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DIREITO DO CONSUMIDOR

CDC
Lei nº8.078, de 11 de setembro de 1990.
 Art. 1° O presente código estabelece normas de
proteção e defesa do consumidor, de ordem pública
e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso
XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e
art. 48 de suas Disposições Transitórias.
Art. 5º, XXXII - o Estado promoverá, na forma da
lei, a defesa do consumidor;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
...
V - defesa do consumidor;
 ADCT-Art. 48. O Congresso Nacional,
dentro de cento e vinte dias da
promulgação da Constituição, elaborará
código de defesa do consumidor.
O referido prazo não foi observado pelo
legislador ordinário, que somente em 1990
editou a Lei 8078/90.
CONSUMIDOR
DEFINIÇÃO NO CDC
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física
ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a
consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo.
CONSUMIDOR
O conceito faz referência à “pessoa física ou
jurídica que adquire o produto, para uso próprio ou
de terceiro, ou contrato de serviço, condicionando
apenas a que seja o destinatário final, isto é, que
não recoloque o produto ou serviço adquirido no
mercado de consumo” (MELO, 2008, p. 32).
O termo “destinatário final” não é tão simples e
óbvio como parece. Existem três teorias que
buscam explicar seu significado. Tais correntes são:
finalista pura, maximalista e finalista mitigada.
CONSUMIDOR
Rizzatto Nunes, tratando do problema no
uso da referida expressão, expõe:
O problema do uso do termo “destinatário
final” está relacionado a um caso específico:
o daquela pessoa que adquire produto ou
serviço como destinatária final, mas que
usará tal bem como típico de produção.
Por exemplo, o usineiro que compra uma
usina para a produção de álcool. Não resta
dúvida de que ele será destinatário final do
produto (a usina); contudo, pode ser
considerado consumidor? E a empresa de
contabilidade que adquire num grande
supermercado um microcomputador para
desenvolver suas atividades, é considerada
consumidora? (NUNES, 2012, p. 122).
CONSUMIDOR
Doutrina e jurisprudência desenvolveram três teorias
para explicar quem vem a ser o "destinatário final" de
produto ou serviço mencionado na definição de
consumidor no caput do art. 2º da lei consumerista: a
teoria finalista, a maximalista e a finalista mitigada.
TEORIA FINALISTA OU FINALISTA
PURA
É considerado consumidor “quem adquire
no mercado de consumo o produto ou
serviço; aquele em razão de quem é
interrompida a cadeia de produção e
circulação de certos bens e serviços, para
usufruir ele mesmo, ou terceiro a quem os
ceda, das respectivas funções, de modo não
profissional (destinatário final econômico)”
(SILVA, 2008, p. 8).
A teoria finalista “alberga o
entendimento de que se deve proceder
in casu a uma interpretação restrita do
que se tem por consumidor, diminuindo
sobremaneira a protetiva incidência do
Código, afeta, apenas, aos casos de
relação onde haja um polo inferior”
(NUNES JÚNIOR, 2008, p. 14).
Com isso, seria considerado consumidor,
por exemplo, “o advogado em relação ao
automóvel adquirido, pois este não estaria
inserido entre os instrumentos necessários
para o exercício da profissão, como os livros
de direito, o computador ou a impressora”
(SILVA, 2008, p. 8)
Pela ótica dos finalistas, estão excluídas da
proteção do Código do Consumidor as
empresas que, por exemplo, compram uma
máquina para a fabricação de seus produtos ou
mesmo uma copiadora para ser utilizada em
seu escritório. Desse modo, se o produto
apresentar defeitos ou vícios, a empresa deverá
resolver o problema com seu fornecedor pelas
vias da legislação civil, jamais se utilizando da
legislação do consumidor.
Doutrinadores justificam tal
posicionamento alegando que os referidos
bens entram na cadeia produtiva e nada têm
a ver com o conceito de destinação final.
Trata-se de perspectiva altamente restritiva
do âmbito de aplicação do CDC, que faz
com que empresas e profissionais
praticamente estejam excluídos do conceito
de consumidor.
TEORIA MAXIMALISTA
A teoria maximalista, diferentemente da
finalista, amplia o conceito de consumidor.
Entende, que a ratio legis trouxe ao
ordenamento, com a Lei n.º 8.078/90,
normas de regência de tudo quanto se refere
a consumo, normas gerais, envolvendo
todos os entes participantes do mercado
econômico, oferecendo uma interpretação
literal da norma
Nesta perspectivas seriam consumidores o
advogado em relação ao computador, bem como o
taxista em relação ao carro porque, ainda que
sejam instrumentos necessários para o exercício de
sua atividade profissional, o computador e o
veículo jamais voltariam ou integrariam a cadeia
de produção e circulação de bens ou serviços, por
transformação ou beneficiamento, como poderia de
fato ocorrer no caso do aço ou da energia elétrica
adquiridos pela montadora de carros (SILVA,
2008, p. 8).
Desse modo, a teoria maximalista alarga a
noção de consumidor, para abranger
também os profissionais. Para os adeptos
dessa corrente, “pouco importa se o produto
será utilizado com benefício econômico por
quem o adquiriu, se o consumidor usa o bem
com um fim profissional. Avalia-se, apenas,
se o produto foi retirado do mercado”
(NEVES, 2006, p. 103).
TEORIA FINALISTA MITIGADA OU
FINALISTA APROFUNDADA
Essa terceira corrente foi criada pelo
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Trata-se
de uma teoria intermediária, que não
observa apenas a destinação do produto ou
serviço adquirido, levando em consideração,
também, o porte econômico do consumidor.
Cláudia Lima Marques expõe em sua obra
acerca da corrente finalista aprofundada:
A partir de 2003, com a entrada em vigor do
CC/2002, parece estar aparecendo uma
terceira teoria, subdivisão da primeira – que
aqui passo a denominar de “finalismo
aprofundado” – na jurisprudência, em
especial do STJ, demonstrando ao mesmo
tempo extremo domínio da interpretação
finalista e do CDC, mas com razoabilidade e
prudência interpretando a expressão
“destinatário final” do art. 2º do CDC de
forma diferenciada e mista. (MARQUES,
2006, p. 305).
A ministra do Superior Tribunal de Justiça, Nancy Andrighi,
descreve muito bem as características da teoria finalista
aprofundada ou teoria finalista mitigada:
(...) a jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de
consumidor por equiparação previsto no art. 29 do CDC, tem
evoluído para uma aplicação temperada da teoria finalista frente
às pessoas jurídicas, num processo que a doutrina vem
denominando finalismo aprofundado, consistente em se admitir
que, em determinadas hipóteses, a pessoa jurídica adquirente de
um produto ou serviço pode ser equiparada à condição de
consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma
vulnerabilidade, que constitui o princípio-motor da política
nacional das relações de consumo, premissa expressamente
fixada no art. 4º, I, do CDC, que legitima toda a proteção
conferida ao consumidor.
A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três
modalidades de vulnerabilidade: técnica (ausência de
conhecimento específico acerca do produto ou serviço
objeto de consumo), jurídica (falta de conhecimento
jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na
relação de consumo) e fática (situações em que a
insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica
do consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao
fornecedor). Mais recentemente, tem se incluído também
a vulnerabilidade informacional (dados insuficientes
sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no
processo decisório de compra).
5. A despeito da identificação in abstracto dessas
espécies de vulnerabilidade, a casuística poderá
apresentar novas formas de vulnerabilidade aptas a
atrair a incidência do CDC à relação de consumo.
Numa relação interempresarial, para além das
hipóteses de vulnerabilidade já consagradas pela
doutrina e pela jurisprudência, a relação de
dependência de uma das partes frente à outra pode,
conforme o caso, caracterizar uma vulnerabilidade
legitimadora da aplicação da Lei nº 8.078/90,
mitigando os rigores da teoria finalista e autorizando a
equiparação da pessoa jurídica compradora à condição
de consumidora

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