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Direito das Relações de Consumo

Direito do Consumidor é o conjunto de normas e princípios que regula a


tutela de um sujeito especial de direitos, a saber, o consumidor, como
agente privado vulnerável, nas suas relações frente a fornecedores.

A CF/88 consagrou a defesa do consumidor como um direito


fundamental, nos termos do art. 5º, XXXII, in verbis:

Art. 5º XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do


consumidor.

É um direito de terceira geração/dimensão, Princípio da Fraternidade,


está dentro dos direitos difusos.
RELAÇÃO DE CONSUMO

Sujeitos:

Consumidor: Pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou


serviço como destinatário final. (Art. 2º CDC)
Elementos indispensáveis para relação de consumo:
Objetivo: elemento atrelado ao objeto da ação.
Subjetivo: o sujeito que adquire o produto ou serviço, como também,
aquele que fornece.
Destinatário Final: aquele que adquire o produto ou serviço para si, não
repassa. Encerrando a cadeia de produção ou serviço.
Fornecedor: Pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira, pública ou
privada, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade
de produção, comercialização de produtos ou prestação de serviços. ( Art. 3º
CDC)

Entes despersonalizados: são coletividades de seres humanos ou de bens que não


possuem personalidade jurídica própria, também conhecidos como pessoas
formais.
ex: massa falida, o espólio, a herança jacente, a herança vacante, a sociedade irregular.

Produto: qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. (Art. 3º, § 1º


CDC)
Serviço: é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (Art. 3º, § 2º CDC)
Obs.: A relação de consumo só irá existir se todos os elementos estiverem presentes, caso
falte algum, a relação não ocorrerá.

• Existe relação de consumo entre duas pessoas físicas?

• Pessoa jurídica como destinatário final.

Segundo Arruda Alvim, Thereza Alvim, Eduardo Alvim, e James Marins propugnam que: “... a
pessoa jurídica - empresa - que adquire ou utiliza o produto como destinatária final, não o
incorporando em outro, nem revendendo-o, terá a proteção deste Código inclusive para as
hipóteses de vício do produto” (“Código do Consumidor Comentado”, 2aedição, Revista dos
Tribunais, 1995, p.30)
Com efeito, TOSHIO MUKAI sustenta que “(...) a pessoa jurídica só é considerada consumidor,
pela Lei, quando adquirir ou utilizar produto ou serviço como destinatário final, não, assim,
quando o faça na condição de empresário de bens e serviços com a finalidade de intermediação
ou mesmo como insumos ou matérias-primas para transformação ou aperfeiçoamento com fins
lucrativos (com o fim de integrá-los em processo de produção, transformação, comercialização
ou prestação a terceiros)”.("Comentários ao Código de Proteção ao Consumidor”, Editora Saraiva,
1991, p. 6)
Em jurisprudências recentes, conforme se segue: “Indenização.
Responsabilidade civil. Ajuizamento por pessoa jurídica. Fundamento
no Código de Defesa do Consumidor. Inadmissibilidade. Bem adquirido
para ser utilizado na sua atividade empresarial. Qualidade de
consumidor inexistente. Interpretação do art.2º da Lei Federal nº 8.078,
de 1990, Sentença confirmada” (TJSP, 16ª Câmara Cível, AC nº 243.878-
2, j. em 11.4.00, rel. Dês. Pereira Calças, v.u., JTJ - Lex 173/96-103).
Princípios do Direito do Consumidor
Princípio do Protecionismo:
Encontra-se no Art. 1º do CDC - O presente código estabelece normas de
proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos
termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e
art. 48 de suas Disposições Transitórias.

Consequências: que as regras da Lei 8.078/1990


não podem ser afastadas por convenção entre as partes, sob pena
de nulidade absoluta.

Art. 51 CDC. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
Princípios do Direito do Consumidor
2. Princípio da Vulnerabilidade:
Entende-se que o consumidor possui uma posição inferior em relação ao
fornecedor.
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por
objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios:
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo;
Tipos de vulnerabilidade:
Técnica: Consiste na ausência de conhecimentos específicos sobre o produto
que o consumidor adquire ou utiliza.

Econômica: Consiste na condição de fragilidade do consumidor frente ao


fornecedor que, por sua posição de monopólio, fático ou jurídico, por seu
forte poderio econômico ou em razão da essencialidade do serviço que
fornece, impõe sua superioridade a todos que com ele contratem.

Jurídica: Consiste na falta de conhecimento, pelo consumidor, dos direitos e


deveres inerentes à relação de consumo.

Informacional: A falta da informação é causa de vulnerabilidade. Aqui o


consumidor não detém informações suficientes para realizar o processo
decisório de aquisição ou não do produto ou serviço.
Princípio da Boa fé : Representa o padrão de conduta que deve ser
observado por todos os fornecedores no mercado de consumo, com
base em valores éticos, de modo a respeitar as expectativas do
consumidor naquela relação jurídica.
CF Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

CF Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
CDC - Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por
objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia
das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo
e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os
princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição
Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores;
CC Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa
fé e os usos do lugar de sua celebração.
CC Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão
do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Funções da boa-fé:

a) Função interpretativa ou critério hermenêutico


b) Função integrativa ou de criação de deveres jurídicos: A boa-fé
objetiva cria deveres anexos ao contrato que devem ser respeitados,
tais como o dever de cuidado, o dever de informação e o dever de
cooperação.
c) Função de controle ou limitativa do exercício de direitos subjetivos:
Os seus direitos não podem ser exercidos de modo abusivo.
CDC Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
Princípio do Equilíbrio e Harmonização:
CDC - Art. 4º
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de
consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a
necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170,
da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas
relações entre consumidores e fornecedores;

Deveres: Responsabilidade objetiva por dano ao consumidor.


Princípio da defesa do consumidor pelo estado:
Art. 4º,
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o
consumidor: a) por iniciativa direta;
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações
representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de
qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.
Princípio da transparência :

Em todas as fases da relação de consumo deve haver transparência,


mesmo após a fase contratual. É o que se dá quando o produto
apresenta defeito e o fornecedor realiza o recall.

CDC Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito
à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios:
Princípio da Confiança:

Traduz a ideia de que o fornecedor deve respeitar as legitimas


expectativas do consumidor na relação de consumo.

STJ - A empresa que fornece estacionamento aos veículos de seus


clientes responde objetivamente pelos furtos, ocorridos no seu interior,
uma vez que, em troca dos benefícios financeiros indiretos decorrentes
desse acréscimo de conforto aos consumidores, o estabelecimento
assume o dever de lealdade e segurança, como aplicação concreta do
princípio da confiança. (STJ, AgInt no AREsp 844449/SP, 4ª T. rel.
Min. Isabel Galotti, j. 06.09.2016).
Princípio do Combate ao Abuso:
Art. 4º
VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo,
inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das
marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos
consumidores;

Princípio da Educação e Informação:


Art. 4º
(...) IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e
deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

Princípio da Precaução:
Procura defender de risco desconhecidos.
Difere-se do princípio da prevenção, pois este visa prevenir dano certo, muito
provável.
No princípio da precaução, o dano não é provável, mas é possível.
Relação Jurídica do Direito do Consumidor

Consiste no vinculo entre pessoas, em razão do qual uma pode pretender


um bem a que a outra é obrigada. Tal relação só existirá quando certas
ações dos sujeitos foram relevantes no que atina ao caráter obrigatório
das normas aplicáveis à situação.

Elementos subjetivo:
• Fornecedor de produtos e prestador de serviços
O Art. 3º CDC amplia as possibilidades de um fornecedor e prestador de
serviços, podendo ser publico ou privado, como serviços públicos
abrangidos pelo ART. 22 CDC, ou grandes empresas privadas do
mercado econômico. Natural ou física, tendo serviço de habitualidade
com fins financeiros.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou
sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados, na forma prevista neste código.
O que interessa mesmo na caracterização do fornecedor ou prestador é o fato de ele
desenvolver uma atividade, que vem a ser a soma de atos coordenados para uma
finalidade específica, como bem pontua Antônio Junqueira de Azevedo:
“‘Atividade’, noção pouco trabalhada pela doutrina, não é ato, e sim conjunto de atos.
‘Atividade’ foi definida por Túlio Ascarelli como a ‘série de atos coordenáveis entre si,
em relação a uma finalidade comum’ (Corso di diritto commerciale. 3. ed. Milano:
Giuffrè, 1962. p. 147). Para que haja atividade, há necessidade: (i) de uma pluralidade de
atos; (ii) de uma finalidade comum que dirige e coordena os atos; (iii) de uma dimensão
temporal, já que a atividade necessariamente se prolonga no tempo. A atividade, ao
contrário do ato, não possui destinatário específico, mas se dirige ad incertam personam
(ao mercado ou à coletividade, por exemplo), e sua apreciação é autônoma em relação aos
atos que a compõem”.
Se alguém atuar de forma isolada, em um ato único, não poderá se enquadrar
como fornecedor ou prestador?

Art. 966 CC Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual,
de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
Há, na relação de consumo, o requisito da habitualidade, retirado do conceito de
atividade, EX:
“O sujeito que, após anos de uso do carro, resolve vendê-lo, certamente não será
fornecedor nos termos do Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, se o mesmo
sujeito tiver dezenas de carros em seu nome e habitualmente os vender ao público
estaremos diante de uma relação de consumo e ele será considerado fornecedor”
• Fornecedor Equiparado
Na teoria do doutrinador Leonardo Bessa:
“tal figura seria um intermediário na relação de consumo, com posição de
auxílio ao lado do fornecedor de produtos ou prestador de serviços, caso das
empresas que mantêm e administram bancos de dados dos consumidores.”
Segundo a doutrinadora Claudia Lima Marques, diz que:
“A figura do fornecedor equiparado, aquele que não é fornecedor do contrato
principal de consumo, mas é intermediário, antigo terceiro, ou estipulante,
hoje é o ‘dono’ da relação conexa (e principal) de consumo, por deter uma
posição de poder na relação outra com o consumidor.”
• São detentores de direitos e deveres, tenho responsabilidade solidária nas
suas relações de consumo.
• Segue decisões dos tribunais:

“Indenização. Fornecedor. Contratação de empréstimo e financiamento.


Fraude. Negligência. Injusta negativação. Dano moral. Montante indenizatório.
Razoabilidade e proporcionalidade. Prequestionamento. Age negligentemente
o fornecedor, equiparado à instituição financeira, que não prova ter tomado
todos os cuidados necessários, a fim de evitar as possíveis fraudes cometidas
por terceiro na contratação de empréstimos e financiamentos. (…)” (TJMG –
Apelação cível 1.0024.08.958371-0/0021, Belo Horizonte – Nona Câmara
Cível – Rel. Des. José Antônio Braga – j. 03.11.2009 – DJEMG 23.11.2009).
Aplicação do CDC. Fornecedor equiparado. Inversão do ônus da prova. Fatos
aduzidos na inicial não refutados pela ré. Apelação (2). Agente financeiro. Integrante
da cadeia de fornecedores do produto. Mútuo coligado à compra e venda.
Responsabilização solidária pelos danos decorrentes da relação jurídica comerciante
consumidor. Inscrição indevida nos órgãos de restrição ao crédito. Dano moral in re
ipsa (dano moral presumido). Prescindibilidade da comprovação do dano. Cobrança
abusiva. Inversão do ônus da prova. Fatos adesivo. Autora. Majoração dos danos
morais. Pedido não acolhido. Responsabilização autônoma da terceira ré que
aumenta o valor a ser recebido pela autora. Termo inicial dos juros de mora.
Responsabilidade contratual. Juros contados da citação. Devolução do sofá.
Impossibilidade. Vedação ao enriquecimento sem causa. Parcelas quitadas não foram
objeto do pedido inicial. Apelação Cível 1 e Recurso adesivo conhecidos e
parcialmente providos. Apelação Cível 2 conhecida e não provida”. (TJPR –
Apelação Cível 1284659-8, Londrina – Oitava Câmara Cível – Rel. Des. Guilherme
Freire de Barros Teixeira – DJPR 4.02.2015, p. 335)
Consumidor equiparado ou bystandard
Aquele que se torna semelhante a consumidor.
Irá ocorrer a equiparação todas às vezes, que as pessoas mesmo não sendo
adquirentes diretas do produto ou serviço, utilizam-no, em caráter final, ou a
ele se vinculem, que venham a sofrer qualquer dano trazido por defeito do
serviço ou produto.
ART. 2º, § único "Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que hajam intervindo nas relações de consumo."
ART. 17 ‘’ Para os efeitos desta Seção, que cuida da responsabilidade dos
fornecedores pelo fato do produto e do serviço, equiparam-se aos
consumidores todas as vítimas do evento."
ART. 29 "Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos
consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas
nele previstas".
Pessoa Jurídica como consumidora:
“Processo civil e consumidor. (…). Relação de consumo. Caracterização. Destinação
final fática e econômica do produto ou serviço. Atividade empresarial. Mitigação da
regra. Vulnerabilidade da pessoa jurídica. Presunção relativa. (…). Ao encampar a
pessoa jurídica no conceito de consumidor, a intenção do legislador foi conferir
proteção à empresa nas hipóteses em que, participando de uma relação jurídica na
qualidade de consumidora, sua condição ordinária de fornecedora não lhe proporcione
uma posição de igualdade frente à parte contrária. Em outras palavras, a pessoa jurídica
deve contar com o mesmo grau de vulnerabilidade que
qualquer pessoa comum se encontraria ao celebrar aquele negócio, de sorte a manter o
desequilíbrio da relação de consumo. A ‘paridade de armas’ entre a empresa-
fornecedora e a empresa-consumidora afasta a presunção de fragilidade desta. Tal
consideração se mostra de extrema relevância, pois uma mesma pessoa jurídica,
enquanto consumidora, pode se mostrar vulnerável em determinadas relações de
consumo e em outras não. Recurso provido” (STJ – RMS 27.512/BA –Terceira Turma –
Rel. Min. Nancy Andrighi – j. 20.08.2009 – DJe 23.09.2009).”
Ente Público como consumidor:
“Administrativo. Serviço de telefonia. Falta de pagamento. Bloqueio parcial
das linhas da Prefeitura. Município como consumidor. 1. A relação jurídica, na
hipótese de serviço público prestado por concessionária, tem natureza de
Direito Privado, pois o pagamento é feito sob a modalidade de tarifa, que não
se classifica como taxa. 2. Nas condições indicadas, o pagamento é
contraprestação, aplicável o CDC, e o serviço pode ser interrompido em caso
de inadimplemento, desde que antecedido por aviso. 3. A continuidade do
serviço, sem o efetivo pagamento, quebra o princípio da isonomia e ocasiona o
enriquecimento sem causa de uma das partes, repudiado pelo Direito
(interpretação conjunta dos arts. 42 e 71 do CDC). 4. Quando o consumidor é
pessoa jurídica de direito público, a mesma regra deve lhe ser estendida, com a
preservação apenas das unidades públicas cuja paralisação é inadmissível. 5.
Recurso especial provido” (STJ – REsp 742.640/MG – Segunda Turma – Rel.
Min. Eliana Calmon – j. 06.09.2007 – DJ 26.09.2007, p. 203)
Da expressão "destinatário final" formaram-se na doutrina duas teorias:
Pela Teoria Maximalista, destinatário final é todo aquele consumidor que adquire o
produto para o seu uso, independente da destinação econômica conferida ao mesmo.
Pela Teoria Finalista (ou subjetivista), destinatário final é todo aquele que utiliza o bem
como consumidor final, de fato e econômico. De fato porque o bem será para o seu uso
pessoal, consumidor final econômico porque o bem adquirido não será utilizado ou
aplicado em qualquer finalidade produtiva, tendo o seu ciclo econômico encerrado na
pessoa do adquirente.
Os doutrinadores Cláudia Lima Marques e Antônio Herman V. Benjamim defendem a
teoria finalista, definindo o conceito de "destinatário final" do art. 2º do CDC: "O
destinatário final é o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou
simplesmente utilizá-lo (destinatário final fático), aquele que coloca um fim na cadeia de
produção (destinatário final econômico) e não aquele que utiliza o bem para continuar a
produzir, pois ele não é consumidor final, ele está transformando o bem, utilizando o bem,
incluindo o serviço contratado no seu, para oferecê-lo por sua vez ao seu cliente, seu
consumidor, utilizando-o no seu serviço de construção, nos seus cálculos do preço, como
insumo da sua produção." (In "Comentários ao Código de Defesa do Consumidor", 2ª
Ed.,São Paulo, Editora Revista do Tribunais, 2006, p. 83/84).
O STJ tem manifestado o entendimento pela Teoria Finalista Mitigada:
considera-se consumidor tanto a pessoa que adquire para o uso pessoal
quanto os profissionais liberais e os pequenos empreendimentos que
conferem ao bem adquirido a participação no implemento de sua unidade
produtiva, desde que, nesse caso, demonstrada a hipossuficiência, sob pena
da relação estabelecida passar a ser regida pelo Código Civil.

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