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RESUMO
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Conclusão: A criação de leis não é o suficiente, uma vez que no âmbito real das
relações de trabalho as pesquisas e resultados continuam apontando a grande
desigualdade na ocupação dos cargos de poder para a mulher negra. É preciso mais
discurssões, mais projetos voltados para conscientização e reparação das mazelas
provocadas pelo racismo estrutural que se enraíza nos espaços do judiciário.
ABSTRACT
Introduction: The difficulty in occupying spaces of power for black women is not a
current situation and dates back to the long period of slavery that the country went
through. This group, although representing the majority of the population, according
to the surveys carried out, has the lowest level of education, in addition to longer
working hours that do not translate into higher incomes, so few manage to overcome
the imposed barriers and occupy relevant positions in the job market. In the judicial
system, this exclusion framework is also present. Objectives: This work intends to
analyze the history and development of black women's labor rights, as well as
describe the representativeness and participation of this group in the brazilian
judiciary, based on a constitutional and historical analysis, examining in this way how
black women are treated and what difficulties and paths it faces when occupying
positions of importance and influence in the judiciary of this country. Methods: To
carry out this article, the deductive scientific research method was used, through
bibliographic and documentary research on the themes: representation, black
women, constitutional, labor, and judicial rights. Results: There is great inequality
and consequent exclusion of black women from spaces of power such as the judicial
sphere, which ends up hurting basic constitutional principles such as isonomy and
even the very concept of democracy, in addition to denying their much-deserved
representation due. Conclusion: The creation of laws is not enough, since, in the
real sphere of labor relations, research and results continue to point out the great
inequality in the occupation of positions of power for black women. We need more
speeches, more projects aimed at raising awareness and repairing the ills caused by
structural racism that takes root in the spaces of the judiciary.
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Descriptors: Representativeness. Black woman. Constitutional Rights. Labor.
Judiciary.
INTRODUÇÃO
O racismo historicamente faz parte da estrutura de formação e organização
brasileira, se expressa nos mais diversos espaços e discursos, até mesmo afeta a
composição geográfica do país, pois os lugares socialmente privilegiados
apresentam uma população predominante branca, enquanto as localidades de alta
vulnerabilidade são compostas em sua maioria por negros.
A desigualdade se manifesta em dados explícitos: os negros, sobretudo
jovens, são mais vulneráveis à violência física, além de serem as principais vítimas
da ação letal dos policiais e o perfil predominante da população carcerária brasileira.
(RAQUEL, 2018, p.2).
Existe um conjunto de fatores que levaram ao privilégio de classes sobre
outras e que se perpetua por gerações deixando mazelas ainda visíveis. As relações
sociais que se estabelecem dentro das estruturas do racismo podem ser percebidas
em variados desdobramentos, pois ele se enraíza nos espaços políticos e de fala,
como se percebe na criminalização da capoeira, do samba e na recente tentativa de
criminalização do funk.
O racismo se dispõe em formas dissimuladas e amparadas pelo convincente
– porém falacioso – discurso da meritocracia e se entranha nas relações políticas,
culturais, educacionais e econômicas. (RAQUEL, 2018, p. 4)
Vale destacar que os caminhos que o racismo percorre incluem até mesmo o
campo científico como declara a ilustre pensadora brasileira Sueli Carneiro ao
afirmar que uma das heranças da escravidão foi o racismo científico do século XIX,
que dotou de suposta cientificidade a divisão da humanidade em raças e
estabeleceu hierarquia entre elas, conferindo-lhes estatuto de superioridade ou
inferioridade naturais.
É preciso que sejam estudadas, as transformações histórico-sociais que o
feminismo negro promoveu ao longo dos anos e perceber que elas estão
diretamente relacionadas às memórias deixadas por todos aqueles que participaram
dessa jornada e necessitam de lugar de fala para que suas vozes também ecoem.
“Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”. É
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real a icônica frase de Ângela Davis, filósofa, negra e militante pela igualdade racial
e de gênero.
A importância acadêmica do tema está ligada ao debate e consequente
enfrentamento da problemática que traga mudanças positivas e reais para toda a
comunidade científica e por que não para todo o país, uma vez que o racismo ainda
deixa sua influência principalmente se for para um lugar de poder.
Segundo a pesquisadora Lucimara Silva (2020, p. 1) em relação à
representatividade negra se nota sua carência desde o público-alvo infantil em
mídias de massa e até mesmo nos brinquedos que tanto interferem no psicológico
da criança. Se na infância não se encontram muitas referências de negras
protagonistas, heroínas a pessoa internalizará que o padrão de beleza e o discurso
válido é apenas o do branco, a autoestima é desestruturada e cria-se a falsa
realidade de que negritude é sinal de inferioridade diante do branco.
As mulheres negras por muito tempo dentro do regime escravocrata eram
tratadas como mercadorias desprovidas de quaisquer direitos humanos, logo a
representatividade nos mais diversos meios é essencial para incentivar e
desenvolver o protagonismo da mulher negra seja no âmbito social, educacional ou
de trabalho protegendo dessa forma os princípios constitucionais e éticos.
No mesmo sentido a pesquisadora Camila Francisca da Rosa destaca que
para os afrodescendentes ocuparem os mais diversos espaços é necessário romper
a estrutura social racista:
“Implica a quebra de padrões, de imagens, de discursos, de práticas
e com um ordenamento social de privilégio. Desconstrói estereótipos
ainda vinculados ao racismo científico do século 19, que acreditava
em raças, biologicamente falando, diferentes e que eram divididas
entre superiores e inferiores ou culturalmente entre civilizados e
selvagens”, (SILVA, 2020, p.3)
Não tem como lutar contra o machismo e alimentar o racismo, por exemplo,
porque seria alimentar a mesma estrutura. Então precisa-se pensar em
enfrentamentos a essas diversas opressões. (RIBEIRO, 2020, p.2).
É notório que para uma mulher ocupar espaços de poder no Brasil os
desafios são enormes, porém no caso da mulher negra eles tornam-se maiores. Tal
situação remonta o largo período de escravidão pelo qual o país passou, e que
ainda deixa suas marcas de desigualdade, injustiça e racismo, pois esse grupo de
acordo com os levantamentos realizados tem o menor índice de escolaridade, além
de jornadas mais longas de trabalho que não se convertem em maiores
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rendimentos, poucas dessas mulheres conseguem vencer as barreiras a ela
impostas e ocupar cargos relevantes no mercado de trabalho.
No sistema judiciário, esse quadro de exclusão se apresenta evidentemente,
segundo o jornal Folha de Pernambuco apenas três negros integraram a corte do
Supremo Tribunal Federal: os ministros Joaquim Barbosa, Hermegenildo de Barros
e Pedro Lessa, nunca houve uma mulher negra. Também nos Tribunais Superiores
essa pouca representatividade permanece, pois 1,3% se declaram pretos e 7,6%,
pardos, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
Nesse sentido, alguns questionamentos emergem: Quais são as relações
entre o feminismo negro e os direitos da mulher no ordenamento jurídico Brasileiro?
Como se desenvolveu a evolução do direito trabalhista da mulher negra? Qual é a
participação e representatividade da mulher negra no judiciário pátrio? Quais são os
principais obstáculos para que a mulher negra tenha acesso a cargos de destaque
no poder judiciário brasileiro?
Diante do exposto será realizado, à princípio, um levantamento histórico sobre
os princípios constitucionais e do direito trabalhista e sobre o desenvolvimento da
luta por direitos das mulheres negras combinado com relatos e testemunhos reais de
pensadoras que vivenciam essa realidade.
Com este trabalho se pretende analisar a História e o desenvolvimento dos
direitos trabalhistas da mulher negra bem como descrever a representatividade e
participação deste grupo no poder judiciário brasileiro, a partir de uma análise
constitucional e histórica, examinando desta forma como a mulher negra é tratada e
que dificuldades e caminhos enfrenta no momento de ocupar cargos de importância
e influência no judiciário deste país.
MÉTODOS
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Foram utilizadas também fontes como o Estatuto da Igualdade Racial - Lei
12288/10 e Revista brasileira de políticas públicas, além de jornais e periódicos
como Agência Brasil localizado em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/ . O presente
trabalho ainda se apoiou no livro Mulheres, raça e classe de Angela Davis entre
outros disponíveis virtualmente e/ou em versão física.
As fontes que foram utilizadas tiveram como foco aspectos da realidade que
não podem ser quantificados, como é o caso da proteção constitucional ao trabalho
das mulheres negras, assim como o racismo e representatividade, tal abordagem é
muito utilizada em ciências sociais, uma vez que estão centradas na compreensão e
explicação das relações sociais e sua dinâmica.
Mulheres negras são 27,7% da população brasileira, entretanto têm baixa
representatividade e participação em cargos de poder. (BOND, 2020, p.1). Segundo
o Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada de 2016, as mulheres brancas
recebem 70% a mais que as mulheres negras. (BOND, 2020, p.1)
Por ser uma pesquisa que utiliza informações de domínio e acesso público,
não será submetido o presente projeto de pesquisa ao sistema Comitê de Ética e
Pesquisa e à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, de acordo com a resolução
510 /2016 do Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS
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Ainda com base nessas pesquisas Brasil em 2003, 21% das mulheres negras
eram empregadas domésticas e apenas 23% delas tinham Carteira de Trabalho
assinada – contra 12,5% das mulheres brancas que eram empregadas domésticas,
sendo que 30% delas tinham registro em Carteira de Trabalho.
A análise cruzada por sexo e cor/raça revela que entre homens brancos e
mulheres negras existe uma diferença de quase 9 pontos percentuais nas suas
taxas de desemprego. Enquanto para os homens brancos esse valor é de 8,3%,
para as mulheres negras ele sobe para 16,6%. Essa é uma clara manifestação da
dupla discriminação a que este grupo está submetido, pois, se de um lado, as
mulheres negras são excluídas dos “melhores” empregos simplesmente por serem
mulheres, de outro elas também são excluídas dos “empregos femininos”, como
aqueles que requerem contato com o público, simplesmente por serem negras
(IPEA, 2013, p.16).
No que diz respeito à cor dos magistrados, 80,6% dos juízes de primeiro grau
se declaram brancos e 18,4% pretos e pardos. No segundo grau, o número de
pessoas pretas e pardas é ainda menor, 85% dos magistrados se declaram brancos
e 11,9% pretos e pardos. Entre os participantes da pesquisa, 66,9% são do sexo
masculino e 33,1% do feminino. Entretanto, a pesquisa não faz um recorte sobre
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sexo e raça, não havendo um diagnóstico de quantas magistradas mulheres são
negras. (VIANNA; CARVALHO; BURGOS, 2018, p.313).
DISCUSSÃO
Das sete constituições que o Brasil teve desde 1824, a Carta Magna de 1988
foi a primeira a incluir o racismo como crime inafiançável, imprescritível e passível de
pena. Entre os princípios fundamentais, a nova Constituição cita a promoção do bem
de todos “sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação” (BRITO, 2018, p.3).
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motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (BRITO, 2018, p.3). Uma das maiores
dificuldades enfrentadas na Constituinte, relata a deputada Benedita da Silva (PT-
RJ), foi desmitificar a ideia de que no Brasil não existe discriminação racial. Segundo
a referida socióloga :
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mesma havia tido como aluna e, ao mesmo tempo, como inspirou-se
em professora(e)s que a auxiliaram a transgredir fronteiras (algo que
figura no título de seu livro), incentivando-a a dar um passo além das
aprendizagens que mais se parecem com a rotina de uma linha de
produção. Ao apresentar o segundo capítulo, “Uma revolução de
valores: a promessa da mudança multicultural”, a autora inspira-se
em Martin Luther King para criar uma revolução de valores que
coloque as pessoas contra os sistemas de dominação, questionando
a própria universidade em seu papel de partilhar a verdade a partir
de suas próprias parcialidades. (HOOKS, 2013, p. 25-50)
Se nos voltarmos para a luta por direitos das mulheres negras é possível, no
entanto, observar uma realidade ainda mais cruel e destrutiva. Segundo Silvana B.
G. da Silva (2019, p.2):
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capacidade para o trabalho braçal, além de serem sexualizadas e objetificadas como
meras proporcionadoras do desejo masculino. Essas construções sociais devem ser
desfeitas, e o caminho para isso está nas produções e pesquisas acadêmicas.
(NUNES, 2020, p.3). De acordo com Marta, a hipersexualização da mulher negra:
é fruto desse sistema exploratório. Trata-se de uma herança da
escravidão somada à herança genética, em virtude das formas
físicas avantajadas, como busto e quadril, além dos traços
marcantes, como a boca. Ela explica ainda que foi criado um ideal de
relacionamento: um modelo ideal do que seria uma mulher para
casamento, perfil esse no qual as mulheres negras não se encaixam.
“As heranças escravistas deixaram marcas tão densas quanto as
marcas de ferro nos seus corpos, que as identificavam com as
iniciais dos nomes da família às quais pertenciam” (NUNES, 2020,
p.2)
Nas palavras da colunista Djamila Ribeiro o país viveu por mais de trezentos
anos o regime escravista no qual homens, mulheres e crianças eram sequestrados
de várias regiões da África e trazidos para cá, a fim de perpetuar o sistema de
exploração:
As africanas eram violentamente humilhadas, exploradas e tiveram
sua sexualidade abusada. Eram forçadas a trabalhar para garantir o
conforto das mulheres brancas portuguesas. Conforme explica
Marta, as escravizadas também serviam sexualmente ao seu senhor.
Consideradas como propriedade, cabia às escravas o uso que fosse
conveniente aos senhores de engenho e seus filhos, inclusive o de
serem estupradas para satisfazer impulsos sexuais É importante que
se entenda que historicamente as mulheres negras estão travando
uma luta antirracista, anticapitalista e antisexista, e que as mulheres
negras, como diz Sueli Carneiro, uma grande referência do
feminismo negro, estão pensando um novo projeto de sociedade.
Assim como dizia Lélia Gonzalez, mulheres negras estão pensando
um modelo alternativo de sociedade, e não somente nas opressões
que lhe dizem respeito.( RIBEIRO, 2020, p.1)
Então, por exemplo, no feminismo hegemônico, durante muito tempo se
universalizou a categoria "mulheres" dizendo "somos todas mulheres", esquecendo-
se que há diversas possibilidades de ser mulher. (RIBEIRO, 2020, p.1). É necessário
compreender que as mulheres exercem diversos papéis sociais e possuem
demandas diferenciadas e específicas:
As mulheres partem de pontos de partida diferentes e, ao fazer isso,
se invisibiliza uma série de outras identidades que atravessam as
mulheres. Então, se existem mulheres negras, se existem mulheres
pobres, mulheres trans, o movimento feminista necessariamente
precisa ser antirracista, necessariamente anticapitalista e
necessariamente precisa ser anti-LGBTfóbico. Entender essas
questões é fundamental, como dizem autoras como Audre Lorde e
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Lélia Gonzalez. Ao contrário do que as pessoas pensam, falando do
feminismo negro — e nem todo o movimento de mulheres negras é
feminista —, mas falando a partir do feminismo negro, quando se
pensou, por exemplo, o conceito de intersexualidade, foi justamente
para falar desses sujeitos que ficam nesta encruzilhada: que são
mulheres, mas não são brancas, que são negras, mas não são
homens.( RIBEIRO, 2020, p.2)
CONCLUSÃO
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É notória que toda luta que o movimento feminista negro e outros segmentos
realizaram trouxe grande evolução tanto da proteção dos direitos da mulher negra
como de políticas públicas de acesso ao mercado de trabalho e ao ensino. Podendo-
se citar a Lei nº 12.228 que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, assim como a lei
nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, que instituiu as cotas pelo critério étnico nas
universidades e a Lei nº 12.990, de 09 de junho de 2014 (BRASIL, 2020g), que
reserva aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos
públicos.
REFERÊNCIAS
IPEA. Brasil Retrato das Desigualdades Gênero Raça. 2013. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/retrato/pdf/primeiraedicao.pdf. Acesso em: 18 set. 2021.
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MUTA, Juliano. Juristas negras e a luta por espaços no mundo do Direito. 9 jul.
2020. Disponível em: https://www.folhape.com.br/noticias/juristas-negras-e-a-luta-
por-espacos-no-mundo-do-direito/146536/. Acesso em: 31 ago. 2021.
SILVA, Lucimara. Porque ainda existe tanta desigualdade ?. 2020. Disponível em:
https://www.gaz.com.br/por-que-a-representatividade-negra-importa/. Acesso em: 13
mar. 2021.
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ENFRENTAMENTO DA DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA. 2016. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/
producoes_pde/2016/2016_pdp_hist_ufpr_marciadevargas.pdf. Acesso em: 23 mar.
2021.
VIANNA, Luiz Weneck.; CARVALHO DE, Maria Alice Rezende; BURGOS, Marcelo
Baumann. Quem somos a magistratura que queremos. Rio de Janeiro. p. 134
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