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2.

DIREITO DO CONSUMIDOR  16/04/1985: ONU fixa diretrizes


2.1. Introdução internacionais para política geral de proteção
ao consumidor destinadas aos Estados
Atualmente o consumidor depende do sistema de
soberanos, dentre eles, estava o Brasil.
fornecimento de produtos e serviços que satisfaça
suas necessidades, diferente da Antiguidade. Porém, O Direito do Consumidor no Brasil só passou a
se este mercado de fornecimento estiver visando ser dever estatal após a CF/88, antes disso, nem
somente o lucro agressivo, onde há a diminuição dos mesmo estava presente em legislação
custos, menor investimento em qualidade e infraconstitucional.
obscuridade de oferta, estando protegido pelo
Em qualquer responsabilização contratual ou
sistema contratual, haverá uma vulnerabilidade
extracontratual, era utilizado o CC/1946 ou Código
entre consumidor e fornecedor, gerando
Comercial de 1850. Porém, com a industrialização
insatisfação e menor qualidade de vida.
no Brasil, vem a necessidade de atenuar o rigor do
Por isso, a importância do Direito do CC, e com o advento da CF/88 adotou-se o Direito
Consumidor, que regula melhor este sistema, o do Consumidor para atender as necessidades da
tornando mais justo, visto que já se presume esta população.
vulnerabilidade e busca a diminuição de conflitos e
Principais aspectos dessa adoção:
a insatisfação (harmonização) gerando maior Justiça
Social.  Determina que a ordem econômica deva ter
por finalidade a Justiça Social;
O início do Direito do Consumidor se dá no
 O Estado deve cuidar da defesa do
movimento sindical decorrente da Revolução
consumidor como um direito fundamental;
Industrial, onde há uma semente para o que mais
 Determina que o Poder Legislativo crie um
tarde se tornaria este direito.
Código de Defesa do Consumidor em 120
Tem como marcos evolutivos: dias contados da sua promulgação.

 1891: New York Consumer’s League; Após a CF/88:


 1960: IOCU – International Organization of
 Passa a ser um sistema autônomo com
Consumers Unions, em que o Brasil só
princípios e normas próprios;
passou a integrar depois, sendo representado
 Tutela relação de consumo e cria, mantem e
pelo IDEC e Fundação PROCON;
sustenta as bases da Política Nacional de
 15/03/1962: mensagem de J. F. Kennedy, a
Relação de Consumo (PNRC);
respeito da segurança contra produtos
 A PNRC visa a evolução e melhoria da
nocivos, melhores informações para
qualidade de vida no Brasil.
prevenção de danos, liberdade de escolha e
acesso para a defesa de direitos com Principais fontes jurídicas:

importante papel a ser garantido pelo Estado;  Lei 8,0748 de 11 de setembro de 1990;

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 Lei de Planos de Saúde (Lei n° 9656 de garantir Justiça Social, diminuindo os efeitos da
03/06/1998) desigualdade.

Em suma, o CDC é uma lei principiológica Principais diretrizes (orientações):


alinhada aos ditames de justiça social trazidos pela
 Formar um ideal de proteção ao consumidor
CF.
em tutela individual e coletiva;
Art. 1° O presente código estabelece normas de  Regular a relação jurídica de consumo;
proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e  Criar bases adequadas no ambiente de
interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso
consumo visando sua harmonização.
XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art.
48 de suas Disposições Transitórias. 2.2. Relação jurídica de consumo

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção A presunção de vulnerabilidade pode ser notada
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e na tendência de uso da contratação pelos
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade consumidores em relação a muitos produtos e
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança serviços. Essa necessidade de consumo afeta a
e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o autonomia da vontade gerando um desequilíbrio
Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
natural, fazendo com que o legislador adote um
consumidor;
fundamento protetivo. A formula tradicional dos
Art. 170. A ordem econômica, fundada na contratos é voltada para regulação do equilíbrio e
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, não para a proteção de uma das partes celebrantes.
tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os Elementos subjetivos:
seguintes princípios: V - defesa do consumidor;
 Consumidor:
Principais características: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou
jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
 Norma de ordem pública: conforma ordem como destinatário final.
econômica com interesse social de maneira
harmônica com os direitos dos Essa destinação final do produto ou serviço
consumidores; possui algumas teorias:
 Dirigismo contratual: institui um sistema de o Finalista: as pessoas jurídicas do conceito
proteção ao consumidor, o Estado controla o seriam somente as sem fins econômicos
consumo buscando o equilíbrio entre ou ainda, as demais, teriam que adquirir
consumidor e fornecedor; o produto ou serviço dissociado de sua
 Interesse social: minorar a desigualdade atividade econômica e produtiva.
entre consumidor e poder econômico o Maximalista: alcançaria pessoas físicas

Assim, visa garantir um melhor ambiente de ou jurídicas de qualquer perfil, excluindo

consumo a toda a população como uma forma de somente os produtos e serviços na cadeia

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de transformação (produção, montagem, § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel,
transformação ou revenda) material ou imaterial.

o Finalista temperada ou mista: nega a o Material (corpóreo) ou imaterial

incidência para qualquer pessoa física ou (incorpóreo, resultado de pensamento

jurídica, exceto se identificada uma criativo)

concreta vulnerabilidade do  Serviços:


adquirente/usuário do produto ou serviço § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no

ainda que destinado ao uso profissional mercado de consumo, mediante remuneração,


inclusive as de natureza bancária, financeira, de
ou econômico. Esta vulnerabilidade pode
crédito e securitária, salvo as decorrentes das
ser econômica, técnica ou de informação.
relações de caráter trabalhista.
 Fornecedor:
o Atividade habitual e remunerada direta
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou
(contraprestação direta ou indireta, ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou
seja, oferecimento de outras ou iguais
estrangeira, bem como os entes
atividades remuneradas diretamente ao
despersonalizados, que desenvolvem atividade
de produção, montagem, criação, construção, público consumidor em geral)
transformação, importação, exportação, o Serviços bancários: Súmula 297 STJ: O
distribuição ou comercialização de produtos ou Código de Defesa do Consumidor é
prestação de serviços. aplicável às instituições financeiras.
o Desde que seja de forma habitual e
mediante remuneração;
Extensão das proteções de direito do consumidor,
o Podem ser de direito privado ou público
hipóteses legalmente admitidas:
e ainda de direito privado
concessionárias/permissionárias de  Coletividade de consumidores:
serviços públicos; Art. 2° Parágrafo único. Equipara-se a

o O setor público se aplica pelo formato da consumidor a coletividade de pessoas, ainda


que indetermináveis, que haja intervindo nas
contraprestação aos serviços utilizados
relações de consumo.
mediante cobrança de preço público ou
tarifa; o Classe de consumidores que podem ser
o O fornecedor estrangeiro, aplica-se lei efetivas ou potencialmente atingidas pelo
local; mercado de consumo.
o Entes despersonalizados, o CDC visa
 Pessoas determináveis ou não, expostas às
alcançar hipóteses mais raras de massa
práticas comerciais:
falida ou espólio de comerciante
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do
individual. seguinte, equiparam-se aos
Elementos objetivos: consumidores todas as pessoas

 Produtos:

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determináveis ou não, expostas às  Colaboração.
práticas nele previstas.  Supressio: perda da prerrogativa
 Vítimas do ato de consumo: contratual ou faculdade legal a
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, revelar uma vontade do contratante
equiparam-se aos consumidores todas as
distinta daquela firmada no vínculo
vítimas do evento.
contratual.
o Ex.: tragédia do voo 3054 da TAM no  Surrectio: surgimento de um direito
aeroporto de Congonhas que deixou 199 por meio de um costume
mortos, sendo 187 dentro do avião e 12 estabelecido entre os contratantes,
que foram atingidas pela colisão com um uma vez não previsto em contrato.
prédio na Av. Washington Luís.  Tu quoque: um contratante, que
descumpre uma norma jurídica,
2.3. Princípios
não pode se valer da situação
 Gerais do Direito Privado: alcançada para benefício próprio.
o Autonomia da vontade  Venire contra factum proprium:
o Força vinculante ou obrigatória: impede que alguém tenha
imperatividade dos contratos comportamento contraditório,
o Função social: regular os interesses inesperado, causando surpresa na
particulares e se limitar contra excessos e outra parte, pois haveria quebra do
obedecer a valores sociais e coletivos, dever de lealdade e confiança.
não apenas das partes, mas a terceiros que  Duty to mitigate the loss: quando
possam ser diretamente atingidos. um dos contratantes deixa de atuar
o Boa-fé: da maneira esperada, acarretando
 Objetiva: dever primário de uma piora na situação de
adimplemento obrigacional e inadimplemento contratual para o
secundário, que envolve a eticidade outro contratante.
em torno do relacionamento  Princípios típicos do Direito do Consumidor:
contratual.
Art. 4º A Política Nacional das Relações de
 Assistência à outra parte;
Consumo tem por objetivo o atendimento das
 Confidencialidade;
necessidades dos consumidores, o respeito à
 Respeito; sua dignidade, saúde e segurança, a proteção
 Informação quanto ao objeto de seus interesses econômicos, a melhoria da
do negócio; sua qualidade de vida, bem como a
 Atuação conforme a confiança transparência e harmonia das relações de

depositada; consumo, atendidos os seguintes princípios:

 Lealdade; o Vulnerabilidade:

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I - Reconhecimento da a) por iniciativa direta; (criação
vulnerabilidade do consumidor no mercado de órgãos públicos destinados à
de consumo; proteção do consumidor, por
 Sentindo amplo: proteção e exemplo, PROCON)
melhoria da qualidade de vida; b) por incentivos à criação e

 Sentido estrito: presunção de desenvolvimento de associações


representativas; (à criação de
vulnerabilidade de uma das partes
associações civis de defesa do
gerando um conjunto de proteções
consumidor)
de direito material e processual.
c) pela presença do Estado no
 Tutela individual: variação de
mercado de consumo; (por via de
presunção relativa a absoluta, a regulação e controle de
depender: mercado)
 Consumo primário: absoluta, d) pela garantia dos produtos e
situações de destinação final serviços com padrões adequados
totalmente fática e econômica de qualidade, segurança,

 Consumo intermediário: durabilidade e desempenho.


(Estimulando o desenvolvimento
relativa, situações de
de qualidade)
destinação final apenas
VI - Coibição e repressão
econômico, pois o produto ou
eficientes de todos os abusos
serviço é adquirido de outra
praticados no mercado de
atividade não relacionada. consumo, inclusive a
 Tutela coletiva: vulnerabilidade concorrência desleal e utilização
máxima absoluta, sempre presente, indevida de inventos e criações
com proteção do CDC e Poder industriais das marcas e nomes
público. comerciais e signos distintivos,
o Informação (transparência): “caput” que possam causar prejuízos aos

 Sua aplicação envolve direito consumidores; (coibindo abusos


praticados no mercado de
básico do consumidor, grau de
consumo/proteção contra
periculosidade de produtos e
concorrência desleal,
serviços, vinculação dos
propriedade industrial e
fornecedores ao teor das ofertas,
intelectual)
publicidade e contratação.
o Harmonização:
o Ação governamental: III - harmonização dos interesses dos
II - Ação governamental no participantes das relações de consumo e
sentido de proteger efetivamente compatibilização da proteção do
o consumidor: consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e

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tecnológico, de modo a viabilizar os desenfreado e estímulo ao consumo
princípios nos quais se funda a ordem seguro.
econômica (art. 170, da Constituição  Tornar as regras e valores de
Federal), sempre com base na boa-fé e
consumo conhecidas,
equilíbrio nas relações entre
possibilitando maior consciência
consumidores e fornecedores;
em torno de seus direitos.
V - Incentivo à criação pelos
o Melhoria constante do serviço de origem
fornecedores de meios eficientes de
pública:
controle de qualidade e segurança de
produtos e serviços, assim como de VII - racionalização e melhoria dos

mecanismos alternativos de solução de serviços públicos;

conflitos de consumo;  Deve ser exigido o aprimoramento

 Proteção jurídica que possibilite o constante, visto que, a reserva

desenvolvimento dos meios de pública de mercado é importante

produção e economia compatível não só para o Estado Brasileiro,

com a defesa do consumidor. Este mas também, à população.

princípio é adotado como forma de o Atualização do direito em relação ao

estímulo ao aprimoramento das mercado (acompanhamento de mercado):

relações de consumo. VIII - estudo constante das modificações


do mercado de consumo.
o Equilíbrio: “III”
 Conforme o mercado se
 Orientar a localizar fundamentos
transforma/renova, o sistema de
para estabelecer a devida correção
proteção também deve se atualizar.
do fornecimento ou do devido
controle de conteúdo excessivo 2.4. Política nacional de relações de consumo
através da invalidação das
Seu foco é:
cláusulas que reforcem o
desiquilíbrio ou da punição às  Regular direitos materiais dos consumidores
práticas comerciais. na relação de consumo
o Educação para o consumo:  Definir regras para a harmonização da
IV - Educação e informação de relação jurídica de consumo;
fornecedores e consumidores, quanto aos  Organização das bases administrativas de
seus direitos e deveres, com vistas à atuação do Poder Público frente esse
melhoria do mercado de consumo; ambiente.
 Correta utilização de práticas
Dentro do CDC, a palavra “política” significa
comerciais e proteção econômica
fins e mecanismo para regular o ambiente de
ao não endividamento
fornecimento e consumo. Para executá-la, foi
desnecessário, consumo
definido princípios, instrumentos e direitos básicos.

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Como instrumentos elencados pelos incisos do fornecimento de produtos e serviços
art. 5°, temos: considerados perigosos ou nocivos;

A. Juizados especiais cíveis: democratização do Menor risco contra os maiores valores pessoais,
com finalidade preventiva e valorativa.
acesso e facilitação da defesa dos direitos,
com soluções rápidas; II - A educação e divulgação sobre o consumo
B. Assistência jurídica gratuita; adequado dos produtos e serviços, asseguradas a

C. Promotorias de justiça: o MP foi legitimado liberdade de escolha e a igualdade nas

para agir na tutela coletiva dos contratações;

consumidores; Contra práticas agressivas de fornecimento e


D. Associações civis de defesa de estímulo da livre concorrência; impedimento de
consumidores; qualquer discriminação pessoal na oferta,

E. Delegacias de polícia especializada. publicidade ou restrições na contratação.

2.5. Sistema nacional de defesa do consumidor III - a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação
Para formar este sistema nacional, o poder correta de quantidade, características,
público e a sociedade devem atuar em conjunto em composição, qualidade, tributos incidentes e
todos os níveis. preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

Art. 105. Integram o Sistema Nacional de Defesa Prevenção de danos e maior satisfação através do
do Consumidor (SNDC), os órgãos federais, consumo.
estaduais, do Distrito Federal e municipais e as
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e
entidades privadas de defesa do consumidor.
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
No âmbito: desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de
 Federal: Ministério da Justiça e Segurança
produtos e serviços;
Pública através da SENACON.
Contra abuso de fornecimento.
o SENACON: planeja, elabora,
coordena e executa esta política. V - a modificação das cláusulas contratuais que

 Estadual: no estado de SP é atribuído ao estabeleçam prestações desproporcionais ou sua

PROCON e SNDC. revisão em razão de fatos supervenientes que as


tornem excessivamente onerosas;
 Municípios paulistas: convênios firmados
entre prefeituras e PROCON. Cabendo revisão e não resolução por onerosidade
excessiva, sendo a modificação de clausulas
2.6. Direitos básicos
desproporcionais diferente desta.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos
I - A proteção da vida, saúde e segurança contra patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
os riscos provocados por práticas no difusos;

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Mecanismo de responsabilização diferente do XIII - a informação acerca dos preços dos
presente no Código Civil. produtos por unidade de medida, tal como por
quilo, por litro, por metro ou por outra unidade,
VII - o acesso aos órgãos judiciários e
conforme o caso. Regras gerais de direito
administrativos com vistas à prevenção ou
material
reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada a 2.7. Regras gerais de direito material
proteção Jurídica, administrativa e técnica aos
Preliminarmente, o CDC como norma de
necessitados;
ordem público firma conceitualmente a relação
Direito programático entrelaçado e decorrente
jurídica de consumo, estabelecendo linhas
dos instrumentos de juizados especiais e
fundamentais de uma política nacional com
assistência jurídica, junto com o sistema
princípios, instrumentos e um rol de direitos
administrativo de proteção.
materiais essenciais, individuais e coletivos dos
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, consumidores.
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do Art. 7° Os direitos previstos neste código não

juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele excluem outros decorrentes de tratados ou

hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de convenções internacionais de que o Brasil seja

experiências; signatário, da legislação interna ordinária, de


regulamentos expedidos pelas autoridades
Reconhecimento de vulnerabilidade processual.
administrativas competentes, bem como dos que
IX - (Vetado); derivem dos princípios gerais do direito,
analogia, costumes e equidade.
X - A adequada e eficaz prestação dos serviços
públicos em geral. Art. 2°. LINDB. Não se destinando à vigência
temporária, a lei terá vigor até que outra a
Poder Público atuando como particular e
modifique ou revogue.
operando estes serviços através de preço público
e tarifa. § 1° A lei posterior revoga a anterior quando
expressamente o declare, quando seja com ela
XI - a garantia de práticas de crédito responsável,
incompatível ou quando regule inteiramente a
de educação financeira e de prevenção e
matéria de que tratava a lei anterior.
tratamento de situações de superendividamento,
preservado o mínimo existencial, nos termos da § 2° A lei nova, que estabeleça disposições gerais
regulamentação, por meio da revisão e da ou especiais a par das já existentes, não revoga
repactuação da dívida, entre outras medidas; nem modifica a lei anterior.

XII - a preservação do mínimo existencial, nos Esta regra geral de extensão, para a proteção
termos da regulamentação, na repactuação de total do consumidor, assim, será aplicada as normas
dívidas e na concessão de crédito; de maior proteção mesmo que posterior ao CDC.
Adotando regras diferentes para favorecer o
consumidor, não existindo conflito de normas, visto

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que se aplica o art. 7° do CDC conjuntamente a Art. 8° Os produtos e serviços colocados no
norma utilizada. mercado de consumo não acarretarão riscos à
saúde ou segurança dos consumidores, exceto os
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a
considerados normais e previsíveis em
ofensa, todos responderão solidariamente pela
decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-
reparação dos danos previstos nas normas de
se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as
consumo.
informações necessárias e adequadas a seu
No mesmo disposto, tem a regra geral de respeito.
solidariedade passiva na cadeia de fornecimento em Há, portanto, os deveres dos fornecedores
caso de danos ao consumidor, se mais de um quanto a informação destes perigos.
fornecedor contribuir para o surgimento da ofensa
§ 1º Em se tratando de produto industrial, ao
em qualquer grau. Respondem solidariamente pelos
fabricante cabe prestar as informações a que se
danos.
refere este artigo, através de impressos
2.8. Detalhamento do direito básico de apropriados que devam acompanhar o produto.
proteção dos consumidores contra riscos à (Redação dada pela Lei nº 13.486, de 2017)

vida, saúde e segurança pela § 2º O fornecedor deverá higienizar os


periculosidade e nocividade de produtos e equipamentos e utensílios utilizados no
serviços. fornecimento de produtos ou serviços, ou
colocados à disposição do consumidor, e
O CDC irá tutelar em primeiro plano a vida,
informar, de maneira ostensiva e adequada,
a saúde e a segurança visto que são os bens jurídicos
quando for o caso, sobre o risco de contaminação.
de importância superior, e que não poderão ser
colocados em risco desnecessário por conta de Reconhecendo estas condições de alguns

atividade de fornecimento ou interesso de lucro. produtos e serviços, extraem-se duas características:

A reparação de dano é um direito básico e  Aceitação pela norma de uma periculosidade

deve ser efetiva, buscando uma menor incidência de ou nocividade inerente:

risco contra esses bens e tornar o ambiente de  Fixação de um dever ao fornecedor


consumo mais seguro. Ademais, há, também, periculosidade ou

Estendendo a previsão dos direitos básicos, nocividade potencial, ou seja, um risco que não está

estabelece regras a respeito das situações possíveis presente, mas que pode se evidenciar eventualmente,

de nocividade e periculosidade na relação de circunstancialmente com o seu uso.

consumo. Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços


potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou
Assim, há a periculosidade ou nocividade
segurança deverá informar, de maneira ostensiva
inerente, indissociável da essência do
e adequada, a respeito da sua nocividade ou
produto/serviço ou de sua utilização habitual
periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras
medidas cabíveis em cada caso concreto.

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Esta periculosidade deve ser informada de Estados, o Distrito Federal e os Municípios
maneira ostensiva (evidente) e adequada (com todas deverão informá-los a respeito.

as explicações necessárias) sob pena de reparação As consequências serão:


eventual de danos, visto que, esses produtos não
a) Produtos sujeitos à fiscalização ou controle rotineiro:
prevê a periculosidade e a falta da informação, torna-
serão retirados do mercado primeiro, por iniciativa do
o viciado ou defeituoso.
Poder Público;

Outra versão é a periculosidade excessiva, b) Divulgação de informações e recall: se não pelo

em que há a vedação da colocação destes produtos controle governamental, será pelo fornecedor.
c) Despesas: as despesas com publicidade, retirada ou
no mercado que apresentem um alto grau de
recall serão suportadas pelo fornecedor.
periculosidade.
d) Poder público: por segurança assume o dever jurídico
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no de informar sobre a futura periculosidade e
mercado de consumo produto ou serviço que sabe nocividade.
ou deveria saber apresentar alto grau de
2.9. Responsabilidade do fornecedor pelo fato
nocividade ou periculosidade à saúde ou
do produto
segurança.

Periculosidade futura, é diferente da O CDC unifica os sistemas de

excessiva ou de alto grau, a questão é responsabilização civil do direito privado (contratual

exclusivamente temporal, ou seja, ao tempo em que (mora, adimplemento e vício) e extracontratual (ato

foi disponibilizado no mercado não era de ilícito)). Usa um regime de responsabilização

conhecimento geral. Assim, não importa o grau ou objetiva, fundada na teoria do risco, isto é, ao invés

espécie de periculosidade ou nocividade que de se embasar na culpa ou inadimplemento, analisará

envolvem o produto/serviço. Ex.: mertiolate. os prejuízos causados, não se restringindo somente a


coisa.
§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que,
posteriormente à sua introdução no mercado de  Vício: fator de prejuízo localizado no
consumo, tiver conhecimento da periculosidade produto ou serviço que afeta sua qualidade,
que apresentem, deverá comunicar o fato tornando-o impróprio ou inadequado ao
imediatamente às autoridades competentes e aos consumo ou, sua quantidade ou sua
consumidores, mediante anúncios publicitários. informação constante de rótulo, bula ou
§ 2° Os anúncios publicitários a que se refere o mensagem publicitária.
parágrafo anterior serão veiculados na imprensa,  Fato: algo que incida sobre o produto ou
rádio e televisão, às expensas do fornecedor do serviço e se propaga, atingindo direitos
produto ou serviço. imateriais (valores pessoais) do consumidor
§ 3° Sempre que tiverem conhecimento de ou/e terceiros. É considerado um fato
periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou anômalo, um acidente de consumo, sendo um
segurança dos consumidores, a União, os

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vício de segurança ou defeito. Em suma, é Em razão de sua utilização para que seja apurado
um vício que se propaga, é um resultado. o grau de insegurança.

Tratamento legal específico pelo fato: III - a época em que foi colocado em circulação.

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, Verificando se o dano ocorreu em

nacional ou estrangeiro, e o importador correspondência ao tempo que foi colocado no

respondem, independentemente da existência mercado.

de culpa, pela reparação dos danos causados aos § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo
consumidores por defeitos decorrentes de fato de outro de melhor qualidade ter sido
projeto, fabricação, construção, montagem, colocado no mercado.
fórmulas, manipulação, apresentação ou
Eventuais avanços tecnológicos não produzem
acondicionamento de seus produtos, bem como
defeitos.
por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua utilização e riscos. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou
importador só não será responsabilizado quando
É o responsável mesmo que não seja o causador.
provar:
Fabricante: fornecedor de produtos
Tanto os incisos I e II tratam de defesa direta de
industrializados;
mérito.
Produtor: fornecedor de produtos de origem
I - Que não colocou o produto no mercado;
natural ou “in natura”
Comprovação de não colocação do produto no
Construtor: fornecedor de gêneros imobiliários
mercado
Importador: fornecedor presumido, que responde
II - Que, embora haja colocado o produto no
pelos danos ou defeitos dos produtos por ele
mercado, o defeito inexiste;
importado.
Comprovação da inexistência
A decisão do legislador se dá pela presunção de
maior capacidade economica para suportar a III - a culpa exclusiva do consumidor ou de
responsabilização. terceiro.

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece Aqui de fato se trata de excludentes legais da
a segurança que dele legitimamente se espera, responsabilização pelo fato do produto
levando-se em consideração as circunstâncias
A culpa deve ser exclusiva e não concorrente, se
relevantes, entre as quais:
houver parcialidade, não irá excluir a reparação
I - Sua apresentação; do fornecedor, podendo apenas atingir a
totalidade da responsabilização.
Conteúdo informacional (publicidade ou rótulo).
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável,
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se
nos termos do artigo anterior, quando:
esperam; *

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I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o Quanto aos danos morais, uma vez que o bem
importador não puderem ser identificados; jurídico é imaterial sem um valor exato, tem por

O comerciante só responderá quando os finalidade conscientizar e inibir o fornecimento


responsáveis primários não forem identificados inseguro, por meio da indenização pecuniária.
mesmo sendo ou não o causador.
3. 0. Responsabilização do fornecedor pelo fato
II - O produto for fornecido sem identificação do serviço:
clara do seu fabricante, produtor, construtor ou
Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
importador;
independentemente da existência de culpa, pela
III - não conservar adequadamente os produtos reparação dos danos causados aos consumidores
perecíveis. por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou
Parágrafo único. Aquele que efetivar o
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
pagamento ao prejudicado poderá exercer o
direito de regresso contra os demais responsáveis, A apuração da responsabilidade será objetiva
segundo sua participação na causação do evento fundada no risco do negócio (igual ao fato do
danoso. produto, art. 12).

O responsabilizado poderá se voltar em regresso PRESSUPOSTOS: fornecimento do serviço,


contra o real causador, podendo fazê-lo por outra dano pessoal causado ao consumir ou terceiro e
ação, mas é vedado a denunciação da lide, porque nexo de causalidade.
ela prorroga o andamento e a preferência aqui, é
Exceto, nos casos do profissional liberal que
ressarcir o consumidor.
analisará a imprudência, imperícia ou
Quanto a origem do defeito, pode se dar na negligencia, de maneira subjetiva fundada na
sua concepção, projeto ou escolha ou; na sua teoria da culpa (Art. 14, §4°). Isso se dá pelo fato
fabricação, construção, montagem, manipulação e da presunção da contratação personalíssima.

acondicionamento e, por fim; na apresentação do


produto, seja por informações incompletas,
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a
imprecisas ou ausentes.
segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
Indenização ante o fato do produto
I - O modo de seu fornecimento;
A reparação dos danos recompõe as perdas e
O modo de fornecimento anormal.
danos, ou seja, não gera lucro. Traduzem em danos
emergentes somados a eventuais lucros cessantes, II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele
com o objetivo de recompor exatamente o se esperam; *

patrimonio anterior a lesão. Resultados e riscos habituais daquele tipo de


serviço;

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III - a época em que foi fornecido. bilateral, o alienante também tem a obrigação de

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela garantir seu estado, pela teoria do vício (princípio da

adoção de novas técnicas. garantia). Este princípio é garantia de um equilíbrio


na fase pós-contratual, que difere da clausula de
§ 3° O fornecedor de serviços só não será
garantia, na qual leva um contrato acessório de
responsabilizado quando provar:
prestação de serviços de reparos e troca de peça.
I - Que, tendo prestado o serviço, o defeito
Exceto nos casos de doação, não há
inexiste;
responsabilização.
Trata-se de uma defesa direta de mérito, pois
O princípio da garantia citado acima, se
exige a comprovação de ausência de um
aplica aos contratos translativos assim como nos de
pressuposto legal que é o nexo causal.
atividade (prestação de serviço).
II - A culpa exclusiva do consumidor ou de
terceiro. Este vício, diferente do ocorre no Direito
Civil, não precisa ser oculto, ademais, há uma
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais
ampliação quanto ao tempo após a celebração para
liberais será apurada mediante a verificação de
origem do vício. Não sendo obrigatório que este
culpa.
vício cause uma diminuição do valor do produto,
O profissional liberal, também autônomo, tem
pode ser apenas um vício de informação.
domínio de conhecimento de arte ou atestado
(intelectual ou manual, de nível superior. Ex.: Estará diante de um vício e não mais um
advogado, médico, arquiteto. defeito no produto. Este vício pode ser tanto de
quantidade ou de qualidade, de maneira intrínseca,
PRESSUPOSTOS: fornecimento, dano, nexo
causal e culpa do prestador nas modalidades de ou seja, dentro do produto. Assim, neste caso, a
imperícia, imprudência e negligencia. responsabilidade será objetiva (sem análise de
culpa). A responsabilidade subjetiva, será
*OBS.: Quanto ao caso fortuito e força maior, não
excepcional, aplicando-se nas hipóteses
são admitidos expressamente pelo CDC, adotando
estabelecidas pelo próprio CDC.
apenas o termo “risco integral”, mas este, no âmbito
da responsabilidade objetiva, não comporta Ademais, esta responsabilidade se dará de
excludente. Assim, admite apenas o fato que está maneira solidária, isso significa que todos os
completamente dissociado do campo de fornecedores na cadeia de produção, distribuição ou
previsibilidade ou evitabilidade do risco, a força comercialização, irão responder solidariamente pelo
maior externa e o caso fortuito externo. vício do produto.

3.1. Responsabilidade do fornecedor pelo vício do OBS.: caso a pessoa jurídica seja o destinatário final
produto do bem, como consumidora do produto, irá figurar
no polo ativo.
No momento da aquisição do produto, gera
um contrato translativo. Além do adimplemento

22
O vício do produto quando a qualidade, diz complementação ou restituição de
respeito a uma má funcionalidade por exemplo, eventual diferença de preço, sem prejuízo

porém, mesmo apresentando uma falha, inexiste do disposto nos incisos II e III do § 1°
deste artigo.
potencialidade danosa (isto diz respeito ao fato).
II - A restituição imediata da quantia paga,
Art. 18. Os fornecedores de produtos de
monetariamente atualizada, sem prejuízo de
consumo duráveis ou não duráveis respondem
eventuais perdas e danos;
solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou III - o abatimento proporcional do preço.
inadequados ao consumo a que se destinam ou
Quem deve notificar ou informar o
lhes diminuam o valor, assim como por aqueles
fornecedor é o consumidor, assim, uma vez
decorrentes da disparidade, com a indicações
constantes do recipiente, da embalagem, cientificado, todos respondem igualmente.

rotulagem ou mensagem publicitária, § 2° Poderão as partes convencionar a redução ou


respeitadas as variações decorrentes de sua ampliação do prazo previsto no parágrafo
natureza, podendo o consumidor exigir a anterior, não podendo ser inferior a sete nem
substituição das partes viciadas. superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de

A segunda parte trata do vício de quantidade, não adesão, a cláusula de prazo deverá ser

se aplicando a qualidade (erro do legislador) convencionada em separado, por meio de


manifestação expressa do consumidor.
Quando há a presença do vício, o consumidor
Há duas hipóteses em que o consumidor não
deverá notificar o fornecedor no prazo de 30 dias,
precisa contar os 30 dias para que o fornecedor sane
dando-lhe a oportunidade de sanar o vício.
o vício, exigindo a reparação de maneira imediata,
Ultrapassando este prazo, e não tendo o vício sanado,
quando há a extensão do vício ou for produto
o consumidor poderá:
essencial.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo
de trinta dias, pode o consumidor exigir, § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato

alternativamente e à sua escolha: das alternativas do § 1° deste artigo sempre que,


em razão da extensão do vício, a substituição das
Optando por aquela solução que lhe seja mais
partes viciadas puder comprometer a qualidade
favorável.
ou características do produto, diminuir-lhe o
I - A substituição do produto por outro da mesma valor ou se tratar de produto essencial.
espécie, em perfeitas condições de uso;
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in
§ 4° Tendo o consumidor optado pela natura, será responsável perante o consumidor o
alternativa do inciso I do § 1° deste fornecedor imediato, exceto quando identificado
artigo, e não sendo possível a claramente seu produtor.
substituição do bem, poderá haver
Este parágrafo trata de uma exceção à regra da
substituição por outro de espécie, marca
responsabilidade solidária. Por se tratar de um
ou modelo diversos, mediante
produto não industrializado, o fornecedor

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imediato responderá. Por exemplo: uma couve III - a substituição do produto por outro da mesma
com pontinhos azuis de agrotóxico, o fornecedor espécie, marca ou modelo, sem os aludidos
direto será responsabilizado, exceto se for vícios;
identificado o produtor.
IV - A restituição imediata da quantia paga,
§ 6° São impróprios ao uso e consumo: monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos.
I - Os produtos cujos prazos de validade estejam
vencidos; § 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do
artigo anterior.
II - Os produtos deteriorados, alterados,
adulterados, avariados, falsificados, Não sendo possível um, pode optar por outra
corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à alternativa de reparação.
saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo
§ 2° O fornecedor imediato será responsável
com as normas regulamentares de fabricação,
quando fizer a pesagem ou a medição e o
distribuição ou apresentação;
instrumento utilizado não estiver aferido segundo
III - os produtos que, por qualquer motivo, se os padrões oficiais.
revelem inadequados ao fim a que se destinam.
3.2. Responsabilidade do fornecedor pelo vício do
Já o vício do produto quanto sua quantidade, serviço
são aqueles decorrentes da disparidade entre o
Como já destacado, quando se tratar de vício
conteúdo líquido e aquele apresentado na
o dano será intrínseco, acarretando uma
embalagem, ressalvadas as variações decorrentes da
responsabilidade objetiva e solidária. No caso do
própria natureza, por exemplo, o alho em pacote de
vício no serviço, quando este não atinge a finalidade
plástico, que pela desidratação, apresenta variação
pretendida, não haverá prazo de 30 dias.
na quantidade. Porém, essas variações naturais do
produto devem estar constadas também na Há vícios de inadequação, quando afeta a
embalagem. prestabilidade do produto, prejudicando o uso e
fruição. O CDC estabelece três tipos de vício por
Art. 19. Os fornecedores respondem
inadequação: de impropriedade, de diminuição do
solidariamente pelos vícios de quantidade do
valor e de disparidade informativa (tanto para
produto sempre que, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido produto quanto serviço). Este último, denomina-se
for inferior às indicações constantes do vício de informação, estes, muitas vezes, só podem
recipiente, da embalagem, rotulagem ou de ser sanados pelos fabricantes.
mensagem publicitária, podendo o consumidor
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos
exigir, alternativamente e à sua escolha:
vícios de qualidade que os tornem impróprios
I - O abatimento proporcional do preço; ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim
como por aqueles decorrentes da disparidade
II - Complementação do peso ou medida;
com as indicações constantes da oferta ou

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mensagem publicitária, podendo o consumidor podendo reclamar depois, já que é facultativo
exigir, alternativamente e à sua escolha: aceitar ou não.

I - A reexecução dos serviços, sem custo Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas
adicional e quando cabível; empresas, concessionárias, permissionárias ou
sob qualquer outra forma de empreendimento,
II - A restituição imediata da quantia paga,
são obrigados a fornecer serviços adequados,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,
eventuais perdas e danos;
contínuos.
III - o abatimento proporcional do preço.
Adequação quanto ao fim esperado; segurança
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser esperada; eficiência, pelo recurso público
confiada a terceiros devidamente capacitados, otimizado e; continuidade, quanto à oferta.
por conta e risco do fornecedor.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento,
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem total ou parcial, das obrigações referidas neste
inadequados para os fins que razoavelmente deles artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a
se esperam, bem como aqueles que não atendam cumpri-las e a reparar os danos causados, na
as normas regulamentares de prestabilidade. forma prevista neste código.

Porém, mesmo o legislador não explicitando, Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os
o vício do serviço também pode ser por quantidade. vícios de qualidade por inadequação dos produtos
Ou seja, assim como o consumidor tem o direito de e serviços não o exime de responsabilidade.
receber o serviço na qualidade que pagou, também Até porque a responsabilidade do fornecedor é
receberá pela quantidade contrata. Por exemplo, objetivo, independe de culpa, e pouco importa
contrata um pedreiro para pintar a casa, mas este sua ciência.
deixa de pintar uma parede. Assim, aplica-se por
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto
analogia, a previsão do artigo 19.
ou serviço independe de termo expresso, vedada
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham a exoneração contratual do fornecedor.
por objetivo a reparação de qualquer produto Não pode haver renúncia à garantia legal de
considerar-se-á implícita a obrigação do produtos e serviços, exceto no caso do art. 51, I
fornecedor de empregar componentes de do CDC.
reposição originais adequados e novos, ou que
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de
mantenham as especificações técnicas do
cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a
fabricante, salvo, quanto a estes últimos,
obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções
autorização em contrário do consumidor.
anteriores.
A excludente da obrigação de trocar por um
Salvo quando tratar de contratação paritária entre
produto original ou novo é o próprio
pessoas jurídicas (art. 51, I).
consentimento expresso do consumidor que
permite peça usada ou recondicionada. Não

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§ 1° Havendo mais de um responsável pela produtos e serviços até a resposta negativa
causação do dano, todos responderão correspondente, que deve ser transmitida de
solidariamente pela reparação prevista nesta e forma inequívoca;
nas seções anteriores.
II - (Vetado).
§ 2° Sendo o dano causado por componente ou
III - a instauração de inquérito civil, até seu
peça incorporada ao produto ou serviço, são
encerramento.
responsáveis solidários seu fabricante,
construtor ou importador e o que realizou a § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo
incorporação. decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito.
3.3. Garantia Legal
Os prazos são os mesmos dos produtos/serviços
Esta garantia é referente a responsabilidade duráveis e não duráveis.
pelo vício seja pelo produto ou serviço. O prazo varia
Quanto a prescrição do exercício do direito
de acordo com a duração, ou seja, para os produtos
de indenização do consumidor ante a
duráveis que não se esgotam com o uso e, não
responsabilidade do fornecedor pelo fato do produto
duráveis, que se esgota no primeiro uso.
ou serviço, o prazo fixado é de 5 anos para exigir a
Os prazos nos vícios são decadenciais, ou reparação dos danos sofridos.
seja, aqueles que não se suspendem ou se
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão
interrompem. Ademais esses prazos, no Direito do
à reparação pelos danos causados por fato do
Consumidor, podem ser obstados, isso significa que
produto ou do serviço prevista na Seção II
pode dificultar o decurso do prazo até a resposta
deste Capítulo, iniciando-se a contagem do
negativa e inequívoca ou instauração de inquérito e
prazo a partir do conhecimento do dano e
seu fim.
de sua autoria.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios
aparentes ou de fácil constatação caduca em:

I - Trinta dias, tratando-se de fornecimento de


serviço e de produtos não duráveis;

II - Noventa dias, tratando-se de fornecimento de


serviço e de produtos duráveis.

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a


partir da entrega efetiva do produto ou do término
da execução dos serviços.

§ 2° Obstam a decadência:

I - A reclamação comprovadamente formulada


pelo consumidor perante o fornecedor de

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