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1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo abordar, sucintamente, a Súmula 469, aprovada em
24.11.2010, pela 2.ª Seção do STJ, e publicada no DJe em 06.12.2010, que dispõe
sobre a aplicação do Código de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40) aos contratos de
planos de saúde.
Isto quer dizer que, há o entendimento por parte do STJ, de que os Planos Privados de
Assistência à Saúde, os chamados Planos de Saúde, incluindo, também, nessa
terminologia, os Seguros-Saúde, estão submetidos à égide do Código de Defesa do
Consumidor (LGL\1990\40). Nesse diapasão, no Brasil, todos os contratos de planos de
saúde ativos, sejam antigos, novos ou adaptados, firmados entre operadoras de planos
de assistência à saúde e consumidores, devem obedecer aos ditames da lei
consumerista.
Nesse sentido, a política estatal na área de saúde deve proporcionar o acesso a todos,
propiciando a redução de desigualdades e não podendo criar quaisquer distinções entre
os brasileiros.
O sistema privado de saúde engloba a prestação direta dos serviços por profissionais e
estabelecimentos de saúde ou a intermediação dos serviços, mediante a cobertura dos
riscos da assistência à saúde pelas operadoras de planos de assistência à saúde.
Com efeito, suas regras não podem ser contrariadas nem por vontade das partes, pois
são imperativas, obrigatórias e inderrogáveis. Ele abrange toda a coletividade de
consumidores e sobrepõe aos interesses da sociedade, vista em conjunto, aos dos
particulares.
Os princípios fundamentais reitores das relações de consumo, que devem orientar todo o
sistema jurídico estão dispostos nos primeiros sete artigos do Código de Defesa do
Consumidor (LGL\1990\40), e alguns merecem ser comentados, neste artigo, dentre
eles a vulnerabilidade do consumidor; a boa-fé objetiva, a transparência e a informação.
assistência à saúde, aquelas que oferecem serviços de assistência à saúde, através dos
planos de saúde no mercado de consumo, estão amparados pelo Código de Defesa do
Consumidor (LGL\1990\40). Portanto, os consumidores de planos de saúde têm o direito
de ver, reconhecidos, todos os direitos e princípios assegurados pelo Código de Defesa
do Consumidor (LGL\1990\40).
5. OS PLANOS DE SAÚDE
A Lei 9.656/1998 impõe uma disciplina específica para as relações de consumo na saúde
suplementar, mediante o disciplinamento da cobertura assistencial, abrangência dos
planos, rede credenciada, procedimentos e eventos cobertos e não cobertos, carências,
doenças e lesões preexistentes e cumprimento de cláusulas contratuais, além de
estabelecer normas de controle de ingresso, permanência e saída das operadoras nesse
mercado, estabelecer normas relativas à solvência e liquidez dessas operadoras, a fim
de preservar sua sustentabilidade e transparência.
Consideram-se planos antigos os que não estão submetidos à Lei 9.656/1998, ou seja,
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os quais foram firmados anteriormente à sua vigência mas, no entanto, devem
respeitar o Código de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40). Já os planos novos são os
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firmados após a vigência da Lei 9.656/1998. Há, ainda, uma subespécie dos contratos
novos, os planos adaptados, que são àqueles firmados antes da vigência da Lei
9.656/1998, mas posteriormente, por meio de aditivo contratual, adéquam-se às regras
vigentes, passando a garantir as mesmas regras dos planos novos. Portanto, tanto os
planos novos como os adaptados têm de respeitar a lei específica e sua regulamentação
que por sua vez, obviamente, também, devem respeitar os ditames do Código de Defesa
do Consumidor (LGL\1990\40).
A contratação coletiva por adesão é aquela que oferece cobertura para uma massa
delimitada de consumidores, que mantenha vínculo com as pessoas jurídicas de caráter
profissional, classista ou setorial: conselhos profissionais e entidades de classe, nos
quais seja necessário o registro para o exercício da profissão; sindicatos, centrais
sindicais e respectivas federações e confederações; associações profissionais;
cooperativas que congreguem membros de categorias ou classes de profissões
regulamentadas; caixas de assistência e fundações de direito privado; órgãos de
representantes de estudantes de nível superior, médio e fundamental. Pode haver,
desde que prevista contratualmente, a inclusão do grupo familiar do titular até o terceiro
grau de parentesco consanguíneo, até o segundo grau de parentesco por afinidade,
cônjuge ou companheiro.
A Lei 9.656/1998, que trata sobre os planos de saúde, em seu art. 35-G dispôs que se
aplicam subsidiariamente aos contratos de planos privados de assistência à saúde as
disposições da Lei 8.078/1990, isto é, o Código de Defesa do Consumidor
(LGL\1990\40), in verbis:
“Este artigo da lei especial não está dogmaticamente correto, pois determina que norma
de hierarquia constitucional, que é o Código de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40)
(art. 48 do ADCT (LGL\1988\31)), tenha apenas aplicação subsidiária a normas de
hierarquia infraconstitucional, que é a Lei 9.656/1998, o que dificulta a interpretação da
lei e prejudica os interesses dos consumidores que queria proteger. Sua ratio deveria ser
a de aplicação cumulativa de ambas as leis, no que couber, uma vez que a Lei
9.656/1998 trata com mais detalhes os contratos de planos privados de assistência à
saúde do que oCódigo de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40), que é norma
principiológica e anterior à lei especial. Para a maioria da doutrina, porém, a Lei
9.656/1998 tem prevalência como lei especial e mais nova, devendo o Código de Defesa
do Consumidor (LGL\1990\40) servir como Lei geral principiológica a guiar a
interpretação da lei especial na defesa dos interesses do consumidor, em especial na
interpretação de todas as cláusulas na maneira mais favorável ao consumidor (art. 47 do
CDC (LGL\1990\40)). Particularmente defendo, em visão minoritária, a superioridade
hierárquica do CDC (LGL\1990\40)“ (grifou-se).
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O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR APLICA-SE
AOS PLANOS DE SAÚDE
Deste modo, qualquer lei especial que vier regular um segmento específico que envolva,
em um polo, o consumidor e, em outro, o fornecedor, transacionando produtos e
serviços, terá de obedecer à Lei Consumerista, ainda que não haja remissão expressa.
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Como ensina Rizzatto Nunes:
“(...) na eventual dúvida sobre saber qual diploma legal incide na relação jurídica, no
fato ou na prática civil ou comercial, deve o intérprete, preliminarmente, identificar a
própria relação: se for jurídica de consumo, incide na mesma a Lei 8.078/1990.”
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Compartilhando do entendimento de Marcelo Sodré cabe destacar que:
“As leis de defesa do consumidor, na exata medida em que fixarem princípios a serem
perseguidos – e neste caso se tornarem leis principiológicas – terão superioridade em
relação às demais leis especiais.”
A Súmula 469, aprovada em 24.11.2010, pela 2.ª Seção do STJ, e publicada no DJe em
06.12.2010, dispõe, expressamente:
Cabe citar alguns posicionamentos relacionados à nova súmula: O Min. Ruy Rosado de
Aguiar comenta que:
A Min. Nancy Andrighi, entende que: “dada a natureza de trato sucessivo do contrato de
seguro-saúde, o Código de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40) rege as renovações
que se deram sob sua vigência, não havendo em falar aí em retroação da lei nova.” Para
ela o Código de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40) é aplicado aos planos de saúde
mesmo em contratos firmados anteriormente à vigência do Código, mas que são
renovados, ou seja, não se trata de retroatividade da lei ( REsp 267.530/SP, rel. Min.
Ruy Rosado de Aguiar, DJe 12.03.2001).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para tanto seria bastante oportuno que todos os stakeholders do setor – as operadoras
de planos de assistência à saúde, os profissionais de saúde, os consumidores, o
Ministério da Saúde e a ANS – dialogassem no intuito de aperfeiçoamento do sistema.
Esse debate, obviamente, deve passar tanto pelo Congresso Nacional como pela ANS,
para a incorporação das normas do Código de Defesa do Consumidor (LGL\1990\40) ao
marco regulatório.
8. BIBLIOGRAFIA
GREGORI, Maria Stella. Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. 2. ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2010. vol. 31, Biblioteca de Direito do Consumidor.
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