Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COLETIVA
Jorge Luiz Souto Maior
Direito individual x direito coletivo
b) ratificação = 10.7.92;
É de suma importância advertir para o grave risco a que todos os cidadãos e cidadãs serão submetidos caso se, no afã de acatar as reiteradas pretensões de setores do
poder econômica da redução de custos por meio da retração de direitos trabalhistas, se promova uma interpretação ampliativa do enunciado pronunciado pela mais alta
Corte do país, no sentido da criação de subcategorização aleatória e casuística do conceito de “indisponibilidade”, vez que isto constituiria uma porta aberta para que
também os Direitos Fundamentais, os Direitos Humanos e os Direitos de Personalidade, todos indisponíveis como se sabe, se vissem submetidos a uma flexibilização
arbitrária, podendo ser, por consequência, concretamente, limitados ou afastados.
De fato, quando se fala de negociação coletiva de trabalho, não se está tratando de um típico negócio jurídico (civilista) e sim de um instituto jurídico posto a serviço
da classe trabalhadora para, atendendo preceitos da ordem democrática, permitir a sua integração política, social e econômica na sociedade capitalista, de modo a
possibilitar e instrumentalizar o ideal em torno da melhoria das condições de vida. Neste aspecto, aliás, reside o ponto mais problemático de uma interpretação do
enunciado em questão, atribuindo legitimidade a “negócios jurídicos” que se apresentem como mero instrumentos de redução de direitos, que seria o de perverter os
papéis dos sujeitos da negociação coletiva de trabalho, de modo a fazer com que os postulantes de direitos deixem de ser os representantes da classe trabalhadora,
passando a ser aqueles que falam pelo poder patronal.
Os permissivos de negociação trazidos no art. 7o, vale dizer, relacionam-se com o princípio, fixado no “caput” do
mesmo artigo, da “melhoria da condição social” dos trabalhadores.
Nada há, pois, em termos de previsão constitucional, que autorize a conversão da negociação coletiva em um
instrumento a mais a serviço do poder econômico para a espoliação da classe trabalhadora, de modo a impor um
rebaixamento de sua condição social. E cumpre não olvidar que, como a própria Constituição Federal estabelece, as
conquistas legalmente instituídas integram o patamar mínimo desta condição.
Não bastasse tudo isso, acresça-se que os direitos sociais devem se sobrepor aos interesses meramente econômicos, visto
que a ordem econômica deve seguir “os ditames da justiça social” (art. 170 da CF), devendo, ainda, prevalecer o
compromisso internacional constitucionalmente assumido em torno da prevalência dos Direitos Humanos (art. 4o II da
CF).
Certo é que, somados todos estes fatores jurídicos, políticos e até mesmo linguísticos, não resulta do enunciado da tese
expressa no ARE 1.121.663, que, doravante, o “negociado prevalece sobre o legislado, para instrumentalizar a
eliminação de direitos trabalhistas”, como a muitos interessou dizer. Se a tese fosse esta, isto estaria dito de forma
expressa no enunciado, mas, como é possível ver, para quem quer ver, não está.
Em resumo, só serão consideradas constitucionais normas (cláusulas) de acordos e as
convenções coletivas de trabalho que, tendo por realidade concreta uma questão que, diante
da especificidade do trabalho realizado em determinado setor produtivo, colocando em
contraste dois direitos fundamentais, limitem ou afastem um direito, o que pressupõe, no
próprio sopesamento realizado, um elemento de vantagem compensatória, que não exige, por
certo, explicitação especificada, de modo que não se desrespeite a essência dos direitos
fundamentais, rol, ao qual, inequivocamente, os direitos trabalhistas se inserem.
Ou, dito de outro modo e sinteticamente: “São constitucionais os acordos e as convenções
coletivas que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou
afastamentos de direitos trabalhistas independentemente da explicitação especificada de
vantagens compensatórias desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis”.
• 2. O antecedente necessário deste debate é a interpretação da cláusula normativa
propriamente dita e não se pode, por meio de interpretação extensiva, chegar ao
resultado de uma redução de direitos, isto porque, segundo princípio básico da
hermenêutica jurídica, as normas restritivas de direitos se interpretam restritivamente.
Além disso, se os pressupostos jurídicos trazidos no Tema 1046 foram fixados para
reafirmar que os sindicatos, como representantes legalmente instituídos da classe
trabalhadora, não podem simplesmente reduzir direitos trabalhistas, é mais que
evidente que não está dada esta possibilidade ao Judiciário de reduzir direitos por meio
da interpretação, contrariando, inclusive, a vontade expressamente manifestada pelo
legítimo representante da classe. Se o representante dos(as) trabalhadores(as) não
anuiu explicitamente com qualquer redução de direitos, não pode o intérprete substituir
o sindicato e impor um sentido à norma contrário àquela manifestada, ainda mais para
impor aos trabalhadores e trabalhadoras uma situação de retração de direitos. ( 2ª TURMA -
4ª CÂMARA - RECURSO ORDINÁRIO - PROCESSO Nº 0012027-25.2019.5.15.0028)