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DIREITO DO CONSUMIDOR
Isso significa dizer que o ato de uma pessoa ou de uma empresa envolve efeitos que atingem
uma quantidade enorme de pessoas. No aspecto consumo, por exemplo, basta que um produto
apresente um mínimo defeito e milhares de pessoas sofrerão um dano. O mesmo pode ser dito em
relação à publicidade: uma fraude publicitária poderá afetar milhões de pessoas. Em ambos os casos
haverá um “DANO DE MASSA”, a exigir uma resposta protetiva que efetivamente tutele o
consumidor.
O mercado, por sua vez, não apresenta mecanismos para superar a vulnerabilidade do
consumidor. Logo, imprescindível a intervenção do Estado nas suas três esferas: o Legislativo,
formulando as normas jurídicas de consumo; o Executivo, implementando-as; e o Judiciário,
dirimindo os conflitos decorrentes das relações de consumo.
A opção por uma codificação das normas de consumo foi feita pela Assembléia Nacional
Constituinte.
O artigo 170, relativo aos princípios gerais da atividade econômica, prescreve: “A ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”, prescrevendo, a seguir, no inciso V,
que seja observada a “defesa do consumidor”.
Além das menções explícitas, existem outras normas na CF que importam para as relações de
consumo. Assim, a dignidade da pessoa humana, fundamento da República (artigo 1º, III). Nesse
sentido o STJ:
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III - prestar aos consumidores orientação permanente sobre seus direitos e garantias;
X - (Vetado).
XI - (Vetado).
XII - (Vetado)
III - prestar aos consumidores orientação permanente sobre seus direitos e garantias;
VIII - solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, bem como auxiliar na fiscalização de preços, abastecimento, quantidade e segurança
de produtos e serviços;
b. PROCON:
Se descumprido o acordo ou caso ainda existam outros direitos violados, o consumidor pode
ir ao Poder Judiciário para que a lesão ou ameaça sofrida seja examinada.
O Procon tem poderes legais para convocar o fornecedor a comparecer em audiência, com
data e hora agendadas, conforme preceitua a Nota Técnica 220/2003 do DPDC.
c. MINISTÉRIO PÚBLICO:
O Ministério Público tem legitimidade exclusiva para promover ação penal pública relativa às
infrações penais de consumo que, se não efetivada no prazo legal, autorizará a oferta de ações
penais subsidiárias por parte de órgãos públicos de defesa do consumidor (artigo 80, CDC: “No
processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a outros crimes e
contravenções que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério
Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação
penal subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.”).
Quando houver lesão a direitos coletivos dos consumidores, o Ministério Público deverá
ajuizar Ação Civil Pública (o MP não possui atribuição para representar, perante no Poder Judiciário,
casos individuais, diferentemente da Defensoria Pública).
d. DEFENSORIA PÚBLICA:
Quanto à defesa do consumidor, a defesa dos interesses dos necessitados será efetivada no
âmbito judicial, eis que perante os Procons o atendimento dos consumidores dispensa o
acompanhamento de advogado ou defensor.
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A defesa dos direitos dos consumidores pode ocorrer individualmente ou de modo coletivo.
A defesa coletiva dos consumidores foi inovação da Lei Federal 11.448/07, autorizando que as
Defensorias Públicas possam ajuizar ações coletivas.
Inicialmente, cabe esclarecer que nem toda violação a direito do consumidor caracteriza
infração penal.
Artigo 5º, III, CDC: “Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o
poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:
f. JUIZADOS ESPECIAIS:
Boa parte das lesões sofridas pelos consumidores importa em prejuízos econômicos de
pequena monta que, anteriormente à criação dos Juizados Especiais, passariam despercebidas à
apreciação do Poder Judiciário.
Se for órgão federal (a exemplo da Caixa Econômica Federal), a demanda cujo valor não
exceda a sessenta salários mínimos, será submetida aos Juizados Especiais Federais; em se tratando
de órgãos municipais ou estaduais, aos Juizados Especiais Estaduais.
As entidades civis de proteção e defesa do consumidor podem ser estruturadas sob as mais
variadas formas: organizações não governamentais – ONG, organizações da sociedade civil de
interesse público – OSCIP, associações, fundações.
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4. CARACTERÍSTICAS DO CDC:
a. NORMAS PRINCIPIOLÓGICAS:
São frequentes no CDC as chamadas normas principiológicas, isto é, normas que veiculam
valores, estabelecem fins a serem alcançados. Aliás, o Direito atual se caracteriza por utilizar, cada
vez mais, conceitos abertos, também chamados de conceitos jurídicos indeterminados.
Como exemplo, podemos apontar o artigo 4º, III, CDC, que estabelece que:
“A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia
das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
Mais: o CDC é permeado por normas que estabelecem fins. Ultrapassa-se, com isso, a técnica
de legislar exclusivamente o binômio hipótese-sanção, ou causa-consequência. Quando fins são
definidos, a liberdade do interprete é maior, diminuindo o formalismo, impondo-se o respeito a
certos conteúdos normativos tidos como relevantes.
b. MICROSSISTEMA JURÍDICO:
Por força do caráter interdisciplinar, o CDC outorgou tutelas específicas ao consumidor nos
campos civil (artigos 8º a 54), administrativo (artigos 55 a 60 e 105/106) e jurisdicional (artigos 81 a
104).
O diálogo das fontes consiste em utilizar, para resolver conflitos, normas variadas, que
“dialogam” em busca do melhor resultado, do resultado mais justo, mais conforme a Constituição da
República.
“Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou
convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que
derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade”.
5. PRINCÍPIOS DO CDC:
a. VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR:
Tal princípio tem como desdobramento o fato de a elaboração das normas jurídicas ser feita
no sentido de manter ou ampliar o conteúdo protetivo ao consumidor, bem como o fato da aplicação
e interpretação de tais normas objetivar alcançar a situação mais favorável para o consumidor.
b. TRANSPARÊNCIA:
A Política Nacional das Relações de Consumo busca, dentre outros objetivos, assegurar a
transparência nestas relações (artigo 4º). Conduta transparente é a conduta não ardilosa, conduta
que não esconde, atrás do aparente, propósitos pouco louváveis.
O CDC, prestigiando a boa-fé, exige transparência dos atores do consumo, impondo às partes
o dever de lealdade recíproca, a ser concretizada antes, durante e depois da relação contratual.
c. INFORMAÇÃO:
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Estabelece o CDC que o consumidor tem direito “a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (artigo 6º, III). Na
mesma linha, o artigo 8º obriga “os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações
necessárias e adequadas” a respeito dos produtos e serviços colocados no mercado de consumo.
O dever de informar será mais severamente analisado quando disser respeito a produtos
cujo uso possa por em risco a integridade física do consumidor. Nesse sentido, o artigo 9º: “ O
fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança
deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade,
sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto”.
O artigo 4º, III, alude ao “equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores”.
Há uma relativização do pacta sunt servanda, do princípio da força obrigatória dos contratos,
em homenagem a um real equilíbrio material entre as prestações, considerados os princípios da boa-
fé objetiva e da justiça contratual.
e. REPARAÇÃO INTEGRAL:
Dentre os direitos básicos do consumidor, consagrada no artigo 6º, VI, está “efetiva
prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”.
Estatui o artigo 47, CDC: “As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais
favorável ao consumidor”.
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Tal princípio é aplicado também nos contratos de adesão (artigo 54, CDC), conforme
preceitua o artigo 423, do Código Civil.
g. BOA-FÉ OBJETIVA:
ANÁLISE DO CDC:
6. ARTIGO 1º:
As normas do CDC são de “ordem pública”, o que equivale a dizer que são inderrogáveis por
vontade dos interessados, embora se admita a livre disposição de alguns interesses de caráter
patrimonial.
Em outras palavras, as normas do CDC possuem caráter cogente, não tolerando renúncia,
estando o juiz autorizado a conhecer das normas do CDC de ofício.
Aplicação em concurso:
MP/SC 2000: “As matérias tratadas no CDC são de ordem pública, de sorte que ao
magistrado é dado reconhecer esta incidência de ofício”. Gabarito: ____________
Importante:
O STJ não vem aceitando a decretação de ofício das CLÁUSULAS ABUSIVAS NOS CONTRATOS
BANCÁRIOS, sob o argumento de ofensa ao princípio tantum devolutum quantum appelattum. Nesse
sentido:
Aplicação em concurso: