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Resumo
Neste artigo pretendemos apresentar uma visão introdutória das relações possíveis entre
alguns clássicos da sociologia, como Durkheim, e questões novas envolvendo teoria
social e o campo da educação. O principal debate está voltado ao papel das sensações e
das forças na teoria social e suas consequências para nossos hábitos de pensamento
dicotômicos.
Abstract
1
Formado em Comunicação Social e Ciências Sociais, é Doutor em Sociologia, professor da FATEC – Tatuapé e da
Uniesp – Campinas e membro do coletivo CTeMe – Conhecimento, Tecnologia e Mercado/Unicamp. Contato:
srodolfo@uol.com.br
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Artigo: Uma volta aos clássicos da sociologia: novas relações entre teorias sociais e educação.
Rodolfo Eduardo Scachetti -Uniesp: Campinas.
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Vol. I— Edição: Novembro de 2012.
In this article we intend to present an introductory view of the possible relations between
some sociological classics, like Durkheim, and some new questions concerning
sociological theory and the educational field. The main debate is directed to the role of
sensations and forces in sociological theory and its consequences to our habitudes of
dichotomist thought. Keywords: sociological theory; sociological classics; education.
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Artigo: Uma volta aos clássicos da sociologia: novas relações entre teorias
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termos de teoria social, fazemos hoje cursos na academia para discutir a validade de
correntes determinadas, seu poder explicativo, seus limites etc. Seria possível que
qualquer dessas correntes dos estudos de teoria sociológica clássica ou mesmo de
sociologia contemporânea estivesse imune a debates instaurados pelos clássicos? Difícil.
Citemos um exemplo que nos é caro: a sociologia do imaginário de Michel Maffesoli na
França. Sem entrar aqui no debate em torno das possibilidades e dos limites desse
pensamento, há algo, no entanto, que podemos observar. Muitas das questões
trabalhadas por esse sociológico são uma nova visita aos clássicos, não só aos que aqui
nos interessarão mais de perto, Durkheim, Marx e Weber, mas também a autores como,
entre outros, Pareto, Simmel, Tarde.
Partiremos, neste artigo, da sociologia de Durkheim, e isso por uma razão simples:
o autor francês, ainda que sofra grande rejeição em alguns contextos, tratou, assim como
Marx e Weber, de problemas fundantes do próprio pensamento sociológico e, dessa
forma, consideramos que a posição da filósofa Marilena Chauí se aplica muito bem nesse
caso, já que frequentemente pensamos, como ela afirmou em algumas oportunidades, no
espaço deixado vago pelo pensamento de outrem.
Essa escolha indica, de certo modo, que podemos recuperar Durkheim, e relê-lo
hoje sem preconceitos (o que não quer dizer de modo neutro, certamente), como
faríamos com um documento histórico. É evidente que seu pensamento apresenta muitas
limitações no contexto do século XXI. Mas e quanto a Marx e Weber, também não se
trata do mesmo fenômeno? Ousemos dizer que o mesmo vale nos três casos: nos limites
desses autores nosso trabalho começa e, de certa forma, todo trabalho sociológico atual
tende a continuar se aproximando e se afastando desses clássicos. Por isso, talvez, essa
exposição não seja tão ortodoxa; afinal, definiremos nosso percurso na sequência não em
função do autor que teria mais a ver com nossos campos de pesquisa recentes em
sociologia contemporânea, mas sim, possivelmente, menos. Partimos, portanto, de um
ponto que provavelmente é mais típico da filosofia: conversaremos com um "oponente"
para tentar mostrar o quão relevante foi e é seu trabalho, sobretudo onde ele, por
diversas razões, parou.
A inspiração para esse procedimento vem do filósofo Gilbert Simondon. Depois de
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ler Simondon, percebemos que fundamentalmente estamos às voltas, desde pelo menos
Sócrates, Platão e Aristóteles, com as mesmas questões. Idealismo ou realismo nas
ciências sociais? Talvez ambos e, aos poucos, superando as dicotomias que são como
aquelas escadas que devem ser abandonadas depois de subirmos os muros, nenhum
deles, se seguirmos o autor francês. Simondon é sempre generoso, e seu trabalho
estimula esse mesmo olhar. Talvez por isso decidimos observar Durkheim mais de perto,
cuja obra hoje sofreu condenações bastante duras, afetando novos leitores.
Que Durkheim seja evolucionista, isso talvez seja mesmo difícil de negar. Mas
pensemos um pouco: tratava-se do século XIX. Como fugir de modo fácil da principal
matriz de conhecimento do período? Durkheim se voltou às ciências naturais,
frequentemente à biologia, assim como autores como Spencer e Comte estiveram
mobilizados por problemas correlatos. Estamos no tempo da física social. Ora, quando
Durkheim espera fundar uma ciência do social, uma 'sociologia' na nova terminologia que
começava a se consagrar, o mais nobre nesse empreendimento tratou sem dúvida do
campo de questões que foi aberto, não necessariamente das soluções durkheiminianas.
Podemos discordar das rígidas definições de Durkheim dos fatos sociais, pois pensá-los
como coisas, dirão os marxistas, trata-se de pura reificação. Mas o francês está tomado
por questões que abrirão o campo da sociologia, e ter tomado direções por demais
cientificistas não significa que sua sociologia possa hoje ser descartada, sob pena de, em
termos um tanto weberianos, abandonarmos nossos trabalhos acadêmicos e
caminharmos diretamente para as ações exclusivamente políticas. Lidar com a sociologia
de Durkheim seria, desse ponto de vista, um trabalho acadêmico altamente relevante, e
que toma sem dúvida o político em sua dimensão ampla, inseparável de qualquer
atividade humana.
Mas, se deixarmos agora claros dois objetivos a este artigo, em primeiro lugar, (1)
em que pontos envolvendo mais concretamente a formação da disciplina sociologia
podemos travar um diálogo com esse nosso ilustre oponente? E, em segundo lugar, (2)
como isso pode nos conduzir a pensar de modo introdutório a relação entre autores
clássicos e temas do universo da educação sobre os quais a sociologia tem algo a dizer,
como, por exemplo, o problema da educação formal e não-formal?
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(1) Como já insistimos, não podemos abandonar as questões que Durkheim se coloca.
No nosso caso, o autor sempre foi referência de formação nas linhas de pesquisa em que
investimos esforços, ainda que nunca explícita. Entretanto, as intuições de Durkheim são
rico material de consulta e têm fornecido muitos subsídios à nossa recente prática
docente na disciplina de "sociologia da educação", nos cursos superiores de formação de
professores. A sensação é de que o autor quase sempre formula questões muito
relevantes do ponto de vista sociológico, tal como aquelas que envolvem a relação entre o
comportamento individual e o comportamento coletivo, mas é sua tentativa de controle
extremo pela via cientificista que impede que a potência de seu pensamento se
estabeleça integralmente. Entendamos bem as coisas: não se trata aqui de simplesmente
criticar a ciência, mas sim uma de suas manifestações que ganhou a denominação de
positivismo. A necessidade de institucionalização da sociologia para Durkheim o leva, no
nosso entendimento, a abandonar os pontos mais fortes da questão social. Mas não é
justamente Marx que pode resolver isso introduzindo o conflito na sociologia, ou seja,
politizando toda e qualquer questão durkheiminiana? (ambos dividem algumas de suas
questões centrais como, por exemplo, o tema da divisão social do trabalho). Sem dúvida,
é possível dizer que Marx politiza a sociologia, mas assim como a tendência objetivante
da sociologia de Durkheim o leva a tentar resolver questões polêmicas como, por
exemplo, a ancoragem científica das noções de "normal" e "patológico" aplicadas às
ciências, Marx termina por desenvolver uma visão sobre a história nada consensual,
ainda que muitos assim a considerem. Afinal de contas, nem Durkheim, nem Marx, são
claramente tributários, em se tratando de história, da concepção nietzschiana do
transistórico, do extemporâneo, em suma, da concepção de Nietzsche acerca do
intempestivo. Vamos, a seguir, tentar aprofundar um pouco melhor porque Nietzsche
pode ser o fiel da balança do pensamento clássico.
N'As regras do método sociológico Durkheim, tratando dos comportamentos
individuais e coletivos, diz:
2
Não está em questão aqui o positivismo de Comte e Durkheim, mas o positivo tal como entendido por Foucault em
seu livro As palavras e as coisas, opondo-se sobretudo a sua etiquetagem, na época, como estruturalista.
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totalidade social e a disputa de forças3. Mas talvez não no seu plano fundamental. No
primeiro caso, o autor alemão busca demonstrar que há um sentido na história e que cabe
aos homens atualizar esse sentido através da luta de classes, aproveitando-se das
contradições que o capitalismo provoca quando revoluciona as suas bases produtivas. No
caso do francês, trata-se de buscar a ordem através do incremento dos tipos mais
ajustados de solidariedade social, notadamente a solidariedade orgânica. A relação entre
o todo e a parte em Durkheim não é dialética como em Marx, mas segue, como dissemos,
uma visão funcionalista, a saber: como na biologia, os órgãos têm a função de executar
seus papéis, garantindo assim a saúde do organismo/sociedade. Marx pretende, portanto,
que a disputa de forças seguirá um certo trajeto dadas certas condições de possibilidade,
que não excluem, por exemplo, a possibilidade da instauração do caos, enquanto
Durkheim, a seu turno, pretende que a sociologia se destaque como uma salva-guarda
contra o caos, e dê, em suma, à normalidade um caráter científico.
3
A palavra força está sendo empregada, neste artigo, em sentido amplo.
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(2) Mas como toda essa discussão que está relacionada principalmente a uma
dimensão de epistemologia da sociologia pode nos levar ao campo da educação? A
educação sempre esteve ligada ao perfil das sociedades. As questões de Durkheim nos
colocam, como vimos, diante de escolhas tais como valorizar ou não a sensação na
sociologia. Para ele, a sensação é indicativa e auxilia, mas só uma espécie de elevação
da noção ao conceito garantirá o estatuto de cientificidade. É como aquilo que ocorre com
a sensação de calor e a medição do termômetro. Trata-se de um viés subjetivo, no
primeiro caso, "corrigido" pelas ciências da natureza através de um instrumento objetivo.
Ora, Durkheim luta contra o subjetivo, mas não vê problemas quanto ao arbitrário
científico. Não há ciência sem um grau de metafísica incluído, ou seja, há sempre critérios
de cientificidade, por mais que se queira apagá-los. É bastante fácil desqualificar a visão
da história como um diagrama de forças, ou seja, é fácil, do ponto de vista marxista, por
exemplo, desqualificar o transistórico em função de outros critérios de entendimento dos
fenômenos sócio-históricos. A questão é que a institucionalização do conhecimento leva
tempo e envolve disputas. O próprio Durkheim percebeu isso. Não há inovação sem
opositores. É por essa razão que reler os clássicos a contrapelo pode, por vezes,
desagradar alguns. Não é muito diferente no que diz respeito à questão da educação
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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