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Objetivo
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Direito do Consumidor
A relação jurídica pode assumir ou não feição patrimonial, conforme o dever que estabelece
em relação ao outro, seja aferível patrimonialmente ou não.
Assim, a relação entre pai e filho, decorrente do poder familiar, nem sempre se reveste de
natureza patrimonial, do mesmo modo, a relação entre os cônjuges, quando estabelece deveres de
fidelidade. Porém, é possível que esta relação jurídica assuma cunho patrimonial, quando o interesse
em função do qual ela se forma é eminentemente patrimonial.
Exemplo
Um contrato de compra e venda - modalidade de relação jurídica também
compreendida como relação jurídica obrigacional.
Obligatio est vinculum juris quae necessitate adstringimur, alicujus solvendae rei, secundum
nostrae civitatis juris (Liv. 3º., §13, pr). (Obrigação é o vínculo jurídico pelo qual somos
constrangidos a pagar certa coisa a alguém, segundo os direitos do nosso estado)
Da ideia acima, extrai-se que a obrigação é o vínculo jurídico pelo qual alguém (sujeito passivo)
se propõe a dar, fazer ou não fazer alguma coisa de natureza patrimonial (objeto), em favor do outro
(sujeito ativo). Porém, essa prestação que o devedor terá de realizar em favor do credor somente se
expressará a partir do seu conteúdo econômico, pois o inadimplemento acaba por gerar as perdas e
danos. Assim, a obrigação é representada por uma relação jurídica que se destaca pela natureza do seu
objeto, ou seja, um interesse de natureza patrimonial.
Conceito
A relação de consumo é uma modalidade de relação jurídica obrigacional que se
estabelece entre fornecedor e consumidor, sendo este o adquirente ou usuário de
produto ou serviço fornecido no mercado de consumo por aquele.
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Direito do Consumidor
1.1 Consumidor
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Exemplo
Um médico que adquire um produto para o exercício de sua profissão ou uma pessoa
jurídica que adquire bens para o escritório não seriam considerados consumidores.
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Direito do Consumidor
ʴʴ Corrente finalista
Para os finalistas, a tutela especial deferida aos consumidores somente se justifica em virtude
da sua vulnerabilidade nas relações contratuais no mercado de consumo. Somente seria compreendido
como consumidor quem necessita desta tutela diferenciada em face da condição mais frágil.
Esta corrente nos primeiros passos que ensaiou não admitia a pessoa jurídica como
consumidora. Entretanto, com o avanço das relações econômicas, a concepção mais radical dos
finalistas abrandaram, passando a admitir a possibilidade do sujeito profissional se enquadrar como
consumidor, desde que destinatário final do produto ou do serviço.
A corrente finalista, ao analisar o conceito de consumidor oferecido pelo Código de Defesa
do Consumidor (Lei no.8078/90), propõe uma interpretação restrita da expressão destinatário final.
◆◆ O consumidor seria a pessoa física ou jurídica que se firma como destinatário final fático
e econômico do bem ou serviço, sendo ele pessoa física ou jurídica.
◆◆ O destinatário final fático seria aquele que retira o bem da cadeia de produção do
mercado de consumo.
◆◆ O destinatário final econômico seria aquele que esgota as possibilidades que o bem
oferece, sem utilizá-lo para o fabrico de outros bens ou revendê-lo. A pessoa jurídica
seria consumidora se adquirisse um bem para a realização de outras necessidades e não
para o seu uso como instrumento de produção, como, por exemplo: a indústria têxtil que
adquire mesas e cadeiras para o refeitório de seus empregados ou o cidadão que adquire
um automóvel para uso pessoal.
ʴʴ A corrente maximalista
Vê nas normas do CDC um novo regulamento para o mercado de consumo e não apenas
normas orientadas para o não profissional (MARQUES, 2002, p. 254). Admite que a pessoa física e
a pessoa jurídica podem igualmente ocupar o papel de fornecedor ou de consumidor, dependendo
apenas do interesse que persegue numa dada relação jurídica. Caso funcione como destinatária final
fática do bem, será compreendida como consumidora.
A orientação da presente corrente é exaustivamente objetiva, sem a indagação da vulnerabilidade
justificadora da tutela especial. Ou seja, o destinatário final fático seria aquele que retira o produto do
mercado, independentemente do destino que atribuirá ao bem e a consumidora seria a pessoa jurídica
que adquire insumo, maquinário, etc.
A doutrina estrangeira traz as seguintes peculiaridades:
◆◆ A França e a Bélgica dispõem de legislação especial aplicável ao consumidor, considerado
predominantemente como aquele não profissional, entretanto a doutrina belga é favorável
a uma definição subjetiva de consumidor.
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Direito do Consumidor
◆◆ A Alemanha não dispõe de lei especial para as relações de consumo, optou por incluir
normas de proteção aos consumidores no universo geral das normas de direito civil –
um direito civil geral e um direito civil social. Aplica-se o princípio da boa fé objetiva
a todos os contratos, favorecendo sobremaneira os contratos inter-empresariais e inter-
civis. Por influência das Diretivas Europeias, a proteção ao consumidor, na Alemanha, vem
sendo reduzida à pessoa física que “conclui um negócio jurídico, cuja finalidade não tem
ligação comercial ou com a sua atividade comercial” (Cf. Cláudia Lima Marques, Revista
do Consumidor, no.37, p.272-273). Assim, a partir de 2000, com alteração no direito civil
alemão, as normas gerais sobre os contratos passaram a alcançar igualmente consumidores
e empresários. Porém o mesmo código (civil) estabelece normas especiais de tutela ao
parceiro contratual mais vulnerável, em especial aos consumidores.
Ementa
CIVIL. RELAÇÃO DE CONSUMO. DESTINATÁRIO FINAL.
A expressão destinatário final, de que trata o art. 2º, caput, do Código de Defesa do Consumidor
abrange quem adquire mercadorias para fins não econômicos, e também aqueles que, destinando-
os a fins econômicos, enfrentam o mercado de consumo em condições de vulnerabilidade;
espécie em que caminhoneiro reclama a proteção do Código de Defesa do Consumidor porque
o veículo adquirido, utilizado para prestar serviços que lhe possibilitariam sua mantença e a da
família, apresentou defeitos de fabricação. Recurso especial não conhecido.
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Direito do Consumidor
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do recurso especial nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros
Carlos Alberto Menezes Direito, Castro Filho e Humberto Gomes de Barros votaram com o
Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.
Curiosidade
O Bystander ou terceira vítima do evento (Art. 17) também é equiparado ao
consumidor lato sensu para efeito do acesso à reparação do dano. Trata-se aqui
do terceiro que nada interveio na relação de consumo, mas que por força de
circunstâncias fáticas sofreu um dano.
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Direito do Consumidor
1.1.3 Vulnerabilidade
É o elemento indutor do tratamento especial ao consumidor e é em virtude disso que se
estabelece a relação jurídica desigual.
A igualdade é um valor que se busca resguardar quando se assiste a desigualdade a cada
momento em que se estabelece comparações entre diversos sujeitos. Assim, aos iguais, se estabelece
tratamento igual; aos desiguais, tratamento desigual para favorecer uma equidade.
A vulnerabilidade é uma noção flexível e não consolidada, que nem sempre se estabelece a
partir da atitude de comparação. Muitas vezes é compreendida como um estado da pessoa, um estado
de risco, conforme sustenta Cláudia Lima Marques (2014).
A vulnerabilidade pode ser apresentar sob três nuances:
◆◆ Na técnica - o consumidor não possui conhecimentos específicos sobre o objeto da sua
aquisição, sendo mais facilmente enganado quanto às características do bem;
◆◆ Na jurídica - tem-se a carência de conhecimentos jurídicos específicos que, por exemplo,
cercam o instrumento contratual;
◆◆ A fática é a vulnerabilidade socioeconômica em face do sujeito fornecedor.
A vulnerabilidade em suas três dimensões é presumida para o consumidor pessoa física e para
o não profissional. Enquanto que para o consumidor profissional, especialmente a pessoa jurídica,
precisa provar a sua situação de vulnerabilidade.
1.1.4 Hipossuficiência
Semelhante ao estado de vulnerabilidade é a hipossuficiência, ou seja, um conceito de
aplicação processual. Enquanto a vulnerabilidade é o estado de praticamente todos os consumidores,
a hipossuficiência é um traço individual de determinadas pessoas. Corresponde ao estado de fraqueza
ou fragilidade peculiar da pessoa individualmente considerada e pode se revelar quando o outro polo
contratante é muito forte, quando o produto ou serviço que se pretende adquirir é essencial e urgente
ou em razão de outros fatores, como idade avançada ou tenra.
O conceito se aplica para o fim de determinar a inversão do ônus da prova no processo civil,
em favor do consumidor (Art. 6º, VII).
Vejamos os seguintes julgados:
Processo
AgRg no AREsp 398010 / RS
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2013/0318503-3
Relator(a)
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA (1128)
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Direito do Consumidor
Órgão Julgador
T1 - PRIMEIRA TURMA
Data do Julgamento
07/11/2013
Data da Publicação/Fonte
DJe 21/11/2013
Ementa
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. ERRO TARIFÁRIO REPASSADO AOS
UTENTES. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. HIPOSSUFICIÊNCIA DO
CONSUMIDOR
RECONHECIDA. REVISÃO NA VIA ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA
DO VERBETE SUMULAR 7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. “Cabe às instâncias ordinárias a análise dos aspectos
pertinentes
à caracterização de hipossuficiência do consumidor na relação de
consumo (art. 6º do CDC), a ensejar, ou não, a inversão do ônus da
prova. O seu reexame é inadmissível em face do óbice da Súmula
7/STJ” (AgRg no AREsp 82.071/MG, Segunda Turma, Rel. Min. CASTRO
MEIRA, DJe 21/8/12).
2. Agravo regimental não provido.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo
regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Napoleão Nunes Maia Filho (Presidente), Benedito
Gonçalves, Sérgio Kukina e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro
Relator.
ʴ Fornecedor
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.
E, pela leitura do artigo acima, tem-se uma relação intensa mas não exaustiva das atividades
que podem ser desenvolvidas por este agente no mercado de consumo.
É fornecedor aquele que pratica com habitualidade a atividade econômica com o peculiar
intuito de lucro. No conceito de fornecedor, haverão de estar presentes a profissionalidade e o fim
lucrativo, pois o diletante ou o filantropo não se enquadrariam nesta condição. Não é necessário que o
fornecedor seja um profissional regular, o comerciante irregular e a sociedade de fato também podem
ser considerados fornecedores.
Reflexão
O Estado tem a possibilidade de funcionar como fornecedor?
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Direito do Consumidor
conceito de consumidor e fornecedor já apresentados. Por isso, quando o Estado atua no mercado de
consumo como um ente qualquer, ou seja, sem relação de subordinação, cobrando por seus serviços o
denominado preço público ou tarifa, o Estado funciona como fornecedor.
Assim, é claro que o Estado pode ser enquadrado como fornecedor, desde que a relação jurídica
não seja um relação tributária. O próprio artigo que conceitua o fornecedor traz a possibilidade da
pessoa jurídica de direito público funcionar como fornecedora. O Art. 6º, X dispõe sobre o direito do
consumidor de acesso aos serviços públicos adequados e eficazes. O Art. 22 traz a responsabilidade
dos órgãos públicos pela execução dos serviços e sobre eventuais danos.
Observe algumas considerações relacionadas a este assunto:
Primeiro, repita-se, o fornecedor de que trata o presente artigo é um dos elementos da relação
de consumo que se consolida mediante a presença dos demais elementos: consumidor, produto ou
serviço. Para que as pessoas jurídicas de direito público figurem como fornecedores deverão prestar
serviços, tais como os definidos no Art. 3º, §2º, que são remunerados.
Em síntese, os serviços públicos remunerados, ou seja, contra-prestacionados, mediante preço
público ou tarifa são em geral executados por pessoas jurídicas de direito privado. Embora deles sejam
titulares as pessoas jurídicas de direito público. Porém, o serviço público tem sua execução transferida
à iniciativa privada por meio do contrato de concessão ou permissão. A empresa passa a executar o
serviço por sua conta e risco. Os danos decorrentes da atividade são encarados pelo próprio executor,
enquanto o verdadeiro titular do serviço tem uma responsabilidade subsidiária.
Assim, descarta-se a possibilidade de enquadramento da pessoa jurídica de direito público
quando o serviço prestado não é remunerado, como no exemplo da segurança pública, na prestação
do serviço educacional, de saúde etc.
1.3 Produto
Art. 3º, § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
O produto é aqui compreendido por sua natureza econômica, enquanto bens, e, para o Direito,
os bens são considerados objetos de direito numa dada relação jurídica. Os bens são espécies do gênero
coisas, caracterizados pelo valor econômico a eles atribuído. São portanto coisas que suscetíveis de
apropriação pelo homem e, consequentemente, valoradas economicamente.
Diz-se bem material aquele que ocupa espaço, enquanto os bens imateriais são assim
considerados por sua existência abstrata. O automóvel é um bem material, enquanto um software, a
energia elétrica, energia atômica e uma música são bens imateriais.
Por isso, pode-se dizer que o CDC adotou um conceito bem amplo ao tratar de produto,
conceituando-o como qualquer bem, ficando fácil, portanto, a caracterização da relação de consumo
no que concerne ao produto.
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Direito do Consumidor
1.4 Serviço
Art. 3º, § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Curiosidade
A ADIn foi julgada improcedente pelo STF no dia 07 de junho do ano corrente,
confirmando, a aplicabilidade do CDC.
◆ Logo, pessoa jurídica de direito público ou privado que ofereça serviço mediante remuneração
(por preço público ou tarifa) pode ser considerada fornecedora, sendo o usuário, por
consequência, consumidor.
No Capítulo que traz o rol dos direitos básicos do consumidor, inclui-se o direito à “adequada e eficaz
prestação dos serviços públicos, em geral” (Art. 6º, X), e, no Art. 22, dispõe-se acerca da obrigatoriedade dos
órgãos públicos, por si ou por suas empresas, concessionárias, permissionárias, ou sob qualquer outra forma
de empreendimento, de fornecer serviços adequados, eficientes e seguros, quando essenciais e contínuos.
Importa saber se é permitida a incidência do CDC nas relações que envolvam a prestação
dos serviços públicos em geral, ou somente daqueles remunerados. Da interpretação teleológica e
sistemática do citado diploma legal, entende-se que somente caberá a sua aplicação no âmbito de uma
relação de consumo, ou seja, quando presentes as figuras do consumidor, do fornecedor e a prestação
do serviço remunerado oferecido no mercado de consumo.
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Direito do Consumidor
Apesar da vasta literatura no campo do Direito do Consumidor, poucos são os estudos que tratam
da aplicabilidade das suas normas em favor do usuário do serviço público e, quando o fazem, não tocam em
questões consideradas fundamentais. Antônio Herman Benjamin (1991, p. 110) defende uma interpretação
extensiva do CDC, aceitando a sua aplicabilidade a todos os serviços públicos, tanto aos uti universi quanto
aos uti singuli; na sua compreensão, o Estado é um dos que compõem o gênero fornecedor.
Regina Helena Costa (1997, p. 99) entende que a remuneração é condicionante da relação
de consumo, mas admite que podem figurar como objeto de uma relação de consumo até mesmo
os serviços públicos que originam o pagamento de taxa, entendendo que neste tipo de serviço há
a divisibilidade e a remuneração. Por fim, exclui os serviços públicos uti universi e aqueles não
remunerados. Contudo, é bom lembrar a lição dos tributaristas - taxa é um tributo e não um preço
público. Não se trata aqui de remuneração ou contraprestação de serviço, porque o cidadão pode ter
de pagar uma taxa sem efetivamente utilizar o serviço (MACHADO, 2002, p. 369.).
Filomeno (2001, p. 53) contra argumenta também neste sentido, inadmitindo que impostos,
taxas e contribuições de melhoria sejam entendidos como remuneração, e Cláudia Lima Marques
(2002, p. 486) entende que apenas os serviços remunerados mediante tarifa podem ser enquadrados
no tipo prescrito no Art. 3º, §2º do CDC, de modo a figurar objeto de uma relação de consumo.
A autora também concorda que os serviços uti universi não podem integrar uma relação de
consumo, embora também devam ser prestados segundo os princípios da adequação e eficiência (MAR-
QUES, 2002, p. 486). No mesmo sentido, vê-se a afirmativa de Adalberto Paqualotto (1992, p. 135).
Boa parte da doutrina admite a aplicação do CDC, na relação que se estabelece entre o usuário
e o prestador dos serviços públicos remunerados.
Como síntese, pode-se dizer que o CDC é aplicado no interesse dos usuários dos serviços
públicos nas hipóteses:
a) em que pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, especialmente por concessão
ou permissão, presta serviço público próprio, uti singuli, mediante remuneração por tarifa;
Não há dificuldade quanto à aplicação do CDC nas hipóteses descritas nas alíneas “b” e “c”
acima numeradas. Tratam-se ali de atividades remuneradas consideradas ora como serviços públicos
impróprios, ora como meras atividades econômicas.
Entende-se que o usuário de serviços próprios, incluindo-se aqui aqueles uti singuli,
remunerados por tarifa, deveria ter um tratamento específico. Diante da ausência de lei específica
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Direito do Consumidor
de proteção ao usuário do serviço é que se justifica a aplicação do CDC. A própria lei de concessões
estabelece a aplicação do CDC quando trata dos direitos dos usuários.
Antônio Carlos Cintra do Amaral (2001, p. 217-218) discorda da aplicação do CDC mesmo
nas relações entre concessionários e usuários, por entender que a mesma não pode ser equiparada
à existente entre consumidor e fornecedor, cujo objetivo básico é o lucro. A concessionária é um
fornecedor que não pode, em absoluto, descuidar do dever de universalidade do serviço e dos demais
princípios relativos ao serviço público.
Não sem razão, a própria Constituição estabeleceu a possibilidade de tratamento diverso
ao consumidor e ao cidadão usuário. O artigo 5º, XXXII, e o Art. 170, V dispõem sobre a defesa
do consumidor, enquanto o Art. 175, parágrafo único, inciso II, prevê a necessidade de proteção ao
usuário do serviço público. Justifica-se, portanto, a indagação: se consumidor e usuário do serviço
público fossem, de fato, conceitos idênticos, passíveis de igual tratamento, por qual razão o texto
constitucional faria tal separação?
Nas letras de Carlos Alberto Bittar, a expedição do CDC
[…] veio a responder a antiga exigência da economia de mercado, que estava à míngua de
mecanismos jurídicos adequados para contrabalançar os desníveis existentes entre os grandes
fornecedores de bens e de serviços, inclusive os públicos, e os consumidores em geral, para
efeito de aquisição e gozo das utilidades próprias. (BITTAR, 1992, p. 137).
Para Ronaldo Porto Macedo Junior (2000, p. 251), muitos instrumentos do CDC estão à
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Direito do Consumidor
disposição dos usuários de serviços públicos. Mas do ponto de vista principiológico, muito deveria
ser melhorado quanto às medidas de participação do usuário, que é uma das tendências do direito
administrativo contemporâneo, principalmente porque tais medidas fogem ao objetivo do citado
código que é a proteção do hipossuficiente em relação ao fornecedor de produtos ou serviços.
Atenção
É certo que o serviço público próprio pode ser prestado por empresa privada,
mediante remuneração, mas mesmo assim continuará sendo atividade do
Estado, sujeita às previsões constitucionais e caracterizada pela finalidade
de satisfação das necessidades coletivas.
Não se compara à atividade econômica desenvolvida pelo Estado ou mesmo aos chamados
serviços impróprios, desenvolvidos pela iniciativa privada mediante autorização do Poder Público.
No Brasil, a ideia de serviço público próprio e essencial (vide lei nº 7.783/1989) não se
enquadra como atividade fornecida no mercado de consumo, trata-se aqui de atividade pública em
contraposição a atividade econômica2. Tampouco a Constituição Brasileira considera o Estado como
um agente econômico (SOUTO, 2003, p. 4), do contrário, restringe-lhe a possibilidade do exercício de
atividade econômica aos imperativos da segurança nacional e do interesse público.
Frise-se que “mercado de consumo” é uma expressão que também condiciona o serviço, objeto
de uma relação de consumo e, segundo Newton De Lucca (2003, p. 148-149), pode ser compreendido
como “a cadeia das relações de troca de bens e de prestação de serviços, realizadas pelos diversos agentes
econômicos”. Além de ser uma expressão relacionada à economia de mercado baseada no fato econômico
troca, aprimorada com instrumentos como moeda e crédito. O funcionamento da economia de mercado
envolve a concorrência, a livre iniciativa e até mesmo a intervenção do Estado (SOUZA, 2003, p. 238).
Recorrendo mais uma vez a Newton De Lucca, tem-se que o CDC muitas vezes faz referência
ao mercado de consumo como a arena onde se estabelece a relação jurídica que justifica o tratamento
diferenciado ao consumidor (Art. 3º, §2º ; Art. 4º. incisos II, ‘c’, IV, VI, VIII, etc.). Assim, o mercado
de consumo corresponde a um componente indispensável para a devida caracterização da relação de
consumo (DE LUCCA, 2003, p. 148/149).
◆ No caso dos serviços públicos próprios prestados direta ou indiretamente, porém, não
parece tratar-se de atividade econômica pura e simplesmente; correspondem a um dever
do Estado, indispensável à realização de muitos direitos fundamentais.
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Direito do Consumidor
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Direito do Consumidor
A política nacional das relações de consumo é uma vertente da política econômica que estabelece
as balizas de atuação e intervenção do Estado na defesa do consumidor e regula as relações de consumo.
Se o Estado tem uma política econômica que disciplina a intervenção no domínio das atividades
econômicas, o CDC dispõe da política nacional das relações de consumo como os principais vetores da
intervenção do Estado neste ambiente, com vistas a realização do mandamento constitucional assegurado
desde o Art. 5º, XXXII, que afirma: “o Estado promoverá, na forma da Lei, a defesa do consumidor”.
Como descreve o próprio artigo, os objetivos da Política Nacional das Relações de Consumo
é a satisfação das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a
proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida. E para atender tais
objetivos deverá observar os princípios citados nos incisos, conforme analisaremos a seguir:
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Direito do Consumidor
◆◆ Controle de qualidade e segurança de produtos e serviços: vige por força do CDC, uma
verdadeira política de qualidade e segurança dos produtos e serviços. Na verdade, a própria
evolução dos direitos dos consumidores consolidaram esta visão. O controle de qualidade
de produtos e serviços deve ser feito pelo Estado, que o faz, por amostragem, através do
INMETRO, mas principalmente pelo próprio mercado fornecedor e até pelas associações
de defesa dos consumidores. O controle de qualidade promove o bom fornecedor e afasta
o fornecedor relapso com a proposta de qualidade.
◆◆ Regulação para coibir e reprimir abusos: o Estado brasileiro já adota um perfil dirigista
na ordem econômica. Relativamente às relações de consumo, possui agências dotadas de
competência administrativa para prevenir e reprimir os abusos praticados em todas as etapas
da cadeia de produção e distribuição. O CDC traz um capítulo das sanções administrativas,
como também o Decreto 2.181/1992 traz as normas relativas ao processo administrativo
precedente a aplicação de muitas destas sanções. A competência material de todos os entes
da federação é o controle da atividade de distribuição e produção de produtos.
◆◆ Serviços públicos: considerando as ressalvas sobre a inclusão do serviço público como objeto
de uma relação de consumo deduzidas anteriormente, destaca-se a proposta da reforma do
Estado concluída em 1998 voltada para o incremento da eficiência dos serviços públicos.
Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, o CDC prevê a utilização de determi-
nados instrumentos já presentes no ordenamento jurídico ou na estrutura organizacional do Estado, como:
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Direito do Consumidor
◆◆ Criação de delegacias especializadas seria de valiosa estima para a apuração dos crimes
contra as relações de consumo.
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou
convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que
derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela
reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Os Direitos do consumidor têm dignidade de direito fundamental (art. 5º, XXXII e Art. 5º,
§2º, CF/88), consubstanciando-se em pautas essenciais à realização da dignidade da pessoa humana.
Abordando o tema em Portugal, o jurista Antônio Carlos dos Santos e outros (2002, p. 57) dispõe,
Na Constituição, os direitos dos consumidores se das suas associações são considerados
como direitos fundamentais e reconhecidos no capítulo dos direitos e deveres econômicos
(art.60). Para além dos direitos positivos a prestações ou acções do Estado (direito à formação
ou à protecção da saúde), os direitos reconhecidos na Constituição são também direitos a
prestações ou acções dos próprios agentes econômicos, produtores ou distribuidores (direito
à informação). São além disso - no caso do direito à reparação dos danos -, verdadeiros
direitos subjetivos, equivalentes aos direitos, liberdades e garantias (SANTOS, 2002, p. 57).
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Direito do Consumidor
Curiosidade
Na ordem proposta pelo artigo acima, tem-se alguns dos principais direitos dos
consumidores, que podem até mesmo ser classificados como direitos guarda-chuva,
vez que comportam sob eles a proteção de vários outros direitos.
2.2.1 Vida
◆ É o mais básico de todos os direitos, consistindo no direito essencial à realização da
dignidade da pessoa humana - pré-requisito para todos os demais direitos. É preciso
assegurar um nível mínimo de vida, o que inclui o direito a alimentação adequada, saúde,
moradia, vestuário, educação, lazer e cultura.
Ou seja:
◆ proteção à saúde contra efeitos de agentes de atuação lenta e detecção mediata, como:
consumo de determinados agrotóxicos;
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Direito do Consumidor
2.2.5 Modificação das cláusulas contratuais, flexibilizando o princípio do pacta sunt servanda
Permite a modificação das cláusulas contratuais na hipótese de prestações desproporcionais,
lesivas ao contrato, ou mesmo a revisão do contrato na hipótese de fato superveniente modificar os
parâmetros contratuais de modo a desequilibrar as prestações, tornando-as excessivamente onerosas.
Atenção
No primeiro caso, o fato ensejador da possibilidade de modificação nasce com o
contrato, pois as cláusulas já preveem prestações desproporcionais, aplicando-
se o instituto da lesão; na segunda hipótese, teria-se uma vertente da teoria da
imprevisão, possibilitando a modificação do contrato em virtude de acontecimento
posterior a sua formação, que venha a perturbar o equilíbrio da prestações,
provocando a onerosidade excessiva.
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Direito do Consumidor
seja exclusivamente moral. O CDC dedica um capítulo inteiro à responsabilidade civil do fornecedor,
procurando resguardar-lhe o direito de reparação dos danos sofridos no mercado de consumo. Destaca-se
a peculiaridade do CDC em estabelecer a responsabilidade civil objetivo do fornecedor em reparar o dano.
Isso significa que caberá ao fornecedor a reparação do dano, mesmo quando não houver culpa
sua. Basta que se prove o nexo causal entre o dano e a atividade desenvolvida, como exemplo pode-se
citar: o defeito do produto.
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Direito do Consumidor
◆◆ O que fazer quando há contradição aparente entre uma destas leis e o CDC?
O CDC é lei especial se comparado ao Código Civil, que corresponde a uma norma geral.
Porém, o CDC seria norma geral, se posto em frente a uma norma como a que regula os planos de
saúde. Ambas incidem sobre uma relação de consumo.
A par dos critérios de solução de conflitos de normas apresentados pela Lei de Introdução do
Código Civil, o aplicador deverá ter em mente a proposta constitucional para a regulação das relações
de consumo, deixando-se nortear, sobretudo, pelos valores constitucionais.
Há que empregar o diálogo das fontes para dar efeito útil ao maior número de normas,
privilegiando normas narrativas, os valores constitucionais e, sobretudo os direitos fundamentais,
além dos direitos humanos (previstos nos tratados e convenções internacionais).
Referências Bibliográficas
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Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, n.225, pp.217/218, jul/set, 2001.
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HOBSBAWN, Eric. J. A era dos extremos: o breve século XX. Tradução de Marcos
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SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras linhas de direito econômico. São
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Direito do Consumidor
Anotações
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DIREITO DO CONSUMIDOR
Créditos
processo ensino-aprendizagem.