Você está na página 1de 4

As Relações de Desigualdade de Gênero no Campus Cimba por

meio de relatos de estudantes negras.

Docente: Antunes Medeiros


Discente: Daniel Victor Lima Alves
Disciplina: Metodologia da Pesquisa

Introdução

Este trabalho tem como objetivo analisar as desigualdades de gênero na


UFNT campus cimba, de 2003 aos dias atuais, por meio das narrativas orais das
estudantes negras do referido campus. Pretende – se compreender as questões que
envolvem as dificuldades por elas enfrentadas até a chegada à Universidade, o
seguinte estudo está voltado para estudantes que em razão de classe, de gênero e
raça, historicamente, vêm sendo excluídas da educação superior. Para Scott (1995,
p.86) gênero “é o saber que estabelece relações sociais baseadas nas diferenças
percebidas entre os sexos. É uma forma primária de dar significado as relações de
poder”.

Metodologia

A metodologia utilizada será a pesquisa qualitativa, com base na oralidade. A


história oral será crucial para entendermos essa pesquisa, pois, por meio dela será
possível acessar a história de vida das 4 (quatro) estudantes que serão
entrevistadas. Segundo Alessandro Portelli, em seu artigo “O que faz a história oral
diferente”, “as fontes orais dão – nos informações sobre o povo iletrado ou grupos
sociais cuja história escrita é ou falha ou distorcida. Outro aspecto diz respeito ao
conteúdo: a vida diária e a cultura material destas pessoas e grupos” (Portelli, 1997,
p.27).

A coleta de uma história de vida, de um relato oral, ou mesmo de um


depoimento se traduz também em uma ocasião em que o entrevistado reflete sobre
sua vida, sobre sua trajetória. Ao utilizarmos a história oral se torna possível uma
análise da memória viva, das emoções, das paixões, do olhar, a perspectiva peculiar
e os sentimentos das mais diversas origens. Os dados serão obtidos através de uma
entrevista semiestruturada onde concentraremos nosso foco nas suas lembranças
pessoais para poder entendermos a trajetória do grupo social ao qual pertencem,
arguindo esses fatos por sua importância na vida desses indivíduos. As mulheres
negras são vítimas de um silenciamento histórico, pois ficaram de lado da chamada
“História Oficial”, a oralidade será aqui uma grande aliada pois vai desvelar:

a riqueza inesgotável do depoimento, como fonte não apenas informativa,


mas, sobretudo, como instrumento de compreensão mais ampla e
globalizante do significado da ação humana, de suas relações com a
sociedade organizada, com as redes de sociabilidade, com o poder e o
contrapoder existentes, e com os processos macroculturais que constituem o
ambiente dentro do qual se movem os atores e os personagens deste grande
drama ininterrupto – sempre mal-decifrado – que é a História
Humana(Albertini, 1990, p. 8).

Utilizarei também obras de autoras que escrevem sobre a condição da


mulher negra, através de uma interseccionalidade de raça e gênero. É importante
apontar que o conceito de interseccionalidade não é novo, começou a ser usado a
partir de 1989 quando foi utilizado pela professora e jurista afro – americana
Kimberlé Crensh. A busca em compreender as desigualdades e discriminações
diversas sofrida por mulheres e outras populações ajudaram a popularizar o termo,
podemos entender que “a interseccionalidade fornece estrutura para explicar como
categorias de raça, classe, gênero, idade, estatuto de cidadania e outras posicionam
as pessoas de maneira diferente no mundo” (Collins, 2020, p.34).

Lélia Gonzalez (1984) pontua que o lugar que mulheres negras ocupam
determina a nossa interpretação sobre o duplo fenômeno do racismo e do sexismo,
conceituando que o racismo se constitui como o sintoma que caracteriza a neurose
cultural brasileira. Com isso, podemos entender as estruturas sociais e compreender
o porquê de a mulher negra ser tratada como o outro do outro, em “Memórias da
plantação” da artista portuguesa Grada Kilomba, vamos ver que “as mulheres
negras estão nessa configuração imbricada de serem mulheres e negras, agregando
o peso de ser mulher enquanto gênero subjugado e negra sendo a raça
inferiorizada.” (SANTOS, 2020, p. 20)

“É por aí que dá prá gente entender a ideologia do branqueamento, a lógica


da dominação que visa a dominação da negrada mediante a internalização e a
reprodução dos valores brancos ocidentais” (GONZALEZ, p.237,1984).
Lugones (2008) assegura que durante o desenvolvimento dos feminismos do
século XX, não foram feitas as conexões entre gênero e a classe, já que elas são
parte somente da mulher branca e burguesa. As fêmeas não brancas eram
consideradas animais no sentido de serem “sem gênero”, a redução do gênero ao
privado, ao controle do sexo, é uma questão ideológica, apresentada como
biológica/natural, e é parte da produção cognitiva que conceitualizou a raça como
“atribuída de gênero” e o gênero como racializado de maneiras particularmente
distintas para europeus/eias e para colonizados/as não brancos/as.

Utilizarei também o artigo “Defesa e ilustração de representação” de Roger


Chartier, pois vai desvelar:

como as representações e os discursos constroem as relações de dominação


e como essas relações são elas mesmas dependentes dos recursos
desiguais e dos interesses contrários que separam aqueles cujo poder
legitimam daqueles ou daquelas cuja submissão asseguram – ou devem
assegurar. (CHARTIER, 1989, p.23).

Esse artigo será crucial para analisar as representações que foram


construídas em cada período da história nacional, onde as mulheres negras tiveram
seus intelectos desconsiderados e foram relegadas ao plano de fundo, onde sempre
foram representadas cumprindo funções estereotipadas de escravizadas,
empregadas domésticas, amas de leite ou tendo seus corpos sexualizados. As
produções nacionais tanto na arte, quanto na literatura são instrumentos que nos
permitirá analisar como as mulheres negras foram representadas nos mais distintos
períodos da história do país, marcados pelo racismo, sexismo e machismo. Dito
isso, destaco importância de se servir desse artigo considerando o fato que “o
conceito de representação é precioso, pois vai nos permitir assinalar e articular as
relações que os indivíduos ou grupos mantêm com o mundo social” (CHARTIER,
1989, p.20).

Referências bibliográficas

COLLINS, Patrícia; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. Ed. 1. São Paulo:


Boitempo, 2020.
LUGONES, Maria. Colonialidade e gênero. Tabula Rsa.Bogotá.Nº 9: 73-101, jul-
dez,2008.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de


Janeiro: Cobogá, 2019.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências


Sociais Hoje - Anuário de Antropologia, Política e Sociologia, 1984.

CHARTIER, Roger. Defesa e ilustração da noção de Representação. Fronteiras,


Dourados, MS, v. 13, n. 24, p. 15-29, jul./dez. 2011.

PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente? Proj. História, São
Paulo, fev. 1997.

SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e


Realidade, v. 15, n. 2, p. 5-22, 1990.
ALBERTI, Verena. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: FGV,
1990.

SANTOS, Steffane Pereira. Sub-representação de mulheres negras no brasil:


quem representa a base da pirâmide social? Grupo de Pesquisa em Mídia e Esfera
Pública (EME/UFMG). 2020

https://www.insper.edu.br/noticias/voce-sabe-o-que-e-interseccionalidade-entenda-
por-que-isso-e-importante/

Você também pode gostar