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De acordo com as Emendas Constitucionais 109/2021 e
111/2021
Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja útil na
sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de estudo, mais
familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.
O Caderno Sistematizado de Direito Constitucional, está dividido em Parte I e Parte II, possui como
base as aulas do Prof. Marcelo Novelino (G7), complementadas com as aulas do Prof. Bernardo Fernandes,
com o intuito de deixar o material mais completo, utilizados as seguintes fontes complementares: a)
Constituição Federal para Concursos, 2019, (Marcelo Novelino e Dirley da Cunha Jr.); b) Curso de Direitos
Constitucional, 2018, (Dirley da Cunha Júnior) e c) Curso de Direito Constitucional, 2020, Bernardo
Gonçalves Fernandes.
Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é necessária leitura
conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você faça uma
boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.
Cadernos Sistematizados.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Serão analisados o direito à vida, o direito à igualdade, o direito à privacidade, o direito de liberdade
e o direito à propriedade. Pertinente destacar que o direito à privacidade não está previsto no caput do art.
5º, mas pode ser extraído de seus incisos, conforme veremos.
Destaca-se, ainda, que o direito à segurança, previsto no caput do art. 5º, refere-se à
Obs.: A segurança pública, prevista no art. 6º da CF, será analisada na parte dos direitos sociais.
2. DESTINATÁRIOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
De acordo com a interpretação literal (José Afonso da Silva) do dispositivo, percebe-se que
apenas os brasileiros natos e naturalizados (pessoas físicas e jurídicas) e apenas os estrangeiros residentes no
Brasil são os titulares dos direitos e garantias individuais. Contudo, não prevalece tal entendimento, isso
porque, de acordo com a melhor doutrina, os direitos e garantias fundamentais visam a proteção e a
promoção da dignidade da pessoa humana (qualidade intrínseca de todo ser humano, independentemente de
qualquer condição).
Para o Supremo Tribunal Federal (STF) e para a esmagadora doutrina, deve ser dada uma
interpretação extensiva ao art. 5º da CF, ou seja, os direitos e garantias INDIVIDUAIS possuem como
destinatários os brasileiros (pessoas físicas – natos e naturalizados – e as pessoas jurídicas), os estrangeiros
residentes no país e, também, os estrangeiros não residentes. Em razão da dignidade da pessoa humana e da
primazia dos direitos humanos nas relações internacionais (art. 4º, II da CF).
3. DIREITO À VIDA
O Direito à Vida está consagrado no caput do art. 5º da CF, é o mais importante dos direitos
fundamentais, tendo em vista que é pressuposto para o exercícios dos demais direitos. Afinal, para que seja
possível exercer qualquer outro direito individual (igualdade, propriedade, privacidade e liberdade) o direito
à vida deve ser assegurado.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do DIREITO À VIDA, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:...
ÂMBITO DE PROTEÇÃO
Todos os direitos fundamentais, salvo o direito à igualdade, possuem um âmbito de proteção, ou seja,
protegem determinado bem jurídico.
Em relação ao direito à vida, o bem jurídico protegido é APENAS a vida humana em sentido
biológico. Perceba, portanto, que a vida espiritual não recebe proteção do art. 5º da CF, será protegida pelo
direito de liberdade religiosa.
Ressalta-se que o direito à vida compreende duas acepções, uma negativa e outra positiva.
Vejamos:
ACEPÇÃO NEGATIVA ACEPÇÃO POSITIVA
Além disso, o direito à vida (como todo e qualquer direito fundamental) possui duas dimensões,
quais sejam:
Analisando os votos da ADI 3510, que tinha como objeto a Lei de Biossegurança por permitir a
pesquisa com células-tronco embrionárias, pode-se perceber a adoção das duas dimensões. O Ministro Ayres
Britto analisou o direito à vida em sua dimensão subjetiva e o Ministro Ricardo Lewandowski analisou o
direito à vida em sua dimensão objetiva.
De acordo com Ayres Britto, a Constituição não se refere ao exato momento em que a vida humana
tem o seu início. Porém, toda vez que se refere à inviolabilidade do direito à vida, trata do direito à vida das
pessoas que já nasceram, e não da vida do embrião ou do feto (interpretação sistemática da Constituição).
Garante-se a inviolabilidade à vida aos brasileiros natos ou naturalizados, bem como aos estrangeiros
residentes no país, perceba que todos são pessoas que já nasceram. Portanto, o embrião e o feto não têm o
direito à vida protegido pela CF. A legislação infraconstitucional, a exemplo do Código Penal, é que protege
o direito à vida do embrião e do feto.
STF - ADI 3.510 (Ayres Britto): o Magno Texto Federal não dispõe sobre o
início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não faz de
todo e qualquer estádio (etapa) da vida humana um autonomizado bem
jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque
nativiva (teoria ‘natalista’, em contraposição às teorias ‘concepcionista’ ou
da ‘personalidade condicional’).
Por outro lado, para Ricardo Lewandowski o direito à vida tem que ser analisado não em sua
dimensão subjetiva (perspectiva do titular do direito), mas na perspectiva da coletividade, já que é um valor
extremamente importante.
INVIOLABILIDADE x IRRENUNCIABILIDADE
INVIOLABILIDADE IRRENUNCIABILIDADE
De acordo com a doutrina, todos direitos fundamentais são irrenunciáveis. Em outras palavras, não
pode haver renuncia definitiva do direito (embora possa não ser exercido temporariamente).
Importante consignar que nenhum direito fundamental é absoluto, nem mesmo o direito à vida. Há
hipóteses em que, apesar da inviolabilidade, outros valores de peso maior, no caso concreto, irão prevalecer,
justificando sua a restrição.
Destaca-se que caso a pessoa esteja gravemente ferida, por exemplo em coma, e tenha deixado
documento escrito negando o recebimento de sangue de terceiros, a transfusão poderá ocorrer, eis que não
pode manifestar sua vontade no exato momento. Isso vale em relação aos menores, o pai/a mãe, por seus
crenças religiosas, não possuem o direito de impedir a transfusão de sangue no filho.
O Conselho da Justiça Federal criou um enunciado a respeito do tema e adotou uma diretriz que é
considerada adequada:
Ressalta-se que a restrição não pode ser confundida com violação, que é uma intervenção
inconstitucional no direito à vida.
Trata-se da única restrição expressa na Constituição (art. 5º, XLVII, a). Observe:
É o Código Penal Militar que regulamenta o dispositivo constitucional, prevendo que a pena de
morte será executada por fuzilamento.
PC/GO (2018): A Constituição admite como possível a pena de morte em caso de guerra declarada. Correto!
3.4.2. Aborto
Diante disso, o legislador ponderou entre o direito à vida e outros direitos, criando duas hipóteses em
que o direito à vida sofrerá restrições legítimas.
Há alguns autores, no entanto, que sustentam que o direito à vida é inviolável e a dignidade é um
direito absoluto, portanto o art. 128, II não teria sido recepcionado pela Constituição Federal.
Obs.: Embora o CP criminalize o aborto, a 1ªTurma do STF (voto condutor de Luís Roberto Barroso) adotou
o entendimento de que o CP deve ser interpretado à luz da CF, a fim de que o aborto realizado no primeiro
trimestre de gestação não pode ser criminalizado.
A questão está sendo analisada no julgamento da ADPF 442, proposta pelo PSOL.
Argumentos (PSOL): os dois dispositivos do Código Penal afrontam postulados fundamentais como
a dignidade da pessoa humana, a cidadania, a não discriminação, a inviolabilidade da vida, a liberdade, a
igualdade, a proibição de tortura ou o tratamento desumano e degradante, a saúde e o planejamento familiar
das mulheres e os direitos sexuais e reprodutivos.
Marcelo Novelino destaca que o argumento mais importante está relacionado à saúde. Há estudos
que comprovam que o Brasil realiza um milhão de abortos clandestinos por ano, gerando inúmeras
consequências, principalmente, para as mulheres de baixa renda, que colocam em risco sua própria vida.
Uma mulher, no primeiro mês de gestação de uma gravidez indesejada, procura orientação jurídica na Defensoria
Pública a respeito da possibilidade de realização de aborto. Nesse contexto:
III. Explicar as hipóteses previstas no Código Penal e pela interpretação do STF (ADPF 54), nas quais o aborto não é
punido, e que está pendente de julgamento no STF a ADPF 442, que busca dar interpretação conforme a Constituição
aos artigos 124 e 126 do Código Penal, a fim de que se declare a sua não recepção parcial, para excluir do seu âmbito de
incidência a interrupção da gestação indesejada e voluntária realizada nas primeiras 12 semanas. Correto!
IV. Esclarecer que há um precedente na decisão proferida no HC 124.306/RJ, julgado pelo STF, em que não se manteve
prisão preventiva de réus que respondiam criminalmente pela prática de aborto por se considerar fato não típico por
violação da Constituição (direitos fundamentais das mulheres à vida, à liberdade, à integridade física e psicológica, à
igualdade de gênero, à autonomia, à saúde e ao planejamento familiar) e da regra da proporcionalidade, o que
viabilizaria a impetração em favor dela de um habeas corpus preventivo com os mesmos fundamentos. Correto!
Por fim, não há conflito entre o direito à vida dos anencéfalos e o direito da mulher à dignidade. Isso
porque, segundo o Min. Relator, direito à vida de anencéfalo seria um termo antitético considerando que o
anencéfalo, por ser absolutamente inviável, não seria titular do direito à vida. Assim, o alegado conflito entre
direitos fundamentais seria apenas aparente. Assentou que o feto anencéfalo, mesmo que biologicamente
vivo, porque feito de células e tecidos vivos, seria juridicamente morto, de maneira que não deteria proteção
jurídica, principalmente a jurídico-penal. Corroborou esse entendimento ao inferir o conceito jurídico de
morte cerebral da Lei 9.434/97, de modo que seria impróprio falar em direito à vida intra ou extrauterina do
anencéfalo, natimorto cerebral. Destarte, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria
crime contra a vida, porquanto se revelaria conduta atípica.
TJ/MS (2020) - É compatível com a Constituição Federal a interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de
feto anencéfalo viola o direito à vida, recaindo na esfera de proteção que a legislação penal outorga a esse bem jurídico,
vedando sua prática. Errado!
Em razão do Zika Vírus muitas crianças nasceram com microcefalia, a Anadep então ajuizou uma
ADPF para que o STF, apontando omissão do poder público quanto à possibilidade de interrupção da
gravidez nas políticas de saúde para mulheres grávidas infectadas pelo zika. Além disso, requereu a
inconstitucionalidade do enquadramento de mulheres nessa situação ao art. 124 do Código Penal.
Importante consignar que o Ministro Barroso fez ressaltou que a Anadep possui legitimidade para
O STF adotou o entendimento de que as pesquisas podem ser realizadas porque promovem outros
direitos consagrados no texto constitucional, como o direito à saúde.
TJ/MS (2020) - O uso de células-tronco embrionárias, ainda que em pesquisas científicas para fins terapêuticos,
autorizadas em lei federal, viola o direito à vida, pela potencialidade de formação de pessoa humana, cuja dignidade
recebe proteção máxima constitucional. Errado!
4. DIREITO À IGUALDADE
O direito à igualdade, assim como o direito à vida, encontra-se previsto no art. 5º, caput, da
CF.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, À IGUALDADE, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:...
EVOLUÇÃO HISTÓRIA
ETAPAS DA EVOLUÇÃO
CONCEPÇÃO MATERIAL
MPE/MG (2021): Não ofende o princípio da isonomia norma legal que concede tratamento tributário especial e
diferenciado às microempresas e empresas nacionais de pequeno porte. Correto!
Obs.: A CF consagrou a igualdade jurídica (alguns, de forma equivocada, consideram sinônimo de igualdade
formal), em seu art. 5º, e a igualdade fática, em seu art. 3º. Conjugando-se os dispositivos, percebe-se que a
CF/88 adotou tanto a concepção formal quanto a concepção material de igualdade.
Ao contrário dos demais direitos, a igualdade não possui um âmbito de proteção material específico,
é um conceito relacional. Ou seja, é necessário analisar a situação e as pessoas envolvidas, a fim de averiguar
se o tratamento é justo ou não. Ocorre uma comparação entre indivíduos, grupos, coisas e situações.
Imagine, por exemplo, que um edital para concurso de agente de penitenciária feminina, preveja que
apenas mulheres podem realizar a inscrição. Existem dois critérios básicos como meio de averiguar a
constitucionalidade de determinada discriminação (ou distinção):
Haverá intervenção quando o tratamento for igual para situações essencialmente desiguais ou
desigual para situações essencialmente iguais. Além disso, deverá haver justificação constitucionalmente
adequada para ser legítima. Mas caso seja justificada em critérios arbitrários, preconceituosos e
discriminatórios será ilegítima.
Obs.: Em razão disso, parcela da doutrina entende que a igualdade jurídica corresponde a uma proibição de
arbítrio. Portanto, o que a igualdade jurídica proíbe não é o tratamento desigual, mas o tratamento desigual
arbitrário, sem justificação constitucional legítima.
Importante consignar que o STF entende que é possível estabelecer determinados requisitos nos
editais de concurso público, desde que sejam observadas algumas regras. Vejamos:
1ª Regra – é necessária a existência de uma lei que preveja tais requisitos. O edital, sem
embasamento legal anterior, não pode estabelecer.
2ª Regra – o requisito deve ser justificado pela natureza do cargo. Nesse sentido, a Súmula 683 do
STF:
TRF2 (2018): Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações
excepcionais, em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. Correto! STF RE 8984520 (Info 835).
TRF2 (2018): A adoção de critérios diferenciados para o licenciamento dos militares temporários, em razão do sexo,
não viola o princípio da isonomia. Correto!
O STF (ADI 3541 – Info 735) entende que a lei que veda o exercício da atividade de advocacia por
aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o princípio da isonomia.
MPE/PR (2019): Viola o princípio da isonomia a norma que veda o exercício da atividade de advocacia por aqueles
que desempenham, direta ou indiretamente, serviço de caráter policial. Errado!
Por fim, importante ainda destacarmos o conceito de discriminação indireta, que ocorre sempre
que em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem, uma
disposição, critério ou prática aparentemente neutra coloque uma pessoa ou grupo de pessoas numa situação
de desvantagem, designadamente em comparação com outra pessoa ou grupo de pessoas, a não ser que essa
disposição, critério ou prática seja objetivamente justificada por um objetivo legítimo e que os meios
utilizados para o alcançar sejam adequados e necessários.
O art. 35, III e V, da Lei nº 9.250/95 introduz uma discriminação indireta contra as pessoas com
deficiência, notadamente à luz do seu direito ao trabalho, já que a aparente neutralidade do critério da
capacidade física ou mental para o trabalho oculta o efeito anti-isonômico produzido. Para a generalidade dos
indivíduos, pode fazer sentido que a aptidão laborativa seja o critério definidor da condição de dependente
em relação aos ganhos do genitor ou responsável, tendo em vista que, sob essa circunstância, eles possuem
chances de se alocarem no mercado de trabalho e proverem o próprio sustento. Tal probabilidade se reduz de
forma drástica quando se trata de pessoas com deficiência, cujas condições físicas ou mentais restringem de
forma mais ou menos intensa as oportunidades profissionais.
DPE/RJ (2021): Diante de dados que comprovam que os efeitos de determinadas políticas públicas violam
desproporcionalmente os direitos fundamentais de grupos vulneráveis identificáveis, é correto afirmar que tais políticas
podem ser questionadas com fundamento da Teoria da Discriminação Indireta. Correto!
Em virtude da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, o princípio da igualdade aplica- se aos
particulares e aos poderes públicos.
Há, na doutrina, uma diferenciação entre igualdade na lei e igualdade perante a lei.
Esse entendimento foi adotado até a década de 1950, na Europa, ainda não havia o pleno
reconhecimento da força normativa da Constituição. Entendia-se que as declarações de direitos fundamentais
não vinculavam o legislador, que era visto como um amigo desses direitos, e não como um inimigo. Com o
passar do tempo, verificou-se que muitas das violações de direitos fundamentais vinham do próprio
Parlamento. Posteriormente, com o reconhecimento definitivo da força normativa da Constituição, todos os
Poderes, inclusive o Legislativo, passaram a ser vinculados por ela.
A igualdade deve ser observada tanto na aplicação da lei quanto na elaboração da lei pelo legislador.
Trata-se do sentido moderno, no qual todos os Poderes Públicos encontram-se vinculados ao texto
constitucional.
É destinado precipuamente ao legislador, a quem seria vedado usar-se da lei para realizar tratamentos
discriminatórios entre pessoas que mereçam o mesmo tratamento. A igualdade, aqui, deve ser aplicada no
momento de elaboração da lei.
No Brasil, essa distinção não tem muita utilidade, pois apesar de a CF falar em “perante a lei”, todo o
poder legislativo é vinculado aos preceitos constitucionais. Assim, todos os poderes públicos são
destinatários do princípio da igualdade (eficácia vertical), e além deles os particulares também são
destinatários do princípio da igualdade (eficácia horizontal).
A igualdade como reconhecimento significa o respeito que se deve ter para com as minorias, sua
identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais ou quaisquer outras. A injustiça a ser
combatida nesse caso tem natureza cultural ou simbólica. Ela decorre de modelos sociais de representação
que, ao imporem determinados códigos de interpretação, recusariam os “outros” e produziriam a dominação
cultural, o não reconhecimento ou mesmo o desprezo.
Determinados grupos são marginalizados em razão da sua identidade, suas origens, religião,
aparência física ou opção sexual, como os negros, judeus, povos indígenas, ciganos, deficientes, mulheres,
homossexuais e transgêneros.
A igualdade como reconhecimento encontra-se também prevista no art. 3º, IV, da CF/88, que
determina que um dos objetivos fundamentais da República é o de “promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Obs.: É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da
CF/88), a exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-
servidores públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da
CF/88). STF. Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral
– Tema 457) (Info 994).
AÇÕES AFIRMATIVAS
4.7.1. Conceito
1 Márcio Cavalcante.
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3202111cf90e7c816a472aaceb72b0df?cat
egoria=1&subcategoria=1&assunto=2
hipossuficiência econômica ou física, por meio de concessão de alguma vantagem. Ações afirmativas são
medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos, com o fito
de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
fundamentais. (Art. 2°, II, da Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da
Organização das Nações Unidas, ratificada pelo Brasil em 1968).
DPE/PE (CESPE – 2018): As medidas de discriminação reversa que, com o objetivo de proteger grupos
historicamente discriminados ou vulneráveis, promovem políticas compensatórias focais são denominadas ações
afirmativas. Correto!
c) Definir distritos eleitorais para o fortalecimento das minorias representadas por estes distritos
eleitorais; e
É importante ressaltar que as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial possuem
natureza transitória já que as desigualdades entre negros e brancos não resultam, como é evidente, de uma
desvalia natural ou genética, mas decorrem de uma acentuada inferioridade em que aqueles foram
posicionados nos planos econômico, social e político em razão de séculos de dominação dos primeiros pelos
segundos.
Assim, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas são legítimas se a
sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que lhes deu
origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se em benesses permanentes, instituídas em prol de
determinado grupo social, mas em detrimento da coletividade como um todo, situação incompatível com o
espírito de qualquer Constituição que se pretenda democrática.
4.7.4. Lei Maria da Penha
Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de a Lei 11.340/06 ser voltada
apenas à proteção das mulheres.
O STF entendeu que que a Lei Maria da Penha promove a igualdade em seu sentido material, sem
restringir de maneira desarrazoada o direito das pessoas pertencentes ao gênero masculino. O legislador
utilizou meio adequado e necessário para fomentar o fim traçado pelo referido preceito constitucional.
Aduziu-se não ser desproporcional ou ilegítimo uso do sexo como critério de diferenciação, visto que a
mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos
em âmbito privado.
5. DIREITO À PRIVACIDADE
PREVISÃO
O direito à privacidade, como já mencionado, é o único dos direitos fundamentais que não está
previsto no caput do art. 5º, é encontrado em seus incisos X, XI e XII.
Art. 5º,
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
GRAU DE PROTEÇÃO
Os locais públicos e reservados possuem grau de proteção diversos. Um fato ocorrido em local
reservado (residência, escritório) possui uma proteção maior do que um fato ocorrido em local público.
Assim, por exemplo, uma câmera escondida colocada na residência viola a privacidade em um grau
mais elevado do que uma câmera de vigilância de rua, em que não há expectativa de privacidade.
Obs.: as pessoas públicas, por se submeterem voluntariamente à exposição pública (artistas, esportistas e
políticos), renunciam a uma parcela de sua privacidade, sendo menor a intensidade de proteção (esfera
privada e íntima). Entretanto, ainda podem se opor à propagação da imagem ou divulgação de uma
informação sem o consentimento quando envolverem questões domésticas, familiares ou íntimas, hipóteses
nas quais, geralmente, a divulgação é abusiva. A proteção à privacidade de agentes políticos eleitos pelo voto
popular deve ocorrer apenas na esfera íntima, em razão de um interesse geral na obtenção de certas
informações de caráter pessoal.
A liberdade de informação abrange apenas fatos verdadeiros. Portanto, as chamadas “fake news” não
podem ser amparadas pela liberdade de informação, de impressa, não podendo afetar a intimidade dos
indivíduos.
Fatos de interesse público são aqueles relevantes para a sociedade, possuem proteção menor. Por
outro lado, os fatos de mero interesse público são aqueles em que as pessoas possuem curiosidade, portanto,
são protegidos em um grau maior pelo direito à intimidade.
A Teoria das Esferas, de origem alemã, pode ser adaptada à realidade brasileira e para o que está
previsto no art. 10, X, CF. Quanto mais próxima das características de identificação do indivíduo, maior deve
ser o grau de proteção ao direito à privacidade.
5.2.5. Honra
A Constituição protege a honra subjetiva (estima de si próprio) e a honra objetiva (reputação perante
o meio social).
Importante consignar que se protege a honra objetiva das pessoas jurídicas, nos termos do art. 52 do
CC e da Súmula 227 do STJ.
CC, art. 52: Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos
direitos da personalidade.
Súmula 227 STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral
5.2.6. Imagem
MPE/MG 2021: A liberdade de expressão, mesmo ocupando posição de destaque no rol dos direitos fundamentais, não
se traduz em direito absoluto, razão por que o Supremo Tribunal Federal vedou a publicação de biografias não
autorizadas, especialmente em casos de ofensa direta a direitos de personalidade do biografado. Errado!!
DISTINÇÕES CONCEITUAIS
É a captação ambiental (feita no ambiente) de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos feita por
terceiros sem o conhecimento dos interlocutores.
a) Expectativa de privacidade
Obs.: não há expectativa de privacidade quando o ato é praticado na rua, nem quando captado por câmeras
de vigilância.
A Lei de Organizações Criminosas não estabelece a forma como a captação ambiental deve ocorrer.
A doutrina e a jurisprudência, por analogia, entendem que o procedimento a ser observado é o mesmo das
interceptações telefônicas (Lei 9.296/96).
Nem sempre a gravação é ilícita, podendo ser utilizada como prova se houver uma justa causa para
tal. A definição de justa causa depende de uma ponderação. Mas que fique claro: qualquer limitação de
direito fundamental só é justificada para salvaguardar outro direito constitucional, que no caso concreto
mereça ser sobreposto em relação àquele.
As gravações realizadas clandestinamente não são admitidas como prova no processo (ilícitas) – art.
5º LVI -, salvo quando justificáveis com base em outros princípios constitucionalmente consagrados, como
no caso de uma gravação clandestina utilizada pelo réu, no processo penal,
para provar sua inocência (direito de liberdade e garantia de ampla defesa).
Gravação feita em legítima Gravação feita contra sequestrador, chantagista, estelionatário etc.
defesa
A gravação clandestina sem justa causa é vedada pelo art. 5º, X (privacidade).
Consiste no acesso ao registro de determinadas informações privadas, tais como: extratos bancários,
declarações de imposto de renda, registro de ligações telefônicas e dados constantes de arquivos de
computador.
o Telefônico: acesso ao registro das ligações telefônicas, não há acesso às conversas da pessoa.
Apenas se sabe os números, o tempo de ligação. O conteúdo das conversas não fica gravado.
Art. 5º
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;
A quebra do sigilo afeta a privacidade, mas outros direitos consagrados na CF, como a segurança
pública, podem ser utilizados como justificativa.
Entende o STF que, em regra, o MP e o TCU não podem solicitar diretamente a quebra de sigilo
bancário, salvo quando houver verba pública envolvida.
CESPE – Procurado do Município JP (2018): Não viola o direito à intimidade a requisição, pelo Ministério
Público, de informações bancárias de titularidade de órgão e entidades públicas, a fim de proteger o patrimônio público.
Correto!
Autoridade administrativa, em 2001 editou-se uma lei complementar (105/01), que dava poderes às
autoridades fazendárias, ao fisco para requisitar dados bancários diretamente, sem necessidade de ordem
judicial. A lei foi objeto de diversas ações de inconstitucionalidades, o tema foi pacificado em fevereiro de
2016, pelo STF. Vejamos o que foi decido:
O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser chamado de
"quebra de sigilo bancário". Isso porque as informações são passadas para o Fisco (ex: Receita Federal) em
caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na Administração Tributária. Logo, é uma tramitação
sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser acessível a terceiros, não pode ser considerado violação
(quebra) do sigilo.
Assim, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/2001 faz não é quebra de sigilo bancário, mas
somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados, até então protegidos pelo sigilo bancário,
prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal. Pode parecer um eufemismo, no entanto, é importante ficar atento
porque isso pode ser exigido nas provas de concurso.
Para o STF, o simples fato de o Fisco ter acesso aos dados bancários do contribuinte não viola a
garantia do sigilo bancário. Só haverá violação se esses dados "vazarem" para pessoas estranhas ao órgão
fazendário. Aí sim haveria quebra do sigilo bancário por ter sido exposta a intimidade do contribuinte para
terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/2001 prevê punições ao responsável, que estará sujeito à pena
de reclusão, de 1 a 4 anos, mais multa, além de responsabilização civil, culminando com a perda do cargo
(art. 10).
CESPE – Procurado do Município JP (2018): A inviolabilidade domiciliar não afasta a possibilidade de agentes
da administração tributária, no exercício da autoexecutoriedade, ingressarem em estabelecimento comercial ou
industrial, independentemente de consentimento do proprietário ou de autorização judicial. Errado!
Quadro-resumo dos órgãos que podem requisitar informações bancárias diretamente (sem autorização
judicial)2:
SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das
instituições financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
MP NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/09/2011).
Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias
de contas de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o
patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário
(STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em 20/10/2015).
2 Márcio Cavalcante.
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/17e62166fc8586dfa4d1bc0e1742c08b?cat
egoria=1&subcategoria=1&assunto=4
Receita Federal SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001. O repasse das informações dos bancos
para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo bancário".
Fisco estadual, SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de competência, o art.
distrital, municipal 6º da LC 105/2001, de forma análoga ao Decreto Federal 3.724/2001.
TRF2 (2018) - Viola o direito fundamental à intimidade o fornecimento, pelas instituições financeiras, de informações
bancárias dos contribuintes à administração tributária, sem a intermediação do Poder Judiciário. Errado!
PC/GO (2018): O sigilo bancário pode ser levantado independentemente de autorização judicial, mas de forma
devidamente regulamentada, pela Receita Federal, pelo Fisco Estadual e pela CPI federal, estadual ou distrital. Correto!
MPE/BA (2018): A quebra do sigilo fiscal, bancário e de registros telefônicos de investigados pode ser validamente
decretada por Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que haja deliberação fundamentada e indicação da necessidade
objetiva da adoção de tal medida extraordinária. Correto!
É a intromissão em uma comunicação, feita por um terceiro, sem o conhecimento dos interlocutores.
O direito ao sigilo das comunicações é previsto no art. 5º, XII da CF/88, e abrange o sigilo das
comunicações telefônicas, telegráficas, dados e correspondências.
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 36
de investigação criminal ou instrução processual penal;
Apesar de o sigilo ser um direito, sabemos que nenhum direito é absoluto, podendo, no caso concreto
ser limitado. Ou seja, se no caso concreto, em um juízo de ponderação e proporcionalidade, for verificada a
necessidade de mitigar o direito à privacidade ou sigilo de correspondência em benefício de outro direito,
nada impede que seja feito.
O STF admitiu, excepcionalmente, que poderia a direção de presídio violar a correspondência de
preso, tendo em vista o uso da correspondência para práticas ilícitas. O preso tem direito à inviolabilidade de
correspondência, todavia, no caso de suspeita deve ser violada. Aqui, o princípio de peso maior (segurança
pública) justifica a violação.
‘Topos’ do STF: Direitos fundamentais não podem ser usados como escudos para práticas ilícitas.
Ou seja, o objeto dos direitos fundamentais não é proteger os indivíduos que praticam atos ilícitos, mas sim
proteger os indivíduos dos abusos do Estado.
Tércio Sampaio Ferraz Jr. e Manuel Gonçalves Ferreira Filho entendem que esses dados seriam
apenas informáticos.
- Os dois dispositivos estariam protegendo esse tipo de sigilo: o inciso X protegeria o conteúdo dos
dados e o inciso XII a transmissão ou comunicação desses dados. Segundo essa posição, o artigo 5º, inciso
XII não protegeria os dados em si, mas apenas a liberdade de comunicação. Entendimento do Sepúlveda
Pertence, costuma ser reproduzido em algumas decisões.
STF - MS 21.729 (voto do rel. min. Sepúlveda Pertence): “Da minha leitura,
no inciso XII da Lei Fundamental, o que se protege, e de modo absoluto, até
em relação ao Poder Judiciário, é a comunicação ‘de dados’, e não os ‘dados’,
o que tornaria impossível qualquer investigação administrativa, fosse qual
fosse”.
Consequência: dados que estão em um computador de uma empresa, por exemplo, estão sujeitos a
serem ‘violados’, isto porque não há direito à privacidade, não há intimidade aqui a ser protegida.
Não há conhecimento de nenhum dos Conversa está sendo gravada por terceira pessoa e
interlocutores um dos interlocutores sabe que está ocorrendo
É o único que recebeu tratamento especial da CF no art. 5º, o qual estabeleceu três requisitos para
ser violada em estados de normalidade:
STF: Interceptação é uma matéria que obedece à chamada cláusula de reserva de jurisdição. Ou seja,
cabe somente ao poder judiciário determinar a interceptação. Assim, é defeso ao MP e às CPI’s
determinarem a interceptação telefônica.
Prisão (art. 5º, LXI) Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei.
Sigilo legalmente imposto a A CPI não pode pedir para ter acesso às informações quando o juiz
processo judicial determina que o processo esteja em sigilo.
As provas decorrentes da escuta telefônica não autorizada são igualmente ilícitas por aplicação da
doutrina “fruits of a poisonous tree”.
IMPORTANTE: A prova obtida com interceptação telefônica (para fins penais) pode ser usada em
PAD contra os mesmos acusados no processo penal ou até mesmo contra outros servidores (prova
emprestada) INQ (QO-QO) 2424/RJ. Na primeira decisão, o STF tinha admitido somente contra os mesmos
réus da investigação criminal. Logo após, mudou o entendimento.
INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO
DPE/RN (2015 – CESPE): A inviolabilidade domiciliar refere-se à residência que o indivíduo ocupa com intenção de
moradia definitiva, mas não alcança seu escritório profissional ou outro local de trabalho. Errado!
Vale dizer que violar domicílio significa adentrar ou permanecer na casa sem o consentimento do
dono.
Exceção: quando o veículo é utilizado para a habitação do indivíduo, como ocorre com trailers,
cabines de caminhão, barcos etc.
1ª Situação: Emergencial: São situações nas quais há um perigo e não é possível esperar ordem
judicial para invadir a casa. São os casos de desastre, prestação de socorro e flagrante delito (mesmo para
fugir). Nessas situações, a casa pode ser invadida em qualquer horário.
ATENÇÃO!
OBS: Flagrante em sentido estrito (não o sentido amplo do Direito processual penal).
CESPE – Procurado do Município JP (2018): Mesmo em caso de flagrante delito, o ingresso forçado de autoridade
policial em domicílio, independentemente de autorização judicial, é condicionado à demonstração de fundada suspeita
de ocorrência de crime no local. Correto!
2ª Situação: Por determinação judicial: somente durante o dia. Está sujeita à cláusula de reserva de
jurisdição.
Resumindo3:
Obs.: No CPC pode ser cumprido até às 20h, desde que não seja necessário invadir.
Mandado começou a ser cumprido durante o dia e se prolongou durante a noite. As provas ali
colhidas têm validade? Em geral, se for operação de grande complexidade, pela razoabilidade, deve-se
considerar válida a prova. Agora, se o mandado começou a ser cumprido pouco tempo antes das 18 e se
prolongou, haveria uma violação à finalidade constitucional. Não seria razoável. Seria prova ilícita.
Dentro de uma casa, o consentimento sobre a entrada cabe ao chefe (marido ou mulher). Os
dependentes e subordinados tem poder somente sobre proporções da casa que lhe são destinadas (quartos,
por exemplo), não quedando, no entanto, o chefe da casa de adentrar em quaisquer dos recintos.
Na discordância entre consentimentos deve prevalecer aquele que proíbe a entrada na casa.
3
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c74d97b01eae257e44aa9d5bade97baf?c
ategoria=1&subcategoria=1&assunto=7
somente em fiscalização para fins de tributo. Se o fiscal assim o fizer, a prova obtida será tida como ilícita.
Salienta-se que a arrecadação do Estado não é uma justificação legítima para a invasão de uma
residência ou de um estabelecimento comercial. Contudo, a saúde pública pode justificar a invasão de um
determinado domicílio, como entendeu o legislador quando houver suspeita de casos
Lei n. 13.301/16, art. 1º: “Na situação de iminente perigo à saúde pública
pela presença do mosquito transmissor do vírus da dengue, do vírus
chikungunya e do vírus da zika, a autoridade máxima do Sistema Único de
Saúde - SUS de âmbito federal, estadual, distrital e municipal fica autorizada
a determinar e executar as medidas necessárias ao controle das doenças
causadas pelos referidos vírus, nos termos da Lei no 8.080, de 19 de
setembro de 1990, e demais normas aplicáveis, enquanto perdurar a
Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional – ESPIN.
§ 1º: Entre as medidas que podem ser determinadas e executadas para a
contenção das doenças causadas pelos vírus de que trata o caput,
destacam- se:
(...)
IV - ingresso forçado em imóveis públicos e particulares, no caso de
situação de abandono, ausência ou recusa de pessoa que possa permitir o
acesso de agente público, regularmente designado e identificado, quando
se mostre essencial para a contenção das doenças.
No Inquérito 2.424/RJ, o STF considerou válida a instalação de escuta ambiental por policiais, no
escritório de advocacia de um advogado suspeito da prática de crimes. A colocação das escutas ocorreu no
período da noite por determinação judicial.
O STF afirmou que a CF/88, no seu art. 5º, X e XI, garante a inviolabilidade da intimidade e do
domicílio dos cidadãos, sendo equiparados ao domicílio, para fins dessa inviolabilidade, os escritórios de
advocacia, locais não abertos ao público, e onde se exerce profissão (art. 150, § 4º, III, do CP). No entanto,
apesar disso, entendeu-se que tal inviolabilidade pode ser afastada quando o próprio advogado seja suspeito
da prática de crime concebido e consumado, sobretudo no âmbito do seu escritório, sob pretexto de exercício
da profissão. Neste caso, os interesses e valores jurídicos, inviolabilidade do domicílio, que não tem caráter
absoluto, deve ser ponderada e conciliada com o direito de puir, à luz da proporcionalidade.
Assim, apesar de ser possível a equiparação legal da oficina de trabalho com o domicílio, julgou-se
ser possível a instalação da escuta, por ordem judicial, no período da noite, principalmente porque durante
esse período o escritório fica vazio, não sendo, portanto, possível sua equiparação neste caso ao domicílio,
que pressupõe a presença de pessoas que o habitem.
6. DIREITO DE LIBERDADE
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
As liberdades não são absolutas, porém para que o poder público possa restringi-las, alguns limites
devem ser observados (limites dos limites). Não pode haver restrição que viole núcleo essencial do
direito, que não obedeça à reserva legal etc. Se isso não for observado, não há legitimidade da restrição.
Importante a distinção entre liberdade negativa e liberdade positiva, feita por Benjamim Constant,
observe:
Também chamada de liberdade civil, dos Também chamada de liberdade política, dos
modernos e do agir. antigos e do querer.
A CF não protege apenas o pensamento em si (e nem precisa, pois qualquer um pode pensar o que
bem entender sem necessidade de qualquer previsão), mas sim a liberdade de manifestar ou expressar o
pensamento.
Segundo o STF, na ADPF 187 (“Marcha da maconha”), defender, no plano de ideias, que o uso de
drogas deve ser descriminalizado é diferente da prática do delito e é diferente da apologia ao fato criminoso.
Isso porque a liberdade de manifestação do pensamento deve ser assegurada, principalmente, quando o
indivíduo tem ideias contrárias às da maioria. Além disso, a democracia em sentido material não se confunde
apenas com a premissa majoritária, sendo que ela deve ser aliada à proteção dos direitos básicos de todos,
inclusive, o direito das minorias.
STF - Rcl 18.638 MC/CE: “[...] 33. A conclusão a que se chega, portanto, é a
de que o interesse público na divulgação de informações – reiterando-se a
ressalva sobre o conceito já pressupor a satisfação do requisito da verdade
subjetiva – é presumido. A superação dessa presunção, por algum outro
interesse, público ou privado, somente poderá ocorrer, legitimamente, nas
situações-limite, excepcionalíssimas, de quase ruptura do sistema. Como
regra geral, não se admitirá a limitação de liberdade de expressão e de
informação, tendo-se em conta a já mencionada posição preferencial
(preferred position) de que essas garantias gozam.”
6.2.3. Restrições
A Constituição assegura o direito de resposta (art. 5º, V da CF), sendo um direito autônomo em
relação ao direito à liberdade.
PF (CESPE – 2021): Como regra, a medida própria para a reparação de eventual abuso da liberdade de expressão é o
direito de resposta ou a responsabilização civil, e não a supressão de texto jornalístico por meio de liminar. Correta!
Indaga-se:
1) Disque denúncia (denúncia anônima) serve como prova processual, uma vez que a Constituição
veda o anonimato? Não se admite a denúncia anônima, pura e simples, como prova processual. O disque
denúncia serve apenas para que a autoridade investigue e colha as provas válidas para a instauração do
processo.
2) As provas colhidas a partir da denúncia anônima não seriam ilícitas por derivação? Segundo o
STF, a investigação é autônoma em relação à denúncia, ou seja, a autoridade policial não fica impedida de
realizar a investigação porque foi feita uma denúncia anônima, o policial tendo conhecimento do fato iria
investigar e acusaria conforme as provas da investigação.
3) Bilhetes ou cartas apócrifos (sem assinatura) servem como prova? Em regra, não.
Exceções: O STF admite quando o bilhete constitui o próprio corpo de delito do crime (ex.: carta
injuriosa é o corpo de delito do crime contra a honra, logo é válida). Outra hipótese que o STF admite ocorre
quando o bilhete sem assinatura é produzido pelo próprio acusado (ex.: bilhete que o sequestrador pede o
resgate). Claro que a utilização do elemento como prova dependerá de perícia etc.
Importante destacar que a igualdade e a dignidade da pessoa humana, de acordo com o STF, são
restrições implícitas à liberdade de expressão. Assim, a incitação ao ódio (hate speech) não está
protegida pela liberdade de manifestação do pensamento.
Também é o entendimento adotado pelo Legislador que criminalizou este tipo de conduta (art. 20 da
Lei 7.716/89)
LIBERDADE DE INFORMAÇÃO
6.3.1. Conceito
A Constituição reconhece esse direito no art. 220, caput, quando estatui que a informação sob forma
alguma, processo ou veículo não sofrerá qualquer restrição. Ou seja, caráter negativo, o estado se
compromete a não intervir, mas também não dá os meios para que a informação seja transmitida.
Excepcionalmente, neste inc. V do art. 5º, podemos enxergar o caráter positivo deste direito, pois aqui,
quando o indivíduo tem a honra maculada devido ao “direito à informação” ou “manifestação do
pensamento”, terá direito de resposta transmitida por esse mesmo meio de comunicação.
A CF não recepcionou o art. 4º do DL 972/69, o qual exige diploma de curso superior de jornalismo
para o exercício da profissão.
O STF decidiu, neste sentido, por encarar a liberdade de informação jornalística umbilicalmente
ligada à manifestação de pensamento e liberdade de informação, por isso, não quis vincular o exercício do
jornalismo ao diploma, para não obstar tais direitos.
Mesmo entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
6.4.1. Conceitos
CF, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou
de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
O Estado deve criar a lei para que a pessoa tenha a opção em caso de violação de sua consciência. Se
o estado não edita a lei, não pode a pessoa ser penalizada.
Destaca-se que objeção de consciência, para ser admitida, deve ser baseada em convicções
seriamente arraigadas, isto é, que poderão causar grave tormento moral, caso o indivíduo seja obrigado a
fazer determinada obrigação. Em suma, deve ser um pensamento suficientemente estruturado, coerente e
sincero.
Indaga-se:
1) Pode-se alegar a escusa de consciência para não se alistar e não votar? Não. Conforme entendeu o
TRF1 (AC 16.203), a obrigação de votar é meramente formal. Em outras palavras, a pessoa é obrigada a
comparecer à votação, mas não é obrigada a votar em determinado candidato ou partido, pode optar pelo
voto em branco ou anular seu voto.
2) Há o direito de realizar provas ou concursos públicos em dias diferentes dos demais, com o intuito
de respeitar o seu dia de guarda (pôr do sol de sexta até o pôr do sol de sábado)? O ideal é que o direito seja
respeitado, tendo em vista que é uma convicção coerente, sincera dessas pessoas. Contudo, não pode haver
prejuízo para os demais participantes do certame. Por exemplo, provas distintas poderiam causar quebra da
isonomia, já que é impossível fazer duas questões com o mesmo nível de dificuldade. Por isso, o ideal é que
a pessoa que alegou escusa de consciência ,
fique em um local reservado, sem contato com o mundo exterior, aguardando passar o período de guarda,
para realizar a prova
O STF (STA 389 AgR/MG) não admitiu que membros de determinada religião realizassem a prova
do ENEM em dia diverso, em razão da violação do princípio da igualdade.
Obs.: tratando-se de provas em faculdades e escolas, a Lei 13.796/2019 alterou a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação permitindo que, mediante prévio e motivado requerimento, o aluno possa
ausentar-se de prova ou da aula nos dias de guarda.
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 51
Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública
ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de
consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado
requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que,
segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais
atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos
para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do
inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:
I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data
alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com
sua anuência expressa;
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com
tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.
§ 1º A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o
plano de aula do dia da ausência do aluno.
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alternativa de que trata este
artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive
regularização do registro de frequência.
§ 3º As instituições de ensino implementarão progressivamente, no prazo de
2 (dois) anos, as providências e adaptações necessárias à adequação de
seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.
§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o
art. 83 desta Lei.
Destaca-se que no Império o Brasil possuía uma religião oficial, mas desde o advento da República
tornou-se um Estado Laico, nos termos do art. 19 da CF/88.
Desde o advento da República, o Estado brasileiro é considerado um Estado LAICO, não
confessional ou secular. Ou seja, é aquele que não tem religião oficial. Há uma separação entre Estado e
Igreja.
Em relação ao ensino religioso ministrado nas escolas públicas, a CF (art. 210, §1º) e o art.
33 da LDB consideram uma matéria facultativa, devendo respeitar a diversidade cultural religiosa que existe
no Brasil, ficando proibido qualquer forma proselitismo (esforço para converter alunos).
É transmitido os princípios e
dogmas de cada religião, a
É transmitido os princípios É transmitida uma visão
exemplo da Católica,
comuns de cada religião. neutra de cada religião.
Protestante, Evangélica,
Espírita.
Na ADI 4.439/DF, por maioria de votos, o STF entendeu que haveria um esvaziamento do ensino
religioso se fosse ministrado na espécie não confessional. O ensino religioso deve ser confessional,
assegurando as várias crenças (pluralismo), substituir os dogmas de fé (núcleo do conceito de ensino
religioso) tornaria uma espécie de filosofia ou sociologia.
MPE/GO (2019): Segundo jurisprudência recente do Supremo Tribunal Federal, o ensino religioso nas escolas públicas de
ensino fundamental, que constituir· disciplina dos horários normais, poderá ter natureza confessional, na medida que
sua matrícula É facultativa nos termos do artigo 210, § 1°, da CF/88. Correto!
Contudo, Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Marco Aurélio e Celso de Mello (minoria) concederam
interpretação conforme à Constituição Federal, em razão da liberdade religiosa e o dever de neutralidade
do Estado, devendo o ensino religioso ter natureza não confessional, transmitindo uma visão neutra de
cada religião.
MPE/GO (2019): É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o
sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana, conforme entendimento recente do STF. Correto!
6.5.1. Conceito
*OBS: estão protegidos pelo art. 60 CF (cláusulas pétreas), embora se refira só a “individuais”.
Há quem diga que são direitos coletivos, no entanto, conforme a doutrina de José Afonso da Silva,
trata-se de direitos individuais de expressão coletiva.
Característica distintiva
6.5.3. Reunião
É uma pluralidade de pessoas que se unem durante determinado tempo, em determinado local, em
defesa conjunta de determinada ideia, com o fim de protestar, expressar opinião ou proteger interesses. Deve
ser pacífica e sem armas.
Reunião não pacífica é aquela em que seus participantes põem em risco outras pessoas ou bens
alheios.
A reunião tem caráter temporário, episódico. As pessoas se reúnem, deliberam sobre o fim proposto,
e a reunião acaba (art. 5º, XVI). Não é necessário autorização de autoridade, basta o AVISO PRÉVIO, para
não frustrar outra reunião e para que a autoridade pública tome as providências necessárias.
Art. 5º, XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
A exigência de aviso prévio existe unicamente para permitir que o poder público zele para
“(...) o ‘prévio aviso à autoridade competente’, nos termos do art. 5º, inciso
XVI, da Constituição, não constitui condicionante ao exercício do direito de
reunião e de manifestação, mas formalidade a ser cumprida, sempre que
possível, a fim de propiciar que o direito de reunião e de livre manifestação
seja exercido de maneira pacífica, ordeira e segura (...)”
O STF afirmou que as autoridades públicas devem adotar uma postura ativa, ou seja, diante de uma
reunião que esteja sendo anunciada publicamente ou mesmo que já esteja ocorrendo, as autoridades não
podem simplesmente alegar que não foram previamente notificadas. Afinal de contas, manifestações
espontâneas (sem estarem previamente organizadas) não são proibidas nem pelo texto constitucional, nem
pelos tratados de direitos humanos. Assim, a inexistência de notificação não torna ipso facto (por si só)
ilegal a reunião.
6.5.4. Associação
Ninguém é obrigado a associar-se, e uma vez associado, ninguém é obrigado a manter-se nessa
condição. (Acepção negativa)
As sociedades unipessoais e as fundações não estão no âmbito de proteção da norma. Apesar disso, o
termo associação deve ser entendido em sentido lato, não ficando restrita à proteção de pessoas jurídicas
regularmente constituídas. Nada impede, no entanto, que o legislador ordinário limite às associações
devidamente registradas o exercício de determinados direitos, numa necessidade de mantença da ordem
pública e defesa de terceiros.
Art. 5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou ASSOCIAÇÃO legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;
4
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/07d5938693cc3903b261e1a3844590ed?p alavra-
chave=As+associa%C3%A7%C3%B5es+podem+propor+a%C3%A7%C3%B5es+coletivas+em+favor+dos+
seus+associados
Em suma (conclusões feitas pelo Prof. Márcio Cavalcante – Dizer o Direito5):
2) A associação precisa da autorização dos associados para propor a ação na defesa de seus
interesses.
3) A autorização dada pelos associados precisa ser expressa e específica para cada ação. Assim, não
é suficiente a autorização genericamente prevista no estatuto da associação.
4) Essa autorização pode ser feita de duas formas: a) por declaração individual do
associado; ou b) por aprovação na assembleia geral da entidade.
6) Para que seja beneficiada pela sentença favorável obtida na ação coletiva proposta pela
associação é necessário que a pessoa: a) esteja filiada à associação no momento da propositura;
b) seja residente no âmbito da jurisdição do órgão julgador; e c) tenha autorizado o ajuizamento da ação e
seu nome esteja na lista anexada junto à petição inicial.
6.5.5. Sindicato
Art. 8º, III - ao SINDICATO cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos
ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas;
5 Idem
6 Idem
A associação é obrigada a apresentar a relação O sindicato não precisa apresentar a relação
nominal dos associados que autorizaram a nominal dos substituídos juntamente com a
demanda juntamente com a petição inicial da ação petição inicial da ação proposta.
proposta.
O sindicato não precisa apresentar a relação nominal dos substituídos juntamente com a petição
inicial da ação proposta
1) Liberdade de reunião;
3) Criação de sindicatos;
7. DIREITO DE PROPRIEDADE
ÂMBITO DE PROTEÇÃO
O art. 5º, XXII da CF garante o direito de propriedade. Assim como os demais direito, não é
absoluto, é apenas prima facie, em algumas hipóteses sofrerá restrições. Nesse sentido, o entendimento do
STF.
CF, art. 5º, XXVI –a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde
que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os
meios de financiar o seu desenvolvimento.
José Afonso da Silva afirma que o regime é de DIREITO PÚBLICO, isso porque a base do direito à
propriedade é constitucional (já foi adoto pelo CESPE em provas).
RESTRIÇÕES
7.3.1. Função social (art. 5º, XXII)
Função social não é apenas uma limitação; ela faz parte do próprio regime, da própria estrutura do
direito de propriedade.
1ª: Afonso da Silva: a função social faz parte da estrutura do direito de propriedade (trata- se
de um elemento), este só é garantido se a propriedade atender à sua função social.
Crítica: Por essa interpretação, se o MST invade uma propriedade improdutiva (sem função social),
tal atitude seria legítima. Não há como compactuar com algo assim. Mesmo não cumprindo a função social a
propriedade tem uma proteção. Ninguém pode ser privado arbitrariamente de sua propriedade.
O STF, em jurisprudência pacífica, entende que a invasão de terra (MST) é ilegítima. O direito de
propriedade, na verdade, recebe uma proteção constitucional mesmo quando não atender a sua função social,
a propriedade está protegida.
2ª: Daniel Sarmento: Se a propriedade cumpre a sua função social ela terá uma proteção maior do
que aquela que não cumpre, ou seja, não é pelo fato de não cumprir a função social que o direito à
propriedade deixa de ser garantido.
Conforme o STF, ninguém pode ser privado do direito de propriedade sem observância do devido
processo legal. STF MS 23006/PB.
A propriedade urbana cumpre a função social quando observa às exigências previstas pelo plano
diretor. Perceba que a CF não estabelece os requisitos, remetendo ao plano diretor.
CF, art. 182, § 4º: É facultado ao poder público municipal, mediante lei
específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal,
do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.
CF, art. 184: Compete à União desapropriar por interesse social, para fins
de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será
definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
7.3.2. Requisição
Art. 5º, XXV - no caso de IMINENTE PERIGO PÚBLICO, a autoridade competente poderá usar de propriedade, assegurada
Art. 139. Na vigência do ESTADO DE SÍTIO decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pe
III - Interesse social: A transferência é feita para gerar benefícios sociais. É a única forma que
justifica a transferência do bem desapropriado para outro particular. Exemplo: reforma agrária.
Na desapropriação SEMPRE haverá indenização. De acordo com a CF, deve ser uma indenização
justa, prévia e em dinheiro (em regra). O pagamento só não será feito em dinheiro nos casos de
“desapropriação-sanção”. São elas:
Percebe-se que, nesse caso, a desapropriação é a última medida para adequar a propriedade à função
social. Nesse caso, o pagamento é feito em títulos da dívida pública. É a única hipótese de pagamento que
não é em dinheiro, no que se refere à desapropriação de imóvel urbano.
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrári
em lei.
Indaga-se:
1) Operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária são isentas de
TRIBUTOS federais, estaduais e municipais? NÃO. ERRADO. Art. 184, §5º. São isentas apenas
de IMPOSTOS. Isenção aqui é o mesmo que imunidade.
Art. 184, § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais
as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de
reforma agrária.
3) Tendo em vista o art. 184, “Compete a União...”, os Estados não poderão desapropriar por
interesse social? Os Estados podem desapropriar por interesse social, mas não para fins de
reforma agrária, sendo, neste caso, atribuição da União (JSCF).
Art. 184. Compete à UNIÃO desapropriar por interesse social, para FINS DE
REFORMA AGRÁRIA, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será
definida em lei.
O STF entendeu que expropriação de terras utilizadas para o cultivo de plantas psicotrópicas, será de
toda a gleba, mesmo que a parte utilizada seja pouca e o resto seja utilizado para cultivar outros alimentos.
Em relação à exploração de trabalho escravo, é necessária uma lei regulamentando. Trata- se de uma
norma de eficácia limitada.
Destaca-se que para o confisco não é necessária uma lei regulamentadora, segundo Novelino. Além
disso, não se exige qualquer outro requisito para que ocorra o STF, basta que o bem seja decorrente tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo.
7.3.5. Usucapião
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem
ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.
§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
O § 2º dispõe que esse direito é reconhecido apenas uma vez ao possuidor, não incidindo sobre
imóveis públicos.
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra,
em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.
Os prazos de posse dos bens previstos na CF são menores (05 anos) que os do CC (05, 10, 15), por
se tratar de modalidade especial de usucapião. Por isso, os requisitos são mais profundos para que a pessoa
adquira o imóvel.
Características comuns:
*Requisitos tradicionais: Posse por cinco anos mansa, pacífica, ininterrupta, precária (não pode
ser um comodato, por exemplo).
*Requisitos especiais:
Por fim, no imóvel rural ainda é necessário que torne a propriedade produtiva com seu trabalho ou
de sua família.
Imóveis públicos não podem ser adquiridos por usucapião (art. 183, §3º e 191, parágrafo
único).
GARANTIAS INDIVIDUAIS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Por outro lado, garantias individuais são os instrumentos/meios para que os direitos sejam
assegurados. Possuem caráter instrumental, ou seja, são consideradas um meio para proteção e obtenção de
um fim. Podem estar ligadas a um determinado valor ou a valores indeterminados.
2. FINALIDADE
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Art. 5º, II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;
Trata-se de uma garantia voltada a direitos individuais diversos, podendo estar relacionada à
liberdade, à propriedade e à segurança jurídica.
3.1.2. Objetivo
Cabe ao Poder Legislativo (órgão máximo de manifestação da vontade popular) a função de criar leis
restritivas aos direitos. Não significa que poderá estabelecer as restrições que bem entender, deve observar as
normas constitucionais, em especial o princípio da proporcionalidade.
3.1.3. Significado
3.1.4. “Lei”
A expressão “lei” deve ser interpretada em sentido amplo, abrangendo a lei ordinária e a lei
complementar (lei em sentido estrito, porque emanada do Poder Legislativo), e também:
Emenda constitucional;
Medidas provisórias;
Leis delegadas;
Decretos legislativos;
Obs.: Decretos emanados do Chefe do Executivo não podem limitar direitos fundamentais, tendo em vista
que não são considerados lei em sentido amplo. Um decreto só poderá regulamentar, nos termos da lei, uma
obrigação. Em tese, não podem criar limitações que não estão previstas em lei. Contudo, no caso dos
decretos editados no período do Covid-19, em virtude do período excepcional vivido e do valor “saúde
pública” da coletividade, relativizou-se o Princípio da Legalidade.
Indaga-se: é possível que um Decreto limite direitos fundamentais? Decreto é um ato infralegal,
previsto no art. 84, IV, da CF, com a função de regulamentar (nos exatos termos da lei), determinada
obrigação.
Vale ressaltar que, em uma situação de normalidade, os decretos do Poder Executivo não poderiam
restringir direitos de forma ampla. No contexto da COVID-19, embora não houvesse previsão expressa no
texto constitucional, a situação foi tão excepcional que o valor “saúde pública” justificou a edição das
normas restritivas de direito.
Importante distinguirmos:
Regulamentação integral da norma por uma lei Permite que a lei fixe os parâmetros para atuação
emanada do Poder Legislativo (lei em sentido que podem ser regulamentados por outro ato, a
estrito). exemplo de um decreto.
Salienta-se que, em um Estado Democrático de Direito, a reserva legal deve ser proporcional. Ou
seja, além da admissibilidade constitucional da restrição, é necessário que a medida restritiva adotada seja
adequada (meio apto para atingir o fim desejado), necessária ou exigível (dentre os meios existentes deve-se
optar pelo menos gravoso) e proporcional em sentido estrito (benefícios devem superar os ônus causados).
3.2.1. Objetivo
3.2.2. Previsão
CF – Art. 5º, XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada;
LINDB - Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Conforme leciona Novelino, ao ser consagrado em uma lei infraconstitucional o princípio será
aplicado ao Poder Executivo e ao Poder Judiciário, mas não será aplicado ao Poder Legislativo que poderá
revogá-lo total ou parcialmente. Por outro lado, quando possui previsão constitucional aplica-se aos três
poderes, não podendo, em regra, ser editada lei com eficácia retroativa.
3.2.3. Abrangência da eficácia retroativa
De acordo com o STF, para que uma lei tenha eficácia retroativa deverá ser oponível a
Portanto, embora a regra seja a não retroatividade da lei, há casos excepcionais em que se admite a
sua retroatividade, a exemplo de uma lei interpretativa, da leis penais que beneficiam o réu.
Conforme o STF, não é possível alegar direito adquirido contra a mudança de regime jurídico.
Consequentemente, o regime jurídico poderá ser alterado, é o que ocorreu com a extinção do recebimento de
quinquênios, por exemplo.
Para o STF, a irredutibilidade de vencimentos é uma modalidade de direito adquirido. Não se pode
reduzir o valor total da remuneração, mas é possível que ocorra a diminuição ou a extinção de alguma
parcela dos vencimentos.
Obs.: Não pode ocorrer a diminuição do valor nominal (R$20.000,00 para R$19.900,00), mas se admite a
redução do valor real.
Exemplos
Tratando-se de emenda constitucional, há certa controvérsia, em razão da redação do art. 5º, XXXVI,
da CF. A expressão “lei” pode ser interpretada em sentido amplo, abrangendo emendas constitucionais ou
sentido estrito, abrangendo apenas lei complementar e lei ordinária. Para a doutrina majoritária e o STF
(atualmente), a emenda constitucional (lei em sentido amplo) não poderá prejudicar o direito adquirido.
STF - ADI 2.356 MC/DF: [...] O art. 78 do ADCT, acrescentado pelo art. 2.º
da EC 30/2000, ao admitir a liquidação ‘em prestações anuais, iguais e
sucessivas, no prazo máximo de dez anos’ dos ‘precatórios pendentes na
data de promulgação’ da emenda, violou o direito adquirido do beneficiário
do precatório, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. [...] Pelo que a
alteração
constitucional pretendida encontra óbice nos incisos III e IV do § 4.º do art.
60 da Constituição, pois afronta ‘a separação dos Poderes’ e ‘os direitos e
garantias individuais.
É pressuposto da coisa julgada material, ou seja, todo processo com coisa julgada
material terá coisa julgada formal. Mas nem todo processo com coisa julgada formal terá
coisa julgada material.
A Constituição protege tanto a coisa julgada formal quanto a coisa julgada formal.
Indaga-se: a coisa julgada administrativa é protegida pela Constituição? De acordo com o STF, a
Constituição não protege a coisa julgada material.
Já vimos que nenhum direito é absoluto, portanto, há casos em que a coisa julgada será relativizada
com fundamento na força normativa da constituição e do princípio da máxima efetividade.
Atenção a Súmula 343 do STF não está superada. O enunciado continua sendo aplicado, mas apenas
em relação à controvérsia legal. No caso de texto constitucional, em razão dos princípios da força normativa
da constituição e da máxima efetividade, admite-se a relativização da coisa julgada. Trata-se do chamado
distinguishing.
SCúPmCu, lart3. 45325d:o STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo
§de12le:i,Pqaura nedfeoitoa doecdiisãposrteoscniondinecnidsoa IsIIedtoiv§er1bº adsesatedoaretimgo,tecxotonsliedgearal
O CPC/15, nos casosTdriebuinnealxFigeibdielirdaal,doeu dfuentdíatudloo eemxeacpulitcivaoçãjoudoiuciianlteerpdreetacç
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
4.1.1. Finalidade
a) Âmbito internacional
DUDH – art. 11.1: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se
presuma sua inocência enquanto não se prove sua culpabilidade conforme
a lei.
CADH – art. 8º, parágrafo I: Toda pessoa acusada de um delito tem direito a
que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua
culpabilidade.
b) Âmbito constitucional
CF, art. 5º
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
CPP
Art. 283: Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da
investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão
preventiva. (Redação antes das alterações do PAC)
Art. 637: O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez
arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à
primeira instância, para a execução da sentença.
Interpretando-se isoladamente o art. 283 do CPP é possível afirmar que se admite a prisão antes do
trânsito em julgado. Contudo, a interpretação deve ser sistemática, analisando o ordenamento jurídico como
um todo, por isso que há divergência de intepretações acerca da possibilidade ou não da prisão.
7
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9b89bedda1fc8a2d88c448e361194f02?pa lavra-
chave=presun%C3%A7%C3%A3o+de+inoc%C3%AAncia
Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução provisória da pena. Desse modo,
se o réu estivesse condenado e interpusesse recurso especial ou recurso extraordinário, teria que iniciar o
cumprimento provisório da pena enquanto aguardava o julgamento. Os recursos extraordinário e especial são
recebidos no efeito devolutivo. Assim, exauridas estão as instâncias ordinárias criminais é possível que o
órgão julgador de segundo grau expeça mandado de prisão contra o réu (STF. Plenário. HC 68726, Rel. Min.
Néri da Silveira, julgado em 28/06/1991).
No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou
a entender que não era possível a execução provisória da pena.
Obs.: o condenado poderia até aguardar o julgamento do REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem
previstos os pressupostos necessários para a prisão preventiva (art. 312 do CPP).
Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas cautelarmente (preventivamente) e não como execução
provisória da pena. Principais argumentos:
A prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título
cautelar.
A execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação significa restrição do direito
de defesa.
A antecipação da execução penal é incompatível com o texto da Constituição. Esse
entendimento durou até fevereiro de 2016.
No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. Teori Zavascki), retornou para a sua
primeira posição e voltou a dizer que era possível a execução provisória da pena.
Principais argumentos:
No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a
sua segunda posição e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de
todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena.
Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento
de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial
individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a
prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em
julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena.
Principais argumentos:
O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, previa que “ninguém
STF - ADC 43/DF, 44/DF e 54/DF: “O Tribunal, por maioria, nos termos e
limites dos votos proferidos, julgou procedente a ação para assentar a
constitucionalidade do art. 283 do Código de Processo Penal, na redação
dada pela Lei nº 12.403, de 4 de maio de 2011, vencidos o Ministro Edson
Fachin, que julgava improcedente a ação, e os Ministros Alexandre de
Moraes, Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia, que a julgavam
parcialmente procedente para dar interpretação conforme.”
Importante consignar que o Pacote Anticrime alterou a redação do art. 283 do CPP, mas o conteúdo é
basicamente o mesmo, passando a prever que:
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência
de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em
julgado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Além disso, os tribunais deverão ficar atentos ao exercício abusivo do direito de recorrer, que visa,
na realidade, postergar o trânsito em julgado e afastar a execução da pena. Como forma de coibir tal
comportamento, o Pacote Anticrime incluiu o III ao art. 116 do CP que prevê que a prescrição não corre
enquanto estiverem pendentes os embargos de declaração ou os recursos aos Tribunais Superiores, quando
estes forem inadmissíveis.
Por fim, a vedação da execução provisória da pena não impede a concessão antecipada dos
benefícios prisionais ao preso cautelar.
De acordo com o STF, o simples fato de um candidato responder a inquérito ou a ação penal, para
que enseje a sua eliminação, deve estar previsto em lei e ser incompatível com a natureza do cargo.
CONCEITO
Destaca-se que não é suficiente a criminalização das condutas previstas na Constituição pelo
legislador ordinária, é preciso observar o princípio da proporcionalidade, principalmente, considerando o seu
viés da proteção insuficiente. Em outras palavras, a criminalização não pode ser irrelevante.
Ressalta-se que há na Constituição mandados de criminalização expressos (CF, art. 5º, XLI, XLII,
XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º) e também implícitos (inviolabilidade do direito à vida).
A Constituição Federal prevê apenas o crime de racismo e a ação de grupos armados contra ordem
constitucional e o Estado Democrático como imprescritíveis.
CF, art. 5º
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
A Constituição prevê quatro crimes como inafiançáveis e insuscetível de graça ou anistia, são eles:
Tortura
Tráfico
Terrorismos
Crimes hediondos
CF, art. 5º
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Obs.: De acordo com o STF (decisão de 2007) possui um entendimento de que o legislador ordinário poderia
criar outras hipóteses de crimes imprescritíveis e insuscetíveis de graça ou anistia. Novelino salienta que não
é possível afirmar que a atual composição do STF manteria o entendimento de 2007. Já na doutrina
permanece o entendimento de que não seria possível a criação pelo legislador ordinário.
6. AÇÕES CONSTITUCIONAIS
CONSIDERAÇÕES
HABEAS DATA
Trata-se de ação constitucional introduzida pela CF/88, como reação ao regime anterior que
armazenava informações pessoais. Atualmente, qualquer pessoa possui o direito de obter informações a seu
respeito que constam em bancos de dados de caráter público.
A Lei que regulamenta o habeas data prevê ainda a possibilidade de impetração para a
complementação das informações contidas no banco de dados.
A Lei que regulamenta o habeas data não traz os legitimados ativos para a sua impetração. Diante
disso, a doutrina majoritária defende uma legitimação ampla, portanto, qualquer pessoa física ou jurídica,
nacional ou estrangeiro poderá impetrá-lo, desde que seja relativa à sua pessoa (ação personalíssima).
Perceba que, por ser uma ação personalíssima, em regra, não se admite que o habeas data seja
impetrado para que se obtenha a retificação de informações de terceiros. Apenas a própria pessoa poderá
impetrá-lo. Contudo, excepcionalmente, a jurisprudência tem admitido que herdeiros e sucessores impetrem,
desde que haja possibilidade de denegrir a imagem do falecido.
Importante consignar que o Ministério Público não possui legitimação, tendo em vista que se trata de
uma ação personalíssima.
Deve constar no polo passivo a própria pessoa jurídica e não a autoridade coatora que a representa.
6.2.4. Objeto
Art. 5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado;
A ressalva constante no dispositivo ativa, conforme o STJ, não pode ser oposta a informações de
caráter pessoal no caso de impetração de habeas data.
6.2.5. Objetivo
Salienta-se que se o objetivo for outro, a exemplo da obtenção de certidões, não caberá
habeas data, mas sim outra ação constitucional (mandado de segurança, por exemplo).
Art. 7º, II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo;
O STJ não admite a cumulação de habeas data para o conhecimento e a retificação de dados (para a
doutrina deveria ser possível, em razão da celeridade e da economia processual). O Superior Tribunal de
Justiça entende que a admissibilidade do habeas data para a retificação de dados está condicionada ao
conhecimento da informação.
A complementação ocorre apenas quando a ausência da informação for apta a gerar alguma espécie
de dano, seja material ou moral.
Para a impetração do habeas corpus a Lei exige que tenha havido recusa ou demora na obtenção da
informação. Não havendo, não será cabível.
Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a
285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os
documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na
segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias
sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze
dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou
do decurso de mais de quinze dias sem decisão.
Diante disso, surgiram questionamentos se isso não seria uma espécie de esgotamento das vias
administrativos, incompatível com o princípio do acesso à justiça. O STJ firmou entendimento de que não há
violação ao acesso à justiça, a exigência trata-se do interesse de agir.
3ª Corrente (Vicente Greco Filho) – o habeas data cognitivo possui natureza mandamental; já o
habeas data retificatório e completivo a natureza é constitutiva.
AÇÃO POPULAR
6.3.1. Considerações
A ação popular é assim chamada em razão de sua legitimidade ativa, a qual é atribuída a qualquer
pessoa do povo ou a uma parte do povo, visando a proteção da res publica (coisa pública). Além disso, trata-
se da manifestação da soberania popular (art. 1º, parágrafo único), já que o cidadão irá fiscalizar diretamente
a atuação dos Poderes Públicos.
CF – Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
Lei 4.717/65 Art. 1º, § 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será
feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.
Em relação aos portugueses, desde que haja reciprocidade por parte de Portugal, terão legitimidade
ativa para o ajuizamento da ação popular. É o que se denomina de “quase nacionalidade”.
O Ministério Público, embora tenha o dever de acompanhar a ação, não possui legitimidade para
propô-la.
Por fim, a pessoa jurídica não possui legitimidade para propor ação popular.
STF - Súmula 365: Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação
popular.
Há, na Lei de Ação Popular, um extenso rol exemplificativo de legitimados passivos. Observe a
redação dos arts. 1º e 6º:
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimô
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridade
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 contra os beneficiários diretos do mesmo
83
Até a Itaipu, empresa binacional, já foi legitimado passivo.
Trata-se de atos de caráter administrativo (de efeitos concretos) ou equiparados. Além disso, os atos
poderão ser omissivos, comissivos, discricionários ou vinculados.
Salienta-se que atos judiciais não podem ser objeto de ação popular, tendo em vista que se deve
utilizar os meios específicos de impugnação. Igualmente, a ação popular não serve como instrumento de
controle abstrato de constitucionalidade. Nesse sentido:
6.3.5. Objetivo
A ação popular visa defender direitos difusos que pertencem à sociedade, por meio da invalidação de
atos lesivos ao patrimônio público ou de entidades de que o estado participe. Em suma, o objetivo é tutelar
bens materiais (patrimônio público) e bens imateriais (moralidade administrativa, meio ambiente, patrimônio
histórico e cultural).
Parcela da doutrina admite a ação popular para a tutela de direitos do consumidor. Tal entendimento,
contraria a jurisprudência do STJ.
Para que o cabimento da ação popular o ato, há divergência acerca da necessidade de lesividade e/ou
ilegalidade do ato impugnado.
6.3.7. Competência
Nos casos em que a União figurar no polo passivo, a ação popular poderá ser proposta nos seguintes locais:
Domicílio do autor;
Distrito Federal.
Importante consignar que o STF, nos casos de competência originária (em razão da competência da
demanda), julgará ação popular. São eles (art. 102, I, alíneas “f” e “n”, da CF):
Quando mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam
direta ou indiretamente interessados;
Salienta-se que as vedações da Lei de Mandado de Segurança são aplicadas à Ação Popular.
Lei 12.016/2009 – Art. 7º, § 2o Não será concedida medida liminar que tenha
por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias86
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e
6.3.9. Decisão de mérito
Ação manifestamente infundada – decisão fará coisa julgada e produzirá efeitos erga omnes.
Não poderá ser proposta nova ação popular;
1. INTRODUÇÃO
Os direitos sociais são consagrados em normas de “textura aberta” (geralmente princípios), ou seja, a
sua concretização fica a cargo dos poderes públicos. Isso é próprio de uma sociedade pluralista, como a
brasileira, pois assim os poderes públicos podem concretizá-los de acordo com a vontade da maioria.
Importante destacar que o art. 6º da CF traz os direitos sociais, já foi alterado algumas vezes. Sempre
para incluir mais algum direito social, a última alteração foi em 2015 e incluiu o transporte como um direito
social.
2. FINALIDADE
Os direitos sociais têm por finalidade precípua proteger os hipossuficientes e os mais fragilizados.
Vale dizer, se todos tivessem igualdade de condições, os direitos sociais não teriam grande utilidade. Tem a
ver com igualdade material, pois permitem que sejam diminuídas ou atenuadas as desigualdades.
3. EFICÁCIA
Qualquer direito fundamental demanda certa onerosidade para que seja efetivado. No entanto, os
direitos sociais são especialmente onerosos, visto que exigem uma atuação estatal. Ocorre que, por conta
disso, sua eficácia acaba ficando diminuída, se comparada com os direitos
de defesa (1ª geração). Aqui, as prestações devem obedecer ao chamado limite do financeiramente possível
(reserva do possível).
Além disso, a maioria dos direitos sociais é previsto em normas não autoaplicáveis (eficácia
limitada), normas de princípio programático. De outro lado, os direitos de defesa são quase totalmente
autoaplicáveis (eficácia plena ou contida). Daí a diferença de efetividade entre eles.
Essa disposição dos direitos sociais em normas programáticas não pode ser vista como um
defeito. Além disso, se explica: trata-se de uma característica da sociedade pluralista. O constituinte deixa
que o legislador ordinário (representante das maiorias) defina os direitos sociais que devem ser priorizados a
cada época, uma vez que não é possível que todos sejam priorizados ao mesmo tempo.
O art.5º §1º da CF estabelece que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tem
aplicação imediata.
Aplica-se a todos direitos fundamentais, inclusive os DIREITOS SOCIAIS (porém aqui tem
Aí surge a seguinte divergência na doutrina, se este dispositivo for interpretado literalmente como
uma regra jurídica que impõe resultado, chegaremos à conclusão de que qualquer direito fundamental, seja
social ou não deve ser aplicado imediatamente. Esta interpretação é adotada por alguns autores, como por
exemplo, Dirley da Cunha Jr. – não se pode exigir uma vontade intermediadora para que eles possam ser
aplicados, segundo ele, todos DF, indistintamente, devem ter aplicação imediata. Então, essa interpretação
feita por ele, é no sentido de que o art. 5º, §1º consagra uma regra: deve ser aplicado na medida exata de suas
prescrições, imediatamente.
O segundo posicionamento, mais correto para Novelino, e cobrado pelo CESPE: é o de Ingo Sarlet
– para ser compatível com a natureza de alguns DF, deve ser interpretada não como uma regra (aplicada na
medida exata de suas prescrições), mas sim como um PRINCÍPIO. As normas devem ter aplicação imediata
na maior medida do possível.
Ex: salário-mínimo. Se não existisse uma lei fixando o salário, não teria efetividade imediata esse
dispositivo.
Nem todos os direitos sociais estão consagrados em princípios, que dependem de outras normas para
terem efetividade. Muitos direitos sociais estão consagrados em regras.
Ex: art. 208, inc. I – aqui temos uma regra, a ser aplicada na medida exata de suas prescrições.
Na década de 90, STJ tinha decisões adotando o entendimento que norma de direito social não
gerava direito subjetivo, o cidadão não podia exigir nada do estado baseado em uma norma de princípio
programático.
Observa-se que, hoje, a atuação do poder judiciário neste ramo é uma atuação bastante forte, em
razão da omissão deliberada do legislador, judiciário mandando entrega de medicamentos, internações etc.
Tentativa de achar um meio termo, em que se assegure os direitos sociais, mas dentro de critérios
racionais, para que não haja distorções.
Exemplo: caso dos medicamentos, o processo não deve ser encarado pelo juiz de modo bilateral –
autor e réu - mas de forma multilateral, uma macro justiça, pois neste caso, não condiz apenas aos envolvidos
no processo, e sim a uma coletividade.
Kelsen defendia a ideia da atuação do Poder Judiciário como “legislador negativo”, à época as
Constituições não determinavam tarefas aos poderes públicos. Atualmente, vemos a figura do “legislador
positivo”, tendo em vista que o Poder Judiciário deve suprir as omissões dos outros poderes, a exemplo de
decisões em mandado de injunção, do reconhecimento da união homoafetiva.
As normas que consagram dos direitos sociais possuem uma “textura aberta”, sua concretização só
será possível por meio de políticas públicas desenvolvidas pelos Poderes Legislativos e Executivos, os quais
foram eleitos democraticamente.
Destaca-se que as políticas públicas são implementadas com os valores arrecadados pelos
Perceba que a democracia não é apenas vontade da maioria, ou realização de eleições periódicas.
Para que haja uma vontade verdadeiramente livre, é necessário assegurar a fruição de direitos básicos. Hoje,
não tem mais aquele caráter formal, ao lado deste tem um caráter substancial também. A fruição dos direitos
básicos deve ser direito de todos e não somente da maioria. Como uma pessoa pode escolher um governante
sem ter acesso à educação, informação, se não tem comida? A escolha não será verdadeiramente livre como
deveria. Está ligada a igualdade material.
Apenas a minoria da população brasileira consegue, efetivamente, ter acesso ao Poder Judiciário.
Logo, muitas vezes (apesar das boas intenções dos magistrados), acaba havendo uma injustiça com a maioria
que não consegue atuação judicial.
Através das políticas públicas a maioria será contemplada, diversamente das decisões individuais.
Contudo, os direitos sociais, por serem prestacionais possuem um custo muito mais elevado. Diante
da escassez de recursos, ao alocar recursos em uma área outra acaba ficando sem, haverá sempre “escolhas
trágicas”, uma vez que não é possível contemplar, ao mesmo tempo, todos os direitos sociais.
Segundo Gilmar Mendes, em tal caso, realizando audiência pública sobre o tema - judicialização da
saúde – alvo de grandes controvérsias no âmbito dos Tribunais Pátrios, foram
O primeiro dado a ser considerado é a existência, ou não, de política estatal que abranja a prestação
de saúde pleiteada pela parte. Isso porque, ao deferir uma prestação de saúde incluída entre as políticas
sociais e econômicas formuladas pelo SUS, o Judiciário não está criando política pública, mas apenas
determinando o seu cumprimento.
Como regra geral a ser adotada, é vedado à Administração Pública fornecer fármaco que não possua
registro na ANVISA. Apenas em casos excepcionais, cuja verificação ocorrerá em concreto, a importação de
medicamento não registrado poderá ser autorizada pela ANVISA.
Exceção: demora irrazoável da ANVISA para apreciar o registro aliada a três requisitos.
8
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4d7a968bb636e25818ff2a3941db08c1?pa lavra-
chave=O+Poder+Judici%C3%A1rio+pode+determinar+que+o+Poder+P%C3%BAblico+forne%C3%A7a+re m
%C3%A9dios+que+n%C3%A3o+est%C3%A3o+previstos+na+lista+do+SUS
É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso
de mora irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido e desde que preenchidos três requisitos cumulativos:
O STF (RE 1165959) fixou mais uma exceção à regra de proibição de fornecimento de medicamento
não registrado na ANVISA, nos casos em que constatada a incapacidade financeira do paciente, o Estado
deve fornecer medicamento que, apesar de não possuir registro sanitário, tem a importação autorizada pela
Anvisa. Para isso, a parte autora precisa comprovar que:
b) não é possível a sua substituição por outro similar constante das listas oficiais de
dispensação e dos protocolos de intervenção terapêutica do SUS.
Off label é uma expressão em inglês que, em tradução literal, significaria “fora de indicação”.
Trata-se do medicamento prescrito para uma finalidade que não estava prevista na bula.
O exemplo mais famoso de medicamento off label é o AAS (ácido acetilsalicílico). Este remédio foi
desenvolvido para ser um mero analgésico. Posteriormente, contudo, percebeu-se que ele servia para outras
finalidades, como, por exemplo, para a prevenção de infartos. Assim, atualmente, muitos médicos
prescrevem o AAS para prevenir infartos, mesmo isso não sendo uma indicação oficial do remédio.
Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de medicamento
para uso off label.
Excepcionalmente, será possível que o paciente exija o medicamento caso esse determinado uso fora
da bula (off label) tenha sido autorizado pela ANVISA.
ATENÇÃO! No caso de saúde suplementar, em regra, o plano de saúde não pode negar tratamento
prescrito pelo médico, mesmo sendo off label.
Como regra geral, deverá ser privilegiado o tratamento fornecido pelo SUS em detrimento de opção
diversa escolhida pelo paciente, sempre que não for comprovada a ineficácia ou a impropriedade da política
de saúde existente; essa sistemática pressupõe, porém, a necessidade de revisão periódica dos protocolos
existentes e de elaboração de novos protocolos - uma vez que o SUS adotou a teoria da Medicina com base
em evidências conjuntamente com um Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas;
Essa conclusão não afasta, contudo, a possibilidade, ainda que excepcional, de o Poder Judiciário, ou
de a própria Administração, decidir que medida diferente da custeada pelo SUS deve ser fornecida a
determinada pessoa que, por razões específicas do seu organismo, comprove que o tratamento fornecido não
é eficaz no seu caso. Assim, em casos excepcionais, os Protocolos
Além disso, os tratamentos experimentais (sem comprovação científica de sua eficácia) são
realizados por laboratórios ou centros médicos de ponta, consubstanciando-se em pesquisas clínicas. A
participação nesses tratamentos rege-se pelas normas que regulam a pesquisa médica e, portanto, o Estado
não pode ser condenado a fornecê-los.
6) Tratamentos novos
Quanto aos novos tratamentos (ainda não incorporados pelo SUS) é preciso muita cautela para
apreciar a matéria. Como frisado pelos especialistas ouvidos na audiência pública, o conhecimento médico
não é estanque, sua evolução é muito rápida e dificilmente suscetível de acompanhamento pela burocracia
administrativa. Se, por um lado, a elaboração dos Protocolos Clínicos e das Diretrizes Terapêuticas privilegia
a melhor distribuição de recursos públicos e a segurança dos pacientes; por outro, a aprovação de novas
indicações terapêuticas pode ser muito lenta e, assim, acabar por excluir o acesso de pacientes do SUS a
tratamento há muito prestado pela iniciativa privada. Nesses casos, a omissão administrativa no tratamento
de determinada patologia poderá ser objeto de impugnação judicial, tanto por ações individuais como
coletivas
5. NORMAS CONSTITUCIONAIS PROGRAMÁTICAS ATRIBUTIVAS DE DIREITOS
SOCIAIS E ECONÔMICOS
Reforça esse entendimento a declaração jurídica de que o estado se submete ao ideal de uma
Democracia substantiva ou material, compromissária com os propósitos da Justiça Social. Em decorrência
disso, é possível sustentar-se que, na hipótese de omissão dos órgãos de direção política (legislativo e
executivo), na realização das tarefas sociais, notadamente quando deflagradoras de direitos sociais, deva
ocorrer um sensível deslocamento do centro de decisões destes órgãos para o plano da jurisdição
constitucional (ADPF 45).
6. RESERVA DO POSSÍVEL
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A expressão “reserva do possível” foi criada pelo Tribunal Constitucional da Alemanha (TCA) em
1972. A Constituição alemã consagrou o direito à educação como direito fundamental. No entanto, algumas
pessoas que não conseguiam acesso à universidade, recorrem ao TCA alegando o seguinte: para elas terem a
liberdade de escolha profissional, o estado alemão deveria proporcionar vagas necessárias para todos, para a
escolha ser livre.
Na sua decisão, o TCA entendeu que, embora seja desejável que todos tenham acesso à universidade,
nem sempre o acesso irrestrito será possível, em razão das limitações de recursos do estado. Mesmo sendo
um direito desejável, a reserva do possível impede que seja usufruído por todos.
Há autores que contestam a aplicação da expressão no Brasil (Andreas Krell – Direitos sociais uma
análise no Brasil e na Alemanha). Segundo Andreas Krell, não é possível uma transposição da reserva do
possível para o direito brasileiro, devido à diferença de realidades entre os dois países. Na Alemanha o grau
de efetivação dos direitos sociais alcançou um nível muito superior, em que já existe um padrão
otimizado de bem-estar social, na medida em que o
Entretanto, Daniel Sarmento afirma que a reserva do possível é um conceito muito mais necessário
aqui do que na própria Alemanha, em razão da limitação orçamentária e da escassez de recursos que temos.
Aqui, a dificuldade de se implementar direitos sociais é muito maior, se não estabelecer quais critérios,
acaba-se criando mais desigualdade. Justamente, para evitar isso é que a reserva do possível teria uma grande
utilidade, para que todos possam usufruir dos mesmos direitos.
DIMENSÕES
Existem três dimensões utilizadas quando se fala em reserva do possível (Ingo Sarlet):
Consiste na disponibilidade de recursos necessários para satisfazer uma prestação relacionada aos
direitos sociais. Deve-se analisar se o Estado possui recursos para atender somente aquela pessoa, ou para
todas as pessoas que se encontrem naquela situação. Cita-se, como exemplo, o direito à moradia. O Estado
não pode garantir moradia apenas para algumas pessoas, mas sim para todas as pessoas que estão da mesma
situação.
Em razão do princípio da isonomia, a análise dos recursos orçamentários deve ser feita não de
forma individual, mas conforme uma universalização da demanda. Se aquela pessoa tem o direito, todas as
pessoas na mesma situação têm o direito também.
Obs.: a inexistência de recursos não se confunde com a má alocação de recursos por parte dos Estados. Há
casos em que o Estado possui recursos suficientes, mas aloca de forma errada. Por exemplo, investe em
propagandas de governo e não em educação. Em tais casos, o Poder Judiciário deve intervir quando for
provado.
Sarmento: tem se entendido que o meio mais adequado para a universalização da demanda, o melhor
caminho seriam as ações coletivas, as quais permitem essa universalização.
Obviamente, o limite deve ser analisado, mas não como algo absoluto, porque senão para qualquer
coisa poderia ser usado o argumento da falta de orçamento.
Dirley da Cunha: a liberdade orçamentária está diretamente ligada à efetivação dos direitos
fundamentais. Os DF’s devem servir de parâmetro para a elaboração de políticas públicas ou planos
econômicos. A constitucionalidade dos orçamentos públicos depende de assegurarem os recursos para
implementação das prestações materiais, objeto dos direitos sociais.
Além da dotação orçamentária, é necessária a análise de qual ente federativo possui a competência para
instituir.
Por exemplo, a saúde é de competência comum, pode ser exigida dos municípios, dos estados ou da
união.
Imagine a seguinte hipótese, dois tipos de medicamento para o mesmo tipo da doença, os dois surtem
efeitos. Porém, o medicamento B é mais eficaz que o A. Acontece que o B custa 20x mais.
O Estado tem como fornecer o A, atendendo grande parte das pessoas, mas se for fornecer o B, não
conseguira fornecer a todas. Qual deverá ser fornecido? A análise é feita pelo juiz, em cada caso concreto.
Caberá ao Estado o ônus da prova, por exemplo, demostrando que o
fornecimento do medicamento A alcançaria um maior número de pessoas, sendo razoável e
proporcional sua prestação.
Quem alega a reserva do possível é o Estado em sua defesa, para não cumprir determinada prestação.
Portanto, o ônus da prova lhe compete, o Estado deve demonstrar como e porque não é possível o
cumprimento da prestação, depende de uma atuação da administração. Para o juiz considerar a reserva do
possível, o Estado deverá demonstrar concretamente, não em alegações genéricas como é geralmente
observado.
O Min. Celso de Mello, na ADPF 45, estabeleceu um critério interessante quanto a isso: não basta
invocar genericamente a reserva do possível, é necessário demonstrar a ocorrência de justo motivo
objetivamente aferível.
NÃO APLICAÇÃO
Não se pode invocar a teoria da reserva do possível, importada do Direito alemão, como escudo para
o Estado se escusar do cumprimento de suas obrigações prioritárias. Realmente as limitações orçamentárias
são um entrave para a efetivação dos direitos sociais. No entanto, é preciso ter em mente que o princípio da
reserva do possível não pode ser utilizado de forma indiscriminada.
Na verdade, o direito alemão construiu essa teoria no sentido de que o indivíduo só pode requerer do
Estado uma prestação que se dê nos limites do razoável, ou seja, na qual o peticionante atenda aos requisitos
objetivos para sua fruição.
9 https://www.dizerodireito.com.br/2014/09/informativo-esquematizado-543-stj_23.html
Todavia, a situação é completamente diversa nos países menos desenvolvidos, como é o caso do
Brasil, onde ainda não foram asseguradas, para a maioria dos cidadãos, condições mínimas para uma vida
digna.
Nesse caso, qualquer pleito que vise a fomentar uma existência minimamente decente não pode ser
encarado como sem razão (supérfluo), pois garantir a dignidade humana é um dos objetivos principais do
Estado brasileiro.
É por isso que o princípio da reserva do possível não pode ser oposto a um outro princípio,
conhecido como princípio do mínimo existencial. Somente depois de atingido esse mínimo existencial é que
se poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em quais outros projetos se devem investir.
IMPORTANTE:
Em provas práticas do MP ou da Defensoria Pública, o candidato, ao preparar uma ação civil pública
requerendo a implementação de alguma política pública, deverá pedir que a verba necessária para essa
medida seja incluída no orçamento estatal a fim de evitar a alegação de violação aos arts. 4º, 6º e 60 da Lei n.
4.320/64 (que preveem a necessidade de previsão orçamentária para a realização das obras em apreço).
CONCEITO
A expressão “mínimo existencial” foi utilizada pela primeira vez pelo Tribunal Administrativo
Federal, em uma decisão de 1953, migrando logo após para o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha
(TCA). No Brasil, a expressão começou a ser usada após a CF/88 pelo professor Ricardo
L. Torres.
Entende-se por “mínimo existencial” o conjunto de bens e interesses indispensáveis a uma vida
humana digna. Não se trata daquilo que todos querem, mas sim de tudo que, se ausente, pode tornar a vida
indigna.
O mínimo existencial é extraído:
Princípio da DPH;
Liberdade material (para ter liberdade material precisamos ter igualdade material ou
substancial);
Como vimos, o mínimo existencial seria o conjunto de bens e utilidades indispensáveis a uma vida
humana digna da liberdade material do Estado Social, este dentro do Estado Democrático de Direito.
Quais seriam esses bens e essas utilidades indispensáveis? Por que falar em um mínimo e não em um
máximo? O professor Ricardo Torres, entende que o mínimo existencial não teria um conteúdo definido,
específico. Segundo ele, este conteúdo é variável, depende do local, da época. Por outro lado, Ana Paula de
Barcellos, também professora da UERJ, entende que o mínimo existencial teria um conteúdo definido,
formado por:
Educação Fundamental;
Direito à saúde;
Acesso à Justiça (fundamental na hipótese de esses direitos acima não serem implementados
pelo estado, a pessoa através desse instrumento possa garantir a efetividade desses direitos);
Direito à moradia (há quem o defenda aqui. Moradia no Brasil como mínimo existencial
– local, abrigo para pelo menos se recolher durante a noite.
Obs.: alguns direitos sociais são princípios e outros são regras; quanto a estes não se pode falar em
mínimo, pois eles devem ser resguardados na exata medida de suas prescrições.
Direitos
Daniel Sarmento: exigirá maior ônus argumentativo - de um lado temos os Direitos Sociais de
outro o Princípio Democrático/Separação dos Poderes/Direito de terceiros. Quando o Mínimo Existencial
estiver nesta ponderação, ele exigirá do Estado um ônus argumentativo ainda maior para o caso de não
cumprir o direito. Portanto, possui caráter relativo.
Ingo Sarlet: mínimo existencial tem caráter absoluto - Seu posicionamento é que, em relação ao
mínimo existencial, o estado não pode alegar a reserva do possível. Como se o mínimo existencial tivesse um
caráter absoluto.
Obs.: STJ adotou a tese REsp 1.185.474/SC. Informativo 431, afirmando que o Estado só pode utilizar
este argumento quando se tratar da real insuficiência de recursos em razão da baixa arrecadação, quando se
tratar de falta de recursos por “escolhas trágicas”, não poderia alegar a reserva do possível.
Ana Paula de Barcellos: orçamento deve priorizar o mínimo existencial - deve ter como meta
prioritária a sua efetivação.
Obs.: A vedação de retrocesso social relativa aos direitos sociais não se confunde com a vedação ao
retrocesso dirigida ao Poder Constituinte Originário (limites materiais), que não o permite um retrocesso dos
direitos fundamentais já conquistados.
FUNDAMENTOS
DEFINIÇÃO
Trata-se de um impedimento, dirigido aos poderes públicos, de extinguir ou reduzir, de forma
desproporcional e injustificado, o grau de concretização alcançado por um direito fundamental prestacional.
José Carlos Vieira de Andrade (doutrinador português) – diz que a concretização de um DS, acaba
fazendo parte do conteúdo do próprio direito, se incorporando a ele. Raciocínio: é como se a concretização
do direito social pelo Poder Público tivesse o condão de integrar esse direito, ela passa a ter status de norma
materialmente constitucional, é como se os DS “fosse uma esponja que draga a concretização,
fazendo esta parte daquela”. Por isso, é que não se admite um retrocesso desses direitos. Passa a fazer
parte do que é chamado de “bloco de constitucionalidade” (sentido amplo).
ACEPÇÕES
Crítica: O poder público acaba ficando engessado pelas prioridades estabelecidas pelos governantes
anteriores, pois não pode restringir o orçamento dado para outros direitos sociais a fim de concretizar novas
prioridades. Ela praticamente elimina a liberdade de conformação legislativa.
A redução deve-se justificar (ex: pela redução do orçamento, pela prioridade de outros direitos).
A segunda corrente é mais correta. Até porque a regra é a livre escolha de prioridades pelo poder
público. O princípio da vedação do retrocesso deve ser tratado como uma exceção.
Vedação do retrocesso atinge somente os direitos sobre os quais haja um consenso profundo.
DIREITOS DE NACIONALIDADE
1. ESPÉCIES DE NACIONALIDADE
A nacionalidade pode ser adquirida por ato de vontade (escolha em tornar-se nacional) ou por
previsão do ordenamento jurídico (nascimento, laços consanguíneos).
São os considerados brasileiros natos, as hipóteses de nacionalidade originária estão previstas no art.
12, I, CF.
O critério para adquirir está nacionalidade referem-se ao nascimento do indivíduo, não está
relacionada à manifestação de vontade.
O primeiro critério é o jus solin, segundo o qual é brasileiro nato o indivíduo que nasce em
território brasileiro. É utilizado, geralmente, em países de imigração. O Brasil adota no art. 12, I, a, da CF
este critério, excetuando o critério funcional, ou seja, não serão considerados brasileiros natos os nascidos no
Brasil quando o pai e a mãe (estrangeiros) estiverem a serviço do país de origem, uma vez que o país de
origem irá reconhecer a nacionalidade originária da criança.
Obs.: a exceção refere-se a ambos os pais a serviço de seu país ou um deles deve estar apenas acompanhando
o outro. Assim, um diplomata que casa com uma brasileira e tem um filho não será aplicada a exceção, uma
vez que esta não o estava acompanhando e nem era sua esposa.
Obs.: Os pais devem estar a serviço de seu próprio país. Desta forma, se um argentino a serviço da Espanha
tem um filho no Brasil este será brasileiro nato.
Obs.: Neste caso, apenas um dos pais precisa estar a serviço do Brasil. Assim, caso um brasileiro a serviço
do Brasil tenha um filho com uma italiana este será considerado brasileiro nato.
Há uma quarta hipótese, não prevista no texto constitucional, que é defendida por parte da doutrina
como sendo de nacionalidade originária, são os casos de adoção. Estes autores, com base no art. 227, § 6º,
CF, sustentam que seria possível atribuir a nacionalidade originária aos filhos estrangeiros adotados (não é
um entendimento pacífico).
Confere ao indivíduo o status de brasileiro naturalizado, está prevista no art. 12, II, CF. Decorre de
Obs.: A naturalização tácita não se confunde com a involuntária, em que a nacionalidade é adquirida mesmo
contra a vontade da pessoa.
Na naturalização tácita o indivíduo não precisa manifestar a sua vontade, basta que não faça nada. É
adotada, geralmente, por países que querem aumentar o seu índice populacional.
Neste caso, segundo o entendimento do STF, trata-se de um ato vinculado, ou seja, a pessoa possui
um direito público subjetivo.
A utilização da expressão “desde que requeiram” lhe confere uma garantia, sendo um ato vinculado.
Possui previsão apenas na Lei de Imigração, dispensa a residência no Brasil como requisito.
Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em
- seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exteri
- seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Bras
Art. 69. São requisitos para a concessão da naturalização especial: I - ter capacidade civil,
- comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e
- não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.
2. “QUASE NACIONALIDADE”
O indivíduo não é considerado brasileiro nato nem brasileiro nacionalizado, no entanto, possui os
mesmos direitos dos brasileiros. Esta hipótese, prevista no art. 12, § 1º, CF é aplicada apenas aos
portugueses, desde que exista reciprocidade por parte de Portugal. Ou seja, os direitos conferidos aos
portugueses pelo Brasil devem ser os mesmos conferidos aos brasileiros em Portugal.
Por exemplo, um português que reside no Brasil pode ser candidato ao cargo de Deputado Estadual,
Deputado Federal, Governador ou Prefeito, desde que Portugal admita que um brasileiro residente em
Portugal possa se candidatar a cargos políticos lá.
Apesar da CF não fazer distinção entre brasileiro nato e naturalizado no referido dispositivo, fica
claro que eles terão os mesmos direitos do brasileiro naturalizado. Os direitos dos brasileiros naturalizado são
os mesmo direitos do brasileiro nato, salvo os casos previstos na CF.
CARGOS PRIVATIVOS
Alguns cargos só poderão ser ocupados por brasileiros natos. A CF estabelece dois critérios:
Segurança nacional.
CONSELHO DA REPÚBLICA
O art. 89, VII prevê que seis dos assentos do Conselho devem ser reservados aos brasileiros natos,
tendo em vista que este é um órgão consultivo do Presidente da República.
EXTRADIÇÃO
Brasileiro nato não pode ser extraditado em hipótese alguma (art. 5º, LI, CF).
Art. 5º, LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime co
lei;
Crime praticado após a naturalização irá gerar a extradição, desde que seja o crime de tráfico de
entorpecentes e drogas afins.
Segundo a súmula 421 STF, o estrangeiro casado com brasileira ou pai de brasileiro pode ser
extraditado:
STF – Súmula 421: Não impede a extradição a circunstância de ser o
extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro.
Não pode ser confundida com a súmula 01 STF (“É vedada a expulsão de estrangeiro casado com
brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente da economia paterna”), que se refere à expulsão de
estrangeiro, neste caso não é possível.
No caso de extradição, o indivíduo pratica um crime em outro país que irá requer ao Estado
brasileiro que efetue a extradição ao país de origem. Na expulsão o ato nocivo é praticado dentro do território
nacional, ocasião em que será expulso do país.
Há, ainda, a deportação que ocorre nos casos de situação migratória irregular.
Para que ocorra a extradição é necessário que o ato praticado seja punido no Brasil e no país
requerente.
STF – Ext 890/PT: A extradição não será concedida, se, pelo mesmo fato
em que se fundar o pedido extradicional, o súdito estrangeiro estiver sendo
submetido a procedimento penal no Brasil, ou, então, já houver sido
condenado ou absolvido pelas autoridades judiciárias brasileiras. - Ninguém
pode expor-se, em tema de liberdade individual, à situação de duplo risco.
Essa é a razão pela qual a existência de situação configuradora de "double
jeopardy" atua como insuperável obstáculo ao atendimento do pedido
extradicional. Trata-se de garantia que tem por objetivo conferir efetividade
ao postulado que veda o ‘bis in idem’. Precedentes.
Não será possível a extradição pela prática de crime político ou de opinião, visa evitar perseguições
políticas.
CF Art. 5º, LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
Lei 13.455/2017 – Art. 82. Não se concederá a extradição quando: VII - o fato constituir cr
Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
V - não considerar qualquer motivo político para agravar a pena; e
Salienta-se que os direitos fundamentais serão aplicados ao pedido de extradição. Por exemplo, se o
país requerente pune com pena de morte, o Brasil só irá autorizar se houver o comprometimento de que seja
aplicada outra espécie de pena.
Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
III - comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de
liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) 40 anos
(em razão das alterações do Pacote Anticrime);
e) Princípio da Especialidade
Para a concessão é necessário que a extradição seja condicionada ao objeto do pedido. Por exemplo,
a extradição é pelo crime de latrocínio, chegando ao país requerente apenas por este poderá ser processado e
julgado.
Art. 96. Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado
requerente assuma o compromisso de:
I - não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao
pedido de extradição;
Caso não haja tratado de extradição entre o Brasil e país requerente, sendo celebrado após a
ocorrência do crime, poderá retroagir e ser autorizada a extradição.
4. PERDA DA NACIONALIDADE
NATURALIZAÇÃO VOLUNTÁRIA
Obs.: a ressalva feita pela alínea “a” do § 4º, do art. 12, CF, se aplica apenas aos brasileiros natos.
Imagine que um brasileiro nato, voluntariamente, adquira a nacionalidade de outro país, porém este
não admite a dupla nacionalidade. Nesta hipótese, ele perde a nacionalidade brasileira passando a ser um
estrangeiro. Pode, posteriormente, adquirir novamente a nacionalidade brasileira? Na hipótese do inciso I
não pode. Em relação ao inciso II é possível.
Neste caso, passa a ser brasileiro nato ou será considerado brasileiro naturalizado? Na doutrina há
posicionamento nos sois sentidos. Jose Afonso da Silva entende que se quiser novamente adquirir a
nacionalidade brasileira será brasileiro nato (minoritário). Porém, o posicionamento majoritário (defendido
por Valério Mazzuoli, Alexandre de Morais), afirmam que será considerado brasileiro naturalizado, uma vez
que a partir do momento que ele, voluntariamente, adquiriu outra nacionalidade seu status é de estrangeiro,
para voltar a ser brasileiro terá que passar por um procedimento de aquisição de nacionalidade (manifestação
de vontade) e não por meio originário.
DIREITOS POLÍTICOS
1. CONSIDERAÇÕES
Os direitos políticos são direitos públicos fundamentais conferidos aos cidadãos para que possam
participar da vida do Estado. Podem ser divididos em dois grandes grupos: direitos políticos positivos e
direitos políticos negativos.
Os direitos políticos negativos importam em limitações aos direitos políticos, ou seja, impedem que
o indivíduo exerça os direitos políticos. Divide-se em inelegibilidades, perda dos direitos políticos ou
suspensão dos direitos políticos.
SUFRÁGIO
POSITIVOS ALISTABILIDADE
ELEGIBILIDADE
DIREITOS
POLÍTICOS
INELEGIBILIDADES
PERDAS DOS
NEGATIVOS DIREITOS POLÍTICOS
SUSPENSÃO DOS
DIREITOS POLÍTICOS
SUFRÁGIO
Trata-se do direito político em si, não se confunde com o voto e com escrutínio.
SUFRÁGIO VOTO ESCRUTÍNIO
RESTRITIVO UNIVERSAL
ALISTABILIDADE
a) Direto – o povo escolhe seus representantes. Possui como exceção o art. 81, § 1º, CF. Porém,
esta não é uma norma de observância obrigatória;
b) Igual – o voto possui o mesmo valor para todos (art. 14, CF). “On person, one vote”
e) Personalíssimo - trata-se de algo intransferível. Somente o próprio titular é que pode exercer
o seu direito de voto.
Em relação ao voto impresso, o STF considerou inconstitucional, tendo em vista que poderia macular a sua
liberdade.
STF – ADI 4543 MC (6.11.2013): “A exigência legal do voto impresso no
processo de votação, contendo número de identificação associado à
assinatura digital do eleitor, vulnera o segredo do voto, garantia
constitucional expressa”
Em 2015, houve uma mudança na legislação para que o voto fosse impresso e depositado na urna,
mas o STF entendeu, novamente, que o art. 59-A e o parágrafo único vulneravam a liberdade do voto,
permitindo a identificação do eleitor.
No Brasil tanto o alistamento eleitoral quanto o voto são obrigatórios para alguns e facultativos para
outros.
O voto é obrigatório para as pessoas que possuem entre 18 e 70 anos, lembrando que esta
obrigatoriedade não é cláusula pétrea (alguns sustentam que é implícita). O voto será facultativo para os que
possuem idade entre 16 e 18 anos; maiores de 70 anos e para os analfabetos.
As pessoas que possuem faculdade para votar podem exercê-la mesmo que estejam alistados.
a) Conscritos: são aqueles que prestam alistamento militar obrigatório. O conceito de conscrito
abrange: médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários durante o período do serviço militar obrigatório
(não são os que fazem concurso público para estes cargos).
b) Estrangeiros: a nacionalidade é uma das condições para o exercício dos direitos políticos, salvo os
casos de quase nacionalidade (art. 12, §1º, CF).
ELEGIBILIDADE
Idade mínima – com 35 anos (Presidente e Vice, Senador) a pessoa adquire a plena cidadania (pode
ser eleita para qualquer cargo); 30 anos (Governador e Vice); 21 anos (Prefeito, Vice, Deputado e Juiz de
paz) e 18 anos (Vereador).
O STF faz uma distinção entre as condições de elegibilidade (direitos políticos positivos art.
14, § 3º) e outras hipóteses de inelegibilidade (direitos políticos negativos – art. 14, § 9º).
Lei 9.504/97 – Art. 11, § 2o A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condiç
INELEGIBILIDADES
Somente podem ser estabelecidas pela Podem ser criadas por lei complementar (art.
própria CF 14, § 9º)
A) INELEGIBILIDADE ABSOLUTA
B) INELEGIBILIDADE RELATIVA
A inelegibilidade relativa para outros cargos também será aplicada apenas ao Chefe do
Poder Executivo. Será possível a sus candidatura para outro cargo, desde que se
desincompatibilize seis meses antes, nos termos do art. 14, §6º da CF.
Art. 128, § 5º: Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultadaaos
Limita os parentes até segundo grau, consanguíneos ou por adoção, ser titular de
mandato eletivo.
Outras hipóteses – o art. 14, §9º da CF prevê que Lei Complementar (64/90) estabelecerá
outras hipóteses de inelegibilidades, com o intuito de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder
econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta
ou indireta.
PERDA SUSPENSÃO
A cassação é a retirada arbitraria dos direitos políticos, não é admitida no Brasil, vetada (art.
15).
CONCEITO
De acordo com o Princípio da Anterioridade Eleitoral, toda lei que modificar o processo eleitoral,
possui eficácia diferida (adiada) para o pleito seguinte.
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de
sua vigência.
FINALIDADE
Visa impedir alterações casuísticas no processo eleitoral, as quais poderem romper a igualdade entre
os candidatos e os partidos políticos.
CLÁUSULA PÉTREA
De acordo com o STF, o Princípio da Anterioridade Eleitoral é uma garantia individual do cidadão
eleitoral, por isso é considerado uma cláusula pétrea. Desta forma, mesmo o poder derivado reformador está
obrigado a observá-lo.
Além disso, o STF (RE 637.485/RJ) entendeu que as decisões do TSE, em razão de seu caráter
normativo, devem observar o referido princípio.
5. PARTIDOS POLÍTICOS
De acordo com o TSE, com base no art. 17, I, da CF, deveria haver verticalização nas eleições. Desta
forma, quando determinado partido fizesse coligação na eleição para Presidente da República (em âmbito
nacional), nas eleições regionais (governador) o partido só poderia concorrer sozinho ou com a mesma
coligação nacional ou com um partido que não tivesse feito nenhuma coligação nacional. Não se aplicava
para as eleições municipais.
Como intuito de afastar a regra da verticalização, editou-se a EC 56/2006, para que os partidos
tivessem autonomia na escolha de suas coligações. Como foi feita dentro do período de um ano, em razão do
Princípio da Anterioridade Eleitoral, não pode ser aplicada às eleições de 2006.
Em 2017, editou-se a EC 97/2017 que visava diminuir o excessivo número de partidos existentes no
Brasil, criou-se cláusula de barreira, restrição para coligações e exceção para a fidelidade partidária.
Art. 17, § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua
estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de
seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas
coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas
eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade
partidária.
Importante consignar que os partidos políticos possuem natureza jurídico de direito privado.
Em relação à fidelidade partidária, o TSE (Consulta 1398/DF) criou uma norma prevendo que
partidos políticos e coligações têm direito de preservar a vaga obtida pelo sistema proporcional (não se
aplica fidelidade partidária no sistema majoritário, conforme o STF - ADI 5081) nos casos de:
A perda do cargo, nas duas hipóteses, somente irá ocorrer quando não houver justa causa. O TSE
considera justa causa a incorporação ou fusão do partido, a criação de novo partido, a mudança substancial
ou desvio reiterado do programa partidário ou a grave discriminação pessoal do dono do mandato. O STF, no
MS 26303, corroborou o entendimento do TSE.
Art. 17, § 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos
no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem
perda do mandato, a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa
filiação considerada para fins de distribuição dos recursos do fundo
e de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda
partidário
Constitucional nº 97, de 2017)
Em 2021, a EC 111/2021 acrescentou o §6º ao art. 17 da CF, tratando de forma mais detalhada sobre
o instituto da infidelidade partidária:
Salienta-se que a fidelidade partidária só existe para os detentores de cargos eletivos proporcionais
(não existe dever de fidelidade partidária para os ocupantes de cargos majoritários).
Vale ressaltar que, mesmo antes da EC 111/2021, esse já era o entendimento do STF sobre o tema:
(...) O ponto central discutido na presente ação é totalmente diverso: saber
se é legítima a extensão da regra da fidelidade partidária aos candidatos
eleitos pelo sistema majoritário.
2. (...) As características do sistema proporcional, com sua ênfase nos votos
obtidos pelos partidos, tornam a fidelidade partidária importante para
garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da eleição
sejam minimamente preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a perda
do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu.
3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador,
prefeito e senador, tem lógica e dinâmica diversas da do sistema
proporcional. As características do sistema majoritário, com sua ênfase na
figura do candidato, fazem com que a perda do mandato, no caso de
mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere a soberania popular
(CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput). (...)
(ADI 5081, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 27/05/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-162 DIVULG 18-08-2015
PUBLIC 19-08-2015)
O parágrafo único do art. 22-A da Lei nº 9.096/95 prevê três hipóteses que são consideradas como
justa causa para o desligamento da pessoa do partido político. Em outras palavras, se o titular do mandato
eletivo proporcional deixar o partido e se verificar uma dessas três situações, ele não perderá o cargo. Reveja
o dispositivo:
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
1. DISTINÇÕES
FORMAS DE GOVERNO
Utiliza-se como critério de definição o tipo de instituição, por meio da qual o Estado se organiza,
para regular a disputa do poder político e o seu exercício. Em outras palavras, as formas de governo tratam
da relação entre os governantes e os governados.
MONARQUIA REPÚBLICA
Governo de indivíduos: representação do Governo de todos: o titular da soberania
poder no monarca. passa a ser o povo.
Características: Características:
Irresponsabilidade política do monarca; Responsabilidade política do governante;
Hereditariedade: o poder se transfere Eletividade: os representantes são eleitos
através de laços sanguíneos; para a representação;
Vitaliciedade: o monarca fica no poder Temporariedade: eleições periódicas para
até o final de sua vida. escolher os representantes da república.
Utiliza-se como critério a forma de articulação entre os poderes políticos. Ou seja, a maneira como
Poder Executivo e o Poder Legislativo se articular.
PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO
As funções de chefe de estado e de chefe de
governo são exercidas por pessoas distintas.
Surgiu nos Estados Unidos, em 1787. No Brasil é Chefe de estado: depende da forma de
adotado desde 1.889 até os dias atuais, salvo nos governo adotada.
anos de 1961 a 1963 em que se adotou o sistema Monarquia – monarca (Reino Unido,
parlamentarista. Espanha, Japão);
Parlamentarismo Republicano –
Presidente da República (Alemanha,
As funções de chefe de estado e chefe de governo Áustria, Índia).
se concentram em uma só pessoa, verdadeira fusão É uma figura representativa, simbólica.
do Poder Executivo. Chefe de governo: primeiro-ministro
(governa com a ajuda do gabinete) é
uma espécie de ministério.
Responsabilidade:
Caracteriza-se pela dualidade entre Chefe de Estado e Chefe de Governo, as duas figuras são
separadas.
Chefe de Estado é eleito diretamente pelo povo e desempenha funções políticas relevantes (não é
uma figura meramente simbólica). O Presidente da República escolhe o primeiro- ministro, propõe
projetos de lei, convoca referendos, propõe ações de constitucionalidade, pode dissolver o
parlamento.
FORMAS DE ESTADO
São mecanismos de distribuição vertical do poder político, a forma como é distribuído no espaço.
Um centro de poder incidindo sobre a mesma Mais de um centro de poder sobre a mesma
população e o mesmo território. população e território.
Salienta-se que desde o descobrimento do Brasil até a República, tínhamos o Estado Unitário. O
Estado Federal foi consagrado pela Constituição de 1891 (foi criada República Federativa).
2. TIPOS DE FEDERALISMO
QUANTO AO SURGIMENTO
Este tipo de federalismo surge quando Estados Soberanos renunciam a uma parcela de sua soberania
para formar um ente único, passam a ser autônomos. Aqui, o Estado surge de um movimento centrípeto, o
poder foi dos estados periféricos para um ente do centro.
O Estado que deriva do federalismo por agregação é chamado de Estado perfeito, Estado por
associação ou de Estada por aglutinação.
Nesta espécie de federalismo, o poder central (Estado Unitário) é repartido para outros
entes.
Foi o que aconteceu no Brasil, em que um Estado Unitário repartiu sua competência com outros
entes, este movimento foi centrifugo (saiu do centro para entes periféricos).
É aquele que busca uma repartição equilibrada de competência, a exemplo do que ocorre na
Alemanha.
Nesta espécie, há uma relação de coordenação entre a União e os Estados, vinculada por meio de
uma repartição horizontal de competências. Não há hierarquia entre a União e os Estados membros,
estão situados no mesmo plano e cada um tem suas normas próprias (competências determinadas pela CF),
há um equilíbrio entre eles.
Há uma relação de subordinação dos Estados à União, veiculada por meio de uma repartição
vertical de competências. A União estabelece as diretrizes que os estados-membros devem seguir, e
estes estão subordinados às leis federais. Há uma hierarquia entre lei federal e lei estadual. Adotado pelo
Brasil na CF/67 e CF/69.
Busca-se o meio termo entre o federalismo dualista e o federalismo por integração. Há uma
repartição horizontal de competências, mas algumas delas ficam sob a tutela da União (repartição vertical).
Federalismo dual
O objetivo desse modelo de federalismo, tanto que surgiu na formação dos EUA, um período em que
prevalecia o constitucionalismo liberal, portanto o objetivo do federalismo dual é o mesmo da separação
de poderes – limitar o poder, conter o poder do Estado. Isos porque evidentemente, dividindo-se as
funções estatais não só entre os poderes do Estado mas também entre entes federativos, há um novo
mecanismo de divisão do poder. Não só horizontal entre os poderes, mas também vertical entre os entes
federativos. Que faz com que não só um poder do Estado contenha o outro no exercício de suas
atribuições, mas que faz também que um ente federativo contenha o outro no exercício de suas
E o modelo de divisão de competências – já foi falado e se reitera agora pelo ensejo do tema – é o modelo
em que as competências enumeradas são dadas a União federal, e as competências remanescentes, ou
residuais, que é o que sobra, ficam para os estados.
É curioso notar que apesar do direito brasileiro ter incorporado esse modelo do federalismo dual desde a
nossa primeira Constituição republicana (Constituição de 1891) - que aliás era uma Constituição bastante
influenciada pelo direito constitucional norte-americana (federalismo dual, presidencialismo, divisão do
Judiciário em federal e estadual, controle difuso e incidental de constitucionalidade, dentre outras
normas), então se importou vários instrumentos do direito norte-americano, dentre eles o federalismo
dual - só que com uma diferença essencial. Nos EUA poucas eram, e poucas são as competências
enumeradas na Constituição Federal. (minha obs – para a União). No Brasil o rol de matérias como
veremos adiante de competências enumeradas da União é amplíssimo. O que revela uma centralização
do poder muito maior no Brasil do que nos EUA. Mas fato é que esse modelo de federalismo dual - com
variações importantes - mas o modelo é adotado desde 1891 no Brasil.
E é exatamente esse o objetivo do federalismo por cooperação. É a uniao de esforços entre os entes
federativos para a perseguição de objetivos comuns.
Então a lógica é a das competencias comuns e concorrentes. Que não reciprocamente excludente – essa
lógica, como é a das competências privativas e exclusivas. Não é, porque vimos que competências
privativas e exclusivas significa que dar pra um é tirar do outro; competências concorrentes ou comuns
não. Ambos prestam de maneira organizada, com uma divisão interna de trabalho, mas ambos prestam, os
Trata-se de uma análise feita dentro do Estado, acerca da simetria ou assimetria entre os entres de
mesmo grau da Federação, por exemplo, a competência entre os Estados membros são ou não iguais.
Jurídica
Fática
Exemplo: Alemanha.
Há tratamento jurídico diferenciado entre os entes federativos do mesmo grau, ocorre para respeitar
diferenças culturais ou para reduzir diferenças (desigualdades sociais).
Exemplo: Canadá.
Em razão das desigualdades existentes, a CF confere alguns tratamentos assimétricos. Por isso, há
doutrina que entende o Brasil como caso de federalismo simétrico com algumas características de
federalismo assimétricos.
E aí uma questão preeliminar importante pra se colocar é que é preciso primeira se identificar que
tipo de assimetria se coloca. Se há uma assimetria no plano material ou plano jurídico. Esse é um
ponto que precisa ser esclarecido – se a assimetria é no plano material ou plano jurídico. Isso é
importante porque uma assimetria no plano material significa que o pais é muito diverso no
aspecto cultural, linguístico, econômico, social, geográfico. Isso é uma assimetria no plano
material. Outra coisa é a assimetria no plano jurídico, que é a atribuição aos entes federativos de
diferentes poderes.
E essa diferenciação é importante, porque começando pelo plano material – plano cultural,
linguístico, econômico, social, geográfico – todo Estado federal é como vimos em alguma medida
assimétrico sob esse aspecto. Se o Estado for mínimo, homogêneo, não faz sentido nenhum ele
adotar a forma federativa de Estado. Porém havendo uma nível de assimetria, justifica-se o
federalismo. Então fala-se que uma federação é assimétrica nesse plano material se o nível de
disparidade cultural, linguístico, econômico, social, geográfico for grande. É o caso do Brasil.
Comparando o município do SP ou RJ com município do interior da Amazonia, as realidades
materiais são radicalmente diversas. Então no plano material o federalismo brasileiro é
assimétrico.
Porém no plano jurídico o federalismo brasileiro é simétrico. Isso porque a CF88 trata o município
do RJ e de SP de maneira igual ao município do interior do Amazonia. Ambos são municípios,
regidos pelo mesmo artigo da CF88, e com os mesmos poderes. Então no aspecto jurídico a
federação é simétrica.
Trata-se de uma análise sob o ponto de vista externo. Baseada na classificação de Raul Machado
Horta.
É aquele que permite a identificação das características dominantes frequentemente encontradas nos
outros estados. Há uma simetria entre a federação e as demais federações existentes (outros países).
Poder Judiciário dual, ou seja, há um poder judiciário estadual e um poder judiciário federal;
Poder constituinte originário com sede na União e poder constituinte decorrente com sede nos
estados-membros, em relação à constituição estadual é poder constituinte.
Concepções de José Tarcísio de Almeida Melo, entende que o Brasil adotou o federalismo
assimétrico, a exemplo da Bélgica e do Canadá. Outra parte da doutrina entende que o Brasil adota o
federalismo simétrico, mas com algumas exceções ao federalismo assimétrico.
caso do Brasil.
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO
É materializado através do Senado Federal, por isso cada estado possui o mesmo número de
senadores, pois representam os Estados.
Há uma parte na CF/88 que se dirige exclusivamente à União, é o que os autores chamam de
Constituição Federal (art. 59 e ss), isso ocorre porque a União não possui uma Constituição só sua como os
Estados (Poder constituinte decorrente).
A União tem natureza peculiar na Federação, uma vez que, ora atua como pessoa jurídica de direito
constitucional, ora como pessoa jurídica de direito internacional. Na primeira hipótese, ela atua por si
mesma, age em nome próprio, como entidade integrante da Federação. Na segunda
hipótese, atua em nome da Federação (editando normas nacionais, formas de intervenção, relação com
estados estrangeiros).
A lei federal é aquela que trata apenas de interesse da União, a exemplo da Lei 8.112/90.
Lei nacional é aquela que se aplica a todos os entes da federação, a exemplo do CTN.
Os Estados serão organizados por constituições estaduais (poder constituinte decorrente). No caso do
Brasil, há duas peculiaridades: o DF possui Lei Orgânica e os Municípios também se organizam por Lei
Orgânica.
4. SOBERANIA X AUTONOMIA
Soberania é o poder político, supremo e independente. Poder supremo refere-se à ordem interna, pois
não há nenhuma limitação a soberania do estado (internamente). Poder independente refere-se à ordem
internacional, ou seja, não tem que acatar regras que não sejam voluntariamente aceitas e está em condições
de igualdade com os demais estados soberanos.
A soberania, com relação à federação brasileira, pertence à República Federativa do Brasil, a qual
será exercida pela União (mas não pertence a ela).
Obs.: A União goza de autonomia, assim como os Estados, DF e Municípios. Titular de soberania é a
República Federativa do Brasil.
b) Autonomia legislativa: cada um elabora suas próprias leis (federais, estaduais, distritais,
municipais).
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Há na Constituição uma repartição horizontal de competências entre União (art. 21 e 22), Estados
(art. 25), Municípios (art. 30) e Distrito Federal (art. 32), não há qualquer hierarquia entre eles. Contudo,
quando uma lei estadual tratar de matéria da União será considerada inconstitucional, tendo em vista que
invadiu uma competência.
Salienta-se que há doutrinadores que consideram os poderes dos Municípios como indicativos e
não enumerados.
Atenção!
Poderes residuais ou remanescentes são aqueles atribuídos aos estados (art. 25, § 1º), não é uma
competência reservada, mas sim tudo aquilo que sobrou.
Importante destacar que o §1º, do art. 25, da CF refere-se às competências estaduais como sendo
reservadas, mas o certo seria residual.
Isso ocorreu porque o Brasil “copiou” os EUA que possuem um federalismo por agregação, em que
vários Estados se juntam para formarem um único Estado. Neste caso, os Estados já possuíam suas próprias
competências e permaneceram com ela, por isso reservada. No caso do
Brasil, há um federalismo por segregação, havia um Estado unitário que se dividiu em vários Estados. Neste
caso, não há a conservação de competências pré-existentes.
Por fim, no Distrito Federal não há municípios, possui competência atribuídas aos estados e aos
municípios (art. 32, § 1º).
A Constituição permite que alguns poderes sejam delegados a outros entes federativos.
Como visto, quem detém o maior número de competências é a União, portanto, segundo o art. 22,
parágrafo único, é a união que delegará competência somente para os Estados e DF, mediante lei
complementar (requisito formal) para tratar sobre matérias específicas (requisito material).
Para alguns autores, a Constituição não estabeleceu distinção entre estas duas espécies de
competências (Gilmar Mendes, Fernanda Menezes). Para outros, apesar de não ter feito uma distinção
rigorosa, doutrinariamente é possível fixá-la.
Consiste nas competências legislativas, atribuídas à União, Estados e Distrito Federal, exclui os
Municípios. Trata-se de uma repartição vertical (condomínio legislativo – Raul Machado Horta).
Assim, a União estabelece as diretrizes que serão especificadas pelos demais entes, de acordo com as
suas peculiaridades.
A competência da União não exclui a competência suplementar dos outros entes, é importante
observar que as competências concorrentes não são cumulativas. Isto é, apesar dos Estados e da União
tratarem da mesma matéria, eles tratam de aspectos distintos destas matérias. Assim, a União estabelece as
regras gerais e os Estados exercem as competências suplementares, não se confundem. É como se houvesse
uma divisão: União – norma geral; Estados e DF – norma suplementar e os Municípios, no que se referem a
assuntos de interesse local, de forma suplementar. É o que Raul Machado Horta denomina de condomínio
legislativo entre os entes federados.
Neste caso, temos uma repartição vertical de competência, estamos diante de uma hierarquia
legislativa (leis federais, estaduais e municipais). Porém, a hierarquia não decorre do ente, mas sim do
assunto que é tratado. Havendo uma contrariedade entre a legislação estadual e as normas gerais
estabelecidas pela União, a violação da Constituição será apenas indireta. Não cabe ADI, nem recurso
extraordinário.
Art. 24, § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
Em matéria de competência concorrente, a União é que deve estabelecer as normas gerais, contudo
pode ser que a União seja omissa, ocasião em que o Estado poderá exercer a competência legislativa plena, a
fim de não ficarem limitados. Assim, os Estados poderão elaboram tanto a norma geral quanto a norma
específica, tratando da matéria como um todo através de Lei Estadual.
Alguns autores (André Ramos Tavares, Alexandre de Moraes) fazem uma distinção, que era adotada
antes da CF/88, acerca da competência suplementar:
Competência supletiva (art. 24, § 3º): quando a União não faz a norma geral e o Estado trata de
todo assunto;
Competência complementar (art. 24, § 2º): quando a União estabelece a norma geral e o Estado
complementa através de sua competência suplementar.
No entanto, esta distinção não deve ser adotada, uma vez que a CF não se refere a isso. Segundo José
Afonso da Silva, após a CF/88, a distinção entre competência supletiva e complementar teria sido
abandonada.
O Estado exerceu a competência legislativa plena, em seguida, a União edita normas gerais,
suspendendo a eficácia, no que era contrária, das normas gerais feitas pelo Estado. Caso a União edite outra
Lei Federal que revogue a anterior, a Lei Estadual poderá voltar a ter sua eficácia, ocorrendo um efeito
repristinatório tácito. Nota-se que só é possível porque a Lei Estadual não foi
revogada, mas sim suspensa na sua eficácia. É o mesmo caso da ADI. O
Por fim, não esquecer que a Constituição adotou tanto a competência horizontal quanto a competência
vertical.
Na CF: Na CF:
Exemplos: Exemplos:
Art. 25, § 1º São reservadas aos Estados às Art. 30, II suplementar a legislação federal e a
competências que não lhes sejam vedadas por esta estadual no que couber; (Municípios)
Constituição
Art. 30, I legislar sobre assuntos de interesse local
Art. 30 Compete aos Municípios: (Municípios)
critérios orientaram o constituinte ao delinear essa diferença de atribuiçõ es entre os entes federativos
Uma questão interessante, antes de entrarmos propriamente nas competências de cada um dos
entes, é indagar sobre quais critérios orientaram o constituinte ao delinear essa diferença de
atribuições entre os entes federativos. Quando ele partilhou, ele deu determinadas competências
Mas o legislador se influenciou também por outros critérios. Um critério importante é a teoria dos
poderes implícitos. Que foi muito importante nos EUA. Como nos EUA as competências enumeradas
da União são muito poucas, a suprema corte norte-americana teve que estender esse rol de
competências para os EUA serem o que são. Porque o nível de centralização que decorre do texto
da Constituição norte-americana, seria impossível os EUA serem a competência capitalista que são.
Isso porque as regras seriam muito diversas de Estado pra Estado, haveria uma dificuldade notável
ao comercio. Então a suprema corte criou essa teoria dos poderes implícitos. Que diz o seguinte –
quando existe uma competência (poder) implícita que é uma condição (prerrogativa) necessária
para o exercício de uma competência explicita, esse poder implícito deve ser reconhecido como de
competência daquele ente. Quando houver poderes necessários ao exercício das competências
explicitas, deve-se reconhecer que há uma competência implícita daquele ente para exerce-lo.
Com base nessa lógica a suprema corte extraiu poderes implícitos das competências enumeradas da
União nos EUA, e assim fortaleceu as competências da União Federal.
Quando a CF confere uma competência expressa a um ente ela implicitamente deu os meios
necessários para a realização daquele fim, dessa forma é um caminho necessário para realizar
aquele fim.
Princípio da subsidiariedade
Outro princípio que é um princípio importante que orienta por exemplo o SUS no Brasil e orienta
também a divisão de competências na União Europeia é o princípio da subsidiariedade. Esse
princípio é um princípio que, em síntese, prestigia as competencias dos entes menores. E por que
Agora, qual a utilidade de conhecer esses critérios? É uma utilidade meramente histórica, pra saber
quais os critérios que orientaram o constituinte? Ou não? Ou há uma relevância pratica atual? Sim,
há. Há situações de conflitos aparentes tanto de natureza positiva quanto de natureza negativa em
relação as competências. Isso porque há situações em que aparentemente normas constitucionais
diferentes, uma dá competência para União e a outra dá pro Estado – é um conflito aparente
positivo. Como há também conflitos aparentes negativos – aparentemente nenhuma norma da
competência a ninguém. Então esses critérios são muito importantes para resolver esses conflitos
aparentes de competência, sejam eles positivos ou negativos. Então influenciam bastante na
definição do ente efetivamente competente em um determinado caso concreto.
6. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL
Tanto o art. 1º quanto o art. 18 deixam claro que os entes federativos que compõem o Estado
brasileiro são: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Perceba que está expresso na
Constituição que os Municípios são entes federativos.
Além disso, todos os entes são autônomos (organização, legislação, governo e administração),
portanto, não há como afirmar que os Municípios não são entes federativos.
ESTADOS
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, ob
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços loca
Obs.: De acordo com Novelino, é importante distinguir normas de repetição obrigatória – são aquelas que
obrigatoriamente devem ser repetidas nas constituições dos estados (CPI) –; e normas de observância
obrigatória (não precisa ser reproduzida, mas se fizer deve seguir o modelo da CF (medidas provisórias)
São consideradas normas de observância obrigatórias, de acordo com José Afonso da Silva:
Sua violação poderá gerar intervenção federal, nos termos dos art. 37, VII da CF.
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
Salienta-se que nos casos de intervenção federal decorrente de violação de princípio constitucional
sensível, é necessário que o PGR proponha uma ADI Interventiva, somente se o STF der provimento é que o
Presidente da República poderá decretar a intervenção.
Consagram normas organizatórias para a União cuja incidência será estendida aos Estados- membros,
podendo ser de maneira expressa ou implícita.
Art. 27, § 2º: O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Asse
2º, I.
De acordo com Novelino, são as normas que restringem a capacidade organizatória dos Estados
Federados, por meio de limitações expressas ou implícitas (art. 22 da CF).
LIMITAÇÕES EXPRESSAS
DISTRITO FEDERAL
O DF é um território neutro que foi criado para ser a sede do Governo Federal.
A Câmara Legislativa do DF, tendo em vista os gastos com as despesas de pessoais, afirmava que o
DF, como Município, precisava de 6% para gastar com o pessoal, e não dos 3% que são destinados aos
Estados.
Diante disso, o STF, na ADI 3756, entendeu que o Distrito Federal não é Município nem Estado, mas
uma Unidade Federada com competência parcialmente tutelada pela União, a exemplo do Poder Judiciário,
do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios (mudança
a partir da EC 69/2012, agora a organização da DP é do DF e não mais da competência da União), Polícia
Civil, Polícia Militar e Bombeiro Militar (art. 21, art. 28).
ADI 3.756/DF: O Distrito Federal é uma unidade federativa de compostura
singular, dado que: a) desfruta de competências que são próprias dos
Estados e dos Municípios, cumulativamente (art. 32, § 1°, CF); b) algumas
de suas instituições elementares são organizadas e mantidas pela União
(art. 21, XIII e XIV, CF); c) os serviços públicos a cuja prestação está
jungido são financiados, em parte, pela mesma pessoa federada central,
que é a União (art. 21, XIV, parte final, CF) (...) 3. Conquanto submetido a
regime constitucional diferenciado, o Distrito Federal está bem mais próximo
da estruturação dos Estados-membros do que da arquitetura constitucional
dos Municípios.
Destaca-se que sua estrutura se assemelha muito mais a um Estado do que a um Município.
Elegem Governador, Senadores, Deputados Distritais e Deputados Federais.
MUNICÍPIOS
O Brasil é a única Federação que trata os Municípios como um ente federativo. Justamente, por isso
há na doutrina divergência sobre considera-lo ou não um ente federativo.
1ªC (José Afonso da Silva – minoritário) – não é considerado ente federativo, tendo em vista que não
há federação de municípios no mundo, bem como não possuem representantes no Senado (não participam da
manifestação da vontade nacional).
TERRITÓRIOS
É uma autarquia territorial. Por não serem entes federativos, não elegem senadores, apenas deputados
(quatro).
Caso sejam criados os territórios serão governados por um Governador, nomeado pelo Presidente da
República.
7.1.1. Previsão
Estão previstas no §3º, do art. 18 da CF, sendo regulamentada pela Lei 9.709/98. Observe:
7.1.2. Distinções
INCORPORAÇÃO SUBDIVISÃO DESMEMBRAMENTO
7.1.3. Requisitos
7.1.4. Procedimento
1º - Convocação do plebiscito (art. 3º, da Lei 9.709/98), por meio de decreto legislativo;
Alexandre de Moraes entende que incorporação e fusão são expressões sinônimas. De outro lado,
sustenta Ely Lopes Meireles que na incorporação o Município incorporado deixa de existir e o Município
incorporador continua existindo; na fusão ambos os Municípios deixam de existir para dar origem a um novo
Município.
Como vários Municípios foram criados sem que houvesse a edição da lei complementar, questionou-
se se a criação seria constitucional ou não. O STF entendeu que havia omissão do Congresso Nacional na
criação da Lei, mas não deveriam ser extintos. Veja o que decidiu o STF:
O STF entende que é inconstitucional lei estadual que permita a criação, incorporação, fusão e
desmembramento de municípios sem a edição prévia das leis federais previstas no art. 18, § 4º, da CF/88
Tratamos do federalismo na aula passdada e agora vamos tratar do aspecto derredeiro do federalismo que é a
partilha constitucional de competências. No final da utlima aula tratamos dos principais critérios que orientam
a distribuição de competência. Notadamente a predominância do interesse, o princípio da subsidiariedade e a
teoria dos poderes implícitos.
Vamos começar a tratar do art 21 da CF, que são as competências administrativas privativas da União. Como
nome sugere, são privativas, então segue a lógica reciprocamente excludente que vimos na aula passada.
Portanto se foram dadas competências privativas a União, foram tiradas de estados e municípios.
Então são atuações administrativas. Então a prestacao de serviços públicos previstas no art 21 a revelia da
União por estados e municípios implica inconstitucionalidade, porque implica em usurpação de competência
privativa da União. Essa modalidade de inconstitucionalidade, como sabemos, é formal. Ou seja, a usurpação
por um ente federativo da competência de um outro caracteriza inconstitucionalidade formal. Para ser mais
preciso, uma inconstitucionalidade formal orgânica, tendo em vista a usurpação de uma competência
privativa.
Uma primeira questão preliminar, que vale a pena colocar sobre esse dispositivo, é que são 25 incisos. Então é
um dispositivo bastante extenso, que atribui muitas competências a União Federal. Então a concentração de
competências na União se coloca tanto sob aspecto administrativo quanto Legislativo. Sendo que no aspecto
Legislativo, ainda há maior concentração. Esse é um primeiro aspecto.
Um segundo aspecto é que como se adota no Brasil o sistema presidencialista, o presidente da república é ao
mesmo tempo chefe de Estado e chefe de governo. Então vai se ver que nas competências administrativas da
União, estão funções inerentes a chefia de Estado e a chefia de governo. Por exemplo em relação a chefia de
Estado – manter relações com estados estrangeiros, declarar guerra e celebrar paz, assegurar a defesa
nacional. Por outro lado, há típicas funções de governo – como manter o serviço postal e correio aéreo
nacional, explorar telecomunicações, explorar servico de radiodifusão, energia, navegação aérea – típicas
atividades de gestão.
Veja-se que não há um parágrafo no final do art 21 que preveja a delegação dessas atribuições a estados e
municípios. Enquanto no 22 há parágrafo único permitindo ess delegação. Diante disso sob o cotejo da análise
dos dois artigos poderia se supor que as competências do artigo 21 são indelegáveis e as competências
legislativas do artigo 22 seriam delegáveis. Porém esse raciocínio é formalista e equivocado.
Já havendo notável concentração de competências da União, é óbvio que em havendo interesse da União
em partilhar o exercício pontual de algum aspecto dessa competência com estados e municípios, ela pode
fazê-lo. E o mecanismo tradicional para realizacao disso são os convênios e consórcios públicos. Ou seja, atos
de confluência de vontade entre União e Estados ou União e Municípios, para que haja um partilhamento do
exercício dessas funções, muitas vezes com repasses de recursos públicos federais. A descentralização é
muito importante sobretudo em um estado fortemente centralizado como é o Estado Brasileiro.
Também o primeiro aspecto digno de nota é a enorme amplitude dessas matérias. Já o inciso I já seria bastante
amplo.
Seja lá o que o direito espacial possa ser. Ou seja, assegurou até o direito espacial a União para denotar essa
notável concentração de poderes legislativos na União.
Veja-se que em relação ao art 22, há um par. único, que diz o seguinte.
“Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das
matérias relacionadas neste artigo.”.
Então há previsão expressa de que a União possa delegar o poder de legislar sobre essas matérias, sobre
questões pontuais relativas a essas matérias por lei complementar.
Então quais os requisitos pra que a União validamente proceda a essa delegação? O primeiro é o requisito de
índole formal, que é a reserva de LC. Em seguida, há um requisito de ordem material – só podem ser delegadas
questões especificas.
E essa é uma questão muito importante que diz respeito em geral a delegação de funções públicas. Uma das
pedras de toque do regime jurídico administrativo, ao lado da supremacia do interesse público, é a
indisponibilidade do interesse público. Ou seja, o gestor público, o agente público gere um interesse que não é
seu, é alheio, e da coletividade. De modo que ele não tem disposição como os particulares tem em relação aos
seus bens, os gestores públicos não tem disponibilidade sobre os interesses públicos que gere. Isso gera como
efeito reflexo, como corolário natural a ideia de que as funções públicas privativas de um poder são
irrenunciáveis, ou indisponíveis. Ou seja, um poder – por exemplo o Legislativo que tem como função típica
legislar, não pode simplesmente abrir mão desse poder em favor de outro poder. Então a renúncia é
incompatível com a indisponibilidade do exercício de funções públicas. Mas a delegação não. Então é
fundamental conhecermos a diferença entre renúncia a delegação.
1 - Um aspecto essencial dessa distinção é o âmbito material sobre o qual elas recaem. Porque se eu
entender que é possível transferir toda a competência, isso é renuncia, isso não é possível . Mas questões
pontuais podem ser delegadas. É verdadeira delegação e não renuncia. Então um aspecto essencial a
caracterizar uma delegação valida é a delimitação das matérias delegadas.
2 - E um outro requisito material é a precariedade. Ou seja, é a possibilidade do ente titular, originário da
competência retomá-la.
E há uma controvérsia que é a seguinte. Será que a União pode delegar o poder de legislar sobre questões
especificas apenas para alguns estados? Ou será que se ela delega, ela tem que delegar a todos? Aqui a
doutrina é controvertida, é dividida. Mas a posição que parece ao professor a mais adequada é a seguinte – é
dizer que pode desde que haja uma justificação bastante adequada, bastante satisfatória. A princípio é
inconstitucional. Então a União precisa justificar de maneira satisfatória o porquê daquela diferenciação. Mas
intuitivamente há situações em que se justificam as diferenciações. Por exemplo, se é uma legislação de
emergência para combater a seca no nordeste, ou inundações no sul, não faz sentido delegar pra todos
estados, porque alguns estados não tem aquele problema. Mas não havendo uma peculiariedade reginal que
justifique essa diferenciação, é natural que o princípio da igualdade, particularmente a igualdade entre os
estados preconize a possibilidade da diferenciação.
Uma outra questão importante é que apesar de muito amplo, esse rol do art 22 não é exaustivo. Se formos a
outros dispositivos constitucionais, vamos ver que há outras matérias. Sobretudo em um outro dispositivo
constitucional – fazer remisao do art 22 para o art 48. O art 48 - são matérias também que são tratadas por lei.
Seguindo a sequência, o art 23 trata das competências comuns da União, Estados, DF e Municípios. Então são
atividades administrativas, serviços públicos que são partilhados entre União, Estados, DF e Municipios. Aqui
se segue a lógica do federalismo cooperativo, e não do federalismo dual, que inspira as competências
privativas exclusivas. É a lógica do federalismo cooperativo, que tem como principais métodos exatamente as
competências comuns e concorrentes. Aqui não há aquela lógica da exclusão recíproca. É o oposto. É a lógica
do compartilhamento de esforços para a obtenção de um objetivo comum.
A primeira coisa a se ver aqui é que há atividades administrativas muito relevantes inseridas nesse rol, como
por exemplo prestar o serviço público de saúde, educação, a proteção do patrimônio histórico cultural,
proteção do meio ambiente, moradia, combate a pobreza.
Todos sabemos que quando se atribui uma responsabilidade a mais de uma pessoa, é preciso organizar isso pra
dar certo. Ou seja, se não tiver uma otimização de esforços, pode ter uma perda de energia – pessoas fazendo
a mesma coisa, um não faz e o outro não faz e aí atribui a responsabilidade a outro. E aí, como estabelecer
uma organização desses serviços? Isso está disciplinado no par. único.
“Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)”.
Então LC fixará os termos que pautarão o exercício dessas competências, ou seja, quais atividades serão
incumbência da União, Estados e Municípios.
O art 24 trata das competências concorrentes. Também possui esse dispositivo, esse dispositivo abrange
matérias muito relevantes como o direito tributário, direito financeiro, direito penintenciário, direito
econômico, direito urbanístico, orçamento, proteção ao patrimônio histórico cultural, protecao ao meio
ambiente, ao consumidor, educação, cultura. Então há matérias muito importantes inseridas no âmbito da
competência concorrente.
Os Municípios, apesar de não estarem presentes no caput, eles também possuem a Competência Concorrente,
nos termos do que preceitua o Artigo 30, II da CF. (Fazer remissão)
Essa é uma competência legislativa concorrente. Então é uma superposição da competência para editar
normas. Como que se evita aqui, especialmente é relevante se evitar isso, uma balburdia, um conflito
normativo? Normas conflitantes que dispõem em sentido contrário sobre a mesma matéria? Há uma disciplina
dessa questão que é complexa nos parágrafos do art 24.
Par. 1 – então a competência da União via de regra se limita a edição de normas gerais. São normas de maior
teor de generalidade e abstração.
Par. 2 – o que é a competência suplementar dos Estados? É a competência para editar normas especificas que
complementem, que especifiquem, desenvolvam as normas gerais editadas pela União.
Não se deve confundir competência suplementar com competência remanescente ou residual. Ambas são
competências estaduais. Mas absolutamente distintas, apesar dos nomes parecidos.
Competência suplementar é exatamente o que foi dito – é o poder dos estados de editarem normas
especificas que concretizem, que especifiquem (que complementem) as normas gerais editadas pela União em
matérias de competência concorrente.
Já a Competência Remanescente ou Residual é a competência legislativa privativa dos Estados para legislarem
em matérias não concedidas seja a União seja aos Municípios (a competência legislativa da União ou dos
Municípios). É aquela lógica de que tudo que sobra é dos estados. Que aliás é o modelo original de formação,
de distribuição de competências no federalismo norte americano, como já vimos.
Par. 3 – então essa é uma situação de excepcionalidade. Ou seja, se a União não editar normas gerais,
competirá excepcionalmente aos Estados não apenas editar normas especificas, mas também gerais. Veja-se
que há um outro nome parecido para essa competência, que é a competência supletiva dos estados. A
competência supletiva dos estados é a competência que os estados tem para a edição não só de normas
especificas, mas também gerais em matéria de competência concorrente caso a União ainda não tenha editado
as normas gerais.
E par. 4 – Isso parece estranho. Digamos que o cenário é o seguinte – a União não legislou, então o Estado
editou normas gerais estaduais e normas especificas estaduais. E aí depois há uma norma geral federal
tratando do tema. O par. 4 diz que a superveniência de norma geral federal suspende a eficácia da norma geral
estadual. Veja-se que a expressão usada é suspender a eficácia, e não revogar. Então é algo que se dá no plano
da eficácia e não da existência. Isso tem um efeito pratico relevante, porque se vem a norma geral federal X
(NGF X) e depois é editada uma norma geral federal Y que revoga a norma geral federal X, o que ocorre?
Reestabelece-se a eficácia da norma geral estadual. Isso porque ela não havia sido revogada. Ela havia apenas
tido sua eficácia suspensa. Se a norma que suspende sua eficácia é revogada, ela reestabelece sua eficácia .
Mas isso na teoria é simples, na prática é um caos. Isso porque a norma não vem com uma etiqueta – “eu sou
norma geral” ou “eu sou norma especifica”. E as vezes é uma lei que tem cento e tantos artigos, e no meio
deles varias normas gerais e varias normas especificas. E o caráter geral e especifico é uma questão muito mais
de grau do que de natureza. Por exemplo, havia uma controvérsia interminável sobre quais dispositivos da lei
8666 eram norma geral, portanto eram obrigatórios a todos entes, e quais eram específicos (só obrigatórios
então da União). Isso é muito complicado. Até porque normalmente, como dito, isso vem numa mesma lei. São
diferentes artigos de uma mesma lei. Então por exemplo – há uma lei com 50 artigos, estadual, que tem
normas gerais e especificas. Com a superveniência de uma lei federal, que também tem normas gerais e
especificas.
Isso que é muito confuso na pratica. Porque na teoria como se resolve isso? As normas gerais federais
suspendem a eficácia das normas gerais estaduais. E as normas especificas estaduais continuam valendo desde
que compativeis com as normas gerais federais. Então é preciso primeiro saber o que é norma geral e o que é
norma especifica, tanto na lei estadual quanto na lei federal. O que for norma geral federal vai suspender a
eficácia da norma geral estadual. E o que for norma especifica estadual, pra continuar produzindo efeitos
validos, tem que ser compatível com a norma geral federal. Isso na pratica é bastante confuso, porque não é
simples identificar o caráter geral e especifico da norma.
Mas uma questão interessante – o fato da União ter competência para editar normas gerais em matéria de
competência concorrente significa que normas especificas federais são inconstitucionais, porque a
competência para editar normas especificas é dos estados? Ou não? Como o par. 1 deu a união apenas
competência para editar normas gerais, significa que normas especificas editadas pela União nessa materia de
competência concorrente, significa que esa norma é inconstitucional? Não. Significa apenas que é uma norma
aplicável apenas a União, e não a estados e municípios. Pra usar uma nomenclatura que a doutrina em algumas
situações se socorre – é a distinção entre norma nacional e norma federal. Ou seja, a norma geral editada
pela União seria nacional, seria obrigatoria a União, Estados e Municípios. Já naquilo que ela for especifica
ela seria meramente federal, porque seria obrigatória apenas a União, mas não aos estados e Municípios.
Então veja-se que interessante – dá pra imaginar como na prática é confuso – as normas especificas estaduais
podem ser contraditórias com as normas especificas federais. Aí as normas especificas estaduais valem no
Estado e as normas especificas federais valem na União - desde que observem um requisito – desde que as
normas especificas estaduais sejam compativeis com as normas gerais federais. Isso na teoria já não é simples,
imagine-se na pratica.
Isso que se chama de condomínio Legislativo – esse compartilhamento de poder de editar sobre a mesma
matéria – na pratica gera muita confusão. O que faz com que muitas vezes o STF aplique uma lógica pragmática
que tem até algumas virtudes de simplificar a analise disso, mas que tem o efeito deletério para a autonomia
de estados e municípios. É dizer o seguinte – se a União tratou, é norma geral. Ou seja, não vou aferir se é geral
ou especifica. Se está na lei federal, é geral, então é uma lei verdadeiramente nacional. Isso é um equivoco,
porque senão o constituinte teria estabelecido simplesmente uma primazia da legislação federal,
independente se é geral ou especifica. E não foi isso que o constituinte fez. Ele condicionou a primazia ao
caráter geral. E não a toda e qualquer norma editada pela União. Então os julgados que existem no STF nessa
linha devem ser criticados.
a) Legislar em matéria de competência privativa da União (Art. 22) quando autorizado por Lei
Complementar.
b) Legislar em matéria de competência concorrente da União, Estados e Municípios. E via de regra ela é
suplementar e na hipótese de não haver norma geral a competência será supletiva
c) Legislar sobre as matérias de competência administrativa comum, pois há um poder implícito dos entes
de legislar essas matérias observada a lei complementar.
d) Legislar em caráter privativo sobre as Competências Remanescentes. Tudo que sobra em relação a
União e Município o Estado possui competência remanescente.
Art 25 CF: competência administrativa e legislativa dos estados (em regra, residual)
O artigo 25 trata dos estados. E aí vem o par. 1 e desde logo coloca o seguinte.
“§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.”.
O art 25 par. 1 é a competência remanescente ou residual. (minha obs – pelo que entendi, competência
administrativa e legislativa). Tudo que não for dado de maneira enumerada a União e ao Município, é dos
Estados. Há diferença do constitucionalismo norte-americano porque aqui sobram pouquíssimas coisas.
“§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na
forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 5, de 1995)”.
Esse aqui é uma das poucas competências administrativas enumeradas (expressas) dos Estados. Ou seja, é
uma competência administrativa dada de maneira expressa aos estados. E mesmo assim há disputa com a
União.
Essa questão do setor de gás é uma questão que vem gerando muita controvérsia no plano da distribuição de
competências. Isso porque o constituinte federal adotou um modelo de distribuição de competências em
matéria de gás, que é um modelo um pouco complexo. São três etapas essencialmente da produção de gás.
Que é a produção propriamente dita, que é uma atividade econômica sob monopólio da União, o transporte,
que é também uma atividade econômica sob o monopólio da União, e os serviços locais de gás canalizado,
competências dos estados. Então duas etapas foram dadas a União (produção e transporte) e a ultima foi
etapa (serviço local de gás canalizado) foi dada aos estados. Isso cria rusgas, alguns problemas, sobretudo da
relação da Petrobras com as companhias estaduais de gás. E a lei do gás (que é a lei federal que trata da
matéria) tratou de algumas figuras que se chocam com a competência estadual na matéria. Como por exemplo
a figura do auto-produtor, ou do auto-importador, que é a possibilidade de um consumidor de gás produzir e
consumir. Essa situação se coloca normalmente para a Petrobras – ela produz o gás e usa o gás como
combustível nas suas usinas. E há uma grande disputa nessa hipótese se ela deve pagar ou não algo as
concessionárias estaduais. Essa é uma questão que ainda estão sendo apreciada pelos tribunais.
E aí é fundamental interpretarmos de maneira adequada o que sejam serviços locais de gás canalizado. Veja-
se que houve uma mudança na redação feita pela EC 5 de 95. Antigamente se falava em distribuicao, agora se
fala de serviço local de gás canalizado, ou seja, houve uma ampliação do espectro do serviço público.
Então vamos entender o que é cada etapa. O que é produção? É a retirada do gás do ambiente natural onde se
encontra (subsolo normalmente) tornando-o viável para o uso – via de regra como combustível. O transporte é
o que? É a movimentação do gás dos centros de produção para os chamados city gates, que são os centros
onde o gás é recebido e passado para as distribuidoras estaduais. E os serviços locais de gás canalizado são os
serviços de entrega desse gás por via de condutos, canos, para os usuários finais.
Agora veja-se que pouco importa quem é esse usuário. Ou seja, há uma tendência da União de querer
interpretar o usuario final como usuário residencial, e não é só isso. O usuário industrial também é usuário. A
empresa que coloca o gás nos botijões para vender também é usuária, também é usuária do serviço público
estadual de distribuição. E veja-se que enquanto a produção e o transporte são atividades econômicas sob o
monopólio da União, a distribuicao é serviço público, foi tratada pela Constituição como serviço público. O que
significa a aplicação da princípiologia dos serviços públicos – modicidade tarifaria, universalidade na prestação,
continuidade. E aí o que acontece – quando a legislação federal e sobretudo a prática, a interpretação que é
dada pela Petrobras e outros entes, outros players que atuam no âmbito federal de que determinados usuários
não precisam se vincular ao serviço público estadual, podem consumir o próprio gás que produzem sem
nenhum pagamento a concessionária estadual, ou podem importar por dutos também a revelia da
concessionária estadual, há uma usurpação de competência dos estados.
E como se trata de um servico público, é fundamental para que esse serviço público garanta a observância de
todos esses princípios, que ele atinja os grandes empresários, os grandes usuários empresariais industriais. Isso
por causa da questão do subsidio cruzado. Ou seja, esses são os maiores consumidores. Então se a
concessionaria estadual de gás não puder atingir os grandes consumidores, o que ocorre é que o serviço fica
mais caro pros pequenos, e fica mais difícil universalizar a rede, levar a infra-estrutura do serviço pra
localidades em que ainda é anti-econômica a prestação do serviço. Esses são os subsídios cruzados – você tem
um lucro maior com determinados consumidores maiores, que consomem mais, e aí você transfere parte
desse lucro para investir em setores não tão rentáveis. Esse é o conceito de subsidio cruzado - que em matéria
de servico público é fundamental, porque garante tanto a universalização da rede quanto a modicidade
tarifaria. Então a partir do momento em que se exclui esses consumidores, há um prejuízo ao atendimento
desses princípios.
Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões
“§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas
e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.”.
Veja-se que esses institutos (regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões) são instituidas
por lei complementar estadual. Essa é a primeira questão importante que deve ser esclarecida. E qual a
diferença entre elas? Antes de falar das diferenças, qual o ponto em comum? São municípios limítrofes que
tem interesses comuns. Essa é a questão. Logo é conveniente criar mecanismos de cooperação entre eles
para que eles otimizem a busca desses objetivos comuns.
Mas qual a diferença entre elas? A primeira delas, as chamadas regiões metropolitanas, são municípios em
conurbação (ou seja, com uma continuidade urbana) reunidos em torno de um municipio sede . É o Grande Rio,
a Grande São Paulo, a Grande BH, etc. Ou seja, há um município bem maior que os outros, e municípios
satélites em situação de conurbação. As aglomerações urbanas já são municípios limitofes conurbados sem um
município sede. Seria a situação por exemplo do ABC paulista. São municípios relativamente equilibrados, mas
em conurbação. E por fim as microrregiões, que não necessariamente são urbanizadas, podem ser áreas rurais,
mas também que apresentem problemas e objetivos comuns.
Um aspecto interessante dos Estados comparados aos Municípios é que as normas sobre a Constituição
estadual são muito menos detalhadas que as normas sobre a lei orgânica municipal. Basta combinar o art 25
caput com o art 29 caput. O art 25 caput é muito sucinto a respeito da Constituição estadual.
“Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.”.
Então basicamenteo que a Constituição Federal diz sobre as Constituições Estaduais é que elas serão editadas –
lá no ADCT se complementa – pelas Assembleias Legislativas Estaduais no prazo de 1 ano da edição da CF88, e
ponto. Não há detalhes, minúcias em relação a procedimentos, quoruns, etc. Compare-se com o art 29 caput
da CF.
“Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias,
e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:”.
O inciso I – essa é a competência por excelência dos municípios. Tratar sobre assunto de interesse local. Veja-
se que a CF88 mudou a expressão – a redação anterior era “peculiar interesse”, e agora passou a ser “interesse
local”. Aqui é tipicamente uma aplicação do princípio da predominância do interesse. Ou seja, interesses
predominantemente locais – leia-se intramunicipais – são de competência legislativa privativa dos
municípios. Ou seja, é uma matéria sobre a qual Estado e União não podem legislar sob pena de
inconstitucionalidade. Exemplo – horário de funcionamento de estabelecimentos comerciais, com exceção dos
que são regulamentados pela União como bancos. Esse é um exemplo de uma matéria de interesse
predominantemente local.
O inciso II – esse dispositivo é muito importante. Tem que fazer remissão do art 30, II ao art 24 caput. Isso
porque se formos no cart 24 caput, vamos ver que dentre os entes arrolados como competentes para
participar da competência legislativa concorrente estão apenas a União, Estados e DF. Os municípios não
foram arrolados no art 24 caput. Porém eles também participam da competência legislativa concorrente por
força do art 30, II. Que diz que cabe aos municípios suplementar a legislação federal e estadual no que
couber.
O inciso III – “instituir e arrecadar os tributos de sua competência” - a primeira parte é uma competência
legislativa - que é a competência de instituir tributos. A segunda parte, a arrecadação, é uma competência
administrativa.
Devemos lembrar da Teoria dos poderes implícitos, que é um importante mecanismo de atribuição de
competência. Isso porque por exemplo – de uma competência administrativa dada a estado e município
decorre a competência legislativa correspondente, desde que não se choque com competência legislativa
privativa da União. Isso porque o ente deve ter os meios necessários para o exercício de suas competências.
Então se o constituinte deu a um ente uma competência administrativa, consequentemente deu a ele
competência para normatizar o exercício dessa competência – exceto se essa competência tiver sido dada em
caráter privativo a outro ente. Então atenção para os efeitos da aplicação da teoria dos poderes implícitos,
especificamente nessa seara.
Veja-se bem – há determinadas atividades que via de regra competem ao Estado que na situação especifica
do DF, são de competências da União. Veja-se o art 22, XVII – vela a pena fazer uma remissão do dispositivo
relativo ao DF, que é o art 32 ao art 22, XVII.
Então há uma competência legislativa da União para dispor organização judiciária (minha obs - TJDFT - Tribunal
de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios), MP do DF e dos territórios (minha obs - MPDFT - Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios) e defensoria pública dos territórios, bem como sua organização.
Vale a pena também fazer remissão ao art 21, XIII e XIV. Aqui estamos tratando de competências
administrativas.
Inciso XIII - Então veja-se que não só o poder sobre legislar, mas também sobre a organização e manutenção do
poder Judiciário, do MP é da União. Também era da defensoria pública, mas pela EC 69 foi transferida ao DF.
Então o poder Judiciário e MP do DF são custeados e organizados pela União.
Inciso XIV – então a União tem uma atuação na prestação desses serviços públicos especifica pro DF que ela
não tem pros estados nem pros municípios.
Então o DF tem uma natureza hibrida. Porque ele reúne competências estaduais e municipais, com exceção
dessas, que via de regra são do Estado, mas no caso do DF essas atribuicoes foram dadas a União. Veja-se
como a situação dos Estados é caótica – até o DF que tem essa molezinha esta quebrado. Então a situação é de
fato muito perigosa. Então fazer remissão aos dispositivos, como falado.
Pergunta – ...? Legislativo e administrativo, também pra policia.
E agora passamos a tratar dos territórios e da intervenção federal. O art 33 é o artigo que hoje esta quase em
desuso, porque não temos territórios atualmente. Os territórios que tínhamos ou viraram estados ou foram
incorporados por estados.
“Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios.
§ 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no
Capítulo IV deste Título.
§ 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao Congresso Nacional, com parecer prévio do
Tribunal de Contas da União.
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do Governador nomeado na forma desta
Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e
defensores públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e sua competência
deliberativa.”.
Uma questão interessante é que os Territórios poderão ser divididos em Municípios. O que é curioso, porque o
território ele próprio não tem autonomia política.
Par. 2 – então não há um tribunal de contas dos territórios especifico. O TCU que emite parecer, submetido ao
Congresso.
O material bélico inclui não apenas o que está expresso que é a produção e comércio de material bélico como
a regulamentação do porte de arma está sujeita a competência legislativa privativa da União Federal. O STF
decidiu isso na ADI 2729, o Relator Ministro Gilmar Mendes, julgado em 2013.
2– Artigo 21, VIII
Esse inciso trata de questões financeiras essenciais para o país, estando sujeitas a competência administrativa
privativa da União e consequência pela competência legislativa, em função da Teoria dos Poderes Implícitos.
(ADI 1357 em que o STF julgou a inconstitucionalidade da Lei do Distrito Federal que tratou de operação de
crédito, pois a operação de crédito está sujeita a competência administrativa e legislativa privativa da União
Federal.
A relevância da atividade desempenhada pela Barroso disse que tanto faz se a instituição é pública ou privada,
mas a relevância demanda a existência de uma coordenação centralizada de políticas de crédito e regulação
das operações de financiamento, impedindo que estados legislem livremente aacerca das modalidades de
crédito praticadas pelos Bancos Públicos, ou seja, competência privativa da União Federal.
3 - Art. 21, X da CF
ADPF 46 em que o STF afirmou que o serviço postal caracteriza serviço público prestado sob regime de
monopólio e não atividade econômica sob o regime concorrencial.
4 – Art. 21, XI
Sobre a questão das telecomunicações nós temos um conflito entre a competência para legislar sobre
telecomunicações sendo privativa da União e a Competência concorrente de direito do consumidor que cabe a
União editar normas gerais e a Estados normas específicas.
Um caso é a ADI6204 julgado em 2020. Nesse caso houve uma consideração teórica relevante nesse conflito. O
Ministro Relator disse que se a lei federal ou estadual indicar de forma claramente necessária adequada e
razoável que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de complementação que detém os entes menores, é
possível afastar a presunção que no âmbito regional determinado tema deve ser disciplinado pelo ente maior.
Dessa forma é um parâmetro que estimula a descentralização política, vez que se a norma estabelecer de
forma clara e adequada que os seus efeitos afastam a aplicação do outro ente menor, nesse caso é possível
afastar a presunção de que no âmbito regional o tema deve ser legislado pelo ente maior. (clear stetement
rule)
Ex: Norm que dispunha sobre a utilização de franquia de dados pelo usuário do serviço de telecomunicação.
Ou seja, se você não usou toda a franquia de dados poderia usar no mês seguinte.
Os Estados editam essa norma com base na competência suplementar e supletiva de Direito do Consumidor. O
STF falou que sendo concorrente deve se verificar se há norma geral sobre a matéria. Segundo o Artigo da
resolução os dados de franquia não são cumulativos. Dessa forma vemos que havia um conflito entre a norma
da Anatel e a Lei Estadual. A norma da Anatel não permitia a utilização de minutos não usados no mês seguinte
e a lei estadual permitia. O STF entendeu pela competência da União para legislar sobre comunicações e por
isso temos a Inconstitucionalidade formal da lei estadual.
Outro caso é a ADI 5568 que também é um caso de telefonia. A hipótese é que o Artigo 51 do regulamento do
consumidor em telecomunicações previa a possibilidade de fornecimento do contrato por meio eletrônico e
essa lei estadual exigia o envio do contrato físico. Esse é mais um caso em que o STF fez prevalecer a
competência prvativa da união para legislar sobre competência de telecomunicações em detrimento da lei
Estadual.
Outro caso é a ADI 3558 E ERA UMA LEI DO Estado do Rio que obrigava concessionárias de serviço de telefonia
fixa, de água e de gá a instalar medidores de consumo para aferir se o valor cobrado era efetivamente devido.
O que se entendeu é que violava a competência privativa da União para se legislar sobre telecomunicações,
energia e etc.
Outro caso interessante é a adi 4083 e é uma lei do DF que proibia que empresas de telecomunicação
cobrassem taxas para a cobrança do segundo ponto de internet. Disse o STF que ainda que o argumento seja a
defesa sdo consumidor a hipótese viola a competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações
e o próprio contrato de concessão firmado entre a União e as Teles.
Importante afirmar que o STF insere o serviço de internet nas telecomunicações e por isso sujeito a
competência administrativa e legislativa privativa da União.
A ADPF 235 diz que é formalmente inconstitucional a lei que disciplina sobre rádio comunitária no município.
Ainda que seja rádio comunitária o Município não tem competência pois a competência para legislar sobre
rádio e tv é privativa da União.
ADI 5610 de 2019 em que o STF fez prevalecer a competência da União para legislar sobre energia.
ADI 5210 QUE TRATA DE RELIGAÇÃO DE ENERGIA. Disse o STF que a competência para legislar sobre energia é
da União pela mesma lógica.
Aeroportos estão sujeitos à competência privativa da união re 363412 invalidando normas estaduais que
dispunham sobre aeroportos.
8–
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
No que concerne à gratuidade, é óbvio que cada ente tem competência para instituir gratuidade no que tange
a sua competência.
O STF já afirmou a natureza pública do serviço de Docas que se trata de serviço público.
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a
Defensoria Pública dos Territórios;
Em relação ao Poder Judiciário e MP compete à União legislar sobre o Poder Judiciário e MP do Distrito Federal
e Territórios.
Defesoria Pública Só cabe a União legislar sobre a Defensoria Pública dos Territórios.
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal,
bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo
próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
E relação aos Estados cabe a eles prestar os serviços públicos e em relação ao DF essa competência é da União
e inclusive a competência legislativa, inclusive a Súmula Vinculante 39 do STF
compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
Os Estados membros e o DF não possuem competência para dispor sobre o horário de verão e o seu próprio
horário. Dessa forma normas sobre o Horário de verão são de competência da União.
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
O STF considerou que o caráter indicativo vale não só para os pais que não podem ser punidos se deixar que
seus filhos assistam um programa indicado para idade superior, salvo hipóteses absurdas (Pai que autoriza
criança a ver filme pornográfico) e são indicativos para as emissoras também.
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares
e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante
aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa
e usos médicos, agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de
meia-vida igual ou inferior a duas horas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Incluída pela Emenda
Constitucional nº 49, de 2006)
É importante destacar que há delegação legislativa na Lei complementar 103 de 2000 e isso é bastante
relevante que é a competência que se delegou aos Estados para fixar pisos regionais por categoria. Embora o
salário mínimo seja nacionalmente unificado e seja de competência da União fixa-lo, os pisos salariais para
categorias específicas os Estados tem competência para fixar com base nessa delegação e não para outras
questões de direito do trabalho.
Nesse caso o STF declarou inconstitucional normas estaduais que dispunham sobre jornada de trabalho e
fiscalizações de das condições de trabalho. As competências legislativas e administrativas são da União.
Só esse inciso já dá uma boa noção de como o constituinte foi generoso ao conceder muitas competências para
a União. Vejamos a abrangência de matérias submetidas a competência legislativa privativa da União.
Ex: Matérias relacionadas a plano de saúde Competencia da União.
Matérias relacionadas a honorários advocatícios processo Competência privativa da União.
ADI 2030 Lei estadual sobre controle de resíduos, oleodutos, embarcações e instalações costeiras. O STF diz
que a matéria trata de direito ambiental marítimo e não de direito marítimo ambiental. O STF fez esse jogo de
palavras pois sendo a matéria preponderante ambiental a competência é concorrente e o Estado poderia
legislar.
ADI 969 É inconstitucional norma distrital que submeta as desapropriações no âmbito do DF à preocupação
prévia da Camara Legislativa do DF.
a) Inconstitucionalidade formal DF usurpa competência da União.
b) Inconstitucionalidade Material Violação da Separação de poderes, pois o Legislativo vai definir o
Exercício de competência administrativa.
ADI 3639, de Relatoria do Ministro Joaquim Barbosa (julgado de 2013): discussão sobre uma lei que permitia à
Administração utilizar em serviços de inteligência veículos particulares apreendidos. Será que é constitucional, tanto
formal quanto materialmente, uma lei que admite que órgãos de inteligência (como a Polícia Civil, por exemplo) utilize
nas suas atividades institucionais os veículos apreendidos?
O STF entendeu que era inconstitucional, porque viola o direito constitucional ao devido processo legal que
leva à perda compulsória da propriedade ou do direito de uso ou gozo, cuja positivação no campo infraconstitucional é
atribuída à União, no campo da legislação de trânsito ou não. Assim, decisões liminares de bloqueio de bens ou outras
decisões liminares, que são por sua natureza precárias, não podem autorizar que o Estado use aquele bem, porque isso
representaria uma violação ao devido processo legal e ao próprio direito de propriedade.
São diferentes as hipóteses de requisição administrativa, que são pontuais. Exemplo: o policial está
perseguindo um bandido, passa um carro, e o policial requisita esse caso, usa, e depois devolve.
São muitos temas relevantes. Telecomunicações, em especial, é um tema que gera muita jurisprudência, é muito
comum serem editadas leis estaduais com base na competência concorrente em matéria de Direito do Consumidor.
1º Caso:
ADI 5574, Ministro Edson Fachin (segundo semestre de 2019): lei estadual
determinava bloqueio de aparelhos celulares pelas operadoras nas hipóteses de furto e
roubo. É constitucional ou inconstitucional essa lei? O STF entendeu que era
formalmente inconstitucional por violação à competência privativa da União para legislar
sobre telecomunicações.
2º Caso:
ADI 5830, Relator Ministro Luiz Fux (segundo semestre de 2019): lei do Estado de Ceará que instituiu
obrigação às operadoras de telefonia fixa e móvel de disponibilizarem em seus sites extratos detalhados das
contas telefônicas e serviços de recarga. O STF também considerou que houve invasão da competência privativa da
União para legislar sobre telecomunicações (aspecto centralizador).
3º Caso:
ADI 4401, Ministro Relator Gilmar Mendes (segundo semestre de 2019): lei estadual que dispunha sobre
obrigatoriedade de informações por concessionária de telefonia fixa e móvel para fins de segurança pública .
Tensão entre competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações e competência administrativa – da
qual decorre a competência legislativa do Estado – para legislar sobre segurança pública.
Pela teoria dos poderes implícitos, sempre que um Ente tem um poder expresso na Constituição,
implicitamente tem os poderes necessários para bem exercê-lo. Na hipótese, o Estado, por ser competente para legislar
sobre segurança pública, é competente para legislar os termos – observada a Constituição da República – que vão
orientar a atuação das Polícias Civil e Militar.
“V – serviço postal”
ADPF 222, Relatora Ministra Carmen Lúcia (julgado de 2019): o STF entendeu que uma lei municipal que
tratava da entrega e distribuição de correspondência, e da proibição de entrega em determinados horários, violava a
competência privativa da União para legislar e administrar o serviço postal.
O STF entende que o serviço postal é serviço público e não atividade econômica, e portanto, não há
concorrência na entrega de correspondências, aplicando-se a lógica da exclusividade (regra no serviço
público).
ADI 5173, Relator Ministro Gilmar Mendes (dezembro de 2019): discussão sobre lei estadual que impunha lei e
forma para cumprimento de dever de informação ao usuário de plano de saúde quanto à alteração de rede credenciada. O
STF disse que essa norma diz respeito a seguro-saúde (plano de saúde é um seguro de saúde), e a competência é
privativa da União. Lei estadual é formalmente inconstitucional.
ADI 4704, Relator Ministro Luiz Fux (2019): lei estadual que tratava das condições e coberturas que as
seguradoras deveriam fornecer. Competência privativa da União para legislar sobre seguros.
ADI 750, Relator Ministro Gilmar Mendes (publicado em 2018): lei do Estado do Rio de Janeiro que dispunha
sobre obrigatoriedade de prestação de informações nas embalagens de produtos alimentícios comercializados no Estado
do Rio de Janeiro. O STF entendeu que não havia justificativa plausível para o Estado do Rio de Janeiro, à luz de suas
peculiaridades regionais, ter uma norma sobre informações em embalagens de produtos alimentícios, e outra regra em
outros Estados. Isso aumentaria muito o custo de empresas que operam no âmbito interestadual (teriam que fazer
um rótulo por Estado) sem nenhum benefício claro adicional que atendesse a peculiaridades regionais do Rio. O
Supremo entendeu que essa norma violava a competência da União para legislar sobre comércio exterior e interestadual
ADI 3813, Relator Ministro Dias Toffoli (2015): “é formalmente inconstitucional a lei estadual que cria
restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que
tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por
outros países. A matéria é predominantemente de comércio exterior interestadual”.
ADPF 514, Relator Ministro Edson Fachin (2018): tratava de uma lei municipal que disciplinava sobre
transporte de animais. O STF entendeu que essa lei seria inconstitucional porque a matéria de transporte de animais
se insere na competência para legislar sobre transporte (privativa da União).
ADI 2137, Relator Dias Toffoli: lei estadual do RJ que dispunha sobre cancelamento de multas de trânsito
anotadas em rodovias estaduais em certo período relativas a determinada espécie de veículo. O STF disse que “somente
a União pode anistiar ou perdoar as multas aplicadas pelos órgãos responsáveis, restando patente a competência
privativa da União em questão”. Nessa hipótese, a multa havia sido aplicado por entidade federal (PRF), mas se fosse
pelo DETRAN (estadual) poderia o ERJ cancelar.
RE 1054110, Relator Luis Roberto Barroso (2019, Tema 697 da RG): “a proibição ou restrição de atividade de
transporte privado individual por motorista cadastrado em aplicativo é inconstitucional por violação aos princípio da
livre iniciativa e da livre concorrência, e no exercício da sua competência para regulamentação e fiscalização de
transporte privado individual de passageiros os Municípios e o DF não podem contrariar os parâmetros fixados pelo
legislador federal”.
Esse foi o caso UBER. Premissa importante: o “serviço” prestado no transporte individual de passageiros, que
concorre com o táxi, não foi considerado pelo STF um serviço público, mas sim uma atividade econômica sobre
regime de livre iniciativa, embora intensamente regulada. Afirmou também a competência legislativa da União para
regulamentar, reconhecendo, portanto, a inconstitucionalidade formal de leis estaduais e municipais sobre a
matéria.
ADI 3870, Ministro Luis Roberto Barroso (segundo semestre de 2019): lei estadual de SP que dispensava os
músicos que realizassem shows naquele Estado da apresentação de carteira na ordem dos músicos. Disse o STF
que a competência para legislar sobre as condições do exercício das profissões é privativa da União, e que não cabe à lei
estadual regular as condições para o exercício da profissão de um músico, mesmo que a pretexto de garantir a atuação
dos artistas. Inconstitucionalidade formal.
ADI 3587, Ministro Gilmar Mendes: lei do DF que disciplinava atividade de transporte de bagagens em
terminais rodoviários do DF. Reconheceu também a inconstitucionalidade formal, violação à competência da União
para legislar sobre trânsito e transporte.
“XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública
dos Territórios, bem como organização administrativa destes;”.
Houve uma alteração nessa competência pela EC 69/2012. A competência para legislar sobre a organização
do Poder Judiciário e do MP do DF e Territórios é da União, mas a União só tem competência para legislar sobre a
Defensoria Pública dos Territórios (e não do DF, cuja competência é do DF).
Os Estados, por outro lado, têm competência para legislar sobre seu Judiciário, seu MP e sua Defensoria,
observadas as normas gerais, por sua autonomia política. O DF, por sua natureza sui generis, é que se submete a essa
regra específica.
Competência privativa da União. Esse tópico vai ser desenvolvido mais adiante quando forem tratadas as
competências do Estado no art. 25 e seguintes.
“XXIV – diretrizes e bases da educação nacional”
ADI 3713, Relator Ministro Marco Aurélio (2019): compete à União legislar sobre diretrizes e bases da
educação, incluída a disciplina relativa à confecção, emissão e registro de diploma por entidade de ensino superior
(universidades públicas ou privadas).
ADI 5341, Relator Ministro Edson Fachin (segundo semestre de 2019): o STF considerou formalmente
inconstitucional lei estadual que disciplinava revalidação de diploma obtido em universidade estrangeira. Matéria
inerente a diretrizes e bases da educação, sujeita à competência privativa da União.
Possibilidade de utilização de títulos não validados de ensino superior do Mercosul também é competência
privativa da União.
Internacionalização de títulos acadêmicos de mestrado e doutorado: também competência privativa da União
(ADI 4720, Ministra Carmen Lúcia).
ADI 2501: invade a competência da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação a norma estadual
que, ainda que de forma indireta, subtrai do Ministério da Educação a competência para autorizar, reconhecer e
credenciar cursos de instituições privadas superiores. Credenciar novas faculdades é competência da União.
“XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e
para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;”.
ADI 5333, Relatora Ministra Carmen Lúcia (2020): “ a expressão ‘interesse social’ para os fins de se
promover a regularização fundiária passível de dispensa de licitação prevista na al. f do inc. I do art. 17 da Lei
8.666/1993, sujeita-se à regulamentação da União, dos Estados e Municípios, conforme peculiaridades de cada
ente federado”.
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão
de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados no âmbito de
programas habitacionais ou de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou
entidades da administração pública; (Redação dada pela Lei nº 11.481, de 2007)”
Não há, portanto, competência exclusiva da União para regulamentar a expressão “interesse social” para fins de
caracterização da hipótese de dispensa de licitação descrito no art. 17, I, “f”, da Lei 8666/93. Ao contrário, essa
competência compartilhada da União, Estados e Municípios, conforme as peculiaridades de cada Estado.
“Lei estadual na qual se indique como interesse social para regularização fundiária de ocupação de áreas
públicas: competência do ente estadual”. A lei estadual que indicava como interesse social para regularização fundiária
de ocupação em áreas públicas: o STF afirmou a competência do Estado na hipótese.
“Ausência de descumprimento da competência legislativa da União para dispor sobre normas gerais de
licitação (inc. XXVII do art. 22 da Constituição da República)”.
ADI 4658, Ministro Edson Fachin (2019): “Usurpa a competência da União para legislar sobre normais gerais
de licitação norma estadual que prevê ser dispensável o procedimento licitatório para aquisição por pessoa jurídica de
direito interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração Pública, e
que tenha sido criado especificamente para este fim específico, sem a limitação temporal estabelecida pela Lei
8.666/1993 para essa hipótese de dispensa de licitação”.
Considerou-se que essa matéria era sim norma geral de licitações e contratos, e portanto, formalmente
inconstitucional a lei que disciplinava a matéria (dispensa de licitação para aquisição de bens produzidos por órgãos e
entidades da Administração Pública).
ADI 4748, Ministra Carmen Lúcia (2019): “Ao se determinar que o poder público adquira o mínimo de 65%
(sessenta e cinco por cento) dos bens e serviços definidos em sistema de registro de preços, na Lei estadual se invadiu a
competência privativa da União para estabelecer normas gerais sobre licitação e contratação, em todas as
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, prevista no inc. XXVII do art. 22 da Constituição da República. No § 4º do art. 15 da Lei
8.666/1993 se dispõe que ‘a existência de preços registrados não obriga a Administração a firmar as contratações que
deles poderão advir, ficando-lhe facultada a utilização de outros meios, respeitada a legislação relativa às licitações,
sendo assegurado ao beneficiário do registro preferência em igualdade de condições”.
ADI 3735, Ministra Carmen Lúcia (2016): “A igualdade de condições dos concorrentes em licitações,
embora seja enaltecida pela Constituição (art. 37, XXI), pode ser relativizada por duas vias: (a) pela lei, mediante o
estabelecimento de condições de diferenciação exigíveis em abstrato ; e (b) pela autoridade responsável pela condução
do processo licitatório, que poderá estabelecer elementos de distinção circunstanciais, de qualificação técnica e
econômica, sempre vinculados à garantia de cumprimento de obrigações específicas. Somente a lei federal poderá, em
âmbito geral, estabelecer desequiparações entre os concorrentes e assim restringir o direito de participar de licitações
em condições de igualdade. Ao direito estadual (ou municipal) somente será legítimo inovar nesse particular se tiver
como objetivo estabelecer condições específicas, nomeadamente quando relacionadas a uma classe de objetos a
serem contratados ou a peculiares circunstâncias de interesse local. Ao inserir a Certidão de Violação aos Direitos do
Consumidor no rol de documentos exigidos para a habilitação, o legislador estadual se arvorou na condição de
intérprete primeiro do direito constitucional de acesso a licitações e criou uma presunção legal, de sentido e alcance
amplíssimos, segundo a qual a existência de registros desabonadores nos cadastros públicos de proteção do
consumidor é motivo suficiente para justificar o impedimento de contratar com a administração local. Ao dispor
nesse sentido, a Lei estadual 3.041/2005 se dissociou dos termos gerais do ordenamento nacional de licitações e
contratos e, com isso, usurpou a competência privativa da União de dispor sobre normas gerais na matéria (art. 22,
XXVII, da CF/1988)”.
Essas desequiparações entre os licitantes só podem ser ditadas por lei federal. Considerou que é a norma
geral de licitações e contratos, e mesmo a lei federal deve promover uma desequiparação que seja compatível com
os princípios da proporcionalidade e da isonomia. Um discrime arbitrário, ainda que veiculado em lei federal,
seria inconstitucional (não formalmente, porque a competência é da União, mas materialmente inconstitucional por ser
um discrimen irrazoável).
ADI 5424, Relator Ministro Dias Toffoli (2018): Era uma lei do Estado de Santa Catarina que vedava a propaganda dos
medicamentos nos meios de comunicação. “A Lei 16.751/2015 do Estado de Santa Catarina, ao vedar a propaganda de
medicamentos e similares nos meios de comunicação sonoros, audiovisuais e escritos daquele Estado, usurpou a
competência privativa da União para legislar sobre propaganda comercial (art. 22, inciso XXIX, da Constituição),
especificamente em tema de medicamentos (art. 220, § 4º, da CF/88), além de ter contrariado o regramento federal
sobre a matéria, que permite que medicamentos anódinos e de venda livre sejam anunciados nos órgãos de
comunicação social, com a condição de conterem advertências quanto ao seu abuso, conforme indicado pela
autoridade classificatória’ (Lei Federal 9.294/1996, art. 12)”.
Parágrafo único: “Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias
relacionadas neste artigo”.
Possibilidade de delegação via lei complementar de matéria de competência da União para os Estados.
Requisito formal: lei complementar. Requisito material: delimitação de objeto (não pode ser delegação genérica, se
não seria renúncia e não delegação, e há precariedade). Discute-se sobre a possibilidade de delegação a alguns
Estados ou a todos necessariamente (conforme estudado anteriormente).
ADI 4212, Ministra Rosa Weber (2020): o art. 107 do CTB confere ao poder competente a regulação das
condições técnicas e de segurança de acordo com as peculiaridades de cada Ente. Não se trata de autorização para
legislar, nos termos do art. 22, parágrafo único, mas de mera possibilidade de regulamentação por meio de
estabelecimento de normas técnicas de conforto e segurança a serem atendidos para a exploração da atividade de
transporte coletivo de passageiros por veículos de aluguel. Desnecessária a utilização da via da lei complementar, uma
vez que se não se trata da delegação de competência para legislar sobre trânsito e transporte. Não era propriamente
delegação, e por isso era válida a lei ordinária que dava poder ao Estado para essa regulamentação.
A competência para prestar serviços de saúde é comum, compartilhada entre União, Estados e Municípios, e há
o dever de responsabilidade solidária (arts. 196 e seguintes). Isso acaba gerando uma jurisprudência muito ruim, porque
afirma uma responsabilidade solidária em matéria genérica de saúde (fornecimento de medicamentos, prestações
médicas, tratamentos, etc.) e isso gera muitos problemas administrativos e econômicos de coordenação. Exemplo: se
alguém precisa de um remédio muito caro, e são condenados de forma solidária, há o risco de Estado e Município
comprarem o mesmo remédio e só precisar de um. Prejuízo ao Erário.
“III –proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos,
as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos”.
“IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico,
artístico ou cultural;”
Um caso correlato a essas competências é a ADI 1950, Ministro Eros Grau: discutia- se sobre o benefício da
meia-entrada assegurado aos estudantes matriculados em estabelecimentos de ensino em relação a casas de diversão,
esporte, cultura e lazer.
“Lei 7.844/1992 do Estado de São Paulo. Meia entrada assegurada aos estudantes regularmente matriculados
em estabelecimentos de ensino. Ingresso em casas de diversão, esporte, cultura e lazer. (...) Se de um lado a
Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a
garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto (arts. 23, V; 205; 208; 215; e 217,
§3º, da Constituição). Na composição entre esses princípios e regras, há de ser preservado o interesse da coletividade,
interesse público primário. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer são meios de complementar a formação
dos estudantes”.
Considerou-se que a lei estadual era constitucional, seja com base na competência comum de promover o acesso
à cultura e ao lazer, seja, no plano material, por se tratar de restrição proporcional à livre iniciativa.
A competência para prestar saneamento básico é comum, assim como as matérias que dizem respeito à
proteção do meio ambiente. Foi publicado o edital de concessão de CEDAE, e isso gera uma discussão muito grande:
se é do Estado, se é da Região Metropolitana ou se é dos Municípios. Esse é o caso mais importante do ERJ hoje, tendo
em vista a repercussão financeira com a venda da CEDAE e também a melhora no serviço. Aspectos de Direito
Administrativo e de Direito Constitucional.
Inicialmente é importante trazer uma decisão do Supremo a ADI 1842:
ADI 1842, Relator Ministro Gilmar Mendes (2013): “O interesse comum inclui funções públicas e serviços que
atendam a mais de um Município, assim como os que, restritos ao território de um deles, sejam de algum modo
dependentes, concorrentes, confluentes ou integrados de funções públicas, bem como serviços supramunicipais. (...) O
art. 23, IX, da CF conferiu competência comum à União, aos Estados e aos Municípios para promover a melhoria das
condições de saneamento básico. Nada obstante a competência municipal do poder concedente do serviço público de
saneamento básico, o alto custo e o monopólio natural do serviço, além da existência de várias etapas – como
captação, tratamento, adução, reserva, distribuição de água e o recolhimento, condução e disposição final de esgoto –
que comumente ultrapassam os limites territoriais de um Município, indicam a existência de interesse comum do
serviço de saneamento básico”.
Essa frase tem muita importância. A competência “originária” para prestar o saneamento básico é do
Município. Porém, determinados fatores fazem com que haja interesse comum dos Municípios Limítrofes
(elementos: alto custo, monopólio natural da empresa, além da existência de várias etapas, como dito na decisão). Isso
faz com que seja quase inevitável o monopólio natural, ou seja, que um Ente concentre a infraestrutura necessária
para prestar os serviços de água e esgoto.
“A função pública do saneamento básico frequentemente extrapola o interesse local e passa a ter natureza de
interesse comum no caso de instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, nos termos
do art. 25, § 3º, da CF”. Se foi criada uma Região Metropolitana, uma microrregião ou uma aglomeração urbana,
o interesse é comum e a titularidade é da Região Metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião.
“Para o adequado atendimento do interesse comum, a integração municipal do serviço de saneamento básico
pode ocorrer tanto voluntariamente, por meio de gestão associada, empregando convênios de cooperação ou
consórcios públicos, consoante o arts. 3º, II, e 24 da Lei federal 11.445/2007 e o art. 241 da CF, como
compulsoriamente, nos termos em que prevista na lei complementar estadual que institui as aglomerações urbanas.
(...)”. O que é importante destacar é que, como há um interesse comum, os Municípios limítrofes podem se unir
tanto de maneira negocial/voluntária, por convênios ou consórcios públicos (previsão constitucional: art. 241 da
CR/88), quanto por aglomerações urbanas, regiões metropolitanas ou microrregiões (instituídas pelo art. 25, III,
§3º da CR/88, por lei complementar estadual).
O STF deliberou sobre um aspecto muito importante: sobre como devem ser organizadas as regiões
metropolitanas ou instrumentos congêneres. A lei complementar estadual que define isso tem certa
discricionariedade para definir os critérios de governança, ou seja, como vão se dar as deliberações, qual o peso
do voto do representante do Estado e dos Municípios. Mas essa discricionaridade não é plena: se por um lado não
se extrai da Constituição a necessidade de representação paritária (não precisa ter o mesmo peso o voto de cada
Município e do Estado), por outro lado não pode haver preponderância de um Ente sobre o outro, porque todos
esses Entes são autônomos (relação de coordenação entre eles, e não relação de subordinação). Estabelecidos
esses parâmetros de uma relativa equivalência de forças, a definição concreta de como vai ser o critério
deliberativo vai ser feita pela lei complementar estadual que institui a região metropolitana.
A respeito especificamente da privatização da CEDAE, foi proferido um parecer importante da PGE pelo
Procurador André Cyrino (que está na Banca da PGE): parecer 09/2019ARCY/PG17 (pontos destacados abaixo são
retirados desse parecer). O quesito central que o parecer se propôs a responder foi o seguinte: “No que toca aos serviços
públicos de fornecimento de água e esgotamento sanitário, é viável a atribuição ao ERJ, pelos titulares dos serviços
(entendidos aqui como o Rio Metrópole e municípios não metropolitanos), do exercício das funções de organização,
regulação, fiscalização, delegação da prestação dos serviços e gestão dos contratos com os operadores de tais
serviços, conforme o modelo apresentado nos tópicos anteriores?”
O primeiro ponto que André Cyrino trata é da ADI 1842, vista acima. Ele dá bastante ênfase ao fato de ter
havido mudança de orientação do STF. Primeiro uma definição, e depois uma mudança. Definição: afirmar que, em
regra, a competência para prestar esses dois serviços públicos (fornecimento de água e recolhimento de esgoto) é
ordinariamente do Município, e, caso instituída a região metropolitana, a competência passa a ser da região
metropolitana, e não do Estado.
Ele diz: “[...] a titularidade dos serviços públicos metropolitanos não é nem exclusiva do Estado, nem
exclusiva dos municípios; todos os entes federativos integrantes da região metropolitana a compartilham e, por
conseguinte, devem ter poder de decisão e direção dos rumos dos serviços compartilhados. Superou-se, assim, o
entendimento pretérito de que, na hipótese de criação de uma região metropolitana por lei complementar estadual, o
serviço público de saneamento básico passaria a ser titularizado pelo Estado que a instituiu. [...]”.
Além disso: “a RM, embora instituída por lei complementar do Estado, é o resultado do somatório de interesses dos
Municípios e do Estado do Rio de Janeiro”. Não é porque foi criada por uma lei complementar estadual que é uma
autarquia estadual. Ela é, na verdade, o resultado da união da vontade dos Municípios e do próprio Estado.
“Assim a capacidade de cada ente federado, inclusive do Estado, de decidir sobre seus rumos deve ser
proporcional, por imposição do STF. [...]. De toda forma, a RM, per se, é a titular dos serviços de interesse comum,
sendo, portanto, a responsável pela sua prestação”. O titular do serviço de interesse comum é a Região
Metropolitana, e, por isso, ela é responsável pela sua prestação.
“É diante desse quadro que se indaga: em que medida o Estado do Rio de Janeiro poderia ser delegatário de
funções de organização, regulação, fiscalização, prestação dos serviços e de gestão dos contratos com os operadores
dos serviços de saneamento básico que serão objeto de concessão? Em outras palavras: como é possível que, por meio
de delegação dos titulares do serviço, o Estado passe a figurar como um ator central na implementação do modelo
sem ser o seu titular?”.
Ele diz que é sim possível pois essa é uma competência delegável e ele parte de uma distinção clássica de
Direito Público: distinção entre delegação e renúncia de competências.
Renúncia É incompatível com a indisponibilidade do exercício da função pública. O titular não pode
simplesmente se abster de exercê-la. Por outro lado a Delegação é possível.
Ele diz que a própria possibilidade de delegação tem guarida no artigo 241 que fala em gestão associada quanto
na lei do saneamento básico. “Realmente, trata-se de uma das muitas possíveis formas de cooperação interfederativas .
O alargado art. 241 da Constituição prevê a possibilidade, na forma da lei, de "gestão associada de serviços públicos,
bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços
transferidos ". A Constituição do Estado do Rio de Janeiro também contém previsão semelhante no parágrafo único do
artigo 65. Nesse mesmo diapasão, o artigo 8°, da Lei Geral de Saneamento Básico (Lei Federal nº 11.445/2007),
reconhece a possibilidade de delegação da organização, da regulação, da fiscalização e da prestação de serviços de
saneamento. Veja-se:
Art. 8° Os titulares dos serviços públicos de saneamento básico poderão delegar a organização, a regulação, a
fiscalização e a prestação desses serviços, nos termos do art. 241 da Constituição Federal e da Lei nº l1107, de 6 de
abril de 2005 [Lei de Consórcios Públicos']. (destacou-se)
Tem-se, assim, uma hipótese de gestão associada de serviços de interesse comum, como é o caso dos serviços
de saneamento básico, o que pode envolver delegação. Observe- se que no bojo da ADI nº 1.842/RJ, em mais de uma
oportunidade, o STF ratificou os vários caminhos de gestão associada. [...]”.
Ele diz que a própria ADI prevê a possibilidade de gestão associada. E na hipótese da CEDAE não há
renúncia, e sim mera delegação, porque a titularidade do serviço remanesce com o Ente originariamente
competente.
“Se a renúncia de competências constitucionais é inválida, por outro lado, a delegação voluntária, via ato
infralegal, entre os entes federados, de competências constitucionais específicas é viável, desde que observados alguns
cuidados, a fim de se evitar que uma suposta delegação configure, na prática, verdadeira renúncia. Quais são as
cautelas necessárias?
O art. 11 da lei de processo administrativo estadual (Lei n° 5.427/2009) é um bom começo. Segundo a letra do
dispositivo, a delegação de competências é possível, desde que parcial; vale dizer: é vedada a transferência de todas as
funções do ente delegante, sob pena de se caracterizar renúncia de competência. Entende-se que não há renúncia,
quando "a competência continua nas mãos da Administração Pública se esta permanece com o comando da atividade
administrativa, como por exemplo, com os poderes de atuar ou não, de revisar, de desistir, etc"
A delegação proposta no projeto, em primeira análise, não implica renúncia. Trata-se de transferência
pontual de competências, as quais podem ser retomadas. Isto é: o titular continua com a possibilidade de recuperar o
serviço, sabendo-se que é revogável o instrumento negociai indicado (i. e. o convênio de cooperação), ainda que seja
necessário indenizar eventuais prejuízos”.
a) Se é pontual é serviço de água e esgoto emu ma localidade.
b) É TEMPORAl, há um prazo podendo ser retomada.
Ele extrai que a modelagem institucional da concessão da CEDAE é constitucional, resolvendo tanto a
questão da distribuição de competências, quanto a questão da delegação dessas atividades ao Estado. Por fim,
recomenda que: “fique claro que a competência para firmar os contratos de concessão permaneça com os titulares do
serviço público (Le.: Região Metropolitana e municípios não metropolitanos), ainda que haja a delegação de
determinadas competências ao Estado”. Os Municípios que não entraram na região metropolitana remanescem
como titulares originários da competência. Para os que ingressaram, a competência passa a ser da região
metropolitana.
“Para tanto, sugiro que o Estado do Rio de Janeiro exerça função análoga a de um mandatário sem
representação, não figurando como parte nos contratos de concessão. O Estado, na verdade, não exercerá a função de
concedente, mas de uma espécie de intermediário e coordenador. Logo, é recomendável que o Estado não assine os
contratos como concedente, mas como interveniente anuente”.
“Até para que se deixe clara a titularidade dos envolvidos, deverão figurar como concedentes nos contratos de
concessão: a Região Metropolitana, bem como cada um dos Municípios que não integrar a região”.
“Sublinho, por outro lado, que não vislumbro, em princípio, maiores problemas quanto ao Estado do Rio de Janeiro
ser o responsável pela modelagem, organização e gestão da licitação e pela formatação da divisão dos blocos de
municípios a serem licitados. Também não há obstáculo jurídico a que a AGENERSA, por sua vez, seja responsável
pela regulação e fiscalização da prestação do serviço . Aliás, destaco que a delegação das funções de regulação e
fiscalização dos serviços de saneamento básico pelos titulares a uma agência reguladora pertencente à estrutura de
outro ente federativo (no caso, a agência reguladora estadual AGENERSA), é viável a luz da lei e da jurisprudência do
STF”.
Assim, essas são as principais razões que levaram André Cyrino nesse parecer a concluir pela legitimidade da
modelagem institucional de concessão da CEDAE. O edital foi lançado em dezembro de 2020, e em 2021 a questão vai
acelerar (a previsão é que a concessão se dê em abril de 2021). Essas são as razões do Estado.
Os Municípios que não estão satisfeitos com essa modelagem sustentam que a competência é municipal, como o
próprio STF reconheceu na ADI citada, e o Estado estaria exercendo de maneira abusiva as suas atribuições, usurpando
uma competência não só concedida pela Constituição, mas já reconhecida pelo próprio STF como competência
municipal e não estadual.
Art. 23 (continuação):
“XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos
hídricos e minerais em seus territórios”.
ADI 4606, Relator Ministro Alexandre de Moraes (2019): “As providências enumeradas no art. 23, XI, da CF –
registro, fiscalização e acompanhamento – possibilitam o controle pelos demais entes federativos das quotas-partes
DE
repassadas a título de compensação financeira pelos órgãos federais, com a possibilidade de criação de obrigações
administrativas instrumentais, a serem observadas pelas concessionárias instaladas nos respectivos territórios. Os
SERR
Estados, Distrito Federal e Municípios não possuem competência para definir as condições de recolhimento das
compensações financeiras de sua titularidade, ou mesmo para arrecadá-las diretamente, por intermédio de seus
órgãos fazendários. Extrapola a competência comum do art. 23, XI, da CF a instituição de infrações e penalidades
pelo atraso no pagamento das compensações financeiras (obrigação principal), bem como sua arrecadação
diretamente pela Secretaria de Fazenda Estadual”.
Então, as condições de recolhimento, por exemplo, dos royalties (exploração de recursos repassados pela União Federal)
não podem ser definidas pelo Estado. Quem arrecada é a União, que lhes repassa. O Estado não pode estabelecer
infrações e penalidades pelo atraso no pagamento das compensações financeiras nem que a arrecadação dar-se-á
pela Secretaria de Fazenda.
ADI 3610: “Profissão de motoboy. Regulamentação. Inadmissibilidade. (...) Competências exclusivas da União.
(...) É inconstitucional a lei distrital ou estadual que disponha sobre condições do exercício ou criação de profissão,
sobretudo quando esta diga à segurança de trânsito” (seja porque viola competência privativa da União para legislar
sobre as condições para exercício de profissões, seja porque viola competência privativa da União para legislar sobre
trânsito e transporte).
São aquelas que se submetem a um condomínio legislativo entre União, Estados e Municípios. Os Municípios,
embora não previstos no caput, inserem-se nessas matérias por força do art. 30, II, que prevê a competência para
suplementar a legislação federal e estadual no que couber.
Art. 24 da CR/88: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I — direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico. II – orçamento;”.
União: normas gerais. Estados e Municípios: normas específicas (como visto na aula anterior).
“V – produção e consumo”.
Como mencionado anteriormente, a matéria de Direito do Consumidor, sujeita à competência concorrente,
enseja a edição de muitas leis estaduais que entram em conflito aparente com competências privativas da União.
ADI 3155, Relator Ministro Marco Aurélio (segundo semestre de 2020): “proteção do consumidor. Ausente
intervenção direta no núcleo de atuação das instituições voltadas ao exercício de atividade mercantil ou financeira,
surge constitucional norma estadual impor em caráter obrigatório a instalação de itens de segurança em caixas
eletrônicos, reduzindo riscos à integridade dos usuários dos serviços bancários”. Então, embora a União tenha
competência privativa para legislar sobre serviços bancários, entendeu-se que essa norma específica era inerente à
proteção do consumidor, e a lei é constitucional com base na competência concorrente para legislar sobre Direito do
Consumidor.
ADI 3874, Relator Ministro Luis Roberto Barroso (2019, segundo semestre): era uma lei do ERJ. “Lei
fluminense que proíbe a cobrança pelos estabelecimentos de ensino sediados no Estado do Rio por provas de segunda
chamada, provas finais ou equivalentes, não podendo o estudante ser impedido de realizar essas provas por não ter
pago esses valores, é constitucional. Ao estabelecer regras protetivas para os estudantes mais amplas do que as
federais, quanto à cobrança dessas provas, o Estado do Rio de Janeiro atuou dentro da área de sua competência
concorrente para legislar sobre direito do consumidor e educação”.
“VI — florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição”.
ADI 4069: “observados os procedimentos impostos por leis federais, cabe aos Estados não traçar
propriamente as diretrizes ambientais já dispostas na lei federal, mas exercer sua competência concorrente para
estabelecer, dentro desses requisitos, sua normatização própria”. Normas específicas dentro das normais gerais
federais. A matéria de fundo era o zoneamento ecológico econômico: “a lei impugnada não trata do zoneamento
propriamente dito, que requer uma série de procedimentos, mas da normatização de critérios mínimos que sejam
concretizados no Estado do Rio. Ateve-se, assim, a exercer sua competência concorrente, observadas as normas
gerais federais. A legislação federal estipula disciplina geral, que parece não deixar margem para restrições
estabelecidas pela lei estadual no que concerne à exigibilidade de elaboração do estudo EIA/RIMA . Não se admite
que no uso de sua competência residual defina o Estado regramento seja afastada a aplicação do determinado
pelas normas gerais federais. Inconstitucionalidade da lei estadual que, a título de complementação das normas gerais
editadas pela União, dispensa a elaboração de EIA/RIMA, nos termos por ela previstos”.
A lei estadual que dispensa o EIA/RIMA é inconstitucional porque não complementa as normas federais,
mas sim dispensa o que é exigido pela lei federal e é necessário para proteção do meio ambiente.
ADI
se que os 5996, editem
Estados Relatornormas
Ministromais
Alexandre de Moraes
protetivas ao meio(2020): “A com
ambiente, Lei 289/2015 do Estado
fundamento em suasdo Amazonas, ao proibir
a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal,
perfumes e seus componentes, não invade a competência da União para legislar sobre normas gerais em relação à
proteção da fauna. Competência legislativa concorrente dos Estados (art. 24, VI, da CF). A sobreposição de opções
políticas por graus variáveis de proteção ambiental constitui circunstância própria do estabelecimento de competência
concorrente sobre a matéria. CASTR Em linha de princípio, admite-
O
peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse, conforme o caso”.
O STF entendeu que a norma era formalmente constitucional, ou seja, não se imiscuía na competência da União
para editar normas gerais sobre a proteção da fauna. Matéria de competência concorrente. Pode haver diferentes opções
políticas nos diferentes Entes Federativos. Admitiu-se que o Estado estabeleça normas obrigatórias aos agentes
econômicos mais protetivas ao meio ambiente, desde que atendam a peculiaridades regionais e tenham
conformidade com a preponderância do interesse.
RE 586224: “O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de
seu interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes
federados (art. 24, VI, c/c 30, I e II, da CRFB)”.
Os Municípios entram na competência concorrente por força do art. 30, II, como mencionado
anteriormente. Normas específicas nos termos das normas mais gerais estabelecidas pela União e pelo Estado.
Agora iremos estudar o caso em que o STF analisou a revogação das Resoluções de proteção de
manguezais pelo CONAMA. Relatora Ministra Rosa Weber. O que estava em discussão era a Resolução 500 de 2020
do CONAMA, que revogou outras normas que regulamentavam licenciamento ambiental de atividades de
irrigação e protegiam áreas de proteção permanente.
O STF entendeu que a pura e simples revogação implicaria na violação ao princípio da vedação ao
retrocesso, tendo em vista que não se substituiu a resolução revogada por outra , e que não houve demonstração de
que, na ausência dessas resoluções, haveria proteção adequada ao meio ambiente. Foram acolhidas as ADIs, e
julgada essa resolução inconstitucional.
Obs: É constitucional lei estadual que instituiu a cobrança pelo uso da água.
ADI proposta pelo Governador do Estado de São Paulo. Lei estadual que disciplinava
o comercio de artigos de conveniência em farmácias e drogarias. Havia uma norma da ANVISA que disciplinava
exclusividade de vendas de medicamentos em drogarias, mas nada dizia sobre a venda de produtos de
conveniência em drogarias. Havia uma lei estadual que autorizava a venda de produtos de conveniência em drogarias.
O STF considerou competente o Estado, afirmando a constitucionalidade, seja pela natureza (comércio local), seja
pelo legitimo exercício da competência suplementar dos legisladores estaduais no campo da defesa da saúde (art.
24, XII, da CR/88), seja pela desproporcionalidade da limitação ao exercício da livre iniciativa.
As agências reguladoras não competem legislar, mas sim promover a normatização dos setores cuja
regulação lhe foi legalmente incumbida. Isso é importante para a afirmação da competência estadual, porque havia
um potencial conflito entre uma norma da agência reguladora e uma lei estadual. “A norma regulatória
federal deve se compatibilizar com a ordem legal, integrar a espécie normativa primária, adaptando e especificando o
seu conteúdo, e não substituí-la ao inovar na criação de direitos e obrigações”. Deve se sujeitar à lei, inclusive à lei
estadual se a competência for estadual. Não há hierarquia, pois se a competência é Estadual é a norma da Anvisa
que tem que se adequar à lei estadual.
ADI 4874 (2019): tratava de resolução da ANVISA que estabelecia limites máximos de alcatrão, nicotina,
monóxido de carbono em cigarros, e restrição de uso de determinados aditivos (substâncias que dão sabor ao cigarro). O
STF entendeu que não havia exorbitância do poder regulamentar, pelo contrário, era algo que se conformava ao poder
regulamentar. Entendeu isso porque a norma especificava os termos da lei e protegia a saúde do cidadão, porque
esses aditivos que dão sabor são muito usados para captar novos fumantes, sobretudo adolescentes e jovens.
ADI 4306, Ministro Edson Fachin (2019): “Nos casos em que a dúvida sobre a
competência legislativa recai sobre norma que abrange mais de um tema, deve o intérprete
acolher interpretação que não tolha a competência que detêm os entes menores para dispor
sobre determinada matéria. (...) É um argumento de típica descentralização e de fortalecimento da Competência dos
entes estaduais, o que é muito importante. A Lei fluminense 5.517, de 2019, ao vedar o consumo de cigarros,
cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, não extrapolou o
âmbito de atuação legislativa, usurpando a competência da União para legislar sobre normas gerais, nem exacerbou a
competência concorrente para legislar sobre saúde pública, tendo em vista que, de acordo com o federalismo
cooperativo e a incidência do princípio da subsidiariedade, a atuação estadual se deu de forma consentânea com a
ordem jurídica constitucional”.
ADI 3937 (2017): caso do amianto. Havia uma lei federal, da década de 90, que proibia a comercialização de
vários tipos de amianto, mas autorizava a comercialização, com restrições, do amianto branco. Por outro lado, havia leis
estaduais que proibiam quaisquer amiantos, inclusive o amianto branco. Era um conflito insuperável (não havia como
compatibilizar).
A matéria é de competência concorrente (proteção do meio ambiente e saúde), e a rigor a norma sobre
comercialização de uma substancia parece ser uma norma geral. A princípio, deveria prevalecer a lei federal. No
entanto, a lei federal violava a dimensão positiva da proporcionalidade, porque não promovia uma proteção
suficiente e adequada para a saúde do trabalhador, porque depois houve certo consenso no plano internacional
de que o amianto faz muito mal à saúde.
Então, o STF reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade dessa lei federal e julgou constitucionais as
leis estaduais.
Questão importante: relação entre o chamado poder de autoconstituição do Estado (que se traduz no Poder
Constituinte Decorrente) e a vinculação do Estado à Constituição da República. O Poder Constituinte
Decorrente, que é o poder do Estado-membro editar sua Constituição para se autoconstituir e estabelecer sua estrutura
própria, não é um poder absoluto, devendo obediência aos princípios estabelecidos na Constituição da República.
Mas se se limitar muito esse poder, não será um verdadeiro Poder Constituinte Decorrente, e sim uma
reprodução mecânica da Constituição da República.
ADI 4298, Ministro Cezar Peluso: “No desate de causas afins, recorre a Corte, com frequência, ao chamado princípio
ou regra da simetria, que é construção pretoriana tendente a garantir, quanto aos aspectos reputados substanciais,
homogeneidade na disciplina normativa da separação, independência e harmonia dos poderes, nos três planos
federativos. Seu fundamento mais direto está no art. 25 da CF e no art. 11 de seu ADCT, que determinam aos Estados-
membros a observância dos princípios da Constituição da República. Se a garantia de simetria no traçado
normativo das linhas essenciais dos entes da Federação, mediante revelação dos princípios sensíveis que moldam a
tripartição de poderes e o pacto federativo, deveras protege o esquema jurídico-constitucional concebido pelo poder
constituinte, é preciso guardar, em sua formulação conceitual e aplicação prática, particular cuidado com os riscos de
descaracterização da própria estrutura federativa que lhe é inerente. (...) Noutras palavras, não é lícito, senão
contrário à concepção federativa, jungir os Estados- membros, sob o título vinculante da regra da simetria, a normas
ou princípios da Constituição da República cuja inaplicabilidade ou inobservância local não implique contradições
teóricas incompatíveis com a coerência sistemática do ordenamento jurídico, com severos inconvenientes políticos ou
graves dificuldades práticas de qualquer ordem, nem com outra causa capaz de perturbar o equilíbrio dos poderes ou a
unidade nacional. A invocação da regra da simetria não pode, em síntese, ser produto de uma decisão arbitrária ou
imotivada do intérprete”.
Muitas vezes o Estado é obrigado a seguir, pelo princípio constitucional da simetria, princípios
estabelecidos na Constituição. o princípio da simetria estabelece aquelas normas da Constituição que são de
incidência obrigatória nos Estados, porque se é um federalismo, todos os Entes devem respeito a um núcleo básico.
Seu fundamento direto está no art. 25 da CR/88 e no art. 11 do ADCT, que trata da edição das Constituições
Estaduais.
Alguns desses princípios são chamados de princípios constitucionais sensíveis, que são aqueles do art. 34,
VII, que, quando violados pelo Estado-membro, justificam a intervenção federal no Estado. Dessa forma é óbvio
que esses princípios são de observância obrigatória pelos Estados.
Se a norma da Constituição Federal não implicar contradições teóricas incompatíveis com a coerência
sistemática do ordenamento jurídico, nada impede que a Constituição Estadual tenha uma norma diferente da
Constituição Federal. Isso é muito importante. É um equívoco entender que há uma hierarquia necessária, de maneira
que sempre que uma norma da Constituição Estadual contrariar uma norma da Constituição Federal a primeira vai ser
inconstitucional. Não é assim. Se não for uma norma de incidência obrigatória para o Estado, não há mal nenhum
em ter normas diferentes: a norma federal vale para a União e a norma estadual vale no âmbito do Estado.
ADI 1594: matérias de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo são de incidência obrigatória para os
Estados-membros. A Assembleia Legislativa precisa aplicar por simetria as matérias estabelecidas na Constituição
Federal (art. 61) com matérias de iniciativa legislativa reservada ao Poder Legislativo.
ADI 1448 (2007): “Disposição constitucional estadual que impõe o pagamento de 13º salário aos servidores
estaduais em data e forma definidas. Abuso do poder constituinte estadual, por interferência indevida na
programação financeira e na execução de despesa pública, a cargo do Poder Executivo, nos termos da CF”.
ADI 486: tratava das normas da Constituição Estadual sobre o processo de reforma da própria
Constituição Estadual. O STF entendeu que a norma da Constituição Estadual, ao disciplinar a sua própria
reforma, deve simetria às normas de reforma Constituição Federal (art. 60), de forma que seria inconstitucional a
exigência do quórum de 4/5 (superior aos 3/5 exigidos na CR/88).
“Processo de reforma da Constituição estadual. Necessária observância dos requisitos estabelecidos na CF (art.
60, §§ 1º a 5º). Impossibilidade constitucional de o Estado-membro, em divergência com o modelo inscrito na Lei
Fundamental da República, condicionar a reforma da Constituição estadual à aprovação da respectiva proposta por
4/5 da totalidade dos membros integrantes da assembleia legislativa. Exigência que virtualmente esteriliza o exercício
da função reformadora pelo Poder Legislativo local. A questão da autonomia dos Estados-membros (CF, art. 25).
CASTR
Subordinação jurídica do poder constituinte decorrente às limitações que o órgão investido de funções constituintes
primárias ou originárias estabeleceu no texto da Constituição da República: (...)”.
ADI 687: “A Constituição estadual não pode impor, ao prefeito municipal, o dever de comparecimento perante
a câmara de vereadores, pois semelhante prescrição normativa, além de provocar estado de submissão institucional do
chefe do Executivo ao Poder Legislativo municipal (sem qualquer correspondência com o modelo positivado na
Constituição da República), transgredindo, desse modo, o postulado da separação de poderes, também ofende a
autonomia municipal, que se qualifica como pedra angular da organização político-jurídica da Federação brasileira.
(...) O Estado-membro não dispõe de competência
para instituir, mesmo em sua própria Constituição, cláusulas tipificadoras de ilícitos político-
administrativos, ainda mais se as normas estaduais definidoras de tais infrações tiverem por finalidade viabilizar a
responsabilização política de agentes e autoridades municipais”.
A norma que existe no art. 50 da Constituição só obriga que todas as autoridades abaixo do Chefe do
Executivo compareçam ao Legislativo quando intimadas, sob pena de crime de responsabilidade caso a recusa
seja imotivada. O Chefe do Executivo não se sujeita a isso. Como essa norma se aplica por simetria, obrigar o
Chefe do Executivo Municipal ou Estadual a comparecer sob pena de crime de responsabilidade é
inconstitucional por violação à simetria. O mesmo se aplica à obrigação de comparecimento de autoridade do
Poder Judiciário, que também não serve à simetria do art. 50.
E as Constituições Estaduais não podem estabelecer cláusulas tipificadoras de ilícitos político-
administrativos, porque o STF entende que essa competência se refere à competência para legislar sobre processo
(privativa da União).
AO (ação originária) 366: “Revela-se inconstitucional, porque ofensivo aos postulados da Federação e da
separação de poderes, o diploma legislativo estadual, que, ao estabelecer vinculação subordinante do Estado-membro,
para efeito de reajuste da remuneração do seu funcionalismo, torna impositiva, no plano local, a aplicação automática
de índices de atualização monetária editados, mediante regras de caráter heterônomo, pela União Federal”.
Norma estadual que obrigava o Estado-membro, no que toca ao reajuste do seu funcionalismo, a adotar o
mesmo índice adotado pela União. Essa exigência de adoção do mesmo índice de inflação ou de aumento do
funcionalismo para automaticamente aumentar o salário do funcionalismo público estadual é uma violação à autonomia
política do Estado (mais especificamente à autonomia administrativa e legislativa do Estado).
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
Todas as competências administrativas ou legislativas que não tenham sido conferidas de maneira
expressa à União ou aos Municípios terão sido conferidas aos estados. Esse é o modelo tradicional do federalismo
dual, que tem origem no federalismo norte- americano, que foi incorporado no Brasil desde a nossa primeira
constituição republicana, que foi a de 1891.
Julgados relevantes sobre o tema:
ADPF 492 julgado em conjunto com a ADPF 493 e com a ADI 4986. Disse o supremo no julgado relatado pelo
Ministro Gilmar Mendes e julgado em 2020: “os estados membros detém competência administrativa para explorar
loterias. A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material para a exploração dessas atividades pelos entes municipais ou estaduais”. A
competência da União é para legislar, mas não exclui a competência dos Estados e Municípios para instituirem o
serviço. A Competência material para disponibilizar o serviço é a competência de estados e municípios.
ADI 2349 - trata da competência para prestar o serviço de transporte intramunicipal, ou seja, dentro dos
municípios. A competência é dos municípios.
ADI 2311 (2002) - a competência concorrente dos estados em matéria previdenciária não autoriza que se
desatendam os fundamentos básicos do sistema previdenciário de origem constitucional. A competência dos Estados de
instituirem o seu próprio regime de previdencia RPP, deve observar as normas estabelecidas na CF.
ADI 2069 – ingresso e remoção na atividade de notário a competência é da União e não dos estados, por
força do artigo 236 da CRFB/88.
RE 201.865 – tratava da competência para prestar o serviço de fretamento de ônibus para transporte com
finalidade turística. O transporte ocasional a turistas reclama regulamentação por parte do estado membro,
com base no seu poder de polícia administrativa, com vistas à proteção dos turistas e do próprio turismo.
Sobre o tema:
Vamos tratar agora do artigo 30 da CRFB/88 que versa sobre as competências municipais:
Essa é a principal competência dos municípios e, com base nela, o STF editou a Súmula Vinculante nº 38,
que tem a seguinte redação: “É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de
estabelecimento comercial.”
Obs: Salvo as instituições que estão submetidas à regulamentação federal, como são as instituições
bancárias.
RE 586.224 – Tema 145 da repercussão geral. O município é competente para legislar sobre meio
ambiente, em conjunto com a União e estados, no limite do seu interesse local, e desde tal regramento seja
harmônico com as normas federais e estaduais.
AI (Agravo de Instrumento) 491420 – Competência dos municípios para legislar sobre questões relativas
a edificações e construções realizadas no seu território, assim como para dispor sobre assuntos relacionados a
segurança e imóveis destinados ao atendimento público.
Art. 25 (...)
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da
obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
ADI 2751 – tratava de uma lei do Estado do Rio de Janeiro que autorizava o poder executivo a prender e
desemplacar veículos de transporte coletivo. O supremo entendeu que essa norma era constitucional porque se
inseria no poder de polícia do estado em matéria de trânsito, não violando a competência da União para legislar
sobre trânsito e transporte.
Art. 25 (...)
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; (...)
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso,
do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
Aqui se tratava da competência dos municípios para criarem distritos – os municípios possuem essa
competência – mas deve se fazer nos termos da legislação estadual.
A mesma coisa em relação ao ordenamento territorial. Como se relaciona com direito urbanístico, está sujeita
às normas federais e estaduais, já que a competência para legislar sobre direito urbanístico é uma competência
concorrente.
Art. 25 (...)
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;
Todo serviço de interesse local como o próprio saneamento básico – que é prioritariamente de interesse
municipal -, recolhimento de lixo, serviços funerários, dentre outros, são serviços de competência municipal.
ADI 845 – O ente que vai prestar o serviço é o competente para instituir a meia passagem sobre o serviço
de transporte. Então, se o transporte é intermunicipal a competência será do estado; e se o transporte for
intramunicipal a competência será do município.
A pandemia de Covid-19 que assolou o país em 2020 trouxe uma discussão muito importante sobre
competências. Logo que eclodiu a pandemia no Brasil, em março de 2020, se verificou claramente um antagonismo
entre as posições adotadas de um lado pelo Presidente da República – uma postura de sempre destacar a necessidade de
retorno das atividades econômicas, com certa crítica às medidas de isolamento social - e de outro lado, de boa parte dos
governadores e prefeitos, uma postura antagônica, que há época foi referendada pelo então ministro da saúde, no sentido
de serem inevitáveis as medidas de isolamento social.
Quando a gente ia analisar propriamente as normas, não se verificava frontalmente um conflito. O que se
verificava era que as normas estaduais e municipais iam além daquelas estabelecidas pela legislação federal – sobretudo
as medidas de isolamento social, de fechamento das atividades econômicas não essenciais, limitação ao direito de ir e
vir, fechamento de praia, dentre outras.
Nesse contexto o que se viu na jurisprudência do supremo?
A primeira coisa que é importante destacar é que em uma situação como essa, de um pacote legislativo tratando
de Covid-19, havia a potencial incidência de um sem número de regras constitucionais de competência. Esse
pacote envolvia limitações ao direito de ir e vir, à liberdade econômica e outras matérias sensíveis, mas a questão
central dizia respeito à saúde pública, cuja competência, no plano material, é comum e no plano legislativo é
concorrente. Então, há certa dúvida sobre qual ente federativo é competente para legislar sobre a matéria.
Historicamente, a jurisprudência do supremo sempre foi centralizadora, ou seja, em reforço às competências da
União. Só que, pelas circunstâncias muito específicas, da gravidade da pandemia do corona vírus, e pelo fatos dos
governadores e prefeitos terem tomado a frente de medidas de isolamento social, que eram inclusive recomendadas pela
OMS, esse contexto acabou sendo favorável para que o supremo tivesse uma jurisprudência mais descentralizadora.
Um dos casos centrais foi a ADI 6341, julgada em 16 de abril de 2020, que foi relatada pelo Ministro Marco
Aurélio e redator para acórdão o Ministro Edson Fachin.
Em síntese, o supremo falou nesse caso que prevaleciam as normas estaduais mais restritivas, o que inclui o
isolamento social, primeiro porque eram medidas que não propriamente eram contraditórias, porque não tinha norma
federal que proibia isso, mas na
verdade normas que iam além e que naquele contexto específico se revelavam necessárias para uma proteção adequada
ao direito à saúde dos brasileiros, já que inclusive eram essas as recomendações da OMS.
O que é interessante de se notar aqui é o fenômeno da
constitucionalidade/inconstitucionalidade circunstancial. Não parece haver muita dúvida de que se o governador do
estado editar um decreto que feche uma atividade econômica lícita, ainda que não essencial, em um momento de
normalidade, essa norma vai ser inconstitucional, seja no aspecto material – por ser uma restrição desproporcional à
livre iniciativa e ao direito de propriedade, seja no aspecto formal pela violação da reserva de lei sobre a matéria.
Mas, nesse momento muito especial da pandemia, o supremo julgou essa norma constitucional, então é
uma típica situação de constitucionalidade circunstancial, ou seja, naquelas circunstancias a medida não só era
constitucional como necessária para preservar a saúde pública.
Por outro lado, o supremo coibiu medidas excessivas, que a pretexto de proteger a população contra a
expansão da covid, eram desproporcionais, muito restritivas a vários direitos fundamentais.
Ex: o Ministro Dias Toffoli, há época presidente do STF, anulou um decreto municipal de Teresina que proibiu
o funcionamento de uma fábrica, por entender que isso era uma violação à livre iniciativa e ao direito de propriedade. O
Ministro Dias Toffoli também manteve uma decisão do TJ/SP que suspendeu um decreto da cidade de São Bernardo do
Campo que restringiu a circulação de pessoas com mais de 60 anos.
Outro caso importante foi uma decisão relatada pela Ministra Rosa Weber que invalidou uma Medida
Provisória que previu o compartilhamento de dados de empresas de telefonia com o IBGE. Se entendeu que a
obrigatoriedade das empresas de telefonia de fornecer dados ao IBGE seria uma violação à privacidade e ao
sigilo de dados pessoais.
Também é importante o caso em que o supremo reconheceu que não havia uma política pública específica de
proteção dos povos indígenas e que era um povo muito vulnerável à Covid, sobretudo os povos isolados, tendo em
vista a ausência de proteção imunológica. Então, foi a ação foi julgada procedente, com a determinação de diversas
medidas que deverão ser adotadas pelo poder público para a proteção da população indígena contra a expansão
da Covid.
Devemos ficar de olho também no caso da invalidação de uma medida provisória que estabelecia diversas
limitações à Lei de Acesso à Informação, sob a justificativa da inviabilidade de seu cumprimento durante a
pandemia. O supremo entendeu que a pandemia era usada como subterfúgio para não prestar informações que
são não apenas obrigatórias pela Lei de Acesso à Informação, como também pelo próprio princípio da
publicidade.
Outro caso interessante: o Ministro Barroso suspendeu a divulgação de campanha publicitária do governo
federal que incentivava o retorno da população às atividades normais, no momento em que as recomendações das
autoridades sanitárias internacionais e nacionais eram de manter o isolamento social.
Mais um caso interessante, que teve como relator o Ministro Alexandre de Moraes, que invalidou uma
alteração da forma de divulgação dos dados de mortes e infecção de Covid pelo ministério da saúde, por
entender que a nova metodologia era menos transparente.
Esses foram os principais casos do Supremo durante a pandemia, com o federalismo em momento de crise. O
STF foi um ator muito importante para manter a estabilidade institucional e permitir que se mantivessem medidas
naquele momento que se mostravam essenciais para a proteção da vida dos brasileiros e acabou sendo um player muito
importante em uma crise de saúde sem precedentes.
- ADI 3336 (decisão importante para o Estado do RJ) – relator Ministro Dias Toffoli, julgado em 2020. O caso
trata de uma Lei do Estado do RJ que dispunha sobre a cobrança pela utilização de recursos hídricos de domínio do
estado e organiza o sistema administrativo de gestão e execução da referida atividade . O supremo disse que
embora a União detenha a competência exclusiva para instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos
hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso , além de competência privativa para legislar sobre
águas de acordo com os artigos 21, XIX e 22, IV, não será de olvidar que aos estados membros compete, de forma
concorrente, legislar sobre proteção ao meio ambiente, de acordo com os artigos 24, VI e VIII, o que inclui,
evidentemente, a proteção de recursos hídricos. Esse entendimento mostra-se consentâneo inclusive com a previsão
constitucional que defere aos estados membros o domínio das águas superficiais ou subterrâneas . Portanto,
somando a competência concorrente para legislar sobre meio ambiente, com a titularidade do estado sobre essas
águas, decorre a competência do estado sobre a matéria. (Muito Importante!!!0
- A partir de agora, o professor vai comentar alguns trechos de um artigo do Rodrigo Mascarenhas, que é da
banca de constitucional, que é chamado “A ANA e a federação por água abaixo: notas sobre o novo marco legal do
saneamento”.
Primeiro, o Rodrigo Mascarenhas parte do artigo 21, XX, CRFB/88 que trata da competência da União para
estabelecer diretrizes sobre saneamento básico. Então, a partir dessa competência, se extrai que compete à União
editar normas gerais sobre saneamento básico.
no artigo.
Primeiro, o Rodrigo Mascarenhas trata da ADI 1842, já mencionada nessa aula, que é a ADI que afirma que a
competência para prestar o serviço de saneamento básico é originariamente dos municípios e, onde houver
região metropolitana e compartilhamento de equipamentos, a competência é da região metropolitana . Ele
reconhece essa premissa afirmada pelo STF e diz que “Em suma, em qualquer canto do território nacional o titular dos
serviços de saneamento pode ser o município ou a região metropolitana (ou microrregião). Em nenhuma hipótese
este titular será a União”. Rodrigo Mascarenhas destaca isso para dizer que é um equivoco entender que a União vai
ter competência para esgotar o tratamento sobre o saneamento básico, porque cabe a ela editar apenas normas
gerais e a competência para instalar os serviços é dos municípios ou da região metropolitana.
Mascarenhas diz ainda que “se a União não é a titular do saneamento, como ela pode se apresentar como
a principal ou, talvez, exclusiva responsável por estabelecer normas sobre o tema?”
Então, essa é a grande questão que o professor Mascarenhas coloca contra o novo marco legal do
saneamento.
E ai, o artigo trata das competências que o novo marco legal do saneamento confere à ANA (Agência
Nacional de Águas e Saneamento Básico), dizendo que compete à ANA editar “normas de referência” para “a
regulação dos serviços públicos de saneamento básico por seus titulares e suas entidades reguladoras e
fiscalizadoras” (...). Então, o que o professor diz é que uma agencia reguladora federal não pode estabelecer normas
tão amplas assim (“normas de referencia”) que sejam vinculantes para estados e municípios. Quando se vai ler o
Marco Legal do Saneamento – que é uma lei federal – para se entender o que seriam essas normas de referência, se
percebe a absoluta amplitude dessas normas, que tratam praticamente de tudo, como por exemplo, padrões de
qualidade e eficiência na prestação do saneamento básico, regulação tarifária, padronização de instrumentos
negociais, equilíbrio econômico-financeiro, metas de universalização, critérios para contabilidade regulatória,
controle da perda de água, metodologia para o cálculo de indenizações, reuso, enfim, quase que esgotando o
tratamento da matéria quando compete à lei federal e não a norma regulamentar (resolução da ANA) tratar de apenas
normas gerais.
Então, Rodrigo Mascarenhas considera que há um exercício abusivo de competências pela ANA de forma a violar
as competências estaduais e municipais. Critica, também, uma certa estratégia que ele chama, de maneira jocosa,
de “força pecuniária vinculante”, ou diz ele ainda em português castiço “eu pago, você me obedece”. Ele se refere ao
artigo 4º-B da Lei da ANA, combinado com o artigo 50, III, da nova lei de saneamento básico, que prevê que a União só
repassará valores caso haja a observância dessas normas. Então, é quase uma coação, um incentivo, para que haja a
adequação aos termos da Lei federal.
E também estabelece a nova lei de saneamento básico muitas condições para que os municípios recebam
recursos federais, diz o professor Mascarenhas, quase condições impossíveis de serem observadas, o que dificulta
muito o repasse de recursos federais e depois vai culpar estados e municípios de não terem projeto, mas de fato as
condições estabelecidas são muito difíceis de serem atingidas.
Ele ainda critica a ANA dizendo que ela tem pouca expertise para cuidar de saneamento: “ANA nunca regulou
serviços públicos. Sua expertise – a água enquanto recurso hídrico captado nos cursos hídricos – é o objeto e meio dos
serviços de fornecimento de água, e também compõe o esgoto que ao final será jogado em outro corpo hídrico”.
Ele critica também o dispositivo da Lei de Saneamento Básico, artigo 8º, §1, que diz que a prestação de
serviço público de saneamento pode ser prestado por gestão associada mediante consórcio público ou convênio
de cooperação. Até ai não é nada além do que o STF já disse ADI 1842.
Mascarenhas gasta uma atenção especial com a seguinte expressão: “ficando admitida a formalização de
consórcio intermunicipais de saneamento básico, exclusivamente composto de municípios que poderão prestar os
serviços aos seus associados diretamente ou pela instituição de autarquia intermunicipal”.
A critica que ele faz é a seguinte: o artigo 10 da Lei de Saneamento Básico estabelece que a prestação de serviço
público de saneamento básico por entidade que não integre a administração do titular, depende de contrato de concessão
mediante prévia licitação. O professor diz que ao menos a Lei admite que o ente titular do serviço possa criar uma
empresa e outorgar a ela o serviço de saneamento básico, mas o que ele critica é que o município não possa
contratar empresa criada por outro ente. Aqui, o foco dele, é exatamente a vedação ao município contratar uma
empresa de saneamento básico estadual. Há uma norma de transição em relação aos contratos em vigor – que
são preservados – mas ele critica essa vedação pura e simples.
O artigo 16 é a norma de transição que permite a vigência dos contratos em curso, até 31 de março de 2022.
Mascarenhas considera que essa proibição, ainda que haja essa norma de transição, é inconstitucional.
Diz ele que “Em primeiro lugar, o texto não proíbe esta prática quando a estatal é criada pelo próprio ente.
Tampouco proíbe, ao menos expressamente, no caso de regiões metropolitanas, quando a empresa for controlada
pelo estado criador da região (...)”. E
prossegue dizendo que “A proibição explícita então se dirige aos municípios (não integrantes de regiões
metropolitanas), que não poderão – segundo o NMLSB – contratar diretamente empresas estatais”, além de que
“(...) tal proibição nos parece inconstitucional por violar a autonomia constitucional que o município tem para
escolher a forma de prestação de um serviço do qual ele é titular” . “Se é incontestável que o município pode criar
uma autarquia ou mesmo uma empresa para prestar tais serviços – liberdade que nem mesmo o NMLSB ousou
violar – também nos parece inviável, sob qualquer desenho de federalismo cooperativo, impedir que ele possa
optar por contratar diretamente empresa estatal criada por outro ente”.
Outra crítica que o professor Mascarenhas faz é a seguinte: a União, com um governo que ganhou a eleição
com um discurso privatista, tem toda a legitimidade para privatizar os serviços públicos de sua titularidade,
mas não pode impor um modelo de privatização para os serviços públicos de competência municipal, pois isso
configura uma interferência na autonomia política e administrativa dos municípios de prestarem como lhes
parecer melhor os serviços públicos de sua titularidade.
“Em suma, entendemos que tanto os municípios como as regiões metropolitanas podem continuar a
contratar diretamente empresas estatais, mesmo não sendo seus controladores, para prestar serviços de
saneamento”.
Ele ainda lembra um aspecto importante que é o seguinte: que “o conceito de saneamento (historicamente
limitado a “água” e “esgoto”), atualmente inclui (desde a versão original da LSB) um serviço – de limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos – que sempre foi tipicamente municipal. Pois bem, em grande medida (mas isso seria
matéria para outro trabalho), as violações à autonomia do município também incluem tal serviço”.
Para o professor, esses são os aspectos mais importantes desse artigo, que ele recomenda a leitura.
8. INTERVENÇÃO
CONCEITO
Consiste em uma medida excepcional, de natureza política e não jurídica, que irá afastar
temporariamente a autonomia de um ente federativo, nos casos das hipóteses taxativas previstas na
Constituição.
CARACTERÍSTICAS
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto
para:
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 15 4
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da
Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta
Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
Salienta-se que a possibilidade de intervenção da União nos Estados não caracteriza supremacia da
União. A intervenção ocorre em nome de todos os demais Estados da Federação.
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
1º Defesa do Estado (art. 34, I e II) - para manter a integridade nacional e repelir invasão
estrangeira;
2º Defesa do princípio federativo (art. 34, II, III, IV) - para repelir invasão de uma unidade da
Federação em outra, para pôr termo a grave comprometimento da ordem pública e para garantir o livre
exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
3º Defesa das finanças estaduais (art. 34, V) – para reorganizar as finanças da unidade da
Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo
motivo de força maior; e b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição,
dentro dos prazos estabelecidos em lei;
4º Defesa da ordem constitucional (art. 34, VI e VII) - prover a execução de lei federal, ordem ou
decisão judicial e para assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais sensíveis: a) forma
republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia
municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta;
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
Art. 36,
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as
condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será
submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia
Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
(...)
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus
cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.
8.3.3. Casuísticas
Após a CF/88, houve dois casos de intervenção federal, ambos no ano de 2018, um no Rio de Janeiro
(Decreto 9.288/2018) e em Roraima (Decreto 9.602/2018).
Art. 34, I, II, III e IV. Art. 36, I. Art. 36, I, II, III
8.3.5. Controle
Poderá haver um controle político da intervenção, nos ternos do §1º, art. 36 da CF.
Por fim, haverá manifestação do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional, embora não
sejam vinculativas.
INTERVENÇÃO ESTADUAL
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos
Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos
consecutivos, a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos
de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a
observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
No caso do inciso IV, há uma hipótese semelhante a ADI interventiva federal. Apenas o PGJ é
legitimado, os princípios constitucionais sensíveis serão indicados pela Constituição Estadual.
De acordo com o STF (ADI 6616 – Info 1014) é inconstitucional norma constitucional estadual pela
qual se prevê hipótese de intervenção estadual em municípios não contemplada no art. 35 da Constituição
Federal.
1º Decreto do Governador
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Todas as nossas Constituições, exceto a imperial de 1824, adotaram a divisão orgânica de Montesquieu.
Essa divisão foi sistematizada em 1748, na obra “Do Espírito das Leis”.
O autor não foi o primeiro a falar da divisão de atribuições existente no Estado (criação da
O inglês Locke, por volta de 1690, no livro denominado ‘O segundo tratado do governo civil’,
sustentou que aquele que exerce poder exerce algumas atribuições: cria norma, aplica norma e resolve o
conflito. Nenhuma novidade.
A novidade de Montesquieu foi afirmar que cada uma das atribuições deve ser desempenhada por
um órgão autônomo e independente. A divisão funcional de Aristóteles virou a divisão orgânica de
Montesquieu.
Assim afirmava o francês: ‘Tudo estaria perdido se no mesmo homem ou no mesmo corpo
de homens os três poderes forem exercidos’.
Tecnicamente, não é correto falar em divisão tripartite de poderes de Montesquieu, mas sim em
divisão orgânica e funcional. O poder é um só (UNO e INDIVISÍVEL), manifestado por diferentes órgãos
que exercem funções (típicas e atípicas).
OBS: A Constituição de 1824 foi a única que adotou a tese de Benjamin Constant, que fazia
referência a um quarto poder (poder moderador), que era desempenhado pelo imperador.
Em suma:
-Locke: “Segundo tratado do governo civil”. Fala em uma bipartição de poderes. Executivo
(federativo) e legislativo.
-Montesquieu: “O Espírito das Leis”. É a ideia da entrega de cada uma das funções a um
órgão distinto.
A ideia de divisão de poderes tem duas projeções: uma vertical e uma horizontal. Sob o ponto de
vista do federalismo, há uma repartição de competência entre as entidades federais: União, DF, Estados e
municípios. A repartição horizontal é a que iremos estudar agora: judiciário, legislativo e executivo.
Podem vir a ser estabelecidos novos mecanismos de controle de um poder sobre o outro (ampliação
de freios e contrapesos). Um exemplo é a súmula vinculante. Quando da Emenda, foi ajuizada uma ADI, e o
STF, em um voto do Min. Sepúlveda Pertence, afirmou que os pormenores da separação dos poderes não
estão petrificados.
Cada Poder, dentro da ideia de harmonia e independência, além das funções típicas desempenha
funções atípicas.
PODER LEGISLATIVO
A toda comissão aplica-se o princípio da participação proporcional dos partidos políticos. Ou seja,
cada partido participa da comissão na mesma proporção de sua representação na respectiva casa legislativa
(art. 58, §1º).
CF Art. 44, Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.
A casa legislativa é dividida em comissões temáticas, tendo em conta a diversidade de temas que são
debatidos. Logo, a cada comissão compete o debate de um tema/matéria específico. As comissões
TEMÁTICAS ou MATERIAIS estão no Regimento Interno de cada Casa Legislativa e não na Constituição
Federal.
Existe, no entanto, uma espécie de espelho dos Ministérios, ou seja, para um Ministério da Saúde
corresponde uma comissão de saúde, e assim sucessivamente.
A comissão temática mais importante é a CCJ, presente em todas as casas legislativas. Todo projeto
de lei, obrigatoriamente, deve passar pela CCJ, a quem incumbe o controle preventivo de
constitucionalidade, fornecido através de um parecer. Esse parecer, no entanto, não é meramente opinativo,
mas sim TERMINATIVO, vale dizer, um projeto inconstitucional é diretamente arquivado (assegurada a
possibilidade de recurso).
Todo projeto deve passar, no mínimo, por duas comissões: primeiro pela CCJ e depois pela comissão
de sua área de abrangência.
No Brasil, a comissão temática (ou material) é dotada da delegação interna (ou imprópria).
Essa delegação é denominada de processo legislativo abreviado (Gilmar Mendes).
Essa é a chamada delegação interna, ao passo que a LEI DELEGADA é a chamada delegação
externa ou própria (art. 68 à delegação do legislativo para o executivo).
Durante os períodos de RECESSO do Congresso, ele será representado por uma Comissão (art. 58,
§4º). Em razão do princípio da continuidade do serviço público, o Congresso não pode ser simplesmente
fechado.
Essa comissão é mista (ou conjunta), pois composta por Deputados e Senadores.
A CF/88 valorizou a CPI, Tanto é assim que empresta à CPI poderes de investigação próprios de juiz,
conforme o art. 58, §3º da CF:
Quais seriam então os poderes do juiz estendidos às CPIs? Na realidade o juiz não possui poderes
investigativos, mas sim PODERES INSTRUTÓRIOS (que têm como pressuposto a instauração de processo),
conforme o art. 370 do CPC/2015 e 209 do CPP.
CPP Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras
testemunhas, além das indicadas pelas partes.
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as
testemunhas se referirem.
§ 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que
interesse à decisão da causa.
Como exceção, na LOMAN (LC 35/79) existe a possibilidade de um juiz investigar o outro. Alguns
também falam que o juiz investigaria nos procedimentos originários dos Tribunais, no entanto, o STF já
decidiu que não se trata de juiz inquisidor, mas juiz meramente condutor das investigações.
Existem duas leis que regulamentam o §3º do art. 58: Lei 1.579/52 e Lei 10.001/00. Além
dessas leis, o CPC e CPP são aplicados subsidiariamente, bem como os regimentos internos.
OBJETIVOS DA CPI
De acordo com a doutrina, as CPI’s são os “olhos e ouvidos” do congresso nacional, tendo em vista
que permite colher informações que servirão tanto para auxiliar às funções típicas do Congresso como para
informar a opinião pública, levando ao conhecimento do público a ocorrência e apuração de certos fatos.
COMPOSIÇÃO DA CPI
Obviamente essa proporcionalidade deve ser observada dentro do possível (se só existe um representante do
partido, não irá participar de todas).
Exceção: se o partido tem três representantes somente, é preferível que fiquem divididos pelas
comissões e mesas, de modo que tenha o mínimo que seja em cada comissão, ao invés de representação
proporcional em apenas uma comissão e nas outras nenhuma representação.
Poderão ser investigados, além do Poder Executivo (alvo principal), pessoas físicas e
jurídicas, órgãos e instituições ligados à gestão da coisa pública ou que de alguma forma tenham que
prestar contas sobre bens, valores ou dinheiro públicos.
A seguir iremos analisar os requisitos e poderes da CPI em âmbito federal, são normas de
observância obrigatória (Princípio da Simetria). Significa que as CPI estadual e municipal devem respeitar.
O pedido de CPI (com os requisitos) é encaminhado à mesa, que notifica os partidos para indicarem
representantes à Comissão. Se os partidos não indicam representantes a CPI não é instaurada?
O STF decidiu que a CPI é um direito público subjetivo das minorias parlamentares. Se os
requisitos estão presentes, a CPI não pode ser inviabilizada. Os
Taques defende que a mitigação dos requisitos seria possível nas Constituições Estaduais. Os
Existem dois tipos de CPI: simples (formada só por deputados ou só senadores) e mista ou conjunta
(formada por deputados federais e senadores). Essa última é a chamada CPMI (Comissão parlamentar mista
de inquérito).
Desde a Constituição de Weimar (1919), é considerada um direito das minorias. Muito embora
existam países em que a CPI é um direito das maiorias, mas em geral se adota o entendimento aqui esposado.
De acordo com o entendimento que o STF (MS 26441), o requerimento de 1/3 é o requisito exigido
no momento da instauração da CPI, não dependendo de ratificação. Conseguindo o 1/3 das assinaturas, ela
prossegue até o final, ou seja, os parlamentares não poderão desistir depois de assinar o documento.
Não se admite a criação de CPI para apuração de fatos indeterminados, por exemplo criação para
apuração da “corrupção no Brasil”, tendo em vista que deve especificar, objetivar, circunscrever o objeto da
investigação (fato concreto).
Destaca-se que a CPI só poderá apurar fatos que sejam de competência fiscalizatória do Congresso
Nacional. Igualmente, apenas fatos de interesse público podem ser investigado, não se admite CPI para
assuntos de interesse exclusivamente particular.
Importante consignar que a CPI, em âmbito federal, apenas pode investigar fatos que sejam de
interesse da União (não pode ser exclusivamente de um estado ou município, nesse caso, quem deverá
investigar, é assembleia legislativa/câmara municipal respectivamente), sob pena de violação ao pacto
federativo.
Obs.: caso o fato seja de interesse estadual, mas possua algum interesse (nexo causal) da União ou interesse
geral na sua apuração, poderá ser investigado pela CPI federal.
A necessidade de apurar fato determinado não é impeditivo para que a CPI apure fatos novos que
surgirem na investigação, sem que haja outro requerimento (basta um aditamento da petição inicial), desde
que tais fatos sejam conexos. Não havendo conexão, em tese, será necessário novo requerimento de um
terço.
Além disso, o fato determinado deve estar dentre as atribuições daquela casa legislativa. Ex: Uma
CPI da CD não pode investigar fatos relativos a um Estado da Federação. Isso ofenderia o pacto federativo.
Não existe CPI permanente, em razão do princípio da segurança jurídica (art. 5º, caput). A CF não
prevê qual é o prazo da CPI, depende do regimento interno da Casa legislativa.
A CPI possui poderes previstos no regimento interno (não serão objeto de análise) e poderes próprios
de autoridades judiciais. Importante salientar que a CPI não pune ninguém, após a conclusão da
investigações, havendo indícios de ilícito, irá encaminhar às autoridades competentes.
Conforme a doutrina, os poderes da CPI possuem natureza instrumental, para que o parlamento
exerce suas funções típica de fiscalizar e legislar. Além disso, seus poderes devem respeitar os limites
impostos pelos direitos e garantias individuais.
Quando se fala em poderes próprios de autoridades judiciais, devemos ter em mente que no Brasil o
juiz não pode investigar, ou seja, em suas investigações, a CPI dispõe de poderes instrutórios que são
próprios de uma autoridade judicial.
Uma pessoa pode comparecer na CPI ostentando uma das três qualificações: testemunha, investigado
(indiciado) ou convidado. Desses, somente a testemunha poderá ser conduzida coercitivamente e o
investigado para atos que não seja o interrogatório
STF – ADPF 395 (Inf. 906/STF): “O Plenário, por maioria, julgou procedente
o pedido formulado em arguições de descumprimento de preceito
fundamental para declarar a não recepção da expressão "para o
interrogatório" constante do art. 260 do CPP, e a incompatibilidade com a
Constituição Federal da condução coercitiva de investigados ou de réus
para interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado (...). O Tribunal destacou que a decisão
não desconstitui interrogatórios realizados até a data desse julgamento,
ainda que
OBS1: Membro do MP pode ser ouvido em CPI, no entanto não está obrigado a responder perguntas a
respeito de suas manifestações no exercício funcional. Ex: Não precisa explicar se denunciou ou não
denunciou determinada pessoa, pois atuou no exercício de suas atribuições constitucionais. Com o juiz ocorre
a mesma coisa: não é obrigado a justificar seu exercício funcional.
A CPI poderá determinar a busca e apreensão de documentos e equipamentos. Contudo, não pode
haver violação do domicílio, que é protegido pela cláusula de reserva de jurisdição.
3.7.4. Afastar sigilo bancário, fiscal e telefônico (dados), sem necessidade de autorização
judicial
A CPI é dotada de autoridade própria para afastar tais sigilos, pois a CF assim determina no art. 58,
§3º, da CF.
No entanto, é vedada a publicação desses dados, a Comissão passa a ser a depositária dos dados
sigilosos.
OBS1: CPI municipal não pode afastar os sigilos. A CPI tem poder instrutório do juiz correspondente, e
como no município não existe poder judiciário, a CPI não tem esse poder. Além disso, essa possibilidade
tornaria muito vulnerável a proteção contra a vida privada do cidadão, podendo ser usada como meios de
chantagem ou extorsões.
Salienta-se que a CPI pode determinar a quebra do sigilo telefônico, mas jamais a
LIMITES DA CPI
Se um juiz determina que o processo tramite em segredo de justiça, a CPI não poderá violar, quebrar esse
sigilo, somente a própria autoridade judicial que poderá quebrar tal sigilo.
Com base na autonomia federativa e na separação de poderes, uma CPI não pode determinar o
comparecimento do chefe do Poder Executivo a comparecer.
3.8.5. Acusações
QUADRO CPI
CPI
Requisitos Poderes Limites
I) Requerimento de 1/3 dos I) Previstos no regimento I) Direitos fundamentais
membros; interno individuais
a) sigilo profissional (CF, art.
5.º, XIV);
b) assistência de advogado e
direito ao silêncio (CF, art. 5.º,
LXIII
II) Apuração de fato II) Próprios de autoridade II) Reserva constitucional de
determinado judicial (medidas instrutórias): jurisdição:
a) quebra de sigilo bancário, a) invasão de domicílio (CF,
fiscal, telefônico e de dados; art. 5.º, XI);
b) busca e apreensão de b) interceptação telefônica
documentos; (CF, art. 5.º, XII);
c) condução coercitiva para c) prisão, salvo flagrante delito
depoimento; (CF, art. 5.º, LI);
d) realização de exames d) sigilo imposto a processo
periciais. judicial (CF, art. 5.º, LX c/c o
art. 93, IX).
III) Prazo certo de duração. III) Separação dos poderes:
a) formular acusações;
b) punir delitos.
IV) Medidas acautelatórias:
a) indisponibilidade de bens;
b) proibição de ausentar-se do
país;
c) arresto;
d) sequestro;
e) hipoteca judiciária
3.10.1. Requisitos
Como vimos, são normas de observância obrigatória (Princípio da Simetria), ou seja, são os mesmos
da CPI no âmbito da União (requerimento de pelo menos 1/3, apuração de fato determinado e prazo certo de
duração).
STJ PET AgRg 1611/RO. Nesta decisão, o STJ entendeu que CPI estadual não pode investigar
autoridades que estão submetidas a foro por prerrogativa.
STJ – PET 1.611 AgRg/RO: “CPIs estaduais não têm competência para
investigar autoridades que estão submetidas a foro privilegiado federal. A
São simétricos ao da CPI Federal, desde que dentro dos limites da competência fiscalizatória da
Assembleia legislativa.
Quebra de sigilos: STF decidiu que a CPI Estadual pode determinar a quebra de sigilo bancário.
OBS: alguns regimentos internos, a exemplo da assembleia de SP conferem poderes expressos para quebra
de sigilo bancário, fiscal, telefônico e de dados. O STF até agora não se manifestou sobre isto, mas parece
que seguindo a linha do entendimento do sigilo bancário, não há óbice.
3.10.3. HC e MS
É impetrado contra autoridade coatora ou o presidente da CPI (regra geral). Na CPI federal, a
competência para julgar é do STF; na estadual, é do TJ.
3.11.1. Fundamentos
3.11.2. Poderes
Terá poderes mais restritos do que as outras CPI’s. Em razão da inexistência de poder judiciário no
âmbito municipal, a CPI municipal não poderá ter poderes próprios de autoridade judiciária, pois isto seria
atribuir ao município uma competência que não lhe foi dada pela constituição.
3.11.3. HC e MS
Este relatório (junto com a resolução que o aprovou), em sendo o caso, é remetido ao chefe do
Ministério Público, ou ainda às autoridades administrativas ou judiciais com poder de decisão. O que
significa dizer que a CPI não está obrigada a enviar o relatório ao MP, a depender da oportunidade e
conveniência política (é decisão discricionária). Entretanto, pode o MP requisitar o relatório, assim como os
documentos que o guarnecem.
Lei 10.001/00 - Art. 2o A autoridade a quem for encaminhada a resolução informará ao rem
Lembrando que O MP não precisa esperar o relatório da CPI para propor a ação (vide caso
mensalão).
A CPI também pode, ao fim dos trabalhos, apresentar projeto de lei, conforme o art. 61 da
CF.
Na CPI no legislativo da união, o relatório é enviado ao PGR que distribui entre os Estados.
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
A finalidade das garantias é assegurar a INDEPENDÊNCIA e a LIBERDADE dos membros do
Poder Legislativo. Salienta-se que as garantias são IRRENUNCIÁVEIS, exatamente pelo fato de não
pertencerem ao indivíduo, mas sim ao Poder Legislativo.
Um parlamentar que se afasta de sua função para exercer outro cargo mantém suas
imunidades? NÃO. Se um parlamentar não está exercendo suas funções, por estar ocupando cargo de
Ministro do Estado, perde suas imunidades material e formal, bem como o foro por prerrogativa de função,
pois não está exercendo as funções legislativas. A Súmula 04 do STF, que previa o contrário, está superada.
Salienta-se que o suplente não é considerado um parlamentar, não possuindo qualquer das garantias
do Poder Legislativo.
O dispositivo constitucional refere-se apenas ao ESTADO DE SÍTIO (art. 137 CF), o ESTADO DE
DEFESA é menos grave (art. 136), e não tendo previsão, prevalece que as imunidades não podem ser
suspensas neste caso. Normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente. A Constituição
estabelece a exceção que é a suspensão, apenas para esta hipótese mencionada, não se pode estender ao
estado de defesa.
Fundamenta-se no art. 53, §1º c/c o art. 102, I, alínea “b”, ambos da CF.
Perceba que a prerrogativa será apenas para os casos de infrações penais comuns, não se
aplicando, por exemplo, as casos de improbidade administrativa.
No passado o STF (entendimento superado) afirmava que o foro por prerrogativa de função iniciava-
se com a expedição do diploma (antes da posse) e terminava com o fim do mandato (fim da legislatura,
cassação ou renúncia do parlamentar). Admitia algumas exceções, em que o foro iria
prevalecer, quais sejam: início do julgamento, abuso de direito (renúncia do parlamentar para
deslocamento de competência).
No julgamento da AP 937 QO/RJ, o STF superou o entendimento acima, passando a entender que o
foro por prerrogativa de função se aplica apenas a crimes cometidos no exercício do cargo E em razão das
funções desempenhadas. Reforçou, ainda, que após as alegações finais, a competência não poderá ser
alterada. Utilizou como argumentos para a alteração do seu entendimento:
o Disfuncionalidade criada pela regra antiga – a quantidade de pessoas com foro por
prerrogativa de função, sem que haja qualquer relação com o desempenho das funções
parlamentares que se pretende proteger, causava múltiplas disfuncionalidades;
Como já mencionado, o foro por prerrogativa abrange apenas as infrações penais comuns. Nesta
categoria, enquadram-se diversos tipos de crimes, inclusive contravenções penais, infrações eleitorais e os
crimes dolosos contra a vida. Além disso, os inquéritos policiais contra as autoridades com foro por
prerrogativa não podem ser instaurados de ofício pela Polícia Federal, é necessária a iniciativa do PGR, com
a supervisão dos inquéritos pelo STF.
Nos casos em que a infração foi praticada por pessoas com foro por prerrogativa de função e por
pessoas sem foro, a regra é o desmembramento do processo. Consequentemente, as pessoas sem foro serão
julgadas nas instâncias ordinárias. Isso ocorre porque a competência penal do STF é de direito estrito,
estando prevista taxativamente na CF/88. Logo, não pode ser ampliada indevidamente por normas de direito
infraconstitucional, como é o caso dos dispositivos do CPP que tratam sobre a reunião de processos em caso
de conexão. Em outras palavras, não se pode ampliar a competência constitucional do STF por força de uma
lei ordinária (CPP) que determina o julgamento em conjunto
No entanto, em casos excepcionais, será possível que os demais réus que não têm foro por
prerrogativa de função também sejam julgados pelo STF em um único processo. Isso se justifica quando o
julgamento em separado puder trazer algum prejuízo relevante à prestação jurisdicional.
A decisão que determina que não haverá o desmembramento e que os réus sem foro privativo
também serão julgados pelo Tribunal não viola os princípios do juiz natural, da ampla defesa, do devido
processo legal e do duplo grau de jurisdição.
STF Súmula 704 STF - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa
e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do
processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.
a) Outras denominações
b) Previsão constitucional
Exemplos:
Eurico Miranda, era presidente do Vasco e Deputado Federal, falou que o juiz teria recebido
dinheiro para favorecer o Palmeiras em certo jogo. Foi condenado, tendo em vista suas
palavras não tinham relação com as suas funções.
Jair Bolsonaro, quando ainda parlamentar, afirmou, dentro do plenário, que Maria do
Rosário não merecia ser estuprada, estava amparado pela imunidade.
Houve um caso em que um parlamentar publicou em rede social, retirando de contexto, uma
frase de Jean Wyllys que parecia racista. STF afastou a imunidade.
Embora a Constituição preveja apenas a inviolabilidade civil e penal, a doutrina sustenta que também há
inviolabilidade administrativa e política.
d) Natureza jurídica
O parlamentar está protegido pela imunidade que se estende a fatos cobertos pela imprensa. Se a
imprensa divulga uma informação que foi fornecida por um parlamentar, não poderá ser responsabilizada
(STF).
Caso2 – em uma CPI a resposta dada no calor do debate (por quem não tem imunidade) em face do
parlamentar, também está abrangida pela imunidade material.
Pertinente destacar que a imunidade formal foi substancialmente alterada pela EC 35/01, tendo em
vista que houve a substituição do princípio da improcessabilidade pelo princípio da processabilidade. Em
outras palavras, antes de 2001 para que os parlamentares respondessem por algum processo seria necessária a
autorização da casa respectiva; após o advento da EC 35/01, o STF apenas dá ciência a casa respectiva, não
há mais a necessidade de autorização.
Atenção para a Súmula 245 do STF que se aplica apenas aos casos de imunidade formal, tendo em
vista que faz referência “ao corréu”. Na imunidade material há uma causa excludente de tipicidade, por isso
não há que se falar em corréu, pois não houve crime cometido pelo parlamentar.
A imunidade formal possui dois aspectos: um relacionado à prisão e outro relacionado ao processo.
PRISÃO
A expressão “presos” refere-se à impossibilidade de prisão penal cautelar, salvo no caso de flagrante
de crime inafiançável. Portanto, tratando-se de prisão penal condenatória transitada em julgado (prisão
definitiva) não há impedimento.
Havendo prisão em flagrante por crime inafiançável, a Casa do parlamentar (Câmara dos Deputados
ou Senado Federal) irá deliberar, por maioria absoluta de seus membros, acerca de uma possível perseguição,
da legalidade, da abusividade da prisão, decidindo se é conveniente ou não o manter preso.
Com a imunidade formal relativa à prisão, visa-se evitar que a pessoa que foi eleita por voto popular
seja impedida de exercer o seu mandato por alguma perseguição política.
Em relação às medidas cautelares diversas da prisão, na ADI 5.526/DF o STF firmou o seguinte
entendimento:
o O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade
própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão
em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e
específicas menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional
gravidade;
o Ratio da norma (razão da norma) deve ser a mesma, já que ao impor medidas cautelares
diversas da prisão que impossibilitem o exercício do mandato, sem a deliberação da Casa,
irá afastar a razão da norma.
Em relação imunidade por prisão civil por dívida de parlamentar, a doutrina entende que não se
aplica, portanto, não haveria impedimento. Não há decisão no STF, mas há uma decisão monocrática do STJ
no mesmo sentido da doutrina.
PROCESSO
O STF recebe a denúncia, ato contínuo é cientificada a casa que o parlamentar faz parte. Se a maioria
absoluta dos membros da respectiva casa entender que há motivos (perseguição política, por exemplo),
poderá suspender o andamento do processo, mas isso se dará somente até a decisão final.
Quando se suspende o processo, suspende-se a prescrição. Mesmo quando não há previsão expressa
na CF, segundo o STF suspende a prescrição, pois a finalidade não é a impunidade e sim evitar perseguições
políticas.
OBS: em relação aos crimes cometidos antes da diplomação, não se aplica a imunidade formal quanto ao
processo. É julgado normalmente, apenas no foro pela prerrogativa de função, no caso o STF.
Caso o parlamentar que teve o processo suspenso, seja reeleito para novo mandato, como o crime foi
praticado antes do mandato atual (decorrente da nova eleição), não mais haverá a suspensão.
A Súmula 03 do STF, anterior à CF/88, previa que a imunidade concedida a deputados estaduais era
restrita à Justiça do Estado. Tal entendimento encontra-se superado, tendo em vista que antes da CF/88 eram
as Constituições Estaduais que conferiam imunidades aos deputados estaduais.
Após o advento da CF/88, a própria Constituição passou a conferir imunidades aos
deputados estaduais, não se aplicando mais a Súmula 3 do STF.
Portanto, tudo que vimos acerca das imunidades material e formal será aplicado aos deputados
estaduais, sem restrição.
Por fim, aos deputados distritais aplicam-se as mesmas regras previstas para os deputados estaduais.
CF, art. 32, §3º: Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o
disposto no art. 27.
De acordo com o entendimento prevalecente no STF (embora não seja entendimento consolidado), a
expressão “imunidades” do art. 27, §1º, da CF abrange a imunidade relativa à prisão, ao processo e, também,
ao foro por prerrogativa de função que será estabelecido pela CF e não apenas pela constituição estadual.
Em regra, o órgão competente será o Tribunal de Justiça. Contudo, caso o parlamentar estadual
pratique crime contra bens, serviços ou interesses da União, de suas autarquias ou empresas públicas
federais, o foro por prerrogativa será no TRF; caso pratique algum crime eleitoral, o foro por prerrogativa
será no TRE.
Começa-se a sustentar que o enunciado da SV 45 do STF está superado, tendo em vista o novo
entendimento do Supremo prevendo que as constituições estaduais não podem dispor livremente sobre o foro
por prerrogativa de função, nem mesmo pode ser aplicado o Princípio da Simetria.
Portanto, como a Constituição estadual não pode dispor livremente sobre foro por prerrogativa de
função, consequentemente não poderá estabelecer tal garantia, havendo a superação da Súmula Vinculante
25 (entendimento da doutrina, STF ainda não se manifestou). Salienta-se que no caso dos deputados
estaduais nunca se aplicou o entendimento sumulado, já que é estabelecido pela própria Constituição.
Em suma, as constituições estaduais não podem dispor livremente sobre prerrogativa de foro. Nesse
sentido, ADI 2553.
Segundo destacada Novelino, ao analisar a ratio decidendi da ADI 2553, percebe-se que não fica
restrita apenas às autoridades mencionadas, mas sim a qualquer tipo de autoridade, em razão dos seguintes
fundamentos:
o Não se aplica o Princípio da Simetria, eis que a própria CF estabelece o foro por prerrogativa de
função nos três níveis: federal, estadual e municipal;
o Permitir que as constituições estaduais conferirem foro por prerrogativas de função, seria
conferir um “cheque em branco” aos parlamentares estaduais.
Assim, à luz do disposto no art. 125, § 1º, da Constituição Federal, o constituinte estadual
possui legitimidade para fixar a competência do Tribunal de Justiça e, por conseguinte,
estabelecer a prerrogativa de foro às autoridades que desempenham funções similares na
esfera federal.
O poder dos Estados-membros de definirem, em suas constituições, a competência dos
tribunais de justiça está limitado pelos princípios da Constituição Federal (arts. 25, § 1º, e
125, § 1º).
A autonomia dos estados para dispor sobre autoridades submetidas a foro privilegiado não
é ilimitada, não pode ficar ao arbítrio político do constituinte estadual e deve seguir, por
simetria, o modelo federal.
A Constituição Estadual pode conferir foro por prerrogativa de função para Defensores
Públicos e Procuradores do Estado?
NÃO. É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por
prerrogativa de função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Isso porque a
Constituição Federal não confere prerrogativa de função para Defensores Públicos nem
para Procuradores do Estado. Logo, a Constituição Estadual não poderia ter estendido o
foro por prerrogativa de função a essas autoridades.
As normas que estabelecem o foro por prerrogativa de função são excepcionais e devem
ser interpretadas restritivamente, não cabendo ao legislador constituinte estadual
O STF adota uma compreensão restritiva sobre a matéria, de modo que os estados-
membros devem observância ao modelo adotado na CF/88.
Assim, não pode o ente estadual, de forma discricionária, estender o foro por prerrogativa de
função à cargos diversos daqueles abarcados pelo legislador federal, sob pena de violação às
regras de reprodução automática.
Até 2019, o STF permitia que as Constituições Estaduais concedessem. Contudo, diante do novo
entendimento do STF, segundo Novelino, não mais se admite.
Em maio de 2018, o STF decidiu restringir o foro por prerrogativa de função e afirmou que:
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900).
Assim, o foro por prerrogativa de função exige contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos
em apuração e o exercício da função pública.
Há doutrina que sustenta que a imunidade deve estar relacionada aos interesses do município.
Seria o caso, por exemplo, de um vereador de uma pequena cidade que vai a um debate na rádio da cidade
vizinha, para tratar de questões municipais, e acaba ofendendo alguém. Não haveria sentido em não aplicar a
imunidade.
A expressão “no exercício do mandato” é interpretada, pelo STF, como nexo de causalidade no
exercício da função, mesmo que as palavras e opiniões tenham sido proferidas dentro da Câmara.
De acordo com o STF as Constituições Estaduais não podem estabelecer imunidade formal para
vereadores.
5. PERDA DE MANDATO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O art. 56, da CF, traz as hipóteses em que não haverá perda de mandato. Vejamos:
Exemplo de parlamentar licenciado foi o de José Dirceu, deputado federal nomeado a Ministro da
Casa Civil, que praticou alguns atos incompatíveis com o decoro parlamentar. O STF entendeu que, mesmo
licenciado, poderia responder pelos seus atos e perder o mandato.
Tratando-se de ato incompatível com o decoro parlamentar, mesmo praticado antes do mandato,
poderá ensejar a cassada. Logo, o fato não necessita ser contemporâneo.
CASSAÇÃO DO MANDATO
5.2.1. Conceito
A cassação ocorre quando a perda do mandato é DECIDIDA pela Casa (Senado Federal ou Câmara
dos Deputados) do parlamentar. É necessário o quórum de maioria absoluta (mais da metade dos membros da
respectiva casa), bem como será feita através de escrutínio aberto.
O Poder judiciário não pode interferir no mérito do julgamento, pois se trata de questão interna
corporis. No entanto, poderá analisar se foram respeitadas as garantias formais.
Salienta-se que perda do mandato decorrente da condenação criminal não é automática, ou seja, não
basta a simples condenação. Exige-se uma decisão por maioria absoluta dos membros da Casa respectiva.
Tal entendimento não se aplica aos vereadores, portanto, haverá a cassação imediata após a
condenação criminal transitada em julgado.
Salienta-se que a extinção é ato vinculado, ocorrendo as hipóteses previstas na Constituição a mesa
está obrigada a declarar.
Deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que
pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;
PARA FIXAR:
RENÚNCIA DO PARLAMENTAR
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Consiste no conjunto de normas que regulam a produção dos atos normativos primários. Ou, como
elucida o mestre José Afonso da Silva, trata-se do conjunto de atos preordenados que visam à criação de
normas de direito.
Lembre-se que o processo legislativo é um direito público subjetivo dos parlamentares. Por isso, para
impor sua observância, o parlamentar pode impetrar MS. Veja que é a única hipótese de controle de
constitucionalidade preventivo pelo Poder Judiciário – hipótese excepcional, apenas em alguns casos.
Exemplo: Art. 60, § 4º da CF – cláusulas pétreas, para impedir deliberação sobre abolição de um cláusula
pétrea, o parlamentar poderá impetrar o MS.
Embora o processo legislativo se refira ao âmbito federal, o STF considera como normas de
observância obrigatória pelos Estados e pelos Municípios. Portanto, se a CF atribui ao Presidente da
República determinadas matérias que são de sua competência privativa, essas normas deverão ser atribuídas,
pela Constituição Estadual, ao Governador do Estado. Da mesma forma, a Lei Orgânica deve atribuir ao
Prefeito às competências pertinentes ao Município, de acordo com o princípio da simetria.
Nada mais é do que o processo legislativo de elaboração de leis ordinárias. É a base de todo
processo legislativo.
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ORDINÁRIAS cabe a
qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado
Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao
Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral
da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição.
[...]
Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente
da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores
terão início na Câmara dos Deputados.
6.2.2. Processo legislativo sumário
Possui como base o processo legislativo ordinário, mas seus prazos são menores.
OBS: Não pode o Presidente requerer urgência a um projeto iniciado por um senador, por exemplo. A
urgência decorre de um projeto de sua iniciativa apenas.
A Câmara terá 45 dias para analisar, após o PL vai para o Senado, que terá mais 45 dias. Se o Senado
fizer alguma emenda a Câmara, terá 10 dias para apreciá-la. Portanto, o prazo máximo é de 100 dias.
Caso as Casas não se manifestem dentro do prazo, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações
legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado (exemplo:
Medida Provisória), até que se ultime a votação.
Art.64
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestar
§ 3º - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-
disposto no parágrafo anterior.
De maneira geral, o art. 61 prevê como legitimados para iniciar um processo legislativo:
Exemplo:
Exemplos
o Iniciativa é exclusiva do Presidente quanto aos efetivos das forças armadas; servidores
públicos da União; criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta
e autárquica e o aumento de sua remuneração etc. (art. 61, §1º)
Obs.: O Presidente da República é Único legitimado geral para propor LO/LC e EC.
Importante consignar que a sanção do projeto de lei não supre o vício de iniciativa, lei será inconstitucional,
estando superada a Súmula 5 do STF.
1ªC (José Afondo da Silva e Ingo): cabe iniciativa popular de emenda por uma interpretação
sistemática.
2ªC (Gilmar Mendes): não se admite iniciativa de emenda, eis que a regra geral é o art. 61. Assim, o
art. 60 é uma regra excepcional, normas excepcionais devem ser interpretadas restritivamente.
Salienta-se que o STF, por maioria, entende que é possível que as constituições estaduais prevejam
iniciativa popular de emenda à Constituição.
FASE CONSTITUTIVA
O projeto de Lei sempre deve ser apreciado nas duas Casas Legislativas (decorrência do
bicameralismo federativo).
Salvo nos Projetos de Iniciativa de algum Senador ou de Comissões do Senado, a Casa Iniciadora
será SEMPRE a Câmara dos Deputados, funcionando o Senado Federal como Casa Revisora.
o Discussão;
o Votação;
o Aprovação;
7.2.1. Discussão
EXCEÇÃO: É possível a votação do PL dentro da Comissão Temática, sem passar pelo plenário, nos
termos do art. 58, §2º, I da CF. É o chamado PROCESSO LEGISLATIVO ABREVIADO, nas palavras de
Gilmar Mendes. Somente é possível no processo de lei ordinária.
Quorum de VOTAÇÃO (para que haja votação de uma lei complementar ou ordinária ou qualquer
deliberação):
o Maioria absoluta equivale a mais de 50% dos membros (seja do Plenário ou da Comissão).
Esse número é sempre fixo: 257 Deputados na CD; 41 Senadores no SN.
7.2.3. Aprovação
O quórum de APROVAÇÃO da Lei Ordinária é MAIORIA RELATIVA, ou seja, mais de 50% dos
presentes devem votar em um mesmo sentido para que o projeto seja aprovado. Percebe-se que é um número
variável (art. 47).
O quórum de aprovação de Lei Complementar é MAIORIA ABSOLUTA, ou seja, mais de 50% dos
membros (art. 69). Percebe-se que é um número fixo.
1º Matéria (conteúdo) – a Lei Complementar trata de matéria reservada pela Constituição; ao passo
que a Lei Ordinária trata de matéria residual, não é especificado pela Constituição.
2º Aprovação – maioria absoluta para lei complementar e maioria relativa para lei ordinária.
Importante consignar que NÃO há hierarquia entre lei complementar e lei ordinária, tendo em vista
que possuem campos materiais distintos estabelecidos pela Constituição. Conclui-se que:
o Lei ordinária não pode tratar de lei complementar, caso o faça será inconstitucional;
o Lei complementar pode tratar de matéria residual e não ser invalidada, não por ser
hierarquicamente superior, mas sim em razão de economia legislativa. Como o quórum da
lei complementar é de maioria absoluta, sempre irá atender o quórum para aprovação de lei
ordinária (maioria relativa).
Neste caso, a lei será formalmente complementar, mas materialmente (conteúdo) será uma
lei ordinária. Consequentemente, poderá ser revogada por uma lei ordinária. Por exemplo,
CONFINS.
Em geral, a Casa Iniciadora do Processo Legislativo é a Câmara dos Deputados, somente no caso de
iniciativa de Senador ou de Comissão do Senado, é que a Casa iniciadora será o Senado Federal. Assim,
discutido e aprovado na Casa Iniciadora, o Projeto de Lei é enviado à Casa Revisora, que repetirá o processo,
podendo ao final aprová-lo, rejeitá-lo ou emendá-lo.
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em
um só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação,
se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.
Aprovando: Vai para sanção/veto do Executivo.
Rejeitando: É arquivado, não podendo ser reapresentado na mesma sessão legislativa, salvo se por
iniciativa da maioria absoluta de qualquer das Casas do congresso (art. 67). No caso de projeto de
EC, este não poderá ser reapresentado na mesma sessão legislativa (art. 60, §5º).
Emendando: Retorna a Emenda à Casa Iniciadora, que poderá aprová-la ou rejeitá-la, mas jamais
alterá-la (não se admitem “subemendas”).
Apenas as emendas retornam, pois são as únicas partes do PL que ainda não foram aprovadas pelas
duas Casas.
Caso ocorra na Casa Revisora uma Emenda supressiva é preciso retornar o projeto para a Casa
Iniciadora? Em regra, as emendas supressivas não precisam retornar à casa de origem (encaminha-se o PL
direto para a sanção), salvo quando afetarem o restante (de forma substancial) do conteúdo do PL.
É possível que um projeto de iniciativa exclusiva do Presidente venha a ser emendado no Congresso?
Sim, é possível, até porque a iniciativa exclusiva refere-se apenas ao “pontapé inicial” do processo e não a
sua inteira realização. Se não houvesse possibilidade de emenda, quem estaria legislando seria o Poder
Executivo (ou outro órgão legitimado exclusivo, conforme o caso). Não confundir com a hipótese acima
vista, caso em que o legislativo que inicia a lei de iniciativa exclusiva do Presidente, isso não é possível nem
com posterior ratificação.
As matérias que não dizem respeito ao conteúdo originário do projeto são as chamadas “caudas da
lei” ou “contrabando legislativo”, nas palavras de Michel Temer.
EXCEÇÃO: O art. 166, §§3º e 4º traz duas hipóteses em que se admite a emenda parlamentar ao PL
enviado pelo Presidente, mesmo que acarrete aumento de despesa, desde que observados alguns requisitos
específicos. Trata-se das emendas:
Vale lembrar que a não observância dessas duas exigências (não aumento de despesas e pertinência
temática) gera a inconstitucionalidade formal da lei, que, como já vimos, é insanável.
Pode o Presidente emendar o seu próprio PL apresentado? O próprio legitimado (com exceção dos
parlamentares) só pode apresentar emendas aditivas, nunca supressivas. A emenda aditiva funciona como um
novo PL, por isso ela não é vedada. Agora, a retirada de matéria do PL não é possível. É o mesmo raciocínio
da Medida Provisória, onde o presidente não pode retirar do parlamento a MP enviada; pode no máximo
editar nova MP revogando a primeira.
O veto/sanção somente existe para Projeto de Lei. No caso de PEC, depois de aprovado, o projeto
vai direto para a promulgação.
A sanção do PL pode ser expressa ou tácita. Consequentemente, o veto deve ser sempre expresso.
Prazo: O presidente tem 15 dias úteis para sancionar/vetar o PL. Em não se manifestando nesse
prazo, dá-se a sanção tácita (art. 66, §3º).
Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de
lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
19
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo,
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 7
de inciso
OBS: Não confundir com a declaração deou de alínea.
inconstitucionalidade parcial, que pode incidir até mesmo
sobre uma palavra ou expressão. Ver Controle de Constitucionalidade.
O veto pode ser JURÍDICO (por inconstitucionalidade do PL) ou POLÍTICO (contrário ao interesse
público). Todo veto deve ser motivado, comunicando em 48hrs ao presidente do senado. Art. 66, §1º.
Natureza jurídica do veto: Não há consenso na doutrina, para alguns seria um direito, para outros um
dever, ou ainda um poder-dever. O veto político é um poder, o veto jurídico seria um dever.
O veto é absoluto ou relativo? É relativo, pois pode ser derrubado pelo CN.
Conforme o §4º do art. 66, o veto será apreciado em sessão conjunta do Congresso, dentro 30 dias, a
contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e
Senadores. (deputados: 257/513 , senadores: 41/81).
o Sistema bicameral – regra –, a votação é feita na CD aí vai para o SF, esse pode aprovar ou
emendar, então volta para a CD. Não é permitida a “emenda da emenda”, quando ele retorna
novamente ao SF, deve ser aprovado ou rejeitado.
Se o veto for derrubado, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.
Não é possível retratação de veto (pelo Presidente) tampouco da derrubada de veto (pelo Congresso).
Com a sanção, o então Projeto de Lei é transformado em Lei, passando para a fase complementar de
promulgação e publicação.
Por fim, não se admite “novo veto” em lei promulgada e publicada. As fases do processo legislativo
estão sujeitas ao princípio da preclusão, de forma que, depois de o Presidente ter
FASE COMPLEMENTAR
OBS: Nada impede que depois das 48h o presidente venha a promulgar (art. 66, §7º). Ele não perde a
sua atribuição.
INTRODUÇÃO
José Afonso da Silva critica veementemente a inclusão da medida provisória dentro do processo
legislativo, e o faz com razão. A medida provisória, a rigor, não é uma espécie normativa, haja vista ser ato
unipessoal do chefe do executivo, que prescinde do devido processo legislativo para que comece a produzir
efeitos. José Afonso afirma, inclusive, que no texto original da CF a medida provisória não constava da
enumeração do art. 59, tendo sido ali incluída por algum “gênio ignorante, de mau gosto e abusado”.
A medida provisória da CF/88 substituiu o antigo Decreto-Lei das Constituições de 1967 e EC 01/69.
Sofreu grande influência, ainda, do Decreti-legge, previsto na Constituição Italiana de 1947.
A medida provisória produz dois efeitos imediatos: efeito de natureza normativa e efeito de natureza
ritual (procedimental).
Não é aprovada
tacitamente (necessita Era aprovado pelo
de aprovação expressa) decurso de prazo
Convém lembrar que as MPs editadas antes da EC 32 ainda se submetem ao regime anterior. Assim
dispõe o art. 2º da EC 32: “As medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação desta
emenda continuam em vigor até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até
deliberação definitiva do Congresso Nacional”. Ou seja, sequer precisam ser reeditadas para que
mantenham sua eficácia.
Além disso, antes da EC, o prazo de validade da MP não era suspenso no recesso, diferentemente do
que ocorre hoje, como veremos adiante. Sobre esse tema a Súmula 651 do STF:
Existe limite para a reedição de medidas provisórias pós EC 32? Não existe na CF qualquer limitação
quanto ao número de reedições. Entretanto, a CF veda que a reedição ocorra dentro da mesma sessão
legislativa em que a MP tenha sido rejeitada ou tenha perdido sua eficácia (art. 62,
§10). Percebe-se que na sistemática atual a MP é rejeitada pelo decurso de prazo.
Pode-se concluir, portanto, que a MP pode ser reeditada pelo Presidente tanto no caso de rejeição
tácita, como no caso de rejeição expressa do Congresso Nacional, desde que seja em outra sessão legislativa.
OBS: Sessão legislativa ordinária é o período anual que se inicia em 02 de fevereiro, pausa para recesso em
17 de julho, recomeça em 1º de agosto e vai até 22 de dezembro (havendo recesso, suspende-se o prazo da
MP).
MP editada em um ano pode ser reeditada no mesmo ano em que ela foi rejeitada? SIM! Observe que
a sessão não começa no dia 01/01, mas no dia 02/02. Assim, pode ocorrer de uma MP ser rejeitada no dia
15/01/2021 (em sessão extraordinária) e ser reeditada em 15/02/2021, pois a reedição, apesar de ocorrer no
mesmo ano da rejeição, foi na sessão seguinte.
Lembrando: A PEC tem essa mesma vedação de repropositura na mesma sessão legislativa (art. 60,
§5º).
ATENÇÃO: Esse prazo de 60 dias não é contado durante os períodos de recesso parlamentar, ao
contrário do que ocorria antes da EC 32. Atualmente o prazo é suspenso, o que permite que a MP possa ficar
em vigor, sem aprovação, por muito mais de 120 dias (art. 62, §4º).
E em relação a MP que veicule matéria constante de outra MP anteriormente rejeitada pelo CN? Ao
que parece também não poderá o Presidente apresentar outra. Estaria novamente a violar a regra do art. 67.
REGIME DE URGÊNCIA
Art. 62, § 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco
dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência,
subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando
sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações
legislativas da Casa em que estiver tramitando.
Se a MP não for apreciada em 45 dias, entra no chamado regime de urgência (que também existe no
processo legislativo sumário – presidente pede urgência). Veja que o prazo é o mesmo, 45 dias.
Quando a MP é editada pelo Presidente e enviada ao Congresso, vai para uma Comissão Mista do
Congresso, que deverá emitir um parecer, apreciando seus aspectos constitucionais (relevância e urgência) e
de mérito (art. 62, §§ 5º e 9º).
Importante consignar que a atribuição da Comissão Mista não pode ser delegada para membro por
meio de resolução.
STF – ADI 4.029/DF: “As comissões mistas e a magnitude das funções das
mesmas no processo de conversão de medidas provisórias decorrem da
necessidade, imposta pela Constituição, de assegurar uma reflexão mais
detida sobre o ato normativo primário emanado pelo Executivo, evitando que
a apreciação pelo Plenário seja feita de maneira inopinada, percebendo-se,
assim, que o parecer desse colegiado representa, em vez de formalidade
desimportante, uma garantia de que o Legislativo fiscalize o exercício atípico
da função legiferante pelo Executivo. O art. 6º da Resolução 1 de 2002 do
Congresso Nacional, que permite a emissão do parecer por meio de relator
nomeado pela Comissão Mista, diretamente ao Plenário da Câmara dos
Deputados, é inconstitucional.”
Obs.: Durante a pandemia da Covid-19 ficou reconhecido que as medidas provisórias podem ser instruídas
perante o plenário das Casas, ficando excepcionalmente autorizada a emissão de parecer por um deputado e
um senador, em substituição à Comissão Mista
Após o parecer, a MP vai para a Câmara dos Deputados (casa iniciadora). Na CD, é encaminhada
para a CCJ e depois é votada em plenário. Depois disso, segue para o Senado, seguindo o mesmo trâmite
(CCJ + Plenário).
Salienta-se que é possível que ocorra emenda na medida provisória, desde que guarde pertinência
logico-temática. Além disso, o quórum de votação será por maioria absoluta e o quórum de aprovação por
maioria relativa, como não há previsão expressa na Constituição, segue o disposto no art. 47 da CF.
A MP, depois de convertida em Lei, precisa de sanção do Presidente? Depende. Se alguma das casas
fizer alteração ao conteúdo da MP, será imprescindível a sanção. Se não houver alteração, a sanção é
desnecessária, cabendo ao presidente do Congresso realizar a promulgação.
Art. 62 § 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja320
sancionado ou
O Poder Legislativo pode emendar projeto de lei de conversão de medida
provisória quando a emenda estiver associada ao tema e à finalidade
original da medida provisória. STF. Plenário. ADI 6928/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 22/11/2021 (Info 1038).
OBS: Com efeito, a MP não revoga nenhuma norma, mas apenas suspende a eficácia, tendo em vista sua
precariedade. Somente depois da conversão ocorre a revogação.
Nesse caso, o que cabe ao Congresso fazer? Qual MP deve ser analisada em primeiro lugar? A
segunda MP, a revogadora. Se aprovada, a anterior fica definitivamente revogada. Se rejeitada a segunda
MP, a primeira voltará a produzir efeitos, pelo período que ainda lhe restava. Ou seja, entre a edição da
segunda MP e a sua rejeição, a primeira fica com sua eficácia suspensa.
Uma MP pode revogar uma lei? NÃO, pois são atos emanados de autoridades diferentes, atos de
densidades diferentes.
O que ocorre então? A MP suspende a eficácia da lei, tal como uma medida cautelar em ADI
suspende o ato impugnado. Importância prática: Efeito repristinatório tácito. Se a MP suspensiva for
rejeitada ou perder sua eficácia, a lei suspensa volta, automaticamente, a produzir efeitos. É o mesmo que foi
estudado na cautelar em ADI ou decisão de mérito em ADI (quando a lei revogadora é declarada
inconstitucional).
Cita-se, como exemplo, a ADI 1753, em que se questionou a edição de uma medida provisória que
aumentava o prazo da ação rescisória para a Fazenda Pública. O STF deferiu cautelar suspendendo a MP pela
falta de urgência (veja que foi antes da EC 32/01, quando não havia restrição ainda quanto ao processo para
MP).
Quanto à análise material, o Poder Judiciário pode analisar o conteúdo da MP em face da CF. Além
dessa análise, terá que observar também as limitações materiais que são impostos à MP (art. 62, §§1º e 2º).
Compatibilidade de conteúdo
Imagine, por exemplo, que uma medida provisória tenha sido objeto de ADI por ser incompatível
com as normas da Constituição (aspecto material), já que trata de uma matéria reservada à Lei
Complementar. Obviamente, o mérito da ADI não será julgado antes de terminar o prazo de aprovação da
MP.
o Se a MP for rejeitada ou alterada na matéria questionada, o que ocorre com a ADI? Como a
finalidade do controle abstrato é assegurar a Supremacia da Constituição, A MP rejeitada,
que foi retirada do mundo jurídico, não mais ameaça a CF. Logo, a ADI é extinta por perda
do objeto.
o Se a MP (que trata de matéria de LC) for convertida em LC (com quórum qualificado)
o que ocorre com a ADI? Deverá ocorrer o aditamento da petição inicial da ADI, tendo
prosseguimento. A conversão da MP em lei não convalida os vícios originários
da MP.
LIMITES MATERIAIS
Consistem nos temas que não podem ser regulamentados por medida provisória, estão previstos no art.
62, §1º, da CF.
Antes da EC 32/2001, não havia qualquer limitação sobre os temas que podiam ser tratados por
medida provisória. Contudo, a doutrina e a jurisprudência emanaram o entendimento de que a MP não
poderia tratar de norma penal incriminadora.
Indaga-se: MP pode regulamentar matéria de direitos fundamentais? Existem alguns direitos que
têm vedação expressa de tratamento por medida provisória, é o caso dos diretos de nacionalidade e políticos.
Entretanto, em relação aos direitos individuais e direitos sociais não há vedação, portanto, podem ser tratados
por medida provisória.
Com a EC 32/2001, nem mesmo normas penais benéficas ao acusado podem ser tratadas por medida
provisória. Importante salientar que o saudoso Professor Luís Flávio Gomes defendia que o STF, ao analisar
a prorrogação do prazo do Estatuto do Desarmamento por medida provisória, não declarou a
inconstitucionalidade. Assim, LFG defendia que o STF admitia a medida provisória poderia tratar de matéria
penal não incriminadora (é entendimento minoritário).
Medida provisória não pode trata de planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e
créditos adicionais e suplementares, salvo nos casos de abertura de extraordinários para atender despesas
imprevisíveis e urgentes (guerra, comoção interna, calamidade pública). É o que ocorreu com a pandemia do
Covid-19.
STF – ADI 4.048 MC/DF: “Além dos requisitos de relevância e urgência (art.
62), a Constituição exige que a abertura do crédito extraordinário seja feita
apenas para atender a despesas imprevisíveis e urgentes. Ao contrário
do que ocorre em relação aos requisitos de relevância e urgência (art. 62),
que se submetem a uma ampla margem de discricionariedade por parte do
Presidente da República, os requisitos de imprevisibilidade e urgência (art.
167, § 3º) recebem densificação normativa da Constituição. Os conteúdos
semânticos das expressões "guerra", "comoção interna" e "calamidade
pública" constituem vetores para a interpretação/aplicação do art. 167, § 3º
Com a EC 32, ficou expressamente previsto que a MP não pode tratar de matéria de lei
complementar (matéria ‘reservada’ pela constituição, contrário da lei ordinária que é matéria residual).
Também não pode tratar de matéria reservada, ou seja. matérias de iniciativa exclusiva do poder judiciário,
do MP, do Congresso etc.
É vedada a edição de medida provisória tratando sobre matéria já disciplinada em projeto de lei
aprovado pelo Congresso Nacional e que está pendente de sanção ou veto. Isso é proibido pelo art. 62, § 1º,
IV, da CF/88. Assim, se o Presidente da República estiver com um projeto de lei aprovado pelo Congresso na
sua “mesa” para análise de sanção ou veto, ele não poderá editar uma MP sobre o mesmo assunto. Por outro
lado, de acordo com o STF, nada impede que o Presidente sancione ou vete esse projeto e, no mesmo dia,
edite uma medida provisória tratando sobre o mesmo tema. Neste caso, não haverá afronta ao art. 62, § 1º,
IV, da CF/88.
Não caracteriza afronta à vedação imposta pelo art. 62, § 1º, IV, da
Constituição Federal a edição de medida provisória no mesmo dia em que o
Presidente da República sanciona ou veta projeto de lei com conteúdo
semelhante. STF. Plenário. ADI 2601/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 19/8/2021 (Info 1026).
Impostos extrafiscais e extraordinários: II, IE, IPI, IOF, IEG. Nesses impostos, a MP produz efeitos
imediatos, porquanto são impostos que não se submetem ao princípio da anterioridade (vigência
imediata - mitigações à anterioridade, salvo o IPI, que obedece à noventena).
Demais impostos (que se sujeitam à anterioridade): A medida provisória atua como se fosse um
mero projeto de lei (Hugo de Brito Machado). Por quê? Pois só produzirá efeitos no exercício
financeiro seguinte àquele em que foi convertida em lei. A MP, em si, não produz nenhum efeito
(art. 62, §2º).
Demais tributos diferentes dos impostos: a publicação de MP tem efeito de lei, marcando o
O art. 62 da CF menciona que o presidente pode editar medida provisória. Por outro lado, a
Constituição não faz menção ao Chefe do Poder Executivo (‘lato sensu’). Em razão da redação restritiva,
surge a questão: poderia o governador e o prefeito editarem medidas provisórias?
Como a medida provisória faz parte do processo legislativo, e como este obedece ao princípio da
simetria (suas regras são normas de observância obrigatória), entende-se que as Constituições Estaduais
podem ofertar ao governador competência para editar MP (ex.: CE/SC, CE/TO, CE/AC, CE/PI). Porém, para
que a norma estadual seja válida, o modelo estabelecido pela CF deve ser observado (requisitos, trâmite etc.),
pois, repita-se, são normas de observância obrigatória.
Além do Princípio da Simetria, utiliza-se como fundamento o art. 25, §2º da CF. Observe:
Nesse dispositivo fica claro que o constituinte previu a possibilidade de medida provisória estadual,
já que a competência para tratar sobre os serviços de gás canalizado é dos Estados. Se a vedação do
dispositivo fosse para o presidente não teria nenhuma lógica, visto que essa matéria é de competência dos
Estados.
É pacífico no STF a possibilidade de edição de medida provisória em âmbito estadual. Nesse sentido:
STF – ADI 2.391/SC: 2. No julgamento da ADI 425 (...), o Plenário desta Corte
já havia reconhecido, por ampla maioria, a constitucionalidade da instituição
de medida provisória estadual, desde que, primeiro, esse instrumento
esteja expressamente previsto na Constituição do Estado e, segundo,
sejam observados os princípios e as limitações impostas pelo modelo
adotado pela Constituição Federal, tendo em vista a necessidade da
observância simétrica do processo legislativo federal. (...). 3.
Entendimento reforçado pela significativa indicação na Constituição Federal,
quanto a essa possibilidade, no capítulo referente à organização e à
regência dos Estados, da competência desses entes da Federação para
"explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locai s de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a
sua regulamentação" (art. 25, § 2º). 4. Ação direta cujo pedido formulado se
julga improcedente. (ADI 2391, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal
Pleno, julgado em 16/08/2006, DJ 16-03-2007 PP-00020 EMENT VOL-
02268-02 PP-00164 RDDT n. 140, 2007, p. 233-234).
A doutrina diverge acerca da possibilidade de medida provisória em âmbito municipal, ainda não há
jurisprudência do STF sobre o assunto.
1ª C (minoritário) – é possível a edição de medida provisória pelo Prefeito, mesmo sem previsão na
lei orgânica do município;
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os
seguintes preceitos:[...]
9. LEIS DELEGADAS
CONCEITO
Trata-se de ato normativo primário elaborado pelo Presidente da República, após delegação externa
corporis do Congresso Nacional. Perceba que há a delegação de uma função típica (função de legislar) do
Poder Legislativo ao Presidente da República, é uma exceção ao Princípio da Indelegabilidade das
atribuições.
A Lei Delegada não foi criada pela CF/88, já existia desde antes. Até o momento, conforme cita
Novelino, foram editadas apenas 13, sendo que na vigência da CF/88 tivemos apenas duas. Isso ocorre
porque o Presidente da República pode editar medidas provisórias.
3º - Instrumento da delegação será uma Resolução que irá especificar o conteúdo e os termos do
exercício (limitações) da Lei Delegada.
ESPÉCIES DE DELEGAÇÃO
LIMITAÇÕES MATERIAIS
As restrições às leis delegadas são quase as mesmas das MP’s, pois são matérias que o Presidente
não pode tratar.
Art. 68 § 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência
exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara
dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
DE ACORDO COM A
MP LEI DELEGADA
CF...
Matéria reservada à LC
Perceba que a medida provisória pode tratar tanto de direitos individuais como direitos sociais, eis
que não há vedação. A Lei delegada não pode tratar de direitos individuais, mas apenas de direitos sociais.
A única hipótese de previsão constitucional EXPRESSA de resolução se dá no art. 68, §2º pelo qual
o CN delegará competência ao PR para elaborar lei delegada.
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exi
sobre: [...]
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O poder executivo tem como funções típicas a prática de atos de chefia de Estado, atos de chefia de
governo e atos de administração da coisa pública, aplicando a lei ao caso concreto.
No Brasil, a função executiva é exercida pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de
Estado (art. 76 da CF). Como é apenas uma única autoridade que exerce o poder, dá- se o nome de
executivo monocrático. Trata-se da forma de exercício do poder executivo comum aos países que
adotam o sistema de governo presidencialista.
Já nos países que adotam o sistema parlamentarista, o poder é chamado de executivo dual,
porquanto é exercido por duas ou mais autoridades, como veremos no tópico seguinte.
Falar sobre sistema de governo é responder a seguinte indagação: De que maneira se relaciona o
executivo e o legislativo? Ou ainda: O executivo depende, politicamente, do legislativo?
Segundo Dirley da Cunha Jr., são fórmulas concebidas para identificar o grau de dependência no
relacionamento entre os Poderes Executivo e Legislativo no exercício das funções governamentais.
1) “De assembleia”;
2) Parlamentarismo;
3) Presidencialismo.
SISTEMA DE “ASSEMBLEIA”
Há uma comissão interna corporis no legislativo encarregada das funções de governo, bem como
uma absorção quase que completa do executivo pelo legislativo. Uma comissão decide e a outra executa.
PARLAMENTARISMO
A soberania do parlamento é uma ideia que vai influenciar o constitucionalismo americano. Isto
porque lá, devido ao abuso do parlamento, surge o sentimento de limitação também do poder do legislativo,
esse controle será feito através do judiciário e do controle de constitucionalidade (uma das premissas do
constitucionalismo).
As funções de CHEFE DE ESTADO e CHEFE DE GOVERNO não se reúnem numa mesma pessoa.
Aqui há uma interpenetração: executivo e legislativo. O executivo é exercido pelo primeiro- ministro
(chefe de governo) e pelo presidente/monarca (chefe de estado). O legislativo é pelo parlamento que fiscaliza
o primeiro-ministro e responde perante o eleitor. O chefe de governo é vinculado ao programa de governo
aprovado pelo parlamento. O parlamento deve confiar no chefe de governo, ele é dependente do parlamento.
2) Parlamentarismo republicano
O que é sistema legicêntrico? É o sistema adotado por determinado estado que coloca o poder
legislativo como principal, como expoente dos poderes do Estado.
PRESIDENCIALISMO
Uma única autoridade desempenha a Função executiva (órgão executivo monocrático), ou seja,
exerce tanto a chefia de Estado quanto à chefia de Governo (art. 76 da CF).
Alguns autores entendem que cabe a este a função também de chefia da administração pública
federal isso porque pela repartição vertical (visão do federalismo) a chefia da administração estadual e
municipal caberia respectivamente aos governadores e prefeitos.
PRESIDENCIALISMO DE COALISÃO
A expressão “presidencialismo de coalisão” foi criada por Sérgio Abranges, identifica o problema de
governabilidade existente no Brasil. Isto corre porque, no Brasil, são necessárias alianças entre os partidos
políticos para formar maioria que dê suporte ao Governo, em razão do da grande variedade de partidos
existentes (multipartidarismo).
A EC 97/2017 foi editada com a intenção de diminuir o número de partidos políticos, instituindo a
cláusula de barreira.
1º Ser brasileiro nato (art. 12, §3º - cargos privativos de brasileiros natos), em razão da segurança
jurídica.
Art. 12
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os
cargos: [ ]
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
Art. 14.
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
Aos 35 anos o cidadão atinge a capacidade política absoluta, significa que pode exercer qualquer cargo
na república.
3º Filiação partidária
No Brasil a filiação partidária é uma condição de elegibilidade (art. 14, §3º). Não existem candidaturas
avulsas, independentes, como pode ocorrer nos EUA e Portugal.
Art. 14
§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
[...]
V - a filiação partidária;
Significa não incorrer em nenhuma das causas de perda ou suspensão dos direitos políticos previstas no art.
15 da CF.
5º Não ser inelegível (art. 14, §7º), ou seja, inalistável (estrangeiros e conscritos) ou analfabeto.
Art. 14
§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o
período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
§ 4º - São INELEGÍVEIS os inalistáveis (estrangeiros e conscritos acima) e
os analfabetos.
§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito
Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição.
Obs.: o presidente e o vice são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário. A CF prevê também o sistema
eleitoral proporcional.
No sistema majoritário dá-se importância ao voto ofertado ao candidato registrado por partido
político. A CF exige que o candidato eleito alcance ao menos a MAIORIA ABSOLUTA de votos válidos.
Se, em um primeiro turno de votação nenhum candidato atingir essa maioria, será necessária a realização de
um segundo turno de votação, com a participação dos dois candidatos mais votados no primeiro turno, sendo
eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.
Fundamento da maioria absoluta: Garantia de legitimidade ao eleito, ou seja, garantir que o eleito
tenha apoio de, no mínimo, a maioria absoluta dos eleitores.
Votos válidos: São todos os votos ofertados, subtraindo-se os votos em branco e os nulos (art. 77, §2º
da CF).
O sistema majoritário pode ser do tipo simples (sem segundo turno de votação), será eleito o
candidato que alcançar maioria simples de votos. É adotado nas eleições para SENADORES e PREFEITOS
de municípios COM MENOS de 200mil eleitores.
No sistema proporcional valoriza-se o partido político em detrimento do candidato. Assim, nem
sempre o candidato mais votado será eleito. Nesse sistema, é possível o chamado voto de legenda. É adotado
para deputados estaduais, deputados federais e vereadores.
Por esse sistema, o total de votos válidos é dividido pelo número de vagas em disputa. O resultado é
o QUOCIENTE ELEITORAL, ou o número de votos correspondentes a cada cadeira.
Se o quociente partidário der 6,5, por exemplo, significa que aquele partido elegeu seis de seus
candidatos - os mais votados. Uma nova conta é feita das frações de cada partido até que todas as cadeiras
sejam distribuídas. O sistema proporcional privilegia o partido, e não o candidato. Por isso, é comum ocorrer
de candidatos serem eleitos com menos votos que outros que ficam de fora.
5. POSSE DO PRESIDENTE
Tomam posse em sessão conjunta do Congresso Nacional, no dia 5 de janeiro do ano seguinte ao
pleito eleitoral (alteração promovida pela EC 111/2021). Nessa cerimônia, os eleitos se comprometem a
fielmente obedecer a Constituição (perante o antigo parlamento, pois a posse do novo é depois). A violação
deste compromisso possui uma consequência jurídica, qual seja, a prática de crime de responsabilidade (art.
85 da CF).
Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo
de força maior, não tiverem assumido o cargo, este será declarado vago (CF, art. 78, parágrafo único). Ou
seja, até o dia 11 de janeiro pelo menos um dos dois deve tomar posse, sob pena se vacância dos cargos, caso
no qual serão convocadas novas eleições no prazo de 90 dias da vacância.
Art. 78
Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o
Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver
assumido o cargo, este será declarado vago.
Quem declara os cargos vagos? O Congresso Nacional, pois se trata de questão política.
Obs.: há regramento infraconstitucional sobre a posse do presidente é o regimento do Congresso Nacional.
Já foi perguntado em concurso.
Questão histórica - 1985 - Sarney, então eleito vice-presidente, assume a presidência sozinho, pois
Tancredo Neves estava hospitalizado. Posteriormente, Tancredo morre, sem ter assumido o cargo em
nenhum momento, fazendo com que Sarney se tornasse presidente em definitivo. Há quem defenda que a
posse de Sarney foi inconstitucional, a luz da CF/69.
Sucessão em sentido restrito: Ocorre nos casos de vacância (vaga), que é definitiva. Exemplos:
morte, renúncia, condenação pela prática de crime de responsabilidade e incapacidade absoluta
superveniente;
Substituição: Ocorre nos casos de impedimento, que é temporário. Exemplo: Viagem, férias, licença
para tratamento de saúde.
SUBSTITUIÇÃO SUCESSÃO
Caráter temporário Caráter definitivo
Situação de fato ou de direito que obsta Ato ou fato jurídico que leva a extinção do
exercício do cargo mandato
Situação subjetiva do titular do cargo Estado ou situação do cargo
Casos licença, doença, férias e suspensão Hipóteses: cassação, renúncia, morte e
(art. 86, §1º da CF) arbitrária desfiliação partidária - vacância.
1. Vice-presidente;
2. Presidente da Câmara;
3. Presidente do Senado;
4. Presidente do STF.
Por que o presidente da Câmara vem antes do presidente do Senado? Porque na Câmara estão os
representantes do povo (art. 45), logo há uma maior legitimidade popular.
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo,
eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no
Distrito Federal.
Perceber que na linha sucessória do presidente, somente consta brasileiros natos, conforme o art. 12,
§3º da CF:
Se o vice sucede o presidente, ele se torna o titular. Se também vem a morrer, o presidente da câmara
assume, mas em caráter temporário, ou seja, em substituição, somente até que novas eleições sejam
realizadas e o novo presidente seja eleito (direta ou indiretamente). Art. 81 e parágrafos CF.
Obs.: o art. 81 da CF NÃO é norma de observância obrigatória pelos Estados e Municípios, que possuem
autonomia para tratar de maneira diversa.
STF – ADI 4.298 MC/TO: Reprodução do disposto no art. 81, § 1º, da CF.
Não obrigatoriedade. Exercício da autonomia do Estado-membro.
Liminar indeferida. Precedente. Em sede tutela antecipada em ação direta
de inconstitucionalidade, aparenta constitucionalidade a lei estadual que
prevê
A Lei 13.185/15 alterou a redação do art. 224, §4º da Código Eleitoral prevendo que no caso de
causas eleitorais (indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato
eleito em pleito majoritário) a realização de eleição indireta será apenas quando ocorrer vacância nos últimos
seis meses do mandato, nos demais casos será feita eleição direta.
Atos de natureza colegislativa do PR, são formas do exercício de CHEFIA DE GOVERNO. Insere-
se como instrumento de freios e contrapesos, visando limitar o poder.
Decretos e regulamentos são fontes normativas secundárias cujo fundamento de validade é a lei
(fonte normativa primária), à qual devem subordinação, razão pela qual em regra não podem inovar o
ordenamento jurídico, com exceção do decreto autônomo. Se o decreto exorbitar o poder regulamentar
inovando o ordenamento, poderá ser sustado pelo CN (art. 49, V) ou ter sua ilegalidade declarada pelo Poder
Judiciário.
Exemplo de decreto autônomo: art. 84, VI CF, art. 225, §1º, III da CF.
Tipos de decreto:
2) Decreto delegado ou autorizado pela lei: desenvolve a lei, podendo inovar na ordem jurídica
porque editado segundo autorização legislativa. Não possui espaço no Brasil, pois o nosso ordenamento
jurídico não se coaduna com autorizações legislativas puras ou incondicionadas de nítido conteúdo
renunciativo. STF ADI 3232.
3) Decreto comum ou de execução - a ele se refere o art. 84, IV da CF. Emana diretamente da lei e
não cria, altera ou extingue direitos, apenas fixa regras orgânicas e processuais destinadas a colocar em
execução os princípios institucionais estabelecidos por lei, ou para desenvolver os preceitos constantes da lei
expressos ou implícitos, dentro da órbita por eles circunscrita. O Executivo está constitucionalmente
autorizado (art. 84, IV) a expedir este tipo de decreto em relação a todas as leis, independentemente de
inserção nelas, de disposição expressa.
Essa função colegislativa é fundamentada nos freios e contrapesos. O veto deve ser motivado por
conta de constitucionalidade ou contrariedade do interesse público. Deve ser proferido em até 15 dias úteis.
Cuidado: art. 66, §1º. O veto parcial deve ser de artigo, inciso, parágrafo ou alínea inteira.
Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de
lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em
parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente
do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de
parágrafo, de inciso ou de alínea.
Primeiros 02 anos (art. 81, caput): Se os cargos forem declarados vagos (vacância), o presidente
da câmara assume e convoca eleições DIRETAS, a ser realizada no prazo de 90 dias da vacância do último
cargo. Ou seja, o presidente da CD assume por 90 dias.
Últimos 02 anos (art. 81, §1º): Se os cargos de presidente e vice forem declarados vagos, temos
eleições INDIRETAS em 30 dias. O presidente de câmara substitui (temporariedade) até a realização da
eleição indireta.
Nessa eleição indireta teremos como candidatos: qualquer cidadão que preencha os requisitos; e
como eleitores: o Congresso Nacional.
Em ambos os casos de vacância, aqueles que forem eleitos (direta ou indiretamente) apenas
terminarão o mandato daqueles que desaparecerem (mandato-tampão), ou seja, não exercerão quatro anos
de mandato (art. 81, §2º). O mandato é tampão para que permaneça a coincidência entre as eleições
parlamentares e as eleições presidenciais.
Direta: O povo, titular do poder, escolhe sem qualquer intermediário os seus representantes.
Indireta: O povo escolhe o representante por meio de intermediários. O povo vota no intermediário
que escolhe o representante.
9. VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
3) Realizar demais atribuições previstas em lei complementar (que não existe). Lei ordinária NÃO
pode ofertar atribuições ao vice, nos termos do art. 79, parágrafo único.
É possível que duas autoridades desempenhem atribuições de um mesmo cargo ao mesmo instante?
Do ponto de vista administrativo é bem estranho, mas ocorre. Por exemplo, o Presidente assinando tratado no
exterior e Vice-presidente editando MP, tudo ao mesmo tempo.
REQUISITOS
A idade mínima de 21 anos, para ser Ministro de Estado, não consta no art. 14 porque não é um
cargo eletivo.
Salvo o cargo de Ministro de Defesa, para os demais não há a exigência de ser brasileiro
nato.
Por fim, salienta-se que não há necessidade de aprovação pelo Senado Federal.
COMPETÊNCIA
CRIAÇÃO DE CARGOS
Trata-se lei ordinária, de iniciativa privativa do PR art. 61, 1, II. Perceba que devido ao Art.
84, VI, o PR pode fazer por decreto (EC/32), o que de certa maneira atenua a exigência.
Conselho da República: quais são as matérias em quais ele deve ser ouvido?
As normas constitucionais que tratam do conselho da república são autoaplicáveis? Não, o dispositivo exige
lei para regulamentação.
A composição dos conselhos dos governos estaduais devem ser simétricos aos da Presidência?
SIM. O STF entende que deve observar o modelo constitucional.
A banca vai confundir a composição do conselho da república com o conselho de defesa (é uma
norma não autoaplicável também).
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Há várias responsabilidades dos membros do Poder Executivo definidas pela CF/88, a exemplo dos
crimes de responsabilidade política (crimes de responsabilidade em sentido estrito), da responsabilidade civil
e administrativa (improbidade administrativa), da responsabilidade fiscal, da responsabilidade penal etc.
Em suma:
Crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas praticadas por pessoas que ocupam
determinados cargos públicos. Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele não receberá
sanções penais (prisão ou multa), mas sim sanções político- administrativas (perda do cargo e inabilitação
para o exercício de função pública).
Lei 1.079/50 - alterada pela Lei 10.028/2000 (crimes de responsabilidade do presidente, Ministros de
Estado, Ministros do STF, PGR, governadores, Secretários de estado).
Lei 7.106/86 - Crimes de responsabilidade do Governador do Distrito Federal, dos Governadores dos
Territórios Federais e seus respectivos Secretários.
Ministros de Estado e cargos equiparados (art. 50, caput e §2º; 52, I; 102, I, c)
Ministros do STF, Membros do CNJ e do CNMP, PGR e AGU (art. 52, II);
Membros dos Tribunais Superiores; Membros do TCU; Membros de missão diplomática de caráter
permanente (102, I, c);
Desembargadores dos TJEs e DF; Membros dos TCEs e DF; Membros dos TRFs; Membros dos
TREs; Membros dos TRTs; Membros do MPU que oficiem perante tribunais (105, I, a);
Art. 29-A.
§ 2° Constitui CRIME DE RESPONSABILIDADE do Prefeito
Municipal: I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste
artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária.
Presidente das Câmaras de Vereadores (29-A §3º).
Art. 29-A.
§ 3o Constitui CRIME DE RESPONSABILIDADE do Presidente da Câmara
Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.
Perceba que a lei não sujeita apenas os membros do poder executivo, embora o assunto aqui
tratado foque especificamente no que diz respeito ao poder executivo.
NATUREZA JURÍDICA
COMPETÊNCIA
A competência para o julgamento será do Senado Federal, após autorização da Câmara dos Deputados
(condição de procedibilidade).
SANÇÃO
Obs.: No impeachment da Dilma a sanção foi a perda do cargo, mas não houve a inabilitação por 8 nos. Foi
uma decisão política do Congresso Nacional, endossada pelo STF.
Estão listadas, em rol exemplificativo, no art. 85 da CF. Não é uma tipificação, mas sim uma
indicação das situações.
Conforme o art. 85, parágrafo único, a definição desses crimes que ensejam o impedimento
(impeachment) do presidente deverá estar em lei especial (Lei 1.079/50).
Como dito, a natureza jurídica dos crimes de responsabilidade não é penal, mas sim político-
administrativa, assim, não se exige a tipicidade certa (princípio da taxatividade) da lei penal. Aqui estamos
diante de tipos abertos, o que não significa dizer que possa haver punição sem previsão legal da conduta
ilícita. O STF entende que a lei deve ser federal, como mencionado acima (ADI 1.628).
OBS: perceba que o MP não é um poder, mas tem tratamento constitucional semelhante à de um poder.
É preciso que QUALQUER CIDADÃO (em sentido restrito) apresente a denúncia perante a
CÂMARA DOS DEPUTADOS para que haja análise da acusação.
Cidadão em sentido lato: É todo indivíduo que pode exercer direitos e contrair obrigações (direito de
ter direitos). Em razão da dignidade da pessoa humana, todo indivíduo é cidadão em sentido amplo.
Cidadão em sentido restrito: É todo indivíduo nacional que exerce direitos políticos (art. 12
+ art. 14).
Por isso que se costuma dizer que o crime de responsabilidade se dá por “ AÇÃO PENAL
POPULAR”, como vimos, tal “crime” é infração político-administrativa e não penal. Se tivesse natureza
penal a LCR não poderia dizer que qualquer cidadão poderia oferecê-la, isso porque violaria o art. 129, I da
CF, que dá a titularidade da ação penal ao MP.
Após o recebimento da denúncia, o pedido será acolhido ou não pelo Presidente da Câmara dos
Deputados, assegurando ao Presidente da República o direito à ampla defesa. Contudo, não se exige a
apresentação de defesa prévia.
A apresentação de defesa prévia não é uma exigência do princípio constitucional da ampla defesa:
ela é exceção, e não a regra no processo penal. Não há, portanto, impedimento para que a primeira
oportunidade de apresentação de defesa no processo penal comum se dê após o recebimento da denúncia.
Importante esclarecer que o Presidente da Câmara faz um juízo prévio de admissibilidade da denúncia
e poderia já tê-la rejeitado liminarmente se entendesse que o pedido apresentado era inepto ou que não tinha
justa causa. Assim, seu papel no recebimento dessa denúncia não é meramente burocrático, havendo um
juízo decisório. Nesse sentido, confira precedente do STF:
Caso o pedido seja acolhido, será instituída uma Comissão Especial com representação proporcional, sendo
a indicação de seus membros feita pelos líderes partidários.
Os nomes indicados serão submetidos a ratificação posterior, em votação aberta, pelos membros
do Parlamento.
Após a instalação da comissão, o Presidente da República será notificado para apresentar sua defesa.
Salienta-se que o prazo de apresentação da defesa é de 10 sessões, contado a partir do recebimento da
notificação.
Após a defesa do Presidente da República, a Comissão Especial possui cinco sessões para votar o
relatório final, que poderá ou não ser favorável ao impeachment.
Por fim, será o plenário, mediante a votação nominal de 2/3 de seus membros (342 votos) que
decidirá sobre a abertura do processo de impeachment.
A decisão do Senado que decide se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria simples,
presente a maioria absoluta de seus membros. Aplica-se aqui, por analogia, o art. 47 da Lei nº 1.079/50.
Assim, devem estar presentes no mínimo 42 Senadores no dia da sessão (maioria absoluta de 81) e, destes,
bastaria o voto de 22 Senadores.
A CF/88 afirma que compete ao Senado, privativamente, “processar e julgar” o Presidente (art. 52, I,
da CF/88). Segundo entendeu o STF, esta locução abrange não apenas o julgamento final, mas também a
realização de um juízo inicial de instauração ou não do processo, isto é, de recebimento ou não da denúncia
autorizada pela Câmara.
No regime atual, a Câmara não funciona como um “tribunal de pronúncia”, mas apenas implementa
ou não uma condição de procedibilidade para que a acusação prossiga no Senado. A atuação da Câmara dos
Deputados deve ser entendida como parte de um momento pré-processual, isto é, anterior à instauração do
processo pelo Senado. Nas palavras do Min. Roberto Barroso: "a Câmara apenas autoriza a instauração do
processo: não o instaura por si própria, muito menos determina que o Senado o faça".
12.7.2. Rito
É o mesmo rito previsto para os Ministros do STF e para o Procurador Geral da República.
Ao final do processo, os Senadores deverão votar se o Presidente deve ser condenado ou absolvido.
12.7.3. Presidência
12.7.4. Absolvição
12.7.5. Condenação
Para que seja condenado, é necessário o voto de 2/3 dos Senadores (54 votos).
Se for condenado, o Presidente receberá duas sanções: a) perda do cargo; b) inabilitação para o
exercício de funções públicas por 8 anos. Além disso, poderá ser eventualmente denunciado criminalmente
pelo Ministério Público.
Caso seja condenado, quem assume é o Vice-Presidente, que irá completar o mandato (não é
necessária a convocação de novas eleições).
12.7.6. Renúncia
Caso Collor: Na data do julgamento (28/12/1992), Collor renunciou ao cargo. Esse pedido foi até o
presidente do STF (que presidia o julgamento) que entendeu que era caso de prosseguimento do julgamento:
o fato da renúncia não impediria a aplicação da 2ª pena. A estratégia do Collor era exatamente essa: não ficar
inabilitado. No entanto, ele acabou condenado, e foi declarado inabilitado até o dia 28/12/2000.
O art. 15 da Lei 1.079 diz que “a denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado, não tiver
por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo”. O STF julgando o aludido MS 21689-1, por maioria
de votos, decidiu que a renúncia ao cargo não extingue o processo quando já iniciado.
STF: Entre as duas penas não existe a relação de acessória e principal, ou seja, a pena de inabilitação
não é acessória da perda do cargo; ambas possuem a mesma importância, o mesmo valor. Logo, iniciado o
julgamento, a eventual renúncia não implica em prejudicialidade do processo, porquanto ainda pode ser
aplicada uma das penas possíveis, qual seja, a inabilitação para exercício de função pública por 08 anos.
13. CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS GOVERNADORES DE ESTADO
INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS
São os mesmos do Presidente da República, guardada a devida simetria entre as duas funções. Atos
definidos na Lei 1.079 se aplicam aos governadores.
PROCEDIMENTO
Apresentação da denúncia à Assembleia Legislativa que pode ser feita por qualquer cidadão, nos
termos dos arts. 75 e 76 da Lei 1.079/50.
JULGAMENTO
O governador é julgado por um tribunal misto, formado por deputados estaduais e por
O presidente do TJ local, que presidirá o Tribunal Especial e terá direito de voto apenas no caso de
empate.
IMPORTANTE: Conforme o art. 15 da Lei 1.079/50, A denúncia só poderá ser recebida pela CD
enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo. Lembrar do
posicionamento do STF: se o processo já tiver começado, não caberá renúncia para escapar da pena.
LCR Art. 15. A denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não
tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo.
PREVISÃO CONSTITUCIONAL
CF
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os
subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá
ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita
tributária e das transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158 e
159, efetivamente realizado no exercício anterior:
....
§ 2o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:
I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;
II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária
Infração de natureza PENAL. O prefeito será julgado pelo poder judiciário (art. 1º do DL), ou seja,
pelo TJ (crimes comuns), TRF (crimes federais), TRE (crimes eleitorais).
O julgamento cabe ao TJ ou ao TRF (a lei não foi recepcionada no ponto que remete ao juízo
singular), sem a presença de qualquer magistrado, uma vez que não existe poder judiciário municipal. É
independente do pronunciamento da Câmara de Vereadores (art. 1º, in fine).
O regimento interno do tribunal pode designar órgão fracionário para proceder a este julgamento
STF 71.381.
JAS entende que tal dispositivo não foi recepcionado, deveria deixar tal previsão a cargo da Lei
Orgânica do município. Não é o que prevalece nem o que entende o STF, entendendo que tal
dispositivo continua vigente no nosso sistema.
Em relação aos crimes comuns, o Presidente da República possui irresponsabilidade penal relativa,
ou seja, só irá responder por atos praticados no exercício da função ou em razão da função desempenhada.
Quando à responsabilidade civil, administrativa, política, tributária e fiscal, o presidente não possui
qualquer imunidade. Igualmente não possui a inviolabilidade dos parlamentares (imunidade material), vale
dizer, pode ser responsabilizado por palavras, opiniões e votos.
O presidente, durante o mandato, não pode ser processado (responsabilizado) por atos estranhos ao
exercício da função. A contrário sensu, durante o mandato, o presidente só poderá ser processado pela
prática de crimes in officio (crimes praticados na função ou em razão do exercício da função), nos termos
exatos do art. 86, §4º da CF/88, in verbis:
Exemplo1: O candidato a presidente pratica crime. É eleito, diplomado e toma posse como
Presidente da República. A partir da diplomação o STF passa a ser o juiz natural. Pode o presidente ser
julgado pelo crime pretérito? NÃO poderá ser julgado, pois se o crime foi anterior à posse, trata- se de crime
estranho à função.
a) Perante a prisão
O presidente não poderá ser preso, salvo em razão de sentença penal condenatória com trânsito em
julgado (prisão-pena ou prisão-sanção). Ou seja, nenhuma hipótese de prisão cautelar é cabível, nem mesmo
flagrante pela prática de crimes inafiançáveis. Art. 86, §3º da CF/88.
Não confundir com o art. 53, §2º, que se refere aos parlamentares e permite a prisão destes por
crimes inafiançáveis em flagrante.
b) Perante o processo
Só poderá ser processado seja por crime comum (e nesse caso relativo ao exercício de suas funções)
ou de responsabilidade após a admissão da Câmara dos Deputados, por voto de 2/3 dos seus membros.
15.1.2. Competência
O presidente é julgado pelo STF (art. 102, I, ‘b’, art. 86 da CF/88) Foro por prerrogativa de
função.
Perceber que o quórum de 2/3 (juízo de admissibilidade) da CD é o mesmo tanto para crimes
comuns (julgamento jurídico pelo STF) como nos crimes de responsabilidade (julgamento político pelo SF).
Não é necessário autorização da CD ANTES do oferecimento da denúncia, ou
seja, para investigação do PR, bem como oferecimento de denúncia pela PGR.
Art. 86
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime
pelo Supremo Tribunal Federal;
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver
concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo.
15.1.4. Procedimento
Terminada a investigação, os autos vão ao PGR (que também participa da investigação, obviamente),
que é o titular constitucional da ação penal perante o STF. É o promotor natural para acusar o presidente por
crimes comuns. Com os autos em mão, o PGR pode tomar um de dois caminhos:
1º O PGR pode pedir o arquivamento da investigação. Nesse caso o STF não tem
alternativa que não seja homologar o arquivamento. O STF só examinará se disser respeito à atipicidade da
conduta ou extinção da punibilidade.
Oferecida a denúncia, pode o STF deliberar desde já sobre o seu recebimento? NEGATIVO. O
recebimento da peça acusatória só pode ser realizado após a autorização da Câmara dos Deputados, ou seja,
tal como nos crimes de responsabilidade, a acusação se submete a um juízo político de admissibilidade.
Trata-se de um juízo político de oportunidade e conveniência (é interessante ver o presidente processado?).
OBS: No julgamento dos parlamentares, o STF pode receber a denúncia sem qualquer autorização do
parlamento, mas este pode suspender o andamento do processo por decisão de maioria absoluta.
Após o oferecimento da peça acusatória, cabe ao presidente do STF encaminhar uma solicitação ao
Presidente da CD para a instauração do processo. Caberá então à Câmara decidir sobre a autorização ou não
do recebimento da denúncia. De dois caminhos, um será tomado:
JUÍZO NEGATIVO: Caso a Câmara faça um juízo negativo (menos de 2/3 autorizam a deflagração
do processo contra o presidente), o STF não poderá se manifestar sobre o recebimento da denúncia.
Como consequência é suspenso o prazo prescricional da infração penal.
Feito o juízo positivo, significa dizer que a Câmara autoriza o STF a se MANIFESTAR sobre o
recebimento da denúncia. Ou seja, diferentemente dos crimes de responsabilidade (lá o SENADO), o órgão
processante aqui (STF) não fica obrigado a dar início ao processo.
Entretanto, antes do STF se manifestar sobre o recebimento da peça acusatória, deve ser
OBS: Essa Lei prevê a possibilidade de julgamento antecipado da lide penal. Ou seja, na própria
audiência designada para a deliberação a respeito do recebimento é possível que o STF absolva o presidente,
mesmo sem ter recebido a peça acusatória, no caso dessa decisão não depender de outras provas (art. 6º da
Lei).
Art. 6º - A seguir, o relator pedirá dia para que o TRIBUNAL delibere sobre o
recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência da
acusação, se a decisão não depender de outras provas. (Vide Lei nº
8.658, de 1993)
IMPORTANTE: Quem se manifesta acerca do recebimento da denúncia é o PLENO e não o
Ministro Relator, em homenagem ao princípio da colegialidade.
O presidente fica afastado de suas funções por até 180 dias (tal como nos crimes de
responsabilidade), sendo SUBSTITUÍDO (impedimento) pelo vice (art. 86, §1º). Decorrido o prazo
sem que o processo tenha findado, o presidente retorna ao cargo, sem prejuízo da continuidade do
processo (tal como nos crimes de responsabilidade)
Art. 86
§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime
pelo Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo
Senado Federal.
§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não
estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do
regular prosseguimento do processo.
O vice deixa de ser um substituto e passa a ser o sucessor (caso de vacância, que é definitiva).
O que significa infração penal comum prevista no art. 102, I, b? Nada mais do que a
contraposição ao crime de responsabilidade (impróprio). Dentro do gênero “infração penal comum” estão
contidas as seguintes práticas:
Crime eleitoral;
Crime militar;
Contravenção penal.
O governador é julgado pelo STJ por crimes comuns, assim entendidos (art. 105, I, ‘a’ da CF/88):
Crime eleitoral;
Crime militar;
Crime doloso contra a vida;
Contravenção penal.
OBS: O TSE não tem competência para julgar crimes, por isso o julgamento do governador por eventuais
crimes eleitorais também se dá no STJ.
Governador é dotado de irresponsabilidade relativa? Vale dizer, o art. 86, §3º e §4º se
aplica aos governadores? NÃO. Governador não é dotado de irresponsabilidade relativa. A
irresponsabilidade, por ser exceção, deve ser interpretada restritivamente. Da mesma forma, os governadores
não têm imunidade quanto à prisão, ou seja, podem ser presos cautelarmente, bem como podem ser
processados durante o mandato pela prática de crimes estranhos ao exercício da função.
Onde é julgado o vice-governador por crime comum? O art. 102, I, ‘b’ diz que o presidente
e o vice são julgados originariamente pelo STF. O art. 105, I, ‘a’, não faz referência ao vice-governador. Ou
seja, o vice não é julgado originariamente pelo STJ.
O juiz natural do vice-governador dependerá da CE (tanto para crimes comuns quanto crimes de
responsabilidade). A CE é autorizada pela CR a ofertar foro por prerrogativa para outras autoridades (art.
125, §1º).
O prefeito é julgado por crimes comuns, em regra, pelo TJ (art. 29 da CF). Não se exige autorização
da Câmara dos Deputados
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os
seguintes preceitos:
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
PROVA: Quem julga o prefeito é o Tribunal pleno (ou órgão especial) ou um órgão
fracionário menor? Pode ser julgado por órgão fracionário. A Constituição exige apenas o julgamento
colegiado (STF HC 71.381).
tem).
Se o crime for eleitoral TRE (que tem competência criminal ao contrário do TSE que não
STF Súmula 702 a competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se
aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a
competência originária caberá ao respectivo tribunal desegundo grau.
Adota-se aqui o critério da regionalidade que afasta o critério do lugar da infração previsto no
art. 69, I do CPP. Exemplo: Crime cometido por prefeito de Rio Grande praticado em São Paulo. Quem julga
é o TJ/RS.
Salienta-se que as Constituições Estaduais não podem criar foro por prerrogativa de função, tendo
em vista que a CF já estabelece nas três esferas.
Atenção!
A autoridade que responde por crime de responsabilidade também pode ser processada pela prática
de improbidade administrativa? O STJ entende que os prefeitos podem responder por improbidade administrativa
e também pelos crimes de responsabilidade do Decreto-Lei 201/67 (ex: REsp 1066772/MS). A ação de
improbidade administrativa contra os prefeitos será julgada em 1ª instância.
Para o STJ, os agentes políticos se submetem à Lei de Improbidade Administrativa, com exceção do
Presidente da República. Logo, é possível que os agentes políticos respondam pelos crimes de responsabilidade da
Lei 1.079/50 e também por improbidade administrativa.
16. RECALL
CONSIDERAÇÕES E CONCEITO
Não está previsto no ordenamento jurídico brasileiro, embora já tenha sido cogitado em algumas
reformas.
Perceba que é uma forma mais efetiva de controle popular sobre os seus representantes.
RECALL x IMPEACHMENT
PODER JUDICIÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Inicialmente, salienta-se que o Poder Judiciário possui garantias que são atribuídas aos seus membros
(garantias funcionais) e, ainda, há garantias que são atribuídas à instituição (garantias institucionais).
Autonomia
administrativa (art. 96)
INSTITUCIONAIS
Autonimia
financeira
GARANTIAS DO Vitaliciedade
PODER JUDICIÁRIO
Independência Inamovibilidade
Irredutibilidade
FUNCIONAIS
de subsídios
Imparcialidade Vedações
As garantias funcionais visam permitir que os magistrados exerçam suas funções com independência
e imparcialidade.
Importante consignar que as garantias não são privilégios (não é admitido), mas sim mecanismos que
visam assegurar que o Poder Judiciário desempenhe seu papel com independência e imparcialidade.
I – Vitaliciedade
VITALICIEDAD ESTABILIDADE
E
Só se aplica a agentes públicos (magistrados, Aplica-se aos servidores públicos em sentido
MP, OFA, militares dos Estados/DF e TC). estrito.
A vitaliciedade é alcançada, em 1º grau de jurisdição, A estabilidade é alcançada após 03 anos de
após 02 anos de efetivo exercício. Nos tribunais, a efetivo exercício do cargo.
vitaliciedade ocorre no momento da
posse.
Servidor vitalício só perde cargo em virtude de Servidor estável pode perder cargo também em
sentença judicial com trânsito em julgado (durante o razão de processo administrativo (disciplinar ou
estágio probatório pode perder cargo avaliação de desempenho).
administrativamente).
Obs.: os Ministros do STF e os membros do CNJ podem responder por crimes de responsabilidade. Diante
disso, podem perder o cargo por decisão do Senado Federal, não dependem do trânsito em julgado.
Por fim, a vitaliciedade encerra-se aos 75 anos de idade com a aposentadoria compulsória. II –
Inamovibilidade
Com o intuito de evitar que os membros do Poder Judiciários sejam removidos como forma de
retaliação, a Constituição prevê a inamovibilidade. Desta forma, o magistrado só pode ser removido com a
sua aquiescência, diversamente do servidor público estável que pode ser removido por oportunidade ou
conveniência da Administração. Mesmo que a remoção importe em promoção, ele não está obrigado a aceitá-
la.
Contudo, a própria Constituição prevê hipótese em que poderá ser removido por interesse público,
mediante decisão do tribunal ou do CNJ por maioria absoluta, sendo-lhe garantida a ampla defesa.
Art. 93, VIII - o ato de remoção ou de disponibilidade do magistrado, por interesse púb
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
A garantia da irredutibilidade de subsídios também será aplicada aos membros do MP, aos Ministro
do TCU, aos Oficiais das Forças Armadas, aos militares dos Estados/DF e Territórios e aos servidores
públicos.
Destaca-se que Constituição admite a redução de salários dos empregados, desde que haja acordo ou
convenção coletiva. Não havendo, não poderá haver a redução de salários dos empregados da iniciativa
privada.
Referem-se às vedações impostas aos magistrados (e também aos membros do MP), visam assegurar a
imparcialidade.
Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas contribuições de pessoas físicas, entidades públicas
ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em
lei. lei.
Não há previsão de tal vedação na CF aos Participar de sociedade comercial, na forma da lei
magistrados
Observações importantes:
1) A expressão “salvo uma de magistério” não impede que o magistrado exerça a função de
magistério em mais de uma instituição de ensino, desde que isso não atrapalhe o exercício da magistratura.
3) Trata-se da chamada “quarentena”, visa evitar que o Juiz ou membro do Ministério Público, que
atuaram perante o órgão, utilizem sua influência em benefício da advocacia.
GARANTIAS INSTITUCIONAIS
Têm como objetivo promover a independência do Poder Judiciário frente aos demais poderes.
Portanto, protegem o Judiciário como um todo, como instituição, como um órgão da República.
São esses três pontos que constituem o que se chama “AUTOGOVERNO DOS TRIBUNAIS”.
Como vimos, serve para a manutenção da independência do judiciário frente ao executivo e legislativo
Os tribunais têm autonomia para elaborar suas propostas orçamentárias. Além disso, o art. 168 prevê
que as dotações orçamentárias devem ser entregues ao Judiciário até o dia 20 de cada mês, em duodécimos.
Caso o executivo não repasse, é caso de intervenção federal.
Nos tribunais com mais de 25 julgadores poderá ser constituído um órgão especial, que terá no
mínimo 11 e no máximo 25 membros, com competência delegada administrativa (concessão de férias,
realização de concurso) e jurisdicional (cláusula de reserva de plenário – declaração de
Art. 93, XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores,
poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo
de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e
jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se
metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo
tribunal pleno.
3. QUINTO CONSTITUCIONAL
Visa oxigenar o Poder Judiciário, trazendo para sua composição pessoas com experiencias profissionais
diferentes daquelas que sempre integraram a magistratura.
Está previsto nos art. 94, 111-A, I e 115, I, todos da CF. Observe:
Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de
membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de
advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de
dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos
órgãos de representação das respectivas classes.
O quinto constitucional está previsto para os Tribunais de Justiça, para os Tribunais Regionais
Federais, para o Tribunal Regional do Trabalho e para o Tribunal Superior do Trabalho.
De acordo com o STF, as Constituições Estaduais não podem fazer exigências acerca do quinto
constitucional.
Mais de 10 anos de efetivo exercício (no caso do MP) ou de atividade profissional (no caso do
advogado);
Para os advogados, além dos 10 anos, notório saber jurídico e reputação ilibada.
Os órgãos de classe (OAB e MP) elaboram uma lista sêxtupla, ou seja, indicam seis nomes, que são
submetidos à análise do Tribunal.
Há uma votação interna no âmbito do Tribunal, que faz uma lista tríplice com os três nomes mais
votados da lista sêxtupla.
No caso dos Tribunais Regionais Federais, os três primeiros nomes são enviados ao Presidente da
República. No caso dos Tribunais de Justiça, os três primeiros nomes são enviados ao Governador.
Cabe ao Presidente ou ao Governador escolher um dos integrantes da lista tríplice enviada pelo
Tribunal.
Por fim, a composição do STF e do STJ também não é exclusiva de membros do Poder Judiciário.
No caso do STJ, um terço dos membros deve ser oriundo do MP ou da advocacia. No caso do STF, não há
mínimo, a nomeação é feita pelo Presidente da República.
Exercício da
jurisdição
TÍPICAS
Defesa da força
normativa da Constituição
Edição da
FUNÇÕES "legislação judicial"
Administrativa
ATÍPICAS
Legislativa
FUNÇÕES TÍPICAS
O judiciário protege direitos fundamentais. Não é só respeito aos direitos fundamentais, mas também
necessidade de concretização, de efetivação desses direitos. Nesse tema, entra a chamada judicialização de
políticas públicas e o chamado ativismo judicial (institutos que não se confundem).
Lembra João Luiz Esteves que, ao lado dos Poderes Legislativo e Executivo, o Judiciário deve atuar
de modo objetivo na efetivação dos direitos fundamentais sociais. Essa atuação deve ser ampla, aferindo se as
políticas públicas estão sendo desenvolvidas e, mais do que isso, se estão atingindo os objetivos previstos na
Constituição. Nessa direção, o Poder Judiciário deve atuar de forma ativa, suprindo
‘omissões legislativas e executivas, redefinindo políticas públicas quando ocorrer
inoperância de outros poderes’ Nessa perspectiva, o Poder Judiciário - por meio da atuação
de seus juízes, desembargadores e ministros - vem se tornando, em boa medida, o garante
da efetivação dos direitos fundamentais. Nesse contexto, os juízes têm decidido sobre inúmeras
questões, tais como o fornecimento de remédios à pessoa portadora enfermidades; o direito de acesso de
crianças à sala de aula; o direito de o deficiente ter acesso a prédios públicos. O guardião das
promessas passa a desempenhar, assim, outra função, qual seja, a de concretizar direitos
fundamentais.
A Constituição é uma norma jurídica que tem imperatividade reforçada. Sua defesa é feita através do
controle de constitucionalidade.
Fruto da criatividade dos juízes e dos tribunais, sobretudo dos tribunais constitucionais. Exemplo:
súmula vinculante; sentença aditiva; mandado de injunção com eficácia concretista (MI 712).
FUNÇÕES ATÍPICAS
4.2.1. Administrativa
4.2.2. Legislativa
O Poder Judiciário exerce função legislativa ao editar o regimento interno de seus tribunais.
STF
CNJ
JUÍZES FEDERAIS
JUÍZES ESTADUAIS
JUÍZES DO TRABALHO
JUÍZES ELEITORAIS
ATRIBUIÇÕES DO STF
Há seis exigências para que uma pessoa seja Ministro do STF. Vejamos:
1ª. Exigência de natureza administrativa: Ser indicado pelo Presidente e aprovado pelo Senado.
2ª. Exigência de natureza civil (art. 101, caput): Mais de 35 anos (idade que o cidadão adquire a
capacidade política absoluta) e menos de 65 anos de idade. O limite de idade serve para evitar aposentadorias
compulsórias daqueles que mal foram empossados no cargo.
3ª. Exigência de natureza política: Estar no pleno exercício dos direitos políticos (art. 14, §1º,
I).
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante:
§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
4ª. Exigência de natureza jurídica: Brasileiro nato (art. 12, §3º); Razão: O presidente o STF está na
linha sucessória do presidente.
5ª. Exigência de natureza cultural: Notável conhecimento jurídico aquele que dispensa prova. A
sociedade o tem como cultor da ciência jurídica (art. 101, caput).
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cid
Tecnicamente, deve ser, no mínimo, bacharel em Direito. Em nossa história já existiu um médico e um
almirante indicados, mas não aprovados pelo Senado.
6ª. Exigência de natureza moral: Reputação ilibada, idônea. Vida passada sem qualquer mácula, mancha
(art. 101, caput).
COMPOSIÇÃO DO STJ
o Reputação ilibada;
O ministro é escolhido pelo Presidente, mas não de forma livre, a escolha é vinculada a categorias:
1/3 dentre MP (federal, estadual e DF, alternadamente) e OAB = 11. Neste caso são 05 MPs (MPF e
MPE) e 05 OAB (advocacia pública/particular e defensoria). O 11º é alternado.
O presidente indica o nome ao Senado, que deve ser sabatinado e aprovado por maioria
absoluta de votos. Por que o senado participa da escolha? Por conta do sistema de freios e contrapesos.
PROCEDIMENTO DE ESCOLHA
7.3.1. Desembargadores
Vagando uma cadeira de ministro, o presidente do STJ manda ofício para os TRFs (desembargadores
federais). Os desembargadores interessados se inscrevem. O STJ vota e escolhe uma LISTA TRÍPLICE, que
vai para o presidente escolher um nome e enviar para aprovação no Senado.
7.3.2. Advogados
Já com os advogados é realizada uma eleição no Conselho Federal da OAB. Remetem uma LISTA
SÊXTUPLA para o STJ. O STJ remete LISTA TRÍPLICE ao Presidente, que escolhe e manda ao Senado.
Com o MP, o procedimento é igual. O órgão representativo encaminha LISTA SÊXTUPLA ao STJ,
que a reduz a uma LISTA TRÍPLICE a ser enviada ao Presidente.
Até 1988, o segundo grau da JF era representado pelo TFR (tribunal federal de recursos). É possível a
criação de outros TRFs com EC.
TRF1: Sede em Brasília/DF à DF e mais 14 estados da federação (todos da região norte; todos do
centro-oeste, salvo MS; do sudeste MG; do nordeste MA, BA, PI).
TRF5: Sede no Recife à Todos estados do Nordeste, salvo BA, MA, PI.
Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando
possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de 30 e
menos de 65 anos, sendo:
- 1/5 dentre Advogados e MPF com mais de 10 anos de exercício da atividade (é a regra padrão do
art. 94 à quinto constitucional).
Cada estado é uma seção judiciária federal. Na JF não existe entrância nem comarca.
Considerações:
o A Justiça Eleitoral não possui um quadro próprio de juízes, utiliza os juízes de outras
justiças.
Compõe-se de, no mínimo, 07 juízes que recebem o nome de ministros. Desses 07:
• 02 são advogados, escolhidos pelo Presidente (sem aprovação do Senado), a partir de lista
sêxtupla fornecida pelo STF.
OBS: Os magistrados continuam judicando na origem, assim como os advogados podem continuar
advogando, salvo em matéria eleitoral.
- 02 advogados, escolhidos pelo Presidente da República, de uma lista sêxtupla fornecida pelo TJ.
- 01 representante da justiça federal (pode ser juiz ou desembargador), escolhido pelo TRF.
Nos estados que são sedes de TRF (DF, RJ, SP, RS, PE), o representante da JF no TRE será um
desembargador federal.
OBS: Quem assume cargo em Tribunal Eleitoral continua exercendo suas atividades originárias.
JUÍZES ELEITORAIS
O Juiz de Direito exerce a judicatura eleitoral com base no princípio da delegação. Apesar de ser
servidor público estadual, quando está na judicatura eleitoral, ele passa a ser servidor federal, o que acaba
repercutindo na competência criminal.
JUNTAS ELEITORAIS
Apenas é genericamente prevista pela CF. Sua composição e competência ficam a cargo do Código
Eleitoral.
A Justiça Militar da União tem competência exclusivamente penal, cabendo julgar os crimes
militares previstos em lei ordinária, sejam estes cometidos por militares ou por civis. NÃO julga causas
cíveis.
Como todos os tribunais superiores, tem sede em Brasília e jurisdição em todo o território nacional.
PEGADINHA: Os 10 militares somente podem ser brasileiros natos, pois para ser oficial das
- Dos 05 civis: 03 advogados, 01 juiz auditor militar e 01 membro do MP militar. Esses podem ser
tanto natos quanto naturalizados.
- Os 21 restantes são juízes de carreira, promovidos dos TRT’s, indicados pelo próprio TST.
A regra é cada estado ter um TRT. Alguns estados não têm. Em SP existem 02 TRT’s.
- 1/5 dentre Advogados e MP do Trabalho com mais de 10 anos de exercício da atividade (é a regra
padrão do art. 94 quinto constitucional).
OBS: É a mesma regra prevista para os TRF’s, com o objetivo de ampliar o acesso à justiça, dando
efetividade à prestação jurisdicional.
JUÍZES DO TRABALHO
A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição,
atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho. (CF, art. 112).
Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas
não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com
recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.
NATUREZA JURÍDICA
O Conselho Nacional de Justiça, embora previsto dentro da estrutura do Poder Judiciário, não é um
órgão jurisdicional. Trata-se de um órgão nacional de natureza administrativa, correcional, de fiscalização.
ATRIBUIÇÕES
Foi criado pela EC 45/04 com a finalidade de controlar a atuação administrativa e financiaria do
Poder Judiciário, bem como para fiscalizar os juízes no desempenho de seus deveres funcionais. Importante
salientar que o CNJ exerce controle ético e disciplinar dos magistrados, o que não afeta a sua imparcialidade
jurisdicional.
STF – ADI 3.367/DF: Conselho Nacional de Justiça. Órgão de natureza
exclusivamente administrativa. Atribuições de controle da atividade
administrativa, financeira e disciplinar da magistratura. Competência relativa
apenas aos órgãos e juízes situados, hierarquicamente, abaixo do Supremo
Tribunal Federal. Preeminência deste, como órgão máximo do Poder
Judiciário, sobre o Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu
controle jurisdicional.
Além disso, não há hierarquia entre do CNJ em relação ao STF, tanto que os atos do CNJ se
submetem ao controle do STF.
Por fim, não se admite a criação de órgãos similares ao CNJ em âmbito estadual.
COMPOSIÇÃO
O CNJ é composto por membros nomeados pelo Presidente da República, após a aprovação do
Senado Federal.
Dos 15 membros que compõem o CNJ, nove deles são oriundos do Poder Judiciário, dois são
membros do MP, dois são advogados e dois são cidadãos.
Esquematizando:
1 juiz estadual
1 ministro do STJ
09 MEMBROS DO
PODER JUDICIÁRIO 1 desembargador
Indicados pelo STJ
do TRF
1 juiz federal
1 ministro do TST
Indicados pelo
1 membro do TRT
TST
CNJ - 15
MEMBROS 1 juiz do trabalho
1 do MPU
02 MEMBROS DO Indicados pelo
MP PGR
1 do MPE
Indicados pela
02 ADVOGADOS
OAB
1 indicado pela
Câmara
02 CIDADÃOS
1 indicado pelo
Senado
O Presidente do CNJ será o mesmo Presidente do STF, é o único membro que não é nomeado pelo
Presidente da República. Por isso, o Presidente do CNJ será sempre um brasileiro nato.
Não existe mais limites de idade (mais de 35 anos e menos de 66 anos) para os membros do CNJ,
tendo em vista que foram abolidos por emenda constitucional (EC 61/2009).
Ressalta-se que os dois cidadãos e os dois advogados não podem exercer atividades que são
incompatíveis com as funções desempenhadas pelo CNJ.
Caso os membros do CNJ pratiquem crime de responsabilidade, o julgamento será feito pelo Senado
Federal. Tratando-se de crimes comuns, não há previsão expressão de foro por prerrogativa de função,
portanto, serão julgados pela justiça comum.
COMPETÊNCIAS DO CNJ
Trata-se de um rol exemplificativo, ou seja, as atribuições do CNJ não estão restritas as hipótese da
Constituição, podendo o Estatuto da Magistratura prevê outras.
A atuação do CNJ é autônoma, ou seja, não depende da ação dos tribunais para agir
subsidiariamente.
Por fim, o CNJ não possui competência para rever as decisões dos magistrados.
Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e
julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no
exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, §
2º, da CF/88.
10
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/83decbc20d665926df9335a0a3be7e3b?c
ategoria=1&subcategoria=9&assunto=49
Até bem pouco tempo, o STF conferia uma interpretação restritiva a esse dispositivo. O STF dizia
que ele somente seria competente para julgar as ações em que o próprio CNJ ou CNMP (que não possuem
personalidade jurídica própria) figurassem no polo passivo. Seria o caso de mandados de segurança, habeas
corpus e habeas data contra os Conselhos.
Na hipótese de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP, quem irá
figurar como ré no processo é a União, já que os Conselhos são órgãos federais. Logo, tais demandas,
segundo essa interpretação restritiva, seriam julgadas pela Justiça Federal de 1ª instância, com base no art.
109, I, da CF/88:
Esse entendimento estava pacificado no STF, existindo inúmeros julgados nesse sentido. Por
Ocorre que o STF mudou seu entendimento e abandonou a interpretação restritiva acima exposta.
Entendimento atual: compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e
contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim
A Constituição Federal determina que o STF julgue as ações propostas contra o CNJ e CNMP, não
havendo, no art. 102, I, “r”, nenhuma restrição ou diferenciação quanto ao instrumento processual a ser
utilizado. Quando a CF/88 quis restringir a competência do STF para determinados tipos de “ação”, ela o fez
expressamente, como é o caso do art. 102, I, “d”:
Na alínea “r” não houve, portanto, nenhuma restrição, razão pela qual não se deve fazer essa
interpretação restritiva.
Isso não significa que o STF vá julgar toda e qualquer ação ordinária contra os Conselhos, mas
apenas quando o CNJ ou o CNMP atuar no exercício de suas competências. Vimos acima que a alínea “r” é
ampla, não diferenciando o tipo de ação. Logo, aquela distinção antiga que era feita entre o instrumento
processual (se ação ordinária ou ação tipicamente constitucional), não faz sentido e foi abandonada.
A despeito disso, o STF afirmou que ele não irá julgar toda e qualquer ação ordinária contra atos
daqueles conselhos constitucionais. A regra de competência deve ser interpretada de acordo com os fins que
justificaram a inclusão dessa alínea “r” pela EC 45/2004.
A competência do STF para julgar ações contra o CNJ e CNMP somente se justifica se o ato
praticado tiver um cunho finalístico, estando relacionado com os objetivos precípuos que justificaram a
criação dos conselhos, a fim de garantir uma proteção institucional a eles.
A outorga da atribuição ao Supremo para processar e julgar ações contra os Conselhos é mecanismo
constitucional delineado pelo legislador com o objetivo de proteger e viabilizar a atuação desses órgãos de
controle. A realização da missão constitucional ficaria impossibilitada ou seriamente comprometida se os
atos por eles praticados estivessem sujeitos ao crivo de juízos de primeira instância.
Desse modo, compete ao STF julgar todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do
CNMP (não importando se ações ordinárias ou writs constitucionais), mas desde que proferidas no
exercício de suas competências constitucionais, o que está previsto nos arts. 103- B, § 4º, e 130-A, § 2º, da
CF/88.
Ex: o CNJ determinou a vacância de determinada serventia registral (“cartório”) afirmando que o
atual titular (registrado) encontra-se indevidamente investido porque não foi aprovado em concurso. Na
linguagem popular, o CNJ determinou que o registrador “saia do cartório”. Esse registrador ingressa com
ação na Justiça Federal e obtém uma decisão provisória por meio da qual ele pode continuar no cartório. Por
força desse art. 106 do Regimento Interno, o CNJ poderá ordenar que o registrador e o Tribunal de Justiça
cumpram imediatamente a sua decisão administrativa independentemente da decisão proferida pelo Juiz
Federal. Isso porque a decisão do CNJ somente poderia ser revertida pelo STF, nos termos do art. 102, I, “r”,
da CF/88.
Esse art. 106 do Regimento Interno é válido? SIM. A Associação dos Magistrados Brasileiros
(AMB) propôs uma ADI contra esse dispositivo, mas o STF julgou improcedente o pedido e afirmou que é
constitucional o art. 106 do Regimento Interno do CNJ, na redação dada pela Emenda Regimental 1/2010.
A aludida norma nada mais faz do que explicitar o alcance do art. 102, I, “r”, da CF/88, impedindo
que decisões proferidas ao arrepio das regras constitucionais de competência — portanto, flagrantemente
nulas — comprometam o bom desempenho das atribuições do CNJ.
Permitir que decisões administrativas do CNJ sejam afastadas liminarmente órgãos absolutamente
incompetentes implicaria, indiretamente, a inviabilização do exercício de suas competências constitucionais.
COMPOSIÇÃO
O CNMP é um órgão interno do Ministério Público com participação de pessoas que não integram o
MP (participação externa).
Os membros do CNMP são nomeados pelo Presidente da República, após aprovação do Senado Federal.
1 do MPDFT
2 cidadãos
1 indicado pelo
Senado Federal
PROCURADOR-GERAL DA PROCURADOR-GERAL DE
REPÚBLICA JUSTIÇA
CONFLITOS DE ATRIBUIÇÕES11
Inicialmente, quando dois órgãos jurisdicionais divergem sobre quem deverá julgar uma
Imagine, por exemplo, que foi instaurado inquérito policial, que estava “tramitando” na Justiça
Estadual, com o objetivo de apurar determinado crime. Ao final do procedimento, o Promotor de Justiça
requereu a declinação da competência para a Justiça Federal, entendendo que estava presente a hipótese do
art. 109, IV, da CF/88. O Juiz de Direito concordou com o pedido e remeteu os autos para a Justiça Federal.
O Juiz Federal deu vista ao Procurador da República, que entendeu em sentido contrário ao Promotor de
Justiça e afirmou que não havia interesse direto e específico da União que justificasse o feito ser de
competência federal. O Juiz Federal concordou com o Procurador da República e suscitou conflito de
competência.
Este conflito deverá ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I, "d", da
CF/88:
No exemplo acima, os membros do Ministério Público discordaram entre si. No entanto, essa
discordância não ficou limitada a eles e foi também encampada pelos juízes. Logo, em última análise,
tivemos um conflito de competência, ou seja, um conflito negativo entre dois órgãos jurisdicionais.
Algumas vezes, no entanto, os membros do Ministério Público instauram investigações que tramitam
no âmbito da própria instituição. Neste caso, em regra, tais procedimentos não são levados ao Poder
Judiciário, salvo quando irá ser oferecida a denúncia ou se for necessária alguma medida que dependa de
autorização judicial (ex: interceptação telefônica). A regra geral, no entanto, é que os procedimentos de
investigação conduzidos diretamente pelo MP tramitem exclusivamente no âmbito interno da Instituição.
Neste caso, indaga-se: se dois membros do Ministério Público divergem sobre quem deverá atuar
em uma investigação, como isso é chamado? Teremos aqui também um conflito de competência? NÃO.
Neste caso, teremos um CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES.
Obs.: mais uma vez, chamo atenção para o fato de que só existe conflito de atribuições se a divergência ficar restrita
membros do MP, discordarão entre si e teremos, no caso, um "falso conflito de atribuições"
(expressão cunhada por Guilherme de Souza Nucci). Diz-se que há um falso conflito de
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 281
atribuições porque, na verdade, o que temos é um conflito entre dois juízes, ou seja, um conflito de competência.
Apesar de os exemplos acima fornecidos envolverem a investigação de crimes, é importante
esclarecer que o conflito de atribuições poderá ocorrer também em apuração de infrações cíveis, como o caso
de improbidade, meio ambiente, consumidor e outros direitos difusos e coletivos.
Caso haja um conflito de atribuições entre membros do Ministério Público, quem irá decidir qual
dos dois órgãos irá atuar? Depende. Podemos identificar quatro situações diferentes:
Afirmava que este conflito de atribuições deveria ser dirimido pelo próprio STF. O Ministério
Público é um órgão. Seus membros também são órgãos. Um Promotor de Justiça é um órgão estadual. Um
Procurador da República é um órgão da União. Se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes estavam
divergindo sobre a atuação em uma causa, o que nós tínhamos era uma divergência entre dois órgãos de
Estados diferentes. Se um Promotor de Justiça e um Procurador da República discordavam sobre quem
deveria atuar no caso, o que nós tínhamos era uma dissonância entre um órgão estadual e um órgão federal.
Logo, nestas duas situações, quem deveria resolver este conflito seria o STF, conforme previsto no
art. 102, I, “f”, da CF/88:
Neste período, o STF passou a decidir que a competência para dirimir estes conflitos de atribuição
seria do Procurador-Geral da República:
Essa nova posição representa o acolhimento, pelo STF, de uma tese institucional defendida pelos
Ministérios Públicos estaduais que não concordavam com o entendimento de que a competência para dirimir
esse conflito seria do PGR.
A nova posição foi capitaneada pelo Min. Alexandre de Moraes, que apresentou os seguintes
argumentos:
Vale ressaltar que o caso apreciado pelo STF dizia respeito a um conflito de atribuições entre um
Procurador da República e um Promotor de Justiça. No entanto, pelos debates entre os Ministros, percebe-se
que a solução adotada vale também para os conflitos envolvendo Promotores de Justiça de Estados-membros
diferentes. Se dois Promotores de Justiça de Estados diferentes divergirem quanto à atuação em um caso, este
conflito de atribuições será dirimido pelo CNMP.
Vale, por fim, uma observação. O Poder Judiciário não fica vinculado à decisão do CNMP. Assim,
suponhamos que, em um conflito de atribuições, o CNMP afirme que a atribuição para investigar e denunciar
o réu é do Procurador da República.
Diante disso, o Procurador da República oferece denúncia na Justiça Federal. O Juiz Federal estará
livre para reapreciar o tema e poderá entender que a competência não é da Justiça Federal, declinando a
competência para a Justiça Estadual. Caso o Juiz de Direito concorde, seguirá no processamento do feito. Se
discordar, deverá suscitar conflito de competência a ser dirimido pelo STJ (art. 105, I, “d”, da CF/88).
O certo é que a decisão do CNMP produz efeitos vinculantes apenas interna corporis, sendo uma
decisão de cunho administrativo, não vinculando os juízos que irão apreciar a causa.
Sua criação foi feita com base na TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS, ou seja, se a CF dá os
fins a um órgão, ela também dá os meios de se fazer respeitados esses fins.
Com o advento do CPC/15 todos os tribunais passaram a ter competência para julgar reclamação
para preservar sua competência ou garantir a autoridade de suas decisões.
NATUREZA JURÍDICA
OBJETO DA RECLAMAÇÃO
CF, arts. 102, I, “l” (STF) e 105, I, “f”: reclamação para a preservação de sua
competência e garantia da autoridade de suas decisões.
Importante consignar que só cabe reclamação para o STF e para o STJ nas hipóteses apontadas no
art. 988, CPC. Por exemplo, no caso de RE com repercussão geral, se os demais órgãos do Poder Judiciário
não observarem as teses fixadas pelo STF, não cabe reclamação diretamente. Perceba, portanto, que não se
admite a chamada reclamação per saltum. Somente o desrespeito a enunciados de súmula e decisões
proferidas em controle abstrato, IRDR ou incidente de assunção de competência é que admitem a propositura
de reclamação sem que as demais vias sejam esgotadas.
a) Conflitos federativos
O conflito federativo (Estado X Estado e União X Estado) deve ser resolvido pelo STF. Caso algum
outro órgão resolva julgar o conflito, caberá reclamação diretamente para o STF.
b) Inquéritos policiais e denúncias contra autoridades com foro por prerrogativa de função
A decisão da ACP possui efeito erga omnes. Diante disso, há casos em que a ACP pode se tornar
um sucedâneo da ADI (apenas quando o pedido for a declaração da inconstitucionalidade), usurpando a
competência do STF. Por isso, ajuíza-se uma reclamação.
Atenção!
o Caso o ato, objeto da reclamação, tenha sido praticado antes da elaboração da súmula, não
caberá reclamação, tendo em vista que não houve desrespeito à decisão.
o Apesar de dever ser observada pelos demais órgãos do Poder Judiciário, o desrespeito a
súmula que não possui efeito vinculante não será objeto de reclamação.
LEGITIMIDADE ATIVA
Qualquer pessoa atingida pelo ato contrário à orientação do Tribunal possui legitimidade ativa.
Após o CPC/2015, o MP também possui tal legitimidade.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No Brasil, percebe-se os dois sistemas. Quanto ao controle difuso, havia um sério problema, não ter
o “STARE DECISIS”. No EUA é diferente, pois quando a Suprema Corte dá uma decisão no controle
difuso (único controle lá existente), essa decisão vincula todos os demais órgãos do
poder judiciário: é o chamado “BINDING EFFECT“ (efeito vinculante vertical). Já no Brasil, quando o STF
proferia uma decisão no controle difuso, em regra as decisões só valiam para as partes envolvidas (uma das
tentativas de corrigir a distorção é a suspensão de lei declarada inconstitucional pelo SENADO
no controle difuso, a outra é a súmula vinculante).
Assim, percebe-se que a súmula vinculante acaba aproximando o sistema brasileiro da doutrina do
“stare decisis” americana, dando o devido valor (efeito vinculante) a determinadas decisões da Suprema
Corte. Gradativamente, a aproximação vem aumentando.
FUNDAMENTOS NORMATIVOS
O correto seria enunciado de súmula com efeito vinculante. Está prevista na CF, no art.
103-A, com regulamentação dada pela Lei 11.417/06.
NATUREZA JURÍDICA
De acordo com o STF, o enunciado de súmula de efeito vinculante possui natureza constitucional
específica, trata-se de uma norma de decisão. Considera as demais súmulas de natureza processual.
OBJETO
O objeto é a validade, interpretação e eficácia de determinadas normas sobre as quais esses pontos
não estejam bem definidos, seja por controvérsia atual no judiciário ou na administração pública. Para
evitar que a norma seja interpretada de formas distintas.
REQUISITOS
Não basta apenas que o STF tenha várias decisões sobre o tema (aspecto quantitativo), é necessário
que haja uniformidade entre as decisões. Ou seja, o entendimento sobre o tema está consolidado.
Além disso, a matéria das reiteradas decisões deve ser constitucional (formalmente constitucional).
Não é necessário que a matéria seja típica, ou seja, sentido estrito que se refere apenas aos direitos
fundamentais, à estrutura do estado e à organização dos poderes.
16.5.2. Iniciativa
16.5.3. Quórum
A edição de enunciado de súmula com efeito vinculante exige o voto de 2/3 dos membros do STF,
ou seja, pelo menos oito dos onze ministros.
Salienta-se que o STF pode dar efeito vinculante às Súmulas já existentes, nos termos do art. 8º da
EC 45/04 (que não foi acrescentado ao texto constitucional). Para isso, basta submeter a Súmula novamente à
votação.
16.5.4. Publicação
Salienta-se que Súmula Vinculante afeta a todos, trata-se de uma norma de decisão. Por isso,
somente após a sua publicação (conhecimento de todos, em tese) é que será de observância obrigatória.
Assim vincula:
a) Todos os demais órgãos do poder judiciário: O STF não fica vinculado, tanto é assim que pode
revisar e cancelar a Súmula (os ministros – em decisões monocráticas – e turmas ficam vinculados).
Salienta-se que o Poder legislativo não fica vinculado em sua FUNÇÃO TÍPICA legislativa.
Contudo, quanto às funções atípicas haverá vinculação. Por exemplo, súmula que veda o nepotismo deve ser
obedecida pelos funcionários do legislativo. No entanto, nada impede que o legislador crie lei permitindo o
nepotismo.
IMPORTANTE: Na realidade, o que não fica vinculada é a função legislativa, seja ela exercida pelo
órgão que for. Ex.: Pode o presidente editar MP contrariando Súmula.
Em relação ao efeito temporal do enunciado de súmula vinculante, em regra, será ex nunc (efeito
imediato). Contudo, nada impede que haja modulação dos efeitos temporais, nos termos do art. 4º da Lei
11.417/2016.
CANCELAMENTO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O CPC/15 reforçou o perfil objetivo dos recursos de estrito direito, algo que já era visualizado na
jurisprudência do STF, sobretudo após a EC 45/04. A seguir colacionamos alguns dispositivos do CPC/15
que evidenciam tal perfil:
PREQUESTIONAMENTO
Caso a decisão recorrida não tenha enfrentado a questão jurídica, não há falar em prequestionamento.
Não é necessário fazer alusão expressa as dispositivos da Constituição e da lei, mas a questão deve ter sido
debatida e decidida pelo tribunal. Salienta-se que não basta a parte evocar os dispositivos, é necessário que
sejam relevantes para a causa.
Quando o tribunal se omite sobre a questão, caberá embargos de declaração que servirão de
prequestionamento. Caso não sejam conhecidos os embargos, o Tribunal Superior irá analisar, poderão:
o Entender que a parte opôs embargos e mesmo assim o tribunal de origem não enfrentou a
questão que deveria ter sido enfrentada, irão admitir o RE e o Resp.
o Entender que a questão não precisaria ser enfrentada para a solução da controvérsia, não
haverá admissibilidade do RE e Resp., mesmo diante dos embargos.
Trata-se de corolário da previsão contida na Constituição de que tanto o RE quanto o RESP só são
cabíveis nos casos de causas decidas em única ou última instância.
CF, art. 102, III: julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas
em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
CF, art. 105, III: julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão
recorrida:
Atenção!
No caso de RE, a Constituição não menciona “tribunal”. Portanto, não se exige que a decisão tenha
sido proferida em um acordão de tribunal, justamente por isso que se admite a interposição de RE contra
decisão de turma recursal.
Além disso, entende-se que a expressão “causas decididas” abrange o acordão proferido em agravo
de instrumento.
Excepcionalmente, o STJ admite o cabimento de RESP contra decisões que deferem ou indeferem
medidas liminares.
REPERCUSSÃO GERAL
Há situações (art. 1.035, §3º, do CPC) em que a repercussão geral será presumida.
Art. 1.035, § 3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:
- contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;
– ( Revogado );
- tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do a
Conforme o entendimento do STF, a repercussão geral é exigida tanto em matéria cível quanto
criminal.
Havendo violação a tratado internacional de direitos humanos aprovados por 3/5 em dois turnos,
caberá recurso extraordinário. No caso de violação dos demais tratados comuns ou de direitos humanos que
não tenham sido aprovados por 3/5 e em dois turnos, não caberá RE.
No caso de ADI Estadual, há duas hipóteses em que o STF admite o cabimento de RE. Vejamos:
O cabimento de RE, com base no art. 102, III, “a”, da CF, exige violação frontal e direta de
dispositivo constitucional.
Súmula 280/STF: Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.
Salienta-se que a violação reflexa equivale à situação na qual o ato violado é um ato interposto entre
a Constituição e o objeto impugnado. Por exemplo, se houver a necessidade de o STF analisar normas
infraconstitucionais para verificar se houve ou não contrariedade a um dispositivo da Constituição, não
caberá RE.
Nos casos em que houver declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, não se exige
o prequestionamento. Isto porque ao declarar a inconstitucionalidade da norma, pressupõe-se que há uma
matéria constitucional envolvida.
Destaca-se que para a declaração de inconstitucionalidade é necessária a observância da cláusula de
reserva do plenário (art. 97 da CF). Neste caso, o RE deve ser interposto contra a decisão do órgão
fracionado. Logo, é a decisão do caso concreto que será objeto do recurso e não a decisão dada em abstrato a
respeito da constitucionalidade ou não da lei.
Por fim, nos casos de normas pré-constitucionais, por se tratar de hipótese de recepção e não de
declaração de inconstitucionalidade, não caberá RE.
O cabimento justifica-se pelo fato de que a manutenção do ato considerado válido poderá se revelar
contrário à Constituição.
Como não há hierarquia entre lei municipal, estadual e federal, para resolver o conflito, é necessário
recorrer à instância superior, que é a Constituição. Há que se recorrer ao texto constitucional para ver qual
dessas leis invadiu o campo de competência da outra. Portanto, a questão é constitucional, justificando-se a
alteração promovida pela EC 45/04.
A expressão “lei federal” mencionada na alínea “a” deve ser interpretada como uma lei federal em
sentido amplo, abrangendo atos normativos primários emanados do Congresso Nacional, a exemplo de leis
complementares, leis ordinárias, decretos legislativos, resoluções; e do Chefe do Poder Executivo, a exemplo
de medidas provisórias e decretos autônomos.
Tratando-se de decreto regulamentar, por serem atos infralegais, não admitem RESP (mudança de
entendimento, já que antes do STJ admitia).
o Matéria constitucional;
o Direito local;
o Atos infralegais.
Justifica-se porque a prevalência do ato do governo local, afastando a aplicação da lei federal, pode
se revelar contrária à lei federal. Como o STJ é o guardião da lei federal, cabe a ele dar a última palavra.
Não será cabível quando a decisão julgar inválido o ato local, já que, neste caso, prevaleceu a lei
federal.
c) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal
O recurso especial, aqui, visa uniformizar a interpretação do direito federal. A divergência deve ser
atual e ocorrer entre tribunais diversos.
Importante consignar que é necessário que o recorrente transcreva os trechos dos acórdãos,
demonstrando a divergência entre os dois entendimentos. Se não transcrever os trechos que são objeto da
divergência, não será admitido o REsp com base na alínea “c”. Chama-se de cotejo analítico, as decisões
divergentes que tratam do mesmo assunto terão as teses de direito comparadas.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Estado de Defesa e o Estado de Sítio são institutos de antítese à normalidade. Trata-se do chamado direito
constitucional das crises, aplicado em situações excepcionais apenas.
TEMPORARIEDADE
Tanto o Estado de Defesa quanto o Estado de Sítio são marcados pela temporariedade. Estado de
Estado de sítio: Art. 137, I 30 dias prorrogáveis sucessivamente; Art. 137 II não há prazo
definido.
Art. 138
§ 1º - O ESTADO DE SÍTIO, no caso do art. 137, I, não poderá ser
decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo
superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que
perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.
PROPORCIONALIDADE
Lembrando que o STF entende que a proporcionalidade advém da máxima do devido processo
legal em seu sentido substantivo.
Adequação: a medida de exceção adotada e sua execução deverão ser aptas a fomentar a solução da
crise;
Necessidade: escolha do meio menos gravoso para alcançar o valor desejado. Antes de se decretar
o estado de sítio ou de defesa deve-se ponderar se não é suficiente: intervenção federal, atuação das Forças
Armadas (art. 142 caput CF), prisões ou mobilização nacional (art. 84, XIX CF e Lei 11631/07), etc. Adota-
se o critério da subsidiariedade.
CF
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer
Rol taxativo, em regra – art. 136, §1° (estado de defesa), 137 I c/c 139 da CF (estado de sítio). No
estado de sítio do art. 137, II o rol é aberto – pode-se restringir qualquer direito.
O decreto do estado de defesa ou de sítio deve expressar quais os direitos estão sendo restringidos –
princípio da segurança jurídica.
MOTIVAÇÃO
No estado democrático de direito, todos os atos do poder público devem ser motivados, sejam do
legislativo, da administração ou do judiciário.
3. ESTADO DE DEFESA
CONCEITO
É uma medida excepcional, decretada pelo Presidente, após a prévia oitiva do Conselho de Defesa e
da República, para preservar ou prontamente reestabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem
pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por
calamidades de grandes proporções na natureza. Após a decretação cabe ao Congresso referendá-
la ou não, por maioria absoluta.
A manifestação dos conselhos é ato formal indispensável, em que pese tenha natureza meramente
opinativa, não vinculando a decisão do Presidente.
Havendo omissão do Congresso não se pode falar em aprovação tácita ou trancamento da pauta, eis
que não existe tal previsão na CF.
EFEITOS
CF Art. 136
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e
limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I - restrições aos direitos de:
a) reunião, ainda que exercida no seio das associações (ligados aos
direitos de expressão de liberdade e ao regime democrático, somente
haverá a restrição se houver pertinência temática.);
b) sigilo de correspondência (é o sigilo e não CENSURA);
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica (exceção à reserva de
jurisdição);
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos
decorrentes.
§ 3º - Na vigência do estado de defesa:
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da
medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que
a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de
delito à autoridade policial; (exceção à reserva legal, podendo a prisão ser
decretada por pessoa que não é juiz; observe que há controle judicial sobre
a medida)
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do
estado físico e mental do detido no momento de sua autuação;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez
dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário;
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
CONTROLE DOS ATOS DO PODER EXECUTIVO
O Congresso controla, nos termos do 49, IV, o Estado de Defesa e o Estado de Sítio. No Estado de
Defesa o controle REPRESSIVO; no Estado de Sítio o controle PREVENTIVO e REPRESSIVO (suspender
a medida).
1ªC: não é possível de controle judicial. É a posição clássica do STF (HC 300 e ADPF 1/RJ).
Fundamenta-se no art. 2° da CF - separação dos poderes. Tese pra AGU, advocacias públicas.
2ªC: não há ato imune ao controle jurisdicional, pois não há espaço no estado constitucional, onde
temos governos limitados, especialmente quando lesivo a direitos fundamentais. Tese para os demais
concursos.
Celso de Mello: o princípio da separação de poderes não pode ser invocado para estabelecer, em
torno de um dos órgãos da soberania nacional um devassável círculo de imunidade, insuscetível de revisão
judicial, não obstante a concretização eventual de lesão a direitos fundamentais. MS 21564 STF.
Fundamentos da 2ª corrente:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a
...
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
CS – CONSTITUCIONAL II: 2022.1 30 8
4º Fundamento: o estado democrático de direito pressupõe a existência de controle dos atos do poder
público e dos particulares;
5 º Fundamento: Lord Acton (Inglaterra): “Todo poder corrompe; o poder absoluto corrompe
absolutamente”.
De quem é a competência para julgar ato do executor da medida? Como a matéria dos
tribunais superiores é taxativamente prevista, resta a 1ª instância da Justiça Federal (pois a autoridade é
federal).
4. ESTADO DE SÍTIO
CONCEITO
EFEITOS
A CF só aponta as medidas possíveis no estado de sítio do art. 137, I. Assim, a doutrina defende que
no art. 137, II a restrição de direitos é ampla, de forma que todo e qualquer direito pode ser restringido.
Parte da doutrina defende que apenas não poderá ser restringido o direito ao acesso ao judiciário, a
não tortura, a não extradição de brasileiro nato (Carlos Ayres Brito recentemente votou obter dicta que tais
direitos seriam absolutos, contrariando a doutrina clássica que afirma não existirem direitos absolutos).
A CF não poderá ser alterada na vigência de Estado de Sítio ou Estado de Defesa (limites
circunstanciais ao poder constituinte derivado).
CF
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
...
§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
Art. 53