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CARREIRAS JURÍDICAS

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DIREITO
CONSTITUCIONAL
DIREITO CONSTITUCIONAL
1 DIVISÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL ............................................................................................. 8
2 ESTADO DE DIREITO .................................................................................................................................. 8
3 CONSTITUCIONALISMO........................................................................................................................... 10
4 NORMAS CONSTITUCIONAIS ESTRUTURANTES ............................................................................... 12
5 SISTEMAS CONSTITUCIONAIS E DIVISÃO DOS PODERES .............................................................. 13
5.1 FORMAS DE GOVERNO ................................................................................................................... 13
5.2 SISTEMAS DE GOVERNO ................................................................................................................ 13
5.3 FEDERAÇÃO ....................................................................................................................................... 14
6 EVOLUÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO .................................................................... 17
6.1 1824: CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO DO BRASIL .................................................... 17
6.2 1891: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL ................... 18
6.3 1934: CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL 19
6.4 1937: CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL .................................................. 19
6.5 1946: CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL .................................................. 20
6.6 1967: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ........................................ 21
6.7 1969: EMENDA CONSTITUCIONAL NÚMERO UM ..................................................................... 22
6.8 1988: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ........................................ 22
7 PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO.......................................................................................................... 23
8 ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS ......................................................... 24
9 RELAÇÕES DO DIREITO CONSTITUCIONAL ....................................................................................... 24
10 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL ........................................................................................... 24
11 CONSTITUIÇÃO ........................................................................................................................................ 25
11.1 CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO ........................................................................................... 25
11.2 ESPÉCIES .......................................................................................................................................... 25
11.3 CLASSIFICAÇÃO CF/88 .................................................................................................................. 26
12 PODER CONSTITUINTE........................................................................................................................... 27
12.1 ESPÉCIES .......................................................................................................................................... 27
12.2 CARACTERÍSTICAS ........................................................................................................................ 28
13 REFORMA CONSTITUCIONAL .............................................................................................................. 28
13.1 REVISÃO CONSTITUCIONAL ........................................................................................................ 28
13.2 EMENDA COSTITUCIONAL ........................................................................................................... 29
13.3 LIMITES FORMAIS, MATERIAIS E CIRCUNSTANCIAIS .......................................................... 29
14 NORMAS CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS ...................................................................... 30
15 APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS .................................................................... 30
15.1 SISTEMA JURÍDICO E COMPATIBILIDADE VERTICAL .......................................................... 30
15.2 DIREITO CONSTITUCIONAL INTERTEMPORAL ...................................................................... 31
15.3 DIREITO CONSTITUCIONAL INTERNACIONAL ........................................................................ 32

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16 INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS..................................................................... 33
16.1 PECULIARIDADES ........................................................................................................................... 33
16.2 PARTICULARIDADES ...................................................................................................................... 34
17 HERMENÊUTICA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS ...................................................................... 35
17.1 EFICÁCIA DAS NORMAIS CONSTITUCIONAIS ........................................................................ 35
17.2 FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO ................................................................................. 36
18 FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ......................................................... 36
19 OBJETIVOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL .................................................................. 37
20 PRINCÍPIOS DA REPÚBLICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................................................ 38
21 FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS ...................................................................................... 39
21.1 GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS ....................................................................................... 39
22 POSITIVAÇÃO INTERNA ........................................................................................................................ 40
23 DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................................................... 41
23.1 ROL DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ........................................................................... 41
23.2 BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE......................................................................................... 41
23.3 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL .......................................................................................... 42
23.4 CLÁUSULA DE ABERTURA CONSTITUCIONAL ....................................................................... 42
23.5 DIREITOS FUNDAMENTAIS COMO PRINCÍPIO ....................................................................... 43
23.5.1 Conceito de Princípio .............................................................................................................. 43
23.5.2 Características fundamentais que envolvem a discussão sobre direitos
fundamentais como princípios ......................................................................................................... 43
23.5.3 Critérios para conflitos ........................................................................................................... 44
23.5.4 Proporcionalidade .................................................................................................................... 46
23.6 ÂMBITO DE PROTEÇÃO NORMATIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ......................... 47
24.6.1 Conceito ...................................................................................................................................... 47
23.7 COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS ......................................................................... 47
23.7.1 Precedentes do STF sobre Ponderação ............................................................................ 48
23.8 EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................. 49
23.8.1 Diferenças entre Estado Liberal e Estado Social ............................................................ 49
23.8.2 Eficácia Vertical e Eficácia Horizontal ................................................................................ 50
23.8.3 Abrangência do Tema - Horizontalidade x Assimetria ................................................... 51
23.8.4 Pressupostos da Teoria da Eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre
particulares............................................................................................................................................. 51
23.8.5 Eficácia ........................................................................................................................................ 51
23.8.6 Precedentes do STF quanto à Eficácia .............................................................................. 51
23.9 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS DO ARTIGO 5º DA CF ..................... 53
23.10 CAPUT DO ARTIGO 5º DA CF ..................................................................................................... 53
23.10.1 Deveres Fundamentais? ...................................................................................................... 54
23.11 ESTUDO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS............................................................................. 54
23.11.1 Vida ............................................................................................................................................ 55
23.11.2 Liberdade.................................................................................................................................. 56

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23.11.3 Igualdade .................................................................................................................................. 56
23.11.4 Propriedade ............................................................................................................................. 57
23.11.5 Segurança ................................................................................................................................ 57
23.12 DIREITOS E DEVERES ................................................................................................................. 57
23.12.1 Tema Estrutural ...................................................................................................................... 57
23.12.2 Segurança Jurídica ................................................................................................................ 57
24 DIREITOS SOCIAIS ................................................................................................................................... 65
24.1 PREVISÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E MODELO DE ESTADO ................................. 65
24.2 ROL DOS DIREITOS SOCIAIS....................................................................................................... 66
24.3 ANÁLISE DO ART. 7º DA CF .......................................................................................................... 66
24.4 DIREITO DE GREVE ........................................................................................................................ 73
25 DIREITO DE NACIONALIDADE ............................................................................................................. 73
25.1 NACIONAIS ........................................................................................................................................ 74
25.2 EXTRADIÇÃO .................................................................................................................................... 76
25.3 PERDA DE NACIONALIDADE ........................................................................................................ 76
25.4 ESTUDO DE CASO .......................................................................................................................... 77
25.5 LEI DE MIGRAÇÃO .......................................................................................................................... 77
26 DIREITOS POLÍTICOS .............................................................................................................................. 78
26.1 EXERCÍCIO DA SOBERANIA POPULAR ..................................................................................... 79
26.2 INICIATIVA POPULAR ..................................................................................................................... 80
26.3 PROCESSO ELEITORAL ................................................................................................................ 80
26.4 PARTIDOS POLÍTICOS ................................................................................................................... 85
27 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ................................................................................................................. 87
27.1 FEDERAÇÃO E ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA ............................................ 87
27.1.1 Antecedentes e Influências ................................................................................................... 87
27.1.2 Federalismo no Brasil ............................................................................................................. 89
27.1.3 Federalismo na Constituição Federal ................................................................................. 92
27.2 DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS ENTRE OS ENTES FEDERADOS
....................................................................................................................................................................... 93
27.2.1 Competência Legislativa da União ...................................................................................... 93
27.2.2 Competência Legislativa dos Estados ............................................................................... 94
27.2.3 Competência Legislativa dos Municípios .......................................................................... 95
27.3 DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVA ENTRE OS ENTES
FEDERADOS .............................................................................................................................................. 95
27.3.1 Competência Administrativa da União ............................................................................... 95
27.3.2 Competência Administrativa dos Estados ........................................................................ 95
27.3.3 Competência Administrativa dos Municípios ................................................................... 96
27.4 PODER LEGISLATIVO NACIONAL ............................................................................................... 96
27.5 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL ............................................................................................. 97
27.6 IMPACTO DAS ESCOLHAS FEDERATIVAS NO PODER JUDICIÁRIO ................................ 97
27.7 INTERVENÇÃO FEDERAL ............................................................................................................. 98

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27.7.1 Requisitos Intervenção ......................................................................................................... 100
27.7.2 Procedimento .......................................................................................................................... 100
28 AÇÕES CONSTITUCIONAIS ................................................................................................................. 100
28.1 HABEAS CORPUS ......................................................................................................................... 100
28.1.1 Características do Habeas Corpus .................................................................................... 100
28.1.2 Espécies de Habeas Corpus ............................................................................................... 101
28.1.3 Partes ......................................................................................................................................... 102
28.1.4 Procedimento .......................................................................................................................... 102
28.2 HABEAS DATA ................................................................................................................................ 103
28.2.1 Partes ......................................................................................................................................... 104
28.2.2 Procedimento .......................................................................................................................... 104
28.3 MANDADO DE SEGURANÇA ...................................................................................................... 104
28.3.1 Conceito .................................................................................................................................... 105
28.3.2 Pressupostos........................................................................................................................... 105
28.3.3 Partes ......................................................................................................................................... 105
28.3.4 Mandado de Segurança Coletivo ....................................................................................... 106
28.3.5 Análise De Jurisprudência Consolidada no STF – Súmulas ...................................... 106
28.3.6 Lei n. 12.016/09 – Lei Mandado de Segurança ............................................................... 108
28.4 MANDADO DE INJUNÇÃO ........................................................................................................... 109
28.4.1 Conceito .................................................................................................................................... 109
28.4.2 Pressupostos........................................................................................................................... 109
28.4.3 Efeitos da Decisão ................................................................................................................. 110
28.4.4 Procedimento .......................................................................................................................... 111
29 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................................................................................................ 112
29.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............... 112
29.1.1 Princípios Constitucionais Explícitos .............................................................................. 112
29.1.2 Princípios Constitucionais Implícitos ............................................................................... 114
29.2 DISPOSIÇÕES GERAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ..................................................... 115
29.2.1 Improbidade Administrativa ................................................................................................ 116
29.2.2 Responsabilidade Objetiva do Estado ............................................................................. 118
29.2.3 Licitação.................................................................................................................................... 118
29.2.4 Acesso aos Cargos Públicos .............................................................................................. 119
29.2.5 Acúmulo de Cargos Públicos ............................................................................................. 120
29.2.6 Acúmulo de Receitas – Proventos + Remuneração – §10 .......................................... 120
29.2.7 Remuneração dos Servidores Públicos ........................................................................... 121
29.3 SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS E MILITARES ....................................................................... 122
29.3.1 Servidores Públicos Civis .................................................................................................... 122
29.3.2 Servidores Públicos Militares ............................................................................................. 127
30 PODER LEGISLATIVO ........................................................................................................................... 128
30.1 SISTEMA BICAMERAL E SISTEMA UNICAMERAL ................................................................ 128
30.2 CONGRESSO NACIONAL ............................................................................................................ 130
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30.3 CÂMARA DOS DEPUTADOS ....................................................................................................... 130
30.4 SENADO FEDERAL ....................................................................................................................... 131
30.5 COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO ................................................................. 131
30.5.1 Características ........................................................................................................................ 131
30.5.2 Objetivos ................................................................................................................................... 131
30.5.3 Limites ....................................................................................................................................... 132
30.6 ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS ......................................................................................... 134
30.6.1 Prerrogativas ........................................................................................................................... 134
30.6.2 Vedações .................................................................................................................................. 135
30.6.3 Perda De Mandato .................................................................................................................. 135
30.7 FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA .......................................... 136
30.8 PROCESSO LEGISLATIVO .......................................................................................................... 136
30.8.1 Espécies Legislativas ............................................................................................................ 136
30.8.2 Procedimento Comum Ordinário ....................................................................................... 137
30.8.3 Procedimento Comum Sumário ......................................................................................... 139
30.9 PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DO PODER LEGISLATIVO ................................................. 139
30.9.1 Emendas à Constituição....................................................................................................... 139
30.9.2 Leis Complementares ........................................................................................................... 140
30.9.3 Leis Ordinárias ........................................................................................................................ 141
30.9.4 Leis Delegadas ........................................................................................................................ 142
30.9.5 Decretos Legislativos ............................................................................................................ 142
30.9.6 Resoluções............................................................................................................................... 143
30.9.7 Tratados Internacionais ........................................................................................................ 143
30.9.8 Medidas Provisórias .............................................................................................................. 143
31 PODER EXECUTIVO............................................................................................................................... 147
31.1 PRESIDENTE E VICE-PRESIDENTE ......................................................................................... 147
31.2 COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ........................................ 148
31.3 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ................................................... 149
31.4 MINISTROS DE ESTADO ............................................................................................................. 150
31.5 CONSELHO DA REPÚBLICA ....................................................................................................... 151
31.6 CONSELHO DE DEFESA NACIONAL ........................................................................................ 151
32 PODER JUDICIÁRIO ............................................................................................................................... 152
32.1 ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO ..................................................... 152
32.1.1 Estrutura Poder Judicário .................................................................................................... 152
32.1.2 Competência da Justiça Federal ........................................................................................ 153
32.1.3 Composição do Poder Judiciário....................................................................................... 155
32.2 COMPETÊNCIAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ....................................................... 157
32.2.1 Corte Constitucional .............................................................................................................. 158
32.2.2 Alta Corte de Justiça ............................................................................................................. 158
32.2.3 Instância Necessária ............................................................................................................. 159
32.2.4 Guardião da Constituição .................................................................................................... 159
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32.3 ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA .................................................... 160
32.4 GARANTIAS DA MAGISTRATURA ............................................................................................. 161
32.4.1 Deveres da Magistratura....................................................................................................... 163
32.5 ESTATUTO CONSTITUCIONAL DA MAGISTRATURA ........................................................... 164
32.5.1 Ingresso na Carreira .............................................................................................................. 165
32.5.2 Promoção na Carreira ........................................................................................................... 165
32.5.3 Participação em Cursos Oficiais de Treinamento e Aperfeiçoamento .................... 165
32.5.4 Subsídio .................................................................................................................................... 166
32.5.5 Residência do Magistrado ................................................................................................... 166
32.5.6 Remoção, Permuta, Aposentadoria e Disponibilidade ................................................ 167
32.5.7 Publicidade e Fundamentação das Decisões ................................................................. 167
32.5.8 Atividade Jurisdicional ......................................................................................................... 167
32.5.9 Quinto Constitucional ........................................................................................................... 167
32.5.10 Competências Administrativas dos Tribunais ............................................................. 168
32.5.11 Autonomia Administrativa e Financeira ........................................................................ 169
32.5.12 Reserva de Plenário............................................................................................................. 169
32.6 MINISTÉRIO PÚBLICO .................................................................................................................. 170
32.6.1 Autonomia Funcional e Administrativa ............................................................................ 170
32.6.2 Abrangência do Ministério Público ................................................................................... 170
32.6.3 Funções Institucionais do Ministério Público ................................................................ 171
32.6.4 Garantias................................................................................................................................... 172
32.6.5 Vedações .................................................................................................................................. 173
32.6.6 Ingresso na Carreira .............................................................................................................. 173
32.7 ADVOCACIA PÚBLICA .................................................................................................................. 173
32.7.1 Advocacia-Geral da União ................................................................................................... 173
32.7.2 Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ........................................................................ 173
32.7.3 Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal ......................................................... 174
32.8 ADVOCACIA PRIVADA .................................................................................................................. 174
32.9 DEFENSORIA PÚBLICA ................................................................................................................ 174
33 PROCESSO CONSTITUCIONAL – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ........................... 174
33.1 SISTEMA JURÍDICO ...................................................................................................................... 175
33.2 REGRAS DO JOGO ....................................................................................................................... 175
33.3 CONTROLE PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE ................................................... 176
33.4 CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE ................................................... 177
33.4.1 Controle Difuso de Constitucionalidade .......................................................................... 178
33.4.2 Controle Concentrado de Constitucionalidade.............................................................. 180
33.5 CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE .............................................. 182
33.5.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) .................................................................... 183
33.5.2 Ação Direta de Constitucionalidade (ADC) ..................................................................... 184
33.5.3 Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO)......................................... 185
33.5.4 Arguição de Descumprimento a Preceito Fundamental (ADPF) ............................... 185
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33.6 TEMAS AVANÇADOS EM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE .............................. 187
33.6.1 Pertinência Temática e Legitimidade Ativa ..................................................................... 187
33.6.2 Caráter Dúplice ou Ambivalente......................................................................................... 188
33.6.3 Objetivação do Controle Difuso ......................................................................................... 188
33.6.4 Modulação dos Efeitos das Decisões ............................................................................... 190
33.6.5 Omissão Constitucional ....................................................................................................... 192
33.6.6 Transcendência dos Motivos Determinantes ................................................................. 192
33.6.7 Lei Ainda Constitucional ...................................................................................................... 192
33.6.8 Técnicas de Controle de Constitucionalidade ............................................................... 193
34 DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS .................................................... 194
34.1 SEGURANÇA PÚBLICA ................................................................................................................ 195
34.2 FORÇAS ARMADAS ...................................................................................................................... 196
34.3 ESTADO DE DEFESA .................................................................................................................... 197
34.4 ESTADO DE SÍTIO ......................................................................................................................... 197
35 SEGURIDADE SOCIAL........................................................................................................................... 198
35.1 PREVIDÊNCIA SOCIAL ................................................................................................................. 198
35.2 ASSISTÊNCIA SOCIAL .................................................................................................................. 199
35.3 SAÚDE .............................................................................................................................................. 199

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1 DIVISÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL
A divisão pode ser trabalhada de dois modos. O primeiro, conhecido como aplicação direta das
normas constitucionais, onde se utilizam critérios clássicos de interpretação que são encontrados em
todas as demais disciplinas do direito. Assim, basta identificar o caso concreto e, a partir dele, buscar uma
norma que se aplique. Ou seja, o texto constitucional pode ser aplicado ao caso concreto, razão pela qual, a
aplicação direta das normas constitucionais trata do Direito Constitucional Material.
Já a análise da compatibilidade vertical trata da relação existente entre o texto constitucional e a
legislação infraconstitucional. Trabalha-se o Direito Constitucional Processual, que auxilia nas questões
referentes ao controle de constitucionalidade.

APLICAÇÃO DIRETA DAS NORMAS ANÁLISE DA COMPATIBILIDADE


CONSTITUCIONAIS VERTICAL
Critérios clássicos de todas as disciplinas Relação texto constitucional x legislação
infraconstitucional
Aplicação caso concreto Auxilia no controle de constitucionalidade
Direito Constitucional Material Direito Constitucional Processual

2 ESTADO DE DIREITO
Em concursos públicos, quando se trata de Estado de Direito, passa-se por três fases do Estado. A
primeira, conhecida como o absolutismo, onde há uma ausência de limites ao exercício do poder, tendo o
Estado como fim em si mesmo. O sistema absolutista pode ser estudado a partir de três vertentes: com a
carta de João Sem-Terra, na Inglaterra, em 1215; com a Declaração de Independência dos Estados
Americanos; e com a história da Europa Ocidental, quando se estuda o constitucionalismo francês, no
momento de transição do sistema feudal para o absolutismo. Neste sistema, os vassalos obedeciam ao senhor
feudal e esta relação de poder do senhor feudal sobre seus serventes estava limitado unicamente a sua
propriedade.
Com o crescimento da população, o espaço nos feudos passou a não comportar toda a população,
começando, assim, a formar vilarejos ao redor dos castelos feudais povoados por pessoas que não tinham
oportunidades de trabalho nas propriedades feudais e sobreviviam de trabalhos também importantes para a
época, como ferreiros e carpinteiros. Com o passar do tempo e o crescimento desses vilarejos, chamados de
burgos, o número de mão de obra passou a não mais conseguir ser absorvido pelo trabalho necessário. Uma
resultante desse crescimento dos burgos foi o surgimento de crimes pouco conhecidos a época, como furtos.
Assim, surgiu-se a ideia de um sistema com mais poder e mais forte do que um senhor feudal e do que a
soma de todos os senhores feudais.
A partir da necessidade da população, surge a ideia do Estado Absolutista, onde um soberano sem

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limites, mais forte que união de todos os senhores feudais da época, protege a civilização contra a barbárie
que cometia crimes devido ao crescimento dos vilarejos e pouco espaço para trabalho – O Estado sou eu. O
grande problema é que o exercício deste poder sem limites tem consequências muito traumáticas e severas
para todas as classes, mas principalmente para a burguesia, que havia enriquecido no período feudal e estava
incomodada com o modo de se exercer o Estado absolutista.
O sistema estava desagradando tanto burguesia como antigos senhores feudais e, justamente por isso,
que surgiram teorias iluministas para limitar o poder soberano. A ideia da limitação do poder é inverter a
lógica que existia até então. Ou seja, invés da supremacia do estado, se prega a supremacia do indivíduo
(democracia e direitos fundamentais), onde o Estado é o meio para que o indivíduo atinja a sua
plenitude.
Assim se formulou, então, o ideal do Estado Liberal, que divide o poder em três (judiciário,
executivo e legislativo), e que se baseia no discurso democrático, onde a vontade da maioria prevalece
quanto ao poder. É neste momento que há, também, uma maior liberdade individual e igualdade de
direitos. Posto isso, criou-se a possibilidade de cada cidadão, por ser titular de direito, poder exigir este
direito ao Estado, passando a não se exercer mais o poder absoluto e arbitrário por parte deste e dos
governantes.
Uma vez que o poder propriamente dito pertence ao povo, criam-se limites e condutas negativas do
Estado em face de seu povo, como forma de proteção. Essas barreiras são chamadas de direitos de
primeira geração (vida, liberdade, igualdade, propriedade e segurança), conhecidos como direitos liberais e
que estão presentes na CF, no art. 5º, caput, onde o Estado não pode invadir a esfera individual do
cidadão, a não ser que o povo quebre o pacto social através de conduta inadequada. No momento que há a
quebra do pacto social, o Estado se envolve apenas naquilo que lhe é permitido dentro das regras do sistema.
Já o Estado Social surge em uma época posterior, quando já se percebia que o Estado Liberal não
mais dava conta de resolver os conflitos sociais importantes, uma vez que o problema deixou de ser o limite
ao poder do Estado e passou a ser a diversidade social. Surgem, assim, movimentos sociais importantes
defendendo a necessidade de direitos trabalhistas, previdenciários e de uma solução por parte do
Estado. Este passa, então, a ter a responsabilidade com a sua população. Enquanto que, no Estado Liberal,
era exigida uma postura negativa, o Estado Social requer uma atitude positiva por parte de seus
governantes, inclusive criando políticas públicas focadas em diminuir a disparidade entre os
particulares.
É neste contexto histórico que surgem os direitos de segunda geração (previdência social,
assistência social, lazer, moradia, salário mínimo) e que dependem da atuação do Estado. Estes direitos
também se encontram presentes da Constituição Federal, no art. 6º1, caput, conhecidos como direitos
sociais. A criação de tais direitos surgiu com a ideia de que, para o cidadão frui-los, o Estado deveria agir e

1
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.

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ser proativo.

NA HORA DA PROVA:É importante lembrar que não há substituição de direitos fundamentais,


mas sim que estes coexistem, sendo apenas diferenciados na maneira de exercê-los, frui-los. Ainda,
conforme Ingo Sarlet, apenas com o acesso aos direitos sociais é que teremos qualidade para fruir dos
direitos liberais.

3 CONSTITUCIONALISMO

CONSTITUCIONALISMO

SUPREMACIA DO LIMITES AO
INDIVÍDUO PODER

DEMOCRACIA DIREITOS SEPARAÇÃO FEDERAÇÃO


FUNDAMENTAI DE PODERES
S

O Constitucionalismo é o instrumento que limita o poder do Estado, uma vez que é o sistema
resultante dos movimentos sociais que buscavam a limitação deste poder. Independentemente da vertente
escolhida e estudada, a resultante veio a ser o movimento constitucionalista, que, através das Constituições,
cria e estipula os limites e o modo pelo qual o poder e exercido em uma nação.
A principal característica do constitucionalismo é que ele se baseia na afirmação da supremacia do
indivíduo e na limitação do poder dos governantes. Quando se fala em supremacia do indivíduo, se
pressupõe a democracia e os direitos fundamentais. Por outro lado, quando se fala em limitação do poder,
menciona-se a separação dos poderes. Mas no caso da República Federativa do Brasil, se fala também da
forma federativa do Estado.
Constitucionalismo é um discurso vem sendo aplicado desde então em todos os locais das três
vertentes anteriormente estudadas, assim como no Brasil, pois é uma prática discursiva que parte da
democracia, sendo muito potente. A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu art. 1º, parágrafo único,
justamente essa questão da democracia e de como o povo é importante para o seu Estado, sendo aquele o
detentor do real poder.

Art. 1º, p.ú: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.

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Deste modo, com este sistema, há a vinculação do Estado a limites que protegem os cidadãos de
um poder que efetivamente necessita de limites (direitos fundamentais). Quando se fala que o poder é do
cidadão e que, além disso, os representantes têm que respeitar o que é essencial a eles como seres humanos,
se está dizendo que, em um Estado Democrático, o indivíduo tem supremacia.
Por outro lado, quando se fala em limites ao poder, está a se utilizar uma prática discursiva que
agrada a todos, pois há a separação dos poderes, em que o governo é dividido em três funções essenciais,
quais sejam, legislativa, executiva e judicial. Três poderes independentes e harmônicos entre si, que têm,
ao lado de sua independência para os tratos de seus assuntos próprios, dever de guardar uma relação
harmônica uns com os outros. Assim, por exemplo, o judiciário não interfere no legislativo, a não ser que
seja extremamente necessário, como quando se trata de legislações inconstitucionais.
Ainda em relação a separação dos poderes, Montesquieu não estabelecia o poder judiciário como de
mesmo grau que os poderes legislativo (Câmara dos Lordes e Câmara Comum) e executivo, servindo, o
judiciário, apenas para julgar casos concretos preferencialmente por sorteio e com jurisdição limitada no
tempo. O escrito por Montesquieu foi utilizado no modelo inglês e grego, não existindo, assim, um poder
judiciário tão protagonista como existe atualmente no sistema brasileiro.
Após a publicação do Livro de Montesquieu, intitulado de O Espírito das Leis, os americanos
começaram a pensar em um texto constitucional diferenciado, que servisse aos interesses de um modelo de
Estado que não era conhecido, que foi chamado de sistema de Estado Federado. Até este momento, não se
conhecia a Federação.
A Federação surge com a Constituição dos Estados Unidos da América, ou seja, Estados que eram
soberanos/independentes e se uniram para formar um todo, conservando sua autonomia e transferindo a
soberania para o todo. Assim, os americanos adaptaram a teoria de Montesquieu para a criação da Federação.
Quando se criou a Federação, o mais importante era manter a coesão do todo; a junção dos Estados.
Tudo que não se queria era que algum Estado Federado deixasse a Federação e, para isso, foi criada a
Suprema Corte Americana, com a previsão de juízes federais vitalícios e nomeados pelo presidente, para
defender a lei e a Constituição contra eventuais desrespeitos e abusos por parte das legislações estaduais.
Os limites de poder, ao molde americano, foram escolhidos para a República Federativa do Brasil,
utilizando o modelo americano de Constituição como espelho. A influência americana não é vista só na
Constituição Brasileira, como também no sistema de diversos países sul-americanos, como Argentina e
Uruguai. Mas o importante é lembrar que, por terem influência americana, essas constituições também
herdam muito do modelo constitucional francês, uma vez que todas as constituições de países democráticos
advêm do movimento constitucionalista.
Desta forma, os Estados Federados exercem poder, são autônomos, têm suas próprias
Constituições, desde que obedeçam aos limites e escolhas da Federação, seguindo, assim, o modelo
federal, com poder decorrente.

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4 NORMAS CONSTITUCIONAIS ESTRUTURANTES

ESSÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

DEMOCRACIA FEDERAÇÃO
DIREITOS SEPARAÇÃO
FUNDAMENTAI DE PODERES
S

> Existe algum artigo constitucional sobre os assuntos estruturantes?


As cláusulas pétreas, ou seja, o art. 60, §4, da CF, garante:

Art. 60, § 4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

Conforme a redação do artigo, as cláusulas pétreas protegem a estrutura do texto constitucional,


assim como a essência do modelo de Estado da República Federativa do Brasil. Percebe-se que o artigo diz
que não será objeto de deliberação qualquer proposta que tente abolir qualquer das características essenciais
e estruturantes do texto constitucional, sequer sendo possível levá-la a deliberação do Congresso Nacional.
Neste cenário, quando é elaborada proposta que envolva qualquer das normas constitucionais estruturantes, é
possível que haja atuação do judiciário, com o controle de constitucionalidade preventivo.
» Outra questão interessante é a que diz respeito ao aumento da previsão dos direitos fundamentais no
texto constitucional. Esta questão pode ser levada a deliberação do Congresso Nacional ou não? A maioria
da doutrina acredita que sim. A partir desta convicção, muitos autores constitucionais evitam a nomenclatura
cláusulas pétreas, pois significa que são imutáveis. Entretanto, como se percebe que se pode aumentar o rol
de direitos fundamentais por Emenda, muitos autores chamam as cláusulas pétreas de cláusulas de
barreiras, devendo ser barrada sempre que a Emenda for prejudicial ao sistema, vindo a prejudicar o
texto constitucional.
A EC 45/2004 veio com a proposta de reformar o judiciário. Nesse contexto, modificou o art. 5º da
CF, que trata de direitos fundamentais e ainda incluiu um novo direito constitucional no seu inciso
LXXVIII, que trata da razoável duração do processo.

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5 SISTEMAS CONSTITUCIONAIS E DIVISÃO DOS PODERES
5.1 FORMAS DE GOVERNO
> República x Monarquia:
A república é a forma de governo que tem como principal característica a eleição periódica do Chefe
de Estado. O art. 1º da Constituição Federal Brasileira traz este conceito:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.

Já a monarquia é também conhecida como o governo de um só e sofreu, enquanto significado,


grandes alterações durante o desenrolar da história. É um poder vitalício e hereditário. Assim, a não há a
eleição de monarcas, sendo o poder transmitido dentro da família real de pai para filho.
Ainda no Estado Absolutista, a monarquia significava o poder nas mãos do soberano. Contudo,
especialmente a partir dos movimentos iluministas que buscavam limitar o poder até então tido por absoluto,
surgiu um novo modelo monárquico, chamado de monarquia parlamentar, em que o rei reina, mas não
governa.
Essa expressão, monarquia parlamentar, demonstra que a forma de governo monarquia hoje é uma
forma em que o rei representa o Estado na esfera internacional, mas não governa e administra o Estado,
não exercendo poder quanto ao orçamento. Nesta forma, quem executa o orçamento público e exerce a
política interna do país é o Primeiro Ministro. Assim, na monarquia, o rei é a personificação do Estado,
da cultura e da história da população, mas não representa a personificação do poder.

5.2 SISTEMAS DE GOVERNO


> Presidencialismo x Parlamentarismo
O presidencialismo é o sistema de governo com um presidente que é, ao mesmo tempo Chefe de
Governo (administra o Estado e executa o orçamento interno) e Chefe de Estado (representa o país na
esfera internacional, tendo prerrogativa para assinar tratados), mas com poderes disciplinados e limitados
pela CF e com atuação sujeita ao controle legislativo.
Neste sistema, o presidente é eleito periodicamente e não pode ser destituído, a não ser por um
complexo, político e demorado processo para a perda do mandato (impeachment). Ainda, concentra
considerável parcela de poder e, apesar desta concentração, o presidencialismo é o sistema que mais se
aproxima do princípio da separação estrita dos poderes.
O sistema brasileiro possui uma peculiaridade. Chamado de presidencialismo de coalizão, no
sistema brasileiro não é necessário de apoio parlamentar para governar. Porém, é necessário apoio para

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legislar, aprovar inovações legislativas, uma vez que este sistema é baseado em leis, e não em costumes.
Ainda, o sistema brasileiro tem uma característica conhecida como multipartidarismo. O poder
político do parlamento está dividido entre 36 partidos políticos. Deste modo, para conquistar o apoio
parlamentar necessário para legislar e aprovar inovações legislativas, o presidente deve convencer a maioria
do parlamento, devendo fazer coalizões ocasionais com este ou aquele partido político, fazendo ser possível
governar com novas leis.
Em contrapartida, no parlamentarismo o poder executivo é exercido pelo Primeiro Ministro, que
não governa sozinho, mas sim com o apoio do parlamento e sob confiança deste, que o elege e pode
destituí-lo a qualquer momento, por voto da maioria, quando a confiança deixar de existir. Neste sistema,
as funções do poder executivo e do poder legislativo estão muito mais misturadas, uma vez que o Chefe de
Governo não governa sozinho e as decisões devem passar pelo parlamento.
Uma vez que o Primeiro Ministro é o Chefe de Governo, que administra o Estado, o Chefe de
Estado pode ser tanto o rei quanto o presidente, sendo responsável pela política externa do país. Diante do
exposto, não há responsabilidade política do Chefe de Estado, em razão da independência existente entre
os poderes. Por fim, o parlamentarismo possui bipartição do poder legislativo (câmara alta e baixa),
criando-se no interior desse poder, um sistema de contrapeso essencial à autenticidade do sistema
Parlamentar.

PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO
Presidente = Chefe de Estado e Chefe de Primeiro Ministro = Chefe de Governo
Governo Rei/Presidente = Chefe de Estado
Presidente governa sozinho Chefe de Governo governa com auxílio do
parlamento
Destituição por meio de impeachment Destituição feita pelo parlamento, quando
há a perda da confiança.
Presidencialismo de coalizão Bipartição do legislativo
Multipartidarismo

5.3 FEDERAÇÃO
> Estado Unitário x Estado Federado
O Estado Unitário é onde o poder legislativo é desempenhado por apenas um órgão. As leis são
nacionais e destinam-se, em regra, a todo o território ocupado pelo Estado. Ainda, admite-se
descentralização administrativa, mas sempre com subordinação hierárquica a uma autoridade central.
Celso Ribeiro Bastos diz que, até o final do século 18 não se conheceu outro senão o Estado Unitário,
onde existe um único centro irradiador de decisões políticas expressas em lei, podendo haver uma
descentralização administrativa, com criação de órgãos locais ou regionais para auxiliar na administração do

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Estado.
Já o Estado Federado, inaugurado pela Constituição dos Estados Unidos da América, é composto
por Estados-membros que integram a Federação, desde que despidos da soberania. Difere do Estado
Unitário essencialmente porque os Estados-membros, na Federação, exercem o poder de editar leis e detêm
autonomia para se auto organizar. A diferença é muito importante, pois aqui se tem uma coparticipação
de vários Estados que tem autonomia para legislar, desde que de acordo com as regras da Federação, mas
que não detêm soberania. É apenas o todo, a União Federal, que detém soberania.

> Federação x Confederação


Como já estudado, a Federação é quando há a associação de vários Estados-membros que não
possuem soberania, mas que detêm autonomia para legislar dentro de seu território. Estes Estados-
membros respondem ao poder federal do seu todo, da União Federal, que detém a soberania. Conforme Paulo
Bonavides:

“No Estado Federal deparam-se vários Estados que se associam com vistas a uma interação harmônica
de seus destinos. Não possuem esses Estados soberania externa e do ponto de vista da soberania
interna se acham em parte sujeitos a um poder único, que é o poder federal, e em parte conservam sua
independência, movendo-se livremente na esfera da competência constitucional que lhes for atribuída
para efeito de auto-organização”.

Por outro lado, na Confederação, a relação entre os Estados é menos consistente, o que viabiliza a
possibilidade jurídica de secessão, e não há um poder político único, pois os Estados confederados
mantêm as respectivas soberanias. Por isso, a atividade unitária da Confederação projeta-se apenas no
campo internacional, jamais no campo interno.
Um exemplo recente de Confederação, na qual houve desmembramento, é a União Europeia, onde
os Estados possuem a sua soberania. Aqui, nenhum país perde sua soberania, tanto é assim, que é permitida a
sua saída da Confederação, como ocorreu com o Reino Unido.

> Autonomia e Participação


A regra da participação permite aos Estados-membros tomar parte no processo de elaboração da
vontade política da Federação, intervindo com voz ativa nas deliberações de conjunto. Este é um marcante
traço distintivo entre Estado-membro federado e um simples órgão administrativo descentralizado no Estado
Unitário.
Pela regra da autonomia é que se manifesta o caráter estatal das unidades federadas. Elas podem
estatuir uma ordem constitucional própria, estabelecer a competência dos três poderes que habitualmente
integram o Estado e desempenhar uma imensa gama de poderes, prerrogativas e atribuições que estejam de

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acordo com a Constituição Federal. Na Constituição Federal brasileira, o art. 252 atribui autonomia para os
Estados terem suas próprias constituições.

> Superioridade do Estado Federal


Aos Estados-membros de uma Federação cabe a prerrogativa de confeccionar as próprias
constituições, exercendo, assim, Poder Constituinte, justamente por deterem a capacidade de auto-
organização. Entretanto, esse poder é decorrente da CF e, por isso, juridicamente limitado. Assim, fica
demonstrada a superioridade do Estado federal sobre os Estados-membros federados, ao menos no
tocante as questões protegidas pelo art. 60, §4, da CF.

> Participação ativa dos Estados-membros


Para Paulo Bonavides:

“A posição dos Estados-membros no sistema federativo não se cifra apenas no desempenho de sua
autonomia constitucional em matéria legislativa, executiva ou judiciária, senão que cumpre ver ao lado
dessa autonomia aqueles pontos da organização federal em que os Estados federados aparecem por
sua vez tomando parte ativa e indispensável na elaboração e no mecanismo da Constituição Federal”.

O Estado-membro não só desempenha a sua autonomia interna, mas também exerce postura
proativa para a nação. Por este motivo que, cada Estado tem três senadores representantes participando de
forma ativa na legislação federal.
Essa postura ativa decorre do exercício do poder legislativo em âmbito federal, por parte de um
Estado-membro, a partir da participação nas deliberações parlamentares do sistema bicameral. Isto
porque, Estados federados adotam o bicameralismo, também chamado de legislativo dual: com uma câmara
composta por representantes do povo, normalmente eleitos pelo sistema proporcional, e uma câmara
composta por representantes dos Estados, normalmente eleitos pelo princípio majoritário.
Atualmente, o sistema bicameral só é possível em duas possibilidades: primeiro, em um sistema
parlamentar, onde não há divisão federativa, mas há um controle interno entre interesses comuns e de
lordes. Segundo, no país presidencialista, desde que seja federado.

> Estado Federal na ordem internacional


Na ordem internacional, o Estado Federal, e somente ele, é soberano. Por assim dizer,

2
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios
desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na
forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e
a execução de funções públicas de interesse comum.

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internamente, o Estado Federal tem seus Estados-membros autônomos, mas que perderam a soberania, ou
nunca a exerceram. Uma vez que os Estados-membros são autônomos, mas perderam a soberania ou jamais a
exerceram e, perante o mundo, o Estado Federado atua como um todo, uma unidade composta por vários
Estados.

> Exemplos de artigos da CF que traduzem a ideia de Federação no sistema brasileiro

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez
dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os
princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes
preceitos:
(...)

6 EVOLUÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO


Ao longo da história do Brasil, houve oito constituições, sendo quatro promulgadas e quatro
outorgadas.

6.1 1824: CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO DO BRASIL


Foi outorgada por Dom Pedro I por intermédio de uma carta, chamada de Carta de Lei de 25 de
março de 1824. O contexto histórico era de afirmação da independência, conforme o art. 1º, que diz:

Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Política de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma
Nação livre, e independente, que não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que
se opponha á sua Independencia.

Na época, a forma de governo no Brasil era de monarquia e, ainda, era um Estado Unitário, sendo
divido em províncias, onde cada província teria um presidente nomeado pelo Imperador. O poder
realmente estava no Estado, havendo a centralização de poder, que apenas descentralizava a administração
e, mesmo assim, mantinha o poder de nomeação e dispensa do presidente de cada província.
O poder legislativo era bicameral, com a Câmara dos Deputados (eleitos para mandatos
temporários) e Câmara de Senadores, onde o Senado era composto por membros vitalícios e organizado
por eleição provincial.
Quanto à separação dos poderes, não havia judiciário, falando-se apenas em Imperador e
Assembleia Geral. Não havia justiça federal, uma vez que se tratava de Estado Unitário, e os juízes de
direito eram perpétuos. Como pode se destacar, o judiciário não se encontrava em igualdade com os
demais poderes, podendo os juízes serem removidos mesmo a contragosto, para onde conviessem, uma vez

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que, quem comandava o poder judiciário era o Imperador.
A separação de poderes era diferente a esta época, tendo em vista a presença do Poder Moderador,
que era a chave de toda organização política, sendo delegada somente ao Imperador, que não estava sujeito
a responsabilidade alguma de seus atos.
Ainda, a Constituição de 1824 trazia a liberdade de religião, alegando que a religião católica era a
oficial do Império, mas caso o cidadão não fosse desta, eram permitidas todas as outras religiões, desde que
seu culto fosse feito em casa e sem que transparecesse para os demais, pois qualquer publicidade de religiões
diversas da católica não era permitida.

6.2 1891: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL


Foi uma constituição promulgada em um momento cultural que buscava a democratização do país.
Essa constituição foi criada quando a constituição dos EUA já celebrava 100 anos, tendo forte influência
norte-americana, seguindo, inclusive, o modelo federado. Assim, as províncias são transformadas em
Estados com autonomia, preservando a centralidade de poder na União.
É neste momento que se inaugura no Brasil a forma republicana de governo.

Art 1º - A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o regime representativo, a República
Federativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitui-se, por união perpétua e indissolúvel das
suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil.

A constituição traz, pela primeira vez, as características de Federação e, o art. 63 atribui aos estados
recém-criados poder constituinte, desde que respeitado os princípios constitucionais da União.

CONCURSO PÚBLICO: normalmente pedem para discorrer sobre o princípio da simetria que, nada
mais é do que, no caso da constituição, os recém-estados, ao estipularem o seu sistema interno, devem
respeitar o modelo federal. O princípio surge justamente com a federação brasileira.

O legislativo continua sendo bicameral, entretanto, a eleição para senadores e deputados será em
todo o país. Os senadores, antes vitalícios, passam a ter mandato, assim como os deputados.
Com relação à separação dos poderes, o legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, com a
sanção do presidente da república. Já o executivo, quem exerce é o presidente da república, eleito pela nação.
O poder judiciário tem, em sua formação, a criação do Supremo Tribunal Federal, além de tantos
juízes (que eram vitalícios) e tribunais federais quantos o Congresso criar. Percebe-se que não se admitia que
o poder executivo pudesse criar novos cargos ou vagas para juízes, sendo essa uma decisão do poder
legislativo. A grande conquista dessa constituição foi o empoderamento do parlamento, do Congresso
Nacional, em relação ao poder executivo.
A responsabilização do presidente passa a existir, sendo este submetido a processo e julgamento. Ou
seja, a definição de impeachment vem desenhada ainda na constituição da primeira república.

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Em 1891 já se começa a falar em controle de constitucionalidade, com a participação ativa do
poder judiciário, até então afastado da separação dos poderes como se conhece hoje. Nessa época, tinha um
tribunal (Supremo Tribunal Federal) competente para proteger a legislação federal de todo ou qualquer
ato que a desrespeitasse.
A liberdade de religião se torna mais ampla, onde todos os indivíduos e confissões religiosas
podem exercer pública e livremente seu culto, observadas as disposições do direito comum, conforme a
constituição.

6.3 1934: CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL


Constituição promulgada em momento em que o mundo já tinha percebido os efeitos da revolução
industrial. Clamavam por transição de modelo de Estado (Liberal para Social). Precisava-se de intervenção
do Estado, preocupação por parte deste com os direitos de segunda geração, com o direito do trabalho, onde
grande diversidade entre os cidadãos.
Manteve-se a forma republicana de governo, assim como o estado federado, com características
muito parecidas, assim como o legislativo bicameral. E, modificou-se determinados aspectos, trazendo
inovações como o voto secreto, a criação da justiça eleitoral e da justiça do trabalho (visto a
preocupação em harmonizar as relações entre cidadãos).
A separação dos poderes, legislativo, executivo e judiciário, independentes e coordenados entre si.
Pela primeira vez, o judiciário, que já vinha crescendo, passa a atuar em igualdade com poder executivo
e legislativo, e com garantias para a magistratura, como vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade dos
vencimentos, além da vedação a filiação partidária.
Quanto à responsabilização do presidente, cria-se um tribunal especial para julgar os crimes de
responsabilidade, com a ideia de que a Câmara dos Deputados e o Senado participassem do julgamento.
Mantem-se o controle de constitucionalidade, onde o Supremo Tribunal Federal continuava com
a prerrogativa de controlar a constitucionalidade de leis e atos que desrespeitassem a lei federal e a
constituição.

6.4 1937: CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL


Conhecida como constituição Polaca, outorgada por Getúlio Vargas, no período do Estado Novo,
com Estado autoritário, forte e com presidencialismo empoderado. Foi mantida a forma republicana de
governo e o Estado federado.
O legislativo continua sendo bicameral, mas com uma mudança muito importante: a substituição do
Senado Federal pelo Conselho Federal, tendo grandes implicações na separação dos poderes. O poder
legislativo é o grande alvo desta constituição, uma vez que o presidente outorga e chama para si uma
parcela maior de poder, diminuindo o poder do legislativo.
Havia a participação do poder executivo no poder legislativo, uma vez que o presidente tinha a

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iniciativa e sanção de projetos de leis e promulgação de decretos-leis, como também dominava o poder de
agenda do Congresso Nacional, indicando os temas de cada pauta. De acordo com a constituição autoritária,
o presidente podia mandar suspender o trâmite de qualquer processo legislativo e mandar um projeto
seu, substituindo-o, devendo ter 1/3 de assinaturas de deputados ou de membros do conselho.
Havia a possibilidade de responsabilização do presidente, por impeachment, entretanto, o Conselho
Federal era composto por 10 conselheiros indicados pelo presidente e a Câmara era por meio indireto.
Assim, a possibilidade de responsabilização não era real.
Em relação ao controle de constitucionalidade, este se tornou limitado, pois só por maioria
absoluta de votos que os tribunais poderiam declarar inconstitucionalidade de lei ou ato do presidente.
No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei, que a juízo do presidente fosse necessária ao
bem-estar do povo, este poderá submetê-la novamente ao exame do parlamento, e, caso este a confirmasse
por dois terços dos votos em cada uma das Câmaras, ficaria sem efeito a decisão do tribunal.
Algumas inovações são as eleições indiretas para presidente, a pena de morte e a exclusão do
direito de greve.

6.5 1946: CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL


Esta constituição foi promulgada após a 2ª Guerra Mundial, ao fim da Era Vargas, demonstrando
aquilo que o povo não mais queria e demonstrando o grande desejo pela democracia, trazendo, assim, uma
ampliação nos direitos e garantias fundamentais do povo.
A república e Federação foram mantidas, mas trouxe um recado importante, já em seu art. 1º,
demonstrando que o poder é do povo:

Art 1º - Os Estados Unidos do Brasil mantêm, sob o regime representativo, a Federação e a República.
Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.

O poder legislativo continua sendo bicameral, exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da
Câmara dos Deputados e do retorno do Senado Federal, sendo, os deputados, eleitos como representantes
do povo e, os senadores, como representantes dos estados.
Os poderes voltam a ser equilibrados entre si, com a total equalização entre poder executivo e
poder legislativo. Há o empoderamento do poder legislativo, com uma maior força do Congresso Nacional,
uma vez que, ainda com o veto do presidente em algum projeto de lei, o Congresso pode rejeitá-lo e publicar
a lei. Quanto ao poder judiciário, o STF volta a agir com força, prevendo-se, também, o Tribunal
Federal de Recursos.
A responsabilidade do presidente retorna a ser aquilo que tinha sido conquistado anteriormente, ou
seja, retorna o processo de impeachment, assim como o controle de constitucionalidade volta a ser forte, sem
a possibilidade de rejeição da inconstitucionalidade.

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6.6 1967: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Com a outorga da Carta de 67, o Brasil já conhecia a experiência dos atos institucionais. Lembre-se
que a outorgada foi precedida pelo golpe de 64, onde foi feito o ato institucional número 1, onde há a
ruptura com o sistema que existia anteriormente.
A análise a seguir de determinados artigos do Ato Institucional 1, primeiro ato pós golpe, demonstra
que o eixo central da Constituição passa a ser o poder executivo.

A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte.

Fica, assim, bem claro que a revolução não procura legitimar-se através do Congresso. Este é que
recebe deste Ato Institucional, resultante do exercício do Poder Constituinte, inerente a todas as
revoluções, a sua legitimação.

Art. 1º - São mantidas a Constituição de 1946 e as Constituições estaduais e respectivas Emendas, com
as modificações constantes deste Ato.

Art. 2º - A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República, cujos mandatos terminarão em trinta


e um (31) de janeiro de 1966, será realizada pela maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional,
dentro de dois (2) dias, a contar deste Ato, em sessão pública e votação nominal.

Art. 4º - O Presidente da República poderá enviar ao Congresso Nacional projetos de lei sobre qualquer
matéria, os quais deverão ser apreciados dentro de trinta (30) dias, a contar do seu recebimento na
Câmara dos Deputados, e de igual prazo no Senado Federal; caso contrário, serão tidos como
aprovados.
Parágrafo único - O Presidente da República, se julgar urgente a medida, poderá solicitar que a
apreciação do projeto se faça, em trinta (30) dias, em sessão conjunta do Congresso Nacional, na forma
prevista neste artigo.

Art. 7º - Ficam suspensas, por seis (6) meses, as garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade e
estabilidade.

Ao analisar os artigos, resta clara a ruptura do sistema. Deve-se atentar que, no momento do Ato
Institucional 1, o mandato do presidente estava em curso e, mesmo assim, foi determinada nova eleição -
indireta - em dois dias após a publicação do Ato, rompendo o mandato do presidente em exercício. Ainda,
atribui ao executivo a iniciativa de apresentar qualquer projeto de lei, com possível aprovação tácita,
demonstrando a disparidade entre os poderes.
Com a edição do Ato Institucional 4, publicado em 1966, dá-se a entender que houve a convocação
do Congresso Nacional para a legitimação do texto visivelmente programado pelo executivo e para o
executivo.

Art. 1º - É convocado o Congresso Nacional para se reunir extraordinariamente, de 12 de dezembro de


1966 a 24 de janeiro de 1967.
§ 1º - O objeto da convocação extraordinária é a discussão, votação e promulgação do projeto de
Constituição apresentado pelo Presidente da República.
§ 2º - O Congresso Nacional também deliberará sobre qualquer matéria que lhe for submetida pelo
Presidente da República e sobre os projetos encaminhados pelo Poder Executivo na última sessão
legislativa ordinária, obedecendo estes à tramitação solicitada nas respectivas mensagens.
§ 3º - O Senado Federal, no período da convocação extraordinária, praticará os atos de sua competência
privativa na forma da Constituição e das Leis.

Ademais, embora o preâmbulo da nova constituição diga que foi promulgada, o contexto evidencia

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que foi uma constituição outorgada. Manteve-se a forma republicana e o estado federado, além do
legislativo bicameral.
Há ainda a separação dos poderes, com a centralização do poder no executivo, e a
responsabilização do presidente, com o julgamento de crimes comuns perante o STF, ou perante o
Senado Federal, em casos de crimes de responsabilidade.
O controle de constitucionalidade se manteve, mas os juízes não gozavam mais de garantias
constitucionais.

6.7 1969: EMENDA CONSTITUCIONAL NÚMERO UM


Oriunda de um regime pouco democrático, basicamente se consubstancia numa depuração daquilo
que a Constituição de 67 não atingiu, e também foi convocada por Ato Institucional, trazendo em si as
mesmas características da de 67.
Foi outorgada, em um período em que o Congresso Nacional estava em recesso, pelo próprio
presidente, com a forma republicana e Estado federado mantidos, assim como o legislativo bicameral.
A separação dos poderes tem, agora, uma maior intensidade de participação do poder executivo
dentro do Congresso Nacional, com censura à manifestação política e pública dos integrantes do
parlamento.
A eleição de forma indireta e a responsabilidade do presidente, embora difícil de ocorrer, são
mantidas no texto constitucional, assim como o controle de constitucionalidade exercido pelo STF via
recurso extraordinário.
Uma grande novidade é o capítulo próprio da Segurança Nacional.

6.8 1988: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


Apenas um panorama geral, pois será estudada ao longo das aulas e módulos.
Promulgada, chamada de constituição cidadã, em que manteve a forma republicana e Estado federado
e o legislativo bicameral, com a separação dos poderes equilibrada, em que se equalizam os poderes, mas se
mantém a possibilidade da legislação de urgência, podendo o presidente editar medidas provisórias. Ainda,
ampliam-se os direitos fundamentais. A responsabilidade do presidente é mantida por processo de
impeachment, e o controle de constitucionalidade é muito mais intenso.

CONSTITUIÇÃO 1824 1891 1934 1937

Origem Outorgada Promulgada Promulgada Outorgada

Forme de Monarquia República República República


Governo

Estado Unitário Unitário Federado Federado Federado

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ou Federado

Separação dos Poder Empoderamento do Três poderes em Centralização


Poderes Moderador parlamento igualdade poder executivo

Legislativo Bicameral Bicameral Bicameral Bicameral


Conselho Federal

Responsabilidade Irresponsabilidade Impeachment Impeachment Impeachment


Presidente do Imperador apenas em tese

Controle Const. - STF STF Restrito

Voto secreto, Eleição indireta,


Inovações Liberdade Liberdade religiosa Justiça Eleitoral e pena de morte, fim
religiosa restrita ampla do Trabalho do direito de greve

CONSTITUIÇÃO 1946 1967 1969 1988

Origem Promulgada Outorgada Outorgada Promulgada

Forme de República República República República


Governo

Estado Unitário Federado Federado Federado Federado


ou Federado

Separação dos Equilibrado Centralização Centralização Equilibrado


Poderes poder executivo poder executivo

Legislativo Bicameral - retorno Bicameral Bicameral Bicameral


Senado

Responsabilidade Impeachment Impeachment Impeachment em Impeachment


Presidente tese

Controle Const. STF STF STF STF - muito


intenso
Retirada garantias
Inovações Ampliação direitos constitucionais Segurança Ampliação direitos
fundamentais magistratura Nacional fundamentais

7 PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO
O preâmbulo nos dá um indicativo do modelo de Estado adotado. É onde se encontram os grandes
valores compartilhados pela nação. O STF já disse que o preâmbulo não condiciona a atuação do
intérprete, mas dá um caminho de interpretação, trazendo valores subjacentes ao texto que se outorga ou

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se promulga.

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um
Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”.

8 ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS


O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias representa um diálogo entre o poder
constituinte que está inaugurando um novo sistema jurídico e aquilo que precisa ser modificado com
mais tempo do que tão só a chegada de um novo texto constitucional, pois é importante que a transição
entre um regime e outro ocorra de forma gradual. Assim, todo e qualquer ADCT serve como ponte de
transição entre o regime que se encerra e o regime que se inicia.

9 RELAÇÕES DO DIREITO CONSTITUCIONAL


Refere-se à dinâmica entre o direito constitucional e todas as outras disciplinas do sistema
jurídico, sendo de direito público ou privado. Todas as disciplinas têm relação direta com o Direito
Constitucional. Um exemplo é o direito ambiental, onde toda a sua base é fundamentada no texto
constitucional, a partir do art. 225, CF3.
O Direito Constitucional se relaciona com todos os ramos do direito. A ideia principal é que todos os
ramos do direito devem encontrar algum fundamento de validade no texto constitucional.

10 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL


A fonte primária do Direito Constitucional sempre será o texto constitucional em vigor. Ademais,
a jurisprudência, quando se tratar de decisão do STF com eficácia vinculante, também deve ser considerada
uma fonte primária, tendo em vista que nestes casos, o Supremo Tribunal Federal não está apenas
interpretando o texto constitucional, como também vinculando toda a administração pública e o poder
judiciário àquela interpretação.
A jurisprudência não vinculante do STF e a doutrina são fontes secundárias do Direito
Constitucional, sendo que esta serve para auxiliar na interpretação do magistrado ou legislador, mas não o
vinculando.

3
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.

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11 CONSTITUIÇÃO
11.1 CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO
A concepção sociológica traz a ideia de que o texto constitucional representa todos os valores,
ideologias e fontes de poder existentes em determinado contexto, momento histórico-cultural, onde a
representação política fala em nome das minorias e seus representados.
Já a concepção política afirma que a CF é o resultado das associações políticas representadas
dentro da Assembleia Nacional Constituinte, além de atribuir à realidade a forma como ela realmente
acontece, resultante daquilo que o momento político determina que ela seja.
Por fim, existe a concepção jurídica, que tem a visão metodológica e pura do texto constitucional
herdada de Hans Kelsen, com a teoria pura do direito. A ideia é de que o texto constitucional é bastante em
si mesmo, resultante e tópico de uma estrutura normativa, não se apegando a valores. Essa concepção trata a
norma como fim em si mesma.

11.2 ESPÉCIES
> Quanto ao Conteúdo
Podem ser normas materialmente constitucionais, que são aquelas normas que precisam estar na
CF, pois são sua essência. Ou, podem ser normas formalmente constitucionais, que não precisavam estar na
CF, mas foram inseridas no texto constitucional.
As normas formalmente constitucionais não são menos importantes que as materialmente
constitucionais. Uma vez inseridas na Constituição Federal, toda norma tem o mesmo nível hierárquico.

> Quando à Forma


A forma da constituição pode ser escrita, como a Constituição Federal de 88, ou, ainda, não escrita,
como a constituição do Reino Unido, que é um texto baseado em costume e vincula judiciário, legislativo e
executivo, o parlamento e a cidadania.

> Quando ao Modo de Elaboração


São dogmáticas as constituições fruto do trabalho do poder constituinte, seja ele legítimo ou
ilegítimo. Enquanto que as constituições históricas herdam costumes e são concebidas a partir dos anos e
séculos, sendo muito mais estáveis.

> Quanto à Origem


Uma constituição promulgada é aquela que possui grande lastro democrático, ou seja, que o texto
constitucional foi produzido por uma Assembleia Nacional Constituinte e constituída de forma legítima.
Já a constituição outorgada possui pouca ou nenhuma democracia. Pouca quando o representante
eleito democraticamente, abusa o poder e chama para si o poder constituinte que não lhe foi outorgado.

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Exerce poder constituinte originário, outorgando nova constituição quando não lhe foi dado o poder
para tal.

> Quanto à extensão


Constituições sintéticas tem pouca amplitude de texto constitucional. O grande exemplo é a
americana, que possui 07 artigos. Já as constituições analíticas possuem uma amplitude do que é tratado
no texto constitucional, como a Constituição Federal de 1988, com mais de 230 artigos.

> Quanto à Dogmática


A constituição de dogmática ortodoxa prestigia basicamente o poder exercido no momento.
Normalmente decorrente de uma constituição outorgada. Enquanto que, as constituições ecléticas tentam
trazer todas as vertentes ideológicas de uma nação em determinado momento histórico-cultural.

> Quando à Flexibilidade


Em relação à flexibilidade, as constituições podem ser flexíveis, semirrígidas, rígidas ou imutáveis.
As flexíveis são constituições em que seus artigos seriam facilmente manipuláveis e alterados pelo
Congresso Nacional ou parlamento. Leis ordinárias são flexíveis, pois é necessário a maioria simples para ser
aprovada, sem a necessidade de presença de todos os membros. Uma constituição flexível segue o mesmo
pensamento.
Já as semirrígidas apresentam um procedimento um pouco mais sofisticado. Como a lei
complementar, que só se considera aprovada se obtida a maioria absoluta de votos.
As constituições rígidas têm o procedimento de alteração bem mais sofisticado. A EC é um
exemplo, onde é necessário 3/5 de votos na Câmara e 3/5 de votos no Senado, além da dupla votação.
E, por fim, as imutáveis que, como o próprio nome já diz, são aquelas que não podem ser
alteradas em momento algum.

CONSTITUIÇÃO SUPER RÍGIDA: existe uma opinião doutrinária, de Alexandre de Moraes, que
sugere uma classificação específica para a nossa CF/88, dizendo ser super rígida, pois existem normas
que podem ser modificadas, que requerem um procedimento sofisticado. Mas, em contrapartida,
existem normas que não podem ser modificadas - as cláusulas pétreas.

11.3 CLASSIFICAÇÃO CF/88

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ANALÍTICA ECLÉTICA

ESCRITA RÍGIDA OU
SUPER RÍGIDA
CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 88

FORMAL E DOGMÁTICA
MATERIALMENTE
CONSTITUCIONAIS PROMULGADA

12 PODER CONSTITUINTE
12.1 ESPÉCIES
Poder constituinte originário vem demonstrado no preâmbulo da Constituição Federal:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um
Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Aqui, se tem uma CF oriunda do trabalho originário de uma Assembleia Nacional Constituinte
eleita para tal tarefa. Percebe-se, então, que o poder constituinte originário pode ser exercido através de
Assembleia Nacional, ou a partir de uma revolução e guerra. É graças a esse tipo de manifestação que se
trazem as resultantes como característica do poder originário. É aquele que origina a CF e o novo Poder de
Estado, que é revolucionário, decorrido de guerra ou de uma Assembleia Nacional, sendo conhecido como
ilimitado ou incondicionado, se exercendo o máximo poder que o Estado pode. Assim, o poder originário é
aquele que dá a origem a algo, que origina a própria Constituição.
Já o poder constituinte derivado, é aquele que deriva de algo, ou seja, do próprio texto
constitucional. Portanto, só pode ser exercido nos limites do texto do qual deriva. Diferentemente do
originário, encontra condições e limites jurídicos para o seu exercício. O art. 60, da CF, traz vários limites
ao poder constituintes. Deste modo, pode alterar o texto constitucional, desde que dentro dos limites
impostos pelo próprio texto.
Ainda, existe o poder constituinte decorrente significa que decorre do texto constitucional. Busca
fundamento no texto no qual também encontra os seus limites. Diferente do poder derivado, que produz
emendas a CF, que muda o texto constitucional, o decorrente é exercido pelos estados-membros quando

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confeccionam suas próprias Constituições. O art. 11 do ADCT é um exemplo de poder derivado:

Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no
prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta.
Parágrafo único. Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis
meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na
Constituição Federal e na Constituição Estadual.

12.2 CARACTERÍSTICAS

13 REFORMA CONSTITUCIONAL
A reforma constitucional pode ser feita através da revisão constitucional ou da emenda
constitucional. Antes de tudo, é importante lembrar um aspecto específico de que, às vezes, o congresso
promulga uma emenda constitucional, que é produzida no contexto de poder constituinte derivado e não
encontra limites no tempo. A história constitucional compreende a experiência de que logo depois que se
promulgou a CF, se sabia que existiram imperfeições no texto. E se sabia que mudar a CF era algo muito
complexo.

13.1 REVISÃO CONSTITUCIONAL


A revisão constitucional poderia ocorrer até cinco anos após a promulgação da Constituição
Federal, sendo realizada pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional em uma
sessão unicameral. Assim, a revisão foi um modo de diminuir as imperfeições que a CF tinha em seu
início.

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Foram realizadas 6 Emendas Constitucionais de Revisão, promulgadas pela mesa do Congresso
Nacional em 7 de junho de 1994. Após tais atos, se encerrou o prazo de cinco anos para a realização de
revisões. Assim, finalizado o prazo, não é mais possível tocar no assunto de revisão, pois é limitada no
tempo.

13.2 EMENDA COSTITUCIONAL


A emenda constitucional tem um aspecto importante que demanda atenção, que é a promulgação.
Quando se fala em promulgação, se pensa logo em presidente da república. Entretanto, quando se fala em
emenda constitucional, quem faz a promulgação são as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, conforme o art. 60, §3º da CF.
Assim, não há que se falar em veto do presidente, pois essa é uma questão muito mais legislativa
do que executiva e, também, porque o artigo nada fala em revisão pelo presidente. Passada pela Câmara
dos Deputados, passada pelo Senado Federal, a emenda será promulgada.
Quem exerce o poder de emenda é o poder constituinte derivado, que modifica a Constituição
Federal. Como os demais, este poder e a produção de emendas também têm limites jurídicos. São três
possibilidades de limites: formais, materiais e circunstanciais.

13.3 LIMITES FORMAIS, MATERIAIS E CIRCUNSTANCIAIS


Como visto anteriormente, os limites são impostos ao poder constituinte derivado, no momento da
edição e criação de emendas à Constituição Federal. Os limites formais podem ser estabelecidos na
legitimidade para a proposta de emenda, conforme o art. 60 da CF:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se,
cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

Para começo de conversa, quando se pensa em limites formais, deve se pensar quem é que pode dar
início ao processo de emenda, conforme demonstrado no artigo acima transcrito. Assim, em termos
formais, se tem a legitimidade, o procedimento e o quórum para aprovação. A proposta será discutida e
votada em cada uma das Casas do Congresso Nacional, em dois turnos, devendo obter, em ambos os
turnos, três quintos (3/5) dos votos dos respectivos membros. Isso significa que a emenda deve ser
aprovada por quatro vezes dentro do Congresso Nacional. A matéria de emenda que for rejeitada ou
prejudicada justamente por não atingir o quórum específico para aprovação, não poderá ser objeto de nova
proposta na mesma sessão legislativa.
Outra possibilidade de limites são os limites materiais, ou seja, matérias que não podem ser
tratadas por emendas constitucionais e que estão descritas no art. 60, §4º da CF, conhecidas como cláusulas
pétreas ou de barreira:

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Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
(...)
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

Por fim, existem os limites circunstanciais, que são as circunstâncias que impedem a votação das
emendas. Deste modo, a Constituição Federal não pode ser emendada quando houver intervenção federal,
estado de defesa ou estado de sítio, conforme o art. 60, §1º do texto constitucional.
Existe também uma questão histórica, em que a Constituição do império de 1824, previu os limites
temporais. Proibiu a possibilidade de qualquer alteração de seu texto por cinco anos a partir de sua outorga,
tamanha era a necessidade de estabilização. Refletindo sobre esta estabilidade programada de cinco anos, se
pensa que naquele momento estava a se reafirmar e, em segundo, a constituição estava sendo outorgada pelo
imperador, que também exercia o poder moderador, centralizando todo o poder nas mãos deste, não querendo
que a Assembleia modificasse este poder.

14 NORMAS CONSTITUCIONAIS INCONSTITUCIONAIS


O próprio poder constituinte originário poderia incorrer em inconstitucionalidade, conforme
Otto Bachof. Devem existir direitos tão importantes ao ser humano, que condicionam o trabalho do poder
originário, é a questão do direito natural de cada indivíduo.
O professor Paulo Bonavides diz, acerca do assunto, que não passa de um devaneio jusnaturalista de
Otto Bachof, pois, para Bonavides, em tese, a questão envolve limites ao poder originário e um dilema, o
texto escrito, com núcleo essencial de direitos humanos de cada indivíduo. Mas achou outro problema:
como poderia o judiciário chamar para si a prerrogativa de dizer aquilo que o poder que lhe deu
origem poderia ou não fazer? Por isso, diz que se o poder judiciário chegar a esse ponto, estará dando um
golpe de estado jurisdicional. É um problema de ordem lógico-sistemática.

15 APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS


15.1 SISTEMA JURÍDICO E COMPATIBILIDADE VERTICAL
Para entender este tópico, é necessário analisar dois pressupostos: hierarquia normativa e fundamento
de validade na Constituição Federal.
O sistema jurídico brasileiro, conforme se estuda, é um sistema piramidal, sendo a representação
do sistema, cujo vértice superior é ocupado pela Constituição Federal, da unidade federada. Esse sistema
tem uma lógica. Capitaneada pela CF, toda a pirâmide é repleta de atos normativos, dos mais importantes
aos menos importantes. E quanto mais acima, mais raro é o ato normativo.

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Com isso, o sistema é baseado na lógica de hierarquia entre as normas. O que interessa é
comprovar que tem um sistema e uma linguagem lógica, que Kelsen faz na teoria pura do direito. Na
teoria, tem a expressão “fundamento de validade” que significa que o sistema jurídico brasileiro é baseado
na seguinte lógica: uma norma encontra fundamento na norma que lhe é imediatamente superior e
assim sucessivamente, até que uma norma encontre fundamento na Constituição Federal.
Uma norma jurídica passa a existir quando ela é submetida a publicação e, mesmo existente, pode
ser que não esteja em vigor, não podendo ser aplicada. Ultrapassado o período da vacatio legis, ou seja, o
período que não está sendo aplicada, passará a entrar em vigor, mas pode ser que não tenha eficácia pois
ainda não atinge os fatos cotidianos. A existência, vigência e eficácia são os três planos do direito.
Uma norma encontra fundamento de validade naquela que lhe é superior e assim chegamos na CF.
Isso quer dizer que todas as normas encontram direta ou indiretamente o fundamento de validade na
CF. Assim, todas as normas devem ser verticalmente compatíveis com o texto constitucional. Se encontra
fundamento na constituição, a norma é constitucional. Isso significa que, embora uma lei atinja os três
planos do direito (existência, vigência e eficácia) não necessariamente será constitucional e válida, pois, para
isso, deve ter seu fundamento direta ou indiretamente na Constituição Federal.
Já que todas as normas devem encontrar fundamento na CF, qual seria o fundamento da própria
Constituição Federal? Para Kelsen, o fundamento é a norma hipotética fundamental.

15.2 DIREITO CONSTITUCIONAL INTERTEMPORAL


Envolve a constituição e a ordem constitucional anterior, a emenda constitucional e a constituição em
vigor, além de envolver a constituição e o direito infraconstitucional anterior, que serão analisados
individualmente.
A constituição e a ordem constitucional anterior envolvem o questionamento de o que acontece com a
ordem constitucional anterior, quando há uma nova Constituição promulgada ou outorgada. Com a chegada
do novo, a única novidade no sistema jurídico é a Constituição Federal, permanecendo, o resto, igual. Assim,
os atos normativos (leis, decretos, portarias, tratados internacionais) anteriores interagem com a nova
Constituição? O importante é a recepção do sistema jurídico anterior, com a mesma lógica de fundamentos
de validade, desde que haja compatibilidade entre este sistema com a nova Constituição Federal. Tudo aquilo
do sistema anterior que for compatível, terá recepção. Tudo aquilo que for incompatível, está revogado. É a
chegada de um novo fundamento de validade para todos aqueles atos normativos.
Já a emenda constitucional, com relação à nova Constituição em vigor. Em 1998 o art. 195 da CF
trazia a possibilidade de tributo sobre várias bases de cálculo, mas não previa a receita bruta como base de
cálculo. Como se sabe, os tributos têm várias classificações, mas tem uma especial, que diferencia importo de
taxa e de contribuições sociais. Um dos parágrafos do referido artigo exigia lei complementar para se criar
novas contribuições para seguridade, ampliando a base do artigo.
O que aconteceu foi que, se editou a lei ordinária n. 9.718, que usava como base de cálculo a receita

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bruta não prevista na redação original do texto constitucional e que padecia de vício de inconstitucionalidade
formal, uma vez que a exigência era de lei complementar, não ordinária, sendo notoriamente
inconstitucional. A lei ordinária foi publicada e, dias depois, foi promulgada a EC 20, que alterava a redação
originária do art. 195 da CF, autorizando a tributação com base na receita bruta por lei ordinária. A questão
que se colocou foi: pode uma emenda constitucional promulgada constitucionalizar uma lei que é
inconstitucional na sua origem, uma vez que a emenda foi publicada após a lei. O STF decidiu que é proibida
a constitucionalização, ou seja, tornar constitucional aquilo que, na origem, é inconstitucional.
A relação da Constituição com o direito infraconstitucional anterior a ela pressupõe a continuidade da
ordem jurídica, que apenas traz um novo fundamento de validade, recepcionando aqueles atos/leis
infraconstitucionais que tem compatibilidade material com a nova Constituição, e revogando aqueles que não
tem compatibilidade. E quanto a compatibilidade formal? Se for apenas incompatibilidade de forma, ou seja,
uma lei ordinária que tratou de temas na época afetos a lei ordinária, será recepcionada na qualidade de lei
complementar se assim a nova Constituição descrever.

15.3 DIREITO CONSTITUCIONAL INTERNACIONAL


Envolve os tratados internacionais, o bloco de constitucionalidade e o constitucionalismo em rede. Os
tratados internacionais podem ser analisados em suas espécies ou procedimentos ou hierarquia. É claro que o
procedimento depende da espécie.
O bloco de constitucionalidade é uma teoria que ecoava principalmente no direito internacional
público, onde os direitos fundamentais não seriam aqueles previstos apenas na literalidade no texto
constitucional, mas também aqueles inseridos nos tratados internacionais, por conta do art. 5º, §2º da CF.
Isso fez com que se dividisse os tratados internacionais em duas classes: os tratados comuns e os de
hierarquia superior, sendo, este último, os tratados internacionais de direitos humanos. O STF não
acolheu essa tese na época de criação do bloco de constitucionalidade, onde o tratado internacional teria nível
de lei ordinária. Ocorre que, com a EC 45, foi inserido um novo parágrafo ao art. 5º da CF, onde se diz:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.

Através da EC 45, o poder constituinte derivado não só acolheu a tese do bloco de


constitucionalidade, como a inseriu no texto constitucional. E a partir de então, se tornou possível a
existência de tratados internacionais de direitos humanos num nível de emenda à CF, com a
possibilidade de modificar e incrementar o art. 5º da Carta Magna. Um exemplo de tratado internacional

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que tem força de Emenda é a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Assim, o mecanismo de compromisso dos tratados comuns e de direitos humanos é o mesmo, é o
Congresso Nacional, aprovando o compromisso por maioria simples, o que equivale à lei ordinária, sendo
um tratado comum; ou aprovando ao molde de emenda constitucional, com três quintos de voto e dupla
votação em cada uma das Casas. Caso o Congresso Nacional opte pela emenda, os tratados internacionais
de direitos humanos passam a ter nível hierárquico de emenda.
Quanto à hierarquia dos tratados internacionais, antes se valia apenas o nível de lei ordinária, até a EC
45 em 2004. Assim, os tratados tinham força apenas de lei ordinária no sistema jurídico brasileiro. Após a
EC, foi acrescentado que os tratados que versem sobre direitos humanos, desde que preenchidos os
requisitos, poderiam alcançar a mesma hierarquia de uma emenda constitucional. E como ficam os tratados
de direitos humanos anteriores à EC 45 e que não seguiram o rito, pois este ainda não existia?
Foi necessário, também, que o STF analisasse a questão do nível supralegal, quando foi analisado o
Pacto de San José da Costa Rica, que foi inserido no sistema jurídico antes de 2004 e, no momento da
promulgação da EC 45, não poderia ter nível de emenda, mas também não podia ter nível de lei
ordinária pela importância do assunto. O STF decidiu, assim, que os tratados internacionais de direitos
humanos que não seguiu o rito e os requisitos necessários, tem nível hierárquico supralegal.
Já constitucionalismo em rede tem fundamento no art. 4º, II da CF, onde se prevalecem os direitos
humanos para reger as relações internacionais da República Federativa do Brasil. Quando se fala nisso, se
fala em dinamismo constitucional, com diálogo de fontes, entre normas e tratados nacionais e
internacionais que se predisponham a defender os direitos humanos, tal qual o princípio das relações
internacionais no sistema jurídico brasileiro da prevalência dos direitos humanos.

16 INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS


16.1 PECULIARIDADES
A superioridade hierárquica é uma das peculiaridades da interpretação das normas constitucionais,
ou seja, a Constituição Federal detém superioridade normativa em relação a todo o sistema jurídico
brasileiro. E isso faz com que o diálogo deste texto tenha uma dupla vertente, tendo um diálogo com toda a
base piramidal de todos os atos, onde o que vale é o respeito à CF. Mas a CF sendo a cabeça do sistema

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jurídico, também é um diálogo com o passado, pois um texto constitucional carrega muito do que não se
pretende continuar. Assim, a superioridade impõe o diálogo entre a Constituição e a legislação infra, além do
diálogo entre a Constituição e o passado, com todas as antigas constituições.
Além disso, outra peculiaridade é a natureza da linguagem, pois a Constituição Federal é um texto
diferente de todos os outros, pois está repleto de normas abstratas, tendo semântica aberta. O texto
constitucional traz os princípios gerais, que não se tem como entender a amplitude da norma, se não com o
caso concreto.
Ainda, o caráter político é uma peculiaridade muito importante. Essa informação pode chocar a
muitos, mas toda e qualquer norma do sistema jurídico brasileiro é política, ao menos, as normas
primárias previstas no art. 59 da CF:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:


I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das
leis.

Todas, de um jeito ou de outro, são resultantes da expressão “do poder político” exercido pelo poder
executivo e legislativo. O fato é que o texto jurídico é resultante de opções políticas. Textos políticos,
produzidos por políticos eleitos para este fim. Se isso acontece com tratados, medida provisória, lei ordinária,
a intensidade do caráter políticos do texto constitucional é muito grande. Apesar de ser político, é feito
para limitar o próprio poder político.

16.2 PARTICULARIDADES
Todas as particularidades têm um único objetivo, qual seja, a defesa e harmonia da Constituição
Federal. A interpretação sistemática é um postulado que preconiza que as normas constitucionais não
podem ser analisadas de forma isolada, como se fossem elementos autônomos, independentes, caseados
em si mesmos.
O princípio da unidade do texto constitucional é outro postulado de aplicação das normas
constitucionais. Não existe hierarquia entre um ou outro direito, devendo levar em consideração a análise
do caso concreto. Não há hierarquia entre normas constitucionais originárias, pois se for norma decorrente de
emenda, ou seja, fruto do exercício do poder constituinte derivado, é evidente que haverá hierarquia entre as
normas da emenda e o art. 60 da CF.
Presunção de constitucionalidade das leis é outra particularidade, onde a constitucionalidade é
presumida, ou seja, toda e qualquer pessoa deve cumprir as leis e atos normativos no Brasil. Isso envolve
tanto a cidadania comum, como toda e qualquer autoridade pública, não podendo nem o presidente

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deixar de cumprir uma lei sob o argumento de entende-la inconstitucional. Só pode deixar de cumprir uma lei
após a declaração de sua inconstitucionalidade e invalidade. Ainda, em caso de dúvida, a
inconstitucionalidade da norma não deve ser declarada.
A última particularidade é a interpretação conforme a Constituição, sendo um mecanismo de
controle de constitucionalidade. Havendo alguma interpretação possível que permita afirmar-se a
compatibilidade da norma com a Constituição, em meio a outras que levarem à inconstitucionalidade, deve, o
intérprete, optar pela compatibilidade, mantendo o preceito em vigor. Primeiro, se escolhe a interpretação
da norma que mantenha a harmonia com a Constituição Federal, segundo, deve se notar que está se buscando
o sentido menos evidente para a norma, mas devendo escolher a interpretação mais coerente com a
manutenção do texto legal.

17 HERMENÊUTICA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS


17.1 EFICÁCIA DAS NORMAIS CONSTITUCIONAIS
As normas constitucionais podem ser classificadas em eficácia plena, contida, limitada e
programática. Atualmente, se está interessado em agregar eficiência e eficácia a toda e qualquer norma do
texto constitucional. A norma de eficácia plena tem aplicação imediata e, no texto constitucional, todas as
normas têm eficácia plena, a não ser que o texto diga algo em contrário. E na Constituição Federal, é o que
acontece quando se tem normas de eficácia contida, limitada.
As normas de eficácia contida, ou restringível, traz um direito que pode ser restringido pela lei,
como, por exemplo, o art. 5º, §1º da CF, que estabelece que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
coisa senão em virtude de lei. Ou seja, o direito de fazer ou deixar de fazer qualquer coisa pode ser
restringido em virtude de lei.
Já as normas de eficácia limitada pressupõem uma norma constitucional que não tem aplicação
imediata e que, para atingir a sua eficácia, depende da intervenção do legislador. A ideia é como traz o art.
5º, VII, onde é assegurada a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares, mas enquanto
não vier lei regulando, a norma tem eficácia limitada.
Por fim, as de eficácia programática envolve a questão das políticas públicas. A doutrina entende
que não existe norma programática, pois se assim estiver, está a depender de um dia o direito ser atingido,
de o Estado realizar ou não a política pública. Quando se fala em programáticas é importante fazer análise
crítica, buscando sempre a densidade normativa mínima pro texto constitucional e que, a partir do
momento que se tem algo escrito na constituição, por mais que seja difícil implementar aquele direito, no
mínimo ele veda qualquer estipulação em contrário e revoga qualquer disposição anterior em
contrário. E quando se quer justificar que não se admite mais normas programáticas, se está querendo
chamar atenção para os objetivos da República Federativa do Brasil, presentes no art. 3º da CF:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

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I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

17.2 FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO


Esse tema foi trabalhado por Konrad Hesse, onde o seu ponto de partida foi o questionamento acerca
do que mais valia: o texto da constituição ou o poder exercido em uma nação. Assim, faz uma crítica, onde
diz que o texto constitucional pode vencer e ser maior que o poder, desde que haja vontade de constituição,
com que todos os integrantes acreditem na supremacia constitucional, defendendo-a e respeitando-a no seu
dia-a-dia. A interpretação evolutiva nada mais é do que o esforço hermenêutico evolutivo para agregar
eficiência ao texto de 88 em uma época que já se evoluiu tecnologicamente, por exemplo. Tentar extrair,
num contexto de força normativa, extrair a maior força normativa do texto em novos contextos, uma vez que
já se ultrapassaram trinta anos de constituição e precisam ser reinterpretadas a luz dos novos tempos.
Proibição de retrocesso é algo importante, pois não se admite o retrocesso do nível civilizatório
de uma nação, envolvendo a alteração da CF, mudança de CF e, acima de tudo, a interpretação
constitucional.
Mutação constitucional deve ser analisada com o assunto de reforma constitucional, pois são
diferentes. A reforma pode ser feita por revisão constitucional ou por emenda constitucional, como já
visto. A mutação constitucional é a mudança de significado da Constituição sem mexer no texto, pela
evolução dos tempos e dos contextos. Feita por via interpretativa, adapta o texto aos novos contextos.

18 FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


Estão previstos no art. 1º da CF:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.

Este é o início da Constituição, onde se estabelece que está a se tratar de uma República
Federativa, em um Estado Democrático de Direito. O artigo traz cinco incisos que são: soberania,
cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo
político.
A soberania trata da igualdade entre Estados em âmbito internacional, conforme a ONU. União e
República Federativa do Brasil são diferentes, pois a União é a soma dos Estados federados e o seu chefe é

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o Chefe de Governo. Já a República Federativa do Brasil trata de Chefe de Estado, que tem
representatividade na esfera internacional. Assim, a soberania é da República Federativa do Brasil, não
da União.
Soberania externa é aquela entre os Estados soberanos em âmbito internacional. Já a soberania
interna é a liberdade que um Estado tem para conformar o seu modelo de Estado, a sua estrutura elementar
para se relacionar com seus cidadãos. É o conceito de soberania interna que vem sendo relativizado com o
passar do tempo.
A cidadania envolve todo e qualquer individuo que viva sob a nação brasileira. Assim, é muito mais
ampla do que a noção e capacidade eleitoral ativa e passiva. Cidadania é muito mais que capacidade
eleitoral.
A dignidade da pessoa humana é qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais
mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa corresponsável nos
destinos da própria existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos.
Como visto, constitui um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, inerente à República
Federativa do Brasil. Sua finalidade, na qualidade de princípio fundamental, é assegurar ao homem um
mínimo de direitos que devem ser respeitados pela sociedade e pelo poder público, de forma a preservar
a valorização do ser humano.
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, conforme Eros Roberto Grau, o correto não
seria os valores sociais do trabalho de um lado e a livre iniciativa de outro, pois o dispositivo enuncia como
fundamentos tanto o valor social do trabalho quanto o valor social da livre iniciativa. Portanto, a livre
iniciativa não é tomada, enquanto fundamento da república, como expressão individualista, mas sim no
quanto expressa de socialmente valioso. É uma interpretação funcionalista de algo que, até 1988, era tida
como individualista.
Já o pluralismo político viabiliza o trâmite da pluralidade de ideias, aspirações, facções e forças da
sociedade, que estão em permanente debate, em especial em um país de proporções continentais. A base do
pluralismo político é a liberdade de exposição da mais variada gama de opiniões.
Não se deve, entretanto, confundir pluralismo político com pluripartidarismo, sendo, este último, a
consequência da adoção do pluralismo político enquanto fundamento da República Federativa do Brasil.

19 OBJETIVOS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


Quando se pensa em fundamentos, se pensa em base para algo, sendo algo estático. Entretanto,
quando se pensa em objetivos fundamentais, se pensa em metas e caminhos a seguir, sendo algo que é
dinâmico. Os objetivos, conforme o art. 3º da CF são:

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Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

Os objetivos fundamentais mostram os horizontes que a República quer alcançar, ou seja, o


endereçamento teleológico da República Federativa do Brasil, as diretrizes a serem seguidas por todas as
instâncias de poder e por toda e qualquer pessoa que integra a república, sendo todos diretamente
responsáveis para atingir os objetivos descritos.

20 PRINCÍPIOS DA REPÚBLICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS


É a partir do art. 4º da CF que se evidencia como a República se relaciona com outros Estados
Soberanos no contexto internacional, regendo essa relação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações.

Existe uma lógica nestes princípios, qual seja, o de coerência entre os incisos, adaptando a relação
do Brasil com todos os outros Estados soberanos, com relação ao respeito entre ambos.
Um dos princípios é a prevalência dos direitos humanos, que trata de um diálogo elementar da
república com todos os demais países democráticos, em busca da solução dos conflitos, onde os países
cooperam em prol da humanidade. A permeabilidade do sistema e a integração entre sistemas são
informações importantes quando se fala no assunto. Quando se diz que o Brasil em suas relações
internacionais é permeável em prol dos direitos humanos, se está dizendo que o Brasil admite o diálogo de
fontes. Já a integração, se está dizendo que o art. 4º representa a opção constituinte pelo constitucionalismo
em rede, ou seja, uma cooperação entre vários sistemas na busca da maior efetividade e prevalência dos
direitos humanos.
Outro princípio é a solução pacífica dos conflitos, que nada mais é do que solucionar os conflitos de

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forma pacífica, pois o direito é um instrumento para o alcance da paz, solucionando as controvérsias e
regulando/limitando o uso da força. A paz é a essência íntima do direito.
A cooperação entre os povos trata, também, da ajuda humanitária, algo que muitos países ainda
têm extrema necessidade. O espaço é finito e as necessidades são cada vez mais abundantes; quanto mais se
explora o planeta, mais se depende dele. E quando se fala em cooperação, se fala em todas as nações se
unirem para algo melhor, buscando a defesa do meio ambiente ou equalização de qualidade de vida.
A concessão de asilo político, outro princípio da relação internacional, refere-se a crimes políticos,
perante os quais não prosperam os Tratados de Extradição. A concessão do asilo é ato de soberania do
Estado e está a cargo do Chefe do Executivo Nacional, dentro do seu âmbito de discricionariedade, cabendo
ao STF analisar a legalidade da medida.

21 FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS


Pode se explicar os fundamentos dos direitos humanos através de três correntes doutrinárias. A
primeira é o positivismo, onde o direito humano está fundamentado na Constituição. E se está na CF,
ninguém pode discuti-lo, se apegando ao texto escrito do direito posto e não se preocupa com algo que está
transcendental ao texto. Se assim fosse, o que aconteceria com os direitos humanos se a Constituição fosse
substituída? Assim, esta primeira corrente já foi superada há muitos anos, pois não basta apenas o texto
escrito; é necessário ir além.
A outra corrente é a consensualista, que baseia toda a estrutura de fundamentação do direito humano
no contexto existente na população em determinado período histórico. Vai além do texto normativo,
dizendo que o que está escrito na CF é importante, mas se for derrubada, se tem um caldo cultural que
permite que se fundamente as novas opções no mesmo contexto. Isso faz com que questões de essência,
como os direitos fundamentais, sejam mantidas por largo período. O grande problema e dilema é o de quem
detém o poder argumentativo.
Já a corrente jusnaturalista acredita que se fundamenta a noção de direitos humanos na própria
dignidade humana. Assim, prega que alguns direitos são tão elementares que são inerentes a condição
humana, que não dependem do texto constitucional, existindo pelo simples fato do ser humano ser.

21.1 GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS


Se está a falar de gerações ou dimensões? Tradicionalmente, sempre se encarou como gerações.
Mais atualmente, doutrinadores dizem que deve se utilizar dimensões, pois gerações pressupõem que a
nova geração que chega, elimina a anterior. São várias perspectivas sobre o mesmo tema, qual seja, a defesa
dos direitos humanos.
O modelo de Estado Liberal surge a partir de uma transição do sistema absolutista, para um
sistema limitado pelo próprio poder e pelo próprio texto, surgindo um modelo de estado que encontra limites
no texto da constituição. Entre esses limites do poder do Estado são os direitos fundamentais. Ou seja, o

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Estado pode muito coisa, até o limite dos direitos fundamentais tal qual previsto na CF. Assim, os
direitos de primeira geração são aqueles que servem como barreira ao poder do Estado não podendo,
este, ultrapassar os limites concebidos pelo povo.
Já os direitos de segunda geração nascem quando o Estado se obriga a agir em prol da sociedade.
Esses direitos têm a ver com outro modelo estatal, pois se percebeu que o Estado Liberal não estava mais
cumprindo com as funções necessárias. Assim, o Estado que vinha se abstendo antes, passa a agir e assumir
responsabilidades, prestando auxílio em vários campos de necessidade do cidadão. Estes direitos estão
na CF a partir do art. 6º.
Ainda, surgiram os direitos de terceira, quarta e quinta geração/dimensão. A terceira geração são os
chamados direitos difusos, que são referentes ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente protegido, à
comunicação e outros, nos quais não se pode afirmar com certeza quem são seus titulares, seus obrigados ou
quais sejam seu objeto ou seu conteúdo. Aqui, os direitos não têm titulares específicos.
A quarta geração compõe-se de direitos à liberdade das relações sexuais, ao homossexualismo, ao
aborto, entre outros. Neste caso, no fundo se está depurando liberdade, não sendo, necessariamente, a
existência de quarta geração, uma vez que todos se encaixam no direito de liberdade elencado na primeira
geração.
Por fim, os direitos de quinta geração são conhecidos como “infra-humanos”, ou seja, os direitos
dos animais, dos rios e montanhas, dos mares, entre outros. Aqui, existe um dilema muito grande em relação
aos animais e o reconhecimento destes como sujeitos de direitos.
Quando se avança muito nas gerações, não consegue se identificar um ponto comum entre as
categorias. Ainda, se tem a diversidade de sujeitos e de objeto, como também a diversidade de fundamento,
enfraquecendo o discurso. Quando se alocam outros sujeitos, se está minando a força argumentativa dos
direitos humanos. Tudo isso pode conduzir a uma degradação de uma ideia de que a força de querer
significar tudo, termina não significando nada.

> Existe alguma relação entre as gerações de direitos e os modelos de Estado? A relação entre estes
existe. A medida em que se cria no texto constitucional uma ampla relação de direitos sociais, deixa-se
óbvio que o modelo de Estado adotado é o modelo de Estado Social (na perspectiva dos direitos
humanos). Os fundamentos para se afirmar que o modelo de Estado é o Social, estão na própria Constituição
Federal. Alguns exemplos, são o arts. 6º, 7º e 9º da CF.

22 POSITIVAÇÃO INTERNA
Quando se fala em positivação dos direitos humanos no âmbito interno, deve se analisar a diferente
entre direitos humanos e direitos fundamentais, onde o direito fundamental é a positivação no âmbito
interno de um país e um sistema jurídico de um direito humano previsto e defendido em escala
internacional.

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23 DIREITOS FUNDAMENTAIS
23.1 ROL DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
O rol que a Constituição traz no seu art. 5º é exemplificativo ou exaustivo? A própria constituição diz
que o rol não é exaustivo, pois é admissão a previsão de outros direitos fundamentais, conforme estabelecido
no art. 5º, §2º da CF:

§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.

O art. 6º da CF também prevê direitos fundamentais, demonstrando, assim, que o art. 5º não é
exaustivo. Existem vários artigos do texto constitucional que explicitam de forma direta direitos que, embora
previstos no art. 5º, precisavam de uma depuração específica para cada contexto.

23.2 BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE


É uma teoria que ecoava principalmente no direito internacional público, onde os direitos
fundamentais não seriam aqueles previstos apenas na literalidade no texto constitucional, mas também
aqueles inseridos nos tratados internacionais, por conta do art. 5º, §2º da CF.
Isso fez com que se dividisse os tratados internacionais em duas classes: os tratados comuns e os de
hierarquia superior, sendo, este último, os tratados internacionais de direitos humanos. O STF não
acolheu essa tese na época de criação do bloco de constitucionalidade, onde o tratado internacional teria nível
de lei ordinária. Ocorre que, com a EC 45, foi inserido um novo parágrafo ao art. 5º da CF, onde se diz:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.

Através da EC 45, o poder constituinte derivado não só acolheu a tese do bloco de


constitucionalidade, como a inseriu no texto constitucional. E a partir de então, se tornou possível a
existência de tratados internacionais de direitos humanos num nível de emenda à CF, com a
possibilidade de modificar e incrementar o art. 5º da Carta Magna. Um exemplo de tratado internacional
que tem força de Emenda é a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Quanto à hierarquia dos tratados internacionais, antes se valia apenas o nível de lei ordinária, até
a EC 45 em 2004. Assim, os tratados tinham força apenas de lei ordinária no sistema jurídico brasileiro.

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Após a EC, foi acrescentado que os tratados que versem sobre direitos humanos, desde que preenchidos os
requisitos, poderiam alcançar a mesma hierarquia de uma emenda constitucional. E como ficam os
tratados de direitos humanos anteriores à EC 45 e que não seguiram o rito, pois este ainda não existia?
Foi necessário, também, que o STF analisasse a questão do nível supralegal, quando foi analisado o
Pacto de São José da Costa Rica, que foi inserido no sistema jurídico antes de 2004 e, no momento da
promulgação da EC 45, não poderia ter nível de emenda, mas também não podia ter nível de lei ordinária
pela importância do assunto. O STF decidiu, assim, que os tratados internacionais de direitos humanos que
não seguiu o rito e os requisitos necessários, tem nível hierárquico supralegal.

23.3 TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL


É um tribunal com sede em Haia e, apesar da sua sede ser na Holanda, a sua jurisdição abrange os
territórios de todos os países que assinaram o Estatuto de Roma, ou seja, o Tratado Internacional
Multilateral que criou o tribunal.
O Estatuto de Roma serve pra processar e julgar a prática de crimes que afetam a comunidade
internacional como um todo, como crime de guerra, contra a humanidade ou genocídio. Importante
ressaltar que o tribunal penal internacional exerce a jurisdição complementar, que só passa a funcionar caso
a jurisdição dos países que assinaram o Estatuto deixe a desejar, tanto em casos em que o processo que
não funcionou, quanto para aparato estatal que foi utilizado contra uma pessoa que buscava afirmar sua
inocência.
Uma questão muito importante relacionada ao TPI é a entrega de pessoas para julgamento perante
este tribunal. A discussão não envolve extradição uma vez que extradição é entregar alguém para a sua
soberania, para que lá seja julgada por um crime praticado em outro Estado. Quando se fala em entrega de
pessoa para julgamento, não é o mesmo que falar em extradição, pois como o Brasil assinou o Estatuto de
Roma, o tribunal penal internacional exerce jurisdição em solo brasileiro. Assim, a entrega de pessoa
será para julgá-la em tribunal completamente competente para tal ato.

23.4 CLÁUSULA DE ABERTURA CONSTITUCIONAL


O que está previsto na Constituição não exclui outros direitos e garantias fundamentais
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados. Ou seja, é permitido que uma lei ordinária, lei
complementar ou emenda constitucional amplie o rol de direitos fundamentas. Ainda, pode ampliar o rol
através de tratados internacionais. Assim, os direitos da constituição federal, especialmente pela cláusula de
abertura do art. 5º, §2º, além de exemplificativo, admite integração advinda de tratados internacionais.
Ou seja, se analisa a proteção dos direitos fundamentais em bloco.
Assim, o rol dos direitos da própria Constituição Federal também é exemplificativo, pois a
cláusula de abertura admite a tese do bloco de constitucionalidade, que preconiza que os tratados
internacionais de direitos humanos têm mesma hierarquia que emendas constitucionais.

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23.5 DIREITOS FUNDAMENTAIS COMO PRINCÍPIO
23.5.1 Conceito de Princípio
> O que é um princípio? Esta é a premissa fundamental da aula, pois para o Direito Constitucional,
princípio segue uma perspectiva diferente dos demais ramos do direito.
Está-se acostumado com o conceito de que princípios são as normas fundamentais de uma disciplina,
algo que dá base à disciplina, sendo parte importante e fundamental para tal. Um exemplo pertinente é o
princípio da legalidade, em direito penal.
Diferente perspectiva é utilizada em Direito Constitucional. A Teoria do Direito Constitucional
não admite hierarquia entre normas do texto constitucional, com base na unidade da constituição.
Não havendo hierarquia entre as normas, no Direito Constitucional, princípio segue uma perspectiva
diferente, onde é considerado um tipo de norma jurídica prevista na Constituição Federal com grande
abertura semântica, ou seja, com grande espaço para interpretação.
Em contraponto aos princípios, o Direito Constitucional trabalha com as regras, que são normas
com abertura semântica pequena, ou seja, normas fechadas. Vale lembrar que, Ronald Dworkin dizia
que, as regras fechadas submetem-se ao tudo ou nada, enquanto os princípios admitem co-formação, mas
não podem jamais deixar de ser aplicados.
Princípios, então admitem a co-formação. Deste modo, quando colidem, espera-se que se encontre
uma solução que harmonize os interesses das partes em conflito e que respeite a essência dos princípios
colididos, sem deixar de aplicar um ou outro na sua integralidade.

23.5.2 Características fundamentais que envolvem a discussão sobre direitos fundamentais como
princípios
> Normas Abertas X Normas Fechadas: as normas abertas têm por característica a ausência de preceitos
legais. O art. 5º da CF alega que todos têm direito à vida, igualdade, liberdade. Entretanto, percebe-se que
não é possível saber até onde se estende esses direitos principiológicos a não ser com a análise do caso
concreto no momento em que eles se encontram e colidem com os direitos principiológicos de outrem.
Deste modo, possuem um grande espaço interpretativo para o magistrado, levando muito dos
valores deste, uma vez que não há texto normativo a ser aplicado. Assim, as normas abertas constroem a
norma a partir do caso concreto, levando em consideração a interpretação do magistrado, possibilitando a
discussão acerca das decisões.
No caso das normas fechadas, a principal característica é a falta de espaço para interpretação
desta, devendo ser aplicada de acordo com o que diz o texto normativo.

> Civil Law X Common Law


O sistema brasileiro é reconhecido como Civil Law, onde tudo o que se aplica está na Constituição e
nas demais leis. A principal peculiaridade desse sistema é que tudo deve estar, de algum modo, codificado,

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ou seja, na lei, para o caso do judiciário necessitar aplicar eventuais consequências para a quebra de pacto
social. A visão de mundo do sistema Civil Law acredita em um sistema fechado, onde as respostas estão
nos textos normativos e não na interpretação de quem aplica o a lei.
A evidência de que o Brasil é um país do Civil Law é o art. 4º na LINBD:

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.

Ao se analisar o artigo, percebe-se com clareza a presença de um sistema fechado e escrito. Se houver
lacuna, aplica-se analogia, os princípios gerais dos direitos. É um sistema autorreferencial.
Já no Common Law, o sistema é baseado em decisões judiciais, precedentes, históricos
costumeiros de decisões judiciais. Juízes não estão vinculados a uma lei, mas a todas as decisões que foram
proferidas anteriormente a determinado caso concreto.
Assim, a maneira de aplicar o direito é completamente divergente entre os dois sistemas. Para o
Civil Law, deve-se analisar o texto da lei, onde na maioria das vezes não há espaço para interpretação, uma
vez que se considera um sistema fechado, enquanto o Common Law interpreta fatos e precedentes com uma
abertura semântica muito maior, mas totalmente vinculado a estes.
O direito brasileiro, atualmente, vive um momento de miscigenação entre os dois sistemas acima
descritos. O sistema, que sempre foi fechado, acabou sendo invadido por princípios e normas interpretativas,
que devem ser analisadas de acordo com cada caso concreto.

PRINCÍPIOS REGRAS
Norma Aberta Norma Fechada
Co-formação Tudo ou Nada
Grande Abertura Semântica Abertura Semântica Pequena
Common Law Civil Law

23.5.3 Critérios para conflitos


Há momentos, no direito, em que duas normas entrarão em conflito. Em Direito Constitucional,
existe oito colisões possíveis, quando se trata de regras e princípios, a serem analisadas:

> Conflito entre duas Regras Infraconstitucionais: nesses casos, aplicam-se critérios de especialidade
temporal. Deste modo, a regra especial sempre será aplicada sobre a geral; ou, a regra mais nova sobre a
mais antiga.

> Conflito entre Regra Infraconstitucional e Princípio Infraconstitucional: as normas são de mesma
hierarquia. Ou seja, uma regra de lei ordinária, por exemplo, choca-se com um princípio de lei ordinária.

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Em Direito Constitucional, de acordo com Huberto Ávila, quando existe uma regra, a solução para o caso já
foi determinada pelo julgador. Assim, para a criação da regra, já houve uma ponderação de valores.
Quando existe um princípio, a solução ainda será dada pelo magistrado. Em casos como este, que
deve ocorrer a escolha entre legislador (regra) ou magistrado (princípio), no caso normativo brasileiro,
escolhe-se a lei, logo, a regra infraconstitucional, à exceção quando se entende que a regra seja
inconstitucional. Neste caso, afasta-se a regra e se aplica o princípio.

> Conflito entre Regra Constitucional e Regra Infraconstitucional: a regra da Constituição Federal sempre
prevalece sobre regra infraconstitucional, por uma questão de hierarquia.

> Conflito entre Regra Constitucional e Princípio Infraconstitucional: Novamente, se existe regra da CF,
essa prevalece em razão da hierarquia entre as duas normas. Ademais, a regra já foi criada pelo legislador em
anterior análise do princípio durante o período de sua criação.

> Conflito entre Princípio Constitucional e Regra Infraconstitucional: É a grande problemática


hermenêutica envolvendo o Direito Constitucional.
Em regra, nas colisões envolvendo estas duas normas, utiliza-se a regra infraconstitucional, uma vez
que foi criada a partir de uma ponderação de valores, a não ser que se declare a inconstitucionalidade desta
regra.
A problemática surge quando se questiona a possibilidade de utilizar um princípio constitucional
para declarar a inconstitucionalidade uma regra infraconstitucional. Conforme já dito, o princípio é
semanticamente aberto, ou seja, possui interpretação muito ampla. Assim, é possível a declaração de
inconstitucionalidade da regra infraconstitucional com base em princípio constitucional, devendo-se sempre
atentar para a grande possibilidade de interpretação deste.

> Conflito entre Princípio Constitucional e Princípio Infraconstitucional: irá prevalecer o princípio
instituído pela Constituição Federal, por ser hierarquicamente superior ao princípio infraconstitucional.

> Conflito entre Regra Constitucional e Regra Constitucional: quando há o conflito entre duas regras de
igual hierarquia, deve-se utilizar aquele com maior nível de especialidade.

> Conflito entre Regra Constitucional e Princípio Constitucional: nesses casos, utiliza-se o critério de que,
se há regra, já foi feita a ponderação de valores e princípios. Assim, a regra deverá prevalecer sobre o
princípio.

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23.5.4 Proporcionalidade
Acredita-se que a proporcionalidade é a solução para todos os casos concretos e para o controle do
legislador. Deve-se tomar cuidado, pois a aplicação da proporcionalidade tem seus riscos e limites.

> Quando pode ser aplicado? Quando houver conflitos entre princípios, aplica-se a proporcionalidade do
intérprete. Ou, ainda, quando o texto normativo trabalhar com conceitos jurídicos indeterminados, como a
boa-fé, aplica-se a proporcionalidade com base no caso concreto.
Proporcionalidade e ponderação são técnicas aplicadas em hard cases, ou seja, em casos que
demandam uma reflexão séria e levam à construção da norma que solucionará o caso.

> Quais são as justificativas? A primazia da proporcionalidade é a ponderação. Portanto, os princípios


admitem a ponderação, analisando e considerando os interesses no caso concreto.
Cada princípio possui seu núcleo de proteção normativa que deve ser, sempre que possível,
preservado. Por este motivo que se admite a ponderação, para que, quando em conflito, se harmonizem os
interesses no caso concreto, sem eliminar um dos princípios integralmente.

> Quais são as críticas? A doutrina tradicional se preocupa e afirma que, quando há ponderação dos
princípios e harmonização dos interesses, está se criando norma em caso concreto. Assim, o judiciário
estaria legislando para o caso concreto, mesmo essa não sendo sua função.
Há, ainda, uma segunda crítica, onde um dos princípios mais elementares do Estado Democrático
de Direito é a segurança jurídica. E o pressuposto lógico desta segurança é que se saibam, com
antecedência, as consequências das atitudes. No momento que há a ponderação e a utilização da
proporcionalidade, na construção da norma no caso concreto, esta é criada após a ocorrência do fato,
ferindo o princípio da segurança jurídica, uma vez que as consequências para o fato não têm como ser
previstas antes da análise do caso concreto.

> Quais são os limites? A proporcionalidade está limitada aos seus casos de aplicação, isto é, encontra
limites em todos os casos que não envolvam abertura semântica, ou, ainda que não envolvam o conflito entre
direitos fundamentais.

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23.6 ÂMBITO DE PROTEÇÃO NORMATIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Núcleo Essencial do Direito

Raio de Amplitude
Normativa do Direito

Liberdade Vida Privada

Cada vez que houver o choque entre direitos fundamentais, deve-se utilizar a ponderação,
aplicando-se a proporcionalidade. Assim, se encontrará uma solução para o caso concreto sem atingir o
núcleo essencial de cada direito.

24.6.1 Conceito
Direito fundamental é indefinido a priori, ou seja, é necessária a atitude do intérprete para defini-lo.
Esta atitude é conhecida como definição a posteriori. Assim, o âmbito de proteção normativa do direito
fundamental será definido a partir da análise do caso concreto pelo intérprete. Essa definição, além de
depender da análise do caso concreto, necessita que haja a colisão com outro direito.

> Existe direito fundamental absoluto? Parte-se do pressuposto de que o direito é feito para regulamentar
as relações humanas para uma vida em sociedade tranquila e segura, se utilizando das regras de coerção e
disciplinamento, de modo que, a maioria das normas jurídicas estão acompanhadas de consequentes
coercitivos. Apesar de seguir regras de conduta, a colisão entre direitos é inevitável. Deste modo, não há, em
regra, direito fundamental absoluto.
O que existe é uma garantia absoluta de proteção contra ato arbitrário e contra a própria condição
humana, que é a vedação à tortura, conforme o art. 5º, III, da CF4. Não existe direito fundamental que entre
em colisão com a vedação à tortura, pois não há outro direito com justificativa suficiente para tal colisão.

23.7 COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS


Sempre que houver colisão entre normas, deverá se utilizar da ponderação. Em especial, quando a
colisão ocorrer entre direitos fundamentais, é importante encontrar uma decisão que não desconsidere por
completo um dos direitos.

4
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

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Nesses casos, se está criando uma norma a partir de um caso concreto, após o acontecimento do
fato. Tal norma não é conhecida pelas pessoas envolvidas no conflito, tendo consequências principalmente
no âmbito da segurança jurídica, que é o postulado mais importante do Estado Democrático de Direito,
conforme anteriormente dito.

23.7.1 Precedentes do STF sobre Ponderação


> Caso Gloria Trevi - RCL 2.0405: caso em que Gloria Trevi foi presa no Brasil por estar sujeita ao
processo de extradição, aguardando o julgamento do processo. Notícias informaram que a cantora estaria
grávida, pois sofreu abuso na prisão, durante o cárcere, não sabendo qual dos policiais que a abusou seria o
pai. A prova fundamental para investigar a responsabilidade do crime era o exame de DNA, uma vez que
seria possível saber a paternidade da criança.
Por estar sofrendo processo de extradição, o responsável para julgar a questão sobre a coleta de
material genético era o STF. Os policiais se disponibilizaram a ceder material genético, entretanto, Gloria
Trevi disse que não iria se submeter à coleta em razão do sofrimento que sofrera, além da exposição de sua
intimidade e vida privada.
No presente caso, o direito fundamental da vida privada e intimidade, da autora da reclamação,
entra em conflito direto com o direito fundamental de honra, imagem e vida privada dos policiais.
Ainda, existe o direito fundamental da criança quanto ao reconhecimento de sua paternidade.
Após análise, o STF decidiu aguardar o nascimento da criança para recolher o material genético da
placenta. Deste modo, se respeitaria o direito fundamental da autora e dos policiais, harmonizando os
interesses, sem menosprezar nenhum dos direitos.

5
EMENTA: - Reclamação. Reclamante submetida ao processo de Extradição n.º 783, à disposição do STF. 2. Coleta
de material biológico da placenta, com propósito de se fazer exame de DNA, para averiguação de paternidade do
nascituro, embora a oposição da extraditanda. 3. Invocação dos incisos X e XLIX do art. 5º, da CF/88. 4. Ofício do
Secretário de Saúde do DF sobre comunicação do Juiz Federal da 10ª Vara da Seção Judiciária do DF ao Diretor do
Hospital Regional da Asa Norte - HRAN, autorizando a coleta e entrega de placenta para fins de exame de DNA e
fornecimento de cópia do prontuário médico da parturiente. 5. Extraditanda à disposição desta Corte, nos termos da
Lei n.º 6.815/80. Competência do STF, para processar e julgar eventual pedido de autorização de coleta e exame de
material genético, para os fins pretendidos pela Polícia Federal. 6. Decisão do Juiz Federal da 10ª Vara do Distrito
Federal, no ponto em que autoriza a entrega da placenta, para fins de realização de exame de DNA, suspensa, em
parte, na liminar concedida na Reclamação. Mantida a determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte,
quanto à realização da coleta da placenta do filho da extraditanda. Suspenso também o despacho do Juiz Federal da
10ª Vara, na parte relativa ao fornecimento de cópia integral do prontuário médico da parturiente. 7. Bens jurídicos
constitucionais como "moralidade administrativa", "persecução penal pública" e "segurança pública" que se acrescem,
- como bens da comunidade, na expressão de Canotilho, - ao direito fundamental à honra (CF, art. 5°, X), bem assim
direito à honra e à imagem de policiais federais acusados de estupro da extraditanda, nas dependências da Polícia
Federal, e direito à imagem da própria instituição, em confronto com o alegado direito da reclamante à intimidade e a
preservar a identidade do pai de seu filho. 8. Pedido conhecido como reclamação e julgado procedente para avocar o
julgamento do pleito do Ministério Público Federal, feito perante o Juízo Federal da 10ª Vara do Distrito Federal. 9.
Mérito do pedido do Ministério Público Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para autorizar a realização
do exame de DNA do filho da reclamante, com a utilização da placenta recolhida, sendo, entretanto, indeferida a
súplica de entrega à Polícia Federal do "prontuário médico" da reclamante. (Rcl 2040 QO, Relator(a): Min. NÉRI DA
SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2002, DJ 27-06-2003 PP-00031 EMENT VOL-02116-01 PP-00129).

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> Caso Law Kin Chong - MS 24.8326: Law Kin Chong impetrou Mandado de Segurança perante o STF,
após ser chamado para depor perante a Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados,
formada para investigar fatos relacionados com pirataria de produtos industrializados e sonegação fiscal,
alegando seu direito de imagem, requerendo que seu depoimento não fosse televisionado.
O STF, ao analisar o pedido, decidiu que, em homenagem ao direito de livre informação
jornalística e por não encontrar características de abuso de exposição da imagem do impetrante, haveria
a transmissão do depoimento, sendo negado o Mandado de Segurança.

Em ambos os casos apresentados, a decisão do Supremo Tribunal Federal é passível de discussão,


uma vez que a análise do caso concreto leva em consideração muito dos valores dos julgadores do
processo. Deste modo, a decisão encontrada para cada caso não é, necessariamente, a única possível, visto
que a solução é maleável por contra da proporcionalidade e ponderação dos direitos fundamentais
envolvidos.
O importante é que os precedentes judiciais passam a ter importância no sistema brasileiro,
construindo-se, a partir da análise do caso concreto, a norma. Diante do exposto, a norma criada com base no
caso concreto passa a ser um precedente para futuras aplicações do direito.

23.8 EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


23.8.1 Diferenças entre Estado Liberal e Estado Social
O Constitucionalismo surgiu buscando dar limites ao poder soberano. O ponto de partida do
Constitucionalismo pode ser visto de três ângulos: o primeiro, na Inglaterra, com a criação da Carta Magna;
já o segundo é na França, no momento da Revolução Francesa; e, por último, envolve a Constituição
Americana. O importante é que todos estes momentos buscavam limites para o poder.
Assim se formulou, então, o ideal do Estado Liberal, que divide o poder em três (judiciário,
executivo e legislativo), e que se baseia no discurso democrático, onde a vontade da maioria prevalece
quanto ao poder. É neste momento que há, também, uma maior liberdade individual e igualdade de
direitos. Posto isso, criou-se a possibilidade de cada cidadão, por ser titular de direito, poder exigir este
direito ao Estado, passando a não se exercer mais o poder absoluto e arbitrário por parte deste e dos
governantes.
Uma vez que o poder propriamente dito pertence ao povo, criam-se limites e condutas negativas do
Estado em face de seu povo, como forma de proteção. Essas barreiras são chamadas de direitos de
primeira geração (vida, liberdade, igualdade, propriedade e segurança), onde o Estado não pode invadir a

6EMENTA: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. Depoimento. Indiciado. Sessão pública. Transmissão e


gravação. Admissibilidade. Inexistência aparente de dano à honra e à imagem. Liminar concedida. Referendo negado.
Votos vencidos. Não aparentam caracterizar abuso de exposição da imagem pessoal na mídia, a transmissão e a
gravação de sessão em que se toma depoimento de indiciado, em Comissão Parlamentar de Inquérito. (MS 24832
MC, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 18/03/2004, DJ 18-08-2006 PP-00019 EMENT
VOL-02243-01 PP-00128).

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esfera individual do cidadão, a não ser que o povo quebre o pacto social através de conduta inadequada. No
momento que há a quebra do pacto social, o Estado se envolve apenas naquilo que lhe é permitido dentro das
regras do sistema.
Já o Estado Social surgiu em momento posterior, quando o problema não é mais o limite ao poder do
Estado, mas sim a diversidade social. O Estado passa, então a ter a responsabilidade com a sua população.
Enquanto que, no Estado Liberal, era exigida uma postura negativa, o Estado Social requer uma atitude
positiva por parte de seus governantes, inclusive criando políticas públicas focadas em diminuir a
disparidade entre os particulares. Um dos mais fortes exemplos do Estado Social é o Código de Defesa do
Consumidor.
Resta claro que o Brasil, após 1988, resolveu adotar o Estado Social, conforme os preceitos da
Constituição Federal, em especial, do art. 3º:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

PARA A PROVA: É interessante fazer uma redação sobre o estudo em paralelo entre Estado Liberal e
Estado Social, com argumentos estruturados e citações para relembrar o assunto e não esquecer nas
provas.

23.8.2 Eficácia Vertical e Eficácia Horizontal


A eficácia vertical existe quando, na relação jurídica encontra-se, de um lado, o Estado e, de outro,
um cidadão, onde o poder do Estado é tão intenso em relação ao cidadão que é necessário a criação e
utilização de uma Constituição Federal para limitá-lo e assegurar os direitos individuais daquele.
Em contrapartida, a eficácia horizontal existe quando a relação jurídica se dá apenas entre
particulares.

> Os particulares, quando envolvidos na relação jurídica, estão vinculados aos direitos fundamentais?
Essa é a questão que diversos doutrinadores, como Ingo Sarlet e Canotilho levantam acerca da eficácia dos
direitos fundamentais nas relações privadas.
Ingo Sarlet afirma que “Em suma, cuida-se de saber até que ponto pode o particular
(independentemente da dimensão processual do problema) recorrer aos direitos fundamentais nas relações
com outros particulares”.

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23.8.3 Abrangência do Tema - Horizontalidade x Assimetria
A terminologia eficácia horizontal dos direitos fundamentais, para alguns doutrinadores, encontra-se
equivocada, uma vez que dá a entender que os particulares envolvidos são de mesmo nível, não havendo
necessidade de intervenção do Estado, visto que não há disparidade/assimetria entre eles.
Assim, Ingo Sarlet sugere que, ao invés de utilizar a nomenclatura eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, se utilize eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre particulares, uma vez que o
Estado só irá intervir e tentar harmonizar a relação e os interesses entre os particulares quando houver
assimetria entre eles.
Esse será um detalhe de grande diferença no momento da prova.

23.8.4 Pressupostos da Teoria da Eficácia dos direitos fundamentais nas relações entre particulares

Existência de Direito Fundamental


Oponível ao Particular

EFICÁCIA DIREITOS
FUNDAMENTAIS ENTRE
PARTICULARES

Assimetria entre Particulares

23.8.5 Eficácia

23.8.6 Precedentes do STF quanto à Eficácia


> Caso Air France - RE 161.243-DF7: Trata-se de uma relação trabalhista, onde a empresa aérea, em seu
estatuto, criou vantagens para empregados franceses que não seriam aplicadas aos empregados brasileiros

7
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRABALHO. PRINCÍPIO DA IGUALDADE. TRABALHADOR BRASILEIRO
EMPREGADO DE EMPRESA ESTRANGEIRA: ESTATUTOS DO PESSOAL DESTA: APLICABILIDADE AO
TRABALHADOR ESTRANGEIRO E AO TRABALHADOR BRASILEIRO. C.F., 1967, art. 153, § 1º; C.F., 1988, art. 5º,
caput. I. - Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil, não foi
aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria
restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princípio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, § 1º; C.F.,
1988, art. 5º, caput). II. - A discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca do

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sob o único argumento de estes não eram de nacionalidade francesa, embora ambos executassem o mesmo
trabalho dentro da empresa. O autor da ação, empregado brasileiro da empresa, requereu a eficácia
horizontal dos direitos fundamentais, utilizando o princípio da isonomia.
Em seu voto, o Ministro Carlos Velloso, relator do processo, discorre:

“No caso, porque não ocorrentes os fatores que justificariam o tratamento diferenciado, tem-se que iguais
foram tratados desigualmente, o que é ofensivo ao princípio isonômico que a Constituição consagra e
que é inerente ao regime democrático e à república”.

Demonstra-se, no presente caso, a existência dos dois pressupostos necessários para a eficácia dos
direitos fundamentais na relação entre particulares, quais sejam, a existência de um direito fundamental
aplicado (princípio da isonomia) e, a assimetria entre particular (o tratamento diferenciado entre os
empregados franceses e brasileiros).

> Caso União Brasileira de Compositores - RE 201.8198 - Conforme os autos do processo, a União
Brasileira de Compositores excluiu um de seus associados sem seguir as regras de seu próprio estatuto,
ensejando a ação por parte do ex-associado, que obteve êxito.

indivíduo, como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso, etc., é inconstitucional. Precedente do STF: Ag
110.846(AgRg)-PR, Célio Borja, RTJ 119/465. III. - Fatores que autorizariam a desigualização não ocorrentes no caso.
IV. - R.E. conhecido e provido. (RE 161243, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em
29/10/1996, DJ 19-12-1997 PP-00057 EMENT VOL-01896-04 PP-00756).
8
EMENTA: SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES. EXCLUSÃO
DE SÓCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. EFICÁCIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO. I. EFICÁCIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no
âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e
jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não
apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes
privados. II. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES À AUTONOMIA PRIVADA DAS ASSOCIAÇÕES.
A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer associação civil a possibilidade de agir à revelia dos
princípios inscritos nas leis e, em especial, dos postulados que têm por fundamento direto o próprio texto da
Constituição da República, notadamente em tema de proteção às liberdades e garantias fundamentais. O espaço de
autonomia privada garantido pela Constituição às associações não está imune à incidência dos princípios
constitucionais que asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A autonomia privada, que
encontra claras limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e
garantias de terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a autonomia da vontade não
confere aos particulares, no domínio de sua incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições
postas e definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força normativa também se impõem, aos particulares, no
âmbito de suas relações privadas, em tema de liberdades fundamentais. III. SOCIEDADE CIVIL SEM FINS
LUCRATIVOS. ENTIDADE QUE INTEGRA ESPAÇO PÚBLICO, AINDA QUE NÃO-ESTATAL. ATIVIDADE DE
CARÁTER PÚBLICO. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.APLICAÇÃO
DIRETA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. As associações privadas
que exercem função predominante em determinado âmbito econômico e/ou social, mantendo seus associados em
relações de dependência econômica e/ou social, integram o que se pode denominar de espaço público, ainda que
não-estatal. A União Brasileira de Compositores - UBC, sociedade civil sem fins lucrativos, integra a estrutura do
ECAD e, portanto, assume posição privilegiada para determinar a extensão do gozo e fruição dos direitos autorais de
seus associados. A exclusão de sócio do quadro social da UBC, sem qualquer garantia de ampla defesa, do
contraditório, ou do devido processo constitucional, onera consideravelmente o recorrido, o qual fica impossibilitado de
perceber os direitos autorais relativos à execução de suas obras. A vedação das garantias constitucionais do devido
processo legal acaba por restringir a própria liberdade de exercício profissional do sócio. O caráter público da
atividade exercida pela sociedade e a dependência do vínculo associativo para o exercício profissional de seus sócios
legitimam, no caso concreto, a aplicação direta dos direitos fundamentais concernentes ao devido processo legal, ao

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O Ministro Gilmar Mendes, em seu voto, demonstra a preocupação de proteger o cidadão não
somente dos poderes públicos, como também de poderes privados, restando clara a existência de assimetria
no presente caso, conforme trecho a seguir:

“O espaço de autonomia privada garantido pela Constituição às associações não está imune à incidência
dos princípios constitucionais que asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados”.

Ainda, o Ministro afirma que o STF já possui histórico de aplicação dos direitos fundamentais às
relações privadas:

“Não estou preocupado em discutir no atual momento qual a forma geral de aplicabilidade dos direitos
fundamentais que a jurisprudência desta Corte professa para regular as relações entre particulares.
Tenho a preocupação de, tão somente, ressaltar que o Supremo Tribunal Federal já possui histórico
identificável de uma jurisdição constitucional voltada para a aplicação desses direitos às relações
particulares”.

Não há dúvidas da possibilidade de aplicar os direitos fundamentais nas relações privadas, uma
vez que vivemos em um Estado Social e o STF tem jurisprudência sólida quanto ao tema.

23.9 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS DO ARTIGO 5º DA CF


O artigo 5º é composto pelo caput, 78 incisos e 4 parágrafos. A CF, em sua origem, continha, no
artigo 5º, 77 incisos e 2 parágrafos apenas. Assim, o referido dispositivo foi modificado pela Emenda
Constitucional nª 45, incrementando o artigo.
A EC 45 incluiu um novo direito fundamental, qual seja, a razoável duração do processo.
Quando se resolveu mexer no artigo 5º, já se sabia que o artigo 60, §4º do texto constitucional veda a
análise de toda e qualquer proposta que tenda a abolir direitos fundamentais. Entretanto, poderia
incrementar o artigo, como foi feito, uma vez que estava abolindo nenhum direito, mas sim acrescentando
novo direito fundamental. Esta emenda também trouxe o bloco de constitucionalidade e o Tribunal
Penal Internacional.
Quanto a razoável duração do processo, deve-se lembrar sempre a discussão entre cláusula pétrea e
cláusula de barreira, devendo tratar essa diferenciação em questões de concurso, para fazer o caminho de
explicação deste direito.

23.10 CAPUT DO ARTIGO 5º DA CF


“Todos são iguais perante a lei, brasileiros e estrangeiros residentes, sem distinção de qualquer
natureza”. Isso é o que está estabelecido no caput do artigo que trata dos direitos fundamentais, igualando
todos, independentemente de ser brasileiro nato, brasileiro naturalizado ou estrangeiro.

contraditório e à ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, CF/88). IV. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. (RE
201819, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado
em 11/10/2005, DJ 27-10-2006 PP-00064 EMENT VOL-02253-04 PP-00577 RTJ VOL-00209-02 PP-00821)

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Mas, ao analisar o dispositivo, nasce a dúvida acerca dos estrangeiros que não são residentes no
Brasil e o acesso destes aos direitos fundamentais. O STF já analisou essa situação, que através da
interpretação sistemática da Entendeu que deve ser conjugada a previsão do caput do artigo 5º com os
artigos 3º e 4 º da CF9, onde a República Federativa do Brasil promove o bem de todos, independente de sua
origem, para construir uma sociedade livre e justa, além de sempre colocar em primeiro lugar os direitos
humanos e suas consequências.
Após a análise do caput, do artigo 5º da CF, percebe-se que os 78 incisos subsequentes tratam de
direitos que não são essencialmente diferentes entre si. De certa forma, todos incisos trazem garantias de
proteção aos direitos elencados no caput (inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade), enfatizando a importância e relevância que eles têm sobre a população.

23.10.1 Deveres Fundamentais?


Uma grande questão é levantada ao analisar o artigo 5º da Constituição Federal: a possibilidade de
encontrar, não só direitos, como deveres fundamentais. A resposta para tal questão é que se encontram
deveres fundamentais deduzidos da interpretação, mas não tem nenhum dever expresso no dispositivo.
Não se encontra deveres fundamentais na literalidade, mas a cada direito previsto, deduz-se um dever
elementar de respeito pelas demais pessoas em relação aquele direito.
A liberdade de expressão é um dos direitos mais caros em uma democracia, onde qualquer pessoa tem
o direito de se expressar como quiser, seja através da fala, artes, imagem ou com o próprio silêncio. Mas toda
a vez que se exerce o direito a liberdade de expressão, tem-se que permitir a identificação, não se valendo do
anonimato pois não existe direito absoluto, estão todos em choque. E a liberdade de expressão, ao ser
exercida, pode entrar em choque com o direito fundamental de outra pessoa.
Acerca do assunto, a Convenção Americana dos Direitos Humanos – pacto de San José da Costa Rica
– fala da correlação entre direitos e deveres, demonstrando que o direito de cada um encontra limites no
direito do próximo.

23.11 ESTUDO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


Como analisado anteriormente, o caput do artigo 5º da CF traz os cinco direitos fundamentais e
essenciais ao ser humano: vida, liberdade, igualdade, propriedade e segurança.

9
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
(...)
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos
(...)
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

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Ao estudar cada um dos direitos, é necessário saber e analisar duas premissas importantes. A primeira
é o ponto de partida, ou seja, a fundamentação dos direitos humanos que já foi estudado, onde se tem
três maneiras de justificar os direitos humanos. Uma maneira de justificar é através do positivismo, onde
se basta o texto escrito para que o direito exista. Outra é o consensual ismo, que acredita que não se pode
depositar toda confiança no texto escrito, então, os direitos humanos repousam em consensos sociais em
determinados momentos históricos e sociais, não sendo, a queda de um texto constitucional, o fim desses
direitos. Já o jusnaturalismo prega que alguns direitos são tão elementares que são inerentes a condição
humana, que não dependem do texto constitucional, existindo pelo simples fato do ser humano ser.
A segunda premissa importante é o referencial teórico filosófico, ou seja, o constitucionalismo. O
constitucionalismo se infiltra e se refere ao momento de transição de modelo de Estado, de Estado
absolutista para o Estado liberal. É com o constitucionalismo no Estado Liberal que surgem os limites
impostos ao poder. Assim, o Estado pode tudo, menos desrespeitar indiscriminadamente os cinco direitos do
caput do artigo 5º da CF.

23.11.1 Vida
Ao pensar neste direito, deve-se sempre recordar do dilema ente Estado absolutista e Estado
Liberal, onde, por um lado, aquele não tinha limites, podendo inclusive penalizar as pessoas à morte, e
este, que é capitaneado por texto constitucional, fundamentado no discurso democrático, na assertiva de
que o poder pertence ao povo, que se compromete a respeitar os direitos fundamentais.
John Locke estabelece que é evidente que o Estado absolutista, onde alguns homens acreditam ser o
único governo no mundo, é de fato inconsistente com a sociedade civil. Assim, é um paradoxo estipular um
modelo de Estado que promete trazer o mínimo de segurança, se esse mesmo Estado não respeita os
princípios básicos de segurança em detrimento do povo. Ainda, os seres humanos são livres, iguais e

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independentes. Ninguém pode ser retirado deste estado de espírito e sujeito a qualquer tipo de poder
político de outra pessoa sem o seu consentimento. Locke é, então, contratualista, trabalhando com a ideia
de pacto social, em que o ser humano cede parcela de sua liberdade em troca de segurança. Por fim, a
única maneira de uma pessoa se desprender de sua liberdade natural é concordando com outros homens a
juntar-se e unir-se em uma comunidade para seu conforto, segurança e vida em paz.
Já Jean Jacques Rousseau acreditava ser inconcebível dizer que um homem se dá gratuitamente,
pois quem o faz não está em seu juízo perfeito. E a loucura não estabelece o direito.

23.11.2 Liberdade
A liberdade é um direito que muitos acreditam ser ampla e irrestrita, mas em realidade, não é.
Vive-se em uma sociedade em que a comunidade tem necessidades infinitas, em um espaço
geograficamente finito. As necessidades, quando atreladas ao espaço disponível, faz com que as pessoas
tenham que coabitar e organizar uma vida em sociedade de modo que haja respeito entre todos e a
todos os direitos. Assim, quanto mais direitos uma pessoa tem, menor será a liberdade de outra pessoa.

23.11.3 Igualdade
Neste direito, se faz necessária a análise da igualdade com lógica de Estado Liberal e com lógica
de Estado Social. O Estado Social respeita os direitos de primeira geração, mas se compromete em
prestar alguns serviços e equalizar desigualdades que sempre foram despercebidas no Estado Liberal.
Assim, a igualdade formal típica do Estado Liberal (todos são iguais perante a lei) é diferente da
igualdade material típica do Estado Social, onde nem todos são iguais, para que o Estado tenha que
praticar as políticas públicas para que um dia sejam iguais, auxiliando aqueles que mais necessitam para
que atinjam pés de igualdade.

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23.11.4 Propriedade
O direito de propriedade nada mais é do que transformar o “ter” em direito humano. Este direito
tem duas abordagens: para os mais conservadores, é um direito absoluto, típico do estado liberal. Já os
mais modernos aprenderam o direito de propriedade como tendo uma função social. Ou seja, a
propriedade pode deixar de existir, caso não se atinja a função social, típico do estado social.

23.11.5 Segurança
Este direito é um instituto bifronte, sendo um direito e também uma prestação estatal. A
sociedade tem o direito à segurança. Direito este que deve ser respeitado, mas também é um direito como
serviço social, com prestação de política pública. Gera-se, assim, um paradoxo: quanto mais segurança,
melhor? Não há resposta para tal pergunta, uma vez que sempre irá se conviver com este paradoxo, se
perguntando até que ponto a segurança irá invadir a nossa intimidade em prol da nossa própria
segurança.

23.12 DIREITOS E DEVERES


23.12.1 Tema Estrutural
O tema estrutural que se seguirá para o estudo do assunto envolve o direito à segurança. Se deixa de
lado os outros quatro direitos e se apega basicamente ao direito a segurança, pois este é um direito bifronte,
como já analisado. A segurança jurídica faz parte do direito à segurança, sendo considerada condição
sem a qual não há Estado de Direito. Um Estado baseado no direito, lastreado em regras jurídicas, que
respeita as regras e que faz as regras jurídicas serem respeitadas é um Estado que aplica a segurança jurídica.
Assim, a segurança jurídica é considera Conditio sine qua non, sendo uma condição sem a qual não
existe o Estado de Direito.

23.12.2 Segurança Jurídica


A segurança jurídica constitui o funcionamento do Estado de acordo com normas pré-
estabelecidas. A partir de tal afirmativa, se passa a extrair inúmeras consequências do artigo 5º da CF e de
jurisprudências consolidadas do STF, que serão analisadas a seguir.
O instituto da segurança jurídica tem algumas premissas importantes a serem destacadas. A
primeira é a supremacia da Constituição, que traz noção de um sistema jurídico com hierarquia
normativa a depender da origem do ato normativo e do assunto tratado, sendo um sistema jurídico
organizado.
A segunda premissa é a legalidade. Se, por um lado, defender a supremacia da Constituição é algo
importante para o sistema, por outro, não menos importante, é defender a legalidade. Deste modo, deve-
se garantir que inovações na ordem jurídica só ocorram se forem provenientes do órgão legitimado a
realizá-las. São os parlamentos que tem maior legitimidade para inovar a ordem jurídica. Deve haver a

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defesa da legalidade perante todo e qualquer cidadão brasileiro, estrangeiro ou de passagem, onde todos
os cidadãos respeitarão as normas postas e estabelecidas, ou seja, respeito a legalidade.
Por fim, a terceira premissa da segurança jurídica é a previsibilidade. Esta premissa envolve,
inclusive, a legalidade e as emendas a CF. Em realidade, é um postulado, que deposita muito das energias
do Estado na defesa da CF, pelo fato de que tudo deve ser previsível.

» Segurança jurídica nas Relações entre particulares: traz a ideia de disciplinamento da população, pois
é uma população com necessidades infinitas, em um espaço finito. Cedo ou tarde, apesar de disciplinado,
haverá a quebra do pacto social (praticar crime, sonegar impostos) por algum indivíduo da sociedade e, é
neste momento, que entra em cena a lógica do direito de antecedente X consequente. Ocorrendo a
exceção de quebra do pacto, o Estado deve agir. A atuação do Estado na relação entre particulares é a
atuação do poder judiciário e da administração pública. São as duas esferas de poder aptas a aplicar
consequências jurídicas nos casos de quebra do pacto social nessas relações, para haver a estabilização
social.

» Segurança jurídica nas relações entre Estado e indivíduos: situação que envolve limites ao poder do
Estado. Mesmo o Estado, em sua legitima coercibilidade, encontra limites. E estes limites são justificados
desde as épocas de transição de Estado absolutista para Estado Liberal.
Ocorre que, o próprio Estado pode quebrar a estrutura normativa, a legalidade, ocorrendo muitas
vezes de modo proposital ou por engano. O fato é que, essas inconstitucionalidades acontecem e é necessário
que se recomponha a normatividade estatal através da premissa da supremacia da CF e dos limites ao
poder executivo. Agir em prol da defesa da segurança jurídica. É a atuação do Estado é através do poder
judiciário e Ministério Público para a recomposição da normatividade estatal e a estabilização normativa.

» Segurança jurídica nas relações entre poderes: todos sabem que os poderes são harmônicos e
independentes, pois existem mecanismos de equalização do exercício do poder e, através destes, um poder
sempre está a controlar a atividade dos outros poderes, havendo a estabilização política através da
segurança jurídica nessas relações entre os poderes.

» Segurança Jurídica – inafastabilidade do Judiciário


Previsto no artigo 5º, XXXV da CF10, a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça ao direito. É por este inciso que o sistema brasileiro conta com uma das jurisdições mais
abrangentes que o mundo conhece. No Brasil, existe a justiça gratuita e hipóteses dos Juizados Especiais
10
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

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Criminais, nas quais, a depender do valor da causa, é dispensado até a presença de advogados. Isso significa
que o número de ações vem crescendo ao longo dos anos, não importando se a pessoa tem dinheiro ou não;
se tem razão ou não; mas, com certeza, tem o direito constitucional de ter a sua demanda analisada pelo
poder judiciário.
Dentro disso, a inafastabilidade do judiciário tem alguns pontos importantes a serem discutidos. O
primeiro é o livre acesso ao judiciário e a capacidade postulatória. Quando se fala deste assunto, está a se
falar, basicamente, das leis dos Juizados Especiais Cível e Criminal. Ao analisar a questão, o STF
entendeu, com base na inafastabilidade, que as duas leis são constitucionais justamente por dispensarem a
presença de advogado nas causas mais simples, de menor conteúdo financeiro, que na sua maioria demonstra
que seus titulares são de pouco poder aquisitivo, garantindo, assim, o livre acesso ao poder judiciário.
Outro assunto relacionado à inafastabilidade é o prévio esgotamento da via administrativa. A
forma mais conhecida de requer uma demanda é através do poder judiciário, mas existem outras estruturas
administrativas capazes de analisar recursos, por exemplo. Assim, a pessoa física ou jurídica não precisa
terminar todo o caminho administrativo para entrar com ação no poder judiciário, bastando
comprovar que a sua pretensão é resistida.
Também, quando se trata do poder judiciário, deve se lembrar do livre acesso ao judiciário e a
obrigação depósito prévio tributário para discutir dívida. Sobre a questão, o STF decidiu que não é
necessário o depósito prévio, podendo, o contribuinte, discutir a dívida tributária no poder judiciário sem
esta obrigação de depósito.
Por fim, tem que se analisar a inafastabilidade da jurisdição e a possibilidade de utilização da
justiça arbitral, que está cada vez mais conhecida no país. O STF julgou constitucional a lei que autoriza a
utilização da arbitragem para solucionar questões entre as partes, caso assim tenham decidido. Isso
porque não se fala de uma condição arbitral para que se use o poder judiciário. Muito pelo contrário, todos
têm direito de escolher a via judicial ou arbitral. Como se trata de uma escolha, não se trata de uma
inconstitucionalidade.

» Segurança Jurídica – Direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada (XXXVI)
É direito fundamental, conforme o artigo 5º, XXXVI, da CF, a não prejudicialidade do direito
adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada. A Coisa julgada trata-se de um instituto que
estabelece que, caso um assunto já tenha sido decidido no poder judiciário, através de um processo, tendo
uma decisão final, não cabendo mais recursos e havendo o trânsito em julgado, as partes do processo não
podem voltar a discutir o assunto. Assim, lei nenhuma pode prejudicar algo que já foi julgado com
trânsito em julgado.
Sendo protegido o novo julgamento sobre questão que já transitou em julgado, no caso em que
envolve o arquivamento do processo por atipicidade penal, também se produz coisa julgada. Desta
maneira, o desarquivamento do processo por surgimento de novas provas não é possível, sendo, a coisa

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julgada, uma proteção para o cidadão.
Com relação a coisa julgada, é interessante analisar o que ocorre caso, após transitar em julgado de
decisão em determinado processo, ou seja, produzir coisa julgada, a matéria levantada no processo for,
também, matéria em Declaração de Inconstitucionalidade em ADI. Nesta situação, ainda que a decisão
em ADI tenha eficácia erga omnes e efeito vinculante em todo poder judiciário, o efeito vinculante da ADI
não pode desrespeitar a ciosa julgada de um caso concreto de uma decisão contrária. Portanto, mesmo
uma decisão em controle concentrado e abstrato de constitucionalidade deve respeitar decisão anterior
contrária que já está transitada em julgado.
O único caso em que é possível relativizar a coisa julgada, conforme entendimento do STF, é em
ações que pode haver exame de DNA como comprovação de paternidade. Assim, se um processo, que foi
julgado e tramitou em todas as instâncias sem o exame de paternidade e produziu coisa julgada, após o
trânsito em julgado vier a surgir a possibilidade de exame de DNA, seria possível relativizar o instituto da
coisa julgada.
O direito adquirido, para ser simplificado, precisa ser explicado através de um exemplo. Assim, para
aqueles que contribuem ao sistema previdenciário existem duas situações quanto a aposentadoria: a primeira
situação é a expectativa de direito e a implementação dos requisitos para o exercício deste direito. Por
exemplo, a lei atual do sistema previdenciário diz que são necessários 35 anos de contribuição para se
aposentar, caso o contribuinte seja homem. Se o contribuinte tiver 34 anos de contribuição, ele não tem o
direito adquirido à aposentadoria, pois não completou um requisito básico ainda, mas tem a expectativa de
direito. Diferentemente é o caso do contribuinte que possui já 36 anos de contribuição. A partir do momento
que os requisitos básicos são atingidos, o cidadão passa a ter direito adquirido. Deste modo, se o cidadão
possui 36 anos de contribuição, sendo que, de acordo com a lei atual, são necessários 35 anos, para a
aposentadoria, caso a lei seja alterada, passando a constar como requisito básico a contribuição por 40 anos,
esta lei não irá atingir aqueles que, no tempo da lei antiga, já haviam preenchido os requisitos básicos para a
aposentadoria.
Para o direito adquirido não importa se foi exercido o direito até o advento de nova lei. O que
importa é se os requisitos foram implementados para que a parte tenha direito ao exercício desse
direito. Entretanto, conforme o STF, não se pode invocar direito adquirido contra texto constitucional
originário. Isso porque, o novo texto constitucional, quando decorrente do poder constituinte originário não
encontra limites jurídicos. Sendo o direito adquirido um limite jurídico, ele só limita atuação do poder
derivado e de todo e qualquer legislador.
Já o ato jurídico perfeito seria a própria concessão da aposentadoria, ainda utilizando o exemplo
anterior. Ou seja, é o ato jurídico de concessão do direito, que se perfectibiliza com o preenchimento de
todos os requisitos obrigatórios. Em vista disso, uma vez concedida a aposentadoria pela administração,
não se pode rever esta aposentadoria a partir de um novo entendimento administrativo dado, só sendo
aplicado, o novo entendimento, para as aposentadorias ainda não concedidas. O mesmo ocorre quando se fala

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da aplicação de novo teto previdenciário de determinado benefício, onde o STF estabeleceu que é
possível a alteração do valor do teto para aqueles benefícios que, quando concedidos, já tinha o teto
implementado, mas para aqueles que se aposentaram ou começaram a receber pensão antes do teto
previdenciário, não é possível a aplicação.
Ainda sobre o ato jurídico perfeito, uma questão importante a ser analisada é acerca dos editais de
concurso e as suas vagas. Se o edital estabelece um número de vagas, todos que passarem até o número
de vagas estabelecidas, tem o direito a posse. Desse modo, se o concurso estabelece 50 vagas e um cidadão
passar em 49º lugar, ele tem o direito à posse. É por tal motivo que, atualmente, muitos concursos não
estabelecem mais o número de vagas, informando apenas vagas são para o cadastro de reserva.
→ Tempus regit actum: sempre que se estiver em dúvida de qual lei aplicar no julgamento e na
análise de um ato praticado, deve se lembrar que o tempo rege o ato. Ou seja, a legislação em vigor naquele
tempo de prática do ato que deve ser utilizado.
→ Questão das leis interpretativas: muitas vezes essas leis são bem-vindas e destinam-se ao passado,
ou seja, interpretar leis anteriores. A LC n. 118 se dizia interpretativa e, em um dos dispositivos, vinha a
interpretar o prazo de prescrição do crédito tributário. Esse prazo, até aquele momento, era de 10 anos e a lei
veio dizendo que deveria se considerar o prazo de 5 anos. Ou seja, a LC n. 118, neste aspecto, desestruturou
um prazo que era utilizado na jurisprudência pacífica. Assim, o STF decidiu que a lei era válida do momento
pra frente, mas não pode subtrair um dia do direito do cidadão previsível de cobrar o crédito tributário em
dez anos.

» Segurança Jurídica e suas consequências jurídicas: em tese, toda decisão judicial estadual é passível
de rediscussão por seu tribunal superior. Ou seja, o poder judiciário, que faz parte do sistema brasileiro, é
um sistema complexo e tradicionalmente se discute muito procedimento e pouco do assunto central. Já no
sistema do Reino Unido, a justiça criminal funciona de modo diferente. Lá, o juiz analisa os fatos de direito
e, uma vez condenada, a pessoa também tem direito a apelar. Ocorre que, a apelação, no Brasil, é interposta
perante órgão superior. No Reino Unido, apela-se para o juiz que condenou, sendo que deve ser pedida
permissão para apelar e, apenas o fará, caso o seja permitido. Não se discute qual sistema é melhor ou pior,
mas se analisa e se percebe um Estado prático e um Estado com bastante eficiência de justiça. O
magistrado está no centro de sistema de justiça inglês. E, no brasileiro, é a figura do advogado, na
defesa de seus clientes, que está no centro do sistema, fazendo toda a diferença na análise deste e na
jurisprudência dos tribunais, quando o assunto é segurança jurídica.

» Juiz Natural e Tribunais de Exceção: o artigo 5º, em seus incisos XXXVII e LIII, traz estes dois
institutos, afirmando que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

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segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
(...)
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

É a partir desses dois direitos, que serão analisados casos em que, muitas vezes, se fica na dúvida
quanto a sua constitucionalidade:
→ Convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores: quando o desembargador de
uma turma do tribunal tira férias, ou então, sai de licença, o funcionamento da turma não pode parar. Então,
se convoca juiz de 1º grau para substituir o desembargador pelo período que for necessário. Segundo o
STF, esta convocação não ofende o princípio do juiz natural e não constitui tribunal de exceção,
especialmente porque a escolha é feita por juízes mais antigos, havendo rotatividade entre os convocados.
→ Especialização de Vara Federal: pela complexidade de algumas causas e pelo nível de
especificidade de alguns assuntos, é necessária a especialização de varas federais. Não importa o assunto,
mas sim a especialização, não ofendendo o princípio do juiz natural. Foi a partir deste pensamento que se
criou, por exemplo, a Vara Especializada em Direitos Ambientais.
Deve-se atentar que, se um processo já está tramitando em Vara comum, mas cria-se uma
Vara especial, durante o trâmite do processo, este será redistribuído para a Vara especializada, uma vez
que, os juízes desta terão maior sabedoria e respaldo para analisar o caso.
→ Especialização de Vara Federal por resolução: por conta do momento político que o Brasil se
encontra, o Tribunal, por resolução, especializou Vara Federal para tratar de crimes envolvendo apenas
lavagem de direito. Essa resolução foi levada até o STF, em sede de Controle de Constitucionalidade, onde
foi decidido que o ato do tribunal foi legitimo, mantendo-se a especialização de Vara Federal por resolução.
→ Remessa de processo, por conexão, a Vara Federal especializada: este assunto é extremamente
importante para provas de sentença da magistratura. Por vezes, ocorrerá a remessa de processo para
Vara Federal especializada pois, entre os vários atos cometidos, está um que diz respeito a assunto destinado
a está Vara especializada. Assim, no momento em que se identifica matéria referente à Vara especializada, o
processo deverá ser desmembrado, encaminhando cópia do processo para esta, onde se julgará o assunto
específico e, as demais matérias serão discutidas em Vara comum.
→ Delegação da instrução de processo originário à juiz de 1º grau: muito comum ocorrer a
delegação de atos do processo, onde o desembargador precisa de prova, ou está julgando um processo
originário do tribunal. Nessas hipóteses, é possível que desembargadores deleguem juízes de primeiro
grau de jurisdição à instrução do processo, ou seja, interrogatório e oitiva de testemunhas.
→ Designação de magistrado para atuar em outra vara: é possível que juiz seja designado para
substituir temporariamente magistrado em alguma outra Vara, não ferindo o princípio do juiz natural,
nem o de não criação de Tribunais de Exceção.
→ Julgamento colegiado em 1º grau: conforme a Lei n. 12.694, o juiz criminal de primeira instancia

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estava autorizado a inaugurar procedimento dentro do processo, chamado de exceção de colegialidade,
especificamente em casos de crimes praticados por organizações criminosas. O objetivo da lei era proteger
juízes de eventuais perseguições do crime organizado. O juiz, assim, pode solicitar ao tribunal que crie um
colegiado de três juízes de primeira instância para julgar não só a sentença, mas também toda e qualquer
incidente dentro do processo. A lei se preocupava e alocava os magistrados como sujeitos de direito
endoprocessuais, estando diante de uma ponderação de direitos. Deste modo, não se admitiu a criação do
juízo de exceção, se permitindo, apenas, a cooperação entre juízes, sempre mantendo a jurisdição daquele
que sempre esteve como juiz natural da causa, para não ferir o princípio.
→ Foro por prerrogativa de Função: o foro por prerrogativa é um foro de natureza em razão da
função, e não da pessoa. A interpretação do foro deve ser restritiva sempre, tendo, a prerrogativa de
função, início, no caso dos parlamentares, com a diplomação e, os demais agentes públicos, com a posse
no cargo. Foro por prerrogativa é somente para o âmbito criminal, nuca envolvendo a esfera cível. É
importante saber que o desrespeito a regra do foro por prerrogativa gera nulidades absolutas, pois está
se tratando de princípio de juiz natural previsto no artigo 5º da CF.

Quando o crime é cometido por agente com foro de prerrogativa de função e por agente
sem prerrogativa, só será cabível a divisibilidade da ação caso seja possível separar as condutas de cada
agente. Caso seja possível a divisibilidade, cada agente será julgado pelo seu foro competente.
Quanto ao foro por prerrogativa, é importante ressaltar que os atos investigatórios, a
investigação antes da investidura, o indício de crime por autoridade com prerrogativa, o encontro fortuito de
prova, a ratificação da denúncia pelo Ministério Público são todas vinculadas ao inquérito policial. Durante
os atos investigatórios, o inquérito sempre seguirá a prerrogativa, ou seja, se for instaurado inquérito

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contra deputado federal, deverá ser perante o STF. Se for instaurado antes da investidura, o inquérito
tramita normalmente. Caso o investigado venha a assumir cargo que tenha prerrogativa, esse inquérito
deve ser encaminhado ao Ministério Público para que este proceda ao encaminhamento do processo ao
foro por prerrogativa.
O indício é situação muito comum, que ocorre quando um grupo de pessoas está sendo
investigado por corrupção e, em algum momento, se determina a interceptação telefônica. Se, durante o
prazo da interceptação, se descobre um indício de que, naquela organização criminosa pode haver
participação de autoridade com prerrogativa, então é deve se encaminhar o inquérito para a instância
competente imediatamente. A mesma coisa acontece quando se encontra fortuitamente uma prova que
envolva pessoas com prerrogativa.

» Contraditório e Ampla Defesa: o artigo 5º, em seu inciso LV, da CF, traz o direito ao contraditório e a
ampla defesa aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
com os meios e recursos a ela inerentes. Este direito sempre envolve processo judicial ou administrativo.
O assunto é, inclusive, tema da Súmula Vinculante n. 14:

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Questionam-se esses direitos quando se tem o inquérito sigiloso. É muito comum que, muitas das
provas corram em sigilo até que a operação seja perfectibilizada. Nesse caso, ocorrerá sim o contraditório,
que será diferido no tempo. O advogado terá acesso aos autos e todas as provas, mas apenas após o
cumprimento das diligências essenciais a operação.

» Inadmissibilidade de Provas Ilícitas: o artigo 5º, inciso LVI, da CF proíbe a admissão de provas ilícitas
no processo. Assim, existem casos em que o STF precisou interferir para se decidir se era prova ilícita ou
não.
Foi o que aconteceu com a gravação ambiental feita por um dos interlocutores e a gravação de
conversa telefônica por um dos interlocutores, ficando decidido que é possível como meio de defesa,
sendo admitida, também, a interceptação telefônica quando esta for o único meio de prova possível,
podendo ser, ainda, haver sua prorrogação sucessiva, cada uma com o prazo de 15 dias. Quanto a quebra
de sigilo, se decidiu que deve haver fundamentação verticalizada comprovando a necessidade da medida,
uma vez que é um ato judicial intenso que interfere no núcleo do direito de segurança e no direito à
vida privada.
Por fim, é importante analisar a prova ilícita por derivação, que é aquela prova produzida por meio
ilícito, onde todas as demais provas decorrentes daquela, serão consideradas ilícitas, pois a prova

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originária vicia as demais. É a conhecia teoria dos frutos da árvore envenenada.

24 DIREITOS SOCIAIS
24.1 PREVISÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E MODELO DE ESTADO
O modelo de Estado Liberal surge a partir de uma transição do sistema absolutista, para um
sistema limitado pelo próprio poder e pelo próprio texto, surgindo um modelo de estado que encontra limites
no texto da constituição. Entre esses limites do poder do Estado são os direitos fundamentais. Ou seja, o
Estado pode muito coisa, até o limite dos direitos fundamentais tal qual previsto na CF. Assim, os
direitos de primeira geração são aqueles que servem como barreira ao poder do Estado não podendo,
este, ultrapassar os limites concebidos pelo povo.
Já os direitos de segunda geração nascem quando o Estado se obriga a agir em prol da sociedade.
Esses direitos têm a ver com outro modelo estatal, pois se percebeu que o Estado Liberal não estava mais
cumprindo com as funções necessárias. Assim, o Estado que vinha se abstendo antes, passa a agir e assumir
responsabilidades, prestando auxílio em vários campos de necessidade do cidadão. Estes direitos estão
na CF a partir do artigo 6º.
É imprescindível para esses direitos que o Estado atue em prol de sua fruição, que preste auxílio à
sociedade, para que atinja um nível de vivência social. É aqui que se encaixam as políticas públicas, como
de segurança, de educação.
» Existe alguma relação entre as gerações de direitos e os modelos de Estado? A relação entre estes
existe. A medida em que se cria no texto constitucional uma ampla relação de direitos sociais, deixa-se
óbvio que o modelo de Estado adotado é o modelo de Estado Social (na perspectiva dos direitos
humanos).
Os fundamentos para se afirmar que o modelo de Estado é o Social, estão na própria Constituição
Federal. Alguns exemplos, são o artigo 6º, 7º e 9º da CF (que serão analisados ainda neste material). Além
disso, o preâmbulo e o artigo 3º (objetivos fundamentais da república):

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um
Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,
a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

O artigo 3º da CF traz:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

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Este artigo traz os objetivos fundamentais, ou seja, as metas essenciais que o Estado tem a
atingir. Daí a importância da análise deste artigo. E ele se destina aos representantes das três esferas de
poder e também a toda sociedade.

24.2 ROL DOS DIREITOS SOCIAIS


O artigo 6º da CF traz a essência dos direitos sociais:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)

Percebe-se que o direito de transporte só passou a fazer parte deste rol em 2015, com a EC 90.
Estes direitos são chamados de segunda geração pois só com o resguardo deles que consegue se fruir os
direitos de primeira geração.

24.3 ANÁLISE DO ART. 7º DA CF


A partir deste momento, serão analisados os incisos do artigo, que envolvem os direitos dos
trabalhadores. O caput já deixa claro que a aplicabilidade deste dispositivo envolve os trabalhadores
urbanos e rurais também. Com relação ao empregado doméstico, não são todos incisos que cabem a este,
estando especificados no parágrafo único do artigo. Segundo o caput, ainda, os direitos dos trabalhadores
não se findam nos incisos do artigo, pois todo direito que vise melhorar a condição social de
trabalhadores é considerado um direito.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

Segundo este primeiro inciso, a relação de emprego deve ser protegida nos casos previstos. Deste
modo, se tem a despedida arbitrária ou sem justa causa e a dependência de elaboração de lei
complementar. A CF prevê uma complementação e, por muitas vezes, ela demora a acontecer ou nunca
ocorre. Neste caso, o próprio constituinte originário previu no artigo 10 do ADCT, as hipóteses em que fica
vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa até que seja promulgada a lei complementar:

Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição:
I - fica limitada a proteção nele referida ao aumento, para quatro vezes, da porcentagem prevista no art.
6º, "caput" e § 1º, da Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966;
II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa:
a) do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o
registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato;
b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

Caso a trabalhadora, que é gestante, venha a falecer, a LC 146/2014 estende a estabilidade


provisória do artigo acima referido para quem detiver a guarda de seu filho. A lei se utiliza das regras do

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artigo, abrindo uma terceira hipótese de estabilidade e proteção.
O STF decidiu que é inconstitucional o §2º do artigo 453 da CLT, em que se tratava da
possibilidade de rescisão do contrato de trabalho no caso de aposentadoria do empregado. Entendeu-se que o
fato do empregado exercer o seu direito de aposentadoria não gera a rescisão do contrato. De acordo
com a decisão:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 3º DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº


1.596-14/97, CONVERTIDA NA LEI Nº 9.528/97, QUE ADICIONOU AO ARTIGO 453 DA
CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO UM SEGUNDO PARÁGRAFO PARA EXTINGUIR O
VÍNCULO EMPREGATÍCIO QUANDO DA CONCESSÃO DA APOSENTADORIA ESPONTÂNEA.
PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. A conversão da medida provisória em lei prejudica o debate jurisdicional
acerca da "relevância e urgência" dessa espécie de ato normativo. 2. Os valores sociais do trabalho
constituem: a) fundamento da República Federativa do Brasil (inciso IV do artigo 1º da CF); b) alicerce da
Ordem Econômica, que tem por finalidade assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, e, por um dos seus princípios, a busca do pleno emprego (artigo 170, caput e inciso VIII); c)
base de toda a Ordem Social (artigo 193). Esse arcabouço principiológico, densificado em regras como a
do inciso I do artigo 7º da Magna Carta e as do artigo 10 do ADCT/88, desvela um mandamento
constitucional que perpassa toda relação de emprego, no sentido de sua desejada continuidade. 3. A
Constituição Federal versa a aposentadoria como um benefício que se dá mediante o exercício regular
de um direito. E o certo é que o regular exercício de um direito não é de colocar o seu titular numa
situação jurídico-passiva de efeitos ainda mais drásticos do que aqueles que resultariam do cometimento
de uma falta grave (sabido que, nesse caso, a ruptura do vínculo empregatício não opera
automaticamente). 4. O direito à aposentadoria previdenciária, uma vez objetivamente constituído, se dá
no âmago de uma relação jurídica entre o segurado do Sistema Geral de Previdência e o Instituto
Nacional de Seguro Social. Às expensas, portanto, de um sistema atuarial-financeiro que é gerido por
esse Instituto mesmo, e não às custas desse ou daquele empregador. 5. O Ordenamento Constitucional
não autoriza o legislador ordinário a criar modalidade de rompimento automático do vínculo de emprego,
em desfavor do trabalhador, na situação em que este apenas exercita o seu direito de aposentadoria
espontânea, sem cometer deslize algum. 6. A mera concessão da aposentadoria voluntária ao
trabalhador não tem por efeito extinguir, instantânea e automaticamente, o seu vínculo de emprego. 7.
Inconstitucionalidade do § 2º do artigo 453 da Consolidação das Leis do Trabalho, introduzido pela Lei nº
9.528/97.(ADI 1721, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 11/10/2006, DJe-047
DIVULG 28-06-2007 PUBLIC 29-06-2007 DJ 29-06-2007 PP-00020 EMENT VOL-02282-01 PP-00084
RTJ VOL-00201-03 PP-00885 LEXSTF v. 29, n. 345, 2007, p. 35-52 RLTR v. 71, n. 9, 2007, p. 1130-
1134)

O segundo inciso do artigo 7º da CF dispõe:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;

É o caso do seguro-desemprego. No Brasil, não são raros os casos em que se percebe que a relação
de desemprego foi acertada entre as partes, sendo crime, pois o dispositivo é claro, no sentido de que só
recebe o seguro aquele que se encontra desempregado involuntariamente.
Já o terceiro inciso envolve o FGTS:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
III - fundo de garantia do tempo de serviço;

Uma das questões atinentes ao FGTS tem a ver com a cobrança de valores não recolhidos a título

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de FGTS por parte do empregador. Por muito tempo, o STF entendeu que o prazo para cobrança desse
percentual era prescricional de 30 anos. Mas, em 2013 houve a mudança deste entendimento,
superando-se a prescrição de 30 anos, uma vez que se estabeleceu a prescrição quinquenal para o
recolhimento do valor por parte do empregador. Conforme ementa do RE 709.212/DF:

DIREITO DO TRABALHO. FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO (FGTS). COBRANÇA DE


VALORES NÃO PAGOS. PRAZO PRESCRICIONAL. ART. 7º, XXIX, DA CONSTITUIÇÃO.
RELEVÂNCIA SOCIAL, ECONÔMICA E JURÍDICA DA MATÉRIA. REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. (ARE 709212 RG, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 25/10/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-099 DIVULG 24-05-2013 PUBLIC 27-05-2013).

Outro inciso importante é o que se refere ao salário mínimo, sendo assim descrito na Constituição
Federal:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;

É um dispositivo extenso, com muitas informações importantes, que são requisitos para o salário
mínimo. Quanto ao reajuste do salário mínimo, o STF, no ADI 4.568/DF11 decidiu que o Presidente da
República pode reajustar o valor do salário mínimo, desde que por intermédio de decreto regulamentar.
Estes reajustes, ainda, devem ser periódicos. Outro requisito importante é a vedação da vinculação do
salário mínimo para qualquer fim.
Quanto à vedação da vinculação, a Súmula Vinculante 4, do STF, declara:

SÚMULA VINCULANTE 4: Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser
usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser
substituído por decisão judicial.

Também foram editadas Súmula Vinculante 6 e 15, onde aquela traz que o estabelecimento de
remuneração inferior ao salário mínimo não viola à CF para as praças prestadoras de serviço militar
inicial. E esta diz que o cálculo de gratificações e outras vantagens não incide sobre o abono utilizado
para se atingir o salário mínimo.
11
CONSTITUCIONAL. VALOR DO SALÁRIO MÍNIMO. ART. 3. DA LEI N. 12.382, de 25.2.2011. VALOR NOMINAL A
SER ANUNCIADO E DIVULGADO POR DECRETO PRESIDENCIAL. DECRETO MERAMENTE DECLARATÓRIO DE
VALOR A SER REAJUSTADO E AUMENTADO SEGUNDO ÍNDICES LEGALMENTE ESTABELECIDOS.
OBSERVÂNCIA DO INC. IV DO ART. 7. DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. 1. A
exigência constitucional de lei formal para fixação do valor do salário mínimo está atendida pela Lei n. 12.382/2011. 2.
A utilização de decreto presidencial, definida pela Lei n. 12.382/2011 como instrumento de anunciação e divulgação
do valor nominal do salário mínimo de 2012 a 2015, não desobedece o comando constitucional posto no inc. IV do art.
7o. da Constituição do Brasil. A Lei n. 12.382/2011 definiu o valor do salário mínimo e sua política de afirmação de
novos valores nominais para o período indicado (arts. 1o. e 2o.). Cabe ao Presidente da República, exclusivamente,
aplicar os índices definidos legalmente para reajuste e aumento e divulgá-los por meio de decreto, pelo que não há
inovação da ordem jurídica nem nova fixação de valor. 3. Ação julgada improcedente.(ADI 4568, Relator(a): Min.
CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 03/11/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-065 DIVULG 29-03-2012
PUBLIC 30-03-2012 RTJ VOL-00226-01 PP-00389)

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Mas, existem exceções quanto a essas regras da vinculação vedada. O próprio STF prevê estas
exceções, envolvendo a responsabilidade civil do Estado em caso de ato ilícito. Assim, é cabível a
utilização do salário mínimo como um indexador de indenização por danos materiais e morais
decorrentes desta responsabilidade, bem como para a pensão decorrente da indenização.
O artigo 7º, V, prevê o direito de piso salarial. Deve-se atentar que piso salarial e salário mínimo não
são iguais, pois o piso é variável de acordo com a categoria profissional e a complexidade do trabalho.
Entretanto, não é por ser variável que, o piso salarial pode ser inferior ao salário mínimo, pois, como a
expressão já sugere, este é o mínimo aceitável como salário para o empregado.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

A LC 103/2000 autoriza que os Estados legislem sobre os pisos salarias em cada unidade da
federação. Foi com base no artigo 22, p.ú da CF12 que a União passou a deixar que os Estado legislem sobre
o assunto.
Outros direitos previstos no artigo 7ª da CF são: a irredutibilidade do salário e a garantia do
salário, gratificação natalina, remuneração noturna, proteção do salário, participação nos lucros
(incentivando a produtividade), assim como o salário-família e a duração da jornada de trabalho.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de
trabalho;

Quanto à duração da jornada de trabalho, está previsto que não poderá ser superior a oito horas
diárias e quarenta e quatro semanais. Esta é a regra utilizada pelo sistema brasileiro, podendo haver suas
exceções, como a possibilidade de compensação, ou horários especiais. Para os cargos de gestão, ou seja,
gerentes, o STF entende que não há necessidade do controle de jornada, pois pressupõe uma dedicação
além do patamar normal dentro da empresa, havendo, inclusive, remuneração diferenciada para esta gestão.

12
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

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Como já dito, em determinados casos haverá uma jornada de trabalho especial, como, por exemplo, a
jornada 12x36, para bombeiros civis. O STF, na ADI 4.842/DR, decidiu ser válida esta jornada, pois
encontra respaldo no regime de compensação, não havendo risco para a saúde do trabalhador quando
colocado a frente de uma jornada assim:

DIREITO DO TRABALHO. JORNADA DO BOMBEIRO CIVIL. JORNADA DE 12 (DOZE) HORAS DE


TRABALHO POR 36 (TRINTA E SEIS HORAS) DE DESCANSO. DIREITO À SAÚDE (ART. 196 DA
CRFB). DIREITO À JORNADA DE TRABALHO (ART. 7º, XIII, DA CRFB). DIREITO À PROTEÇÃO
CONTRA RISCO À SAÚDE DO TRABALHADOR (ART. 7º, XXII, DA CRFB). 1. A jornada de 12 (doze)
horas de trabalho por 36 (trinta e seis) horas de descanso não afronta o art. 7º, XIII, da Constituição da
República, pois encontra-se respaldada na faculdade, conferida pela norma constitucional, de
compensação de horários. 2. A proteção à saúde do trabalhador (art. 196 da CRFB) e à redução dos
riscos inerentes ao trabalho (art. 7º, XXII, da CRFB) não são “ipso facto” desrespeitadas pela jornada de
trabalho dos bombeiros civis, tendo em vista que para cada 12 (doze) horas trabalhadas há 36 (trinta e
seis) horas de descanso e também prevalece o limite de 36 (trinta e seis) horas de jornada semanal. 3.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADI 4842, Relator(a): Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 14/09/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-174 DIVULG 07-08-2017
PUBLIC 08-08-2017)

Há, também, a possibilidade de jornada de seis horas de trabalho, prevista no artigo 7º, XIV da CF,
devendo ser realizado, o trabalho, em turnos ininterruptos de revezamento. Aqui, entra em questão os
intervalos feito pelo trabalhador durante seu serviço. Para decidir o assunto, foi editada a Súmula 675 do
STF:

SÚMULA 675: Os intervalos fixados para descanso e alimentação durante a jornada de seis horas não
descaracterizam o sistema de turnos ininterruptos de revezamento para o efeito do art. 7º, XIV, da
Constituição.

Ou seja, a CLT prevê a possibilidade de intervalo para jornada de trabalho de seis horas e, conforme
súmula supracitada, estes intervalos não descaracterizam o sistema de turnos ininterruptos de revezamento.
Igualmente, o dispositivo constitucional prevê o repouso semanal remunerado e o regime do
serviço extraordinário, conhecido como horas-extras.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;

Ao falar em horas-extras, o texto constitucional estabelece um percentual mínimo para o


pagamento destas. Devendo, assim, o empregado receber o pagamento de uma hora trabalhada mais,
no mínimo, cinquenta por cento desta hora, caso seja extraordinária.
As férias anuais remuneradas também estão previstas no artigo 7º da CF, em seu inciso XVII, onde
se declara que, o trabalhador, após um ano de serviço no local, tem direito a férias e, também que essas
férias sejam remuneradas, com o acréscimo de, pelo menos 1/3 do valor do salário. Assim, o
trabalhador, ao sair de férias, recebe a sua remuneração mensal normal, acrescido de 1/3. O STF, no RE

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570.908/RN, analisou o caso com repercussão geral, restando claro que o período aquisitivo das férias é o
período de 12 meses. Sobre o assunto, ainda, é ilegítima a incidência de contribuição social sobre o terço
de férias, uma vez que este instituto tem natureza indenizatória e não de remuneração.
Quando não há o gozo das férias, ou seja, quando o trabalhador se aposenta e tem férias vencidas
que não foram usufruídas, deve-se haver o pagamento de indenização ao trabalhador, conforme AI
727.044/SP:

Agravo regimental no agravo de instrumento. Prequestionamento. Ausência. Legislação


infraconstitucional. Ofensa reflexa. Servidor público. Aposentadoria. Férias não gozadas. Indenização.
Possibilidade. Precedentes. 1. Não se admite o recurso extraordinário quando os dispositivos
constitucionais que nele se alega violados não estão devidamente prequestionados. Incidência da
Súmula nº 282/STF. 2. O recurso extraordinário não se presta ao reexame da legislação
infraconstitucional. Incidência da Súmula nº 636/STF. 3. É pacífica a jurisprudência desta Corte no
sentido de que o servidor público aposentado tem direito ao recebimento de indenização pelas férias não
gozadas, adquiridas ao tempo da atividade, sob pena de enriquecimento sem causa da Administração. 4.
Agravo regimental não provido.(AI 727044 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma,
julgado em 02/08/2011, DJe-179 DIVULG 16-09-2011 PUBLIC 19-09-2011 EMENT VOL-02589-04 PP-
00494)

O direito de licença à gestante, assim como a licença paternidade, também estão abrangidos pelo
artigo dos direitos sociais, em seu artigo 7º, XVIII e XIX da CF. Mas, o interessante é lembrar que o prazo
para a licença adotante, ou seja, a licença para pais que adotam, não pode ser inferior que o prazo da
licença gestante, não importando a idade da criança adotada, conforme o RE 778.889/PE13, que teve
repercussão geral.
A licença paternidade tem o prazo de 5 dias, conforme o artigo 10, §1º, ADCT, até que se crie lei
para disciplinar o assunto. Entretanto, em 2008 foi criada a Lei 11.770, conhecida como Empresa Cidadã,
que traz a prorrogação da licença paternidade para 15 dias, para os trabalhadores das empresas inscritas
neste programa criado.
O trabalho da mulher, aviso prévio e os riscos no trabalho estão arrolados no artigo 7º do texto
constitucional:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

A Súmula 736 do STF trata mais a fundo os riscos no trabalho, afirmando que compete à Justiça do
Trabalho julgar os casos que cuidem do descumprimento de normas trabalhistas quanto à segurança,

13
PERÍODO DE LICENÇA-MATERNIDADE. SERVIDORAS PÚBLICAS. EQUIPARAÇÃO ENTRE GESTANTES E
ADOTANTES. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. Constitui questão constitucional saber se a lei pode ou
não instituir prazos diferenciados para a licença-maternidade concedida às servidoras gestantes e às adotantes,
especialmente à luz do art. 227, § 6º, da CF/88. 2. Repercussão geral reconhecida. (RE 778889 RG, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, julgado em 20/11/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-046 DIVULG 10-03-2015 PUBLIC 11-
03-2015 )

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higiene e saúde dos trabalhadores.
Outros direitos trazidos pelo dispositivo constitucional são:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em
creches e pré-escolas;
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que
este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco
anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de
trabalho;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador
avulso.

O inciso XXVIII traz o direito do empregado de receber seguro contra acidentes de trabalho,
pago pelo empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer dolo ou culpa.
Percebe-se que existe o seguro e a indenização no momento em que o empregador agir com dolo ou culpa.
Assim, a Súmula Vinculante 22 traz:

SÚMULA VINCULANTE 22: A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de
indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por
empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em
primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.

A prescrição, para ações trabalhistas, conforme o inciso XXIX, possui dois prazos diversos. Assim,
tem o prazo prescricional de dois anos, começando a contar no momento da extinção do contrato de
trabalho, para entrar com ação para cobrar verbas e indenizações. Caso não entre com ação neste prazo de
dois anos, ocorrerá a prescrição. Se o empregado ajuizou ação no tempo previsto, ele tem o direito de cobrar
as verbas e indenizações dos últimos cinco anos. Diante disso, se um empregado foi admitido em 2000,
trabalhou na empresa até 2015 e, neste período fazia horas-extras, que nunca recebeu, bem como não vinha
recebendo a gratificação natalina desde 2008. Neste caso, o empregado tem, do momento da extinção do
contrato, dois anos para ajuizar ação, podendo ser feito, assim, até 2017. Como tem o direito de cobrar as
verbas dos últimos cinco anos, a sua demanda mudará dependendo do momento em que ajuizou a ação. Caso
tenha ajuizado ação um da após a extinção do contrato, em 2015, poderia cobrar as horas extras e as
gratificações natalinas de 2010 até 2015.
O inciso XXX traz assunto muito relevante para concursos públicos, uma vez que fala sobre a

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proibição de diferenças salariais, de exercício de função e de critério de admissão por qualquer motivo
que seja sexo, idade cor ou estado civil. A Súmula 683 do STF estabeleceu que, quanto ao requisito idade,
o limite de idade para a inscrição em concursos públicos só pode ser legitimado quando justificada pela
natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

24.4 DIREITO DE GREVE


Previsto no artigo 9º da CF, o direito de greve possui suas exceções, previstas no §1º do dispositivo.
Embora muito importante como direito social, de manifestação e reivindicação do trabalhador, o direito de
greve não é absoluto e encontra limites em lei infraconstitucional (Lei 7.783/89), com autorização do
texto constitucional.

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades
inadiáveis da comunidade.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Entre os principais limites ao direito de greve, destacam-se os serviços ou atividades essenciais e


de necessidades inadiáveis da comunidade, que limitam o direito de greve, pois nestes casos, o direito de
greve entra em choque com o direito de outros cidadãos, com direito da sociedade. Então, a solução que
se encontra é que, parte da categoria pode fazer greve, mas outra parte da categoria, por menor que seja,
deve continuar trabalhando, para não inviabilizar o serviço ou atividade essencial, havendo a
ponderação entre os direitos.

25 DIREITO DE NACIONALIDADE
A nacionalidade vai além de brasileiros natos e naturalizados, existindo o caso de apátridas e de
portugueses equiparados. O apátrida é aquele que não tem vinculação jurídica alguma com Estado
algum, não pertencendo a nenhuma pátria. Hoje, há cerca de 10 milhões de pessoas no mundo que não são
cidadãos de Estado nenhum.
A ONU, no artigo 15 da Declaração Universal do Direitos dos Homens diz que todo indivíduo tem
direito a uma nacionalidade. Também diz que, ninguém pode ser privado de uma nacionalidade ou de trocar
de nacionalidade. Assim, é direito de nacionalidade o direito de a pessoa pertencer a qualquer país do mundo,
desde que cumpridos os requisitos soberanos de cada nacionalidade.
Ao aprender sobre a teoria geral do Estado, se aprende sobre Estado, soberania e o que se considera
população de um Estado. Esta, envolve nacionais e estrangeiros residentes no país. Não é à toa que, o
artigo 5º, caput, da CF, traz que todos são iguais perante a lei, deferindo os direitos fundamentais aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes também. O fato é que o STF se manifestou acerca da abrangência
do artigo, afirmando que abrange não somente estrangeiros residentes, como qualquer pessoa que esteja

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no país, ainda que de passagem ou a passeio.

25.1 NACIONAIS
Os nacionais formam um grupo composto por brasileiros natos e brasileiros naturalizados,
diferente da população, que envolve também os estrangeiros aqui residentes, assim como os nacionais
(brasileiros natos e naturalizados).
Segundo o artigo 12, I da CF, brasileiro nato é aquele nascido no Brasil:

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a
serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

Isso significa que a CF utilizou o princípio doutrinário jus soli. Além deste critério, existe o
critério da consanguinidade. Ou seja, se a pessoa nasce no Brasil e é filha de pais brasileiros, esta pessoa
é brasileira nata, assim como em casos de filho que nasce em solo brasileiro, de pais estrangeiros que
não estejam a serviço de seu país. Aqui deve se atentar para uma peculiaridade, pois apenas é brasileiro
nato aquele filho de pais estrangeiros que não estão a serviço de seu país. Isso porque uma família que
acompanha um diplomata, ao ter filho no Brasil, por exemplo, por estar a serviço do seu país de origem, faz
com que seu filho não seja considerado brasileiro, mas sim cidadão do país de origem do diplomata. É
possível que no país de origem existam outras regras, mas o que importa é a regra brasileira, no momento.
Quando filhos de brasileiros nascem em território estrangeiro, se os pais estão a serviço do Brasil,
aqueles serão brasileiros natos. Ainda, há a possibilidade de a criança nascer no exterior e ter pai ou mãe
brasileiros. Se a criança for registrada em repartição brasileira competente no país em que nasceu,
também é considerada brasileira nata. Ou, se filho nascido no exterior, de pai brasileiro ou mãe brasileira,
passe a residir no Brasil, ao atingir a maioridade pode optar pela nacionalidade. Existe a ação de opção
pela nacionalidade brasileira. Essa ação não aceita a representação de menor. Então, é um direito
personalíssimo que não admite a representação processual, devendo aguardar a maioridade da criança, para
ser ajuizada a ação se auto representando, para optar ou não pela nacionalidade brasileira. Caso entre com
ação, este será considerado brasileiro nato.
Já os brasileiros naturalizados estão arrolados no artigo 12, inciso II da CF.

Art. 12. São brasileiros:


(...)
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de
língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de

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quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

No caso de naturalizados, a questão envolve a origem e a linguagem do estrangeiro. Ou seja, se


for de país com língua portuguesa, basta que o estrangeiro resida por um ano no Brasil e que comprove
a idoneidade moral. Agora, para estrangeiros de países com outras origens que não sejam de língua
portuguesa, é necessário estar no Brasil há mais de quinze anos e requerer a nacionalidade brasileira.
Ainda, existe o português equiparado, que está elencado no artigo 12, §1º da CF:

Art. 12. São brasileiros:


(...)
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Constituição.

A questão envolve reciprocidade entre Brasil e Portugal. Havendo reciprocidade em Portugal, os


portugueses que aqui tenham residência permanente, têm direitos iguais aos brasileiros natos, observadas
algumas restrições. O português equiparado tem, então, o requisito da reciprocidade. Nota-se que o português
equiparado continua sendo português, não sendo considerado brasileiro, mas tem os mesmos direitos
que estes.
O importante é que não pode haver distinção entre brasileiros natos, naturalizados e portugueses
equiparados. O artigo 12, §3º da CF, traz as exceções quanto a proibição da distinção:

Art. 12: São brasileiros:


(...)
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa

As exceções têm por base a noção de patriotismo, ou seja, algo que se sente e que é inerente à pessoa
que tem uma vinculação muito mais afetiva do que jurídica com a nação. Deste modo, alguns cargos
públicos são reservados e privativos aos brasileiros natos, por conta do patriotismo. Os cargos de
presidente e vice-presidente, assim como de presidente da Câmara de Deputados e do Senado Federal,
pois deve se recordar que existe ordem de sucessão entre estes cargos, no caso de vacância. Outra explicação,
é a importância política destes cargos para a República Federativa do Brasil.
Outra exceção à proibição de distinção está elencada no artigo 89, inciso VII14, também da

14
Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam:
(...)
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente

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Constituição Federal, que traz a função privativa de brasileiros natos no Conselho da República, onde
seis brasileiros natos participam. Por fim, o artigo 222 da CF15também se baseia na mesma noção de
patriotismo, como as demais exceções, ao tratar das empresas jornalísticas e de radiodifusão. Neste caso,
a empresa deve ser pessoa jurídica constituída sob as leis brasileiras, com sede no Brasil e presididas por
brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos.

25.2 EXTRADIÇÃO
A extradição de brasileiros natos é proibida. Porém, os brasileiros naturalizados podem ser
extraditados, desde que cumpridos os requisitos necessários. Não pode ocorrer a extradição de brasileiros
naturalizados por crime político ou de opinião.

25.3 PERDA DE NACIONALIDADE


É um instituto delicado que trabalha com a perda da nacionalidade de algum cidadão. Não é a
revogação ou o cancelamento de naturalização, mas sim de até um brasileiro nato poder perder a sua
nacionalidade. A perda de nacionalidade está no artigo 12, §4 da CF:

Art. 12 São brasileiros:


(...)
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro,
como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis;

No caso do brasileiro naturalizado, a perda da nacionalidade pode ocorrer quando, por sentença

da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de
três anos, vedada a recondução
15
Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de
brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e
que tenham sede no País.
(...).

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judicial for retirada a sua naturalização ficando claro a prática de atividade nociva ao interesse
nacional. Esta regra é apenas para o brasileiro naturalizado. O brasileiro nato, via de regra, só irá perder a
nacionalidade brasileira se adquirir outra nacionalidade. Excepcionalmente, não haverá a perda quando
for possível a dupla cidadania, por simples reconhecimento por parte da outra nação ao brasileiro nato. A
segunda exceção, em que não haverá a perda da nacionalidade, é quando há a imposição de naturalização
pelo outro país, como condição de permanência ao local.

25.4 ESTUDO DE CASO


Uma brasileira nata se mudou para EUA e se casou por lá, residindo por vários anos no país. Após
certo tempo, decidiu retornar para o Brasil, onde fixou residência. Chega, então, ao Ministério da Justiça
um pedido de extradição desta brasileira. Segundo consta no processo, a brasileira estava sendo acusada
nos EUA pela prática de crime doloso contra a vida. Ocorre que, o ministro da justiça declarou a perda da
nacionalidade desta brasileira, pois, segundo seus argumentos, o fato dela ter adquirido a nacionalidade
americana, quando lá residia, se aplicaria a perda da nacionalidade brasileira.
A brasileira, então, impetrou MS no STF, argumentando que o ato do ministro foi ilegal, pois não
poderia detectar a perda da nacionalidade, já que era brasileira nata. O caso foi julgado e, por maioria de 3x2,
o ato do ministro da justiça foi declarado hígido e legal, uma vez que, a partir do momento que a
brasileira nata já residia nos EUA e exercia todo e qualquer ato da vida civil de porte do green card, ela
não foi coagida a adquirir a naturalização, fazendo-o de modo voluntário. Percebe-se que não houve a
extradição de uma brasileira nata, mas sim de uma americana naturalizada que, por consequência de sua
naturalização voluntária, perdeu a nacionalidade brasileira.

CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BRASILEIRA NATURALIZADA AMERICANA.


ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO NO EXTERIOR. FUGA PARA O BRASIL. PERDA DE NACIONALIDADE
ORIGINÁRIA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR. HIPÓTESE
CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO OCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE
PODER. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. O Supremo Tribunal Federal é competente para o julgamento de
mandado de segurança impetrado contra ato do Ministro da Justiça em matéria extradicional. (HC
83.113/DF, Rel. Min. Celso de Mello). 2. A Constituição Federal, ao cuidar da perda da nacionalidade
brasileira, estabelece duas hipóteses: (i) o cancelamento judicial da naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii) a
aquisição de outra nacionalidade. Nesta última hipótese, a nacionalidade brasileira só não será perdida
em duas situações que constituem exceção à regra: (i) reconhecimento de outra nacionalidade originária
(art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, b). 3. No caso sob
exame, a situação da impetrante não se subsume a qualquer das exceções constitucionalmente previstas
para a aquisição de outra nacionalidade, sem perda da nacionalidade brasileira. 4. Denegação da ordem
com a revogação da liminar concedida.(MS 33864, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira
Turma, julgado em 19/04/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-200 DIVULG 19-09-2016 PUBLIC 20-
09-2016)

25.5 LEI DE MIGRAÇÃO


A Lei de Migração foi promulgada em 2017. Antes dela, se tinha o Estatuto do Estrangeiro. Ao se
comparar os dois textos normativos, percebe-se que ambos tratam do mesmo assunto, mas de maneiras
distintas. O Estatuto do Estrangeiro trata o outro para além das fronteiras como estrangeiro; a Lei de

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Migração trata o outro como imigrante ou visitante. Ainda, o estatuto tratava o estrangeiro com
documentação vencida como ilegal; a nova lei evita esta nomenclatura e utiliza imigrante indocumentado.
A Lei de Migração veio em um contexto republicano e democrático, onde o trânsito entre países é
muito mais intenso. O imigrante, conforme a lei, é o nacional de outro país, ou apátrida, que trabalhe ou
resida no Brasil de modo temporário ou definitivo. Já o emigrante é o brasileiro que de maneira
temporária ou definitiva, passa a residir no exterior. Ainda, a lei traz o residente fronteiriço, ou seja, é
aquele que é nacional de país limítrofe ou apátrida, que reside em município de fronteira de um país
vizinho.
O visitante é o nacional de outro país, ou apátrida, que está no país para permanência ou estada
de curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou permanentemente no Brasil. Por fim,
o apátrida, segundo a lei, é a pessoa que não é considerada como nacional por nenhum Estado.
Alguns direitos e deves que estão arrolados na lei são:
→ Universalidade dos direitos humanos
→ Repúdio e prevenção à xenofobia
→ Não criminalização da migração
→ Não discriminação em razão dos critérios de admissão
→ Promoção de entrada regular e de regularização documental
→ Acolhida humanitária
→ Garantia do direito à reunião familiar
→ Igualdade de tratamento e de oportunidade
→ Inclusão social, laborar e produtiva
→ Promoção da participação cidadã do imigrante
→ Acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais

26 DIREITOS POLÍTICOS
Existem dois assuntos fundamentais acerca dos direitos políticos. O primeiro envolve a soberania
popular. E o segundo envolve os partidos políticos. Falar em direitos políticos é falar em democracia, logo,
em atribuir poder a alguém. Isso porque, se está acostumado a uma forma democrática que não é direta em
sua prática, mas sim baseada em estrutura de representatividade. É uma democracia que ocorre através
do voto, atribuindo-se poder a alguém que irá representar os interesses dos cidadãos.
O voto é uma das características do constitucionalismo, que veio para limitar o poder de um
soberano. Essas limitações podem ser separadas em duas vertentes: a supremacia do indivíduo e a
limitação do poder. As duas vertentes formam a base do constitucionalismo. Como se afirma que a
supremacia é do indivíduo e não do Estado, o poder é inerente do povo, pois o indivíduo tem supremacia

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em relação ao Estado, conforme o artigo 1º, p.ú da CF16.

26.1 EXERCÍCIO DA SOBERANIA POPULAR


Conforme o artigo 14 da CF, a soberania popular é exercida através de:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

O sufrágio universal e o voto, elencados no caput do artigo 14, são institutos diversos. Voto é o
exercício da democracia para o fim de atribuir poder a alguém. Já o sufrágio é a possibilidade de
qualquer pessoa eleger e ser eleita. Assim, o sufrágio universal tem duas vias, podendo, qualquer pessoa
que preencha os requisitos, votar e ser votada. Percebe-se que, para o sufrágio universal e o voto direto e
secreto, não se admite o trato legislativo da questão.
Ainda, acerca do sufrágio, este é uma essência dos direitos políticos e é o direito público subjetivo
de natureza política. Já o voto é uma cláusula pétrea, pois é um instrumento da representação da
democracia, tanto formal quanto procedimental, pois o povo é a única fonte de poder. O voto é uma
ferramenta, já que é através dele que se atribui poder a alguém.
Com relação ao plebiscito e referendo, é necessário também fazer diferenciação. Plebiscito é
convocado com antecedência a projeto de lei e ato administrativo. Normalmente se vê a ocorrência de
plebiscito contra projetos de lei. Já o referendo é convocado após o ato administrativo ou da
promulgação da lei, servindo como forma de buscar a ratificação ou rejeição destes. Tem, o referendo,
prazo de 30 dias para convocação.
Mas, também, possuem suas igualdades, uma vez que plebiscito e referendo são convocados
através de Decreto Legislativo, devendo, a proposta do instituto, ser requerida por, no mínimo, 1/3 dos
membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.

16
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição.

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26.2 INICIATIVA POPULAR
A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei subscrito por, no mínimo 1% do
eleitorado nacional, sendo esta porcentagem distribuída por pelo menos cinco estados brasileiros, com
não menos de três décimos por centro dos eleitores de cada um deles, conforme o artigo 61, §2 da CF:

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao
Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos,
na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
(...)
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei
subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados,
com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles .

Assim, o projeto deve ser apresentado à Câmara dos Deputados, por ser a casa do povo, e esta não
pode rejeitar um projeto por vício de forma, jamais podendo ser utilizado o formato do projeto como
justificativa para a sua rejeição. O motivo para tal alegação é simples: se está diante de um dilema entre
democracia direta, exercida através da apresentação de projeto de iniciativa popular, e democracia
indireta, na qual representantes do povo, que agem em nome do povo, não podem ir contra um projeto
subscrito pelo próprio povo.

26.3 PROCESSO ELEITORAL


O processo eleitoral envolve, não apenas candidatos e agentes públicos, mas todo o eleitorado
nacional. Esse processo tem várias etapas e procedimentos que serão analisados a partir deste momento:
» Impugnação de Mandato Eletivo: é uma ação ajuizada perante a Justiça Eleitoral, no prazo de 15 dias
contados a partir da diplomação do candidato, ou seja, a partir do momento em que a pessoa eleita “toma
posse” do seu cargo político, instruindo a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
fraude. Esta ação tramitará em segredo de justiça.
»Alteração do Processo Eleitoral: conforme o artigo 16 da CF, a lei que alterar o processo eleitoral irá
entrar em vigor na data em que for publicada, não sendo aplicada em eleições que ocorram até um ano
da data da sua vigência, graças ao princípio da anterioridade eleitoral.
»Alistamento Eleitoral: é um dos requisitos obrigatórios do eleitor, para que ele possa votar. É o
momento em que se faz o título de eleitor, comprovando a sua inscrição perante a Justiça Eleitoral.
Importante salientar que não podem se alistar os estrangeiros, pois estes não são considerados integrantes
dos nacionais aptos a exercer a capacidade eleitoral ativa, e os militares conscritos durante o período do
serviço militar obrigatório.
O alistamento e o voto são facultativos para aqueles maiores de 16 anos e menores de 18 anos,
assim como para os analfabetos e maiores de 70 anos de idade. Já para os maiores de 18 anos, ambos
institutos são obrigatórios.
»Condições de Elegibilidade: são os requisitos para que a pessoa se candidate à cargo público. O artigo

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14, §3º da CF traz a capacidade eleitoral passiva, informando que, para concorrer em eleições, é necessário
que o candidato tenha nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento
eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição, filiação partidária e idade mínima.
Quanto ao pleno exercício dos direitos políticos, é importante recordar que o artigo 15 da CF veda a
cassação dos direitos políticos, o que não quer dizer que uma pessoa não possa perder ou ter a suspensão
dos seus direitos políticos:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

O cancelamento da naturalização, assim como a recusa de cumprir obrigação a todos imposta,


são as hipóteses de perda dos direitos políticos. Os demais incisos que o artigo supramencionado traz, são
hipóteses de suspensão dos direitos políticos.
A filiação partidária é outro requisito necessário para se candidatar, onde o eleitor só pode estar
filiado a um único partido político, por pelo menos um ano, sendo que este não pode estar sendo coagido
a aceitar a filiação.
A idade mínima para se eleger é tratada de forma bem objetiva pelo texto constitucional. Para todos
os cargos públicos eletivos na República, existe idade mínima, tendo como referência a data da posse. A
idade mínima não é para o pleito, para a candidatura, mas sim para o dia da posse.

» Inelegibilidades: são os chamados direitos políticos negativos, que se dividem em inelegibilidades

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absolutas e relativas. As inelegibilidades absolutas estão previstas na Constituição Federal, como os
inalistáveis, estrangeiros, quem esteja privado de seus direitos políticos, seja por perda ou suspensão
acima demonstrados, e aquele que não tenha filiação partidária. Há, ainda, a possibilidade de lei
complementar estabelecer outros casos de inelegibilidade, conforme previsto pelo próprio texto
constitucional. E, assim, a Lei da Ficha Limpa trouxe outros quatro casos em que se tem a inelegibilidade
absoluta, quais sejam, os condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial
colegiado (em diversos crimes, mas principalmente lavagem ou ocultação de bens e valores e crimes de
organização criminosa) e outros três casos que se baseiam na moralidade administrativa e na probidade no
exercício de funções.
Assim, será ilegível aquele que tiver suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções
públicas rejeitas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e
por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo poder
judiciário, para as eleições que se realizarem nos oito anos seguintes, contados a partir da data da decisão.
A terceira hipótese é quanto aos detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou
funcional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso de poder econômico ou político, que forem
condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, sendo ilegível para a
eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos oito anos
seguintes
A ultima hipótese de inelegibilidade absoluta é os que foram condenados à suspensão dos direitos
políticos, em decisão transitada em julgada ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de
improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio publico e enriquecimento ilícito, desde a
condenação ou trânsito em julgado até o transcurso do prazo de oito anos após o cumprimento da pena.
Com relação as inelegibilidades relativas, existem três modalidades: em razão da função, em razão
de parentesco, ou em razão dos requisitos.
A inelegibilidade funcional envolve os chefes dos poderes executivos, onde só podem se reeleger
uma vez consecutiva para o mesmo cargo, devendo renunciar para concorrer a outros cargos (a
chamada desincompatibilização) e as regras são aplicáveis não só aos titulares, mas a qualquer um que o
tenha substituído ou tenha sido seu sucessor.
Já a inelegibilidade por parentesco diz respeito aos parentes de chefes dos poderes executivos,
não só consanguíneos, mas afins. Esta regra também é aplicável para os substitutos dos chefes dos poderes
executivos que tenham atuado nos últimos seis meses antes do pleito. Assim, estes são inelegíveis, por
conta do parentesco, no território de jurisdição do titular, salvo se já titulares de mandato eletivo em
algum cargo em que sejam candidatos à reeleição.
Por fim, a inelegibilidade por razão de requisitos se dá por motivo de idade, domicílio eleitoral e
questões de filiação partidária.
»Lei da Ficha Limpa: a lei, que foi criada em 2010, foi submetida a julgamento pelo STF, para saber

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sobre a sua aplicabilidade nas eleições de 2010. Ao julgar o caso, o STF decidiu, através do RE 633.703,
que a lei seria inaplicável naquele ano, com fundamento no artigo 16 da CF, não se aplicando nova lei à
eleição que ocorra até um ano da sua vigência.

LEI COMPLEMENTAR 135/2010, DENOMINADA LEI DA FICHA LIMPA. INAPLICABILIDADE ÀS


ELEIÇÕES GERAIS 2010. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL (ART. 16 DA CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA). I. O PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL COMO GARANTIA DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL ELEITORAL. O pleno exercício de direitos políticos por seus titulares (eleitores,
candidatos e partidos) é assegurado pela Constituição por meio de um sistema de normas que
conformam o que se poderia denominar de devido processo legal eleitoral. Na medida em que
estabelecem as garantias fundamentais para a efetividade dos direitos políticos, essas regras também
compõem o rol das normas denominadas cláusulas pétreas e, por isso, estão imunes a qualquer reforma
que vise a aboli-las. O art. 16 da Constituição, ao submeter a alteração legal do processo eleitoral à regra
da anualidade, constitui uma garantia fundamental para o pleno exercício de direitos políticos.
Precedente: ADI 3.685, Rel. Min. Ellen Gracie, julg. em 22.3.2006. A LC 135/2010 interferiu numa fase
específica do processo eleitoral, qualificada na jurisprudência como a fase pré-eleitoral, que se inicia com
a escolha e a apresentação das candidaturas pelos partidos políticos e vai até o registro das
candidaturas na Justiça Eleitoral. Essa fase não pode ser delimitada temporalmente entre os dias 10 e 30
de junho, no qual ocorrem as convenções partidárias, pois o processo político de escolha de
candidaturas é muito mais complexo e tem início com a própria filiação partidária do candidato, em
outubro do ano anterior. A fase pré-eleitoral de que trata a jurisprudência desta Corte não coincide com
as datas de realização das convenções partidárias. Ela começa muito antes, com a própria filiação
partidária e a fixação de domicílio eleitoral dos candidatos, assim como o registro dos partidos no
Tribunal Superior Eleitoral. A competição eleitoral se inicia exatamente um ano antes da data das
eleições e, nesse interregno, o art. 16 da Constituição exige que qualquer modificação nas regras do jogo
não terá eficácia imediata para o pleito em curso. II. O PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL
COMO GARANTIA CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE DE CHANCES. Toda limitação legal ao direito
de sufrágio passivo, isto é, qualquer restrição legal à elegibilidade do cidadão constitui uma limitação da
igualdade de oportunidades na competição eleitoral. Não há como conceber causa de inelegibilidade que
não restrinja a liberdade de acesso aos cargos públicos, por parte dos candidatos, assim como a
liberdade para escolher e apresentar candidaturas por parte dos partidos políticos. E um dos
fundamentos teleológicos do art. 16 da Constituição é impedir alterações no sistema eleitoral que venham
a atingir a igualdade de participação no prélio eleitoral. III. O PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
ELEITORAL COMO GARANTIA CONSTITUCIONAL DAS MINORIAS E O PAPEL DA JURISDIÇÃO
CONSTITUCIONAL NA DEMOCRACIA. O princípio da anterioridade eleitoral constitui uma garantia
fundamental também destinada a assegurar o próprio exercício do direito de minoria parlamentar em
situações nas quais, por razões de conveniência da maioria, o Poder Legislativo pretenda modificar, a
qualquer tempo, as regras e critérios que regerão o processo eleitoral. A aplicação do princípio da
anterioridade não depende de considerações sobre a moralidade da legislação. O art. 16 é uma barreira
objetiva contra abusos e desvios da maioria, e dessa forma deve ser aplicado por esta Corte. A proteção
das minorias parlamentares exige reflexão acerca do papel da Jurisdição Constitucional nessa tarefa. A
Jurisdição Constitucional cumpre a sua função quando aplica rigorosamente, sem subterfúgios calcados
em considerações subjetivas de moralidade, o princípio da anterioridade eleitoral previsto no art. 16 da
Constituição, pois essa norma constitui uma garantia da minoria, portanto, uma barreira contra a atuação
sempre ameaçadora da maioria. IV. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO. Recurso
extraordinário conhecido para: a) reconhecer a repercussão geral da questão constitucional atinente à
aplicabilidade da LC 135/2010 às eleições de 2010, em face do princípio da anterioridade eleitoral (art. 16
da Constituição), de modo a permitir aos Tribunais e Turmas Recursais do país a adoção dos
procedimentos relacionados ao exercício de retratação ou declaração de inadmissibilidade dos recursos
repetitivos, sempre que as decisões recorridas contrariarem ou se pautarem pela orientação ora firmada.
b) dar provimento ao recurso, fixando a não aplicabilidade da Lei Complementar n° 135/2010 às eleições
gerais de 2010.(RE 633703, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 23/03/2011,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-219 DIVULG 17-11-2011 PUBLIC 18-11-2011 RTJ VOL-00221-
01 PP-00462 EMENT VOL-02628-01 PP-00065)

Mas, o STF também analisou a Lei da Ficha Limpa em casos de controle concentrado de
constitucionalidade, ao julgar as ADC 29/DF, ADC 30/DF e ADI 4578/DF. Ao analisar o texto da lei, tem-
se, de um lado, o artigo 14, §9º da CF que diz que lei complementar irá estabelecer outros casos de

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inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade
para exercício de mandato considerada pregressa do candidato, que foi observado e seguido pela referida lei.
Por outro lado, se tem o artigo 5º, LVII, trazendo que ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado da lei penal condenatória. Ao decidir, o STF estabeleceu que a lei da ficha limpa é
integralmente constitucional, não ferindo o artigo 5º da CF:

AÇÕES DECLARATÓRIAS DE CONSTITUCIONALIDADE E AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE EM JULGAMENTO CONJUNTO. LEI COMPLEMENTAR Nº 135/10.
HIPÓTESES DE INELEGIBILIDADE. ART. 14, § 9º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MORALIDADE
PARA O EXERCÍCIO DE MANDATOS ELETIVOS. INEXISTÊNCIA DE AFRONTA À
IRRETROATIVIDADE DAS LEIS: AGRAVAMENTO DO REGIME JURÍDICO ELEITORAL.
ILEGITIMIDADE DA EXPECTATIVA DO INDIVÍDUO ENQUADRADO NAS HIPÓTESES LEGAIS DE
INELEGIBILIDADE. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (ART. 5º, LVII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL):
EXEGESE ANÁLOGA À REDUÇÃO TELEOLÓGICA, PARA LIMITAR SUA APLICABILIDADE AOS
EFEITOS DA CONDENAÇÃO PENAL. ATENDIMENTO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO: FIDELIDADE POLÍTICA
AOS CIDADÃOS. VIDA PREGRESSA: CONCEITO JURÍDICO INDETERMINADO. PRESTÍGIO DA
SOLUÇÃO LEGISLATIVA NO PREENCHIMENTO DO CONCEITO. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI.
AFASTAMENTO DE SUA INCIDÊNCIA PARA AS ELEIÇÕES JÁ OCORRIDAS EM 2010 E AS
ANTERIORES, BEM COMO E PARA OS MANDATOS EM CURSO. 1. A elegibilidade é a adequação do
indivíduo ao regime jurídico - constitucional e legal complementar - do processo eleitoral, razão pela qual
a aplicação da Lei Complementar nº 135/10 com a consideração de fatos anteriores não pode ser
capitulada na retroatividade vedada pelo art. 5º, XXXVI, da Constituição, mercê de incabível a invocação
de direito adquirido ou de autoridade da coisa julgada (que opera sob o pálio da cláusula rebus sic
stantibus) anteriormente ao pleito em oposição ao diploma legal retromencionado; subjaz a mera
adequação ao sistema normativo pretérito (expectativa de direito). 2. A razoabilidade da expectativa de
um indivíduo de concorrer a cargo público eletivo, à luz da exigência constitucional de moralidade para o
exercício do mandato (art. 14, § 9º), resta afastada em face da condenação prolatada em segunda
instância ou por um colegiado no exercício da competência de foro por prerrogativa de função, da
rejeição de contas públicas, da perda de cargo público ou do impedimento do exercício de profissão por
violação de dever ético-profissional. 3. A presunção de inocência consagrada no art. 5º, LVII, da
Constituição Federal deve ser reconhecida como uma regra e interpretada com o recurso da metodologia
análoga a uma redução teleológica, que reaproxime o enunciado normativo da sua própria literalidade, de
modo a reconduzi-la aos efeitos próprios da condenação criminal (que podem incluir a perda ou a
suspensão de direitos políticos, mas não a inelegibilidade), sob pena de frustrar o propósito moralizante
do art. 14, § 9º, da Constituição Federal. 4. Não é violado pela Lei Complementar nº 135/10 o princípio
constitucional da vedação de retrocesso, posto não vislumbrado o pressuposto de sua aplicabilidade
concernente na existência de consenso básico, que tenha inserido na consciência jurídica geral a
extensão da presunção de inocência para o âmbito eleitoral. 5. O direito político passivo (ius honorum) é
possível de ser restringido pela lei, nas hipóteses que, in casu, não podem ser consideradas arbitrárias,
porquanto se adequam à exigência constitucional da razoabilidade, revelando elevadíssima carga de
reprovabilidade social, sob os enfoques da violação à moralidade ou denotativos de improbidade, de
abuso de poder econômico ou de poder político. 6. O princípio da proporcionalidade resta prestigiado
pela Lei Complementar nº 135/10, na medida em que: (i) atende aos fins moralizadores a que se destina;
(ii) estabelece requisitos qualificados de inelegibilidade e (iii) impõe sacrifício à liberdade individual de
candidatar-se a cargo público eletivo que não supera os benefícios socialmente desejados em termos de
moralidade e probidade para o exercício de referido munus publico. 7. O exercício do ius honorum (direito
de concorrer a cargos eletivos), em um juízo de ponderação no caso das inelegibilidades previstas na Lei
Complementar nº 135/10, opõe-se à própria democracia, que pressupõe a fidelidade política da atuação
dos representantes populares. 8. A Lei Complementar nº 135/10 também não fere o núcleo essencial dos
direitos políticos, na medida em que estabelece restrições temporárias aos direitos políticos passivos,
sem prejuízo das situações políticas ativas. 9. O cognominado desacordo moral razoável impõe o
prestígio da manifestação legítima do legislador democraticamente eleito acerca do conceito jurídico
indeterminado de vida pregressa, constante do art. 14, § 9.º, da Constituição Federal. 10. O abuso de
direito à renúncia é gerador de inelegibilidade dos detentores de mandato eletivo que renunciarem aos
seus cargos, posto hipótese em perfeita compatibilidade com a repressão, constante do ordenamento
jurídico brasileiro (v.g., o art. 55, § 4º, da Constituição Federal e o art. 187 do Código Civil), ao exercício
de direito em manifesta transposição dos limites da boa-fé. 11. A inelegibilidade tem as suas causas
previstas nos §§ 4º a 9º do art. 14 da Carta Magna de 1988, que se traduzem em condições objetivas
cuja verificação impede o indivíduo de concorrer a cargos eletivos ou, acaso eleito, de os exercer, e não

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se confunde com a suspensão ou perda dos direitos políticos, cujas hipóteses são previstas no art. 15 da
Constituição da República, e que importa restrição não apenas ao direito de concorrer a cargos eletivos
(ius honorum), mas também ao direito de voto (ius sufragii). Por essa razão, não há inconstitucionalidade
na cumulação entre a inelegibilidade e a suspensão de direitos políticos. 12. A extensão da
inelegibilidade por oito anos após o cumprimento da pena, admissível à luz da disciplina legal anterior,
viola a proporcionalidade numa sistemática em que a interdição política se põe já antes do trânsito em
julgado, cumprindo, mediante interpretação conforme a Constituição, deduzir do prazo posterior ao
cumprimento da pena o período de inelegibilidade decorrido entre a condenação e o trânsito em julgado.
13. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga improcedente. Ações declaratórias de
constitucionalidade cujos pedidos se julgam procedentes, mediante a declaração de constitucionalidade
das hipóteses de inelegibilidade instituídas pelas alíneas "c", "d", "f", "g", "h", "j", "m", "n", "o", "p" e "q" do
art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 64/90, introduzidas pela Lei Complementar nº 135/10, vencido o
Relator em parte mínima, naquilo em que, em interpretação conforme a Constituição, admitia a
subtração, do prazo de 8 (oito) anos de inelegibilidade posteriores ao cumprimento da pena, do prazo de
inelegibilidade decorrido entre a condenação e o seu trânsito em julgado. 14. Inaplicabilidade das
hipóteses de inelegibilidade às eleições de 2010 e anteriores, bem como para os mandatos em curso, à
luz do disposto no art. 16 da Constituição. Precedente: RE 633.703, Rel. Min. GILMAR MENDES
(repercussão geral).(ADC 29, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 16/02/2012,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-127 DIVULG 28-06-2012 PUBLIC 29-06-2012 RTJ VOL-00221-01 PP-
00011)

26.4 PARTIDOS POLÍTICOS


Quando se fala em partido político, se está a dialogar a respeito de atribuição de poder político e
de pessoas jurídicas de direito privado como integrantes do processo de atribuição de poder. Ainda, se fala
em monopólio das candidaturas, uma vez que não é admitida a candidatura avulsa de pessoa não
filiada em partido algum. Com relação a filiação, os partidos têm regras severas de fidelidade e disciplina
partidária que norteiam a atuação dos eleitos para todos os cargos parlamentes.
»Perfil Normativo: conforme o artigo 17 da CF, é livre a criação, fusão, incorporação e extinção de
partidos políticos, desde que observados e resguardados a soberania, a democracia, o
pluripartidarismo e os direitos fundamentais, devendo se obedecer a alguns preceitos.

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania
nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e
observados os seguintes preceitos: Regulamento
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

» Registro e Funcionamento Parlamentar: para um partido politico ter condições para se registrar
perante o TSE, é necessário que este tenha caráter nacional, tendo o apoio de pelo menos 0,5% dos votos
dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, distribuídos por, no mínimo, 1/3 dos
estados brasileiros, com um mínimo de 1/10 por cento do eleitorado que haja votado em cada um dos
estados.
A consequência do registro perante o TSE é que, após tal registro, o partido está admitido a
participar do processo eleitoral, além de estar apto a receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso
gratuito ao rádio e à televisão, tendo, ainda, exclusividade de denominação, sigla e símbolos que o
representem.

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O funcionamento parlamentar de um partido só acontece nas casas legislativas, ou seja, Câmara de
Deputados, Assembleia Legislativa e Congresso Nacional.
»Autonomia e Personalidade: o partido político adquire personalidade jurídica com o registro do seu
estatuto em um cartório comum, não precisando ser em cartório eleitoral. No momento do registro, o
partido passa a ter personalidade jurídica de direito privado, e todas as alterações do seu estatuto
deverão ser registradas em Cartório. Após o registro em Cartório, já constituída personalidade jurídica, o
partido deve fazer seu registro no TSE, como informado anteriormente.
Quanto à autonomia, o partido político pode definir a sua estrutura interna, organização e seu
funcionamento, adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem estar
obrigado à vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal. Pode,
também, estabelecer as normas de disciplina e fidelidade partidária, além de não ter subordinação a
nenhuma entidade ou governo estrangeiro.
»Fidelidade e Disciplina Partidária: acerca do assunto, a Lei n. 9.096 traz, em seus artigos 24, 25 e 26

Art. 24. Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de partido deve subordinar sua ação parlamentar
aos princípios doutrinários e programáticos e às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de direção
partidários, na forma do estatuto.

Art. 25. O estatuto do partido poderá estabelecer, além das medidas disciplinares básicas de caráter
partidário, normas sobre penalidades, inclusive com desligamento temporário da bancada, suspensão do
direito de voto nas reuniões internas ou perda de todas as prerrogativas, cargos e funções que exerça em
decorrência da representação e da proporção partidária, na respectiva Casa Legislativa, ao parlamentar
que se opuser, pela atitude ou pelo voto, às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos
partidários.

Art. 26. Perde automaticamente a função ou cargo que exerça, na respectiva Casa Legislativa, em virtude
da proporção partidária, o parlamentar que deixar o partido sob cuja legenda tenha sido eleito.

»Renda dos Partidos: não é permitida a doação de valores por pessoas jurídicas, sendo aceito apenas
doação de pessoas físicas. É de se observar que a doação de pessoas jurídicas já foi admitida,
antigamente. Mas, atualmente, após decisão do STF, ficou vedada esta possibilidade de renda.
Também é proibido aos partidos receber subvenções, doações e contribuições de entidades ou
governos estrangeiros, autarquias, empresas públicas ou concessionárias, de sociedades de economia
mista e fundações, ou, ainda, de entidade de classe ou sindical e de autoridade ou órgãos públicos
nacionais, salvo o Fundo Partidário.
O Fundo Partidário é dividido, onde 5% é destinado, em partes iguais, aos partidos registrados
no TSE; os outros 95% é destinado aos partidos na proporção dos votos obtidos na última eleição geral
para a Câmara dos Deputados.

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27 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
27.1 FEDERAÇÃO E ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
27.1.1 Antecedentes e Influências
É necessário fazer análise da tripartição dos poderes, antes de falar na organização do Estado.
Sabe-se que, os três poderes conhecidos são legislativo, executivo e judiciário, cada um com sua função
típica, mas que podendo desempenhar funções atípicas, como o poder legislativo também julgar
determinados casos, por exemplo. No Brasil, a teoria da tripartição mais conhecida e estudada nas
faculdades é a criada por Montesquieu. Entretanto, para o escritor, o judiciário não era considerado um
poder, uma vez que considerava os juízes como a boca da lei.
Montesquieu escreveu que os juízes nada mais são do que a boca que pronuncia as palavras da lei,
sendo seres inanimados (sem movimento, sem impulso autônomo; que precisam ser movimentados por algo
externo), que não podem moderar nem a força, nem o rigor, da lei. Percebe-se que, em uma tradução mais
literal do texto, algumas informações até ofendem o modo como o sistema brasileiro vê a separação dos
poderes nos tempos atuais.
Como dito, para o escritor, o judiciário era inferior ao poder legislativo e ao poder executivo. No seu
livro, “O Espírito das Leis”, ao trazer essa teoria da tripartição tão conhecida atualmente, analisa a
Constituição da Inglaterra. No momento em que aborda a separação dos poderes, fala que está a comentar o
sistema constitucional inglês.
Ao comentar a Constituição da Inglaterra, relata algo que viu. Viu o sistema de divisão do poder
composto por um poder legislativo bicameral e um poder executivo. E com relação ao judiciário, não
utiliza a expressão pouvoir, que significa, em português, poder; mas sim, puissance que significa potência.
Ou seja, para Montesquieu, o judiciário era uma potência que é colocada em movimento através da
provocação das partes. Diz, também, que os juízes devem ser escolhidos por sorteio ou eleição, dando a
entender que o corpo de juízes será composto por pessoas que exercem temporariamente a função, para
resolver casos particulares.
Assim, a tripartição para Montesquieu envolve o poder executivo (monarca), a Câmara Alta
(nobres) e a Câmara Baixa (povo). Aqui está a tripartição de Montesquieu, onde o poder legislativo é
bipartido, então, o judiciário não fazia parte dos poderes. O monarca tinha o direito de impedir o
prosseguimento de decisões legislativas e a faculdade de examinar. Os nobres, juntamente com o povo,
tinham a faculdade de estatuir ou de impedir projetos da outra Câmara. Percebe-se que nobre e povo são
controlados entre si, e somente aquilo que for de harmonia de interesse de ambos, segue para análise do
monarca.
Outro escritor, John Locke, também dissertou sobre a Constituição da Inglaterra, no Segundo
Tratado de Direito Civil, em um contexto em que tinha se encerrado a revolução gloriosa e o rei havia jurado
o Bill of Rights, sendo uma consistência da tese de que a monarquia absoluta é inconsistente com a sociedade
civil. Deste modo, John Locke publicou tratado após o rei da Inglaterra empoderar o parlamento inglês.

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A tripartição, em Locke, funciona da mesma forma que em Montesquieu, onde o poder legislativo
bicameral seria o poder supremo, ao qual todo o resto deve estar subordinado. E o poder executivo é
investido no monarca, que também teria certa participação no legislativo, à medida que seria o supremo
executor da lei e teria prerrogativa de convocar assembleias. Também não alocava o poder judiciário na
tripartição.
Pode se extrair que ambos os escritores fazem referência a Aristóteles que, por sua vez, em uma de
suas obras, aborda a dinâmica do poder, envolvendo, primeiro a monarquia, – que é o governo de um só na
busca do interesse comum - segundo a aristocracia – que, para Aristóteles, era o governo de poucas pessoas
escolhidas entre as mais honestas que visavam ao maior bem do Estado. E, por fim, envolvia a república,
que é o governo da multidão, para a utilidade pública.
Ao analisar o estabelecido por Aristóteles, Montesquieu estabelece que a monarquia pode se
reverter em tirania, caso o governo seja direcionado ao interesse apenas do rei; a aristocracia pode se
transformar em oligarquia, caso os interesses sejam apões os dos nobres; e a república pode se converter
em democracia, caso os interesses a buscar sejam apenas os do povo.
Para Aristóteles, a tripartição dos poderes seria a república aristocrática, pois reúne o que há de
bom em dois regimes degenerados: a oligarquia e a democracia. Assim, seria um governo cuja participação
abrange virtude, riqueza e liberdade. Também não se refere ao judiciário como parte do poder.
Os três pensadores e escritores destinam fortes argumentos a um sistema de tripartição do poder que
envolve um poder executivo e legislativo bicameral, sem o judiciário no mesmo nível hierárquico. Enquanto,
na Europa, se analisava este sistema, nos Estados Unidos da América criava-se um novo sistema, que não
era conhecido até então, por James Madison, John Jay, Alexander Hamilton (conhecidos como Os
Federalistas).
Os Federalistas, em momentos anteriores à Constituição da Filadélfia, em que se passou a ter
existência os Estados Unidos da América, publicaram série de artigos para convencer a população e as forças
da época sobre as vantagens de ser feita a união das 13 colônias americanas, onde cada uma abriria mão
da sua soberania, restando apenas com autonomia legislativa e administrativa.
Uma das afirmações mais importantes dos Federalistas é a de que a constituição deste novo sistema
proposto não queria abolir os governos estatais, mas sim fazer deles partes constituintes da soberania
nacional, permitindo a eles a direta representação no Senado e deixando, em sua posse, exclusivas e
importantes porções de sua soberania estatal. Os federalistas se baseiam em Montesquieu, mas em algum
momento afirmam que o que eles propõem é algo novo, uma estrutura federativa.
A partir do momento em que criam a Federação, acredita-se que deve haver limites ao exercício do
poder legislativo. Limitações desse tipo devem ser preservadas na prática, não de outra maneira, se não
através da mediação de cortes de justiça, cujo dever é de declarar atos contrários ao manifesto teor da
Constituição, inválidos. Sem isso, todas as reservas de direitos particulares ou privilégios, resultam, em
nada. Isso significa que, pela primeira vez, o poder judiciário é posto em mesmo nível hierárquico que

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legislativo e executivo.
As cortes de justiça devem ser consideradas como barreiras protetoras de uma Constituição
limitada contra desrespeitos legislativos e esta é uma consideração que justifica um forte argumento para a
vitaliciedade dos juízes. Ao empoderar os juízes de uma responsabilidade até então desconhecida (controle
dos poderes), estes passam a precisar de mais garantias. Sendo assim, é nesse momento que surge a
vitaliciedade dos juízes.
Fica demonstrado, então, que a justiça federal é desenhada para ser o foro competente de todas as
demandas em que se encontre, no polo passivo ou ativo, a União Federal, surgindo nos EUA pelos
Federalistas. Os juízes federais americanos faziam o controle de legalidade das leis estaduais quando
confrontadas com o sistema federal.

27.1.2 Federalismo no Brasil


Para analisar o federalismo no Brasil, é necessário fazer uma breve análise quanto às duas primeiras
Constituições do país, por conta do modelo de Estado adotado. A Constituição Imperial, que regulamentava
a independência, trouxe e estipulou um modelo de Estado Unitário, onde existia apenas uma fonte
irradiadora de leis, um poder executivo junto com um poder legislativo.
Já a Constituição de 1891 declara que, as antigas províncias passam a ser estados federados,
atribuindo-se autonomia legislativa e administrativa a estes, como também o poder de estabelecer as suas
próprias constituições. Essa Constituição foi promulgada aproximadamente 100 anos depois da Constituição
dos EUA e inaugurou o Estado Federado na República do Brasil.
Embora o Brasil tenha a base americana de modelo federado, as relações entre União e Estados-
membros é diferente, em termos de intensidade da autonomia estadual. Os estados americanos eram
soberanos e abriram mão de sua soberania no momento em que passaram a fazer parte de uma federação,
então muito de autonomia legislativa e executiva ficou com cada estado. Com relação ao sistema brasileiro,
embora importado o modelo de federação, nunca se teve estados soberanos. Sempre se foi considerado um
todo, dividido por questões de época. O fato é, que pelos estados brasileiros nunca terem tido soberania, estes
ficam muito abaixo da União Federal.
O Constitucionalismo é o instrumento que limita o poder do Estado, uma vez que é o sistema
resultante dos movimentos sociais que buscavam a limitação deste poder. Independentemente da vertente
escolhida e estudada, a resultante veio a ser o movimento constitucionalista, que, através das Constituições,
cria e estipula os limites e o modo pelo qual o poder e exercido em uma nação.
A principal característica do constitucionalismo é que ele se baseia na afirmação da supremacia do
indivíduo e na limitação do poder dos governantes. Quando se fala em supremacia do indivíduo, se
pressupõe a democracia e os direitos fundamentais. Por outro lado, quando se fala em limitação do poder,
menciona-se a separação dos poderes. Mas no caso da República Federativa do Brasil, se fala também da
forma federativa do Estado.
Constitucionalismo é um discurso vem sendo aplicado desde então em todos os locais das três

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vertentes anteriormente estudadas, assim como no Brasil, pois é uma prática discursiva que parte da
democracia, sendo muito potente.
Deste modo, com este sistema, há a vinculação do Estado a limites que protegem os cidadãos de
um poder que efetivamente necessita de limites (direitos fundamentais). Quando se fala que o poder é do
cidadão e que, além disso, os representantes têm que respeitar o que é essencial a eles como seres humanos,
se está dizendo que, em um Estado Democrático, o indivíduo tem supremacia.
Conforme já dito, a Federação surge com a Constituição dos Estados Unidos da América, ou seja,
Estados que eram soberanos/independentes e se uniram para formar um todo, conservando sua
autonomia e transferindo a soberania para o todo. Assim, os americanos adaptaram a teoria de Montesquieu
para a criação da Federação.
Quando se criou a Federação, o mais importante era manter a coesão do todo; a junção dos Estados.
Tudo que não se queria era que algum Estado Federado deixasse a Federação e, para isso, foi criada a
Suprema Corte Americana, com a previsão de juízes federais vitalícios e nomeados pelo presidente, para
defender a lei e a Constituição contra eventuais desrespeitos e abusos por parte das legislações estaduais.
Os limites de poder, ao molde americano, foram escolhidos para a República Federativa do Brasil,
utilizando o modelo americano de Constituição como espelho. Desta forma, os Estados Federados exercem
poder, são autônomos, têm suas próprias Constituições, desde que obedeçam aos limites e escolhas da
Federação, seguindo, assim, o modelo federal, com poder decorrente.

NORMAS CONSTITUCIONAIS ESTRUTURANTES

DEMOCRACIA FEDERAÇÃO
DIREITOS SEPARAÇÃO
FUNDAMENTAIS DE PODERES

» Existe algum artigo constitucional sobre os assuntos estruturantes?


As cláusulas pétreas, ou seja, o art. 60, §4, da CF, garante:

Art. 60, § 4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

Conforme a redação do artigo, as cláusulas pétreas protegem a estrutura do texto constitucional,


assim como a essência do modelo de Estado da República Federativa do Brasil. Percebe-se que o artigo diz
que não será objeto de deliberação qualquer proposta que tente abolir qualquer das características essenciais

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e estruturantes do texto constitucional, sequer sendo possível levá-la a deliberação do Congresso Nacional.
Neste cenário, quando é elaborada proposta que envolva qualquer das normas constitucionais estruturantes, é
possível que haja atuação do judiciário, com o controle de constitucionalidade preventivo.
» Outra questão interessante é a que diz respeito ao aumento da previsão dos direitos fundamentais no
texto constitucional. Esta questão pode ser levada a deliberação do Congresso Nacional ou não? A maioria
da doutrina acredita que sim. A partir desta convicção, muitos autores constitucionais evitam a nomenclatura
cláusulas pétreas, pois significa que são imutáveis. Entretanto, como se percebe que se pode aumentar o rol
de direitos fundamentais por Emenda, muitos autores chamam as cláusulas pétreas de cláusulas de
barreiras, devendo ser barrada sempre que a Emenda for prejudicial ao sistema, vindo a prejudicar o
texto constitucional.
A EC 45/2004 veio com a proposta de reformar o judiciário. Nesse contexto, modificou o artigo 5º
da CF, que trata de direitos fundamentais e ainda incluiu um novo direito constitucional no seu inciso
LXXVIII, que trata da razoável duração do processo.
Uma das cláusulas de barreira é a Federação. Com relação a isso, deve-se fazer a análise de e
diferenciação entre Estado Federado e Estado Unitário, assim como a diferenciação entre Federação e
Confederação.
» Estado Unitário x Estado Federado
O Estado Unitário é onde o poder legislativo é desempenhado por apenas um órgão. As leis são
nacionais e destinam-se, em regra, a todo o território ocupado pelo Estado. Ainda, admite-se
descentralização administrativa, mas sempre com subordinação hierárquica a uma autoridade central.
Celso Ribeiro Bastos diz que, até o final do século 18 não se conheceu outro senão o Estado Unitário,
onde existe um único centro irradiador de decisões políticas expressas em lei, podendo haver uma
descentralização administrativa, com criação de órgãos locais ou regionais para auxiliar na administração do
Estado.
Já o Estado Federado, inaugurado pela Constituição dos Estados Unidos da América, é composto
por Estados-membros que integram a Federação, desde que despidos da soberania. Difere do Estado
Unitário essencialmente porque os Estados-membros, na Federação, exercem o poder de editar leis e detêm
autonomia para se auto organizar. A diferença é muito importante, pois aqui se tem uma coparticipação
de vários Estados que tem autonomia para legislar, desde que de acordo com as regras da Federação, mas
que não detêm soberania. É apenas o todo, a União Federal, que detém soberania.

» Federação x Confederação
Como já estudado, a Federação é quando há a associação de vários Estados-membros que não
possuem soberania, mas que detêm autonomia para legislar dentro de seu território. Estes Estados-
membros respondem ao poder federal do seu todo, da União Federal, que detém a soberania. Conforme Paulo
Bonavides:

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“No Estado Federal deparam-se vários Estados que se associam com vistas a uma interação harmônica
de seus destinos. Não possuem esses Estados soberania externa e do ponto de vista da soberania
interna se acham em parte sujeitos a um poder único, que é o poder federal, e em parte conservam sua
independência, movendo-se livremente na esfera da competência constitucional que lhes for atribuída
para efeito de auto-organização”.

Por outro lado, na Confederação, a relação entre os Estados é menos consistente, o que viabiliza a
possibilidade jurídica de secessão, e não há um poder político único, pois os Estados confederados
mantêm as respectivas soberanias. Por isso, a atividade unitária da Confederação projeta-se apenas no
campo internacional, jamais no campo interno.
Um exemplo recente de Confederação, na qual houve desmembramento, é a União Europeia, onde
os Estados possuem a sua soberania. Aqui, nenhum país perde sua soberania, tanto é assim, que é permitida a
sua saída da Confederação, como ocorreu com o Reino Unido.

27.1.3 Federalismo na Constituição Federal


Para começar a perceber realmente a estrutura federativa do Brasil, deve-se analisar os aspectos
gerais da federação no Brasil. Assim, a forma federativa é um princípio fundamental da República,
como a soberania da União e a autonomia dos Estados membros. Ainda se tem um terceiro âmbito
federativo, que são os Municípios, possuindo, também, autonomia. Conforme os artigos 1º e 18, ambos da
CF:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

O que mais caracteriza a estrutura federativa é o poder que a União exerce e provavelmente sempre
exercerá, controlando as modificações que possam vir a ocorrer na estrutura federativa. Este controle já
estava previsto na Constituição de 1891, quando se estabeleceu que os Estados podem se unir, se
desmembrar, desde que respeitados os princípios locais e mediante aquiescência da União Federal.
E a partir de 1988, qual é o traço distintivo? As unidades federadas, de 1891 até 1969 eram União,
estados, DF e territórios. Em nenhum momento se falou, em termos constitucionais, nos municípios como
unidades autônomas na federação brasileira. Isso só ocorreu na Constituição Federal de 1988, tornando,
a República Federativa Brasileira, uma república complexa em termos de estruturação do poder e
exercício do poder, diferente de todas as outras.
Assim, no sistema federativo brasileiro existem três círculos de poder: União federal, estados-
membros e municípios. Percebe-se que cada unidade federada tem seu círculo de atuação e exerce plena

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autonomia legislativa e administrativa dentro de cada círculo de atuação. Evidentemente, a União é a
protagonista, pois a maior parte das grandes competências legislativas e administrativas estão alocadas no
seu círculo.

27.2 DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS ENTRE OS ENTES FEDERADOS


27.2.1 Competência Legislativa da União
A competência legislativa da União Federal pode ser privativa, em casos que apenas esta pode
legislar, como determinados assuntos, conforme o artigo 22 da CF, podendo esta competência, ser delegada
aos Estados-membros. Abaixo, alguns dos assuntos de competência da União:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII - comércio exterior e interestadual;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;
XI - trânsito e transporte;
(...)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das
matérias relacionadas neste artigo.

Mas também exerce a competência concorrente, aquela em que a União concorre com os Estados
e o DF para o exercício da competência legislativa. Está prevista no artigo 24 da CF:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,

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estético, histórico, turístico e paisagístico;
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;
XI - procedimentos em matéria processual;
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
XV - proteção à infância e à juventude;
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas
gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar
dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe
for contrário.

Percebe-se que o artigo traz uma relação entre União Federal e Estados-membros, uma vez que a
União estabelecerá normais gerais para o Brasil e os Estados podem suplementar a legislação federal, desde
que não a contrariem.

27.2.2 Competência Legislativa dos Estados


Os Estados exercem a competência residual podendo legislar sobre tudo aquilo que não for
vedado pela CF. A competência residual é prevista no artigo 25, §1 da CF:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.

Assim como a União, os Estados também exercem a competência concorrente. O artigo 24, §3 e §4
da CF trazem o caso em que, mesmo a União tendo competência para estabelecer normas gerais, quando
não o fizer, o Estado passará a ter competência para tal:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe
for contrário.

Assim, caso não tenha sido promulgada lei federal sobre normas gerais, o Estado exerce
competência plena para atender suas peculiaridades, pois não pode ficar a mercê da ausência de normas
gerais. É admitido, aos Estados, a edição de lei para o tratamento de suas peculiaridades. Mas, caso advenha
lei federal superveniente a lei estadual, acerca das normas gerais, a eficácia da lei estadual será
suspendida, no que lhe for contrário.
A lei federal superveniente jamais irá revogar lei estadual ou municipal, pois são círculos de
competência distintos e independentes. É por isso que a CF é extremamente técnica ao falar do assunto,
afirmando que a lei federal suspenderá a execução da lei estadual.

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27.2.3 Competência Legislativa dos Municípios
Os Municípios legislam sobre assuntos locais, portanto exercem competência legislativa em âmbito
local. E também exercem a competência suplementar, ou seja, para suplementar a legislação da União e
dos estados naquilo que couber. Ambas as competências estão previstas no artigo 30, I e II da CF:

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
(...)

27.3 DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVA ENTRE OS ENTES FEDERADOS


27.3.1 Competência Administrativa da União
Administrativamente, a União exerce competência privativa, baseada no artigo 21 da CF, onde irá
legislar sobre todo assunto que requeira um trato nacionalizado, uniforme em todo território brasileiro.
Alguns exemplos:

Art. 21. Compete à União:


I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente;
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;

Além da competência privativa, exerce, também, a competência comum, que é atribuída a todas
unidades federativas, pois trata de assuntos que combinam muito bem com a atuação conjunta de todas. O
rol de hipóteses se encontra no artigo 23 da CF, que visa a cooperação para o bem comum:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio
público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor
histórico, artístico ou cultural;
(...)

27.3.2 Competência Administrativa dos Estados


Os Estados exercem a competência administrativa residual podendo legislar sobre tudo aquilo
que não for vedado pela CF. A competência residual é prevista no artigo 25, §1 da CF:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.

Conforme já analisado, também exerce a competência comum, juntamente com a União e os


Municípios.

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27.3.3 Competência Administrativa dos Municípios
Os Municípios legislam sobre assuntos locais, portanto exercem competência administrativa local. E
também exercem a competência comum.

27.4 PODER LEGISLATIVO NACIONAL


O sistema legislativo nacional difere dos sistemas legislativos estadual e municipal, pois aquele
envolve duas Câmaras (Câmara dos Deputados, composta por representantes do povo, e o Senado Federal,
composto por representantes dos estados). Isso tem consequências na forma como uns e outros são eleitos,
além da quantidade de cargos previsto nesta ou naquela Câmara. Deste modo, os senadores são eleitos
através do princípio majoritário, considerando o maior número de votações entre os eleitores do
respectivo Estado, sendo eleitos 3 senadores por Estado independentemente do número de leitores
presentes neste.

Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal.
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.

Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos
segundo o princípio majoritário.
§ 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos.
§ 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos,
alternadamente, por um e dois terços.
§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes.

Já o sistema para eleição de deputados é proporcional à densidade de eleitores em cada unidade


federada. Cada Estado elegerá no mínimo 8 deputados e, no máximo, 70. Isso quer dizer que, o Estado com
a maior densidade populacional no Brasil tem condições de eleger 70 deputados.

Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema
proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.

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§ 1º O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será
estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes
necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha
menos de oito ou mais de setenta Deputados.
§ 2º Cada Território elegerá quatro Deputados.

27.5 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL


No âmbito da competência tributária, existem impostos de competência da União, de competência
dos Estados e do DF e de competência dos Municípios. A própria CF faz a divisão de quem cobrará qual
imposto. Além disso, todas as unidades federadas podem instituir impostos, taxas e contribuições de
melhorias.

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:
I - impostos;
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços
públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

Apesar de se ter impostos de competências de todas unidades, existem determinados tributos que só
a União Federal pode instituir, percebendo-se, mais uma vez, o protagonismo desta. Os artigos 148 e 149
da CF trazem o rol completo dos tributos, que abrangemos empréstimos compulsórios, contribuições sociais,
contribuições intervenção no domínio econômico e contribuições de interesse das categorias profissionais ou
econômicas.
Importante destacar que as contribuições sociais são um tributo vinculado ao motivo que gerou sua
cobrança. Mas, atualmente, até 30% do caixa da seguridade social (contribuição social) pode ser
desvinculado ao motivo que ensejou a sua cobrança.
O sistema também estabelece regras de proteção, vedando determinados atos por parte das
unidades federativas, como, por exemplo, a proibição da União instituir tributo que não seja uniforme em
todo o território nacional. Outra proibição da União é sobre tributar a renda das obrigações da dívida pública
dos Estados, do DF e dos Municípios e instituir isenções de tributos da competência dos Estados, DF e
Municípios, uma vez que cada unidade tem seu círculo de atribuição.
Já aos outros entes federados, é vedado estabelecer diferença tributária entre bens e serviços de
qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.

27.6 IMPACTO DAS ESCOLHAS FEDERATIVAS NO PODER JUDICIÁRIO


O poder judiciário, na estrutura federativa brasileira, é divido em dois grandes âmbitos: Poder
Judiciário da União e Poderes Judiciários dos Estados-membros.

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O orçamento federal faz com que, em jurisdição nacional, existam tribunais e institutos que
complementam o poder judiciário. Assim, os Tribunais Superiores foram criados para uniformizar a
jurisprudência no âmbito federal, tendo jurisdição nacional. São Tribunais Superiores: STJ, TST, TSE,
STM. O STF não é um dos tribunais superiores, pois surgiu na CF de 1891 com o objetivo de ser o
guardião da federação.
O Conselho Nacional de Justiça, também com jurisdição nacional e funcionamento através de
orçamento da União e interfere nas resultantes de decisões dos poderes judiciários. Essa interferência não é
recursal, mas sim administrativa, exercendo o poder de planejamento. Tem típicas características inerentes a
uma estrutura federativa.

27.7 INTERVENÇÃO FEDERAL


É no instituto da intervenção federal que se encontram os princípios constitucionais sensíveis, que
são aqueles que justificam a intervenção federal e não estão limitados a direitos fundamentais.

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.

Além dos princípios sensíveis, existem outras hipóteses que permitem a intervenção federal, que
estão elencadas no artigo 34 da CF. O primeiro inciso do dispositivo traz as possibilidades de a União
intervir nos Estados ou no Distrito Federal:

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força
maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos
estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
(...)

Já com relação à intervenção dos Estados nos Municípios, o artigo 35 da CF traz as possibilidades:

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território
Federal, exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios
indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

Ainda quanto à intervenção nos Municípios, surge a dúvida se seria possível a União Federal
intervir diretamente nestes. Mas logo percebe-se que não é possível a intervenção federal nos Municípios,
uma vez que é competência do Estado e apenas este o pode fazer.

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27.7.1 Requisitos Intervenção
Os requisitos para a intervenção estão previstos no artigo 36 da CF. Deste modo, a intervenção que
visa garantir o livre exercício de qualquer poder, depende da solicitação de intervenção pelo poder
legislativo ou executivo ou, ainda, requisição do STF, se a coação for exercida contra o poder judiciário.
Em caso de desobediência a uma ordem ou decisão judiciária, a intervenção depende de
requisição do STF, STJ ou TSE.
Por fim, quando houver desrespeito aos princípios constitucionais sensíveis ou recusa à execução
de lei federal, a intervenção dependerá de provimento dado pelo STF a uma representação do
procurador geral da república.

27.7.2 Procedimento
O procedimento de intervenção também está estabelecido em lei, conforme o artigo 36, §§ 1 a 4 da
CF:

§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que,


se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da
Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembleia Legislativa, far-se-á convocação
extraordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas.
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional
ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se
essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão,
salvo impedimento legal.

28 AÇÕES CONSTITUCIONAIS
28.1 HABEAS CORPUS
Serve para a tutela da liberdade de locomoção. O Habeas Corpus (HC) surgiu nas tutelas de
liberdade, com o objetivo de retirar alguém do cárcere por alguma ilegalidade ou abuso de poder. A
pessoa já deve estar presa, ou na iminência de estar presa. O ato de prisão deve ser extremamente evidente,
para que haja a possibilidade de Habeas Corpus.
É um dos institutos que mais evoluiu desde a Constituição Federal de 1988. Hoje, tem abrangência
multifacetária graças ao acoplamento de teorias típicas do processo penal que se adaptaram ao Habeas
Corpus. É muito mais do que já foi antigamente, se tornando um instrumento de garantia constitucional
mais potente quando o assunto é tutela da liberdade de locomoção; do direito de ir e vir.

28.1.1 Características do Habeas Corpus


A regra geral está prevista na no art. 5, inciso LXVIII da CF:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros

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0
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

Quando o dispositivo fala em violência, quer dizer que já aconteceu a ação, enquanto que, ao falar
de coação, indica que a ação está acontecendo ou irá acontecer em breve. Ilegalidade e abuso de poder
são circunstâncias diferentes também que serão analisados adiante. O HC tem como personalidades
impetradas, ou seja, aquelas que respondem a ação, pessoas de poder público ou particular. No poder
público, se pratica tanto ilegalidade quanto abuso de poder. O particular, na maioria das vezes, pratica a
ilegalidade. Os exemplos relativos à possibilidade de o particular integrar o polo passivo são: internação em
hospital ou internação em casas de custódia particulares.
O contexto desta ação está previsto no art. 5º, XV da CF, que diz respeito ao direito de locomoção.
Este direito pode ser lapidado infra constitucionalmente, podendo ser limitado pelas leis. O HC é sim
concedido sempre, mas no contexto e na abrangência, nos limites do direito de locomoção previsto no art. 5º,
XV da CF.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos
da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

Existe uma exceção constitucional ao cabimento do Habeas Corpus. O art. 5, LXVIII diz que o
HC é cabível sempre. Mas o art. 142 da CF17 prevê o seu não cabimento em punições disciplinares
militares. É uma regra de exceção de mesma hierarquia. A jurisprudência é pacífica no sentido de que não é
cabível Habeas Corpus para a análise do mérito das punições, mas se houver alegação de desrespeito ao
princípio da legalidade no procedimento de aplicação da pena ou da punição, justamente por se tratar da
teoria das nulidades, não o mérito do caso, poderá haver o ajuizamento de Habeas Corpus.

28.1.2 Espécies de Habeas Corpus


São duas as possibilidades de ajuizamento da ação: a primeira, quando o ato de abuso de poder ou
de ilegalidade já foi praticado, devendo ser utilizado, o habeas corpus, como forma de libertar aquele que
sofreu a ilegalidade. Esta espécie é conhecida como HC Repressivo. De outro lado, se tem o Habeas
Corpus Preventivo (salvo-conduto), utilizado para conceder uma ordem de salvo-conduto, para que o ato
alegadamente coator não seja aplicado em detrimento do direito de ir e vir.

17
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem.

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1
28.1.3 Partes

Conforme a figura mostra, o impetrante é a figura do polo ativo, aquele que ajuíza a ação
requerendo que o ato de abuso de poder ou ilegalidade seja cessado, devendo sempre haver assinatura do
impetrante, uma vez que Habeas Corpus não permite o anonimato. Já a impetrada é a autoridade
pública e particular responsável pelo ato coator. Por fim, o paciente é a pessoa com a liberdade em
risco, podendo ser pessoa física, estrangeiro, analfabeto, menor.
Percebe-se que a ação tem nomenclatura especial a ser utilizada e, diferentemente de ações ordinárias,
pode haver três pessoas diversas, porque não raras vezes, a pessoa em nome da qual que se impetra o HC
não tem condições de fazê-lo. Assim, por vezes, o impetrante não será também o paciente. Importante
lembrar que pessoa jurídica nunca poderá ser paciente, o que não quer dizer que não possa ser impetrante da
ação.
Ainda, o Ministério Público tem previsão legal pra impetrar Habeas Corpus.

28.1.4 Procedimento
O rito utilizado no Habeas Corpus é o sumaríssimo, não sendo, assim, um recurso. Dizer que o rito
é sumaríssimo é dizer que não se tem a possibilidade de dilação probatória. Assim, todas as provas
devem acompanhar a petição inicial no momento em que é impetrado o Habeas Corpus. Dizer que não tem
dilação probatória não quer dizer que, com a petição inicial, a pessoa não pode juntas uma prova pericial;
mas sim, quer dizer que no curso do processo o juiz não irá requerer ou autorizar provas.
Ademais, o HC não precisa ter pedido formulado e pode ser concedido de ofício. Assim, a
autoridade judiciária não está adstrita ao pedido ou à causa de pedir do impetrante, podendo ampliar a
causa de pedir e a prestação jurisdicional.

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Para que seja impetrado o HC, o impetrante deve, antes de tudo identificar o ato coator e verificar o
cabimento da ação, analisando se há um abuso de poder ou uma ilegalidade que esteja ferindo o direito de
locomoção. Ainda, deve identificar a autoridade impetrada (quem praticou o ato coator). É a partir da
impetrada que se descobrirá a competência para julgar o caso, ou seja, se o ato foi praticado por juiz
federal, o foro competente será o TRF correspondente; se for delegado de polícia, a justiça estadual que se
encarregará do casso.
Assim, para o ajuizamento do Habeas Corpus, deve se seguir um caminho eliminando todas as outras
possibilidades e analisando os atos da autoridade, para também descobrir a competência do caso. É
importante lembrar que, a partir do ato coator se descobre a autoridade impetrada. E, a partir desta, se
descobre a competência.
Sobre o assunto, o STF editou diversas Súmulas. Uma delas – Súmula 693 – trata da previsão de pena
de multa ou pena pecuniária, que não enseja privação de liberdade. Uma vez que não há a privação de
liberdade, em casos como este não é cabível o Habeas Corpus, visto que tem o objetivo claro de proteger
o direito à locomoção. Outra possibilidade de não cabimento do HC é a que trata a Súmula 694, também do
STF, que trata das penas basicamente administrativas, conhecidas como sanções com efeitos administrativos,
não havendo a privação de liberdade.
A Súmula 695 do STF traz a situação em que houve a pena privativa de liberdade, mas foi extinta por
alguma circunstância. Uma vez extinta a privação da liberdade, não há mais coação atual ou iminência
de coação a ser cessada, não cabendo, assim, habeas corpus nessa situação.
Já a Súmula 690 do STF estabelece que o Habeas Corpus impetrado de decisão de turma
recursal, será perante o STF, uma vez que os juizados especiais não respondem a outro tribunal.
Por fim, a Súmula 691 do STF, que trata do procedimento do Habeas Corpus, onde uma questão
ainda está pendente de solução definitiva (liminar). Estando pendente de solução definitiva, o STF não
conhece o HC pois deve se aguardar a decisão definitiva, para depois se impetrar um novo HC.
Entretanto, os próprios ministros do STF superam esta súmula, acreditando que o Habeas Corpus pode
ser analisado e concedido de ofício. Assim, se a parte desistir do HC, o judiciário ainda pode analisa-lo e
concedê-lo.

28.2 HABEAS DATA


É uma demanda pouco utilizada, mas muito requerida nos concursos públicos. Estabelecida no art. 5º,
LXXII da CF, o Habeas Data é utilizado para assegurar o conhecimento de informações, possibilitando a
busca de informações que, em algumas oportunidades, a pessoa não tem conhecimento. Requisito muito
importante para o Habeas Data, as informações devem ser relativas à pessoa do impetrante e apenas
deste, sendo utilizado, deste modo, para a assegurar o conhecimento de informações ou para retificação
de dados e informações que porventura sejam inverídicas ou incompletas. Tem uma terceira não prevista
na CF, que é a possibilidade de anotação nos assentamentos do interessado, conforme o art. 7, III da Lei

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3
n. 9.507/9718.

28.2.1 Partes
Diferente do Habeas Corpus, no Habeas Data são apenas duas partes: o impetrante, quem quer
conhecer, retificar ou notificar uma informação, e o impetrado, a entidade que tem a informação acerca
daquele.

28.2.2 Procedimento
Também segue o rito sumaríssimo, não sendo possível a produção de provas durante o curso do
processo, devendo ser ajuizada a demanda com todas as provas juntadas na petição inicial.

Para que seja impetrado o Habeas Data, o impetrante deve, antes de tudo delimitar o objetivo –
conhecer informação, retificar informação ou explicar alguma informação - e verificar o cabimento da
ação, analisando se a busca é relativa a informações do impetrante. Ainda, deve identificar a autoridade
impetrada (quem detém as informações). É a partir da impetrada que se descobrirá a competência para
julgar o caso, assim como o Habeas Corpus.

HABEAS CORPUS HABEAS DATA


Gratuito Gratuito
Prioritário Prioritário
Direito de locomoção e liberdade Direito de informação

28.3 MANDADO DE SEGURANÇA


Ação constitucional que tutela a legalidade e a constitucionalidade. Esta tutela deve ser
considerada no sentido amplo, envolvendo qualquer ato administrativo que deva ser atrelado ao
princípio da legalidade. Mas não apenas a legalidade “legal”, mas também a legalidade constitucional. Ou
seja, através do MS se faz controle de constitucionalidade, sendo uma ação extremamente potente no poder
judiciário.

18 Art. 7° Conceder-se-á habeas data:


I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco
de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas
justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

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28.3.1 Conceito
O art. 5º, LXIX da CF, assim como o art. 1º da Lei n. 12.016/0919 traz o conceito desta ação
constitucional, afirmando que é concedido para proteger direito líquido e certo, quando o responsável pela
ilegalidade for autoridade pública, sendo uma ação subsidiária. Ou seja, só irá caber Mandado de
Segurança quando não couber Habeas Corpus ou Habeas Data.
Assim como as outras duas ações constitucionais já estudadas, esta também segue o rito
sumaríssimo. Não admitindo dilação probatória no decorrer do processo.

28.3.2 Pressupostos
Para o cabimento de mandado de segurança, devem estar presentes quatro pressupostos. O primeiro é
o ato de autoridade. Assim, deve ser praticado ato por pessoa investida de parcela de poder público, ou
seja, administração direta, indireta (empresa pública, fundações, autarquias e sociedade de economia
mista), concessionárias e permissionárias de serviço público (quando há a delegação de serviço público
para empresa particular, com relação a hospitais, educação) e particulares (havendo delegação do poder
público).
O segundo pressuposto é a existência de direito líquido e certo. Este pressuposto está ligado aos
fatos do caso. Havendo possibilidade de comprovação dos fatos alegados na inicial, com os documentos
anexados, se está diante de direito líquido e certo. Isso não quer dizer que a ação está ganha, mas sim que o
mérito será analisado.
Assim como no Habeas Corpus, deve ter a ocorrência de lesão ou a ameaça de lesão. Deste modo, o
mandado de segurança pode ser repressivo, visando cessar a prática de um ato, ou preventivo, para evitar
a prática de determinado ato.
O último pressuposto para o cabimento do mandado de segurança é o abuso de poder com relação a
ilegalidade, ou seja, com relação ao princípio da legalidade e a necessidade do judiciário realizar o controle
da administração pública sempre que houver risco ou prática de ato ilegal, ou, ainda quando houver risco de
inconstitucionalidade, visando a supremacia da Constituição Federal e a função do judiciário de proteger o
texto constitucional.

28.3.3 Partes
No mandado de segurança, as partes do processo são o impetrante (polo ativo) e impetrado (polo
passivo). Diferente do Habeas Corpus e Habeas Data, que se trabalha só na perspectiva individualista, o

19 Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer
violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as
funções que exerça.

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mandado de segurança é possível que o polo ativo seja integrado por um indivíduo, mas a CF também
permite o mandado de segurança coletivo.
Sendo individual, qualquer pessoa pode impetrar, desde que apresente direito líquido e certo e
interesse de agir. Já sendo coletivo, tem regra específica na CF e é aquele que se fala em legitimidade
extraordinária, ou seja, a pessoa que integra o polo ativo age em nome próprio, defendendo direito de
terceiro. Quem tem legitimidade para defender o interesse de terceiro é uma entidade.

28.3.4 Mandado de Segurança Coletivo


Esta modalidade de mandado de segurança, conforme o art. 5º, LXX da CF, pode ser impetrado por
partido político, desde que haja representação no Congresso Nacional. Se o partido não elegeu senador ou
deputado federal, não tem a legitimidade extraordinária necessária para impetrar a demanda. Também pode
ser impetrante a organização sindical de classe ou associação, sendo que, precisam estar funcionando há
pelo menos um ano e só podem atuar na defesa dos interesses de seus membros ou associados.
Se há uma limitação as entidades de classe, essa limitação não existe quanto ao partido político.
Sendo assim, a legitimidade extraordinária, é atuação em defesa em nome próprio, de direito alheio, não
sendo necessária a autorização expressa dos associados, pois está no campo da legitimação prevista no
próprio texto constitucional.
Para que seja impetrado o mandado de segurança, o impetrante deve, antes de tudo verificar o
cabimento da ação – se possui direito líquido e certo - e certificar a legitimidade ativa, seja individual ou
coletiva. Ainda, deve identificar a autoridade impetrada (quem praticou o ato ilegal). É a partir da
impetrada que se descobrirá a competência para julgar o caso, assim como no Habeas Corpus.

28.3.5 Análise De Jurisprudência Consolidada no STF – Súmulas

SÚMULA STF ANÁLISE


Súm. 269: O mandado de segurança não é substitutivo O MS é uma ação mandamental, que tem provimento
de ação de cobrança. declaratório, constitutivo e mandamental, pois sai ordem
judicial para algo. Ou seja, não se condenada ninguém
em por via de Mandado de Segurança, não tendo
provimento condenatório. Por este motivo, não é
possível a execução posterior, não tendo fase executiva
o MS.
Súm. 271: Concessão de mandado de segurança não Como não possui procedimento condenatório, não é
produz efeitos patrimoniais em relação a período
possível que o Mandado de Segurança produza efeitos
pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria. patrimoniais.
Súm. 266: Não cabe mandado de segurança contra lei A grande preocupação das autoridades impetradas tem
em tese.
a ver com a modalidade preventiva do mandado de
segurança, onde, na visão de muitas dessas
impetradas, redunda na possibilidade de discussão de

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lei em tese. Lei em tese é o que acontece no controle
concentrado de constitucionalidade, em que se discute
tese jurídica abstrata. No MS preventivo basta se
estudar a possibilidade daquela alegada
inconstitucionalidade ocorrer. Se ocorrer, tem um
problema fático e justamente por este problema está
afastada a discussão de lei em tese.
Súm. 267: Não cabe mandado de segurança contra ato Por motivos já vistos em outras aulas, não se inaugura
judicial passível de recurso ou correição.
um novo procedimento, como MS, no judiciário caso
exista possibilidade de outros remédios jurisdicionais
ainda pendentes de aplicação. Assim, cabendo recurso
ou correição, a possibilidade de mandado de segurança
está afasta.
Súm. 304: Decisão denegatória de mandado de Percebe-se que a súmula fala em decisão denegatória
segurança, não fazendo coisa julgada contra o
que não faz coisa julgada, pois muitas vezes se denega
impetrante, não impede o uso da ação própria.
a segurança por ausência de direito líquido e certo. Se
denegar a segurança por verificar a falta de direito
líquido e certo, não se analisa o mérito, mas sim a
existência ou não do direito. Logo, não tem trânsito em
julgado.
Súm. 429: A existência de recurso administrativo com A súmula discute assunto que envolve o controle da
efeito suspensivo não impede o uso do mandado de
omissão, ou seja, a ilegalidade por omissão. Não
segurança contra omissão da autoridade.
adianta ter recurso administrativo, quando o problema é
a omissão da autoridade.
Súm. 430: Pedido de reconsideração na via O prazo, que a súmula se refere, é decadencial.
administrativa não interrompe o prazo para o mandado
de segurança.
Súm. 512: Não cabe condenação em honorários de Novamente, mandado de segurança não tenho cunho
advogado na ação de mandado de segurança.
condenatório, assim, não cabe condenação em
honorários.
Súm. 629: A impetração de mandado de segurança O mandado de segurança coletivo independe de
coletivo por entidade de classe em favor dos associados autorização dos terceiros pela legitimidade
independe da autorização destes. extraordinária que a entidade possui para agir em nome
próprio e defender direito alheio.
Súm. 630: A entidade de classe tem legitimação para o O mandado de segurança coletivo pode interessar
mandado de segurança ainda quando a pretensão
apenas a uma parte da entidade de classe, como, por
veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria. exemplo, quando o sindicato move a ação em prol
apenas de determinada parte de seus sindicalizados.
Súm. 631: Extingue-se o processo de mandado de A súmula fala sobre o impulso procedimental. Assim, o
segurança se o impetrante não promove, no prazo interesse de ação é da parte impetrante e, se esta não
assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário. age em favor da ação, não cumpre com o seu ônus
procedimental essencial para estabilização da demanda,
o processo será extinto, por óbvio.

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Súm. 632: É constitucional lei que fixa o prazo de A previsão do prazo de decadência é fixada por lei
decadência para a impetração de mandado de ordinária, limitando uma ação constitucional.
segurança.

28.3.6 Lei n. 12.016/09 – Lei Mandado de Segurança


Em 2009 foi promulgada lei que esclarecia pontos apenas do mandado de segurança. Embora esta lei
tenha absorvido muito do que o STF decidiu em Súmulas, legitimando, o legislativo, a prática jurisprudencial
da Suprema Corte, trouxe, também esclarecimentos importantes para a ação constitucional, como o não
cabimento de MS de decisão transitada em julgado ou, ainda, contra decisão que cabe recurso com
efeito suspensivo. Um dispositivo importante é o que trata da análise do pedido liminar, onde se estabelece
que, para analisar o pedido se pressupõe a prévia oitiva da pessoa jurídica interessada no prazo de 72
horas. Se isso não ocorrer, não se analisa o pedido liminar.

» Litispendência: a lei estabelece que o pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do
prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito. Nessa situação, se esta
diante de uma redação legal muito mais avançada que da Súmula 304 do STF. Caso em que se denega a
segurança sem analisar o mérito, por ausência de direito líquido e certo, onde o impetrante poderá renovar o
pedido caso junte mais provas que comprovem o direito líquido e certo.
O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os
efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência
de seu mandado de segurança individual.

» Sentença e coisa julgada: a sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o
mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria ordinária, pleiteie os seus direitos e os
respectivos efeitos patrimoniais. Se a decisão denegatória analisar apenas procedimento e pressupostos, a
parte impetrante pode inaugurar uma ação típica do processo civil tradicional, sem a coisa julgada. Agora, se
analisado o mérito, não é possível vias ordinárias. Ainda, a sentença e a coisa julgada, quando analisado o
mérito, estão limitadas ao grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.

» Titularidade Plural no MS: se o direito couber a várias pessoas, qualquer delas poderá requerer o
mandado de segurança. Ainda, o titular de direito líquido e certo decorrente de direito, em condições
idênticas, de terceiro poderá impetrar a ação em favor do direito originário, se o seu titular não o fizer no
prazo de trinta dias, quando notificado judicialmente.

» Decisão liminar: deferida liminar, o processo terá preferência, além de os efeitos da medida liminar
persistirem até a sentença, salvo se for revogada ou cassada.

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» Direitos passíveis de proteção em mandado de segurança coletivo: são os direitos coletivos,
transindividuais de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si
ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica. Ainda, os direitos individuais homogêneos, que
são os decorrentes de origem comum ou da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos
associados ou membros do impetrante.

28.4 MANDADO DE INJUNÇÃO


É instituto novo, criado por ocasião da promulgação da CF 88. Como novidade, passou por grande
evolução, sendo utilizado para tutelar a efetividade constitucional.

28.4.1 Conceito
O art. 5º LXXI da CF traz o conceito de mandado de injunção, estabelecendo que é cabível mandado
sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
A eficácia das normas constitucionais pode ser plena, contida ou limitada. Será plena quando tiver
aplicabilidade imediata e direta, além de integral, ou seja, não dependendo de regulamentação. As de
eficácia limitada tem aplicabilidade mediata, postergada/diferida e indireta, porque precisam do
intermédio da lei para regulamentar o assunto e atribuir eficácia plena, ou seja, justamente por terem
aplicabilidade postergada precisam da lei e através desta terão eficácia plena. E é nesses casos que se utiliza
o mandado de injunção.
Já as de eficácia contida tem aplicabilidade direta, imediata, mas com relação a integralidade,
pode ter eficácia restringível, ou seja, a lei pode limitar a eficácia da norma constitucional.
O grande objetivo do mandado de injunção é garantir que o legislador ordinário de fato regulamente
e atribua normatividade as normas constitucionais de eficácia limitada.

28.4.2 Pressupostos

O mandado de injunção (MI) é um instituto diferente da chamada ação declaratória de


inconstitucionalidade por omissão (ADO), sendo que, esta serve para exercício no controle concentrado de
constitucionalidade. Já o MI e controle difuso de constitucionalidade por omissão serve para solucionar

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casos concretos, ou seja, problemas de indivíduo ou de indivíduos, ou no controle difuso de
constitucionalidade por omissão.

28.4.3 Efeitos da Decisão


Os efeitos da decisão do MI passaram por várias correntes no STF. No primeiro momento, a Suprema
Corte começa a receber mandados de injunção e ao receber, evidencia uma preocupação com a separação
estrita dos poderes. Se há uma omissão legislativa, é um problema apenas do legislativo. Dessa forma, o
STF achava que caberia ao STF apenas detectar essa omissão e comunicar ao Congresso Nacional, pois
logo após 1988, analisando as primeiras ações impetradas, o que prevalecia era uma preocupação com a
separação dos poderes. Conhecida como corrente não concretista, firmava o entendimento de que os efeitos
da decisão estariam limitados à ciência da omissão ao Congresso Nacional. Exemplo desta corrente é o
MI 107, em que o STF a utilizou, afirmando que não poderia obrigar o legislativo a legislar, mas poderia
apontar a omissão e recomendar que a supra.

Mandado de injunção. Estabilidade de servidor público militar. Artigo 42, paragrafo 9., da Constituição
Federal. Falta de legitimação para agir. - Esta Corte, recentemente, ao julgar o mandado de injunção 188,
decidiu por unanimidade que só tem "legitimatio ad causam" ,em se tratando de mandado de injunção,
quem pertença a categoria a que a Constituição Federal haja outorgado abstratamente um direito, cujo
exercício esteja obstado por omissão com mora na regulamentação daquele. - Em se tratando, como se
trata, de servidores públicos militares, não lhes concedeu a Constituição Federal direito a estabilidade,
cujo exercício dependa de regulamentação desse direito, mas, ao contrario, determinou que a lei
disponha sobre a estabilidade dos servidores públicos militares, estabelecendo quais os requisitos que
estes devem preencher para que adquiram tal direito. - Precedente do STF: MI 235. Mandado de
injunção não conhecido. (MI 107, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em
21/11/1990, DJ 02-08-1991 PP-09916 EMENT VOL-01627-01 PP-00001 RTJ VOL-00135-01 PP-00001).

Já a corrente concretista individual intermediária, que surgiu após a primeira corrente, dá


concretude ao caso, mas apenas individual e intermediária, porque o STF passou a estabelecer prazo para
edição de norma, subsistindo a omissão, com o direito de pleitear indenização. Houve, assim, um passo
importante na jurisprudência do STF. Aqui passa a induzir o legislador a cumprir com a sua função de
legislar. Persistindo a omissão, o STF não obriga o legislativo a legislar, o impetrante passa a ter o direito
de ajuizar ação para indenização. O entendimento se consolidou no MI 232 que tinha como objeto o art.
195, §7 da CF. A solução dada pelo STF foi a fixação de prazo para a edição da norma e, caso persistisse a
omissão, o impetrante passaria a gozar automaticamente da imunidade de que trata o dispositivo
constitucional:

Mandado de injunção. - Legitimidade ativa da requerente para impetrar mandado de injunção por falta de
regulamentação do disposto no par. 7. do artigo 195 da Constituição Federal. - Ocorrência, no caso, em
face do disposto no artigo 59 do ADCT, de mora, por parte do Congresso, na regulamentação daquele
preceito constitucional. Mandado de injunção conhecido, em parte, e, nessa parte, deferido para declarar-
se o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, no prazo de seis meses,
adote ele as providencias legislativas que se impõem para o cumprimento da obrigação de legislar
decorrente do artigo 195, par. 7., da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo sem que essa
obrigação se cumpra, passar o requerente a gozar da imunidade requerida.(MI 232, Relator(a): Min.
MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 02/08/1991, DJ 27-03-1992 PP-03800 EMENT VOL-

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01655-01 PP-00018 RTJ VOL-00137-03 PP-00965)

No terceiro momento surge a corrente concretista individual direta, que passou a resolver o caso
concreto independentemente do que ocorria no Congresso Nacional. O judiciário implementa o direito
do impetrante diretamente.
O MI 721 que o STF julgou é extremamente importante, pois o objetivo da ação era a aposentadoria
especial, com o pedido de supressão de lacuna legislativa, se pretendendo utilizar a regra da aposentadoria
especial da Lei n. 8.213, aplicando por analogia ao caso concreto de um servidor público que tem
regime próprio de previdência, que previa a aposentadoria especial mas sem lei que regulamentasse o
dispositivo.

MANDADO DE INJUNÇÃO - NATUREZA. Conforme disposto no inciso LXXI do artigo 5º da Constituição


Federal, conceder-se-á mandado de injunção quando necessário ao exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Há ação
mandamental e não simplesmente declaratória de omissão. A carga de declaração não é objeto da
impetração, mas premissa da ordem a ser formalizada. MANDADO DE INJUNÇÃO - DECISÃO -
BALIZAS. Tratando-se de processo subjetivo, a decisão possui eficácia considerada a relação jurídica
nele revelada. APOSENTADORIA - TRABALHO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS - PREJUÍZO À SAÚDE
DO SERVIDOR - INEXISTÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAR - ARTIGO 40, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. Inexistente a disciplina específica da aposentadoria especial do servidor, impõe-se a adoção,
via pronunciamento judicial, daquela própria aos trabalhadores em geral - artigo 57, § 1º, da Lei nº
8.213/91.(MI 721, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 30/08/2007, DJe-152
DIVULG 29-11-2007 PUBLIC 30-11-2007 DJ 30-11-2007 PP-00029 EMENT VOL-02301-01 PP-00001
RTJ VOL-00203-01 PP-00011 RDDP n. 60, 2008, p. 134-142)

Seria possível atribuir efeito erga omnis a uma decisão de solução de caso concreto feita pelo STF ao
molde do que aconteceu com o servidor publico que pleiteava a aplicação da norma da aposentadoria
especial? Não tem jurisprudência que alegue isso. Conforme o informativo 865 de maio de 2017, o que se
tem é a presença marcante da corrente concretista individual direta.

28.4.4 Procedimento

A decisão do processo tem eficácia subjetiva limitada às partes, produzindo efeito até o advento de
norma regulamentadora, que produzirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por decisão transitada
em julgado, salvo se a aplicação da norma editada lhes for mais favorável.
Pode ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão quando isso for inerente ou
indispensável ao exercício do direito, da liberdade, ou da prerrogativa objeto da impetração. Assim, se pode
falar em corrente concretista geral? Sim, pois se está permitindo a eficácia erga omnes, aquela que
soluciona o caso concreto e, a partir dele atribui eficácia erga omnes para todos aqueles que têm caso

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1
semelhante.

29 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Estudo acerca dos dispositivos da Constituição Federal reservados à administração pública. Assim,
serão analisados os artigos 37 a 42 do texto constitucional.

29.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Quando se estuda o texto constitucional, normalmente se passa a lição de que a CF é um dinamismo,
não podendo ser interpretada em pedaços. Isso quer dizer que, muitas das vezes em que se estuda um artigo
específico, deve se ter em mente o todo da Constituição Federal.

29.1.1 Princípios Constitucionais Explícitos


São cinco princípios previstos no artigo 37, caput, da CF. Não são os únicos aplicáveis à
administração pública, pois o artigo 5º do texto constitucional traz outros três princípios utilizados na
administração pública e previstos expressamente.
» Legalidade: é baseado em premissas muito importantes. A primeira premissa é que tudo e todos se
submetem ao império da Constituição, sendo um reflexo da cultura do Constitucionalismo, que busca
limites racionais ao poder. Quando se aceita a teoria constitucionalista, uma das principais consequências é a
submissão de tudo e todos ao império da Constituição, independente se for brasileiro nato, naturalizado,
estrangeiro, imigrantes, sendo uma essência do Estado de Direito.
Outra premissa é a reserva de lei, onde tudo deve estar previamente disposto em lei. Já a
prevalência de lei, quarta e última premissa, estabelece que os atos normativos do poder executivo não
devem suplantar o que está disposto em lei. Afinal, a administração pública tem limites constitucionais no
seu agir normativo, devendo este respeitar os limites impostos pelo Parlamento. As duas premissas são
extraídas especialmente do artigo 5º, II da CF.
É no artigo 1º, caput, da CF que se tem a base para afirmar que a República Federativa do Brasil
constitui um Estado Democrático de Direito. Assim, o poder emana do povo e o direito só é inovado a
partir do órgão institucional capaz de representar os anseios da população da melhor forma possível, assim
sendo, o Parlamento (Congresso Nacional).
Já o artigo 60, §4º da CF traz as cláusulas de barreira que protegem, entre vários dispositivos, o
artigo 5º da Constituição Federal, contra qualquer tentativa de abolir os direitos fundamentais, onde a
legalidade se encontra.
No âmbito específico da administração pública, o artigo 37, caput, estabelece a legalidade como
um de seus principais e essenciais direitos. E, por fim, o artigo 84, IV, também do texto constitucional, que
trata da vinculação do poder executivo. O dispositivo é claro com relação aos limites do poder
regulamentar do presidente da república, ou seja, pode expedir decretos e regulamentos para a fiel

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execução das leis. Assim, a Constituição Federal diz que os limites são a prevalência da lei e a reserva de
lei. Ultrapassando estes limites, o presidente incorrerá em possível inconstitucionalidade.
Quando se analisa com maior profundidade o assunto, percebe-se que o presidente da república pode
inovar a ordem jurídica como exceção e não ferir o princípio da legalidade. O poder executivo expede
decreto regulamentar, decreto autônomo, lei delegada e medida provisória. O decreto autônomo está
previsto no artigo 84, VI, acrescentado pela EC 32. Parte da doutrina acredita que está autorizado ao
presidente expedir decreto autônomo, ou seja, aqueles que inovam ordem jurídica para além do previsto
em lei, independentemente de ordem legal. Outra parte da doutrina acredita ser inconstitucional, pois a EC
32 feriria o artigo 5º, II da CF, que está protegido pelas cláusulas de barreira, uma vez que a inovação da
ordem jurídica sem ordem legal iria ferir o princípio da legalidade.
Quanto a lei delegada, prevista no artigo 68 da CF, parte do pressuposto de que presidente pede
autorização ao Congresso Nacional para legislar sobre determinado assunto que não seja de sua
competência. Uma vez sendo autorizado, o presidente deveria prestar contas ao Congresso Nacional que
poderia, inclusive, sustar a legislação naquilo que fosse contrário aos limites da delegação legislativa.
Já a medida provisória, prevista no artigo 62 da CF, é uma das medidas mais poderosas que existe
no sistema brasileiro. A previsão constitucional do dispositivo está desde a origem da Constituição Federal.
O presidente pode editar medidas provisórias com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional.

» Impessoalidade: o princípio possui duas dimensões. Toda vez, que a administração pública pratica um ato,
este ato deve ser legitimado na busca do bem comum e não na busca de interesses particulares
determinados. Assim, não pode praticar atos na busca de interesses particulares, não podendo, então, haver
o direcionamento de atos para pessoas específicas. Portanto, o interesse público sempre prevalece sobre
o interesse privado na busca do melhor pela administração pública, conforme o artigo 100 da CF.
Também, quando se fala em praticar ato, não foi o administrador que praticou, mas sim, a própria
administração pública, como estabelecido o artigo 37, §1º da CF.

» Moralidade: se está diante de um dilema entre direito e moral. Se está encarando legalidade e
moralidade no mesmo patamar. Para que se entenda o impacto da moralidade, é necessário o uso de caso
concreto.
Apesar de legal, de seguir o rito procedimental, o ato pode ser considerado imoral. Sendo imoral, e
partindo do pressuposto de que moralidade e legalidade estão em mesmo nível, o ato pode ser considerado
ilegítimo. É muito difícil saber com antecedência se o caso é moral ou não, sempre será necessário o caso
concreto.
Qual a diferença entre direito e moral? As regras jurídicas são respeitadas pois estão na lei,
concordando ou não com elas. Um ato é considerado moral quando é seguido pois acredita-se na sua

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moralidade. Qual é o problema? O senso de moral muda, dependendo da pessoa, da cultura, religião e
ética pessoal. Apesar da moral cambiar dependendo da pessoa, é evidente que se tem um senso comum
geral acerca da prática de imoralidades.

» Publicidade: é essencial em um Estado de Direito, pois o poder é do povo. Mas, tem uma exceção,
quando se trata da segurança da sociedade do Estado, conforme o artigo 5º, XXXIII da CF.

» Eficiência: como princípio é uma quebra de paradigma, pois existem três modelos conhecidos de
administração pública. O primeiro é o modelo centralizado, típico do Estado Absolutista, onde tudo é
decidido pelo Monarca; o outro é o modelo burocratizado, que é típico do Estado Liberal, que já vivencia
a separação do poder, com a criação de outros órgãos; e o terceiro modelo é o gerencial, típico do Estado
Social, pois este se obriga a prestar e agir em prol da cidadania e dos direitos de segunda geração. E para
isso, a máquina estatal cresce e há a necessidade de colocar ordem, se inaugurando um modelo focado em
resultados, admitindo a exoneração de servidores não eficazes.
Assim, o princípio da eficiência é a busca de resultados e de avaliações periódicas para mudar a
noção de funcionalismo público e a visão de que o funcionário público não faz nada.

» Devido Processo Legal: previsto no artigo 5º, LIV da CF, o devido processo legal não basta seguir o
procedimento.

» Ampla Defesa: de acordo com o artigo 5º, LV da CF é o direito de falar e ser ouvido durante o processo.
Ser ouvido e que seus argumentos sejam analisados, acolhidos ou rebatidos um a um.

» Controle Judicial: o artigo 5º, XXXV da CF e a Súmula 473 do STF estabelecem que a administração
pode anular seus atos quando forem ilegais, revogando os atos por conveniência e oportunidade. Sempre será
ressalvada a apreciação judicial. Todo e qualquer ato praticado pela administração está sujeito a ser
analisado pelo poder judiciário.

29.1.2 Princípios Constitucionais Implícitos


Supremacia do Interesse Público e Indisponibilidade do interesse público são princípios que
caminham juntos. É obvio e evidente que se cabe ao poder executivo administrar o Estado, este deve
buscar da melhor maneira possível e com a maior energia possível, aqueles objetivos fundamentais
previstos no artigo 3º da Constituição Federal. Se esses são os objetivos a alcançar via administração
pública, resta claro que o interesse público prevalece sobre o interesse particular. Esses princípios são
resultantes logicas dos caminhos escolhidos pela República Federativa do Brasil.
Quando se fala em motivação, segurança jurídica, razoabilidade e proporcionalidade está a se falar

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que todo e qualquer ato deve ser motivado para que possa ser controlado com passível controle do
poder judiciário.

29.2 DISPOSIÇÕES GERAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


O artigo 37, caput, da Constituição diz respeito as disposições gerais. Quanto a abrangência do
referido dispositivo diz respeito a administração pública direta e indireta, a qualquer dos poderes, isso
significa, que se está falando de poder legislativo, poder executivo e poder judiciário; a União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios. Abrange também os princípios explícitos do próprio artigo. Além
de todas as regras do caput, o artigo traz rol de incisos que também devem ser respeitados pela
administração pública.
» Como pode o rol de princípios e regras vocacionados ao poder executivo não estarem limitados a
este? Pelo fato de que os três poderes também têm funções administrativas, trabalhando com verbas públicas,
gerenciados por servidores públicos, exercendo funções atípicas.
» Qual o âmbito de abrangência da administração direta? Envolve a presidência da república e os
ministérios, em nível federal, governadores e secretarias de estado, em nível estadual, prefeitos
municipais e secretarias municipais, em nível municipal. O modelo federal deve ser respeitado pelos
estados e municípios, levando consigo muito do que tem em nível federal. O traço característico é que as
nomeações são todas feitas pelo poder executivo.
Quanto a administração indireta, se está a falar de descentralização administrativa. Se por um
lado, os ministérios e governo estão totalmente centralizados ao redor do presidente da república (se valendo
do mesmo para governadores e secretarias, e prefeitos e secretarias) na administração direta, na indireta,
existe uma descentralização e certo distanciamento entre a chefia do executivo e a entidade da
administração pública indireta. Além disso, toda e qualquer entidade da indireta tem personalidade
jurídica própria, atuando em ramos especializados, mas sempre vinculados ao Ministério ou Secretaria.
Um típico exemplo é o Instituto Nacional do Seguro Social, que é uma autarquia federal, vinculado ao
Ministério de Previdência e Assistência Social.

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As autarquias devem ser criadas por lei, tendo personalidade jurídica de direito público, com
patrimônio e receita próprias. Elas prestam serviços típicos da administração pública, tendo autonomia
administrativa, como, por exemplo, o Banco Central do Brasil que organiza o sistema financeiro.
Já as empresas públicas também são criadas por lei, mas possuem personalidade jurídica de
direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivamente público. As empresas exploram
atividade econômica e podem ser formadas por S/A, Ltda., entre outras, como a Caixa Econômica
Federal, que explora atividade econômica.
As sociedades de economia mista têm criação por lei, com personalidade jurídica de direito
privado. Apesar de ter patrimônio próprio, o capital é misto, ou seja, público e privado, explorando
atividade econômica e sendo obrigatoriamente formadas através de S/A, como o Banco do Brasil.
Por fim, as fundações públicas, que são criadas por lei, podendo ter personalidade jurídica de
direito público ou privado. Tem dotação patrimonial pública ou mista. Tem capacidade de
autoadministração, exercendo atividade típica do Estado no âmbito social.
O artigo 37 não para no caput, mas tem as regras jurídicas vinculadas ao caput que estão no rol dos
incisos do dispositivo.

29.2.1 Improbidade Administrativa


Dos atos de improbidade decorre a suspensão dos direitos políticos (não perda). Ainda, perde-se a
função pública. Também importam a chamada indisponibilidade de bens, o ressarcimento ao erário. Isso
tudo sem prejuízo da ação penal cabível. Ou seja, jurisdição criminal e jurisdição de improbidade
administrativa caminham de forma independente. O artigo 37, §4º da CF prevê:

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da


função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

A constituição federal não define o que é improbidade. A lei n. 8.429 também não define
improbidade. Mas isso infere a partir do próprio nome, uma vez que improbidade significa deslealdade,
imoralidade ou, ainda, como sendo ato de corrupção. Isso tem tudo a ver com improbidade
administrativa. O agente improbo é um agente corrupto e desonestos em suas funções.
Apesar da lei não trazer o conceito, traz os tipos de atos que podem ser ímprobos, conforme os
artigos 9 (atos que causem enriquecimento ilícito), 10 (atos que causem prejuízo ao erário) e 11 (atos contra
princípios da administração pública) da lei n. 8.429.
O foro por prerrogativa de função abrange apenas a esfera criminal. A lei n. 10.628 alterou o
artigo 84 do CPP criando prerrogativa de foro no caso de improbidade administrativa, que sempre foi
julgada pela primeira instância, pois nunca se falou em foro de prerrogativa de função para tais casos antes.
O STF declarou a inconstitucionalidade dessa disposição inserida no CPP, conforme a ADI 2.797:

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PEDIDO DE
MODULAÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS DA DECISÃO DE MÉRITO. POSSIBILIDADE. AÇÕES
PENAIS E DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONTRA OCUPANTES E EX-OCUPANTES DE
CARGOS COM PRERROGATIVA DE FORO. PRESERVAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
PRATICADOS ATÉ 15 DE SETEMBRO DE 2005. 1. A proposição nuclear, em sede de fiscalização de
constitucionalidade, é a da nulidade das leis e demais atos do Poder Público, eventualmente contrários à
normatividade constitucional. Todavia, situações há que demandam uma decisão judicial excepcional ou
de efeitos limitados ou restritos, porque somente assim é que se preservam princípios constitucionais
outros, também revestidos de superlativa importância sistêmica. 2. Quando, no julgamento de mérito
dessa ou daquela controvérsia, o STF deixa de se pronunciar acerca da eficácia temporal do julgado, é
de se presumir que o Tribunal deu pela ausência de razões de segurança jurídica ou de interesse social.
Presunção, porém, que apenas se torna absoluta com o trânsito em julgado da ação direta. O Supremo
Tribunal Federal, ao tomar conhecimento, em sede de embargos de declaração (antes, portanto, do
trânsito em julgado de sua decisão), de razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social
que justifiquem a modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade, não deve considerar a
mera presunção (ainda relativa) obstáculo intransponível para a preservação da própria unidade material
da Constituição. 3. Os embargos de declaração constituem a última fronteira processual apta a impedir
que a decisão de inconstitucionalidade com efeito retroativo rasgue nos horizontes do Direito panoramas
caóticos, do ângulo dos fatos e relações sociais. Panoramas em que a não salvaguarda do protovalor da
segurança jurídica implica ofensa à Constituição ainda maior do que aquela declarada na ação direta. 4.
Durante quase três anos os tribunais brasileiros processaram e julgaram ações penais e de improbidade
administrativa contra ocupantes e ex-ocupantes de cargos com prerrogativa de foro, com fundamento nos
§§ 1º e 2º do art. 84 do Código de Processo Penal. Como esses dispositivos legais cuidavam de
competência dos órgãos do Poder Judiciário, todos os processos por eles alcançados retornariam à
estaca zero, com evidentes impactos negativos à segurança jurídica e à efetividade da prestação
jurisdicional. 5. Embargos de declaração conhecidos e acolhidos para fixar a data de 15 de setembro de
2005 como termo inicial dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º do Código de
Processo Penal, preservando-se, assim, a validade dos atos processuais até então praticados e devendo
as ações ainda não transitadas em julgado seguirem na instância adequada.(ADI 2797 ED, Relator(a):
Min. MENEZES DIREITO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em
16/05/2012, DJe-039 DIVULG 27-02-2013 PUBLIC 28-02-2013 EMENT VOL-02678-01 PP-00001)

Outro assunto importante acerca da improbidade é a aplicabilidade da lei n. 8.429 a agentes


políticos. Chegou ao STF uma reclamação 2.138 contra um juiz federal pois o juiz teria usurpado
competência do STF ao julgar um ministro de estado por improbidade administrativa. Ate então, era
pacífico o entendimento de que não importava o agente, mas sim que se tratando de improbidade, o processo
sempre se daria em primeira instância. Mas o STF entendeu que, se o agente é político há uma mescla de
previsões. Se, por um lado se tem a lei n. 1.079 dos crimes de responsabilidade, por outro tem a lei n. 8.429
acerca da improbidade. Deste modo, o STF decidiu que quando duas leis tratam do mesmo assunto, é
importante evitar o bis in idem e, tratando de ministro de estado em crime de responsabilidade, caberia ao
Supremo julgar, por uma regra especial prevista no artigo 102, I da CF.

RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CRIME DE RESPONSABILIDADE. AGENTES POLÍTICOS. I.
PRELIMINARES. QUESTÕES DE ORDEM. I.1. Questão de ordem quanto à manutenção da
competência da Corte que justificou, no primeiro momento do julgamento, o conhecimento da
reclamação, diante do fato novo da cessação do exercício da função pública pelo interessado. Ministro de
Estado que posteriormente assumiu cargo de Chefe de Missão Diplomática Permanente do Brasil
perante a Organização das Nações Unidas. Manutenção da prerrogativa de foro perante o STF, conforme
o art. 102, I, "c", da Constituição. Questão de ordem rejeitada. I.2. Questão de ordem quanto ao
sobrestamento do julgamento até que seja possível realizá-lo em conjunto com outros processos sobre o
mesmo tema, com participação de todos os Ministros que integram o Tribunal, tendo em vista a
possibilidade de que o pronunciamento da Corte não reflita o entendimento de seus atuais membros,
dentre os quais quatro não têm direito a voto, pois seus antecessores já se pronunciaram. Julgamento
que já se estende por cinco anos. Celeridade processual. Existência de outro processo com matéria
idêntica na seqüência da pauta de julgamentos do dia. Inutilidade do sobrestamento. Questão de ordem

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rejeitada. II. MÉRITO. II.1.Improbidade administrativa. Crimes de responsabilidade. Os atos de
improbidade administrativa são tipificados como crime de responsabilidade na Lei n° 1.079/1950, delito
de caráter político-administrativo. II.2.Distinção entre os regimes de responsabilização político-
administrativa. O sistema constitucional brasileiro distingue o regime de responsabilidade dos agentes
políticos dos demais agentes públicos. A Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de
responsabilidade político-administrativa para os agentes políticos: o previsto no art. 37, § 4º (regulado
pela Lei n° 8.429/1992) e o regime fixado no art. 102, I, "c", (disciplinado pela Lei n° 1.079/1950). Se a
competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4º) pudesse abranger também
atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de responsabilidade especial, ter-se-ia uma
interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I, "c", da Constituição. II.3.Regime especial. Ministros
de Estado. Os Ministros de Estado, por estarem regidos por normas especiais de responsabilidade (CF,
art. 102, I, "c"; Lei n° 1.079/1950), não se submetem ao modelo de competência previsto no regime
comum da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n° 8.429/1992). II.4.Crimes de responsabilidade.
Competência do Supremo Tribunal Federal. Compete exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal
processar e julgar os delitos político-administrativos, na hipótese do art. 102, I, "c", da Constituição.
Somente o STF pode processar e julgar Ministro de Estado no caso de crime de responsabilidade e,
assim, eventualmente, determinar a perda do cargo ou a suspensão de direitos políticos. II.5.Ação de
improbidade administrativa. Ministro de Estado que teve decretada a suspensão de seus direitos políticos
pelo prazo de 8 anos e a perda da função pública por sentença do Juízo da 14ª Vara da Justiça Federal -
Seção Judiciária do Distrito Federal. Incompetência dos juízos de primeira instância para processar e
julgar ação civil de improbidade administrativa ajuizada contra agente político que possui prerrogativa de
foro perante o Supremo Tribunal Federal, por crime de responsabilidade, conforme o art. 102, I, "c", da
Constituição. III. RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. (Rcl 2138, Relator(a): Min. NELSON
JOBIM, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES (ART.38,IV,b, DO RISTF), Tribunal Pleno, julgado
em 13/06/2007, DJe-070 DIVULG 17-04-2008 PUBLIC 18-04-2008 EMENT VOL-02315-01 PP-00094
RTJ VOL-00211-01 PP-00058)

29.2.2 Responsabilidade Objetiva do Estado


Envolve pessoas jurídicas de direito privado e de direito público. Assim, em um primeiro
momento, se poderia encaixar todas as entidades da administração direta e indireta. Mas o dispositivo vai
além, afirmando que essas entidades devem ser prestadoras de serviços públicos. Essas empresas
respondem por danos causados a terceiros, desde que sejam causados pelos seus agentes no desempenho
de suas funções. Isso significa que a empresa responderá também pelos danos.
Em contrapartida, as entidades têm o direito de regresso contra o responsável pelo ato, ou seja,
contra o próprio agente publico nos casos de dolo ou culpa. É este sentido o dispositivo 37, §6º da CF:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos


responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

29.2.3 Licitação
A licitação tem lei específica, qual seja, a lei n. 8.666. Obras, serviços, compras e alienações devem
ser objeto de licitação. Ou seja, até a venda de um bem móvel ou imóvel da administração pública deve
haver algum tipo de licitação. Porém, existem exceções previstas em lei, como a dispensa da licitação e da
inexigibilidade de licitação pela exclusividade do serviço prestado.
Sempre que se estiver diante de caso concreto, deve se lembrar que ainda que o ato de dispensa ou
inexigibilidade seja fundamento na lei n. 8.666 é importante que se analise a moralidade, a razoabilidade e
proporcionalidade do ato.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do

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Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas
da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

29.2.4 Acesso aos Cargos Públicos


Os cargos, empregos e funções públicas são de acesso aos brasileiros que preencham os requisitos
que a lei estabelece, bem como aos estrangeiros. Assim, são duas hipóteses de aplicabilidade: brasileiros e
estrangeiros. No caso de brasileiros, se está a falar de natos e naturalizados, sendo que os cargos privativos
de brasileiros natos, previstos no artigo 12, §3 da CF, não estão ao alcance dos naturalizados. E, no caso
de estrangeiros, é possível a participação em cargos públicos desde que haja previsão legal específica.
A Lei de Migração trouxe o chamado de nova política migratória que é totalmente diferente do
Estatuto do Estrangeiro. Na nova política migratória, entre os princípios e garantias encontra-se o acesso
igualitário e livre do migrante a diversos benefícios, bens públicos educação e, entre as garantias,
encontra-se o acesso ao trabalho. Com base nesta lei, é possível o estrangeiro ser investido em cargo
publico qualquer que seja, respeitadas as limitações constitucionais quanto aos cargos privativos? A
mensagem de veto presidencial 163 quando o presidente, ao sancionar a lei, vetou o artigo 30 da lei, que
estabelecia que imigrante poderia exercer cargo, emprego ou função pública. Percebe-se, assim, que a
Lei de Migração, no seu projeto aprovado nas duas casas do Congresso Nacional, contemplava a
possibilidade de concurso público para imigrantes, mas o presidente vetou.
A investidura em cargo depende de aprovação prévia e concurso público, como regra, com
exceção das hipóteses de nomeações para cargos em comissão. Estes cargos representam aqueles que
alguém pode nomear sem concurso público, mas também, pode exonerar por oportunidade e
conveniência, estando atrelado aos cargos de direção, chefia e assessoramento (assim como as funções de
confiança). Em geral, os concursos são de provas apenas, ou provas e títulos, sendo vedado o concurso
apenas de titulação.
O prazo de validade do concurso público será de dois anos, prorrogável por uma vez, por igual
período. E durante o prazo improrrogável (ou seja, no primeiro período), aquele aprovado será convocado
com prioridade sobre os novos concursados.
É garantido ao servidos público civil o direito à livre associação sindical, além de ter o direito de
greve exercido nos termos e nos limites. Ainda, a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
para pessoas com deficiência, definindo seus critérios de admissão.
Ademais, a lei irá estabelecer os casos de contratação por tempo determinado para atender
necessidades temporárias, não sendo raras essas contratações. Os requisitos para tal são: contratação por
tempo determinando, para uma necessidade temporária e deve haver excepcional interesse público. O
que acontece muito nos municípios é a falta de professores, com a contratação temporária destes.

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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos
estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual
período;
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso
público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para
assumir cargo ou emprego, na carreira;
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os
cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais
mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e
assessoramento; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

29.2.5 Acúmulo de Cargos Públicos


Em regra, não se acumula cargos públicos, com exceção:

Essas exceções dizem respeito a magistratura, onde se podo cumular com uma função no magistério, e
ao ministério público, que diz que os membros do Ministério Público também podem cumular com uma
função de magistério.
Ainda, para poder haver o acúmulo de cargos, deve haver a compatibilidade de horários e ser
respeitado o teto remuneratório.

29.2.6 Acúmulo de Receitas – Proventos + Remuneração – §10


É vedada a percepção simultânea, tanto para civis quanto para militares, de provento de aposentadoria
com a remuneração de cargos. Entretanto, existem exceções.

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0
29.2.7 Remuneração dos Servidores Públicos

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes
políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não,
incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal,
em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o
subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o
subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no
âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
aos Defensores Públicos;

O dispositivo está divido em dois grandes grupos, sendo, o primeiro, o teto do funcionalismo
público que é o teto do Ministro do STF e isso envolve todos os poderes, em todas as esferas (municipal,
estadual e federal), na administração pública direta e indireta, inclusive detentores de mandato eletivo,
envolve, também, proventos e pensões dos inativos, assim como outras espécies remuneratórias, seja
cumulativamente ou não, incluídas vantagens pessoais. Tudo isso é para tentar moralizar o sistema
remuneratório do Brasil. Se escolheu o teto do Ministro do STF como o máximo possível.
O segundo grupo tem a ver com os limites nas demais entidades federadas. Se por um lado, os
limites na esfera federal são de ministro do STF, os limites estaduais e municipais, sendo, nos estados e no
DF, o subsidio do governador, para o poder executivo; o subsídio dos deputados, para o poder
legislativo; e o subsídio de desembargadores do Tribunal de Justiça, para o poder judiciário, sendo que
estes equivalem, no máximo, a 90,25% ao dos ministros do STF, sendo aplicável também ao Ministério
Público, procuradores e defensores públicos. Já nos municípios, será o subsídio do prefeito que valerá
como o teto remuneratório.
O artigo 39, §4º da CF fala, também, acerca da remuneração dos servidores públicos e dos subsídios.
Diz, a regra, que tanto a remuneração quanto o subsídio só podem ser alterados por lei específica,
observada a iniciativa privativa e assegurada a revisão geral anual.
Ainda com relação ao subsídio, envolve todos os cargos políticos, devendo ser fixado em parcela

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1
única e vedados os acréscimos remuneratórios.
O binômio remuneração x indenização está previsto no artigo 37, §11, onde se estabelece que as
parcelas indenizatórias previstas em lei não compõem o teto remuneratório. O teto tem a ver só com a
remuneração da função e acréscimos de remuneração de acordo com o cargo. Indenizações como diárias
e ajuda de custo não são remuneração e não integram o teto do servidor.

29.3 SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS E MILITARES


29.3.1 Servidores Públicos Civis
O artigo 39 da CF aborda o regime jurídico único, a relação de direitos sociais previstas para
servidores públicos, além de subsídio e a transparência de informações. O regime jurídico único
determina que, a União, os Estados e os Municípios, assim como o DF, toda e qualquer pessoa que tomou
posse de cargo público e trabalhe em serviço público, a ela se aplicará a Lei n. 8.112 que traz o regime
jurídico dos servidores públicos. Porém, com a EC 19 se extinguiu a obrigatoriedade do regime jurídico
único para servidores públicos, passando a poder ser aplicada à CLT. Consequentemente, se tem uma
situação híbrida entre servidores públicos e empregados públicos. A EC 19, ainda, foi desafiada em controle
concentrado de constitucionalidade. O STF, na ADI 2.135-3, suspendeu a eficácia da EC 19 em relação ao
caput do artigo 39. Em resumo, hoje o que vale é o artigo na redação originária da Constituição.
E quanto aos casos que ocorreram entre a EC 19 e o julgamento da ADI? Haverá eficácia ex
nunc, ou seja, a decisão do STF vale apenas da data de sua publicação para frente.

MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PODER CONSTITUINTE


REFORMADOR. PROCESSO LEGISLATIVO. EMENDA CONSTITUCIONAL 19, DE 04.06.1998. ART.
39, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SERVIDORES PÚBLICOS. REGIME JURÍDICO ÚNICO.
PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO, DURANTE A ATIVIDADE CONSTITUINTE DERIVADA, DA
FIGURA DO CONTRATO DE EMPREGO PÚBLICO. INOVAÇÃO QUE NÃO OBTEVE A APROVAÇÃO
DA MAIORIA DE TRÊS QUINTOS DOS MEMBROS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS QUANDO DA
APRECIAÇÃO, EM PRIMEIRO TURNO, DO DESTAQUE PARA VOTAÇÃO EM SEPARADO (DVS) Nº 9.
SUBSTITUIÇÃO, NA ELABORAÇÃO DA PROPOSTA LEVADA A SEGUNDO TURNO, DA REDAÇÃO
ORIGINAL DO CAPUT DO ART. 39 PELO TEXTO INICIALMENTE PREVISTO PARA O PARÁGRAFO 2º
DO MESMO DISPOSITIVO, NOS TERMOS DO SUBSTITUTIVO APROVADO. SUPRESSÃO, DO
TEXTO CONSTITUCIONAL, DA EXPRESSA MENÇÃO AO SISTEMA DE REGIME JURÍDICO ÚNICO
DOS SERVIDORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. RECONHECIMENTO, PELA MAIORIA DO
PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DA PLAUSIBILIDADE DA ALEGAÇÃO DE VÍCIO
FORMAL POR OFENSA AO ART. 60, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. RELEVÂNCIA JURÍDICA
DAS DEMAIS ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E MATERIAL REJEITADA POR
UNANIMIDADE. 1. A matéria votada em destaque na Câmara dos Deputados no DVS nº 9 não foi
aprovada em primeiro turno, pois obteve apenas 298 votos e não os 308 necessários. Manteve-se,
assim, o então vigente caput do art. 39, que tratava do regime jurídico único, incompatível com a figura
do emprego público. 2. O deslocamento do texto do § 2º do art. 39, nos termos do substitutivo aprovado,
para o caput desse mesmo dispositivo representou, assim, uma tentativa de superar a não aprovação do
DVS nº 9 e evitar a permanência do regime jurídico único previsto na redação original suprimida,
circunstância que permitiu a implementação do contrato de emprego público ainda que à revelia da regra
constitucional que exige o quórum de três quintos para aprovação de qualquer mudança constitucional. 3.
Pedido de medida cautelar deferido, dessa forma, quanto ao caput do art. 39 da Constituição Federal,
ressalvando-se, em decorrência dos efeitos ex nunc da decisão, a subsistência, até o julgamento
definitivo da ação, da validade dos atos anteriormente praticados com base em legislações
eventualmente editadas durante a vigência do dispositivo ora suspenso. 4. Ação direta julgada
prejudicada quanto ao art. 26 da EC 19/98, pelo exaurimento do prazo estipulado para sua vigência. 5.
Vícios formais e materiais dos demais dispositivos constitucionais impugnados, todos oriundos da EC

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19/98, aparentemente inexistentes ante a constatação de que as mudanças de redação promovidas no
curso do processo legislativo não alteraram substancialmente o sentido das proposições ao final
aprovadas e de que não há direito adquirido à manutenção de regime jurídico anterior. 6. Pedido de
medida cautelar parcialmente deferido.(ADI 2135 MC, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ELLEN GRACIE (ART.38,IV,b, do RISTF), Tribunal Pleno, julgado em 02/08/2007, DJe-
041 DIVULG 06-03-2008 PUBLIC 07-03-2008 EMENT VOL-02310-01 PP-00081 RTJ VOL-00204-03 PP-
01029)

Quanto aos direitos sociais, o artigo 39 da CF traz os artigos do artigo 7º da CF que se aplicam aos
servidores públicos:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
(...)
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social,
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da
lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,
facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de
trabalho; (vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do
normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de
sexo, idade, cor ou estado civil;

O artigo 39 também fala dos subsídios, que é devido a todo cargo político, podendo ser aplicado a
servidores de carreira também, desde que por lei específica. São vedados acréscimos remuneratórios que
suplantem o teto. É importante lembrar que remuneração é diferente de indenização, como já estudado em
tópico anterior.
Por fim, o dispositivo estabelece sobre a transparência, que, hoje, é via acesso à internet, havendo
acesso as informações relevantes quanto à remuneração e subsídios dos servidores públicos.
Já o artigo 40 da CF traz o regime previdenciário dos servidores públicos civis, além da
aposentadoria e pensão. Quanto ao regime previdenciário, existem vários sistemas de previdência no Brasil.
O primeiro sistema, e o mais conhecido de todos, é chamado de regime geral de previdência social
(RGPS) e está previsto no artigo 201 da CF, que tem relação com a iniciativa privada. Além deste, tem-se
os regimes próprios de previdência típicos do serviço público, previstos no artigo 40 da CF, além dos
regimes complementares de previdência, estabelecidos nos artigos 40, §14 e 202, ambos da CF, que
abrange todas as pessoas de modo opcional.
Com relação ao artigo 40 do texto constitucional, autoriza a criação de vários regimes de

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previdência, sendo um federal, um estadual por cada Estado-membro e um municipal para cada município
para servidores públicos. Além de todos esses, com relação as pessoas da iniciativa privada e aos servidores
públicos, também se autoriza a criação de regimes previdenciários complementares, a chamada
Previdência Privada. Feita a distinção entre os regimes previdenciários, se analisará, no momento, o regime
jurídico aplicável a sistemas de previdência de servidores públicos civis, com as regras gerais, tanto para
regimes próprios, como para regimes complementares.
A primeira diretriz é o próprio caput do dispositivo, que abrange os servidores públicos e cargos
efetivos ocupados por servidores, seja na união, Estados, DF ou Municípios, envolvendo, apenas
autarquias e fundações. Além da abrangência, o regime previdenciário dos servidores públicos tem algumas
características.
A primeira é o caráter contributivo, ou seja, todo e qualquer sistema é baseado na lógica do
equilíbrio financeiro, onde aquilo que sai é mais ou menos igual aquilo que entra. Mas só tem acesso aos
benefícios, aquelas pessoas que realizam contribuições, em tempo e modo oportuno previstos na lei. Uma
segunda característica é o caráter solidário, com base no princípio da solidariedade. É por este caráter que o
STF chancelou a EC 41 que trouxe a contribuição de aposentados e pensionistas, onde a pessoa já está
aposentada e passa a verter contribuições para o sistema. Este regime tem três tipos de contribuições,
sendo: as verbas pagas pela entidade que paga a remuneração do servidor; o próprio servidor da ativa e os
inativos e pensionistas.
Com relação a contribuição de inativos e pensionistas, o percentual será sempre igual ao devido
pelos servidores da ativa e os aposentados e pensionistas só pagam esse percentual em relação aos valores
que superem o máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social. Outra
regra, mais recente, especialmente dedicada para pessoas que tenham doença incapacitante e recebem pensão
ou aposentadoria. Neste caso, a regra será de pagamento do percentual em relação a valores que superem
o dobro do máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social.
Os sistemas têm uma condição importante, que são aplicáveis só a servidores efetivos. As pessoas
nomeadas para cargo em comissão, não havendo previsão de definitividade no serviço público, não é
aplicado o regime próprio de previdência. Outro grupo de pessoas que não aplica o regime próprio são as
pessoas contratas temporariamente por excepcional interesse público. Nestes casos, se aplica o regime
geral de previdência social (RGPS) previsto no artigo 201 da CF.
Com relação aos regimes complementares, existem duas condições, quais sejam, equalizar os tetos
de benefícios ao do RGPS e tem que haver a necessária opção do servidor. Até a EC 41, a regra era
muito clara, onde o servidor da ativa contribuía com base na remuneração e se aposentava com proventos
integrais de acordo com o cargo da aposentadoria. Com a EC 41 se mudou isso, primeiro estabelecendo a
contribuição dos inativos e, segundo começou a fazer vinculação entre os regimes próprios de previdência e
o regime geral de previdência social. E uma das mais significativas aproximações do sistema foi a de que
entidades públicas podem criar previdência própria de regime complementar, desde que coloquem o teto de

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seu regime próprio, o teto do RGPS e, segundo, o servidor deve aceitar entrar no sistema de previdência
complementar.
Outra regra é a contagem recíproca, pois não é incomum que as pessoas mudem de profissão,
podendo mudar de iniciativa privada para o serviço público, passando a converter contribuições para outro
regime, ou então passou de serviço público estadual, para serviço público federal, passando a contribuir para
outro regime. Assim, se passar por um ou mais sistemas de previdência, tem a garantia de contagem da
contribuição feita em todos os sistemas por aquele no qual se fará a aposentadoria, conforme previsto
no artigo 40, §9 da CF.
O abono de permanência, previsto no §19 do dispositivo 40 da CF, que é quando a pessoa completa
todas as exigências para a aposentadoria voluntária integral e ela opta por continuar na atividade, ela
recebe um valor equivalente ao valor da contribuição mensal para a previdência, não precisando mais
verter contribuições para o sistema.
Outra questão importante é a aplicação do teto do artigo 37 da CF, se aplicando a soma total dos
proventos da inatividade, inclusive na acumulação de cargos ou empregos públicos, como de outras
atividades sujeitas ao RGPS. O teto também se aplica aos proventos com remuneração de cargo
acumulável, ou seja, a pessoa se aposentou em um cargo e está trabalhando em outro cargo acumulável.
Outra hipótese de aplicação é quanto aos proventos com remuneração de cargos de comissão e de cargo
eletivo.
Três regras previstas no artigo 40, estão nos parágrafos oitavo, décimo e décimo sétimo:

§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real,
conforme critérios estabelecidos em lei.

§ 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício

§ 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão
devidamente atualizados, na forma da lei.

Uma vez vistos os sistemas previdenciários, se faz necessário um estudo acerca das aposentadorias.

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O mais importante a se abordar é que existem duas aposentadorias especiais. A aposentadoria
especial propriamente dita, está prevista no artigo 40, §4º da CF, onde se admite que a lei complementar
crie critérios diferenciados envolvendo portadores de deficiência, atividades de risco e atividades
prejudiciais a saúde ou a integridade física. Ou seja, como as aposentadorias baseiam-se no tempo de
contribuição e na idade, a legislação complementar pode diminuir tanto a idade quanto o tempo de
contribuição nestas três hipóteses.
A segunda aposentadoria especial é a de professor, que está especificada no artigo 40, §5º da CF,
onde se determina a redução de idade e tempo de contribuição de 5 anos para os professores da educação
infantil ou de ensino fundamental e médio, no caso de aposentadoria voluntária integral e apenas neste
caso. Para ter direito a essa aposentadoria, deve haver exclusividade, ou seja, a pessoa deve ter exercido
cargo de professor durante todo o tempo contributivo ou durante todo o período que quer considerar para
o fim de aposentadoria.
O terceiro e último assunto que o artigo 40 da CF traz é a pensão, que traz as regras de equivalência,
onde os proventos do servidor falecido devem respeitar o limite máximo do RGPS. Além disso, este
provento, além de ter que respeitar o limite, pode ser acrescido de 70% da parcela excedente a este limite,
caso já aposentado na data do óbito. Uma segunda regra diz respeito a remuneração do servidor da
ativa, o cálculo da pensão será feito respeitando o limite máximo do RGPS, acrescendo 70% da parcela
excedente a este limite, caso o servidor estiver em atividade na data do óbito.
Por fim, o artigo 41 do texto constitucional trata da estabilidade dos servidores públicos. Para que
se atinja a estabilidade, existem requisitos constitucionais. O primeiro deles é que o servidor tenha efetivo
exercício por três anos. O servidor deve ser decorrente de concurso público, ou seja, servidores de cargo
de comissão não são estáveis e não adquirem a estabilidade. O terceiro requisito é que o cargo seja efetivo,
além de que haja a aprovação em avaliações periódicas. Entretanto, o artigo afirma que, mesmo o servidor
efetivo e estável, poderá haver a perda do cargo por sentença judicial, processo administrativo ou
avaliação de desempenho. Caso o servidor não seja aprovado em avaliação, desde que lhe seja garantida a
ampla defesa e esteja previsto em lei complementar específica, é possível que o servidor perca o cargo.

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Existe outra possibilidade que envolve o servidor público estável. Caso este tenha sido demitido por
ser reprovado em avaliação de desempenho e, ao entrar com ação judicial, a justiça tenha dado ganho de
causa a ele, o servidor será reintegrado ao seu cargo de origem. Ainda, caso a vaga já tenha sido ocupada,
para o ocupante (se já for estável) da vaga haverá a recondução a sua origem, caso seja proveniente de
outro cargo, ou ainda, será aproveitado em outro cargo, ou, por fim, será colocado em disposição da
administração pública com remuneração proporcional ao tempo de serviço. Se o servidor não for estável,
será possível a exoneração deste.
Na hipótese de extinção ou desnecessidade do cargo, os servidores estáveis serão colocados em
disponibilidade e, se não forem estáveis, poderão ser exonerados.

29.3.2 Servidores Públicos Militares


Embora todos os editais de concurso coloquem servidores civis e militares em um mesmo grupo, o
artigo 42 fala só dos servidores militares do Estado. Quando se estiver diante de questão envolvendo
militares da União, não se aplica o artigo 42, a não ser que a regra específica faça alguma referência literal e
expressa. Por sua vez, estes têm um regramento constitucional previsto, no artigo 142 da CF.
Então, se trata, aqui, dos servidores públicos militares do Estado (polícia militar e bombeiros).
Toda a lógica dos servidores militares é baseada no binômio hierarquia e disciplina, diferenciando a lógica
do tratamento jurídico dos servidores civis.
Com relação aos militares estaduais, quanto aos direitos políticos, conforme o artigo 14, §8º da CF,
onde os militares alistáveis são elegíveis. Se tiver menos de dez anos de serviço, deverá se afastar. Se
tiver mais de dez anos, será agregado pela autoridade superior e se for eleito, passará apara a
inatividade.
Já o artigo 40, §9º da CF trata da contagem recíproca, que envolve o tempo de contribuição para fins
de aposentadoria e tempo de serviço para fins de disponibilidade.

Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com
base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser
fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei
estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais

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conferidas pelos respectivos governadores.
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for
fixado em lei específica do respectivo ente estatal.

30 PODER LEGISLATIVO
Estudo acerca do poder legislativo, analisando o sistema bicameral, assim como a competência de
cada uma de suas Casas. Faz-se necessário, também, o estudo do processo legislativo para a promulgação de
projeto de lei, analisando a possibilidade de processo comum ordinário e processo comum sumário.

30.1 SISTEMA BICAMERAL E SISTEMA UNICAMERAL


Conforme analisado no tópico 28.1, que trata da federação e da organização político-administrativa,
no Brasil, a teoria da tripartição é a mais conhecida e estudada nas faculdades, criada por Montesquieu.
Entretanto, para o escritor, o judiciário não era considerado um poder, uma vez que considerava os juízes
como a boca da lei.
Assim, a tripartição acabou contemplando um sistema legislativo bicameral, com a participação
do povo na Câmara dos Deputados e dos Estados no Senado Federal. Também contemplou um poder
executivo, com o sistema presidencialista, eleito democraticamente. E, por consequência das escolhas
federativas, o judiciário tornou-se um dos poderes. Diante disso, o correto seria que a tripartição fosse uma
tetra divisão de poderes, pois não é previsível que Câmara dos Deputados e Senado estejam sempre de
acordo com relação aos designados das atividades que são praticadas no Congresso Nacional.
Para analisar o federalismo no Brasil, é necessário fazer uma breve análise quanto às duas primeiras
Constituições do país, por conta do modelo de Estado adotado. A Constituição Imperial, que regulamentava
a independência, trouxe e estipulou um modelo de Estado Unitário, onde existia apenas uma fonte
irradiadora de leis, um poder executivo junto com um poder legislativo.
Já a Constituição de 1891 declara que, as antigas províncias passam a ser estados federados,
atribuindo-se autonomia legislativa e administrativa a estes, como também o poder de estabelecer as suas
próprias constituições. Essa Constituição foi promulgada aproximadamente 100 anos depois da Constituição
dos EUA e inaugurou o Estado Federado na República do Brasil.
Embora o Brasil tenha a base americana de modelo federado, as relações entre União e Estados-
membros é diferente, em termos de intensidade da autonomia estadual. Os estados americanos eram
soberanos e abriram mão de sua soberania no momento em que passaram a fazer parte de uma federação,
então muito de autonomia legislativa e executiva ficou com cada estado. Com relação ao sistema brasileiro,
embora importado o modelo de federação, nunca se teve estados soberanos. Sempre se foi considerado um
todo, dividido por questões de época. O fato é, que pelos estados brasileiros nunca terem tido soberania, estes
ficam muito abaixo da União Federal.
O sistema legislativo nacional difere dos sistemas legislativos estadual e municipal, pois aquele
envolve duas Câmaras (Câmara dos Deputados, composta por representantes do povo, e o Senado Federal,

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composto por representantes dos estados). Isso tem consequências na forma como uns e outros são eleitos,
além da quantidade de cargos previsto nesta ou naquela Câmara. Deste modo, os senadores são eleitos
através do princípio majoritário, considerando o maior número de votações entre os eleitores do
respectivo Estado, sendo eleitos 3 senadores por Estado independentemente do número de leitores
presentes neste.

Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal.
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.

Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos
segundo o princípio majoritário.
§ 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos.
§ 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos,
alternadamente, por um e dois terços.
§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes.

Já o sistema para eleição de deputados é proporcional à densidade de eleitores em cada unidade


federada. Cada Estado elegerá no mínimo 8 deputados e, no máximo, 70. Isso quer dizer que, o Estado com
a maior densidade populacional no Brasil tem condições de eleger 70 deputados.

Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema
proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.
§ 1º O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será
estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes
necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha
menos de oito ou mais de setenta Deputados.
§ 2º Cada Território elegerá quatro Deputados.

No sistema brasileiro bicameral (que foi importado dos americanos), as duas casas têm sede em
Brasil. Esse contexto bicameral só existe no contexto da União Federal. E à essa exclusividade se chama de
Congresso Nacional, que representa a Câmara dos Deputados (representantes do povo) e Senado Federal
(representantes dos Estados).
Já o sistema unicameral está em pleno vigor nos Estados-membros e Municípios.

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30.2 CONGRESSO NACIONAL
Cabe ao Congresso Nacional dispor sobre todas as matérias de competência da União. O artigo
48 da CF elenca as matérias de competência que podem ser dispostas e tratadas pelo Congresso Nacional,
mas que dependem da sanção presidencial. Por sua vez, o artigo 49 da CF traz um rol de matérias que
podem ser dispostas sem a sanção do presidente da república. E é justamente por não necessitar a sanção
que se fala que o Congresso Nacional exerce a chamada competência exclusiva.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os
casos previstos em lei complementar;
III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a
ausência exceder a quinze dias;
(...)

Além do artigo 49, que trata da competência exclusiva do Congresso Nacional, o contraponto, ou
seja, o artigo 48 da CF, também traz as competências, mas com sanção:

Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o
especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União,
especialmente sobre:
I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas;
II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida pública e
emissões de curso forçado;
III - fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas;
IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento;

30.3 CÂMARA DOS DEPUTADOS


A Câmara dos Deputados tem competência privativa, conforme o artigo 51 da CF, sendo, assim,
independente de sanção presidencial. Mesmo não sendo competência exclusiva, a consequência é a
mesma, ou seja, a não participação do presidente.

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:


I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-

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Presidente da República e os Ministros de Estado;
II - proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso
Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa;
III - elaborar seu regimento interno;
IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos
cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva
remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.

30.4 SENADO FEDERAL


Tal qual a Câmara dos Deputados, também exerce competência privativa, prevista no artigo 52 da
CF, que traz o rol de suas competências que não necessitam da sanção presidencial.

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:


I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem
como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
mesma natureza conexos com aqueles;
II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de
Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-
Geral da União nos crimes de responsabilidade;
III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de:
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República;
c) Governador de Território;
d) Presidente e diretores do banco central;
e) Procurador-Geral da República;
f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
(...)

Dentro do sistema bicameral não existe, necessariamente, consenso entre as duas casas. Isso faz com
que uma Casa controle a outra. A Câmara Alta sempre foi preenchida por nobres e, o que os americanos
fizeram quando admitiram a participação do povo no sistema, foi criar uma forma de diferenciação entre
deputados e senadores, onde estes têm mandato de 8 anos e, os deputados, de 4 anos.

30.5 COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO


30.5.1 Características
Estão previstas no artigo 58, §3º da CF. Assim, se encontra como característica de uma CPI, o poder
de investigação próprio das autoridades judiciais, ou seja, tem amplo poder investigatório. Ainda, as CPI
são criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, podendo ser feito em conjunto ou
separadamente, mediante o requerimento de 1/3 dos membros, devendo, o seu funcionamento, ser por prazo
determinado.
A CPI pode ser formada dentro da Câmara ou dentro do Senado, quando formada separadamente.
Agora, quando se forma em conjunto, se estará diante de uma CPMI, ou seja, Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito, pois envolve integras e interesses da casa do povo e da casa dos Estados.

30.5.2 Objetivos
A CPI deve servir para apurar fato determinado, não sendo admitida para apurar fatos que não

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sejam previamente determinados e especificados. Os objetivos se resumem à coleta de informações de alta
precisão para encaminhamento de suas conclusões para o Ministério Público.
Assim, a CPI não julga, não apresenta denúncia, apenas coletando material e encaminhando ao
órgão competente para responsabilização civil ou criminal dos agentes envolvidos.

30.5.3 Limites
Entre os limites encontra-se a apuração de fato determinando, não sendo instaurada para se apurar
fatos indeterminados, devendo funcionar por prazo determinado. Assim, se sabe quanto tempo perdurará
uma CPI. Além destas duas características, a jurisprudência do STF traz precedentes que envolvem a busca
de outras limitações.
O STF afirma que as CPIs devem ter limitações comparadas com as limitações inerentes ao
exercício da função judicial e, entre eles, está a presença de advogado. Desta forma, em qualquer ato
praticado pela CPI é cabível a presença do advogado.
Quanto a reserva de jurisdição, o STF, no MS 23. 652 decidiu:

COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - QUEBRA DE SIGILO ADEQUADAMENTE


FUNDAMENTADA - ATO PRATICADO EM SUBSTITUIÇÃO A ANTERIOR QUEBRA DE SIGILO QUE
HAVIA SIDO DECRETADA SEM QUALQUER FUNDAMENTAÇÃO - POSSIBILIDADE - EXISTÊNCIA
SIMULTÂNEA DE PROCEDIMENTOS PENAIS EM CURSO, INSTAURADOS CONTRA O IMPETRANTE
- CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO IMPEDE A INSTAURAÇÃO DA PERTINENTE INVESTIGAÇÃO
PARLAMENTAR SOBRE FATOS CONEXOS AOS EVENTOS DELITUOSOS - REFERÊNCIA À
SUPOSTA ATUAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO ESTADO DO ACRE, QUE SERIAM
RESPONSÁVEIS PELA PRÁTICA DE ATOS CARACTERIZADORES DE UMA TEMÍVEL
MACRODELINQÜÊNCIA (TRÁFICO DE ENTORPECENTES, LAVAGEM DE DINHEIRO, FRAUDE,
CORRUPÇÃO, ELIMINAÇÃO FÍSICA DE PESSOAS, ROUBO DE AUTOMÓVEIS, CAMINHÕES E
CARGAS) - ALEGAÇÃO DO IMPETRANTE DE QUE INEXISTIRIA CONEXÃO ENTRE OS ILÍCITOS
PENAIS E O OBJETO PRINCIPAL DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR - AFIRMAÇÃO DESPROVIDA
DE LIQUIDEZ - MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO. A QUEBRA FUNDAMENTADA DO SIGILO
INCLUI-SE NA ESFERA DE COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA DAS COMISSÕES PARLAMENTARES
DE INQUÉRITO. - A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de qualquer pessoa sujeita a
investigação legislativa pode ser legitimamente decretada pela Comissão Parlamentar de Inquérito,
desde que esse órgão estatal o faça mediante deliberação adequadamente fundamentada e na qual
indique, com apoio em base empírica idônea, a necessidade objetiva da adoção dessa medida
extraordinária. Precedente: MS 23.452-RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno). PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE JURISDIÇÃO E QUEBRA DE SIGILO POR DETERMINAÇÃO DA
CPI. - O princípio constitucional da reserva de jurisdição - que incide sobre as hipóteses de busca
domiciliar (CF, art. 5º, XI), de interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e de decretação da prisão,
ressalvada a situação de flagrância penal (CF, art. 5º, LXI) - não se estende ao tema da quebra de sigilo,
pois, em tal matéria, e por efeito de expressa autorização dada pela própria Constituição da República
(CF, art. 58, § 3º), assiste competência à Comissão Parlamentar de Inquérito, para decretar, sempre em
ato necessariamente motivado, a excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas.
AUTONOMIA DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR. - O inquérito parlamentar, realizado por qualquer
CPI, qualifica-se como procedimento jurídico-constitucional revestido de autonomia e dotado de
finalidade própria, circunstância esta que permite à Comissão legislativa - sempre respeitados os limites
inerentes à competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a
sua constituição - promover a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios possam incidir,
eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inquéritos policiais ou a processos
judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto da apuração congressual. Doutrina.
Precedente: MS 23.639-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno). O PROCESSO MANDAMENTAL NÃO
COMPORTA DILAÇÃO PROBATÓRIA. - O processo de mandado de segurança qualifica-se como
processo documental, em cujo âmbito não se admite dilação probatória, pois a liquidez dos fatos, para
evidenciar-se de maneira incontestável, exige prova pré-constituída, circunstância essa que afasta a
discussão de matéria fática fundada em simples conjecturas ou em meras suposições ou inferências.

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(MS 23652, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 22/11/2000, DJ 16-02-2001
PP-00092 EMENT VOL-02019-01 PP-00106)

Quando se fala em reserva de jurisdição, envolve a aplicação de outras regras do texto constitucional
em conjunto com esta, pois a CF tem regras mais específicas e que limitam a prática do ato ao exercício da
jurisdição. Ou seja, reservam à magistratura a prática ou a determinação de alguns atos pois estão
dispostos no artigo 5º da CF, que são direitos e garantias fundamentais, não podendo haver realização de ato
em contrário.
Ainda sobre os limites, o STF decidiu sobre a quebra de sigilo. Se por um lado a CPI não pode
determinar certos atos específicos de reserva de jurisdição, por outro, pode decretar a quebra de sigilo:

CPI - ATO DE CONSTRANGIMENTO - FUNDAMENTAÇÃO. A fundamentação exigida das Comissões


Parlamentares de Inquérito quanto à quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático não ganha
contornos exaustivos equiparáveis à dos atos dos órgãos investidos do ofício judicante. Requer-se que
constem da deliberação as razões pelas quais veio a ser determinada a medida (MS 24749, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 29/09/2004, DJ 05-11-2004 PP-00006 EMENT VOL-
02171-01 PP-00142 RTJ VOL-00196-01 PP-00186 LEXSTF v. 26, n. 312, 2005, p. 166-170)

Agora, a CPI não pode quebrar segredo de justiça; se o processo está em segredo de justiça,
comissão nenhuma pode autorizar o acesso aos autos. Entretanto, a CPI pode utilizar documentos de
inquérito sigiloso.
A indisponibilidade de bens é medida cautelar e, tendo em vista que a CPI tem poder de
investigação, não cabe a esta determinar indisponibilidade de bens, conforme decidido pelo STF:

Comissão Parlamentar de Inquérito: MS contra decisão de CPI que decretou a indisponibilidade de bens
e a quebra de sigilos do impetrante: procedência, no mérito, dos fundamentos da impetração, que, no
entanto, se deixa de proclamar, dado que o encerramento dos trabalhos da CPI prejudicou o pedido de
segurança. 1. Incompetência da Comissão Parlamentar de Inquérito para expedir decreto de
indisponibilidade de bens de particular, que não é medida de instrução - a cujo âmbito se restringem os
poderes de autoridade judicial a elas conferidos no art. 58, § 3º - mas de provimento cautelar de eventual
sentença futura, que só pode caber ao Juiz competente para proferi-la. 2. Quebra ou transferência de
sigilos bancário, fiscal e de registros telefônicos que, ainda quando se admita, em tese, susceptível de
ser objeto de decreto de CPI - porque não coberta pela reserva absoluta de jurisdição que resguarda
outras garantias constitucionais -, há de ser adequadamente fundamentada: aplicação no exercício pela
CPI dos poderes instrutórios das autoridades judiciárias da exigência de motivação do art. 93, IX, da
Constituição da República. 3. Sustados, pela concessão liminar, os efeitos da decisão questionada da
CPI, a dissolução desta prejudica o pedido de mandado de segurança. (MS 23480, Relator(a): Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 04/05/2000, DJ 15-09-2000 PP-00119 EMENT
VOL-02004-01 PP-00061)

O direito ao silêncio, enquanto a poder jurídico conhecido a qualquer pessoa, impede, quando
exercido, que aquele que o invocou seja preso ou ameaçado de prisão. Quando uma pessoa é investigada, ela
tem o direito ao silêncio, então, pode haver a dispensa do compromisso de dizer a verdade quando
chamada para depor em CPI, conforme ementa do STF:

COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - PRIVILÉGIO CONTRA A AUTO-INCRIMINAÇÃO -


DIREITO QUE ASSISTE A QUALQUER INDICIADO OU TESTEMUNHA - IMPOSSIBILIDADE DE O

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PODER PÚBLICO IMPOR MEDIDAS RESTRITIVAS A QUEM EXERCE, REGULARMENTE, ESSA
PRERROGATIVA - PEDIDO DE HABEAS CORPUS DEFERIDO. - O privilégio contra a autoincriminação
- que é plenamente invocável perante as Comissões Parlamentares de Inquérito - traduz direito público
subjetivo assegurado a qualquer pessoa, que, na condição de testemunha, de indiciado ou de réu, deva
prestar depoimento perante órgãos do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder Judiciário. - O
exercício do direito de permanecer em silêncio não autoriza os órgãos estatais a dispensarem qualquer
tratamento que implique restrição à esfera jurídica daquele que regularmente invocou essa prerrogativa
fundamental. Precedentes. O direito ao silêncio - enquanto poder jurídico reconhecido a qualquer pessoa
relativamente a perguntas cujas respostas possam incriminá-la (nemotenetur se detegere) - impede,
quando concretamente exercido, que aquele que o invocou venha, por tal específica razão, a ser preso,
ou ameaçado de prisão, pelos agentes ou pelas autoridades do Estado. - Ninguém pode ser tratado
como culpado, qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe tenha sido atribuída, sem que
exista, a esse respeito, decisão judicial condenatória transitada em julgado. O princípio constitucional da
não-culpabilidade, em nosso sistema jurídico, consagra uma regra de tratamento que impede o Poder
Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao réu, como
se estes já houvessem sido condenados definitivamente por sentença do Poder Judiciário. Precedentes.
(HC 79812, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 08/11/2000, DJ 16-02-2001
PP-00091 EMENT VOL-02019-01 PP-00196)

30.6 ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS


30.6.1 Prerrogativas
Segundo instituído na Constituição Federal, deputados e senadores tem foro de prerrogativa de
função, sendo julgados perante o STF, desde a expedição do diploma. No campo das prerrogativas, os
congressistas têm foro por prerrogativa de função, imunidade material e quatro imunidades formais.
o foro por prerrogativa é um foro de natureza em razão da função, e não da pessoa. A
interpretação do foro deve ser restritiva sempre, tendo, a prerrogativa de função, início, no caso dos
parlamentares, com a diplomação e, os demais agentes públicos, com a posse no cargo. Foro por
prerrogativa é somente para o âmbito criminal, nuca envolvendo a esfera cível. É importante saber que o
desrespeito a regra do foro por prerrogativa gera nulidades absolutas, pois está se tratando de princípio
de juiz natural previsto no artigo 5º da CF.
Quanto ao foro por prerrogativa, é importante ressaltar que os atos investigatórios, a investigação
antes da investidura, o indício de crime por autoridade com prerrogativa, o encontro fortuito de prova, a
ratificação da denúncia pelo Ministério Público são todas vinculadas ao inquérito policial. Durante os atos
investigatórios, o inquérito sempre seguirá a prerrogativa, ou seja, se for instaurado inquérito contra
deputado federal, deverá ser perante o STF. Se for instaurado antes da investidura, o inquérito tramita
normalmente. Caso o investigado venha a assumir cargo que tenha prerrogativa, esse inquérito deve ser
encaminhado ao Ministério Público para que este proceda ao encaminhamento do processo ao foro por
prerrogativa.
O indício é situação muito comum, que ocorre quando um grupo de pessoas está sendo investigado
por corrupção e, em algum momento, se determina a interceptação telefônica. Se, durante o prazo da
interceptação, se descobre um indício de que, naquela organização criminosa pode haver participação de
autoridade com prerrogativa, então é deve se encaminhar o inquérito para a instância competente
imediatamente. A mesma coisa acontece quando se encontra fortuitamente uma prova que envolva
pessoas com prerrogativa.

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As imunidades, conforme o artigo 53, §9º da CF subsistem durante o estado de sítio. Além de
subsistirem, só podem ser suspensas mediante o voto de 2/3 dos membros das Casas durante o estado de
sítio. A imunidade material é a de que os deputados e senadores são invioláveis civil e penalmente por
quaisquer de suas opiniões, palavras e voto. O STF entende que essas opiniões, palavras e voto devem estar
inseridas no contexto do exercício da função, caso contrário, não se aplicará a imunidade.
Quanto as imunidades formais, existem quatro hipóteses. A primeira está prevista no artigo 53, §2º da
CF, onde se estabelece que os membros do Congresso Nacional não podem ser presos, salvo em flagrante
de crime inafiançável. Nesse caso, os autos deverão ser remetidos em 24 horas à Casa respectiva, para
que, pelo voto da maioria de seus membros se resolva a questão da prisão.
A segunda imunidade formal é que, mesmo que o STF receba denúncia contra senador ou deputado
por crime ocorrido após a diplomação, é possível que através de iniciativa de partido político, a Casa
delibere acerca de suspensão do andamento da ação. O pedido de sustação deve ser apreciado em 45 dias,
sendo que se houver a sustação do processo, se suspenderá a prescrição enquanto durar o mandato.
O artigo 53, §7º da CF traz a imunidade que senadores e deputados não são obrigados a
testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as
pessoas que lhes confiaram informações, ou deles as receberam.
Por fim, a última imunidade fala da possibilidade de incorporação às Forças Armadas de
deputados e senadores depende de prévia licença da Casa respectiva, ainda que militares e que se estejam em
tempo de guerra.

30.6.2 Vedações
Os deputados e senadores não podem firmar contrato com pessoa jurídica de direito público,
salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes, não podendo, também, aceitar ou exercer cargo,
função ou emprego remunerado nessas entidades.
Ainda, não podem ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favores
decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada, nem
patrocinar causa que seja interessada qualquer das entidades de direito público.
Ademais, não podem ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

30.6.3 Perda De Mandato


As hipóteses de perda estão no artigo 55 da CF:

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa
a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

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O decoro parlamentar, conforme o artigo 55, §1º da CF, quando quebrado, diz respeito ao abuso das
prerrogativas asseguradas ou a percepção de vantagens indevidas.
Exceção à perda do mandato está previsto no artigo 56 da CF:

Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito
Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de interesse
particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.
§ 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidura em funções previstas neste artigo ou
de licença superior a cento e vinte dias.
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais de
quinze meses para o término do mandato.
§ 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador poderá optar pela remuneração do mandato.

30.7 FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA


O artigo 70 da CF traz as principais regras, onde existem duas espécies de controle: primeiro, o
sistema interno de cada poder, tendo dever de acompanhar e fiscalizar as contas. Além desta, cabe ao
Congresso Nacional, com o auxílio do tribunal, realizar o controle externo contável, analisando legalidade,
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas., devendo prestar contas as
pessoas físicas, jurídicas, públicas e privas que utilizem, arrecadem, guardem, gerenciem ou administrem
valores ou bens públicos.
O Tribunal De Contas Da União, conforme o artigo 71 do texto constitucional, é um órgão de auxílio
do Congresso Nacional no controle externo de fiscalização contábil. O TCU é integrado por 9 ministros,
tendo sede no Distrito Federal, com um quadro próprio de pessoal.
O TCU tem jurisdição em todo o território nacional, sendo uma jurisdição administrativa,
recebendo, também, denúncias de qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato.
A competência do tribunal é para apreciar as contas prestas anualmente pelo presidente. Percebe-
se que o tribunal apenas aprecia e auxilia, pois quem julga é o Congresso Nacional. Por outro lado, o TCU
julga a contas dos administradores e demais responsáveis por valores e bens públicos
A Súmula 347 do STF estabelece, ainda, que o TCU exerce controle de constitucionalidade

SÚMULA 347 O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a


constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.

SÚMULA VINCULANTE 3 Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o


contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão
inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

30.8 PROCESSO LEGISLATIVO


30.8.1 Espécies Legislativas
As espécies são apresentadas literalmente no artigo 59 da CF:

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Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das
leis.

Entretanto, existe uma espécie não prevista neste artigo, mas que também inova a ordem jurídica, é
o tratado internacional. Apesar não previsto, através do tratado se inova a ordem jurídica, logo, é uma
espécie de processo legislativo, uma vez que um tratado de direitos humanos pode ter força de EC,
conforme o artigo 5º, §3º da CF, por exemplo.
O processo comum ordinário surge das leis ordinárias.

30.8.2 Procedimento Comum Ordinário


Este processo tem etapas definidas. A primeira etapa é a iniciativa legislativa, onde se dá o pontapé
inicial para que um projeto de lei seja analisado no Congresso Nacional. A segunda fase é a constitutiva,
quando se tem a deliberação na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e, também, Presidencial. Ainda,
se tem a fase de eficácia, momento em que haverá a promulgação e publicação
Quanto a iniciativa legislativa, existem três espécies. A primeira espécie é a iniciativa parlamentar,
que deputados, senadores e vereadores têm a legitimidade de propor novos projetos de leis nas Casas em
que atuam. A própria Constituição prevê as possibilidades de que a iniciativa não será dos parlamentares.
Assim, a iniciativa poderá ser parlamentar, extraparlamentar e privativa.
Por questões de peculiaridade, a iniciativa privativa tem muito da iniciativa extraparlamentar. No
final das contas, pode-se conjugar as duas iniciativas (privativa e extraparlamentar), com exceção para o caso
do Senado Federal (artigo 52, VIII da CF) e da Câmara dos Deputados (artigo 51, IV da CF), que
possuem algumas iniciativas privativas sobre determinados assuntos, havendo, nestes casos, haverá uma
iniciativa privativa parlamentar. Mas em todos os outros casos, a iniciativa privativa será extraparlamentar.
No caso da iniciativa privativa do presidente da república, prevista nos artigos 61, §1º e 165 da
CF, referente as leis que fixam as Forças Armadas, ou disponham sobre criação de cargos ou empregos no
serviço público, entre outros assuntos que se dão apenas por iniciativa do presidente.
O STF também tem iniciativa privativa, conforme o artigo 93 da CF, para propor lei
complementar que dispor sobre o Estatuto da Magistratura. Assim, todas as questões que envolvem a
independência do judiciário, estão tratadas na lei orgânica da magistratura, não podendo, outros poderes,
interferir na forma como o judiciário se organiza.
Outros casos de iniciativa privada são os dos tribunais de justiça, estabelecido no artigo 125, §1º da
CF, para organizar a justiça.

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» Quanto a iniciativa popular, seria possível a proposição de EC? Literalmente, e no sistema atual, não é
possível o povo diretamente propor Emenda à Constituição. O que se pode é a proposição de leis, sejam
ordinárias e complementares.
Ao falar da fase constitutiva do processo comum ordinário, se fala em deliberação parlamentar
(nas duas Casas) e presidencial. A deliberação parlamentar envolve a discussão, votação, resultado e
revisão. A discussão se dá nas constituições temáticas das Casas legislativas, para serem, os projetos de
lei, maturados. Mesmo aprovado nas comissões, não quer dizer que o projeto será aprovado no Plenário.
Após a discussão, o projeto é encaminhado ao Plenário, podendo ser deliberado (haver a votação) se
estiverem presentes a maioria absoluta dos deputados ou senadores. Após a votação, se terá o resultado,
seja ele de aprovação, com o encaminhamento a outra Casa ou ao Presidente, de rejeição, com o
arquivamento do projeto, ou de emendas ao projeto, com o retorno para análise destas. Quando há,
então, as emendas, é a revisão da deliberação parlamentar.
Ainda acerca da revisão, há que se falar da Emenda Jabuti. Esta ocorre quando, ao ser votado e
serem feitas emendas ao projeto para análise, criam-se novos assuntos que não tem nada a ver com o
assunto originário do projeto, alterando a essência deste. Assim, o STF decidiu, em sede de ação direta de
inconstitucionalidade que, alteração desse porte não são permitidas em sede apenas de revisão.
Após ser deliberado pelas casas parlamentares, o processo irá para deliberação presidencial,
podendo haver a sanção do projeto ou o seu veto. Sempre lembrar que o veto não precisa englobar todo o
projeto, envolvendo apenas partes do projeto, apenas motivando e justificando este veto. A sanção pode
ser expressa ou tácita, pois o presidente tem 15 dias para se manifestar, podendo vetar ou sancionar. Caso
não se manifeste neste período, o projeto será sancionado em sua integralidade.
Apesar de o presidente ter o poder de vetar todo ou parte do projeto, é possível que o Congresso
Nacional, em sessão conjunta e pela maioria absoluta de seus membros, rejeite o veto presidencial.
A terceira fase do processo comum ordinário é a fase da eficácia, ou seja, quando há a promulgação
pelo presidente da república, como regra, ou pelo presidente do Senado, em caso de rejeição do veto, e a
publicação. É com a promulgação que o projeto de lei se torna lei. E é com a publicação que a lei se
torna existente para o sistema jurídico.

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30.8.3 Procedimento Comum Sumário
Este processo nada mais é do que o ordinário com tempo para terminar. Ou seja, todas as regras do
ordinário cabem ao sumário, mas aqui, há o tempo para que o projeto acabe e seja aprovado ou rejeitado.
E, também, caso sejam desrespeitados os prazos para deliberação, o projeto entra em regime de urgência,
sobrestando todas as outras deliberações legislativas.
Somente o presidente da república pode requerer a urgência, nos projetos apenas de sua
iniciativa (extraparlamentar privativa). Uma vez solicitada, a Câmara deve deliberar o projeto em 45 dias e
o Senado tem o mesmo prazo de deliberação. Caso sejam feitas emendas pelo Senado, a Câmara dos
Deputados tem o prazo de 10 dias para deliberar acerca dessas emendas. Assim, o regime de urgência
tem o prazo de 100 dias.

30.9 PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DO PODER LEGISLATIVO


30.9.1 Emendas à Constituição
As emendas têm características importantes para o sistema jurídico brasileiro, pois se sabe que elas
têm o potencial de mudar o texto da própria Constituição Federal. Quando se fala em emendas
constitucionais, se está a falar do poder constituinte derivado, sendo aquele que deriva de algo, ou seja, do
próprio texto constitucional. Portanto, só pode ser exercido nos limites do texto do qual deriva.
Diferentemente do originário, encontra condições e limites jurídicos para o seu exercício. O artigo 60, da
CF, traz vários limites ao poder constituintes. Deste modo, pode alterar o texto constitucional, desde que
dentro dos limites impostos pelo próprio texto.
A emenda constitucional tem um aspecto importante que demanda atenção, que é a promulgação.
Quando se fala em promulgação, se pensa logo em presidente da república. Entretanto, quando se fala em
emenda constitucional, quem faz a promulgação são as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, conforme o artigo 60, §3º da CF.
Assim, não há que se falar em veto do presidente, pois essa é uma questão muito mais legislativa
do que executiva e, também, porque o artigo nada fala em revisão pelo presidente. Passada pela Câmara
dos Deputados, passada pelo Senado Federal, a emenda será promulgada.
Quem exerce o poder de emenda é o poder constituinte derivado, que modifica a Constituição
Federal. Como os demais, este poder e a produção de emendas também têm limites jurídicos. São três
possibilidades de limites: formais, materiais e circunstâncias.
Os limites formais podem ser estabelecidos na legitimidade para a proposta de emenda, conforme
o artigo 60 da CF:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se,

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cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

Para começo de conversa, quando se pensa em limites formais, deve se pensar quem é que pode dar
início ao processo de emenda, conforme demonstrado no artigo acima transcrito. Assim, em termos
formais, se tem a legitimidade, o procedimento e o quórum para aprovação. A proposta será discutida e
votada em cada uma das Casas do Congresso Nacional, em dois turnos, devendo obter, em ambos os
turnos, três quintos (3/5) dos votos dos respectivos membros. Isso significa que a emenda deve ser
aprovada por quatro vezes dentro do Congresso Nacional. A matéria de emenda que for rejeitada ou
prejudicada justamente por não atingir o quórum específico para aprovação, não poderá ser objeto de nova
proposta na mesma sessão legislativa.
Outra possibilidade de limites são os limites materiais, ou seja, matérias que não podem ser
tratadas por emendas constitucionais e que estão descritas no artigo 60, §4º da CF, conhecidas como
cláusulas pétreas ou de barreira:
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
(...)
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

Por fim, existem os limites circunstanciais, que são as circunstâncias que impedem a votação das
emendas. Deste modo, a Constituição Federal não pode ser emendada quando houver intervenção federal,
estado de defesa ou estado de sítio, conforme o artigo 60, §1º do texto constitucional.
Existe também uma questão histórica, em que a Constituição do império de 1824, previu os limites
temporais. Proibiu a possibilidade de qualquer alteração de seu texto por cinco anos a partir de sua outorga,
tamanha era a necessidade de estabilização. Refletindo sobre esta estabilidade programada de cinco anos, se
pensa que naquele momento estava a se reafirmar e, em segundo, a constituição estava sendo outorgada pelo
imperador, que também exercia o poder moderador, centralizando todo o poder nas mãos deste, não querendo
que a Assembleia modificasse este poder.

30.9.2 Leis Complementares


A lei complementar tem função constitucional. Isso quer dizer que a lei complementa o texto

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constitucional, e é justamente por isso que o quórum para a aprovação de uma lei complementar é mais
elevado.
Além do quórum diferenciado, por maioria absoluta, e da reserva necessária constitucional para
complementação posterior por lei complementar, o artigo 146 da CF traz o cabimento de lei complementar
em matéria tributária. Assim, todos conhecem o CTN, que é, em realidade, uma lei ordinária (lei n. 5.172),
mas que foi recepcionada pela Constituição Federal como lei complementar. Foi assim recepcionada
porque o artigo mencionado estabelece que para os assuntos tratados no CTN, exige-se lei complementar e,
como o código era anterior à CF/88, se entende que esta recepciona o código como lei essencialmente
complementar. Ou seja, é uma lei materialmente complementar e constitucional. e que só pode ser alterada
por lei complementar.
Por outro lado, existem as leis formalmente complementares, que significa que uma lei é aprovada
pelo Congresso Nacional por maioria absoluta e publicada com nome de lei complementar, e só será
complementar se o assunto por ela tratado tiver reservas na Constituição para leis complementares. Caso
contrário, caso trate de outro assunto, a lei será complementar apenas na forma, ainda que tenha nome de
lei complementar e tenha sido aprovada por maioria absoluta. Ainda que complementar, por não ter reserva
constitucional para isso, poderá ser modificada por lei ordinária.
Quanto ao assunto, pode surgir o questionamento se existe hierarquia entre lei complementar e lei
ordinária. A resposta é não, o que existe é, no caso da lei complementar, uma reserva de assuntos
específicos pela Constituição. Têm campos de atuação diversos, tanto é assim, que se uma lei complementar
tratar de assunto não reservado, será uma lei ordinária.

30.9.3 Leis Ordinárias


A lei ordinária é considerada ato legislativo típico, veiculando normas gerais e abstratas. Tem
competência residual, podendo tratar de praticamente todas as matérias, com exceção daquelas destinadas,
no texto constitucional, à lei complementar.
Já o quórum para aprovação de lei ordinária é de maioria simples, também chamada de maioria
relativa, que representa a maioria dos parlamentares que estiverem presentes em uma determinada reunião ou
sessão.
Lembrando que o artigo 47 da Constituição diz que, salvo disposição constitucional em contrário, as
deliberações de cada Casa serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus
membros. Ou seja, não poderá haver votação se não estiverem presentes na sessão pelo menos a maioria

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absoluta dos membros da Casa. Porém, esse quórum é para a instalação de sessão de votação, sendo o mesmo
tanto para lei complementar ou ordinária. O que difere é o quórum de aprovação das leis.

30.9.4 Leis Delegadas


Quanto a lei delegada, prevista no artigo 68 da CF, parte do pressuposto de que presidente pede
autorização ao Congresso Nacional para legislar sobre determinado assunto que não seja de sua
competência. Uma vez sendo autorizado, o presidente deveria prestar contas ao Congresso Nacional que
poderia, inclusive, sustar a legislação naquilo que fosse contrário aos limites da delegação legislativa,
conforme o artigo 49, V da CF:

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


(...)
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de
delegação legislativa;

Assim, o poder legislativo analisa o projeto de lei em votação única e quem promulga e publica a
lei é o presidente. Outra característica importante é que existem matérias proibidas de serem delegadas,
conforme o artigo 68, §1º da CF:

Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a
delegação ao Congresso Nacional.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de
competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.

30.9.5 Decretos Legislativos


Os decretos legislativos são atos normativos gerais, abstratos e primários, inovando a ordem
jurídica. É utilizado para o exercício da competência exclusiva do Congresso Nacional, de acordo com o
artigo 49 da CF, não sendo permitida a participação do Poder Executivo (e, assim, não há deliberação
presidencial).
Ainda, qualquer parlamentar pode tomar iniciativa e apresentar projeto de decreto legislativo,
devendo ser discutido e votado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, por maioria simples.
Após sua votação, a promulgação e a publicação ficam a cargo do presidente do Congresso Nacional.

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30.9.6 Resoluções
Já as resoluções, outro procedimento especial do poder legislativo, é utilizada por Câmara dos
Deputados e Senado Federal na sua competência privativa, conforme os artigos 52 e 52 da CF, onde
também não há participação do poder executivo.
Ainda, qualquer parlamentar pode tomar iniciativa e apresentar projeto de decreto legislativo,
devendo ser discutido e votado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, por maioria simples. Após
sua votação, a promulgação e a publicação ficam a cargo do presidente da respectiva Casa.

30.9.7 Tratados Internacionais


O procedimento de um tratado internacional comum e de direitos humanos envolve a assinatura,
aprovação e hierarquia normativa, além da ratificação. As fases são as mesmas, independentemente do
tratado. O que diferencia o tratado internacional comum e o tratado internacional de direitos humanos é o
modo como é feita a deliberação dentro do Congresso Nacional, modificando o nível hierárquico do
tratado. Ainda, a promulgação e publicação é feita pelo presidente, conforme o artigo 84, IV da CF:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:


I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para
sua fiel execução;
(...)

Em termos de aprovação e hierarquia normativa, os tratados comuns são aprovados por maioria
simples no Congresso Nacional. Por este motivo, tem nível de lei ordinária. Já os tratados internacionais
de direitos humanos podem ser aprovados por maioria qualificada de 3/5 em dupla votação em ambas as
Casas. Se isso acontecer, terá nível de emenda à Constituição Federal. Se não ocorrer a aprovação por
maioria qualificada, ele não terá nível de lei ordinária, mas sim, nível supralegal.
Os tratados internacionais têm dupla paternidade, pois precisam de dois decretos para sua validade.
O primeiro é o decreto legislativo do Congresso Nacional aprovando o compromisso do presidente da
república e, segundo, depois da aprovação, o presidente deposita o instrumento de ratificação no âmbito
internacional, volta ao país e decreta, para fins de promulgação, o tratado internacional.

30.9.8 Medidas Provisórias


O processo legislativo da medida provisória envolve, primeiramente, a medida provisória no texto
original da CF/88. A medida provisória foi copiada da Constituição Italiana, onde se tem sistema de
governo parlamentarista. Neste contexto, se o Primeiro Ministro edita medida provisória que é rejeitada mais
de uma vez, o gabinete cai e será substituído por outro, pela perda da confiança, característica típica do
parlamentarismo. Isso significa que a medida está sempre sujeita a um controle político imediato, sendo
pensado muito bem antes de se editar uma medida provisória, visto que pode haver a perda da confiança. Já

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no caso da Constituição brasileira, onde o sistema de governo é presidencialista, caracterizado pela
ausência de responsabilização imediata, sendo, o impeachment, a única forma de responsabilizar o presidente
da república. O fato é que, não há como o presidente cair pela edição de medida provisória rejeitada,
como no caso do parlamentarismo italiano.
Além disso, a medida provisória é diferente do decreto lei, no sistema brasileiro, havendo duas
crenças importantes, no momento da sua criação, quais sejam, a medida provisória perderia eficácia desde
a edição caso não fosse aprovada pelo Congresso Nacional e também se acreditava no pleno
funcionamento de mecanismos de controle, fosse a cargo do poder legislativo ou a cargo do poder
judiciário.
Na sequência, há a evolução conceitual da medida provisória no seu início, em sua primeira fase,
de 1988 a 2001, com a reedição, a relevância e urgência, e os limites constitucionais. No tocante a reedição,
aconteceu algo curioso. Nunca se utilizou a expressão “reedição”. Uma vez promulgada a CF, o poder
executivo encomenda um parecer onde se diz que o executivo poderia sempre que achasse necessário,
oportuno e conveniente, editar medida provisória que não tivesse sido analisada pelo Congresso Nacional.
Este, por sua vez, aprovou parecer de deputado federal que sugeria a mesma linha de raciocínio, no sentido
de que o presidente da república poderia reeditar medidas pendentes de análise pelo Congresso
Nacional. Ainda, o STF chancelou a tese da reedição de medida provisória, em duas ações diretas de
inconstitucionalidade. A única exceção para a reedição de medida provisória é o caso desta ter sido
rejeitada pelo Congresso Nacional.
A Constituição Federal, em sua versão original, não falava nada acerca dos limites. E isso acabou
virando um problema, pois o decreto-lei que era mal compreendido, tinha limitações; já a medida provisória,
não havia limites. A doutrina, interpretando sistematicamente o texto e, em especial, o processo
legislativo como um todo, começou a encontrar várias hipóteses em que não era admissível a edição de
medida provisória pelo presidente da república:

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E então, finalizando o estudo da primeira era da medida provisória, deve se analisar que a medida se
tornou visceralmente distinta do conceito preconizado pelo ideal constituinte, adaptando-se ao uso que
dela se fazia. Pois a medida é algo que deveria entrar em vigor por 30 dias, sendo enviada rapidamente para o
Congresso Nacional e, caso não fosse analisada, perderia a eficácia desde a sua edição. Mas se tornou algo
completamente diferente, sendo possível inclusive a sua reedição, motivo pelo qual se diz que a medida
se adaptou ao uso que dela se fazia.
Isso fez com que, em 2001 houvesse a guinada institucional da medida provisória, com a evolução
conceitual em seu segundo período, de 2001 até a atualidade. Com relação à guinada constitucional, foi
feito pela EC 32, sendo evidente e notória a inadequação originária da medida provisória no âmbito
presidencialista, tendo, a emenda, o objetivo de fortalecer o Congresso Nacional, pois de 1988 a 2001 só se
percebeu o protagonismo dos presidentes da república, sendo que a inovação normativa primária deveria
ser do poder legislativo, não do poder executivo.
Entre as alterações fundamentais, a medida provisória para por outra evolução conceitual que envolve
a relevância e urgência, os limites constitucionais, a reedição e prorrogação, assim como o regime de
urgência, a rejeição de MP e ausência de decreto legislativo, e a perenização do provisório.
Quanto a relevância e urgência, o STF continuou entendendo que o judiciário só analisa excessos
notórios para o caso de total ausência de relevância e urgência, não analisando os critérios políticos em
geral. Já se tratando das limitações, praticamente tudo que foi criado pela doutrina na primeira fase da MP,
todas as limitações constitucionais implícitas, foram inseridas no artigo 62 da CF, após a EC 32.

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O grande problema da medida provisória pré 2001 era a reedição, sendo reeditadas ao gosto do
presidente, sem controle do legislativo ou do STF. Era chegado o momento que a MP entrava em colapso,
onde o sistema de pesos e contrapesos não tolerava mais a maneira que esta existia. Então, a partir da EC
32 ficou proibida a reedição de medidas provisórias. Em contrapartida, se inventou a prorrogação,
podendo ocorrer apenas uma vez, por igual período. Assim, hoje, a medida provisória é editada por 60
dias, podendo ser prorrogada por outros 60 dias.
Além disso, se trabalha hoje com o regime de urgência do processo comum sumário para a medida
provisória. Assim, se enxertou essa regra na medida provisória, onde, se a medida é editada por 60 dias, será
encaminhada ao Congresso Nacional, tendo 45 dias para análise, a Câmara dos Deputados, e 45 dias, o
Senado Federal. Se um ou outro ultrapassar esse período de análise, a pauta deve ser sobrestada até que
se ultime a edição da medida provisória.
A terceira circunstância interessante é o fato de que caso o Congresso Nacional rejeite uma medida
provisória, deve editar decreto legislativo para regulamentar as relações jurídicas da medida provisória
no período que ela esteve em vigor, uma vez que esta entra em vigor a partir da sua edição. Mesmo que não
haja o decreto legislativo, a medida provisória continua valendo para aquele período.
A última novidade trazida pela EC 32 para a medida provisória é o real âmago do acordo de
lideranças que propiciou a aprovação da emenda. Existiam várias MP em vigor quando a EC 32 foi
promulgada. De acordo com o artigo 2º da EC 32, todas as medidas que vinham sendo reeditadas até
aquele momento, não perderam a eficácia, mas sim permaneceram em vigor até que medida provisória
posterior à revogue permanentemente.
Apesar do fortalecimento do Congresso Nacional, fato é que, existe um trânsito tranquilo de MP
editadas pelo presidente da república no Congresso nacional, pois precisam apenas de maioria simples para
serem aprovadas, fortalecendo o poder do presidente.
Assim, as características das medidas provisórias, atualmente, são: ela entra em vigor pela
publicação do presidente da república, valendo por 60 dias, podendo ser prorrogada por mais 60 dias,
sendo, este prazo de validade, suspenso durante o recesso do Congresso Nacional. Destarte, com a validade
de 60 dias, mais a prorrogação de 60 dias e a possibilidade de suspensão, as medidas provisórias podem estar
em vigor por até 180 dias. Além disso, medida provisória que institua impostos ou aumente alíquota de
imposto, deve ser convertida em lei no mesmo exercício financeiro em que publicada.
Ainda com relação as características, o Congresso Nacional pode rejeitar, emendar ou aprovar
uma medida provisória. Caso seja aprovada, a medida segue para promulgação e publicação pelo
presidente da república, não havendo veto neste caso. Caso realize alguma emenda, a medida se
transforma em projeto de lei de conversão, que deve ser enviada para a deliberação presidencial,
havendo a possibilidade de veto ou sanção. A terceira possibilidade é a de rejeição, perdendo a eficácia ex
tunc, retroativamente, ou ex nunc, caso o Congresso Nacional não edite o decreto legislativo para
regulamentar as relações jurídicas da medida provisória rejeitada.

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Por fim, o STF, no MS 27.931, julgou acerca das medidas provisórias:

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro Celso de Mello (Relator), indeferiu o
mandado de segurança e deu, ao § 6º do art. 62 da Constituição, na redação resultante da EC 32/2001,
interpretação conforme à Constituição, para, sem redução de texto, restringir-lhe a exegese, em ordem a
que, afastada qualquer outra possibilidade interpretativa, seja fixado entendimento de que o regime de
urgência previsto em tal dispositivo constitucional – que impõe o sobrestamento das deliberações
legislativas das Casas do Congresso Nacional – refere-se, tão somente, àquelas matérias que se
mostram passíveis de regramento por medida provisória, excluídos, em consequência, do bloqueio
imposto pelo mencionado § 6º do art. 62 da Lei Fundamental, as propostas de emenda à Constituição e
os projetos de lei complementar, de decreto legislativo, de resolução e, até mesmo, tratando-se de
projetos de lei ordinária, aqueles que veiculem temas pré-excluídos do âmbito de incidência das medidas
provisórias (CF, art. 62, § 1º, I, II e IV). Vencido o Ministro Marco Aurélio. Impedido o Ministro Dias Toffoli.
Ausente o Ministro Ricardo Lewandowski, participando do Seminário de Verão 2017, na Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia.
Plenário, 29.6.2017.

31 PODER EXECUTIVO
Estudo sobre o poder executivo, onde o presidente participa de todo o processo comum ordinário das
leis ordinárias, seja na iniciativa, seja através dos mecanismos de sanção ao veto. Também pode imprimir
ritmo diferente no processo comum ordinário, nos projetos de sua iniciativa, transformando o rito em
sumário. Também participa de lei complementar através de sanção ou veto.

31.1 PRESIDENTE E VICE-PRESIDENTE


O presidente da república é uma das mais poderosas entidades, especialmente no âmbito de governo
presidencialista, exercendo o poder executivo com o auxílio dos Ministros do Estado. Assim, além de
administrar o Estado, o poder executivo, especialmente o presidente, tem função típica legislativa, conforme
visto anteriormente, uma vez que conjuga Chefe de Estado e Chefe de Governo na mesma pessoa.
O artigo 77 da CF traz que ambos são eleitos em um ou dois turnos, sendo que a eleição do
presidente importa a do vice, devendo este estar registrado. Assim, a eleição é do presidente, sendo o vice-
presidente apenas registrado junto aquele. A condição para eleição é a maioria absoluta dos votos, sendo, o
mandato, de quatro anos.

Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no


primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se
houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente.
§ 1º A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele registrado.
§ 2º Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria
absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.
(...)

Ainda, o presidente e o vice-presidente tomam posse em sessão do Congresso Nacional, devendo


prestar o compromisso de manter, defender e cumprir com a Constituição Federal, observar as leis, promover
o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, integridade e independência do Brasil. Se decorridos dez
dias da data fixada para a posse e o presidente ou o vice-presidente não tiver assumido o cargo, salvo por

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motivo de força maior, o cargo será declarado vago, conforme o artigo 78 da CF. Deste modo, presidente e
vice-presidente não podem se ausentar do país por período superior à 15 dias, sob pena de perda do
cargo, a não ser que tenham licença do Congresso Nacional.
Já o vice-presidente tem a missão de auxiliar o presidente sempre que for convocado para missões
especiais, além de outras atribuições que lhe são conferidas por lei complementar.

Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de vaga, o Vice-
Presidente.
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais.

A ordem sucessória é questão importante no sistema brasileiro. Assim, se o cargo de presidente


estiver vago, o vice-presidente irá assumi-lo:

No caso de vagar os cargos de presidente e vice-presidente, não sendo temporário, mas de vacância
dos cargos, a Constituição determina que no prazo de 90 dias depois de aberta a última vaga, seja
realizada nova eleição. Se a vacância ocorrer nos dois últimos anos do período presidencial, a eleição
para os cargos será feita pelo Congresso Nacional, 30 dias após aberta a última vaga, na forma da lei,
conforme o artigo 81 da CF. Isso significa que a eleição será indireta, pois não será o povo a eleger o
sucessor no caso de vacância nos dois últimos anos do período presidencial.

31.2 COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


O artigo 84 da CF traz o rol de atos que competem privativamente ao presidente da república.
Primeiramente, em âmbito administrativo, compete a ele nomear e exonerar os ministros de Estado, nomear
a direção superior da administração federal, além de nomear o advogado-geral da união e o presidente e
diretores do Banco Central. Percebe-se que se está evidentemente na função administrativa. Entretanto,
existem várias outras funções que evidenciam o poder passível de exercício do presidente da república.
O segundo grupo de funções é dentro do âmbito normativo, onde cabe ao presidente iniciar o
processo legislativo nos casos previstos, conforme analisado anteriormente, além de sancionar, promulgar e
fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para a sua execução. Outras funções deste
âmbito são vetar projetos de lei, seja total ou parcialmente, dispor, mediante decreto, sobre assuntos
definidos em lei e, por fim, editar medidas provisórias.
Em âmbito internacional, compete ao presidente da república manter relações com Estados

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estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos, celebrar tratados, convenções e atos internacionais,
sujeitos a referendo do Congresso Nacional, declarar guerra e decretar a mobilização nacional, em casos
determinados em lei, celebrar a paz e, por fim, permitir que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente.
Além disso, o presidente tem competência privativa para atuar em âmbito de instabilidades,
decretando estado de defesa, estado de sítio, decretar e executar a intervenção federal, também convocando e
presidindo o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional.
Para harmonização dos três poderes do sistema brasileiro, o presidente tem a competência para
nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e o Procurador-
geral da República, sendo, também, sua competência, nomear os magistrados nos casos em que o texto
constitucional prevê. Deve enviar ao Congresso Nacional: plano plurianual, projeto de lei de diretrizes
orçamentárias e propostas de orçamento previsto na Constituição Federal. Ainda, neste âmbito, tem a
competência para prestar, anualmente, ao Congresso nacional, dentro de 60 dias após a abertura da sessão
legislativa, as contas referentes ao exercício anterior.
Por fim, na esfera militar, o presidente exerce o comando supremo das Forças Armadas, nomeando
os comandantes de cada Força, além de promover e nomear os oficiais-generais das três forças para os cargos
que lhes são privativos.
O parágrafo único do referido artigo prevê a possibilidade de delegação de algumas competências
aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União:

Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI,
XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-
Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações.

31.3 RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


De acordo com o texto constitucional, são crimes de responsabilidade do presidente os atos
contra:

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
constitucionais das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo
e julgamento.

As hipóteses de crime do presidente da república são duas: crimes comuns e crimes de


responsabilidade. Caso seja processado por crime comum, a competência para julgamento é o STF. Caso

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seja denunciado por crime responsabilidade, se está falando de responsabilização política, portanto o
julgamento cabe ao Senado Federal e o procedimento é conhecido como impeachment.
Com relação ao rito para julgamento do presidente, tanto na esfera criminal comum quanto na
esfera de responsabilidade, haverá a admissão da acusação por um quórum qualificado de 2/3 da
Câmara dos Deputados, o julgamento (perante STF ou Senado Federal) e, por fim, a suspensão das
funções. Sempre deve se lembrar que a suspensão das funções não pode passar de 180 dias. Se ultrapassar
este prazo e o processo não tiver sido encerrado, o Chefe de Governo e de Estado retorna as suas funções
habituais, independentemente do processo.
Quanto às imunidades do presidente da república, conforme o artigo 86 da CF, enquanto não
sobrevier sentença condenatória nas infrações comuns, o presidente não estará sujeito a prisão. Percebe-se
que o dispositivo não está a tratar de crimes afiançáveis ou inafiançáveis, como no caso de parlamentares,
pois não importa a gravidade aqui, o presidente não será submetido à prisão até a sentença penal
condenatória.
Outra regra de imunidade é uma regra material, onde o presidente, na vigência de seu mandato, não
pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. Esta imunidade é denominada
de imunidade penal temporária, que significa que mesmo que o presidente tenha praticado crime antes de
assumir o cargo, jamais poderá ser responsabilizado durante o exercício do mandato, porque, por opção
constituinte originária, é mais importante o exercício do mandato popular, do que a responsabilização de
crimes comuns.
Com relação ao impeachment, que é o processo e julgamento para responsabilização do
presidente, é ato que aconteceu por mais de uma vez no sistema jurídico brasileiro. Assim, é válido analisar
a ADPF 378 MC, que foi julgada em 2015, que era uma medida cautelar. Embora fosse medida cautelar, o
processo foi convertido em julgamento definitivo, em razão de segurança jurídica no processo de
impeachment. O objeto do processo era a análise da compatibilidade entre a Lei n. 1.079 e a Constituição
Federal, para saber se esta tinha recepcionado todos os dispositivos da lei. Foi decidido que nem todos
dispositivos foram recepcionados e, a decisão, foi muito bem sistematizada, cuja essência foi de que
Assim, o papel da Câmara dos Deputados é o de autorizar a instauração do processo, por 2/3 de
seus representantes, exercendo juízo eminentemente político sobre os fatos narrados. Já o papel do Senado
Federal é de processar e julgar, recebendo ou não a denúncia autorizada pela Câmara dos Deputados, se
dando, a deliberação, por maioria simples, feita com base em parecer de comissão especial.

31.4 MINISTROS DE ESTADO


O texto constitucional, ao dispor sobre a competência dos Ministros de Estado, estabelece no artigo
87:

Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no
exercício dos direitos políticos.

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Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta
Constituição e na lei:
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração
federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da
República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;
III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério;
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo
Presidente da República.

Percebe-se que, grande parte das atribuições, envolve auxílio ao presidente na questão normativo.

31.5 CONSELHO DA REPÚBLICA


O Conselho da República tem características e competências previstas nos artigos 89 e 90 da CF,
sendo o órgão superior de consulta do presidente sobre a intervenção federal, estado de defesa, estado
de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. Por estas características,
quem compõe o Conselho da República são representantes do poder legislativo e cidadãos indicados pelo
poder legislativo e pelo poder executivo:

Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele
participam:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
VI - o Ministro da Justiça;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois
nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela
Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.

31.6 CONSELHO DE DEFESA NACIONAL


O Conselho de Defesa Nacional também é um órgão de consulta, mas com características e objetivo
diferentes, conforme o artigo 91, §1º da CF. Este conselho é o órgão de consulta do presidente nos
assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, que envolvem a
declaração de guerra e celebração da paz, assim como a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e
da intervenção federal.
Cabe, também, propor critérios e condições de utilização das áreas indispensáveis à segurança
do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas
relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo.
Com relação a sua composição, o artigo 91 estabelece que, por ser um assunto mais intenso e
tenso, deverá ser composto por representantes das Forças Armadas, Ministérios de Justiça e Defesa
Nacional:

Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos
relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como

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membros natos:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - o Ministro da Justiça;
V - o Ministro de Estado da Defesa;
VI - o Ministro das Relações Exteriores;
VII - o Ministro do Planejamento.
VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

32 PODER JUDICIÁRIO
Estudo do poder judiciário, que é um dos assuntos mais extensos no texto constitucional, em razão da
grande complexidade da estrutura deste poder.

32.1 ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO


Como o Brasil é uma estrutura federada, foi necessário criar tribunais com a missão de
uniformizar a jurisprudência no território nacional como um todo. Afinal de contas, se for parar para
pensar, o direito é quase que totalmente nacionalizado ou produzido pela União Federal.

32.1.1 Estrutura Poder Judicário

Essa estrutura é dívida em duas, onde se tem a justiça especializada (TST, TSE e STM), pois tratam
das questões trabalhistas, eleitorais e militares; e a justiça comum (TRF, TJ e Tribunais Militares).
Quanto a justiça especializada, cada uma tem suas próprias 1ª, 2ª e 3ª instância. Deste modo, a justiça
trabalhista é composta pelos juízes do trabalho (primeira instância), Tribunais Regionais Do Trabalho
(segunda instância) e Tribunal Superior Do Trabalho (terceira instância); a justiça eleitoral é composta
por juízes eleitorais (primeira instância), Tribunais Regionais Eleitorais (segunda instância) e Tribunal
Superior Eleitoral (terceira instância). Por fim, a estrutura da justiça militar da União é diferenciada, pois
não conta com uma instância intermediária, sendo composta apenas pelos juízes militares auditores e

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Conselho De Justiça Militar (primeira instância) e o Superior Tribunal Militar (segunda instância).
É importante diferenciar a justiça militar da União, pois alguns estados também possuem sua justiça
militar. Assim, a justiça militar da União envolve as três forças: exército, marinha e aeronáutica.
Quando a justiça comum, é composta pela justiça federal, justiça estadual e justiça militar
estadual, onde cada uma têm seus juízes e seu respectivo Tribunal. Ao se falar em justiça militar
estadual, novamente se tem características especiais e peculiares, pois a justiça militar estadual tem campo
de atuação muito específico que não envolve os militares das três forças. Aqui, envolve polícia militar e
corpo de bombeiros de cada Estado-membro. Entretanto, nem todos os Estados-membros possuem o
Tribunal Militar Estadual e, justamente por isso que, quando não há o Tribunal Militar, quem julgará a
segunda instância nos casos envolvendo policial militar ou corpo de bombeiros será o Tribunal de Justiça
Estadual. Por fim, tanto justiça federal e justiça comum quanto justiça militar estadual têm, como
terceira instância, o Superior Tribunal de Justiça.
Todos os Tribunais Superiores, inclusive o CNJ, tem jurisdição nacional, exercendo controle
sobre decisões, especializadas ou não, de todo o território nacional, para uniformizar a jurisprudência.
Assim, todos os tribunais de segunda instância estão afetos a algum destes Tribunais Superiores. E, se for
no campo administrativo, todos, inclusive os Tribunais Superiores, estão afetos ao CNJ, menos o STF.

O esquema acima representa todos os órgãos do poder judiciário que recebem verba pública da
União. Percebe-se que os únicos órgãos que não recebem verba da União Federal, são as estruturas do poder
judiciário cuja responsabilidade orçamentaria advém de cada Estado-membro, quais sejam, as Justiças
Estaduais.

32.1.2 Competência da Justiça Federal


Uma vez que a justiça federal tem sua competência tem regras constitucionais determinantes, é
importante estuda-la de forma detalhada. Deste modo, como já dito, toda matéria que não for especializada
ou de competência da justiça federal, será tratada na justiça comum estadual. A competência dos juízes

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federais está prevista no artigo 109 da CF.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na
condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e
as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Nota-se que a segunda parte do dispositivo que se trazem as exceções, onde, quem julgará é a justiça
especializada ou a justiça comum. São exemplos de pessoas jurídicas de direito público, capazes de acarretar
a competência da Justiça Federal: Instituto Nacional do Seguro Social (autarquia federal), Banco Central
do Brasil (autarquia federal). Já as pessoas jurídicas de direito privado, capazes de acarretar a competência
da Justiça Federal são, como exemplo, a Caixa Econômica Federal (empresa pública federal), Correios e
Telégrafos (empresa pública federal).
Deve-se ressaltar que, as sociedades de economia mista, ainda que federais, não têm foro perante a
Justiça Federal. Outras competências dos juízes são:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
II) as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou
residente no País.
III) Aos juízes federais compete processar e julgar as causas fundadas em tratado ou contrato da União
com Estado estrangeiro ou organismo internacional.
IV) os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada
a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.

O inciso IV trata de juízo criminal. Não se tratando de crimes propriamente militares e eleitorais,
todos os demais crimes que se coadunem com o conceito de crime político serão de competência da Justiça
Federal de primeira instância. Observação importante é que, no caso de crimes políticos, não há previsão
de apelação, pois o único recurso cabível é o recurso ordinário perante o STF.
Crimes praticados por servidores federais no exercício das funções e crimes praticados contra
servidores federais em razão da função são da competência da Justiça Federal. A competência em questão
é fixada em razão da pessoa. Dessa forma, não há falar em eventual discussão a respeito da natureza do
delito. Evidentemente que devemos excluir a competência para processo e julgamento dos crimes de
competência da Justiça Eleitoral, da Militar, bem como para o julgamento das contravenções penais.
O artigo estabelece uma quinta competência para os juízes:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
V) os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

O tráfico internacional, assim como o tráfico de pessoas, é da competência da Justiça Federal.


Caso haja desclassificação da traficância internacional para o tráfico interno, a competência passa a ser da
Justiça Estadual.

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Outros crimes da competência da Justiça Federal porque previstos em tratados ou convenções
são: genocídio, publicações obscenas, danificações em cabos submarinos, praticados a bordo de aeronaves,
atos ilícitos de violência em aeroportos que prestem serviços de aviação internacional, contra a segurança na
aviação, contra pessoas que gozam de proteção internacional, tomada de reféns.
A sexta competência da justiça federal estabelece que, havendo a federalização dos crimes
praticados contra os direitos humanos, de acordo com o § 5˚ do artigo 109 da CF, o magistrado federal
passa a ser o competente para instrução e julgamento dos processos:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
V-A) as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º do art. 109 da CF.
VI) os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira.

Não são todos os crimes cometidos contra o sistema financeiro sujeitos à competência da Justiça
Federal, porquanto a regra constitucional refere-se apenas aos “casos definidos por lei”. Os crimes de
lavagem de dinheiro são da competência da Justiça Federal quando: a) praticados contra o sistema
financeiro e a ordem econômica, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, suas entidades
autárquicas ou empresas públicas; e b) o crime antecedente for de competência da Justiça Federal.
As últimas hipóteses de competência da justiça federal, conforme o artigo 109, são:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
VII) os habeas-corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição.
VIII) os mandados de segurança e os habeas-data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais.
IX) os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar.
X) os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o
"exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive
a respectiva opção, e à naturalização.
XI) a disputa sobre direitos indígenas.

32.1.3 Composição do Poder Judiciário


Em termos de composição, deve se lembrar que, toda vez que houver nomeação ao tribunal, cuja
ingerência orçamentária for da União Federal, a nomeação será feita pelo presidente da república. No
caso da justiça dos Estados-membros, a nomeação é feita pelo governador.
Para a composição do poder, a forma de ingresso, em regra, é o concurso público de provas e
títulos. Outro critério de acesso é a promoção por antiguidade ou por merecimento. Aqui é a promoção
na carreira, onde o mais comum é ser promovido pela sua experiência, tanto de antiguidade quanto de
merecimento. Vale lembrar que a promoção só é feita para aqueles que já ingressaram no poder
judiciário, não sendo uma forma de ingressar e tomar posse de um cargo público pela primeira vez.
Além do concurso e da promoção, existe o critério de escolha e o critério de eleição. O judiciário

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também é composto por pessoas que vêm de fora do sistema judiciário e que são indicadas e escolhidas,
ou são eleitas. Normalmente, as escolhas são feitas para integrar tribunais de segunda instancia federal,
estadual e trabalhista, ou tribunais superiores, STF e CNJ. E a eleição é feita para integrar as cortes
eleitorais.

A escolha de segunda instância envolve o chamado quinto constitucional, que nada mais é do que
uma porcentagem de 20% da composição dos tribunais que é destinado a integrantes do judiciário que
vêm de fora, que são oriundas de outras duas profissões: advocacia ou carreira do Ministério Público, que
não passaram no concurso de primeira instância e obviamente não foram promovidos. Tanto um,
quanto outro, precisa ter pelo menos 10 anos de carreira em sua carreira para serem indicados, ou pela
OAB, ou pelo Ministério Público. Essa indicação será de seis nomes, que, posteriormente, será enviada ao
tribunal de segunda instância que escolherá três destes nomes, encaminhando-os ao presidente da
república que, então, escolherá o nome de quem irá assumir o cargo, para o caso de TRF e TRT, pois em
caso de TJ, quem faz a escolha é o governador do Estado.

O critério de escolha para os Tribunais Superiores é diferente. O STJ tem regra diferente, onde é
composto por 1/3 de integrantes da magistratura federal por promoção da carreira, 1/3 por integrantes
da magistratura estadual por promoção da carreira e 1/3 por integrantes da OAB e membros do

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Ministério Público. Para o TST, vale a regra do 1/5 para OAB ou Ministério Público, sendo, todas as
outras vagas reservadas para juízes trabalhistas. O TSE é integrado por dois integrantes da OAB, fora
os demais que integram o TSE por eleição. Para o STM, é composto por 4 representantes do Exército, 3
representantes da Marinha, 3 representantes da Aeronáutica, 3 representantes da OAB, 2 juízes
auditores e 2 membros do Ministério Público. Como se está a falar de Tribunais Superiores, sempre
haverá a nomeação por parte do presidente da república, e aprovação pelo Senado Federal.

 Lista sêxtupla formada pela entidade + lista tríplice


formada pelo próprio Tribunal
 Lista tríplice formada pelo próprio Tribunal
 Escolha realizada pelo STF

Para o STF, o critério de escolha se vale de duas regras: mais de 35 anos de idade, notório saber
jurídico, brasileiro nato e reputação ilibada. A nomeação será pelo presidente, dependendo de sabatina e
aprovação no Senado Federal.
A escolha também envolve os representantes do CNJ. São quinze integrantes, sendo que o Ministro
do STF é membro nato do CNJ, não existindo eleição para presidência do CNJ, pois o presidente é,
automaticamente, o presidente do STF. Como o presidente do CNJ é membro nato, não se fala em sabatina
para este, diferentemente do que acontece para todos os outros. Em todos os outros casos, precisa haver
nomeação pelo presidente e aprovação pelo Senado Federal (sabatina).
Por fim, a eleição, que envolve apenas a justiça eleitoral do TSE, quando dentro do STF se
escolhem 3 ministros para integrar o TSE. A mesma coisa acontece no STJ, elegendo 2 ministros para que
exerçam concomitantemente as funções de ministros do STJ e do TSE.
A eleição para TRE, em cada estado, é feita para a composição do órgão que, além dos advogados
indicados e escolhidos, contém2 desembargadores do TJ, 2 juízes de direito e 1 juiz federal, todos eleitos
ao molde da constituição e legislação ordinária.

32.2 COMPETÊNCIAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


O STF é composto por onze ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de 35 anos e menos de

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65 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, sendo nomeados pelo presidente da república, após
a aprovado do Senado Federal. A segurança jurídica é papel fundamental do STF, estando presente em
todas as competências da Suprema Corte.

32.2.1 Corte Constitucional


Necessidade de se proteger a essência de uma constituição fez com que fosse necessário o controle
de constitucionalidade. A Corte constitucional é responsável pela palavra final no controle de
constitucionalidade dentro do sistema jurídico brasileiro, que é, o STF. Toda vez que for falar de controle
de constitucionalidade, é necessário falar da supremacia da Constituição, sobre o órgão independente para a
guarda da Constituição e os efetivos mecanismos de controle.
Assim, como Corte Constitucional, compete ao STF processar e julgar, originariamente a ação
direita de inconstitucionalidade (ADIN) de lei ou ato normativo federal ou estadual, e a ação direta de
constitucionalidade (ADC), não sendo viáveis para lei ou ato normativo municipais.
Também, o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição do presidente, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das
Mesas de uma das Casas, do TCU, de um dos Tribunais Superiores ou do próprio STF. Desta forma,
quando o mandado de injunção for de competência da União, quem julgará é o STF.

32.2.2 Alta Corte de Justiça


O segundo aspecto das atividades do STF, seria este chamado de Alta Corte de Justiça, pois neste
caso o STF está analisando fatos, diferentemente de quando exerce Corte Constitucional, onde só analisa
questões de direito ligadas à Constituição Federal. Está fazendo justiça ao caso concreto, pois está
exercendo competência originária. Assim, compete ao STF processar e julgar originariamente, nas
infrações penais comuns, o presidente, o vice-presidente, os membros do Congresso Nacional, os seus
próprios Ministros e o procurador-geral da república, além de julgar, nas infrações penais comuns e nos
crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, Exército e
Aeronáutica (com exceções dispostas no artigo 52, I da CF), os membros dos Tribunais Superiores, os
membros do TCU e os chefes de missão diplomática de caráter permanente. Se está a tratar, como se
percebe, de foro por prerrogativa de função, onde a competência originária será do STF para julgar e
processar os fatos das autoridades da república.
Ainda, compete processar e julgar originariamente habeas corpus de qualquer das pessoas já
mencionadas, mandado de segurança e habeas data contra atos do presidente, das Mesas da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal, do TCU, do procurador-geral da União e do próprio STF. Aqui,
trata-se de instrumentos de garantia constitucional, mas cuja decisão fará o controle do ato praticado pelas
autoridades, jamais aplicando pena a estas. Se houver a necessidade de aplicação de pena, estará se falando
da primeira hipótese tratada, onde há o foro por prerrogativa de função.

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Por fim, deverá processar e julgar o habeas corpus quando o coator for Tribunal Superior ou,
ainda, quando o coator ou paciente for autoridade/funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à
jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância.

32.2.3 Instância Necessária


É o terceiro papel do STF, pois este processa e julga originariamente ação em que todos os
membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados e aquela ação em que mais da
metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente
interessados. Isso significa que a decisão deve ser tomada por alguém e a alternativa é elevar a discussão ao
nível do STF.
Além disso, deve processar e julgar originariamente os conflitos de competência entre o STJ e
qualquer outro tribunal, entre os Tribunais Superiores ou, ainda, entre estes e qualquer outro tribunal.
Os conflitos de atribuição podem envolver várias situações, entre vários tribunais. Sempre que houver esse
conflito, dentro da complexidade organizacional do poder judiciário, cabe ao STF julgar este conflito e
estabelecer qual a corte que tem competência para o caso concreto.
Compete, também, ao STF, como instância necessária, julgar originariamente as ações contra o
CNJ e contra o Conselho Nacional do Ministério Público, porque o CNJ está na cúpula do STF e está
acima de todos os outros órgãos do sistema jurídico nacional, e quanto ao Ministério Público, porque na
estrutura organizacional do Ministério Público da União, a única entidade que está acima do Conselho
Nacional do Ministério Público é o STF.

32.2.4 Guardião da Constituição


É a quarta competência e função do STF, sendo que o órgão surgiu com está missão principal,
quando a forma federativa foi inaugurada, na Constituição de 1891. Como guardião da Constituição, compete
ao STF processar e julgar originariamente o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo
internacional e entidades federadas na nossa república, quais sejam, União, Estados, Distrito Federal ou o
Território. Quando o litígio envolver o Município, quem processará e julgará não é o STF.
Deve processar e julgar originariamente as causas e conflitos entre a União e os Estados, entre a
União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração
indireta. Assim, qualquer litígio entre as entidades federadas, mesmo que entre autarquias da União, dos
Estados e dos Municípios, quem julgará é o STF, pois é um conflito federativo.
Ainda, cabe julgar, em recurso ordinário, o crime político. O artigo 109 da CF estabelece que cabe
aos juízes federais, em primeira instância, julgar os crimes políticos. Isso significa que, não se fala em
apelação ou em recurso em sentido estrito. Só se fala em caminho direto para o STF, sendo, este, a segunda
instância, através de recurso ordinário.
Por fim, é de competência do STF, o processamento e julgamento de recurso extraordinário

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acerca de causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida julgar válida lei local
contestada em face de lei federal

32.3 ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA


Exerce papel administrativo disciplinar, não exercendo jurisdição. Por tal motivo, não há que se
falar em competência do CNJ, mas sim atribuições normativas, administrativas e disciplinares. Todos
esses papeis envolvem todos os tribunais do país, menos o STF.
Desempenha os seus papéis a partir de uma visão aberta do sistema jurídico, analisando-o como um
todo. O perfil do CNJ é muito mais que disciplinar. Chegam no CNJ reclamações de cidadãos descontentes
com a justiça ou apontando irregularidade séria por parte de cartórios, juízes ou servidores. Cabe ao
CNJ, via corregedoria nacional de justiça, analisar as irregularidades e aplicar as punições quando
necessário. Mas a atuação da corregedoria não é primária, sendo importante que as reclamações transitem
pelos tribunais de origem e, apenas se nestes não houver o funcionamento que a corregedoria será
chamada.
O CNJ foi criado com a promulgação da EC45 em 2004, sendo um órgão especificamente
destinado a estudar, compreender e controlar o judiciário em termos estratégicos e de orçamento, além
de controlar servidores em questões disciplinares.
Conta com integrantes conselheiros de todas as instâncias e tribunais. O CNJ também é composto
por conselheiros de fora do judiciário, 2 advogados indicados pelo Conselho Federal da OAB, 2 cidadãos de
reputação ilibada, um indicado pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal, representando o
interesse dos Estados. Além disso, também é integrado por um conselheiro do Ministério Público da União
e um que vem do Ministério Público dos Estados. Composto por 15 integrantes, com o membro nato do
STF. O ministro do STF deve ser o presidente do STF que, consequentemente, presidirá o CNJ como
membro nato, não sendo feita a sua escolha. Os outros 14 membros são oriundos de escolha. Além disso,
todos, a exceção do ministro do STF, são nomeados pelo presidente e aprovados pelo Senado Federal por
maioria absoluta, conforme o artigo 103-B da CF. É graças a composição heterogênea que se entende que
o CNJ pratica grandes decisões plenárias, pois são decisões que partem também de pessoas da
sociedade.
A CF/88 parte do princípio do livre acesso ao judiciário, que é a maior virtude no poder judiciário,
mas também causa o maior problema em nível estratégico. Como consequência, deve se dar conta da saída
dos processos. Se a cada ano entra X processos, deve se conseguir retirar do sistema, naquele ano, X
processos, mas que é praticamente impossível fazê-lo. Então, o CNJ tem o papel de perceber o local com
maior demanda e, assim, designar maior numero de servidores e de orçamento para aquele local, realizando o
diagnostico do poder judiciário. Faz, assim, a distribuição orçamentária de tribunais de justiça e fóruns
estaduais, priorizando o primeiro grau de jurisdição, que é o local onde mais se alocam processos,
necessitando de maior número de servidores e de orçamento.

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Também prática atuação estruturante, uma vez que não existe política de poder judiciário macro
sem a certeza que se está a praticar uma política estruturante. Ou seja, do CNJ, os magistrados esperam
que haja uma ação estruturante de auxílio, de orientação, estratégia e planejamento para o poder
judiciário ser cada vez melhor.
O CNJ pratica as políticas de indução, sendo uma de suas atribuições. Para além do disciplinamento
e fiscalização, o CNJ pratica a indução de boas práticas, premiando e induzindo a continuidade destas.
Evidentemente, tem, ao seu dispor, o exercício do poder normativo e regulamentar dentro do sistema
judiciário brasileiro. Assim, tendo condições, via decisão plenária, o CNJ pode e deve publicar e
confeccionar atos normativos (resoluções) que devem ser respeitadas por todo o poder judiciário, a
exceção do STF, que está acima do CNJ. Uma das políticas de indução são as metas do poder judiciário,
que devem ser cumpridas pelos magistrados, e, também a premiação dos melhores tribunais e que melhor
se adaptam e se aliam as resoluções e políticas do CNJ.
Tudo isso com o grande objetivo de mudança de cultura no poder judiciário. Todas as funções
devem ser praticadas e organizadas com o objetivo muito evidente de mudança de cultura no poder
judiciário. A justiça restaurativa foi criada pelo CNJ, aqui no Brasil, resolvendo questões de forma
conciliatória, amigável e pacífica, sem utilizar a força do Estado, como forma de mudar a cultura e caminha,
aos poucos, para a diminuição da utilização do poder judiciário.
É importante que a população brasileira seja empoderada das possibilidades de resolver seus
próprios problemas, sem ser necessário a utilização do poder judiciário para qualquer assunto, utilizando a
mediação e conciliação. É necessário encontrar soluções a partir do ensino da população de que muitas
coisas podem ser resolvidas fora do judiciário e manter na justiça os grandes problemas que afligem a
sociedade. O CNJ também financia pesquisas em instituições sem fins lucrativos para, através de olhar
empírico, ter mais dados do sistema jurídico brasileiro.

32.4 GARANTIAS DA MAGISTRATURA


Uma das afirmações mais importantes dos Federalistas é a de que a constituição deste novo sistema
proposto não queria abolir os governos estatais, mas sim fazer deles partes constituintes da soberania
nacional, permitindo a eles a direta representação no Senado e deixando, em sua posse, exclusivas e
importantes porções de sua soberania estatal. Os federalistas se baseiam em Montesquieu, mas em algum
momento afirmam que o que eles propõem é algo novo, uma estrutura federativa, com a participação dos
Estados na Câmara Alta, ou seja, no Senado.
A partir do momento em que criam a Federação, acredita-se que deve haver limites ao exercício do
poder legislativo. Limitações desse tipo devem ser preservadas na prática, não de outra maneira, se não
através da mediação de cortes de justiça, cujo dever é de declarar atos contrários ao manifesto teor da
Constituição, inválidos. Sem isso, todas as reservas de direitos particulares ou privilégios, resultam, em
nada. Isso significa que, pela primeira vez, o poder judiciário é posto em mesmo nível hierárquico que

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legislativo e executivo.
As cortes de justiça devem ser consideradas como barreiras protetoras de uma Constituição
limitada contra desrespeitos legislativos e esta é uma consideração que justifica um forte argumento para a
vitaliciedade dos juízes. Ao empoderar os juízes de uma responsabilidade até então desconhecida (controle
dos poderes), estes passam a precisar de mais garantias. Sendo assim, é nesse momento que surge a
vitaliciedade dos juízes.
Fica demonstrado, então, que a justiça federal é desenhada para ser o foro competente de todas as
demandas em que se encontre, no polo passivo ou ativo, a União Federal, surgindo nos EUA pelos
Federalistas. Os juízes federais americanos faziam o controle de legalidade das leis estaduais quando
confrontadas com o sistema federal.
Para analisar o federalismo no Brasil, é necessário fazer uma breve análise quanto às duas primeiras
Constituições do país, por conta do modelo de Estado adotado. A Constituição Imperial, que regulamentava
a independência, trouxe e estipulou um modelo de Estado Unitário, onde existia apenas uma fonte
irradiadora de leis, um poder executivo junto com um poder legislativo.
Já a Constituição de 1891 declara que, as antigas províncias passam a ser estados federados,
atribuindo-se autonomia legislativa e administrativa a estes, como também o poder de estabelecer as suas
próprias constituições. Essa Constituição foi promulgada aproximadamente 100 anos depois da Constituição
dos EUA e inaugurou o Estado Federado na República do Brasil.
Embora o Brasil tenha a base americana de modelo federado, as relações entre União e Estados-
membros é diferente, em termos de intensidade da autonomia estadual. Os estados americanos eram
soberanos e abriram mão de sua soberania no momento em que passaram a fazer parte de uma federação,
então muito de autonomia legislativa e executiva ficou com cada estado. Com relação ao sistema brasileiro,
embora importado o modelo de federação, nunca se teve estados soberanos. Sempre se foi considerado um
todo, dividido por questões de época. O fato é, que pelos estados brasileiros nunca terem tido soberania, estes
ficam muito abaixo da União Federal.
O fato é que a federalização e a Constituição Federal trouxeram garantias ao magistrado. Essas
garantias são inerentes à pessoa ou ao cargo? São inerentes ao cargo, afinal, todos são passageiros dos
cargos que ocupam. O Decreto 848/1890 criou a justiça federal, o STF e empoderaram os juízes como
competentes para a guarda da Constituição e das leis nacionais. Também trouxe duas garantias
elementares, que até hoje estão no texto constitucional, quais sejam, vitaliciedade e a inamovibilidade dos
juízes. A terceira garantia não é literal no decreto, mas estava presente nos papeis dos federalistas, que é a
irredutibilidade de vencimentos. O corpo de magistrados não pode ficar a mercê da boa vontade e das
pressões oriundas do legislativo, uma vez que tem poder de controlar os atos deste próprio poder.
As garantias atribuídas aos magistrados visam à imparcialidade dos veredictos. A vitaliciedade é a
impossibilidade de o magistrado ser exonerado do cargo. A regra só é válida para os juízes de primeiro
grau. Assim, são vitalícios desde o momento da posse: Ministros dos Tribunais Superiores,

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Desembargadores dos Tribunais Regionais e Desembargadores dos Tribunais de Justiça. Ainda, conforme a
garantia da inamovibilidade, o magistrado não pode ser removido, a não ser que assim deseje ou haja
relevante interesse público. Perceba-se que não se trata de uma regra absoluta.

32.4.1 Deveres da Magistratura


Diferentemente das garantias, os deveres são direcionados ao magistrado como indivíduo, e não ao
cargo. As vedações impostas aos magistrados têm como principal objetivo proteger a própria jurisdição.
Aos juízes é vedado, conforme o artigo 95 da CF:

a) exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
b) receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
c) dedicar-se à atividade político-partidária;
d) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas
ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;
e) exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do
afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.

Os juízes não podem advogar na unidade jurisdicional em que se aposentaram. Então se o juiz é
de são Paulo capital, não pode advogar por três anos na comarca de São Paulo, podendo o fazer em outras
comarcas pelo Brasil. Agora, se for juiz de Tribunal Superior, como ministro do STJ, não poderá atuar
como advogado por três anos em qualquer comarca do país.
Quanto ao exercício da função de magistério, o CNJ aprovou a Resolução 226/2016, atualizando a
Resolução 34/2007. Em linhas gerais, o exercício de docência “[...] pressupõe compatibilidade entre os
horários fixados para o expediente forense e para a atividade acadêmica”, sendo “[...] vedado o desempenho
de cargo ou função administrativa ou técnica em estabelecimento de ensino” e necessária a comunicação
formal ao órgão competente do Tribunal, mediante registro eletrônico em sistema por ele desenvolvido, com
a indicação da instituição de ensino, do horário e das disciplinas ministradas”.
Ainda falando de CNJ, de acordo com alguns precedentes e interpretando as vedações do artigo acima
referido, o órgão tem que juízes não podem atuar em justiça desportiva, serem grão-mestre na

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Maçonaria, seres dirigentes de ONGs, APAES, dirigentes de sociedade espírita ou rosa-cruz, nem
dirigente de instituição de ensino.
A participação de magistrados na condição de palestrante, conferencista, presidente de mesa,
moderador, debatedor ou membro de comissão organizadora, inclusive nos termos do artigo 4º da
Resolução CNJ 170/2013, é considerada atividade docente, para os fins da Resolução 34/2007, devendo
ser informada ao órgão competente do Tribunal respectivo em até 30 (trinta) dias após sua realização,
mediante a inserção em sistema eletrônico próprio, no qual deverão ser indicados a data, o tema, o local e a
entidade promotora do evento.
As atividades de coaching, similares e congêneres, destinadas à assessoria individual ou coletiva de
pessoas, inclusive na preparação de candidatos a concursos públicos, não são consideradas atividade
docente, sendo vedada a sua prática por magistrados (Resolução 34/2007).
Não é demais destacar o posicionamento do STF:

[...] o objetivo da restrição constitucional é o de impedir o exercício da atividade de magistério que


se revele incompatível com os afazeres da magistratura. Necessidade de se avaliar, no caso concreto,
se a atividade de magistério inviabiliza o ofício judicante. [...]. 20

32.5 ESTATUTO CONSTITUCIONAL DA MAGISTRATURA


A imparcialidade é a principal característica dos juízes brasileiros, devendo ser mantida durante todo
o processo. Essa imparcialidade tem garantias, como o próprio cargo. A primeira garantia é o ingresso por
concurso público como regra. No caso do poder judiciário, concurso público de provas (objetiva, escrita, de
sentença e avaliação moral) e de títulos. A segunda garantia é a inafastabilidade da jurisdição, pois, assim
como os juízes são vitalícios, a jurisdição é inafastável. E, por fim, a terceira garantia é o princípio do juiz
natural é aquele que já detém competência para o julgamento de qualquer ato praticado. Se a pessoa
comete crime, só poderá ser julgado por juízes que já são juízes por ocasião do ato de julgamento. Não se
adite no sistema é o ato de escolha deste ou daquele juiz, para julgar esta ou aquela pessoa, pois estes já têm
prévia competência, não sendo removidos para julgar este ou aquele caso.
A imparcialidade deve significar a distância dos interesses das partes, apenas. Mas os juízes têm
seus valores, com seu senso de justiça, estando atendo a realidade social.

20Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada contra a Resolução no 336, de 2.003, do Presidente do Conselho da
Justiça Federal, que dispõe sobre o acúmulo do exercício da magistratura com o exercício do magistério, no âmbito
da Justiça Federal de primeiro e segundo graus. 2. Alegação no sentido de que a matéria em análise já encontra
tratamento na Constituição Federal (art. 95, parágrafo único, I), e caso comportasse regulamentação, esta deveria vir
sob a forma de lei complementar, no próprio Estatuto da Magistratura. 3. Suposta incompetência do Conselho da
Justiça Federal para editar o referido ato, porquanto fora de suas atribuições definidas no art. 105, parágrafo único, da
Carta Magna. 4. Considerou-se, no caso, que o objetivo da restrição constitucional é o de impedir o exercício da
atividade de magistério que se revele incompatível com os afazeres da magistratura. Necessidade de se avaliar, no
caso concreto, se a atividade de magistério inviabiliza o ofício judicante. 5. Referendada a liminar, nos termos em que
foi concedida pelo Ministro em exercício da presidência do Supremo Tribunal Federal, tão-somente para suspender a
vigência da expressão "único (a)", constante da redação do art. 1o da Resolução no 336/2003, do Conselho de
Justiça Federal (ADI 3126 MC, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 17/02/2005, DJ 06-05-
2005 PP-00006 EMENT VOL-02190-01 PP-00186 RTJ VOL-00193-03 PP-00888)

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32.5.1 Ingresso na Carreira
O ingresso na carreira, cujo cargo inicial é o de juiz substituto, ocorre mediante concurso público
de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-
se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à
ordem de classificação

32.5.2 Promoção na Carreira


A promoção de magistrados na carreira envolve dois critérios: antiguidade (o mais antigo é
promovido) e merecimento. Quanto ao merecimento, existem várias regras, especialmente decorrentes da
EC 45:

a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista
de merecimento;
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o
juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem
aceite o lugar vago;
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e
presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou
reconhecidos de aperfeiçoamento.
d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto
fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada ampla
defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação;
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal,
não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão.

A questão do merecimento envolve múltiplas variáveis. O tribunal, quando faz a sessão solene de
escolha, primeiro deve selecionar os candidatos apenas que figurem no primeiro quinto de antiguidade.
Assim, se são 100 juízes na instância, estes serão divididos em cinco grupos e só podem concorrer por
merecimento os vinte juízes integrantes do primeiro quinto de antiguidade. Essa regra só deixa de ser
aplicável se neste grupo não tiver nenhum magistrado a se inscrever para ser promovido por
merecimento.
Já por antiguidade, o juiz mais antigo é promovido quando a vaga disponível pressupor a
promoção por antiguidade, via de regra. Entretanto, há a permissão ao tribunal para rejeitar a promoção
do mais antigo, desde que haja voto fundamentado de 2/3 do tribunal, sendo uma votação aberta, solene e
pública e sendo assegurada a ampla defesa.
Para ambos os critérios, não será promovido o juiz que, injustificadamente retiver autos em seu
poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão.

32.5.3 Participação em Cursos Oficiais de Treinamento e Aperfeiçoamento


A CF, em seu artigo 93, IV, determina a previsão de cursos oficiais de preparação,
aperfeiçoamento e promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de

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vitaliciamento a participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e
aperfeiçoamento de magistrados.
Note-se que a frequência em cursos não constitui apenas requisito para promoção por
merecimento, mas também para fins de vitaliciamento. Não é critério para promoção por antiguidade,
uma vez que este critério é objetivo, sem ponderação ou análise de outros critérios, como acontece na
promoção por merecimento.

32.5.4 Subsídio
De acordo com o artigo 93, V da CF, o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores deve
corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo
Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível
federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a
diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a
noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores (artigo 37, XI da
CF). O valor do subsídio será fixado em parcela única, sendo vedados acréscimos remuneratórios. Sendo
assim, as parcelas indenizatórias não são computadas para fins de teto do subsídio.
A regra de escalonamento, como visto, o subsídio dos ministros dos tribunais superiores equivale a
noventa e cinco por cento do subsídio de ministros do STF. A partir do STJ, a CF admite que haja o
pagamento escalonado a partir de cada instância. A diferença de subsídio de uma instância para outra,
deste modo, não pode ser superior a 10%, nem inferior a 5%.
O Poder Constituinte Derivado criou o que se optou por chamar de subteto de magistrados estaduais,
fazendo com que os subsídios dos Juízes Federais, calculados com base no artigo 93, V (e, portanto, a partir
de 95% dos subsídios dos Ministros do STF) fossem diferentes dos subsídios dos Juízes de Direito,
calculados com base no artigo 37, XI e § 12 (e, portanto, a partir de 90,25% dos subsídios dos Ministros do
STF).
A situação perdurou até o julgamento de Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade
3.854/DF, ocasião em que o STF decidiu que subtetos estaduais devem seguir a regra geral, onde a
diferença entre instâncias deve ser de 5% no mínimo e de 10% no máximo.

32.5.5 Residência do Magistrado


Via de regra, o juiz titular deve residir na respectiva comarca, salvo autorização do tribunal. O fato
de o magistrado ter de residir na comarca não induz à necessidade de autorização do tribunal toda vez em que
o magistrado pretenda deixar temporariamente o local onde exerce jurisdição.21

21 “[...] Residência do magistrado na respectiva comarca: matéria própria do Estatuto da Magistratura: C.F., art. 93, VII; LOMAN, Lei Complementar 35/79, art. 35, V. III. -
Regimento Interno do Conselho Superior da Magistratura do Ceará, art. 13, XII, e: restrição quanto à liberdade de locomoção dos magistrados: necessidade de autorização
para que os juízes residentes nas comarcas e circunscrições judiciárias do Estado possam delas se ausentar: inconstitucionalidade. IV. - ADI julgada procedente” (BRASIL.
Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.753/CE. Relator: Ministro Carlos Velloso. Brasília, 26 fev. 2003. Diário de Justiça da União,
11 abr. 2003, p. 26).

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32.5.6 Remoção, Permuta, Aposentadoria e Disponibilidade
Os três atos envolvem mudar o juiz de competência, de jurisdição ou mudar a residência do
magistrado. Para que haja tal ato, existe garantia institucional, onde o ato de remoção, disponibilidade e
aposentadoria do magistrado, por interesse público, deverá ter decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.

32.5.7 Publicidade e Fundamentação das Decisões


Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário devem ser públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença,
em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação.
Assim, o sigilo da decisão é uma exceção, devido à necessária conformação do direito à intimidade
do interessado com o interesse público à informação. Trata-se de cláusula aberta a ser decidida atendendo-se
às peculiaridades de cada caso concreto.
As decisões administrativas dos tribunais devem ser motivadas e em sessão pública, sendo que,
quando se tratar de decisões disciplinares, além de publicidade e fundamentação motivadas em sessão
pública, sempre será necessária a maioria absoluta de seus membros.

32.5.8 Atividade Jurisdicional


A atividade jurisdicional é ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de
segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão
permanente. Significa que, durante as vinte e quatro horas do dia, sempre haverá juízes em plantão, para
as urgências.
Além disso, se espera que o número de juízes na unidade jurisdicional deve ser proporcional à
efetiva demanda judicial e à respectiva população. Deste modo, quanto maior a demanda e a
população, maior o número de juízes.
Os servidores podem receber delegação para a prática de atos de administração e atos de mero
expediente sem caráter decisório. Neste aspecto o Constituinte Derivado (EC 45/2004) passou a legitimar
oficialmente o que já acontecia na prática: o fato de servidores procederem à movimentação processual
independentemente de despacho de mero expediente sem caráter decisório.
Por fim, a distribuição de processos deve ser imediata, em todos os graus de jurisdição. Não
podendo se aguardar que a petição seja distribuída em um ou dois dias após o seu protocolo.

32.5.9 Quinto Constitucional


Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do
Distrito Federal e Territórios deve ser composto por membros do Ministério Público, com mais de dez anos

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de carreira, e por advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de
efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas
classes.
A escolha de segunda instância, assim, envolve o chamado quinto constitucional, que nada mais é
do que uma porcentagem de 20% da composição dos tribunais que é destinado a integrantes do
judiciário que vêm de fora, que são oriundas de outras duas profissões: advocacia ou carreira do
Ministério Público, que não passaram no concurso de primeira instância e obviamente não foram
promovidos. Tanto um, quanto outro, precisa ter pelo menos 10 anos de carreira em sua carreira para
serem indicados, ou pela OAB, ou pelo Ministério Público. Essa indicação será de seis nomes, que,
posteriormente, será enviada ao tribunal de segunda instância que escolherá três destes nomes,
encaminhando-os ao presidente da república que, então, escolherá o nome de quem irá assumir o cargo, para
o caso de TRF e TRT, pois em caso de TJ, quem faz a escolha é o governador do Estado.
Essas listas transformam-se em tríplices no tribunal em que há a vaga sob disputa, sendo somente
então submetidas ao Chefe do Executivo para a escolha de um dos integrantes para nomeação. O chefe
do executivo não é obrigado a fazer a escolha acaso a lista não esteja completa com três indicações.
Interessante notar que somente em relação aos tribunais de segundo grau e ao Tribunal Superior
do Trabalho existe a previsão do quinto constitucional. Para o Supremo Tribunal Federal, por exemplo,
não há exigência alguma de que parte dos ministros seja composta de egressos do Ministério Público ou da
advocacia.

32.5.10 Competências Administrativas dos Tribunais


O artigo 96 da CF trata de questões administrativas a cargo dos tribunais, tais como eleição de
seus órgãos diretivos, elaboração de seus regimentos internos, provimento de cargos, proposição para criação
de novas varas judiciárias, provimento de concursos para os respectivos cargos, concessões de licenças,
férias, e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente
vinculados. Trata-se de competência privativa.

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Embora a literalidade do artigo 96 da CF trate apenas da criação de novas varas judiciárias, nada
impede que os tribunais disponham sobre a especialização de varas já criadas.
Segundo o artigo, o Supremo Tribunal Federal, os Tribunais Superiores e os Tribunais de Justiça
também detêm a competência privativa para propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto
no artigo 169 da CF:

a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores;


b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes
forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais
inferiores, onde houver;
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; e
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias.

Compete privativamente aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Trata-se de hipótese de foro por prerrogativa de função.
Tratando-se de magistrados federais e membros do Ministério Público da União, o tribunal
competente é o respectivo Tribunal Regional Federal, nos termos do artigo 108, I, a da CF:

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:


I - processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho,
nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral.

32.5.11 Autonomia Administrativa e Financeira


Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. Os tribunais devem
elaborar suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais
Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.
O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: no âmbito da
União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos
respectivos tribunais; no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos
Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais.

32.5.12 Reserva de Plenário


Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão
especial poderão, os tribunais, declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, conforme o artigo 97 da CF.
Sobre o tema, o STF editou a Súmula Vinculante 10:

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Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de Tribunal que,
embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público,
afasta sua incidência, no todo ou em parte.

32.6 MINISTÉRIO PÚBLICO


O Ministério Público é encontrado em todas as justiças, sejam elas comuns ou especializadas,
atuando em todas as instâncias sempre. Sendo admitida, inclusive, a sua atuação, no CNJ e STF. É instituição
permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, art. 127). Se houver caso de
disponibilidade do interesse, quem atuará é a Defensoria pública, não o ministério Público. Ainda, são
princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional (CF,
art. 127, § 1º).

32.6.1 Autonomia Funcional e Administrativa


Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o
disposto no artigo 169 da CF, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços
auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória
e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento, conforme o artigo 127, § 2º,
da CF.
Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do prazo
estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo deve considerar, para fins de consolidação
da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com
os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. Já, se a proposta orçamentária for encaminhada em
desacordo com os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo deverá proceder
aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual.
Durante a execução orçamentária do exercício, não pode haver realização de despesas ou assunção de
obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente
autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.
As regras de autonomia funcional e administrativa relativas ao Ministério Público são praticamente
idênticas às regras de autonomia administrativa e financeira relativas ao Poder Judiciário, previstas no artigo
99 da CF.

32.6.2 Abrangência do Ministério Público


Tendo em vista os princípios institucionais da unidade e indivisibilidade, o Ministério Público é uno,
não estando, portanto, repartido em órgãos. Esta unidade chamada de MP abrange, de acordo com o artigo
128 da CF:
a) o Ministério Público da União, que compreende o Ministério Público Federal, o Ministério Público
do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;

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b) os Ministérios Públicos dos Estados.
O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo
Presidente da República entre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de
seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois anos,
permitida a recondução. Inclui toda a estrutura especializada do poder judiciário e a justiça comum federal.
É capitaneado pelo Procurador-Geral da União, tendo orçamento advindo da União.
Note-se que o texto constitucional, ao admitir a recondução do Procurador Geral da República,
permite que haja mais de uma recondução para mandatos subsequentes.
A destituição do Procurador-Geral da República, por iniciativa do Presidente da República, deverá
ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal. Assim, tanto para a nomeação
quanto para a destituição do PGE, deverá haver a aprovação do Senado Federal por maioria absoluta.
Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice
entre integrantes da carreira para escolha de seu Procurador-Geral de Justiça, que será nomeado pelo
Chefe do Poder Executivo, ou seja, Governador do Estado, para mandato de dois anos, permitida uma
recondução. São 26 Ministérios Públicos Estaduais, mais o Ministério Público do DF. Seu orçamento é
advindo de cada Estado, com exceção do MPDF que recebe orçamento federal.
Diferentemente da nomeação do Procurador-Geral da República, a escolha do Procurador-Geral de
Justiça, por parte do Chefe do Executivo (Governador de Estado ou Governador Distrital, conforme o caso)
depende do envio prévio de lista tríplice.
Os Procuradores-Gerais, nos Estados e no Distrito Federal e Territórios, poderão ser destituídos por
deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, ou seja, da Assembleia Legislativa, na forma da lei
complementar respectiva.

32.6.3 Funções Institucionais do Ministério Público


São funções institucionais do Ministério Público, estabelecidas no artigo 129 da CF:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;


II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos
assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias à sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos
Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando
informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo
anterior;
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
jurídicos de suas manifestações processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-
lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

O rol do artigo 129 é apenas exemplificativo, pois o inciso IX é uma cláusula aberta. A legitimação

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do Ministério Público para as ações civis previstas no art. 129 não impede a legitimidade de terceiros, nas
mesmas hipóteses, segundo o disposto na Constituição e na lei.
As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que devem
residir na comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição (CF, art. 129, § 2º).
Considerado o Ministério Público como função essencial à justiça, cabendo-lhe, privativamente, a
promoção da ação penal pública, bem como a promoção de inquérito civil e de ação civil pública, além do
exercício de controle externo da atividade policial, o STF decidiu que os membros do órgão dispõem de
poder de investigação:

Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Constitucional. Separação dos


poderes. Penal e processual penal. Poderes de investigação do Ministério Público. 2. Questão de ordem
arguida pelo réu, ora recorrente. Adiamento do julgamento para colheita de parecer do Procurador-Geral
da República. Substituição do parecer por sustentação oral, com a concordância do Ministério Público.
Indeferimento. Maioria. 3. Questão de ordem levantada pelo Procurador-Geral da República.
Possibilidade de o Ministério Público de estado-membro promover sustentação oral no Supremo. O
Procurador-Geral da República não dispõe de poder de ingerência na esfera orgânica do Parquet
estadual, pois lhe incumbe, unicamente, por expressa definição constitucional (art. 128, § 1º), a Chefia do
Ministério Público da União. O Ministério Público de estado-membro não está vinculado, nem
subordinado, no plano processual, administrativo e/ou institucional, à Chefia do Ministério Público da
União, o que lhe confere ampla possibilidade de postular, autonomamente, perante o Supremo Tribunal
Federal, em recursos e processos nos quais o próprio Ministério Público estadual seja um dos sujeitos da
relação processual. Questão de ordem resolvida no sentido de assegurar ao Ministério Público estadual a
prerrogativa de sustentar suas razões da tribuna. Maioria. 4. Questão constitucional com repercussão
geral. Poderes de investigação do Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e
VIII, e 144, inciso IV, § 4º, da Constituição Federal, não tornam a investigação criminal exclusividade da
polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério Público. Fixada, em repercussão geral,
tese assim sumulada: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade
própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e
garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado,
observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também,
as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94,
artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre
presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos,
necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”.
Maioria. 5. Caso concreto. Crime de responsabilidade de prefeito. Deixar de cumprir ordem judicial (art.
1º, inciso XIV, do Decreto-Lei nº 201/67). Procedimento instaurado pelo Ministério Público a partir de
documentos oriundos de autos de processo judicial e de precatório, para colher informações do próprio
suspeito, eventualmente hábeis a justificar e legitimar o fato imputado. Ausência de vício. Negado
provimento ao recurso extraordinário. Maioria. (RE 593727, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Relator(a)
p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-175 DIVULG 04-09-2015 PUBLIC 08-09-2015)

32.6.4 Garantias
Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, observadas, relativamente a seus membros as seguintes garantias:

a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial
transitada em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado
competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla
defesa; e
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e
XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I.

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32.6.5 Vedações
Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público, observadas, relativamente a seus membros as seguintes vedações:

a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária;
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas
ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.

Segundo o artigo 128 § 6º da CF, aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no artigo
95, parágrafo único, V, também da CF. Assim, pode-se afirmar que também é vedado aos membros do
Ministério Público o exercício da advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos
três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.

32.6.6 Ingresso na Carreira


O ingresso na carreira do Ministério Público ocorre mediante concurso público de provas e títulos,
assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel
em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de
classificação.

32.7 ADVOCACIA PÚBLICA


32.7.1 Advocacia-Geral da União
A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado,
representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que
dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico
do Poder Executivo.
A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo
Presidente da República entre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e
reputação ilibada. A nomeação do Advogado-Geral da União é ato exclusivo do Presidente da República,
não havendo previsão de sabatina perante o Senado Federal, pois defende interesses próprios do Poder
Executivo Nacional.
O ingresso nas classes iniciais das carreiras da AGU ocorre mediante concurso público de
provas e títulos.

32.7.2 Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional


Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União cabe à
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei. A AGU serve para consultoria

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judicial e atuação, já a procuradoria serve como instituição à cobrança, na justiça especialmente, de
tributos que não foram pagos em tempo ou modo oportuno.

32.7.3 Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal


Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso
dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil
em todas as suas fases, exercem a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades
federadas. Ainda, exercem a cobrança da dívida ativa em relação a tributos no seu respectivo Estado.
Aos procuradores dos Estados e do Distrito Federal é assegurada estabilidade após três anos de
efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório
circunstanciado das corregedorias.

32.8 ADVOCACIA PRIVADA


O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e
manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei, conforme o artigo 133 da CF.

32.9 DEFENSORIA PÚBLICA


A Defensoria Pública é uma entidade com foco de atuação especificamente voltado à defesa dos
direitos e interesses dos necessitados, pessoas com poucos recursos que passam suas vidas distanciadas do
sistema judicial, da defesa e do exercício de seus direitos pela simples razão de não terem condições
financeiras que as habilitem à contratação de profissionais da esfera privada.
A Constituição Federal confere especial proeminência à Defensoria Pública, qualificando-a – ao lado
do Ministério Público e das advocacias pública e privada – instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os
graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos
necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV da CF.
Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a
iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentária.
São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência
funcional.

33 PROCESSO CONSTITUCIONAL – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE


A divisão da disciplina direito constitucional se dá em duas partes: direito constitucional e processo
constitucional, que trata dos temas procedimentais que envolvam a Constituição Federal. Existem duas
formas de se ver o direito constitucional brasileiro. A primeira é chamada de aplicação direta das normas

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constitucionais, onde basicamente se analisa o texto constitucional, com suas possíveis interpretações e
teorias, aplicando diretamente a norma da Constituição no caso concreto.
A segunda versão é conhecida como compatibilidade vertical entre a Constituição Federal e o
restante do sistema jurídico brasileiro. Assim, a análise da compatibilidade é o controle de
constitucionalidade, controlando a atuação dos poderes da república na inovação normativa, sempre que
através deste se fira o texto constitucional. Esse é o contexto do controle de constitucionalidade, defendendo
a CF de eventuais desrespeitos oriundos do poder normativo ou executivo.

33.1 SISTEMA JURÍDICO


É uma estrutura piramidal, onde a CF é o seu ápice. E deve haver compatibilidade entre a CF e
tudo que estiver abaixo dela. Assim, deve haver, dentro da estrutura do poder judiciário, algo para controlar
a supremacia da CF, ao qual, damos o nome de controle de constitucionalidade.

33.2 REGRAS DO JOGO


São as regras para o “jogo” controle de constitucionalidade. A primeira regra é, como o poder
judiciário possui uma hierarquia, como já visto, todo e qualquer órgão judicial faz controle de
constitucionalidade, independentemente se for justiça especializada ou comum. Entretanto, o CNJ, por não
exercer funções jurisdicionais, não realiza controle de constitucionalidade, uma vez que é uma corte
administrativa.
Além disso, em termos de administração publica, cada entidade federada tem suas competências
legislativas e administrativas. O importante é que, é possível controlar a constitucionalidade dos atos
legislativos oriundos de Municípios, Estados e União, seja quando desrespeita frontalmente a CF
(inconstitucionalidade material) ou quando, por exemplo, a União legisla em assunto de competência dos
Estados (inconstitucionalidade formal)

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Por fim, no campo do processo legislativo, que envolve todo um caminhar por deliberações
legislativas e executivas. Quando houver desrespeito ao procedimento previsto na CF para o projeto, seja
de lei ordinária, medidas provisórias, entre outros, haverá o controle de constitucionalidade, podendo ser
declarada a inconstitucionalidade formal. Dentro do processo legislativo, existe nitidamente comissões
temáticas desenvolvidas, no Congresso Nacional, para se realizar controle de constitucionalidade de
projetos de leis e emendas, de forma preventiva. Todos os três poderes realizam controle de
constitucionalidade. A essência do controle judicial é repressiva, enquanto que o legislativo e executivo é
preventivo.

33.3 CONTROLE PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE


Acontece no âmbito interno do poder legislativo e do poder executivo ocorrendo, como exceção, no
poder judiciário.

O processo legislativo passa por uma fase de iniciativa, chegando à deliberação bicameral, onde
Câmara e Senado se manifestam. Câmara e Senado têm várias comissões temáticas, mas existe a comissão
de constituição de justiça e cidadania na Câmara dos Deputados e a comissão de constituição e justiça no
Senado Federal. A essência é basicamente analisar a constitucionalidade de projetos de lei, pois não faz
sentido analisar um projeto de lei inconstitucional. Essas comissões realizam controle preventivo de
constitucionalidade.
Dando sequência ao processo legislativo, desde que haja concordância entre Câmara dos Deputados e
Senado Federal, o projeto é enviado para deliberação do presidente, podendo vetar ou sancionar o
projeto, quando concordar com o projeto, promulgando-o e publicando-o. A partir da publicação da lei,
toda e qualquer discussão acerca dela será feito pelo controle repressivo de constitucionalidade. Mas,
como se sabe, o presidente também tem a prerrogativa de vetar projeto quando o considerar
inconstitucional, pois também realiza controle preventivo de constitucionalidade (uma vez que ainda não
houve a promulgação e a publicação).
Existe o terceiro momento, quando o veto é enviado ao Congresso Nacional e, por maioria
absoluta os deputados e senadores fazem a rejeição do veto. Hora, se o presidente usa o argumento da
inconstitucionalidade para vetar, é muito provável que o Congresso Nacional através da rejeição, possa
considerar a própria mensagem de veto inconstitucional e controlar a rejeição de veto. Isso significa
que a rejeição ao veto também é uma possibilidade. Em termos de doutrina, o controle de
constitucionalidade não fala da rejeição de veto, é momento de controle que o professor acredita

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existir.

E quanto ao controle preventivo pelo poder judiciário? Parte da doutrina diz não ser possível.
Acontece que, no âmbito dos concursos públicos, é importante estudar as exceções. Assim, é possível o
poder judiciário realizar controle preventivo de constitucionalidade quando se trabalha o devido
processo legislativo. Se, a CF prevê todas as fórmulas para o trâmite dos processos legislativos, é
importante que estes ritos e passos sejam seguidos corretamente. E, às vezes, quando normas não são
respeitadas e a lei é publicada, há o controle repressivo de constitucionalidade, que é o comum. O que é
incomum é a possibilidade de um ato do presidente da Câmara, do Senado ou de Comissão temática
desrespeitar o procedimento, no caso de um parlamentar arguir uma hipótese em plenário, chamando
atenção da pessoa que desrespeitou o processo legislativo e, apesar disso, o processo segue. Assim, este
parlamentar tem a legitimidade de impetrar mandado de segurança no STF, para que o poder
judiciário controle o ato que ocorreu na Câmara ou no Senado, não sendo necessário esperar a
publicação da lei para assim fazê-lo.
A análise do judiciário está sendo precisa no direito do parlamentar de ver o processo seguir de
forma correta, não na essência do projeto de lei. O STF só analisa o desrespeito ao formato estabelecido
pela Constituição, nunca o conteúdo do projeto.
A segunda hipótese de controle preventivo do judiciário é muito interessante. Considerando que o
artigo 60, §4º da CF diz que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir, ora, se a
CF diz que não pode nem ser deliberado, quer dizer que é possível a impetração de um mandado de
segurança perante o STF proibindo ou vedando que o congresso delibere sobre algum assunto vedado
na Constituição Federal.

33.4 CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE


Se está a falar de atuação do poder judiciário. Uma hipótese é que, no campo do controle das
medidas provisórias a atuação das instâncias de controle é invertida, pois a análise dela é feita após a sua
edição pelo presidente. Assim, o poder legislativo pode fazer controle repressivo de constitucionalidade
quando se fala em medidas provisórias, uma vez que ela já existe para o sistema quando é analisada. A
partir deste momento, se estudará unicamente o controle repressivo de constitucionalidade pelo poder
judiciário.
Todo ato normativo deve ter fundamento de validade na Constituição Federal, devendo haver

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compatibilidade vertical entre CF e legislação infraconstitucional. Uma norma jurídica passa a existir
quando ela é submetida a publicação e, mesmo existente, pode ser que não esteja em vigor, não podendo
ser aplicada. Ultrapassado o período da vacatio legis, ou seja, o período que não está sendo aplicada, passará
a entrar em vigor, mas pode ser que não tenha eficácia pois ainda não atinge os fatos cotidianos. A
existência, vigência e eficácia são os três planos do direito.
Uma norma encontra fundamento de validade naquela que lhe é superior e assim chegamos na CF.
Isso quer dizer que todas as normas encontram direta ou indiretamente o fundamento de validade na
CF. Assim, todas as normas devem ser verticalmente compatíveis com o texto constitucional. Se encontra
fundamento na constituição, a norma é constitucional. Isso significa que, embora uma lei atinja os três
planos do direito (existência, vigência e eficácia) não necessariamente será constitucional e válida, pois, para
isso, deve ter seu fundamento direta ou indiretamente na Constituição Federal, sendo, aqui, o papel do
controle de constitucionalidade.

33.4.1 Controle Difuso de Constitucionalidade


Parte-se da hipótese, da prática, para entender a teoria. Imagina-se um caso de aumento da alíquota do
IRPF, que tem a ver com o percentual incidente sobre o fato gerador para fins de imposto de renda de pessoa
física. O âmbito de incidência envolve servidores públicos apenas federais, onde a nova alíquota passa a ser
90% dos vencimentos, e a alíquota antiga era de 27% dos vencimentos. Caso o cidadão recebe mil reais,
apenas para fins explicativos, teria descontado na fonte 270 reais reservados para a União. Com a nova
alíquota, 900 reais seriam descontados, sobrando apenas cem reais por mês para o servidor. O aumento de
alíquota é feito por lei. Mas o parâmetro constitucional é o artigo 150, IV da CF que estabelece:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

Conforme o artigo mencionado, é vedado utilizar tributo como forme de confisco. O imposto de
renda que tributa 90% da renda do cidadão é puro confisco. Por ser um confisco, se está diante de uma
inconstitucionalidade, uma vez que a previsão da nova alíquota não encontra previsão na CF, muito pelo
contrário, desrespeita o artigo que veda o confisco.
Quem pode discutir essa nova alíquota? Não é qualquer pessoa, mas sim apenas aquelas que
demonstram interesse de agir, ou seja, a necessidade e utilidade do provimento judicial. Assim, no
presente caso, apenas os servidores públicos federais, pensionistas ou dependentes e aposentados federais.
A petição inicial deve ser acompanhada, por se tratar de fatos e de um caso concreto, de provas,
não sendo autorizado analisar apenas tese jurídico no controle difuso. Os pedidos, do servidor público,
no exemplo dado, o não pagamento de 90%, a devolução do pagamento indevido desde o início, pois a lei
que estabeleceu nova alíquota é inconstitucional e a declaração da inconstitucionalidade da alíquota de 90%.

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A declaração é um incidente processual, sendo chamada de declaração incidental. É um problema que
demanda fato e prova, se deve comprovar fatos no processo, significa que os efeitos da decisão só
envolverão aqueles que entraram com a ação, em litisconsórcio, ou apenas ao único servidor que entrou
com a ação, sendo essa a essência do controle difuso de constitucionalidade.
Qual a ação cabível? O Mandado de Segurança é uma ação mandamental, saindo ordem do
judiciário para alguém cumprir, não havendo condenação. Cabe tanto Mandado de Segurança quanto
ação ordinária, mas, como, no presente caso, se requer a devolução dos pagamentos indevidos feitos, em
um primeiro momento seria mais interessante ajuizar ação ordinária, pois haverá condenação.
Na ação ordinária, a sentença declarará incidentalmente a inconstitucionalidade do artigo da lei
que trouxe a nova alíquota, declarará a inexistência de relação jurídica que obrigue a parte ao
recolhimento de 90% de IRPF e a condenação da União Federal à restituição do indébito, uma vez que o
tributo é federal, baseado em lei federal, havendo também o pagamento de honorários pela União.
No mandado de segurança, a sentença declarará incidentalmente a inconstitucionalidade do
artigo da lei que trouxe a nova alíquota, declarará a inexistência de relação jurídica que obrigue a parte ao
recolhimento de 90% de IRPF. Como não cabe condenação aqui, a sentença determinará que a
autoridade coatora se abstenha de exigir da parte impetrante o IRPF nos moldes do artigo
inconstitucional. Assim, é muito importante saber quais são os seus pedidos, para saber com qual ação
entrar no poder judiciário.
Se está a tratar de declaração incidental, e não discussão de lei em tese, afinal de contas existe um
problema a resolver e este deve ser resolvido pelo judiciário. O provimento é necessário e útil ao autor,
não precisando esperar novas incidências do imposto para discutir o seu direito.
Há a possibilidade de compensação no mandado de segurança, onde há a declaração do direito do
autor a compensar, com os futuros valores do IRPF, aquilo que tem de crédito com a União, no presente
caso. Isso é interessante pois, muitas vezes, a condenação da união em ação ordinária leva a criação de um
precatório, sendo um processo muito mais demorado. Os recursos vão até o STF, através de recurso
extraordinário.

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33.4.2 Controle Concentrado de Constitucionalidade
O artigo 103 da CF traz detalhes da legitimidade acerca das possibilidades de controle
concentrado de constitucionalidade exercido pelo poder judiciário.
Pode ser realizado controle regressivo de constitucionalidade sobre a matéria de uma lei, ou a
maneira pela qual o instrumento normativo foi seguido. Também se sabe que cabe ao poder judiciário o
controle difuso e o controle concentrado de constitucionalidade. E, a regra fundamental é que todo e
qualquer ato deve ter fundamento de validade na Constituição Federal, com a supremacia desta, sendo,
uma lei, válida apenas quando encontrar seu fundamento na CF.
Parte-se, novamente, da hipótese, da prática, para entender a teoria. Imagina-se um caso de aumento da
alíquota do IRPF, que tem a ver com o percentual incidente sobre o fato gerador para fins de imposto de
renda de pessoa física. O âmbito de incidência envolve servidores públicos apenas federais, onde a nova
alíquota passa a ser 90% dos vencimentos, e a alíquota antiga era de 27% dos vencimentos. Caso o cidadão
recebe mil reais, apenas para fins explicativos, teria descontado na fonte 270 reais reservados para a União.
Com a nova alíquota, 900 reais seriam descontados, sobrando apenas cem reais por mês para o servidor. O
aumento de alíquota é feito por lei. Mas o parâmetro constitucional é o artigo 150, IV da CF que estabelece:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

Conforme o artigo mencionado, é vedado utilizar tributo como forme de confisco. O imposto de
renda que tributa 90% da renda do cidadão é puro confisco. Por ser um confisco, se está diante de uma
inconstitucionalidade, uma vez que a previsão da nova alíquota não encontra previsão na CF, muito pelo
contrário, desrespeita o artigo que veda o confisco.

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Diferentemente do controle difuso, no controle concentrado quem pode discutir o aumento da
alíquota são somente as entidades arroladas no artigo 103 da CF:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de


constitucionalidade:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
V o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Aqui, o controle concentrado é movimentado pelas entidades que levam teses jurídicas ao STF,
que são deslocadas de casos concretos. O procurador-geral, por exemplo, não precisa comprovar que está
sujeito aos 90%, só precisa comprovar que é procurador-geral, levando uma tese jurídica. O controle
concentrado não trabalha caso concreto, não sendo necessário se anexar provas. Assim, o controle
concentrado também é conhecido como controle abstrato.
Pela literalidade do artigo, ADI, ADO e ADC só cabem contra leis ou atos normativos federais ou
estaduais. Sendo assim, não cabe ADI, ADC e ADO contra lei municipal. A ADPF cabe para fazer
controle concentrado de atos e lei municipais. Ainda, ADPF admite que se leve ao STF uma
comparação normativa entre a CF e uma lei a ela anterior, para se fazer análise de recepção.
Quais devem ser os pedidos? Ou a inconstitucionalidade (ADI) ou a constitucionalidade (ADC).
Aqui, não se fala em condenação, apenas na análise da tese. No controle concentrado a declaração de
inconstitucionalidade é declaração principal, diferente do controle difuso, que era declaração incidental.
Assim, no controle concentrado, a lei será declarada inconstitucional, pelo acolhimento de tese jurídica,
sendo, a solução, aplicada para todos os casos no território nacional. Justamente por isso, há eficácia
erga omnes e, ainda, com efeito vinculante à decisão do STF em todo o território e órgãos judiciais.
A palavra única do controle concentrado é do STF quando o parâmetro for a Constituição Federal.
Ocorre que, todo e qualquer Estado tem sua própria Constituição, pois realiza poder constituinte
decorrente, isso significa que as Constituições Estaduais devem respeitar a Constituição Federal. Mas,
também significa que, uma vez exercido o poder constituinte pelo Estado, o próprio Estado pode
estipular controle de constitucionalidade em seu território quando o parâmetro de confronto for a
Constituição Estadual. E pelo princípio da simetria constitucional, o guardião da Constituição Estadual é o
Tribunal de Justiça do Estado, devendo haver respeito a estrutura do controle inaugurado pela CF,
além de previsão específica na Constituição do Estado-Membro e alocação de competência específica
no Tribunal de Justiça. Observadas essas premissas, é possível o controle concentrado estadual pelo
Tribunal de Justiça, cabendo recurso para o STF.

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ADI – Ação Declaratória De Inconstitucionalidade, com procedimento específico na Lei n. 9.868
ADC – Ação Declaratória De Constitucionalidade, com procedimento específico na Lei n. 9.866 também.
ADO – Ação Direta De Inconstitucionalidade Por Omissão, a previsão também está na Lei n. 9.8688
ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, o procedimento está previsto na Lei n.
9.862

33.5 CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE


As quatro ações constitucionais têm características comuns. Todas encontram, direta ou
indiretamente, relação com o artigo 103 da CF, que trata da legitimidade ativa. Além disso, em todas as
ações é cabível reclamação, pois todas são utilizadas no controle abstrato, que discute tese jurídica, quando
o parâmetro for a CF, decidido pelo STF. A tese da lei, contra a CF, se prevalecente ou não, terá eficácia
erga omnes e efeitos vinculantes. Por isso, é importante que se tenha um mecanismo hábil e célere, ou seja,
a reclamação, a noticiar ao STF o eventual desrespeito a sua decisão em controle concentrado, seja na ADC,
ADO, ADI ou ADPF.
Em termos de procedimento, o procurador-geral se manifesta em todas as ações, sendo uma
obrigatoriedade. Além disso, o advogado-geral da União sempre se manifestará no controle concentrado
quando necessário a defesa do ato normativo impugnado, quando se tratar de tese de
inconstitucionalidade.
É cabível agravo contra indeferimento da inicial, porém, da decisão final, não há previsão de
recurso, uma vez que o STF é o órgão de cúpula, não para onde recorrer e, também, pois trata-se de decisão
final em controle de constitucionalidade, aquele que deve ser realizado pela maioria absoluta dos ministros
do STF.

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33.5.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
A ADI segue o procedimento previsto na lei n. 9.868/99 e cabe contra leis e atos normativos
federais e estaduais. Em qualquer deliberação do STF, se exige um quórum mínimo de 8 ministros.
Efeitos da decisão: as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas
ações diretas de inconstitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal.
Os requisitos da petição inicial da ADI são: a) indicação do dispositivo da lei ou do ato normativo
impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido; e b) pedido. Percebe-se que não há, como requisito,
fatos, pois, como já explicado, a ADI trata de tese jurídica.
Ainda, é importante lembrar que não é admitida a intervenção de terceiros e não se pode desistir da ação.
Porém, não deve se confundir intervenção de terceiros com amicus curiae, uma vez que este é aceito no
procedimento.
A realização de audiências públicas é possível, caso haja necessidade de esclarecimento de
matéria ou circunstância de fato. Assim, o relator pode requisitar informações adicionais, designar perito ou
comissão de peritos para emissão de parecer sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir
depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria, conforme o artigo 9º, §1º da lei:

Art. 9o Vencidos os prazos do artigo anterior, o relator lançará o relatório, com cópia a todos os Ministros,
e pedirá dia para julgamento.
§ 1o Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória
insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais,
designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou fixar data para, em
audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria.

No procedimento da ADI é viável a admissão da manifestação de outros órgãos ou entidades


(amicus curiae), desde que haja relevância da matéria e a representatividade dos postulantes. O amicus
curiae não tem legitimidade para interpor recurso, exceto no tocante à decisão que indefira sua atuação no
processo.
É plenamente cabível a concessão de medida cautelar em ADI, desde que tenha os seguintes
requisito preenchido, qual seja, o voto favorável da maioria absoluta dos Ministros do STF. Os efeitos da
medida são ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa. A concessão
da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em
sentido contrário.
Ainda, a medida cautelar, pode ter os mesmos efeitos da decisão definitiva de mérito (eficácia
contra todos e efeito vinculante). Daí a possibilidade de reclamação contra decisão que tenha
desrespeitado a decisão cautelar proferida pelo STF (desde que a decisão tenha sido exarada em processo
sem trânsito em julgado).

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33.5.2 Ação Direta de Constitucionalidade (ADC)
A ADC dispõe a declarar em definitivo a constitucionalidade de uma lei ou de ato normativo. A
Diferentemente da ADI, que é cabível contra atos normativos federais e estaduais, a ADC é cabível
somente contra leis e atos normativos federais. A Lei 9.868/99 regulamenta as normas procedimentais
também da ADC.
As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.
Os requisitos da petição inicial da ADC são: a) indicação do dispositivo da lei ou do ato
normativo impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido; b) pedido; e c) indicação da existência de
controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória. Desta forma, a
ADC tem como pressuposto a existência de controvérsia judicial relevante sobre a questão que se pretende
discutir.
A ADC serve para pacificar uma questão em controle concentrado que está sendo discutida no
país inteiro. E, assim, como na ADI, não é admitida a intervenção de terceiros e não se pode desistir da ação.
A realização de audiências públicas é possível, caso haja necessidade de esclarecimento de
matéria ou circunstância de fato. Assim, o relator pode requisitar informações adicionais, designar perito ou
comissão de peritos para emissão de parecer sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir
depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria, conforme o artigo 9º, §1º da lei:

Art. 9o Vencidos os prazos do artigo anterior, o relator lançará o relatório, com cópia a todos os Ministros,
e pedirá dia para julgamento.
§ 1o Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória
insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais,
designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou fixar data para, em
audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria.

A concessão de medida cautelar em ADC também pressupõe o voto favorável da maioria absoluta
dos Ministros do STF, sendo, o quórum mínimo para as deliberações de 8 Ministros. Contudo, o objeto
da medida cautelar, neste caso, envolve determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o
julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu
julgamento definitivo. Evidenciada a controvérsia relevante, é cabível ADC e medida cautelar, podendo
ser determinada a suspensão, no país inteiro, qualquer processo que trate do assunto.
A medida cautelar, tanto na ADI quanto na ADC, pode ter os mesmos efeitos da decisão definitiva
de mérito (eficácia contra todos e efeito vinculante). Daí a possibilidade de reclamação contra decisão que
tenha desrespeitado a decisão cautelar proferida pelo STF (desde que a decisão tenha sido exarada em
processo sem trânsito em julgado).

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33.5.3 Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO)
As inconstitucionalidades não decorrem apenas de ações (leis ou atos normativos que eventualmente
desrespeitem o texto constitucional). Há inconstitucionalidades também quando se afere omissões a
respeito de matérias previstas na Constituição que, para ter plena eficácia, dependem da edição de atos
normativos infraconstitucionais. Assim, é cabível ADO de lei ou ato normativo federal ou estadual que
seja omisso, tendo, legitimidade para ajuizamento da ação, os mesmos da ADI e ADC (artigo 103 da CF).
De acordo com o disposto no artigo 103, § 2˚ da CF, uma vez declarada a inconstitucionalidade
por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao poder competente
para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em
trinta dias. Em termos administrativos, não há nada mais a fazer do que dar a ciência ao órgão.
Os requisitos da petição inicial da ADO são: a) indicação da omissão inconstitucional total ou
parcial quanto ao cumprimento de dever constitucional de legislar ou quanto à adoção de providência de
índole administrativa; e b) pedido.
Assim como na ADI e na ADC não é admitida a intervenção de terceiros e não se pode desistir da
ação.
Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria absoluta
de seus membros pode conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades
responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias.
A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no
caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos administrativos,
ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal.

Art. 12-F. Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria
absoluta de seus membros, observado o disposto no art. 22, poderá conceder medida cautelar, após a
audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão
pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 1o A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo
questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos judiciais ou de
procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal.

33.5.4 Arguição de Descumprimento a Preceito Fundamental (ADPF)


A arguição de descumprimento de preceito fundamental, diferentemente das outras ações, está
prevista em outra lei, qual seja, a Lei 9.883/99. Será apreciada apenas pelo Supremo Tribunal Federal,
uma vez que é de competência exclusiva deste, de acordo com o artigo 102, §1º da CF.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
(...)
§ 1.º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será
apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.

A grande inovação decorrente da previsão de possibilidade de arguição de descumprimento de

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preceito fundamental foi tornar possível a discussão, via controle concentrado de constitucionalidade, da
compatibilidade vertical com a CF tanto de legislação federal, estadual e municipal, quanto de
legislação editada anteriormente à promulgação da CF/88. Conforme o artigo 1˚, parágrafo único da Lei
9.882/99:

Art. 1o A arguição prevista no § 1o do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o Supremo
Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do
Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal,
estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição;

Podem propor ADPF os legitimados a propor ação direta de inconstitucionalidade, ou seja, todas as
entidades mencionadas pelo artigo 103 da CF.22 Importante destacar que o artigo 2˚, §1˚ da Lei 9.882/99
dispõe sobre a possibilidade de qualquer interessado, mediante representação, solicitar a propositura de
arguição de descumprimento de preceito fundamental ao Procurador-Geral da República, que,
examinando os fundamentos jurídicos do pedido, decidirá do cabimento do seu ingresso em juízo.
Os requisitos da petição inicial da ADPF são: a) indicação do preceito fundamental que se
considera violado; b) indicação do ato questionado; c) prova da violação do preceito fundamental; d)
pedido; e e) se for o caso, a comprovação da existência de controvérsia judicial relevante sobre a
aplicação do preceito fundamental que se considera violado.
A ADPF, ainda, segue o princípio da subsidiariedade, ou seja, não se admite arguição de
descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.

Art. 4o A petição inicial será indeferida liminarmente, pelo relator, quando não for o caso de arguição de
descumprimento de preceito fundamental, faltar algum dos requisitos prescritos nesta Lei ou for inepta.
§ 1o Não será admitida arguição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer
outro meio eficaz de sanar a lesividade.

No contexto da subsidiariedade, o STF entende ser possível a conversão de ADPF em ADI e vice-
versa, desde que não tenha havido erro grosseiro por ocasião da propositura da demanda em controle
concentrado de constitucionalidade.
A realização de audiências públicas é admitida, podendo o relator ouvir as partes nos processos que
ensejaram a arguição, requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que
emita parecer sobre a questão, ou ainda, fixar data para declarações, em audiência pública, de pessoas com
experiência e autoridade na matéria. O relator também pode autorizar sustentação oral e juntada de
memoriais, por requerimento dos interessados no processo.

22“Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o
Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; V - o Governador de
Estado; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de
Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou
entidade de classe de âmbito nacional”.

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É possível a concessão de liminar, que pode consistir na determinação de que juízes e tribunais
suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que
apresente relação com a matéria objeto da arguição de descumprimento de preceito fundamental, salvo se
decorrentes da coisa julgada. Para tal, o quórum mínimo é de 8 (oito) Ministros, com voto favorável da
maioria absoluta entre estes.
Por fim, julgada a ação, se comunicará as autoridades ou órgãos responsáveis pela prática dos atos
questionados, fixando-se as condições e o modo de interpretação e aplicação do preceito fundamental,
ou seja, o STF indica a forma como o preceito fundamental deve ser interpretado.

33.6 TEMAS AVANÇADOS EM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE


33.6.1 Pertinência Temática e Legitimidade Ativa
Toda vez que se tratar sobre controle difuso, ou seja, do caso concreto, deve se recordar que a
legitimidade ativa envolve toda e qualquer pessoa que evidencie, no caso concreto, interesse de agir
(necessidade + utilidade do provimento jurisdicional). Já quando se tratar de controle concentrado (ADI,
ADC, ADO e ADPF), sabe-se que a legitimidade para as quatro ações está prevista no artigo 103 da CF:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de


constitucionalidade:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
V o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Ocorre que, dentro deste campo legitimidade, por interpretação jurisprudencial, o STF é restritivo ao
analisar a legitimidade ativa quando o assunto é controle concentrado de constitucionalidade. Os
Ministros entendem que nem todas as entidades do artigo 103 podem propor ações de controle concentrado
sobre qualquer assunto, precisando evidenciar na petição inicial uma certa relação de pertinência entre o
objetivo da demanda e os interesses institucionais da entidade que está propondo a ação.
Assim, quando se trata de legitimidade ativa no controle concentrado, se tem duas hipóteses: a
primeira, chamada de legitimidade universal, e a segunda, conhecida como pertinência temática. A
legitimidade universal, como o próprio nome diz, qualquer entidade do artigo pode propor toda e
qualquer demanda envolvendo controle concentrado de constitucionalidade. Em outras palavras, podem se
valer de qualquer das ações envolvendo qualquer tema, respeitados os limites de cabimento de cada ação.
O STF, respeitadas as características das ações, entende que alguns assuntos trabalhados por
algumas das entidades, precisam ter pertinência temática, ou seja, relação entre a tese jurídica e o
interesse daquela. Assim, para o Supremo, o presidente, a mesa do Senado Federal e da Câmara dos

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Deputados, Procurador-Geral, Conselho Federal da OAB e partido político com representação no Congresso
Nacional têm legitimidade universal quando se fala em controle concentrado. Isso porque entende-se que
essas entidades, de uma forma ou de outra, têm relação direta com o todo União Federal.
Deste modo, a mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa, o Governador do
Estado e a confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional, por não terem relação direta
com a União Federal como um todo, defendendo interesse apenas de suas categorias, Estado ou
Município, precisam demonstrar a pertinência temática, de acordo com o STF.

33.6.2 Caráter Dúplice ou Ambivalente


Toda e qualquer oportunidade em que o poder judiciário for chamado para se manifestar sobre
qualquer questão que envolva pedidos de controle de constitucionalidade, será tudo ou nada. Ou seja, ou
o ato normativo/lei será constitucional, ou inconstitucional. Não existe o meio termo.

33.6.3 Objetivação do Controle Difuso


Importando para o controle difuso características próprias do controle concentrado. O perfil do
controle difuso de constitucionalidade brasileiro era determinado pela eficácia inter partes das decisões,
ainda que desafiadas por recurso extraordinário no STF. A atribuição de maior abrangência às decisões do
STF em controle difuso cabia somente ao Senado Federal.
A Emenda Constitucional 45/2004, também chamada de “A Reforma do Judiciário”, proporcionou a
alteração de vários dispositivos constitucionais e, entre diversas outras importantes questões, inovou ao

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prever a possibilidade de o STF editar súmulas vinculantes.
As súmulas vinculantes, em última análise, são resultado de julgamentos reiterados proferidos em
matéria constitucional pelo STF em controle difuso. Afinal, de acordo com o artigo 103-A da CF, o STF
pode, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas
decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial,
terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.
A súmula vinculante tem por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos
sobre questão idêntica.
Para se atingir tais reiteradas decisões, para ser possível a súmula vinculante, o EC 45 previu
também a possibilidade da repercussão geral, que é regulada pelo Código Processual Civil. O STF, assim,
não conhece recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não oferece a
repercussão geral, que nada mais é do que a existência de questões relevantes do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa. O recurso
extraordinário, por ultrapassar o interesse somente das partes do processo, passa a fazer parte do novo
controle difuso de constitucionalidade.
Desta forma, os resultados de julgamentos do STF em sede de recurso extraordinário no controle
difuso podem apresentar características do controle concentrado: eficácia erga omnes, vinculação dos
demais juízes, tribunais e da própria administração pública, bem como cabimento de reclamação.
O procedimento de repercussão geral tem as seguintes características: o recorrente deve demonstrar
a repercussão geral em sede de preliminar e, se negada a existência de repercussão, a decisão vale para
todos os recursos sobre matéria idêntica. Além disso, quando houver multiplicidade de recursos com
fundamento em controvérsia idêntica, o tribunal de origem deve selecionar um ou mais recursos
representativos de controvérsia, encaminhando-os ao STF e sobrestando os demais processos até o
pronunciamento definitivo do Supremo.
De mesmo modo, quando for negada a existência de repercussão geral, os recursos que estavam
sobrestados consideram-se automaticamente não admitidos. Já se julgado o mérito do recurso
extraordinário, os recursos sobrestados serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformização ou
Turmas recursais, que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se, devendo analisar se a decisão
decorrida está em conformidade ou não do que foi decidido pelo STF em sede de repercussão geral.
Caso o Tribunal opte por manter a sua decisão, mesmo que em desrespeito ao que foi decidido
pelo Supremo, o recurso será admitido e subirá para este órgão, podendo ser cassada ou reformada
liminarmente a decisão contrária à orientação firmada.

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33.6.4 Modulação dos Efeitos das Decisões
Em regra, os efeitos da decisão nesta espécie de controle de constitucionalidade são retroativos, ex
tunc. O artigo 27 da Lei 9.868/99 e o artigo 11 da Lei 9.882/99 admitem, no controle concentrado de
constitucionalidade, a chamada modulação dos efeitos da decisão.

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois
terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a
partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Art. 11. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no processo de arguição de


descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus
membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

De acordo com ambos os dispositivos, ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo e


tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, o STF pode, por maioria
de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha
eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
O STF já utilizou a previsão do artigo 27 da lei 9.868/99 para atribuir efeitos apenas prospectivos à
declaração de inconstitucionalidade, como no julgamento da ADI n.2.240, proposta contra a Lei 7.619/00 do
Estado da Bahia, que criou o Município de Luís Eduardo Magalhães:

1. O Município foi efetivamente criado e assumiu existência de fato, há mais de seis anos, como ente
federativo. 2. Existência de fato do Município, decorrente da decisão política que importou na sua
instalação como ente federativo dotado de autonomia. Situação excepcional consolidada, de caráter
institucional, político. Hipótese que consubstancia reconhecimento e acolhimento da força normativa dos
fatos. 3. Esta Corte não pode limitar-se à prática de mero exercício de subsunção. A situação de
exceção, situação consolidada --- embora ainda não jurídica --- não pode ser desconsiderada. 4. A
exceção resulta de omissão do Poder Legislativo, visto que o impedimento de criação, incorporação,
fusão e desmembramento de Municípios, desde a promulgação da Emenda Constitucional n. 15, em 12
de setembro de 1.996, deve-se à ausência de lei complementar federal. 5. Omissão do Congresso
Nacional que inviabiliza o que a Constituição autoriza: a criação de Município. A não edição da lei
complementar dentro de um prazo razoável consubstancia autêntica violação da ordem constitucional. 6.
A criação do Município de Luís Eduardo Magalhães importa, tal como se deu, uma situação excepcional
não prevista pelo direito positivo. 7. O estado de exceção é uma zona de indiferença entre o caos e o
estado da normalidade. Não é a exceção que se subtrai à norma, mas a norma que, suspendendo-se, dá
lugar à exceção --- apenas desse modo ela se constitui como regra, mantendo-se em relação com a
exceção. 8. Ao Supremo Tribunal Federal incumbe decidir regulando também essas situações de
exceção. Não se afasta do ordenamento, ao fazê-lo, eis que aplica a norma à exceção desaplicando-a,
isto é, retirando-a da exceção. 9. Cumpre verificar o que menos compromete a força normativa futura da
Constituição e sua função de estabilização. No aparente conflito de inconstitucionalidades impor-se-ia o
reconhecimento da existência válida do Município, a fim de que se afaste a agressão à federação. 10. O
princípio da segurança jurídica prospera em benefício da preservação do Município. 11. Princípio da
continuidade do Estado. 12. Julgamento no qual foi considerada a decisão desta Corte no MI n. 725,
quando determinado que o Congresso Nacional, no prazo de dezoito meses, ao editar a lei
complementar federal referida no § 4º do artigo 18 da Constituição do Brasil, considere, reconhecendo-a,
a existência consolidada do Município de Luís Eduardo Magalhães. Declaração de inconstitucionalidade
da lei estadual sem pronúncia de sua nulidade 13. Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade, mas não pronunciar a nulidade pelo prazo de 24 meses, da Lei n. 7.619, de 30 de
março de 2000, do Estado da Bahia. (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Ação Direta

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de Inconstitucionalidade 2.240/BA. Relator: Ministro Eros Grau. Brasília, 9 mai. 2007. Diário de Justiça
da União eletrônico, 3 ago. 2007)

Como se percebe, prevaleceram argumentos em prol da declaração de inconstitucionalidade sem


pronúncia de nulidade, permitindo-se, assim, a prospecção dos efeitos da decisão em controle
concentrado, ponderando-se entre segurança jurídica e nulidade de lei inconstitucional. No presente caso, o
STF declarou a inconstitucionalidade da criação do município, mas a decisão só teria eficácia após 24 meses
da publicação. Fez isso para que o Município pudesse resolver as suas irregularidades na prática, uma vez
que no momento em que a ADI foi proposta, o Município já havia sido criado, já haviam sido feitos
concursos, licitações, há mais de seis anos. Assim, após a resolução das irregularidades, iria haver a extinção
da ADI por perda do objeto.
No controle difuso, a despeito da inexistência de previsão legal específica, o STF já decidiu pela
possibilidade, em casos extremos, de modulação dos efeitos da decisão.
Foi o que ocorreu no julgamento do Recurso Extraordinário 197.917/SP, em que se analisava a
correção do número de vereadores no Município de Mira Estrela. Declarou-se a inconstitucionalidade do
quantitativo de cargos de vereador daquele município que havia ultrapassado o limite constitucional.
Decidiu-se, contudo, tendo em vista toda a problemática do exercício dos mandatos excedentes até então, que
a decisão respeitaria os mandatos ativos. Atribui-se, no controle difuso de constitucionalidade, efeitos
prospectivos à declaração de inconstitucionalidade:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MUNICÍPIOS. CÂMARA DE VEREADORES. COMPOSIÇÃO.


AUTONOMIA MUNICIPAL. LIMITES CONSTITUCIONAIS. NÚMERO DE VEREADORES
PROPORCIONAL À POPULAÇÃO. CF, ARTIGO 29, IV. APLICAÇÃO DE CRITÉRIO ARITMÉTICO
RÍGIDO. INVOCAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA RAZOABILIDADE.
INCOMPATIBILIDADE ENTRE A POPULAÇÃO E O NÚMERO DE VEREADORES.
INCONSTITUCIONALIDADE, INCIDENTER TANTUM, DA NORMA MUNICIPAL. EFEITOS PARA O
FUTURO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. 1. O artigo 29, inciso IV da Constituição Federal, exige que o
número de Vereadores seja proporcional à população dos Municípios, observados os limites mínimos e
máximos fixados pelas alíneas a, b e c. 2. Deixar a critério do legislador municipal o estabelecimento da
composição das Câmaras Municipais, com observância apenas dos limites máximos e mínimos do
preceito (CF, artigo 29) é tornar sem sentido a previsão constitucional expressa da proporcionalidade. 3.
Situação real e contemporânea em que Municípios menos populosos têm mais Vereadores do que outros
com um número de habitantes várias vezes maior. Casos em que a falta de um parâmetro matemático
rígido que delimite a ação dos legislativos Municipais implica evidente afronta ao postulado da isonomia.
4. Princípio da razoabilidade. Restrição legislativa. A aprovação de norma municipal que estabelece a
composição da Câmara de Vereadores sem observância da relação cogente de proporção com a
respectiva população configura excesso do poder de legislar, não encontrando eco no sistema
constitucional vigente. 5. Parâmetro aritmético que atende ao comando expresso na Constituição
Federal, sem que a proporcionalidade reclamada traduza qualquer afronta aos demais princípios
constitucionais e nem resulte formas estranhas e distantes da realidade dos Municípios brasileiros.
Atendimento aos postulados da moralidade, impessoalidade e economicidade dos atos administrativos
(CF, artigo 37). 6. Fronteiras da autonomia municipal impostas pela própria Carta da República, que
admite a proporcionalidade da representação política em face do número de habitantes. Orientação que
se confirma e se reitera segundo o modelo de composição da Câmara dos Deputados e das Assembleias
Legislativas (CF, artigos 27 e 45, § 1º). 7. Inconstitucionalidade, incidentertantun, da lei local que fixou em
11 (onze) o número de Vereadores, dado que sua população de pouco mais de 2600 habitantes somente
comporta 09 representantes. 8. Efeitos. Princípio da segurança jurídica. Situação excepcional em que a
declaração de nulidade, com seus normais efeitos extunc, resultaria grave ameaça a todo o sistema
legislativo vigente. Prevalência do interesse público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro
futuro à declaração incidental de inconstitucionalidade. Recurso extraordinário conhecido e em parte

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1
provido.(RE 197917, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 06/06/2002, DJ
07-05-2004 PP-00008 EMENT VOL-02150-03 PP-00368)

Cada vez mais a modulação dos efeitos se faz presente no STF, autorizando efeitos prospectivos
em suas declarações de inconstitucionalidade.

33.6.5 Omissão Constitucional


Inconstitucionalidade também se declara em casos de omissões à efetivação das normas
constitucionais através da ADO ou de mandado de injunção. A própria CF limita os efeitos da ADO ao
dizer que, uma vez declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma
constitucional, será dada ciência ao poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se
tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias. Em termos administrativos, não há nada
mais a fazer do que dar a ciência ao órgão.

33.6.6 Transcendência dos Motivos Determinantes


Se aprende que, transita em julgado apenas o que consta no dispositivo da sentença. Quando se fala
em controle concentrado, não é diferente, pois não transita em julgado a fundamentação, apenas o
dispositivo. Tanto no controle difuso, quanto no controle concentrado de constitucionalidade, a parte
dispositiva da decisão contempla, apenas, a declaração, que nada mais é do que o resultado da
fundamentação, da ponderação entre todos os motivos invocados como razões de decidir. Ante tais
características, costuma-se afirmar que, no controle difuso, transita em julgado apenas o que consta no
dispositivo da sentença e, no controle concentrado, somente o dispositivo detém efeitos vinculantes.
Entretanto, respeitáveis vozes doutrinárias têm chamado atenção para a transcendência dos motivos
determinantes, que postula, no âmbito do controle concentrado, a possibilidade de os motivos
subjacentes à decisão também ser dotados de efeito vinculante. Deste modo, os motivos principais que
levam ao dispositivo, devem transcender a fundamentação e, também, de algum modo, transitar em julgado.
Sendo assim, acaso o STF declare em uma ADI a inconstitucionalidade de lei do Estado de São
Paulo que tenha aumentado o IPVA para 90% (em desrespeito ao art. 150, IV da CF, que veda a utilização de
tributo com efeito de confisco), não seria mais necessário que se ajuizasse outra ADI para a discussão de lei com
idêntico teor, eventualmente editada por outro Estado da federação.

33.6.7 Lei Ainda Constitucional


Nos termos do art. 63 do Código de Processo Penal, transitada em julgado a sentença condenatória,
podem promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu
representante legal ou seus herdeiros. Assim, quando uma pessoa pratica crime, nos casos de crimes com
vítimas, a condenação criminal gera, para a vítima, um título executivo criminal passível de execução no
juízo cível para reaver perdas e danos.

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2
O fato é que o artigo 68 do CPP, por sua vez, dispõe que, quando o titular do direito à reparação do
dano for pobre, a execução da sentença condenatória será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério
Público.
Entretanto, a CF não contempla, entre as atribuições do Ministério Público, o encaminhamento da
ação civil exdellicto, mesmo em se tratando de pessoa pobre. Essa é uma atribuição constitucionalmente
direcionada à Defensoria Pública.
Ao analisar o caso, o STF decidiu a questão com base na teoria da lei ainda constitucional, de modo
que o artigo 68 do CPP só seria considerado inconstitucional nos Estados-membros que já contassem
com Defensorias Públicas. Por outro lado, nos outros estados em que a Defensoria Pública não estivesse
organizada, o artigo 68 do CPP ainda é constitucional:

LEGITIMIDADE - AÇÃO "EX DELICTO" - MINISTÉRIO PÚBLICO - DEFENSORIA PÚBLICA - ARTIGO


68 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CARTA DA REPÚBLICA DE 1988. A teor do disposto no
artigo 134 da Constituição Federal, cabe à Defensoria Pública, instituição essencial à função jurisdicional
do Estado, a orientação e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV,
da Carta, estando restrita a atuação do Ministério Público, no campo dos interesses sociais e individuais,
àqueles indisponíveis (parte final do artigo 127 da Constituição Federal). INCONSTITUCIONALIDADE
PROGRESSIVA - VIABILIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DE DIREITO ASSEGURADO
CONSTITUCIONALMENTE - ASSISTÊNCIA JURÍDICA E JUDICIÁRIA DOS NECESSITADOS -
SUBSISTÊNCIA TEMPORÁRIA DA LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Ao Estado, no que
assegurado constitucionalmente certo direito, cumpre viabilizar o respectivo exercício. Enquanto não
criada por lei, organizada - e, portanto, preenchidos os cargos próprios, na unidade da Federação - a
Defensoria Pública, permanece em vigor o artigo 68 do Código de Processo Penal, estando o Ministério
Público legitimado para a ação de ressarcimento nele prevista. Irrelevância de a assistência vir sendo
prestada por órgão da Procuradoria Geral do Estado, em face de não lhe competir, constitucionalmente,
a defesa daqueles que não possam demandar, contratando diretamente profissional da advocacia, sem
prejuízo do próprio sustento.(RE 135328, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
29/06/1994, DJ 20-04-2001 PP-00137 EMENT VOL-02027-06 PP-01164 RTJ VOL-00177-02 PP-00879)

Percebe-se que, com base neste precedente exposto, se tem um dispositivo do CPP que é constitucional
em alguns estados e, também, inconstitucional em outros.

33.6.8 Técnicas de Controle de Constitucionalidade


São quatro as possibilidades de técnicas de controle: declaração de inconstitucionalidade integral,
declaração de inconstitucionalidade parcial com redução de texto, declaração de inconstitucionalidade parcial
sem redução de texto e, por fim, interpretação conforme a Constituição.
A primeira é a declaração de inconstitucionalidade integral, que acontece quando o poder
judiciário declara inconstitucional um ato normativo por completo. Se for controle concentrado, o ato
normativo é eliminado do sistema jurídico brasileiro, com efeitos ex tunc, em regra. Se for controle difuso, a
aplicação do dispositivo é afastada no caso concreto pelo juiz competente.
Já a declaração de inconstitucionalidade parcial com redução de texto não abrange o ato
normativo inteiro. Retira do sistema jurídico brasileiro apenas uma parte, uma parcela do ato
normativo, podendo ser declarada inconstitucional apenas um artigo, um inciso, uma palavra:

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A declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto tem sido utilizada para
afastar determinadas “hipóteses de aplicação ou incidência” da norma, que aparentemente seriam possíveis,
mas que a levaria a uma inconstitucionalidade, porém sem proceder a qualquer alteração do seu texto
normativo. Aqui se está subtraindo da norma determinada situação à qual ela, em tese, se aplicaria.
Essa técnica da declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto vem sendo cada vez mais aplicada
pelo STF.
Por fim, a interpretação conforme a Constituição tem como objetivo evitar a pura e simples
declaração de inconstitucionalidade de uma norma infraconstitucional passível de várias interpretações.
Excluem-se, via declaração de inconstitucionalidade, interpretações incompatíveis com a CF, mantendo-
se o preceito normativo em vigor.
Trata-se de processo que se realiza mediante a observância dos seguintes passos: a) escolha de uma
interpretação da norma que a mantenha em harmonia com a Constituição; b) escolha da interpretação mais
coerente com a manutenção do texto legal e a consequente exclusão de outras interpretações que pudessem
acarretar incompatibilidade com a Constituição.

34 DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS


A segurança jurídica constitui o funcionamento do Estado de acordo com normas pré-
estabelecidas. A partir de tal afirmativa, se passa a extrair inúmeras consequências do artigo 5º da CF e de
jurisprudências consolidadas do STF, que serão analisadas a seguir.

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O instituto da segurança jurídica tem algumas premissas importantes a serem destacadas. A
primeira é a supremacia da Constituição, que traz noção de um sistema jurídico com hierarquia
normativa a depender da origem do ato normativo e do assunto tratado, sendo um sistema jurídico
organizado.
A segunda premissa é a legalidade. Se, por um lado, defender a supremacia da Constituição é algo
importante para o sistema, por outro, não menos importante, é defender a legalidade. Deste modo, deve-
se garantir que inovações na ordem jurídica só ocorram se forem provenientes do órgão legitimado a
realizá-las. São os parlamentos que tem maior legitimidade para inovar a ordem jurídica. Deve haver a
defesa da legalidade perante todo e qualquer cidadão brasileiro, estrangeiro ou de passagem, onde todos
os cidadãos respeitarão as normas postas e estabelecidas, ou seja, respeito à legalidade.
Por fim, a terceira premissa da segurança jurídica é a previsibilidade. Esta premissa envolve,
inclusive, a legalidade e as emendas a CF. Em realidade, é um postulado, que deposita muito das energias
do Estado na defesa da CF, pelo fato de que tudo deve ser previsível.

34.1 SEGURANÇA PÚBLICA


A defesa envolve a segurança pública. O artigo 144 da CF trata especificamente da segurança
pública, sendo dever do Estado e direito e responsabilidade de todos:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

A polícia federal é instituída por lei, como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira. Entre suas funções, a polícia federal deve apurar infrações penais contra a ordem
política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme. É uma criminalidade que transcende um Estado-membro, por
exemplo.
Ainda, deve prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
competência. Tem, então, atuação preventiva, como previsto na CF, pelo menos ao que diz respeito ao
tráfico de drogas. Exerce, também, a função de polícia marítima, de fronteiras ou aeroportuária.
No caso da polícia rodoviária federal é destinada ao patrulhamento ostensivo das rodovias
federais. Se forem rodovias estaduais, não há patrulhamento pela polícia rodoviária federal. O mesmo ocorre
com a polícia ferroviária federal, patrulhando as ferrovias federais.

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Já as polícias civis, que são dirigidas por delegados de polícia de carreira, têm a função de polícia
judiciária, fazendo inquéritos e investigações, salvo quando houver competência da União (polícia
federal). De mesmo modo, apura infrações penais, exceto quando for infração penal militar.
Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. Percebe-se que
não é função desta a apuração de crimes, mas sim, apenas a preservação da ordem e o policiamento
extensivo. Enquanto que, aos corpos de bombeiros militares incumbe a execução de atividades de defesa
civil. Assim, as polícias militares e corpos de bombeiros militares, que são forças auxiliares e reserva do
Exército, subordinam-se, igualmente as polícias civis, aos Governadores de seus respectivos Estados.
Ainda existem as guardas municipais, que não são de nível federal ou estadual, mas sim, como o
próprio nome fala, de nível municipal. São mantidas pelo Município e destinadas a atuar apenas no
limite deste para a proteção de seus bens, serviços e instalações.

34.2 FORÇAS ARMADAS


Integram as Forças Armadas o Exército, Marinha e Aeronáutica. São instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob autoridade suprema
do presidente da república, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e,
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Isso quer dizer que, as Forças Armadas são instituições nacionais, diferentemente de instituições
federais e estaduais como visto anteriormente. Apesar das Forças Armadas serem responsáveis pela defesa
da Pátria, a chefia suprema é exercida pelo presidente, pois este é o Chefe de Estado, que representa a
nação e os interesses desta.
Apenas lei complementar poderá estabelecer as normas gerais a serem adotadas na
organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas. Pela importância do assunto, é proibido que lei
ordinária os estabeleça.
No caso de Forças Armadas, não cabe habeas corpus contra o mérito das punições militares
disciplinares, conforme o artigo 142, §2º da CF. Agora, contra o respeito ou desrespeito contra o
procedimento levado ao cabo, no âmbito das forças, é cabível habeas corpus.
O militar, enquanto estiver em serviço ativo, não pode ser filiado a partido político, nem ser
sindicalizado. Outra vedação a este grupo é referente à greve, sendo proibida.
Quanto ao serviço militar obrigatório, existe regra constitucional que estabelece que compete as
Forças Armadas atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem
imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção
filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. As pessoas podem se
eximir, apenas em tempo de paz. Em declaração de guerra, a escusa de consciência não é aplicável.
Outra exceção envolve as mulheres e os eclesiásticos, que ficam isentos do serviço militar
obrigatório em tempo de paz, estando sujeitos a outros encargos que a lei lhes atribuir. Novamente, deve-se

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atentar que, a isenção ocorre apenas em tempo de paz.

34.3 ESTADO DE DEFESA


De acordo com o artigo 136 da CF:

Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional
ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.

O artigo é extenso e traz várias características do Estado de Defesa. Quem decreta o Estado de
Defesa é o próprio presidente, diferentemente do Estado de Sítio. As possíveis medidas a se tomar são:
Primeiramente, a restrição aos direitos de reunião, sigilo de comunicação telegráfica e telefônica
e sigilo de correspondência. Ainda, durante o estado de defesa é possível a ocupação e uso temporário de
bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública.
Decretado o estado de defesa, vale por apenas trinta dias, prorrogável uma vez por igual
período, desde que persistam as mesmas situações fáticas, estando, o estado de defesa, restrito a locais
determinados.

34.4 ESTADO DE SÍTIO


O artigo 137 da CF traz as possibilidades do estado de sítio:

Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de
medida tomada durante o estado de defesa;
II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.

No presente caso, o presidente deve solicitar autorização ao Congresso Nacional para decretar o
estado de sítio. Se o estado de defesa e as medidas tomadas forem ineficientes, se declarará estado de
sítio, tendo em vista que não é possível ficar prorrogando o estado de defesa deliberadamente. A segunda
possibilidade do estado de sítio está interligada ao estado de guerra. A deliberação pelo Congresso
Nacional para autorização do estado de sítio será por aprovação de maioria absoluta.
Quanto à ineficácia do estado de defesa, para o caso de ser possível o estado de sítio, as medidas
serão restringidas, sendo possível, de acordo com o artigo 139 da CF:

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser
tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
I - obrigação de permanência em localidade determinada;
II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de
informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;
IV - suspensão da liberdade de reunião;
V - busca e apreensão em domicílio;
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;

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VII - requisição de bens.

É importante ressaltar que não se inclui, nas restrições do inciso III, a difusão de
pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela
respectiva Mesa. Ou seja, é possível a transmissão, por radiodifusão e televisão, o pronunciamento de
parlamentares dentro de suas respectivas Casas.

35 SEGURIDADE SOCIAL
Parte da ordem social, a seguridade social é algo preocupante atualmente, tendo em vista a
reforma previdenciária, que tem o potencial de alterar toda uma previsão de vida profissional. Seguridade
social abrange a previdência social, assistência social e saúde pública e destina-se a assegurar o pleno
funcionamento e os direitos relativos às três espécies.

Quando se estuda direito tributário, se descobre que existem várias formas de tributo, entre elas,
impostos. Estes têm como característica principal o fato de serem tributos não vinculados. Ou seja, o imposto
é cobrado, mas a receita pode ser aplicada em qualquer atividade estatal. Diferentemente, acontece com as
taxas, que é vinculada, ou seja, cobrada e aplicada em atividade específica.
As contribuições sociais, outra espécie tributária, é destinada para a seguridade social, justamente
pela importância dos assuntos que esta tem. Por tal motivo, podem ser criadas contribuições sociais para
seguridade social por medidas provisórias. Toda vez que faltar verba específica da previdência social, da
assistência social ou da saúde, é o caixa da seguridade social que entra em ação, para suprir esta falta.
O governo, há algum tempo, percebeu que faltava dinheiro de impostos para tocar os Estados, mas
sobrava dinheiro na Seguridade Social. Assim, por autorização do Congresso Nacional via emendas
constitucionais, os governos vêm autorizando a desvinculação de receitas da União, que estão no caixa da
seguridade social, no valor de até 30%. Portanto, se retira do caixa da seguridade verba para suprir o caixa
de assuntos relativos aos impostos.

35.1 PREVIDÊNCIA SOCIAL


Esta espécie é um regime contributivo. Todo e qualquer regime previdenciário pressupõe a
contribuição de alguém. Deste modo, a pessoa que deixa de contribuir por determinado período, ou que

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nunca contribuiu, deixa de fazer parte do sistema e de ter direito aos benefícios previdenciários (que
necessitam de contribuição por determinado período para se ter direito).
Apesar de contributivo, quando o sistema não der conta dos benefícios pagos, tendo como
referência o ingresso de recursos como contribuições, entra em cena o caixa da seguridade social.

35.2 ASSISTÊNCIA SOCIAL


Esta é independe de contribuição, pois é destinada para aqueles cidadãos que são excluídos da
produção econômica, não conseguindo desempenhar atividade lucrativa. Estas pessoas necessitam do
Estado para a própria sobrevivência. Então, o Estado presta a assistência social para aqueles que
necessitam.

35.3 SAÚDE
No tocante à saúde, de acordo com o artigo 193 da CF, é direito de todos e dever do Estado. Este é
um compromisso assumido pela República Federativa do Brasil em um modelo tipicamente social de
Estado.

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