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Revisão Turbo | 39º Exame de Ordem

Direito do Consumidor

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Revisão Turbo | 39º Exame de Ordem
Direito do Consumidor

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Direito do Consumidor

Direito do Consumidor
Revisão Turbo | 39° Exame da OAB

Sumário

Aula 09/11/2023 – Turno da manhã............................................................................................. 4

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Direito do Consumidor

Aula 09/11/2023 – Turno da manhã

1. Relação de consumo
Situação 1:
*Para todos verem: esquema.

Patrícia compra Contrato de compra


e venda - Código
bicicleta de Maitê Civil

Situação 2:
*Para todos verem: esquema.

Patrícia compra
bicicleta de uma loja Relação de consumo
como destinatária - CDC
final

Qual a diferença?
Situação 1: trata-se de uma relação civil, regulada/normatizada pelo Código Civil. Ainda
que Patrícia tenha comprado como destinatária final, Maitê não é considerada fornecedora, visto
que não faz isso como sendo sua atividade.
Situação 2: ao comprar da loja como destinatária final, Patrícia é consumidora e a loja é

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fornecedora, configurando-se a relação de consumo.


Neste caso (situação 2) qual legislação incidirá? Código de Defesa do Consumidor.
Atenção: é importante entender em qual situação é aplicável o Código Civil e em qual é
aplicável o Código de Defesa do Consumidor, visto que os regramentos vão ser aplicados de
forma diversa.
O Código de Defesa do Consumidor não conceitua o que é uma relação de consumo,
apenas indica quem é o consumidor e, em seguida, quem é o fornecedor. Quando preenchidos
os requisitos dos artigos 2º e 3º do CDC, haverá a aplicação do código consumerista.

2. Consumidor
2.1. Consumidor padrão
O CDC é uma lei especial em razão dos seus destinatários, já que somente é aplicável
aos consumidores e fornecedores. Assim, para que se possa ter a aplicação do CDC é
necessária a existência do binômio fornecedor/consumidor.
O consumidor padrão, assim, é aquele que adquire não profissionalmente produtos ou
serviços como destinatário final. Está consagrado no art. 2º, “caput”, do CDC.

2.2. Consumidor equiparado


O CDC também se aplica a terceiros que não seriam consumidores padrão, mas que
foram equiparados a consumidores.
O ponto de partida do parágrafo é a observação de que muitas pessoas, que mesmo sem
ter adquirido produtos/serviços, podem ser consideradas como consumidores. Temos três
situações de consumidor e s equiparados:
A) Art 2°, parágrafo único: “Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”.
O parágrafo demonstra o caráter coletivo da proteção ao consumidor. Tem por objetivo
dar eficácia para a tutela coletiva de direitos e interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos, previstos nos artigos 81 e seguintes do CDC.
Atenção:
Súmula 601 do STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa dos
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que
decorrentes da prestação de serviços públicos.

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B) Art. 17: “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as
vítimas do evento” (refere-se à seção II, que trata da responsabilidade pelo fato do produto e do
serviço).
Equipara a consumidor todas as vítimas de um acidente de consumo. Assim, o artigo 17
estende a proteção do CDC para qualquer pessoa eventualmente atingida por um acidente de
consumo, ainda que nada tenha adquirido do fornecedor.
C) Art. 29: “Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores
todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas” (refere-se ao
capítulo que trata de práticas comerciais e contratos).
A parte de práticas comerciais e contratos se encontra nos artigos 30-54 do CDC. Um
exemplo de consumidor por equiparação é quando terceiros são expostos à publicidade
enganosa ou abusiva por parte do fornecedor. Podemos pensar aqui, também em pessoas que
ainda não realizaram contratos,mas que foram expostos à práticas comerciais, tais como: pessoa
que teve seu nome colocadoem cadastros de restrição sem nunca ter comprado em determinada
loja, poderá ser enquadradaem consumidor por equiparação do artigo 29.

3. Fornecedor
Sua previsão está tipificada no art. 3º do CDC, qual seja:

Art. 3°. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo
as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

3.1. Características do fornecedor


Pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional, estrangeira, ente despersonalizado.
Desenvolve atividade com habitualidade, como sendo o ofício, a profissão ou uma de suas
profissões.
Temos aqui ideias de atividades profissionais, habituais e com finalidade econômica.
Importante lembrar que fornecedor se enquadra como sendo gênero. Desta forma, não
somente o fabricante, por exemplo, mas também transformadores, intervenientes e até

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comerciantes poderão ser responsabilizados. Não importa se regularizado ou não, com CNPJ ou
não.

4. Objeto da relação de consumo


4.1. Produto
O produto pode ser todo bem móvel ou imóvel, material ou imaterial. Também tempos
produtos duráveis (bens que não se extinguem após uso regular, ainda que sofram desgastes,
tais como carro, mesa, eletrodomésticos etc.) e produtos não duráveis (tais como alimentos, por
exemplo).

4.2. Serviços
Segundo o parágrafo segundo serviço é: “qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”
Assim, as atividades de serviço podem ser de natureza material, financeira ou intelectual,
prestadas por entidades públicas ou privadas, mediante remuneração.

5. Direitos básicos do consumidor


O art. 6º do CDC traz um rol exemplificativo de quais seriam os direitos básicos do
consumidor, a saber:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços,
asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos
ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento
de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais
ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a
proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

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VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova,
a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
XI - a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção
e tratamento de situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos
termos da regulamentação, por meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras
medidas;
XII - a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação
de dívidas e na concessão de crédito;
XIII - a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por
quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso.
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser
acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento.

Tais direitos vão ser usados, em especial, em favor do consumidor, a parte vulnerável da
relação de consumo.

6. Responsabilidade civil por fato


6.1. Fato de produto
Acontecimento que causa danos que decorre de um defeito de produto.

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador


respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causadosaos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos,
bem como por informações insuficientes ou inadequados sobre sua utilização e riscos.

O que seria o DEFEITO? O primeiro parágrafo do artigo 12 nos informa: “O produto é


defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera”.
Quem são os responsáveis por fato de produto? Como regra será o fabricante,
produtor, construtor e importador (artigo 12, “caput”).
Regra: eles serão responsáveis (fabricante, produtor, construtor e importador).
Exceção: não serão responsabilizados se provarem:

Art. 13, §3. O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será


responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.”

E o comerciante?
Importante: o comerciante possui responsabilidade quando se fala de fato de produto:

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Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor
ou importador;
III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis [...]
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito
de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do
evento danoso.

Prazo prescricional: 5 anos, a contar do conhecimento do dano e da autoria (artigo 27).

6.2. Fato de serviço (artigos 14 e 17, do CDC)


Consoante o “caput” do artigo 14:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

Também aqui temos como fundamento o dever de segurança e com responsabilidade


objetiva.
O que seria serviço defeituoso, que trará um fato de serviço? O primeiro parágrafo do
artigo 14 nos responde:

Art. 14, §1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.

Também já nos fala o parágrafo segundo do artigo 14 que o serviço não é considerado
defeituoso pela adoção de novas técnicas.
Importante: a responsabilidade dos profissionais liberais está prevista no art. 14, §4 do
CDC e é uma exceção à responsabilidade objetiva. Assim, para que haja a configuração do dever
de indenizar do profissional liberal é necessário que consumidor demonstre que este profissional
agiu com culpa.

7. Responsabilidade civil por vício


7.1. Responsabilidade por vício de produto
O vício pode ser de qualidade ou de quantidade.

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7.1.1. Vício de qualidade


Impróprios ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como aqueles
decorrentes da disparidade, com indicações constantes do recipiente, da embalagem,rotulagem
ou mensagem publicitária.
No caso de vício de qualidade do produto, o consumidor poderá:
• Fornecedor terá o prazo de 30 dias para sanar o vício. Este prazo é para sanar,
quandofor possível. Caso não seja possível, o consumidor poderá exigir, a sua
escolha;
• Substituição do produto por outro da mesma espécie;
• Restituição da quantia paga (atualizada), podendo também pedir perdas e danos
ou abatimento proporcional do preço.
*Para todos verem: esquema.

Substituição do
produto

30 dias para Restituição da


Não sanou
sanar o vício quantia paga

Abatimento do
preço

Art. 18, § 3°. O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar
de produto essencial.

Obs.: o prazo de 30 dias pode ser modificado: § 2° Poderão as partes convencionar a


redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete
nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser
convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. Tais prazos
poderão ser diminuídos ou aumentados.

7.1.2. Vício de quantidade


O vício de quantidade é, em especial, tratado no art. 19 do CDC:

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Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto


sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido
for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os
aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos.

*Para todos verem: esquema.

Substituição do produto

Restituição da quantia paga


Consumidor pode
exigir
Abatimento do preço

Complementação do peso
ou medida

7.2. Responsabilidade por vício de serviço


O vício de serviço está disciplinado, em especial, no art. 20 do CDC.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem
impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.

*Para todos verem: esquema.

Reexecução do
serviço

Consumidor pode Restituição da


exigir quantia paga

Abatimento do
preço

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7.3. Prazos para reclamar dos vícios de produto e serviço

*Para todos verem: esquema.

30 90
dias Fornecimento dias
Produtos
de produtos
duráveis
não duráveis

A partir de quando começam a contar os prazos?


• Vício aparente: entrega do bem ao consumidor (tanto durável quanto não durável).
• Vício oculto: a partir do momento em que fica evidenciado o problema.

Resolva a questão a seguir:

1) FGV - 2022 - OAB – Exame de Ordem Unificado XXXV - Primeira Fase


Pratice Ltda. configura-se como um clube de pontos que se realiza mediante a aquisição de título. Os
pontos são convertidos em bônus para uso nas redes de restaurantes, hotéis e diversos outros segmentos
de consumo regularmente conveniados. Nas redes sociais, a empresa destaca que os convênios são
precedidos de rigoroso controle e aferição do padrão de atendimento e de qualidade dos serviços
prestados. Tomás havia aderido à Pratice Ltda. e, nas férias, viajou com sua família para uma pousada
da rede conveniada. Ao chegar ao local, ele verificou que as acomodações cheiravam a mofo e a limpeza
era precária. Sem poder sair do local em razão do horário avançado, viu-se obrigado a pernoitar naquele
ambiente insalubre e sair somente no dia seguinte. Aborrecido com a desagradável situação vivenciada
e com o prejuízo financeiro por ter que arcar com outro serviço de hotelaria na cidade, Tomás procurou
você, como advogado(a), para ingressar com a medida judicial cabível. Diante disso, assinale a única
opção correta.

A) Pratice Ltda. funciona como mera intermediadora entre os hotéis e os adquirentes do título do clube
de pontos, não respondendo pelo evento danoso.
B) Há legitimidade passiva da Pratice Ltda. para responder pela inadequada prestação de serviço do hotel
conveniado que gerou dano ao consumidor, por integrar a cadeia de consumo referente ao serviço que
introduziu no mercado.
C) Trata-se de culpa exclusiva de terceiro, não podendo a intermediária Pratice Ltda. responder pelos
danos suportados pelo portador título do clube de pontos.
D) Cuida-se de hipótese de responsabilidade subjetiva e subsidiária da Pratice Ltda. em relação ao hotel
conveniado.

8. Das práticas comerciais


8.1. Publicidade
O Código de Defesa do Consumidor proíbe a prática da publicidade enganosa e abusiva.

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Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.


§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por
omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre
produtos e serviços.

O elemento fundamental aqui, para a caracterização da publicidade enganosa, é o erro.


O critério é a averiguação se houve ou não a indução do consumidor ao erro. Lembrando que
erro é a falsa percepção da realidade. Além disso, também é vedada a publicidade abusiva, que
está no mesmo artigo (art. 37 §2°):

Art. 37, §2°. É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza,
a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de
julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz
de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança.

Resolva a questão a seguir:

2) FGV – 2021 – OAB – Exame de Ordem Unificado XXXIII – Primeira fase


A era digital vem revolucionando o Direito, que busca se adequar aos mais diversos canais de realização
da vida inserida ou tangenciada por elementos virtuais. Nesse cenário, consagram-se avanços normativos
a fim de atender às situações jurídicas que se apresentam, sendo ponto importante a recorrência dos
chamados youtubers, atividade não rara realizada por crianças e destinada ao público infantil. Nesse
contexto, os youtubers mirins vêm desenvolvendo atividades que necessitam de intervenção jurídica,
notadamente quando se mostram portadores de prática publicitária. A esse respeito, instrumentos
normativos que visam a salvaguardar interesses na publicidade infantil estão em vigor e outros previstos
em projetos de lei. Sobre o fato narrado, de acordo com o CDC, assinale a afirmativa correta.

A) A comunicação mercadológica realizada por youtubers mirins para o público infantil não pode ser
considerada abusiva em razão da deficiência de julgamento e experiência das crianças, porque é
realizada igualmente por crianças.
B) A publicidade que se aproveita da deficiência de julgamento e experiência da criança ou se prevaleça
da sua idade e conhecimento imaturo para lhe impingir produtos ou serviços é considerada abusiva.
C) A publicidade não pode ser considerada abusiva ou enganosa se o público para a qual foi destinado,
de forma fácil e imediata, identifica a mensagem mercadológica como tal.
D) A publicidade dirigida às crianças, que se aproveite da sua deficiência de julgamento para lhe impingir
produtos ou serviços, é considerada enganosa.

8.2. Das práticas abusivas: artigo 39-41


No artigo 39 do CDC está elencado um rol de condutas consideradas como sendo
PRÁTICAS ABUSIVAS, que seriam ações, condutas do fornecedor que não estariam de acordo

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com os padrões e as regras do jogo do CDC. Muito importante que não é a mesma coisa que
CLÁUSULAS abusivas (estas estão dentro dos contratos).
As práticas abusivas são vedadas ao fornecedor de produtos e serviços.
Tais práticas podem ser pré-contratuais, contratuais ou pós-contratuais. A maioria das
práticas abusivas estão na fase pré-contratual, e são exemplificativas, tais como:
Inciso I – Venda casada: “condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”.
Normalmente tais produtos/serviços são vendidos separados.
Inciso II – Recusa de atendimento à demanda do consumidor: “recusar atendimento
às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda,
de conformidade com os usos e costumes.”
Inciso III – Fornecimento de produto ou serviço não solicitado: “enviar ou entregar ao
consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto ou fornecer qualquer serviço.” Também o
parágrafo único: “Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor,
na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento.”
Súmula 532 do STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem
prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e
sujeito à aplicação de multa administrativa.

Inciso VI – Orçamento prévio: “Executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento


e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre
as partes.”
A obrigação de fornecer orçamento prévio não é absoluta, já que há casos de urgência
em que o orçamento nem sempre é possível, tais como atendimento médico/hospitalar.

Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio
discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem
empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos
serviços.
§ 1º Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo prazo de dez dias,
contado de seu recebimento pelo consumidor.

Caso não seja nada estipulado em contrário, a validade do orçamento é de 10 dias.

§ 2° Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contraentes e somente


pode ser alterado mediante livre negociação das partes.

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§ 3° O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da


contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio.

Inciso VII: “repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor
no exercício de seus direitos.”
Vedação de uma lista de consumidores que reclamam e vão atrás de seus direitos.
Há outros artigos que também trazem práticas abusivas (publicidade enganosa, cobrança
vexatória etc.).
Obs.: planos de saúde – súmulas importantes:

Súmula 597 do STJ: A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para
utilização dos serviços de assistência médica nas situações de emergência ou de urgência
é considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24 horas contado da data da
contratação.
Súmula 608 do STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano
de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.
Súmula 609 do STJ: A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença
preexistente, é ilícita se não houve a exigência de exames médicos prévios à contratação
ou a demonstração de má-fé do segurado.

9. Da proteção contratual
9.1. Cláusulas abusivas
O art. 51 do CDC elenca situações de cláusulas abusivas. Quando há cláusula abusiva no
contrato, elas serão nulas de pleno direito:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de
direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos
neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor
em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo
consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o
consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira
unilateral;

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XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito


seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que
igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do
contrato, após sua celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
XVII - condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos do Poder
Judiciário;
XVIII - estabeleçam prazos de carência em caso de impontualidade das prestações
mensais ou impeçam o restabelecimento integral dos direitos do consumidor e de seus
meios de pagamento a partir da purgação da mora ou do acordo com os credores.

Obs.: há limite para a cláusula penal moratória em casos de contrato de consumo e não
pode passar de 2% conforme o art. 52 § 1°:

Art. 52, § 1°. As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu


termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.

10. Direito de arrependimento


Previsto no art. 49 do CDC:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrataçãode
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio.

Requisitos: contratação fora do estabelecimento comercial, especialmente, por meio


eletrônico.
Prazo: 7 (sete) dias a contar da assinatura ou do recebimento do produto ou serviço.

Resolva a questão a seguir:

3) Questão Autoral Ceisc | Revisão Turbo 39° Exame da OAB


Maria não estava conseguindo dormir e, durante a noite, começou a olhar seus aplicativos de compras
que estão insatalados em seu telefone. Encontrou algumas roupas que lhe interessou da fornecedora
Roupas Lindas e acabou por adquirir diversos vestidos, totalizando o valor de R$820,00 (oitocentos e
vinte reais). Pela manhã, Maria verificou que esta compra iria passar muito do seu orçamento mensal, já
que a fez por impulso. Maria consulta sua amiga Clara, no mesmo dia, que é estudante de Direito e
entusiasta do Direito do Consumidor, a fim de saber quais seriam os seus direitos, já que não quer a
compra realizada naquela madrugada. De acordo com o enunciado e as regras previstas no CDC,
assinale a resposta correta:

A) Maria pode exercer direito de arrependimento, já que a compra realizada por ela foi feita fora de seu
domicílio. Além disso, o prazo para que Maria possa reclamar é de 30 dias a contar da entrega do produto.

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B) Maria não pode se arrepender, já que realizou a compra por livre e espontânea vontade, não tendo
ocorrido nenhum vício de vontade capaz de invalidar o contrato celebrado entre Maria e a empresa
Roupas Lindas.
C) Por expressa previsão no CDC é possível que Maria utilize do seu direito de arrependimento, já que a
compra foi realizada fora do estabelecimento comercial da fornecedora, de forma online. O prazo para o
exercício do direito de arrependimento é de até 7 dias do recebimento do produto por Maria.
D) Caso Maria exerça o direito de arrependimento, ela deverá pagar a multa contratada, podendo a
fornecedora Roupas Lindas reter parte do pagamento feito por Maria, para fins de pagamento da multa.

11. Superindividamento
Recentemente ocorreram diversas mudanças no CDC, com a inclusão de dispositivos que
trazem a prevenção e o tratamento do denominado “superendividamento” do consumidor pessoa
natural.
O conceito de superendividamento está no art. 54-A do CDC:

Art. 54-A. Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o


consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo,
exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial.

Os dispositivos do CDC sobre superendividamento:


• Promovem a eventual repactuação e revisão da dívida (não o perdão);
• Lei protege o consumidor pessoa natural, com a preservação de uma renda
mínima digna – chamada de mínimo existencial.

Dívidas abrangidas: as dívidas referidas no § 1º deste artigo englobam quaisquer


compromissos financeiros assumidos decorrentes de relação de consumo, inclusive operações
de crédito, compras a prazo e serviços de prestação continuada.
Obs.: dívidas não abrangidas:
• Contratos celebrados dolosamente sem o propósito de realizar pagamento, bem
como as dívidas provenientes de contratos de crédito com garantia real, de
financiamentos imobiliários e de crédito rural;
• Dívidas contraídas mediante fraude ou má-fé ou decorram da aquisição ou
contratação de produtos e serviços de luxo de alto valor.

Resolva a questão na página a seguir…

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Revisão Turbo | 39º Exame de Ordem
Direito do Consumidor

Resolva a questão a seguir:

4) Questão Autoral Ceisc | Revisão Turbo 39° Exame da OAB


Joana está vivenciando uma situação financeira difícil. É empregada de uma fábrica e recebe,
mensalmente, o valor de R$5.000,00 (cinco mil reais). Ocorre que diversos acontecimentos em sua vida,
fizeram com que ela não consiga pagar as dívidas que possui. Assim, Joana ficou doente e precisou
adqurir medicamentos mensais com alto custo. Além disso, a casa que Joana morava, que era de sua
propriedade, começou a apresentar rachaduras e infiltrações, trazendo perigo para ela e para sua família.
Desta forma, Joana teve que despender valores altos para a reforma indispensável da casa. Soma-se a
isso o fato de os pais de Joana dependerem do auxílio financeiro dela, sendo que ambos estão doentes,
precisando de cuidados extras, o que demanda gastos altos com despesas de saúde. Para que consiga
adimplir suas dívidas, Joana realizou empréstimos em bancos e utilizou seu cartão de crédito. Ocorre que
Joana não está conseguindo pagar suas dívidas e viver dignamente, já que o custo de dívidas mensais
com bancos e cartão de crédito é de R$4.800,00 (quatro mil e oitocentos reais) sobrando somente
R$200,00 (duzentos reais) para gastos como alimentação e transporte. Diante da situação de Joana, ela
procura você, como advogado, a fim de obter informações sobre possíveis soluções para a sua situação.

A) Joana se enquadra como consumidora superendividada e pode utilizar os mecanimos protetivos do


Código de Defesa do Consumidor com a finalidade de preservar o mínimo existencial.
B) Joana poderá ajuizar a ação para tratamento do superendividamento e, face as suas condições
financeiras demonstradas, solicitar o perdão das dívidas após o prazo de 5 anos da contratação.
C) Joana poderá solicitar conciliação com todos os credores que possui, sejam eles de crédito pessoal
ou real, já que todos eles entram dentro da previsão de tratamento do superendividamento.
D) Joana não poderá utilizar os regramentos do superendividamento, já que celebrou os contratos quando
tinha plena capacidade civil devendo, assim, efetuar os pagamentos devidos.

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Direito do Consumidor

Gabaritos das questões:

1–B 2–B 3–C 4–A

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Direito do Consumidor

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