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O DEVER DE EDUCAR
O DEVER DE EDUCAR
Revista de Direito do Consumidor | vol. 60 | p. 212 | Out / 2006
Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 8 | p. 177 | Out / 2011DTR\2006\617
Walter José Faiad de Moura
Pós-graduado em Processo Civil pelo UniCEUB. Membro Instituto Brasileiro de Política e Direito do
Consumidor. Advogado.
Sumário:
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É cediço que a relação de consumo caracteriza-se pelo desequilíbrio genético entre seus principais
sujeitos, consumidor e fornecedor, logicamente quando integrados a um substrato fático
disciplinado pela Lei 8.078/90. Esta máxima tem índole constitucional verificada na Carta Régia a
partir de seus arts. 5.º, XXXII (dever imposto ao Estado) e 170, V, ambos da CF/88 (LGL\1988\3),
(identificador da vulnerabilidade do consumidor no mercado e, portanto, imposição de defesa
voltada a todos os seus integrantes).
Os dispositivos destacados alinham-se ao enunciado do art. 1.º, III, da CF/1988 (LGL\1988\3),
conformando a dignidade da pessoa humana como pilar da República, fonte de valor impenhorável
e tendente ao não aniquilamento do ser humano em sua existência, demandando a "efetivação" de
cidadania. 6 Sobre esta tábua de valores se debruça uma política tendente à "implementação
efetiva de instrumentos", que protejam e defendam a vulnerabilidade do consumidor no mercado
(como, naturalmente, é enquadrada a aplicação do CDC (LGL\1990\40), centrada nos ambientes
do contrato, da publicidade, da responsabilidade civil, do processo coletivo, dentre outros
institutos seccionados pelo microssistema normativo) e, porque não, na sua formação enquanto
cidadão. 7
A presente abordagem propõe o pensar e repensar do Direito do Consumidor e sua Política
Nacional das Relações de Consumo - PNRC, projetando-os para além das relações intersubjetivas
de direito privado, na percepção de que tais elementos se unem numa "política pública maior",
8
porque constitucional, de promoção da dignidade humana noutros ambientes, como o da
formação educacional do brasileiro .
Pietro Perlingieri atrela a educação a um dever constitucional dirigido ao Poder Público e à
sociedade, razão pela qual não se desenvolve apenas no ambiente escolar, mas em todos os
ambientes, inclusive o familiar, pois é fator "indispensável" de inserção no mundo produtivo e do
trabalho, razão pela qual "não se extingue com a maioridade dos filhos, mas continua até que
sejam completados os estudos que representam a atuação de seu 'projeto educativo'." 9
A PNRC, conforme se verá, estabeleceu uma questão de projeto educativo à sociedade de
consumo, carente hoje de implementação.
Com efeito, muito se tem avançado na abordagem constitucional do Direito Civil, encartado sob
uma perspectiva mais lídima das relações privadas, o que se reinaugurou com o Código Civil
(LGL\2002\400) de 2002, mas já compunha a experiência do CDC (LGL\1990\40). Por outro lado,
ainda é relativamente insipiente o entrelace da proteção do consumidor como dever externo à
seara obrigacional, merecendo aquilatar sua potencialidade de efetivar tutelas mais sólidas para
que consumidores e fornecedores evitem conscientemente a ocorrência de danos.
A técnica legislativa adotada pela Lei 8.078/90 aclara que seus dispositivos não se resumem à
mera tipificação de ilicitudes seguida de sanções jurídicas mais ou menos severas. Vai além.
Ultrapassa a tendência de nossa cultura jurídica enraizada na solução das mazelas sociais a partir
da simples edição de uma lei, 1 0 estabelecendo metas 1 1 objetivas para vincular o Estado e demais
sujeitos de direito na mútua obrigação de uma coexistência equilibrada se, em qualquer
conjuntura, fornecedor não vive sem consumidor e a pauta é a cooperação.
Aflora, a partir daí, importante viés pedagógico do CDC (LGL\1990\40), 1 2 pré-disposto a promover
constantes melhorias nas relações jurídicas nele disciplinadas, o que bem se amolda à adoção da
palavra "política". O aludido verbete, apesar de polissêmico, ultrapassa a simples conta de
objetivos traçados pelo legislador para, de modo persuasivo, revelar o que se pretendeu ao
aprovar o CDC (LGL\1990\40). 1 3 A resposta é tirada do próprio texto normativo, imbuído do ideal
comum e público de compromisso multilateral em torno do respeito aos vulneráveis (premissa maior
do CDC (LGL\1990\40)). O adjetivo nacional, por sua vez, está longe de estabelecer que esta
política somente é produzida no patamar Federal. Ao revés, ressalvadas as diretrizes estabelecidas
com a coordenação do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, 1 4 órgão do Ministério
da Justiça, os Municípios e Estados devem também, na forma da lei, 1 5 ser producentes e pró-
ativos. A PNRC encampa todas as esferas do Poder Público, até mesmo o Poder Judiciário. 1 6
2.1 Conteúdo da PNRC
O conteúdo da PNRC se reproduz em deveres abstratos multidisciplinares, dirigidos ao Estado e
aos partícipes da relação de consumo apoiados nas vigas do reconhecimento da vulnerabilidade e
da harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo. 1 7 A inteligência de
sua estrutura aberta 1 8 permite a adaptação da política (mesmo em uma concepção abstrata e
projetada ao futuro) às mais variadas ordens de acontecimentos, respeitados os lindes da boa-fé,
confiança e transparência.
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A PNRC encerra uma agenda que se inicia logo no caput do art. 4.º, sob a forma de cláusulas-
princípio expressas nos seus respectivos incisos. A redação deste dispositivo constrói um caminho
a ser percorrido, em cada caso concreto, a partir das reais necessidades do consumidor numa
autêntica realização de isonomia real. Seu conteúdo é, portanto, dinâmico e axiológico.
Essa percepção se reflete mais comumente nas relações jurídicas experimentadas pelos
consumidores em contraposição ao fornecedor (sejam elas pré, intra ou pós-contratuais,
indenizatórias), porém, a elas não se restringem. A PNRC alcança o consumidor enquanto
integrante de "um elo da economia de mercado", aceitando-o como destinatário de "políticas
econômicas adequadas" 1 9 mesmo enquanto ainda não exista um contrato. 2 0
Com inteligência, a PNRC já se muniu da meta de "estudo constante das modificações do mercado
de consumo" (art. 4.º, VIII, CDC (LGL\1990\40)), antevendo que o direito de consumidor é ciência
sempre em construção, portador de respostas rápidas e quase imediatas ao ineditismo do tráfico
jurídico pós-moderno.
2.3 Deveres de educação e informação e o aumento da eficácia concreta do CDC
Merece destaque, dentre o rol de princípios da PNRC, o inciso IV do art. 4.º do CDC
(LGL\1990\40), que verbaliza a meta de "educação e informação de fornecedores e consumidores,
quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo" . Aqui, a
educação aparenta um dever dirigido ao Estado (pois se destina a consumidores e fornecedores) a
ser praticado pelos instrumentos da PNRC. Mais adiante, o CDC (LGL\1990\40) aborda a educação
como direito básico do consumidor (art. 6.º, II 3 2 ), imposto com mais precisão em relação aos
fornecedores, naturalmente detentores de informações preciosas e elementares sobre seus
produtos e serviços (marco da hipossuficiência técnica 3 3 ).
Os comandos mencionados deixam transparecer que o CDC (LGL\1990\40) é norma promocional da
melhoria do mercado de consumo com a advertência de que a educação lhe servirá de motor.
Logo, o alcance do equilíbrio nas relações econômicas é viável pelos deveres de transparência,
proteção da confiança 3 4 e, também, de educar.
Sob essa angulação, a educação do consumidor (aí abarcando a informação adequada como seu
conteúdo precioso) deve figurar, após as medidas de proteção proibitivas e reparatórias, como um
dos mais importantes meios de alcance da harmonização da relação de consumo, 3 5 principalmente
se endereçada à coletividade, esteja ela ou não atrelada a uma relação obrigacional de consumo
específica.
Cuida-se da abertura do espectro da transparência para além do locus contratual, pois a
educação o antecede. No Brasil, peculiarmente, os rincões estanques de desigualdade social
absoluta deságuam em "baixo nível educacional da população e na reduzida conscientização" 3 6 de
seus cidadãos, realizando outra faceta pós-moderna na qual convivem duas realidades
antagônicas: a complexidade e a sofisticação dos grandes centros urbanos, desalinhados da
simplicidade de logradouros mais humildes. Esta condição do consumidor brasileiro já está embutida
nos conceito de "contraentes débeis". 3 7 Em que pese se tratar de uma realidade mundial (pois um
dos efeitos da globalização vem a ser a integração mundial 3 8 ), o desnível informacional no Brasil é
reconhecidamente acentuado, o que demanda atitudes ainda mais incrementadas e eficazes para
a adequação das relações desequilibradas.
Pouca educação significa reduzido discernimento e, por conseqüência, a dilatação do abismo entre
a informação detida pelo fornecedor (ou pelo Estado) e o consumidor. Ciente desta defasagem, o
legislador não se olvidou de pulverizar no CDC (LGL\1990\40) o dever de educar, informar, enfim,
tornar o mais transparente possível a relação de consumo. Uma vez bem instruído, o consumidor
deterá mais poder de barganha (individual e coletivamente), ficando menos exposto a práticas
comerciais ou cláusulas contratuais aviltantes, auxiliando na autodeterminação de sua proteção.
O CDC (LGL\1990\40) inaugurou (como poucos estatutos no Brasil) uma norma de
conscientização, com larga eficácia social. Certamente, o dever de educar e a harmonização das
relações de consumo são indissociáveis, e a priorização daquele primeiro alargará a eficácia do
CDC (LGL\1990\40).
3. A repercussão da educação na coletividade
O CDC (LGL\1990\40) concebeu como destinatário de seus dispositivos a coletividade, porta-voz
que é de direitos difusos ou de terceira geração. 3 9 O direito à educação suplanta o indivíduo e
deve operar seus efeitos preparando cada um dos cidadãos para bem se comportar perante o
mercado. Estruturar soluções de educação que alcancem sujeitos indefinidos (conceito definido
em várias passagens do CDC (LGL\1990\40)) é uma demanda criada.
As relações sócio-econômicas massificadas, por exemplo, possuem características próprias como a
despersonalização 4 0 e a homogeneização das informações. Eventuais prejuízos que aí se operam
(a exemplo de cláusulas abusivas constantes de contratos em massa) alcançam proporções de
difícil determinação, o que é preocupante.
As tutelas reparatórias nesta seara são mais comuns, quando já implementado o dano, e se busca
sustar a causa, a exemplo da suspensão de uma cláusula abusiva constante de contrato de
adesão. Por outro lado, as tutelas preventivas só ocorrem a partir da prospecção de que uma
prática (ainda não vertida em contrato) tenha potencial lesivo. Ministério Público, Defensorias
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aos seus destinatários que, no caso concreto, é o consumidor. A compreensão da norma 4 9 é ainda
mais essencial no presente caso quando se verifica que esta casta de direitos integra o mosaico
da cidadania. 5 0
Pouca educação significa, contrario senso, pouco desenvolvimento e mínimo preparo para as
complexidades da vida civil, especialmente sob o enredo das nuanças pós-modernistas. Se a vida
social é complexa, e complexas se tornaram as relações sociais e econômicas, comunicação e
informação (seu conteúdo) são fatores primordiais para evitar desigualdades, visto que a
educação é prestígio de poucos e deter informação significa posicionar-se com mais facilidade (ou
até superioridade) em detrimento de quem não a possui. A desinformação e a deseducação são
fatores concretos de desequilíbrio nas relações de consumo.
Na técnica de direitos fundamentais, o legislador constituinte inseriu a educação como inerente à
condição digna do homem, ao que já estabelecia a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(art. 26, ONU, 1948). A rigor, o trato constitucional da educação é de cunho orgânico,
cristalizando o dever estatal de prover ensino público.5 1 No art. 205 da CF/88 (LGL\1988\3) estão
postos os objetivos da educação brasileira, nos seguintes termos: a educação visa o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho. 5 2 A norma adverte uma curial sentença: desenvolvimento humano e exercício da
cidadania são fins realizáveis pela educação.
Consumidores desinformados e sem poder algum de avaliação estão mais expostos a lesões
praticadas no mercado, impossibilitados de enxergar ou compreender onde está seu prejuízo. Na
busca de exemplo concreto basta verificar se todos aqueles que adquirem veículos financiados
sabem a diferença entre um arrendamento mercantil financeiro, uma alienação fiduciária em
garantia, um crédito direto ao consumidor ou um mútuo feneratício tomado em financeira. Em
algum dos contratos poderá ele ser preso (em caso de inadimplemento) e, se soubesse disto,
talvez não contrataria.
Para suprir a falta de educação diretamente vinculada a resultados gravosos experimentados pelos
consumidores, em curto prazo, tende o direito a se valer das já mencionadas medidas
reparatórias. Parte-se à eficiente averiguação da correspondência das informações disponibilizadas
pelos fornecedores e a legítima expectativa dos consumidores, a exemplo das seções reservadas à
"oferta e à publicidade" no CDC (LGL\1990\40) (Seções II e III, do Capítulo V). Ou seja, daquele
que informa cobra-se o dever de boa-fé. Ocorre que tais normas estão vinculadas a situações
contratuais específicas (mesmo que em massa), pois o CDC (LGL\1990\40) não estabelece, nas
citadas seções, conceitos de uma boa oferta ou de uma boa publicidade. Noutro lance, o CDC
(LGL\1990\40) se ocupa de traçar comandos positivos de informação adequada ao estabelecer um
mínimo razoável onde sejam atendidos, pelo menos, tópicos para evitar a nocividade ou
periculosidade à saúde ou segurança, além de atender às já mencionadas metas de aclarar os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem (ex. vi., arts. 10, e §§;
e 6.º, III).
Basta saber se referidos comandos, voltados à informação, transmitem-se à construção de uma
diretriz à educação do consumidor, já que aquela é conteúdo desta. A afirmativa é verdadeira,
desde que tais informações sejam ministradas não apenas no seio das relações contratuais (ou
pré-contratuais), mas em foro apropriado. A informação reproduzida apenas no momentum
contratual (quando o oblato já está sob os efeitos de práticas comerciais atrativas) não é tão
eficaz quanto à deduzida durante a formação do consumidor-cidadão, i. e., na escola que é o foro
apropriado da educação formal. 5 3 Uma vez conhecidas as diretrizes da educação ao consumidor,
pode-se, seguramente, estabelecer uma pauta objetiva para as políticas que visem sua realização.
É questão de operabilidade.
No seio do Ensino Superior, por exemplo, onde a graduação para o curso de Direito permite maior
enfrentamento das relações de consumo e da Lei 8.078/90, é louvável a moção aprovada no II
Congresso Nacional dos Professores de Direito do Consumidor, Rio de Janeiro/2006. 5 4
4.1 Educação e superação gradativa da vulnerabilidade
Se a vulnerabilidade é a essência do CDC (LGL\1990\40), a educação que se desdobra da PNRC
deve ser uma das formas de supri-la, ao seu tempo. Se este estandarte ainda não se ergueu com
o vigor que a própria lei projetou, até mesmo pela sua concretização de longo prazo, não é de ser
postergado.
Falar-se em amenização da vulnerabilidade sem educação é apenas conter situações danosas já
ocorridas, quando muito evitando a sua repetição. É consertar. Educar o consumidor,
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conscientizando-o de suas possibilidades, é muni-lo de uma condição básica de convívio digno: ter
ciência de seus direitos. Somente após este primeiro degrau será possível contemplar a tão
sonhada mudança de comportamento dirigida à minoração de desigualdade nas relações de
consumo. 5 5
Enquanto esta metamorfose não ocorre, calha, mais uma vez, o Direito à demanda de uma tutela
mais sensível e eminentemente de defesa. A sua realização reposicionaria o consumidor (individual
e coletivamente) como o principal agente de harmonização das relações de consumo, habilitado a
reproduzir no macro a imposição de seus direitos observada nas relações microjurídicas. Lapidar,
nesse sentido, é o emblemático comportamento verificado na Bélgica, em 1999, quando a suspeita
de que uma bebida estaria causando mal a algumas pessoas fez com que os belgas, antes mesmo
de medidas públicas de suspensão da comercialização, abdicassem do consumo do produto. 5 6
Importante salientar que a educação para o consumo não fará desaparecer com a vulnerabilidade.
Esta última é, por reflexo da principiologia do CDC (LGL\1990\40), uma constante do mercado. A
vulnerabilidade (especialmente a técnica) perdura e o destino dessa educação que a enfrentará
não será capaz de formar consumidores aptos e expertos em todos os setores do mercado de
produtos e serviços, destino utópico. Seria catastrófico fixar uma diretriz de superação total da
fragilidade do consumidor. Ademais, o conhecimento das propriedades de cada um dos produtos e
serviços disponibilizados dentro da miscelânea tecnológica pós-moderna é esforço impróprio até
mesmo para máquinas.
O consumidor discente deve compreender a vulnerabilidade, incorporá-la ao seu dia-a-dia,
reconhecendo nela sua condição de parte mais frágil dentro de um aspecto positivo, na proposta
concreta de que ser mais frágil é estar apto a exigir mais e mais informações, experimentar,
testar, conhecer, verificar demonstrações, pleitear melhorias, barganhar, sugerir, em suma, valer-
se diuturnamente da qualidade de consumidor.
4.2 A tecnologia do CDC fora do alcance do leigo
O afã de popularizar o conteúdo do CDC (LGL\1990\40), via medidas educativas, esbarra em uma
barreira conhecida daqueles que se aventuram ao estudo deste estatuto: o Código não permite
fácil nem imediata intelecção ao cidadão comum. A cognição de seus comandos, salvo alguns
enunciados diretos (como é boa parte dos arts. 39 e 51), demanda certa medida de esforço
hermenêutico, o que afasta a sua repercussão direta a todos seus destinatários no dia-a-dia.
Em aparte prático, é comum que após um curso de graduação sobre a teoria do Direito do
Consumidor, ainda o discente que logrou máximo aproveitamento se dirija ao docente
perguntando: - Entendi tudo, mas o que faço com meu telefone celular que não funciona? Esta é
uma faceta formidável do diploma que disciplina desde planos de saúde, serviços bancários,
compra e venda e até telefonia sem a necessidade de expressar comandos normativos específicos
ou simplesmente regulamentares, reflexo da tecnologia legislativa que mais lhe eleva como
estatuto legal. 5 7
Interessante retratar a experiência da Lei Distrital 3.278, de 31.12.2003, que obrigou os
estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços do Distrito Federal a expor um exemplar
da Lei 8.078/90 aos consumidores. É de se perguntar, contudo, se num eventual desentendimento
entre consumidor e fornecedor aquele primeiro sacará o livreto à cata de um artigo específico que
lhe corrija situação das mais inusitadas possíveis. E, em resposta pragmática, salvo se o cidadão
se satisfaz com os magistrais enunciados do art. 6.º, CDC (LGL\1990\40), sua tentativa não
logrará tanto êxito.
As normas abertas, um paradigma vigorante, demandam maior intelecção até mesmo para boa
parte dos atores jurídicos, 5 8 onde ainda coexiste a opacidade do positivismo. 5 9 Ao leigo,
espectador direto destes direitos, esta incompreensão é ainda mais natural. Acirra esta realidade
a tendência tecnicizante do ensino jurídico, 6 0 que preleciona seus atores à abordagem do Direito
como um fim em si mesmo, dissociado, por vezes, até mesmo do contexto onde está enraizado.
Mesmo assim, o CDC (LGL\1990\40) não perdeu um mínimo quinhão de eficácia social. A sua
implementação no campo comportamental é tão nítida que aquela lei distrital enfocada permite ao
cidadão comum identificar, dentro de um estabelecimento, um alfarrábio que, ali exposto,
incorpora e simboliza toda uma teia de deveres já entrelaçada no tecido social.
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Mesmo sem a exata compreensão dos efeitos práticos de sua proteção, o consumidor conta com o
aparato primordial das ramificações estatais ou para-estatais de intermediação direta com o
fornecedor, a exemplo dos Procon, que institucionalizaram um caminho de desmistificação de
conceitos cativos ao meio jurídico acima de tudo pela via da orientação.6 2 Meritório registro deve
ser feito aos Juizados Especiais Cíveis 6 3 e à função dos conciliadores e os demais instrumentos de
execução da PNRC (art. 5.º, CDC (LGL\1990\40)).
Na verdade, o CDC (LGL\1990\40) arquitetou a necessidade de um conectivo entre o consumidor e
sua orientação em cada situação concreta ao incumbir o SNDC (Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor - e todos seus membros e desdobramentos) de "prestar aos consumidores orientação
permanente sobre seus direitos e garantias e informar, conscientizar e motivar o consumidor
através dos diferentes meios de comunicação" (ex. vi., art. 106, III e IV, CDC (LGL\1990\40)). 6 4
Em uma segunda etapa de educação, orientação e disseminação dos direitos do consumidor, deve
a educação resguardar a diretriz de tradução do Código para cada caso concreto em enunciados
simples e didáticos, transmitindo suas soluções com mais precisão e transparência ao senso
comum. Tem-se, à frente, um desafio que é de toda ciência, 6 5 mas especialmente do Direito do
Consumidor, porquanto está incumbido de programação legal específica. Em termos práticos,
tomando-se como exemplo as relações massificadas, hão de ser isoladas a partir de suas
multifacetadas exteriorizações (seja de contrato, publicidade, prática abusiva) para realçar, após
leitura simplificada, os cuidados e medidas (muitas delas até formais) a serem apreendidos e
realizados (destaca-se o papel fundamental do recurso didático das cartilhas). 6 6 Só assim logrará
esta educação uma eficácia concreta.
Cumpre aos operadores do direito o oficioso dever de simplificar o vernáculo empregado ao trato
das relações de consumo, 6 7 sempre que possível aquilatando o acesso de peças processuais,
escritos, decisões, soluções, normativos e todas as outras manifestações possíveis. A
desconstrução do discurso técnico-formal de temas jurídicos, notadamente de direito do
consumidor, não empobrece a riqueza de seu conteúdo. Pelo contrário, coloca-o ao alcance de
quem realmente carece dele não só para fins acadêmicos, mas para fins de subsistência. 6 8
4.3 Educação para comportamentos pró-ativos
A perspectiva já delineada de educar para conscientizar o consumidor permitirá que o mesmo
promova ações em seu benefício próprio, na medida de sua vulnerabilidade, modificando o
comportamento da coletividade no mercado.
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A educação é, pois, pressuposto para a formação da cidadania e, ainda, substrato de valores para
uma real noção do que seja existência digna. O CDC (LGL\1990\40) logra a convergência de todos
estes elementos e ainda exige do Estado e dos atores da relação jurídica um comprometimento
com o ato de educar para harmonizar e, v. g., plasmar uma isonomia real.
Respeitado o atual "contexto histórico, cultural, político e econômico do país", não restam dúvidas
de que ignorância equivale à desigualdade e indignidade. Pietro Perlingieri 7 6 anota que "a igual
dignidade social impõe ao Estado agir contra as situações econômicas, culturais e morais mais
degradantes e que tornam os sujeitos indignos do tratamento social reservado à generalidade".
Para os próximos anos de vigência do CDC (LGL\1990\40), uma das prioridades é elaborar um
projeto educativo efetivo.
1 Foi uma constante nas intervenções proferidas no memorável Congresso Internacional 15 anos
do Código de Defesa do Consumidor - Balanço, efetividade e perspectivas , Gramado-RS, 2005,
org. Brasilcon (em conjunto com a Ajuris e ESMP), que o balanço dos primeiros quinze anos da lei
é favorável e positivo, anotando-se que muito há para se realizar.
4 Vale lembrar Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, asseverando que "não há sociedade
de consumo sem publicidade". ( Código brasileiro de Defesa do Consumidor - comentado pelos
autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. p. 299.)
5 Brilhante, Rosângela Lunardelli Cavallazi revela a realidade do consumidor de crédito no Brasil que
calha na situação de superendividado não por mera disposição de vontade, mas por ocasião de
publicidades agressivas, "acidentes da vida" e, em especial, pela falta de informação. ( Direitos do
consumidor endividado: superendividamento e crédito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.
394-395. (Biblioteca de direito do consumidor; v. 29).
6 TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p.
231.
7 Como muito bem colocado pelo co-autor do anteprojeto da Lei 8.078/90, citado por José Geraldo
Brito Filomeno, "esta lei revela uma 'faceta do exercício da cidadania'." ( Manual de direitos do
consumidor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 31).
8 GRAU, Eros. A ordem econômica na constituição de 1988. 8. ed. rev.e atual. São Paulo:
Malheiros, 2003. p. 177.
9 PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: Introdução ao direito civil constitucional. Trad. Maria
Cristina de Cicco. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 194.
10 WOLKMER, Antonio Carlos. 4. ed. rev., ampl. e atual. Ideologia, Estado e Direito. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2003. p. 163.
12 Esta característica está diluída no estatuto que não apenas reprime, mas educa, a exemplo,
ainda, do disposto no art. 6.º, II, III e VI; toda a Seção I, do Capítulo IV; Seções I, II e III do
Capítulo V, do CDC (LGL\1990\40).
13 Eis a célebre pergunta que se costuma fazer na investigação de uma interpretação autêntica
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de texto normativo, conforme a observação de Ronald Dworkin: "quando um juiz indaga o que os
legisladores devem ter pretendido realizar, ele quer perguntar que políticas ou princípios ajustam-
se mais naturalmente à lei que aprovaram". ( Uma questão de princípio. Trad. Luís Carlos Borges.
São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 24).
16 O Poder Judiciário exerce papel fundamental na proteção dos direitos do consumidor, seja no
exercício da judicatura (ver, a respeito, conclusão brilhante da Ministra Fátima Nancy Andrighi na
palestra "O CDC (LGL\1990\40) e o STJ", disponível em [http://bdjur.stj.gov.br/]. Acesso:
10.06.2006), seja na sua especialização organizacional para o atendimento das causas de
consumo, na esteira do papel fundamental que exercem os Juizados Especiais Cíveis.
17 FILOMENO, José Geraldo Brito. et. al. Código brasileiro de defesa do consumidor - comentado
pelos autores do anteprojeto. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999. p. 60-61.
18 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios gerais do código brasileiro de defesa do consumidor. Revista de
Direito do Consumidor, n. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992. p. 50-51.
19 FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito econômico. 5. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2004. p. 129.
20 Ver, a respeito, enunciado de n. 170, da III Jornada de Direito Civil, disponível em [http://
www.cjf.gov.br/revista/enunciados/]. Acesso: 05.07.2006.
21 Anotam Carlos Alberto Menezes Direito e Sérgio Cavalieri Filho, ao traçarem um histórico da
responsabilidade civil no direito pátrio que "temos como certo que a responsabilidade civil nas
relações de consumo é a última e mais avançada etapa dessa longa evolução de que estamos
tratando". ( Comentários ao novo Código Civil (LGL\2002\400): da responsabilidade civil, das
preferências e privilégios creditórios. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 20. v. XIII)
22 Ver, por todos: MARQUES, Claudia Lima. 5. ed. Contratos no Código de Defesa do Consumidor:
o novo regime das relações contratuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
24 Importante lembrar que o anteprojeto do CDC (LGL\1990\40) trouxe no art. 5.°, § 1.º (vetado),
comando no sentido de que Estados, Municípios e o Distrito Federal manteriam órgãos de
atendimento gratuito para "orientação dos consumidores". Na palavra "orientação" se reproduz que
a efetividade da educação era já uma meta legal.
25 Ver, do STJ, os seguintes precedentes: AgRg no Ag 184.616-RJ, rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª
T., DJ 28.05.2001. p. 159 (publicado, também, na JBCC, v. 191, p. 322 e LEXSTJ, v. 145, p. 22);
REsp 476.428-SC, rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª T., DJ de 09.05.2005, p. 390.
26 Anota Aline Arquete Novais: "(...) o Estado assume papel de importância ímpar, no sentido de,
através de normas ordinárias, remover tais entraves à consecução do princípio constitucional da
igualdade, fazendo-o atuar substancialmente nas relações interprivadas, de forma a tratar os
desiguais de forma também desigual, para que a igualdade ultrapasse aquele seu sentido
meramente formal, assumindo seu caráter material, ou substancial". A teoria contratual e o código
de defesa do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 86. (Biblioteca de direito do
consumidor; v. 17).
28 Art. 4.º, III: "harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e
tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, V,
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da CF/1988 (LGL\1988\3)), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores".
29 NUNES, Rizzato. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 125. No mesmo
sentido, adotando terminologia distinta, Heloísa Carpena compreende a vulnerabilidade como
"subprincípio - ou projeção - da isonomia substancial e da dignidade da pessoa humana" . Em
CARPENA, Heloísa. O consumidor no direito da concorrência. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p.
184.
31 Ensina Erick Jayme, destacando duas características da cultura pós-moderna: "O primeiro
deles, já mencionado é o pluralismo ( Pluralismus). Não apenas o pluralismo de formas, mas
também de estilos. E também de estilos de vida, é a idéia de autonomia em escolher seu próprio
modo de vida. O mundo pós-moderno é caracterizado por um 'direito à diferença' ( droit à la
difference), para citar a expressão do senhor professor R. -J. Dupuy, do colégio de França,
atualmente presidente do Instituto de Direito Internacional. O segundo valor: o mundo pós-
moderno é caracterizado pela comunicação ( Kommunikation) e por não ter mais fronteiras. De
outra parte, não são apenas os meios tecnológicos que permitem a troca rápida de informação e
imagens, mas também a vontade ( Wile) e o desejo ( Wunsch) de se comunicar dessas pessoas.
Esse desejo emerge como valor comum." Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Direito -
PPGDir./UFRGS. V. 1, n. 1 (mar. 2003). Porto Alegre: PPGDir./UFRGS, 2003. p. 60.
32 "Art. 6.º São direitos básicos do consumidor:" (...) "II - educação e divulgação sobre o
consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações".
35 ALMEIDA, João Batista. Manual de direito do consumidor. Rio de Janeiro: Saraiva, 2003. p. 17.
39 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p. 40-41.
43 Esta foi a sensível percepção da Professora Claudia Lima Marques em palestra realizada nas
Jornadas de Direito do Consumidor 2005, Brasília, em homenagem ao Ministro Sálvio de Figueiredo
Teixeira.
44 Cito, como exemplo, órgãos públicos e empresas que restringem as vias de atendimento e
esclarecimento dos consumidores à Internet. Por certo, o alcance das informações ali veiculadas é
restrito.
46 Até porque o Dec. 3.276, de 06.12.1999, que dispõe sobre o "curso de formação de
professores para a educação básica" remete o conteúdo desta formação ao PNE, onde, como
visto, há a meta de educar para consumo.
47 Esta foi a constatação do Grupo de Trabalho "Aulas", parte do Núcleo de Estudos de Direito do
Consumidor (Brasilcon-UniCEUB), de Brasília, que ao ministrar uma aula sobre "direitos básicos do
consumidor" para alunos do ensino médio da Capital Federal, em 2005, concluiu que: "entendemos
que o objetivo do Grupo Aulas foi plenamente atendido, ou seja, levar às pessoas carentes de
informação dos 'Direitos Básicos do Consumidor', pois em todas as aulas ministradas foi patente a
carência e desinformação das pessoas quanto ao conhecimento e a forma de fazer valer seus
direitos". Disponível em [http://www.brasilcon.org.br]". Acesso: 20.09.2006.
49 É o que traduz, sob um enfoque crítico e sociológico, com a simplicidade de quem escreve aos
acadêmicos iniciantes, na obra de: LYRA FILHO, Roberto. O que é direito. São Paulo: Brasiliense,
1999. p. 65. (Coleção primeiros passos; v. 62).
50 COMPARATO, Fábio Konder. A nova cidadania. São Paulo: Lua Nova, n. 28/29, 1993. p. 87.
51 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 1998. p.
316.
53 João Batista de Almeida divide a educação em formal e informal, sendo esta a propagada ao
público em geral (não necessariamente escolar) através de campanhas do Poder Público e Ongs ,
p. e., ao passo que aquela trata do conteúdo inserido na grade curricular dos discentes das redes
pública e privada. Op. cit . pp. 20-21.
58 Assim observa Rizzato Nunes, logo na abertura de sua obra. Op. cit . p. 1-2.
59 Ver, a respeito, LIMA, Rogério Medeiros Garcia. Aplicação do código de defesa do consumidor.
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São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 43 (Biblioteca de direito do consumidor; v. 23).
60 LEWICKI, B. O ensino monolítico do direito civil: notas para sua humanização. In: RAMOS, C. L.
S. et all . (org.). Diálogos sobre direito civil: construindo a racionalidade contemporânea. Rio de
Janeiro: Renovar, 2002. p. 436-448.
62 Destacada como um campo de atuação não só dos Procon, mas de todos os órgãos legitimados
à defesa do consumidor, por José Geral de Brito Filomeno. Op. cit ., p. 135.
63 A respeito, já registrava a Senhora Min. Fátima Nancy Andrighi, em trabalho de 1993, publicado
na Biblioteca Digital Jurídica do STJ. Disponível em: [http://bdjur.stj.gov.br/dspace/bitstream/
2011/2519/1/Juizado_Especial.pdf] Acesso: 20.09.2006.
64 Demanda esta já priorizada pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor: "Há mais
de uma década, o Código de Defesa do Consumidor inaugurou uma nova era no exercício da
cidadania em nosso país. Desde então, os cidadãos brasileiros contam com um poderoso
instrumento de proteção nas relações de consumo. Nos últimos anos, graças à autuação conjunta
do Estado e da sociedade civil, este instrumento vem sendo difundido de maneira notável,
penetrando o tecido social em todos os níveis. Cada vez mais, consumidores e fornecedores
percebem as regras jurídicas que disciplinam as relações de consumo como uma realidade.
Entretanto, o Código de Defesa do Consumidor, representa muito mais que um instrumento de
proteção do cidadão, sendo um verdadeiro convite à sociedade civil para que se organize na
proteção e defesa dos seus direitos. Assim, gradativamente, assistimos ao surgimento de novas
entidades de proteção do consumidor em nível nacional, estadual e municipal." Trecho do link
"Educação para o consumo", Disponível em: [http://www.mj.gov.br/DPDC/sindec/sindec.html.]
Acesso: 20.09.2006.
65 Neste sentido, Boaventura de Souza Santos: "Na ciência moderna a ruptura epistemológica
simboliza o salto qualitativo do conhecimento do senso comum para o conhecimento científico; na
ciência pós-moderna o salto mais importante é o que é dado do conhecimento científico para o
senso comum. O conhecimento pós-moderno só se realiza enquanto se converte em senso
comum". ( Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2003. p. 91.)
70 ALMEIDA, Luiz Cláudio de Carvalho. A legitimidade do ministério público para a defesa dos
direitos individuais homogêneos do consumidor: um caminho para a eficácia social da norma dentro
de um modelo garantista . Revista de Direito do Consumidor, n . 53. São Paulo: Revista dos
Tribunais, out-dez., 2004. p. 83-87.
71 MOROSINI, Fábio. Visões acerca do novo direito da comunicação de massa . Revista de Direito
do Consumidor, n. 50. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr-jul., 2004. p. 211.
72 Discurso e ação são aqui compreendidos como a forma de inserção do homem no meio em que
vive, segundo Hannah Harendt. Op. cit ., p. 189.
73 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 80.
74 De acordo com Simone Hegele Bolson, "Da mesma forma que o termo cidadania, utilizado à
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exaustão nas mais diversas situações, converteu-se a dignidade da pessoa humana numa
expressão em voga". (Direitos da personalidade do consumidor e a cláusula geral de tutela da
dignidade da pessoa humana. Revista de Direito do Consumidor, n. 52. São Paulo: Revista dos
Tribunais, out-dez. 2004. p. 152.) Em outras palavras, é de se compreender que os dois verbetes
se entrelaçam e não permitem, hoje, uma distinção nítida. Cidadania, também expresso como
fundamento da República (art. 1.º, II, CF/1988 (LGL\1988\3)) não pode ser compreendido tão-
somente como direito de votar e ser votado, bem como à noção de ser acolhido por um Estado
Soberano. Cuida-se, conforme anota Fábio Konder Comparato, em um conjunto de direitos e
deveres, dentre os quais de ser tratado com dignidade (vide nota 50).
75 KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz Boeira e Nelson Boeira .
São Paulo: Perspectiva, 2000. p. 126.
76 PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: Introdução ao direito civil constitucional. Trad. Maria
Cristina de Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 37.
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