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O que caracteriza uma relação de consumo: conceito e elementos

Resumo: Conceito e elementos de uma relação de consumo para fins de aplicação do Código


de Defesa do Consumidor.
Palavras-chave: direito do consumidor – relações de consumo - conceito – elementos –
consumidor – fornecedor – produtos – serviços.

1.     INTRODUÇÃO
A relação de consumo é, basicamente, o vínculo jurídico, ou o pressuposto lógico do
negócio jurídico celebrado de acordo com as normas do Código de Defesa do Consumidor
(Lei 8.078/90).
São elementos de uma relação jurídica:
a) Elementos subjetivos: o credor, o devedor e o consensualismo que deve existir
entre eles como uma convergência de vontades para que o acordo seja pactuado sem vícios e
sem prejuízo de igualdade entre os sujeitos envolvidos;
b) Elementos objetivos: o negócio celebrado entre as partes, como um instrumento
para a concretização e formalização do vínculo jurídico, e o bem, seja móvel, imóvel,
corpóreo ou incorpóreo, objeto mediato da relação jurídica.
O CDC não apresenta expressamente a definição de relação de consumo, referindo-se
apenas aos seus elementos subjetivos e objetivos, o que, por si só, já possibilita o
delineamento deste tipo de relação jurídica.
Maria A. Zanardo Donato (1993:70) conceitua a relação de consumo como “a relação
que o direito do consumidor estabelece entre o consumidor e o fornecedor, conferindo ao
primeiro um poder e ao segundo um vínculo correspondente, tendo como objeto um produto
ou serviço”.
Assim, pode-se afirmar que são elementos da relação de consumo:
a) Elementos subjetivos: o consumidor e o fornecedor;
b) Elementos objetivos: o produto ou o serviço.
Para que uma relação jurídica seja caracterizada como uma relação de consumo, é
preciso a presença dos elementos subjetivos e de pelo menos um dos elementos objetivos
mencionados acima. A falta de qualquer um desses requisitos descaracteriza a relação jurídica
de consumo, afastando-a, portanto, do âmbito de aplicação do Código de Defesa do
Consumidor.
Com isso, conclui-se que é indiferente o tipo contratual celebrado entre as partes para
que uma dada relação jurídica seja, ou não, de consumo, pois não é o negócio jurídico em si
que faz incidir as normas do CDC.
São certos elementos essenciais que fazem nascer uma relação de consumo
(consumidor / fornecedor e produtos ou serviços), a qual é pressuposto para a aplicação do
CDC, independentemente da espécie contratual pactuada pelas partes, como a compra e
venda, o seguro, o financiamento, etc.

2. SUJEITOS:
2.1.CONSUMIDOR
A tarefa de se formular o conceito de consumidor torna-se importante na medida em
que o âmbito de aplicação do CDC será por ele delimitado. Como o sujeito consumidor é um
elemento essencial na composição da estrutura da relação jurídica de consumo, a sua
conceituação, e a posterior interpretação de tal conceito deve ser feita de modo a não
restringir nem ampliar demasiadamente a proteção que o CDC tem por fim conferir ao
consumidor.
O Código de Defesa do Consumidor não adota um único conceito de consumidor.
Através de uma mera análise literal dos seus dispositivos, é possível notar quatro conceitos
distintos, mas harmônicos entre si, pois todos eles integram um conjunto de situações em que
uma determinada pessoa poderá ser considerada consumidora e gozar da tutela protecionista
oferecida pelo CDC.
O primeiro conceito de consumidor encontra-se disposto no caput do art. 2º e,
segundo Maria A. Zanardo Donato (1993:63), trata-se de conceito padrão ou standard. Os
demais conceitos são mais amplos e genéricos, pois foram estabelecidos por equiparação. É o
exemplo do parágrafo único do mesmo art. 2º, em que a coletividade de pessoas, desde que
intervenha nas relações de consumo, é equiparada ao consumidor; do art. 17, cujo efeito é de
tornar consumidoras todas as vítimas do evento, isto é, do acidente de consumo e, por fim; do
art. 29, segundo o qual também são consumidoras todas as pessoas, determináveis ou não, as
quais estejam expostas às praticas comerciais previstas no capítulo V do CDC.
Através da observação dessa multiplicidade de conceitos, pode-se concluir que a
tutela oferecida pelo CDC ao consumidor não se restringe unicamente ao contrato. A defesa
do consumidor abrange a fase pré-contratual, quando vincula o fornecedor às condições
contratuais, bem como às informações por ele divulgadas à coletividade por meio de
mensagem publicitária, e a pós-contratual, como nos casos de responsabilidade pelo vício ou
fato do produto e do serviço.
O consumidor padrão de que trata o caput do art. 2º é conceituado por este dispositivo
como sendo “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final”.
Do conceito acima, podem ser extraídos três elementos com os quais o legislador
buscou definir o consumidor:
a)     Elemento subjetivo: a pessoa física ou jurídica;
b) Elemento objetivo: a prática do ato de aquisição ou utilização de produtos ou
serviços;
c) Elemento teleológico: a finalidade de utilização do produto ou serviço na condição
de destinatário final.
Conforme o preceito legal citado, não é imprescindível que a pessoa tenha adquirido,
ou melhor, comprado o produto ou pago pelo serviço, pois mesmo aqueles que apenas se
utilizam deles, não os tendo adquirido junto ao fornecedor, também são considerados
consumidores. Isso porque nem sempre a pessoa que se utiliza do produto ou do serviço foi
quem efetivamente os adquiriu. É o exemplo de um terceiro que ganha um presente ou o que
ocorre numa relação familiar, em que um dos membros adquire produtos para o uso comum.
Assim, é consumidor tanto aquele que adquire o produto ou serviço para uso próprio
como o que apenas se utiliza deles como destinatário final. Segundo Roberto Senise Lisboa
(2001:140), esta finalidade é o cerne da questão referente à aplicabilidade do Código de
Defesa do Consumidor, que teve inspiração na Lei Geral Espanhola de Defesa dos
Consumidores e Usuários.
Existem duas correntes doutrinárias a respeito da interpretação e extensão conferida à
expressão destinatário final: os finalistas e os maximalistas.
Os finalistas adotam uma posição interpretativa com relação ao destinatário final,
baseada fundamentalmente na classificação dos bens.
De acordo com os finalistas, os bens estariam divididos, por um critério econômico,
em bens de produção e bens de consumo. Ou seja, essa diferença seria fundamental para o
reconhecimento de uma relação de consumo, pois a idéia de destinatário final estaria
intimamente ligada à de bem de consumo e a aquisição ou utilização de bens de produção
estariam excluídas do âmbito de aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
A razão dessa exclusão é que os bens de produção ou de insumo, por serem utilizados
no processo produtivo ou para o desempenho de atividade profissional, não estariam
destinados à finalização do ciclo econômico. Muito pelo contrário. Esses bens fariam parte do
ciclo econômico na medida em que os custos com a sua aquisição e utilização seriam sempre
indexados ao preço do resultado final da produção ou da atividade profissional dos quais
fazem parte. Não haveria, portanto, a utilização do bem com uma destinação final, mas a sua
implementação no processo produtivo por meio de um repasse dos custos.
Para melhor esclarecer a questão, vislumbrem-se os exemplos de um escritório de
advocacia que adquire uma vasta biblioteca de livros de direito ou de uma empresa de
confecção que adquire novas máquinas de costura. Em ambas as hipóteses, os bens não
estariam sendo diretamente comercializados, ou seja, a sua aquisição não se daria com o
intuito de revenda, mas a sua utilização estaria implementando a produção, melhorando
quantitativa e qualitativamente o processo de confecção e ajudando no desempenho dos
advogados.
Já para a corrente finalista, os livros e as máquinas de costura mencionados no
exemplo acima não passariam de bens de produção ou insumo. O que significa que nem o
escritório de advocacia, tampouco a empresa de confecção seriam consumidores e a relação
de aquisição e uso dos bens, no caso, estaria tutelada pelas normas de Direito Comercial, e
não de Direito do Consumidor.
Somente seria consumidor a pessoa física que adquirisse produtos ou serviços para
uso próprio, de sua família ou até de terceiros, desde que não houvesse revenda, pois só nestas
hipóteses é que seria dado ao bem (de consumo) a sua destinação final, encerrando a cadeia
produtiva.
Não seria consumidora a pessoa física profissional e a pessoa jurídica. A
corrente finalista adota uma interpretação restritiva do conceito de consumidor (alguns a
chamam de corrente minimalista), porque exclui as pessoas que mais freqüentemente
caracterizadas como fornecedoras, mas que poderiam ser consumidoras ao adquirir e utilizar
produtos ou serviços que não tivessem relação alguma com a atividade que exercem, ou seja,
bens que não teriam os seus custos repassados ao preço do produto final. Contudo, essa
possibilidade de uma dupla caracterização fornecedor/consumidor parece ser incompatível
com o espírito das normas de proteção e defesa do consumidor em razão da sua reconhecida e
presumida vulnerabilidade. E como são raras as hipóteses em que uma empresa é vulnerável
perante outra, apenas excepcionalmente é que se admitiria uma pessoa jurídica no papel de
consumidora, como no caso das pequenas empresas.
Maria A. Zanardo Donato (1993:49) mostra-se favorável à corrente finalista. Ela
chama atenção para a estreita ligação existente entre o conceito legal e o econômico de
consumidor, uma vez que ambos são claramente finalistas, considerando o consumidor como
a pessoa que adquire produtos ou serviços com a finalidade de satisfazer as suas próprias
necessidades, sem a intenção, portanto, de comercialização desses bens. Assim, ela afirma
que:
 Se admitirmos que o direito do consumidor foi concebido,
buscando justamente o regramento das relações de consumo
existentes entre o consumidor e o produtor, não poderíamos admiti-
lo dissonante do sistema econômico, vez que, em última análise, a
sua concepção, enquanto ordenamento jurídico, é voltada para as
relações jurídicas ocorridas e decorrentes daquele sistema (...).
José Geraldo Brito Filomeno (2000:37) compartilha do mesmo entendimento.
Segundo ele:
Não pode ser considerada consumidora final a empresa que
adquire máquinas para fabricação de seus produtos ou mesmo uma
copiadora para seu escritório, que venha a apresentar algum vício ou
defeito. Isso porque referidos bens certamente entram na cadeia
produtiva e nada têm a ver com o conceito de destinação final.
Segundo esse enfoque, o fato do Código de Defesa do Consumidor trazer no caput do
art. 2º um conceito de consumidor que inclui as pessoas jurídicas seria uma distorção da
filosofia consumerista, a qual tem como principal objetivo a proteção ao mais fraco, mais
vulnerável, o que não seria o caso das pessoas jurídicas que, mesmo sendo pequenas
empresas, possuem mais informação e meios de defender os seus interesses.
Em suma, os finalistas defendem uma interpretação sistemática do caput do art. 2º,
considerando o microssistema de defesa do consumidor como um todo harmônico. É o que
propõe Cláudia Lima Marques (1998:67), para quem apenas uma interpretação teleológica do
referido preceito é que será capaz de proporcionar uma definição de consumidor de acordo
com o verdadeiro espírito da lei.
A corrente maximalista, por outro lado, tem uma posição completamente oposta à
dos finalistas. As conclusões utilizadas para expor a interpretação dos finalistas à
expressão destinatário final serão agora analisadas se acordo com o entendimento
dos maximalistas.
Para dita corrente, os bens são tão somente bens, em seu sentido genérico, não
comportando qualquer distinção em bens de produção e bens de consumo, pois o legislador
apenas definiu como objeto das relações de consumo produtos ou serviços. O conceito de
consumidor, portanto, não estaria ligado ao bem propriamente, mas sim à idéia de destinação
final.
Consumidor seria toda pessoa física, até mesmo as que exercem atividade
profissional, ou jurídica que adquirisse ou utilizasse produtos ou serviços como destinatária
final, ou seja, sem o intuito de repassar de forma alguma aqueles bens a terceiros em caráter
comercial.
O critério seguido para a definição de destinação final seria apenas o da retirada do
bem do mercado de consumo, encerrando o ciclo econômico, pois só não incidiriam as
normas do Código de Defesa do Consumidor nos casos em que a pessoa adquirisse ou
utilizasse produtos ou serviços para introduzi-los novamente no mercado de consumo.
Para a corrente maximalista, portanto, seria consumidor tanto o escritório de
advocacia que adquire livros de direito para melhor atender aos seus clientes quanto a
empresa de confecção em relação às máquinas de costura. E a razão é a seguinte: os produtos
em questão não seriam utilizados para comercialização, ou melhor, eles não seriam
recolocados no mercado de forma alguma, nem mediante transformação para posterior
revenda, e a destinação daqueles bens seria cumprida pelo escritório e pela empresa,
destinatários finais e consumidores, consequentemente.
Mas não haveria relação de consumo, por exemplo, quando a empresa de confecção
comprasse tecidos. Neste caso, trata-se de matéria-prima adquirida para a criação do produto
objeto da atividade-fim da empresa. Esta compra de tecidos destina-se à confecção de roupas,
as quais serão posteriormente inseridas no mercado de consumo. De alguma forma, portanto,
aqueles tecidos estariam sendo repassados a terceiros que porventura viessem a comprar as
roupas.
E os exemplos são os mais variados possíveis. Certas empresas contratam serviços,
mas não na qualidade de destinatárias finais. É o caso das empresas de telefonia quando
contratam os serviços de uma outra empresa para a instalação de linhas telefônicas, o que é
muito comum. A relação jurídica da primeira empresa com a segunda não seria uma relação
de consumo, pois a empresa de telefonia não seria a destinatária final do serviço, condição
que recairia sobre os seus usuários. O serviço, portanto, seria adquirido para que fosse
recolocado no mercado, já que a empresa de telefonia exerce um lucro direto sobre ele em
relação aos usuários.
Os maximalistas, então, conferem à expressão destinatário final, presente no caput do
art. 2º do CDC, uma interpretação extensiva, incluindo no conceito de consumidor as pessoas
físicas profissionais e as pessoas jurídicas, independentemente da aquisição do produto ou
serviço visando o lucro[1], critério este adotado pelos finalistas ao diferenciarem os bens em
bens de produção e bens de consumo.
Roberto Senise Lisboa (2001:149-162) é um dos adeptos da corrente maximalista,
chamada por ele de teoria da causa final, que significa que a análise da expressão destinatário
final deve ser feita de acordo com a causa para a qual foi adquirido o produto ou o serviço.
Ele relaciona algumas razões pelas quais deve ser adotada a teoria maximalista da causa
final em detrimento das teses minimalistas. São elas: a) não é correta a afirmação segundo a
qual a expressão destinatário final equivale à distinção puramente econômica entre bem de
insumo e de consumo; b) o legislador consumerista adotou a teoria da causa final na aquisição
do produto ou serviço; c) a pessoa jurídica pode ser consumidora pela lei, ante a adoção da
teoria da finalidade causal, desde que não proceda à recolocação do produto ou serviço no
mercado de consumo, ainda que especificado ou transformado; e d) aquele que transforma o
bem para uso posterior próprio é consumidor, pois não o recolocou no mercado de consumo.
Enfim, se acordo com esse entendimento, o Código de Defesa do Consumidor não adotou a
definição de consumidor como sendo tão-somente o não profissional, que se encontra
presente em algumas legislações européias.
Além das razões acima expostas, Roberto Senise Lisboa (2001:145) ainda se
contrapõe aos finalistas em relação ao argumento da vulnerabilidade como um pressuposto do
conceito de consumidor. Segundo ele, a vulnerabilidade, princípio consagrado pelo CDC no
art. 4º, inc. I, não serviria como critério para a formação do conceito de consumidor. Primeiro
uma pessoa se enquadraria na definição de consumidor para depois gozar da presunção legal
absoluta de vulnerabilidade que a lei confere a todos os consumidores. Em suma: a
vulnerabilidade não seria pressuposto para o reconhecimento de uma pessoa como
consumidora, mas sim uma conseqüência se sua condição.
A Lei 8.078/90 apresenta ainda outros conceitos de consumidor. São os chamados
consumidores por equiparação: a coletividade de pessoas (art. 2º, parágrafo único), todas as
vítimas de um acidente de consumo (art. 17) e todas as pessoas expostas às práticas
comerciais previstas no Capítulo V (art. 29).
A coletividade de pessoas que agir intervindo nas relações é simplesmente um
conjunto de vários consumidores que, além de serem considerados individualmente, tal como
fez no caput do art. 2º, também devem ser vistos coletivamente.
O CDC conferiu a proteção dos interesses dos consumidores não apenas
individualmente, mas também por meio da tutela de direitos coletivos, nos moldes
estabelecidos pelo art. 81, mesmo com relação aos consumidores indeterminados, desde que
todos estejam envolvidos, ainda que separadamente, em relações de consumo semelhantes.
Serve de exemplo a coletividade de consumidores usuários de um serviço adquirido
por meio de um plano de assistência médico-hospitalar em que cada consumidor terá firmado,
individualmente, um contrato de adesão junto à prestadora do serviço. Os direitos desses
consumidores poderão ser pleiteados tanto separada como coletivamente, hipótese esta em
que serão beneficiados todos os que estejam envolvidos na mesma situação: usuários de um
plano de saúde.
O art. 17 amplia o conceito de consumidor equiparando a este todas as vítimas do
evento. Isso significa que gozará de status de consumidor um terceiro que não tenha adquirido
ou utilizado um determinado produto ou serviço, mas que tenha sofrido as conseqüências de
um acidente de consumo. É o chamado bystander nos países da commom law.
Vale ressaltar que essa ampliação do conceito de consumidor só é válida nos casos de
responsabilidade pelo fato e não pelo vício do produto ou do serviço.
Tome-se como exemplo um acidente de carro, provocado por uma falha no sistema de
freios, envolvendo, além do condutor do veículo (consumidor padrão), um terceiro que estava
atravessando a faixa de pedestres quando foi atropelado. Esse terceiro é o bystander,
equiparado ao consumidor por ser vítima do evento.
O quarto e último conceito legal de consumidor é o do art. 29, pelo qual gozam da
proteção do CDC também aquelas pessoas que não são propriamente consumidoras, mas que
podem vir a ser. São os consumidores em potencial, ou seja, aqueles expostos às práticas
comerciais antes mesmo de celebrar um contrato. O termo expostas empregado pelo
dispositivo em análise já demonstra uma idéia de passividade.
Para visualizar esta hipótese basta considerar um exemplo típico que é o do art. 30:
Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa,
veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação
a  produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o
contrato que vier a ser celebrado.
Antes mesmo de existir um contrato, formalizando a relação jurídica de consumo, o
fornecedor está vinculado à oferta a que deu publicidade. Com isso, a pessoa exposta a esse
tipo de prática comercial, na qualidade de consumidora, pode exigir que o fornecedor cumpra
a oferta nos termos que em que ela foi veiculada.
Trata-se de uma ampliação feita pelo legislador com o intuito de atingir o maior
número possível de pessoas. Não é necessário que a pessoa tenha participado da relação de
consumo, adquirindo ou utilizando o produto como destinatário final, tampouco que tenha
sido atingida pelo evento danoso, sendo suficiente a sua exposição às práticas comerciais
previstas no CDC, como a da oferta, da publicidade ou das práticas abusivas.
2.2.FORNECEDOR
O conceito de fornecedor está previsto no art. 3º da lei nº 8.078/90 nos seguintes
termos:
Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
É um conceito que não tem dado margem a interpretações divergentes por parte da
doutrina, ao contrário do que ocorre com relação ao conceito de consumidor, conforme
analisado anteriormente.
O legislador pretendeu dar ao conceito de fornecedor a maior abrangência possível,
na medida em que são fornecedores, de um modo geral, todas as pessoas, e até os entes
despersonalizados, que propiciem a oferta de produtos e serviços no mercado de consumo.
Uma das grandes novidades do CDC foi ter incluído entre os fornecedores as pessoas
jurídicas de direito público, as quais podem figurar com tal qualidade na prestação de serviços
públicos.
Em vez de empregar especificamente as categorias das pessoas de acordo com a
natureza da atividade praticada por cada uma, como produtora, seguradora, empresa,
construtora etc., o CDC utiliza o termo genérico fornecedor e relaciona a atividade de
prestação quanto aos serviços e as de produção, montagem, criação etc. quanto aos produtos.
Todos que exercerem esses vários tipos de atividades serão considerados fornecedores.
Sílvio Luís Ferreira da Rocha (1992:72) classifica os fornecedores em três
tipos: fornecedor real é aquele que participa do processo de fabricação ou produção do
produto acabado, de uma parte componente ou de matéria-prima; fornecedor aparente é
aquele que coloca o produto no mercado com o seu próprio nome, forma, ou marca apesar de
não ter participado do processo de produção ou fabricação do produto. Ou seja, o fornecedor
aparente é quem se apresenta no mercado como se fosse o fornecedor real e;  fornecedor
presumido é o importador de produtos, ou o que os comercializa sem a identificação clara do
seu fabricante, produtor, construtor ou importador (art. 13, inc. II).
3.     OBJETO:
3.1.PRODUTOS
O CDC dividiu o objeto da relação de consumo em duas categorias: os serviços,
abrangendo as atividades remuneradas oferecidas no mercado de consumo e os produtos, que
correspondem aos demais bens postos em circulação.
Para se identificar se o objeto de uma relação de consumo é um produto ou um
serviço, basta analisar o núcleo do vínculo obrigacional entre consumidor e fornecedor. Se for
uma obrigação de dar, será produto; se for uma obrigação de fazer, será serviço.
De acordo com o art. 3º, §1º do CDC, "Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel,
material ou imaterial." O legislador preferiu adotar a expressão produto a bens, a qual já era
comumente utilizada pelo Direito Civil. Essa inovação foi criticada por alguns juristas,
inclusive por José Geraldo Brito Filomeno (1997:39), um dos autores do anteprojeto da Lei nº
8.078/90.
Trata-se de um conceito muito amplo, pois não leva em conta qualidades especiais do
bem para que ele seja considerado um produto objeto de relação de consumo. Qualquer bem
que circule das mãos do fornecedor para o consumidor pode ser considerado produto.
Segundo Tupinambá Miguel Castro Do Nascimento (1991:23):
Ao conceito de produto, interessa saber que é um bem com
determinado conteúdo finalístico. É um bem porque, no sentido
genérico, tem aptidão para satisfazer necessidades humanas e, mais
do que isto, tem valor econômico e pode ser objeto de uma relação
jurídica entre pessoas. 
3.2.SERVIÇOS
O art. 3º, §2º do Código de Defesa do Consumidor conceitua serviço como sendo:
"qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as
de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de
caráter trabalhista."
Como se percebe, o legislador teve a intenção de fazer incidir o Direito do
Consumidor de forma muito ampla, abrangendo os mais variados tipos de relações, em
diferentes áreas do Direito, com exceção apenas das relações trabalhistas. Roberto Senise
Lisboa (2001:176) expressa de forma muito clara essa idéia:
O melhor raciocínio leva à inexorável conclusão segundo a qual
todas as demais áreas jurídicas, afora a trabalhista, podem conter
relações que sofrem incidência do microssistema de defesa do
consumidor. Pouco importa que o serviço, como atividade
remunerada, seja de natureza civil, comercial ou administrativa.
A menção expressa às atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária foi feita com o intuito de não deixar dúvidas quanto à aplicação do CDC a esses
serviços. Apesar disso, uma parte minoritária da doutrina sustentou a inaplicabilidade da Lei
nº 8.078/90 às relações bancárias, entendimento este que até provocou o questionamento da
matéria pela Confederação Nacional do Sistema Financeiro, perante o STF, através do
ajuizamento de uma ação direta de inconstitucionalidade (ADIN n.º 2591), que ainda aguarda
julgamento final.
A partir do conceito legal, nota-se que o principal elemento caracterizador de uma
prestação de serviço de consumo é a sua remuneração. É preciso que haja uma
contraprestação economicamente valorável para que seja possível a formação de uma relação
de consumo, o que exclui do âmbito de aplicação do CDC as atividades oferecidas de forma
gratuita.
Como conseqüência de se exigir que o serviço seja remunerado, a doutrina, a exemplo
de Adalberto Pasqualotto (1990:134) e de Luciano Benetti Timm (2000:74), aponta também o
requisito da profissionalidade (habitualidade) do prestador de serviços para que se tipifique
uma relação de consumo.
Apesar de o conceito transcrito acima não mencionar expressamente, dele conclui-se
que podem ser objeto de relação de consumo tanto os serviços privados, quanto os serviços
públicos. A razão desse entendimento é que, para se chegar ao conceito de serviço de
consumo é preciso que haja uma conexão com o conceito de fornecedor. E, como o CDC
incluiu nesta hipótese as pessoas jurídicas de direito público, é possível afirmar que os
serviços públicos também podem ser objeto de relação de consumo. Mas não só por isso, pois
também pode haver empresas privadas prestando serviços públicos, mediante contratos de
concessão Ademais, uma interpretação sistemática da Lei nº 8.078/90, a qual faz referência
aos serviços públicos em alguns dispositivos (arts. 4º, VII; 6º, X e 22), também levaria à
mesma conclusão.
4.     CONCLUSÃO
Para que uma relação jurídica seja caracterizada como uma relação de consumo, é
preciso a presença dos elementos subjetivos e de pelo menos um dos elementos objetivos
mencionados acima. A falta de qualquer um desses requisitos descaracteriza a relação jurídica
de consumo, afastando-a, portanto, do âmbito de aplicação do Código de Defesa do
Consumidor.
Com isso, conclui-se que é indiferente o tipo contratual celebrado entre as partes para
que uma dada relação jurídica seja, ou não, de consumo, pois não é o negócio jurídico em si
que faz incidir as normas do CDC.
São certos elementos essenciais que fazem nascer uma relação de consumo
(consumidor / fornecedor e produtos ou serviços), a qual é pressuposto para a aplicação do
CDC, independentemente da espécie contratual pactuada pelas partes, como a compra e
venda, o seguro, o financiamento, etc.
5.     BIBLIOGRAFIA
DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao consumidor: conceito e extensão. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.
FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2000.
LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2001.
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 3. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1998.
NASCIMENTO, Tupinambá Miguel Castro do. Responsabilidade Civil no Código de
Defesa do Consumidor. 2ª ed. Rio de Janeiro: Aide, 1991.
PASQUALOTO, Adalberto. Os Serviços Públicos no Código de Defesa do Consumidor.
Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, vol. 1, p. 130-147,
jan./mar. 1992.
TIMM, Luciano Benetti. A Prestação de Serviços: do Código Civil ao Código de Defesa
do Consumidor. 2ª ed. Porto Alegre: Síntese, 2000.
Nota:
[1] Seguindo a corrente maximalista, o Superior Tribunal de Justiça já reconheceu a
existência de relação de consumo entre uma empresa que comercializa pescados e a empresa
fornecedora de água, no RESP n.º 263.229 – SP, cujo inteiro teor encontra-se no anexo.

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