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MERITÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA 15a VARA

CÍVEL DA COMARCA DE RIO DE JANEIRO – RIO


DE JANEIRO.

Distribuição por dependência aos autos n°


xxxx/xxxx

KÁTIA, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e


domiciliada à Rua X, n° XXX, Bairro XXXXXXX, por meio de seu advogado
signatário, com escritório profissional localizado na rua xxxxxx (procuração em
anexo), vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no
artigo 674 e seguintes do Código de Processo Civil, opor os presentes

EMBARGOS DE TERCEIRO

em desfavor de Beatriz, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliada


à Rua X, n° XXX, Bairro XXXXXXX
I – DOS FATOS

A embargada propôs execução de alimentos em relação ao


cônjuge da embargante, Sr. Paulo, a qual foi distribuída para esse Juízo, autuada sob o
n° xxxx/xxxx
Em 2015, a embargante e seu cônjuge casaram-se no
regime da comunhão universal de bens, e em 2017, Paulo se desfez dos imóveis em sua
posse para adquirir novo imóvel residencial. No entanto, em 2018 Paulo ficou
desempregado, e acabou por inadimplir as obrigações alimentícias devidas para com
seu filho, Glauco, menor impúbere. Em razão destes fatos, Beatriz, ex-esposa de Paulo,
ajuizou ação de execução de alimentos para garantir o pagamento das prestações de
alimentos para Glauco. Na referida ação foi penhorado o seguinte bem do casal: Seu
imóvel de residência, isto é, seu bem único.

Entretanto, tal bem não pode responder pela dívida


executada, em virtude de que a embargante e seu cônjuge contraíram matrimônio sob o
regime de comunhão universal de bens, como disposto no Artigo 1.667 do Código
Civil e os seguintes. Daí decorre o fato de que todos os bens presentes e futuros, são
comunicados entre os cônjuges, tal qual o imóvel que Paulo adquiriu e que atualmente
residem.
Apesar da dívida decorrente de pensão alimentícia
constituir exceção aos casos de impenhorabilidade, devem ser resguardados os direitos,
sobre o bem do coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal.

Deste modo, está evidenciado que a penhora incidiu sobre


bem de terceiros, devendo ser levantada a constrição judicial existente sobre o mesmo.

II – DO DIREITO

II.I – Do cabimento e da Legitimidade.

Sabe-se que, quando um procedimento judicial atingir


relação jurídica de uma das partes com terceiros que estão alheios à participação do
feito, será permitido a este terceiro intervir no processo, com fins de obter sentença que
lhe seja favorável aos seus interesses, ainda que indiretamente.

Desta forma, conforme o disposto no Artigo 674 do Código


de Processo Civil, poderá o embargante, que não constituir parte no processo principal,
quando sofrer constrição sobre bens que de sua posse, com a penhora indevida de seu
imóvel, lhe é cabível o desfazimento por meios de embargos de terceiro, uma vez que
estes podem ser de terceiro proprietário ou possuidor.

“Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de
constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o
ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de
embargos de terceiro.
§ 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor.
§ 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua
meação, ressalvado o disposto no art. 843 ;

É mister destacar, que os embargos de terceiro não


desconstituem e nem invalidam a sentença proferida em processo alheio, mas agem de
forma impeditiva contra a eficácia da decisão que atinja patrimônio alheio, o qual não
pode ser responsabilizado.

No caso em tela, a embargante é meeira do imóvel objeto da


execução, em razão de sua relação matrimonial com o executado no processo de
pensão, seu cônjuge, Paulo. Contraíram o matrimônio sob o regime de comunhão
universal de bens.

Não obstante, o imóvel enquadra-se nos requisitos


positivados em lei para caracterização do mesmo como bem de família, nos termos do
Art. 1° da Lei n° 8.009/90, qual seja

“Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da


entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil,
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou
pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei.”
E finalmente, como versa a Lei n° 8.009/1990, que dita
sobre a impenhorabilidade do bem familiar, em seu Artigo 3°, III:

“Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer


processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza,
salvo se movido:
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os
direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união
estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida;”

II.III Da tempestividade

Os Embargos serão opostos enquanto o bem estiver


penhorado em Ação de Execução, mas antes do início de qualquer medida
expropriatória (adjudicação, alienação por iniciativa particular ou mesmo arrematação).
É o que diz o Artigo 675 do Código de Processo Civil, caput.

Art. 675 “Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo


no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença e, no
cumprimento de sentença ou no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da
adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes
da assinatura da respectiva carta”

Verifica-se então o cumprimento do outro critério de


exigibilidade formal processual, a tempestividade de ajuizamento dos embargos para
impugnação à sentença.

II.III da desconstituição da penhora sobre a MEAÇÃO do imóvel

A doutrina entende que na lição de Elpídio Donizetti


em “Curso Didático de Direito Processual Civil”, 20ª ed. rev. Atual. EAMPL. -
São Paulo, Atlas, 2017, p. 1013:(...)Relativamente a eventuais outros bens,
móveis ou imóveis, é de ser admitida a penhora de patrimônio do cônjuge,
mas somente caso não obtido êxito na constrição dos bens do executado,
porquanto se enquadram no art. 1.660, I, do CC. Situação em que, caso não
obtido êxito na penhora de bens do executado, possível então que a
constrição judicial atinja o patrimônio (bens móveis e imóveis) de sua esposa,
para penhora da meação que pertence ao executado.Contudo, inaplicável a
regra antes exposta à situação dos autos, tendo em vista que a esposa do
devedor não foi parte na ação de conhecimento, tampouco comprova o credor
que o valor da execução tenha revertido em proveito do casal, para efeito de
possibilitar a penhora de valores existentes em nome daquela.Assim, resta
impossibilitada a inclusão da esposa do executado no polo passivo da
demanda, bem como a adoção de atos constritivos em prejuízo daquela, haja
vista que ela não pode ser inserida nos presentes autos no estado em que se
encontra, sob pena de ferir o princípio do contraditório e ampla defesa.Ainda,
é pessoa ilegítima a figurar no polo passivo, eis que não possui relação com o
objeto da demanda, não possuindo, assim, legitimidade ad processum.Nesse
sentido:(...)

Nesse mesmo sentido são os julgados abaixo, que


representam o entendimento dos tribunais pátrios:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE


RESTITUIÇÃO DE BEM EM FASE DE CUMPRIMENTO DA SENTENÇA –
DECISÃO AGRAVADA QUE INDEFERIU O PEDIDO DE INCLUSÃO DA
ESPOSA DO AGRAVADO NO POLO PASSIVO DA EXECUÇÃO E DE
PENHORA DE BENS DE SUA TITULARIDADE – REFORMA PARCIAL –
INCLUSÃO DO CÔNJUGE NO POLO PASSIVO DA LIDE – IMPOSSIBILIDADE
– AUSÊNCIA DE SUBSUNÇÃO DO CASO ÀS HIPÓTESES PREVISTAS NO
ARTIGO 779 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – REALIZAÇÃO DE
PENHORA DE BENS QUE SE ENCONTREM EM NOME DA ESPOSA DO
EXECUTADO – POSSIBILIDADE – AGRAVADO CASADO SOB O REGIME DE
COMUNHÃO PARCIAL DE BENS – COMUNICABILIDADE – BENS QUE
SOBREVIERAM AO CASAL NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO – ARTIGOS 1.658 E
SEGUINTES do código civil – POSSIBILIDADE DE PENHORA DA MEAÇÃO
PERTENCENTE AO AGRAVADO – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO
(TJPR - 18ª Câmara Cível - 0023423-36.2021.8.16.0000 - Cambé - Rel.:
DESEMBARGADORA DENISE KRUGER PEREIRA - J. 29.11.2021)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM SEDE DE RECURSO INOMINADO.


OMISSÃO. INOCORRÊNCIA. BEM IMÓVEL CUJA QUOTA-PARTE DE 50%
(CINQUENTA POR CENTO) FOI OBJETO DE PENHORA. RECONHECIMENTO
DA IMPENHORABILIDADE SOBRE METADE DO BEM IMÓVEL RELATIVA À
MEAÇÃO. TESE DE INADMISSIBILIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA AO
TEMPO DO JULGAMENTO DA EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE
APRESENTADA PELO EXECUTADO. EVIDENTE PRETENSÃO DE
REDISCUTIR A CAUSA EM EVIDENTE INSATISFAÇÃO COM O JULGADO.
INADMISSIBILIDADE DESTA VIA RECURSAL. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO REJEITADOS.
(TJPR - 3ª Turma Recursal - 0004864-96.2017.8.16.0056/1 - Cambé - Rel.: JUIZ DE
DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS JUAN DANIEL
PEREIRA SOBREIRO - J. 28.11.2022)

III – DOS REQUERIMENTOS

Pelo exposto, requer:

a) o recebimento dos presentes embargos de terceiro,


juntamente com os documentos que os acompanham, com fundamento no artigo 678,
do CPC, e a distribuição por dependência e autuação em apenso dos presente autos, nos
termos do artigo 676, do CPC.

b) a citação da embargada, na forma do artigo 677, §3º do


CPC, para, querendo, contestar a ação no prazo legal, sob pena de revelia;

c) a produção de todas as diligências e meios de prova em


direito admitidas;

d) ao final, que sejam julgados integralmente


PROCEDENTES os Embargos de Terceiro, para determinar a ineficácia sobre o bem
objeto desta execução, com seu consequente levantamento, nos termos do artigo 681,
do CPC;

e) a condenação da embargada no pagamento das custas


processuais e honorários advocatícios que forem arbitrados por este Juízo, nos termos
dos artigos 82, parágrafo 2°, e 85, do CPC.

f) Indicação do valor total da causa no montante de (valor


avaliado do imóvel penhorado na execução)

Rio de Janeiro – RJ, Data: XX/XX/XXXX

Isaac Frigotto
OAB/RJ

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