Você está na página 1de 11

Direito do Consumidor

Profª. Letícia Bartelega Domingueti


@leticiabdomingueti.adv
Letícia Bartelega

AULA 02 - RESPONSABILIDADE CIVIL – REGRA GERAL

A regra geral prevista no Código Civil é a responsabilidade subjetiva, aquela que depende
da comprovação da culpa do agente. Porém, isso não significa dizer que a responsabilidade
objetiva é exceção, pois não é. O que existe é um alargamento da responsabilidade objetiva.

Responsabilidade objetiva: Aquela que independe da existência de culpa. Assim como


descreve o artigo 927, § único do Código Civil. Vejamos:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Haverá, então, responsabilidade objetiva quando houver risco na atividade e quando a lei
assim dispuser. Assim, importante mencionar que o Código Civil adotou a teoria do risco
da atividade.

No mesmo sentido, quando falamos sobre a responsabilidade civil, observamos que o


CDC Adotou, como regra geral, a responsabilidade OBJETIVA, aquela que independe da
demonstração de culpa do agente. Os elementos essenciais são: Atividade de risco, nexo
causal e dano.

 DA RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO E DO


SERVIÇO
A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço se relaciona a danos à incolumidade
física ou até mesmo psíquica do consumidor e estão presentes nos artigos 12 e 14 do
CDC:

#DEOLHONOARTIGO
“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, também é chamada de


responsabilidade por defeito ou responsabilidade por acidente de consumo.

Tal responsabilidade pode ser conceituada como obrigação de indenizar por danos
causados por defeito ou falta de informação de produto ou serviço. Exemplo 1: Problema
no freio de um veículo que causa um acidente com vítima. Exemplo 2: Problema em
tratamento estético que causa a queda de todo o cabelo de uma pessoa.

Repare que o defeito consiste em um tipo de problema de um produto ou de um serviço


que causa um dano à saúde ou segurança de uma pessoa, ensejando o direito à
indenização. Nesse sentido, o defeito costuma ser conceito como “problema externo” do
produto ou do serviço. Ou seja, não se trata de um simples problema interno em um
produto, como, por exemplo, uma TV que não funciona, mas sim de um problema
externo, que causa um dano à saúde ou à segurança do consumidor como, por exemplo,
uma TV que dá um choque no consumidor.

Defeito: Situação em que um produto ou serviço não oferece a segurança que dele
legitimamente se espera. Para verificar a existência ou não de um defeito deve-se levar em
consideração os seguintes pontos:

a)Apresentação ou modo de fornecimento do produto ou do serviço;


b)Resultado e riscos que razoavelmente se espera do produto ou serviço;
c)Época em que o produto ou serviço foi colocado no mercado;

O CDC estabelece que não há defeito pelo simples fato de haver um produto ou serviço
de melhor qualidade. Assim, não é porque um dado veículo de luxo tem freios com
funcionalidades bem mais avançadas que os demais veículos que não os tem sejam
defeituosos.

Outra questão importante é das espécies de defeitos. São tipos de defeitos os seguintes:
a)De concepção: Projeto, design, aparentes (ex: Uma embalagem de extrato de tomate
cortante);
b) De produção: Fabricação, construção, montagem (ex: Um freio montado de maneira
errada pela montadora);
c)De informação. Falta desta quanto à utilização e riscos do produto ou serviço (ex: A
falta de informação sobre riscos de um pesticida ou sobre a profundidade de uma piscina
no hotel).

Quanto aos sujeitos da relação jurídica de responsabilidade, temos os sujeitos


ativos, ou seja, aqueles que têm direito a uma indenização, e os sujeitos passivos, ou
seja, aqueles que deverão arcar com indenização decorrente do fato do produto ou do
serviço.

São sujeitos ativos da relação de responsabilidade os seguintes:


a) A vítima que adquiriu ou utilizou produto ou serviço;
b) A vítima de um acidente de consumo, ainda que não tenha adquirido ou utilizado
o produto ou o serviço respectivos (art. 17 do CDC).

São sujeitos passivos da relação de responsabilidade os seguintes:


a) O fabricante (art. 12 do CDC);
b) O produtor (art. 12 do CDC);
c) O construtor, nacional ou estrangeiro (art. 12 do CDC);
d) O importador (art. 12 do CDC);
e) O prestador de serviços (art. 14 do CDC).

Observe, portanto, que em um acidente aéreo causado por problema no avião, o


consumidor lesado( ou sua família, caso venha a falecer) pode ingressar com ação tanto
em face da empresa aérea (prestador de serviços), como em face da montadora do avião
(fabricante), podendo ingressar com ação também contra o fabricante da peça do avião
que tiver causado o problema, assim como determina o art. 25 do CDC: “ sendo o dano
causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis
solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação”.

COMERCIANTE: Há alguns casos em que o comerciante responderá por acidente de


consumo. São eles:
a)o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
(ex: produtos vendidos in natura em uma quitanda);
b) o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor
ou importador; (ex: produtos vendidos sem que constem na embalagem dados suficientes
sobre seu fabricante ou importador);
c) não conservar adequadamente os produtos perecíveis (ex: um supermercado que vende
produtos que dependem de refrigeração, mas que desliga os refrigeradores no período
noturno).
Obs: Nos casos descritos nos itens “a” e “b” o comerciante pode ingressar com ação de
regresso contra os demais responsáveis (fabricante, importador, etc.) assim como
determina o art. 13, parágrafo único do CDC.
 REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO
E DO SERVIÇO

1-Existência de um defeito do produto ou do serviço ou a falta de informação sobre um


produto ou serviço;
2-Dano relacionado à saúde ou segurança do consumidor;
3-Nexo de causalidade entre o defeito, ou falta de informação, e o dano;

Note-se que no primeiro requisito, nada foi dito a respeito da necessidade de haver
conduta culposa ou dolosa por parte do fornecedor. Isso ocorre devido ao fato de que a
responsabilidade do CDC, como sobredito, é OBJETIVA

 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE

Existem, também, casos em que o fabricante, construtor, produtor ou importador e


fornecedor não são responsabilizados. Trata-se, portanto, de EXCLUDENTES DE
RESPONSABILIDADE por fato do produto e do serviço, são elas: Quando provar
que não colocou o produto no mercado, nos casos em que, ainda que tenha
colocado o produto no mercado, o defeito não existe, ou caso seja provado que se
trata de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro:

#DEOLHONOARTIGO
Art. 12 § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou
importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito
inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art 14 § 3° O fornecedor de serviços só não será
responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Um exemplo clássico de fato do produto é o do aparelho celular que explode nas mãos do
consumidor. Podemos citar, ainda, um alimento adquirido por um consumidor que vem a
causar intoxicação alimentar.
Já um exemplo de fato do serviço é quando, após uma dedetização na residência do
consumidor, ele acaba sendo intoxicado.

 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

#CAIUNAPROVA
Há que se falar na responsabilidade solidária de todos aqueles que contribuem para
a causação do dano. Assim, quando falamos na prática comercial desleal, há a
responsabilização de todos os envolvidos na cadeia de consumo, assim como
determina o art. 7º do CDC:

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros


decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o
Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas
competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais
do direito, analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos
responderão solidariamente pela reparação dos danos
previstos nas normas de consumo.

Observa-se que o consumidor, nesse tipo de contratação, procura o parceiro que mais lhe
passe segurança e confiança, motivo pelo qual a responsabilidade solidária deve ser
aplicada, assim como observamos na última prova (XXXI Exame da OAB). Ademais, o
artigo 18 do CDC, já citado acima, também dispõe sobre o tema.
“Dessa maneira, a norma do caput do art. 18 coloca todos os
partícipes do ciclo de produção como responsáveis diretos pelo
vício, de forma que o consumidor poderá escolher e acionar
diretamente qualquer dos envolvidos, exigindo seus direitos
(NUNES, 2005, p.170)”

Vejamos, ainda, um trecho do acórdão 1213957, publicado em 07/11/2019 sobre o tema:

“2. O entendimento que se harmoniza com as normas


consumeristas é no sentido de que há responsabilidade
solidária entre todos os fornecedores integrantes da cadeia
de consumo (art. 7º, parágrafo único, e art. 25, §1º, do
CDC), de modo que, testificado que os danos causados ao
consumidor originaram-se da conduta perpetrada por três
funerárias, todas devem responder pela reparação. 3. Do
exame do contexto fático-probatório, verificado que o autor,
filho do de cujus, pretendia que o sepultamento ocorresse em
menos de 24 (vinte e quatro) horas após o óbito e em localidade
cujo transporte não ultrapassaria a distância de 250km, incumbia
às funerárias, umbilicalmente envolvidas na prestação de serviços
funerários, alertá-lo quanto à prescindibilidade da formolização
do cadáver (art. 237 do Decreto Distrital n. 32.568/10) ou, então,
orientá-lo que o procedimento permitia que o sepultamento
ocorresse posteriormente, sem urgência para realização do
velório.”
Acórdão 1213957, 07011522220188070008, Relator: SANDRA
REVES, 2ª Turma Cível, data de julgamento: 6/11/2019,
publicado no DJE: 27/11/2019.

Conclui-se, então que, como mais uma alternativa ao consumidor, tendo em vista sua
vulnerabilidade, há o estabelecimento da responsabilidade solidária a fim de que caiba ao
consumidor a escolha a respeito de qual dos envolvidos irá acionar.
 TEORIA DO RISCO DA ATIVIDADE

Para o Código de Defesa do Consumidor, o desempenho de atividade econômica, por si


só, cria o risco de dano ao consumidor, de forma que, concretizado, surge o dever de
repará-lo, independentemente da comprovação de dolo ou culpa do fornecedor. Portanto,
no CDC a regra é a responsabilidade objetiva.

Com base na responsabilidade objetiva, a reparação do dano se baseia na extensão do dano


na e sua relação com a atividade desenvolvida pelo agente. Incide sobre atividades que
potencialmente ofereçam risco à coletividade. É possível observá-la no artigo 14 do CDC,
muito cobrados nas provas. Vejamos:

#DEOLHONOARTIGO
Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Nesse sentido, há que se falar em uma responsabilidade objetiva que compreende as


vicissitudes empresariais, ou seja, a responsabilidade objetiva pelos danos causados é
inerente à atividade empresarial.

 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS

Em regra, o vício de qualidade dos serviços impõe uma responsabilidade objetiva dos
fornecedores. Uma exceção a essa regra está disposta no at. 14, § 4º do Código de Defesa
do Consumidor. Senão vejamos:
Art. 14 § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

#CAIUNAPROVA
A FGV adora uma exceção. Sendo assim, guardem que a responsabilidade dos
profissionais liberais é subjetiva e fica condicionada à comprovação de dolo ou
culpa!

VIII-TEORIA FINALISTA MITIGADA – OU APROFUNDADA

#CAIUNAPROVA
A teoria finalista aprofundada ou mitigada amplia o conceito de consumidor para
alcançar a pessoa física ou jurídica que, embora não seja a destinatária final do
produto ou serviço, esteja em situação de vulnerabilidade técnica, jurídica ou
econômica em relação ao fornecedor.

Nesse sentido, vejamos a Jurisprudência do TJ/DF:


“1. A teoria finalista aprofundada ou mitigada amplia o
conceito de consumidor, incluindo todo aquele que possua
vulnerabilidade em face do fornecedor. Decorre da
mitigação dos rigores da teoria finalista para autorizar a
incidência do CDC nas hipóteses em que a parte, pessoa
física ou jurídica, embora não seja tecnicamente a
destinatária final do produto ou serviço, se apresenta em
situação de vulnerabilidade. (...). 2. Ao adquirir veículo novo
'zero quilômetro', o adquirente cria a justa expectativa sobre a
fruição regular do bem, pois é aguardada a atuação pautada na
boa-fé, que estabelece deveres entre fornecedor e consumidor a
fim de que o contrato de compra e venda de um produto durável
seja legitimamente adimplido com a entrega de um produto de
razoável qualidade. (...). 4. Comprovada a existência de vício no
produto adquirido pelo consumidor, não tendo, para tanto,
concorrido qualquer utilização indevida do automóvel, deve o
conserto ser coberto pela garantia.” (grifamos)
Acórdão n.1188548, 07104893320178070020, Relator: MARIA
DE LOURDES ABREU, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento:
25/07/2019, Publicado no DJE: 02/08/2019.
A teoria finalista aprofundada ou mitigada amplia o conceito de consumidor incluindo
todo aquele que possua vulnerabilidade em face do fornecedor. Decorre da mitigação dos
rigores da teoria finalista para autorizar a incidência do CDC nas hipóteses em que a parte,
pessoa física ou jurídica, embora não seja tecnicamente a destinatária final do produto ou
serviço, apresenta-se em situação de vulnerabilidade. Assim, o conceito-chave no finalismo
aprofundado é a presunção de vulnerabilidade, ou seja, uma situação permanente ou
provisória, individual ou coletiva, que fragiliza e enfraquece o sujeito de direitos,
desequilibrando a relação de consumo.

 SÚMULAS IMPORTANTES DO STJ

SÚMULA 130: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto
de veículo ocorridos em seu estabelecimento.
SÚMULA 479: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados
por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de
operações bancárias.
SÚMULA 595: As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos
suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo
Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e adequada
informação.

REFERÊNCIAS

Acórdão n.1188548, 07104893320178070020, Relator: MARIA DE LOURDES ABREU, 3ª


Turma Cível, Data de Julgamento: 25/07/2019, Publicado no DJE: 02/08/2019. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-visao-
do-tjdft-1/definicao-de-consumidor-e-fornecedor/mitigacao-da-teoria-finalista-para-o-
finalismo-
aprofundado#:~:text=A%20teoria%20finalista%20aprofundada%20ou,econ%C3%B4mica
%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20ao%20fornecedor.. Acesso em: 21 jul. 2020.

BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de Direito do Consumidor. 3ª ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 2010

Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 6ª


ed. São Paulo: Editora RT, 2011.

GOMIDE, Alexandre Junqueira. Direito de Arrependimento nos contratos de consumo.


São Paulo. Almedina, 2014.

NUNES, Rizzatto. Curso de direito do Consumidor, ed. Saraiva . 2005.

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. RESPONSABILIDADE DO


FORNECEDOR POR OFERTA DE PRODUTO NA INTERNET. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-visao-
do-tjdft-1/o-consumidor-na-internet/responsabilidade-do-fornecedor-por-oferta-de-
produto-na-internet. Acesso em 29 jul. 2020;

(...) a ideia de sorte está, em grande medida, ligada ao fato


de não compreendermos os motivos pelos quais as coisas
acontecem. Alguns povos usam a expressão "sorte" tanto
no sentido positivo quanto no negativo. Seu significado
seria muito mais próximo de ocasião, circunstância. (...) é
preciso estar preparado nos dois sentidos que a palavra
pode ter: disponível para buscar e competente para fazê-
lo". - A sorte segue a coragem (Cortella, Mário Sergio).

Você também pode gostar