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A discriminação racial funciona para os brancos como calçados que usam para
correr contra negros descalços. Torna a corrida tranquila para os primeiros e
extenuante para os últimos. Para que a equalização racial ocorra no Brasil, em
um horizonte de tempo aceitável, é preciso, primeiro, tirar os calçados dos
brancos. Depois, deixá-los correrem descalços por algum tempo e calçar os
negros para que os alcancem (OSÓRIO, p. 91, 2008).
São as falas dessas sujeitas que podem traduzir a forma com que sua mobilidade
social negra é tratada e percebida num país, em que o imaginário social, faz questão de
manter, que os estigmas da escravidão sejam carregados em nossos ombros. Na mesa
serão colocadas as subjetividades, ou seja, como estas mulheres se tornam mais sujeitas
de si mesmas.
Para que seja possível trilhar estas estradas, construímos um possível caminho a
ser percorrido, já que a continuidade deste projeto de pesquisa poderá se tornar um mapa
no qual metodologicamente iremos seguir andando, mas com mais maturidade e com
sorte, menos certezas. Ao fazer esse caminho, buscamos saber que outros estudos
trataram deste tema e quais foram os aprofundamentos, para que possamos estabelecer
nossa contribuição acerca do entendimento destas experiências em que estes corpos
carregam marcas únicas, que somente as suas narrativas podem nos revelar.
Nesse sentido, as narrativas e experiências destas mulheres serão vivenciadas pela
interlocução que teremos com estas mulheres, em momentos de particularidades em que
ambas, a pesquisadora e a colaboradora estão em jogo na interação e ambas se revelam
de corpo e alma, dentro do que vai sendo construído. Essa mulher negra, mencionada por
Silva (2021, p.4) sujeito de seu próprio corpo como espaço de construção e efetivação de
formas de pensar e estar no mundo a partir daquilo que lhe marca socialmente: a falta.
Tudo que diz de pessoas negras, versa sobre ausência, inexistência, vazio, sem
sentido e, é nesse sentido e contra os padrões e qualquer prática de opressão que buscamos
nos aproximar de práticas que não “posicionan el conocimiento científico occidental
como central, negando así o relegando al estatus de no conocimiento, a los saberes
derivados de lugar y producidos a partir de racionalidades sociales y culturales
distintas” (WALSH, 2007, p.103). Pensamento também defendido por Josiane Cruz
(2014, p.43), ao afirmar que as práticas de resistência são as ações “inovadoras que, não
estão nos parâmetros tradicionais, e que mesmo não intencionadas são capazes de criar
renovações. Estas práticas se dão na busca de outros caminhos em que fazer coisas
diferentes, possam romper com o que tem sido imposto socialmente como norma”.
A construção do referencial teórico se estabelece a partir dos desafios colocados
pelas protagonistas da pesquisa, assim como dos estudos no grupo de pesquisa, nas
orientações, nas minhas experiências e nas aulas, mas é possível indicar a direção que
estes irão percorrer, já que se trata de uma produção que fala das nossas realidades de
mulheres negras. Sendo assim, torna-se um espaço de autoras e autores decoloniais e
dentro dessa escolha política, ética e comprometida com meu povo, reservo espaços de
excelência e de extrema relevância para autoras e autores negros, por acreditar que,
quando nós estamos falando de nós, conseguimos fortalecer mais quem somos e nos
aproximar novamente do que somos.
Estas escolhas bibliográficas, estão alicerçadas na busca por conversas autorais
que sejam capazes de abrir-se e se descobrir no diálogo com estas sujeitas da pesquisa,
para assim perceber os múltiplos sentidos rememorados que vão se ressignificar a partir
não só das experiências delas, mas da própria experiência da pesquisadora.
Além disso, penso ser importante destacar que a produção de saberes acadêmicos
na relação com as minhas irmãs, diz de uma ação potente e instigadora, pois trata-se de
trabalhar a minha escuta, nestes momentos de convivência em que a memória será
recebida em nossa produção em que sentimentos diversos, se farão presentes em palavras
narradas. Já é possível afirmar que meus risos e choros irão se relacionar com a memória
do que for narrado, abrindo portas para que outras leituras possam estar sendo construídas
acerca do que estava lá fechado, aguardando desfechos que por ventura poderiam ou não
vir.
Quanto a estes por vir, Silva menciona que:
É na construção cotidiana das ações, que mulheres negras têm buscado outras
formas de inscrever a memória negra, partilhando experiências e saberes: [...]
todos estes gestos falam sobre saberes, afetos, cuidados, memórias que
potencializam a vida cotidiana das comunidades negras. E tais gestos quando
somados a tantos outros, marcados por sua espontaneidade vão escrevendo
com o corpo a escrita de possibilidades, de existências. (SILVA, 2021 p.8)
Que os passados que não estão no passado, possam ser ressignificados e assim ser
capazes de fazer com que os sonhos dos brancos deixem se habitar os pesadelos dos
negros. Desta forma, saberemos em quais os percursos os sonos poderão ser mais leves e
seguros, produzindo assim rituais capazes de fortalecer os corpos, as humanidades, as
experiências, as memórias, as narrativas e as práticas revolucionárias e transformadoras
capazes de tornar os sujeitos cada vez mais sujeitos.
BIBLIOGRAFÍA
DAVIS, Angela. Mulheres, cultura e política; tradução Heci Regina Candiani.- 1. ed.-
São Paulo: Boitempo, 2017.
ESCOBAR, Giane Vargas. Para encher os olhos: identidades e representações
culturais das rainhas e princesas do Clube Treze de Maio de Santa Maria no Jornal A
razão (1960-1980) 2017 383p.
HOOKS, bell. Living to love. Sisters of the Yam: Black Women and Self-Recovery
Boston:South End Press, 1993. p.129-147. Tradução de Maísa Mendonça, disponível
em http://www.geledes.org.br/vivendo-deamor/ último acesso em agosto de 2016.