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‘’Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor - DPDC (Nota técnica nº 22 -

CGAJ/DPDC/2005, de 1º de fevereiro de 2006): O DPDC tem acompanhado diversas situações de


maquiagem de produtos que, em úl ma análise, ofendem o direito à informação clara e adequada ao
consumidor sobre as caracterís cas do bem. Diante da análise de todos esses processos
administra vos referentes ao assunto em tela, foi possível constatar uma mudança no perfil dos
casos que chegam ao DPDC, pois num primeiro momento foi constatada a intenção das empresas
induzirem os consumidores em erro, pois os produtos com peso inferior nham as dimensões da
embalagem maiores do que a original, a despeito da redução da quan dade. Depois os fornecedores
passaram a manter o tamanho das embalagens idên co, somente reduzindo a gramatura, mas ainda
sem dar qualquer informação aos consumidores. Hoje, o que se verifica é que há a informação, mas
ela não é passada de maneira clara e ostensiva ao consumidor, como determina a Lei nº 8078/90 e a
Portaria 81/02 do Ministério da Jus ça”.
Outra prá ca que viola o dever de informação, o princípio da boa-fé e a transparência nas
relações de consumo é a denominada conduta de venda casada, configurada, por exemplo, na
hipótese de a empresa aérea realizar a venda de passagens aéreas vinculadas à aquisição de seguro,
sem prévia solicitação ou conhecimento do consumidor, que somente ao final da efe vação da
compra da passagem toma ciência que havia adquirido, também, o referido seguro.
‘’Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor – DPDC (Nota Técnica nº 26 -
2013/CGCTPA/DPDC/Senacon/MJ): O consumidor é levado a crer, muitas vezes, que o seguro é
parte das taxas e tarifas aeroportuárias e passagens aéreas, assim, que é obrigatório. O fornecedor,
empresa aérea, u liza-se tanto de sua superioridade técnica quanto econômica quando obriga o
consumidor a desmarcar a contratação. É equivalente a dar ao consumidor um contrato já assinado
por ele mesmo com ônus de apagar seu nome e compromisso de lá”.

2.4.3. Direito à proteção contra publicidade enganosa e abusiva

Uma vez que o fornecedor posiciona-se mais favorável que o consumidor no mercado, é
direito deste úl mo ser protegido contra todo e qualquer po de abuso de direito come do pelo
fornecedor, seja ele no momento de anunciar seus produtos e serviços (proteção contra publicidade
enganosa e abusiva), no trato direto com o consumidor nos momentos anteriores ou concomitantes à
venda (proteção contra métodos comerciais coerci vos ou desleais) e, ainda, não impondo
condições contratuais injustas aos que com ele contratam (proteção contra cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços) – art. 6º, III, CDC.

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A palavra abuso (ou abusivo, abusiva), muito u lizada pelo CDC, na doutrina e na
jurisprudência, diz respeito à caracterís ca de quem extrapola o exercício de um direito, uma
faculdade, ultrapassando os limites da normalidade, do costume e do bom senso.
Sob este panorama, se uma empresa não recebeu o pagamento de um consumidor que com
ela adquiriu determinado produto ou serviço, o seu direito/faculdade de cobrar esta dívida não
poderá, por exemplo, ser exercido mediante agressões sicas ou com o envio de ameaças escritas ao
endereço de trabalho/residência do consumidor. Apesar de ser direito do fornecedor cobrar pela
dívida, este direito não pode ser pra cado de modo abusivo, sob pena de não ser válido frente ao
CDC. Este disposi vo legal descreve as fases pela qual o consumidor tem contato com o fornecedor: a
fase da oferta e das prá cas comerciais (normalmente pré-vendas) e a fase da contratação (durante e
após a realização do contrato).
O Código estabelece diretrizes para as diversas fases da contratação de um produto ou
serviço, balizando a fase da oferta e das prá cas comerciais (normalmente pré-vendas) e a fase da
contratação (durante e após a realização do contrato).
Portanto, mesmo na fase pré-contratual encontra-se o consumidor protegido pelo Código,
que traz balizas relacionadas à difusão de oferta e publicidade. A publicidade pode ser entendida
como o instrumento pelo qual o fornecedor faz com que seu produto ou serviço seja conhecido pela
cole vidade. Mas, em verdade, é muito mais do que isso. A publicidade, na atual sociedade de massa
de consumo, es mula não apenas o interesse dos consumidores sobre determinados bens, como
também induz ao seu consumo.
Alguns doutrinadores diferenciam publicidade de propaganda, sendo a primeira aquela com
o intuito manifestamente venal e a segunda com o obje vo de disseminar ideias polí cas, filosóficas,
religiosas (campanhas polí cas, governamentais, etc.). Para fins de estudo e aplicação do Código de
Defesa do Consumidor, neste trabalho será u lizado apenas o termo publicidade, que é a mensagem
que se insere no contexto de uma relação de consumo.
A publicidade, na sociedade de massa, dissemina, portanto, não apenas informações sobre
os produtos, mas busca convencer os consumidores da imprescindibilidade, conveniência ou
importância de se adquirir certos bens. Com isso, difunde também valores e noções sobre es los de
vida e padrões do que pode ser considerado normal, interessante ou mesmo desejável. Para ser bem
sucedida, a mensagem deve dialogar ou refle r, em alguma medida, valores e sen mentos dos
indivíduos de determinada sociedade.
As questões relacionadas à proteção pré-contratual, no âmbito da oferta e publicidade serão
aprofundadas no Capítulo 5.

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2.4.4. Direito à proteção contratual

Especificamente em relação ao contrato, o CDC garante ao consumidor, além da


possibilidade de invalidar as cláusulas abusivas, mesmo tendo assinado o documento (Capítulo 8), o
direito de modificar disposições que imponham ganho exagerado ao fornecedor em detrimento de
prejuízo considerável do consumidor e de rever o contrato caso ocorra um fato posterior ao acordo
das partes que torne inviável ao consumidor o cumprimento de sua prestação (art. 6º, V, CDC).
A modificação de um contrato só pode ocorrer em grau de exceção, pois a regra é que pacto
assinado obriga às partes. Em matéria de relação de consumo, diferentemente, a ideia é que as
disposições contratuais desproporcionais, abusivas, portanto, ilegais são das por não válidas e o
consumidor não poderá ser penalizado pelo seu descumprimento. Este assunto será tratado em
capítulo específico sobre a proteção contratual (Capítulo 8).
O Procon, iden ficando tanto uma como outra situação de desequilíbrio no contrato de
consumo pode intervir na relação entre consumidor e fornecedor, inicialmente procurando uma
solução de acordo e, caso não seja este possível, aplicando sanção administra va. Embora parcela da
doutrina afirme que a revisão dos contratos é exclusividade do Poder Judiciário, em matéria de
relação de consumo pode um órgão de proteção e defesa do consumidor, como o Procon, intervir em
defesa da parte mais frágil.

2.4.5. Direito à prevenção e reparação de danos

Muito pouco adiantaria o Código de Defesa do Consumidor assegurar tantos direitos aos
cidadãos se não previsse também formas de se garan r a efe vidade destes direitos, em par cular no
âmbito daquelas relações conflituosas entre consumidor e fornecedor.
Nesse sen do, prevê o ar go 6º, inciso VI do Código, que o consumidor terá direito à “efe va
reparação e prevenção de danos patrimoniais e morais, individuais, cole vos e difusos”.
O direito à indenização é um dos fundamentos da vida em sociedade e assegura a todos que o
Estado promoverá, na forma da lei, que o causador de um dano recompense-o obrigatoriamente,
caso ele não cumpra sua obrigação espontaneamente. A presença do Estado nestas situações é muito
importante para evitar que as pessoas tentem fazer jus ça com as próprias mãos, buscando outros
meios para garan r a reparação dos danos sofridos. O valor da reparação deve ser efe vo, isto é,
buscando devolver ao consumidor exatamente aquilo que ele empregou ao se relacionar com o
fornecedor. A jurisprudência tem asseverado que as indenizações devidas aos consumidores não

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