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1ª Fase | 38° Exame da OAB

Direito do Consumidor

1ª FASE 38° EXAME

Direito do
Consumidor
Prof.ª Patricia Strauss

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Olá! Boas-Vindas!
Cada material foi preparado com muito carinho para que você
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de qua-
lidade.

Lembre-se: o seu sonho também é o nosso.

Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação!

Com carinho,

Equipe Ceisc. ♥

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Direito do Consumidor

1ª FASE OAB | 38° EXAME

Direito do Consumidor
Prof.ª Patrícia Strauss

Sumário
1. Relação de consumo ............................................................................................................... 4
2. Direitos básicos do consumidor ............................................................................................. 10
3. Responsabilidade civil nas relações de consumo .................................................................. 15
4. Decadência e prescrição........................................................................................................ 22
5. Práticas comerciais ................................................................................................................ 25
6. Proteção contratual ................................................................................................................ 33
7. Defesa do consumidor em juízo ............................................................................................. 37
8. Superendividamento .............................................................................................................. 39

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, reco-
menda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em fevereiro de 2023.

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Direito do Consumidor

1. Relação de Consumo

Prof.ª Patricia Strauss


@prof.patriciastrauss

1.1. Consumidor
O Código de Defesa do Consumidor (CDC – Lei no 8.078/1990) é uma lei especial em razão dos
seus destinatários, já que somente é aplicável aos consumidores e fornecedores. Assim, para que se possa
ter a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, é necessária a existência do binômio fornecedor/con-
sumidor.

1.1.1. Características do consumidor padrão ou standard


Pessoa física ou jurídica.
Adquire/utiliza produtos ou serviços como destinatário final.
Destinatário final: é aquele que retira o bem do mercado, aquele que coloca um fim na cadeia
de produção e não utiliza esse bem para continuar a produzir.
A pessoa que adquire produtos/serviços para seu uso ou de sua família é destinatária final. Não é
necessária a verificação se é vulnerável ou não. Há uma presunção absoluta de vulnerabilidade. Aqui te-
mos, sem dúvida, a configuração de um consumidor.
Ex.:
*Para todos verem: esquema.

Fabricante Comerciante Nidal

Entre fabricante e comerciante teremos uma relação civil, teremos uma relação empresarial, apli-
cando-se o Código Civil.
Entre Nidal e comerciante teremos uma relação de consumo: Nidal, ao comprar cervejas artesanais
do mercado, será considerado consumidor. A relação entre o comerciante e Nidal será uma relação de
consumo, aplicando-se o Código de Defesa do Consumidor.

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1.1.2. Consumidor equiparado


O consumidor padrão, assim, é aquele que, em posição de vulnerabilidade, adquire não profissio-
nalmente produtos ou serviços como destinatário final. Tais bens são adquiridos de forma a satisfazer suas
necessidades pessoais ou de sua família ou de terceiros que estão em suas relações domésticas.
No entanto, o Código de Defesa do Consumidor também se aplica a terceiros que não seriam con-
sumidores padrão, mas que são equiparados a consumidores.
O ponto de partida da definição é a observação de que muitas pessoas, mesmo sem ter adquirido
produtos/serviços, podem ser consideradas consumidores. Assim, por exemplo, alguém que efetua a com-
pra de um alimento para seu filho, esse filho também será considerado consumidor, sendo chamado de
consumidor equiparado. Temos três situações de consumidor equiparado:

Lei no 8.078/1990
Art. 2o (...)
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indeter-
mináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

O parágrafo demonstra o caráter coletivo da proteção ao consumidor. Tem por objetivo dar eficácia
para a tutela coletiva de direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, previstos nos
arts. 81 e ss. do CDC.
Importante!
Lembrar que o art. 81 e ss. trata de interesses coletivos.

Súm. no 601 do STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa dos
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decor-
rentes da prestação de serviços públicos.
Lei no 8.078/1990
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento. [refere-se à Seção II, que trata da responsabilidade pelo fato do produto e do ser-
viço]

Equipara-se a consumidor todas as vítimas de um acidente de consumo. Assim, o art. 17 estende a


proteção do Código de Defesa do Consumidor para qualquer pessoa eventualmente atingida por um aci-
dente de consumo, ainda que nada tenha adquirido do fornecedor.
Alguém é atropelado por um veículo em virtude de um defeito do freio. A pessoa atropelada será
consumidora por equiparação e teremos aqui a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Alguém é
atropelado porque o condutor se distraiu, teremos então a aplicação do Código Civil.
Ex.: Ana adquire uma televisão e, alguns dias depois, realiza uma festa em sua casa. Ao ligar a

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televisão, esta explode, causando lesões nas amigas Carla e Joana. Ana é consumidora padrão (art. 2 o).
Carla e Joana são consumidoras por equiparação (art. 17).

Lei no 8.078/1990
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas
as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. [refere-se ao capí-
tulo que trata de práticas comerciais e contratos]

A parte de práticas comerciais e contratos encontra-se nos arts. 29 a 54 o CDC. Um exemplo de


consumidor por equiparação é quando terceiros são expostas a ofertas/publicidade do fornecedor. Pode-
mos pensar aqui também em pessoas que ainda não realizaram contratos, mas que foram expostas a prá-
ticas comerciais, por exemplo: pessoa que teve seu nome colocado em cadastros de restrição sem nunca
ter comprado em determinada loja poderá ser enquadrada em consumidor por equiparação do art. 29.
Muito importante!
Quando temos pessoa jurídica como consumidor?
Aqui há algumas teorias a serem verificadas:
Teoria finalista ou subjetivista: Restringe a figura do consumidor como sendo aquele que ad-
quire/utiliza um produto para uso próprio ou de sua família. Assim, o consumidor não pode ser um profissi-
onal, já que o Código de Defesa do Consumidor não dispõe sobre a vulnerabilidade de alguém que seja
profissional. Consumidores, então, seriam pessoas físicas ou jurídicas não profissionais. Somente para
finalidades não profissionais. Pessoa jurídica e profissionais não poderiam ser consumidores.
Teoria maximalista ou objetiva: o Código de Defesa do Consumidor seria um Código geral para o
consumo, instituindo normas e regramentos para todos os agentes do mercado. A definição do art. 2o de-
veria ser interpretada de forma mais ampla possível. Não importa a finalidade. Então abrangia todas as
empresas, até as que compram insumos etc.
Teoria finalista aprofundada ou mitigada: por esta interpretação, o sujeito poderá ser considerado
consumidor se estiver em uma posição de vulnerabilidade. A vulnerabilidade pode ser econômica, técnica
(não compra para atividade-fim e sim para atividade-meio), jurídica, fática. A vulnerabilidade é verificada
casuisticamente, in concreto.
Desta forma, profissionais (pessoas jurídicas/profissionais liberais etc.) podem ser consumidores
quando estiverem em posição de vulnerabilidade.
Ex.: Loja de roupas (pessoa jurídica) que compra um computador (fora da área de seu domínio, há
vulnerabilidade técnica).
Vejamos decisão do STJ:

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A jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de consumidor por equiparação


previsto no art. 29 do CDC, tem evoluído para uma aplicação temperada da teoria fi-
nalista frente às pessoas jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando
finalismo aprofundado, consistente em se admitir que, em determinadas hipóteses,
a pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço pode ser equiparada à con-
dição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade,
que constitui o princípio-motor da política nacional das relações de consumo, pre-
missa expressamente fixada no art. 4o, I, do CDC, que legitima toda a proteção con-
ferida ao consumidor. (REsp no 1.195.642/RJ – rel. Min. Nancy Andrighi – Terceira
Turma – j. 13-11-2012)

Em conclusão, para que uma pessoa física ou jurídica seja considerada consumidora, de acordo
com a teoria finalista aprofundada, faz-se necessário, em primeiro lugar, que haja vulnerabilidade. Em
segundo lugar, é preciso que os bens por ela adquiridos sejam bens de consumo e que na pessoa
jurídica esgotem a sua destinação econômica.1
O conceito de destinatário final do Código de Defesa do Consumidor alcança a empresa ou o pro-
fissional que adquire bens ou serviços e os utiliza em benefício próprio. (REsp no 1.080.719/MG – rel. Min.
Nancy Andrighi – Terceira Turma – j. 10-2-2009 – DJe 17-8-2009)
Muito importante!
Insumo, matéria-prima, peças para produção etc., o entendimento é de que esses produtos não são
disponibilizados aos destinatários finais, não sendo, assim, seus destinatários considerados consumidores.
Compra de peças para montar carro, por exemplo. O STJ entende que não há relação de consumo. Inclu-
sive no caso de empresa que contrata outra empresa para transporte de insumos que comprou, não há
relação de consumo.
Também no caso de aquisição de produto/serviço para a implementação de atividade econômica ou
a contratação de empréstimo para financiar atividades empresariais (compra de insumo etc.) não será apli-
cado o Código de Defesa do Consumidor, já que não se enquadra como destinatário final e, assim, não é
consumidor.
Para simplificar, podemos fazer a seguinte associação:
Pessoa jurídica e profissionais não são consumidores, já que adquirem produtos/serviços para uso
profissionalmente.
Pessoa jurídica e profissionais podem ser consumidores, se demonstrada a situação de vulnerabili-
dade, a ser analisada in concreto.
Entre os tipos de vulnerabilidade, a mais comum é a vulnerabilidade técnica (fora do domínio de
atuação da pessoa jurídica).

1 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2022. .

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1.2. Fornecedor
O Art. 3º traz o conceito de fornecedor de acordo com o Direito do Consumidor:

Lei no 8.078/1990
Art. 3o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estran-
geira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1o Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2o Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remunera-
ção, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decor-
rentes das relações de caráter trabalhista.

1.2.1. Características do fornecedor


Pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional, estrangeira, ente despersonalizado.
Desenvolve atividade com habitualidade, como sendo o ofício, a profissão ou uma de suas profis-
sões.
Temos aqui ideias de atividades profissionais habituais e com finalidade econômica.
Importante lembrar que fornecedor se enquadra como gênero. Dessa forma, não somente o fabri-
cante, por exemplo, mas também transformadores, intervenientes e até comerciantes poderão ser respon-
sabilizados. Não importa se regularizado ou não, com CNPJ ou não.

1.3. Produto
O produto pode ser todo bem móvel ou imóvel, material ou imaterial (muito raro, já que, em geral,
atrela-se ao conceito de serviço). Também temos produtos duráveis (bens que não se extinguem após uso
regular, ainda que sofram desgastes, tais como carro, mesa, brinquedos etc.) e produtos não duráveis (ali-
mentos, remédios, cosméticos, canetas, sabonetes etc.).

1.4. Serviços
Segundo o § 2o do art. 3o do CDC, serviço é: “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as de-
correntes das relações de caráter trabalhista”.
Assim, as atividades de serviço podem ser de natureza material, financeira ou intelectual, prestadas
por entidades públicas ou privadas, mediante remuneração.
Importante!
O fornecedor de serviços tem um outro requisito (que não tem o fornecedor de produtos):

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remuneração.
A remuneração pode ser direta ou indireta.
Há serviços que são gratuitos ao consumidor, mas que trazem remuneração ao fornecedor, man-
tendo, assim, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Assim, tanto faz a remuneração ser direta
ou indireta. As Cortes brasileiras aceitaram o conceito de remuneração indireta e entendem que os serviços
“gratuitos” são submetidos às regras do Código de Defesa do Consumidor, se houver remuneração indireta.
Assim, transporte de passageiros idosos de forma gratuita, lavagens de carro como brinde etc.,
ainda que não sejam onerosos para o consumidor, dão uma retribuição para o fornecedor, enquadrando -
se no Código de Defesa do Consumidor.
Os serviços públicos são regidos pelo Código de Defesa do Consumidor? Depende.
Consoante o art. 22 do CDC: “os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, per-
missionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento são obrigados a fornecer serviços adequa-
dos, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”.
Os serviços chamados de uti universi, tais como segurança pública, saúde pública etc., são financi-
ados por impostos e, dessa forma, não têm aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
Os serviços chamados uti singuli são passíveis de determinação, tais como telefonia, água e energia
elétrica. Nestes casos, há a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
No entanto, a matéria não é pacífica e há divergências doutrinárias a respeito de quais serviços
públicos seriam regulados ou não pelo Código.
Para Cavalieri Filho2: “os serviços públicos remunerados por tributos (impostos, taxas ou contribui-
ções de melhoria) não estão submetidos à incidência do CDC, porque trava-se entre o Poder Público e o
contribuinte uma relação administrativo-tributária, conforme já ressaltado, disciplinada pelas regras do Di-
reito Administrativo (segurança pública, saúde pública, educação pública etc.). (...) Só estão sujeitos às
regras do CDC os serviços públicos remunerados por tarifa ou preço público”. São os serviços uti singuli. A
relação é individualizada (energia elétrica, telefonia, internet, água e esgoto etc.).
Exemplo de serviços uti singuli e que têm aplicação do Código de Defesa do Consumidor: Só
irei receber energia elétrica, se contratar. Só terei água em minha casa, se contratar. Só terei transporte
público, se pagar o valor da passagem (tanto faz ser empresa pública de transporte ou empresa privada
que presta serviços ao ente público).
Neste contexto, é possível a interrupção do fornecimento de energia elétrica, por exemplo, caso o

2 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2022, p. 49.

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consumidor esteja inadimplente? Sim. De acordo com o posicionamento mais atual do STJ, é lícito à con-
cessionária interromper o fornecimento de energia elétrica, se, após aviso prévio, o consumidor de perma-
necer inadimplente no pagamento da respectiva conta.
De qualquer forma, é necessário sempre que se pondere com princípios como o da dignidade da
pessoa humana, miserabilidade etc.
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor:
• Financiamento estudantil – FIES (ou seja, tipo de financiamento público).
• Financiamento imobiliário (submetido às regras do Sistema Financeiro da Habitação – SFH,
quando há garantia do Estado em relação ao saldo devedor).
• Prestação de serviços advocatícios (art. 133 da CF/1988).
• Locação de imóveis urbanos (Lei n o 8.245/1991).
• DPVAT.
• Entre franqueador e franqueado.
• Entre condomínio e condôminos.

Súmulas importantes:

Súm. no 297 do STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições fi-


nanceiras.
Súm. no 302 do STJ: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no
tempo a internação hospitalar do segurado.
Súm. no 563 do STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades abertas
de previdência complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com
entidades fechadas.
Súm. no 597 do STJ: A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para
utilização dos serviços de assistência médica nas situações de emergência ou de urgência
é considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24 horas contado da data da
contratação.
Súm. no 608 do STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano
de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.
Súm. no 609 do STJ: A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença pree-
xistente, é ilícita se não houve a exigência de exames médicos prévios à contratação ou a
demonstração de má-fé do segurado.

2. Direitos Básicos do Consumidor

2.1. Da Política Nacional das Relações de Consumo


Na Política Nacional das Relações de Consumo, temos vários princípios norteadores do próprio
Código de Defesa do Consumidor. Para muitos, o art. 4 o é um dos artigos mais importantes do Código, já

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que estabelece princípios e bases por meio de normas de ordem pública e de interesse social. O Código
de Defesa do Consumidor, assim, busca a igualdade material (real), por meio de uma disciplina voltada
para o diferente, já que é necessário que se trate desiguais de forma desigual.

2.2. Dos direitos básicos do consumidor


O Art. 6º do CDC traz um rol exemplificativo dos Direitos Básicos do Consumidor. Tal dispositivo é
comparado a uma "introdução", um "sumário" já que traz diversos direitos consumeristas que são tratados
em capítulos e seções seguintes, dentro do CDC:

Lei no 8.078/1990
Art. 6o São direitos básicos do consumidor:
I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
* Vide arts. 8o a 10 e 12 e ss.
II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asse-
guradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
* Vide art. 39.
III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especi-
ficação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes
e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
* Vide art. 31; e art. 62 da Lei no 13.146/2015.
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos
ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento
de produtos e serviços;
* Vide art. 36 e ss.
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcio-
nais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas;
* Vide art. 51.
VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos;
* Vide art. 12 e ss.
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou repara-
ção de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a prote-
ção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova,
a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
IX – (VETADO)
X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral;
XI – a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção
e tratamento de situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos
termos da regulamentação, por meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras
medidas;
XII – a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação
de dívidas e na concessão de crédito;
XIII – a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por
quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso.
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser
acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento.

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O art. 6o somente pode ser usado em favor do consumidor. O fornecedor não se pode utilizar dele.
O consumidor é titular de direitos fundamentais, já que sua própria proteção está inserida no art. 5 o
da CF/1988. O consumidor foi assim identificado na Constituição Federal como um sujeito que precisa de
especial proteção.
O art. 6o do CDC traz inúmeros direitos básicos do consumidor. Segundo a doutrina, o rol do
artigo é um rol exemplificativo:
a) O inciso I traz a proteção da incolumidade física do consumidor: vida, saúde e segurança.
Tal proteção se consagra pela observância aos princípios da segurança e prevenção.
b) Direito à educação para o consumo está no inciso II: ainda que o consumidor seja, e sempre
será, o sujeito vulnerável nas relações de consumo, ele também tem direito a ter conhecimento para que
possa aumentar seu poder de pensamento sobre hábitos e direitos relacionados ao consumo.
c) O inciso III traz o direito à informação e princípio da transparência: como reflexo do princípio
da transparência, há o dever de informar do fornecedor. A informação é uma conduta de boa-fé. Direito à
informação é um ponto que mitiga a desigualdade, já que o consumidor não tem conhecimento da “exper-
tise” do fornecedor.
O dever de informar é do fornecedor e o direito de informação pertence ao consumidor. A informação
deve estar presente em todos os momentos da relação de consumo, seja em fase pré-contratual, seja em
fase pós-contratual. Exige-se, assim, um comportamento proativo do fornecedor.
Para Cavalieri Filho,3 o fornecedor cumpre o dever de informar deve cumprir três requisitos:
• adequação (meios de informação são compatíveis com os riscos do produto);
• veracidade; e
• consentimento informado, já que sem informação clara e precisa, não há escolha consciente.
De qualquer forma, pergunta-se até onde se espera que vá o dever de informar do fornecedor. O
dever de informar deve compreender as informações necessárias e suficientes para que o consumidor
possa tomar a sua decisão. Fatos notórios, assim, não constituem dever de informar.
Por exemplo, uma cirurgia eletiva que possa trazer consequências para o paciente impõe a obriga-
ção do médico de informar cuidadosamente quais seriam as possíveis consequências indesejadas do pro-
cedimento. E então, o paciente, uma vez consciente e informado, decide pela celebração do contrato ou
não.

3 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2022, p. 112.

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Importante!
Por falta de informação adequada, o fornecedor pode responder civilmente pelo “risco inerente” (ris-
cos de um produto tóxico, de uma cirurgia médica etc.).
Regra: fornecedor não responde por riscos inerentes.
Exceção: fornecedor que deixa de informar ao consumidor, por exemplo, sobre produtos nocivos e
perigosos (agrotóxicos, alergênicos etc.), poderá responder por isso.
d) O inciso IV do art. 6o, na sua primeira parte, trata do controle da publicidade. Temos aqui o
direito básico de proteção contra a publicidade enganosa e/ou abusiva.
Importa lembrar que o Código de Defesa do Consumidor obriga o fornecedor a fazer publicidade de
produtos e serviços, desde que seja suficientemente precisa e que veicule o que foi ofertado, fazendo parte
do contrato eventualmente celebrado.
e) Proteção contra práticas e cláusulas abusivas estão na segunda parte do inciso IV: “Práti-
cas abusivas” é uma expressão genérica e abrange tudo o que vá contra os princípios do Código de Defesa
do Consumidor.
Um exemplo dado pela doutrina é o consumidor que recebe cartão de crédito em casa sem que
tenha solicitado. Não há necessidade de dano ao consumidor. O simples fato do envio já é prática abusiva.

Súm. no 532 do STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem
prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e su-
jeito à aplicação de multa administrativa.

f) O inciso V trata de um tema muito importante: a possibilidade de ser revisadas cláusulas con-
tratuais: “V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”.
Temos no inciso V duas possíveis formas de modificações/revisão de um contrato:
1. Lesão: no momento da celebração, temos o desequilíbrio. A lesão estará configurada pelo sim-
ples fato de haver desequilíbrio;
2. Causa superveniente: após a celebração, temos o desequilíbrio, tornando o contrato excessiva-
mente oneroso para o consumidor. Esta possibilidade somente tem lugar nos chamados contratos de exe-
cução continuada, de trato sucessivo ou de execução diferida. Ex.: acontecimento político, econômico etc.;
não pode ser visto como algo individual.
Na causa superveniente, entende a doutrina (ainda que não seja pacífico) que a posição adotada
pelo Código de Defesa do Consumidor foi a da Teoria da Quebra da Base Objetiva do Negócio, em que se
procura olhar as razões pelas quais celebraram o contrato: moeda estável, juros baixos, fornecimento de

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insumos frequentes etc. Para que haja sua aplicação, questiona-se o passado. Se uma destas bases é
modificada, um dos pilares pelo qual se fez o contrato mudou, então estaria autorizada a modificação de
cláusula. A teoria da base objetiva do negócio não solicita a imprevisão.
Importante lembrar que o Código de Defesa do Consumidor não traz como requisito a imprevisão.
O fato superveniente não precisa ser imprevisível para o Código. E, além disso, segundo o art. 51, § 2 o,
tenta-se a manutenção do contrato. Importante salientar que o consumidor pode pedir a decretação de
nulidade (art. 51) ou revisão ou modificação da cláusula, com base no art. 6 o, V.
g) O inciso VI do art.6o trata da efetiva prevenção e reparação de danos para o consumidor.
Moderno sistema de responsabilidade civil, fundamentado em:
• princípio da prevenção (arts. 8 o, 9o e 10 do CDC);
• princípio da informação (arts. 8 o, 9o, 10, 12 e 14 do CDC);
• princípio da segurança (arts. 12, § 1 o, e 14, § 1o, do CDC);
• a indenização integral com reparação em danos materiais e morais, individuais, coletivos e difu-
sos (art. 81, par. ún., I, II e III, do CDC).
h) Acesso à justiça e à administração, conforme o inciso VII. Também consagrado no art. 5o,
por exemplo, a manutenção de assistência jurídica gratuita para o consumidor hipossuficiente.
i) Extremamente importante é a possibilidade de inversão de ônus da prova, disposta no in-
ciso VIII. A inversão do ônus da prova pode se dar em decorrência da lei (arts. 12, § 3 o, 14, § 3o, e 38) ou
então em decorrência de determinação do juiz (art. 6 o, VIII).
Inversão de ônus de prova judicial (art. 6o, VIII): segundo o STJ, o momento de inversão é no
saneamento (art. 357 do CPC e tal ato do julgador é uma decisão).
Assim, por exemplo, para vício, teremos a inversão do juiz, uma vez configurados os requisitos. Fica
a critério do juiz, portanto, durante um processo, a inversão do ônus da prova, sempre em favor do consu-
midor.
Requisitos: alegação do consumidor é verossímil ou quando for hipossuficiente.
Inversão legal (arts. 12, § 3o, 14, § 3o, e 38): na inversão legal, independe o momento, já que mesmo
antes da formação de um processo o fornecedor já sabe de sua obrigação, por foça de lei.
Quando há inversão do ônus da prova, não se quer dizer que o consumidor não deve provar o
ocorrido. Ele está dispensado de provar o próprio defeito do produto ou serviço, mas não está dispensando
de provar que ocorreu o acidente de consumo, por exemplo, ou então os danos causados.
j) Direito à prestação adequada e eficaz dos serviços públicos em geral, conforme o inciso X
do art. 6o.

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Obs.:
Lei no 8.078/1990
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias
ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços ade-
quados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados, na forma prevista neste código.

k) Direito a prevenção e tratamento do superendividamento, conforme os incisos XI e XII.


Em 2021, entrou em vigor a Lei do Superendividamento, que alterou diversos artigos do Código de
Defesa do Consumidor. Institui, assim, entre os direitos básicos do consumidor, a prevenção do superendi-
vidamento. Contudo, caso ocorra a situação de o consumidor ter se superendividado, a lei também traz a
possibilidade de tratamento, nos arts. 104-A a 104-C do CDC.
Neste contexto, também foi determinado que seja preservado o chamado “mínimo existencial”, que
seria o valor mínimo com o que o consumidor poderá viver, incluindo vestuário, alimentação, transporte etc.,
quando da repactuação das dívidas ou da concessão de crédito ao consumidor.
l) Direito à informação sobre preços de produtos e serviços por unidade de medida.
A Lei do Superendividamento incluiu o inciso XIII ao art. 6o do CDC, nos direitos básicos do consu-
midor, garantindo o direito à informação aos vulneráveis na relação de consumo, em especial aos valores
de produtos e serviços que forem vendidos por unidade ou por medida.

3. Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo

3.1. Da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço ou responsabilidade


por acidente de consumo (arts. 12 a 17 do CDC)
3.1.1. Pontos importantes com relação à responsabilidade civil no CDC
Ação direta do consumidor contra o fornecedor.
Não se fala aqui em responsabilidade contratual e extracontratual.
Regra de responsabilidade objetiva, exceto a dos profissionais liberais, que é a responsabilidade
subjetiva, por força do § 4 o do art. 14.
Havendo a ideia de danos (materiais, morais etc.), teremos o fato, que o legislador chama de defeito.
Havendo a ideia de substituição, conserto, temos a ideia de vício.
O Código de Defesa do Consumidor traz a aplicação da teoria do risco proveito, na qual todo

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

fornecedor deve responder por eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos. A responsabi-
lidade do Código de Defesa do Consumidor é dividida em:
• responsabilidade por fato de produto ou serviço (defeitos de segurança);
• responsabilidade por vício de produto e serviço (vícios por inadequação).
Os arts. 12 a 17 tratam do fato de produto/serviço. A palavra utilizada é defeito. No fato, o defeito é
tão grave que provoca um acidente de consumo.
Ex.: João compra um ferro de passar. O ferro explode, mas ninguém fica ferido. Temos vício do
produto. Se alguém fica ferido, temos fato do produto. Encanador contratado para conserto em casa. O
serviço não resolve o problema. Temos vício de serviço. O serviço prestado faz com que um cano exploda
e cause danos na casa. Temos fato de serviço.

3.1.2. Fato do produto: segurança – defeito (arts. 12, 13 e 17)


Acontecimento que causa dano material ou moral ao consumidor, mas que decorre de um defeito
de produto.
Lei no 8.078/1990
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador
respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos cau-
sados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos,
bem como por informações insuficientes ou inadequados sobre sua utilização e riscos.

O defeito pode ser de criação (projeto), de produção (montagem, fabricação) e de comercialização


(informações inadequadas).
O que seria o defeito? O primeiro parágrafo do artigo 12 nos informa: “o produto é defeituoso quando
não oferece a segurança que dele legitimamente se espera”.
Obs.: É certo que não há produto 100% seguro, por isso que a ideia de segurança é uma ideia
dentro do razoável. Um shampoo que vai aos olhos, espera-se que não vá causar um dano ao olho. Um
bicho de pelúcia que é colocado na boca, espera-se que não vá intoxicar. Um carro que não tenha sistema
de freios ABS terá que, ainda assim, funcionar e frear.
Quem são os responsáveis por fato de produto? Como regra, será o fabricante, produtor, construtor
e importador (art. 12, caput).
Regra: Eles serão responsáveis (fabricante, produtor, construtor e importador).
Exceção: Não serão responsabilizados se provarem:

Art. 12, §3o. O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

responsabilizado quando provar:


I – que não colocou o produto no mercado;
II – que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.

E o comerciante?
Importante!
O comerciante possui responsabilidade quando se fala de fato de produto.

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I – o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II – o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor
ou importador;
III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis;
(...)
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito
de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do
evento danoso.

Prazo prescricional: 5 (cinco) anos, a contar do conhecimento do dano e da autoria (art. 27).

3.1.3. Fato de serviço (arts. 14 e 17)


Consoante o caput do art. 14: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existên-
cia de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”.
Também aqui temos como fundamento o dever de segurança e com responsabilidade objetiva.
O que seria serviço defeituoso, que trará um fato de serviço? O primeiro parágrafo do art. 14 nos
responde:
Lei no 8.078/1990
Art. 14. (...)
§ 1o O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo de seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.

Também já nos fala o § 2o do art. 14 que o serviço não é considerado defeituoso pela adoção de
novas técnicas.
Em decorrência da dificuldade em se saber quem são os eventuais agentes da cadeia de forneci-
mento, o Código fala em fornecedor. Assim, todos os participantes da cadeia de serviços são fornecedores
e poderão responder perante o consumidor. Além disso, todos respondem de forma solidária (sendo posição

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

dominante, mas não unânime).


Segundo a orientação jurisprudencial desta Corte Superior, o art. 14 do CDC estabelece regra de
responsabilidade solidária entre os fornecedores de uma mesma cadeia de serviços, razão pela qual as
“bandeiras”/marcas de cartão de crédito respondem solidariamente com os bancos e as administradoras de
cartão de crédito pelos danos decorrentes da má prestação de serviços. (AgRg no AREsp n o 596.237/SP –
3ª Turma – rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – j. 3-2-2015).
Exemplos de fato de serviço:
• Cobrança indevida de um serviço que causa dano moral;
• Danos causados por hospitais (não tem medicação ou instrumentos cirúrgicos para cirurgia);
• Transporte de pessoas;
• Falha no dever de informar quando vende passagens aéreas (não informar sobre a necessidade
de visto, p. ex.);
• Tratamento indigno ao embarque de cadeirante;
• Danos materiais/morais/estéticos decorrentes de falhas no fornecimento de energia (concessio-
nária de energia elétrica – relação de consumo).
No art. 14, § 3o, temos a inversão legal do ônus da prova, já que o fornecedor responde, como regra.
Ele somente não responderá se provar que: I – tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II – a culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiros. Ex.: consumidor que toma muita medicação.
Debate doutrinário: Para Cavalieri Filho, o fortuito interno e externo seria igual ao Código Civil, ou
seja, se for fortuito externo, rompe o nexo causal e, assim, não haveria responsabilidade. Há julgado do
STJ que diz que chuva de granizo em estacionamento seria caso fortuito externo e, então, não haveria
responsabilização. No entanto, é necessário haver a comparação com o risco do empreendimento (segundo
Tartuce) para, então, pensarmos em fortuito interno e fortuito externo.

3.1.4. Responsabilidade dos profissionais liberais


O § 4o do art. 14 dispõe: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada medi-
ante a verificação de culpa”. Seria aquele que exerce uma profissão com autonomia, sem subordinação.
Ex.: médico, engenheiro, eletricista, pintor etc.
Consoante o art. 17, todas as vítimas do acidente de consumo são consideradas consumidoras.

3.1.5. Direito de regresso


Quem paga a indenização, se não for o único causador do dano, poderá demandar regresso contra

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

os demais responsáveis. Consequência da solidariedade passiva. Lembrando que o art. 88 do CDC veda
a denunciação da lide.
Obs.: O prazo prescricional é de 5 (cinco) anos (art. 27 do CDC).

Lei no 8.078/1990
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.
§ 1o O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo de seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
§ 2o O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3o O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.
§ 4o A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verifi-
cação de culpa.
(...)
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do
evento.

3.2. Da responsabilidade por vício do produto e do serviço (arts. 18 a 25 do CDC)


Se a palavra para acidente de consumo é defeito, aqui a palavra necessária é vício. A doutrina
argumenta que defeito seria um vício maior, e a Seção III do Capítulo IV do Título I do CDC, que trata da
responsabilidade por vício, considera um vício menor. A responsabilidade aqui trata de tal vício e não dos
danos causados pelo produto/defeito (seria então fato de produto/serviço).
Da mesma forma que o fato de produto/serviço, a responsabilidade é objetiva.
Os vícios do Código podem ser: ocultos ou aparentes. Não importa se o vício é anterior, posterior,
oculto etc. Também entende a doutrina que não se fala em responsabilização por outros danos materiais,
além do valor da coisa. Assim, quando se fala em vício, não se pode pedir além do prejuízo com o pro-
duto/serviço.
Ex.: Foi em show artístico e não ocorreu. Temos vício. Foi em show artístico e houve briga, foram
arremessadas garrafas, e alguém se machucou. Temos fato.

3.2.1. Espécies de vício


3.2.1.1. Vício de produto (arts. 18 e 19)
O art. 18 consagra dois tipos: qualidade e quantidade.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

a) Vício de qualidade do produto: impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou


lhes diminuam o valor, assim como aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária (art. 18). No § 6 o, há alguns exemplos do
que seria vício de qualidade.
No caso de vício de qualidade de produto, quais seriam as soluções?
O fornecedor terá prazo de 30 dias para sanar o vício. Este prazo é para sanar, quando for possível
sanar. Ex.: uma troca de peça etc. Não refazer todo o bem.
Caso não seja sanado, poderá o consumidor exigir, à sua escolha (art. 18, § 1 o):
• substituição do produto por outro da mesma espécie; ou
• restituição da quantia paga (atualizada), podendo também pedir perdas e danos; ou
• abatimento proporcional do preço.
A doutrina recomenda que o consumidor exija, por escrito, que o defeito seja sanado (para fins de
comprovação de prazo). O consumidor somente poderá pleitear as demais opções depois de feita a exi-
gência ao fornecedor e ela não ter sido cumprida.
Importa também dizer que o fornecedor somente tem uma possibilidade de correção do vício, que
são os 30 dias dados pela lei. Tal prazo é decadencial. Se neste interregno o produto “foi e voltou” várias
vezes, não há a suspensão do prazo, ele está correndo desde a primeira vez.
Consumidor reclamou " Fornecedor tem 30 dias " Não ficou bom dentro deste prazo, já temos
as outras possibilidades do consumidor.
Ex.: Consumidor reclamou no dia 18-9. Tem o fornecedor até 18-10 para arrumar. Apareceu pro-
blema de novo no dia 10-10. O prazo continua até o dia 18-10. Lembrando que são dias corridos.
Há caso, no entanto, em que se pode fazer uso das opções do § 1o do art. 18, elencadas anterior-
mente:
Lei no 8.078/1990
Art. 18. (...)
(...)
§ 3o O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1o deste artigo sempre
que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer
a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto es-
sencial.

Tal prazo também pode ser alterado. Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do
prazo, não podendo ser inferior a 7 (sete) nem superior a 180 (cento e oitenta) dias. Nos contratos de adesão,
a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consu-
midor.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

b) Vício de quantidade do produto: são aqueles decorrentes da disparidade com as indicações


da embalagem, da mensagem publicitária.

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto


sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido
for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de men-
sagem publicitária.

Não há prazo de 30 (trinta) dias, troca etc., como no vício de qualidade de produto.
Ex.: Paguei por 1 kg de arroz e veio menos.
Em caso de vício de quantidade, o consumidor poderá exigir (art. 19):
• Abatimento proporcional do preço;
• Complementação do peso ou medida;
• Substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo;
• Restituição imediata da quantia paga, sem prejuízo de perdas e danos.
O § 6o do art. 18 traz uma lista exemplificativa de quais seriam os vícios de produto.

3.2.2. Vício de serviço (arts. 20 e 21)


O art. 20 do CDC fala de vício de serviço, que também pode ser de qualidade e de quantidade. Não
há prazo de 30 (trinta) dias (há prazo de 30 dias no vício de qualidade de produto).
a) Vício de serviço de qualidade: Tornam o serviço impróprio ao consumo ou lhe diminuem o valor.
Quais seriam as soluções? (art. 20)
• A reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
• A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;
• O abatimento proporcional do preço.
Observe que não há prazo para que o fornecedor corrija o vício, como ocorre no vício de qualidade
de produto, podendo o consumidor já exigir algumas das alternativas que a lei garante.
b) Vício de serviço de quantidade: Está na segunda parte do art. 20: “aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária”.
Quais seriam as soluções? As mesmas dos vícios de qualidade (art. 20):
• a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
• a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

• o abatimento proporcional do preço.


Ex.: Mecânico que conserta o carro, mas não fica bom.
Regra: fornecedores são solidários por vício de produto, por vício de serviço e por fato de serviço.
Exceção: Não teremos solidariedade no fato de produto (arts. 12, 13 e 17).
A responsabilidade será do fabricante ou de quem o substitua nesse papel. O comerciante terá
responsabilidade subsidiária.

Art. 18. (...)


(...)
§ 5o No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumi-
dor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

Produto in natura. Não houve industrialização. Então o responsável será o fornecedor imediato (ex-
ceto quando identificado claramente o produtor).

Art. 19. (...)


(...)
§ 2o O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o
instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

Responde somente o fornecedor imediato (balança fora de padrões técnicos, p. ex.).

4. Decadência e Prescrição

4.1. Prazos para reclamar vícios de produto (quantidade ou qualidade) ou


serviço (quantidade ou qualidade)
Os prazos são decadenciais (art. 26).
*Para todos verem: esquema.

30 dias 90 dias
Fornecimento
Produtos
de produtos
duráveis
não duráveis

A partir de quando começam a contar os prazos?

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Vício aparente: tradição – entrega do bem ao consumidor (tanto de bem durável quanto não durável).
Vício oculto: A partir do momento em que ficar evidenciado o problema. Naquele dia (barulho no
motor do carro, p. ex.) começaria a contar o prazo de 90 (noventa) dias para reclamar contra o fornecedor.
Importante dizer que o Código de Defesa do Consumidor não traz quais seriam os prazos de garantia
para bens duráveis ou não duráveis. Ele traz prazos para reclamação (30 dias ou 90 dias). Garantia legal é
um dever de adequação, que sempre existe. É um dever inerente. Independentemente de haver uma ga-
rantia contratual ou não, sempre teremos uma garantia legal. É o que fala o art. 24.

Lei no 8.078/1990
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo ex-
presso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.

Importa ressaltar que também temos a garantia contratual, que é uma liberalidade, dada pelo fornecedor:

Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo
escrito.
Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer,
de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e
o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe
entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompa-
nhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com
ilustrações.

Os prazos de decadência podem ser obstados.


Obstam a decadência:

I – A reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de


produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de
forma inequívoca.

Ex.: Em 6-11, o consumidor recebeu o produto, uma televisão, apresentando defeito e nesta mesma
data já formaliza uma reclamação. Vício aparente – prazo de 90 (noventa) dias. Terá o fornecedor até 6-12
para sanar o vício. Se for sanado, ótimo! Digamos que há resposta negativa do fornecedor (alegação de
mau uso pelo consumidor) no dia 16-11. Da resposta negativa começa a contar o prazo para que o consu-
midor possa ajuizar a ação. Qual é o prazo? 90 dias. E se o fornecedor nunca respondeu? Então o
prazo continua parado. E o consumidor poderá ajuizar a ação.

II – A instauração do inquérito civil.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Obs.: Critério de vida útil.


Importa dizer que o STJ entende que o fornecedor não ficará para sempre responsável. Deve ser
levado em conta o critério de “vida útil” do bem, mesmo que ultrapassado o prazo de garantia contratual.
Assim, por exemplo, caso o prazo de garantia contratual de um fogão seja de 1 (um) ano, e passados 14
meses, o fogão estraga, apresentando vício, teremos, então, que no momento da evidência do vício começa
a contar o prazo de 90 dias para reclamação. Isso porque um fogão tem vida útil maior que somente 14
meses. Não se poderia fazer tal pedido depois de dez anos, por exemplo, de uso do fogão.

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I – trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II – noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1o Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou
do término da execução dos serviços.
§ 2o Obstam a decadência:
I – a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de
produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de
forma inequívoca;
II – (VETADO)
III – a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§ 3º Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito.

Atenção! Desconsideração da personalidade jurídica.


Não necessita dos requisitos do art. 50 do CC. Com base no § 5 o do art. 18, é possível desconsiderar
por muito pouco. Esta é a teoria menor. Um exemplo seria o fato de o fornecedor estar insolvente. Então,
já teríamos a possiblidade de desconsideração, prevista no Código de Processo Civil. Para a teoria menor,
do § 5o do art. 28 do CDC, basta a constatação de insolvência do fornecedor.
Hipóteses:
• Abuso de direito;
• Excesso de poder (seria um desvio de finalidade);
• Infração da lei ou prática de ato ilícito;
• Violação dos estatutos ou do contrato social;
• Má administração (que leva à falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade);
• Quando for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

5. Práticas Comerciais

5.1. Oferta (arts. 30 a 35 do CDC)


Como elementos formadores de um contrato temos: oferta e aceitação. A oferta está na chamada
fase pré-contratual, já que não há contrato enquanto não houver aceitação. No Código Civil, a oferta é
chamada de proposta (art. 427 do CC).
No Código de Defesa do Consumidor, a oferta não é personalizada e específica, como ocorre no
Código Civil. Pelo contrário, ela também é feita por meios de comunicação de massa, como publicidade,
exposição de mercadorias em sites de internet, vitrines etc.
O art. 30 do CDC conceitua a oferta como: “Toda informação ou publicidade, suficientemente pre-
cisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos
ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a
ser celebrado”.
A oferta deve assegurar informações corretas, claras, em língua portuguesa, sobre as característi-
cas, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazo de validade do produto, bem como os riscos
que apresentem à segurança e saúde dos consumidores (art. 31). Assim, a oferta é pautada na transpa-
rência e a aceitação do consumidor é fundada na confiança.

5.1.1. Princípio da vinculação: oferta integra o contrato


Um ponto muito importante é que a oferta integra o contrato. O art. 35 do CDC também fala do caso
de o fornecedor não cumprir a oferta:

Lei no 8.078/1990
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresen-
tação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou
publicidade;
II – aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III – rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada,
monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

A ação cabível seria a do art. 84 do CDC, além das ações de obrigação de fazer ou dar do Código
de Processo Civil.
Ainda sobre a oferta:

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e pe-


ças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto.
Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por
período razoável de tempo, na forma da lei.

Exemplo de responsabilidade pós-contratual:

Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o
nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos uti-
lizados na transação comercial.
Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a cha-
mada for onerosa ao consumidor que a origina.

Como exemplo temos a situação do consumidor ligar para ter conhecimento do preço de algum
produto/serviço e ter que pagar pela ligação. Não daria para o consumidor ligar, estar pagando e ficar ou-
vindo publicidade.

Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de


seus prepostos ou representantes autônomos.

Mais um caso de solidariedade.


Está na sequência da oferta. Assim, se o preposto oferece algo por determinado valor, determinado
produto/serviço, o fornecedor deverá responder de forma solidária. Ex.: seguradora responde por oferta do
segurado. Franqueado (Burger King) e franqueador com relação à oferta.
É utilizada aqui a teoria da aparência (STJ).

5.2. Publicidade (arts. 36 a 38 do CDC)


5.2.1. Proteção contratual do consumidor: fase pré-contratual
Um ponto extremamente importante do Código de Defesa do Consumidor e que serve de exemplo
de fase “pré-contratual” é, exatamente, a publicidade. O principal objetivo da publicidade é informar o con-
sumidor sobre produtos e serviços disponíveis no mercado de consumo.
A proteção do consumidor, com relação à publicidade, está nos arts. 36 a 38 do CDC. O Código não
proíbe, obviamente, a publicidade, mas protege o consumidor de publicidades enganosas e/ou abusivas.
Algumas doutrinas diferenciam a publicidade promocional da publicidade institucional. Ambas esta-
riam tuteladas pelo Código de Defesa do Consumidor.
Promocional: promoção de produtos e serviços no mercado de consumo.
Institucional: promoção de uma marca ou certa empresa.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Obs.: Publicidade e propaganda não são sinônimas. Publicidade tem o objeto comercial de anunciar
bens no mercado de consumo. Propaganda tem fio ideológico, com objetivo de propagar teorias, ideias,
políticas etc.

5.2.2. Princípios que norteiam a publicidade


5.2.2.1. Princípio da Identificação
O Art. 36 do CDC trata sobre o chamado princípio da identificação, no qual toda e qualquer possibi-
lidade precisa ser identificada, já que o consumidor precisa saber que a informação que está lhe sendo
dirigida é um anúncio publicitário:

Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediata-
mente, a identifique como tal.

Estariam proibidas, assim, a publicidade clandestina, subliminar.


Ex.: Publicidades disfarçadas de reportagem, merchandising em novelas, programas etc., sem se
afirmar e demonstrar que é prática de merchandising. O consumidor precisa saber que está recebendo uma
mensagem publicitária.

5.2.2.2. Princípio da vinculação contratual da publicidade

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer
forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresen-
tados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que
vier a ser celebrado.

Importante!
A publicidade no Código de Defesa do Consumidor equivale ao regime da oferta no Código Civil.
Assim, a vinculação de preços em catálogos, por exemplo, é considerada oferta e vincula o fornecedor (a
não ser em casos absurdos, então não vincularia o fornecedor).

5.2.2.3. Princípio da inversão do ônus da prova


Temos aqui mais um caso em que a Lei manda que ocorra a inversão do ônus da prova.

Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publi-


citária cabe a quem as patrocina.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Quem patrocina a publicidade tem a obrigação de comprovar a sua veracidade, conforme manda-
mento legal.

5.2.2.4. Princípio da transparência na fundamentação da publicidade


O fornecedor é um devedor de informação e o consumidor é o seu credor. Assim, todo o produto e
serviço que for ofertado precisa, se questionado pelo consumidor, ter a informação completa sobre quali-
dade, validades, etc.
Art. 36. (...)
Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em
seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e cien-
tíficos que dão sustentação à mensagem.

Significa que o fornecedor precisa ter consigo informações adequadas sobre os produtos e serviços
que está oferecendo.

5.2.2.5. Princípio da veracidade da publicidade


O Código de Defesa do Consumidor proíbe a prática da publicidade enganosa.

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.


§ 1o É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publici-
tário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omis-
são, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre
produtos e serviços.

O elemento fundamental aqui, para a caracterização da publicidade enganosa, é o erro. O critério


é a averiguação se houve ou não a indução do consumidor ao erro. Lembrando que erro é a falsa percepção
da realidade.
Tipos de publicidade enganosa
Há dois tipos: comissiva e omissiva.
a) Publicidade enganosa por comissão: fornecedor afirma algo que não é a realidade, algo que
não existe, capaz de induzir o consumidor ao erro.
Ex.: Planos de saúde que anunciavam UTIs aéreas etc., mas que, na prática, não era verdade.
b) Publicidade enganosa por omissão: Fornecedor deixa de informar algo relevante, induzindo o
consumidor ao erro. A ausência de tal informação seria decisiva na formação do convencimento do consu-
midor; ele soubesse da informação que foi omitida, não teria contratado.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Outro ponto importante é que, segundo a doutrina, o consumidor, na verificação de publicidade en-
ganosa, precisa ser avaliado em particular. Assim, alguns consumidores são mais suscetíveis à publicidade
enganosa do que outros e, portanto, necessitam de maior proteção.
Obs.: Não está proibida a publicidade comparativa, segundo entendimento do STJ. Pode mencionar
o produto do concorrente, mas não o prejudicar.

5.2.3. Princípio da não abusividade da publicidade


No art. 37, § 2o, encontra-se a definição de publicidade abusiva:

Art. 37. (...)


§ 2o É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que
incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julga-
mento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de
induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança.

Caso famoso! Apresentadora famosa em publicidade estimulava crianças a destruírem os tênis


antigos, a fim de que os pais comprassem tênis novos.
A publicidade foi proibida, por se enquadrar como publicidade abusiva.
Obs.: Sobre publicidade de produtos nocivos à saúde, tais como tabaco e bebidas alcóolicas, há
proibição na própria Constituição Federal:

Constituição Federal
Art. 220. (...)
(...)
§ 3o Compete à lei federal:
(...)
II – estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o dis-
posto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam
ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4o A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e
terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e
conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.

Há leis específicas que tratam de regramentos restritivos com relação à publicidade de tais produtos.

5.3. Práticas abusivas (arts. 39 a 41 do CDC)


No art. 39 do CDC está elencado um rol de condutas consideradas práticas abusivas, que seriam
ações, condutas do fornecedor que não estariam de acordo com os padrões e as regras do jogo do Código

29
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

de Defesa do Consumidor. Podem, frequentemente, caracterizar abuso de direito (art. 187 do CC).
Muito importante a diferenciação de cláusulas abusivas (que estão nos contratos).
As práticas abusivas são vedadas ao fornecedor de produtos e serviços.
Tais práticas podem ser pré-contratuais, contratuais ou pós-contratuais. A maioria das práticas abu-
sivas está na fase pré-contratual, e é exemplificativa:
a) Venda casada: condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro
produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos. Normalmente, tais produtos/serviços
são vendidos separados. Ex.: Se para comprar uma escova de dentes, tem-se que comprar a pasta, então
temos venda casada.
Não é porque alguns produtos são vendidos em conjunto que há venda casada.
Ex.: Nos serviços bancários, são ofertados seguro, título de capitalização etc. como condição para
a contratação do serviço procurado pelo consumidor.

Súm. no 473 do STJ: O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro
habitacional obrigatório com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela
indicada.

b) Recusa de atendimento à demanda do consumidor: recusar atendimento às demandas dos


consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os
usos e costumes (art. 39, II).
Ex.: o taxista que recusa o transporte para determinado lugar.
c) Fornecimento de produto ou serviço não solicitado: enviar ou entregar ao consumidor, sem
solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço (art. 39, III). Os serviços prestados e os
produtos remetidos ou entregues ao consumidor equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento.
Súm. no 532 STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem
prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e su-
jeito à aplicação de multa administrativa.

Obs.: É possível que se tenha preços diferenciados com base na forma de pagar (dinheiro, cartão
etc.), nas parcelas (Lei no 13.455/2017)
d) Orçamento prévio: executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização ex-
pressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes.
A obrigação de fornecer orçamento prévio não é absoluta, já que há casos de urgência em que o
orçamento nem sempre é possível, tais como atendimento médico/hospitalar.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Lei no 8.078/1990
Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio
discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem emprega-
dos, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços.
§ 1o Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo prazo de dez dias,
contado de seu recebimento pelo consumidor.

Caso não seja nada estipulado em contrário, a validade do orçamento é de 10 (dez) dias.

§ 2o Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contraentes e somente


pode ser alterado mediante livre negociação das partes.
§ 3o O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da con-
tratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio.
Art. 41. No caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos ao regime de controle
ou de tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar os limites oficiais sob
pena de não o fazendo, responderem pela restituição da quantia recebida em excesso,
monetariamente atualizada, podendo o consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento
do negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

Não há mais controle público, não há mais tabelamento de preços. Seria prática abusiva somente
aumentar (muito) sem justa causa, sem fundamento.
e) repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício
de seus direitos: vedação de uma “lista negra” de consumidores que reclamam e vão atrás de
seus direitos.
Há outros artigos que também trazem práticas abusivas (publicidade enganosa, cobrança vexatória
etc.).

5.3.1. Cobrança de dívidas (arts. 42 e 42-A do CDC)


Segundo o art. 42 do CDC, na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto
ao ridículo, nem submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
O art. 42 proíbe a cobrança abusiva, a cobrança vexatória, formas estas de abuso de direito do art.
187 do CC. Ex.: ligações repetidas, proibir o aluno de fazer provas etc. Inclusive é crime (art. 71 do CDC).
Ex.: deixar cheque na vitrine, deixar recado com os amigos etc.
O parágrafo único do mesmo artigo traz uma punição para o fornecedor que cobrar indevidamente
o consumidor. É a repetição de indébito: “O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros
legais, salvo hipótese de engano justificável”.
Regra: Restitui em dobro se o consumidor teve que pagar (precisa pagar para que possa receber
em dobro).

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Exceção: Se fornecedor explicar por que ele se enganou, não deveria devolver em dobro.
O consumidor terá direito à devolução em dobro daquilo que realmente tiver pago em excesso ou
indevidamente e não é necessário provar dolo ou culpa do fornecedor.
Importante!
Cobrança vexatória gera dano moral presumido pelo STJ.

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo,
nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção mo-
netária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
Art. 42-A. Em todos os documentos de cobrança de débitos apresentados ao consumidor,
deverão constar o nome, o endereço e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas – CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ do fornecedor do
produto ou serviço correspondente.

5.3.2. Dos bancos de dados e cadastros de consumidores (arts. 43 e 44 do CDC)


O Código de Defesa do Consumidor não proíbe o banco de dados. Considera os bancos de dados
como entidades de caráter público. No entanto, quando utilizados de forma abusiva, poderão causar danos
aos consumidores.
Determina o Código de Defesa do Consumidor que os cadastros devem ser claros e verdadeiros.
Sempre que o consumidor encontrar inexatidão, poderá pedir correção. Além disso, a informação deve ser
acessível e com comunicação prévia ao cadastro em órgãos de inadimplência.
Resumindo:
• Informações verdadeiras;
• Consumidor precisa ser informado;
• Consumidor deve ter acesso à informação;
• Direito à retificação no prazo de 5 (cinco) dias úteis;
• Direito a ser comunicado previamente (em geral, é uma carta enviada pelo banco de dados);
• Direito a dano moral in re ipsa em caso de ausência de notificação;
• Dano moral presumido no caso de cadastramento indevido in re ipsa.

Importante!

Súm. no 323 do STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de
proteção ao crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição
da execução.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Por cinco anos, segundo o STJ, entende-se que é do dia seguinte ao vencimento.

Súm. no 359 do STJ: Cabe ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a


notificação do devedor antes de proceder à inscrição.
Súm. no 385 do STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito
ao cancelamento.

Pessoa já negativada devidamente e recebe a negativação indevida. Não gera dano moral, mas
pode pedir o cancelamento.

Súm. no 404 do STJ: É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação


ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.
Súm. no 548 do STJ: Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do
devedor no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e
efetivo pagamento do débito.
Súm. no 550 do STJ: A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliação
de risco que não constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor, que
terá o direito de solicitar esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as
fontes dos dados considerados no respectivo cálculo.

6. Proteção Contratual

O contrato de adesão é conceituado no art. 54 do CDC como sendo aquele cujas cláusulas tenham
sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos
ou serviços. O consumidor não é consultado, não podendo modificar de forma substancial o seu conteúdo.
Infelizmente, o contrato de adesão pode gerar abusos por parte do fornecedor.
Como proteger o consumidor? Este capítulo trata da proteção contratual do consumidor.
O art. 46 informa que os contratos não obrigarão os consumidores se não for dada ao consumidor
a oportunidade de tomar conhecimento prévio do conteúdo e não houver clareza na redação. É necessário,
assim, conhecimento prévio e clareza.

Lei no 8.078/1990
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autori-
dade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou servi-
ços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
§ 1o A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.
§ 2o Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, ca-
bendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2o do artigo anterior.
§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a
facilitar sua compreensão pelo consumidor.

33
1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

§ 4o As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas


com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

Com relação à interpretação das cláusulas contratuais, segundo o art. 47, elas deverão ser interpre-
tadas de forma mais favorável ao consumidor (in dubio pro aderente), não importando quem redigiu o con-
trato.
Exemplos de contratos de consumo: compra e venda, conta corrente, prestação de serviços profis-
sionais, consórcio, alienação fiduciária, transporte, seguro, construção, incorporação imobiliária, seguro sa-
úde (planos de saúde).

6.1. Direito de arrependimento


O direito de arrependimento no Direito do Consumidor é consagrado no Art. 49 do CDC:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assi-
natura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especial-
mente por telefone ou em domicílio.
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste
artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão,
serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

Requisitos:
• Contratação fora do estabelecimento comercial;
• Especialmente: telefone, domicílio, eletrônico, telemarketing, qualquer meio eletrônico;
• Prazo de 7 (sete) dias a contar da assinatura ou do recebimento do produto/serviço.
A manifestação da desistência pode ser feita por qualquer meio, mas recomenda-se que o consu-
midor tenha a comprovação. Uma vez exercido o direito de arrependimento, o consumidor deverá ter de
volta os valores pagos, corrigidos, bem como eventuais despesas.
Quando comprar na loja, não existe o direito de arrependimento. Podemos ter vício, mas não arre-
pendimento.

6.2. Garantia contratual


Outro ponto muito importante dentro da proteção ao contrato é a garantia contratual:

Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo
escrito.
Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer,
de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe
entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompa-
nhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com
ilustrações.

Primeiramente, importa destacar a diferença entre garantia legal e garantia convencional/contratual.


No art. 24 do CDC, fala-se da garantia legal de adequação: “A garantia legal de adequação do produto ou
do serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor”.

6.2.1. Prazo legal de garantia


Qualidade que o produto ou serviço deve ter, em termos de segurança, durabilidade e desempenho.
Tal prazo é relacionado a vícios de produtos/serviços (aparentes ou ocultos).
Os prazos para reclamar vícios de produto/serviço por serem inadequados são prazos decadenciais
(30 dias para produtos/serviços não duráveis e 90 dias para produtos/serviços duráveis – art. 26). Assim,
os prazos do art. 26 não são de garantia, e sim de decadência.
O art. 26 do CDC traz vícios ocultos e aparentes, diferenciando-os na contagem do dia inicial do
prazo de garantia.
Vício aparente: prazo decadencial a partir da efetiva entrega do bem.
Vício oculto: prazo decadencial somente a partir do momento em que ficar evidenciado o defeito.

6.2.2. Proteção contratual


O consumidor é um credor de informação. Assim, se o devedor, que é o fornecedor, celebrar contrato
com o consumidor, mas sem esclarecer plenamente as cláusulas do contrato, consoante o art. 46, temos
que o consumidor não estará obrigado a este contrato.

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumido-
res, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo,
ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de
seu sentido e alcance.

6.3. Cláusulas abusivas (arts. 51 a 53 do CDC)


O art. 51 do CDC traz uma relação exemplificativa de cláusulas consideradas abusivas e relaciona-
das ao fornecimento de produtos e serviços. E já no inciso I, temos a chamada cláusula de não indenizar.
Obs.: Não confundir cláusula limitativa de indenizar (fornecedor tinha a obrigação e não a cumpriu)
com cláusulas limitativas de direito, que seria aquela em que o fornecedor não assume a obrigação, então

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

não pode ser compelido a cumprir. A cláusula limitativa de direito é permitida, lembrando que há contrato s
em que o Estado estabelece cláusulas que tratam de conteúdo (planos de saúde, seguros etc.) e, assim, o
fornecedor não pode se exonerar do cumprimento.
O Código de Defesa do Consumidor não proíbe a existência de cláusulas limitadoras de direito, mas
pede, no entanto, que sejam colocadas em destaque.
No inciso IV, destaca-se a parte que fala da abusividade sobre “obrigações que coloquem o consu-
midor em desvantagem exagerada”. Será abusiva, assim, toda e qualquer cláusula que coloque o consu-
midor em desvantagem exagerada, qualquer que seja o motivo. Como exemplo, temos um julgado do STJ
que tratava de pacote turístico e que haveria a perda completa do valor, em caso de desistência em período
anterior a 21 dias da data da viagem (REsp n o 1321655/MG – rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino –
Terceira Turma – j. 22-10-2013).
O primeiro parágrafo trata do que seria vantagem exagerada: “Presume-se exagerada, entre outros
casos, a vantagem que: I – ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence”.
Obs.: A cláusula de eleição de foro não é mais automaticamente nula. É necessária a demonstração
de que há prejuízo ao consumidor, de que a cláusula é abusiva.
Não confundir, no entanto, cláusulas abusivas e práticas abusivas (art. 39, p. ex.). A prática pode
ocorrer antes mesmo da formação do contrato, enquanto as cláusulas abusivas estão inseridas no próprio
contrato.
São exemplos de práticas consideradas abusivas:
• Exigência de caução para atendimento médico;
• Cláusula que limitava o tempo em que o consumidor ficaria hospitalizado.
Não é considerada abusiva: cláusula de fidelização em contrato de telefonia (STJ – AREsp no
253609/RS 2012/0235695-5 – rel. Min. Mauro Campbell – 14-11-2012).
Demais artigos:

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou con-
cessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, in-
formá-lo prévia e adequadamente sobre:
I – preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II – montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;
III – acréscimos legalmente previstos;
IV – número e periodicidade das prestações;
V – soma total a pagar, com e sem financiamento.
§ 1o As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não
poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Importante!
A multa por mora (multa moratória) quando houver aplicação do Código de Defesa do
Consumidor, não pode ser superior a 2%.

§ 2o É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente,


mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

Na antecipação do pagamento, é necessário que haja o desconto correspondente.

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em
prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de
pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em bene-
fício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a
retomada do produto alienado.

Cláusulas de perdimento são proibidas.

§ 2o Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a


restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vanta-
gem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente
causar ao grupo.
§ 3o Os contratos de que trata o caput deste artigo serão expressos em moeda corrente
nacional.

Especialmente em relação ao art. 53, temos a Súm. n o 543 do STJ:

Súm. no 543 do STJ: Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e


venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata
restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente, em caso de
culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o
comprador quem deu causa ao desfazimento.

7. Defesa do Consumidor em Juízo

A parte processual do Código de Defesa do Consumidor é dividida em: ações individuais e ações
coletivas.

7.1. Ações individuais


Importante lembrar que não há uma ação específica para a defesa do consumidor individual. Todas

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

as ações do Código de Defesa do Consumidor são admissíveis para a defesa do consumidor em geral. O
que muda é o que os fundamentos das ações serão baseados no Código de Defesa do Consumidor.
O art. 101, I, do CDC permite o ajuizamento da ação de responsabilidade civil do fornecedor no
domicílio do consumidor autor.
O art. 84 aborda tutela específica: busca do resultado prático. A conversão em perdas e danos se
daria somente se o consumidor solicitasse ou não, sendo mais frequente a execução da tutela específica.
O art. 84 pode ser analisado em conjunto com o art. 497 e ss. do CPC.
Vedação de denunciação da lide.

7.2. Ações coletivas


As ações coletivas podem ter por objeto qualquer espécie de matéria: ambiente, consumidor, saúde,
criança e adolescente etc., desde que se enquadre nas categorias do art. 81: difusos, coletivos ou individu-
ais homogêneos.
Os direitos coletivos são divididos em: coletivos, difusos e individuais homogêneos.
Interesses e direitos difusos: sujeitos indeterminados. Não é possível estabelecer o número de
pessoas abrangidas por esse direito. O número de pessoas é indeterminável. Esses sujeitos indeterminados
são ligados por uma mesma situação de fato.
Ex.: ação coletiva contra publicidade enganosa ou abusiva.
Interesses e direitos coletivos: sujeitos determináveis (grupo, categoria ou classe). Há vínculo
jurídico entre eles, uma relação base.
Ex.: consumidores contestando aumento abusivo da mensalidade escolar, titulares de plano de sa-
úde etc.
Interesses ou direitos individuais homogêneos: sujeitos determinados, objetos divisíveis, mas
que têm em comum a mesma origem de fato ou jurídica.
Ex.: vítimas de um mesmo acidente aéreo.
Consequências do tratamento comum dos direitos individuais homogêneos: condenação genérica
em caso de procedência do pedido, sentença fará coisa julgada erga omnes apenas se procedente o pedido
para beneficiar a vítima e seus sucessores.

7.3. Legitimação para as ações coletivas


São legitimados para propor ações coletivas: Ministério Público, União, estados, municípios, Dis-
trito Federal, entidades e órgãos da Administração Pública e associações legalmente constituídas (art. 82).

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

Órgão de administração pública: PROCON, por exemplo.


Defensoria Pública também é autorizada, em virtude da Lei da Ação Civil Pública (Lei n o 7.347/1985).

Lei no 8.078/1990
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transin-
dividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas
por circunstâncias de fato;
II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os tran-
sindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pes-
soas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de
origem comum.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I – o Ministério Público,
II – a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III – as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos pro-
tegidos por este código;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dis-
pensada a autorização assemblear.
§ 1o O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas
nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimen-
são ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
(...)
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis
todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.

8. Superendividamento

Política pública de incentivo à concessão de crédito de forma responsável, de educação financeira


e de promoção da conciliação, com a preservação do mínimo necessário para a manutenção da vida do
consumidor.
A lei conceitua o que é superendividamento:

Lei no 8.078/1990
Art. 54-A. (...)
§ 1o Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor
pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e
vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial.

Promove a repactuação e revisão da dívida (não o perdão).


Lei protege o consumidor pessoa natural, com a preservação de uma renda mínima digna,

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1ª Fase | 38° Exame da OAB
Direito do Consumidor

a ser verificada no caso concreto (mínimo existencial).


Dívidas abrangidas: as dívidas referidas no § 1 o do art. 54-A englobam quaisquer compromissos
financeiros assumidos decorrentes de relação de consumo, inclusive operações de crédito, compras a prazo
e serviços de prestação continuada.
Obs.: Dívidas não abrangidas: aquelas contraídas mediante fraude ou má-fé ou decorram da aqui-
sição ou contratação de produtos e serviços de luxo de alto valor.
Pelas modificações advindas da lei, fica vedado na oferta de crédito ao consumidor (seja por publi-
cidade ou por outro meio) (art. 54-C):
• Indicar que a operação de crédito será concluída sem consulta a serviços de proteção ao crédito
e sem avaliar a situação financeira do consumidor;
• Assediar ou pressionar o consumidor para contratar fornecimento de produto ou serviço. Prote-
ção especial se o consumidor for alguém com vulnerabilidade agravada;
• Condicionar a oferta de crédito com a desistência de ações do consumidor contra o fornecedor.

Sanções: descumprimento dos arts. 52, 54-C e 54-D acarreta sanções ao fornecedor.
Obs.: Redução de juros, de encargos, dilação do prazo de pagamento previsto no contrato original
(sem prejuízo de outras sanções e de indenização por perdas e danos ao consumidor).
A lei também define contratos coligados ou conexos (art. 54-F): o contrato principal de fornecimento
de produto ou serviço e os contratos acessórios de crédito que lhe garantam o financiamento quando o
fornecedor de crédito: recorrer aos serviços do fornecedor de produto ou serviço para a preparação ou a
conclusão do contrato de crédito ou oferecer o crédito no local da atividade empresarial do fornecedor de
produto ou serviço financiado ou onde o contrato principal for celebrado.
Quando houver exercício do direito de arrependimento, no contrato principal ou no contrato de cré-
dito, teremos a resolução automática do contrato conexo.
A invalidade do contrato principal implica automaticamente a invalidade do contrato de crédito que
é conexo.

Procedimental: art. 104-A e ss.


A conciliação poderá ser feita pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consu-
midor, bem como realizado por meio de convênios com órgãos de conciliação, associações, universidades
etc.
Requerimento do consumidor para conciliação -> Conciliação feita pelos órgãos que não o judiciário
-> art. 104-C.

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Direito do Consumidor

Requerimento do consumidor em unidade judicial -> art. 104-A.


Caso não haja acordo, teremos a possibilidade de ajuizamento de ação de revisão e repactuação
de dívidas (art. 104-B).

Petição inicial:
Individualização das obrigações a serem renegociadas.
Descrição de mínimo existencial.
Proposta de plano de pagamento.

Art. 104-B. Se não houver êxito na conciliação em relação a quaisquer credores, o juiz, a
pedido do consumidor, instaurará processo por superendividamento para revisão e inte-
gração dos contratos e repactuação das dívidas remanescentes mediante plano judicial
compulsório e procederá à citação de todos os credores cujos créditos não tenham inte-
grado o acordo porventura celebrado.

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