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COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Otavio Pinto e Silva


Faculdade de Direito – USP
COMPETÊNCIA
• Competência = “medida de jurisdição”

• Jurisdição = “dizer o direito”

• A jurisdição, como poder, é uma só, não


comportando divisões ou fragmentações:
cada juiz ou tribunal é plenamente investido
dela
COMPETÊNCIA
• Cada órgão só exerce a jurisdição dentro da
medida que lhe fixam as regras de
competência

• Relação de adequação legítima entre o


processo e o órgão jurisdicional
COMPETÊNCIA
• Art. 44 CPC/2015: obedecidos os limites
estabelecidos pela CF, a competência é
determinada pelas normas previstas neste
Código ou em legislação especial, pelas
normas de organização judiciária e, ainda, no
que couber, pelas constituições dos Estados

• Justiça do Trabalho: a EC/45 alterou o artigo


114 da CF
COMPETÊNCIA
• Art. 114 CF - Compete à Justiça do Trabalho
processar e julgar:

• I - as ações oriundas da relação de trabalho,


abrangidos os entes de direito público externo
e da administração pública direta e indireta da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios
RELAÇÃO JURÍDICA
• Relação de trabalho é um tipo de relação
jurídica

• Estudo do conceito de relação jurídica

• Nem todas as relações sociais são jurídicas,


embora possam às vezes reunir duas ou mais
pessoas através de vínculos estáveis e objetivos
RELAÇÃO JURÍDICA
• SAVIGNY identifica a conjugação de dois
aspectos:

• 1) dado de fato (a relação em si mesma,


elemento material)

• 2) ideia do direito (disciplinadora dessa


relação, elemento formal)
RELAÇÃO JURÍDICA
• IHERING: a relação jurídica está para a ciência
do direito assim como o alfabeto está para a
palavra
• A ciência do Direito estuda uma espécie de
relação social
• Existem fins diversos e múltiplos no contato
social e na conduta humana: fins morais,
religiosos, culturais, artísticos, econômicos,
estéticos
RELAÇÃO JURÍDICA
• Quais as relações sociais que devem ser
tratadas como jurídicas?

• Primeira teoria: são jurídicas apenas as


relações sociais reconhecidas pelo Estado
(com a finalidade de protegê-las)
RELAÇÃO JURÍDICA
• Segunda teoria: o Estado não se limita a
reconhecer algumas relações sociais como
jurídicas, mas vai mais além e instaura
modelos que condicionam e orientam a
constituição das relações jurídicas

• Ex. relações fiscais entre o contribuinte e a


Receita (fruto das leis que as instauram)
RELAÇÃO JURÍDICA
• GOFFREDO SILVA TELLES JÚNIOR
• Vínculo que liga o sujeito de direito ao sujeito
de obrigação, em razão de um objeto de
direito

• Relação jurídica é “o vínculo entre pessoas


segundo a norma jurídica”
RELAÇÃO JURÍDICA
• MIGUEL REALE
• Existência de um vínculo intersubjetivo e a
previsão de uma hipótese normativa
corresponde a tal vínculo

• Do vínculo derivam consequências


obrigatórias no plano da experiência
RELAÇÃO JURÍDICA
• Não há relação jurídica se não houver um fato
correspondente a normas de Direito, em
conformidade com o princípio:

• “Os fatos e relações sociais só tem significado


jurídico se inseridos em uma estrutura
normativa”
RELAÇÃO JURÍDICA
• Normas jurídicas são feixes luminosos sobre a
experiência social
• Nascem do fato social e ao fato social se
destinam, de acordo com a teoria
tridimensional do Direito (fato/valor/norma)
ELEMENTOS DA RELAÇÃO
JURÍDICA
• 1) Sujeito ativo:
• O titular ou beneficiário principal da relação

• 2) Sujeito passivo:
• O devedor da prestação principal
ELEMENTOS DA RELAÇÃO
JURÍDICA
• 3) Vínculo de atributividade capaz de ligar um
sujeito ao outro (muitas vezes de maneira
recíproca ou complementar, mas sempre de
forma objetiva)

• É o vínculo que confere a cada um dos sujeitos


da relação o poder de exigir algo ou de
exercer uma pretensão
ELEMENTOS DA RELAÇÃO
JURÍDICA
• 4) Objeto é a razão de ser do vínculo
constituído

• Pode ser:
• uma pessoa (Ex. poder familiar sobre o filho)
• uma prestação (Ex. decorrente de contrato)
• uma coisa (Ex. a propriedade de um bem)
RELAÇÃO DE TRABALHO
• Quais as relações jurídicas que podem ser
consideradas como relações de trabalho?

• Relações de trabalho X Relações de consumo

• Como toda relação jurídica, a de trabalho têm


sujeito ativo, sujeito passivo, vínculo de
atributividade e objeto
RELAÇÃO DE TRABALHO
• Na doutrina trabalhista divergem as
interpretações sobre quem é o sujeito ativo e
quem é o sujeito passivo nas relações
individuais de trabalho

• Para alguns, sujeito ativo é o trabalhador, pois


este é o credor do salário e outros benefícios;
para outros, é o empregador, uma vez que é o
credor da prestação de serviços
RELAÇÃO DE TRABALHO
• O vínculo de atributividade é o
relacionamento estabelecido entre os sujeitos
da relação de trabalho, conferindo-lhes a
legitimidade para a exigência de uma
pretensão, tal como definida na norma
jurídica
• Principal vínculo trabalhista: o que se
estabelece entre o empregado e o
empregador (relação de emprego)
RELAÇÃO DE TRABALHO
• O objeto das relações de trabalho não é a
pessoa que figura como seu sujeito, mas sim o
modo como o trabalho dessa pessoa é
exercido e sobre o qual o tomador dos
serviços exerce um poder de direção

• Como se trata de relação obrigacional, o


objeto é sempre uma prestação
RELAÇÃO DE CONSUMO
• Código de Defesa do Consumidor: a “relação
de consumo” é a que se estabelece entre
fornecedores e consumidores, tendo por
objeto a oferta de produtos ou serviços no
mercado de consumo

• Fornecimento de serviços pode ser


compreendido como uma relação de
trabalho?
RELAÇÃO DE CONSUMO
• Sujeito ativo é o fornecedor (art. 3º do CDC):
toda pessoa natural ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como
entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestações de serviços.
RELAÇÃO DE CONSUMO
• Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista (§2º art. 3º CDC)
RELAÇÃO DE CONSUMO
• Sujeito passivo é o consumidor
• JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO: conceito de
consumidor adotado pelo CDC foi exclusivamente
econômico, pois leva em consideração o sujeito
que no mercado de consumo adquire bens ou
contrata a prestação de serviços, como
destinatário final
• Age assim para o atendimento de uma necessidade
própria (e não para o desenvolvimento de uma
atividade negocial)
RELAÇÃO DE CONSUMO
• NEWTON DE LUCCA
• Conceito de consumidor é plurívoco e tem
quatro sentidos possíveis: um fundamental,
outros três por equiparação
• Sentido fundamental: consumidor é toda
pessoa natural ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como seu
destinatário final (art. 2º do CDC)
RELAÇÃO DE CONSUMO
• Consumidor “por equiparação”
• a) § único art. 2º CDC: equipara-se a
consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo
• b) artigo 17 do CDC: trata da responsabilidade
do fornecedor pelo fato do produto ou do
serviço e equipara ao consumidor todas as
vítimas do evento
RELAÇÃO DE CONSUMO
• c) artigo 29 do CDC: para os fins das práticas
comerciais e da proteção contratual,
equiparam-se ao consumidor todas as pessoas
determináveis ou não, expostas às práticas
nele previstas.
• Alargamento do conceito de consumidor visa
estender a proteção legal aos adquirentes de
bens e de serviços em potência (fundamento:
garantia de prevenção do dano)
RELAÇÃO DE CONSUMO
• Vínculo de atributividade é o relacionamento
que se estabelece entre os sujeitos que atuam
no mercado, conferindo a cada qual o poder
de exigir algo ou de exercer uma pretensão

• Objeto é o produto ou o serviço


RELAÇÃO DE TRABALHO DIFERE DA
RELAÇÃO DE CONSUMO
• Justiça do Trabalho precisa se manter como o
órgão do Poder Judiciário que visa tutelar os
direitos dos trabalhadores
• Não se mostra conveniente uma interpretação
ampliativa de sua competência
• Relação jurídica cujo objeto estiver voltado à
proteção do consumidor (e não da pessoa que
trabalha) não deve ser incluída na
competência da Justiça do Trabalho
COMPETÊNCIA
• Art. 114 CF
• II - ações que envolvam exercício do direito de
greve
• III - ações sobre representação sindical, entre
sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e
entre sindicatos e empregadores
• IV - mandados de segurança, habeas corpus e
habeas data , quando o ato questionado
envolver matéria sujeita à sua jurisdição
COMPETÊNCIA
• Art. 114 CF
• V - conflitos de competência entre órgãos com
jurisdição trabalhista
• VI - ações de indenização por dano moral ou
patrimonial, decorrentes da relação de trabalho
• VII - ações relativas às penalidades
administrativas impostas aos empregadores
pelos órgãos de fiscalização das relações de
trabalho
COMPETÊNCIA
• Art. 114 CF
• VIII - execução, de ofício, das contribuições
sociais e seus acréscimos legais, decorrentes
das sentenças que proferir
• IX - outras controvérsias decorrentes da
relação de trabalho, na forma da lei
FIM

otavio@siqueiracastro.com.br

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