Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Direito do Consumidor
Direito do
Consumidor
Prof.ª Patricia Strauss
1
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Olá! Boas-Vindas!
Cada material foi preparado com muito carinho para que você
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de qua-
lidade.
Com carinho,
Equipe Ceisc. ♥
2
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Direito do Consumidor
Prof.ª Patrícia Strauss
Sumário
1. Relação de consumo ............................................................................................................... 4
2. Direitos básicos do consumidor ............................................................................................. 10
3. Responsabilidade civil nas relações de consumo .................................................................. 15
4. Decadência e prescrição........................................................................................................ 22
5. Práticas comerciais ................................................................................................................ 25
6. Proteção contratual ................................................................................................................ 33
7. Defesa do consumidor em juízo ............................................................................................. 37
8. Superendividamento .............................................................................................................. 39
Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, reco-
menda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.
3
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
1. Relação de Consumo
1.1. Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor (CDC – Lei no 8.078/1990) é uma lei especial em razão dos
seus destinatários, já que somente é aplicável aos consumidores e fornecedores. Assim, para que se possa
ter a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, é necessária a existência do binômio fornecedor/con-
sumidor.
Entre fabricante e comerciante teremos uma relação civil, teremos uma relação empresarial, apli-
cando-se o Código Civil.
Entre Nidal e comerciante teremos uma relação de consumo: Nidal, ao comprar cervejas artesanais
do mercado, será considerado consumidor. A relação entre o comerciante e Nidal será uma relação de
consumo, aplicando-se o Código de Defesa do Consumidor.
4
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Lei no 8.078/1990
Art. 2o (...)
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indeter-
mináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
O parágrafo demonstra o caráter coletivo da proteção ao consumidor. Tem por objetivo dar eficácia
para a tutela coletiva de direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, previstos nos
arts. 81 e ss. do CDC.
Importante!
Lembrar que o art. 81 e ss. trata de interesses coletivos.
Súm. no 601 do STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa dos
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decor-
rentes da prestação de serviços públicos.
Lei no 8.078/1990
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento. [refere-se à Seção II, que trata da responsabilidade pelo fato do produto e do ser-
viço]
5
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
televisão, esta explode, causando lesões nas amigas Carla e Joana. Ana é consumidora padrão (art. 2 o).
Carla e Joana são consumidoras por equiparação (art. 17).
Lei no 8.078/1990
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas
as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. [refere-se ao capí-
tulo que trata de práticas comerciais e contratos]
6
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Em conclusão, para que uma pessoa física ou jurídica seja considerada consumidora, de acordo
com a teoria finalista aprofundada, faz-se necessário, em primeiro lugar, que haja vulnerabilidade. Em
segundo lugar, é preciso que os bens por ela adquiridos sejam bens de consumo e que na pessoa
jurídica esgotem a sua destinação econômica.1
O conceito de destinatário final do Código de Defesa do Consumidor alcança a empresa ou o pro-
fissional que adquire bens ou serviços e os utiliza em benefício próprio. (REsp no 1.080.719/MG – rel. Min.
Nancy Andrighi – Terceira Turma – j. 10-2-2009 – DJe 17-8-2009)
Muito importante!
Insumo, matéria-prima, peças para produção etc., o entendimento é de que esses produtos não são
disponibilizados aos destinatários finais, não sendo, assim, seus destinatários considerados consumidores.
Compra de peças para montar carro, por exemplo. O STJ entende que não há relação de consumo. Inclu-
sive no caso de empresa que contrata outra empresa para transporte de insumos que comprou, não há
relação de consumo.
Também no caso de aquisição de produto/serviço para a implementação de atividade econômica ou
a contratação de empréstimo para financiar atividades empresariais (compra de insumo etc.) não será apli-
cado o Código de Defesa do Consumidor, já que não se enquadra como destinatário final e, assim, não é
consumidor.
Para simplificar, podemos fazer a seguinte associação:
Pessoa jurídica e profissionais não são consumidores, já que adquirem produtos/serviços para uso
profissionalmente.
Pessoa jurídica e profissionais podem ser consumidores, se demonstrada a situação de vulnerabili-
dade, a ser analisada in concreto.
Entre os tipos de vulnerabilidade, a mais comum é a vulnerabilidade técnica (fora do domínio de
atuação da pessoa jurídica).
1 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2022. .
7
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
1.2. Fornecedor
O Art. 3º traz o conceito de fornecedor de acordo com o Direito do Consumidor:
Lei no 8.078/1990
Art. 3o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estran-
geira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1o Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2o Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remunera-
ção, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decor-
rentes das relações de caráter trabalhista.
1.3. Produto
O produto pode ser todo bem móvel ou imóvel, material ou imaterial (muito raro, já que, em geral,
atrela-se ao conceito de serviço). Também temos produtos duráveis (bens que não se extinguem após uso
regular, ainda que sofram desgastes, tais como carro, mesa, brinquedos etc.) e produtos não duráveis (ali-
mentos, remédios, cosméticos, canetas, sabonetes etc.).
1.4. Serviços
Segundo o § 2o do art. 3o do CDC, serviço é: “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as de-
correntes das relações de caráter trabalhista”.
Assim, as atividades de serviço podem ser de natureza material, financeira ou intelectual, prestadas
por entidades públicas ou privadas, mediante remuneração.
Importante!
O fornecedor de serviços tem um outro requisito (que não tem o fornecedor de produtos):
8
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
remuneração.
A remuneração pode ser direta ou indireta.
Há serviços que são gratuitos ao consumidor, mas que trazem remuneração ao fornecedor, man-
tendo, assim, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Assim, tanto faz a remuneração ser direta
ou indireta. As Cortes brasileiras aceitaram o conceito de remuneração indireta e entendem que os serviços
“gratuitos” são submetidos às regras do Código de Defesa do Consumidor, se houver remuneração indireta.
Assim, transporte de passageiros idosos de forma gratuita, lavagens de carro como brinde etc.,
ainda que não sejam onerosos para o consumidor, dão uma retribuição para o fornecedor, enquadrando -
se no Código de Defesa do Consumidor.
Os serviços públicos são regidos pelo Código de Defesa do Consumidor? Depende.
Consoante o art. 22 do CDC: “os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, per-
missionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento são obrigados a fornecer serviços adequa-
dos, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”.
Os serviços chamados de uti universi, tais como segurança pública, saúde pública etc., são financi-
ados por impostos e, dessa forma, não têm aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
Os serviços chamados uti singuli são passíveis de determinação, tais como telefonia, água e energia
elétrica. Nestes casos, há a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
No entanto, a matéria não é pacífica e há divergências doutrinárias a respeito de quais serviços
públicos seriam regulados ou não pelo Código.
Para Cavalieri Filho2: “os serviços públicos remunerados por tributos (impostos, taxas ou contribui-
ções de melhoria) não estão submetidos à incidência do CDC, porque trava-se entre o Poder Público e o
contribuinte uma relação administrativo-tributária, conforme já ressaltado, disciplinada pelas regras do Di-
reito Administrativo (segurança pública, saúde pública, educação pública etc.). (...) Só estão sujeitos às
regras do CDC os serviços públicos remunerados por tarifa ou preço público”. São os serviços uti singuli. A
relação é individualizada (energia elétrica, telefonia, internet, água e esgoto etc.).
Exemplo de serviços uti singuli e que têm aplicação do Código de Defesa do Consumidor: Só
irei receber energia elétrica, se contratar. Só terei água em minha casa, se contratar. Só terei transporte
público, se pagar o valor da passagem (tanto faz ser empresa pública de transporte ou empresa privada
que presta serviços ao ente público).
Neste contexto, é possível a interrupção do fornecimento de energia elétrica, por exemplo, caso o
2 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2022, p. 49.
9
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
consumidor esteja inadimplente? Sim. De acordo com o posicionamento mais atual do STJ, é lícito à con-
cessionária interromper o fornecimento de energia elétrica, se, após aviso prévio, o consumidor de perma-
necer inadimplente no pagamento da respectiva conta.
De qualquer forma, é necessário sempre que se pondere com princípios como o da dignidade da
pessoa humana, miserabilidade etc.
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor:
• Financiamento estudantil – FIES (ou seja, tipo de financiamento público).
• Financiamento imobiliário (submetido às regras do Sistema Financeiro da Habitação – SFH,
quando há garantia do Estado em relação ao saldo devedor).
• Prestação de serviços advocatícios (art. 133 da CF/1988).
• Locação de imóveis urbanos (Lei n o 8.245/1991).
• DPVAT.
• Entre franqueador e franqueado.
• Entre condomínio e condôminos.
Súmulas importantes:
10
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
que estabelece princípios e bases por meio de normas de ordem pública e de interesse social. O Código
de Defesa do Consumidor, assim, busca a igualdade material (real), por meio de uma disciplina voltada
para o diferente, já que é necessário que se trate desiguais de forma desigual.
Lei no 8.078/1990
Art. 6o São direitos básicos do consumidor:
I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
* Vide arts. 8o a 10 e 12 e ss.
II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asse-
guradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
* Vide art. 39.
III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especi-
ficação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes
e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
* Vide art. 31; e art. 62 da Lei no 13.146/2015.
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos
ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento
de produtos e serviços;
* Vide art. 36 e ss.
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcio-
nais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas;
* Vide art. 51.
VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos;
* Vide art. 12 e ss.
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou repara-
ção de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a prote-
ção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova,
a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
IX – (VETADO)
X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral;
XI – a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção
e tratamento de situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos
termos da regulamentação, por meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras
medidas;
XII – a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação
de dívidas e na concessão de crédito;
XIII – a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por
quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso.
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser
acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento.
11
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
O art. 6o somente pode ser usado em favor do consumidor. O fornecedor não se pode utilizar dele.
O consumidor é titular de direitos fundamentais, já que sua própria proteção está inserida no art. 5 o
da CF/1988. O consumidor foi assim identificado na Constituição Federal como um sujeito que precisa de
especial proteção.
O art. 6o do CDC traz inúmeros direitos básicos do consumidor. Segundo a doutrina, o rol do
artigo é um rol exemplificativo:
a) O inciso I traz a proteção da incolumidade física do consumidor: vida, saúde e segurança.
Tal proteção se consagra pela observância aos princípios da segurança e prevenção.
b) Direito à educação para o consumo está no inciso II: ainda que o consumidor seja, e sempre
será, o sujeito vulnerável nas relações de consumo, ele também tem direito a ter conhecimento para que
possa aumentar seu poder de pensamento sobre hábitos e direitos relacionados ao consumo.
c) O inciso III traz o direito à informação e princípio da transparência: como reflexo do princípio
da transparência, há o dever de informar do fornecedor. A informação é uma conduta de boa-fé. Direito à
informação é um ponto que mitiga a desigualdade, já que o consumidor não tem conhecimento da “exper-
tise” do fornecedor.
O dever de informar é do fornecedor e o direito de informação pertence ao consumidor. A informação
deve estar presente em todos os momentos da relação de consumo, seja em fase pré-contratual, seja em
fase pós-contratual. Exige-se, assim, um comportamento proativo do fornecedor.
Para Cavalieri Filho,3 o fornecedor cumpre o dever de informar deve cumprir três requisitos:
• adequação (meios de informação são compatíveis com os riscos do produto);
• veracidade; e
• consentimento informado, já que sem informação clara e precisa, não há escolha consciente.
De qualquer forma, pergunta-se até onde se espera que vá o dever de informar do fornecedor. O
dever de informar deve compreender as informações necessárias e suficientes para que o consumidor
possa tomar a sua decisão. Fatos notórios, assim, não constituem dever de informar.
Por exemplo, uma cirurgia eletiva que possa trazer consequências para o paciente impõe a obriga-
ção do médico de informar cuidadosamente quais seriam as possíveis consequências indesejadas do pro-
cedimento. E então, o paciente, uma vez consciente e informado, decide pela celebração do contrato ou
não.
3 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2022, p. 112.
12
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Importante!
Por falta de informação adequada, o fornecedor pode responder civilmente pelo “risco inerente” (ris-
cos de um produto tóxico, de uma cirurgia médica etc.).
Regra: fornecedor não responde por riscos inerentes.
Exceção: fornecedor que deixa de informar ao consumidor, por exemplo, sobre produtos nocivos e
perigosos (agrotóxicos, alergênicos etc.), poderá responder por isso.
d) O inciso IV do art. 6o, na sua primeira parte, trata do controle da publicidade. Temos aqui o
direito básico de proteção contra a publicidade enganosa e/ou abusiva.
Importa lembrar que o Código de Defesa do Consumidor obriga o fornecedor a fazer publicidade de
produtos e serviços, desde que seja suficientemente precisa e que veicule o que foi ofertado, fazendo parte
do contrato eventualmente celebrado.
e) Proteção contra práticas e cláusulas abusivas estão na segunda parte do inciso IV: “Práti-
cas abusivas” é uma expressão genérica e abrange tudo o que vá contra os princípios do Código de Defesa
do Consumidor.
Um exemplo dado pela doutrina é o consumidor que recebe cartão de crédito em casa sem que
tenha solicitado. Não há necessidade de dano ao consumidor. O simples fato do envio já é prática abusiva.
Súm. no 532 do STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem
prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e su-
jeito à aplicação de multa administrativa.
f) O inciso V trata de um tema muito importante: a possibilidade de ser revisadas cláusulas con-
tratuais: “V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”.
Temos no inciso V duas possíveis formas de modificações/revisão de um contrato:
1. Lesão: no momento da celebração, temos o desequilíbrio. A lesão estará configurada pelo sim-
ples fato de haver desequilíbrio;
2. Causa superveniente: após a celebração, temos o desequilíbrio, tornando o contrato excessiva-
mente oneroso para o consumidor. Esta possibilidade somente tem lugar nos chamados contratos de exe-
cução continuada, de trato sucessivo ou de execução diferida. Ex.: acontecimento político, econômico etc.;
não pode ser visto como algo individual.
Na causa superveniente, entende a doutrina (ainda que não seja pacífico) que a posição adotada
pelo Código de Defesa do Consumidor foi a da Teoria da Quebra da Base Objetiva do Negócio, em que se
procura olhar as razões pelas quais celebraram o contrato: moeda estável, juros baixos, fornecimento de
13
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
insumos frequentes etc. Para que haja sua aplicação, questiona-se o passado. Se uma destas bases é
modificada, um dos pilares pelo qual se fez o contrato mudou, então estaria autorizada a modificação de
cláusula. A teoria da base objetiva do negócio não solicita a imprevisão.
Importante lembrar que o Código de Defesa do Consumidor não traz como requisito a imprevisão.
O fato superveniente não precisa ser imprevisível para o Código. E, além disso, segundo o art. 51, § 2 o,
tenta-se a manutenção do contrato. Importante salientar que o consumidor pode pedir a decretação de
nulidade (art. 51) ou revisão ou modificação da cláusula, com base no art. 6 o, V.
g) O inciso VI do art.6o trata da efetiva prevenção e reparação de danos para o consumidor.
Moderno sistema de responsabilidade civil, fundamentado em:
• princípio da prevenção (arts. 8 o, 9o e 10 do CDC);
• princípio da informação (arts. 8 o, 9o, 10, 12 e 14 do CDC);
• princípio da segurança (arts. 12, § 1 o, e 14, § 1o, do CDC);
• a indenização integral com reparação em danos materiais e morais, individuais, coletivos e difu-
sos (art. 81, par. ún., I, II e III, do CDC).
h) Acesso à justiça e à administração, conforme o inciso VII. Também consagrado no art. 5o,
por exemplo, a manutenção de assistência jurídica gratuita para o consumidor hipossuficiente.
i) Extremamente importante é a possibilidade de inversão de ônus da prova, disposta no in-
ciso VIII. A inversão do ônus da prova pode se dar em decorrência da lei (arts. 12, § 3 o, 14, § 3o, e 38) ou
então em decorrência de determinação do juiz (art. 6 o, VIII).
Inversão de ônus de prova judicial (art. 6o, VIII): segundo o STJ, o momento de inversão é no
saneamento (art. 357 do CPC e tal ato do julgador é uma decisão).
Assim, por exemplo, para vício, teremos a inversão do juiz, uma vez configurados os requisitos. Fica
a critério do juiz, portanto, durante um processo, a inversão do ônus da prova, sempre em favor do consu-
midor.
Requisitos: alegação do consumidor é verossímil ou quando for hipossuficiente.
Inversão legal (arts. 12, § 3o, 14, § 3o, e 38): na inversão legal, independe o momento, já que mesmo
antes da formação de um processo o fornecedor já sabe de sua obrigação, por foça de lei.
Quando há inversão do ônus da prova, não se quer dizer que o consumidor não deve provar o
ocorrido. Ele está dispensado de provar o próprio defeito do produto ou serviço, mas não está dispensando
de provar que ocorreu o acidente de consumo, por exemplo, ou então os danos causados.
j) Direito à prestação adequada e eficaz dos serviços públicos em geral, conforme o inciso X
do art. 6o.
14
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Obs.:
Lei no 8.078/1990
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias
ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços ade-
quados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados, na forma prevista neste código.
15
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
fornecedor deve responder por eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos. A responsabi-
lidade do Código de Defesa do Consumidor é dividida em:
• responsabilidade por fato de produto ou serviço (defeitos de segurança);
• responsabilidade por vício de produto e serviço (vícios por inadequação).
Os arts. 12 a 17 tratam do fato de produto/serviço. A palavra utilizada é defeito. No fato, o defeito é
tão grave que provoca um acidente de consumo.
Ex.: João compra um ferro de passar. O ferro explode, mas ninguém fica ferido. Temos vício do
produto. Se alguém fica ferido, temos fato do produto. Encanador contratado para conserto em casa. O
serviço não resolve o problema. Temos vício de serviço. O serviço prestado faz com que um cano exploda
e cause danos na casa. Temos fato de serviço.
16
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
E o comerciante?
Importante!
O comerciante possui responsabilidade quando se fala de fato de produto.
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I – o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II – o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor
ou importador;
III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis;
(...)
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito
de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do
evento danoso.
Prazo prescricional: 5 (cinco) anos, a contar do conhecimento do dano e da autoria (art. 27).
Também já nos fala o § 2o do art. 14 que o serviço não é considerado defeituoso pela adoção de
novas técnicas.
Em decorrência da dificuldade em se saber quem são os eventuais agentes da cadeia de forneci-
mento, o Código fala em fornecedor. Assim, todos os participantes da cadeia de serviços são fornecedores
e poderão responder perante o consumidor. Além disso, todos respondem de forma solidária (sendo posição
17
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
18
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
os demais responsáveis. Consequência da solidariedade passiva. Lembrando que o art. 88 do CDC veda
a denunciação da lide.
Obs.: O prazo prescricional é de 5 (cinco) anos (art. 27 do CDC).
Lei no 8.078/1990
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.
§ 1o O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo de seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
§ 2o O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3o O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.
§ 4o A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verifi-
cação de culpa.
(...)
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento.
19
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Tal prazo também pode ser alterado. Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do
prazo, não podendo ser inferior a 7 (sete) nem superior a 180 (cento e oitenta) dias. Nos contratos de adesão,
a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consu-
midor.
20
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Não há prazo de 30 (trinta) dias, troca etc., como no vício de qualidade de produto.
Ex.: Paguei por 1 kg de arroz e veio menos.
Em caso de vício de quantidade, o consumidor poderá exigir (art. 19):
• Abatimento proporcional do preço;
• Complementação do peso ou medida;
• Substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo;
• Restituição imediata da quantia paga, sem prejuízo de perdas e danos.
O § 6o do art. 18 traz uma lista exemplificativa de quais seriam os vícios de produto.
21
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Produto in natura. Não houve industrialização. Então o responsável será o fornecedor imediato (ex-
ceto quando identificado claramente o produtor).
4. Decadência e Prescrição
30 dias 90 dias
Fornecimento
Produtos
de produtos
duráveis
não duráveis
22
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Vício aparente: tradição – entrega do bem ao consumidor (tanto de bem durável quanto não durável).
Vício oculto: A partir do momento em que ficar evidenciado o problema. Naquele dia (barulho no
motor do carro, p. ex.) começaria a contar o prazo de 90 (noventa) dias para reclamar contra o fornecedor.
Importante dizer que o Código de Defesa do Consumidor não traz quais seriam os prazos de garantia
para bens duráveis ou não duráveis. Ele traz prazos para reclamação (30 dias ou 90 dias). Garantia legal é
um dever de adequação, que sempre existe. É um dever inerente. Independentemente de haver uma ga-
rantia contratual ou não, sempre teremos uma garantia legal. É o que fala o art. 24.
Lei no 8.078/1990
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo ex-
presso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.
Importa ressaltar que também temos a garantia contratual, que é uma liberalidade, dada pelo fornecedor:
Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo
escrito.
Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer,
de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e
o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe
entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompa-
nhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com
ilustrações.
Ex.: Em 6-11, o consumidor recebeu o produto, uma televisão, apresentando defeito e nesta mesma
data já formaliza uma reclamação. Vício aparente – prazo de 90 (noventa) dias. Terá o fornecedor até 6-12
para sanar o vício. Se for sanado, ótimo! Digamos que há resposta negativa do fornecedor (alegação de
mau uso pelo consumidor) no dia 16-11. Da resposta negativa começa a contar o prazo para que o consu-
midor possa ajuizar a ação. Qual é o prazo? 90 dias. E se o fornecedor nunca respondeu? Então o
prazo continua parado. E o consumidor poderá ajuizar a ação.
23
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I – trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II – noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1o Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou
do término da execução dos serviços.
§ 2o Obstam a decadência:
I – a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de
forma inequívoca;
II – (VETADO)
III – a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§ 3º Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito.
24
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
5. Práticas Comerciais
Lei no 8.078/1990
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresen-
tação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou
publicidade;
II – aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III – rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada,
monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
A ação cabível seria a do art. 84 do CDC, além das ações de obrigação de fazer ou dar do Código
de Processo Civil.
Ainda sobre a oferta:
25
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o
nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos uti-
lizados na transação comercial.
Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a cha-
mada for onerosa ao consumidor que a origina.
Como exemplo temos a situação do consumidor ligar para ter conhecimento do preço de algum
produto/serviço e ter que pagar pela ligação. Não daria para o consumidor ligar, estar pagando e ficar ou-
vindo publicidade.
26
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Obs.: Publicidade e propaganda não são sinônimas. Publicidade tem o objeto comercial de anunciar
bens no mercado de consumo. Propaganda tem fio ideológico, com objetivo de propagar teorias, ideias,
políticas etc.
Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediata-
mente, a identifique como tal.
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer
forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresen-
tados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que
vier a ser celebrado.
Importante!
A publicidade no Código de Defesa do Consumidor equivale ao regime da oferta no Código Civil.
Assim, a vinculação de preços em catálogos, por exemplo, é considerada oferta e vincula o fornecedor (a
não ser em casos absurdos, então não vincularia o fornecedor).
27
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Quem patrocina a publicidade tem a obrigação de comprovar a sua veracidade, conforme manda-
mento legal.
Significa que o fornecedor precisa ter consigo informações adequadas sobre os produtos e serviços
que está oferecendo.
28
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Outro ponto importante é que, segundo a doutrina, o consumidor, na verificação de publicidade en-
ganosa, precisa ser avaliado em particular. Assim, alguns consumidores são mais suscetíveis à publicidade
enganosa do que outros e, portanto, necessitam de maior proteção.
Obs.: Não está proibida a publicidade comparativa, segundo entendimento do STJ. Pode mencionar
o produto do concorrente, mas não o prejudicar.
Constituição Federal
Art. 220. (...)
(...)
§ 3o Compete à lei federal:
(...)
II – estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o dis-
posto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam
ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4o A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e
terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e
conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.
Há leis específicas que tratam de regramentos restritivos com relação à publicidade de tais produtos.
29
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
de Defesa do Consumidor. Podem, frequentemente, caracterizar abuso de direito (art. 187 do CC).
Muito importante a diferenciação de cláusulas abusivas (que estão nos contratos).
As práticas abusivas são vedadas ao fornecedor de produtos e serviços.
Tais práticas podem ser pré-contratuais, contratuais ou pós-contratuais. A maioria das práticas abu-
sivas está na fase pré-contratual, e é exemplificativa:
a) Venda casada: condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro
produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos. Normalmente, tais produtos/serviços
são vendidos separados. Ex.: Se para comprar uma escova de dentes, tem-se que comprar a pasta, então
temos venda casada.
Não é porque alguns produtos são vendidos em conjunto que há venda casada.
Ex.: Nos serviços bancários, são ofertados seguro, título de capitalização etc. como condição para
a contratação do serviço procurado pelo consumidor.
Súm. no 473 do STJ: O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro
habitacional obrigatório com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela
indicada.
Obs.: É possível que se tenha preços diferenciados com base na forma de pagar (dinheiro, cartão
etc.), nas parcelas (Lei no 13.455/2017)
d) Orçamento prévio: executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização ex-
pressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes.
A obrigação de fornecer orçamento prévio não é absoluta, já que há casos de urgência em que o
orçamento nem sempre é possível, tais como atendimento médico/hospitalar.
30
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Lei no 8.078/1990
Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio
discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem emprega-
dos, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços.
§ 1o Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo prazo de dez dias,
contado de seu recebimento pelo consumidor.
Caso não seja nada estipulado em contrário, a validade do orçamento é de 10 (dez) dias.
Não há mais controle público, não há mais tabelamento de preços. Seria prática abusiva somente
aumentar (muito) sem justa causa, sem fundamento.
e) repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício
de seus direitos: vedação de uma “lista negra” de consumidores que reclamam e vão atrás de
seus direitos.
Há outros artigos que também trazem práticas abusivas (publicidade enganosa, cobrança vexatória
etc.).
31
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Exceção: Se fornecedor explicar por que ele se enganou, não deveria devolver em dobro.
O consumidor terá direito à devolução em dobro daquilo que realmente tiver pago em excesso ou
indevidamente e não é necessário provar dolo ou culpa do fornecedor.
Importante!
Cobrança vexatória gera dano moral presumido pelo STJ.
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo,
nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção mo-
netária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
Art. 42-A. Em todos os documentos de cobrança de débitos apresentados ao consumidor,
deverão constar o nome, o endereço e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas – CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ do fornecedor do
produto ou serviço correspondente.
Importante!
Súm. no 323 do STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de
proteção ao crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição
da execução.
32
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Por cinco anos, segundo o STJ, entende-se que é do dia seguinte ao vencimento.
Pessoa já negativada devidamente e recebe a negativação indevida. Não gera dano moral, mas
pode pedir o cancelamento.
6. Proteção Contratual
O contrato de adesão é conceituado no art. 54 do CDC como sendo aquele cujas cláusulas tenham
sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos
ou serviços. O consumidor não é consultado, não podendo modificar de forma substancial o seu conteúdo.
Infelizmente, o contrato de adesão pode gerar abusos por parte do fornecedor.
Como proteger o consumidor? Este capítulo trata da proteção contratual do consumidor.
O art. 46 informa que os contratos não obrigarão os consumidores se não for dada ao consumidor
a oportunidade de tomar conhecimento prévio do conteúdo e não houver clareza na redação. É necessário,
assim, conhecimento prévio e clareza.
Lei no 8.078/1990
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autori-
dade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou servi-
ços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
§ 1o A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.
§ 2o Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, ca-
bendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2o do artigo anterior.
§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a
facilitar sua compreensão pelo consumidor.
33
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Com relação à interpretação das cláusulas contratuais, segundo o art. 47, elas deverão ser interpre-
tadas de forma mais favorável ao consumidor (in dubio pro aderente), não importando quem redigiu o con-
trato.
Exemplos de contratos de consumo: compra e venda, conta corrente, prestação de serviços profis-
sionais, consórcio, alienação fiduciária, transporte, seguro, construção, incorporação imobiliária, seguro sa-
úde (planos de saúde).
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assi-
natura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especial-
mente por telefone ou em domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste
artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão,
serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
Requisitos:
• Contratação fora do estabelecimento comercial;
• Especialmente: telefone, domicílio, eletrônico, telemarketing, qualquer meio eletrônico;
• Prazo de 7 (sete) dias a contar da assinatura ou do recebimento do produto/serviço.
A manifestação da desistência pode ser feita por qualquer meio, mas recomenda-se que o consu-
midor tenha a comprovação. Uma vez exercido o direito de arrependimento, o consumidor deverá ter de
volta os valores pagos, corrigidos, bem como eventuais despesas.
Quando comprar na loja, não existe o direito de arrependimento. Podemos ter vício, mas não arre-
pendimento.
Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo
escrito.
Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer,
de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e
34
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe
entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompa-
nhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com
ilustrações.
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumido-
res, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo,
ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de
seu sentido e alcance.
35
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
não pode ser compelido a cumprir. A cláusula limitativa de direito é permitida, lembrando que há contrato s
em que o Estado estabelece cláusulas que tratam de conteúdo (planos de saúde, seguros etc.) e, assim, o
fornecedor não pode se exonerar do cumprimento.
O Código de Defesa do Consumidor não proíbe a existência de cláusulas limitadoras de direito, mas
pede, no entanto, que sejam colocadas em destaque.
No inciso IV, destaca-se a parte que fala da abusividade sobre “obrigações que coloquem o consu-
midor em desvantagem exagerada”. Será abusiva, assim, toda e qualquer cláusula que coloque o consu-
midor em desvantagem exagerada, qualquer que seja o motivo. Como exemplo, temos um julgado do STJ
que tratava de pacote turístico e que haveria a perda completa do valor, em caso de desistência em período
anterior a 21 dias da data da viagem (REsp n o 1321655/MG – rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino –
Terceira Turma – j. 22-10-2013).
O primeiro parágrafo trata do que seria vantagem exagerada: “Presume-se exagerada, entre outros
casos, a vantagem que: I – ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence”.
Obs.: A cláusula de eleição de foro não é mais automaticamente nula. É necessária a demonstração
de que há prejuízo ao consumidor, de que a cláusula é abusiva.
Não confundir, no entanto, cláusulas abusivas e práticas abusivas (art. 39, p. ex.). A prática pode
ocorrer antes mesmo da formação do contrato, enquanto as cláusulas abusivas estão inseridas no próprio
contrato.
São exemplos de práticas consideradas abusivas:
• Exigência de caução para atendimento médico;
• Cláusula que limitava o tempo em que o consumidor ficaria hospitalizado.
Não é considerada abusiva: cláusula de fidelização em contrato de telefonia (STJ – AREsp no
253609/RS 2012/0235695-5 – rel. Min. Mauro Campbell – 14-11-2012).
Demais artigos:
Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou con-
cessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, in-
formá-lo prévia e adequadamente sobre:
I – preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II – montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;
III – acréscimos legalmente previstos;
IV – número e periodicidade das prestações;
V – soma total a pagar, com e sem financiamento.
§ 1o As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não
poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.
36
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Importante!
A multa por mora (multa moratória) quando houver aplicação do Código de Defesa do
Consumidor, não pode ser superior a 2%.
Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em
prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de
pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em bene-
fício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a
retomada do produto alienado.
A parte processual do Código de Defesa do Consumidor é dividida em: ações individuais e ações
coletivas.
37
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
as ações do Código de Defesa do Consumidor são admissíveis para a defesa do consumidor em geral. O
que muda é o que os fundamentos das ações serão baseados no Código de Defesa do Consumidor.
O art. 101, I, do CDC permite o ajuizamento da ação de responsabilidade civil do fornecedor no
domicílio do consumidor autor.
O art. 84 aborda tutela específica: busca do resultado prático. A conversão em perdas e danos se
daria somente se o consumidor solicitasse ou não, sendo mais frequente a execução da tutela específica.
O art. 84 pode ser analisado em conjunto com o art. 497 e ss. do CPC.
Vedação de denunciação da lide.
38
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Lei no 8.078/1990
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transin-
dividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas
por circunstâncias de fato;
II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os tran-
sindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pes-
soas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de
origem comum.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I – o Ministério Público,
II – a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III – as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos pro-
tegidos por este código;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dis-
pensada a autorização assemblear.
§ 1o O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas
nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimen-
são ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
(...)
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis
todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
8. Superendividamento
Lei no 8.078/1990
Art. 54-A. (...)
§ 1o Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor
pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e
vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial.
39
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Sanções: descumprimento dos arts. 52, 54-C e 54-D acarreta sanções ao fornecedor.
Obs.: Redução de juros, de encargos, dilação do prazo de pagamento previsto no contrato original
(sem prejuízo de outras sanções e de indenização por perdas e danos ao consumidor).
A lei também define contratos coligados ou conexos (art. 54-F): o contrato principal de fornecimento
de produto ou serviço e os contratos acessórios de crédito que lhe garantam o financiamento quando o
fornecedor de crédito: recorrer aos serviços do fornecedor de produto ou serviço para a preparação ou a
conclusão do contrato de crédito ou oferecer o crédito no local da atividade empresarial do fornecedor de
produto ou serviço financiado ou onde o contrato principal for celebrado.
Quando houver exercício do direito de arrependimento, no contrato principal ou no contrato de cré-
dito, teremos a resolução automática do contrato conexo.
A invalidade do contrato principal implica automaticamente a invalidade do contrato de crédito que
é conexo.
40
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
Petição inicial:
Individualização das obrigações a serem renegociadas.
Descrição de mínimo existencial.
Proposta de plano de pagamento.
Art. 104-B. Se não houver êxito na conciliação em relação a quaisquer credores, o juiz, a
pedido do consumidor, instaurará processo por superendividamento para revisão e inte-
gração dos contratos e repactuação das dívidas remanescentes mediante plano judicial
compulsório e procederá à citação de todos os credores cujos créditos não tenham inte-
grado o acordo porventura celebrado.
41
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor
42