brasil, igualmente, no art.
12, I, b, CF adotou o critério sanguíneo em conjugação com o critério funcional. Desta forma, são brasileiros
natos:

Art. 12, I, b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,


desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do
Brasil;

Obs.: Neste caso, apenas um dos pais precisa estar a serviço do Brasil. Assim, caso um brasileiro a serviço
do Brasil tenha um filho com uma italiana este será considerado brasileiro nato.

A terceira hipótese adota o critério sanguíneo conjugado com o registro na repartição


brasileira competente.

Art. 12, I, c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe


brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente
(EC 54/07) ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem,
em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira;
Obs.: Antes da EC 54/07 os nascidos no exterior de pai ou mãe brasileira (jus sanguinis) que não estavam a
serviços do Brasil, só seriam considerados brasileiros natos se viessem a residir no Brasil e optassem pela
nacionalidade brasileira. Começou a surgir inúmeros brasileirinhos apátridas (sem nacionalidade). Com a EC
54/07, passou a ser possível que o filho de brasileiro ou de brasileira, mesmo que não venha residir no Brasil,
poderá ser brasileiro desde que o pai faça o registro em uma repartição pública do Brasil no país em que
estão residindo.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 103


Pode acontecer de os pais estarem em algum país que não admite a dupla nacionalidade, neste caso o
pai deixou de registrar o filho na repartição brasileira competente. Nestas hipóteses, a criança pode a
qualquer tempo, quando vier a residir no Brasil, optar pela nacionalidade brasileira, ocasião em que será
considerado brasileiro nato (jus sanguinis + jus domicilii + opção).

Há uma quarta hipótese, não prevista no texto constitucional, que é defendida por parte da doutrina
como sendo de nacionalidade originária, são os casos de adoção. Estes autores, com base no art. 227, § 6º,
CF, sustentam que seria possível atribuir a nacionalidade originária aos filhos estrangeiros adotados (não é
um entendimento pacífico).

Art. 227, § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por


adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação.

NACIONALIDADE SECUNDÁRIA OU ADQUIRIDA

Confere ao indivíduo o status de brasileiro naturalizado, está prevista no art. 12, II, CF. Decorre de

um ato de vontade, ou seja, o indivíduo é que opta pela nacionalidade brasileira.


Possui duas hipóteses: a primeira é chamada de naturalização tácita ou grande naturalização e segunda é
denominada de naturalização expressa.

Obs.: A naturalização tácita não se confunde com a involuntária, em que a nacionalidade é adquirida mesmo
contra a vontade da pessoa.

1.2.1. Naturalização tácita

Na naturalização tácita o indivíduo não precisa manifestar a sua vontade, basta que não faça nada. É
adotada, geralmente, por países que querem aumentar o seu índice populacional.

No Brasil, ocorreu na CF imperial e na CF de 1891, com o intuito de aumentar a população


brasileira, assim à época bastava o estrangeiro residir no Brasil para ser considerado brasileiro naturalizado,
salvo se manifestasse vontade de não o ser.

1.2.2. Naturalização expressa

A CF/88 adotou apenas a naturalização expressa que pode ser:

a) Ordinária (art. 12, II, a, da CF)

Art. 12, II - naturalizados:


a) os que, na forma da lei (Lei 13.445/2017), adquiram a nacionalidade
brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa (válida a
todos os países de língua portuguesa e não apenas a Portugal) apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

Trata-se de um ato discricionário, não há direito público subjetivo.

Os requisitos, para a aquisição da naturalização expressa ordinária, estão previstos no art.


65 da Lei 13.445/2017.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 104


Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as
seguintes condições:
I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro)
anos; III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições
do naturalizando; e
IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

Na hipótese de naturalização ordinária, mesmo cumprido todos os requisitos da Lei e da


Constituição, ainda assim a naturalização brasileira poderá não ser concedida. Não há direito público
subjetivo, trata-se de um ato de soberania estatal.

b) Extraordinária ou quinzenária (art. 12, II, b, da CF).

Art. 12, II - naturalizados:


b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. Pode
ser chamada de quinzenária.

Lei 13.445/2017 - Art. 67. A naturalização extraordinária será concedida a


pessoa de qualquer nacionalidade fixada no Brasil há mais de 15 (quinze)
anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeira a
nacionalidade brasileira.

Para adquirir a naturalização brasileira de forma extraordinária é necessário:

 Residência no Brasil por mais de quinze anos;

 Não pode ter sofrido condenação penal e deve requerer.

Neste caso, segundo o entendimento do STF, trata-se de um ato vinculado, ou seja, a pessoa possui
um direito público subjetivo.

A utilização da expressão “desde que requeiram” lhe confere uma garantia, sendo um ato vinculado.

1.2.3. Naturalização especial

Possui previsão apenas na Lei de Imigração, dispensa a residência no Brasil como requisito.

Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em
- seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exteri
- seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Bras
Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial: I - ter capacidade civil,
- comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e
- não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 105


1.2.4. Naturalização provisória

Igualmente, está prevista apenas na Lei de Imigração.

Art. 70. A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante


criança ou adolescente que tenha fixado residência em território nacional
antes de completar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por
intermédio de seu representante legal.
Parágrafo único. A naturalização prevista no caput será convertida em
definitiva se o naturalizando expressamente assim o requerer no prazo de
2 (dois) anos após atingir a maioridade.

2. “QUASE NACIONALIDADE”

O indivíduo não é considerado brasileiro nato nem brasileiro nacionalizado, no entanto, possui os
mesmos direitos dos brasileiros. Esta hipótese, prevista no art. 12, § 1º, CF é aplicada apenas aos
portugueses, desde que exista reciprocidade por parte de Portugal. Ou seja, os direitos conferidos aos
portugueses pelo Brasil devem ser os mesmos conferidos aos brasileiros em Portugal.

§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver


reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes
ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

Por exemplo, um português que reside no Brasil pode ser candidato ao cargo de Deputado Estadual,
Deputado Federal, Governador ou Prefeito, desde que Portugal admita que um brasileiro residente em
Portugal possa se candidatar a cargos políticos lá.

Apesar da CF não fazer distinção entre brasileiro nato e naturalizado no referido dispositivo, fica
claro que eles terão os mesmos direitos do brasileiro naturalizado. Os direitos dos brasileiros naturalizado são
os mesmo direitos do brasileiro nato, salvo os casos previstos na CF.

O português equiparado tem os mesmos direitos de um brasileiro naturalizado ou, em outras


palavras, os mesmos direitos de um brasileiro nato com as exceções previstas na CF.

3. DIFERENÇAS DE TRATAMENTO ENTRE BRASILEIRO NATO E NATURALIZADO


A lei não pode estabelecer diferença de tratamento entre brasileiro nato e brasileiro naturalizado, só
a CF pode fazer tal distinção (art. 12, § 2º, CF).

§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e


naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

A CF estabelece quatro diferenças de tratamento entre o brasileiro nato e o brasileiro naturalizado.

CARGOS PRIVATIVOS

Alguns cargos só poderão ser ocupados por brasileiros natos. A CF estabelece dois critérios:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 106


 Linha sucessória do Presidente da República; e

 Segurança nacional.

Art. 12, § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:


I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados (representante da Casa do
Povo);
III - de Presidente do Senado Federal (representante dos Estados);
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal (todos os ministros do STF
devem ser brasileiro nato, uma vez que a presidência do STF é rotativa. O
presidente do CNJ deve ser brasileiro nato, vez que o cargo é exercido por
ministro do STF);
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa

CONSELHO DA REPÚBLICA

O art. 89, VII prevê que seis dos assentos do Conselho devem ser reservados aos brasileiros natos,
tendo em vista que este é um órgão consultivo do Presidente da República.

Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do


Presidente da República, e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos
Deputados; III - o Presidente do Senado
Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
VI - o Ministro da Justiça;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de
idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo
Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com
mandato de três anos, vedada a recondução.
PROPRIEDADE DE EMPRESA JORNALÍSTICA E DE RADIODIFUSÃO SONORA
É privativa de brasileiros natos, podendo ser de brasileiro naturalizado a pelo menos 10 anos. A
exceção foi colocada, segundo informações, devido ao Presidente do grupo abril.

Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e


de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais
de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e
que tenham sede no País

EXTRADIÇÃO

Brasileiro nato não pode ser extraditado em hipótese alguma (art. 5º, LI, CF).

Art. 5º, LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime co
lei;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 107


STF – HC 83.113 MC/DF: O brasileiro nato, quaisquer que sejam as
circunstâncias e a natureza do delito, não pode ser extraditado, pelo Brasil,
a pedido de Governo estrangeiro, pois a Constituição da República, em
cláusula que não comporta exceção, impede, em caráter absoluto, a
efetivação da entrega extradicional daquele que é titular, seja pelo critério
do “jus soli”, seja pelo critério do “jus sanguinis”, de nacionalidade brasileira
primária ou originária Esse privilégio constitucional, que beneficia, sem
exceção, o brasileiro nato (CF, art. 5.º, LI), não se descaracteriza pelo fato
de o Estado estrangeiro, por lei própria, haver-lhe reconhecido a condição
de titular de nacionalidade originária pertinente a esse mesmo Estado (CF,
art. 12, § 4.º, II, “a”).

Em relação ao brasileiro naturalizado a CF prevê duas hipóteses:

 Crime praticado antes da naturalização permite extradição; e

 Crime praticado após a naturalização irá gerar a extradição, desde que seja o crime de tráfico de
entorpecentes e drogas afins.

A Lei de Imigração regulamenta extradição.

Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado


brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de
pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de
instrução de processo penal em curso.
§ 1º A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades
centrais designadas para esse fim.
§ 2º A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão
competente do Poder Executivo em coordenação com as autoridades
judiciárias e policiais competentes.

Segundo a súmula 421 STF, o estrangeiro casado com brasileira ou pai de brasileiro pode ser
extraditado:
STF – Súmula 421: Não impede a extradição a circunstância de ser o
extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

Não pode ser confundida com a súmula 01 STF (“É vedada a expulsão de estrangeiro casado com
brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente da economia paterna”), que se refere à expulsão de
estrangeiro, neste caso não é possível.

No caso de extradição, o indivíduo pratica um crime em outro país que irá requer ao Estado
brasileiro que efetue a extradição ao país de origem. Na expulsão o ato nocivo é praticado dentro do território
nacional, ocasião em que será expulso do país.

Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de m


§ 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado rela
I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão,
de 2002 ; ou

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 10 8


II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade,
consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em
território nacional.
§ 2º Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração
do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da
expulsão, observado o disposto nesta Lei.
§ 3º O processamento da expulsão em caso de crime comum não
prejudicará a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão
condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena
alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer
benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro.
§ 4º O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos
da expulsão será proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será
superior ao dobro de seu tempo.

Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:


I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;
II - o expulsando:
a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência
econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação
alguma, reconhecido judicial ou legalmente;
c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde
então no País;
d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de
10 (dez) anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão; ou

“Entrega” (“surrender”) é diferente de extradição. Na extradição o indivíduo é entregue à jurisdição


de outro país diferente, por isso não se admite a extradição de um brasileiro nato, sendo admitida apenas de
estrangeiro ou de naturalizado. No caso da entrega, a pessoa é entregue a uma jurisdição internacional, da
qual o próprio Brasil faz parte e manifestou expressamente a sua adesão, ou seja, no caso do Tribunal
Internacional, o indivíduo não está sendo entregue a uma
jurisdição de outro país. Por isso, Novelino entende que não há nada que impeça um brasileiro nato ser
entregue a um Tribunal Penal Internacional.

Há, ainda, a deportação que ocorre nos casos de situação migratória irregular.

Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na


§ 1º A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem,
§ 2º A notificação prevista no § 1º não impede a livre circulação em território nacional, dev
§ 3º Vencido o prazo do § 1º sem que se regularize a situação migratória, a deportação po
§ 4º A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou dec
§ 5º A saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao cumprimento d

§ 6º O prazo previsto no § 1º poderá ser reduzido nos casos que se


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 10 9
enquadrem no inciso IX do art. 45.
Além disso, para que seja concedida a extração deve-se observar:

a) Princípio da Dupla Imputação

Para que ocorra a extradição é necessário que o ato praticado seja punido no Brasil e no país
requerente.

Art. 82. Não se concederá a extradição quando:


II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no
Estado requerente;
VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou
a do Estado requerente;

Nesse sentido, o entendimento do STF:

STF - Ext 866/PT: EXTRADIÇÃO E PRINCÍPIO DA DUPLA PUNIBILIDADE.


- Consumada a prescrição penal, seja em face da legislação do Estado
requerente, seja à luz do ordenamento positivo brasileiro, impõe-se o
indeferimento do pedido extradicional, porque desatendido, em tal hipótese,
o princípio da dupla punibilidade. Ocorrência, na espécie, de prescrição
penal, fundada na legislação brasileira, referente a um dos delitos
motivadores do pedido de extradição.

b) Vedação do duplo risco

Havendo possibilidade de punição no Brasil e no país requerente, em razão da vedação do duplo


risco, não será concedida a extradição.
Art. 82. Não se concederá a extradição quando:
V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido
condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o
pedido;

STF – Ext 890/PT: A extradição não será concedida, se, pelo mesmo fato
em que se fundar o pedido extradicional, o súdito estrangeiro estiver sendo
submetido a procedimento penal no Brasil, ou, então, já houver sido
condenado ou absolvido pelas autoridades judiciárias brasileiras. - Ninguém
pode expor-se, em tema de liberdade individual, à situação de duplo risco.
Essa é a razão pela qual a existência de situação configuradora de "double
jeopardy" atua como insuperável obstáculo ao atendimento do pedido
extradicional. Trata-se de garantia que tem por objetivo conferir efetividade
ao postulado que veda o ‘bis in idem’. Precedentes.

c) Crime político ou de opinião

Não será possível a extradição pela prática de crime político ou de opinião, visa evitar perseguições
políticas.

CF Art. 5º, LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de

Lei 13.455/2017 – Art. 82. Não se concederá a extradição quando: VII - o fato constituir cr

§ 1º A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 11 0
quando o fato constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou
quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato
principal.
§ 4º O Supremo Tribunal Federal poderá deixar de considerar crime político
o atentado contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como
crime contra a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo.

Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
V - não considerar qualquer motivo político para agravar a pena; e

d) Respeitos aos direitos fundamentais

Salienta-se que os direitos fundamentais serão aplicados ao pedido de extradição. Por exemplo, se o
país requerente pune com pena de morte, o Brasil só irá autorizar se houver o comprometimento de que seja
aplicada outra espécie de pena.

Art. 82. Não se concederá a extradição quando:


VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante
tribunal ou juízo de exceção;

Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
III - comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de
liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) 40 anos
(em razão das alterações do Pacote Anticrime);

e) Princípio da Especialidade

Para a concessão é necessário que a extradição seja condicionada ao objeto do pedido. Por exemplo,
a extradição é pelo crime de latrocínio, chegando ao país requerente apenas por este poderá ser processado e
julgado.

Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
I - não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao
pedido de extradição;

Contudo, o STF admite pedido de extensão.

STF – Ext 943 Extn/ITA: 1. A pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal autoriza a análise do pedido de extensão formulado após o
deferimento do pedido de extradição, desde que os crimes relacionados
sejam diversos aqueles que motivaram o pedido inicial e que eles tenham
sido cometidos em data anterior ao pleito extradicional.

f) Aplicação imediata dos tratados de extradição

Caso não haja tratado de extradição entre o Brasil e país requerente, sendo celebrado após a
ocorrência do crime, poderá retroagir e ser autorizada a extradição.

STF – Ext 864/ITA: I. Extradição: lei ou tratado: aplicabilidade imediata. 1.


As normas extradicionais, legais ou convencionais, não constituem lei penal,
não incidindo, em consequência, a vedação constitucional de aplicação a

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 111


fato

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 112


anterior da legislação penal menos favorável.

4. PERDA DA NACIONALIDADE

AÇÃO DE CANCELAMENTO DA NATURALIZAÇÃO

Somente se aplica a brasileiros naturalizados.

Art. 12, § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:


I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial (competência da
justiça federal), em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

NATURALIZAÇÃO VOLUNTÁRIA

Aplica-se aos brasileiros natos e aos brasileiros naturalizados.

Art. 12, §, 4º, II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:


a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
aplica- se apenas aos brasileiros natos.
b) de imposição de naturalização (não é voluntária, o indivíduo foi obrigado),
pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como
condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos
civis;

Obs.: a ressalva feita pela alínea “a” do § 4º, do art. 12, CF, se aplica apenas aos brasileiros natos.

Imagine que um brasileiro nato, voluntariamente, adquira a nacionalidade de outro país, porém este
não admite a dupla nacionalidade. Nesta hipótese, ele perde a nacionalidade brasileira passando a ser um
estrangeiro. Pode, posteriormente, adquirir novamente a nacionalidade brasileira? Na hipótese do inciso I
não pode. Em relação ao inciso II é possível.

Neste caso, passa a ser brasileiro nato ou será considerado brasileiro naturalizado? Na doutrina há
posicionamento nos sois sentidos. Jose Afonso da Silva entende que se quiser novamente adquirir a
nacionalidade brasileira será brasileiro nato (minoritário). Porém, o posicionamento majoritário (defendido
por Valério Mazzuoli, Alexandre de Morais), afirmam que será considerado brasileiro naturalizado, uma vez
que a partir do momento que ele, voluntariamente, adquiriu outra nacionalidade seu status é de estrangeiro,
para voltar a ser brasileiro terá que passar por um procedimento de aquisição de nacionalidade (manifestação
de vontade) e não por meio originário.
DIREITOS POLÍTICOS

1. CONSIDERAÇÕES

Os direitos políticos são direitos públicos fundamentais conferidos aos cidadãos para que possam
participar da vida do Estado. Podem ser divididos em dois grandes grupos: direitos políticos positivos e
direitos políticos negativos.

Os direitos políticos positivos permitem a participação do indivíduo na vida política do Estado

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 113


(votar, ser votado). Dividem-se em: direito de sufrágio, alistabilidade (capacidade eleitoral ativa - votar) e
elegibilidade (capacidade eleitoral passiva – ser votado).

Os direitos políticos negativos importam em limitações aos direitos políticos, ou seja, impedem que
o indivíduo exerça os direitos políticos. Divide-se em inelegibilidades, perda dos direitos políticos ou
suspensão dos direitos políticos.

SUFRÁGIO

POSITIVOS ALISTABILIDADE

ELEGIBILIDADE
DIREITOS
POLÍTICOS
INELEGIBILIDADES

PERDAS DOS
NEGATIVOS DIREITOS POLÍTICOS

SUSPENSÃO DOS
DIREITOS POLÍTICOS

2. DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS

SUFRÁGIO

Trata-se do direito político em si, não se confunde com o voto e com escrutínio.
SUFRÁGIO VOTO ESCRUTÍNIO

É o modo como o exercício do


É a essência do direito Trata-se do exercício do direito político ocorre.
político. direito político.
Pode ser aberto ou secreto.

Há duas espécies de sufrágio, quais sejam:

RESTRITIVO UNIVERSAL

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 114


Existem algumas exigências que irão limitar a
participação dos indivíduos. Pode ser:

 Censitário: levam em consideração


algumas características
econômicas;
É adotado nos Estados Democráticos de Direito, a
 Capacitário: leva em consideração exemplo do Brasil. É uma cláusula pétrea. As
algum tipo de capacidade especial, exigências da CF (idade mínima, nacionalidade)
geralmente, é uma capacidade de não são consideradas restrições ao sufrágio
natureza intelectual (só vota quem tem universal
curso superior);

 Em razão do gênero: leva em


consideração o gênero (masculino e
feminino)

ALISTABILIDADE

Trata-se da capacidade eleitoral ativa, ou seja, capacidade para votar.

Características do voto no Brasil:

a) Direto – o povo escolhe seus representantes. Possui como exceção o art. 81, § 1º, CF. Porém,
esta não é uma norma de observância obrigatória;

b) Igual – o voto possui o mesmo valor para todos (art. 14, CF). “On person, one vote”

c) Livre – escrutínio secreto (cláusula pétrea), liberdade de escolha;

d) Periodicidade - manifesta-se através das eleições, possibilitando a alternância de poder;

e) Personalíssimo - trata-se de algo intransferível. Somente o próprio titular é que pode exercer
o seu direito de voto.

Em relação ao voto impresso, o STF considerou inconstitucional, tendo em vista que poderia macular a sua
liberdade.
STF – ADI 4543 MC (6.11.2013): “A exigência legal do voto impresso no
processo de votação, contendo número de identificação associado à
assinatura digital do eleitor, vulnera o segredo do voto, garantia
constitucional expressa”

Em 2015, houve uma mudança na legislação para que o voto fosse impresso e depositado na urna,
mas o STF entendeu, novamente, que o art. 59-A e o parágrafo único vulneravam a liberdade do voto,
permitindo a identificação do eleitor.

Lei 13.165/2015, art. 59-A: “No processo de votação eletrônica, a urna


imprimirá o registro de cada voto, que será depositado, de forma automática
e sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado.” (g.n.)

STF – ADI 5889/DF (6.6.2018): “O ministro Alexandre (relator) considerou


que o Art.59-A e o seu parágrafo único permitem a identificação de quem

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 115


votou, ou seja, a quebra do sigilo, e, consequentemente, a diminuição da
liberdade do voto. Cabe ao legislador fazer a opção pelo voto impresso,
eletrônico ou híbrido, visto que a CF nada dispõe a esse respeito,
observadas, entretanto, as características do voto nela previstas. Ressaltou
o sucesso da adoção das urnas eletrônicas no Brasil e a ausência de
indícios de fraude generalizada ou de mal funcionamento do sistema a
justificar a implantação do voto impresso. O modelo híbrido trazido pelo
dispositivo impugnado constitui efetivo retrocesso aos avanços
democráticos conquistados pelo Brasil para garantir eleições realmente
livres, em que as pessoas possam escolher os candidatos que preferirem.”
(Info/STF-905)

No Brasil tanto o alistamento eleitoral quanto o voto são obrigatórios para alguns e facultativos para
outros.

O voto é obrigatório para as pessoas que possuem entre 18 e 70 anos, lembrando que esta
obrigatoriedade não é cláusula pétrea (alguns sustentam que é implícita). O voto será facultativo para os que
possuem idade entre 16 e 18 anos; maiores de 70 anos e para os analfabetos.

As pessoas que possuem faculdade para votar podem exercê-la mesmo que estejam alistados.

Art. 14, § 1º - O alistamento eleitoral e o voto


são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito
anos; II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

Inalistáveis (pessoas que não podem se alistar como eleitor):

a) Conscritos: são aqueles que prestam alistamento militar obrigatório. O conceito de conscrito
abrange: médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários durante o período do serviço militar obrigatório
(não são os que fazem concurso público para estes cargos).

Lei 5.292/67 - Art. 4o Os concluintes dos cursos nos IEs destinados à


formação de médicos, farmacêuticos, dentistas e veterinários que não
tenham prestado o serviço militar inicial obrigatório no momento da
convocação de sua classe, por adiamento ou dispensa de incorporação,
deverão prestar o serviço militar no ano seguinte ao da conclusão do
respectivo curso ou após a realização de programa de residência médica ou
pós-graduação, na forma estabelecida pelo caput e pela alínea ‘a’ do
parágrafo único do art. 3o, obedecidas as demais condições fixadas nesta Lei
e em sua regulamentação.

b) Estrangeiros: a nacionalidade é uma das condições para o exercício dos direitos políticos, salvo os
casos de quase nacionalidade (art. 12, §1º, CF).

Art. 14, § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e,


durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

ELEGIBILIDADE

Trata-se da capacidade eleitoral passiva, ou seja, possibilidade de ser votado.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 116


Condições de elegibilidade estão previstas no art. 14, são regulamentadas por Lei Ordinária (Código
Eleitoral).

Idade mínima – com 35 anos (Presidente e Vice, Senador) a pessoa adquire a plena cidadania (pode
ser eleita para qualquer cargo); 30 anos (Governador e Vice); 21 anos (Prefeito, Vice, Deputado e Juiz de
paz) e 18 anos (Vereador).

Art. 14, § 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:


I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição (prazo de seis meses antes das
eleições);
V - a filiação partidária (prazo de seis meses antes das eleições); VI -
a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e
Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito
Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital,
Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

O STF faz uma distinção entre as condições de elegibilidade (direitos políticos positivos art.
14, § 3º) e outras hipóteses de inelegibilidade (direitos políticos negativos – art. 14, § 9º).

Art. 14, § 9º Lei complementar (LC135/10) estabelecerá outros casos de


inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra
a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo
ou emprego na administração direta ou indireta.

A LC é somente para outros casos de inelegibilidade.


As condições de elegibilidade devem ser analisadas no registro da candidatura, em regra. A exceção
se refere à idade mínima, que deve ser analisada na data da posse. Contudo, a idade mínima de 18 anos, para
vereador, é exigida na data-limite do pedido de registro.

Lei 9.504/97 – Art. 11, § 2o A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condiç

3. DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS

Trata-se de restrições à participação do indivíduo na vida política do Estado.

INELEGIBILIDADES

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 117


ABSOLUTAS RELATIVAS

Relacionada a uma condição pessoal Estão relacionadas ao cargo ocupado

Somente podem ser estabelecidas pela Podem ser criadas por lei complementar (art.
própria CF 14, § 9º)

Em alguns casos, admite-se a


Não admitem desincompatibilização
desincompatibilização

Decorrente de cargo não-eletivo, de cargo


Analfabetos, estrangeiros e conscritos
eletivo

A) INELEGIBILIDADE ABSOLUTA

Aplica-se apenas aos analfabetos e aos inalistáveis (estrangeiros e os conscritos).

Art. 14, § 4º - São inelegíveis os inalistáveis (conscritos e estrangeiros) e os


analfabetos.

B) INELEGIBILIDADE RELATIVA

 Decorrente de cargo eletivo

Refere-se aos cargos do Chefe do Poder Executivo (Presidente da República,


Governador e Prefeito), poderá estar relacionado ao mesmo cargo (caso de
reeleição) ou a cargo distinto.

Art. 14, § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do


Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído
no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período
subsequente. A sucessão é definitiva; a suspensão é apenas temporária.
A sucessão é definitiva, ocorre no caso de vacância (morte, impeachment); já a
substituição é temporária, a exemplo de uma doença, de uma viagem. Em regra, tanto a
sucessão quanto a substituição são feitas pelo Vice-Presidente.

Em relação à sucessão, não há dúvidas sobre a aplicação da inelegibilidade.

Tratando-se de substituição, de acordo com o TSE (Consulta 1.699/37 DF), o Vice-


Prefeito que assumir a chefia do Poder Executivo em decorrência de afastamento, ainda
que temporário, do titular, seja por que razão for, somente poderá candidatar-se ao cargo
de Prefeito para um período subsequente.

O entendimento do TSE contraria entendimento anterior do STF.

STF – RE 366.488/SP: Vice-Governador eleito duas vezes para o cargo de


Vice-Governador. No segundo mandato de vice, sucedeu o titular. Certo
que, no seu primeiro mandato de vice, teria substituído o Governador.
Possibilidade de reeleger-se ao cargo de Governador, porque o exercício da
titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por sucessão. Somente
quando sucedeu o titular é que passou a exercer o seu primeiro mandato
como titular do cargo. Inteligência do disposto no § 5.º do art. 14 da

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 118


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 119
Constituição Federal.

A figura do “prefeito itinerante”, ou seja, o Prefeito da Cidade X, que já exerceu dois


mandatos, na eleições seguintes (por ser inelegível na Cidade X) concorre ao cargo de
Prefeito na Cidade Y. No entendimento do STF, tal postura é incompatível com o
princípio republicano, que visa evitar a perpetuação no poder.

STF – RE 637.485/RJ: O instituto da reeleição tem fundamento não


somente no postulado da continuidade administrativa, mas também no
princípio republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa ou
grupo no poder. O princípio republicano condiciona a interpretação e a
aplicação do próprio comando da norma constitucional, de modo que a
reeleição é permitida por apenas uma única vez (...). Esse princípio impede
a terceira eleição não apenas no mesmo município, mas em relação a
qualquer outro município da federação. Entendimento contrário tornaria
possível a figura do denominado “prefeito itinerante” ou do “prefeito
profissional”, o que claramente é incompatível com esse princípio, que
também traduz um postulado de temporariedade/alternância do exercício do
poder (...).Portanto, ambos os princípios – continuidade administrativa e
republicanismo – condicionam a interpretação e a aplicação teleológicas do
art. 14, § 5º, da Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos
consecutivos como prefeito de determinado município fica inelegível para o
cargo da mesma natureza em qualquer outro município da federação (...).
(2.1) o art. 14, § 5º, da Constituição, deve ser interpretado no sentido de que
a proibição da segunda reeleição é absoluta e torna inelegível para
determinado cargo de Chefe do Poder Executivo o cidadão que já exerceu
dois mandatos consecutivos (reeleito uma única vez) em cargo da mesma
natureza, ainda que em ente da federação diverso.

A inelegibilidade relativa para outros cargos também será aplicada apenas ao Chefe do
Poder Executivo. Será possível a sus candidatura para outro cargo, desde que se
desincompatibilize seis meses antes, nos termos do art. 14, §6º da CF.

Art. 14, § 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da


República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos
devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito

 Cargo não-eletivo: militares, juízes, membros do MP.

Art. 14, § 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:


I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar m

Art. 95, Parágrafo único. Aos juízes é vedado:


III - dedicar-se à atividade político-partidária.

Art. 128, § 5º: Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultadaaos

organização, as atribuições e o estatuto de cada observadas, relativamente a seus membros:


Ministério Público,
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 II - as seguintes vedações:
e) exercer atividade político-partidária;
8
11
 Em razão do parentesco

Limita os parentes até segundo grau, consanguíneos ou por adoção, ser titular de
mandato eletivo.

Art. 14, § 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge


e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção,
do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis
meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato
à reeleição.

Havendo a possibilidade de o chefe do executivo concorrer à reeleição, caso ele se


desincompatibilize do cargo seis meses antes, admite-se a possibilidade de o cônjuge ou
parente concorrer ao cargo. Neste caso, é considerada como uma segunda eleição, ou
seja, eles não poderão ser candidatos nas eleições seguintes.

Observe o posicionamento dos Tribunais Superiores acerca do assunto:

TSE - Acórdão 19.442/2001:O Cônjuge e os parentes do chefe do Executivo


são elegíveis para o mesmo cargo do titular, quando este for reelegível e
tiver se afastado definitivamente até seis meses antes do pleito.

Súmula Vinculante nº. 18 – A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal,


no curso do mandato, não afasta a inexigibilidade prevista no art. 14, §
7º, CF.

STF – AC 3.298 MC-AgR/PB: [...] 2. Há plausibilidade na alegação de que a


morte de Prefeito, no curso do mandato (que passou a ser exercido pelo
Vice- Prefeito), não acarreta a inelegibilidade do cônjuge, prevista no art. 14,
§ 7º, da Constituição Federal. Trata-se de situação diferente da que ocorre
nos casos de dissolução da sociedade conjugal no curso do mandato, de que
trata a Súmula Vinculante 18. 3. Agravo regimental improvido.

TSE - Consulta 845/DF: É inelegível o irmão ou irmã daquele ou daquela


que mantém união estável com o prefeito ou prefeita.

TSE - REsp 24.564/PA: Os sujeitos de uma relação estável homossexual, à


semelhança do que ocorre com os de relação estável, de concubinato e de
casamento, submetem-se à regra de inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º,
da Constituição Federal.

STF – RE 106.043: Inelegibilidade da candidata eleita Vereadora, por ser


casada religiosamente com o então titular do cargo de Prefeito.

 Outras hipóteses – o art. 14, §9º da CF prevê que Lei Complementar (64/90) estabelecerá
outras hipóteses de inelegibilidades, com o intuito de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder
econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta
ou indireta.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 119


Trata-se de uma matéria de reserva legal qualificada.

A Lei da Ficha Limpa alterou a LC 64/90 incluindo novas hipóteses de inelegibilidade,


fazendo surgir questionamento no STF se haveria aplicação a casos praticados antes da
sua vigência. Na ocasião, o STF entendeu que mesmo a decisão tendo transitado em
julgado antes da Lei, deveria ser aplicado o novo prazo, tendo em vista que a
inelegibilidade não possui caráter punitivo. Sustentou que era caso de retroatividade
inautêntica (retrospectividade).

RE 929.670/DF: É aplicável a alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/1990,


com a redação dada pela LC 135/2010, a fatos anteriores a sua publicação.

Para melhor compreensão é importante distinguirmos a retroatividade autêntica


de retroatividade inautêntica (retrospectividade)

RETROATIVIDADE AUTÊNTICA RETROATIVIDADE INAUTÊNTICA

Conforme Novelino, “a norma jurídica


Segundo Novelino, “a norma possui atribui efeitos futuros a situações ou
eficácia ex tunc, gerando efeito sobre relações jurídicas já existentes,
situações pretéritas, ou, apesar de tendo-se, como exemplos clássicos,
pretensamente possuir eficácia as modificações dos estatutos
meramente ex nunc, atinge, na funcionais ou de regras de
verdade, situações, direitos ou previdência dos servidores públicos”

relações jurídicas estabelecidas no


passado”

PERDA E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

PERDA SUSPENSÃO

Caráter definitivo Caráter temporário

A cassação é a retirada arbitraria dos direitos políticos, não é admitida no Brasil, vetada (art.
15).

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; perde
a nacionalidade brasileira, consequentemente, perde os direitos políticos.
II - incapacidade civil absoluta; suspensão dos direitos políticos. Atualmente,
apenas os menores de 16 anos possuem incapacidade absoluta. Como
nunca puderam votar, não possui mais sentido.
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos; suspensão. Aplica-se, inclusive, no caso de substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos.
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5º, VIII; escusa de consciência. A maioria da doutrina, no
Direito Constitucional, considera esta hipótese como sendo de perda dos
direitos políticos. Novelino defende que este entendimento é equivocado,
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 uma vez que a pessoa pode recuperar o direito, após a regulamentação. Na 12 0
doutrina eleitoral entende-se que é caso de suspensão.
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
STF – RE 601.182: “A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III,
da CF, aplica-se no caso de substituição da pena privativa de liberdade pela
restritiva de direitos.”

4. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL

CONCEITO

De acordo com o Princípio da Anterioridade Eleitoral, toda lei que modificar o processo eleitoral,
possui eficácia diferida (adiada) para o pleito seguinte.

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de
sua vigência.

FINALIDADE
Visa impedir alterações casuísticas no processo eleitoral, as quais poderem romper a igualdade entre
os candidatos e os partidos políticos.

CLÁUSULA PÉTREA

De acordo com o STF, o Princípio da Anterioridade Eleitoral é uma garantia individual do cidadão
eleitoral, por isso é considerado uma cláusula pétrea. Desta forma, mesmo o poder derivado reformador está
obrigado a observá-lo.

Além disso, o STF (RE 637.485/RJ) entendeu que as decisões do TSE, em razão de seu caráter
normativo, devem observar o referido princípio.

STF – RE 637.485/RJ: Não se pode deixar de considerar o peculiar caráter


normativo dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, que
regem todo o processo eleitoral. Mudanças na jurisprudência eleitoral,
portanto, têm efeitos normativos diretos sobre os pleitos eleitorais, com
sérias repercussões sobre os direitos fundamentais dos cidadãos (eleitores
e candidatos) e partidos políticos. No âmbito eleitoral, a segurança jurídica
assume a sua face de princípio da confiança para proteger a estabilização
das expectativas de todos aqueles que de alguma forma participam dos
prélios eleitorais. A importância fundamental do princípio da segurança
jurídica para o regular transcurso dos processos eleitorais está plasmada no
princípio da anterioridade eleitoral positivado no art. 16 da Constituição. O
STF fixou a interpretação desse artigo 16, entendendo-o como uma
garantia constitucional (1) do devido processo legal eleitoral, (2) da
igualdade de chances e (3) das minorias. Em razão do caráter
especialmente peculiar dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior
Eleitoral, os quais regem normativamente todo o processo eleitoral, é
razoável concluir que a Constituição também alberga uma norma, ainda que
implícita, que traduz o postulado da segurança jurídica como princípio da
anterioridade ou anualidade em relação à alteração da jurisprudência do
TSE. Assim, as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso do
pleito eleitoral ou logo após o seu encerramento, impliquem mudança

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 121


de

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 122


jurisprudência e dessa forma repercutam sobre a segurança jurídica, não
têm aplicabilidade imediata ao caso concreto e somente terão eficácia sobre
outros casos no pleito eleitoral posterior.

5. PARTIDOS POLÍTICOS

O art. 17 da CF é a norma constitucional que trata dos partidos políticos. Observe:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos


políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados
os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou
governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

De acordo com o TSE, com base no art. 17, I, da CF, deveria haver verticalização nas eleições. Desta
forma, quando determinado partido fizesse coligação na eleição para Presidente da República (em âmbito
nacional), nas eleições regionais (governador) o partido só poderia concorrer sozinho ou com a mesma
coligação nacional ou com um partido que não tivesse feito nenhuma coligação nacional. Não se aplicava
para as eleições municipais.

Como intuito de afastar a regra da verticalização, editou-se a EC 56/2006, para que os partidos
tivessem autonomia na escolha de suas coligações. Como foi feita dentro do período de um ano, em razão do
Princípio da Anterioridade Eleitoral, não pode ser aplicada às eleições de 2006.

Em 2017, editou-se a EC 97/2017 que visava diminuir o excessivo número de partidos existentes no
Brasil, criou-se cláusula de barreira, restrição para coligações e exceção para a fidelidade partidária.

Art. 17, § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua
estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de
seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas
coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas
eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade
partidária.

Importante consignar que os partidos políticos possuem natureza jurídico de direito privado.

Art. 17, § 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica,


na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior
Eleitoral.
A EC 97/2017 reintroduziu a cláusula de barreira ou cláusula de desempenho de forma gradativa, os
percentuais aumentam gradativamente a cada eleição. As previsões dos incisos I e II são alternativas e não
cumulativas.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 123


Art. 17, § 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso
gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente:
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3%
(três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das
unidades da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos
válidos em cada uma delas; ou
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em
pelo menos um terço das unidades da Federação.

Em relação à fidelidade partidária, o TSE (Consulta 1398/DF) criou uma norma prevendo que
partidos políticos e coligações têm direito de preservar a vaga obtida pelo sistema proporcional (não se
aplica fidelidade partidária no sistema majoritário, conforme o STF - ADI 5081) nos casos de:

 Pedido de cancelamento de filiação partidária; ou


 Transferência do candidato eleito para legenda diversa.

A perda do cargo, nas duas hipóteses, somente irá ocorrer quando não houver justa causa. O TSE
considera justa causa a incorporação ou fusão do partido, a criação de novo partido, a mudança substancial
ou desvio reiterado do programa partidário ou a grave discriminação pessoal do dono do mandato. O STF, no
MS 26303, corroborou o entendimento do TSE.

STF – MS 26.603/DF: A prática da infidelidade partidária, cometida por


detentores de mandato parlamentar, por implicar violação ao sistema
proporcional, mutila o direito das minorias que atuam no âmbito social,
privando-as de representatividade nos corpos legislativos, e ofende direitos
essenciais - notadamente o direito de oposição - que derivam dos
fundamentos que dão suporte legitimador ao próprio Estado Democrático de
Direito, tais como a soberania popular, a cidadania e o pluralismo político
(CF, art. 1º, I, II e V) (...). A repulsa jurisdicional à infidelidade partidária,
além de prestigiar um valor eminentemente constitucional (CF, art. 17, § 1º,
"in fine"),
(a) preserva a legitimidade do processo eleitoral, (b) faz respeitar a vontade
soberana do cidadão, (c) impede a deformação do modelo de representação
popular, (d) assegura a finalidade do sistema eleitoral proporcional, (e)
valoriza e fortalece as organizações partidárias e (f) confere primazia à
fidelidade que o Deputado eleito deve observar em relação ao corpo
eleitoral e ao próprio partido sob cuja legenda disputou as eleições.

O §5º, do art. 17, da CF trata da exceção à fidelidade partidária. Observe:

Art. 17, § 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos
no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem
perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa
filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo
e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda
partidário
Constitucional nº 97, de 2017)

Em 2021, a EC 111/2021 acrescentou o §6º ao art. 17 da CF, tratando de forma mais detalhada sobre
o instituto da infidelidade partidária:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 124


Art. 17 (...)
§ 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados
Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham
sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido
ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada,
em qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de
recursos do fundo partidário ou de outros fundos públicos e de acesso
gratuito ao rádio e à televisão.

Salienta-se que a fidelidade partidária só existe para os detentores de cargos eletivos proporcionais
(não existe dever de fidelidade partidária para os ocupantes de cargos majoritários).

Vale ressaltar que, mesmo antes da EC 111/2021, esse já era o entendimento do STF sobre o tema:
(...) O ponto central discutido na presente ação é totalmente diverso: saber
se é legítima a extensão da regra da fidelidade partidária aos candidatos
eleitos pelo sistema majoritário.
2. (...) As características do sistema proporcional, com sua ênfase nos votos
obtidos pelos partidos, tornam a fidelidade partidária importante para
garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da eleição
sejam minimamente preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a perda
do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu.
3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador,
prefeito e senador, tem lógica e dinâmica diversas da do sistema
proporcional. As características do sistema majoritário, com sua ênfase na
figura do candidato, fazem com que a perda do mandato, no caso de
mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere a soberania popular
(CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput). (...)
(ADI 5081, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 27/05/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-162 DIVULG 18-08-2015
PUBLIC 19-08-2015)

O TSE, em sintonia com o STF, já havia editado súmula sobre o tema:

Súmula 67-TSE: A perda do mandato em razão da desfiliação partidária


não se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário.

O parágrafo único do art. 22-A da Lei nº 9.096/95 prevê três hipóteses que são consideradas como
justa causa para o desligamento da pessoa do partido político. Em outras palavras, se o titular do mandato
eletivo proporcional deixar o partido e se verificar uma dessas três situações, ele não perderá o cargo. Reveja
o dispositivo:

Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar,


sem justa causa, do partido pelo qual foi eleito.
Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária
somente as seguintes hipóteses:
I - mudança substancial ou desvio reiterado do programa
partidário; II - grave discriminação política pessoal; e
III - mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que
antecede o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição,
majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 125


A EC 111/2021 acrescenta uma quarta hipótese: a anuência do partido. Importante esclarecer que,
mesmo antes da alteração, o TSE já possuía firme jurisprudência no sentido de que a carta de anuência do
partido autoriza a desfiliação sem perda de mandato. Logo, a regra trazida pela Emenda corrobora o
entendimento do TSE. Confira:

A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a concordância da


agremiação partidária com o desligamento do filiado é apta a permitir a
desfiliação sem prejuízo do mandato eletivo. (RESPE - Recurso Especial
Eleitoral nº 060015033 - BELO HORIZONTE – MG - Acórdão de 10/09/2019
- Relator(a) designado(a) Min. Alexandre de Moraes)

Em recurso especial eleitoral com agravo, o Ministro Relator manteve o


entendimento firmado para as eleições de 2016 no sentido de que "a
concordância da agremiação partidária com o desligamento do filiado é apta
a permitir a desfiliação sem prejuízo do mandato eletivo" (AgR–Pet nº
0601117–75/PE, Rel. Min. Rosa Weber, j. em 20.02.2018). Precedentes”
(0600185-90.2018.6.13.0000 - AI - Agravo Regimental em Agravo de
Instrumento nº 060018590 - ITAÚNA – MG - Acórdão de 13/05/2021 -
Relator(a) designado(a) Min. Luís Roberto Barroso)

Conforme entendimento fixado pelo TSE para os processos relativos às


eleições de 2016, “a carta de anuência do partido político constitui justa
causa para a desfiliação partidária sem perda de mandato eletivo".
Precedentes.” (AI - Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº
060013212 - RIBEIRÃO DAS NEVES – MG - Acórdão de 03/09/2020 -
Relator(a) Min. Alexandre de Moraes)

ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
1. DISTINÇÕES

FORMAS DE GOVERNO

Utiliza-se como critério de definição o tipo de instituição, por meio da qual o Estado se organiza,
para regular a disputa do poder político e o seu exercício. Em outras palavras, as formas de governo tratam
da relação entre os governantes e os governados.

Existem basicamente duas formas de governo, as quais são contrapostas.

MONARQUIA REPÚBLICA
Governo de indivíduos: representação do Governo de todos: o titular da soberania
poder no monarca. passa a ser o povo.
Características: Características:
 Irresponsabilidade política do monarca;  Responsabilidade política do governante;
 Hereditariedade: o poder se transfere  Eletividade: os representantes são eleitos
através de laços sanguíneos; para a representação;
 Vitaliciedade: o monarca fica no poder  Temporariedade: eleições periódicas para
até o final de sua vida. escolher os representantes da república.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 126


SISTEMAS DE GOVERNO

Utiliza-se como critério a forma de articulação entre os poderes políticos. Ou seja, a maneira como
Poder Executivo e o Poder Legislativo se articular.

Trata-se de mecanismos de distribuição horizontal do poder político

PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO
As funções de chefe de estado e de chefe de
governo são exercidas por pessoas distintas.
Surgiu nos Estados Unidos, em 1787. No Brasil é  Chefe de estado: depende da forma de
adotado desde 1.889 até os dias atuais, salvo nos governo adotada.
anos de 1961 a 1963 em que se adotou o sistema Monarquia – monarca (Reino Unido,
parlamentarista. Espanha, Japão);
Parlamentarismo Republicano –
Presidente da República (Alemanha,
As funções de chefe de estado e chefe de governo Áustria, Índia).
se concentram em uma só pessoa, verdadeira fusão É uma figura representativa, simbólica.
do Poder Executivo.  Chefe de governo: primeiro-ministro
(governa com a ajuda do gabinete) é
uma espécie de ministério.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 127


Não há mandato fixo. O primeiro-ministro,
Mandato fixo e independência em relação ao geralmente, é escolhido dentro do parlamento,
Parlamento. pela maioria. Fica no cargo enquanto tiver o
apoio da maioria.

Responsabilidade:

Penal: a CF consagra a chamada irresponsabilidade


penal relativa (art. 86, § 4º), ou seja, o Presidente só
responde penalmente pelos crimes realizados
durante o mandato e que se relacionem com a sua
função. Os crimes praticados antes ou durante o
mandato, que não se relacionem com a função,
serão processados no término do mandato.

Quem julga é o STF, com a autorização pela


Câmara dos Deputados (2/3).

Art. 86, § 4º - O Presidente da República, na vigência


de seu mandato, não pode ser responsabilizado
por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Este dispositivo NÃO pode ser reproduzido por


Responsabilidade política do Chefe de
constituições estaduais ou leis orgânicas
Governo perante o Parlamento.
municipais.
Moção de desconfiança: cai tanto o primeiro-
Política: existem duas formas: ministro quanto o gabinete.
Impeachment – ocorre quando o Presidente pratica O chefe do executivo, neste caso, sempre terá
um crime de responsabilidade. Também é o apoio da maioria.
necessária a autorização da Câmara dos Deputados
(2/3) para que ele seja processado. Quem julga é o
Senado Federal, também por 2/3.

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente


da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento
perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos
crimes de responsabilidade.

Recall (não é adotada no Brasil) – permite que o


eleitorado se pronuncie diretamente acerca da
permanência ou não de um governante no poder, ou
seja, quem julga o governante não é o órgão
constituído. Há uma espécie de referendo e os
eleitores se manifestam.

Há, ainda, um terceiro sistema o semiparlamentarismo ou semipresidencialismo, trata-se de um


sistema híbrido, ou seja, tenta compor o parlamentarismo com o presidencialismo. Criado na

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 128


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 129
França, em 1958, pela Constituição Francesa que instituiu a 5ª República.

Caracteriza-se pela dualidade entre Chefe de Estado e Chefe de Governo, as duas figuras são
separadas.

 Chefe de Estado é eleito diretamente pelo povo e desempenha funções políticas relevantes (não é
uma figura meramente simbólica). O Presidente da República escolhe o primeiro- ministro, propõe
projetos de lei, convoca referendos, propõe ações de constitucionalidade, pode dissolver o
parlamento.

 Chefe de governo é o primeiro-ministro, nomeado pelo Presidente da República, sendo aprovado


pelo parlamento.

É adotado por: Portugal, França, Colômbia, Finlândia.

FORMAS DE ESTADO

São mecanismos de distribuição vertical do poder político, a forma como é distribuído no espaço.

ESTADO UNITÁRIO (Estado Simples) ESTADO COMPOSTO

Um centro de poder incidindo sobre a mesma Mais de um centro de poder sobre a mesma
população e o mesmo território. população e território.

Estado unitário Possui duas espécies: confederação e federação.

a) Puro (apenas centro de poder, sem nenhuma forma CONFEDERAÇÃO FEDERAÇÃO


de delegação). Poder exercido unicamente por um
Pessoa Jurídica de
órgão, sem divisão administrativa e legislativa; Estado
Direito Público

Em regra, os membros são


b) Com descentralização administrativa. há unidos por tratado Unidos por Constituição
descentralização da execução das decisões internacional
políticas;
Membros possuem Membros possuem
c) Com descentralização político-administrativa: soberania autonomia
ocorre descentralização não apenas da execução, mas
também política, ou seja, descentralização de governo Direito de secessão Vedado o direito de
(separação) secessão
(abrange a própria tomada de decisões pelo governo).
Ex: descentralização da elaboração de leis. Membros possuem Decisões dos órgãos
direito de nulificação centrais são obrigatórias
Obs.: a mera descentralização não é suficiente para (discordância de para todos os membros
caracterizar Estado Federal. determinada norma)

Criada para tratar de Trata de assuntos


assuntos externos internos e externos

Cada pessoa mantém a


nacionalidade dos Nacionalidade única
respectivos Estados

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 130


Poder Central dividido em
Congresso Confederal
Legislativo, Executivo e
– único órgão comum
Judiciário

Salienta-se que desde o descobrimento do Brasil até a República, tínhamos o Estado Unitário. O
Estado Federal foi consagrado pela Constituição de 1891 (foi criada República Federativa).

2. TIPOS DE FEDERALISMO

QUANTO AO SURGIMENTO

2.1.1. Federalismo por agregação

Este tipo de federalismo surge quando Estados Soberanos renunciam a uma parcela de sua soberania
para formar um ente único, passam a ser autônomos. Aqui, o Estado surge de um movimento centrípeto, o
poder foi dos estados periféricos para um ente do centro.

Exemplos: EUA, Alemanha.

O Estado que deriva do federalismo por agregação é chamado de Estado perfeito, Estado por
associação ou de Estada por aglutinação.

2.1.2. Federalismo por segregação

Nesta espécie de federalismo, o poder central (Estado Unitário) é repartido para outros
entes.

Foi o que aconteceu no Brasil, em que um Estado Unitário repartiu sua competência com outros
entes, este movimento foi centrifugo (saiu do centro para entes periféricos).

Chamado de Estado imperfeito ou Estado por dissociação.

QUANTO À CONCENTRAÇÃO DE PODER

2.2.1. Federalismo centrípeto ou centralizador

É aquele no qual há um fortalecimento excessivo do poder central, a exemplo do que ocorre no


Brasil em que se atribui maior competência à União.

Obs.: Não se confunde com o movimento centrípeto de surgimento (visto acima)

2.2.2. Federalismo centrífugo


É uma tentativa de reação à centralização do poder na esfera federal.

O federalismo brasileiro surgiu através de um movimento centrífugo, mas quanto à concentração do


poder ele pode ser qualificado como federalismo centrípeto, ou seja, a União detém uma maior concentração
de poder do que os estados-membros.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 131


2.2.3. Federalismo de equilíbrio

É aquele que busca uma repartição equilibrada de competência, a exemplo do que ocorre na
Alemanha.

QUANTO À REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

2.3.1. Federalismo dualista ou dual

Nesta espécie, há uma relação de coordenação entre a União e os Estados, vinculada por meio de
uma repartição horizontal de competências. Não há hierarquia entre a União e os Estados membros,
estão situados no mesmo plano e cada um tem suas normas próprias (competências determinadas pela CF),
há um equilíbrio entre eles.

Foi adotado pelo EUA até a crise de 1929.

2.3.2. Federalismo por integração

Há uma relação de subordinação dos Estados à União, veiculada por meio de uma repartição
vertical de competências. A União estabelece as diretrizes que os estados-membros devem seguir, e
estes estão subordinados às leis federais. Há uma hierarquia entre lei federal e lei estadual. Adotado pelo
Brasil na CF/67 e CF/69.

2.3.3. Federalismo cooperativo

Busca-se o meio termo entre o federalismo dualista e o federalismo por integração. Há uma
repartição horizontal de competências, mas algumas delas ficam sob a tutela da União (repartição vertical).

É o caso da Federação Alemã, EUA e Brasil (pós CF/88).

Federalismo dual e federalismo por cooperaçã o

Federalismo dual

O modelo clássico de federalismo é o federalismo dual. É o modelo originário norte-americano. Que


segue uma lógica típica das competências privativas ou exclusivas (esse é o objetivo). Que é o seguinte –
se deu pra um ente, tirou do outro. É uma lógica reciprocamente excludente – deu para um ente, tirou do
outro. É a lógica como sabido das competencias privativas ou exclusivas.

O objetivo desse modelo de federalismo, tanto que surgiu na formação dos EUA, um período em que
prevalecia o constitucionalismo liberal, portanto o objetivo do federalismo dual é o mesmo da separação
de poderes – limitar o poder, conter o poder do Estado. Isos porque evidentemente, dividindo-se as
funções estatais não só entre os poderes do Estado mas também entre entes federativos, há um novo
mecanismo de divisão do poder. Não só horizontal entre os poderes, mas também vertical entre os entes
federativos. Que faz com que não só um poder do Estado contenha o outro no exercício de suas
atribuições, mas que faz também que um ente federativo contenha o outro no exercício de suas

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 132


atribuições. E aí se obtém o objetivo central do constitucionalismo liberal que é evitar o uso abusivo do
poder, que é evitar que um ente federativo, ou um poder do Estado, exerça os seus poderes de maneira
abusiva.

E o modelo de divisão de competências – já foi falado e se reitera agora pelo ensejo do tema – é o modelo
em que as competências enumeradas são dadas a União federal, e as competências remanescentes, ou
residuais, que é o que sobra, ficam para os estados.

É curioso notar que apesar do direito brasileiro ter incorporado esse modelo do federalismo dual desde a
nossa primeira Constituição republicana (Constituição de 1891) - que aliás era uma Constituição bastante
influenciada pelo direito constitucional norte-americana (federalismo dual, presidencialismo, divisão do
Judiciário em federal e estadual, controle difuso e incidental de constitucionalidade, dentre outras
normas), então se importou vários instrumentos do direito norte-americano, dentre eles o federalismo
dual - só que com uma diferença essencial. Nos EUA poucas eram, e poucas são as competências
enumeradas na Constituição Federal. (minha obs – para a União). No Brasil o rol de matérias como
veremos adiante de competências enumeradas da União é amplíssimo. O que revela uma centralização
do poder muito maior no Brasil do que nos EUA. Mas fato é que esse modelo de federalismo dual - com
variações importantes - mas o modelo é adotado desde 1891 no Brasil.

Federalismo por cooperaçã o

Um outro modelo de federação é o federalismo por cooperação. É um federalismo fortemente


influenciado pelo constitucionalismo social. Portanto surge no primeiro pós-guerra. Enquanto o
federalismo dual é uma expressão do constitucionalismo liberal, o federalismo por cooperação é uma
expressão do constitucionalismo social. E como sabemos, com o advento do Estado do bem estar social,
que é o Estado típico do constitucionalismo social, o Estado chama para si uma serie de atividades antes
relegadas a iniciativa privada – educação, saúde, previdência e assistência social, moradia, lazer, etc. Então
veja-se que o Estado chamando pra si tantas novas atividades, sendo cada uma delas muito complexa e
custosa, ou seja, basta pensar em saúde – implementação do serviço de saúde pressupõe muita gestão,
muitos gastos, portanto uma energia gasta bastante grande. Quando o Estado chama pra si essas
atividades, que antes eram desempenhadas pela iniciativa privada, ele percebe a necessidade de
comunhão de esforcos entre os entes federativos. Um só não vai dar conta.

E é exatamente esse o objetivo do federalismo por cooperação. É a uniao de esforços entre os entes
federativos para a perseguição de objetivos comuns.

Então a lógica é a das competencias comuns e concorrentes. Que não reciprocamente excludente – essa
lógica, como é a das competências privativas e exclusivas. Não é, porque vimos que competências
privativas e exclusivas significa que dar pra um é tirar do outro; competências concorrentes ou comuns
não. Ambos prestam de maneira organizada, com uma divisão interna de trabalho, mas ambos prestam, os

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 133


entes federativos em geral prestam serviços públicos comuns. Porque o nível de complexidade e de custo
da implementação desses serviços é tão grande que pressupõe comunhão de esforços.

QUANTO À HOMOGENEIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Trata-se de uma análise feita dentro do Estado, acerca da simetria ou assimetria entre os entres de
mesmo grau da Federação, por exemplo, a competência entre os Estados membros são ou não iguais.

2.4.1. Federalismo simétrico ou homogêneo

Há um equilíbrio na distribuição constitucional de competências entre os da mesma esfera federativa. A


simetria poderá ser:

 Jurídica
 Fática

Há homogeneidade na relação subjacente ao ordenamento jurídico (cultura, língua, desenvolvimento das


regiões).

Exemplo: Alemanha.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 134


2.4.2. Federalismos assimétrico ou heterogêneo

Há tratamento jurídico diferenciado entre os entes federativos do mesmo grau, ocorre para respeitar
diferenças culturais ou para reduzir diferenças (desigualdades sociais).

Exemplo: Canadá.

Em razão das desigualdades existentes, a CF confere alguns tratamentos assimétricos. Por isso, há
doutrina que entende o Brasil como caso de federalismo simétrico com algumas características de
federalismo assimétricos.

Outra divisão em espécies que se faz é entre federalismo simétrico e assimétrico.

E aí uma questão preeliminar importante pra se colocar é que é preciso primeira se identificar que
tipo de assimetria se coloca. Se há uma assimetria no plano material ou plano jurídico. Esse é um
ponto que precisa ser esclarecido – se a assimetria é no plano material ou plano jurídico. Isso é
importante porque uma assimetria no plano material significa que o pais é muito diverso no
aspecto cultural, linguístico, econômico, social, geográfico. Isso é uma assimetria no plano
material. Outra coisa é a assimetria no plano jurídico, que é a atribuição aos entes federativos de
diferentes poderes.

E essa diferenciação é importante, porque começando pelo plano material – plano cultural,
linguístico, econômico, social, geográfico – todo Estado federal é como vimos em alguma medida
assimétrico sob esse aspecto. Se o Estado for mínimo, homogêneo, não faz sentido nenhum ele
adotar a forma federativa de Estado. Porém havendo uma nível de assimetria, justifica-se o
federalismo. Então fala-se que uma federação é assimétrica nesse plano material se o nível de
disparidade cultural, linguístico, econômico, social, geográfico for grande. É o caso do Brasil.
Comparando o município do SP ou RJ com município do interior da Amazonia, as realidades
materiais são radicalmente diversas. Então no plano material o federalismo brasileiro é
assimétrico.

Porém no plano jurídico o federalismo brasileiro é simétrico. Isso porque a CF88 trata o município
do RJ e de SP de maneira igual ao município do interior do Amazonia. Ambos são municípios,
regidos pelo mesmo artigo da CF88, e com os mesmos poderes. Então no aspecto jurídico a
federação é simétrica.

Federalismo brasileiro é assimétrico no plano material e simétrico no plano jurídico

QUANTO ÀS CARACTERÍSTICAS DOMINANTES

Trata-se de uma análise sob o ponto de vista externo. Baseada na classificação de Raul Machado
Horta.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 135


2.5.1. Federalismo simétrico

É aquele que permite a identificação das características dominantes frequentemente encontradas nos
outros estados. Há uma simetria entre a federação e as demais federações existentes (outros países).

 Possibilidade de intervenção federal nos estados-membros;

 Poder Judiciário dual, ou seja, há um poder judiciário estadual e um poder judiciário federal;

 Poder constituinte originário com sede na União e poder constituinte decorrente com sede nos
estados-membros, em relação à constituição estadual é poder constituinte.

 Organização bicameral do poder legislativo (na esfera federal).

2.5.2. Federalismo assimétrico

É aquele em que há um rompimento com as linhas tradicionais definidoras do federalismo simétrico,


em razão do funcionamento do sistema federal. Por exemplo, Município como ente federativo no Brasil.

Concepções de José Tarcísio de Almeida Melo, entende que o Brasil adotou o federalismo
assimétrico, a exemplo da Bélgica e do Canadá. Outra parte da doutrina entende que o Brasil adota o
federalismo simétrico, mas com algumas exceções ao federalismo assimétrico.

QUANTO ÀS ESFERAS DE COMPETÊNCIA

2.6.1. Federalismo típico (bidimensional, bipartite ou de segundo grau)

Há duas esfera de competência: União e Estados-membros.

2.6.2. Federalismo atípico (tridimensional, tripartite ou de terceiro grau)

Há três esperas de competência: central, regional ou local. É o

caso do Brasil.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 136


Obs.: Manual Gonçalves Ferreira Filho sustenta que o Brasil adota um federalismo de segundo grau. Utiliza outro critério

3. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DA FEDERAÇÃO

DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA FIXADA PELA


CONSTITUIÇÃO

Só será Estado Federal quando a descentralização estiver fixada na CF.

PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO

Significa uma participação das vontades parciais na formação da vontade geral.

É materializado através do Senado Federal, por isso cada estado possui o mesmo número de
senadores, pois representam os Estados.

Obs.: O povo é representado pela Câmara dos Deputados.

AUTO-ORGANIZAÇÃO POR MEIO DE CONSTITUIÇÕES PRÓPRIAS (PRINCÍPIO DA


AUTONOMIA)

Há uma parte na CF/88 que se dirige exclusivamente à União, é o que os autores chamam de
Constituição Federal (art. 59 e ss), isso ocorre porque a União não possui uma Constituição só sua como os
Estados (Poder constituinte decorrente).

A Constituição Federal refere-se exclusivamente à União; já a Constituição Nacional refere- se a


todos os entes federativos (art. 19; art. 37).

A União tem natureza peculiar na Federação, uma vez que, ora atua como pessoa jurídica de direito
constitucional, ora como pessoa jurídica de direito internacional. Na primeira hipótese, ela atua por si
mesma, age em nome próprio, como entidade integrante da Federação. Na segunda
hipótese, atua em nome da Federação (editando normas nacionais, formas de intervenção, relação com
estados estrangeiros).

A lei federal é aquela que trata apenas de interesse da União, a exemplo da Lei 8.112/90.
Lei nacional é aquela que se aplica a todos os entes da federação, a exemplo do CTN.

Os Estados serão organizados por constituições estaduais (poder constituinte decorrente). No caso do
Brasil, há duas peculiaridades: o DF possui Lei Orgânica e os Municípios também se organizam por Lei
Orgânica.

REQUISITOS PARA A MANUTENÇÃO DA FEDERAÇÃO

a) RIGIDEZ CONSTITUCIONAL – dificulta, em virtude do processo solene, a alteração da

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 137


forma de estado;

b) IMUTABILIDADE DA FORMA FEDERATIVA - forma federativa de estado consagrada


como cláusula pétrea;

c) ÓRGÃO ENCARREGADO DE EXERCER O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE.

4. SOBERANIA X AUTONOMIA

Soberania é o poder político, supremo e independente. Poder supremo refere-se à ordem interna, pois
não há nenhuma limitação a soberania do estado (internamente). Poder independente refere-se à ordem
internacional, ou seja, não tem que acatar regras que não sejam voluntariamente aceitas e está em condições
de igualdade com os demais estados soberanos.

A soberania, com relação à federação brasileira, pertence à República Federativa do Brasil, a qual
será exercida pela União (mas não pertence a ela).

Obs.: A União goza de autonomia, assim como os Estados, DF e Municípios. Titular de soberania é a
República Federativa do Brasil.

Autonomia, deriva do grego, na sua origem, significa a elaboração de normas próprias.


Todos os entes federativos do Brasil possuem autonomia. Divide-se em:

a) Autonomia organizatória: União – CF; Estados – Constituições Estaduais; DF – Lei


Orgânica; Municípios – Lei Orgânica.

b) Autonomia legislativa: cada um elabora suas próprias leis (federais, estaduais, distritais,
municipais).

c) Autonomia de governo: capacidade de cada um eleger seus próprios representantes, política.

d) Autonomia administrativa: é a capacidade para executar as decisões políticas adotadas, organizar


seus serviços públicos.
5. REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Para a repartição de competências foi utilizado o Princípio da Predominância do Interesse.

o No caso de interesse geral, a competência será atribuída à União.

o Em se tratando de interesse predominantemente local, a competência será atribuída aos


Municípios.

o A cargo dos estados ficariam os interesses regionais.

CRITÉRIOS PARA REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Há quatro critérios para distribuição de competência, não é uma característica exclusiva da

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 138


CF do Brasil. As características a seguir são comuns a várias Constituições Federais, é inspirado no direito
norte-americano e no direito alemão.

5.2.1. Campos específicos de competências administrativas e legislativas

Há na Constituição uma repartição horizontal de competências entre União (art. 21 e 22), Estados
(art. 25), Municípios (art. 30) e Distrito Federal (art. 32), não há qualquer hierarquia entre eles. Contudo,
quando uma lei estadual tratar de matéria da União será considerada inconstitucional, tendo em vista que
invadiu uma competência.

Ainda dentro da repartição horizontal, a Constituição atribuiu:

 Poderes enumerados para União (art. 21 - administrativas e art. 22 legislativa) e para os


Municípios (art. 30).

Art. 21. Compete à União: trata-se de competência exclusiva


I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações
internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a
paz; III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente;
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de
natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização,
bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do
território e de desenvolvimento econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá
sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros
aspectos
institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento
energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se
situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros
e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou
Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de
passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 139


XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar
assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços
públicos, por meio

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 140


de fundo próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104,
de 2019)
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia,
geologia e cartografia de âmbito nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e
de programas de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades
públicas, especialmente as secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e
definir critérios de outorga de direitos de seu uso; Regulamento )
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação,
saneamento básico e transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e
exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e
seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para
fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização
de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e
utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de
culpa;
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de
garimpagem, em forma associativa.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de
guerra;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII - comércio exterior e interestadual;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e
aeroespacial;
XI - trânsito e transporte;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e
metalurgia; XIII - nacionalidade, cidadania e
naturalização;
XIV - populações indígenas;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o
exercício de profissões;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 141


XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização
administrativa destes;
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias,
convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e
dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária
federais;
XXIII - seguridade social;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
XXV - registros públicos;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e
fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de
economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil
e mobilização nacional;
XXIX - propaganda comercial.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar
sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (Vide
ADPF 672)
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar
suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar
balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a
legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Salienta-se que há doutrinadores que consideram os poderes dos Municípios como indicativos e
não enumerados.

Atenção!

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 142


Súmula Vinculante 39 - Compete privativamente à União legislar sobre
vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do corpo de
bombeiros militar do Distrito Federal.

Súmula Vinculante 46 - A definição dos crimes de responsabilidade e o


estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são de
competência legislativa privativa da União.

 Poderes residuais ou remanescentes são aqueles atribuídos aos estados (art. 25, § 1º), não é uma
competência reservada, mas sim tudo aquilo que sobrou.

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que


adotarem, observados os princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os
serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida
provisória para a sua regulamentação.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por
agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Importante destacar que o §1º, do art. 25, da CF refere-se às competências estaduais como sendo
reservadas, mas o certo seria residual.

Isso ocorreu porque o Brasil “copiou” os EUA que possuem um federalismo por agregação, em que
vários Estados se juntam para formarem um único Estado. Neste caso, os Estados já possuíam suas próprias
competências e permaneceram com ela, por isso reservada. No caso do
Brasil, há um federalismo por segregação, havia um Estado unitário que se dividiu em vários Estados. Neste
caso, não há a conservação de competências pré-existentes.

Por fim, no Distrito Federal não há municípios, possui competência atribuídas aos estados e aos
municípios (art. 32, § 1º).

5.2.2. Possibilidade de delegação

A Constituição permite que alguns poderes sejam delegados a outros entes federativos.

Como visto, quem detém o maior número de competências é a União, portanto, segundo o art. 22,
parágrafo único, é a união que delegará competência somente para os Estados e DF, mediante lei
complementar (requisito formal) para tratar sobre matérias específicas (requisito material).

Art. 22, Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a


legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
Só pode ser delegada aos Estados e através de lei complementar.

Competência Exclusiva X Competência Privativa

Para alguns autores, a Constituição não estabeleceu distinção entre estas duas espécies de
competências (Gilmar Mendes, Fernanda Menezes). Para outros, apesar de não ter feito uma distinção
rigorosa, doutrinariamente é possível fixá-la.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 143


A competência privativa é atribuída a apenas um ente, mas admite delegação (competência
complementar ou competência suplementar). A competência exclusiva não admite delegação (exclui a
possibilidade de delegação).

5.2.3. Competências comuns

Trata-se de competências administrativas, atribuídas a todos os entes da Federação.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal


e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
democráticas e conservar o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das
pessoas portadoras de deficiência; (Vide ADPF 672)
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os
sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e
de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à
tecnologia, à pesquisa e à inovação;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento
alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das
condições habitacionais e de saneamento básico; (Vide ADPF 672)
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização,
promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de
pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do
trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação
entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em
vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

5.2.4. Competências correntes

Consiste nas competências legislativas, atribuídas à União, Estados e Distrito Federal, exclui os
Municípios. Trata-se de uma repartição vertical (condomínio legislativo – Raul Machado Horta).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 144


Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo
e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa,
desenvolvimento e inovação;
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas
causas; XI - procedimentos em matéria processual;
XII - previdência social, proteção e defesa da
saúde; XIII - assistência jurídica e Defensoria
pública;
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
XV - proteção à infância e à juventude;
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.
A União, na competência concorrente, limitar-se-á a editar normas gerais. Não há um consenso
acerca do que sejam as normas gerais. No entanto, no STF, é possível identificar ao menos duas concepções
distintas. A primeira concepção é a do Ministro Carlos Veloso, as normas gerais seriam as normas dotadas de
maior abstração, a exemplo dos princípios. A segunda concepção, adotada pelo Ministro Carlos Ayres Brito,
normas gerais são aquelas que têm a possibilidade de aplicação uniforme para todos os entes federativos.

Assim, a União estabelece as diretrizes que serão especificadas pelos demais entes, de acordo com as
suas peculiaridades.

Art. 24, § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União


limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

A competência da União não exclui a competência suplementar dos outros entes, é importante
observar que as competências concorrentes não são cumulativas. Isto é, apesar dos Estados e da União
tratarem da mesma matéria, eles tratam de aspectos distintos destas matérias. Assim, a União estabelece as
regras gerais e os Estados exercem as competências suplementares, não se confundem. É como se houvesse
uma divisão: União – norma geral; Estados e DF – norma suplementar e os Municípios, no que se referem a
assuntos de interesse local, de forma suplementar. É o que Raul Machado Horta denomina de condomínio
legislativo entre os entes federados.

Neste caso, temos uma repartição vertical de competência, estamos diante de uma hierarquia
legislativa (leis federais, estaduais e municipais). Porém, a hierarquia não decorre do ente, mas sim do
assunto que é tratado. Havendo uma contrariedade entre a legislação estadual e as normas gerais
estabelecidas pela União, a violação da Constituição será apenas indireta. Não cabe ADI, nem recurso
extraordinário.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 145


Na hipótese de Lei Federal (art. 22) e Lei Estadual (art. 25, §1º) não estaremos diante de hierarquia
de normas. Em se tratando de competências exclusivas ou privativas, não há hierarquia entre leis federais,
estaduais e municipais, uma vez que se trata de repartição horizontal de competências.

Art. 24, § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.

Em matéria de competência concorrente, a União é que deve estabelecer as normas gerais, contudo
pode ser que a União seja omissa, ocasião em que o Estado poderá exercer a competência legislativa plena, a
fim de não ficarem limitados. Assim, os Estados poderão elaboram tanto a norma geral quanto a norma
específica, tratando da matéria como um todo através de Lei Estadual.

Alguns autores (André Ramos Tavares, Alexandre de Moraes) fazem uma distinção, que era adotada
antes da CF/88, acerca da competência suplementar:

 Competência supletiva (art. 24, § 3º): quando a União não faz a norma geral e o Estado trata de
todo assunto;

 Competência complementar (art. 24, § 2º): quando a União estabelece a norma geral e o Estado
complementa através de sua competência suplementar.

No entanto, esta distinção não deve ser adotada, uma vez que a CF não se refere a isso. Segundo José
Afonso da Silva, após a CF/88, a distinção entre competência supletiva e complementar teria sido
abandonada.

Art. 24, § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados


exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas
peculiaridades.
Nada impede que a União edite as normas gerais. No entanto, a lei federal não irá revogar a lei
estadual, apenas suspende sua eficácia, naquilo que for contrária.

O Estado exerceu a competência legislativa plena, em seguida, a União edita normas gerais,
suspendendo a eficácia, no que era contrária, das normas gerais feitas pelo Estado. Caso a União edite outra
Lei Federal que revogue a anterior, a Lei Estadual poderá voltar a ter sua eficácia, ocorrendo um efeito
repristinatório tácito. Nota-se que só é possível porque a Lei Estadual não foi
revogada, mas sim suspensa na sua eficácia. É o mesmo caso da ADI. O

mesmo ocorre com a Lei e Medida Provisória.

§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a


eficácia
da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
Os Municípios, apesar de não estarem expressamente previstos no caput do art. 24, poderão
suplementar a legislação federal e a estadual no que se refere a assuntos de sua competência (interesse local).
Apenas em matéria de competência comum e concorrente, não se aplica para a competência exclusiva e nem
para a privativa.

Art. 30. Compete aos Municípios:


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; assuntos
de interesse local.

SV 38 – é competente o município para fixar o horário de funcionamento de

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 146


estabelecimento comercial.

STF - RE 586.224/SP: O Município é competente para legislar sobre meio


ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse local e desde que
tal regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais
entes federados (art. 24, VI c/c 30, I e II da CRFB).

Por fim, não esquecer que a Constituição adotou tanto a competência horizontal quanto a competência
vertical.

COMPETÊNCIA HORIZONTAL COMPETÊNCIA VERTICAL

Típica do federalismo dual ou clássico Própria do federalismo cooperativo

Refere-se às competências privativas Refere-se às competências concorrentes

Atuação separada e independente Atuação coordenada

Na CF: Na CF:

Competências privativas enumeradas para a Competências concorrentes, repartidas


União; competências remanescentes (residuais ou verticalmente, com a União estabelecendo as
reservadas) para os estados; competências normas gerais que devem ser observadas pelos
privativas indicadas (enumeradas genericamente) Estados e pelo DF que podem, contudo,
para os Municípios. suplementá-las (quando não existem normas
gerais).

Exemplos: Exemplos:

Art. 22 Compete privativamente à União Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao


legislar sobre: Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

Art. 25, § 1º São reservadas aos Estados às Art. 30, II suplementar a legislação federal e a
competências que não lhes sejam vedadas por esta estadual no que couber; (Municípios)
Constituição
Art. 30, I legislar sobre assuntos de interesse local
Art. 30 Compete aos Municípios: (Municípios)

Art. 32, § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas às


competências legislativas reservadas aos Estados e
Municípios.

divisão de competências entre os entes federativos do Brasil na CF88

critérios orientaram o constituinte ao delinear essa diferença de atribuiçõ es entre os entes federativos

Uma questão interessante, antes de entrarmos propriamente nas competências de cada um dos
entes, é indagar sobre quais critérios orientaram o constituinte ao delinear essa diferença de
atribuições entre os entes federativos. Quando ele partilhou, ele deu determinadas competências

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 147


para os Estados, outras pra União, outras pros Municípios, ele se guiou por que critério, ou por que
critérios?

Critério essencial: critério da predominâ ncia do interesse

O critério essencial que pautou o constituinte originário foi o critério da predominância do


interesse. Ou seja, se o interesse for predominantemente federal ou nacional, a competência será
da União. Se o interesse for predominantemente regional, a competência será do Estado. Se o
interesse for predominantemente local, a competência será municipal. Esse é o critério essencial.

Teoria dos poderes implícitos

Mas o legislador se influenciou também por outros critérios. Um critério importante é a teoria dos
poderes implícitos. Que foi muito importante nos EUA. Como nos EUA as competências enumeradas
da União são muito poucas, a suprema corte norte-americana teve que estender esse rol de
competências para os EUA serem o que são. Porque o nível de centralização que decorre do texto
da Constituição norte-americana, seria impossível os EUA serem a competência capitalista que são.
Isso porque as regras seriam muito diversas de Estado pra Estado, haveria uma dificuldade notável
ao comercio. Então a suprema corte criou essa teoria dos poderes implícitos. Que diz o seguinte –
quando existe uma competência (poder) implícita que é uma condição (prerrogativa) necessária
para o exercício de uma competência explicita, esse poder implícito deve ser reconhecido como de
competência daquele ente. Quando houver poderes necessários ao exercício das competências
explicitas, deve-se reconhecer que há uma competência implícita daquele ente para exerce-lo.
Com base nessa lógica a suprema corte extraiu poderes implícitos das competências enumeradas da
União nos EUA, e assim fortaleceu as competências da União Federal.

Quando a CF confere uma competência expressa a um ente ela implicitamente deu os meios
necessários para a realização daquele fim, dessa forma é um caminho necessário para realizar
aquele fim.

A competência de direito administrativo para gerir os serviços públicos é comum,


consequentemente esses entes têm competência legislativa sobre os seus serviços públicos e seus
servidores pois é uma competência implícita vez que os meios necessários a realização de um fim
são também competências desse ente.

Princípio da subsidiariedade

Outro princípio que é um princípio importante que orienta por exemplo o SUS no Brasil e orienta
também a divisão de competências na União Europeia é o princípio da subsidiariedade. Esse
princípio é um princípio que, em síntese, prestigia as competencias dos entes menores. E por que

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 148


prestigia a competência dos entes menores? Porque diz que uma competência só vai ser concedida
a um ente maior, se o ente menor não tiver condições de bem exercê-la.

O SUS foca nos municípios o serviço de saúde primária, básica.

utilidade de conhecer esses critérios – resoluçã o de conflitos positivos e negativos de competência

Agora, qual a utilidade de conhecer esses critérios? É uma utilidade meramente histórica, pra saber
quais os critérios que orientaram o constituinte? Ou não? Ou há uma relevância pratica atual? Sim,
há. Há situações de conflitos aparentes tanto de natureza positiva quanto de natureza negativa em
relação as competências. Isso porque há situações em que aparentemente normas constitucionais
diferentes, uma dá competência para União e a outra dá pro Estado – é um conflito aparente
positivo. Como há também conflitos aparentes negativos – aparentemente nenhuma norma da
competência a ninguém. Então esses critérios são muito importantes para resolver esses conflitos
aparentes de competência, sejam eles positivos ou negativos. Então influenciam bastante na
definição do ente efetivamente competente em um determinado caso concreto.

6. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL

A organização político-administrativa do Brasil, adotada pela CF/88, foi inspirada nos


modelos dos EUA e da Alemanha.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 149


Há dois artigos extremamente importantes que tratam sobre este assunto: art. 1º e art. 18.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a
cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa; V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
O art. 1º consagra o Princípio da Indissolubilidade do Pacto Federativo, ou seja, nenhum ente
federativo pode separar-se do Estado brasileiro (proibição de secessão), sob pena de intervenção federal (art.
34, I), a fim de manter a integridade nacional (manter o pacto federal). Não há hierarquia em relação aos
Estados é como se os outros Estados estivessem fazendo a intervenção.

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do


Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
todos autônomos, nos termos desta Constituição.
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação
em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei
complementar.
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-
se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada,
através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios,
far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei
Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da
lei.

Tanto o art. 1º quanto o art. 18 deixam claro que os entes federativos que compõem o Estado
brasileiro são: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Perceba que está expresso na
Constituição que os Municípios são entes federativos.

Além disso, todos os entes são autônomos (organização, legislação, governo e administração),
portanto, não há como afirmar que os Municípios não são entes federativos.

ESTADOS

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, ob
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços loca

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 14 2


provisória para a sua regulamentação.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por
agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:


I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,
ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio,
excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.

Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao


triplo da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o
número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados
Federais acima de doze.
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-
sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade,
imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e
incorporação às Forças Armadas.
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da
Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento
daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado
o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
§ 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre seu regimento
interno, polícia e serviços administrativos de sua secretaria, e prover os
respectivos cargos.
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual.
Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para
mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro,
em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se
houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e
a posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequente, observado, quanto
ao mais, o disposto no art. 77 desta Constituição. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir outro cargo ou função
na administração pública direta ou indireta, ressalvada a posse em virtude
de concurso público e observado o disposto no art. 38, I, IV e V.
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e dos Secretários de
Estado serão fixados por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa,
observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, §
2º, I.

6.2.1. Limites à autonomia

Há para os Estados-membros alguns limites de autonomia, chamado de normas de observância


obrigatória, que decorrem do Princípio da Simetria o qual impõe que as Constituições Estaduais sejam
simétricas à Constituição Federal. Em outras palavras, além de obedecer às imposições e vedações da CF/88,
devem seguir o modelo estabelecido pela Constituição da República.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 143


Por exemplo, a CF/88 estabelece o modelo presidencialista, não poderá uma Constituição Estadual adotar
o modelo parlamentarista.

Obs.: De acordo com Novelino, é importante distinguir normas de repetição obrigatória – são aquelas que
obrigatoriamente devem ser repetidas nas constituições dos estados (CPI) –; e normas de observância
obrigatória (não precisa ser reproduzida, mas se fizer deve seguir o modelo da CF (medidas provisórias)

São consideradas normas de observância obrigatórias, de acordo com José Afonso da Silva:

o Princípios constitucionais sensíveis;

o Princípios constitucionais extensíveis;

o Princípios constitucionais estabelecidos.

6.2.2. Princípios constitucionais sensíveis

Representam a essência da organização constitucional da Federação Brasileira, estabelecendo


limites à autonomia organizatória dos Estados-membros.

Sua violação poderá gerar intervenção federal, nos termos dos art. 37, VII da CF.

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Salienta-se que nos casos de intervenção federal decorrente de violação de princípio constitucional
sensível, é necessário que o PGR proponha uma ADI Interventiva, somente se o STF der provimento é que o
Presidente da República poderá decretar a intervenção.

6.2.3. Princípios constitucionais extensíveis

Consagram normas organizatórias para a União cuja incidência será estendida aos Estados- membros,
podendo ser de maneira expressa ou implícita.

Cita-se, como exemplos:

o Normas referentes ao subsídios dos Deputados Estaduais e ao regime a eles aplicados,


devem seguir o regime dos Deputados Federais (art. 27, §2º) – previsão expressa;

Art. 27, § 2º: O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Asse
2º, I.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 144


STF – ADI 4.587 MC/GO: O art. 57, § 7º, do Texto Constitucional veda o
pagamento de parcela indenizatória aos parlamentares em razão de
convocação extraordinária. Essa norma é de reprodução obrigatória pelos
Estados-membros por força do art. 27, § 2º, da Carta Magna.

o Norma relativa ao TCU (art. 75 da CF) – previsão expressa;

Art. 75: As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à


organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de
Contas dos Municípios.

Importante consignar que “Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios” (são


estaduais, tendo em vista que fiscalizam todos os municípios do Estado) não se confundem
com Tribunal de Contas do Município, que não pode ser criado após a CF/88.

o Requisitos para a criação de CPI – previsão implícita;

art. 58, § 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes


de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos
nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de
fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade
civil ou criminal dos infratores

o Normas do processo legislativo – previsão implícita;

o Separação de poderes – previsão implícita.

6.2.4. Princípios constitucionais estabelecidos

Estão espalhados ao longo do texto constitucional, de forma assistemática. São as normas de


observância obrigatória que não se encaixam nos princípios sensíveis e nem nos extensíveis.

De acordo com Novelino, são as normas que restringem a capacidade organizatória dos Estados
Federados, por meio de limitações expressas ou implícitas (art. 22 da CF).

LIMITAÇÕES EXPRESSAS

NORMAS MANDATÓRIAS NORMAS VEDATÓRIAS

Art. 37, da CF Art. 19, da CF

DISTRITO FEDERAL

O DF é um território neutro que foi criado para ser a sede do Governo Federal.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 145


Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger- se-á
por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e
aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas
reservadas aos Estados e Municípios.
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas as regras
do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a dos Governadores e
Deputados Estaduais, para mandato de igual duração.
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no
art. 27.
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal,
da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar e do corpo de bombeiros
militar.

A Câmara Legislativa do DF, tendo em vista os gastos com as despesas de pessoais, afirmava que o
DF, como Município, precisava de 6% para gastar com o pessoal, e não dos 3% que são destinados aos
Estados.

Diante disso, o STF, na ADI 3756, entendeu que o Distrito Federal não é Município nem Estado, mas
uma Unidade Federada com competência parcialmente tutelada pela União, a exemplo do Poder Judiciário,
do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios (mudança
a partir da EC 69/2012, agora a organização da DP é do DF e não mais da competência da União), Polícia
Civil, Polícia Militar e Bombeiro Militar (art. 21, art. 28).
ADI 3.756/DF: O Distrito Federal é uma unidade federativa de compostura
singular, dado que: a) desfruta de competências que são próprias dos
Estados e dos Municípios, cumulativamente (art. 32, § 1°, CF); b) algumas
de suas instituições elementares são organizadas e mantidas pela União
(art. 21, XIII e XIV, CF); c) os serviços públicos a cuja prestação está
jungido são financiados, em parte, pela mesma pessoa federada central,
que é a União (art. 21, XIV, parte final, CF) (...) 3. Conquanto submetido a
regime constitucional diferenciado, o Distrito Federal está bem mais próximo
da estruturação dos Estados-membros do que da arquitetura constitucional
dos Municípios.

Destaca-se que sua estrutura se assemelha muito mais a um Estado do que a um Município.
Elegem Governador, Senadores, Deputados Distritais e Deputados Federais.

MUNICÍPIOS

O Brasil é a única Federação que trata os Municípios como um ente federativo. Justamente, por isso
há na doutrina divergência sobre considera-lo ou não um ente federativo.

1ªC (José Afonso da Silva – minoritário) – não é considerado ente federativo, tendo em vista que não
há federação de municípios no mundo, bem como não possuem representantes no Senado (não participam da
manifestação da vontade nacional).

2ªC (majoritária) – é um ente federativo, em razão da previsão constitucional expressa e da sua


autonomia que não se diferencia dos estados-membros, do DF e da União.

Observe os artigos que disciplinam os Municípios:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 146


Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os
seguintes preceitos:
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de
quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País;
II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de
outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder,
aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos
mil eleitores;
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do ano
subsequente ao da eleição;
IV - para a composição das Câmaras Municipais, será observado o limite
máximo de: (Vide ADIN 4307)
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000 (quinze mil)
habitantes;
b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de 15.000 (quinze mil)
habitantes e de até 30.000 (trinta mil) habitantes;
c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de 30.000 (trinta mil)
habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil) habitantes;
d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de 50.000 (cinquenta
mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta mil) habitantes;
e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de 80.000 (oitenta
mil) habitantes e de até 120.000 (cento e vinte mil) habitantes;
f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de 120.000 (cento e
vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cento sessenta mil) habitantes;
g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 160.000 (cento e
sessenta mil) habitantes e de até 300.000 (trezentos mil) habitantes;
h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 300.000
(trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (quatrocentos e cinquenta
mil) habitantes;
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 450.000
(quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000 (seiscentos mil)
habitantes;
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 600.000
(seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos cinquenta mil)
habitantes;
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 750.000
(setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000 (novecentos mil)
habitantes;
l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 900.000
(novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil)
habitantes;
m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.050.000 (um
milhão e cinquenta mil) habitantes e de até 1.200.000 (um milhão e
duzentos mil) habitantes;
n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.200.000 (um
milhão e duzentos mil) habitantes e de até 1.350.000 (um milhão e trezentos
e cinquenta mil) habitantes;
o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de 1.350.000 (um milhão e
trezentos e cinquenta mil) habitantes e de até 1.500.000 (um milhão e

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 147


quinhentos mil) habitantes;
p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.500.000 (um
milhão e quinhentos mil) habitantes e de até 1.800.000 (um milhão e
oitocentos mil) habitantes;
q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 1.800.000
(um milhão e oitocentos mil) habitantes e de até 2.400.000 (dois milhões e
quatrocentos mil) habitantes;
r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 2.400.000 (dois
milhões e quatrocentos mil) habitantes e de até 3.000.000 (três milhões) de
habitantes;
s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 3.000.000
(três milhões) de habitantes e de até 4.000.000 (quatro milhões) de
habitantes;
t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 4.000.000
(quatro milhões) de habitantes e de até 5.000.000 (cinco milhões) de
habitantes;
u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 5.000.000
(cinco milhões) de habitantes e de até 6.000.000 (seis milhões) de
habitantes;
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de 6.000.000
(seis milhões) de habitantes e de até 7.000.000 (sete milhões) de
habitantes;
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de mais de 7.000.000
(sete milhões) de habitantes e de até 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
e
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 8.000.000
(oito milhões) de habitantes;
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais
fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado o que dispõem
os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras
Municipais em cada legislatura para a subsequente, observado o que dispõe
esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei
Orgânica e os seguintes limites máximos:
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo dos
Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio dos Deputados
Estaduais;
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habitantes, o subsídio
máximo dos Vereadores corresponderá a trinta por cento do subsídio dos
Deputados Estaduais;
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil habitantes, o subsídio
máximo dos Vereadores corresponderá a quarenta por cento do subsídio
dos Deputados Estaduais;
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil habitantes, o subsídio
máximo dos Vereadores corresponderá a cinquenta por cento do subsídio
dos Deputados Estaduais;
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil habitantes, o
subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a sessenta por cento do
subsídio dos Deputados Estaduais;
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, o subsídio máximo
dos Vereadores corresponderá a setenta e cinco por cento do subsídio dos
Deputados Estaduais;
VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 148


ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Município;
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no
exercício do mandato e na circunscrição do Município;
IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no
que couber, ao disposto nesta Constituição para os membros do Congresso
Nacional e na Constituição do respectivo Estado para os membros da
Assembleia Legislativa;
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câmara
Municipal;
XII - cooperação das associações representativas no planejamento
municipal;
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do
Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo
menos, cinco por cento do eleitorado;
XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, parágrafo
único .

Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os


subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá
ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita
tributária e das transferências previstas no § 5 o do art. 153 e nos arts. 158 e
159, efetivamente realizado no exercício anterior:
I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até 100.000 (cem
mil) habitantes;
II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre 100.000 (cem
mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes;
III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre 300.001
(trezentos mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitantes;
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com
população entre 500.001 (quinhentos mil e um) e 3.000.000 (três milhões)
de habitantes;
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre 3.000.001
(três milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com
população acima de 8.000.001 (oito milhões e um) habitantes.
§ 1 o A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua
receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus
Vereadores.
§ 2 o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária.
§ 3 o Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câmara
Municipal o desrespeito ao § 1 o deste artigo.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar
suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar
balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 149


V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação infantil e de ensino fundamental;
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a
legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo


Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno
do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio
dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o
Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de
dois terços dos membros da Câmara Municipal.
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à
disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual
poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas
Municipais.

TERRITÓRIOS

Atualmente, não existem territórios no Brasil.

É uma autarquia territorial. Por não serem entes federativos, não elegem senadores, apenas deputados
(quatro).

Caso sejam criados os territórios serão governados por um Governador, nomeado pelo Presidente da
República.

Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos


Territórios.
§ 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos quais se
aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste Título.
§ 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao Congresso
Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da União.
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do
Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá órgãos
judiciários de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e
defensores públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara
Territorial e sua competência deliberativa.

7. CRIAÇÃO DE ESTADOS E MUNICÍPIOS

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 150


INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO DE ESTADOS

7.1.1. Previsão

Estão previstas no §3º, do art. 18 da CF, sendo regulamentada pela Lei 9.709/98. Observe:

Art. 18, § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou


desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente
interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei
complementar.

7.1.2. Distinções
INCORPORAÇÃO SUBDIVISÃO DESMEMBRAMENTO

Ocorre fusão entre dois ou


Ocorre cisão de um Estado que Ocorre quando parte de um
mais Estados, que irá originar
dará origem a novos Estados. Estado é anexado
um novo Estado ou um
Território Federal. (incorporado) a um outro
Por exemplo, o Estado “A” por
Estado já existente ou quando
Surge nova pessoa jurídica. meio de cisão dá origem ao
a parte do Estado forma um
Estados “B” e “C”.
novo ente federativo.
Por exemplo, o Estado A
funde-se com o Estado B,
criando o Estado C.
Obs.: O Estado originário deixará
Obs.: o Estado originário não
Obs.: Os Estados originários de existir.
deixa de existir.
deixam de existir.

7.1.3. Requisitos

1º - Aprovação da população diretamente interessada, tanto do Estado originário quanto do Estado


que irá receber uma parte (caso do desmembramento para anexação);

Lei 9.709/98, Art. 7o Nas consultas plebiscitárias previstas nos arts. 4º e 5º


entende-se por população diretamente interessada tanto a do território que
se pretende desmembrar, quanto a do que sofrerá desmembramento; em
caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer
anexar quanto a da que receberá o acréscimo; e a vontade popular se
aferirá pelo percentual que se manifestar em relação ao total da população
consultada.

STF - ADI 2.650/DF: 2. A utilização de termos distintos para as hipóteses de


desmembramento de estados-membros e de municípios não pode resultar
na conclusão de que cada um teria um significado diverso, sob pena de se
admitir maior facilidade para o desmembramento de um estado do que para
o desmembramento de um município. Esse problema hermenêutico deve
ser evitado por intermédio de interpretação que dê a mesma solução para
ambos os casos, sob pena de caso contrário, se ferir, inclusive, a isonomia

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 151


entre os

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 152


entes da federação. Esse objetivo será alcançado mediante
interpretação que extraia do termo “população diretamente
interessada” o significado de que, para a hipótese de
desmembramento, deve ser consultada, mediante plebiscito, toda a
população do estado-membro ou do município, e não apenas a
população da área a ser desmembrada (...). 4. Sendo o desmembramento
uma divisão territorial, uma separação, com o desfalque de parte do
território e de parte da sua população, não há como excluir da consulta
plebiscitária os interesses da população da área remanescente, população
essa que também será inevitavelmente afetada (...). O desmembramento
dos entes federativos, além de reduzir seu espaço territorial e sua
população, pode resultar, ainda, na cisão da unidade sociocultural,
econômica e financeira do Estado, razão pela qual a vontade da população
do território remanescente não deve ser desconsiderada, nem deve ser
essa população rotulada como indiretamente interessada

2º - Aprovação do Congresso Nacional;

7.1.4. Procedimento

1º - Convocação do plebiscito (art. 3º, da Lei 9.709/98), por meio de decreto legislativo;

Art. 3o Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder Legislativo ou do P

Constituição Federal, o plebiscito e o referendo são convocados mediante decreto legis

2º - Consulta à população diretamente interessada (art. 4º. Da Lei 9.709/98)

Art. 4o A incorporação de Estados entre si, subdivisão ou desmembramento para se anexa

3º - Resultado favorável (condição de prosseguibilidade)

O Congresso Nacional não está vinculado ao resultado favorável do plebiscito e ao parecer da


Assembleia Legislativa.

Lei 9.709/98 - Art. 4º


§1º - Proclamado o resultado da consulta plebiscitária, sendo favorável à alteração territor
§ 2º À Casa perante a qual tenha sido apresentado o projeto de lei complementar referido
§ 3º Na oportunidade prevista no parágrafo anterior, as respectivas Assembleias Legislativ
concernentes aos aspectos administrativos, financeiros, sociais e

econômicos da área geopolítica afetada. 15


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1
§ 4º O Congresso Nacional, ao aprovar a lei complementar, tomará em conta2as informaçõ
CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS

7.2.1. Previsão e considerações

A EC 15/96 alterou profundamente o processo de criação, incorporação, fusão e desmembramento de


municípios, tornando mais rígido o procedimento.
Está previsto no art. 18, §4º, da CF (norma de eficácia limitada – STF).

Art. 18, § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de


Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por
Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da
lei

Alexandre de Moraes entende que incorporação e fusão são expressões sinônimas. De outro lado,
sustenta Ely Lopes Meireles que na incorporação o Município incorporado deixa de existir e o Município
incorporador continua existindo; na fusão ambos os Municípios deixam de existir para dar origem a um novo
Município.

A Lei 9.709/98 regulamenta parte do processo.

Como vários Municípios foram criados sem que houvesse a edição da lei complementar, questionou-
se se a criação seria constitucional ou não. O STF entendeu que havia omissão do Congresso Nacional na
criação da Lei, mas não deveriam ser extintos. Veja o que decidiu o STF:

STF - ADI 3.682/MT: 1. A Emenda Constitucional n° 15, que alterou a


redação do § 4º do art. 18 da Constituição, foi publicada no dia 13 de
setembro de 1996. Passados mais de 10 (dez) anos, não foi editada a lei
complementar federal definidora do período dentro do qual poderão tramitar
os procedimentos tendentes à criação, incorporação, desmembramento e
fusão de municípios (...) 3. A omissão legislativa em relação à
regulamentação do art. 18, § 4º, da Constituição, acabou dando ensejo à
conformação e à consolidação de estados de inconstitucionalidade que não
podem ser ignorados pelo legislador na elaboração da lei complementar
federal. 4. Ação julgada procedente para declarar o estado de mora em que
se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, em prazo razoável de 18
(dezoito) meses, adote ele todas as providências legislativas necessárias ao
cumprimento do dever constitucional imposto pelo art. 18, § 4º, da
Constituição, devendo ser contempladas as situações imperfeitas
decorrentes do estado de inconstitucionalidade gerado pela omissão. Não
se trata de impor um prazo para a atuação legislativa do Congresso
Nacional, mas apenas da fixação de um parâmetro temporal razoável, tendo
em vista o prazo de 24 meses determinado pelo Tribunal nas ADI n°s 2.240,
3.316, 3.489 e 3.689 para que as leis estaduais que criam municípios ou
alteram seus limites territoriais continuem vigendo, até que a lei
complementar federal seja promulgada contemplando as realidades desses
municípios.

O Congresso Nacional, após a decisão do STF, incluiu o art. 96 ao ADCT, convalidando os


Municípios já existentes. .

ADCT, art. 96: Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1
desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de 3
15
dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do
respectivo Estado à época de sua criação.
7.2.2. Requisitos
1º - Lei complementar federal fixando o período para ocorrência; 2º -

Lei ordinária federal que divulgará os estudos de viabilidade;

3º - Plebiscito com a população interessada (condição de prosseguibilidade);

Art. 5º O plebiscito destinado à criação, à incorporação, à fusão e ao


desmembramento de Municípios, será convocado pela Assembleia
Legislativa, de conformidade com a legislação federal e estadual.

4º - Lei ordinária estadual.

O STF entende que é inconstitucional lei estadual que permita a criação, incorporação, fusão e
desmembramento de municípios sem a edição prévia das leis federais previstas no art. 18, § 4º, da CF/88

Pendente a legislação federal prevista na redação atual do art. 18, § 4º, da


Constituição Federal, são inadmissíveis os regramentos estaduais que
possibilitem o surgimento de novos municípios e que invadam a
competência da União para disciplinar o tema. É inconstitucional lei estadual
que permita a criação, incorporação, fusão e desmembramento de
municípios sem a edição prévia das leis federais previstas no art. 18, § 4º,
da CF/88, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 15/96. STF.
Plenário. ADI 4711/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2021
(Info 1028).

partilha constitucional de competências

Tratamos do federalismo na aula passdada e agora vamos tratar do aspecto derredeiro do federalismo que é a
partilha constitucional de competências. No final da utlima aula tratamos dos principais critérios que orientam
a distribuição de competência. Notadamente a predominância do interesse, o princípio da subsidiariedade e a
teoria dos poderes implícitos.

Art 21 da CF: competências administrativas privativas da Uniã o

Art. 21. Compete à União:


I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele
permaneçam temporariamente;
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e
capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante concessão a empresas sob controle acionário estatal, os serviços telefônicos, telegráficos, de
transmissão de dados e demais serviços públicos de telecomunicações, assegurada a prestação de serviços de informações por
entidades de direito privado através da rede pública de telecomunicações explorada pela União.
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei,
que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens e demais serviços de telecomunicações;
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados
onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de
Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos
Territórios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012) (Produção de efeito)
XIV - organizar e manter a polícia federal, a polícia rodoviária e a ferroviária federais, bem como a polícia civil, a polícia militar e o
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal e dos Territórios;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar
assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como
prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;
( Regulamento )
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aérea e de fronteira;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
de 1998)
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes
princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso
Nacional;
b) sob regime de concessão ou permissão, é autorizada a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas,
industriais e atividades análogas;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos,
agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
c) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior
a duas horas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 49, de
2006)
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.

Vamos começar a tratar do art 21 da CF, que são as competências administrativas privativas da União. Como
nome sugere, são privativas, então segue a lógica reciprocamente excludente que vimos na aula passada.
Portanto se foram dadas competências privativas a União, foram tiradas de estados e municípios.

Então são atuações administrativas. Então a prestacao de serviços públicos previstas no art 21 a revelia da
União por estados e municípios implica inconstitucionalidade, porque implica em usurpação de competência
privativa da União. Essa modalidade de inconstitucionalidade, como sabemos, é formal. Ou seja, a usurpação
por um ente federativo da competência de um outro caracteriza inconstitucionalidade formal. Para ser mais
preciso, uma inconstitucionalidade formal orgânica, tendo em vista a usurpação de uma competência
privativa.

Uma primeira questão preliminar, que vale a pena colocar sobre esse dispositivo, é que são 25 incisos. Então é
um dispositivo bastante extenso, que atribui muitas competências a União Federal. Então a concentração de
competências na União se coloca tanto sob aspecto administrativo quanto Legislativo. Sendo que no aspecto
Legislativo, ainda há maior concentração. Esse é um primeiro aspecto.

Um segundo aspecto é que como se adota no Brasil o sistema presidencialista, o presidente da república é ao
mesmo tempo chefe de Estado e chefe de governo. Então vai se ver que nas competências administrativas da
União, estão funções inerentes a chefia de Estado e a chefia de governo. Por exemplo em relação a chefia de
Estado – manter relações com estados estrangeiros, declarar guerra e celebrar paz, assegurar a defesa
nacional. Por outro lado, há típicas funções de governo – como manter o serviço postal e correio aéreo
nacional, explorar telecomunicações, explorar servico de radiodifusão, energia, navegação aérea – típicas
atividades de gestão.

Veja-se que não há um parágrafo no final do art 21 que preveja a delegação dessas atribuições a estados e
municípios. Enquanto no 22 há parágrafo único permitindo ess delegação. Diante disso sob o cotejo da análise
dos dois artigos poderia se supor que as competências do artigo 21 são indelegáveis e as competências
legislativas do artigo 22 seriam delegáveis. Porém esse raciocínio é formalista e equivocado.

Já havendo notável concentração de competências da União, é óbvio que em havendo interesse da União
em partilhar o exercício pontual de algum aspecto dessa competência com estados e municípios, ela pode
fazê-lo. E o mecanismo tradicional para realizacao disso são os convênios e consórcios públicos. Ou seja, atos
de confluência de vontade entre União e Estados ou União e Municípios, para que haja um partilhamento do
exercício dessas funções, muitas vezes com repasses de recursos públicos federais. A descentralização é
muito importante sobretudo em um estado fortemente centralizado como é o Estado Brasileiro.

Art 22: competências privativas legislativas da Uniã o


Já o art 22 trata das competências privativas legislativas. Que também segue a mesma lógica que acabamos
de ver. Ou seja, segue uma lógica de atribuição exclusiva. Deu-se a um ente, tirou-se de outro. Mas são
competências normativas, são competências para a edição de normas.

Também o primeiro aspecto digno de nota é a enorme amplitude dessas matérias. Já o inciso I já seria bastante
amplo.

“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”.

Seja lá o que o direito espacial possa ser. Ou seja, assegurou até o direito espacial a União para denotar essa
notável concentração de poderes legislativos na União.

Veja-se que em relação ao art 22, há um par. único, que diz o seguinte.

“Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das
matérias relacionadas neste artigo.”.

Então há previsão expressa de que a União possa delegar o poder de legislar sobre essas matérias, sobre
questões pontuais relativas a essas matérias por lei complementar.

Então quais os requisitos pra que a União validamente proceda a essa delegação? O primeiro é o requisito de
índole formal, que é a reserva de LC. Em seguida, há um requisito de ordem material – só podem ser delegadas
questões especificas.

E essa é uma questão muito importante que diz respeito em geral a delegação de funções públicas. Uma das
pedras de toque do regime jurídico administrativo, ao lado da supremacia do interesse público, é a
indisponibilidade do interesse público. Ou seja, o gestor público, o agente público gere um interesse que não é
seu, é alheio, e da coletividade. De modo que ele não tem disposição como os particulares tem em relação aos
seus bens, os gestores públicos não tem disponibilidade sobre os interesses públicos que gere. Isso gera como
efeito reflexo, como corolário natural a ideia de que as funções públicas privativas de um poder são
irrenunciáveis, ou indisponíveis. Ou seja, um poder – por exemplo o Legislativo que tem como função típica
legislar, não pode simplesmente abrir mão desse poder em favor de outro poder. Então a renúncia é
incompatível com a indisponibilidade do exercício de funções públicas. Mas a delegação não. Então é
fundamental conhecermos a diferença entre renúncia a delegação.

1 - Um aspecto essencial dessa distinção é o âmbito material sobre o qual elas recaem. Porque se eu
entender que é possível transferir toda a competência, isso é renuncia, isso não é possível . Mas questões
pontuais podem ser delegadas. É verdadeira delegação e não renuncia. Então um aspecto essencial a
caracterizar uma delegação valida é a delimitação das matérias delegadas.
2 - E um outro requisito material é a precariedade. Ou seja, é a possibilidade do ente titular, originário da
competência retomá-la.

E há uma controvérsia que é a seguinte. Será que a União pode delegar o poder de legislar sobre questões
especificas apenas para alguns estados? Ou será que se ela delega, ela tem que delegar a todos? Aqui a
doutrina é controvertida, é dividida. Mas a posição que parece ao professor a mais adequada é a seguinte – é
dizer que pode desde que haja uma justificação bastante adequada, bastante satisfatória. A princípio é
inconstitucional. Então a União precisa justificar de maneira satisfatória o porquê daquela diferenciação. Mas
intuitivamente há situações em que se justificam as diferenciações. Por exemplo, se é uma legislação de
emergência para combater a seca no nordeste, ou inundações no sul, não faz sentido delegar pra todos
estados, porque alguns estados não tem aquele problema. Mas não havendo uma peculiariedade reginal que
justifique essa diferenciação, é natural que o princípio da igualdade, particularmente a igualdade entre os
estados preconize a possibilidade da diferenciação.

Uma outra questão importante é que apesar de muito amplo, esse rol do art 22 não é exaustivo. Se formos a
outros dispositivos constitucionais, vamos ver que há outras matérias. Sobretudo em um outro dispositivo
constitucional – fazer remisao do art 22 para o art 48. O art 48 - são matérias também que são tratadas por lei.

Art 23 CF: competências administrativas comuns da Uniã o, Estados, DF e Municípios

Seguindo a sequência, o art 23 trata das competências comuns da União, Estados, DF e Municípios. Então são
atividades administrativas, serviços públicos que são partilhados entre União, Estados, DF e Municipios. Aqui
se segue a lógica do federalismo cooperativo, e não do federalismo dual, que inspira as competências
privativas exclusivas. É a lógica do federalismo cooperativo, que tem como principais métodos exatamente as
competências comuns e concorrentes. Aqui não há aquela lógica da exclusão recíproca. É o oposto. É a lógica
do compartilhamento de esforços para a obtenção de um objetivo comum.

A primeira coisa a se ver aqui é que há atividades administrativas muito relevantes inseridas nesse rol, como
por exemplo prestar o serviço público de saúde, educação, a proteção do patrimônio histórico cultural,
proteção do meio ambiente, moradia, combate a pobreza.

Todos sabemos que quando se atribui uma responsabilidade a mais de uma pessoa, é preciso organizar isso pra
dar certo. Ou seja, se não tiver uma otimização de esforços, pode ter uma perda de energia – pessoas fazendo
a mesma coisa, um não faz e o outro não faz e aí atribui a responsabilidade a outro. E aí, como estabelecer
uma organização desses serviços? Isso está disciplinado no par. único.

“Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)”.
Então LC fixará os termos que pautarão o exercício dessas competências, ou seja, quais atividades serão
incumbência da União, Estados e Municípios.

Art 24 CF: competências legislativas concorrentes da Uniã o, Estados e Municípios

O art 24 trata das competências concorrentes. Também possui esse dispositivo, esse dispositivo abrange
matérias muito relevantes como o direito tributário, direito financeiro, direito penintenciário, direito
econômico, direito urbanístico, orçamento, proteção ao patrimônio histórico cultural, protecao ao meio
ambiente, ao consumidor, educação, cultura. Então há matérias muito importantes inseridas no âmbito da
competência concorrente.

Os Municípios, apesar de não estarem presentes no caput, eles também possuem a Competência Concorrente,
nos termos do que preceitua o Artigo 30, II da CF. (Fazer remissão)

Art. 30. Compete aos Municípios:


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Essa é uma competência legislativa concorrente. Então é uma superposição da competência para editar
normas. Como que se evita aqui, especialmente é relevante se evitar isso, uma balburdia, um conflito
normativo? Normas conflitantes que dispõem em sentido contrário sobre a mesma matéria? Há uma disciplina
dessa questão que é complexa nos parágrafos do art 24.

“§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.


§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para
atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
contrário.”.

Par. 1 – então a competência da União via de regra se limita a edição de normas gerais. São normas de maior
teor de generalidade e abstração.

Par. 2 – o que é a competência suplementar dos Estados? É a competência para editar normas especificas que
complementem, que especifiquem, desenvolvam as normas gerais editadas pela União.

Não se deve confundir competência suplementar com competência remanescente ou residual. Ambas são
competências estaduais. Mas absolutamente distintas, apesar dos nomes parecidos.
Competência suplementar é exatamente o que foi dito – é o poder dos estados de editarem normas
especificas que concretizem, que especifiquem (que complementem) as normas gerais editadas pela União em
matérias de competência concorrente.

Já a Competência Remanescente ou Residual é a competência legislativa privativa dos Estados para legislarem
em matérias não concedidas seja a União seja aos Municípios (a competência legislativa da União ou dos
Municípios). É aquela lógica de que tudo que sobra é dos estados. Que aliás é o modelo original de formação,
de distribuição de competências no federalismo norte americano, como já vimos.

Par. 3 – então essa é uma situação de excepcionalidade. Ou seja, se a União não editar normas gerais,
competirá excepcionalmente aos Estados não apenas editar normas especificas, mas também gerais. Veja-se
que há um outro nome parecido para essa competência, que é a competência supletiva dos estados. A
competência supletiva dos estados é a competência que os estados tem para a edição não só de normas
especificas, mas também gerais em matéria de competência concorrente caso a União ainda não tenha editado
as normas gerais.

E par. 4 – Isso parece estranho. Digamos que o cenário é o seguinte – a União não legislou, então o Estado
editou normas gerais estaduais e normas especificas estaduais. E aí depois há uma norma geral federal
tratando do tema. O par. 4 diz que a superveniência de norma geral federal suspende a eficácia da norma geral
estadual. Veja-se que a expressão usada é suspender a eficácia, e não revogar. Então é algo que se dá no plano
da eficácia e não da existência. Isso tem um efeito pratico relevante, porque se vem a norma geral federal X
(NGF X) e depois é editada uma norma geral federal Y que revoga a norma geral federal X, o que ocorre?
Reestabelece-se a eficácia da norma geral estadual. Isso porque ela não havia sido revogada. Ela havia apenas
tido sua eficácia suspensa. Se a norma que suspende sua eficácia é revogada, ela reestabelece sua eficácia .

Não é represtinação tácita, mas suspensão da eficácia.

Mas isso na teoria é simples, na prática é um caos. Isso porque a norma não vem com uma etiqueta – “eu sou
norma geral” ou “eu sou norma especifica”. E as vezes é uma lei que tem cento e tantos artigos, e no meio
deles varias normas gerais e varias normas especificas. E o caráter geral e especifico é uma questão muito mais
de grau do que de natureza. Por exemplo, havia uma controvérsia interminável sobre quais dispositivos da lei
8666 eram norma geral, portanto eram obrigatórios a todos entes, e quais eram específicos (só obrigatórios
então da União). Isso é muito complicado. Até porque normalmente, como dito, isso vem numa mesma lei. São
diferentes artigos de uma mesma lei. Então por exemplo – há uma lei com 50 artigos, estadual, que tem
normas gerais e especificas. Com a superveniência de uma lei federal, que também tem normas gerais e
especificas.

Isso que é muito confuso na pratica. Porque na teoria como se resolve isso? As normas gerais federais
suspendem a eficácia das normas gerais estaduais. E as normas especificas estaduais continuam valendo desde
que compativeis com as normas gerais federais. Então é preciso primeiro saber o que é norma geral e o que é
norma especifica, tanto na lei estadual quanto na lei federal. O que for norma geral federal vai suspender a
eficácia da norma geral estadual. E o que for norma especifica estadual, pra continuar produzindo efeitos
validos, tem que ser compatível com a norma geral federal. Isso na pratica é bastante confuso, porque não é
simples identificar o caráter geral e especifico da norma.

Mas uma questão interessante – o fato da União ter competência para editar normas gerais em matéria de
competência concorrente significa que normas especificas federais são inconstitucionais, porque a
competência para editar normas especificas é dos estados? Ou não? Como o par. 1 deu a união apenas
competência para editar normas gerais, significa que normas especificas editadas pela União nessa materia de
competência concorrente, significa que esa norma é inconstitucional? Não. Significa apenas que é uma norma
aplicável apenas a União, e não a estados e municípios. Pra usar uma nomenclatura que a doutrina em algumas
situações se socorre – é a distinção entre norma nacional e norma federal. Ou seja, a norma geral editada
pela União seria nacional, seria obrigatoria a União, Estados e Municípios. Já naquilo que ela for especifica
ela seria meramente federal, porque seria obrigatória apenas a União, mas não aos estados e Municípios.

Então veja-se que interessante – dá pra imaginar como na prática é confuso – as normas especificas estaduais
podem ser contraditórias com as normas especificas federais. Aí as normas especificas estaduais valem no
Estado e as normas especificas federais valem na União - desde que observem um requisito – desde que as
normas especificas estaduais sejam compativeis com as normas gerais federais. Isso na teoria já não é simples,
imagine-se na pratica.

Isso que se chama de condomínio Legislativo – esse compartilhamento de poder de editar sobre a mesma
matéria – na pratica gera muita confusão. O que faz com que muitas vezes o STF aplique uma lógica pragmática
que tem até algumas virtudes de simplificar a analise disso, mas que tem o efeito deletério para a autonomia
de estados e municípios. É dizer o seguinte – se a União tratou, é norma geral. Ou seja, não vou aferir se é geral
ou especifica. Se está na lei federal, é geral, então é uma lei verdadeiramente nacional. Isso é um equivoco,
porque senão o constituinte teria estabelecido simplesmente uma primazia da legislação federal,
independente se é geral ou especifica. E não foi isso que o constituinte fez. Ele condicionou a primazia ao
caráter geral. E não a toda e qualquer norma editada pela União. Então os julgados que existem no STF nessa
linha devem ser criticados.

Resumindo: Competências Legislativas dos Estdos:

a) Legislar em matéria de competência privativa da União (Art. 22) quando autorizado por Lei
Complementar.
b) Legislar em matéria de competência concorrente da União, Estados e Municípios. E via de regra ela é
suplementar e na hipótese de não haver norma geral a competência será supletiva
c) Legislar sobre as matérias de competência administrativa comum, pois há um poder implícito dos entes
de legislar essas matérias observada a lei complementar.
d) Legislar em caráter privativo sobre as Competências Remanescentes. Tudo que sobra em relação a
União e Município o Estado possui competência remanescente.
Art 25 CF: competência administrativa e legislativa dos estados (em regra, residual)

O artigo 25 trata dos estados. E aí vem o par. 1 e desde logo coloca o seguinte.

“§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.”.

O art 25 par. 1 é a competência remanescente ou residual. (minha obs – pelo que entendi, competência
administrativa e legislativa). Tudo que não for dado de maneira enumerada a União e ao Município, é dos
Estados. Há diferença do constitucionalismo norte-americano porque aqui sobram pouquíssimas coisas.

O par. 2 trata do seguinte.

“§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na
forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 5, de 1995)”.

Esse aqui é uma das poucas competências administrativas enumeradas (expressas) dos Estados. Ou seja, é
uma competência administrativa dada de maneira expressa aos estados. E mesmo assim há disputa com a
União.

Essa questão do setor de gás é uma questão que vem gerando muita controvérsia no plano da distribuição de
competências. Isso porque o constituinte federal adotou um modelo de distribuição de competências em
matéria de gás, que é um modelo um pouco complexo. São três etapas essencialmente da produção de gás.
Que é a produção propriamente dita, que é uma atividade econômica sob monopólio da União, o transporte,
que é também uma atividade econômica sob o monopólio da União, e os serviços locais de gás canalizado,
competências dos estados. Então duas etapas foram dadas a União (produção e transporte) e a ultima foi
etapa (serviço local de gás canalizado) foi dada aos estados. Isso cria rusgas, alguns problemas, sobretudo da
relação da Petrobras com as companhias estaduais de gás. E a lei do gás (que é a lei federal que trata da
matéria) tratou de algumas figuras que se chocam com a competência estadual na matéria. Como por exemplo
a figura do auto-produtor, ou do auto-importador, que é a possibilidade de um consumidor de gás produzir e
consumir. Essa situação se coloca normalmente para a Petrobras – ela produz o gás e usa o gás como
combustível nas suas usinas. E há uma grande disputa nessa hipótese se ela deve pagar ou não algo as
concessionárias estaduais. Essa é uma questão que ainda estão sendo apreciada pelos tribunais.

E aí é fundamental interpretarmos de maneira adequada o que sejam serviços locais de gás canalizado. Veja-
se que houve uma mudança na redação feita pela EC 5 de 95. Antigamente se falava em distribuicao, agora se
fala de serviço local de gás canalizado, ou seja, houve uma ampliação do espectro do serviço público.

Então vamos entender o que é cada etapa. O que é produção? É a retirada do gás do ambiente natural onde se
encontra (subsolo normalmente) tornando-o viável para o uso – via de regra como combustível. O transporte é
o que? É a movimentação do gás dos centros de produção para os chamados city gates, que são os centros
onde o gás é recebido e passado para as distribuidoras estaduais. E os serviços locais de gás canalizado são os
serviços de entrega desse gás por via de condutos, canos, para os usuários finais.

Agora veja-se que pouco importa quem é esse usuário. Ou seja, há uma tendência da União de querer
interpretar o usuario final como usuário residencial, e não é só isso. O usuário industrial também é usuário. A
empresa que coloca o gás nos botijões para vender também é usuária, também é usuária do serviço público
estadual de distribuição. E veja-se que enquanto a produção e o transporte são atividades econômicas sob o
monopólio da União, a distribuicao é serviço público, foi tratada pela Constituição como serviço público. O que
significa a aplicação da princípiologia dos serviços públicos – modicidade tarifaria, universalidade na prestação,
continuidade. E aí o que acontece – quando a legislação federal e sobretudo a prática, a interpretação que é
dada pela Petrobras e outros entes, outros players que atuam no âmbito federal de que determinados usuários
não precisam se vincular ao serviço público estadual, podem consumir o próprio gás que produzem sem
nenhum pagamento a concessionária estadual, ou podem importar por dutos também a revelia da
concessionária estadual, há uma usurpação de competência dos estados.

E como se trata de um servico público, é fundamental para que esse serviço público garanta a observância de
todos esses princípios, que ele atinja os grandes empresários, os grandes usuários empresariais industriais. Isso
por causa da questão do subsidio cruzado. Ou seja, esses são os maiores consumidores. Então se a
concessionaria estadual de gás não puder atingir os grandes consumidores, o que ocorre é que o serviço fica
mais caro pros pequenos, e fica mais difícil universalizar a rede, levar a infra-estrutura do serviço pra
localidades em que ainda é anti-econômica a prestação do serviço. Esses são os subsídios cruzados – você tem
um lucro maior com determinados consumidores maiores, que consomem mais, e aí você transfere parte
desse lucro para investir em setores não tão rentáveis. Esse é o conceito de subsidio cruzado - que em matéria
de servico público é fundamental, porque garante tanto a universalização da rede quanto a modicidade
tarifaria. Então a partir do momento em que se exclui esses consumidores, há um prejuízo ao atendimento
desses princípios.

Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões

O par. 3 tem um dispositivo interessante.

“§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas
e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.”.

Veja-se que esses institutos (regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões) são instituidas
por lei complementar estadual. Essa é a primeira questão importante que deve ser esclarecida. E qual a
diferença entre elas? Antes de falar das diferenças, qual o ponto em comum? São municípios limítrofes que
tem interesses comuns. Essa é a questão. Logo é conveniente criar mecanismos de cooperação entre eles
para que eles otimizem a busca desses objetivos comuns.
Mas qual a diferença entre elas? A primeira delas, as chamadas regiões metropolitanas, são municípios em
conurbação (ou seja, com uma continuidade urbana) reunidos em torno de um municipio sede . É o Grande Rio,
a Grande São Paulo, a Grande BH, etc. Ou seja, há um município bem maior que os outros, e municípios
satélites em situação de conurbação. As aglomerações urbanas já são municípios limitofes conurbados sem um
município sede. Seria a situação por exemplo do ABC paulista. São municípios relativamente equilibrados, mas
em conurbação. E por fim as microrregiões, que não necessariamente são urbanizadas, podem ser áreas rurais,
mas também que apresentem problemas e objetivos comuns.

Previsão sobre a Constituição estadual

Um aspecto interessante dos Estados comparados aos Municípios é que as normas sobre a Constituição
estadual são muito menos detalhadas que as normas sobre a lei orgânica municipal. Basta combinar o art 25
caput com o art 29 caput. O art 25 caput é muito sucinto a respeito da Constituição estadual.

“Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.”.

Então basicamenteo que a Constituição Federal diz sobre as Constituições Estaduais é que elas serão editadas –
lá no ADCT se complementa – pelas Assembleias Legislativas Estaduais no prazo de 1 ano da edição da CF88, e
ponto. Não há detalhes, minúcias em relação a procedimentos, quoruns, etc. Compare-se com o art 29 caput
da CF.

“Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias,
e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:”.

Ou seja, há um regramento especifico de procedimento e quorum.

Art 30 CF: competência administrativa e legislativa dos Municípios

Já as competências municipais estão no art 30.

“Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da
obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de
ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da
população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso,
do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora
federal e estadual.”

O inciso I – essa é a competência por excelência dos municípios. Tratar sobre assunto de interesse local. Veja-
se que a CF88 mudou a expressão – a redação anterior era “peculiar interesse”, e agora passou a ser “interesse
local”. Aqui é tipicamente uma aplicação do princípio da predominância do interesse. Ou seja, interesses
predominantemente locais – leia-se intramunicipais – são de competência legislativa privativa dos
municípios. Ou seja, é uma matéria sobre a qual Estado e União não podem legislar sob pena de
inconstitucionalidade. Exemplo – horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais, com exceção dos
que são regulamentados pela União como bancos. Esse é um exemplo de uma matéria de interesse
predominantemente local.

O inciso II – esse dispositivo é muito importante. Tem que fazer remissão do art 30, II ao art 24 caput. Isso
porque se formos no cart 24 caput, vamos ver que dentre os entes arrolados como competentes para
participar da competência legislativa concorrente estão apenas a União, Estados e DF. Os municípios não
foram arrolados no art 24 caput. Porém eles também participam da competência legislativa concorrente por
força do art 30, II. Que diz que cabe aos municípios suplementar a legislação federal e estadual no que
couber.

O inciso III – “instituir e arrecadar os tributos de sua competência” - a primeira parte é uma competência
legislativa - que é a competência de instituir tributos. A segunda parte, a arrecadação, é uma competência
administrativa.

E aí em sequencia vêm as competências administrativas municipais.

Devemos lembrar da Teoria dos poderes implícitos, que é um importante mecanismo de atribuição de
competência. Isso porque por exemplo – de uma competência administrativa dada a estado e município
decorre a competência legislativa correspondente, desde que não se choque com competência legislativa
privativa da União. Isso porque o ente deve ter os meios necessários para o exercício de suas competências.
Então se o constituinte deu a um ente uma competência administrativa, consequentemente deu a ele
competência para normatizar o exercício dessa competência – exceto se essa competência tiver sido dada em
caráter privativo a outro ente. Então atenção para os efeitos da aplicação da teoria dos poderes implícitos,
especificamente nessa seara.

Art 32 CF: competências administrativas e legislativas do DF


O art 32 trata do DF, do Distrito Federal. O DF tem uma estrutura bastante peculiar, sendo o DF. Isso porque
ele reúne competências municipais e estaduais. Então ele tem uma natureza hibrida, o que não o
descaracteriza como um ente federativo autônomo. O DF é ente federativo autônomo - com essa
peculiariedade de reunião de competências estaduais e municipais.

Veja-se bem – há determinadas atividades que via de regra competem ao Estado que na situação especifica
do DF, são de competências da União. Veja-se o art 22, XVII – vela a pena fazer uma remissão do dispositivo
relativo ao DF, que é o art 32 ao art 22, XVII.

“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública
dos Territórios, bem como organização administrativa destes; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
69, de 2012) (Produção de efeito)”.

Então há uma competência legislativa da União para dispor organização judiciária (minha obs - TJDFT - Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios), MP do DF e dos territórios (minha obs - MPDFT - Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios) e defensoria pública dos territórios, bem como sua organização.

Vale a pena também fazer remissão ao art 21, XIII e XIV. Aqui estamos tratando de competências
administrativas.

“Art. 21. Compete à União:


XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a
Defensoria Pública dos Territórios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012) (Produção de
efeito)
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem
como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo
próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”.

Inciso XIII - Então veja-se que não só o poder sobre legislar, mas também sobre a organização e manutenção do
poder Judiciário, do MP é da União. Também era da defensoria pública, mas pela EC 69 foi transferida ao DF.
Então o poder Judiciário e MP do DF são custeados e organizados pela União.

Inciso XIV – então a União tem uma atuação na prestação desses serviços públicos especifica pro DF que ela
não tem pros estados nem pros municípios.

Então o DF tem uma natureza hibrida. Porque ele reúne competências estaduais e municipais, com exceção
dessas, que via de regra são do Estado, mas no caso do DF essas atribuicoes foram dadas a União. Veja-se
como a situação dos Estados é caótica – até o DF que tem essa molezinha esta quebrado. Então a situação é de
fato muito perigosa. Então fazer remissão aos dispositivos, como falado.
Pergunta – ...? Legislativo e administrativo, também pra policia.

Voltando, com isso fechamos a questão relativas as competências.

Art 33: Territó rios

E agora passamos a tratar dos territórios e da intervenção federal. O art 33 é o artigo que hoje esta quase em
desuso, porque não temos territórios atualmente. Os territórios que tínhamos ou viraram estados ou foram
incorporados por estados.

“Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios.
§ 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no
Capítulo IV deste Título.
§ 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao Congresso Nacional, com parecer prévio do
Tribunal de Contas da União.
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do Governador nomeado na forma desta
Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e
defensores públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e sua competência
deliberativa.”.

Art 33 caput – que lei é essa? Lei federal.

Uma questão interessante é que os Territórios poderão ser divididos em Municípios. O que é curioso, porque o
território ele próprio não tem autonomia política.

Par. 2 – então não há um tribunal de contas dos territórios especifico. O TCU que emite parecer, submetido ao
Congresso.

Questões controversas sobre competência


1 – Artigo 21, VI da CF.

Art. 21. Compete à União


VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;

O material bélico inclui não apenas o que está expresso que é a produção e comércio de material bélico como
a regulamentação do porte de arma está sujeita a competência legislativa privativa da União Federal. O STF
decidiu isso na ADI 2729, o Relator Ministro Gilmar Mendes, julgado em 2013.
2– Artigo 21, VIII

Art. 21. Compete à União


VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as
de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;

Esse inciso trata de questões financeiras essenciais para o país, estando sujeitas a competência administrativa
privativa da União e consequência pela competência legislativa, em função da Teoria dos Poderes Implícitos.
(ADI 1357 em que o STF julgou a inconstitucionalidade da Lei do Distrito Federal que tratou de operação de
crédito, pois a operação de crédito está sujeita a competência administrativa e legislativa privativa da União
Federal.

A relevância da atividade desempenhada pela Barroso disse que tanto faz se a instituição é pública ou privada,
mas a relevância demanda a existência de uma coordenação centralizada de políticas de crédito e regulação
das operações de financiamento, impedindo que estados legislem livremente aacerca das modalidades de
crédito praticadas pelos Bancos Públicos, ou seja, competência privativa da União Federal.

3 - Art. 21, X da CF

Art. 21. Compete à União


X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

ADPF 46 em que o STF afirmou que o serviço postal caracteriza serviço público prestado sob regime de
monopólio e não atividade econômica sob o regime concorrencial.

4 – Art. 21, XI

Art. 21. Compete à União


XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações,
nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros
aspectos institucionais;

Sobre a questão das telecomunicações nós temos um conflito entre a competência para legislar sobre
telecomunicações sendo privativa da União e a Competência concorrente de direito do consumidor que cabe a
União editar normas gerais e a Estados normas específicas.
Um caso é a ADI6204 julgado em 2020. Nesse caso houve uma consideração teórica relevante nesse conflito. O
Ministro Relator disse que se a lei federal ou estadual indicar de forma claramente necessária adequada e
razoável que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de complementação que detém os entes menores, é
possível afastar a presunção que no âmbito regional determinado tema deve ser disciplinado pelo ente maior.
Dessa forma é um parâmetro que estimula a descentralização política, vez que se a norma estabelecer de
forma clara e adequada que os seus efeitos afastam a aplicação do outro ente menor, nesse caso é possível
afastar a presunção de que no âmbito regional o tema deve ser legislado pelo ente maior. (clear stetement
rule)

Ex: Norm que dispunha sobre a utilização de franquia de dados pelo usuário do serviço de telecomunicação.
Ou seja, se você não usou toda a franquia de dados poderia usar no mês seguinte.

Os Estados editam essa norma com base na competência suplementar e supletiva de Direito do Consumidor. O
STF falou que sendo concorrente deve se verificar se há norma geral sobre a matéria. Segundo o Artigo da
resolução os dados de franquia não são cumulativos. Dessa forma vemos que havia um conflito entre a norma
da Anatel e a Lei Estadual. A norma da Anatel não permitia a utilização de minutos não usados no mês seguinte
e a lei estadual permitia. O STF entendeu pela competência da União para legislar sobre comunicações e por
isso temos a Inconstitucionalidade formal da lei estadual.

Outro caso é a ADI 5568 que também é um caso de telefonia. A hipótese é que o Artigo 51 do regulamento do
consumidor em telecomunicações previa a possibilidade de fornecimento do contrato por meio eletrônico e
essa lei estadual exigia o envio do contrato físico. Esse é mais um caso em que o STF fez prevalecer a
competência prvativa da união para legislar sobre competência de telecomunicações em detrimento da lei
Estadual.

Outro caso é a ADI 3558 E ERA UMA LEI DO Estado do Rio que obrigava concessionárias de serviço de telefonia
fixa, de água e de gá a instalar medidores de consumo para aferir se o valor cobrado era efetivamente devido.
O que se entendeu é que violava a competência privativa da União para se legislar sobre telecomunicações,
energia e etc.

Outro caso interessante é a adi 4083 e é uma lei do DF que proibia que empresas de telecomunicação
cobrassem taxas para a cobrança do segundo ponto de internet. Disse o STF que ainda que o argumento seja a
defesa sdo consumidor a hipótese viola a competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações
e o próprio contrato de concessão firmado entre a União e as Teles.

Importante afirmar que o STF insere o serviço de internet nas telecomunicações e por isso sujeito a
competência administrativa e legislativa privativa da União.

5 – Artigo 21, XII

Art. 21. Compete à União


XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8,
de 15/08/95:)

A ADPF 235 diz que é formalmente inconstitucional a lei que disciplina sobre rádio comunitária no município.
Ainda que seja rádio comunitária o Município não tem competência pois a competência para legislar sobre
rádio e tv é privativa da União.

6 – Art. 21, XII

Art. 21. Compete à União


XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

ADI 5610 de 2019 em que o STF fez prevalecer a competência da União para legislar sobre energia.

ADI 5210 QUE TRATA DE RELIGAÇÃO DE ENERGIA. Disse o STF que a competência para legislar sobre energia é
da União pela mesma lógica.

7 – Art. 21, XII, c

Art. 21. Compete à União


XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;

Aeroportos estão sujeitos à competência privativa da união re 363412 invalidando normas estaduais que
dispunham sobre aeroportos.

8–
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;

O transporte rodoviário intermunicipal é do Estado e o intramunicipal é do município.

No que concerne à gratuidade, é óbvio que cada ente tem competência para instituir gratuidade no que tange
a sua competência.

O STF já afirmou a natureza pública do serviço de Docas que se trata de serviço público.
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a
Defensoria Pública dos Territórios;

Em relação ao Poder Judiciário e MP compete à União legislar sobre o Poder Judiciário e MP do Distrito Federal
e Territórios.
Defesoria Pública  Só cabe a União legislar sobre a Defensoria Pública dos Territórios.

Defensoria Pública do DF  Cabe ao DF legislar.

MP e judiciário do DF  Cabe à União Legislar.

XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal,
bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo
próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)

E relação aos Estados cabe a eles prestar os serviços públicos e em relação ao DF essa competência é da União
e inclusive a competência legislativa, inclusive a Súmula Vinculante 39 do STF

compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;

Os Estados membros e o DF não possuem competência para dispor sobre o horário de verão e o seu próprio
horário. Dessa forma normas sobre o Horário de verão são de competência da União.

XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;

O STF considerou que o caráter indicativo vale não só para os pais que não podem ser punidos se deixar que
seus filhos assistam um programa indicado para idade superior, salvo hipóteses absurdas (Pai que autoriza
criança a ver filme pornográfico) e são indicativos para as emissoras também.

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares
e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante
aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa
e usos médicos, agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de
meia-vida igual ou inferior a duas horas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 49, de 2006)

A competência nesse caso é privativa da União.

XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;

É importante destacar que há delegação legislativa na Lei complementar 103 de 2000 e isso é bastante
relevante que é a competência que se delegou aos Estados para fixar pisos regionais por categoria. Embora o
salário mínimo seja nacionalmente unificado e seja de competência da União fixa-lo, os pisos salariais para
categorias específicas os Estados tem competência para fixar com base nessa delegação e não para outras
questões de direito do trabalho.

Nesse caso o STF declarou inconstitucional normas estaduais que dispunham sobre jornada de trabalho e
fiscalizações de das condições de trabalho. As competências legislativas e administrativas são da União.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

Só esse inciso já dá uma boa noção de como o constituinte foi generoso ao conceder muitas competências para
a União. Vejamos a abrangência de matérias submetidas a competência legislativa privativa da União.
Ex: Matérias relacionadas a plano de saúde  Competencia da União.
Matérias relacionadas a honorários advocatícios  processo  Competência privativa da União.

ADI 2030  Lei estadual sobre controle de resíduos, oleodutos, embarcações e instalações costeiras. O STF diz
que a matéria trata de direito ambiental marítimo e não de direito marítimo ambiental. O STF fez esse jogo de
palavras pois sendo a matéria preponderante ambiental a competência é concorrente e o Estado poderia
legislar.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


II - desapropriação;

ADI 969  É inconstitucional norma distrital que submeta as desapropriações no âmbito do DF à preocupação
prévia da Camara Legislativa do DF.
a) Inconstitucionalidade formal  DF usurpa competência da União.
b) Inconstitucionalidade Material  Violação da Separação de poderes, pois o Legislativo vai definir o
Exercício de competência administrativa.

 Competências legislativas (art. 22) (continuação):


Art. 22 da Constituição: “Compete privativamente à União legislar sobre: [...]
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra”.

ADI 3639, de Relatoria do Ministro Joaquim Barbosa (julgado de 2013): discussão sobre uma lei que permitia à
Administração utilizar em serviços de inteligência veículos particulares apreendidos. Será que é constitucional, tanto
formal quanto materialmente, uma lei que admite que órgãos de inteligência (como a Polícia Civil, por exemplo) utilize
nas suas atividades institucionais os veículos apreendidos?
O STF entendeu que era inconstitucional, porque viola o direito constitucional ao devido processo legal que
leva à perda compulsória da propriedade ou do direito de uso ou gozo, cuja positivação no campo infraconstitucional é
atribuída à União, no campo da legislação de trânsito ou não. Assim, decisões liminares de bloqueio de bens ou outras
decisões liminares, que são por sua natureza precárias, não podem autorizar que o Estado use aquele bem, porque isso
representaria uma violação ao devido processo legal e ao próprio direito de propriedade.
São diferentes as hipóteses de requisição administrativa, que são pontuais. Exemplo: o policial está
perseguindo um bandido, passa um carro, e o policial requisita esse caso, usa, e depois devolve.

“IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão”

São muitos temas relevantes. Telecomunicações, em especial, é um tema que gera muita jurisprudência, é muito
comum serem editadas leis estaduais com base na competência concorrente em matéria de Direito do Consumidor.

1º Caso:
ADI 5574, Ministro Edson Fachin (segundo semestre de 2019): lei estadual
determinava bloqueio de aparelhos celulares pelas operadoras nas hipóteses de furto e
roubo. É constitucional ou inconstitucional essa lei? O STF entendeu que era
formalmente inconstitucional por violação à competência privativa da União para legislar
sobre telecomunicações.

Particularmente em matéria de telecomunicações, a jurisprudência do STF é muito rígida em assegurar a


efetividade da competência privativa da União. Mas esse conflito entre a competência privativa da União para legislar
sobre telecomunicações e a competência concorrente de União, Estados e Municípios para legislar sobre Direito do
Consumidor gera situações de muita dúvida. Assim, há tendência, em prova de PGE, de se buscar a prevalência da
competência estadual (até onde der), mas em matéria de telefonia a jurisprudência é centralizadora no âmbito da União.
OBS: nessa tensão entre competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações e competência
concorrente para legislar sobre consumidor, na prática, em uma visão global, o STF tem privilegiado acompetência da
União.

2º Caso:

ADI 5830, Relator Ministro Luiz Fux (segundo semestre de 2019): lei do Estado de Ceará que instituiu
obrigação às operadoras de telefonia fixa e móvel de disponibilizarem em seus sites extratos detalhados das
contas telefônicas e serviços de recarga. O STF também considerou que houve invasão da competência privativa da
União para legislar sobre telecomunicações (aspecto centralizador).

3º Caso:
ADI 4401, Ministro Relator Gilmar Mendes (segundo semestre de 2019): lei estadual que dispunha sobre
obrigatoriedade de informações por concessionária de telefonia fixa e móvel para fins de segurança pública .
Tensão entre competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações e competência administrativa – da
qual decorre a competência legislativa do Estado – para legislar sobre segurança pública.
Pela teoria dos poderes implícitos, sempre que um Ente tem um poder expresso na Constituição,
implicitamente tem os poderes necessários para bem exercê-lo. Na hipótese, o Estado, por ser competente para legislar
sobre segurança pública, é competente para legislar os termos – observada a Constituição da República – que vão
orientar a atuação das Polícias Civil e Militar.

“V – serviço postal”
ADPF 222, Relatora Ministra Carmen Lúcia (julgado de 2019): o STF entendeu que uma lei municipal que
tratava da entrega e distribuição de correspondência, e da proibição de entrega em determinados horários, violava a
competência privativa da União para legislar e administrar o serviço postal.

O STF entende que o serviço postal é serviço público e não atividade econômica, e portanto, não há
concorrência na entrega de correspondências, aplicando-se a lógica da exclusividade (regra no serviço
público).

“VI – sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;”


RE 561.836, Relator Ministro Luiz Fux (Tema 5 da Repercussão Geral): discutia-se a conversão do padrão
monetário de cruzeiro real para URV (direito aos 11,98%). O STF disse que há competência privativa da União para
legislar sobre a matéria. A conversão de um padrão monetário se insere no sistema monetário, cuja competência é
privativa da União.
Toda discussão sobre criptomoedas. Hoje tem havido mais autorregulação do que propriamente uma regulação
estatal. Mas quando alguém regular, há de ser a União.

“VII – política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;”

ADI 5173, Relator Ministro Gilmar Mendes (dezembro de 2019): discussão sobre lei estadual que impunha lei e
forma para cumprimento de dever de informação ao usuário de plano de saúde quanto à alteração de rede credenciada. O
STF disse que essa norma diz respeito a seguro-saúde (plano de saúde é um seguro de saúde), e a competência é
privativa da União. Lei estadual é formalmente inconstitucional.
ADI 4704, Relator Ministro Luiz Fux (2019): lei estadual que tratava das condições e coberturas que as
seguradoras deveriam fornecer. Competência privativa da União para legislar sobre seguros.

“VIII – comércio exterior e interestadual;”

ADI 750, Relator Ministro Gilmar Mendes (publicado em 2018): lei do Estado do Rio de Janeiro que dispunha
sobre obrigatoriedade de prestação de informações nas embalagens de produtos alimentícios comercializados no Estado
do Rio de Janeiro. O STF entendeu que não havia justificativa plausível para o Estado do Rio de Janeiro, à luz de suas
peculiaridades regionais, ter uma norma sobre informações em embalagens de produtos alimentícios, e outra regra em
outros Estados. Isso aumentaria muito o custo de empresas que operam no âmbito interestadual (teriam que fazer
um rótulo por Estado) sem nenhum benefício claro adicional que atendesse a peculiaridades regionais do Rio. O
Supremo entendeu que essa norma violava a competência da União para legislar sobre comércio exterior e interestadual

ADI 3813, Relator Ministro Dias Toffoli (2015): “é formalmente inconstitucional a lei estadual que cria
restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que
tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por
outros países. A matéria é predominantemente de comércio exterior interestadual”.

“X – regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;”.


“XI – trânsito e transporte”
ADI 4551, Relatora Ministra Carmen Lúcia (segundo semestre de 2020): lei do Estado do Rio Grande do Norte que
estabelecia programa de inspeção e manutenção veicular da frota do Estado quanto à emissão de poluentes e
ruídos. Alegava-se que era inconstitucional por violação da competência privativa da União para legislar sobre trânsito e
transporte. O STF disse “Concessão de serviço público. Norma indissociável da previsão legal de cobrança de
tarifa. Inconstitucionalidade formal por usurpação da competência privativa da União para legislar sobre trânsito
e transporte”.

ADPF 514, Relator Ministro Edson Fachin (2018): tratava de uma lei municipal que disciplinava sobre
transporte de animais. O STF entendeu que essa lei seria inconstitucional porque a matéria de transporte de animais
se insere na competência para legislar sobre transporte (privativa da União).

ADI 2137, Relator Dias Toffoli: lei estadual do RJ que dispunha sobre cancelamento de multas de trânsito
anotadas em rodovias estaduais em certo período relativas a determinada espécie de veículo. O STF disse que “somente
a União pode anistiar ou perdoar as multas aplicadas pelos órgãos responsáveis, restando patente a competência
privativa da União em questão”. Nessa hipótese, a multa havia sido aplicado por entidade federal (PRF), mas se fosse
pelo DETRAN (estadual) poderia o ERJ cancelar.

RE 1054110, Relator Luis Roberto Barroso (2019, Tema 697 da RG): “a proibição ou restrição de atividade de
transporte privado individual por motorista cadastrado em aplicativo é inconstitucional por violação aos princípio da
livre iniciativa e da livre concorrência, e no exercício da sua competência para regulamentação e fiscalização de
transporte privado individual de passageiros os Municípios e o DF não podem contrariar os parâmetros fixados pelo
legislador federal”.
Esse foi o caso UBER. Premissa importante: o “serviço” prestado no transporte individual de passageiros, que
concorre com o táxi, não foi considerado pelo STF um serviço público, mas sim uma atividade econômica sobre
regime de livre iniciativa, embora intensamente regulada. Afirmou também a competência legislativa da União para
regulamentar, reconhecendo, portanto, a inconstitucionalidade formal de leis estaduais e municipais sobre a
matéria.

“XVI – organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões”.

ADI 3870, Ministro Luis Roberto Barroso (segundo semestre de 2019): lei estadual de SP que dispensava os
músicos que realizassem shows naquele Estado da apresentação de carteira na ordem dos músicos. Disse o STF
que a competência para legislar sobre as condições do exercício das profissões é privativa da União, e que não cabe à lei
estadual regular as condições para o exercício da profissão de um músico, mesmo que a pretexto de garantir a atuação
dos artistas. Inconstitucionalidade formal.

ADI 3587, Ministro Gilmar Mendes: lei do DF que disciplinava atividade de transporte de bagagens em
terminais rodoviários do DF. Reconheceu também a inconstitucionalidade formal, violação à competência da União
para legislar sobre trânsito e transporte.

“XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública
dos Territórios, bem como organização administrativa destes;”.

Houve uma alteração nessa competência pela EC 69/2012. A competência para legislar sobre a organização
do Poder Judiciário e do MP do DF e Territórios é da União, mas a União só tem competência para legislar sobre a
Defensoria Pública dos Territórios (e não do DF, cuja competência é do DF).
Os Estados, por outro lado, têm competência para legislar sobre seu Judiciário, seu MP e sua Defensoria,
observadas as normas gerais, por sua autonomia política. O DF, por sua natureza sui generis, é que se submete a essa
regra específica.

Resumindo: DF  Legisla sobre a Defensoria do DF.


Estados  Legisla Poder Judiciário + Defensoria + MP.

“XX – sistemas de consórcios e sorteios”


Súmula vinculante 2: “É inconstitucional a lei ou ato normativo Estadual ou Distrital que disponha sobre sistemas de
consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias”.

Competência privativa da União. Esse tópico vai ser desenvolvido mais adiante quando forem tratadas as
competências do Estado no art. 25 e seguintes.
“XXIV – diretrizes e bases da educação nacional”

ADI 3713, Relator Ministro Marco Aurélio (2019): compete à União legislar sobre diretrizes e bases da
educação, incluída a disciplina relativa à confecção, emissão e registro de diploma por entidade de ensino superior
(universidades públicas ou privadas).

ADI 5341, Relator Ministro Edson Fachin (segundo semestre de 2019): o STF considerou formalmente
inconstitucional lei estadual que disciplinava revalidação de diploma obtido em universidade estrangeira. Matéria
inerente a diretrizes e bases da educação, sujeita à competência privativa da União.
Possibilidade de utilização de títulos não validados de ensino superior do Mercosul também é competência
privativa da União.
Internacionalização de títulos acadêmicos de mestrado e doutorado: também competência privativa da União
(ADI 4720, Ministra Carmen Lúcia).

ADI 2501: invade a competência da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação a norma estadual
que, ainda que de forma indireta, subtrai do Ministério da Educação a competência para autorizar, reconhecer e
credenciar cursos de instituições privadas superiores. Credenciar novas faculdades é competência da União.

“XVI – atividades nucleares de qualquer natureza”


ADI 329: “ao estabelecer a prévia aprovação da Assembleia Legislativa estadual, ratificada por plebiscito, como
requisito para implementação de instalações industriais para produção de energia nuclear do Estado, invade a
Constituição Catarinense a competência legislativa privativa da União”.
Dispositivo estadual que condiciona a instalação de uma usina nuclear no Estado à autorização da Assembleia
Legislativa estadual e ao plebiscito trata de matéria nuclear, e está sujeita à competência privativa da União.

“XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e
para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;”.

ADI 5333, Relatora Ministra Carmen Lúcia (2020): “ a expressão ‘interesse social’ para os fins de se
promover a regularização fundiária passível de dispensa de licitação prevista na al. f do inc. I do art. 17 da Lei
8.666/1993, sujeita-se à regulamentação da União, dos Estados e Municípios, conforme peculiaridades de cada
ente federado”.

“Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência


de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e
obedecerá às seguintes normas:
I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da
administração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as
entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de
concorrência, dispensada esta nos seguintes casos:

f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão
de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados no âmbito de
programas habitacionais ou de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou
entidades da administração pública; (Redação dada pela Lei nº 11.481, de 2007)”

Não há, portanto, competência exclusiva da União para regulamentar a expressão “interesse social” para fins de
caracterização da hipótese de dispensa de licitação descrito no art. 17, I, “f”, da Lei 8666/93. Ao contrário, essa
competência compartilhada da União, Estados e Municípios, conforme as peculiaridades de cada Estado.
“Lei estadual na qual se indique como interesse social para regularização fundiária de ocupação de áreas
públicas: competência do ente estadual”. A lei estadual que indicava como interesse social para regularização fundiária
de ocupação em áreas públicas: o STF afirmou a competência do Estado na hipótese.
“Ausência de descumprimento da competência legislativa da União para dispor sobre normas gerais de
licitação (inc. XXVII do art. 22 da Constituição da República)”.

ADI 4658, Ministro Edson Fachin (2019): “Usurpa a competência da União para legislar sobre normais gerais
de licitação norma estadual que prevê ser dispensável o procedimento licitatório para aquisição por pessoa jurídica de
direito interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração Pública, e
que tenha sido criado especificamente para este fim específico, sem a limitação temporal estabelecida pela Lei
8.666/1993 para essa hipótese de dispensa de licitação”.
Considerou-se que essa matéria era sim norma geral de licitações e contratos, e portanto, formalmente
inconstitucional a lei que disciplinava a matéria (dispensa de licitação para aquisição de bens produzidos por órgãos e
entidades da Administração Pública).

ADI 4748, Ministra Carmen Lúcia (2019): “Ao se determinar que o poder público adquira o mínimo de 65%
(sessenta e cinco por cento) dos bens e serviços definidos em sistema de registro de preços, na Lei estadual se invadiu a
competência privativa da União para estabelecer normas gerais sobre licitação e contratação, em todas as
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, prevista no inc. XXVII do art. 22 da Constituição da República. No § 4º do art. 15 da Lei
8.666/1993 se dispõe que ‘a existência de preços registrados não obriga a Administração a firmar as contratações que
deles poderão advir, ficando-lhe facultada a utilização de outros meios, respeitada a legislação relativa às licitações,
sendo assegurado ao beneficiário do registro preferência em igualdade de condições”.
ADI 3735, Ministra Carmen Lúcia (2016): “A igualdade de condições dos concorrentes em licitações,
embora seja enaltecida pela Constituição (art. 37, XXI), pode ser relativizada por duas vias: (a) pela lei, mediante o
estabelecimento de condições de diferenciação exigíveis em abstrato ; e (b) pela autoridade responsável pela condução
do processo licitatório, que poderá estabelecer elementos de distinção circunstanciais, de qualificação técnica e
econômica, sempre vinculados à garantia de cumprimento de obrigações específicas. Somente a lei federal poderá, em
âmbito geral, estabelecer desequiparações entre os concorrentes e assim restringir o direito de participar de licitações
em condições de igualdade. Ao direito estadual (ou municipal) somente será legítimo inovar nesse particular se tiver
como objetivo estabelecer condições específicas, nomeadamente quando relacionadas a uma classe de objetos a
serem contratados ou a peculiares circunstâncias de interesse local. Ao inserir a Certidão de Violação aos Direitos do
Consumidor no rol de documentos exigidos para a habilitação, o legislador estadual se arvorou na condição de
intérprete primeiro do direito constitucional de acesso a licitações e criou uma presunção legal, de sentido e alcance
amplíssimos, segundo a qual a existência de registros desabonadores nos cadastros públicos de proteção do
consumidor é motivo suficiente para justificar o impedimento de contratar com a administração local. Ao dispor
nesse sentido, a Lei estadual 3.041/2005 se dissociou dos termos gerais do ordenamento nacional de licitações e
contratos e, com isso, usurpou a competência privativa da União de dispor sobre normas gerais na matéria (art. 22,
XXVII, da CF/1988)”.
Essas desequiparações entre os licitantes só podem ser ditadas por lei federal. Considerou que é a norma
geral de licitações e contratos, e mesmo a lei federal deve promover uma desequiparação que seja compatível com
os princípios da proporcionalidade e da isonomia. Um discrime arbitrário, ainda que veiculado em lei federal,
seria inconstitucional (não formalmente, porque a competência é da União, mas materialmente inconstitucional por ser
um discrimen irrazoável).

“XXIX – propaganda comercial”

ADI 5424, Relator Ministro Dias Toffoli (2018): Era uma lei do Estado de Santa Catarina que vedava a propaganda dos
medicamentos nos meios de comunicação. “A Lei 16.751/2015 do Estado de Santa Catarina, ao vedar a propaganda de
medicamentos e similares nos meios de comunicação sonoros, audiovisuais e escritos daquele Estado, usurpou a
competência privativa da União para legislar sobre propaganda comercial (art. 22, inciso XXIX, da Constituição),
especificamente em tema de medicamentos (art. 220, § 4º, da CF/88), além de ter contrariado o regramento federal
sobre a matéria, que permite que medicamentos anódinos e de venda livre sejam anunciados nos órgãos de
comunicação social, com a condição de conterem advertências quanto ao seu abuso, conforme indicado pela
autoridade classificatória’ (Lei Federal 9.294/1996, art. 12)”.

Parágrafo único: “Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias
relacionadas neste artigo”.

Possibilidade de delegação via lei complementar de matéria de competência da União para os Estados.
Requisito formal: lei complementar. Requisito material: delimitação de objeto (não pode ser delegação genérica, se
não seria renúncia e não delegação, e há precariedade). Discute-se sobre a possibilidade de delegação a alguns
Estados ou a todos necessariamente (conforme estudado anteriormente).
ADI 4212, Ministra Rosa Weber (2020): o art. 107 do CTB confere ao poder competente a regulação das
condições técnicas e de segurança de acordo com as peculiaridades de cada Ente. Não se trata de autorização para
legislar, nos termos do art. 22, parágrafo único, mas de mera possibilidade de regulamentação por meio de
estabelecimento de normas técnicas de conforto e segurança a serem atendidos para a exploração da atividade de
transporte coletivo de passageiros por veículos de aluguel. Desnecessária a utilização da via da lei complementar, uma
vez que se não se trata da delegação de competência para legislar sobre trânsito e transporte. Não era propriamente
delegação, e por isso era válida a lei ordinária que dava poder ao Estado para essa regulamentação.

 Competências comuns (art. 23)


Art. 23 da CR/88: “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
[...]
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de
deficiência;

A competência para prestar serviços de saúde é comum, compartilhada entre União, Estados e Municípios, e há
o dever de responsabilidade solidária (arts. 196 e seguintes). Isso acaba gerando uma jurisprudência muito ruim, porque
afirma uma responsabilidade solidária em matéria genérica de saúde (fornecimento de medicamentos, prestações
médicas, tratamentos, etc.) e isso gera muitos problemas administrativos e econômicos de coordenação. Exemplo: se
alguém precisa de um remédio muito caro, e são condenados de forma solidária, há o risco de Estado e Município
comprarem o mesmo remédio e só precisar de um. Prejuízo ao Erário.

“III –proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos,
as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos”.

Conexão com as competências que estão nos incisos seguintes.

“IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico,
artístico ou cultural;”

“V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação;”

Um caso correlato a essas competências é a ADI 1950, Ministro Eros Grau: discutia- se sobre o benefício da
meia-entrada assegurado aos estudantes matriculados em estabelecimentos de ensino em relação a casas de diversão,
esporte, cultura e lazer.
“Lei 7.844/1992 do Estado de São Paulo. Meia entrada assegurada aos estudantes regularmente matriculados
em estabelecimentos de ensino. Ingresso em casas de diversão, esporte, cultura e lazer. (...) Se de um lado a
Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a
garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto (arts. 23, V; 205; 208; 215; e 217,
§3º, da Constituição). Na composição entre esses princípios e regras, há de ser preservado o interesse da coletividade,
interesse público primário. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer são meios de complementar a formação
dos estudantes”.
Considerou-se que a lei estadual era constitucional, seja com base na competência comum de promover o acesso
à cultura e ao lazer, seja, no plano material, por se tratar de restrição proporcional à livre iniciativa.

“VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;”


Esse assunto será estudado mais adiante.

“IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de


saneamento básico;”.

A competência para prestar saneamento básico é comum, assim como as matérias que dizem respeito à
proteção do meio ambiente. Foi publicado o edital de concessão de CEDAE, e isso gera uma discussão muito grande:
se é do Estado, se é da Região Metropolitana ou se é dos Municípios. Esse é o caso mais importante do ERJ hoje, tendo
em vista a repercussão financeira com a venda da CEDAE e também a melhora no serviço. Aspectos de Direito
Administrativo e de Direito Constitucional.
Inicialmente é importante trazer uma decisão do Supremo a ADI 1842:

ADI 1842, Relator Ministro Gilmar Mendes (2013): “O interesse comum inclui funções públicas e serviços que
atendam a mais de um Município, assim como os que, restritos ao território de um deles, sejam de algum modo
dependentes, concorrentes, confluentes ou integrados de funções públicas, bem como serviços supramunicipais. (...) O
art. 23, IX, da CF conferiu competência comum à União, aos Estados e aos Municípios para promover a melhoria das
condições de saneamento básico. Nada obstante a competência municipal do poder concedente do serviço público de
saneamento básico, o alto custo e o monopólio natural do serviço, além da existência de várias etapas – como
captação, tratamento, adução, reserva, distribuição de água e o recolhimento, condução e disposição final de esgoto –
que comumente ultrapassam os limites territoriais de um Município, indicam a existência de interesse comum do
serviço de saneamento básico”.
Essa frase tem muita importância. A competência “originária” para prestar o saneamento básico é do
Município. Porém, determinados fatores fazem com que haja interesse comum dos Municípios Limítrofes
(elementos: alto custo, monopólio natural da empresa, além da existência de várias etapas, como dito na decisão). Isso
faz com que seja quase inevitável o monopólio natural, ou seja, que um Ente concentre a infraestrutura necessária
para prestar os serviços de água e esgoto.
“A função pública do saneamento básico frequentemente extrapola o interesse local e passa a ter natureza de
interesse comum no caso de instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, nos termos
do art. 25, § 3º, da CF”. Se foi criada uma Região Metropolitana, uma microrregião ou uma aglomeração urbana,
o interesse é comum e a titularidade é da Região Metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião.
“Para o adequado atendimento do interesse comum, a integração municipal do serviço de saneamento básico
pode ocorrer tanto voluntariamente, por meio de gestão associada, empregando convênios de cooperação ou
consórcios públicos, consoante o arts. 3º, II, e 24 da Lei federal 11.445/2007 e o art. 241 da CF, como
compulsoriamente, nos termos em que prevista na lei complementar estadual que institui as aglomerações urbanas.
(...)”. O que é importante destacar é que, como há um interesse comum, os Municípios limítrofes podem se unir
tanto de maneira negocial/voluntária, por convênios ou consórcios públicos (previsão constitucional: art. 241 da
CR/88), quanto por aglomerações urbanas, regiões metropolitanas ou microrregiões (instituídas pelo art. 25, III,
§3º da CR/88, por lei complementar estadual).

O STF deliberou sobre um aspecto muito importante: sobre como devem ser organizadas as regiões
metropolitanas ou instrumentos congêneres. A lei complementar estadual que define isso tem certa
discricionariedade para definir os critérios de governança, ou seja, como vão se dar as deliberações, qual o peso
do voto do representante do Estado e dos Municípios. Mas essa discricionaridade não é plena: se por um lado não
se extrai da Constituição a necessidade de representação paritária (não precisa ter o mesmo peso o voto de cada
Município e do Estado), por outro lado não pode haver preponderância de um Ente sobre o outro, porque todos
esses Entes são autônomos (relação de coordenação entre eles, e não relação de subordinação). Estabelecidos
esses parâmetros de uma relativa equivalência de forças, a definição concreta de como vai ser o critério
deliberativo vai ser feita pela lei complementar estadual que institui a região metropolitana.

A respeito especificamente da privatização da CEDAE, foi proferido um parecer importante da PGE pelo
Procurador André Cyrino (que está na Banca da PGE): parecer 09/2019ARCY/PG17 (pontos destacados abaixo são
retirados desse parecer). O quesito central que o parecer se propôs a responder foi o seguinte: “No que toca aos serviços
públicos de fornecimento de água e esgotamento sanitário, é viável a atribuição ao ERJ, pelos titulares dos serviços
(entendidos aqui como o Rio Metrópole e municípios não metropolitanos), do exercício das funções de organização,
regulação, fiscalização, delegação da prestação dos serviços e gestão dos contratos com os operadores de tais
serviços, conforme o modelo apresentado nos tópicos anteriores?”
O primeiro ponto que André Cyrino trata é da ADI 1842, vista acima. Ele dá bastante ênfase ao fato de ter
havido mudança de orientação do STF. Primeiro uma definição, e depois uma mudança. Definição: afirmar que, em
regra, a competência para prestar esses dois serviços públicos (fornecimento de água e recolhimento de esgoto) é
ordinariamente do Município, e, caso instituída a região metropolitana, a competência passa a ser da região
metropolitana, e não do Estado.
Ele diz: “[...] a titularidade dos serviços públicos metropolitanos não é nem exclusiva do Estado, nem
exclusiva dos municípios; todos os entes federativos integrantes da região metropolitana a compartilham e, por
conseguinte, devem ter poder de decisão e direção dos rumos dos serviços compartilhados. Superou-se, assim, o
entendimento pretérito de que, na hipótese de criação de uma região metropolitana por lei complementar estadual, o
serviço público de saneamento básico passaria a ser titularizado pelo Estado que a instituiu. [...]”.

Além disso: “a RM, embora instituída por lei complementar do Estado, é o resultado do somatório de interesses dos
Municípios e do Estado do Rio de Janeiro”. Não é porque foi criada por uma lei complementar estadual que é uma
autarquia estadual. Ela é, na verdade, o resultado da união da vontade dos Municípios e do próprio Estado.

“Assim a capacidade de cada ente federado, inclusive do Estado, de decidir sobre seus rumos deve ser
proporcional, por imposição do STF. [...]. De toda forma, a RM, per se, é a titular dos serviços de interesse comum,
sendo, portanto, a responsável pela sua prestação”. O titular do serviço de interesse comum é a Região
Metropolitana, e, por isso, ela é responsável pela sua prestação.
“É diante desse quadro que se indaga: em que medida o Estado do Rio de Janeiro poderia ser delegatário de
funções de organização, regulação, fiscalização, prestação dos serviços e de gestão dos contratos com os operadores
dos serviços de saneamento básico que serão objeto de concessão? Em outras palavras: como é possível que, por meio
de delegação dos titulares do serviço, o Estado passe a figurar como um ator central na implementação do modelo
sem ser o seu titular?”.
Ele diz que é sim possível pois essa é uma competência delegável e ele parte de uma distinção clássica de
Direito Público: distinção entre delegação e renúncia de competências.

Renúncia  É incompatível com a indisponibilidade do exercício da função pública. O titular não pode
simplesmente se abster de exercê-la. Por outro lado a Delegação é possível.

Ele diz que a própria possibilidade de delegação tem guarida no artigo 241 que fala em gestão associada quanto
na lei do saneamento básico. “Realmente, trata-se de uma das muitas possíveis formas de cooperação interfederativas .
O alargado art. 241 da Constituição prevê a possibilidade, na forma da lei, de "gestão associada de serviços públicos,
bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços
transferidos ". A Constituição do Estado do Rio de Janeiro também contém previsão semelhante no parágrafo único do
artigo 65. Nesse mesmo diapasão, o artigo 8°, da Lei Geral de Saneamento Básico (Lei Federal nº 11.445/2007),
reconhece a possibilidade de delegação da organização, da regulação, da fiscalização e da prestação de serviços de
saneamento. Veja-se:
Art. 8° Os titulares dos serviços públicos de saneamento básico poderão delegar a organização, a regulação, a
fiscalização e a prestação desses serviços, nos termos do art. 241 da Constituição Federal e da Lei nº l1107, de 6 de
abril de 2005 [Lei de Consórcios Públicos']. (destacou-se)
Tem-se, assim, uma hipótese de gestão associada de serviços de interesse comum, como é o caso dos serviços
de saneamento básico, o que pode envolver delegação. Observe- se que no bojo da ADI nº 1.842/RJ, em mais de uma
oportunidade, o STF ratificou os vários caminhos de gestão associada. [...]”.
Ele diz que a própria ADI prevê a possibilidade de gestão associada. E na hipótese da CEDAE não há
renúncia, e sim mera delegação, porque a titularidade do serviço remanesce com o Ente originariamente
competente.

“Se a renúncia de competências constitucionais é inválida, por outro lado, a delegação voluntária, via ato
infralegal, entre os entes federados, de competências constitucionais específicas é viável, desde que observados alguns
cuidados, a fim de se evitar que uma suposta delegação configure, na prática, verdadeira renúncia. Quais são as
cautelas necessárias?
O art. 11 da lei de processo administrativo estadual (Lei n° 5.427/2009) é um bom começo. Segundo a letra do
dispositivo, a delegação de competências é possível, desde que parcial; vale dizer: é vedada a transferência de todas as
funções do ente delegante, sob pena de se caracterizar renúncia de competência. Entende-se que não há renúncia,
quando "a competência continua nas mãos da Administração Pública se esta permanece com o comando da atividade
administrativa, como por exemplo, com os poderes de atuar ou não, de revisar, de desistir, etc"
A delegação proposta no projeto, em primeira análise, não implica renúncia. Trata-se de transferência
pontual de competências, as quais podem ser retomadas. Isto é: o titular continua com a possibilidade de recuperar o
serviço, sabendo-se que é revogável o instrumento negociai indicado (i. e. o convênio de cooperação), ainda que seja
necessário indenizar eventuais prejuízos”.
a) Se é pontual é serviço de água e esgoto emu ma localidade.
b) É TEMPORAl, há um prazo podendo ser retomada.

Ele extrai que a modelagem institucional da concessão da CEDAE é constitucional, resolvendo tanto a
questão da distribuição de competências, quanto a questão da delegação dessas atividades ao Estado. Por fim,
recomenda que: “fique claro que a competência para firmar os contratos de concessão permaneça com os titulares do
serviço público (Le.: Região Metropolitana e municípios não metropolitanos), ainda que haja a delegação de
determinadas competências ao Estado”. Os Municípios que não entraram na região metropolitana remanescem
como titulares originários da competência. Para os que ingressaram, a competência passa a ser da região
metropolitana.
“Para tanto, sugiro que o Estado do Rio de Janeiro exerça função análoga a de um mandatário sem
representação, não figurando como parte nos contratos de concessão. O Estado, na verdade, não exercerá a função de
concedente, mas de uma espécie de intermediário e coordenador. Logo, é recomendável que o Estado não assine os
contratos como concedente, mas como interveniente anuente”.
“Até para que se deixe clara a titularidade dos envolvidos, deverão figurar como concedentes nos contratos de
concessão: a Região Metropolitana, bem como cada um dos Municípios que não integrar a região”.

“Sublinho, por outro lado, que não vislumbro, em princípio, maiores problemas quanto ao Estado do Rio de Janeiro
ser o responsável pela modelagem, organização e gestão da licitação e pela formatação da divisão dos blocos de
municípios a serem licitados. Também não há obstáculo jurídico a que a AGENERSA, por sua vez, seja responsável
pela regulação e fiscalização da prestação do serviço . Aliás, destaco que a delegação das funções de regulação e
fiscalização dos serviços de saneamento básico pelos titulares a uma agência reguladora pertencente à estrutura de
outro ente federativo (no caso, a agência reguladora estadual AGENERSA), é viável a luz da lei e da jurisprudência do
STF”.
Assim, essas são as principais razões que levaram André Cyrino nesse parecer a concluir pela legitimidade da
modelagem institucional de concessão da CEDAE. O edital foi lançado em dezembro de 2020, e em 2021 a questão vai
acelerar (a previsão é que a concessão se dê em abril de 2021). Essas são as razões do Estado.
Os Municípios que não estão satisfeitos com essa modelagem sustentam que a competência é municipal, como o
próprio STF reconheceu na ADI citada, e o Estado estaria exercendo de maneira abusiva as suas atribuições, usurpando
uma competência não só concedida pela Constituição, mas já reconhecida pelo próprio STF como competência
municipal e não estadual.

Art. 23 (continuação):
“XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos
hídricos e minerais em seus territórios”.

ADI 4606, Relator Ministro Alexandre de Moraes (2019): “As providências enumeradas no art. 23, XI, da CF –
registro, fiscalização e acompanhamento – possibilitam o controle pelos demais entes federativos das quotas-partes

DE
repassadas a título de compensação financeira pelos órgãos federais, com a possibilidade de criação de obrigações
administrativas instrumentais, a serem observadas pelas concessionárias instaladas nos respectivos territórios. Os
SERR
Estados, Distrito Federal e Municípios não possuem competência para definir as condições de recolhimento das
compensações financeiras de sua titularidade, ou mesmo para arrecadá-las diretamente, por intermédio de seus
órgãos fazendários. Extrapola a competência comum do art. 23, XI, da CF a instituição de infrações e penalidades
pelo atraso no pagamento das compensações financeiras (obrigação principal), bem como sua arrecadação
diretamente pela Secretaria de Fazenda Estadual”.

Então, as condições de recolhimento, por exemplo, dos royalties (exploração de recursos repassados pela União Federal)
não podem ser definidas pelo Estado. Quem arrecada é a União, que lhes repassa. O Estado não pode estabelecer
infrações e penalidades pelo atraso no pagamento das compensações financeiras nem que a arrecadação dar-se-á
pela Secretaria de Fazenda.

Obs: Tanto a competência legislativa quanto a competência arrecadatória é da União Federal.

“XII – estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito”.

ADI 3610: “Profissão de motoboy. Regulamentação. Inadmissibilidade. (...) Competências exclusivas da União.
(...) É inconstitucional a lei distrital ou estadual que disponha sobre condições do exercício ou criação de profissão,
sobretudo quando esta diga à segurança de trânsito” (seja porque viola competência privativa da União para legislar
sobre as condições para exercício de profissões, seja porque viola competência privativa da União para legislar sobre
trânsito e transporte).

 Competências legislativas concorrentes (art. 24):

São aquelas que se submetem a um condomínio legislativo entre União, Estados e Municípios. Os Municípios,
embora não previstos no caput, inserem-se nessas matérias por força do art. 30, II, que prevê a competência para
suplementar a legislação federal e estadual no que couber.

Art. 24 da CR/88: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I — direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico. II – orçamento;”.
União: normas gerais. Estados e Municípios: normas específicas (como visto na aula anterior).

“IV — custas dos serviços forenses”.


Custas e emolumentos cobradas pelo Poder Judiciário espécies tributárias, classificando-se como taxas
(natureza jurídica).
ADI 1624: “Custas e emolumentos são espécies tributárias, classificando-se como taxas. (...) À União, ao
Estado-membro e ao Distrito Federal é conferida competência para legislar concorrentemente sobre custas dos
serviços forenses, restringindo-se a competência da União, no âmbito dessa legislação concorrente, ao
estabelecimento de normas gerais, certo que, inexistindo tais normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades (CF, art. 24, IV, §§ 1º e 3º)”.
O nome dessa competência plena a que se refere a ADI 1624 é a competência supletiva.

Cuidado para não confundir:


- competência suplementar/complementar: competência do Estado em matéria de competência concorrente
para editar normas especificas que concretizem as normas gerais federais.
- competência supletiva: competência do Estado para, na ausência de normas gerais federais, editar não apenas
normas específicas, mas também normas gerais.
- competência remanescente/residual: tudo o que não foi conferido de maneira expressa à União ou ao
Município é competência do Estado (art. 25, §1º).

“V – produção e consumo”.
Como mencionado anteriormente, a matéria de Direito do Consumidor, sujeita à competência concorrente,
enseja a edição de muitas leis estaduais que entram em conflito aparente com competências privativas da União.

ADI 3155, Relator Ministro Marco Aurélio (segundo semestre de 2020): “proteção do consumidor. Ausente
intervenção direta no núcleo de atuação das instituições voltadas ao exercício de atividade mercantil ou financeira,
surge constitucional norma estadual impor em caráter obrigatório a instalação de itens de segurança em caixas
eletrônicos, reduzindo riscos à integridade dos usuários dos serviços bancários”. Então, embora a União tenha
competência privativa para legislar sobre serviços bancários, entendeu-se que essa norma específica era inerente à
proteção do consumidor, e a lei é constitucional com base na competência concorrente para legislar sobre Direito do
Consumidor.

ADI 3874, Relator Ministro Luis Roberto Barroso (2019, segundo semestre): era uma lei do ERJ. “Lei
fluminense que proíbe a cobrança pelos estabelecimentos de ensino sediados no Estado do Rio por provas de segunda
chamada, provas finais ou equivalentes, não podendo o estudante ser impedido de realizar essas provas por não ter
pago esses valores, é constitucional. Ao estabelecer regras protetivas para os estudantes mais amplas do que as
federais, quanto à cobrança dessas provas, o Estado do Rio de Janeiro atuou dentro da área de sua competência
concorrente para legislar sobre direito do consumidor e educação”.

“VI — florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição”.

ADI 4069: “observados os procedimentos impostos por leis federais, cabe aos Estados não traçar
propriamente as diretrizes ambientais já dispostas na lei federal, mas exercer sua competência concorrente para
estabelecer, dentro desses requisitos, sua normatização própria”. Normas específicas dentro das normais gerais
federais. A matéria de fundo era o zoneamento ecológico econômico: “a lei impugnada não trata do zoneamento
propriamente dito, que requer uma série de procedimentos, mas da normatização de critérios mínimos que sejam
concretizados no Estado do Rio. Ateve-se, assim, a exercer sua competência concorrente, observadas as normas
gerais federais. A legislação federal estipula disciplina geral, que parece não deixar margem para restrições
estabelecidas pela lei estadual no que concerne à exigibilidade de elaboração do estudo EIA/RIMA . Não se admite
que no uso de sua competência residual defina o Estado regramento seja afastada a aplicação do determinado
pelas normas gerais federais. Inconstitucionalidade da lei estadual que, a título de complementação das normas gerais
editadas pela União, dispensa a elaboração de EIA/RIMA, nos termos por ela previstos”.
A lei estadual que dispensa o EIA/RIMA é inconstitucional porque não complementa as normas federais,
mas sim dispensa o que é exigido pela lei federal e é necessário para proteção do meio ambiente.

ADI
se que os 5996, editem
Estados Relatornormas
Ministromais
Alexandre de Moraes
protetivas ao meio(2020): “A com
ambiente, Lei 289/2015 do Estado
fundamento em suasdo Amazonas, ao proibir
a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal,
perfumes e seus componentes, não invade a competência da União para legislar sobre normas gerais em relação à
proteção da fauna. Competência legislativa concorrente dos Estados (art. 24, VI, da CF). A sobreposição de opções
políticas por graus variáveis de proteção ambiental constitui circunstância própria do estabelecimento de competência
concorrente sobre a matéria. CASTR Em linha de princípio, admite-

O
peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse, conforme o caso”.
O STF entendeu que a norma era formalmente constitucional, ou seja, não se imiscuía na competência da União
para editar normas gerais sobre a proteção da fauna. Matéria de competência concorrente. Pode haver diferentes opções
políticas nos diferentes Entes Federativos. Admitiu-se que o Estado estabeleça normas obrigatórias aos agentes
econômicos mais protetivas ao meio ambiente, desde que atendam a peculiaridades regionais e tenham
conformidade com a preponderância do interesse.

RE 586224: “O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de
seu interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes
federados (art. 24, VI, c/c 30, I e II, da CRFB)”.

Os Municípios entram na competência concorrente por força do art. 30, II, como mencionado
anteriormente. Normas específicas nos termos das normas mais gerais estabelecidas pela União e pelo Estado.

Agora iremos estudar o caso em que o STF analisou a revogação das Resoluções de proteção de
manguezais pelo CONAMA. Relatora Ministra Rosa Weber. O que estava em discussão era a Resolução 500 de 2020
do CONAMA, que revogou outras normas que regulamentavam licenciamento ambiental de atividades de
irrigação e protegiam áreas de proteção permanente.
O STF entendeu que a pura e simples revogação implicaria na violação ao princípio da vedação ao
retrocesso, tendo em vista que não se substituiu a resolução revogada por outra , e que não houve demonstração de
que, na ausência dessas resoluções, haveria proteção adequada ao meio ambiente. Foram acolhidas as ADIs, e
julgada essa resolução inconstitucional.

“VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;”


ADI 3336, Ministro Dias Toffoli (2020): “Embora a União detenha a competência exclusiva para ‘instituir
sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso’ (art. 21,
XIX, da CF/88), além de competência privativa para legislar sobre águas (art. 22, IV, da CF/88), não se há de olvidar
que aos estados-membros compete, de forma concorrente, legislar sobre proteção ao meio ambiente (art. 24, VI e VIII,
CF), o que inclui, evidentemente, a proteção dos recursos hídricos. Esse entendimento mostra-se consentâneo,
inclusive, com a previsão constitucional que defere aos estados-membros o domínio das águas superficiais ou
subterrâneas. A legislação impugnada está em conformidade com a Constituição Federal, na medida em que
regulamentou, em nível estadual, a cobrança pelo uso da água, sem incorrer em violação do texto constitucional ou em
invasão de competência legislativa própria da União. Embora a União detenha a competência para definir as normas
gerais sobre a utilização dos recursos hídricos e a Lei Federal 9.433/1997 tenha estabelecido o arcabouço institucional
da Política Nacional de Recursos Hídricos, o arranjo institucional e as competências dos órgãos estaduais integrantes
do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos deve obedecer aos ditames das leis estaduais, pois os
estados-membros têm autonomia constitucional para formular suas leis de organização administrativa, inclusive para
o setor de recursos hídricos”.

Obs: É constitucional lei estadual que instituiu a cobrança pelo uso da água.

Situação clássica de conflito positivo, ao menos no plano aparente, entre normas


constitucionais de competência, o que inclui a proteção de recursos hídricos (meio ambiente). Embora a União tenha
competência para editar normas gerais sobre recursos hídricos e haja uma lei federal sobre a matéria, os Estados
e têm competência (como corolário da sua capacidade de auto-organização) de estabelecer as normas que devem
regulamentar o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Decisão importante que afirmou a
competência estadual em situação de conflito positivo com regras de competência federal.

“XI – procedimentos em matéria processual”.


Fazer remissão desse inciso para o art. 22, I, porque a competência para legislar sobre processo é privativa
da União, e procedimento é competência concorrente. A dúvida se a matéria é de processo ou de procedimento é
muito frequente.
ADI 2922, Ministro Gilmar Mendes: “O Estado do Rio de Janeiro disciplinou a homologação judicial de
acordo alimentar nos casos específicos em que há participação da Defensoria Pública, não estabelecendo novo
processo, mas a forma como este será executado. Lei sobre procedimento em matéria processual. A prerrogativa de
legislar sobre procedimentos possui o condão de transformar os Estados em verdadeiros "laboratórios legislativos". Ao
conceder-se aos entes federados o poder de regular o procedimento de uma matéria, baseando-se em peculiaridades
próprias, está a possibilitar-se que novas e exitosas experiências sejam formuladas. Os Estados passam a ser
partícipes importantes no desenvolvimento do direito nacional e a atuar ativamente na construção de possíveis
experiências que poderão ser adotadas por outros entes ou em todo território federal. Desjudicialização. A vertente
extrajudicial da assistência jurídica prestada pela Defensoria Pública permite a orientação (informação em direito), a
realização de mediações, conciliações e arbitragem (resolução alternativa de litígios), entre outros serviços, evitando,
muitas vezes, a propositura de ações judiciais. Ação direta julgada improcedente”;
Elemento fundamental do federalismo: experimentalismo. Possibilidade de os Entes menores adotarem
soluções diversas daquelas estabelecidas pelo Ente maior permite que se teste, e isso estimula o experimentalismo, que é
fundamental para a concepção de soluções não ortodoxas para problemas complexos. Algo que pode ser muito arriscado
testar no âmbito da União pode ser testado no âmbito de um Município e, se der certo, pode-se projetar para o âmbito do
Estado ou da União.

“XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;”

ADI proposta pelo Governador do Estado de São Paulo. Lei estadual que disciplinava
o comercio de artigos de conveniência em farmácias e drogarias. Havia uma norma da ANVISA que disciplinava
exclusividade de vendas de medicamentos em drogarias, mas nada dizia sobre a venda de produtos de
conveniência em drogarias. Havia uma lei estadual que autorizava a venda de produtos de conveniência em drogarias.
O STF considerou competente o Estado, afirmando a constitucionalidade, seja pela natureza (comércio local), seja
pelo legitimo exercício da competência suplementar dos legisladores estaduais no campo da defesa da saúde (art.
24, XII, da CR/88), seja pela desproporcionalidade da limitação ao exercício da livre iniciativa.
As agências reguladoras não competem legislar, mas sim promover a normatização dos setores cuja
regulação lhe foi legalmente incumbida. Isso é importante para a afirmação da competência estadual, porque havia
um potencial conflito entre uma norma da agência reguladora e uma lei estadual. “A norma regulatória
federal deve se compatibilizar com a ordem legal, integrar a espécie normativa primária, adaptando e especificando o
seu conteúdo, e não substituí-la ao inovar na criação de direitos e obrigações”. Deve se sujeitar à lei, inclusive à lei
estadual se a competência for estadual. Não há hierarquia, pois se a competência é Estadual é a norma da Anvisa
que tem que se adequar à lei estadual.

ADI 4874 (2019): tratava de resolução da ANVISA que estabelecia limites máximos de alcatrão, nicotina,
monóxido de carbono em cigarros, e restrição de uso de determinados aditivos (substâncias que dão sabor ao cigarro). O
STF entendeu que não havia exorbitância do poder regulamentar, pelo contrário, era algo que se conformava ao poder
regulamentar. Entendeu isso porque a norma especificava os termos da lei e protegia a saúde do cidadão, porque
esses aditivos que dão sabor são muito usados para captar novos fumantes, sobretudo adolescentes e jovens.

ADI 4306, Ministro Edson Fachin (2019): “Nos casos em que a dúvida sobre a
competência legislativa recai sobre norma que abrange mais de um tema, deve o intérprete
acolher interpretação que não tolha a competência que detêm os entes menores para dispor

sobre determinada matéria. (...) É um argumento de típica descentralização e de fortalecimento da Competência dos
entes estaduais, o que é muito importante. A Lei fluminense 5.517, de 2019, ao vedar o consumo de cigarros,
cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, não extrapolou o
âmbito de atuação legislativa, usurpando a competência da União para legislar sobre normas gerais, nem exacerbou a
competência concorrente para legislar sobre saúde pública, tendo em vista que, de acordo com o federalismo
cooperativo e a incidência do princípio da subsidiariedade, a atuação estadual se deu de forma consentânea com a
ordem jurídica constitucional”.

Raciocínio tipicamente de descentralização, de fortalecimento das leis estaduais.


Normas que proíbem fumar em estabelecimentos públicos.

ADI 3937 (2017): caso do amianto. Havia uma lei federal, da década de 90, que proibia a comercialização de
vários tipos de amianto, mas autorizava a comercialização, com restrições, do amianto branco. Por outro lado, havia leis
estaduais que proibiam quaisquer amiantos, inclusive o amianto branco. Era um conflito insuperável (não havia como
compatibilizar).
A matéria é de competência concorrente (proteção do meio ambiente e saúde), e a rigor a norma sobre
comercialização de uma substancia parece ser uma norma geral. A princípio, deveria prevalecer a lei federal. No
entanto, a lei federal violava a dimensão positiva da proporcionalidade, porque não promovia uma proteção
suficiente e adequada para a saúde do trabalhador, porque depois houve certo consenso no plano internacional
de que o amianto faz muito mal à saúde.
Então, o STF reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade dessa lei federal e julgou constitucionais as
leis estaduais.

 Competências dos Estados (art. 25).


Art. 25 da CR/88: “Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição”.

Questão importante: relação entre o chamado poder de autoconstituição do Estado (que se traduz no Poder
Constituinte Decorrente) e a vinculação do Estado à Constituição da República. O Poder Constituinte
Decorrente, que é o poder do Estado-membro editar sua Constituição para se autoconstituir e estabelecer sua estrutura
própria, não é um poder absoluto, devendo obediência aos princípios estabelecidos na Constituição da República.
Mas se se limitar muito esse poder, não será um verdadeiro Poder Constituinte Decorrente, e sim uma
reprodução mecânica da Constituição da República.

ADI 4298, Ministro Cezar Peluso: “No desate de causas afins, recorre a Corte, com frequência, ao chamado princípio
ou regra da simetria, que é construção pretoriana tendente a garantir, quanto aos aspectos reputados substanciais,
homogeneidade na disciplina normativa da separação, independência e harmonia dos poderes, nos três planos
federativos. Seu fundamento mais direto está no art. 25 da CF e no art. 11 de seu ADCT, que determinam aos Estados-
membros a observância dos princípios da Constituição da República. Se a garantia de simetria no traçado
normativo das linhas essenciais dos entes da Federação, mediante revelação dos princípios sensíveis que moldam a
tripartição de poderes e o pacto federativo, deveras protege o esquema jurídico-constitucional concebido pelo poder
constituinte, é preciso guardar, em sua formulação conceitual e aplicação prática, particular cuidado com os riscos de
descaracterização da própria estrutura federativa que lhe é inerente. (...) Noutras palavras, não é lícito, senão
contrário à concepção federativa, jungir os Estados- membros, sob o título vinculante da regra da simetria, a normas
ou princípios da Constituição da República cuja inaplicabilidade ou inobservância local não implique contradições
teóricas incompatíveis com a coerência sistemática do ordenamento jurídico, com severos inconvenientes políticos ou
graves dificuldades práticas de qualquer ordem, nem com outra causa capaz de perturbar o equilíbrio dos poderes ou a
unidade nacional. A invocação da regra da simetria não pode, em síntese, ser produto de uma decisão arbitrária ou
imotivada do intérprete”.
Muitas vezes o Estado é obrigado a seguir, pelo princípio constitucional da simetria, princípios
estabelecidos na Constituição. o princípio da simetria estabelece aquelas normas da Constituição que são de
incidência obrigatória nos Estados, porque se é um federalismo, todos os Entes devem respeito a um núcleo básico.
Seu fundamento direto está no art. 25 da CR/88 e no art. 11 do ADCT, que trata da edição das Constituições
Estaduais.
Alguns desses princípios são chamados de princípios constitucionais sensíveis, que são aqueles do art. 34,
VII, que, quando violados pelo Estado-membro, justificam a intervenção federal no Estado. Dessa forma é óbvio
que esses princípios são de observância obrigatória pelos Estados.
Se a norma da Constituição Federal não implicar contradições teóricas incompatíveis com a coerência
sistemática do ordenamento jurídico, nada impede que a Constituição Estadual tenha uma norma diferente da
Constituição Federal. Isso é muito importante. É um equívoco entender que há uma hierarquia necessária, de maneira
que sempre que uma norma da Constituição Estadual contrariar uma norma da Constituição Federal a primeira vai ser
inconstitucional. Não é assim. Se não for uma norma de incidência obrigatória para o Estado, não há mal nenhum
em ter normas diferentes: a norma federal vale para a União e a norma estadual vale no âmbito do Estado.

ADI 1594: matérias de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo são de incidência obrigatória para os
Estados-membros. A Assembleia Legislativa precisa aplicar por simetria as matérias estabelecidas na Constituição
Federal (art. 61) com matérias de iniciativa legislativa reservada ao Poder Legislativo.

“A Constituição do Brasil, ao conferir aos Estados-membros a capacidade de auto- organização e de


autogoverno – art. 25, caput –, impõe a obrigatória observância de vários princípios, entre os quais o pertinente ao
processo legislativo. O legislador estadual não pode usurpar a iniciativa legislativa do chefe do Executivo, dispondo
sobre as matérias reservadas a essa iniciativa privativa”.

ADI 1448 (2007): “Disposição constitucional estadual que impõe o pagamento de 13º salário aos servidores
estaduais em data e forma definidas. Abuso do poder constituinte estadual, por interferência indevida na
programação financeira e na execução de despesa pública, a cargo do Poder Executivo, nos termos da CF”.

ADI 486: tratava das normas da Constituição Estadual sobre o processo de reforma da própria
Constituição Estadual. O STF entendeu que a norma da Constituição Estadual, ao disciplinar a sua própria
reforma, deve simetria às normas de reforma Constituição Federal (art. 60), de forma que seria inconstitucional a
exigência do quórum de 4/5 (superior aos 3/5 exigidos na CR/88).
“Processo de reforma da Constituição estadual. Necessária observância dos requisitos estabelecidos na CF (art.
60, §§ 1º a 5º). Impossibilidade constitucional de o Estado-membro, em divergência com o modelo inscrito na Lei
Fundamental da República, condicionar a reforma da Constituição estadual à aprovação da respectiva proposta por
4/5 da totalidade dos membros integrantes da assembleia legislativa. Exigência que virtualmente esteriliza o exercício
da função reformadora pelo Poder Legislativo local. A questão da autonomia dos Estados-membros (CF, art. 25).
CASTR

Subordinação jurídica do poder constituinte decorrente às limitações que o órgão investido de funções constituintes
primárias ou originárias estabeleceu no texto da Constituição da República: (...)”.

ADI 687: “A Constituição estadual não pode impor, ao prefeito municipal, o dever de comparecimento perante
a câmara de vereadores, pois semelhante prescrição normativa, além de provocar estado de submissão institucional do
chefe do Executivo ao Poder Legislativo municipal (sem qualquer correspondência com o modelo positivado na
Constituição da República), transgredindo, desse modo, o postulado da separação de poderes, também ofende a
autonomia municipal, que se qualifica como pedra angular da organização político-jurídica da Federação brasileira.
(...) O Estado-membro não dispõe de competência
para instituir, mesmo em sua própria Constituição, cláusulas tipificadoras de ilícitos político-
administrativos, ainda mais se as normas estaduais definidoras de tais infrações tiverem por finalidade viabilizar a
responsabilização política de agentes e autoridades municipais”.
A norma que existe no art. 50 da Constituição só obriga que todas as autoridades abaixo do Chefe do
Executivo compareçam ao Legislativo quando intimadas, sob pena de crime de responsabilidade caso a recusa
seja imotivada. O Chefe do Executivo não se sujeita a isso. Como essa norma se aplica por simetria, obrigar o
Chefe do Executivo Municipal ou Estadual a comparecer sob pena de crime de responsabilidade é
inconstitucional por violação à simetria. O mesmo se aplica à obrigação de comparecimento de autoridade do
Poder Judiciário, que também não serve à simetria do art. 50.
E as Constituições Estaduais não podem estabelecer cláusulas tipificadoras de ilícitos político-
administrativos, porque o STF entende que essa competência se refere à competência para legislar sobre processo
(privativa da União).

AO (ação originária) 366: “Revela-se inconstitucional, porque ofensivo aos postulados da Federação e da
separação de poderes, o diploma legislativo estadual, que, ao estabelecer vinculação subordinante do Estado-membro,
para efeito de reajuste da remuneração do seu funcionalismo, torna impositiva, no plano local, a aplicação automática
de índices de atualização monetária editados, mediante regras de caráter heterônomo, pela União Federal”.
Norma estadual que obrigava o Estado-membro, no que toca ao reajuste do seu funcionalismo, a adotar o
mesmo índice adotado pela União. Essa exigência de adoção do mesmo índice de inflação ou de aumento do
funcionalismo para automaticamente aumentar o salário do funcionalismo público estadual é uma violação à autonomia
política do Estado (mais especificamente à autonomia administrativa e legislativa do Estado).

O artigo 25, §1º da CRFB/88 trata da chamada competência residual:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.

§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
Todas as competências administrativas ou legislativas que não tenham sido conferidas de maneira
expressa à União ou aos Municípios terão sido conferidas aos estados. Esse é o modelo tradicional do federalismo
dual, que tem origem no federalismo norte- americano, que foi incorporado no Brasil desde a nossa primeira
constituição republicana, que foi a de 1891.
Julgados relevantes sobre o tema:
ADPF 492 julgado em conjunto com a ADPF 493 e com a ADI 4986. Disse o supremo no julgado relatado pelo
Ministro Gilmar Mendes e julgado em 2020: “os estados membros detém competência administrativa para explorar
loterias. A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material para a exploração dessas atividades pelos entes municipais ou estaduais”. A
competência da União é para legislar, mas não exclui a competência dos Estados e Municípios para instituirem o
serviço. A Competência material para disponibilizar o serviço é a competência de estados e municípios.
ADI 2349 - trata da competência para prestar o serviço de transporte intramunicipal, ou seja, dentro dos
municípios. A competência é dos municípios.
ADI 2311 (2002) - a competência concorrente dos estados em matéria previdenciária não autoriza que se
desatendam os fundamentos básicos do sistema previdenciário de origem constitucional. A competência dos Estados de
instituirem o seu próprio regime de previdencia RPP, deve observar as normas estabelecidas na CF.
ADI 2069 – ingresso e remoção na atividade de notário a competência é da União e não dos estados, por
força do artigo 236 da CRFB/88.
RE 201.865 – tratava da competência para prestar o serviço de fretamento de ônibus para transporte com
finalidade turística. O transporte ocasional a turistas reclama regulamentação por parte do estado membro,
com base no seu poder de polícia administrativa, com vistas à proteção dos turistas e do próprio turismo.

Uma competência administrativa expressa dos estados está no §2 do artigo 25 da


CRFB:
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços
locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995)

Sobre o tema:

ADI 2391 – o Supremo já havia reconhecido a constitucionalidade da instituição de medida provisória


estadual. É desse dispositivo (Artigo 25, §3º da CF) que o Supremo extrai a possibilidade de os governadores editarem
MP, só que essa possibilidade somente se coloca quando essa competência for conferida de maneira expressa pela
Constituição Estadual aos governadores.

Vamos tratar agora do artigo 30 da CRFB/88 que versa sobre as competências municipais:

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;

Essa é a principal competência dos municípios e, com base nela, o STF editou a Súmula Vinculante nº 38,
que tem a seguinte redação: “É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de
estabelecimento comercial.”
Obs: Salvo as instituições que estão submetidas à regulamentação federal, como são as instituições
bancárias.
RE 586.224 – Tema 145 da repercussão geral. O município é competente para legislar sobre meio
ambiente, em conjunto com a União e estados, no limite do seu interesse local, e desde tal regramento seja
harmônico com as normas federais e estaduais.
AI (Agravo de Instrumento) 491420 – Competência dos municípios para legislar sobre questões relativas
a edificações e construções realizadas no seu território, assim como para dispor sobre assuntos relacionados a
segurança e imóveis destinados ao atendimento público.

Art. 25 (...)

III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da
obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;

ADI 2751 – tratava de uma lei do Estado do Rio de Janeiro que autorizava o poder executivo a prender e
desemplacar veículos de transporte coletivo. O supremo entendeu que essa norma era constitucional porque se
inseria no poder de polícia do estado em matéria de trânsito, não violando a competência da União para legislar
sobre trânsito e transporte.

Art. 25 (...)
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; (...)
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso,
do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

Aqui se tratava da competência dos municípios para criarem distritos – os municípios possuem essa
competência – mas deve se fazer nos termos da legislação estadual.
A mesma coisa em relação ao ordenamento territorial. Como se relaciona com direito urbanístico, está sujeita
às normas federais e estaduais, já que a competência para legislar sobre direito urbanístico é uma competência
concorrente.

Art. 25 (...)
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;

Todo serviço de interesse local como o próprio saneamento básico – que é prioritariamente de interesse
municipal -, recolhimento de lixo, serviços funerários, dentre outros, são serviços de competência municipal.
ADI 845 – O ente que vai prestar o serviço é o competente para instituir a meia passagem sobre o serviço
de transporte. Então, se o transporte é intermunicipal a competência será do estado; e se o transporte for
intramunicipal a competência será do município.

- Conflitos federativos em matéria de covid-19

A pandemia de Covid-19 que assolou o país em 2020 trouxe uma discussão muito importante sobre
competências. Logo que eclodiu a pandemia no Brasil, em março de 2020, se verificou claramente um antagonismo
entre as posições adotadas de um lado pelo Presidente da República – uma postura de sempre destacar a necessidade de
retorno das atividades econômicas, com certa crítica às medidas de isolamento social - e de outro lado, de boa parte dos
governadores e prefeitos, uma postura antagônica, que há época foi referendada pelo então ministro da saúde, no sentido
de serem inevitáveis as medidas de isolamento social.
Quando a gente ia analisar propriamente as normas, não se verificava frontalmente um conflito. O que se
verificava era que as normas estaduais e municipais iam além daquelas estabelecidas pela legislação federal – sobretudo
as medidas de isolamento social, de fechamento das atividades econômicas não essenciais, limitação ao direito de ir e
vir, fechamento de praia, dentre outras.
Nesse contexto o que se viu na jurisprudência do supremo?
A primeira coisa que é importante destacar é que em uma situação como essa, de um pacote legislativo tratando
de Covid-19, havia a potencial incidência de um sem número de regras constitucionais de competência. Esse
pacote envolvia limitações ao direito de ir e vir, à liberdade econômica e outras matérias sensíveis, mas a questão
central dizia respeito à saúde pública, cuja competência, no plano material, é comum e no plano legislativo é
concorrente. Então, há certa dúvida sobre qual ente federativo é competente para legislar sobre a matéria.
Historicamente, a jurisprudência do supremo sempre foi centralizadora, ou seja, em reforço às competências da
União. Só que, pelas circunstâncias muito específicas, da gravidade da pandemia do corona vírus, e pelo fatos dos
governadores e prefeitos terem tomado a frente de medidas de isolamento social, que eram inclusive recomendadas pela
OMS, esse contexto acabou sendo favorável para que o supremo tivesse uma jurisprudência mais descentralizadora.
Um dos casos centrais foi a ADI 6341, julgada em 16 de abril de 2020, que foi relatada pelo Ministro Marco
Aurélio e redator para acórdão o Ministro Edson Fachin.
Em síntese, o supremo falou nesse caso que prevaleciam as normas estaduais mais restritivas, o que inclui o
isolamento social, primeiro porque eram medidas que não propriamente eram contraditórias, porque não tinha norma
federal que proibia isso, mas na

verdade normas que iam além e que naquele contexto específico se revelavam necessárias para uma proteção adequada
ao direito à saúde dos brasileiros, já que inclusive eram essas as recomendações da OMS.
O que é interessante de se notar aqui é o fenômeno da
constitucionalidade/inconstitucionalidade circunstancial. Não parece haver muita dúvida de que se o governador do
estado editar um decreto que feche uma atividade econômica lícita, ainda que não essencial, em um momento de
normalidade, essa norma vai ser inconstitucional, seja no aspecto material – por ser uma restrição desproporcional à
livre iniciativa e ao direito de propriedade, seja no aspecto formal pela violação da reserva de lei sobre a matéria.
Mas, nesse momento muito especial da pandemia, o supremo julgou essa norma constitucional, então é
uma típica situação de constitucionalidade circunstancial, ou seja, naquelas circunstancias a medida não só era
constitucional como necessária para preservar a saúde pública.
Por outro lado, o supremo coibiu medidas excessivas, que a pretexto de proteger a população contra a
expansão da covid, eram desproporcionais, muito restritivas a vários direitos fundamentais.
Ex: o Ministro Dias Toffoli, há época presidente do STF, anulou um decreto municipal de Teresina que proibiu
o funcionamento de uma fábrica, por entender que isso era uma violação à livre iniciativa e ao direito de propriedade. O
Ministro Dias Toffoli também manteve uma decisão do TJ/SP que suspendeu um decreto da cidade de São Bernardo do
Campo que restringiu a circulação de pessoas com mais de 60 anos.
Outro caso importante foi uma decisão relatada pela Ministra Rosa Weber que invalidou uma Medida
Provisória que previu o compartilhamento de dados de empresas de telefonia com o IBGE. Se entendeu que a
obrigatoriedade das empresas de telefonia de fornecer dados ao IBGE seria uma violação à privacidade e ao
sigilo de dados pessoais.
Também é importante o caso em que o supremo reconheceu que não havia uma política pública específica de
proteção dos povos indígenas e que era um povo muito vulnerável à Covid, sobretudo os povos isolados, tendo em
vista a ausência de proteção imunológica. Então, foi a ação foi julgada procedente, com a determinação de diversas
medidas que deverão ser adotadas pelo poder público para a proteção da população indígena contra a expansão
da Covid.

Devemos ficar de olho também no caso da invalidação de uma medida provisória que estabelecia diversas
limitações à Lei de Acesso à Informação, sob a justificativa da inviabilidade de seu cumprimento durante a
pandemia. O supremo entendeu que a pandemia era usada como subterfúgio para não prestar informações que
são não apenas obrigatórias pela Lei de Acesso à Informação, como também pelo próprio princípio da
publicidade.
Outro caso interessante: o Ministro Barroso suspendeu a divulgação de campanha publicitária do governo
federal que incentivava o retorno da população às atividades normais, no momento em que as recomendações das
autoridades sanitárias internacionais e nacionais eram de manter o isolamento social.
Mais um caso interessante, que teve como relator o Ministro Alexandre de Moraes, que invalidou uma
alteração da forma de divulgação dos dados de mortes e infecção de Covid pelo ministério da saúde, por
entender que a nova metodologia era menos transparente.
Esses foram os principais casos do Supremo durante a pandemia, com o federalismo em momento de crise. O
STF foi um ator muito importante para manter a estabilidade institucional e permitir que se mantivessem medidas
naquele momento que se mostravam essenciais para a proteção da vida dos brasileiros e acabou sendo um player muito
importante em uma crise de saúde sem precedentes.

- ADI 3336 (decisão importante para o Estado do RJ) – relator Ministro Dias Toffoli, julgado em 2020. O caso
trata de uma Lei do Estado do RJ que dispunha sobre a cobrança pela utilização de recursos hídricos de domínio do
estado e organiza o sistema administrativo de gestão e execução da referida atividade . O supremo disse que
embora a União detenha a competência exclusiva para instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos
hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso , além de competência privativa para legislar sobre
águas de acordo com os artigos 21, XIX e 22, IV, não será de olvidar que aos estados membros compete, de forma
concorrente, legislar sobre proteção ao meio ambiente, de acordo com os artigos 24, VI e VIII, o que inclui,
evidentemente, a proteção de recursos hídricos. Esse entendimento mostra-se consentâneo inclusive com a previsão
constitucional que defere aos estados membros o domínio das águas superficiais ou subterrâneas . Portanto,
somando a competência concorrente para legislar sobre meio ambiente, com a titularidade do estado sobre essas
águas, decorre a competência do estado sobre a matéria. (Muito Importante!!!0

- A partir de agora, o professor vai comentar alguns trechos de um artigo do Rodrigo Mascarenhas, que é da
banca de constitucional, que é chamado “A ANA e a federação por água abaixo: notas sobre o novo marco legal do
saneamento”.

Primeiro, o Rodrigo Mascarenhas parte do artigo 21, XX, CRFB/88 que trata da competência da União para
estabelecer diretrizes sobre saneamento básico. Então, a partir dessa competência, se extrai que compete à União
editar normas gerais sobre saneamento básico.

O professor destaca alguns dos argumentos constitucionais mais importantes contidos

no artigo.
Primeiro, o Rodrigo Mascarenhas trata da ADI 1842, já mencionada nessa aula, que é a ADI que afirma que a
competência para prestar o serviço de saneamento básico é originariamente dos municípios e, onde houver
região metropolitana e compartilhamento de equipamentos, a competência é da região metropolitana . Ele
reconhece essa premissa afirmada pelo STF e diz que “Em suma, em qualquer canto do território nacional o titular dos
serviços de saneamento pode ser o município ou a região metropolitana (ou microrregião). Em nenhuma hipótese
este titular será a União”. Rodrigo Mascarenhas destaca isso para dizer que é um equivoco entender que a União vai
ter competência para esgotar o tratamento sobre o saneamento básico, porque cabe a ela editar apenas normas
gerais e a competência para instalar os serviços é dos municípios ou da região metropolitana.
Mascarenhas diz ainda que “se a União não é a titular do saneamento, como ela pode se apresentar como
a principal ou, talvez, exclusiva responsável por estabelecer normas sobre o tema?”
Então, essa é a grande questão que o professor Mascarenhas coloca contra o novo marco legal do
saneamento.
E ai, o artigo trata das competências que o novo marco legal do saneamento confere à ANA (Agência
Nacional de Águas e Saneamento Básico), dizendo que compete à ANA editar “normas de referência” para “a
regulação dos serviços públicos de saneamento básico por seus titulares e suas entidades reguladoras e
fiscalizadoras” (...). Então, o que o professor diz é que uma agencia reguladora federal não pode estabelecer normas
tão amplas assim (“normas de referencia”) que sejam vinculantes para estados e municípios. Quando se vai ler o
Marco Legal do Saneamento – que é uma lei federal – para se entender o que seriam essas normas de referência, se
percebe a absoluta amplitude dessas normas, que tratam praticamente de tudo, como por exemplo, padrões de
qualidade e eficiência na prestação do saneamento básico, regulação tarifária, padronização de instrumentos
negociais, equilíbrio econômico-financeiro, metas de universalização, critérios para contabilidade regulatória,
controle da perda de água, metodologia para o cálculo de indenizações, reuso, enfim, quase que esgotando o
tratamento da matéria quando compete à lei federal e não a norma regulamentar (resolução da ANA) tratar de apenas
normas gerais.

Então, Rodrigo Mascarenhas considera que há um exercício abusivo de competências pela ANA de forma a violar
as competências estaduais e municipais. Critica, também, uma certa estratégia que ele chama, de maneira jocosa,
de “força pecuniária vinculante”, ou diz ele ainda em português castiço “eu pago, você me obedece”. Ele se refere ao
artigo 4º-B da Lei da ANA, combinado com o artigo 50, III, da nova lei de saneamento básico, que prevê que a União só
repassará valores caso haja a observância dessas normas. Então, é quase uma coação, um incentivo, para que haja a
adequação aos termos da Lei federal.
E também estabelece a nova lei de saneamento básico muitas condições para que os municípios recebam
recursos federais, diz o professor Mascarenhas, quase condições impossíveis de serem observadas, o que dificulta
muito o repasse de recursos federais e depois vai culpar estados e municípios de não terem projeto, mas de fato as
condições estabelecidas são muito difíceis de serem atingidas.
Ele ainda critica a ANA dizendo que ela tem pouca expertise para cuidar de saneamento: “ANA nunca regulou
serviços públicos. Sua expertise – a água enquanto recurso hídrico captado nos cursos hídricos – é o objeto e meio dos
serviços de fornecimento de água, e também compõe o esgoto que ao final será jogado em outro corpo hídrico”.
Ele critica também o dispositivo da Lei de Saneamento Básico, artigo 8º, §1, que diz que a prestação de
serviço público de saneamento pode ser prestado por gestão associada mediante consórcio público ou convênio
de cooperação. Até ai não é nada além do que o STF já disse ADI 1842.
Mascarenhas gasta uma atenção especial com a seguinte expressão: “ficando admitida a formalização de
consórcio intermunicipais de saneamento básico, exclusivamente composto de municípios que poderão prestar os
serviços aos seus associados diretamente ou pela instituição de autarquia intermunicipal”.
A critica que ele faz é a seguinte: o artigo 10 da Lei de Saneamento Básico estabelece que a prestação de serviço
público de saneamento básico por entidade que não integre a administração do titular, depende de contrato de concessão
mediante prévia licitação. O professor diz que ao menos a Lei admite que o ente titular do serviço possa criar uma
empresa e outorgar a ela o serviço de saneamento básico, mas o que ele critica é que o município não possa
contratar empresa criada por outro ente. Aqui, o foco dele, é exatamente a vedação ao município contratar uma
empresa de saneamento básico estadual. Há uma norma de transição em relação aos contratos em vigor – que
são preservados – mas ele critica essa vedação pura e simples.
O artigo 16 é a norma de transição que permite a vigência dos contratos em curso, até 31 de março de 2022.
Mascarenhas considera que essa proibição, ainda que haja essa norma de transição, é inconstitucional.

Diz ele que “Em primeiro lugar, o texto não proíbe esta prática quando a estatal é criada pelo próprio ente.
Tampouco proíbe, ao menos expressamente, no caso de regiões metropolitanas, quando a empresa for controlada
pelo estado criador da região (...)”. E

prossegue dizendo que “A proibição explícita então se dirige aos municípios (não integrantes de regiões
metropolitanas), que não poderão – segundo o NMLSB – contratar diretamente empresas estatais”, além de que
“(...) tal proibição nos parece inconstitucional por violar a autonomia constitucional que o município tem para
escolher a forma de prestação de um serviço do qual ele é titular” . “Se é incontestável que o município pode criar
uma autarquia ou mesmo uma empresa para prestar tais serviços – liberdade que nem mesmo o NMLSB ousou
violar – também nos parece inviável, sob qualquer desenho de federalismo cooperativo, impedir que ele possa
optar por contratar diretamente empresa estatal criada por outro ente”.
Outra crítica que o professor Mascarenhas faz é a seguinte: a União, com um governo que ganhou a eleição
com um discurso privatista, tem toda a legitimidade para privatizar os serviços públicos de sua titularidade,
mas não pode impor um modelo de privatização para os serviços públicos de competência municipal, pois isso
configura uma interferência na autonomia política e administrativa dos municípios de prestarem como lhes
parecer melhor os serviços públicos de sua titularidade.
“Em suma, entendemos que tanto os municípios como as regiões metropolitanas podem continuar a
contratar diretamente empresas estatais, mesmo não sendo seus controladores, para prestar serviços de
saneamento”.
Ele ainda lembra um aspecto importante que é o seguinte: que “o conceito de saneamento (historicamente
limitado a “água” e “esgoto”), atualmente inclui (desde a versão original da LSB) um serviço – de limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos – que sempre foi tipicamente municipal. Pois bem, em grande medida (mas isso seria
matéria para outro trabalho), as violações à autonomia do município também incluem tal serviço”.
Para o professor, esses são os aspectos mais importantes desse artigo, que ele recomenda a leitura.

8. INTERVENÇÃO

CONCEITO

Consiste em uma medida excepcional, de natureza política e não jurídica, que irá afastar
temporariamente a autonomia de um ente federativo, nos casos das hipóteses taxativas previstas na
Constituição.

CARACTERÍSTICAS

a) Medida excepcional (regra é a não intervenção, preservando-se a autonomia do ente federativo);

b) Temporalidade da intervenção (não pode perdurar no tempo); e

c) Taxatividade das hipóteses.


INTERVENÇÃO FEDERAL

Prevista no art. 34 da CF.

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para:
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 15 4
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da
Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta
Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Salienta-se que a possibilidade de intervenção da União nos Estados não caracteriza supremacia da
União. A intervenção ocorre em nome de todos os demais Estados da Federação.

Admite-se a intervenção federal apenas em Municípios localizados em territórios. Portanto, não


poderá a União intervir em Municípios dos Estados-membros.

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:

8.3.1. Pressupostos materiais

1º Defesa do Estado (art. 34, I e II) - para manter a integridade nacional e repelir invasão
estrangeira;

2º Defesa do princípio federativo (art. 34, II, III, IV) - para repelir invasão de uma unidade da
Federação em outra, para pôr termo a grave comprometimento da ordem pública e para garantir o livre
exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;

3º Defesa das finanças estaduais (art. 34, V) – para reorganizar as finanças da unidade da
Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo
motivo de força maior; e b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição,
dentro dos prazos estabelecidos em lei;

4º Defesa da ordem constitucional (art. 34, VI e VII) - prover a execução de lei federal, ordem ou
decisão judicial e para assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais sensíveis: a) forma
republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia
municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta;
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

8.3.2. Pressupostos formais


1º Decreto do Presidente da República (art. 84, X);

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 155


2º Análise pelo Congresso Nacional.

Art. 36,
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as
condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será
submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia
Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
(...)
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus
cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.

8.3.3. Casuísticas

Após a CF/88, houve dois casos de intervenção federal, ambos no ano de 2018, um no Rio de Janeiro
(Decreto 9.288/2018) e em Roraima (Decreto 9.602/2018).

Decreto 9.288/2018 Art. 1º Fica decretada intervenção federal no Estado do


Rio de Janeiro até 31 de dezembro de 2018.
§ 1º A intervenção de que trata o caput se limita à área de segurança
pública, conforme o disposto no Capítulo III do Título V da Constituição e
no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
§ 2º O objetivo da intervenção é pôr termo a grave comprometimento da
ordem pública no Estado do Rio de Janeiro.

Art. 2º Fica nomeado para o cargo de Interventor o General de Exército


Walter Souza Braga Netto.
Parágrafo único. O cargo de Interventor é de natureza militar.

Art. 3º As atribuições do Interventor são aquelas previstas no art. 145 da


Constituição do Estado do Rio de Janeiro necessárias às ações de segurança
pública, previstas no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.

Decreto 9.602/2018 - Art. 1º É decretada intervenção federal no Estado de


Roraima até 31 de dezembro de 2018, para, nos termos do art. 34, caput,
inciso III, da Constituição, pôr termo a grave comprometimento da ordem
pública. Ver tópico
Parágrafo único. A intervenção de que trata o caput abrange todo o Poder
Executivo do Estado de Roraima.

Art. 2º É nomeado para o cargo de Interventor Antonio Olivério Garcia de


Almeida, mais conhecido como Antonio Denarium.

Art. 3º As atribuições do Interventor são aquelas previstas para o


Governador do Estado de Roraima.
§ 1º O Interventor fica subordinado ao Presidente da República e não está
sujeito às normas estaduais que conflitarem com as medidas necessárias à
execução da intervenção.

8.3.4. Espécies de intervenção


ESPONTÂNEA SOLICITADA REQUISITADA

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 156


A decretação da intervenção Ocorre quando o Poder Judiciário
depende de solicitação do Poder requisita que o Presidente decrete
Legislativo e do Poder Executivo. a intervenção.
Depende apenas dos motivos que
a autorizam. Assim, ocorrendo os O Presidente da República não Trata-se de um ato vinculado,
motivos que a autorizem, o está obrigado a atender à portanto, havendo requisição o
Presidente poderá decretar. solicitação, mas não poderá Presidente é obrigado a decretar a
decretar sem que haja a intervenção, sob pena de crime de
solicitação (pressuposto não responsabilidade.
vinculativo).

Art. 34, I, II, III e IV. Art. 36, I. Art. 36, I, II, III

Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:


I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder
Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal
Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição
do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do
Tribunal Superior Eleitoral;
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do
Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de
recusa à execução de lei federal.

8.3.5. Controle

Poderá haver um controle político da intervenção, nos ternos do §1º, art. 36 da CF.

Art. 36, § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo


e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será
submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa
do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembleia
Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo prazo de vinte e
quatro horas.
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a
apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o
decreto limitar- se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa
medida bastar ao restabelecimento da normalidade.
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus
cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.

Além disso, poderá haver controle jurisdicional pelo STF.

Por fim, haverá manifestação do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional, embora não
sejam vinculativas.

Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 157


- intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;

Art. 91, § 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional:


- opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção fe

INTERVENÇÃO ESTADUAL

8.4.1. Pressupostos materiais

Previstos no art. 35, da CF.

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos
consecutivos, a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos
de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

No caso do inciso IV, há uma hipótese semelhante a ADI interventiva federal. Apenas o PGJ é
legitimado, os princípios constitucionais sensíveis serão indicados pela Constituição Estadual.

De acordo com o STF (ADI 6616 – Info 1014) é inconstitucional norma constitucional estadual pela
qual se prevê hipótese de intervenção estadual em municípios não contemplada no art. 35 da Constituição
Federal.

A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual


diferentes daquelas que são elencadas no art. 35 da Constituição Federal.
As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da CF/88 são
taxativas. STF. Plenário. ADI 6616/AC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
26/4/2021 (Info 1014).

8.4.2. Pressupostos formais

1º Decreto do Governador

2º Análise pela Assembleia Legislativa


ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Todas as nossas Constituições, exceto a imperial de 1824, adotaram a divisão orgânica de Montesquieu.
Essa divisão foi sistematizada em 1748, na obra “Do Espírito das Leis”.

O autor não foi o primeiro a falar da divisão de atribuições existente no Estado (criação da

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 158


lei, aplicação da lei, resolução dos conflitos que surgem da aplicação das leis). Este papel foi desempenhado
por Aristóteles em 340 A.C., que no livro “A Política” assim disse: “Aquele que exerce poder dentro de
um Estado se manifesta de três maneiras: cria a norma geral, aplica esta norma geral aos casos
concretos, resolve os eventuais conflitos”.

O inglês Locke, por volta de 1690, no livro denominado ‘O segundo tratado do governo civil’,
sustentou que aquele que exerce poder exerce algumas atribuições: cria norma, aplica norma e resolve o
conflito. Nenhuma novidade.

A novidade de Montesquieu foi afirmar que cada uma das atribuições deve ser desempenhada por
um órgão autônomo e independente. A divisão funcional de Aristóteles virou a divisão orgânica de
Montesquieu.

Assim afirmava o francês: ‘Tudo estaria perdido se no mesmo homem ou no mesmo corpo
de homens os três poderes forem exercidos’.

2. IMPROPRIEDADE DA EXPRESSÃO TRIPARTIÇÃO DOS PODERES

Tecnicamente, não é correto falar em divisão tripartite de poderes de Montesquieu, mas sim em
divisão orgânica e funcional. O poder é um só (UNO e INDIVISÍVEL), manifestado por diferentes órgãos
que exercem funções (típicas e atípicas).

OBS: A Constituição de 1824 foi a única que adotou a tese de Benjamin Constant, que fazia
referência a um quarto poder (poder moderador), que era desempenhado pelo imperador.

Em suma:

-Aristóteles: “A política”. Deve haver tripartição de funções.

-Locke: “Segundo tratado do governo civil”. Fala em uma bipartição de poderes. Executivo
(federativo) e legislativo.

-Montesquieu: “O Espírito das Leis”. É a ideia da entrega de cada uma das funções a um
órgão distinto.

A ideia de divisão de poderes tem duas projeções: uma vertical e uma horizontal. Sob o ponto de
vista do federalismo, há uma repartição de competência entre as entidades federais: União, DF, Estados e
municípios. A repartição horizontal é a que iremos estudar agora: judiciário, legislativo e executivo.
Podem vir a ser estabelecidos novos mecanismos de controle de um poder sobre o outro (ampliação
de freios e contrapesos). Um exemplo é a súmula vinculante. Quando da Emenda, foi ajuizada uma ADI, e o
STF, em um voto do Min. Sepúlveda Pertence, afirmou que os pormenores da separação dos poderes não
estão petrificados.

3. FINALIDADE DA SEPARAÇÃO DE PODERES

LIMITAR O PODER DO ESTADO

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 159


Visa garantir a liberdade dos indivíduos, por isso existe um controle recíproco em que um poder
fiscaliza o outro, ideia de freios e contrapesos.

Cada Poder, dentro da ideia de harmonia e independência, além das funções típicas desempenha
funções atípicas.

LEGITIMAR O EXERCÍCIO DO PODER E MELHORAR O DESEMPENHO DO


PODER O ESTADO

A partir da divisão, é possível ter um melhor desempenho, em razão da especialização de cada


pode.

PODER LEGISLATIVO

1. ATRIBUIÇÕES DO LEGISLATIVO: FISCALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA.


COMISSÕES PARLAMENTARES

FISCALIZAÇÃO PELO LEGISLATIVO

A fiscalização é desempenhada através de duas manifestações: FISCALIZAÇÃO ECONÔMICO-


FINANCEIRA (arts. 70 a 75 - auxiliado pelo TCU) e FISCALIZAÇÃO POLÍTICO-
ADMINISTRATIVA (art. 58 - feita pelas comissões). No presente tópico trataremos da fiscalização
político-administrativa.

Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões


PERMANENTES e TEMPORÁRIAS, constituídas na forma e com as
atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua
criação.

As comissões parlamentares ganharam grande importância na CF/88, são especializadas em


determinados temas.

A toda comissão aplica-se o princípio da participação proporcional dos partidos políticos. Ou seja,
cada partido participa da comissão na mesma proporção de sua representação na respectiva casa legislativa
(art. 58, §1º).

Art. 58 § 1º - Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é


assegurada, tanto quanto possível, a representação proporcional dos
partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.

CLASSIFICAÇÕES DAS COMISSÕES PARLAMENTARES

1.2.1. Quanto à duração da comissão

a) Comissão Parlamentar Permanente: dura mais de uma legislatura (é o período de mandato


dos deputados (4 anos)).

CF Art. 44, Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.

Exemplo: Comissão de Constituição e Justiça – CCJ.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 160


Importante consignar que a sessão Legislativa (art. 57, CF) tem duração anual, indo de 02.02 até
17.07 (período legislativo do 1º semestre) e de 01.08 a 22.12.

CF Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital


Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro
.
b) Comissão Parlamentar Temporária: se extingue nos seguintes casos

Término dos trabalhos;

Término do prazo, podendo ser prorrogada;

Término da legislatura, não interessando se os trabalhos foram concluídos ou se o prazo acabou ou


não.

1.2.2. Quanto à composição

a) Comissão Parlamentar Exclusiva: formada só por deputados ou só por senadores.

b) Comissão Parlamentar Mista: é a formada tanto por deputados quanto senadores.

A CPI pode ser tanto exclusiva quanto mista.

2. ESPÉCIES DE COMISSÃO PARLAMENTAR

COMISSÃO TEMÁTICA OU EM RAZÃO DA MATÉRIA (ART. 58, §2º)

A casa legislativa é dividida em comissões temáticas, tendo em conta a diversidade de temas que são
debatidos. Logo, a cada comissão compete o debate de um tema/matéria específico. As comissões
TEMÁTICAS ou MATERIAIS estão no Regimento Interno de cada Casa Legislativa e não na Constituição
Federal.

Existe, no entanto, uma espécie de espelho dos Ministérios, ou seja, para um Ministério da Saúde
corresponde uma comissão de saúde, e assim sucessivamente.

A comissão temática mais importante é a CCJ, presente em todas as casas legislativas. Todo projeto
de lei, obrigatoriamente, deve passar pela CCJ, a quem incumbe o controle preventivo de
constitucionalidade, fornecido através de um parecer. Esse parecer, no entanto, não é meramente opinativo,
mas sim TERMINATIVO, vale dizer, um projeto inconstitucional é diretamente arquivado (assegurada a
possibilidade de recurso).

Todo projeto deve passar, no mínimo, por duas comissões: primeiro pela CCJ e depois pela comissão
de sua área de abrangência.

Atribuições da comissão temática: Realiza audiências públicas, convida professores universitários,


cientistas, ou seja, todos que podem colaborar na elaboração do projeto etc.

No Brasil, a comissão temática (ou material) é dotada da delegação interna (ou imprópria).
Essa delegação é denominada de processo legislativo abreviado (Gilmar Mendes).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 161


O que é essa “delegação interna”? É o poder da comissão temática ofertado pela CF (art. 58, §2º, I)
para aprovar projetos de lei. Ou seja, no Brasil, uma comissão pode aprovar projeto de lei,
independentemente da manifestação do plenário da casa legislativa, na forma regimental.

Essa é a chamada delegação interna, ao passo que a LEI DELEGADA é a chamada delegação
externa ou própria (art. 68 à delegação do legislativo para o executivo).

Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República,


que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
Art. 58, § 2º - às comissões, EM RAZÃO DA MATÉRIA de sua competência,
cabe:
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a
competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos
membros da Casa;
II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil;
III - convocar Ministros de Estado para prestar informações sobre assuntos
inerentes a suas atribuições;
IV - receber petições, reclamações, representações ou queixas de qualquer
pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades públicas;
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
VI - apreciar programas de obras, planos nacionais, regionais e setoriais de
desenvolvimento e sobre eles emitir parecer.

COMISSÃO REPRESENTATIVA OU DE REPRESENTAÇÃO

Durante os períodos de RECESSO do Congresso, ele será representado por uma Comissão (art. 58,
§4º). Em razão do princípio da continuidade do serviço público, o Congresso não pode ser simplesmente
fechado.

Essa comissão é mista (ou conjunta), pois composta por Deputados e Senadores.

Art. 58, § 4º - Durante o recesso, haverá uma COMISSÃO


REPRESENTATIVA DO CONGRESSO NACIONAL, eleita por suas Casas
na última sessão ordinária do período legislativo, com atribuições definidas
no regimento comum, cuja composição reproduzirá, quanto possível, a
proporcionalidade da representação partidária.

COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI)

Abordaremos, devido a sua importância, a CPI em tópico separado.

3. ESTUDOS DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI)

CPI E OS “PODERES PRÓPRIOS DAS AUTORIDADES JUDICIAIS”

A CF/88 valorizou a CPI, Tanto é assim que empresta à CPI poderes de investigação próprios de juiz,
conforme o art. 58, §3º da CF:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 162


Art. 58, § 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão
poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de
outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela
Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou
separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros,
para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas
conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que
promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
Porém, no Brasil o juiz NÃO investiga, em razão do sistema acusatório adotado (art. 129, I). Prova
disso foi a declaração de inconstitucionalidade da Lei do Crime Organizado que permitia ao juiz a colheita de
provas.

Quais seriam então os poderes do juiz estendidos às CPIs? Na realidade o juiz não possui poderes
investigativos, mas sim PODERES INSTRUTÓRIOS (que têm como pressuposto a instauração de processo),
conforme o art. 370 do CPC/2015 e 209 do CPP.

NCPC - Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte,


determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências
inúteis ou meramente protelatórias.

CPP Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras
testemunhas, além das indicadas pelas partes.
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as
testemunhas se referirem.
§ 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que
interesse à decisão da causa.

Como exceção, na LOMAN (LC 35/79) existe a possibilidade de um juiz investigar o outro. Alguns
também falam que o juiz investigaria nos procedimentos originários dos Tribunais, no entanto, o STF já
decidiu que não se trata de juiz inquisidor, mas juiz meramente condutor das investigações.

Sobre a CPI: Na realidade ela possui poderes INSTRUTÓRIOS (e não investigativos) do


juiz.

Existem duas leis que regulamentam o §3º do art. 58: Lei 1.579/52 e Lei 10.001/00. Além
dessas leis, o CPC e CPP são aplicados subsidiariamente, bem como os regimentos internos.

MANDADO DE SEGURANÇA OU HABEAS CORPUS EM FACE DA CPI

Autoridade coatora: presidente da CPI


+
o CPI no legislativo da União: MS ou HC direto no STF.

o CPI estadual: MS ou HC direto no TJ.

o CPI municipal: MS ou HC perante o juiz de direito.


STF: A CPI é uma “longa manus” da casa legislativa.

Pode existir na CPI a participação de membros do MP, mediante determinação do PGR ou

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 163


PGJ (dependendo se CPI federal ou estadual).

OBJETIVOS DA CPI

São três os principais objetivos:


1º Auxiliar na atividade legiferante – ao investigar determinados fatos, a CPI consegue identificar
melhores meios para o combate ao crime. Produzindo leis de melhor qualidade.

2º Servir de instrumento de controle do governo e da administração pública 3º

Informar a opinião pública.

De acordo com a doutrina, as CPI’s são os “olhos e ouvidos” do congresso nacional, tendo em vista
que permite colher informações que servirão tanto para auxiliar às funções típicas do Congresso como para
informar a opinião pública, levando ao conhecimento do público a ocorrência e apuração de certos fatos.

COMPOSIÇÃO DA CPI

A CPI, assim como as demais Comissões Parlamentares, é regida pelo Princípio da


Representação Proporcional de partidos e de blocos partidários.

Art. 58, § 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada,


tanto quanto possível, a representação proporcional dos partidos ou dos
blocos parlamentares que participam da respectiva Casa.

Obviamente essa proporcionalidade deve ser observada dentro do possível (se só existe um representante do
partido, não irá participar de todas).

Exceção: se o partido tem três representantes somente, é preferível que fiquem divididos pelas
comissões e mesas, de modo que tenha o mínimo que seja em cada comissão, ao invés de representação
proporcional em apenas uma comissão e nas outras nenhuma representação.

SUJEITOS DA INVESTIGAÇÃO PELA CPI

Poderão ser investigados, além do Poder Executivo (alvo principal), pessoas físicas e
jurídicas, órgãos e instituições ligados à gestão da coisa pública ou que de alguma forma tenham que
prestar contas sobre bens, valores ou dinheiro públicos.

REQUISITOS PARA A INSTAURAÇÃO DA CPI

A seguir iremos analisar os requisitos e poderes da CPI em âmbito federal, são normas de
observância obrigatória (Princípio da Simetria). Significa que as CPI estadual e municipal devem respeitar.

O pedido de CPI (com os requisitos) é encaminhado à mesa, que notifica os partidos para indicarem
representantes à Comissão. Se os partidos não indicam representantes a CPI não é instaurada?
O STF decidiu que a CPI é um direito público subjetivo das minorias parlamentares. Se os
requisitos estão presentes, a CPI não pode ser inviabilizada. Os

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 164


parlamentares têm direito líquido e certo à CPI. Cabe ao presidente da mesa nomear diretamente
os representantes de cada partido.

É possível a existência de outros requisitos? As CE podem estabelecer outros


requisitos? A CE/SP prevê que o pedido de CPI (com os três requisitos) deve ser aprovado pelo plenário
da Assembleia Legislativa. O STF decidiu que essa regra é inconstitucional, pois não cabe
à CE trazer outros requisitos, o que dificulta o direito das minorias parlamentares. Somente a CF
pode estabelecer requisitos, que são normas de reprodução obrigatória.

Taques defende que a mitigação dos requisitos seria possível nas Constituições Estaduais. Os

requisitos são os seguintes:

o 1º requisito: requerimento de 1/3, no mínimo, dos deputados federais e/ou senadores;

o 2º requisito: apuração fato determinado;

o 3º requisito: prazo certo de duração;

3.6.1. Requerimento de 1/3, no mínimo, dos deputados federais e/ou senadores

Existem dois tipos de CPI: simples (formada só por deputados ou só senadores) e mista ou conjunta
(formada por deputados federais e senadores). Essa última é a chamada CPMI (Comissão parlamentar mista
de inquérito).

 1/3 de deputados = 171 deputados (total são 513).

 1/3 de senadores = 27 senadores (total são 81).

 Na CPI mista são necessários, no mínimo, 171 deputados + 27 senadores.

Desde a Constituição de Weimar (1919), é considerada um direito das minorias. Muito embora
existam países em que a CPI é um direito das maiorias, mas em geral se adota o entendimento aqui esposado.

Salienta-se que é possível a retirada de assinaturas até:

o O final do dia em que o requerimento for lido no plenário, no Senado Federal;

o O momento do protocolo do pedido de CPI perante a Mesa, na Câmara dos Deputados.

De acordo com o entendimento que o STF (MS 26441), o requerimento de 1/3 é o requisito exigido
no momento da instauração da CPI, não dependendo de ratificação. Conseguindo o 1/3 das assinaturas, ela
prossegue até o final, ou seja, os parlamentares não poderão desistir depois de assinar o documento.

STF - MS n. 26.441 A norma inscrita no art. 58, § 3º, da Constituição da


República destina-se a ensejar a participação ativa das minorias
parlamentares no processo de investigação legislativa, sem que, para tanto,
mostre-se necessária a concordância das agremiações que compõem a
maioria parlamentar. [...] O requisito constitucional concernente à
observância de 1/3 (um terço), no mínimo, para criação de determinada CPI

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 165


(CF, art. 58, § 3º) refere-se à subscrição do requerimento de instauração da
investigação parlamentar, que traduz exigência a ser aferida no momento
em que protocolado o pedido junto à Mesa da Casa legislativa, tanto que,
"depois de sua apresentação à Mesa", consoante prescreve o próprio
Regimento
Interno da Câmara dos Deputados (art. 102, § 4º), não mais se revelará
possível a retirada de qualquer assinatura. - Preenchidos os requisitos
constitucionais (CF, art. 58, § 3º), impõe-se a criação da Comissão
Parlamentar de Inquérito, que não depende, por isso mesmo, da vontade
aquiescente da maioria legislativa.

3.6.2. Apuração de ato determinado

Não se admite a criação de CPI para apuração de fatos indeterminados, por exemplo criação para
apuração da “corrupção no Brasil”, tendo em vista que deve especificar, objetivar, circunscrever o objeto da
investigação (fato concreto).

Destaca-se que a CPI só poderá apurar fatos que sejam de competência fiscalizatória do Congresso
Nacional. Igualmente, apenas fatos de interesse público podem ser investigado, não se admite CPI para
assuntos de interesse exclusivamente particular.

Importante consignar que a CPI, em âmbito federal, apenas pode investigar fatos que sejam de
interesse da União (não pode ser exclusivamente de um estado ou município, nesse caso, quem deverá
investigar, é assembleia legislativa/câmara municipal respectivamente), sob pena de violação ao pacto
federativo.

Obs.: caso o fato seja de interesse estadual, mas possua algum interesse (nexo causal) da União ou interesse
geral na sua apuração, poderá ser investigado pela CPI federal.

A necessidade de apurar fato determinado não é impeditivo para que a CPI apure fatos novos que
surgirem na investigação, sem que haja outro requerimento (basta um aditamento da petição inicial), desde
que tais fatos sejam conexos. Não havendo conexão, em tese, será necessário novo requerimento de um
terço.

STF – Inq. 2.245/MG: AMPLIAÇÃO DO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO DE


COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO NO CURSO DOS
TRABALHOS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. Não há ilegalidade no
fato de a investigação da CPMI dos Correios ter sido ampliada em razão do
surgimento de fatos novos, relacionados com os que constituíam o seu
objeto inicial. Precedentes”.

Além disso, o fato determinado deve estar dentre as atribuições daquela casa legislativa. Ex: Uma
CPI da CD não pode investigar fatos relativos a um Estado da Federação. Isso ofenderia o pacto federativo.

3.6.3. Prazo certo de duração

Não existe CPI permanente, em razão do princípio da segurança jurídica (art. 5º, caput). A CF não
prevê qual é o prazo da CPI, depende do regimento interno da Casa legislativa.

 Câmara dos Deputados é de 120 dias, prorrogado por mais 60 dias;

 Senado Federal é o prazo previsto no requerimento;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 166


 Mista é o prazo da sessão legislativa, prorrogável dentro da mesma legislatura.
PODERES DA CPI

Art. 58, § 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes


de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos
nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de
fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade
civil ou criminal dos infratores.

A CPI possui poderes previstos no regimento interno (não serão objeto de análise) e poderes próprios
de autoridades judiciais. Importante salientar que a CPI não pune ninguém, após a conclusão da
investigações, havendo indícios de ilícito, irá encaminhar às autoridades competentes.

Conforme a doutrina, os poderes da CPI possuem natureza instrumental, para que o parlamento
exerce suas funções típica de fiscalizar e legislar. Além disso, seus poderes devem respeitar os limites
impostos pelos direitos e garantias individuais.

Quando se fala em poderes próprios de autoridades judiciais, devemos ter em mente que no Brasil o
juiz não pode investigar, ou seja, em suas investigações, a CPI dispõe de poderes instrutórios que são
próprios de uma autoridade judicial.

OBS: a CPI não tem poder geral de cautela.

Teoria do Corolário - as comissões de investigação exercem uma função auxiliar do Congresso,


não possuindo qualquer poder especial que não esteja compreendido dentro das atribuições do parlamento.
Consequência lógica das funções finais que o parlamento exerce, não pode ir além das atribuições que a CF
conferiu ao parlamento.

Fundamentação - as decisões relativas a estes poderes instrutórios devem vir acompanhadas de


fundamentação adequada e contemporânea à prática do ato. Não se exige uma fundamentação tão detalhada e
precisa quanto à judicial, mas deve ser a adequada para os fins de suas funções. Sob a pena de restar ineficaz.

3.7.1. Notificar testemunhas e determinar sua condução coercitiva

Uma pessoa pode comparecer na CPI ostentando uma das três qualificações: testemunha, investigado
(indiciado) ou convidado. Desses, somente a testemunha poderá ser conduzida coercitivamente e o
investigado para atos que não seja o interrogatório

STF – ADPF 395 (Inf. 906/STF): “O Plenário, por maioria, julgou procedente
o pedido formulado em arguições de descumprimento de preceito
fundamental para declarar a não recepção da expressão "para o
interrogatório" constante do art. 260 do CPP, e a incompatibilidade com a
Constituição Federal da condução coercitiva de investigados ou de réus
para interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado (...). O Tribunal destacou que a decisão
não desconstitui interrogatórios realizados até a data desse julgamento,
ainda que

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 167


os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para o referido ato
processual. (...) De início, o relator esclareceu que a hipótese de condução
coercitiva objeto das arguições restringe-se, tão somente, àquela destinada
à condução de investigados e réus à presença da autoridade policial ou
judicial para serem interrogados. Assim, não foi analisada a condução de
outras pessoas como testemunhas, ou mesmo de investigados ou réus para
atos diversos do interrogatório, como o reconhecimento”.

HC 100.200/DF: “É jurisprudência pacífica desta Corte a possibilidade de o


investigado, convocado para depor perante CPI, permanecer em silêncio,
evitando-se a autoincriminação, além de ter assegurado o direito de ser
assistido por advogado e de comunicar-se com este durante a sua
inquirição.” (g.n.).

STF - HC 201.912/DF: “Em face do exposto, concedo, em parte, a ordem de


habeas corpus para que, não obstante a compulsoriedade de
comparecimento do paciente à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a
Pandemia da Covid-19 na qualidade de testemunha, seja a ele assegurado:
(i) o direito ao silêncio, isto é, de não responder a perguntas que possam,
por qualquer forma, incriminá-lo, sendo-lhe, contudo, vedado faltar com a
verdade relativamente a todos os demais questionamentos não abrigados
nesta cláusula;...”

OBS1: Membro do MP pode ser ouvido em CPI, no entanto não está obrigado a responder perguntas a
respeito de suas manifestações no exercício funcional. Ex: Não precisa explicar se denunciou ou não
denunciou determinada pessoa, pois atuou no exercício de suas atribuições constitucionais. Com o juiz ocorre
a mesma coisa: não é obrigado a justificar seu exercício funcional.

3.7.2. Busca e apreensão

A CPI poderá determinar a busca e apreensão de documentos e equipamentos. Contudo, não pode
haver violação do domicílio, que é protegido pela cláusula de reserva de jurisdição.

3.7.3. Requisitar perícias, exames, vistorias, documentos

A CPI possui poder de requisição.

3.7.4. Afastar sigilo bancário, fiscal e telefônico (dados), sem necessidade de autorização
judicial

A CPI é dotada de autoridade própria para afastar tais sigilos, pois a CF assim determina no art. 58,
§3º, da CF.

No entanto, é vedada a publicação desses dados, a Comissão passa a ser a depositária dos dados
sigilosos.

OBS1: CPI municipal não pode afastar os sigilos. A CPI tem poder instrutório do juiz correspondente, e
como no município não existe poder judiciário, a CPI não tem esse poder. Além disso, essa possibilidade
tornaria muito vulnerável a proteção contra a vida privada do cidadão, podendo ser usada como meios de
chantagem ou extorsões.
Salienta-se que a CPI pode determinar a quebra do sigilo telefônico, mas jamais a

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 168


interceptação telefônica que estás sujeita a cláusula de reserva de jurisdição.

LIMITES DA CPI

3.8.1. Cláusula de Reserva de Jurisdição (jurisprudência do STF)

Determinados assuntos são reservados de forma exclusiva ao poder judiciário.

 Interceptação Telefônica (art. 5º, XII)

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ORDEM JUDICIAL, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal;
 Inviolabilidade do domicílio (art. 5º, X)

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar


sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por DETERMINAÇÃO
JUDICIAL;

 Prisão (não pode expedir mandado de prisão, art. 5º LXI)

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ORDEM


ESCRITA E FUNDAMENTADA DE AUTORIDADE JUDICIÁRIA
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei;

 Processo Judicial em segredo de justiça

Se um juiz determina que o processo tramite em segredo de justiça, a CPI não poderá violar, quebrar esse
sigilo, somente a própria autoridade judicial que poderá quebrar tal sigilo.

STF - MS 23.452/RJ: “O postulado da reserva constitucional de


jurisdição importa em submeter, à esfera única de decisão dos
magistrados, a prática de determinados atos cuja realização, por efeito de
explícita determinação constante do próprio texto da Carta Política,
somente pode emanar do juiz, e não de terceiros, inclusive daqueles a
quem se haja eventualmente atribuído o exercício de ‘poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais’. (...) A cláusula
constitucional da reserva de jurisdição
- que incide sobre determinadas matérias, como a busca domiciliar (CF, art.
5º, XI), a interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e a decretação da prisão
de qualquer pessoa, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º, LXI) -
traduz a noção de que, nesses temas específicos, assiste ao Poder Judiciário,
não apenas o direito de proferir a última palavra, mas, sobretudo, a
prerrogativa de dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo-se, desse
modo, por força e autoridade do que dispõe a própria Constituição, a
possibilidade do exercício de iguais atribuições, por parte de quaisquer
outros órgãos ou autoridades do Estado”.
STF - MS 27.483 REF-MC/DF: “CPI não tem poder jurídico de, mediante
requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de decisão nem de
mandado judicial de interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 169


processo sujeito a segredo de justiça. Este é oponível a comissão
parlamentar de inquérito,

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 170


representando expressiva limitação aos seus poderes constitucionais.”

3.8.2. Autonomia federativa e separação de poderes

Com base na autonomia federativa e na separação de poderes, uma CPI não pode determinar o
comparecimento do chefe do Poder Executivo a comparecer.

STF - MS 31.689 MC/DF: “Em um primeiro exame, a interpretação


sistemática do Texto Maior conduz a afastar-se a possibilidade de comissão
parlamentar de inquérito, atuando com os poderes inerentes aos órgãos do
Judiciário, vir a convocar, quer como testemunha, quer como investigado,
Governador. Os estados, formando a união indissolúvel referida no artigo 1º
da Constituição Federal, gozam de autonomia e esta apenas é flexibilizada
mediante preceito da própria Carta de 1988.”

O mesmo entendimento aplica-se aos Magistrados em relação às decisões judiciais.

STF - HC 80.539: “1.Configura constrangimento ilegal, com evidente ofensa


ao princípio da separação dos Poderes, a convocação de magistrado a fim
de que preste depoimento em razão de decisões de conteúdo jurisdicional
atinentes ao fato investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito.
Precedentes. 2. Habeas corpus deferido.

3.8.3. Direitos e Garantias Individuais

 Privilégio da não incriminação, art. 5º, LXIII (Nemo tenetur se detegere).

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de


permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;

 Sigilo de ofício e sigilo profissional (art. 5º, XIV)

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da


fonte, quando necessário ao exercício profissional;

3.8.4. Medidas acautelatórias

A finalidade do poder geral de cautela é assegurar a efetividade do provimento final.

Busca e apreensão de documentos seria uma manifestação do PGC? Nesse caso, a


finalidade não é garantir a efetividade do provimento final, porque a CPI não busca condenar ninguém, ela
apreende não para assegurar a decisão final, mas para investigar o fato através dos documentos.

A CPI não pode:

-NÃO pode determinar a indisponibilidade de bens;


-NÃO pode proibir ninguém de ausentar-se do país;

-NÃO pode determinar arresto, sequestro e hipoteca judiciária.

3.8.5. Acusações

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 171


Não formula acusações e não pode punir delitos. Após a conclusão dos trabalhos, deve mandar para
o MP, a fim de tome as responsabilidades penais ou cíveis cabíveis.

QUADRO CPI

CPI
Requisitos Poderes Limites
I) Requerimento de 1/3 dos I) Previstos no regimento I) Direitos fundamentais
membros; interno individuais
a) sigilo profissional (CF, art.
5.º, XIV);
b) assistência de advogado e
direito ao silêncio (CF, art. 5.º,
LXIII
II) Apuração de fato II) Próprios de autoridade II) Reserva constitucional de
determinado judicial (medidas instrutórias): jurisdição:
a) quebra de sigilo bancário, a) invasão de domicílio (CF,
fiscal, telefônico e de dados; art. 5.º, XI);
b) busca e apreensão de b) interceptação telefônica
documentos; (CF, art. 5.º, XII);
c) condução coercitiva para c) prisão, salvo flagrante delito
depoimento; (CF, art. 5.º, LI);
d) realização de exames d) sigilo imposto a processo
periciais. judicial (CF, art. 5.º, LX c/c o
art. 93, IX).
III) Prazo certo de duração. III) Separação dos poderes:
a) formular acusações;
b) punir delitos.
IV) Medidas acautelatórias:
a) indisponibilidade de bens;
b) proibição de ausentar-se do
país;
c) arresto;
d) sequestro;
e) hipoteca judiciária

CPI NO ÂMBITO ESTADUAL

3.10.1. Requisitos
Como vimos, são normas de observância obrigatória (Princípio da Simetria), ou seja, são os mesmos
da CPI no âmbito da União (requerimento de pelo menos 1/3, apuração de fato determinado e prazo certo de
duração).

STJ PET AgRg 1611/RO. Nesta decisão, o STJ entendeu que CPI estadual não pode investigar
autoridades que estão submetidas a foro por prerrogativa.

STJ – PET 1.611 AgRg/RO: “CPIs estaduais não têm competência para
investigar autoridades que estão submetidas a foro privilegiado federal. A

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 172


autoridade contra quem se pede a quebra dos sigilos bancário e fiscal tem
foro privilegiado no Superior Tribunal de Justiça. Desse modo, só há
possibilidade de se determinar a medida requerida, desde que preenchidos
os pressupostos legais, no âmbito de Comissão Parlamentar de Inquérito
instaurada pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, ou no
curso de notícia-crime, inquérito ou ação penal tramitando perante o
Superior Tribunal de Justiça.”

3.10.2. Poderes da CPI estadual

São simétricos ao da CPI Federal, desde que dentro dos limites da competência fiscalizatória da
Assembleia legislativa.

Quebra de sigilos: STF decidiu que a CPI Estadual pode determinar a quebra de sigilo bancário.

OBS: alguns regimentos internos, a exemplo da assembleia de SP conferem poderes expressos para quebra
de sigilo bancário, fiscal, telefônico e de dados. O STF até agora não se manifestou sobre isto, mas parece
que seguindo a linha do entendimento do sigilo bancário, não há óbice.

3.10.3. HC e MS

É impetrado contra autoridade coatora ou o presidente da CPI (regra geral). Na CPI federal, a
competência para julgar é do STF; na estadual, é do TJ.

CPI NO ÂMBITO MUNICIPAL

3.11.1. Fundamentos

Com base no Princípio da Simetria, conforme a doutrina e a jurisprudência, é possível a criação de


CPI no âmbito municipal.

3.11.2. Poderes

Terá poderes mais restritos do que as outras CPI’s. Em razão da inexistência de poder judiciário no
âmbito municipal, a CPI municipal não poderá ter poderes próprios de autoridade judiciária, pois isto seria
atribuir ao município uma competência que não lhe foi dada pela constituição.

Impossibilidade de condução coercitiva de testemunha


STF RE 96.049/SP (1983, depois da CF/88 não há decisões). Nesta decisão, o STF entendeu que
CPI municipal não pode determinar condução coercitiva de testemunha.

3.11.3. HC e MS

Autoridade coatora e presidente da CPI. A competência para analisar será do Juiz de 1º


grau.

TÉRMINO DOS TRABALHOS DA CPI

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 173


Ao final dos trabalhos é elaborado um relatório que deve ser votado e aprovado pela CPI (assim
como todas as diligências também devem ser aprovadas pela comissão por maioria absoluta
- princípio da colegialidade) através de uma resolução.

Este relatório (junto com a resolução que o aprovou), em sendo o caso, é remetido ao chefe do
Ministério Público, ou ainda às autoridades administrativas ou judiciais com poder de decisão. O que
significa dizer que a CPI não está obrigada a enviar o relatório ao MP, a depender da oportunidade e
conveniência política (é decisão discricionária). Entretanto, pode o MP requisitar o relatório, assim como os
documentos que o guarnecem.

De posse do relatório, o MP promove as ações penais e cíveis eventualmente cabíveis. O relatório da


CPI não vincula o MP (tal como o inquérito policial não vincula o MP).

O membro do MP tem prazo para se manifestar a respeito dos documentos


remetidos pela CPI? SIM, a lei 10.001/00 diz que o MP deve dar prioridade ao relatório da CPI, se
manifestando em 30 dias.

Lei 10.001/00 - Art. 2o A autoridade a quem for encaminhada a resolução informará ao rem

Lembrando que O MP não precisa esperar o relatório da CPI para propor a ação (vide caso
mensalão).

A CPI também pode, ao fim dos trabalhos, apresentar projeto de lei, conforme o art. 61 da
CF.

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer


membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou
do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.

Na CPI no legislativo da união, o relatório é enviado ao PGR que distribui entre os Estados.

4. GARANTIAS DO PODER LEGISLATIVO

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
A finalidade das garantias é assegurar a INDEPENDÊNCIA e a LIBERDADE dos membros do
Poder Legislativo. Salienta-se que as garantias são IRRENUNCIÁVEIS, exatamente pelo fato de não
pertencerem ao indivíduo, mas sim ao Poder Legislativo.

Um parlamentar que se afasta de sua função para exercer outro cargo mantém suas
imunidades? NÃO. Se um parlamentar não está exercendo suas funções, por estar ocupando cargo de
Ministro do Estado, perde suas imunidades material e formal, bem como o foro por prerrogativa de função,
pois não está exercendo as funções legislativas. A Súmula 04 do STF, que previa o contrário, está superada.

Salienta-se que o suplente não é considerado um parlamentar, não possuindo qualquer das garantias
do Poder Legislativo.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 174


A Constituição prevê que nos casos de ESTADO DE SÍTIO as garantias irão prevalecer, salvo se
houver voto de dois terço dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do
Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.

CF, art. 53, § 8º: As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão


durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de
dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados
fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a
execução da medida.

O dispositivo constitucional refere-se apenas ao ESTADO DE SÍTIO (art. 137 CF), o ESTADO DE
DEFESA é menos grave (art. 136), e não tendo previsão, prevalece que as imunidades não podem ser
suspensas neste caso. Normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente. A Constituição
estabelece a exceção que é a suspensão, apenas para esta hipótese mencionada, não se pode estender ao
estado de defesa.

SENADORES E DEPUTADOS FEDERAIS

4.2.1. Foro por prerrogativa de função

Fundamenta-se no art. 53, §1º c/c o art. 102, I, alínea “b”, ambos da CF.

Art. 53, § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma,


serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o
Procurador-Geral da República;

Perceba que a prerrogativa será apenas para os casos de infrações penais comuns, não se
aplicando, por exemplo, as casos de improbidade administrativa.

No passado o STF (entendimento superado) afirmava que o foro por prerrogativa de função iniciava-
se com a expedição do diploma (antes da posse) e terminava com o fim do mandato (fim da legislatura,
cassação ou renúncia do parlamentar). Admitia algumas exceções, em que o foro iria
prevalecer, quais sejam: início do julgamento, abuso de direito (renúncia do parlamentar para
deslocamento de competência).

No julgamento da AP 937 QO/RJ, o STF superou o entendimento acima, passando a entender que o
foro por prerrogativa de função se aplica apenas a crimes cometidos no exercício do cargo E em razão das
funções desempenhadas. Reforçou, ainda, que após as alegações finais, a competência não poderá ser
alterada. Utilizou como argumentos para a alteração do seu entendimento:

o Disfuncionalidade criada pela regra antiga – a quantidade de pessoas com foro por
prerrogativa de função, sem que haja qualquer relação com o desempenho das funções
parlamentares que se pretende proteger, causava múltiplas disfuncionalidades;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 175


o Capacidades institucionais – a missão do STF é guardar a Constituição, não se ater a questões
penais que não se referem ao exercício do mandato. O que acaba gerando prescrição e,
consequentemente, a impunidade;

o Princípios da Isonomia e Princípio Republicado – acaba-se violando tais princípios, pois se


protegias agentes públicos em casos não relacionados ao exercício de seus mandatos.

Como já mencionado, o foro por prerrogativa abrange apenas as infrações penais comuns. Nesta
categoria, enquadram-se diversos tipos de crimes, inclusive contravenções penais, infrações eleitorais e os
crimes dolosos contra a vida. Além disso, os inquéritos policiais contra as autoridades com foro por
prerrogativa não podem ser instaurados de ofício pela Polícia Federal, é necessária a iniciativa do PGR, com
a supervisão dos inquéritos pelo STF.

STF – Pet 3.825 QO/MT: A iniciativa do procedimento investigatório deve


ser confiada ao MPF contando com a supervisão do Ministro-Relator do
STF. 10. A Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício inquérito
policial para apurar a conduta de parlamentares federais ou do próprio
Presidente da República. No exercício de competência penal originária do STF
(CF, art. 102, I, "b" c/c Lei nº 8.038/1990, art. 2º e RI/STF, arts. 230 a 234), a
atividade de supervisão judicial deve ser constitucionalmente desempenhada
durante toda a tramitação das investigações desde a abertura dos
procedimentos investigatórios até o eventual oferecimento, ou não, de
denúncia pelo dominus litis.

Há determinados crimes em que se admite à exceção da verdade, a qual é admitida, processa e


julgada pelo mesmo juiz da ação penal. Contudo, quando a exceção da verdade é deduzida contra alguém
que possui foro por prerrogativa de função no STF, ele não instrui o processo (caberá ao juiz primeiro grau),
para posterior julgamento pelo STF.

STF – AP 602/SC: A exceção da verdade, quando deduzida nos crimes


contra a honra que autorizam a sua oposição, deve ser admitida,
processada e julgada, ordinariamente, pelo juízo competente para apreciar a
ação penal condenatória. Tratando-se, no entanto, de “exceptio veritatis”
deduzida contra pessoa que dispõe, “ratione muneris”, de prerrogativa de
foro perante o STF (CF, art. 102, I, “b” e “c”) a atribuição da Suprema
Corte restringir-se-á,
unicamente, ao julgamento da referida exceção, não assistindo, a este
Tribunal, competência para admiti-la, para processá-la ou, sequer, para
instruí-la, razão pela qual os atos de dilação probatória pertinentes a esse
procedimento incidental deverão ser promovidos na instância ordinária
competente para apreciar a causa principal (ação penal condenatória).
Precedentes.

Nos casos em que a infração foi praticada por pessoas com foro por prerrogativa de função e por
pessoas sem foro, a regra é o desmembramento do processo. Consequentemente, as pessoas sem foro serão
julgadas nas instâncias ordinárias. Isso ocorre porque a competência penal do STF é de direito estrito,
estando prevista taxativamente na CF/88. Logo, não pode ser ampliada indevidamente por normas de direito
infraconstitucional, como é o caso dos dispositivos do CPP que tratam sobre a reunião de processos em caso
de conexão. Em outras palavras, não se pode ampliar a competência constitucional do STF por força de uma
lei ordinária (CPP) que determina o julgamento em conjunto

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 176


STF – Inq 3.515 AgR/SP: O desmembramento de inquéritos ou de ações
penais de competência do STF deve ser regra geral, admitida exceção nos
casos em que os fatos relevantes estejam de tal forma relacionados que o
julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação
jurisdicional.

No entanto, em casos excepcionais, será possível que os demais réus que não têm foro por
prerrogativa de função também sejam julgados pelo STF em um único processo. Isso se justifica quando o
julgamento em separado puder trazer algum prejuízo relevante à prestação jurisdicional.

A decisão que determina que não haverá o desmembramento e que os réus sem foro privativo
também serão julgados pelo Tribunal não viola os princípios do juiz natural, da ampla defesa, do devido
processo legal e do duplo grau de jurisdição.

STF Súmula 704 STF - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa
e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do
processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.

4.2.2. Imunidade material

a) Outras denominações

A imunidade material também é chamada de real, de substantiva, de inviolabilidade e de


freedom of speech.

b) Previsão constitucional

Está consagrada no caput, do art. 53, da CF. Vejamos:

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por


quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

Refere-se ao conteúdo das manifestações dos parlamentares.

c) Conexão com o exercício do mandato


É necessário determinar se ocorreu dentro ou fora do Congresso Nacional.

o Imunidade material DENTRO do Congresso Nacional - o STF entende que a manifestação


sequer precisa guardar conexão com o exercício da função parlamentar (presunção
absoluta). Demais excessos devem ser reprimidos pela própria casa, como se fosse uma
questão interna corporis. RE AgRg 463671 (decisão de 2007).

o Imunidade material FORA do Congresso Nacional - só estarão protegidas se guardarem


conexão com o exercício da função parlamentar.

Exemplos:

Eurico Miranda, era presidente do Vasco e Deputado Federal, falou que o juiz teria recebido
dinheiro para favorecer o Palmeiras em certo jogo. Foi condenado, tendo em vista suas
palavras não tinham relação com as suas funções.

Jair Bolsonaro, quando ainda parlamentar, afirmou, dentro do plenário, que Maria do
Rosário não merecia ser estuprada, estava amparado pela imunidade.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 177


Posteriormente, em uma entrevista para a rádio gaúcha, repetiu a mesma frase, desta
vez, por estar fora do Congresso Nacional, foi processado.

STF – Inq 3.932/DF: “13. In casu, (i) a entrevista concedida a veículo de


imprensa não atrai a imunidade parlamentar, porquanto as
manifestações se revelam estranhas ao exercício do mandato legislativo, ao
afirmar que “não estupraria” Deputada Federal porque ela “não merece”; (ii)
o fato de o parlamentar estar em seu gabinete no momento em que
concedeu a entrevista é fato meramente acidental, já que não foi ali que se
tornaram públicas as ofensas, mas sim através da imprensa e da internet;
(...) 15. (i) A imunidade parlamentar incide quando as palavras tenham sido
proferidas dentro do recinto da Câmara dos Deputados: “Despiciendo,
nesse caso, perquirir sobre a pertinência entre o teor das afirmações
supostamente contumeliosas e o exercício do mandato parlamentar” (Inq.
3814, Primeira Turma, Rel. Min. Rosa Weber, unânime, j. 07/10/2014, DJE
21/10/2014). (ii) Os atos praticados em local distinto escapam à proteção da
imunidade, quando as manifestações não guardem pertinência, por um
nexo de causalidade, com o desempenho das funções do mandato
parlamentar.”

Houve um caso em que um parlamentar publicou em rede social, retirando de contexto, uma
frase de Jean Wyllys que parecia racista. STF afastou a imunidade.

STF – PET 5705 / DF: In casu, o Querelado é acusado de ter publicado,


através do Facebook, trecho cortado de um discurso do Querelante,
conferindo-lhe conotação racista. 3. É que, no trecho publicado, reproduz-se
unicamente a frase “uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa”.
Ocorre que, ao conferir-se a íntegra do discurso no site do Congresso
Nacional, verifica-se que o sentido da fala do Querelante era absolutamente
oposto ao veiculado pelo Querelado. conforme se extrai do seguinte trecho:
“há um imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de
segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa.
[...] a imunidade material não confere aos parlamentares o direito de
empregar expediente fraudulento, artificioso ou ardiloso, voltado a
alterar a verdade da informação, com o fim de desqualificar ou imputar
fato desonroso à reputação de terceiros.

Embora a Constituição preveja apenas a inviolabilidade civil e penal, a doutrina sustenta que também há
inviolabilidade administrativa e política.

d) Natureza jurídica

o Pontes de Miranda - Causa de exclusão de crime;

o Basileu Garcia - Causa que se opõe à formação do crime;

o Aníbal Bruno - Causa pessoal de exclusão de pena;

o Magalhães Noronha - Causa de irresponsabilidade;

o Frederico Marques - Causa de incapacidade pessoal por razões de política criminal;

o STF - Causa de excludente de tipicidade.

e) Extensão da imunidade material

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 178


Caso1 - Imagine que um parlamentar vá até uma revista e faz uma denúncia.

O parlamentar está protegido pela imunidade que se estende a fatos cobertos pela imprensa. Se a
imprensa divulga uma informação que foi fornecida por um parlamentar, não poderá ser responsabilizada
(STF).

Caso2 – em uma CPI a resposta dada no calor do debate (por quem não tem imunidade) em face do
parlamentar, também está abrangida pela imunidade material.

4.2.3. Imunidade formal

Também chamada de incoercibilidade pessoal relativa, de imunidade processual e de


freedom from arrest.

Pertinente destacar que a imunidade formal foi substancialmente alterada pela EC 35/01, tendo em
vista que houve a substituição do princípio da improcessabilidade pelo princípio da processabilidade. Em
outras palavras, antes de 2001 para que os parlamentares respondessem por algum processo seria necessária a
autorização da casa respectiva; após o advento da EC 35/01, o STF apenas dá ciência a casa respectiva, não
há mais a necessidade de autorização.

ANTES EC 35/01 DEPOIS EC 35/01

Abrangia qualquer crime, praticado Abrange qualquer crime praticado


antes ou depois da diplomação. APÓS a diplomação.

Para o processo iniciar-se, o STF O STF não mais depende de


dependia de autorização da casa autorização para iniciar o
respectiva. processo.
Porém, a casa respectiva pode
SUSTAR o seu andamento.

Enquanto não autorizado a Suspenso o processo não corre a


prescrição não corria. prescrição.

Atenção para a Súmula 245 do STF que se aplica apenas aos casos de imunidade formal, tendo em
vista que faz referência “ao corréu”. Na imunidade material há uma causa excludente de tipicidade, por isso
não há que se falar em corréu, pois não houve crime cometido pelo parlamentar.

SÚMULA 245 - A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 179


prerrogativa.

A imunidade formal possui dois aspectos: um relacionado à prisão e outro relacionado ao processo.

 PRISÃO

Prevista no art. 53, §2º, da CF.

Art. 53 § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso


Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria (absoluta) de
seus membros, resolva sobre a prisão.

A expressão “presos” refere-se à impossibilidade de prisão penal cautelar, salvo no caso de flagrante
de crime inafiançável. Portanto, tratando-se de prisão penal condenatória transitada em julgado (prisão
definitiva) não há impedimento.

Havendo prisão em flagrante por crime inafiançável, a Casa do parlamentar (Câmara dos Deputados
ou Senado Federal) irá deliberar, por maioria absoluta de seus membros, acerca de uma possível perseguição,
da legalidade, da abusividade da prisão, decidindo se é conveniente ou não o manter preso.

Com a imunidade formal relativa à prisão, visa-se evitar que a pessoa que foi eleita por voto popular
seja impedida de exercer o seu mandato por alguma perseguição política.

Em relação às medidas cautelares diversas da prisão, na ADI 5.526/DF o STF firmou o seguinte
entendimento:
o O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade
própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão
em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e
específicas menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional
gravidade;

o A decisão judicial que estabelecer medidas cautelares que impossibilitem, direta ou


indiretamente, o pleno e regular exercício do mandato parlamentar e de suas funções
legislativas, será remetida, dentro de 24 horas, a Casa respectiva, nos termos do §2º do art.
53 da CF/88, para que, pelo voto nominal e aberto da maioria de seus membros, resolva
sobre a medida cautelar.

O STF utilizou os seguintes fundamentos:

o Independência e harmonia que rege o Princípio da Separação de Poderes;

o Ratio da norma (razão da norma) deve ser a mesma, já que ao impor medidas cautelares
diversas da prisão que impossibilitem o exercício do mandato, sem a deliberação da Casa,
irá afastar a razão da norma.

Em relação imunidade por prisão civil por dívida de parlamentar, a doutrina entende que não se
aplica, portanto, não haveria impedimento. Não há decisão no STF, mas há uma decisão monocrática do STJ
no mesmo sentido da doutrina.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 180


STJ – HC 332.246/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, monocrática: “[...]
o fato de exercer múnus público exige do titular o dever de portar-se como
exemplo de probidade, honra e cumprimento de deveres civis, nos quais o
acatamento de ordens judiciais encontra-se inserido. Contudo, pelo que está
relatado nos autos, pretende-se justamente o contrário, pois o exercício da
função pública está sendo utilizado como meio de livrar o paciente das
consequências do inadimplemento obrigacional, já que, das palavras
destacadas na peça vestibular não há uma sequer em defesa de eventual
desacerto da obrigação alimentar imposta ao paciente. Toda assertiva
refere- se tão somente ao fato de, por ser deputado estadual, estar isento
de ser preso nos termos do art. 733, § 1º, do Código de Processo Civil. Sem
razão os impetrantes, pois a imunidade parlamentar não exime o paciente
de suas obrigações civis.”

 PROCESSO

Está prevista no art. 53, §3º, da CF

Art. 53 § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime


ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à
Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e
pelo voto da maioria (absoluta) de seus membros, poderá, até a decisão final,
sustar o andamento da ação.
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo
improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa
Diretora.
§ 5º A sustação do processo suspende a PRESCRIÇÃO, enquanto durar o
mandato.

O STF recebe a denúncia, ato contínuo é cientificada a casa que o parlamentar faz parte. Se a maioria
absoluta dos membros da respectiva casa entender que há motivos (perseguição política, por exemplo),
poderá suspender o andamento do processo, mas isso se dará somente até a decisão final.

Quando se suspende o processo, suspende-se a prescrição. Mesmo quando não há previsão expressa
na CF, segundo o STF suspende a prescrição, pois a finalidade não é a impunidade e sim evitar perseguições
políticas.

OBS: em relação aos crimes cometidos antes da diplomação, não se aplica a imunidade formal quanto ao
processo. É julgado normalmente, apenas no foro pela prerrogativa de função, no caso o STF.

Caso o parlamentar que teve o processo suspenso, seja reeleito para novo mandato, como o crime foi
praticado antes do mandato atual (decorrente da nova eleição), não mais haverá a suspensão.

STF – AC 700 AgR: Carece de plausibilidade jurídica, para o fim de atribuir-


se efeito suspensivo a recurso extraordinário, a tese de que a norma inscrita
no atual § 3º do art. 53 da Magna Carta se aplica também a crimes
ocorridos após a diplomação de mandatos pretéritos.

4.2.4. Outras garantias

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 181


Sigilo de fonte: Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações
recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles
receberam informações (art. 53, §6º).

Art. 53 § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar


sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do
mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam
informações.

Incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores: A incorporação às Forças Armadas de


Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da
Casa respectiva (art. 53, §7º).

Ar.t 53 § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores,


embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia
licença da Casa respectiva.

DEPUTADOS ESTADUAIS E DISTRITAIS

4.3.1. Previsão legal e considerações

A Súmula 03 do STF, anterior à CF/88, previa que a imunidade concedida a deputados estaduais era
restrita à Justiça do Estado. Tal entendimento encontra-se superado, tendo em vista que antes da CF/88 eram
as Constituições Estaduais que conferiam imunidades aos deputados estaduais.
Após o advento da CF/88, a própria Constituição passou a conferir imunidades aos
deputados estaduais, não se aplicando mais a Súmula 3 do STF.

Art. 27, § 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,


aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral,
INVIOLABILIDADE (imunidade material), IMUNIDADES (imunidade
formal), remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e
incorporação às Forças Armadas.

Conforme entende o STF, as regras de imunidade são aplicadas de FORMA IMEDIATA E


INTEGRAL aos deputados estaduais. Em outras palavras, tudo que for atribuído aos deputados federais deve
ser aplicado aos deputados estaduais, além disso, mesmo que a constituição estadual esteja em desacordo
com a CF, deverá ser aplicada a CF.

STF - ADI 5.823 MC/RN; 5.824 MC/RJ e 5.825/MT (Julgamento: 8/5/2019):


Os deputados estaduais têm direito às imunidades formal e material
conferidas pelo constituinte aos congressistas, no que estendidas,
expressamente, pelo § 1º do art. 27 da Constituição da República.

Portanto, tudo que vimos acerca das imunidades material e formal será aplicado aos deputados
estaduais, sem restrição.

Por fim, aos deputados distritais aplicam-se as mesmas regras previstas para os deputados estaduais.

CF, art. 32, §3º: Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o
disposto no art. 27.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 182


4.3.2. Foro por prerrogativa de função

De acordo com o entendimento prevalecente no STF (embora não seja entendimento consolidado), a
expressão “imunidades” do art. 27, §1º, da CF abrange a imunidade relativa à prisão, ao processo e, também,
ao foro por prerrogativa de função que será estabelecido pela CF e não apenas pela constituição estadual.

Em regra, o órgão competente será o Tribunal de Justiça. Contudo, caso o parlamentar estadual
pratique crime contra bens, serviços ou interesses da União, de suas autarquias ou empresas públicas
federais, o foro por prerrogativa será no TRF; caso pratique algum crime eleitoral, o foro por prerrogativa
será no TRE.

Atenção para a Súmula Vinculante 45 do STF:

SV 45 - A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o


foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela
Constituição Estadual.

A súmula fixou o entendimento de que a competência do Tribunal do Júri deve prevalecer,


mencionando que a regra vale para casos em que a prerrogativa de função seja estabelecida exclusivamente
na Constituição estadual. Assim sendo, conclui-se que a regra inserta na súmula é aplicável aos casos em que
não houver previsão constitucional sobre a prevalência do foro por prerrogativa de função em detrimento
do júri, como seria a situação, por exemplo, de uma
Constituição estadual atribuir foro por prerrogativa de função aos delegados civis. Ou ainda, atribuir foro
por prerrogativa aos Vereadores.

Começa-se a sustentar que o enunciado da SV 45 do STF está superado, tendo em vista o novo
entendimento do Supremo prevendo que as constituições estaduais não podem dispor livremente sobre o foro
por prerrogativa de função, nem mesmo pode ser aplicado o Princípio da Simetria.

Portanto, como a Constituição estadual não pode dispor livremente sobre foro por prerrogativa de
função, consequentemente não poderá estabelecer tal garantia, havendo a superação da Súmula Vinculante
25 (entendimento da doutrina, STF ainda não se manifestou). Salienta-se que no caso dos deputados
estaduais nunca se aplicou o entendimento sumulado, já que é estabelecido pela própria Constituição.

Em suma, as constituições estaduais não podem dispor livremente sobre prerrogativa de foro. Nesse
sentido, ADI 2553.

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por


prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do
Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia.
STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940).

Segundo destacada Novelino, ao analisar a ratio decidendi da ADI 2553, percebe-se que não fica
restrita apenas às autoridades mencionadas, mas sim a qualquer tipo de autoridade, em razão dos seguintes
fundamentos:

o O juiz natural para o julgamento é o de primeira e segunda instâncias, sendo o foro

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 183


por prerrogativa de função uma exceção. Portanto, deve ser interpretado restritivamente;

o Não se aplica o Princípio da Simetria, eis que a própria CF estabelece o foro por prerrogativa de
função nos três níveis: federal, estadual e municipal;

o Permitir que as constituições estaduais conferirem foro por prerrogativas de função, seria
conferir um “cheque em branco” aos parlamentares estaduais.

Onde estão previstas as regras sobre o foro por prerrogativa de função?


Em regra, os casos de foro por prerrogativa de função são previstos na Constituição
Federal. Exs: art. 102, I, “b” e “c”; art. 105, I, “a”.
As Constituições estaduais podem prever casos de foro por prerrogativa de função desde
que seja respeitado o princípio da simetria com a Constituição Federal. Isso significa que a
autoridade estadual que “receber” o foro por prerrogativa na Constituição Estadual deve
ser equivalente a uma autoridade federal que tenha foro por prerrogativa de função na
Constituição Federal.
Essa autorização para que as Constituições Estaduais prevejam hipóteses de foro por
prerrogativa de função no TJ existe por força do art. 125, § 1º, da CF/88:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de
organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Assim, à luz do disposto no art. 125, § 1º, da Constituição Federal, o constituinte estadual
possui legitimidade para fixar a competência do Tribunal de Justiça e, por conseguinte,
estabelecer a prerrogativa de foro às autoridades que desempenham funções similares na
esfera federal.
O poder dos Estados-membros de definirem, em suas constituições, a competência dos
tribunais de justiça está limitado pelos princípios da Constituição Federal (arts. 25, § 1º, e
125, § 1º).
A autonomia dos estados para dispor sobre autoridades submetidas a foro privilegiado não
é ilimitada, não pode ficar ao arbítrio político do constituinte estadual e deve seguir, por
simetria, o modelo federal.
A Constituição Estadual pode conferir foro por prerrogativa de função para Defensores
Públicos e Procuradores do Estado?
NÃO. É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por
prerrogativa de função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Isso porque a
Constituição Federal não confere prerrogativa de função para Defensores Públicos nem
para Procuradores do Estado. Logo, a Constituição Estadual não poderia ter estendido o
foro por prerrogativa de função a essas autoridades.
As normas que estabelecem o foro por prerrogativa de função são excepcionais e devem
ser interpretadas restritivamente, não cabendo ao legislador constituinte estadual

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 184


estabelecer foro por prerrogativa de função a autoridades diversas daquelas listadas na
Constituição Federal, a qual não cita Defensores Públicos nem Procuradores.
Em atenção ao princípio republicano, ao princípio do juiz natural e ao princípio da
igualdade, a regra geral é que todos devem ser processados pelos mesmos órgãos
jurisdicionais. Apenas a fim de assegurar a independência e o livre exercício de alguns
cargos, admite-se a fixação do foro privilegiado.
Logo, como não existe essa simetria em nível federal, não é possível que esse foro por
prerrogativa seja conferido em nível estadual.

É inconstitucional, por violação ao princípio da simetria, norma de Constituição


Estadual que confere foro por prerrogativa de função a autoridades que não
guardam semelhança com as que o detém na esfera federal.
STF. Plenário ADI 6511/RR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/9/2022 (Info 1067).

O STF adota uma compreensão restritiva sobre a matéria, de modo que os estados-
membros devem observância ao modelo adotado na CF/88.
Assim, não pode o ente estadual, de forma discricionária, estender o foro por prerrogativa de
função à cargos diversos daqueles abarcados pelo legislador federal, sob pena de violação às
regras de reprodução automática.

IMUNIDADES DOS VEREADORES

4.4.1. Foro por prerrogativa de função

Não há na Constituição previsão de foro por prerrogativa de função aos vereadores.

Até 2019, o STF permitia que as Constituições Estaduais concedessem. Contudo, diante do novo
entendimento do STF, segundo Novelino, não mais se admite.

Em maio de 2018, o STF decidiu restringir o foro por prerrogativa de função e afirmou que:
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900).

Assim, o foro por prerrogativa de função exige contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos
em apuração e o exercício da função pública.

4.4.2. Imunidade material

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 185


Após o advento da CF/88, os vereadores passaram a ter imunidade material, que é restrita aos limites
territoriais do município.
Art.29 VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e
votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município;

Há doutrina que sustenta que a imunidade deve estar relacionada aos interesses do município.
Seria o caso, por exemplo, de um vereador de uma pequena cidade que vai a um debate na rádio da cidade
vizinha, para tratar de questões municipais, e acaba ofendendo alguém. Não haveria sentido em não aplicar a
imunidade.

A expressão “no exercício do mandato” é interpretada, pelo STF, como nexo de causalidade no
exercício da função, mesmo que as palavras e opiniões tenham sido proferidas dentro da Câmara.

STF – RE 600.063/SP: 1. Vereador que, em sessão da Câmara, teria se


manifestado de forma a ofender ex-vereador, afirmando que este “apoiou a
corrupção [...], a ladroeira, [...] a sem-vergonhice”, sendo pessoa sem
dignidade e sem moral. 2. Observância, no caso, dos limites previstos no
art. 29, VIII, da Constituição: manifestação proferida no exercício do
mandato e na circunscrição do Município (...) 5. A ausência de controle
judicial não imuniza completamente as manifestações dos parlamentares,
que podem ser repreendidas pelo Legislativo. 6. Provimento do recurso,
com fixação, em repercussão geral, da seguinte tese: nos limites da
circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do
mandato, os vereadores são imunes judicialmente por suas palavras,
opiniões e votos.

4.4.3. Imunidade formal

Vereadores não têm imunidade FORMAL.

De acordo com o STF as Constituições Estaduais não podem estabelecer imunidade formal para
vereadores.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 186


STF – ADI 371/SE: 1. O Estado-membro não tem competência para
estabelecer regras de imunidade formal e material aplicáveis a Vereadores.
A Constituição Federal reserva à União legislar sobre Direito Penal e
Processual Penal. 2. As garantias que integram o universo dos membros do
Congresso Nacional (CF, artigo 53, §§ 1º, 2º, 5º e 7º), não se comunicam
aos componentes do Poder Legislativo dos Municípios. Precedentes.

5. PERDA DE MANDATO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente, pertinente distinguirmos a figura do suplente de parlamentar da figura de parlamentar


licenciado.

SUPLENTE DE PARLAMENTAR PARLAMENTAR LICENCIADO

Não é considerado parlamentar. Por Não perde o vínculo com o parlamento.


isso, as hipóteses de perda de mandato Consequentemente, as hipóteses de perda
não são aplicadas de mandato serão aplicadas.

O art. 56, da CF, traz as hipóteses em que não haverá perda de mandato. Vejamos:

Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território,
Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de
Capital ou chefe de missão diplomática temporária;
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar,
sem remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o
afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.
§ 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidura em
funções previstas neste artigo ou de licença superior a cento e vinte dias.
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-
la se faltarem mais de quinze meses para o término do mandato.
§ 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador poderá optar pela
remuneração do mandato.

Exemplo de parlamentar licenciado foi o de José Dirceu, deputado federal nomeado a Ministro da
Casa Civil, que praticou alguns atos incompatíveis com o decoro parlamentar. O STF entendeu que, mesmo
licenciado, poderia responder pelos seus atos e perder o mandato.

- STF – MS 25.579 MC/DF: 3. O membro do Congresso Nacional que se


licencia do mandato para investir-se no cargo de Ministro de Estado não
perde os laços que o unem, organicamente, ao Parlamento (CF, art. 56, I).
Consequentemente, continua a subsistir em seu favor a garantia
constitucional da prerrogativa de foro em matéria (STF alterou esse
entendimento na AP 670) CF, art. 57, caput: “O Congresso Nacional reunir-
se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º
de agosto a 22 de dezembro. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
50, de 2006)”, bem como a faculdade de optar pela remuneração do
mandato (CF, art. 56, § 3º). Da mesma forma, ainda que licenciado,

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 187


cumpre-lhe

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 188


guardar estrita observância às vedações e incompatibilidades inerentes ao
estatuto constitucional do congressista, assim como às exigências ético-
jurídicas que a Constituição (CF, art. 55, § 1º) e os regimentos internos das
casas legislativas estabelecem como elementos caracterizadores do decoro
parlamentar. 4. Não obstante, o princípio da separação e independência dos
poderes e os mecanismos de interferência recíproca que lhe são inerentes
impedem, em princípio, que a Câmara a que pertença o parlamentar o
submeta, quando licenciado nas condições supramencionadas, a processo
de perda do mandato, em virtude de atos por ele praticados que tenham
estrita vinculação com a função exercida no Poder Executivo (...), uma vez
que a Constituição prevê modalidade específica de responsabilização política
para os membros do Poder Executivo (CF, arts. 85, 86 e 102, I, c). 5. Na
hipótese dos autos, contudo, embora afastado do exercício do mandato
parlamentar, o Impetrante foi acusado de haver usado de sua influência
para levantar fundos junto a bancos "com a finalidade de pagar parlamentares
para que, na Câmara dos Deputados, votassem projetos em favor do
Governo"
(...). Tal imputação se adequa, em tese, ao que preceituado no art. 4º, inciso
IV do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.

Tratando-se de ato incompatível com o decoro parlamentar, mesmo praticado antes do mandato,
poderá ensejar a cassada. Logo, o fato não necessita ser contemporâneo.

STF - MS 23.388/DF: Tese invocada, acerca da inexistência de


contemporaneidade entre o fato típico e a competência da atual legislatura,
que se rejeita.

CASSAÇÃO DO MANDATO

5.2.1. Conceito

A cassação ocorre quando a perda do mandato é DECIDIDA pela Casa (Senado Federal ou Câmara
dos Deputados) do parlamentar. É necessário o quórum de maioria absoluta (mais da metade dos membros da
respectiva casa), bem como será feita através de escrutínio aberto.

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro
parlamentar; (...)
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta,
mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político
representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

O Poder judiciário não pode interferir no mérito do julgamento, pois se trata de questão interna
corporis. No entanto, poderá analisar se foram respeitadas as garantias formais.

5.2.2. Hipóteses de cassação

O art. 55 da CF consagra três hipóteses em o mandato do parlamentar será cassado, são


elas:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 189


 Infringir qualquer das proibições estabelecidas no art. 54, da CF que trata das
incompatibilidades;

Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:


I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público,
autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a
cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de
que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea
anterior;
II - desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de
favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela
exercer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas
entidades referidas no inciso I, "a";
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que
se refere o inciso I, "a";
 Procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;

Art. 55, § 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos


definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a
membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.

 Sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado

Salienta-se que perda do mandato decorrente da condenação criminal não é automática, ou seja, não
basta a simples condenação. Exige-se uma decisão por maioria absoluta dos membros da Casa respectiva.

STF – AP 565/RO (Info 714/SF): Relativamente ao atual mandato de


senador da República, decidiu-se, por maioria, competir à respectiva Casa
Legislativa deliberar sobre sua eventual perda (...). A relatora e o revisor, no
que foram seguidos pela Min. Rosa Weber, reiteraram o que externado
sobre o tema na apreciação da AP 470/MG. O revisor observou que, se por
ocasião do trânsito em julgado o congressista ainda estivesse no exercício
do cargo parlamentar, dever-se-ia oficiar à Mesa Diretiva do Senado
Federal para fins de deliberação a esse respeito.

Tal entendimento não se aplica aos vereadores, portanto, haverá a cassação imediata após a
condenação criminal transitada em julgado.

STF - SL 864/PR: Com relação aos senadores e deputados, contudo, a


Constituição contempla uma exceção à regra geral, no art. 55, § 2º, no
tocante à perda imediata do mandato na hipótese condenação criminal
transitada em julgado. [...] Essa ressalva não contempla apenas os
parlamentares federais, estendendo-se, igualmente, aos deputados
estaduais e distritais (...) A regra da cassação imediata dos mandatos, no
entanto, aplica-se, por inteiro e de imediato, aos vereadores, bem como aos
prefeitos, governadores e ao próprio Presidente da República, por força do
que se contém no referido art. 15, III, da Constituição. Nessa linha, cito o RE
179.502/SP e RE 225.019/GO, ambos do Pleno desta Corte.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 190


EXTINÇÃO DO MANDATO

Previsto no art. 55 da CF:

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:


III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das
sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por
esta autorizada;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta
Constituição;
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela
Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de
seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.

A extinção do mandato é DECLARADA pela mesa da respectiva Casa do parlamentar, poderá


ocorrer de ofício ou por provocação.

Salienta-se que a extinção é ato vinculado, ocorrendo as hipóteses previstas na Constituição a mesa
está obrigada a declarar.

STF - MS 25.461: Em hipótese de extinção de mandato parlamentar, a sua


declaração pela Mesa é ato vinculado à existência do fato objetivo que a
determina, cuja realidade ou não o interessado pode induvidosamente
submeter ao controle jurisdicional.

São hipóteses de extinção:

 Deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que
pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;

 Perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

 Quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição

PARA FIXAR:

HIPÓTESE DE PERDA DO MANDATO


PECULIARIDADES
(art. 55)
Infringir as incompatibilidades (art. 54) Cassação: maioria absoluta
Incompatível com decoro parlamentar Cassação: maioria absoluta
Não comparecer a 1/3 das sessões Extinção: declarada pela Mesa da Casa
Perda/suspensão de direitos políticos Extinção: declarada pela Mesa da Casa
Justiça Eleitoral decretou Extinção: declarada pela Mesa da Casa
Condenação penal com trânsito em
Cassação: maioria absoluta
julgado

RENÚNCIA DO PARLAMENTAR

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 191


Observe a redação do §4º, do art. 56, da CF:

Art. 55 § 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou


possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos
suspensos até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 3º.

O dispositivo possui a finalidade de evitar as renuncias fraudulentas, em que o objetivo é escapar de


determinadas sanções.
6. PROCESSO LEGISLATIVO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Consiste no conjunto de normas que regulam a produção dos atos normativos primários. Ou, como
elucida o mestre José Afonso da Silva, trata-se do conjunto de atos preordenados que visam à criação de
normas de direito.

O OBJETO do processo legislativo é definido no art. 59 da CF/88, in verbis:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:


I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos
legislativos;
VII – resoluções (da Câmara e do Senado).
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação,
alteração e consolidação das leis.
Todos os atos previstos nesse artigo são ATOS NORMATIVOS PRIMÁRIOS, ou seja, retiram seu
fundamento de validade diretamente da Constituição, podendo ser objeto de controle de constitucionalidade.

Lembre-se que o processo legislativo é um direito público subjetivo dos parlamentares. Por isso, para
impor sua observância, o parlamentar pode impetrar MS. Veja que é a única hipótese de controle de
constitucionalidade preventivo pelo Poder Judiciário – hipótese excepcional, apenas em alguns casos.
Exemplo: Art. 60, § 4º da CF – cláusulas pétreas, para impedir deliberação sobre abolição de um cláusula
pétrea, o parlamentar poderá impetrar o MS.

OBS: o MS só caberá no caso de processo legislativo constitucional, no caso de violação ao regimento


interno, a questão é interna corporis.

Embora o processo legislativo se refira ao âmbito federal, o STF considera como normas de
observância obrigatória pelos Estados e pelos Municípios. Portanto, se a CF atribui ao Presidente da
República determinadas matérias que são de sua competência privativa, essas normas deverão ser atribuídas,
pela Constituição Estadual, ao Governador do Estado. Da mesma forma, a Lei Orgânica deve atribuir ao
Prefeito às competências pertinentes ao Município, de acordo com o princípio da simetria.

ESPÉCIES DE PROCESSOS LEGISLATIVOS

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 192


A seguir veremos as três espécies de processo legislativo previstas na Constituição.

6.2.1. Processo legislativo ordinário

Nada mais é do que o processo legislativo de elaboração de leis ordinárias. É a base de todo
processo legislativo.
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ORDINÁRIAS cabe a
qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado
Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao
Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral
da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição.
[...]
Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente
da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores
terão início na Câmara dos Deputados.
6.2.2. Processo legislativo sumário

Possui como base o processo legislativo ordinário, mas seus prazos são menores.

Art. 64 § 1º - O Presidente da República poderá solicitar URGÊNCIA para


apreciação de projetos de sua iniciativa.

Deflagra-se o processo SUMÁRIO quando o Presidente da República solicita urgência na apreciação


de um projeto de sua iniciativa (privativa ou concorrente).

OBS: Não pode o Presidente requerer urgência a um projeto iniciado por um senador, por exemplo. A
urgência decorre de um projeto de sua iniciativa apenas.

A Câmara terá 45 dias para analisar, após o PL vai para o Senado, que terá mais 45 dias. Se o Senado
fizer alguma emenda a Câmara, terá 10 dias para apreciá-la. Portanto, o prazo máximo é de 100 dias.

Caso as Casas não se manifestem dentro do prazo, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações
legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado (exemplo:
Medida Provisória), até que se ultime a votação.

OBS1: projetos de código não podem tramitar nesse regime de urgência.

OBS2: durante o recesso parlamentar, esses prazos ficam suspensos.

Art.64
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestar
§ 3º - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-
disposto no parágrafo anterior.

§ 4º - Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do Congresso


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 9
Nacional, nem se aplicam aos projetos de código.
18
6.2.3. Processos legislativos especiais
Trata-se do processo de elaboração de todas as espécies normativas que não se enquadram nos
processos acima: Emenda à Constituição, Lei complementar, Lei delegada, Medida Provisória, decreto-
legislativo, resolução e lei financeira.

7. PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO

O processo legislativo tem três fases: INTRODUTÓRIA, CONSTITUTIVA e


COMPLEMENTAR.

FASE INTRODUTÓRIA (INICIATIVA)

De maneira geral, o art. 61 prevê como legitimados para iniciar um processo legislativo:

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer


membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.

A iniciativa costuma ser dividida em duas espécies.

 GERAL, COMUM OU CONCORRENTE (mais de um legitimado): é aquela atribuída a mais de


um legitimado .

Exemplo:

o Matéria tributária (é privativa apenas em relação aos territórios) é competência tanto do


legislativo, quanto do executivo;

o Leis de organização do MPU são de iniciativa do Presidente da República e do PGR; já as


normas gerais dos MPE são de iniciativa do Presidente da República. Nesse sentido:

STF – RE 262.178/DF: “[...] lei complementar federal que estabelecerá ‘a


organização, as atribuições e o estatuto’ de todo o Ministério da União – por
iniciativa concorrente do Procurador-Geral da República, que lhe chefia o
conjunto de ramos (CF, art. 128, § 5.º) e do Presidente da República (CF,
art. 61, § 1.º, II, d, primeira parte); simultaneamente, contudo, na parte final
dessa alínea d, a Carta Fundamental previu a edição, mediante iniciativa
privativa do Presidente da República, de ‘normas gerais para a
organização’, não só ‘do Ministério Público dos Estados’, mas também do
mesmo ‘Ministério Público do Distrito Federal e Territórios’.

STF – ADI 3.802/DF (10.03.2016): “Detém o Procurador-Geral da


República, de acordo com o art. 128, § 5º, da Constituição Federal, a
prerrogativa, ao lado daquela já atribuída ao chefe do Poder Executivo (art.
61, § 1º, II, d, CF),

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 190


de iniciativa dos projetos legislativos que versem sobre a organização e as
atribuições do Ministério Público Eleitoral, do qual é chefe, atuando como
seu procurador-geral”

Há quem faça a seguinte diferença:

*Geral(comum): qualquer legitimado.

*Concorrente: mais de um legitimado, mas não qualquer pessoa.

 PRIVATIVA/RESERVADA/EXCLUSIVA (apenas um legitimado): devem ser interpretadas


restritivamente. Deve estar expressa no texto da CF, não se presume, trata-se de rol taxativo.

Exemplos

o Matérias de interesse exclusivo da CD ou do SF só podem ser iniciadas por estes (art. 51 IV


e 52 XIIII)

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:


IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços,
e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os
parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus
serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração,
observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

o Caso iniciativa do STF e tribunais superiores (art. 96, II).

Art. 96. Compete privativamente:


II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais
de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no
art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços
auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do
subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;

o Iniciativa é exclusiva do Presidente quanto aos efetivos das forças armadas; servidores
públicos da União; criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta
e autárquica e o aumento de sua remuneração etc. (art. 61, §1º)

Art. 61. § 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis


que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 191


criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica o
organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públic
servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, es
organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas
criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o dispos
militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, e

o Matéria orçamentária, apesar de não estar prevista no art. 61, é de iniciativa


exclusiva do Presidente, nos termos do art. 165 da CF.

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo


estabelecerão: I - o plano plurianual;
II - as diretrizes
orçamentárias; III - os
orçamentos anuais.
As iniciativas podem ser assim esquematizadas:

LO / LC (art. 61) EC (art. 60, I a III)


Poder Executivo Presidente da República Presidente da República
Presidente da República e
MP (PGR) Procurador-Geral da República X
(leis relacionadas ao MP)
Pelo menos 1/3 dos membros da
Poder Legislativo Membro/Comissão
CD ou SF.
+ de 50% das Assembleias
Legislativas, com proposta
Poder Legislativo
X aprovada pela maioria relativa
(Estadual)
(mais da metade dos presentes)
de seus membros.
STF / Tribunais Superiores
Poder Judiciário X
(relacionadas ao judiciário)
Cidadãos (1% do eleitorado
nacional + distribuídos em 5 estados
‘Popular’ sendo no mínimo 3/10 dos eleitores X
de cada um desses
estados).²

Obs.: O Presidente da República é Único legitimado geral para propor LO/LC e EC.
Importante consignar que a sanção do projeto de lei não supre o vício de iniciativa, lei será inconstitucional,
estando superada a Súmula 5 do STF.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 192


Em relação a possibilidade de iniciativa popular para emenda constitucional, há na doutrina duas
correntes:

1ªC (José Afondo da Silva e Ingo): cabe iniciativa popular de emenda por uma interpretação
sistemática.

2ªC (Gilmar Mendes): não se admite iniciativa de emenda, eis que a regra geral é o art. 61. Assim, o
art. 60 é uma regra excepcional, normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente.

Salienta-se que o STF, por maioria, entende que é possível que as constituições estaduais prevejam
iniciativa popular de emenda à Constituição.

A iniciativa popular de emenda à Constituição Estadual é compatível


com a Constituição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo
único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88. Embora a Constituição
Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emendas ao próprio
texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedimento
para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a
competência constante da Carta Federal. STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

FASE CONSTITUTIVA

O projeto de Lei sempre deve ser apreciado nas duas Casas Legislativas (decorrência do
bicameralismo federativo).

Salvo nos Projetos de Iniciativa de algum Senador ou de Comissões do Senado, a Casa Iniciadora
será SEMPRE a Câmara dos Deputados, funcionando o Senado Federal como Casa Revisora.

A fase constitutiva compreende as seguintes etapas:

o Discussão;

o Votação;

o Aprovação;

o Sanção/Veto do Poder Executivo.

7.2.1. Discussão

A discussão ocorrerá em três âmbitos, nas duas Casas, quais sejam:

o Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em que há uma análise prévia da


constitucionalidade do PL.
o Comissões temáticas: variam conforme a matéria do projeto. Geralmente, existe uma
Comissão que corresponde a um Ministério. Em que se analisa a matéria específica do PL,
emitindo-se pareceres. Discussão técnica.

o Plenário: envolvendo os deputados e senadores. Há alguns casos envolvendo Lei Ordinária


em que não haverá discussão no plenário.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 193


7.2.2. Votação

Em regra, ocorre no plenário.

EXCEÇÃO: É possível a votação do PL dentro da Comissão Temática, sem passar pelo plenário, nos
termos do art. 58, §2º, I da CF. É o chamado PROCESSO LEGISLATIVO ABREVIADO, nas palavras de
Gilmar Mendes. Somente é possível no processo de lei ordinária.

Art. 58 § 2º - às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:


I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento
(delegação interna), a competência do Plenário, salvo se houver recurso de
um décimo dos membros da Casa;

Quorum de VOTAÇÃO (para que haja votação de uma lei complementar ou ordinária ou qualquer
deliberação):

o Só existe deliberação na Casa Legislativa se estiver presente, no mínimo, a MAIORIA


ABSOLUTA dos membros da Casa (ou da Comissão, se for o caso de processo abreviado).
Esse quórum vale não apenas para a votação de Lei Ordinária, mas também para
QUALQUER DELIBERAÇÃO das casas legislativas. É a regra geral.

o Maioria absoluta equivale a mais de 50% dos membros (seja do Plenário ou da Comissão).
Esse número é sempre fixo: 257 Deputados na CD; 41 Senadores no SN.

CF Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de


cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos,
presente a maioria absoluta de seus membros.

7.2.3. Aprovação

O quórum de APROVAÇÃO da Lei Ordinária é MAIORIA RELATIVA, ou seja, mais de 50% dos
presentes devem votar em um mesmo sentido para que o projeto seja aprovado. Percebe-se que é um número
variável (art. 47).

CF Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de


cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos,
presente a maioria absoluta de seus membros.

O quórum de aprovação de Lei Complementar é MAIORIA ABSOLUTA, ou seja, mais de 50% dos
membros (art. 69). Percebe-se que é um número fixo.

CF Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.


Obs.: O quórum de aprovação de EC é a maioria de 3/5 dos membros (art. 60, §2º). Ou seja, 60% dos
membros, votado em dois turnos. O STF entende que, diante da ausência de previsão do lapso temporal, não
há como fixar intervalo mínimo.

CF Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos,
três quintos dos votos dos respectivos membros.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 194


Vimos que a lei ordinária e a lei complementar possuem os mesmos legitimados e, agora, que o
quórum de discussão é o mesmo para ambas. Diante disso, indaga-se: qual a diferença entre uma lei ordinária
e um lei complementar?

1º Matéria (conteúdo) – a Lei Complementar trata de matéria reservada pela Constituição; ao passo
que a Lei Ordinária trata de matéria residual, não é especificado pela Constituição.

2º Aprovação – maioria absoluta para lei complementar e maioria relativa para lei ordinária.

Importante consignar que NÃO há hierarquia entre lei complementar e lei ordinária, tendo em vista
que possuem campos materiais distintos estabelecidos pela Constituição. Conclui-se que:

o Lei ordinária não pode tratar de lei complementar, caso o faça será inconstitucional;

o Lei complementar pode tratar de matéria residual e não ser invalidada, não por ser
hierarquicamente superior, mas sim em razão de economia legislativa. Como o quórum da
lei complementar é de maioria absoluta, sempre irá atender o quórum para aprovação de lei
ordinária (maioria relativa).

Neste caso, a lei será formalmente complementar, mas materialmente (conteúdo) será uma
lei ordinária. Consequentemente, poderá ser revogada por uma lei ordinária. Por exemplo,
CONFINS.

STF - RE 377.457: Contribuição Social sobre o Faturamento (COFINS) (CF,


art. 195, I). Revogação pelo art. 56 da Lei 9.430/1996 da isenção concedida
às sociedades civis de profissão regulamentada pelo art. 6º, II, da LC
70/1991. Legitimidade. Inexistência de relação hierárquica entre lei ordinária
e lei complementar. Questão exclusivamente constitucional, relacionada à
distribuição material entre as espécies legais. Precedentes. A LC 70/1991 é
apenas formalmente complementar, mas materialmente ordinária, com
relação aos dispositivos concernentes à contribuição social por ela
instituída. ADC 1, Rel. Moreira Alves, RTJ 156/721

Em geral, a Casa Iniciadora do Processo Legislativo é a Câmara dos Deputados, somente no caso de
iniciativa de Senador ou de Comissão do Senado, é que a Casa iniciadora será o Senado Federal. Assim,
discutido e aprovado na Casa Iniciadora, o Projeto de Lei é enviado à Casa Revisora, que repetirá o processo,
podendo ao final aprová-lo, rejeitá-lo ou emendá-lo.

Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em
um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação,
se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.
 Aprovando: Vai para sanção/veto do Executivo.

 Rejeitando: É arquivado, não podendo ser reapresentado na mesma sessão legislativa, salvo se por
iniciativa da maioria absoluta de qualquer das Casas do congresso (art. 67). No caso de projeto de
EC, este não poderá ser reapresentado na mesma sessão legislativa (art. 60, §5º).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 195


Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá
constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante
proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do
Congresso Nacional.

Art. 60 § 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou


havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma
sessão legislativa.

 Emendando: Retorna a Emenda à Casa Iniciadora, que poderá aprová-la ou rejeitá-la, mas jamais
alterá-la (não se admitem “subemendas”).

Apenas as emendas retornam, pois são as únicas partes do PL que ainda não foram aprovadas pelas
duas Casas.

Caso ocorra na Casa Revisora uma Emenda supressiva é preciso retornar o projeto para a Casa
Iniciadora? Em regra, as emendas supressivas não precisam retornar à casa de origem (encaminha-se o PL
direto para a sanção), salvo quando afetarem o restante (de forma substancial) do conteúdo do PL.

É possível que um projeto de iniciativa exclusiva do Presidente venha a ser emendado no Congresso?
Sim, é possível, até porque a iniciativa exclusiva refere-se apenas ao “pontapé inicial” do processo e não a
sua inteira realização. Se não houvesse possibilidade de emenda, quem estaria legislando seria o Poder
Executivo (ou outro órgão legitimado exclusivo, conforme o caso). Não confundir com a hipótese acima
vista, caso em que o legislativo que inicia a lei de iniciativa exclusiva do Presidente, isso não é possível nem
com posterior ratificação.

ENTRETANTO, a emenda só é possível se não implicar em aumento de despesas em relação ao


projeto original (art. 63) e se guardar pertinência temática com o Projeto Inicial.

CF Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:


I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República,
ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º;
II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério
Público.

As matérias que não dizem respeito ao conteúdo originário do projeto são as chamadas “caudas da
lei” ou “contrabando legislativo”, nas palavras de Michel Temer.

EXCEÇÃO: O art. 166, §§3º e 4º traz duas hipóteses em que se admite a emenda parlamentar ao PL
enviado pelo Presidente, mesmo que acarrete aumento de despesa, desde que observados alguns requisitos
específicos. Trata-se das emendas:

- Ao Projeto de Lei do Orçamento Anual (LOA);


- Ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Os

requisitos específicos, de acordo com o art. 166:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 196


CF Art. 166 §3º - As emendas ao PROJETO DE LEI DO ORÇAMENTO
ANUAL ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso:
- sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias;
- indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de anulação de
dotações para pessoal e seus encargos;
serviço da dívida;
transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e Distrito Federal; ou
III - sejam relacionadas:
com a correção de erros ou omissões; ou
com os dispositivos do texto do projeto de lei.
§ 4º - As emendas ao PROJETO DE LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS não pode

Vale lembrar que a não observância dessas duas exigências (não aumento de despesas e pertinência
temática) gera a inconstitucionalidade formal da lei, que, como já vimos, é insanável.

Pode o Presidente emendar o seu próprio PL apresentado? O próprio legitimado (com exceção dos
parlamentares) só pode apresentar emendas aditivas, nunca supressivas. A emenda aditiva funciona como um
novo PL, por isso ela não é vedada. Agora, a retirada de matéria do PL não é possível. É o mesmo raciocínio
da Medida Provisória, onde o presidente não pode retirar do parlamento a MP enviada; pode no máximo
editar nova MP revogando a primeira.

Aprovado pelas duas Casas, o PL é enviado ao Executivo, para sanção ou veto.

7.2.4. Sanção/Veto do Poder Executivo

O veto/sanção somente existe para Projeto de Lei. No caso de PEC, depois de aprovado, o projeto
vai direto para a promulgação.

A sanção do PL pode ser expressa ou tácita. Consequentemente, o veto deve ser sempre expresso.

Prazo: O presidente tem 15 dias úteis para sancionar/vetar o PL. Em não se manifestando nesse
prazo, dá-se a sanção tácita (art. 66, §3º).

Art. 66 § 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da


República importará SANÇÃO.
§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo
Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado
a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-
Presidente do Senado fazê-lo.

A sanção/veto pode ser TOTAL ou PARCIAL.


PARCIAL: O veto parcial não pode incidir sobre uma palavra ou expressão isolada. Deve abranger
texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea (art. 66, §2º).

Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de
lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
19
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo,
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 7
de inciso
OBS: Não confundir com a declaração deou de alínea.
inconstitucionalidade parcial, que pode incidir até mesmo
sobre uma palavra ou expressão. Ver Controle de Constitucionalidade.
O veto pode ser JURÍDICO (por inconstitucionalidade do PL) ou POLÍTICO (contrário ao interesse
público). Todo veto deve ser motivado, comunicando em 48hrs ao presidente do senado. Art. 66, §1º.

Art. 66 § 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou


em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total
ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente
do Senado Federal os motivos do veto.
§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação,
ao Presidente da República.
§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo
Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado
a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-
Presidente do Senado fazê-lo.

Natureza jurídica do veto: Não há consenso na doutrina, para alguns seria um direito, para outros um
dever, ou ainda um poder-dever. O veto político é um poder, o veto jurídico seria um dever.

O veto é absoluto ou relativo? É relativo, pois pode ser derrubado pelo CN.

Conforme o §4º do art. 66, o veto será apreciado em sessão conjunta do Congresso, dentro 30 dias, a
contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e
Senadores. (deputados: 257/513 , senadores: 41/81).

Art. 66 § 4º - O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta


dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da
maioria absoluta dos Deputados e Senadores.

Temos mais duas espécies de sessão:

o Sistema bicameral – regra –, a votação é feita na CD aí vai para o SF, esse pode aprovar ou
emendar, então volta para a CD. Não é permitida a “emenda da emenda”, quando ele retorna
novamente ao SF, deve ser aprovado ou rejeitado.

o Sistema unicameral, a deliberação é conjunta, ou seja, de 594 votos, a maioria absoluta se


dá em 298. Só existe uma hipótese dessa sessão, e já está exaurida. ADCT art. 3º, revisão
constitucional.
Até o advento da EC 76/2013, a Constituição previa expressamente o escrutínio secreto. Após a EC
76/2013, a Constituição deixou de prever, por isso aplica-se a regra geral que é o ESCRUTÍNIO ABERTO
para a derrubada do veto.

Se o veto for derrubado, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.

Não é possível retratação de veto (pelo Presidente) tampouco da derrubada de veto (pelo Congresso).
Com a sanção, o então Projeto de Lei é transformado em Lei, passando para a fase complementar de
promulgação e publicação.

Por fim, não se admite “novo veto” em lei promulgada e publicada. As fases do processo legislativo
estão sujeitas ao princípio da preclusão, de forma que, depois de o Presidente ter

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 198


sancionado parcialmente a lei, vetando alguns artigos, essa etapa se encerrou. Logo, não é possível que,
alguns dias depois, seja republicada a lei vetando novos dispositivos. Isso porque o veto é um ato irretratável.

Não se admite “novo veto” em lei já promulgada e publicada. Manifestada a


aquiescência do Poder Executivo com projeto de lei, pela aposição de
sanção, evidencia-se a ocorrência de preclusão entre as etapas do
processo legislativo, sendo incabível eventual retratação. STF. Plenário.
ADPF 714/DF, ADPF 715/DF e ADPF 718/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 13/2/2021 (Info 1005).

FASE COMPLEMENTAR

Compreende a promulgação e a publicação da Lei.

o Promulgação: É o ato que atesta a existência válida da lei, conferindo-lhe


executoriedade.

o Publicação: Confere exigibilidade (obrigatoriedade) ao cumprimento da Lei.

O que ocorre se o presidente se nega a promulgar um PL nos casos de derrubada de veto ou de


sanção tácita? Caso o presidente não promulgue a lei em 48h da sanção tácita ou da derrubada do veto, essa
atribuição passa para o presidente do SF. Decorridas mais 48h, passa-se a incumbência para o vice-presidente
do SF.

OBS: Nada impede que depois das 48h o presidente venha a promulgar (art. 66, §7º). Ele não perde a
sua atribuição.

Art. 66, § 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto


será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais
proposições, até sua votação final.
§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo
Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado
a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-
Presidente do Senado fazê-lo.
8. MEDIDAS PROVISÓRIAS (MP’s)

INTRODUÇÃO

José Afonso da Silva critica veementemente a inclusão da medida provisória dentro do processo
legislativo, e o faz com razão. A medida provisória, a rigor, não é uma espécie normativa, haja vista ser ato
unipessoal do chefe do executivo, que prescinde do devido processo legislativo para que comece a produzir
efeitos. José Afonso afirma, inclusive, que no texto original da CF a medida provisória não constava da
enumeração do art. 59, tendo sido ali incluída por algum “gênio ignorante, de mau gosto e abusado”.

A medida provisória da CF/88 substituiu o antigo Decreto-Lei das Constituições de 1967 e EC 01/69.
Sofreu grande influência, ainda, do Decreti-legge, previsto na Constituição Italiana de 1947.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 199


Apesar das críticas, as MPs são importantes, haja vista a necessidade celeridade na aprovação de atos
normativos que muitas situações exigem.

CF Art. 62. Em caso de RELEVÂNCIA e URGÊNCIA, o Presidente da


República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

EFEITOS IMEDIATOS DA MEDIDA PROVISÓRIA

A medida provisória produz dois efeitos imediatos: efeito de natureza normativa e efeito de natureza
ritual (procedimental).

EFEITO DE NATUREZA NORMATIVA EFEITO DE NATUREZA RITUAL

Inovação no mundo jurídico, uma vez que a MP


possui força de lei desde a sua edição. Possui
eficácia imediata.

Aqui, podemos apontar duas diferenças da medida


provisória (MP) para o decreto-lei (DL).
Consiste na provocação do Congresso Nacional
MP DL para que promova o adequado procedimento de
conversão da MP em lei.
Produzia efeitos
Produz efeitos
depois de aprovado
imediatos
pelo legislativo

Não é aprovada
tacitamente (necessita Era aprovado pelo
de aprovação expressa) decurso de prazo

PRAZO DA MEDIDA PROVISÓRIA


Antes da EC 32, o prazo da MP era de 30 dias e, segundo o STF, poderia ser reeditada
indefinidamente, desde que dentro desse prazo e desde que não tivesse sido rejeitada pelo Congresso.

Convém lembrar que as MPs editadas antes da EC 32 ainda se submetem ao regime anterior. Assim
dispõe o art. 2º da EC 32: “As medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação desta
emenda continuam em vigor até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até
deliberação definitiva do Congresso Nacional”. Ou seja, sequer precisam ser reeditadas para que
mantenham sua eficácia.

Além disso, antes da EC, o prazo de validade da MP não era suspenso no recesso, diferentemente do
que ocorre hoje, como veremos adiante. Sobre esse tema a Súmula 651 do STF:

STF SÚMULA 651 “A medida provisória não apreciada pelo Congresso


Nacional podia, até a emenda constitucional 32/2001, ser reeditada dentro
do seu prazo de eficácia de trinta dias, mantidos os efeitos de lei desde a
primeira edição”.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 200


Depois da EC 32, houve uma profunda alteração. Hoje, REEDIÇÃO não é mais sinônimo de
PRORROGAÇÃO.

Atualmente, a MP tem prazo para apreciação de 60 dias, que é PRORROGADO,


AUTOMATICAMENTE, por mais 60 dias em caso de inércia do Congresso Nacional (art. 62, §7º). O prazo
começa com a publicação da MP.

Art. 62 § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12


perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo
de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual
período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo,
as relações jurídicas delas decorrentes.
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida
provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso
Nacional.
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida
provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não
tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional.

Existe limite para a reedição de medidas provisórias pós EC 32? Não existe na CF qualquer limitação
quanto ao número de reedições. Entretanto, a CF veda que a reedição ocorra dentro da mesma sessão
legislativa em que a MP tenha sido rejeitada ou tenha perdido sua eficácia (art. 62,
§10). Percebe-se que na sistemática atual a MP é rejeitada pelo decurso de prazo.

Art. 62 § 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida


provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por
decurso de prazo.

Pode-se concluir, portanto, que a MP pode ser reeditada pelo Presidente tanto no caso de rejeição
tácita, como no caso de rejeição expressa do Congresso Nacional, desde que seja em outra sessão legislativa.

OBS: Sessão legislativa ordinária é o período anual que se inicia em 02 de fevereiro, pausa para recesso em
17 de julho, recomeça em 1º de agosto e vai até 22 de dezembro (havendo recesso, suspende-se o prazo da
MP).

MP editada em um ano pode ser reeditada no mesmo ano em que ela foi rejeitada? SIM! Observe que
a sessão não começa no dia 01/01, mas no dia 02/02. Assim, pode ocorrer de uma MP ser rejeitada no dia
15/01/2021 (em sessão extraordinária) e ser reeditada em 15/02/2021, pois a reedição, apesar de ocorrer no
mesmo ano da rejeição, foi na sessão seguinte.

Lembrando: A PEC tem essa mesma vedação de repropositura na mesma sessão legislativa (art. 60,
§5º).

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa.

ATENÇÃO: Esse prazo de 60 dias não é contado durante os períodos de recesso parlamentar, ao
contrário do que ocorria antes da EC 32. Atualmente o prazo é suspenso, o que permite que a MP possa ficar
em vigor, sem aprovação, por muito mais de 120 dias (art. 62, §4º).

Art. 62 § 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da


medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 20 1
Congresso Nacional.
Em relação às matérias constantes de projeto de lei rejeitado pelo CN, poderá o Presidente veicular a
mesma matéria por Medida Provisória? Não, pois violaria a regra do art. 67 e os princípios da separação dos
poderes e integridade da ordem democrática.

E em relação a MP que veicule matéria constante de outra MP anteriormente rejeitada pelo CN? Ao
que parece também não poderá o Presidente apresentar outra. Estaria novamente a violar a regra do art. 67.

REGIME DE URGÊNCIA

Está previsto no art. 62, § 6º, da CF.

Art. 62, § 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco
dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência,
subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando
sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações
legislativas da Casa em que estiver tramitando.

Se a MP não for apreciada em 45 dias, entra no chamado regime de urgência (que também existe no
processo legislativo sumário – presidente pede urgência). Veja que o prazo é o mesmo, 45 dias.

O Regime de urgência implica no trancamento da pauta de votação da casa na qual a MP estiver


tramitando. Se o regime iniciar já na CD, quando a MP for para o Senado, já trancará de imediato a pauta da
casa.
Michel Temer (tentando mitigar o trancamento de pauta), à época em que era Presidente da Câmara
dos Deputados, afirmou que a MP só pode tratar de matérias residuais (matérias de lei ordinária). As matérias
residuais somente são analisadas em sessões ordinárias, que ocorrem de terça a quinta. Quando a CF afirma
que o regime de urgência da MP tranca a pauta, significa que só tranca as sessões ordinárias. Nas sessões
extraordinárias (segunda e sexta: PEC’s, Decretos Legislativos, LC’s, resoluções) o Congresso ficaria com a
pauta livre. Esse artifício visou evitar que o Congresso fique limitado a tratar de MPs, tamanha a quantidade
de MPs enviadas ao Congresso.

O STF, no MS 27.931/DF, concordou com o entendimento de Temer.

STF - MS 27.931/DF: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro


Celso de Mello (Relator), indeferiu o mandado de segurança e deu, ao § 6º
do art. 62 da Constituição, na redação resultante da EC 32/2001,
interpretação conforme à Constituição, para, sem redução de texto,
restringir- lhe a exegese, em ordem a que, afastada qualquer outra
possibilidade interpretativa, seja fixado entendimento de que o regime de
urgência previsto em tal dispositivo constitucional – que impõe o
sobrestamento das deliberações legislativas das Casas do Congresso
Nacional – refere-se, tão somente, àquelas matérias que se mostram
passíveis de regramento por medida provisória, excluídos, em
consequência, do bloqueio imposto pelo mencionado § 6º do art. 62 da
Lei Fundamental, as propostas de emenda à Constituição e os projetos
de lei complementar, de decreto legislativo, de resolução e, até mesmo,
tratando-se de projetos de lei ordinária, aqueles que veiculem temas
pré-excluídos do âmbito de incidência das medidas provisórias (CF,
art. 62, § 1º, I, II e IV).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 202


TRÂMITE DA MEDIDA PROVISÓRIA

Quando a MP é editada pelo Presidente e enviada ao Congresso, vai para uma Comissão Mista do
Congresso, que deverá emitir um parecer, apreciando seus aspectos constitucionais (relevância e urgência) e
de mérito (art. 62, §§ 5º e 9º).

Art. 62 § 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional


sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o
atendimento de seus pressupostos constitucionais.
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as
medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas,
em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso
Nacional.

Importante consignar que a atribuição da Comissão Mista não pode ser delegada para membro por
meio de resolução.

STF – ADI 4.029/DF: “As comissões mistas e a magnitude das funções das
mesmas no processo de conversão de medidas provisórias decorrem da
necessidade, imposta pela Constituição, de assegurar uma reflexão mais
detida sobre o ato normativo primário emanado pelo Executivo, evitando que
a apreciação pelo Plenário seja feita de maneira inopinada, percebendo-se,
assim, que o parecer desse colegiado representa, em vez de formalidade
desimportante, uma garantia de que o Legislativo fiscalize o exercício atípico
da função legiferante pelo Executivo. O art. 6º da Resolução 1 de 2002 do
Congresso Nacional, que permite a emissão do parecer por meio de relator
nomeado pela Comissão Mista, diretamente ao Plenário da Câmara dos
Deputados, é inconstitucional.”

Obs.: Durante a pandemia da Covid-19 ficou reconhecido que as medidas provisórias podem ser instruídas
perante o plenário das Casas, ficando excepcionalmente autorizada a emissão de parecer por um deputado e
um senador, em substituição à Comissão Mista

A tramitação de medidas provisórias pelo Sistema de Deliberação Remota


(SRD) — instituído em razão da pandemia do novo coronavírus e regulado
pelo Ato Conjunto das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal n. 1/2020 — não viola o devido processo legislativo. STF. Plenário.
ADI 6751/DF, ADPF 661/DF e ADPF 663/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgados em 3/9/2021 (Info 1028).

Após o parecer, a MP vai para a Câmara dos Deputados (casa iniciadora). Na CD, é encaminhada
para a CCJ e depois é votada em plenário. Depois disso, segue para o Senado, seguindo o mesmo trâmite
(CCJ + Plenário).

Salienta-se que é possível que ocorra emenda na medida provisória, desde que guarde pertinência
logico-temática. Além disso, o quórum de votação será por maioria absoluta e o quórum de aprovação por
maioria relativa, como não há previsão expressa na Constituição, segue o disposto no art. 47 da CF.

A MP, depois de convertida em Lei, precisa de sanção do Presidente? Depende. Se alguma das casas
fizer alteração ao conteúdo da MP, será imprescindível a sanção. Se não houver alteração, a sanção é
desnecessária, cabendo ao presidente do Congresso realizar a promulgação.
Art. 62 § 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja320
sancionado ou
O Poder Legislativo pode emendar projeto de lei de conversão de medida
provisória quando a emenda estiver associada ao tema e à finalidade
original da medida provisória. STF. Plenário. ADI 6928/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 22/11/2021 (Info 1038).

IMPORTANTE: Se a CD ou SN fizerem qualquer alteração na MP, é necessária a edição de um


Decreto-Legislativo, num prazo de 60 dias, regulamentando as relações jurídicas atingidas durante o período
de vigência da MP em sua redação original (art. 62, §3º). Esse Decreto Legislativo também deve ser
editado nos casos de rejeição ou perda da eficácia pelo decurso de tempo.

Art. 62 § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12


perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo
de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual
período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por DECRETO
LEGISLATIVO, as relações jurídicas delas decorrentes.

Se o DL não for realizado em 60 dias (contados da alteração da MP, da rejeição ou da perda de


eficácia), valerá naquele período o que a MP estabeleceu (art. 62, §11). Até mesmo se o CN considerar
inconstitucional a MP.
Art. 62, § 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até
sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as
relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua
vigência conservar-se-ão por ela regidas.

REVOGAÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA

A partir do momento em que o a MP é enviada ao CN, deixa de pertencer ao Executivo e passa a


pertencer ao legislativo. Por conta disso, não poderá mais o presidente dela dispor. No entanto, existe uma
possibilidade de o executivo suspender a eficácia da MP, basta o presidente editar nova MP revogando
aquela que ele não mais quer ver ser apreciado.

OBS: Com efeito, a MP não revoga nenhuma norma, mas apenas suspende a eficácia, tendo em vista sua
precariedade. Somente depois da conversão ocorre a revogação.

Nesse caso, o que cabe ao Congresso fazer? Qual MP deve ser analisada em primeiro lugar? A
segunda MP, a revogadora. Se aprovada, a anterior fica definitivamente revogada. Se rejeitada a segunda
MP, a primeira voltará a produzir efeitos, pelo período que ainda lhe restava. Ou seja, entre a edição da
segunda MP e a sua rejeição, a primeira fica com sua eficácia suspensa.

Uma MP pode revogar uma lei? NÃO, pois são atos emanados de autoridades diferentes, atos de
densidades diferentes.

O que ocorre então? A MP suspende a eficácia da lei, tal como uma medida cautelar em ADI
suspende o ato impugnado. Importância prática: Efeito repristinatório tácito. Se a MP suspensiva for
rejeitada ou perder sua eficácia, a lei suspensa volta, automaticamente, a produzir efeitos. É o mesmo que foi
estudado na cautelar em ADI ou decisão de mérito em ADI (quando a lei revogadora é declarada
inconstitucional).

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 204


Como já mencionado, toda medida provisória possui a relevância e a urgência como pressupostos
constitucionais, referem-se ao seu aspecto formal. Além disso, a medida provisória possui um aspecto
material que está relacionado à compatibilidade do seu conteúdo com as normas constitucionais.

8.7.1. Aspectos formais

Quanto ao controle de constitucionalidade dos aspectos formais da medida provisória, os requisitos


constitucionais (relevância e urgência) devem ser analisados, ordinariamente, pelo Poder Executivo e pelo
Poder Legislativo, quando da edição da MP (até porque são requisitos políticos). No entanto, quando a
inconstitucionalidade for FLAGRANTE e OBJETIVA (‘inconstitucionalidade chapada’) o Poder Judiciário
poderá declará-la. Portanto, excepcionalmente, podem ser analisados os pressupostos constitucionais.

Cita-se, como exemplo, a ADI 1753, em que se questionou a edição de uma medida provisória que
aumentava o prazo da ação rescisória para a Fazenda Pública. O STF deferiu cautelar suspendendo a MP pela
falta de urgência (veja que foi antes da EC 32/01, quando não havia restrição ainda quanto ao processo para
MP).

STF - ADI 1.753 MC/DF: 1. Medida provisória: excepcionalidade da


censura jurisdicional da ausência dos pressupostos de relevância e
urgência à sua edição: raia, no entanto, pela irrisão a afirmação de
urgência para as alterações questionadas à disciplina legal da ação
rescisória, quando segundo a doutrina e a jurisprudência, sua aplicação à
rescisão de sentenças já transitadas em julgado, quanto a uma delas – a
criação de novo caso de rescindibilidade – é pacificamente inadmissível e
quanto à outra – a ampliação do prazo de decadência – é pelo menos
duvidosa.”

8.7.2. Aspectos materiais

Quanto à análise material, o Poder Judiciário pode analisar o conteúdo da MP em face da CF. Além
dessa análise, terá que observar também as limitações materiais que são impostos à MP (art. 62, §§1º e 2º).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 205


Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República
poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las
de imediato ao Congresso Nacional.
1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos
adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou
qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos,
exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos
no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o
último dia daquele em que foi editada.

Compatibilidade de conteúdo

Imagine, por exemplo, que uma medida provisória tenha sido objeto de ADI por ser incompatível
com as normas da Constituição (aspecto material), já que trata de uma matéria reservada à Lei
Complementar. Obviamente, o mérito da ADI não será julgado antes de terminar o prazo de aprovação da
MP.

o Se a MP for rejeitada ou alterada na matéria questionada, o que ocorre com a ADI? Como a
finalidade do controle abstrato é assegurar a Supremacia da Constituição, A MP rejeitada,
que foi retirada do mundo jurídico, não mais ameaça a CF. Logo, a ADI é extinta por perda
do objeto.
o Se a MP (que trata de matéria de LC) for convertida em LC (com quórum qualificado)
o que ocorre com a ADI? Deverá ocorrer o aditamento da petição inicial da ADI, tendo
prosseguimento. A conversão da MP em lei não convalida os vícios originários
da MP.

LIMITES MATERIAIS

Consistem nos temas que não podem ser regulamentados por medida provisória, estão previstos no art.
62, §1º, da CF.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 206


Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República
poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las
de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre
matéria: I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos
adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou
qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.

Antes da EC 32/2001, não havia qualquer limitação sobre os temas que podiam ser tratados por
medida provisória. Contudo, a doutrina e a jurisprudência emanaram o entendimento de que a MP não
poderia tratar de norma penal incriminadora.

Indaga-se: MP pode regulamentar matéria de direitos fundamentais? Existem alguns direitos que
têm vedação expressa de tratamento por medida provisória, é o caso dos diretos de nacionalidade e políticos.
Entretanto, em relação aos direitos individuais e direitos sociais não há vedação, portanto, podem ser tratados
por medida provisória.

Com a EC 32/2001, nem mesmo normas penais benéficas ao acusado podem ser tratadas por medida
provisória. Importante salientar que o saudoso Professor Luís Flávio Gomes defendia que o STF, ao analisar
a prorrogação do prazo do Estatuto do Desarmamento por medida provisória, não declarou a
inconstitucionalidade. Assim, LFG defendia que o STF admitia a medida provisória poderia tratar de matéria
penal não incriminadora (é entendimento minoritário).

A proibição de medida provisória para o tratamento de organização do Poder Judiciário e do


Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros, visa evitar que o Presidente da República faça
coação ou até mesmo faça agrados, comprometendo a imparcialidade de tais órgãos.

Medida provisória não pode trata de planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e
créditos adicionais e suplementares, salvo nos casos de abertura de extraordinários para atender despesas
imprevisíveis e urgentes (guerra, comoção interna, calamidade pública). É o que ocorreu com a pandemia do
Covid-19.

STF – ADI 4.048 MC/DF: “Além dos requisitos de relevância e urgência (art.
62), a Constituição exige que a abertura do crédito extraordinário seja feita
apenas para atender a despesas imprevisíveis e urgentes. Ao contrário
do que ocorre em relação aos requisitos de relevância e urgência (art. 62),
que se submetem a uma ampla margem de discricionariedade por parte do
Presidente da República, os requisitos de imprevisibilidade e urgência (art.
167, § 3º) recebem densificação normativa da Constituição. Os conteúdos
semânticos das expressões "guerra", "comoção interna" e "calamidade
pública" constituem vetores para a interpretação/aplicação do art. 167, § 3º

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 207


c/c o art. 62, § 1º, inciso I, alínea "d", da Constituição. "Guerra", "comoção
interna" e "calamidade pública" são conceitos que representam realidades
ou situações fáticas de extrema gravidade e de consequências imprevisíveis
para a ordem pública e a paz social, e que dessa forma requerem, com a
devida urgência, a adoção de medidas singulares e extraordinárias.”

A vedação do tratamento de MP que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou


qualquer outro ativo financeiro, ocorreu em razão das medidas adotadas pelo ex- Presidente Collor.

Com a EC 32, ficou expressamente previsto que a MP não pode tratar de matéria de lei
complementar (matéria ‘reservada’ pela constituição, contrário da lei ordinária que é matéria residual).
Também não pode tratar de matéria reservada, ou seja. matérias de iniciativa exclusiva do poder judiciário,
do MP, do Congresso etc.

É vedada a edição de medida provisória tratando sobre matéria já disciplinada em projeto de lei
aprovado pelo Congresso Nacional e que está pendente de sanção ou veto. Isso é proibido pelo art. 62, § 1º,
IV, da CF/88. Assim, se o Presidente da República estiver com um projeto de lei aprovado pelo Congresso na
sua “mesa” para análise de sanção ou veto, ele não poderá editar uma MP sobre o mesmo assunto. Por outro
lado, de acordo com o STF, nada impede que o Presidente sancione ou vete esse projeto e, no mesmo dia,
edite uma medida provisória tratando sobre o mesmo tema. Neste caso, não haverá afronta ao art. 62, § 1º,
IV, da CF/88.

Não caracteriza afronta à vedação imposta pelo art. 62, § 1º, IV, da
Constituição Federal a edição de medida provisória no mesmo dia em que o
Presidente da República sanciona ou veta projeto de lei com conteúdo
semelhante. STF. Plenário. ADI 2601/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 19/8/2021 (Info 1026).

Pode MP criar ou majorar impostos? Observe a redação do §2º, do art. 62 da CF:

Art. 62, § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de


IMPOSTOS, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só
produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida
em lei até o último dia daquele em que foi editada.(Incluído pela Emenda
Constitucional nº 32, de 2001)
Portanto, é possível que a medida provisória trata sobre a instituição e a majoração de impostos,
devendo respeitar o princípio da anterioridade. Podemos dividir o tratamento da matéria em três níveis
distintos:

 Impostos extrafiscais e extraordinários: II, IE, IPI, IOF, IEG. Nesses impostos, a MP produz efeitos
imediatos, porquanto são impostos que não se submetem ao princípio da anterioridade (vigência
imediata - mitigações à anterioridade, salvo o IPI, que obedece à noventena).

 Demais impostos (que se sujeitam à anterioridade): A medida provisória atua como se fosse um
mero projeto de lei (Hugo de Brito Machado). Por quê? Pois só produzirá efeitos no exercício
financeiro seguinte àquele em que foi convertida em lei. A MP, em si, não produz nenhum efeito
(art. 62, §2º).

 Demais tributos diferentes dos impostos: a publicação de MP tem efeito de lei, marcando o

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 208


prazo inicial para a contagem da anterioridade.

MEDIDA PROVISÓRIA NOS ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS

O art. 62 da CF menciona que o presidente pode editar medida provisória. Por outro lado, a
Constituição não faz menção ao Chefe do Poder Executivo (‘lato sensu’). Em razão da redação restritiva,
surge a questão: poderia o governador e o prefeito editarem medidas provisórias?

Como a medida provisória faz parte do processo legislativo, e como este obedece ao princípio da
simetria (suas regras são normas de observância obrigatória), entende-se que as Constituições Estaduais
podem ofertar ao governador competência para editar MP (ex.: CE/SC, CE/TO, CE/AC, CE/PI). Porém, para
que a norma estadual seja válida, o modelo estabelecido pela CF deve ser observado (requisitos, trâmite etc.),
pois, repita-se, são normas de observância obrigatória.

Além do Princípio da Simetria, utiliza-se como fundamento o art. 25, §2º da CF. Observe:

Art. 25§ 2º - Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante


concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a
edição de medida provisória para a sua regulamentação.

Nesse dispositivo fica claro que o constituinte previu a possibilidade de medida provisória estadual,
já que a competência para tratar sobre os serviços de gás canalizado é dos Estados. Se a vedação do
dispositivo fosse para o presidente não teria nenhuma lógica, visto que essa matéria é de competência dos
Estados.

É pacífico no STF a possibilidade de edição de medida provisória em âmbito estadual. Nesse sentido:

STF – ADI 2.391/SC: 2. No julgamento da ADI 425 (...), o Plenário desta Corte
já havia reconhecido, por ampla maioria, a constitucionalidade da instituição
de medida provisória estadual, desde que, primeiro, esse instrumento
esteja expressamente previsto na Constituição do Estado e, segundo,
sejam observados os princípios e as limitações impostas pelo modelo
adotado pela Constituição Federal, tendo em vista a necessidade da
observância simétrica do processo legislativo federal. (...). 3.
Entendimento reforçado pela significativa indicação na Constituição Federal,
quanto a essa possibilidade, no capítulo referente à organização e à
regência dos Estados, da competência desses entes da Federação para
"explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locai s de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a
sua regulamentação" (art. 25, § 2º). 4. Ação direta cujo pedido formulado se
julga improcedente. (ADI 2391, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal
Pleno, julgado em 16/08/2006, DJ 16-03-2007 PP-00020 EMENT VOL-
02268-02 PP-00164 RDDT n. 140, 2007, p. 233-234).

A doutrina diverge acerca da possibilidade de medida provisória em âmbito municipal, ainda não há
jurisprudência do STF sobre o assunto.

1ª C (minoritário) – é possível a edição de medida provisória pelo Prefeito, mesmo sem previsão na
lei orgânica do município;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 209


2ª C – havendo previsão na lei orgânica municipal, mesmo que não haja previsão na Constituição
Estadual para o Governador, o prefeito poderá editar medida provisória;

3ª C – havendo previsão na Constituição do Estado para a edição de medida provisória pelo


Governador, a lei orgânica municipal poderá prever que o Prefeito do Município edite medida provisória. É a
posição mais adequada, tendo em vista que a lei orgânica municipal deve estar de acordo com a Constituição
Federal, mas também com a Constituição do Estado, é o que a doutrina chama de dupla simetria. .

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os
seguintes preceitos:[...]

9. LEIS DELEGADAS

CONCEITO

Trata-se de ato normativo primário elaborado pelo Presidente da República, após delegação externa
corporis do Congresso Nacional. Perceba que há a delegação de uma função típica (função de legislar) do
Poder Legislativo ao Presidente da República, é uma exceção ao Princípio da Indelegabilidade das
atribuições.

A Lei Delegada não foi criada pela CF/88, já existia desde antes. Até o momento, conforme cita
Novelino, foram editadas apenas 13, sendo que na vigência da CF/88 tivemos apenas duas. Isso ocorre
porque o Presidente da República pode editar medidas provisórias.

PROCESSO LEGISLATIVO DE LEIS DELEGADAS

1º - Iniciativa solicitadora do Presidente da República. Importante salientar que apenas o PR pode


solicitar, trata-se de uma iniciativa exclusiva e discricionária (não é obrigado a solicitar). Deve indicar o
assunto que será abordado na Lei Delegada.
2º - Após a solicitação, o Congresso Nacional irá decidir, por meio de votação, se haverá ou não a
delegação. A Constituição não prevê quorum específico, portanto, aplica-se a regra geral do art. 47, da CF
que exige maioria absoluta (mais da metade da casa) para a votação e maioria relativa para a aprovação.
Lembrando que a sessão será bicameral, tanto na Câmara quanto no Senado.

Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de


cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos,
presente a maioria absoluta de seus membros.

3º - Instrumento da delegação será uma Resolução que irá especificar o conteúdo e os termos do
exercício (limitações) da Lei Delegada.

Art. 68, § 2º - A delegação ao Presidente da República terá a forma de


RESOLUÇÃO do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os
termos de seu exercício.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 210


Salienta-se que a delegação ocorre apenas para uma legislatura, não poderá ser delegada para
legislatura seguinte.

Caso o Presidente da República exorbite os limites da Resolução, o Congresso poderá editar um


decreto legislativo, com efeito ex nunc (a partir da sua publicação), que irá suspender a parte da lei delegada
que infringiu os limites da delegação.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;

ESPÉCIES DE DELEGAÇÃO

TÍPICAS ou PRÓPRIA ATÍPICAS

Ocorre o retorno do projeto legislativo para ser


apreciado em votação única pelo CN. O legislativo
Após delegar, o CN não tem nenhum tipo de não pode fazer emenda, ou aprova todo projeto ou
controle sobre o ato. rejeita todo projeto (art. 68,
§3º).
Todo o restante se passa dentro do poder
executivo. Neste caso, não há sanção presidencial, isto porque
se o CN não pode emendar, não há razão para
exigir sanção.

Art.68 § 3º - Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo


Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda.

LIMITAÇÕES MATERIAIS

As restrições às leis delegadas são quase as mesmas das MP’s, pois são matérias que o Presidente
não pode tratar.
Art. 68 § 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência
exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara
dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.

DE ACORDO COM A
MP LEI DELEGADA
CF...
Matéria reservada à LC

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 211


Poder Judiciário, Ministério Público
Nacionalidade
Cidadania
Direito Penal x
Direito Processual Penal x
Direito Processual Civil x
Detenção/Sequestro de bens. x
NÃO PODE TRATAR Já disciplinada pelo CN pendente
x
de sanção ou veto.
x Direitos Individuais*
Direitos Políticos
Partidos Políticos
Direitos Eleitorais
Planos Plurianuais
Diretrizes orçamentárias/orçamentos.
Direitos individuais* x
PODE TRATAR
Direitos Sociais

Perceba que a medida provisória pode tratar tanto de direitos individuais como direitos sociais, eis
que não há vedação. A Lei delegada não pode tratar de direitos individuais, mas apenas de direitos sociais.

10. DECRETO LEGISLATIVO x RESOLUÇÕES

O decreto legislativo é uma das espécies normativas do art. 59 e trata-se de um instrumento


normativo através do qual são materializadas as competências EXCLUSIVAS do Congresso Nacional,
previstas nos incisos I a XVIII do art. 49 da CF. As regras do seu procedimento estão previstas nos
regimentos internos das casas ou do Congresso. Além das matérias do art. 49, o CN
regulamentará por decreto legislativo os efeitos decorrentes da medida provisória não convertida em lei.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


- resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem en
- autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que fo
- autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quand
- aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspe
- sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou d
- mudar temporariamente sua sede;
- fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dis

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 21 2


2º, I;
VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e
dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º,
150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e
apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;
X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos
do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;
XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da
atribuição normativa dos outros Poderes;
XII - apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de
emissoras de rádio e televisão;
XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União;
XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades
nucleares;
XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de
recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;
XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com
área superior a dois mil e quinhentos hectares.
XVIII - decretar o estado de calamidade pública de âmbito nacional previsto
nos arts. 167-B, 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e 167-G desta Constituição.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)

Por meio de resolução regulamentar-se-ão as matérias de competência PRIVATIVA da CD (art. 51)


e do SF (art. 52). Os regimentos internos determinam as regras sobre o processo legislativo.

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:


I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo
contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de
Estado;
II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não
apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a
abertura da sessão legislativa;
III - elaborar seu regimento interno;
IV - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus
serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração,
observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza conexos com aqueles;
II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros
do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos
crimes de responsabilidade;
III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha
de:
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 213


b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da
República;
c) Governador de Território;
d) Presidente e diretores do banco central;
e) Procurador-Geral da República;
f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sessão
secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter
permanente;
V - autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o
montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios;
VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito
externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo Poder
Público federal;
VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da
União em operações de crédito externo e interno;
IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida
mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;
XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de
ofício, do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato;
XII - elaborar seu regimento interno;
XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,
transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus
serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração,
observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.
XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional,
em sua estrutura e seus componentes, e o desempenho das administrações
tributárias da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como
Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que
somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à
perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função
pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.

A única hipótese de previsão constitucional EXPRESSA de resolução se dá no art. 68, §2º pelo qual
o CN delegará competência ao PR para elaborar lei delegada.

Art. 68, § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de


resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos
de seu exercício.

Em nenhum dos casos há manifestação presidencial, sancionando ou vetando o projeto de resolução


(art. 48), eis que tratam de competências exclusivas/privativas.

Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exi
sobre: [...]

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 214


PODER EXECUTIVO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O poder executivo tem como funções típicas a prática de atos de chefia de Estado, atos de chefia de
governo e atos de administração da coisa pública, aplicando a lei ao caso concreto.

No Brasil, a função executiva é exercida pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de
Estado (art. 76 da CF). Como é apenas uma única autoridade que exerce o poder, dá- se o nome de
executivo monocrático. Trata-se da forma de exercício do poder executivo comum aos países que
adotam o sistema de governo presidencialista.

Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado


pelos Ministros de Estado.

Já nos países que adotam o sistema parlamentarista, o poder é chamado de executivo dual,
porquanto é exercido por duas ou mais autoridades, como veremos no tópico seguinte.

O poder executivo compreende dois elementos:

 Elemento objetivo: abstrato, institucional e contínuo, referente ao complexo de atribuições e


faculdades do presidente, monarca ou primeiro-ministro.

 Elementos subjetivo: as pessoas, os órgãos que compõe o poder executivo.

2. SISTEMAS OU REGIMES DE GOVERNO

Falar sobre sistema de governo é responder a seguinte indagação: De que maneira se relaciona o
executivo e o legislativo? Ou ainda: O executivo depende, politicamente, do legislativo?

Segundo Dirley da Cunha Jr., são fórmulas concebidas para identificar o grau de dependência no
relacionamento entre os Poderes Executivo e Legislativo no exercício das funções governamentais.

1) “De assembleia”;

2) Parlamentarismo;

3) Presidencialismo.

SISTEMA DE “ASSEMBLEIA”

É um sistema pouco referido nos manuais.

Há uma comissão interna corporis no legislativo encarregada das funções de governo, bem como
uma absorção quase que completa do executivo pelo legislativo. Uma comissão decide e a outra executa.

PARLAMENTARISMO

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 215


“O rei reina, mas não governa”.

A soberania do parlamento é uma ideia que vai influenciar o constitucionalismo americano. Isto
porque lá, devido ao abuso do parlamento, surge o sentimento de limitação também do poder do legislativo,
esse controle será feito através do judiciário e do controle de constitucionalidade (uma das premissas do
constitucionalismo).

As funções de CHEFE DE ESTADO e CHEFE DE GOVERNO não se reúnem numa mesma pessoa.

Aqui há uma interpenetração: executivo e legislativo. O executivo é exercido pelo primeiro- ministro
(chefe de governo) e pelo presidente/monarca (chefe de estado). O legislativo é pelo parlamento que fiscaliza
o primeiro-ministro e responde perante o eleitor. O chefe de governo é vinculado ao programa de governo
aprovado pelo parlamento. O parlamento deve confiar no chefe de governo, ele é dependente do parlamento.

1) Parlamentarismo monárquico constitucional

- Chefe de Estado = Rei.

- Chefe de governo = Primeiro-Ministro.

Exemplos: Inglaterra, Espanha.

2) Parlamentarismo republicano

Chefe de Estado = Presidente.

Chefe de Governo = Primeiro-Ministro.

Exemplos: Itália, Alemanha, Portugal.

O que é sistema legicêntrico? É o sistema adotado por determinado estado que coloca o poder
legislativo como principal, como expoente dos poderes do Estado.

PRESIDENCIALISMO

Uma única autoridade desempenha a Função executiva (órgão executivo monocrático), ou seja,
exerce tanto a chefia de Estado quanto à chefia de Governo (art. 76 da CF).

Alguns autores entendem que cabe a este a função também de chefia da administração pública
federal isso porque pela repartição vertical (visão do federalismo) a chefia da administração estadual e
municipal caberia respectivamente aos governadores e prefeitos.

Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado


pelos Ministros de Estado.

Chefe de Estado: No exercício da função de chefe de Estado, o presidente, externamente,


representa a República Federativa do Brasil nas relações internacionais, bem como, internamente,
defende a unidade nacional, o pacto federativo (CF, art. 84, VII, VIII, IX).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 216


Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
- manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomátic
- celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congres
- decretar o estado de defesa e o estado de sítio;

Chefe de Governo: No exercício da função de chefe de governo, o presidente exerce a chefia


superior da Administração Pública Federal, além de praticar atos de natureza política, como a edição de
Medidas Provisórias.

O presidencialismo nasce concentrando a função de chefe de governo e chefe de estado.


Modelo meritocrático, eletivo e temporário.

Aqui o executivo é independente, o programa de governo é apenas referencial e não vinculante,


como no parlamentarismo (neste último, se o primeiro-ministro não cumpre o programa de governo -
corresponsabilidade do parlamento, é destituído, através da moção de desconfiança).

O que é a hipostasiação do executivo brasileiro? É um traço caracterizador do presidencialismo


brasileiro atual. O cidadão espera do executivo algo que ele não pode dar. É a hipertrofia das expectativas
acerca do executivo.

PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO

A expressão “presidencialismo de coalisão” foi criada por Sérgio Abranges, identifica o problema de
governabilidade existente no Brasil. Isto corre porque, no Brasil, são necessárias alianças entre os partidos
políticos para formar maioria que dê suporte ao Governo, em razão do da grande variedade de partidos
existentes (multipartidarismo).

A EC 97/2017 foi editada com a intenção de diminuir o número de partidos políticos, instituindo a
cláusula de barreira.

3. REQUISITOS PARA SER PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Os requisitos que veremos abaixo também se aplicam ao Vice-Presidente.

1º Ser brasileiro nato (art. 12, §3º - cargos privativos de brasileiros natos), em razão da segurança
jurídica.

Art. 12
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os
cargos: [ ]
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;

2º Idade mínima: 35 anos (art. 14, §3º - condição de elegibilidade)

Art. 14.
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 217


VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;

Não existe idade máxima.

Aos 35 anos o cidadão atinge a capacidade política absoluta, significa que pode exercer qualquer cargo
na república.

3º Filiação partidária

No Brasil a filiação partidária é uma condição de elegibilidade (art. 14, §3º). Não existem candidaturas
avulsas, independentes, como pode ocorrer nos EUA e Portugal.

Art. 14
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
[...]
V - a filiação partidária;

4º Plenitude do exercício dos direitos políticos

Significa não incorrer em nenhuma das causas de perda ou suspensão dos direitos políticos previstas no art.
15 da CF.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa,
nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

5º Não ser inelegível (art. 14, §7º), ou seja, inalistável (estrangeiros e conscritos) ou analfabeto.

Art. 14
§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o
período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
§ 4º - São INELEGÍVEIS os inalistáveis (estrangeiros e conscritos acima) e
os analfabetos.
§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.

4. ELEIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


O presidente e o vice são eleitos conjuntamente, ou seja, ao votar no candidato a presidente,
automaticamente, o vice com ele registrado está sendo votado (foi uma novidade da CF/88).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 218


Na CF/46 o eleitor poderia votar no candidato a presidente de uma chapa e no candidato à vice de
outra. Exemplo: Jango foi vice de JK e na eleição seguinte foi eleito vice de Jânio Quadros. Pela CF/46, o
vice-presidente era automaticamente presidente do Senado Federal, tendo direito à voz, mas sem direito a
voto.

Obs.: o presidente e o vice são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário. A CF prevê também o sistema
eleitoral proporcional.

No sistema majoritário dá-se importância ao voto ofertado ao candidato registrado por partido
político. A CF exige que o candidato eleito alcance ao menos a MAIORIA ABSOLUTA de votos válidos.
Se, em um primeiro turno de votação nenhum candidato atingir essa maioria, será necessária a realização de
um segundo turno de votação, com a participação dos dois candidatos mais votados no primeiro turno, sendo
eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.

Esse sistema é adotado nas seguintes eleições: PRESIDENTE, GOVERNADORES e PREFEITOS


de municípios COM MAIS de 200mil eleitores.

Fundamento da maioria absoluta: Garantia de legitimidade ao eleito, ou seja, garantir que o eleito
tenha apoio de, no mínimo, a maioria absoluta dos eleitores.

Votos válidos: São todos os votos ofertados, subtraindo-se os votos em branco e os nulos (art. 77, §2º
da CF).

Art. 77, § 2º - Será considerado eleito Presidente o candidato que,


registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não
computados os em branco e os nulos.

1º turno: Primeiro domingo de outubro.

2º turno: Último domingo de outubro (art. 77, caput).

Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-


se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno,
e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior
ao do término do mandato presidencial vigente
§ 3º - Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação,
far-se-á nova eleição em até vinte dias (cuidado à não é 20 dias depois, é
no último domingo. Erro: pressa para aprovação da emenda) após a
proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e
considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.
§ 4º - Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou
impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o
de maior votação.

O sistema majoritário pode ser do tipo simples (sem segundo turno de votação), será eleito o
candidato que alcançar maioria simples de votos. É adotado nas eleições para SENADORES e PREFEITOS
de municípios COM MENOS de 200mil eleitores.
No sistema proporcional valoriza-se o partido político em detrimento do candidato. Assim, nem
sempre o candidato mais votado será eleito. Nesse sistema, é possível o chamado voto de legenda. É adotado
para deputados estaduais, deputados federais e vereadores.

Por esse sistema, o total de votos válidos é dividido pelo número de vagas em disputa. O resultado é
o QUOCIENTE ELEITORAL, ou o número de votos correspondentes a cada cadeira.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 219


Ao dividir o total de votos de um partido pelo quociente eleitoral, chega-se ao QUOCIENTE
PARTIDÁRIO, que é o número de vagas que ele obteve.

Se o quociente partidário der 6,5, por exemplo, significa que aquele partido elegeu seis de seus
candidatos - os mais votados. Uma nova conta é feita das frações de cada partido até que todas as cadeiras
sejam distribuídas. O sistema proporcional privilegia o partido, e não o candidato. Por isso, é comum ocorrer
de candidatos serem eleitos com menos votos que outros que ficam de fora.

Os deputados federais representam a população de cada estado no Congresso, mas a Constituição


limita o número de representantes por unidade da federação em no mínimo oito e no máximo 70. Dessa
forma, não há uma verdadeira proporcionalidade.

5. POSSE DO PRESIDENTE

Tomam posse em sessão conjunta do Congresso Nacional, no dia 5 de janeiro do ano seguinte ao
pleito eleitoral (alteração promovida pela EC 111/2021). Nessa cerimônia, os eleitos se comprometem a
fielmente obedecer a Constituição (perante o antigo parlamento, pois a posse do novo é depois). A violação
deste compromisso possui uma consequência jurídica, qual seja, a prática de crime de responsabilidade (art.
85 da CF).

Art. 82. O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro) anos e terá


início em 5 de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República


que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
...
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo
de força maior, não tiverem assumido o cargo, este será declarado vago (CF, art. 78, parágrafo único). Ou
seja, até o dia 11 de janeiro pelo menos um dos dois deve tomar posse, sob pena se vacância dos cargos, caso
no qual serão convocadas novas eleições no prazo de 90 dias da vacância.

Art. 78
Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o
Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver
assumido o cargo, este será declarado vago.

Quem declara os cargos vagos? O Congresso Nacional, pois se trata de questão política.
Obs.: há regramento infraconstitucional sobre a posse do presidente é o regimento do Congresso Nacional.
Já foi perguntado em concurso.

Questão histórica - 1985 - Sarney, então eleito vice-presidente, assume a presidência sozinho, pois
Tancredo Neves estava hospitalizado. Posteriormente, Tancredo morre, sem ter assumido o cargo em
nenhum momento, fazendo com que Sarney se tornasse presidente em definitivo. Há quem defenda que a
posse de Sarney foi inconstitucional, a luz da CF/69.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 220


6. SUCESSÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Sucessão é gênero, do qual extraímos DUAS ESPÉCIES (art. 79, caput):

 Sucessão em sentido restrito: Ocorre nos casos de vacância (vaga), que é definitiva. Exemplos:
morte, renúncia, condenação pela prática de crime de responsabilidade e incapacidade absoluta
superveniente;

 Substituição: Ocorre nos casos de impedimento, que é temporário. Exemplo: Viagem, férias, licença
para tratamento de saúde.

Art. 79. SUBSTITUIRÁ o Presidente, no caso de impedimento, e


SUCEDER- LHE-Á, no de vaga, o Vice-Presidente.
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras
atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o
Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais.

SUBSTITUIÇÃO SUCESSÃO
Caráter temporário Caráter definitivo
Situação de fato ou de direito que obsta Ato ou fato jurídico que leva a extinção do
exercício do cargo mandato
Situação subjetiva do titular do cargo Estado ou situação do cargo
Casos licença, doença, férias e suspensão Hipóteses: cassação, renúncia, morte e
(art. 86, §1º da CF) arbitrária desfiliação partidária - vacância.

São SUBSTITUTOS do Presidente da República, pela ordem:

1. Vice-presidente;

2. Presidente da Câmara;

3. Presidente do Senado;

4. Presidente do STF.

Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou


vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao
exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do
Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.

Por que o presidente da Câmara vem antes do presidente do Senado? Porque na Câmara estão os
representantes do povo (art. 45), logo há uma maior legitimidade popular.
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo,
eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no
Distrito Federal.

Perceber que na linha sucessória do presidente, somente consta brasileiros natos, conforme o art. 12,
§3º da CF:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 221


Art. 12
§ 3º - São privativos de brasileiro NATO os
cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da
República; II - de Presidente da Câmara dos
Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas. (naturalizado pode ser das forças
armadas? Sim, apenas não pode ser do oficialato).
VII - de Ministro de Estado da Defesa
Salienta-se que os substitutos do Presidente da República não podem figurar como réu em ação
penal, decorrente do art. 86, §1º da CF.

Art. 86, § 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:


I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo
Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo
Senado Federal.

STF – ADPF 402 MC-Ref/DF: Os substitutos eventuais do Presidente da


República [...] ficarão unicamente impossibilitados de exercer, em
caráter interino, a Chefia do Poder Executivo da União, caso ostentem
a posição de réus criminais, condição que assumem somente após o
recebimento judicial da denúncia ou da queixa-crime (CF, art. 86, § 1º,
I). Essa interdição, contudo, não os impede de desempenhar a Chefia que
titularizam no órgão de Poder que dirigem, razão pela qual não se legitima
qualquer decisão que importe em afastamento imediato de tal posição
funcional em seu órgão de origem.

REGRA: Só o vice-presidente pode SUCEDER (definitivamente); os demais podem apenas


SUBSTITUIR (temporariamente), são os chamados substitutos eventuais ou legais.

Se o vice sucede o presidente, ele se torna o titular. Se também vem a morrer, o presidente da câmara
assume, mas em caráter temporário, ou seja, em substituição, somente até que novas eleições sejam
realizadas e o novo presidente seja eleito (direta ou indiretamente). Art. 81 e parágrafos CF.

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,


far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial,
a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga,
pelo Congresso Nacional (eleição indireta), na forma da lei.
§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de
seus antecessores.

Obs.: o art. 81 da CF NÃO é norma de observância obrigatória pelos Estados e Municípios, que possuem
autonomia para tratar de maneira diversa.

STF – ADI 4.298 MC/TO: Reprodução do disposto no art. 81, § 1º, da CF.
Não obrigatoriedade. Exercício da autonomia do Estado-membro.
Liminar indeferida. Precedente. Em sede tutela antecipada em ação direta
de inconstitucionalidade, aparenta constitucionalidade a lei estadual que
prevê

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 222


eleição pela Assembleia Legislativa, por votação nominal e aberta, para os
cargos de Governador e Vice -Governador, vagos nos dois últimos anos do
mandato.

Os Estados-membros, no exercício de suas autonomias, podem adotar o


modelo federal previsto no art. 81, § 1º, da Constituição, cuja reprodução,
contudo, não é obrigatória. No caso de dupla vacância, faculta-se aos
estados-membros, ao Distrito Federal e aos municípios a definição
legislativa do procedimento de escolha do mandatário político. STF.
Plenário. ADI 1057/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/8/2021 (Info
1025).

A Lei 13.185/15 alterou a redação do art. 224, §4º da Código Eleitoral prevendo que no caso de
causas eleitorais (indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato
eleito em pleito majoritário) a realização de eleição indireta será apenas quando ocorrer vacância nos últimos
seis meses do mandato, nos demais casos será feita eleição direta.

Em razão da diferença de tratamento, questionou-se a constitucionalidade do dispositivo. O STF, em


uma interpretação conforme a Constituição, entendeu que a previsão do Código Eleitoral é válida nas causas
eleitorais para Prefeitos e Governadores, mas não se aplica às hipóteses em que a própria Constituição
regulamenta (Presidente, Vice-Presidente e Senador).

STF – ADI 5.525/DF: O Plenário conferiu interpretação conforme a


Constituição ao § 4º do art. 224 do Código Eleitoral do mesmo artigo, de modo
a afastar do seu âmbito de incidência as situações de vacância nos cargos
de Presidente e Vice-Presidente da República, bem como no de Senador da
República.

IMPORTANTE: O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do


Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob a pena de perda do cargo
(CF, art. 83). A licença do CN é um ATO DISCRICIONÁRIO, não está obrigado a dar.

Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem


licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a
quinze dias (não são dias úteis!), sob pena de perda do cargo.

O requerimento de licença ao CN é feito por meio de ofício do Presidente da República dirigido ao


presidente do CN, com as justificativas cabíveis. Logo, pode haver a conversão do pedido em projeto de
decreto legislativo (NÃO é resolução, as únicas hipóteses de resolução são no caso de lei delegada e a
declaração de inconstitucionalidade do art. 52, X) concedendo a licença ou não.

A disposição constitucional da licença é norma de repetição obrigatória, para prefeitos e


governadores? STF (ADI 3647) decidiu que é regra de reprodução obrigatória.
STF – ADI 3.647/MA: Constituição do Estado do Maranhão. Impedimento ou
afastamento de Governador ou Vice-Governador. Ofensa aos arts. 79 e 83
da CF. Impossibilidade de ‘acefalia’ no âmbito do Poder Executivo. Em
decorrência do princípio da simetria, a Constituição estadual deve
estabelecer sanção para o afastamento do Governador ou do Vice-
Governador do Estado sem a devida licença da Assembleia Legislativa.

STF – ADI 738/GO: Afronta os princípios constitucionais da harmonia e


independência entre os Poderes e da liberdade de locomoção norma estadual
que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o governador e

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 223


o vice-governador possam ausentar-se do País por qualquer prazo. Espécie
de autorização que, segundo o modelo federal, somente se justifica quando
o afastamento exceder a quinze dias. Aplicação do princípio da simetria.”

7. ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O art. 84 da CF enumera as competências privativas do Presidente da República.

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da


República: I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da
administração federal; Cargo de chefe da administração federal.
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição; Função de CHEFE DE GOVERNO.
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir
decretos e regulamentos para sua fiel execução; CHEFE DE GOVERNO
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus
representantes diplomáticos; CHEFE DE ESTADO
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a
referendo do Congresso Nacional; CHEFE DE ESTADO
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; CHEFE DE GOVERNO
X - decretar e executar a intervenção federal; CHEFE DE GOVERNO
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por
ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e
solicitando as providências que julgar necessárias; CHEFE DE GOVERNO
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos
órgãos instituídos em lei;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus
oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos;
CHEFE DE GOVERNO
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo
Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de
Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do
banco central e outros servidores, quando determinado em lei;
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de
Contas da União; CHEFE DE ESTADO
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o
Advogado-Geral da União; CHEFE DE ESTADO
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89,
VII; CHEFE DE GOVERNO
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional; CHEFE DE GOVERNO
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo
Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo
das
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 224
sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou
parcialmente, a mobilização nacional;
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
CHEFE DE ESTADO
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; CHEFE DE ESTADO
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente;
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de
diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta
Constituição;
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta
dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício
anterior;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
XXVIII - propor ao Congresso Nacional a decretação do estado de
calamidade pública de âmbito nacional previsto nos arts. 167-B, 167-C, 167-
D, 167-E, 167-F e 167-G desta Constituição. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 109, de 2021)
Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições
mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de
Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União,
que observarão os limites traçados nas respectivas delegações.

IV - SANCIONAR, PROMULGAR E FAZER PUBLICAR AS LEIS, BEM COMO EXPEDIR


DECRETOS E REGULAMENTOS PARA SUA FIEL EXECUÇÃO

Atos de natureza colegislativa do PR, são formas do exercício de CHEFIA DE GOVERNO. Insere-
se como instrumento de freios e contrapesos, visando limitar o poder.

Decretos e regulamentos são fontes normativas secundárias cujo fundamento de validade é a lei
(fonte normativa primária), à qual devem subordinação, razão pela qual em regra não podem inovar o
ordenamento jurídico, com exceção do decreto autônomo. Se o decreto exorbitar o poder regulamentar
inovando o ordenamento, poderá ser sustado pelo CN (art. 49, V) ou ter sua ilegalidade declarada pelo Poder
Judiciário.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
Já o DECRETO AUTÔNOMO é fundado diretamente na Constituição e, por isso, pode criar direitos
e obrigações. Uma vez autorizado pela Constituição teremos um ato normativo autônomo.

Exemplo de decreto autônomo: art. 84, VI CF, art. 225, §1º, III da CF.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 225


Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
VI - dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
(Regulamento)

Tipos de decreto:

1) Decreto autônomo, acima explicado.

2) Decreto delegado ou autorizado pela lei: desenvolve a lei, podendo inovar na ordem jurídica
porque editado segundo autorização legislativa. Não possui espaço no Brasil, pois o nosso ordenamento
jurídico não se coaduna com autorizações legislativas puras ou incondicionadas de nítido conteúdo
renunciativo. STF ADI 3232.

3) Decreto comum ou de execução - a ele se refere o art. 84, IV da CF. Emana diretamente da lei e
não cria, altera ou extingue direitos, apenas fixa regras orgânicas e processuais destinadas a colocar em
execução os princípios institucionais estabelecidos por lei, ou para desenvolver os preceitos constantes da lei
expressos ou implícitos, dentro da órbita por eles circunscrita. O Executivo está constitucionalmente
autorizado (art. 84, IV) a expedir este tipo de decreto em relação a todas as leis, independentemente de
inserção nelas, de disposição expressa.

V - VETAR PROJETOS DE LEI, TOTAL OU PARCIALMENTE

Essa função colegislativa é fundamentada nos freios e contrapesos. O veto deve ser motivado por
conta de constitucionalidade ou contrariedade do interesse público. Deve ser proferido em até 15 dias úteis.

Cuidado: art. 66, §1º. O veto parcial deve ser de artigo, inciso, parágrafo ou alínea inteira.

Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de
lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em
parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente
do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de
parágrafo, de inciso ou de alínea.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 226


8. MANDATO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O presidente exerce mandato de 04 anos, com possibilidade de reeleição. A Constituição divide o


mandato de 04 anos em dois períodos:

Primeiros 02 anos (art. 81, caput): Se os cargos forem declarados vagos (vacância), o presidente
da câmara assume e convoca eleições DIRETAS, a ser realizada no prazo de 90 dias da vacância do último
cargo. Ou seja, o presidente da CD assume por 90 dias.

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,


far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.

Últimos 02 anos (art. 81, §1º): Se os cargos de presidente e vice forem declarados vagos, temos
eleições INDIRETAS em 30 dias. O presidente de câmara substitui (temporariedade) até a realização da
eleição indireta.

§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial,


a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga,
pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de
seus antecessores.

Nessa eleição indireta teremos como candidatos: qualquer cidadão que preencha os requisitos; e
como eleitores: o Congresso Nacional.

Em ambos os casos de vacância, aqueles que forem eleitos (direta ou indiretamente) apenas
terminarão o mandato daqueles que desaparecerem (mandato-tampão), ou seja, não exercerão quatro anos
de mandato (art. 81, §2º). O mandato é tampão para que permaneça a coincidência entre as eleições
parlamentares e as eleições presidenciais.

Eleição direta X Eleição Indireta

Direta: O povo, titular do poder, escolhe sem qualquer intermediário os seus representantes.

Indireta: O povo escolhe o representante por meio de intermediários. O povo vota no intermediário
que escolhe o representante.

9. VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

São funções do Vice-presidente:

1) Substituir ou suceder o presidente;


2) Participar de missões especiais a mando do presidente. Ex: Festa do casamento do rei da
Eslovênia.

3) Realizar demais atribuições previstas em lei complementar (que não existe). Lei ordinária NÃO
pode ofertar atribuições ao vice, nos termos do art. 79, parágrafo único.

Art. 79, Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras


atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempr

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 227


4) Compor o Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional (art. 89, I e art. 91, I).

Art. 89. O CONSELHO DA REPÚBLICA é órgão superior de consulta do


Presidente da República, e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;

Art. 91. O CONSELHO DE DEFESA NACIONAL é órgão de consulta do


Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania
nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como
membros natos:
I - o Vice-Presidente da República;

É possível que duas autoridades desempenhem atribuições de um mesmo cargo ao mesmo instante?
Do ponto de vista administrativo é bem estranho, mas ocorre. Por exemplo, o Presidente assinando tratado no
exterior e Vice-presidente editando MP, tudo ao mesmo tempo.

Há impedimento de que o vice-presidente exerça o cargo de ministro? Não há qualquer impedimento


na CF. Ocorre que se o vice-presidente vier a ter de substituir o presidente, deverá se licenciar do cargo de
ministro, pois este não é cumulável com o de presidente.

10. MINISTROS DE ESTADO

REQUISITOS

Estão previstos no art. 87 da CF.

Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores


de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições
estabelecidas nesta Constituição e na lei: [...]

A idade mínima de 21 anos, para ser Ministro de Estado, não consta no art. 14 porque não é um
cargo eletivo.

Salvo o cargo de Ministro de Defesa, para os demais não há a exigência de ser brasileiro
nato.

Art. 12. São brasileiros:


§ 3º - São privativos de BRASILEIRO NATO os cargos:
VII - de Ministro de Estado da Defesa

Por fim, salienta-se que não há necessidade de aprovação pelo Senado Federal.

COMPETÊNCIA

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 228


Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores
de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições
estabelecidas nesta Constituição e na lei:
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades
da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e
decretos assinados pelo Presidente da República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no
Ministério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou
delegadas pelo Presidente da República.

Referendar atos e decretos do Presidente, trata-se do referendo ministerial. É condição do ato de


validade do presidente? É pressuposto de validade? NÃO. No presidencialismo o referendo não interfere na
validade do ato do presidente, diferentemente do que ocorre no parlamentarismo, em que atos do chefe do
estado precisam ser referendados pelos ministros.

CRIAÇÃO DE CARGOS

Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da


administração pública.

Trata-se lei ordinária, de iniciativa privativa do PR art. 61, 1, II. Perceba que devido ao Art.
84, VI, o PR pode fazer por decreto (EC/32), o que de certa maneira atenua a exigência.

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer


membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do
Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos
cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


VI - dispor, mediante decreto, sobre
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos
Com base no art. 63, §1º, II, “e”, da CF, o STF (ADI 2296/RS – Info 1032) considerou a
inconstitucionalidade formal de uma lei do RS que permitia a participação de trabalhadores inativos no
sufrágio para escolha de membros da diretoria de uma empresa pública, sustentou que o
dispositivo, apesar de falar apenas em Presidente da República, também se aplica em nível estadual, ou seja,
os assuntos mencionados no § 1º do art. 61, no âmbito dos Estados, devem ser tratados por intermédio de lei
de iniciativa do Governador.

CONSELHO DA REPÚBLICA E CONSELHO DE DEFESA NACIONAL

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 229


Art. 89. O CONSELHO DA REPÚBLICA é órgão SUPERIOR de consulta
do Presidente da República, e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos
Deputados; III - o Presidente do Senado
Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
VI - o Ministro da Justiça;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade,
sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado
Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de
três anos, vedada a recondução.
Exigem-se 06 cidadãos brasileiros NATOS, outra hipótese em que há diferenciação entre natos e
naturalizados.

Conselho da República: quais são as matérias em quais ele deve ser ouvido?

Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre:


I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;
II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.
§ 1º - O Presidente da República poderá convocar Ministro de Estado para
participar da reunião do Conselho, quando constar da pauta questão
relacionada com o respectivo Ministério.

As normas constitucionais que tratam do conselho da república são autoaplicáveis? Não, o dispositivo exige
lei para regulamentação.

§ 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho da


República.

A composição dos conselhos dos governos estaduais devem ser simétricos aos da Presidência?
SIM. O STF entende que deve observar o modelo constitucional.

Art. 91. O CONSELHO DE DEFESA NACIONAL é órgão de consulta do


Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania
nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como
membros natos:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos
Deputados; III - o Presidente do Senado
Federal;
IV - o Ministro da Justiça;
V - o Ministro de Estado da Defesa;(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 23, de 1999)
VI - o Ministro das Relações Exteriores;
VII - o Ministro do Planejamento.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 230


VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.(Incluído pela Emenda
§ 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional:
- opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos des
- opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção fed
- propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do te
- estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias a garantir
§ 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional.

Art. 1º, §1 da Lei 10683. Quais são os órgãos de ASSESSORAMENTO IMEDIATO do


Presidente da República?

Art. 1o A Presidência da República é constituída,


essencialmente: (...)
§ 1º Integram a Presidência da República, como órgãos de
ASSESSORAMENTO IMEDIATO ao Presidente da República:
I - o Conselho de Governo;
II - o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social;
III - o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional; IV - o Conselho Nacional de Política Energética;
V - o Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte;
VI - o Advogado-Geral da União;
VII - a Assessoria Especial do Presidente da República;

A banca vai confundir a composição do conselho da república com o conselho de defesa (é uma
norma não autoaplicável também).

11. CRIMES DE RESPONSABILIDADE

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Há várias responsabilidades dos membros do Poder Executivo definidas pela CF/88, a exemplo dos
crimes de responsabilidade política (crimes de responsabilidade em sentido estrito), da responsabilidade civil
e administrativa (improbidade administrativa), da responsabilidade fiscal, da responsabilidade penal etc.

A responsabilidade política está ligada aos crimes de responsabilidade – infrações políticas


administrativas, cometidas por agentes políticos que violam um dever funcional grave, constitucionalmente
estabelecido, que podem levar à perda do cargo. Não confundir com a responsabilidade penal.
A Constituição não tipifica os crimes de responsabilidade, as infrações político- administrativas.
Embora não tenham esse caráter penal, a sua semelhança, elas devem ser tipificadas. A Constituição não traz
esses tipos, indica situações em que esses tipos serão definidos

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 231


por leis especiais. Quais são as passagens? Art. 29-A, §2º (prefeito) e §3º (presidente da câmara de
vereadores); art. 50 caput e §2º (ministro de estado); art. 85 (presidente da república); art. 100,
§7º (presidente dos TJs); 167§1º (violação a princípios orçamentários); art. 60, XI, ADCT (chefes do poder
executivo e precatórios).

Em suma:

Crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas praticadas por pessoas que ocupam
determinados cargos públicos. Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele não receberá
sanções penais (prisão ou multa), mas sim sanções político- administrativas (perda do cargo e inabilitação
para o exercício de função pública).

DIPLOMAS NORMATIVOS QUE TIPIFICAM CRIMES DE RESPONSABILIDADES

Lei 1.079/50 - alterada pela Lei 10.028/2000 (crimes de responsabilidade do presidente, Ministros de
Estado, Ministros do STF, PGR, governadores, Secretários de estado).

DL 201/67 - Crimes de responsabilidade e infrações político-administrativas de prefeitos e vice-


prefeitos; cassação e extinção de mandato de vereador. Cuidado, a lei chama de CRIME DE
RESPONSABILIDADE algo que tem natureza penal, o que é crime de responsabilidade é o que a lei chama
de infração político-administrativa. Logo, não cabe HC, visto que não há ameaça ao direito de locomoção do
indivíduo (STF HC 70033)

Lei 7.106/86 - Crimes de responsabilidade do Governador do Distrito Federal, dos Governadores dos
Territórios Federais e seus respectivos Secretários.

SUJEITOS QUE PODEM PRATICAR CRIMES DE RESPONSABILIDADE E


COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO

 Presidente da República e Vice-presidente da República (art. 52, I)

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
CRIMES DE RESPONSABILIDADE, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza conexos com aqueles;

 Ministros de Estado e cargos equiparados (art. 50, caput e §2º; 52, I; 102, I, c)

Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas


Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de
órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para
prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente
determinado, importando CRIME DE RESPONSABILIDADE a ausência sem
justificação adequada.
§ 2º - As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão
encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a
qualquer das pessoas referidas no caput deste artigo, importando em
CRIME DE RESPONSABILIDADE a recusa, ou o não - atendimento, no
prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 232


 Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica (52, I; 102, I, c);

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
CRIMES DE RESPONSABILIDADE, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza CONEXOS com aqueles;

 Ministros do STF, Membros do CNJ e do CNMP, PGR e AGU (art. 52, II);

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros
do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos
CRIMES DE RESPONSABILIDADE;

 Membros dos Tribunais Superiores; Membros do TCU; Membros de missão diplomática de caráter
permanente (102, I, c);

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
c) nas infrações penais comuns e nos CRIMES DE RESPONSABILIDADE,
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais
Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente;

 Presidentes de Tribunais (art. 100, §7º)

Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,


Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão
exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de
pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para
este fim.
§ 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato comissivo ou omissivo,
retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios incorrerá em
CRIME DE RESPONSABILIDADE e responderá, também, perante o
Conselho Nacional de Justiça.

 Desembargadores dos TJEs e DF; Membros dos TCEs e DF; Membros dos TRFs; Membros dos
TREs; Membros dos TRTs; Membros do MPU que oficiem perante tribunais (105, I, a);

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal,
e, nestes e nos DE RESPONSABILIDADE, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 233


 Juízes Federais; Juízes da JM; Juízes da JT; Membros do MPU que não oficiam perante Tribunais
(108, I, a);

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:


I - processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar
e da Justiça do Trabalho, NOS CRIMES comuns e DE
RESPONSABILIDADE, e os membros do Ministério Público da União,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

 Juízes e membros do MPE e DFT (96, III);

Art. 96. Compete privativamente:


III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal
e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, NOS CRIMES
comuns e DE RESPONSABILIDADE, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral.

 Governadores (Lei 1.079);

 Prefeitos (29-A §2º);

Art. 29-A.
§ 2° Constitui CRIME DE RESPONSABILIDADE do Prefeito
Municipal: I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste
artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária.
 Presidente das Câmaras de Vereadores (29-A §3º).

Art. 29-A.
§ 3o Constitui CRIME DE RESPONSABILIDADE do Presidente da Câmara
Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.

Perceba que a lei não sujeita apenas os membros do poder executivo, embora o assunto aqui
tratado foque especificamente no que diz respeito ao poder executivo.

12. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

NATUREZA JURÍDICA

O crime de responsabilidade, conforme entendimento do STF, possui natureza de infração político-


administrativa.

COMPETÊNCIA
A competência para o julgamento será do Senado Federal, após autorização da Câmara dos Deputados
(condição de procedibilidade).

SANÇÃO

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 234


Diferente dos crimes comuns em que a aplicação de pena privativa de liberdade, a sanção no crime
de responsabilidade será política, havendo a perda do cargo com inabilitação por 8 anos.

Obs.: No impeachment da Dilma a sanção foi a perda do cargo, mas não houve a inabilitação por 8 nos. Foi
uma decisão política do Congresso Nacional, endossada pelo STF.

CONDUTAS QUE IMPORTAM CRIME DE RESPONSABILIDADE

Estão listadas, em rol exemplificativo, no art. 85 da CF. Não é uma tipificação, mas sim uma
indicação das situações.

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República


que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente (prova de que é
exemplificativo), contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do
Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais; IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Conforme o art. 85, parágrafo único, a definição desses crimes que ensejam o impedimento
(impeachment) do presidente deverá estar em lei especial (Lei 1.079/50).

Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que


estabelecerá as normas de processo e julgamento.

Súmula Vinculante 46/STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o


estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da
competência legislativa privativa da União.

Como dito, a natureza jurídica dos crimes de responsabilidade não é penal, mas sim político-
administrativa, assim, não se exige a tipicidade certa (princípio da taxatividade) da lei penal. Aqui estamos
diante de tipos abertos, o que não significa dizer que possa haver punição sem previsão legal da conduta
ilícita. O STF entende que a lei deve ser federal, como mencionado acima (ADI 1.628).

OBS: perceba que o MP não é um poder, mas tem tratamento constitucional semelhante à de um poder.

DUPLO REGIME SANCIONATÓRIO


Inicialmente, o STF entendia que não poderia haver duplo regime sancionatório para os agentes
políticos, portanto, responderiam por improbidade administrativa ou por crime de responsabilidade.

Atualmente, exceto em relação ao Presidente da República, os agentes políticos poderão responder


tanto por improbidade administrativa quanto por crime de responsabilidade, haverá um duplo regime
sancionatório.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 235


STF - Pet 3.240 AgR/DF (10.5.2018): Os agentes políticos, com exceção do
Presidente da República, encontram-se sujeitos a duplo regime
sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil
pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização
político- administrativa por crimes de responsabilidade. O foro especial por
prerrogativa de função previsto na Constituição Federal (CF) em relação às
infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade
administrativa.

PROCEDIMENTO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

12.6.1. Oferecimento da denúncia

É preciso que QUALQUER CIDADÃO (em sentido restrito) apresente a denúncia perante a
CÂMARA DOS DEPUTADOS para que haja análise da acusação.

 Cidadão em sentido lato: É todo indivíduo que pode exercer direitos e contrair obrigações (direito de
ter direitos). Em razão da dignidade da pessoa humana, todo indivíduo é cidadão em sentido amplo.

 Cidadão em sentido restrito: É todo indivíduo nacional que exerce direitos políticos (art. 12
+ art. 14).

LCR Art. 14. É permitido a QUALQUER CIDADÃO denunciar o Presidente


da República ou Ministro de Estado, por crime de responsabilidade, perante
a Câmara dos Deputados.

Por isso que se costuma dizer que o crime de responsabilidade se dá por “ AÇÃO PENAL
POPULAR”, como vimos, tal “crime” é infração político-administrativa e não penal. Se tivesse natureza
penal a LCR não poderia dizer que qualquer cidadão poderia oferecê-la, isso porque violaria o art. 129, I da
CF, que dá a titularidade da ação penal ao MP.

12.6.2. Acolhimento do pedido

Após o recebimento da denúncia, o pedido será acolhido ou não pelo Presidente da Câmara dos
Deputados, assegurando ao Presidente da República o direito à ampla defesa. Contudo, não se exige a
apresentação de defesa prévia.

A apresentação de defesa prévia não é uma exigência do princípio constitucional da ampla defesa:
ela é exceção, e não a regra no processo penal. Não há, portanto, impedimento para que a primeira
oportunidade de apresentação de defesa no processo penal comum se dê após o recebimento da denúncia.
Importante esclarecer que o Presidente da Câmara faz um juízo prévio de admissibilidade da denúncia
e poderia já tê-la rejeitado liminarmente se entendesse que o pedido apresentado era inepto ou que não tinha
justa causa. Assim, seu papel no recebimento dessa denúncia não é meramente burocrático, havendo um
juízo decisório. Nesse sentido, confira precedente do STF:

(...) a competência do Presidente da Câmara dos Deputados e da Mesa do


Senado Federal para recebimento, ou não, de denúncia no processo de
impeachment não se restringe a uma admissão meramente burocrática,
cabendo-lhes, inclusive, a faculdade de rejeitá-la, de plano, acaso entendam

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 236


ser patentemente inepta ou despida de justa causa. (...) STF. Plenário. MS
30672 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 15/09/2011.

12.6.3. Instalação da Comissão Especial

Caso o pedido seja acolhido, será instituída uma Comissão Especial com representação proporcional, sendo
a indicação de seus membros feita pelos líderes partidários.

Os nomes indicados serão submetidos a ratificação posterior, em votação aberta, pelos membros
do Parlamento.

Art. 19. Recebida a denúncia, será lida no expediente da sessão seguinte e


despachada a uma comissão especial eleita, da qual participem, observada
a respectiva proporção, representantes de todos os partidos para opinar
sobre a mesma.

12.6.4. Notificação do Presidente da República

Após a instalação da comissão, o Presidente da República será notificado para apresentar sua defesa.
Salienta-se que o prazo de apresentação da defesa é de 10 sessões, contado a partir do recebimento da
notificação.

12.6.5. Votação do relatório final

Após a defesa do Presidente da República, a Comissão Especial possui cinco sessões para votar o
relatório final, que poderá ou não ser favorável ao impeachment.

Salienta-se que o relatório final não é vinculante.

12.6.6. Decisão do Plenário

Por fim, será o plenário, mediante a votação nominal de 2/3 de seus membros (342 votos) que
decidirá sobre a abertura do processo de impeachment.

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois


terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante
o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o
Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime
pelo Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo
Senado Federal.
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver
concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo.
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns,
o Presidente da República não estará sujeito a prisão.
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

PROCEDIMENTO NO SENADO FEDERAL

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 237


12.7.1. Instauração

A decisão do Senado que decide se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria simples,
presente a maioria absoluta de seus membros. Aplica-se aqui, por analogia, o art. 47 da Lei nº 1.079/50.
Assim, devem estar presentes no mínimo 42 Senadores no dia da sessão (maioria absoluta de 81) e, destes,
bastaria o voto de 22 Senadores.

A CF/88 afirma que compete ao Senado, privativamente, “processar e julgar” o Presidente (art. 52, I,
da CF/88). Segundo entendeu o STF, esta locução abrange não apenas o julgamento final, mas também a
realização de um juízo inicial de instauração ou não do processo, isto é, de recebimento ou não da denúncia
autorizada pela Câmara.

No regime atual, a Câmara não funciona como um “tribunal de pronúncia”, mas apenas implementa
ou não uma condição de procedibilidade para que a acusação prossiga no Senado. A atuação da Câmara dos
Deputados deve ser entendida como parte de um momento pré-processual, isto é, anterior à instauração do
processo pelo Senado. Nas palavras do Min. Roberto Barroso: "a Câmara apenas autoriza a instauração do
processo: não o instaura por si própria, muito menos determina que o Senado o faça".

Assim, apresentada denúncia contra o Presidente da República por crime de responsabilidade,


compete à Câmara dos Deputados decidir se autoriza ou não a instauração de processo. Caso a Câmara
autorize a instauração do processo de impeachment, esta será ainda uma autorização "provisória" (mera
condição de procedibilidade), considerando que o Senado ainda irá examinar o pedido nos termos do art. 52,
I, da CF/88.

12.7.2. Rito

É o mesmo rito previsto para os Ministros do STF e para o Procurador Geral da República.

Se o Senado aceitar a denúncia, inicia-se a instrução probatória e o Presidente da República deverá


ser afastado do cargo temporariamente (art. 86, § 1º, II, da CF/88). Se, após 180 dias do afastamento do
Presidente, o julgamento ainda não tiver sido concluído, cessará o seu afastamento e ele reassumirá, sem
prejuízo do regular prosseguimento do processo.

A defesa tem direito de se manifestar após a acusação: no curso do procedimento de impeachment, o


Presidente terá a prerrogativa de se manifestar, de um modo geral, após a acusação.
O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória: o interrogatório do Presidente,
instrumento de autodefesa que materializa as garantias do contraditório e da ampla defesa, deve ser o último
ato de instrução do processo de impeachment.

Ao final do processo, os Senadores deverão votar se o Presidente deve ser condenado ou absolvido.

12.7.3. Presidência

Caberá ao Presidente do STF.

12.7.4. Absolvição

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 238


Caso seja absolvido, o Presidente que estava afastado de suas funções irá reassumir do
cargo.

12.7.5. Condenação

Para que seja condenado, é necessário o voto de 2/3 dos Senadores (54 votos).

Se for condenado, o Presidente receberá duas sanções: a) perda do cargo; b) inabilitação para o
exercício de funções públicas por 8 anos. Além disso, poderá ser eventualmente denunciado criminalmente
pelo Ministério Público.

Caso seja condenado, quem assume é o Vice-Presidente, que irá completar o mandato (não é
necessária a convocação de novas eleições).

12.7.6. Renúncia

Caso Collor: Na data do julgamento (28/12/1992), Collor renunciou ao cargo. Esse pedido foi até o
presidente do STF (que presidia o julgamento) que entendeu que era caso de prosseguimento do julgamento:
o fato da renúncia não impediria a aplicação da 2ª pena. A estratégia do Collor era exatamente essa: não ficar
inabilitado. No entanto, ele acabou condenado, e foi declarado inabilitado até o dia 28/12/2000.

Collor impetrou um MS no STF, contra o ato do presidente do julgamento: O Supremo negou a


ordem, referendando a decisão do SF. STF MS 21689.

O art. 15 da Lei 1.079 diz que “a denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado, não tiver
por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo”. O STF julgando o aludido MS 21689-1, por maioria
de votos, decidiu que a renúncia ao cargo não extingue o processo quando já iniciado.

STF: Entre as duas penas não existe a relação de acessória e principal, ou seja, a pena de inabilitação
não é acessória da perda do cargo; ambas possuem a mesma importância, o mesmo valor. Logo, iniciado o
julgamento, a eventual renúncia não implica em prejudicialidade do processo, porquanto ainda pode ser
aplicada uma das penas possíveis, qual seja, a inabilitação para exercício de função pública por 08 anos.
13. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS GOVERNADORES DE ESTADO

INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS

São os mesmos do Presidente da República, guardada a devida simetria entre as duas funções. Atos
definidos na Lei 1.079 se aplicam aos governadores.

PROCEDIMENTO

Apresentação da denúncia à Assembleia Legislativa que pode ser feita por qualquer cidadão, nos
termos dos arts. 75 e 76 da Lei 1.079/50.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 239


Lei 1.079
Art. 75. É permitido a todo cidadão denunciar o Governador perante a
Assembleia Legislativa, por crime de responsabilidade.

Art. 76.A denúncia assinada pelo denunciante e com a firma reconhecida,


deve ser acompanhada dos documentos que a comprovem, ou da
declaração de impossibilidade de apresentá-los com a indicação do local em
que possam ser encontrados. Nos crimes de que houver prova testemunhal,
conterão rol das testemunhas, em número de cinco pelo menos.
Parágrafo único. Não será recebida a denúncia depois que o Governador,
por qualquer motivo, houver deixado definitivamente o cargo.

Julgamento pela Assembleia Legislativa da admissibilidade da acusação, ou seja, sobre a aptidão da


denúncia para ser objeto de deliberação (art. 77, da Lei 1.079/50). Admitida a acusação o acusado será citado
para apresentar contestação, indicar provas etc.

Art. 77. Apresentada a denúncia e julgada objeto de deliberação, se a


Assembleia Legislativa por MAIORIA ABSOLUTA, decretar a procedência
da acusação, será o Governador imediatamente suspenso de suas funções.

Julgamento pela Assembleia Legislativa sobre a procedência da acusação. A procedência exige o


quorum DE MAIORIA ABSOLUTA dos membros. Caso a acusação seja julgada procedente o governador
ficará imediatamente suspenso de suas funções e o processo será remetido ao presidente do TJ que presidirá
um Tribunal Especial formado em 05 dias (art. 78, §§3º e 4º da Lei 1.079/50).

Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela


forma que determinar a Constituição do Estado e não poderá ser condenado
senão a perda do cargo, com inabilitação até cinco anos para o exercício de
qualquer função pública, sem prejuízo da ação da justiça comum.
par. 1º Quando o tribunal de julgamento for de jurisdição mista serão iguais,
pelo número, os representantes dos órgãos que o integrarem, excluído o
Presidente, que será o Presidente do Tribunal de Justiça.
par. 2º Em qualquer hipótese, só poderá ser decretada a condenação pelo
voto de dois terços dos membros de que se compuser o tribunal de
julgamento.
par. 3º Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o processo
nos crimes de responsabilidade dos Governadores, aplicar-se-á o disposto
nesta lei, devendo, porém, o julgamento ser proferido por um tribunal
composto de cinco membros do Legislativo e de cinco
desembargadores sob a presidência do Presidente do Tribunal de
Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A escolha
desse Tribunal será feita - a dos membros dos membros do legislativo,
mediante eleição pela Assembleia; a dos desembargadores, mediante
sorteio.
par. 4º Esses atos deverão ser executados dentro em cinco dias contados
da data em que a Assembleia enviar ao Presidente do Tribunal de Justiça
os autos do processo, depois de decretada a procedência da acusação.

JULGAMENTO

O governador é julgado por um tribunal misto, formado por deputados estaduais e por

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 240


desembargadores, sendo presidido pelo presidente do TJ. O

Tribunal Especial/Misto é composto por:

 05 Deputados Estaduais escolhidos mediante eleição na AL;

 05 desembargadores do TJ local escolhidos por sorteio;

 O presidente do TJ local, que presidirá o Tribunal Especial e terá direito de voto apenas no caso de
empate.

A CE/SP previa que seriam 07 deputados e 07 desembargadores. O STF declarou a CE/SP


inconstitucional. Para o Supremo, devem ser 05 deputados estaduais + 05 desembargadores, presididos pelo
presidente TJ, nos termos exatos da Lei 1.079/50 (embora ela mesma preveja que o estado em sua CE
poderia determinar diferente). O STF decidiu isso baseado no fato de que a competência para
legislar sobre crime de responsabilidade é de iniciativa da União. ADI 1628.

STF: Não cabe ao estado-membro legislar sobre crime de responsabilidade. A competência é


privativa da União. Logo, as CE que estabeleciam 07 + 07 são inconstitucionais. Nesse sentido, a Súmula
Vinculante 46 do STF:

Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a


definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento.

O Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda


que seja na Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar
sobre crime de responsabilidade é privativa da União, nos termos do art. 22,
I, e art. 85 da CF/88. Assim, é inconstitucional norma da Constituição
Estadual que preveja a competência da Assembleia Legislativa para
autorizar a instauração do processo e para jugar o Governador e o Vice-
Governador do Estado por crimes de responsabilidade. Também é
inconstitucional a previsão contida na Constituição Estadual afirmando que
o Governador será suspenso de suas funções nos crimes de
responsabilidade, se admitida a acusação e instaurado o processo, pela
Assembleia Legislativa. STF. Plenário. ADI 4811/MG, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 13/12/2021 (Info 1041).
SANÇÕES

1ª) Perda do cargo

2ª) Inabilitação para o exercício de função pública por ATÉ 05 anos.

Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela


forma que determinar a Constituição do Estado e não poderá ser condenado
senão a perda do cargo, com inabilitação até cinco anos para o
exercício de qualquer função pública, sem prejuízo da ação da justiça
comum.
Lembrando: não se aplica a previsão da constituição que é de 08 anos, porque ela se aplica para os
indivíduos julgados pelo SF.

STF - ADI 1.628/SC: 4. A CB/88 elevou o prazo de inabilitação de 5 (cinco)


para 8 (oito) anos em relação às autoridades apontadas. Artigo 2º da Lei n.
1.079 revogado, no que contraria a Constituição do Brasil. 5. A Constituição

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 241


não cuidou da matéria no que respeita às autoridades estaduais. O disposto
no artigo 78 da Lei n. 1.079 permanece hígido - o prazo de inabilitação das
autoridades estaduais não foi alterado. O Estado-membro carece de
competência legislativa para majorar o prazo de cinco anos --- artigos 22,
inciso I, e parágrafo único do artigo 85, da CB/88, que tratam de matéria
cuja competência para legislar é da União.

IMPORTANTE: Conforme o art. 15 da Lei 1.079/50, A denúncia só poderá ser recebida pela CD
enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo. Lembrar do
posicionamento do STF: se o processo já tiver começado, não caberá renúncia para escapar da pena.

LCR Art. 15. A denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não
tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo.

14. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS MUNICIPAIS

PREVISÃO CONSTITUCIONAL

CF
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os
subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá
ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita
tributária e das transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158 e
159, efetivamente realizado no exercício anterior:
....
§ 2o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária

Trata-se de um crime de responsabilidade REAL do prefeito (político-administrativa e não criminal,


ou seja, não é um “falso” crime de responsabilidade). A doutrina entende que tal dispositivo não é
autoaplicável, sendo necessário que uma lei federal tipifique as referidas hipóteses, de forma que o órgão
julgador deverá ser a Câmara de Vereadores, pois não tem natureza penal.

TIPOS DE INFRAÇÕES QUE PODEM SER COMETIDAS POR PREFEITOS

 Crimes comuns; (estudaremos mais adiante)

 Crimes “de responsabilidade” (natureza penal); (logo abaixo)

 Infrações político-administrativas (impeachment ou crimes de responsabilidade reais - com natureza


política-administrativa). (logo abaixo)

PROCEDIMENTO DOS CRIMES “DE RESPONSABILIDADE” DO PREFEITO NA LEI


201/67 (NATUREZA PENAL)

Processo e julgamento: art. 2º do DL 201

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 242


Procedimento é regulado pelo regimento interno do tribunal e pelo CPP, não se aplicando o art. 2 do
DL 201 quando determinar o rito do processo comum do juízo singular.

Art. 2º O processo dos crimes definidos no artigo anterior é o comum do


juízo singular (NÃO RECEPCIONADO), estabelecido pelo Código de
Processo Penal, com as seguintes modificações:

Infração de natureza PENAL. O prefeito será julgado pelo poder judiciário (art. 1º do DL), ou seja,
pelo TJ (crimes comuns), TRF (crimes federais), TRE (crimes eleitorais).

O julgamento cabe ao TJ ou ao TRF (a lei não foi recepcionada no ponto que remete ao juízo
singular), sem a presença de qualquer magistrado, uma vez que não existe poder judiciário municipal. É
independente do pronunciamento da Câmara de Vereadores (art. 1º, in fine).

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao


julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento
da Câmara dos Vereadores:[...]
Continuando art. 2º:
Art. 2º O processo dos crimes definidos no artigo anterior é o comum do
juízo singular (NÃO RECEPCIONADO), estabelecido pelo Código de
Processo Penal, com as seguintes modificações:
I - Antes de receber a denúncia, o Juiz ordenará a notificação do acusado
para apresentar defesa prévia, no prazo de cinco dias. Se o acusado não for
encontrado para a notificação, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá
apresentar a defesa, dentro no mesmo prazo.

O regimento interno do tribunal pode designar órgão fracionário para proceder a este julgamento
STF 71.381.

II - Ao receber a denúncia, o Juiz manifestar-se-á, obrigatória e


motivadamente, sobre a prisão preventiva do acusado, nos casos dos itens I
(apropriar-se ou desviar rendas públicas) e II (utilizar-se indevidamente de
bens públicos) do artigo anterior, e sobre o seu afastamento do exercício do
cargo durante a instrução criminal, em todos os casos.
III - Do despacho, concessivo ou denegatório, de prisão preventiva, ou de
afastamento do cargo do acusado, caberá recurso, em sentido estrito, para
o Tribunal competente, no prazo de cinco dias, em autos apartados. O
recurso do despacho que decreta a prisão preventiva ou o afastamento do
cargo terá efeito suspensivo.
§ 1º Os órgãos federais, estaduais ou municipais, interessados na apuração
da responsabilidade do Prefeito, podem requerer a abertura do inquérito
policial ou a instauração da ação penal pelo Ministério Público, bem como
intervir, em qualquer fase do processo, como assistente da acusação.
§ 2º Se as previdências para a abertura do inquérito policial ou instauração
da ação penal não forem atendidas pela autoridade policial ou pelo
Ministério Público estadual, poderão ser requeridas ao Procurador-Geral da
República.
O Dec. Lei 201/67, assim como o art. 29-A, §2º da CF apresentam as condutas tipificadas como
crimes de responsabilidade

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento d


Câmara dos Vereadores:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 24 3


I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito
próprio ou alheio;
Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas
ou serviços públicos;
Ill - desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas;
IV - empregar subvenções, auxílios, empréstimos ou recursos de qualquer
natureza, em desacordo com os planos ou programas a que se destinam;
V - ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por lei, ou realizá-las em
desacordo com as normas financeiras pertinentes;
VI - deixar de prestar contas anuais da administração financeira do
Município a Câmara de Vereadores, ou ao órgão que a Constituição do
Estado indicar, nos prazos e condições estabelecidos;
VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da
aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou
externos, recebidos a qualquer título;
VIII - Contrair empréstimo, emitir apólices, ou obrigar o Município por títulos
de crédito, sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei;
IX - Conceder empréstimo, auxílios ou subvenções sem autorização da
Câmara, ou em desacordo com a lei;
X - Alienar ou onerar bens imóveis, ou rendas municipais, sem autorização
da Câmara, ou em desacordo com a lei;
XI - Adquirir bens, ou realizar serviços e obras, sem concorrência ou coleta
de preços, nos casos exigidos em lei;
XII - Antecipar ou inverter a ordem de pagamento a credores do Município,
sem vantagem para o erário;
XIII - Nomear, admitir ou designar servidor, contra expressa disposição de
lei; XIV - Negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de
cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade,
por escrito, à autoridade competente;
XV - Deixar de fornecer certidões de atos ou contratos municipais, dentro do
prazo estabelecido em lei.
XVI – deixar de ordenar a redução do montante da dívida consolidada, nos
prazos estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor resultante
da aplicação do limite máximo fixado pelo Senado Federal;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 244


– ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos
– deixar de promover ou de ordenar, na forma da lei, o cancelamento, a amortização ou
– deixar de promover ou de ordenar a liquidação integral de operação de crédito por ant
– ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a realização de operação de crédito com
– captar recursos a título de antecipação de receita de tributo ou contribuição cujo fato g
– ordenar ou autorizar a destinação de recursos provenientes da emissão de títulos par
§1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I (apropr
§ 2º A condenação definitiva em qualquer dos crimes definidos neste artigo, acarreta a p

CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS NO DL 201/67 (NATUREZA


POLÍTICO-ADMINISTRATIVA – “VERDADEIRO” CRIME DE
RESPONSABILIDADE!)

Infração de natureza político-administrativa (art. 4º do DL 201/67), o julgamento será feito pela


CÂMARA DE VEREADORES.

Art. 4º São INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS dos Prefeitos


Municipais sujeitas ao julgamento pela CÂMARA DOS VEREADORES e
sancionadas com a cassação do mandato (perceba que a punição é
cassação do mandato):
I - Impedir o funcionamento regular da Câmara;
II - Impedir o exame de livros, folhas de pagamento e demais documentos
que devam constar dos arquivos da Prefeitura, bem como a verificação de
obras e serviços municipais, por comissão de investigação da Câmara ou
auditoria, regularmente instituída;
III - Desatender, sem motivo justo, as convocações ou os pedidos de
informações da Câmara, quando feitos a tempo e em forma regular;
IV - Retardar a publicação ou deixar de publicar as leis e atos sujeitos a
essa formalidade;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 245


- Deixar de apresentar à Câmara, no devido tempo, e em forma regular, a proposta orça
- Descumprir o orçamento aprovado para o exercício financeiro,
- Praticar, contra expressa disposição de lei, ato de sua competência ou emitir-se na su
- Omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas, direitos ou interesses do Municíp
- Ausentar-se do Município, por tempo superior ao permitido em lei, ou afastar-se da P
- Proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo.

JAS entende que tal dispositivo não foi recepcionado, deveria deixar tal previsão a cargo da Lei
Orgânica do município. Não é o que prevalece nem o que entende o STF, entendendo que tal
dispositivo continua vigente no nosso sistema.

15. PROCESSO E JULGAMENTO CRIMES COMUNS

PRATICADOS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

15.1.1. Irresponsabilidade penal relativa

Em relação aos crimes comuns, o Presidente da República possui irresponsabilidade penal relativa,
ou seja, só irá responder por atos praticados no exercício da função ou em razão da função desempenhada.

Quando à responsabilidade civil, administrativa, política, tributária e fiscal, o presidente não possui
qualquer imunidade. Igualmente não possui a inviolabilidade dos parlamentares (imunidade material), vale
dizer, pode ser responsabilizado por palavras, opiniões e votos.

O presidente, durante o mandato, não pode ser processado (responsabilizado) por atos estranhos ao
exercício da função. A contrário sensu, durante o mandato, o presidente só poderá ser processado pela
prática de crimes in officio (crimes praticados na função ou em razão do exercício da função), nos termos
exatos do art. 86, §4º da CF/88, in verbis:

Art. 86, § 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não


pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Exemplo1: O candidato a presidente pratica crime. É eleito, diplomado e toma posse como
Presidente da República. A partir da diplomação o STF passa a ser o juiz natural. Pode o presidente ser
julgado pelo crime pretérito? NÃO poderá ser julgado, pois se o crime foi anterior à posse, trata- se de crime
estranho à função.

Exemplo2: Presidente comete homicídio, por razões passionais, contra a Primeira-Dama.


Não pode ser preso, tampouco processado.

Exemplo3: Presidente comete um homicídio contra o Presidente da Petrobras por suposta


insubordinação. Não pode ser preso, mas pode ser processado, pois é um crime praticado em razão do
exercício da função pública.
O que ocorre com o prazo prescricional nesse período? Duas correntes:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 246


1ª C: LFG - o prazo não se suspende.

2ª C: STF, no HC 83.154, fez referência à suspensão do prazo prescricional. Se o MP fica impedido


de ajuizar a ação por causa alheia à sua vontade, nada mais justo que a suspensão da prescrição. INQ 1418.
INQ 567.

Consequências da irresponsabilidade penal relativa do Presidente

a) Perante a prisão

O presidente não poderá ser preso, salvo em razão de sentença penal condenatória com trânsito em
julgado (prisão-pena ou prisão-sanção). Ou seja, nenhuma hipótese de prisão cautelar é cabível, nem mesmo
flagrante pela prática de crimes inafiançáveis. Art. 86, §3º da CF/88.

Não confundir com o art. 53, §2º, que se refere aos parlamentares e permite a prisão destes por
crimes inafiançáveis em flagrante.

Art. 86, § 3º - Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações


comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. (leia-se:
ainda que em flagrante de crime inafiançável)

b) Perante o processo

Só poderá ser processado seja por crime comum (e nesse caso relativo ao exercício de suas funções)
ou de responsabilidade após a admissão da Câmara dos Deputados, por voto de 2/3 dos seus membros.

15.1.2. Competência

O presidente é julgado pelo STF (art. 102, I, ‘b’, art. 86 da CF/88)  Foro por prerrogativa de
função.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
...
b) nas INFRAÇÕES PENAIS COMUNS, o Presidente da República, o
Vice- Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios
Ministros e o Procurador-Geral da República;

15.1.3. Necessidade de autorização

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois


terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante
o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o
Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

Perceber que o quórum de 2/3 (juízo de admissibilidade) da CD é o mesmo tanto para crimes
comuns (julgamento jurídico pelo STF) como nos crimes de responsabilidade (julgamento político pelo SF).
Não é necessário autorização da CD ANTES do oferecimento da denúncia, ou
seja, para investigação do PR, bem como oferecimento de denúncia pela PGR.

Salienta-se que a partir do recebimento da denúncia ou da queixa-crime o presidente ficará

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 247


suspenso das suas funções.

Art. 86
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime
pelo Supremo Tribunal Federal;
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver
concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo.

15.1.4. Procedimento

Terminada a investigação, os autos vão ao PGR (que também participa da investigação, obviamente),
que é o titular constitucional da ação penal perante o STF. É o promotor natural para acusar o presidente por
crimes comuns. Com os autos em mão, o PGR pode tomar um de dois caminhos:

1º O PGR pode pedir o arquivamento da investigação. Nesse caso o STF não tem
alternativa que não seja homologar o arquivamento. O STF só examinará se disser respeito à atipicidade da
conduta ou extinção da punibilidade.

2º O PGR pode oferecer a denúncia.

Oferecida a denúncia, pode o STF deliberar desde já sobre o seu recebimento? NEGATIVO. O
recebimento da peça acusatória só pode ser realizado após a autorização da Câmara dos Deputados, ou seja,
tal como nos crimes de responsabilidade, a acusação se submete a um juízo político de admissibilidade.
Trata-se de um juízo político de oportunidade e conveniência (é interessante ver o presidente processado?).

OBS: No julgamento dos parlamentares, o STF pode receber a denúncia sem qualquer autorização do
parlamento, mas este pode suspender o andamento do processo por decisão de maioria absoluta.

Após o oferecimento da peça acusatória, cabe ao presidente do STF encaminhar uma solicitação ao
Presidente da CD para a instauração do processo. Caberá então à Câmara decidir sobre a autorização ou não
do recebimento da denúncia. De dois caminhos, um será tomado:

 JUÍZO POSITIVO: pressupõe a manifestação favorável de 2/3 dos Deputados Federais, em


VOTAÇÃO ABERTA.

OBS: No juízo de admissibilidade de crimes comuns também é permitido ao acusado exercer o


contraditório e a ampla defesa (tal como no processo de crimes de responsabilidade).

 JUÍZO NEGATIVO: Caso a Câmara faça um juízo negativo (menos de 2/3 autorizam a deflagração
do processo contra o presidente), o STF não poderá se manifestar sobre o recebimento da denúncia.
Como consequência é suspenso o prazo prescricional da infração penal.
Feito o juízo positivo, significa dizer que a Câmara autoriza o STF a se MANIFESTAR sobre o
recebimento da denúncia. Ou seja, diferentemente dos crimes de responsabilidade (lá o SENADO), o órgão
processante aqui (STF) não fica obrigado a dar início ao processo.

Entretanto, antes do STF se manifestar sobre o recebimento da peça acusatória, deve ser

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 248


ofertado ao presidente um prazo de 15 dias para que seja apresentada a chamada defesa preliminar (resposta
preliminar), nos termos do art. 4º da Lei 8.038/90.

Art. 4º - Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a


notificação do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias.
(Vide Lei nº 8.658, de 1993)

OBS: Essa Lei prevê a possibilidade de julgamento antecipado da lide penal. Ou seja, na própria
audiência designada para a deliberação a respeito do recebimento é possível que o STF absolva o presidente,
mesmo sem ter recebido a peça acusatória, no caso dessa decisão não depender de outras provas (art. 6º da
Lei).

Art. 6º - A seguir, o relator pedirá dia para que o TRIBUNAL delibere sobre o
recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência da
acusação, se a decisão não depender de outras provas. (Vide Lei nº
8.658, de 1993)
IMPORTANTE: Quem se manifesta acerca do recebimento da denúncia é o PLENO e não o
Ministro Relator, em homenagem ao princípio da colegialidade.

Consequência do recebimento da Denúncia

 O presidente fica afastado de suas funções por até 180 dias (tal como nos crimes de
responsabilidade), sendo SUBSTITUÍDO (impedimento) pelo vice (art. 86, §1º). Decorrido o prazo
sem que o processo tenha findado, o presidente retorna ao cargo, sem prejuízo da continuidade do
processo (tal como nos crimes de responsabilidade)

Art. 86
§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime
pelo Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo
Senado Federal.
§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não
estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do
regular prosseguimento do processo.

 A condenação criminal transitada em julgado acarretará a suspensão dos direitos políticos do


presidente, e, consequentemente a perda do mandato (art. 15, III). Nesse caso (e somente nesse caso)
o presidente poderá ser preso.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou


suspensão
só se dará nos casos de:
...
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;
 A perda do cargo, portanto, é consequência INDIRETA, porque a Constituição, em seu artigo 15,
prevê que uma das consequências da condenação é a perda dos direitos políticos, portanto, ao ser
condenado, o presidente perde os direitos políticos e consequentemente o cargo.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 249


OBS: Não interessa o tipo de pena aplicada ao Presidente. Até mesmo uma pena de multa implica em
suspensão dos direitos políticos e perda do cargo.

 O vice deixa de ser um substituto e passa a ser o sucessor (caso de vacância, que é definitiva).

15.1.5. Crimes abrangidos pela expressão “infração penal comum”

O que significa infração penal comum prevista no art. 102, I, b? Nada mais do que a
contraposição ao crime de responsabilidade (impróprio). Dentro do gênero “infração penal comum” estão
contidas as seguintes práticas:

 Crime comum em sentido restrito;

 Crime eleitoral;

 Crime militar;

 Crime doloso contra a vida;

 Contravenção penal.

PRATICADOS PELO GOVERNADOR

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

O governador é julgado pelo STJ por crimes comuns, assim entendidos (art. 105, I, ‘a’ da CF/88):

 Crime comum em sentido restrito;

 Crime eleitoral;

 Crime militar;
 Crime doloso contra a vida;

 Contravenção penal.

OBS: O TSE não tem competência para julgar crimes, por isso o julgamento do governador por eventuais
crimes eleitorais também se dá no STJ.

O STJ só podia deliberar sobre o recebimento da denúncia depois de prévia autorização da


Assembleia Legislativa, mesmo que não constasse tal previsão na Constituição Estadual. Contudo, por
questões pragmáticas, o STF passou a entender que, mesmo havendo previsão na CE, não é

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 250


necessária a autorização da assembleia legislativa.

STF – ADI’s 4.798, 4.764 e 4.797: “É vedado às unidades federativas


instituírem normas que condicionem a instauração de ação penal contra
governador, por crime comum, à prévia autorização da casa legislativa,
cabendo ao Superior Tribunal de Justiça dispor, fundamentadamente, sobre
a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do cargo.

Governador é dotado de irresponsabilidade relativa? Vale dizer, o art. 86, §3º e §4º se
aplica aos governadores? NÃO. Governador não é dotado de irresponsabilidade relativa. A
irresponsabilidade, por ser exceção, deve ser interpretada restritivamente. Da mesma forma, os governadores
não têm imunidade quanto à prisão, ou seja, podem ser presos cautelarmente, bem como podem ser
processados durante o mandato pela prática de crimes estranhos ao exercício da função.

E se a CE oferta ao governador a irresponsabilidade relativa? Será norma inconstitucional, pois não


cabe à CE legislar sobre esse tipo de norma. É matéria de competência privativa da União (ADI 1.026).

Onde é julgado o vice-governador por crime comum? O art. 102, I, ‘b’ diz que o presidente
e o vice são julgados originariamente pelo STF. O art. 105, I, ‘a’, não faz referência ao vice-governador. Ou
seja, o vice não é julgado originariamente pelo STJ.

E se o vice, quando em substituição ao governador, comete um crime? Substituições


(temporárias) não importam em modificação da competência, o que acarretaria grave insegurança jurídica.
Somente altera a competência quando ocorre a sucessão (definitiva).

O juiz natural do vice-governador dependerá da CE (tanto para crimes comuns quanto crimes de
responsabilidade). A CE é autorizada pela CR a ofertar foro por prerrogativa para outras autoridades (art.
125, §1º).

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios


estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado,
sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

PRATICADOS PELO PREFEITO

O prefeito é julgado por crimes comuns, em regra, pelo TJ (art. 29 da CF). Não se exige autorização
da Câmara dos Deputados
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os
seguintes preceitos:
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;

PROVA: Quem julga o prefeito é o Tribunal pleno (ou órgão especial) ou um órgão
fracionário menor? Pode ser julgado por órgão fracionário. A Constituição exige apenas o julgamento
colegiado (STF HC 71.381).

Diz-se que o julgamento por crimes comuns é, EM REGRA, no TJ, pois:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 251


Se o crime for federal  TRF.

tem).
Se o crime for eleitoral  TRE (que tem competência criminal ao contrário do TSE que não

Nesse sentido, a Súmula 702 do STF, que atende ao Princípio da Simetria.

STF Súmula 702 a competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se
aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a
competência originária caberá ao respectivo tribunal desegundo grau.

Adota-se aqui o critério da regionalidade que afasta o critério do lugar da infração previsto no
art. 69, I do CPP. Exemplo: Crime cometido por prefeito de Rio Grande praticado em São Paulo. Quem julga
é o TJ/RS.

Salienta-se que as Constituições Estaduais não podem criar foro por prerrogativa de função, tendo
em vista que a CF já estabelece nas três esferas.

Atenção!

Súmula: 209 compete a justiça estadual processar e julgar prefeito por


desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

Súmula: 208 compete a justiça federal processar e julgar prefeito municipal


por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

A autoridade que responde por crime de responsabilidade também pode ser processada pela prática
de improbidade administrativa? O STJ entende que os prefeitos podem responder por improbidade administrativa
e também pelos crimes de responsabilidade do Decreto-Lei 201/67 (ex: REsp 1066772/MS). A ação de
improbidade administrativa contra os prefeitos será julgada em 1ª instância.

Para o STJ, os agentes políticos se submetem à Lei de Improbidade Administrativa, com exceção do
Presidente da República. Logo, é possível que os agentes políticos respondam pelos crimes de responsabilidade da
Lei 1.079/50 e também por improbidade administrativa.

16. RECALL
CONSIDERAÇÕES E CONCEITO

Não está previsto no ordenamento jurídico brasileiro, embora já tenha sido cogitado em algumas
reformas.

Trata-se de um mecanismo de democracia direta (com a participação direta do cidadão), permitindo


que o eleitorado destitua certos agentes políticos cujo comportamento não esteja agradando aqueles que o
elegeram. Logo, através do recall o mandado eletivo poderá ser revogado pelo eleitorado.

Perceba que é uma forma mais efetiva de controle popular sobre os seus representantes.

RECALL x IMPEACHMENT

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 252


RECALL IMPEACHMENT

Decidido por órgão de representante dos


Decidido diretamente pelos eleitores cidadãos. Por exemplo, Senado Federal no caso
do Presidente da República.

Instrumento de controle de todos os poderes, Instrumento de controle do Legislativo sobre o


inclusive do Poder Legislativo. Executivo e do Judiciário.

PODER JUDICIÁRIO

1. GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente, salienta-se que o Poder Judiciário possui garantias que são atribuídas aos seus membros
(garantias funcionais) e, ainda, há garantias que são atribuídas à instituição (garantias institucionais).

Autonomia
administrativa (art. 96)

INSTITUCIONAIS
Autonimia
financeira

GARANTIAS DO Vitaliciedade
PODER JUDICIÁRIO

Independência Inamovibilidade

Irredutibilidade
FUNCIONAIS
de subsídios

Imparcialidade Vedações

GARANTIAS FUNCIONAIS DOS MAGISTRADOS

As garantias funcionais visam permitir que os magistrados exerçam suas funções com independência
e imparcialidade.

Importante consignar que as garantias não são privilégios (não é admitido), mas sim mecanismos que
visam assegurar que o Poder Judiciário desempenhe seu papel com independência e imparcialidade.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 253


1.2.1. Garantias de INDEPENDÊNCIA

I – Vitaliciedade

Está prevista no art. 95, I, da CF:

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de
exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do
tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença
judicial transitada em julgado;

A vitaliciedade não se confunde com a estabilidade. Observe o quadro abaixo:

VITALICIEDAD ESTABILIDADE
E
Só se aplica a agentes públicos (magistrados, Aplica-se aos servidores públicos em sentido
MP, OFA, militares dos Estados/DF e TC). estrito.
A vitaliciedade é alcançada, em 1º grau de jurisdição, A estabilidade é alcançada após 03 anos de
após 02 anos de efetivo exercício. Nos tribunais, a efetivo exercício do cargo.
vitaliciedade ocorre no momento da
posse.
Servidor vitalício só perde cargo em virtude de Servidor estável pode perder cargo também em
sentença judicial com trânsito em julgado (durante o razão de processo administrativo (disciplinar ou
estágio probatório pode perder cargo avaliação de desempenho).
administrativamente).

Obs.: os Ministros do STF e os membros do CNJ podem responder por crimes de responsabilidade. Diante
disso, podem perder o cargo por decisão do Senado Federal, não dependem do trânsito em julgado.

Por fim, a vitaliciedade encerra-se aos 75 anos de idade com a aposentadoria compulsória. II –

Inamovibilidade

Prevista no art. 95, II, da CF.

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art.
93, VIII;

Com o intuito de evitar que os membros do Poder Judiciários sejam removidos como forma de
retaliação, a Constituição prevê a inamovibilidade. Desta forma, o magistrado só pode ser removido com a
sua aquiescência, diversamente do servidor público estável que pode ser removido por oportunidade ou
conveniência da Administração. Mesmo que a remoção importe em promoção, ele não está obrigado a aceitá-
la.

Contudo, a própria Constituição prevê hipótese em que poderá ser removido por interesse público,
mediante decisão do tribunal ou do CNJ por maioria absoluta, sendo-lhe garantida a ampla defesa.

Art. 93, VIII - o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por interesse púb
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla

defesa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)


CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 4
25
Salienta-se que a garantia da inamovibilidade também será aplicada aos juízes substitutos.
Nesse sentido:

STF – MS 27.958/DF: I – A inamovibilidade é, nos termos do art. 95, II, da


Constituição Federal, garantia de toda a magistratura, alcançando não
apenas o juiz titular, como também o substituto. II - O magistrado só poderá
ser removido por designação, para responder por determinada vara ou
comarca ou para prestar auxílio, com o seu consentimento, ou, ainda, se o
interesse público o exigir, nos termos do inciso VIII do art. 93 do Texto
Constitucional. III – Segurança concedida.

Assim como os membros da Magistratura, os membros do Ministério Público possuem a garantia da


inamovibilidade (art. 128, §5º, I, “b”, da CF).

III – Irredutibilidade de subsídios

Disciplinada no art. 95, III, da CF.

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI,
39,
§ 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
Refere-se apenas ao valor nominal e não ao valor real do subsídio que poderá sofrer a incidência de
uma carga tributária maior ou ser corroído pela inflação.

A garantia da irredutibilidade de subsídios também será aplicada aos membros do MP, aos Ministro
do TCU, aos Oficiais das Forças Armadas, aos militares dos Estados/DF e Territórios e aos servidores
públicos.

Destaca-se que Constituição admite a redução de salários dos empregados, desde que haja acordo ou
convenção coletiva. Não havendo, não poderá haver a redução de salários dos empregados da iniciativa
privada.

1.2.2. Garantias de IMPARCIALIDADE

Referem-se às vedações impostas aos magistrados (e também aos membros do MP), visam assegurar a
imparcialidade.

Analisaremos em conjunto com as vedações aplicadas aos membros do Ministério Público.

PODER JUDICIÁRIO MEMBROS DO MP

Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer


Exercer, ainda que em disponibilidade, outro
outra função pública, salvo uma de magistério1.
cargo ou função, salvo uma de magistério1.
A vedação refere-se apenas a função pública. O
A vedação refere-se tanto à função pública quanto à
membros do MP podem exercer a função de coach
privada. Por isso, o CNJ veda aos magistrados o
já que se trata de uma função privada.
exercício da função de coach.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 255


Receber, a qualquer título e sob qualquer
Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou
pretexto, honorários, percentagens ou
participação em processo
custas processuais (em sentido amplo)

Exercer atividade político-partidária (EC


Dedicar-se à atividade político-partidária
45/04)2

Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas contribuições de pessoas físicas, entidades públicas
ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em
lei. lei.

Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se


Aplica-se aos membros do Ministério Público o
afastou, antes de decorridos três anos do
disposto no art. 95, parágrafo único, V (norma
afastamento do cargo por aposentadoria ou
remissiva).
exoneração3

Não há previsão de tal vedação na CF aos Participar de sociedade comercial, na forma da lei
magistrados

Observações importantes:

1) A expressão “salvo uma de magistério” não impede que o magistrado exerça a função de
magistério em mais de uma instituição de ensino, desde que isso não atrapalhe o exercício da magistratura.

STF – ADI 3.126 MC/DF: 4. Considerou-se, no caso, que o objetivo da


restrição constitucional é o de impedir o exercício da atividade de magistério
que se revele incompatível com os afazeres da magistratura. Necessidade
de se avaliar, no caso concreto, se a atividade de magistério inviabiliza o
ofício judicante.

2) Até a EC 45/04 o tratamento aos membros do MP que se dedicavam à atividade político-


partidária era diferente, isto porque admitia-se sua participação mediante filiação e afastamento temporário
do exercício da função. Atualmente, tanto os membros do Poder Judiciário quanto os membros do Ministério
Públicos são vedados de exercício de atividade político-partidária.

3) Trata-se da chamada “quarentena”, visa evitar que o Juiz ou membro do Ministério Público, que
atuaram perante o órgão, utilizem sua influência em benefício da advocacia.

GARANTIAS INSTITUCIONAIS

Têm como objetivo promover a independência do Poder Judiciário frente aos demais poderes.
Portanto, protegem o Judiciário como um todo, como instituição, como um órgão da República.

1.3.1. Garantia de autonomia orgânico-administrativa

Prevista no art. 96 da CF:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 256


Art. 96. Compete privativamente:
I - aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com
observância das normas de processo e das garantias processuais das
partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos
órgãos jurisdicionais e administrativos;
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes
forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional
respectiva;
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira
da respectiva jurisdição;
d) propor a criação de novas varas judiciárias;
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido
o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à
administração da Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei;
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos
juízes e servidores que lhes forem imediatamente vinculados;
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais
de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no
art. 169:
a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços
auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do
subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal
e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes
comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça
Diz respeito à sua independência na estruturação e funcionamento de seus órgãos. Essa garantia se
consubstancia na competência privativa dos Tribunais para:

1) Eleger seus órgãos diretivos;

2) Elaborar seu próprio Regimento Interno;

3) Organizar sua estrutura administrativa interna.

São esses três pontos que constituem o que se chama “AUTOGOVERNO DOS TRIBUNAIS”.
Como vimos, serve para a manutenção da independência do judiciário frente ao executivo e legislativo

1.3.2. Garantia de autonomia financeira/orçamentária

Prevista nos arts. 99 e 168 da CF.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 257


Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e
financeira.
§ 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos
limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de
diretrizes orçamentárias.
§ 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais
interessados, compete:
I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos
Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais;
II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos
Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos
tribunais.
§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as respectivas
propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes
orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da
proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária
vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 1º
deste artigo.
§ 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem
encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º, o
Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação
da proposta orçamentária anual.
§ 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a
realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os
limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se
previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou
especiais.

Os tribunais têm autonomia para elaborar suas propostas orçamentárias. Além disso, o art. 168 prevê
que as dotações orçamentárias devem ser entregues ao Judiciário até o dia 20 de cada mês, em duodécimos.
Caso o executivo não repasse, é caso de intervenção federal.

Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias,


compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos
órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da
Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em
duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º.
§ 1º É vedada a transferência a fundos de recursos financeiros oriundos de
repasses duodecimais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de
2021)
§ 2º O saldo financeiro decorrente dos recursos entregues na forma do
caput deste artigo deve ser restituído ao caixa único do Tesouro do ente
federativo, ou terá seu valor deduzido das primeiras parcelas duodecimais
do exercício seguinte. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de
2021)

2. ÓRGÃO ESPECIAL DO PODER JUDICIÁRIO

Nos tribunais com mais de 25 julgadores poderá ser constituído um órgão especial, que terá no
mínimo 11 e no máximo 25 membros, com competência delegada administrativa (concessão de férias,
realização de concurso) e jurisdicional (cláusula de reserva de plenário – declaração de

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 258


inconstitucionalidade) delegada pelo Pleno.

Art. 93, XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores,
poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo
de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e
jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se
metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo
tribunal pleno.

3. QUINTO CONSTITUCIONAL
Visa oxigenar o Poder Judiciário, trazendo para sua composição pessoas com experiencias profissionais
diferentes daquelas que sempre integraram a magistratura.

Está previsto nos art. 94, 111-A, I e 115, I, todos da CF. Observe:

Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de
membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de
advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de
dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos
órgãos de representação das respectivas classes.

Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete


Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco anos e
menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação
ilibada, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela
maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez
anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo,


sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados
pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos
de sessenta e cinco anos, sendo:
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez
anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94

O quinto constitucional está previsto para os Tribunais de Justiça, para os Tribunais Regionais
Federais, para o Tribunal Regional do Trabalho e para o Tribunal Superior do Trabalho.

De acordo com o STF, as Constituições Estaduais não podem fazer exigências acerca do quinto
constitucional.

STF – ADI 4.150/SP: TRIBUNAL – COMPOSIÇÃO – QUINTO –


ASSEMBLEIA LEGISLATIVA – PRONUNCIAMENTO – INADEQUAÇÃO.
Conflita com a Constituição Federal norma da Carta do Estado que junge à
aprovação da Assembleia Legislativa a escolha de candidato à vaga do quinto
em Tribunal. Precedente.

Os requisitos para ingresso pelo quinto constitucional estão previstos, exclusivamente, na

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 259


CF. são eles:

 Mais de 10 anos de efetivo exercício (no caso do MP) ou de atividade profissional (no caso do
advogado);

 Para os advogados, além dos 10 anos, notório saber jurídico e reputação ilibada.

 Os órgãos de classe (OAB e MP) elaboram uma lista sêxtupla, ou seja, indicam seis nomes, que são
submetidos à análise do Tribunal.
 Há uma votação interna no âmbito do Tribunal, que faz uma lista tríplice com os três nomes mais
votados da lista sêxtupla.

 No caso dos Tribunais Regionais Federais, os três primeiros nomes são enviados ao Presidente da
República. No caso dos Tribunais de Justiça, os três primeiros nomes são enviados ao Governador.

 Cabe ao Presidente ou ao Governador escolher um dos integrantes da lista tríplice enviada pelo
Tribunal.

Por fim, a composição do STF e do STJ também não é exclusiva de membros do Poder Judiciário.
No caso do STJ, um terço dos membros deve ser oriundo do MP ou da advocacia. No caso do STF, não há
mínimo, a nomeação é feita pelo Presidente da República.

4. FUNÇÕES DO PODER JUDICIÁRIO

O Poder Judiciário possui funções típicas e atípicas.

Exercício da
jurisdição

Proteção de direitos fundamentais

TÍPICAS
Defesa da força
normativa da Constituição

Edição da
FUNÇÕES "legislação judicial"

Administrativa

ATÍPICAS

Legislativa

FUNÇÕES TÍPICAS

4.1.1. Exercício da jurisdição

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 260


O Poder Judiciário aplica a lei ao caso concreto, substituindo a vontade das partes
(heterocomposição), com a força definitiva. Ou seja, exerce jurisdição.

A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial, para, mediante um processo, tutelar


(reconhecendo, efetivando ou resguardando) situações jurídicas concretamente deduzidas de modo imperativo
e criativo em decisão insuscetível de controle externo e apta a tornar-se indiscutível pela coisa julgada.
4.1.2. Proteção de direitos fundamentais

O judiciário protege direitos fundamentais. Não é só respeito aos direitos fundamentais, mas também
necessidade de concretização, de efetivação desses direitos. Nesse tema, entra a chamada judicialização de
políticas públicas e o chamado ativismo judicial (institutos que não se confundem).

Lembra João Luiz Esteves que, ao lado dos Poderes Legislativo e Executivo, o Judiciário deve atuar
de modo objetivo na efetivação dos direitos fundamentais sociais. Essa atuação deve ser ampla, aferindo se as
políticas públicas estão sendo desenvolvidas e, mais do que isso, se estão atingindo os objetivos previstos na
Constituição. Nessa direção, o Poder Judiciário deve atuar de forma ativa, suprindo
‘omissões legislativas e executivas, redefinindo políticas públicas quando ocorrer
inoperância de outros poderes’ Nessa perspectiva, o Poder Judiciário - por meio da atuação
de seus juízes, desembargadores e ministros - vem se tornando, em boa medida, o garante
da efetivação dos direitos fundamentais. Nesse contexto, os juízes têm decidido sobre inúmeras
questões, tais como o fornecimento de remédios à pessoa portadora enfermidades; o direito de acesso de
crianças à sala de aula; o direito de o deficiente ter acesso a prédios públicos. O guardião das
promessas passa a desempenhar, assim, outra função, qual seja, a de concretizar direitos
fundamentais.

4.1.3. Defesa da força normativa da Constituição

A Constituição é uma norma jurídica que tem imperatividade reforçada. Sua defesa é feita através do
controle de constitucionalidade.

4.1.4. Edição da “legislação judicial”

Fruto da criatividade dos juízes e dos tribunais, sobretudo dos tribunais constitucionais. Exemplo:
súmula vinculante; sentença aditiva; mandado de injunção com eficácia concretista (MI 712).

FUNÇÕES ATÍPICAS

4.2.1. Administrativa

É o denominado AUTOGOVERNO DOS TRIBUNAIS. É o Judiciário administrando seus assuntos


internos.

Exemplo: O próprio Poder Judiciário exerce seus órgãos diretivos.

4.2.2. Legislativa

O Poder Judiciário exerce função legislativa ao editar o regimento interno de seus tribunais.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 261


5. ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO
O sistema brasileiro é oriundo da cultura jurídica romano-germânica, procura-se justiça em detrimento da
pacificação social (cultura jurídica anglo-saxônica).

Os órgãos do Poder Judiciário estão previstos no art. 92 da CF. Observe:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:


I - o Supremo Tribunal Federal;
I-A o Conselho Nacional de Justiça;
II - o Superior Tribunal de Justiça;
II -A - o Tribunal Superior do Trabalho;
III - os Tribunais Reginais Federais e Juízes
Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os
Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal.
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição
em todo o território nacional.

STF
CNJ

STJ TST TSE STM

05 TRF'S 27 TJ'S 24 TRT'S 27 TRE'S JUÍZES AUDITORES

JUÍZES FEDERAIS
JUÍZES ESTADUAIS
JUÍZES DO TRABALHO
JUÍZES ELEITORAIS

6. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

ATRIBUIÇÕES DO STF

É o órgão de cúpula do Poder Judiciário no Brasil. Possui competência originária, defende a


Constituição (controle de constitucionalidade), defende a federação (ADI interventiva, julgamento de ações
entre unidades federadas).

COMPOSIÇÃO E REQUISITOS PARA SER MEMBRO DO STF

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 262


É composto por 11 ministros, esse número é clausula pétrea, núcleo intangível da CF, pois do
contrário seriam criadas maiorias eventuais.
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros,
escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta
e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

Há seis exigências para que uma pessoa seja Ministro do STF. Vejamos:

1ª. Exigência de natureza administrativa: Ser indicado pelo Presidente e aprovado pelo Senado.

Art. 101 Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão


nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha
pela maioria absoluta do Senado Federal.

2ª. Exigência de natureza civil (art. 101, caput): Mais de 35 anos (idade que o cidadão adquire a
capacidade política absoluta) e menos de 65 anos de idade. O limite de idade serve para evitar aposentadorias
compulsórias daqueles que mal foram empossados no cargo.

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros,


escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta
e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

3ª. Exigência de natureza política: Estar no pleno exercício dos direitos políticos (art. 14, §1º,
I).

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante:
§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
4ª. Exigência de natureza jurídica: Brasileiro nato (art. 12, §3º); Razão: O presidente o STF está na
linha sucessória do presidente.

Art. 12 § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:


IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

5ª. Exigência de natureza cultural: Notável conhecimento jurídico aquele que dispensa prova. A
sociedade o tem como cultor da ciência jurídica (art. 101, caput).

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cid

Tecnicamente, deve ser, no mínimo, bacharel em Direito. Em nossa história já existiu um médico e um
almirante indicados, mas não aprovados pelo Senado.

6ª. Exigência de natureza moral: Reputação ilibada, idônea. Vida passada sem qualquer mácula, mancha
(art. 101, caput).

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros,


escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta
e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
O Presidente escolhe livremente um cidadão que preencha os requisitos, indica ao Senado,

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 263


a quem caberá aprovar ou não o nome indicado, por maioria absoluta de votos na chamada
sabatina.

7. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ORIGEM E OBJETIVO DO STJ

O STJ foi criado pela CF/88.

Trata-se de um Tribunal Nacional com o objetivo de uniformizar a jurisprudência das justiças


comuns estaduais e federais, protegendo a legislação federal, a fim de garantir segurança jurídica à
coletividade.

COMPOSIÇÃO DO STJ

O STJ possui, no mínimo, 33 ministros.

Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e


três Ministros.

Requisitos para ser ministro do STJ (art. 104):

o Ser brasileiro nato ou naturalizado (Felix Fischer é alemão)

o Idade mínima: 35 anos.

o Idade máxima: 65 anos.

o Reputação ilibada;

o Notável saber jurídico.

O ministro é escolhido pelo Presidente, mas não de forma livre, a escolha é vinculada a categorias:

1/3 dentre desembargadores do TRF = 11. 1/3

dentre desembargadores do TJ = 11.

1/3 dentre MP (federal, estadual e DF, alternadamente) e OAB = 11. Neste caso são 05 MPs (MPF e
MPE) e 05 OAB (advocacia pública/particular e defensoria). O 11º é alternado.

O presidente indica o nome ao Senado, que deve ser sabatinado e aprovado por maioria
absoluta de votos. Por que o senado participa da escolha? Por conta do sistema de freios e contrapesos.

Art. 104, Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça


serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais
de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber
jurídico e

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 264


reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Fede
- um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre desembarg
- um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federa

Perceber: no STJ não é “quinto constitucional” e sim “terço constitucional”.

PROCEDIMENTO DE ESCOLHA

7.3.1. Desembargadores

Vagando uma cadeira de ministro, o presidente do STJ manda ofício para os TRFs (desembargadores
federais). Os desembargadores interessados se inscrevem. O STJ vota e escolhe uma LISTA TRÍPLICE, que
vai para o presidente escolher um nome e enviar para aprovação no Senado.

Para os Desembargadores estaduais é o mesmo procedimento.

7.3.2. Advogados

Já com os advogados é realizada uma eleição no Conselho Federal da OAB. Remetem uma LISTA
SÊXTUPLA para o STJ. O STJ remete LISTA TRÍPLICE ao Presidente, que escolhe e manda ao Senado.

7.3.3. Ministério Público

Com o MP, o procedimento é igual. O órgão representativo encaminha LISTA SÊXTUPLA ao STJ,
que a reduz a uma LISTA TRÍPLICE a ser enviada ao Presidente.

São escolhidos membros do MPE, MPF e MPDFT, alternadamente.

8. JUSTIÇA COMUM FEDERAL

2º GRAU DE JURISDIÇÃO: TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

A CF/88 cria 05 TRFs.

Até 1988, o segundo grau da JF era representado pelo TFR (tribunal federal de recursos). É possível a
criação de outros TRFs com EC.

 TRF1: Sede em Brasília/DF à DF e mais 14 estados da federação (todos da região norte; todos do
centro-oeste, salvo MS; do sudeste MG; do nordeste MA, BA, PI).

 TRF2: Sede no Rio de Janeiro à RJ e ES.


 TRF3: Sede em São Paulo à SP e MS.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 265


 TRF4: Sede em POA à RS, SC, PR.

 TRF5: Sede no Recife à Todos estados do Nordeste, salvo BA, MA, PI.

Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete


juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo
Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de
sessenta e cinco anos, sendo:
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos
de carreira;
II - os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco
anos de exercício, por antiguidade e merecimento, alternadamente.
§ 1º A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos Tribunais
Regionais Federais e determinará sua jurisdição e sede.
§ 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos
limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos
públicos e comunitários.
§ 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar
descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar
o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.

Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando
possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de 30 e
menos de 65 anos, sendo:

- 1/5 dentre Advogados e MPF com mais de 10 anos de exercício da atividade (é a regra padrão do
art. 94 à quinto constitucional).

- 4/5 de Juízes Federais promovidos por antiguidade e merecimento, alternadamente.

1º GRAU DE JURISDIÇÃO: JUÍZES FEDERAIS


Juízes federais.

Cada estado é uma seção judiciária federal. Na JF não existe entrância nem comarca.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 266


Cada seção pode se subdividir em subseções judiciárias. O

concurso para JF é regionalizado.

Juiz federal substituto  Juiz titular de vara.

9. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL

2º GRAU DE JURISDIÇÃO: TRIBUNAIS DE JUSTIÇA

Cada estado possui um TJ.

Fundamento: Poder de auto-organização dos estados membros (art. 25 da CF).

CF Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis


que adotarem, observados os princípios desta Constituição.

1º GRAU DE JURISDIÇÃO: JUIZ DE DIREITO

A justiça estadual é dividida em comarcas (divisão territorial jurisdicional).

As entrâncias são categorias de comarcas, que dependem da Lei de Organização Judiciária do


Estado.

10. JUSTIÇA ELEITORAL

Considerações:

o A Justiça Eleitoral é uma Justiça Federal especializada.

o A Justiça Eleitoral não possui um quadro próprio de juízes, utiliza os juízes de outras
justiças.

o Quem judica na JE, exerce mandato de 02 anos, permitindo-se uma única


recondução por mais dois anos.

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete


membros, escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 267


II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de not
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presiden

Compõe-se de, no mínimo, 07 juízes que recebem o nome de ministros. Desses 07:

• 03 são originários do STF, escolhidos por eleição interna (voto secreto);

• 02 são do STJ, escolhidos por eleição interna.

• 02 são advogados, escolhidos pelo Presidente (sem aprovação do Senado), a partir de lista
sêxtupla fornecida pelo STF.

OBS: Os magistrados continuam judicando na origem, assim como os advogados podem continuar
advogando, salvo em matéria eleitoral.

Presidente do TSE: Somente pode sê-lo um dos três Ministros do STF.

Corregedor Eleitoral: Um dos Ministros do STJ.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL

Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e


no Distrito Federal.
§ 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça;
b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de
Justiça; II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do
Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido,
em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo;
III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis
advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo
Tribunal de Justiça.
§ 2º - O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-
Presidente- dentre os desembargadores.

Um TRE por estado da Federação, mais o DF.

Cada TRE compõem-se de 07 juízes:

- 02 desembargadores do TJ daquela unidade federada (escolha mediante eleição interna);

- 02 juízes de direito, da entrância mais elevada, escolhidos pelo próprio TJ.

- 02 advogados, escolhidos pelo Presidente da República, de uma lista sêxtupla fornecida pelo TJ.

- 01 representante da justiça federal (pode ser juiz ou desembargador), escolhido pelo TRF.
Nos estados que são sedes de TRF (DF, RJ, SP, RS, PE), o representante da JF no TRE será um
desembargador federal.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 268


Presidente do TRE: Somente um dos dois desembargadores do TJ.

OBS: Quem assume cargo em Tribunal Eleitoral continua exercendo suas atividades originárias.

JUÍZES ELEITORAIS

O Juiz de Direito exerce a judicatura eleitoral com base no princípio da delegação. Apesar de ser
servidor público estadual, quando está na judicatura eleitoral, ele passa a ser servidor federal, o que acaba
repercutindo na competência criminal.

Exemplo: Crime contra juiz eleitoral vai para a JF.

A competência dos juízes eleitorais é prevista no art. 35 do Código Eleitoral.

JUNTAS ELEITORAIS

Apenas é genericamente prevista pela CF. Sua composição e competência ficam a cargo do Código
Eleitoral.

Composição: 01 Juiz eleitoral (será o presidente) + 02 ou 04 cidadãos de notória idoneidade.

Os membros serão nomeados 60 dias antes da eleição.

Divisão territorial da JE: Zonas Eleitorais. Em cada zona temos um juiz.

11. JUSTIÇA MILITAR

A Justiça Militar da União tem competência exclusivamente penal, cabendo julgar os crimes
militares previstos em lei ordinária, sejam estes cometidos por militares ou por civis. NÃO julga causas
cíveis.

SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

Como todos os tribunais superiores, tem sede em Brasília e jurisdição em todo o território nacional.

Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros


vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a
indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da
Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-
generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da
carreira, e cinco dentre civis.
- 15 Ministros, todos vitalícios, sendo 10 militares (todos do mais alto posto, última patente
– oficiais generais) e 05 civis. Todos são escolhidos pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado.

- Dos 10 militares: 03 da Marinha, 03 da Aeronáutica e 04 do Exército.

PEGADINHA: Os 10 militares somente podem ser brasileiros natos, pois para ser oficial das

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 269


forças armadas somente com essa condição.

- Dos 05 civis: 03 advogados, 01 juiz auditor militar e 01 membro do MP militar. Esses podem ser
tanto natos quanto naturalizados.

12. JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete


Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos
de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após
aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de
dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;
II os demais (4/5) dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho,
oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal
Superior.
Composto por 27 ministros com mais de 35 e menos de 65 nomeados pelo presidente após serem
aprovados pelo Senado por maioria ABSOLUTA. Desses 27:

- 1/5 de membros do MP do Trabalho (03) e Advogados (03),

- Os 21 restantes são juízes de carreira, promovidos dos TRT’s, indicados pelo próprio TST.

TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO

A regra é cada estado ter um TRT. Alguns estados não têm. Em SP existem 02 TRT’s.

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo,


sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados
pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos
de sessenta e cinco anos, sendo
I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de
dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;
II os demais (4/5), mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade
e merecimento, alternadamente.
Compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e
nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais 30 e menos de 65, sendo:

- 1/5 dentre Advogados e MP do Trabalho com mais de 10 anos de exercício da atividade (é a regra
padrão do art. 94  quinto constitucional).

- 4/5 de Juízes do Trabalho promovidos por antiguidade e merecimento, alternadamente. Ainda

prevê o art. 115:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 270


Art. 115
§ 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a realização
§ 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar descentralizadamente, cons

OBS: É a mesma regra prevista para os TRF’s, com o objetivo de ampliar o acesso à justiça, dando
efetividade à prestação jurisdicional.

JUÍZES DO TRABALHO

A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição,
atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho. (CF, art. 112).

Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas
não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com
recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.

13. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

NATUREZA JURÍDICA

O Conselho Nacional de Justiça, embora previsto dentro da estrutura do Poder Judiciário, não é um
órgão jurisdicional. Trata-se de um órgão nacional de natureza administrativa, correcional, de fiscalização.

ATRIBUIÇÕES

Foi criado pela EC 45/04 com a finalidade de controlar a atuação administrativa e financiaria do
Poder Judiciário, bem como para fiscalizar os juízes no desempenho de seus deveres funcionais. Importante
salientar que o CNJ exerce controle ético e disciplinar dos magistrados, o que não afeta a sua imparcialidade
jurisdicional.
STF – ADI 3.367/DF: Conselho Nacional de Justiça. Órgão de natureza
exclusivamente administrativa. Atribuições de controle da atividade
administrativa, financeira e disciplinar da magistratura. Competência relativa
apenas aos órgãos e juízes situados, hierarquicamente, abaixo do Supremo
Tribunal Federal. Preeminência deste, como órgão máximo do Poder
Judiciário, sobre o Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu
controle jurisdicional.

Além disso, não há hierarquia entre do CNJ em relação ao STF, tanto que os atos do CNJ se
submetem ao controle do STF.

STF: ADI 3.367/DF: O Conselho Nacional de Justiça não tem nenhuma


competência sobre o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, sendo
esse

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 271


o órgão máximo do Poder Judiciário nacional, a que aquele está sujeito.

Por fim, não se admite a criação de órgãos similares ao CNJ em âmbito estadual.

STF – ADI 3.367/DF: Caráter nacional. Regime orgânico unitário. Controle


administrativo, financeiro e disciplinar. Órgão interno ou externo. Conselho
de Justiça. Criação por Estado membro. Inadmissibilidade. Falta de
competência constitucional. Os Estados membros carecem de competência
constitucional para instituir, como órgão interno ou externo do Judiciário,
conselho destinado ao controle da atividade administrativa, financeira ou
disciplinar da respectiva Justiça.

COMPOSIÇÃO

Está disciplinada no art. 103-B da CF:

Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze)


membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução,
sendo:
I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo
tribunal;
III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo
tribunal;
IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo
Tribunal Federal;
V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de
Justiça;
VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal
Superior do Trabalho;
IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
X - um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-
Geral da República;
XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-
Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de
cada instituição estadual;
XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil;
XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados
um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

O CNJ é composto por membros nomeados pelo Presidente da República, após a aprovação do
Senado Federal.

Dos 15 membros que compõem o CNJ, nove deles são oriundos do Poder Judiciário, dois são
membros do MP, dois são advogados e dois são cidadãos.

Esquematizando:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 272


Presidente do STF

1 juiz estadual

Indicados pelo STF


1 desembargador
do TJ

1 ministro do STJ

09 MEMBROS DO
PODER JUDICIÁRIO 1 desembargador
Indicados pelo STJ
do TRF

1 juiz federal

1 ministro do TST

Indicados pelo
1 membro do TRT
TST

CNJ - 15
MEMBROS 1 juiz do trabalho

1 do MPU
02 MEMBROS DO Indicados pelo
MP PGR
1 do MPE
Indicados pela
02 ADVOGADOS
OAB

1 indicado pela
Câmara
02 CIDADÃOS
1 indicado pelo
Senado
O Presidente do CNJ será o mesmo Presidente do STF, é o único membro que não é nomeado pelo
Presidente da República. Por isso, o Presidente do CNJ será sempre um brasileiro nato.

Não existe mais limites de idade (mais de 35 anos e menos de 66 anos) para os membros do CNJ,
tendo em vista que foram abolidos por emenda constitucional (EC 61/2009).

Ressalta-se que os dois cidadãos e os dois advogados não podem exercer atividades que são
incompatíveis com as funções desempenhadas pelo CNJ.

STF – ADI 3.367: Nenhum dos advogados ou cidadãos membros do


Conselho Nacional de Justiça pode, durante o exercício do mandato,
exercer atividades incompatíveis com essa condição, tais como exercer
outro cargo

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 273


ou função, salvo uma de magistério, dedicar-se a atividade político-
partidária e exercer a advocacia no território nacional.

Caso os membros do CNJ pratiquem crime de responsabilidade, o julgamento será feito pelo Senado
Federal. Tratando-se de crimes comuns, não há previsão expressão de foro por prerrogativa de função,
portanto, serão julgados pela justiça comum.

STF – Pet 3.857/BA: É importante ressaltar que a alteração efetuada pela


EC 45/2004 não incluiu os membros do Conselho Nacional de Justiça na
alínea b, do inciso I do art. 102 da Constituição Federal, que estabelece a
relação das autoridades que têm a prerrogativa de serem julgadas por esta
Corte, quando acusadas por crime comum. Como o art. 102, I, Como o art.
102, I, b é norma que institui prerrogativa, na esteira dos precedentes desta
Corte, não é passível de interpretação ampliativa.

COMPETÊNCIAS DO CNJ

A competência do CNJ está elencada no art. 103-B, §4º, da CF.

Art. 103-B, § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa


e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais
dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto
da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua
competência, ou recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante
provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros
ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar
prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento
da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do
Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e
órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por
delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência
disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos
disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar
outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a
administração pública ou de abuso de autoridade;
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de
juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e
sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do
Poder Judiciário;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar
necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades
do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo
Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da
abertura da sessão legislativa.

Trata-se de um rol exemplificativo, ou seja, as atribuições do CNJ não estão restritas as hipótese da
Constituição, podendo o Estatuto da Magistratura prevê outras.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 274


STF – MS 28.712 MC: A EC 45/2004, ao instituir o CNJ, definiu-lhe um
núcleo irredutível de atribuições, além daquelas que lhe venham a ser
conferidas pelo Estatuto da Magistratura, assistindo-lhe o dever-poder de
efetuar, no plano da atividade estritamente administrativa e financeira do
Poder Judiciário, o controle do ‘cumprimento dos deveres funcionais dos
juízes’.
Importante salientar que, conforme entendimento do STF, o CNJ, além do seu poder regulamentar
(atividade restrita a lei), possui também poder normativo. Em outras palavras, o CNJ poderá elaborar atos
normativos primários diretamente ligados à Constituição, os quais poderão ser objeto de controle de
constitucionalidade.

STF – MS 27.621: o CNJ é órgão com atribuições exclusivamente


administrativas e correicionais, ainda que, estruturalmente, integre o Poder
Judiciário. No exercício de suas atribuições administrativas, encontra-se o
poder de ‘expedir atos regulamentares’. O CNJ pode, no lídimo exercício de
suas funções, regulamentar condutas e impor a toda magistratura nacional o
cumprimento de obrigações de essência puramente administrativa.

STF – ADC 12 MC/DF: A Resolução nº 07/05 do CNJ reveste-se dos


atributos da generalidade (os dispositivos dela constantes veiculam normas
proibitivas de ações administrativas de logo padronizadas), impessoalidade
(ausência de indicação nominal ou patronímica de quem quer que seja) e
abstratividade (trata-se de um modelo normativo com âmbito temporal de
vigência em aberto, pois claramente vocacionado para renovar de forma
contínua o liame que prende suas hipóteses de incidência aos respectivos
mandamentos). A Resolução nº 07/05 se dota, ainda, de caráter normativo
primário, dado que arranca diretamente do § 4º do art. 103-B da Carta-
cidadã e tem como finalidade debulhar os próprios conteúdos lógicos dos
princípios constitucionais de centrada regência de toda a atividade
administrativa do Estado, especialmente o da impessoalidade, o da
eficiência, o da igualdade e o da moralidade. O ato normativo que se faz de
objeto desta ação declaratória densifica apropriadamente os quatro citados
princípios do art. 37 da Constituição Federal, razão por que não há
antinomia de conteúdos na comparação dos comandos que se veiculam
pelos dois modelos normativos: o constitucional e o infraconstitucional.
Logo, o Conselho Nacional de Justiça
fez adequado uso da competência que lhe conferiu a Carta de Outubro,
após a Emenda 45/04.

A atuação do CNJ é autônoma, ou seja, não depende da ação dos tribunais para agir
subsidiariamente.

STF - MS 28.513/DF: 1. O Conselho Nacional de Justiça tem competência


constitucional autônoma, e não subsidiária da competência dos demais
tribunais.

O CNJ, no exercício de controle administrativo, pode deixar de aplicar lei inconstitucional.

STF-Pet 4.646/PB: “[...] 3. Insere-se entre as competências


constitucionalmente atribuídas ao Conselho Nacional de Justiça a
possibilidade de afastar, por inconstitucionalidade, a aplicação de lei
aproveitada como base de ato administrativo objeto de controle,
determinando aos órgãos submetidos a seu espaço de influência a

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 275


observância desse entendimento, por ato expresso e formal tomado pela

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 276


maioria absoluta dos membros do Conselho.”

O CNJ não exerce controle de constitucionalidade.

O Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão do Poder Judiciário,


nos termos do art. 103-B, § 4º, II, da Constituição Federal, possui, tão
somente, atribuições de natureza administrativa e, nesse sentido, não lhe é
permitido apreciar a constitucionalidade dos atos administrativos, mas
somente sua legalidade. STF. Plenário. MS 28872 AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 24/02/2011.

Por fim, o CNJ não possui competência para rever as decisões dos magistrados.

STF – MS 28.611 MC-AgR: “...não dispondo de atribuições funcionais que


lhe permitam, quer colegialmente, quer mediante atuação monocrática de
seus conselheiros ou, ainda, do corregedor nacional de justiça, fiscalizar,
reexaminar e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteúdo
jurisdicional emanados de magistrados e Tribunais em geral, razão pela
qual se mostra arbitrária e destituída de legitimidade jurídico-constitucional a
deliberação do corregedor nacional de justiça que, agindo ultra vires,
paralise a eficácia de decisão que tenha concedido mandado de
segurança.”

AÇÕES PROPOSTAS CONTRA O CNJ10

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e
julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no
exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, §
2º, da CF/88.

10
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/83decbc20d665926df9335a0a3be7e3b?c
ategoria=1&subcategoria=9&assunto=49
Até bem pouco tempo, o STF conferia uma interpretação restritiva a esse dispositivo. O STF dizia
que ele somente seria competente para julgar as ações em que o próprio CNJ ou CNMP (que não possuem
personalidade jurídica própria) figurassem no polo passivo. Seria o caso de mandados de segurança, habeas
corpus e habeas data contra os Conselhos.

Na hipótese de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP, quem irá
figurar como ré no processo é a União, já que os Conselhos são órgãos federais. Logo, tais demandas,
segundo essa interpretação restritiva, seriam julgadas pela Justiça Federal de 1ª instância, com base no art.
109, I, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública
federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou
oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas
à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Esse entendimento estava pacificado no STF, existindo inúmeros julgados nesse sentido. Por

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 277


exemplo: AO 1706 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/12/2013; AO 1894 AgR, Rel.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 278


Min. Roberto Barroso, julgado em 07/08/2018; ACO 2148 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
30/09/2016.

Ocorre que o STF mudou seu entendimento e abandonou a interpretação restritiva acima exposta.
Entendimento atual: compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e
contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência


exclusiva do STF processar e julgar, originariamente, todas as ações
ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no
exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas
nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88.
STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
18/11/2020 (Info 1000).
STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 18/11/2020 (Info 1000).

A Constituição Federal determina que o STF julgue as ações propostas contra o CNJ e CNMP, não
havendo, no art. 102, I, “r”, nenhuma restrição ou diferenciação quanto ao instrumento processual a ser
utilizado. Quando a CF/88 quis restringir a competência do STF para determinados tipos de “ação”, ela o fez
expressamente, como é o caso do art. 102, I, “d”:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
(...)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas
alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do
Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da
República e do próprio Supremo Tribunal Federal;

Na alínea “r” não houve, portanto, nenhuma restrição, razão pela qual não se deve fazer essa
interpretação restritiva.
Isso não significa que o STF vá julgar toda e qualquer ação ordinária contra os Conselhos, mas
apenas quando o CNJ ou o CNMP atuar no exercício de suas competências. Vimos acima que a alínea “r” é
ampla, não diferenciando o tipo de ação. Logo, aquela distinção antiga que era feita entre o instrumento
processual (se ação ordinária ou ação tipicamente constitucional), não faz sentido e foi abandonada.

A despeito disso, o STF afirmou que ele não irá julgar toda e qualquer ação ordinária contra atos
daqueles conselhos constitucionais. A regra de competência deve ser interpretada de acordo com os fins que
justificaram a inclusão dessa alínea “r” pela EC 45/2004.

A competência do STF para julgar ações contra o CNJ e CNMP somente se justifica se o ato
praticado tiver um cunho finalístico, estando relacionado com os objetivos precípuos que justificaram a
criação dos conselhos, a fim de garantir uma proteção institucional a eles.

A outorga da atribuição ao Supremo para processar e julgar ações contra os Conselhos é mecanismo
constitucional delineado pelo legislador com o objetivo de proteger e viabilizar a atuação desses órgãos de
controle. A realização da missão constitucional ficaria impossibilitada ou seriamente comprometida se os
atos por eles praticados estivessem sujeitos ao crivo de juízos de primeira instância.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 279


Não raramente, a atuação do CNJ recai sobre questões locais delicadas e que mobilizam diversos
interesses. O distanciamento das instâncias de controle jurisdicional é elemento essencial para o desempenho
apropriado das funções. Ademais, o órgão de controle atua em questões de abrangência nacional que
demandam tratamento uniforme e ação coordenada. Por essa razão, não poderiam ser adequadamente
enfrentadas por juízos difusos.

A submissão de atos do CNJ à análise de órgãos jurisdicionais distintos do STF representaria a


subordinação da atividade da instância fiscalizadora aos órgãos e agentes públicos por ele fiscalizados, o que
subverte o sistema de controle proposto constitucionalmente. Deve ser mantida a higidez do sistema e
preservada a hierarquia e a autoridade do órgão de controle.

Desse modo, compete ao STF julgar todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do
CNMP (não importando se ações ordinárias ou writs constitucionais), mas desde que proferidas no
exercício de suas competências constitucionais, o que está previsto nos arts. 103- B, § 4º, e 130-A, § 2º, da
CF/88.

O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte:

Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações


do disposto no artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato
seu, quando impugnado perante outro juízo que não o Supremo Tribunal
Federal.

Ex: o CNJ determinou a vacância de determinada serventia registral (“cartório”) afirmando que o
atual titular (registrado) encontra-se indevidamente investido porque não foi aprovado em concurso. Na
linguagem popular, o CNJ determinou que o registrador “saia do cartório”. Esse registrador ingressa com
ação na Justiça Federal e obtém uma decisão provisória por meio da qual ele pode continuar no cartório. Por
força desse art. 106 do Regimento Interno, o CNJ poderá ordenar que o registrador e o Tribunal de Justiça
cumpram imediatamente a sua decisão administrativa independentemente da decisão proferida pelo Juiz
Federal. Isso porque a decisão do CNJ somente poderia ser revertida pelo STF, nos termos do art. 102, I, “r”,
da CF/88.
Esse art. 106 do Regimento Interno é válido? SIM. A Associação dos Magistrados Brasileiros
(AMB) propôs uma ADI contra esse dispositivo, mas o STF julgou improcedente o pedido e afirmou que é
constitucional o art. 106 do Regimento Interno do CNJ, na redação dada pela Emenda Regimental 1/2010.

Essa previsão regimental decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído


constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional.

A aludida norma nada mais faz do que explicitar o alcance do art. 102, I, “r”, da CF/88, impedindo
que decisões proferidas ao arrepio das regras constitucionais de competência — portanto, flagrantemente
nulas — comprometam o bom desempenho das atribuições do CNJ.

Permitir que decisões administrativas do CNJ sejam afastadas liminarmente órgãos absolutamente
incompetentes implicaria, indiretamente, a inviabilização do exercício de suas competências constitucionais.

O CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato


de suas decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de
primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência originária
do STF. STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
18/11/2020 (Info 1000).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 280


14. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

COMPOSIÇÃO

O CNMP é um órgão interno do Ministério Público com participação de pessoas que não integram o
MP (participação externa).

Os membros do CNMP são nomeados pelo Presidente da República, após aprovação do Senado Federal.

Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de


quatorze membros nomeados pelo Presidente da República, depois de
aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um
mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:
I o Procurador-Geral da República, que o preside;
II quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a
representação de cada uma de suas carreiras;
III três membros do Ministério Público dos Estados;
IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo
Superior Tribunal de Justiça;
V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil;
VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um
pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 281


1 do MPF
Procurador Geral
da República
1do MPT
4 membros do
MPU
08 MEMBROS 1 do MPM
INTEGRANTES DO MP

1 do MPDFT

3 membros do indicados pelo


MPE respectivo MP
CNMP - 14
MEMBROS 1 indicado pelo
STF
2 JUÍZES
1 indicado pelo
STJ

06 MEMBROS indicados pela


2 advogados
EXTERNOS OAB

1 indicado pela Câmara de Deputados

2 cidadãos
1 indicado pelo
Senado Federal

DIFERENÇAS NAS REGRAS DE NOMEAÇÃO E DESTITUIÇÃO DO PROCURADOR-


GERAL DA REPÚBLICA E DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA

PROCURADOR-GERAL DA PROCURADOR-GERAL DE
REPÚBLICA JUSTIÇA

Feita pelo Presidente da República, Feita pelo Governador de Estado.


após a aprovação pela maioria absoluta Não é necessária aprovação pela
NOMEAÇÃO Feita Obs.: Obrigatoriamente, o Governador
dospelo Presidente
membros da República.
do Senado Federal. Assembleia Legislativa.
deve observar a lista tríplice.
ESCOLHA Obs.: O Presidente não dosestá
Autorização da maioria absoluta
obrigado a observar a lista tríplice.
membros do Senado Federal. Obs2.: no casodade
Autorização PGJ absoluta
maioria do MPDFTdos a
DESTITUIÇÃO escolha é feita pelo Presidente.
membros do parlamento estadual.

RECONDUÇÃO Não há limite. Admite-se apenas uma recondução.

CONFLITOS DE ATRIBUIÇÕES11

Inicialmente, quando dois órgãos jurisdicionais divergem sobre quem deverá julgar uma

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 282


causa, dizemos que existe, neste caso, um conflito de competência.

Imagine, por exemplo, que foi instaurado inquérito policial, que estava “tramitando” na Justiça
Estadual, com o objetivo de apurar determinado crime. Ao final do procedimento, o Promotor de Justiça
requereu a declinação da competência para a Justiça Federal, entendendo que estava presente a hipótese do
art. 109, IV, da CF/88. O Juiz de Direito concordou com o pedido e remeteu os autos para a Justiça Federal.
O Juiz Federal deu vista ao Procurador da República, que entendeu em sentido contrário ao Promotor de
Justiça e afirmou que não havia interesse direto e específico da União que justificasse o feito ser de
competência federal. O Juiz Federal concordou com o Procurador da República e suscitou conflito de
competência.

Este conflito deverá ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I, "d", da
CF/88:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o
disposto no art. 102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não
vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;

No exemplo acima, os membros do Ministério Público discordaram entre si. No entanto, essa
discordância não ficou limitada a eles e foi também encampada pelos juízes. Logo, em última análise,
tivemos um conflito de competência, ou seja, um conflito negativo entre dois órgãos jurisdicionais.

Algumas vezes, no entanto, os membros do Ministério Público instauram investigações que tramitam
no âmbito da própria instituição. Neste caso, em regra, tais procedimentos não são levados ao Poder
Judiciário, salvo quando irá ser oferecida a denúncia ou se for necessária alguma medida que dependa de
autorização judicial (ex: interceptação telefônica). A regra geral, no entanto, é que os procedimentos de
investigação conduzidos diretamente pelo MP tramitem exclusivamente no âmbito interno da Instituição.

11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF


deve ser dirimido pelo CNMP. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/21be992eb8016e541a159 53eee90760e>
Ex: um Promotor de Justiça instaurou, no MPE, procedimento de investigação para apurar crimes
relacionados com um cartel mantido por donos de postos de combustíveis. Ocorre que o Procurador da
República também deflagrou, no âmbito do MPF, um procedimento investigatório para apurar exatamente o
mesmo fato. Temos, então, dois membros diferentes do Ministério Público investigando o mesmo fato. Vale
ressaltar que nenhum deles formulou qualquer pedido judicial, de sorte que o Poder Judiciário não foi
provocado e os procedimentos tramitam apenas internamente.

Neste caso, indaga-se: se dois membros do Ministério Público divergem sobre quem deverá atuar
em uma investigação, como isso é chamado? Teremos aqui também um conflito de competência? NÃO.
Neste caso, teremos um CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES.

Obs.: mais uma vez, chamo atenção para o fato de que só existe conflito de atribuições se a divergência ficar restrita
membros do MP, discordarão entre si e teremos, no caso, um "falso conflito de atribuições"

(expressão cunhada por Guilherme de Souza Nucci). Diz-se que há um falso conflito de
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 281
atribuições porque, na verdade, o que temos é um conflito entre dois juízes, ou seja, um conflito de competência.
Apesar de os exemplos acima fornecidos envolverem a investigação de crimes, é importante
esclarecer que o conflito de atribuições poderá ocorrer também em apuração de infrações cíveis, como o caso
de improbidade, meio ambiente, consumidor e outros direitos difusos e coletivos.

Ex: um Promotor de Justiça e um Procurador da República divergem quanto à atribuição para a


condução de inquérito civil que investiga suposto superfaturamento na construção de conjuntos habitacionais
com recursos financeiros liberados pela Caixa Econômica Federal e oriundos do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS). A Procuradoria da República no Paraná entendeu que esta atribuição seria do
Promotor de Justiça, mas o MPE discordou e considerou que a apuração seria do MPF, já que envolvia
recursos oriundos da CEF (STF ACO 924).

Caso haja um conflito de atribuições entre membros do Ministério Público, quem irá decidir qual
dos dois órgãos irá atuar? Depende. Podemos identificar quatro situações diferentes:

SITUAÇÃO 1: Se o conflito se dá entre Promotores de Justiça do Ministério Público de um mesmo


Estado (ex: Promotor de Justiça de Iranduba/AM e Promotor de Justiça de Manaus/AM) - a divergência será
dirimida pelo respectivo Procurador-Geral de Justiça. Veja:

Lei nº 8.625/93 - Art. 10. Compete ao Procurador-Geral de Justiça:


X - dirimir conflitos de atribuições entre membros do Ministério Público,
designando quem deva oficiar no feito;

SITUAÇÃO 2: Se o conflito se dá entre Procuradores da República (ex: um Procurador da República


que oficia em Manaus/AM e um Procurador da República que atua em Boa Vista/RR): o conflito será
resolvido pela Câmara de Coordenação e Revisão (órgão colegiado do MPF), havendo possibilidade
de recurso para o Procurador-Geral da República. Confira:

LC 75/93 - Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão:


VII - decidir os conflitos de atribuições entre os órgãos do Ministério Público
Federal.

Art. 49. São atribuições do Procurador-Geral da República, como Chefe do


Ministério Público Federal:
VIII - decidir, em grau de recurso, os conflitos de atribuições entre órgãos do
Ministério Público Federal;

SITUAÇÃO 3 - Se o conflito se dá entre integrantes de ramos diferentes do Ministério Público da


União (ex: um Procurador da República e um Procurador do Trabalho): será resolvido pelo
Procurador-Geral da República:

LC 75/93 - Art. 26. São atribuições do Procurador-Geral da República,


como Chefe do Ministério Público da União:
VII - dirimir conflitos de atribuição entre integrantes de ramos diferentes do
Ministério Público da União;

SITUAÇÃO 4 - Se o conflito se dá entre Promotores de Justiça de Estados diferentes (ex: Promotor


de Justiça do Amazonas e Promotor de Justiça do Acre)? Se o conflito se dá entre um Promotor de Justiça e
um Procurador da República (ex: Promotor de Justiça do Amazonas e Procurador da República que oficia em
Manaus/AM)?

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 282


Posição adotada até 2016: STF

Afirmava que este conflito de atribuições deveria ser dirimido pelo próprio STF. O Ministério
Público é um órgão. Seus membros também são órgãos. Um Promotor de Justiça é um órgão estadual. Um
Procurador da República é um órgão da União. Se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes estavam
divergindo sobre a atuação em uma causa, o que nós tínhamos era uma divergência entre dois órgãos de
Estados diferentes. Se um Promotor de Justiça e um Procurador da República discordavam sobre quem
deveria atuar no caso, o que nós tínhamos era uma dissonância entre um órgão estadual e um órgão federal.

Logo, nestas duas situações, quem deveria resolver este conflito seria o STF, conforme previsto no
art. 102, I, “f”, da CF/88:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda


da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito
Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
administração indireta;

Posição adotada de 2016 até junho de 2020: PGR

Neste período, o STF passou a decidir que a competência para dirimir estes conflitos de atribuição
seria do Procurador-Geral da República:

Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do Ministério Público,


dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios
Públicos estaduais. STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 19/5/2016 (Info 826).

Posição atual: CNMP


O STF mudou novamente de posição e agora entende que:

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e


de Ministérios Públicos estaduais.
STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 05/06/2020.
STF. Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre
de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).

Essa nova posição representa o acolhimento, pelo STF, de uma tese institucional defendida pelos
Ministérios Públicos estaduais que não concordavam com o entendimento de que a competência para dirimir
esse conflito seria do PGR.

A nova posição foi capitaneada pelo Min. Alexandre de Moraes, que apresentou os seguintes
argumentos:

“Discordo, entretanto, do encaminhamento do conflito de atribuição para o


Procurador-Geral da República, enquanto autoridade competente, pois é
parte interessada na solução da demanda administrativa, uma vez que
acumula a Chefia do Ministério Público da União com a chefia de um de
seus ramos, o Ministério Público Federal, nos termos da LC 75/1993.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 283


(...)
(...) constitucionalmente, o Ministério Público abrange duas grandes
Instituições, sem que haja qualquer relação de hierarquia e subordinação
entre elas (STF, RE 593.727/MG – Red. p/Acórdão Min. GILMAR
MENDES):
(a) Ministério Público da União, que compreende os ramos: Federal, do
Trabalho, Militar e do Distrito Federal e Territórios; (b) Ministério Público dos
Estados.
Não há, portanto, hierarquia entre o Ministério Público da União ou qualquer
de seus ramos específicos e os Ministérios Públicos estaduais (...)
Com tal premissa, não parece ser mais adequado que, presente conflito de
atribuição entre integrantes do Ministério Público Estadual e do Ministério
Público Federal, o impasse acabe sendo resolvido monocraticamente por
quem exerce a chefia de um deles, no caso o Procurador-Geral da
República. (...)
A interpretação sistemática da Constituição Federal, após a edição da EC
45/2004, aponta como mais razoável e compatível com a própria estrutura
orgânica da Instituição reconhecer no Conselho Nacional do Ministério
Público a necessária atribuição para solucionar os conflitos de atribuição
entre seus diversos ramos, pois, constitucionalmente, tem a missão
precípua de realizar o controle de atuação administrativa e financeira do
Ministério Público.
Assim, no âmbito interno e administrativo, não tendo vinculação direta com
qualquer dos ramos dos Ministérios Públicos dos entes federativos, mas
sendo por eles composto, o CNMP possui isenção suficiente para definir,
segundo as normas em que se estrutura a instituição, qual agente do
Ministério Público tem aptidão para a condução de determinado inquérito civil,
inclusive porque, nos termos do § 2º do art. 130-A, é sua competência o
controle da atuação administrativa do Ministério Público e do cumprimento
dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe, inclusive, zelar pela
autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, bem como pela
legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do
Ministério Público da União e dos Estados, entre eles, aqueles atos que
deram ensejo ao conflito de atribuições.
A interpretação sistemática dos preceitos constitucionais da Instituição,
portanto, aponta a competência do Conselho Nacional do Ministério Público
para dirimir essa modalidade de conflito de atribuição com fundamento no
artigo 130-A, § 2º, e incisos I e II, da Constituição Federal.
Com amparo nesses preceitos constitucionais, estaria o referido órgão
colegiado, ao dirimir o conflito de atribuição, exercendo o controle da
atuação administrativa do Ministério Público e, ao mesmo tempo, zelando
pela autonomia funcional e independência da instituição.
A solução de conflitos de atribuições entre ramos diversos dos Ministérios
Públicos pelo CNMP é a mais adequada, pois reforça o mandamento
constitucional que lhe atribuiu o controle da legalidade das ações
administrativas dos membros e órgãos dos diversos ramos ministeriais, sem
ingressar ou ferir a independência funcional.”

Vale ressaltar que o caso apreciado pelo STF dizia respeito a um conflito de atribuições entre um
Procurador da República e um Promotor de Justiça. No entanto, pelos debates entre os Ministros, percebe-se
que a solução adotada vale também para os conflitos envolvendo Promotores de Justiça de Estados-membros
diferentes. Se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes divergirem quanto à atuação em um caso, este
conflito de atribuições será dirimido pelo CNMP.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 284


Resumindo:
QUEM DECIDE O CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MEMBROS
DO MINISTÉRIO PÚBLICO?
SITUAÇÃO QUEM IRÁ DIRIMIR
MPE do Estado 1 x MPE do Estado 1 Procurador-Geral de Justiça do Estado 1
MPF x MPF CCR, com recurso ao PGR
MPU (ramo 1) x MPU (ramo 2) Procurador-Geral da República
MPE x MPF CNMP
MPE do Estado 1 x MPE do Estado 2 CNMP

Vale, por fim, uma observação. O Poder Judiciário não fica vinculado à decisão do CNMP. Assim,
suponhamos que, em um conflito de atribuições, o CNMP afirme que a atribuição para investigar e denunciar
o réu é do Procurador da República.

Diante disso, o Procurador da República oferece denúncia na Justiça Federal. O Juiz Federal estará
livre para reapreciar o tema e poderá entender que a competência não é da Justiça Federal, declinando a
competência para a Justiça Estadual. Caso o Juiz de Direito concorde, seguirá no processamento do feito. Se
discordar, deverá suscitar conflito de competência a ser dirimido pelo STJ (art. 105, I, “d”, da CF/88).

O certo é que a decisão do CNMP produz efeitos vinculantes apenas interna corporis, sendo uma
decisão de cunho administrativo, não vinculando os juízos que irão apreciar a causa.

15. RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL


ORIGEM

A reclamação é fruto de criação jurisprudencial, tendo sido incorporada ao Regimento Interno do


STF em 1957. Com a CF/88, a reclamação ganhou status constitucional, sendo prevista tanto para o STF
quanto para o STJ.

Sua criação foi feita com base na TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS, ou seja, se a CF dá os
fins a um órgão, ela também dá os meios de se fazer respeitados esses fins.

Com o advento do CPC/15 todos os tribunais passaram a ter competência para julgar reclamação
para preservar sua competência ou garantir a autoridade de suas decisões.

NATUREZA JURÍDICA

Atualmente, é pacífico o entendimento de que a reclamação é uma medida de natureza jurisdicional,


tendo em vista que tem o poder de alterar decisões judiciais e produz coisa julgada.

Indaga-se: qual tipo de medida jurisdicional?

Parece predominar na doutrina o entendimento de Pontes de Miranda: a reclamação é uma ação


propriamente dita. Isto porque provoca a jurisdição com o pedido de tutela jurisdicional e porque há uma
lide a ser solucionada.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 285


Contudo, o STF possui uma decisão em que afirma que a reclamação não é uma ação propriamente
dita. Segundo Novelino, foi uma decisão pragmática, a fim de não invalidar a legislação estadual, que antes
do CPC/15, previa a possibilidade de reclamação perante os tribunais inferiores.

STF - ADI 2.212/CE: 1. A natureza jurídica da reclamação não é a de um


recurso, de uma ação e nem de um incidente processual. Situa-se ela no
âmbito do direito constitucional de petição previsto no artigo 5º, inciso
XXXIV da Constituição Federal. Em consequência, a sua adoção pelo
Estado- membro, pela via legislativa local, não implica em invasão da
competência privativa da União para legislar sobre direito processual (art.
22, I da CF).

OBJETO DA RECLAMAÇÃO

A reclamação possui dupla função de ordem político-jurídica, isto porque:

o Visa preservar a competência do tribunal; e

o Visa assegurar a autoridade das decisões do tribunal.

CF, arts. 102, I, “l” (STF) e 105, I, “f”: reclamação para a preservação de sua
competência e garantia da autoridade de suas decisões.

CPC, art. 988: Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério


Público para:
I - preservar a competência do tribunal;
II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;
III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão
do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente
de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de
competência;

Importante consignar que só cabe reclamação para o STF e para o STJ nas hipóteses apontadas no
art. 988, CPC. Por exemplo, no caso de RE com repercussão geral, se os demais órgãos do Poder Judiciário
não observarem as teses fixadas pelo STF, não cabe reclamação diretamente. Perceba, portanto, que não se
admite a chamada reclamação per saltum. Somente o desrespeito a enunciados de súmula e decisões
proferidas em controle abstrato, IRDR ou incidente de assunção de competência é que admitem a propositura
de reclamação sem que as demais vias sejam esgotadas.

15.3.1. Preservação de competência

a) Conflitos federativos

O conflito federativo (Estado X Estado e União X Estado) deve ser resolvido pelo STF. Caso algum
outro órgão resolva julgar o conflito, caberá reclamação diretamente para o STF.

b) Inquéritos policiais e denúncias contra autoridades com foro por prerrogativa de função

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 286


São os casos em que as autoridades que têm foro por prerrogativa de função no STF ajuízam
reclamação para que a competência do Supremo seja preservada, ou seja, para garantir esta prerrogativa.

c) Ação civil pública

A decisão da ACP possui efeito erga omnes. Diante disso, há casos em que a ACP pode se tornar
um sucedâneo da ADI (apenas quando o pedido for a declaração da inconstitucionalidade), usurpando a
competência do STF. Por isso, ajuíza-se uma reclamação.

d) Negativa de seguimento de recurso extraordinário nos juizados especiais

15.3.2. Garantir a autoridade das decisões

Importante diferenciarmos, aqui, o processo constitucional subjetivo do processo constitucional


objetivo.

PROCESSO CONSTITUCIONAL SUBJETIVO PROCESSO CONSTITUCIONAL OBJETIVO

Sua finalidade precípua é a proteção de direitos


subjetivos. A inconstitucionalidade é apenas uma
Sua finalidade precípua é a preservação da
questão incidental.
ordem constitucional objetiva.
O objeto do pedido é apenas uma questão de
Visa assegurar a supremacia da Constituição.
direitos, mas para isso afasta-se determinada lei.

Tradicionalmente, a decisão possuía efeito inter


partes. Consequentemente, só podem alegar o
desrespeito à autoridade de uma decisão do
Supremo aquelas partes que estavam envolvidas
originariamente no processo que foi julgado pelo Decisão possui efeitos erga omnes. Assim, toda e
STF. qualquer pessoa que tenha direito violado por um
Contudo, na ADI 3.406 e na ADI 3.470, o STF, por ato contrário ao entendimento adotado pelo
maioria, adotou o entendimento de que, para evitar Supremo em uma ADI, ADC ou ADPF pode ajuizar
antinomias e fragmentação da unidade do sistema, diretamente uma reclamação no STF.
seria necessário equalizar as decisões tomadas no
processo constitucional subjetivo e no processo
constitucional objetivo para que ambas tenham
efeitos erga omnes e vinculantes.

Atenção!

o Havendo trânsito em julgado, caberá ação rescisória.

Súmula 734/STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em


julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo
Tribunal Federal.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 287


o A reclamação exige o efetivo desrespeito, não pode haver apenas uma ameaça de violação.

STF – Rcl 4.085-AgR: A ação constitucional da reclamação não admite


pedido de caráter preventivo.

o Caso o ato, objeto da reclamação, tenha sido praticado antes da elaboração da súmula, não
caberá reclamação, tendo em vista que não houve desrespeito à decisão.

STF – Rcl 6.449-AgR: Inexiste ofensa à autoridade de Súmula Vinculante


quando o ato de que se reclama é anterior à decisão emanada da Corte
Suprema.

o Apesar de dever ser observada pelos demais órgãos do Poder Judiciário, o desrespeito a
súmula que não possui efeito vinculante não será objeto de reclamação.

STF – Rcl 3.284-AgR: Não cabe reclamação constitucional para questionar


violação a súmula do STF destituída de efeito vinculante.

o As decisões proferidas pelo STF em RE, quando há o reconhecimento da existência de


repercussão geral, devem ser observadas pelos demais juízes e Tribunais. No entanto, se
órgãos do Judiciário descumprirem uma decisão do Supremo proferida no RE com
repercussão geral, não caberá reclamação. É necessário que desta decisão haja um recurso
para o Tribunal, se for uma decisão do juiz, ou para o
Supremo, através de recurso extraordinário, se for uma decisão de Tribunal. O Supremo não
admite a chamada reclamação per saltum.

STF – Rcl 10.793: 1. As decisões proferidas pelo Plenário do Supremo


Tribunal Federal quando do julgamento de recursos extraordinários com
repercussão geral vinculam os demais órgãos do Poder Judiciário na solução,
por estes, de outros feitos sobre idêntica controvérsia. 2. Cabe aos juízes e
desembargadores respeitar a autoridade da decisão do Supremo Tribunal
Federal tomada em sede de repercussão geral, assegurando racionalidade
e eficiência ao Sistema Judiciário e concretizando a certeza jurídica sobre o
tema. 3. O legislador não atribuiu ao Supremo Tribunal Federal o ônus de
fazer aplicar diretamente a cada caso concreto seu entendimento. 4. A Lei
11.418/2006 evita que o Supremo Tribunal Federal seja sobrecarregado por
recursos extraordinários fundados em idêntica controvérsia, pois atribuiu aos
demais Tribunais a obrigação de os sobrestarem e a possibilidade de
realizarem juízo de retratação para adequarem seus acórdãos à orientação
de mérito firmada por esta Corte. 5. Apenas na rara hipótese de que algum
Tribunal mantenha posição contrária à do Supremo Tribunal Federal, é que
caberá a este se pronunciar, em sede de recurso extraordinário, sobre o
caso particular idêntico para a cassação ou reforma do acórdão, nos termos
do art. 543-B, § 4º, do Código de Processo Civil. 6. A competência é dos
Tribunais de origem para a solução dos casos concretos, cabendo-lhes, no
exercício deste mister, observar a orientação fixada em sede de
repercussão geral. 7. A cassação ou revisão das decisões dos Juízes
contrárias à orientação firmada em sede de repercussão geral há de ser
feita pelo Tribunal a que estiverem vinculados, pela via recursal ordinária.
8. A atuação do Supremo

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 288


Tribunal Federal, no ponto, deve ser subsidiária, [...] 9. Nada autoriza ou
aconselha que se substituam as vias recursais ordinária e extraordinária
pela reclamação.

LEGITIMIDADE ATIVA

Qualquer pessoa atingida pelo ato contrário à orientação do Tribunal possui legitimidade ativa.
Após o CPC/2015, o MP também possui tal legitimidade.

16. SÚMULA VINCULANTE

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente, pertinente consignar que há uma tendência, nos ordenamentos jurídicos


contemporâneos, de aproximação entre os sistemas grandes sistemas do direito: a common law (baseado em
precedentes) e o sistema da civil law (baseado na legislação escrita). Com isso, cada vez mais países que
adotam a common law (EUA, por exemplo) estão usando a legislação escrita e países que adotam a civil
law (caso do Brasil) estão valorizando os precedentes, isso ficou evidente, por exemplo, com o Código Civil
de 2015.

No Brasil, percebe-se os dois sistemas. Quanto ao controle difuso, havia um sério problema, não ter
o “STARE DECISIS”. No EUA é diferente, pois quando a Suprema Corte dá uma decisão no controle
difuso (único controle lá existente), essa decisão vincula todos os demais órgãos do
poder judiciário: é o chamado “BINDING EFFECT“ (efeito vinculante vertical). Já no Brasil, quando o STF
proferia uma decisão no controle difuso, em regra as decisões só valiam para as partes envolvidas (uma das
tentativas de corrigir a distorção é a suspensão de lei declarada inconstitucional pelo SENADO
no controle difuso, a outra é a súmula vinculante).

Assim, percebe-se que a súmula vinculante acaba aproximando o sistema brasileiro da doutrina do
“stare decisis” americana, dando o devido valor (efeito vinculante) a determinadas decisões da Suprema
Corte. Gradativamente, a aproximação vem aumentando.

FUNDAMENTOS NORMATIVOS

O correto seria enunciado de súmula com efeito vinculante. Está prevista na CF, no art.
103-A, com regulamentação dada pela Lei 11.417/06.

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por


provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após
reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a
partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como
proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

Salienta-se que criação da súmula vinculante foi baseada em dois fatores: 1º -

Fator Jurídico - excesso de formalismo e recursos

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 289


2º - Fator Econômico - lentidão de processos

NATUREZA JURÍDICA

De acordo com o STF, o enunciado de súmula de efeito vinculante possui natureza constitucional
específica, trata-se de uma norma de decisão. Considera as demais súmulas de natureza processual.

STF – Rcl 3.979 AgR: Súmulas vinculantes. Natureza constitucional


específica (art. 103-A, § 3º, da CF) que as distingue das demais súmulas da
Corte (art. 8º da EC 45/2004). Súmulas 634 e 635 do STF. Natureza
simplesmente processual, não constitucional. Ausência de vinculação ou
subordinação por parte do STJ.

OBJETO

O objeto é a validade, interpretação e eficácia de determinadas normas sobre as quais esses pontos
não estejam bem definidos, seja por controvérsia atual no judiciário ou na administração pública. Para
evitar que a norma seja interpretada de formas distintas.

Art. 103-A, § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a


eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual
entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que
acarrete
grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre
questão idêntica.

REQUISITOS

16.5.1. Reiteradas decisões sobre matéria constitucional

Não basta apenas que o STF tenha várias decisões sobre o tema (aspecto quantitativo), é necessário
que haja uniformidade entre as decisões. Ou seja, o entendimento sobre o tema está consolidado.

Além disso, a matéria das reiteradas decisões deve ser constitucional (formalmente constitucional).
Não é necessário que a matéria seja típica, ou seja, sentido estrito que se refere apenas aos direitos
fundamentais, à estrutura do estado e à organização dos poderes.

16.5.2. Iniciativa

o De ofício – os Ministros do STF tomam a iniciativa de criar o enunciado de súmula com


efeito vinculante;

o Mediante provocação – através dos legitimados definidos

 Previstos no art. 103 da CF – mesmos legitimados da ADI e ADC;

 Defensor Público Geral da União

 Município, incidentalmente no curso de processo que seja parte

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 290


 Qualquer tribunal

Lei 11.417/2006 - Art. 3º São legitimados a propor a edição, a revisão ou o


cancelamento de enunciado de súmula vinculante:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado
Federal;
III – a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV – o Procurador-Geral da República;
V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VI - o Defensor Público-Geral da União;
VII – partido político com representação no Congresso Nacional;
VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;
IX – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal;
X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do
Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais
Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais
Militares.
§ 1º O Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em
que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de
súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo.
§ 2º No procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado da
súmula vinculante, o relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a
manifestação de terceiros na questão, nos termos do Regimento Interno do
Obs.: os legitimados para propor o enunciado de súmula com efeito vinculante também podem pedir a sua
revisão e o seu cancelamento.

16.5.3. Quórum

A edição de enunciado de súmula com efeito vinculante exige o voto de 2/3 dos membros do STF,
ou seja, pelo menos oito dos onze ministros.

Salienta-se que o STF pode dar efeito vinculante às Súmulas já existentes, nos termos do art. 8º da
EC 45/04 (que não foi acrescentado ao texto constitucional). Para isso, basta submeter a Súmula novamente à
votação.

EC 45/04 - Art. 8º As atuais súmulas do Supremo Tribunal Federal somente


produzirão efeito vinculante após sua confirmação por dois terços de seus
integrantes e publicação na imprensa oficial.

16.5.4. Publicação

O enunciado de súmula só se torna vinculante após a sua publicação, ou seja, haverá a


obrigatoriedade de sua observância.

Salienta-se que Súmula Vinculante afeta a todos, trata-se de uma norma de decisão. Por isso,
somente após a sua publicação (conhecimento de todos, em tese) é que será de observância obrigatória.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 291


16.5.5. Efeito vinculante

Tem o mesmo efeito vinculante das decisões em controle concentrado de constitucionalidade. Ou


seja, não atinge a particulares, mas sim PODERES PÚBLICOS (o que atinge a particulares é o efeito erga
omnes). Lógico que, reflexamente, o particular também será atingido.

Assim vincula:

a) Todos os demais órgãos do poder judiciário: O STF não fica vinculado, tanto é assim que pode
revisar e cancelar a Súmula (os ministros – em decisões monocráticas – e turmas ficam vinculados).

b) Administração Pública (direta e indireta) de todas as esferas;

Salienta-se que o Poder legislativo não fica vinculado em sua FUNÇÃO TÍPICA legislativa.
Contudo, quanto às funções atípicas haverá vinculação. Por exemplo, súmula que veda o nepotismo deve ser
obedecida pelos funcionários do legislativo. No entanto, nada impede que o legislador crie lei permitindo o
nepotismo.

IMPORTANTE: Na realidade, o que não fica vinculada é a função legislativa, seja ela exercida pelo
órgão que for. Ex.: Pode o presidente editar MP contrariando Súmula.
Em relação ao efeito temporal do enunciado de súmula vinculante, em regra, será ex nunc (efeito
imediato). Contudo, nada impede que haja modulação dos efeitos temporais, nos termos do art. 4º da Lei
11.417/2016.

Art. 4º A súmula com efeito vinculante tem eficácia imediata, mas o


Supremo Tribunal Federal, por decisão de 2/3 (dois terços) dos seus
membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha
eficácia a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse público.

CANCELAMENTO

Conforme entendimento do STF, para admitir-se a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante,


é necessário demonstrar que houve:

a) evidente superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria;

b) alteração legislativa quanto ao tema; ou

c) modificação substantiva de contexto político, econômico ou social.

17. RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS E RECURSOS ESPECIAIS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente, pertinente diferenciarmos os recursos ordinários dos recursos de estrito direito.


Observe:

RECURSOS ORDINÁRIOS RECURSOS DE ESTRITO DIREITO


CS – CONSTITUCI2ONAL II: 2022.1 29
Fomentar a unidade do ordenamento
jurídico, fixando sentido e o alcance de
Finalidade Assegurar direitos subjetivos. determinados dispositivos constitucionais
(recurso extraordinário) ou legais (recurso
especial)

O CPC/15 reforçou o perfil objetivo dos recursos de estrito direito, algo que já era visualizado na
jurisprudência do STF, sobretudo após a EC 45/04. A seguir colacionamos alguns dispositivos do CPC/15
que evidenciam tal perfil:

o Valoração dos precedentes – arts. 926 e 927;

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la


estável, íntegra e coerente.
§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no
regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula
correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução
de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e
especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.
§ 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489,
§ 1º , quando decidirem com fundamento neste artigo.
§ 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em
julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências
públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam
contribuir para a rediscussão da tese.
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo
Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento
de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no
interesse social e no da segurança jurídica.
§ 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou
de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade
de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da
segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.
§ 5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por
questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede
mundial de computadores.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 293


o Desconsideração de vícios formais de menor relevância – art. 1.029, §3º;

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos


previstos na Constituição Federal , serão interpostos perante o presidente
ou o vice- presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que
conterão:
§ 3º O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá
desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção,
desde que não o repute grave.
o Livre trânsito entre STF e STJ para fins de admissibilidade recursal – art. 1.032;

Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o


recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo
de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de
repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput , o relator
remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de
admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.
o Julgamento em bloco dos recursos repetitivos – art. 1.036 e 1.039

Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou


especiais com fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação
para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção, observado
o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do
Superior Tribunal de Justiça.
§ 1º O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal
regional federal selecionará 2 (dois) ou mais recursos representativos da
controvérsia, que serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao
Superior Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a suspensão
do trâmite de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.
§ 2º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que
exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o
recurso extraordinário que tenha sido interposto intempestivamente, tendo o
recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento.
§ 3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º caberá apenas
agravo interno.
§ 4º A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribunal de justiça
ou do tribunal regional federal não vinculará o relator no tribunal superior,
que poderá selecionar outros recursos representativos da controvérsia.
§ 5º O relator em tribunal superior também poderá selecionar 2 (dois) ou
mais recursos representativos da controvérsia para julgamento da questão
de direito independentemente da iniciativa do presidente ou do vice-
presidente do tribunal de origem.
§ 6º Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que contenham
abrangente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.

Art. 1.039. Decididos os recursos afetados, os órgãos colegiados declararão


prejudicados os demais recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os
decidirão aplicando a tese firmada.
Parágrafo único. Negada a existência de repercussão geral no recurso
extraordinário afetado, serão considerados automaticamente inadmitidos os
recursos extraordinários cujo processamento tenha sido sobrestado.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 294


o Duplo juízo de admissibilidade – art. 1.030

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o


recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15
(quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao
vice- presidente do tribunal recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o
Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de
repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal
exarado no regime de repercussão geral;
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão
que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal
Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no
regime de julgamento de recursos repetitivos;
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de
retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo
Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o
caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo
ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou
infraconstitucional;
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional
ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao
Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde
que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão
geral ou de julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia;
ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V
caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo
interno, nos termos do art. 1.021.

o Interposição simultânea de RE e Resp. – art. 1.031

Art. 1.031. Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e


recurso especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§ 1º Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos
ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se
este não estiver prejudicado.
§ 2º Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso
extraordinário, em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá
os autos ao Supremo Tribunal Federal.
§ 3º Na hipótese do § 2º, se o relator do recurso extraordinário, em decisão
irrecorrível, rejeitar a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior
Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso especial.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 295


É cabível a interposição de RE contra decisão proferida no Resp.? Quando a decisão
recorrida tratar de matéria constitucional e legal, deve haver interposição simultânea. Nos
casos em que a decisão recorrida tratar apenas de matéria legal, surgindo matéria
constitucional do julgamento do recurso especial, poderá ser interposto RE.

STF – AI 145.589 AgR/RJ: E M E N T A Recurso extraordinário: interposição


de decisão do STJ em recurso especial: inadmissibilidade, se a questão
constitucional de que se ocupou o acórdão recorrido já fora suscitada e
resolvida na decisão de segundo grau e, ademais, constitui fundamento
suficiente da decisão da causa. 1. Do sistema constitucional vigente, que
prevê o cabimento simultâneo de recurso extraordinário e de recurso
especial contra o mesmo acórdão dos tribunais de segundo grau, decorre
que da decisão do STJ, no recurso especial, só se admitirá recurso
extraordinário se a questão constitucional objeto do último for diversa
da que já tiver sido resolvida pela instância ordinária. 2. Não se
contesta que, no sistema
difuso de controle de constitucionalidade, o STJ, a exemplo de todos os
demais órgãos jurisdicionais de qualquer instância, tenha o poder de
declarar incidentemente a inconstitucionalidade da lei, mesmo de oficio; o
que não é dado aquela Corte, em recurso especial, é rever a decisão da
mesma questão constitucional do tribunal inferior; se o faz, de duas uma: ou
usurpa a competência do STF, se interposto paralelamente o extraordinário
ou, caso contrário, ressuscita matéria preclusa.

PREQUESTIONAMENTO

Tanto o RE quanto o REsp. exigem o prequestionamento.

Trata-se de um requisito de admissibilidade recursal, consistindo no debate e na decisão do


tribunal de origem, acerca da questão constitucional ou federal em pauta. Em outras palavras, é a
demonstração que os dispositivos constitucionais ou legais apontados como violados foram enfrentados no
acórdão ou sentença.

Caso a decisão recorrida não tenha enfrentado a questão jurídica, não há falar em prequestionamento.
Não é necessário fazer alusão expressa as dispositivos da Constituição e da lei, mas a questão deve ter sido
debatida e decidida pelo tribunal. Salienta-se que não basta a parte evocar os dispositivos, é necessário que
sejam relevantes para a causa.

Quando o tribunal se omite sobre a questão, caberá embargos de declaração que servirão de
prequestionamento. Caso não sejam conhecidos os embargos, o Tribunal Superior irá analisar, poderão:

o Entender que a parte opôs embargos e mesmo assim o tribunal de origem não enfrentou a
questão que deveria ter sido enfrentada, irão admitir o RE e o Resp.

o Entender que a questão não precisaria ser enfrentada para a solução da controvérsia, não
haverá admissibilidade do RE e Resp., mesmo diante dos embargos.

A Súmula 282 do STF prevê o prequestionamento.

Súmula 282/STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando não


ventilada, na decisão recorrida, a que estão federal suscitada. Aplica-se para

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 296


o Resp. também.

CPC/2015, art. 1.025: Consideram-se incluídos no acórdão os elementos


que o embargante suscitou, para fins de prequestionamento, ainda que os
embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.

PRÉVIO ESGOTAMENTO DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS

Trata-se de corolário da previsão contida na Constituição de que tanto o RE quanto o RESP só são
cabíveis nos casos de causas decidas em única ou última instância.

CF, art. 102, III: julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas
em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

CF, art. 105, III: julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
recorrida:
Atenção!

Súmula 281/STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na


Justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada.

No caso de RE, a Constituição não menciona “tribunal”. Portanto, não se exige que a decisão tenha
sido proferida em um acordão de tribunal, justamente por isso que se admite a interposição de RE contra
decisão de turma recursal.

Súmula 640/STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida


por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de
juizado especial cível e criminal.

Descabe recurso extraordinário de decisões (in) defertórias de liminares.

Súmula 735/STF: Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que


defere medida liminar.

No caso de RESP, só será admitido no caso de acordão de tribunal local.


Consequentemente, não se admite RESP. de juiz de primeiro grau e nem de turma recursal.

Além disso, entende-se que a expressão “causas decididas” abrange o acordão proferido em agravo
de instrumento.

Súmula 86/STJ: Cabe recurso especial contra acórdão proferido no


julgamento de agravo de instrumento.

Excepcionalmente, o STJ admite o cabimento de RESP contra decisões que deferem ou indeferem
medidas liminares.

STJ - REsp 696.858/CE: [...] Relativamente ao recurso especial, não se


pode afastar, de modo absoluto, a sua aptidão como meio de controle da
legitimidade das decisões que deferem ou indeferem medidas liminares.
Todavia, a exemplo do recurso extraordinário, o âmbito da revisibilidade

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 297


dessas decisões, por recurso especial, não se estende aos pressupostos
específicos da relevância do direito (fumus boni iuris) e do risco de dano (
periculum in mora). Relativamente ao primeiro, porque não há juízo
definitivo e conclusivo das instâncias ordinárias sobre a questão federal que
dá suporte ao direito afirmado; e relativamente ao segundo, porque há,
ademais, a circunstância impeditiva decorrente da súmula 07/STJ, uma vez
que a existência ou não de risco de dano é matéria em geral relacionada
com os fatos e as provas da causa.

IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS


Nos recursos de estrito direito a discussão fica restrita a matérias legais ou constitucionais. A questão
fática deve ter sido delimitada pelo tribunal de origem. Contudo, nada impede que a valoração do fato seja
feita de forma distinta.

Súmula 279/STF: Para simples reexame de prova não cabe recurso


extraordinário.

Súmula 7/STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso


especial.

REPERCUSSÃO GERAL

Trata-se de um requisito intrínseco de admissibilidade recursal, antecedente e prejudicial a


qualquer outro. É exclusivo do recurso extraordinário.

CF, art. 102, § 3º: No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar


a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos
termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso,
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
membros.

Revela o caráter preponderantemente objetivo do recurso extraordinário, que só será admitido se


houver relevância da matéria, transcendendo o interesse das partes envolvidas. Chama-se de binômio
relevância e transcendência.

CPC – art. 1.035, § 1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a


existência ou não de questões relevantes do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses
subjetivos do processo.

Há situações (art. 1.035, §3º, do CPC) em que a repercussão geral será presumida.

Art. 1.035, § 3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:
- contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;
– ( Revogado );
- tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do a

Conforme o entendimento do STF, a repercussão geral é exigida tanto em matéria cível quanto
criminal.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 298


HIPÓTESES DE CABIMENTO DE RE

Previstas no art. 102, III, da CF. Observe:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou
última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

a) Contrariar dispositivo da Constituição

Havendo violação a tratado internacional de direitos humanos aprovados por 3/5 em dois turnos,
caberá recurso extraordinário. No caso de violação dos demais tratados comuns ou de direitos humanos que
não tenham sido aprovados por 3/5 e em dois turnos, não caberá RE.

No caso de ADI Estadual, há duas hipóteses em que o STF admite o cabimento de RE. Vejamos:

1ª Hipótese – quando o TJ considerar o próprio parâmetro da constituição estadual inconstitucional.


Perceba que há uma mudança, já que o dispositivo que era o parâmetro da constituição estadual passa a ser o
objeto, tendo como parâmetro a Constituição Federal, por isso, admite-se o RE.

2ª Hipótese – quando o TJ interpretar norma de observância obrigatória em sentido contrário a


interpretação dada pelo STF.

O cabimento de RE, com base no art. 102, III, “a”, da CF, exige violação frontal e direta de
dispositivo constitucional.

Súmula 280/STF: Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.

Súmula 454/STF: Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá


lugar a recurso extraordinário.

Súmula 636/STF: Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao


princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação
pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
decisão recorrida.

Salienta-se que a violação reflexa equivale à situação na qual o ato violado é um ato interposto entre
a Constituição e o objeto impugnado. Por exemplo, se houver a necessidade de o STF analisar normas
infraconstitucionais para verificar se houve ou não contrariedade a um dispositivo da Constituição, não
caberá RE.

STF – ARE 748.371 RG/MT: Alegação de cerceamento do direito de defesa.


Tema relativo à suposta violação aos princípios do contraditório, da ampla
defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal. Julgamento

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 299


da causa dependente de prévia análise da adequada aplicação das normas
infraconstitucionais. Rejeição da repercussão geral.

b) Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal

Nos casos em que houver declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, não se exige
o prequestionamento. Isto porque ao declarar a inconstitucionalidade da norma, pressupõe-se que há uma
matéria constitucional envolvida.
Destaca-se que para a declaração de inconstitucionalidade é necessária a observância da cláusula de
reserva do plenário (art. 97 da CF). Neste caso, o RE deve ser interposto contra a decisão do órgão
fracionado. Logo, é a decisão do caso concreto que será objeto do recurso e não a decisão dada em abstrato a
respeito da constitucionalidade ou não da lei.

Súmula 513/STF: A decisão que enseja a interposição de recurso ordinário


ou extraordinário, não é a do plenário que resolve o incidente de
inconstitucionalidade, mas a do órgão (câmaras, grupos ou turmas) que
completa o julgamento do feito.

Por fim, nos casos de normas pré-constitucionais, por se tratar de hipótese de recepção e não de
declaração de inconstitucionalidade, não caberá RE.

STF – RE 289.533 AgR/SP: Ambas as Turmas deste Supremo Tribunal


Federal têm firmado orientação no senti do de que não é cabível recurso
extraordinário interposto na forma da alínea "b", inciso III, do art. 102, da
Magna Carta, contra acórdão que decide pela não-recepção de lei em face
da Constituição em vigor, ante a inocorrência de declaração de
inconstitucionalidade.

c) Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição

Refere-se a leis e atos estaduais e municipais.

O cabimento justifica-se pelo fato de que a manutenção do ato considerado válido poderá se revelar
contrário à Constituição.

d) Julgar válida lei local contestada em face de lei federal

Antes da EC 45/04, cabia ao STJ, mediante RESP, a análise do conflito. Consequentemente,


aparentemente sustentava-se uma hierarquia entre a lei federal em face da lei local, já que o STJ é o guardião
da lei federal.

Como não há hierarquia entre lei municipal, estadual e federal, para resolver o conflito, é necessário
recorrer à instância superior, que é a Constituição. Há que se recorrer ao texto constitucional para ver qual
dessas leis invadiu o campo de competência da outra. Portanto, a questão é constitucional, justificando-se a
alteração promovida pela EC 45/04.

HIPÓTESES DE CABIMENTO DE RESP

Estão previstas no art. 105, III, da CF. Vejamos:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 300


Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.

a) Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência


No caso de tratado, só caberá RESP de tratado equivalente à lei ordinária, ou seja, tratado que não é
de direitos humanos, ou, se de tratado de direitos humanos com supralegal. Se for tratado internacional de
direitos humanos, aprovado por 3/5 dos membros e em 2 turnos, cabe o RE, como já mencionado acima.

A expressão “lei federal” mencionada na alínea “a” deve ser interpretada como uma lei federal em
sentido amplo, abrangendo atos normativos primários emanados do Congresso Nacional, a exemplo de leis
complementares, leis ordinárias, decretos legislativos, resoluções; e do Chefe do Poder Executivo, a exemplo
de medidas provisórias e decretos autônomos.

Tratando-se de decreto regulamentar, por serem atos infralegais, não admitem RESP (mudança de
entendimento, já que antes do STJ admitia).

STJ - AgInt no REsp 1.627.640/PE (04/04/2017): II- Quanto à violação do


art. 149 do Decreto n. 57.654/66 -, que regulamenta a Lei do Serviço Militar
n. 4.375/64 - o STJ possui entendimento de que decreto regulamentar não
se enquadra no conceito de lei federal.

Atenção! Não caberá recurso especial contra:

o Matéria constitucional;

o Tratado internacional de direitos humanos aprovados por 3/5 em dois turnos;

o Direito local;

o Atos infralegais.

b) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal

Justifica-se porque a prevalência do ato do governo local, afastando a aplicação da lei federal, pode
se revelar contrária à lei federal. Como o STJ é o guardião da lei federal, cabe a ele dar a última palavra.

Não será cabível quando a decisão julgar inválido o ato local, já que, neste caso, prevaleceu a lei
federal.

c) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal

O recurso especial, aqui, visa uniformizar a interpretação do direito federal. A divergência deve ser
atual e ocorrer entre tribunais diversos.

Súmula 83/STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência,


quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 301


recorrida.

Importante consignar que é necessário que o recorrente transcreva os trechos dos acórdãos,
demonstrando a divergência entre os dois entendimentos. Se não transcrever os trechos que são objeto da
divergência, não será admitido o REsp com base na alínea “c”. Chama-se de cotejo analítico, as decisões
divergentes que tratam do mesmo assunto terão as teses de direito comparadas.

CPC – art. 1.029, § 1º Quando o recurso fundar-se em dissídio


jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a certidão,
cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado,
inclusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão
divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível na rede
mundial de computadores, com indicação da respectiva fonte, devendo-se,
em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados.

DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES


DEMOCRÁTICAS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O Estado de Defesa e o Estado de Sítio são institutos de antítese à normalidade. Trata-se do chamado direito
constitucional das crises, aplicado em situações excepcionais apenas.

Carlos Maximiliano: “As disposições excepcionais são estabelecidas por motivos ou


considerações particulares, contra outras normas jurídicas ou contra o direito comum. Por isso não
se estendem além dos casos e tempos que designam expressamente. Interpretam-se
restritivamente as disposições que limitam a liberdade, tomada esta palavra em qualquer de suas
acepções.”

Cansado Trindade: “As eventuais limitações ou restrições permissíveis ao exercício de


direitos consagrados devem ser interpretadas restritivamente e em favor destes últimos. Ou seja,
limitação e restrição de direitos fundamentais comportas interpretação restritiva” (princípio da
máxima eficácia dos direitos fundamentais – Konrad Hesse).

José de Freitas: “As melhores leituras sistemáticas da constituição visualizam os direitos


fundamentais como totalidade indissociável e, nesta medida, procuram restringir ao máximo suas
eventuais limitações”.

2. NORMAS GERAIS COMUNS AO SISTEMA CONSTITUCIONAL DAS CRISES

TEMPORARIEDADE

Tanto o Estado de Defesa quanto o Estado de Sítio são marcados pela temporariedade. Estado de

defesa: 30 dias + 30 dias (uma vez).

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 302


Art. 136
§ 2º - O tempo de duração do ESTADO DE DEFESA não será superior a trinta dias, pod

Estado de sítio: Art. 137, I  30 dias prorrogáveis sucessivamente; Art. 137 II  não há prazo
definido.

Art. 138
§ 1º - O ESTADO DE SÍTIO, no caso do art. 137, I, não poderá ser
decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo
superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que
perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.

Art. 137. I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos


que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa
(30+30+30...e assim por diante);
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada
estrangeira (tempo que durar guerra ou agressão).

PROPORCIONALIDADE

Lembrando que o STF entende que a proporcionalidade advém da máxima do devido processo
legal em seu sentido substantivo.

Adequação: a medida de exceção adotada e sua execução deverão ser aptas a fomentar a solução da
crise;

Necessidade: escolha do meio menos gravoso para alcançar o valor desejado. Antes de se decretar
o estado de sítio ou de defesa deve-se ponderar se não é suficiente: intervenção federal, atuação das Forças
Armadas (art. 142 caput CF), prisões ou mobilização nacional (art. 84, XIX CF e Lei 11631/07), etc. Adota-
se o critério da subsidiariedade.

CF
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer

destes, da lei e da ordem.

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacion

Proporcionalidade em sentido estrito: as vantagens do fim devem superar as desvantagens do


meio (ato praticado). Aqui se analisa a proporção entre o CUSTO x BENEFÍCIO trazidos por ela. Faz-se
uma verdadeira ponderação. E na concepção de Canotilho, o subprincípio da proporcionalidade em sentido
estrito é o princípio da justa medida, o qual é analisado se o RESULTADO obtido com a intervenção da
Administração Pública é proporcional à intensidade da

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 303


coação empregada.

DELIMITAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Rol taxativo, em regra – art. 136, §1° (estado de defesa), 137 I c/c 139 da CF (estado de sítio). No
estado de sítio do art. 137, II o rol é aberto – pode-se restringir qualquer direito.

Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República


e o Conselho de Defesa Nacional, decretar ESTADO DE DEFESA para
preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a
ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade
institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na
natureza.
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos
e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as
seguintes: I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de correspondência;
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.

Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República


e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional
autorização para decretar o ESTADO DE SÍTIO nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa (ou
seja, ineficácia da medida tomada frente à crises institucionais ou
calamidades naturais);
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada
estrangeira.

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art.


137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
I - obrigação de permanência em localidade determinada;
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes
comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa,
radiodifusão e televisão, na forma da lei;
IV - suspensão da liberdade de reunião;
V - busca e apreensão em domicílio;
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
VII - requisição de bens.
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de
pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas,
desde que liberada pela respectiva Mesa.

O decreto do estado de defesa ou de sítio deve expressar quais os direitos estão sendo restringidos –
princípio da segurança jurídica.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 304


OBS: o Estado de Defesa é decretado pelo presidente, com controle REPRESSIVO pelo congresso; no
Estado de Sítio o presidente SOLICITA aprovação ao congresso e depois decreta. Este decreto emitido pelo
Presidente da República (tanto em um como em outro) é um ato normativo originário, ou seja, é outra
hipótese de decreto autônomo. Ele inova no ordenamento jurídico (cria direitos e obrigações),
autorizado pela Constituição. CABM sustenta que é uma das exceções ao princípio da legalidade (além da
Medida Provisória).

MOTIVAÇÃO
No estado democrático de direito, todos os atos do poder público devem ser motivados, sejam do
legislativo, da administração ou do judiciário.

3. ESTADO DE DEFESA

CONCEITO

É uma medida excepcional, decretada pelo Presidente, após a prévia oitiva do Conselho de Defesa e
da República, para preservar ou prontamente reestabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem
pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por
calamidades de grandes proporções na natureza. Após a decretação cabe ao Congresso referendá-
la ou não, por maioria absoluta.

Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da


República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa
para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e
iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de
grandes proporções na natureza.

Trata-se de um regime sui generis de anormalidade (legalidade extraordinária).

A manifestação dos conselhos é ato formal indispensável, em que pese tenha natureza meramente
opinativa, não vinculando a decisão do Presidente.

Art. 136, § 4º - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o


Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato
com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por
maioria absoluta.
§ 5º - Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado,
extraordinariamente, no prazo de cinco dias.
§ 6º - O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias
contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto
vigorar o estado de defesa.

O Congresso deve referendar no prazo de 10 dias (art. 136, §6º).

§ 7º - Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa.

Havendo omissão do Congresso não se pode falar em aprovação tácita ou trancamento da pauta, eis
que não existe tal previsão na CF.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 305


Pode o PR revogar o Estado de Defesa antes da aprovação pelo congresso? SIM.
Desaparecendo os pressupostos que ensejaram a decretação do Estado de Defesa o Presidente tem o dever de
revogá-lo, sob pena de praticar ato contra a Constituição e, por conseguinte, crime de responsabilidade (art.
85 CF).

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da


República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério
Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais; IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que
estabelecerá as normas de processo e julgamento.

EFEITOS

CF Art. 136
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e
limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações (ligados aos
direitos de expressão de liberdade e ao regime democrático, somente
haverá a restrição se houver pertinência temática.);
b) sigilo de correspondência (é o sigilo e não CENSURA);
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica (exceção à reserva de
jurisdição);
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos
decorrentes.
§ 3º - Na vigência do estado de defesa:
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da
medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que
a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de
delito à autoridade policial; (exceção à reserva legal, podendo a prisão ser
decretada por pessoa que não é juiz; observe que há controle judicial sobre
a medida)
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do
estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez
dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
CONTROLE DOS ATOS DO PODER EXECUTIVO

Cabe ao Congresso FISCALIZAR e CONTROLAR os atos do poder executivo (art. 49, X,


CF)

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 306


Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
...
X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os
atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;
Fiscalizar e controlar significam a mesma coisa? Não. A termos diversos não se deve atribuir o
mesmo conteúdo. Este instrumental deriva do princípio da unidade da constituição (Celso Bastos). Não há na
CF palavras inúteis (Carlos Maximiliano)

“CONTROLAR”: o Congresso recebe atribuição da CF para decidir sobre relações jurídicas


praticadas pelo executivo, revogando-as ou anulando-as. Exemplo: Art. 49 V, Art. 71, III (Súmula
Vinculante 03) e §1º.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


...
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido


com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
...
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão
de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas
as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as
nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as
melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato
concessório;
§ 1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente
pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo
as medidas cabíveis.

“FISCALIZAR”: o Congresso acompanha o ato do executivo, realizando medidas investigatórias


(CPI), convocando Ministros, a fim de apurar a legalidade e constitucionalidade, SEM o poder de
anulação, revogação ou aplicação de penalidades.

O Congresso controla, nos termos do 49, IV, o Estado de Defesa e o Estado de Sítio. No Estado de
Defesa o controle REPRESSIVO; no Estado de Sítio o controle PREVENTIVO e REPRESSIVO (suspender
a medida).

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


IV - APROVAR o estado de defesa e a intervenção federal, AUTORIZAR o
estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;

Nessas medidas o congresso também realiza controle repressivo e preventivo de constitucionalidade.

A fiscalização é realizada pela Comissão do art. 140 CF:

Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários,


designará Comissão composta de cinco de seus membros para
acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de
defesa e ao estado de sítio.

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 307


Neste rumo, cabe uma pergunta: cabe controle judicial de ATO POLÍTICO? Ato político situa- se no
âmbito da discricionariedade política, das opções políticas tomadas segundo uma linha programática fundada
em um juízo de conveniência, oportunidade, adequação e utilidade, derivada
da competência constitucionalmente reservada. Exemplo: veto, resolução do senado (52, X), julgamento por
impeachment, intervenção federal, estado de sítio, de defesa.

CF, Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;

1ªC: não é possível de controle judicial. É a posição clássica do STF (HC 300 e ADPF 1/RJ).
Fundamenta-se no art. 2° da CF - separação dos poderes. Tese pra AGU, advocacias públicas.

2ªC: não há ato imune ao controle jurisdicional, pois não há espaço no estado constitucional, onde
temos governos limitados, especialmente quando lesivo a direitos fundamentais. Tese para os demais
concursos.

Celso de Mello: o princípio da separação de poderes não pode ser invocado para estabelecer, em
torno de um dos órgãos da soberania nacional um devassável círculo de imunidade, insuscetível de revisão
judicial, não obstante a concretização eventual de lesão a direitos fundamentais. MS 21564 STF.

Fundamentos da 2ª corrente:

1º Fundamento: a CF não ressalva expressamente a impossibilidade do controle judicial (tal como


fez no art. 142 – não cabe HC contra o mérito de punição disciplinar; tal como fez no art. 217 da CF).

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e


pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da
lei e da ordem.
...
§ 2º - Não caberá "habeas-corpus" em relação a punições disciplinares
militares.

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-


formais, como direito de cada um, observados:
§ 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei.

2º Fundamento: existe um direito fundamental a efetivação da constituição, devendo ser garantida


pelo judiciário (Dirley da Cunha Jr.);

3º Fundamento: o art. 5, XXXV – princípio da inafastabilidade e acesso ao judiciário;

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a
...

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 30 8
4º Fundamento: o estado democrático de direito pressupõe a existência de controle dos atos do poder
público e dos particulares;

5 º Fundamento: Lord Acton (Inglaterra): “Todo poder corrompe; o poder absoluto corrompe
absolutamente”.

De quem é a competência para julgar ato do executor da medida? Como a matéria dos
tribunais superiores é taxativamente prevista, resta a 1ª instância da Justiça Federal (pois a autoridade é
federal).

4. ESTADO DE SÍTIO

CONCEITO

A CF prevê duas modalidades de estado de sítio (legalidade extraordinária):

Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da


República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso
Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa
(crise institucional ou calamidade);
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada
estrangeira. (obs.: decretação de guerra não implica automaticamente em
estado de sítio).
Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para
decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos
determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por
maioria absoluta

O Estado de Sítio pressupõe a PRÉVIA autorização do Congresso (diferente, portanto, do Estado de


defesa, onde o congresso apenas referenda o estado já decretado).

O Congresso demora muito para autorizar o Estado de Sítio. Pode o presidente


decretar o Estado de Defesa? SIM.

O presidente pode revogar o Estado de Sítio antes da apreciação do Congresso?


SIM. Mesma ideia do estado de defesa, sumindo os requisitos o presidente tem a obrigação constitucional de
revogar o estado excepcional.

EFEITOS

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art.


137, I (comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa –
crise institucional ou calamidade) só poderão ser tomadas contra as
pessoas as seguintes medidas:

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 309


- obrigação de permanência em localidade determinada; (é a chamada “Ménage")
- detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
- restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à
- suspensão da liberdade de reunião;
- busca e apreensão em domicílio; (sem ordem judicial e em qualquer horário, exceç
- intervenção nas empresas de serviços públicos; VII - requisição de bens.
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos

A CF só aponta as medidas possíveis no estado de sítio do art. 137, I. Assim, a doutrina defende que
no art. 137, II a restrição de direitos é ampla, de forma que todo e qualquer direito pode ser restringido.

Parte da doutrina defende que apenas não poderá ser restringido o direito ao acesso ao judiciário, a
não tortura, a não extradição de brasileiro nato (Carlos Ayres Brito recentemente votou obter dicta que tais
direitos seriam absolutos, contrariando a doutrina clássica que afirma não existirem direitos absolutos).

RESPONSABILIZAÇÃO PELAS MEDIDAS EXECUTIVAS

CF, Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão


também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos
cometidos por seus executores ou agentes.
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sítio,
as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da
República, em mensagem ao Congresso Nacional, com especificação e
justificação das providências adotadas, com relação nominal dos atingidos e
indicação das restrições aplicadas.

A CF não poderá ser alterada na vigência de Estado de Sítio ou Estado de Defesa (limites
circunstanciais ao poder constituinte derivado).

CF
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
...
§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.

As imunidades parlamentares podem ser SUSPENSAS no Estado de Sítio somente (art.


53, §8°)

Art. 53

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 310


§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, s

CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 311

Você também pode gostar