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I - DA INICIAL:
O Banco Requerente ingressou com a presente açã o possessó ria, visando ser
reintegrado na posse dos bens arrendados descritos na exordial, em suma, sustenta
seu direito à ser reintegrada na posse do bem uma vez estando a Requerida
constituída em mora em razã o de notificaçã o extrajudicial.
Alega o Banco Requerente que o Requerido firmou com ele contrato de arrendamento
e deixou de pagar as parcelas do VRG e de contraprestaçã o na forma e no prazo
estipulado no instrumento.
Alega ainda que a Requerida possui uma saldo devedor de decorrente do vencimento
antecipado das obrigaçõ es contratuais.
Com base nestes argumentos, pede a procedência do feito com a condenaçã o da
Requerida em honorá rios e custas mais despesa de reintegraçã o de posse.
È essa uma apertada síntese do pleito da Requerente.
Em que pese os argumentos despendidos pela Requerente, temos que seu pedidos sã o
improcedentes, senã o vejamos:
II- DAS PRELIMINARES:
II - 1. DA AUSÊ NCIA DE FUNDAMENTO JURÍDICO AO PEDIDO
Para deter o poder do monarca, cujo sucessor é o Poder Executivo, concebeu-se o
mecanismo difundido por todo o mundo civilizado, por força do qual quem executa as
leis nã o pode fazê-las; quem as fez nã o pode executá -las; e quem dirime os conflitos,
ao lume delas, nã o pode nem elaborá -las e nem cuidar de fazê- las cumprir.
Dito isto, temos que uma vez estabelecida a separaçã o de poderes, o juiz nã o pode
legislar, mas inegavelmente faz o direito, quando concretiza a ordem jurídica.
Importante tem sido a incursã o pretoriana no trato das questõ es relacionadas ao
arrendamento mercantil ou "leasing", no bojo das incontá veis demandas judiciais,
nascidas dos conflitos decorrentes da celebraçã o de contratos sob tal "nomen juris",
tendo por objeto negó cios jurídicos envolvendo veículo automotor.
Todavia, nã o erram os que afirmam que os detentores do capital, além de valorizar os
efeitos fiscais decorrentes do negó cio jurídico em tela, ao optar por tal instituto
procuram albergar-se na proteçã o possessó ria, em ocorrendo inadimplência do
arrendatá rio, assegurando, assim, de forma mais eficaz, o retorno do bem, objeto do
negó cio jurídico pactuado, enquanto desdenham os meios coercitivos de que dispõ em,
para tal, sob a clave do Decreto-lei 911/69, que estabeleceu o procedimento sobre
alienaçã o fiduciá ria.
Com uma esdrú xula combinaçã o dos artigos 486, 499, 505, 1.192, do Có digo Civil, com
os artigos 924 e seguintes, do Có digo de Processo Civil, além da alegaçã o de que o
arrendatá rio - entã o denominado esbulhador - incorrera em mora, face a inércia em
que se manteve, ante a notificaçã o a ele endereçada para devolver o veículo, objeto do
negó cio jurídico entã o realizado, as instituiçõ es financeiras que operam no setor
passaram a bater à porta da Justiça, maciçamente, com pedidos de reintegraçã o de
posse do bem, obtendo-a, através de generosas liminares, dispensada até a audiência
de Justificaçã o Prévia, dando-se o juiz por satisfeito com a prova "documental" da
posse, exibida com a inicial.
Nã o é difícil demonstrar, todavia, à luz de liçõ es elementares de direito, que:
O arrendante nã o dispõ e de açã o possessó ria em face do arrendatá rio. A
inadimplência do arrendatá rio nã o lhe confere o aná tema de esbulhador.
Por outro lado, direito nã o é um mecanismo cego que possa ser utilizado para fins
puramente econô micos. Ao contrá rio, ele é um instrumento inspirado numa finalidade
ética e destinado a atendê-la, e é exatamente dentro desse contexto que se
demonstrará que o contrato de "leasing" levado a reboque no dorso das açõ es de
reintegraçã o de posse, ajuizadas aos milhares perante nossos tribunais, nã o passa de
um insulto à inteligência jurídica nacional, cujos primeiros sinais de indignaçã o estã o
sendo notados nos ú ltimos julgados do Superior Tribunal de Justiça.
Certamente até um estudante de direito que esteja ainda na primeira metade do curso
nã o ignora a existência de uma linha que demarca, com absoluta nitidez, as normas
destinadas a regular as relaçõ es de cará ter real das destinadas a regular as de cará ter
pessoal. Nã o fosse isso, o Có digo Civil nã o teria disciplinado tais normas em Livros
separados.
Com base, precisamente, no texto do artigo 485 do Có digo Civil, resulta que possuidor
é quem tem, de fato, o exercício de um desses poderes.
Por outro lado, a posse, como exercício de fato sobre a coisa, como o exerceria o
proprietá rio, desvinculada de qualquer relaçã o jurídica preexistente, verso-reverso do
conceito de possuidor, na dicçã o do art. 485, do Có digo Civil, recebe da doutrina a
denominaçã o de "jus possessionis".
Todavia, na multiplicidade dos fatos da vida, o proprietá rio, muitas vezes, visando a
utilizaçã o econô mica do bem, entrega-o a outrem, que sobre ele passa a exercer
poderes fá ticos de uso ou fruiçã o, situaçã o esta disciplinada no Có digo Civil, através do
art. 486.
Tal posse, segundo dispõ e o mencionado art. 486, do Có digo Civil, se fraciona em
posse indireta, cujo titular é o proprietá rio (despojado temporariamente dos direitos
que emergem do art. 524, do Có digo Civil) e posse direta, atribuída ao usufrutuá rio, ao
locatá rio ou ao arrendatá rio etc.
Frise-se que, os atentados à posse corrigem-se por meio das açõ es possessó rias. Tais
atentados podem consistir em ameaça, turbaçã o ou esbulho.
O esbulho consiste no ato segundo o qual o possuidor é privado da posse, seja
impelido pela violência, clandestinamente ou mediante abuso de confiança, conforme
se infere do disposto no artigo 489, do Có digo Civil.
O termo esbulho (tanto quanto as demais modalidades de atentado à posse),
materializa e reflete a circunstâ ncia, o modo ou a maneira como o agente investiu-se
na posse da coisa e no exato momento em que tal fato ocorreu, sendo, assim,
contemporâ neo à sua aquisiçã o.
Conforme afirmado retro, o "leasing" traduz, uma operaçã o financeira que tem na
locaçã o sua essência, com a eventualidade de transformar-se em venda, se o
arrendatá rio optar pela compra do bem mediante pagamento do valor residual; em
novo contrato locatício, se o arrendatá rio pretender renová -lo ou em devoluçã o pura e
simples do bem ao arrendante.
Princípio elementar de direito ensina que celebrado o contrato bilateral, oneroso,
comutativo, apó s atendidos todos os requisitos pertinentes à sua regular constituiçã o,
pode o mesmo ser dissolvido, no curso de sua execuçã o, por inadimplemento ou
inexecuçã o imputá vel a uma das partes, como por exemplo, a falta de pagamento da
pecú nia pactuada, como o caso "sub examine".
Em tal hipó tese, o contrato se desconstitui, fazendo jus o prejudicado, além do direito
de haver a coisa, o de exigir do inadimplente perdas e danos ou outras sançõ es
previstas na lei ou no contrato (CC, art. 1.092, pará grafo ú nico), sendo imprescindível
a intervençã o judicial se as partes nã o acordarem sobre os efeitos pecuniá rios da
resoluçã o.
Mesmo admitindo-se, pelo amor ao debate, como incontroverso o inadimplemento
por parte do arrendatá rio e resolvido o contrato, de pleno direito, é perfeitamente
possível afirmar, sem medo de cometer equívoco, que o ajuizamento da açã o de
reintegraçã o de posse, nos casos de contrato de "leasing", nã o encontra respaldo na
lei, nem na melhor doutrina, conforme restará provado.
Obviamente que, como proprietá ria do veículo, ao abrigo do direito real suscetível de
ser invocado, a instituiçã o financeira dispõ e de duas medidas judiciais para haver tal
bem, que se acha na posse do arrendatá rio: ou a açã o reivindicató ria , fundada no art.
524, do Có digo Civil, ou a açã o de imissã o de posse , fundada no "jus possidendi".
A simples leitura, mesmo superficial, da lei aplicá vel, é suficiente para se afirmar, de
forma induvidosa, que para o ajuizamento de qualquer açã o possessó ria, dentre as
quais se inclui a reintegrató ria, imprescindível se torna a prova, pelo autor, da posse
(CPC, art. 927, I).
Obviamente, que a posse referida no dispositivo acima nã o é outra senã o a definida
reflexivamente no artigo 485, do Có digo Civil, ou seja, a que se materializa no
exercício, de fato, pleno ou nã o, de um dos poderes inerentes ao domínio ou
propriedade.
Manifesta a injuridicidade, portanto, da alegaçã o, pelo autor, na inicial da açã o de
reintegraçã o de posse, da titularidade da posse indireta - "jus possidendi" -
documentalmente provada, mediante a juntada à quela peça vestibular, do contrato de
arrendamento mercantil, bastando que se atente aos fundamentos, a seguir, aduzidos:
a) Nã o tendo o legislador se referido, expressamente, no art. 927, I, do
CPC, à posse indireta, nã o há como possa fazê-lo o intérprete.
b) O possuidor direto, este sim, pode fazer uso dos interditos
possessó rios, nã o só em face de terceiros, como em face do pró prio possuidor
indireto, com o qual estabeleceu relaçã o jurídica de cará ter obrigacional,
precedentemente.
c) O possuidor indireto, dispondo unicamente do direito à posse, ou "jus
possidendi", está legitimado a fazer uso da açã o de imissã o de posse, em face do
devedor direto.
d) Pode o possuidor indireto, no entanto, valer-se dos interditos
possessó rios, em face de terceiro, na condiçã o de substituto processual do possuidor
direto, ante a recusa ou inércia deste em defender a posse do bem.
De plano, portanto, a Arrendante sucumbiria ante tal requisito, erigido, em sede de
quaisquer das açõ es possessó rias, como condiçã o da açã o em estrita conexidade com
o pró prio mérito, eis que, de fato, nunca a pessoa acima teve posse sobre o veículo,
objeto do pedido reintegrató rio, no sentido técnico-jurídico que tal instituto tem de
ser entendido.
Se tanto nã o bastar, acrescente-se que nã o há como se imputar ao Arrendatá rio o
estigma de esbulhador, mesmo apó s consumada a notificaçã o, como instrumento de
efetivaçã o do chamado pacto comissó rio, sob pena de se subverter os princípios mais
comezinhos de direito.
Segundo ORLANDO GOMES, posse injusta, a "contrario sensu" do disposto no art. 489,
do Có digo Civil, é aquela cuja aquisiçã o repugna ao Direito, sendo, em suma, posse
ilícita na sua aquisiçã o , ou seja, aquela em que se verifica a presença de um dos vícios,
do ponto-de-vista objetivo: (a) posse violenta; (b) posse clandestina; (c) posse
precá ria.
Ora, relativamente ao caso concreto, o arrendatá rio foi investido na posse do veículo,
com base em contrato devidamente formalizado, o que equivale dizer que a adquiriu
conforme o Direito, isto é, pú blica, mansa e contínua.
Portanto, se a nã o tem e nunca teve posse sobre o veículo, objeto do contrato de
"leasing", a recusa Arrendatá rio em devolver o veículo, apó s notificado, nã o pode ser
considerada como esbulho, tem-se que a petiçã o inicial da açã o de reintegraçã o de
posse está desfalcada dos dois requisitos primordiais (CPC, art. 927, I e II),
inviabilizando-a totalmente, posto faltar-lhe o pró prio fundamento jurídico do pedido
(CPC, art. 282, III).
Do exposto, resulta incontroverso que, efetivamente, descabe a açã o de reintegraçã o
de posse, como remédio jurídico processual, para amparar pretensã o deduzida pelas
instituiçõ es financeiras que operam com o "leasing", devendo o feito ser extinto sem
apreciaçã o de mérito.
III - DO MÉRITO.
III -1. DA NECESSIDADE DA REVOGAÇÃ O DA LIMINAR E DO ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL.
No caso em apreço, afigura-se cabível a aplicaçã o da teoria do adimplemento
substancial dos contratos.
Resta claro que o Requerido adimpliu com 51 das prestaçõ es contratadas, de
obrigaçã o total (contraprestaçã o e VRG parcelado) de um total de 60 parcelas.
In casu o mencionado descumprimento contratual é inapto a ensejar a reintegraçã o de
posse pretendida e, consequentemente, a resoluçã o do contrato de arrendamento
mercantil.
Diante do substancial adimplemento do contrato, mostra-se desproporcional a
pretendida reintegraçã o de posse e contraria princípios basilares do Direito Civil,
como a funçã o social do contrato e a boa-fé-objetiva. A regra que permite a
reintegraçã o de posse em caso de mora do devedor - e consequentemente a resoluçã o
do contrato -, no caso dos autos, deve sucumbir diante dos aludidos princípios.
Nã o se está a afirmar que a dívida nã o paga desaparece, o que seria um convite a toda
sorte de fraudes, afirmamos tã o somente que que o meio de realizaçã o do crédito por
que optou a instituiçã o financeira nã o se mostra consentâ neo com a extensã o do
inadimplemento e, de resto, com os ventos do Có digo Civil de 2002.
Pode, certamente, o autor valer-se de meios menos gravosos e proporcionalmente
mais adequados à persecuçã o do crédito remanescente, como, por exemplo, a
execuçã o do título.
A embasar essa tese citamos os precedentes abaixo transcritos do STJ cujo teor
grifamos:
ALIENAÇÃ O FIDUCIÁ RIA. Busca e apreensã o. Falta da ú ltima prestaçã o.
Adimplemento substancial. O cumprimento do contrato de financiamento, com a falta
apenas da ú ltima prestaçã o, nã o autoriza o credor a lançar mã o da açã o de busca e
apreensã o, em lugar da cobrança da parcela faltante. O adimplemento substancial do
contrato pelo devedor nã o autoriza ao credor a propositura de açã o para a extinçã o do
contrato, salvo se demonstrada a perda do interesse na continuidade da execuçã o, que
nã o é o caso. Na espécie, ainda houve a consignaçã o judicial do valor da ú ltima
parcela. Nã o atende à exigência da boa-fé objetiva a atitude do credor que desconhece
esses fatos e promove a busca e apreensã o, com pedido liminar de reintegraçã o de
posse. Recurso nã o conhecido.(REsp 272.739/MG, Rel. Ministro , QUARTA TURMA,
julgado em 01.03.2001, DJ 02.04.2001 p. 299).
ALIENAÇÃ O FIDUCIÁ RIA. Busca e apreensã o. Deferimento liminar. Adimplemento
substancial. Nã o viola a lei a decisã o que indefere o pedido liminar de busca e
apreensã o considerando o pequeno valor da dívida em relaçã o ao valor do bem e o
fato de que este é essencial à atividade da devedora. Recurso nã o conhecido. (REsp
469.577/SC, Rel. Ministro , QUARTA TURMA, julgado em 25/03/2003, DJ 05/05/2003
p. 310).
Ademais ressaltamos que quando da IV Jornada de Direito Civil promovida pelo
Conselho da Justiça Federal, , também foi aprovado o enunciado n. 361, na que assim
dispõ e
Arts. 421, 422 e 475: O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais
contratuais, de modo a fazer preponderar a funçã o social do contrato e o princípio da
boa-fé objetiva, balizando a aplicaçã o do art. 475.
Destarte, para o fim de impedir o uso desequilibrado e irazoá vel do direito de
resoluçã o do contrato por parte do credor, que vê na retomada do bem uma chance de
inclusive locupletar-se ignorando completamente os princípios da boa-fé e da funçã o
social do contrato, há de reconhecer no caso presente a ocorrência do adimplemento
substancial, e julgar improcedente a demanda.
III.2 - DO DIREITO A AMPLA DEFESA
Segundo entendimento de alguns juristas, a açã o de natureza possessó ria nã o admite
discussã o acerca de matéria outra que nã o seja correlata à questã o da posse.
Assim, a alegaçã o em sede de contestaçã o, de matéria referente à validade de
clá usulas contratuais, nã o pode ser apreciada em exame de mérito, pois extrapola os
limites do que se poderia ter como matéria possessó ria.
Todavia, há que se considerar que uma vez citado o réu para apresentar contestaçã o,
deve ao mesmo ser conferido direito de alegar em sua defesa qualquer matéria,
inclusive a discussã o de clá usulas contratuais consideradas abusivas.
Impedir este tipo de discussã o é cercear o direito à ampla defesa do cidadã o e negar
vigência ao artigo 300 do Có digo de Processo Civil onde "compete ao réu alegar, na
contestaçã o, toda matéria de defesa, expondo as razõ es de fato e de direito com que
impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir".
Negar ao consumidor o direito de alegar a abusividade das clá usulas contratuais, a
cobrança exorbitante de juros, a capitalizaçã o dos mesmos, entre outras inú meras
ilegalidades existentes nos contratos de arrendamento mercantil, é também negar o
acesso à Justiça e o contido no inciso XXXV do artigo 5° da Constituiçã o Federal, pois
"a lei nã o excluirá da apreciaçã o do Poder Judiciá rio lesã o ou ameaça a direito".
E nã o se alegue que pode o consumidor intentar a açã o competente para discutir a
abusividade das clá usulas contratuais, cerceando, assim, seu direito de discuti-las na
possessó ria. Poder é uma faculdade, analisar o direito do cidadã o é uma obrigaçã o do
magistrado.
Desse modo, o Superior Tribunal de Justiça protege e auxilia o consumidor no seu
direito à ampla defesa. Com base nesse raciocínio jurídico, assim decidiu a 4a Turma
do STJ:
Para chegar a essas conclusõ es o Ministro Ruy Rosado de Aguiar , juntamente com os
Ministros que integram a 4a Turma do STJ, levaram em consideraçã o as seguintes
razõ es:
a) A mora somente existe quando o atraso resultar de fato imputá vel ao devedor (art.
963 do Có digo Civil). Se a exigência do credor é abusiva, e portanto ilegítima, o
devedor que nã o paga o que lhe está sendo indevidamente cobrado nã o incide em
mora, pois pode reter o pagamento enquanto nã o lhe for dada quitaçã o regular.
b) O fato de o devedor nã o propor a devida açã o nã o lhe retira o direito de questionar
os valores devidos, a validade das clá usulas contratuais referentes à sua prestaçã o e
sobre a regularidade na composiçã o do débito mensal, o que pode ser feito nã o apenas
em açã o pró pria mas também quando da reintegrató ria promovida pelo arrendante,
açã o que corresponde à de resoluçã o do contrato bilateral em geral, e que é a cena
adequada para o debate dos temas que envolvem o exato cumprimento do contrato e
o exame da legitimidade de suas clá usulas.
Deixando de examinar a alegada abusividade da avença, matéria de ordem pú blica a
ser conhecida até de ofício pelo juiz, nos termos do artigo 51 do CDC, ocorre a violaçã o
a lei federal.
Como pode-se constatar o STJ, guardiã o da lei federal, entende ser a possessó ria
momento há bil à discussã o de toda e qualquer clá usula contratual que porventura
venha ser considerada abusiva.
A aplicaçã o das normas contidas no Có digo de Defesa do Consumidor devem ser
aplicadas em perfeita consonâ ncia com as leis processuais vigentes no país. Assim, se
o Có digo de Defesa do Consumidor possibilita ao devedor a discussã o e anulaçã o de
toda e qualquer clá usula contratual abusiva, deve o juiz conhecer dessas alegaçõ es e
possibilitar a discussã o das clá usulas conforme determina o CDC, invertendo o ô nus
da prova quando cabível e dilatando a produçã o das provas requeridas no curso do
processo.
Ora, se o credor pode dispor da reintegrató ria para reaver o bem objeto do leasing no
menor espaço de tempo, o devedor poderá , contestando a açã o, alegar tudo quanto
achar conveniente, inclusive atacar as clá usulas leoninas e as condiçõ es contratuais
expostas.
Cabe ao juiz manter o equilíbrio da relaçã o processual, e esse equilíbrio só poderá ser
mantido se o julgador estiver aberto a interpretaçõ es progressistas, que viabilizem a
aplicaçã o do sentido espiritual da norma para que seja concedida a Justiça.
Ao limitar, na contestaçã o da possessó ria, a matéria a ser discutida, o réu nada poderá
alegar em sua defesa, a nã o ser questã o relativa à posse. Ora, como analisar a questã o
da posse sem antes analisar as clá usulas e condiçõ es contratuais que permitiram ao
consumidor o direito de possuir?
Verifica-se pois que ao contestar a açã o de reintegraçã o de posse, o réu tanto pode
quanto deve alegar toda matéria de defesa em prol de seu direito, requerendo a
nulidade das clá usulas contratuais abusivas e a inversã o do ô nus da prova, tal qual lhe
alberga o Có digo de Defesa do Consumidor.
III.3- DA ILEGALIDADE DAS TAXAS DE JUROS, DA CAPITALIZAÇÃ O E DA COMISSÃ O
DE PERMANÊ NCIA.
Nã o se pode admitir a prá tica usuá ria por parte de quem - como o Requerido - detém
alto poder negocial conferido pelo monopó lio econô mico. Verdade é que as
contraprestaçõ es do mú tuo embutem taxas de juros e encargos elevadíssimos, tanto
pelos índices quanto pelo cá lculo composto.
A invocaçã o de existência de clá usula contratual, como suposto autorizativo para a
cobrança de juros além dos permitidos legalmente, é insubsistente; cuida-se aí nã o de
jus dispositivum , mas de direito cogente:
" Como informa a doutrina abalizada o contrato de arrendamento mercantil foi inserido no panorama do
Direito Brasileiro por conta do modelo adotado nos Estados Unidos, em cujo cenário econômico encontrava-
se a prática difundida do leasing ante os custos pouco elevados e diante da disponibilidade de capital para
empréstimo.
IV - DO PEDIDO:
Por todo o exposto, restando inexoravelmente demonstrada a viabilidade do decreto
de rescisã o contratual por culpa exclusiva do autor, porquanto, violou inú meros
dispositivos de ordem pú blica, afrontando os direitos do consumidor, estabelecidos
no Có digo de Defesa do Consumidor, bem como, ante a gravidade da lesã o aos seus
direitos e a total irreversibilidade da situaçã o, requer o réu a esse MM. Juízo que
sejam:
Acolhidas a preliminares de mérito invocadas PARA:
Extinguir o feito sem apreciaçã o de mérito, sendo o autor declarado carecedor de
açã o, tendo em vista a inadequaçã o processual, pois busca rescisã o contratual por
meio de açã o possessó ria ofendendo assim o principio da adequaçã o processual.
No mérito requer seja:
a) Reconhecido o adimplemento substancial do contrato e ante exigência antecipada
do Valor Residual Garantido, seja julgada Improcedente a pretensã o do autor; vez que
desnaturado o leasing incabível a reintegraçã o de posse,
b) Caso seja decretada a resoluçã o do contrato de arrendamento mercantil, objeto da
controvérsia seja o autor condenado a devolver as importâ ncias pagas a titulo de
antecipaçã o do VRG todos devidamente corrigidos;
c) Seja o autor condenado ao pagamento das verbas de sucumbência de estilo,
inclusive honorá rios advocatícios a serem arbitrados por V. Exa.
d) Seja determinado a sustaçã o e o levantamento do protesto da Nota promissó ria,
emitida pelo réu ao autor, no valor Global do bem, e a retirada do nome do réu do SPC,
posto que resolvido o contrato encerra-se as relaçõ es entre as partes sendo incabível
a manutençã o do cadastro negativo;
e) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, sem
exceçã o.
Termos em que pede deferimento.
Campinas, 19 de setembro de 2013.
Advogado