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CURSO INTENSIVO

PRÁTICA EM DIREITO SUCESSÓRIO

AULA 2
CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS, ACEITAÇÃO E RENÚNCIA

1. CESSÃO DE DIREITO HEREDITÁRIO

1.1. Previsão legal

Nos termos do art. 1.793 do CC, “o direito à sucessão aberta, bem como o
quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura
pública”. A cessão de herança não transfere ao cessionário a qualidade de herdeiro, mas
apenas lhe outorga os direitos pertencentes ao cedente.

1.2. Requisitos

A cessão de direito hereditário se sujeita a quatro requisitos. São eles:

 Requisito temporal: a cessão deve ocorrer entre a abertura da sucessão e a


partilha. Antes da abertura da sucessão não é possível, porque não se admite
cessão de herança de pessoa viva, conforme art. 426 do CC (“Não pode ser
objeto de contrato a herança de pessoa viva”). Após a partilha, o titular
disporá de um direito próprio, configurando, assim, verdadeiro contrato de
compra e venda;
 Requisito formal: a lei exige que a cessão de direito hereditário seja
realizada por escritura pública. Isso decorre do fato de que a herança é, por
disposição legal, um bem imóvel (art. 80, II, do CC);

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 Requisito subjetivo: exige-se capacidade do agente. Se o cedente for


incapaz, deverá obter autorização judicial prévia, ouvindo-se, ainda, o
Ministério Público. Se o cedente for casado, necessitará do consentimento
do seu cônjuge, haja vista que a herança é considerada bem imóvel (art. 80,
II, do CC), salvo se casado sob o regime da separação absoluta de bens (art.
1.647 do CC);
 Requisito objetivo: a cessão não pode ter por objeto bem singular. Isso
porque a herança goza de indivisibilidade e universalidade. A ideia é,
basicamente, a seguinte: com a morte do autor da herança, os herdeiros
passam a ser coproprietários de todo o patrimônio. Justamente por isso é
que não se pode admitir cessão de bem singular, sob pena de se ferir o
direito dos demais herdeiros sobre o bem cedido. A cessão, portanto, deve
recair sobre uma fração. Para que seja possível a cessão de um bem singular,
será necessária a concordância expressa de todos os demais herdeiros, da
Fazenda Pública, eventuais credores, assim como autorização judicial. A
inobservância desse requisito torna a cessão ineficaz em relação aos demais
coerdeiros (art. 1.793, §§ 2º e 3º, do CC).

Realizada a cessão, o cessionário se sub-rogará nos direitos do cedente,


assumindo, ao lado dos demais herdeiros, a titularidade das relações jurídicas
patrimoniais que compõem a herança.
Se após a cessão, novos direitos forem conferidos ao herdeiro cedente, em
consequência, por exemplo, de substituição ou direito de acrescer, esses novos direitos
não estarão abrangidos na cessão (art. 1.793, § 1º, do CC).

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1.3. Renúncia translativa

Não raras vezes, o herdeiro “renuncia” em favor de outro herdeiro os seus


direitos hereditários. Fala-se, nesse caso, em renúncia translativa. Tal renúncia pode ser
gratuita ou onerosa.
Além dos requisitos já elencados, é preciso ter em mente, ainda, os seguintes
pontos:

a) Cessão gratuita a herdeiro não necessário: se o cessionário não for


herdeiro necessário do cedente, será nula a cessão quanto à parte que
exceder à de que o cedente, no momento da liberalidade, poderia dispor
em testamento (art. 549 do CC);
b) Cessão gratuita a herdeiro necessário: Se o cessionário for descendente ou
cônjuge do cedente, a cessão importará adiantamento da legítima (art. 544
do CC);
c) Cessão onerosa a descendente: se o cessionário for descendente do
cedente, será necessário o consentimento dos demais descendentes e do
cônjuge, salvo se casados sob o regime da separação absoluta de bens, sob
pena de anulabilidade. Isso porque a cessão onerosa equivale a uma
compra e venda (art. 496 do CC);
d) Cessão onerosa a terceiro não herdeiro: é possível que a cessão de direitos
hereditários tenha como cessionário terceiro não herdeiro. Quando a
cessão for onerosa, o herdeiro deverá, antes de ceder ao terceiro, notificar
os demais herdeiros, a fim de que eles exerçam o seu direito de preferência.
Isso porque, nos termos do art. 1.794 do CC, “o co-herdeiro não poderá
ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro co-
herdeiro a quiser, tanto por tanto”. Se o herdeiro cedente não observar
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essa regra, qualquer herdeiro poderá impedir a cessão. Para tanto, deverá
ajuizar uma ação de adjudicação de quinhão hereditário, demonstrando ao
juiz a inobservância da regra do art. 1.794 do CC e pleiteando, ao final, a
declaração da ineficácia da cessão e a adjudicação do quinhão hereditário.
Mas é preciso que o autor da ação a proponha no prazo de 180 (cento e
oitenta) dias da cessão e deposite em juízo o valor pago pelo cessionário
(não herdeiro) ao cedente, conforme previsão contida no art. 1.795, caput,
do CC (“Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da
cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a
estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão”)1.
Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles se
distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas
hereditárias (art. 1.793, parágrafo único, do CC). Caso o herdeiro

1
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SUCESSÕES. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO
CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA. INVENTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ART. 522 DO CPC/1973. CESSÃO
ONEROSA DE QUOTA HEREDITÁRIA À TERCEIRO. DIREITO DE PREFERÊNCIA DOS COERDEIROS. ARTS. 1.794
E 1.795 DO CÓDIGO CIVIL. AQUISIÇÃO TANTO POR TANTO. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. NECESSIDADE.
INDICAÇÃO DE PREÇO E CONDIÇÕES DE PAGAMENTO. IMPRESCINDIBILIDADE. 1. É permitido ao herdeiro
capaz ceder a terceiro, no todo ou em parte, os direitos que lhe assistem em sucessão aberta. 2. A
alienação de direitos hereditários a pessoa estranha à sucessão exige, por força do que dispõem os arts.
1.794 e 1.795 do Código Civil, que o herdeiro cedente tenha oferecido aos coerdeiros sua quota parte,
possibilitando a qualquer um deles o exercício do direito de preferência na aquisição, "tanto por tanto",
ou seja, por valor idêntico e pelas mesmas condições de pagamento concedidas ao eventual terceiro
estranho interessado na cessão. 3. À luz do que dispõe o art. 1.795 do Código Civil e em atenção ao
princípio da boa-fé objetiva, o coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado
o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até 180 (cento e oitenta) dias após ter sido
cientificado da transmissão. 4. No caso, apesar de o recorrente ter sido chamado a se manifestar a
respeito de eventual interesse na aquisição da quota hereditária de seu irmão, não foi naquele ato
cientificado a respeito do preço e das condições de pagamento que foram avençadas entre este e terceiro
estranho à sucessão, situação que revela a deficiência de sua notificação por obstar o exercício do direito
de preferência do coerdeiro na aquisição, tanto por tanto, do objeto da cessão. 5. Recurso especial
provido.

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interessado tenha ciência da cessão apenas em momento posterior, poderá


ajuizar a ação e alegar a aplicação da teoria da actio nata;
e) Cedente casado: se o cedente for casado, salvo pelo regime da separação
absoluta de bens, a cessão dependerá do consentimento do seu cônjuge,
conforme previsão do art. 1.647, I e IV, do CC (“art. 1.647. Ressalvado o
disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus
real os bens imóveis; (...); IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de
bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação”).

Cumpre destacar que a cessão de direitos hereditários gera uma verdadeira


sub-rogação, ou seja, o cessionário se sub-roga no direito do herdeiro cedente, com as
mesmas qualidades e defeitos. Assim, o patrimônio deixado pelo falecido deve primeiro
responder pelas dívidas e, somente após, o cessionário receberá o quinhão adquirido.
Em outras palavras, assim como ocorreria com o herdeiro cedente, o cessionário
responderá pelo passivo nas forças da herança.
Nota-se, assim, que a cessão de direitos hereditários é um negócio jurídico
aleatório, não sendo possível determinar, desde logo, as vantagens do negócio. Há risco.
Logo, é possível que, na prática, o cessionário, após o pagamento das dívidas deixadas
pelo falecido, nada receba. Nesse caso, o cessionário não poderá reclamar do cedente
perdas e danos ou ressarcimento do valor pago.

1.4. Cessão por termo nos autos

A cessão também pode ser feita nos próprios termos do inventário, tendo a
mesma força e eficácia de uma escritura pública. Nesse caso, os herdeiros cedente e
cessionário devem apresentar uma petição formalizando a cessão dos direitos
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hereditários. O juiz, então, determinará a expedição do termo de cessão, o qual será


assinado pelas partes.

AGRAVO DE INSTRUMENTO – Arrolamento – Decisão


determinando a juntada de escritura pública de cessão de
direitos hereditários – Inadmissibilidade – Renúncia simples ou
translativa que pode ser tomada por termo nos autos –
Inteligência do art. 1.806 do Código Civil – Recurso
provido. (TJSP; Agravo de Instrumento 2302461-
37.2020.8.26.0000; Relator (a): José Carlos Ferreira Alves; Órgão
Julgador: 2ª Câmara de Direito Privado; Foro de Bauru - 1ª Vara
de Família e Sucessões; Data do Julgamento: 13/01/2021; Data
de Registro: 13/01/2021)

É possível que a cessão seja feita por procurador, desde que tenha poderes
especiais para tanto.

2. ACEITAÇÃO DA HERANÇA

2.1. Generalidades

Conforme estudado, aberta a sucessão, transferem-se, automaticamente, a


posse e propriedade dos bens deixados pelo de cujus aos herdeiros legítimos e
testamentários (art. 1.784 do CC). Não obstante, o código impõe que o herdeiro aceite
a herança. Nos termos do art. 1.804 do CC, “aceita a herança, torna-se definitiva a sua
transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão”.
A aceitação da herança não é ato constitutivo, ou seja, não é a aceitação que
fará com que os bens deixados sejam transmitidos aos herdeiros. A transmissão, como
dito, opera-se de forma automática com o óbito (abertura da sucessão – princípio da
saisine). A aceitação é ato meramente confirmatório.
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A aceitação pode ser expressa, tácita ou presumida (art. 1.805, caput, do CC):

 Expressa: manifestada por declaração escrita;


 Tácita: manifestada pela prática de atos próprios da qualidade de herdeiro.
Vale lembrar, nos termos do § 1º do art. 1.805 do CC, que “não exprimem
aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os
meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória”.
Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da
herança, aos demais coerdeiros (art. 1.805, § 2º, do CC).
 Presumida: é possível que algum interessado ajuíze uma ação contra o
herdeiro ou formule requerimento nos autos do inventário, a fim de forçá-
lo a dizer se aceita ou não a herança. Em ambos os casos, a
demanda/interpelação deve ser promovida no prazo de 20 (vinte) dias após
a data da abertura da sucessão. A inércia do herdeiro faz presumir a
aceitação. Nesse sentido, dispõe o art. 1.807 do CC que “o interessado em
que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após
aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias,
para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por
aceita”.

2.2. Irrevogabilidade

A aceitação da herança é ato irrevogável, conforme prevê o art. 1.812 do CC


(“Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança”). Aceita
a herança, seus efeitos defluem automaticamente, por força de lei, inclusive os efeitos
tributários. Exatamente por isso é que, após a aceitação, o herdeiro poderá apenas

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ceder o seu quinhão hereditário, fato que não o isentará do recolhimento do imposto
sobre transmissão causa mortis – ITCMD.

2.3. Quem pode aceitar a herança

Trata-se de ato a ser praticado pelo próprio herdeiro. Exige-se, evidentemente,


capacidade. Sendo incapaz o herdeiro, a aceitação será realizada por seu representante
legal. Estando o herdeiro sujeito a tutela ou curatela, a aceitação dependerá de
autorização judicial (art. 1.748, II, do CC)2.
Se o herdeiro for casado, a aceitação não depende do consentimento do seu
cônjuge, haja vista não se tratar de ato de alienação ou oneração de bens.
Se o sucessor falecer antes de aceitar a herança, seus herdeiros serão
chamados. Segundo o art. 1.809, caput, do CC, “falecendo o herdeiro antes de declarar
se aceita a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de
vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada”. O parágrafo único
desse dispositivo prevê, ainda, que “os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes
da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou
renunciar a primeira”.

2.4. Aceitação indireta da herança

É possível que herdeiro, objetivando prejudicar seus credores, renuncie a


herança. Quando isso ocorrer, os credores, no prazo de trinta dias seguintes ao

2
Art. 1.748. Compete também ao tutor, com autorização do juiz: (...); II - aceitar por ele heranças,
legados ou doações, ainda que com encargos.
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conhecimento do fato, poderão requerer ao juiz autorização para aceitar a herança em


nome do renunciante. Trata-se de aceitação indireta.
Aceita a herança pelos credores e pagas as dívidas, valerá quanto ao
remanescente a renúncia realizada pelo herdeiro.
Vejamos como a questão está disciplinada no código civil:

Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores,


renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz,
aceitá-la em nome do renunciante.
§ 1 o A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias
seguintes ao conhecimento do fato.
§ 2 o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia
quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais
herdeiros.

3. RENÚNCIA

3.1. Generalidades

A renúncia da herança, diferentemente do que ocorre com a aceitação, será


sempre expressa, devendo constar expressamente de instrumento público ou termo
judicial (art. 1.806 do CC). Com a renúncia à herança, a transmissão das relações jurídicas
patrimoniais tem-se por não verificada. Vê-se, assim, que a renúncia produz efeitos ex
tunc, ou seja, é como se o herdeiro nunca tivesse herdado. Tratando-se de sucessão
legítima, a parte do renunciante acrescerá à dos outros herdeiros da mesma classe e,
sendo ele o único desta, devolve-se aos da classe subsequente (art. 1.810 do CC).
Trata-se de ato solene, não admitindo sua realização por instrumento
particular.

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AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. 1. A parte
agravante refutou, nas razões do agravo em recurso especial, a
aplicação da Súmula 83/STJ, não incidindo, portanto, o óbice da
Súmula 182/STJ. 2. Não há falar em violação ao art. 1.022 do
Código de Processo Civil, pois o Tribunal a quo dirimiu as
questões pertinentes ao litígio, afigurando-se dispensável que
tivesse examinado uma a uma as alegações e os fundamentos
expendidos pelas partes. 3. A natureza jurídica da ação não se
determina pela denominação atribuída pelo autor no momento
da propositura da demanda, mas pelo objeto perseguido
efetivamente, com análise sistemática do pedido e da causa de
pedir deduzidos na inicial, nascendo justamente dessa análise a
definição do prazo de prescrição ou decadência. 4. Na espécie, a
pretensão autoral refere-se à declaração de nulidade de partilha
efetivada pela inobservância de formalidades essenciais,
devendo ser afastada a incidência do prazo ânuo previsto nos
arts 2.027, parágrafo único, do Código Civil e 1.029, parágrafo
único, do CPC/1973. 5. A renúncia da herança é ato solene,
exigindo o art. 1.806 do Código Civil, para o seu reconhecimento,
que conste "expressamente de instrumento público ou termo
judicial", sob pena de nulidade (art. 166, IV) e de não produzir
qualquer efeito, sendo que "a constituição de mandatário para
a renúncia à herança deve obedecer à mesma forma, não tendo
validade a outorga por instrumento particular" (REsp
1.236.671/SP, Rel. p/ Acórdão Ministro Sidnei Beneti, Terceira
Turma, julgado em 09/10/2012, DJe 04/03/2013). 6. Agravo
interno provido para reconsiderar a decisão de fls. 880-881.
Agravo em recurso especial não provido. (AgInt no AREsp
1585676/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 20/02/2020, DJe 03/03/2020).

Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo


(art. 1.808, caput, do CC). Caso o autor da herança teste algum legado (bem singular), o
herdeiro pode aceitá-lo e renunciar a herança. Em outras palavras, a renúncia à herança
não impede a aceitação de legado e vice-versa. Da mesma forma, o herdeiro, chamado,

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na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos,


pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia.
Conforme já estudado, não se pode confundir a renúncia abdicativa com a
chamada “renúncia translativa”, por meio da qual um herdeiro renuncia seu quinhão
hereditário “em favor de outro herdeiro” (ex.: o herdeiro João renuncia seu quinhão
hereditário em favor do seu irmão José). Nesse caso, não há, propriamente, renúncia. O
que há, em verdade, é a aceitação da herança e cessão gratuita a outro herdeiro.
Conforme já estudado, se a renúncia do herdeiro prejudicar seus credores,
poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante (art. 1.813,
caput, do CPC). A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao
conhecimento do fato. Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao
remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros.
Se o herdeiro falecer antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar
passará aos seus herdeiros, a menos que se trate de disposição testamentária sujeita a
uma condição suspensiva, ainda não verificada. Naturalmente que se a condição não se
operou, ficará sem efeito a disposição testamentária.
Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que
concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira. Em
outras palavras, a transmissão do poder de aceitar a herança somente ocorrerá se os
herdeiros do herdeiro falecido aceitarem a herança dele3.
Se o herdeiro falecer após ter renunciado a herança, seus herdeiros não
poderão sucedê-lo em relação à herança renunciada. Se, porém, ele for o único legítimo
da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão
os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

3
Cf. ANTONINI, Mauro. Código civil comentado: doutrina e jurisprudência. Coordenador: Cezar Peluzo. 8ª
ed. rev. e atual. Barueri: Manole, 2014, p. 2021.
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3.2. Requisitos

De uma forma geral, a doutrina aponta para três grandes requisitos:

 Requisito subjetivo: por ser ato de disposição de direito, exige-se


capacidade do agente. Tratando-se de incapaz, somente com autorização
judicial, ouvido o Ministério Público, é que será admitida a renúncia. Se o
herdeiro for casado, dependerá do consentimento do seu cônjuge, salvo
se casados sob o regime da separação absoluta (convencional) de bens;
 Requisitos formal: a renúncia será sempre expressa, por escritura pública
ou termo judicial. Trata-se de forma solene exigida pela lei (art. 1.806 do
CC). Há, contudo, uma hipótese de renúncia presumida admitida pelo
código civil. Trata-se da renúncia de herança decorrente de disposição
testamentária. Nos termos do art. 1.913 do CC, “se o testador ordenar
que o herdeiro ou legatário entregue coisa de sua propriedade a outrem,
não o cumprindo ele, entender-se-á que renunciou à herança ou ao
legado”;
 Requisito temporal: assim como ocorre na aceitação, a renúncia da
herança somente pode ocorrer após a abertura da sucessão e antes da
partilha.

3.3. Consequências da renúncia

A renúncia da herança gera as seguintes consequências:

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 Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros


herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da
subsequente (art. 1.810 do CC). Exemplo: se o falecido deixou apenas três
filhos e um deles renunciar, o seu quinhão será repassado para os dois
outros irmãos herdeiros. Se todos os irmãos renunciar, a herança passará
aos seus respectivos filhos. Contudo, se o renunciante for o único de sua
classe (ex.: único descendente) ou se todos os herdeiros dessa classe
(todos os descendentes), a herança passará aos herdeiros da classe
subsequente (ascendentes) e assim sucessivamente;
 Não há direito de representação na renúncia. É por isso que o quinhão do
renunciante será acrescido ao quinhão dos demais herdeiros do mesmo
grau e da mesma classe. Nos termos do art. 1.811 do CC, “ninguém pode
suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único
legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe
renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito
próprio, e por cabeça”. O dispositivo contém uma impropriedade técnica.
Onde se lê “classe”, deve-se ler “grau”. Os filhos dos renunciantes são da
mesma classe (classe dos descendentes), mas de grau subsequente
(netos do autor da herança). O dispositivo quis dizer o seguinte: Se,
porém, ele for o único legítimo do seu grau, ou se todos os outros do
mesmo grau renunciarem a herança, poderão os filhos (grau
subsequente) vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. Se todos
dessa classe (dos descendentes), serão chamados os da classe
subsequente (ascendentes). Vale lembrar, por fim, que no caso de
renúncia, diferentemente do que ocorre na indignidade, o renunciante
pode administrar os bens transmitidos a seus filhos, bem como ter o
usufruto deles.
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3.4. Irrevogabilidade

Assim como ocorre na aceitação, a renúncia é ato irrevogável, conforme


preceitua o art. 1.812 do CC (“São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da
herança”).

Se você chegou até aqui, parabéns! Isso demonstra que você faz parte de um grupo
muito pequeno de pessoas: as que são comprometidas profissionalmente e investem
no próprio conhecimento. Lembre-se: somente o estudo e a dedicação poderão
promover as mais grandiosas transformações na sua vida e na de sua família.
O conhecimento liberta, transforma e empodera!
Com carinho,
Jaylton Lopes Jr.

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