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EXM°. SR°. DR°.

JUÍZ DE DIREITO DA 1a VARA CÍVEL de COMARCA de BRAGANÇA


PAULISTA
PROCESSO N°
qualificado na açã o em epigrafe, vem a presença de V.Exa por intermédio de seu
advogado e procurador para CONTESTAR , a presente açã o o que faz nos termos
seguintes:

I - DA INICIAL:
O Banco Requerente ingressou com a presente açã o possessó ria, visando ser
reintegrado na posse dos bens arrendados descritos na exordial, em suma, sustenta
seu direito à ser reintegrada na posse do bem uma vez estando a Requerida
constituída em mora em razã o de notificaçã o extrajudicial.
Alega o Banco Requerente que o Requerido firmou com ele contrato de arrendamento
e deixou de pagar as parcelas do VRG e de contraprestaçã o na forma e no prazo
estipulado no instrumento.
Alega ainda que a Requerida possui uma saldo devedor de decorrente do vencimento
antecipado das obrigaçõ es contratuais.
Com base nestes argumentos, pede a procedência do feito com a condenaçã o da
Requerida em honorá rios e custas mais despesa de reintegraçã o de posse.
È essa uma apertada síntese do pleito da Requerente.
Em que pese os argumentos despendidos pela Requerente, temos que seu pedidos sã o
improcedentes, senã o vejamos:
II- DAS PRELIMINARES:
II - 1. DA AUSÊ NCIA DE FUNDAMENTO JURÍDICO AO PEDIDO
Para deter o poder do monarca, cujo sucessor é o Poder Executivo, concebeu-se o
mecanismo difundido por todo o mundo civilizado, por força do qual quem executa as
leis nã o pode fazê-las; quem as fez nã o pode executá -las; e quem dirime os conflitos,
ao lume delas, nã o pode nem elaborá -las e nem cuidar de fazê- las cumprir.
Dito isto, temos que uma vez estabelecida a separaçã o de poderes, o juiz nã o pode
legislar, mas inegavelmente faz o direito, quando concretiza a ordem jurídica.
Importante tem sido a incursã o pretoriana no trato das questõ es relacionadas ao
arrendamento mercantil ou "leasing", no bojo das incontá veis demandas judiciais,
nascidas dos conflitos decorrentes da celebraçã o de contratos sob tal "nomen juris",
tendo por objeto negó cios jurídicos envolvendo veículo automotor.
Todavia, nã o erram os que afirmam que os detentores do capital, além de valorizar os
efeitos fiscais decorrentes do negó cio jurídico em tela, ao optar por tal instituto
procuram albergar-se na proteçã o possessó ria, em ocorrendo inadimplência do
arrendatá rio, assegurando, assim, de forma mais eficaz, o retorno do bem, objeto do
negó cio jurídico pactuado, enquanto desdenham os meios coercitivos de que dispõ em,
para tal, sob a clave do Decreto-lei 911/69, que estabeleceu o procedimento sobre
alienaçã o fiduciá ria.
Com uma esdrú xula combinaçã o dos artigos 486, 499, 505, 1.192, do Có digo Civil, com
os artigos 924 e seguintes, do Có digo de Processo Civil, além da alegaçã o de que o
arrendatá rio - entã o denominado esbulhador - incorrera em mora, face a inércia em
que se manteve, ante a notificaçã o a ele endereçada para devolver o veículo, objeto do
negó cio jurídico entã o realizado, as instituiçõ es financeiras que operam no setor
passaram a bater à porta da Justiça, maciçamente, com pedidos de reintegraçã o de
posse do bem, obtendo-a, através de generosas liminares, dispensada até a audiência
de Justificaçã o Prévia, dando-se o juiz por satisfeito com a prova "documental" da
posse, exibida com a inicial.
Nã o é difícil demonstrar, todavia, à luz de liçõ es elementares de direito, que:
O arrendante nã o dispõ e de açã o possessó ria em face do arrendatá rio. A
inadimplência do arrendatá rio nã o lhe confere o aná tema de esbulhador.
Por outro lado, direito nã o é um mecanismo cego que possa ser utilizado para fins
puramente econô micos. Ao contrá rio, ele é um instrumento inspirado numa finalidade
ética e destinado a atendê-la, e é exatamente dentro desse contexto que se
demonstrará que o contrato de "leasing" levado a reboque no dorso das açõ es de
reintegraçã o de posse, ajuizadas aos milhares perante nossos tribunais, nã o passa de
um insulto à inteligência jurídica nacional, cujos primeiros sinais de indignaçã o estã o
sendo notados nos ú ltimos julgados do Superior Tribunal de Justiça.
Certamente até um estudante de direito que esteja ainda na primeira metade do curso
nã o ignora a existência de uma linha que demarca, com absoluta nitidez, as normas
destinadas a regular as relaçõ es de cará ter real das destinadas a regular as de cará ter
pessoal. Nã o fosse isso, o Có digo Civil nã o teria disciplinado tais normas em Livros
separados.
Com base, precisamente, no texto do artigo 485 do Có digo Civil, resulta que possuidor
é quem tem, de fato, o exercício de um desses poderes.
Por outro lado, a posse, como exercício de fato sobre a coisa, como o exerceria o
proprietá rio, desvinculada de qualquer relaçã o jurídica preexistente, verso-reverso do
conceito de possuidor, na dicçã o do art. 485, do Có digo Civil, recebe da doutrina a
denominaçã o de "jus possessionis".
Todavia, na multiplicidade dos fatos da vida, o proprietá rio, muitas vezes, visando a
utilizaçã o econô mica do bem, entrega-o a outrem, que sobre ele passa a exercer
poderes fá ticos de uso ou fruiçã o, situaçã o esta disciplinada no Có digo Civil, através do
art. 486.
Tal posse, segundo dispõ e o mencionado art. 486, do Có digo Civil, se fraciona em
posse indireta, cujo titular é o proprietá rio (despojado temporariamente dos direitos
que emergem do art. 524, do Có digo Civil) e posse direta, atribuída ao usufrutuá rio, ao
locatá rio ou ao arrendatá rio etc.
Frise-se que, os atentados à posse corrigem-se por meio das açõ es possessó rias. Tais
atentados podem consistir em ameaça, turbaçã o ou esbulho.
O esbulho consiste no ato segundo o qual o possuidor é privado da posse, seja
impelido pela violência, clandestinamente ou mediante abuso de confiança, conforme
se infere do disposto no artigo 489, do Có digo Civil.
O termo esbulho (tanto quanto as demais modalidades de atentado à posse),
materializa e reflete a circunstâ ncia, o modo ou a maneira como o agente investiu-se
na posse da coisa e no exato momento em que tal fato ocorreu, sendo, assim,
contemporâ neo à sua aquisiçã o.
Conforme afirmado retro, o "leasing" traduz, uma operaçã o financeira que tem na
locaçã o sua essência, com a eventualidade de transformar-se em venda, se o
arrendatá rio optar pela compra do bem mediante pagamento do valor residual; em
novo contrato locatício, se o arrendatá rio pretender renová -lo ou em devoluçã o pura e
simples do bem ao arrendante.
Princípio elementar de direito ensina que celebrado o contrato bilateral, oneroso,
comutativo, apó s atendidos todos os requisitos pertinentes à sua regular constituiçã o,
pode o mesmo ser dissolvido, no curso de sua execuçã o, por inadimplemento ou
inexecuçã o imputá vel a uma das partes, como por exemplo, a falta de pagamento da
pecú nia pactuada, como o caso "sub examine".
Em tal hipó tese, o contrato se desconstitui, fazendo jus o prejudicado, além do direito
de haver a coisa, o de exigir do inadimplente perdas e danos ou outras sançõ es
previstas na lei ou no contrato (CC, art. 1.092, pará grafo ú nico), sendo imprescindível
a intervençã o judicial se as partes nã o acordarem sobre os efeitos pecuniá rios da
resoluçã o.
Mesmo admitindo-se, pelo amor ao debate, como incontroverso o inadimplemento
por parte do arrendatá rio e resolvido o contrato, de pleno direito, é perfeitamente
possível afirmar, sem medo de cometer equívoco, que o ajuizamento da açã o de
reintegraçã o de posse, nos casos de contrato de "leasing", nã o encontra respaldo na
lei, nem na melhor doutrina, conforme restará provado.
Obviamente que, como proprietá ria do veículo, ao abrigo do direito real suscetível de
ser invocado, a instituiçã o financeira dispõ e de duas medidas judiciais para haver tal
bem, que se acha na posse do arrendatá rio: ou a açã o reivindicató ria , fundada no art.
524, do Có digo Civil, ou a açã o de imissã o de posse , fundada no "jus possidendi".
A simples leitura, mesmo superficial, da lei aplicá vel, é suficiente para se afirmar, de
forma induvidosa, que para o ajuizamento de qualquer açã o possessó ria, dentre as
quais se inclui a reintegrató ria, imprescindível se torna a prova, pelo autor, da posse
(CPC, art. 927, I).
Obviamente, que a posse referida no dispositivo acima nã o é outra senã o a definida
reflexivamente no artigo 485, do Có digo Civil, ou seja, a que se materializa no
exercício, de fato, pleno ou nã o, de um dos poderes inerentes ao domínio ou
propriedade.
Manifesta a injuridicidade, portanto, da alegaçã o, pelo autor, na inicial da açã o de
reintegraçã o de posse, da titularidade da posse indireta - "jus possidendi" -
documentalmente provada, mediante a juntada à quela peça vestibular, do contrato de
arrendamento mercantil, bastando que se atente aos fundamentos, a seguir, aduzidos:
a) Nã o tendo o legislador se referido, expressamente, no art. 927, I, do
CPC, à posse indireta, nã o há como possa fazê-lo o intérprete.
b) O possuidor direto, este sim, pode fazer uso dos interditos
possessó rios, nã o só em face de terceiros, como em face do pró prio possuidor
indireto, com o qual estabeleceu relaçã o jurídica de cará ter obrigacional,
precedentemente.
c) O possuidor indireto, dispondo unicamente do direito à posse, ou "jus
possidendi", está legitimado a fazer uso da açã o de imissã o de posse, em face do
devedor direto.
d) Pode o possuidor indireto, no entanto, valer-se dos interditos
possessó rios, em face de terceiro, na condiçã o de substituto processual do possuidor
direto, ante a recusa ou inércia deste em defender a posse do bem.
De plano, portanto, a Arrendante sucumbiria ante tal requisito, erigido, em sede de
quaisquer das açõ es possessó rias, como condiçã o da açã o em estrita conexidade com
o pró prio mérito, eis que, de fato, nunca a pessoa acima teve posse sobre o veículo,
objeto do pedido reintegrató rio, no sentido técnico-jurídico que tal instituto tem de
ser entendido.
Se tanto nã o bastar, acrescente-se que nã o há como se imputar ao Arrendatá rio o
estigma de esbulhador, mesmo apó s consumada a notificaçã o, como instrumento de
efetivaçã o do chamado pacto comissó rio, sob pena de se subverter os princípios mais
comezinhos de direito.
Segundo ORLANDO GOMES, posse injusta, a "contrario sensu" do disposto no art. 489,
do Có digo Civil, é aquela cuja aquisiçã o repugna ao Direito, sendo, em suma, posse
ilícita na sua aquisiçã o , ou seja, aquela em que se verifica a presença de um dos vícios,
do ponto-de-vista objetivo: (a) posse violenta; (b) posse clandestina; (c) posse
precá ria.
Ora, relativamente ao caso concreto, o arrendatá rio foi investido na posse do veículo,
com base em contrato devidamente formalizado, o que equivale dizer que a adquiriu
conforme o Direito, isto é, pú blica, mansa e contínua.
Portanto, se a nã o tem e nunca teve posse sobre o veículo, objeto do contrato de
"leasing", a recusa Arrendatá rio em devolver o veículo, apó s notificado, nã o pode ser
considerada como esbulho, tem-se que a petiçã o inicial da açã o de reintegraçã o de
posse está desfalcada dos dois requisitos primordiais (CPC, art. 927, I e II),
inviabilizando-a totalmente, posto faltar-lhe o pró prio fundamento jurídico do pedido
(CPC, art. 282, III).
Do exposto, resulta incontroverso que, efetivamente, descabe a açã o de reintegraçã o
de posse, como remédio jurídico processual, para amparar pretensã o deduzida pelas
instituiçõ es financeiras que operam com o "leasing", devendo o feito ser extinto sem
apreciaçã o de mérito.

III - DO MÉRITO.
III -1. DA NECESSIDADE DA REVOGAÇÃ O DA LIMINAR E DO ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL.
No caso em apreço, afigura-se cabível a aplicaçã o da teoria do adimplemento
substancial dos contratos.
Resta claro que o Requerido adimpliu com 51 das prestaçõ es contratadas, de
obrigaçã o total (contraprestaçã o e VRG parcelado) de um total de 60 parcelas.
In casu o mencionado descumprimento contratual é inapto a ensejar a reintegraçã o de
posse pretendida e, consequentemente, a resoluçã o do contrato de arrendamento
mercantil.
Diante do substancial adimplemento do contrato, mostra-se desproporcional a
pretendida reintegraçã o de posse e contraria princípios basilares do Direito Civil,
como a funçã o social do contrato e a boa-fé-objetiva. A regra que permite a
reintegraçã o de posse em caso de mora do devedor - e consequentemente a resoluçã o
do contrato -, no caso dos autos, deve sucumbir diante dos aludidos princípios.
Nã o se está a afirmar que a dívida nã o paga desaparece, o que seria um convite a toda
sorte de fraudes, afirmamos tã o somente que que o meio de realizaçã o do crédito por
que optou a instituiçã o financeira nã o se mostra consentâ neo com a extensã o do
inadimplemento e, de resto, com os ventos do Có digo Civil de 2002.
Pode, certamente, o autor valer-se de meios menos gravosos e proporcionalmente
mais adequados à persecuçã o do crédito remanescente, como, por exemplo, a
execuçã o do título.
A embasar essa tese citamos os precedentes abaixo transcritos do STJ cujo teor
grifamos:
ALIENAÇÃ O FIDUCIÁ RIA. Busca e apreensã o. Falta da ú ltima prestaçã o.
Adimplemento substancial. O cumprimento do contrato de financiamento, com a falta
apenas da ú ltima prestaçã o, nã o autoriza o credor a lançar mã o da açã o de busca e
apreensã o, em lugar da cobrança da parcela faltante. O adimplemento substancial do
contrato pelo devedor nã o autoriza ao credor a propositura de açã o para a extinçã o do
contrato, salvo se demonstrada a perda do interesse na continuidade da execuçã o, que
nã o é o caso. Na espécie, ainda houve a consignaçã o judicial do valor da ú ltima
parcela. Nã o atende à exigência da boa-fé objetiva a atitude do credor que desconhece
esses fatos e promove a busca e apreensã o, com pedido liminar de reintegraçã o de
posse. Recurso nã o conhecido.(REsp 272.739/MG, Rel. Ministro , QUARTA TURMA,
julgado em 01.03.2001, DJ 02.04.2001 p. 299).
ALIENAÇÃ O FIDUCIÁ RIA. Busca e apreensã o. Deferimento liminar. Adimplemento
substancial. Nã o viola a lei a decisã o que indefere o pedido liminar de busca e
apreensã o considerando o pequeno valor da dívida em relaçã o ao valor do bem e o
fato de que este é essencial à atividade da devedora. Recurso nã o conhecido. (REsp
469.577/SC, Rel. Ministro , QUARTA TURMA, julgado em 25/03/2003, DJ 05/05/2003
p. 310).
Ademais ressaltamos que quando da IV Jornada de Direito Civil promovida pelo
Conselho da Justiça Federal, , também foi aprovado o enunciado n. 361, na que assim
dispõ e
Arts. 421, 422 e 475: O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais
contratuais, de modo a fazer preponderar a funçã o social do contrato e o princípio da
boa-fé objetiva, balizando a aplicaçã o do art. 475.
Destarte, para o fim de impedir o uso desequilibrado e irazoá vel do direito de
resoluçã o do contrato por parte do credor, que vê na retomada do bem uma chance de
inclusive locupletar-se ignorando completamente os princípios da boa-fé e da funçã o
social do contrato, há de reconhecer no caso presente a ocorrência do adimplemento
substancial, e julgar improcedente a demanda.
III.2 - DO DIREITO A AMPLA DEFESA
Segundo entendimento de alguns juristas, a açã o de natureza possessó ria nã o admite
discussã o acerca de matéria outra que nã o seja correlata à questã o da posse.
Assim, a alegaçã o em sede de contestaçã o, de matéria referente à validade de
clá usulas contratuais, nã o pode ser apreciada em exame de mérito, pois extrapola os
limites do que se poderia ter como matéria possessó ria.
Todavia, há que se considerar que uma vez citado o réu para apresentar contestaçã o,
deve ao mesmo ser conferido direito de alegar em sua defesa qualquer matéria,
inclusive a discussã o de clá usulas contratuais consideradas abusivas.
Impedir este tipo de discussã o é cercear o direito à ampla defesa do cidadã o e negar
vigência ao artigo 300 do Có digo de Processo Civil onde "compete ao réu alegar, na
contestaçã o, toda matéria de defesa, expondo as razõ es de fato e de direito com que
impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir".
Negar ao consumidor o direito de alegar a abusividade das clá usulas contratuais, a
cobrança exorbitante de juros, a capitalizaçã o dos mesmos, entre outras inú meras
ilegalidades existentes nos contratos de arrendamento mercantil, é também negar o
acesso à Justiça e o contido no inciso XXXV do artigo 5° da Constituiçã o Federal, pois
"a lei nã o excluirá da apreciaçã o do Poder Judiciá rio lesã o ou ameaça a direito".
E nã o se alegue que pode o consumidor intentar a açã o competente para discutir a
abusividade das clá usulas contratuais, cerceando, assim, seu direito de discuti-las na
possessó ria. Poder é uma faculdade, analisar o direito do cidadã o é uma obrigaçã o do
magistrado.
Desse modo, o Superior Tribunal de Justiça protege e auxilia o consumidor no seu
direito à ampla defesa. Com base nesse raciocínio jurídico, assim decidiu a 4a Turma
do STJ:
Para chegar a essas conclusõ es o Ministro Ruy Rosado de Aguiar , juntamente com os
Ministros que integram a 4a Turma do STJ, levaram em consideraçã o as seguintes
razõ es:
a) A mora somente existe quando o atraso resultar de fato imputá vel ao devedor (art.
963 do Có digo Civil). Se a exigência do credor é abusiva, e portanto ilegítima, o
devedor que nã o paga o que lhe está sendo indevidamente cobrado nã o incide em
mora, pois pode reter o pagamento enquanto nã o lhe for dada quitaçã o regular.
b) O fato de o devedor nã o propor a devida açã o nã o lhe retira o direito de questionar
os valores devidos, a validade das clá usulas contratuais referentes à sua prestaçã o e
sobre a regularidade na composiçã o do débito mensal, o que pode ser feito nã o apenas
em açã o pró pria mas também quando da reintegrató ria promovida pelo arrendante,
açã o que corresponde à de resoluçã o do contrato bilateral em geral, e que é a cena
adequada para o debate dos temas que envolvem o exato cumprimento do contrato e
o exame da legitimidade de suas clá usulas.
Deixando de examinar a alegada abusividade da avença, matéria de ordem pú blica a
ser conhecida até de ofício pelo juiz, nos termos do artigo 51 do CDC, ocorre a violaçã o
a lei federal.
Como pode-se constatar o STJ, guardiã o da lei federal, entende ser a possessó ria
momento há bil à discussã o de toda e qualquer clá usula contratual que porventura
venha ser considerada abusiva.
A aplicaçã o das normas contidas no Có digo de Defesa do Consumidor devem ser
aplicadas em perfeita consonâ ncia com as leis processuais vigentes no país. Assim, se
o Có digo de Defesa do Consumidor possibilita ao devedor a discussã o e anulaçã o de
toda e qualquer clá usula contratual abusiva, deve o juiz conhecer dessas alegaçõ es e
possibilitar a discussã o das clá usulas conforme determina o CDC, invertendo o ô nus
da prova quando cabível e dilatando a produçã o das provas requeridas no curso do
processo.
Ora, se o credor pode dispor da reintegrató ria para reaver o bem objeto do leasing no
menor espaço de tempo, o devedor poderá , contestando a açã o, alegar tudo quanto
achar conveniente, inclusive atacar as clá usulas leoninas e as condiçõ es contratuais
expostas.
Cabe ao juiz manter o equilíbrio da relaçã o processual, e esse equilíbrio só poderá ser
mantido se o julgador estiver aberto a interpretaçõ es progressistas, que viabilizem a
aplicaçã o do sentido espiritual da norma para que seja concedida a Justiça.
Ao limitar, na contestaçã o da possessó ria, a matéria a ser discutida, o réu nada poderá
alegar em sua defesa, a nã o ser questã o relativa à posse. Ora, como analisar a questã o
da posse sem antes analisar as clá usulas e condiçõ es contratuais que permitiram ao
consumidor o direito de possuir?
Verifica-se pois que ao contestar a açã o de reintegraçã o de posse, o réu tanto pode
quanto deve alegar toda matéria de defesa em prol de seu direito, requerendo a
nulidade das clá usulas contratuais abusivas e a inversã o do ô nus da prova, tal qual lhe
alberga o Có digo de Defesa do Consumidor.
III.3- DA ILEGALIDADE DAS TAXAS DE JUROS, DA CAPITALIZAÇÃ O E DA COMISSÃ O
DE PERMANÊ NCIA.
Nã o se pode admitir a prá tica usuá ria por parte de quem - como o Requerido - detém
alto poder negocial conferido pelo monopó lio econô mico. Verdade é que as
contraprestaçõ es do mú tuo embutem taxas de juros e encargos elevadíssimos, tanto
pelos índices quanto pelo cá lculo composto.
A invocaçã o de existência de clá usula contratual, como suposto autorizativo para a
cobrança de juros além dos permitidos legalmente, é insubsistente; cuida-se aí nã o de
jus dispositivum , mas de direito cogente:
" Como informa a doutrina abalizada o contrato de arrendamento mercantil foi inserido no panorama do
Direito Brasileiro por conta do modelo adotado nos Estados Unidos, em cujo cenário econômico encontrava-
se a prática difundida do leasing ante os custos pouco elevados e diante da disponibilidade de capital para
empréstimo.

No que concerne à compreensã o do contrato de arrendamento mercantil, trago à


colaçã o o ensinamento de ARNALDO RIZZARDO ( in Revista da AJURIS, n° 35, pá gina
137), vazado nos seguintes termos:
" (...) contrato essencialmente complexo, visto encerrar uma promessa unilateral de venda, um mandato,
uma promessa sinalagmática de locação de coisa, uma opção de compra e, no leasing operacional, mais uma
prestação de serviço... Mais: Não se trata de uma simples locação com promessa de venda, como à primeira
vista pode parecer, mas cuida-se de uma locação com uma consignação de uma promessa de compra,
trazendo, porém, um elemento novo, que é o financiamento, numa operação específica que consiste na
simbiose da locação, do financiamento e da venda. "
Assim no referido ajuste possibilita-se ao arrendatá rio, ao término do contrato,
adquirir o bem mediante o pagamento do valor residual garantido, simplesmente
devolvê-lo, ou pactuar uma renovaçã o das condiçõ es anteriormente avençadas.
Em se tratando de contrato que nã o informa a taxa de juros remunerató rios para a
formaçã o do preço do arrendamento, torna-se tormentosa a discussã o a respeito, na
medida em que as contraprestaçõ es contemplam além do custo do arrendamento do
bem, as despesas operacionais e o valor para o exercício da opçã o de compra (VRG).
Vale dizer que as contraprestaçõ es e demais despesas previstas no contrato
possibilitam a arrendante recuperar o custo do bem arrendado durante o prazo
contratual da operaçã o e, adicionalmente, obter um retorno sobre os recursos
investidos, consoante o disposto na Resoluçã o n° 2.309/96 do BACEN.
Aliá s, no referido diploma legal consta expressamente (art. 7°, inciso III) que o
contrato deve conter a descriçã o dos bens, o valor das contraprestaçõ es ou a fó rmula
de cá lculo destas, bem assim o critério de reajuste dos valores, a forma de pagamento,
as condiçõ es para o exercício da opçã o de compra com especificaçã o do preço dentre
outras características.
No caso presente a leitura do contrato nã o é clara, pois nã o há nele a formula utilizada
para a fixaçã o dos encargos, muito menos no que toca a taxa de juros incidente na
operaçã o.
Nessa linha, anoto o disposto no art. 11 da Lei n° 6.099/74 ressaltando que ‘ Serã o
consideradas como custo ou despesa operacional da pessoa jurídica arrendatá ria as
contraprestaçõ es pagas ou creditadas por força do contrato de arrendamento
mercantil’.
Significa dizer que além do proveito tributá rio em favor da pessoa jurídica
contratante, quando for possível na hipó tese, deve ser considerada a diferença entre a
reduçã o da vida ú til normal do bem e a aceleraçã o da depreciaçã o, haja vista o prazo
de obsolescência com implicaçã o direta na formulaçã o do cá lculo das
contraprestaçõ es e do valor residual garantido.
Desse modo o custo ou despesa operacional engloba o preço de compra do bem que se
expressa pelo total das contraprestaçõ es pagas durante o arrendamento, acrescido da
parcela paga a título de aquisiçã o, nos termos do §2°, do art. 11 da Lei n° 6.099/74.
Por outro lado, a complexidade do contrato de leasing exigiu regulamentaçã o especial
nos termos da Lei n° 6.099, de 12 de setembro de 1974, alterada pela Lei n° 7.132/83
considerando o arrendamento mercantil como ‘o negó cio jurídico realizado entre
pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade
de arrendatá ria, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela
arrendadora, segundo especificaçõ es da arrendatá ria e para uso pró prio desta’.
Sendo assim, revela-se uma pluralidade de relaçõ es obrigacionais por envolver um
financiamento, locaçã o de coisa e aquisiçã o do domínio como opçã o final do
arrendatá rio.
Por isso nã o se pode permitir a abusividade no contrato de leasing quando este nã o
expressa a taxa de juros, o que lesiona o direito do consumidor de saber o que
realmente está contratando e acaba complelido a pagar mais que o devido.

III. 4 - DA PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO PELA REQUERENTE


Em primeiro lugar, cumpre observar que a entrega do veículo ao Banco Requerente
sem que dele se exija cauçã o relativa ao VRG pago antecipadamente, gera um enorme
desequilíbrio entre as partes, senã o vejamos:
O negó cio jurídico de arrendamento mercantil foi formalizado por meio de
instrumento padronizado, contrato de adesã o lavrado exclusivamente pelo
arrendador, ora autor, denominado contrato de arrendamento mercantil.
Como se pode verificar na inicial a Requerida vem pagando antecipadamente o VRG,
juntamente com a parcela do arrendamento.
Desta feita o manejo dessas açõ es possessó rias, visando a entrega do bem ao
arrendante, pois, compelindo a arrendatá ria arcar com o pagamento integral da
avença, mesmo depois de ser desprovida da posse do bem arrendado evidentemente,
fere qualquer ló gica econô mica e jurídica, já que, uma vez que o preço todo das
prestaçõ es estaria pago, a arrendatá ria poderia exercer a opçã o de comprar o bem,
como lhe garante o leasing.
Em que pese nã o estar condicionada a concessã o de liminar de reintegraçã o de posse,
ao depó sito do valor do VRG pago antecipadamente, guarda pertinência a pretensã o
de alcançar sua restituiçã o, pois o VRG se destina a garantir o futuro exercício do
direito de opçã o de compra.
Nã o exercida esta na hipó tese em que já antecipada parcelas a esse título, como é o
caso, justo que se assegura ao arrendatá rio a devoluçã o do que pagou, atualizado
desde o desembolso pelo mesmo indexador do contrato e acrescido de juros de mora
contados do deferimento da liminar de reintegraçã o.
Nesse sentido, remansosa jurisprudência, confira-se:
"ARRENDAMENTO MERCANTIL REINTEGRAÇÃ O DE POSSE. Reintegrando-se a
arrendante na posse do bem arrendado, só poderá exigir do arrendatá rio o
pagamento das contra prestaçõ es vencidas até o momento da entrega, descontando-se
o valor pago antecipadamente a título de VRG, já que afastada a prerrogativa da opçã o
de compra." (Apel c/ Rev n° 746 623-0/8, rei Juiz CLÓ VIS CASTELO)
"COMERCIAL E PROCESSUAL - REVISIONAL DE CONTRATO - 'LEASING' - VEÍCULO
AUTO MOTOR - APREENSÃ O E VENDA DO BEM - SALDO DEVEDOR - ONEROSIDADE -
PRESTAÇÕ ES VINCENDAS - VALOR RESIDUAL GARANTIDO - JUROS - MULTA -
CORREÇÃ O MONETÁ RIA - TAXA REFERENCIAL - COMISSÃ O DE PERMANÊ NCIA -
CÓ DIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
I - Tendo o bem sido reintegrado na posse da arrendante e vendido
extrajudicialmente, só poderá ser exigido dos arrendatá rios o pagamento das parcelas
vencidas até o momento da entrega, com os encargos pactuados no contrato de
'leasing', porém com isençã o do valor residual garantido, que também deverá ser
abatido das prestaçõ es pagas, já que afastada a prerrogativa de compra do veículo.
II - Se a correçã o monetá ria foi pactuada pela TR, nã o poderá a credora embutir no
cá lculo essa verba cumulada com comissã o de permanência, que nem sequer está
prevista em contrato sob essa denominaçã o.
III - A clá usula que prevê a cobrança de multa em 9% ao mês sobre cada parcela
vencida é leonina, extrapolando os limites do artigo 920 do Có digo Civil, devendo
prevalecer somente a clá usula penal de 10% incidente sobre o total do débito. IV -
Precedentes do STJ (Sú mulas 07; 05 e 30. Resp's ; 154 921/SP e )." (REsp 211.570 - PR
- STJ - 3a T Rei. Min. WALDEMAR ZVEITER - J em 10.4.2000 - "in" DJU de 12.6.2000,
pá g 107)
Destarte é mister a determinaçã o para que a Requerida proceda ao depó sito judicial
dos valores pagos a título de VRG, monetariamente corrigidos, sob pena de revogaçã o
da liminar, vez que o valor residual apenas é devido em caso de aquisiçã o do veículo,
aquisiçã o que nã o se afigura mais possível em caso de reintegraçã o por
inadimplemento.
Com efeito, se o VRG apenas é devido em caso de aquisiçã o do bem e se a aquisiçã o
nã o mais será possível em caso de reintegraçã o, nã o haveria mesmo razã o para sua
retençã o por parte da financeira.
Nã o há fundamento legal que autorize tal retençã o para acerto futuro. Do corpo do V.
Acó rdã o prolatado no REsp. -Rel. o Min. Castro Filho, Terceira Turma do E. STJ., extrai-
se:
"Retomada a posse direta do bem pelo arrendante, por meio de ação de reintegração de posse, extinguiu-se
a possibilidade de o arrendatário adquirir o bem. Por conseguinte, deve ser devolvido o valor residual pago
antecipadamente. Se esta devolução pode ser feita nos autos da ação de reintegração de posse, consoante o
precedente desta Turma, deve ser admitida a compensação, evitando-se delongas desnecessárias e a
propositura de outras ações para que o arrendatário possa reaver o valor despendido a esse título ".(grifo
nosso.).

III.5 - DA RESTITUIÇÃ O DOS VALORES PAGOS ANTECIPADAMENTE A TITULO DE


VRG.
Em decorrência das praticas abusivas e da situaçã o atual do contrato temos ainda que
nã o interessa nem ao auto nem ao réu a manutençã o do vinculo contratual, o que
decerto levará a rescisã o do contrato, firmado pelas partes, por culpa exclusiva do
autor.
Assim ocorrendo, o autor deverá ser condenado a devolver ao réu os pagamentos
efetuados a titulo de antecipaçã o do VRG, cuidando-se, no particular, de pedido certo e
determiná vel.
O artigo 53 do Có digo de Defesa do Consumidor que prevê que:
"nos contratos de compra e venda de mó veis ou imó veis mediante pagamento em
prestaçõ es, bem como nas alienaçõ es fiduciá rias em garantia, consideram-se nulas de
pleno direito as clá usulas que estabeleçam a perda total das prestaçõ es pagas em
benefício do credor que, em, razã o do inadimplemento, pleitear a resoluçã o do
contrato e a retomada do produto alienado".
Tal situaçã o leva ao fato de que é abusiva e nula a clá usula contratual que estabeleça a
perda total das prestaçõ es pagas, uma vez que no contrato de leasing estã o embutidos
o valor da locaçã o do automó vel e o valor do bem (valor residual garantido).
Tal contrato contém embutida, na sua constituiçã o, a locaçã o, mas dele se diferencia,
pois tal aluguel é mais oneroso do que os aluguéis dos bens, eis que nele se encontra
embutido o chamado valor residual, incidindo esta parcela plus porque ao final,
havendo a opçã o da compra, os valores pagos irã o amortizar o valor do preço final
para aquisiçã o do bem.
Pois bem a Autora promoveu a presente demanda objetivando o desfazimento do
negocio e a conseqü ente reintegraçã o da posse do bem arrendado, assim sendo, na
medida em que nã o houve a aquisiçã o do bem, nã o faz sentido a nã o devoluçã o das
parcelas pagas.
Desta feita, uma vez resolvido o contrato de arrendamento, o Autor deverá ser
compelido a restituir ao réu corrigido monetariamente o valor referente ao VRG pagos
antecipadamente.
No caso presente temos que o VRG antecipado no ato da contrataçã o somado ao VRG
pago juntamente com a s contraprestaçõ es.
Ademais, os pará grafos 1° e 2° do artigo 51 do CDC consideram "nula a vantagem
exagerada que ofende os princípios fundamentais do sistema e que venha a ferir o
equilíbrio do contrato".
O egrégio Tribunal de Justiça do estado de Sã o Paulo tem firmado o seguinte
entendimento:
EMENTA: Arrendamento mercantil - Reintegraçã o de posse- Antecipaçã o parcelada do
Valor Residual Garantido (VRG) que nã o descaracteriza o arrendamento mercantil
nem o transforma em compra e venda a prazo - Sú mula 293 do STJ - Dever de
restituiçã o do montante recebido a título de VRG, sob pena de enriquecimento ilícito
da arrendante - Admissibilidade, porém, de compensaçã o com prestaçõ es ainda
devidas pela arrendatá rio até a data da reintegraçã o - Recurso parcialmente provido.
APELAÇÃ O COM REVISÃ O: 795.724-0/7 - Relator CÉ SAR LACERDA Data do
julgamento: 10/06/08
Nã o menos claro é o entendimento da matéria na jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça - STJ que, sobre o assunto, já se pronunciou:
RELATOR :
RECORRENTE : ABN AMRO ARRENDAMENTO MERCANTIL S⁄A
ADVOGADO : DANIEL DE GODOIY PILEGGI E OUTROS
RECORRIDO : PAULO SÉ RGIO UDNICK
ADVOGADO : E OUTROS
EMENTA Arrendamento mercantil. Leasing. Resoluçã o por inadimplemento.
Reintegraçã o de posse. VRG pago antecipadamente. Devoluçã o. CPC, arts 128 e
460. Ofensa nã o caracterizada. Dissídio jurisprudencial nã o demonstrado.
I - Entendida como conseqü ência da reintegraçã o do bem à posse do arrendante,
diante da resoluçã o do contrato de arrendamento mercantil por inadimplemento do
arrendatá rio, o acó rdã o que determina a devoluçã o do valor residual garantido,
pago antecipadamente, nã o extrapola os limites açã o de reintegraçã o de posse.
II - Recurso especial nã o-conhecido.
RECURSO ESPECIAL N° 445.954 - SP (2002⁄) ACÓ RDÃ O
Vistos, relatados e discutidos os autos em que sã o partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, nã o conhecer do recurso especial.
Os Srs. Ministros Ari Pargendler, , Nancy Andrighi e
Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 04 de setembro de 2003.(Data do Julgamento)
AgRg no AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 599.625 - SC (2004⁄)
RELATOR : MINISTRO BARROS MONTEIRO
AGRAVANTE : COMPANHIA ITAULEASING DE ARRENDAMENTO MERCANTIL
ADVOGADO : E OUTROS
AGRAVADO : FLOKO FLORESTADORA KOECHE LTDA
ADVOGADO :
EMENTA
CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL.
RESCISÃ O. VRG. DEVOLUÇÃ O. POSSIBILIDADE. SÚ MULA 83⁄STJ
- Ocorrendo a rescisã o do contrato de arrendamento mercantil, com a reintegraçã o do
bem à arrendadora, é cabível a restituiçã o ao arrendatá rio dos valores pagos a
título de VRG.
Agravo regimental improvido.
ACÓ RDÃ O
Vistos e relatados estes autos em que sã o partes as acima indicadas:
Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar
provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na
forma do relató rio e notas taquigrá ficas precedentes que integram o presente
julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e Aldir
Passarinho Junior. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Jorge Scartezzini.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Barros Monteiro.
Brasília, 15 de dezembro de 2005 (data do julgamento).
Como se verifica,segundo a lei e o entendimento jurisprudencial que é perfeitamente
plausível e justo segundo a que o Autor seja compelido a devolver ao Réu as parcelas
referentes ao VRG.
III.6 - DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE SALDO RESIDUAL
Além disso, sã o totalmente nulas as disposiçõ es contratuais que tornam exigíveis as
parcelas vincendas.
O contrato de arrendamento em questã o prevê que ocorrendo encerramento
antecipado na forma do item acima, além de restituir o bem V.sas. estarã o obrigados a
pagar a arrendadora todas as parcelas vencidas ou vincendas, do VGR e das
contraprestaçõ es do arrendamento, mais os encargos inocorridos, além de uma multa
correspondente ao valor atualizado de uma parcela de contraprestaçã o do
arrendamento.
Esta clá usula se mostra como abusiva e leonina, uma vez que coloca o consumidor em
extrema desvantagem na relaçã o comercial. Além da retomada do veículo, sem o
reembolso das quantias pagas, pleiteia o pagamento das parcelas vencidas e
vincendas e multa contratual.
Estabelece Có digo de Defesa do Consumidor :
"Art. 51 São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produto e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa fé ou a eqüidade; (...)
§1° Presume-se exagerada a vantagem que (...)
II- Restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar
seu objeto ou equilíbrio contratual;
III- se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo da
contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso."

É portanto, tal clá usula nula.


Note-se, que, mesmo que na prová vel hipó tese de nã o se considerar o contrato em
questã o como compra e venda, houve profunda injustiça no que tange o pagamento
das parcelas, pelo adiantamento do valor residual que representaria a opçã o pela
compra.
O pagamento deste valor é indevido porquanto foi imposto unilateralmente pelo Réu,
além de nã o corresponder à vontade do autor optar pela aquisiçã o. Tomando o
contrato de leasing como base, a resiliçã o do contrato possibilita apenas a percepçã o
dos valores referentes aos aluguéis que englobam todo o lucro e as despesas do Réu
com a operaçã o, excluindo-se, no entanto, o valor residual que referia-se à opçã o de
compra e foi pago ilegalmente.
Ainda considerando a hipó tese da nã o descaracterizaçã o, no contrato de leasing é
inexigível o pagamento das parcelas vincendas. O contrato de arrendamento mercantil
se caracteriza por ser um contrato atípico, que tem duplo cará ter.
Além do cará ter de financiamento existe também o de locaçã o, onde entende-se que o
arrendador recebe um valor pelo uso do bem. Este valor nã o se restringe apenas ao
custo do empréstimo da coisa, mas compreenderá também o preço da aquisiçã o do
material, com acréscimo de impostos, despesas gerais da entidade financeira e lucro
que deverá ter pelo investimento do capital.
O entendimento da melhor doutrina é de que :
" O aluguel não se pode dizer equivalente ao uso da coisa, mas o ultrapassa para compensar o seu custo e o
lucro auferido pelo arrendador "

Logo, Nã o existe a possibilidade da cobrança das parcelas vincendas, pois, sendo o


arrendamento mercantil um contrato que envolve locaçã o e compra e venda, nã o se
pode cobrar aluguel por um período em que o locatá rio nã o esteja mais usufruindo do
bem locado nem tenha a possibilidade ou intençã o de compra .
Da mesma forma seria descabido qualquer tipo de indenizaçã o pelo período em que
aconteceram o pagamento das prestaçõ es, pois nelas está embutido, como já foi dito, o
lucro que a arrendadora obteve com a operaçã o.
O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em reiteradas decisõ es tem se pronunciado
neste sentido. Destaca-se a seguinte decisã o:
" EMENTA Arrendamento mercantil. Leasing. Resolução do contrato por inadimplemento do arrendatário.
Conseqüências. Não exigibilidade das prestações vincendas"

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Re n° 16.824-0.-Sp Relator : Ministro Athos


Carneiro. Data do julgamento :23 de março de 1993.(Grifos nossos).
Acosta-se ainda o seguintes textos jurisprudenciais :
TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL DE SÃ O PAULO
"EMENTA Sendo o Leasing contrato que envolve sucessivamente locaçã o e venda, nã o
há fundamento para que , no caso de inadimplemento por parte do arrendatá rio,
sejam cobradas as prestaçõ es vincendas posteriores à recuperaçã o de posse do bem
arrendado e prometido a venda pela arrendadora, pois nã o há aluguel quando o
locatá rio nã o usufrui do bem locado e nã o pode compelir o compromissá rio
comprador a pagar por coisa que nã o pode adquirir." 1° Tribunal De Alçada Civil De
Sã o Paulo. Apelaçã o n° 580.900-9 11a Câ m. Relator : Juiz .
TRIBUNAL DE ALÇADA DO PARANÁ
"EMENTA ARRENDAMENTO MERCANTIL. LEASING. INADIMPLÊ NCIA DO
ARRENDATÁ RIO. CONSEQUÊ NCIAS. IMPOSSIBILIDADE DA COBRANÇA DAS
PRESTAÇÕ ES VINCENDAS E DO VALOR RESIDUAL
Considera-se abusiva, nula e inexigível, à luz do disposto no art. 51, inc IV, Pará grafo
1° inc III do Có digo de Defesa do Consumidor, a clá usula do contrato de arrendamento
mercantil/leasing que autoriza o arrendante a pleitear o pagamento das prestaçõ es
vincendas e do "valor residual" (provisã o para futura compra do bem), a pretexto de
indenizaçã o pela rescisã o contratual por inadimplência do arrendatá rio, apó s a
reintegraçã o daquela na posse do bem, objeto do negó cio. Tribunal de Alçada do
Paraná . Apelaçã o cível n° 94.273-6. Relator Juiz )"
Assim sendo, é totalmente descabida a contraproposta do Réu no sentido de que o
Autor deveria pagar a diferença entre o valor da venda do bem e o saldo
remanescente.
Se por um lado as prestaçõ es ou contraprestaçõ es representam o aluguel do bem, e
nã o mais sã o devidas a partir do momento em que o arrendatá rio deixa de usufruir
dele, pois a usufruiçã o é a justificativa e a razã o de seu pagamento, por outro lado as
prestaçõ es também fazem parte do pagamento de uma parcela do preço do bem, e por
conseguinte o devedor nã o poderá ser compelido a pagar por algo que nã o mais irá
adquirir.
Constitui locupletamento ilícito por parte do Réu o recebimento de valores do autor
referentes a aluguéis onde o nã o existe a fruiçã o, nem a intençã o de aquisiçã o.
A título ilustrativo acosta-se o presente julgado:
TRIBUNAL DE ALÇADA DE MINAS GERAIS
"EMENTA Tratando-se de contrato de leasing financeiro, recuperada a posse do bem
arrendado e operada sua alienaçã o para terceiro, torna-se inaplicá vel o exercício da
opçã o de compra e venda pelo arrendatá rio, e, conseqü entemente inviá vel a cobrança
do saldo remanescente em decorrência da impossibilidade de utilizaçã o do bem"
TRIBUNAL DE ALÇADA DE MINAS GERAIS; Apelaçã o Cível n° 31.403-Juiz de Fora.
Relator : Juiz Caetano Carelos. Apelante : Leasing Bradesco S/a Pelado Frotanobre
trasporte de pessoal Ltda e outros." (grifos nossos)
Nessas condiçõ es, nã o há que impor-se ao arrendatá rio o pagamento do saldo devedor
unilateralmente apurado, pois que estaria a mesma a pagar o valor integral do bem,
uma vez que no somató rio das prestaçõ es acha-se embutidos os valores fracioná rios
do preço da aquisiçã o .
O que na verdade a ré pretende com esta proposta por demais abusiva, é que o Réu
arque com o valor total do bem, sem que exista nem a usufruiçã o, nem a possibilidade
real de compra do mesmo.
Todavia, a fim de visualizar a atual situaçã o da equaçã o do contrato, sem, neste
primeiro momento, uma maior preocupaçã o com a precisã o matemá tica, infirma o
réu:

IV - DO PEDIDO:
Por todo o exposto, restando inexoravelmente demonstrada a viabilidade do decreto
de rescisã o contratual por culpa exclusiva do autor, porquanto, violou inú meros
dispositivos de ordem pú blica, afrontando os direitos do consumidor, estabelecidos
no Có digo de Defesa do Consumidor, bem como, ante a gravidade da lesã o aos seus
direitos e a total irreversibilidade da situaçã o, requer o réu a esse MM. Juízo que
sejam:
Acolhidas a preliminares de mérito invocadas PARA:
Extinguir o feito sem apreciaçã o de mérito, sendo o autor declarado carecedor de
açã o, tendo em vista a inadequaçã o processual, pois busca rescisã o contratual por
meio de açã o possessó ria ofendendo assim o principio da adequaçã o processual.
No mérito requer seja:
a) Reconhecido o adimplemento substancial do contrato e ante exigência antecipada
do Valor Residual Garantido, seja julgada Improcedente a pretensã o do autor; vez que
desnaturado o leasing incabível a reintegraçã o de posse,
b) Caso seja decretada a resoluçã o do contrato de arrendamento mercantil, objeto da
controvérsia seja o autor condenado a devolver as importâ ncias pagas a titulo de
antecipaçã o do VRG todos devidamente corrigidos;
c) Seja o autor condenado ao pagamento das verbas de sucumbência de estilo,
inclusive honorá rios advocatícios a serem arbitrados por V. Exa.
d) Seja determinado a sustaçã o e o levantamento do protesto da Nota promissó ria,
emitida pelo réu ao autor, no valor Global do bem, e a retirada do nome do réu do SPC,
posto que resolvido o contrato encerra-se as relaçõ es entre as partes sendo incabível
a manutençã o do cadastro negativo;
e) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, sem
exceçã o.
Termos em que pede deferimento.
Campinas, 19 de setembro de 2013.

Advogado

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