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I AVALIAÇÃO – CONTRATOS – GLAUBER SALOMÃO.

Trata-se de terreno adquirido em 2013 em Campina Grande, por meio de escritura pública e
seguida do registro no Cartório de Imóveis. O pagamento foi realizado e o comprador recebeu
o terreno conforme o previsto. Todavia, meses após a conclusão do negócio, o comprador foi
surpreendido com processo de desapropriação efetuado pelo poder público. Em vista disso, o
comprador sofreu a perda do bem. Inconformado, o comprador ingressou com ação judicial
em face do vendedor, reclamando os seus direitos com fundamento em evicção do bem.
Analise se a demanda tem fundamento jurídico.

Se já havia sido expedido decreto de desapropriação do referido terreno antes da celebração


do contrato, mesmo que a perda do bem tenha ocorrido posteriormente, o alienante responde
pela evicção - pois a causa da perda do bem é anterior ao contrato -, mas desde que o
alienante desconhecesse o problema até a conclusão do negócio. Posto ainda que são os
requisitos da evicção: perda total ou parcial da propriedade, posse ou uso da coisa alienada;
contrato oneroso; ignorância pelo adquirente, da litigiosidade da coisa; anterioridade do
direito do evictor; denunciação da lide ao evictor (opcional segundo o Enunciado 434 do CJF).
Entretanto, nenhuma responsabilidade cabe ao alienante se a causa da perda do bem é
posterior a alienação. Ou seja, se o decreto de desapropriação foi expedido depois da
conclusão do negócio, não cabe fundamento em evicção, devendo o adquirente tomar outras
providências cabíveis.

No caso de proposta de contrato feita entre ausentes, sem prazo expresso para resposta, em
quanto tempo a aceitação deverá ser expedida?

O atual Código Civil, em seu art. 428, menciona “tempo suficiente para a resposta chegar ao
conhecimento do proponente”. Dessa maneira, o referido diploma legal estipula um prazo
subjetivo denominado pela doutrina de “prazo moral”, a ser avaliado no concreto, conforme as
suas circunstâncias particulares, levando em consideração a distância, os meios de acesso etc..

"A boa fé do alienante não o exime de responder pelo vício oculto da coisa". Trata-se de frase
falsa ou verdadeira? Justifique.

O art. 443 do Código Civil de 2002 trata justamente das hipóteses em que o alienante conhecia
ou desconhecia o vício oculto e enumera as responsabilidades cabíveis. A doutrina jurídica
disponível depreende desse dispositivo legal que “o desconhecimento do alienante não o
exime de responder pelo vício oculto da coisa”. A diferença entre a frase do enunciado da
questão em comento e a da doutrina reside na troca de “o desconhecimento do alienante” por
“a boa-fé do alienante”, mas exprime exatamente a ideia contida no dispositivo legal, pois que
na hipótese de o alienante conhecer o vício e ocultá-lo do adquirente quando da celebração e
execução do contrato, constituiria uma mácula à boa-fé que atine aos contratos e os polos
vinculados. Ao passo que a celebração do mesmo contrato sem que o alienante conhecesse do
vício, seria uma celebração de boa-fé por parte do alienante. Nesse diapasão o art. 443 elenca,
para um contrato celebrado com vício em seu objeto, justamente as hipóteses de o alienante
ter faltado com a boa-fé ou por ela ter-se conduzido. Portanto, a frase é verdadeira. Em que
pese a diferença entre os termos, o sentido da frase é verdadeiro e consoante ao dispositivo
legal e ao princípio a que alude.

De acordo com o direito brasileiro, é possível celebrar contrato consigo mesmo? Justifique.

Alguns interpretam que o mandato em causa própria, previsto no art. 685 do atual Código
Civil, constitui um tipo de autocontrato, pois aparentemente atua apenas uma pessoa no ato
da lavratura da escritura. Todavia, o mandato não exclui o mandante. Assim, o art. 117,
CC/2002; preconiza que é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou
por conta de outrem, celebrar consigo mesmo, salvo se o permitir a lei ou o representado.

Além disso, o contrato é um acordo de vontades acompanhado pelo interesse coletivo nas
relações privadas, sob a égide de proteções e direcionamento de princípios para que a relação
se dê a contento das partes envolvidas e exerça uma função social além da liberdade
interpartes. Por essa razão, não faz sentido um contrato celebrado consigo mesmo. Soma-se a
isso que a relação jurídica que nasce do “contrato consigo mesmo” é completamente
desnecessária, visto que alguém não responsabiliza judicialmente a si mesmo por seus atos de
vontade.

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