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Apresentação ................................................................................................................................

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Aula 1: Princípios constitucionais tributários ................................................................................ 5
Introdução ............................................................................................................................. 5
Conteúdo................................................................................................................................ 6
Princípios constitucionais vinculados ao valor segurança jurídica ......................... 6
Princípio da Legalidade .................................................................................................... 7
Princípio da Irretroatividade .......................................................................................... 11
Princípio da Anterioridade ............................................................................................. 13
Princípio da Noventena ou Anterioridade Nonagesimal, Mínima ou Mitigada ... 14
Princípios constitucionais vinculados ao valor justiça ............................................. 14
Princípios constitucionais vinculados aos valores liberdade e federalismo ........ 20
Atividade proposta .......................................................................................................... 25
Aprenda Mais....................................................................................................................... 26
Referências........................................................................................................................... 26
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 27
Notas ........................................................................................................................................... 34
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 34
Aula 1 ..................................................................................................................................... 34
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 34
Aula 2: Imunidades tributárias .................................................................................................... 37
Introdução ........................................................................................................................... 37
Conteúdo.............................................................................................................................. 38
Conceito, natureza jurídica e institutos afins ............................................................. 38
Nomenclatura .................................................................................................................. 38
Obrigações acessórias (dever jurídicos instrumentais) ............................................ 39
Institutos afins .................................................................................................................. 41
Natureza jurídica e interpretação ................................................................................. 42
Imunidades genéricas ..................................................................................................... 43
Imunidade recíproca ....................................................................................................... 43
Imunidades de culto ....................................................................................................... 45
Imunidades dos partidos políticos e suas fundações ............................................... 46
Imunidades das entidades sindicais de trabalhadores ............................................. 46
Imunidades das entidades de educação e de assistência social ............................ 47

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 1


Imunidade da liberdade de expressão ......................................................................... 48
Imunidade musical .......................................................................................................... 49
Imunidades específicas .................................................................................................. 49
Atividade Proposta........................................................................................................... 50
Aprenda Mais....................................................................................................................... 50
Referências........................................................................................................................... 50
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 51
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 57
Aula 2 ..................................................................................................................................... 57
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 57
Aula 3: Competência tributária ................................................................................................... 59
Introdução ........................................................................................................................... 59
Conteúdo.............................................................................................................................. 60
Conceito e atributos da competência tributária ........................................................... 60
Dos atributos da competência tributária .................................................................... 61
Dos conflitos da competência tributária ..................................................................... 64
Competência tributária e a capacidade tributária ativa ........................................... 67
Espécies de competência tributária ............................................................................. 71
Da classificação tradicional............................................................................................ 71
Classificações incomuns ................................................................................................ 74
Atividade proposta .......................................................................................................... 75
Aprenda Mais....................................................................................................................... 76
Referências........................................................................................................................... 76
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 77
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 84
Aula 3 ..................................................................................................................................... 84
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 84
Aula 4: Repartição das receitas tributárias ................................................................................. 86
Introdução ........................................................................................................................... 86
Conteúdo.............................................................................................................................. 87
Conceito e funções da repartição de receitas tributárias ........................................ 87
Direito Financeiro e Direito Tributário......................................................................... 88
Conceito e funções da repartição de receitas tributárias ........................................ 91
Formas de repartição das receitas tributárias ............................................................ 92
Vedações e autorizações para retenção das repartições de receitas tributárias 98
A Federação ...................................................................................................................... 98

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 2


Vedação de retenção de repasses .............................................................................. 100
Exceções para retenção de repasses ......................................................................... 101
Das hipóteses.................................................................................................................. 102
Atividade proposta ........................................................................................................ 103
Aprenda Mais..................................................................................................................... 104
Referências......................................................................................................................... 104
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 105
Chaves de resposta ................................................................................................................... 110
Aula 4 ................................................................................................................................... 110
Exercícios de fixação ..................................................................................................... 110
Conteudista ............................................................................................................................... 113

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 3


Você já parou para pensar na definição de sistema?
De acordo com o dicionário, trata-se de um “conjunto ou corpo entrelaçado,
coordenado em um todo harmônico e unitário”. Esse conceito indica que não
podemos reconhecer como sistema um simples apanhado de qualquer coisa.
Com o Direito Tributário, não poderia ser diferente! Todos os assuntos afins a
esse tema que você já estudou em outras disciplinas se inter-relacionam com
este conteúdo.
Dentro desse contexto, vamos selecionar, aqui, o que lhe é mais elementar e
fundamental: o conteúdo constitucional, que se dedica a prover uma harmonia
nesse sistema.
Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos:
1. Analisar os conteúdos mais específicos rumo ao encontro de soluções
adequadas e definitivas para os conflitos tributários;
2. Registrar os princípios e as demais normas constitucionais como
indispensáveis para a aplicação diária das regras fiscais;
3. Descrever os princípios, as imunidades, e as regras de competência e
repartição de receitas tributárias com enfoque concreto.

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Introdução
A Suprema Corte Brasileira sofre de uma verdadeira enxurrada de processos
judiciais. De fato, poucos acreditam que uma corte superior possa avaliar
tantos processos em um ano. O curioso, entretanto, é que o maior responsável
pela quantidade de processos não é outro senão o próprio Estado. E isso se dá
pelo fato de que o Estado, ansiando por uma grande tributação, pratica
inconstitucionalidades de grande porte. Eu o desafio a separar as súmulas por
temas e procurar identificar aquelas que afrontam cada capítulo de nossa
Constituição.
Certamente, o capítulo com o maior número de enunciados é o Sistema
Tributário Nacional. Em razão disso, começamos o nosso estudo enfrentando o
maior problema, o direito mais violado em nosso ordenamento jurídico: as
limitações constitucionais ao poder de tributar.

Objetivo:
1. Identificar os princípios constitucionais tributários vinculados ao valor
segurança jurídica e seus aspectos mais relevantes;
2. Examinar os princípios constitucionais tributários vinculados ao valor justiça e
suas principais controvérsias e dificuldades
de efetivação;
3. Explorar os princípios constitucionais tributários vinculados aos valores
liberdade e federalismo e suas aplicações práticas.

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Conteúdo
Princípios constitucionais vinculados ao valor segurança jurídica
Uma das atividades mais importantes para aqueles que se aventuram no
mundo dos negócios é a precificação de seus produtos e serviços. Para isso,
você conta com a previsão de seus custos com fornecedores, mão de obra e,
naturalmente, com a carga tributária.

Imagine como seria se você firmasse um contrato para a prestação de um


serviço. Imagine, ainda, que, se depois de firmado o negócio, após você ter
entregue, por exemplo, a mercadoria ao cliente e ele ter efetuado o
pagamento, fosse publicada uma lei que duplicasse o valor do tributo. Isso é a
insegurança que, trazida para o Direito, é denominada insegurança jurídica.

Cada ramo do Direito tem a sua forma de limitar ou evitar a insegurança


jurídica. No Direito Tributário, temos como resultado, genericamente, três
grandes princípios:

Legalidade; Tipicidade; Não surpresa.

Tais princípios, estendidos, correspondem a cinco normas princípios:

Legalidade; Tipicidade; Irretroatividade; Anterioridade; Noventena.

Fique ciente que estamos estudando a partir do pressuposto de que “a


natureza jurídica das limitações ao poder de tributar é de garantia
constitucional” (CARNEIRO, 2012, p. 386).

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Princípio da Legalidade
Conheça, a seguir, cada um dos princípios constitucionais, começando pelo da
Legalidade:

1 – Legalidade
João, conhecido como João Sem Terra, foi rei da Inglaterra de 1199 a 1216.
Seu reinado sofreu de grande ataques militares em guerras com a França, que
deixaram suas contas bastante deficitárias. Como recurso para reforçar seu
exército e seu reino de forma geral, aumentava tributos, o que deixava os
barões bastante insatisfeitos. Assim, para tentar um acordo com os barões, se
viu forçado a assinar um dos documentos mais famosos de toda a história, a
Magna Carta.

Nela, dentre outros compromissos, havia o de somente cobrar os tributos que


fossem aprovados por lei, ou seja, submetidos ao parlamento, que era,
também, composto pelos próprios barões. Essa regra vige até hoje e é assim
que se criam os tributos, na forma do Artigo 150, I, da Constituição da
República.

E apenas para não nos esquecermos: lei é ato normativo genérico,


abstrato, coercitivo, resultado de um processo legislativo
constitucionalmente estabelecido. Assim, não podemos entender como lei
qualquer ato normativo, mas somente aqueles previstos na própria
Constituição, no Artigo 59, como capazes de inovar no mundo jurídico,
criando novos direitos e obrigações.

Aliás, que tipo de lei é essa? Como regra, a criação de tributos se dá por lei
ordinária. Ao contrário do que muitos estudantes do Direito acabam por
decorar, a criação de tributos não será objeto de lei complementar. A lei
complementar tem como principal função o estabelecimento de normas gerais,
ou seja, aquelas que estabelecem um padrão de comportamento a ser

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observado por todos os entes federativos na fiscalização e cobrança de
qualquer tributo, salvo exceções fixadas em leis específicas.

Os tributos que serão criados por lei complementar são:


• Os empréstimos compulsórios (Artigo 148 da CR);
• O imposto sobre grandes fortunas (Artigo 153, VII, da CR);
• Os impostos residuais (Artigo 154, I, da CR);
• As contribuições da seguridade social residuais (Artigo 195, §4º, da CR).

Dos desdobramentos do Princípio da Legalidade


Conheça, abaixo, alguns pontos inerentes ao princípio em questão.

Concessão de benefícios fiscais


Na dicção do Artigo 150, I, da Constituição, a limitação imposta traz garantia ao
contribuinte. E a pergunta que lhe faço é: você precisaria ser protegido contra
uma redução ou extinção de tributo? Já antecipo a resposta que tenho certeza
que você me deu: não! Afinal, ninguém reclama de boas surpresas. Então,
poderia parecer que, para reduzir-se um tributo, bastaria a edição de qualquer
ato normativo. Mas isso só não é correto porque a Constituição traz no §6º do
mesmo Artigo a exigência de lei específica para concessão de qualquer
benefício ao contribuinte.

Medida provisória
Ainda outro ponto, que há muito se discutiu, é a possibilidade de medida
provisória criar ou aumentar tributo. Medida provisória não é lei. Mas tem força
de lei. Sendo assim, como ficamos? A insatisfação poderia surgir do fato de que
a medida provisória é ato normativo editado diretamente pelo Executivo e que
já começa a produzir efeitos antes mesmo de qualquer chancela do Legislativo
– poder que representa a vontade do povo na criação de atos normativos. Mas
o STF nunca reconheceu nenhuma inconstitucionalidade em medida provisória
e, recorrentemente, temos novas medidas provisórias sobre a matéria. Aliás, a
Emenda Constitucional nº 32/2001, que introduziu novas regras relativas à

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medida provisória, estabelece a sua possibilidade e aplicação. O texto poderia
ser inconstitucional, já que o poder de reforma da Constituição não é ilimitado,
mas, como dito, tal inconstitucionalidade nunca foi afirmada pelo STF.

Exceções
Um último ponto a tratarmos sobre a Legalidade é que há exceções. Mas
devemos entender, antes, as razões dessas exceções. Como será tratado na
próxima aula, nem todos os impostos têm função arrecadatória, nem todos se
prestam a prover, simplesmente, dinheiro aos cofres públicos. Alguns tributos
têm a função de intervir na economia, de servir de instrumento de política
pública. Assim é com os impostos sobre o comércio exterior (importação e
exportação), sobre produtos industrializados e sobre operações financeiras. E,
nesse sentido, caso fosse necessária a publicação de uma lei para qualquer
aumento ou redução em suas alíquotas, considerando a quantidade de leis que
ocupam a jornada do Legislativo, essas alterações somente seriam aprovadas
depois de a intervenção não mais ser necessária. É por isso que os quatro
impostos acima relatados são, na forma do Artigo 153, §1º, da CR, verdadeiras
exceções à legalidade. Mas isso só no que diz respeito às suas alíquotas, ou
seja, o percentual correspondente. Todos os outros elementos desses tributos
deverão ser fixados por lei.

Princípio da Tipicidade
2 – Tipicidade
Na doutrina alemã, desenvolveu-se outro princípio, que não encontra previsão
expressa em nossa Constituição. É o princípio da tipicidade. Tipo é a descrição
legal da situação que deverá ocorrer para que os efeitos nela previstos sejam
aplicados. Em matéria de tributos, é correto afirmar que o tipo tributário é
composto pelos elementos da obrigação tributária (que serão vistos na próxima
disciplina, mas que aqui já adiantamos): aspecto material, temporal,
espacial, subjetivos e quantitativos; ou seja, o que precisa ocorrer,
quando se considera isto ocorrido, onde se considera isto ocorrido, quem
pagará, a quem, e o quanto.

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Esse princípio possui alguns pontos importantes a serem discutidos. Vejamos a
seguir:

Obrigações acessórias e prazos


O Princípio da Legalidade se aplica aos elementos do tipo tributário. E como
não são elementos do tipo tributário, o prazo e as denominadas obrigações
acessórias do Artigo 113, §2º, do CTN (Código Tributário Nacional) podem ser,
em princípio, alterados por qualquer ato normativo. Mas por que “em
princípio”? Porque não podemos esquecer que se, de algum modo, a regra
relativa à obrigação acessória interferir em prejuízo do particular na obrigação
principal, aquela deverá se submeter a todos os princípios e regras aplicáveis à
esta. Isso é bastante comum com as regras relativas à escrituração do ICMS,
com vistas a garantir a não cumulatividade, o que veremos mais adiante.

Tipicidade aberta ou fechada


Entender o que é tipicidade não deve ser algo difícil, como vimos. O problema
que surge refere-se à linguagem: o tipo tributário admitirá conceitos legais
indeterminados e normas em branco. Vejamos o que é cada um desses
institutos.

O conceito legal indeterminado é o recurso utilizado pelo legislador que


transfere ao intérprete o dever de complementar a lei. Assim, o legislador se
utiliza de palavras que, por si só, possuem um significado amplo, inexato. É o
caso, por exemplo, de imóvel rural. Imóvel rural é aquele localizado em área
rural ou é aquele cuja utilização tem características rurais? Você percebeu como
a expressão permite mais de uma interpretação? E isso gera problemas? É
claro! Há uma grande controvérsia, que será vista em uma próxima disciplina,
sobre quando deve incidir ITR e quando deve incidir IPTU.

A norma em branco é aquela que se utiliza do recurso de permitir que venha


ela a ser complementada por outro ato normativo – no mais das vezes, ato

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normativo de hierarquia inferior; por exemplo, um decreto ou uma resolução.
Em matéria tributária, podemos, de certa forma, afirmar que a tabela do IPI
não deixa de ser uma norma que complementa a lei ordinária que institui o IPI.

Atenção
Na prática, acaba valendo a tipicidade aberta. Não é, em
verdade, possível conviver sem os conceitos legais
indeterminados. Até seria possível abrir mão das normas em
branco. Mas quando a linguagem cria obstáculos ao legislador,
eles costumam ser bem difíceis de serem ultrapassados. Assim,
o uso de expressões abertas é um recurso indissociável da
atividade legislativa.

Princípio da Irretroatividade
3 – Irretroatividade
Não basta, para a segurança, que o tributo seja fixado por lei. Até porque a lei
poderia criar regras para situações já ocorridas e isto traria uma grande
insegurança. Então, o Artigo 150, III, a, da Constituição determina que as leis
somente podem alcançar fatos geradores/situações que ocorrem na vigência
que os instituiu ou aumentou.
Note bem um detalhe que difere do Princípio da Legalidade: aqui, a redução de
tributo pode alcançar fato que ocorreu antes. É claro que se a Constituição não
trouxer regra que o proíba (e não há), a lei pode fixar tratamento mais benéfico
para situação anterior.

Princípio da Irretroatividade
Assim como os demais princípios vistos até aqui, esse possui pontos a serem
destacados. Vejamos a seguir:

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Exceções
Há exceções à irretroatividade? Em verdade, não. Poderia parecer, pela leitura
do Artigo 106 do Código Tributário Nacional, que há exceções. Abra seu código
agora e faça a leitura do artigo. No primeiro inciso, temos a lei interpretativa. O
que é uma lei interpretativa? É aquela que, ao invés de trazer um novo direito
ou uma nova obrigação, traz apenas uma definição, uma classificação. E como
ela não traz nem direito nem obrigação novos, não se submete à
irretroatividade, pois não onera ninguém.

No inciso II, a irretroatividade não diz respeito, em verdade, a uma norma


tributária, e, sim, a uma norma penal. Estabelece, ele, que a lei que reduz
penalidade ou traz qualquer outro tratamento mais benéfico ao infrator
alcançará infrações já praticadas.

Imposto de renda
Mas, de tudo isso, o que traz maior perplexidade no estudo desse princípio é a
análise da Súmula nº 584 do STF. O fato gerador do imposto de renda é
definido, por muitos doutrinadores, como complexivo ou periódico (formado por
um conjunto de fatos ocorridos ao longo de determinado período – a saber, 1º
de janeiro a 31 de dezembro). Caso uma lei entre em vigor em qualquer outro
dia que não 1º de janeiro, a pergunta lançada é: qual é a lei aplicável ao
imposto de renda? A antiga, até que feche o ano? A nova, a partir da sua
vigência? A nova para o ano todo?

De acordo com o Artigo 105 do CTN, parece-nos que a lei nova seria aplicável
retroagindo a 1º de janeiro do mesmo ano em que entra em vigor. Mas isso
viola, flagrantemente, o princípio da irretroatividade. Pela Súmula nº 584 do
STF, a solução é ainda mais gravosa para o contribuinte. Ela determina que
seja aplicada a lei que estiver em vigor, não no ano da ocorrência do fato, mas
no ano em que deve ser feita a declaração. É isso mesmo que você está lendo!
Aos rendimentos que você tem recebido, será aplicada a lei que estiver em
vigor no ano que vem! O que deve prevalecer é a aplicação do Artigo 150, III,

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a, CR. A lei nova somente poderá alcançar fato que tenha tido início, meio e fim
sob sua vigência.

Princípio da Anterioridade
4 – Anterioridade
Se refletirmos sobre o propósito de garantir segurança jurídica ao contribuinte,
tão somente Legalidade mais Irretroatividade não produzem um resultado
satisfatório. Imagine você firmar um contrato, contando com uma carga
tributária tal e, amanhã, ser publicada (com vigência imediata) uma lei que
duplique esta carga tributária. Ainda assim, haveria insegurança. É por isso que
o ordenamento jurídico brasileiro conta com o Princípio da Anterioridade – a lei
que cria ou aumenta um tributo deve ser publicada até o ano anterior para que
possa ser aplicada.

Anualidade
Mas nem sempre foi assim; ou melhor, nem sempre que se quis garantir esse
reforço à segurança jurídica, se fez pelo princípio da anterioridade. O outro
recurso era o princípio da anualidade tributária, que consistia na exigência de
uma autorização no orçamento anual para que, naquele ano, o tributo pudesse
ser cobrado. Dessa maneira, a ausência de previsão orçamentária impedia a
cobrança do tributo naquele ano. Se você quiser, pode confirmar: a nossa
Constituição não trata do princípio da anualidade. Este princípio esteve presente
na Constituição de 1824, 1946 (até ser revogado pela EC nº 18/65) e 1967 (até
ser também revogado pela EC nº 1/69).

Exceções
Você viu que a legalidade tem exceções por conta da extrafiscalidade? O
mesmo ocorre com a anterioridade, tanto para os casos de extrafiscalidade
como para os casos de urgência. As exceções se encontram listadas nos
seguintes artigos da Constituição de 1988: Artigo 150, §1º, primeira parte;
Artigo 195, §6º; Artigo 177, §4º, I, b; e Artigo 155, §4º, IV, c.

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Princípio da Noventena ou Anterioridade Nonagesimal, Mínima
ou Mitigada
5 – Noventena ou Anterioridade Nonagesimal, Mínima ou Mitigada
O legislador brasileiro não foge à fama e, comumente, deixa tudo para a última
hora. Não raro, somos surpreendidos com uma verdadeira enxurrada de leis
tributárias no mês de dezembro. Como a surpresa do contribuinte tem, de certa
forma, data marcada, o fluxo negocial pode ser interrompido, visto que o
prudente evitaria firmar contratos no final do ano.

Foi por isso que a Constituição mereceu, em 2003, um pequeno reparo. A EC


nº 42/03 incluiu no Artigo 150, III, a alínea “c”, que exige, para além da
irretroatividade e da anterioridade, um prazo de 90 dias a contar da publicação,
para que a lei possa ser aplicada.

Não se esqueça que isto é um plus à anterioridade. Leis publicadas no início do


ano nem precisam da noventena, só aquelas do final do ano ou os casos de
exceção à anterioridade que não sejam exceção à noventena. E, por falar nisso,
a noventena também tem exceções calcadas na extrafiscalidade e na urgência.
Essas exceções estão no Artigo 150, §1º, segunda parte, CR.

Princípios constitucionais vinculados ao valor justiça


Você tem noção a respeito da carga tributária brasileira? Você tem ideia do
quanto o brasileiro paga por cada tributo? Nem imagina? Pois eu respondo a
essas perguntas por meio de um convite: viste o curioso site
http://impostometro.com.br. Nele, você pode conferir o quanto já foi
pago/arrecadado no Brasil e em cada um dos Estados e capitais. Os valores são
exorbitantes. E, dependendo do dia em que você está acessando esta aula, as
cifras poderão ser cada vez mais absurdas.

Por isso, é tão difícil compreender que nossa Constituição possua tantos
dispositivos que protegem o valor justiça. Mas vamos a eles.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 14


Isonomia
O primeiro princípio é o da isonomia, que seria capaz de englobar todos os
demais princípios que serão tratados neste tópico. E se você é formado em
direito, deve saber de cor, quase como um mantra, o que isonomia quer dizer:
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na exata
medida de suas desigualdades.

A isonomia se encontra no Artigo 150, II, da Constituição, proibindo qualquer


tratamento diferenciado; em verdade, não é qualquer tratamento diferenciado,
somente os chamados privilégios odiosos – benefícios que não encontram
qualquer justificativa ou razão. E isso não apenas no que diz respeito à fixação
de tributos por lei, mas, também, ao tratamento imposto pela Administração.

Generalidade e universalidade
Como decorrência imediata do princípio da isonomia, encontram-se no Artigo
153, §2º, I, da Constituição, os princípios da generalidade e da universalidade.
Aliás, para um leigo, essas duas palavras poderiam ser consideradas sinônimas.
Mas uma regra fundamental de interpretação da Constituição afirma que ela
não contém palavras inúteis ou desnecessárias. Assim, temos de encontrar uma
diferença. Parte da doutrina vai afirmar que generalidade é uma expressão que
traz uma ideia de subjetividade, de sujeito. Assim é que generalidade significa
que “todo aquele que manifestar riqueza será, em princípio, contribuinte”. É por
isso que a Constituição veda tratamento privilegiado a determinadas categorias
– como é comum ocorrer em regimes ditatoriais que tendem a privilegiar a
categoria que se encontra no poder. De igual forma, afirma-se que
universalidade traz uma ideia de objetividade, de objeto. Universalidade
significa que “todo fato que demonstre riqueza será, em princípio, gerador de
tributo”. Então, encontramos aqui o fundamento para a tributação de várias
situações, até mesmo do ato ilícito – princípio do pecúnia non olet. Aliás, sobre
este princípio, vamos guardar detalhes, pois deixaremos para cuidar dele ao
falar de imposto de renda. Também é importante dizer que esses princípios não
pertencem exclusivamente ao imposto de renda; são eles princípios aplicáveis a

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 15


todo ordenamento tributário, pois são concretizações de um princípio maior:
isonomia.

Capacidade contributiva
Mas a maior concretização do princípio da isonomia é, sem dúvida, o princípio
da capacidade contributiva. Cada um deve contribuir, ainda que forçosamente,
para as despesas públicas na medida das forças de sua riqueza.

Neste momento, você deve abrir a sua Constituição e ler o §1º do Artigo 145;
nele, você encontra a positivação do princípio. A partir dessa redação, vamos
fazer a sua análise. A primeira expressão a merecer destaque é “sempre que
possível”. O que significa isso? Ora, significa que nem sempre é possível... É
verdade! Será possível aplicar esse princípio nos chamados tributos indiretos
(aqueles que vêm embutidos no preço daquilo que compramos, que quem
recolhe é o comerciante ou mesmo a indústria)? O fisco teria como saber se
aquele que suporta o encargo tributário tem condições de pagar? A resposta é
simples: não! Afinal, quem consome arroz? Rico ou pobre? Os dois.

A segunda expressão é “impostos”. Será que somente devemos aplicar esse


princípio aos impostos? Claro que não. Na realidade, nos outros tributos – os
chamados tributos vinculados –, o maior parâmetro é o custo estatal. Como
eles são vinculados a uma atividade estatal, então a capacidade contributiva
encontra um espaço secundário. Mas não é por isso que não será aplicada,
afinal de contas, a gratuidade de justiça é análise de capacidade contributiva
para uma taxa.

A terceira expressão é “caráter pessoal”. Aqui se destaca outra classificação


atribuída aos tributos: tributo real e tributo pessoal. E pergunto: o que é um
tributo pessoal e um tributo real? Muitos vão dizer que real é aquele que incide
sobre a coisa, e pessoal... aí, ficam sem palavras. Bom, o correto é que
qualquer tributo incide, genericamente, sobre o patrimônio. Os reais
consideram apenas características do fato gerador para determinar seu aspecto

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 16


quantitativo. Os pessoais consideram também características do contribuinte
para essa fixação.

No dizer da Constituição, o ideal é que essa classificação não seja fechada.


Então, não seria correto dizer que o IPTU é um exemplo de imposto real; e isto
porque nenhum tributo deveria ser sempre real. Deveria o legislador buscar
sempre transformá-los em pessoais – ao menos, sempre que possível. E vemos
muitas dessas situações, como, por exemplo, municípios que concedem isenção
de IPTU para idosos de baixa renda; isto é pessoalização do tributo!

A quarta expressão é “capacidade econômica”, que é diferente de capacidade


financeira. Capacidade financeira diz respeito à liquidez, ou seja, o contribuinte
possuir ou não dinheiro para pagar o tributo. Já a capacidade econômica diz
respeito a possuir patrimônio, ainda que não em espécie. Se o constituinte
falasse em capacidade financeira, bastaria comprometer todos os recursos com
bens e deixar a sua conta no banco zerada.

E como essa capacidade contributiva é avaliada? Através do que chamamos de


subprincípios ou princípios-técnicos.

Pessoalidade: como visto, é a análise de características do contribuinte como


forma de avaliar o montante de tributo devido. É o que ocorre no imposto de
renda, quando se avalia a quantidade de dependentes ou a realização de
determinados tipos de despesa, ou, ainda, a idade ou condição de saúde.

Proporcionalidade: esta é a regra geral. Os tributos devem ser proporcionais.


Não devemos buscar a existência de tributos que tenha o mesmo valor para
todo mundo. Isso seria a maior das injustiças – que um milionário pagasse o
mesmo valor que um mendigo. Assim, a primeira forma de evitar que isso
ocorra é a proporcionalidade, que pode ser definida como alíquota fixa –
quanto maior a riqueza, maior o valor do tributo devido, mas sempre na mesma

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 17


proporção. Confira agora, na sua legislação, a redação da Súmula nº 656 do
STF: ela determina alíquota fixa para o ITBI.

Mas proporcionalidade não é o mais justo. Se o imposto de renda tivesse uma


alíquota só, se todos tivessem que pagar 10% de imposto de renda, não seria
nada justo. Afinal, quem seria mais sacrificado, o pobre ao pagar 10% de seu
salário mínimo, ou o rico ao pagar 10% de um rendimento de 100 mil reais, por
exemplo. Se você pensou que era o rico, imagine-se tentando sobreviver e
pagar suas contas com o que sobra do salário mínimo, e com o que sobra do
rendimento de 100 mil reais. Compreendeu agora? Com certeza que sim.

Progressividade: há dois aspectos para a progressividade: a progressividade


fiscal – que veremos aqui; e a progressividade extrafiscal – que significa que a
alíquota será aumentada de forma a desestimular algum comportamento do
contribuinte, como forma, portanto, de política pública. Ela é prevista na
Constituição para o ITR (Artigo 153, §4º, III) e para o IPTU (Artigo 182, §4º,
II), como forma de estimular a função social da propriedade.

Mas a progressividade fiscal é que é a técnica de aferição da capacidade


contributiva. Segundo ela, quanto maior a riqueza, maior será a alíquota. A
Constituição a prevê expressamente para o IR (Artigo 153, §2º, I) e IPTU
(Artigo 156, §1º, I). Assim, quanto maior a base de cálculo, maior a alíquota.
Durante muito tempo, predominou-se de forma pacífica que essa
progressividade precisaria de previsão constitucional. Tanto é, que tivemos a
edição duas súmulas do STF nesse sentido: a já referida 656 e a 668.

Contudo, recentemente, o STF admitiu a progressividade de alíquotas para o


ITD – apesar de não haver previsão constitucional para isto, apenas por
aplicação do princípio da capacidade contributiva.

Seletividade: como última forma de aplicarmos o princípio da capacidade


contributiva, podemos apontar a técnica em que as alíquotas serão fixadas em

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 18


função da essencialidade do bem objeto de tributação. Isso ocorre ao IPI
(Artigo 153, §3º, I), ao ICMS (Artigo 155, §2º, III), ao IPVA (Artigo 155, §6º,
II) e ao IPTU (Artigo 156, §1º, II).

“A essencialidade só pode ser vista na perspectiva de garantia do


desenvolvimento das decisões valorativas constitucionais, isto é, aquilo que for
essencial para a dignidade humana, para a vida ou para a saúde do homem”
(ÁVILA, 2012, p. 380).

Não confisco
Outro princípio afeto ao valor justiça é o não confisco, com previsão expressa
no Artigo 150, IV, da Constituição. Esse princípio está carente de desejável grau
de concretude, ou seja, é bastante difícil afirmar, de forma pacífica, quando há
ou não confisco. E o que é confisco? Poderíamos dizer que tributação
confiscatória é aquela tão elevada que é capaz de extinguir a riqueza tributada.
Assim, há uma divergência no fato de como fazer essa análise. O confisco
deveria ser analisado de forma geral (ou seja, pela soma de todos os tributos
devidos) ou de forma isolada (ou seja, por cada tributo). É claro que a forma
mais justa e mais efetiva é a forma geral. No entanto, ela não vem
prevalecendo, e o STF somente tem feito essa análise de maneira isolada, até
porque, se já o tivesse feito, de forma geral, poderia, segundo muitos, ter
reconhecido o confisco no direito brasileiro, afinal, temos as maiores cargas
tributárias do mundo. Esse princípio, todavia, cede espaço para a
extrafiscalidade. É claro que objetivos maiores podem fazer com que o não
confisco seja abandonado; por exemplo, uma alíquota de 330% para o cigarro
não é considerada como confiscatória, nem uma alíquota de 60% para as
importações. Em ambos os casos, o propósito do fisco é evitar a ocorrência
desses fatos geradores.

Não cumulatividade
Esse princípio está afeto ao valor justiça, pois evita que cada cadeia seja
onerada gradativamente. Vejamos a explicação: há tributos que se classificam

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 19


como plurifásicos, ou seja, incidem, por várias vezes, em cada circulação do
mesmo bem. Caso a incidência em uma fase fosse completamente
independente da outra, haveria a incidência do mesmo tributo sobre ele por
várias vezes. A tradição europeia é a tributação pelo valor agregado; esta
técnica determina que a base de cálculo do tributo que incide sobre a circulação
de bens seja a diferença entre o preço de venda e o preço de aquisição. No
Brasil, não adotamos essa técnica e, sim, a da não cumulatividade, segundo a
qual o valor recolhido nas operações anteriores servirá de crédito nas
operações seguintes. A diferença não é feita pela base de cálculo, mas, sim,
pelo tributo arrecadado. Isso impõe uma escrituração extremamente complexa
e também promove problemas relativos a benefícios fiscais no meio da cadeia,
já que o não recolhimento de tributos não gera créditos para as operações
subsequentes.

Neutralidade
Esse princípio não está positivado em nossa Constituição, mas pode ser
extraído do conjunto justiça e ordem econômica. A tributação deve ser
distribuída nos diversos da economia, como forma de evitar demasiada
oneração para uma categoria e privilégio para as demais.

Um exemplo para isso pode ser visto no Artigo 146-A, que determina que a lei
complementar poderá estabelecer critérios especiais de tributação para evitar
desequilíbrios da concorrência.

Princípios constitucionais vinculados aos valores liberdade e


federalismo
Passaremos ao estudo de dois valores que não são menores, mas demandam
um estudo mais específico, pois são objeto de instrumentos normativos
peculiares, como é o caso da imunidade – que, em verdade, não é um princípio,
mas uma regra.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 20


Os princípios se caracterizam por ideias centrais de um sistema. Inicialmente,
não tinham caráter normativo. A doutrina e a jurisprudência compreendiam
que, por sua abstração, não teriam o poder de fazer-se valer por qualquer
instrumento de coerção direto. Em verdade, o princípio teria a sua concretude
através da observância da lei, que, em si, seria o instrumento que trazia a regra
jurídica.

Liberdade
Apesar de não ter sido o primeiro a passar por nosso objeto de análise, a liberdade é o
primeiro grande valor a ser construído contra o Estado. Aliás, podemos até dizer que
os outros se originam de sua construção. Afinal, sem liberdade, o homem não seria
capaz de lutar pelos demais, nem por justiça nem por segurança.

O homem é, por natureza, livre. A liberdade, em seu exercício, depende da


vontade humana, de sua consciência, da condição de seu agir. Aliás, esse é o
primeiro dos valores erigidos no lema da Revolução Francesa – liberté, egalité,
fraternité.

O custo de tudo que fazemos é um grande impeditivo para seguirmos em uma


ou outra direção. Ora, certamente um dos motivos que o impede de desligar
este computador, arrumar suas malas e se dirigir ao aeroporto para ver ou
rever a Monalisa no Louvre é o custo dessa viagem.

Assim, o Estado pode acabar tolhendo os particulares de adotarem uma


conduta ou outra pelo custo dos tributos. A saber:

Limitação ao tráfego de pessoas e bens


Este primeiro princípio se encontra no Artigo 150, V, da Constituição. A
liberdade ora tutelada é a liberdade ambulatorial, a liberdade de ir e vir, a
liberdade de locomoção.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 21


É claro que essa liberdade somente tem aplicação ampla dentro do território
nacional, já que não seria possível à Constituição garantir essa liberdade no
território de outros países; mas se aplica a todo o sistema tributário brasileiro.
Nesse sentido, somente há uma única exceção prevista na Constituição: o
pedágio cobrado em via conservada pelo poder público.
Note bem que, em via que não é conservada pelo poder público, não podemos
falar de pedágio como espécie de tributo, pois o tributo deve ser cobrado pelo
poder público, senão, não é tributo.

Aliás, aqui, levanta-se a grande controvérsia sobre a natureza jurídica do


pedágio. Segundo autores como Misabel Derzi, Roque Antônio Carrazza e
Luciano Amaro, esse dispositivo justifica o reconhecimento de que o pedágio é
um tributo, que se submeterá sempre aos limites constitucionais. Geraldo
Ataliba reconhece-o, especificamente, como uma taxa, pois remunera serviço
público de conservação das estradas, decorrente do gasto pelo uso delas. Já
para Sacha Calmon Navarro Coelho, Ricardo Lobo Torres e Hely Lopes
Meirelles, é um preço público ou uma tarifa, pois não é cobrada em razão de
serviço específico e divisível, nem hoje é cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada – haja vista o enorme número de
concessões.

Vedação de diferença tributária em razão da origem ou destino


Essa proteção está no Artigo 152 da Constituição. Assim como o princípio visto
anteriormente, a liberdade tutela é a de ir e vir; isto porque origem e destino
trazem a ideia de deslocamento. Mas os destinatários dessa regra são somente
os Estados e Municípios. É por isso que não podemos ter alíquota de IPVA
diferenciada em razão dos veículos serem ou não importados, e o ICMS
interestadual poder ter alíquota distinta conforme o Estado de origem. No
primeiro caso, compete ao legislador estadual fixar as alíquotas, e, no segundo
caso, conforme o Artigo 155, §2º, IV, da Constituição, compete ao Senado
Federal.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 22


Quanto à alíquota do IPVA em carros importados, verifique a decisão proferida
pelo STJ no RMS 10.906-RJ: TRIBUTÁRIO. IPVA. ALÍQUOTA. CARRO
IMPORTADO. A Constituição Federal, Artigos 150 e 152, proíbe os Estados de
estabelecer alíquotas diferenciadas do IPVA para carros importados (Recurso
provido. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 10.906-RJ.
Recorrente: Germana Lyra Bahr e outros. Recorrido: Estado do Rio de Janeiro.
Relator: Ministro Garcia Vieira. Brasília, DF, 5 de junho de 2000. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/documento/mediado/?num_registro=19990
0514700&dt_publicacao=05-06-2000&cod_tipo_documento=&formato=PDF).

Federalismo
Para fecharmos o estudo dos princípios, é importante tratarmos de um valor
que não é adotado, nem pode ser, por outros países – o federalismo.
Para esclarecermos, federalismo é o sistema político pelo qual vários Estados se
reúnem para formar um Estado federal, sem abrir mão de sua autonomia.
Assim, é importante em um Estado como o Brasil o respeito pela União da
autonomia de Estados e municípios.

Vedação de isenção heterônoma


A União, na forma do Artigo 151, III, da Constituição, somente pode conceder
isenção dos tributos de sua competência. Veremos, em uma próxima aula, que
a Constituição atribui a cada ente federativo o poder de instituir tributos, de
forma que se garanta autonomia financeira. Dessa maneira, se a União pudesse
conceder qualquer benefício para tributos estaduais e municipais, isto poderia
desequilibrar financeiramente as contas deste.

Há quem afirme, também, que isso só se aplica à isenção, pois a Constituição


foi expressa quanto a esta. Na verdade, esse princípio é derivação do próprio
pacto federativo. Então, a única conclusão é que qualquer benefício somente
pode ser concedido pela União quanto aos tributos federais. Dessa forma, o
Artigo 155, II, b, do CTN não pode ter sido recepcionado pela Constituição.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 23


Importante é esclarecer que a concessão de benefícios através de tratados
internacionais não constitui benefício heterônomo, porque o benefício é
concedido pela República Federativa do Brasil e não pela União Federal. Mas,
ainda assim, deve-se ver os reflexos práticos negativos que isso pode gerar na
federação.

Nesse sentido, posiciona-se o STF, reiteradamente:

“A cláusula de vedação inscrita no Artigo 151, inciso III, da Constituição – que


proíbe a concessão de isenções tributárias heterônomas – é inoponível ao
Estado Federal brasileiro (vale dizer, à República Federativa do Brasil),
incidindo, unicamente, no plano das relações institucionais domésticas que se
estabelecem entre as pessoas políticas de direito público interno (...). Nada
impede, portanto, que o Estado Federal brasileiro celebre tratados
internacionais que veiculem cláusulas de exoneração tributária em matéria de
tributos locais (como o ISS, por exemplo), pois a República Federativa do Brasil,
ao exercer o seu treaty-making power, estará praticando ato legítimo que se
inclui na esfera de suas prerrogativas como pessoa jurídica de direito
internacional público, que detém – em face das unidades meramente federadas
– o monopólio da soberania e da personalidade internacional”. (RE 543.943-
AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-11-2010, Segunda Turma,
DJE de 15-2-2011). Vide: RE 229.096, Rel. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia,
julgamento em 16-8-2007, Plenário, DJE de 11-4-2008.

Uniformidade geográfica
Não é só intervindo na tributação dos outros entes que a União pode afrontar o
pacto federativo e colocar em conflito os vários entes federativos. Isso pode
ocorrer também quando ela conceder algum tratamento mais benéfico aos
contribuintes que estejam em um ente da federação. Assim é que o Artigo 151,
I, da Constituição, proíbe que a União conceda tratamento que não seja
uniforme no território nacional, à exceção da concessão de benefício que tenha
por escopo o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico nas diversas

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 24


regiões do país. O exemplo disso é a Zona Franca de Manaus. Nesse sentido, se
posiciona o STF:

"A Constituição, na parte final do Artigo 151, I, admite a ‘concessão de


incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento
socioeconômico entre as diferentes regiões do país’. A concessão de isenção é
ato discricionário, por meio do qual o Poder Executivo, fundado em juízo de
conveniência e oportunidade, implementa suas políticas fiscais e econômicas e,
portanto, a análise de seu mérito escapa ao controle do Poder Judiciário.
Precedentes: RE 149.659 e AI 138.344-AgR“ (RE 344.331, Rel. Min. Ellen
Gracie, DJ de 14-3-2003). “Não é possível ao Poder Judiciário estender isenção
a contribuintes não contemplados pela lei, a título de isonomia (RE 159.026)"
(RE 344.331, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 11-2-2003, Primeira Turma,
DJ de 14-3-2003).

Atividade proposta
O site http://www.impostometro.com.br demonstra uma previsão, segundo
estudos técnicos, do montante de tributo arrecadado. Os valores variam
conforme o mês, mas permitem apurar o quanto um brasileiro já arcou de
tributos naquela data. O que este site permite que a sociedade perceba?

Chave de resposta: É possível identificar todos os recursos tributários que


cada ente federativo recebe. Assim, o cidadão pode conferir o recursos de que
dispõem o fisco para atendimento das necessidades públicas.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 25


Aprenda Mais

Material complementar

Para saber mais sobre os assuntos discutidos até agora, assista ao


vídeo da palestra “O princípio da legalidade, separação de poderes e
o exercício da competência”, disponível em nossa galeria de vídeos.

Para conhecer mais sobre o assunto, entre em nossa biblioteca


virtual e baixe o artigo “Os tratados internacionais e as isenções
heterônomas”.

Referências
ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
CARNEIRO, Claudio. Curso de Direito Tributário e Financeiro. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos.
8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz
da doutrina e da jurisprudência. 15. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2013.
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e
Tributário. v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 26


Exercícios de fixação
Questão 1
Considerando que seja editada lei que, além de reduzir o percentual de multas
incidentes sobre os débitos tributários — inclusive no que se refere à sonegação
e fraude para se obter redução tributária —, reduza pela metade os juros
moratórios e a alíquota incidente sobre a operação de circulação de mercadoria,
assinale a opção correta.
a) Caberá restituição da diferença da multa já paga, desde que se
comprove que outros contribuintes tenham sido beneficiados com a
redução concedida, em virtude do princípio da isonomia.
b) A redução da multa estabelecida será aplicada, ainda que transitado em
julgado o procedimento administrativo fiscal que constituiu o crédito
tributário e o executivo fiscal esteja em fase de embargos à execução.
c) A redução da multa não será aplicada em caso de descumprimento de
acordo de parcelamento do débito tributário.
d) Estando o débito tributário pendente de julgamento administrativo fiscal,
a ele será aplicada a redução da alíquota, por se tratar de lei mais
benéfica.

Questão 2
Em setembro de 2011, a União editou decreto determinando a elevação das
alíquotas de IPI sobre a importação de automóveis, e instrução normativa
determinando a prorrogação do direito de dedução, sobre o imposto de renda
anual da pessoa física, da contribuição previdenciária paga a empregado
doméstico. Em ambas as normas, há cláusula de vigência para o dia da
publicação desses atos normativos. Acerca desse aspecto, é correto afirmar, em
conformidade com a CF e com o CTN, que:
a) Os efeitos do decreto produzem-se a partir de 1º de janeiro de 2012, e
os da instrução normativa, a partir da publicação.
b) Os efeitos do decreto produzem-se após 90 dias contados da publicação,
e os da instrução normativa, a partir da publicação.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 27


c) Os efeitos do decreto e da instrução normativa produzem-se após 90
dias contados da publicação.
d) Os efeitos do decreto e da instrução normativa produzem-se a partir de
1º de janeiro de 2012.
e) Os efeitos do decreto e da instrução normativa produzem-se a partir de
1º de janeiro de 2012.

Questão 3
Analise a seguinte afirmação: “Não basta, no Direito Tributário, a razoável
equivalência entre o fato e a hipótese legal caracterizadora dos modelos
abertos; exige-se, rigorosamente, o preciso amoldamento do fato ao tipo
legalmente definido. É que, na espécie, o modelo legal é cerrado, fechado, não
ensejando dilargamento pelo aplicador da lei, o que confere à preservação de
garantias e direitos prestigiados pela Constituição”. (BARRETO, 2009, p. 30). O
trecho acima se refere, mais precisamente, ao princípio da:
a) Legalidade
b) Irretroatividade
c) Igualdade
d) Não confisco
e) Tipicidade

Questão 4
Qual dos tributos abaixo não obedece ao Princípio da Anterioridade Mínima
Nonagesimal?
a) Imposto de renda
b) Imposto sobre serviço
c) Imposto sobre produtos industrializados
d) Contribuição social
e) CIDE combustível

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 28


Questão 5
O Estado Alpha, com base em pauta fiscal, exigia, de forma definitiva, o ICMS
devido pela futura operação interna, inclusive quanto à operação a ser realizada
pelo próprio adquirente, nas compras de mercadorias feitas por comerciantes
de Alpha aos comerciantes de outros estados da Federação. Dessa forma, as
vendas efetuadas pelo varejista para os consumidores não eram tributadas
novamente. Decreto e Instrução Normativa do Estado Alpha alteraram esse
regime para algumas mercadorias, passando a ser o de sistema normal de
apuração de ICMS, quando o contribuinte tem o direito, que decorre do
princípio da não cumulatividade, de descontar do total do débito do imposto
decorrente das saídas, o valor do imposto pago na operação anterior.
Entretanto, o decreto e a instrução normativa proibiram que as mercadorias em
estoque pudessem, ao serem vendidas, utilizar os créditos fiscais do ICMS
antecipadamente pago no sistema anterior. Com base no exposto, assinale a
afirmativa correta.
a) O decreto e a instrução normativa violam o princípio da anterioridade e a
segurança jurídica do comerciante que exauriu sua obrigação fiscal.
b) O decreto e a instrução normativa são plenamente vigentes, eis que a
venda de estoque representa fato gerador pendente do ICMS.
c) O decreto e a instrução normativa são plenamente vigentes, eis que a
venda de estoque representa fato gerador futuro do ICMS.
d) A mudança do regime não está protegida pelo princípio da legalidade,
podendo ocorrer a qualquer tempo, com vigência imediata.

Questão 6
A instituição de tributo com alíquotas progressivas, sem ser exageradamente
oneroso, não podendo, portanto, ser considerado confisco, faz transparecer, no
direito tributário, na instituição do referido tributo, o cuidado com o princípio
da:
a) Seletividade
b) Não diferenciação tributária
c) Legalidade estrita

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 29


d) Capacidade contributiva
e) Igualdade tributária, em sentido jurídico

Questão 7
Analise as assertivas dispostas abaixo:
I. O tributo de cunho confiscatório não se define por intermédio de um
percentual, mas pelo ônus econômico que se torne insuportável para o
contribuinte.
II. A dificuldade de se aferir o caráter confiscatório de um tributo encontra-se
justamente na determinação prática o que se deve entender como grau abusivo
de exigência do patrimônio do contribuinte, sendo que tal determinação deve
se processar em cada situação concreta.
III. Representa afronta ao princípio do não confisco por parte do Poder Público
Municipal, a cobrança simultânea dos valores de Imposto Predial Territorial
Urbano devidos por proprietário de imóvel dos últimos cinco anos e que não
foram pagos na oportunidade própria.
IV. O princípio tributário do não confisco é uma decorrência da premissa
constitucional que assegura aos cidadãos o direito de propriedade, desde que
esta desempenhe a sua função social. Portanto, constitui uma afronta a esse
princípio o estabelecimento por Lei de Alíquota do Imposto Territorial Rural em
20% (vinte por cento) para as chamadas terras absolutamente improdutivas.
a) Apenas I e II estão corretas
b) Apenas I, II e IV estão corretas
c) Todas estão corretas
d) Apenas II e III estão corretas

Questão 8
Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil, poderá ser
progressivo o seguinte tributo municipal:
a) IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana)
b) IPVA (Imposto Sobre a Propriedade de Veículo Automotores)
c) IR (Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza)

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 30


d) ISS (Imposto Sobre Serviços de qualquer natureza)
e) ITR (Imposto sobre a propriedade Territorial Rural)

Questão 9
O Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10 de junho de 2001, que regulamenta
os Artigos 182 e 183 da Constituição Federal) é uma norma que disciplina o(a):
a) IPTU Progressivo
b) Sobretaxa
c) Empréstimo Compulsório
d) IPVA
e) ISS

Questão 10
O princípio da seletividade se aplica:
a) Ao ICMS
b) Às taxas
c) Às contribuições
d) Aos tributos
e) Ao IR

Questão 11
Considere a seguinte situação hipotética: lei federal fixou alíquotas aplicáveis ao
IPI e estabeleceu que a alíquota relativa aos carros de luxo produzidos no
Estado de Sergipe é de 12%, e a dos produzidos nos demais Estados da região
Nordeste é de 18%. Tal enunciado normativo viola o princípio constitucional:
a) Da uniformidade geográfica da tributação
b) Da capacidade contributiva
c) Da liberdade de tráfego
d) Da não diferenciação tributária entre a procedência e o destino do
produto
e) Do não confisco

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 31


Questão 12
Considere a seguinte situação hipotética: lei federal fixou alíquotas aplicáveis ao
ITR e estabeleceu que a alíquota relativa aos imóveis rurais situados no Rio de
Janeiro seria de 5%, e a relativa aos demais Estados do Sudeste de 7%. Tal
enunciado normativo viola o princípio constitucional:
a) Da uniformidade geográfica da tributação.
b) Da legalidade tributária.
c) Da liberdade de tráfego.
d) Da não diferenciação tributária entre a procedência e o destino do
produto.
e) Da isonomia.

Questão 13
Suponha que a República Federativa do Brasil, ao celebrar acordo bilateral com
o país K, com ratificação do respectivo acordo internacional pelo Congresso
Nacional e observância de todos os trâmites legislativos impostos pela ordem
jurídica interna e internacional, tenha como escopo realizar projeto de
comercialização de gás mediante dutos instalados nos territórios das
respectivas partes envolvidas, sendo concedida, por meio do referido acordo,
isenção de todos os impostos incidentes nesta operação. Ocorre que, no
decorrer das obras de construção civil vinculadas à implementação do
respectivo projeto, certo Município, localizado no Brasil, no qual era realizada
parte das obras, promoveu o lançamento do ISS incidente sobre tais atividades
de prestação de serviço realizadas em seu território, por entender que cabe
exclusivamente à Municipalidade legislar sobre isenção de tributos de sua
competência. À vista disso, o Município:
a) Tem razão, tendo em vista que se configura isenção heterônoma,
vedada pelo artigo 151, III, da Constituição Federal em vigor, o qual
veda a União a instituir isenções de tributos da competência dos Estados,
do Distrito Federal ou dos Municípios, sem ressalvas.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 32


b) Tem razão, tendo em vista que tratado ou acordo internacional não
poderá dispor de matéria relativa à isenção de tributos, visto que
benefício fiscal é matéria a ser veiculada mediante lei ordinária.
c) Tem razão, visto que as regras de isenção devem ser interpretadas de
forma restrita, não sendo possível alterar a competência tributária das
entidades federativas, ainda que por meio de tratados ou acordos
internacionais de Direito Tributário.
d) Não tem razão, tendo em vista que a isenção prevalece, nada impedindo
que a República Federativa do Brasil, na qualidade de pessoa jurídica de
direito público externo, exerça as prerrogativas que possui em face das
unidades federadas e celebres tratados e acordos internacionais de
Direito Tributário.

Questão 14
Com relação ao princípio constitucional da imunidade recíproca, previsto na
Constituição Federal, Artigo 150, VI, podemos afirmar que:
a) Os Municípios estão impedidos de cobrar, da União e dos Estados, taxas
pelo serviço de coleta de lixo, bem como quaisquer outras taxas de
polícia.
b) É defeso à União, Estados, Distrito Federal e Municípios exigir impostos
sobre o patrimônio, renda ou serviços uns dos outros, bem como das
autarquias ou fundações por eles mantidas, no que se refere ao
patrimônio, à renda e aos serviços vinculados às suas finalidades
essenciais ou delas decorrentes.
c) Não incide Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
sobre os imóveis pertencentes à União, mas o imposto pode ser cobrado
dos Estados em relação aos imóveis de que são proprietários.
d) Fica vedada a instituição de impostos e de contribuições sociais sobre
livros, jornais e periódicos e o papel destinado à sua impressão.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 33


Questão 15
As imunidades tributárias consistem em normas nas quais fica proibida a
tributação sobre situações ou pessoas expressamente indicadas na Constituição
Federal. Conclui-se, nesse sentido, que:
a) A imunidade recíproca veda a instituição de impostos sobre o patrimônio,
renda ou serviços de União, Estados e Municípios, excluído o Distrito
Federal.
b) As imunidades tributárias estão todas previstas no Artigo 150, VI, CF,
com a única exceção prevista no Artigo 5º, LXXVI, CF, o qual estabelece
a gratuidade, para os reconhecidamente pobres, do registro civil de
nascimento e da certidão de óbito.
c) Considerando que a CF refere-se a isenções e não incidência, quando
trata de imunidades, a doutrina brasileira pondera que tais expressões
são sinônimas, abarcando o mesmo fenômeno tributário.
d) As fundações mantidas por partidos políticos e sindicatos de
trabalhadores são imunes tão somente aos impostos, de acordo com o
texto constitucional, devendo tais entidades, portanto, recolher os
demais tributos do sistema.

CTN: Código Tributário Nacional

Aula 1
Exercícios de fixação
Questão 1 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 106, II, c, do CTN, que se refere ao
ato não definitivamente julgado.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 34


Questão 2 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, §1º, da CR, que, aliás,
excepciona o IPI do Princípio da Anterioridade, mas não do Princípio da
Noventena.

Questão 3 - E
Justificativa: Resposta fundada na doutrina, para a qual, especificamente,
temos o Princípio da Tipicidade, que determina que todos os elementos da
obrigação tributária devem ser dotados de precisão, consubstanciando o tipo
tributário.

Questão 4 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, §1º, 2ª parte, da Constituição,
que estabeleceu as exceções ao princípio constitucional.

Questão 5 - A
Justificativa: Resposta fundada no Princípio da Anterioridade, Artigo 150, III, b,
da Constituição

Questão 6 - D
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 145, §1º, que conceitua o princípio da
capacidade contributiva.

Questão 7 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, IV, que conceitua o princípio da
vedação ao confisco.

Questão 8 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 156, §1º, I, da Constituição.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 35


Questão 9 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 156, §1º, da Constituição, e no Artigo
7º do referido Estatuto.

Questão 10 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 155, §2º, III, da Constituição.

Questão 11 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 151, I, da Constituição.

Questão 12 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 151, I, da Constituição.

Questão 13 - D
Justificativa: Resposta fundada na noção de que a República Federativa do
Brasil representa todos os entes federativos, e, portanto, não há vedação a
esse tratado internacional.

Questão 14 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, a, da Constituição.

Questão 15 - D
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, §4º, da Constituição.

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Introdução
Na aula passada, vimos que o tributo pode ser utilizado como forma de
desestimular (ou estimular) comportamentos de particulares. Por exemplo: o
aumento de um tributo pode desestimular a importação, as compras no
exterior. Outro caso exemplar: imagine que o governo, para controlar a
divulgação de opiniões contrárias, aumenta o imposto que incide sobre revistas
e jornais; temos, portanto, uma situação em que, para proibir o crescimento de
um determinado credo, o governo tributa pesadamente suas atividades. E por
aí vai! É por isso que a Constituição brasileira proíbe a criação de tributo sobre
esses fatos.

Isso ocorre por meio da imunidade, que, dessa forma, configura-se, como
leciona Ricardo Lobo Torres, como verdadeiras intributabilidades de liberdades
fundamentais. Há determinadas situações em que não se pode sequer correr o
risco de tributar. Alguém sempre pode errar na dose.

Objetivo:
1. Distinguir imunidades tributárias no ordenamento jurídico;
2. Examinar as imunidades tributárias genéricas;
3. Analisar as imunidades tributárias específicas.

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Conteúdo

Conceito, natureza jurídica e institutos afins


Conceito
A palavra imunidade significa liberado do encargo; assim, seria um privilégio
concedido a uma pessoa que não é obrigada a um ônus qualquer. A imunidade
tributária é norma constitucional que afasta a competência tributária, ou seja, é
norma negativa de competência, norma de incompetência.

Não estamos diante de uma norma que veda a competência (na verdade, ela
não existe). Não é renúncia fiscal, favor ou benefício. O tributo não poderia
sequer existir. Só há favor quando o ente federativo pode cobrar o tributo e
não o faz; na imunidade, ele não pode e nunca pôde. Do mesmo modo que a
Constituição outorga competências, ela também afasta determinadas situações.

Normalmente, o objetivo é preservar alguns valores ou a manutenção de alguns


direitos.

Elas só vêm previstas na Constituição porque são regras de competência.

Nomenclatura

A Constituição não utiliza a expressão imunidade; ela é doutrinária e


jurisprudencial. A Constituição veda a instituição de tributo, determina a
gratuidade, isenta ou estabelece a não incidência. No Artigo 195, §7º, da
Constituição, temos a expressão “isentas”. Veremos, contudo, que a isenção
não está na Constituição, que só utiliza “imunidades”. Assim é que, apesar de
utilizar esta expressão, o STF já se pronunciou tratando de imunidade.

No Artigo 156, §2º, da Constituição, o legislador proíbe que incida o ITBI na


hipótese de realização de capital. Esses são alguns exemplos; todos eles
veremos nos itens que se seguirão.

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Obrigações acessórias (dever jurídicos instrumentais)

A imunidade afasta somente o dever de pagar tributos, mas não afasta os


deveres instrumentais, como a emissão de notas fiscais, a prestação de
informações ou o dever de declarar.

E, na hipótese de não cumprimento destas, poderá, se prevista, ser cobrada


multa.

É por isso que, na próxima disciplina, veremos que não estamos, em verdade,
diante de uma relação de acessoriedade e, sim, de uma relação de
instrumentalidade; isto porque, pela teoria da gravitação jurídica, o acessório
segue a sorte do principal.

Mas aqui o principal (recolhimento do tributo) não existe, mas o “acessório”


(ex.: declaração) persiste.

Classificações
A doutrina traz várias classificações para as imunidades. À medida que
estudamos as classificações, aprofundamos nossos conhecimentos.
Por isso, tentaremos ser abrangentes. Veja a seguir.

Quanto à maneira de sua incidência: a imunidade é subjetiva quando são


conferidas de acordo com a condição de determinada pessoa. É o caso da
imunidade recíproca do Artigo 150, VI, a, da CR. Por outro lado, a imunidade
será objetiva quando relacionada a determinados fatos, bens ou situações.
Este é o caso da imunidade sobre livros, jornais e periódicos do Artigo 150, VI,
d, da CR; assim é que as editoras serão tributadas em tudo aquilo que não
disser respeito diretamente aos livros, como é o caso do imposto de renda da
pessoa jurídica. Reconhecemos a existência de uma terceira espécie,
denominada imunidade mista, que é aquela que alcança a pessoa em função de
alguma característica individual e é relacionada a determinados fatos; é o caso

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da imunidade do Artigo 153, §4º, da CR, que imuniza as pequenas glebas rurais
(aspecto objetivo), quando as explora, só ou com sua família, o proprietário
que não possua outro imóvel.

Quanto à eficácia: a imunidade será incondicionada ou condicionável. A


imunidade é incondicionada quando estivermos diante de uma norma
constitucional de eficácia plena e aplicabilidade imediata, como é o caso das
imunidades recíprocas. A imunidade será condicionável quando a norma
constitucional for de eficácia contida e aplicabilidade imediata; neste caso, ela
poderá atender a requisitos previstos em lei.

Quanto à forma de previsão: será explícita quando perfeitamente


identificáveis no texto constitucional; é o caso das imunidades do Artigo 150,
VI, da CR. Por outro lado, há hipóteses em que, mesmo ausente norma
expressa, podemos encontrar a proibição constitucional de tributação no
ordenamento jurídico. Neste caso, estaremos diante das imunidades
implícitas, como é o caso da intributabilidade, como forma de evitar a
tributação confiscatória, ou seja, a intributabilidade do mínimo vital.

Quanto à abrangência da vedação: elas serão excludentes quando


estiverem reservadas à tributação para um tipo de tributo, e exclusão para
outros, como ocorre no Artigo 153, §5º, da CR; ou incisivas quando preverem
determinadas situações que só pode haver incidência de algum imposto,
excluindo os demais, no exemplo do Artigo 153, §3º, da CR.

Quanto aos princípios que privilegiam: as imunidades podem ser


ontológicas, como resultado de um princípio constitucional, tendo na isonomia,
em suas variadas manifestações, a ligação que identifica as imunidades de
natureza ontológica. Exemplos: instituições de educação e assistência social
sem fins lucrativos, que decorrem do importante serviço público que prestam. E
poderão ser políticas quando conferidas para prestigiar outros princípios
constitucionais e podem beneficiar pessoas que tem capacidade contributiva;

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nestas se incluem as imunidades dos templos, das entidades sindicais de
trabalhadores, dos partidos políticos e suas fundações, dos jornais, periódicos e
do papel destinado à sua impressão.

Quanto ao seu alcance: as imunidades podem ser genéricas ou


tópicas/específicas. Essa classificação nos permitirá fazer um estudo mais
detalhado das imunidades. Por esse motivo, as detalharemos a seguir.

Institutos afins
Para melhor compreendermos como opera nosso ordenamento, é bom
sabermos que nem sempre que deixamos de pagar um tributo estaremos
diante de uma imunidade. Imunidade somente quando a Constituição
determinar; de outra forma, será não incidência pura e simples, isenção,
alíquota zero ou, ainda, remissão. Conheça mais sobre o assunto.

Não incidência pura e simples


É um fenômeno de nosso ordenamento jurídico, no qual não há a incidência de
tributo pelo simples fato de haver lacuna na lei. Ou seja, não se deve nenhum
tributo, pois nenhum tributo foi instituído. Podemos citar como exemplo a
criação de um possível imposto residual sobre a propriedade de bicicletas.
Aqui, deixem-me fazer um registro: procure sempre citar exemplos
economicamente desinteressantes. Nunca se sabe, quando criamos exemplos,
se eles não podem deixar de ser meramente acadêmicos para se tornarem
reais. Pensamos, por ora, que o governo federal não estaria interessado em
investir em uma máquina que pudesse fiscalizar a tributação da propriedade de
bicicletas.

Isenção
É, ao leigo, semelhante à imunidade. A isenção também terá previsão de que
não poderá ser cobrada; porém, esta isenção não se encontra na Constituição,
ela está em norma infraconstitucional. Aliás, essa é a diferença mais importante
entre os dois institutos. Podemos então dizer que a imunidade é a hipótese de

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não incidência constitucionalmente qualificada, enquanto a isenção é a hipótese
de não incidência legalmente qualificada.

Alíquota zero
É uma hipótese de incidência. Nesse caso, o tributo índice seria devido.
Contudo, um dos aspectos quantitativos é reduzido a zero, e, ao multiplicarmos
pelo outro aspecto quantitativo (a base de cálculo), o resultado será sempre
zero; isto é muito comum nos tributos regulatórios em que a alíquota é uma
exceção do princípio da legalidade e pode ser alterada pelo próprio executivo.
Assim, quando se quer incentivar algum setor econômico, ao invés de criar uma
isenção – o que demandaria todo um processo legislativo demorado –, o
governo pode reduzir a alíquota a zero.

Remissão
É um favor legal, no qual o tributo era originariamente devido, mas,
posteriormente, o seu pagamento foi perdoado. Aqui, o benefício surge depois
da ocorrência do fato gerador, diferente de todas as hipóteses acima.

Natureza jurídica e interpretação


Há certa divergência quanto à forma de interpretar as imunidades, e isto se dá
porque a imunidade constitui direito fundamental – cuja regra de interpretação
é a extensiva e, para muitos, ela se constitui em exceção à competência –,
enquanto as normas excepcionais se interpretam de forma restritiva. Mas a
questão não pode ser generalizante. Diante de imunidades como a que protege
a liberdade de culto, não podemos admitir restringi-la somente ao tempo físico.
Esta não é a finalidade da norma. Por outro lado, não se poderia estender a
imunidade à própria editora, pois o verdadeiro alcance da norma seria restrito
aos bens editados por esta.

De igual forma, não podemos generalizar quando tratamos de


autoaplicabilidade. Normas que sejam bastantes em si, por evidente, são
autoaplicáveis. Mas as que exigem regulamentação, segundo a doutrina, serão

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autoaplicáveis, enquanto que, para o STF, dependerão de regulamentação para
que possam produzir efeitos.

Imunidades genéricas
Artigo 150, VI, da CR.
As imunidades que serão tratadas agora estão no Artigo 150, VI, da CR, e
tratam de vedações para qualquer ente federativo e para todo e qualquer
imposto. Aqui há uma proteção da liberdade de várias espécies: política,
religiosa, etc. Essa imunidade se aplica aos impostos (em princípio todo e
qualquer imposto), pois eles não possuem qualquer parâmetro para sua
fixação, por se tratar do único tributo não vinculado.

Imunidade recíproca
Determina que é vedado instituir impostos sobre o patrimônio, rendas e
serviços uns dos outros (entes federativos, inclusive suas autarquias e
fundações). É como afirma Humberto Ávila:

Não se pode olvidar que as pessoas políticas não possuam capacidade


econômica. Elas não prestam nenhum serviço que possa ser qualificado de
atividade econômica e, portanto, caracterizado como tributável. (ÁVILA, 2012,
p. 215).

Algumas controvérsias relevantes são aqui levantadas. Vejamos o caso da OAB.


Segundo o STF, a Ordem dos Advogados do Brasil, que não é considerada
propriamente uma autarquia, mas, sim, pessoa jurídica sui generis (por ser
pessoa jurídica de direito privado com prerrogativas de direito público), será
imune quando atua no campo que a própria Constituição lhe outorga.
Questiona-se, sim, a sua extensão aos órgãos de assistência eventualmente
criados por ela.

Essa imunidade tem por propósito proteger a federação, garantindo a


autonomia de cada ente federativo. Imagine se o Estado pudesse tributar o

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município, a título de IPVA, e o governador fosse inimigo político do prefeito.
Poderia o governador pretender fixar alíquotas elevadíssimas de forma a
prejudicar o orçamento municipal.

Outro aspecto importante é o que se encontra previsto na Súmula nº 591 do


STF. Você poderia abrir sua legislação e conferir agora. Ela conclui que essa
imunidade só se aplicará aos tributos diretos; ou aos indiretos quando a pessoa
jurídica de direito público for a contribuinte de direito. Da mesma forma, ela
não exime o comprador (particular) de um bem de entidade beneficiada pela
imunidade do pagamento do ITBI, por exemplo.

A limitação só se aplica quando estivermos diante do poder público no exercício


de sua função pública, quando este estiver desenvolvendo atividade econômica,
de tal forma que não pode sequer haver risco à concorrência e à livre iniciativa.
Já quanto aos serviços concedidos, devemos observar que a imunidade não
beneficia os concessionários de serviços públicos que explorem atividade
econômica, desde que o serviço público não seja prestado em caráter de
monopólio – como o fazem os Correios e a Infraero.

"Imóveis situados no porto, área de domínio público da União, e que se


encontram sob custódia da companhia, em razão de delegação prevista na Lei
de Concessões Portuárias. Não incidência do IPTU, por tratar-se de bem e
serviço de competência atribuída ao poder público (arts. 21, XII, f, e 150, VI,
da CF). Taxas. Imunidade. Inexistência, uma vez que o preceito constitucional
só faz alusão expressa a imposto, não comportando a vedação a cobrança de
taxas. Agravo regimental a que se nega provimento." (AI 458.856-AgR, Rel.
Min. Eros Grau, julgamento em 5-10-2004, Primeira Turma, DJ de 20-4-2007.)

Enfim, você pode resumir em três os requisitos desta imunidade: salvaguarda


do pacto federativo, proteção de atividades públicas em sentido estrito (sem
fins lucrativos) e evitar o benefício de atividade econômica.

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Imunidades de culto
Essa regra consagra a separação entre Estado e igreja. Ao contrário do que
podem pensar alguns, essa imunidade não é feita para beneficiar a igreja; na
verdade, ela se presta a proteger a liberdade de culto, pois atende todos os
diversos e incontáveis cultos que possam ser exercidos em nosso território.

Ela atinge não só o templo físico – como parece dizer a Constituição – mas tudo
aquilo que guarnece a atividade religiosa; é, assim, uma imunidade subjetiva.
Isso gerou (e ainda gera) algumas controvérsias. Uma destas que se tornou
histórica é a possibilidade de incidir tributo sobre a residência paroquial; se esta
pertencer ao patrimônio do templo, ela continuará a gozar da imunidade. Outro
ponto é o imóvel da igreja que lhe serve de estacionamento ou, ainda, as
vendas realizadas em quermesses. Se os recursos obtidos forem utilizados nas
atividades religiosas, tudo permanece imune. Caso contrário, o tributo deve
incidir.

"Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de sua propriedade que se encontram


alugados. A imunidade prevista no Artigo 150, VI, b, CF, deve abranger não
somente os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e
os serviços ‘relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas
mencionadas’. O §4º do dispositivo constitucional serve de vetor interpretativo
das alíneas b e c do inciso VI do Artigo 150 da CF. Equiparação entre as
hipóteses das alíneas referidas." (RE 325.822, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 18-12-2002, Plenário, DJ de 14-5-2004.) No mesmo sentido:
ARE 658.080-AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 13-12-2011, Primeira
Turma, DJE de 15-2-2012; AI 690.712-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 23-6-2009, Primeira Turma, DJE de 14-8-2009; AI 651.138-AgR,
Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 26-6-2007, Segunda Turma, DJ de 17-8-
2007.

Antes de passarmos para a próxima imunidade, vamos deixar registrado que o


objetivo é proteger a liberdade de culto e que a maçonaria não é uma religião.

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Podem pertencer a esta instituição homens dos mais diversos cultos, que não
precisam compartilhar deste no grupo maçom a que pertencem. E também
parece haver entendimento na Constituição que esta imunidade não contempla
os cultos satânicos, já que ela foi promulgada sob a proteção de Deus. Nesse
sentido, é o entendimento do STF:

“O reconhecimento da imunidade tributária prevista no Artigo 150, VI, c, da CF


exige o cumprimento dos requisitos estabelecidos em lei. Assim, para se chegar
à conclusão se o recorrente atende aos requisitos da lei para fazer jus à
imunidade prevista neste dispositivo, necessário seria o reexame do conjunto
fático-probatório constante dos autos. Incide, na espécie, o teor da Súmula 279
do STF. (...) A imunidade tributária conferida pelo Artigo 150, VI, b, é restrita
aos templos de qualquer culto religioso, não se aplicando à maçonaria, em
cujas lojas não se professa qualquer religião”. (RE 562.351, rel. min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 4-9-2012, Primeira Turma, DJE de 14-12-2012.)

Imunidades dos partidos políticos e suas fundações


Essa imunidade tem por escopo a liberdade política. É uma imunidade também
subjetiva, mas que está restrita aos bens aplicados no exercício dessa
liberdade. Está limitada, às condições do Artigo 14 do CTN, a não distribuir
qualquer parcela de seu patrimônio ou rendas, a aplicar integralmente no Brasil
os seus recursos, e a manterem escrituração regular.

Imunidades das entidades sindicais de trabalhadores


Aqui, o propósito é proteger a liberdade de associação dos trabalhadores. A
Constituição centra sua atenção nos sindicatos dos trabalhadores, e não dos
empregadores, pois estes nunca tiveram sua liberdade tolhida. Aliás, seu poder
econômico é capaz de lhes garantir liberdade.

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Imunidades das entidades de educação e de assistência social
O propósito dessa imunidade, como se viu, é atender interesses públicos, da
própria coletividade. Abra a sua Constituição no Artigo 203 e confira a
abrangência da expressão “assistência social”: proteção à família, à
maternidade, à infância, etc.

O Estado tem se demonstrado incapaz de prestar os serviços públicos


constitucionalmente reconhecidos. Assim, é uma imunidade subjetiva na qual se
prestigiam aqueles que prestam serviços que deveriam ser satisfatoriamente
prestados pelo Estado. Esta é uma imunidade condicionada aos requisitos que
se encontram também no Artigo 14 do CTN.

Será que uma instituição de educação que cobra elevadas mensalidades e que
tem lucro pode se beneficiar dessa imunidade? É claro que sim. Basta que ela
aplique esse lucro na sua atividade. Não ter fins lucrativos não é o mesmo que
não ter lucro. O lucro é extremamente positivo para alcançar seus propósitos;
ele não pode é ser distribuído.

Há duas súmulas relativas a esse dispositivo. Sobre a primeira, já falamos, de


certa forma, ao tratarmos da imunidade dos templos, que é a Súmula nº 724
do STF, que conclui pela extensão da imunidade sobre o imóvel de propriedade
de uma dessas pessoas, ainda quando alugado a terceiro, mas desde que o
produto do aluguel seja aplicado nas atividades fins delas.

A segunda é a Súmula nº 730 do STF, que colocou uma pá de cal nas


tentativas dos planos de previdência de verem reconhecida a incidência da
imunidade sobre suas atividades. Em verdade, havendo contribuição de
segurados, não estaremos diante de uma instituição de assistência social sem
fins lucrativos. Aí se distingue seguridade de assistência.

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O que se deve cuidar, entretanto, é da questão do tributo indireto, que gera
inúmeras controvérsias. Predomina o entendimento de que a imunidade não
persiste, pois ela diz respeito somente ao contribuinte de direito:

“Entidade sem fins lucrativos. Imunidade recíproca. (...) Entidade educacional


que não é contribuinte de direito do ICMS relativo a serviço de energia elétrica
não tem benefício da imunidade em questão, uma vez que esta não alcança o
contribuinte de fato.” (AI 731.786-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 19-10-2010, Primeira Turma, DJE de 16-11-2010.) No mesmo
sentido: AI 717.793-AgR, Rel. Min Cármen Lúcia, julgamento em 15-2-2011,
Primeira Turma, DJE de 17-3-2011.

Neste aspecto, contudo, devemos acompanhar a jurisprudência, já que a


advocacia privada e os contribuintes não se contentam com esse entendimento
e continuam levando essa questão aos tribunais.

Imunidade da liberdade de expressão


Acho importante deixar claro que não se trata de uma questão cultural.

Sei que muitos doutrinadores assim afirmam. O problema é que a questão


cultural é menos abrangente do que a liberdade de expressão. Se afirmarmos
que o objetivo é de ordem cultural, então o governo poderia analisar toda
publicação que lhe interessar e classificá-la como cultural ou não, com o intuito
de taxar, e, assim, dificultar a sua circulação. Ao afirmar que é liberdade de
expressão, este controle não poderá ser feito e somente poderá haver restrição
de circulação quando estivermos diante de um crime, como, por exemplo, o
racismo.

Então, estarão excluídos apenas os folhetos publicitários que não possuem


nenhuma verdadeira expressão. Mas estão protegidas publicações como álbuns
de figurinhas. A imunidade atinge livros, jornais, periódicos e o papel destinado
à sua publicação. Hoje, não se trata apenas do impresso. Imune é o livro, o

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jornal e a revista e não o meio, que pode ser eletrônico, áudio, etc. Aliás, temos
uma lei que define a Política Nacional do livro (Lei nº 10.753/2003) que o
define independente do formato. O que está em discussão é se os e-readers
serão alcançados pela imunidade.

Imunidade musical
A Constituição de 1988 foi objeto da Emenda Constitucional nº 75 de 2013, que
passou a contar com a seguinte alínea do Artigo 150, VI:

“e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo


obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral
interpretadas por artistas brasileiros, bem como os suportes materiais ou
arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de
mídias ópticas de leitura a laser”.

A justificativa da PEC que resultou na emenda foi a barreira econômica imposta


aos artigos produzidos licitamente no Brasil, em virtude de sua carga tributária
e da concorrência com os artigos de pirataria. Essa imunidade inclui o
fonograma – toda fixação de sons de uma execução ou interpretação ou de
outros sons, ou de uma representação de sons que não seja uma fixação
incluída em uma obra audiovisual; e o videofonograma – gravação de som e
imagem de uma interpretação musical, ou seja, os vídeos musicais.

Assim, estariam alcançados pela imunidade os impostos que incidem na


produção de um CD ou DVD, que vai desde a contratação de estúdio, músico,
mixagem, produção, até a distribuição a lojas para venda a consumidores finais
(exceto a industrialização na fase final, de multiplicação de cópias idênticas).

Imunidades específicas
A divisão aqui proposta tem como objetivo maior facilitar o nosso estudo, pois
selecionamos aquelas mais importantes, que geram maiores controvérsias, e
deixamos as pontuais para este momento final. Estas imunidades dizem

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 49


respeito, em geral, a um único tributo e não a uma única espécie tributária
como visto até agora. Vamos, aliás, optar por seguir a ordem do texto
constitucional para estimulá-lo a nos acompanhar, conferindo a leitura.

Atividade Proposta
Consulte o site do STF sobre o tema imunidade e tributos indiretos, consultando
alguns ou todos os artigos acima vistos na aula no endereço
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp.
Elabore um parecer técnico que reproduza o entendimento do tribunal.

Chave de resposta: O aluno irá identificar que prevalece na jurisprudência o


entendimento de que em regra não se extende a imunidade nos tributos
indiretos.

Aprenda Mais

Material complementar

Para saber mais sobre os assuntos discutidos até agora, assista ao


vídeo “Pleno – STF reconhece imunidade tributária recíproca sobre
todos os serviços dos correios”, disponível em nossa galeria de
vídeos.

Para conhecer mais sobre o assunto, entre em nossa biblioteca


virtual e baixe o artigo “A imunidade tributária e suas
impropriedades constitucionais”.

Referências
ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
CARNEIRO, Claudio. Curso de Direito Tributário e Financeiro. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.

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TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e
Tributário. Vol. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz
da doutrina e da jurisprudência. 15. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2013.

Exercícios de fixação
Questão 1
Toda vez que a Constituição Federal estabelece que determinado imposto “não
incide”, é correto afirmar que estamos diante de um caso de:
a) Imunidade
b) Isenção
c) Remição
d) Remissão
e) Anistia

Questão 2
A imunidade deve ser interpretada de que forma?
a) Exclusivamente literal, para compreender exclusivamente o que está no
texto legal.
b) Gramatical, limitando-se ao que o leigo poderia compreender do texto
constitucional.
c) Extensiva, uma vez que se trata de um direito fundamental.
d) Restritiva, pois segue o mesmo sentido da isenção.
e) Estrita, pois trata de uma simples exceção que não consubstancia
nenhuma norma especial.

Questão 3
Com relação ao tema das limitações ao poder de tributar, julgue os itens
subsequentes.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 51


I – De acordo com a atual jurisprudência do STF, a imunidade tributária
recíproca abrange as hipóteses em que a pessoa jurídica de direito público
interno é contribuinte de fato.
II – As imunidades constitucionais são consideradas objetivas quando exigem,
para sua fruição, a comprovação de que os bens, rendas ou serviços estão
afetados às finalidades essenciais da entidade.
III – Existem imunidades tributárias implícitas na Constituição.
IV – A condição legal à fruição concreta da imunidade tributária pode ser
veiculada por meio de lei ordinária federal.
Estão certos apenas os itens:
a) I e II
b) I e III
c) I e IV
d) II e III
e) III e IV

Questão 4
Assinale a alternativa correta sobre a diferença entre isenção e imunidade.
a) Isenção e não incidência são iguais, já a imunidade assemelha-se à
chamada alíquota zero.
b) A isenção é criada por decreto do chefe do Executivo, já a imunidade é
criada por decreto legislativo.
c) Isenção somente se refere a taxas e contribuições, já a imunidade
abrange todos os tipos de tributos.
d) Isenção é prevista em lei, já a imunidade é constitucionalmente
estipulada.
e) Imunidade e não incidência são sinônimos, pois ambos estão previstos
na Constituição e na lei.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 52


Questão 5
As imunidades são normas negativas de competência tributária, figurando na
Constituição, ainda, como limitações constitucionais ao poder de tributar. Sobre
as imunidades, é correto afirmar que:
a) As imunidades constam em diversos artigos do texto constitucional, e,
conforme o dispositivo, dizem respeito a impostos, contribuições ou
mesmo à taxa, não se podendo, onde a imunidade é relativa a impostos,
pretender estendê-la a outras espécies tributárias.
b) As imunidades tributárias a impostos em favor dos templos e das
entidades educacionais sem fins lucrativos são incondicionadas.
c) A imunidade recíproca a impostos tem caráter subjetivo, alcançando tão
somente os entes políticos e suas autarquias, jamais se podendo
estendê-la às empresas públicas e às sociedades de economia mista,
para as quais o texto constitucional, inclusive, veda privilégios fiscais.
d) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é uníssona no sentido de
que a imunidade dos livros deve ser interpretada restritivamente, não
havendo dissenso quanto a isto, porquanto imunidades são normas de
exceção.

Questão 6
Em decorrência de imunidade tributária, o ICMS NÃO pode ser cobrado em
relação:
a) À conferência de bens imóveis ao capital de sociedades, em aumento de
capital.
b) À venda de mercadorias, tendo como destino partidos políticos, para
aplicação direta na atividade política aprovada pelo Tribunal Regional
Eleitoral.
c) A prestações de serviços de comunicação nas modalidades de
radiodifusão sonora e de sons e imagens, de recepção livre e gratuita.
d) À importação de bens na modalidade “importação por encomenda”
realizadas em favor de entidade religiosa (templo de qualquer culto).

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 53


e) À prestação de serviço de provimento de acesso à internet, na
modalidade “Serviço de Valor Adicionado”.

Questão 7
Determinada empresa pública federal obteve o reconhecimento, no Supremo
Tribunal Federal, de equiparação das suas atividades com a União Federal,
atingindo, como efeito reflexo, a sua sujeição tributária. Nesse sentido,
requereu ao Estado W que não fosse compelida a pagar o Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA em relação à sua frota. Tal
requerimento está embasado na:
a) Anistia
b) Moratória
c) Imunidade
d) Isenção
e) Não incidência

Questão 8
Conforme a CF, é permitido à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
municípios instituirem impostos sobre:
a) Patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos
b) Entidades sindicais patronais
c) Livros, jornais e periódicos
d) Fundações instituídas por partidos políticos
e) Templos de qualquer culto

Questão 9
O Artigo 150, VI, da Constituição Federal, dispõe sobre as chamadas
imunidades tributárias, as quais consistem em normas nas quais fica proibida a
tributação sobre situações ou pessoas expressamente indicadas. Nesse sentido,
é correto afirmar:

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 54


a) É vedado instituir imposto sobre templos de qualquer culto, bem como
sobre o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as
finalidades essenciais das instituições religiosas.
b) A imunidade dos livros, jornais e periódicos alcança também o papel
destinando à sua impressão, bem como o lucro das editoras
responsáveis.
c) As fundações mantidas pelos partidos políticos, as demais fundações de
direito privado, bem como os sindicatos patronais não são imunes aos
impostos, de acordo com o texto constitucional.
d) As imunidades tributárias estão todas previstas no Artigo 150, VI, com a
única exceção prevista no Artigo 195, §7º, referente à contribuição para
a seguridade social das entidades ali mencionadas.

Questão 10
Determinada editora de livros, revistas e outras publicações foi autuada pela
fiscalização de certo Estado, onde mantém a sede da sua indústria gráfica, pela
falta de recolhimento de ICMS incidente sobre álbum de figurinhas. Nessa linha,
à luz do entendimento do STF sobre a matéria em pauta, tal cobrança é:
a) Inconstitucional, por força da aplicação da isenção tributária.
b) Inconstitucional, por força da aplicação da imunidade tributária.
c) Constitucional, por força da inaplicabilidade da imunidade tributária.
d) Inconstitucional, por estar o referido tributo adstrito à competência
tributária da União Federal.
e) Constitucional, por força de interpretação literal da imunidade tributária.

Questão 11
A respeito da gratuidade de justiça, é correto afirmar que:
a) Abrangerá exclusivamente as custas judiciais, mas não os honorários de
perito.
b) Pode ser conceituada como uma imunidade tributária.
c) Não encontra regulamentação infraconstitucional.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 55


d) Compreende as taxas judiciais e as despesas com as publicações dos
atos oficiais somente.
e) É verdadeira isenção prevista na Lei nº 1.060/50.

Questão 12
É correto afirmar que o idoso encontra proteção também nas imunidades.
Assim sendo, será ele imune, exceto:
a) Rendimentos provenientes de aposentadoria quando maior de 65 anos.
b) Rendimentos provenientes de pensão quando maior de 65 anos.
c) Imunidade dos transportes coletivos.
d) Imunidades que beneficiem outras pessoas também.
e) Imunidades relativas aos impostos sobre a propriedade

Questão 13
Sobre as exportações, é correto afirmar que incidirá:
a) ICMS e IE
b) IPI e IE
c) ICMS e IPI
d) ICMS, IPI e IE
e) Somente o IE

Questão 14
As instituições de assistência social deverão recolher:
a) Todos os impostos, taxas e contribuição de melhoria.
b) Somente os impostos e as contribuições da seguridade social.
c) Os tributos, excetuados os impostos e as contribuições da seguridade
social.
d) Taxas e contribuição de melhoria.
e) Taxas, contribuições e empréstimos compulsórios.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 56


Questão 15
A imunidade relativa aos registros de nascimento e óbito aos reconhecidamente
pobres abrange qual tributo?
a) Imposto
b) Taxa
c) Contribuição de melhoria
d) Contribuições especiais
e) Empréstimos compulsórios

Aula 2
Exercícios de fixação
Questão 1 - A
Justificativa: Resposta fundada no conceito doutrinário.

Questão 2 - C
Justificativa: Resposta fundada nas regras de interpretação constitucional.

Questão 3 - D
Justificativa: Resposta fundada na classificação doutrinária das imunidades.

Questão 4 - D
Justificativa: Resposta fundada no conceito doutrinário dos institutos.

Questão 5 - A
Justificativa: Resposta fundada em vários dispositivos da Constituição.

Questão 6 - C
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, e, da Constituição.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 57


Questão 7 - C
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, a, da Constituição.

Questão 8 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, da Constituição.

Questão 9 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, da Constituição.

Questão 10 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, d, da Constituição.

Questão 11 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 5º, LXXIV, da Constituição.

Questão 12 - E
Justificativa: Resposta fundada nos Artigos 153, §2º, II, e 230, §2º, da
Constituição.

Questão 13 - E
Justificativa: Resposta fundada nos Artigos 153, §2º, II, e 230, §2º, da
Constituição.

Questão 14 - C
Justificativa: Resposta fundada nos Artigos 150, VI, c, e 195, §7º, da
Constituição.

Questão 15 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 5º, LXXVI, da Constituição.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 58


Introdução
Imagine retirar do orçamento dos Estados a receita oriunda do ICMS. A
transferência do imposto que gera a maior arrecadação para os Estados não
pode ser transferida para outro ente federativo simplesmente. Por outro lado,
ocorre a distribuição do ICMS entre vários entes federativos, cada um com
poder para legislar de forma diferente. Assim, temos um regime jurídico
diferente para cada Estado da federação. Como resolver esse problema? Não
vamos buscar esta solução aqui, até porque esta resposta é uma questão de
ordem política e não jurídica. Vamos estudar a competência tributária, que é
justamente o tema objeto do artigo que você deve ter lido.

Objetivo:
1. Definir competência tributária com seus atributos;
2. Distinguir competência tributária de capacidade tributária ativa;
3. Arrolar as espécies de competência tributária.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 59


Conteúdo
Conceito e atributos da competência tributária
Conceito

A criação dos tributos não nasce da vontade das partes que se encontram
nessa obrigação. Você vai rever que a obrigação tributária é uma espécie de
obrigação ex lege, ou seja, ela não nasce da vontade das partes, mas, sim,
nasce da vontade da lei, cujo exercício é exemplo da soberania estatal. Assim, a
soberania do Estado cria tributos e arrecada.

O poder de tributar tem, em decorrência dessa soberania, três formas de


manifestação:

A manifestação legislativa corresponde ao poder de criar tributos, ou


melhor, instituir tributos por lei. A isso damos o nome de competência
tributária.

A manifestação administrativa é o poder de fiscalizar e arrecadar tributos,


que se faz através de atividade administrativa. Desta vez, o nome dado é
capacidade tributária ativa. É a possibilidade de figurar como verdadeiro
credor do tributo.

A manifestação jurisdicional corresponde ao poder de solucionar conflitos


entre o credor e o devedor da obrigação tributária. No Brasil, a jurisdição é una,
e, salvo algumas exceções constitucionais, ela será exercida sempre pelo Poder
Judiciário. E como não há uma justiça própria para os conflitos tributários, nem
um procedimento exclusivo para eles, não há uma denominação exclusiva.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 60


Atenção
Nesta aula, vamos estudar apenas a manifestação legislativa.
Ela é fixada pela constituição e tem por objetivo garantir a
autonomia financeira dos entes federativos. Sem recursos
próprios, não há verdadeira autonomia. A repartição dos tributos
entre os entes federativos pretende garantir os recursos
necessários para evitar a dependência indesejada de municípios
e até mesmo de estados.

Dos atributos da competência tributária


Para conhecermos melhor um instituto jurídico, uma boa técnica é analisar seus
atributos, que são as características essenciais. A competência tributária é
privativa, facultativa, irrenunciável, indelegável, inalterável, improrrogável e
incaducável. Vamos analisar casa um desses atributos a seguir.

Ao afirmarmos que a competência é privativa ou exclusiva, estamos dizendo


que ela somente será atribuída a um ente federativo. A doutrina do Direito
Constitucional distingue, seguindo a norma constitucional, a competência
privativa da exclusiva. Privativa é a competência que pode ser delegada, e
exclusiva é aquela que não pode ser delegada. A rigor, a competência tributária
é uma competência exclusiva, tendo em vista a sua indelegabilidade, como
veremos a seguir.

Contudo, o cerne da questão é que ela será atribuída a um único ente


federativo, ou seja, não teremos sua atribuição a mais de um ente de forma
simultânea. Um tributo específico somente poderá ser instituído por um único
ente federativo.

A competência tributária é uma verdadeira autorização para que o tributo seja


criado; assim, ela é facultativa e não obrigatória. Ora, a Constituição não

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 61


determina que o tributo seja instituído. O que ela determina é que se o tributo
for instituído, seja pelo ente nela designado; ou melhor, se um ente quiser
instituir um tributo, que seja um dos previstos a ele na Constituição. A prova
mais popular disso é o imposto sobre grandes fortunas, que está previsto na
Constituição, no Artigo 153, VII. Ele é da competência da União. Porém, é
somente isso que temos, pois ele jamais foi instituído no Brasil. Tivemos alguns
projetos de lei nesse sentido, sendo o mais famoso de autoria do então
Senador Fernando Henrique Cardoso.

Mas há, por outro lado, uma regra no nosso direito que parece impor o
contrário. Na Lei Complementar nº 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal), o
Artigo 11 determina que não poderá haver transferências voluntárias (ou seja,
a entrega de recursos além dos predeterminados na Constituição) para ente
federativo que não tenha instituído todos os seus impostos. Mas não é isso. O
que a Lei de Responsabilidade Fiscal quer é evitar que um ente federativo se
torne dependente de outro ente sem que haja necessidade. Assim, um ente
federativo somente poderá receber recursos de outro quando exercer a sua
competência prevista na Constituição de tal forma que somente receberá
recursos quando o que arrecadar não for suficiente.

A competência tributária é determinada não sem motivo. Ela existe para que os
entes federativos tenham autonomia, competência proporcionada apenas se o
ente possuir recursos próprios. Ele possuirá recursos próprios através de alguns
mecanismos e, hoje, a receita pública mais importante é o tributo. O Estado
não é mais um empresário que obtém recursos nos exercícios de atividades
econômicas, visto que ele o adquire diretamente da sociedade, que deve
contribuir para a prestação de serviços públicos. Uma vez que a competência
tributária é determinada para garantir a autonomia financeira, e que a
autonomia dos entes federativos é algo irrenunciável, já que é essencial para a
federação, a competência tributária é igualmente irrenunciável.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 62


Se, por um lado, o ente federativo não está obrigado a instituir o tributo, por
outro, ele está proibido de renunciar. A competência não será exercida, mas
estará lá sempre à sua disposição para quando houver necessidade.

O Artigo 7º do CTN estabelece, de forma clara e objetiva, que a competência


tributária (para instituição do tributo) é indelegável. Isso significa dizer que
estamos diante de uma competência exclusiva que não poderá, ainda que por
vontade de ambas as partes, ser transferida para outro ente federativo.

O CTN diz que as funções de arrecadar e fiscalizar podem, sim, ser delegadas.
Isso, contudo, não é competência, mas, sim, capacidade tributária ativa.

De igual forma, uma vez que estamos diante de um instituto criado para
garantir a integridade da federação, a competência é inalterável. A
Constituição não permite que um ente amplie ou diminua a sua competência.
De certa forma, somente uma emenda constitucional poderia ampliar a
competência. Um exemplo de uma possível ampliação de competência tributária
por emenda constitucional é a que você teve ciência pelo artigo separado para
esta aula. Ele retrata uma proposta legislativa de nacionalizar o ICMS. Hoje,
contamos com um infindável conjunto de leis que tratam do ICMS. Para além
de uma legislação nacional, ou seja, elaborada pelos Estados, para valer
perante todos eles (os convênios interestaduais), cada Estado tem a sua
legislação própria. Isso cria um conflito entre eles, uma confusão para o
contribuinte e um custo para o próprio pagamento do tributo, visto que este
não é só caro em si, como também é caro pagar o tributo.

Mas, será possível, ainda que por emenda constitucional, alterar essa
competência? Um impeditivo é a questão da cláusula pétrea determinada no
Artigo 60, §4º, I, da CR, que não poderá sequer ser objeto de emenda a
proposta tendente a abolir a forma federativa de estado. Assim, os contrários a
essa proposta defendem que transferir a instituição do ICMS para a União,
ainda que a destinação de receitas fique com os Estados, retire a autonomia, o

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 63


poder de se autogerir, dos Estados. Isto é, contudo, algo que devemos esperar
para ver como se comportará o STF.

A competência tributária é improrrogável, significando que o não exercício da


competência pelo ente predeterminado na Constituição não a transfere para
outro ente. Isso está dito no Artigo 8º do CTN. Ora, imagine se um Estado não
cria o IPVA. Poderia o município criar o mesmo IPVA sobre os veículos
licenciados em seu território? Claro que não. A competência tributária será
exercida somente por quem a Constituição determinou.

E, por fim, para aqueles que defendem, por exemplo, a instituição do Imposto
sobre grandes fortunas, a competência é incaducável, ou seja, haverá sempre
a possibilidade de lutar por sua instituição. Não há prazo, visto que a
Constituição é de 1988, já se contam mais de duas décadas e não se perdeu o
prazo para instituí-lo.

Além disso, qualquer legislação que já foi elaborada (e que até esteja em vigor)
também poderá ser alterada, pois o poder de legislar não está submetido a
prazo no nosso ordenamento jurídico.

Dos conflitos da competência tributária


Quando o que está previsto na Constituição como partilha de competência não
é observado, podemos afirmar que estamos diante de um conflito de
competência. A Constituição dividiu todos os fatos possíveis entre todos os três
entes federativos, pois preencheu qualquer lacuna através da instituição da
competência tributária residual da União.

Veremos que, se o fato não está previsto na Constituição, o tributo será


instituído pela União. Mas, e se isso ocorre? Bom, aí estaremos diante de um
conflito de competência. Nesse caso, dois institutos precisam ser definidos, e
espero que, a partir de hoje, aqueles que ainda faziam alguma confusão, não
façam mais. Clique na caixa em destaque abaixo para conhecê-los.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 64


Bitributação
Na bitributação, efetivamente, temos uma hipótese de invasão de competência.
Nela, um ente federativo distinto daquele previsto na Constituição cria a mesma
espécie tributária sobre um fato gerador previsto a outro ente federativo. É
claro que a bitributação é inconstitucional. Seria tudo igual, exceto o ente
federativo.

Isso já foi possível no nosso ordenamento jurídico, quer por haver expressa
autorização na Constituição que falava das competências tributárias
concorrentes, quer por não haver prévia designação constitucional de
competência, o que deixava os entes federativos livres para criarem os tributos
como bem quisessem. Realidade que não é mais a Constituição atual que
divide, minuciosamente, os fatos e as espécies tributárias entre os três entes
federativos.

Bis in idem
Segundo o STF, haverá bis in idem quando o mesmo ente federativo estiver
instituindo a mesma espécie tributária sobre o mesmo fato gerador. É uma
repetição. Tudo igual. Deve ser a mesma espécie de tributo (um dos cinco)
sobre o mesmo fato gerador.

Há uma diferença notável quanto às contribuições sociais. Nelas, a doutrina e a


jurisprudência criaram uma peculiaridade: a distinção não estará tanto no fato
gerador; as contribuições são distinguidas por sua destinação. Aliás, na própria
Constituição vemos que o elemento diferenciador é o fato gerador (leia o Artigo
149). A distinção entre as contribuições vem do destino que a verba arrecadada
terá.

Outro ponto importante é saber se o bis in idem é inconstitucional. Será que é


vedado que o mesmo ente federativo crie o mesmo tributo mais de uma vez?

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 65


Exemplificando: a União poderia criar dois impostos de renda? A questão não é
simples.

Podemos concluir que não há invasão de competência? Estaríamos diante de


uma hipótese em que um ente cria um tributo que a Constituição prevê para
outro ente? Definitivamente, não! Então, há quem afirme (e esta é a tese pro
fisco) que este novo tributo somente seria inconstitucional se ele tivesse efeito
confiscatório; ou seja, se a soma dos dois tributos, o novo e o antigo, gerassem
um dever de pagar tão elevado que colocasse o indivíduo em uma situação
muito gravosa, extinguindo a riqueza tributada. E exemplificam: você preferiria
pagar uma dívida que fosse única em R$50,00, ou uma dívida que fosse
dividida por dois, uma parte de R$20,00 e a outra de R$10,00. É claro que,
matematicamente, iríamos preferir a segunda, ainda que dividida! Por outro
lado, segundo uma regra de hermenêutica constitucional, não há palavras
inúteis ou desnecessárias na Constituição. A Constituição não poderia,
expressamente, autorizar o que o destinatário da norma já pudesse fazer. Uma
autorização expressa na Constituição deveria sempre se constituir em uma
exceção a uma regra originariamente proibitiva. De que regra estamos falando?
Abra sua Constituição no Artigo 154, II, onde encontramos o imposto
extraordinário de guerra, um imposto raro, com destinação específica, que
poderá ter, como fato gerador, algo previsto ou não na competência da União.
Ora, significa dizer que a Constituição autoriza que a União não precisa explorar
de criatividade para, no caso de guerra, criar algo totalmente novo. Ela pode,
simplesmente, copiar um fato gerador já existente e assim tomar um dos fatos
do Artigo 153, destinando-o para a guerra. Então, pode-se afirmar, por outro
lado, que se a Constituição precisou autorizar o bis in idem no caso de guerra,
é porque, fora da guerra, o bis in idem é inconstitucional.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 66


Competência tributária e a capacidade tributária ativa
Conceito
Como vimos, o poder de tributar, assim como qualquer poder do estado, se
divide, classicamente, em três funções: legislativa, administrativa e a
jurisdicional. Esta última será estudada quando tratarmos de processo
tributário, na próxima disciplina.

Aqui, estamos tratando do poder de instituir tributos por lei, exercício da função
legislativa, denominada de competência tributária. Mas, para podermos
compreender melhor os seus contornos e darmos o tratamento adequado,
precisamos distinguir da outra função de poder, que, por vezes, é confundida
pela lei: função administrativa.

Essa função, como vimos, é também chamada de capacidade tributária


ativa.

A capacidade tributária ativa corresponde aos poderes de fiscalizar e


arrecadar o tributo. Assim, trata-se do cumprimento da lei e não de sua
elaboração.

Certamente, tanto a competência como a capacidade tributária serão exercidas


por uma única pessoa. Mas, se falamos que a distinção entre exclusiva e
privativa é a possibilidade desta última ser delegada, enquanto a competência é
exclusiva, a capacidade tributária é privativa. Ela somente poderá ser exercida
por um único ente federativo – tanto que o próprio CTN autoriza no Artigo 164
que, na hipótese de o tributo ser cobrado por mais de um ente federativo, o
sujeito passivo (aquele que é cobrado) poderá promover judicial uma ação de
consignação em pagamento, em face dos que lhe cobram, a fim de que se
determine exatamente qual é o único credor.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 67


Mas, por outro lado, essa função de fiscalizar e arrecadar pode, como autoriza
o Artigo 7º do CTN, ser delegada a outra pessoa jurídica de direito público.
Poderá então ser exercida por outro ente ou mesmo por numa descentralização
a uma autarquia (e. g. cobrança da contribuição da seguridade social pelo INSS
até 2007).

Concluímos que a capacidade tributária ativa é verdadeiramente privativa,


enquanto a competência é exclusiva – se adotarmos um rigor técnico.

Considerando que a competência institui o tributo por lei, e que ao


Administrador público é dado fazer aquilo que a lei determina ou autoriza, a
capacidade tributária ativa não é facultativa. Ao contrário, como determina o
Artigo 142, parágrafo único, essa atividade é vinculada e obrigatória.

Não há espaço na legislação que autoriza o administrador escolher se cobrará


ou não o tributo. A lei determina exatamente qual tributo será cobrado e como
ele será cobrado. Se você se lembra do que viu nas disciplinas de Direito
Administrativo, já concluiu que a cobrança do tributo não é discricionária, mas,
sim, vinculada.

Mas será que se pode renunciar à cobrança do tributo? Tudo dependerá do que
a lei determina. Se for a Constituição que define os contornos da competência,
na capacidade tributária ativa estes contornos são definidos por lei. E aqui
podemos falar do instituto da remissão. O CTN estabelece no Artigo 156, IV, a
remissão. Remissão é o perdão do tributo devido. Seria a renúncia à cobrança
do tributo. Ela não é livre, pois determina o Artigo 172 do CTN que a lei poderá
autorizar a remissão.

Logo, a capacidade tributária ativa é renunciável, nos termos da lei. O ente


federativo poderá criar contornos legais para a renúncia do tributo.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 68


Já tratamos acima que a capacidade tributária ativa é delegável. Falamos disso
tanto ao estudar os atributos da competência como ao estudarmos para a
capacidade o atributo da privatividade ou da exclusividade. Assim, só para
frisarmos, o poder de fiscalizar e cobrar tributos pode ser delegado. Exemplo
disso é a cobrança das contribuições da seguridade feita pelo INSS (que possui
personalidade jurídica própria distinta da União) e ainda a fiscalização e
cobrança administrativa do ITR pelos Municípios.

O ITR é tributo da competência da União, como estabelece o Artigo 153, VI, da


CR. Assim, toda a legislação do ITR deverá ficar a cargo do poder legislativo
federal (Congresso Nacional). Serão, então, leis federais que poderão fixar
quaisquer regras relativas a esse tributo. Mas a Constituição prevê
expressamente que a União poderá delegar a fiscalização e a cobrança aos
Municípios.

Pense comigo: se, nessa hipótese, a Constituição precisou autorizar a


delegação da capacidade tributária ativa, é porque, para qualquer outro caso,
ela não seria delegável. Correto? Não! O que a Constituição fez foi escolher
para a União a quem ela poderia delegar. Veja só: sem essa previsão
Constitucional, a União estaria livre para delegar a cobrança a qualquer pessoa
jurídica de direito público, inclusive aos Estados. Mas a Constituição fez a
escolha: se a União quiser delegar, poderá fazê-lo, contanto que seja para os
Municípios.

A capacidade tributária ativa é alterável. Ela poderá receber os contornos que o


ente federativo quiser. Ora, isso decorre da própria autonomia federativa, que é
composta também pela autonomia administrativa, pelo poder de se auto-
organizar. Assim, cada ente federativo poderá estabelecer, dentro dos limites
das normas gerais (estabelecidas nacionalmente e previstas, por exemplo, no
CTN), como exercerá a fiscalização e a cobrança do tributo.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 69


Aqui, há um ponto de semelhança: a capacidade tributária ativa, assim como a
competência, não será transferida a outro ente na hipótese de não ser
exercida. Se um ente institui um tributo e mal o cobra, não poderá o outro ente
exercer esta cobrança.

Aqui, surge um conflito. Na próxima aula, veremos que, para manter em


equilíbrio o poder financeiro dos entes federativos, a Constituição cria outro
instituto, além da partilha de competências: a repartição das receitas
tributárias. A Constituição determina que parte daquilo que a União arrecada
seja transferida a estados e municípios; e parte daquilo que os estados
arrecadam seja transferida aos municípios. Isso é uma determinação
constitucional denominada no Direito Financeiro de transferências obrigatórias.

Assim, se um ente federativo institui e não arrecada o tributo, haverá um


problema: sua receita tributária estará diminuída, e a parcela que será
transferida a outro ente também. Mas não há mecanismo para coibir isto por
parte do ente federativo destinatário. O que se poderia fazer é provocar os
órgãos de fiscalização do exercício da atividade financeira do estado para que
se coloque a questão em termos de violação da legislação de responsabilidade
fiscal – Poder Legislativo, Tribunal de Contas e Ministério Público.

Por fim, a capacidade tributária ativa é caducável. No Artigo 156, V, do CTN,


vemos a instituição, dentre as causas de extinção do crédito tributário, da
prescrição e da decadência. Na próxima disciplina, teremos oportunidade de
estudarmos a fundo cada um desses dois. De toda forma, para que o raciocínio
não fique perdido, podemos defini-los sucintamente da seguinte forma:
decadência é a perda do prazo para lançar o tributo, enquanto a prescrição é a
perda do prazo para cobrar o tributo.

Ora, se há prazo para dar cumprimento à lei que instituiu o tributo, este é o
prazo para o exercício da capacidade ativa tributária. Então, a capacidade ativa
tributária caduca é diferente da competência tributária.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 70


Espécies de competência tributária
A rigor, a competência tributária é privativa, ou melhor, sempre privativa. Mas a
doutrina, para facilitar o estudo da competência tributária, cria certas
classificações que divide a forma como a Constituição distribui este poder entre
os entes federativos.

Vamos aqui, inicialmente, apontar as classificações mais comuns de serem


encontradas. Ao final, apenas para garantir maior completude, faremos breve
referência a outras classificações, ainda mais desnecessárias.

Da classificação tradicional
A doutrina extrai da Constituição quatro formas de dividir a competência
tributária: privativa, comum, residual e extraordinária.

Privativa
É aquela que a Constituição, dentro do capítulo do Sistema Tributário Nacional,
atribui a um ente federativo determinado especificamente. Assim, basta
abrirmos o Capítulo I do Título VI da Constituição que veremos exatamente
quem vai cobrar tributo sobre determinado fato gerador.
Para a União, isso ocorre no Artigo 153 (quanto aos impostos), no Artigo 148
(quanto ao empréstimo compulsório) e no Artigo 149 (quanto às contribuições
especiais). Somente a União poderá instituir esses tributos. Para os Estados,
encontramos a regra do Artigo 155, que autoriza a criação de três impostos por
entes. E para os Municípios, a regra do Artigo 156, que autoriza a criação de
três impostos também.

Comum
É aquela que a Constituição atribui, indistintamente, aos três entes federativos
dentro do capítulo do Sistema Tributário Nacional. Vemos isso com relação às
taxas e contribuição de melhoria. A Constituição dirá que esses tributos

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 71


competem à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, mas não
diz qual taxa cabe a cada um.

Então, significa dizer que todos poderão criar a mesma taxa, por exemplo? É
claro que não, afinal, a competência tributária é privativa. Então, significa dizer
que quem criar primeiro poderá exercer a competência tributária? Claro que
não, a Constituição não poderia permitir um conflito desse porte entre os entes
federativos. Então, como se resolve essa questão? Como saber quem poderá
criar qual taxa? Ou qual contribuição de melhoria? A questão se resolve no
âmbito da competência administrativa.

Qual é a característica fundamental desses tributos quanto ao fato gerador?


Estamos diante de tributos vinculados, tributos em que o fato gerador é uma
atividade específica do estado. A taxa terá, como fato gerador, ou o exercício
regular do poder de polícia, ou a prestação de serviço público. A contribuição
de melhoria terá, como fato gerador, uma obra pública que gere valorização
imobiliária. Assim, nos dois casos, estamos diante de tributos que dependem de
uma ação do Estado.

A pergunta não será, inicialmente, quem poderá instituir a taxa ou a


contribuição de melhoria. Na verdade, existirão três perguntas: quem poderá
exercer o poder de polícia regularmente? Quem poderá prestar o serviço
público? E quem poderá realizar a obra pública? E a resposta decorre da
competência administrativa. Assim, a competência tributária comum será
delimitada pela competência administrativa.

E se estivermos diante de uma competência administrativa comum? Todos


poderão cobrar o mesmo tributo? Não! A questão será resolvida como o é no
Direito Administrativo. O STF adota aqui a teoria do interesse predominante.
Deve-se verificar, no caso concreto, se estamos diante de uma questão em que
o interesse predominante é nacional – para exercício de atividade pela União e,
logo, cobrança de tributo por ela; regional – para exercício de atividade pelo

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 72


Estado e cobrança de tributo por ele; ou local – para exercício de atividade pelo
Município e cobrança de tributo por ele.

Veja, por exemplo, a questão ambiental: se estamos diante de uma atividade


industrial que pode resultar no despejo inadequado de dejetos em grande
quantidade e em rio que corta uma bacia hidrográfica de grandes proporções,
que atravessa vários estados da federação, poderemos, ainda que
abstratamente, concluir que o interesse é mais nacional do que regional. Assim,
o interesse de exercer essa fiscalização será da União, que poderá cobrar uma
taxa de fiscalização ambiental.

E, para concluir, sobre espécie de competência, há quem defenda que o


disposto no Artigo 149, §1º, da Constituição seria uma espécie de competência
comum. Pessoalmente, não entendo assim. Veja só, ao ler o dispositivo, você
sente a necessidade de procurar algum outro para saber a quem pertence o
poder de instituir uma contribuição previdenciária para instituto próprio de
previdência do seu Estado? Ou você conclui que somente o Estado ao qual está
vinculado o servidor poderá instituir esse tributo? Prefiro deixar prevalecer aqui
uma interpretação lógica do que uma mera interpretação literal. De toda forma,
não sonego essa informação.

Residual
É aquela que você não encontra o fato escrito na Constituição, em nenhum
dispositivo. Na verdade, porque o legislador, em qualquer esfera, é incapaz de
listar tudo aquilo que um dia poderá ser criado pelo homem, enumerar todos os
fatos e atos jurídicos, antecipar tudo aquilo que um dia poderá acontecer e
sobre o que se poderá criar um tributo.

Assim, o que o constituinte faz é determinar que, se for o caso de instituir um


tributo novo, qual será o ente que poderá fazê-lo. A União terá competência
residual para instituir um novo imposto (Artigo 154, I, CR) e uma nova
contribuição da seguridade social (Artigo 195, §4º, CR). Ainda podemos dizer

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 73


que, se a competência administrativa delimita a competência tributária comum,
se a competência administrativa residual é dos Estados (Artigo 25, §1º, CR) e
se a competência tributária comum diz respeito às taxas e contribuição de
melhoria, a competência residual relativa às taxas e contribuição de melhoria é
dos Estados.

Extraordinária
É aquela que não está à disposição normalmente, ou seja, é necessária a
ocorrência de uma situação incomum para que ela possa ser exercida. Assim,
podemos dizer que a competência da União para instituir o imposto
extraordinário de guerra é uma competência extraordinária – hoje ela não
poderá ser exercida. Aliás, alguns estudiosos afirmam que o Brasil é um
exemplo de pacifismo. Teria sido o Brasil o primeiro país do mundo a prever
que o uso das forças armadas seria prioritariamente para restabelecer a paz.
Assim, afirmam que este seria o motivo para uma tradição que se estende
desde 1947: a abertura da Assembleia Geral da ONU é feita sempre por um
discurso de representante do Brasil. Isso nos garante menos um imposto!

Alguns doutrinadores incluem aqui o exercício da competência tributária relativa


ao empréstimo compulsório, pois, a rigor, a Constituição não fixa o fato gerador
dele, mas, sim, as hipóteses em que ele poderá ser criado. Essas hipóteses são
igualmente incomuns: investimento urgente de relevância nacional (algo que
não foi planejado), guerra externa e calamidade pública.

Classificações incomuns
É possível que você ainda encontre outras classificações na doutrina. Você já
sabe como é a doutrina do direito brasileiro. Às vezes, parece que se debruçam
em criar novas classificações apenas para fazer algo diferente, mesmo que não
haja qualquer utilidade. Mas não estou dizendo que essas classificações são
inúteis. Apenas que não são aquelas que qualquer doutrinador deve citar. Por
isso, destaquei-as em outro tópico, para que você não pense que grandes obras
são incompletas.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 74


Tem-se por competência cumulativa ou múltipla a prevista no Artigo 147
da CR, porque atribui à União o poder de instituir também tributos estaduais e
municipais (desde que em territórios federais), e ao DF, além dos estaduais,
também os municipais.

Por fim, para os que distinguem, competência especial seria o poder de


instituir empréstimos compulsórios e contribuições especiais. Essa competência
seria destacada pelo fato de apenas recentemente (com a Constituição de
1988) ter entrado no rol dos tributos.

Atividade proposta
O aluno deve ler o projeto de lei complementar para instituição do imposto
sobre grandes fortunas disponível em
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=21
594. Identifique quais são os elementos da obrigação tributária: aspectos
material (situação necessária ao nascimento da obrigação tributátia), temporal
(momento de sua ocorrência – se trata-se de fato gerador continuado), e
espacial, bem como os aspectos subjetivos (credor e devedor) e quantitativos
(base de cálculo e alíquota), apresentando, em forma de parecer técnico as
informações.

Chave de resposta: O aluno deve apresentar parecer que traga


detalhadamente as seguintes informações:
Aspectos material: os bens, situados no Brasil ou no exterior, que integram o
patrimônio do contribuinte excetuados (i) o imóvel de residência do
contribuinte, até o valor de NCz$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzados novos);
(ii) os instrumentos utilizados pelo contribuinte em atividades de que decorram
rendimentos do trabalho assalariado ou autônomo, até o valor de NCz$
1.200.000,00; (iii) os objetos de antiguidade, arte ou coleção, nas condições e
percentagens fixadas em lei; (iv) investimentos na infraestrutura ferroviária,
rodoviária e portuária, energia elétrica e comunicações, nos termos da lei; e (v)

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 75


outros bens cuja posse ou utilização seja considerada pela lei de alta relevância
social, econômica ou ecológica.
Aspecto temporal: anual.
Aspecto espacial: bases universais.
Aspectos subjetivos: União e titular da grande fortuna.
Aspectos quantitativos: base de cálculo o que exceder o valor de 8.000 vezes o
limite mensal de isenção do imposto de renda para a pessoa físicae alíquotas
que variam de 0,5% a 1%.

Aprenda Mais

Material complementar

Para saber mais sobre os assuntos discutidos até agora, assista aos
vídeos “Programa Academia – Competência tributária”, “Segurança
jurídica, confiança e exercício da competência tributária” e “ABRADT
– Os conflitos de competência na tributação de serviços”, disponíveis
em nossa galeria de vídeos.

Referências
ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
CARNEIRO, Claudio. Curso de Direito Tributário e Financeiro. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz
da doutrina e da jurisprudência. 15. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2013.
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e
Tributário. v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 76


Exercícios de fixação
Questão 1
Acerca da competência tributária, assinale a alternativa correta.
a) A competência tributária é o poder, conferido a determinado ente
político, por lei complementar específica, para aumentar tributos.
b) Um ente federado pode delegar, por lei, a sua competência tributária a
outro ente.
c) A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de
arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou
decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa
jurídica de direito público a outra.
d) O não exercício da competência tributária por um ente defere
competência à pessoa jurídica de direito público diferente daquela cuja
Constituição a ela tenha atribuído.
e) A competência tributária é determinada por lei complementar.

Questão 2
O cometimento a pessoa de direito privado, como os bancos, do encargo de
arrecadar tributos.
a) Constitui ato de delegação de competência, de acordo com a legislação
tributária vigente.
b) Constitui delegação da capacidade tributária passiva.
c) Constitui ato legal em que se atribui apenas a capacidade de arrecadar,
não cabendo fiscalização ou cobrança do tributo.
d) Não pode ser revogado unilateralmente.
e) Pode ser anulado, e não revogado, visto que a revogação tem de ser
feita por mútuo consentimento.

Questão 3
Acerca dos atributos da competência, indique as opções corretas:

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 77


I – a competência tributária é incaducável, em razão disto ainda cabe a
instituição do IGF
II – a competência tributária é irrenunciável, ela pode até não ser exercida,
mas dela não se pode abrir mão
III – a competência tributária é concorrente, já que a União legisla sobre
normas gerais e os Estados instituem os tributos
IV – a competência tributária é privativa/exclusiva pois a Constituição a define
aos entes federativos
a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) II e IV

Questão 4
Município Deixa pra Lá, não conseguindo, hipoteticamente, exercer sua
competência constitucional tributária para instituir o ITBI no seu território,
celebrou acordo com o Estado federado em que se localiza, para que esse
Estado passasse a exercer, em seu lugar, a competência constitucional para
instituir o referido imposto em seu território municipal e, ainda, para que
exercesse as funções de fiscalizar e arrecadar esse tributo, recebendo, em
contrapartida, um pagamento fixo anual, a título de "retribuição
compensatória".
Relativamente a essa situação, o Município Deixa pra Lá
a) Pode delegar sua competência tributária e suas funções de arrecadar e
de fiscalizar tributos a outra pessoa jurídica de direito público.
b) Não pode delegar sua competência tributária a qualquer outra pessoa
jurídica de direito público, embora possa delegar as funções de arrecadar
e de fiscalizar tributos de sua competência tributária.
c) Não pode delegar sua competência tributária, nem suas funções de
fiscalizar tributos a qualquer outra pessoa jurídica de direito público,
embora possa delegar suas funções de arrecadar tributos de sua
competência tributária.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 78


d) Não pode delegar sua competência tributária, nem suas funções de
arrecadar e de fiscalizar tributos de sua competência tributária a
qualquer outra pessoa jurídica de direito público.
e) Não pode delegar sua competência tributária, nem suas funções de
arrecadar e de fiscalizar tributos de sua competência tributária a
qualquer outra pessoa jurídica de direito público, mas pode delegar as
funções de arrecadação às instituições bancárias públicas e privadas.

Questão 5
No que concerne à competência tributária, assinale a opção correta.
a) O poder de criar tributos é repartido entre os vários entes políticos, e a
CF assinala a esfera de competência dos níveis federal, estadual e
municipal.
b) Mesmo na ausência de normas gerais da União, os estados e o DF não
têm a possibilidade de exercer a competência legislativa plena em
matéria tributária.
c) As principais características da competência tributária são a
transmissibilidade e a renunciabilidade, conforme a legislação em vigor.
d) Sendo, como regra geral, delegável a competência tributária, justifica-se
a delegação da atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos.
e) À luz do CTN, o não exercício da competência tributária pelo ente
competente defere a outra pessoa jurídica de direito público o exercício
tributário, que não pode ser obstaculizado.

Questão 6
Pode ser objeto de delegação:
a) A capacidade tributária ativa.
b) O poder tributário.
c) A competência tributária.
d) A soberania tributária.
e) A autonomia tributária.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 79


Questão 7
Sobre competência tributária e capacidade tributária ativa, é correto afirmar:
a) A competência tributária é delegável por lei.
b) A capacidade tributária ativa indica o sujeito ativo da obrigação tributária
principal.
c) O Código Tributário Nacional fixa as competências tributárias.
d) A capacidade tributária ativa é exclusiva do ente político definido na
Constituição Federal.
e) Somente o ente político competente para instituir o tributo pode ser
titular da capacidade tributária ativa.

Questão 8
Acerca dos atributos da capacidade tributária ativa, indique as opções corretas:
I – a capacidade tributária ativa é caducável, em razão dos institutos da
decadência e da prescrição
II – a capacidade tributária ativa é renunciável, pois poderá ocorrer a remissão,
que corresponde ao perdão do tributo
III – a capacidade tributária é concorrente, já que na hipótese do Estado não
cobrar o IPVA, o Município como destinatário de 50% dele poderá fazê-lo
IV – a capacidade tributária é facultativa, cabendo à autoridade administrativa
avaliar a conveniência e oportunidade de sua cobrança
a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) II e IV

Questão 9
Indique abaixo atributo que corresponde à competência e não à capacidade
tributária ativa:
a) Privativa
b) Facultativa
c) Improrrogável

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 80


d) Delegável
e) Caducável

Questão 10
Quanto ao artigo 153 §4º III da Constituição é correto afirmar que:
a) Se trata de verdadeira exceção à regra da indelegabilidade da
competência.
b) Se trata de verdadeira exceção à regra da indelegabilidade da
capacidade tributária ativa.
c) Se trata de competência concorrente entre a União e o Município.
d) Se trata de delegação da capacidade tributária ativa.
e) É norma inconstitucional.

Questão 11
A prestação de serviços de transporte intermunicipal e interestadual é fato
gerador de imposto de competência:
a) Dos Municípios
b) Dos Estados e do Distrito Federal
c) Da União
d) Concorrente
e) Comum

Questão 12
A competência para instituir contribuições especiais de interesse das categorias
profissionais e econômicas, cabe:
a) A União
b) Aos Estados
c) Ao Distrito Federal
d) Aos Municípios
e) Aos Estado e ao Distrito Federal

Questão 13

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 81


O artigo 155, § 2º, XII, da Constituição Federal estabelece: (Março/02)
“Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituírem impostos
sobre:
II – Operações sobre circulação de mercadoria e sobre prestação de serviços de
transporte e comunicação...;
§ 2º - O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
XII – Cabe a lei complementar:...”. A referida lei complementar é de
competência da (o, os):
a) Estados
b) Territórios
c) Municípios
d) União
e) Estados e Distrito Federal

Questão 14
Dentro da competência da União, estão os impostos:
a) Imposto sobre a propriedade territorial rural, imposto sobre transmissão
de bens imóveis e direitos a eles relativos, imposto sobre a propriedade
territorial urbana.
b) Imposto sobre produtos industrializados, imposto sobre a propriedade
territorial rural.
c) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, imposto sobre
a propriedade territorial rural e imposto sobre propriedade de veículos
automotores.
d) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, imposto sobre
a propriedade territorial rural, imposto sobre transmissão de bens
imóveis e direitos a eles relativos.
e) Impostos sobre serviços de qualquer natureza.

Questão 15
Consoante a Constituição Federal, entre os impostos cuja competência
tributária é dos Estados-membros, estão:

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 82


a) Imposto sobre transmissão causa mortis e doação de quaisquer bens ou
direitos, impostos extraordinários, e o imposto sobre a circulação de
mercadorias e prestação de serviços de transporte e de comunicação.
b) Imposto sobre transmissão causa mortis e doação de quaisquer bens ou
direitos, imposto de renda estadual, e o imposto sobre a circulação de
mercadorias e prestação de serviços de transporte e de comunicação.
c) Imposto sobre transmissão causa mortis e doação de quaisquer bens ou
direitos, impostos extraordinários, imposto sobre a circulação de
mercadorias e prestação de serviços de transporte e de comunicação, e
imposto sobre a propriedade de veículos automotores.
d) Imposto sobre propriedade de veículos automotores, imposto sobre a
circulação de mercadorias e prestação de serviços de transporte e de
comunicação, e o imposto sobre transmissão causa mortis e doação de
quaisquer bens ou direitos.
e) Imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços de qualquer
natureza e o imposto sobre transmissão causa mortis e doação de
quaisquer bens ou direitos.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 83


Aula 3
Exercícios de fixação
Questão 1 - C
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 7º do CTN.

Questão 2 - C
Justificativa: Resposta fundada nos arts. 7º e seguintes do CTN.

Questão 3 - A
Justificativa: Resposta fundada em conceitos doutrinários.

Questão 4 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 7º do CTN.

Questão 5 - A
Justificativa: Resposta fundada nos arts. 145, 148, 149, 153 a 156 da
Constituição.

Questão 6 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 7º do CTN.

Questão 7 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 119 do CTN.

Questão 8 - A
Justificativa: Resposta fundada em conceitos doutrinários.

Questão 9 - B
Justificativa: Resposta fundada em conceitos doutrinários.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 84


Questão 10 - D
Justificativa: Resposta decorrente da leitura do Artigo 153 §4º III e Artigo 7º
do CTN.

Questão 11 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 155 II da Constituição.

Questão 12 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 149 da Constituição.

Questão 13 - D
Justificativa: Resposta fundada na interpretação do Artigo 146 III combinada
com o artigo citado na questão.

Questão 14 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 153 da Constituição.

Questão 15 - D
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 155 da Constituição.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 85


Introdução
A distribuição dos tributos entre os entes federativos não é algo feito a esmo.
Aliás, muitas razões existem para a partilha de competências. O Brasil é um
país de dimensões continentais, o quinto maior do mundo, com mais de 8,5
milhões de km², e uma população aproximada de 201 milhões de habitantes.
Não é um país para ser governado de maneira centralizada. Então, organiza-se
através de uma federação de 26 estados membros, com cerca de 5.570
municípios. Todos estes entes com autonomia federativa própria. Para garantir
essa autonomia, é necessário ter recursos próprios. A divisão do poder de
instituir os tributos se presta a esse fim, mas não só a ele.

Afinal, no Artigo 153, vemos que a União tem sete impostos. No Artigo 155, os
Estados têm três. No Artigo 156, os municípios possuem três também. Então,
vence a máxima de que “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte
ou é bobo ou não tem arte”? Vamos ver como é isso.

Objetivo:
1. Definir repartição de receitas tributárias e sua função;
2. Distinguir as formas de repartição de receitas tributárias;
3. Identificar as vedações e as autorizações para retenção dessas repartições.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 86


Conteúdo
Conceito e funções da repartição de receitas tributárias
Funções
Na aula anterior, estudamos a competência tributária, que nada mais é do que
o mecanismo principal para garantir a autonomia financeira que mantém a
autonomia maior dos entes federativos. Mas essa distribuição não leva em
consideração critérios exclusivamente arrecadatórios, fiscais. Podemos verificar
que a maioria dos impostos de competência da União são a ela distribuídos,
pois há uma questão econômica. São eles impostos extrafiscais. Isso acaba
por gerar o que se chama de federalismo assimétrico.

Abra sua Constituição no Artigo 153 e verifique junto. Os incisos I e II tratam


dos impostos sobre o comércio exterior que não possuem, verdadeiramente,
nenhuma função arrecadatória. Eles são instituídos, majorados ou diminuídos
em virtude de questões econômicas de interesse nacional. Nos incisos IV e V, o
panorama é o mesmo. Então, já são quatro impostos que não podem ser
transferidos para outros entes.

Então, o mecanismo que se viu para corrigir eventuais distorções é o sistema


de repartição de receitas tributárias. Antes de qualquer outro comentário,
verifique que, pelo Artigo 6º do CTN, ele só transfere a receita. A competência
permanece intacta.

É correto dizer, antes de analisarmos a própria repartição de receita, que


estamos diante de um instituto de Direito Financeiro. Veja só: para avaliarmos
se estamos diante de um ramo ou de outro, vamos aproveitar para diferenciar
estes dois campos do direito.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 87


Direito Financeiro e Direito Tributário
O Direito Financeiro é o ramo do direito que estuda as normas (princípios e
regras) que regulam a atividade financeira do estado. O Direito Tributário é o
ramo do direito que estuda a instituição, fiscalização e cobrança do tributo.
Mas de nada adiantam esses conceitos se você não souber cada um dos seus
elementos. Em verdade, o conceito nos serve para individualizar algo dentro de
um grande grupo a que ele pertence.

O Direito Financeiro tem por objeto a atividade financeira do Estado. Aqui, é


importante fazer uma análise do que vem a ser essa atividade financeira, isto
porque nem tudo que está relacionado ao estado vai se submeter às regras
estritas do Direito Financeiro. Veja só: será que a atividade financeira da
Petrobras se submete às regras do Direito Financeiro? Você vai me dizer que
não. Quer ver só? Você acha que o orçamento da Petrobras é elaborado e
aprovado antes mesmo de o ano começar, como é com o governo federal?
Claro que não! Imagine se uma empresa que atua em um mercado de
concorrência internacional apresentará, antes de exercer a sua atividade, tudo
que ela fará no ano? Ela estaria em uma situação bem desfavorável na
concorrência, com todos os seus segredos publicados.

Então, quando estaremos diante de uma verdadeira atividade financeira do


estado? Para isso, são necessárias três características: 1) presença
indispensável de uma pessoa jurídica de direito público; 2) atividade de
conteúdo instrumental; 3) atividade de conteúdo econômico. Vejamos cada um
desses elementos!

Ao iniciar a análise da primeira característica, lembre-se daquela lição das


primeiras aulas de Direito: “Se ao particular é dado fazer tudo aquilo que a lei
não veda, ao Estado somente é dado fazer o que a lei autoriza ou determina”.
Assim, é que somente se submetem a essas regras as pessoas jurídicas de
Direito Público. E quem são as pessoas jurídicas de Direito Público? São os
próprios entes federativos, suas autarquias e fundações.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 88


Ao lado dessas pessoas jurídicas de Direito Público, o Estado criou as Empresas
Públicas e as Sociedades de Economia Mista que representam o Estado, pois
constituem sua Administração Pública indireta, como as autarquias e fundações,
mas que são constituídas como pessoas jurídicas de direito privado. Isso
porque atuam, muitas vezes, no mercado como os próprios particulares.
Precisam dessa estrutura para exercerem suas atividades. Precisam ser
tratados, muitas vezes, como particulares para não violarem as próprias regras
de concorrência.

Então, empresas como a Petrobras não estão diretamente submetidas às regras


do Direito Financeiro – estarão, é claro, tratadas por ele, pois, de certa forma,
compõem o patrimônio de pessoas jurídicas de Direito Público e assim estarão
no orçamento destas.

A segunda característica é bastante peculiar da atividade financeira do Estado –


atividade de conteúdo instrumental. No mais das vezes, os particulares se
associam em torno de um único interesse. Afora os sentimentos altruístas que
governam os homens dotados de uma sobre-humana nobreza de espírito, o
homem se reúne a outro homem visando ao lucro, visando ao dinheiro. A união
é dada pelos mais diversos motivos, mas o objetivo comum é gerar riqueza. É
assim que o ser humano se reúne a outro de forma individual.

Contudo, quando se trata da formação da sociedade, do Estado, esse não pode


ser o objetivo. O objetivo não pode ser inicialmente gerar riqueza para si. O
objetivo deve ser alcançar aquilo que, para cada sociedade, para cada Estado,
seja concebido como o conjunto das necessidades públicas.

Nossa Constituição é daquelas mais recentes, que arrola quais são seus
objetivos fundamentais, as necessidades da sociedade, do povo brasileiro. E,
dentre eles, não encontramos a geração de riquezas individuais.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 89


É por isso que muitos de nossos governantes são criticados quando
desenvolvem excelentes medidas de apoio às grandes empresas e instituições
financeiras, sem exigir qualquer contrapartida, sem sequer lhes exigir limites de
demissões.

De nada adianta um país com empresas fortes, se as pessoas estão famintas,


falecendo de suas necessidades principais. É por isso que a questão financeira é
apenas instrumento para o atendimento das necessidades públicas. Trocando
em miúdos: o Estado não pode ter objetivo de lucro, aliás, o lucro não é
desejado, ele é um defeito – resultado de gastos públicos devidos, mas não
realizados, ou de arrecadação maior do que a necessária.

E a terceira característica é atividade de conteúdo econômico, que é capaz de


diferenciar o Direito Financeiro do Direito Administrativo. No Direito
Administrativo, estudam-se as atividades do Estado como um todo. Aqui,
somente aquilo que corresponde à obtenção de recursos para a realização dos
gastos voltados ao atendimento das necessidades públicas.

E dessas características podemos extrair os objetos da atividade financeira do


estado: a receita e o crédito públicos, a despesa pública e o orçamento público.
Os dois primeiros constituem os ingressos – obtenção de recursos necessários.
A receita é o ingresso que se incorpora ao patrimônio público, e o ingresso é o
recurso que não se incorpora ao patrimônio público, logo deverá ser restituído à
sua fonte.

A despesa pública é o gasto do dinheiro público, é o dinheiro saindo das contas


do tesouro. E o orçamento é, por fim, o mecanismo que torna isso possível,
uma vez que é ele a lei, emanada do poder legislativo, que autorizará o
exercício da atividade financeira do estado.

E ao que corresponde o Direito Tributário?

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 90


Ora, aqui não é novidade. É do que temos tratado nesta disciplina até agora! É
o estudo das regras relativas à instituição, à fiscalização e à cobrança dos
tributos.

A instituição corresponde à competência tributária – poder de legislar


instituindo tributos. E a fiscalização e a cobrança correspondem à capacidade
tributária ativa.

Então, por que razão o que vamos estudar cuida mais de Direito Financeiro do
que de Direito Tributário? Tenho uma chave para facilitar a sua conclusão!
Quando você estiver diante de uma situação que cuide do patrimônio do estado
sem qualquer relação com a sua origem, origem que seja necessariamente do
patrimônio de outro, obtida decorrente do poder de império e através de lei,
estamos diante de algo que deve ser objeto do Direito Financeiro. Se, por outro
lado, a situação tratar de um conflito entre o Estado e um particular, ou alguém
qualquer que esteja devendo um pagamento ao Estado – pagamento fundado
em seu poder de império – estaremos diante do Direito Tributário.

E de que trata o tema desta aula? Da relação “intra”-Estado ou “extra”? Qual


questão afeta ao próprio patrimônio estatal ou ao nosso patrimônio? Ora, o
nosso estudo nesta área se debruça sobre o dinheiro público e a quem ele cabe
depois de arrecadado. Trata de transferências obrigatórias que cada ente
federativo deve fazer a outro. Assim, no estudo do Direito Financeiro, trata de
um gasto público – para aquele que arrecadou e terá que transferir ao outro –
e de uma receita pública – para aquele que permanecerá com o recurso.

Conceito e funções da repartição de receitas tributárias


Conceito
Esse sistema “é a ‘entrega’ de parcela da arrecadação aos demais
entes federativos” (CARNEIRO, 2012, p. 369).

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 91


Assim é que a arrecadação da União é bem maior que a arrecadação dos
estados e municípios; a dos estados maior que a dos municípios. Então,
determina a Constituição que eles dividam entre si o produto daquilo que
arrecadarem, sempre do ente “maior” para o ente “menor”.

Essa repartição está nos Artigos 157 a 162 da Constituição. Se você verificar, a
distribuição é praticamente só de impostos. Não sei se você já sabe, ou
consegue deduzir o motivo. Esse é o tributo que possui, como elemento
diferenciador, não possuir destinação específica; assim, é possível dividir entre
os entes federativos. Claro! Se houvesse destinação, qualquer divisão poderia
prejudicar a respectiva despesa.

Essa repartição merece controle de todos os entes federativos, de tal forma que
a Constituição determinará a publicação da receita que foi repartida até o
último dia do mês subsequente.

Formas de repartição das receitas tributárias


Introdução
A doutrina majoritária divide as formas de repartição em dois grupos: direta e
indireta. Entretanto, para sermos mais detalhistas, vamos traçar ainda mais
uma subdivisão na tentativa de apresentarmos um trabalho sempre minucioso.
A repartição de receitas pode ser dividida em três espécies: direta
propriamente dita, direta por retenção e indireta ou por fundos.

Direta propriamente dita: Temos a forma mais elementar e simplista de


repartição. O ente federativo competente institui e arrecada o tributo; em
seguida, ele retira um percentual determinado pela Constituição e entrega ao
ente federativo destinatário.

Essa forma merece um controle maior por parte dos destinatários, uma vez que
pode haver conflito entre os entes federativos relativamente à prestação de
contas quanto ao efetivamente arrecadado. É por esse motivo que vimos

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 92


anteriormente a regra do Artigo 162, que estabelece o dever de transparência
do ente arrecadador.

a.1) No Artigo 157, encontramos as transferências constitucionais obrigatórias


da União para os estados. O inciso II trata da transferência de 20% do produto
da arrecadação do imposto residual. Assim, se a União decidir instituir um
tributo, deverá transferir 1/5 do que arrecadar para os estados. Até hoje a
União não criou nenhum imposto novo, portanto, essa transferência não se
efetivou. Os estudiosos apontam a existência dessa regra como a causa para a
União não ter exercido essa competência, e há nisso certa razão.

Hoje o tributo que mais cresce em novidade é a contribuição especial. A União


vem nos últimos anos criando várias contribuições. A rigor, as contribuições
geram um maior controle por possuírem necessariamente destinação específica.
Isso engessa, de certa forma, o executivo, que deve ficar preso quanto ao
gasto destas. Por outro lado, sobre as contribuições, à exceção da Cide
combustíveis, não incide regra de repartição, o que faz com que todo o trabalho
e custo arrecadatório se reverta exclusivamente em favor da União.

a.2) No Artigo 153, §5º, I, da CR, encontramos a regra que determina a


repartição direta do produto da arrecadação do IOF sobre o ouro, como ativo
financeiro, da União para os estados, e, no inciso II, a transferência da União
para os municípios. Em verdade, esse imposto tem notável função extrafiscal.
Senão, qual seria o interesse que a União teria em instituí-lo para fiscalizá-lo e
cobrá-lo sem qualquer proveito? Sim. Do total arrecadado, 30% pertence aos
estados e 70% aos municípios. A União não permanece com nada. Todo o
produto arrecadado é entregue a estados e municípios.

a.3) No Artigo 159, II, e, §3º, a Constituição regula a transferência da União


para os estados de 10% do produto da arrecadação do IPI relativamente às
exportações (se houver). Os estados também deverão repartir o que recebem
da União, entregando ¼ aos municípios. Sendo assim, à União, caberá 90%,

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 93


aos estados 7,5%, e aos municípios 2,5% do produto da arrecadação do IPI
sobre as exportações. Há, por assim dizer, uma dupla transferência.

a.4) No Artigo 159, III, é determinada a repartição entre União e estados de


29% do produto da arrecadação da Cide combustíveis que deverá ser aplicada
em financiamento de programas de infraestrutura de transportes. Por sua vez,
nem tudo caberá aos estados, que entregarão aos municípios ¼ do que lhes
couber também aos municípios, conforme previsão expressa no §4º do mesmo
artigo. Assim, para simplificar, a União fica com 71%, os estados com 21,75%
e os municípios com 7,25%.

a.5) Outra forma de repartição direta é a transferência do ITR da União para os


municípios. A União transfere aos municípios a metade do que arrecadar. Aqui
estamos tratando da hipótese em que o município prefere não firmar convênio
para fiscalizar e cobrar pessoalmente. A hipótese em que a capacidade
tributária ativa é transferida para o município será vista na hipótese de
repartição direta por retenção.

a.6) Dos estados para os municípios temos a transferência de metade do


produto da arrecadação do IPVA. Daí, podemos verificar o interesse dos
municípios na fiscalização desse tributo. Aliás, é por esse motivo que o veículo
vem a ser licenciado no município, pois a divisão é feita em função dessa
divisão.

a.7) Também dos estados para os municípios, temos a repartição do ICMS


entre ambos: aqueles ficam com 75% e estes com 25%. A parcela que é
transferida aos municípios será dividida de duas formas: três quartos, no
mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações relativas à circulação
de mercadorias e nas prestações de serviços realizadas em seus territórios; e
até um quarto, conforme lei estadual.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 94


Algumas leis dividem a parcela dos municípios segundo critérios de proteção ao
meio ambiente. É o chamado ICMS ecológico ou ICMS verde. Ele pode servir
para estimular a conservação da biodiversidade, considerando o percentual de
áreas de conservação nos territórios dos municípios, por exemplo. O ICMS
ecológico nada mais é do que o conjunto de critérios ambientes utilizados para
determinar a participação de cada município em parcela do ICMS arrecadado
pelo estado onde está localizado. Ao final, sugerimos uma atividade para que
você possa conhecer melhor essa novidade.

Direta por retenção: O próprio destinatário do tributo é encarregado de sua


arrecadação, quer por haver delegação da capacidade tributária ativa, quer por
estarmos diante de uma hipótese de responsável por substituição quando
tratamos de tributo retido na fonte.

Destacamos essa hipótese, pois ela gera um problema que é a quem direcionar
a ação quando há uma retenção indevida. Deve ser direcionada ao arrecadador
ou ao ente competente? Se, por um lado, o cumprimento das obrigações
acessórias, como é o exemplo da declaração de ajuste anual do imposto de
renda, deve se dar diretamente à União, por outro lado, na hipótese de
repetição de indébito, a demanda é formada por quem teve o empobrecimento
indevido (o contribuinte) e por quem teve o enriquecimento indevido (o ente
federativo que fez a retenção).

O STJ editou a súmula 447 que diz que “os Estados e o Distrito Federal são
partes legítimas na ação de restituição de imposto de renda retido na fonte
proposta por seus servidores”. É claro que o mesmo entendimento deve ser
aplicado nas outras hipóteses de repartição por retenção.

b.1) Comecemos a analisar justamente esta primeira hipótese quanto ao


imposto de renda que incumbe aos estados e municípios realizar a retenção
como substitutos. Nessas hipóteses, o ente federativo competente é a União

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 95


Federal, que vai legislar e determinar todos os aspectos da obrigação tributária
relativa a ele.

Porém, é sabido que quem faz o recolhimento do IR não é o próprio


contribuinte quando a fonte pagadora é uma pessoa jurídica. Nesses casos,
quem recolhe o tributo é a fonte. Bom, em relação a estados e municípios
(inclusive suas autarquias e fundações), o imposto de renda resultado dessa
retenção sobre as remunerações, ao invés de ser recolhido aos cofres do
Tesouro Nacional, será retido na conta daquela fonte pagadora como forma de
repartição por retenção. Isso pode ser conferido nos arts. 157, I, e 158, I, da
CR.

b.2) Outra hipótese que já foi vista pela metade é a prevista no inciso II do art.
158 da CR. Vimos, como forma de repartição direta propriamente dita, que toda
vez que a União fiscalizar e cobrar o ITR, metade dele será entregue ao
município onde estiver localizado o imóvel. Mas como fica se o imposto for
fiscalizado e cobrado pelo próprio município em hipótese de delegação de
capacidade tributária ativa?

Aliás, qual seria o interesse da União em transferir esse tributo? E qual seria o
interesse do município em arcar com a arrecadação? Como vimos, para a
União, esse tributo é extrafiscal e dá enorme trabalho arrecadar. Imagine para
a União criar uma estrutura para fiscalizar cada propriedade rural no imenso
território brasileiro. Então, na verdade, ele é muito mal fiscalizado. Imagine
ainda mais que a alíquota varia em função não só do tamanho do imóvel, mas
também da utilização. Isso significa dizer que a fiscalização deve ser constante,
próxima ao contribuinte. Se isso não ocorrer, o tributo não cumpre a sua
função e nem gera a arrecadação devida.

Então, a União transfere ao município a arrecadação e este se incumbe de


fiscalizar, o que satisfaz a União. Mas você pode se perguntar: o que o
município ganha com isso? Simples. O município, a teor do art. 158, II, se não

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 96


exercer a capacidade tributária ativa, ficará com metade do que a União
arrecadar. Se o município exercer essa função, ele ficará com a totalidade do
ITR arrecadado, em razão de repartição de receita de impostos direta por
retenção.

Indireta ou por fundos: Nesse caso, os tributos serão entregues a um fundo


que será responsável por repartir de forma equitativa.

c.1) O Fundo de Participação dos Estados recebe 21,5% do produto da


arrecadação do IR e IPI. Lei Complementar, na forma do Artigo 161 da CR,
determina como esses recursos serão distribuídos entre os estados. Essa é a LC
nº 62/89, mas que teve dispositivos declarados inconstitucionais por não
cumprir sua finalidade principal, ou seja, prever critérios para repartição
adequados. Foi então que houve a aprovação da LC nº 143, de 17 de julho de
2013.

c.2) O Fundo de Participação dos Municípios recebe 22,5% do produto da


arrecadação do IPI e do IR. Além disso, recebe também mais 1%, que será
entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano.

c.3) Há ainda fundos regionais, que receberão 3% da arrecadação do IPI e


do IR, especialmente para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste,
sendo que a metade destes recursos deverá ser destinada exclusivamente ao
semiárido do Nordeste.

c.4) E, por fim, o Fundo de Compensação de Exportação, previsto no


Artigo 159, II, da CR, para o qual serão destinados 10% do produto da
arrecadação do IPI, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de
produtos industrializados, limitado a 20% do montante, devendo eventual
excedente ser distribuído entre os demais participantes.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 97


Vedações e autorizações para retenção das repartições de
receitas tributárias
Fundamento constitucional
Em 1999, uma notícia trouxe o ex-Presidente Itamar Franco de novo ao centro
do cenário político. Em janeiro daquele ano, o então Governador do Estado de
Minas Gerais informou que estava se concedendo uma moratória, ou seja, que
o Estado de Minas Gerais não honraria com seus débitos perante a União
Federal.

Em resposta, seu antigo aliado político, que pertenceu ao seu governo e


responsável por implementar o Plano Real, Fernando Henrique Cardoso,
realizou o bloqueio nas transferências intergovernamentais devidas pela União
ao Estado de Minas Gerais.

O Governador de Minas Gerais classificou aquele ato do Presidente da


República como uma verdadeira “intervenção branca”. É claro que não se
tratava de uma intervenção federal, pois o executivo não foi retirado de seu
posto. O que ocorreu foi que o Estado de Minas Gerais, que já se encontrava
em dificuldades financeiras, viu agravada sua condição.

A resposta do Presidente da República foi simples e objetiva.

“Um governo não é uma pessoa, é um ente público, e quando um governo


assume um contrato, este contrato tem de ser mantido, qualquer que seja o
governante”. Assim é que a medida adotada por ele, ao incrível que pareça,
encontra respaldo na Constituição.

A Federação
E o que podemos extrair dessa discussão? Estamos diante de um dos valores
mais altos de nosso país: a Federação. Veja que o governador de Minas Gerais
chegou a falar até em “intervenção federal”. Intervenção federal é medida que

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 98


excepciona a federação, pois retira do poder o chefe do executivo de um dos
entes federativos por outro ente federativo.

Para abordarmos melhor o tema, consideramos relevante estreitarmos o


conceito de federação com o instituto da repartição de receitas, até para que
você entenda como a medida adotada pelo ex-Presidente Fernando Henrique
foi constitucional, mas como ela se apresenta como uma medida excepcional.

A constituição de uma federação se dá pela existência de interesses comuns


para ocupantes de um extenso território, mas que, por outro lado, são dotados
de características locais ou regionais que os diferenciam. Essas características
regionais ou locais podem ser de ordem cultural, mas também podem ser
sociais ou econômicas. Assim é que estados e municípios necessitam de
administração local que cuide de suas características e necessidades
específicas.

Por certo que, não somente por condições financeiras, diferenciam-se estados
das cinco regiões do país. Os gastos e os instrumentos de arrecadação são
diversos. A economia é diferente. Se, na Região Sudeste, atividades industriais
e comerciais predominam, na Região Centro-Oeste, a atividade rural é a mais
importante. Assim, os tributos arrecadados são distintos e os programas sociais
e investimentos de governo também são distintos.

Necessário é estar perto do cidadão para identificar essas características. A


União não seria capaz disso. Por outro lado, nenhum estado, muito menos
município, poderia arrecadar dos mais ricos para atingir o interesse de um
reequilíbrio das diversas regiões do país.

A arrecadação concentrada nas mãos do Governo Federal não se dão por


exclusivos interesses políticos, como já vimos. No Brasil, as transferências
correspondem a importante parcela das receitas dos estados e municípios. A

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 99


arrecadação realizada pela União e a distribuição feita pelos estados e
municípios pode importar em redistribuição de riquezas.

Vedação de retenção de repasses


Com certeza, já ficou claro para você que estamos diante de uma questão afeta
ao pacto federativo. A divisão desses recursos é algo que pretende corrigir o
federalismo assimétrico brasileiro. No Brasil, há entes federativos mais ricos em
questões de impostos do que outros, como fica evidente quando comparamos a
União com qualquer outro ente.

É por isso que a Constituição deixa expresso, no Artigo 160, que é vedada a
retenção desses recursos. A regra geral é esta: não pode um ente federativo
pretender colocar o outro ente à sua dependência por via de bloqueio de
repasses. Mas, veja, essa é a regra geral. Diga-se, por oportuno, que nenhum
ente federativo pode criar condições outras para esse repasse. O Estado de
Sergipe, por exemplo, quis estabelecer condições, e o STF se pronunciou neste
sentido:

“Constituição do Estado de Sergipe. ICMS. Parcela devida aos Municípios.


Bloqueio do repasse pelo Estado. Possibilidade. É vedado ao Estado impor
condições para entrega aos Municípios das parcelas que lhes compete na
repartição das receitas tributárias, salvo como condição ao recebimento de seus
créditos ou ao cumprimento dos limites de aplicação de recursos em serviços de
saúde (CF, Artigo 160, parágrafo único, I e II). Município em débito com o
recolhimento de contribuições previdenciárias descontadas de seus servidores.
Retenção do repasse da parcela do ICMS até a regularização do débito.
Legitimidade da medida, em consonância com as exceções admitidas pela CF.”
(ADI 1.106, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 5-9-2002, Plenário, DJ de
13-12-2002.)

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 100


Exceções para retenção de repasses
Aqui, não fugimos à máxima “toda regra tem uma exceção”. E não é somente
uma, são duas. Antes de falarmos dessas exceções, vamos deixar claro que são
somente essas.

O primeiro argumento, que inadmite outras exceções, é uma questão de


hermenêutica. Normas excepcionais devem ser interpretadas de forma
restritiva. Exceção se interpreta restritivamente, para que não se torne a regra,
para que não seja mais do que uma exceção.

O segundo argumento é o de que tratamos de norma constitucional que trata


algo que pode colocar em risco o pacto federativo. E sobre esse ponto é claro
que não pode haver sequer proposta de emenda constitucional, como deixa
claro o Artigo 60, § º, I, da CR.

Antes, contudo, de verificarmos as hipóteses previstas na Constituição,


necessário se faz chamar a atenção para hipótese prevista no Artigo 11,
parágrafo único, da LC nº 101/00 – Lei de Responsabilidade Fiscal. Quando
essa lei foi publicada, houve uma ação direta de inconstitucionalidade,
alegando-se que cuidava de uma hipótese de retenção ali determinada fora
daquelas que vamos ver autorizadas na Constituição.

A norma não foi declarada inconstitucional pois, a bem da verdade, as


transferências que estavam vedadas naquela lei não eram transferências
obrigatórias, das que vimos acima, mas, sim, transferências voluntárias. E esse
bloqueio não foi proibido. O objetivo da Lei de Responsabilidade Fiscal foi vedar
que um ente federativo se constituísse em dependente das benesses de outro
ente. Assim foi a decisão:

"Medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade. LC 101, de 4-5-2000


(Lei de Responsabilidade Fiscal). MP 1.980-22/2000. (...) LC 101/2000. Vícios
materiais. Cautelar indeferida. (...) Artigo 11, parágrafo único: por se tratar de

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 101


transferências voluntárias, as restrições impostas aos entes beneficiários que se
revelem negligentes na instituição, previsão e arrecadação de seus próprios
tributos não são incompatíveis com o Artigo 160 da CF." (ADI 2.238-MC, Rel. p/
o ac. Min. Ayres Britto, julgamento em 9-8-2007, Plenário, DJE de 12-9-2008).

Das hipóteses
Conheça as possibilidades hipotéticas de bloqueio:
1ª hipótese
A primeira hipótese que autoriza o bloqueio diz respeito à garantia dos créditos
do ente que está repassando o tributo. Curiosamente, aqui vemos que alguns
julgadores do TRF da 4ª Região teria exercido a opção pela teoria dualista que
veremos na primeira aula da próxima disciplina. Segundo essa teoria, apesar de
a obrigação tributária nascer com o fato gerador, o crédito tributário nasce
somente com o lançamento. Nesse sentido, há julgados que somente admitem
o bloqueio do repasse, em se tratando de crédito tributário, após o devido
lançamento. É o que você pode ler no AMS 1999.71.005108-0 da 1ª Turma do
TRF da 4ª Região. Mas isso não é pacífico.

Outro ponto importante é que cuidamos de créditos de outro ente federativo ou


sua autarquia. Significa dizer que, se há crédito de uma sociedade de economia
mista ou empresa pública, não poderá ser garantido com esse instrumento.
Nesse sentido, por evidente, já se posicionou o STF: "Contraria a essência do
Direito Público a representação do município por pessoa jurídica de direito
privado. (...) Discrepa, a mais não poder, da Lei Fundamental a retenção e a
compensação de verbas municipais com débito de energia elétrica perante a
sociedade de economia mista“. (RE 396.989, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 4-10-2005, Primeira Turma, DJ de 3-3-2006).

2ª hipótese
A segunda hipótese é para o cumprimento do disposto no Artigo 198, § 2º, II e
III, da CR. Aqui temos a questão relativa aos percentuais da arrecadação em
ações e serviços públicos de saúde previstos no orçamento, na Lei

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 102


Orçamentária Anual. O problema, durante muito tempo, era a questão relativa
ao que eram os gastos mínimos com saúde. A LC nº 141/2012 cuidou de
estabelecer esses critérios.

E para concluirmos esta aula com algo bastante intrigante, esse é um


mecanismo que tenta dar alguma efetividade à regra do Artigo 198 da CR. Isso
porque, em caso de falta de previsão de gastos mínimos com educação e saúde
no orçamento, o que pode ser feito é buscar a declaração de
inconstitucionalidade da Lei Orçamentária Anual. Alcançando esse objetivo,
faltará elaborar uma nova lei orçamentária para aquele ano. Se a nova lei
orçamentária vier com a mesma falha, a solução é iniciar o processo
novamente, tantas vezes quantas o fato se repetir. Então, não é solução! O
mecanismo é forçar o administrador a fazer essa previsão, cortando seus
recursos. Quem paga é o cidadão.

Atividade proposta
Acesse o site que trata do ICMS ecológico http://www.icmsecologico.org.br/ e
identifique como os Estados podem utilizar a repartição de receitas tributárias
como forma de estimular os Municípios a realizar investimentos relativos à
proteção do meio ambiente.

Chave de resposta: Os Estados que possuem o ICMS ecológico são: Acre,


Amapá, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás,
Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul.

Os Estados que não possuem o ICMS ecológico são: Roraima, Amazonas,


Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo,
Distrito Federal e Santa Catarina.

Em 1996, foi considerado pela Fundação Getúlio Vargas, uma das cem
experiências mais importantes em administração pública no Brasil. Ainda no

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 103


mesmo ano, foi considerada pelo Ministério do Meio Ambiente, uma das cem
experiências exitosas em gestão ambiental para o desenvolvimento sustentável,
na Rio + 5.

Um ano após, em 1997, ganhou o prêmio Henry Ford de Conservação


Ambiental, na Categoria “Negócios em Conservação”, organizado pela
Conservação Internacional do Brasil – CI, com apoio da Ford do Brasil Ltda.

Mais recentemente, em 2008, a edição de n.º 2.077 da revista Veja promoveu


o encontro de diversas personalidades para discutir e propor ações para um
Brasil melhor e, no rol de 40 prioridades totais, no tópico ambiental teve
destaque o ICMS Ecológico como mecanismo de premiação às prefeituras pela
preservação ambiental.

Aprenda Mais

Material complementar

Para saber mais sobre os assuntos discutidos até agora, assista ao


vídeo sobre o fundo de participação dos estados, disponível em
nossa galeria de vídeos.

Para conhecer mais sobre as possibilidades de bloqueio do Fundo de


Participação dos Estados, leia a artigo disponível em nossa biblioteca
virtual.

Referências
ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
CARNEIRO, Claudio. Curso de Direito Tributário e Financeiro. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 104


TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e
Tributário. v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz
da doutrina e da jurisprudência. 15. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2013.

Exercícios de fixação
Questão 1
De acordo com o que estabelece a Constituição Federal, o IPVA é tributo de
competência estadual e 50% de sua receita deve ser repassada aos municípios,
observados os critérios constitucionais para isto.
Nesse sentido, considere:
I. As atribuições do Estado do Rio de Janeiro para arrecadar o crédito tributário
do IPVA e para fiscalizá-lo são delegáveis aos municípios fluminenses,
relativamente aos veículos neles licenciados.
II. A competência do Estado do Rio de Janeiro para instituir o IPVA é delegável
aos municípios fluminenses, em cujos territórios os proprietários de veículos
tenham seus domicílios.
III. Caso o Estado do Rio de Janeiro decida por não exercer sua competência
tributária, tal fato só deferirá esta competência aos municípios fluminenses que
tiverem veículos licenciados em seus territórios.
IV. O Estado do Rio de Janeiro tem competência legislativa plena em relação ao
IPVA, ressalvadas as limitações contidas na Constituição Federal e na
Constituição Estadual Fluminense.
V. O fato de os municípios fluminenses terem direito a receber 50% da receita
do IPVA não retira a competência do Estado do Rio de Janeiro para legislar
sobre este imposto, mas permite o compartilhamento da atividade legislativa
em relação às obrigações tributárias acessórias.
Com base no CTN, está correto o que se afirma APENAS em:
a) IV e V
b) I e II
c) III e V
d) II e III
e) I e IV

Questão 2
No que tange à repartição das receitas tributárias, o tributo cujo produto da
arrecadação não sofre nenhum tipo de divisão é o imposto:

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 105


a) Sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação.
b) De renda e proventos de qualquer natureza.
c) Sobre produtos industrializados.
d) Sobre a propriedade predial e territorial urbana.
e) Sobre a propriedade de veículos automotores.

Questão 3
A respeito da repartição da receita tributária, assinale a opção correta.
a) Nenhum imposto municipal sofre repartição do tributo de sua
arrecadação.
b) Todos os impostos estaduais têm o produto de sua arrecadação
repartidos.
c) Cinquenta por cento do produto da arrecadação dos impostos sobre
importação e exportação pertencem aos estados, conforme a origem.
d) Segundo o STJ, quando um servidor público estadual pretende obter
isenção de imposto de renda retido na fonte, a União deve ocupar o polo
passivo de eventual demanda judicial, haja vista ser o ente competente
para instituí-lo.
e) O município tem direito a 25% do produto da arrecadação do IPVA de
veículos licenciados em seu território.

Questão 4
O tributo cuja receita não se submete a repartição de natureza constitucional é
o imposto sobre:
a) Circulação de mercadorias e serviços.
b) Produtos industrializados.
c) Importação de produtos estrangeiros.
d) Propriedade territorial rural.
e) Propriedade de veículos automotores.

Questão 5
Em nosso sistema tributário, em termos de distribuição de receitas:
a) Estados e Municípios não participam da arrecadação de contribuições
sociais.
b) Somente a União participa da arrecadação da CIDE.
c) Somente a União e os Estados participam da arrecadação da CIDE.
d) A União, os Estados e Municípios participam, em condições de igualdade,
da arrecadação da CIDE.
e) A União, os Estados e Municípios participam da arrecadação da CIDE,
cabendo à União um maior percentual.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 106


Questão 6
Assinale a opção correta a respeito da repartição das receitas tributárias.
a) Apesar de constar no texto constitucional a expressão repartição das
receitas tributárias, a CF prevê apenas a repartição dos impostos
arrecadados, excluídos da repartição os demais tributos.
b) As receitas tributárias devem ser repartidas sempre, de forma direta,
entre as pessoas políticas destinatárias, sendo expressamente vedado na
CF o repasse a qualquer fundo de participação vinculado aos entes
federativos.
c) Pertencem aos municípios cinquenta por cento do produto da
arrecadação do imposto do estado sobre a propriedade de veículos
automotores licenciados em seu território.
d) A determinação constitucional de repartição das receitas tributárias
infirma o pacto federativo.
e) De acordo com o princípio federativo adotado pela CF, a União, os
estados, o DF e os municípios deverão realizar repasses e repartir suas
respectivas receitas tributárias.

Questão 7
Com relação às normas de repartição das receitas tributárias, assinale a opção
incorreta.
a) No sistema tributário brasileiro, a repartição das receitas tributárias
abrange os impostos e a contribuição de intervenção no domínio
econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de
petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool
combustível (CIDE- combustíveis).
b) Ao Distrito Federal pertence a metade do produto do imposto de renda
incidente na fonte sobre os rendimentos pagos, a qualquer título, por
ele, por suas fundações públicas e autarquias.
c) Se determinado município optar por fiscalizar e cobrar o imposto sobre a
propriedade territorial rural (ITR), de competência da União, este não
poderá implicar redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia
fiscal, e a integralidade do produto de sua arrecadação caberá ao
município.
d) A Constituição Federal determina que metade dos recursos do fundo
para os programas de financiamento ao setor produtivo das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste que forem destinados à região Nordeste
será assegurada ao semi-árido nordestino.
e) Se a União decidir exercer a sua competência residual, ela deverá
entregar aos Estados 20% do produto da arrecadação oriunda deste.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 107


Questão 8
Assinale a opção que indica a forma em que deve ser partilhado o produto da
arrecadação do IOF incidente sobre o ouro, quando esse for definido em lei
como ativo financeiro ou instrumento cambial.
a) 50% para o estado, o Distrito Federal ou o território, conforme a origem
e 50% para o município de origem.
b) 70% para o estado, o Distrito Federal ou o território, conforme a origem
e 30% para o município de origem.
c) 30% para o estado, o Distrito Federal ou o território, conforme a origem
e 70% para o município de origem.
d) 20% para o estado, o Distrito Federal ou o território, conforme a origem
e 80% para o município de origem.
e) 40% para o estado, o Distrito Federal ou o território, conforme a origem
e 60% para o município de origem.

Questão 9
Os Municípios podem optar, na forma da lei, desde que não implique redução
do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal, pela fiscalização e
cobrança do Imposto Territorial Rural (ITR), relativamente aos imóveis neles
situados, caso em que, do produto da arrecadação do referido imposto, terão
direito a:
a) Vinte e dois e meio por cento.
b) Vinte e cinco por cento.
c) Trinta por cento.
d) Cinquenta por cento.
e) Totalidade.

Questão 10
A remuneração que os Municípios pagam a seus servidores está sujeita à
incidência do Imposto sobre a Renda retido na fonte (IR-Fonte). Assinale a
alternativa que indica o ente público ao qual pertence o produto da arrecadação
do IR- Fonte nesse caso específico.
a) Ao Município que efetua o pagamento da remuneração.
b) À União.
c) Ao Estado em que está situado o Município que efetua o pagamento da
remuneração.
d) Metade à União e metade ao Município que efetua o pagamento da
remuneração.
e) A União, os Estados e Municípios em quotas iguais.

Questão 11

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 108


A repartição das receitas tributárias é uma regra de relevo constitucional que
cuida do pacto federativo. Assim cria as chamadas transferências obrigatórias
que não podem deixar de ser repassadas salvo poucas exceções. Dentre as
exceções se encontra:
a) Garantia de créditos da Administração Direta e Indireta.
b) Garantia de créditos do ente federativo e de suas autarquias.
c) Garantia de créditos do ente federativo.
d) Garantia de destinação justa de recursos públicos.
e) Garantia de prestação de contas ao TCE.

Questão 12
Avalie as assertivas abaixo e indique as opções corretas.
I – o repasse das transferências pode ser livremente bloqueado quando se trate
de transferências voluntárias
II – o bloqueio das transferências voluntárias pode ser estabelecido na
Constituição Estadual no que tange às transferências do Estado para os
Municípios
III – o bloqueio das transferências obrigatórias é regulado exclusivamente pela
Constituição
IV – o bloqueio das transferências poderá depender dos gastos com educação
a) Nenhuma afirmativa é correta
b) Apenas a afirmativa I é correta
c) Apenas a afirmativa II é incorreta
d) Apenas a afirmativa III é correta
e) Todas as afirmativas são corretas

Questão 13
Analise as afirmativas abaixo e indique a correta.
a) A transferência de receitas intergovernamentais se presta a reequilibrar a
distribuição de rendas na federação.
b) A transferência voluntária não se submete a nenhuma condição legal.
c) A transferência obrigatória pode se dar do Município para o Estado.
d) O bloqueio é medida excepcional que somente pode ser realizado nas
hipóteses previstas na Constituição, por se constituir em verdadeira
quebra do pacto federativo.
e) O Artigo 160 pode ser livremente emendado pois não trata de hipótese
que a Constituição erige à qualidade de cláusula pétrea.

Questão 14
Os maiores devedores da União e de sua autarquia federal – INSS são os
Municípios. É possível que se utilizem de qual instrumento de cobrança:
a) Bloqueio das transferências intergovernamentais

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 109


b) Intervenção do estado no município
c) Expropriação de imóveis públicos
d) Penhora on line
e) Incorporação do município

Questão 15
As parcelas dos fundos de participação podem ser bloqueadas ante a
inadimplência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios junto ao
governo federal e suas autarquias, bem como para cumprimento do disposto no
Artigo 198, § 2º, incisos II e III da Constituição Federal. Esse bloqueio encontra
respaldo no parágrafo único do Artigo 160 da CF, com a redação dada pela
Emenda Constitucional nº 29/2000.
O bloqueio e o desbloqueio – que se dá com a regularização da inadimplência
ou o cumprimento do disposto no Artigo 198, § 2°, incisos II e III da CF – são
da competência dos órgãos federais, entre os quais destacamos, exceto:
a) Órgãos regionais da Secretaria da Receita Federal do Brasil, quanto aos
débitos relativos ao Pasep.
b) Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, quando se tratar de débitos
inscritos na dívida ativa da União.
c) Instituto Nacional do Seguro Social, com relação aos débitos
previdenciários.
d) Tribunais de Contas, quando forem verificadas irregularidades ou nos
casos de descumprimento de suas determinações, relativas ao Artigo 198
§2º.
e) Pagamento de débitos para com Furnas no que tange ao fornecimento
de energia elétrica.

Aula 4
Exercícios de fixação
Questão 1 - E
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 155, III, e Artigo 158, III, da
Constituição e Artigo 7º do CTN.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 110


Questão 2 - D
Justificativa: Resposta fundada nos arts. 157 a 162 da Constituição que não
preveem qualquer repartição de tributo municipal, o que decorre da lógica que
fundamenta a repartição.

Questão 3 - E
Justificativa: Resposta fundada na interpretação dos arts. 157 a 162 e na lógica
do sistema de repartição de receitas que retira dos entes federativos maiores
para aqueles mais próximos do contribuinte.

Questão 4 - C
Justificativa: Resposta fundada nos Artigo 157 a 159 da Constituição que só
preveem a transferência dos outros tributos.

Questão 5 - E
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 159 da Constituição que traz uma
exceção à regra de que somente os impostos possuem transferências
obrigatórias.

Questão 6 - C
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 158 III da Constituição.

Questão 7 - B
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 158 I da Constituição, a destinação é
da totalidade.

Questão 8 - C
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 153 §5º da Constituição.

Questão 9 - E
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 158 II da Constituição.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 111


Questão 10 - A
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 158 I da Constituição.

Questão 11 - E
Justificativa: Resposta fundada no parágrafo único do Artigo 160 da
Constituição.

Questão 12 - C
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 160 da Constituição.

Questão 13 - D
Justificativa: Resposta fundada em conceitos doutrinários, que estabelecem a
relação entre federação e repartição de receitas.

Questão 14 - E
Justificativa: Resposta fundada no Artigo 160 da Constituição.

Questão 15 - E
Justificativa: Resposta fundada no parágrafo único do Artigo 160 da
Constituição.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 112


Carolina Barboza Lima Barrocas é Mestre em Direito e Especialista em
Direito Tributário e Direito Público pela Universidade Cândido Mendes (UCAM).
Atualmente, é advogada e professora das disciplinas Direito Tributário, Direito
Financeiro e Direitos Humanos da UCAM e da Universidade Estácio de Sá
(UNESA) – instituição em que também atua como coordenadora dos cursos de
Pós-Graduação em Direito Tributário e Direito Público na modalidade presencial.
Exerce, ainda, a função docente na Escola da Magistratura do Estado do Rio de
Janeiro (EMERJ) e em vários cursos de Pós-Graduação no Brasil. Além disso, é
conferencista e autora de livros e artigos sobre Direito Tributário.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1333918511433175.

SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 113

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