Você está na página 1de 12

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

Estudo das Populações Afro-brasileiras e Africanas

Cibele Pilotto Benaque RA: 201127441

Gabriel Fernandes RA:201125366

João Pedro Pereira de Paula RA: 201126214

Luiz Cesar Polimeno Neto RA: 212126271

Maria Eduarda Yamashita RA: 201126771

Viviane Cristina Deloi RA: 201122782

Prof.: Taílon Rodrigues Almeida

DEBATE E AÇÃO FEMINISTA NA SALA DE


AULA.

1
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

DEBATE E AÇÃO FEMINISTA NA SALA DE AULA

INTRODUÇÃO

I. Capítulo: De mãos dadas com minha irmã

O texto analisa as intrincadas dinâmicas de poder nas interações entre mulheres


brancas e negras, expondo a existência do paradigma da "serva-senhora". Destaca-se a
importância crucial do confronto aberto e honesto sobre questões raciais como um caminho
essencial para promover entendimento mútuo. Apesar dos esforços de algumas mulheres
brancas em abordar o racismo, persiste uma incapacidade generalizada de ouvir as vozes das
mulheres negras.
O texto também aborda as complexidades das relações interpessoais entre mulheres
brancas e negras, destacando experiências positivas e negativas. Sublinha-se a importância de
reconhecer as nuances e explorar as emoções subjacentes, como medo e raiva, que podem
impedir a construção de laços significativos.
O medo e a desconfiança mútuos são explorados como fatores que levam as mulheres
negras a se retirarem do movimento feminista, agravando a falta de inclusividade. O texto
critica a postura muitas vezes paternalista e condescendente das mulheres brancas, destacando
a necessidade urgente de um compromisso genuíno na desconstrução de preconceitos.
Na esfera acadêmica feminista, o texto aponta a falta de representação e espaço para as
vozes das mulheres negras, mesmo quando o foco é a "diferença" e a "diversidade". Além
disso, ressalta a necessidade premente de superar medos e criar espaços de diálogo aberto,
onde as diferenças são valorizadas para construir uma verdadeira irmandade fundamentada na
solidariedade política. O texto conclama a uma reflexão profunda sobre os desafios e propõe
uma abordagem mais comprometida na construção de relações significativas e equitativas
entre mulheres de diferentes raças.
Além disso, há uma reflexão sobre o papel das mulheres brancas em posições de poder
dentro do movimento feminista, questionando se essas posições reproduzem o paradigma da
"serva-senhora". O texto aponta para a necessidade de as mulheres brancas assumirem a
responsabilidade por examinar suas próprias atitudes em relação à raça e reconhecerem os
privilégios associados.

2
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

A autora enfatiza que a expressão aberta de emoções, como raiva e hostilidade, precisa
ser explorada para compreender suas raízes e transformá-las em energia construtiva. Isso é
crucial para superar barreiras e construir um movimento feminista inclusivo.
Em última análise, o texto instiga uma profunda autorreflexão coletiva, desafiando
mulheres brancas e negras a superar desconfianças, medos e estereótipos. Propõe a criação de
um espaço de diálogo autêntico e aberto para fortalecer a irmandade feminina e impulsionar o
movimento feminista em direção a uma verdadeira transformação social.

II. Capítulo: Pensamento Feminista

A Integração do Pensamento Feminista


Bell Hooks destaca e salienta a importância de que sejam incorporadas às perspectivas
feministas nos contextos educacionais.
“ Como professora, teórica e ativista feminista, sou profundamente comprometida com a luta
pela libertação negra e quero desempenhar papel de destaque na reformulação da política
teórica desse movimento para que a questão do gênero seja levada em conta e a luta feminista
pelo fim do sexismo seja considerada um elemento necessário do nosso programa
revolucionário.”
Desafio aos Estereótipos de Gênero
Hooks enfatiza a necessidade de que sejam questionados , combatidos, elaborados e
superados os estereótipos e preconceitos de gênero que são presentes e frequentemente
observados na educação.
“Lori perguntou: “ O que aconteceria com uma feminista negra se falasse com um
tom tão militante quanto a de um homem negro?”
Hooks conclui que : “[…] eu mesma falo em tom militante sobre o feminismo num
contexto negro e que, embora frequentemente haja protestos, também há cada vez
mais afirmação.”
Ferramenta para Transformação Social:
Estudar obras de pensamentos feminista é tido para Hooks como uma ferramenta
essencial de transformação e transgressão, não apenas no campo educacional, mas também
em toda a sociedade de maneira geral.
“No geral, o sentimento do grupo era que estudar obras feministas, encarar a análise do gênero
desde um ponto de vista feminista como meio para a compreensão da experiência negra, era

3
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

necessário para o desenvolvimento coletivo de uma consciência negra, para o futuro da luta
pela libertação dos negros.”

III. Bell hook: A importância política da educação feminista

A importância política da educação feminista.

No livro de bell hooks ‘Education Women’, a autora busca compreender a importância


política da educação educação feminista para a construção de uma sociedade democrática.
Portanto, a educação feminista deve fazer parte da agenda feminista.

Contudo, a autora coloca que as ativistas feministas têm se concentrado na luta contra
o sexismo nas instituições educativas e na socialização infantil. Todavia, a ligação entre a
exploração sexista das mulheres na sociedade e o grau de educação das mulheres (a falta de
leitura básica e habilidades de escrita) não são temáticas profundamente exploradas.

Bell hooks aponta que as ideias feministas são acessíveis apenas a determinadas
classes e grupos de mulheres, e que o foco no material escrito proíbe muitas mulheres de
aprenderem sobre o feminismo. A literatura feminista não está disponível para todos, e há
mulheres e homens nunca ouviram a palavra “feminismo” e não sabem o que realmente
significa. Essas pessoas não têm acesso à leitura desses materiais. A educação feminista foi
institucionalizada nas universidades através de programas de estudos para mulheres. Porém, a
educação feminista é eficaz para estudantes universitários, não para massas de mulheres e
homens. A agenda feminista precisa oferecer cursos de estudos sobre mulheres em
comunidades locais. Devido à dificuldade de acesso, que tem sido um problema com grande
parte da teoria feminista.

Critica-se que muitos teóricos não tem a intenção de que as suas ideias cheguem ao
grande público. Consequentemente, devemos assumir alguma responsabilidade pelas versões
superficiais e pervertidas das ideias feministas que acabam na imaginação do público, através
da televisão, por exemplo.

Por essa razão, as ativistas feministas precisam enfatizar a alfabetização e organizar


programas de alfabetização para mulheres (liderados por feministas, mulheres analfabetas de

4
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

todas as classes, e especialmente aquelas oriundas de meios pobres e da classe trabalhadora),


pois essas podem aprender a ler e escrever em conjunto com a aprendizagem de como pensar
crítica e analiticamente o mundo.

Visto isso, até que as massas de mulheres tenham acesso à leitura e à escrita,
propõe-se que as ideias feministas sejam divulgadas de boca em boca. Uma vez que, muitas
mulheres não saem de casa ou não podem sair de casa para participar em conferências
feministas, discursos públicos, e acessar a escolarização. A autora sugere o contato
porta-a-porta como uma forma de partilhar ideias feministas; feito por grupos de mulheres
que já participam de organizações feministas ou por programas de extensão universitária; com
uma divulgação em massa em todos os estados, com a intenção de tirar o feminismo da
universidade e ir nas ruas e casas da sociedade

A importância da comunicação verbal é verdadeira para a disseminação de ideias


feministas. Numa campanha de porta em porta para reintroduzir a política feminista a um
público maior, as mulheres teriam a oportunidade de fazer perguntas, esclarecer questões e dar
feedback. Nos diálogos, as mulheres teriam a oportunidade de fazer perguntas e assim dissipar
estereótipos ou medos que pudessem ter sobre o feminismo e o programa de estudos das
mulheres. Ademais, os teoricos precisam ter a capacidade de “traduzir” ideias para um
público diversificado que varia em idade, sexo, etnia e grau de alfabetização. Sendo assim, a
educação precisa considerar interseccionalidades (opressões de raça, gênero e sexualidade),
isto é, uma habilidade que as educadoras feministas precisam desenvolver. A concentração de
educadoras feministas nas universidades encoraja o uso habitual de um estilo académico que
pode tornar impossível aos professores comunicarem eficazmente com indivíduos que não
estão familiarizados com o estilo académico ou com o tipo de linguagem utilizada na
academia.

Em suma, a compreensão das ideias feministas por apenas um pequeno grupo de


pessoas instruídas é um obstáculo para a formação de um movimento feminista de massa. As
ativistas feministas devem considerar as necessidades educacionais das mulheres com baixa
escolaridade, especialmente se a palavra escrita continuar a ser o principal meio de
disseminação das ideias feministas.

5
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

Existe uma falsa dicotomia entre teoria (o desenvolvimento de ideias) e prática (as
ações do movimento), com um grupo privilegiando a “prática”. O movimento de libertação
das mulheres tem lutado para unir teoria e prática, criando uma práxis feminista libertadora,
conforme definido por Paulo Freire como “ação e reflexão sobre o mundo para
transformá-lo”.

No entanto, essa luta foi minada pelo anti-intelectualismo e por acadêmicos elitistas
que acreditam que suas “ideias” não precisam ter qualquer ligação com a vida real. Assim,
bell hooks defende a pedagogia engajada, e argumenta que teoria e prática são interligadas e
que deve haver uma relação recíproca para a auto recuperação e a libertação coletiva.

O movimento feminista se aproxima do amor como ethos norteador para as práticas


pedagógicas engajadas contra políticas de dominação na sala de aula. A educação é vista
como uma prática para a liberdade, enfatizando a relação entre professores e alunos no
processo de aprendizagem e promovendo um modo de aprender democrático.

Deve-se criticar o trabalho meramente intelectual, e promover estudo e bolsas de


estudos visando uma práxis feminista. As mulheres negras e todas as mulheres de meios não
privilegiados, bem educadas, que compreendem o valor do desenvolvimento intelectual e até
que ponto este fortalece qualquer pessoa oprimida que procura a auto recuperação e uma
mudança política radical, devem compartilhar sua consciência com todas as mulheres. é
importante para a agenda feminista que as mulheres negras se desenvolvam intelectualmente,
e é necessário assumir a responsabilidade de incentivar e ajudar, combinando as questões
organizacionais e práticas (vivências, experiências, saberes) com conhecimentos intelectuais.

A educação como “a prática da liberdade” (de Freire) só será uma realidade para as
mulheres quando desenvolvermos uma metodologia educacional que atenda às necessidades
de todas as mulheres. Esta é uma agenda feminista importante.

A experiência e o conhecimento corporificado são fundamentais. Deve-se reivindicar e


definir as diferenças com base nas estruturas de poder e dominação pelas que são impostas
para a mudança social proposta pelo pensamento feminista negro. Este concebe a educação

6
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

como um instrumento fundamental para a mudança radical e combate às políticas de


dominação patriarcais, sexistas, classistas e heterossexistas.

Portanto, a educação como política engajada e prática de liberdade são fundamentais.


Deve-se compreender as relações de raça, classe, gênero, sexualidade, religião nos sistemas
de dominação e opressão que subjetivam e colonizam mentes e corpos.

IV. Djamila Ribeiro: Local de Fala

Djamila Ribeiro é uma filósofa e ativista, nasceu dia 1 de agosto de 1980, em


Santos, e é uma figura importante no combate ao racismo. A mesma lançou em 2017 o
livro “O que é lugar de fala?”, primeiro livro de uma coleção chamada Feminismos
Plurais, que abrange as interseccionalidades das desigualdades a partir do olhar de
autoras negras.

Esse livro se inicia trazendo inúmeras autoras negras como Bell Hooks, Giovana
Xavier, Lélia Gonzalez, Linda Alcoff, dentre outras, com o intuito de mostrar que as
mulheres negras sempre produziram textos e discursos sobre o feminismo, no entanto
nunca eram ouvidas pela sociedade, e muito menos pelo movimento feminista branco
hegemônico da época.

As feministas que lideravam os debates eram privilegiadas socialmente, e não


incluíam pautas que fossem além da concepção que elas tinham do que era ser mulher,
afinal, mulheres negras haviam perdido a humanidade, e era resumida ao corpo, seus
atributos físicos, especificidades funcionais que remetem à sexualidade e não a
produção de conhecimento.

Portanto, enquanto as brancas lutavam pelo direito de trabalhar fora, as mulheres


negras já eram submetidas à condição precária dos trabalhos da época, então se
tornaram um corpo estranho em uma luta que não havia pauta para elas. Isso demonstra
a percepção da autora de que para além do gênero, a intersecção entre raça e classe
social deve ser considerada para alcançar a pluralidade no movimento, e ressignificar a
identidade dessa mulher negra como produtora de conhecimento e ser político. Até o

7
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

momento ela é vista a partir de um racismo histórico.

Diante dessa diferenciação de pautas, a autora defende que não é possivel


universalizar a luta feminista, ja que existem intersecções que criam camadas de
hierarquias sociais que abrem um abismo entre mulheres brancas e negras. Então,
universalizar a categoria mulher é não situar todos os tipos de mulheres.

No segundo capítulo, Djamila apresenta a mulher como se fosse o outro, o


oposto do homem, sendo o homem a referência padrão. Ela dialoga com Beauvoir,
analisando a mulher enquanto “o outro” a partir do olhar masculino, criando uma
relação subjugada e hierarquizada induzindo a mulher como objeto que possui uma
função. Ao introduzir a mulher negra na discussão, Djamila, em diálogo com Grada
Kilomba, afirma que a mulher negra ao se diferenciar socialmente da branca e do
homem, seria “o outro do outro”, evidenciando a subcategoria duplamente
subalternizada.

Djamila também dialoga com Audre Lorde quando menciona que é mais do que
necessário as mulheres negras se posicionarem, e fale sua realidade, para que as pautas
não sejam uniformizadas. Para além do posicionamento ativo da mulher negra, a mulher
branca deve problematizar seu próprio privilégio e local de fala dentro do movimento,
para que o discurso não exclua nenhuma mulher.

As discussões atuais igualam o lugar de fala à representatividade, levando a


prerrogativa de que somente quem sofre, pode falar sobre o assunto. No entanto, se
limita o debate partindo desse princípio, visto que a questão fica isolada ao
entendimento da vítima, não alcançando as estruturas de poder. Djamila parte por essa
ampliação da discussão com o fim de que a problematização vá além da vítima, e
chegue ao privilegiado como forma de reflexão sobre sua própria posição social. A
Autora assume que agir dessa forma, sem atribuir responsabilidade no debate, faz com
que o privilegiado se mantenha em posição cômoda, sem reflexão.

A fala de uma mulher branca, ao falar sobre o racismo, deve levar em


consideração a sua posição, e compreender o protagonismo da luta como sendo da
mulher que está sendo atingida pelo racismo. Esse modelo de compreensão do lugar de

8
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

fala pode ser direcionado de forma mais coerente e inclusiva ao ambiente escolar, já que
o debate vai ser melhor direcionado, e os alunos e professor, sabendo seu lugar ao se
posicionar sobre o feminismo, oferece a possibilidade de uma voz ativa aos alunos que
vivenciam uma violência sistemática, ao mesmo tempo que estabelece uma visão crítica
aos que não passam por essas discriminações. Tal direcionamento e organização traz ao
debate uma percepção e diálogo mais claro e interseccional, se esquivando do discurso
tradicionalista perpetuado pela classe dominante.

As escolas, introduzidas em uma sociedade branca cis-heteronormativa,


apresentam a tendencia de perpetuar violências sistemáticas em seus discursos
“educativos”. Traçando um paralelo, Foucault faz uma análise crítica sobre como o
poder opera na sociedade, abordando as normas sociais e os discursos de poder que
estabelecem e moldam uma sociedade.

Foucault compreende as normas sociais, além de diretrizes culturais, como


instrumentos de poder. Essa regra acaba por moldar subjetividades e restringe a
diversidade de expressões e identidades, da mesma forma que o feminismo inicial, que
focava na mulher branca classe média, acabou por apagar a presença de realidade de
outras mulheres.

No contexto de instituições disciplinares, as normas desempenham um papel


crucial na produção de corpos dóceis e conformes. Em suma, esse poder disciplinar visa
moldar comportamentos de acordo com padrões predefinidos, ponto esse que se vê no
ambiente de sala de aula, em que o professor passa por ser o protagonista na
apresentação do conteúdo, e os alunos são sucumbidos a se tornarem receptores
passivos e externos ao conteúdo apresentado, como se não tivessem qualquer
contribuição, ou como se não fizessem parte da história.

A produção de conhecimento, discutida por Foucault, é utilizada para legitimar e


sustentar certas formas de poder. Nas escolas os próprios discursos muitas vezes podem
vir de forma velada, ou mesmo de forma clara e direta. Tais discursos não contemplam
visões ou protagonismos além do branco eurocêntrico, perpetuando o apagamento de
outras etnias e culturas, e além disso impedindo que o próprio aluno que faz parte
desses grupos que sofrem violência sistemática se reconecte com sua própria

9
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

identidade, e se identifique e passe a questionar sua própria condição.

Foucault destaca também a relação entre o poder e o saber, assumindo que os


discursos não são apenas reflexos da realidade, mas participam ativamente na criação e
manutenção de estruturas de poder. Diante dessa perspectiva, o conceito de lugar de fala
nos diálogos em sala de aula pode dar voz às classes dominadas, possibilitando o debate
entre o menino misógino e a menina negra que ocupam o mesmo espaço da escola
pública, ato esse que quebra o ciclo de manutenção de estruturas de poder.

Em suma, a escola desempenha um papel central na disseminação e legitimação


dos discursos de poder, afinal por muitos anos a nossa história era contada pelo nosso
dominador. Esses dominadores estruturaram o sistema educacional, moldando as
narrativas e influenciando a compreensão coletiva da verdade.

Para fins de exemplificação, o proprio discurso feminista é muito escasso no


ambiente escolar por conta da demonização que sofreu, que eram embasadas em
prerrogativas erroneas que foram imputadas ao movimento, como por exemplo ser o
oposto do machismo, ou ser um movimento que prega a libertinagem, dentre outros
discursos falaciosos usados para diminuir o movimento das mulheres.

Esse contramovimento, impulsionado principalmente pelas igrejas e seus


devotos, acabou por criar na mente de muitas pessoas, até nas próprias mulheres, uma
repulsa a essa luta, dificultando a introdução respeitosa e objetiva do estudo de gênero
nas escolas, e se tornando muitas vezes em algo polêmico e sem embasamento teórico e
científico. Os fatos acabam se perdendo entre as inverdades, e acabam por se misturar e
gerar discursos inconsistentes, que acabam sendo usados contra o próprio movimento.

No entanto, os discursos, para além de um mecanismo de opressão, também


podem se remodelar e subverter a um mecanismo de resistência. Ao mudar as
narrativas, é possível que as estruturas de poder sejam desafiadas. Essa tentativa de
quebra de ciclo opressor se inicia na sala de aula, e ao organizar as discussões, ou seja,
definir de forma clara quem é o protagonista e quem é o privilegiado, o debate se torna
mais rico, e introduz de forma crítica ao aluno à sua própria realidade, o tornando um
receptor ativo na história.

10
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

Além disso, é importante esclarecer, a partir de contexto histórico, quem são os


verdadeiros “vilões” das relações de dominação, para que não ocorra a demonização
equivocada de classes que também são vítimas do sistema. Essa contextualização é
importante, principalmente em sala de aula, que é constituida por jovens que ainda estão
estabelecendo sua visão crítica, para que o debate não se disvirtue e se torne uma richa
entre negros e brancos, ou entre menina e menino.

Todos os alunos da rede pública, independente de suas características, são


vítimas do sistema. Dessa forma, a educação feminista, junto à compreensão do local de
fala, são métodos que possibilitam o direcionamento de ódio e revolta do aluno para o
verdadeiro problema, que não é o seu colega de turma ou seu professor, e sim a
estrutura do sistema, e quem perpetua de forma direta as estruturas de poder e
dominação.

CONCLUSÃO

Devido a trajetória de vida de bell hooks, que viveu nos Estados Unidos em um
contexto da segregação racial, em que havia um exercicio de dominação de hegemonia branca
no ensino escolar; a autora, em sua vida acadêmica, com estudos na área de educação, traz
perspectivas contra-hegemonicas e uma pedagogia crítica influênciada por Paulo Freire. Em
que, trata-se da temática do feminismo negro e tem uma abordagem da pedagogia crítica ou
feminista, criticando o modelo de “educação bancária” em que os alunos apenas consomem
informações para memorizar e armazenar. bell hooks, indica a importância da educação na
prática da liberdade, e de práticas de ensino que englobam a realidade dos alunos, com o
engajamento dos alunos e ensino voltado para a transformação.
Além disso, a educação como emancipação deve ser parte da agenda feminista para
promover um diálogo fora das universidades e desconstiutuir um ensino que reproduza as
desigualdades etnicos-raciais, de classe e relações de dominação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOOKS, bell, Educating Women: A Feminist Agenda. In:____. Feminist Theory: From
margin to center. New York: Routledge, 2015. p. 108 - 116.
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade. São

11
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS CAMPUS DE ARARAQUARA

Paulo: Martins Fontes, 2017.

RIBEIRO, D. O que é lugar de fala?. Belo Horizonte: Letramento, 2017.

12

Você também pode gostar