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FACULDADE NOBRE DE FEIRA DE SANTANA

A TUTELA CONSTITUCIONAL
DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR

PROF. SANDER PRATES VIANA


Neoconstitucionalismo
Pode ser sistematizado em três aspectos distintos: I) histórico; II) filosófico e (III)
teórico.

I) Sob o aspecto histórico, é um fenômeno que ocorreu após a II Guerra Mundial,


com a derrocada dos regimes totalitários, quando se verifica a superação do
paradigma da validade meramente formal do direito.

A dignidade da pessoa humana passa a ser o núcleo axiológico da tutela jurídica, não
se restringindo ao vínculo entre governantes e governados, mas se estendendo para
toda e qualquer relação, mesmo entre dois sujeitos privados, em que, pela
manifestação do poder, uma destas pessoas tivesse seus direitos violados ou
ameaçados de lesão (CAMBI, 2008)
II) Sob o aspecto filosófico, o neoconstitucionalismo marca a superação do dogma da lei
como expressão da vontade do povo. “Esta tendência é denominada de pós-positivismo,
na medida em que os princípios jurídicos deixam de ter aplicação meramente
secundária, como forma de colmatar lacunas, para ter relevância jurídica na
conformação judicial dos direitos.” (CAMBI, 2008)

III) Sob o aspecto teórico, o neoconstitucionalismo, na lição de Luis Roberto Barroso,


caracteriza-se por três vertentes:

a) o reconhecimento de força normativa à Constituição;

b) a expansão da jurisdição constitucional;

c) o desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional.


a) O RECONHECIMENTO DE FORÇA NORMATIVA À CONSTITUIÇÃO;

i) vinculação do legislador, de forma permanente, à sua realização (imposição constitucional);


ii) vinculação positiva de todos os órgãos concretizadores (Executivo, Legislativo e Judiciário), os quais devem tomá-las
como diretivas materiais permanentes;
iii) servirem de limites materiais negativos dos poderes públicos, devendo ser considerados inconstitucionais os atos que
as contrariam.

b) A EXPANSÃO DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL;

i)Ampliação do acesso à justiça,


ii)Tutela de direitos coletivos, difusos e individuais homogêneos,
iii)Ampliação dos mecanismos de controle de constitucionalidade,
iv)Democracia em sentido formal e material,
v)A reserva do possível e a reserva de consistência

c) O DESENVOLVIMENTO DE UMA NOVA DOGMÁTICA DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL.

i) Princípio da unidade da Constituição


ii) Princípio do efeito integrador
iii) Princípio da máxima efetividade
iv) Princípio da conformidade funcional
v) Princípio da concordância prática ou da harmonização
vi) Princípio da força normativa da Constituição
vii) Princípio princípio das leis conforme à Constituição
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO

“O que se viu, na verdade, foi uma transformação na forma de pensar a


vida humana e de ver a relevância desta no campo jurídico,
especialmente na esfera das obrigações e dos contratos, ganhar
substancial destaque. Os valores e concepções (liberais, individuais e
patrimoniais) característicos dos séculos XVIII e XIX, calcados na liberdade
econômica, sem praticamente nenhuma intervenção estatal na vida e nos
negócios dos cidadãos, sofrem profundas transformações. A vida humana
passou a ser muita mais valorizada, assumindo um papel central na
ordem jurídica mundial.” (DAHINTEN, 2016)
BENEFÍCIOS DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO
BENEFÍCIOS FORMAIS:

I) Segurança normativa;

II) Substituição do paradigma civilista pela proteção do consumidor como sujeito vulnerável;

III) Controle de constitucionalidade das normas;

III) reforço exegético pró-consumidor.

BENEFÍCIOS SUBSTATIVOS OU MATERIAIS:

I) Proteção do consumidor como direito fundamental

II) Redução da discricionariedade administrativa;

III) Legitimação da função estatal reguladora;

IV) Ampliação da participação pública;


TÉCNICA DE CONSTITUCIONALIZAÇÃO UTILIZADA
A tríplice determinação constitucional:

I) promover a defesa dos consumidores (art. 5º, XXXII, da CF);

II) assegurar a tutela do consumidor como princípio geral da atividade


econômica (art. 170, V, da CF);

III) e, por fim, sistematizar esta proteção especial através de uma codificação
(art. 48 do ADCT).
A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA

Art. 4º Além dos direitos e garantias previstos na Constituição Federal ou decorrentes do regime e dos princípios que ela adota, é
assegurado, pelas leis e pelos atos dos agentes públicos, o seguinte:

V - a proteção e defesa do consumidor serão promovidas pelo Estado através da implantação de sistema específico, na forma da lei;
VI - comprovada a absoluta incapacidade de pagamento, definida em lei, ninguém poderá ser privado dos serviços públicos de água,
esgoto e energia elétrica

Art. 12. Incumbe ainda ao Estado, concorrentemente com a União, legislar sobre:

V - produção e consumo;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;

Art. 164. O Estado, em conformidade com os princípios da Constituição Federal, atuará no sentido da promoção do desenvolvimento
econômico, que assegure a elevação do nível de vida e bem-estar da população, conciliando a liberdade de iniciativa com os ditames da
justiça social, cabendo-lhe:

II - exercer, como agente normativo e regulador da atividade econômica, as funções de planejamento, de fiscalização e controle de incentivo,
sendo livre a iniciativa privada;

Art. 243. Toda informação ou publicidade veiculada por qualquer forma ou meio, com relação a bens e serviços que provoquem risco à saúde
ou induzam os consumidores a atividades nocivas à saúde, deverá incluir observação explícita de tais riscos, sem prejuízo da
responsabilidade civil ou penal dos promotores ou fabricantes pela reparação de eventuais danos, na forma da lei.

ADCT. Art. 55. A Assembleia Legislativa, dentro do prazo de cento e oitenta dias da promulgação desta Constituição, elaborará Código de
Defesa do Consumidor, de acordo com a Constituição Federal.
O MÍNIMO EXISTÊNCIAL DE CONSUMO

Admitindo-se, portanto, que, nos dias atuais, a prática de consumir (sejam bensbásicos ou
supérfluos, reforça-se) reflete um ato elementar à existência humana (sendo não apenas tolerado
pela sociedade em geral, como fortemente estimulado, sobretudo pela mídia)83-84 e que,
nestas inevitáveis relações, o sujeito, como regra, submete-se aos desequilíbrios e às (não raras)
abusividades do mercado, revela-se plenamente admissível a defesa de umaproteção do consumidor
(ainda que em dimensões mínimas) como sendo um requisito indispensável à concretização de uma
existência digna.

O mínimo existencial (do consumo), nestes termos, não se presta (nem se justifica),
reprisa-se, apenas a garantir o alcance (de qualidade aos bens tidos como essenciais,
como também a garantir o acesso justo, equilibrado e protegidoao próprio mercado de
consumo como um todo. (DAHINTEN, 2016.
REFERÊNICIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAHINTEN, Augusto Farnke e DAHINTEN, Bernardo Franke. A proteção do consumidor enquanto direito
fundamental e direito humano: consolidação da noção de mínimo existencial de consumo. Revista do
Direito do Consumidor. 2016.

CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e Neoprocessualismo. Revista do Proegrama de Pós Graduação em Direito da


Universidade de Brasília, 2008.

SILVA, Altino Coneição. A proteção constitucional do consumidor e sua densificação normativa. Disponível em:
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/43677/a-protecao-constitucional-do-consumidor-e-sua-densificacao-
normativa

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