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CONSUMIDOR: PESSOA FÍSICA E JURÍDICA, UMA ANÁLISE SOB A

ÓTICA DA TEORIA FINALISTA E MAXIMALISTA

INTRODUÇÃO

O Direito do Consumidor é uma doutrina jurídica que se concentra na


proteção dos consumidores em relação aos produtos e serviços que adquirem.
Essa doutrina se desenvolveu a partir da constatação de que os consumidores
muitas vezes estavam em desvantagem em relação aos fornecedores de
produtos e serviços, que tinham muito mais poder e recursos.
A doutrina do Direito do Consumidor se baseia em uma série de leis e
regulamentos que visam proteger os direitos dos consumidores, incluindo o
Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei 8078/1990, que entrou em vigor
em 11 de março de 1991, regulamentando as relações de consumo em todo o
território brasileiro.

O Código de Defesa do Consumidor define o que é considerado prática


abusiva, estabelece as regras de garantia, prevê as condições para a
realização de contratos, determina as obrigações dos fornecedores e
estabelece as sanções em caso de descumprimento das normas. Além do
CDC, existem outras leis e normas que também contribuem para a defesa dos
direitos dos consumidores, como a Lei de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD), o Código Civil, o Código de Processo Civil, entre outras.

Essa doutrina tem como objetivo garantir que os consumidores tenham


acesso a produtos e serviços seguros e de qualidade, bem como a informações
claras e precisas sobre esses produtos e serviços. Além disso, o Direito do
Consumidor também visa garantir que os consumidores tenham meios efetivos
de reclamar e buscar reparação por danos causados por produtos ou serviços
defeituosos ou inadequados.

O Direito do Consumidor é uma área do Direito que abrange diversas


teorias e conceitos. Algumas das principais teorias estudadas pelo Direito do
Consumidor incluem:

A teoria da Vulnerabilidade parte do pressuposto de que o consumidor


é uma parte vulnerável na relação de consumo, uma vez que ele muitas vezes
não possui o mesmo conhecimento técnico e informações que o fornecedor do
produto ou serviço possui.

O artigo 4º, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor ampara a


teoria da Vulnerabilidade. Este dispositivo legal estabelece que "a Política
Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e
segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua
qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo".

Ao reconhecer a vulnerabilidade do consumidor e a necessidade de


protegê-lo, o CDC estabelece diretrizes para que as relações de consumo
sejam mais justas e equilibradas. Isso inclui medidas para garantir que os
consumidores tenham acesso a informações claras e precisas sobre os
produtos e serviços que adquirem, bem como para protegê-los de práticas
abusivas por parte dos fornecedores.

Teoria do Risco do Empreendimento: Essa teoria se baseia no fato de


que o fornecedor do produto ou serviço é o responsável pelo risco do
empreendimento, ou seja, é ele quem deve arcar com os prejuízos em caso de
problemas ou defeitos no produto ou serviço.

O artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor ampara a teoria do


Risco do Empreendimento. Este artigo estabelece a responsabilidade do
fornecedor de produtos ou serviços pelos danos causados aos consumidores
em razão de defeitos ou vícios.

De acordo com o artigo 12, "o fabricante, o produtor, o construtor,


nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos".

Essa disposição estabelece que é o fornecedor do produto ou serviço


que deve arcar com os riscos do empreendimento, ou seja, é ele quem deve
garantir a qualidade e segurança do produto ou serviço que oferece,
independentemente de culpa. Assim, se um consumidor sofrer danos em razão
de um defeito ou vício no produto ou serviço adquirido, o fornecedor é
responsável pelos danos causados.

Teoria do Diálogo das Fontes: Essa teoria preconiza que as normas


do Direito do Consumidor devem ser interpretadas em conjunto com outras
normas jurídicas, de forma a garantir uma proteção mais ampla aos
consumidores.

Não há um artigo específico do Código de Defesa do Consumidor (CDC)


que ampare a teoria do diálogo das fontes de forma explícita. No entanto, o
próprio código, em diversos artigos, estabelece a necessidade de interpretação
sistemática e integrada das normas que regem as relações de consumo.

Por exemplo, o artigo 7º, inciso I, do CDC estabelece que os direitos


básicos do consumidor incluem a proteção contra práticas abusivas e a
informação adequada e clara sobre os produtos e serviços. O artigo 14, por sua
vez, estabelece a responsabilidade do fornecedor pelos danos causados aos
consumidores em decorrência de defeitos nos produtos ou serviços.

Ao interpretar esses dispositivos em conjunto, pode-se concluir que a


proteção contra práticas abusivas e a responsabilidade do fornecedor pelos
danos causados aos consumidores devem ser garantidas em todas as etapas
da relação de consumo, desde a produção e oferta até a entrega do produto ou
prestação do serviço.
Além disso, o artigo 5º, inciso XXXII, da Constituição Federal estabelece
que o Estado promoverá a defesa do consumidor, cabendo-lhe, na forma da lei,
a defesa dos interesses dos consumidores. Essa disposição constitucional
pode ser considerada uma fonte complementar de proteção ao consumidor, a
ser considerada em conjunto com o CDC.

Teoria da Transparência: Essa teoria preconiza que os fornecedores


devem ser transparentes em relação às informações que fornecem aos
consumidores, para que estes possam tomar decisões conscientes e
informadas sobre a compra de produtos ou serviços.

O artigo 4º, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor ampara a


teoria da transparência nas relações de consumo. Este dispositivo legal
estabelece que a Política Nacional das Relações de Consumo tem como
objetivo a "informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem".

Dessa forma, o CDC determina que os fornecedores devem fornecer


informações claras e precisas sobre os produtos e serviços que oferecem,
garantindo a transparência nas relações de consumo. Isso permite que os
consumidores façam escolhas informadas e tomem decisões conscientes sobre
as compras que fazem.

Além disso, o artigo 31 do CDC estabelece que "a oferta e apresentação


de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras,
precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características,
qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e
origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentem à
saúde e segurança dos consumidores".

Esse artigo reforça a importância da transparência na oferta de produtos


e serviços, garantindo que os consumidores tenham acesso a informações
completas e precisas antes de decidirem realizar uma compra.

Teoria do Equilíbrio Econômico: Essa teoria parte do pressuposto de


que a relação de consumo deve ser equilibrada, ou seja, que os direitos e
deveres das partes envolvidas devem ser equilibrados, para que nenhum dos
lados seja prejudicado.

A estrutura do código e a sua finalidade de proteção dos direitos dos


consumidores refletem a preocupação com o equilíbrio econômico nas relações
de consumo, estabelece normas que buscam equilibrar o poder entre
consumidores e fornecedores, garantindo que as relações comerciais sejam
justas e transparentes.

Por exemplo, o artigo 6º do CDC estabelece que são direitos básicos do


consumidor a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos, a educação e divulgação sobre o consumo adequado
dos produtos e serviços e a proteção contra práticas abusivas ou impostas no
fornecimento de produtos e serviços.

Além disso, o artigo 4º do CDC estabelece que a Política Nacional das


Relações de Consumo tem como objetivo a harmonização dos interesses dos
participantes das relações de consumo e a compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico.

Assim, embora não haja um artigo específico que ampare a teoria do


equilíbrio econômico de forma explícita, a proteção aos direitos dos
consumidores e a busca pela harmonização dos interesses das partes
envolvidas nas relações de consumo refletem a preocupação com o equilíbrio
econômico nessas relações.

Após apresentar de forma sucinta as teorias que fundamentam o direito


do consumidor, o presente trabalho, dissertará de forma mais direcionada, o
conceito de consumidor, sob a ótica da teoria finalista e maximalista.

TEORIA FINALISTA

A teoria finalista é uma das teorias que permeiam o Direito do


Consumidor. De acordo com essa teoria, para que uma pessoa seja
considerada consumidora, é necessário que ela adquira um produto ou serviço
com a finalidade de consumo final, ou seja, para atender às suas necessidades
pessoais ou familiares.

Essa teoria foi desenvolvida pelo jurista Cláudio Dinarte baseada na


definição do consumidor contida no artigo 2º do Código de Defesa do
Consumidor (CDC), que estabelece que consumidor é toda pessoa física ou
jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

A teoria finalista do Código de Defesa do Consumidor (CDC) estabelece


que somente as pessoas físicas podem ser consideradas consumidoras, uma
vez que o conceito de consumidor se limita àqueles que adquirem produtos ou
serviços para uso pessoal ou familiar, excluindo-se, portanto, as pessoas
jurídicas, pois não é destinatária final dos produtos ou serviços adquiridos, mas
sim utiliza-os como insumos em sua atividade empresarial ou profissional,
visando obter lucro. Assim, a pessoa jurídica é vista como parte de uma
relação comercial, em que ambas as partes têm poder de negociação e estão
em igualdade de condições.

Dessa forma, a teoria finalista diferencia as pessoas físicas das pessoas


jurídicas, atribuindo a proteção do CDC exclusivamente às primeiras, que são
consideradas hipossuficientes em relação aos fornecedores e, por isso,
necessitam de proteção legal em suas relações de consumo.

No entanto, é importante destacar que essa teoria não é a única adotada


no Direito do Consumidor. Outras teorias, como a teoria maximalista e a teoria
finalista mitigada, também são utilizadas para interpretar as normas de
proteção ao consumidor.

A teoria finalista mitigada, por exemplo, prevê que a pessoa que adquire
um produto ou serviço com a finalidade de utilizar em sua atividade profissional
também pode ser considerada consumidora, desde que a aquisição do produto
ou serviço não faça parte do objeto principal da atividade econômica exercida.
Essa teoria é reconhecida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e é utilizada
em diversas decisões judiciais.

Vale ressaltar que essa teoria é objeto de controvérsia e críticas, uma


vez que a realidade das relações de consumo é mais complexa e não pode ser
limitada por uma definição restrita de consumidor. Por isso, muitos juristas e
doutrinadores defendem a aplicação da teoria maximalista, que amplia a
abrangência do conceito de consumidor, incluindo as pessoas jurídicas que
adquirem produtos ou serviços para uso próprio, desde que não o utilizem
como insumos em sua atividade econômica.

TEORIA MAXIMALISTA

A teoria maximalista é uma das teorias que permeiam o Direito do


Consumidor. Essa teoria foi desenvolvida por Cláudia Lima Marques, uma
jurista brasileira especializada em Direito do Consumidor e professora da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A teoria maximalista surgiu como uma crítica à teoria finalista, que prevê
que somente são considerados consumidores aqueles que adquirem produtos
ou serviços para consumo próprio. Segundo a teoria maximalista, a proteção
do consumidor não deve se limitar apenas à pessoa que adquire um produto ou
serviço para uso próprio, mas também deve abranger todos aqueles que
estejam expostos aos riscos decorrentes da produção e distribuição dos
produtos e serviços.

Assim, a teoria maximalista amplia o conceito de consumidor, incluindo


também aqueles que sofrem prejuízos em decorrência de produtos ou serviços
defeituosos, ainda que não tenham adquirido diretamente esses produtos ou
serviços.

A teoria maximalista tem como fundamento a proteção da dignidade


humana e dos direitos fundamentais, e é reconhecida por diversos juristas e
tribunais brasileiros, inclusive pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que a
utiliza em suas decisões judiciais. A teoria maximalista é uma das bases do
Código de Defesa do Consumidor (CDC) e tem grande importância na
construção do Direito do Consumidor como área autônoma do Direito.

De acordo com a teoria maximalista do Código de Defesa do


Consumidor (CDC), tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas podem ser
consideradas consumidores. No entanto, existem algumas diferenças entre os
dois tipos de consumidores.
Para a teoria maximalista, o consumidor é aquele que adquire ou utiliza
um produto ou serviço como destinatário final, ou seja, não o utiliza como parte
de uma atividade empresarial ou profissional. Dessa forma, tanto as pessoas
físicas quanto as jurídicas podem ser consideradas consumidores, desde que
não estejam adquirindo produtos ou serviços para serem revendidos ou
utilizados em sua atividade econômica.

No caso das pessoas físicas, a proteção do CDC é mais ampla, uma vez
que elas são consideradas hipossuficientes, ou seja, em geral, possuem menos
conhecimento técnico e poder de negociação em relação aos fornecedores.
Assim, a legislação de proteção ao consumidor busca nivelar essa
desigualdade e garantir que o consumidor seja protegido em suas relações de
consumo.

Já no caso das pessoas jurídicas, a proteção do CDC é mais restrita,


pois presume-se que elas possuem maior conhecimento técnico e poder de
negociação em relação aos fornecedores. No entanto, se a pessoa jurídica
estiver adquirindo produtos ou serviços para uso próprio e não para revenda ou
utilização em sua atividade empresarial, ela também pode ser considerada
consumidora e ter direito à proteção do CDC.

CONCLUSÃO

Em resumo, a teoria finalista adota uma visão mais restritiva do conceito


de consumidor, enquanto a teoria maximalista adota uma visão mais ampla,
considerando que a proteção do consumidor deve ser estendida a todos os que
estejam expostos aos riscos decorrentes da produção e distribuição de
produtos e serviços.

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