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MULHERES NEGRAS ACADÊMICAS: POR ESSA A COLONIALIDADE NÃO

ESPERAVA!

SANTOS, Francineide Marques da Conceção1

As minhas investigações acadêmicas partem da minha experiência corporal, como


uma mulher negra e acompanho o pensamento de que o fazer científico é uma
atividade que está incorporada à existência de quem pesquisa, trago à discussão a
presença de mulheres negras feministas como intelectuais e acadêmicas e as
barreiras enfrentadas para combater a violência epistêmica.
Aqui, apresento-me Francineide Marques, nascida interracial, em uma numerosa
família com 13 (treze) irmãos de pai e mãe. Sou uma mulher negra angoleira, mãe
de duas filhas e sou filha de uma mulher branca sertaneja, Francisca Marques da
Conceição Santos que nasceu na seca do alto sertão baiano com escassez de água,
de comida e de coisas mínimas necessárias à sobrevivência. Como retrato, a minha
ancestralidade me permite um lugar de trânsito, de intersecções, de movimento que,
por respeito à minha origem, não se pode quedar ante valores hegemônicos que
pretendam cercear a minha existência negra.
A importância dessa preocupação com as salas de aula emergiu da necessidade de
combater o racismo e o machismo no Brasil, pois é sabido que o racismo prejudica
as experiencias escolares de pessoas negras em todos os lugares do mundo e na
América latina não é diferente, como nos alerta Anny Ocoró Loango (2019) quando
diz que o mito da democracia racial nega às pessoas negras a sua história, a sua
cidadania e, portanto, a possibilidade de serem cientistas e acadêmicas.
Por essa razão passei observar como docentes e discentes se comportam e as
dificuldades enfrentadas no ambiente universitário, pois, ainda quando docentes se
apresentam e professem discursos decoloniais, reproduzem em sala de aula as
práticas e teorias hegemônicas corroborando a ideia de que nos fala Anny Ocoró
Loango (2019) de que nos espaços acadêmicos assim como em toda a sociedade

1
Francineide Marques da Conceção Santos, Doutoranda No PPGDF - Doutoranda no Programa
de Pós Graduação em Difusão de Conhecimento, Universidade Federal da Bahia, email:
francineidemarques@gmail.com.
impera o racismo e a negação de pessoas negras como produtoras de
conhecimento.
Ciente do pensamento de dominação patriarcal que rejeita a inteligência e o
conhecimento de uma mulher negra dentro de um Programa de Doutorado
considero importante a análise feminista atenta ao fato de que a construção
intelectual, acadêmica, científica foi edificada sobre a colonialidade do poder, do
saber e do ser, aliada à colonialidade de gênero de que nos fala Maria Lugunes
(2014) cujo projeto civilizatório racista é afastar as mulheres negras dos lugares de
poder e do acesso ao ensino superior.

Palavras-chave: Epistemologia, Feminismo negro latino-americano, Mulheres Negras,


Ensino Superior

REFERÊNCIAS

LOANGO, Anny Ocoró. Emancipación y descolonización: tensiones, luchas y


aprendizajes de los investigadores/as negros/as en la educación superior In: Revista
Práxis Educacional. Vitória da Conquista:BA. v. 15, n. 32, p. 53-68, abr./jun. 2019.

LUGONES, Maria. Rumo a um feminismo descolonial in Revista Estudos


Feministas. Estudos Feministas, Florianópolis, 22(3): 320, setembro-
dezembro/2014 Disponível em
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36755/28577>. Acesso em
10/06/2016.

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