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PROCEDIMENTOS DE

JURISDIÇÃO
VOLUNTÁRIA
1- INTRODUÇÃO

• Jurisdição voluntária é a função exercida pelo Estado, através do juiz, mediante um


processo, onde se solucionam causas que lhe são submetidas sem haver conflito de
interesses entre duas partes. Tem como características a obrigatoriedade da intervenção
judicial; é sistema misto entre dispositivo e inquisitivo; bem como prescinde da
observância à legalidade estrita. O Código de Processo Civil traz regras procedimentais
gerais, que possuem aplicação subsidiária a eventuais disposições específicas.  Há
também previsão de um rol de pedidos que obedecerão ao procedimento geral, tratando-
se de rol exemplificativo.
2- JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E CONTENCIOSA

• Jurisdição Voluntária é a atividade de natureza jurisdicional exercida pelo Estado em processos


cujas pretensões consistem na integração e aperfeiçoamento de negócios jurídicos que dependem
do pronunciamento jurisdicional. A titulo exemplificativo menciona-se o caso de um divórcio
consensual de casal que tenha filhos incapazes, em que apenas se aperfeiçoa e passa a produzir
efeitos quando judicialmente homologado ao fim de um processo de jurisdição voluntária. 
• Por outro lado, a denominada Jurisdição Contenciosa é aquela que não apenas se destina a integrar
um negocio jurídico, mas que possui por finalidade pacificar uma lide, ou seja, resolver um
conflito de interesses qualificado pela resistência de um polo em face da pretensão contrária.
3- CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
VOLUNTÁRIA
• Ausência de Voluntariedade
• Possibilidade de solução concreta ao caso:
• segundo previsão expressa do art. 723, parágrafo único, do Novo CPC, o juiz não é
necessariamente obrigado a observar o critério da legalidade estrita, o que significa que
pode adotar em cada caso concreto a solução que reputar mais conveniente ou oportuna.
A doutrina entende que tal dispositivo consagra a possibilidade de o juiz se valer de um
juízo de equidade na solução das demandas de jurisdição voluntária, reconhecendo-se a
presença de certa discricionariedade do juiz. 
4- NATUREZA JURÍDICA

• Prevalece na doutrina que a jurisdição voluntária possui natureza meramente


administrativa, sendo negada, portanto, a existência de atividade jurisdicional nos
processos de jurisdição voluntária, vez que, segundo os adeptos da teoria
administrativista, o juiz, nos processos de jurisdição voluntária não age
jurisdicionalmente, mas apenas interfere nos negócios jurídicos como uma medida
preventiva à ocorrência de ilícitos.
5-REGRAS

• O Código de Processo Civil prevê disposições gerais dos procedimentos de jurisdição voluntária, em seus
artigos 720 a 724, que possuem aplicação subsidiária a eventuais disposições especiais, nos termos do art.
719, CPC, bem como do parágrafo único do art. 725, CPC.
• Como regra, possuem legitimidade para a propositura da ação qualquer das partes, bem como o Ministério
Público e a Defensoria Pública, consoante art. 720 do CPC. Igualmente, existem procedimentos que podem
ser instaurados ex officio pelo magistrado, a exemplo das ações de arrecadação de herança jacente e de
abertura de testamento.
• Assim, a parte legítima proporá a petição inicial, que deve obedecer aos requisitos do artigo 319 do CPC,
sem particularidades, sendo que o valor da causa corresponderá ao valor econômico do pedido, e a inicial
deve vir acompanhada dos documentos necessários.
• Proposta a inicial serão trazidos ao processo todos os interessados, cuja citação será feita pelos meios comuns. 
• Observe-se que, nos procedimentos de jurisdição voluntária, as custas e despesas processuais serão adiantadas
pelo autor, mas posteriormente divididas entre os interessados, nos termos do art. 88 do CPC.
• O Ministério Público intervirá como custos legis, além das hipóteses legais e da CF, caso o procedimento envolva
interesse público ou social, interesse de incapaz, ou ainda litígios coletivos por posse de terra urbana ou rural,
conforme art. 178 do CPC. Nesse caso, será intimado para se manifestar no prazo de 15 dias, segundo art. 721,
CPC.
Os citados apresentarão resposta, cujo prazo para manifestação igualmente será de 15 dias, conforme art. 721,
CPC. Será ouvida inclusive a Fazenda Pública, através de suas Procuradorias, caso exista interesse jurídico, nos
termos do art. 722 do CPC.
• Não se olvide das disposições dos artigos 180, 183 e 229, todos do CPC, que preveem prazo em dobro para
manifestação do Ministério Público, da Fazenda Pública, e dos litisconsortes com diferentes procuradores,
respectivamente.
• Atente-se que não se trata se contestação, já que não há contraposição de interesses,
mesmo motivo pelo qual não é cabível reconvenção. Poderão os interessados, todavia,
impugnar a inicial e apresentar suas versões dos fatos, arguindo quaisquer das
preliminares previstas no art. 337 CPC, salvo convenção de arbitragem, inadmitida nos
procedimentos de jurisdição voluntária (GONÇALVES, 2016).
• Aplicam-se também os efeitos da revelia, caso a parte não se manifeste. Todavia, parece-
nos que deverá haver uma atenuação do seu efeito de presunção de veracidade, tendo em
vista a prescindibilidade da observância à legalidade estrita.
• Encerrada a instrução, será dada vista ao magistrado para que profira sentença, no prazo
de 10 dias. Logicamente, em sendo designada audiência, poderá a sentença ser proferida
já ao final desta. A sentença não apresenta particularidades, salvo a questão já observada
da não obrigatoriedade de observação à legalidade estrita, consoante art.723 do CPC.
• Proferida a sentença, será cabível apelação, conforme art. 724, CPC. Inclusive, não há
quaisquer particularidades quanto ao cabimento de recursos, de modo que pode ser
interposto agravo de instrumento contra decisões interlocutórias, além de embargos de
declaração para sanar decisões viciadas.
• Por fim, o artigo 725 traz um rol de pedidos que deverão obedecer ao procedimento geral acima descrito quais sejam os
pedidos de: a) emancipação; b) sub-rogação; c) alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes,
de órfãos e de interditos; d) alienação, locação e administração da coisa comum; e) alienação de quinhão em coisa
comum; f) extinção de usufruto, quando não decorrer da morte do usufrutuário, do termo da sua duração ou da
consolidação, e de fideicomisso, quando decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes do evento que caracterizar a
condição resolutória; g) expedição de alvará judicial; e h) homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer
natureza ou valor.
• Ressalte-se que se trata de rol exemplificativo. Há outras pretensões que obedecerão a este procedimento geral e não estão
previstos no art. 725. Podem ser citados: a) suprimento judicial de outorga uxória (art. 74, CPC); b) suprimento de
consentimento para casamento (art. 1.519, CC); c) parcialmente, o procedimento de alienação de judicial de bens comuns,
sendo que após a sentença que determina a alienação, onde há a avaliação e alienação efetiva do bem, será observado o
disposto nos artigos 879 a 903 do CPC (GONÇALVES, 2016, p.689-690).
PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS

• O CPC, nos arts. 726 a 770, ainda prevê onze procedimentos específicos de jurisdição voluntária, quais sejam: a) notificação e
interpelação; b) alienação judicial; c) extinção consensual de união estável e matrimônio, e alteração do regime de bens do matrimônio;
d) testamento e codicilos; e) herança jacente; f) bens do ausente; g) coisas vagas; h) interdição; i) tutela e curatela; j) organização e
fiscalização das Fundações; k) ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo. Analisemos cada
um dos procedimentos específicos sinteticamente.
• Previsto nos arts. 726-729 CPC, o procedimento de notificação possibilita que alguém manifeste formalmente a outrem alguma vontade
unilateral. Visa dar conhecimento, para afastar futura alegação de ignorância. De modo similar, é através da interpelação que o
interessado requer a outrem que faça ou deixe de fazer algo. Constituirá o devedor em mora.
• Por sua vez, a alienação judicial ocorre quando há desacordo entre as partes sobre o modo de alienação de bem, cabendo ao juiz, ex
officio ou a pedido dos interessados ou do depositário, determinar a alienação em leilão. 
• Por sua vez, o divórcio ou separação, além da união estável, em regra dependem de homologação judicial, salvo caso não haja nascituros
ou filhos incapazes. Já a alteração do regime de bens deve ser motivadamente, havendo inclusive necessidade de publicação de edital.
• A herança jacente é aquela em que não se tem conhecimento da existência de herdeiros. Nesse caso, ficarão sob a
administração de um curador, até que algum sucessor habilite-se, ou até que seja declarada sua vacância, passando-se ao
domínio da Fazenda Pública. Regrado também pelos arts. 1.819 a 1.823 do CC.
• Havendo a declaração de ausência de uma pessoa, isto é, quando ela desaparece sem deixar mandatário que queira exercer
tal função, o juiz ex officio determina a arrecadação dos bens do ausente, sendo determinada a publicação de edital
intimando o ausente a entrar na posse dos bens. Não comparecendo, os interessados podem requerer a abertura de
sucessão provisória, que posteriormente poderá se converter em definitiva. Regulamentado também nos arts. 26 a 39, CC.
• Coisa vaga é a coisa alheia perdida. O descobridor encaminhará ao juiz, que publicará edital para que se dê conhecimento
para que o dono ou o legítimo possuidor a reclame. Possui previsão também nos arts. 1.233 a 1.237 do CC.
• Na interdição, são determinados curados para ébrios habituais, pródigos, toxicômicos, ou os que não puderem exprimir
sua vontade. Há a particularidade de que haverá uma entrevista minuciosa do interditando perante o juiz, para que este se
convença de sua capacidade ou incapacidade.
• O CPC ainda traz disposições comuns à tutela e à curatela, figuras que devem prestar compromisso ao juízo antes de assumir
suas obrigações. Pode eximir-se do cargo motivadamente, mediante requerimento ao juízo, ou ser suspenso, no caso de
extrema gravidade, oportunidade em que será nomeado substituto interino. Pode requerer a exoneração do cargo após decurso
do tempo previsto mas caso não o faça presumir-se-á reconduzido. Cessando-se, deve-se prestar contas ao juízo.
• Por outro lado, o juízo exerce uma função subsidiária ao Ministério Público quanto à organização e fiscalização das
fundações, suprindo a aprovação do estatuto quando o Ministério Público negá-la, ou quando houver discordâncias entre o
interessado e o Ministério Público. Igualmente, o Ministério Público ou qualquer interessado promoverá em juízo a extinção
de fundação cujo objeto se torne ilícito; cuja manutenção se torne impossível, ou ainda quando vencer o prazo de sua
existência.
• Por fim, protestos marítimos e processos testemunháveis formados a bordo devem ser ratificados pelo juízo, mediante
apresentação nas primeiras 24 horas da chegada da embarcação.

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