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DIREITO EMPRESARIAL

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DIREITO EMPRESARIAL

SUMÁRIO

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ................................................................................................ 04

2. EMPRESÁRIO ..................................................................................................................... 07

3. SOCIEDADE ........................................................................................................................ 18

4. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL ................................................................................... 85

5. INSTITUTOS COMPLEMENTARES ...................................................................................... 95

6. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO ............................................................................................. 100

7. TÍTULOS DE CRÉDITO ....................................................................................................... 135

8. AÇÃO CAMBIAL ............................................................................................................... 140

9. PROPRIEDADE INDUSTRIAL ............................................................................................ 146

10. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ................................................................................. 159

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DIREITO EMPRESARIAL

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DIREITO EMPRESARIAL

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

 ORIGEM, EVOLUÇÃO HISTÓRICA, AUTONOMIA, FONTES E CARAC-


TERÍSTICAS
Propõe-se uma análise da legislação empresarial, a começar pela Constituição Federal, que
possui vários artigos concernentes ao Direito Empresarial. Por exemplo:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
(...)
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à li-
berdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualifica-
ções profissionais que a lei estabelecer;

Esses artigos falam do livre exercício de trabalho, ofício ou profissão e consagram a livre inici-
ativa, premissa sem a qual o Direito Empresarial não seria possível.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, es-
pacial e do trabalho;

Saliente-se, portanto, que existe uma grande diferença entre a figura do comerciante e a do
empresário. Pode-se usar os termos 'Direito Comercial' e 'Direito Empresarial' como sinônimos. A
Constituição fala em Direito Comercial, e estuda os mesmos ramos que o Direito Empresarial. São
sinônimos. Porém não se deve confundir a figura do comerciante com a do empresário. O conceito
de comerciante é histórico e importante no desenvolvimento da disciplina.

Na segunda fase do Direito Comercial/Empresarial, o centro da disciplina era a figura do co-


merciante, que praticava os 'atos de comércio' consagrados pelo Código Napoleônico no início do
século XIX. Comerciante era quem fazia a intermediação na troca, - aquele que se interpunha na re-
lação entre o fornecedor e o consumidor. O conceito de comerciante é, assim, relacionado com a
ideia de troca de mercadorias. Contudo, esse conceito foi superado a partir da Teoria da Empresa.

Consagrada na metade do século XX na Itália (Código de 1942), substituiu a figura do comerci-


ante pela do empresário, substituindo também a teoria dos 'atos de comércio' pela teoria da empre-
sa. Hoje, mesmo os autores que se referem a nossa disciplina como Direito Comercial, sabem que o
centro do direito comercial é a figura do empresário. Pode-se dizer que houve um alargamento na-
quele conceito. Por exemplo, o conceito de comerciante não admitia os exercentes de atividade ru-
ral, que agora podem, contudo, se enquadrar como empresários. O conceito não admitia também os

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prestadores de serviço. Houve assim, do ato de comércio à teoria da empresa, um alargamento con-
ceitual que é importante de salientar.

Ainda sobre o art. 22, I, CF: algumas causas chegam ao STF para discutir se houve violação ao
artigo. Por exemplo: uma Lei Estadual que determina que nos rótulos de embalagem de café devem
constar determinadas informações. – “Esta Lei Estadual violaria a competência privativa da União?”
O STF entendeu que não, pois esta matéria seria de defesa do consumidor, cuja competência é con-
corrente. Desta forma, a Lei Estadual tem a competência para tal. Outro exemplo se refere ao horá-
rio de fechamento de estabelecimento comercial. – “Poderia uma lei municipal regular a matéria?” O
STF entendeu, na mesma linha, que sim. Que o comércio local pode ser regulado por lei municipal
sem ferir a competência privativa da União. Outro exemplo: - “Poderia uma Lei Estadual estabelecer
a composição do conselho de administração de uma sociedade de economia mista na qual o Estado
participa?”. Sobre esse caso, o STF disse não, pois aqui se feriria o art. 22, I, CF.

Tal artigo oportuniza um sem número de questões e reflexões a respeito de o que é ou não
competência privativa da União.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre inici-
ativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça soci-
al, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e presta-
ção; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003),
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado
a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autori-
zação de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

O art. 170 estabelece os limites ao exercício da atividade econômica e quais são os seus prin-
cípios. Surge aqui a função social da empresa. A perseguição do lucro é, de acordo com a Constitui-
ção, um objetivo lícito e legítimo na ordem econômica e social brasileira. Essa perseguição não pode,
porém, se dar a qualquer custo. Deve ela respeitar limites, tais como: não se pode perseguir o lucro
valendo-se de trabalho escravo, enganando e mentido ao consumidor, degradando o meio ambiente,
prejudicando pequenas empresas, etc.

Assim a perseguição do lucro só é legitima na medida em que está circunscrita aos princípios
que tratam da atividade econômica elencados no art. 170. Uma empresa cumprirá a sua função soci-
al se gerar lucros, atuando dentro dos limites traçados. Ainda, os princípios da ordem econômica são
fundamentais para desenvolvimento da própria atividade econômica: deve-se preservar o ambiente
da livre concorrência, a propriedade privada, a função social da propriedade, os empregados e o fisco
(responsável pela arrecadação de tributos). Deve-se atentar ao conteúdo desse artigo, pois nele figu-
ram a função social da empresa e os limites da atividade econômica.

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Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de ativi-
dade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da se-
gurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
(...)
§ 4º A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à e-
liminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.

O art. 173 fala sobre a repressão ou abuso do poder econômico. Tal matéria estava regulada
na Lei 8.884/94. Contudo, hoje concerne à Lei 12.529/11, que trata da reformulação destas condutas
de violação à ordem econômica. Figura aqui a regulação dos oligopólios, monopólios, cartéis, do CA-
DE (que trata da repressão ao abuso do poder econômico que vise dominação dos mercados), da
eliminação da concorrência e do aumento arbitrário dos preços.

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microem-


presas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico dife-
renciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas,
tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio
de lei.

Esse artigo fala do tratamento favorecido à Micro Empresa e Empresa de Pequeno Porte, ho-
je tutelada na Lei Complementar 123/06. Essa lei visa implementar o Comando Constitucional de
Favorecimento e Proteção. Esse regime é simplificado do ponto de vista tributário, administrativo e
de direito societário.

Importa destacar que ainda está em vigor, atualmente, apenas parte do Código Comercial (Lei
556/1850): dos arts. 457 a 796. Trata-se da parte segunda do Código, que é concernente ao comér-
cio marítimo. O Código Comercial é de 1850, época do Brasil Império. Existe, contudo, um projeto
tramitando no Congresso Nacional para um novo Código Comercial, que culminaria na revogação do
antigo Código Comercial. Importa esclarecer que a ‘coluna vertebral' do direito comercial se encontra
hoje no Código Civil, em face da unificação do direito obrigacional. Os principais artigos que impor-
tam ao Direito Empresarial são estes que seguem apresentados abaixo, juntos de legislação extrava-
gante a qual a matéria se desenvolve:
Arts. 887 a 926: Títulos de Crédito > Lei 5.474/68 + Lei 7.357/85
Arts. 966 a 980: Do Empresário > LC 123/06 (Simples Nacional)
Art. 980-A: Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada
Arts. 981 a 1101: Das Sociedades > Lei 6.404/76 (LSA)
Arts. 1102 a 1112: Da Dissolução > Lei 11.101/05 (Falências)
Arts. 1113 a 1141: Operações Societárias > Lei 6.404/76 (LSA)
Arts. 1142 a 1149: Do Estabelecimento > Lei 8.245/91
Arts. 1150 a 1154: Do Registro > Lei 8.934/94 (Registro Empresarial)
Arts. 1155 a 1168: Nome Empresarial > Lei 9.279/96 (INPI)
Arts. 1169 a 1178: Dos Prepostos > Decreto-lei 5.452/43 (CLT)
Arts. 1179 a 1195: Da Escrituração > Lei 6.404/76 (LSA)

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EMPRESÁRIO

O empresário pode ser pessoa física (empresário individual) ou jurídica (EIRELI ou sociedades
empresárias). O conceito de empresário encontra-se no art. 966, CC1.

Considere-se empresário quem exerce, profissionalmente, atividade econômica e organizada


para a produção ou circulação de bens e serviços. Passemos à análise dos requisitos:
a) Profissionalismo: significa que a atividade deve ser exercida de forma habitual, e não de
forma esporádica.

b) Atividade econômica: a criação de riquezas. A atividade a ser exercida deve ter a finali-
dade lucrativa. As atividades sem fins lucrativas, como de associações e fundações, não são
consideradas empresarias.

c) Organização: é a reunião dos fatores de produção, como matéria prima, mão de obra,
tecnologia, capital. Ausentes os fatores de produção, não será a atividade considerada co-
mo empresária.

d) Produção ou circulação de bens ou serviços: a atividade a ser desenvolvida pode ser pa-
ra produção de bens (fábrica de automóveis), produção de serviços (banco Itaú), circulação
de bens (concessionária de automóveis) ou circulação de serviços (agência de viagens).

Esses pressupostos previstos no art. 966, CC são cumulativos. Faltando qualquer dos requisi-
tos, a atividade será considerada de natureza simples, ou seja, não empresária.

 EXCLUÍDOS DO CONCEITO DE EMPRESÁRIO


Entre o rol das atividades econômicas e organizadas existentes, é necessário tratarmos daque-
las excluídas do conceito de empresário, independente do seu objeto.

 PROFISSIONAL INTELECTUAL
O art. 966, parágrafo único, CC, excluí do conceito de empresário o profissional intelectual de
natureza artística, científica e literária, ainda que com concurso de auxiliares ou com a ajuda de
colaboradores. Ou seja, o exercício das atividades exclusivamente intelectual estará excluído do con-
ceito de empresário.

O legislador decidiu excluir as profissões intelectuais, sejam elas de natureza artística (pintor,
músico, fotógrafo), científica (médico, advogado) ou literária (escritor), do conceito de empresário
quando a profissão for fator principal da atividade desenvolvida. Sendo assim, dois médicos que re-
solvem abrir um consultório, por exemplo, exercem atividade de natureza simples (não empresária),
ainda que contratem uma secretária e uma copeira, independente da sua estrutura organizacional.

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Enunciado 54 do CJF: “É caracterizador do elemento de empresa a declaração da atividade fim, assim como a pratica dos atos empresari-
as”.

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Notem que um consultório médico pode preencher todos os requisitos do art. 966, CC (profissiona-
lismo, atividade econômica, organização e produção de serviço) e, ainda assim, não ser empresária a
atividade pelo fato de exercerem exclusivamente a profissão intelectual.

A exclusão prevista no dispositivo ocorre por conta da essência personalíssima da atividade,


afastando os profissionais intelectuais do âmbito mercantil, mesmo que preencha todos os pressu-
postos da empresa.

Ocorre que o legislador, na parte final do art. 966, parágrafo único, CC, traz uma ressalva de
que atividade intelectual poderá ser considerada empresária. Isso ocorrerá quando o exercício da
profissão intelectual constituir ELEMENTO DE EMPRESA2, isto é, quando a profissão se tornar com-
ponente da atividade, deixando de ser fator principal, ou seja, quando a atividade for absorvida pelos
fatores de produção.

Os profissionais liberais somente seriam considerados empresários se a organização dos fato-


res de produção fosse mais importante que a atividade desenvolvida (Enunciado nº 194, II JDC).

Sendo assim, imaginem que dois veterinários (profissionais intelectuais) decidam montar uma
sociedade - Pet Shop, e que oferecessem, dentre os serviços de tosa, venda de produtos para animais
e hospedagem, também o atendimento veterinário. Se observarmos as atividades que são desenvol-
vidas conseguimos verificar que a profissão intelectual é absorvida pelos outros fatores de produção,
então essa atividade seria considerada empresária. Notem que a atividade intelectual seria um ele-
mento de empresa, por ser mais um componente do objeto, mais uma atividade dentre outras que
são desenvolvidas no Pet Shop3.

Nos termos do art. 15, Lei nº 8.906/94, a atividade jurídica exercida pelos advogados será
sempre de natureza simples, nunca será considerada empresária. É vedado que a advocacia seja e-
xercida em caráter de mercancia. A sociedade de advogados é considerada como sociedade civil
(terminologia utilizada antes do advento do CC/02, hoje tratada como sociedade simples). O registro
dos atos constitutivos da sociedade de advogados, sociedade unipessoal de advogados, é realizado
na Ordem dos Advogados do Brasil perante o Conselho Seccional.

 EMPRESÁRIO RURAL OU SOCIEDADE RURAL


A atividade rural é aquela que explora as atividades agrícolas, pecuárias, extrativismo, a extra-
ção e a exploração vegetal e animal, a transformação de produtos agrícolas ou pecuários realizadas
pelo agricultor (desde que não alteradas sua característica in natura ou sua composição), ou seja,
aquelas em que seu fator de produção principal é a terra.

A Constituição Federal prevê no art. 170, IX, o tratamento diferenciado para as empresas de
pequeno porte. O legislador teve a preocupação de dar um tratamento especial ao exercício da ativi-
dade econômica rural e ao pequeno empresário. Na redação do art. 970, CC, definiu-se que a lei de-
verá assegurar tratamento jurídico favorecido, simplificado e diferenciado ao empresário rural e ao
pequeno empresário no tocante à inscrição e aos efeitos que dela decorrem, sendo assim excluídos
da condição formal de empresário.

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Enunciado n° 195, II, JDC - Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a
égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial.
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Se os dois veterinários resolverem criar uma sociedade que tenha como objeto um consultório apenas para exercício da profissão intelec-
tual (atendimento veterinário), nesse caso a atividade será considerada de natureza simples, ou seja, não será empresária.

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O empresário cuja atividade rural seja a sua principal profissão poderá efetuar sua inscrição no
Registro Público de Empresa Mercantil (RPEM4) da respectiva sede, hipótese em que será equiparado
ao empresário (art. 971, CC). O legislador facultou ao rural efetuar o seu registro. É a única hipótese
em que o registro será facultativo.

Para ser considerado empresário, para fins legais, deverá efetuar o seu registro (observadas as
disposições do art. 968, CC) e reunir os pressupostos para o exercício da atividade empresarial (pro-
fissionalismo, atividade econômica, organização e produção de bens ou circulação de bens). Quando
o rural se inscrever no Registro Público de Empresa Mercantil será equiparado ao empresário, sujei-
tando-se ao regime falimentar e de recuperação.

O mesmo tratamento será oferecido às sociedades empresárias que tenham por objeto ativi-
dade própria de empresário rural e seja constituída ou transformada de acordo com um dos tipos de
sociedade empresária, cumpridas as formalidades do art. 968, CC. A sociedade poderá efetuar o seu
registro no Registro Público de Empresa Mercantil (Junta Comercial) da respectiva sede, hipótese em
que será 5equiparada às sociedades empresárias (art. 984, CC).

É possível ainda que o produtor rural que atenda as condições mencionadas no art. 971, CC,
possa constituir uma Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI. Nas hipóteses em
que o Rural efetuar o seu registro no RPEM e consequentemente for equiparado ao empresário, so-
ciedade empresária ou EIRELI empresária, poderá se valer da Lei n. 11.101/05 e consequentemente
ter a sua falência decretada ou pedir recuperação judicial.

Um outro aspecto que deve ser abordado é quanto à natureza jurídica desse registro para o
empresário ou sociedade cuja a principal atividade seja a rural. O registro tem natureza constitutiva6,
pois somente a inscrição no Registro Público de Empresa Mercantil será capaz de equipará-lo ao em-
presário ou sociedade empresária7, uma vez que a atividade do rural não é empresária, exceto se
efetuar sua inscrição na Junta comercial, hipótese em que será equiparado.

 COOPERATIVA
A sociedade cooperativa é uma sociedade de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias,
de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados. Encontra-
se regulada no Código Civil (arts. 1.093 a 1.096) e na Lei n. 5.764/71.

A sociedade cooperativa é criada por pessoas que, reciprocamente, se obrigam a contribuir


com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objeti-
vo de lucro, podendo o seu objeto versar sobre qualquer gênero de serviço, operação ou atividade.

As sociedades cooperativas, por força do disposto no art. 982, parágrafo único, CC, não são
consideradas empresárias, sendo sempre de natureza simples, independentemente do seu objeto.

São características das sociedades cooperativas: variabilidade, ou dispensa do capital social;


concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limi-

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O RPEM é composto pelas Juntas Comerciais de cada Estado, e supervisionadas pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração
(DREI – substituiu o DNRC).
5
Enunciado nº: 62, II Jornada de Direito Comercial.
6
Enunciado nº: 202, II, JDC – Arts. 971 e 984: o registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza
constitutiva, sujeitando-se ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade empresária que não
exerça tal opção.
7
Esse tema não está pacificado na doutrina. Sérgio Campinho sustenta ser a natureza jurídica do registro declaratória e não constitutiva. O
direito de Empresa, 13ª Edição, 2014, P. 29-31.

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tação de número máximo; limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio po-
derá tomar; intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que
por herança; quorum, para a assembleia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios
presentes à reunião, e não no capital social representado; direito de cada sócio a um só voto nas
deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação; dis-
tribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a so-
ciedade, podendo ser atribuídos juros fixos ao capital realizado; indivisibilidade do fundo de reserva
entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade.

As sociedades cooperativas deverão arquivar o seu estatuto social na Junta Comercial do Esta-
do (RPEM8), onde a entidade estiver sediada – momento no qual ela irá adquirir personalidade jurídi-
ca (art. 18, Lei n. 5.764/71, e art. 32, II, a, Lei n. 8.934/94) – e deverão adotar como nome empresari-
al uma denominação, seguida da expressão “cooperativa”.

A responsabilidade dos cooperados pode ser limitada (somente responderá pelo valor de suas
cotas e pelos prejuízos verificados nas operações sociais) ou ilimitada (responderá ilimitadamente e
solidariamente pelas obrigações sociais).

As sociedades cooperativas serão de responsabilidade limitada, quando a responsabilidade do


associado pelos compromissos da sociedade se limitar ao valor do capital por ele subscrito, e ilimita-
da quando a responsabilidade do associado pelos compromissos da sociedade for pessoal, solidária e
não tiver limite (arts. 11 e 12, Lei n. 5.764/71).

Sua administração será exercida por uma Diretoria ou Conselho de Administração, composto
exclusivamente de associados eleitos pela Assembleia Geral. O mandato, em hipótese alguma, pode-
rá ser superior a 4 anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo, 1/3 do Conselho de Adminis-
tração.

Nas omissões do capítulo da sociedade cooperativa e não havendo regulamentação na legisla-


ção especial, aplicamos às cooperativas as disposições relativas às sociedades simples.

 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL
O Empresário Individual é a pessoa física que exerce empresa em nome próprio, suportando os
riscos decorrentes da sua atividade. O que irá definir se atividade é ou não empresária é a analise dos
pressupostos para sua caracterização.

De acordo com o Código Civil, em seu art. 966, empresário é todo aquele que exerce profis-
sionalmente “atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços”.

Sua inscrição deverá conter, obrigatoriamente:


Art. 968. (...)
I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens;
II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assina-
tura autenticada com certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua auten-
ticidade, ressalvado o disposto no inciso I do § 1º do art. 4o da Lei Complementar
nº 123, de 14 de dezembro de 2006;
III - o capital;

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O tema é divergente. Alguns doutrinadores sustentam que o seu registro deveria ocorrer no Registro Civil de Pessoa Jurídica, por ser
simples a natureza da sociedade.

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IV - o objeto e a sede da empresa.

 PRESSUPOSTOS E CAPACIDADE PARA SER EMPRESÁRIO


Os pressupostos para caracterização do empresário estão elencados no art. 966, CC. O empre-
sário deve exercer a atividade econômica (criação de riquezas com a finalidade de obtenção de lucro)
com profissionalismo (não seja exercida de forma esporádica e sim habitual), e organização (reunião
dos fatores de produção – (mão de obra, tecnologia, insumo e capital), para a produção ou a circula-
ção de bens ou serviços.

Mas, não obstante os pressupostos acima elencados para sua caracterização como empresá-
rio, o legislador estabelece a capacidade plena para o exercício da atividade como empresário indivi-
dual. Somente poderão exercer atividade como empresário individual aqueles que estiverem em
pleno gozo da sua capacidade civil e não tiverem impedimento legal (art. 972, CC).

Toda pessoa é capaz de ter direitos e deveres na ordem civil, mas a capacidade civil para à pra-
tica de todos os atos somente se inicia aos 18 anos completos. Sendo assim, os absolutamente inca-
pazes (os menores de 16 anos) e os relativamente incapazes (maiores de 16 anos e menores de 18
anos, os ébrios habituais e viciados em tóxicos, os pródigos e aqueles que, por causa transitória ou
permanente, não puderem exprimir a sua vontade) não podem iniciar uma atividade como empre-
sário individual.

A incapacidade para os menores poderá cessar através da emancipação, que poderá ser con-
cedida nas seguintes hipóteses:
Art. 5º/CC. (...)
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento públi-
co, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor,
se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia
própria.

A prova da emancipação deverá ser arquivada no registro público de empresa mercantil.

O incapaz não pode iniciar uma atividade como empresário, mas, em razão do princípio da
preservação da empresa, nos termos do art. 974, CC, poderá o incapaz, por meio de seu representan-
te ou devidamente assistido, continuar o exercício da atividade empresarial antes exercida por ele
enquanto capaz (incapacidade superveniente) por seus pais ou pelo autor da herança (sucessão por
morte).

O incapaz nunca poderá iniciar uma atividade como empresário individual enquanto não for
plenamente capaz, mas, excepcionalmente, o legislador permite, por conta do princípio da preserva-
ção da empresa, que ele possa continuar o exercício da atividade empresarial em duas hipóteses:
incapacidade superveniente e sucessão por morte.

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DIREITO EMPRESARIAL

O incapaz poderá então continuar o exercício da empresa desde que esteja assistido (relati-
vamente incapaz) ou representado (absolutamente incapaz) nos casos de incapacidade supervenien-
te ou sucessão por morte. Todavia, somente poderá fazê-lo através de autorização judicial, após
análise dos riscos e conveniência em continuá-la, não estando sujeitos ao resultado da empresa os
bens particulares (pessoais, estranhos ao acervo da empresa) que o incapaz já possuía ao tempo da
sucessão ou interdição. Tais bens deverão ser listados no alvará de autorização concedido pelo juiz
(art. 974, §§ 1º e 2º).

O objetivo é a proteção do incapaz, uma vez que os atos praticados serão exercidos por seus
representantes ou assistentes, havendo uma limitação da sua responsabilidade aos bens que inte-
gram o estabelecimento. Por isso, torna-se indispensável o arquivamento, na Junta Comercial, da
autorização com o respectivo Alvará, listando os bens pessoais do incapaz para que se torne pública
a limitação da sua responsabilidade.

Essa autorização concedida tem caráter precário, podendo o juiz revogá-la a qualquer tempo,
depois de ouvidos os pais, tutores, ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízos
dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, § 1º, CC). A autorização, bem como a sua eventual
revogação deverão ser arquivadas no Registro Público de Empresa Mercantil da respectiva sede, para
que terceiros tenham conhecimento do marco inicial em que o incapaz será autorizado a continuar a
atividade.

Na hipótese do representante ou assistente do incapaz ter impedimento legal para o exercício


da atividade empresarial, dever-se-á nomear, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes, da
mesma forma como poderá fazê-lo em todas as hipóteses em que o juiz achar conveniente. Mas, a
eventual nomeação de gerente não exime a responsabilidade do representante ou assistente, que
continua tendo o dever de zelar e responder pelos atos praticados pelos gerentes que tenham sido
nomeados, devendo comunicar ao juiz todas as irregularidades, fraudes, imprudências que forem
detectadas, solicitando a sua revogação ou substituição.

O uso da nova firma, quando concedida a autorização para continuação do exercício da ativi-
dade empresarial, por sucessão (antes exercida por seus pais ou pelo autor da herança), caberá, con-
forme o caso, ao gerente ou ao representante ou assistente do incapaz ou o próprio incapaz quan-
do houver autorização do juiz (ex. legitimidade ativa para o pedido de recuperação; legitimidade
passiva no processo de falência). Não aplicamos a hipótese de nova firma quando a autorização é
concedida em virtude da incapacidade superveniente, pois, nesse caso, não há alteração do titular da
empresa. Inclusive, eventual falência da empresa deverá ser dirigida ao incapaz (titular da empresa).

 IMPEDIMENTO PARA SER EMPRESÁRIO INDIVIDUAL


O Código Civil dispõe, em seu art. 972, que podem exercer atividade como empresários aque-
les que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem impedidos, mas, não elenca aque-
les que têm impedimento legal. No Código Comercial de 1850, o legislador, no art. 2º, trazia o rol dos
proibidos de exercerem comércio.

Temos diversas leis especiais em nosso ordenamento que contemplam o impedimento para o
exercício da atividade própria de empresário a determinadas pessoas, em razão da profissão ou de
circunstâncias especiais. Podemos destacar como impedidos de serem empresários:
a) os deputados federais e senadores (art. 54, II, a, da CRFB);
b) funcionários públicos, sejam estaduais, municipais ou federais (art. 117, X, Lei n.
8.112/90);

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c) Magistrados (art. 36, I e II, LOMAN – Lei Orgânica da Magistratura Nacional);


d) corretores de seguros (Lei n. 4.594/64);
e) militares na ativa (três Armas) (art. 29, Lei n. 6.880/1980);
f) Membros do Ministério Público (art. 128, §5º, CF);
g) Deputados estaduais e vereadores (art. 29, IX, CF);
h) falidos, inclusive os sócios de responsabilidade ilimitada que ainda não estiverem reabili-
tados (art. 102, Lei n. 11.101/05);
i) condenados por qualquer crime previsto na Lei n. 11.101/05 (art. 101);
j) médicos para o exercício da simultâneo da farmácia, e os farmacêuticos, para o exercício
simultâneo da medicina;
k) despachantes aduaneiros, dentre outros que podem estar previstos em lei especial (art.
735, II, e, Decreto n. 6.759/09);
l) estrangeiros com visto provisório (art. 98, Lei n. 6.815/80).

Os impedimentos elencados acima são para o exercício de atividade como empresário indivi-
dual, via de regra, não há impedimento para que sejam sócios cotistas ou acionistas (salvo as exce-
ções previstas na legislação especial), desde que não exerçam a função de administradores, como é o
caso, por exemplo, dos magistrados e militares na ativa. É necessário que se faça uma analise especi-
fica quanto a legislação de cada um para verificar os impedimentos não só para empresário como
para exercer o cargo de administração ou poder constituir uma sociedade.

O impedimento para o exercício da atividade não significa a incapacidade; o agente é capaz,


mas, por proibição da lei, não poderá ser empresário. No entanto, sabemos que o impedimento não
gera óbice para o exercício da atividade. Mesmo com a vedação legal, podemos encontrar pessoas
impedidas exercendo atividade própria de empresário individual. Sendo assim, os atos por ele prati-
cados são válidos e surtem efeitos no mundo jurídico, não podendo o impedido, posteriormente,
alegar o impedimento para o não cumprimento de suas obrigações.

Por conta do impedimento, a situação será de irregularidade, não sendo estendidas as prerro-
gativas próprias de empresário ou sociedade empresária, como, por exemplo, pedir recuperação
judicial. Sendo assim, aquele que tem impedimento e, ainda assim, exerce atividade como empresá-
rio responderá por todas as obrigações contraídas, podendo, inclusive, ser declarado falido, respon-
dendo como empresário irregular. Ou seja, sua responsabilidade será ilimitada e o impedido pode ser
condenado criminalmente pela prática do ato de exercício irregular. O militar, por exemplo, pode ser
condenado à pena privativa de liberdade (art. 204, DL 1.101/69).

 RESPONSABILIDADE E PATRIMÔNIO
A responsabilidade do empresário individual será ilimitada. Ou seja, ele responderá perante os
seus credores com todo o seu patrimônio pessoal.

O seu patrimônio pessoal ficará sujeito ao resultado da atividade, respondendo com todo seu
patrimônio pelas obrigações contraídas. Não há uma separação patrimonial do seu patrimônio em-
presarial (decorrente da atividade que ele exerce) e seu patrimônio particular (pessoal). Porém,
quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, responderá primeiramente perante os credores
com os bens vinculados a sua atividade econômica, e se esses bens não forem suficientes com o seu
patrimônio pessoal.

13
DIREITO EMPRESARIAL

 ENQUADRAMENTO COMO ME OU EPP


O intuito da LC n. 123/06 é a simplificação do processo de abertura e fechamento das ME’s e
EPP’s. A Lei Complementar n. 123/06 surge com o intuito de estabelecer normas gerais relativas ao
tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno
porte, no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, especial-
mente no que se refere:
a) à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Dis-
trito Federal e dos Municípios, mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações
acessórias;
b) ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações aces-
sórias;
c) ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens
e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão;
d) ao cadastro nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo úni-
co do art. 146, in fine, da Constituição Federal. Sendo vedado se enquadrar como ME ou
EPP aquelas elencadas no art. 3º, §4º, c/c art. 12, LC n. 123/06.

Art. 3º. Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empre-
sas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual
de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei nº 10.406, de
10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas
Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferi-
or a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta
superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$
4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).

A utilização das expressões ME ou EPP é exclusiva daqueles que estão enquadrados por lei,
devendo constar ao final do nome empresarial a expressão ME ou EPP, em obediência ao princípio
da veracidade.

Ao se enquadrar como ME ou EPP o empresário, a sociedade empresária ou a EIRELI adquire


diversas vantagens como, por exemplo: acesso ao crédito; benefícios na fiscalização, benefícios em
licitações, legislação trabalhista e fiscal; escrituração, dentre outros.

 MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL E PEQUENO EMPRESÁRIO


O conceito do pequeno empresário, MEI, ME (microempresa) e EPP (empresa de pequeno por-
te) estão definidos na Lei Complementar n. 123/06.

O Microempreendedor Individual (MEI) é a pessoa que trabalha por conta própria e que se le-
galiza através do portal do empreendedor, mas não poderá ter participação em outra empresa como
sócio ou titular.

O art. 18-A, §1º, LC n. 123/06, conceitua o MEI como o empresário individual (art. 966, CC),
que tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00, optante pelo Sim-

14
DIREITO EMPRESARIAL

ples Nacional e que não esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo, observado o
limite de R$ 6.750,00, multiplicados pelo número de meses compreendido entre o início da atividade
e o final do respectivo ano-calendário, consideradas as frações de meses como um mês inteiro.

A LC n. 128/08 criou condições especiais para os trabalhadores conhecidos como informais


(autônomos) para se tornar um MEI legalizado (como por exemplo: cabeleireiro, manicure, artesão,
chaveiro, motoboy, humorista e contador de história, depilador, digitador, fotógrafo, etc.). Não obs-
tante, o legislador tratar o MEI como empresário individual previsto no art. 966, CC, algumas consi-
derações devem ser realizadas.

O Código Civil dispõe, em seu art. 968, § 4º, que o processo de abertura, registro, alteração e
baixa do microempreendedor individual de que trata o art. 18-A, LC n. 123/06, bem como qualquer
exigência para o início de seu funcionamento, deverá ter trâmite especial e simplificado, preferenci-
almente eletrônico, opcional para o empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo Comitê para
Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios –
CGSIM.

Ao MEI poderão ser dispensados: o uso da firma, com a respectiva assinatura autografa, o ca-
pital, requerimentos, demais assinaturas, informações relativas à nacionalidade, estado civil e regime
de bens, bem como remessa de documentos, na forma estabelecida pelo CGSIM.

O MEI faz o seu cadastro direito no portal do empreendedor sem nenhum custo, sendo dis-
pensada a remessa dos documentos para a junta comercial, o uso da firma com assinatura autografa,
capital, obrigatoriedade dos livros empresariais, dentre outros.

Ou seja, o MEI não preenche os requisitos do art. 966, CC, pois, em decorrência das atividades
que ele exerce, muitas vezes ele não terá o pressuposto da organização (a reunião para os fatores de
produção, quais sejam: a) profissionalismo; b) atividade econômica; c) organização e produção ou
circulação de bens ou serviços), pois, na maioria dos casos, ele mesmo irá desempenhar as ativida-
des, não sendo necessária sequer a impessoalidade no exercício da atividade, tampouco o capital
(manicure, fotógrafo, dublador, etc.), sendo o seu procedimento de registro completamente distinto
da figura do empresário individual, que deverá obedecer aos requisitos do art. 966, CC.

Entre as vantagens que são oferecidas pela lei está o registro no Cadastro Nacional de Pessoas
Jurídicas (CNPJ), o que facilita a abertura de conta bancária, o pedido de empréstimos e a emissão de
notas fiscais. O MEI não é Pessoa Jurídica; o seu cadastro no RCPJ é realizado para fins de recolhi-
mento de tributo e encargos previdenciários, sendo facultada ao MEI a contratação de um emprega-
do que receba o salário mínimo ou o piso da sua categoria.

Além disso, o MEI será enquadrado no Simples Nacional e ficará isento dos tributos federais
(Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL). Assim, pagará apenas o valor fixo mensal de R$ 5,00 de
ISS, se a atividade for serviço e R$ 1,00 de ICMS se for comércio ou indústria, em ambos os casos
acrescido de 5% do salário mínimo para o INSS. Com essas contribuições, o Microempreendedor
Individual tem acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria, entre
outros.

Não poderá optar pela sistemática de recolhimento prevista no caput deste artigo o MEI cuja
atividade seja tributada na forma dos Anexos V ou VI da LC n. 123/06, salvo autorização relativa a
exercício de atividade isolada, na forma regulamentada pelo CGSN, que possua mais de um estabele-
cimento, que participe de outra empresa como titular, sócio ou administrador, ou que contrate em-
pregado.

15
DIREITO EMPRESARIAL

O MEI e o pequeno empresário são figuras distintas. O primeiro deverá efetuar sua inscrição
no portal do empreendedor, enquanto este efetuará seu registro na Junta Comercial do Estado da
respectiva sede da empresa.

O art. 970, CC dispõe que a Lei deverá assegurará tratamento favorecido, diferenciado e sim-
plificado ao pequeno empresário quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes.

O conceito de pequeno empresário encontra-se previsto no art. 68 da LC n. 123/06: “Conside-


re-se pequeno empresário, para aplicação nos arts. 970 e 1.1799 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (código civil), o empresário individual caracterizado como microempresa na forma da Lei Com-
plementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto no §1º do art. 18-A”. Porém, para ser
considerado pequeno empresário, não aplicamos a vedação prevista para o MEI no art. 18-A, §4º, da
referida lei.

Para ser considerado pequeno empresário, a lei estabelece que o empresário deve estar devi-
damente registrado na Junta Comercial e enquadrado como ME, mas a sua receita bruta não pode
ser superior a R$ 81.000,00. O pequeno empresário é uma subespécie da Microempresa (ME), sendo
vedado a sua transformação em sociedade empresária ou EIRELI uma vez que a Lei limitou esse tra-
tamento apenas ao empresário individual (cuja a receita bruta anual não pode ser superior a R$
81.000,00).

Ao pequeno empresário é dispensável a exigência de escrituração uniforme de seus livros, le-


vantamento anual de balanço patrimonial e de resultados econômicos, benefícios que não são es-
tendidos as ME e EPP, nos termos do art. 1.179, §2º, CC.

Não podemos confundir a figura do pequeno empresário com o MEI (microempreendedor in-
dividual).

 TRANSFORMAÇÃO DO REGISTRO DO EMPRESÁRIO EM SOCIEDA-


DE EMPRESÁRIA
O empresário individual poderá a qualquer tempo solicitar no Registro Público de Empresa
Mercantil a sua transformação de empresário individual para EIRELI ou sociedade empresária, quan-
do quiser admitir um ou mais sócios para o exercício da sociedade a ser constituída pela sua trans-
formação.

A transformação é o ato pelo qual o empresário transforma o seu tipo, deixando de ser empre-
sário individual e tornando-se uma sociedade empresária (pode ser uma sociedade em nome coleti-
vo; sociedades em comandita simples ou limitada), ou uma EIRELI, sem que haja a sua liquidação ou
dissolução, devendo obedecer aos preceitos reguladores da EIRELI ou do tipo societário que for esco-
lhido.

Ocorre, todavia, que, dentre os tipos societários para transformação, não poderá o empresário
se transformar em uma sociedade anônima (constituição distinta prevista em lei especial), cooperati-
va (por não ser empresária) e sociedade simples (não exerce empresa).

9
Enunciado 235, III, JDC – o pequeno empresário, dispensado da escrituração é aquele previsto na Lei 9.841/99.

16
DIREITO EMPRESARIAL

 INCAPAZ SER SÓCIO


O incapaz não pode iniciar uma atividade como empresário individual, mas, nada impede que
ele seja sócio de uma sociedade, desde que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos:
a) não ser administrador;
b) o capital social estar integralizado;
c) o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o sócio absolutamente incapaz repre-
sentado.

A impossibilidade de o incapaz não poder exercer o cargo de administrador ocorre como forma
de proteção ao seu patrimônio, uma vez que os administradores podem ser responsabilizados pesso-
almente pela prática de seus atos quando agirem com dolo ou culpa no desempenho de suas atribui-
ções; quando excederem os limites impostos no contrato social; ou ainda atuarem em desacordo
com a lei.

A exigência da integralização do capital social somente será aplicada às sociedades limitadas,


uma vez que os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social (art. 1.052,
CC). Nos tipos societários em que os sócios respondem de forma ilimitada ou nas sociedades anôni-
mas, tal exigência não será aplicada, pois nesses tipos societários a integralização não influencia a
proteção do incapaz (Enunciado nº 467, V, JDC).

 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL CASADO


O Código Civil dispõe, em seu art. 978, que o empresário casado pode alienar ou gravar em
ônus reais os bens que pertençam ao patrimônio da empresa, independente do regime de bens do
casamento. A intenção do legislador é, sem dúvidas, conferir maior autonomia ao empresário, no
tocante aos bens que pertençam ao patrimônio da empresa.

Para aplicação no disposto no art. 978, CC, é necessário que exista prévia averbação de autori-
zação conjugal a conferencia do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis,
com a consequente averbação do ato a margem de sua inscrição no Registro Público de Empresa
Mercantis.

O mesmo não ocorrerá com os bens pessoais do casal não afetados pelo exercício da atividade
empresarial, hipótese em que aplicaremos o disposto no art. 1.647, I, CC, em que nenhum dos cônju-
ges poderá, sem a autorização do outro – exceto no regime de separação absoluta – alienar ou gra-
var em ônus reais os bens imóveis. Tal proibição não se estende às sociedades empresárias, pois os
bens constituem patrimônio da empresa, o que gera à sociedade autonomia patrimonial.

O Código Civil dispõe em seu art. 979 que, além de serem registrados no Registro Civil, os pac-
tos e declarações antenupciais, o título de doação, herança ou legado de bens clausulados de inco-
municabilidade ou inalienabilidade devem ser registrados e averbados nas Juntas Comerciais, sob
pena de não poder o empresário individual opô-los a terceiros credores, salvo se houver a compro-
vação de que o credor possuía conhecimento do ato. O legislador se preocupou com a publicidade
em benefício dos credores que celebrarem negócio jurídico com o empresário. Sendo assim, cumpri-
das todas as formalidades impostas por lei, no tocante ao registro dos atos na Junta Comercial, não
poderá o terceiro alegar ignorância, sendo a ele o ato oponível.

17
DIREITO EMPRESARIAL

Igualmente em seu artigo 980, CC, o legislador impõe ao empresário que arquive e averbe no
Registro Público de Empresa Mercantil a sentença que decretar ou homologar a separação judicial do
empresário, bem como seu ato de reconciliação. A intenção do legislador é conferir publicidade ao
ato para que o credor seja informado das mudanças no patrimônio do empresário, seja pelo fim ou
restabelecimento da sociedade conjugal. Importante frisar que, não obstante o legislador não ter
informado a que regimes tal dispositivo se aplica, podemos afirmar que estão afastados da aplicação
os empresários casados no regime de separação obrigatória ou separação total de bens (tendo em
vista que nesses regimes os bens do casal não se comunicam).

SOCIEDADE

 CONCEITO E ELEMENTOS DA SOCIEDADE


O art. 44, CC, dispõe que são pessoas jurídicas de direito privado as:
a) associações;
b) sociedades;
c) fundações;
d) organizações religiosas;
e) partidos políticos;
f) EIRELI.

O conceito de sociedade encontra-se expresso no art. 981, CC, que dispõe que
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, en-
tre si, dos resultados.

O contrato da sociedade é instrumentalizado através do contrato social, possuindo como natu-


reza jurídica ser um contrato plurilateral.

Da redação do dispositivo, temos os elementos do contrato de sociedade:


a) Pluralidade de sócios: dois ou mais sócios. A constituição da sociedade necessita da plura-
lidade de sócios. Os sócios podem ser pessoas naturais ou jurídicas.

Não obstante a pluralidade de sócios ser elemento essencial para constituição da sociedade,
devemos destacar as exceções em que a sociedade será unipessoal temporária ou permanente; ori-
ginária ou derivada.

I) Sociedade Unipessoal originária e permanente: temos duas sociedades classificadas co-


mo originárias e permanentes. a) Sociedade subsidiária integral, prevista no art. 251 da Lei
das Sociedades por Ações (LSA). É aquela constituída por escritura pública, tendo como úni-
co acionista uma sociedade brasileira. Exemplo: TRANSPETRO (subsidiária integral da Pe-
trobrás); e b) Empresa Pública – quando o capital pertencer a uma única pessoa de direito
público.

18
DIREITO EMPRESARIAL

II) Sociedade Unipessoal temporária e derivada: inicialmente, são constituídas com plurali-
dade de sócios, mas, no curso da sua vida societária, perdem a pluralidade, restando ape-
nas um sócio. Ocorre nas hipóteses do art. 1.033, IV, Código Civil, e no art. 206, I, d, LSA.
São chamadas de temporária, pois não podem permanecer unipessoais, devendo recompor
o quadro societário no prazo estipulado em lei.

b) Contribuição dos sócios: obrigam-se os sócios a contribuir para a formação do capital soci-
al.

O capital é a cifra contábil que corresponde aos valores que os sócios contribuíram para a
formação do capital. O capital social representa a garantia dos credores. Podemos destacar como
princípios norteadores do capital social: a) unidade (capital único); b) fixidez (capital fixo, não pode
ser variável – exceção cooperativa); c) intangibilidade (capital não pode ser utilizado para os outros
fins que não sejam o objeto da sociedade); d) realidade (capital deve ser real, sob pena de responsa-
bilização dos sócios).

A integralização do capital social pode ser realizada com dinheiro, bens ou cessão de crédito.
Existe ainda a possibilidade de integralização do capital social com serviço, mas, essa modalidade de
integralização somente será aplicada nas sociedades simples puras e cooperativas (arts. 1.094, I, e
983, CC). Nesse sentido, podemos destacar o Enunciado n°206, da II Jornada Direito Civil – Conselho
da Justiça Federal (CJF).

c) Partilha dos resultados: em regra, os sócios devem repartir os lucros (resultado positivo) e
as perdas (resultado negativo).

É vedada em nosso ordenamento a cláusula leonina, que impede o sócio de participar dos lu-
cros da sociedade (art. 1.008, CC).

A participação nas perdas não será aplicada às sociedades limitadas e às sociedades anônimas,
pois, nessas duas modalidades societárias, a responsabilidade dos sócios é limitada.

d) Affectio societatis (implícito): Previsto no art. 5, XX, CF. Representa a afinidade, a vontade
que os sócios possuem de estarem unidos em busca de resultados comuns.

Segundo Sergio Campinho, a affectio societatis “se traduz pela vontade dos sócios de se unirem
por um vínculo societário, realizando colaborações voluntárias, conscientes e ativas para a consecu-
ção de propósitos comuns”10.

Em regra, as sociedades anônimas, por serem sociedades de capital, não têm a presença da af-
fectio societatis. Porém, existe uma exceção manifestada pelo STJ nos Informativos n°357 e n°487, de
que, nas hipóteses de S.A de capital fechado e cunho familiar (integradas por entes de uma mesma
família), é possível a existência da affectio societatis. Nesses casos, a quebra da affectio societatis é
consequência derivada dos deveres dos sócios, permitindo o exercício do direito de retirada ou a
exclusão do sócio.

10
Ob. Cit. P.39

19
DIREITO EMPRESARIAL

 CLASSIFICAÇÕES DAS SOCIEDADES EMPRESARIAIS


1. Quanto ao objeto das sociedades: simples ou empresária.
As sociedades podem ser simples ou empresárias, em razão do seu objeto ou tipo societário.
Nos termos do art. 982, CC, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de
atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967, CC) e simples as demais). Podemos des-
tacar como exemplo de sociedades simples: cooperativas; sociedades formadas para o exercício da
profissão intelectual (cujo exercício da profissão não constitua elemento de empresa); as sociedades
rurais, salvo se inscreverem seus atos constitutivos no registro público de empresa mercantil, hipóte-
se em que serão equiparadas as sociedades empresárias.

Por força do art. 982, parágrafo único, CC, as sociedades por ações e sociedades anônimas, in-
dependentemente do objeto, são sempre empresárias (não em razão do objeto, mas do tipo que
adotaram).

2. Quanto ao tipo societário:


Tendo em vista o princípio da tipicidade, as sociedades adotarão um dos tipos societários pre-
vistos em lei.

EMPRESÁRIA (REGISTRO RPEM) SIMPLES (REGISTRO RCPJ)


Sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044, Sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044,
CC) CC)
Sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a Sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a
1.051, CC) 1.051, CC)
Sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087, CC) Sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087, CC)
Sociedade anônima (arts. 1.088 a 1.089) Sociedade simples pura (arts. 977 a 1.038, CC)
Sociedades em comandita por ações (arts. 1.090 a
Sociedade cooperativa (arts. 1.093 a 1.096, CC)
1.092, CC)

Se for empresária, poderá adotar como tipos societários aqueles previstos nos arts. 1.039 a
1.092, CC.

Sendo simples, podem constituir-se segundo um desses tipos: Sociedade em Nome Coletivo,
Sociedade em Comandita Simples ou Sociedade Limitada; mas se adotar como forma societária uma
Sociedade Anônima ou Sociedade em Comandita por Ações, será considerada empresária.

Ainda que as sociedades de natureza simples adotem um dos tipos previstos para sociedades
empresárias (limitada, nome coletivo ou comandita simples), elas continuam sendo de natureza sim-
ples e o seu registro deve ser realizado no RCPJ11, salvo se a forma for uma das sociedades por ações
previstas em nosso ordenamento.

3. Quanto à personalidade jurídica das sociedades: Sociedades personificadas e sociedades


não personificadas.

11
Enunciado 57, I, JDC – a opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza simples da sociedade.

20
DIREITO EMPRESARIAL

A personalidade jurídica da sociedade se inicia com a inscrição no registro próprio e na forma


da lei e dos seus atos constitutivos. São sociedades personificadas: a sociedade simples, sociedade
em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limitada, sociedade em comandita
por ações, sociedade anônima e as cooperativas.

São sociedades não personificadas (despersonificadas) aquelas que não têm personalidade ju-
rídica. São duas as espécies de sociedade despersonificada: sociedade comum e sociedade em conta
de participação.

4. Quanto ao ato constitutivo: contratuais ou institucionais.


O ato constitutivo de uma sociedade pode ser um contrato ou estatuto. As sociedades contra-
tuais são reguladas por um contrato social, prevalecendo o acordo de vontade entre os sócios. Todos
os tipos societários regulados pelo Código Civil são contratuais. Nas sociedades contratuais, o contra-
to é plurilateral e o capital é dividido em cotas.

Já as sociedades institucionais são regidas por um estatuto e devem ser observados requisitos
preliminares e providências complementares que não são exigidas nas sociedades contratuais. As
sociedades por ações (S.A e Sociedade em comandita por ações) são sociedades regidas por um esta-
tuto social, não prevalecendo a vontade dos acionistas já que não há muito espeço para autonomia
da vontade (arts. 83 e 116, LSA) e a formação das sociedades institucionais é mais complexa. As soci-
edades institucionais dividem seu capital em ações.

5. Quanto ao vínculo: pessoa ou capital.


a) Sociedade de pessoas: existe um vínculo que une os sócios que é pessoal (intuito perso-
nae). Leva-se em consideração as características pessoais de cada sócio, bem como a confi-
ança depositada um no outro. Podemos destacar como sociedades de pessoas as socieda-
des simples, em nome coletivo, comandita simples.

b) Sociedades de capital: não existe um vínculo afetivo, pouco importando a figura do só-
cio. O elemento preponderante é a intuitu pecuniae, prevalecendo o elemento capitalista.
Ex. Sociedade Anônima.

6. Quanto à responsabilidade dos sócios: limitada, ilimitada ou mista.


a) Sociedades cujos sócios respondem de forma ilimitada: sociedade em nome coletivo e
sociedades irregulares.

b) Sociedades em que os sócios respondem de forma limitada: sociedade anônima (a res-


ponsabilidade dos sócios é limitada ao preço de emissão de suas ações) e sociedade limita-
da (a responsabilidade de sócios é limitada ao valor de suas cotas, mas, todos os sócios são
solidariamente responsáveis pela integralização do capital social).

c) Sociedades em que a responsabilidade será mista: sócios que respondem de forma ilimi-
tada e outros que respondem de maneira limitada: a) Sociedade em comandita simples (só-
cio comanditado – responde de forma ilimitada; e sócio comanditário – responde de forma
limitada); b) Sociedade em comandita por ações (sócio gerente – responde de forma ilimi-
tada; e, demais sócios, de forma limitada);

21
DIREITO EMPRESARIAL

7. Quanto à nacionalidade: Sociedade Brasileira e Estrangeira.


a) Sociedade nacional: são aquelas reguladas e constituídas de acordo com as regras brasi-
leiras e mantêm sua sede e administração no Brasil (art. 1.126, CC).

b) Sociedade estrangeira: sua sede fica no exterior, necessitando de autorização do Chefe


do Poder Executivo para funcionar no Brasil (art. 1.134, CC)12.

 REGISTRO E PERSONALIDADE JURÍDICA


A inscrição do ato constitutivo (contrato social) no órgão competente é obrigatória. A socieda-
de que não efetuar o seu registro no prazo previsto na lei será regida pelas normas de sociedade em
comum (arts. 986 a 990, CC).

Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de 30 dias, conta-


dos da lavratura dos atos respectivos, hipótese em que os efeitos do registro retroagem à data de
constituição da sociedade (efeito ex tunc). Porém, se o registro for efetuado após o prazo fixado no
art. 1.151, §1º, CC (30 dias), os efeitos serão ex nunc e, durante o período que permanecer sem o
registro, será considerada sociedade comum (arts. 986 a 990, CC).

Nos termos dos art. 985, CC, a sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição dos
seus atos constitutivos, levados a registro no órgão competente. Enquanto o empresário e as socie-
dades de natureza empresária efetuam suas inscrições no Registro Público de Empresa Mercantil
(RPEM), as sociedades de natureza simples efetuam seu registro no Registro Civil de Pessoa Jurídica
(RCPJ). A EIRELI poderá efetuar o seu registro no RPEM (se for empresária) ou no RCPJ (se for sim-
ples).

Com a aquisição da personalidade jurídica, a sociedade passa a assumir direitos e obrigações,


adquirindo:
a) Patrimônio próprio: o patrimônio social não se confunde com o patrimônio particular
dos sócios. A responsabilidade da sociedade perante os credores é ilimitada, uma vez que
ela responde com todo o seu patrimônio.
b) Nome próprio: a sociedade passa a ter nome próprio distinto dos seus membros. O no-
me pode ser uma firma ou uma denominação.
c) Nacionalidade própria: nacionalidade distinta dos seus membros.
d) Domicílio próprio: sede social (domicílio) distinto dos seus membros.

 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


Um dos efeitos da aquisição da personalidade jurídica é a aquisição de patrimônio próprio.
Com a aquisição da personalidade jurídica, o patrimônio da sociedade não se confunde com o patri-
mônio particular dos sócios.

Não obstante a separação patrimonial da sociedade e de seus respectivos sócios, com intuito
de coibir a utilização da personalidade jurídica para prática de atos fraudulentos, nasceu o instituto
da desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine). Esse instituto tem como finalida-

12
Enunciado 486, V, JDC – A sociedade estrangeira pode, independentemente de autorização do Poder Executivo, ser sócia em sociedade
de outros tipos além das anônimas.

22
DIREITO EMPRESARIAL

de atingir os bens particulares dos administradores ou sócios, nas hipóteses de abuso da personali-
dade.

A desconsideração da personalidade jurídica surgiu na Inglaterra em 1897, com o caso Sala-


mon vs. Saloman & Co. Ltd., tratando-se de situação excepcional, somente sendo utilizada quando
restar comprovado o abuso da personalidade jurídica da sociedade.

A desconsideração não se confunde com a despersonificação. Esta acarreta a dissolução da


sociedade e, consequentemente, a perda da personalidade jurídica. Já na desconsideração, há um
afastamento momentâneo dos efeitos da autonomia da personalidade jurídica, fazendo com que a
responsabilidade recaia sobre os bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Podemos destacar as seguintes hipóteses de desconsideração:


a) Art. 50, CC13: essa teoria é adotada quando há configuração do abuso da personalidade
jurídica, causada pelo desvio de finalidade (os poderes de administração são utilizados para
interesse pessoal e não da sociedade) ou confusão patrimonial (o patrimônio do sócio e da
pessoa jurídica se confundem). Para aplicação dessa teoria, é necessário o requerimento
da parte ou do Ministério Público, não podendo ser aplicada de ofício pelo juiz14.

b) Art. 28, caput, Lei n. 8.078/90: O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da
sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de po-
der, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A des-
consideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encer-
ramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

c) Art. 28, § 5º, Lei n. 8.078/9: será aplicada sempre que sua personalidade for, de alguma
forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores (quando confi-
gurado dano ao consumidor). É necessária apenas a insolvência da sociedade, não sendo
necessária a comprovação do abuso ou fraude da personalidade.

d) Art. 4º, Lei n. 9.605/98: aplicação da desconsideração sempre que sua personalidade for
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente (quando
configurado dano ambiental).

e) Art. 35, Lei n. 12.529/11: tal dispositivo contempla a possibilidade da desconsideração


quando: a) a personalidade jurídica do responsável pela infração da ordem econômica po-
derá ser desconsiderada quando houver, por parte deste, abuso de direito, excesso de po-
der, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou do contrato social; ou b)
quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa ju-
rídica provocados por má administração.

f) Art. 133, § 2º, CPC: Teoria inversa – essa modalidade de desconsideração é utilizada pa-
ra impedir que a pessoa jurídica seja utilizada para burlar o regime de bens ou terceiros, a-
tingindo o patrimônio da sociedade por obrigação particular do sócio até o limite do valor
das suas cotas. Enunciado n. 283, CJF: “Art. 50. É cabível a desconsideração da personalida-

13
Enunciado 282, IV, JDC – O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso da
personalidade jurídica.
14
Enunciado 281, IV, JDC – A aplicação da desconsideração, prevista no art. 50, CC prescindi da demonstração de insolvência da pessoa
jurídica. Nesse sentindo, podemos afirmar que a desconsideração da personalidade jurídica pode ser aplicada ainda que não seja configu-
rada a insolvência patrimonial, desde que caracterizado o abuso da personalidade jurídica, seja por desvio de finalidade ou confusão pa-
trimonial. Esse é o entendimento que vem sendo aplicado pelo STJ (REsp. 1.729.554).

23
DIREITO EMPRESARIAL

de jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídi-
ca para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”.

g) Relações trabalhistas: adota a aplicação da teoria menor, sendo necessária apenas a in-
solvência da sociedade para sua aplicação.

Nos termos do art. 134, CPC, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica é cabí-
vel em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução
fundada em título executivo extrajudicial.

Ressalta-se que a desconsideração da personalidade jurídica não será aplicada nas hipóteses
de imputação direta de responsabilidade do sócio ou administrador. Nesses casos, a lei autoriza a
responsabilização direta do sócio ou administrador (imputação direta de responsabilidade) pelas
prática dos atos previstos nos dispositivos:
a) Art. 1.080, CC – deliberações infringentes da lei ou contrato;
b) Art. 1.116, CC – quando agirem com culpa no desempenho de suas atribuições;
c) Art. 158, Lei n. 6.404/76 – quando agir com culpa ou dolo, ou quando agir com violação à
lei ou contrariamente ao estatuto;
d) Art. 135, III, CTN – pelos atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, con-
trato social ou estatuto.

 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS


São sociedades que não possuem personalidade jurídica, são despersonificadas. Por serem
despersonificadas, não possuem nacionalidade, patrimônio, domicílio e nome próprio. São socieda-
des despersonificadas: a) sociedade comum e; b) sociedade em conta de participação.

 SOCIEDADES PERSONIFICADAS
As sociedades personificas são aquelas que adquirem personalidade jurídica com a inscrição
do seu ato constitutivo no órgão competente. Encontram-se previstas nos arts. 997 a 1.093, CC. São
sociedades personificadas: a) sociedade simples; b) sociedade em nome coletivo; c) sociedade em
comandita simples; d) sociedade em comandita por ações; e) sociedade limitada e f) sociedade anô-
nima.

 SOCIEDADE SIMPLES (NÃO EMPRESÁRIA)


Não podemos confundir a natureza jurídica das sociedades (simples ou empresária) com o tipo
societário (simples, limitada, anônima, etc.). Neste tópico, trataremos exclusivamente da modalidade
de sociedade simples (chamada pela doutrina de “sociedade simples pura” ou “sociedade simples
stricto sensu” para diferenciar de natureza jurídica). Esse tipo societário (stricto sensu) foi criado ex-
clusivamente para as sociedades de natureza simples.

Ocorre que, não obstante termos um tipo societário exclusivamente utilizado para as socieda-
des simples (aquelas que não exercem empresa), o art. 983, CC, dispõe que as sociedades simples
além de poderem adotar o tipo societário “simples pura”, poderão utilizar um dos tipos regulados
nos arts. 1.039 a 1.092, CC, exceto as sociedades por ações, sociedade anônima e sociedade em co-
mandita por ações. Pois adotando como tipo societário uma sociedade por ações, o tipo prevalecerá

24
DIREITO EMPRESARIAL

sobre o objeto, e ela será considerada de natureza empresária, por força do art. 982, parágrafo único
do CC.

 CONCEITO
O tipo societário “sociedade simples pura” é destinado àquelas atividades que estão excluídos
do conceito de empresário, uma vez que não exercem empresa (como, por exemplo, sociedade para
exercício exclusivo da profissão intelectual, atividade rural, e atividades não organizacionais). Esse
tipo societário regulamenta as antigas sociedades civis sem fins econômicos, que ganharam a roupa-
gem de sociedade simples.

 ATO CONSTITUTIVO
A sociedade simples pura tem natureza contratual, sendo o seu ato constitutivo um contrato
social que deve ser realizado de forma escrita, por instrumento público ou particular. A inscrição da
sociedade deve ser realizada no prazo máximo de 30 dias após a sua constituição no Registro Civil de
Pessoa Jurídica do local de sua sede.

Além das cláusulas que podem ser inseridas pelos sócios, obrigatoriamente, o contrato men-
cionará:
Art. 997/CC. (...)
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais,
e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
19
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade ;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer
espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atri-
buições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

As modificações do contrato social que tenham por objeto matérias indicadas acima, previstas
no art. 997, CC, dependem do consentimento de todos os sócios (art. 999, CC); as demais poderão
ser decididas por maioria absoluta de votos (sócios que representem a maioria do capital social), se o
contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime (art. 1.010, parágrafo único, CC).

Todas as modificações e alterações, ou instituições de sucursal, filial ou agências, devem ser


averbadas no Registro Civil de Pessoa Jurídica.

 A FIGURA DO SÓCIO E SUA RESPONSABILIDADE


Os sócios podem ser pessoas físicas ou jurídicas.

No tocante à responsabilidade dos sócios, o tema é controvertido na doutrina. O art. 997, VIII,
CC, estipula que “o contrato social irá determinar se os sócios respondem ou não, subsidiariamente,
pelas obrigações sociais”; enquanto o art. 1.023, CC, estipula que “se os bens da sociedade não lhe

19
c/c o art.1.055, parágrafo único, CC

25
DIREITO EMPRESARIAL

cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas
sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária”.

A primeira corrente, defendida pelo STJ no Informativo n. 468, Resp. 895.792-RJ, sustenta que
a responsabilidade dos sócios na sociedade simples pura é ilimitada.

Os doutrinadores Sergio Campinho20 e Tavares Borba21 divergem do STJ ao afirmarem que os


sócios poderão determinar no contrato social se querem responder ou não, subsidiariamente e ilimi-
tadamente (art. 997, VIII) pelas dívidas sociais. E, não havendo responsabilidade subsidiária, os sócios
responderiam na proporção de suas cotas. Afirmam ainda que a aplicação da responsabilidade soli-
dária dos sócios, prevista no art. 1.023, CC, também depende de cláusula contratual. Corroborando
com essa segunda corrente, pode-se destacar os Enunciados n. 479 da V Jornada de Direito Civil do
CJF e Enunciado n. 10 da I Jornada de Direito Comercial.

O seja, quando os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo
saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidá-
ria.

Se o contrato previr cláusula de responsabilidade solidária, o credor da sociedade poderá exi-


gir de um ou de todos os sócios o valor da dívida inteira quando à sociedade não restarem bens sufi-
cientes para pagamento do credor. Do contrário, cada sócio responderá na proporção de suas cotas.

Ainda que haja a cláusula expressa de responsabilidade solidária dos sócios, por conta da figu-
ra do benéfico de ordem, os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da
sociedade senão depois de executados os bens sociais (art. 1.024, CC).

Se o sócio da sociedade possui dívidas particulares e não há outros bens para saldar seu débi-
to junto ao credor particular (somente as cotas que ele possui na sociedade), este poderá fazer recair
a execução sobre o que ao sócio (devedor) couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar
em liquidação (se a sociedade já estiver sendo dissolvida)22.

Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do deve-
dor, cujo valor, apurado na forma do art. 1.031 (apuração de haveres), será depositado em dinheiro,
no juízo da execução, até noventa dias após aquela liquidação (art. 1.026, parágrafo único, CC), hipó-
tese em que a sociedade excluirá de pleno direito o sócio que teve suas cotas liquidadas. Na apura-
ção dos haveres do sócio, por consequência da liquidação de suas quotas na sociedade para paga-
mento ao seu credor (art. 1.026, parágrafo único, CC), não devem ser consideradas eventuais dispo-
sições contratuais restritivas à determinação de seu valor.

Os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge que se separou judicialmente (casado em re-


gime de comunhão universal), não podem exigir desde logo a parte que lhes couber na quota social
(apuração de haveres), mas concorrem à divisão periódica dos lucros até que se liquide a sociedade,
em atendimento à preservação da empresa (art. 1.027, CC).

Isso ocorre porque o cônjuge do sócio não adquire o direito de ser sócio, assim como os her-
deiros também não. Os herdeiros do cônjuge de sócio ou o cônjuge que se separou judicialmente
adquirem o valor das cotas do de cujos (sócio falecido). Eles não fazem parte do quadro societário,
mas, participam dos lucros.

20
Ob. Cit. Pág. 121 e 122
21
BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. 14ª Ed. São Paulo: Atlas, 2015.P. 94 e 95
22
Enunciados: 386, 387, 388, IV JDC do CJF

26
DIREITO EMPRESARIAL

 CONTRIBUIÇÃO E INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL


As obrigações dos sócios se iniciam com a assinatura do contrato (se este não fixar outra data),
e terminam com a liquidação da sociedade.

Uma das obrigações dos sócios que devemos destacar é a integralização do capital social que
foi por ele subscrito. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabele-
cidas no contrato social. A subscrição do capital social significa o valor que aquele sócio irá realizar
(pagar) até que o capital social esteja completamente integralizado (quando todos os sócios efetuam
o pagamento de todas as suas cotas). O sócio que subscreve (se compromete no contrato social) e
não integraliza é chamado de sócio remisso.

Dispõe o caput do art. 1.004, CC, que o sócio que deixar de integralizar o capital social será no-
tificado para efetuar o pagamento em trinta dias após a notificação. Não ocorrendo o pagamento, o
sócio remisso responderá perante a sociedade pelo dano emergente da mora.

Uma vez, verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir: a) a indenização; b) a
exclusão do sócio remisso; c) ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado (aplicando-se, em am-
bos os casos, o disposto no § 1º do art. 1.031, CC).

As formas de integralização do capital social poderão ser: a) dinheiro; b) bens (sócio que
transferir domínio, posse ou uso responderá pela evicção); c) cessão de crédito (responderá pela
solvência do devedor o sócio que ceder o crédito) ou d) serviço (o sócio não pode, salvo convenção
em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lu-
cros e dela excluído), sendo vedada a cláusula leonina que exclua qualquer sócio de participar dos
lucros e das perdas.

Destaca-se que, nos termos do art. 1.009, CC, “a distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acar-
reta responsabilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem,
conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade”. Os lucros não se confundem com o pró-
labore (valor devido ao sócio pela administração/trabalho que ele desempenha na sociedade).

 CESSÃO DE COTAS
Os sócios não podem ser substituídos no exercício das suas funções sem o consentimento dos
demais sócios, expresso em modificação do contrato social.

Caso o sócio não tenha mais interesse em participar do quadro societário, ele poderá ceder as
suas cotas. Para isso, é necessária a respectiva modificação no contrato social, bem como o consen-
timento dos demais sócios; do contrário, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.

As obrigações do sócio perante a sociedade e terceiros não cessam com a cessão de cotas, fi-
cando o cedente solidariamente responsável com o cessionário (novo sócio) pelo prazo de 2 anos
depois de averbada a modificação.

O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das dívidas sociais anteriores à
admissão. Se o contrato opuser limitação à responsabilidade do sócio cessionário, esta não poderá
ser oponível a terceiros, por força do disposto no art. 1.025, CC.

27
DIREITO EMPRESARIAL

 DELIBERAÇÕES SOCIAIS
As deliberações dos sócios serão tomadas por maioria do capital social (maioria de votos se-
gundo o valor das cotas de cada um). Para formação da maioria absoluta, são necessários votos cor-
respondentes a mais da metade do capital.

Exemplificando: numa sociedade formada pelos sócios Clarisse, Olivia e Eric, em que cada um
detém, respectivamente, 70%, 20% e 10% das cotas, é necessário apenas o voto de Clarisse para
caracterização da maioria absoluta do capital.

Havendo empate, prevalece a decisão sufragada pelo maior número de sócios, e, se este per-
sistir, decidirá o juiz. Por exemplo: numa sociedade formada por Júlia, Patrícia e Rodrigo, em que
cada um detém, respectivamente, 50%, 25% e 25%, cada um, e os sócios Patrícia e Rodrigo votam
contrários a Júlia, temos um empate. Nesse caso, a decisão de Patrícia e Rodrigo (maioria dos sócios)
prevalecerá sobre a de Júlia.

Agora, imaginem que uma sociedade é formada por Renata, Margot, Sergio e Roberto. Cada
um detém 25% do capital social. Se Renata e Margot votarem favoravelmente e Sergio e Roberto
votarem desfavoravelmente, teríamos um empate (não teríamos maioria do capital social). Nesse
caso, o critério de desempate – que seria maioria dos sócios – não surtiria efeitos e caberia ao juiz
decidir.

Destaca-se que o contrato social ou a lei poderão exigir, dependendo da matéria em discussão,
quórum unânime dos sócios ou de 2/3 ou de ¾ do capital. A lei, por exemplo, determina que as alte-
rações contratuais das matérias previstas no art. 997, CC, exigem quórum de unanimidade dos só-
cios.

Nos termos do art. 1.010, § 3º, CC, “responde por perdas e danos o sócio que, tendo em algu-
ma operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças a
seu voto”.

Para o sócio que contribui para o capital social com serviço, a regra é que ele não participa das
deliberações que dependam de votos de maioria do capital social, uma vez que ele não é titular de
nenhuma cota. Mas, participarão da votação todos os sócios (que contribuíram para o capital com
dinheiro ou serviço) nas decisões que dependam de maiorias dos sócios (e não do capital).

 ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE
A administração é um órgão que representa a sociedade. O administrador age em nome da so-
ciedade, representando seus interesses, sendo responsável pelo cumprimento do objeto social, exe-
cutando a vontade da sociedade.

O administrador da sociedade deverá ser obrigatoriamente, uma pessoa natural, sócio ou não,
por força do art. 997, VI, CC, sendo vedada a administração por pessoa jurídica. O administrador não
poderá ser substituído no exercício da sua função, sendo-lhe facultado constituir mandatário, especi-
ficando todos os atos que este pode praticar (art. 1.018, CC). Não podem exercer o cargo de adminis-
trador aqueles que têm impedimento legal, bem como os previstos no art. 1.011, §1º, CC, como, por
exemplo, aqueles condenados por crime falimentar, de prevaricação, suborno, economia popular,
peculato, dentre outros.

28
DIREITO EMPRESARIAL

Se o contrato for omisso quanto à administração da sociedade, esta competirá separadamente


a cada sócio. Nesse caso, cada um poderá impugnar operação pretendida por outro, cabendo a deci-
são aos sócios, por maioria de votos, respondendo por perdas e danos perante a sociedade o admi-
nistrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a
maioria (art. 1.013, §2º, CC).

A nomeação do administrador poderá ocorrer no contrato social ou em ato separado. Se for


nomeado em ato separado, deverá averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que
praticar, antes de requerer a averbação, responderá pessoal e solidariamente à sociedade.

O sócio nomeado no contrato social como administrador não poderá ser destituído (poderes
são irrevogáveis), salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios. Já o
administrador, sócio ou não, nomeado em ato separado, poderá ter seus poderes revogados a qual-
quer tempo.

Quando o contrato for omisso, os administradores poderão praticar todos os atos pertinentes
à gestão da sociedade, exceto a alienação de imóvel, que depende de voto da maioria do capital (art.
1.015, CC), a não ser quando o objeto da sociedade for a compra e venda de imóveis.

O administrador não atua em nome próprio, mas em nome da sociedade, de modo que apli-
camos aos atos realizados pelo administrador a teoria da aparência. Essa teoria preconiza que os atos
realizados pelo administrador são de responsabilidade da sociedade, respondendo esta perante ter-
ceiros.

Responde solidariamente à sociedade somente o administrador que agir com dolo ou culpa no
desempenho de suas atribuições, ou quando agir contrário à lei ou ao contrato social. A responsabili-
dade do administrador é subjetiva (necessária a comprovação de dolo ou culpa). Nesses casos, o
credor demanda diretamente a sociedade (teoria da aparência) e esta terá ação de regresso em face
do administrador para recuperar os prejuízos causados.

Porém, existem situações em que podemos afastar a responsabilidade da sociedade, respon-


sabilizando diretamente o administrador, quando restar comprovado o excesso de poderes decor-
rentes dos atos praticados por ele. Trata-se da teoria dos atos ultra vires, que permite a responsabili-
zação direta do administrador, afastando a responsabilidade da sociedade.

O art. 1.015, parágrafo único, CC23, determina a possibilidade de responsabilidade direta do


administrador, afastando a responsabilidade da sociedade. O excesso por parte dos administradores
somente poderá ser oposto a terceiros se ocorrer ao menos uma das seguintes hipóteses:
a) a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;
b) provando-se que era conhecida do terceiro;
c) tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

Por isso, é importante que os credores que contratam com a sociedade verifiquem no contrato
social se o administrador tem ou não poderes para a celebração daquele ato, sob pena de a socieda-
de poder opor àqueles o excesso praticado pelo administrador para eximir-se da obrigação.

23
Enunciado 11, I JD Comercial – A regra do art. 1.015, único, CC deve ser aplicado a luz da teoria da aparência e do primado da boa fé
objetiva, de modo a prestigiar a segurança do tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa fé.

29
DIREITO EMPRESARIAL

Os administradores têm a obrigação de prestar contas justificadas aos sócios de sua adminis-
tração, apresentando-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e o de resulta-
do econômico.

O balanço é preparado levando-se em consideração os valores resultantes do ativo (dinheiro,


imóvel, cessão de crédito) e passivo (empréstimos, pagamentos devidos aos trabalhadores, impos-
tos). Se o patrimônio líquido (ativo menos passivo) for superior ao capital, a sociedade poderá distri-
buir lucros. No entanto, se o patrimônio líquido for inferior ao capital, a sociedade não poderá distri-
buir lucros (intangibilidade do capital social). Se o fizer, estará configurada a distribuição dolosa de
lucros (art. 1.009, CC), levando à responsabilidade solidária dos administradores que a realizaram e
dos sócios que a receberam.

 RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO A UM SÓCIO - DISSOLUÇÃO PAR-


CIAL
A sociedade poderá ser resolvida em relação a um determinado sócio em algumas hipóteses
contempladas nos arts. 1.028 a 1.030, CC. O procedimento de dissolução está contemplado nos arts.
599 a 609, CPC, chamado de dissolução parcial24, expressão utilizada anteriormente pela doutrina
quando a sociedade se resolvia em relação a um sócio.

Uma das hipóteses de dissolução parcial está consagrada no art. 1.028, CC. Havendo a morte
de um dos sócios, nós teremos a liquidação de suas cotas, salvo a) se o contrato dispuser diferente-
mente; b) se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; c) se, por acordo com
os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido25.

A Constituição em seu art. 5º, XX, garante que ninguém é obrigado a associar-se ou a perma-
necer associado. Nesse sentido, o sócio que não deseje permanecer no quadro societário poderá
ceder as suas cotas a um cessionário (art. 1.003, CC) e ficará solidariamente a este responsável, pelo
prazo de 2 anos a contar da averbação.

Porém, além da cessão de cotas, é possível que o sócio exerça o seu direito de recesso (direito
de retirada), ou seja, o seu direito de se retirar da sociedade mediante o pagamento do valor de suas
cotas, através da apuração de haveres. Duas soluções foram adotadas a depender do prazo de dura-
ção da sociedade:
a) sociedade por prazo indeterminado – ocorrerá mediante notificação aos demais sócios,
com antecedência mínima de sessenta dias;
b) sociedade por prazo determinado – provando-se, judicialmente, justa causa.

Enquanto o exercício do direito de retirada da sociedade por prazo indeterminado é realizado


extrajudicialmente, através de simples notificação, a retirada por prazo determinado deve ser reali-
zada judicialmente, uma vez que deverá ser comprovada a justa causa. Em ambas as hipóteses (reti-

24
Enunciado 13, I JD Comercial – A decisão que decretar a dissolução parcial da sociedade deverá indicar a data de desligamento do sócio e
o critério de apuração de haveres.
O STJ no Informativo 595, firmou entendimento no sentido que o sócio de sociedade limitada constituída por tempo indeterminado exerce
o direito de retirada por meio de inequívoca e incontroversa notificação aos demais sócios, a data-base para apuração de haveres é o
termo final do prazo de sessenta dias, estabelecido pelo art. 1.029 do CC/2002. (...) Dessa forma, reconhece-se como data-base para a
apuração de haveres o término do prazo legal, data em que houve o efetivo desligamento de sócio retirante em relação à sociedade. (REsp
1.602.240-MG)
25
Enunciado 221, III, JDC – Diante da possibilidade de o contrato social permitir o ingresso na sociedade do sucessor de sócio falecido, ou
de os sócios acordarem com os herdeiros a substituição do sócio falecido, sem liquidação da cota em ambos os casos, é licita a participação
de sócio de sócio menor em sociedade limitada, estando o capital integralizado, em virtude de inexistência de vedação no CC.

30
DIREITO EMPRESARIAL

rada em sociedade por prazo determinado ou indeterminado, nos trinta dias subsequentes à notifi-
cação), podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.

Uma outra hipótese em que a sociedade se resolve em relação a um sócio é a sua exclusão.
Além da exclusão do sócio remisso, prevista no art. 1.004, parágrafo único, CC, temos a exclusão
judicial contemplada no art. 1.030, CC.

Tal instituto é utilizado para excluir sócio minoritário ou majoritário, uma vez que a delibera-
ção ocorre mediante a iniciativa da maioria dos demais sócios26, nas seguintes hipóteses:
a) por falta grave no cumprimento de suas obrigações (deverá ser provada, não basta a
simples alegação);
b) incapacidade superveniente (sentença transitada em julgado na esfera civil)27.

Temos ainda a hipótese de exclusão de pleno direito do sócio que tenha sido declarado fali-
28
do ou aquele que tenha tido a sua cota liquidada (art. 1.026, CC). Nessa hipótese não há necessi-
dade de um processo judicial, pois ocorrendo qualquer uma dessas hipóteses o sócio poderá ser ex-
cluído.

 APURAÇÃO DE HAVERES
Dispõe o art. 1.031, CC, que, nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio
(dissolução parcial), teremos a liquidação de sua cota (salvo se o contrato não dispuser de forma
diversa) com base na situação patrimonial da sociedade, que será verificada em balanço especial
levantado para essa finalidade.

Ao ocorrer a dissolução parcial, a cota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de 90 dias,
contado da liquidação, salvo se o contrato ou as partes dispuserem de forma diversa.

Em todas as hipóteses de resolução da sociedade, o capital social sofrerá alteração com a res-
pectiva redução, salvo se os demais sócios suprimirem o valor de suas cotas.

26
Informativo 616, STJ - O quórum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta grave no cumprimento de suas obriga-
ções deve levar em conta a maioria do capital social de sociedade limitada, excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende jubilar. Trata-
se, na origem, de ação de dissolução parcial de sociedade limitada proposta pelo espólio do sócio falecido, em que se alega a quebra da
affectio societatis e a prática de concorrência desleal pelo sócio administrador. Na hipótese analisada, não há discussão a respeito da
efetiva quebra da affectio societatis, girando a controvérsia apenas quanto à necessidade de interpretação do art. 1.030 do CC/02 de forma
conjunta ao art. 1.085 do mesmo diploma legal, exigindo-se, portanto, a iniciativa dos sócios detentores da maioria do capital social para a
exclusão por falta grave. Sobre o tema cumpre salientar que, nos termos do Enunciado n. 216/CJF, aprovado na 76 III Jornada de Direito
Civil, "o quorum de deliberação previsto no art. 1.004, parágrafo único, e no art. 1.030 é de maioria absoluta do capital representado pelas
quotas dos demais sócios, consoante a regra geral fixada no art. 999 para as deliberações na sociedade simples". Segundo a doutrina, "a
maioria será computada excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende jubilar. Se o sócio a ser excluído detém a maioria do capital
social da sociedade, a sua exclusão poderá, em tese, se dar por decisão dos sócios restantes, ou seja, por decisão dos sócios minoritá-
rios". Frise-se que interpretação diversa redundaria na impossibilidade de exclusão judicial do quotista majoritário, por mais nocivos que
fossem os seus atos em relação aos interesses e objetivos da sociedade, o que, em determinados aspectos, não se coaduna com o princípio
da preservação da empresa. Assim, o caput do art. 1.030 do Código Civil, ao dispor que a exclusão judicial de sócio majoritário por falta
grave é de "iniciativa da maioria dos demais sócios", determina que apenas as quotas dos sócios minoritários sejam consideradas, excluídas
aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir. Desse modo, na exclusão judicial de sócio em virtude da prática de falta grave não
incide a condicionante prevista no art. 1.085 do CC/02, somente aplicável na hipótese de exclusão extrajudicial de sócio por deliberação da
maioria representativa de mais da metade do capital social, mediante alteração do contrato social. (Informativo n. 616)
27
Enunciado nº 216, III, JDC: O quorum de deliberação previsto no art. 1.004, parágrafo único, e no art. 1.030 é de maioria absoluta do
capital representado pelas quotas dos demais sócios, consoante a regra geral fixada no art. 999 para as deliberações na sociedade simples.
Esse entendimento aplica-se ao art. 1.058, em casos de exclusão de sócio remisso ou redução do valor de sua quota ao montante já inte-
gralizado.
28
Enunciado 481, V, JDC – O insolvente fica de pleno direito excluído das sociedades contratuais das quais seja sócio.

31
DIREITO EMPRESARIAL

Exemplificando: a SOCIEDADE GASTRONOMIA LUXO LTDA é composta pelos sócios Fátima, Flá-
vio e Marina e detém o capital social de R$90.000,000 (noventa mil reais), tendo cada sócio, respec-
tivamente, 33,33% do capital social correspondente R$30.000,00 (trinta mil reais). Imaginem que a
sócia Fátima herda uma herança no valor de R$1.000.000,00 (Um milhão), e resolve exercer o seu
direito de recesso esse retirar. A sociedade fará a apuração do valor de suas cotas (apuração de ha-
veres) através de balanço especial. Em razão da retirada de Fátima, a sociedade terá uma redução no
capital social de R$30.000,00 (trinta mil reais), ou os demais sócios – Marina e Flávio – poderão ad-
quirir as cotas de Fátima.

Importante ressaltar que a retirada, exclusão ou morte do sócio não o exime, ou a seus herdei-
ros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução
da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas obrigações posteriores e em igual prazo, enquanto
não se requerer a averbação (art. 1.032, CC).

 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE
As causas que dão origem à dissolução estão contempladas no art. 1.033, CC. É chamada de
dissolução de pleno direito, que ocorrerá nas seguintes hipóteses:
a) o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não
entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
b) o consenso unânime dos sócios;
c) a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;
d) a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;
e) a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

Importante ressaltar que, na hipótese da alínea d, a sociedade não será dissolvida caso o sócio
remanescente requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da
sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, inclu-
sive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, observado, no
que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115, CC (art. 1.033, parágrafo único, CC).

Além dessas hipóteses de dissolução de pleno direito, temos a possibilidade da dissolução ju-
dicial a requerimento de qualquer dos sócios em duas hipóteses: a) quando anulada a sua constitui-
ção; ou b) quando exaurido o fim social ou verificada a sua inexequibilidade.

O contrato social da sociedade poderá ainda prever outras causas de dissolução, a serem veri-
ficadas judicialmente, quando contestadas.

Após a dissolução de pleno direito, os administradores da sociedade providenciarão a investi-


dura do liquidante. Se não estiver designado no contrato social, o liquidante será eleito por delibera-
ção dos sócios, podendo a escolha recair em pessoa estranha à sociedade. O liquidante será destituí-
do a qualquer tempo nas hipóteses consagradas no art. 1.038, §1º, CC.

Já na dissolução judicial, a nomeação do liquidante será realizada pelo juiz.

Ao ocorrer a dissolução, os administradores deverão se abster de praticar as operações que


antes realizavam e irão se restringir à gestão própria dos negócios inadiáveis. Se após a dissolução
permanecerem praticando os atos de gestão, responderão solidária e ilimitadamente.

32
DIREITO EMPRESARIAL

 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO


A sociedade em nome coletivo encontra-se disciplinada nos art. 1.039 a. 1.045, CC. Esse mode-
lo de sociedade pode ser utilizado por sociedades simples (não exercem empresa - registro no RCPJ)
ou empresárias (exercem empresa - registro no RPEM – Junta Comercial).

É o único tipo societário em que todos os sócios respondem de forma solidária e ilimitada-
mente pelas obrigações sociais. Sendo assim, sempre que os bens da sociedade não forem suficien-
tes para saldar o seu débito junto aos credores, os sócios terão o seu patrimônio pessoal atingido
depois de exauridos os bens da sociedade (a responsabilidade é subsidiária: primeiro o credor execu-
ta os bens da sociedade para, posteriormente, adentrar no patrimônio particular do sócio – em razão
da aplicação da figura do benefício de ordem – art. 1.024, CC).

Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo ou


por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um. Mas, essa limita-
ção de responsabilidade não poderá ser oposta a terceiros, uma vez que a responsabilidade dos só-
cios perante terceiros será sempre solidária e ilimitada. Justamente em razão dessa responsabilidade
ilimitada e solidária, com o surgimento das sociedades limitadas, esse tipo societário caiu em desuso
no nosso ordenamento.

Nesse tipo societário são admitidos como sócios apenas pessoas físicas, sendo vedada a sua
constituição por pessoa jurídica.

Aplica-se às sociedades em nome coletivo, na omissão do seu capítulo (arts. 1.039 a 1.045, CC)
as normas referentes à sociedade simples (arts. 997 a 1.038, CC).

O ato constitutivo (contrato social) da sociedade em nome coletivo deverá mencionar, além do
disposto no art. 997, CC, a firma social, afastando a denominação utilizada pelas sociedades simples.

A firma social corresponde ao nome empresarial (identifica o empresário ou sociedade empre-


sária). A expressão companhia pode ser utilizada por extenso ou de forma abreviada, desde que ve-
nha ao final do nome empresarial, para identificar que existem outros sócios além daqueles mencio-
nados no nome empresarial.

A administração da sociedade compete exclusivamente aos sócios – sendo portanto vedada a


administração por terceiros não sócios –, sendo o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos
que tenham os necessários poderes.

O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade, pretender a liquida-
ção da quota do devedor, exceto quando a sociedade houver sido prorrogada tacitamente ou quan-
do, tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição do credor, levantada
no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato dilatório (art. 1.045, CC).

Aplicam-se às sociedades em nome coletivo as hipóteses de dissolução de pleno direito, con-


templada no art. 1.033, bem como a dissolução judicial prevista no art. 1.034, CC. Se sociedade for
empresária, a mesma também poderá ser dissolvida pela declaração da falência.

 SOCIEDADE COMANDITA SIMPLES


A sociedade em comandita simples encontra-se prevista nos art. 1.045 a 1.051, CC. Também
caiu em desuso, tendo em vista a responsabilidade ilimitada e solidária de uma das modalidades de

33
DIREITO EMPRESARIAL

sócios. A sociedade em comandita simples poderá ser empresária (exerce empresa – registro no
RPEM) ou simples (não exerce empresa – registro no RCPJ).

Esse tipo societário, por contemplar duas modalidades de sócios, deverá discriminar no con-
trato social: a) os sócios comanditados, que devem ser obrigatoriamente pessoas físicas e respon-
dem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e b) os sócios comanditários, que podem
ser pessoas físicas ou jurídicas e são responsáveis limitadamente pelo valor de suas cotas. Aos sócios
comanditados cabem os mesmos direitos e obrigações dos sócios da sociedade em nome coletivo.

Os sócios comanditários podem participar das deliberações da sociedade e fiscalizar as opera-


ções, mas sem praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome incluído na firma social, sob pena de
ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado.

O nome empresarial operará sob a modalidade ‘firma social’, mas somente deverão constar no
nome empresarial os sócios comanditados.

Exemplificando: Sonia, Emanuelle, Ariela e Fernanda resolvem constituir uma sociedade em


comandita simples. Sendo Sonia e Emanuelle os sócios comanditados e Ariela e Fernanda os sócios
comanditários. Somente poderá figura na firma o nome dos sócios comanditados.

O nome empresarial poderá ser precedido da expressão “companhia”, por extenso ou de for-
ma abreviada, para indicar que existem outros sócios. O nome empresarial da sociedade em coman-
dita simples é idêntico ao da sociedade em nome coletivo, uma vez que os dois operam sobre a mo-
dalidade “firma social” e podem utilizar a expressão ‘companhia’ ao final do nome empresarial
quando houverem outros sócios. Sendo assim, na prática, somente conseguiremos identificar o tipo
‘societário’ analisando o contrato social.

A administração da sociedade deverá ser exercida exclusivamente pelo sócio comanditado. Se


o sócio comanditário atuar na administração ou tiver seu nome incluído na razão social, responderá
ilimitadamente e solidariamente com o comanditado.

Os sócios comanditários possuem todos os direitos dos sócios comanditados, como: fiscaliza-
ção, direito de votar nas deliberações sociais ou, ainda, a participar dos lucros. Podem também ser
constituídos como procuradores da sociedade, para negócio determinado e com poderes especiais.

O sócio comanditário não é obrigado a repor os lucros recebidos de boa-fé e de acordo com o
balanço social. Mas, na hipótese de diminuição do capital social em razão de perdas supervenientes,
este ficará proibido de receber lucros até que recomposto o capital social.

Na hipótese de redução do capital social, sem prejuízos aos credores preexistentes, a diminui-
ção da quota do comanditário (responde limitadamente) somente produzirá efeitos quanto a tercei-
ros após averbada a modificação do contrato.

Ocorrendo a morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo disposição do contrato, continu-


ará com os seus sucessores, que designarão quem os represente.

A dissolução da sociedade em nome coletivo ocorrerá pelas hipóteses previstas no art. 1.044,
CC, e, ainda, quando a sociedade permanecer unipessoal por mais de 180 dias (art. 1.051, CC). Quan-
do a ausência de pluralidade de sócio for na modalidade “comanditado”, os comanditários nomearão
administrador provisório para praticar, durante esse prazo de 180 dias, os atos da administração,
sem assumir a condição de sócio, mas apenas de administrador provisório.

34
DIREITO EMPRESARIAL

Aplicam-se à sociedade em comandita simples as normas da sociedade em nome coletivo, que


é regida subsidiariamente pelas normas de sociedade “simples pura” (art. 997 a 1.038, CC).

 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES


A Lei n. 6.404/76 regula as sociedades por ações. Existem duas sociedades por ações previstas
em nosso ordenamento: a) sociedade anônima, e; b) sociedade em comandita por ações.

A sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em ações, regendo-se pela LSA
sem prejuízo das modificações constantes nos arts. 1.090 a 1.092, CC.

O nome empresarial opera-se sob a modalidade firma ou denominação e precedidos da ex-


pressão “comandita por ações”.

A responsabilidade dos acionistas pode ser limitada ou ilimitada. Somente o acionista tem
qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas
obrigações da sociedade, e se houver mais de um diretor, serão solidariamente responsáveis, depois
de esgotados os bens sociais. Os demais sócios respondem de forma limitada.

A nomeação dos diretores será realizada no ato constitutivo da sociedade, sem limitação de
tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação de acionistas que representem no míni-
mo dois terços do capital social.

Na hipótese de destituição ou exoneração o diretor continua responsável durante dois anos,


pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.

A assembleia geral não pode, sem o consentimento dos diretores, mudar o objeto essencial da
sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital social, criar debêntures,
ou partes beneficiárias.

 SOCIEDADE LIMITADA
Trata-se do tipo societário mais novo em nosso ordenamento. A sociedade limitada é um tipo
societário personificado que se encontra previsto nos arts. 1.052 a 1.087, CC. Pode ser de natureza
empresária ou simples.

A sociedade limitada será constituída por um contrato que pode ser por instrumento público
ou particular e deverão conter todos os requisitos previstos no art. 997, CC, resguardadas suas pecu-
liaridades, que serão estudadas no decorrer desse capítulo (art. 1.054, CC).

 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
A sociedade limitada encontra-se regulada no Capítulo IV, dos arts. 1.052 a 1.087, CC. Na omis-
são desse capítulo, dispõe o art. 1.053, CC, que se aplica a sociedade limitada naquilo em que forem
compatíveis as normas de sociedade simples previstas dos arts. 997 a 1.038, CC. A aplicação é subsi-
diária, não sendo necessário previsão contratual.

Dispõe o art. 1.053, parágrafo único, CC, a possibilidade de o contrato social prever ainda a a-
plicação supletiva das normas da Lei n. 6.404/76 (LSA) às sociedades limitadas. Se o contrato social
não determinar a possibilidade de aplicação supletiva, ainda assim as normas da LSA poderão ser

35
DIREITO EMPRESARIAL

aplicadas às LTDA’s desde que o assunto seja omisso no Código Civil (aplicação por analogia – art. 4º,
LINDB).

 RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS


A sociedade limitada é um dos tipos societários mais utilizados em razão da responsabilidade
dos sócios. A sociedade limitada responde perante os seus credores ilimitadamente (com todo o seu
patrimônio), havendo a limitação da responsabilidade apenas para os sócios. Cada sócio tem a sua
responsabilidade restrita ao valor de sua cota, mas todos respondem solidariamente pela integraliza-
ção do capital social39.

Exemplificando: Imaginem que a sociedade RESTAURANTE MAMUSCA LTDA, é formada pelos


sócios Laís, Larissa, Pryscilla e Jaqueline. O capital social da sociedade corresponde à R$100.000,00
(cem mil reais), divididos em cotas iguais de R$1.000,00 (mil reais). Imaginem que cada uma das só-
cias subscreveu 25% do valor das cotas. Do valor subscrito pelos sócios, cada um realizaria no ato da
assinatura do contrato o valor correspondente a R$15.000,00 (quinze mil reais) e o restante 6 meses
depois. Ocorre que, seis meses depois, no momento de realizar o que estava faltando, todos os só-
cios honraram com o pagamento das cotas subscritas, exceto a sócia Larissa.

Realizou (assi-
Realizou (6
Subscreveu natura do con- Integralização
meses depois)
trato)
25 % cotas – 15% cotas – 10% cotas – 25 % cotas –
Laís
R$25.000,00 R$15.000,00 R$10.000,00 R$25.000,00
25 % cotas – 15% cotas – R$ Não pagou no FALTA INTE-
Larissa
R$25.000,00 15.000,00 prazo GRALIZAR
25 % cotas – 15% cotas – R$ 10% cotas – 25 % cotas –
Pryscilla
R$25.000,00 15.000,00 R$10.000,00 R$25.000,00
25 % cotas – 15% cotas – R$ 10% cotas – 25 % cotas –
Jaqueline
R$25.000,00 15.000,00 R$10.000,00 R$25.000,00
Valor pago no total R$90.000,00

Sendo assim, resta para integralização do capital social o valor de R$10.000,00 (dez mil reais),
que foi subscrito por Larissa, mas não foi integralizado. A integralização ocorre quando todo o capital
social subscrito é realizado (pago) integralmente. Sendo assim, as demais sócias (Laís, Pryscilla e Ja-
queline) são solidariamente responsáveis pela integralização do capital social (R$10.000,00) perante
terceiros. Se um dos sócios for demandado e pagar a cota do sócio remisso (aquele que subscreveu e
não integralizou) poderá cobrar desse, regressivamente, o valor pago.

Notem que a solidariedade entre os sócios é apenas pela integralização do capital perante ter-
ceiros. Uma vez integralizado o capital, cada sócio tem a sua responsabilidade limitada ao valor de
suas cotas.

Existem, porém, algumas hipóteses em que os sócios responderão pelas obrigações sociais:

39
Não devemos confundir subscrição, realização e integralização. A subscrição é a palavra empregada quando o sócio se compromete a
pagar para a sociedade o valor da aquisição de suas cotas. Realização é o pagamento das frações do capital social. E integralização é quan-
do todo o valor da cota foi pago.

36
DIREITO EMPRESARIAL

a) Art. 1.080, CC: quando os sócios aprovarem deliberações infringentes do contrato ou da


lei;
b) Nas hipóteses de execução trabalhista (aplicação na desconsideração da personalidade
jurídica), sendo necessária apenas a insolvência da sociedade para sua aplicação;
c) Dívidas de INSS (Lei n°11.941/09);
d) Art. 1.055, §1º, CC: responsabilidade solidária pela exata estimação dos bens;
e) Art. 1.059, CC: distribuições de lucros fictícios;
f) Quando o ato constitutivo da sociedade não for levado a registro no órgão competente
(será regida pelas disposições de sociedade comum);
g) Art. 50, CC: quando os sócios atuarem com abuso da personalidade.

 CAPITAL SOCIAL E COTAS


Não devemos confundir capital social com patrimônio da sociedade. Enquanto o capital social
representa a cifra contábil resultante da contribuição do sócio, o patrimônio é formado pelo ativo e o
passivo da sociedade.

O capital social é a cifra contábil (presente em todas as sociedades) que resultará da contribui-
ção dos sócios. O capital social é divido em cotas iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada
sócio. O sistema adotado é a divisão de cotas por igual valor. O valor nominal das cotas deve vir ex-
presso no contrato social.

O nosso ordenamento veda as chamadas cláusulas leoninas, que excluem os sócios de partici-
parem dos lucros da sociedade. Todavia, a distribuição de lucros pelos sócios fica condicionada à
obtenção efetiva de lucros pela sociedade.

Pelo princípio da intangibilidade do capital social, não pode haver a distribuição de lucros
quando esta se der em prejuízo do capital social. Nos casos de distribuição de lucros “fictícias”, os
sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer título, ainda que
autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capital.

Os lucros não se confundem com o pró-labore, uma vez que este será devido ao sócio que ha-
bitualmente preste serviço para a sociedade como administrador.

O conceito de cota adotado por Sergio Campinho40 utiliza-se da formulação apresentada por
Egberto Lacerda Teixeira:
“cota é a entrada, ou contingente de bens, coisas ou valores com o qual cada sócio
contribui ou se obriga a contribuir para a formação do capital social”.

A sociedade limitada pode prever em seu contrato social as cotas preferenciais, conferindo aos
sócios algumas preferências (exemplo: prioridade no recebimento de dividendos), desde que não
restrinja os seus direitos como cotistas (exemplo: recebimento de lucros; exclusão de algum direito
em face dos interesses dos demais sócios; não poderão proibir o direito de voto).

As cotas ou ações podem ser penhoradas por dívida particular dos sócios, observada a ordem
de preferência do art. 835, IX, c/c art. 876, §7º, CPC. No caso de penhora das cotas, a sociedade será

40
Ob. Cit. Pág. 166

37
DIREITO EMPRESARIAL

intimada para que os sócios possam exercer o direito de preferência para aquisição das cotas levadas
à penhora.

Em relação à sociedade, a cota é indivisível, salvo para efeito de transferência (em que deve
ser observado o art. 1056, CC).

Na sociedade limitada, é possível o condomínio de cota. Nesse caso, os direitos a ela inerentes
somente podem ser exercidos pelo condômino representante ou pelo inventariante do espólio de
sócio falecido, uma vez que os direitos dos sócios não podem ser exercidos de forma fracionada.

 INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL


Uma das obrigações dos sócios é a integralização do valor de suas cotas. O sócio que subscre-
ve e não integraliza é chamado de sócio remisso. A sociedade irá notificar esse sócio para que este,
no prazo de 30 dias a contar da notificação, integralize as cotas que foram subscritas. Não havendo
a integralização das cotas, a sociedade poderá:
a) ajuizar a ação de execução (contrato social é título executivo extrajudicial);
b) redução da participação do sócio ao montante já realizado;
c) excluir o sócio remisso da sociedade, reduzindo o capital social; ou os sócios poderão ex-
cluir o sócio remisso e tomar para si ou transferir as cotas para terceiros;
d) indenização pelos danos emergentes da mora (art. 1.004, parágrafo único, c/c art. 1.058,
CC).

Na hipótese de os sócios optarem pela redução da participação do sócio remisso ao montante


já integralizado, haverá algumas opções quanto ao valor das cotas que não foram integralizadas. A
primeira é optar pela redução do valor do capital social; a segunda é aquisição das cotas que não
foram integralizadas pela sociedade, pelos sócios ou por um terceiro. Se a própria sociedade adquirir
as cotas do sócio remisso, nesse caso, haverá supressão do direito de voto (a sociedade não vota, e
sim os sócios) e do direito à participação nos lucros da sociedade (os lucros são repartidos entre os
sócios). No momento em que forem adquiridas por terceiros ou pelos sócios, tais vedações não serão
aplicadas. A aquisição das cotas pela sociedade pode estar prevista expressamente no contrato, pode
ocorrer pela aplicação supletiva das normas da LSA nas LTDA’s ou por decisão unânime dos sócios.

Nas hipóteses de exclusão, a sociedade deverá ressarcir ao sócio excluído o que este já houver
pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas (art.
1.058, CC).

O capital social pode ser integralizado à vista ou a prazo (parcelado) com: a) dinheiro; b) bens;
e c) crédito. É vedada a contribuição do sócio que consista em serviço, chamado de “sócio indústria”
(art. 1.055, §1º, CC).

Exceto nas hipóteses de regência supletiva da LSA (art. 8º), se o capital social for integralizado
com bens, os sócios indicarão o seu valor no contrato social – nesse caso, pela exata estimação con-
ferida ao capital social, responderão solidariamente todos os sócios pelo prazo de 5 anos, contados
da data do registro da sociedade (art. 1.056, §1º, CC).

A regra é a escritura pública para integralização do capital social com bens imóveis. Tal regra é
excetuada pelo disposto no art. 35, VII, Lei n. 8.934/94, que afirma não ser necessária a escritura

38
DIREITO EMPRESARIAL

pública aos contratos sociais ou suas alterações em que haja a incorporação de imóvel à sociedade,
por instrumento particular, quando o instrumento de contrato previr:
a) descrição e identificação do imóvel, sua área, dados relativos à sua titulação, bem como
o número da matrícula no registro imobiliário;
b) a outorga uxória ou marital, quando necessária;

Após a averbação do contrato social por instrumento particular, a Junta Comercial emitirá uma
certidão que comprova a transferência do bem para a sociedade (art. 64, Lei n. 8.934/94). Havendo
desincorporação desse bem imóvel, a escritura pública será obrigatória.

O ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) não incidirá na hipótese de o capital social
ser integralizado com imóvel ou na sua desincorporação (art. 156, §2º, I, CF, c/c art. 36, parágrafo
único, Código Tributário Nacional - CTN).

Se a integralização do capital social ocorrer com cessão de crédito, aplicaremos o disposto no


art. 1.005, CC, que trata da solidariedade entre o devedor e o cedente (sócio que cedeu o crédito
como forma de integralização do capital). Afastamos a aplicação da regra do art. 296, CC, que dispõe
que o cedente não responde pela solvência do devedor.

 CESSÃO DE COTAS
O contrato social deverá especificar se as cotas podem ou não ser transferidas, havendo omis-
são do contrato, a cessão de cotas entre os sócios é livre. Ou seja, o sócio pode ceder sua cota, total
ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente da anuência dos demais.

Se, porém, a cessão de cotas ocorrer entre um sócio e um terceiro, estranho ao contrato soci-
al, não poderá haver a oposição de titulares de mais de ¼ do capital social (25% capital social). Se os
sócios que representam mais de ¼ do capital social não manifestarem objeção à cessão de cotas,
esta poderá ser realizada, com a respectiva averbação no RPEM, uma vez que a cessão de cotas so-
mente terá eficácia quanto à sociedade e a terceiros a partir da averbação do respectivo instrumen-
to, subscrito pelos sócios anuentes (art. 1.057, parágrafo único, CC).

Ocorrendo a cessão de cotas, aplicamos o disposto no arts. 1.003, parágrafo único, e 1.032, CC,
que estipula a solidariedade do cedente (sócio que cedeu as cotas) com o cessionário (sócio que ad-
quiriu as cotas) pelo prazo de 2 anos, contados da averbação.

 NOME EMPRESARIAL
A sociedade limitada pode adotar como nome empresarial o uso da firma social ou denomina-
ção integradas pela palavra final “limitada” ou a sua abreviatura (LTDA).

Se adotar como nome empresarial a firma social, esta será composta com o nome de um ou
mais sócios, desde que sejam pessoas físicas, de modo indicativo da relação social. Já a denominação
deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios.

Os administradores que empregarem a firma ou denominação sem o vocábulo “limitada”, res-


pondem solidária e ilimitadamente perante terceiros. O uso da firma social ou denominação social é
privativo dos administradores que tenham os necessários poderes (art. 1.064, CC).

39
DIREITO EMPRESARIAL

 REGISTRO
Como a sociedade limitada pode ser de natureza simples ou empresária, o local de registro
dependerá da natureza da sociedade.

Se a sociedade limitada for de natureza simples (não exerce empresa) o local de registro será o
Registro Civil de Pessoa Jurídica (RCPJ). Por exemplo, uma sociedade formada por dois profissionais
intelectuais.

Se a sociedade limitada for de natureza empresária (exerce empresa – art. 966, caput, CC) o
local do registro será o Registro Público de Empresa Mercantil (RPEM).

 ADMINISTRAÇÃO
O administrador pode ser ou não sócio da sociedade, desde que seja pessoa física (natural)41,
uma vez que aplicamos subsidiariamente, nas omissões do capítulo das limitadas, as normas do capí-
tulo de sociedade simples (arts. 997, VI, e art. 1.061, §2º, CC). O doutrinador José Edwaldo Tavares
Borba discorda desse entendimento e sustenta que a sociedade limitada pode ser administrada por
pessoa jurídica42.

A administração poderá ser realizada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social
ou em ato separado. Se a administração for atribuída no contrato a todos os sócios, tal atribuição
não será estendida de pleno direito aos que posteriormente adquiram a qualidade de sócios (art.
1.060, parágrafo único, CC).

A nomeação e a destituição do administrador, sócio ou não, nomeado no contrato social ou


em ato separado, dependerá do seguinte quórum de aprovação:

ADMINISTRADOR NOMEAÇÃO DESTITUIÇÃO


Quórum de aprovação de una-
nimidade enquanto o capital Quórum de aprovação de mais
social não estiver integraliza- da metade do capital social ½
NÃO SÓCIO NOMEA- do. (maioria absoluta) indepen-
DO NO CONTRATO OU dente da nomeação ser no
Quórum de aprovação de 2/3 contrato ou em ato separado.
EM ATO SEPARADO
se o capital estiver integraliza-
do. Arts. 1.071, III, c/c art. 1.076, II,
CC.
Art. 1.063, § 1º, CC
Destituição de administrador
Nomeação de administrador nomeado no contrato social: o
SÓCIO NOMEADO NO no contrato social: ¾ do capital quórum será de 2/3 do capital
CONTRATO social. social, salvo disposição contra-
Art. 1.076, I, CC tual.
Art. 1.063, § 1º, CC
Nomeação feita em ato sepa- Destituição de administrador
SÓCIO NOMEADO EM rado depende de quórum de nomeado em ato separado: o
ATO SEPARADO aprovação de mais da metade quórum de aprovação de mais
do capital social ½ (maioria da metade do capital social ½

41
Nesse sentido IN do DREI 10/2013 impede a administração de sociedade limitada por pessoa jurídica. Esse é o entendimento da doutrina
majoritária.
42
Ob. Cit. Pág. 125

40
DIREITO EMPRESARIAL

absoluta). (maioria absoluta).


Arts. 1.071, II, c/c Art. 1.076, II,
CC.

Quando a nomeação do administrador for realizada em ato separado, será necessária a res-
pectiva averbação do ato de nomeação e investidura no cargo através de termo de posse no livro de
atas da administração. E, não sendo o termo assinado nos 30 dias seguintes à designação, a nomea-
ção não terá efeito (art. 1.061, §§ 1º, 2º, CC).

Dispõe o art. 1.065, CC, que o administrador, ao término de cada exercício social, procederá à
elaboração do inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico.

Os poderes do administrador serão fixados no contrato social e, no silêncio, os administrado-


res poderão praticar todos os atos regulares de gestão, exceto a venda ou a alienação (art. 1.015,
CC).

Se o administrador agir respeitando os poderes que a ele forem designados no contrato, ou


aqueles no exercício regular gestão, não responderá pessoalmente pelas obrigações sociais e seus
atos obrigarão a sociedade.

O administrador não responde pelos atos ordinários que pratica em nome da sociedade (art.
1.022, CC). Por isso, a responsabilidade do administrador é subjetiva, pois depende da apreciação
de dolo ou culpa na sua atuação. É necessário, porém analisar algumas situações em que os adminis-
tradores respondem.

Sua responsabilização ocorrerá por seus atos comissivos (age com excesso) e omissivos (deixa
de agir) ou nas hipóteses previstas no art. 1.015, parágrafo único, CC (trabalhadas no capítulo de
sociedade simples), hipótese em que a responsabilidade da sociedade será afastada.

Na hipótese de responsabilidade tributária do administrador, o STJ tem entendimento de que


o administrador não será responsabilizado se restar comprovado que o tributo não foi recolhido pela
sociedade por não possuir recursos suficientes (art. 135, III, CTN).

 CONSELHO FISCAL
O conselho fiscal é órgão de atuação facultativa nas sociedades limitadas. Se existir, sua com-
posição será de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no País.

É assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos 1/5 do capital social, o
direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente.

A eleição dos membros do conselho fiscal será realizada em assembleia anual (art. 1.066, c/c
art. 1.078, CC).

A competência do conselho fiscal é fiscalização dos atos de administração e sua atuação além
das hipóteses previstas no contrato ou aquelas elencadas abaixo:
Art. 1.069. (...)
I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da
caixa e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informa-
ções solicitadas;

41
DIREITO EMPRESARIAL

II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos
no inciso I deste artigo;
III - exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual dos sócios parecer sobre os
negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balan-
ço patrimonial e o de resultado econômico;
IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à
sociedade;
V - convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua
convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes;
VI - praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este ar-
tigo, tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação.

O art. 1.068 § 1º, CC, traz o rol dos impedidos de fazerem parte do conselho fiscal. Além dos
inelegíveis enumerados no § 1º do art. 1.011, CC, não poderão fazer parte os membros dos demais
órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos res-
pectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau.

A investidura do membro ou suplente do conselho fiscal depende da assinatura do termo de


posse lavrado no livro de atas e, não sendo realizada nos trinta dias seguintes ao da eleição, esta se
tornará sem efeito (art. 1.067, CC).

A remuneração dos membros do conselho fiscal será fixada, anualmente, pela assembleia dos
sócios que os eleger.

 DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS


Os sócios têm o direito de participar das deliberações sociais (arts. 1.072 c/c 1.010, CC). As de-
liberações poderão ser tomadas por reunião ou assembleia, conforme previsto no contrato, sendo
obrigatória a realização por assembleia quando o número de sócios for superior a 10.

As decisões que dependem de deliberação dos sócios deverão observar o quórum do art.
1.076, CC, de acordo com as matérias do art. 1.071, CC.

QUORUM (ressalvado o disposto nos arts.


MATÉRIA
1.061 e 1.063, §1º, CC)
I - a aprovação das contas da administra-
Pela maioria dos votos presentes
ção;
II - a designação dos administradores, Mais da ½ do capital social (maioria abso-
quando feita em ato separado; luta)
Mais da ½ do capital social (maioria abso-
III - a destituição dos administradores;
luta)
IV - o modo de sua remuneração, quando Mais da ½ do capital social (maioria abso-
não estabelecido no contrato; luta)
Pelos votos correspondentes a no mínimo
V - a modificação do contrato social;
¾ do capital social
VI - a incorporação, a fusão e a dissolução
Pelos votos correspondentes a no mínimo
da sociedade, ou a cessação do estado de
¾ do capital social
liquidação;

VII - a nomeação e destituição dos liqui- Pela maioria dos votos presentes

42
DIREITO EMPRESARIAL

dantes e o julgamento das suas contas;

O anúncio da convocação da assembleia de sócios será publicado 3 vezes em órgão oficial e


jornal de grande circulação, devendo ser respeitado o prazo mínimo da data da 1ª publicação (8 dias
antes da assembleia) e 2ª publicação (5 dias antes da assembleia). Dispensa-se as formalidades do
art. 1.152, §3º, CC, quando todos os sócios comparecerem e declararem-se, por escrito, cientes do
local, data, hora e ordem do dia.

A reunião ou assembleia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem por escri-
to, sobre a matéria que seria objeto de deliberação (art. 1.072, § 3º, CC).

O quórum de instalação da assembleia em 1ª convocação deverá ser de ¾ do capital social e,


em 2ª convocação, com qualquer número (art. 1.074, CC).

A legitimidade para convocação da assembleia pertence ao administrador judicial, mas tam-


bém poderão ser convocadas pelos sócios ou conselho fiscal nas hipóteses elencadas no art. 1.073,
CC.

As deliberações que sejam tomadas em conformidade com a lei ou o contrato vinculam todos
os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes.

A sociedade deverá realizar uma assembleia, ao menos uma vez por ano, nos quatro meses se-
guintes ao término do exercício social, com objetivo de tomar as contas do administrador e deliberar
sobre o balanço patrimonial e o resultado econômico, além de designar administradores, quando for
necessário, e tratar de outras matérias da ordem do dia.

Extingue-se em dois anos o direito de anular a aprovação do balanço patrimonial e resultado


econômico (art. 1.078 e seus parágrafos) que, quando aprovadas, desoneram os administradores e
membros do conselho fiscal (se houver).

 AUMENTO E REDUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL


O capital social da sociedade, após estar devidamente integralizado, pode sofrer aumento pe-
los sócios com a respectiva alteração no contrato social, averbada no órgão competente.

Na hipótese de aumento do capital social, também aplicaremos a regra do art. 1.052, CC, no
tocante à responsabilidade solidária dos sócios pela integralização do capital social. Para realização
do aumento do capital é necessário voto favorável de ¾ do capital social (art. 1.076, I, CC).

Na hipótese de aumento do capital social, os sócios terão o prazo de 30 dias após a delibera-
ção que aprova o aumento do capital social para exercer o seu direito de preferência na proporção
de suas cotas. Decorrido esse prazo e após os sócios ou terceiros assumirem as novas cotas, haverá
uma reunião ou assembleia para que seja aprovada a modificação do contrato. O exercício do direito
de preferência pode ser objeto de cessão nos termos do art. 1.081, §2º, CC.

O aumento do número de cotas gera o exercício do direito de preferência aos sócios na pro-
porção de suas cotas. Exemplo: A sociedade CANTA QUE OS MALES ESPANTA LTDA é formada pelos
sócios: Jarbas, Luiz Paulo, Barbara e Eduardo. Se cada um detém 25% do valor das cotas, cada um
terá o direito de preferência de 25% na subscrição das novas cotas, no prazo de 30 dias, contados da
data da deliberação.

43
DIREITO EMPRESARIAL

Já a redução do capital social somente poderá ocorrer nas hipóteses previstas no art. 1.082,
CC:
I - Depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis, reduzindo o capital proporcional-
mente ao valor nominal das cotas, tornando-se efetiva a partir da averbação;
II - Se excessivo em relação ao objeto da sociedade, restituindo-se parte do valor das cotas aos
sócios, ou dispensando-se as prestações ainda devidas, com diminuição proporcional, do valor
nominal das cotas.

A deliberação que aprova a redução deverá ser publicada abrindo-se prazo de 90 dias aos cre-
dores quirografários para manifestarem oposição. A redução só ocorrerá se não houver impugnação
dos credores ou na hipótese de comprovação do pagamento ou de depósito do valor devido ao cre-
dor que impugnou o ato. Depois de satisfeitas as condições, proceder-se-á à respectiva averbação no
órgão competente.

 RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO A SÓCIO - DISSOLUÇÃO PARCIAL


Além das hipóteses de resolução da sociedade em relação a um sócio (dissolução parcial) tra-
balhadas no capítulo de sociedade simples que serão aplicadas as sociedades limitadas, o capítulo de
limitada contempla outra hipótese de dissolução parcial prevista do art. 1.085, CC. Sendo assim, a
dissolução parcial poderá ocorrer nas seguintes hipóteses:
a) Morte do sócio (art. 1.028, CC)
b) Exercício do direito de retirada (art. 1.029, CC)
c) Exclusão judicial (art.1.030, CC)
d) Exclusão de pleno direito (art. 1.030, parágrafo único, CC)
e) Exclusão extrajudicial (arts. 1.085 e 1.086, CC)
f) Direito de Recesso – (art. 1.077, CC)

Havendo a morte de um dos sócios, nós teremos a liquidação de suas cotas, salvo a) se o con-
trato dispuser diferentemente; b) se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;
c) se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido43.

A Constituição em seu art. 5º, XX, garante que ninguém é obrigado a associar-se ou a perma-
necer associado. Nesse sentido, o sócio que não deseje permanecer no quadro societário poderá
ceder as suas cotas a um cessionário (art. 1.003, CC) e ficará solidariamente a este responsável, pelo
prazo de 2 anos a contar da averbação.

Porém, além da cessão de cotas, é possível que o sócio exerça o seu direito de retirada, ou se-
ja, o seu direito de se retirar da sociedade mediante o pagamento do valor de suas cotas, através da
apuração de haveres. Duas soluções foram adotadas a depender do prazo de duração da sociedade:
a) sociedade por prazo indeterminado – ocorrerá mediante notificação aos demais sócios,
com antecedência mínima de sessenta dias;
b) sociedade por prazo determinado - provando-se, judicialmente, justa causa.

43
Enunciado 221, III, JDC – Diante da possibilidade de o contrato social permitir o ingresso na sociedade do sucessor de sócio falecido, ou
de os sócios acordarem com os herdeiros a substituição do sócio falecido, sem liquidação da cota em ambos os casos, é licita a participação
de sócio de sócio menor em sociedade limitada, estando o capital integralizado, em virtude de inexistência de vedação no CC.

44
DIREITO EMPRESARIAL

Enquanto o exercício do direito de retirada da sociedade por prazo indeterminado é realizado


extrajudicialmente, através de simples notificação, a retirada por prazo determinado deve ser reali-
zada judicialmente, uma vez que deverá ser comprovada a justa causa. Em ambas as hipóteses (reti-
rada em sociedade por prazo determinado ou indeterminado, nos trinta dias subsequentes à notifi-
cação), podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.

Uma outra hipótese em que a sociedade se resolve em relação a um sócio é a sua exclusão.
Além da exclusão do sócio remisso, prevista no art. 1.004, parágrafo único, CC, temos a exclusão
judicial contemplada no art. 1.030, CC.

Tal instituto é utilizado para excluir sócio minoritário ou majoritário, uma vez que a delibera-
ção ocorre mediante a iniciativa da maioria dos demais sócios44, nas seguintes hipóteses: a) por falta
grave no cumprimento de suas obrigações (deverá ser provada, não basta a simples alegação); b)
incapacidade superveniente (sentença transitada em julgado na esfera civil)45.

Temos ainda a hipótese de exclusão de pleno direito do sócio que tenha sido declarado fali-
do46 ou aquele que tenha tido a sua cota liquidada (art. 1.026, CC). Nessa hipótese não há necessi-
dade de um processo judicial, pois ocorrendo qualquer uma dessas hipóteses o sócio poderá ser ex-
cluído.

Na hipótese de exclusão extrajudicial, são necessários os seguintes requisitos:


a) é necessário deliberação com a maioria dos sócios, representando mais de ½ do capital
social;
b) praticar a falta grave (justa causa praticada pelo sócio);
c) previsão contratual autorizando a exclusão por justa causa;
d) a deliberação em assembleia ou reunião especialmente convocada para essa finalidade,
para que o sócio que pretende ser excluído possa exercer o seu direito de defesa/voz (am-
pla defesa e contraditório).

Se o sócio que for excluído considerar que não havia a justa causa (falta grave), tal decisão po-
derá ser objeto de apreciação pelo poder judiciário.

44
Informativo 616, STJ - O quórum deliberativo para exclusão judicial do sócio majoritário por falta grave no cumprimento de suas obriga-
ções deve levar em conta a maioria do capital social de sociedade limitada, excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende jubilar. Trata-
se, na origem, de ação de dissolução parcial de sociedade limitada proposta pelo espólio do sócio falecido, em que se alega a quebra da
affectio societatis e a prática de concorrência desleal pelo sócio administrador. Na hipótese analisada, não há discussão a respeito da
efetiva quebra da affectio societatis, girando a controvérsia apenas quanto à necessidade de interpretação do art. 1.030 do CC/02 de forma
conjunta ao art. 1.085 do mesmo diploma legal, exigindo-se, portanto, a iniciativa dos sócios detentores da maioria do capital social para a
exclusão por falta grave. Sobre o tema cumpre salientar que, nos termos do Enunciado n. 216/CJF, aprovado na 76 III Jornada de Direito
Civil, "o quorum de deliberação previsto no art. 1.004, parágrafo único, e no art. 1.030 é de maioria absoluta do capital representado pelas
quotas dos demais sócios, consoante a regra geral fixada no art. 999 para as deliberações na sociedade simples". Segundo a doutrina, "a
maioria será computada excluindo-se do cálculo o sócio que se pretende jubilar. Se o sócio a ser excluído detém a maioria do capital
social da sociedade, a sua exclusão poderá, em tese, se dar por decisão dos sócios restantes, ou seja, por decisão dos sócios minoritá-
rios". Frise-se que interpretação diversa redundaria na impossibilidade de exclusão judicial do quotista majoritário, por mais nocivos que
fossem os seus atos em relação aos interesses e objetivos da sociedade, o que, em determinados aspectos, não se coaduna com o princípio
da preservação da empresa. Assim, o caput do art. 1.030 do Código Civil, ao dispor que a exclusão judicial de sócio majoritário por falta
grave é de "iniciativa da maioria dos demais sócios", determina que apenas as quotas dos sócios minoritários sejam consideradas, excluídas
aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir. Desse modo, na exclusão judicial de sócio em virtude da prática de falta grave não
incide a condicionante prevista no art. 1.085 do CC/02, somente aplicável na hipótese de exclusão extrajudicial de sócio por deliberação da
maioria representativa de mais da metade do capital social, mediante alteração do contrato social. (Informativo n. 616)
45
Enunciado nº 216, III, JDC: O quorum de deliberação previsto no art. 1.004, parágrafo único, e no art. 1.030 é de maioria absoluta do
capital representado pelas quotas dos demais sócios, consoante a regra geral fixada no art. 999 para as deliberações na sociedade simples.
Esse entendimento aplica-se ao art. 1.058, em casos de exclusão de sócio remisso ou redução do valor de sua quota ao montante já inte-
gralizado.
46
Enunciado 481, V, JDC – O insolvente fica de pleno direito excluído das sociedades contratuais das quais seja sócio.

45
DIREITO EMPRESARIAL

No direito de recesso ou nas hipóteses de exclusão ou morte, o sócio continua responsável pe-
las obrigações sociais anteriores pelo prazo de 2 anos, contados da data da averbação da saída do
sócio.

 DIREITO DE RECESSO
A doutrina diverge sobre a possibilidade de aplicação do art. 1.029, CC, quanto ao exercício do
direito de retirada do sócio para as sociedades limitadas. Jose Edwaldo Tavares Borba sustenta não
ser possível a aplicação do referido dispositivo, devendo-se aplicar o disposto no art. 1.077, CC47. Já
Sergio Campinho sustenta ser possível a aplicação do art. 1.029, desde que haja a quebra da affectio
societatis, justificando a retirada do sócio dissidente48.

O direito de recesso encontra-se consagrado no art. 1.077, CC, dispondo que quando houver
modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio
que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subsequentes à reunião, aplicando-
se, no silêncio do contrato social antes vigente, o disposto no art. 1.031, CC.

Nesses casos, o direito de recesso deverá ser realizado no prazo de 30 dias contados da data
de realização da reunião ou assembleia que deliberou acerca das matérias previstas no art. 1.077, CC.

Uma vez realizado o recesso, a sociedade terá que fazer o reembolso do valor das cotas do só-
cio dissidente, com base em balanço especial, que observará o disposto no art. 1.031, CC49.

As cotas do sócio dissidente deverão ser liquidadas e pagas em dinheiro, no prazo de 90 dias,
salvo acordo ou estipulação contratual em sentido diverso. (art. 1031, §2º, CC).

 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE
Aplicamos à limitada as hipóteses de dissolução de pleno direito do art. 1.033, dissolução judi-
cial art. 1.034, CC, e ainda pela decretação da falência prevista no art. 1.044, CC (quando for de natu-
reza empresária), por força do disposto no art. 1.087, CC.

47
Ob. Cit. Pág. 148 a 151
48
Ob. Cit. Pág. 221 a 226
49
DIREITO EMPRESARIAL. CRITÉRIOS PARA A APURAÇÃO DE HAVERES DO SÓCIO RETIRANTE DE SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPON-
SABILIDADE LIMITADA. No caso de dissolução parcial de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, prevalecerá, para a apura-
ção dos haveres do sócio retirante, o critério previsto no contrato social se o sócio retirante concordar com o resultado obtido, mas, não
concordando, aplicar-se-á o critério do balanço de determinação, podendo-se utilizar conjuntamente a metodologia do fluxo de caixa
descontado para se aferir, inclusive, o patrimônio intangível da sociedade. No RE 89.464-SP (Segunda Turma, DJ 4/5/1979), acerca da
apuração de haveres decorrente de dissolução parcial, a Suprema Corte desenvolveu o raciocínio de que se deveria conceber uma forma
de liquidação que assegurasse, concomitantemente, a preservação do empreendimento e uma situação de igualdade entre os sócios. Em
respeito a essa premissa, mesmo que o contrato social eleja critério para a apuração de haveres, esse somente prevalecerá caso haja a
concordância das partes com o resultado alcançado. Em outras palavras, se o sócio retirante não concordar com o resultado obtido pela
aplicação do critério de apuração de haveres previsto no contrato social, facultar-se-á a ele a adoção da via judicial, a fim de que seja
determinada a melhor metodologia de liquidação. Nesse mesmo julgado (RE 89.464-SP), o STF decidiu que “deve ser assegurada ao sócio
retirante situação de igualdade na apuração de haveres, fazendo-se esta com a maior amplitude possível, com a exata verificação, física
e contábil, dos valores do ativo”. Ademais, a doutrina, ao comentá-lo, observa que o voto condutor se baseou no fato de que a saída do
dissidente “não poderia lhe acarretar resultado patrimonial pior do que se fosse promovida a dissolução total”. O STJ, ao assumir o papel
uniformizador da legislação infraconstitucional, ratificou esse entendimento, fixando que, “na dissolução de sociedade de responsabili-
dade limitada, a apuração de haveres [...] há de fazer-se como se dissolução total se tratasse”, salientando que a medida “tem por
escopo preservar o quantum devido ao sócio retirante [...], evitando-se o locupletamento indevido da sociedade ou sócios remanescen-
tes em detrimento dos retirantes” (REsp 35.702-SP, Terceira Turma, DJ 13/12/1993). Entendimento que, aliás, prevaleceu em outros
julgados do STJ (REsp 89.519-ES, Terceira Turma, DJ 4/8/1997; REsp 105.667-SC, Quarta Turma, DJ 6/11/2000; e REsp 197.303-SP, Quarta
Turma, DJ 15/4/2002). Nesse contexto, a Terceira Turma do STJ, há tempos (REsp 24.554-SP, DJ 16/11/1992, e 35.702-SP, DJ
13/12/1993), já decidiu que o melhor critério de liquidação de haveres a ser utilizado seria o chamado balanço de determinação, que
refletiria o valor patrimonial real da empresa (...).REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para
acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2015, DJe 27/3/2015 (Informativo 558).

46
DIREITO EMPRESARIAL

A sociedade, uma vez dissolvida, ainda não é considerada extinta, devendo ser nomeado liqui-
dante. Após o pagamento de todo passivo e partilhado o remanescente, o liquidante convocará as-
sembleia para prestação das contas. Aprovadas as contas, a liquidação será encerrada e a sociedade
será extinta com a averbação no registro próprio da respectiva ata da assembleia, findando a sua
personalidade jurídica. O sócio dissidente terá o prazo de 30 dias para promover ação que couber
(arts. 1.108 e 1.109, CC).

 SOCIEDADE ANÔNIMA
Diferente das sociedades contratuais reguladas pelo Código Civil, as sociedades por ações são
reguladas pela Lei n. 6.404/76 (LSA). Esse tipo societário é um dos mais utilizados na prática no Brasil,
tornando-se extremante atrativo para empreendimentos de grande porte. Segundo Jose Edwaldo
Tavares Borba a sociedade anônima conheceu três sistemas distinto de formação50, conforme qua-
dro abaixo:

SOCIEDADE ANÔNIMA

AUTORIZAÇÃO
ATO DE GOVERNO - OUTORGA LIVRE CRIAÇÃO - REGULAMENTAÇÃO
“A sociedade era criada
(Séculos XVII e XVII) – “Conces- “São livremente criadas pelos funda-
pelos interessados, mas
são do Estado aos interessados, dores, impondo-se apenas, obrigatori-
esse ato de criação de-
através de um ato legislativo”. edade do arquivamento dos atos cons-
pendia de preliminar auto-
titutivos no Registro de Empresas”.
rização do Governo”.

O sistema de livre criação das sociedades anônimas vigora hoje em nosso ordenamento, mas
não podemos deixar de mencionar que algumas sociedades dependem de autorização prévia do
Governo para que possam funcionar no Brasil (ex. Instituições financeiras – que dependem de autori-
zação do Banco Central)51.

 CARACTERÍSTICAS DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS


As sociedades anônimas (companhias) são sociedades institucionais, seu ato constitutivo é um
estatuto social.

As sociedades por ações são sempre de natureza empresária, independentemente do seu ob-
jeto, ou seja, ainda que não explore atividade econômica e organizada. Por trata-se de companhia
mercantil, qualquer que seja o seu objeto, ela rege-se pelas leis e usos do comércio. O objeto da
companhia pode ser qualquer empresa que tenha fim lucrativo, desde que não seja contrário à Lei, à
ordem pública e aos bons costumes.

50
Ob. Cit. Pág. 153. “Nos séculos XVII e XVII vigorou o sistema de privilégios, sendo a criação de uma sociedade anônima um ato de gover-
no. Não era a sociedade fruto da vontade das partes, mas sim uma concessão do Estado aos interessados, através de um ato legislativo,
que definia o regime especial daquela sociedade, não aplicável as demais. Passou depois ao sistema de autorização. Neste, a sociedade era
criada pelos interessados, mas esse ato de criação dependia de preliminar autorização do Governo. Finalmente, sobreveio o sistema de
livre criação, que é atualmente vigorante. As sociedades anônimas são livremente criadas pelos fundadores, impondo-se apenas, tal como
acontece com as demais sociedades comerciais, obrigatoriedade do arquivamento dos atos constitutivos no Registro de Empresas”.
51
Art. 2º, I, Regulamento Anexo à Resolução Nº 4.122/12

47
DIREITO EMPRESARIAL

A regra é que as companhias são sociedades capitalistas52 (intuito pecúnia), prevalece a con-
tribuição pecuniária de cada acionista para formação do capital social, pouco importando a figura dos
sócios (acionistas). Por isso, via de regra, as ações da companhia são transferíveis a terceiros livre-
mente, salvo as exceções em que o estatuto de companhia fechada impõe limitações a circulação de
ações nominativas (art. 36, LSA).

O capital social da companhia é divido em ações, diferente das sociedades contratuais em


que o capital social é divido em cotas.

A responsabilidade dos acionistas é limitada ao preço de emissão de suas ações subscritas ou


adquiridas. Não existe na sociedade anônima solidariedade pela integralização do capital social, co-
mo ocorre nas sociedades limitadas. Sendo assim, uma vez realizado o pagamento das ações subscri-
tas ou adquiridas, os acionistas não têm responsabilidades pelas dívidas53, e sim a sociedade, que
responderá sempre perante os credores com todo o seu patrimônio.

 NOME EMPRESARIAL - DENOMINAÇÃO


As sociedades anônimas: operam sob denominação designativa do objeto social, integradas
das expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, por extenso ou de forma abreviada, devendo
a última ser empregada no inicio ou no meio do nome empresarial. Exemplo: “Companhia Vale do
Rio Doce” - “Via Varejo S/A”

A sociedade anônima que utilizar a expressão “companhia”, está não poderá inseri-la ao final
do nome empresarial (art. 3º, LSA). Podendo a expressão “Cia” constar no início ou no meio do nome
empresarial54 (Exemplo: “Companhia Siderúrgica”). Tal restrição é imposta para não haver confusão
entre o nome empresarial da Sociedade Anônima com as sociedades em nome coletivo ou comandi-
ta por ações.

Permitiu o legislador tanto no Código Civil como na LSA que possa constar no nome empresa-
rial o nome do acionista, fundador ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da empresa (art.
1.160, parágrafo único, CC c/c art. 3º, §1º, LSA).

Nos atos e publicações referentes à companhia em constituição, sua denominação deverá ser
aditada da cláusula “em organização”.

 ESPÉCIES DE COMPANHIA
As sociedades anônimas podem ser: a) companhia aberta, ou; b) companhia fechada. O art. 4º,
LSA determina que a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão
estejam ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários.

52
Resp. 917.531 – RS – Sociedade Anônima de capital fechado e cunho familiar existência da Affectio Societatis (...)Fabio Konder Compara-
to, citado por Renato Ventura Ribeiro, elucida com percuciência a figura da moderna sociedade personalista: (...) a velha classificação das
sociedades de capitais e de pessoas (...) aparece agora subvertida; ou melhor, a clivagem entre as espécies passa no interior do próprio
direito acionário. Se ainda é aceitável classificar a companhia aberta na categoria das sociedades de capital, pelo seu caráter marcadamen-
te institucional, a companhia fechada já apresenta características de sociedades de pessoa, animada por uma affectio societatis que se
funda no intuitus personae. Ao contrário da simples consideração dos capitais, na companhia fechada prepondera, tanto entre os acionis-
tas quanto perante terceiros, a confiança e a consideração pessoal (Exclusão de sócio nas sociedades Anônimas – São Paulo. Quartier Latin,
2005, p. 44 e 45).
53
Salvo as exceções previstas em lei, como por exemplo, desconsideração da personalidade jurídica.
54
Tal redação do art. 3º vem sendo objeto de críticas, uma vez que a redação do art. 1.160, CC, não possui a mesma vedação. Além disso,
Sergio Campinho reforça que, enquanto na S.A. deve constar a expressão “companhia”, por extenso ou de forma abreviada, na sociedade
em comandita simples ou nome coletivo a expressão “e companhia”, também por extenso ou de forma abreviada, não havendo motivo
para vedação. Ob. Cit. P. 371

48
DIREITO EMPRESARIAL

A companhia fechada é aquela que não negocia os seus valores mobiliários (ações debêntu-
res, bônus de subscrição, certificado de deposito de valores mobiliários e comercial paper) no mer-
cado de valores mobiliários (bolsa de valores e mercado de balcão). Nas companhias fechadas a cap-
tação de recursos não se dá por apelo a poupança pública e sim por investimento dos próprios acio-
nistas.

A exposição de motivos da LSA55 aduz que toda a companhia que faz apelo – por mínimo que
seja – à poupança pública, cria, ao ingressar no mercado de capitais, relações que não existem na
companhia fechada, e que exigem disciplina própria para proteção da economia popular e no inte-
resse do funcionalismo regular e do desenvolvimento do mercado de valores mobiliários.

A companhia aberta é aquela cujos seus valores mobiliários (ações debêntures, bônus de
subscrição, certificado de deposito de valores mobiliários e comercial paper) de emissão, estejam
admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários (bolsa de valores e mercado de balcão).
Ressalta-se que o fato da companhia ser aberta não significa dizer que ela tenha que negociar seus
valores mobiliários. Por esta razão a lei menciona que seus valores mobiliários podem ou não ser
admitidos à negociação, ficando a critério da companhia negocia-los ou não.

Para que as companhias abertas possam negociar seus valores mobiliários no mercado de va-
lores mobiliários é necessário registro na Comissão de Valores Mobiliários56 - CVM. Sendo vedado,
portanto, a distribuição pública de valores mobiliários no mercado sem prévio registro na Comissão
de Valores Mobiliários57.

A Comissão de Valores Mobiliários poderá classificar as companhias abertas em categorias,


segundo as espécies e classes dos valores mobiliários por ela emitidos negociados no mercado, e
especificará as normas sobre companhias abertas aplicáveis a cada categoria58. Atualmente existem
duas categorias: Categoria A e Categoria B.

As espécies de valores mobiliários que podem ser emitidos por uma companhia encontram-se
enumerados no art. 2º, Lei n. 6.385/76:
Art. 2º. (...)
I - as ações, debêntures e bônus de subscrição;
II - os cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos
aos valores mobiliários referidos no inciso II;
III - os certificados de depósito de valores mobiliários;
IV - as cédulas de debêntures;
V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investi-
mento em quaisquer ativos;
VI - as notas comerciais;
VII - os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes sejam
valores mobiliários;
VIII - outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subjacentes; e

55
http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/leis-decretos/anexos/EM196-Lei6404.pdf <Acesso em 13/02/2018>
56
Art. 21, Lei 6.385/76 – A Comissão de Valores Mobiliários manterá (...) I – Registro para negociação na Bolsa; II – Registro para negocia-
ção no Mercado de Balcão.
57
Art. 19, Lei 6.385/76 – Nenhuma emissão pública de valores mobiliários será distribuída no mercado sem o prévio registro na CVM.
58
Nos termos do art. 2º, da Instrução Normativa Nº 480/2009 foram criadas duas categorias: I) Categoria A – que autoriza a negociação
de quaisquer valores mobiliários do emissor em mercados regulamentados de valores mobiliários; II) Categoria B – que autorização a
negociação de valores mobiliários do emissor em mercados regulamentados de valores mobiliários, exceto: ações e certificados de depósi-
tos de ações; ou valores mobiliários que confiram ao titular o direito de adquirir as ações e certificados de depósitos de ações, em conse-
quência da conversão ou do exercício dos direitos que lhe são inerentes, desde que emitidos pelo próprio emissor ou por sociedade per-
tencente ao grupo emissor.

49
DIREITO EMPRESARIAL

IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investi-


mento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclu-
sive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empre-
endedor ou de terceiros.

O mercado de valores mobiliários compreende a bolsa de valores e mercado de balcão.

 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM


A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade autárquica em regime especial, vinculada
ao Ministério da Fazenda, dotada de personalidade jurídica, criada em 07/12/1976 pela Lei n.
6.385/76, com o objetivo de: a) fiscalizar, b) normatizar, c) disciplinar, e; d) desenvolver o mercado
de valores mobiliários no Brasil.

Quanto às funções que a CVM possui podemos destacar: fiscalização, regulamentação, consul-
tiva ou de orientação, registro, disciplinar e sancionatória, e propositória:
1. Função De Fiscalização: fiscalizar permanentemente as atividades e serviços do mercado
de valores mobiliários; fiscalizar e inspecionar as companhias abertas. (art. 8º, III e IV, Lei n.
6.385/76)

2. Função de Regulamentação: atos normativos das matérias previstas nas Leis n. 6.404/76
e 6.385/76. (art. 8º, I, 18 e 22, Lei n. 6.385/76)

3. Função Consultiva ou de Orientação: junto aos agentes do mercado de valores mobiliá-


rios ou de qualquer investidor. (art. 13, Lei n. 6.385/76)

4. Função de Registro: administrar os registros instituídos pela lei; os registros para negoci-
ação na bolsa e no mercado de balcão organizado ou não; prévio registro para emissão pú-
blica de valores mobiliários. (arts. 8º, I, 19 e 21, Lei n. 6.385/76)

5. Função Sancionatória e Disciplinar: impor aos infratores das normas previstas na Lei
6404/76, de suas resoluções ou outras normas podendo aplicar advertência, multa ou sus-
pensão do exercício do cargo de administrador ou conselho fiscal de companhia aberta, de
entidade do sistema de distribuição ou de outras entidades. (arts. 11 e 32, Lei n. 6.385/76)

6. Função Propositória: propor ao Conselho Monetário Nacional eventual fixação de limites


máximo de preço, comissões, emolumentos e quaisquer outras vantagens cobradas por in-
termédio do mercado. (art. 8º, IV, Lei n. 6.385/76)

 MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS – MERCADO DE CAPITAIS


O mercado de capitais se divide em: a) bolsa de valores; b) mercado de balcão – balcão organi-
zado e balcão não organizado.

A Bolsa de Valores no Brasil é organizada na forma de uma sociedade anônima. Opera sob a
supervisão (regulação e fiscalização) da CVM. Dentre os valores mobiliários que podem ser negocia-
dos na Bolsa de Valores o principal são as ações.

A Bolsa de Valores opera no chamado mercado secundário. A negociação no mercado secun-


dário ocorre quando os acionistas da companhia têm interesse em vender suas ações subscritas

50
DIREITO EMPRESARIAL

(mercado primário) ou adquiridas (mercado primário). Ou seja, os acionistas que desejam vender
suas ações o fazem colocando-as a disposição na Bolsa de Valores.

A Bolsa de Valores principal do Brasil é a B³ (Brasil, Bolsa, Balcão), sediado no Estado de São
Paulo, surgiu após a fusão da Bolsa de Valores mercado Futuro de São Paulo (BM & FBOVESPA59) com
a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (CETIP). A fusão foi aprovada pela CVM e
pelo CADE em 201760.

Importante destacarmos o Novo Mercado61 composto por empresas que voluntariamente se


comprometem a adotar as práticas de governança coorporativa62 adicionais às exigências previstas
na legislação. Para que a companhia possa entrar no chamado Novo Mercado é necessária à assina-
tura de um contrato que implica a adesão de regras societárias, conhecidas como “boas práticas de
governança coorporativa”. O objetivo dessas regras dentre outros é ampliar os direitos dos acionis-
tas, melhoria na qualidade das informações prestadas pela companhia, determina a resolução de
conflitos societários por meio de uma Câmara de Arbitragem, oferecendo aos investidores uma segu-
rança mais ágil e especializada.

O Mercado de Balcão realiza as operações que ocorrem fora da Bolsa de Valores. O Mercado
de Balcão opera no chamado mercado secundário (revenda) ou no mercado primário (subscrição). O
mercado primário é aquele em que o titular negocia diretamente com a companhia para compra. Por
exemplo: quando a companhia aumenta o seu capital social e coloca novas ações no mercado.

O Balcão Organizado (ambiente informatizado e transparente de registro) possui uma estrutu-


ra organizada para negociação de valores mobiliários e títulos. Segundo Jose Edwaldo Tavares Borba
é “desenvolvido por entidades (associações ou sociedades) que se constituam com finalidade especí-
fica de manter um sistema adequado de negociações de títulos e valores mobiliários de renda variá-
vel, sob a fiscalização dessas entidades, que devem promover o seu registro e divulgação63”. No Bra-
sil a instituição responsável por administrar o mercado de balcão organizado é a Sociedade Operado-
ra do Mercado de Ativos – SOMA64. Podem operar na SOMA, por exemplo, as corretoras de valores.

Considere-se realizada em mercado de balcão não organizado (não existe um local físico ou
um sistema que seja eletrônico organizado) a negociação de valores mobiliários em que intervém,
como intermediário, “I - as instituições financeiras e demais sociedades que tenham por objeto dis-
tribuir emissão de valores mobiliários: a) como agentes da companhia emissora; b) por conta própria,
subscrevendo ou comprando a emissão para a colocar no mercado; II - as sociedades que tenham por
objeto a compra de valores mobiliários em circulação no mercado, para os revender por conta pró-
pria; III - as sociedades e os agentes autônomos que exerçam atividades de mediação na negociação

59
A BM & FBOVESPA foi criada em 2008 fruto da fusão entre a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) com a Bolsa de Mercadorias e
Futuros (BM&F).
60
https://br.investing.com/news/mercado-de-a%C3%A7%C3%B5es-e-financeiro/cvm-aprova-fus%C3%A3o-entre-bm-amp;fbovespa-e-
cetip-234503 <Acesso em 13/02/2018>
61
Disponível em: http://www.bovespa.com.br/empresas/novomercadoniveis/novomercado.asp e
http://web.archive.org/web/20091029104348/http://www.bovespa.com.br/empresas/novomercadoniveis/novomercado.asp <Acesso em:
13/02/2018>
62
“Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo
os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. As
boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade
de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade
da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum”. Disponível em: http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/governanca-
corporativa <Acesso em 13/02/2018>
63
Ob. Cit. Pág. 182.
64
Foi adquirida pela BM&FBOVESPA (B³) e passou a chamar-se SOMA FIX.

51
DIREITO EMPRESARIAL

de valores mobiliários, em bolsas de valores ou no mercado de balcão”; sem que o negocio seja re-
gistrado em mercado organizado65.

Nos termos do art. 4º, parágrafo único, da Instrução Normativa n. 461/07, CVM, também será
considerada como de balcão não organizado a negociação de valores mobiliários em que intervém,
como parte, integrante do sistema de distribuição66, quando tal negociação resultar do exercício da
atividade de subscrição de valores mobiliários por conta própria para revenda em mercado ou de
compra de valores mobiliários em circulação para revenda por conta própria.

 CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA


A constituição de uma sociedade anônima tem um procedimento próprio, diferente da consti-
tuição das sociedades reguladas pelo código civil que se realiza através de um contrato.

O procedimento de constituição das sociedades anônimas envolve três etapas distintas:


1. Requisitos preliminares;
2. Constituição propriamente dita;
3. Providências complementares.

No tocante aos requisitos preliminares para constituição da companhia é necessário (art. 80,
LSA):
I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em que se divide o ca-
pital social fixado no estatuto;

Nota-se que no Brasil não existem sociedades unipessoais, sendo necessária a pluralidade de
sócio para constituição de uma sociedade, ressalvado as exceções previstas em lei, como por exem-
plo, a subsidiária integral67 (art. 251, LSA).

A subscrição das ações pode ser realizada por uma pessoa física ou jurídica. O termo subscre-
ver significa adquirir as ações, comprometendo-se com o pagamento (realização), nos termos acor-
dado. A subscrição poderá ser pública ou privada.

II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão
das ações subscritas em dinheiro;

Importante salientar que existem companhias que possuem um valor de realização de entrada
superior a 10 %, como ocorre, por exemplo, com as instituições financeiras, cujo valor de realização
de entrada é de 50%68.

65
Instrução Normativa Nº 461/2007, Art. 3º Considera-se mercado organizado de valores mobiliários o espaço físico ou o sistema eletrôni-
co, destinado à negociação ou ao registro de operações com valores mobiliários por um conjunto determinado de pessoas autorizadas a
operar, que atuam por conta própria ou de terceiros.
66
Art. 15, Lei 6.385/76. O sistema de distribuição de valores mobiliários compreende:
I - as instituições financeiras e demais sociedades que tenham por objeto distribuir emissão de valores mobiliários: a) como agentes da
companhia emissora; b) por conta própria, subscrevendo ou comprando a emissão para a colocar no mercado;
II - as sociedades que tenham por objeto a compra de valores mobiliários em circulação no mercado, para os revender por conta própria;
III - as sociedades e os agentes autônomos que exerçam atividades de mediação na negociação de valores mobiliários, em bolsas de valores
ou no mercado de balcão;
IV - as bolsas de valores.
V - entidades de mercado de balcão organizado
VI - as corretoras de mercadorias, os operadores especiais e as Bolsas de Mercadorias e Futuros; e
VII - as entidades de compensação e liquidação de operações com valores mobiliários.
67
Art. 251, LSA. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo como único acionista sociedade brasileira.

52
DIREITO EMPRESARIAL

É possível ainda que os fundadores determinem um valor de realização de entrada superior a


10%.

III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancário autorizado


pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro.

O fundador deverá depositar o valor (10% de entrada) no prazo de 5 dias contados do recebi-
mento das quantias, em nome do subscritor e a favor da sociedade em organização, que só poderá
levantá-lo após haver adquirido personalidade jurídica.

Na hipótese da companhia não se constitua dentro de 6 meses da data do depósito, as quanti-


as depositadas deverão ser restituídas pelo banco diretamente aos subscritores.

 SUBSCRIÇÃO PÚBLICA
A constituição da companhia por subscrição pública ocorre nas hipóteses em que há clamor
aos investidores/público. Não existe um grupo de pessoas pré-determinado, há um apelo ao público
para os que desejam investir na da sociedade em constituição.

A subscrição pública69 depende da divulgação ao público em geral, por quaisquer meios, como
por exemplo, corretores, agentes, estabelecimentos abertos ao público (lojas), serviços públicos de
comunicação, folhetos, prospectos ou anúncios destinados ao público em geral.

Para subscrição pública é necessário ainda o prévio registro da emissão na Comissão de Valo-
res Mobiliários. O pedido de registro de emissão obedecerá às normas expedidas pela Comissão de
Valores Mobiliários e será instruído com: a) o estudo de viabilidade econômica e financeira do em-
preendimento; b) o projeto do estatuto social; c) o prospecto, organizado e assinado pelos fundado-
res e pela instituição financeira intermediária. Sem o registro na CVM não será possível à subscrição
pública.

A CVM poderá condicionar o registro a modificações no estatuto ou no prospecto e denegá-lo


por inviabilidade ou temeridade do empreendimento, ou inidoneidade dos fundadores. Mas a nega-
tiva deverá ser pautada em fundamentos legais.

Além do prévio registro na CVM será necessário que a intermediação seja realizada por uma
instituição financeira (underwriting)70, que será remunerada pelo serviço desempenhado.

O projeto de estatuto é indispensável e deverá satisfazer a todos os requisitos exigidos para os


contratos das sociedades mercantis em geral e aos peculiares às companhias, e conterá as normas
pelas quais se regerá a companhia (art. 83, LSA).

O prospecto deverá mencionar, com precisão e clareza, as bases da companhia e os motivos


que justifiquem a expectativa de bom êxito do empreendimento e em especial aqueles previstos no
art. 84, LSA, como por exemplo, valor do capital a ser subscrito, modo de sua realização; numero e
68
Art. 27, Lei 4595/64. Na subscrição do capital inicial e na de seus aumentos em moeda corrente, será exigida no ato a realização de, pelo
menos 50% (cinquenta por cento) do montante subscrito.
69
O art. 19, da Lei 6.385/76 elenca os requisitos necessários para caracterização de uma emissão pública: I - a utilização de listas ou bole-
tins de venda ou subscrição, folhetos, prospectos ou anúncios destinados ao público; II - a procura de subscritores ou adquirentes para os
títulos por meio de empregados, agentes ou corretores; III - a negociação feita em loja, escritório ou estabelecimento aberto ao público, ou
com a utilização dos serviços públicos de comunicação.
70
O contrato de intermediação realizado entre a companhia e a instituição financeira é chamado de “underwriting”. A instituição financei-
ra será responsável em colocar a subscrição pública das ações no mercado de capitais e receberá uma remuneração pelo serviço realizado.

53
DIREITO EMPRESARIAL

espécies de ações em que divide o capital social, valor nominal das ações, instituição financeira in-
termediária do lançamento, dentre outros.

No ato da subscrição das ações a serem realizadas em dinheiro, o subscritor pagará a entrada e
assinará a lista ou o boletim individual autenticado pela instituição autorizada a receber as entradas,
qualificando-se pelo nome, nacionalidade, residência, estado civil, profissão e documento de identi-
dade, ou, se pessoa jurídica, pela firma ou denominação, nacionalidade e sede, devendo especificar o
número das ações subscritas, a sua espécie e classe, se houver mais de uma, e o total da entrada (art.
85, LSA).

A subscrição poderá ser feita, nas condições previstas no prospecto, por carta à instituição,
com as declarações prescritas acima e através de pagamento da entrada.

Depois de encerrada a subscrição e havendo subscrito todo o capital social e depositado a en-
trada na instituição financeira, a fase preliminar de constituição estará encerrada, e daremos inicio a
fase de constituição propriamente dita.

Os fundadores deverão convocar a assembleia geral que deverá promover a avaliação dos
bens (se a integralização ocorrer com bens é necessário à avaliação de 3 (três) peritos ou uma pessoa
jurídica especializada) e deliberar sob a constituição da companhia.

Os anúncios de convocação da assembleia deverão mencionar hora, dia e local da reunião e


serão inseridos nos jornais em que houver sido feita a publicidade da oferta de subscrição.

INSTALAÇÃO DA ASSEMBLEIA DE CONSTITUIÇÃO


Com a presença de subscritores que representem, no mínimo,
1º Convocação:
metade do capital social.
2º Convocação: Com qualquer número.

Na assembleia, presidida por um dos fundadores e secretariada por subscritor, será lido o reci-
bo de depósito, bem como discutido e votado o projeto de estatuto.

Cada ação dá direito a um voto, independentemente de sua espécie ou classe. A maioria não
tem poder para alterar o projeto de estatuto.

Verificando-se que foram observadas as formalidades legais e não havendo oposição de subs-
critores que representem mais da metade do capital social, o presidente declarará constituída a
companhia, procedendo-se, a seguir, à eleição dos administradores e fiscais. (art. 87, §3º, LSA)

Depois de lida e aprovada pela assembleia, todos os subscritores presentes deverão assinar
(ou quantos bastem à validade da deliberação) a ata da reunião (lavrada em duplicata). Um exemplar
será destinado ao registro de comércio e o outro ficará em poder da companhia.

A doutrina dominante entende que a Sociedade adquire personalidade jurídica com a constitu-
ição propriamente dita e não com o arquivamento e publicação dos atos constitutivos.

54
DIREITO EMPRESARIAL

 SUBSCRIÇÃO PARTICULAR
A subscrição particular diferente da subscrição pública não se faz por clamor aos investido-
res/público em geral, não depende de autorização prévia da CVM e contratação de instituição finan-
ceira como intermediária. Na subscrição particular os próprios fundadores escolhem seus investido-
res até que todo o capital esteja subscrito. Considerando fundadores todos os subscritores.

A constituição da companhia por subscrição particular do capital pode fazer-se por:


I) Deliberação dos subscritores em Assembleia-Geral: nesse caso deverá ser observado o
procedimento previsto nos arts. 86 e 87, LSA, devendo ser entregues à assembleia o projeto
do estatuto, assinado em duplicata por todos os subscritores do capital, e as listas ou bole-
tins de subscrição de todas as ações.

Convocação de Assembleia Assembleia de Constituição


Art. 87. A assembleia de constituição instalar-se-á, em pri-
meira convocação, com a presença de subscritores que
representem, no mínimo, metade do capital social, e, em
segunda convocação, com qualquer número.
Art. 86. Encerrada a subscrição e
§ 1º Na assembleia, presidida por um dos fundadores e
havendo sido subscrito todo o
secretariada por subscritor, será lido o recibo de depósito
capital social, os fundadores
de que trata o número III do artigo 80, bem como discutido
convocarão a assembleia-geral
e votado o projeto de estatuto.
que deverá:
§ 2º Cada ação, independentemente de sua espécie ou
I - promover a avaliação dos
classe, dá direito a um voto; a maioria não tem poder para
bens, se for o caso (artigo 8º);
alterar o projeto de estatuto.
II - deliberar sobre a constituição
§ 3º Verificando-se que foram observadas as formalidades
da companhia.
legais e não havendo oposição de subscritores que repre-
Parágrafo único. Os anúncios de sentem mais da metade do capital social, o presidente de-
convocação mencionarão hora, clarará constituída a companhia, procedendo-se, a seguir, à
dia e local da reunião e serão eleição dos administradores e fiscais.
inseridos nos jornais em que
§ 4º A ata da reunião, lavrada em duplicata, depois de lida e
houver sido feita a publicidade da
aprovada pela assembleia, será assinada por todos os subs-
oferta de subscrição.
critores presentes, ou por quantos bastem à validade das
deliberações; um exemplar ficará em poder da companhia e
o outro será destinado ao registro do comércio.

II) Por escritura pública: que deverá ser assinada por todos os subscritores, e conterá:
a) a qualificação dos subscritores, nos termos do artigo 85, LSA;
b) o estatuto da companhia;
c) a relação das ações tomadas pelos subscritores e a importância das entradas pagas;
d) a transcrição do recibo do depósito referido no número III do artigo 80, LSA;
e) a transcrição do laudo de avaliação dos peritos, caso tenha havido subscrição do capi-
tal social em bens (artigo 8, LSA);
f) a nomeação dos primeiros administradores e, quando for o caso, dos fiscais (art. 88,
§2º, LSA).

55
DIREITO EMPRESARIAL

Depois de cumpridos os requisitos preliminares e realizada a constituição propriamente dita,


passamos a analise das providências complementares.

A companhia não poderá funcionar sem arquivar e publicar seu ato constitutivo (estatuto). O
arquivamento no Registro Público de Empresa Mercantil (junta comercial) deverá ser realizado den-
tro de 30 dias contados de sua assinatura, a cuja data retroagirá os efeitos do arquivamento.

A publicação deverá ocorrer na Impressa Oficial ou em jornal de grande circulação. (art. 98,
LSA).

Como mencionado à constituição de uma companhia por subscrição particular poderá ocorrer
por escritura pública ou assembleia-geral, enquanto que na Subscrição pública somente por assem-
bleia-geral. Se a companhia tiver sido constituída por escritura pública, bastará o arquivamento de
certidão do instrumento. Se a companhia for constituída por deliberação em Assembleia Geral, deve-
rão ser arquivados todos os documentos previstos no art. 95, LSA.

Caberá ao Registro Público de Empresa Mercantil verificar se estão presentes os requisitos le-
gais obrigatórios para constituição da companhia e as cláusulas do contrário, sendo vedadas cláusu-
las contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes.

Se ficar constato qualquer irregularidade ou ausência de qualquer documento e o arquivamen-


to for negado, os primeiros administradores deverão convocar imediatamente a assembleia-geral
para sanar a falta ou irregularidade, ou autorizar as providências que se fizerem necessárias, e depois
de sanado a Junta Comercial arquivará o ato constitutivo.

Os prejuízos causados pela demora no cumprimento das formalidades complementares à sua


constituição serão de responsabilidade solidária dos primeiros administradores, não respondendo a
companhia, salvo deliberação em contrário na assembleia, pelos atos e operações por ele praticados
antes de cumpridas as formalidades de constituição.

 CAPITAL SOCIAL
O capital é a cifra contábil que corresponde aos valores que os acionistas contribuíram para a
formação do capital. O capital social representa a garantia dos credores. Podemos destacar como
princípios norteadores do capital social:
a) unidade (capital único);
b) fixidez (capital fixo, não pode ser variável – exceção cooperativa);
c) intangibilidade (capital não pode ser utilizado para os outros fins que não sejam o objeto
da sociedade);
d) realidade (capital deve ser real, sob pena de responsabilização dos sócios).

Não devemos confundir capital social com patrimônio da sociedade. Enquanto o capital social
representa a cifra contábil resultante da contribuição do acionista, o patrimônio é formado pelo ativo
e o passivo da sociedade.

O capital social da companhia será fixado no estatuto e deverá ser expresso em moeda nacio-
nal.

56
DIREITO EMPRESARIAL

As formas de integralização do capital social na sociedade anônima podem ser com dinheiro,
bens (materiais ou imateriais) ou créditos (todo crédito de natureza móvel).

O subscritor ou acionista responderá pela solvência do devedor, quando a entrada consistir em


crédito.

A contribuição pode ser realizada com qualquer espécie de bens, desde que suscetíveis de ava-
liação em dinheiro, como por exemplo, patente de invenção, imóvel, carro, dentre outros. Sendo
vedada a contribuição do sócio que consista em serviço.

A incorporação de imóveis para formação do capital social não exige escritura pública. Nos
termos do art. 35, VII, Lei n. 8.934/94, não é necessária a escritura pública aos contratos sociais ou
suas alterações em que haja a incorporação de imóvel à sociedade, por instrumento particular,
quando o instrumento de contrato previr: a) descrição e identificação do imóvel, sua área, dados
relativos à sua titulação, bem como o número da matrícula no registro imobiliário; b) a outorga uxó-
ria ou marital, quando necessária;

Após a averbação dos atos de constituição por instrumento particular, a Junta Comercial emiti-
rá uma certidão que comprova a transferência do bem para a sociedade (art. 64, Lei n. 8.934/94).
Havendo desincorporação desse bem imóvel, a escritura pública será obrigatória.

O ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) não incidirá na hipótese de o capital social
ser integralizado com imóvel ou na sua desincorporação (art. 156, §2º, I, CF c/c art. 36, parágrafo
único, CTN).

Na sociedade Anônima existe a obrigatoriedade da avaliação desses bens serem realizada por
3 peritos ou por uma empresa especializada. A nomeação desses peritos ou da pessoa jurídica espe-
cializada será realizada na assembleia-geral dos subscritores.

Deverá ser elaborado um laudo fundamentado pelos peritos ou pessoa jurídica especializada
com os critérios de avaliação e os elementos de comparação, acompanhados dos documentos relati-
vos aos bens avaliados. Os bens não poderão ser incorporados ao patrimônio da companhia por valor
acima do que lhes tiver dado o subscritor.

Se o subscritor aceitar o valor aprovado pela assembleia, os bens incorporar-se-ão ao patrimô-


nio da companhia, competindo aos primeiros diretores cumprir as formalidades necessárias à respec-
tiva transmissão.

Se a assembleia não aprovar a avaliação, ou o subscritor não aceitar a avaliação aprovada, fica-
rá sem efeito o projeto de constituição da companhia.

Os avaliadores e o subscritor responderão perante a companhia, os acionistas e terceiros, pe-


los danos que lhes causarem por culpa ou dolo na avaliação dos bens (superavaliação), sem prejuízo
da responsabilidade penal em que tenham incorrido; no caso de bens em condomínio, a responsabi-
lidade dos subscritores é solidária.

Do mesmo modo, a responsabilidade civil dos subscritores ou acionistas que contribuírem com
bens para formação do capital social é idêntica do vendedor.

Na falta de declaração expressa em contrário, os bens transferem-se à companhia a título de


propriedade.

57
DIREITO EMPRESARIAL

 ACIONISTAS
O acionista é obrigado a realizar, nas condições previstas no estatuto ou no boletim de subscri-
ção, a prestação correspondente às ações subscritas ou adquiridas.

O acionista que subscreve e não integraliza é chamado de sócio remisso. Nessa hipótese se ele
não fizer o pagamento nas condições previstas no estatuto ou boletim, ou na chamada, ficará de
pleno direito constituído em mora, sujeitando-se ao pagamento dos juros, da correção monetária e
da multa que o estatuto determinar, esta não superior a 10% (dez por cento) do valor da prestação.

Verificada a mora do acionis-


ta a companhia pode:

Promover contra o acionista, e os que


com ele forem solidariamente responsá- Mandar vender as ações em bolsa
veis (art. 108), processo de execução para de valores, por conta e risco do
cobrar as importâncias devidas, servindo acionista.
o boletim de subscrição e o aviso de cha-
mada como título extrajudicial nos ter-
mos do CPC.

Constituem direitos essenciais de todos os acionistas (art. 109, LSA):


Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembléia-geral poderão privar o acionista dos di-
reitos de:
I - participar dos lucros sociais;
II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;
III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;
IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações,
debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos arti-
gos 171 e 172;
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.

A assembleia-geral poderá suspender o exercício dos direitos do acionista que deixar de cum-
prir obrigação imposta pela lei ou pelo estatuto, cessando a suspensão logo que cumprida a obriga-
ção.

Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vin-
culadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos vo-
tos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores
da companhia; e
b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento
dos órgãos da companhia.

58
DIREITO EMPRESARIAL

O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu obje-
to e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da
empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses
deve lealmente respeitar e atender.

Sendo assim, existem hipóteses resguardadas na lei em que quando o acionista controlador
responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder. As hipóteses de abuso de
poder estão previstas no art. 117, §1º, LSA.

 AUMENTO E REDUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL


O capital social representa a garantia dos credores, portanto o seu aumento não depende de
anuência dos credores, mas dos requisitos legais.

As hipóteses de aumento e redução do capital social estão consagradas na Lei.

1. Aumento do capital social


O capital social poderá ser aumentado, nas seguintes hipóteses:
Art. 166. (...)
I - por deliberação da assembleia-geral ordinária, para correção da expressão monetária do
seu valor (artigo 167) – não se adota mais essa modalidade.

II - por deliberação da assembleia-geral ou do conselho de administração, observado o que a


respeito dispuser o estatuto, nos casos de emissão de ações dentro do limite autorizado no estatuto;

Ressalta-se que as companhias de capital autorizado, ou seja, que contenham autorização em


seu estatuto para aumento do capital social, independem de reforma estatutária. Nessa hipótese a
autorização de aumento deverá especificar:
a) o limite de aumento, em valor do capital ou em número de ações, e as espécies e clas-
ses das ações que poderão ser emitidas;
b) o órgão competente para deliberar sobre as emissões, que poderá ser a assembleia-
geral ou o conselho de administração;
c) as condições a que estiverem sujeitas as emissões; d) os casos ou as condições em que
os acionistas terão direito de preferência para subscrição, ou de inexistência desse direito.
(art. 168, LSA)

III - por conversão, em ações, de debêntures ou parte beneficiárias e pelo exercício de direitos
conferidos por bônus de subscrição, ou de opção de compra de ações;

Existe possibilidade de a companhia emitir valores mobiliários conversíveis em ações. Nesse


caso o titular se torna acionista.

IV - por deliberação da assembleia-geral extraordinária convocada para decidir sobre reforma


do estatuto social, no caso de inexistir autorização de aumento, ou de estar a mesma esgotada.

59
DIREITO EMPRESARIAL

Em todas as hipóteses de aumento autorizadas em lei, dentro dos 30 dias subsequentes à efe-
tivação do aumento, a companhia requererá ao registro do comércio a sua averbação ou o arquiva-
mento da ata da assembleia de reforma do estatuto.

Art. 169. Mediante capitalização de lucros ou de reservas - nesse caso o aumento importará
alteração do valor nominal das ações ou distribuições das ações novas, correspondentes ao aumen-
to, entre acionistas, na proporção do número de ações que possuírem.

Art. 170. Mediante subscrição pública ou privada de novas ações - Depois de realizados 3/4,
no mínimo, do capital social, a companhia pode aumentá-lo mediante subscrição pública ou particu-
lar de ações.

Em todas as hipóteses de aumento do capital os acionistas terão direito de preferência para a


subscrição do aumento de capital na proporção do número de ações que possuírem. O prazo deca-
dencial para que os acionistas exerçam seu direito de preferência é de, no mínimo, 30 dias (art. 171,
§ 4º, LSA)

2. Redução do capital social


Como o capital social representa a garantia dos credores, estes terão direito de se manifesta-
rem quanto à redução do capital social. As hipóteses de redução encontram-se contempladas na Lei:
a) quando houver perdas ao capital – até o limite do montante do prejuízo acumulado (art.
173, LSA);

b) quando julgá-lo excessivo (art. 173, LSA);

Nas duas primeiras hipóteses contempladas no art. 173, LSA, a redução será deliberada pela
assembleia-geral. Dispõe o art. 173, §3º, LSA, que a proposta de redução do capital social, quando de
iniciativa dos administradores, não poderá ser submetida à deliberação da assembleia-geral sem o
parecer do conselho fiscal, se em funcionamento.

c) redução do capital social decorrente do exercício do direito de recesso (art. 45, § 6º, LSA), e;

d) caducidade das ações do acionista considerado remisso (art. 107, § 4º, LSA).

60
DIREITO EMPRESARIAL

REDUÇÃO DO CAPITAL SOCIAL

Publicação da ata da Assembleia deli-


berando sobre a Redução – 60 dias

Com oposição do credor Se houver cre- Sem oposição do cre-


quirografário quanto a dor dor quirografário quan-
redução Debenturista to a redução

APROVAÇÃO DA REDUÇÃO
DEPENDE DE MAIORIA
REUNIDOS EM ASSEMBLEIA
Prova do pagamento dos cre- Arquivamento da ata
ESPECIAL
dores que opuseram objeção da Assembleia
ou deposito judicial da impor- geral
tância

Ressalvado as hipóteses de redução do capital decorrente do exercício do direito de recesso ou


ainda caducidade das ações do acionista remisso, a redução do capital social com restituição aos
acionistas de parte do valor das ações, ou pela diminuição do valor destas, quando não integraliza-
das, à importância das entradas, só se tornará efetiva 60 (sessenta) dias após a publicação da ata da
assembleia-geral que a tiver deliberado.

Não é possível, portanto, a redução do capital social se não houver o pagamento dos credores
que estão insatisfeitos com a redução.

Os credores71 quirografários por títulos anteriores à data da publicação da ata poderão, medi-
ante notificação, de que se dará ciência ao registro do comércio da sede da companhia, opor-se à
redução do capital; decairão desse direito os credores que o não exercerem dentro do prazo.

Após o termino do prazo de 60 dias, a ata da assembleia-geral poderá ser arquivada se não ti-
ver havido oposição ou, se tiver havido oposição de algum credor, desde que feita a prova do paga-
mento do seu crédito ou do depósito judicial da importância respectiva.

 VALORES MOBILIÁRIOS QUE PODEM SER EMITIDOS POR UMA COMPANHIA


1. Ações
A ação é um valor mobiliário72. Trata-se de bem móvel e indivisível em relação à sociedade,
representativa de direitos patrimoniais e pessoais. Os direitos que os acionistas possuem em face de
companhia decorrem da titularidade das ações.

71
Cuidado – O art. 174, §3º, LSA determina que se houver em circulação debêntures emitidas pela companhia, a redução do capital, nos
casos previstos neste artigo, não poderá ser efetivada sem prévia aprovação pela maioria dos debenturistas, reunidos em assembleia
especial.

61
DIREITO EMPRESARIAL

O conceito de ação é abordado por José Edwaldo Tabares Borba como “uma unidade do capi-
tal da empresa, e confere ao seu titular o direito de participar da sociedade, como acionista. É, por-
tanto, um título de participação. Título em sentido amplo, com cártula ou sem cártula: quem é o
titular de uma ação tem uma unidade do capital, um titulo de participação da sociedade.”73

Em regra a companhia não poderá negociar com as próprias ações, salvo nas hipóteses de:
a) as operações de resgate, reembolso ou amortização previstas em lei;

b) a aquisição, para permanência em tesouraria ou cancelamento, desde que até o valor do


saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital social, ou por doa-
ção;

c) a alienação das ações adquiridas nos termos da alínea b e mantidas em tesouraria;

d) a compra quando, resolvida a redução do capital mediante restituição, em dinheiro, de


parte do valor das ações, o preço destas em bolsa for inferior ou igual à importância que
deve ser restituída.

1.1 Quanto ao valor: As ações podem ou não ter valor nominal.

Quanto ao valor

Ação com valor nominal:


Ação sem valor nominal: o
operação aritmética
estatuto não fixa o valor no-
Valor do capital social (divido)
minal da ação.
Número de ações da CIA

O número de ações em que se divide o capital social, bem como se elas terão ou não valor
nominal será fixado no estatuto social.

a) Ação com valor nominal


A ação terá um valor nominal quando este for expresso no estatuto e será o mesmo para todas
as ações da companhia.

O valor nominal74 da ação é alcançado pela operação aritmética (divide-se o capital social pelo
número de ações emitidos pela companhia).

Capital social – R$500.000,00 = R$2,00


Ações emitidas – 250.000,00

72
O tema é divergente, sustendo que a ação representa um valor mobiliário, podemos destacar os doutrinadores José Edwaldo Tavaes
Borba, Fabio Ulhoa Coelho e Tullio Ascarelli. Em oposição, Fran Martins, Rubens Requião, Carvalho de Mendonça, sustentam que ela seria
um título de crédito.
73
Ob. Cit. Pág. 230
74
O valor nominal das ações de companhia aberta não poderá ser inferior ao mínimo fixado pela CVM.

62
DIREITO EMPRESARIAL

Exemplo: Imagine que a “ABC Siderúrgica S.A” tenha estabelecido um capital social de
R$500.000,00 (quinhentos mil reais) e tenha emitido 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil) ações. O
valor nominal de cada ação será de R$2,00 (dois reais).

Segundo Carvalho de Mendonça75


“as ações têm um valor nominal, um valor real e um valor corrente. O primeiro acha-se de-
signado no título; o segundo é representado pelo valor efetivo e realmente existente no
patrimônio da sociedade e, portanto, só verificável exatamente na partilha; o terceiro é o a
bolsa, onde aquele título é cotado e negociado”.

É vedado que a companhia emita ações por preço que seja inferior ao seu valor nominal. Isso
é fundamental para preservação da realidade do capital social. Explica-se: vamos supor que a Socie-
dade ABC Siderúrgica S.A tenha emitido ações sem valor nominal, pelo preço de emissão 76R$2,00
(dois reais). Se o capital social da Companhia for de R$200.000,00 e ela tiver emitido 50.000 (cin-
quenta mil) ações, existe um prejuízo para o capital social, um deságio de R$100.000,00 (cem mil
reais).

Capital social – R$200.000,00 = R$4,00 (valor nominal)


Ações emitidas – 50.000

As ações seriam emitidas com deságio (preço de emissão é de R$2,00, ou seja, valor inferior
ao valor nominal, o que não é permitido. Se ocorrer emissão de ações com deságio teremos a nuli-
dade do ato ou operação e responsabilidade dos infratores, sem prejuízo da ação penal que no caso
couber.

Agora nas hipóteses em que o preço de emissão da ação é superior ao valor nominal, a dife-
rença existente é chamada de ágio.

Utilizando o mesmo exemplo acima, porém se o preço de emissão da ação for de R$6,00. O va-
lor arrecadado seria de R$300.000,00. Se o capital social é de R$200.000,00 foram emitidas 50.000
ações, teremos um ágio de R$100.000,00.

Capital social – R$200.000,00 = R$4,00 (valor nominal)


Ações emitidas – 50.000

A emissão das ações por preço superior ao valor nominal (ou seja, ágio) deve ser a regra em
nosso ordenamento. A contribuição dos subscritores que for superior ao valor nominal constituirá
reserva do capital77. No exemplo acima teríamos uma reserva de capital de R$100.000,00.

Enquanto o capital social pode ser utilizado livremente pela companhia para consecução do
objeto a reserva de capital somente poderá ser utilizada para:
Art. 200/LSA. (...)
I - absorção de prejuízos que ultrapassarem os lucros acumulados e as reservas de lucros
(artigo 189, parágrafo único);

75
CARVALHO DE MENDONÇA. J. X. Tratado de direito comercial brasileiro. Rio de janeiro: Freitas Bastos, 1946. Pág. 408.
76
Preço de emissão da ação representa o valor cobrado pela companhia no momento da subscrição ou aumento do capital social.
77
Serão classificadas como reservas de capital as contas que registrarem: a) a contribuição do subscritor de ações que ultrapassar o valor
nominal e a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital social,
inclusive nos casos de conversão em ações de debêntures ou partes beneficiárias (art. 182, §, a, LSA);

63
DIREITO EMPRESARIAL

II - resgate, reembolso ou compra de ações;


III - resgate de partes beneficiárias;
IV - incorporação ao capital social;
V - pagamento de dividendo a ações preferenciais, quando essa vantagem lhes for assegu-
rada (artigo 17, § 5º).

b) Ação sem valor nominal


Quando o estatuto não fixar o valor nominal estaremos diante de ações que não possuem va-
lor nominal (sem valor nominal). Porém ainda que a ação seja sem valor nominal é possível realizar a
operação aritmética para se calcular o valor. Para tanto é necessário dividir o capital social pelo nú-
mero de ações emitidas pela companhia.

O comercialista Louis Frederico explica que


“o valor nominal dos títulos é o produto da divisão do capital pelo número de ações; quan-
do as ações não expressam nenhum valor determinado, o valor ao par se obtém dividindo
o valor do capital pelo quociente que representa as ações, pouco importando que esse
78
quociente não seja mencionado nos estatutos ou no título representativo no acordo” .

Nas hipóteses de ações sem valor nominal, sua negociação ocorrerá pelo chamado valor de
negociação/mercado.

Determina o art. 14, LSA, que o preço de emissão das ações sem valor nominal será fixado, na
constituição da companhia, pelos fundadores, e no aumento de capital, pela assembleia-geral ou
pelo conselho de administração (arts. 166 e 170, § 2º).

Existem diversos critérios que podem ser utilizados para definição do valor de uma ação. Po-
dendo ser atribuídos a ação 5 valores que merecem análise: valor nominal, valor de emissão, valor
patrimonial, valor de negociação e valor econômico.

A ação pode ter:


- Valor nominal: capital social (dividido) número de ações

- Valor de emissão: é determinado pela companhia no momento de emissão de novas a-


ções (constituição ou aumento do capital)

- Valor patrimonial (real): patrimônio líquido (dividido) número de ações

- Valor de negociação (valor corrente/de mercado): é definido pelas partes (comprador e


vendedor) e, levando-se em consideração o mercado de balão e bolsa de valores

- Valor econômico: realizado através de estudos técnicos por peritos

1.2 Quanto aos direitos:


As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, são or-
dinárias, preferenciais, ou de fruição. A companhia pode emitir diferentes classes e espécies de a-
ções.

78
Apud. REQUIÃO. Rubens. Curso de direito Comercial, 2 vol. 30ª. São Paulo: Saraiva, 2013. Pág. 107/108.

64
DIREITO EMPRESARIAL

Espécies de ação

Ações Ordinárias Ações Preferenciais Ações de Gozo ou Fruição


Direitos comuns de acionis- Confere ao seu titular uma Ações emitidas para substi-
tas (não possuem preferên- preferência ou vantagem tuir as ações ordinárias ou
cia nem restrições + Podem ou não conferir preferenciais que tenham
+ Voto direito de voto sido totalmente amortizadas

a) Ações Ordinárias
As ações ordinárias ou também chamadas de ações comuns conferem aos seus titulares direi-
tos essenciais a todos os acionistas, sem nenhuma restrição. Cada ação ordinária corresponde 1 (um)
voto nas deliberações da assembleia-geral, se o estatuto não estabelecer limitação ao número de
votos de cada acionista.

A assembleia e o Estatuto não poderão privar os acionistas dos direito essenciais, elencados
no art. 109, LSA:
Art. 109. (...)
I - participar dos lucros sociais;
II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;
III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;
IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações,
debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos arti-
gos 171 e 172;
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.

As ações ordinárias de companhia aberta serão todas iguais, não sendo possível serem emiti-
das ações ordinárias de mais de uma classe.

Já as ações ordinárias de companhia fechada poderão ser de uma ou mais classes.

As ações ordinárias de companhia fechada poderão ser de classes diversas, em função de:
Art. 16. (...)
I - conversibilidade em ações preferenciais;
II - exigência de nacionalidade brasileira do acionista; ou
III - direito de voto em separado para o preenchimento de determinados cargos de órgãos
administrativos.

Como por exemplo:


a) Ação ordinária A - direitos comuns + direito de voto em assembleia + conversibilidade em
ações preferências.

b) Ação ordinária B - direitos comuns + direito de voto em assembleia + direito de voto em


separado para preencher os cargos de órgãos administrativos.

65
DIREITO EMPRESARIAL

Quando não previstas no estatuto, para que sejam alteradas as diversidades de classes é ne-
cessário o consentimento de todos os titulares das ações atingidas.

b) Ações Preferenciais
As ações preferenciais são aquelas que conferem ao seu titular algum tipo de preferência ou
vantagem, seja patrimonial ou política. O estatuto poderá deixar de conferir às ações preferenciais
algum ou alguns dos direitos reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de voto, ou conferi-lo com
restrições, desde que não retirar do acionista os direitos essenciais previstos no art. 109, LSA.

No tocante as vantagens patrimoniais concedidas as ações preferenciais podem consistir em:


a) Em prioridade na distribuição de dividendo79, fixo ou mínimo;
b) Em prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele; ou
c) Cumulação das vantagens acima - prioridade na distribuição de dividendos fixo ou míni-
mo e prioridade no reembolso do capital social.

As ações preferenciais podem ou não conferir ao titular direito de voto. Sendo assim existem
diversas classes de ações preferências que podem ser lançadas pela companhia, como por exemplo:
a) Ação preferencial com prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo, mas sem direito de
voto; b) ação preferencial com prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo, mas com
direito de voto; c) Ação preferencial com prioridade no reembolso do capital com direito de voto. Os
direitos, preferências ou restrições a serem atribuídos às ações a serem criadas devem ser fixadas no
estatuto, com precisão e minúcia80.

As ações preferenciais sem direito a voto, ou que estejam sujeitas a restrição no exercício do
direito de voto, não pode ultrapassar 50% (cinquenta por cento) do total das ações emitidas pela
companhia.

No entanto, se a companhia, deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos a que os acionis-


tas preferenciais fazem jus, pelo prazo do estatuto (que não pode ser superior a 3 exercícios conse-
cutivos), os acionistas terão direito de voto (art. 111, §1º, LSA).

As ações preferenciais que não confiram ao titular direito de voto ou que contenham restri-
ção ao direito de voto somente serão admitidas à negociação no mercado de valores mobiliários se a
elas for atribuída pelo menos uma das seguintes preferências ou vantagens previstas no art. 17, §1º,
LSA:
Art. 17. (...)

79
A divisão de dividendos somente é possível se a companhia obtiver lucros. O Art. 17, §3º, LSA, elenca que os dividendos, ainda que fixos
ou cumulativos, não poderão ser distribuídos em prejuízo do capital social, salvo quando, em caso de liquidação da companhia, essa vanta-
gem tiver sido expressamente assegurada.
Art. 17, § 4o, LSA - Salvo disposição em contrário no estatuto, o dividendo prioritário não é cumulativo, a ação com dividendo fixo não
participa dos lucros remanescentes e a ação com dividendo mínimo participa dos lucros distribuídos em igualdade de condições com as
ordinárias, depois de a estas assegurado dividendo igual ao mínimo.
Art. 17, § 5o, LSA - Salvo no caso de ações com dividendo fixo, o estatuto não pode excluir ou restringir o direito das ações preferenciais de
participar dos aumentos de capital decorrentes da capitalização de reservas ou lucros (art. 169).
80
A Instrução Normativa da CVM 481/09, em seu anexo 17, estabelece que as ações preferenciais ou nova classe de ações preferencias
devem descrever pormenorizadamente os direitos, preferencias e restrições e especialmente: i. Dividendos majorados em relação às ações
ordinárias ii. Dividendos fixos ou mínimos iii. Direito de participar de lucros remanescentes iv. Direito de receber dividendo à conta da
reserva de capital v. Prioridade no reembolso de capital vi. Prêmio no reembolso de capital vii. Direito de voto viii. Direito estatutário de
eleger membros do conselho de administração em votação em separado ix. Direito de serem incluídas na oferta pública de aquisição de
ações por alienação de controle prevista no art. 254-A da Lei nº 6.404, de 1976 x. Direito de veto em relação a alterações estatutárias xi.
Termos e condições de resgate xii. Termos e condições de amortização.

66
DIREITO EMPRESARIAL

§ 1º Independentemente do direito de receber ou não o valor de reembolso do capital


com prêmio ou sem ele, as ações preferenciais sem direito de voto ou com restrição ao
exercício deste direito, somente serão admitidas à negociação no mercado de valores mo-
biliários se a elas for atribuída pelo menos uma das seguintes preferências ou vantagens:
I - direito de participar do dividendo a ser distribuído, correspondente a, pelo menos,
25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido do exercício, calculado na forma do art.
202, de acordo com o seguinte critério:
a) prioridade no recebimento dos dividendos mencionados neste inciso correspondente a,
no mínimo, 3% (três por cento) do valor do patrimônio líquido da ação; e
b) direito de participar dos lucros distribuídos em igualdade de condições com as ordiná-
rias, depois de a estas assegurado dividendo igual ao mínimo prioritário estabelecido em
conformidade com a alínea a; ou
II - direito ao recebimento de dividendo, por ação preferencial, pelo menos 10% (dez por
cento) maior do que o atribuído a cada ação ordinária; ou
III - direito de serem incluídas na oferta pública de alienação de controle, nas condições
81
previstas no art. 254-A , assegurado o dividendo pelo menos igual ao das ações ordiná-
rias (tag along).

A Lei n. 10.303/2001 criou uma nova classe especial de ação preferencial – chamada de Gol-
den Share. Essa classe especial foi criada em razão das companhias fruto de desestatização, criando
uma ação preferencial para Estado (qualquer ente público que controle a companhia), que além de
outros poderes que podem ser especificados, conferem o poder de veto nas deliberações em assem-
bleia-geral nas matérias determinadas.

Determina o art. 17, §7º, LSA, que nas companhias objeto de desestatização poderá ser criada
ação preferencial de classe especial, de propriedade exclusiva do ente desestatizante, à qual o esta-
tuto social poderá conferir os poderes que especificar, inclusive o poder de veto às deliberações da
assembleia-geral nas matérias que especificar.

No tocante as vantagens políticas o estatuto pode assegurar a uma ou mais classes de ações
preferenciais o direito de eleger, em votação em separado, um ou mais membros dos órgãos de
administração ou subordinar as alterações estatutárias que especificar à aprovação, em assembleia
especial, dos titulares de uma ou mais classes de ações preferenciais.

O estatuto da companhia com ações preferenciais declarará as vantagens ou preferências atri-


buídas a cada classe dessas ações e as restrições a que ficarão sujeitas, e poderá prever o resgate ou
a amortização, a conversão de ações de uma classe em ações de outra e em ações ordinárias, e des-
tas em preferenciais, fixando as respectivas condições.

c) Ações de Gozo ou Fruição


As ações de gozo ou fruição são as ações ordinárias ou preferências foram integralmente a-
mortizadas. A amortização consiste na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem re-
dução do capital social, de quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação da companhia.

81
A tag along é um mecanismo de proteção (garantia) ao sócio minoritário, garantindo que o acionista minoritário possa sair da sociedade
na hipótese do controle da companhia ser assumido por um investidor que não pertencia ao quadro societário. O Art. 254 – A, LSA - A
alienação, direta ou indireta, do controle de companhia aberta somente poderá ser contratada sob a condição, suspensiva ou resolutiva,
de que o adquirente se obrigue a fazer oferta pública de aquisição das ações com direito a voto de propriedade dos demais acionistas da
companhia, de modo a lhes assegurar o preço no mínimo igual a 80% (oitenta por cento) do valor pago por ação com direito a voto, inte-
grante do bloco de controle.

67
DIREITO EMPRESARIAL

A amortização pode ser integral ou parcial e abranger todas as classes de ações ou só uma de-
las. Nas ações que foram parcialmente amortizadas não haverá a substituição por ação de gozo ou
fruição.

Pode ser que a companhia não tenha como realização a amortização total de todas as ações,
nesse caso a amortização que não abrangerem a totalidade das ações de uma mesma classe serão
feitos mediante sorteio.

Vamos imaginar que o Centro Médico S.A resolva amortizar as ações da companhia, nesse caso
será calculado o valor patrimonial da ação no momento da amortização, e tais quantias serão pagas
as acionistas das classes sorteadas. Ou seja, o acionista acaba recebendo a título de antecipação o
investimento que ele realizou, mas continua usufruindo de todos os seus benefícios. Esse acionista
(que detinha ação ordinária ou preferencial) mantém todos os seus direitos como acionista, porém
só concorreram ao acervo liquido, depois de realizado o pagamento das ações que não foram amor-
tizadas.

O art. 44, §5º, determina que as ações integralmente amortizadas poderão ser substituídas por
ações de fruição, com as restrições fixadas pelo estatuto ou pela assembleia-geral que deliberar a
amortização; em qualquer caso, ocorrendo liquidação da companhia, as ações amortizadas só con-
correrão ao acervo líquido depois de assegurado às ações não a amortizadas valor igual ao da amor-
tização, corrigido monetariamente.

Nota-se que as ações preferenciais ou ordinárias que forem integralmente amortizadas pode-
rão ser substituídas pela ação de gozo ou fruição, portanto é uma faculdade da companhia a substi-
tuição. De qualquer forma, se o acionista tiver suas ações totalmente amortizadas ele somente parti-
cipará do acervo da companhia, após os outros acionistas que não tiveram suas ações amortizadas
terem recebido sua parte.

1.3 Quanto a forma de circulação:


As ações quanto à forma de circulação podem ser: a) nominativas; ou b) escriturais ou eletrô-
nicas. Nem sempre foi dessa forma, pois até 1990 as ações podiam circular também ao portador (art.
33, LSA) ou endossáveis (art. 32, LSA), porém tais formas de circulação foram revogadas pela Lei n.
8.021/90.

As ações podem ou não ser representadas por um certificado.


a) Ações nominativas
As ações nominativas são aquelas em que o nome do titular da ação (acionista) é inserido no
livro de “Registro de Ações Nominativas” ou pelo extrato que seja fornecido pela instituição custodi-
ante, na qualidade de proprietária fiduciária das ações. A propriedade se presume com o registro.

Sendo assim, a transferência das ações nominativas opera-se por termo lavrado no livro de
“Transferência de Ações Nominativas”, datado e assinado pelo cedente e pelo cessionário, ou seus
legítimos representantes.

Na hipótese da transferência das ações nominativas em virtude de transmissão por sucessão


universal ou legado, de arrematação, adjudicação ou outro ato judicial, ou por qualquer outro título,
somente se fará mediante averbação no livro de “Registro de Ações Nominativas”, à vista de docu-
mento hábil, que ficará em poder da companhia.

68
DIREITO EMPRESARIAL

Na transferência das ações nominativas adquiridas em bolsa de valores, o cessionário será re-
presentado, independentemente de instrumento de procuração, pela sociedade corretora, ou pela
caixa de liquidação da bolsa de valores.

O art. 36, LSA, determina que o estatuto da companhia fechada pode impor limitações à circu-
lação das ações nominativas, contanto que regule minuciosamente tais limitações e não impeça a
negociação, nem sujeite o acionista ao arbítrio dos órgãos de administração da companhia ou da
maioria dos acionistas. A limitação à circulação criada por alteração estatutária somente se aplicará
às ações cujos titulares com ela expressamente concordarem, mediante pedido de averbação no
livro de “Registro de Ações Nominativas”.

Se as ações nominativas possuírem certificados, o art. 24, LSA, determina que os certificados
das ações serão escritos em vernáculo e conterão as seguintes declarações:
Art. 24. (...)
I - denominação da companhia, sua sede e prazo de duração;
II - o valor do capital social, a data do ato que o tiver fixado, o número de ações em que se
divide e o valor nominal das ações, ou a declaração de que não têm valor nominal;
III - nas companhias com capital autorizado, o limite da autorização, em número de ações
ou valor do capital social;
IV - o número de ações ordinárias e preferenciais das diversas classes, se houver, as van-
tagens ou preferências conferidas a cada classe e as limitações ou restrições a que as a-
ções estiverem sujeitas;
V - o número de ordem do certificado e da ação, e a espécie e classe a que pertence;
VI - os direitos conferidos às partes beneficiárias, se houver;
VII - a época e o lugar da reunião da assembléia-geral ordinária;
VIII - a data da constituição da companhia e do arquivamento e publicação de seus atos
constitutivos;
IX - o nome do acionista;
X - o débito do acionista e a época e o lugar de seu pagamento, se a ação não estiver inte-
gralizada;
XI - a data da emissão do certificado e as assinaturas de dois diretores, ou do agente emis-
sor de certificados (art. 27).

A responsabilidade da Companhia e dos diretores na omissão de qualquer dessas declarações,


garante aos acionistas direito à indenização por perdas e danos.

b) Ações escriturais
As ações escriturais 82são incorpóreas, dispensam a emissão de certificado. As ações escritu-
rais são aquelas mantidas em contas de depósito, em nome de seus titulares, na instituição que de-
signar, desde que está seja autorizada pela CVM para manter serviços de escrituração de ações e de
outros valores mobiliários.

A propriedade da ação escritural presume-se pelo registro na conta de depósito das ações, a-
berta em nome do acionista nos livros da instituição depositária.

A transferência da ação escritural opera-se pelo lançamento efetuado pela instituição deposi-
tária em seus livros, a débito da conta de ações do alienante e a crédito da conta de ações do adqui-
rente, à vista de ordem escrita do alienante, ou de autorização ou ordem judicial, em documento
hábil que ficará em poder da instituição. Ou seja, a transferência depende apenas da ordem do alie-

82
Alguns doutrinadores sustentam que seria uma subespécie de ação nominal.

69
DIREITO EMPRESARIAL

nante por escrito, e esta ficará arquivada na instituição, para comprovação da operação de transfe-
rência da ação.

A comprovação da titularidade da ação ocorre por meio de extrato da conta de depósito das
ações escriturais, fornecido pela instituição depositária ao acionista sempre que solicitado. O acionis-
ta também poderá solicitar o extrato ao término de todo mês em que for movimentada e, ainda que
não haja movimentação, ao menos uma vez por ano.

Se o estatuto autorizar, desde que observados os limites máximos fixados pela CVM, a institui-
ção depositária poderá cobrar do acionista o custo do serviço de transferência da propriedade das
ações escriturais. Respondendo a companhia pelas perdas e danos causados aos interessados por
erros ou irregularidades no serviço de ações escriturais, sem prejuízo do eventual direito de regresso
contra a instituição depositária.

É permitido a constituição de direitos Reais ou outros ônus das ações, e seu registro ocorre
mediante:

USUFRUTO, O FIDEICOMISSO,
PENHOR OU CAUÇÃO:
A ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Averbação do respectivo ins- No livro de "Registro de Ações


AÇÕES NOMINATI- Nominativas";
trumento no livro de Registro
VAS:
de Ações Nominativas

Averbação do respectivo ins-


trumento nos livros da institui- Nos livros da instituição finan-
ção financeira, a qual será ceira, que os anotará no extra-
AÇÕES ESCRITURAIS:
anotada no extrato da conta de to da conta de depósito forne-
depósito fornecido ao acionis- cida ao acionista
ta.

Quando ocorre a averbação, a promessa de venda da ação e o direito de preferência à sua a-


quisição são oponíveis a terceiros.

 AMORTIZAÇÃO, RESGATE E REEMOLSO DAS AÇÕES


O estatuto ou a assembleia-geral extraordinária pode autorizar a aplicação de lucros ou reser-
vas no resgate ou na amortização de ações, determinando as condições e o modo de proceder-se à
operação.

O resgate consiste no pagamento do valor das ações para retirá-las definitivamente de circula-
ção, com redução ou não do capital social, mantido o mesmo capital, será atribuído, quando for o
caso, novo valor nominal às ações remanescentes.

A amortização consiste na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem redução


do capital social, de quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação da companhia. A amor-
tização pode ser integral ou parcial e abranger todas as classes de ações ou só uma delas.

O reembolso é a operação pela qual, nos casos previstos em lei, a companhia paga aos acionis-
tas dissidentes de deliberação da assembleia-geral o valor de suas ações.

70
DIREITO EMPRESARIAL

 OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS
Importa ainda apresentar as operações societárias (transformação, incorporação, fusão e ci-
são)

A transformação é a mudança de um tipo societário para outro sem dissolução. Ela requer a-
provação de 100% do capital social. Por essa modalidade de operação, uma Ltda poderá se transfor-
mar em sociedade anônima, Uma SA poderá se transformar em Ltda, A Ltda poderá se transformar
em Comandita por ações e etc...

A incorporação trata da situação onde uma ou mais sociedades são absorvidas por outra. A
companhia maior (incorporadora) continua existindo e absorve a menor (incorporada), sucedendo-a
em todas as suas obrigações.

Na fusão, duas ou mais sociedade unem-se para formar uma terceira. Ambas as companhias
deixam de existir para fundar a existência de uma nova. A nova companhia sucede as duas anterio-
res, objetos da fusão.

A quarta operação é cisão: uma divisão na qual a sociedade transfere toda a sua propriedade
para uma ou mais sociedades. A cisão pode ser total ou parcial. Total quando a cindida deixa de exis-
tir, ou parcial quando ela se divide em uma ou mais sociedades, mas continua existindo. A cisão é
uma operação que pode gerar problemas aos credores. Pois por meio de cisão, muitas vezes verte-se
o patrimônio para um lado e as dívidas para o outro, dessa forma, os credores devem estar atentos
para não serem lesados.

 PARTES BENEFICIÁRIAS
Diferente das ações que representam valor mobiliário de emissão obrigatória pela sociedade
anônima existe outros títulos que podem ser emitidos como forma de captação de recursos da com-
panhia, mas que não são de emissão obrigatória, como por exemplo, as partes beneficiárias.

As partes beneficiárias são títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos ao capital social,
emitidos pela sociedade que conferem ao seu titular o direito de crédito eventual consistente na
participação dos lucros anuais da companhia.

Somente as companhias fechadas podem emitir partes beneficiárias, sejam a título gratuito ou
oneroso, sendo vedado à emissão por companhias abertas. Se o título for emitido de forma gratuita
para fundadores, terceiros ou acionistas como forma de contraprestação de serviços prestados à
companhia, o prazo de duração não ultrapassará 10 anos, salvo as destinadas a sociedades ou funda-
ções beneficentes dos empregados da companhia.

A participação nos lucros a ser atribuído a parte beneficiária, inclusive para formação de reser-
va de resgate, não pode ser superior a 1 décimo dos lucros da sociedade. É proibida a criação de mais
de uma classe ou série de partes beneficiárias.

O titular da parte beneficiária não pode ter nenhum direito privativo de acionista, salvo o de
fiscalizar os atos dos administradores.

O estatuto poderá prever a conversão das partes beneficiárias em ações, mediante capitaliza-
ção de reserva criada para esse fim.

71
DIREITO EMPRESARIAL

Para redução ou modificação de vantagens conferidas às partes beneficiárias é necessária a-


provação pela metade, no mínimo, dos seus titulares, reunidos em assembleia-geral especial, do
contrário a redução ou modificação não terá eficácia. A convocação da assembleia será realizada
através da imprensa, com antecedência de no mínimo 1 mês. Se, após 2 convocações, deixar de ins-
talar-se por falta de número, a próxima convocação somente poderá ocorrer após 6 meses.

Cada parte beneficiária dá direito a 1 voto, não podendo a companhia votar com os títulos que
possuir em tesouraria.

A emissão de partes beneficiárias poderá ser feita com a nomeação de agente fiduciário dos
seus titulares, observado, no que couber, o disposto nos arts. 66 a 71.

 DEBÊNTURES
As debêntures são valores mobiliários emitidos pela companhia com a finalidade de captação
de recursos, tratando-se de um “mútuo”. Se a companhia necessita de dinheiro para investir em seu
objeto, ao invés de pegar um empréstimo no banco com taxas de juros altas, ela emite as debêntures
para captar recursos. Nada impede, porém, que ela também seja emitida com outro objetivo, como a
novação, penhor, dentre outros.

A debênture poderá assegurar ao seu titular juros, fixos ou variáveis, participação no lucro da
companhia e prêmio de reembolso. Se a companhia não realizar o pagamento no prazo estimulado,
o credor poderá executá-la.

A debênture confere ao seu titular o direito de crédito em face da companhia nas condições
constantes na escritura de emissão e, se houver no certificado. As debêntures de mesma serie terão
igual valor nominal e conferirão aos titulares os mesmos direitos, sendo consideradas unitárias, não
podendo haver distinção entre os credores, como por exemplo, antecipar o pagamento para alguns
debenturistas.

No momento de emissão das debêntures, a escritura ou certificado deverá estipular se elas se-
rão simples ou conversíveis em ações.

As debêntures podem ser de quatro espécies diferentes:


a) garantia real: é garantido por bens do ativo da companhia;
b) garantia flutuante: assegura o privilégio geral sobre o ativo da companhia;
c) não gozar de preferência: concorre em igualdade com todos os credores quirografários
da companhia;
d) subordinada aos demais credores da companhia: não gozam de nenhuma garantia, pre-
ferindo apenas os acionistas no ativo remanescente no caso de liquidação.

A emissão de debêntures, via de regra, é de competência privativa da assembleia-geral, que


deverá fixar, observado o estatuto:
Art. 59. (...)
I - o valor da emissão ou os critérios de determinação do seu limite, e a sua divisão em sé-
ries, se for o caso;
II - o número e o valor nominal das debêntures;
III - as garantias reais ou a garantia flutuante, se houver;

72
DIREITO EMPRESARIAL

IV - as condições da correção monetária, se houver;


V - a conversibilidade ou não em ações e as condições a serem observadas na conversão;
VI - a época e as condições de vencimento, amortização ou resgate;
VII - a época e as condições do pagamento dos juros, da participação nos lucros e do prê-
mio de reembolso, se houver;
VIII - o modo de subscrição ou colocação, e o tipo das debêntures.

Se o estatuto social não vedar, nas companhias abertas o conselho de administração poderá
deliberar sobre a emissão de debêntures desde que elas sejam não conversíveis em ações.

Se o estatuto autorizar na companhia aberta o conselho de administração, dentro dos limites


do capital autorizado, poderá deliberar sobre a emissão de debêntures conversíveis em ações, espe-
cificando o limite do aumento de capital decorrente da conversão das debêntures, em valor do capi-
tal social ou em número de ações, e as espécies e classes das ações que poderão ser emitidas.

Nenhuma emissão de debêntures será feita sem que tenham sido satisfeitos os seguintes re-
quisitos:

Requisitos para emissão de debêntures:


I - arquivamento, no registro do co- III - constituição das
II - inscrição da es-
mércio, e publicação da ata da as- garantias reais, se
critura de emissão
sembleia-geral, ou do conselho de for o caso.
no registro do co-
administração, que deliberou sobre a
mércio;
emissão;

Os registros do comércio manterão livro especial para inscrição das emissões de debêntures,
no qual serão anotadas as condições essenciais de cada emissão.

Como as debêntures podem ser emitidas sem emissão de certificado, a escritura de emissão
pode estabelecer que as debêntures fossem mantidas em contas de custódia, em nome de seus titu-
lares, na instituição que designar. Na hipótese de emissão de debêntures com certificados, estes
deverão conter os requisitos do art. 64, da LSA.

Para que a proteção dos direitos e defesa dos interesses dos debenturistas seja preservada a
Lei criou a figura do agente fiduciário dos debenturistas, que possui os deveres:
a) proteger os direitos e interesses dos debenturistas, empregando no exercício da função
o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administra-
ção de seus próprios bens;

b) elaborar relatório e colocá-lo anualmente a disposição dos debenturistas, dentro de 4


(quatro) meses do encerramento do exercício social da companhia, informando os fatos re-
levantes ocorridos durante o exercício, relativos à execução das obrigações assumidas pela
companhia, aos bens garantidores das debêntures e à constituição e aplicação do fundo de
amortização, se houver, do relatório constará, ainda, declaração do agente sobre sua apti-
dão para continuar no exercício da função;

c) notificar os debenturistas, no prazo máximo de 60 dias, de qualquer inadimplemento, pe-


la companhia, de obrigações assumidas na escritura da emissão.

73
DIREITO EMPRESARIAL

Nos termos do art. 69, LSA, a escritura de emissão poderá ainda atribuir ao agente fiduciário as
funções de autenticar os certificados de debêntures, administrar o fundo de amortização, manter em
custódia bens dados em garantia e efetuar os pagamentos de juros, amortização e resgate.

Os agentes fiduciários devem ser pessoas naturais que satisfaçam os requisitos para o cargo de
órgão da administração e as instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central do Brasil que
tenham por objeto a administração ou custódia de bens de terceiros. As vedações para ocupar o
cargo encontram-se expressamente no art. 66, §3º, LSA.

Quaisquer assuntos de interesse dos debenturistas poderão ser deliberados em assembleia. A


convocação para assembleia de debenturistas poderá ser convocada:
a) pelo agente fiduciário;
b) pela companhia emissora;
c) por debenturistas que representem 10%, no mínimo, dos títulos em circulação, e;
d) pela Comissão de Valores Mobiliários.

Quórum de instalação da assembleia de debenturistas


Debenturistas que representem no mínimo a metade das debên-
1º convocação
tures em circulação.
2º convocação Qualquer número.

Nas deliberações da assembleia de debenturista, a cada debênture caberá um voto.

 BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO
O bônus de subscrição é um valor mobiliário que confere ao seu titular, nas condições previs-
tas no certificado, o direito de preferência para subscrição de novas ações do capital social.

Somente é possível a emissão dessa espécie de valor mobiliário se a companhia for de capital
autorizado. Ou seja, quando o estatuto prever o aumento do capital independentemente de reforma
estatutária.

O bônus de subscrição terá forma nominativa e serão representados por um certificado.

A competência para deliberação sobre emissão de bônus de subscrição compete à assemblei-


a-geral, se o estatuto não a atribuir ao conselho de administração.

O art. 78, LSA, determina a emissão do bônus de subscrição pode ser de forma gratuita, como
vantagem adicional aos subscritores de ações ou debêntures ou de forma onerosa, e neste caso,
prevalece o direito de preferência dos acionistas para subscrição do bônus de subscrição na propor-
ção de suas ações.

O certificado de bônus de subscrição conterá as declarações previstas no art. 24, I a IV, e art.
79, LSA.

74
DIREITO EMPRESARIAL

 NOTAS PROMISSÓRIAS - COMMERCIAL PAPER


As companhias poderão emitir notas promissórias - commercial paper, para colocação pública,
como forma de captação de recursos ao invés de realizar empréstimo junto as instituições financei-
ras com juros altos.

As notas promissórias conferirão a seus titulares direito de crédito contra a companhia. A data
de emissão da Nota promissória deverá corresponder a data exata em que houve a integralização.

No momento da subscrição deverá ocorrer a integralização, em moeda corrente nacional e à


vista.

O prazo de vencimento das notas promissórias, contados da data de emissão, será de:

Prazo máximo de
Prazo mínimo de resgate
resgate
Companhia aberta 30 dias 360 dias
Companhia fechada 30 dias 180 dias

O resgate da Nota Promissória deve ocorrer na data de seu vencimento, mas havendo expres-
sa anuência do titular poderá ocorrer o seu resgate antecipadamente. É possível a realização do res-
gate parcial ou total. Em se tratando de resgate parcial o mesmo deve ocorrer mediante leilão ou
sorteio.

Uma vez que a nota promissória é regatada pela companhia, não poderá ser negociada nova-
mente, devendo ser extinta, impossibilitando a manutenção em tesouraria.

A competência para emissão de notas promissórias será fixada no estatuto, podendo ser: a)
assembleia de acionistas; ou b) órgãos da administração. O art. 10, da Instrução Normativa 134 da
CVM elenca os itens que devem dispor a nota promissória no momento de sua emissão.

Para emitir essa espécie de valor mobiliário é necessário que o registro de destruição seja re-
querido à CVM pela própria companhia ou através de instituição integrante do sistema de distribui-
ção de valores mobiliários.

83
Art. 26 . A distribuição pública de Notas Promissórias só pode ser iniciada após:
I - concessão do registro pela CVM;
II - publicação do anúncio de início de distribuição; e,
III - colocação do prospecto à disposição para a necessária entrega aos investidores.

O prospecto é o documento que contém os dados básicos sobre a operação e a companhia


emissora, devendo constar as informações detalhadas sobre o lançamento da companhia emissora,
do garantidor, da ata da reunião que deliberar sobre a emissão e a cópia do contrato.

A distribuição de notas promissórias deve ser encerrada no prazo de noventa dias, para a e-
missão por companhia fechada, e no prazo de cento e oitenta dias, para a emissão por companhia
aberta, contados a partir do deferimento do registro pela CVM.

83
INSTRUÇÃO CVM Nº 134, DE 1 DE NOVEMBRO DE 1990.

75
DIREITO EMPRESARIAL

As informações referentes à distribuição são de responsabilidade da companhia emissora, que


deverá comunicar a CVM qualquer inadimplência quanto ao cumprimento das obrigações contraídas
perante os titulares das notas promissórias.

Compete a CVM suspender a distribuição das notas promissórias se ficar constatado:


Art. 33. A CVM pode suspender a distribuição quando:
I - for fraudulenta ou ilegal, ainda que após efetuado o registro;
II - a oferta, lançamento, promoção ou a divulgação estejam ocorrendo sem o devido re-
gistro, ou em condições diversas das constantes desta Instrução, ou do registro, ou com
informações falsas, dolosas, ambíguas ou imprecisas.

 ÓRGÃOS DA S.A
 ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES
A Assembleia-Geral é um órgão de deliberação e tem poderes para decidir todos os negócios
relativos ao objeto da companhia e tomar as resoluções que julgar conveniente à sua defesa e de-
senvolvimento.

A competência da Assembleia-Geral vem determinada no art. 122, LSA:


Art. 122. Compete privativamente à assembleia geral:
I - reformar o estatuto social;
II - eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da companhia, res-
salvado o disposto no inciso II do art. 142;
III - tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as demonstra-
ções financeiras por eles apresentadas;
o o o
IV - autorizar a emissão de debêntures, ressalvado o disposto nos §§ 1 , 2 e 4 do art. 59;
V - suspender o exercício dos direitos do acionista (art. 120);
VI - deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a formação do
capital social;
VII - autorizar a emissão de partes beneficiárias;
VIII - deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da companhia, sua disso-
lução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as contas; e
IX - autorizar os administradores a confessar falência e pedir concordata.

Existem duas espécies de assembleia: Assembleia-Geral ordinária (AGO) e Assembleia-Geral


Extraordinária (AGE). A AGE poderá ocorrer a qualquer tempo para deliberar sobre as matérias pre-
vistas no art. 122, LSA, que não sejam de competência privativa da AGO. A AGO e AGE poderão ser,
cumulativamente, convocadas e realizadas no mesmo local, data e hora, instrumentadas em ata úni-
ca.

Existem no art. 132, LSA, matérias que serão de competência exclusiva da AGO:
Art. 132. Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término do exercício
social, deverá haver 1 (uma) assembléia-geral para:
I - tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações fi-
nanceiras;
II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividen-
dos;
III - eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o caso;
IV - aprovar a correção da expressão monetária do capital social (artigo 167).

76
DIREITO EMPRESARIAL

A competência para convocação será do conselho de administração, se houver, ou aos direto-


res, observada previsão estatutária.

A assembleia-geral pode também ser convocada:


a) pelo conselho fiscal, nos casos previstos no número V, do art. 163, LSA;

b) por qualquer acionista, quando os administradores retardarem, por mais de 60 dias, a


convocação nos casos previstos em lei ou no estatuto;

c) por acionistas que representem cinco por cento, no mínimo, do capital social, quando os
administradores não atenderem, no prazo de oito dias, a pedido de convocação que apre-
sentarem, devidamente fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas;

d) por acionistas que representem cinco por cento, no mínimo, do capital votante, ou cinco
por cento, no mínimo, dos acionistas sem direito a voto, quando os administradores não
atenderem, no prazo de oito dias, a pedido de convocação de assembleia para instalação
do conselho fiscal.

CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA – PUBLICAÇÃO POR NO MÍNIMO 3X


O anúncio de convocação deverá conter: local, data e hora da assembleia, a ordem do
dia, e, no caso de reforma do estatuto, a indicação da matéria.
Primeira convocação Segunda convocação
O prazo de antecedência
no mínimo de 8 (oito) dias, Será publicado novo anún-
COMPANHIA FECHADA contado o prazo da publi- cio, com antecedência
cação do primeiro anún- mínima de 5 (cinco) dias;
cio;
O prazo de antecedência O prazo de antecedência 8
COMPANHIA ABERTA
será de 15 (quinze) dias (oito) dias.

Importante salientar que nas companhias fechadas o acionista que representar 5%, ou mais,
do capital social, será convocado por telegrama ou carta registrada.

Mesmo a lei exigindo que sejam cumpridas as formalidades de convocação, se todos os acio-
nistas comparecem na assembleia, ainda que não tenham sido cumpridas todas as formalidades a
assembleia será considerada regular.

QUORUM DE INSTALAÇÃO
Com a presença de acionistas que representem, no mínimo, 1/4
1º CONVOCAÇÃO
(um quarto) do capital social com direito de voto.
2º CONVOCAÇÃO Instalar-se-á com qualquer número.

Todos os acionistas da companhia podem comparecer à assembleia-geral e discutir a matéria


submetida à deliberação, inclusive os acionistas sem direito de voto. Antes de abrir-se a assembleia
os acionistas assinarão o "Livro de Presença", indicando o seu nome, nacionalidade e residência, bem
como a quantidade, espécie e classe das ações de que forem titulares.

77
DIREITO EMPRESARIAL

Se a AGE tiver como objeto a reforma do estatuto o quórum de convocação e deliberação será
diferenciada, observada a tabela abaixo:

AGE – REFORMA DE ESTATUTO


1º convocação 2º convocação
Quórum de convoca- Presença de acionistas que repre-
ção: Com qualquer núme-
sentem 2/3 (dois terços), no míni-
ro.
mo, do capital com direito a voto

Após a instalação valida da Assembleia Geral, deverá ser observado o quórum de deliberação:

QUORUM DE DELIBERAÇÃO
Ressalvadas as Serão tomadas por maioria absoluta de votos (50% + UM VOTO
exceções previs- presentes em assembleia), não se computando os votos em
tas em lei branco.
Companhia fe- O estatuto pode aumentar o quorum exigido para certas delibe-
chada rações, desde que especifique as matérias.
Se o estatuto não estabelecer procedimento de arbitragem e
não contiver norma diversa, a assembleia será convocada, com
Se houver empa- intervalo mínimo de 2 (dois) meses, para votar a deliberação; se
te: permanecer o empate e os acionistas não concordarem em
cometer a decisão a um terceiro, caberá ao Poder Judiciário
decidir, no interesse da companhia.
QUÓRUM DE DELIBERAÇÃO QUALIFICADO
Quórum de aprova- Aprovação de acionistas que representem metade, no mí-
ção: nimo, das ações com direito a voto, se maior quorum não for
(Matérias previstas exigido pelo estatuto da companhia cujas ações não estejam
no art. 136, da LSA) admitidas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão.

Existem algumas matérias que possuem quórum de deliberação qualificado, as matérias estão
previstas no art. 136, LSA:
Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, das
ações com direito a voto, se maior quorum não for exigido pelo estatuto da companhia cu-
jas ações não estejam admitidas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão, para
deliberação sobre:
I - criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferenciais existentes,
sem guardar proporção com as demais classes de ações preferenciais, salvo se já previstos
ou autorizados pelo estatuto;
II - alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de uma
ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova classe mais favorecida;
III - redução do dividendo obrigatório;
IV - fusão da companhia, ou sua incorporação em outra;
V - participação em grupo de sociedades (art. 265);
VI - mudança do objeto da companhia;
VII - cessação do estado de liquidação da companhia;
VIII - criação de partes beneficiárias;
IX - cisão da companhia;

78
DIREITO EMPRESARIAL

X - dissolução da companhia.

A aprovação das matérias previstas nos incisos I a VI e IX do art. 136 dá ao acionista dissidente
o direito de retirar-se da companhia, mediante reembolso do valor das suas ações (art. 45), observa-
das normas previstas no art. 137, LSA.

 CONSELHO FISCAL
O conselho fiscal é um órgão de fiscalização. Embora seja um órgão obrigatório, o seu funcio-
namento é facultativo. A eleição dos membros do conselho fiscal será realizada na assembleia-geral
por maioria.

Podem ser eleitos para o conselho fiscal pessoas naturais, residentes no País, diplomadas em
curso de nível universitário, ou que tenham exercido por prazo mínimo de 3 anos, cargo de adminis-
trador de empresa ou de conselheiro fiscal. As atribuições delegadas aos membros do conselho fiscal
não podem ser outorgadas a outro órgão.

O art. 163, LSA, elenca as competências do conselho fiscal:


Art. 163. Compete ao conselho fiscal:
I - fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e verificar o
cumprimento dos seus deveres legais e estatutários;
II - opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu parecer as in-
formações complementares que julgar necessárias ou úteis à deliberação da assembléia-
geral;
III - opinar sobre as propostas dos órgãos da administração, a serem submetidas à assem-
bléia-geral, relativas a modificação do capital social, emissão de debêntures ou bônus de
subscrição, planos de investimento ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos,
transformação, incorporação, fusão ou cisão;
IV - denunciar, por qualquer de seus membros, aos órgãos de administração e, se estes
não tomarem as providências necessárias para a proteção dos interesses da companhia, à
assembléia-geral, os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, e sugerir providências ú-
teis à companhia;
V - convocar a assembléia-geral ordinária, se os órgãos da administração retardarem por
mais de 1 (um) mês essa convocação, e a extraordinária, sempre que ocorrerem motivos
graves ou urgentes, incluindo na agenda das assembléias as matérias que considerarem
necessárias;
VI - analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais demonstrações financeiras
elaboradas periodicamente pela companhia;
VII - examinar as demonstrações financeiras do exercício social e sobre elas opinar;
VIII - exercer essas atribuições, durante a liquidação, tendo em vista as disposições especi-
ais que a regulam.

Os membros do conselho fiscal têm os mesmos deveres dos administradores e respondem pe-
los danos resultantes de omissão no cumprimento de seus deveres e de atos praticados com dolo ou
culpa, violação a lei ou estatuto.

Os membros do conselho fiscal respondem solidariamente por omissão no cumprimento de


seus deveres. Para se eximir da responsabilidade solidaria o membro dissidente precisa consignar sua
divergência em ata da reunião do órgão e a comunicar aos órgãos da administração e à assembleia-
geral.

79
DIREITO EMPRESARIAL

 DIRETORIA
A diretoria é um órgão executivo de existência obrigatória. A administração da companhia
compete, conforme dispuser o estatuto ao conselho de administração e à diretoria. E quando não
houver conselho de administração apenas à diretoria. A representação da companhia é privativa
dos diretores, sendo o conselho de administração um órgão de deliberação colegiado.

A Diretoria será composta por 2 ou mais diretores (pessoas naturais e residentes no País), e-
leitos e destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração, ou, se inexistente, pela as-
sembleia-geral, devendo o estatuto estabelecer:
Art. 143. (...)
I - o número de diretores, ou o máximo e o mínimo permitidos;
II - o modo de sua substituição;
III - o prazo de gestão, que não será superior a 3 (três) anos, permitida a reeleição;
IV - as atribuições e poderes de cada diretor.

Poderão ser eleitos para cargo de diretor os membros do conselho de administração limitados
até 1/3, ou seja, poderá haver cumulação do cargo de diretor com membro do conselho de adminis-
tração.

Compete à diretoria a representação da companhia e a pratica dos atos necessários ao seu


funcionamento regular, podendo nos limites de suas atribuições e poderes, constituir mandatários
da companhia, devendo ser especificados no instrumento os atos ou operações que poderão praticar
e a duração do mandato, que, no caso de mandato judicial, poderá ser por prazo indeterminado.

 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
O conselho de administração é um órgão de deliberação colegiado, com atribuições e poderes
indelegáveis. Serão eleitas pessoas naturais residentes no País ou não.

Em regra é um órgão facultativo. Nas companhias fechadas a administração poderá ocorrer


somente pela diretoria ou conjuntamente pela diretoria e conselho de administração. Porém nas
sociedades de economia mista, companhias abertas e de capital autorizado o conselho de adminis-
tração é órgão obrigatório, portanto a administração será exercida sempre de forma dual pela dire-
toria e conselho de administração.

O conselho de administração será composto por, no mínimo, 3 membros, eleitos pela assem-
bleia-geral e por ela destituíveis a qualquer tempo, devendo o estatuto estabelecer:
Art. 140. (...)
I - o número de conselheiros, ou o máximo e mínimo permitidos, e o processo de escolha
e substituição do presidente do conselho pela assembléia ou pelo próprio conselho;
II - o modo de substituição dos conselheiros;
III - o prazo de gestão, que não poderá ser superior a 3 (três) anos, permitida a reeleição;
IV - as normas sobre convocação, instalação e funcionamento do conselho, que deliberará
por maioria de votos, podendo o estatuto estabelecer quorum qualificado para certas de-
liberações, desde que especifique as matérias.

A eleição dos conselheiros ocorre através de deliberação em AGO, por maioria dos votos. O
art. 141, LSA ,elenca que na eleição dos conselheiros, é facultado aos acionistas que representem, no
mínimo, 0,1 (um décimo) do capital social com direito a voto, esteja ou não previsto no estatuto,
requerer a adoção do processo de voto múltiplo, atribuindo-se a cada ação tantos votos quantos

80
DIREITO EMPRESARIAL

sejam os membros do conselho, e reconhecido ao acionista o direito de cumular os votos num só


candidato ou distribuí-los entre vários.

Art. 141. (...)


§ 4º Terão direito de eleger e destituir um membro e seu suplente do conselho de admi-
nistração, em votação em separado na assembléia-geral, excluído o acionista controlador,
a maioria dos titulares, respectivamente:
I - de ações de emissão de companhia aberta com direito a voto, que representem, pelo
menos, 15% (quinze por cento) do total das ações com direito a voto; e
II - de ações preferenciais sem direito a voto ou com voto restrito de emissão de compa-
nhia aberta, que representem, no mínimo, 10% (dez por cento) do capital social, que não
houverem exercido o direito previsto no estatuto, em conformidade com o art. 18.

A competência do Conselho de Administração está prevista no art. 142, LSA:


Art. 142. Compete ao conselho de administração:
I - fixar a orientação geral dos negócios da companhia;
II - eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições, observado o
que a respeito dispuser o estatuto;
III - fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da
companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração, e
quaisquer outros atos;
IV - convocar a assembléia-geral quando julgar conveniente, ou no caso do artigo 132;
V - manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria;
VI - manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o exigir;
VII - deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus de
subscrição;
VIII - autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo não
circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de tercei-
ros;
IX - escolher e destituir os auditores independentes, se houver.

 DEVERES E RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES


A administração da companhia como pode ser exercida pela diretoria e conselho de adminis-
tração, ou apenas pela diretoria. Enquanto a diretoria tem função executiva o conselho de adminis-
tração tem função deliberativa. Ambos são considerados administradores da companhia e possuem
deveres e responsabilidades que devem ser cumpridos.

Somente poderão ser eleitas pessoas naturais, e no caso dos diretores os membros deverão
obrigatoriamente ser residentes no País. Portanto os membros do conselho de administração podem
ser residentes no exterior, desde que tenham constituídos representantes residentes no País, com os
poderes e procuração comprazo de validade.

Estão impedidos de ocupar o cargo de administração da companhia:


a) as pessoas impedidas por lei especial;
b) ou condenadas por crime falimentar;
c) de prevaricação, peita ou suborno;
d) concussão;
e) peculato;

81
DIREITO EMPRESARIAL

f) contra a economia popular,


g) a fé pública ou a propriedade;
h) ou a pena criminal que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos.

E nas companhias abertas ficam vedados também para ocupar o cargo de administração as
pessoas declaradas inabilitadas por ato da Comissão de Valores Mobiliários.

Os conselheiros e diretores serão investidos nos seus cargos mediante assinatura de termo de
posse no livro de atas do conselho de administração ou da diretoria, e se não for assinado o termo
em 30 (trinta) dias seguintes à nomeação, esta tornar-se-á sem efeito, salvo justificação aceita pelo
órgão da administração para o qual tiver sido eleito.

Na hipótese de vacância do cargo de conselheiro, o substituto será nomeado pelos conselhei-


ros remanescentes e servirá até a primeira assembleia-geral, se o estatuto não dispor de forma di-
versa. Se ocorrer vacância da maioria dos cargos, a assembleia-geral será convocada para proceder a
nova eleição.

Se houver renúncia ao cargo de administrador, a eficácia em relação a companhia ocorrerá


desde o momento em que lhe for entregue a comunicação escrita do renunciante, e em relação a
terceiros de boa-fé, após arquivamento no registro de comércio e publicação, que poderão ser pro-
movidos pelo renunciante.

 DEVERES DOS ADMINISTRADORES


Os administradores têm alguns deveres que devem ser satisfeitos no desempenho de suas a-
tribuições. São eles:
a) dever de diligência;
b) dever de lealdade, e;
c) dever de informação.

DEVERES DOS ADMINISTRADORES


DEVER DE DILIGÊNCIA
DEVER DE LEALDADE DEVER DE INFORMAÇÃO

O administrador deve em- O administrador de com-


pregar, no exercício de panhia aberta deve decla-
O administrador deve
suas funções, o cuidado e rar, ao firmar o termo de
servir com lealdade à
diligência que todo ho- posse, o número de ações,
companhia e manter
mem ativo e probo costu- bônus de subscrição, op-
reserva sobre os seus
ma empregar na adminis- ções de compra de ações
negócios
tração de seu próprio ne- e debêntures conversíveis
gocio. em ações, de emissão da
companhia e de socieda-
É VEDADO AOS ADMINIS- É VEDADO AOS ADMI-
des controladas ou do
TRADORES: NISTRADORES:
mesmo grupo, de que seja
a) praticar ato de liberali- I - usar, em benefício titular.
dade à custa da companhi- próprio ou de outrem, Os administradores da
a; com ou sem prejuízo para companhia aberta são
b) sem prévia autorização a companhia, as oportu- obrigados a comunicar
da assembleia-geral ou do nidades comerciais de imediatamente à bolsa de

82
DIREITO EMPRESARIAL

conselho de administração, que tenha conhecimento valores e a divulgar pela


tomar por empréstimo em razão do exercício de imprensa qualquer delibe-
recursos ou bens da com- seu cargo; ração da assembleia-geral
panhia, ou usar, em provei- II - omitir-se no exercício ou dos órgãos de adminis-
to próprio, de sociedade ou proteção de direitos tração da companhia, ou
em que tenha interesse, ou da companhia ou, visando fato relevante ocorrido
de terceiros, os seus bens, à obtenção de vantagens, nos seus negócios, que
serviços ou crédito; para si ou para outrem, possa influir, de modo
c) receber de terceiros, deixar de aproveitar o- ponderável, na decisão
sem autorização estatutá- portunidades de negócio dos investidores do mer-
ria ou da assembleia-geral, de interesse da compa- cado de vender ou com-
qualquer modalidade de nhia; prar valores mobiliários
vantagem pessoal, direta emitidos pela companhia
III - adquirir, para reven-
ou indireta, em razão do (disclousure).
der com lucro, bem ou
exercício de seu cargo. direito que sabe necessá-
rio à companhia, ou que
esta tencione adquirir.

 RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES


O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da
sociedade e em virtude de ato regular de gestão, respondendo a própria sociedade perante tercei-
ros.

A responsabilidade dos administradores é subjetiva, ou seja, não são responsabilizados dire-


tamente pelos atos regulares de gestão praticados, salvo comprovação de que agiriam no desempe-
nho de suas atribuições dolosamente, culposamente, com violação ao contrato ou do estatuto. Nes-
sas hipóteses ele será responsabilizado civilmente pelos atos que praticar.

A responsabilização do administrador poderá ser excluída pelo juiz se ficar constatado que o
administrador agiu de boa-fé visando os interesses da companhia.

A competência para ação de responsabilidade contra o administrador é da companhia, pelos


prejuízos causados ao seu patrimônio, mediante previa deliberação da assembleia-geral. Também
poderá ser proposta por qualquer acionista se a ação de responsabilidade não for proposta no prazo
de 3 meses da deliberação da assembleia geral.

Se a assembleia deliberar não promover a ação, ainda assim a ação de responsabilização pode-
rá ser proposta por acionistas que representem 5% (cinco por cento), pelo menos, do capital social.

 DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA COMPANHIA


 DISSOLUÇÃO DA COMPANHIA
A dissolução da companhia poderá ocorrer de três formas:
a) de pleno direito;
b) por decisão judicial, ou;
c) por decisão de autoridade administrativa competente, nos casos e na forma previstas em
lei especial.

83
DIREITO EMPRESARIAL

DISSOLUÇÃO DA COMPANHIA:
DECISÃO ADMI-
PLENO DIREITO DECISÃO JUDICIAL
NISTRATIVA

a) pelo término do prazo de duração; a) quando anulada a sua


constituição, em ação pro-
b) nos casos previstos no estatuto;
posta por qualquer acionista;
c) por deliberação da assembleia-geral (art.
b) quando provado que não
136, X, LSA)
pode preencher o seu fim,
d) pela existência de 1 (um) único acionis- em ação proposta por acio- Nos casos e na
ta, verificada em assembleia-geral ordiná- nistas que representem 5% forma previstos
ria, se o mínimo de 2 (dois) não for recons- (cinco por cento) ou mais do em lei especial.
tituído até à do ano seguinte, ressalvado o capital social;
disposto no artigo 251, LSA;
c) em caso de falência, na
e) pela extinção, na forma da lei, da autori- forma prevista na respectiva
zação para funcionar. lei;

 LIQUIDAÇÃO DA COMPANHIA
Compete a assembleia geral, se o estatuto for omisso, determinar o modo de liquidação e
nomear o liquidante. No caso de liquidação da companhia é obrigatório o funcionamento do conse-
lho fiscal.

O liquidante deverá representar a companhia e praticar todos os atos necessários a liquidação,


inclusive a alienação de bens móveis ou imóveis, transigir, receber e dar quitação, sempre usando a
denominação social seguida das palavras "em liquidação".

O liquidante realizará todo o ativo para pagamento do passivo. Se o ativo for superior ao passi-
vo, o liquidante poderá, sob sua responsabilidade pessoal, pagar integralmente as dívidas vencidas.

São deveres do liquidante:


Art. 210. (...)
I - arquivar e publicar a ata da assembléia-geral, ou certidão de sentença, que tiver delibe-
rado ou decidido a liquidação;
II - arrecadar os bens, livros e documentos da companhia, onde quer que estejam;
III - fazer levantar de imediato, em prazo não superior ao fixado pela assembléia-geral ou
pelo juiz, o balanço patrimonial da companhia;
IV - ultimar os negócios da companhia, realizar o ativo, pagar o passivo, e partilhar o re-
manescente entre os acionistas;
V - exigir dos acionistas, quando o ativo não bastar para a solução do passivo, a integrali-
zação de suas ações;
VI - convocar a assembléia-geral, nos casos previstos em lei ou quando julgar necessário;
VII - confessar a falência da companhia e pedir concordata, nos casos previstos em lei;
VIII - finda a liquidação, submeter à assembléia-geral relatório dos atos e operações da li-
quidação e suas contas finais;
IX - arquivar e publicar a ata da assembléia-geral que houver encerrado a liquidação.

Pago o passivo e rateado o ativo remanescente, o liquidante convocará a assembleia-geral pa-


ra a prestação final das contas, que aprovadas encerra-se a liquidação e a companhia se extingue.

84
DIREITO EMPRESARIAL

Caberá ao acionista dissidente no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da publicação da ata, para pro-
mover a ação que lhe couber se entender necessário.

As responsabilidades do liquidante são as mesmas do administrador, e os deveres e respon-


sabilidades dos administradores, fiscais e acionistas subsistirão até a extinção da companhia.

 EXTINÇÃO DA COMPANHIA
Uma vez dissolvida à companhia e realizada a liquidação a mesma será extinta. A extinção po-
derá ocorrer de duas formas:
a) pelo encerramento da liquidação, ou;
b) pela incorporação ou fusão, e pela cisão com versão de todo o patrimônio em outras so-
ciedades.

ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

 NOÇÕES GERAIS SOBRE O ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL


Considera-se estabelecimento todo complexo de bens or-
ganizado para o exercício da empresa, por empresário ou por
sociedade empresária (art. 1.142, CC).

O CC/02 adotou a expressão “estabelecimento”, mas, po-


demos encontrar as expressões “fundo de empresa” ou “azien-
da”. Estabelecimento não se confunde com o local físico onde o
empresário ou a sociedade empresária encontra-se situado (pon-
to empresarial).

A natureza jurídica do estabelecimento é de uma universalidade de fato84, composta pelos


bens corpóreos/materiais (mobiliários, utensílios, máquinas e equipamentos, bem como mercadorias
e produtos objeto do negócio) e incorpóreos (marcas, patentes, desenho industrial, nome empresa-
rial, ponto empresarial, know-how). Os bens estão reunidos por força da vontade humana, e não por
força de lei; por isso, sua natureza jurídica é de universalidade de fato.

O art. 90, CC, dispõe que “constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária”.

O titular do estabelecimento empresarial é o empresário. O estabelecimento empresarial não


é o sujeito de direitos, sendo sujeito de direitos o empresário ou a sociedade empresária. O estabe-
lecimento empresarial pode ser objeto de direitos quando ocorrer a sua alienação.

84
Em sentido contrário, a banca VUNESP adotou em uma de suas provas aplicadas em 2017 que a natureza jurídica do estabelecimento é
de Universalidade de Direito.

85
DIREITO EMPRESARIAL

O STJ já se manifestou, na edição da Súmula n. 451, que admite a penhora da sede do estabe-
lecimento. Nesse mesmo sentido, temos o Enunciado de n. 488, V, JDC, admitindo-se também a pe-
nhora de website e de outros intangíveis relacionados com o comercio eletrônico.

O aviamento não representa um elemento85 do estabelecimento, mas sim o potencial de lu-


cratividade do estabelecimento, atributo da empresa, não tendo proteção jurídica própria.

A clientela também não compõe o estabelecimento, representando mais um atributo da em-


presa com valor econômico.

 TRESPASSE
O contrato de trespasse não se confunde com a cessão de cotas. No primeiro caso, temos a a-
lienação do estabelecimento empresarial com a transferência de sua titularidade e de todos os seus
bens, enquanto naquele há transferência das cotas (não há mudança da titularidade do estabeleci-
mento, mas da figura do sócio).

O estabelecimento empresarial pode ser objeto unitário de direitos e negócios jurídicos, trans-
lativos (transferência da propriedade, como por exemplo: doação, dação em pagamento, alienação
do estabelecimento) ou constitutivos (não implica a transferência da propriedade, como por exem-
plo: arrendamento mercantil, contrato de locação, contrato de usufruto), desde que sejam compatí-
veis com a sua natureza (art. 1.143, CC).

A Lei 11.101/05 em seu art. 60 admite inclusive, o trespasse como meio de recuperação. Nesse
caso o objeto da alienação estará livre de quaisquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
obrigações do devedor, inclusive trabalhistas e decorrentes de acidentes do trabalho e tributárias.
Nesse mesmo sentido temos o enunciado 47, I, Jornada de Direito Comercial.

 EFEITOS DO CONTRATO EM RELAÇÃO A TERCEIROS E AOS CREDORES


Para que o contrato de TRESPASSE, o arrendamento ou usufruto produzam efeitos perante
terceiros, é necessária sua averbação no Registro Público de Empresa Mercantil da respectiva sede,
bem como a publicação na Imprensa Oficial. Do contrário, não será oponível a terceiros. A publica-
ção ocorre para que os credores possam tomar ciência da alienação.

Estarão dispensados de realizar a publicação de qualquer ato societário, nos termos do art. 71,
LC n. 123/06, as Microempresas, Empresas de Pequeno Porte e Microempreendedores Individuais.

No tocante aos efeitos, com relação aos credores, existem situações em que a publicidade não
será suficiente para configuração do trespasse, como ocorre, por exemplo, se ao alienante não resta-
rem bens suficientes para solver o seu passivo. É imprescindível nesta situação a notificação (judicial
ou extrajudicial) aos credores para se manifestarem, expressa ou tacitamente (quando não se mani-
festar no prazo legal), no prazo de 30 dias.

Havendo impugnação dos credores quanto à alienação, esta somente poderá ocorrer após o
pagamento dos credores que a impugnaram.

85
Alguns doutrinadores sustentam que seria um elemento do estabelecimento.

86
DIREITO EMPRESARIAL

Ou seja, o trespasse depende de: a) havendo bens suficientes para saldar o seu passivo – ape-
nas a publicação nos órgãos competentes; b) consentimento de todos os credores – quando não há
bens suficientes; c) havendo impugnação - se todos os credores que impugnarem tiverem seus crédi-
tos pagos; (art. 1.145, CC). Se ao alienante restarem bens suficientes para solver o seu passivo, essa
notificação será dispensável.

A notificação dos credores no caso acima elencado é fundamental, uma vez que constitui ato
de falência a transferência do estabelecimento empresarial sem consentimento dos credores ou sem
deixar bens suficientes para solver o seu passivo (art. 94, III, alínea c, Lei n°11.101/05).

Na hipótese de eventual decretação da falência do alienante, o adquirente ainda poderá aca-


bar perdendo o estabelecimento em favor da massa falida pela declaração de ineficácia do ato. Dis-
põe o art. 129, VI, Lei 11.101/05 (LRF), que será ineficaz em relação à massa falida “a venda ou trans-
ferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credo-
res, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo,
salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente
notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos”.

 EFEITOS DO TRESPASSE COM RELAÇÃO ÀS OBRIGAÇÕES ASSUMIDAS


ANTERIORMENTE
O art. 1.146, CC, dispõe que o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos
débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor
primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir da publicação, quanto aos créditos
vencidos, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

Ou seja, o adquirente (aquele que está comprando o estabelecimento) somente responderá


pelas obrigações que forem contabilizadas. Eventuais “caixas 2” não serão de responsabilidade do
adquirente, e serão suportadas exclusivamente pelo alienante.

Ainda no tocante às obrigações regularmente contabilizadas, é importante ressalvar que o ali-


enante continuará solidariamente responsável com o adquirente pelo prazo de 1 ano, contados:
a) das obrigações que já venceram da publicação;
b) quanto as obrigações vincendas, um ano contados do seu vencimento;

 NO TOCANTE ÀS OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS


No tocante às obrigações tributárias, a responsabilidade poderá ser integral ou subsidiária.
Dispõe o art. 133, CTN, que a pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por
qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e conti-
nuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual,
responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato:
a) integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade;
b) subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de
seis meses, a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de
comércio, indústria ou profissão.

Se o alienante cessar a exploração da atividade empresária o adquirente responderá integral-


mente. Porém, na segunda hipótese, em que o alienante continua a explorar atividade econômica,

87
DIREITO EMPRESARIAL

ou a encerra, retomando, no prazo de seis meses, a responsabilidade do adquirente será subsidiaria86


à do alienante, somente respondendo o adquirente caso o alienante não tenha bens suficientes para
saldar o débito.

A Consolidação das Leis do Trabalho dispõe, em seu art. 448, que “a mudança de propriedade
ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos emprega-
dos”. No mesmo sentido, interpretamos o art. 10, CLT, que dispõe que “qualquer alteração na estru-
tura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados”.

Ou seja, no tocante às obrigações trabalhistas entre o alienante e o adquirente, haverá solida-


riedade por todas as obrigações anteriores à alienação.

Existem duas exceções em que não haverá sucessão das obrigações do devedor inclusive tri-
butárias, trabalhistas ou decorrentes de acidente do trabalho consagradas na Lei n. 11.101/05:
a) Na Recuperação Judicial: quando a alienação judicial for de filiais ou unidades produtivas
isoladas do devedor (art. 60, parágrafo único, LRF) – a alienação constitui um dos meios de
recuperação judicial previsto no art. 50, LRF; e

b) Na Falência: na alienação conjunta ou separada de ativos da empresa e de suas filiais o


objeto da alienação estará livre de quaisquer ônus e não haverá sucessão do arrematante
nas obrigações do devedor, inclusive de natureza tributária e as derivadas de relação de
trabalho ou decorrentes de acidente do trabalho (art. 141, II, LRF).

 CLÁUSULA DE NÃO CONCORRÊNCIA


A CF, em seu art. 170, IV, estipula que a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observado, dentre outros, o princípio da livre concorrência.

A Constituição assegura a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, indepen-


dentemente de autorização de órgãos públicos, salvo as hipóteses previstas diretamente em lei.

O legislador estabeleceu, no art. 1.147, CC, a dispensa da livre concorrência, inserindo no Có-
digo Civil a cláusula de não concorrência, em que o alienante do estabelecimento empresarial não
poderá fazer concorrência com adquirente pelo prazo de 5 anos subsequentes à transferência, exce-
to se houver previsão expressa no contrato.

O STJ já firmou entendimento no sentido ser abusiva a vigência por prazo indeterminado de
cláusula de “não restabelecimento”, também denominada de “cláusula de não concorrência”. Assim,
deve ser afastada a limitação por prazo indeterminado, fixando-se o limite temporal de vigência por
5 anos contado do contrato.87

É nítido que a intenção do legislador é preservar a clientela (tutelada por meio da vedação da
concorrência desleal). Essa cláusula é implícita e só pode ser afastada ou suprimida de forma expres-
sa no contrato.

86
O STJ entende que a responsabilidade, na hipótese do art. 133, II, CTN, será solidária. No mesmo sentindo, Ricardo Lobos Torres. Luciano
Amaro (corrente minoritária) entende que a expressão “integralmente” não pode ser entendida como solidariedade, uma vez que essa não
se presume.
87
Inf. 554, STJ – REsp. 680.815-PR.

88
DIREITO EMPRESARIAL

O doutrinador Rubens Requião faz alusão às limitações das cláusulas restritivas da concorrên-
cia, citando a classificação de Georges Ripert, que elenca três limites a serem observados:88
a) restrição de tempo: o prazo de não concorrência não pode ser perpétuo, mas suficiente
para que o adquirente possa ficar sua clientela;
b) restrição no espaço: os clientes que frequentam o estabelecimento são “locais”, então
se o alienante se estabelecer em outra cidade, que não faça parte do âmbito do estabele-
cimento alienado não há concorrência desleal;
c) restrição no gênero do comércio: a restrição será quanto ao estabelecimento que possua
o mesmo ramo de atividade;

As limitações a serem observadas são pertinentes e devem ser aplicadas. O alienante que se
restabelece em outra cidade não fará concorrência com o adquirente. O mesmo ocorre, se ele se
restabelecer na mesma cidade, porém em outro ramo.

Quanto à restrição de tempo, é possível a ampliação do prazo dependendo da atividade que


está sendo exercida. Mas a ampliação do prazo de 5 anos de proibição da não concorrência pelo ali-
enante ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da autonomia da
vontade, poderá ser revista judicialmente, se abusiva (Enunciado n. 490, V, JDC).

Em se tratando de arrendamento ou usufruto do estabelecimento, o prazo da cláusula de não


concorrência irá perdurar durante o prazo do contrato.

 OS CONTRATOS CELEBRADOS PELO ALIENANTE:


Se o contrato entre as partes não dispuser de forma diversa, a transferência do estabelecimen-
to importa a sub-rogação89 do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabeleci-
mento, como por exemplo:
a) os contratos de trabalho,
b) fornecimento de energia elétrica,
c) contratos com a clientela.

Não haverá sub-rogação apenas em relação aos contratos de caráter pessoal, ou seja, perso-
nalíssimos. Podemos citar como contratos personalíssimos:
a) o contrato de locação90 (art. 13, Lei n. 8.245/91 - não pode haver cessão da sub-locação
sem autorização do proprietário);
b) franquia empresarial (art. 3º, Lei n. 8.955/94 - indicação do perfil completo do franquia-
do somente permanecendo com a anuência do franqueador); dentre outros.

É permitido ao terceiro, no prazo de 90 dias contados da publicação da transferência, a resci-


são do contrato na hipótese de ocorrer justa causa, ressalvado nesse caso a responsabilidade do
alienante (quando ele mesmo ensejar a justa causa).

88
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. V. 1. São Paulo: Saraiva: 2013. p. 433.
89
Enunciado 234, III, JDC – quando o trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se transmi-
te automaticamente ao adquirente.
90
Enunciado 8, I Jornada de Direito Comercial – A sub-rogação dos adquirentes nos contratos de exploração atinentes ao estabelecimento
adquirido, desde que não possuam caráter pessoal, é a regra geral, incluindo o contrato de locação.

89
DIREITO EMPRESARIAL

Nos termos do art. 1.149, CC, a cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido
produzirá efeitos em relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transfe-
rência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.

Ora, a intenção do legislador não foi outra senão buscar tutelar a boa-fé do terceiro que, que
desconhecendo o contrato de trespasse, acaba efetuando o pagamento ao cedente, quando, na ver-
dade, deveria pagar ao cessionário. Nesses casos, restando comprovada a boa-fé de terceiro, este
será desonerado da obrigação, devendo o cedente repassar ao cessionário os valores que recebeu.

 PONTO EMPRESARIAL
O professor e doutrinador Sergio Campinho define o ponto empresarial (ponto comercial):
“consiste no lugar, no espaço físico onde o empresário encontra-se situado e para o qual converge a
sua clientela”91. Trata-se, portanto, de um elemento incorpóreo do estabelecimento.

O ponto é decorrente da valorização que o local onde é exercida a atividade sofre, em razão do
exercício da empresa. O empresário pode ser o proprietário do bem, ou pode ser o locatário. Quando
estamos falando do ponto em que o imóvel é alugado, a sua proteção decorre da Lei de Locação.

A Lei n. 8.245/91 estabelece que, se o locatário desenvolver o ponto e não puder permanecer
porque o locador requereu o imóvel, o ponto é indenizável (art. 52 § 3º, CC). Poderá o locatário ainda
ajuizar uma ação compulsória renovatória de locação para impor ao locador a renovação do contrato
de locação desde que preencha cumulativamente os requisitos do art. 51 da referida Lei. Tal disposi-
tivo elenca que, nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação
do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
a) o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;

b) o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos
escritos seja de cinco anos (se houver um intervalo mínimo que não descaracterize a rela-
ção locatícia, não comprometerá a possibilidade de renovatória); e

c) o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e inin-
terrupto de três anos.

Por tratar-se de bem imaterial, incorpóreo, o legislador protege em certas condições o direito
à renovação compulsória, de certa forma restringindo o direito de retomada do locador (proprietá-
rio).

O locatário deverá observar o prazo para propositura da ação renovatória, que deverá ocorrer
obrigatoriamente entre 1 ano e 6 meses anteriores ao término do contrato (art. 51, §5º, CC).

Mas, o direito à renovação não é absoluto. Existem hipóteses previstas nos arts. 52 e 72, Lei n.
8.245/91, em que o locador poderá requerer o imóvel:
a) falta do preenchimento das condições legais para renovação (art. 72, I);
b) não atender, a proposta do locatário, ao valor locativo real do imóvel na época da reno-
vação, excluída a valorização trazida por aquele ao ponto ou lugar (art. 72, II);
c) ter proposta de terceiro para a locação, em condições melhores (art. 72, III);

91
Ob.cit., p. 348

90
DIREITO EMPRESARIAL

d) por determinação do Poder Público, tiver que realizar no imóvel obras que importem na
sua radical transformação (art. 52, I);
e) ou para fazer modificações de tal natureza que aumente o valor do negócio ou da pro-
priedade (art. 52, I);
f) o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou para transferência de fundo de comércio
existente há mais de um ano, sendo detentor da maioria do capital o locador, seu cônjuge,
ascendente ou descendente (art. 52, II).

Essa última hipótese não poderá ser invocada quando o espaço locado, for dentro de shopping
centers.

O locatário que tiver prejuízos poderá pleitear indenização, inclusive lucros cessantes com mu-
dança, perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio, se a renovação não ocorrer em razão
de proposta de terceiro, em melhores condições, ou se o locador, no prazo de três meses da entrega
do imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as obras determinadas pelo Poder Público ou que
declarou pretender realizar.

 TÍTULO DO ESTABELECIMENTO
Nos dizeres de Sergio Campinho:
“o título do estabelecimento identifica o ponto em que se situa o empresário, sendo
o elo de atração de sua clientela, na medida em que individualiza a sua loja, o seu
estabelecimento físico, para onde devem ser atraídos os consumidores de seus ser-
viços, produtos ou mercadorias, diferenciando-o claramente de seus concorrentes. É
o sinal distintivo da fachada da casa onde se exerce o negócio, como letreiros de
uso corrente, podendo ser verificado, ainda, nos papéis de correspondência, car-
92
tões, catálogos de produtos e etc. Consiste, assim, no rótulo do estabelecimento.”

O título de estabelecimento pode coincidir com a marca ou o nome empresarial, mas com es-
ses não se confunde, por tratarem-se de figuras jurídicas diversas. Por exemplo: “PONTO FRIO” é o
título do estabelecimento. O nome empresarial, chama-se “GLOBEX UTILIDADES S.A”. Enquanto as
marcas são registradas no INPI, de acordo com a Lei n. 9.279/96, os estabelecimentos são registrados
na Junta Comercial.

O registro da marca deverá ocorrer no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O


nome empresarial é registrado na Junta Comercial. A proteção de ambos decorre do registro. O Có-
digo de Propriedade Industrial, Lei 9.279/96, não regulamenta a proteção do título do estabeleci-
mento, sendo aplicado ao título os princípios de vedação à concorrência desleal previstos nos art.
195, V, e art. 209 da Lei, não sendo permitido que um empresário se aproprie do nome de outro.

 NOME EMPRESARIAL
O Nome empresarial é o elemento que identifica o empresário. Pode ser encontrado nos atos
constitutivos, no alvará de funcionamento, na nota fiscal, dentre outros.

O nome empresarial vai estar inscrito no Registro Público de Empresa Mercantil (Junta Comer-
cial), que é responsável pela inscrição, mas também pela proteção do nome empresarial. O nome

92
Ob.cit. p. 350.

91
DIREITO EMPRESARIAL

empresarial obedecerá aos princípios da novidade e veracidade (art. 34, Lei n. 8.934/94). No tocante
ao princípio da novidade, o entendimento do STJ é no sentido de admitir a coexistência de nomes
empresariais, em situações excepcionais, em que não haja confusão entre consumidores e o ramo da
atividade seja distinta93.

A proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos consti-


tutivos. A regra é a proteção em todo o Estado, mas é possível estender essa proteção em todo o
território nacional, se registrado na forma de lei especial. (art. 1.166, caput e parágrafo único, CC).

Ou seja, para proteção em todo o território nacional, deverá o registro ser efetuado em todas
as Juntas Comerciais em que se pretende garantir a proteção do nome (art. 11, §1º, IN 15, DREI - que
substituiu o DNRC).94

O nome empresarial pode ser de duas modalidades: a) firma e; b) denominação. A firma se di-
vide em individual e social (razão social), a primeira utilizada para os empresários individuais e a se-
gunda para as sociedades empresárias com sócios de responsabilidade solidária e ilimitada. Já a de-
nominação traz o objeto da sociedade e, em regra, será adotada pelas sociedades cujos sócios res-
pondam de forma limitada.

 FIRMA INDIVIDUAL
A Firma individual é utilizada pelo empresário e é constituída por seu nome completo ou abre-
viado, podendo aditar designação mais precisa sobre a sua pessoa ou gênero de atividade que exer-
ce. O nome do empresário deve se distinguir de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Se o
nome do empresário for idêntico ao de outro já inscrito, deverá acrescentar designação que o distin-
ga.

 FIRMA SOCIAL (RAZÃO SOCIAL)


Em regra, a firma social é utilizada para as sociedades cujos sócios respondem ilimitadamente,
podendo figurar no nome empresarial somente aqueles que respondem de forma ilimitada. Não é
necessário que conste o nome de todos os sócios, pode vir o nome de apenas um deles mais a ex-
pressão “e CIA” ou “e companhia” no final do nome empresarial.

Utilizam-se da firma social:


a) Sociedade em comandita simples: (somente poderão figurar no nome empresarial os
sócios comanditados – são aqueles que respondem ilimitadamente perante terceiros). Se o
nome de todos os sócios não constarem na firma, obrigatoriamente, deverá haver a expres-
são “e companhia” no final da firma social.

b) Sociedade em nome coletivo: também utiliza a firma social, mas, diferente da sociedade
em comandita simples, o nome de todos os sócios poderá figurar na firma. Se os nomes de

93
Inf. n°426, STJ – Resp.262.643-SP. NOME COMERCIAL. REGISTRO. CONFUSÃO. (...) ausência de possibilidade de confusão entre consumi-
dores e atuação empresarial em atividades diversas e inconfundíveis(...).
94
Art. 11. (...)
§1º A proteção ao nome empresarial decorre, automaticamente, do ato de inscrição de empresário individual ou do arquivamento de ato
constitutivo de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI, Sociedade Empresária ou cooperativa, bem como de sua altera-
ção nesse sentido, e circunscreve-se à unidade federativa de jurisdição da Junta Comercial que o tiver procedido. § 1º A proteção ao nome
empresarial na jurisdição de outra Junta Comercial decorre, automaticamente, da abertura de filial nela registrada ou do arquivamento de
pedido específico, instruído com certidão da Junta Comercial da unidade federativa onde se localiza a sede da empresa interessada.

92
DIREITO EMPRESARIAL

todos os sócios não constarem na firma, obrigatoriamente, deverá haver a expressão “e


companhia” por extenso ou abreviado no final da firma social.

Nesses dois tipos societários, será necessária a análise do contrato social para saber se trata de
sociedade em nome coletivo ou sociedade em comandita simples. Os sócios que figuram na firma
coletiva responderão de forma solidária e ilimitada pelas obrigações da sociedade.

 DENOMINAÇÃO
A denominação será utilizada para as sociedades cujos sócios respondem de forma limitada.
Deve obediência ao princípio da novidade. O nome deve se distinguir de qualquer outro já inscrito no
órgão competente.

a) Sociedades anônimas: operam sob denominação designativa do objeto social, integradas


das expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, por extenso ou de forma abreviada.

A sociedade anônima que contenha a expressão “companhia”, não poderá inseri-la ao final
do nome empresarial (art. 3º, LSA), podendo a expressão “Cia” constar no início ou no meio
do nome empresarial95. Tal restrição é imposta para não haver confusão entre o nome em-
presarial das S.A. com as sociedades em nome coletivo ou comandita por ações que utili-
zam a expressão “& Companhia” ao final do nome empresarial quando querem designar
outros sócios.

Permitiu o legislador tanto no Código Civil como na LSA que possa constar no nome empre-
sarial o nome do acionista, fundador ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da
empresa (art.1.160, § único, CC c/c art. 3°, §1º, LSA).

b) Sociedades CooperativasN funcionam sob denominação, integrada do vocábulo “coope-


rativa”.

 FIRMA OU DENOMINAÇÃO
Como regra geral, se a responsabilidade dos sócios for limitada, o nome empresarial será uma
denominação. Mas, existem exceções em que o legislador permite que sociedades com sócio de res-
ponsabilidade limitada possam figurar no nome empresarial como firma ou denominação, ficando a
seu critério a escolha de um ou outro.

Podem adotar firma ou denominação:


a) Sociedade Limitada: pode escolher como nome empresarial uma firma coletiva ou denomi-
nação, integradas pela expressão “limitada” por extenso ou de forma abreviada.

A firma será composta pelo nome civil de um ou mais sócios, desde que pessoa física de modo
indicativo da relação social. Já a denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo nela
possível figurar o nome de um ou mais sócios.

95
Tal redação do art. 3º vem sendo objeto de críticas, uma vez que a redação do art. 1.160, CC, não possui a mesma vedação. Além disso,
Sergio Campinho reforça que, enquanto na S.A. deve constar a expressão “companhia”, por extenso ou de forma abreviada, na sociedade
em comandita simples ou nome coletivo a expressão “e companhia”, também por extenso ou de forma abreviada, não havendo motivo
para vedação. Ob. Cit. P. 371

93
DIREITO EMPRESARIAL

A omissão do vocábulo “limitada” acarretará a responsabilidade solidária e ilimitada dos admi-


nistradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade.

b) Sociedade em Comandita por ações: também poderá adotar firma ou denominação desig-
nativa do objeto social, editada da expressão “comandita por ações”. Ressalta-se que somente
poderão figurar na firma os nomes dos sócios que atuam como administradores, aqueles que
respondem de forma ilimitada e subsidiária pelas obrigações sociais.

c) Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI: também poderá utilizar firma ou


denominação com a inclusão da expressão “EIRELI”, desde que, acompanhadas da expressão
“EIRELI” ao final do nome empresarial.

NOME EMPRESARIAL
FIRMA INDIVI- FIRMA OU DENO-
FIRMA SOCIAL DENOMINAÇÃO
DUAL MINAÇÃO
Sociedade em Sociedade em co-
nome coletivo Sociedade Anônima mandita por ações
Empresário indi-
vidual Sociedade em Sociedade Coopera- Sociedade Limitada
comandita sim- tiva
ples EIRELI

 DISPOSIÇÕES DIVERSAS SOBRE NOME EMPRESARIAL


Nos termos do art. 1.155, parágrafo único, CC, a denominação das sociedades simples, associ-
ações e fundações serão equiparadas ao nome empresarial para efeito de proteção da lei.

As sociedades em conta de participação, que são aquelas que não tem personalidade jurídica,
não podem adotar firma ou denominação.

Em se tratando de empresários, EIRELI ou sociedades que possuam enquadramento como Mi-


croempresas ou Empresas de Pequeno Porte, deverão incluir ao final do nome empresarial a expres-
são ME ou EPP, sendo facultativo para as ME ou EPP a inserção do objeto ao nome empresarial. As
sociedades anônimas, assim como as sociedades em comandita por ações, não poderão ser enqua-
dradas como ME ou EPP, em virtude de proibição expressa na LC 123/06 (art. 3º, §4º, X).

O nome empresarial não poderá conter palavras ou expressões que sejam atentatórias à moral
e aos bons costumes. Qualquer pessoa prejudicada, a qualquer tempo, poderá propor ação para
anular a inscrição do nome empresarial feita com violação à lei ou contrato.

Dispõe o Código Civil, em seu art. 1.164, que o nome empresarial não pode ser objeto de alie-
nação. Tal vedação decorre do princípio da veracidade. Como a firma individual e social deve conter
o nome civil daquele que responde de forma ilimitada, a alienação do estabelecimento empresarial
implicará na mudança do nome empresarial, pois o nome civil representa direito da personalidade
não sendo possível a sua alienação. Pode o adquirente do estabelecimento, por ato entre vivos, se o
contrato permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação do suces-
sor.

94
DIREITO EMPRESARIAL

Qualquer sócio que venha a falecer, ser excluído ou se retirar da sociedade não pode ser con-
servado na firma social, em razão do princípio da veracidade, em que o nome empresarial deve ser
composto pelo nome civil do empresário ou dos sócios de responsabilidade ilimitada. Tal princípio é
aplicado a todos os nomes empresariais96.

Além dos elementos corpóreos e incorpóreos que foram elencados acima, ponto empresarial,
título do estabelecimento, nome empresarial, existem ainda outros elementos imateriais para serem
analisados como marca, desenho industrial, patente de invenção e modelo de utilidade, que serão
abordadas no próximo capítulo.

Cessando o exercício da atividade para o qual foi adotado ou na hipótese de liquidação da so-
ciedade, a requerimento de qualquer interessado, poderá o nome empresarial ser cancelado.

Ainda no tocante à Instrução Normativa n. 15, DREI, fica resguardado nos arts. 15 e 16 que, ao
final dos nomes dos empresários, das empresas individuais de responsabilidade limitada - EIRELI e
das sociedades empresárias que estiverem em processo de liquidação, após a anotação no Registro
de Empresas, deverá ser aditado o termo “em liquidação”. O mesmo ocorrerá com as sociedades que
se encontrem em recuperação judicial, após a anotação no Registro de Empresas, o empresário, a
empresa individual de responsabilidade LTDA – EIRELI - e a sociedade empresária deverão acrescen-
tar após o seu nome empresarial a expressão “em recuperação judicial”, que será excluída após co-
municação judicial sobre a sua recuperação.

INSTITUTOS COMPLEMENTARES

 NOME EMPRESARIAL
O Nome empresarial é o elemento que identifica o empresário. Pode ser encontrado no alvará
de funcionamento, na declaração de firma individual, nos atos constitutivos das sociedades empresa-
rias, na carteira de trabalho de seus funcionários, não se confundindo com o título do estabelecimen-
to (que atrai a clientela).

O nome empresarial do empresário individual deverá ser uma firma individual. A firma contém
o nome civil completo ou abreviado do empresário, que pode vir precedido do seu apelido ou do
objeto da empresa, ficando a critério do empresário. Na hipótese do nome escolhido ser igual a ou-
tro que já se encontra registrado por outro empresário, far-se-á obrigatória a inserção do objeto para
impedir nomes idênticos. O nome empresarial obedecerá aos princípios da veracidade e novidade.

 REGISTRO
Não obstante o registro não ser caracterizador da atividade como empresária146, e sim os
pressupostos previstos no art. 966, CC, o empresário individual deverá efetuar a sua inscrição no

96
Rubens Requião sustenta que, na hipótese de o nome empresarial representar uma denominação, por representar o objeto daquela
sociedade, não constitui direito personalíssimo. Portanto, sendo a denominação composta unicamente pelo objeto, nada impede a sua
alienação. Porém, por força do art. 1.164, CC o nome empresarial é inalienável. Ob. Cit. P. 298
146
Enunciado nº: 199, III JDC – A inscrição do empresário ou da sociedade empresária é requisito delineador de sua regularidade, e não de
sua caracterização.

95
DIREITO EMPRESARIAL

Registro Público de Empresa Mercantil da sua respectiva sede, no prazo de 30 dias, contados da assi-
natura do ato constitutivo (art. 1.151, §§ 1º e 2º, CC), hipótese em que os efeitos do registro serão ex
tunc. Ou seja, quando apresentado tempestivamente, o registro retroage à data de assinatura do ato
constitutivo.

A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito de sua caracterização, admitin-


do-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art.
966, CC sujeitando-se as normas do CC e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incom-
patíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em sentido contrário.

A ausência do registro no prazo legal acarreta a responsabilidade pelas perdas e danos das
pessoas que deveriam requerer e não o fizeram. O registro, após o prazo de 30 dias, tem efeito ex
nunc, produzindo efeito a partir da data de concessão (art. 36, da Lei n. 8.934/94).

Na hipótese de o empresário instituir sucursal ou filial sujeita à jurisdição de outro Registro


Público de Empresa Mercantil, deverá efetuar sua inscrição anexando a prova do registro originário
e, posteriormente, averbando essa nova inscrição na Junta Comercial da respectiva sede.

O registro tornará a atividade do empresário regular, mas a ausência de sua inscrição não o
descaracterizará como empresário, daí a natureza jurídica do registro ser declaratória e não constitu-
tiva. Toda e qualquer alteração deverá ser averbada no órgão competente, sob pena de não pode-
rem ser opostas a terceiros (senão antes de averbado na Junta comercial).

147
Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, observado o dis-
posto nesta Lei, será exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por ór-
gãos federais, estaduais e distrital, com as seguintes finalidades: (Redação dada pela Me-
dida Provisória nº 861, de 2018)
I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das em-
presas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei;
II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter
atualizadas as informações pertinentes;
III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancela-
mento.

Os serviços do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins serão exercidos, em


todo o território nacional, de maneira uniforme, harmônica e interdependente pelo SIREM, compos-
to pelos seguintes órgãos:

147
Lei n. 8.934/94

96
DIREITO EMPRESARIAL

SIREM
Sistema de Registro Público de
Empresa Mercantil

DRERI (DNRC)
O DNRC foi substituído pelo DREI – De- JUNTAS COMERCIAIS
partamento de Registro Empresarial e Subordinação administrativa ao governo
Integração – Disciplinado pelo Decreto n. da unidade federativa de sua jurisdição.
8.001/13 (integra a estrutura da secreta- São subordinadas tecnicamente ao DREI.
ria da Micro e Pequena Empresa).

FUNÇÕES - Funções técnicas:


supervisora, orientadora, coordenadora e ÓRGÃOS LOCAIS - Funções:
normativa, no plano técnico; e supletiva, Executora e Administradora dos serviços
no plano administrativo. de registro.

Existem alguns atos que são praticados pela Junta Comercial e que precisam ser observados:

Dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, tra-


I - a matrícula e seu
picheiros e administradores de armazéns-gerais; (profissionais
cancelamento:
específicos – auxiliares do comércio)
a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução
e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis
148
e cooperativas ;
b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que
trata a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976;
c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras
II - O arquivamento:
autorizadas a funcionar no Brasil;
d) das declarações de microempresa;
e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam
atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Ativida-
des Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário e às
empresas mercantis;

Dos instrumentos de escrituração das empresas mercantis regis-


tradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de lei pró-
III - Autenticação pria. Exemplos: livros e fichas escriturais

148
Enunciado 69, I, JDC - As sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas comerciais.

97
DIREITO EMPRESARIAL

 ESCRITURAÇÃO
A escrituração do empresário individual, EIRELI e da sociedade empresária são obrigatórios,
exceto para os pequenos empresários nos termos do art. 170, CC.

O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade,


mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a
documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômi-
co.

- Escrituração contábil: periódico


- Balanços financeiros: patrimonial e de resultado

A escrituração deverá ficar sob a responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, salvo


nas hipóteses em que não houver nenhum na localidade. A escrituração deverá ser realizada em
idioma nacional e moeda corrente nacional e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês
e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as
margens.

a) Livros Obrigatórios: Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que
pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Atenção: Art. 1.180, parágrafo único, e art. 1185, CC

b) Livros Facultativos:
Borrador - rascunho do diário
Caixa - entrada e saída R$
Conta-corrente - contas individualizadas de clientes ou fornecedores
Estoque e Razão - movimento das mercadorias.

c) Livros Especiais:
- o Livro de registro obrigatório das duplicatas (art. 19, Lei n. 5.474/68)
- o Livro de Registro de Ações Nominativas, para inscrição, anotação ou averbação; Livro de
Transferência de Ações Nominativas, Livro de Registro de Partes Beneficiarias Nominativas
e de Transferência de Partes Beneficiarias Nominativas, o Livro de Atas das Assembleias Ge-
rais; o Livro de Presença dos Acionistas; Livro das Atas de Reunião do Conselho de Adminis-
tração (se houver) e das Atas de Reunião da Diretoria, Livros de Atas e Pareceres do Conse-
lho Fiscal (art. 100. I, II, III, IV, V, VI, VII, Lei n. 6.404/76).
- um Livro de entrada e saída de mercadorias escriturado rigorosamente dia a dia para as
empresas de armazéns gerais (art. 7, Decreto-Lei n. 1.102/1903)

Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer
pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresá-
ria observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei149. Essas formalidades

149
Informativo 612, STJ - A controvérsia jurídica está em definir se os Conselhos Regionais de Contabilidade, no exercício de seu poder de
polícia, detêm ou não a prerrogativa de fiscalizar a atuação de seus associados, sobretudo mediante o exame dos livros e documentos
contábeis de sua clientela, bem assim, se tal agir configuraria violação à garantia da privacidade e do sigilo profissional. Conforme se de-

98
DIREITO EMPRESARIAL

não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos,


nos termos estritos das respectivas leis especiais. Nesse sentido, Súmulas n. 390 e 493, STF150.

A exibição dos livros pode ser determinada pelo juiz em algumas situações, conforme tabela
abaixo:

EXIBIÇÃO DOS LIVROS POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL

TOTAL – pelo juiz ou a requerimen-


PARCIAL – ofício ou a requerimento da parte.
to da parte.

Art. 420, CPC. O juiz poderá ordenar


a exibição dos livros: Art. 421, CPC. O juiz pode, de ofício, ordenar à
I - na liquidação de sociedade; parte a exibição parcial dos livros e dos documen-
tos, extraindo-se deles a suma que interessar ao
II - na sucessão por morte de sócio; litígio, bem como reproduções autenticadas.
III - quando e como determinar a lei

Art. 105, LSA. A exibição total dos


livros pode ser determinada pelo
juiz quando houver requerimento
do acionista.

Art. 1.191, CC. O juiz só poderá Art. 1.191,§ 1º, CC. O juiz ou tribunal que conhe-
autorizar a exibição integral dos cer de medida cautelar ou de ação pode, a reque-
livros e papéis de escrituração rimento ou de ofício, ordenar que os livros de
quando necessária para resolver qualquer das partes, ou de ambas, sejam exami-
questões relativas a sucessão, co- nados na presença do empresário ou da socieda-
munhão ou sociedade, administra- de empresária a que pertencerem, ou de pessoas
ção ou gestão à conta de outrem, por estes nomeadas, para deles se extrair o que
ou em caso de falência. interessar à questão.

Além da escrituração os empresários deverão publicar anualmente o seu balanço patrimonial e


balanço do resultado econômico. O primeiro deverá exprimir com fidelidade e clareza, a situação real
da empresa e indicará distintamente o ativo e passivo da empresa. Já o segundo acompanhará o
balanço patrimonial anual e dele constarão créditos e débitos, na forma da lei especial.

preende do art. 1.190 do Código Civil, apenas nos casos previstos em lei poderá a autoridade, juiz ou tribunal requisitar livros e fichas
contábeis do empresário ou sociedade empresária para verificar a observância das formalidades legais. Na hipótese, o Presiden-
te do Conselho Regional de Contabilidade, autoridade administrativa que é, possui ostensivo respaldo em lei para o exercício da atividade
fiscalizatória sob crítica. De fato, tal licença fiscalizatória advém do Decreto-Lei n. 9.295/46, que criou o Conselho Federal de Contabilidade
e os Conselhos Regionais de Contabilidade. Já no art. 2º desse diploma vem assinalado que "A fiscalização do exercício da profissão contá-
bil, assim entendendo-se os profissionais habilitados como contadores e técnicos em contabilidade, será exercida pelo Conselho Federal de
Contabilidade e pelos Conselhos Regionais de Contabilidade a que se refere o art. 1º". No mesmo diapasão, seu art. 10, letra "c", preconiza
ser atribuição dos Conselhos Regionais "fiscalizar o exercício das profissões de contador e guarda-livros, impedindo e punindo as infrações,
e bem assim, enviando às autoridades competentes minuciosos e documentados relatórios sobre fatos que apurem, e cuja solução ou
repressão não seja de sua alçada". Dessa forma, como de fato existe previsão legal específica para o exercício fiscalizatório pelos Conselhos
de Contabilidade, pode-se concluir que a salvaguarda empresarial prevista no reportado art. 1.190 do Código Civil está sendo respeitada.
Por fim, assevera-se que a fiscalização exercida tem por foco central verificar, não o mérito em si, mas os aspectos relacionados à forma,
ou seja, atestar se o profissional da contabilidade, na sua rotina de trabalho, observa as normas técnicas concernentes à atividade
contábil. Sendo esse o propósito primeiro da fiscalização desenvolvida pela entidade classista, não se antevê afronta à privacidade e ao
sigilo profissional dos escritórios fiscalizados e da escrituração contábil de seus clientes.
150
Súmula 390. A exibição judicial de livros comerciais pode ser requerida como medida preventiva.
Súmula 493. O valor da indenização, se consistente em prestações periódicas e sucessivas, compreenderá, para que se mantenha inalterá-
vel na sua fixação, parcelas compensatórias do imposto de renda, incidente sobre os juros do capital gravado ou caucionado, nos termos
dos arts. 911 e 912 do Código de Processo Civil.

99
DIREITO EMPRESARIAL

FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO

O processo de recuperação e falência de uma empresa encontra-se disciplinado na Lei


11.101/05, que substituiu o Decreto Lei 7.661/45.

A recuperação pode ser extrajudicial (arts. 161 a 167, LFR) ou judicial, está ultima divide-se
em: a) recuperação judicial ordinária (arts. 47 a 69, LRF) ou; b) recuperação judicial especial (arts.
70 a 72, LRF).

Enquanto a recuperação é um instituto que tem por objetivo viabilizar a superação da crise e-
conômica do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, o emprego dos trabalha-
dores e dos interesses dos credores a falência tem por objetivo a satisfação dos credores, através da
liquidação da empresa. O doutrinador Sergio Campinho conceitua a falência “como um conjunto de
atos ou fatos que exteriorizam, ordinariamente, um desequilíbrio no patrimônio do devedor”151.

Em razão do principio da par condicio creditorum, é assegurado à todos os credores a parida-


de no tratamento e a igualdade na execução concursal.

 APLICAÇÃO DA LEI
A Lei n. 11.101/05 somente será aplicada aos empresários, EIRELI (natureza empresária) e so-
ciedades empresárias. Não sendo aplicadas as sociedades de natureza simples, registradas no RCPJ
(Registro Civil de Pessoa Jurídica), que passarão pelo instituto da insolvência civil.

 EXCLUÍDOS DA LEI N. 11.101/05


O art. 2º contempla aqueles que estão excluídos da Lei n. 11.101/05, quais sejam:
Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
I - empresa pública e sociedade de economia mista;
II - instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade
de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, soci-
edade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas
às anteriores.

Nos casos disciplinados no art. 2º, II, deverá ser observado o procedimento previsto na lei es-
pecial. E nos termos do art. 197, LRF, enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas,
aplica-se a Lei n. 11.101/05 de forma subsidiária, no que couber, aos regimes previstos no Decreto-
Lei n. 73/66, na Lei n. 6.024/74, no Decreto-Lei n. 2.321/87, e na Lei n. 9.514/97.

151
CAMPINHO. Sergio. Falência e recuperação de empresa: O novo regime de insolvência empresarial. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
Pág. 04.

100
DIREITO EMPRESARIAL

 JUÍZO COMPETENTE
O juízo competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recupera-
ção judicial ou decretar a falência é o juízo do principal estabelecimento do devedor ou da filial da
empresa que tenha sede fora do Brasil.

O local do principal estabelecimento é o local de onde partem as principais decisões, onde se


concentra a administração da empresa, o local mais importante onde é exercida a atividade.

Os processos que envolvam a recuperação ou falência de uma empresa serão sempre proces-
sados na justiça estadual e será chamado de “juízo universal”. A competência é absoluta podendo o
juiz se declarar incompetente de ofício pelo juiz. E podendo ser declarado em qualquer grau de juris-
dição, desde que antes do transito em julgado. O juízo uma vez fixado se torna prevento.

A competência é absoluta, uma vez fixado o juízo competente todas as ações creditícias da
empresa serão atraídas por esse juízo, o mesmo se torna prevento152. O juiz pode se declarar incom-
petente de ofício, independente de provocação da parte pela via de exceção. Pode ser alegada em
qualquer grau de jurisdição ou tempo, desde que antes do transito em julgado.

 OBRIGAÇÕES QUE NÃO SÃO EXÍGIVEIS DO DEVEDOR


Nos termos do art. 5º, LRF, não são exigíveis do devedor as obrigações a título gratuito, pois
não existe perda; bem como as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação
judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor. Se cada credor
custear as suas despesas com o processo, as chances de pagar um maior número de credores au-
mentam.

 ÓRGÃOS AUXILIARES DO JUÍZO


 ADMINISTRADOR JUDICIAL
O administrador judicial é um órgão auxiliar do juiz obrigatório, que estará presente no proce-
dimento de Recuperação e na Falência.

A escolha do administrador judicial compete ao juiz que deverá escolher um profissional idô-
neo, preferencialmente um advogado, contador, economista, administrador ou pessoa jurídica espe-
cializada.

Após a nomeação do administrador judicial e dos membros, serão intimados pessoalmente pa-
ra, em 48h, assinar na sede do juízo o termo de compromisso de bem e fielmente desempenhar seu
cargo e assumir suas responsabilidades. Se o administrador judicial não comparecer o juiz nomeará
outro.

Se a escolha do administrador recair sobre a Pessoa Jurídica, nesse caso no momento da assi-
natura do termo de compromisso será declarado o nome do responsável pela condução do processo
(art. 21, parágrafo único, LRF).

152
No tocante a Recuperação Judicial uma vez deferido o pedido de recuperação judicial, fica obstada a prática de atos expropriatórios por
juízo distinto daquele onde tem curso o processo recuperacional, independentemente da natureza da relação jurídica havida entre as
partes. Resp. 1.630.702-RJ (Inf. 598, STJ).

101
DIREITO EMPRESARIAL

 ATRIBUIÇÕES DO ADMINSITRADOR JUDICIAL


As atribuições do administrador judicial estão contempladas no art. 22, LRF:
Art. 22. (...)
I - na recuperação judicial e na falência:
a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III
do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta
Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a
natureza, o valor e a classificação dada ao crédito;
b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados;
c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de
fundamento nas habilitações e impugnações de créditos;
d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;
o o
e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2 do art. 7 desta Lei;
f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;
g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de credores nos casos previstos nesta
Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões;
h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para,
quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções;
i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei;

II - na recuperação judicial:
a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial;
b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de re-
cuperação;
c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor;
d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso
III do caput do art. 63 desta Lei;

III - na falência:
a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à sua
disposição os livros e documentos do falido;
b) examinar a escrituração do devedor;
c) relacionar os processos e assumir a representação judicial da massa falida;
d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for
assunto de interesse da massa;
e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de com-
promisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que
conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos
envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei;
f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos ter-
mos dos arts. 108 e 110 desta Lei;
g) avaliar os bens arrecadados;
h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a ava-
liação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa;
i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores;
j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos a con-
siderável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa, nos termos do art.
113 desta Lei;
l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívi-
das e dar a respectiva quitação;
m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penho-
rados ou legalmente retidos;

102
DIREITO EMPRESARIAL

n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos hono-


rários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores;
o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o cumprimento
desta Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração;
o
p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10 (décimo) dia do mês seguinte ao
vencido, conta demonstrativa da administração, que especifique com clareza a receita e a
despesa;
q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, sob
pena de responsabilidade;
r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao
cargo.

 REMUNERAÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL


Caberá ao juiz fixar o valor e a forma de remuneração do administrador judicial observado o
teto previsto no art. 24, §§1º e §5º, LRF. O critério de fixação da remuneração do administrador judi-
cial deverá levar em consideração a capacidade de pagamento do devedor, somadas ao valor prati-
cado no mercado e a complexidade dos trabalhos que serão desempenhados.

Nas hipóteses em que o devedor não esteja enquadrado como ME ou EPP, a remuneração
não poderá ultrapassar o teto de até 5% do valor devido aos credores na recuperação ou da venda
dos bens na falência. Porém, nas hipóteses em que estivermos diante de um devedor enquadrado
como ME ou EPP a remuneração não poderá ultrapassar o teto de 2%.

Existem hipóteses em que o administrador judicial poderá após autorização judicial contratar
auxiliares, nesse caso a remuneração também será fixada pelo juiz levando em consideração a com-
plexidade dos trabalhos que serão desempenhados e os valores praticados pelo juiz.

Quem irá custear a remuneração do administrador judicial, bem como de seus auxiliares será o
devedor na hipótese de recuperação judicial e a massa falida nas hipóteses de falência.

Importante ressaltar que o administrador judicial assim como seus auxiliares são considerados
credores extraconcursal e ocupam a 1ª posição na ordem de pagamento prevista no art. 84, LRF.

 IMPEDIMENTOS PARA O CARGO DE ADMINSITRADOR JUDICIAL


Estão impedidos de fazer parte do comitê de credores ou ocupar o cargo e administrador judi-
cial quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador deixou de prestar con-
tas, teve as contas desaprovadas ou tiver relação de parentesco até 3º grau com o devedor, seus
administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente.

 DESTITUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DE ADMINISTRADOR JUDICIAL


Tanto o administrador judicial como os membros do comitê poderão ser destituídos de seu
cargo, nas hipóteses de desobediência aos preceitos da lei, descumprimento dos deveres, omissão,
negligencia ou pratica de ato lesivo às atividades do devedor e a terceiros. Será ainda destituído o
administrador judicial que após ser intimado pessoalmente pelo juiz no prazo de 5 dias não apresen-
tar suas contas e relatórios (art. 23, parágrafo único, LRF). A destituição é uma punição, acarretando
a perda do direito da remuneração para o administrador judicial.

103
DIREITO EMPRESARIAL

Já a substituição ocorre nas hipóteses em que o administrador judicial tem relevante razão de
direito, por exemplo, está doente e impedido de prosseguir nas suas atribuições. A substituição a-
carreta o pagamento da remuneração proporcional, salvo nas hipóteses em que renunciar sem rele-
vante razão de direito ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo, descumprimento
das obrigações fixadas na lei, hipóteses em que perderá o direito à remuneração.

 COMITÊ DE CREDORES
O comitê de credores é um órgão facultativo. Será constituído por deliberação de qualquer
das classes de credores na Assembleia Geral. Os membros do Comitê de Credores não terão direito à
remuneração, mas poderão ser reembolsados das despesas realizadas para realização de atos que
estejam previstos na LRF.

 ATRIBUIÇÕES DO COMITÊ
Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além de outras previstas nes-
ta Lei:
I - na recuperação judicial e na falência:
a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial;
b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei;
c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos cre-
dores;
d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados;
e) requerer ao juiz a convocação da assembléia-geral de credores;
f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei;

II - na recuperação judicial:
a) fiscalizar a administração das atividades do devedor, apresentando, a cada 30 (trinta)
dias, relatório de sua situação;
b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial;
c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipóte-
ses previstas nesta Lei, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus
reais e outras garantias, bem como atos de endividamento necessários à continuação da
atividade empresarial durante o período que antecede a aprovação do plano de recupera-
ção judicial.

 COMPOSIÇÃO DO COMITÊ DE CREDORES


O Comitê de Credores é composto pelos credores do devedor. Sua composição foi alterada pe-
la Lei Complementar 147 de 2014, que inseriu o inciso IV do art. 26, LRF. Cada classe é composta por
um representante com dois suplentes.

Art. 26. O Comitê de Credores será constituído por deliberação de qualquer das classes de
credores na assembléia-geral e terá a seguinte composição:
I - 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois) suplen-
tes;
II - 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou
privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes;
III- 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios
gerais, com 2 (dois) suplentes.

104
DIREITO EMPRESARIAL

IV - 1 (um) representante indicado pela classe de credores representantes de microem-


presas e empresas de pequeno porte, com 2 (dois) suplentes.

A ausência de indicação de credores por qualquer das classes, não prejudica a composição do
Comitê que poderá funcionar com número inferir ao previsto no art. 26, LRF.

Não havendo comitê de credores suas atribuições serão desempenhadas pelo administrador
judicial, e na incompatibilidade (art. 27, I, a, LRF) pelo juiz.

 ASSEMBLEIA-GERAL DE CREDORES
A Assembleia Geral de Credores é um órgão de deliberação. Os credores são reunidos em qua-
tro classes para deliberar sobre as atribuições previstas no art. 35, LRF.

 ATRIBUIÇÕES DA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES


Art. 35. A assembléia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre:
I - na recuperação judicial:
a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo
devedor;
b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição;
c) (VETADO)
o
d) o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4 do art. 52 desta Lei;
e) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor;
f) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores;

II - na falência:
a) (VETADO)
b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição;
c) a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na forma do art. 145 desta Lei;
d) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores.

Importante frisar que esse rol previsto no art. 35, LRF é exemplificativo, uma vez que a Assem-
bleia poderá ser convocada pelo juiz para deliberar sobre quaisquer outras matérias que sejam de
interesse dos credores.

A convocação da assembleia-geral será realizada pelo juiz através de edital publicado em órgão
oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e de suas filiais quando houver. A
convocação também poderá ser realizada pelos credores que representem ao menos 25% créditos
de uma determinada classe (art. 36, §2º, LRF).

Art. 36. A assembléia-geral de credores será convocada pelo juiz por edital publicado no
órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e filiais, com ante-
cedência mínima de 15 (quinze) dias, o qual conterá:
a a
I - local, data e hora da assembléia em 1 (primeira) e em 2 (segunda) convocação, não
a
podendo esta ser realizada menos de 5 (cinco) dias depois da 1 (primeira);
II - a ordem do dia;
III - local onde os credores poderão, se for o caso, obter cópia do plano de recuperação ju-
dicial a ser submetido à deliberação da assembléia.

O credor pode ser representado na assembleia por mandatário ou representante legal desde
que cumpridas às exigências do art. 37, §4º, LRF.

105
DIREITO EMPRESARIAL

O voto do credor na assembleia é proporcional ao valor de seu crédito. Não terão direito a vo-
to e não serão considerados para fins de verificação do quorum de instalação e de deliberação os
titulares de créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49, LRF.

 COMPOSIÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDOES


A composição da Assembleia Geral de Credores está prevista no art. 41, LRF. Os credores são
separados por classes. A Composição sofreu alteração pela Lei Complementar 147 de 2014, incluindo
uma quarta classe exclusiva para os titulares de credores enquadrados como Microempresa - ME e
Empresa de Pequeno Porte - EPP.

Art. 41. A assembléia-geral será composta pelas seguintes classes de credores:


I - titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de
trabalho;
II - titulares de créditos com garantia real;
III - titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou su-
bordinados.
IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte.

A aprovação pela Assembleia ocorrerá quando a proposta obtiver votos favoráveis de credores
que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia-geral, exceto
nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial nos termos da alínea a do inciso I do caput do
art. 35, LRF, a composição do Comitê de Credores ou forma alternativa de realização do ativo nos
termos do art. 145, LRF.

Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial todas as classes de credores deverão
aprovar a proposta. A aprovação correrá nos seguintes termos:
1. Nas classes referidas nos incisos II e III do art. 41, LRF, a proposta deverá ser aprovada
por credores que representem:
a) mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia e, cumulativamente
b) pela maioria simples dos credores presentes;

2. Na classe prevista no inciso I e IV do art. 41, LRF, a proposta deverá ser aprovada apenas
pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seu crédito.

 PROCEDIMENTO DE VERIFICAÇÃO E HABILITAÇÃO DE CRÉDITOS


A Lei n. 11.101/05 estabelece no seu capítulo II, seção II, disposições comuns do procedimento
de verificação e habilitação dos créditos que serão aplicáveis para recuperação judicial e falência.

Na Recuperação Judicial o procedimento de verificação e habilitação de crédito se inicia com a


publicação da decisão de deferimento do processamento da recuperação, prevista no art. 52, §1º,
LRF. Já na falência ocorre com a publicação do edital que contém a integra da decisão que decreta a
falência, prevista no art. 99, parágrafo único, LRF. Em ambos os casos os prazos que serão aplicados
serão idênticos, conforme gráfico a seguir:

106
DIREITO EMPRESARIAL

Art. 7º, § 1º, LRF


Publicação do edital

Art. 52, § 1º, LRF Art. 99, parágrafo único, LRF


Prazo de 15 dias para os Prazo de 15 dias para os
credores apresentarem credores apresentarem habi-
habilitação ou divergência litação ou divergência - junto
- junto ao administrador ao administrador judicial
judicial

Art. 7, § 2º, LRF


Prazo de 45 dias para o
Administrador Judicial
publicar edital com a rela-
ção de credores

Art. 8, LRF
Prazo de 10 dias para os
credores, comitê, devedor,
sócios ou MP apresenta-
rem impugnações

Art. 14, LRF


Sem impugnação, o juiz homologa Art. 8, parágrafo único, LRF
o Quadro-Geral de Credores - QGC Com impugnação

Art. 11, LRF


5 dias para o credor impugnado
contestar

Art. 15, LRF Art. 12, LRF


Autos conclusos ao juiz - Após o 5 dias para o devedor e comitê
julgamento das impugnações, ha- apresentarem manifestação
verá a homologação do QGC (Arts.
15 e 18, LRF)

Art. 12, parágrafo único, LRF


5 dias para Administrador judicial
Art. 17, LRF emitir um parecer
Da decisão sobre a impugnação -
Recurso cabível: Agravo

107
DIREITO EMPRESARIAL

O procedimento de verificação e habilitação de crédito quando realizado dentro do prazo se-


gue o quadro exposto acima. Não é necessária a contratação de um advogado para realizar a habili-
tação, basta procurar o administrador judicial.

As impugnações serão autuadas em separado nos termos do art. 8º, parágrafo único, LRF, e di-
rigidas ao juiz por meio de petição, devendo ser instruídas com os documentos necessários para
comprovação do seu direito.

Nas hipóteses em o credor perde o prazo para habilitação de crédito, será possível à realização
de sua habilitação de forma retardatária na forma do art. 10, caput e §5º, LRF.

Para realização de habilitação retardatária é necessário que o Quadro Geral de Credores -


QGC não esteja homologado. As habilitações quando apresentadas serão recebidas como impugna-
ções e processadas na forma dos arts. 13 a 15, LRF.

As habilitações retardatárias são dirigidas ao juiz assim como as impugnações, diferente do


que ocorrem as habilitações tempestivas do art. 7º, §1º, LRF, que são dirigidas ao Administrador Ju-
dicial.

Na hipótese do Quadro Geral de Credores - QGC já ter sido homologado pelo Juiz, aqueles que
não habilitaram seus créditos poderão observado o procedimento ordinário previsto no art. 10º, §
6º, LRF, propor ação de retificação do quadro geral de credores153 para inclusão do respectivo crédi-
to.

Nas habilitações retardatárias, impugnações ou ação de retificação é necessária à contratação


de um advogado por tratar-se de procedimento litigioso.

Até que ocorra o encerramento da recuperação judicial ou da falência o Administrador Judicial,


Comitê, Credores ou o representante do Ministério Público, poderão observado o procedimento
ordinário propor Ação Revisional do Quadro Geral de Credores, para pedir a exclusão, outra classifi-
cação ou a retificação de qualquer crédito, nas hipóteses de descoberta de falsidade, dolo, simula-
ção, fraude, erro essencial ou ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da
inclusão do quadro geral de credores.

153
REsp 1.371.427-RJ - DIREITO EMPRESARIAL. RETIFICAÇÃO DO QUADRO GERAL DE CREDORES APÓS HOMOLOGAÇÃO DO PLANO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Ainda que o plano de recuperação judicial já tenha sido homologado, é possível a retificação do quadro geral
de credores fundada em julgamento de impugnação. (...) uma vez deferido o processamento da recuperação judicial (art. 52), o juiz de-
termina a expedição de edital com a relação nominal de credores e respectivos créditos e, a partir de então, a um só tempo, iniciam-se a
fase de verificação e habilitação de créditos (art. 52, § 1º) e o prazo improrrogável de 60 dias para a apresentação do plano de recuperação
judicial, sob pena de convolação em falência (art. 53). Por serem fases que ocorrem de maneira paralela, é possível que a aprovação do
plano de recuperação judicial ocorra antes da pacificação dos créditos, ou seja, é possível que o plano de recuperação judicial seja aprova-
do antes do julgamento de impugnação de crédito e, consequentemente, antes da consolidação do quadro geral de credores. Dessa ma-
neira, a existência do plano de recuperação judicial já homologado não pode ser um entrave à consolidação do quadro geral de credores.
De fato, a retificação do quadro geral de credores após o julgamento da impugnação é consequência lógica e previsível, própria da fase
de verificação e habilitação dos créditos. Salienta-se, inclusive, que esse julgamento é requisito indispensável para a consolidação do
quadro geral de credores, sendo completamente desinfluente para a higidez do plano de recuperação judicial já aprovado o fato de o
julgamento se concretizar após sua homologação. Com efeito, tal circunstância coaduna-se com a sistemática prevista na Lei de Recupera-
ção Judicial, pois as questões passíveis de serem objeto de impugnação judicial contra a relação de credores, que são expressamente
previstas no art. 8º, somente se consolidam (art. 18) após o julgamento da citada impugnação, de modo que se admite a retificação do
quadro geral de credores no tocante à ausência, legitimidade, importância ou classificação de crédito, mesmo após a aprovação do plano
de recuperação judicial. Ademais, interpretação em sentido contrário tornaria praticamente inócuas as impugnações judiciais contra a
relação de credores, pois, no plano fático, muitas vezes não é possível harmonizar as demandas de uma empresa em recuperação judicial,
cujo plano de reestruturação é, sem dúvida, a principal peça para a viabilização da atividade econômica, com a tramitação judicial do
procedimento de verificação e habilitação de créditos. Além disso, o fator "tempo" ou a duração do processo não pode prejudicar o credor
que, na forma da lei, busca a declaração do seu crédito. REsp 1.371.427-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/8/2015, DJe
24/8/2015 (Informativo 567).

108
DIREITO EMPRESARIAL

 RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Nos termos da Lei n. 11.101/05 existem duas modalida-
des de recuperação judicial: a) recuperação judicial ordinária,
prevista nos arts. 47 a 69, LRF e; b) recuperação judicial espe-
cial, nos arts. 70 a 72, LRF.

O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no


Informativo 598, no sentido de que o destino do patrimônio da
sociedade em processo de recuperação judicial não pode ser
atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento,
sob pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial. Nesse sentido o
Juízo onde tramita o processo de recuperação judicial é o competente para decidir sobre o destino
dos bens e valores objeto de execuções singulares movidas contra a recuperanda, ainda que se trate
de crédito decorrente de relação de consumo154.

 RECUPERAÇÃO JUDICIAL ORDINÁRIA


Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que
não vencidos.

Dispõe o art. 64, LRF, que durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus
administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê,
se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles:
Art. 64. (...)
I - houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido
em recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime contra o patrimônio, a eco-
nomia popular ou a ordem econômica previstos na legislação vigente;
II - houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei;
III - houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seus credores;
IV - houver praticado qualquer das seguintes condutas:
a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua situação patrimo-
nial;
b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao capital ou gê-
nero do negócio, ao movimento das operações e a outras circunstâncias análogas;
c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações prejudiciais ao seu
funcionamento regular;
d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III do caput do
art. 51 desta Lei, sem relevante razão de direito ou amparo de decisão judicial;
V - negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demais
membros do Comitê;
VI - tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial.

Verificada qualquer das hipóteses acima indicadas, o juiz destituirá o administrador que será
substituído na forma prevista nos atos constitutivos do devedor ou do plano de recuperação judicial.

Se houver o afastamento do devedor em qualquer das hipóteses contempladas no artigo 64,


LRF, o juiz convocará a assembleia geral de credores para deliberar sobre o nome do gestor judicial
que assumirá a administração das atividades do devedor.

154
REsp 1.630.702-RJ

109
DIREITO EMPRESARIAL

 OBJETIVO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL


A recuperação judicial surge com o objetivo de viabilizar a superação da crise econômico-
financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos traba-
lhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função
social e o estímulo à atividade econômica.

Quando o devedor está enfrentando uma crise econômica e quer evitar a sua falência ele pode
utilizar o instituto da recuperação judicial.

 LEGITIMADOS
Possui legitimidade para requerer a recuperação judicial o próprio devedor, o cônjuge sobrevi-
vente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente. Cuidado! Os credores não têm
legitimidade para requerer a recuperação judicial do seu devedor.

Obs.: Aqueles que exercem atividade rural (arts. 971 e 984, CC) e possuem registro na Junta
comercial poderão pedir recuperação e ter sua falência decretada.

 REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO


a) Requisitos substanciais (art. 48, LRF):
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, e-
xerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes
requisitos, cumulativamente:
I - não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julga-
do, as responsabilidades daí decorrentes;
II - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base
no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com ba-
se no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV - não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

b) Requisitos formais (art. 51, LRF):


Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com:
I - a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da
crise econômico-financeira;
II - as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levan-
tadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da le-
gislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
III - a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou
de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor a-
tualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a
indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;

110
DIREITO EMPRESARIAL

IV - a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários,


indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de compe-
tência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;
V - certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constituti-
vo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
VI - a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do de-
vedor;
VII - os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplica-
ções financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bol-
sas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
VIII - certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do
devedor e naquelas onde possui filial;
IX - a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como
parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores de-
mandados.

 CRÉDITOS NÃO SUJEITOS A RECUPERAÇÃO JUDICIAL


Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que
não vencidos.

É necessário ficar atentos aos contratos que não estarão sujeitos ao efeito da recuperação,
prevalecendo os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais:

Credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens mó-


Art. 49, §3º, LRF
veis ou imóveis;
Art. 49, §3º, LRF Credor de arrendador mercantil;
Credor de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos
Art. 49, §3º, LRF respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou
irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias;
Credor de proprietário em contrato de venda com reserva de
Art. 49, §3º, LRF
domínio;
Da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacio-
Art. 49, §4º, LRF nal, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para
exportação (inciso II do art. 86, LRF).

No tocante aos créditos previstos no art. 49, §3º, LRF, o crédito não se submeterá aos efeitos
da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições con-
tratuais. No entanto, se os bens forem de capital essenciais as atividades do devedor, não se permite
a retirada ou venda pelo credor no prazo de 180 (cento e oitenta) dias (art. 6º, §4º, LRF).

Essa exceção prevista na parte final do art. 49, §3º, LRF, não se aplica as empresas que te-
nham objeto aéreo de qualquer natureza ou de infraestrutura aeronáutica, nos termos do art. 197,
LRF. Sendo assim, em nenhuma hipótese ficará suspenso o exercício do direito derivado de contratos
de locação, arrendamento mercantil ou de qualquer outra modalidade de arrendamento de aerona-
ve e suas partes. Os créditos decorrentes destes contratos não se submeteram aos efeitos da recupe-
ração prevalecendo os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais originalmen-
te definidas em lei.

111
DIREITO EMPRESARIAL

 CONSTITUEM MEIOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL


O art. 50, LRF, estabelece alguns meios de recuperação que podem ser utilizados:
Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a ca-
da caso, dentre outros:
I - concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou
vincendas;
II - cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária
integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da le-
gislação vigente;
III - alteração do controle societário;
IV - substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus
órgãos administrativos;
V - concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de po-
der de veto em relação às matérias que o plano especificar;
VI - aumento de capital social;
VII - trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pe-
los próprios empregados;
VIII - redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo
ou convenção coletiva;
IX - dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de
garantia própria ou de terceiro;
X - constituição de sociedade de credores;
XI - venda parcial dos bens;
XII - equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo
como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se
inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
XIII - usufruto da empresa;
XIV - administração compartilhada;
XV - emissão de valores mobiliários;
XVI - constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos
créditos, os ativos do devedor.

 DECISÃO DE DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO


Presentes os requisitos do art. 48 e atendidas às documentações do art. 51, o juiz deferirá o
processamento da recuperação judicial. Não podemos confundir a decisão de deferimento do pro-
cessamento da recuperação com a decisão de concede a recuperação. A primeira dá a inicio a cha-
mada fase deliberativa, enquanto a segunda a fase executiva de cumprimento do plano de recupera-
ção.

Nos termos do art. 52, LFR, no mesmo ato de deferimento o juiz:


Art. 52. (...)
I - nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei;
II - determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor
exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento
de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta
Lei;
III - ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do
art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressal-

112
DIREITO EMPRESARIAL

vadas as ações previstas nos §§ 1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e as relativas a créditos ex-
cetuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei;
IV - determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais enquanto
perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores;
V - ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Pú-
blicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimen-
to.

A decisão que defere o processamento da recuperação suspende o curso da prescrição e de


todas as ações e execuções em face do devedor pelo prazo de 180 dias (art. 6º § 4º, LRF).

A suspensão de que trata o art. 52, III, LRF, em hipótese alguma excederá o prazo improrro-
gável de 180 dias155, contados do deferimento do processamento da recuperação judicial, restabele-
cendo-se após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execu-
ções independentemente de pronunciamento judicial (art. 6, § 4º, LRF).

Contudo, no tocante a suspensão de que trata o art. 52, III, LRF, não serão suspensas as obri-
gações que demandem quantia ilíquida (art. 6º, §1º, LRF), as ações que tramitam na justiça do tra-
balho (art. 6º, §2º, LRF) e as execuções fiscais (art. 6º, §7º, LRF), assim como os contratos previstos
no art. 49, §§3º156 e 4º, não se submetem aos efeitos da recuperação.

A decisão que defere o processa-


mento da recuperação judicial:
Não suspende

Os contratos que não se


Art. 6º, §1º, LRF
Art. 6º, §2º, LRF Art. 6º, §7º, LRF submetem aos efeitos da
Ações que deman-
Ações de natureza Execuções de recuperação judicial:
dem quantia ilí-
trabalhista natureza fiscal Art. 49, §§3º e 4º, LRF
quida

3. Proprietário ou promi-
1. Credor titular tente vendedor de imóvel 4. Proprietá- 5.Importância entre-
da posição de cujos respectivos contratos
2. Arrendador rio em contra- gue ao devedor de-
proprietário contenham cláusula de
mercantil; to de venda corrente de adianta-
fiduciário de irrevogabilidade ou irretra-
Art. 49, §3º, LRF com reserva mento de câmbio
bens móveis ou tabilidade, inclusive em de domínio; para exportação
imóveis; incorporações imobiliárias; Art. 49, §3º, Art. 49, §4º, LRF
Art. 49, §3º, LRF Art. 49, §3º, LRF LRF

155
Mesmo a referida lei mencionando que em hipótese alguma o prazo de 180 (cento e oitenta) dias poderá ser prorrogado na prática tem
ocorrido a prorrogação quando o retardamento do feito não for imputado ao devedor, como por exemplo, ocorreu com a empresa OI.
Nesse sentido temos a redação do enunciado 42 – I J.D.Comercial – O prazo de suspensão previsto no art. 6º§4, LRF pode excepcionalmen-
te ser prorrogada, se o retardamento do feito não puder ser imputado ao devedor.
156
Inf. 550, STJ - DIREITO EMPRESARIAL. NÃO SUBMISSÃO DE CRÉDITO GARANTIDO POR ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA AOS EFEITOS DE RECUPE-
RAÇÃO JUDICIAL. Não se submetem aos efeitos da recuperação judicial os créditos garantidos por alienação fiduciária de bem não essencial
à atividade empresarial. (...)CC 131.656-PE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 8/10/2014 (Informativo nº 550).

113
DIREITO EMPRESARIAL

Uma vez concedido o deferimento do processamento da recuperação judicial o devedor não


poderá desistir do plano de recuperação judicial, salvo se obtiver aprovação da desistência na as-
sembleia geral de credores (art. 52, §4º, LRF).

Após o deferimento do processamento da recuperação judicial o juiz ordenará a expedição de


edital, para publicação no órgão oficial, que conterá:
Art. 52. §1º (...)
I - o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recupe-
ração judicial;
II - a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação
de cada crédito;
III - a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7º, §
1º, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial
apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei.

Aplica-se após a publicação do edital o procedimento de verificação e habilitação de crédito.

 APRESENTAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL


Publicada a decisão de defere o processamento da recuperação judicial, começa a correr o
prazo improrrogável de 60 dias, para o devedor apresentar o Plano de Recuperação em juízo, sob
pena de convolação em falência.

O plano do devedor deverá conter:


Art. 53. (...)
I - discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme o
art. 50 desta Lei, e seu resumo;
II - demonstração de sua viabilidade econômica; e
III - laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por
profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

Assim que o plano for apresentado pelo devedor, será publicado um edital contendo aviso aos
credores, e o juiz fixará os prazos para apresentação das objeções previstas no art. 55, LRF.

O devedor tem a liberdade de elaborar o plano de recuperação, podendo se utilizar de um dos


meios de previsto no art. 50, LRF, sem, contudo deixar de observar as ressalvas apresentadas pelo
legislador no tocante aos créditos de natureza trabalhistas, previstas no art. 54, LRF. O plano de re-
cuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 ano para pagamento dos créditos derivados
da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de
recuperação judicial.

Outra ressalvada apresentada pelo legislador ainda no tocante aos créditos trabalhistas encon-
tra-se prevista no art. 54, parágrafo único que determina que o “plano não poderá, ainda, prever
prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por
trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao
pedido de recuperação judicial”.

Segue abaixo o cronograma da apresentação do plano de recuperação judicial e seus des-


membramentos:

114
DIREITO EMPRESARIAL

Apresentação do plano
Art. 53, LRF

Com objeções de credores ao Sem objeções de credores


plano ao plano - art. 58, LRF

Juiz convoca a Assembleia Juiz concede a recuperação


Geral de Credores judicial
Art. 56, LRF Art. 58, LRF

Plano aprovado pela Assem-


Plano rejeitado pela Assem- bleia Geral de Credores, na
bleia Gera de Credores forma do art. 45, LRF

Cram down - o juiz concede a recupe-


O juiz decreta a falência com ração judicial mesmo sem o plano ter
base no art. 56, §4º, LRF sido aprovado, desde que presentes os
requisitos do art. 58, § 1º, LRF

Uma vez apresentado o plano de recuperação judicial pelo devedor, no prazo improrrogável
de 60 (sessenta) dias, qualquer credor poderá opor objeção. Se não houver objeção o juiz concederá
a recuperação judicial nos termos do art. 58, LRF. Já nas hipóteses em que forem apresentadas obje-
ções o juiz deverá convocar a assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano157. A assem-
bleia deverá ocorrer no prazo máximo de 150 dias contados do deferimento do processamento da
recuperação judicial.

O plano submetido à assembleia poderá ser aprovado, rejeitado ou poderá sofrer objeções,
neste último caso, desde que haja expressa concordância do devedor e em termos que não impli-
quem em diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes158.

157
Os bondholders detentores de títulos de dívida emitidos por sociedades em recuperação judicial e representados por agente fiduciário –
têm assegurados o direito de voto nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial. REsp. 1.670.096-RJ (Inf. 607, STJ).
158
Enunciado 45 – I JD Comercial – O magistrado poderá desconsiderar voto de credores ou a manifestação de vontade do devedor, em
razão de abuso de direito.

115
DIREITO EMPRESARIAL

Existem três hipóteses em que o juiz irá conceder a recuperação judicial:

Aprovação tácita - O juiz concederá a recuperação com


SEM OBJEÇÃO base no plano que não sofrer objeções na forma do art.
58, LRF
O Juiz concederá a recuperação com base no plano que
COM OBJEÇÃO sofreu objeção, mas foi aprovado na assembleia (nos
termos art. 45, LRF) na forma do art. 58, LRF
O Juiz concederá a recuperação com base no plano que
COM OBJEÇÃO houver sido rejeitado pela assembleia, mas preenche os
requisitos do art. 58, §1º, LRF

A regra prevista no art. 56, §4º, LRF determina que rejeitado o plano na assembleia o juiz de-
cretará a falência do devedor. Ocorre que, excepcionalmente o legislador regula em seu art. 58, §1º,
LRF, a possibilidade de o juiz poderá conceder a recuperação judicial (CRAM DOWN) com base no
plano que não obteve aprovação na forma do art. 45, LRF, desde que, na mesma assembleia, tenha
obtido, cumulativamente:
Art. 58. (...)
§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve a-
provação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia, tenha obtido,
de forma cumulativa:
I - o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os
créditos presentes à assembléia, independentemente de classes;
II - a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, ca-
so haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1
(uma) delas;
III - na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos cre-
dores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.

O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos159 anteriores ao pedido, e obriga
o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado art. 50, §1º, LRF.

 FASE EXECUTIVA NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL


Uma vez concedida à recuperação judicial iniciamos a chamada fase executiva, ou seja, de
cumprimento do plano de recuperação. A decisão que concede a recuperação judicial constitui titulo
executivo judicial. Essa decisão é passível de Agravo, que pode ser interposto por qualquer credor ou
pelo Ministério Público.

159
REsp 1.662.793-SP – (... )Ressalta-se que o art. 59, da LRF dispõe que “o plano de recuperação judicial implica novação dos créditos
anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos”. A novação do crédito, oriundo de sentença condenatória por
reparação civil, permite o ajuste do cálculo da dívida na recuperação, sem que isso implique violação da coisa julgada, pois a execução
seguirá as condições pactuadas na novação e não na obrigação extinta. (Informativo n. 610)

116
DIREITO EMPRESARIAL

FASE EXECUTIVA
O devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cum-
pram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até
2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial.

Se o devedor cumprir o plano Se o devedor descumprir o


nesse período de 2 anos plano nesse período de 2 anos

O juiz encerra a recuperação O juiz convola em falência


judicial por sentença art. 61, §1º, LRF
art. 63, LRF

Se o devedor descumprir o a) execução específica


plano após a sentença de
encerramento, o credor
poderá escolher - b) execução do devedor
art. 62, LRF art. 94, III, g, LRF

O devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações


previstas no plano que se vencerem até 2 anos depois da concessão da recuperação judicial.

Se o devedor não descumprir o plano nos 2 anos seguintes, o juiz decretará por sentença o
enceramento a recuperação judicial e determinará:
Art. 63. (...)
I - o pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, somente podendo efe-
tuar a quitação dessas obrigações mediante prestação de contas, no prazo de 30 (trinta)
dias, e aprovação do relatório previsto no inciso III do caput deste artigo;
II - a apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas;
III - a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no prazo máxi-
mo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano de recuperação pelo deve-
dor;
IV - a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador judicial;
V - a comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências cabíveis.

Se o plano de recuperação contemplar pagamento dos credores com prazo superior há 2 anos,
nesse caso o devedor permanecerá realizando o pagamento do plano de seus credores extrajudici-
almente. Se houver o descumprimento do plano de recuperação após a sentença de encerramento
caberá ao credor requerer a execução específica ou a falência nos termos do art. 94, III, g, LRF.

117
DIREITO EMPRESARIAL

 RECUPERAÇÃO JUDICIAL ESPECIAL


Os empresários, EIRELI (empresária) ou sociedades empresárias que estejam enquadradas co-
mo Microempresas -ME ou Empresa de Pequeno Porte – EPP e estejam atravessando uma crise eco-
nômica financeira poderão solicitar pedido de recuperação judicial ordinário ou especial.

A petição inicial deverá obedecer aos requisitos dos arts. 48 e 51, LRF.

O plano de recuperação judicial deverá ser apresentado no prazo de 60 dias na forma do art.
53, LRF, e limitar-se-á as seguintes condições:
Art. 71. (...)
I - abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, ex-
cetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§
o o
3 e 4 do art. 49;
II - preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas,
acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SE-
LIC, podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas;
III - preverá o pagamento da 1ª (primeira) parcela no prazo máximo de 180 (cento e oi-
tenta) dias, contado da distribuição do pedido de recuperação judicial;
IV - estabelecerá a necessidade de autorização do juiz, após ouvido o administrador judi-
cial e o Comitê de Credores, para o devedor aumentar despesas ou contratar emprega-
dos.
Parágrafo único. O pedido de recuperação judicial com base em plano especial não acarre-
ta a suspensão do curso da prescrição nem das ações e execuções por créditos não abran-
gidos pelo plano.

Caso o devedor de que trata o art. 70, LRF, opte pelo pedido de recuperação judicial com base
no plano especial não será convocada assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano, e
o juiz concederá a recuperação judicial se atendidas as demais exigências previstas na Lei.

O juiz também julgará improcedente o pedido de recuperação judicial e decretará a falência


do devedor se houver objeções, nos termos do art. 55, de credores titulares de mais da metade de
qualquer uma das classes de créditos previstos no art. 83, computados na forma do art. 45, LRF.

 CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA


O art. 73, LRF, elenca as hipóteses em que haverá a convolação da recuperação judicial em fa-
lência.
Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:
I - por deliberação da assembléia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei;
II - pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 des-
ta Lei;
III - quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4º do art. 56
desta Lei;
IV - por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na
forma do § 1º do art. 61 desta Lei.

Na convolação da recuperação em falência, os atos de administração, endividamento, onera-


ção ou alienação praticados durante a recuperação judicial presumem-se válidos.

118
DIREITO EMPRESARIAL

 RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL
A recuperação extrajudicial encontra-se prevista nos arts. 161 a 167, LRF. Nessa modalidade de
recuperação todo procedimento de deliberação ocorre fora do juízo, extrajudicialmente.

O devedor que deseje obter a homologação do plano a recuperação extrajudicial além dos re-
quisitos previstos no art. 48, LRF, não pode ter pendente pedido de recuperação judicial ou se houver
obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos
de 2 anos.

O pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarretará suspensão de


direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de falência pelos cre-
dores não sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial.

O plano não poderá contemplar o pagamento antecipado de dívidas nem tratamento desfa-
vorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.

Existem créditos que não podem estar contemplados no plano de recuperação extrajudicial,
conforme segue:
a) Créditos trabalhistas ou decorrentes de acidente do trabalho;

b) Créditos tributários;

c) Contratos previstos no art. 49, §3º, LRF


- Proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis;
- Arrendamento Mercantil;
- Proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos conte-
nham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imo-
biliárias;
- Proprietário de venda com reserva de domínio.

d) Contratos previstos no art. 49, §3º, LRF


Quantias entregues ao devedor decorrente de adiantamento de cambio para exportação
- art. 86, II, LRF

Tendo em vistas as ressalvadas quanto aos créditos trabalhistas e tributários na recuperação


extrajudicial o plano somente poderá contemplar cinco espécies de credores:
1. Credores com garantia real;
2. Credores com privilegio especial;
3. Credores com privilegio geral;
4. Credores quirografários, e;
5. Credores subordinados.

A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constituirá título executivo


judicial. Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão desistir da adesão
ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários.

119
DIREITO EMPRESARIAL

Na hipótese prevista no art. 162, LRF, o devedor poderá requerer a homologação em juízo do
plano de recuperação extrajudicial, juntando sua justificativa e o documento que contenha seus ter-
mos e condições, com as assinaturas dos credores que a ele aderiram. O pedido de homologação
nesse caso representa uma faculdade do devedor.

Porém na hipótese prevista no art. 163, LRF, o devedor deverá requerer a homologação de
plano de recuperação extrajudicial para que consiga atingir a todos os credores, inclusive aqueles
que votaram não favorável a aprovação do plano. Nota-se que para o plano obrigue a todos os cre-
dores por ele abrangidos, deverá haver a assinatura por credores que representem mais de 3/5 de
todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos.

Uma vez o plano homologado obriga a todos os credores das espécies por ele abrangidos, ex-
clusivamente em relação aos créditos constituídos até a data do pedido de homologação.

Para homologação do plano o devedor deverá juntar:


Art. 163. §6º (...)
I - exposição da situação patrimonial do devedor;
II - as demonstrações contábeis relativas ao último exercício social e as levantadas especi-
almente para instruir o pedido, na forma do inciso II do caput do art. 51 desta Lei; e
III –- os documentos que comprovem os poderes dos subscritores para novar ou transigir,
relação nominal completa dos credores, com a indicação do endereço de cada um, a natu-
reza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime
dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pen-
dente.

Recebido o pedido de homologação, o juiz, ordena a publicação de edital no órgão oficial e


jornais de grande circulação nacional ou das localidades da sede e das filiais do devedor, convocando
todos os credores do devedor para apresentação de suas impugnações ao plano de recuperação
extrajudicial no prazo de 30 dias. Somente pode ser alegado nas impugnações: não preenchimento
do percentual mínimo previsto no caput do art. 163, LRF; prática de qualquer dos atos previstos no
inciso III do art. 94 ou do art. 130, LRF, ou descumprimento de qualquer outra exigência legal.

Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de 5 dias para que o devedor sobre ela se
manifeste. Após esse período os autos serão conclusos para que o juiz possa apreciar as impugna-
ções e decidir ou não pela homologação.

Ressalta-se que não homologação do plano não acarreta a falência do devedor. O devedor
poderá, cumpridas as formalidades, apresentar novo pedido de homologação de plano de recupera-
ção extrajudicial. O plano de recuperação extrajudicial produz efeitos após sua homologação judicial.
É lícito, contudo, que o plano estabeleça a produção de efeitos anteriores à homologação, desde que
exclusivamente em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatá-
rios.

120
DIREITO EMPRESARIAL

 FALÊNCIA
 DISPOSIÇÕES GERAIS
O instituto da falência encontra-se disciplinado nos arts. 75 ao 160, LRF. O doutrinador Ricardo
Negrão160 conceitua a falência como um
“processo de execução coletiva, no qual todo o patrimônio de um empresário decla-
rado falido – pessoa física ou jurídica – é arrecado, visando o pagamento da univer-
salidade dos credores, de forma completa ou parcial”.

A falência, ao promover o afastamento do devedor de su-


as atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva
dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis,
da empresa.

O juízo da falência é indivisível e competente para conhe-


cer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido,
ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não regula-
das nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte
ativo.

 LEGITIMADOS PARA O PEDIDO DE FALÊNCIA


É legitimado161 para pedir a falência o próprio devedor, o cônjuge sobrevivente, herdeiro do
devedor ou inventariante, o cotista ou acionista do devedor ou qualquer credor162.

Quando o pedido de falência for requerido pelo próprio devedor estaremos diante da chama-
da autofalência, contemplada nos arts. 105 a 107, LRF. Trata-se neste caso de um procedimento de
jurisdição voluntária (não há lide). Não há sanção para o devedor que não requer a sua própria falên-
cia.

Quando o pedido de falência for realizado pelo credor/empresário deverá ser apresentada em
juízo a certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades. Ou
seja, credores que estejam em situação de irregularidade perante a Junta Comercial não poderão
pedir a falência do devedor. O legislador prevê ainda que os credores que não tiver domicílio no Bra-
sil deverão prestar caução relativa à custa e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101, na
hipótese de pedido de falência for doloso e ser julgado improcedente pelo juiz.

160
NEGRÃO. Ricardo. Manual de Direito comercial e de empresa. Vol. 3: recuperação e falência 10 Ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
161
Enunciado 56 – I J.D.Comercial – A Fazenda Pública não tem legitimidade para requerer a falência do devedor empresário.
162
Os credores trabalhistas possuem legitimidade para pedir a falência do devedor. Esse é o entendimento da terceira turma do STJ no
Informativo n. 589. (...) A natureza trabalhista do crédito não impede que o credor requeira a falência do devedor. Da análise do art. 97,
IV, da Lei n. 11.101/2005 (Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: [...] IV – qualquer credor), verifica-se que o legislador conferiu
ampla legitimidade ativa para o requerimento de ecretação de falência do devedor, de modo que, em princípio, estarão todos os credores
aptos a fazê-lo. Nessa linha, há doutrina no sentido de que o credor “é, por excelência, o titular da relação jurídica falimentar. *...+ A lei não
distingue entre dívida civil, comercial, trabalhista ou fiscal, importando, isso sim, que seja líquida, dando ensejo, repita-se, à ação executi-
va”. Em igual sentido, existem doutrinadores pátrios que têm entendido que “a palavra 'qualquer', constante do inciso, sugere que todos
os credores, individualmente ou em conjunto, podem requerer a falência do devedor. Incluir-se-iam, nesse rol, os credores civis, comerci-
ais, trabalhistas e fiscais”. Assim, adota-se corrente doutrinária que sustenta que: “Credores trabalhistas, fiscais, acidentários podem em
tese requerer a falência do devedor desde que possuam o título executivo pertinente, seja ele judicial ou extrajudicial e esteja protestado
para fins falimentares. Neste caso, é possível o pedido de falência com base no art. 94, I, da LRF. Há, também, a possibilidade do pleito de
falência com base no art. 94, II quando superveniente uma execução frustrada”. (REsp 1.544.267-DF).

121
DIREITO EMPRESARIAL

 FUNDAMENTOS DO PEDIDO DE FALÊNCIA


Será decretada a falência do devedor que:
a) Impontualidade injustificada (art. 94, I, LRF) - sem relevante razão de direito, não paga, no
vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma
ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência;

Para que o pedido de falência seja instruído com título executivo extrajudicial de valor superior
a 40 salários mínimos, não são necessários indícios de insolvência patrimonial do devedor163.

O STJ firmou entendimento no Informativo 547, que a Duplicata Virtual protestada por indica-
ção é titulo executivo apto a instruir o pedido de falência com base na impontualidade do devedor164.

Os Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo de 40 salários


mínimos. A impontualidade injustificada é comprovada através do protesto do titulo, podendo este
ser para fins falimentares (nas hipóteses de títulos representados por contratos), nos termos do art.
94, §3º, LRF ou cambiário (na hipótese de títulos de crédito). Nesse sentindo Súmula 258, STJ: “com-
provada a prestação de serviço, a duplicata não aceita mas protestada é título hábil para instruir um
pedido de falência”.

No tocante ao protesto especial, realizado exclusivamente para fins falimentares, o STJ no In-
formativo 572165, firmou entendimento no sentindo de permitir que seja realizado o protesto no
prazo de até seis meses contados do término do prazo de apresentação (prazo prescricional da ação
cambial). A realização do protesto durante o prazo de apresentação se aplica apenas ao protesto
obrigatório, dirigidos aos devedores indiretos do cheque (endossantes e avalistas do endossante).

Na hipótese do pedido de falência ser com base na impontualidade o art. 96, LRF, elenca as de-
fesas que podem ser apresentadas pelo devedor:
Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será de-
cretada se o requerido provar:
I - falsidade de título;
II - prescrição;
III - nulidade de obrigação ou de título;
IV - pagamento da dívida;
V - qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de
título;

163
Esse é o entendimento do STJ no informativo 596 – “Independentemente de indícios ou provas de insuficiência patrimonial, é possível a
decretação da quebra do devedor que não paga, sem relevante razão de direito, no vencimento, obrigação líquida materializada em título
ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência. (...)
Nessa linha, a Quarta Turma desta Corte Superior possui julgado específico no sentido de que não se considera abusivo o pedido de falên-
cia lastreado em título cujo valor supere o limite legal de 40 (quarenta salários mínimos). Portanto, o pedido de falência com fundamento
na impontualidade do devedor não se confunde com as hipóteses de insolvência de modo que a apresentação de indícios da sua insufici-
ência patrimonial não é pressuposto para o seu deferimento. (REsp 1.532.154-SC). No mesmo sentindo podemos destacar o Informativo
550 (REsp. 1.433.652-RJ.
164
REsp 1.354.776-MG.
165
REsp 1.249.866-SC (...) Sobre a distinção entre o protesto cambial e o protesto falimentar, parte da doutrina ensina que: “Conforme sua
finalidade, o protesto extrajudicial se subdivide em: cambial e falimentar (também denominado de protesto especial). Aquele é o modo
pelo qual o portador de um título de crédito comprova a sua apresentação ao devedor (por exemplo, para aceite ou pagamento). Constitui
uma faculdade do credor, um ônus do qual ele deve desincumbir-se para assegurar seu direito de ação contra os coobrigados no título,
como endossantes e avalistas, mas é dispensável para cobrar o crédito do devedor principal. Por outro lado, o protesto para fins falimenta-
res é obrigatório e visa a comprovar a impontualidade injustificada do devedor empresário, tornando o título hábil a instruir o pedido de
falência [...]. Cabe esclarecer, entretanto, que tal distinção é meramente acadêmica, uma vez que o protesto é único e comprova o mesmo
fato: a apresentação formal de um título, independentemente da finalidade visada pelo credor (se pedido de falência ou garantia do direito
de ação contra coobrigados)”. À luz das distinções acima delineadas, verifica-se que um protesto cambial facultativo é obrigatório do ponto
de vista falimentar, de modo que pode ser realizado, para este último fim, até a data de prescrição do cheque.

122
DIREITO EMPRESARIAL

VI - vício em protesto ou em seu instrumento;


VII - apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação, observados
os requisitos do art. 51 desta Lei;
VIII - cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falên-
cia, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não preva-
lecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.

b) Execução frustrada (art. 94, II, LRF) - executado por qualquer quantia líquida, não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

O pedido de falência será instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a e-
xecução. Não há necessidade de realização de protesto e também não se exige valor mínimo para o
pedido.

c) Atos de falência (art. 94, III, LRF) - pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte
de plano de recuperação judicial:
Art. 94. III - (...)
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou frau-
dulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos
ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo
a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os
credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a le-
gislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens
livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar
os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de
166
sua sede ou de seu principal estabelecimento ;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação
judicial.

Os atos de falência caracterizam-se por condutas que quando praticadas pelo devedor, podem
ensejar a decretação da falência.

 DEFESAS DO DEVEDOR NA FALÊNCIA


Quando o pedido de falência é realizado pelo credor será aberto prazo para que o devedor
possa apresentar suas defesas. Existem três defesas que podem ser apresentadas pelo devedor:
1. Contestação: prazo de 10 dias (art. 98, LRF);
2. Recuperação Judicial: no prazo da contestação - 10 dias (art. 95, LRF);

166
Inf. 564, STJ - DIREITO EMPRESARIAL. INTERPRETAÇÃO DO ART. 94, III, F, DA LEI DE FALÊNCIAS. A mudança de domicílio da sociedade
em recuperação judicial, devidamente informada em juízo, ainda que sem comunicação aos credores e sem data estabelecida para a
instalação do novo estabelecimento empresarial, não é causa, por si só, para a decretação de ofício da falência. (...) Dessa forma, a simples
alteração de endereço não é causa suficiente para o decreto de quebra, havendo que se perquirir se houve, de fato, abandono ou oculta-
ção pelo devedor, o que deverá se dar sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, de modo que a sociedade empresária em recupera-
ção deverá ser intimada para, em se constatando que não mais exerce sua empresa em seu antigo endereço, informar ao juízo acerca do
ocorrido e fazer prova de que não houve tentativa de furtar-se ao cumprimento de suas obrigações. REsp 1.366.845-MG, Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti, julgado em 18/6/2015, DJe 25/6/2015.

123
DIREITO EMPRESARIAL

3. Depósito Elisivo: no prazo da contestação - 10 dias (art. 98, LRF), somente nas hipóteses
do art. 94, I e II, LRF.

É importante ressaltar que todas as defesas devem ser apresentadas no prazo de 10 (dez) dias.

O depósito elisivo consiste no deposito pelo devedor, no prazo da contestação, do valor cor-
respondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios. O
depósito elisivo impede a decretação da falência nas hipóteses de impontualidade injustificada e
execução frustrada. Se o pedido de falência for julgado procedente o juiz ordenará o levantamento
do valor pelo autor. Se o pedido de falência for julgado improcedente o juiz determinará o levanta-
mento pelo Réu. Não cabe deposito elisivo para atos de falência.

 DECISÃO QUE JULGA PROCEDENTE OU IMPROCEDENTE O PEDIDO DE


FALÊNCIA
Na hipótese de improcedência do pedido de falência, se ficar comprovado o requerimento do-
loso pelo Autor, este será condenado a indenizar o devedor/réu pelas perdas e danos sofridos em
liquidação de sentença. Da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação.

Da decisão que decreta a falência cabe agravo.

 DECISÃO DE DECRETA A FALÊNCIA


Nos termos do art. 99, LRF, a sentença que decretar a falência dentre outras determinações:
Art. 99. (...)
I - conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem a esse
tempo seus administradores;
II - fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias
contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1º (primeiro)
protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que te-
nham sido cancelados;

O doutrinador Carvalho de Mendonça ensina que


“a fixação deste termo é tão importante como a própria declaração de falência.
Trata-se de reconhecer a ocasião exata em que as dificuldades, ou o procedimento
incorreto do devedor começam a perturbar os seus negócios e a depositar neles o
gérmem da falência, influindo diretamente nas relações dos credores entre si e
167
também com terceiros”.

Todos os atos que forem praticados durante a fixação desse termo legal da falência conside-
ram-se suspeito. A fixação do termo legal contundo não poderá retrotrair por mais de 90 dias, que
serão contatados do primeiro protesto por falta de pagamento, do pedido de falência ou do pedido
de recuperação judicial.

Exemplificando: vamos imaginar que a Sociedade LIGUE TAXI JÁ LTDA tenha emitido um che-
que no dia 19/08/2017, no valor de R$50.000,00 (cinquenta mil), para a SOCIEDADE XYZ LTDA, e o
cheque não tinha provisão de fundos. Nesse caso, a SOCIEDADE XYZ LTDA encaminha o título para

167
Apud. CAMPINHO, Sergio. Falência e Recuperação de empresa: o novo regime da insolvência empresarial. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Reno-
var, 2010. P.301.

124
DIREITO EMPRESARIAL

protesto no dia 25/08/2017 e ajuíza pedido de falência no dia 29/10/2017. Nesse caso o Juiz poderá
fixar como termo legal da falência até 90 dias antes do primeiro protesto (29/10/2017), por exemplo,
20/05/2017.

III - ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal
dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos
créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência;
IV - explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no § 1º do
art. 7º desta Lei;

Aplica-se o procedimento de verificação de habilitação de crédito.

V - ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as


hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º desta Lei;

Importante frisar que as ações que demandem quantia ilíquida, assim como as ações de natu-
reza trabalhistas não serão suspensas pela decretação da falência. Elas continuam correndo até que
seja apurado o valor do respectivo crédito.

VI - proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido, sub-


metendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os
bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuação
provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo;
VII - determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes en-
volvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores
quando requerida com fundamento em provas da prática de crime definido nesta Lei;
VIII - ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da falência no re-
gistro do devedor, para que conste a expressão “Falido”, a data da decretação da falência
e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;
IX - nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma do inci-
so III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea a do inciso II
do caput do art. 35 desta Lei;
X - determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras entida-
des para que informem a existência de bens e direitos do falido;
XI - pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido com o
administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o disposto no art.
109 desta Lei;
XII - determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembléia-geral de
credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a manuten-
ção do Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial quando da de-
cretação da falência;
XIII - ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas
Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabeleci-
mento, para que tomem conhecimento da falência.

O art. 99, parágrafo único, LRF, determina que “o juiz ordenará a publicação de edital contendo
a íntegra da decisão que decreta a falência e a relação de credores”.

125
DIREITO EMPRESARIAL

Não obstante a divergência doutrinária no tocante a natureza sentença ser declaratória ou


constitutiva, a posição de doutrinador Sergio Campinho parece ser a mais acertada ao sustentar que
a sentença tem natureza declaratória e constitutiva168.

 INABILITAÇÃO EMPRESARIAL - DIREITOS E DEVERES DO FALIDO


Quando há decretação da falência via de regra essa falência não é estendida aos sócios (socie-
dades em que os sócios respondem de forma limitada), exceto nas sociedades com sócios ilimitada-
mente responsáveis, pois a decretação da falência da sociedade também acarreta a falência destes,
que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e, por isso,
deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.

O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da
falência e até a sentença que extingue suas obrigações, perdendo o direito de administrar os seus
bens ou deles dispor.

O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências ne-


cessárias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em
que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo os recur-
sos cabíveis.

Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda à res-
pectiva anotação em seu registro.

 DA ARRECADAÇÃO E DA CUSTÓDIA DOS BENS


Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador judicial efetuará a arre-
cadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em
que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias. E haverá a lacração
do estabelecimento nas hipóteses em que houver risco de execução na arrecadação, para preserva-
ção da massa falida ou quando for de interesse dos credores.

Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador judicial ou de pessoa por ele esco-
lhida, sob responsabilidade daquele, podendo o falido ou qualquer de seus representantes ser no-
meado depositário dos bens.

O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avaliação. O produto dos bens penhorados ou


por outra forma apreendidos entrará para a massa, cumprindo ao juiz deprecar, a requerimento do
administrador judicial, às autoridades competentes, determinando sua entrega. Não serão arrecada-
dos os bens absolutamente impenhoráveis. Ainda que haja avaliação em bloco, o bem objeto de
garantia real será também avaliado separadamente, para os fins do § 1º do art. 83, LRF

 DOS EFEITOS DA DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA SOBRE AS OBRIGAÇÕES


DO DEVEDOR
A decretação da falência sujeita todos os credores, que somente poderão exercer os seus di-
reitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável na forma prescrita em lei.

168
Ob. Cit. P.305-306.

126
DIREITO EMPRESARIAL

Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo administra-
dor judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessá-
rio à manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.

O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90 dias, contado da as-
sinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro de 10 dias, declare se cumpre ou não o con-
trato.

A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao contraente o direito à


indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário, constituirá crédito quirografário.

O administrador judicial, mediante autorização do Comitê, poderá dar cumprimento a contra-


to unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à
manutenção e preservação de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela qual está obri-
gada.

 PEDIDO DE RESTITUIÇÃO
No momento de proceder à arrecadação dos bens o administrador judicial pode acabar arre-
cadando bens que não pertencem à massa falida. Portanto, aqueles que tiverem seus bens arrecada-
dos erroneamente poderão pedir restituição.

Existem três modalidades de restituição previstas na Lei n. 11.101/05, nos arts. 85 e 86, que
merecem destaque:
1. Restituição ordinária de coisa - art. 85, LRF;
2. Restituição extraordinária de coisa - art. 85, parágrafo único, LRF;
3. Restituição em dinheiro - art. 86, I, II e III, LRF.

Na primeira hipótese, o proprietário solicita a restituição ordinária de coisa que foi arrecada
pelo administrador judicial, ou que se encontra em poder do falido na época da decretação da falên-
cia. O bem arrecadado não pertence à massa falida. Assim, determina o art. 85, LRF, que “o proprie-
tário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da
decretação da falência poderá pedir sua restituição”. Atenção: possuidor não tem legitimidade para
pedir restituição.

Na segunda hipótese temos a restituição extraordinária de coisa. Na hipótese de venda à cre-


dito, que tenha sido entregue ao devedor até 15 dias antes do requerimento de falência e ainda não
tenha sido alienada. Para que seja realizado o pedido de restituição extraordinária de coisa, com
base no art. 85, parágrafo único, LRF, é necessário à presença dos três requisitos: a) venda a crédito;
b) entregue até 15 dias antes do requerimento de falência e; c) que ainda não tenha sido alienada.

Além das hipóteses de restituição ordinária e extraordinária de coisa, temos as restituições em


dinheiro consagradas no art. 86, LRF, nos seguintes termos:
Art. 85. (...)
I - se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em que o reque-
rente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o res-
pectivo preço, em ambos os casos no valor atualizado;
II - da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adi-
antamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3º e 4º, da Lei

127
DIREITO EMPRESARIAL

nº 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais
prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente;
III - dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de revoga-
ção ou ineficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 desta Lei.

Além dessas hipóteses de restituição a, Súmula n. 417, STF contempla ainda a possibilidade de
pedido de restituição de dinheiro em poder do falido, recebido em nome de outrem, ou do qual, por
lei ou contrato, não tiver disponibilidade. É o que ocorre com as restituições ao Instituto Nacional do
Seguro Pessoal (INSS) das importâncias que tenham sido descontadas pelo empregador e que não
foram recolhidas ao INSS (art. 51, parágrafo único, Lei n. 8.2.12/91).

Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica resguardado o direito dos credores de
propor embargos de terceiros.

 INEFICÁCIA E REGOGAÇÃO DOS ATOS PRATICADOS ANTES DA FALÊN-


CIA
A ação revocatória é utilizada nas hipóteses em que se pleiteia declarar um ato ineficaz ou pe-
dir a revogação de um ato que tenha sido praticado pelo devedor. A palavra revocar significa mandar
voltar, ou seja, retornar para massa falida bens ou quantias.

Existem duas hipóteses contempladas na Lei, a primeira trata-se de atos ineficazes (art. 129,
LRF) e a segunda de atos que podem ser revogados (art. 130, LRF).

Nas hipóteses contempladas no art. 129, LRF, não importa a intenção de fraudar credores, ou
se o contratante tinha ou não conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor,
uma vez praticado o ato pode o juiz de ofício declarar o ato ineficaz.

São hipóteses de atos ineficazes previstos no art. 129, LRF:


Art. 129. (...)
I - o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal,
por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio tí-
tulo;
II - o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por qual-
quer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III - a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal,
tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem obje-
to de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da hi-
poteca revogada;
IV - a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
V - a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
VI - a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou
o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao deve-
dor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não
houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pe-
lo oficial do registro de títulos e documentos;
VII - os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por títu-
lo oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da
falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.

128
DIREITO EMPRESARIAL

A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante
ação própria ou incidentalmente no curso do processo. O prazo para que o ato seja declarado inefi-
caz é até o encerramento da falência.

Já a ação revocatória por revogação depende de provocação. Para o seu cabimento é necessá-
rio que estejam presentes três requisitos:
a) o ato praticado com a intenção de prejudicar credores;
b) provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e;
c) o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.

A ação revocatória por revogação, deverá ser proposta (legitimados ativos) pelo administrador
judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 anos contado da decretação da
falência. Ultrapassado esse prazo não será possível a propositura da revocatória por revogação. E
pode ser promovida contra (legitimados passivos):
Art. 131. (...)
I - contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou
beneficiados;
II - contra os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da in-
tenção do devedor de prejudicar os credores;
III - contra os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas nos incisos I e II do caput deste
artigo.

A sentença que julgar procedente a ação revocatória determinará o retorno dos bens à massa
falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, acrescidos das perdas e danos.
Da sentença o recurso cabível é a apelação.

 REALIZAÇÃO DO ATIVO
Logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do respectivo auto ao processo de falência,
será iniciada a realização do ativo.

A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas, observada a seguinte ordem
de preferência:
Art. 140. (...)
I - alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;
II - alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamen-
te;
III - alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor;
IV - alienação dos bens individualmente considerados.

O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à orientação do Comitê, se houver, orde-


nará que se proceda à alienação do ativo em uma das seguintes modalidades:
Art. 142. (...)
I - leilão, por lances orais;
II - propostas fechadas;
III - pregão.

129
DIREITO EMPRESARIAL

O juiz homologará qualquer outra modalidade de realização do ativo, desde que aprovada pe-
la assembleia-geral de credores, inclusive com a constituição de sociedade de credores ou dos em-
pregados do próprio devedor, com a participação, se necessária, dos atuais sócios ou de terceiros.

 PAGAMENTO DOS CREDORES


O administrador judicial é o responsável em realizar os pagamentos na falência.

Antes de estudarmos a ordem de pagamento desses créditos é importante ressaltar que as


despesas previstas nos arts. 150 e 151, LRF, são pagas pelo administrador judicial tão logo haja dis-
ponibilidade em caixa:
a) as despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência,
inclusive na hipótese de continuação provisória das atividades previstas no inciso XI
do caput do art. 99, LRF (art. 150, LRF) e;

b) os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses anterio-


res à decretação da falência, até o limite de 5 salários-mínimos por trabalhador (art. 151,
LRF).

Após o pagamento dessas despesas que são consideradas indispensáveis à administração da


falência e aos créditos de natureza trabalhista vencidos nos últimos três meses antes da falência te-
remos o pagamento dos credores que deverá obedecer a ordem prevista no art. 149, LRF:

Ordem de pagamento dos


credores - art. 149, LRF

1º - Restituições em dinheiro 2º - Credores extraconcursais 3º - Credores concursais


art. 86, III, LRF art. 84, LRF art. 83, LRF

O art. 149, LRF determina que após o pagamento das restituições em dinheiro169 (art. 86, pará-
grafo único, LRF), serão pagos os créditos extraconcursais (art. 84, LRF), e após consolidado o quadro-
geral de credores, as importâncias recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao pagamen-
to dos credores concursais (art. 83, LRF), respeitados os demais dispositivos previstos na lei e as deci-
sões judiciais que determinam reserva de importâncias.

Os créditos extraconcursais são aqueles oriundos após a decretação da falência. São credores
da massa falida e não do falido (os credores concursais).

Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencio-
nados no art. 83, LRF, na ordem a seguir, os relativos a:
Art. 84. (...)

169
Atenção – as restituições em dinheiro somente serão pagas após o pagamento do art. 151, LRF.

130
DIREITO EMPRESARIAL

I - remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados


da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços
170
prestados após a decretação da falência ;
II - quantias fornecidas à massa pelos credores;
III - despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu
produto, bem como custas do processo de falência;
IV - custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido venci-
da;
V - obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judi-
cial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos
a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabeleci-
da no art. 83 desta Lei.

Os credores concursais são credores do falido. Segundo Carvalho de Mendonça171 a falência


não transforma os direitos materiais dos credores. Não lhes retira, nem altera, dessa forma, as garan-
tias legais e convencionais legitimamente fundadas. Apenas modifica o exercício dos direitos. O con-
curso de credores vem pautado em critérios de preferências, justificadas pela qualidade ou causa do
crédito. Com a providência se busca evitar tratamentos iníquos e assegurar a par conditio credito-
rum.

A classificação dos créditos concursais na falência obedece à seguinte ordem:

CRÉDITOS CONCURSAIS
172
Os créditos derivados da legislação do trabalho , limitados a 150
Art. 83, I, LRF - (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de
TRABALHISTA acidentes de trabalho;

Art. 83, II, LRF – Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
GARANTIA REAL

Créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de


ART. 83, III, LRF - constituição, excetuadas as multas tributárias;
TRIBUTÁRIO

a) Os previs- b) Os assim c) Aqueles a d) Aqueles em


Art. 83, IV, LRF – tos no art. definidos em cujos titulares a favor dos micro-
PRIVILÉGIO ES- 964 da Lei outras leis lei confira o empreendedores
o
PECIAL n 10.406, civis e comer- direito de re- individuais e das
de 10 de ciais, salvo tenção sobre a microempresas e
janeiro de disposição coisa dada em empresas de

170
Os créditos decorrentes de honorários de advogados resultantes de serviços prestados após a decretação da falência são classificados
como extraconcursais. Esse é o entendimento adotado pelo STJ no Inf. 540, STJ - São créditos extraconcursais os honorários de advogado
resultantes de trabalhos prestados à massa falida, depois do decreto de falência, nos termos dos arts. 84 e 149 da Lei 11.101/2005. (...)
Em outras palavras, os serviços prestados à massa falida após a decretação da falência são créditos extraconcursais (arts. 84 e 149 da Lei
11.101/2005), que devem ser satisfeitos antes, inclusive, dos trabalhistas, à exceção do que dispõe o art. 151. REsp 1.152.218-RS, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2014.
171
Apud. CAMPINHO, Sergio. Ob. Cit. P.411.
172
Os créditos decorrentes de honorários advocatícios referentes a serviços prestados antes da decretação da falência são classificados
como concursais, ocupando a primeira posição prevista no art. 83, I, LRF. Esse é o entendimento do STJ no Inf. 540, STJ – (...) Os créditos
resultantes de honorários advocatícios, sucumbenciais ou contratuais, têm natureza alimentar e equiparam-se aos trabalhistas para
efeito de habilitação em falência, seja pela regência do Decreto-lei 7.661/1945, seja pela forma prevista na Lei 11.101/2005, observado o
limite de valor previsto no art. 83, I, do referido diploma legal. REsp. 1.152.218-RS. (...) Vale destacar que, por força da equiparação, haverá
o limite de valor para o recebimento – tal como ocorre com os credores trabalhistas –, na forma preconizada pelo art. 83, I, da Lei de
Recuperação Judicial e Falência. Esse fator inibe qualquer possibilidade de o crédito de honorários obter mais privilégio que o trabalhista,
afastando também suposta alegação de prejuízo aos direitos dos obreiros. Precedentes citados do STJ: REsp 988.126-SP, Terceira Turma,
DJe 6/5/2010; e REsp 793.245-MG, Terceira Turma, DJ 16/4/2007. REsp 1.152.218-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2014.

131
DIREITO EMPRESARIAL

2002; contrária, garantia; pequeno porte


LRF;

c) os assim definidos
a) os previstos
em outras leis civis e
Art. 83, V, LRF – no art. 965 da Lei b) os previstos no
o comerciais, salvo
PRIVILÉGIO GE- n 10.406, de 10 de parágrafo único do disposição contrária
RAL janeiro de 2002; art. 67, LRF a LRF;

a) aqueles C) os saldos dos créditos


b) os saldos dos crédi-
não previs- derivados da legislação
tos não cobertos pelo
tos nos do trabalho que excede-
Art. 83, VI, LRF - produto da alienação
demais rem o limite estabelecido
QUIROGRAFÁRIO dos bens vinculados ao
incisos Do no inciso I do caput do
seu pagamento;
Art. 83, LRF; art. 83, LRF;

As multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis


Art. 83, VII, LRF - penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;
MULTA

a) os assim previstos em lei b) os créditos dos sócios e


Art. 83, VIII, LRF - ou em contrato; dos administradores sem
SUBORDINADO
vínculo empregatício.

 ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FA-


LIDO
Concluída a realização de todo o ativo, e distribuído o produto entre os credores, o adminis-
trador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 dias.

As contas, acompanhadas dos documentos comprobatórios, serão prestadas em autos aparta-


dos que, ao final, serão apensados aos autos da falência.

O juiz ordenará a publicação de aviso de que as contas foram entregues e se encontram à dis-
posição dos interessados, que poderão impugná-las no prazo de 10 dias. Decorrido o prazo do aviso e
realizadas as diligências necessárias à apuração dos fatos, o juiz intimará o Ministério Público para
manifestar-se no prazo de 5 dias, findo o qual o administrador judicial será ouvido se houver impug-
nação ou parecer contrário do Ministério Público.

A sentença que rejeitar as contas do administrador judicial fixará suas responsabilidades, po-
derá determinar a indisponibilidade ou o sequestro de bens e servirá como título executivo para in-
denização da massa. Da sentença cabe apelação.

Julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da falência no


prazo de 10 dias, indicando o valor do ativo e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o
dos pagamentos feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que
continuará o falido.

Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença. A sentença de encerra-
mento da falência poderá ocorrer com extinção das obrigações do falido ou sem extinção das obriga-

132
DIREITO EMPRESARIAL

ções, já que tratam-se de institutos diferentes. A sentença de encerramento ocorrerá nas hipóteses
em que já houver sido realizado o ativo e pago o passivo. Já a extinção das obrigações do falido ocor-
re quando estiver caracterizada qualquer das hipóteses previstas no art. 158, LRF.

A sentença de encerramento será publicada por edital e dela caberá apelação.

A extinção das obrigações do falido ocorre nas seguintes hipóteses:


Art. 158. Extingue as obrigações do falido:
I - o pagamento de todos os créditos;
II - o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% (cinqüenta por cento)
dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia necessária pa-
ra atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo;
III - o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido
não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei;
IV - o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência, se o falido
tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei.

Configurada qualquer dessas hipóteses o falido poderá requerer ao juízo da falência que suas
obrigações sejam declaradas extintas por sentença. Verificada a prescrição ou extintas as obriga-
ções, o sócio de responsabilidade ilimitada também poderá requerer que seja declarada por senten-
ça a extinção de suas obrigações na falência.

A sentença que declarar extintas as obrigações será comunicada a todas as pessoas e entida-
des informadas da decretação da falência. Da sentença cabe apelação.

Após o trânsito em julgado, os autos serão apensados aos da falência.

 DISPOSIÇÕES PENAIS - CRIMES EM ESPÉCIE


A Lei n. 11.101/05 em seu capítulo VII elenca as disposições penais que tratam dos crimes fa-
limentares. Os crimes são de Ação Pública Incondicionada. O prazo para oferecimento da denúncia
regula-se pelo art. 46 do Código de Processo Penal, salvo se o Ministério Público, estando o réu solto
ou afiançado, decidir aguardar a apresentação da exposição circunstanciada de que trata o art. 186,
LRF, devendo, em seguida, oferecer a denúncia em 15 dias.

Os crimes previstos na Lei n. 11.101/05 encontram-se descritos abaixo:

Pena – reclusão, de 3 (três)


a 6 (seis) anos, e multa.
Aumento da pena estão
Art. 168. Praticar, antes ou depois da previstas nos §§1º, 2º, art.
sentença que decretar a falência, conce- 168.
der a recuperação judicial ou homologar a Concurso de pessoas -
Fraude a Credo- recuperação extrajudicial, ato fraudulento estão previstas no § 3º art.
res de que resulte ou possa resultar prejuízo 168.
aos credores, com o fim de obter ou asse-
gurar vantagem indevida para si ou para Redução ou substituição
outrem. da pena - prevista no § 4º,
art. 168.

133
DIREITO EMPRESARIAL

Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem


justa causa, sigilo empresarial ou dados
Violação de
confidenciais sobre operações ou servi- Pena – reclusão, de 2 (dois)
sigilo empresa-
ços, contribuindo para a condução do a 4 (quatro) anos, e multa.
rial
devedor a estado de inviabilidade eco-
nômica ou financeira:
Pena – reclusão, de 2 (dois)
Art. 170. Divulgar ou propalar, por qual- a 4 (quatro) anos, e multa.
Divulgação de
quer meio, informação falsa sobre deve-
informações
dor em recuperação judicial, com o fim de
falsas
levá-lo à falência ou de obter vantagem:

Art. 171. Sonegar ou omitir informações


ou prestar informações falsas no processo
de falência, de recuperação judicial ou de
Pena – reclusão, de 2 (dois)
Indução a erro recuperação extrajudicial, com o fim de
a 4 (quatro) anos, e multa.
induzir a erro o juiz, o Ministério Público,
os credores, a assembleia-geral de credo-
res, o Comitê ou o administrador judicial:

Art. 172. Praticar, antes ou depois da Pena – reclusão, de 2 (dois)


sentença que decretar a falência, conce- a 5 (cinco) anos, e multa.
der a recuperação judicial ou homologar Parágrafo único. Nas mes-
Favorecimento plano de recuperação extrajudicial, ato de mas penas incorre o credor
de credores disposição ou oneração patrimonial ou que, em conluio, possa be-
gerador de obrigação, destinado a favore- neficiar-se de ato previsto
cer um ou mais credores em prejuízo dos no caput deste artigo.
demais:

Art. 173. Apropriar-se, desviar ou ocultar


Desvio, oculta- bens pertencentes ao devedor sob recu-
Pena – reclusão, de 2 (dois)
ção ou apropri- peração judicial ou à massa falida, inclusi-
a 4 (quatro) anos, e multa.
ação de bens ve por meio da aquisição por interposta
pessoa:
Art. 174. Adquirir, receber, usar, ilicita-
Aquisição, rece-
mente, bem que sabe pertencer à massa Pena – reclusão, de 2 (dois)
bimento ou uso
falida ou influir para que terceiro, de boa- a 4 (quatro) anos, e multa.
ilegal de bens
fé, o adquira, receba ou use:
Art. 175. Apresentar, em falência, recupe-
ração judicial ou recuperação extrajudici-
Habilitação Pena – reclusão, de 2 (dois)
al, relação de créditos, habilitação de
ilegal de crédito a 4 (quatro) anos, e multa.
créditos ou reclamação falsas, ou juntar a
elas título falso ou simulado:
Art. 176. Exercer atividade para a qual foi
Exercício ilegal Pena – reclusão, de 1 (um)
inabilitado ou incapacitado por decisão
de atividade a 4 (quatro) anos, e multa.
judicial, nos termos desta Lei:
Art. 177. Adquirir o juiz, o repre-
sentante do Ministério Público, o admi-
nistrador judicial, o gestor judicial, o peri-
Violação de to, o avaliador, o escrivão, o oficial de Pena – reclusão, de 2 (dois)
impedimento justiça ou o leiloeiro, por si ou por inter- a 4 (quatro) anos, e multa.
posta pessoa, bens de massa falida ou de
devedor em recuperação judicial, ou, em
relação a estes, entrar em alguma especu-

134
DIREITO EMPRESARIAL

lação de lucro, quando tenham atuado


nos respectivos processos:
Art. 178. Deixar de elaborar, es-
criturar ou autenticar, antes ou depois da
Omissão dos Pena – detenção, de 1 (um)
sentença que decretar a falência, conce-
documentos a 2 (dois) anos, e multa, se
der a recuperação judicial ou homologar o
contábeis obri- o fato não constitui crime
plano de recuperação extrajudicial, os
gatórios mais grave.
documentos de escrituração contábil
obrigatórios:

Na falência, na recuperação judicial e na recuperação extrajudicial de sociedades, os seus só-


cios, diretores, gerentes, administradores e conselheiros, de fato ou de direito, bem como o adminis-
trador judicial, equiparam-se ao devedor ou falido para todos os efeitos penais decorrentes desta Lei,
na medida de sua culpabilidade.

São efeitos da condenação por crime previsto na Lei 11.101/05:


Art. 181. (...)
I - a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;
II - o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, di-
retoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei;
III - a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio.

Os efeitos da condenação não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na


sentença, e perdurarão até 5 anos após a extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes
pela reabilitação penal. Nos termos do art. 181, §2º, transitada em julgado a sentença penal conde-
natória, será notificado o Registro Público de Empresas para que tome as medidas necessárias para
impedir novo registro em nome dos inabilitados.

TÍTULOS DE CRÉDITO

 ATRIBUTOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO


São atributos dos títulos de crédito executoriedade e negoci-
abilidade.

Executoriedade significa que o titular de um título de crédito


tem acesso a meios contundentes de recuperação daquele crédito.
Se o sujeito é titular de um crédito representado por um título de
crédito, ele tem instrumentos mais poderosos para constranger o
devedor a fazer o pagamento. Há o acesso ao protesto de um título
de crédito, que é uma forma constituir em mora o devedor, tornan-
do pública a sua mora. Ainda, tem-se acesso direto ao processo de execução, sem necessidade do
processo de conhecimento. Não é necessário que o Juiz diga quem deve para quem ou quanto é de-
vido. No caso de um acidente de trânsito, se foi emitido um cheque para ressarcimento, já se sabe
quem deve para quem e quanto deve. Se as partes não compõem a culpa, se uma parte não reco-

135
DIREITO EMPRESARIAL

nhece a sua responsabilidade, o sujeito que foi vítima do acidente não vai acessar direto o processo
de execução. Terá de ajuizar uma ação ordinária, e nesta, precisará do provimento judicial que diga
se é devido, quem deve para quem, e quanto deve. Outro meio de manifestação dessa executorie-
dade é o pedido de falência: o titular de um título de crédito pode pedir a falência do devedor se este
for empresário. E esse é um meio extremamente agressivo de se constranger ao pagamento. É usado
como um sucedâneo da execução, por conta do depósito elisivo.

Tem-se como outro atributo do Título de Crédito a chamada negociabilidade: trata-se de uma
mobilidade do título de crédito. Ele é dotado de muita liquidez, pois é facilmente transmissível por
endosso, trata-se praticamente de “dinheiro na mão”. Consegue-se transformar o título em dinheiro
quase imediatamente. Muitas vezes o sujeito tem um patrimônio, mas é um patrimônio composto
por imóveis, que não são bens dotados de muita liquidez, ao contrário do título de crédito, que é
concebido para promover a circulação do crédito. É um instrumento por excelência da circulação da
riqueza. Grandes autores dirão que graças à limitação de responsabilidade e à disciplina dos títulos
de crédito, é que tivemos no século XX um desenvolvimento econômico assustador. O crédito foi
uma das molas propulsora desse desenvolvimento.

 PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO


No direito empresarial, os títulos de crédito possuem alguns princípios básico que caracterizam
o seu funcionamento. São eles:
- Princípio da Cartularidade: exige a existência material do título ou o documento necessário.
Assim sendo, para que o credor possa exigir o crédito deverá apresentar a cártula original do docu-
mento - título de crédito.

Garante, portanto, este princípio, que o possuidor do título é o titular do direito de crédito.

A duplicata se afasta deste princípio, uma vez que expressa a possibilidade do protesto do títu-
lo por indicação quando o devedor retém o título.

- Princípio da Literalidade: o título vale pelo que nele está mencionado, em seus termos e limi-
tes. Para o credor e devedor só valerá o que estiver expresso no título. Deve, por conseguinte, cons-
tar a assinatura do avalista para que seja válido o aval, por exemplo.

A duplicata, por mais uma vez, figura como exceção, já que conforme estabelece o art. 9º, §1º,
da Lei 5.474/68: “a prova do pagamento é o recibo, passado pelo legítimo portador ou por seu repre-
sentante com poderes especiais, no verso do próprio título ou em documento, em separado, com refe-
rência expressa à duplicata”.

- Princípio da Autonomia: desvincula-se toda e qualquer relação havida entre os anteriores


possuidores do título com os atuais e, assim sendo, o que circula é o título de crédito e não o direito
abstrato contido nele.

- Princípio da Abstração: decorre, em parte, do princípio da autonomia e trata da separação


da causa ao título por ela originado. Não se vincula a cártula, portanto, ao negócio jurídico principal
que a originou, visando, por fim, a proteção do possuidor de boa-fé.

Não gozam deste princípio todos os títulos de crédito, mas se pode observar ser ele válido para
as notas promissórias e letra de câmbio.

136
DIREITO EMPRESARIAL

 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO


 Quanto ao modelo: podem ser vinculados ou livres.
- Vinculados: devem atender a um padrão específico, definido por lei, para a criação do
título. Ex: cheque.

- Livres: são os títulos que não exigem um padrão obrigatório de emissão, basta que
conste os requisitos mínimos exigidos por lei. Ex: letra de câmbio e nota promissória.

 Quanto à estrutura: podem ser ordem de pagamento ou promessa de pagamento.


- Ordem de pagamento: por esta estrutura o saque cambial dá origem a três situações
distintas: sacador ou emitente, que dá a ordem para que outra pessoa pa-
gue; sacado, que recebe a ordem e deve cumpri-la; e o beneficiário, que recebe o valor
descrito no título. Ex: letra de câmbio, cheque.

- Promessa de pagamento: envolve apenas duas situações jurídicas: promitente,que de-


ve, e beneficiário, o credor que receberá a dívida do promitente. Ex: nota promissória.

 Quanto à natureza: podem ser títulos causais ou abstratos.


- Títulos causais: são aqueles que guardam vínculo com a causa que lhes deu origem,
constando expressamente no título a obrigação pelo qual o título foi assumido, sendo
assim, só poderão ser emitidos se ocorrer o fato que a lei elegeu como uma possível
causa para o mesmo. Podem circular por endosso. Ex: duplicatas.

- Títulos abstratos: são aqueles que não mencionam a relação que lhes deu origem, po-
dendo ser criados por qualquer motivo. Ex: letra de câmbio e cheque.

 LETRA DE CÂMBIO
Entende-se por letra de câmbio uma ordem dada, por escrito, a uma pessoa para que pague
a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma determinada importância em dinheiro. Requer
três elementos pessoais:
- Sacador: o que dá a ordem (é o criador da ordem de pagamento);
- Sacado: a quem a ordem é dada (realiza o pagamento);
- Beneficiário ou Tomador: e aquele a favor de quem é emitida a ordem (é o 1º credor).

Uma mesma pessoa, física ou jurídica, pode figurar no título como sacador, sacado e mesmo
como tomador.

É um título de crédito cambiário, abstrato, endossável, principal, autônomo, típico e abso-


luto, que contem uma ordem pura e simples de pagar quantia certa e determinada.

A criação da letra de câmbio não é a mesma coisa que emissão. Por criação, se entende o
ato de dar vida ao título, com a sua feitura material, cujo momento decisivo é aquele em que o
sacador lança sua assinatura na letra. Já emissão é o ato de pôr a letra em circulação, com a sua
transferência ao tomador.

137
DIREITO EMPRESARIAL

A lei brasileira procurava distinguir saque de emissão, dando àquele o significado de feitura
e lançamento em circulação da letra de câmbio, reservando a palavra emissão para a feitura e lan-
çamento em circulação da nota promissória. Assim, o sacador era o subscritor de uma letra de
câmbio e emitente o de uma nota promissória.

Por fim, a letra de câmbio tem como importância econômica o fato de ser considerada um
“papel-moeda internacional”. Não só se destina a efetuar o transporte fácil de valores, como tam-
bém faz com que possam ser utilizadas no presente importâncias que só em tempo futuro serão
exigidas. Por tal razão, a letra de câmbio serve para facilitar a realização de transações comerciais.

 NOTA PROMISSÓRIA
A nota promissória contém uma promessa de pagamento com a presença de dois interveni-
entes fundamentais, o emitente (aquele que cria o documento) e o beneficiário do crédito.

É importante destacar que na nota promissória, a promessa é feita diretamente pelo deve-
dor, a favor de um beneficiário, ao contrário da letra de câmbio, na qual o sacador dá ordem ao
sacado para efetuar o pagamento a um beneficiário.

A partir disso, verifica-se que na nota promissória o crédito vai ser estabelecido em função
da subscrição do título de crédito, o que não ocorre na letra de câmbio, em que o crédito existe
antes da própria criação do título.

 CHEQUE
É uma ordem de pagamento à vista emitida pelo titular de conta bancária com provisão de
fundos, que deverá ser sacada contra o banco. O cheque, para ser válido, deve atender aos requisitos
estipulados no art. 1º, Lei 7.357/85 (Lei do Cheque), quais sejam:
Art. 1º O cheque contêm:
I - a denominação “cheque” inscrita no contexto do título e expressa na língua em que es-
te é redigido;
II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);
IV - a indicação do lugar de pagamento;
V - a indicação da data e do lugar de emissão;
VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.

A emissão de cheque sem provisão de fundos configura crime de estelionato, punido com pe-
na de reclusão de um a cinco anos e multa.

 DUPLICATA
A duplicata é uma ordem de pagamento emitida em razão de uma compra e venda (Duplicata
Mercantil) ou de uma prestação de serviços (Duplicata de Prestação de Serviços).

Em outras palavras, a Duplicata é classificada pela doutrina como um Título de Crédito de Na-
tureza Causal, pelo fato de sua emissão estar relacionada à Mercancia ou à Prestação de Serviços.

138
DIREITO EMPRESARIAL

 ENDOSSO
É a forma pela qual se transfere o direito de receber o valor que consta no título através da
tradição da própria cártula.

De acordo com o art. 893, CC: “a transferência do título de crédito implica a de todos os direi-
tos que lhe são inerentes”, sendo assim, entende-se que não é só a propriedade da letra que se
transfere, como também a garantia de seu adimplemento.

Figuram dois sujeitos no endosso:


- Endossante ou Endossador: quem garante o pagamento do título transferido por endos-
so;
- Endossatário ou Adquirente: quem recebe por meio dessa transferência a letra de câm-
bio.

O endosso responsabiliza solidariamente o endossante ao pagamento do crédito descrito na


cártula, caso o sacado e sacador não efetuem o pagamento. Portanto, se o devedor entregar a seu
credor um título, por mera tradição e sem endosso, não estará vinculado ao pagamento deste crédi-
to caso as outras partes se tornem inadimplentes.

Poderá o endosso se apresentar:


- Em preto: quando na própria letra traz a indicação do endossatário do crédito. Também
conhecido por endosso nominal.
- Em branco: quando apenas constar a assinatura do endossante, sem qualquer indicação de
quem seja o endossatário. Deverá este ser feito sempre no verso do título e se tornará um tí-
tulo ao portador.

 CLASSIFICAÇÕES DOUTRINÁRIAS DE ENDOSSO:


- Endosso próprio: transfere ao endossatário não só a titularidade do crédito como tam-
bém o exercício de seus direitos.

- Endosso impróprio: difere do anterior uma vez que não transfere a titularidade do crédi-
to, mas tão somente o exercício de seus direitos. Este se subdivide em:
- Endosso-mandato ou endosso-procuração: permite que o endossatário aja como re-
presentante do endossante, podendo exercer os direitos inerentes ao título.

- Endosso-caução ou pignoratício: figura como mera garantia ao endossatário de uma


dívida do endossante para com ele. Deve sempre conter a cláusula: “valor em garantia”
ou “valor em penhor”. Tendo, portanto, o endossante cumprido a obrigação para a qual
se destinou a garantia, poderá rever o título de crédito.

 AVAL
Versa o art. 30 da Lei Uniforme, “o pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de
pagar soma determinada, pode ser garantido por aval”. Com isso estabelece-se que aval é a garantia
cambial, pela qual terceiro (avalista) firma para com o avalizado, se responsabilizando pelo cumpri-
mento do pagamento do título se este último não o fizer.

139
DIREITO EMPRESARIAL

Poderá o aval se apresentar:


- Em preto: indica o avalizado nominalmente;
- Em branco: não indica expressamente o avalizado, considerando, por conseguinte, o sa-
cador como o mesmo.

É permitido o aval parcial ou limitado, segundo o art. 30, Lei Uniforme.

 LETRA DE ARRENDAMENTO MERCANTIL


A LAM é um título de crédito criado pela Lei 11.882/08 para possibilitar que as sociedades de
arrendamento mercantil tenham um instrumento de captação à sua disposição. Embora o título seja
de emissão exclusiva destas sociedades, sua negociação no mercado secundário é permitida, o que
possibilita ao investidor encontrar estes títulos disponíveis para aplicação também em plataformas
de distribuidores. A forma de remuneração não difere de outros instrumentos de renda fixa mais
conhecidos, podendo ser atrelada, por exemplo, à taxa prefixada, flutuante em DI ou Taxa Selic.

Sua emissão se dá exclusivamente sob a forma escritural, mediante o registro em sistema de


registro e liquidação financeira de ativos autorizada pelo Banco Central, com a transferência de titu-
laridade também ocorrendo por meio do referido sistema.

AÇÃO CAMBIAL

A ação cambial, no direito brasileiro, é uma ação executiva típica, que objetiva a cobrança de
título cambiário (cheque, nota promissória, letra de câmbio, duplicata etc).

O portador tem o direito de acionar todos os obrigados e coobrigados, sem estar adstrito a ob-
servar a ordem em que eles se obrigaram. Todos os que se obrigarem na letra a ela se vinculam
diretamente, pois suas obrigações são autônomas, umas em relação às outras. O portador pode ele-
ger apenas um obrigado, ou então um coobrigado para contra ele dirigir a ação, ou pode promovê-la
contra todos, citando-os solidariamente. O art. 47 da Lei Uniforme (LUG) dispõe sobre o conhecido
princípio cambiário de que
Art. 47. Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma letra são todos solida-
riamente responsáveis para com o portador. O portador tem o direito de acionar todas
essas pessoas individualmente, sem estar adstrito a observar a ordem por que elas se o-
brigaram.

Esse direito se transfere do portador a qualquer dos signatários quando aquele tenha pago a
letra, assumindo este a posição de portador. Por outro lado, a lei deixa claro que “a ação intentada
contra um dos coobrigados não impede acionar os outros, mesmo os posteriores àquele que foi acio-
nado em primeiro lugar” (art. 47).

140
DIREITO EMPRESARIAL

 OBJETO DA AÇÃO CAMBIÁRIA


Em primeiro lugar, com a ação cambiária se pretende obter a importância da letra, que cons-
titui o crédito nela incorporado. Em segundo, os juros e despesas de protesto, se tiver sido tirado.

O art. 5º, LUG, permite ao sacador estipular na letra o pagamento de juros, mas apenas nas le-
tras com vencimento à vista ou a tempo certo de vista, fluindo a partir da data do título. Nas demais
letras, a dia certo ou a tempo certo de data, a cláusula reputa-se não escrita. Assim dispõe a lei por-
que nas primeiras não é possível contar os juros por dentro, previamente, como ocorre nas segun-
das. O art. 48, 2º, LUG, dispõe, todavia, que o portador pode reclamar daquele contra quem exerce
seu direito de ação, “os juros à taxa de 6 por cento desde a data do vencimento”. Essa disposição
legal vem excluir o princípio da vigência de juros legais desde a data do protesto por falta de paga-
mento. Pela Lei Uniforme, os juros moratórios passam a viger desde a data do vencimento inde-
pendente de protesto.

Essa taxa de 6% ao ano, expressamente fixada pela Lei Uniforme, pode ser substituída pela ta-
xa legal em vigor no território de qualquer dos países signatários da Convenção. O Governo brasileiro
usou dessa ressalva, muito embora a taxa legal vigente no Brasil seja também de 6% ao ano.

Em suma, a pessoa que pagar a letra pode reclamar dos seus garantes a soma integral que
pagou, os juros da dita soma, calculados à taxa de 6% ao ano desde a data do vencimento, e as
despesas que tiver tido com o protesto.

 LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA


Sendo a ação cambial uma espécie de ação executória, terá legitimidade para propô-la aquelas
pessoas descritas no art. 778, CPC, o qual traz além do credor, portador do título executivo, as figuras
do Ministério Público, do espólio, herdeiros ou sucessores, do cessionário e do sub-rogado.

No pólo passivo, por sua vez, figuram o devedor reconhecido no título executivo, o espólio, os
herdeiros ou sucessores do devedor, o novo devedor que assumiu a obrigação, o fiador do débito, o
responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito e o responsável
tributário, conforme o disposto no art. 779, CPC.

Quanto aos devedores, no estudo da ação cambial é indispensável fazer a distinção entre de-
vedores solventes e insolventes, pois para cada espécie de devedor há uma ação executória especí-
fica, conforme poderá ser verificado adiante.

 FORMAS DE AÇÃO CAMBIAL


A ação cambial pode ser de duas formas, dependendo de contra quem será movida e da causa
de sua propositura:
a) ação direta: é estabelecida contra o devedor principal (sacado, na letra de câmbio e du-
plicata; emitente, na nota promissória e no cheque) e seus avalistas, sendo nesta hipótese
o protesto do título facultativo, pois independe deste para iniciar o exercício de seu direito
de ação. É necessário que seja visível a verificação do não pagamento, bem como a sua
não efetuação na data prevista.

O avalista e o credor poderão ser cobrados em conjunto ou individualmente. Ao avalista a si-


tuação equiparada ao devedor principal, possibilita que a ação seja movida inicialmente contra ele,

141
DIREITO EMPRESARIAL

antes do devedor. Mas a ele cabe, depois de pagar a importância devida, agir em regresso contra o
aceitante, e caso este não satisfaça, poderá se voltar aos obrigados anteriores.

b) ação indireta ou ação regressiva: aquela que é movida pelo portador atual contra os
obrigado anteriores, como no caso do endossante que paga ao endossatário. Ela hoje se
consubstancia na ação de regresso, havendo obrigatoriedade da existência de protesto,
sob pena de perda do seu direito de regresso.

Não satisfeito o credor na totalidade da dívida pelo devedor principal e pelo avalista, será
permitido iniciar ação de regresso contra os obrigados regressivos.

 A DEFESA DO EXECUTADO
A fim de garantir os terceiros de boa-fé, dando à circulação dos títulos cambiários a segurança
necessária para o crédito, de forma que sem temor e riscos possam eles ser negociados, a lei regula,
de maneira estrita, as hipóteses em que o devedor, o réu na ação cambiária, pode opor exceções de
defesa ao credor, negando-lhe legitimamente o pagamento. O princípio geral, na verdade, é o da
inoponibilidade das exceções aos terceiros de boa-fé, indicando a lei, de forma estrita, os casos em
que a regra é derrogada, permitindo-se a oposição ao pagamento.

 EMBARGOS À EXECUÇÃO
Os embargos à execução são ação de conhecimento autônoma e incidental ao processo de
execução, suspendendo-o, sendo movida pelo devedor e fundada em título executivo extrajudicial,
na qual o executado impugna o crédito pretendido pelo exequente e a validade da relação proces-
sual executiva.

Os embargos poderão ser oferecidos pelo devedor para arguir sobre (art. 917, CPC):
Art. 917. (...)
197
I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
II - penhora incorreta ou avaliação errônea;
III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de
coisa certa;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conheci-
mento.

Embora mantendo o critério da inoponibilidade das exceções como regra, a Lei Uniforme se
conteve nos estritos termos do direito cambiário não incluindo no seu texto exceções de natureza
processual comum. Limitou-se, apenas, a fixar o princípio de que o réu não pode opor ao autor as
exceções fundadas sobre relações pessoais dele com o sacador ou com os portadores anteriores,

197
Neste caso o devedor defende-se por meio de exceções que o Decreto 2.044/08, no art. 51, restringe a:
1. Direito pessoal do réu contra o autor: diz respeito à pessoa do credor. São exceções referentes basicamente a erro, dolo, fraude ou
violência, defeitos ou falta de causa subjacente, que podem ser alegadas pelo réu em sua defesa;
2. Defeito de forma do título: refere-se à forma intrínseca e extrínseca da cambial, o seja, ausente qualquer dos requisitos formais do
título, ineficaz será o mesmo;
3. Falta de requisito necessário ao exercício da ação: são exceções específicas do processo (coisa julgada, litispendência, falta de capaci-
dade processual etc.).

142
DIREITO EMPRESARIAL

ressalvando apenas a hipótese de que o portador ao adquirir a letra tenha procedido consciente-
mente em detrimento do devedor.

Essa limitação, evidentemente, não excluiu as outras exceções que, não derivando tecnica-
mente do direito cambiário, possam resultar de outros princípios de direito comum.

 ANULAÇÃO DE REQUISITO PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO


A defesa com fundamento na falta de requisito para o exercício da ação é de natureza proces-
sual; diz respeito à ação e não ao título propriamente dito. Dessa ordem são as defesas que se funda-
rem na não-exibição da cambial vencida, na falta de posse cambial, na extinção em virtude de paga-
mento, na falta ou nulidade do protesto se a ação é regressiva e na prescrição.

 INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES AOS TERCEIROS DE BOA-FÉ


A regra básica do Direito Cambiário é a inoponibilidade de exceções ao terceiro de boa-fé. A
redação do artigo 17, LUG, dispõe que:
Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador as ex-
ceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores an-
teriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em
detrimento do devedor.

Assim, o dispositivo exclui claramente que a simples ciência do vício seja suficiente para tornar
oponível a exceção; para que este seja oponível não basta a simples ciência, mas é necessário que o
portador, adquirindo a cambial, tenha agido cientemente em prejuízo do devedor. É necessário
ressaltar que, não só o portador deve ter adquirido a cambial reconhecendo o vício, mas deve ter
também agido com a consciência de acarretar um dano ao devedor.

 FORMA DE EXECUÇÃO
A petição inicial, além de preencher os requisitos do art. 319, CPC, deverá ser acompanhada
pelos seguintes documentos:
- procuração geral para foro, também denominada ad judicia;
- título cambial;
- instrumento de protesto, nos casos em que este é obrigatório;
- demonstrativo de débito atualizado até a data da propositura da ação.

O foro competente extrajudicial é o do lugar do pagamento. Não havendo local certo, o foro é
o do domicílio do réu.

 PENHORA
Proposta a ação, o devedor, no prazo de 24 horas, deverá pagar ou nomear bens a penhora,
observando a ordem de disposição do art. 835, CPC.

143
DIREITO EMPRESARIAL

 ANULAÇÃO DA LETRA CÂMBIO


 PROCESSO DE ANULAÇÃO DA CAMBIAL
Pode ocorrer que a cambial, em poder do portador, venha a extraviar-se, ou seja, destruída to-
tal ou parcialmente. Para exercer seu direito de crédito é essencial que o credor apresente o docu-
mento, a letra de câmbio. Estaria, assim, o portador impossibilitado de haver o crédito incorporado
ao título, com o conseqüente enriquecimento sem causa do devedor cambiário.

O Decreto 2.044/08 socorreu o credor (art. 36), criando a ação de anulação da letra extraviada
ou destruída. A Lei Uniforme disso não cogitou, pois o problema diz respeito ao direito processual
comum, não sendo tema que deva necessariamente ser versado numa lei cambiária.

O proprietário da letra, autor da ação, deve justificar na petição inicial, a sua propriedade, bem
como esclarecer as circunstâncias que resultaram do extravio ou destruição do título. Por extravio
deve entender-se a perda, furto ou qualquer outra forma de apossamento. A letra e os fatos devem,
assim, ser cumpridamente descritos com clareza e precisão.

Na hipótese de extravio, o autor deve requerer ao juiz competente do lugar do pagamento a


intimação do sacado ou do aceitante e dos coobrigados, para que não paguem a letra, e a citação do
detentor, se for conhecido, para apresentá-lo em juízo, no prazo de três meses. Na hipótese de ser
desconhecido o detentor da letra extraviada, ou no caso de destruição, deve o autor pedir a citação
dos coobrigados para que, dentro do prazo de três meses, apresentem contestação, firmada em de-
feito de forma do título ou na falta de requisito essencial ao exercício da ação.

Processado o pedido, decorrido o prazo de três meses sem se apresentar o portador legitima-
do, ou sem a contestação do coobrigado, o juiz decretará a nulidade do título extraviado, ou destruí-
do, e ordenará, em benefício do proprietário, o levantamento do depósito da soma cambial, caso
tenha sido efetuado.

Titular dessa sentença, fica o autor proprietário da letra habilitado para o exercício da ação e-
xecutiva contra o aceitante ou outros coobrigados. A sentença tem, como se vê, efeito executório.
Se, todavia, for apresentada a letra no prazo de três meses ou oferecida a contestação, o juiz julgará
prejudicado o pedido de anulação da letra, ressalvando-se ao autor o direito de recorrer às vias ordi-
nárias para fazer valer seus eventuais direitos.

A ação anulatória, ressalva o Decreto 2.044/08, não impede a expedição de duplicata da letra e
nem para os efeitos de responsabilidade civil dos coobrigados, dispensa o aviso imediato do extravio,
dado por carta registrada, endereçada ao sacado, ao aceitante e aos outros coobrigados.

 PRESCRIÇÃO DA AÇÃO
Segundo a LUG, as ações contra o aceitante prescrevem em três anos a contar do vencimen-
to. As ações do portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem em um ano, a con-
tar da data do protesto feito em tempo útil, ou da data do vencimento, quando se tratar de letra
com cláusula “sem despesas”. Por fim, as ações dos endossantes uns contra os outros e contra o
sacador prescrevem em seis meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que
ele próprio tenha sido acionado.

144
DIREITO EMPRESARIAL

A prescrição pode ser interrompida, mas só produz efeito em relação à pessoa contra quem
foi dirigida (art. 71, LUG). Por iniciativa do portador, é claro, pode interromper-se a prescrição contra
um ou todos os obrigados ou coobrigados.

O instituto da prescrição, mesmo aplicado ao direito cambiário, segue a disciplina traçada em


nosso direito civil, que toma a seu cargo as normas a ela relativas.

A prescrição interrompe-se pela citação pessoal feita ao devedor, ainda que ordenada por juiz
incompetente, pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário, ou em concurso de
credores, por qualquer ato judicial, que constitua em mora o devedor, por qualquer ato inequívoco,
ainda que extrajudicial, que importe o reconhecimento do direito pelo devedor.

 EXECUÇÃO CAMBIAL NO JUIZADO ESPECIAL


O Juizado Especial, previsto no art. 98, I, CF, e disciplinado na Lei 9.099/95, foi criado para agi-
lizar o processamento das causas cíveis de menor complexidade.

Desta forma, observado o limite máximo previsto no inc. II, do § 1º, do art. 3º, Lei 9.099/95,
poderá o credor de títulos cambiais optar pelo Juizado Especial, atribuindo maior destaque aos prin-
cípios da oralidade, da simplicidade e da informalidade, buscando, a priori, a conciliação entre as
partes, e consagrando o jus postulandi, nas causas de até 20 salários mínimos, só exigindo a assistên-
cia advocatícia nas causa de valores superiores a este (art. 9º).

Nas causas de valor até 20 salários mínimos, pode o próprio autor firmar sua petição inicial,
sendo indispensável a juntada do título.

A competência do juízo segue os critérios do art. 4º, Lei 9.099/95:


Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro:
I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades pro-
fissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escri-
tório;
II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para reparação de dano de
qualquer natureza.

Conforme o art. 8º, Lei 9.099/95:


Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as
pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o in-
solvente civil.
§ 1º Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial:
I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas;
II - as pessoas enquadradas como microempreendedores individuais, microempresas e
empresas de pequeno porte na forma da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de
2006;
III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de Interesse Pú-
blico, nos termos da Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999;
IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do art. 1º da Lei
nº 10.194, de 14 de fevereiro de 2001.
§ 2º O maior de dezoito anos poderá ser autor, independentemente de assistência, inclu-
sive para fins de conciliação.

145
DIREITO EMPRESARIAL

Diferente da audiência de conciliação na execução cambial, que se encontra vinculada à pe-


nhora dos bens, nos Juizados Especiais a conciliação independe da realização da penhora para que
haja audiência de conciliação.

Não havendo acordo, o devedor poderá propor embargos, na própria audiência ou em data
marcada pelo juiz nos 15 dias subsequentes.

Depois de proferida a sentença, caberá recurso inominado no prazo de 10 dias, sendo este jul-
gado por um órgão colegiado com três juízes togados, podendo ser recebido no próprio efeito sus-
pensivo, na eventualidade de dano irreparável.

Na execução cambial, o juiz pode deferir a adjudicação do bem penhorado na própria audiên-
cia dispensando, assim, a morosidade da praça ou leilão. Perante este caso, a adjudicação se dará
pelo valor da avaliação do bem penhorado, implicando, eventualmente, o pagamento, pelo exe-
quente, da diferença entre o valor do bem e o seu crédito. Não ocorrendo adjudicação, os bens pe-
nhorados serão alienados em praça. E não localizando o devedor ou inexistindo bens penhoráveis, o
processo será extinto com a devolução dos documentos que acompanham a inicial.

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

 PROPRIEDADE INDUSTRIAL
A proteção da Propriedade Industrial é resguardada pela Lei n. 9.279/96. Constituem bens in-
corpóreos que compõem o estabelecimento empresarial: as marcas, desenho industrial, patente de
invenção e modelo de utilidade. A proteção da invenção e do modelo de utilidade decorrem da pa-
tente, enquanto o desenho industrial e as marcas são objeto de registro. Os direitos de propriedade
intelectual são considerados bens móveis.

A proteção efetuar-se-á mediante:


a) concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade;
b) concessão de registro de desenho industrial;
c) concessão de registro de marca;
d) repressão às falsas indicações geográficas; e
e) repressão à concorrência desleal.

 PATENTES
Uma vez concedidas, as patentes de invenção e modelo de utilidade integram o estabeleci-
mento, mas, não possuem tangibilidade, são bens intangíveis. Em princípio, são objeto de proteção
em todo o território nacional. As patentes são concedidas para invenções e modelo de utilidade. O
legislador não conceituou a invenção, trazendo apenas a definição de modelo de utilidade.

Segundo Rubens Requião, o conceito de invenção é: “dar aplicação prática ou técnica ao prin-
cípio cientifico, no sentido de criar algo novo, aplicável no aperfeiçoamento ou na criação industri-

146
DIREITO EMPRESARIAL

al”198. Mas, temos que tomar cuidado para não confundir a invenção com a descoberta. A proteção
da invenção ocorre por intermédio da patente, que será concedida pelo INPI, cumpridos os requisitos
legais para sua concessão.

Não podemos confundir os conceitos de invenção e descoberta. Sergio Campinho trata a dife-
rença dos institutos de forma clara e objetiva, elencando que:
“a descoberta consiste na explicitação, na exteriorização de uma coisa, até então desco-
nhecida, mas já existente na natureza ao passo que a invenção implica a criação de algo
novo, de uma coisa inexistente, pressupondo a ação do trabalho humano na produção
199
dessa coisa nova” .

O modelo de utilidade é o aprimoramento de uma invenção que já existe. Não se trata da cria-
ção de um novo objeto, mas sim do aprimoramento de algo que já existe, lhe conferido nova utilida-
de. É o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova
forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional de seu uso ou na
sua utilização prática (art. 9º, LPI).

 LEGITIMADOS PARA O PEDIDO PATENTE DE INVENÇÃO OU MODELO DE UTILIDA-


DE
O autor da patente poderá requerer o seu registro para garantia da proteção nos termos da
lei, podendo o requerimento ser realizado em nome próprio, pelos herdeiros ou sucessores do autor,
pelo cessionário ou por aquele a quem a lei ou o contrato de trabalho ou de prestação de serviços
determinar que pertença a titularidade (art. 6º, §2º, LPI). Presume-se que o requerente é o legitima-
do para obtenção da patente, salvo prova em sentido contrário.

A invenção para ser patenteada precisa atender aos requisitos de novidade, atividade inventi-
va e aplicação industrial. A invenção e o modelo de utilidade serão consideradas novos quando não
compreendidos no estado da técnica. Nos termos do art. 11, §1º, LPI, o estado da técnica é constituí-
do por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por
descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior, ressalvado o dis-
posto nos arts. 12, 16 e 17, LPI.

Na hipótese de termos pluralidade na autoria da invenção ou do modelo de utilidade, a paten-


te poderá ser requerida por todas ou qualquer um dos autores, mas mediante nomeação e qualifica-
ção das demais, para salvaguarda dos respectivos direitos.

 REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA PATENTE


Pode ser objeto de patente a invenção que atenda aos requisitos da:
a) Novidade – algo que ainda não existe, novo.

b) Atividade inventiva – pode ser uma invenção ou um modelo de utilidade. Notem que a
invenção caracteriza-se como algo novo, enquanto o modelo de utilidade atribui à invenção
uma nova forma, utilidade.

A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto, não de-
corra de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica. O modelo de utilidade é dotado de ato

198
Ob.Cit.p. 362
199
Ob. Cit. P. 353

147
DIREITO EMPRESARIAL

inventivo sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar do
estado da técnica (arts. 13 e 14, LPI).

c) Aplicação industrial - quando possam ser utilizados ou produzidos em qualquer tipo de


indústria. (art. 15, LPI).

 O QUE NÃO PODERÁ SER CONSIDERADO INVENÇÃO E MODELO DE UTILIDADE E O


QUE NÃO PODERÁ SER OBJETO DE PATENTE
O legislador se preocupou em listar na Lei de Propriedade Intelectual o que não pode ser con-
siderado como invenção e modelo de utilidade:
Art. 10. (...)
I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;
II - concepções puramente abstratas;
III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educati-
vos, publicitários, de sorteio e de fiscalização;
IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética;
V - programas de computador em si;
VI - apresentação de informações;
VII - regras de jogo;
VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de
diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e
IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na nature-
za, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo
natural e os processos biológicos naturais.

Da mesma forma, elenca o que não poderá ser objeto de patente:


a) o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públi-
cas;

b) as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem


como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos de ob-
tenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e

c) o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam
aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial
- previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta (art. 18, LPI).

O conceito de microorganismos transgênicos encontra-se estampado no art. 18, parágrafo úni-


co, LPI: “são organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante
intervenção humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcan-
çável pela espécie em condições naturais”.

 CONCESSÃO DA PATENTE DE INVENÇÃO E MODELO DE UTILIDADE


Nos termos do art. 19, LPI, o pedido da patente deverá conter:
Art. 19. (...)
I - requerimento;
II - relatório descritivo;
III - reivindicações;

148
DIREITO EMPRESARIAL

IV - desenhos, se for o caso;


V - resumo; e
VI - comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito.

O pedido será submetido a exame formal preliminar e, se instruído de forma correta, será pro-
tocolizado considerando como data do depósito o dia em que foi apresentado.

Se faltar algum requisito previsto na lei (art. 19, LPI), mas houver dados relativos ao objeto, o
INPI irá conceder ao autor da patente o prazo de 30 dias para sanar eventuais lacunas, sob pena de
devolução ou arquivamento definitivo dos documentos apresentados.

A patente confere ao seu titular o direito de impedir que terceiros, sem o seu consentimento,
produzam, façam, usem, coloquem à venda, vendam, ou importem com tais propósitos o produto
objeto da patente ou processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado (art. 42,
LPI).

 PRAZO DE DURAÇÃO DO REGISTRO DA PATENTE DE INVENÇÃO E DO MODELO DE


UTILIDADE
O pedido de patente deverá ser formulado junto ao INPI e, uma vez concedido, vigorará pelo
prazo de 20 anos, em se tratando de patente de invenção, ou 15 anos se patente de modelo de utili-
dade. O início do prazo se conta da data do depósito do respectivo pedido (art. 40, Lei n. 9.279/96).

O prazo de vigência não será inferior a 10 anos, em se tratando de patente de invenção, e 7


anos se for patente de modelo de utilidade. O prazo mínimo da patente de invenção e do modelo de
utilidade serão contados da data da concessão, ressalvadas as hipóteses previstas no art. 40, pará-
grafo único, LPI.

Invenção Modelo de utilidade IMPRORROGÁVEIS

Após o decurso do prazo estabelecido na lei, a patente de invenção e o modelo de utilidade ca-
irão em domínio público, uma vez que o registro é improrrogável. Quando cai em domínio público, o
uso comercial é livre, não mais aplicando os direitos patrimoniais exclusivos do titular.

A patente terá validade apenas nos Países em que for requerida e posteriormente concedida a
sua proteção.

 DA CESSÃO E LICENÇA DA PATENTE DE INVENÇÃO E MODELO DE UTILIDADE


É possível que o autor da patente, seja ela de invenção ou modelo de utilidade, possa ceder to-
tal ou parcialmente os direitos de uso.

Na hipótese da cessão, o art. 59, LPI, dispõe que o INPI deverá proceder às anotações referen-
tes à cessão, fazendo constar a qualificação obrigatória do cessionário (para quem a patente está
sendo cedida), bem como, se houver, proceder às anotações referentes a limitações ou ônus que
recaia sobre o pedido ou a patente, e alterações de nome, sede ou endereço do depositante titular.

Além da cessão de uso (total ou parcial), é possível também que o autor da patente (invenção
ou modelo de utilidade) autorize a licença para uso. Temos duas modalidades de licença: voluntária

149
DIREITO EMPRESARIAL

e compulsória.

A licença voluntária é aquela concedida para exploração. O licenciado, assim como o autor,
poderá exercer todos os poderes para agir em defesa da patente. Tanto a licença voluntária como a
cessão do uso da patente de invenção ou modelo de utilidade, somente produzirão efeito em relação
a terceiros a partir da data de sua publicação.

A licença compulsória ocorre para impedir que o titular exerça os direitos da patente de forma
abusiva ou com abuso de poder econômico. Ocorrerá nas hipóteses do art. 68, caput e §1º, e 70, LPI.

 EXTINÇÃO E NULIDADE DA PATENTE DE INVENÇÃO E MODELO DE UTILIDADE


As hipóteses de extinção dos direitos de propriedade e de uso exclusivo da patente estão e-
lencadas no art. 78, LPI, ocorrendo nas seguintes hipóteses:
a) expiração do prazo;
b) renúncia do seu titular (ressalvados direitos de terceiros);
c) pela caducidade;
d) falta de pagamento da retribuição anual200;
e) pela inobservância do disposto no art. 217, LPI (a pessoa domiciliada no exterior deverá
constituir e manter procurador devidamente qualificado e domiciliado no País, com pode-
res para representá-la administrativa e judicialmente, inclusive para receber citações).

Uma vez extinta a patente, o seu objeto cai em domínio público.

A nulidade da patente poderá ser requerida de forma administrativa ou judicial. No caso da


nulidade administrativa, o pedido poderá ser instaurado mediante requerimento do interessado ou,
ainda, de ofício, observados o prazo de 6 meses (contados da concessão da patente).

A declaração de nulidade de forma administrativa ocorrerá nas hipóteses do art. 50, LPI, que
dispõe:
Art. 50. A nulidade da patente será declarada administrativamente quando:
I - não tiver sido atendido qualquer dos requisitos legais;
II - o relatório e as reivindicações não atenderem ao disposto nos arts. 24 e 25, respecti-
vamente;
III - o objeto da patente se estenda além do conteúdo do pedido originalmente deposita-
do; ou
IV - no seu processamento, tiver sido omitida qualquer das formalidades essenciais, indis-
pensáveis à concessão.

O titular da patente será intimado e deverá apresentar suas manifestações no prazo máximo
de 60 dias. Após o decurso do referido prazo, independentemente de haver ou não manifestação, o
INPI emitirá um parecer, abrindo prazo comum de 60 dias para que o titular e o requerente da nuli-
dade se manifestem. Transcorrido o prazo, o presidente do INPI manifestará sua decisão, encerran-
do-se assim a esfera administrativa.

Não obstante a disponibilização da via administrativa, poderá a nulidade ser requerida tam-

200
Para que ocorra o arquivamento do pedido ou a extinção da patente por ausência de retribuição anual prevista no art. 84, LPI, é neces-
sária a notificação prévia do titular ou do respectivo depositante. REsp. 1.669.131-RJ (Inf. 608, STJ).

150
DIREITO EMPRESARIAL

bém pela via judicial, nesse caso a qualquer tempo, desde que o requerente tenha legítimo interesse,
abrindo-se o prazo de 60 dias para manifestação do titular (art. 57, §1º, LPI).

A suspensão da patente poderá ser determinada pelo juiz, desde que atendidos os requisitos
processuais próprios, seja de forma incidental ou preventiva (art. 56, §2º, LPI). O foro competente
para o ajuizamento será da Justiça Federal, podendo o INPI intervir no feito quando não for o autor
do pedido de nulidade.

Segue abaixo o quadro com as distinções entre patente de invenção, modelo de utilidade e de-
senho industrial201:

PATENTE MODELO DE UTILI- DESENHO INDÚS-


PATENTE INVENÇÃO (PI)
DADE (MU) TRIAL (DI)

 DESENHO INDUSTRIAL
O desenho industrial no Brasil será protegido pelo registro e não pela patente, como ocorre na
invenção e no modelo de utilidade. O art. 11, Lei n. 5.772/71, regulamentava a Propriedade Intelec-
tual, definia desenho industrial e modelo industrial, distinguindo tais institutos. O conceito de mode-
lo industrial era considerado “a forma plástica que possa servir de tipo de fabricação de um produto
industrial e ainda se caracterize por nova configuração ornamental”. Já o desenho industrial era defi-
nido “por toda disposição ou conjunto novo de linhas ou cores que, com fim industrial ou comercial,
possa ser aplicado à ornamentação de um produto, por qualquer meio manual, mecânica ou químico
singelo ou combinado”.

A Lei atual manteve os conceitos anteriormente mencionados, unindo ambos (desenho e mo-
delo industrial) no art. 95, LPI, e definindo o desenho industrial “como a forma plástica ornamental
de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, pro-
porcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo
de fabricação industrial”, sendo excluídas do conceito de desenho industrial as obras que represen-
tem caráter puramente artístico.

 LEGITIMADOS PARA O REQUERIMENTO DO PEDIDO


Os legitimados para o requerimento do pedido de desenho industrial são os mesmos da paten-
te de invenção e modelo de utilidade previstos no art. 6º, LPI.

 REQUISITOS PARA CONCESSÃO DO REGISTRO DO DESENHO INDUSTRIAL


Para que o desenho industrial seja registrado e o seu direito de uso seja protegido por seu titu-

201
http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/patente/guia_de_deposito_de_patentes.pdf/view

151
DIREITO EMPRESARIAL

lar, são necessários os preenchimentos de alguns requisitos, tais como:


a) Novidade: considerado novo quando não compreendido no estado da técnica; nos ter-
mos do art. 96, §1º, LPI: “estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível
ao público antes da data de depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso ou qual-
quer outro meio, ressalvado o disposto no § 3º deste artigo e no art. 99”.

b) Originalidade: quando dele resulte uma configuração visual distintiva, em relação a ou-
tros objetos anteriores.

c) Servir de tipo de fabricação industrial: quando for possível a reprodução do respectivo


objeto com todos os detalhes.

 NÃO PODERÁ SER REGISTRADO COMO DESENHO INDUSTRIAL


Nos termos do art. 100, LPI, não poderá ser registrável como desenho industrial:
a) o que for contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de
pessoas, ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e senti-
mentos dignos de respeito e veneração; ou

b) a forma necessária comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela determinada essenci-
almente por considerações técnicas ou funcionais.

 CONCESSÃO DO REGISTRO
O titular do desenho industrial fará o pedido de registro junto ao INPI, munido dos seguintes
documentos:
Art. 101. (...)
I - requerimento;
II - relatório descritivo, se for o caso;
III - reivindicações, se for o caso;
IV - desenhos ou fotografias;
V - campo de aplicação do objeto; e
VI - comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito.

O pedido será submetido a exame formal preliminar e, se devidamente instruído, será proto-
colizado, considerada a data do depósito a da sua apresentação. Na hipótese de o pedido não aten-
der formalmente ao disposto no art. 101, mas contiver dados suficientes relativos ao depositante, ao
desenho industrial e ao autor, poderá ser entregue ao INPI, mediante recibo datado, que estabelece-
rá as exigências a serem cumpridas em 5 dias, sob pena de ser considerado inexistente (art. 103, LPI).

O pedido de registro de desenho industrial terá que se referir a um único objeto, permitida
uma pluralidade de variações, desde que se destinem ao mesmo propósito e guardem entre si a
mesma característica distintiva preponderante, limitado cada pedido ao máximo de 20 variações.

 PRAZO DE VIGÊNCIA DO REGISTRO


O prazo do registro vigorará por 10 anos contados da data do depósito. Diferente da patente
de invenção e modelo de utilidade, o desenho industrial poderá ser prorrogado por 3 períodos suces-
sivos, de 5 anos cada. O prazo de proteção total, realizadas todas as prorrogações será de 25 manos.

152
DIREITO EMPRESARIAL

10 ANOS PRORROGÁVEL POR TRÊS PERÍODOS SUCESSIVOS = + 5 ANOS + 5ANOS + 5ANOS

O titular deverá fazer o pedido de prorrogação no último ano de vigência do registro, devida-
mente instruído com o recibo de pagamento da respectiva contribuição. Se o titular da patente per-
der o prazo e não efetuar o registro no último dia até o termo final da vigência do registro, poderá
fazê-lo posteriormente, no prazo de 180 subsequentes, efetuado o pagamento da retribuição adicio-
nal.

A retribuição do pagamento da renovação do registro será quinquenal, a partir do segundo


quinquênio da data do depósito. O pagamento do segundo quinquênio será feito durante o 5º ano da
vigência do registro, e dos demais quinquênios será apresentado junto com o pedido de prorrogação
a que se refere o art. 108, LPI, podendo o pagamento ainda ser realizado dentro dos 6 meses subse-
quentes ao prazo estabelecido no parágrafo anterior, mediante pagamento de retribuição adicional
(art. 120, §§ 1º, 2º e 3º, LPI).

 EXTINÇÃO E NULIDADE DO REGISTRO DO DESENHO INDUSTRIAL


O registro do desenho industrial extingue-se:
Art. 119. (...)
I - pela expiração do prazo de vigência;
II - pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros;
III - pela falta de pagamento da retribuição prevista nos arts. 108 e 120; ou
IV - pela inobservância do disposto no art. 217.

A nulidade do registro pode ocorrer administrativamente ou judicialmente. O registro que for


concedido em desacordo com as disposições da lei será considerado como nulo, produzindo efeitos a
partir da data do pedido de nulidade.

A nulidade requerida de forma administrativa ocorrerá quando a concessão do registro não


observar o disposto em lei e deverá estar fundamentada em uma das hipóteses previstas nos arts. 94
a 98, LPI. O requerimento ou a instauração de ofício suspenderá os efeitos da concessão do registro
se apresentada ou publicada no prazo de 60 dias da concessão (art. 113, §2º, LPI).

O titular da patente será intimado e deverá apresentar suas manifestações no prazo máximo
de 60 dias. Após o decurso do referido prazo, independentemente de haver ou não manifestação, o
INPI emitirá um parecer, abrindo prazo comum de 60 dias, para que o titular e o requerente da nuli-
dade se manifestem. Transcorrido o prazo, o presidente do INPI manifestará sua decisão, encerran-
do-se assim a esfera administrativa (arts. 114, 115 e 116, LPI).

A ação de nulidade de desenho industrial será proposta nos termos dos arts. 56 e 57, LPI, na-
quilo em que for compatível.

 MARCA
As marcas consistem em sinais distintivos destinados a apresentar e identificar, de forma dire-
ta ou indireta, produtos e serviços oferecidos no mercado. A identificação direta está relacionada a
um serviço ou produto determinado.

O art. 122, LPI, determina que “são suscetíveis como marca os sinais distintivos visualmente
perceptíveis, não compreendidas as proibições legais”.

153
DIREITO EMPRESARIAL

As marcas são bens incorpóreos que integram o estabelecimento empresarial. A proteção das
marcas ocorre através do registro, realizado no INPI. As marcas podem ser denominadas como mar-
cas de produto ou serviço, marcas de certificação e marcas coletivas, sendo o seu conceito estampa-
do no art. 123, LPI.

Segundo Sergio Campinho


“as marcas consistem em sinais distintivos destinados a apresentar e identificar, de forma
direta ou indireta, produtos e serviços oferecidos no mercado. A identificação direta se re-
laciona especificamente a um serviço ou produto determinado. A identificação indireta se
manifesta por meio de espécies ou categoria de marcas, nominadas de marca de certifica-
202
ção e marca coletiva”

Quanto à natureza, as marcas podem ser classificadas como: marca de produto ou serviço,
marca de certificação ou marca coletiva.

Marca de produto ou serviço: é utilizada para distinguir um produto ou serviço de outro que
seja idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa;

Podemos destacar como a) marca de serviço – Itaú; b) marca de produto - BIC.

203 204
MARCA DE PRODUTO MARCA DE SERVIÇO

a) Marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço


com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natu-
reza, material utilizado e metodologia empregada;

A marca de certificação é conceituada segundo José Carlos Tinoco Soares, conforme noticiado
por Sergio Campinho como “aquela que visa garantia, uma vez que atesta ou certifica a origem, o
material, o modo de fabricação, ou a prestação de serviço de qualidade”205. Podemos citar como
exemplo de marca de certificação o INMETRO/ISO.

b) Marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros
de uma determinada entidade.

José Carlos Tinoco, conforme noticiado por Sergio Campinho, conceitua a marca coletiva como
a marca de “toda uma comunidade, um grupamento de pessoas jurídicas de natureza privada ou
pública, destinada a assinalar e distinguir os produtos e/ou as mercadorias oriundas de uma cidade,
região ou país, como se fora um selo de garantia, autenticidade, excelência e qualidade”. Podemos
citar como exemplo de marca coletiva a AMPAQ/ABRINK.

202
Ob. Cit. P. 357
203
http://www.branzai.com/2012/08/bic-algo-mas-un-boli-marcas-que-crean.html
204
https://www.itau.com.br/
205
Ob. Cit. P. 357

154
DIREITO EMPRESARIAL

MARCA DE COLETIVA206 MARCA DE CERTIFICAÇÃO207

As marcas possuem forma de apresentação, podendo ser nominativas, figurativas, tridimensi-


onais ou mistas.
a) Marcas nominativas: São aquelas em que registramos apenas um nome (expres-
são/palavra), não importando a sua apresentação.

b) Marcas figurativas – São aquelas que representam logotipos ou ainda desenhos. Diferente
da nominativa a marca figurativa não tem palavras, podendo conter no máximo duas letras.

c) Marcas mistas – são aquelas que apresentam nome (palavra) e uma figura.

d) Marcas tridimensionais – são aquelas que representam a embalagem do produto, e essa


por si só já identifica aquele determinado produto.

208 209 210 211


NOMINATIVA FIGURATIVA TRIDIMENSIONAL MISTA

As marcas são regidas por três princípios fundamentais: especialidade, territorialidade e siste-
ma atributivo.

Pelo princípio da especificidade, o registro da marca confere ao seu titular somente a prote-
ção no ramo da atividade em que foi registrada. Podemos citar como exemplo a “VEJA”, que tem a
proteção no seguimento de produtos de limpeza e outra proteção no tocante a revistas e periódicos.
A proteção ficará restrita à classe em que foi registrada.

212 213
Produto de limpeza Revistas e periódicos

206
http://www.ampaq.com.br/?op=conteudo&id=131
207
http://www.iso.org/iso/home/standards/management-standards/iso_9000.htm
208
http://www.casaevideo.com.br/webapp/wcs/stores/servlet/pt/auroraesite
209
http://www.lacoste.com/pt
210
http://esplanadagora.com.br/tradicional-garrafa-de-vidro-da-coca-cola-completa-100-anos/
211
http://www.e-marcas.com.br/registro-de-marcas/tipos-de-marca/
212
http://www.matrizdesenho.com.br/pt/projeto/marcas
213
http://veja.abril.com.br

155
DIREITO EMPRESARIAL

O princípio da especificidade comporta exceção no tocante às marcas de alto renome. As


marcas de alto renome são aquelas cuja proteção ocorrerá em todos os ramos da atividade, e não
ficará restrita à classe na qual ela foi registrada. Dispõe o art. 125, LPI, que “à marca registrada no
Brasil considerada de alto renome será assegurada proteção especial, em todos os ramos de ativida-
de”.

O registro da marca de alto renome é regulamentado pelo INPI através da Resolução n. 121,
que, em seu art. 2º, conceitua como de
“alto renome a marca que goza de uma autoridade incontestável, de um conhecimento e
prestígio diferidos, resultantes da sua tradição e qualificação no mercado e da qualidade e
confiança que inspira, vinculadas, essencialmente, à boa imagem dos produtos ou serviços
a que se aplica, exercendo um acentuado magnetismo, uma extraordinária força atrativa
sobre o público em geral, indistintamente, elevando-se sobre os diferentes mercados e
transcendendo a função a que se prestava primitivamente, projetando-se apta a atrair cli-
entela pela sua simples presença”.

As marcas de alto renome não podem ser confundidas com as marcas notoriamente conheci-
das.

A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, sendo assegurado ao


titular seu uso exclusivo em todo o território nacional. A proteção da marca conferida pelo Estado
não irá ultrapassar os limites territoriais do País em que foi registrada. As marcas notoriamente co-
nhecidas representam exceção ao princípio da territorialidade.

A marca notoriamente reconhecida goza de proteção especial, independentemente de estar


registrada ou depositada no Brasil. Dispõe o art. 126, LPI que “a marca notoriamente conhecida em
seu ramo de atividade nos termos do art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da
Propriedade Industrial, goza de proteção especial, independentemente de estar previamente deposi-
tada ou registrada no Brasil”.

MARCAS DE ALTO RENOME MARCA NOTORIAMENTE CONHECIDA


214 215
COCA-COLA GILLETE

214
http://www.evef.com.br/artigos-e-noticias/marcas-mais-famosas/33-coca-cola
215
https://wall.alphacoders.com/by_sub_category.php?id=236873&lang=Portuguese

156
DIREITO EMPRESARIAL

A regra prevista em nosso ordenamento, quanto à proteção dos direitos da marca, é de que
será assegurada àquele que primeiro depositar o pedido de registro, ou seja, a propriedade se adqui-
re com registro expedido. Constituindo exceção a esse princípio, o usuário que conseguir provar a
utilização da marca, nos termos do art. 129, §1º, LPI:
Art. 129. (...)
§ 1º Toda pessoa que, de boa fé, na data da prioridade ou depósito, usava no País, há pelo
menos 6 (seis) meses, marca idêntica ou semelhante, para distinguir ou certificar produto
ou serviço idêntico, semelhante ou afim, terá direito de precedência ao registro.

O STJ firmou entendimento no REsp. 1.315.621-SP no tocante a mitigação da exclusividade de-


corrente do registro da MARCA EVOCATIVA, determinando que “ainda que já tenha sido registrada
no INPI, a marca que constitui vocábulo de uso comum no segmento mercadológico em que se insere
– associado ao produto ou serviço que se pretende assinalar – pode ser utilizada por terceiros de boa-
fé”216.

 REQUERENTES DO REGISTRO
O registro da marca poderá ser requerido por pessoa física ou jurídica de direito público ou
privado, exceto os registros de marca de certificação, que somente poderão ser requeridos por pes-
soa jurídica representativa de coletividade (poderá exercer atividade distinta da de seus membros),
mas que não possua interesse direto comercial e industrial do produto ou serviço que será prestado.

Dispõe o art. 128, §1º, LPI que “as pessoas de direito privado só podem requerer registro de
marca relativo à atividade que exerçam efetiva e licitamente, de modo direto ou através de empresas
que controlem direta ou indiretamente, declarando, no próprio requerimento, esta condição, sob as
penas da lei”.

 O QUE NÃO PODE SER REGISTRADO COMO MARCA


O art. 129, LPI, elenca os sinais que não poderão ser registrados como marca, tais como: bra-
são, armas, medalhas, letra, algarismo, data, obra literária, artística ou cientifica, nome civil ou assi-
natura, dentre outros.

 CONCESSÃO DO REGISTRO DA MARCA


Assim como o desenho industrial, as marcas não são objeto de patente e sim de registro. A
proteção da marca é conferida pela Lei de Propriedade Intelectual através do respectivo registro no

216
DIREITO EMPRESARIAL. MITIGAÇÃO DA EXCLUSIVIDADE DECORRENTE DO REGISTRO NO CASO DE MARCA EVOCATIVA. (...) Com
efeito, marcas evocativas, que constituem expressão de uso comum, de pouca originalidade, atraem a mitigação da regra de exclusividade
decorrente do registro, possuindo um âmbito de proteção limitado. Isso porque o monopólio de um nome ou sinal genérico em benefício
de um comerciante implicaria exclusividade inadmissível a favorecer a detenção e o exercício do comércio de forma única, com prejuízo
não apenas à concorrência empresarial – impedindo os demais industriais do ramo de divulgarem a fabricação de produtos semelhantes
através de expressões de conhecimento comum, obrigando-os a buscar nomes alternativos estranhos ao domínio público –, mas sobretudo
ao mercado geral, que teria dificuldades para identificar produtos similares aos do detentor da marca. Nesse sentido, a Lei 9.279/1996, que
regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, em seu art. 124, VI, dispõe não ser registrável como marca sinal de caráter
genérico, necessário, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado
comumente para designar uma característica do produto ou serviço. Vale destacar que a linha que divide as marcas genéricas – não sujei-
tas a registro – das evocativas é extremamente tênue, por vezes imperceptível, fruto da própria evolução ou desenvolvimento do produto
ou serviço no mercado. Há expressões, por exemplo, que, não obstante estejam diretamente associadas a um produto ou serviço, de início
não estabelecem com este uma relação de identidade tão próxima ao ponto de serem empregadas pelo mercado consumidor como sinô-
nimas. Com o transcorrer do tempo, porém, à medida que se difundem no mercado, o produto ou serviço podem vir a estabelecer forte
relação com a expressão, que passa a ser de uso comum, ocasionando sensível redução do seu caráter distintivo. Nesses casos, expressões
que, a rigor, não deveriam ser admitidas como marca – por força do óbice contido no art. 124, VI, da Lei 9.279/1996 – acabam sendo
registradas pelo INPI, ficando sujeitas a terem sua exclusividade mitigada. Precedente citado: REsp 1.166.498-RJ, Terceira Turma, DJe
30/3/2011. REsp 1.315.621-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/6/2013 (Informativo nº 0526).

157
DIREITO EMPRESARIAL

INPI. Com o registro, o titular terá o uso exclusivo em todo o território nacional (art. 129, LPI). A pro-
teção abrange o seu uso em papéis, impressos, propagandas ou documentos que estejam relaciona-
dos com a atividade do titular.

O titular da marca deverá zelar pela integridade material ou reputação da marca. Ao titular, ou
àquele que proceder o deposito, será assegurado o direito de cessão do registro ou até mesmo do
próprio pedido de registro (quando ainda não obteve o registro mas efetuou o pedido junto ao INPI),
bem como o seu licenciamento (art. 130, LPI).

 PRAZO DE DURAÇÃO DO REGISTRO


O registro da marca vigorará pelo prazo de 10 anos, contados da data da concessão do regis-
tro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos. Não existe limitação quanto à possibilidade de re-
novação da marca, mas o titular deverá observar o prazo para renovação.

Dispõe o art. 133, § 1º, LPI, que o pedido de prorrogação deverá ser formulado durante o últi-
mo ano de vigência do registro, instruído com o comprovante do pagamento da respectiva retribui-
ção. Se o titular por algum motivo perder o prazo para renovação da marca, não efetuando o pedido
de renovação até o termo final da vigência do registro, poderá ainda fazê-lo nos 6 (seis) meses sub-
sequentes, mediante o pagamento de retribuição adicional.

Não observados os prazos previstos no art. 133, §§1º e 2º, LPI, o registro da marca será extinto
nos termos do art. 142, LPI.

 CESSÃO E LICENÇA DO USO DA MARCA


O titular da marca ou depositante poderá ceder ou licenciar os direitos relativos à marca. Para
que ocorra a cessão do uso da marca, o cessionário deverá atender aos requisitos legais. Elenca o art.
135, da LPI que a “cessão deverá compreender todos os registros ou pedidos, em nome do cedente,
de marcas iguais ou semelhantes, relativas a produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, sob
pena de cancelamento dos registros ou arquivamento dos pedidos não cedidos”. As anotações obe-
decerão ao disposto no art. 136, LPI, e somente produzirão efeitos em relação a terceiros após a
respectiva publicação.

Além da cessão, poderá o titular de registro ou o depositante de pedido de registro celebrar


contrato de licença para uso da marca, sem prejuízo de seu direito de exercer controle efetivo sobre
as especificações, natureza e qualidade dos respectivos produtos ou serviços (art. 139, LPI).

 EXTINÇÃO E NULIDADE DAS MARCAS


O registro da marca será extinto nas seguintes hipóteses:
Art. 142. (...)
I - pela expiração do prazo de vigência;
II - pela renúncia, que poderá ser total ou parcial em relação aos produtos ou serviços as-
sinalados pela marca;
III - pela caducidade; ou
IV - pela inobservância do disposto no art. 217.

No tocante à caducidade, dispõe o art. 143, LPI, que


Art. 143. Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse
se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na data do requerimento:

158
DIREITO EMPRESARIAL

I - o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou


II - o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos consecutivos, ou se,
no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com modificação que implique alteração de seu
caráter distintivo original, tal como constante do certificado de registro.

O registro concedido em desacordo com a lei será considerado como nulo, podendo a nulidade
ser total ou parcial (a parte subsistente poder ser considerada registrável).

Poderá a marca ser declarada nula de forma administrativa ou judicial nos termos dos arts.
168 a 175, LPI. A nulidade, quando pleiteada pela via administrativa, deverá ser realizada no prazo de
180 dias contados da data de expedição do certificado do registro. Já pela via judicial, a ação de nuli-
dade deverá ser ajuizada no foro da Justiça Federal e o INPI, quando não for autor, irá intervir no
processo, no prazo de 5 anos contados da concessão do registro217.

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

O Sistema Financeiro Nacional nasceu através da Lei


4.595/64, que também ficou conhecida como Lei da Refor-
ma Bancária, que deu a atual forma do Sistema Financeiro
Nacional, que é claro teve a aprovação na Constituição
Federal de 1988. Existem dois subsistemas que compõem o
SFN brasileiro, que são eles: O sistema normativo, e o sis-
tema Operativo. O Subsistema Normativo está dividido em
dois grandes grupos:

 AUTORIDADES
 AUTORIDADES DE APOIO
 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
 Banco do Brasil
 BNDES
 Caixa Econômica Federal (CEF)
 Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRFSN)

217
Inf. 525, STJ - DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL PARA PLEITEAR INDENIZAÇÃO DECORRENTE
DO USO DE MARCA INDUSTRIAL QUE IMITE OUTRA PREEXISTENTE. O termo inicial do prazo prescricional de cinco anos (art. 225 da Lei
9.279/1996) para pleitear indenização pelos prejuízos decorrentes do uso de marca industrial que imite outra preexistente, suscetível de
causar confusão ou associação com marca alheia registrada (art. 124, XIX), é a data da violação do direito à propriedade industrial e se
renova enquanto houver o indevido uso. Isso porque o prazo prescricional começa a correr tão logo nasça a pretensão, a qual tem origem
com a violação do direito subjetivo —o direito de propriedade industrial. Ademais, considerando que a citada violação é permanente,
enquanto o réu continuar a utilizar marca alheia registrada, diariamente o direito será violado, nascendo nova pretensão indenizatória,
motivo pelo qual não há como reconhecer que a pretensão do autor estava prescrita quando do ajuizamento da demanda. REsp 1.320.842-
PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2013

159
DIREITO EMPRESARIAL

 AUTORIDADES MONETÁRIAS
 Conselho Monetário Nacional
 Banco Central do Brasil

O Subsistema Operativo é formado por três grupos:


- Instituições Financeiras Monetária
- Instituições Financeiras Não Monetárias
- Instituições Financeiras Auxiliares

O Sistema Financeiro Nacional é formado por um conjunto de instituições onde o principal ob-
jetivo é propiciar condições satisfatórias para a manutenção dos fluxos dos recursos financeiros entre
poupadores e investidores do país. O Sistema Financeiro Nacional visa criar condições para que haja
intermediários financeiros, com o objetivo de realizar a ponte entre dois segmentos.

 SISTEMA NORMATIVO
 AUTORIDADES DE APOIO
 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM)
Essa comissão foi criada pela Lei 6385/76, com o objetivo principal de fiscalizar, disciplinar e
Regular o mercado de valores mobiliários.

A Comissão de Valores Mobiliários nada mais é do que uma autarquia federal vinculada ao Mi-
nistério da Fazenda, ela opera com um colegiado, que é composto por um Presidente e quatro dire-
tores, esses membros do colegiado são nomeados pelo Presidente da Republica e possuem mandado
de anos fixo. A Comissão possui sua sede no Rio de Janeiro, possui autonomia financeira e orçamen-
tária garantidas por Lei, as verbas para custear as atividades da Comissão de Valores Mobiliários são
oriundos da taxa de fiscalização criada pela Lei 7.949/89 e decorre do exercício de seu poder de polí-
cia.

Valores Mobiliários: Ações, Debêntures, Partes Beneficiárias, Bônus de Subscrição, Cupons e


Certificados de Depósitos de Valores Mobiliários.

A Comissão de Valores Mobiliários é uma autarquia em regime especial, e possui:


 Personalidade Jurídica e Patrimônio Próprio;
 Dotada de Autoridade Administrativa Independente;
 Ausência de Subordinação Hierárquica;
 Mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes;
 Autonomia Financeira e Orçamentária.

Essa comissão possui cinco funções típicas: a) Função Normativa, b) Função de Registro, c)
Função Fiscalizadora, d) Função Consultiva, e) Função de Desenvolvimento.

a) Função Normativa: a regulação do mercado de capitais norteia-se pela obrigação de divul-


gação de informações, afinal o investidor só consegue avaliar o risco de ingressar nesse mercado

160
DIREITO EMPRESARIAL

caso o nível de informações que estejam à disposição do mercado seja completo, preciso e atualiza-
do. Afinal a informação é o principal bem jurídico tutelado pela intervenção estatal nesse mercado
de capitais, por esse motivo a Comissão de Valores Mobiliários determina que aqueles que fazem
parte desse mercado entre os quais se destacam as companhias abertas e os fundos de investimen-
tos, prestem informações sobre seus negócios e suas atividades.

A Comissão de Valores Mobiliários possui como principais ações de natureza normativa: ins-
truções; pareceres; deliberações; pareceres de orientação; nota explicativa; portaria; ato declarató-
rio.

b) Função de Registro: a Comissão de Valores Mobiliários é o órgão responsável pela autoriza-


ção prévia de determinadas atividades no mercado de valores mobiliários. Uma dessas atividades
seria o caso da prestação dos serviços de distribuição, intermediação ou corretagem, também os
serviços de custódia e de compensação ou liquidação de operações, mercado de balcão organizado,
e serviços de administrador de carteiras.

Entre todas as funções que exerce a Comissão de Valores Mobiliários concede registro prévio
das emissões de valores mobiliários, sejam primárias ou secundárias, das companhias e demais emis-
sores, e faz o registro dos auditores independentes.

c) Função Fiscalizadora: A Comissão de Valores Mobiliários também tem o poder de aplicar as


normas regulamentares que instituir e as demais regras as quais o cumprimento caiba a CVM fiscali-
zar.

Podemos observar os seguintes poderes do órgão em sua função fiscalizadora:


1. Examinar os registros contábeis, livros e documentos de companhias, auditores, fundos,
entre outros.

2. Intimar pessoas para prestação de informações.

3. Fazer a requisição de informações a órgãos públicos.

4. Fazer a determinação às companhias a republicação de demonstrações financeiras, rela-


tórios e outras informações.

5. Suspender a negociação de valores mobiliários.

6. Fazer a suspensão ou cancelamento de registros.

7. Determinar a proibição aos praticantes do mercado a prática de atos que especificar,


quais sejam prejudiciais ao seu funcionamento regular, assim como apurar atos ilegais e
praticas não equitativas

Quando for apurada uma irregularidade no inquérito administrativo, as penalidades passíveis


de serem aplicadas pelo colegiado da Comissão de Valores Mobiliários, serão:
 Advertência;
 Multa (o valor máximo que a multa pode atingir são quinhentos mil reais);
 A punição também pode assumir as seguintes sanções: 50% do valor da emissão ou da

161
DIREITO EMPRESARIAL

operação irregular, e três vezes o montante da vantagem econômica obtida ou da perda e-


vitada em decorrência do ilícito;
 Descredenciamento para o exercício do cargo;
 Suspensão;
 Proibição temporária, por prazo determinado, de praticar atividades para os responsá-
veis pelo sistema de distribuição;
 Cassação do registro do acusado;
 Proibição temporária, por prazo determinado, de atuar como investidor, direta ou indi-
retamente, no mercado de valores;

As sessões de julgamento de processos administrativos são públicas, e podem ser acompanha-


das por quem assim desejar.

A comissão de valores mobiliários precisa dar prioridade à apuração das infrações de natureza
grave que lhe seja apresentada para fiscalizar, cuja punição proporcione maior efeito educativo e
tenha cunho preventivo aos participantes do mercado. Deve ser observado que todas as decisões
tomadas pela comissão de valores mobiliários são passíveis de recursos judiciais.

Cabe também a Comissão de Valores Mobiliários o livre arbítrio de a qualquer instante, verifi-
cando que o acusado parou de praticar o ato irregular que deu inicio ao processo administrativo, e
claro tenha ressarcido as pessoas que tenha lesado, suspender o processo administrativo em ques-
tão.

d) Função Consultiva: A Comissão de Valores Mobiliários, nos últimos tempos, vem sendo con-
sultada em assuntos societários, sejam operações ou atos, manifestando assim seu entendimento,
quanto a esses assuntos.

e) Função de Desenvolvimento: Foi designado através de Lei atribuições relativas ao desen-


volvimento de mercado.

Citemos agora as principais atribuições da Comissão de Valores Mobiliários:


 Estimular as aplicações permanentes em ações de empresas privativas e nacionais;
 Fazer a administração de carteiras de custódia de valores mobiliários;
 Promover a expansão e o funcionamento especifico do mercado de ações;
 Realizar auditoria em campanhas abertas;
 Executar serviços de consultoria e análise de valores mobiliários;

Vejamos agora que a área de atuação da Comissão de Valores Mobiliários abrange:


 Campanhas abertas
 Sociedades corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários;
 Investidores, tanto pessoa física quanto pessoa jurídica;
 As bolsas de valores;
 Bolsas de Mercadorias e Futuros;

162
DIREITO EMPRESARIAL

 As entidades de balcão organizado e as


 As entidades de compensação e Liquidação.

Não obstante, toda vez que houver uma emissão pública de valores mobiliários, esta estará su-
jeita ao registro na Comissão de Valores Mobiliários.

Posto que somente agentes autônomos e as sociedades com registro na Comissão de Valores
Mobiliários podem exercer a atividade de medição ou corretagem de valores mobiliários fora da bol-
sa de valores. Vimos então que a Comissão de Valores Mobiliários, é uma autoridade de apoio ao
Subsistema Normativo, agora vamos então elencar os outros quatro integrantes desse grupo de a-
poio.

 BANCO DO BRASIL (BB)


O Banco do Brasil exerce ao mesmo tempo, as funções de agente financeiro do Governo Fede-
ral, Executor da Política de Crédito Rural e Industrial e Banco Comercial.

O Banco do Brasil executa serviços de compensação de cheques e outros papéis, além também
da política de Comércio Exterior. Ele é o agente pagador e recebedor fora do Brasil. Ele é uma S.A. de
capital aberto com ações negociadas na bolsa de valores, por ter uma diversidade de carteiras e con-
siderado um Banco Múltiplo. É uma sociedade de economia mista, onde o controle acionário é da
União.

É o Presidente da República quem nomeia o presidente do Banco do Brasil. Precisamos lem-


brar que o Banco do Brasil também atua como Agente Especial do Governo. As funções básicas do BB
é ser: a) Agente Financeiro do governo Federal; b) Banco Comercial e Banco de Investimento; c) Ban-
co de Desenvolvimento.

 BNDES
O Banco do Desenvolvimento é uma empresa pública vinculada ao Ministério do Planejamen-
to. É o principal órgão de execução da política de investimentos no Governo Federal. Deve atuar co-
mo gestor do programa de desestatização.

 CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (CEF)


É uma instituição financeira pública com forma jurídica de direito privado, foi criada em 1861,
foi regulamentada pelo Decreto Lei 759 de 12 de agosto de 1969.

Instituição assemelhada aos bancos comerciais, podendo captar depósitos à vista, realizar ope-
rações ativas e efetuar prestações de serviços.

É responsável pela execução das políticas de:


 Habitação popular;
 Saneamento básico;
 Prestação de serviços de natureza social do Governo Federal;
 Infraestrutura urbana.

163
DIREITO EMPRESARIAL

Cabe a ela administrar: FGTS; PIS; Loterias; Fundo de desenvolvimento social, SFH, SFS e Bolsa
Família.

 CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (CRSFN)


É um órgão colegiado de segundo grau o qual integra a estrutura do Ministério da Fazenda.
Sua secretaria executiva tem sede no prédio sede do Banco Central em Brasília.

Possui como atribuições julgar os recursos interpostos das decisões relativas a aplicações de
penalidades administrativas do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários.

Seu conselho é formado por oito conselheiros, que são:


 Um representante do Ministério da Fazenda,
 Um representante da Secretaria de Comercio Exterior,
 Um representante da Comissão de Valores Mobiliários e
 Quatro representantes das entidades de classe de seus mercados financeiro e de capi-
tais, por elas indicadas em lista tríplice, conforme solicitação do Ministério da Fazenda.

Esses conselheiros deverão possuir competência profissional reconhecida, e serem detentores


de conhecimentos especializados em assuntos relativos aos mercados financeiros e de capitais.

É o Ministro da Fazenda quem designará os membros do conselho, assim como seus suplentes,
o mandato será de sois anos, podendo ser renovado por mais dois anos.

Dois procuradores da Fazenda Nacional que serão designados pelo Procurador Geral da Fazen-
da Nacional, atuarão ainda junto ao conselho, sua missão será de zelar a fiel observância das leis,
decretos, regulamentos e demais atos administrativos.

Seu presidente será um representante do Ministério da Fazenda, seu vice será uma pessoa de-
signada pelo Ministério da Fazenda dentre os representantes das entidades de classe.

 AUTORIDADE MONETÁRIA DO SUBSISTEMA NORMATIVO


 CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL (CMN)
É um órgão eminentemente normativo, é responsável pela fixação das diretrizes da política
monetária, creditícia e cambial nacional. Considera-se como um conselho de política econômica.

Três são os integrantes do Conselho Monetário Nacional:


 Ministério da Fazenda – o qual detém a presidência do conselho;
 Ministério do Planejamento Órgão e Gestão e
 E o Presidente do BACEN.

Esse órgão se reúne uma vez por mês, ordinariamente, e sempre que seu presidente os convo-
car, extraordinariamente. Ao presidente do CMN é permitido convidar Ministros de Estado assim
como representantes de entidades públicas e também privadas com o intuito de participarem das
reuniões, contudo sem direito a voto.

164
DIREITO EMPRESARIAL

O órgão possui uma comissão técnica da moeda e do crédito e mais sete comissões consulti-
vas.

O CMN tem como competência, enquanto entidade superior do SFN, as funções abaixo:
 Adaptar o volume dos meios e pagamentos as reais necessidades da economia;
 Regular o valor externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos;
 Regular o valor interno da moeda, prevenindo ou então corrigindo os surtos inflacioná-
rios de origem interna ou externa;
 Orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras públicas e privadas;
 Propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros;
 Deve zelar pela liquidez e pela solvência das instituições financeiras.

O Conselho Monetário Nacional possui como competência privativa:


 Autorizar a emissão de papel moeda;
 Aprovar o orçamento monetário preparado pelo Banco Central;
 Fixar as diretrizes da política cambial, inclusive compra e venda de ouro e moedas es-
trangeiras;
 Fixar os recolhimentos compulsórios sobre depósitos e outras fontes.

As Comissões Consultivas previstas são as seguintes:


 De norma e organização do sistema financeiro;
 De mercado de valores mobiliários;
 De crédito rural;
 De crédito industrial;
 De crédito habitacional e para saneamento e infraestrutura urbana;
 De política monetária e cambial e
 De endividamento público.

 BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN)


O BACEN é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, que na realidade atua como ór-
gão executivo do Sistema Financeiro Nacional, cumprindo e fazendo cumprir as disposições e as
normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional.

Possui sede em Brasília, mas tem representações nas capitais do Rio de Janeiro, São Paulo, Mi-
nas Gerais, Bahia, Pará, Ceará, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul.

Em 2004 o cargo de natureza especial do Presidente do Banco Central do Brasil foi transfor-
mado em cargo de Ministro de Estado.

Deve-se atentar para o fato de que o BACEN não realiza operações bancárias diretas com o
público e suas receitas são originárias da arrecadação do IOF, juros de redesconto de empréstimo de

165
DIREITO EMPRESARIAL

assistência financeira de operações de câmbio e de compra e venda de ouro. É também responsável


pelo controle do volume de moeda escritural (depósito à vista) criada pelos bancos.

O BACEN realiza as seguintes operações no papel de autoridade monetária:


 Administrar as reservas financeiras internacionais;
 Preservar a liquidez do sistema bancário (operações de assistência financeira);
 Exerce a política monetária através da compra e venda de títulos do tesouro nacional,
depósitos compulsórios sobre depósitos à vista (reservas bancárias).

O BACEN possui a sua disposição como instrumentos básicos de controle monetário:


 Operações de Mercado Aberto;
 Depósitos Compulsórios;
 Operações de Redesconto.

Operações no mercado aberto: consiste na compra e venda pelo BACEN de bônus do Banco
Central.

Depósito Compulsório: o objetivo é controlar a expansão da base monetária através do reco-


lhimento feito pelos bancos em função dos depósitos à vista.

Redesconto: nada mais é do que o socorro que o Banco Central oferece aos bancos com ne-
cessidade momentânea de caixa.

O BACEN pode ser considerado como: o Banco dos Bancos, o executor da política monetária
do governo, Banco emissor de moedas, e é o Banqueiro do governo.

COPOM: Comitê de Política Monetária, é formado por membros da diretoria do BACEN, que se
reúne normalmente a cada 45 dias com o intuito de analisar o Relatório de Inflação emitido pelo
CMN, e assim definir a META das taxas básicas de juros conhecida como taxa SELIC.

 INTERVENÇÃO E LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE INSTITUIÇÕES


FINANCEIRAS
 CONCEITO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
O art. 17, Lei nº 4.595/64, estabelece que “consideram-se instituições financeiras, para os efei-
tos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade
principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de
terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiro”.

Segundo o § 1º, do art. 18, da Lei 4.595/64, são consideradas instituições financeiras e ativida-
des assemelhadas as desenvolvidas por:
a) estabelecimentos bancários oficiais e privados;
b) sociedades de crédito, financiamento e investimento;
c) caixas econômicas;

166
DIREITO EMPRESARIAL

d) bolsas de valores;
e) companhias de seguros; companhias de capitalização;
f) sociedades que efetuam distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou dinheiro,
mediante sorteio de títulos de sua emissão ou por qualquer forma;
g) pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta própria ou de terceiros, atividades re-
lacionadas à compra e venda de ações e outros quaisquer títulos, realizando, nos mercados
financeiros e de capitais, operações ou serviços de natureza dos executados pelas institui-
ções financeiras;

 A INTERVENÇÃO E LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL:


Para buscar o saneamento das finanças das instituições financeiras e para preservar os direi-
tos dos que se beneficiam do sistema financeiro, o Estado poderá adotar os seguintes regimes extra-
judiciais, tenham elas a natureza jurídica de direito privado ou de direito público: a intervenção ex-
trajudicial e a liquidação extrajudicial.

 INTERVENÇÃO EXTRAJUDICIAL
Por ter natureza cautelar, o Banco Central intervém na instituição financeira quando se verifi-
carem as anormalidades previstas no art. 2º, da Lei 6.024/74. Tem como finalidade proceder ao le-
vantamento da situação econômico-financeira da instituição, e se possível o saneamento das dificul-
dades organizacionais ou econômicas da empresa, mediante afastamento temporário de seus admi-
nistradores e, eventualmente, a concessão de assistência financeira.

A pedido dos administradores da instituição ou por ato de ofício, o presidente do Banco Cen-
tral do Brasil – BC, decretará a intervenção, nomeando um interventor com plenos poderes de ges-
tão. Uma vez publicado o ato de intervenção no DOU, o mesmo produzirá os efeitos adiante expos-
tos, e sempre que for possível a instituição prosseguirá, durante o regime da intervenção, com as
suas atividades, inclusive com a contratação de novos negócios, sob a responsabilidade do interven-
tor. Desses atos negociais ou administrativos, os credores, interessados, e ex-administradores pode-
rão interpor recurso administrativos ao presidente do BC, dentro de 10 dias a contar do conhecimen-
to do fato;

São estes os efeitos produzidos pelo ato de intervenção:


a) suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas: por um prazo de 6 meses, prorro-
gáveis uma única vez por igual período. Nesse prazo o credor não poderá exigir, de imedia-
to, os créditos que lhe são devidos, e o interventor fará um levantamento contábil e finan-
ceiro da instituição, e poderá, também, tomar outras providências, dependendo do que for
apurado, como de sugerir a liquidação extrajudicial ou solicitar a autorização para o reque-
rimento da falência, quando o ativo não for suficiente para cobrir 50% dos créditos quiro-
grafários ou quando julgada inconveniente a liquidação extrajudicial ;

b) suspensão da fluência do prazo para as obrigações vincendas anteriormente contrata-


das: assim como as dívidas vencidas, as que se venceram, contraídas anteriormente à inter-
venção, tem o seu termo de vencimento prorrogado. Incidem sobre às dívidas os juros le-
gais ou contratados;

167
DIREITO EMPRESARIAL

c) Inexigibilidade dos depósitos existentes: os credores de depósito de valores em contas


correntes bancárias, poupanças, aplicações financeiras, não poderão exigir o levantamento
dos respectivos valores;

d) Indisponibilidade dos bens pessoais dos ex-administradores: nos termos do § 1º, do art.
36, da Lei 6.024/74, os atos de intervenção, liquidação ou falência acarretam a indisponibi-
lidade dos bens pessoais dos administradores que tiveram gerido a instituição nos últimos
12 meses, impedindo-os de aliená-los ou onerá-los até a apuração e liquidação final das su-
as responsabilidades;

e) Suspensão do mandato dos membros da administração da sociedade: os ex-


administradores têm seu mandato suspenso até o final da intervenção, e suas atribuições
são exercidas unicamente pelo interventor.

 LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL
Constitui um procedimento administrativo, o qual tem a mesma finalidade do instituto da fa-
lência, ou seja, a apuração do passivo e do ativo, para a venda deste e consequente pagamento aos
credores, e, paralelamente, como ocorre com o inquérito judicial, apurar as causas do estado liquida-
tório, remetendo as conclusões ao MP para as providencias judiciais adequadas de natureza criminal
ou civil. A decretação far-se-á:
a) ex officio, pelo BC, nas hipóteses do art. 15, I, da Lei 6.024/74;
b) a requerimento dos administradores da instituição, nos termos do art. 15, II da Lei
6.024/74;
c) por proposta do interventor;

A publicação do decreto de liquidação extrajudicial no Diário Oficial da União, produz os se-


guintes efeitos (art. 18 da Lei 6.024/74):
a) suspensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses relativos ao acervo
da entidade liquidanda, não podendo intentar outra enquanto durar a liquidação, exceto quando
houver discordância do credor quanto à decisão proferida pelo liquidante ou, em grau de recurso,
pelo presidente do BC, em relação ao seu crédito, podendo neste caso prosseguir com a ação sus-
pensa ou propor as que couberem (art. 27/Lei 6.024/74);

b) vencimento antecipado das obrigações da liquidanda;

c) não atendimento das cláusulas penais dos contratos unilaterais vencidos em virtude da
decretação da liquidação extrajudicial;

d) suspensão da fluência dos juros, mesmo que estipulado contra a massa, enquanto não in-
tegralmente pago o passivo;

e) interrupção da prescrição relativa à obrigação de responsabilidade da instituição;

f) não reclamação de correção monetária de quaisquer dívidas passivas (derrogado nesta


parte pelo art. 46 das Disposições Constitucionais Transitórias, o qual sujeita à correção monetária,
do vencimento até o seu efetivo pagamento), nem de penas pecuniárias por infração de leis penais
ou administrativas;

168
DIREITO EMPRESARIAL

g) manutenção da indisponibilidade dos ex-administradores, decorrente de intervenção ou


sua incidência (art. 36, § 1º da Lei 6.024/740);

h) perda do mandato dos membros da administração (art. 50 da Lei 6.024/74);

O liquidante nomeado, nos termos do art. 34 da Lei 6.024/74, desempenhará um papel seme-
lhante ao do Síndico, e o BC ao do juiz da falência, aplicando-se à liquidação extrajudicial, subsidiari-
amente, a Lei de Falências (11.101/05), a qual revogou o Dec. Lei nº 7.661/45 (art. 34 da Lei
6.024/74). Entretanto o liquidante, também exerce, a semelhança do juízo falimentar, função de
direção do procedimento liquidatório, julgando as habilitações, em relação a sua legitimidade, valor
e classificação, obedecendo a mesma ordem prevista no concurso falimentar, com recurso ao BC (art.
30 da Lei 6.024/74), e decide a forma de liquidação do ativo e do passivo. O art. 31 da Lei 6.024/74,
faculta ao liquidante optar por outras formas de liquidação, como a cessão do ativo a terceiros, or-
ganizar ou reorganizar a sociedade para continuação geral ou parcial da atividade da liquidanda. A
cessação da liquidação extrajudicial ocorrerá nos termos do art. 19 da Lei 6.024/74.218

218
Art. 19. A liquidação extrajudicial será encerrada:
I - por decisão do Banco Central do Brasil, nas seguintes hipóteses:
a) pagamento integral dos credores quirografários;
b) mudança de objeto social da instituição para atividade econômica não integrante do Sistema Financeiro Nacional;
c) transferência do controle societário da instituição;
d) convolação em liquidação ordinária;
e) exaustão do ativo da instituição, mediante a sua realização total e a distribuição do produto entre os credores, ainda que não ocorra o
pagamento integral dos créditos; ou
f) iliquidez ou difícil realização do ativo remanescente na instituição, reconhecidas pelo Banco Central do Brasil;
II - pela decretação da falência da instituição.
§ 1º Encerrada a liquidação extrajudicial nas hipóteses previstas nas alíneas “a”, “b”, “d”, “e” e “f” do inciso I do caput deste artigo, o
Banco Central do Brasil comunicará o encerramento ao órgão competente do registro do comércio, que deverá:
I - nas hipóteses das alíneas “b” e “d” do inciso I do caput deste artigo, promover as anotações pertinentes;
II - nas hipóteses das alíneas “a”, “e” e “f” do inciso I do caput deste artigo, proceder à anotação do encerramento da liquidação extrajudi-
cial no registro correspondente e substituir, na denominação da sociedade, a expressão “Em liquidação extrajudicial” por “Liquidação
extrajudicial encerrada”.
§ 2º Encerrada a liquidação extrajudicial nas hipóteses previstas no inciso I do caput deste artigo, o prazo prescricional relativo às obriga-
ções da instituição voltará a contar da data da publicação do ato de encerramento do regime.
§ 3º O encerramento da liquidação extrajudicial nas hipóteses previstas nas alíneas “b” e “d” do inciso I do caput deste artigo pode ser
proposto ao Banco Central do Brasil, após a aprovação por maioria simples dos presentes à assembleia geral de credores, pelos:
I - cooperados ou associados, autorizados pela assembleia geral; ou
II - controladores.
§ 4º A assembleia geral de credores a que se refere o § 3º será presidida pelo liquidante e nela poderão votar os titulares de créditos
inscritos no quadro geral de credores, computados os votos proporcionalmente ao valor dos créditos dos presentes.
§ 5º Encerrada a liquidação extrajudicial nas hipóteses previstas no inciso I do caput deste artigo, o acervo remanescente da instituição, se
houver, será restituído:
I - ao último sócio controlador ou a qualquer sócio participante do grupo de controle ou, na impossibilidade de identificá-lo ou localizá-lo,
ao maior acionista ou cotista da sociedade; ou
II - a qualquer cooperado, no caso de cooperativa de crédito.
§ 6º As pessoas referidas no § 5º deste artigo não poderão recusar o recebimento do acervo remanescente e serão consideradas depositá-
rias dos bens recebidos.
§ 7º Na hipótese em que o lugar em que se encontrarem as pessoas referidas no § 5º deste artigo for ignorado, incerto ou inacessível, ou
na hipótese de suspeita de ocultação, é o liquidante autorizado a depositar o acervo remanescente em favor delas, no juízo ao qual caberia
decretar a falência.

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