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Corpo e Saúde
Ensaios socioantropológicos
Volume I: Sobre Corpo
Série Socialidades, 3
2015
CDU:39
Sumário
Apresentação 7
Colaboradores 382
Apresentação
Volume I
SOBRE CORPO
Culto ao corpo:
Apologia à beleza, promessa de vida saudável1
Considerações finais
Um brinde à juventude:
Celebração do “corpo jovem”
na contemporaneidade
Mayrinne Meira Wanderley
3. Grifo nosso.
4. Grifo nosso.
5. Grifo nosso.
7. Grifo nosso.
8. Disponível em: <http://www.infoescola.com/medicina/nobel-de-
medicina-2009/> Acesso em: 05.10.2010.
16. A ampliação cada vez maior da corpolatria faz com que um número
crescente de pessoas se preocupe cada vez mais com a imagem corpo-
ral. Porém, resguardando generalizações, a intensidade da preocupação
com a imagem corporal é de nível diferente conforme cada classe social,
grupo, idade e gênero. Para Boltanski (1989), a condição material in-
fluencia de maneira considerável as próprias escolhas e estilos de vida
no que envolve a corporeidade, além das especificidades típicas de cada
classe ou grupo social, reflexo da cultura somática no conjunto das suas
regras e normas.
18. Como bem colocou Sant’ana (1995, p 20), foram várias as sociedades
que acolheram com alegria a presença dos gordos e com desconfiança a
presença da magreza, vista de forma preconceituosa, associando a doen-
ça e a pobreza. Para Fischer (2007), houve um período em que os gordos
eram amados, associados à saúde, riqueza e prosperidade eram bastante
respeitados no seu convívio social. Entretanto, no decorrer deste século,
as representações de magreza e gordura sofreram modificações radicais,
reafirmando que o corpo não corresponde apenas um agrupamento de
órgãos como acredita a biologia, a anatomia e a fisiologia, mas antes
de tudo, representa uma estrutura simbólica passível de mudança, con-
forme cada sociedade e cultura. (LE BRETON, 2007).
21. Sabino (2004, 2007) argumenta que apesar dos consumidores das
drogas (incluindo os EAAs) serem considerados por muitos como desvi-
antes, a utilização dos esteroides anabolizantes se realiza em contextos e
visões de mundo diferenciadas daquelas que comumente são associadas
aos usuários tradicionais de outros tipos de tóxicos. Nas suas palavras
(2004, p. 9), “os indivíduos que ‘tomam bombas’, como eles mesmos
dizem, têm, em geral o desejo de integração à cultura dominante. Seu
‘desvio’ se realiza por intermédio de um processo que se constitui em
tentativa de enquadramento no sistema social dominante. Processo de
construção do corpo onde a forma física apresenta-se como atitude não-
desviante. A utilização destas drogas (EAA) para construção de um cor-
po musculoso se faz não com o objetivo de subversão sistemática, mas
sim como tentativa de se harmonizar com os padrões estéticos vigentes
na cultura dominante, sintonia que possibilite aquisição de status, não
apenas no interior do grupo, mas na sociedade geral.” Nestas condições
postas por Cesar Sabino, os usuários de EAA não se encaixam (pelo me-
nos momentaneamente) na categoria de estigma no sentido de Goffman
que condiz com a capacidade de não aceitação social plena. Contudo, se
consideramos os EAAs como drogas de “desviantes” tendo em vista os
depoimentos dos entrevistados, se pode afirmar que o modelo corporal
“desviante” (corpo magro) colocado nas entrevistas corresponde uma
das forças motriz para o uso de ferramentas “desviantes” como é o caso
dos EAAs. Em uma palavra, o “desviante” utiliza-se de ferramentas do
desvio para integrasse.
23. Não precisamos ir muito longe para encontrarmos nos meios de co-
municação discursos como: “você pode ter o corpo que deseja”, “mude
seu corpo, mude sua vida”, “só depende de você” e dos meios necessários
juntamente com as ações certas, para a obtenção de tal forma corporal
desejada. Realidade esta, que proporciona uma maior reflexividade fr-
ente ao corpo, alvo de monitoramento e autocontrole constante.
24. Para Goldenberg & Ramos (2002, p. 20), em nosso contexto social e
histórico onde impera o dinamismo, a instabilidade e o transitório, “no
qual os meios tradicionais de produção da identidade (a família, a reli-
gião, a política, o trabalho, a escola, entre outros) se encontram enfra-
quecidos, é possível imaginar que muitos indivíduos ou grupos estejam
se apropriando do corpo como um meio de expressão (ou representa-
ção) do eu”.
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Capa - Expediente - Sumário - Apresentação - Colaboradores 150
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dade. Campinas SP, Papirus, 2009 ______. A Sociologia do
Corpo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
RENATA
Personal trainer, 26 anos, solteira. Praticante de ati-
vidade física desde os 10 anos de idade. Ela mantém uma
rotina intensa de trabalho e de prática de atividades físi-
cas. Para ela, praticar atividade física é prioridade em sua
vida. Considera-se altamente exigente e disciplinada. Sua
prática de exercícios inclui atividades aeróbicas, muscula-
ção, passando por diversos tipos de treinos, caminhadas e
uso de suplementos alimentares. O trabalho e a prática de
exercícios comprometem sua vida social, que a faz deixar
de participar de eventos, sobretudo à noite, para não preju-
dicar o trabalho e as de atividades físicas. Renata relata ter
dificuldades de relacionamento porque se considera uma
pessoa bastante determinada, disciplinada e muito dedi-
cada às suas atividades, que inviabiliza gastar tempo com
engajamentos de amizades.
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ANDRÉ
Policial, 34 anos, casado, pai de um filho. Praticante
de musculação, jump, RPM (programa de ciclismo indoor
que tem como objetivo o desenvolvimento da capacidade
cardiovascular). Ele passa pelo menos duas horas e meia
praticando atividade física na academia, todos os dias da
semana, com exceção do domingo, por razões religiosas.
Quando não vai à academia, corre pelo menos 10 km. Tor-
nou-se praticante de atividade física para vencer a obesi-
dade. “Eu tinha 110 kg e a minha atividade como policial
precisava disso”. “Queria cuidar mais do meu corpo”. Não
precisou de nenhuma recomendação médica. Foi o espelho
e as dores na coluna que o motivaram a procurar a acade-
mia. Informa ser “super disciplinado” na alimentação e na
regularidade de seus exercícios físicos. Alega que sofre for-
te alteração de humor quando não pratica atividade física.
SÔNIA
Ela é construtora e administradora, 35 anos, divorciada
e mãe de um filho. Começou a praticar atividades físicas
aos seis anos de idade por meio da dança, ginástica rítmica
e olímpica. Sônia sofre de fibromialgia, doença crônica que
se manifesta sob a forma de dor, fadiga, indisposição e dis-
túrbios do sono. Busca a prática da atividade física para ali-
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viar as dores causadas pela doença. Ela passa, em média, 3
horas praticando exercícios musculares, dedicando maior
parte do tempo à corrida na esteira. Para Sônia, a estética é
algo secundário, muito embora o resultado de suas ativida-
des para a imagem corporal seja algo primordial.
DÉBORA
Ela é massagista, 36 anos, viúva e mãe de dois filhos. Dé-
bora considera a atividade física e o ambiente das academias
essenciais para sua vida. Ela não obedece a um programa
regular de atividades físicas. Costuma dançar à noite, correr
aos domingos e realizar as mais diversas atividades dentro
da academia. Sua alimentação é totalmente sem controle,
faz uso de suplementos, mas nunca tomou “drogas”. Ela
dorme em média 3 horas por dia. O restante do dia, Débora
fica sempre na academia, onde trabalha como massagista.
Ela afirma que já deixou e ainda deixa de assumir trabalhos
para não interferir no tempo em que se dedica à atividade
física. Procura sempre adequar os horários dos clientes com
o período em que pratica atividade física.
PAULO
Administrador de empresas, 37 anos, casado. Na acade-
mia, ele realiza atividades físicas de segunda a sábado, dedi-
cando duas horas e trinta minutos ao trabalho específico de
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hipertrofia e definição muscular, juntamente com exercícios
aeróbicos. Paulo se considera um tanto paranóico por ficar
se vendo no espelho e procurar melhorar aspectos físicos,
mostrando estar sempre insatisfeito com o seu corpo. Além
disso, ele é bastante rigoroso com a alimentação, a ponto de
calcular o consumo de calorias na ingestão dos alimentos e
de se abster de alguns alimentos. Paulo já recorreu a anabo-
lizantes, influenciado pela performance dos amigos.
Referências bibliográficas
O processo de tatuar
Foto: Rosas
Fonte: Adriana Pereira de Sousa, 2009
Foto: Cruz
Fonte: Adriana Pereira de Sousa, 2009
Capa - Expediente - Sumário - Apresentação - Colaboradores 204
O desenho da cruz é comum entre a comunidade de deten-
tos. Segundo eles, possuir esse tipo de desenho traz proteção
no dia a dia dentro do cárcere. Pude constatar que a maioria
dos entrevistados tem algum tipo de cruz tatuada em alguma
parte do corpo, porém, o local mais comum é o braço.
É muito comum encontrar dentre os tatuados algum
tipo de frase de cunho religioso, ou ainda com o nome Je-
sus tatuado no corpo. Segundo eles, lembrar-se do “cria-
dor” traz proteção e algum tipo de conforto espiritual.
Foto: Malonguinho
Fonte: Adriana P. de Sousa, 2009
Foto: Chuck
Fonte: Adriana P. de Sousa, 2009
Foto: Bruxo
Fonte: Adriana P. de Sousa, 2009
Referências bibliográficas
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2. Termo, originário da Biologia, significa raiz que não tem início e fim
específico.
A Intersexualidade: a dissolução
do binarismo heterossexista e da
inteligibilidade de gênero
10. Butler apud Dorlin (2008, p. 116) “Le genre désigne précisément
l’appareil de production et d’institution des sexes eux-mêmes […] c’ést
aussi l’ensemble des moyens discursifs/culturels par quoi ‘la nature
sexuée’ ou um ‘sexe naturel’ est produit et établi dans une domaine ‘pré-
discursif’, qui precede la culture, telle une surface politiquement neutre
sur laquelle intervient la culture après coup. Le genre est ce qui construit
‘le caractere fondamentalement non construit de ‘sexe’.”
Considerações finais
Referências bibliográficas
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Considerações finais
André Agra
36. (LARA).
www.marcadefantasia.com