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1 – Conforme a Constituição Federal de 1988, qual a natureza jurídica da defesa do

consumidor?
R: A Constituição Federal de 1988 insere a defesa do consumidor no rol de direitos fundamentais
individuais (art. 5º, XXXII) e ainda determina ser um dos princípios gerais da ordem econômica (art.170,
V). Desse modo, pode-se dizer que a defesa do consumidor, segundo a Constituição, tem natureza jurídica
de direito fundamental e de princípio da ordem econômica.
2 – O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) foi publicado há mais de 15 (quinze)
anos, especificamente no dia 12/09/1990, com entrada em vigor 180 (cento e oitenta) dias depois,
conforme redação do art. 118. Antes da sua entrada em vigor, podese afirmar que a sistemática
principiológica vigente no âmbito das relações contratuais, tomando-se como base as diretrizes então
traçadas pelo Código Civil de 1916, estava fundamentada, especialmente, na existência de 04
(quatro) princípios: autonomia da vontade das partes/liberdade contratual; força vinculante dos
contratos/obrigatoriedade dos contratos/pacta sun servanda/intangibilidade dos contratos;
relatividade dos contratos; e responsabilidade subjetiva. Identificar 04 (quatro) princípios adotados
pelo Código de Defesa do Consumidor que ofereceram uma contraposição à sistemática
principiológica apontada.
R: Os quatro princípios adotados pelo Código de Defesa do Consumidor e que apresentaram uma
nova perspectiva principiológica nas relações de consumo são os seguintes: (a) princípio da boa-fé
objetiva, o qual acabou por limitar o princípio da liberdade contratual, na medida em que passa a impor às
partes a adoção de condutas ou deveres anexos ao objeto pactuado, tais como o dever de lealdade,
transparência, honestidade, dentre outros, além de orientar a própria interpretação do contratado; (b)
princípio do equilíbrio entre prestação e contraprestação, de modo a evitar contratações iníquas ou
execuções desproporcionais ou desarrazoadas, sobretudo se destoantes das obrigações inicialmente
pactuadas, em evidente relativização ao princípio da obrigatoriedade dos contratos (pacta sun servanda); (c)
princípio da função social do contrato, que abranda o princípio da relatividade dos contratos, em virtude da
ideia de que o contrato, a despeito de se referir apenas às partes contratantes, , também gera repercussões e
deveres jurídicos a terceiros, além da própria sociedade, de modo difuso; e (d) princípio da
responsabilidade objetiva, em contraponto à responsabilidade subjetiva, pois o elemento subjetivo
(dolo/culpa) deixa de ser um dos requisitos necessários para a configuração, em regra, da responsabilidade
dos fornecedores de produtos ou serviços.
3 – Analise a seguinte assertiva, fundamentando sua resposta: em regra, as normas previstas
no Código de Defesa do Consumidor podem ser objeto de renúncia pelas partes contratantes, desde
que o consumidor renuncie expressamente e, no mesmo ato, indique o dispositivo legal objeto da
renúncia.
R: A afirmação está equivocada. As normas inseridas no Código de Defesa do Consumidor,
conforme dicção do seu art. 1º, são de ordem pública e interesse social, o que ressalta seu caráter cogente e
a impossibilidade de renúncia pelas partes (fornecedor e consumidor). Ademais, outros dispositivos do
Código reforçam a ideia de irrenunciabilidade do sistema de proteção do consumidor, como o art. 25 – que
proíbe a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar
do fornecedor – e, sobretudo, o artigo 51, que elenca um rol de cláusulas consideradas abusivas por serem
prejudiciais ao consumidor e que, por tal motivo, caso inseridas em um contrato de consumo, serão
consideradas nulas de pleno de direito, vale dizer, insuscetíveis de gerarem efeitos.
4 – Quais as teorias existentes para identificar o consumidor destinatário final? Qual delas, na
atualidade, tem maior aceitação no Superior Tribunal de Justiça? Explique.
R: Conforme o artigo 2º do CDC, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final. Em virtude da dificuldade em identificar a extensão da
expressão “destinatário final” do produto ou serviço, surgiram, basicamente, três teorias para identificar o
consumidor segundo o CDC. A primeira é a teoria finalista ou finalista pura, segundo a qual consumidor
seria o destinatário final econômico, vale dizer, aquele que retira o produto ou serviço definitivamente da
cadeia de produção e circulação. Segundo esse entendimento, aquele que adquire um produto para
empregá-lo no exercício de suas atividades profissionais não seria consumidor (por exemplo, um barbeiro
que compra um creme para usar em seus clientes; um taxista que compra um carro para utilizar como táxi;
um escritório de contabilidade que adquire um computador para o exercício de suas atividades; em nenhum
desses exemplos haveria a caracterização do consumidor), pois o CDC somente teria aplicação para aquele
que adquire o produto ou serviço para uso próprio ou de sua família. Por outro lado, a denominada teoria
maximalista amplia significativamente a incidência do CDC, pois defende que consumidor é o destinatário
final fático, vale dizer, aquele que interrompe a cadeia de produção ou circulação de bens e serviços, ainda
que o empregue no exercício de sua empresa ou profissão. Pela teoria maximalista, o barbeiro que adquire
um creme para usar em seus clientes seria consumidor, assim como o taxista que adquire um carro para
empregá-lo no exercício de suas atividades profissionais, ou o escritório de contabilidade que adquire um
computador seriam considerados consumidores, ainda que empreguem os bens adquiridos na consecução
de suas atividades econômicas. Essa visão peca por transformar o direito do consumidor em direito privado
geral, ao retirar do Código Civil uma grande quantidade de contratos comerciais que seriam por ele
regidos. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem precedentes adotando tanto a teoria
maximalista quanto a finalista, variando o entendimento conforme o caso submetido à apreciação do
Tribunal, muito embora com uma prevalência da teoria finalista. Recentemente, contudo, ganhou força na
doutrina e, sobretudo, na jurisprudência do STJ a adoção da teoria finalista mitigada ou aprofundada ou
madura. Para essa teoria, em regra aplica-se a teoria finalista, ou seja, se o produto ou serviço for adquirido
ou utilizado para ser utilizado no exercício da atividade produtiva do adquirente, em regra não haverá
relação de consumo. Contudo, admite-se a extensão do conceito de consumidor se restar comprovada a
vulnerabilidade da pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza o produto ou serviço, compreendendo-se
como vulnerável a parte mais fraca da relação jurídica. A análise deverá ser realizada, conforme a teoria
finalista mitigada, à luz do caso concreto, admitindo-se a vulnerabilidade técnica, jurídica ou fática.
Demonstrará a vulnerabilidade, por exemplo, uma pequena empresa que utiliza insumos para a sua
produção, mas não em sua área de expertise, principalmente na área dos serviços, como o hotel que compra
gás. O STJ, por exemplo, já decidiu que “é de consumo a relação entre o vendedor de máquina agrícola e
compradora que a destina à sua atividade no campo” (Resp 142.052/RS). Em relação a grandes produtores
rurais, no entanto, entende que não resta caracterizada a relação de consumo (Resp 826.827-MT).
5 – Uma pequena loja de cópias reprográficas comprou uma nova máquina de xerox para o
incremento de suas atividade comerciais. No entanto, dentro do prazo de garantia estabelecido pelo
CDC a máquina apresentou um vício que a tornava inadequada ao consumo, pois o modo automático
para extração de cópias travava a reprodução. A loja, como pessoa jurídica, pode suscitar aplicação
do CDC? Explique.
R: Embora a pequena loja de cópias reprográficas tenha adquirido um produto para utilizá-lo no
exercício de suas atividades profissionais, a aplicação da teoria finalista mitigada admite a aplicação do
CDC no caso, em virtude da vulnerabilidade da loja. O STJ, por exemplo, recentemente reconheceu a
possibilidade de aplicação do Código a uma costureira que adquiriu de uma empresa uma máquina de
bordado (Resp n. 1.010.834). Ressaltou-se, no caso, a admissão da aplicação do CDC nos casos em que
reste comprovada a vulnerabilidade técnica, jurídica e fática. Levou-se em consideração, ainda, a
hipossuficiência da costureira na relação jurídica formada com a fornecedora.
6 – Uma grande empresa prestadora de serviços de transportes, Rota Segura Transportes
Ltda., adquiriu uma frota de 200 veículos de determinada concessionária. Desses, 4 estavam com
problemas na direção. A empresa Rota Segura, caso a concessionária se negue a resolver o vício,
pode se valer do CDC?
R: A questão deve ser analisada à luz da teoria finalista mitigada, atualmente com ampla aplicação
no âmbito do STJ. A rigor, vislumbram-se duas possibilidades. De um lado, há um amplo campo para se
sustentar a aplicação do CDC, sob o argumento de que a empresa prestadora de transportes, apesar de não
ser hipossuficiente e utilizar diretamente os veículos adquiridos na consecução de suas atividades, tem
vulnerabilidade técnica em relação a problemas mecânicos verificados no automóvel, o que justificaria a
aplicação do CDC. Nesse caso, se reconheceria a qualidade de consumidora da empresa adquirente
inclusive para fins de inversão do ônus da prova, aplicando-se a teoria finalista mitigada. Poder-se-ia, no
entanto, noutro sentido, defender que o CDC não deve ser aplicado no caso, por se tratar de empresa de
grande porte e que emprega diretamente o produto adquirido no exercício de suas atividades econômicas, o
que parece, sem dúvida alguma, ser o entendimento mais acertado. O STJ, como exemplo, em julgado
recente considerou restar caracterizada relação de consumo no caso de um freteiro que adquiriu caminhão
zero quilômetro para exercer a profissão (Resp n. 1.080.719). Por outro lado, em outro caso, decidiu aplicar
o Código Questionário 01 – Direito do Consumidor – 2Sem/2019 - Prof. Artur Soares de Castro Civil, e
não o CDC, em uma demanda que envolvia a venda de defensivos agrícolas a um grande produtor de soja
(Resp n. 914.384).
7 – Um aluno do segundo ano da Faculdade de Direito decide mudar de curso e comercializa
os livros adquiridos durante seu primeiro ano. Aplicar-se-á o CDC nas relações jurídicas a serem
constituídas?
R: Não se aplica o CDC, pois o artigo 3º do CDC define fornecedor como aquele que exerce
atividades tipicamente profissionais, como a comercialização, a produção, a importação, indicando a
necessidade de habitualidade. Desse modo, o aluno que vende os livros de direito adquiridos no seu
primeiro ano porque vai mudar de curso não pode ser considerado fornecedor, pois não exerce a atividade
de comercialização de livros de modo habitual. O mesmo se diga em relação às pessoas jurídicas que
eventualmente vendem um produto que não constitui objeto de suas atividades típicas, como uma agência
de viagens que vende um veículo a particular, hipótese em que deverá ser aplicado o Código Civil para
regular a relação jurídica de compra e venda, pois a venda de veículos não é uma atividade desenvolvida de
forma habitual pela empresa (STJ, AgRg no Ag 150.829-DF).
8- Uma empresa aérea internacional, em aeroporto brasileiro, dá causa a overbooking, em
virtude de falha no serviço de reservas. Há aplicabilidade do CDC no caso em questão?
R: Overbooking é uma expressão em inglês que significa a venda de determinado serviço em
quantidade superior à suportada pela empresa. No caso das empresas aéreas, ocorre quando são vendidos
mais passagens do que o número de lugares disponíveis. Sem dúvida que no caso em tela haverá
responsabilidade da empresa, pelo fato (art. 14) ou vício (art. 20) do serviço, a depender das consequências
do atraso, até porque o art. 3º do CDC é expresso ao considerar no conceito de fornecedor a pessoa física
ou jurídica estrangeira. Importante mencionar que o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu,
no julgamento conjunto do Recurso Extraordinário (RE) 636331 e do RE com Agravo (ARE) 766618, que
os conflitos que envolvem extravios de bagagem e prazos prescricionais ligados à relação de consumo em
transporte aéreo internacional de passageiros devem ser resolvidos pelas regras estabelecidas pelas
convenções internacionais sobre a matéria, ratificadas pelo Brasil. A tese aprovada diz que “por força do
artigo 178 da Constituição Federal, as normas e tratados internacionais limitadoras da responsabilidade das
transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm
prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor”.
9 – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor para as instituições financeiras? Explique.
R: Sim, aplica-se o CDC para as instituições financeiras. Por ocasião da entrada em vigor do CDC,
a questão foi debatida nos Tribunais. Pacificou-se o entendimento no sentido de permitir a aplicação do
CDC, conforme a Súmula nº 297 do Superior Tribunal de Justiça e, também, o julgamento pelo Supremo
Tribunal Federal na ADI 3591, que ficou conhecida como a “ADIn dos bancos”. A despeito da aplicação
do CDC Questionário 01 – Direito do Consumidor – 2Sem/2019 - Prof. Artur Soares de Castro nas relações
entre clientes e instituições financeiras, evidentemente que algumas questões também estarão sujeitas às
normas que regem o sistema financeiro nacional, promovendo-se um verdadeiro “diálogo das fontes” da
legislação protetiva do consumidor e de outras normas que integram o sistema financeiro nacional.
10 – Analise a veracidade da seguinte assertiva: o Código de Defesa do Consumidor surgiu
com o objetivo precípuo de proteger o patrimônio da parte mais vulnerável da relação jurídica de
consumo.
R: Sem dúvida nenhuma que a edição do Código de Defesa do Consumidor teve como uma das
preocupações centrais a proteção ao patrimônio do consumidor. No entanto, não é correto dizer que foi
objetivo precípuo do legislador a proteção dessa esfera patrimonial, já que em diversos dispositivos há a
constante preocupação com valores intangíveis, inerentes à própria dignidade do consumidor, considerado
a parte vulnerável na relação de consumo (art. 4º, I), tais como a proteção da vida, saúde e segurança (art.
6º, I) e demais direitos elencados no art. 6º, como o dever de informação adequada e clara do fornecedor, a
proteção contra publicidade enganosa ou abusiva, a criação de mecanismos administrativos e judiciais que
viabilizem uma efetiva proteção do consumidor, dentre outros. O CDC inclusive trata de tipos penais que
criminalizam condutas violadoras de outros valores que não necessariamente refletem na esfera patrimonial
do consumidor. (arts. 63 a 74)
11 – A inversão do ônus da prova deve ser aplicada, conforme a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, em qual fase do processo ordinário?
R: Debate-se no âmbito doutrinário e jurisprudencial a fase do processo ordinário em que deve ser
aplicada a inversão do ônus da prova, conforme preceito veiculado do art. 8º, VIII, do CDC, o qual
permite, a critério do juiz, a inversão do ônus da prova a favor do consumidor, no processo civil, quando
for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.
Como é cediço, o procedimento civil ordinário pode ser dividido em quatro fases: (a) postulatória; (b)
saneadora; (c) instrutória; (d) de julgamento. Para uma corrente de pensamento, incialmente proposta, a
inversão deveria ser aplicada na fase de julgamento, vale dizer, o magistrado avaliaria a possibilidade de
inversão do ônus da prova quando fosse proferir a sentença, pois com os elementos colhidos durante o
processo, sobretudo na fase de instrução probatória, o juiz teria maior condição, à luz das provas
produzidas, de examinar se preenchidos os requisitos para aplicar a regra da inversão (verossimilhança da
alegação ou quando consumidor for hipossuficiente). Todavia, atualmente prevalece o entendimento,
inclusive com diversos precedentes do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que a inversão do ônus
da prova, ao menos em regra, deve ser determinada na fase de saneamento do processo, como forma de
permitir ao fornecedor que, ciente da determinação judicial de inversão, produza as provas que entender
necessárias para o afastamento de sua responsabilidade. Sustenta-se que a determinação de inversão do
ônus probatório na fase de saneamento do processo atende aos postulados do devido processo legal, o qual
tem por corolários os princípios do contraditório e da ampla defesa, pois permite ao fornecedor que
participe da fase de instrução probatória já ciente da inversão.
12 – É possível a inserção no mercado de consumo de produtos ou serviços que gerem risco à
saúde ou segurança dos consumidores? Caso positivo, quais cautelas deve adotar o fornecedor?
R: O CDC, em princípio, proíbe expressamente a inserção no mercado de consumo de produtos ou
serviços que gerem risco à saúde ou segurança dos consumidores. No entanto, excepcionalmente permite a
inserção de tais produtos ou serviços quando considerados normais e previsíveis em decorrência de sua
natureza e fruição. Nesse caso, o fornecedor obrigado estará a dar as informações a respeito de sua
nocividade ou periculosidade, de maneira ostensiva e adequada. O tema é tratado nos artigos 8º ao 10 do
CDC.
13 – O CDC, quando expressamente reconhece a vulnerabilidade do consumidor no mercado
de consumo, também está automaticamente reconhecendo a sua hipossuficiência?
R: O conceito de vulnerabilidade não se confunde com o de hipossuficiência. Afirma a doutrina que
a vulnerabilidade pode ser fática, técnica e jurídica. A hipossuficiência poderia ser inserida, nessa
classificação, eventualmente como vulnerabilidade fática. Importante ressalvar que o CDC admite a
inversão do ônus da prova quando a parte for hipossuficiente (art. 6, VIII). Na realidade, a hipossuficiência
diz respeito tanto à condição econômica desfavorável do consumidor, quanto à disparidade técnica e
informacional que o coloca em situação de desvantagem frente ao fornecedor, sobretudo em relação à
possibilidade de produzir provas no processo. Trata-se, nesse último caso, de vulnerabilidade processual,
apta a autorizar a inversão do ônus da prova em favor do consumidor (art. 6º, VIII).
14 – No que atine à fase de instrução probatória nos processos judiciais que tratam das
relações de consumo, há alguma consequência no reconhecimento da hipossuficiência do
consumidor?
R: Sim. Se houver o reconhecimento da hipossuficiência do consumidor é permitido ao juiz,
segundo as regras ordinárias de experiência, inverter ônus da prova, conforme previsão do art. 6º, VIII, do
CDC. Também se autoriza a inversão quando foi verossímil a alegação do consumidor, hipótese prevista
no mesmo dispositivo legal apontado.
15 – A boa-fé prevista no CDC é objetiva ou subjetiva? Diferencie ambas e explique, com
exemplos.
R: A boa-fé objetiva , também prevista no art. 422 do Código Civil, é traduzida no dever das partes
de agir corretamente, eticamente, na formação, durante e depois do contrato. A boa fé-subjetiva, por outro
lado, é aquela ligada ao conhecimento ou à ignorância da pessoa em relação a certos fatos, servindo à
proteção daquele que tem consciência de estar agindo conforme o direito. Na boa-fé subjetiva, o intérprete
leva em consideração a intenção do sujeito. Por exemplo, deixa de agir com boa-fé subjetiva aquele que
ocupa um imóvel sabendo que sua posse é viciada; ou aquele que aliena um bem (veículo por exemplo)
sabedor de um vício e deixa de informar ao comprador. Já a boa-fé objetiva, traduzida no padrão de
conduta comum, do homem médio, impõe ao contratante o dever de agir com probidade, honestidade e
lealdade, na fase de formação, execução e posterior do contrato. Por exemplo, deixa de agir com boa-fé
objetiva aquele que não fornece informações adequadas sobre a utilização do produto alienado; ou que
deixa de dar a assistência técnica necessária depois de executado o objeto pactuado; ou que utiliza produto
na execução do serviço contratado de qualidade abaixo da média esperada, quebrando a confiança do
adquirente.
16 – Analise a veracidade da assertiva: o dever de informar conferido ao fornecedor pelo
CDC não engloba, nos termos da legislação consumerista, a especificação dos tributos incidentes
sobre o produto e/ou serviço.
R: A afirmação está equivocada. O CDC expressamente determina no seu art. 6º, III o dever do
fornecedor de informar os tributos incidentes sobre o preço dos produtos e serviços. O tema restou
regulamentado pela Lei nº 12.741/2012 e no Decreto nº 8.264/2014.
17 – Analise a seguinte afirmação: segundo o CDC, a ação do Estado para a efetiva proteção
do consumidor se dá apenas no campo regulador ou normativo, ou seja, é vedada a intervenção
direta estatal para tal finalidade.
R: A resposta não está correta. Isso porque o artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor confere
ao Estado a possibilidade de proteger efetivamente o consumidor por iniciativa direta, por incentivos à
criação e desenvolvimento de associações representativas, pela presença do Estado no mercado de
consumo e pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança,
durabilidade e desempenho.
18 – Analise e explique a veracidade da seguinte afirmação: a possibilidade de modificação
das cláusulas que gere prestação desproporcional, prevista na primeira parte do inciso V do art. 6º
do CDC, equivale à teoria da imprevisão, identificada pelo brocardo latino rebus sic stantibus,
mencionada no art. 478 do Código Civil.
R: A resposta não está correta. O CDC, no dispositivo legal referido, autoriza a modificação de
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais, sem exigir, para tal revisão, a
comprovação de fato superveniente que tenha gerado um desequilíbrio na relação jurídica estabelecida
entre o consumidor e o fornecedor. No caso do Código Civil, contudo, o art. 478 – que trata do tema –
exige para a sua aplicação, além da onerosidade excessiva verificada em contratos de execução continuada
ou diferida, a existência de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis.
19 – A solidariedade entre fornecedores é exceção ou regra na sistemática de
responsabilização apresentada pelo CDC? Citar um exemplo em que o CDC estabelece a
solidariedade e um exemplo em que a solidariedade é afastada.
R: A solidariedade é regra na sistemática de responsabilização prevista no CDC, a despeito da
existência de exceção à regra. O CDC traz a regra da solidariedade, por exemplo, na responsabilidade dos
fornecedores pelo vício do produto (arts. 18 e 19). No artigo 7º, parágrafo único, estabelece a regra geral no
sentido de que todos os autores da ofensa responderão solidariamente pela reparação dos danos. O art. 25
do CDC, em seus parágrafos, também aduz que, havendo mais de um responsável pela causação do dano,
todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores. Do mesmo modo,
determina que se o dano for causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, serão
responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação. Exceção à
regra está prevista nos arts. 12 e 13 do CDC, que tratam da responsabilidade do comerciante apenas pelo
fato do produto (não do serviço, a qual é tratada no art. 14) nas hipóteses em que estabelecem. Nesse caso,
o comerciante será responsável apenas excepcionalmente.
20 – No que consiste o recall? Há previsão expressa no CDC de tal prática?
R: O recall consiste na prática empregada pelo fornecedor de solicitar a devolução do produto já
disponibilizado no mercado de consumo em decorrência da existência de vícios posteriormente
descobertos, normalmente para preservar a segurança do consumidor. Por exemplo, uma montadora de
veículos que convoca seus clientes para a troca de um lote de fabricação de automóveis que vieram com
problema no freio. A prática do recall é expressamente prevista no CDC, no seu art. 10, § 1º.
21 – Diferencie vício e defeito.
R: Vício é toda característica de quantidade ou qualidade dos produtos ou serviços que os tornem
inadequados ou impróprios para o uso a que se destinam, bem como lhes diminua o valor. Já o defeito pode
ser compreendido como o vício do produto ou serviço que gere um dano externo. E outros termos, o defeito
é o vício com repercussão externa, ou o dano externo (de natureza moral ou material) suportado pelo
consumidor em decorrência de um vício do produto ou serviço.
22 – É correto dizer que defeito do produto ou serviço equivale a acidente de consumo?
R: Não necessariamente. Acidente de consumo é espécie e defeito é gênero. Alguns defeitos
também serão acidentes de consumo, como um automóvel que, em virtude de vício na sua direção, perde o
controle e atropela um grupo de pessoas; ou um brinquedo no parque de diversões com vício que fere
gravemente o consumidor. No entanto, existem certos defeitos que não podem ser considerados acidentes
de consumo. Por exemplo, o consumidor que come o iogurte estragado e tem que ser hospitalizado; ou a
empresa de cobrança de crédito que, por equívoco, promove a inscrição do consumidor nos cadastros de
proteção ao crédito. Nessas duas últimas hipóteses, a despeito da existência de um vício que gerou o dano
externo, não há propriamente acidentes de consumo, mas apenas defeitos do produto ou serviço,
respectivamente.
23 – Kelsen não teve um dia agradável. Adquiriu no supermercado “Compre Bem”, além de
outros produtos, um liquidificador da marca “Hélice” e um iogurte da marca “Boa Vida”. O
liquidificador, com vício de fabricação, teve a hélice dissipada e lançada contra o seu rosto,
causando-lhe dano estético permanente. O iogurte, impróprio para o consumo, foi consumido por seu
cunhado taxista, Nestor, o qual ficou hospitalizado por três dias sem poder trabalhar. Na qualidade
de advogada(o) de Kelsen: (a) indicar se há possibilidade de adotar alguma medida para evitar o
ajuizamento de ação judicial; (b) no caso de ação judicial, identificar as medidas a serem adotadas,
especialmente sobre: (b.1) o rito procedimental escolhido; (b.2) a competência jurisdicional para
julgamento; (b.3) os polos ativos e passivos da demanda; (b.4) os pedidos a serem formulados nação
judicial.
R: Em atenção aos itens elencados: (a) há possibilidade sim de, na qualidade de advogado de
Kelsen, adotar medidas para evitar o ajuizamento de demandas, tal como estabelecer um contato prévio
com o setor de atendimento ao consumidor ou ouvidoria. Aliás, há um movimento crescente no âmbito dos
mais diversos setores do Poder Judiciário, com destaque às medidas adotadas pelo Conselho Nacional de
Justiça – CNJ e mesmo entidades de proteção do consumidor, que tem por objetivo reduzir o número de
processos, buscando soluções conciliatórias que desafoguem o número de demandas. Esse também é o
objetivo do Código de Processo Civil, ao estabelecer, a partir do artigo 165, que os Tribunais criarão
centros judiciários de solução consensual de conflitos, além de estimular em diversos outros dispositivos a
conciliação e a mediação. A mediação é regulamentada pela Resolução do CNJ nº 125/2010 e pela Lei nº
13.140/2015. Existe também a possibilidade de utilização do sistema consumidor.gov.br, serviço público
que permite a interlocução direta entre consumidores e empresas para a solução de conflitos de consumo
pela internet; (b) Sobre eventuais medidas judicias a serem adotadas, tendo em vista a existência de danos
experimentados por Kelsen e Nestor, gerados por fornecedores diversos, bem como a restrição imposta à
responsabilização do comerciante, sugere-se o ajuizamento de duas ações judiciais diversas, a seguir
estruturadas; (b.1) o rito procedimental escolhido dependerá, a toda evidência, do valor atribuído a cada
uma das ações e da eventual necessidade de produção de prova técnica, podendo-se utilizar o rito dos
Juizados Especiais (causas de até quarenta vezes o salário mínimo e de menor complexidade). A ação pode
ser proposta no foro do domicílio do autor (art. 101, I, CDC); (b.2) a competência para julgamento será da
justiça civil comum estadual. A depender do valor, no Juizado Especial; (b.3) como serão ajuizadas duas
ações judiciais, a primeira terá Kelsen no polo ativo e apenas a empresa “Hélice” no polo passivo, já que se
trata de responsabilização por fato do produto (art. 12, CDC) e não há responsabilidade do comerciante
(art. 13, CDC). Na outra ação, deverá figurar Nestor no polo ativo (apesar de não ter adquirido o produto, o
utilizou/consumiu, logo é consumidor) e no polo passivo, por se tratar de responsabilidade por fato do
produto, poderá figurar tanto a empresa Boa Vida como (art.12, CDC) como o supermercado Compre Bem,
em virtude da redação estabelecida no art. 13, III, do CDC e da impossibilidade de identificar quem deu
causa a deterioração do produto perecível; (b.4) quanto aos pedidos formulados, no primeiro caso Kelsen
poderá pedir indenização por eventuais danos materiais (danos emergentes, em virtude dos gastos
suportados com o acidente de consumo, como medicamentos e hospital) e danos morais (em decorrência do
dano estético experimentado), além da responsabilização do fornecedor pelo vício do produto, nos termos
do art. 18 do CDC. Nestor, por sua vez, poderá pedir indenização por danos materiais (danos emergentes,
com a indenização dos valores gastos com medicamentos e hospital; e lucros cessantes, referentes aos três
dias em que ficou sem trabalhar).
24 – No âmbito das relações de consumo e na defesa dos direitos dos consumidores, o
ajuizamento de ação judicial será sempre a medida mais indicada?
R: Não. O ajuizamento de ações judiciais no âmbito das relações de consumo deve ser realizado, em
regra, apenas excepcionalmente. Isso porque há possibilidade de se buscar a solução extrajudicial junto ao
fornecedor por meio dos Serviços de Atendimento ao Consumidor – SAC ou mesmo das Ouvidorias do
fornecedor, quando existentes, pois em regra será interesse do próprio fornecedor o cumprimento da
legislação consumerista e a satisfação do cliente. Sem contar a existência de um movimento Questionário
01 – Direito do Consumidor – 2Sem/2019 - Prof. Artur Soares de Castro crescente no âmbito dos mais
diversos setores do Poder Judiciário, com destaque às medidas adotadas pelo Conselho Nacional de Justiça
e mesmo entidades de proteção do consumidor, que tem por objetivo reduzir o número de processos,
buscando soluções conciliatórias que desafoguem o número de demandas. Esse também é o objetivo do
novo Código de Processo Civil, ao estabelecer, a partir do artigo 165, que os Tribunais criarão centros
judiciários de solução consensual de conflitos, além de estimular em diversos outros dispositivos a
conciliação e a mediação. A mediação é regulamentada pela Resolução do CNJ nº 125/2010 e pela Lei nº
13.140/2015. Existe também a possibilidade de utilização do sistema consumidor.gov.br, serviço público
que permite a interlocução direta entre consumidores e empresas para a solução de conflitos de consumo
pela internet.
25 – No tocante à existência de defeito e vício do produto ou serviço, o Código estabelece
diferenciação sobre a responsabilização do fornecedor?
R: Sim. No caso da responsabilidade pelo fato (defeito) do produto, o CDC delimita a
responsabilidade, no seu art. 12, ao fabricante, produtor, construtor e importador, admitindo a
responsabilidade do comerciante em duas hipóteses: quando não identificado o fabricante, produtor,
construtor e importador; ou quando se tratar de produtos perecíveis. Nas demais hipóteses –
responsabilidade pelo fato (defeito) do serviço (art. 14), responsabilidade pelo vício do produto (qualidade
- art. 18 ou quantidade - art. 19 – e responsabilidade pelo vício do serviço (art. 20) – aplicar-se-á a regra da
responsabilidade solidária do fornecedor. Outra não é a determinação do art. 25, § 1º, do CDC, segundo o
qual, havendo mais de um responsável pela causação do vício do produto ou serviço, todos responderão
solidariamente pela reparação. Outra regra importante, relativa ao defeito (fato) do produto ou serviço, está
elencada no art. 25, § 2º, do CDC, que evidencia a responsabilidade solidária por eventual dano causado
pelo fabricante, construtor ou importador que realizou a incorporação do componente ou peça incorporada
ao produto ou serviço.
26 – Platão comprou um veículo seminovo e, ao sair da concessionária, colidiu contra um
veículo de terceiro no primeiro semáforo, em virtude de problemas no freio do carro, causando
danos materiais. Contra qual fornecedor Platão poderá requerer indenização por danos materiais?
Fundamente.
R: Por se tratar de responsabilidade pelo fato do produto (vício + dano externo), aplicam-se os arts.
12 e 13. Logo, no caso, Platão deverá acionar apenas a fabricante do veículo e, caso constatado problema
específico em alguma peça do freio do motor, pode acionar seu fabricante, construtor ou importador e o
que realizou a incorporação (art. 25, § 2º).
27 – É permitida a utilização de denunciação à lide nas demandas que tratam de relação de
consumo? Fundamentar a resposta.
R: Na hipótese de responsabilidade pelo fato do produto, o CDC expressamente proíbe a utilização
da denunciação da lide (art. 88). Nos demais casos (responsabilidade pelo fato do serviço e
responsabilidade pelo vício do produto ou serviço), há divergência jurisprudencial quanto à sua
admissibilidade. Há precedentes do STJ (jurisprudência minoritária) que admite a denunciação da lide nos
casos de responsabilidade pelo fato do serviço ou pelo vício do produto ou serviço, com fundamento na
ausência de impeditivo legal estabelecido pela legislação consumerista para esses casos. Outra corrente,
majoritária no STJ, entende que, em se tratando de relação de consumo, não pode haver denunciação à lide,
sob pena de indevida ampliação do objeto da lide, em virtude da necessidade de discussão e ampliação da
fase de instrução probatória para analisar a responsabilidade nas relações jurídicas estabelecidas entre os
fornecedores (em regra responsabilidade subjetiva), com o consequente retardo no andamento do processo
e consequente prejuízo ao consumidor. Além desses posicionamentos, surge no STJ uma terceira solução,
no sentido de permitir a denunciação à lide apenas na hipótese de o denunciado não invocar fato novo ou
distinto daquele que foi veiculado na defesa da demanda principal, pois nesse caso não haveria a
necessidade de produção de novas provas em razão da própria necessidade instrutória do processo principal
(STJ, Resp 299.108/RJ).
28 – A hipótese prevista no art. 12, § 2º, CDC diz respeito à isenção de responsabilidade do
fornecedor pelo fato ou vício do produto?
R: Muito embora o dispositivo apontado esteja inserido dentro da norma que trata de
responsabilidade pelo fato do produto, entende a doutrina que, na realidade, o parágrafo 2º está a tratar de
responsabilidade pelo vício do produto ou serviço, pois não se verifica nenhum dano exterior apto a ensejar
o reconhecer eventual fato (defeito) do produto. Por exemplo, o parágrafo trata da adoção pelo fornecedor
de nova tecnologia inserida no produto, posteriormente à sua aquisição pelo consumidor, ressaltando que,
nesse caso, não há possibilidade do consumidor ser indenizado em virtude da “melhor qualidade” do novo
produto disponibilizado no mercado de consumo, ainda que em virtude da nova tecnologia reste
demonstrada a diminuição de valor do produto antigo (por exemplo, um carro de determinado modelo que
antes tinha sua revisão a cada 5.000 km e agora as revisões são realizadas a cada 10.000 km; ou um carro
que passa a ter o denominado “kit multimídia” de fábrica, sem elevação do valor original). Essa hipótese se
adequa melhor à responsabilidade do fornecedor pelo vício do produto (art. 18), em virtude da possível
diminuição do produto antigo em virtude da melhoria verificada no novo produto colocado no mercado.
29 – Há alguma exceção à regra da responsabilidade objetiva do fornecedor no CDC? Qual a
diferença entre responsabilidade objetiva e subjetiva?
R: O CDC estabelece como exceção à regra geral da responsabilidade objetiva a responsabilidade
subjetiva dos profissionais liberais (ex: advogado, médico, arquiteto, dentre outros), a qual será apurada,
em regra, mediante a verificação de culpa. A diferença se verifica porque na responsabilidade objetiva não
há a necessidade de comprovação do elemento subjetivo do causador (agente) do dano – dolo ou culpa –,
bastando ao lesado comprovar a ação/omissão, nexo de causalidade e dano. Já na responsabilidade
subjetiva, exige-se a necessidade de demonstrar o dolo ou culpa do agente causador do dano. Importante
mencionar que a jurisprudência mais recente do STJ tem afastado a aplicação do CDC às relações entre
clientes e advogados, sob o fundamento de que a relação é regida pelo Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94),
que trata especificamente de diversas questões, como honorários, publicidade, dentre outras.
30 – As defesas que podem ser apresentadas pelo fornecedor como excludentes do nexo de
causalidade, previstas no art. 12, § 3º, CDC, são taxativas (numerus clausus ou numerus apertus)?
Aplica-se a inversão do ônus da prova nessas hipóteses? Explicar.
R: Há entendimento doutrinário respeitável no sentido de que as defesas elencadas no art. 12, § 3º,
CDC são taxativas, em virtude da própria redação do dispositivo legal que expressamente determina que os
fornecedores ali elencados “só não” serão responsabilizados nas hipóteses que elenca. No entanto, a
jurisprudência do STJ tem admitido a quebra do nexo de causalidade apto a excluir a responsabilidade dos
fornecedores nas hipóteses em que se comprova a existência de caso fortuito ou força maior. Muito embora
a jurisprudência do STJ não se preocupe em diferenciar os institutos do caso fortuito ou força maior (tarefa
que é empreendida pela doutrina), temse realizado a diferenciação entre fortuito interno (aquele que
decorre da própria atividade do fornecedor) e fortuito externo (relativo aos eventos que não guardam
relação com as atividades desenvolvidas pelo fornecedor), admitindo-se a responsabilização do fornecedor
apenas nos casos de fortuito interno. Por exemplo, o STJ já decidiu que o assalto a uma agência bancária,
apenas de caso fortuito, seria um fortuito interno a ensejar a responsabilização do banco, por decorrer de
risco esperado e inerente ao próprio exercício das atividades realizadas pelas instituições financeiras. Em
outro caso, decidiu o STJ ser fortuito externo o assalto em cliente realizado no posto de combustível, não
ensejando a responsabilidade do fornecedor, em virtude da total ausência de vinculação ou risco decorrente
das atividades exercidas pelo fornecedor.
31 – Na responsabilidade pelo fato do produto, quais as hipóteses em que o comerciante é
responsável? Trata-se de responsabilidade solidária ou subsidiária?
R: Na responsabilidade pelo fato do produto art. 12, a responsabilidade do comerciante é exceção,
verificando-se apenas, conforme art. 13, em duas hipóteses: quando não for possível a identificação do
fornecedor (produtos a granel – como azeitonas ou tremoço – ou frutas expostas na feira, por exemplo) ou
quando se tratar de produtos perecíveis (carnes, iogurtes, v.g.). Muito embora parte significativa da
doutrina identifique que o caso seria de responsabilidade subsidiária, o melhor entendimento, defendido,
dentre outros, por Gustavo Tepedino, indica que se trata de responsabilidade solidária do comerciante com
o fabricante, construtor, produtor ou importador. O art. 13 assegura o direito de regresso daquele que
efetivar o pagamento ao prejudicado, mas o art. 88 expressamente proíbe a denunciação à lide.
32 – O artigo 13 aplica-se nas hipóteses de responsabilidade pelo fato do serviço? Explique.
R: Não, o artigo 13 tem aplicação apenas na responsabilização pelo fato do produto, aplicando-se à
responsabilidade pelo fato do serviço a regra do art. 14.
33 – Dermeval comprou uma televisão de 29 polegadas na loja Progresso Eletrônico e
contratou, na própria loja, um serviço de instalação da televisão para afixação na parede. No
contrato de prestação de serviços assinado na loja, havia: (a) cláusula expressa que excluía a
responsabilidade da loja pela prestação do serviço de instalação; (b) cláusula que limitava a
responsabilidade da loja por qualquer fato/vício do produto em 07 (sete) dias. Quinze dias depois, a
televisão soltou da parede e caiu no chão. A loja Progresso Eletrônico tem alguma responsabilidade,
segundo o CDC?
R: A loja terá responsabilidade, pois foi ela quem disponibilizou, ofertou e vendeu o serviço de
instalação, ainda que realizada por terceiro. Segundo o art. 7º, único, do CDC, tendo mais de um autor a
ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Trata-se de responsabilidade solidária da loja com o instalador. São nulas as cláusulas que excluem a
responsabilidade da loja e a cláusula que limita a responsabilidade por qualquer fato/vício em 07 dias,
conforme determinação expressa do art. 24, segundo o qual a garantia legal de adequação do produto ou
serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor, e o art. 25, que veda a
estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar do
fornecedor. A despeito da existência de solidariedade da loja e do fabricante, o STJ tem alguns precedentes
no sentido de que aparelhos que apresentam defeito dentro do prazo legal de garantia devem ser entregues
pelo consumidor nos postos de assistência técnica, e não nas lojas onde foram comprados, a menos que o
serviço de reparação especializada não esteja disponível no município. O posicionamento, importante
frisar, ainda não está consolidado e não afasta, em nenhuma hipótese, a responsabilidade subsidiária, pois
trata apenas da assistência técnica decorrente do vício do produto.
34 – Analise a afirmação: o sistema de responsabilização do CDC é pautado exclusivamente
na responsabilidade objetiva.
R: A afirmação não está correta. Muito embora a regra do CDC seja de responsabilização objetiva,
vale dizer, sem a necessidade de demonstração de dolo ou culpa do agente causador do dano, o art. 14, § 4º
expressamente determina que a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa.
35 – Motoqueiro atropelado por um ônibus responsável pelo transporte intermunicipal pode
se valer da aplicação do CDC, mesmo que nunca tenha utilizado os serviços da empresa de ônibus?
R: O CDC permite nessa hipótese que o motoqueiro utilize o CDC para buscar a indenização pelos
danos suportados, ainda que nunca tenha utilizado dos serviços da empresa. Trata-se do conceito de
consumidor por equiparação legal, o qual engloba também as denominadas “vítimas do evento”, com
fundamento no art. 17 do Código, o qual expressamente determina que são equiparados aos consumidores
todas as vítimas do evento.
36 – Josevaldo, executivo de uma empresa, recebeu o Diretor da América Latina da referida
empresa em sua cidade e o levou para almoçar, com o objetivo de tratar de assuntos ligados ao
exercício de suas atividades profissionais. Ao efetuar o pagamento do almoço por meio do cartão de
crédito, foi surpreendido pela mensagem de que seu limite havia estourado, a despeito de ter quitado
a dívida existente dentro da data de vencimento. Na mesma ocasião, constrangido pela situação e sem
ter outra forma de pagamento disponível, ligou para a administradora de cartões e recebeu a
informação de que não constava o pagamento da última fatura, razão pela qual o pagamento não
seria autorizado. O Diretor da empresa, visivelmente incomodado, efetuou o pagamento e evitou
tratar de qualquer outro assunto corporativo. Uma semana depois, Josevaldo foi surpreendido com
sua demissão do emprego, a pedido expresso do Diretor. Há alguma responsabilidade do
restaurante? E da administradora do cartão de crédito?
R: O caso deve ser analisado sob a perspectiva da responsabilização do fornecedor pelo fato do
serviço (art. 14), em razão da existência de danos externos (ainda que de natureza moral) que podem ter
sido gerados pelo defeito na prestação do serviço. No caso não há qualquer possibilidade em sustentar a
responsabilidade do restaurante, já que não pode ser considerado fornecedor do serviço oferecido pela
administradora do cartão de crédito. Já em relação à administradora do cartão, o consumidor terá amparo e
proteção legal para ser indenizado dos danos supostamente auferidos em virtude do defeito no serviço, de
natureza moral ou material, desde que efetivamente comprove a sua existência (por exemplo, por meio da
oitiva do próprio Diretor da empresa ou outros prepostos da empresa no sentido de demonstrar a
inexistência de motivos que levariam à sua demissão).
37 – Péricles comprou um veículo novo na concessionária que, infelizmente, veio com vício de
fabricação, pois o carro “morria” sempre que preciso parar no sinal. Em virtude do vício,
compareceu na concessionária e exigiu a imediata substituição do produto com outro. Como
advogada(o) da concessionária, esclarecer a responsabilidade da concessionária e sua respetiva
obrigação em promover a troca imediata do veículo.
R: Por se tratar de responsabilidade pelo vício do produto (art. 18), a responsabilidade será
solidária entre a fabricante do veículo e a concessionária. No entanto, a concessionário não é obrigada a
promover a imediata substituição do carro, já que o próprio CDC, no seu art. 18, § 1º, expressamente
admite a possibilidade de que o vício seja sanado em 30 dias, antes de permitir ao consumidor que exija,
alternativamente e à sua escolha, uma dentre três opções: (a) a substituição do produto por outro da mesma
espécie, em perfeitas condições de uso; (b) a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; e (c) o abatimento proporcional do preço.
38 – Em caso de vício do produto, o fornecedor pode limitar as opções de escolha do
consumidor para a correção?
R: Não pode, e o CDC é expresso nesse sentido, conforme redação do art. 18, § 1º. Não sanado o
vício em 30 dias, o consumidor pode exigir, alternativamente e à sua escolha, uma dentre três opções: (a) a
substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; (b) a restituição
imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; e (c) o
abatimento proporcional do preço.
39 – Na aquisição de um aparelho de blu-ray 3D e diversos filmes, Creonte ficou indignado ao
verificar que a tecnologia 3D não funcionava. Ao comparecer na loja, recebeu a surpreendente
notícia de que o fornecedor disporia de um prazo de180 (cento e oitenta) dias para a correção,
conforme a cláusula n. 41 do contrato de aquisição do aparelho. Creonte é obrigado a aceitar a
imposição do referido prazo?
R: A cláusula é nula, pois a ampliação do prazo previsto no art. 18 para 180 dias nos contratos de
adesão deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. (art. 18,
§ 2º). No caso, não foi convencionado em separado o prazo e não há manifestação expressa do consumidor,
razão pela qual o prazo para sanar o vício deverá ser de, no máximo, 30 dias (art. 18, § 1º).
40 – Ao dispor sobre a responsabilidade do fornecedor pelo vício do produto, o CDC trata da
possibilidade de indenização por perdas e danos do consumidor prejudicado. Não seria caso de
responsabilidade pelo fato, e não vício, do produto?
R: A regra apontada na questão está no art. 18, § 1º, II, ao prever que na hipótese de vício do
produto o consumidor poderá exigir, alternativamente e à sua escolha, a restituição da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. Como é cediço, se além do vício no
produto se verificar um dano externo, de natureza material ou moral, a questão é regulada pelo CDC como
sendo de fato (defeito) do produto ou serviço. Por esse motivo, entende a doutrina que a regra estatuída art.
18, § 1º, II, do CDC, ao prever a possibilidade de indenização por perdas e danos (indenização que também
se aplica, conforme a doutrina, nas hipóteses dos incisos I e III, apesar de ausência de previsão expressa)
está a se referir ao prejuízo eventualmente suportado pelo consumidor em virtude da omissão do
fornecedor em não sanar o vício no prazo de 30 dias, razão pela qual a hipótese é mesmo de vício, e não
fato do produto.
41 – Há alguma exceção ao prazo de 30 (trinta) dias concedido ao fornecedor para a
reparação de vícios do produto?
R: Para a resposta à assertiva ser completa, pode-se mencionar duas hipóteses à exceção do prazo
de 30 dias concedido ao fornecedor para a reparação de vícios do produto (art. 18, § 1º). Em primeiro lugar,
quando as partes convencionarem a redução ou ampliação do prazo de 30 dias, não podendo ser inferior a
sete nem superior a cento e oitenta dias (art. 18, § 2º). A segunda exceção diz respeito à hipótese em que,
em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou
características do produto (por exemplo, um conjunto de rodas originais que caracterizam uma produção de
veículos em escala limitada), diminuir-lhe o valor (por exemplo, necessidade de trocar o motor do veículo
em virtude de defeitos de fábrica) ou se tratar de produto essencial (alimentos, medicamentos, por
exemplo).
42 – Na impossibilidade de substituição de um aparelho televisor adquirido em promoção e
cujo vício era insanável, o consumidor é obrigado pela loja a aceitar um produto similar de outra
reconhecida, também em promoção, com o mesmo preço pago pelo primeiro televisor. O
consumidor, tendo manifestado interesse na substituição do produto, deve aceitar a imposição da
loja?
R: Não. Em não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de
espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de
preço, à escolha do consumidor. Desse modo, a imposição da loja é abusiva porque a escolha cabe ao
consumidor. A regra está prevista no art. 18, § 4º, CDC).
43 – É possível responsabilidade por fato do produto em virtude de vício de quantidade de
determinado produto? Explique e dê um exemplo.
R: Sim, é possível. Por exemplo, o consumidor compra 15 caixas de cerveja em um depósito que
estavam em promoção para o batizado de sua filha, que ocorrerá no domingo. As caixas são entregues no
sábado, mas o consumidor percebe apenas no domingo pela manhã que foram entregues apenas 8 caixas.
Ao procurar o fornecedor, descobre que o depósito não abre aos domingos. Nesse caso, poderá comprar as
caixas em outro estabelecimento, pois teve um prejuízo externo em virtude do vício de quantidade do
produto, e o depósito será obrigado a indenizá-lo pelo valor pago a mais pelas caixas de cerveja no outro
estabelecimento.
44 – Quais as opções franqueadas ao consumidor no caso de vício de quantidade do produto?
R: No caso de vício de quantidade do produto ou serviço (por exemplo, compra 10 quilos de
muçarela, mas recebe apenas 9 quilos; compra 50 litros de chope, mas recebe apenas 40; compra uma caixa
fechada com 12 vinhos de determinado produtor, mas recebe apenas 8 unidades), regulamentada no art. 19
do CDC, é franqueada ao consumidor uma dentre quatro opções: (a) exigir o abatimento proporcional do
preço; (b) solicitar a complementação do peso ou medida; (c) exigir a substituição do produto por outro da
mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios. Não sendo possível a substituição do bem,
poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço (art. 19, § 1º); (d) exigir a restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. A escolha de uma das quatro opções
é direito subjetivo do consumidor, ou seja, não há interferência do fornecedor, devendo-se ter cautela, no
entanto, com eventual abuso no exercício do direito.
45 – Valmir teve problema com os amortecedores do seu veículo. Ao procurar a
concessionária, como não havia o componente de reposição original, foi-lhe oferecido um outro
amortecedor sem as especificações técnicas do fabricante. Valmir aceitou expressamente a
modificação por outro componente com especificação técnica divergente. Nos termos do art. 21 do
CDC, é possível essa prática? E se a concessionária ofertasse um componente usado, poderia ser
aceito mediante prévia concordância do consumidor?
R: Apesar da redação do art. 21 do CDC, entende-se que o componente de reparação de qualquer
produto deve observar sempre a especificação técnica do fabricante, não pode o consumidor autorizar a
utilização de um componente com especificação técnica divergente. O entendimento se justifica em virtude
da ausência de conhecimentos técnicos específicos do consumidor e do dever de informação do fornecedor,
inclusive quanto às especificações técnicas corretas, inclusive como forma de proteger o consumidor contra
riscos. Por outro lado, ainda a despeito da redação do art. 21, admitese a utilização de um componente
usado ou não original, desde que observe as especificações técnicas exigidas pelo fabricante e desde que se
obtenha concordância expressa do consumidor.
46 – É permitido ao fornecedor e consumidor, de comum acordo, reduzir o prazo de garantia
legal estabelecido no CDC?
R: Não, é vedada a exoneração contratual do fornecedor acerca da garantia legal de adequação do
produto ou serviço, o qual inclusive independe de termo expresso (art. 24). Do mesmo modo, o art. 25 do
CDC diz que é vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a
obrigação de indenizar
47 – Enumerar os prazos de decadência de prescrição no CDC?
R: Os prazos de decadência no CDC dependerão da natureza do produto ou serviço, se durável ou
não durável (art. 26): se se tratar de produto ou serviço não durável, o prazo será de 90 dias; para os
produtos duráveis, o prazo decadencial é de 30 dias. As hipóteses de decadência previstas no CDC se
aplicam às hipóteses de vício do produto ou serviço. Já o prazo prescricional do CDC, previsto para as
hipóteses de fato do produto ou serviço, será de 5 anos (art. 27).
48 – Quais são as causas que obstam a decadência, conforme o CDC? A reclamação em órgão
público de proteção ao consumidor tem o condão de evitar a fluência do prazo decadencial?
R: Contrariando a tradição do Código Civil, no sentido de que a decadência, ao contrário da
prescrição, não se interrompe ou suspende, o CDC, no seu art. 26, § 2º, determina que a prescrição se
interrompe em duas hipóteses: (a) conforme inciso I, obsta a decadência a reclamação comprovadamente
formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca. Não é exigida forma; (b) a instauração de
inquérito civil, até seu encerramento.
49 – A apresentação de reclamação no Procon realizada pelo consumidor pode ser
considerada causa obstativa da decadência?
R: Apesar da existência de entendimentos doutrinários em sentido contrário, a hipótese não é causa
obstativa do prazo decadencial, pois não expressamente mencionada no art. 26 do CDC. A redação original
do inciso II do art. 26, vetado pelo Presidente da República, determinava que obsta a decadência “a
reclamação formalizada perante os órgãos ou entidades com atribuições de defesa do consumidor, pelo
prazo de noventa dias”. Em virtude do veto presidencial, não se deve considerar como causa obstativa da
decadência, cabendo ao Procon, a fim de tutelar da melhor maneira possível os direitos dos consumidores,
instruí-los a formularem reclamação diretamente perante o fornecedor.
50 – Analise a veracidade da seguintes afirmação: no CDC, o prazo prescricional aplicase ao
fato do produto ou serviço; já a decadência, aplica-se à hipótese de vício do produto ou serviço.
R: A assertiva está correta.

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