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DIREITO DO CONSUMIDOR

PROF.ª PATRICIA STRAUSS


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Equipe Ceisc ♥
Revisão Turbo | 38º Exame de Ordem
Direito do Consumidor

1. Relação de consumo

Situação 1:
*Para todos verem: esquema

Patrícia compra bicicleta de Maitê Contrato de compra e venda -


Código Civil

Situação 2:

*Para todos verem: esquema

Patrícia compra bicicleta de uma Relação de consumo - CDC


loja como destinatária final

Qual a diferença?
Situação 1: Trata-se de uma relação civil, regulada/normatizada pelo Código Civil. Ainda que
Patrícia tenha comprado como uma destinatária final, Maitê não é considerada fornecedora, visto que
não faz isso como sendo sua atividade.
Situação 2: Ao comprar da loja como destinatária final, Patrícia é consumidora e a loja é
fornecedora, configurando-se a relação de consumo.
Neste caso (situação 2) qual legislação incidirá? Código de Defesa do Consumidor.

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Direito do Consumidor

*Para todos verem: esquema

É importante entender em qual situação


é aplicável o Código Civil e em qual é
aplicável o Código de Defesa do
Consumidor, visto que os regramentos
vão ser aplicados de forma diversa.

O Código de Defesa do Consumidor não conceitua o que é uma relação de consumo,


apenas indica quem é o consumidor e, em seguida, quem é o fornecedor. Quando preenchidos
os requisitos dos artigos 2º e 3 do CDC, haverá a aplicação do código consumerista.

2. Consumidor

2.1. Consumidor Padrão


O CDC é uma lei especial em razão dos seus destinatários, já que somente é aplicável
aos consumidores e fornecedores. Assim, para que se possa ter a aplicação do CDC énecessária
a existência do binômio fornecedor/consumidor.
O consumidor padrão, assim, é aquele que adquire não profissionalmente produtos ou
serviços como destinatário final. Está consagrado no art. 2, “caput” do CDC.

2.2. Consumidor Equiparado


O CDC também se aplica a terceiros que não seriam consumidores padrão, mas que
foram equiparados a consumidores.
O ponto de partida do parágrafo é a observação de que muitas pessoas, que mesmo sem
ter adquirido produtos/serviços, podem ser consideradas como consumidores. Temos três
situações de consumidor e s equiparados:
A) Art 2°, parágrafo único: “Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”.
O parágrafo demonstra o caráter coletivo da proteção ao consumidor. Tem por objetivo
dar eficácia para a tutela coletiva de direitos e interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos, previstos nos artigos 81e seguintes do CDC.
Importante lembrar que o artigo 81 e seguintes tratam sobre interesses coletivos.
Atenção: Súmula 601 STJ: “O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na
defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que

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decorrentes da prestação de serviços públicos.”


B) Art. 17: “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas
do evento” (refere-se à seção II, que trata da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço).
Equipara a consumidor todas as vítimas de um acidente de consumo. Assim, o artigo 17
estende a proteção do CDC para qualquer pessoa eventualmente atingida por um acidente de
consumo, ainda que nada tenha adquirido do fornecedor.
C) Art. 29: “Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores
todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas” (refere-se ao
capítulo que trata de práticas comerciais e contratos).
A parte de práticas comerciais e contratos se encontra nos artigos 30-54 o CDC. Um
exemplo de consumidor por equiparação é quando terceiros são expostas a ofertas/publicidade
do fornecedor. Podemos pensar aqui, também em pessoas que ainda não realizaram contratos,
mas que foram expostos à práticas comerciais, tais como: pessoa que teve seu nome colocado
em cadastros de restrição sem nunca ter comprado em determinada loja, poderá ser enquadrada
em consumidor por equiparação do artigo 29.

3. Fornecedor

Sua previsão está tipificada no art. 3º do CDC, qual seja:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,salvo
as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

3.1. Características do Fornecedor


Pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional, estrangeira, ente despersonalizado.
Desenvolve atividade com habitualidade, como sendo o ofício, a profissão ou uma de suas
profissões.
Temos aqui ideias de atividades profissionais, habituais e com finalidade econômica.
Importante lembrar que fornecedor se enquadra como sendo gênero. Desta forma, não
somente o fabricante, por exemplo, mas também transformadores, intervenientes e até

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comerciantes poderão ser responsabilizados. Não importa se regularizado ou não, com CNPJ ou
não.

4. Objeto da Relação de Consumo

4.1. Produto
O produto pode ser todo bem móvel ou imóvel, material ou imaterial. Também tempos
produtos duráveis (bens que não se extinguem após uso regular, ainda que sofram desgastes,
tais como carro, mesa, brinquedos etc.) e produtos não duráveis (tais como alimentos e
remédios.)

4.2. Serviços
Segundo o parágrafo segundo serviço é: “qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”
Assim, as atividades de serviço podem ser de natureza material, financeira ou intelectual,
prestadas por entidades públicas ou privadas, mediante remuneração.

5. Direitos Básicos do Consumidor

O Art. 6º do CDC traz um rol exemplificativo de quais seriam os direitos básicos do


consumidor, a saber:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços,
asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos
ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento
de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais
ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos;

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VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou


reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a
proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova,
a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
XI - a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção
e tratamento de situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos
termos da regulamentação, por meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras
medidas;
XII - a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação
de dívidas e na concessão de crédito;
XIII - a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por
quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso.
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser
acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento.

Tais direitos devem ser utilizados em favor do consumidor, a parte vulnerável da relação
de consumo.

6. Responsabilidade Civil por Fato

6.1. Fato de Produto


Acontecimento que causa danos, mas que decorre de um defeito de produto.

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador


respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causadosaos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos,
bem como por informações insuficientes ou inadequados sobre sua utilização e riscos.

O que seria o DEFEITO? O primeiro parágrafo do artigo 12 nos informa: “o produto é


defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera”.
Quem são os responsáveis por fato de produto? Como regra será o fabricante,
produtor, construtor e importador (artigo 12, “caput”).
Regra: Eles serão responsáveis (fabricante, produtor, construtor e importador)
Exceção: Não serão responsabilizados se provarem:

Art. 13, §3. O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será


responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.”

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E o comerciante?
Importante: O comerciante possui responsabilidade quando se fala de fato de produto:

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor
ou importador;
III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis [...]
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito
de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do
evento danoso.

Prazo prescricional: 5 anos, a contar do conhecimento do dano e da autoria (artigo 27).

6.2. Fato de serviço (artigos 14 e 17, CDC)


Consoante o “caput” do artigo 14:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

Também aqui temos como fundamento o dever de segurança e com responsabilidade


objetiva.
O que seria serviço defeituoso, que trará um fato de serviço? O primeiro parágrafo do
artigo 14 nos responde:

Art. 14, §1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.

Também já nos fala o parágrafo segundo do artigo 14 que o serviço não é considerado
defeituoso pela adoção de novas técnicas.
Em decorrência da dificuldade em se saber quem são os eventuais agentes da cadeia de
fornecimento, o CDC fala em fornecedor. Assim, todos os participantes da cadeia de serviços
são fornecedores e poderão responder para com o consumidor.
Importante: A responsabilidade dos profissionais liberais está prevista no art. 14, §4 do
CDC e é uma exceção à responsabilidade objetiva. Assim, para que haja a configuração do dever
de indenizar do profissional liberal é necessário que consumidor demonstre que este profissional
agiu com culpa.

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7. Responsabilidade Civil por Vício

7.1. Responsabilidade por vício de produto


O vício pode ser de qualidade ou de quantidade.

7.1.1. Vício de qualidade


Impróprios ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como aqueles
decorrentes da disparidade, com indicações constantes do recipiente, da embalagem,rotulagem
ou mensagem publicitária.
No caso de vício de qualidade do produto, o consumidor poderá:
• Fornecedor terá o prazo de 30 dias para sanar o vício. Este prazo é para sanar, quando
for possível. Caso não seja possível, o consumidor poderá exigir, a sua escolha;
• Substituição do produto por outro da mesma espécie;
• Restituição da quantia paga (atualizada), podendo também pedir perdas e danos ou
abatimento proporcional do preço.
*Para todos verem: esquema

Substituição do
produto

30 dias para Restituição da


Não sanou
sanar o vício quantia paga

Abatimento do
preço

Art. 18, § 3°. O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar
de produto essencial.

7.1.2. Vício de quantidade


O vício de quantidade é, em especial, tratado no Art. 19 do CDC:

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Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto


sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido
for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os
aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos.

*Para todos verem: esquema

Substituição do produto

Restituição da quantia
paga
Consumidor
pode exigir
Abatimento do preço

Complementação do peso
ou medida

7.2. Responsabilidade por vício de serviço

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem
impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.

*Para todos verem: esquema

Reexecução do
serviço

Consumidor pode Restituição da


exigir quantia paga

Abatimento do preço

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7.3. Prazos para reclamar dos vícios de produto e serviço:

*Para todos verem: esquema

30 90
dias Fornecimento dias
Produtos
de produtos
duráveis
não duráveis

A partir de quando começam a contar os prazos?


• Vício aparente: entrega do bem ao consumidor (tanto durável quanto não durável).
• Vício oculto: a partir do momento em que fica evidenciado o problema.

Resolva a questão a seguir:

1) FGV - 2022 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXV - Primeira Fase


Pratice Ltda. configura-se como um clube de pontos que se realiza mediante a aquisição de título. Os
pontos são convertidos em bônus para uso nas redes de restaurantes, hotéis e diversos outros
segmentos de consumo regularmente conveniados. Nas redes sociais, a empresa destaca que os
convênios são precedidos de rigoroso controle e aferição do padrão de atendimento e de qualidade
dos serviços prestados. Tomás havia aderido à Pratice Ltda. e, nas férias, viajou com sua família para
uma pousada da rede conveniada. Ao chegar ao local, ele verificou que as acomodações cheiravam a
mofo e a limpeza era precária. Sem poder sair do local em razão do horário avançado, viu-se obrigado
a pernoitar naquele ambiente insalubre e sair somente no dia seguinte. Aborrecido com a
desagradável situação vivenciada e com o prejuízo financeiro por ter que arcar com outro serviço de
hotelaria na cidade, Tomás procurou você, como advogado(a), para ingressar com a medida judicial
cabível. Diante disso, assinale a única opção correta.

A) Pratice Ltda. funciona como mera intermediadora entre os hotéis e os adquirentes do título do
clube de pontos, não respondendo pelo evento danoso.
B) Há legitimidade passiva da Pratice Ltda. para responder pela inadequada prestação de serviço do
hotel conveniado que gerou dano ao consumidor, por integrar a cadeia de consumo referente ao
serviço que introduziu no mercado.
C) Trata-se de culpa exclusiva de terceiro, não podendo a intermediária Pratice Ltda. responder pelos
danos suportados pelo portador título do clube de pontos.
D) Cuida-se de hipótese de responsabilidade subjetiva e subsidiária da Pratice Ltda. em relação ao
hotel conveniado.

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Resolva a questão a seguir:

2) FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXVIII - Primeira Fase


Mara adquiriu, diretamente pelo site da fabricante, o creme depilatório Belle et Belle, da empresa Bela
Cosméticos Ltda. Antes de iniciar o uso, Mara leu atentamente o rótulo e as instruções, essas
unicamente voltadas para a forma de aplicação do produto. Assim que iniciou a aplicação, Mara sentiu
queimação na pele e removeu imediatamente o produto, mas, ainda assim, sofreu lesões nos locais
de aplicação. A adquirente entrou em contato com a central de atendimento da fornecedora, que lhe
explicou ter sido a reação alérgica provocada por uma característica do organismo da consumidora, o
que poderia acontecer pela própria natureza química do produto. Não se dando por satisfeita, Mara
procurou você, como advogado(a), a fim de saber se é possível buscar a compensação pelos danos
sofridos. Nesse caso de clara relação de consumo, assinale a opção que apresenta a orientação a ser
dada a Mara.

A) Poderá ser afastada a responsabilidade civil da fabricante, se esta comprovar que o dano decorreu
exclusivamente de reação alérgica da consumidora, fator característico daquela destinatária final,
não havendo, assim, qualquer ilícito praticado pela ré.
B) Existe a hipótese de culpa exclusiva da vítima, na medida em que o CDC descreve que os produtos
não colocarão em risco a saúde e a segurança do consumidor, excetuando aqueles de cuja
natureza e fruição sejam extraídas a previsibilidade e a possibilidade de riscos perceptíveis pelo
homem médio.
C) O fornecedor está obrigado, necessariamente, a retirá-lo de circulação, por estar presente defeito
no produto, sob pena de prática de crime contra o consumidor.
D) Cuida-se da hipótese de violação ao dever de oferecer informações claras ao consumidor, na
medida em que a periculosidade do uso de produto químico, quando composto por substâncias
com potenciais alergênicos, deve ser apresentada em destaque ao consumidor.

8. Das Práticas Comerciais

8.1. Publicidade
O Código de Defesa do Consumidor proíbe a prática da publicidade enganosa e abusiva.

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.


§ 1o É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por
omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre
produtos e serviços.

O elemento fundamental aqui, para a caracterização da publicidade enganosa, é o erro.


O critério é a averiguação se houve ou não a indução do consumidor ao erro. Lembrando que
erro é a falsa percepção da realidade.

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Resolva a questão a seguir:

3) FGV - 2021 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXIII - Primeira Fase


A era digital vem revolucionando o Direito, que busca se adequar aos mais diversos canais de
realização da vida inserida ou tangenciada por elementos virtuais. Nesse cenário, consagram-se
avanços normativos a fim de atender às situações jurídicas que se apresentam, sendo ponto
importante a recorrência dos chamados youtubers, atividade não rara realizada por crianças e
destinada ao público infantil. Nesse contexto, os youtubers mirins vêm desenvolvendo atividades que
necessitam de intervenção jurídica, notadamente quando se mostram portadores de prática
publicitária. A esse respeito, instrumentos normativos que visam a salvaguardar interesses na
publicidade infantil estão em vigor e outros previstos em projetos de lei. Sobre o fato narrado, de acordo
com o CDC, assinale a afirmativa correta.

A) A comunicação mercadológica realizada por youtubers mirins para o público infantil não pode ser
considerada abusiva em razão da deficiência de julgamento e experiência das crianças, porque é
realizada igualmente por crianças.
B) A publicidade que se aproveita da deficiência de julgamento e experiência da criança ou se
prevaleça da sua idade e conhecimento imaturo para lhe impingir produtos ou serviços é
considerada abusiva.
C) A publicidade não pode ser considerada abusiva ou enganosa se o público para a qual foi
destinado, de forma fácil e imediata, identifica a mensagem mercadológica como tal.
D) A publicidade dirigida às crianças, que se aproveite da sua deficiência de julgamento para lhe
impingir produtos ou serviços, é considerada enganosa.

8.2. Das Práticas Abusivas: artigo 39 - 41


No artigo 39 do CDC está elencado um rol de condutas consideradas como sendo
PRÁTICAS ABUSIVAS, que seriam ações, condutas do fornecedor que não estariam de acordo
com os padrões e as regras do jogo do CDC. Podem, frequentemente, caracterizar abuso de
direito (artigo 187 do CC). Muito importante que não é a mesma coisa que CLÁUSULAS abusivas
(estas estão dentro dos contratos).
As práticas abusivas são vedadas ao fornecedor de produtos e serviços.
Tais práticas podem ser pré-contratuais, contratuais ou pós-contratuais. A maioria das
práticas abusivas estão na fase pré-contratual, e são exemplificativas, tais como:
Inciso I – Venda casada: “condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”;
Normalmente tais produtos/serviços são vendidos separados. Se para comprar a escova de
dentes, eu preciso comprar a pasta, então temos venda casada.
Exemplo: Serviços bancários. Obrigam a fazer seguro, título de capitalização etc.
Súmula 473 STJ: “O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro
habitacional obrigatório com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela

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indicada.”
Inciso II – Recusa de atendimento à demanda do consumidor: “Recusar atendimento
às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda,
de conformidade com os usos e costumes.”
Inciso III – Fornecimento de produto ou serviço não solicitado: “Enviar ou entregar ao
consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto ou fornecer qualquer serviço.” Também o
parágrafo único: “Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor,
na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento.”
Súmula 532 STJ: “Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem
prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à
aplicação de multa administrativa”.
Inciso VI – Orçamento prévio: “Executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento
e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre
as partes.”
A obrigação de fornecer orçamento prévio não é absoluta, já que há casos de urgência
em que o orçamento nem sempre é possível, tais como atendimento médico/hospitalar.

Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio
discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem
empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos
serviços.
§ 1º Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo prazo de dez dias,
contado de seu recebimento pelo consumidor.

Caso não seja nada estipulado em contrário, a validade do orçamento é de 10 dias.

§ 2° Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contraentes e somente


pode ser alterado mediante livre negociação das partes.
§ 3° O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da
contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio.

Inciso VII: “repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo


consumidor no exercício de seus direitos.”
Vedação de uma lista de consumidores que reclamam e vão atrás de seus direitos.
Há outros artigos que também trazem práticas abusivas (publicidade enganosa, cobrança
vexatória etc.).

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Resolva a questão a seguir:

4) FGV - 2023 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXVII - Primeira Fase


Mota solicitou orçamento para a instalação de persianas na sua casa e, ao receber o documento, leu
que a compra das persianas escolhidas somente poderia ser realizada com a compra dos tapetes da
mesma coleção. Além disso, juntamente com o orçamento, Mota recebeu proposta para aquisição de
seguro residencial.
O consumidor ficou em dúvida a respeito da conduta da loja de decoração e procurou você, como
advogado(a), para receber orientação jurídica.
A esse respeito, você informou, corretamente, ao cliente que se trata de

A) prática abusiva em relação às persianas e ao tapete, por condicionar o fornecimento de um produto


à aquisição do outro; igualmente abusiva a prática de enviar oferta de serviço mediante proposta
do seguro residencial ao consumidor, sem prévia solicitação.
B) prática lícita em relação às persianas e ao tapete, uma vez que se trata de produtos da mesma
coleção; o seguro residencial foi meramente sugerido, não importando em venda casada.
C) prática abusiva em relação às persianas e ao tapete, por condicionar o fornecimento de um
produto à aquisição do outro; o seguro residencial foi oferecido sem condicionamento, sendo lícita
a prática.
D) prática lícita em relação às persianas e ao tapete, uma vez que são produtos da mesma coleção;
a proposta do seguro residencial foi enviada ao consumidor sem solicitação prévia, o que torna a
prática abusiva.

9. Da Proteção Contratual

9.1. Cláusulas Abusivas


O art. 51 do CDC elenca situações de cláusulas abusivas, são elas:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de
direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos
neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor
em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo
consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o
consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira
unilateral;

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XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito


seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que
igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do
contrato, após sua celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
XVII - condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos do Poder
Judiciário;
XVIII - estabeleçam prazos de carência em caso de impontualidade das prestações
mensais ou impeçam o restabelecimento integral dos direitos do consumidor e de seus
meios de pagamento a partir da purgação da mora ou do acordo com os credores;

Obs.: Há limite para a cláusula penal moratória em casos de contrato de consumo e não
pode passar de 2% conforme o art. Art. 52 § 1°: “As multas de mora decorrentes do
inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do
valor da prestação.”

9.2. Direito de Arrependimento


Previsto no art. 49 do CDC:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrataçãode
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio.

Requisitos: contratação fora do estabelecimento comercial, especialmente, por meio


eletrônico.
Prazo: 7 (sete) dias a contar da assinatura ou do recebimento do produto ou serviço.

Resolva a questão a seguir:

5) FGV - 2022 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXVI - Primeira Fase


Bernardo adquiriu, mediante uso de cartão de crédito, equipamento de som conhecido como home
theater. A compra, por meio do aplicativo do Magazin Novas Colinas S/A, conhecido como “loja virtual
do Colinas”, foi realizada na sexta-feira e o produto entregue na terça-feira da semana seguinte. Na
quarta-feira, dia seguinte ao do recebimento, Bernardo entrou em contato com o serviço de
atendimento ao cliente para exercer seu direito de arrependimento. A atendente lhe comunicou que
deveria ser apresentada uma justificativa para o arrependimento dentre aquelas elaboradas pelo
fornecedor. Essa foi a condição imposta ao consumidor para a devolução do valor referente à 1ª
parcela do preço, já lançado na fatura do seu cartão de crédito. Com base nesta narrativa, em
conformidade com a legislação consumerista, assinale a afirmativa correta.

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Revisão Turbo | 38º Exame de Ordem
Direito do Consumidor

A) O direito de arrependimento precisa ser motivado diante da comunicação de cancelamento da


compra feita pelo consumidor ao fornecedor após o decurso de 48 (quarenta e oito) horas da
realização da transação pelo aplicativo.
B) Embora o direito de arrependimento não precise de motivação por ser potestativo, o fornecedor
pode exigir do consumidor que lhe apresente uma justificativa, como condição para a realização
da devolução do valor faturado.
C) Em observância ao princípio da boa-fé objetiva, aplicável tanto ao fornecedor quanto ao
consumidor, aquele não pode se opor ao direito de arrependimento, mas, em contrapartida, pode
exigir do consumidor a motivação para tal ato.
D) O direito de arrependimento não precisa ser motivado e foi exercido tempestivamente, devendo
o fornecedor providenciar o cancelamento da compra e comunicar à administradora do cartão de
crédito para que seja efetivado o estorno do valor.

Resolva a questão a seguir:

6) FGV - 2022 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXIV - Primeira Fase


José procurou a instituição financeira Banco Bom com o objetivo de firmar contrato de penhor. Para
tanto, depositou um colar de pérolas raras, adquirido por seus ascendentes e que passara por
gerações até tornar-se sua pertença através de herança. O negócio deu-se na modalidade contrato de
adesão, contendo cláusulas claras a respeito das obrigações pactuadas, inclusive com redação em
destaque quanto à limitação do valor da indenização em caso de furto ou roubo, o que foi
compreendido por José. Posteriormente, José procurou você, como advogado(a), apresentando
dúvidas a respeito de diferentes pontos. Sobre os temas indagados, de acordo com o Código de Defesa
do Consumidor, assinale a afirmativa correta.

A) A cláusula que limita o valor da indenização pelo furto ou roubo do bem empenhado é abusiva e
nula, ainda que redigida com redação clara e compreensível por José e em destaque no texto,
pois o que a vicia não é a compreensão redacional e sim o direito material indevidamente limitado.
B) A cláusula que limita os direitos de José em caso de furto ou roubo é lícita, uma vez que redigida
em destaque e com termos compreensíveis pelo consumidor, impondo-se a responsabilidade
subjetiva da instituição financeira em caso de roubo ou furto por se tratar de ato praticado por
terceiro, revelando fortuito externo.
C) O negócio realizado não configura relação consumerista devendo ser afastada a incidência do
Código de Defesa do Consumidor e aplicado o Código Civil em matéria de contratos de mútuo e
de depósito, uma vez que inquestionável o dever de guarda e restituição do bem mediante
pagamento do valor acordado no empréstimo.
D) A cláusula que limita o valor da indenização pelo furto ou roubo do bem empenhado é lícita, desde
que redigida com redação clara e compreensível e, em caso de furto ou roubo do colar, isso será
considerado inadimplemento contratual e não falha na prestação do serviço, incidindo o prazo
prescricional de 2 (dois) anos, caso seja necessário ajuizar eventual pleito indenizatório.

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Revisão Turbo | 38º Exame de Ordem
Direito do Consumidor

9.3. Planos de Saúde – Súmulas Importantes

Súmula 597 STJ: A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para
utilização dos serviços de assistência médica nas situações de emergência ou de urgência
é considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24 horas contado da data da
contratação.

Súmula 608 STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano
desaúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.

Súmula 609 STJ: A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença


preexistente, éilícita se não houve a exigência de exames médicos prévios à contratação
ou a demonstração de má-fé do segurado.

Resolva a questão a seguir:

7) FGV - 2020 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXI - Primeira Fase


O médico de João indicou a necessidade de realizar a cirurgia de gastroplastia (bariátrica) como
tratamento de obesidade mórbida, com a finalidade de reduzir peso. Posteriormente, o profissional de
saúde explicou a necessidade de realizar a cirurgia plástica pós-gastroplastia, visando à remoção de
excesso epitelial que comumente acomete os pacientes nessas condições, impactando a qualidade de
vida daquele que deixou de ser obeso mórbido.
Nesse caso, nos termos do Código de Defesa do Consumidor e do entendimento do STJ, o plano de
saúde de João

A) terá que custear ambas as cirurgias, porque configuram tratamentos, sendo a cirurgia plástica
medida reparadora; portanto, terapêutica.
B) terá que custear apenas a cirurgia de gastroplastia, e não a plástica, considerada estética e
excluída da cobertura dos planos de saúde.
C) não terá que custear as cirurgias, exceto mediante previsão contratual expressa para esses tipos
de procedimentos.
D) não terá que custear qualquer das cirurgias até que passem a integrar o rol de procedimentos da
ANS, competente para a regulação das coberturas contratuais.

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Revisão Turbo | 38º Exame de Ordem
Direito do Consumidor

Gabaritos das questões:

1-B 2-D 3-B 4-C 5-D 6-A 7-A

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