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FACULDADE NOBRE DE FEIRA DE SANTANA

ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

PROF. SANDER PRATES VIANA


RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

A aplicação do Código de Defesa do Consumidor – CDC é uma tarefa que exige um certo cuidado para identificar,
principalmente, quem é consumidor e quais as atividades tratadas pela referida Lei. O CDC não tem aplicabilidade a
todas as relações econômicas, mas restringe-se à identificação de atividades econômicas nas quais estejam o
consumidor e o fornecedor, e entre eles uma transação envolvendo produto e/ou serviço. (Manual de direito do
consumidor / Leonardo Roscoe Bessa e Walter José Faiad de Moura ; coordenação de Juliana Pereira da Silva. -- 4.
ed. Brasília : Escola Nacional de Defesa do Consumidor, 2014. 290 p )

Ocorre que o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil adotam marcos teóricos diferentes para justificar
uma eventual intervenção judicial para a revisão ou resolução dos contratos. Essa diferenciação de fundamentos
não é um expediente de puro interesse acadêmico. Ela conserva grande utilidade prática e impede a inadequada
aplicação dos dispositivos de ambos os códigos, além de restringir os efeitos da insegurança jurídica, tão danosa à
economia dos contratos. Esse tema presta-se, de modo especialmente fecundo, ao diálogo entre a doutrina e a
jurisprudência, o que se tem demonstrado tão necessário quanto rarefeito nos dias atuais” (FERREIRA, Antonio
Carlos. Revisão judicial de contratos: Diálogo entre a doutrina e a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça. Revista de Direito Civil Contemporâneo. v. 1, p.27-39, out.-dez.2014).

A relação jurídica de consumo é estabelecida pela composição de fornecedor e consumidor em lados opostos,
tendo como objeto produto ou serviço, conforme se depreende da análise dos artigos 2º e 3º do CDC. (Michael
César Silva e Wellington Fonseca dos Santos, Brasília a. 49 n. 194 abr./jun. 2012)
O MERCADO DE CONSUMO

A palavra mercado tem vários senTIdos. Pode designar um espaço físico onde comerciantes se
reúnem para oferecer bens de consumo (ex.: Mercado Municipal de uma cidade); pode indicar um
ramo específico de certa atividade empresarial (ex.: o mercado de automóveis importados cresceu
muito depois que o dólar baixou); ou, em seu significado amplo, mercado de consumo é todo o
conjunto de atividades econômicas (de toda natureza e forma, inclusive por meios eletrônicos, fora e
dentro dos estabelecimentos comerciais, bancárias, securitárias, financeiras e creditórias) envolvendo
o fornecimento de produtos e serviços.

“[...] o consumidor/usuário experimenta, neste mundo livre, veloz e global (relembre-se aqui o consumo
pela internet, pela televisão, pelo celular, pelos novos tipos de computadores, cartões e chips), uma
nova vulnerabilidade” (BENJAMIN; MARQUES; BESSA, 2008, p. 77).

“via Internet, em que a vulnerabilidade tende a se agravar, uma vez que, se de um lado há ampliação
da oferta e da informação, por outro as características de distanciamento econômico e de
conhecimento, presentes no mundo real, são acompanhadas das tecnológicas” (LIMA, 2006, p. 44).
DEFINIÇÃO JURÍDICA DE CONSUMIDOR

ART. 2º, CDC: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final”.

O consumidor é a parte vulnerável da relação de consumo.

Crianças e adolescentes também são consumidores, bastando que o atendimento de suas demandas e pleitos
ocorra com o acompanhamento de um responsável.

Pessoas físicas que exercem atividades profissionais também podem ser consumidoras.

A conceituação de consumidor para Filomeno é apoiada em três pontos de vista:

- Sob o ponto de vista econômico, consumidor é considerado todo indivíduo que se faz destinatário da produção de bens, seja
ele ou não adquirente, e seja ou não, a seu turno, também produtor de outros bens.

- Do ponto de vista psicológico, considera-se consumidor o sujeito sobre o qual se estudam as reações a fim de se individualizar
os critérios para a produção e as motivações internas que o levam ao consumo. Nesse aspecto, pois, perscruta-se das
circunstâncias subjetivas que levam determinado indivíduo ou grupo de indivíduos a ter preferência por este ou aquele tipo de
produto ou serviço.

- Já do ponto de vista sociológico é considerado consumidor qualquer indivíduo que frui ou se utiliza de bens e serviços, mas
pertencente a uma determinada categoria ou classe social. (FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2001, p. 32 - 33. )
A PESSOA JURÍDICA CONSUMIDORA

O CDC estendeu a definição de consumidor às pessoas jurídicas, de direito privado ou público, não especificando
se com ou sem fins lucrativos.

“Pesou na formulação do conceito um desejo implícito e louvável (só que não em legislação de consumo) de
proteger o pequeno empresário, mais especificamente o comerciante”. (Antônio Herman de Vasconcellos e
Benjamin)

Equiparam-se aos consumidores, por força do Código, as pessoas jurídicas de direito público interno ou externo.
Nesta condição, o fornecedor responde pelos vícios em produtos e/ou serviços alienados à União, Estados-
membros, Municípios, Distrito Federal, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia
mista.

É certo que uma pessoa jurídica pode ser consumidora em relação a outra: mas tal condição depende de dois
elementos que não foram adequadamente explicitados neste particular artigo do Código. Em primeiro lugar, o fato
de que os bens adquiridos devem ser bens de consumo e não bens de capital. Em segundo lugar, que haja entre
fornecedor e consumidor um equilíbrio que favoreça o primeiro. (FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de
direitos do consumidor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 32 - 33. )

Porém, cumpre observar que, no tocante às empresas (e pessoas físicas que exercem atividades profissionais)
existe alguma dúvida, tanto da doutrina quanto da jurisprudência, quando o assunto é definir qual o sendo e
alcance da expressão destinatário final.
O QUE SIGNIFICA DESTINAÇÃO FINAL?

Teoria finalista/subjetiva: Dar destinação final é dar destinação fática (retirar o produto de circulação)
e não dar destinação econômica (não utilizar o produto/serviço como insumo na atividade produtiva, pa
ra auferir lucro).

Para os finalistas, a interpretação do conceito de consumidor deveria ser mais restritiva, visando a não banalizar o
CDC, com base num critério fático-econômico, pautado na figura do destinatário final. Para tanto, entendem que ser
ia necessário não tirar proveito econômico do produto/ serviço, fundando sua teoria na distinção se o bem ou serviç
o adquirido é para uso pessoal ou familiar ou profissional. (BRAGA NETTO, 2011, p. 88-94; MARQUES, 2006, p. 30
3-305, 346-347; BENJAMIN; MARQUES; BESSA, 2008, p. 70-72)

Teoria maximalista/objetiva: Dar destinação final é dar destinação fática, ou, simplesmente, retirar o
produto do mercado.

Para os maximalistas, a aplicação do CDC deveria ser a mais ampla possível, incluindo-se pessoas jurídicas e profi
ssionais liberais, com fundamento num conceito jurídico de consumidor, de índole objetiva, pautado no mero ato de
consumir, e sendo a figura do destinatário final interpretada como o destinatário fático do produto ou serviço (BRAG
A NETTO, 2011, p. 88-94; MARQUES, 2006, p. 303-305, 346-347; BENJAMIN; MARQUES; BESSA, 2008, p. 70-72
)

Para exemplificar, se uma loja de automóveis adquire um veículo de uma concessionária para transp
ortar seus consumidores, os maximalistas entendem que a loja é consumidora pelo simples fato de t
er comprado o carro, enquanto que os finalistas entendem que a desnação dada ao veículo (transpor
tar seus consumidores) é parte de sua avidade empresarial e não atrai a proteção legal do CDC
TEORIA ADOTADA PELO STJ

O Superior Tribunal de Justiça mitigou a teoria finalista (teoria finalista mitigada ou finalismo aprofundado)
no sentido de aceitar que o profissional ou a pessoa jurídica, seja considerado consumidor, desde que,
demonstrada sua vulnerabilidade e produto ou serviço adquirido fora de sua área de especialidade (não
implicando na revenda ou comercialização dos mesmos). (Michael César Silva e Wellington Fonseca dos
Santos)

“Uma vez entendido quem seja legalmente um consumidor, sempre com a advertência para não se cair
nos excessos da teoria maximalista, é importante entender o que seja o princípio da vulnerabilidade, que é
central para a operacionalização das técnicas protetivas do CDC.

A desigualdade entre consumidor e fornecedor é um dado objetivo no exame das relações submetidas ao
CDC. Uma das causas dessa desigualdade está no caráter vulnerável do consumidor. A vulnerabilidade “é
multifária, decorrendo ora da atuação dos monopólios e oligopólios, ora da carência de informação sobre
qualidade, preços, crédito e outras características dos produtos e serviços. Não bastasse tal, o
consumidor ainda é cercado por uma publicidade crescente, não estando, ademais, tão organizado quanto
os fornecedores”.

O CDC tem, por conseguinte, uma visão protetiva apta a discernir essa posição vulnerável do consumidor
nas relações de consumo. Trata-se de uma proteção destinada a manter ou restituir o equilíbrio contratual
nas relações estabelecidas entre fornecedor e consumidor.” (Humberto Martins, in:
https://www.conjur.com.br/2016-ago-15/direito-civil-atual-relacao-consumo-visao-superior-tribunal-justica-p
arte
A concretização desse conceito tem-se dado de maneira moderada na jurisprudência do STJ:

a) O critério da vulnerabilidade tem servido para atenuar a teoria finalista para se “autorizar a incidência  do 
Código  de  Defesa  do  Consumidor nas hipóteses  em  que  a  parte (pessoa física ou jurídica), embora não seja 
tecnicamente  a  destinatária  final do produto ou serviço, se apresenta  em  situação de vulnerabilidade

b) Não é possível admitir a vulnerabilidade de uma pessoa jurídica que “não ostenta a condição de consumidora
final”, ao exemplo de “um laboratório clínico que adquiriu os produtos para insumo de  sua  atividade comercial”.

c) O princípio da vulnerabilidade tem por objetivo assegurar a “igualdade formal-material aos sujeitos da relação
jurídica de consumo, o que não quer dizer compactuar com exageros”.

d) A vulnerabilidade, conforme entendimento doutrinário, pode-se apresentar sob três modalidades: “técnica
(ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), jurídica (falta de
conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na relação de consumo) e fática (situações em
que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do consumidor o coloca em pé de desigualdade
frente ao fornecedor). Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade informacional (dados
insuficientes sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no processo decisório de compra)”

(Humberto Martins, in:


https://www.conjur.com.br/2016-ago-15/direito-civil-atual-relacao-consumo-visao-superior-tribunal-justica-parte)
‘’Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor – DPDC (Nota Técnica nº 298 -
CGAJ/DPDC/2006, de 1º de setembro de 2006): como se percebe, no entendimento do STJ,
pessoa jurídica somente poderá ser classificada como consumidora se provar a sua
vulnerabilidade in concreto. Essa interpretação do Tribunal foi denominada por Cláudia Lima
Marques de 'interpretação finalista aprofundada', por concentrar-se nos conceitos de consumidor
final imediato e de vulnerabilidade. Essa concepção, além de ser condizente com o art. 2º do
CDC, propicia adequada proteção ao consumidor, tendo em vista que, ao mesmo tempo em que
limita o campo de aplicação do CDC àqueles que realmente necessitam de proteção, também
logra proteger pessoas jurídicas que comprovem a sua vulnerabilidade no caso concreto”.
CONSUMIDORES POR EQUIPARAÇÃO

1) o parágrafo único do artigo 2º do CDC equipara a consumidor “a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”;

2) o artigo 17 do CDC também equipara a consumidor todas as vítimas do dano causado pelo fato do
produto e do serviço; e

3) o artigo 29 do CDC indica que são equiparadas a consumidor todas as pessoas, determináveis ou não,
expostas às práticas comerciais e que, por isso, fazem jus à proteção contratual.
EXEMPLO DE PROTEÇÃO À COLETIVIDADE DE PESSOAS INDETERMINÁVEIS

A 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.364.915/MG,[9] negou provimento a


recurso especial interposto por fornecedor que, sem informar claramente o consumidor, reduziu o volume de
refrigerantes de garrafa PET de 600 ml para 500 ml, prática que se enquadra no conceito de “maquiagem de
produto” ou “aumento disfarçado de preços”. A situação agravou-se pelo fato de envolver marcas conhecidas
há anos no mercado e, por isso mesmo, detentoras da confiança dos consumidores.

Nas razões do recurso especial, o fornecedor sustentou que comercializa os refrigerantes em caráter final,
não sendo seu fabricante ou distribuidor, de modo que não poderia ser responsabilizado por conduta de
terceiros que, porventura, tenham deixado de informar a redução do volume do líquido. Além disso, alegou
que teria tido o cuidado de diminuir o preço do produto posto à venda ao consumidor.

O acórdão da 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ressaltou que, nesses casos, o Código de Defesa do
Consumidor pune a existência do vício de quantidade do produto, bem como prevê, expressamente, a
responsabilidade solidária entre todos os fornecedores da cadeia de produção e circulação, podendo
qualquer um deles ser acionado pelo consumidor, nos moldes do artigo 19 do CDC. Acontece que são
legitimados a figurar no polo passivo da relação de consumo todos os participantes que integrem a cadeia
geradora ou manipuladora de bens e serviços quando existir ato ou fato, omissivo ou comissivo, que coloque
em risco ou ofenda um direito do consumidor de bens e serviços.
Muito embora a fornecedora de refrigerantes tenha invocado a iniciativa de abatimento no preço dos
refrigerantes como fator supostamente capaz de afastar a responsabilidade civil, é o vício de quantidade em
si que frustra a expectativa legítima dos consumidores (independentemente de ser o vício explícito ou
discreto), ocasionando ofensa ao supracitado caput do artigo 18 do CDC.
EXEMPLO DE VÍTIMAS DO DANO CAUSADO POR FATO DO PRODUTO

Acidente aéreo envolvendo passageiros e moradores das proximidades do aeroporto de Congonhas, São Paulo,
a aeronave atingiu estabelecimento comercial e transeuntes logo após sua aterrissagem.

Outro exemplo de consumidor equiparado por fato do produto foi o acidente com o Shopping Center de Osasco,
São Paulo, que veio a ruir após uma explosão. No momento do infortúnio, tanto os clientes de lojas quanto as
pessoas que ali se encontravam exclusivamente para atravessar de uma rua a outra, foram tratadas como
consumidoras.

EXEMPLO DE PESSOAS EXPOSTAS ÀS PRÁTICAS COMERCIAIS

A redação do artigo 29 delimita que este por de equiparação só ocorrerá se estiverem presentes as situações
condas neste capítulo, referindo-se ao capítulo V do CDC que estabelece o que sejam práticas comerciais. As
atividades contidas no referido capítulo são de oferta e publicidade, cobranças de dívidas, bancos de dados e
cadastros de consumidores, além do rol de exemplos do artigo 39, CDC.

o consumidor aqui equiparado é aquela pessoa, ou coletividade de pessoas, que não necessariamente
adquiriram produtos ou serviços, mas já passaram a sofrer algum tipo de dano (ou mesmo perigo de dano) tão
somente ao terem contato com a conduta praticada pelo fornecedor ao anunciar seu produto e serviço (e, aí,
poderá praticar publicidades enganosas ou abusivas), ao receber a cobrança de uma dívida já paga ou da qual
nunca deu causa ou, ainda, ao ter seu nome inscrito erroneamente em um cadastro de consumidores ou banco
de dados.
A DEFINIÇÃO JURÍDICA DE FORNECEDOR

CDC, Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços”.

O legislador pátrio busca conferir à definição de fornecedor a maior amplitude possível, com o escopo de
firmar a responsabilidade solidária, nas relações consumeristas, de todos os corresponsáveis por casuais
vícios ou defeitos de produtos e serviços. Neste ponto, é oportuno verificarmos os comentários dos
autores do Anteprojeto do Código de Defesa do Consumidor, sobre o conceito acima descrito:

Nesse sentido (...) é que são considerados todos quantos propiciem a oferta de produtos e serviços no
mercado de consumo, de maneira a atender às necessidades dos consumidores, sendo despiciendo
indagar-se a que título, sendo relevante, isto sim, a distinção que se deve fazer entre as várias espécies
de fornecedor nos casos de responsabilização por danos causados aos consumidores, ou então para que
os próprios fornecedores atuem na via regressiva e em cadeia da mesma responsabilização, visto que
vital a solidariedade para a obtenção efetiva de proteção que se visa a oferecer aos mesmos
consumidores
Essencialmente, o que distingue a relação de consumo é o PROFISSIONALISMO da ação de venda do produto
ou prestação do serviço. Apenas se considera relação de consumo aquela que envolver o fornecimento de
produto ou serviço com caráter profissional, ou seja, com intento comercial.

Deve-se considerar que o fornecedor não precisa necessariamente auferir lucro de sua atividade, mas apenas
receber uma remuneração direta ou indireta pelo produto ou serviço colocado em circulação. Assim, não importa
a forma de constituição da empresa (seja ela uma pequena ou grande empresa, uma Sociedade Anônima, uma
Associação sem fins lucrativos), desde que desempenhe a atividade descrita no artigo

HABITUALIDADE – PROFISSIONALIDADE – DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES

CATEGORIAS CLÁSSICAS DE FORNECEDORES:

I. O FORNECEDOR REAL, compreendendo o fabricantes, o produtor e o construtor;

II. O FORNECEDOR PRESUMIDO, assim entendido o importador de produto industrializado ou in natura;

III. O FORNECEDOR APARENTE, ou seja, aquele que atribui seu nome ou marca no produto final.
SERVIÇOS PÚBLICOS

O CDC estabelece que é fornecedor pessoa jurídica pública. Isto significa que a Lei impõe até
mesmo aos prestadores de serviços públicos (atividades disponibilizadas por órgãos ou entes do
Poder Público) respeito às suas disposições. Todavia, nem todo serviço público está sujeito ao
CDC. Especialmente a doutrina tem entendido que apenas podem ser tratados à luz do CDC os
serviços públicos oferecidos aos consumidores mediante remuneração específica e de modo
individualizado. São exemplos o transporte público, a rodovia com pedágio, os serviços de
telefonia, luz, água e esgoto. Nestes casos, quem explora estes serviços é o Estado (a partir de
empresas públicas) ou particulares conhecidos como concessionários de serviços públicos. Ficam
de fora da incidência do CDC os serviços públicos pelos quais o cidadão tem acesso
independentemente de pagamento específico, a exemplo de segurança pública. (Manual de direito
do consumidor / Leonardo Roscoe Bessa e Walter José Faiad de Moura ; coordenação de Juliana
Pereira da Silva. -- 4. ed. Brasília : Escola Nacional de Defesa do Consumidor, 2014. 290 p )
OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDIA CONSUMERISTA

PRODUTO é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. (ART. 3º, § 1°, CDC)
 
Os produtos são bens que se transferem do patrimônio do fornecedor para o do consumidor, sejam eles MATERIAIS
(ex.: aparelho telefônico) ou até IMATERIAIS (ex.: um programa de computador). Os produtos MÓVEIS são aqueles
que, como o próprio nome indica, são passíveis de deslocamento, sujeitos à entrega (ex.: um veículo, uma televisão,
alimento), enquanto são IMÓVEIS os bens incorporados natural ou artificialmente ao solo (ex.: lote de terra urbana ou
rural, residencial ou comercial; um apartamento).

SERVIÇO é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de


natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista. (ART. 3º, § 2°, CDC)

Já os serviços são atividades humanas executadas pelos fornecedores, de interesse dos consumidores que delas
necessitam (ex.: o serviço de transporte de passageiros). O CDC esclarece, para que não haja dúvidas, que também são
serviços as atividades de natureza “bancária, financeira, de crédito e securitária” (art. 3º, parágrafo 2º, CDC). Assim, as
relações travadas entre o consumidor e uma instituição financeira, casa bancária ou de crédito, assim como seguradora,
deverão respeitar às leis de consumo aqui tratadas. Assim decidiu o Supremo Tribunal Federal, em 2006, no julgamento
da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.591/DF.

Produtos ou serviços NÃO DURÁVEIS são aqueles que se esgotam ao primeiro uso ou em pouco tempo após a
aquisição, ou seja, aqueles são naturalmente destruídos na sua utilização. Os produtos ou serviços DURÁVEIS não
são necessariamente destruídos pelo consumo. O que pode ocorrer é o desgaste natural com a sua utilização,
portanto, caracterizam-se por ter vida útil não passageira.
O QUE FICA DE FORA DO CAMPO DE APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

O próprio CDC estabeleceu que as relações de caráter trabalhista não estão abrangidas em seu campo de
incidência, conforme artigo 3º, parágrafo 2º, parte final.

O CDC não terá aplicação para situações nas quais as partes envolvidas sejam iguais materialmente, de modo
que uma pessoa que vende um carro próprio e não exerce esta atividade com frequência, habitualidade ou
profissionalmente não poderá ser considerada fornecedora e, quem com ela contratar, estará sujeito à disciplina
do Código Civil.

A existência de leis específicas disciplinando certas atividades ou contratos não afasta a incidência do CDC
quando identificados os requisitos de sua aplicação. Logo, em se cuidando de lei dos planos de saúde, lei da
mensalidade escolar, transporte aéreo, lei do inquilinato, incorporação imobiliária, dentre outras, caso seja
identificado um consumidor experimentando prejuízos ou violação a seus direitos, o CDC deverá ser aplicado para
buscar o equilíbrio e a proteção à vulnerabilidade. Não existe conflito entre estas leis e o CDC, devendo prevalecer
a proteção do consumidor (que tem índole constitucional).

Situação semelhante ocorre com a lei do inquilinato (Lei nº 8.245/91). Entre locador (dono do imóvel) e locatário
(usuário do bem) não há relação de desigualdade e a disciplina é da lei específica. Todavia, existindo a
intermediação ou a administração deste contrato por uma empresa imobiliária, passa a surgir um serviço
específico mediante remuneração que enseja a proteção da parte mais frágil da relação (o locatário), identificado
como consumidor.

(Manual de direito do consumidor / Leonardo Roscoe Bessa e Walter José Faiad de Moura ; coordenação de Juliana Pereira da
Silva. -- 4. ed. Brasília : Escola Nacional de Defesa do Consumidor, 2014. 290 p )
RELAÇÕES DE CONSUMO VIRTUAIS

“O sujeito fornecedor agora é um ofertante profissional automatizado e globalizado, presente em uma


cadeia sem fim de intermediários (portal, website, link, provider, empresas de cartão de crédito, etc.),
um fornecedor sem sede e sem tempo (a oferta é permanente, no espaço privado e no público), um
fornecedor que fala todas as línguas ou usa a língua franca, o inglês, e utiliza-se da linguagem virtual
(imagens, sons, textos em janelas, textos interativos, ícones, etc.) para marketing, negociação e
contratação. O sujeito consumidor é agora um destinatário final contratante (art. 2o do CDC), um sujeito
‘mudo’ na frente de um écran, em qualquer tempo, em qualquer língua, com qualquer idade,
identificado por uma senha (PIN), uma assinatura eletrônica (chaves- -públicas e privadas), por um
número de cartão de crédito ou por impressões biométricas, é uma coletividade de pessoas, que
intervém na relação de consumo (por exemplo, recebendo o compact disc (CD) de presente, comprado
por meio eletrônico, ou o grupo de crianças que está vendo o filme baixado por Internet, ex vi parágrafo
único do art. 2o do CDC) ou a coletividade afetada por um spam ou marketing agressivo (art. 29 do
CDC) ou todas as vítimas de um fato do serviço do provedor de conteúdo, que enviou um vírus
‘destruidor’ por sua comunicação semanal, ou todas as pessoas cujos números da conta corrente ou
do cartão de crédito e senha foram descobertos pelo hacker ou cracker que atacou o computador
principal do serviço financeiro, ou do fornecedor de livros eletrônicos (e- -books) – art. 17 do CDC”

(MARQUES, 2004, p. 61-63, IN: https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/49/194/ril_v49_n194_p261.pdf)

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