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18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

O DEVER DE EDUCAR

O DEVER DE EDUCAR
Revista de Direito do Consumidor | vol. 60 | p. 212 | Out / 2006
Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 8 | p. 177 | Out / 2011DTR\2006\617
Walter José Faiad de Moura
Pós-graduado em Processo Civil pelo UniCEUB. Membro Instituto Brasileiro de Política e Direito do
Consumidor. Advogado.

Área do Direito: Consumidor

Sumário:

- 1.Introdução - 2.Política Nacional das Relações de Consumo (PNRC) - 3.A repercussão da


educação na coletividade - 4.A educação do consumidor e a proposição de diretrizes -
5.Conclusão

Resumo: Trato jurídico do Direito à Educação advindo do Código de Defesa do Consumidor,


reconhecendo-o como instrumento essencial de alcance da dignidade da pessoa humana, bem
como para a harmonização das relações de consumo. Fixação de paradigmas para a realização da
educação ao consumidor, especialmente em respeito à linguagem apropriada; tradução das regras
abertas em enunciados práticos; e preocupação em se modificar o comportamento dos
consumidores.
Abstract: Legal treatment given by the Brazilian Consumer Code to the ConsumerŽs Education,
considering it as an essencial instrument in the acomplishment of human dignity and harmonization
of Consumer Relations. Defining standards to the development of ConsumerŽs Education, specially
regarding the appropriate language, clarifying the meaning of the open rules in an objective way
and concerning about the changing of the consumerŽs behavior.
Palavras-chave: Educação - Consumidor - Cidadania - Paradigmas teóricos.
Keywords: Education - Consumer - Citzenship - Theoretical standards.
1. Introdução
Passados mais de 15 anos da promulgação da Lei 8.078/90 (CDC (LGL\1990\40)), a interação dos
fornecedores e do cidadão comum (em todos os níveis de poder econômico) encaminha-se
gradativamente à meta de harmonização preconizada no art. 4.º do CDC (LGL\1990\40).

Sem receio da incorporação de um otimismo exacerbado, 1 é a partir de observação empírica que


se vislumbra a eficácia concreta do CDC (LGL\1990\40)na trama das relações cotidianas. Algumas
lesões à saúde e ao bolso do consumidor, tão corriqueiras em um passado recente, já são
identificadas e controladas com maior facilidade, incorporadas ao próprio senso comum. Acusar a
existência de produtos vencidos nas prateleiras de supermercados, exigir nota fiscal, postular pela
garantia de produtos e serviços, exigir bom atendimento, entre outras atitudes, são reações que
razoavelmente se espera do comportamento dos brasileiros. Some-se a tudo isso a disseminação
do Código como instrumento de cidadania, a expressiva adesão do Ministério Público e das
Defensorias Públicas ao direito consumerista, a institucionalização dos Procon, culminando com a
integração destes últimos no todo sinérgico denominado Sistema Nacional de Informações de
Defesa do Consumidor. 2
Por outro lado, a evolução incessante dos meios de produção, comunicação e novas tecnologias
geram novas necessidades econômicas, diuturnamente, incitando na sociedade de consumo o
desejo por aquisições cada vez mais vorazes, todavia, nem sempre justas ou refletidas. A
"ubiqüidade" do meio eletrônico 3 e a maxi-pulverização da publicidade, 4 por exemplo, recolocam o
brasileiro à mercê de um imperativo mono-ideal: compre, sem refletir; compre, mesmo sem ter
dinheiro, 5 compre.
A presente abordagem ocupa-se dos reflexos do atual cenário do mercado de consumo sobre os
reais destinatários do CDC (LGL\1990\40), os consumidores, para identificar no dever legal de
educar um instrumento inigualável para a busca da harmonização das relações de consumo.
2. Política Nacional das Relações de Consumo (PNRC)

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É cediço que a relação de consumo caracteriza-se pelo desequilíbrio genético entre seus principais
sujeitos, consumidor e fornecedor, logicamente quando integrados a um substrato fático
disciplinado pela Lei 8.078/90. Esta máxima tem índole constitucional verificada na Carta Régia a
partir de seus arts. 5.º, XXXII (dever imposto ao Estado) e 170, V, ambos da CF/88 (LGL\1988\3),
(identificador da vulnerabilidade do consumidor no mercado e, portanto, imposição de defesa
voltada a todos os seus integrantes).
Os dispositivos destacados alinham-se ao enunciado do art. 1.º, III, da CF/1988 (LGL\1988\3),
conformando a dignidade da pessoa humana como pilar da República, fonte de valor impenhorável
e tendente ao não aniquilamento do ser humano em sua existência, demandando a "efetivação" de
cidadania. 6 Sobre esta tábua de valores se debruça uma política tendente à "implementação
efetiva de instrumentos", que protejam e defendam a vulnerabilidade do consumidor no mercado
(como, naturalmente, é enquadrada a aplicação do CDC (LGL\1990\40), centrada nos ambientes
do contrato, da publicidade, da responsabilidade civil, do processo coletivo, dentre outros
institutos seccionados pelo microssistema normativo) e, porque não, na sua formação enquanto
cidadão. 7
A presente abordagem propõe o pensar e repensar do Direito do Consumidor e sua Política
Nacional das Relações de Consumo - PNRC, projetando-os para além das relações intersubjetivas
de direito privado, na percepção de que tais elementos se unem numa "política pública maior",
8
porque constitucional, de promoção da dignidade humana noutros ambientes, como o da
formação educacional do brasileiro .
Pietro Perlingieri atrela a educação a um dever constitucional dirigido ao Poder Público e à
sociedade, razão pela qual não se desenvolve apenas no ambiente escolar, mas em todos os
ambientes, inclusive o familiar, pois é fator "indispensável" de inserção no mundo produtivo e do
trabalho, razão pela qual "não se extingue com a maioridade dos filhos, mas continua até que
sejam completados os estudos que representam a atuação de seu 'projeto educativo'." 9
A PNRC, conforme se verá, estabeleceu uma questão de projeto educativo à sociedade de
consumo, carente hoje de implementação.
Com efeito, muito se tem avançado na abordagem constitucional do Direito Civil, encartado sob
uma perspectiva mais lídima das relações privadas, o que se reinaugurou com o Código Civil
(LGL\2002\400) de 2002, mas já compunha a experiência do CDC (LGL\1990\40). Por outro lado,
ainda é relativamente insipiente o entrelace da proteção do consumidor como dever externo à
seara obrigacional, merecendo aquilatar sua potencialidade de efetivar tutelas mais sólidas para
que consumidores e fornecedores evitem conscientemente a ocorrência de danos.
A técnica legislativa adotada pela Lei 8.078/90 aclara que seus dispositivos não se resumem à
mera tipificação de ilicitudes seguida de sanções jurídicas mais ou menos severas. Vai além.
Ultrapassa a tendência de nossa cultura jurídica enraizada na solução das mazelas sociais a partir
da simples edição de uma lei, 1 0 estabelecendo metas 1 1 objetivas para vincular o Estado e demais
sujeitos de direito na mútua obrigação de uma coexistência equilibrada se, em qualquer
conjuntura, fornecedor não vive sem consumidor e a pauta é a cooperação.

Aflora, a partir daí, importante viés pedagógico do CDC (LGL\1990\40), 1 2 pré-disposto a promover
constantes melhorias nas relações jurídicas nele disciplinadas, o que bem se amolda à adoção da
palavra "política". O aludido verbete, apesar de polissêmico, ultrapassa a simples conta de
objetivos traçados pelo legislador para, de modo persuasivo, revelar o que se pretendeu ao
aprovar o CDC (LGL\1990\40). 1 3 A resposta é tirada do próprio texto normativo, imbuído do ideal
comum e público de compromisso multilateral em torno do respeito aos vulneráveis (premissa maior
do CDC (LGL\1990\40)). O adjetivo nacional, por sua vez, está longe de estabelecer que esta
política somente é produzida no patamar Federal. Ao revés, ressalvadas as diretrizes estabelecidas
com a coordenação do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, 1 4 órgão do Ministério
da Justiça, os Municípios e Estados devem também, na forma da lei, 1 5 ser producentes e pró-
ativos. A PNRC encampa todas as esferas do Poder Público, até mesmo o Poder Judiciário. 1 6
2.1 Conteúdo da PNRC
O conteúdo da PNRC se reproduz em deveres abstratos multidisciplinares, dirigidos ao Estado e
aos partícipes da relação de consumo apoiados nas vigas do reconhecimento da vulnerabilidade e
da harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo. 1 7 A inteligência de
sua estrutura aberta 1 8 permite a adaptação da política (mesmo em uma concepção abstrata e
projetada ao futuro) às mais variadas ordens de acontecimentos, respeitados os lindes da boa-fé,
confiança e transparência.
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A PNRC encerra uma agenda que se inicia logo no caput do art. 4.º, sob a forma de cláusulas-
princípio expressas nos seus respectivos incisos. A redação deste dispositivo constrói um caminho
a ser percorrido, em cada caso concreto, a partir das reais necessidades do consumidor numa
autêntica realização de isonomia real. Seu conteúdo é, portanto, dinâmico e axiológico.
Essa percepção se reflete mais comumente nas relações jurídicas experimentadas pelos
consumidores em contraposição ao fornecedor (sejam elas pré, intra ou pós-contratuais,
indenizatórias), porém, a elas não se restringem. A PNRC alcança o consumidor enquanto
integrante de "um elo da economia de mercado", aceitando-o como destinatário de "políticas
econômicas adequadas" 1 9 mesmo enquanto ainda não exista um contrato. 2 0

A interface do Direito do Consumidor com o direito contratual, a responsabilidade civil, 2 1 com o


controle de publicidade, os bancos de dados, entre outros, já ecoam com solidez na estruturação
dos paradigmas da "nova teoria contratual". 2 2 O mesmo fenômeno se observa, gradativamente,
com as tutelas penal e administrativa, 2 3 cuidando tais exemplos da necessária feição jurisdicizante
do direito do consumidor.
A educação do consumidor está cristalizada como item da agenda da PNRC e carece também de
implementações concretas e efetivas. 2 4 O tratamento doutrinário dos meios para seu alcance,
especialmente os externos ao Poder Judiciário, tem sido tímido e o relevo de seu conteúdo merece
aprofundamento.
2.2 A meta de harmonização das relações de consumo
O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor tem acurado tratamento na doutrina e na
jurisprudência, 2 5 especialmente sob o prisma micro-econômico, 2 6 assente que jamais se buscou a
sobreposição daquele em relação a seu parceiro econômico (o fornecedor), mas um ponto de
equilíbrio.
Já a harmonização das relações de consumo, mais abstrata, enfeixa-se com maior nitidez no
campo macro-econômico, se compreendida como uma meta da Política Nacional das Relações de
Consumo dirigida à coletividade. Harmonizar os interesses envolvidos na relação de consumo é
materializar a boa-fé em sua tríplice base de transparência, informação e confiança 2 7 para, de
modo pulverizado e transversal, integrar todos os agentes de mercado, e o próprio Poder Público,
em um todo sinérgico que elimine a espoliação da parte mais frágil. Em outras palavras, configura
a necessidade de manutenção do ambiente no qual as relações de consumo se desenvolvem,
antecipando-se à ocorrência de lesões.
O espírito da harmonização foi eleito ao quilate de princípio e recebeu conceito autêntico no inciso
III, do art. 4.º, do CDC (LGL\1990\40). 2 8 Rizzato Nunes o identifica como consectário dos
princípios constitucionais de isonomia, solidariedade e das balizas da Ordem Econômica
Constitucional. 2 9 De fato, a harmonização das relações converge tais valores.
Mister frisar que tornar a relação de consumo um todo harmônico não é resultado que se alcança
pronto e acabado. É, na verdade, o impulso e a manutenção de uma força proveniente dos mais
variados vetores, todos eles apontados ao tratamento digno do adquirente de bens e produtos,
seja por intermédio de normativos, tutelas individuais e coletivas, atos administrativos ou,
simplesmente, pelo esforço de prevenir pela educação.
O contraponto ou fator de desarmonia advém da despreocupação com relação às diretrizes
ponderadas, contribuindo para uma realidade de mercado na qual lesões multiplicam-se ainda com
velocidade, aprimoradas e imperceptíveis, envolvendo consumidores pouco habilitados ao
enfrentamento de seus direitos. Sobre este panorama, as tutelas preventivas merecem reflexão e
implementação para fazer frente à celeridade com que as práticas abusivas (macro-organizadas
ou micro-realizadas) repercutem e, perigosamente, tornam-se uma realidade aceitável (a exemplo
do que ocorre com a aceitação do público quanto ao nível de certas publicidades no País, e,
ainda, a ineficácia do direito básico ao cumprimento dos prazos previstos no art. 18 do CDC
(LGL\1990\40) - produtos viciados 3 0 ).
Vale lembrar que a própria evolução das relações intersubjetivas, os novos modos de contratar,
comunicar, anunciar, manifestar vontade e, por fim, se obrigar, é terreno fértil à multiplicação de
práticas lesivas, onde se cultiva verdadeiro descompasso entre os pólos consumidor e fornecedor,
acentuando a vulnerabilidade, já que as lesões se aprimoram em formas dificilmente identificáveis.
As medidas producentes devem estancar este quadro, estabelecendo meios que realizem a meta
de harmonização, tal qual prevê a PNRC, sem o anseio de interromper o conjunto de fenômenos
que compõem a realidade vigorante, revestida de caracteres da pós-modernidade, 3 1 onde cada
ser continuará buscando sua individualidade, realizando-se a partir de suas aquisições.
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Com inteligência, a PNRC já se muniu da meta de "estudo constante das modificações do mercado
de consumo" (art. 4.º, VIII, CDC (LGL\1990\40)), antevendo que o direito de consumidor é ciência
sempre em construção, portador de respostas rápidas e quase imediatas ao ineditismo do tráfico
jurídico pós-moderno.
2.3 Deveres de educação e informação e o aumento da eficácia concreta do CDC
Merece destaque, dentre o rol de princípios da PNRC, o inciso IV do art. 4.º do CDC
(LGL\1990\40), que verbaliza a meta de "educação e informação de fornecedores e consumidores,
quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo" . Aqui, a
educação aparenta um dever dirigido ao Estado (pois se destina a consumidores e fornecedores) a
ser praticado pelos instrumentos da PNRC. Mais adiante, o CDC (LGL\1990\40) aborda a educação
como direito básico do consumidor (art. 6.º, II 3 2 ), imposto com mais precisão em relação aos
fornecedores, naturalmente detentores de informações preciosas e elementares sobre seus
produtos e serviços (marco da hipossuficiência técnica 3 3 ).
Os comandos mencionados deixam transparecer que o CDC (LGL\1990\40) é norma promocional da
melhoria do mercado de consumo com a advertência de que a educação lhe servirá de motor.
Logo, o alcance do equilíbrio nas relações econômicas é viável pelos deveres de transparência,
proteção da confiança 3 4 e, também, de educar.
Sob essa angulação, a educação do consumidor (aí abarcando a informação adequada como seu
conteúdo precioso) deve figurar, após as medidas de proteção proibitivas e reparatórias, como um
dos mais importantes meios de alcance da harmonização da relação de consumo, 3 5 principalmente
se endereçada à coletividade, esteja ela ou não atrelada a uma relação obrigacional de consumo
específica.
Cuida-se da abertura do espectro da transparência para além do locus contratual, pois a
educação o antecede. No Brasil, peculiarmente, os rincões estanques de desigualdade social
absoluta deságuam em "baixo nível educacional da população e na reduzida conscientização" 3 6 de
seus cidadãos, realizando outra faceta pós-moderna na qual convivem duas realidades
antagônicas: a complexidade e a sofisticação dos grandes centros urbanos, desalinhados da
simplicidade de logradouros mais humildes. Esta condição do consumidor brasileiro já está embutida
nos conceito de "contraentes débeis". 3 7 Em que pese se tratar de uma realidade mundial (pois um
dos efeitos da globalização vem a ser a integração mundial 3 8 ), o desnível informacional no Brasil é
reconhecidamente acentuado, o que demanda atitudes ainda mais incrementadas e eficazes para
a adequação das relações desequilibradas.
Pouca educação significa reduzido discernimento e, por conseqüência, a dilatação do abismo entre
a informação detida pelo fornecedor (ou pelo Estado) e o consumidor. Ciente desta defasagem, o
legislador não se olvidou de pulverizar no CDC (LGL\1990\40) o dever de educar, informar, enfim,
tornar o mais transparente possível a relação de consumo. Uma vez bem instruído, o consumidor
deterá mais poder de barganha (individual e coletivamente), ficando menos exposto a práticas
comerciais ou cláusulas contratuais aviltantes, auxiliando na autodeterminação de sua proteção.
O CDC (LGL\1990\40) inaugurou (como poucos estatutos no Brasil) uma norma de
conscientização, com larga eficácia social. Certamente, o dever de educar e a harmonização das
relações de consumo são indissociáveis, e a priorização daquele primeiro alargará a eficácia do
CDC (LGL\1990\40).
3. A repercussão da educação na coletividade
O CDC (LGL\1990\40) concebeu como destinatário de seus dispositivos a coletividade, porta-voz
que é de direitos difusos ou de terceira geração. 3 9 O direito à educação suplanta o indivíduo e
deve operar seus efeitos preparando cada um dos cidadãos para bem se comportar perante o
mercado. Estruturar soluções de educação que alcancem sujeitos indefinidos (conceito definido
em várias passagens do CDC (LGL\1990\40)) é uma demanda criada.
As relações sócio-econômicas massificadas, por exemplo, possuem características próprias como a
despersonalização 4 0 e a homogeneização das informações. Eventuais prejuízos que aí se operam
(a exemplo de cláusulas abusivas constantes de contratos em massa) alcançam proporções de
difícil determinação, o que é preocupante.
As tutelas reparatórias nesta seara são mais comuns, quando já implementado o dano, e se busca
sustar a causa, a exemplo da suspensão de uma cláusula abusiva constante de contrato de
adesão. Por outro lado, as tutelas preventivas só ocorrem a partir da prospecção de que uma
prática (ainda não vertida em contrato) tenha potencial lesivo. Ministério Público, Defensorias

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Públicas, Órgãos de Defesa e a Advocacia bem manuseiam estes instrumentais. Na prática,


submetem-se ao dever constante de vigilância e especialização, absorvendo o impacto das novas
lesões.
A prevenção, por óbvio, é mais efetiva e deve se projetar em momentos anteriores ou externos ao
contrato, moldando o comportamento dos consumidores . O CDC (LGL\1990\40), ao enunciar a
educação como direito e, por outro lado, impô-la como dever, adapta-se com destreza à evolução
tecnológica e aparelha os atores do cenário jurídico com ferramenta de altíssima eficácia e
precisão.
A opção pelo paradigma de normas abertas, lastreadas pela higidez da boa-fé objetiva,
impulsionou a transformação social do contrato 4 1 e, a partir de agora, deve alcançar também o
sujeito que dele faz parte. Releituras das diferentes práticas adotadas pelos fornecedores no
mercado naturalmente abrem flancos para a imposição do respeito ao consumidor e,
indiretamente, alcança a meta de harmonização. Este é o pano de fundo no qual se opera a
eficácia do CDC (LGL\1990\40) hodiernamente, a qual se alargaria ainda mais com a educação.
O ambiente eletrônico, tomado como exemplo de análise empírica, e a virtualidade nele inserida,
irrompem paradigmas afeitos não apenas à forma de contratar e à validade dos atos jurídicos
(aspectos inerentes ao ambiente do negócio jurídico); um pouco mais, impulsionam uma nova
forma de relacionamento social no qual vigoram diferentes valores e características. Seu alcance
imensurável empresta a impressão de que qualquer divulgação na rede mundial de computadores
se basta para atingir a coletividade. De fato, Claudia Lima Marques 4 2 ensina que a realidade já
experimentada convive com a "1) despersonalização; 2) desmaterialização; 3) a
desterritorialização e a atemporalidade; 4) a desconfiança dos consumidores no comércio
eletrônico". Este novo locus exige códigos (linguagens), meios (equipamentos) e até
procedimentos (operação) apropriados e nem sempre ao alcance de todos.
Todavia, vale lembrar que o Brasil convive com grupos sociais inseridos no contexto do mundo
virtual e, simultaneamente, parcela de pessoas que sequer alçaram a alfabetização (que dirá a
rede mundial de computadores). 4 3 Este paradoxo impede que determinadas soluções educativas,
algumas delas partidas do próprio Estado, 4 4 encampem exclusivamente a via digital, sob pena de
comprometer sua eficácia.
O desafio suplantado é que a PNRC e suas medidas sejam sensíveis aos novos horizontes das
relações massificadas, comungando dos mesmos instrumentos e canais que o mercado já utiliza,
sem deixar de conjugá-los com os meios tradicionais de comunicação (de menor e maior
complexidade).
Identificada a adversidade, é preciso operância, seja pelo contexto fático rascunhado, seja pela
obrigação programada de eficiência imposta, principalmente, ao Estado (art. 37, caput, da CF/
1988 (LGL\1988\3); princípio da ação governamental, art. 4.º, II e VII, CDC (LGL\1990\40)).
O timbre desses valores ecoa em ressonância mais demorada. Mesmo assim, já é possível
vislumbrar realizações que representam com fidelidade absoluta a incorporação da melhoria nas
relações de consumo no plano das relações massificadas, a exemplo da criação do louvável
Sindec, que equaciona a integração dos Procon nacionais à era digital, respeitando as limitações
de cada localidade.
Por outro lado, tarda este País em não implementar com a intensidade que a programação legal
impõe os direitos básicos do consumidor nos bancos das escolas públicas. Com efeito, consta do
item "diretrizes" do Plano Nacional de Ensino (PNE) que "além do currículo composto pelas
disciplinas tradicionais, propõem a inserção de temas transversais como ética, meio ambiente,
pluralidade cultural, trabalho e consumo, entre outros". 4 5 O Direito do Consumidor é meta do
ensino nacional, porém seccionado em toda sua extensão, podendo atingir, inclusive, a formação
em nível superior de professores que atuem na educação básica. 4 6 Todavia, esta não é a
realidade de parte das escolas de ensino básico ou médio. 4 7
O esboço da PNRC exige que se supere a situação delineada, pois externa a meta de educação e
delega ao Estado uma função pró-ativa, com impulso oficial pré-estabelecido, não apenas de
protecionismo, mas de educação para o consumidor. O incentivo ao associativismo, por exemplo,
desponta como o reconhecimento do poder que o consumidor tem de se impor coletivamente no
mercado e, por via reflexa, agremia interesses na formulação de uma sociedade de consumo
conscientizada.
4. A educação do consumidor e a proposição de diretrizes
48
Conhecimento é poder. Educação é, acima de tudo, um direito. Educar é propalar este poder
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aos seus destinatários que, no caso concreto, é o consumidor. A compreensão da norma 4 9 é ainda
mais essencial no presente caso quando se verifica que esta casta de direitos integra o mosaico
da cidadania. 5 0
Pouca educação significa, contrario senso, pouco desenvolvimento e mínimo preparo para as
complexidades da vida civil, especialmente sob o enredo das nuanças pós-modernistas. Se a vida
social é complexa, e complexas se tornaram as relações sociais e econômicas, comunicação e
informação (seu conteúdo) são fatores primordiais para evitar desigualdades, visto que a
educação é prestígio de poucos e deter informação significa posicionar-se com mais facilidade (ou
até superioridade) em detrimento de quem não a possui. A desinformação e a deseducação são
fatores concretos de desequilíbrio nas relações de consumo.
Na técnica de direitos fundamentais, o legislador constituinte inseriu a educação como inerente à
condição digna do homem, ao que já estabelecia a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(art. 26, ONU, 1948). A rigor, o trato constitucional da educação é de cunho orgânico,
cristalizando o dever estatal de prover ensino público.5 1 No art. 205 da CF/88 (LGL\1988\3) estão
postos os objetivos da educação brasileira, nos seguintes termos: a educação visa o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho. 5 2 A norma adverte uma curial sentença: desenvolvimento humano e exercício da
cidadania são fins realizáveis pela educação.
Consumidores desinformados e sem poder algum de avaliação estão mais expostos a lesões
praticadas no mercado, impossibilitados de enxergar ou compreender onde está seu prejuízo. Na
busca de exemplo concreto basta verificar se todos aqueles que adquirem veículos financiados
sabem a diferença entre um arrendamento mercantil financeiro, uma alienação fiduciária em
garantia, um crédito direto ao consumidor ou um mútuo feneratício tomado em financeira. Em
algum dos contratos poderá ele ser preso (em caso de inadimplemento) e, se soubesse disto,
talvez não contrataria.
Para suprir a falta de educação diretamente vinculada a resultados gravosos experimentados pelos
consumidores, em curto prazo, tende o direito a se valer das já mencionadas medidas
reparatórias. Parte-se à eficiente averiguação da correspondência das informações disponibilizadas
pelos fornecedores e a legítima expectativa dos consumidores, a exemplo das seções reservadas à
"oferta e à publicidade" no CDC (LGL\1990\40) (Seções II e III, do Capítulo V). Ou seja, daquele
que informa cobra-se o dever de boa-fé. Ocorre que tais normas estão vinculadas a situações
contratuais específicas (mesmo que em massa), pois o CDC (LGL\1990\40) não estabelece, nas
citadas seções, conceitos de uma boa oferta ou de uma boa publicidade. Noutro lance, o CDC
(LGL\1990\40) se ocupa de traçar comandos positivos de informação adequada ao estabelecer um
mínimo razoável onde sejam atendidos, pelo menos, tópicos para evitar a nocividade ou
periculosidade à saúde ou segurança, além de atender às já mencionadas metas de aclarar os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem (ex. vi., arts. 10, e §§;
e 6.º, III).
Basta saber se referidos comandos, voltados à informação, transmitem-se à construção de uma
diretriz à educação do consumidor, já que aquela é conteúdo desta. A afirmativa é verdadeira,
desde que tais informações sejam ministradas não apenas no seio das relações contratuais (ou
pré-contratuais), mas em foro apropriado. A informação reproduzida apenas no momentum
contratual (quando o oblato já está sob os efeitos de práticas comerciais atrativas) não é tão
eficaz quanto à deduzida durante a formação do consumidor-cidadão, i. e., na escola que é o foro
apropriado da educação formal. 5 3 Uma vez conhecidas as diretrizes da educação ao consumidor,
pode-se, seguramente, estabelecer uma pauta objetiva para as políticas que visem sua realização.
É questão de operabilidade.
No seio do Ensino Superior, por exemplo, onde a graduação para o curso de Direito permite maior
enfrentamento das relações de consumo e da Lei 8.078/90, é louvável a moção aprovada no II
Congresso Nacional dos Professores de Direito do Consumidor, Rio de Janeiro/2006. 5 4
4.1 Educação e superação gradativa da vulnerabilidade
Se a vulnerabilidade é a essência do CDC (LGL\1990\40), a educação que se desdobra da PNRC
deve ser uma das formas de supri-la, ao seu tempo. Se este estandarte ainda não se ergueu com
o vigor que a própria lei projetou, até mesmo pela sua concretização de longo prazo, não é de ser
postergado.
Falar-se em amenização da vulnerabilidade sem educação é apenas conter situações danosas já
ocorridas, quando muito evitando a sua repetição. É consertar. Educar o consumidor,

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conscientizando-o de suas possibilidades, é muni-lo de uma condição básica de convívio digno: ter
ciência de seus direitos. Somente após este primeiro degrau será possível contemplar a tão
sonhada mudança de comportamento dirigida à minoração de desigualdade nas relações de
consumo. 5 5
Enquanto esta metamorfose não ocorre, calha, mais uma vez, o Direito à demanda de uma tutela
mais sensível e eminentemente de defesa. A sua realização reposicionaria o consumidor (individual
e coletivamente) como o principal agente de harmonização das relações de consumo, habilitado a
reproduzir no macro a imposição de seus direitos observada nas relações microjurídicas. Lapidar,
nesse sentido, é o emblemático comportamento verificado na Bélgica, em 1999, quando a suspeita
de que uma bebida estaria causando mal a algumas pessoas fez com que os belgas, antes mesmo
de medidas públicas de suspensão da comercialização, abdicassem do consumo do produto. 5 6
Importante salientar que a educação para o consumo não fará desaparecer com a vulnerabilidade.
Esta última é, por reflexo da principiologia do CDC (LGL\1990\40), uma constante do mercado. A
vulnerabilidade (especialmente a técnica) perdura e o destino dessa educação que a enfrentará
não será capaz de formar consumidores aptos e expertos em todos os setores do mercado de
produtos e serviços, destino utópico. Seria catastrófico fixar uma diretriz de superação total da
fragilidade do consumidor. Ademais, o conhecimento das propriedades de cada um dos produtos e
serviços disponibilizados dentro da miscelânea tecnológica pós-moderna é esforço impróprio até
mesmo para máquinas.
O consumidor discente deve compreender a vulnerabilidade, incorporá-la ao seu dia-a-dia,
reconhecendo nela sua condição de parte mais frágil dentro de um aspecto positivo, na proposta
concreta de que ser mais frágil é estar apto a exigir mais e mais informações, experimentar,
testar, conhecer, verificar demonstrações, pleitear melhorias, barganhar, sugerir, em suma, valer-
se diuturnamente da qualidade de consumidor.
4.2 A tecnologia do CDC fora do alcance do leigo
O afã de popularizar o conteúdo do CDC (LGL\1990\40), via medidas educativas, esbarra em uma
barreira conhecida daqueles que se aventuram ao estudo deste estatuto: o Código não permite
fácil nem imediata intelecção ao cidadão comum. A cognição de seus comandos, salvo alguns
enunciados diretos (como é boa parte dos arts. 39 e 51), demanda certa medida de esforço
hermenêutico, o que afasta a sua repercussão direta a todos seus destinatários no dia-a-dia.
Em aparte prático, é comum que após um curso de graduação sobre a teoria do Direito do
Consumidor, ainda o discente que logrou máximo aproveitamento se dirija ao docente
perguntando: - Entendi tudo, mas o que faço com meu telefone celular que não funciona? Esta é
uma faceta formidável do diploma que disciplina desde planos de saúde, serviços bancários,
compra e venda e até telefonia sem a necessidade de expressar comandos normativos específicos
ou simplesmente regulamentares, reflexo da tecnologia legislativa que mais lhe eleva como
estatuto legal. 5 7
Interessante retratar a experiência da Lei Distrital 3.278, de 31.12.2003, que obrigou os
estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços do Distrito Federal a expor um exemplar
da Lei 8.078/90 aos consumidores. É de se perguntar, contudo, se num eventual desentendimento
entre consumidor e fornecedor aquele primeiro sacará o livreto à cata de um artigo específico que
lhe corrija situação das mais inusitadas possíveis. E, em resposta pragmática, salvo se o cidadão
se satisfaz com os magistrais enunciados do art. 6.º, CDC (LGL\1990\40), sua tentativa não
logrará tanto êxito.
As normas abertas, um paradigma vigorante, demandam maior intelecção até mesmo para boa
parte dos atores jurídicos, 5 8 onde ainda coexiste a opacidade do positivismo. 5 9 Ao leigo,
espectador direto destes direitos, esta incompreensão é ainda mais natural. Acirra esta realidade
a tendência tecnicizante do ensino jurídico, 6 0 que preleciona seus atores à abordagem do Direito
como um fim em si mesmo, dissociado, por vezes, até mesmo do contexto onde está enraizado.
Mesmo assim, o CDC (LGL\1990\40) não perdeu um mínimo quinhão de eficácia social. A sua
implementação no campo comportamental é tão nítida que aquela lei distrital enfocada permite ao
cidadão comum identificar, dentro de um estabelecimento, um alfarrábio que, ali exposto,
incorpora e simboliza toda uma teia de deveres já entrelaçada no tecido social.

A eficácia social do CDC (LGL\1990\40)6 1 emprestou ao cidadão o conceito anexo de consumidor,


hoje inseparável da cidadania. O cidadão-consumidor está imbuído das noções básicas de que
deve ser respeitado, de que a justiça há de socorrer seus prejuízos, na esteira das declarações
gerais constantes do art. 6.º do diploma. Possui, pois, forte carga humanizante.

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Mesmo sem a exata compreensão dos efeitos práticos de sua proteção, o consumidor conta com o
aparato primordial das ramificações estatais ou para-estatais de intermediação direta com o
fornecedor, a exemplo dos Procon, que institucionalizaram um caminho de desmistificação de
conceitos cativos ao meio jurídico acima de tudo pela via da orientação.6 2 Meritório registro deve
ser feito aos Juizados Especiais Cíveis 6 3 e à função dos conciliadores e os demais instrumentos de
execução da PNRC (art. 5.º, CDC (LGL\1990\40)).
Na verdade, o CDC (LGL\1990\40) arquitetou a necessidade de um conectivo entre o consumidor e
sua orientação em cada situação concreta ao incumbir o SNDC (Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor - e todos seus membros e desdobramentos) de "prestar aos consumidores orientação
permanente sobre seus direitos e garantias e informar, conscientizar e motivar o consumidor
através dos diferentes meios de comunicação" (ex. vi., art. 106, III e IV, CDC (LGL\1990\40)). 6 4
Em uma segunda etapa de educação, orientação e disseminação dos direitos do consumidor, deve
a educação resguardar a diretriz de tradução do Código para cada caso concreto em enunciados
simples e didáticos, transmitindo suas soluções com mais precisão e transparência ao senso
comum. Tem-se, à frente, um desafio que é de toda ciência, 6 5 mas especialmente do Direito do
Consumidor, porquanto está incumbido de programação legal específica. Em termos práticos,
tomando-se como exemplo as relações massificadas, hão de ser isoladas a partir de suas
multifacetadas exteriorizações (seja de contrato, publicidade, prática abusiva) para realçar, após
leitura simplificada, os cuidados e medidas (muitas delas até formais) a serem apreendidos e
realizados (destaca-se o papel fundamental do recurso didático das cartilhas). 6 6 Só assim logrará
esta educação uma eficácia concreta.
Cumpre aos operadores do direito o oficioso dever de simplificar o vernáculo empregado ao trato
das relações de consumo, 6 7 sempre que possível aquilatando o acesso de peças processuais,
escritos, decisões, soluções, normativos e todas as outras manifestações possíveis. A
desconstrução do discurso técnico-formal de temas jurídicos, notadamente de direito do
consumidor, não empobrece a riqueza de seu conteúdo. Pelo contrário, coloca-o ao alcance de
quem realmente carece dele não só para fins acadêmicos, mas para fins de subsistência. 6 8
4.3 Educação para comportamentos pró-ativos
A perspectiva já delineada de educar para conscientizar o consumidor permitirá que o mesmo
promova ações em seu benefício próprio, na medida de sua vulnerabilidade, modificando o
comportamento da coletividade no mercado.

Heloísa Carpena 6 9 aprecia com precisão os reflexos da vulnerabilidade do consumidor enquanto


partícipe de um locus epecífico (o mercado):
"O consumidor não sabe tudo o que fornecedor sabe sobre a prestação do serviço ou do
fornecimento do produto. Não conhece suas características, não percebe seus riscos, não imagina
que pessoas possam estar envolvidas no processo produtivo, nem mesmo como este se desenrola.
Ele não está apto a defender seus direitos tal como o fornecedor, o contrato e seus termos não
lhe são familiares, e muitas vezes não tem à sua disposição um advogado ou contador. Não é
capaz de barganhar na negociação dos pactos, sujeitando-se à regra do 'pegar ou largar'. Na
relação de poder que se estabelece no mercado, sua posição é francamente desfavorável, ficando
submetido ao fornecedor porque não tem controle dos meios de produção. Enfim, ele é a parte
vulnerável e, como tal - e exatamente por isto - "torna-se destinatário da proteção legal".
Compreendido a partir do mercado, o consumidor mais se aproxima de um elemento inerte e
incapaz de interagir, de provocar mudanças substanciais que realmente lhe interessem neste
nicho. Acontece que a constatação transcrita é fidedigna à realidade vigente. No Brasil, raríssimas
são as experiências substanciais de cooperação entre consumidores, relegando-se ao Ministério
Público, Defensoria Pública e Órgão de Proteção a substituição compensadora do que deveria ser a
consciência e o interesse do consumidor tendente a mudar uma situação que lhe prejudica. A
participação do Parquet é essencial e, em inúmeros exemplos, logra a mitigação do desequilíbrio
contratual nas relações de consumo. 7 0
No campo da comunicação, p. e., o despreparo do brasileiro é tamanho que a única forma prática
de conter conteúdos desqualificados é a via proibitiva, 7 1 sendo pouco provável (até mesmo por
aspectos culturais) uma coalizão seletiva e espontânea partida do público que, hoje, padece
exposto a publicidades danosas.
Vulnerabilidade não se confunde com passividade. A programação principiológica da PNRC é de
harmonizar interesses colidentes a partir da educação, remodelando o comportamento dos
consumidores e exigindo destes, gradativamente, que contribuam para o mercado de consumo.
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É tempo de se traçar, paralelamente à proteção defensiva do consumidor (em processo de


sedimentação e reformulação contínua) uma diretriz para que sua postura individual dirija-se ao
comprometimento de otimização de suas relações, i. e., a consciência de que ela repercutirá no
coletivo. Se difundida a noção de que o consumidor detém interesses comuns e, ainda, é uma das
engrenagens matriciais da oferta e da procura, o tráfico jurídico será mais lídimo e, nas relações
massificadas, os fornecedores pautar-se-ão (agora por necessidade) pelos lindes da boa-fé.
No aspecto micro, a educação para o consumo racional de energia elétrica incorre em ganhos
coletivos inquestionáveis; os níveis de satisfação ou insatisfação ordenadamente aferidos e
publicados (colhidos logicamente individualmente) são o termômetro para a manutenção ou a
modificação das práticas comerciais em massa; entre outros exemplos, a causa consumerista
agrega uma sintonia de interesses que supera a pluralidade e a alteridade da coletividade.
Com este espírito o CDC (LGL\1990\40) prescreveu que a execução da PNRC pelo Poder Público
contará com a "concessão de estímulos à criação e desenvolvimento de Associações de Defesa do
Consumidor" (v. g., art. 5.º, V, CDC (LGL\1990\40)), solidificando um instrumento de ação
governamental por incentivo ao associativismo (art. 4.º, II, b, CDC (LGL\1990\40)).
Desenha-se, então, a necessidade de que a educação aqui abordada externe ao consumidor o
compromisso de também realizar medidas garantidoras de sua proteção, afinando-se em um só
discurso para, daí, iniciar a ação 7 2 coletiva de modificar o mundo em que vive. Longe de um
frenesi ou desvario utópico, esta meta está positivada no CDC (LGL\1990\40). A gama de valores
aqui debatidos não pode calhar em discurso retórico, mas ao quilate de um paradigma operante.
A educação dirigida a tais fins não representa a imposição de uma mobilização. Diversamente,
oportuniza aos destinatários uma percepção crítica da "injustiça que caracteriza sua situação
concreta". 7 3
5. Conclusão
A concretização dos vários instrumentos de proteção do vulnerável na relação de consumo,
reconhecendo-o como destinatário de tratamento legal individualizado, permitiu ao CDC
(LGL\1990\40) uma valiosa façanha: compor um conteúdo factível à cidadania e à dignidade da
pessoa humana. 7 4 No campo dos direitos humanos, nenhum enunciado declaratório da carta
constitucional vigente encontrou tanta repercussão para a tutela de bens como a vida, a saúde e
a segurança quanto o corolário da vulnerabilidade aludido na codificação. Na realidade, a
impressionante disseminação deste estatuto decorre da espécie de relação jurídica que disciplina:
o tráfico jurídico entre fornecedores e consumidores, estando estes últimos atrelados à maxi-
necessidade destas trocas, na medida em que boa parte dos bens necessários à sua
sobrevivência não advém da auto-suficiência produtiva (das sociedades predominantemente
rurais), mas da compra e venda (realidade dos centros urbanos).
A dignidade da pessoa humana, exaltada pela convergência do aprimorado direito civil-
constitucional, vincula os partícipes da relação de consumo, inclusive o Estado, à responsabilidade
de atenderem ao reconhecimento da vulnerabilidade e ao alcance da meta de harmonização. Vale
lembrar que tal enunciado já emanava do CDC (LGL\1990\40), dentro de sua vocação para a
humanização das relações econômicas, especialmente ao enunciar o direito à educação como
base empírica.
Propor e estabelecer metas, diretrizes ou paradigmas para esta educação é de máxima
importância, seja pelo importe dos axiomas aqui envolvidos, seja pela meta legal posta e não
aplicada em toda sua amplitude, encontrado o que seja o conteúdo a ser ministrado no Plano
Nacional de Educação. A tônica de uma educação especial ao vulnerável, fincada nestes valores,
não há de estagnar o pluralismo didático, mas apenas emprestar-lhe sintonia com o CDC
(LGL\1990\40).
Sem qualquer propósito revolucionário, a estruturação de linhas mestras ao ensino aqui proposto
não é de ser abrupta, mas apenas uma etapa natural do processo de desenvolvimento,7 5 quiçá
imperceptível, aos seus destinatários. Cuida-se de uma expectativa manifestada pelo legislador
como forma de auxiliar a defesa e a proteção do consumidor, aditiva de resultados tão favoráveis
quanto os já experimentados até então.
Propostas objetivas de implementação da educação hão de se operar dentro do vasto espectro do
dever de ação governamental, tanto pelas funções legislativa e executiva do Estado, quanto pelo
envolvimento dos fornecedores neste ofício. Ademais, todos os citados estão interessados no
aprimoramento do mercado do qual dependem. O presente estudo não comporta proposições, mas
apenas empresta-lhes um perfil, pois a conclusão a que se chega é que não faltam fundamentos e
comandos diretos para que esta implementação se perfaça de imediato.

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A educação é, pois, pressuposto para a formação da cidadania e, ainda, substrato de valores para
uma real noção do que seja existência digna. O CDC (LGL\1990\40) logra a convergência de todos
estes elementos e ainda exige do Estado e dos atores da relação jurídica um comprometimento
com o ato de educar para harmonizar e, v. g., plasmar uma isonomia real.
Respeitado o atual "contexto histórico, cultural, político e econômico do país", não restam dúvidas
de que ignorância equivale à desigualdade e indignidade. Pietro Perlingieri 7 6 anota que "a igual
dignidade social impõe ao Estado agir contra as situações econômicas, culturais e morais mais
degradantes e que tornam os sujeitos indignos do tratamento social reservado à generalidade".
Para os próximos anos de vigência do CDC (LGL\1990\40), uma das prioridades é elaborar um
projeto educativo efetivo.

1 Foi uma constante nas intervenções proferidas no memorável Congresso Internacional 15 anos
do Código de Defesa do Consumidor - Balanço, efetividade e perspectivas , Gramado-RS, 2005,
org. Brasilcon (em conjunto com a Ajuris e ESMP), que o balanço dos primeiros quinze anos da lei
é favorável e positivo, anotando-se que muito há para se realizar.

2 A iniciativa brilhante do Ministério da Justiça, a partir do Departamento de Proteção e Defesa do


Consumidor, visa justamente implementar um todo harmônico para proteção estratégica e
qualificada dos consumidores. Trecho da apresentação do SINDEC, cuja íntegra está disponível
em: [http://www.mj.gov.br/DPDC/sindec]. Acesso: 01.03.2006.

3 Cuida-se da "capacidade de se estar ao mesmo tempo em dois lugares", permitindo que as


relações intersubjetivas ocorridas no meio eletrônico atinjam sujeitos indeterminados
simultaneamente, paradoxalmente relativizando tempo e espaço. (MARQUES, Cláudia Lima.
Confiança no comércio eletrônico e a proteção do consumidor: um estudo dos negócios jurídicos
de consumo no comércio eletrônico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 88.)

4 Vale lembrar Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, asseverando que "não há sociedade
de consumo sem publicidade". ( Código brasileiro de Defesa do Consumidor - comentado pelos
autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. p. 299.)

5 Brilhante, Rosângela Lunardelli Cavallazi revela a realidade do consumidor de crédito no Brasil que
calha na situação de superendividado não por mera disposição de vontade, mas por ocasião de
publicidades agressivas, "acidentes da vida" e, em especial, pela falta de informação. ( Direitos do
consumidor endividado: superendividamento e crédito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.
394-395. (Biblioteca de direito do consumidor; v. 29).

6 TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p.
231.

7 Como muito bem colocado pelo co-autor do anteprojeto da Lei 8.078/90, citado por José Geraldo
Brito Filomeno, "esta lei revela uma 'faceta do exercício da cidadania'." ( Manual de direitos do
consumidor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 31).

8 GRAU, Eros. A ordem econômica na constituição de 1988. 8. ed. rev.e atual. São Paulo:
Malheiros, 2003. p. 177.

9 PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: Introdução ao direito civil constitucional. Trad. Maria
Cristina de Cicco. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 194.

10 WOLKMER, Antonio Carlos. 4. ed. rev., ampl. e atual. Ideologia, Estado e Direito. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2003. p. 163.

11 Normas-objetivo, segundo Eros Roberto Grau. Interpretando o Código de Defesa do


Consumidor: algumas notas. Revista de Direito do Consumidor, n. 5. São Paulo: Revista dos
Tribunais, jan-mar. 1993. p. 183-189.

12 Esta característica está diluída no estatuto que não apenas reprime, mas educa, a exemplo,
ainda, do disposto no art. 6.º, II, III e VI; toda a Seção I, do Capítulo IV; Seções I, II e III do
Capítulo V, do CDC (LGL\1990\40).

13 Eis a célebre pergunta que se costuma fazer na investigação de uma interpretação autêntica
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de texto normativo, conforme a observação de Ronald Dworkin: "quando um juiz indaga o que os
legisladores devem ter pretendido realizar, ele quer perguntar que políticas ou princípios ajustam-
se mais naturalmente à lei que aprovaram". ( Uma questão de princípio. Trad. Luís Carlos Borges.
São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 24).

14 Conforme se infere do art. 3.º, I, Dec. 2.181/97.

15 Cf. o art. 24, V e VIII, da CF/1988 (LGL\1988\3), concorrem os entes da Federação na


produção legislativa concernente a consumo e responsabilidade por dano ao consumidor. Estão os
mesmos legitimados a propor Ações Coletivas de Consumo, na forma do art. 82, II, do CDC
(LGL\1990\40) e, ainda, integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, consoante o art.
105, caput, do CDC (LGL\1990\40).

16 O Poder Judiciário exerce papel fundamental na proteção dos direitos do consumidor, seja no
exercício da judicatura (ver, a respeito, conclusão brilhante da Ministra Fátima Nancy Andrighi na
palestra "O CDC (LGL\1990\40) e o STJ", disponível em [http://bdjur.stj.gov.br/]. Acesso:
10.06.2006), seja na sua especialização organizacional para o atendimento das causas de
consumo, na esteira do papel fundamental que exercem os Juizados Especiais Cíveis.

17 FILOMENO, José Geraldo Brito. et. al. Código brasileiro de defesa do consumidor - comentado
pelos autores do anteprojeto. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999. p. 60-61.

18 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios gerais do código brasileiro de defesa do consumidor. Revista de
Direito do Consumidor, n. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992. p. 50-51.

19 FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito econômico. 5. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2004. p. 129.

20 Ver, a respeito, enunciado de n. 170, da III Jornada de Direito Civil, disponível em [http://
www.cjf.gov.br/revista/enunciados/]. Acesso: 05.07.2006.

21 Anotam Carlos Alberto Menezes Direito e Sérgio Cavalieri Filho, ao traçarem um histórico da
responsabilidade civil no direito pátrio que "temos como certo que a responsabilidade civil nas
relações de consumo é a última e mais avançada etapa dessa longa evolução de que estamos
tratando". ( Comentários ao novo Código Civil (LGL\2002\400): da responsabilidade civil, das
preferências e privilégios creditórios. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 20. v. XIII)

22 Ver, por todos: MARQUES, Claudia Lima. 5. ed. Contratos no Código de Defesa do Consumidor:
o novo regime das relações contratuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

23 Ver a respeito: MIRAGEM, Bruno Nunes Barbosa. A defesa administrativa do consumidor no


Brasil. Revista de Direito do Consumidor, n. 46. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr.-jun., 2003.

24 Importante lembrar que o anteprojeto do CDC (LGL\1990\40) trouxe no art. 5.°, § 1.º (vetado),
comando no sentido de que Estados, Municípios e o Distrito Federal manteriam órgãos de
atendimento gratuito para "orientação dos consumidores". Na palavra "orientação" se reproduz que
a efetividade da educação era já uma meta legal.

25 Ver, do STJ, os seguintes precedentes: AgRg no Ag 184.616-RJ, rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª
T., DJ 28.05.2001. p. 159 (publicado, também, na JBCC, v. 191, p. 322 e LEXSTJ, v. 145, p. 22);
REsp 476.428-SC, rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª T., DJ de 09.05.2005, p. 390.

26 Anota Aline Arquete Novais: "(...) o Estado assume papel de importância ímpar, no sentido de,
através de normas ordinárias, remover tais entraves à consecução do princípio constitucional da
igualdade, fazendo-o atuar substancialmente nas relações interprivadas, de forma a tratar os
desiguais de forma também desigual, para que a igualdade ultrapasse aquele seu sentido
meramente formal, assumindo seu caráter material, ou substancial". A teoria contratual e o código
de defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 86. (Biblioteca de direito do
consumidor; v. 17).

27 MARQUES, Claudia Lima. Op. cit . p. 215-255 e 799.

28 Art. 4.º, III: "harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e
tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, V,
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da CF/1988 (LGL\1988\3)), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores".

29 NUNES, Rizzato. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 125. No mesmo
sentido, adotando terminologia distinta, Heloísa Carpena compreende a vulnerabilidade como
"subprincípio - ou projeção - da isonomia substancial e da dignidade da pessoa humana" . Em
CARPENA, Heloísa. O consumidor no direito da concorrência. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p.
184.

30 Nesse sentido, são as posições recentemente colhidas de Herman Benjamin, em palestra


proferida no Congresso Nacional de Direito do Consumidor, set/2006 e Leornardo Roscoe Bessa,
em palestra proferida no VIII Congresso Brasileiro de Direito do Consumidor, Rio de Janeiro, maio-
jun/2006.

31 Ensina Erick Jayme, destacando duas características da cultura pós-moderna: "O primeiro
deles, já mencionado é o pluralismo ( Pluralismus). Não apenas o pluralismo de formas, mas
também de estilos. E também de estilos de vida, é a idéia de autonomia em escolher seu próprio
modo de vida. O mundo pós-moderno é caracterizado por um 'direito à diferença' ( droit à la
difference), para citar a expressão do senhor professor R. -J. Dupuy, do colégio de França,
atualmente presidente do Instituto de Direito Internacional. O segundo valor: o mundo pós-
moderno é caracterizado pela comunicação ( Kommunikation) e por não ter mais fronteiras. De
outra parte, não são apenas os meios tecnológicos que permitem a troca rápida de informação e
imagens, mas também a vontade ( Wile) e o desejo ( Wunsch) de se comunicar dessas pessoas.
Esse desejo emerge como valor comum." Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Direito -
PPGDir./UFRGS. V. 1, n. 1 (mar. 2003). Porto Alegre: PPGDir./UFRGS, 2003. p. 60.

32 "Art. 6.º São direitos básicos do consumidor:" (...) "II - educação e divulgação sobre o
consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações".

33 NUNES, Rizato. Op. cit ., p. 125.

34 MARQUES, Claudia Lima. et alii.Comentários ao código de defesa do consumidor: arts. 1.º a 74


- aspectos materiais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 119.

35 ALMEIDA, João Batista. Manual de direito do consumidor. Rio de Janeiro: Saraiva, 2003. p. 17.

36 Idem, ibidem, p. 17.

37 BELMONTE, Cláudio. Proteção contratual do consumidor: conservação e redução do negócio


jurídico no Brasil e em Portugal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 79. (Biblioteca de
direito do consumidor; v. 21).

38 NOVAIS, Elaine. Mercadoria adquirida no exterior: globalização e efetiva defesa do consumidor.


Revista de Direito do Consumidor, n. 47. São Paulo: Revista dos Tribunais, jul-set., 2004. p. 196.

39 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p. 40-41.

40 LORENZETTI, Ricardo. Op. cit . p. 276.

41 Brilhante: Claudia Lima Marques. Op. cit . p. 167.

42 Confiança no comércio eletrônico e a proteção do consumidor: (um estudo dos negócios


jurídicos de consumo no comércio eletrônico) . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 63.

43 Esta foi a sensível percepção da Professora Claudia Lima Marques em palestra realizada nas
Jornadas de Direito do Consumidor 2005, Brasília, em homenagem ao Ministro Sálvio de Figueiredo
Teixeira.

44 Cito, como exemplo, órgãos públicos e empresas que restringem as vias de atendimento e
esclarecimento dos consumidores à Internet. Por certo, o alcance das informações ali veiculadas é
restrito.

45 Cuida-se do Plano Nacional de Educação decenal, aprovado a partir da Lei 10.172, de


09.01.2001.
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46 Até porque o Dec. 3.276, de 06.12.1999, que dispõe sobre o "curso de formação de
professores para a educação básica" remete o conteúdo desta formação ao PNE, onde, como
visto, há a meta de educar para consumo.

47 Esta foi a constatação do Grupo de Trabalho "Aulas", parte do Núcleo de Estudos de Direito do
Consumidor (Brasilcon-UniCEUB), de Brasília, que ao ministrar uma aula sobre "direitos básicos do
consumidor" para alunos do ensino médio da Capital Federal, em 2005, concluiu que: "entendemos
que o objetivo do Grupo Aulas foi plenamente atendido, ou seja, levar às pessoas carentes de
informação dos 'Direitos Básicos do Consumidor', pois em todas as aulas ministradas foi patente a
carência e desinformação das pessoas quanto ao conhecimento e a forma de fazer valer seus
direitos". Disponível em [http://www.brasilcon.org.br]". Acesso: 20.09.2006.

48 Cuida-se do saber epistemológico, uma das características do poder, segundo FOCAULT,


Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim
Morais. Rio de Janeiro: NAU, 2003. p. 121.

49 É o que traduz, sob um enfoque crítico e sociológico, com a simplicidade de quem escreve aos
acadêmicos iniciantes, na obra de: LYRA FILHO, Roberto. O que é direito. São Paulo: Brasiliense,
1999. p. 65. (Coleção primeiros passos; v. 62).

50 COMPARATO, Fábio Konder. A nova cidadania. São Paulo: Lua Nova, n. 28/29, 1993. p. 87.

51 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 1998. p.
316.

52 Os mesmos princípios permearam a Lei de Diretrizes e Bases, 9.394, de 20.12.1996, conforme


seu art. 2.º.

53 João Batista de Almeida divide a educação em formal e informal, sendo esta a propagada ao
público em geral (não necessariamente escolar) através de campanhas do Poder Público e Ongs ,
p. e., ao passo que aquela trata do conteúdo inserido na grade curricular dos discentes das redes
pública e privada. Op. cit . pp. 20-21.

54 Recomenda o documento que às "universidades e demais instituições de ensino, públicas ou


privadas, a adoção da disciplina de Direito do Consumidor nas respectivas grades curriculares de
forma autônoma e obrigatória, garantindo a capacitação técnica adequada do profissional do
Direito e permitindo o enfrentamento da realidade jurídica atual" e "recomendar aos Órgãos
Públicos Federais, Estaduais e Municipais, inclusive Escolas da Magistratura, Advocacia, Ministério
Público e Defensoria Pública que realizem certames, que façam constar de seus programas tópico
específico sobre Direito do Consumidor, garantindo a capacitação técnica adequada do profissional
e intérprete do Direito e permitindo o enfrentamento da realidade atual" (grifos do original). O
documento retro materializa, como poucos, uma diretriz de concretização da educação para o
consumo. Disponível em [http://www.brasilcon.org.br]. Acesso 20.09.2006.

55 Hannah Harendt pondera que o surgimento da sociedade de massa prioriza o comportamento,


acima da ação individual, como gerador de mudanças: "(...) com o surgimento das sociedades de
massas a esfera do social atingiu, finalmente, após séculos de desenvolvimento, o ponto em que
abrange e controla, igualmente e com igual força, todos os membros de determinada comunidade.
Mas a sociedade equaliza em quaisquer circunstâncias, e a vitória da igualdade no mundo moderno
é apenas o reconhecimento político e jurídico do fato de que a sociedade conquistou a esfera
pública, e que a distinção e a diferença reduziram-se a questões privadas do indivíduo. Esta
igualdade moderna, baseada no conformismo inerente à sociedade e que só é possível porque o
comportamento substitui a ação humana como principal forma de relação humana, defere, em
todos seus aspectos, da igualdade dos tempos antigos, e especialmente, da igualdade na cidade-
estado grega." A condição humana. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2003. p. 51.

56 Disponível em: [http://www.lasemana.es]. Acesso: 20.09.2006.

57 TEPEDINO, Gustavo. Op. cit . p. 226.

58 Assim observa Rizzato Nunes, logo na abertura de sua obra. Op. cit . p. 1-2.

59 Ver, a respeito, LIMA, Rogério Medeiros Garcia. Aplicação do código de defesa do consumidor.
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 13/15
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 43 (Biblioteca de direito do consumidor; v. 23).

60 LEWICKI, B. O ensino monolítico do direito civil: notas para sua humanização. In: RAMOS, C. L.
S. et all . (org.). Diálogos sobre direito civil: construindo a racionalidade contemporânea. Rio de
Janeiro: Renovar, 2002. p. 436-448.

61 Aqui compreendida acima do rompimento que provocou na compreensão de socialização do


contrato. Emprega-se a eficácia social como resultante da modificação de comportamento da
sociedade de consumo.

62 Destacada como um campo de atuação não só dos Procon, mas de todos os órgãos legitimados
à defesa do consumidor, por José Geral de Brito Filomeno. Op. cit ., p. 135.

63 A respeito, já registrava a Senhora Min. Fátima Nancy Andrighi, em trabalho de 1993, publicado
na Biblioteca Digital Jurídica do STJ. Disponível em: [http://bdjur.stj.gov.br/dspace/bitstream/
2011/2519/1/Juizado_Especial.pdf] Acesso: 20.09.2006.

64 Demanda esta já priorizada pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor: "Há mais
de uma década, o Código de Defesa do Consumidor inaugurou uma nova era no exercício da
cidadania em nosso país. Desde então, os cidadãos brasileiros contam com um poderoso
instrumento de proteção nas relações de consumo. Nos últimos anos, graças à autuação conjunta
do Estado e da sociedade civil, este instrumento vem sendo difundido de maneira notável,
penetrando o tecido social em todos os níveis. Cada vez mais, consumidores e fornecedores
percebem as regras jurídicas que disciplinam as relações de consumo como uma realidade.
Entretanto, o Código de Defesa do Consumidor, representa muito mais que um instrumento de
proteção do cidadão, sendo um verdadeiro convite à sociedade civil para que se organize na
proteção e defesa dos seus direitos. Assim, gradativamente, assistimos ao surgimento de novas
entidades de proteção do consumidor em nível nacional, estadual e municipal." Trecho do link
"Educação para o consumo", Disponível em: [http://www.mj.gov.br/DPDC/sindec/sindec.html.]
Acesso: 20.09.2006.

65 Neste sentido, Boaventura de Souza Santos: "Na ciência moderna a ruptura epistemológica
simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o conhecimento científico; na
ciência pós-moderna o salto mais importante é o que é dado do conhecimento científico para o
senso comum. O conhecimento pós-moderno só se realiza enquanto se converte em senso
comum". ( Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2003. p. 91.)

66 Magnífico o trabalho do Ministério da Justiça, a partir do Departamento de Proteção e Defesa


do Consumidor que isolou, em um link dedicado à "educação para o consumo", as situações mais
corriqueiras de lesões aos consumidores, traduzindo-as em uma "cartilha do consumidor".
Disponível em: [http://www.mj.gov.br/DPDC/index.htm]. Acesso: 20.09.2006.

67 É notável a iniciativa da Associação dos Magistrados Brasileiros ao promover uma "Campanha


pela Simplificação da Linguagem Jurídica", em 11 de agosto de 2005. Disponível em: [http://
www.amb.com.br/portal/?secao=campanha_juridiques]. Acesso: 01.03.2006.

68 Formidável a incorporação destes paradigmas na obra de Leonardo Roscoe Bessa. O


consumidor e seus direitos: ao alcance de todos. Brasília: Brasília Jurídica, 2002.

69 Op. cit ., p. 187.

70 ALMEIDA, Luiz Cláudio de Carvalho. A legitimidade do ministério público para a defesa dos
direitos individuais homogêneos do consumidor: um caminho para a eficácia social da norma dentro
de um modelo garantista . Revista de Direito do Consumidor, n . 53. São Paulo: Revista dos
Tribunais, out-dez., 2004. p. 83-87.

71 MOROSINI, Fábio. Visões acerca do novo direito da comunicação de massa . Revista de Direito
do Consumidor, n. 50. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr-jul., 2004. p. 211.

72 Discurso e ação são aqui compreendidos como a forma de inserção do homem no meio em que
vive, segundo Hannah Harendt. Op. cit ., p. 189.

73 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 80.

74 De acordo com Simone Hegele Bolson, "Da mesma forma que o termo cidadania, utilizado à
www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 14/15
18/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

exaustão nas mais diversas situações, converteu-se a dignidade da pessoa humana numa
expressão em voga". (Direitos da personalidade do consumidor e a cláusula geral de tutela da
dignidade da pessoa humana. Revista de Direito do Consumidor, n. 52. São Paulo: Revista dos
Tribunais, out-dez. 2004. p. 152.) Em outras palavras, é de se compreender que os dois verbetes
se entrelaçam e não permitem, hoje, uma distinção nítida. Cidadania, também expresso como
fundamento da República (art. 1.º, II, CF/1988 (LGL\1988\3)) não pode ser compreendido tão-
somente como direito de votar e ser votado, bem como à noção de ser acolhido por um Estado
Soberano. Cuida-se, conforme anota Fábio Konder Comparato, em um conjunto de direitos e
deveres, dentre os quais de ser tratado com dignidade (vide nota 50).

75 KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz Boeira e Nelson Boeira .
São Paulo: Perspectiva, 2000. p. 126.

76 PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: Introdução ao direito civil constitucional. Trad. Maria
Cristina de Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 37.
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