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Direito do Consumidor

Profª. Letícia Bartelega Domingueti


@leticiabdomingueti.adv
Letícia Bartelega

AULA 06 - CONTRATO DE ADESÃO

O contrato de adesão está presente no Código de Defesa do Consumidor, no artigo 54,


que dispõe o que se segue:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido


aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem
que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente
seu conteúdo.

§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a


natureza de adesão do contrato.

§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória,


desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor,
ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.

§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos


claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da
fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua
compreensão pelo consumidor.

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do


consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua
imediata e fácil compreensão;
Explicando: Pessoal, conforme consta no artigo acima, contrato de adesão é aquele
aprovado por uma autoridade competente, como, por exemplo, um plano de saúde,
telefonia fixa e móvel (ex: Anatel)que já tem um contrato pré-estabelecido e aprovado, ou
então aquele estabelecido unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços.

Nesse segundo caso, podemos citar grandes empresas que já não conseguem realizar
acordos individualmente com os consumidores e, por este motivo, possuem um contrato
padrão que vale para todas as contratações.

Contrato de adesão - 2 modalidades:

Cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente.

Cujas cláusulas sejam estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor sem que o


consumidor possa alterá-las substancialmente.

Segundo Caio Mário de Silva Pereira, o contrato de adesão deveria ser entendido como
"...aqueles que não resultam do livre debate entre as partes, mas provêm do fato de uma
delas aceitar tacitamente as cláusulas e condições previamente estabelecidas pela outra".

Assim, nas palavras de Leonardo Medeiros Ao contrário do contrato de comum acordo


(contrat de gré à gré) em que as partes negociam cláusula a cláusula, contrato de adesão é
aquele cujas cláusulas são aprovadas por autoridade competente (cláusulas gerais para o
fornecimento de água, energia elétrica etc.), não podendo o consumidor recusá-las; ou
estabelecidas pelo fornecedor de modo que o consumidor não possa discuti-las ou
modificá-las substancialmente, cabendo-lhe somente o poder de aderir ou não ao contrato
como um todo.

Características dos contratos de adesão: serem previamente elaborados


unilateralmente, serem ofertados uniformemente e em caráter geral e terem como modo
de aceitação a simples adesão do aderente, vinculando-o à vontade do ofertante.

O § 1º do art. 54 estabelece que a inserção de cláusulas no contrato não desconfigura sua


natureza de adesão, sendo assim, não havendo modificações substanciais, a natureza de
adesão se mantém.
Outra informação importantíssima é a constante no § 4º do mesmo artigo, que determina
que caso exista alguma cláusula que limite direitos do consumidor, essa cláusula deve estar
em DESTAQUE, a fim de que não passe despercebida.

Nesse sentido, observa-se que as cláusulas que limitarem direitos do consumidor e que
não forem redigidas com destaque NÃO TEM VALIDADE, SÃO NULAS DE
PLENO DIREITO.

Cláusula arbitral: Doutores, uma das maiores discussões a respeito do contrato de


adesão está na possibilidade, ou não, de haver cláusula arbitral. Nesse sentido, o STJ
entendeu que a cláusula que determina a solução de conflitos por meio de arbitragem é
nula quando é imposta ao consumidor, mas, se houver a concordância dele, ela poderá
ser adotada.

Ou seja, o artigo 51, inciso VII, do Código de Defesa do Consumidor se limita a vedar a
adoção prévia e compulsória da arbitragem no momento da celebração do contrato, mas
não impede que posteriormente, diante do litígio, havendo consenso entre as partes – em
especial a aquiescência do consumidor –, seja instaurado o procedimento arbitral.

Observações importantes:

É possível limitar direitos dos consumidores? Sim, de acordo com o§ 4° do art. 54,
devendo somente a cláusula limitadora estar em destaque (e desde que a limitação não
seja considerada abusiva).

É possível exonerar, limitar, ou atenuar a responsabilidade do fornecedor? Não,


em nenhuma hipótese. Arts. 25, caput e 51,1. A responsabilidade é dada pela lei.

Há determinações específicas para a confecção de contratos de adesão como,


por exemplo, tamanho da fonte? Sim, os contratos de adesão escritos serão redigidos
em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será
inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

I- PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

A decadência e a prescrição estão presentes nos artigos 26 e 27 do CDC.


Os prazos de garantia legal não podem sofrer nenhum tipo de limitação. Exemplo:
Usualmente, observa-se nas compras e vendas de automóveis, que muitas vezes o
vendedor informa que, após a compra do bem haverá uma garantia de 90 dias para motor
e câmbio.

A questão é: Isso é uma prática legal? A resposta é NÃO.

Isso porque, em se tratando de bens duráveis, o CDC estabelece uma garantia de 90 dias
que englobará, no exemplo acima citado não apenas motor e câmbio, mas também todos
os outros itens como, por exemplo, vidro elétrico, suspensão, amortecedor, banco, som,
ar-condicionado, direção hidráulica, palheta de limpador de para-brisas, ou seja, qualquer
vício aparente ou de fácil constatação, ou até mesmo dos vícios ocultos, cujo prazo
começa a correr a partir da constatação, sempre considerando que esse prazo não pode
sofrer nenhum tipo de limitação.

Assim, concluímos que esses prazos legais não podem sofrer nenhum tipo de limitação,
de redução ou condição. Trata-se, portanto, do prazo legal, diferente do contratual.
Vejamos a diferença:

Garantia legal: Aquela estabelecida pelo Código de Defesa do Consumidor e que,


portanto, não pode ser alterada, limitada, reduzida ou condicionada.

Garantia contratual: Trata-se de garantia complementar à legal. É aquela estabelecida


por força de contrato realizado entre as partes, que costuma variar entre 5 e 6 anos e que
pode ser condicionada a determinados fatores. Exemplo: O consumidor compra um
carro 0 KM diretamente da concessionária sendo que o veículo possui garantia de 5 anos.
Nesse caso, o fabricante pode condicionar a garantia às revisões que serão feitas
periodicamente na concessionária da marca.

Nesse sentido, vejamos o que diz o artigo 50 do Código de Defesa do Consumidor sobre
o tema:

Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será


conferida mediante termo escrito.

Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser


padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste a
mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que
pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo
ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no
ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de
instalação e uso do produto em linguagem didática, com
ilustrações.

O Código de Defesa do Consumidor milita incessantemente em favor do consumidor, de


modo que não são aceitas limitações às garantias legais. Além disso, as garantias
contratuais devem ser realizadas mediante termo escrito, fornecendo todas as
informações necessárias ao consumidor.

DIFERENÇA ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

PRESCRIÇÃO: Perda do direito de análise da pretensão, do pedido.

DECADÊNCIA: Perda do próprio direito. Esgota o próprio direito e, por via reflexa,
impossibilita a análise da pretensão.

PREVISÃO EXPRESSA

No CDC, quando se fala sobre decadência e prescrição, fala-se sobre situações muito
específicas que comportam, excepcionalmente, suspensão e interrupção. Vejamos:

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil


constatação caduca em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de


produtos não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de


produtos duráveis.

Mas professora, os prazos constantes no artigo 26 referem-se à decadência ou prescrição?


Observe-se que o termo “caducar” está associado à palavra “decair”, o que significa dizer
que esses prazos de 30 e 90 dias são prazos DECADENCIAIS.

Em regra, esses prazos não se suspenderiam ou interromperiam, não se paralisariam de


qualquer forma, porém, como trata-se de um sistema protetivo, ou seja, as normas
sempre privilegiam o que é melhor para o consumidor. Nesse sentido, vejamos o que diz
o § 2º do artigo 26:

§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo


consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até
a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida
de forma inequívoca;

Para elucidar melhor a questão, cito, como exemplo, os casos em que o consumidor,
vislumbrando a possibilidade de existência de um vício, faz um reclamação no SAC da
empresa fornecedora. Neste momento, embora se trate de prazo decadencial, ele para de
fluir, até que a questão seja devidamente solucionada.

III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

Observamos, portanto, que a instauração de inquérito civil também obsta a decadência.

Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos


danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na
Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

Assim, o art. 27 discorre a respeito da PRESCRIÇÃO, que se refere à PRETENSÃO à


reparação pelos danos causados, assim como foi explicado na parte em que houve a
diferenciação entre prescrição e decadência.

#DICAEMD
Meus queridos alunos, dica importante para a hora da prova: Se a questão tratar
de vício os prazos serão decadenciais. Porém, se a questão tratar de fato, os prazos
serão prescricionais e de 5 anos.

Resumindo:

Quando o prazo for de 30 ou 90 dias será referente a vício e será de


DECADÊNCIA.
Se o caso tratar de defeito (fato), o prazo será de PRESCRIÇÃO e será de 5 anos.

VÍCIO OCULTO: Quando se trata de vício oculto, o CDC determina o seguinte: “§ 3°


Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito”.

RESUMINDO: Os vícios tratados pelo CDC, segundo o art. 26, poderão ser, segundo a
sua natureza: 1) aparente ou de fácil constatação e 2) oculto.

Os vícios aparentes ou de fácil constatação são aqueles cuja identificação não exige
conhecimento especializado por parte do consumidor, em que a constatação se dá apenas
com o exame superficial do produto ou serviço. Tal exame poderá se dar através de
simples visualização sobre o bem (como no caso de um carro com riscos na pintura) ou
através de experimentação ou uso do bem (carro que ao ser testado pela primeira vez,
esquenta o motor).

Por sua vez, vício oculto é aquele vício que já estava presente quando da aquisição do
produto ou do término do serviço, mas que somente se manifestou algum tempo depois;
ou seja, é aquele cuja identificação não se dá com simples exame pelo consumidor.

PRAZOS DE DECADÊNCIA

VÍCIOS APARENTES OU DE FÁCIL CONSTATAÇÃO

PRODUTOS OU PRAZO INÍCIO DA CONTAGEM


SERVIÇOS

NÃO DURÁVEIS 30 DIAS ENTREGA EFETIVA DO


PRODUTO OU DO TÉRMINO DA
DURÁVEIS 90 DIAS
EXECUÇÃO DO SERVIÇO

VÍCIOS OCULTOS

PRODUTOS OU PRAZO INÍCIO DA CONTAGEM


SERVIÇOS

NÃO DURÁVEIS 30 DIAS MOMENTO EM QUE FICAR


EVIDENCIADO O DEFEITO
DURÁVEIS 90 DIAS
SÚMULAS IMPORTANTES DO STJ

SÚMULA 477: “A decadência do artigo 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas


para obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários”.

SÚMULA 101: “A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora


prescreve em um ano.”

SÚMULA 412: ” A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao


prazo prescricional estabelecido no Código Civil” Obs: neste caso, o prazo será de 10
anos do Código Civil (prazo geral).

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de Direito do Consumidor. 3ª ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 2010.

Caio Mário de Silva Pereira, Instituições de Direito Civil – Contratos, Vol. III, Forense.

Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 6ª


ed. São Paulo: Editora RT, 2011, p. 415 e 437.

GOMIDE, Alexandre Junqueira. Direito de Arrependimento nos contratos de consumo.


São Paulo. Almedina, 2014.

Manual de direito do consumidor: direito material e processual. Rio de Janeiro: Método,


2013.

NUNES, Rizzatto. Curso de direito do Consumidor, ed. Saraiva . 2005

“Sucesso é o acúmulo de pequenos esforços repetidos dia a dia.” –


Robert Collier

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