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ANA JÚLIA CITRO PEREIRA DE SOUZA

ISABELLY ALTRAN MAXIMO MUNHOZ


PÂMELA BEATRIZ CARDOSO VITRO FRANCISCO

A RELAÇÃO DE CONSUMO E SEUS ELEMENTOS

Andradina – SP
Março / 2024
INTRODUÇÃO

Dentro do Direito do Consumidor, as relações de consumo desempenham um papel


fundamental na proteção dos direitos dos consumidores em transações comerciais. Essas
relações envolvem a interação entre consumidores e fornecedores de produtos ou serviços, e
são reguladas por leis e regulamentos específicos que visam garantir a equidade, a segurança e
a transparência nessas transações.
A legislação de proteção do consumidor geralmente estabelece uma série de direitos e
responsabilidades tanto para os consumidores quanto para os fornecedores. Alguns dos
princípios fundamentais incluem:
Informação adequada e clara: Os fornecedores têm o dever de fornecer informações
precisas, claras e completas sobre os produtos ou serviços oferecidos, incluindo características,
preços, garantias, prazos de entrega, entre outros aspectos relevantes. Os consumidores têm o
direito de tomar decisões informadas com base nessas informações.
Qualidade e segurança dos produtos e serviços: Os produtos e serviços devem
atender aos padrões de qualidade e segurança estabelecidos pelas normas técnicas e
regulamentações aplicáveis. Os consumidores têm o direito de receber produtos e serviços
seguros e adequados ao fim a que se destinam.
Responsabilidade por danos: Os fornecedores são responsáveis por eventuais danos
causados aos consumidores por defeitos nos produtos ou serviços fornecidos, seja por falha na
fabricação, na prestação do serviço ou por informações enganosas. Os consumidores têm o
direito de serem indenizados por danos materiais ou morais decorrentes dessas situações.
Direito de arrependimento: Em algumas jurisdições, os consumidores têm o direito
de desistir de uma compra realizada fora do estabelecimento comercial (por exemplo, compras
pela internet ou telefone) dentro de um prazo determinado, sem a necessidade de justificar a
decisão.
Além disso, as relações de consumo também envolvem questões como publicidade
enganosa, práticas comerciais abusivas, contratos de adesão, entre outras. O Direito do
Consumidor busca equilibrar o poder entre consumidores e fornecedores, promovendo a justiça
e a proteção dos direitos dos consumidores em todas as etapas da relação comercial.
A IMPORTÂNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Primeiramente, cabe destacar a importância do CDC em garantir direitos e


responsabilidades para consumidores e fornecedores dentro das relações de consumo. Vamos
analisar cada parte:
As normas de proteção do consumidor referem-se ao conjunto de leis e regulamentos
criados para proteger os direitos dos consumidores. Essas leis são implementadas em diversas
jurisdições, e têm como objetivo regular as relações entre consumidores e fornecedores, além
de possuir algumas características particulares:
Define e regulamenta as relações de consumo: Isso significa que a legislação
estabelece as regras e padrões que devem ser seguidos nas transações comerciais entre
consumidores e fornecedores. Ela define o que constitui uma relação de consumo e estipula os
direitos e obrigações de ambas as partes envolvidas.
Estabelece direitos e responsabilidades para ambas as partes envolvidas: A
legislação define os direitos dos consumidores, como o direito à informação adequada, à
segurança dos produtos e serviços, à reparação de danos, entre outros. Além disso, também
atribui responsabilidades aos fornecedores, como o dever de fornecer produtos de qualidade, de
prestar serviços com competência e de indenizar os consumidores em caso de danos.
Busca garantir a equidade, a transparência e a segurança nas transações
comerciais: O objetivo principal do Direito do Consumidor é assegurar que as relações de
consumo ocorram de forma justa e transparente, promovendo a igualdade de condições entre as
partes e protegendo os consumidores de práticas comerciais desleais ou prejudiciais.
Protege os consumidores de práticas abusivas ou danosas por parte dos
fornecedores: A legislação de proteção do consumidor visa prevenir e punir práticas
comerciais abusivas, como publicidade enganosa, venda de produtos defeituosos ou serviços
inadequados, bem como oferecer recursos para os consumidores em caso de violação de seus
direitos.

O QUE É A RELAÇÃO DE CONSUMO

Uma relação de consumo ocorre quando uma pessoa física ou jurídica (o consumidor)
adquire produtos ou utiliza serviços fornecidos por outra parte, que pode ser um indivíduo, uma
empresa ou uma instituição (o fornecedor), para satisfazer suas necessidades pessoais ou
profissionais. Essa relação é caracterizada pela aquisição de bens ou serviços que são
disponibilizados no mercado de consumo.
Existem três elementos essenciais que caracterizam uma relação de consumo:
Consumidor: É a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviços
como destinatário final. Em outras palavras, o consumidor é aquele que não revende os produtos
ou serviços adquiridos, mas sim os utiliza para seu próprio consumo ou benefício.
Fornecedor: É a pessoa física ou jurídica que oferece produtos ou serviços no mercado
de consumo. O fornecedor pode ser o fabricante, o produtor, o construtor, o importador, o
comerciante ou qualquer outra entidade que coloque produtos ou serviços à disposição dos
consumidores.
Produto ou serviço: Refere-se ao objeto da transação comercial, ou seja, o bem
fornecido ou o serviço prestado pelo fornecedor ao consumidor. Um produto pode ser tangível,
como um produto físico, ou intangível, como um software. Um serviço, por sua vez, é uma
atividade realizada em benefício do consumidor, como reparos, consultas médicas, transporte,
entre outros.
O Código de Defesa do Consumidor, define e regulamenta as relações de consumo,
estabelecendo direitos e responsabilidades para ambas as partes envolvidas. O Direito do
Consumidor busca garantir a equidade, a transparência e a segurança nas transações comerciais,
protegendo os consumidores de práticas abusivas ou danosas por parte dos fornecedores.

TEORIAS ACERCA DO TERMO “DESTINATÁRIO FINAL”

O Legislador Consumerista definiu consumidor como toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produtos ou serviços como destinatário final. Para pessoa física, isso significa
usar o produto sem a intenção de revender, enquanto para pessoa jurídica implica usar os
produtos para suas próprias necessidades, sem a intenção de revendê-los ou usá-los na produção
de outros bens.
Segundo o Professor Rizzatto Nunes, essa definição se aplica a qualquer pessoa jurídica,
incluindo entidades de direito público.

Como a norma não faz distinção trata-se de toda e qualquer pessoa


jurídica, quer seja uma microempresa quer seja uma multinacional,
pessoa jurídica civil ou comercial, associação, fundação etc.
A partir desse ensinamento é possível concluir que, desde que seja destinatária final de
um produto ou serviço, a pessoa jurídica de direito público também será considerada
consumidor.
As atividades econômicas, incluindo o mercado de consumo, abrangem a produção,
circulação, distribuição e consumo de produtos e serviços. Nessa perspectiva, para fins
doutrinários, considera-se consumidor aquele que, ao adquirir um produto ou serviço, encerra
a cadeia de produção.
No que se refere ao consumidor destinatário final, é possível estender a aplicação da
legislação consumerista aos usuários dos produtos ou serviços, mesmo que não os tenham
adquirido. Portanto, se Ana compra um livro para presentear seu amigo João em seu aniversário,
embora João não tenha comprado o livro, ele é o destinatário final desse produto, pois o utilizará
para leitura e seu próprio benefício. Nesse caso, mesmo não sendo o comprador original, João
é considerado um destinatário final do livro.
O termo "destinatário final" é essencial no Direito do Consumidor, pois muitas vezes
determina a aplicação das normas protetivas desse campo jurídico. Existem várias correntes
que surgiram com o propósito de definir quem é considerado o destinatário final para que a
legislação consumerista possa ser aplicada. Algumas dessas teorias se sobressaíram e ganharam
maior relevância, são elas: Teoria Finalista, Teoria Objetiva ou Maximalista e Teoria Finalista
Mitigada.
Teoria Finalista: Essa teoria é amplamente adotada em muitas doutrinas, considera o
destinatário final como aquele que adquire o produto ou serviço para consumo próprio, isto é,
para satisfazer suas próprias necessidades ou as de sua família. De acordo com essa corrente, o
consumidor final não tem a intenção de revender ou transformar o produto ou serviço em outro
produto para venda, razão pela qual é interrompida a cadeia de produção e circulação desses
bens ou serviços.
A professora Cláudia Lima Marques sustenta que:

Esta interpretação restringe a figura do consumidor àquele que adquire


(utiliza) um produto para uso próprio e de sua família; consumidor seria
o não profissional, pois o fim do CDC é tutelar de maneira especial um
grupo da sociedade que é mais vulnerável. Consideram que,
restringindo o campo de aplicação do CDC àqueles que necessitam de
proteção, ficará assegurado um nível mais alto de proteção para estes,
pois a jurisprudência será construída sobre casos em que o consumidor
era realmente a parte mais fraca da relação de consumo, e não sobre
casos em que profissionais-consumidores reclamam mais benesses do
que o direito comercial já lhes concede
Na perspectiva dessa teoria o destinatário final é explorado de maneira bem limitada, de
modo que o destinatário precisa ser, necessariamente, detentor do produto ou serviço, sendo ele
pessoa jurídica ou física, ou seja, aquele produto ou serviço não poderá ser usado para
arrecadação de lucro.
Exemplo: Maria vai a uma loja e adquire um smartphone para utilizar em seu dia a dia,
para fazer chamadas, enviar mensagens, acessar a internet e usar aplicativos. Nesse caso, Maria
é considerada o destinatário final do smartphone de acordo com a teoria finalista, pois ela
adquiriu o produto para seu próprio uso e não com o objetivo de revendê-lo ou utilizá-lo para
fins comerciais.
Teoria Maximalista: Ao contrário de outras teorias mais restritivas, como o finalista
ou a finalista mitigada, a teoria maximalista amplia o escopo do termo "consumidor" para
abranger uma gama mais ampla de situações e participantes na relação de consumo.
Sob a ótica dessa teoria um consumidor não é apenas aquele que adquire produtos ou
utiliza serviços para consumo pessoal ou familiar, como nas teorias finalistas. Em vez disso,
essa corrente considera consumidor qualquer pessoa ou entidade que participe de uma relação
de consumo, independentemente da finalidade do produto ou serviço, ou se ele será revendido,
ou mesmo usado com fins profissionais.
O juiz e doutrinador Jorge Alberto Quadros de Carvalho Silva faz as seguintes
considerações sobre essa abordagem:

Consumidor é quem adquire no mercado de consumo o produto ou


serviço; aquele em razão de quem é interrompido a cadeia de produção
e circulação de certos bens e serviços, para usufruir ele mesmo, ou
terceiro a quem os ceda, das respectivas funções – ainda que esses bens
e serviços possam ser empregados, indiretamente, no exercício de sua
empresa ou profissão, isto é, ainda que venham a ser interligados,
acessoriamente, à sua atividade produtiva ou profissional, coletiva ou
individual, voltada ou não para o lucro (destinatário final fático).
Embora tenha conferido maior abrangência ao termo consumidor esta teoria introduziu
também uma flexibilidade significativa ao conceito, incluindo até mesmo os profissionais, sem
levar em consideração o propósito do bem, mas sim a saída do produto do mercado.
Exemplo: uma empresa de pequeno porte que adquire equipamentos de escritório, como
impressoras e computadores, para uso em suas operações comerciais. Embora a empresa utilize
esses equipamentos em seu ambiente de trabalho, esses produtos não voltarão a incorporar a
cadeia de produção.
Teoria Finalista Mitigada: o Superior Tribunal de Justiça criou uma corrente
intermediária, que leva em consideração não só a destinação do produto ou serviço adquirido,
mas o poder econômico do consumidor.
Essa teoria busca uma interpretação mais flexível do conceito de consumidor do que a
Teoria Finalista ou a Teoria Maximalista, ao mesmo tempo em que mantém alguns dos
princípios fundamentais destas.
O doutrinador Nehemias Domingos de Melo justifica a aplicação desta teoria, sustentando que:

O CDC considera pessoa jurídica consumidora, conforme expresso no


caput do art. 2º do Código Consumerista; ainda que o produto seja
transformado para uso próprio, essa condição, de per si, não retira do
adquirente a condição de consumidor final, assim, esse consumidor
merece a proteção do CDC; e se o CDC quisesse excluir os
profissionais, teria feito menção expressa, assim como se desejasse
excluir a pessoa jurídica não a teria mencionado

Exemplo: uma empresa contrata um fornecedor de serviços para realizar uma obra e o serviço
prestado é de má qualidade. A empresa pode não possuir os mesmos direitos de um consumidor
comum para exigir reparação pelo prejuízo causado, mas mesmo assim será considerada
consumidora e poderá pedi-la.

A VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR NA RELAÇÃO DE CONSUMO

A vulnerabilidade do consumidor na relação de consumo refere-se à posição desigual


de poder entre consumidores e fornecedores em transações comerciais. Essa vulnerabilidade
pode se dar de diversas maneiras, incluindo a disparidade de conhecimento, dependência
econômica, desigualdade de poder de negociação, entre outros.
Frequentemente, os fornecedores têm mais informações sobre os produtos ou serviços
do que os consumidores. Isso pode colocar os consumidores em desvantagem ao tomar decisões
de compra, especialmente quando se trata de produtos ou serviços complexos, como produtos
financeiros ou tecnológicos.
Os consumidores muitas vezes dependem dos produtos ou serviços fornecidos pelos
fornecedores para satisfazer suas necessidades básicas ou realizar atividades cotidianas. Essa
dependência econômica pode torna-los mais suscetíveis a práticas comerciais abusivas ou
manipulativas por parte dos fornecedores. Em muitos casos, os consumidores podem ter
recursos limitados, tanto financeiros quanto de tempo, para buscar reparação ou compensação
em caso de problemas com produtos ou serviços. Isso pode tornar mais difícil para eles acessar
os sistemas legais ou buscar soluções para os problemas enfrentados. Por esse motivo a
legislação consumerista permite a inversão do ônus probatório.
A inversão do ônus da prova é uma ferramenta fundamental do Direito do Consumidor
que busca equilibrar as relações entre consumidores e fornecedores, reconhecendo a
vulnerabilidade do consumidor em face ao fornecedor.
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, a inversão do ônus da prova pode
ocorrer quando o consumidor se encontra em uma posição de hipossuficiência.
Tradicionalmente, o ônus probatório recai sobre a parte que alega um fato, ou seja, cabe ao
autor de uma ação provar os fatos por ele afirmados. No entanto, nas relações consumeristas,
essa lógica pode ser revertida em certas circunstâncias.

CARACTERIZAÇÃO DA RELAÇÃO CONSUMERISTA

A caracterização da relação consumerista no âmbito dos tribunais geralmente envolve a


análise de diversos elementos para determinar se uma relação jurídica se enquadra nas
disposições do Código de Defesa do Consumidor (CDC) ou em outras legislações específicas
de proteção ao consumidor.
Existem casos onde o juízo identifica a relação de consumo de plano, julgando ser o
caso de incidência do CDC, como no seguinte julgado:

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO CARTÃO DE


CRÉDITO Sentença de improcedência Irresignação do autor Incidência
do CDC, o que não denota nexo causal automático com a inversão do
ônus da prova - Taxa média de mercado que é apenas um referencial
Juros aplicados que não desbordaram de forma excessiva da média de
mercado - Não demonstrada a abusividade - Inexistência de
capitalização de juros nos contratos de cartão de crédito, uma vez que
não se trata de financiamento da dívida, mas de refinanciamento mensal
a cada fatura não paga na data de seu vencimento - Afirmação de
pagamento de fatura inadimplente - Comprovação que deveria ter sido
feita pelo autor, a despeito da inversão do ônus da prova - Ausência de
hipossuficiência do consumidor nesse sentido – Prova diabólica de fato
negativo que não pode ser exigida do fornecedor Recurso desprovido,
com majoração dos honorários recursais. (Apelação Cível nº 1006781-
05.2023.8.26.0361)

O tribunal entendeu ser inegável a aplicação da legislação consumerista, como se denota


do trecho do Acórdão:

Emerge como fato incontroverso a existência de relação de consumo,


impondo-se, pois, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, em
consonância com a súmula nº 297 do Egrégio Superior Tribunal de
Justiça (“O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras”).

Nesse mesmo sentido foi também o julgamento da seguinte Apelação Cível:

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO CUMULADA


COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO - Sentença de parcial procedência
Insurgência de ambas as partes - Recurso da autora intempestivo – Não
conhecimento - Recurso da ré - Incidência do Código de Defesa do
Consumidor - Irregularidade na cobrança de tarifa de avaliação do bem
e de registro do contrato, cuja prestação de serviço correlata não foi
demonstrada - REsp Repetitivo nº. 1.578.553-SP - Seguro prestamista
- Abusividade - REsp repetitivo nº. 1.639.259-SP – Ausência de opção
para a consumidora de escolher outras seguradoras que não as indicadas
pela ré - Venda casada configurada - Ilegalidade da tarifa de
capitalização de parcela premiável - Documentos apresentados pela ré
em sede de apelação que não podem ser admitidos, nos termos dos arts.
434 e 435, CPC - Sentença mantida Recurso da autora não conhecido e
recurso da ré desprovido. (Apelação Cível nº 1001668-
65.2022.8.26.0374)
Contudo, existem alguns dos pontos que os tribunais consideram ao caracterizar uma
relação como consumerista. Cada caso é analisado individualmente, levando-se em conta as
circunstâncias específicas e a legislação aplicável, e dado o contexto, os tribunais entendem não
ser o caso da caracterização da relação consumerista, como foi nos seguintes julgamentos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE ACOLHEU


EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA PARA REMESSA DOS AUTOS
AO FORO DO LOCAL DOS DANOS. PRERROGATIVAS
PROCESSUAIS DO SEGURADO CONSUMIDOR QUE NÃO SE
TRANSMITEM À SEGURADORA. SUB-ROGAÇÃO QUE
OCORRE APENAS NO PLANO DO DIREITO MATERIAL.
DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Processo nº
2014462-88.2024.8.26.0000)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REGRESSIVA.


SEGURADORA SUB-ROGADA NOS DIREITOS DO SEGURADO.
PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO DE DANOS POR
OSCILAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. REDISTRIBUIÇÃO
DETERMINADA EX OFFICIO PELO MAGISTRADO, QUE
AFASTOU A INCIDÊNCIA DO ARTIGO 101 DO CDC NO CASO.
NORMA DE DIREITO PROCESSUAL QUE NÃO É APLICÁVEL
AO SUB-ROGADO. PRERROGATIVA PERSONALÍSSIMA DO
CONSUMIDOR. SUB-ROGAÇÃO QUE OCORRE APENAS NO
PLANO DO DIREITO MATERIAL. DECISÃO CONFIRMADA.
- RECURSO DESPROVIDO. (Processo nº 2152169-
69.2022.8.26.0000)

Ambos os julgados se tratam de agravo de instrumento interposto com o fim de


reconhecer a relação de consuma para que a competência territorial da ação seja a do foro no
qual foi distribuída a demanda.
O colegiado acabou por entender que a legislação consumerista seria inaplicável ao sub-
rogado, tendo em vista que a sub-rogação teria ocorrido no plano de direito material, conforme
a seguinte justificativa, retirada do acórdão do último julgamento mencionado acima:

A invocada sub-rogação da seguradora, nos direitos do segurado, pelo


pagamento da indenização, não implica no automático reconhecimento
ao direito da inversão do ônus da prova com base no art. 6º, VIII, CDC.
Tal questão, contudo, não foi objeto de análise na decisão agravada, que
afastou a aplicação do artigo 101do CDC no caso.
Inaplicável, no entanto, ao sub-rogado, norma relativa ao direito
processual do consumidor, vocacionada à proteção do hipossuficiente,
pois a sub-rogação ocorreu meramente no plano de direito material do
segurado.

Resta claro que ao mesmo passo que a legislação de proteção ao consumidor dita os
requisitos da relação de consumo, os tribunais têm usado dessa precisão tanto quanto da
doutrina que expõe o conceito dessa relação jurídica para prolatar sentenças e acórdãos em total
acordo com as normas jurídicas do ordenamento brasileiro.

CONCLUSÃO

Ao abordarmos este tema, deparamo-nos com uma discussão vigorosa, já que as


diferentes teorias propostas pelos doutrinadores levantam questionamentos sobre o conceito de
consumidor.
As três correntes teóricas que buscam elucidar o significado dessa expressão apresentam
disparidades significativas entre si. A corrente Finalista, por exemplo, estipula que o
consumidor é apenas aquele que adquire um produto ou serviço no mercado de consumo,
interrompendo assim a cadeia de produção e circulação. Essa abordagem é notavelmente
restritiva, como exemplificado pela situação fática apresentada.
Conforme estipulado pelo Código de Defesa do Consumidor, fornecedor é toda pessoa
física ou jurídica que exerce de forma regular e habitual atividades como produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição e/ou comercialização
de produtos, bem como a prestação de serviços. Por outro lado, o consumidor é definido como
a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza um produto ou serviço como destinatário final.
Dessa forma, a noção de consumo está intimamente ligada à ideia de aquisição.
Consumir implica em adquirir produtos e serviços disponibilizados para o consumidor. Quando
a aquisição é realizada por uma pessoa física, para seu próprio uso, presume-se que esteja
configurada uma relação de consumo, sujeita às disposições do Direito do Consumidor.
Já no caso das pessoas jurídicas, é necessário examinar se o produto ou serviço em
questão será utilizado para os fins da empresa ou se a própria empresa será o destinatário final.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 7. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 5. ed. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Código de Defesa do Consumidor Anotado


e Legislação Complementar. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

MELO, Nehemias Domingos de. Dano Moral nas Relações de Consumo. São Paulo:
Saraiva, 2008.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1006781-05.2023.8.26.0361. Tribunal de Justiça do Estado de


São Paulo. 18/03/2024. Disponível em:
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/resultadoCompleta.do;jsessionid=5D84760510703FDF07493BB80
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APELAÇÃO CÍVEL Nº 1001668-65.2022.8.26.0374. Tribunal de Justiça do Estado de


São Paulo. 18/03/2024. Disponível em:
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/resultadoCompleta.do;jsessionid=5D84760510703FDF07493BB80
D7D9819.cjsg1. Acesso em: 18/03/2024

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2014462-88.2024.8.26.0000. Tribunal de Justiça


do Estado de São Paulo. 19/03/2024. Disponível em:
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/resultadoCompleta.do;jsessionid=5D84760510703FDF07493BB80
D7D9819.cjsg1. Acesso em: 19/03/2024
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2152169-69.2022.8.26.000. Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo. 25/07/2022. Disponível em:
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/resultadoCompleta.do;jsessionid=5D84760510703FDF07493BB80
D7D9819.cjsg1. Acesso em: 19/03/2024

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